Escócia, Primavera de 1475
O que um anjo estava fazendo em pé ao lado do Irmão Matthew? Liam pensou quando perscrutou por entre suas pestanas o casal observando-o de cenho franzido. E por que ele não podia abrir completamente seus olhos? Então a dor o golpeou, e ele gemeu. O irmão Matthew e o anjo se curvaram, aproximando-se mais.
"Acha que ele viverá?", perguntou Irmão Matthew.
"Sim," respondeu o anjo, "embora eu suspeite que por algum tempo ele desejará o contrário."
Estranho que um anjo possuísse uma voz que fazia um homem pensar numa cama diante da lareira; Pele suave, nua; E peles espessas, Liam meditou. Ele tentou erguer sua mão, mas a dor que até o menor movimento provocou foi demais para aguentar. Sentiu como se tivesse sido pisoteado por um cavalo. Talvez vários cavalos. Cavalos muito grandes.
"Ele é um belo rapaz," disse o anjo, enquanto afastava suavemente uma mecha de cabelos da testa de Liam.
"Como pode dizer que ele é belo? Parece como se alguém o tivesse jogado ao chão e passado com uma manada por cima ."
O irmão Matthew e ele sempre pensaram semelhante de muitas formas, Liam recordou. Ele era um dos poucos homens de quem Liam sentiu falta depois de deixar o monastério. Agora ele sentiu falta do toque da mão suave do anjo. Pelo breve tempo que roçou contra sua fronte, aquele toque leve pareceu afastar um pouco de sua dor.
"Sim, é verdade," respondeu o anjo. "E ainda assim, se pode ver que ele é alto, magro e bem-formado."
"Você não deveria estar notando tais coisas!"
"Ora, primo, eu sou não sou cega."
"Talvez não, mas ainda é errado. E ele nem está em seu melhor agora, você sabe."
"Oh, não, com certeza. Entretanto, eu estou pensando que seu melhor é muito bom, não? Talvez tão bom quanto nosso primo Payton, não acha?"
O irmão Matthew fez um ruído muito depreciativo. "Melhor. Verdade seja dita, por isso eu nunca acreditei que ele ficaria conosco."
Por que sua aparência devia fazer alguém pensar nele como uma escolha ruim para a vida religiosa? Liam não considerava um julgamento particularmente justo, mas aparentemente não podia dar voz a sua opinião. Apesar da dor que sentia, seus pensamentos estavam bem claros. Ele apenas parecia ser incapaz de verbalizá-los ou fazer qualquer movimento para indicar que ouvia estas pessoas discutindo. Embora ele pudesse olhar para eles através de suas pestanas, seus olhos obviamente não estavam abrindo o suficiente deixá-los saber que ele estava acordado.
"Não acha que ele tinha verdadeira vocação?" Perguntou o anjo.
"Não," Irmão Matthew respondeu. "Oh, ele bem que gostava de aprender, era muito rápido e brilhante, mas nós não podíamos ensiná-lo o bastante aqui. Somos um monastério pequeno, não um grande e rico local de ensino. Eu penso, também, que ele achou este lugar muito quieto, tranquilo demais. Sentiu falta de sua família. Eu conheci seus parentes, e posso entender. Formam um grande grupo de homens altos e, bem, indomados. A aprendizagem aliviou a inquietude de Liam durante algum tempo, mas no fim não foi o bastante. A rotina tranquila, a mesmice dos dias começou a consumir seu espírito, eu acho."
Liam estava um pouco surpreso em quão bem seu velho amigo o conhecia e entendia. Ele tinha sido inquieto, ainda era, de certo modo. A tranquilidade do monastério, o horário rígido da vida monástica começou a pressioná-lo, e ser mais sufocante que confortante. Sentiu falta de sua família. Por um momento, ele ficou feliz que parecesse incapaz de falar, pois temeu que estivesse chamando por eles como alguma criança abandonada.
"É difícil," disse o anjo. "Eu fiquei surpresa que você tenha se adaptado tão bem a essa vida. Mas você tem verdadeira vocação, não é?"
"Sim, eu tenho," Irmão Matthew respondeu brandamente. "Eu a aceitei como uma criança. Mas, nunca pense que eu não senti falta de vocês, Keira. Eu senti e sinto mais dolorosamente às vezes, mas existe uma fraternidade aqui, uma espécie de família. Contudo, eu provavelmente os visitarei novamente em breve. Eu comecei a gastar muito tempo perguntando-me como as crianças cresceram, se todos ainda estão fortes e saudáveis, esse tipo de coisa. As cartas não dizem tudo."
"Não, elas não dizem." Keira suspirou. "Eu sinto falta de todos também, e estive com eles há uns seis meses."
Keira, Liam repetiu o nome em sua mente. Um bom nome. Ele experimentou mover seu braço apesar da dor e sentiu uma pontada de pânico quando ele não respondeu ao seu comando. Quando ele percebeu que estava amarrado a cama, sua apreensão cresceu mais forte. Por que eles fariam isto com ele? Por que não queriam que ele se movesse? Seus ferimentos eram tão terríveis assim? Ele estava errado ao pensar que recebeu ajuda? Ou na verdade tinha sido feito um prisioneiro? Mesmo enquanto aquelas questões giravam em sua mente, ele combateu sua dor o suficiente para forçar suas amarras. Deixou escapar um gemido quando aquela dor rápida e ferozmente precipitou-se em seu corpo, da cabeça até o dedão do pé. Ficou imóvel quando um par de mãos pequenas e suaves o tocaram, uma em sua fronte e outra em seu tórax.
"Eu acho que ele começa a despertar, primo," Keira disse. "Acalme-se, sir. Fique em paz."
"Amarrou." Liam silvou a palavra por entre os dentes firmemente apertados, a dor causada por aquela pequena palavra dizendo a ele que seu rosto indubitavelmente levou uma severa surra. "Por quê?"
"Fique quieto, Liam," Irmão Matthew disse. "Keira não acha que tem nada quebrado, exceto por sua perna direita, mas você foi tão surrado que ficamos muito preocupados."
"Sim," Keira concordou. "Esteve às portas da morte, sir. É melhor o senhor ficar muito quieto para não aumentar seus ferimentos ou sua dor. Está doendo muito?"
Liam resmungou uma maldição feroz ao que ele considerou uma pergunta muito estúpida. Ouviu Irmão Matthew ofegar em choque. Para sua surpresa, ouviu Keira rir suavemente.
"Foi realmente uma pergunta tola," ela disse, o riso ainda permeando sua voz quente. "Parece que não há um pedaço de você que não esteja ferido. Sim, e sua perna direita estava quebrada. É uma fratura muito limpa, então eu apenas ajustei-a. Depois de três dias, não existe sinal de infecção nos ferimentos ou no sangue, então deve se curar sem problemas."
"Liam, é o Irmão Matthew. Keira e eu o trouxemos para a pequena cabana na extremidade das terras do monastério. Os irmãos não permitiriam que ela cuidasse de seus ferimentos dentro do monastério, eu temo." Ele suspirou. "Eles não estavam muito felizes com sua presença à noite, embora ela se mantivesse escondida no quarto de hóspedes. O irmão Paul estava particularmente agitado."
"Agitado?" Keira resmungou. "A prima Elspeth diria que ele..."
"Sim," Irmão Matthew interrompeu apressadamente, "eu sei o que nossa prima Elspeth diria. Acho que ela viveu muito tempo entre aqueles Armstrongs incontroláveis. Adquiriu um linguajar livre demais para uma lady."
Keira fez um barulho rude. "Meu Deus, mas você se tornou muito piedoso, primo."
"Claro que me tornei. Eu sou um monge. Nós somos treinados para sermos piedosos. Agora, eu posso ajudar você a dar a Liam um pouco de poção ou trocar suas bandagens se você quiser, mas depois eu devo retornar ao monastério."
"Ah, bem, então melhor ver se ele precisa se aliviar." Keira disse. "Eu vou sair, de forma que você possa assisti-lo. Agora que ele está acordado, é melhor, eu acho. Vou até o jardim do monastério para colher algumas ervas. Não vou demorar."
"O que quer dizer com 'agora que ele está acordado'?" exigiu irmão Matthew, mas grunhiu com irritação quando a única resposta foi a porta se fechando atrás de Keira quando ela saiu apressada. "Mocinha danada."
"Primo?" Liam perguntou, percebendo que não era só sua garganta ferida, mas sua mandíbula e boca também.
"Primo? Oh, sim, a moça é minha prima. Uma de uma vasta horda de primos, para dizer a verdade. Uma Murray, sabe?"
"Kirkcaldy?"
"É o que sou, sim. Sua avó era uma também. Agora, temo que não importa quão gentil eu seja, isto vai doer."
Doeu. Liam estava certo de gritar em um momento, e que sua dor só aumentou. Ele deu boas-vindas à escuridão quando esta caiu sobre ele, como suspeitou o irmão Matthew, continuamente se desculpando.
"Oh, querido, ele parece um bocado mais pálido." Keira disse enquanto deixava as ervas que colheu sobre uma mesa, e se movia para ficar ao lado da pequena cama em que Liam estava amarrado.
"Ele ainda sente muita dor, e temo que eu aumentei ainda mais seu sofrimento," disse irmão Matthew.
"Você não poderia ajudá-lo, primo. Ele está melhor, não há dúvida sobre isto, mas tais danos levarão tempo para sarar. Na verdade, não existe uma parte deste homem que não esteja ferida. É um verdadeiro milagre que apenas sua perna esteja quebrada."
"Você tem certeza de que ele foi apenas surrado? Ou que ele foi realmente surrado?"
"Sim, primo, ele foi surrado. Eu não tenho dúvida sobre isto, mas ele poderia ter sido jogado pela colina, também. Alguns destes ferimentos em seu corpo podem ser do declive rochoso e do solo igualmente rochoso sobre o qual ele caiu. Eu suponho que ele não pôde dizer o que aconteceu com ele, não é?
"Oh, não. Não. Ele falou apenas uma palavra ou duas, então soltou um grito de dor, e tem estado assim desde então." O irmão Matthew meneou a cabeça. "Eu gostaria de poder entender isto. Quem faria uma coisa tão terrível ao homem? Sei que não o tenho visto muito ao longo dos anos, desde que deixou o monastério, mas ele realmente não era do tipo de homem que faz inimigos. Certamente não tão cruéis."
Keira inutilmente testou a força das amarras que mantinham Liam imóvel na cama e cuidadosamente estudou o homem. "Eu suspeito que ciúme é um problema com o qual ele frequentemente deve lidar."
Irmão Matthew franziu o cenho para sua prima. Ela parecia extremamente interessada em Liam Cameron, manifestando mais que apenas interesse de curandeiro em um paciente. Um curandeiro com certeza não precisava tocar seu paciente tão frequentemente quanto Keira fazia com Liam, tocando seu espesso cabelo cobre escuro. Liam certamente não estava em sua melhor forma, poderia até ter perdido um pouco de sua beleza devido a este espancamento cruel, mas claramente existia atrativo suficiente em seu corpo e rosto feridos para despertar o interesse de Keira.
Ele tentou ver Keira como uma mulher crescida, não simplesmente como a prima com quem ele brincou quando criança. Seus olhos aumentaram ligeiramente ao perceber que sua prima não era mais uma criança agora, mas sim uma mulher muito atraente. Ela era pequena e leve, mas feminina, seios bem formados e cheios, e seus quadris eram agradavelmente arredondados. Seu cabelo era de um rico e brilhante negrume, e pendia numa trança espessa até sua minúscula cintura. Aquele cabelo fazia sua pele clara parecer ainda mais pura, branca e suave como leite, e saudavelmente corada. O rosto oval de Keira possuía uma beleza delicada, seu nariz pequeno e reto, com uma insinuação de força revelada em seu queixo pequeno, e suas maçãs do rosto altas e finamente formadas. O que prenderia o interesse de um homem eram seus olhos. Sob escuras sobrancelhas, suavemente arqueadas e aparadas, com cílios longos e espessos, estava um par de profundos olhos verdes. Aqueles olhos grandes mostravam inocência, mas suas profundezas possuíam todo o feminino mistério que intrigava um homem. Ele se surpreendeu ao perceber que sua boca, ligeiramente larga e de lábios cheios, possuía as mesmas contradições. Seu sorriso podia ser o epítome de inocência doce, mas Irmão Matthew de repente soube que homens mundanos rapidamente veriam a sensualidade ali também. De repente temeu que tinha sido um sério erro de julgamento de sua parte permitir que ela se aproximasse de um homem como Liam Cameron.
"Você está com uma expressão bastante feroz, Primo," Keira disse enquanto começava a preparar mais unguento para os ferimentos de Liam. "Ele não vai morrer, eu lhe prometo. Só ficará um longo tempo convalescendo."
"Eu acredito em você. É apenas que, bem, uma coisa que Liam achou difícil de se habituar na vida monástica era, bem, era..."
"Nenhuma moça para quem sorrir." Ela sorriu da expressão severa que ele lhe lançou quando ela se sentou junto do doente e assinalou seu belo rosto, que possuía um charme de menino. "Eu acho que, da mesma maneira que nosso primo Payton, este homem tem jeito com as moças. Sim, e ele não precisa fazer mais do que sorrir para elas."
"Acho que ele nem precisa sorrir." Murmurou o irmão Matthew.
"Não, provavelmente não. Vamos, primo, não é nada tão problemático assim. Ele não oferece nenhum perigo para mim agora, não é? Sim, e depois quando ele estiver bem o bastante para sorrir novamente, só poderá representar um perigo para mim se eu assim o desejar. Você não pode pensar que, com os parentes que tenho, eu não tenha aprendido sobre os modos dos homens." Ela relanceou um olhar para Liam. “Ele é um homem ruim, então? Um vil e insensível sedutor de inocentes?"
O irmão Matthew suspirou. "Não, eu jamais acreditaria em tal coisa sobre ele."
"Então não há motivo para se irritar, não é mesmo? É melhor nos preocuparmos com os vários outros problemas que temos. Eles são mais importantes do que se posso ou não resistir aos sorrisos doces de um belo rapaz. Faz quase dois meses que estou aqui, primo. Não há nem sinal de meu inimigo, então, eu penso, logo eu devo tentar chegar em casa, em Donncoill."
"Eu sei disso. Na verdade estou surpreso que nenhum de seus parentes tenha vindo atrás de você. É estranho que eles não tenham começado a se perguntar sobre o tempo que você está em um monastério, ou em por que os monges permitiriam isso."
Keira ignorou a pontada de culpa que sentiu por permitir que ele continuasse acreditando que ela tinha contatado sua família, quando ela não o fizera. “Não é tão incomum visitantes, homens ou mulheres, ficarem hospedados por um tempo longo, e eu paguei bem pelo privilégio."
Ela sorriu e bateu levemente em seu braço quando ele corou com embaraço ante aquela verdade dura. "Vale à pena. Eu precisava me esconder e remendar minhas feridas, precisava superar meu pesar e medo, e precisava resolver isso antes de ir para casa. Eu não vou levar aquele bastardo assassino do Rauf direto aos portões de Donncoill."
"Sua família a protegeria, Keira. Sentiriam que é seu dever, seu direito, e não ficarão satisfeitos por você ter lhes negado isso."
Keira estremeceu. "Eu sei, mas lidarei com isto. Eu também tinha que decidir o que fazer. Duncan me fez prometer, e eu tive que pensar muito em como cumprir tal promessa, e quanto isso poderia me custar."
"Eu sei que não será fácil, Rauf é astuto e cruel. Contudo, você jurou a seu marido que cuidaria para que seu povo não sofresse sob o jugo de Rauf caso ele não vencesse a batalha aquela noite. Ele falhou. Ele morreu naquela noite, Keira, então sua promessa para ele é muito similar a uma feita no leito de morte de um homem. Você deve fazer tudo o que puder para cumpri-la." Ele beijou seu rosto e se encaminhou para porta. "Eu a verei de manhã. Durma bem."
"Você também, primo."
Assim que ele se foi, Keira suspirou e sentou-se na pequena cadeira próxima a cama de Liam Cameron. Seu primo fazia tudo isso soar tão simples. Ela desejou ardentemente que fosse. A promessa feita a seu pobre e infortunado marido pesava fortemente em sua mente e em seu coração. E ainda havia o destino das pessoas de Ardgleann. Duncan se importava profundamente com seu povo, um grupo variado de almas gentis e um pouco estranhas. Afligiu-a pensar em como deviam estar sofrendo sob o jugo de Rauf. Rezava por eles toda noite, mas não podia dispersar completamente a culpa que sentia por ter partido. Embora uma parte do que Duncan havia lhe pedido não parecesse certo, as pessoas de Ardgleann não podiam mais esperar que ela debatesse as complexidades morais disso tudo. Estava na hora, enfim, de fazer algo.
Ela inutilmente banhou Liam com um pano macio e água fresca. Ele não tinha realmente febre, mas parecia fazê-lo descansar com mais tranquilidade. Ele era um homem forte, e ela tinha certeza que continuaria a se recuperar. Quando ele pudesse cuidar de si mesmo, seria melhor ela decidir o que fazer sobre Ardgleann e Rauf. Uma vez que ela soubesse por que Liam tinha sido ferido, e tivesse certeza que nenhum inimigo ainda o perseguia, ela o deixaria aos cuidados dos monges e enfrentaria o seu próprio destino.
Keira sentiu uma súbita aflição ao pensar em deixar o homem, e quase riu do absurdo disso. Ele era uma massa de contusões, e mal dissera três palavras em vários dias. Supôs que sentia alguma estranha ligação com ele porque tinha sido ela quem o encontrara. Na verdade, ela tinha sido atraída até ele por uma mistura estranha de sonhos e compulsão. Tinha sido um pouco assustador, pois embora experiências semelhantes tivessem acontecido no passado, ela nunca vira coisas tão claramente, nem sentira nada tão forte. Mesmo agora, enquanto o ajudava a se recuperar de seus ferimentos, ela não podia deixar de se sentir agitada.
"Tolice," ela resmungou e meneou a cabeça, enquanto o secava suavemente com um pano macio.
Talvez devesse mandar avisar sua família, ela pensou, enquanto começava a preparar um caldo substancioso para alimentá-lo quando ele despertasse novamente. Pelo que seu primo lhe contara, os parentes de sir Liam eram mais do que capazes de protegê-lo. Keira rapidamente descartou a idéia, pela mesma razão que deu a seu primo quando ele sugeriu mandar buscar os Cameron. Sir Liam poderia não querer isso, poderia ficar relutante em meter sua família em qualquer problema que ele mesmo arrumou. Podia simpatizar com ele, já que ela mesma hesitou bastante em envolver sua família em suas próprias dificuldades.
Isto também era tolice, suspeitou. Ela não fizera nada de errado, não causou o problema ou convidou o perigo. Se alguém de sua família estivesse em tal dificuldade, ela estaria pronta e ávida para lutar ao seu lado. O que seria o motivo pelo qual ele ou ela hesitaria em lhe contar sobre o assunto, ela pensou de repente, sorrindo brevemente. Era instintivo tentar manter uma pessoa querida em segurança. Quando sua família descobrisse a verdade, eles ficariam bravos, talvez até um pouco ofendidos ou magoados, mas eles entenderiam, pois saberiam em seus corações que teriam feito exatamente a mesma coisa.
E, ela disse a si mesma, enquanto se sentava na pequena mesa próxima ao fogo, se este homem fosse tão próximo de sua família como seu primo insinuara, ele faria o mesmo. A última vez que encontrou sua prima Gillyanne, tinha ouvido algumas histórias sobre os Cameron. Embora as histórias fossem contadas para divertir a todos, elas tinham revelado que os Cameron eram tão unidos quanto sua própria família.
Havia também o orgulho masculino de sir Liam para considerar. Indubitavelmente ele se zangaria com a insinuação de que não poderia cuidar de si mesmo. Não, Keira decidiu, não era uma boa idéia mandar buscar sua família sem sua permissão.
Depois de uma refeição de pão, queijo, e carne de veado fria, Keira tomou um banho rápido. Depois se deitou em seu catre próximo ao fogo. Ficou olhando fixamente as chamas e esperou o sonho chegar. Ela odiava esta hora da noite, odiava o silêncio, e odiava o fato do sono demorar tanto a chegar, deixando-a sozinha no silêncio com suas memórias. Por mais que tentasse, ela não podia se livrar da angústia daquelas memórias escuras. Ela podia apenas reprimi-las durante algum tempo.
Duncan tinha sido um bom homem, razoavelmente bonito e gentil. Ela não o amava, e ainda se sentia culpada por isso, embora dificilmente fosse sua culpa. Depois de quase vinte e dois anos, porém, ela decidiu que não podia mais esperar que um grande e passional amor cruzasse seu caminho. Ela quis filhos e sua própria casa. Embora amasse profundamente sua família, ela começava a sentir uma necessidade crescente de abrir suas asas, trilhar seu próprio caminho. O casamento normalmente não liberta uma mulher, mas todos os seus instintos lhe disseram que Duncan nunca tentaria dominá-la. Ele queria uma verdadeira companheira, e sabendo o quão raro aquilo era, ela o aceitou quando ele lhe pediu que fosse sua noiva.
Ela podia ainda recordar as dúvidas de sua família, especialmente as de sua avó, lady Maldie, e de sua prima Gillyanne. Seus dons especiais lhes disseram que ela não amava o homem com quem estava para casar. Elas sentiram sua inquietação, algo que ela não conseguia explicar nem para si mesma. Keira não estava certa se havia sido uma boa coisa que não a tivessem pressionado sobre isso, mas então se censurou vigorosamente. Eles respeitaram sua escolha, e aquela foi a sua escolha.
Por que ela se sentiu inquieta a partir do momento em que aceitou a proposta de casamento de Duncan ainda era um enigma para ela. Keira sufocou aquela inquietação e casou-se com ele. Horas depois de se casarem, surgiu o primeiro sinal de problemas entre eles, e durante os dias de viajem até Ardgleann, o problema com Rauf começou. Ela tinha pensado que aquilo explicava os estranhos sentimentos que a perturbaram, mas agora não estava tão certa. Todos os seus instintos lhe diziam que o enigma ainda não estava resolvido.
Assim que ela começou a relaxar, dando boas-vindas ao conforto do sono, um grito grave de sir Liam a surpreendeu. Keira vestiu seu robe e correu para junto dele, para encontrá-lo lutando com as amarras, praguejando furiosamente contra inimigos que só ele podia ver. Ela alisou sua fronte e falou suavemente com ele, repetindo várias vezes onde ele estava, que estava cuidando dele agora, e que ele estava em segurança. Surpreendeu-se um pouco quando ele rapidamente se acalmou de novo.
"Jolene?" Ele sussurrou.
Keira perguntou-se por que ouvi-lo dizer o nome de outra mulher devia irritá-la tanto quanto o fez. "Não, Keira." ela disse enquanto colocava sua mão sobre a dele para tentar impedi-lo de puxar suas amarras.
"Keira," ele repetiu e agarrou a mão dela. "Sim. Keira. Cabelo preto. Confundiu-me. Pensei que eu estava em casa. Em Dubheidland."
"Ah. Ela é sua curandeira?" Keira tentou liberar sua mão, mas ele não a soltou, então ela se sentou na cadeira ao lado da cama.
"Esposa de Sigimor. Senhora de Dubheidland. Pensei que eu estava em casa."
"Assim você disse. Eu posso lhe dar algo para aliviara a dor, se você desejar.”
"Não. Pensei que eu tinha sido capturado novamente."
Ela podia ver como falar lhe causava dor, mas não pôde resistir a perguntar "Você se lembra do que lhe aconteceu?"
"Capturado. Surrado. Jogado fora. Você me encontrou?"
"Sim, eu e meu primo, irmão Matthew.”
"Bom. Seguro aqui."
"Sim, você está." Ela ainda tentou novamente livrar sua mão da dele, mas falhou.
"Fique." Ele suspirou. "Por favor. Fique."
Keira internamente amaldiçoou a fraqueza que fez com que atendesse aquele apelo. Cuidadosamente puxou sua cadeira para mais perto da cama, de forma que pôde se sentar mais confortavelmente enquanto esperava que ele soltasse sua mão. Após alguns momentos de silêncio, ela se perguntou se ele tinha voltado a dormir, mas o aperto em sua mão permaneceu firme. Para sua surpresa, ele começou a afagar a parte de trás de sua mão com o polegar. O calor que o gesto provocou dentro dela foi um pouco alarmante, mas ela não podia fazer nada para detê-lo.
Isto não era bom, Keira pensou. O leve toque do polegar de um homem sobre sua mão não devia fazer com que ela se sentisse aquecida. Verdade, era uma mão muito bonita, os dedos longos e elegantes, mas era uma carícia muito amável para provocar qualquer interesse. Ou, devia ser. Ela olhou para seu rosto machucado e suspirou. Além de todas as dificuldades que tinha, ela percebeu que agora tinha que acrescentar mais uma. Um homem que ela não conhecia, um homem cujo rosto estava tão contundido e inchado que provavelmente provocaria pesadelos numa criança, podia fazer seu sangue ferver com uma simples carícia do seu dedo polegar.
Liam abriu seus olhos, sentindo uma estranha faísca de antecipação mesclada com sua dor. Perguntou-se o que poderia estar esperando ansiosamente, já que estar acordado significava estar extremamente ciente de toda a dor que o assolava, quando percebeu que estava segurando a mão de alguém. Esperava que não estivesse agarrando a mão do irmão Matthew. A mão era muito pequena e suave, ele decidiu. Liam teve o breve pensamento que de alguma maneira aquela mão pequenina o estava acalmando em corpo e espírito. Então ele lembrou da mulher.
Cautelosamente, ele virou a cabeça, enquanto se esforçava para lembrar seu nome. Keira, sussurrou ao ver a mão adorável, delicada, que descansava na sua, e a trança negra, espessa e brilhante, caída sobre seu pulso. A cadeira fora puxada contra a cama, e Keira estava dormindo meio na cadeira e meio em sua cama. Lembrou-se de estar amarrado, mas, ou havia sonhado com isso, ou ela tinha soltado as amarras, exceto por sua perna direita. Sua face estava descansando em seu estômago, e ele amaldiçoou brevemente as cobertas que os separavam. Liam olhou para a mão que segurava perto de seu tórax, e perguntou-se quanto tempo ele tinha mantido a mulher cativa. Sentiu-se culpado por tê-la forçado a uma posição tão desconfortável, sabendo que estaria dolorida quando despertasse, mas ainda estava relutante em soltá-la.
Ela parecia tão inocente quanto uma criança enquanto dormia. Porém, na curva sensual de sua boca existia a sugestão de uma natureza apaixonada. Ela era bonita de um modo que se tornava mais evidente quanto mais olhava para ela. Quando ela entrava em um aposento, os homens poderiam lançar-lhe um breve olhar curioso, mas logo eles se encontrariam olhando-a novamente, até que ela capturasse seu interesse com a pureza de seus traços – sua pele bonita; Seu cabelo espesso, longo; E as curvas delicadas e femininas de seu corpo esbelto. Liam de repente recordou o som de sua voz, uma música suave, quente, e soube que ela teria apenas que dizer algo para prender a atenção de qualquer homem.
Ele sentiu o movimento de sua mão e resistiu ao desejo de agarrá-la mais forte. Ela pousou a mão sobre seu coração e suas sobrancelhas franziram nitidamente. Se ele não soubesse, pensaria que ela podia dizer que ele estava acordado simplesmente por tocá-lo. Lentamente, ela ergueu a cabeça e olhou para ele. Liam fitou seus sonolentos e profundos olhos verdes e sentiu uma torção estranha em seu coração, como se ela o alcançasse em seu tórax e o apertasse. A dor o estava fazendo delirar, ele decidiu.
Keira lentamente endireitou o corpo, estremecendo pelas dores que ganhou por dormir numa posição tão desajeitada. Corou um pouco ao encontrar seu olhar, envergonhada por ter sido flagrada com a cabeça em seu estômago e a mão em seu tórax. Recordando como ele se recusou a soltar sua mão mesmo enquanto dormia, seu embaraço diminuiu.
Seus olhos não estavam tão inchados hoje, embora ele usasse uma máscara lívida de contusões. Aqueles olhos eram certamente ferramentas de sedução, ela meditou. Bem desenhados, orlados por cílios quase femininos de tão longos e espessos, eles eram uma bela e intrigante mistura de azul e verde. Uma vez ela tinha visto água daquela cor. Sacudindo a cabeça para se livrar de sua fascinação, ela esfregou inutilmente as costas enquanto estudava sua cor.
"Você parece melhor" ela disse.
"Mesmo? Eu ainda sinto como se tivesse sido pisoteado," ele respondeu, estremecendo um pouco quando sua boca contundida protestou do movimento.
"E deve ser assim ainda por algum tempo, mas logo você estará amaldiçoando essa perna por mantê-lo deitado."
"Foi uma fratura feia? Sei que você falou disso da última vez que despertei, mas não consigo me lembrar de muita coisa."
"Não, não estava feia. Você tem sorte. Foi uma fratura muito limpa, e o osso não rasgou a pele. Não obstante, você precisará ser muito cuidadoso. É por isso que eu devo continuar a prender essa perna enquanto você dorme. Deve fixar bem, você sabe." Ela levantou-se e alisou suas saias. "É difícil dizer quanto tempo isso levará."
Justamente quando ela estava se perguntando como indagar se ele precisava de qualquer auxílio pessoal, o irmão Matthew chegou. Keira suspirou aliviada, enquanto deixava a pequena cabana. Tratar um homem inconsciente podia ser feito com certa calma. Um homem acordado – um homem grande, com olhos bonitos – era um assunto completamente diferente. Até quando ele não era mais do que um flácido, ocasionalmente lamurioso, corpo, ela não conseguiu ser completamente impessoal. Duvidou que qualquer mulher conseguisse isso enquanto atendia um homem tão bonito. Não queria que ele notasse sua apreciação, contudo. Isso podia trazer o tipo de complicação para a qual ela não tinha tempo no momento.
Depois de uma visita rápida aos arbustos, ela passou pelo poço e se lavou tanto quanto podia sem se despir completamente. Desde que pegara irmão Paul espionando-a, ela tinha se tornado mais cuidadosa. Pior, ele parecia pensar que a culpa era toda dela que ele estivesse encontrando dificuldade em controlar seus pensamentos e impulsos pecaminosos.
Keira suspirou e começou a voltar para a cabana. Ela teve o pressentimento de que teria problemas semelhantes. Saber que nenhuma mulher viva podia permanecer imune à atração de um homem como Liam Cameron não a fez se sentir muito melhor. Ela ainda sentia a ferroada da falta de desejo de seu marido por ela. A última coisa que precisava era se expor àquela humilhação novamente.
Liam praguejou vigorosamente enquanto irmão Matthew o ajudava a voltar para cama, e então se desculpou com o monge. Caiu de encontro aos travesseiros que o homem ajeitou atrás dele e esperou que a dor diminuísse um pouco. O eficiente irmão Matthew lavou o suor do corpo de Liam enquanto ele ficava lá esparramado, tão fraco e impotente quanto uma criança. Era humilhante, mas Liam teve que admitir que se sentiu melhor depois.
"Keira retornará logo," disse Irmão Matthew. "Se estiver disposto, ela o alimentará."
"Sim, eu me sinto faminto," Liam murmurou.
"Um bom sinal. Eu confesso, quando nós o encontramos, tive pouca esperança de que você sobrevivesse."
"Como vocês me encontraram? Não acho que tenha sido atacado nas terras do monastério."
"Não, mas não muito longe daqui." O irmão Matthew sorriu. "Minha prima tem um dom, como acontece com muitos dos Murray, entretanto é algo que mantemos em segredo, pois algumas pessoas não vêem isto como um presente de Deus. Keira teve um sonho, sabe? Um sonho lhe disse o que tinha acontecido a você, e onde encontrá-lo. Deus não estava pronto para levá-lo ainda."
"Eu acho que Ele não irá me querer nunca, velho amigo. Tenho seguido poucos costumes dos monges desde que deixei este lugar."
"Isso não me surpreende." O irmão Matthew sorriu quando Liam franziu o cenho. "Não encare como um insulto, meu amigo. Não foi essa minha intenção. Alguns homens podem ser verdadeiros fiéis, embora tão mundanos que a vida de monge ou de padre se torna uma escolha pobre. Tristemente, nem todos têm a escolha de retornar a sua antiga vida, como você fez. Eles se tornam fracos homens da igreja, e frequentemente dão má fama ao restante de nós. Acabamos sofrendo por seus pecados. É o mesmo com as freiras. Se obrigado, eu acredito que você teria sido muito bem sucedido dentro da igreja, e feito o melhor para manter seus votos, mas não teria muito prazer nisso. Não é nenhuma falha ou pecado. Afinal, tem que existir alguém para seguir a palavra de Deus, crescer e multiplicar. Não é?"
"É bem verdade, e não me preocupo. Até onde eu sei, não multipliquei ainda. Sim, eu sei, isso também é considerado um pecado, mas, eu acredito, um bem pequeno. Nosso lorde, meu primo Sigimor, não vê com bons olhos a procriação de bastardos. Para cumprir a vontade de Deus, eu gostaria de ter uma esposa, mas não possuo terras nem sou muito rico."
"E, talvez, não tenha encontrado alguém que consiga ver além de seu belo rosto."
"Sim, tem esse problema, embora soe presunçoso dizer isso. Contudo, este rosto pode não ser mais tão bonito."
"Ficará curado. Keira disse que não havia nada quebrado, embora tivesse certeza de que as pessoas que o espancaram estavam se esforçando para arruiná-lo. Ela ficou muito surpresa que seu nariz não tivesse quebrado."
Ouvindo palavras de seu primo quando entrava na cabana, Keira disse, ”Suspeito que eles encontraram dificuldade em golpear um alvo caído. E então, eles tentaram matá-lo, não é?”
"Não estou certo disso." Liam respondeu. "Quando caí pelas pedras, eu estava tão atordoado que não posso dizer se eles me empurraram ou se acabei caindo."
"Se você caiu, foi porque eles o estavam espancando e causaram sua queda. Quantos eram?"
"Quatro."
"Você tem sorte de ainda estar respirando."
"Não acredito que tinham a intenção de me matar. Não logo, pelo menos. Eles desceriam a colina atrás de mim para terminar o serviço, mas não fizeram isso. É o que me faz duvidar que planejavam me matar."
"Pode ser. Claro, eles podem ter simplesmente decidido que você estava morto ou logo estaria, então por que se incomodar? Existia pouca chance de você ser encontrado lá onde estava caído."
"Verdade. E meu cavalo?"
"Nos estábulos," irmão Matthew respondeu. "Todos os seus pertences estão seguros. Então, não foi um roubo qualquer."
"Talvez," disse Liam "embora eles possam ter ficado exaustos tentando pegar Gilmour. A besta não gosta de estranhos, especialmente homens, e pode correr mais que a maioria dos cavalos."
"Ele estava lá quando o encontramos." disse Keira enquanto se dirigia para o fogo para esquentar algum caldo nutritivo para ele. “Uma besta leal."
"Você não teve problemas com ele?"
"Oh, não. Ele ficou um pouco desconfiado com meu primo no começo, mas eu tive uma conversinha com ele. Ele não saía de perto de você. Não, nem quando o trouxemos para dentro. Tive que deixá-lo entrar, de forma que ele pudesse ver que você estava alojado em segurança. Porém, levou ainda quase dois dias para convencê-lo a ir para o estábulo."
"Você trouxe Gilmour para dentro?"
"Sim, ele estava irritando." Ela concentrou sua atenção em preparar uma caneca de sidra fortalecida com ervas curativas.
Liam olhou para um sorridente Irmão Matthew e riu suavemente. Aquilo doeu, mas ele ignorou a dor. Pela primeira vez desde que acordara na cabana, ele teve a certeza de que viveria. Não acreditava que estaria tão divertido se estivesse com o pé na cova.
"Ah, bem, você está rindo." disse Keira enquanto deixava a caneca sobre a mesinha ao lado da cama. "É um bom sinal." Ela se sentou na beirada da cama com uma tigela de caldo nas mãos. "Um homem agonizante não costuma encontrar muitos motivos para rir."
"A menos que ele seja muito obtuso para perceber que está morrendo." Liam falou devagar.
Ele engoliu o caldo que ela dava em sua boca. Era ralo, mas rico com o sabor de ervas e legumes. Liam esperava, porém, que não demorasse até que pudesse comer algo sólido. O fato de que a simples tarefa de engolir o caldo e a bebida o esgotasse fez com que percebesse que levaria muitos dias antes que estivesse recuperado o bastante para discutir sobre o que comia. Desabou contra os travesseiros quando ela afastou a tigela e a caneca vazias.
"Liam, você sabe quem fez isso com você?", perguntou irmão Matthew.
"Tenho minhas suspeitas," Liam respondeu, "mas eu não tenho certeza. Eles disseram algumas coisas enquanto me batiam, mas acho que deve demorar um pouco até que eu lembre de algo. Não existe muita chance de que isso ajude, entretanto."
"Um velho inimigo, talvez? Um do seu clã?”
"Não, eu não acredito."
"Bem, você vai resolver isso, estou certo. Quer que mandemos avisar sua família?"
"Não, não ainda, não até que eu tenha certeza de quem fez isso, e por que. Não quero trazer problemas à sua porta." Ele franziu o cenho. "Talvez eu devesse partir."
"E ir para onde, meu amigo? Não, você ficará aqui até que tenha se recuperado o bastante para viajar. Agora descanse. Nada melhor que o sono para ajudar o corpo a se curar."
Liam moveu levemente a cabeça em resposta e fechou os olhos. Quando ouviu irmão Matthew e Keira se afastarem, ele abriu os olhos o suficiente apenas para observá-los. Sentia-se fraco, mas não estava preparado para voltar a dormir. Sua dor fora aliviada por qualquer que fossem as ervas que Keira pôs na comida, e ele queira saborear aquilo por enquanto. Também estava curioso sobre esta mulher que salvou sua vida por causa de um sonho que teve. Embora ele acreditasse, mais ou menos, em tais coisas, e irmão Matthew obviamente aceitasse isso, Liam sentiu uma necessidade de manter a cautela. Não podia ignorar o frio fato de que se ela não o encontrou devido a uma visão, a única outra possibilidade era que soubesse sobre o ataque. Abominava a idéia de que ela tivesse parte nisso, mas uma coisa que aprendera em seu tempo na corte foi que era perigoso confiar muito depressa em alguém. Isso era especialmente verdade no que dizia respeito a belas moças que podiam provocar a luxúria de um homem.
"Precisa de ajuda no jardim hoje, primo?” Keira perguntou, enquanto tirava a panela de caldo do fogo e colocava sua panela de guisado de carneiro no lugar.
"Acho que você deve ficar aqui, não é?", irmão Matthew se sentou na pequena mesa próxima ao fogo. “Se não for dar muito trabalho, eu trouxe algumas roupas que precisam ser remendadas."
"Não, trabalho algum." ela assegurou enquanto se sentava diante dele na mesa. “Isso me dará algo para fazer enquanto ele dorme. Aparte uma pequena limpeza, vigiar meu guisado e tomar um banho, não há muito o que eu fazer."
"Você terminou toda aquela costura que estava fazendo? Eram alguns presentes, não?”
"Sim. Eu terminei a túnica para mamãe. Preciso decidir o que bordar na da vovó. E restam ainda alguns meses para terminar as outras. Na verdade, se não tivesse comprado todo tecido e linha de lady Morrison, eu não estaria fazendo presentes agora de qualquer maneira. E toda aquela adorável renda.” Keira murmurou e meneou a cabeça. “Me senti culpada de ter pago tão pouco por tudo isso"
"Ela precisava do ouro, e você não a enganou. Muitos teriam feito isso ao perceber o quanto ela estava desesperada. Ela ficou muito grata pelo que você deu a ela.” Ele relanceou o olhar para panela no fogo. “Guisado de carneiro, você disse?”
Keira riu. "Sim. Planeja comer comigo agora, é?"
"Sim. Quando há uma escolha entre o que é servido no monastério entre a comida do monastério e seu guisado de carneiro, temo que minha capacidade de resistir à tentação é muito fraca. Talvez um jogo de xadrez, também."
"Você acha que perder para mim seria penitência suficiente por apreciar meu guisado?"
"Quanta arrogância." O irmão Matthew censurou e meneou a cabeça. “Eu poderia ganhar."
"Sim, você poderia" ela murmurou, e ambos sorriram.
"Bem, melhor eu voltar ao monastério.”, ele disse enquanto se levantava. "Você vai precisar que eu volte aqui, digamos, por volta do meio-dia?"
"Para ajudá-lo?" Ela perguntou enquanto o seguia até a porta, e ele acenou a cabeça em resposta. “Não, eu posso cuidar disso. Já o fiz antes."
Irmão Matthew franziu o cenho e hesitou do lado de fora. “Isso não é certo."
"Sou uma curandeira, primo. Ele é um homem ferido que ainda tem uma perna presa à cama. E eu o atendi eu mesma antes que ele despertasse. Vá, cuide de seu trabalho. Eu ficarei bem. Além do mais, eu provavelmente encontrarei tempo para fazer uma torta melada de aveia."
"Você é uma moça malvada por lançar tal tentação diante de um homem do clero.”, ele disse, meneando a cabeça novamente à medida que se virava.
Keira riu e então, deixando a porta aberta de modo que pudesse ouvir se Liam gritasse, começou a tediosa tarefa de preparar a água para seu banho. Era indubitavelmente impróprio até mesmo pensar em fazer aquilo com um homem compartilhando a minúscula cabana com ela, mas sentia uma forte necessidade de tomar um banho. Um cobertor ou dois estendidos em torno da tina deveriam fornecer privacidade suficiente. Pensando em irmão Paul, decidiu que também trancaria a porta.
Liam piscou e conteve um gemido quando a consciência de seus vários ferimentos o atingiu ao despertar. Não conseguia recordar quando adormecera. Num momento, estava ouvindo Keira e irmão Matthew conversando, e no próximo estava despertando de um sono profundo. Suspeitou que o que quer que ela tivesse posto na sidra, ou até no caldo, não só aliviava sua dor, mas também o induzia a dormir, quisesse ele ou não.
Relanceando o olhar pela cabana vagamente iluminada, perguntou-se por quanto tempo teria dormido. Keira estava sentada próxima a uma janela minúscula nos fundos da cabana, costurando o que parecia uma túnica feminina. Um rápido olhar para os hábitos dos monges nitidamente dobrados sobre um tamborete perto da porta disse a Liam que ele havia dormido por um tempo longo o bastante para ela terminar aquela tarefa..
Ele a examinou enquanto ela ficava sentada muito pacientemente manejando sua agulha, e tentou recordar tudo o que ouviu antes de adormecer. Ela e o irmão Matthew soaram apenas como os primos que alegavam ser, falando das pessoas que conheciam e arreliando um ao outro. Liam sentiu uma fisgada de culpa por sua desconfiança. A mulher obviamente tinha cuidado dele por dias. Teve amplas oportunidades de lhe fazer mal, se assim quisesse. Ninguém teria questionado se ele não sobrevivesse aos seus ferimentos. Depois de tudo que ela fizera por ele, não seria tolice confiar nela.
Havia, porém, pelo menos uma coisa que o fazia hesitar em confiar nela. Por que ela estava vivendo aqui em uma cabana minúscula baseada em um monastério? Do pouco que fora dito, Liam conseguiu notar que ela estava vivendo ali há algum tempo. Por que ela não voltou para sua família? Tudo o que ele já ouvira sobre aquele clã lhe disse que os Murray eram muito ligados e extremamente leais uns aos outros. Duvidou que houvesse muitas coisas que eles não perdoariam, ou em que não ajudariam.
O irmão Matthew parecia não ter nenhuma dúvida sobre ela ou sua história, mas Liam estava bem ciente da natureza doce e crédula dele. O homem podia também estar cego pelo fato da bela mulher pequenina ser parente de sangue dele. Percebeu que acharia difícil manter a cautela, especialmente quando observasse aqueles grandes olhos verdes. Ou fitasse aquela boca tentadora. Ou ouvisse aquela voz sedutora. Liam praguejou internamente. Seria realmente muito difícil.
Ele moveu o corpo numa tentativa vã de ficar mais confortável e notou que sua perna quebrada estava apoiada em várias almofadas e ainda presa à cama. Um momento mais tarde, ele também percebeu que seu movimento chamou a atenção de Keira. Observou enquanto ela guardava sua costura e se movia em sua direção. Isso era outra coisa que seria melhor não fazer muito frequentemente, se desejasse manter sua mente afiada e cautelosa, pensou triste, pois ela tinha uma graça quase sensual ao caminhar..
"Acho que você está se recuperando rapidamente, sir Liam.", Keira disse enquanto o examinava.
"Eu não me sinto muito recuperado," ele disse enquanto ela examinava sua perna quebrada.
"Não, suspeito que todas essas dores que você sofre agora não o deixam ver a verdade, mas eu posso ver isso na cor de suas contusões e na quantidade do inchaço. Ambos diminuíram mais rapidamente que em outras pessoas de quem cuidei, e isso é bom. Sua perna não está inchada como outras das quais tratei."
"Então por que ainda está amarrada à cama? E por que você a apoiou sobre essas almofadas?”
"Ela está amarrada para que você não a mova junto com o resto do corpo. Não só a dor que isso causaria perturbaria seu descanso, como também poderia facilmente destruir a sua recuperação. Está erguida para evitar o inchaço, mas creio que logo isso não será mais necessário. Oh, você terá que descansar muito e mantê-la erguida de vez em quando por várias semanas ainda, mas a menos que você faça algo muito tolo, creio que logo estará usando essa perna novamente. Pode se sentir fraco no início, mas nada mais que isso."
Liam praguejou, depois resmungou uma desculpa por seu linguajar, e então suspirou. "Quantas semanas?"
"Seis ou mais até que remover a tala e as ataduras. Não posso dizer quanto tempo depois disso até que você possa andar com a mesma facilidade e graça de antes. Isso vai depender de você, mas acredito que não demorará muito, pois você é jovem, forte e saudável. Se você se cuidar, não ficará coxo.”, ela acrescentou, sutilmente lembrando-o da sua boa fortuna.
"Eu sei disso. Sou realmente muito afortunado. Só estou irritado." Ele esboçou um fraco sorriso em retribuição ao seu enquanto ela o ajudou a se sentar contra os travesseiros que apressadamente ajeitou contra suas costas. "Acho que alguns monges devem estar descansando suas cabeças em uma cama muito plana.”. Ela riu, e o som rouco e baixo provocou um calor perigoso dentro dele.
"Alguns fazem isso de qualquer maneira, pois acham que travesseiros macios são uma indulgência pecaminosa, mas, sim, restam poucos no monastério agora.”
"Não creio que esteja na hora do irmão Matthew chegar, não é?” Liam perguntou, ciente de uma necessidade urgente, e relutante em pedir ajuda numa tarefa tão pessoal à mulher que lhe agitava o sangue.
"Ah, não, mas um dos rapazes está aqui. Ele trouxe algum feno para seu cavalo. Irei buscá-lo para você."
Assim que ela saiu, Liam fechou os olhos e recitou todas as pragas em que pôde pensar. Poderia ser sábio parar de tentar se manter cauteloso e usar toda sua força de vontade para se impedir de agarrá-la. Ele não podia recordar qualquer mulher que provocasse sua luxúria tão rápida e ferozmente quanto esta fazia. Pior, ela não estava nem tentando fazer isso. Não existia a menor sugestão de flerte em suas maneiras. Ela não lhe lançou nenhum olhar tímido, nenhum elogio suave, e nenhum sorriso convidativo, mas apesar da dor que sentia, ele a desejava como nunca desejara uma mulher antes.
Keira retornou com um menino magro que ainda não tinha as mãos e os pés crescidos. Ela apresentou o jovem Kester e então se afastou apressada. Liam observou o olhar fixo do jovem atrás dela e o ouviu suspirar. Obviamente o menino era velho o bastante para sofrer uma paixão por uma mulher. Liam supôs que deveria encontrar algum conforto na revelação de que não era o único encantado por Keira. Porém, pensou preocupado quando o menino finalmente se virou para ele, Kester não estava jogando com sua vida.
Uma quinzena de dissimulação, Keira pensou enquanto terminava de colher ervas do jardim do monastério e começava a se dirigir para cabana. Era assim que ela via o tempo que passou com sir Liam Cameron. Para ser honesta consigo mesma, ela supôs que devia dizer que eram dez dias de dissimulação, por Liam ter estado inicialmente inconsciente, e depois descansando, por quatro dias. Foi quando sua mente começou a clarear e eles passaram a realmente conversar sobre algo mais do que seus ferimentos que a dissimulação verdadeiramente começou.
Ela meneou a cabeça pela própria tolice. A dissimulação era necessária. De certo modo, era um ato de auto-preservação. Ela tinha que se manter distante dele de qualquer maneira que pudesse. Era impossível deixá-lo quando ele ainda precisava de seus cuidados, mas em todos os outros aspectos ela teria que erguer uma barreira entre eles. Se revelasse alguns de seus confusos mas intensos sentimentos por ele, e ele correspondesse o mínimo que fosse, ela temia que estaria perdida. O homem provou ser tudo o que ela poderia querer, mas estava fora do seu alcance.
Havia também Ardgleann e seu povo a considerar. Parra ajudá-los, teria que sustentar uma mentira. Duncan a fez prometer-lhe pouco antes de sua morte. Não era um voto que ela pudesse se arriscar a quebrar. Não havia lugar para relacionamentos, um modo de ela conseguir o que almejava mais a cada dia, e ainda manter sua promessa a seu marido assassinado.
Colocando sua cesta no chão enquanto se aproximava do poço da cabana, Keira foi se limpar da sujeira que acumulou enquanto colhia ervas do jardim. Ela se sentira obrigada a trabalhar algum tempo no jardim em pagamento pelas ervas que colhera, e aquele era o resultado. A pouca vaidade que possuía não permitiria que ela entrasse na cabana onde Liam descansava sem ao menos tentar parecer um pouco melhor.
"Mulher tola," ela resmungou para si mesma enquanto pegava um balde de água.
"Sim, você é. Pensou que podia continuar tentando um homem até a loucura e não sofrer as consequências."
Keira silenciosamente praguejou enquanto se virava para enfrentar irmão Paul. O homem parecia ruborizado, com o olhar selvagem, e perigoso. Ela estava convenientemente presa entre ele e o poço, armada apenas com o trapo que tinha umedecido para se limpar. Isso, ela pensou, poderia ser desagradável, pois ele não parecia estar no humor para ouvir a razão.
Liam se sentou na beirada da cama e olhou de cara feia para a porta da cabana. Estava inquieto. A maior parte de seus ferimentos estava curada, mas sua perna quebrada o mantinha preso. Embora tivesse passado a manhã mancando pela cabana com sua muleta, tentando fazer aquilo com alguma graça, ele não estava cansado. Estava aborrecido. Não havia nada para fazer, e ninguém para conversar com ele, então ficou lá sentado, se perguntando quando Keira voltaria. Era um triste fim para um homem que nunca teve que esperar qualquer mulher antes, ele pensou, e sorriu brevemente da arrogância de tais pensamentos.
Manter uma distância segura de Keira estava provando ser tão difícil quanto ele imaginara, e não porque ela era a única mulher por perto. Ela o fascinava tanto quanto o excitava. Era uma combinação perigosa. Quanto mais ele a observava, mais bonita ela se tornava. Sabia que ela estava guardando alguns segredos, e queria descobrir cada um deles.
O fato dela também estar tentando se manter afastada dele não o estava ajudando. Ao contrario, serviu para intrigá-lo. Liam sabia que ela não estava agindo intencionalmente, mas aquele ar de mistério ao ser redor o atraía, tentando-o a ultrapassar os limites que se impusera. Mesmo lembrando a si mesmo que tinha pouca coisa para oferecer a uma mulher como ela, não conseguiu refrear seu crescente interesse. Por um breve momento, quando descobriu que ela era viúva, até considerou se tornar seu amante por algum tempo, mas desistiu desse plano tentador. Viúva ela até podia ser, mas Keira era uma mulher feita para o casamento. Embora tivesse ouvido que os Murray permitiam que suas mulheres escolhessem os maridos, duvidava que aceitariam um pobre cavaleiro sem terras.
Enquanto se perguntava por que a idéia de casamento continuava rondando sua mente, ele ouviu um barulho. A princípio, pensou que era Kester retornando com Keira, seguindo-a como um fiel cachorrinho, como era de hábito. Então ele percebeu que as vozes estavam exaltadas, pois caso contrário não poderia ouvi-las através da porta. Mal se perguntara se devia mancar até a porta para ver com quem Keira poderia estar discutindo ou se teria em breve outra companhia para lidar, quando ouviu um breve e alto grito feminino.
Praguejando contra sua falta de jeito com a muleta nova, Liam caminhou até a porta. Ele a abriu, saiu, e quase soltou num urro a ira que o invadiu. Um monge prensava Keira no chão. Por um momento Liam viu Kester à distância, mas o menino tropeçou e caiu enquanto corria para socorrer Keira. Quando viu que o monge lutava contra as saias de Keira, Liam esqueceu sua perna ferida, esqueceu sua dor, e avançou apressado em direção ao casal que lutava.
Keira não conseguia acreditar na velocidade com que irmão Paul a prendera no chão. Num minuto eles estavam discutindo, no próximo ela estava embaixo dele. Ele cheirava fortemente a cerveja inglesa e suor, e estava provando ser mais forte do que ela esperava.
"Irmão Paul, lembre-se de quem você é!”, ela rogou enquanto tentava impedi-lo de agredi-la. “E os seus votos?"
"Eu sou antes um homem," ele resmungou enquanto lutava para erguer suas saias sem diminuir a pressão sobre ela. “Eu rezei por orientação e força até meus joelhos ficarem esfolados, mas você continua me tentando. Eu me penitenciei severamente, mas você continua assombrando meus sonhos. Eu tentei tão arduamente...”
De repente irmão Paul foi tirado de cima dela, seu discurso terminando abruptamente em um gargarejo estrangulado. Keira observou fascinada enquanto Liam segurava o homem com uma mão várias polegadas acima do chão. O rosto bonito de Liam estava endurecido pela fúria enquanto o de irmão Paul estava branco de medo.
"Você obviamente não tentou o bastante.", Liam disse, sacudindo o homem ligeiramente. “Você é um idiota. E se tocar na moça novamente, será um idiota morto."
Keira mal tinha se levantado quando Liam jogou o monge apavorado de lado. Ela ficou boquiaberta quando irmão Paul aterrisou pesadamente no chão vários metros depois e ficou lá esparramado, ofegando como um peixe fora d’água. Quando ela se virou para encarar Liam, Kester veio até eles tropeçando.
"Milady! Está ferida?" Kester perguntou.
"Não, só um pouco dolorida.”, ela respondeu,sorrindo para o jovem para aliviar sua óbvia preocupação. Quando olhou para Liam novamente, ela se deu conta de repente que ele se apressou para salvá-la e atacar irmão Paul com sua perna quebrada. “Oh, sir Liam, o senhor não deveria ter vindo aqui fora! Eu sou-lhe muito grata, mas o senhor poderia ter machucado sua perna."
"Já está ferida.", a raiva de Liam estava se esvaindo, e ele estava se tornando muito consciente da dor intensa em sua perna quebrada.
"Eu quis dizer que o senhor podia ter arruinado sua recuperação."
"Ah, bem, você pode ter razão.”, ele percebeu que tinha largado sua muleta quando agarrou o monge, e começou a procurá-la. “Está claro que ela não gostou do exercício.”
Keira rapidamente ergueu sua muleta e a entregou, então se colocou do outro lado dele para apoiá-lo. O homem de repente estava muito pálido, e havia um fraco brilho de suor em seu rosto. Ele devia estar em agonia, mas não emitiu nenhum som.
"Kester, veja que irmão Paul volte para o monastério.”, ela disse para o menino, enquanto começava a ajudar Liam a voltar para cabana.
"Sim, milady.” Um carrancudo Kester se moveu em direção ao gemente monge. “Ele deverá pagar uma terrível penitência por isto.”
O menino parecia bastante feliz com aquela possibilidade, Keira pensou, então esperou que ele estivesse certo. O irmão Paul merecia um castigo por tentar forçar uma mulher pouco disposta a aceitá-lo e, pior, se convencer de que era tudo culpa dela. Duvidou, porém, de que ele fosse castigado por aquela última estupidez. Sem dúvida existiam muitos no monastério que concordariam com ele.
Assim que ajudou Liam a se deitar, Keira começou a remover as ataduras e a tala de sua perna. O fato de ele permanecer imóvel, o braço sobre os olhos e a respiração um pouco irregular, lhe disse que ele estava com muita dor. Rezou para que ele não tivesse destruído todo seu progresso.
Quando não encontrou nenhum sinal de dano adicional em sua perna, ela suspirou aliviada. Obviamente ele tinha causado muita dor a si mesmo, mas não machucou realmente sua perna. Keira relanceou um olhar para seu rosto, mas ele ainda tinha os olhos cobertos. Sua respiração tinha acalmado um pouco, e ela se perguntou se ele tinha desmaiado. Sabia que podia aliviar sua dor, mas estava um pouco relutante em revelar sua habilidade. Então se censurou por seus medos. O homem já sabia que ela o encontrara por causa de uma visão, e não a tinha acusado de ser uma bruxa. Existia também a chance dele nem perceber o que ela fazia. Depois de um último olhar em seu rosto, ela pôs as mãos em sua perna e fechou os olhos, sentindo onde a dor era pior e trabalhando para aliviá-la.
Liam sentiu as pequenas e suaves mãos de Keira em sua perna e a perscrutou por baixo de seu braço. O toque de suas mãos afastou o pior de sua dor. Havia um calor crescente e um formigamento estranho, não completamente desagradável. Seus olhos se arregalaram quando percebeu que ela sabia exatamente o que estava acontecendo com ele, o que seu toque podia fazer, enquanto ela ficava lá com seus olhos fechados e um ar de intensa concentração em seu rosto doce. Um breve estremecimento de medo passou por ele, um medo supersticioso do extraordinário, que ele rapidamente afastou. Embora se sentisse um pouco atordoado quando ela finalmente afastou suas mãos, soube no fundo de sua alma que ela nunca poderia machucá-lo, nem a ninguém, que ela era uma verdadeira curandeira.
Ele se forçou a manter a pose de quase inconsciência quando ela deslizou o braço sob seus ombros e despejou sidra fresca e doce em sua garganta. Aquilo não era muito difícil, por ele se sentir atordoado. Ela parecia pálida, e estava um pouco trêmula. Liam a observou tropeçar até a mesa perto do fogo. Arregalou os olhos quando ela bebeu um grande gole de sidra e despejou mel sobre pedaços de pão, enfiando-os na boca tão rápido que suas bochechas ficaram ligeiramente estufadas. De repente ele sentiu uma ânsia pela comida que ela estava devorando muito rapidamente.
"Acredita que eu poderia ter um pouco disso?”, ele perguntou.
Keira ficou tão surpresa que quase sufocou com o mel que encharcava o pão que estava comendo como um porco esfomeado. Então sentiu o calor de um rubor feroz queimar suas bochechas. Ela estava diante de um belo homem a quem desejava, com sua boca tão cheia de comida que mal podia mastigar e mel escorrendo por seu queixo. Era impossível agir como se não houvesse nada de incomum em sua gulodice, mas ela decidiu tentar de qualquer forma. Limpando o mel de seu queixo com um pano, ela rapidamente espalhou mel em alguns pedaços de pão, colocou-os em um prato de madeira e levou-o até ele. Apenas quando entregou-lhe o prato foi que ela percebeu que ele talvez não estivesse inconsciente enquanto ela trabalhava para aliviar sua dor, e nesse caso existia uma grande chance que ele soubesse o que ela tinha feito. Embora não visse nenhum medo ou condenação em seus olhos, ela ficou tensa enquanto o esperava dizer algo. Estava dividida entre a esperança de que ele soubesse o que ela fizera e aceitasse isso, e a esperança de que ele realmente não tivesse notado nada estranho.
"Por que você está mancando?”, Liam perguntou enquanto saboreava o gosto rico do pão com mel.
Praguejando intimamente,Keira tentou pensar numa explicação razoável para sua súbita claudicação. Quando aliviava a dor de uma pessoa, normalmente a absorvia, e ainda não dominara totalmente um meio de se livrar dela. Não era algo que pudesse dizer a ele, porém. Ainda se agarrava a pequena esperança de que ele realmente não soubesse o que ela tinha feito.
"É apenas uma pequena contusão, por ter sido atirada ao chão por irmão Paul.”, ela respondeu, contente com sua resposta até que viu o brilho divertido em seus belos olhos.
"Ah, que tolice a minha. Eu me perguntava se ao tirar a dor da minha perna, de alguma maneira ela passou para você. Estranho que é a perna direita, também. Exatamente como a minha.”
"As pessoas só têm duas pernas. Não há muita escolha sobre qual se fere.” Ele sabia, Keira pensou, e perguntou-se porque ainda estava tentando negar seu dom, especialmente quando suas evasivas pareciam estar divertindo-o tanto.
"Verdade." Liam terminou o último pedaço de pão, então desnecessariamente lambeu o mel pegajoso de seus dedos antes de perguntar. “Por que você não pode apenas aliviar essa dor, como fez com a minha?" Ele teve que engolir uma risada quando ela plantou os pequenos punhos em seus quadris suavemente arredondados e o fulminou com o olhar.
A diversão de Liam abruptamente se dissipou quando ele viu que atrás de sua raiva o medo espreitava, e xingou-se de idiota. Claro que ela teria medo. Embora seu primo tivesse falado de sua visão, ele também salientou que os Murray eram cautelosos na revelação dos dons com que o clã fora tão intensamente abençoado. Era perigoso possuir tais habilidades. Muitos as veriam como feitiçaria ou trabalho do diabo. A última coisa que ele queria era que Keira tivesse medo dele.
"Pobre pequena Keira," ele murmurou “você não precisa temer que eu faça o sinal da cruz para repelir o mal. Sim, quando percebi o que você estava fazendo, eu senti um pequeno comichão de medo supersticioso, mas eu superei isso. A esposa do meu primo conhece bem o seu clã e se encarregou de banir tais tolices de nossas cabeças e corações."
Keira se sentiu relaxar. "Quem é a esposa do seu primo?"
"Fiona, antes uma MacEnroy. Irmã de Connor MacEnroy. Ele é casado com uma prima sua, eu creio."
"Sim, com nossa Gilly. Eu conheci Fiona. Ela é uma curandeira muito habilidosa."
"Sim, ela é. Então você toma a dor para si?"
Sentando na cama, parecendo de repente muito cansada, Keira acenou a cabeça. “Ela tem que ir para algum lugar, não é? Eu ainda não encontrei um jeito de me livrar dela. Não costuma durar muito. Às vezes, quando consigo, me imagino de pé na chuva ou embaixo de uma agradável cachoeira, deixando a água fresca lavar isso tudo para longe."
Ela fechou os olhos e lutou para preencher sua mente com a visão de si mesma nua embaixo de uma agradável queda d’água. Respirando devagar, ela deixou a sensação de ser limpa encher sua mente e seu corpo. Pouco a pouco, sentiu a dor abandonar sua perna. Logo após aquele alívio, veio a sensação de esgotamento absoluto.
"Então você realmente teve uma visão sobre mim?”, Liam perguntou, um pouco surpreso de como a expressão de dor lentamente desaparecia do seu rosto.
"Sim," Keira respondeu, muito cansada até para abrir os olhos para olhar para ele. “Eu só gostaria que tivesse me avisado do ataque a você. Nós poderíamos tê-lo impedido."
"Você me poupou de morrer. É o suficiente. Você costuma ter visões com frequência?” Quando ela não respondeu, ele a observou mais de perto e notou que ela dormira sentada. "Oh, pobre mocinha."
Cautelosamente, não querendo fazer a cama se mover demais, Liam se sentou. Gentilmente pegou Keira pelos ombros para tentar acomodá-la mais confortavelmente na cama. Ela quase caiu em seus braços, seu corpo tão mole e frouxo que ele pensaria que ela estava morta se não pudesse ver que ainda estava respirando. Quando ele se recostou novamente sobre os travesseiros, aconchegando-a ao seu lado, ela murmurou algo que soava muito como um gentil obrigado. Então ele quase gemeu em voz alta quando ela o envolveu com seu braço e se aconchegou ainda mais, sua face suave apertada contra seu ombro. Toda sua luxúria despertou em resposta, assim como uma certa parte estúpida e impertinente do seu corpo.
Keira Murray MacKail era suave e cálida, e cheirava bem. Lavanda e, ele sorriu, um toque de mel. Ele estava falhando miseravelmente em ser somente friamente cortês com ela, e perguntou-se por que apenas não desistia. A idéia o atraía, assim como ela. Demais. Ele agora acreditava que Deus lhe mandou uma visão, permitindo que ela e irmão Matthew salvassem sua vida miserável.
Ele podia confiar nela. Isso não mudava, porém, quaisquer das outras razões pelas quais ele achava melhor se manter afastado dela. Ela estava muito além do alcance do primo do senhor de um pequeno feudo que era, de muitas formas, não muito mais que um simples guerreiro. Ele simplesmente não podia acreditar que o hábito dos Murray de permitir a suas mulheres alguma liberdade na escolha de seus maridos se estendesse a alguém como ele.
"Keira!" O irmão Matthew chamou enquanto entrava apressado na cabana.
Liam silenciou o homem com um movimento cortante de sua mão. Quando irmão Matthew se aproximou da cama, Liam notou como olhar de preocupação no rosto do homem começava a se transformar numa expressão de sombria suspeita, e suspirou. Ele se ofendeu um pouco que seu velho amigo pensasse que ele seria capaz de seduzir uma mulher que cuidara tão bem dele, mas Liam suspeitou que até os monges enclausurados pudessem ter ouvido algumas histórias sobre ele.
"Ela adormeceu sentada na beirada da cama,” Liam explicou enfrentando a carranca do monge com uma calma inabalável, "depois que aliviou a dor em minha perna."
"Pôr unguento em sua perna não deve fatigá-la assim."
Então eles eram mais reservados sobre suas mãos curativas que suas visões, Liam pensou. “Não, nenhum unguento. Suas mãos." Provavelmente era bom que este parente dos Murray em particular fosse um monge enclausurado, Liam decidiu, pois o rosto de irmão Matthew era extremamente fácil de ler. "Vamos, velho amigo, nós podemos não ter nos visto muito nestes últimos anos, mas você realmente pensa que eu poderia condenar a moça por seu dom, ou que não tivesse a sensibilidade para saber que deve ser mantido em segredo muito bem protegido?"
O irmão Matthew suspirou e esfregou seus olhos. "Não, claro que você não faria isso."
"Nem seduziria uma moça bem nascida como ela, uma recém viúva, que sem dúvida está muito acima do que alguém como eu jamais estarei." Liam sufocou uma pontada de culpa, por sentir que aquilo não era inteiramente verdade. Ele tinha toda intenção de tentar manter aquela atitude galante, mas estava começando a pensar que o destino estava trabalhando contra ele.
"Perdoe-me pelo insulto." O irmão Matthew meneou sua cabeça.
"Não fiquei ofendido. Confesso que não fui nenhum santo desde que deixei este lugar." Liam compartilhou um breve sorriso com seu velho amigo. "Não, eu quero dizer que não faria mal nenhum a ela. Mas esqueci de cuidar da minha perna quebrada. Quando vi aquele idiota prendendo-a no chão, fiquei tão enfurecido que agi como se tivesse duas pernas boas."
"Ele será severamente punido, entretanto, talvez não tão severamente quanto gostaríamos. Ele a machucou?"
"Não, embora tenha sido o bastante para deixar algumas contusões. Ele estava lutando para erguer suas saias quando os vi e me apressei a bancar o herói. Depois que o lancei de lado e a raiva começou a enfraquecer, a dor foi excruciante. Ela fez o que quer que ela faça com aquelas mãozinhas, comeu como um porco, então adormeceu no meio de uma conversa. Ela tomou a dor para si mesma.”, ele murmurou com atrasada admiração.
"Sim, é como frequentemente trabalha. Leva um tempo para se livrar da dor, então dorme profundamente por algumas horas. Somos cautelosos sobre suas visões, mas tais coisas são aceitáveis para muitas pessoas. Mas curar com as mãos, aliviar a dor com um toque?” irmão Matthew encolheu os ombros. “Isso costuma provocar medo e sussurros perigosos sobre feitiçaria. Acho que seu marido sabia sobre seu dom, embora ela não tenha contado. Acredito que é um dos motivos pelos quais quis se casar com ela."
"Ele estava doente?"
"Oh, ele pareceu bastante saudável, mas era um homem problemático. Ela foi avisada por muitos de nosso clã que podem sentir tais coisas, mas casou-se com ele assim mesmo. Keira pode ser teimosa. Eu sei que posso me preocupar demais com ela. É uma de minhas primas favoritas, e estes últimos meses têm sido de muita provação para ela. Sim, e ela enfrentará mais provas nos próximos meses. Ela é forte, mas, talvez, muito bondosa, e não conhece muito do mundo."
"Ela amava seu marido, então?"
"Eu penso que ela o teria amado se eles tivessem mais tempo, ou pelo menos, gostaria muito dele e seria uma boa esposa para ele. Ela o escolheu porque já tinha mais de vinte anos e nunca encontrou um homem que a atraísse. Ela queria sua própria família, sabe. Infelizmente, eles passaram pouco tempo casados, e ele não deixou nenhuma criança."
"Como ele morreu?"
"Assassinado por Rauf Moubray, que também a feriu. Ela conseguiu escapar, mas prometeu a seu marido antes dele morrer que ajudaria as pessoas de Ardgleann, arrancaria as terras roubadas das mãos de Rauf."
"O homem pôs um fardo pesado sobre seus pequenos ombros fazendo-a prometer tal coisa. Como ele esperava que esta misteriosa moça fizesse isso? Eu ouvi falar das histórias sobre a brutalidade de Rauf Moubray.”
"E provavelmente é tudo verdade. Como ela pode cumprir sua promessa a seu pobre, desventurado marido? Eu não sei, e nem ela, especialmente quando ela abomina a idéia de arrastar sua família para este problema." O irmão Matthew levemente o espesso cabelo de Keira. "Nestas ocasiões, eu posso quase lamentar minha vocação, por não ser um guerreiro, não ter habilidade de luta para lhe oferecer, embora quisesse ser seu campeão."
"Então eu o serei." disse Liam e tentou não ficar ofendido pelo óbvio olhar de surpresa de irmão Matthew.
"Você tem uma perna quebrada, Liam."
“Vai sarar. Ela não vai correr para salvar Ardgleann amanhã, não é?”
"Bem, não, mas..."
"Eu devo minha vida a moça. O mínimo que posso fazer é tentar ao máximo me certificar que ela não consiga ser morta tentando cumprir a promessa que seu marido arrancou dela." Ele piscou para irmão Matthew. “Sim, e eu gosto bastante da idéia de ser um campeão. Talvez, daqui a alguns anos, alguém comporá uma canção sobre mim.” Ele riu junto com seu amigo.
"Até que me faz descansar melhor saber que um homem forte a aguarda na batalha adiante."
"Então está acertado."
"Sim, entre nós. Você pode descobrir que aquela pequenina moça não será tão rápida em concordar. Como eu disse, ela pode ser teimosa.”
"Então eu também posso, meu amigo. Então eu também posso."
Um som estranho e alto de raspagem veio de fora da porta da cabana. Liam olhou através da mesa para Keira e sorriu. Ela estava extremamente concentrada no tabuleiro de xadrez entre eles, planejando um movimento que provavelmente o derrotaria novamente. Ele queria arrastá-la através da mesa e beijar aqueles lábios que ela prendia suavemente entre os dentes. Ele se agarrava ao pouco que restava de sua resistência, mas depois de um mês convivendo com ela noite e dia, esta estava se fazendo em tiras rapidamente.
"Eu acredito que Kester acabou de chegar para uma visita.”, ele disse, sorrindo quando ela lhe lançou um olhar carrancudo, pois a repreensão muda era desmentida pelo riso em seus belos olhos.
Keira levantou-se, moveu uma das peças de xadrez finamente esculpidas, e disse, "Xeque-mate."
Enquanto caminhava para a porta, ela sorriu ao vir Liam praguejar baixinho. Ele ainda não a tinha vencido, mas era bom o suficiente para apresentar um desafio real. Duvidava que ele ficaria satisfeito se lhe dissesse isso. Poderia também soar muito arrogante, ela pensou enquanto abria a porta para encontrar Kester espanando a sujeira da túnica.
Kester sorriu para ela, que retribuiu. Ele seria um homem grande e bonito, quando finalmente crescesse naqueles pés sobre os quais vivia tropeçando. Ela também tinha o forte pressentimento que Kester não queria realmente se tornar um monge, que ele faria o máximo possível, mas nunca seria realmente feliz. Isso a aborrecia, mas até agora não lhe ocorrera nada que pudesse fazer por ele. Além do mais, ela tinha seus próprios problemas para tratar, problemas que não lhe deixavam nem sagacidade nem força para lidar com os de outra pessoa.
"Milady, uma pessoa está procurando por sir Liam.”, Kester disse, seus olhos azuis escuros maiores pela curiosidade.
"Quem?" Liam indagou enquanto se movia para ficar atrás de Keira.
"Uma mulher chamada Maude, lady Maude Kinnaird."
Liam praguejou baixinho, sua raiva realçada pela maneira como Keira enrijeceu. “Alguém disse a ela que estou aqui?”
"Não ainda, mas eu temo que alguém logo o faça. Ela é sua inimiga?"
"Não, mas é um incômodo. Acredito que seu marido seja, porém."
"Seu marido?" Keira virou para enfrentar Liam. "Ela é casada, e ainda assim o persegue pelo país?"
Liam achou um pouco assustador ser encarado fixamente por Keira e Kester, parecendo ambos chocados. Também era irritante ver a censura refletir em seus olhos. Não tinha tempo para explicar aquele assunto, porém, nem estava particularmente disposto a isso. Saboreou brevemente alguns pensamentos muito sombrios sobre lady Maude Kinnaird, que parecia incapaz de entender a palavra não, então o som de cavalos se aproximando desviaram seu olhar para alem de Keira.
"Alguém disse a ela, maldito seja!" Ele puxou Kester para dentro, afastou Keira de lado e fechou a porta com uma batida violenta. “Tranque isto," ele ordenou e foi mancando recuperar sua espada do baú onde tinha sido colocada aos pés da cama.
Keira virou-se depois de trancar a porta e ficou boquiaberta ao ver Liam pondo sua espada e bainha. "É só uma mulher! Você costuma saudar suas amantes rejeitadas com uma espada?"
"Ela não é minha amante," Liam explodiu.
"Ah, bem, sir, no monastério ela disse..." , começou Kester.
"Não me importa o que a mulher disse. Eu começo a pensar que ela está louca."
"Liam, meu amor!" Chamou uma mulher de fora da porta. "Eu sei que você está aí!"
Por um breve momento, Keira viu um rosto muito bonito perscrutando pela pequena janela ao lado da porta. Então Liam fechou as grossas cortinas de ambas as janelas da cabana. Kester acendeu as pressas uma vela na mesa para diminuir a súbita escuridão. Keira estremeceu quando as batidas na porta começaram, altas e um pouco frenéticas.
"Liam, meu doce príncipe, por favor fale comigo! Como você pode me tratar tão indelicadamente depois de tudo o que significamos uma para o outro?"
"Nós não significamos coisa amaldiçoada alguma um para o outro," Liam respondeu. "Nem agora, nem nunca."
Comparado a voz estridente da mulher, o tom de Liam parecia quase agradável, mas Keira podia ouvir a ferroada dura, fria de raiva em sua voz. Ela esfregou sua fronte quando uma dor aguda começou entre seus olhos. Ela queria culpar a mulher batendo na porta pela dor que rapidamente progredia em sua cabeça, mas sabia que ela nascia de coisas muito mais complicadas.
"Eu deixei meu marido por você, doce Liam!"
"Maldição, mulher, eu nunca pedi para você fazer isto!"
"É o único modo de podermos ficar juntos. Eu tenho dinheiro. Nós podemos fugir para a França!"
Este, Keira decidiu, era um sinal de que passara da hora dela deixar o abrigo do monastério. Ela permitira que este homem se esgueirasse em seu coração. Manter-se afastada não conseguiu protegê-la. Escutar esta mulher falar tão pateticamente sobre seu amor por Liam e ouvindo suas respostas frias, zangadas, fez Keira se perguntar se ela não se sentia atraída realmente por um homem que só existia em sua imaginação. Este certamente não era o sorridente, provocador homem que ela veio a conhecer, nem o cavaleiro galante que ignorou sua dor para salvá-la de Irmão Paul. Ela se envergonhava de ter se permitido esquecer as necessidades do povo de Ardgleann, constantemente se convencendo de que sir Liam ainda precisava de seus cuidados, apenas para poder continuar perto dele. Era obvio que ele podia escolher entre uma vasta ordem de mulheres para cuidar dele e abrigá-lo. Keira agarrou seus alforjes e começou a enchê-los com suas coisas.
"Jesus, Maude, por que você apenas não vai embora?" Liam bateu ligeiramente sua cabeça contra a parede e perguntou-se se a loucura que parecia ter possuído Maude estava agora o afligindo.
"Você está com uma mulher aí, não é? Como você pode dar as costas a tudo que nós compartilhamos com tanta facilidade? Como pode partir meu coração desse jeito? Mas eu devo perdoar você, meu mais querido amor. Eu não estava aqui para confortá-lo depois que você foi atacado, então sei que carrego alguma culpa por seu lapso de conduta."
"Você está louca, mulher, eu cometo lapsos há anos. São lapsos tão rápidos e fortes que eu me surpreendo que a terra não estremeça." Liam ouviu algumas risadas masculinas e percebeu que Maude tinha alguns homens de sua guarda pessoal com ela. Então ele captou o significado completo de suas palavras. "Como você sabe que eu tinha sido atacado, Maude?" Ele indagou, e subitamente, Maude ficou muda. "Maude, como você sabe que eu tinha sido atacado?"
"Os monges me disseram," Maude respondeu.
Liam olhou para Kester, que meneou a cabeça, e então franziu o cenho para porta. "Eu pergunto novamente, Maude, como você sabe que eu fui atacado?"
"Robert zombava de mim com a história, Liam! Ele me atormentou dia e noite com a conversa do quanto ele o machucou, de como ele garantiu que você nunca mais iludisse uma moça com sua beleza novamente. Eu tive que vir até você, para ajudá-lo. Você não pode ver isto?"
O que Liam podia ver era que Maude estava mentindo. Ele estava quase certo disto. Ignorando seus contínuos apelos de que a deixasse entrar para que ela pudesse compensá-lo pelos crimes que seu marido cometera contra ele, Liam virou para olhar para Keira e seu queixo quase caiu. Ela estava ocupada colocando todos os seus pertences em seus alforjes, que tinham estado num canto da cabana, intocados, por todo tempo que ele estivera lá.
"Keira, o que você está fazendo?" Ele exigiu.
"Partindo," ela respondeu. "Você é bem capaz de cuidar de si mesmo agora, e se você precisar de qualquer coisa, é evidente que pode encontrar toda a ajuda que necessitar. Eu tenho uma promessa para cumprir, e já passou da hora de eu fazer isto."
"Aquilo não é ajuda," ele disse, apontando em direção à porta. "Esta é a razão pela qual fui espancado quase até a morte e deixado para apodrecer."
"Então, talvez, você não devesse ter se metido com a esposa de outro homem."
"Eu não me meti com ela!"
"Não? Ela só imagina que você é seu amor? Seu doce príncipe? É tudo em sua cabeça, é?"
Era, mas Liam podia ver que Keira não estava com humor para escutar. Até Kester, que ultimamente seguia seus passos como um fiel cachorrinho, o olhava duvidoso. Liam não podia realmente culpá-los por sua descrença. Ele estava no meio desta loucura e mesmo assim tinha dificuldade para acreditar nisto. Nada que ele dissesse ou fizesse dissuadia Maude de sua perseguição irracional a ele. Soaria indubitavelmente arrogante se ele disse isso, porém.
"Liam! Você deve me deixar entrar agora! Robert está vindo!"
Liam praguejou e se dirigiu para janela dianteira. Cautelosamente abriu uma das pesadas cortinas, o suficiente apenas para perscrutar lá fora e praguejou novamente. O corpulento lorde Kinnaird podia ser visto se aproximando rapidamente da cabana, com seis homens igualmente grandes atrás dele. Para uma mulher que reivindicava amá-lo, Maude estava fazendo um trabalho muito bom para conseguir que ele fosse morto. Fechou a cortina quando lorde Kinnaird parou diante da cabana.
Havia uma parte de Liam que queria quebrar algo, queria ter um longo, exaustivo acesso de raiva. Ele tinha passado a última quinzena cortejando Keira com uma paciência que nunca tinha usado antes, ganhando sua confiança, e gentilmente extraindo confidências dela. Era errado da parte dele, claro, mas não pudera se deter. Até tinha planejado tentar roubar um beijo esta noite mesmo. Todo seu trabalho tinha sido por nada agora, e ele estava um pouco surpreso de quão furioso aquilo o deixou, furioso e aflito. Relanceando um olhar para Keira, Liam duvidou bastante que ela até mesmo derramaria uma lágrima agora se lorde Kinnaird o estripasse na soleira da porta da cabana que eles tinham compartilhado por um mês.
"Cameron, seu bastardo!" Lorde Kinnaird berrou. "Pare de se esconder aí dentro, e venha me enfrentar como um homem!"
Keira franziu o cenho para a porta. Embora estivesse brava e magoada, a chegada deste marido enfurecido a fez recear por Liam. Disse a si mesma que era porque Liam não estava em condição de lutar com ninguém, que seu senso de justiça estava ofendido. Era uma mentira, mas ela tentou ao máximo se agarrar a isto.
"Eu pretendo me certificar de que não reste nada em você para cornear outro homem!"
O modo como Kester e Liam empalideceram ligeiramente e relancearam o olhar para virilha de Liam a teria divertido se as ameaças não fossem tão sinceras. Keira sabia que não podia simplesmente ir embora e deixá-lo à sua sorte. A mulher era, pelo modo de pensar de Keira, tão culpada quanto Liam, mas ninguém estava ameaçando mutilá-la. Embora a chegada de lady Maude tivesse revelado um lado de Liam que ela não gostou e destruído os poucos sonhos que ela tinha sido tola o bastante para se permitir, Keira sabia que se odiaria para sempre se não fizesse tudo o que podia para salvá-lo.
"Melhor você sair agora," ela disse.
"Se eu sair por aquela porta, serei um homem morto," disse Liam, "ou logo desejaria estar." Liam não podia acreditar que Keira realmente queria expulsá-lo da cabana para enfrentar o furioso lorde Kinnaird.
Algo pesado colidindo contra a porta fez Keira estremecer. A pequena cabana era construída de pedra, e a porta de um grosso carvalho, mas não acreditava que ela pudesse aguentar muito daquele tratamento. Lançou de lado o tapete de pele de carneiro que cobria o chão, revelando a porta de um alçapão. Embaixo dele estava um túnel que os levaria até os estábulos. Ela olhou para Liam, perguntando-se em vão como podia ter sido tão estúpida para ignorar a possibilidade de que um homem tão bonito pudesse ser um porco licencioso.
"Se apresse e pegue suas coisas, meu doce príncipe.", ela disse.
Liam rangeu os dentes para conter o desejo de exigir que Keira nunca o chamasse assim novamente, e às pressas juntou seus pertences. "Aonde isso leva?"
"Aos estábulos. Esta cabana foi construída para resistir a um grande cerco, mas as pessoas que a construíram sabia que ela não era inexpugnável. Então, arrumaram uma maneira de fugir enquanto os atacantes se cansavam tentando invadi-la."
"Se sairmos cavalgando dos estábulos, certamente seremos vistos. Isso pode pôr vocês em sério perigo."
"Então é uma boa coisa que exista uma saída pelos fundos dos estábulos, não é?" Embora Liam tenha se tornado muito bom com sua muleta, Keira de repente percebeu que ele teria grande dificuldade para descer a pequena escada de madeira do túnel. "Kester, pegue as coisas de sir Liam para ele. Você e eu desceremos primeiro, de forma que estaremos prontos para ajudá-lo se ele tropeçar na escada."
Estava na ponta de sua língua proclamar ruidosamente que ele não precisava da ajuda de uma pequena mulher e um menino magricela só para descer uma escada, mas Liam engoliu as palavras cáusticas. Um olhar para escada lhe disse que não seria possível descer agilmente com sua perna rígida. Ele lançou sua muleta para Kester e cuidadosamente começou a descer, rangendo os dentes contra a dor toda vez que tinha que pôr o peso em sua perna machucada. Uma vez embaixo, ele recostou e tentou afastar a dor. Não tinham tempo para isso agora. O som de lorde Kinnaird se esforçando para colocar a porta abaixo era quase ensurdecedor.
"Seria melhor nós fecharmos o alçapão," Keira disse quando Liam finalmente se afastou da escada. “Isso os impedirá de verificar este lado e atrasará qualquer perseguição."
"Eu o fecharei depois que vocês partirem.",disse Kester. "E o cobrirei novamente."
"Não, Kester, é muito perigoso. Aquele homem lá fora parece quase cego de ira. Você deve vir conosco. Você pode fugir para o monastério dos estábulos."
"Mesmo cego de ira, ninguém me confundirá com sir Liam, até porque meu cabelo é castanho e não ruivo. Vocês vão, milady, e eu prenderei sua atenção aqui. Isso dará a vocês uma chance melhor de fugir sem serem vistos."
"Rapaz, em certo ponto até um tolo vai notar que a cabana está muito silenciosa." disse Liam.
"Oh, aquele tolo pensará que você ainda está aqui dentro, sir Liam.”, disse Kester e então sorriu.
Keira sabia que Liam provavelmente estava encarando Kester tão assombrado quanto ela, mas não podia desviar o olhar do menino a fim de confirmar isso. Kester soou exatamente como Liam. O fato da voz de Kester geralmente variar de tom diversas vezes numa mesma sentença quando ele falava tornava isso tudo ainda mais surpreendente.
"Como você fez isto?" Ela finalmente perguntou.
Kester encolheu os ombros. "Eu apenas faço. Posso imitar a maioria dos monges. É apenas um pequeno truque que eu faço."
"Continue fazendo isto, rapaz," disse Liam. "É uma verdadeira habilidade para a qual você pode encontrar uso algum dia. Só não tenho certeza de que será muito seguro para você fazer este jogo agora. Lorde Kinnaird não está muito lúcido no momento."
Kester franziu o cenho. "Eu não ficarei perto da porta. Isso dará ao homem algum tempo para olhar em volta e ver que eu não sou você."
"Faça isto," disse Keira, "e assim que aquela porta rachar, você começa a gritar em sua própria voz. O que certamente o fará olhar em volta, por fazê-lo pensar que existem várias pessoas do lado de dentro."
"Sim, milady, eu farei isso." Kester concordou.
Keira assistiu enquanto o menino escalava a escada. Quando o alçapão foi fechado, ela rapidamente reprimiu uma súbita onda de medo. Ela realmente odiava lugares pequenos e escuros. Odiava especialmente lugares pequenos e escuros debaixo do chão. Eles a lembravam demais de um túmulo. Meneou a cabeça quando ouviu Kester gritar algo extremamente obsceno para lorde Kinnaird com a voz de Liam.
"Ele certamente não aprendeu isso num monastério," ela resmungou.
"Eu não teria muita certeza disso. Nenhum dos monges nasceu lá, afinal," disse Liam.
"Bem, se Kester não se cuidar, quando lorde Kinnaird finalmente conseguir entrar, ele estará espumando pela boca depois de ter que suportar tantos insultos."
"O rapaz ficará bem. Ele pode não conseguir caminhar duas jardas sem tropeçar nos próprios pés, mas é perspicaz. Agora, indique o caminho. Ainda pode ocorrer ao lorde que alguém devia permanecer de guarda no estábulo."
Keira começou a descer o túnel, o alarme por aquela possibilidade impulsionando-a para frente. Ela fechou a mente para o espaço apertado do túnel, para o cheiro penetrante da terra úmida e pensou apenas na abertura do outro lado. Lá ficava a liberdade. Ela só desejava que significasse a liberdade de Liam. Keira sabia que ele ficaria ao seu lado durante algum tempo ainda, e suspeitava que residiria em seu coração e mente por muitos anos por vir.
Uma vez no fim do túnel, Keira entregou a lanterna para Liam. Subiu a escada até o alçapão e cuidadosamente ergueu a porta, o suficiente apenas para perscrutar em torno do estábulo. Para seu alívio, não existia nenhum sinal de quaisquer dos homens de lorde Kinnaird, e, melhor ainda, parecia que Kester tinha fechado quase completamente a porta depois de cuidar dos animais naquela manhã. Havia pouca chance de que alguém sitiando a cabana pudesse vê-los no estábulo. Ela se apressou a sair do túnel, então, depositando no chão tudo o que carregava, ajoelhou-se na beira do alçapão para pegar os pertences que Liam lhe entregava.
Liam internamente praguejou quando teve que ser ajudado por Keira a vencer os últimos degraus da escada. Embora fosse profundamente grato a ela por toda a ajuda, e soubesse que lhe devia sua vida, ele estava cansado de ser um inválido. Sabia que muito da sua irritação naquele momento vinha do fato de que tinha sido seu problema que os fez fugirem do conforto da cabana, embora ele tenha precisado depender de um menino e de uma minúscula lady para isso. Uma vez dentro do estábulo, ele rapidamente juntou suas coisas e se apressou a preparar seu cavalo, enquanto Keira cobria sua rota de fuga. Isso, pelo menos, ele podia fazer por si mesmo, pensou irritado.
Quando Keira se moveu para assumir a responsabilidade por sua égua cinza escura na baia próxima ao cavalo de Liam, Gilmour, ela disse calmamente, “existe uma saída nos fundos dos estábulos. Uma vez do lado de fora são, oh, cinco jardas aproximadamente de espaço aberto antes de você entrar na floresta. Algumas jardas depois disto, e a floresta se torna densa o bastante para nos esconder."
"Talvez nós devêssemos conduzir nossos cavalos por esse espaço aberto." disse Liam.
Keira relanceou o olhar em sua perna direita, ainda embrulhada em bandagens de linho e sarrafos de madeira. Ele vestia calções com a perna direita rasgada até acima do joelho. Por cima das bandagens usava um estranho tipo de bota de pele de veado que um dos monges costurara para ele. O pé da bota tinha sido feito um pouco grande para permitir o inchaço, e o cano da bota era simplesmente duas partes de couro colocadas sobre sua perna machucada e amarradas na frente e atrás com tiras de couro. Todo esse trabalho para tornar quase impossível para Liam dobrar a perna.
"Se nós fôssemos vistos fazendo isto, teríamos que montar rapidamente, e eu creio que você descobrirá que não pode fazer isto," ela disse.
Liam baixou o olhar para sua perna amarrada em tiras, avaliou como precisava se mover para montar seu cavalo, e silenciosamente repetiu todas as pragas em que pôde pensar. Ele tinha conseguido administrar tão bem suas necessidades diárias que se iludiu pensando que era auto-suficiente. Agora ele reconhecia que não podia se defender adequadamente, ou a outros, de um marido enfurecido ou até montar seu cavalo sem ajuda. Ele poderia ser capaz de perdoar Maude pela surra que levou, mas duvidava que um dia a perdoasse pelos constantes ataques a seu orgulho, este aparentemente interminável desamparo.
"Sim, você está certa," ele respondeu, incapaz de manter sua voz livre de toda a sua raiva."Na verdade, eu creio que você terá que me ajudar a montar." Ele levou tirou seu cavalo da baia e esperou que ela lhe desse uma mão.
Keira tirou sua égua da baia, então se moveu para ajudar Liam a montar. Afastou a simpatia que sentiu por ele lembrando-se da razão pela qual ele estava tão ferido. O castigo tinha sido muito severo, mas um homem tinha que esperar alguma retribuição de uma marido que ele tinha tratado injustamente. Keira sabia que muito da sua raiva nascia da mágoa, de se sentir uma idiota completa. Um vislumbre do deslumbrantemente lindo rosto de lady Maude tinha sido mais que suficiente para lembrá-la de sua própria falta de atrativos. Por um breve tempo, ela realmente começou a acreditar que suas palavras bonitas e sorrisos doces eram apenas para ela, que eles verdadeiramente significaram algo. A verdade era amarga. Um homem que podia conquistar uma mulher como lady Maude nunca poderia realmente se sentir atraído por uma mulher como ela.
Uma vez Liam estava acomodado na sela, Keira disse, "Eu vou precisar fechar a porta depois de que nós partirmos, então apenas cavalgue até a floresta. Não espere por mim até que alcance o abrigo das árvores."
Liam hesitou apenas por um momento antes de acenar a cabeça. Ele temia que Keira pudesse tentar deixá-lo agora, seguindo seu próprio caminho, mas suas palavras implicavam que ela viajaria com ele por enquanto. Depois de ter que ser ajudado a montar, ele estava se sentindo muito derrotado para acreditar que pudesse ainda ser seu aliado, seu campeão, mas sabia que aquela sensação de derrota passaria. Se nada mais, ele poderia ao menos ajudá-la a reunir os homens que ela precisaria para retomar Ardgleann.
Curvando-se para passar pela porta que ela abriu, Liam se dirigiu à floresta, esperando tenso por qualquer clamor durante todo o caminho. Uma vez dentro do abrigo das árvores, ele observou Keira cuidadosamente se dirigir até ele e respirou de alívio quando ela o alcançou sem ser vista por Kinnaird e seus homens. O que quer que Kester estivesse fazendo, estava conseguindo manter toda a atenção fixa na cabana.
"Nós devemos ir para Scarglas, a propriedade de meus primos." ele disse a ela.
"Eu tenciono voltar para junto dos meus parentes," Keira disse.
"Não sozinha, e até que esta perna minha fique boa, eu estarei impossibilitado de proteger você. Scarglas está a uma jornada de três dias daqui. Talvez mais se nós encontrarmos qualquer dificuldade. Haverá homens para escoltá-la para casa lá, e suprimentos para a jornada."
Fazia sentido, sentido demais para discutir, então Keira acenou a cabeça. "Indique o caminho."
Liam começou a fazer exatamente aquilo, virando seu rosto para o caso de sua expressão revelar o alívio que ele sentiu por sua aceitação de seu plano. Levá-la para Scarglas era um bom plano, mas também daria a ele um tempo a sós com ela. Ele provavelmente precisaria de cada minuto daquele tempo para atenuar sua raiva e recuperar o terreno que ele perdeu devido à chegada de Maude na cabana. Quando eles alcançassem Scarglas, ele queria que ela tivesse lhe contado sobre o desafio que ela enfrentava e tivesse aceitado sua parte na batalha adiante. Ele também esperava renovar sua corte, recuperar sua confiança. Um olhar para seu rosto disse a ele que aquela poderia se provar batalha mais difícil de todas.
Keira relanceou o olhar para Liam e praguejou silenciosamente. O homem parecia tão pálido que ela se surpreendia que ele ainda estivesse sobre a sela. Sua raiva e decepção obviamente sufocaram a curandeira nela durante algum tempo, para que ela em nenhum momento desde a fuga da cabana considerasse o que uma jornada longa e difícil poderia custar a ele. Até ela estava se sentindo um pouco dolorida, e ela não tinha qualquer ferimento. Desde que ele tomara a dianteira em sua fuga do enfurecido lorde Kinnaird, ela perguntava-se por que ele não dizia nada sobre a dor que muito claramente estava sofrendo. Orgulho varonil, ela supôs, e meneou sua cabeça ante tal tolice.
"Eu acho que é hora de pararmos para pernoitar." ela disse.
"Ainda há luz o suficiente para cavalgar." Liam disse, embora ele ansiasse descer de seu cavalo e descansar sua perna.
"Sim, mas você parece prestes a cair dessa sela."
Liam odiava o fato de que ela pudesse ver como ele sofria com cada m ovimento que Gilmour fazia. "Não, eu..."
"Sir Liam, eu não sou forte o suficiente para segurá-lo se você começar a cair ou para levantá-lo de onde quer que você aterrisse, e uma queda pode causar um sério dano a sua perna. Falta apenas uma quinzena para retirar a tala e as ataduras. Você realmente deseja começar do início novamente?”
Ele deu um grunhido mal-humorado em resposta. "Há uma hora daqui, existe uma pequena aldeia. Nós podemos descansar lá."
Ela soube que era toda a concessão que ele faria, então Keira não disse nada mais. Os homens podiam ficar teimosos quando seu orgulho estava em jogo. Existia uma chance que se ela pressionasse muito o homem, ele tentaria cavalgar até depois da próxima aldeia, e ela não tinha nenhum desejo de virar a noite mantendo uma vigília sobre seu corpo inconsciente ou consertando sua perna. Ao invés disso, ela decidiu apenas ficar vigiando-o bem de perto até que eles alcançassem seu destino. Ela só esperava que o homem tivesse bom senso para desistir antes de desmaiar.
Quando eles entraram na pequena aldeia, Liam mal podia enxergar o caminho. Ele parou diante de uma pequena taberna que alugava quartos para viajantes e lutou contra o desejo de apenas se deixar cair no chão. Respirando profundamente algumas vezes, ele ignorou sua dor e lutou para firmar o corpo antes que Keira viesse ajudá-lo a desmontar. Ele esperava que ela fosse rápida, pois estava desesperado para cair em uma das surpreendentemente limpas e confortáveis camas do velho Denny’s.
Keira observou Liam de perto enquanto o ajudava a desmontar. Nos últimos momentos da jornada, ele parecia tão mal que ela estivera tensa e pronta para ouvir seu corpo bater no chão. Ele ainda estava pálido, mas uma vez fora do cavalo, não mais parecia em perigo de desmaiar. Porém, ela se manteve ao seu lado enquanto quando entraram na taberna. Um momento mais tarde, ela desejou ardentemente estar há milhas de distância, quando uma mulher exuberante de cabelos escuros gritou seu nome e quase o derrubou de sua muleta com a força de seu abraço. Liam obviamente já passou por aqui antes, ela pensou irritada.
Ele estava amaldiçoado, Liam decidiu, enquanto ele suave, mas firmemente, se retirava do abraço bastante tenaz da robusta Mary. Embora ele estivesse disposto a conceder que podia ter sido ávido em sua apreciação das mulheres, não achava que merecia tanto castigo por seus pecados. Não havia necessidade de olhar para Keira para saber como ela estava encarando esta prova sorridente de seu passado um tanto imoderado. Ele podia quase sentir o frio de sua raiva. Isto iria tornar muito mais difícil convencê-la de que lady Maude estava simplesmente iludida.
"É bom ver você novamente, Mary." ele disse educadamente, suas mãos em seus braços para segurá-la à distância.
"Oh, sim, é bom vê-lo outra vez, também." Mary disse. "E logo ficará melhor, quando nós...”
"Permita que eu apresente minha esposa," ele apressadamente interrompeu, não querendo que Mary começasse a ser precisa demais em suas lembranças. Keira indubitavelmente sabia que ele se deitara com esta mulher, mas ela não precisava saber como, quando, o onde.
Keira abriu sua boca para negar enfaticamente a reivindicação de Liam, mas um olhar rápido e agudo dele a fez sufocar de volta as palavras. Seu bom senso lhe disse que existiam algumas razões muito boas para tal pretensão. Ela preferia compartilhar um quarto com um homem que ela estava começando a pensar que era um devasso excessivo, do que dormir só e desprotegida. Alguns dos homens reunidos na taberna não pareciam ser do tipo que pode ser desencorajado por uma porta bloqueada ou uma mulher pouco disposta. Apesar de todas as suas falhas, Liam nunca tentaria forçá-la. Seria uma noite longa e desconfortável, porém, ela pensou quando se forçou a sorrir brevemente para saudar uma Mary boquiaberta. Quando sua mente adicionou muitos adjetivos sórdidos depois do nome da mulher, Keira apressadamente a silenciou. Não era culpa de Mary que Liam parecesse incapaz de manter seus calções firmemente amarrados contra a tentação. Ela só desejava que pudesse fazer sua mente parar de encher sua cabeça com imagens dolorosas de Liam e Mary juntos, nus, em uma cama.
"Casado?" Mary gritou finalmente, então rapidamente recuou um passo e fez uma mesura desajeitada para Keira. "Então é onde você esteve, Liam. Oh, sim, e você foi ferido. Seus primos vieram aqui procurando por você, sabe."
"Quando?" Liam perguntou.
"Oh, duas vezes agora. Da última vez pararam aqui três, talvez quatro, dias atrás." Mary sorriu. "Uma bela safra de rapazes elegantes. Nós nos divertimos."
Então, talvez sua mente não estivesse errada em nomear Mary de prostituta, Keira pensou. Uma bela prostituta, contente com isto, e uma que não fazia nenhum segredo de seus modos devassos. Não importava. Ela sabia que os homens frequentemente procuravam tais mulheres, alguns até depois que estavam casados. Seus próprios parentes fizeram muito isso enquanto eram livres de todos os votos e laços. O que não tornava menos doloroso saber que Liam fez muito aquilo ou ter que olhar uma daquelas mulheres no olho.
Isso não importava, ela disse a si mesma severamente. Por um tempo ela tinha se enganado, se permitindo acreditar que poderia atrair um homem como sir Liam. Era bom que ela tenha sido acordada do sonho antes de fazer algo do qual não existiria volta.
Depois de colher o máximo de informações que podia sobre seus primos, Liam solicitou um quarto, um banho, e uma refeição. Enquanto uma ainda tagarelante Mary levava-os para o pequeno quarto que eles compartilhariam, Liam relanceou o olhar para trás para se certificar que Keira ainda o acompanhava. Seu silêncio contínuo o estava deixando nervoso.
Não haveria nenhuma corte a Keira esta noite, ele pensou enquanto Mary os fazia entrar em um quarto, ainda conversando. Liam se perguntou em vão se Keira até mesmo falaria com ele, e por um breve momento, pensou que aquele silêncio poderia ser bem-vindo. Ele nunca tinha notado o quanto Mary conversava, entretanto, ele tinha estado muito ocupado coçando um comichão para se importar, ele admitiu pesarosamente. Era difícil para ele admitir isto, ainda que apenas para si mesmo, mas seu primo Sigimor podia estar certo quando disse que poderia vir um dia quando ele pagaria por tudo aquilo que coçou. Liam só não achava que merecia pagar tão caro.
Keira permaneceu calada enquanto um banho era preparado para ela. Gostaria realmente de falar agradavelmente e agir como se não se importasse de maneira nenhuma se Liam era um porco luxurioso, mas temia o que poderia irromper se ela abrisse sua boca. Quando ele a deixou sozinha para tomar seu banho, pedindo apenas que ela não demorasse muito pois ele também apreciaria se lavar com a água morna, Keira suspirou e começou a se despir. Quando afundou seu corpo cansado na água morna, ela suspirou com prazer e pôde quase lamentar por Liam porque ele não poderia apreciar esta delícia. Levaria outra quinzena antes dele poder afundar em um banho, e mesmo então, ele poderia precisar de ajuda para entrar e sair até que sua perna estivesse forte novamente.
Sua mente de repente ficou cheia de imagens de um Liam despido, e dela o ajudando a tomar banho. Ela podia quase sentir os músculos e a pele tensa em baixo de suas mãos enquanto ela ensaboava seu belo tórax largo. Keira meneou a cabeça e xingou-se de idiota. Liam tinha um belo tórax viril, mas que obviamente tinha sido tocado por mais mãos femininas do que ela poderia imaginar.
Um forte desejo de chorar a acometeu, e ela se esfregou vigorosamente até que passou. O homem não valia suas lágrimas, embora alguns de seus sonhos tenham sido tão doces que supôs que mereciam que lamentasse por eles. Pior, ela tinha o pressentimento de que passaria muito tempo antes que ela pudesse banir o homem dos seus sonhos. Keira duvidava que aqueles sonhos seriam agradáveis agora , pois sua mente parecia tenazmente agarrada ao pensamento do que Liam tinha feito com todas aquelas outras mulheres, e a mantinha atormentada com imagens extremamente claras. Agora ela provavelmente acharia que seus sonhos com ele eram mais como pesadelos.
De alguma maneira, ela encontraria a força para arrancar o homem de seu coração e mente, ela se prometeu. Tinha sido insensato permitir que ele se infiltrasse, mas ela tinha sido uma tola. Deste momento em diante, Liam Cameron seria simplesmente um homem com uma perna quebrada, alguém que ela estava ajudando com sua capacidade como curandeira.
Keira esperava que pudesse agir com toda a confiança que estava demonstrando nestas conversas consigo mesma. Liam era difícil de resistir, até quando ela estava brava com ele. Mesmo quando morenas voluptuosas se lançavam em seus braços, ela ficava mais magoada e desiludida do que brava. Seu cavaleiro galante tinha pés de barro, e ela quase podia odiá-lo por isto.
Uma vez terminado seu banho, Keira perguntou-se o que vestir enquanto se secava. Desde que Liam a vira em seu robe e camisola muitas vezes, ela decidiu vesti-los. Assim quando ele acabasse de se lavar, ela enxaguaria suas roupas com a água do banho, para livrá-las da poeira e do odor de cavalos adquiridos durante a jornada.
Ela estava trançando seu cabelo úmido quando Liam retornou. Ele trouxe para dentro uma bandeja fartamente abastecida com pão, carne de carneiro fria, queijos, bolos de aveia e maçãs. Era uma refeição simples, mas ainda assim o estômago de Keira rosnou com antecipação.
"Não espere por mim, moça," Liam disse enquanto depositava a bandeja na mesa, suspirando internamente quando sua única resposta foi um aceno frio e duro de sua cabeça.
Keira estava para se sentar no banco à mesa rústica quando Liam se despiu até a cintura. Teve que apertar os dentes para conter um murmúrio involuntário de prazer. O homem era perigoso, ela pensou irritada, enquanto ajeitava apressadamente seu banco de forma que ficasse de costas para ele.
Liam relanceou o olhar em Keira enquanto se lavava e quase sorriu. Suas costas estavam tão rígidas e eretas que ele ficava surpreso que não a machucasse se sentar assim. Que ela estivesse tão brava com ele não era nem um pouco divertido, mas o modo como ela mostrava sua raiva era, mesmo que só um pouco.
O problema era que ele tinha a forte sensação de que a desapontara de algum modo. Duvidava que ela não soubesse como os homens se comportavam, especialmente jovens solteiros e descompromissados, então exatamente como ele a desapontara era um quebra-cabeça. Que ela acreditasse que ele tinha corneado sir Kinnaird podia ter algo a ver com isso, mas ele duvidava que todos os seus parentes fossem inocentes daquele pecado. Ela aparentemente formara alguma idéia estranha dele como um cavaleiro perfeito, distinto, nobre e puro. Bem, as últimas horas certamente desfizeram aquela imagem.
Isto, pelo menos, era uma boa coisa, ele disse a si mesmo firmemente. Se ela o imaginasse daquele jeito, era um papel que ele nunca poderia representar por muito tempo. Ele tinha uma natureza melhor que muitos de seus parentes, era mais capaz de pensar antes de agir, mas tinha tantas falhas como qualquer outro homem. Depois de viver com ele por um mês, ele ficava surpreso que ela não soubesse disto, entretanto, ele tinha estado em seu melhor comportamento.
Ele podia explicar Maude, e estava confiante que podia conseguir que Keira pelo menos tentasse acreditar nele. O irritava que sua palavra não fosse boa o suficiente, mas podia lidar com isso. Se Keira não tivesse encontrado Mary, que tornou dolorosamente claro que eles tinham sido íntimos, ele poderia já ter começado a trazer Keira para o seu lado. Infelizmente, aos olhos de Keira, aquele mais recente encontro só acrescentou veracidade às reivindicações de lady Maude.
Franzindo um pouco o cenho enquanto se sentava ao lado da tina e lutava para lavar seu cabelo, ele perguntou-se se poderia ser melhor apenas deixá-la ficar brava. Tudo dentro dele imediatamente se rebelou com aquele pensamento. Ele sabia que ela merecia alguém mais bem-nascido, alguém com uma bolsa mais cheia e com algum lugar elegante para chamar de casa, mas ele estava agora determinado a tentar conquistá-la para si mesmo. Embora não estivesse certo do que sentia além de luxúria, quando olhava para ela, ele via sua companheira, sua companheira e a mãe de seus filhos. Se para conquistar isto, ele tivesse que mirar alto e irritar algumas pessoas, que assim fosse.
Depois de espremer a água de seu cabelo, ele se esfregou vigorosamente com a toalha e então lutou para ficar de pé. O modo como Keira começou a virar, obviamente se movendo para ajudá-lo, e então visivelmente enrijeceu enquanto se voltava para seu jantar, provocou um chamejar de esperança dentro dele. Ela não estava completamente fria em relação a ele. Com a raiva e a decepção ele podia lidar, por mais aborrecidos que fossem, mas se ela o rejeitasse totalmente, ele temia que estivesse completamente perdido sobre o que fazer.
Ele se sentou a sua frente e se serviu de alguma comida e cerveja inglesa. Observando-a de perto enquanto comia, ele sentiu aquela pequena faísca de esperança crescer. A maneira tensa como ela se sentava e o modo como ela começava a erguer sua cabeça para olhar para ele, apenas para voltar lentamente a fixar o olhar em sua comida era prova de que ela estava achando difícil ignorá-lo. Se ela fosse agora completamente fria em relação a ele, olhar para ele não seria algo que ela precisaria evitar tão arduamente. Recuperar sua confiança seria difícil, mas ele sentia que poderia fazer isto com trabalho duro e paciência.
Uma pequena parte dele estava brava que ela simplesmente não aceitasse sua palavra, mas ele faria o máximo para sufocar aquele ressentimento. Existia uma boa razão para ela questionar a sabedoria de confiar cegamente em sua palavra. Nas últimas horas, ela ouviu uma mulher o reivindicar como seu amante, fazendo cada resposta severa que ele deu para Maude e suas tentativas vigorosas de evitar a mulher parecer com as ações de um homem insensível, que usava as mulheres impiedosamente para seu próprio prazer. E então, ela tinha sido confrontada com Mary, uma mulher com quem ele tinha se deitado. Se a situação fosse invertida, ele suspeitava que estaria bravo também. Violentamente bravo, ele pensou com alguma surpresa, apressadamente banindo as imagens de Keira com outro homem. Ele teria que convencê-la que embora seu passado pudesse não ser nada do que se orgulhar, se ele se comprometesse com ela, manteria aquele voto.
Liam arregalou ligeiramente os olhos quando Keira fez um ruído que soava muito como um grunhido suave e então se levantou abruptamente. Ela se moveu em direção à tina, juntou as roupas que vestia antes, e começou a lavá-las na água do banho. Ele lentamente sorriu e começou a comer com prazer real, seu apetite completamente restabelecido. Keira Murray MacKail definitivamente não era fria em relação a ele. Que a batalha comece, ele pensou, e quase riu.
Keira estava repugnada com si mesma. Ela tinha vivido com o homem por um mês. Era de se pensar que ela pudesse facilmente controlar sua necessidade de olhar para ele. Quando ele estivera muito fraco e ferido para cuidar de si mesmo, ela viu todas as partes dele. Verdade, ele não estivera tão bonito então, mas uma vez que o inchaço diminui e os hematomas começaram a clarear, ele ficava mais bonito a cada dia. Ela estava certa de que ele alcançara o limite agora. Como ela o vira com esta aparência aprazível por vários dias, já era hora de parar de se encantar com isto.
Enquanto torcia a água de sua túnica com um vigor que ela temeu que pudesse arruiná-la, Keira admitiu para si mesma que deixara a mesa abruptamente porque estava há uma batida de coração de exigir que ele vestisse a camisa. Isso teria dito a ele muito sobre como ela se sentia. A raiva era algo que ela podia explicar muito bem. Que mulher não estaria brava por descobrir que o homem que se esforçou tanto para curar era pouco melhor que um cão de caça constantemente cheirando o ar atrás de uma cadela no cio? Ela também suspeitava que a maioria de mulheres estaria tão magoadas e irritadas quanto ela se sentia por uma razão que ela estava muito envergonhada para admitir – este cão de caça não a farejou.
Magoava mais do que ela queria admitir, muito mais que a dolorosa falta de desejo de Duncan por ela. O que isso lhe dizia sobre seus sentimentos pelo homem era algo que ela estava muito apavorada para analisar. Ele tinha ficado enclausurado em uma cabana afastada com ela por um mês inteiro, e nem mesmo a beijou. Era de se espantar que ela sentisse uma necessidade tão grande de chorar que mal pudesse engolir sua comida?
Algo branco relampejou diante de seus olhos e espirrou na água da tina. Keira olhou fixamente para camisa de Liam. Lentamente, ela a ergueu. Ele obviamente esperava que ela lavasse isto. Por um momento, ela saboreou a imagem de prendê-lo em sua cadeira e fazê-lo comer aquilo. Ela relanceou o olhar para ele, vendo que já retornara para mesa e estava calmamente acabando de comer. Ele sorriu docemente para ela, que o fuzilou com o olhar antes de voltar ao que estava fazendo.
Liam sufocou uma risada. Aquele olhar tinha sido tão afiado que ele estava surpreso que não estivesse sangrando. Ele sempre achou a propensão de seu primo Sigimor de provocar a ira das pessoas um estranho caminho para resolver problemas e conflitos, mas começava a ver algum mérito nisto. Keira estava definitivamente queimando sem chama no momento. Se ele continuasse cutucando naquele fogo, logo ele iria se acender, e então todas aquelas palavras que ela estava sufocando viriam à tona. Ele suspeitava que não gostaria de algumas coisas que ela diria, mas pelo menos não teria que adivinhar o que ela estava pensando.
Ele fez algumas tentativas inúteis de conversação, mas ficou contente quando Mary e seus dois irmãos apareceram para remover a bandeja e a tina. Conversar com Keira era não melhor do que conversar com ele mesmo ou com a parede, pois as poucas respostas que ela oferecia eram murmúrios confusos e algo que estava perigosamente perto de um grunhido. Então Mary começou a falar de algo do passado, um tempo particularmente vigoroso quando ele e alguns de seus primos de Dubheidland pararam por uma noite. Liam rapidamente conduziu a ainda tagarelante mulher para fora do quarto, mas podia ver pelo estreitar de olhos de Keira que provavelmente tinha sido tarde demais. Internamente se xingando, ele sentou-se na beirada da cama e começou a remover suas botas.
"Que você está fazendo?" Keira perguntou.
Com o olhar fixo em Liam, ela tentou banir palavras de Mary da sua mente. Não era fácil, e Keira duvidou que seria mais fácil por um longo tempo ainda. Mary não disse nada muito preciso, mas disse o suficiente antes de Liam empurrá-la para fora do quarto para dar a Keira uma vaga idéia do que tinha acontecido no passado. Agora sua imaginação extremamente afiada estava correndo livremente. Ela teria que sufocar aquilo, ou nunca dormiria novamente.
"Indo para a cama," Liam respondeu enquanto se acomodava na cama desnecessariamente ajeitando o travesseiro que já estava certo.
"Nós não podemos compartilhar uma cama."
"Eu mantive meus calções. E nós vivemos juntos por um mês."
"Nós nunca dormimos na mesma cama. Compartilhar a cabana era necessário, especialmente até você estar bem o suficiente para fazer algumas coisas por si mesmo. Compartilhar esta cama não é necessário. Você pode dormir no chão."
"Eu tenho uma perna quebrada, se você se lembra. Ela não está nem um pouco contente de eu ter saltado sobre um cavalo por horas. Eu vou dormir nesta cama. Se você não é capaz de confiar em mim para conter minha luxúria por uma noite, então você pode dormir no chão." O modo como seus olhos aumentaram ligeiramente disse a ele que um pouco de sua raiva e frustração podiam ter sido reveladas em sua voz. "Eu usarei o cobertor de cima. Você pode se envolver com o restante das cobertas.” Ele puxou o cobertor sobre si mesmo e fechou seus olhos.
Keira hesitou apenas alguns momentos antes de tirar seu robe e subir na cama. Seu cavaleiro podia ser temperamental e muito grosseiro, ela meditou. Isto provavelmente era a melhor prova do quanto sua perna devia estar doendo. Existia também o fato que ele nunca a tinha tocado de uma maneira evidentemente sedutora em todo o tempo que eles estiveram juntos. Keira duvidava que qualquer homem pudesse manter um disfarce por tanto tempo sem que algum vislumbre de seu verdadeiro caráter escapasse de sua vigilância. Então, era dolorosamente evidente que ela não despertava sua luxúria, embora a cada momento ficasse mais claro que Liam Cameron era muito livre com seus favores. Fechando seus olhos firmemente, ela reprimiu a dor causada por tão dura e fria verdade, e se acomodou mais confortavelmente no que era uma cama surpreendentemente limpa e confortável. Ela estava quase agradecida pelo esgotamento que parecia ter dominado seus ossos, pois significava que nem mesmo os pensamentos complicados e tolos que machucavam seu coração poderiam roubar muito de seu sono.
"Então, todos os seus parentes eram virgens antes de se casar, eram?" Liam perguntou calmamente assim que a sentiu relaxar ao seu lado.
Agora aquilo era definitivamente um grunhido, ele pensou e sorriu, nem um pouco surpreso quando aquele barulho furioso foi sua única resposta. Embora ele estivesse disposto a admitir que podia ter usado uma pouco mais de restrição no passado, não iria humildemente aceitar ser tratado como um leproso simplesmente porque não se manteve puro até casamento. Ele tomava apenas o que era oferecido, não fazia quaisquer promessas vazias só para atrair uma mulher para sua cama, nunca roubou a virgindade de uma mulher, e nunca tocou em uma mulher que estava noiva ou casada com outro. Aquela última regra seria o que ele faria Keira entender e acreditar. Na confrontação que estava forçando, finalmente teria uma chance de explicar tudo isso, e ele sabia que uma confrontação estava vindo.
Keira estava definitivamente queimando sem chama, e ele encontrou alguma esperança por si mesmo em sua raiva. Parecia impossível para ele que uma mulher pudesse estar tão brava por seus casos passados se ela não sentisse nada por ele além de compaixão ou amizade. Ele alimentaria aquela raiva, poria combustível naquele fogo em toda chance que tivesse até que ela explodiria como castanha assada e todas aquelas palavras que ela estava contendo fluíssem livres. Enquanto sentia seu esgotamento puxando-o para o reino confortante do sono, ele também decidiu que quando ela explodisse, ele se certificaria de que nenhuma arma afiada estivesse à mão.
A pele lisa, cálida, aquecia as palmas de suas mãos, e Keira murmurou com prazer. Liam tinha um tórax adorável. Ela vira tórax de homens antes. Em sua capacidade como curandeira, ela até tocara em alguns. Contudo não poderia pensar em nenhum que fosse tão bom quanto o de Liam Cameron. Era a primeira vez que ela o sentia tão claramente em seus sonhos, porém. Apesar da voz resmungona em sua cabeça que dizia que estava na hora de acordar, ela decidiu que demoraria neste sonho um pouco mais.
Ela apertou sua bochecha contra sua pele tensa e sorriu ligeiramente quando ouviu o aumento do ritmo das batidas de seu coração. Pelo menos em seus sonhos ela podia atrair seu interesse. Em seus sonhos, ela era sempre sedutora e tentadora, o tipo de sedutora que fazia os homens suspirarem. Ouvir a respiração de Liam cada vez mais alta e mais instável era música doce para seus ouvidos. Ela ignorou o sussurro que passava rapidamente por sua mente, dizendo que Liam era um homem que suspirava por qualquer coisa que usasse saias. Podia ser verdade, mas em seu sonho, tudo que lhe importava era que ele suspirava por ela.
Desde que isto era um sonho, ela cedeu à tentação de beijar, e então lamber, aquela pele cálida. Uma praga suavemente silvada encantou seus ouvidos. Keira sorriu contra sua pele e murmurou seu nome. Quase lhe provocava vertigem de deleite saber que podia agitar o sangue de um homem tão bonito.
Dedos longos se embrenharam em seus cabelos. Ela suspirou com prazer. Quando aquelas mãos ligeiramente calejadas embalaram gentilmente seu rosto e o puxaram de leve, ela livremente obedeceu o pedido mudo e o inclinou para trás. Lábios cálidos e macios pressionados contra os seus, e Keira estava surpresa de quão claramente ela podia ouvir, sentir, e saborear o amante de seus sonhos. Quando ele tocou seus lábios com a língua, ela prontamente os separou. Sentir sua língua acariciando sua boca despertou um calor tão forte e doce dentro dela que sua consciência começou a se intrometer em seu sonho. Ela agarrou seus quadris elegantes para puxá-lo mais para perto, desesperada para permanecer inconsciente, ignorar a voz severa em sua cabeça que dizia que ela não estava sonhando. Se não fosse um sonho, teria que dar um fim nisto, e ela não queria.
"Moça," Liam disse, nem um pouco surpreso pela rouquidão de desejo que tornava sua voz áspera. "se você não tirar suas mãos de mim agora, logo será muito tarde para voltar atrás."
O som daquela voz profunda penetrou na confusão prolongada de Keira, e ela abriu seus olhos. Olhou fixamente nos olhos de Liam, notando como eram azuis e ardentes, um momento antes do calor de um rubor feroz queimar seu rosto. Ela se afastou dele tão abruptamente que não prestou atenção em como estava próxima da beirada da cama. Deixou escapar um grito assustado enquanto lutava em vão para recuperar o equilíbrio e então atingiu o chão duro. Liam espiou por cima da extremidade da cama, seus olhos brilhando risonhos, e ela fechou os dela.
"Não seria sábio rir, sir Liam." ela disse, embaraço e raiva fazendo seu tom de voz impressivamente duro e frio.
Liam se espreguiçou sobre suas costas, fechou os olhos, e fez o possível para suprimir sua vontade de rir e o desejo que corria por seu corpo. Quando ele sentiu a primeira carícia suave em sua pele e notou que seus olhos estavam fechados, temeu que ela pensasse que estava deitada com seu finado marido. Ela não era viúva há muito tempo, e enquanto ainda dormia, tal confusão era possível. Então ela havia murmurado seu nome. O desejo que ele tinha lutado para controlar abruptamente arrebentou todas as amarras que o continham.
Ele sabia então, e ainda sabia, que não era nada galante aproveitar-se de Keira enquanto ela ainda estava mais adormecida que acordada, mas não sentia nenhuma culpa. Desde o momento em que pôs os olhos nela, ele quis saborear aquela boca sensual. Tinha provado ser tão doce quanto imaginou que seria. Então seu senso de honra se manifestou inoportunamente. Uma vez que ele afastou um pouco a luxúria de seu cérebro, ele também percebeu que não a queria em seus braços enganada. Queria que ela viesse para ele de boa vontade e completamente ciente do que estava acontecendo.
O som de Keira se vestindo às pressas alcançou seus ouvidos, e ele aproveitou para observá-la por baixo de seus cílios. Não achava que já tinha visto um rubor feminino tão brilhante. Ela também parecia muito zangada e um pouco angustiada, mas ele endureceu seu coração para seu aborrecimento. Aquele beijo comprovou todas as suas esperanças iniciais e excedeu todas as suas expectativas. Ela não teria permissão para voltar atrás agora. Ele poderia ter que roubar mais alguns beijos antes dela aceitar a força da paixão que chamejava entre eles, mas ele estava pronto para a tarefa. Desde que suas intenções eram honradas, ele não sentia nenhuma culpa sobre seu plano para seduzi-la. Por mais breve que o abraço tenha sido, deu a ele uma amostra da paixão mais quente e rica que qualquer coisa que ele já sentira antes, e ele tinha a intenção de reivindicar isso para si mesmo.
O silêncio de Liam só aumentava o embaraço de Keira. No breve tempo em seus braços, pega entre sonho e realidade, ela expôs seu desejo por ele. Não havia como negar isto agora. Ele simplesmente não acreditaria nela. Desesperada para se afastar dele, recuperar sua capacidade de raciocínio e seu autocontrole, ela começou a sair do quarto.
"Eu voltarei logo com algo para nosso desjejum." ela disse e fugiu antes que ele pudesse responder.
Lentamente, Liam se sentou. Ele tomou algumas respirações profundas para banir as sobras de sua luxúria, embora suspeitasse que seu corpo doeria com desejo insatisfeito por um longo tempo ainda. Seu pequeno pássaro tinha voado por enquanto, mas ela não iria longe. Enquanto se vestia e a esperava trazer algo para comer, ele cuidadosamente planejaria o primeiro passo de sua campanha para cortejá-la e conquistá-la.
Keira segurava a bandeja carregada com comida e bebida e olhava fixamente para a porta do dormitório. Ela ausentou-se por quase uma hora, ganhando alguns olhares curiosos de Mary. Uma caminhada entre a fria névoa matutina clareara sua cabeça, mas só um pouco. Ela ainda podia sentir os calos de sua pele em suas mãos, ainda sentia o gosto do seu beijo, e aquilo doía.
Luxúria, ela decidiu, era uma coisa traiçoeira. Podia tê-la mantido um segredo, usá-la apenas para adoçar seus sonhos, mas aquele beijo a libertou. Queria que ela ignorasse toda regra e todo bom senso. Não se importava se seu coração estava em risco. Era uma fome descuidada. Keira temia muito que poderia facilmente fazê-la se transformar na maior das tolas.
Desejando que aquilo fosse sua canela que ela estivesse maltratando, Keira deu um chute na porta. Liam a abriu, mas olhou fixamente para suas pernas. Então ele olhou de um lado ao outro do corredor.
"O que você está fazendo?" Ela perguntou.
"Procurando pela pessoa pequenina que bateu a porta," ele respondeu.
Mordendo sua bochecha para se impedir de rir, Keira deu a ele o que esperava ser uma carranca muito dura. Com um lânguido mas endiabrado sorriso em seu rosto e um brilho de riso em seus olhos, o homem era quase irresistivelmente atraente. Era provavelmente um dos muitos modos como ele seduzia tantas mulheres, ela se lembrou. Sua raiva renovada, ela o afastou do seu caminho e marchou pelo quarto. Mesmo que ela estivesse livre para agir como lhe agradasse, ela ainda lutaria contra sua atração, pois ela não tinha nenhum desejo de ser apenas uma em uma multidão de conquistas.
Liam permitiu que ela guardasse silêncio por hora. Ele tinha provado seu desejo e visto que ainda podia fazê-la rir. Um olhar para seu rosto lhe disse que ela estava fazendo o possível para não revelar sua diversão por seu pequeno gracejo na porta. Também viu como ela endureceu a espinha e baniu isto.
Enquanto eles comiam e depois juntavam seus pertences, Liam fez apenas algumas tentativas de provocar a raiva que ela mantinha em fogo brando, Ele podia ver que não levaria muito tempo para conseguir isso, e não desejava ter a confrontação que buscava aqui, em um quarto minúsculo de uma taberna, dentro do alcance dos ouvidos de uma mulher com quem ele uma vez tinha se deitado. Especialmente não dentro do alcance dos ouvidos de uma mulher como Mary, pois ele não tinha nenhuma dúvida que ela repetiria qualquer coisa que ouvisse para qualquer um que a escutasse. Enquanto eles seguissem para Scarglas, ele teria horas de isolamento para aferroar Keira até que ela estivesse muito zangada para continuar muda.
Como ela esquecera o quão irritante este homem podia ser? Keira se perguntou enquanto ela e Liam armavam o acampamento para a noite. Ela se sentia quase enjoada de tanta raiva e mágoa se agitando dentro dela. O pior de isso tudo era que se ela repetisse suas palavras para qualquer outra pessoa, não entenderiam o que a estava deixando tão louca. As palavras só tinham poder por causa do tempo que passaram juntos e do estado tumultuoso de suas emoções. Era como se ele estivesse cutucando uma ferida aberta. Havia momentos em que ela tinha certeza que Liam sabia exatamente o que estava fazendo, o que só a deixava mais brava.
Ele só lhe deu uma ajuda mínima no preparo da refeição. Keira sabia que sua perna estava doendo, pois ele estava ligeiramente pálido e havia um olhar atormentado em seu rosto. Isso não o impediu de ajudá-la antes, porém. Era como se toda sua galanteria tivesse desaparecido, tivesse sido deixada para trás na cabana. Quanto mais ela pensava sobre ele, suas legiões de mulheres, e como ele não a deixaria em paz de forma que ela pudesse manter sua raiva e mágoa com uma boa e fria distância, mas irritada ela ficava. Era quase impossível engolir sua comida.
"Uma boa comida, moça," Liam disse e suavemente lançou sua tigela de madeira vazia a seus pés. "Será bom alcançar Scarglas, porém. Existe uma moça lá chamada Mag que pode fazer o melhor guisado de coelho que você já provou."
"Você conhece alguma moça cujo nome não comece com “m”? ela perguntou, surpresa que conseguisse falar com suas mandíbulas tão tensas e seus dentes apertados.
"Bem, sim. Algumas." Ele observou Keira atentamente à medida que dizia, “Anne, Brenda, Clara, Deirdre, Ellen, Fiona, Homossexual, Helen, Lisa, Jolene, Katie..."
"O alfabeto inteiro? Você já se enrabichou com todo o maldito alfabeto?"
Aí vem, ele pensou, e se preparou para permanecer tranquilo e razoável em face aos insultos que, suspeitava, logo teria que suportar. "Bem, não. Eu não creio que conheço uma moça cujo nome começa com um 'x ' ou um 'z '."
"Você é um porco luxurioso, sir.” Ela silvou. “Oh, eu devia ter sabido disso antes daquela mulher idiota chegar. Qualquer homem tão atraente quanto você certamente gastou mais tempo com seus calções arriados do que levantados e firmemente atados."
"Eu não diria isto," começou Liam.
Agora que ela tinha começado a falar, Keira era incapaz de parar.
“Não, você não diria, não é? Assim como todos os homens, você considera isto uma grande diversão e um esporte, sim, e seu direito sair fornicando por aí, sem consciência. Você não tem mais controle que um arminho!"
Keira saltou de pé e começou a andar de um lado para outro, mas não parou de despejar as palavras de sua boca. Estava um pouco chocada com algumas coisas que dizia, mas parecia não conseguir se conter. Todo pensamento que ela teve desde que lady Maude veio bater na porta da cabana estava saindo por sua boca. Eles estiveram obviamente envenenando sua mente e coração por tempo demais.
"Homens podem ser tão hipócritas," ela disse depois de um longo discurso que difamou a moral e a inteligência dos homens. "Eles exigem castidade, pureza, e fidelidade abjetas em suas mulheres enquanto eles tentam deslizar em baixo das saias de toda empregada, esposa, e viúva eles podem encontrar. Os homens copulariam com um buraco no chão!"
O choque de ter realmente dito uma coisa tão crua atravessou a névoa vermelha de fúria que tomava conta de sua mente e língua. Havia um som abafado atrás dela, e Keira corou. Quando sentiu Liam pousar as mãos em seus ombros, ela só resistiu brevemente contra sua tentativa de fazê-la se virar. No momento em que o enfrentou, ela descansou a fronte contra seu tórax. Ela não apenas dissera muitas coisas que não devia, mas também não se sentia muito melhor por tê-las dito. Pior, temia que havia revelado muito sobre o que sentia por este homem.
Liam sorriu no topo de sua cabeça. A moça tinha uma verdadeira habilidade para vociferar. Ainda que ela tenha dirigido a maior parte de suas críticas mordazes aos homens em geral, ele sabia que eram destinadas a ele. Algumas delas definitivamente deixaram uma contusão. Embora estivesse disposto a aceitar a carga que tinha sido menos que moderado, ele tinha que se perguntar como ela podia pensar que ele, ou qualquer outro homem, podia ser tão licencioso quanto ela imaginava.
"Um buraco no chão?" Ele murmurou e riu suavemente quando ela hesitou. "Eu nunca fiz isto."
"Oh, cale-se," ela disse, envergonhada até os dedos do pé. "Não acredito que eu disse isso."
"Você disse muitas coisas."
Desde que ela não podia recordar claramente tudo o que disse, e não queria realmente, Keira meneou a cabeça.
"Eu tinha me permitido acreditar que você era melhor que a maioria." ela murmurou.
Aquilo doía, mas Liam decidiu que era melhor se suas ilusões fossem um pouco anuviadas. Seria impossível estar à altura de um ideal. Ele queria que ela o conhecesse e o desejasse apesar de suas falhas. Se ela seria desiludida, melhor agora que mais tarde, depois que ele a reivindicasse.
"Moça, homens começam a olhar para uma mulher disposta em uma idade jovem, antes que suas barbas sejam visíveis."
"O que não torna isto direito." Keira estremeceu, com medo de ter soado irritantemente piedosa e convencida.
"Não, não torna, mas existem mulheres em abundancia que estão dispostas coçar um comichão."
"E você é um homem extraordinariamente sarnento, é isto?"
"Talvez, entretanto eu duvido que qualquer homem pode ser, er, sarnento como você sugeriu, não se ele desejasse ter uma vida longa."
Talvez ela tivesse exagerado um pouco, Keira pensou, mas se ele esperava que ela admitisse aquilo, criaria raízes onde estava.
"Eu não seduzo criadas castas, e não toco em mulheres que estão noivas ou casadas com outro homem.” Ele não ficou surpreso quando ela ergueu sua cabeça e o encarou com o cenho franzido.
"Lady Maude disse..." ela começou.
"Lady Maude mentiu."
Ele soou tão certo disto, cada palavra sua soava tão verdadeira, mas Keira ainda se sentia desconfortável.
"Mas ela é tão bonita," ela murmurou.
"E isso significa que ela deve estar dizendo a verdade?"
"Ah, bem, não, mas é de se perguntar por que ela perseguiria um homem que diz que não a quer. Eu pensaria que ela não teria que perseguir nenhum homem. Os homens é que devem persegui-la."
"Oh, eles o fazem, e talvez, este seja o cerne do problema. Eu não o fiz." Desde que ela não tentara se livrar de seu abraço leve, Liam começou a acariciar suas costas suavemente. "Sim, eu tive minha parte de mulheres." Ele ignorou seu resmungo ‘e mais’. "Entretanto, eu não cometi transgressões. Um pouco pelos ensinamentos de Sigimor, e um pouco devido a meus anos de treinamento para ser um monge. As esposas e moças noivas disseram votos diante de Deus. Eu não terei nenhuma participação na quebra deles."
Liam suspirou e apertou seus lábios em sua fronte. Ela estava escutando, mas sua expressão disse a ele muito claramente que não estava certa se devia acreditar em uma palavra do que ele estava dizendo.
"Eu confesso ser, talvez, um pouco livre com meus favores," ele disse enquanto começava a distribuir beijos suaves, leves, sobre seu rosto. "Eu gosto de, hum, copular. É simples assim."
"Você não tem nenhuma obrigação de se explicar para mim."
"Sim, eu tenho." ele disse, embora não tivesse nenhuma intenção de dizer a ela todas as razões pelas quais ele faria isso. "Você me salvou e cuidou de mim. Deve estar perguntando-se por que se incomodou." Ele sorriu contra seu suave, perfumado cabelo quando ela murmurou uma negação. "Sim, eu penso que você agora se pergunta se, apesar das semanas que passamos juntos, você realmente conhece o homem que eu sou."
"Eu não devia ter tentado acreditar que conhecia você.” Keira fechou os olhos quando ele beijou a cavidade de sua orelha. “Você não devia estar fazendo isto."
"Fique quieta agora, e deixe-me falar minha parte. Como eu disse, eu gosto de copular. É uma das razões pelas quais eu deixei o monastério. E, sim, eu era frequentemente imoderado. Sigimor me advertiu que eu poderia pagar por isso em algum momento, e eu paguei, pois desapontei você." Novamente ela murmurou uma negação, mas um roçar rápido de seus lábios sobre os dela a silenciou. "Eu o fiz. Tudo que posso dizer em minha defesa é que não dei a nenhuma mulher uma promessa ou um voto, e depois o quebrei; Eu nunca seduzi uma moça, e eu nunca roubei a inocência de uma moça ou toquei em uma mulher legalmente reivindicada por outro homem.”
"Mesmo concedendo que existiram muitas Marys em meu passado, nem uma vez eu encorajei lady Maude. Não faço idéia de por que ela me persegue tanto, pois como você disse, ele é uma mulher bonita e pode ter qualquer homem que quiser. Eu fui muito claro quando parti, mas ela escolhe ignorar o que eu disse. Ela é o motivo pelo qual eu deixei a corte do rei. Nunca pensei que ela me perseguiria até me capturar."
Keira estava achando um pouco difícil se concentrar nas palavras de Liam. A sensação de seus lábios cálidos contra sua pele não estava apenas fazendo seu sangue esquentar, mas também estava envolvendo uma névoa espessa ao redor sua mente. Isto era mais do que um homem tentando acalmar uma mulher que acabava de ter um glorioso, escandaloso ataque, ela pensou. Com mais relutância do que gostaria de admitir, Keira se libertou de seus braços.
"Se eu fosse uma pessoa desconfiada, poderia pensar que estava tentando me seduzir para acreditar em você," ela disse.
"Ah, você pensa mal de mim, não é? Não, moça, eu estava apenas tentando mantê-la perto o bastante para me ouvir. Não tenho certeza de que você fez isso."
"Oh, eu fiz."
"Ainda assim pensa que eu estava tentando seduzir você?"
"Bem, o que eram todos esses beijos e carícias, se não sedução?"
Um bom ponto, Liam meditou, observando enquanto ela limpava suas tigelas. Desde que pensamentos sobre seduzi-la nunca estavam longe de sua mente, Liam não podia negar veementemente sua acusação. Naquele momento, porém, ele simplesmente tinha apreciado o gosto de sua pele, a ausência de raiva, e a sensação de seu corpo flexível em seus braços.
"Eu não estava fazendo isto para seduzir você." Ele encolheu os ombros e sorriu quando ela franziu o cenho para ele. “Isso foi só porque sua pela estava tão perto de meus lábios que eu tive que provar um pouco dela. Você tem um gosto muito bom, moça.” Ele sorriu quando ela corou.
"Você vê? Você não consegue se controlar, não é?"
"Realmente, eu me controlei muito bem durante os anos que estudei com os monges.”, ele disse calmamente, e então foi preparar sua cama.
Keira teve a sensação que ela o tinha aborrecido, talvez até insultado, com suas suspeitas. Sua lisonja suave a tinha balançado, e ela sabia que devia desdenhar disso. Tais palavras provavelmente significaram pouco para ele, não eram mais que belos elogios que ele derramava sobre ela como gotas de orvalho. Ainda assim, seria muito fácil permitir que ele suavizasse seu coração com tais palavras, e afastasse sorrateiramente toda a precaução com seus beijos.
Ela lentamente expulsou aqueles pensamentos de sua cabeça. Seria adorável esquecer tudo e rolar sobre a grama com ele, aprendendo todos os segredos da paixão. Não existia nenhuma dúvida em sua cabeça que Liam Cameron tinha aprendido muitos daqueles segredos. Infelizmente, ela não podia permitir que ele aprendesse os dela. Muitas pessoas dependiam dela para ajudá-las. As pessoas de Ardgleann esperaram por tempo demais pelo salvamento. Se ela fraquejasse e Liam descobrisse a verdade, aquelas pessoas que sofriam sob a bota de Rauf poderiam achar que seu tormento não teria fim.
Enquanto Liam cuidava do fogo, Keira preparou sua cama, deslizando em baixo dos cobertores no instante em que ele se dirigiu para cama dele, colocada a menos de meio metro da sua. Quando ele começou a se despir, ela rapidamente fechou seus olhos. Estava se sentindo menos brava e mais confusa, sem ter certeza de em que acreditar. Não era um bom momento para ver qualquer parte de seu corpo extremamente atraente.
Muito do que Liam disse era fácil de aceitar, embora o ciúme deixasse um gosto amargo em sua boca. Ele era um homem livre, que podia fazer o que lhe agradasse. Comparado a muitos homens, ele seguia algumas regras muito admiráveis. Ou tentava. Keira ainda achava difícil acreditar que uma mulher como lady Maude perseguiria Liam, a menos que tivesse recebido alguma razão para isso. Uma mulher tão bonita quanto aquela certamente tinha orgulho demais, até vaidade, para perseguir um homem, não importa o quão bonito aquele homem fosse.
O ciúme era verdadeiramente com o que ela tinha que lidar. Roia suas entranhas, alimentando sua raiva e machucando. Ela tinha cuspido muito daquele veneno, mas tudo poderia voltar muito facilmente. Toda vez ela pensava em Liam com outra mulher, aquilo voltava, trazido a vida por seu ciúme e a transformando em uma pessoa de quem ela particularmente não gostava. Também suspeitava que logo faria Liam se voltar contra ela, e embora não previsse nenhum futuro para eles, Keira não gostava desse pensamento. Quando eles se separassem, ela gostaria de pensar que, de vez em quando, Liam se lembraria amavelmente dela, talvez até como uma boa companheira ou amiga. E se isso não fazia dela a maior dos tolos, ela não sabia o que faria.
Liam observou Keira quando a ouviu murmurar algo sobre um tolo. Desde que ela não estava olhando para ele, decidiu que estava conversando com ela mesma, e sorriu. Keira era uma daquelas pessoas que às vezes pensavam demais, se preocupando com um problema até a morte, mas naquele momento ele não a arreliaria sobre isto. Existia uma chance muito boa de que ela estivesse considerando cuidadosamente tudo o que ele disse, de como ele não negou seu passado ou se desculpou por isso. Isto, ele esperava, daria o peso de verdade para tudo que ele disse que definitivamente não era culpado. No dia seguinte, ele começaria sua corte novamente e a deixaria saber que seria seu campeão na briga para recuperar Ardgleann.
"Bom sono, minha deliciosa Keira." ele murmurou.
Ele fazia aquilo de propósito, Keira pensou enquanto bania o desejo de repreendê-lo ostensivamente por dizer tais coisas. "Bom sono, meu doce príncipe." ela respondeu e sorriu por seu grunhido mal-humorado. Dois podiam jogar este jogo, ela decidiu e se sentiu tão contente com si mesma que não teve nenhuma dificuldade para dormir.
"Liam!"
A insinuação de pânico naquela palavra sussurrada arrancou Liam das garras do sono. Ele tinha sua espada na mão, e estava agachado ao lado de Keira antes de perceber que eles estavam sozinhos. Por um momento, ele perguntou-se se Keira estava sofrendo de algum sonho ruim, mas até na luz cinzento do início do alvorecer, ele podia ver que ela estava acordada. Seus olhos estavam arregalados de susto.
"Não tem ninguém aqui, moça," ele disse e então franziu o cenho quando recordou de seu dom especial..' "A menos que ... você tenha recebido alguma visão advertindo do perigo?"
"Não, tem algo em meu cabelo!"
"Tem certeza? Eu juraria que as camas do Denny são livres de animais daninhos."
"Não é isto. Existe algo bem maior que uma pulga ou piolho em meu cabelo. Tem pele!"
"Provavelmente é só um camundongo."
"Tire isto de mim!"
Liam perguntou-se como ela podia pôr toda a força e emoção de um grito histérico em um suave, silvado sussurro. Ele derrubou sua espada e lentamente se debruçou sobre ela. Quando viu que existia realmente alguma criatura se movendo entre seus cabelos perto de seu pescoço e que era maior que um rato, ele puxou seu punhal. Enquanto ele considerava como atacar, o movimento cessou, e um som estranho começou.
"Eu acho que poder haver duas bestas em seu cabelo," ele disse.
Keira franziu o cenho quando ouviu o barulho originado bem perto de sua orelha, e então começou a relaxar. "Soa como um ronronar."
"Ronronar? Como em um gato.”
"Sim, embora o que quer que esteja aí não pareça tão grande assim."
Embainhando seu punhal, Liam se moveu para seu outro lado. Cautelosamente, ainda sem certeza do que poderia ter se aninhado em seu espesso cabelo, ele começou a afastá-lo do caminho. Dois pares de olhos o encararam fixamente, mas não houve nenhum movimento ameaçador, então ele se debruçou um pouco mais próximo e então sorriu.
"Você tem gatinhos em seu cabelo," ele disse enquanto suavemente os levantava.
Keira se sentou e olhou fixamente para os dois pequenos gatinhos que tremiam fracamente quando eles se amontoaram nas mãos em forma de xícara de Liam. “Como eles chegaram aí?”
"Há um pequeno córrego a alguns metros daqui. Eles podem ter se livrado de um saco de afogar. Ou, eles podem só ter sido deixados aqui para viver ou morrer como Deus quiser. Está claro que eles viram você como segurança e calor."
Tomando os gatinhos dele, ela riu suavemente quando eles se aconchegaram contra seus seios. Ela coçou suavemente cada um atrás das orelhas, e eles começaram a ronronar novamente. Embora ela entendesse por que algumas pessoas tinham que se livrar de gatinhos e cachorrinhos quando havia muitos deles, ela odiava isso. Ela sorriu de leve quando pensou no velho Ian em casa, que tinha o coração muito mole para exercer uma tarefa tão horrenda e então mantinha um olho alerta nas fêmeas, isolando-as no momento em que elas entravam no cio.
Liam a observou acariciar os gatinhos e suspirou. O olhar suave em seu rosto não apenas o fazia querer beijá-la, mas também lhe dizia que eles levariam as duas minúsculas criaturas com eles. Quando ela olhou para ele por baixo de suas pestanas espessas e mordeu ligeiramente seu lábio inferior, ele sentiu o puxão forte da luxúria. Em vez de afastar os gatinhos dos seus seios e enterrar seu rosto lá como queria desesperadamente, ele suspirou e meneou sua cabeça.
"Eu suspeito que nós podíamos pensar em alguma maneira de levá-los conosco." ele disse, e o sorriso que ela lhe deu foi tão bonito que ele sentiu seu coração se apertar.
"Oh, obrigada, Liam," ela gritou enquanto se levantava, ainda segurando os gatinhos. “Eu farei um pequeno ninho para eles em um de meus alforjes.” Ela baixou o olhar para os dois gatinhos. "Melhor eu fazer isto com algo com que eu não me importe muito, pois eles são tão jovens que duvido que me deixarão saber se eles precisarem atender a natureza." Ela começou a se dirigir ao abrigo de alguns arbustos próximos, então se voltou para entregar os gatinhos a Liam, e impulsivamente beijou seu rosto antes de se afastar apressada novamente.
Liam baixou o olhar para os dois pequenos animais que podiam se sentar cada um confortavelmente na palma de sua mão.
O branco olhava fixamente para ele com grandes olhos azuis, enquanto o cinzento olhava ao redor. Este, também, tinha olhos estranhos, a íris cercada com um anel de cor semelhante a seus próprios olhos. Se ele fosse de um tipo supersticioso, estes dois certamente enviariam um frio através dele. No momento, porém, ele podia quase beijá-los. Talvez o destino estivesse lhe dando alguma ajuda para conquistar a confiança e estima de Keira.
Quando Keira retornou, ele deu as costas aos gatinhos e caminhou em direção ao córrego, pretendendo demorar o suficiente em suas abluções para lhe dar um pouco de privacidade. Sua perna doía, mas apesar de despertar a noite com uma câimbra que quase o fez berrar de dor, ele sentiu que não a tinha machucado. Ele tinha algumas outras dores também, umas que o lembraram fortemente do fato que não montava um cavalo há um mês e tinha feito poucas cavalgadas longas e duras por muito tempo antes disso.
"Oh, sim, eu serei um belo campeão," ele murmurou enquanto finalmente caminhava de volta para o acampamento. Ele estava se repreendendo sobre quão bem ele estava se recuperando e que logo estaria forte o suficiente para ajudá-la quando caminhou até os gatinhos. Eles devoraram avidamente algo de uma das tigelas, e ele espiou ao redor de suas cabeças curvadas para ver o que Keira encontrara para alimentá-los. Os olhos de Liam se arregalaram quando percebeu que os gatos estavam comendo a carne de carneiro fria que ele guardou para si mesmo.
"Você deu a eles nosso carneiro?" Ele perguntou quando Keira se levantou para ficar ao seu lado.
"Eles estavam com fome, e eu não acho que eles gostariam de mingau de aveia," ela respondeu.
"Eu prefiro carneiro a mingau de aveia, também."
"Sim, eu desconfio que você prefira, mas você é um homem grande e forte, que pode passar sem carne por enquanto."
Ele franziu o cenho para ela, mas ela não lhe deu nenhuma atenção. Liam a observou limpar a tigela vazia e depois guardá-la. Quando ele olhou de volta para os gatinhos, eles estavam ocupados lambendo suas patas e rostos.
"Sim, eu não fico surpreso por vocês terem apreciado isto. Era o mais tenro carneiro que eu já saboreei."
"Certamente era tenro," Keira disse quando ela voltou para pegar os gatinhos. "É por isso que dei para eles. Eles mal foram desmamados, eu acho, e não podem comer carne dura."
Seguindo-a até os cavalos que ela tinha aprontado para eles, Liam observou-a colocar os gatinhos em um alforje bem acolchoado. “Você já escolheu nomes para eles?"
"Sim—Trovão e Raio."
"Nomes muito grandiosos para duas pequeninas bolas de pelo." Liam lentamente se moveu em direção a ela até que a tinha habilmente presa entre ele e o cavalo. "Agora, eu concordei em deixar você levar estas pequeninas bestas conosco e não reclamei muito ruidosamente quando eles comeram meu carneiro. Eu penso que mereço uma pequena recompensa por toda esta paciência que eu demonstrei."
"Eu disse obrigada."
"Meras palavras. Facilmente ditas e muitas vezes não significam nada."
Keira sabia que ele pretendia beijá-la. Ela devia pisar forte em seus pés e afastá-lo, mas ficou parada enquanto ele colocava as mãos contra seu cavalo de cada lado dela. Embora ela ainda estivesse lutando com as chamas do ciúme sobre o seu passado,uma voz em sua cabeça perguntava por que ela devia se negar experimentar um pouco do que o homem dava tão livremente. Ela ainda podia saborear o beijo que ele tinha lhe dado, e definitivamente gostaria de provar mais. Keira decidiu que a única que se machucaria se aceitasse um pouco do deleite que ele podia lhe dar era ela mesma, e isso era uma preocupação tola. Ainda que ele nunca a beijasse, ainda machucaria deixá-lo.
Ela examinou seus olhos e notou que eles estavam mais azuis que verdes novamente. Era sinal de seu desejo, ela percebeu, e sentiu seu sangue esquentar em resposta. Poderia ser apenas a fome básica de homem, o tipo provocado por quase qualquer mulher ao alcance, mas ela ainda estava abalada por isto. Nenhum outro homem já olhara para ela de tal modo. Keira arqueou uma sobrancelha em uma pergunta e desafio mudo.
Liam quase rosnou em resposta ao desafio não dito de Keira, seu corpo inteiro tenso com a necessidade de saborear novamente o calor doce de sua boca. Por razões que ele não ousava nem mesmo supor, Keira não iria retroceder. Era sua chance de apresentá-la à paixão que eles poderiam compartilhar, estando ela completamente acordada e consciente.
O primeiro toque dos lábios dele contra os seus fez Keira se sentir tão quente e desejosa que ela teve que agarrar seus ombros largos para se firmar. Quando ela abriu a boca para dar as boas-vindas a sua língua, ouviu-o gemer suavemente e o sentiu envolver os braços fortes ao seu redor. A sensação de seu corpo delgado pressionando o dela causava-lhe arrepios de deleite. Ela pôs os braços ao redor de seu pescoço e tentou se aproximar ainda mais do seu calor. Ela tinha o estranho desejo de se arrastar para dentro dele.
Aquela névoa estranha que só ele podia despertar começava a envolver sua mente outra vez. Sufocou todo bom senso e silenciou todas as advertências que seu lado mais prudente desejava fazer. Tudo que ela podia ouvir era a voz exigindo que ela tomasse mais, tomasse tudo que ele quisesse dar a ela, e se divertisse com isto. Não importava para aquela voz que Liam tivesse indubitavelmente dado aquilo para mais mulheres que ela podia contar, contanto que ele compartilhasse com ela, também.
Ele deslizou suas mãos por suas costas até que estava acariciando suas nádegas. Quando ele apertou a virilha contra sua, movendo-se contra ela numa promessa de tudo o que podia lhe dar, Keira ouviu-se gemer suavemente. A febre que ele provocava estava crescendo forte demais para resistir, e uma avidez imprudente tomava conta dela.
Por que não, seu lado despreocupado sussurrou em sua mente. Quem saberia? Seu marido não tinha falhado repetidas vezes? Ela não merecia um pouco de felicidade, um curto período de egoísmo cego antes de cumprir sua promessa para Duncan? Enfrentar Rauf e tentar libertar as pessoas de Ardgleann podia facilmente significar sua morte. Por que não agarrar um pouco de prazer enquanto ela podia, por mais passageiro que pudesse ser?
Keira estava a uma batida de coração de lançar toda precaução ao vento e tomar este homem como seu amante, quando o cavalo se moveu, chocando-se com ela e Liam. Embora Liam rapidamente os aprumasse, Keira soube que o momento de perigo tinha passado. Lutando contra uma profunda sensação de embaraço por seu comportamento libertino, ela se livrou de seu abraço. Apenas o olhar tenso de desejo no rosto de Liam e a maneira como sua respiração estava rápida e desigual a pouparam da mortificação absoluta.
"Isso foi agradecimento o suficiente, eu acredito," ela disse enquanto dava as costas para ele e fingia que estava verificando cuidadosamente sua sela antes de montar.
Liam respirou lenta e profundamente, numa vã tentativa de esfriar seu sangue. Ele ainda podia sentir suas curvas suaves pressionadas contra seu corpo, se encaixando em seu abraço como se ela tivesse sido feita só para ele. Movendo-se até mais desajeitadamente que de costume, ele caminhou para seu cavalo, relutante em subir na sela. Foi um alívio quando Keira levou vários minutos para perceber que ele ainda precisava de ajuda para montar, pois isso lhe deu um pouco mais de tempo para se controlar.
Ele podia ter lhe mostrado a paixão que eles podiam compartilhar, mas também descobrira algo. Keira o roubou de todo controle, o despira de todas as habilidades de amante que ele adquirira ao longo dos anos. Ele pensara que a maneira como o beijo matutino o afetara era esperada, principalmente por ter despertado de um sonho um tanto lascivo com ela somente para encontrá-la em seus braços. Agora estava óbvio que era simplesmente a sensação dela em seus braços, seu gosto, e até seus murmúrios suaves de prazer que o inflamavam. Ele suspeitava que a paixão que eles podiam compartilhar seria ardente e maravilhosa, mas ele nunca esperara verdadeiramente que seria tão intensa assim.
Uma vez montado e tentando ignorar seu desconforto, Liam foi calmamente à frente em direção a Scarglas. A menos que houvesse alguma dificuldade, eles deviam alcançar o destino antes dos portões serem fechados para a noite, e ele estava contente por isso. Seria melhor se ele e Keira não passassem outra noite juntos sozinhos, pelo menos não até que Keira não mais o visse como algum cão luxurioso que farejava as saias de qualquer mulher. Quando eles finalmente fizessem amor e ele estivesse deitado e feliz em seus braços, não desejava enfrentar seu remorso ou recriminações.
Pensar em fazer amor com Keira só renovava seu desejo, tornando mais desconfortável se sentar numa sela, então ele expulsou tais pensamentos tentadores de sua mente. Estava na hora de começar a sua campanha para convencê-la que ele era o homem perfeito para ajudá-la a derrotar Rauf Moubray. Primeiro, ele precisava que ela lhe contasse mais sobre Rauf, Ardgleann, e sua promessa a seu finado marido. Ela não tinha sido muito acessível, e ele estivera muito relutante em incentivá-la a falar sobre o homem com quem tinha estado brevemente casada. Fora o ciúme que o deixara tão relutante, e ainda deixava. Liam estava um pouco surpreso de que pudesse estar com ciúmes de um homem morto, mas pesarosamente aceitou que estava. Até que ele tivesse certeza de que Keira era sua, e só sua, ele suspeitava que poderia, e iria, ter ciúmes de qualquer coisa e qualquer um que afastasse sua atenção dele.
Diminuindo o passo de seu cavalo, ele esperou até que ela o alcançasse. "Quando você estava se preparando para me abandonar na cabana, você falou de um voto que tinha feito e precisava cumprir. O que quis dizer? Falava da promessa que fez a seu marido?"
"Eu não abandonei você," ela disse e então franziu o cenho. "Como você sabe que fiz uma promessa para meu marido?"
"Seu primo falou sobre isso porque se preocupa demais com você." Ele encolheu os ombros. "Eu me perguntei algumas vezes por que você não fala disso. Na verdade, você raramente fala de seu marido."
Falar de seu marido só lembrava a Keira de toda dor e embaraço que ela sofreu durante seu curto casamento. Ela fazia o possível para tentar lembrar de Duncan apenas como um homem bom mas problemático que tinha sido cruelmente assassinado. Com exceção dos bons amigos ela começara a fazer em seu curto período como senhora de Ardgleann, ela tentava pensar o mínimo possível sobre seu casamento. Ela certamente não queria discutir qualquer detalhe daquilo com um homem que podia fazê-la se sentir febril apenas com um breve e ardente olhar.
Ainda assim ela tinha que dizer algo. Liam sabia sobre a promessa, e Matthew indubitavelmente disse a ele sobre o problema em Ardgleann. Keira decidiu que era sobre o que ela falaria, somente. O que tinha acontecido entre ela e Duncan, o fracasso abismal de seu casamento, e os segredos que ela era agora forçada a manter, não eram da conta de Liam.
"Meu primo lhe contou sobre Rauf Moubray e seus crimes?" Ela perguntou.
"Sim. O homem agora detém o que é legalmente seu. Ele matou seu marido, e considerando o homem que ele é, indubitavelmente está tornando a vida de todos que vivem em Ardgleann miserável."
"Você conhece o homem?"
"Não, eu nunca o encontrei, só ouvi falar dele. Algumas coisas muito sombrias são ditas sobre ele."
Keira acenou com a cabeça. "Eu não me surpreendo, e suspeito que os comentários não revelaram mais que uma pequena parte de sua natureza maldosa. Ele é um bruto, maligno, frio, e implacável. Ele entrou em Ardgleann em segredo, tendo torturado até a morte várias pobres almas para conseguir as informações que precisava para fazer isso." Ela sentiu um tremor quando as memórias daquele dia a invadiram. “Ele e seus homens não pouparam ninguém em seu caminho enquanto invadiam a fortaleza. Duncan me fez jurar que eu ajudaria seu povo se Rauf ganhasse a batalha. Ele ganhou. Cortou o pobre Duncan em pedaços, tendo certeza que cada ferimento era uma agonia, ainda que não imediatamente fatal. Ele queria fazer Duncan sofrer. Se divertiu com isto."
"E depois ele veio atrás de você?"
"Sim, mas não estava planejando me matar. Se não fosse por seu desejo de me humilhar e me mostrar o que tinha feito com meu marido, eu provavelmente não teria escapado. Ele estava tão arrebatado por sua vitória e tão certo que nenhuma mulher teria a esperteza de fazer qualquer coisa além do que ele lhe disse, que não me vigiou."
"Mas ele machucou você. Matthew me disse que você estava muito ferida."
"Eu estava.Tentei enfrentá-lo e isso o enfureceu. Consegui sair da fortaleza e encontrei ajuda para fugir de Ardgleann. Desde então, estou escondida no monastério."
"Você precisava se recuperar de seus ferimentos," Liam disse, embora tivesse certeza que aquela verdade simples não seria suficiente para aliviar a culpa que ele sentia por trás de suas palavras. “E quais são seus planos agora?”
"Eu devo pensar num modo de cumprir minha promessa a Duncan e ajudar as pessoas de Ardgleann. Eles são um povo gentil, pacífico e interessado apenas em seu trabalho. Tecelões, escultores, e etc. Artesãos, não guerreiros. Eu os deixei sob o jugo brutal de Rauf por muito tempo. É hora de cumprir meu juramento de ajudá-los."
"É hora de nós cumprirmos esse juramento."
"Nós?" Keira lutou contra o desejo de aceitar sua ajuda prontamente.
"Sim. Nós. Eu vou ajudar você."
"Não, esta é minha batalha. Eu sou a pessoa que fez o juramento. Eu sou a pessoa que deve enfrentar os riscos."
Liam não estava surpreso por ela recusar sua oferta. O irmão Matthew lhe disse que ela não quis envolver nem mesmo seus parentes na batalha. Ele estava preparado com seus argumentos. Ele também estava preparado para ficar ao seu lado quisesse ela ou não.
"Moça, você mal conseguiu escapar com vida pelo que seu primo me disse. Você precisa de ajuda."
"Esta briga não é sua."
"Estou fazendo com que seja."
"Liam, você tem uma perna quebrada."
"Está quase curada. Estará curada antes que os homens estiverem reunidos para combater Moubray e que os planos necessários para a batalha tenham sido feitos. Doce Keira, você negaria a um homem o direito de recompensá-la por salvar sua vida? Você lhe negaria a chance de ser seu campeão?"
"Sim," ela disse. "Eu certamente negaria a você o direito de conseguir ser morto."
"E se você recusa toda ajuda, como planeja libertar Ardgleann deste bruto? Duvido que ele só se sentará quieto enquanto você se esgueira até ele e enterra um punhal em seu coração."
Keira não pretendia admitir que não tinha nenhum plano. Seus pensamentos tinham estado principalmente centrados em como impedir sua família de juntar-se a ela na luta contra Rauf. Ela viu o que o homem fazia a qualquer um que tinha coragem para enfrentá-lo, e não queria sua família em qualquer lugar perto do homem. Pelas mesmas razões, ela não queria que Liam bancasse o seu campeão. Sua vida se tornara muito querida para ela, algo que ela não tinha nenhuma intenção de deixá-lo saber.
"Não há necessidade de ser tão irônico," ela murmurou. "Eu pensarei em algo. Talvez quando ele tentar novamente me estuprar, eu apenas o estriparei." ela murmurou, então se amaldiçoou por deixar escapar aquele pequeno segredo.
Liam agarrou suas rédeas e parou seu cavalo. "Foi assim que você foi ferida? Ele estuprou você?"
"Ele tentou me estuprar. Eu fui ferida quando objetivei muito fortemente. Então ele decidiu que eu precisava ser humilhada, então iria fazer isto na aldeia, forçando todas as pessoas a assistirem."
O desejo de cavalgar diretamente para Ardgleann e matar Rauf Moubray era difícil de dominar. Liam queria fazer o homem sofrer por machucar Keira. Ele queria fazer o homem realmente sofrer muito pelo que planejara fazer com ela. O bom senso empurrou de lado seu impulso louco. A única coisa que ele provavelmente conseguiria se cavalgasse em uma ira cega era se matar.
"Nós lutaremos contra Rauf," ele disse firmemente.
"Não é certo arriscar as vidas dos outros quando fui eu quem fez o juramento e sou eu quem ganhará se aquele homem for derrotado."
"Sim, você ganhará, mas também muitos outros. As pessoas de Ardgleann ficarão livres. Suspeito que os clãs vizinhos também ganharão, mesmo que apenas em paz de espírito. Um homem como Moubray é uma ameaça para mais do que você, moca. Sem terras e pobre, ele era só uma ameaça passageira, mas agora ele tem uma robusta propriedade para abrigá-lo e qualquer riqueza que possa sangrar das terras e pessoas de lá. Ele tem paredes para se esconder atrás e moedas para contratar homens e armá-los. Ele agora assassinou um lorde e reivindicou terras que não são suas. Agora ele não é só um bandido do pior tipo mas também uma ameaça verdadeira para aqueles a sua volta. Quanto tempo antes dele decidir que essa vitória e o ganho que trouxe não é o bastante? Quanto tempo antes dele ansiar por mais? Não, moça, nós enfrentaremos Rauf, e eu não tenho dúvida de que haverá muitos homens prontos e ávidos para juntar-se a nós nessa briga."
Ele estava certo em tudo o que disse. Keira sabia disso, e isso fazia seu coração doer. "Não quero que alguém morra por causa de um juramento que eu fiz," ela sussurrou.
Liam se inclinou e beijou-a suavemente. "Eu não quero que ninguém morra tampouco, mas às vezes a luta vale a pena o risco. Sim, são suas terras e seu povo, mas isso não muda o fato que tal homem é uma maldição para todo mundo. Confie em mim nisto, pelo menos. Rauf Moubray logo sangrará Ardgleann até secá-la, e então vai procurar por mais. Eu juro a você, aqueles que vivem nos limites de Ardgleann já estão se preparando para o ataque dele."
Quando Liam lançou suas rédeas e começou a cavalgar novamente, Keira se apressou a acompanhar seu passo. "Você pensa que aqueles clãs desejarão se juntar a nós?"
"A menos que eles sejam cegos, tolos ou covardes, sim."
"Você parece tão certo de que outros desejarão marchar contra Rauf," ela murmurou, ainda inquieta com a idéia de outros lutando o que ela via como uma batalha sua, embora incapaz de refutar os argumentos de Liam.
"Eu estou certo. Rauf Moubray é como um membro apodrecido que precisa ser cortado antes de matar o home. Eu não tenho nenhuma dúvida em minha mente de que muitos de meus parentes ficarão ávidos para enfrentá-lo. Sim, alguns farão isso porque gostam de uma boa luta, mas a maioria fará isso por todas as razões que eu mencionei."
"É por isso que você insistiu para nós irmos para Scarglas, não é?"
"Sim, é uma das razões. Uma coisa que meus primos sabem muito bem é como lutar e como sobreviver."
Keira rezou para que ele estivesse certo, pois ela sabia que carregaria para sempre o peso de todo dano e morte na batalha à frente deles.
"É aqui onde Fiona vive?"
Keira olhou fixamente para a propriedade na direção da qual cavalgavam com um misto de temor e agitação. Tudo naquele lugar fazia pensar sobre defesa e batalha. Alguém dispensara muito tempo, esforço e moedas para tornar Scarglas tão inexpugnável quanto qualquer lugar poderia ser. Somente a ameaça constante podia inspirar tal esforço, e ela teve que se perguntar com que tipo de homem exatamente Fiona tinha se casado.
"Sim, é Scarglas. Eles tiveram alguns anos problemáticos, mas as coisas estão mais pacíficas agora," Liam respondeu.
"Parece que eles se consideravam sob cerco constante."
"De algumas formas eles estavam. O velho lorde tinha uma verdadeira habilidade para fazer inimigos. Você não ouviu muito de Fiona desde que ela se casou?”
"Não. Vovó sim, e prima Gillyanne, mas eu não ouvi nada que tivesse me preparado para esta fortaleza."
"Bem, o velho lorde pode surpreendê-la também, então. Ele é temperamental, e antes de se casar com sua mais recente esposa, parecia estar tentando criar seu próprio exército. Apenas lembre, quando conhecer o velho lorde, que ele ladra mais do que morde. Nós podemos ter sorte, e ele não estar lá. Ultimamente, ele tem viajado para visitar seus filhos que não moram em Scarglas. Fiona rapidamente conquistou seu coração, pois ela o enfrenta.”
"Sim, ela faria isso. Liam, eu realmente não acho certo pedir a ajuda dos seus parentes quando não pedi nem mesmo a minha própria família."
"Então já é hora de você lhes contar sobre seus problemas." Ele silenciou seus protestos iniciais com um gesto de sua mão. "O irmão Matthew pode pensar que você escreveu para seus parentes e contou a eles pelo menos algo sobre isso, mas você não fez isso, fez?”
Keira suspirou e meneou a cabeça. "Isso foi errado, eu sei, mas toda vez que eu tentava escrever, eu hesitava. Não conseguia pensar em como contar apenas o suficiente, sem contar demais ou despertar suas suspeitas. Estou um pouco surpresa que nenhum dos meus parentes tenham ido até o monastério, mas eles podem ter esquecido como Matthew e eu éramos próximos quando crianças. Foi há muitos anos atrás.”
"Melhor você dizer algo a eles logo, moça. Podem já ter ouvido falar da morte do seu marido. A verdade vai aborrecê-los menos que rumores sombrios.”
Isso era verdade, mas Keira não teve tempo de concordar ou discutir o que devia dizer a sua família. No momento em que Liam os levou pelos portões, eles foram cercados pelas pessoas. Havia tantos homens grandes e fortes reunidos para saudá-los que ela se sentiu um pouco nervosa. Um belo ruivo grandalhão rapidamente puxou Liam da sela. Um homem moreno e taciturno, com uma cicatriz no rosto, ajudou-a a desmontar quase distraidamente, pois sua atenção estava fixa em Liam. Eles obviamente descobriram que ele estava desaparecido, e ela de repente pensou em todos os rumores que sua família podia ter ouvido sobre ela até agora. definitivamente era hora de mandar-lhes uma missiva, ela decidiu enquanto agarrava seu alforje antes que um menino se afastasse com seu cavalo.
Ela relaxou um pouco quando Liam foi para o seu lado, colocou o braço ao redor de seus ombros, e começou a apresentá-la para todo mundo. Havia tantos que ela guardou rapidamente apenas alguns nomes, inclusive Sigimor, o lorde de Dubheidland, e Ewan, o lorde de Scarglas. Os outros teriam que ser aprendidos mais lentamente.
Liam segurou sua mão enquanto eles entravam e eram levados ao grande salão. Keira sabia que não era exatamente adequado que ela permitisse tal familiaridade, mas sentia uma forte necessidade do seu apoio. Seus primos eram um pouco intimidantes.
"Keira? É mesmo você?" Gritou uma mulher.
Ainda enquanto Keira olhava ao redor para ver quem falara com ela, uma loira esbelta correu para abraçá-la. “Fiona?”
Fiona recuou um pouco e sorriu. "Sim, é Fiona. Eu mudei tanto assim em cinco anos?"
"Oh, não, mas eu acho que aconteceram muitas coisas com você desde aquela época que ninguém me disse.“ Ela tocou ligeiramente em uma das pequenas cicatrizes que marcavam cada uma das faces de Fiona. “E nem tudo foi bom, sim?”
"Realmente, mas nós podemos conversar sobre isso tudo mais tarde."
Fiona a arrastou para longe dos homens, levando-a até a mesa principal e empurrando-a gentilmente para uma cadeira. “Eu suspeito que vocês estão famintos e sedentos. Aqui. Deixe-me pegar seus alforjes.”
"Oh, espere." Keira não viu nenhum sinal de cachorros no grande salão, então cuidadosamente removeu os gatinhos do alforje. "Nós encontramos estas coisinhas doces na floresta."
Nos intervalos da história de Fiona sobre todas as suas provações e triunfos ao longo dos últimos cinco anos, Keira contou a ela um pouco de sua própria história enquanto elas comiam e alimentavam os gatinhos. Keira se encontrou debatendo a sabedoria de contar a Fiona aquilo que não contara a mais ninguém. Embora se sentisse envergonhada e embaraçada pelo que tinha acontecido em sua união, na qual depositara tantas esperanças, ela achou que estava ansiosa pela opinião de outra mulher. Tinha certeza que podia confiar em Fiona para manter seu segredo, mas Keira decidiu se dar um pouco mais de tempo para considerar o assunto.
Foi quando estava arreliando Trovão para se sentar até conseguir o pedaço de queijo que ela estava balançando na frente dele que Keira percebeu que o salão tinha ficado muito quieto. Ela encontrou todos os homens que se aproximavam ou se se sentavam à mesa principal observando Fiona e ela brincando com os gatinhos, suas expressões um misto interessante de diversão e descrença. O calor suave nos olhos de sir Ewan quando ele olhou para Fiona disse a Keira por que a mulher tinha se casado com um homem tão obscuro, marcado e solene. Keira teve que se esforçar para sufocar a pontada de inveja.
"Há gatos em minha mesa, Fiona," sir Ewan disse.
"Gatinhos, Ewan," Fiona disse. "Criaturas pequeninas e impotentes, cruelmente abandonadas na floresta, sozinhas, órfãs de mãe, famintas e apavoradas.” Ela suspirou dramaticamente. “Liam e Keira elenco fora na madeira, só, órfão de mãe, faminta, e apavorada." Ela dramaticamente suspirou. "Liam e Keira não deviam ter lhes dado ajuda e abrigo?"
"E você acha que isso significa que eles podem comer em minha mesa?"
"Bem, só desta vez." Fiona sorriu e beijou seu rosto. "Especialmente já que seu pai não está aqui. Agora, vocês já se asseguraram que Liam está bem e em segurança?" Ela relanceou o olhar para Liam quando ele se sentou do outro lado de Keira. "Com exceção dessa perna quebrada, claro. Keira me contou como aconteceu. Aborreceu algum homem, não é. Liam?"
"Na verdade, eu começo a pensar que foi a mulher quem mandou aqueles homens me espancarem e me jogarem de um precipício.” Liam respondeu enquanto se servia de pão, frango frio, e queijo, então olhou feio para Raio, que se movera para sentar perto de seu prato. “Você comeu todo meu carneiro, seu pequeno glutão branco. Você não vai conseguir nem um pedaço disto."
Keira franziu o cenho enquanto considerava cuidadosamente tudo o que lady Maude dissera na cabana, e então ofegou quando percebeu que Liam estava certo. “Que coisa mais estranha para uma mulher que o chama de seu doce príncipe fazer com você."
Liam gemeu e fuzilou com o olhar um extremamente sorridente Sigimor. “Lady Maude é uma praga em minha vida. Se ela não parar com este jogo maluco, um dia seu marido vai me matar."
"Nós teremos que acabar com isto," disse Sigimor. "Não podemos deixar o homem matar nosso doce príncipe.”
"Oh, querido," Keira murmurou quando percebeu que suas palavras tinham dado aos primos de Liam munição para muitas provocações. "Desculpe, Liam."
"Devia lamentar mesmo," ele murmurou enquanto, incapaz de suportar o modo como os grandes olhos azuis de Raio seguiam cada pedaço de carne do prato até sua boca, Liam dava um pouco ao gato. "Meu problema não é o mais importante, porém."
"Não, a batalha para libertar Ardgleann certamente tem precedência sobre seus relacionamentos românticos."
"Não existe nenhum relacionamento com lady Maude, e você sabe bem disso, Sigimor. Ela é casada. Infelizmente, ela fez seu marido acreditar que existe algo entre nós. Mas como você diz, essa complicação não é importante agora. É Ardgleann e Rauf Moubray que me preocupam mais."
Sigimor acenou a cabeça e se serviu de um pouco de cerveja inglesa. "Ele é uma ferida que precisa muito ser lancetada."
"Você sabe quem ele é?" Keira perguntou.
"Eu nunca encontrei o homem." Sigimor respondeu. "Se eu tivesse, nós não teríamos problemas com ele agora. Eu vi do que ele é capaz, porém. O homem nada mais é que uma besta enraivecida. Será bom matá-lo."
Keira sentiu Fiona ficar tensa ao seu lado. Virou-se para ver a mulher encarando severamente seu marido. Estava um pouco surpresa por ver um homem tão grande e taciturno parecer nervoso sob o afiado olhar feminino.
"Você vai guerrear?" Fiona perguntou a Ewan.
"Estou considerando me juntar a esta briga, sim," Ewan respondeu. “É uma causa justa. O homem assassinou o marido de lady Keira, quase a matou, e roubou suas terras, e por tudo o que Sigimor nos disse, as pessoas que ele não matar desejarão que ele o tivesse feito. Eu não vou cavalgar até lá amanhã. Isto exige um planejamento cuidadoso."
Embora Fiona concordasse lentamente com a cabeça, Keira podia ainda sentir a tensão na mulher. Sir Ewan obviamente também sentiu, pois segurou a mão de sua esposa, acariciando quase preguiçosamente as costas dela com seu dedo polegar. Esta era uma parte da guerra sobre a qual Keira não tinha pensado muito. Não eram apenas os homens que realmente lutavam a batalha que podiam sofrer. Existiam pessoas queridas deixadas para trás esperando e rezando pelo retorno seguro de seu homem. Ela queria dizer que não havia necessidade de tal preocupação, pois não permitiria que ninguém lutasse esta batalha por ela, mas não havia volta agora. Liam contara tudo aos homens, e como seu pai gostava de dizer, o sangue deles estava fervendo.
Após alguns momentos de uma conversa amena, Fiona escoltou Keira até um quarto. A mulher disse muito pouco, quebrando o pesado silêncio apenas quando apresentou Keira ás crianças no berçário. Keira se sentia mais culpada a cada momento.
"Eu sinto muito, Fiona." ela disse no momento em que elas entraram no quarto que ela usaria enquanto ficasse em Scarglas.
Fiona olhou para ela com surpresa. "Por que?"
Colocando os gatinhos na cama, Keira se sentou na beirada. "Por envolver estes homens em minhas dificuldades."
"Oh, não, isto não é sua culpa." Fiona se sentou perto dela."Eu é que sinto muito se o fato de eu ter ficado preocupada a fez pensar que eu culpo você. Não, mas eu odeio o pensamento de meu Ewan indo guerrear, e sempre vou odiar. Eu logo superarei isto. É o que homens fazem. Mas agradeço a Deus que meu marido escolha suas batalhas mais cuidadosamente e faça tudo o que pode para evitar uma luta. Ele não é como seu pai, que parecia fazer inimigos com facilidade surpreendente. Embora o velho tolo finalmente tenha visto o erro de suas maneiras. Não, isso não é sua culpa. É culpa daquele porco brutal que roubou suas terras."
"Foi o que Liam disse. Que é uma luta justa e que Rauf é um homem que, agora que possui um lugar para se esconder e moedas para homens e armas, logo tentará roubar de outros.”
"Exatamente. É melhor detê-lo em Ardgleann. Creio que seria melhor se você avisasse sua família. Eles gostariam de participar disto, tenho certeza. Acho que eles também gostariam de saber que você ainda está viva."
"Que você quer dizer?" Keira perguntou, sua voz enfraquecida pelo choque.
"Eu recebi várias mensagens deles pedindo alguma notícia sobre você. Eles ouviram que seu marido tinha sido assassinado, e por quem. Eles também ouviram que ninguém mais a viu desde aquele dia."
Keira fechou os olhos e esfregou sua testa, amaldiçoando-se por não pensar sobre tal consequência do seu silêncio. "Eu esperava que eles não ouvissem tais rumores. Que tola eu fui. Eu devia ser açoitada pela minha negligência."
Fiona riu e então beijou Keira no rosto. "Eu, também, tenho sido culpada de causar preocupação a minha família. Quando encontrei Ewan pela primeira vez e ele decidiu me prender para pedir resgate, me recusei a dizer a ele quem eu era. Também decidi que este era um bom lugar para me esconder daquele louco que estava me caçando. Passou muito tempo antes que minha família soubesse se eu estava morta ou viva, e durante o tempo em que mantive silêncio, só dediquei um ou dois pensamentos passageiros a preocupação que meu desaparecimento causaria a Connor. Suspeito que Sigimor fará Liam muito ciente de seu desgosto sobre não conseguir uma palavra sequer sobre onde ele estava ou o que tinha acontecido."
"Ah, verdade, é um pecado comum, eu suspeito. Minha família está me procurando, então?"
"Sim. Eles estiveram aqui uma vez, e sinto que logo podem vir novamente."
"Então é melhor eu mandar uma mensagem para eles o mais rápido possível. Na verdade será melhor para mim se eles tiverem alguns dias para se acalmarem entre receber notícias minhas e me encontrar."
"Tome banho, descanse, e jante conosco primeiro. Podemos mandar um rapaz levar sua carta até eles de manhã.”
Keira concordou com a cabeça, e Fiona partiu para providenciar um banho para ela. A velocidade com que este chegou disse a Keira que tinha sido antecipado desde o momento em que ela chegou em Scarglas. Com o banho veio uma caixa de areia para seus gatinhos e um adorável vestido limpo de lã, de um verde profundo, para ela vestir. No momento em que a última empregada partiu, levando as roupas de Keira para serem limpas, Keira afundou no banho quente com um suspiro de puro deleite. Ela estava um pouco envergonhada para admitir isto, até para si mesma, mas uma das coisas que ela mais apreciou neste banho quente foi que ela não teve que prepará-lo.
Não foi até que ela tinha terminado seu banho e estava sentada diante do fogo para secar seu cabelo que Keira percebeu que havia uma coisa errada em todo aquele conforto. Liam não estava aqui, nem iria se juntar a ela em breve. Ela ofegou ligeiramente com a pontada afiada de dor que este pensamento trouxe. A separação já começara, e ela não estava pronta pra isso. Não haveria mas conversas tranquilas diante do fogo, nada mais de jogos de xadrez a sós, nada mais de escutar sua respiração enquanto ele dormia a apenas alguns metros dela. Eles ainda veriam um ao outro até que Rauf fosse derrotado, mas a perda daquela intimidade que eles desfrutaram por um mês era mais devastadora do que ela poderia imaginar.
Ela o amava, e se isso não era o auge da idiotice, ela não sabia o que era. Ela não protegera realmente seu coração; Simplesmente mentiu sobre isto. Keira luto contra o desejo de se jogar na cama e chorar até que estivesse exausta demais com o sofrimento para se mover. Ela não podia se dar ao luxo de se entregar ao desespero, pois isso marcaria seu rosto e ela era esperada para juntar-se a todos no grande salão mais tarde. De alguma maneira, ela teria que enfrentar todos, enfrentar Liam, e fingir que tudo estava da mesma maneira de antes dela subir para este quarto. Olhando fixamente para o pente que segurava e percebendo que suas mãos estavam tremendo, Keira perguntou-se onde encontraria forças para enfrentar uma decepção tão forte.
Liam praguejou quando Sigimor esfregou suas costas com muito mais vigor do que era necessário. "Se você deseja me castigar por não avisar onde eu estava, por favor, só me bata. Será mais fácil de suportar do que ter toda a pele das minhas costas arrancada." Então ele suspirou, enquanto baixava o olhar, fixando-o na tina onde estava enquanto Sigimor o lavava. "E eu pensava que a humilhação que estou sofrendo agora mesmo devia ser castigo suficiente."
"Eu imploro seu perdão por não ser a melhor das criadas, meu doce príncipe.” Sigimor arrastou as palavras.
"Diga isto novamente, e eu baterei em você com minha muleta."
Sigimor ignorou a ameaça. "Não sabia que você se sentia humilhado tão facilmente."
"Eu não tive que ser banhado por ninguém desde que eu era uma criança."
Hesitando quando começava a lavar o cabelo de Liam, Sigimor franziu o cenho para ele. “Com exceção das moças, não é?"
"Não, nem as moças. Bem, Keira me lavou enquanto eu estava acamado, mas não é o mesmo."
"Você, o grande e dissoluto amante, nunca tomou banho com uma moça?"
"Não," Liam respondeu entre os dentes, então fechou os olhos brevemente enquanto Sigimor continuava encarando-o, silenciosamente aguardando uma explicação."Tomar banho é uma coisa muito privada, sim? É um ato íntimo, e você fica muito vulnerável enquanto faz isto.”
"O mesmo podia ser dito sobre se deitar com uma moça."
"Eu não disse que fazia sentido. É apenas algo que eu nunca faço. Eu não passo a noite com uma mulher, tampouco. Nada do que eu diga fará sentido para você. Jesus, nem sempre faz sentido para mim. São apenas alguns limites que eu fixei para mim mesmo, e nunca os ultrapassei. Sim, eu gosto das moças, e gosto de me deitar com elas. Eu sou bom com as moças; Eu não as desprezo por serem livres com seus favores. E eu as faço sorrir, faço com que se sintam bonitas. Entretanto, eu não passo a noite ou tomo banho com elas.” Liam encolheu os ombros. “Eu estava apenas atrás de um pouco de prazer, nada mais, e não queria que alguma delas se enganasse sobre isso. Gostei de algumas um pouco mais do que outras, mas não queria que elas pensassem que conseguiriam mais de mim do que apenas um pouco de diversão."
"Sabe, de maneira estranha, isso tudo faz sentido." Sigimor começou a lavar cabelo de Liam. "Você fica vulnerável enquanto se banha e dorme. Isso implica muita confiança e tudo mais, não é? Agora que eu penso nisso, você não se deita com as moças que trabalham ou vivem em algumas propriedades, não é?”
"Não, naquelas que eu planejo visitar frequentemente, não."
Sigimor enxaguou cabelo de Liam e então o ajudou a sair da tina. O embaraço de Liam quanto a ser seco por seu primo foi passageiro, pois Sigimor era rápido e impessoal. Uma vez vestido com seu robe, Liam se sentou na cama enquanto Sigimor substituía os sarrafos agora molhados e ainda sujos e as bandagens em sua perna por outros limpos e secos.
"A perna parece boa," Sigimor disse enquanto servia uma caneca de cerveja inglesa para cada um. “Um tanto pálida, e parece que você perdeu um pouco de músculo aí, mas isso pode ser recuperado. Você tem sorte."
"Sim, eu tive. Se Keira e Irmão Matthew não tivessem me encontrado, eu teria morrido. Lentamente.” Quando Sigimor acenou a cabeça, depois bebeu um gole de sua cerveja inglesa e continuou olhando fixamente para ele, Liam perguntou. “O que foi?”
"Ah, eu estava só pensando sobre você e as moças novamente. Sabe? Eu acho que você sempre contou em tomar uma esposa."
"Não é o que todo homem planeja para algum momento de sua vida?"
"A maioria sim, mas a maior parte deles não desenha uma linha tão clara na areia quando começam a se divertir. Você faz isso. Você pode nunca ter percebido inteiramente a razão porque age assim, ou pode ter se esquecido, mas eu penso que você faz isso porque planeja se casar um dia. Não haverá nenhuma confrontação com criadas com quem você dormiu em sua própria casa, e haverá coisas que você poderá compartilhar com sua esposa que você não fez com nenhuma outra mulher. Eu suspeito que existem algumas outras coisas que você também não fez com aquelas mulheres." Sigimor sorriu ligeiramente quando Liam corou de verdade, e então meneou a cabeça. “Isso é para o melhor, pois eu penso que você já escolheu sua noiva."
"Talvez eu tenha, embora ela seja de uma posição muito elevada para mim. Eu ganho tudo. Ela só ganha a mim."
"Se ela concordar, que importância isso tem? Eu casei-me com uma inglesa, a filha de um lorde da fronteira."
"Porque ela concordou."
"Sim. Perfeitamente."
"Keira pensa que eu sou um porco luxurioso." Liam sorriu um pouco quando Sigimor riu. "Eu preciso cortejá-la, ganhar sua confiança, que eu perdi quando aquela mulher idiota veio atrás de mim. E, eu temo, quando nós paramos na taberna do Denny e Mary me deu as boas-vindas."
"Bem, uma vez que vocês estiverem casados, você pode deixar Keira saber quantas coisas você está compartilhando com ela, coisas que você nunca compartilhou com outra. Isso aliviará a picada de ciúme pelo seu passado. Agora, deixem ajudá-lo a se vestir de forma que nós poderemos descer para o salão e jantar antes que aqueles MacFingalls comam tudo.”
Liam tinha a sensação que Sigimor planejava algo. O homem falava como se um casamento entre ele e Keira já estivesse arranjado. Antes que Liam pudesse questionar seu primo, porém, Sigimor começou a ajudá-lo a se vestir, conversando o tempo todo sobre a batalha que eles logo lutariam. Não foi até que Liam estivesse acomodado na mesa principal do salão esperando por Keira que ele percebeu que acabava de ser hábil e completamente distraído.
Ele olhou para Sigimor que sorria ligeiramente, deixando Liam imediatamente e intensamente desconfiado. No momento em que ele estava para questionar seu primo, Liam foi distraído novamente pela entrada de Keira no salão. Ela usava um vestido verde bonito que realçava a cor de seus olhos. Seu cabelo da cor das asas de um corvo descia por suas costas em ondas longas, apenas frouxamente amarrado para trás apenas com uma larga tira verde. Ela parecia em cada centímetro uma fina lady, e Liam sentiu sua determinação de reivindicá-la hesitar um pouco. Vê-la deste modo o fez dolorosamente ciente de quão pouco ele tinha para oferecer a ela.
Keira corou levemente sob o olhar ardente que Liam lhe deu enquanto a ajudava a tomar seu lugar à mesa. Ela finalmente se acalmou, guardando seus recentemente descobertos sentimentos sobre o homem bem fundo dentro de si. Até que eles realmente se separassem, ela faria o máximo para manter aqueles sentimentos firmemente enjaulados. Certamente ajudaria se eles só se encontrassem às vezes como naquele momento, ela pensou enquanto comia sua comida sem realmente saboreá-la. O fato de estar cercada por pessoas e em constantes conversas devia tornar mais fácil manter seu coração incontrolável firmemente confinado, suas emoções restringidas.
"Então, você cuidou de nosso doce príncipe quando ele estava à beira da morte no monastério, não é?” Sigimor perguntou.
Foi difícil não sorrir quando Liam suspirou pesadamente e seus parentes riam silenciosamente, mas Keira permaneceu séria enquanto respondia. “No terreno do monastério, sim. Os monges nos mandaram para uma pequena cabana que têm no limite de suas terras."
"E vocês dois ficaram juntos lá sozinhos? Por um mês?"
O modo como todos olharam para ela e Liam muito atentamente começou a penetrar a névoa de tranquilidade com a qual Keira se envolvera. “Liam estava muito mal durante a primeira quinzena, mas então, todos os seus ferimentos, exceto sua perna quebrada, tinham se curado muito bem."
"Sigimor," Liam rosnou.
"O que? Eu só procuro a verdade, como farão seus parentes.” Sigimor disse.
"A verdade é que ela cuidou de meus ferimentos."
"Sim, sozinha, em uma pequena cabana, por um mês. Só você e ela. E, salvo por sua pobre perna quebrada, você estava em sua velha forma dentro de uma quinzena. Bem, todos nós sabemos como é sua velha forma, sim? Suspeito que seus parentes ouviram um rumor ou dois, pois eles frequentemente enviam alguém de seu clã para a corte do rei. A história se espalhará. Você sabe disso tão bem quanto eu. Você sabe o que deve ser feito para reparar a reputação dela, assim como a sua, e aplacar sua família."
"Eu não acredito que os monges vão correr a espalhar boatos."
"Não de propósito, mas sua família poderia finalmente se lembrar de Irmão Matthew, não? E depois havia outros que os encontraram, e não eram monges enclausurados. Sabe tão bem quanto eu o que será dito dela caso fiquem sabendo que passou tanto tempo sozinha com você. Não é justo nem verdade, mas isso não terá importância. Eu não creio que sua enorme família ficará contente, e eles vão querer resolver este assunto corretamente. Da maneira como eu vejo isto, nós temos duas escolhas – nos prepararmos para um feudo com os Murray, ou prepararmos você e a moça para um casamento."
Keira escutou Sigimor em horror crescente enquanto o significado de suas palavras finalmente penetrava sua serenidade duramente conquistada. Tudo o que ele disse era verdade, o que só tornava isso tudo muito pior. Ela podia ver pelas expressões dos rostos de todos que eles concordavam com Sigimor, e ela não podia culpá-los por isto.
Existiam muitas razões por que um casamento forçado com Liam era uma idéia ruim, mas uma em particular imediatamente saltou em sua mente — a noite de núpcias. O pensamento de todos os problemas que isso podia trazer finalmente destravou sua língua.
"Não!"
"Sim!"
Keira olhou em direção à entrada do salão e quase praguejou alto. Dois de seus irmãos estavam lá. Era óbvio pela expressão de seus rostos que eles ouviram a conversa inteira. Ela lutou contra o desejo de se levantar num salto e correr muito rapidamente para algum lugar onde eles não poderiam encontrá-la. Quando eles andaram a passos largos em direção à mesa parecendo ávidos para esmurrar alguém, Keira perguntou-se em que direção ficava a Irlanda.
Seus irmãos não hesitaram nem uma vez em sua marcha em direção à mesa principal, e Keira percebeu que seu olhar estava firmemente fixo em Liam, não nela. Não eram olhares amigáveis, tampouco. De fato, estavam mais para clarões assassinos. Ela rapidamente levantou-se e se pôs entre Liam e seus irmãos. Artan e Lucas eram conhecidos por bater primeiro e discutir a justificativa mais tarde. No momento, eles claramente sentiam que tinham bastante justificativa para bater em Liam até que ele não fosse mais do que uma sujeira no chão limpo de Fiona. Desde que ela duvidava que os parentes de Liam se sentariam calmamente enquanto seus irmãos esmurravam um dos seus, ela decidiu que estava protegendo mais do que Liam.
"Saia da frente, Melro," disse Artan, seus olhos azuis acinzentados parecendo quase prata, uma indicação certa de que ele estava furioso.
"Não," ela disse. "Vocês são convidados nesta casa, e este homem é parente destas pessoas. Seria rude bater nele aqui."
"Rude?" resmungou Lucas, seus olhos idênticos aos de Artan. "Bem, que não seja dito nunca que não temos boas maneiras. Levaremos o homem para fora e bateremos nele."
"Vocês não farão isso, tampouco. Não seria uma luta justa. Ele tem uma perna quebrada."
Liam sorriu quando ambos os homens perscrutaram ao redor de Keira, e ele se moveu em sua cadeira apenas o suficiente para deixá-los ver sua perna imobilizada e enfaixada. Por um breve momento, ele tinha ficado aborrecido pela tentativa de Keira o proteger, mas então o bom senso prevaleceu. Não desejava lutar com dois homens que ele suspeitava serem parentes muito próximos de Keira, mesmo se não estivesse impedido por sua perna quebrada. Qualquer briga que começasse também rapidamente se transformaria num tumulto. Desde que ele não fizera mais do que roubar alguns beijos, não achava que merecia uma surra, de qualquer maneira.
Ele estudou os dois homens enquanto Sigimor calmamente começava as apresentações, revelando que eles eram irmãos de Keira, Artan e Lucas Murray. Eles regulavam altura com ele e provavelmente quase da sua idade. Eles também eram extraordinariamente bonitos, e o modo como as poucas mulheres no salão olhavam de forma extasiada para eles só confirmava a opinião de Liam. Seu cabelo era do mesmo rico tom negro do de Keira, um pouco longo e muito espesso. Enquanto a tensão em seus corpos esbeltos diminuía um pouco, o brilho prateado de seus olhos enfraqueceu para um suave azul cinzento. Quando eles de repente fixaram os olhares severos sobre Keira, porém, Liam ficou tenso. Esperava que eles não fossem muito severos nem indelicados, ou tudo o que Sigimor e Ewan fizeram para aliviar a raiva e a tensão no ar teria sido por nada.
"Você parece bem, moça." Artan murmurou. "Não parece, Lucas?"
"Sim, muito bem," Lucas disse depois de examinar Keira cuidadosamente, "para alguém que nós tínhamos sido informados que provavelmente estava morta."
Artan pegou ambas as mãos de Keira e examinou-as, também. "E ela não tem qualquer ferimento nestas pequeninas mãos, tampouco."
"Nenhum machucado que eu possa ver."
"Estranho, então, que ela não tenha escrito para sua família para lhes dizer que estava bem. Uma ou duas pequenas palavras, como ‘eu não estou morta e apodrecendo em algum lugar entre Ardgleann e Donncoill’.” Disse Artan.
Keira estremeceu e ruborizou com remorso sob seus olhares penetrantes. "Não percebi que vocês pensavam que eu estava morta."
"Claro que não, pois você nunca mandou alguma mensagem para descobrir o que nos poderia ter sido informado."
"Existem boas razões para meu silêncio," ela começou.
"Sentem-se." disse Ewan, indicando a ambos os homens mais jovens um lugar à mesa. "Comam e matem sua sede. Enquanto fazem isso, a história pode ser contada. Existe muito sobre o que deve ser dito e decidido."
"Sim," Artan concordou enquanto ele e Lucas tomavam seus lugares, "como quando o será o casamento."
Liam rapidamente agarrou Keira pela mão quando pareceu que ela iria fugir. Ele gentil mas firmemente a fez se sentar novamente em sua cadeira. Não era assim que ele queria que as coisas progredissem entre eles, mas não conseguia ver nenhum modo de escaparem desta armadilha em que se encontravam. Ele poderia ter convencido seus parentes a lhe dar tempo para persuadir Keira sozinho, mas duvidava que seus irmãos prestariam atenção a ele.
Enquanto relatavam o que tinha acontecido desde a época do assassinato de Duncan MacKail até a chegada deles em Scarglas, Liam manteve uma vigilância cerrada sobre Keira. Tentou não ficar atormentado pela maneira como ela parecia abatida e chateada quando a conversa se voltava para o casamento. Ninguém gostava de ser arrastado para um casamento para o qual não estava pronto. Até ele achava isso irritante, e ele queria se casar com ela. A corte teria que vir depois do casamento, ele decidiu.O galantear teria que vir depois do casamento, ele decidiu. Ele acalmou sua inquietação lembrando-se da paixão que ela revelara e que, antes de lady Maude aparecer, ele e Keira tinham sido muito compatíveis.
"Não há necessidade disto," Keira disse, tentando não soar tão desesperada quanto se sentia. "Nós não fizemos nada errado."
"Nós acreditamos em você," disse Artan, "e também estas boas pessoas, mas poucos outros acreditarão. O homem é conhecido por ganhar os corações das moças. Ele é quase uma lenda em alguns lugares."
"Que bom para ele." Keira lançou um breve olhar furioso para Liam antes de voltar sua raiva para seus irmãos. "E vocês acham que é uma boa coisa me casarem com um homem tão devasso que é quase uma lenda?"
"Devasso é um pouco severo." Liam murmurou, mas ninguém prestou a menor atenção a ele.
"Eu só estou viúva há alguns meses.” Keira continuou.”Seria impróprio me casar novamente tão cedo. Sim, e viúvas têm permissão para mais liberdade que donzelas, não é?”
"Elas têm, se forem discretas. Compartilhar uma pequena cabana com um homem por um mês não é discreto. Nem compartilhar um quarto numa taberna ou viajar sozinhos por três dias."
"Vocês estavam nos seguindo de perto?” Liam perguntou.
"Sim. Nós finalmente recordamos como Keira e nosso primo monge sempre foram próximos, e nos apressamos até o monastério. Chegamos lá enquanto Kinnaird ainda estava discutindo sobre você. Não haverá mais daquilo uma vez que você esteja casado com nossa irmã.” Artan acrescentou numa voz dura.
"Não houve nada daquilo com lady Maude, em primeiro lugar.” Liam praguejou internamente quando pôde ver por suas expressões que nenhum dos irmãos de Keira acreditava naquilo.
"Artan, o que importa o que poderia ser dito de mim?" Keira perguntou. "Assim que Rauf for removido de Ardgleann, eu me estabelecerei lá. Qualquer fofoca ou rumor sobre mim logo vai enfraquecer."
"Vai? Vai enfraquecer rápido o bastante para impedir muitos de seus parentes de terem que defender sua honra?"
Keira sentiu seu coração saltar alarmado. Ela abriu sua boca para discutir aquela declaração apenas para fechá-la novamente. Tudo o que podia pensar para dizer era que tal problema nunca surgiria, mas sabia que era uma mentira. Ela não podia suportar nem mesmo o pensamento que uma pessoa pudesse ser ferida ou, Deus não permita, morta por causa dos rumores sobre ela. O fato de seus irmãos já saberem tanto comprovava que haveria rumores sobre ela e Liam. Mary obviamente tinha informado a seus irmãos todos os mexericos implicados, e lady Maude parecia pronta e disposta a espalhar a história. O fato de que lady Maude estava perseguindo Liam por todo o país não impediria as pessoas de ouvirem a mulher ou repetir o que quer que ela dissesse. O fato de que os supostos pecados tinham sido cometidos com base em um monastério só tornaria as mentiras mais intrigantes.
Era tudo tão injusto, ela pensou. Ela e Liam não fizeram nada errado. Embora existisse algum conforto no fato de que todos reunidos no salão acreditassem naquilo, infelizmente, Artan tinha razão em dizer que ninguém mais acreditaria. Para fazer justiça a Liam, a culpa não era nem de sua reputação. Não completamente. Era suficiente para a maioria das pessoas que um homem e uma mulher passassem semanas juntos a sós.
Quando Liam pôs a mão sobre a sua e a apertou, ela olhou fixamente para suas mãos que descansavam sobre a mesa. Seu toque, a sutil carícia de seus dedos, trabalhava para aliviar a tensão dentro dela. Ela desejava que aquele toque pudesse afastar todas as dificuldades que esperavam adiante. Havia uma complicação particularmente enorme logo adiante, e Keira não tinha nenhuma idéia de como resolver isto. Pelo que parecia, ela e Liam estariam casados amanhã, o que lhe dava menos de um dia para encontrar alguma solução, uma que não trairia seu juramento a seu finado marido ou os votos que logo trocaria com Liam.
"É costume de nosso clã permitir a uma mulher alguma escolha sobre casamento.” Ela disse, tentando uma última vez acabar com o assunto de casamento. “Vocês não estão me dando nenhuma.”
"Sim, escolher é melhor para todos os interessados," disse Lucas. "Você teve permissão para isso da última vez. Entretanto, existem momentos em que isso não é possível, e este é um deles. No passado, houve situações semelhantes, mas os casais se acertaram antes que precisasse ser aplicada a força. Com uma batalha nos aguardando, nós não temos tempo para jogar esse jogo."
"Bem, façam como quiserem, então." Ela explodiu enquanto saltava de pé. “É evidente que não precisam de mim para opinar em seus planos para o resto de minha vida."
Liam se juntou aos outros para assistir Keira andar a passos largos para fora do salão, com Fiona seguindo-a rapidamente. O modo como todos os homens pareceram cautelosos e decepcionados enquanto assistiam a pequena e delicada Keira partir furiosa o teria divertido em outra situação. No momento, Liam estava muito ocupado tentando não encarar sua relutância em se casar com ele de maneira muito pessoal. Ele se virou para encarar os irmãos de Keira.
"Seria melhor se eu tivesse tempo para cortejá-la." ele disse, com pouca esperança de que esse tempo lhe seria concedido.
"Sim, seria," Lucas concordou, "mas há uma batalha para ser lutada em breve. Embora eu relute em dizer isto, temendo que possa nos amaldiçoar de algum modo, homens morrem na batalha. Nós não podemos esperar até que você a corteje." Ele franziu o cenho, parecendo mais confuso que zangado. “E se você tinha uma preferência por nossa Keira, por que ainda não a conquistou? Você teve um mês junto com ela para conseguir fazer o trabalho."
"Eu sou um cavaleiro sem terras, e embora meus cofres não estejam vazios, também não estão muito cheios. Custou-me algum tempo decidir que eu simplesmente não me importava se ela é de um nível mais elevado que o meu. Então, bem, alguns problemas surgiram, e eu tive que começar tudo de novo."
"Problemas chamados lady Maude e Mary?"
"Eu nunca toquei em lady Maude!" Liam percebeu que gritou aquela negação e respirou fundo, para se acalmar. Dirigiu um sorriso torto a Sigimor. "Embora estas palavras me sufoquem, eu confesso que você estava certo. Eu estou pagando caro por todo aquele fogo."
"Sim, eu temi que pudesse ser o caso," Sigimor disse. "Entretanto, eu sei que você só apagará esse fogo com sua esposa uma vez que vocês estejam casados."
Os olhares confusos dos irmãos de Keira enquanto ouviam aquela pequena troca de palavras repentinamente se iluminaram, e Artan disse, “Ah, então você vai manter os votos feitos. Bom.”
"O que? Nenhuma ameaça? Nenhuma advertência?" Liam conteve um impulso de amaldiçoar energicamente os dois homens quando eles apenas sorriram para ele.
"Não há necessidade," disse Artan. "Não creio que qualquer coisa com que podíamos ameaçá-lo cause a você tanto sofrimento quanto Keira pode causar se você quebrar seus votos de casamento." Ele franziu o cenho ligeiramente. "Embora nosso pequeno Melro não parecesse completamente ela mesma agora. Um pouco de seu fogo se perdeu."
Lucas meneou a cabeça. "Ela não tentou nos bater ou jogar algo em nós.” Ele olhou feio para Liam. "Você já fez algo para magoá-la?"
"Não, embora ela tenha ficado um pouco desapontada comigo quando meu passado foi exposto antes que eu pudesse contar a ela sobre isso. Mas quando seu choque passou e ela me deixou saber tudo o que pensava, havia fogo em abundância lá." Liam franziu o cenho brevemente em direção a porta pela qual Keira acabara de marchar. “Contudo ela parecia, bem, conquistada."
Sigimor meneou a cabeça. "Ela estava. Quando vocês dois chegaram, havia aquele clima entre vocês que me deixou confortável para exigir este casamento, como eu sabia que devia. Quando ela se sentou aqui para jantar conosco, algo tinha mudado nela, e eu não estava mais tão certo. Era como se usando aquele vestido fino, ela tivesse vestido uma armadura.” Ele meneou a cabeça. "Eu pareço fantasioso."
"Eu não acho." disse Ewan. "Quando ela chegou aqui, eu vi uma moça como minha Fiona. Aberta, honrada, fácil de ler, ainda que você nem sempre entenda as palavras escritas lá. Quando ela desceu depois de um banho e um descanso, aquela moça tinha partido, e não começou a aparecer novamente até que a conversa sobre casamento começou. Em vez de examinar seus olhos e ver todo o tipo de emoções, reviravoltas e mistérios, era como se você olhasse em um espelho.” Ele corou ligeiramente quando percebeu que todos estavam encarando-o levemente assombrados. "É apenas um pensamento."
Liam sorriu para ele. "É um bom pensamento. Bem exato. Maldição, a moça teve algum pensamento severo enquanto tomava banho e descansava. Eu provavelmente ficarei louco tentando compreender que reviravolta tomou sua mente agora."
"Ah, sim, Keira é do tipo que pensa muito," disse Artan. “Você vai precisar aprender o olhar."
"O olhar?"
"Sim, o que ela faz quando começa a pensar. Se você aprende o olhar, terá tempo para começar a conversar e mantê-la conversando em vez de pensando. Ela é uma moça inteligente, mas seu pensamento pode seguir um caminho emaranhado. Como minha Da diz, você precisa se apressar para cortar as linhas antes que ela faça um laço que você precisará de dias para desvendar."
Foi preciso um longo gole de cerveja inglesa para Liam sufocar seu desejo de rir, especialmente quando ele viu o riso que transbordava nos olhos de Sigimor e Ewan. “Bem, qualquer emaranhado em que ela entrou terá que esperar até amanhã.” Ele disse. “Talvez seja melhor decidirmos o que pudermos sobre a libertação de Ardgleann."
"Não existe nenhum herdeiro?" Ewan perguntou.
"Só Keira," disse Artan. "Era parte do acordo de casamento. O homem era o último de sua linhagem. Ele buscava uma esposa para procriar um herdeiro, mas se isso falhasse, Keira seria a herdeira. Ele sentiu que ela tinha parentes suficientes para ajudá-la a manter as terras e cuidar de seu povo. Claro, agora ela terá um marido. Eu suspeito que o povo ficará contente com isto."
"Eu espero." E, Liam pensou, eu verdadeiramente espero que Keira não pense que suas terras são a única razão pela qual me casei com ela.
"Melhor nós livrarmos o lugar dos animais daninhos primeiro," disse Sigimor, voltando a atenção de todos para a batalha que eles logo enfrentariam.
Keira quase bateu a porta do quarto atrás dela, mas decidiu que seria infantilidade. Ela mal começara a andar pelo quarto, desesperadamente tentando pensar em algum modo de se livrar dos planos que todos estavam tecendo para o seu futuro, quando Fiona entrou no quarto. A compaixão na expressão da mulher era ao mesmo tempo confortante e irritante. Keira apreciava a compaixão, mas o que realmente precisava era de uma solução.
"Ele será um bom marido," Fiona disse enquanto servia vinho para as duas.
"Um relutante," Keira disse enquanto aceitava a bebida que Fiona lhe serviu.
"Não estou tão certa de que ele é relutante. Ele não demonstrou nenhuma resistência real."
Isso era verdade, mas Keira rapidamente afastou a esperança que se agitou em seu coração. "Ele estava desafortunadamente em menor número."
“Você não o quer?"
"Claro que eu o quero. Como alguma mulher poderia não o querer? Como ela poderia não gostar dele? Como ela poderia não querer subir até o topo de alguma montanha e gritar bem alto para todas as mulheres da Escócia: Há! Eu agora o tenho e vocês não!” Ela sorriu ligeiramente quando Fiona riu, mas depois suspirou. “Mas tantas tiveram, não é? Tiveram a ele, eu quero dizer."
"Sim. Nenhum homem tão bonito jamais chegaria intocado ao leito nupcial, Keira. Nem meu Ewan, que estava tão intimidado pelo comportamento licencioso do próprio pai que controlava suas paixões com um punho de ferro, não conseguia ser puro o tempo todo. Sigimor, também, foi muito cuidadoso em seus hábitos. Depois nós temos meu irmão Connor, que é casado com sua prima Gillyanne. Ele tinha três mulheres em sua própria casa com quem se deitava sempre que sentia vontade."
Keira quase sufocou com o vinho que acabava de beber. "Oh, não, por favor não me diga que eu devo enfrentar isto!"
"Não. Até onde eu posso dizer, Liam não toma amantes entre as mulheres que trabalham ou vivem dentro de Dubheidland, ou aqui, ou em qualquer propriedade dos seus parentes. Talvez ele sempre tenha sabido que tomaria uma esposa um dia e não queria os problemas que isso poderia trazer. Ou talvez não queria o aborrecimento que isso podia trazer a ele sempre que fosse para casa ou visitasse seus parentes."
"Ou talvez ele apenas precisava deixá-lo descansar."
Fiona riu tanto que teve que deixar a taça na mesa. Era um riso infeccioso, tanto que, apesar de seu humor sombrio, Keira riu um pouco também. Talvez fosse tolice se irritar tanto sobre o passado, embora ela não pudesse ignorar o que o passado de Liam dizia sobre ele. O homem se deitara com muitas mulheres. Pior, ele provavelmente não teve que fazer muito para ganhar aqueles favores. As mulheres eram compelidas a persegui-lo. Isso não prometia um futuro feliz.
"Keira, o homem era, talvez, um pouco rápido para aceitar tudo o que era oferecido.” Fiona disse, ficando séria novamente. “E era oferecido. Eu não ficaria surpresa se até aquelas que cobram uma moeda ou duas para isso tivessem se deitado com ele de graça. Eu realmente duvido que qualquer homem recusaria tais, er, presentes. Você deve esquecer isto como, eu suspeito, ele fez. Ele nunca quis se casar com alguma delas, nunca foi noivo, e nunca foi fiel."
"E, talvez, ele não possa ser fiel."
"Oh, sim, eu penso que ele pode ser. Ele se comportou bem no monastério por cinco longos anos, não foi? Ele também manteve algumas regras que poucos homens seguem — nenhuma inocente, nenhuma mentira ou falsa promessa, e nenhuma mulher casada ou comprometida. Ele acredita em manter um voto.”
“Muitos destes Cameron o fazem. Como meu irmão Connor uma vez me disse, um homem procura uma mulher porque ele tem um comichão e quer um pouco de calor. Se a esposa dá isto ao homem, porque procurar em outro lugar? Isto simplesmente não vale o aborrecimento que pode causar. Não é muito romântico, mas é o modo como a maioria destes homens pensa. Creio que os homens da sua família são do mesmo tipo."
"Eles são." Keira terminou seu vinho e franziu o cenho para a caneca vazia. "Você realmente acha que Liam vai manter seus votos?"
"Eu acho. Por que, uma vez Sigimor pensou que meu Ewan tinha uma amante e o seguiu, pretendendo enfiar um pouco de juízo nele."
"E Sigimor criou a maior parte de seus rapazes, não foi?"
"Foi. E Liam não passou cinco anos treinando para ser um monge porque não tinha nenhum outro lugar para onde ir. Ele tem uma convicção profunda, só não tem verdadeira vocação para se enclausurar. Tal homem leva os votos ditos diante de um padre muito a sério. Vamos, eu duvido que exista qualquer mulher viva que tenha se casado com um virgem."
Keira por pouco disse que era quase certeza que ela tinha, mas apressadamente engoliu de volta as palavras. Não podia ser verdade. Era apenas uma das muitas desculpas que ela tinha inventado para a falta de desejo de seu marido por ela.
Por um momento, ela considerou seriamente contar a verdade a Fiona, mas seu juramento para Duncan a deteve. Tinha sido errado da parte dele fazê-la jurar viver uma mentira, mas ela aceitou aquele fardo. Ela não quebraria sua palavra agora simplesmente porque era inconveniente. A única pessoa para quem sentiu que podia dizer a verdade era Liam — depois que ele se tornasse seu marido. Ela não conseguia pensar na melhor maneira de fazer aquilo, nem imaginar como seria a reação dele. Keira temia que ele pensasse que ela era a pior das mentirosas, que ela jogava algum jogo cruel com todos eles, ou que ela era tão avarenta que estava disposta a fazer todos de bobos apenas para reivindicar Ardgleann.
"Você ainda lamenta por seu marido?" Fiona perguntou. "É isso que a aborrece?"
"Oh, eu lamento por ele, mas apenas porque ele era muito jovem para morrer e não merecia uma morte tão cruel. Eu gostava dele e pensei que podíamos ter um bom casamento, mas não mais que isto. Entretanto, ele pelo menos escolheu se casar comigo. Liam está sendo forçado."
"Não, não forçado. Persuadido. Eu conheço estes homens há bastante tempo para saber que nenhum deles pode ser forçado a fazer qualquer coisa que não queira. Como eu disse, Liam não protestou muito, de qualquer modo. Na verdade, eu posso não ajudar mas penso que ele já havia decidido fazer de você sua esposa, se você o aceitasse."
"Fiona, nós só nos beijamos duas vezes, e nós nunca fizemos isso até deixarmos a cabana. Ele certamente nunca disse ou fez qualquer coisa para me fazer pensar que queria se casar comigo."
"Claro que ele não fez. Você tem dinheiro e terras. Ele não tem nada. Você é mais bem nascida que ele. Não posso explicar como ou porque acredito nisto, mas eu realmente acho que ele já tinha casamento em mente. Eu penso que ele demorou para lhe dar até mesmo uma minúscula insinuação porque ele achava errado sonhar tão alto, depois resolveu cortejar você." Fiona fez uma careta. "Eu não tenho um dom para tais coisas, como nossa Gilly, mas ela me disse que tenho uma intuição muito forte sobre as pessoas, e eu conheço Liam há muitos anos. Eu apenas sinto com certeza que pelo menos uma parte dele quer isto e que ele será um bom marido para você. Você não gosta dele, de qualquer maneira? É isto?”
Existia uma verdade que Keira sentiu que podia confiar a Fiona. "Sim, eu o amo. Eu penso que a semente foi plantada quando o vi pela primeira vez, e ele certamente não estava tão bonito então. Eu não disse a ele, e provavelmente não direi durante algum tempo. A menos que eu me sinta certa de que existe um pedacinho da mesma emoção nele, não posso arriscar isto."
Fiona meneou a cabeça e deu a Keira um breve abraço apertado. "Eu realmente entendo isso muito bem. É o medo de que você poderia deixá-lo tão desconfortável confessando isto que arruinasse o que vocês têm. Ou até mais assustador, tudo o que você receba em resposta por abrir seu coração seja algo devastadoramente aprazível como ‘Isto é muito bom, esposa. Obrigado.’” Ela sorriu quando Keira riu. "Não se preocupe demais com o que não pode ser mudado. Vocês estarão casados amanhã. Também vão começar este casamento com mais coisas boas que ruins, eu acho. Então, como eu disse à esposa de Sigimor quando ela estava preocupada, apenas ame o tolo. É tudo o que você pode fazer. Eu sinto que você acabará encontrando algo tão bom quanto a esposa de Sigimor e eu encontramos."
Exceto que vocês duas não foram para seus maridos ainda presas a um juramento feito a um homem morto, Keira pensou. Um juramento que faz de você uma fraude. Um juramento que a acorrentava a uma mentira enorme.
"Então, vamos nos preparar para seu casamento," disse Fiona, pegando Keira pela mão e a arrastando para fora do quarto. "Um banquete, alguma música, e tudo mais. Mas, primeiro, nós acharemos um vestido bem bonito para você usar."
Keira estava mais que disposta a se juntar aos planos de Fiona. Preparar o casamento a manteria muito ocupada para pensar no que aconteceria depois disto.
"Talvez ela tenha fugido durante a noite." Liam ignorou o riso de Sigimor enquanto olhava fixamente para a entrada do salão, perguntando-se por que Keira ainda não tinha entrado por ela.
"Eu nunca pensei que você estaria nervoso nesse momento.” Sigimor disse. “Não Liam, o maior amante em Alba."
Liam praguejou e fez uma carranca para o primo. "Eu sou não sou o maior amante nesta terra."
"Eu penso que muitas mulheres discordariam."
"Talvez, mas principalmente porque elas nunca conheceram nada melhor. Eu gosto dos prazeres da cama. Que homem não gosta? Gosto da sensação da pele suave e cálida de uma mulher. Eu até gostava da maior parte das mulheres com quem me deitei, mas isso era bastante fácil, por ser frequentemente uma aliança passageira. Eu posso envolvê-las com palavras bonitas, e sei onde acariciá-las para deixá-las prontas. Isso é tudo. Nenhuma grande habilidade. Nenhum segredo maravilhoso. É com este rosto amaldiçoado que elas se deitam, não com o homem atrás dele. Meu pecado é que eu sabia bem disso, e contudo ainda tomava o que me era oferecido."
"Como qualquer homem se a moça é bonita o bastante e não cheira muito mal."
Liam riu e meneou a cabeça. “Tristemente é verdade, e se nós estivermos muito desejosos, provavelmente ignoraremos o cheiro." Ele suspirou. "Ela não quer casar comigo."
"Ninguém quer ser comunicado de que vai se casar, mas a maioria o é. Os casamentos são mais frequentemente organizados pelos mais velhos visando lucro ou alianças. Eu penso que você e a moça vão começar com mais do que a maioria. Vocês viveram juntos por um mês e ainda estão conversando um com o outro."
"Mais ou menos. Aquela maldita lady Maude prejudicou dolorosamente minha causa. E aquela criada na taberna do Denny tem uma língua muito solta. Sim, a moça está conversando comigo novamente depois que pensou durante algum tempo, mas ela não confia em mim para manter meus votos. Eu não me importo com um pouco de possessividade ou ciúme, mas não tenho certeza de quanto tempo posso pacientemente suportar minha esposa pensando que eu não posso controlar minha luxúria, que eu a estarei traindo a todo o momento."
Sigimor meneou a cabeça. "Isso causaria dificuldade. Pode ser que ela esteja insegura de você e de si mesma. Levará tempo para curar isto. Eu temo que, durante algum tempo, você não terá muito tempo para trabalhar para fortalecer seu casamento ou aliviar os receios de sua esposa. Haverá uma batalha para planejar e lutar. Quando vocês estiverem morando em Ardgleann, trabalhando lado a lado para consertar os danos que o suíno causou, você poderá arrumar isso tudo. Provando ser um bom lorde para o povo de lá, você poderá provar ser um bom marido."
"Sim, é bem verdade. Pergunto-me como ela se sente sobre eu ganhar tanto com este casamento, talvez até usurpando uma posição que ela quis para si mesma. Seu marido a declarou sua herdeira, contudo ambos sabemos que uma vez que o povo de lá saiba que ela tem um marido, eles verão a mim, não a ela, como lorde."
"Claro que eles irão. Muito melhor um homem forte com habilidade de luta que uma moça pequenina. Eu pensaria que ela tem bom senso bastante para ver isto por si mesma e entender."
"Ela provavelmente entende, mas não significa que tem que gostar disto."
"Então se certifique que todos entendam que vocês são iguais, que ela fala por você e você por ela."
Liam estava para elogiar Sigimor por aquela idéia tão boa quando Keira entrou no salão e ele esqueceu tudo que iria dizer. Ela usava um vestido de um vermelho profundo que valorizava suas curvas suaves. Seu cabelo caía sobre seus ombros esbeltos como um rio sedoso, ondas negras brilhantes, suas ricas profundidades decoradas com fitas de seda coloridas. O vestido e seu cabelo combinavam para fazer sua pele parecer de uma cor cremosa muito mais rica, suave e, no momento, tocada pela sugestão de um rubor, quando todos se viraram para olhar para ela. Liam estava se movendo em sua direção antes mesmo de pensar em fazer isso.
"Aí vem ele," Fiona sussurrou.
"Como eu estou?" Keira perguntou. "Eu não deveria usar meu cabelo solto. Sou uma viúva, não uma moça solteira."
"Pare de se preocupar. O homem não consegue tirara os olhos de você."
"O que não significa que gosta do que vê. Ele pode estar atordoado de horror." Ela sorriu um pouco quando Fiona riu, mas estava muito nervosa para se juntar a ela.
Então Liam estava ao seu lado, parecendo impressionantemente belo em seu gibão preto e dourado. Keira suspeitava que esta era uma das vestimentas elegantes que ele usava quando estava na corte, e podia facilmente entender como afetaria as mulheres de lá. Ele se curvou para Fiona, então se virou para ela, e Keira inspirou tão profunda e repentinamente que quase sufocou. Seus olhos estavam daquela cor azul ardente que aparecia sempre que ele a beijava. Liam certamente aprovava sua aparência.
Aquele sinal de aprovação, porém, fez Keira pensar sobre a noite à frente dela, e ela estremeceu. Esteve acordada até muito tarde na noite anterior tentando pensar numa maneira de contar a Liam seu segredo, tudo em vão. Finalmente exausto, ela adormeceu dizendo a si mesma que ele não notaria. Na luz de dia, a poucos passos de trocar votos de casamento com o homem, ela soube que era ridículo. Liam podia não ter se deitado com donzelas inocentes, mas ela suspeitava que era algo que um homem notaria, especialmente quando a mulher em questão tinha sido casada por três meses.
"Dará tudo certo, moça," ele sussurrou contra sua pele quando beijou sua bochecha.
Keira sorriu e meneou a cabeça enquanto ele a pegava pela mão e a levava em direção ao padre de pé na outra extremidade do salão. Ela queria acreditar em suas palavras de certeza, mas até ela não podia dizer se aquilo era uma grande mentira. A parte tola dela gostaria de pensar que ele ficaria agradavelmente surpreso hoje á noite, mas seu bom senso ridicularizava isto. Cedo ou tarde, ela teria que contar a verdade a ele, e isso significaria expor sua humilhação. Keira sabia que era uma razão pela qual não podia cuspir fora a verdade, não podia simplesmente dizer “Desculpe-me,mas embora eu seja uma viúva, temo que nunca fui realmente uma esposa.”.
E ela se tornaria uma até mesmo esta noite? Ela pensou, finalmente enfrentando seu maior medo. Liam ficava excitado com seus beijos, mas Duncan parecia gostar deles, também. Foi no quarto, quando eles foram além de beijos, que tudo deu horrivelmente errado. Dentro dela estava um profundo, corrosivo medo de que ela sofreria aquela rejeição humilhante também de Liam. Estava claro que ela nunca teve realmente certeza se o problema tinha sido de Duncan, e não seu.
Enquanto eles ajoelhavam em almofadas diante do padre, Keira percebeu que Liam não usava os sarrafos de madeira em sua perna. "Onde estão as talas?" Ela perguntou. "Ainda não se completaram seis semanas."
"Tem quase cinco," ele respondeu. "As ataduras permanecem. Eu não seria capaz de ajoelhar com toda aquela madeira em minha perna. Eu porei as talas de volta depois que nós dissermos nossos votos."
Keira de repente perguntou-se se eles teriam que adiar sua noite de núpcias por causa de sua perna quebrada, e sentiu seu ânimo aumentar.
"E então as tirarei novamente mais tarde," Liam sussurrou em sua orelha.
Seu ânimo afundou. Ela estava tentando pensar numa maneira de convencê-lo que ele podia causar um dano irreparável a sua perna convalescente caso se empenhasse em algo tão estrênuo quanto se deitar com sua esposa quando o padre chamou sua atenção para ele. Por um momento passageiro, Keira considerou recusar repetir seus votos. Então ela olhou de esguelha para Liam. Ele estava observando-a cautelosamente pelo canto de seus olhos. Ela suspirou e amaldiçoou seu coração muito mole. Ela simplesmente não podia humilhá-lo tanto diante de todos os seus parentes.
"Eu pensei que as mulheres sempre sorriam nos casamentos, especialmente em seu próprio."
Keira olhou para Artan enquanto ele andava ao lado dela. Não precisava olhar para seu outro lado para saber que Lucas estava lá. Seus irmãos eram inseparáveis e sempre tinha sido.
"Este é meu segundo casamento," ela disse."E eu não escolhi este aqui."
Artan agitou sua cabeça. "Você não pode me dizer que não gosta do homem ou que não o quer."
Ela sentiu um calor de rubor em suas bochechas, mas ignorou isto. "É sempre melhor se existe um pouco de escolha feita livremente."
"Bem, eu penso que a escolha teria sido feita eventualmente." Artan procurou entre os homens no salão. "É uma boa aliança. Sim, já existia em alguns modos, mas isto a torna mais direta, mais forte. Estes são bons homens para ter como aliados."
Isso era uma verdade com a qual ela não podia discutir, mas estava se sentindo particularmente contrária no momento. "Estou tão contente que eu possa trazer benefícios para vocês com meu sacrifício no altar.," ela murmurou.
Lucas drapejou seu braço ao redor seus ombros. "Enterre esse ressentimento, Melro. Se você alimentar isto por muito tempo, pode criar um veneno. Ele é um bom homem, que acredita nos votos ditos diante de um padre."
"Todos parecem tão certos sobre isso." ela calmamente respondeu, observando seu novo marido manter uma discussão amigável com Sigimor.
"Então preste atenção a eles, pois conhecem o homem há mais tempo que você. Ele será um bom lorde para Ardgleann."
"Talvez eu desejasse ser o lorde."
"E teria sido um bom lorde, mas você tem bom senso o bastante para saber que as dificuldades serão vencidas mais facilmente com um homem na cadeira do lorde. Uma moça pequenina como lorde pareceria um objetivo tentador para muitos homens, até para os clãs vizinhos. Um homem grande e forte, com uma horda de parentes grandes e fortes, fará Ardgleann parecer forte."
"E ajudará a mantê-lo o lugar pacífico que uma vez foi. Eu sei disto, mas não significa que eu tenha que achar que é justo." Ela sentiu Lucas encolher os ombros e suspirou. "Não se preocupem. Eu nunca desejei realmente ser o lorde. Concordei com o acordo de casamento simplesmente porque nunca pensei que Duncan morreria logo depois de nos casarmos. Não, eu sou uma curandeira, não uma guerreira. Estou mais que feliz em deixar essas responsabilidades nas mãos de Liam.."
"Algo a aborrece, moça. Eu vi isto em seu olhar, durante o dia todo. É quase hora do jantar, e eu ainda o vejo. Eu não posso adivinhar o que a atormenta, e suspeito que você tampouco me contará, mas não seria sábio levar isto para seu leito nupcial." Lucas moveu a cabeça em direção a Liam, que os estava observando. "Sim, e pela expressão no rosto do homem, ele não esperará muito mais tempo antes de levá-la para lá."
Keira corou ao ver como Liam olhava para ela. Aquilo tanto a aqueceu quanto apavorou. O desejo em seus olhos era repleto de promessas, mas ela não podia afastar o medo de que uma vez sozinhos em seu quarto, aquelas promessas rapidamente se tornariam cinzas.
Lucas provou estar certo em sua predição. Keira podia sentir a impaciência crescente em Liam com as formalidades à medida que eles comiam. Ele até suportou calmamente as provocações não tão sutis de seus parentes, mas sua tensão aumentou até que começou a infectá-la. Foi quando Sigimor propôs um terceiro brinde que Liam finalmente perdeu o controle. Ele saltou de pé com graça assombrosa para um homem cuja perna estava firmemente imobilizada. Keira rapidamente deixou sua caneca de vinho sobre a mesa quando ele a agarrou pela mão, puxou-a para colocá-la de pé, e começou a arrastá-la para fora do salão. Ela estava um pouco surpresa por achar que não era a única que corava com alguns dos comentários maliciosos lançados para eles enquanto deixavam o recinto.
Havia coisa boa sobre este casamento, Keira pensou enquanto Liam a levava para seu quarto. Como ela era uma viúva, não haveria nenhuma formalidade elaborada e embaraçosa sobre o leito nupcial. Eles tinham permissão para simplesmente ir para a cama, ela observou, e sentiu seu estômago contrair enquanto entravam no quarto. Aquela sensação se intensificou quando ela viu Liam fechar e trancar firmemente a porta. Foi então que ela percebeu que não tinha nenhuma idéia real do que devia fazer a seguir.
"Você parece um pouco confusa, esposa." Liam disse enquanto lentamente a puxava para seus braços.
"Bem, eu não fui casada por muito tempo." ela murmurou.
Liam pressionou os lábios em sua testa. "Embora eu ganhe por seu primeiro marido ter deixado você, eu realmente não o quero neste quarto."
Ele a beijou, silenciando as palavras que ela quase disse. Duncan estava ali, quer Liam gostasse disto ou não. Keira se permitiu perder-se no calor de seu beijo, muito covarde para enfrentar a verdade agora. A verdade seria exposta muito em breve, e ela decidiu tomar tudo o que podia antes disso. O desejo de Liam poderia ser algo superficial, compartilhado muito frequentemente com muitas, mas ela queria se aquecer em seu calor enquanto pudesse.
Liam manteve Keira entretida com beijos enquanto ele desfazia os laços de seu vestido. O rubor profundo dela quando ele finalmente a desnudou o fez pensar que Duncan tinha sido um daqueles homens que se deitavam com a esposa na escuridão. Sabendo que não podia continuar até que tivesse removido os sarrafos de madeira de sua perna, Liam a pegou pelas mãos e a puxou em direção à cama. Ele se sentou na beirada da cama e começou a remover a madeira que era a maior causa de seu desajeitamento.
"Liam," Keira disse, "ainda não se completaram seis semanas."
"Você me disse isso mais cedo." ele respondeu enquanto continuava a remover as talas.
"Mas você pode arruinar toda sua melhora se não for cuidadoso."
Enquanto jogava a última tala de lado, ele olhou para ela. "Eu não pisarei sobre ela." Desde que seu pequeno gracejo não aliviou sua preocupação óbvia, ele disse, "eu sinto muito fortemente que está curada o suficiente para isto, amor. Dói depois de um dia longo, e eu posso sentir que está debilitada, mas não mais que isto."
Desde que seus outros ferimentos curaram com uma velocidade agradável, Keira pensou que poderia ser possível que o osso quebrado tivesse se consertado apropriadamente um pouco mais depressa também. A curandeira nela, porém, continuava a se preocupar. Ela se ajoelhou a seus pés e colocou as mãos em sua perna, tentando sentir se existia qualquer razão para sua preocupação.
"Minha perna não está tão ferida." Liam disse, mas quando ele a agarrou, ela afastou sua mão com um ligeiro tapa.
"Não, ela não está, mas eu não estava procurando por isso. Agora fique quieto." Ela fez careta pelo modo abrupto com que falou. "Por favor."
Liam encolheu os ombros. Ela podia não tê-lo tocado para aliviar sua dor, mas estava aliviado. Esperava que ela não tomasse aquilo para si, pois não desejava todo o ritual que isso exigia posteriormente. Ele certamente não queria gastar nem mesmo uma pequena parte de sua noite de núpcias sentado inutilmente enquanto ela dormia, a menos que fosse o sono de uma esposa satisfeita. Quando ela levantou-se, ele não viu nenhum sinal das reações que ela sofreu quando deitou as mãos em seu ferimento anteriormente.
"Você está bem?" Ele perguntou.
"Oh, sim. Eu estava só tentando, bem, ver algo, não tirar a dor ou algo assim."
"E o que você viu?" Ele se preparou para más notícias.
"Nada." Ela sorriu um pouco quando ele suspirou, obviamente aliviado. "Parece que você está curado, mas seria sábio usar as talas durante o dia por pelo menos outra semana e ser cauteloso quando usar essa perna. O osso parece estar remendado, mas a perna enfraqueceu, e você não vai querer cair. Isso poderia causar dificuldades."
Ele levantou-se, pegou-a por sua cintura pequena, e a sentou na cama. Cuidando de não puxar a perna que ela acabava de declarar curada mas fraca, ele se ajoelhou diante dela. Ele removeu seus sapatos lindamente bordados, seu pé pequeno, esbelto, nitidamente lembrando a ele que sua esposa era de uma constituição mais delicada que as mulheres que ele conhecera antes. Aproveitando a oportunidade para acariciar suas pernas enquanto removia suas meia-calças, Liam sentiu seu sangue acelerar, ardendo. Suas pernas eram surpreendentemente longas considerando sua estatura pequena, como também esbelta e graciosamente formada. Sob sua pele suave, ele podia sentir o músculo tenso. Keira podia ser delicada, mas obviamente não era fraca.
Liam beijou cada um de seus joelhos, então se levantou e começou a remover suas roupas. Ele tentou se despir sem qualquer pressa óbvia, mas soube que não tinha sido completamente bem sucedido em esconder sua ânsia desesperada para estar pele a pele com ela. Depois de jogar de lado sua última peça de roupa, ele olhou para Keira e quase riu.
Sua pequena bela esposa estava corando ferozmente, parecia febril. Depois que ela o examinou, seu olhar arregalado ficou fixo em sua ereção. Liam não sabia se ficava lisonjeado ou preocupado.
Existia definitivamente uma sugestão de incerteza, até medo, em seus olhos. Desde que ele sabia que não era maior que a maioria dos homens, começou desconfiar que Duncan MacKail tinha frequentado pouco a cama de sua esposa ou tinha sido um daqueles tolos que acreditavam que a esposa não devia ser confrontada com tais coisas como o corpo nu e a paixão de um homem.
Keira quase fugiu de seu toque quando Liam juntou-se a ela na cama e começou a soltar os cordões de sua túnica. Liam Cameron era uma homem muito bonito, de seu espesso cabelo acobreado até a ponto dos pés. Ela não o vira desnudo por semanas, não desde que ele acordou na cabana, e ela nunca o vira naquela condição. Keira sabia que iria machucar um pouco a primeira vez que um homem a possuísse, mas temeu que seria muito mais que um pouco machucada quando ele colocasse aquilo nela. Sua parte de curandeira ralhava com ela por ser uma idiota, mas Keira não podia deixar de temer que logo seria rasgada ao meio em nome da paixão.
Então ele tirou sua túnica e a jogou de lado. Keira esqueceu tudo sobre seu tamanho e esperou de forma tensa pelo que aconteceria a seguir. Sua nudez era uma das coisas que causavam angústia a seu marido. Embora ela não pudesse ver sua expressão claramente, Keira pensou que Liam não parecia nem ligeiramente aflito enquanto lentamente a olhava do alto da cabeça até o dedão do pé. Ela sentiu a esperança crescer quando ele suavemente baixou o corpo sobre o seu e só estremeceu um pouco. Pelo menos ela pensou que era ele, mas desde que ela estava tremendo como se estivesse com febre, era difícil ter certeza.
"Ah, esposa, você é linda." Liam roçou um beijo sobre sua boca. "Não franza a testa para seu marido quando ele lhe faz um elogio. Você é linda."
Liam podia dizer que ela não acreditou que ele verdadeiramente queria dizer aquelas palavras, mas ele faria seu melhor para fazê-la acreditar que ele só dizia a verdade. Ela era delicada em altura e formas, mas tinha todos os atrativos femininos que qualquer homem podia querer. Seus seios podiam não ser grandes o suficiente para considerá-la uma moça voluptuosa, mas eram arredondados, bem formados, e com mamilos rosa escuros que penosamente o tentava. Sua cintura era pequena, seus quadris suavemente curvados, e seu traseiro era do tamanho perfeito para suas mãos. No topo de suas coxas esbeltas estava uma seta de cachos escuros que apontavam o caminho para paraíso. E toda aquela pálida pele cremosa parecia tão suave quanto pluma contra a sua, ele pensou enquanto a beijava. Ele faria amor com ela de um modo que provaria ele não fazia lisonjas vazias, e se levasse muitos, muitos atos de amor para conseguir fazê-la acreditar nisso, ele estava mais do que pronto para obrigá-la.
Quando Liam cobriu seus seios com as mãos, Keira quase saltou da cama. O que ele provocava dentro dela com seus beijos e seu toque era muito intenso. Eles a fizeram querer fugir ao mesmo tempo em que a faziam ansiar por mais. Quando ele tomou um mamilo dolorido no fundo de sua boca, sugando suavemente, ela soube ao menos um pouco do que era aquele mais.
Logo ela deixou de esperar que ele fugisse de seus braços, incapaz de retornar e terminar o que tinha começado. A humilhação do passado foi esquecida por um tempo, queimou longe pelo calor da paixão que Liam provocava dentro dela. Ela experimentou acariciar suas costas, e ele murmurou sua aprovação. Ela esfregou seu corpo contra o dele sempre muito suavemente, e ele gemeu, então a estreitou mais contra si. Keira não entendia o que era tão diferente sobre ela para que este marido a quisesse, mas não viu nenhum sentido em discutir com a generosidade de destino. Em um certo ponto, Liam poderia começar a sofrer como Duncan, então ela o segurou firmemente e tentou garantir rapidamente todo o prazer que ela podia.
"Oh, moça, você me faz queimar," Liam murmurou enquanto deslizava a mão entre suas pernas.
Ele ignorou a breve tensão nela e passageiro olhar de choque, ambos enfraquecendo enquanto ele a acariciava. Seu casamento tinha sido muito curto, e ele estava começando a pensar que seu marido tinha sido um amante muito pobre. Agradou a Liam pensar que ele seria o primeiro homem a dar seu prazer.
Julgando Keira pronta e sabendo que ele não podia esperar mais para a possuir, Liam se colocou entre suas pernas. O aborreceu um pouco quando ela não envolveu imediatamente aquelas pernas esbeltas fortemente ao seu redor, mas novamente ele decidiu que a culpa era de seu marido. Foi preciso apenas um leve puxão em suas pernas quando ele tentou colocá-las ao redor de seus quadris ele mesmo, antes de Keira perceber o que ele procurava, para seu alívio. Então ele a beijou até enquanto mergulhava dentro dela, agora desesperado pela sensação de seu calor o cercando. Liam a sentiu tensa embaixo dele e percebeu numa pequena parte de sua mente nublada pela paixão que sua entrada tinha sido menos que fácil, então ele se forçou a ficar parado. Ele olhou para ela enquanto lutava para conseguir se controlar um pouco. Ela parecia surpresa, ele pensou, mas isso não fazia nenhum sentido mesmo.
Keira olhou fixamente para Liam quando ele se levantou sobre seus antebraços e olhou para ela. Ela pensou que tinha escondido sua reação àquela pontada de dor bastante bem, mas seu cenho franzido lhe disse que ele tinha notado algo. Desde que ele parecia um pouco confuso, ela decidiu que ele não estava certo sobre o que tinha sentido, e correu para aproveitar-se disto.
Envolvendo seus braços com mais firmeza ao redor seu pescoço, ela o beijou usando tudo que tinha aprendido do modo com que ele a beijou. Ela aumentou o aperto de suas pernas, empurrando-o mais fundo dentro de si e o ouviu gemer baixo em sua garganta. Quando ele começou a se mover, ela quase gritou de alívio. Enquanto suas punhaladas cresciam cada vez mais ferozes, ela sentiu algo bem no fundo dela começar a apertar e tentou incitá-lo com seu próprio corpo. Ele deslizou seus dedos entre seus corpos, até onde eles se juntavam, e a tocou de um modo que a fez se sentir frenética. Quando ele fez isto novamente, ela sentiu que aquele laço apertado dentro dela explodia, enviando arrepios de prazer ao longo de seu corpo. Ela se agarrou em Liam enquanto seus movimentos aumentavam, brevemente frenéticos, antes dele enrijecer e gritar seu nome. Keira sentiu o calor de sua semente e quase chorou de alegria.
Ele desmoronou em seus braços, sua respiração quente contra seu pescoço. Seu corpo ainda zumbia com o prazer que ele lhe deu, e ela saboreou isto. Ele logo estaria completamente recuperado, e sua mente ficaria afiada e clara novamente. O conhecimento que ela vislumbrou brevemente em seus olhos retornaria. Então todo esse prazer e alegria seriam afastados por sua raiva e suas memórias dolorosas do passado.
Liam se sentou na extremidade da cama olhando fixamente para o pano úmido com que limpara Keira e a si mesmo do que ele frequentemente brincava era o lado pegajoso de um bom sexo. Não havia nenhuma outra explicação para a mancha fraca no linho. Ele podia sido menos controlado que o habitual, mas não tinha sido tão feroz para fazê-la sangrar. Apesar da nuvem de paixão cercando sua mente enquanto a beijava e acariciava, ele sentiu um desconforto virginal às vezes. Agora que sua febre esfriara, ele podia também recordar o que sentiu quando a penetrou. Seu beijo, a sensação de seu corpo flexível envolvendo o seu, e sua própria necessidade cega afastou brevemente aquele conhecimento de sua mente. Sua esposa, uma mulher que tinha sido casada por três meses, sua pequena viúva que devia ter tido alguma experiência na cama, não importa o quão absurdo fosse seu marido, era uma virgem.
Ou tinha sido, ele rapidamente se corrigiu. Por um momento ele se sentiu extraordinariamente contente por isto, saboreando o conhecimento de que ele tinha sido seu primeiro amante. Então, a suspeita sombria se esgueirou em sua mente.
Sua esposa, uma palavra que ele percebeu que ainda gostava do som apesar das suspeitas que agora sentia, sentou-se contra os travesseiros. Ela segurava o lençol sobre o peito e o observava, seus olhos aflitos. Existia medo lá, também, e ele rapidamente sufocou o desejo de confortá-la. Até que ele soubesse a verdade, ela tinha boa razão para ter medo.
"Minha primeira pergunta poderia ser se você foi realmente casada, mas eu ouvi seus irmãos confirmarem isto.”, ele murmurou “Então a seguir me pergunto, você recusou a seu marido seus direitos?"
Ele soou tão tranquilo, tão cortês, e tão absolutamente furioso que Keira teve que respirar fundo para se fortalecer antes de responder, "Não. Nunca. Duncan foi muito franco sobre sua necessidade de um herdeiro, e eu entrei no casamento sabendo que seria meu dever tentar lhe dar um."
"Ele pensou que você precisava de tempo para se acostumar a ser sua esposa, pois você não o amava, amava?"
"Não, eu não o amava," ela sussurrou, desejando que isto não soasse tanto como uma confissão de culpa. "Eu gostava dele. Ele era um homem bom e amável. Gentil realmente. Não havia nenhuma conversa de esperar."
"Maldição, Keira, você era uma virgem. Se você não o recusou em sua cama e ele não pensava que você precisava de tempo para se acostumar a sua nova vida, então como você ainda podia ser uma virgem?"
"Porque Duncan não me quis!"
"Ele desposou você. Ele deve ter procurado você. Ele a escolheu, não foi? O homem não escolheria alguém que ele não queria."
"Ele tentou. Pobre Duncan realmente tentou, mas ele não poderia. Eu não era do seu gosto."
Liam suspirou e esfregou a mão na testa. Ele precisava ficar calmo. Eles estavam conversando em círculos, ou ela ainda não explicara isso tudo claro o bastante. Era incompreensível para ele que seu finado marido não a quisesse. Até que ele percebeu completamente que sua passagem tinha uma barreira que não devia estar lá, ele havia desfrutado uma paixão mais quente e doce que qualquer outra que ele tinha conhecido, e suas consequências deliciosas. E Keira retribuíra sua paixão por completo apesar de que ter sido sua primeira vez com um homem. Liam não podia acreditar que outro homem tinha sido cego para a promessa de seu corpo flexível.
"Ele era impotente?" Ele perguntou.
Keira franziu o cenho. "Eu não acho. Suas, er, partes de homem estavam como deviam, de tudo que eu podia dizer. Duncan não acendia tantas velas como existem aqui, então era difícil de ver muito.” O que, ela pensou, era uma boa coisa, considerando o que aconteceu.
Observando seu rosto, Liam podia ver o quão angustiada ela estava. Suas suspeitas sombrias diminuíram um pouco. Algo tinha acontecido em seu breve casamento que a fez pensar que não era desejável, pelo menos para Duncan MacKail. Duncan não tinha sido um amante ruim. Ele não tinha sido nenhum amante mesmo. Liam queria desesperadamente que Keira dissesse algo que o fizesse acreditar que tudo tinha sido culpa de Duncan. Ele não queria pensar que Keira fosse capaz de uma decepção tão grande como se casar com um homem e, embora nunca tenha permitido que o casamento fosse consumado, estivesse agora reivindicando ser a verdadeira herdeira do homem.
Nem que ela estaria disposta a arriscar as vidas dos homens para reivindicar aquela herança falsa.
"Keira, você jura que foi de boa vontade para sua cama?" Ele perguntou.
"Sim, a princípio," ela respondeu. "Depois eu ficava no quarto da senhora e esperava que ele viesse até mim quando sentia que podia tentar novamente."
"Você diz que ele não era impotente, e que não o recusou, porém, Keira, eu temo que simplesmente não posso acreditar que ele não queria você. Existe uma parte de mim que realmente não deseja ouvir nada do que você fez com outro homem, mas eu penso que você precisa me contar sobre suas relações."
"Eu devo?"
"Sim, pois eu ainda tenho perguntas, mas suas respostas não estão me ajudando a entender tudo isso."
"Duncan quis esperar até que nós alcançamos Ardgleann antes de termos nossa noite núpcias. Então, quando nós fomos para o quarto depois da cerimônia, ele me deixou sozinha na cama e dormiu no chão. Antes de alguém vir para nos ajudar a nos prepararmos para nossa jornada para Ardgleann, ele, bem, ele se certificou que havia uma mancha nos lençóis. A primeira noite em Ardgleann, ele veio para a cama comigo. Ele me beijou e tirou minha camisola." Ela encolheu os ombros. "Ele estava tremendo, e eu pensei que era porque ele estava sentindo desejo por mim, e me senti um pouquinho culpada porque eu sentia pouco por ele. Então ele põe sua mão em meu seio. Seu tremor aumentou ferozmente, ele gemeu, e então ele saltou da cama e estava violentamente mal."
Liam franziu o cenho enquanto a estudava. Ela não fazia som nenhum, mas chorava, suas lágrimas caindo continuamente em suas mãos, que estavam firmemente apertadas em seu colo. Ele teve que se curvar um pouco para ver até isso, pois sua cabeça estava curvada e seu cabelo longo protegia muito de seu rosto. Uma noite de núpcias tão apavorante podia facilmente tornar um casal relutante em tentar novamente, mas não, ele pensou, por três longos meses.
"Ele teve febre?" Ele perguntou.
"Eu perguntei-me o eu mesmo no momento, tola que eu era. Saltei da cama para me apressar para seu lado. Ele olhou para mim e ficou pior, gritando para eu me vestir. Ele não conseguia vestir suas próprias roupas rápido o suficiente, e o tempo todo resmungava sobre sujeira, feiúra, pecado, e coisas do tipo. Então, quando nós estávamos vestidos, eu me deitei embaixo das cobertas, e ele tomou seu lugar em cima delas. Ele bateu levemente em minha mão e disse que para eu não me preocupar, que só levaria tempo e que nós continuaríamos tentando. Nós fizemos, e ele nunca conseguiu nada melhor. Era eu. Ele não aguentava nem mesmo me tocar, nem mesmo tentar sem esvaziar sua barriga."
De repente, Liam compreendeu. Algumas vezes quando estava no monastério, ele encontrou um homem tão atormentado pelo que ele via como o pecado da luxúria que batia em si mesmo até sangrar, numa tentativa para banir o sentimento. Soava como se Duncan tivesse sofrido de algo semelhante, que o tinha marcado de tal maneira que até mesmo desejar sua esposa legítima o lançava num ataque de culpa. Liam foi buscar um pedaço limpo de linho, retornou para a cama, e girou Keira até encará-la.
"Keira, eu fiz ou não fiz amor completamente com você?" Ele perguntou calmamente enquanto umedecia o linho na tigela de água na mesa ao lado da cama e limpava suavemente as lágrimas de seu rosto.
"Sim, mas você é — bem — você se deitaria com qualquer mulher." ela murmurou.
Ele suspirou e descansou sua testa contra a dela por um momento. "Não, eu não faria isso. Eu certamente nunca me deitaria com uma moça que me provocasse vômito."
"Mas, se o problema não era eu, o que era?"
"Eu não posso dizer com certeza, nunca tendo conhecido o homem, mas eu encontrei monges que sentiam que o instinto natural do homem era tão sujo, tão pecaminoso, que precisavam ser purgados do corpo de alguma forma. O irmão Paul sofria um pouco disso, eu penso. Duncan tinha cicatrizes em suas costas? Ele tinha ferimentos recentes lá?”
Keira franziu o cenho. "Ele tinha algumas cicatrizes. Uma vez eu toquei em suas costas e senti algumas, mas foi só um toque passageiro para ele fugir disso. E uma vez que eu pensei que ele estava com dor, mas ele não me deixou cuidar dele. Ele me disse que não passava de um pequeno arranhão que conseguiu enquanto montava. De um galho de árvore, ele disse. Eu achei estranho que ele não me deixasse ajudá-lo quando ele sabia tudo sobre meu dom, tinha ficado bastante contente sobre isso. Disse que era uma coisa maravilhosa para trazer para seu povo e que, um dia, eu poderia até ajudá-lo."
"Seu toque não teria curado o que o afligia, amor. Era uma doença da mente. Alguém ou algo o tornou desse jeito antes mesmo que você o conhecesse." Ele podia ver que ela não aceitava completamente suas palavras, mas ele teria que lidar com isso mais tarde. “Agora, por que você não me disse nada antes que eu me deitasse com você?"
"Por causa de meu juramento. Duncan sabia que Rauf queria Ardgleann, que ele a achava mal defendida e sem herdeiros para causar problemas se ele a tomasse. Quando ele ouviu que o homem estava na área e estava provavelmente planejando seu ataque, Duncan me fez jurar que eu não diria a ninguém que nosso casamento nunca tinha sido consumado e que se qualquer coisa acontecesse com ele, eu tomaria meu lugar como sua herdeira, conseguiria ajuda, e libertaria Ardgleann. Uma das razões pelas quais ele se casou comigo era que ele tinha certeza que eu poderia reunir homens o bastante para combater Rauf e ganhar, especialmente se eles pensassem que o homem roubou o que era legalmente meu." Ela encolheu os ombros novamente. "Eu senti que não poderia dizer nada a você, não até que você fosse meu marido. Então foi difícil pensar numa maneira de lhe contar."
"E, eu suspeito que você temia que eu teria a mesma dificuldade que Duncan."
"Bem, sim, mas eu estava esperando que você não teria, porque você —"
"Sou um suíno luxurioso?"
"Eu não diria isto," ela murmurou.
"Você disse uma vez quando estava gritando comigo naquela noite que nós acampamos na floresta." Ele estava contente por ver seu olhar furioso para ele, pois significava que seu desespero diminuíra, as memórias tristes retrocedendo durante algum tempo. "Nós teremos que discutir isto logo, mas no momento, eu preciso falar com Sigimor e Ewan."
Keira ofegou e se sentou empertigada enquanto ele saía da cama e começava a se vestir. "Você não pode contar a eles!"
"Eu devo. Eles estão prontos para lutar na batalha por você e Ardgleann. Eu não permitiria que eles se colocassem na frente de uma espada a menos que conhecessem toda a verdade."
Quando ele colocava daquele modo, ela tinha que concordar. "Eu não poderei encará-los novamente," ela disse, caindo de suas costas e puxando o lençol sobre sua cabeça.
Uma vez vestido, Liam puxou o lenço de seu rosto e lhe deu um beijo rápido. “Eu sei que terei que me repetir muitas vezes antes que sua pequena mente teimosa entenda a verdade, mas o problema era com Duncan, não com você."
"Minha pequena mente teimosa?" Ela resmungou, mas Liam já estava fora do quarto e fechando a porta atrás dele.
Meneando a cabeça, Keira saiu da cama. Ela adicionou um pouco madeira no fogo, então se lavou rapidamente antes de vestir sua camisola. Envolvendo um cobertor ao seu redor, ela se serviu de vinho e se sentou no tapete diante da lareira para aguardar o retorno de Liam. Quando Trovão e Raio apareceram e se enroscaram um de cada lado seu, ela sorriu e acariciou alternadamente cada orelha dos gatinhos.
Ela buscou em seu coração qualquer culpa sobre contar o segredo de Duncan e quebrar seu voto, mas só encontrou um pouco. O segredo de Duncan permaneceria seguro, do que ela não tinha nenhuma dúvida, mas Liam estava certo. Ela não podia pedir aos homens que enfrentassem uma espada a menos que eles soubessem toda a verdade, não importa o quão humilhante aquela verdade fosse.
A explicação de Liam para as dificuldades de Duncan também faziam, e ela estava fortemente tentada a aceitar isto. Seu novo marido certamente não revelou nenhuma relutância para se deitar com ela. Porém Duncan tinha que ter sabido quanta mágoa e humilhação sua rejeição lhe causou. Por que ele nem mesmo tentou explicar ou lhe reassegurar que não era sua culpa? Incomodava admitir isto, mas Liam podia ter razão sobre isto, também. Seria difícil fazer sua pequena mente teimosa aceitar aquela verdade. Então novamente, ela pensou com um sorriso suave, se Liam estivesse planejando usar de sedução para provar seu ponto, ela seria uma tola por reclamar.
Liam encontrou Sigimor e Ewan no escritório de Ewan. Ele pacientemente suportou alguns gracejos sobre novos maridos fugindo das camas de suas esposas antes de contar a eles tudo que descobrira. Sigimor escutou cuidadosamente, franzindo o cenho, e então deixou o quarto, dizendo apenas que voltaria em alguns minutos. Liam encolheu os ombros, se serviu de vinho, e sentou-se diante da mesa de Ewan. Ele estava quase começando a discutir o problema com Ewan quando Sigimor retornou com os dois irmãos de Keira, que pareciam como se tivessem sido arrastados de suas camas.
"Conte a eles," Sigimor ordenou.
Liam hesitou apenas brevemente antes de fazer como seu primo ordenou. Ele achou a vasta gama de expressões que cruzaram os rostos de Artan e Lucas enquanto contava a história a eles um pouco divertida. Se Duncan MacKail ainda estivesse vivo, ele logo pagaria muito caro pelo que fizera a Keira.
"Por que ela não nos contou?" murmurou Artan. "Nós podíamos ter conseguido anular o casamento."
"Ela estava humilhada," disse Liam. "Ainda está. Levará um bom tempo antes que ela acredite que nada disto foi ao menos em parte sua culpa. Talvez, se o casamento durasse mais tempo, ela acabasse voltando para sua família."
"Talvez," Lucas concordou, "mas por que nós precisamos ouvir falar disto agora? O homem está morto."
"Ele nomeou a esposa sua herdeira," disse Sigimor, "mas porque o casamento não foi consumado, a lei diria que ela não era sua esposa verdadeira."
"Oh, sim, suponho que isto seja verdade." Lucas coçou seu queixo. "Não acho que isso importe. Se me recordo bem, o contrato assinado dava Ardgleann à Keira se Duncan morresse sem deixar um herdeiro legítimo. Bem simples. Nenhuma condição."
"E lá não existe outro herdeiro?"
"Não. Duncan era o último de sua linhagem. Bem, com exceção do bastardo."
Liam se empertigou. "Bastardo de Duncan?" Por um momento, Liam temeu que tivesse sido enganado, mas não quis acreditar nisto.
"Oh, não, de seu pai. Um homem chamado Malcolm. Meu pai quis certificar-se de que Duncan disse a verdade quando afirmou que não existia nenhum herdeiro para questionar o direito de Keira ser nomeada sua herdeira, então ele enviou homens para verificar a história. Ele pensou que tinha sido enganado quando ouviu sobre Malcolm. Foi ver o homem ele mesmo. Malcolm não quer ser proprietário de terras. Nunca quis, nunca vai querer. Ele não quer que seja de conhecimento geral que ele é o bastardo do velho lorde. Meu pai o fez assinar os papéis e tudo, só para se garantir. Então, nenhum herdeiro."
"Duncan era o herdeiro legítimo, e ele tinha o direito de nomear quem quisesse para tomar seu lugar," disse Ewan. "Diferentemente dos ingleses, nós não estamos tão preocupados com linhagens diretas ou legitimidade. Duncan obviamente sentiu que Keira era a melhor escolha por causa da força de sua família e seus aliados."
Artan meneou a cabeça. "Meu pai disse que Malcolm disse o mesmo. Disse a meu pai que mesmo que Duncan caísse morto nos degraus da escada para sua cama na noite de núpcias, ele ainda aceitaria Keira como o herdeiro legal." Artan franziu o cenho. "Uma coisa estranha para dizer, agora que eu penso nisto."
"A menos que o homem estivesse ciente dos problemas de Duncan," disse Liam. "Se ele estiver, eu conseguirei arrancar a verdade dele. Eu penso que uma das razões porque Keira não aceita completamente minha explicação ou minha garantia de que nada disso é sua culpa, é porque eu não posso dizer por que o homem era do modo que ele era." Ele olhou para seus primos. "Então? Nós ainda vamos guerrear?"
"Sim," disse Sigimor, e Ewan acenou a cabeça de acordo. "Provavelmente ainda iríamos, mesmo se seu direito ao lugar estivesse em questão. Rauf Moubray precisa ser morto, mas ele sempre foi difícil de ser encontrado."
"Ah, e agora você sabe exatamente onde ele está."
Sigimor meneou a cabeça. "O fato de que libertar a Terra daquele flagelo também fará de você um proprietário de terras só torna isso tudo mais agradável. Agora, apresse-se de volta para sua noiva. Amanhã, nós começaremos nosso planejamento cuidadoso."
Sabendo o quão meticuloso Sigimor podia ser em seu planejamento, Liam gemeu e se apressou de volta para seu quarto. Ele sorriu quando viu Keira sentada na frente do fogo, um gatinho enroscando-se de cada lado seu. Quando ele fechou e trancou a porta, ela voltou o olhar para ele, e ele viu a preocupação em seus olhos. Liam foi até ela, moveu cuidadosamente Trovão para seu outro lado, sentou-se ao lado dela e pôs o braço ao redor de seus ombros.
"Você contou a eles então," ela disse, sentindo-se embaraçada novamente.
"Eles e seus irmãos," ele disse. "Sigimor foi tirá-los de suas camas de forma que eles pudessem ouvir a história também."
Keira gemeu e enterrou seu rosto contra seu ombro. "Onde está um buraco para se esconder quando você precisa de um?"
Liam riu e então a abraçou. "Deixe-me apenas dizer que se Duncan ainda estivesse vivo, ele estaria correndo de seus irmãos por sua vida. E se eu julguei corretamente as expressões de Sigimor e Ewan, eles provavelmente estariam ao lado dos seus irmãos."
"Ewan e Sigimor realmente tiveram expressões que você pôde ler?"
Ah, bom, ele pensou. Aquela aspereza que ele gostava estava voltando. Ele inclinou seu rosto para ele. "Tanta impertinência," ele murmurou e roçou um beijo sobre sua boca. "Nenhum deles pensou que você tivesse culpa, Duncan devia ter lhe dito o mesmo, devia pelo menos ter tentado lhe dizer que o problema era com ele."
"Realmente, esta é uma razão por que eu hesito em acreditar em sua explicação. Duncan era um homem amável. Como um homem amável podia permitir que eu sofresse tal dúvida sobre mim mesma, tal mágoa e humilhação, quando ele poderia ter aliviado tudo isso com uma simples explicação? Eu tenho dificuldade em acreditar que ele podia ser tão cruel."
"Não cruel, pelo menos não intencionalmente. Eu penso que ele tinha vergonha de suas fraquezas, talvez mesmo temesse que sua mente estivesse doente. Como ele podia falar de tais coisas para sua nova esposa? Ele devia ter dito a você, nem que fosse apenas porque, uma vez que você soubesse a verdade, os dois poderiam ter trabalhado juntos para curá-lo. Talvez, se tivessem mais tempo, isto podia ter acontecido."
Uma grande parte de Liam estava contente por Keira e Duncan não terem resolvido seus problemas. Ele se sentiu um pouco culpado pelo que o pobre tolo tinha sofrido mesmo antes de cair no ataque cruel de Rauf, mas não podia negar como se sentia. Keira era toda sua; Ela nunca tinha pertencido a outro homem. Que tinha sido ele a tomar sua virgindade lhe dava um primitivo sentimento de posse, satisfação, e até uma sugestão de vitória. Que ela tivesse encontrado prazer em seus braços, apesar da urgência que o fez agir com menos que sua gentileza habitual, era até mais satisfatório.
"Pobre Duncan," Keira murmurou. "Se o que você diz é verdade, como ele deve ter sofrido, e provavelmente por muitos anos."
Então, pensou novamente, talvez ele não se sentisse tão culpado. "Duncan é passado," ele disse firmemente. "Não há como ajudá-lo. Porém, o povo de Ardgleann pode ser ajudado."
"Ainda haverá uma batalha?"
"Sim. Sigimor e Ewan precisavam ouvir a verdade, não só porque eu não poderia permitir que eles agissem com uma mentira que entre nós, mas também porque o fato do casamento não ter sido consumado podia significar que você não tinha nenhum direito sobre Ardgleann. Foi para responder essa pergunta que Sigimor arrastou seus irmãos para ouvir a história."
"Eu penso que o contrato assinado me torna sua herdeira ainda que nós fôssemos apenas noivos, então a consumação não deveria importar, deveria?"
"É isso que todos nós decidimos, embora menção de um certo homem chamado Malcolm tenha causado um momento de hesitação.”
"Malcolm não quer ser o lorde, nunca quis. Ele nem mesmo gosta que alguém saiba que ele é o bastardo do velho lorde." Keira sorriu um pouco. "Malcolm só quer trabalhar com sua madeira e seus metais. Ele faz coisas tão bonitas."
"E ele não pensa no que seus filhos poderiam querer ou ver como legalmente deles?"
"Ele ainda não tem filhos, mas ele e Duncan tinham um acordo que qualquer filho que Malcolm pudesse ter receberia a chance de ser o que quisessem, exceto herdeiros. Isto está de pé, a menos que eu não tenha nenhum filho. Então eu poderia escolher um dos filhos de Malcolm como herdeiro, se ele estivesse disposto e fosse capaz. O velho lorde nunca reivindicou Malcolm, então ele só tem a palavra de sua mãe de que o velho lorde era seu pai, e ela está morta agora. Não há nenhum documento e nenhuma semelhança verdadeiros. Duncan nem mesmo soube a verdade até que estava praticamente crescido." Ela agitou sua cabeça. "Isso foi errado. Bastardo ou não, Malcolm era filho do velho lorde, e não deveria ter sido tão insensivelmente posto de lado."
Vendo o modo como ela o estava olhando, Liam suspirou. "Eu não tive nenhum bastardo, Keira."
"Eu nunca disse que você teve."
"Você não precisa dizer as palavras." Ele cuidadosamente levantou-se e a puxou até ficar ao lado dele, sorrindo dos olhares aborrecidos que os gatinhos lançaram para ele. "E agora, basta de falar sobre batalhas e memórias tristes. Eu quero levar minha esposa para a cama."
Keira corou um pouco enquanto ele a levava para a cama. "Bem, sim, foi um dia longo. Nós poderíamos descansar um pouco."
"Nós poderíamos, e descansaremos, mais tarde."
Ele sorriu quando ela corou ainda mais forte. Depois de atirar o cobertor em que ela se embrulhara sobre a cama, ele removeu sua camisola. Rindo suavemente da rapidez com que ela conseguiu se enfiar embaixo das cobertas, ele tirou suas roupas e subiu ao lado dela. Apesar de seus rubores, ela não resistiu de nenhuma maneira quando ele a puxou para seus braços e a beijou. Desta vez ele iria devagar, alimentaria seu prazer, e iria saborear o seu próprio. Não permitiria que a paixão e a necessidade superassem a habilidade e controle que ele adquirira ao longo dos anos.
Liam lentamente se ergueu sobre seus antebraços e olhou para Keira. Ela parecia graciosamente extasiada. A visão ao mesmo tempo o contentou e o fez internamente menear a cabeça em desânimo. Onde estavam todas as suas habilidades cuidadosamente aprendidas, todos aqueles pequenos truques de controle e paciência? Ele tinha começado muito bem, mas cada toque de suas mãos, cada beijo que ela lhe deu, tinha-o conduzido a um frenesi indisciplinado.
Claro, ela não parecia se importar com aquilo mesmo. Liam também tinha certeza de que ela tivera seu prazer. Ela não só gritou seu nome e pressionou seus pequenos calcanhares contra as partes de trás de suas coxas, mas ele sentiu o aperto de seu corpo em volta do seu enquanto ele se esgotava dentro dela. Sua esposa era uma mulher muito apaixonada, ele pensou com um suspiro de satisfação.
Ele a beijou, e embora ela o beijasse de volta, ele podia dizer que ela estava mais adormecida que acordada. O fato de que apesar de sua falta de controle, ele a tinha esgotado com seu ato de amor o contentou. Ele se moveu para ficar ao seu lado e então a encaixou contra ele. Quando ela se aconchegou mais intimamente a ele, apertando seu pequeno traseiro firme contra sua virilha, ele sentiu seu corpo começar a responder e sorriu. Keira o tornara insaciável, e ele pensou que era uma coisa boa.
Enquanto descansava o rosto contra seu cabelo e tentava pensar em maneiras de convencê-la que o fracasso de seu primeiro casamento era culpa apenas de Duncan, ele descobriu que estava muito exausto. Tudo o que ele queria fazer era ficar lá apreciando a sensação de Keira adormecida em seus braços até que ele, também, adormecesse. Aquele era um sentimento novo para ele, pois nunca tinha passado uma noite inteira com uma mulher, nem quisera passar. Sua mente realmente não queria pensar por que devia ser diferente com Keira. Quando ela pegou sua mão e a colocou embaixo de seu rosto, ele sorriu. Ia ser agradável ter uma esposa. Muito bom realmente.
Keira abriu seus olhos para se encontrar beijando o estômago firme de seu marido. Ela estava se sentindo um pouco febril, e aquela ânsia que ela agora reconhecia como desejo já tinha surgido, então ela soube que o tinha atacado enquanto dormia — novamente. A esperança de que ele não estivesse acordado desvaneceu rapidamente quando ela percebeu que uma parte dele, ao menos, estava bem acordada. Estava aconchegado entre seus seios, e sutilmente se esfregava contra ela. Tinha pensado que uma vez casados, ela deixaria de ter sonhos luxuriosos com ele, mas agora, ela simplesmente colocava os sonhos para fora. Toda manhã, por uma semana agora, tinha acordado para se encontrar se aproveitando dele.
Corando um pouco, ela ergueu sua cabeça para olhar para ele. "Desculpe."
"Por quê?" Ele a agarrou debaixo de seus braços e a puxou sobre seu corpo até que ela estava escarranchada sobre ele. "É uma boa maneira de saudar o novo dia. Talvez amanhã eu seja um homem muito sortudo, e você será um pouco mais lenta em acordar."
Antes que ela pudesse perguntar o que ele queria dizer com isso, ele a beijou, e toda a capacidade de pensar claramente lhe escapou. Havia uma fome feroz em seu beijo que disse a ela que provavelmente o tinha extasiado durante algum tempo, e isso rapidamente a contaminou. Quando ele deslizou a mão em seu estômago e entre suas pernas, bastaram apenas algumas carícias de seus dedos habilidosos para ela ansiar por senti-lo dentro dela. Ela começou a sair de cima dele, mas ele a segurou por seus quadris e a manteve no lugar.
"Deste modo, amor," Liam disse, sua voz baixa e áspera de desejo.
Keira franziu um pouco o cenho, incerta do que fazer. "Como isso funciona?"
"Eu mostrarei a você desta vez."
Ele o fez, e Keira estremeceu de prazer. Ela se levantou até que ele estava quase fora dela e então, sempre muito lentamente, desceu novamente. Não era apenas a sensação, mas também o fato de que ela podia controlar o movimento que a fez suspirar encantada. Ela brincou daquele jeito por um longo tempo até que ele rosnou, a agarrou pelos quadris novamente, e a moveu no ritmo que procurava. Percebendo que ela, também, não podia suportar perder mais tempo, ela o aprendeu rapidamente. Com suas palavras roucas de elogio e encorajamento a inspirando, ela os levou às alturas, seus gritos de prazer se misturando perfeitamente em seus ouvidos. Ela desmoronou sobre seu tórax e ficou lá tentando recobrar sua respiração até que o sentiu suavizar e deslizar para fora dela.
O embaraço sobre sua devassidão retornou enquanto ela se movia para ficar do seu lado, enterrando o rosto na curva de seu pescoço. Embora odiasse pensar sobre ele compartilhando tais coisas com outras mulheres, ela agora entendia melhor como seria difícil para ele recusar os favores que ofereceram a ele. Tal prazer era uma tentação que era difícil resistir. Se ela tivesse experimentado até uma pequena prova dele em seu triste casamento, duvidava que seu tempo junto com Liam naquela cabana teria sido tão inocente.
Liam acariciou as costas esbeltas de sua esposa e sorriu junto a seu cabelo. Era um ritual matutino estranho entre eles, mas ele não tinha nenhuma intenção de por fim a isto. Ele despertava para encontrar Keira fazendo amor com ele em seu sono, um amor ousado, excitante. Então algo a despertava, e ele tinha que agir rapidamente para impedir o embaraço de esfriar sua paixão. Uma vez saciada, ela se sentia envergonhada novamente. Iria obviamente levar algum tempo antes dela perceber que ele adorava aquele lado devasso dela, que parecia correr livre em seus sonhos. Ele daria entusiasticamente as boas-vindas aquela mulher totalmente desperta e como uma parte permanente de sua adorável esposa.
"Você tem alguns sonhos muito intrigantes, eu estou pensando." ele disse e riu quando ela gemeu.
"Fique contente que eu não tenha sua riqueza de conhecimento, ou você estaria em perigo real."
Ele afastou seu rosto de seu pescoço e o virou para encará-la, nariz a nariz. "Agora, preste atenção, esposa. Sim, eu era um jovem ávido, mas não tenho uma riqueza de conhecimento."
"Mas—"
"Quieta. Eu não tinha falado sobre isso porque, para mim, não era importante. Foram apenas as aventuras de um jovem ávido, mas é importante você. Eu não tenho uma riqueza de conhecimento. Eu não tenho quaisquer habilidades maravilhosas. Eu nem mesmo tenho qualquer lembrança eterna e carinhosa. As moças se deitavam comigo por causa de meu rosto, e qualquer sentimento que eu tive por elas eram tão superficiais e passageiros quanto os delas por mim. Não é uma coisa do que se orgulhar, mas eu não posso mudar isto agora, e eu nunca voltaria para meus velhos costumes.”
"Quanto a como você age de manhã? Bem, obviamente existe uma pequenina moça muito ousada saltando por seus sonhos. Sempre que você desejar trazê-la para fora e apresentá-la para mim, totalmente desperto e disposto, pode ter certeza que eu lhe darei as boas-vindas com os braços escancarados." Ele lhe deu outro beijo breve, deu um leve tapa em seu traseiro, e desceu da cama. "Talvez eu até mesmo fizesse uma pequenina dança pelo quarto.” ele disse enquanto arrancava suas roupas. "Nu. Sim, eu penso que aquela moça pequenina gostaria disso. Talvez ela até se juntasse a mim. Só duas criaturas felizes, vigorosas, saltando com as roupas que Deus deu a eles. Agora há algo sobre o que sonhar." Antes que risse dos olhos arregalados no rosto de Keira, ele escapou do quarto.
Keira olhou fixamente para a porta que seu marido acaba de fechar atrás dele. Ela não sabia se queria rir ou se vestir, caçá-lo e chutá-lo. Não havia nenhuma dúvida em sua mente que ela seria atormentada por visões de Liam dançando nu, provavelmente por dias. Se ela não soubesse, pensaria que ele sabia que estava sempre nu em seus sonhos. Afinal, quando um homem parecia tão adorável quanto ele ficava nu, por que se preocupar com roupas?
Uma menina jovem chegou com uma bacia de água quente para suas abluções matinais. Keira murmurou um agradecimento, e no momento que a menina se foi, ela pulou fora da cama para se lavar antes que a água esfriasse. Depois de cuidar de suas necessidades mais pessoais, ela se lavou e então vestiu um de seus próprios vestidos. Fiona tinha sido mais que generosa com seus vestidos, permitindo que Keira sempre tivesse sua melhor aparência quando ia para o salão jantar. Durante o dia, porém, Keira preferia usar algo menos rico e elegante, de forma que pudesse ajudar em todo o trabalho que precisava ser feito.
Ela considerou cuidadosamente o que Liam disse sobre as mulheres em seu passado enquanto penteava e trançava seu cabelo. Ele tinha razão em dizer que ser tão insensível sobre algo tão íntimo não era nada do que se orgulhar. Por outro lado, ela encontrou algum conforto nisto. Parecia que não existia nenhum amor ou paixão cega em seu passado, nenhum fantasma para combater. Uma esposa podia apenas ser grata por isto. O modo como ele tinha vigorosamente declarado que nunca voltaria a se deitar com qualquer mulher que desse a ele um sorriso de boas-vindas era certamente bom de ouvir. Keira só não estava certa de que acreditava completamente nisto.
Se ele a amasse, ela poderia acreditar nisto, ela pensou e suspirou. Ela estava seguindo o conselho de Fiona e apenas o amando, mas não podia dizer se estava tendo qualquer efeito em seu coração. Sua paixão por ela era certamente forte, mas eles ainda eram amantes recentes, então ela não tinha certeza de que podia ver aquilo como um sinal de seus mais profundos sentimentos. Ela estava começando a pensar que ele gostava dela de algumas maneiras, mas suas próprias incertezas faziam aquela convicção vacilar várias vezes por dia.
Agitando a cabeça, ela decidiu atender as demandas de seu estômago. Enquanto se dirigia para o salão para o desjejum, ela pensava sobre o que Liam disse sobre seu ataque matutino à sua pessoa. Existia realmente uma Keira muito ousada saltando por seus sonhos, uma mulher livre de dúvidas e imune ao embaraço. Keira suspeitava que a maneira como continuava agindo fora de seus sonhos quando presa naquele momento nebuloso entre o despertar e o sono eram sua mente e seu coração a persuadindo a deixar essa Keira livre. Era um pensamento intrigante. Claro, ela meditou e sorriu, quando e se Keira se libertasse de suas restrições, ela definitivamente pediria a Liam para dançar nu.
"O que está fazendo você sorrir?"
Keira percebeu que já estava na cabeceira da mesa do salão encarando Fiona. Sem pensar, ela respondeu, "Observando Liam dançar nu."
Fiona se desfez numa explosão de gargalhadas. Depois de olhar rapidamente em volta para se reassegurar que ninguém mais a ouviu, Keira pôde rir também. Ela se sentou próximo a Fiona e encheu um prato do que era uma quantidade bastante surpreendente de comida, considerando que ninguém mais estava no salão. Espiando o mingau de aveia quente e espesso, ela colocou algumas colheradas numa tigela, pingou um pouco de mel e leite nele, e começou a comer. Enquanto fazia isso, ela assistia em assombro crescente como Fiona comia, e comia, e comia.
"Hum, Fiona? Por que eu tenho a sensação de que toda esta comida é realmente destinada a você?" Keira perguntou quando, terminado seu mingau de aveia, ela procurou para algo para colocar em seu pedaço de pão.
Colocando uma tigela de manteiga de ervas na frente de Keira, Fiona suspirou. "Porque é. Eu estou grávida."
"Oh, Fiona, isso é maravilhoso!" Keira foi brutalmente atingida por um súbito ataque de inveja.
"Sim, mas se você contar a Ewan, eu terei que bater em você."
"Por que você não conta a ele? Não sabe que isso o faria ficar aqui em Scarglas? Você não deseja realmente que ele vá para batalha, não é?" Keira experimentou a manteiga e então a espalhou abundantemente em seu pão.
"Não, mas ele quer ir. Se ele souber que eu estou grávida novamente, ele ficará, mas seu coração e sua mente estarão com os outros. Então eu jurei fazer tudo o que posso pensar para calar toda dor e medos não mencionados." Fiona sorriu brevemente quando Keira riu e então suspirou novamente. "Desde que um sinal certo de que estou grávida é que eu como o suficiente para dez homens, eu tenho roubado estes banquetes às escondidas quando Ewan não está por perto. Em um dia ou dois, eu não terei que esconder o fato de que estou faminta o dia inteiro."
Keira levou um momento para captar o significado daquela declaração. "Um dia ou dois?"
"Sim. Liam provavelmente vai lhe contar logo, pois você vai com eles. Eles preferiam que você não fosse, mas você conhece o povo de lá e eles não, então eles precisam de você com eles. Eles também acham melhor que você e Liam assumam logo o lugar do proprietário de terras uma vez que eles eliminem Rauf. Ah, você está carrancuda." Fiona cortou em pedaços uma maçã e começou a comer as fatias. "Liam não lhe contou muito sobre seus planos, é isto?"
Keira meneou a cabeça e então fez uma careta. "Eu não tenho perguntado sobre eles de qualquer forma, então ele pode achar que eu não quero ouvir nada sobre isso tudo."
"Você provavelmente ouvirá sobre tudo isso hoje à noite. Mais alguns Camerons chegaram, assim como também alguns membros do seu clã. O salão estará cheio de homens finos prontos para uma briga. Ah, isso soou indelicado. Eles estão ávidos porque vêem isto como uma causa justa. Poucos homens viram Rauf Moubray e sobreviveram para contar sobre isto, mas todos eles ouviram a lista de seus crimes ou viram a crueldade de que ele é capaz. Esta é uma boa oportunidade para libertar o país dele. Alguns dos homens dos meus irmãos vieram, junto com meu irmão Nanty, e alguns de nossos aliados, os Dalglishes e os Goudys. Tomando alguns daqui e dali, ninguém está arriscando todos os seus bons guerreiros ou deixando suas terras mal protegidas.”
"Muito inteligente." Keira murmurou.
"Sim, eu achei, também. E Sigimor já tem homens se esgueirando próximo de Ardgleann, vendo o que podem descobrir e conversando com os proprietários de terras dos clãs vizinhos. Sir Ian MacLean já mandou dizer que somos bem-vindos para acampar em suas terras e que temos seu completo apoio. Não temos ouvido nada sobre os outros."
"Existe apenas um outro próximo o bastante para se preocupar, e eu duvido que você ouvirá sobre ele. Ele é tão cauteloso, está mais para um covarde. O homem ficará sentado, deixando outros assumirem todos os riscos, e só colherá os benefícios. Eu não ficaria surpresa se um de seus filhos trouxer alguns homens e se juntar à briga."
"Isso seria bom. Eles podem encontrar Liam e, lutando ao seu lado, declarar sua aceitação como lorde de Ardgleann.” Fiona observou Keira. “Você tem certeza que isso não a aborrece?”
"Oh, eu não diria que não sinto uma pontadinha de ressentimento de vez em quando, mas não contra Liam. É contra o mundo inteiro, eu suponho. Esse mundo que não pode aceitar uma moça como proprietária de terras, que apenas vê isto como sinal de uma fraqueza da qual podem se aproveitar.”
"Por o mundo inteiro, você que dizer homens.”
"Sim, homens."
Ambas franziram a testa por um momento, percebendo o que estavam fazendo, e então riram. Durante algum tempo, elas conversaram sobre todo o trabalho que precisava ser feito nesta época do ano e sobre os filhos de Fiona. Satisfeita e sem nada para fazer, Keira decidiu ir trabalhar no herbário. Desde que Fiona estava começando a achar os odores fortes de lá muito perturbadores, ela estava mais do que feliz em deixar Keira fazer o trabalho.
A caminho do herbário, Keira encontrou os homens enviados pelos Murrays que estavam de pé junto com seus irmãos. Desde que a maior parte deles eram seus primos, todos pareceram se sentir livres para lhe dar um sermão por não dizer a eles onde ela estava e como estava passando por tanto tempo. Ela suportou a repreensão por algum tempo, por sentir que era merecida, mas só por pouco tempo.
Quando ela finalmente escapou deles, seus irmãos a seguiram até o herbário, e ela praguejou internamente. Keira tinha o pressentimento que eles queriam conversar com ela sobre Duncan. Ela tinha esperado por isto, mas como os dias passaram sem nada ser dito, pensou que tinham decidido que nada precisava realmente ser dito. Estava óbvio agora que eles tinham gastado os dias pensando no que dizer, e como dizer.
“Você devia ter nos dito que estava tendo problemas com seu marido”, Lucas disse.
Keira suspirou enquanto cuidadosamente verificava o progresso dos diversos aromas que Fiona estava misturando. "Ele era meu problema e meu marido. Eu não senti que seria direito correr para Maman sobre isso tudo, especialmente quando eu o escolhi, não foi?” Ela lançou a eles uma carranca tão dura quanto pôde conseguir. “E eu não quero conversar sobre isto.”
“Talvez se você tivesse conversado sobre isto, não teria enchido sua cabeça com todo o tipo de idéias tolas."
"Quando um homem vomita toda vez que toca você, não é difícil começar a ter idéias tolas, como vocês as chamam.”
Artan grunhiu. “Nós podíamos ter lhe dito que a falha era dele, não sua."
"E por que eu devia ouvir suas garantias?" Keira perguntou. "Vocês são meus irmãos. Estão destinados a ficar do meu lado e culpá-lo."
"Nós não mentiríamos para você sobre algo assim. Havia alguma coisa errada com o homem. Sim, você não é uma moça do tipo voluptuoso, que é rápido para atrair o olhar de um homem, mas não há nada errado com você."
"É óbvio que seu novo marido não acha nada de errado em você.” Disse Lucas.
Keira virou para enfrentá-los, se recostando contra a mesa de trabalho, e cruzou os braços sobre o peito. “Não, ele não parece achar. E talvez isso logo alivie a dor do que aconteceu com Duncan. Eu sei bem o que vocês querem dizer, e agradeço por sua preocupação, mas tenho que acertar isso tudo eu mesma. Sofri por três meses de rejeições humilhantes. Vamos apenas dizer que isso deixou algumas contusões, e elas precisam de tempo para sarar."
Artan meneou a cabeça. “Sim, elas iriam. Bem, seu novo marido certamente ajudará você com isto. Liam é um camarada bom e vigoroso."
"Sim, muito vigoroso. Pergunte a metade das mulheres da Escócia.” Ela quase sorriu do modo como seus dois irmãos fizeram careta.
"Ele era um homem livre.” Artan encolheu os ombros. “Um homem livre tomo o que puder quando puder. Desculpe, moça, mas poucos homens virariam as costas a favores livremente oferecidos porque querem se guardar para suas esposas."
"Eu sei disto, seus hipócritas. Vocês certamente esperam que as esposas que escolherem tenham feito isso."
"Hora de partir.”, disse Lucas enquanto se dirigia à porta. “Eu farejo um sermão cheio de reclamações sobre os homens."
Artan piscou para ela e virou para seguir Lucas, apenas para franzir o cenho quando seu irmão não saiu da entrada aberta. “Nossos primos estão disputando com os MacFingals novamente?”
"Não.” Lucas respondeu. “Estão trazendo dois homens para cá. Um monge jovem que aparenta ter sofrido um longo jejum e um grande homem com a vista ruim."
Keira começou a caminhar para a porta mesmo enquanto dizia a si mesma que o monge não podia ser quem ela estava pensando. "O monge tem cabelo castanho claro? Oh, e ele já tropeçou?"
"Três vezes," Lucas respondeu. “O homem grande parece mantê-lo firme, entretanto. Apenas continua segurando-o até que ele consegue pôr os pés no lugar certo."
Empurrando seus irmãos para abrir caminho, Keira foi para fora no mesmo momento em que seus primos chegavam com o monge e o guerreiro. Ela piscou, incapaz de acreditar em seus olhos. Era realmente Kester. O grande homem ao seu lado não era alguém que ela tivesse visto no monastério. Não estava claro se ele estava sustentando Kester ou se Kester o estava sustentando. Mesmo que Kester estivesse ereto e parado, o homem ainda segurava o braço do menino.
"Milady, nós viemos para nos juntar a você em sua luta para recuperar suas terras.” Kester anunciou.
Teria sido um anúncio grandioso se Kester não tivesse balançado seu braço livre naquele momento e acertado o primo de Keira, Colin, diretamente entre os olhos. Um corado Kester rapidamente se desculpou, mas quando pareceu que Colin iria retaliar de qualquer maneira, Keira se apressou em afastar o menino e seu amigo dali. Enquanto ela conduzia o estranho par junto, seus extremamente sorridentes irmãos a seguindo, Kester apresentou seu amigo como sir Archibald Kerr. Keira não precisou de muitos passos antes de perceber que sir Archibald tinha a vista muito pobre, mas não disse nada até que estavam todos acomodados na mesa principal no grande salão, compartilhando o que restara do banquete que Fiona ainda estava mordiscando.
"Primeiro, Kester, eu gostaria de saber por que você deixou o monastério.” Keira disse enquanto servia um pouco de sidra a sir Archibald. “Eu não posso acreditar que os monges tenham aprovado que você participasse da batalha."
Depois de engolir rapidamente o grande pedaço de pão que ele enfiara na sua boca, Kester respondeu, “Eles não aprovaram, mas quando ouvi sobre todos os seus problemas pelo Irmão Matthew, eu quis ajudar."
"Isto é mais amável da sua parte, mas—"
"Eu não quero ser um monge!" O menino disse abruptamente e corou. “Eu fui enviado para meu tio porque meu pai não queria saber de mim. Fui enviado para o monastério porque meu tio não me queria tampouco. Ele disse que eu era mais perigoso para seus homens que os amaldiçoados ingleses. Meu pai não me queria de volta, então os dois mandaram que eu treinasse para ser um monge. Pensei que talvez se eu pudesse ajudá-los, vocês pudessem encontrar um lugar para mim e sir Archie em Ardgleann. Eu faço qualquer coisa. Na verdade, eu prefiro ser um guardador de porcos que um monge."
Keira trocou um olhar com Fiona e viu a mesma condolência para com o menino que ela mesma estava sentindo. Até seus irmãos pararam de sorrir. Ela suspirou internamente, sabendo que não podia devolver o menino para uma vida que ele obviamente abominava. Não apenas ele seria magoado por sua rejeição, outra no que parecia ser uma triste sucessão, mas ela também sabia que o estaria condenando a uma vida muito infeliz.
"E você, sir Archibald?” Ela perguntou, observando como Kester dava a caneca ao homem e então, depois que o cavaleiro bebia, ajudava-o a colocá-la seguramente sobre a mesa.
“Bem, eu não sou de muita utilidade, mas estou tão disposto quanto o rapaz a ajudar,” ele disse, sua voz um estrondo profundo em seu tórax largo. “Estou tendo um pouco de dificuldade com meus olhos, mas meu braço da espada ainda está bom.”
"Você está perdendo sua visão, então?” Ela perguntou suavemente.
"Perdendo. Bem, quase. As coisas não estão muito claras. Ajuda seu eu piscar. Levei um golpe na cabeça alguns meses atrás, você sabe."
"Eu o encontrei no bosque quando estava seguindo você e sir Liam.” Kester disse. “Ele estava conversando com uma árvore."
"Pensei que era um homem.” Sir Archibald resmungou. “O estrabismo não ajudou muito naquela hora.”
Keira ficou muito orgulhosa de seus irmãos quando os dois empurraram rapidamente a comida em suas bocas para abafar seu riso. Um menino que podia tropeçar em sua própria sombra e um cavaleiro que não podia ver claramente eram inúteis para ela, mas não podia lhes dizer isso. De alguma maneira, ela iria ter que encontrar algo que eles pudessem fazer, algo que não os fariam machucar alguém ou eles mesmos. Tudo o que ela tinha que fazer era conseguir que Liam concordasse com ela.
"Keira, eles serão mais uma ameaça que uma ajuda," Liam disse. "Kester é um bom rapaz, mas eu nunca encontrei alguém tão desajeitado quanto ele. E aquele sir Archie é quase cego."
"Um triste fim para um guerreiro," Sigimor murmurou enquanto olhava fixamente para sua caneca de cerveja inglesa.
Havia um olhar de simpatia no rosto de Liam, mas não receptividade. As expressões de Sigimor e Ewan eram tão difíceis para ela ler como sempre. Keira procurou os homens no escritório de Ewan depois que todos jantaram. Tinha sido impossível discutir sir Archie e Kester com alguma privacidade até agora. Pior, embora ela tivesse horas para pensar sobre como apresentar argumentos em seu favor, ela apresentou muito poucos.
"Eu sei que eles serão de pouca ajuda,” ela disse, “mas eles não têm nenhum outro lugar para ir."
"Kester pode retornar ao monastério." Liam fez careta quando Keira lentamente meneou sua cabeça.
"Ele não quer ser um monge, Liam. Seus próprios pai e tio o mandaram para lá, deixando muito claro para ele porque fizeram isso. Ele não tem o chamado. Melhor que ninguém aqui, você sabe o que isso quer dizer. Eu não posso devolvê-lo, sabendo que ele ficará preso lá, infeliz só Deus sabe por quantos anos. Deve haver algo—"
"Leve-os," disse Sigimor, sorrindo um pouco quando todos olharam fixamente para ele com surpresa. "Ela está certa. Não há nenhum lugar para eles irem. O rapaz será miserável como um monge, ou fugirá para algum outro lugar e vai acabar se matando. Ele é um bom rapaz, e eu posso ver um homem forte, fidedigno nele. Só precisa crescer em seus pés."
"E sir Archie que vê tão mal que conversa com uma árvore pensando que é um homem?" Liam perguntou.
"É um bom homem, mas logo estará morto se não puder encontrar um lugar para viver o resto de sua vida em segurança. Nós somos abençoados. Se sofrêssemos como ele, teríamos abrigo e família para nos ajudar. Ele não tem ninguém. O rapaz e o homem juntos funcionam bastante bem. O jovem Kester é os olhos de sir Archie, e sir Archie impede o rapaz de cair muito frequentemente. E embora sir Archie não possa mais viver de sua espada, ele fez isso por muitos anos. Ele tem habilidade e conhecimento. Você precisará de alguém para treinar novos homens para se proteger." Sigimor piscou. "Contanto que ninguém fique ao alcance de sua espada, o homem ainda pode mostrar como a usou para ficar vivo tanto tempo como um mercenário."
Afastando o pesar que ela sentia sobre quantos bons homens morreram nas mãos de Rauf, deste modo precisando que o restante protegesse Ardgleann, Keira disse, "Talvez eles devessem ficar aqui até que nós recuperemos Ardgleann."
"Não, leve-os," disse Sigimor.
Liam franziu o cenho para seu primo. "Já que eles não podem lutar, por que você acha que devíamos levá-los conosco?"
"Nenhuma razão real. Ainda. Se nada mais, eles podem cuidar dos cavalos e guardar Keira." Sigimor franziu o cenho. "Agora por que você parece como se eu tivesse acabado de acertá-lo na cabeça?" Ele perguntou a Liam.
"Eu estava apenas recordando como Kester cuidava de nossos cavalos todo dia quando nós estávamos na cabana," Liam respondeu. "Ele nunca tropeçou, nunca teve nem mesmo o menor acidente enquanto nos estábulos. Nem mesmo Gilmour, uma besta muito contrária, nunca deu a Kester qualquer dificuldade."
Sigimor meneou a cabeça. "Ele tem o toque. Essa pode ser sua resposta."
"É um declínio duro para um rapaz bem-nascido e um cavaleiro, mercenário ou não."
"Não tão duro quanto o primeiro passo para um sepulcro."
"Bom ponto. Muito bem," Liam sorriu torto quando Keira rapidamente beijou sua bochecha, ficando carrancudo quando ela fez o mesmo com Ewan e Sigimor, e então meneou sua cabeça quando ela correu para dar as notícias a Kester e sir Archie. “E agora, primo,” ele disse, voltando sua atenção para Sigimor, “você pode me dizer a outra razão porque você quer que nós levemos aqueles dois conosco."
"O que Rauf Moubray faz com qualquer homem forte e são, que ele pensa que poderia ser uma ameaça?” Sigimor perguntou.
"Mata-os."
"Sim, só isso, mas nenhum homem vivo nunca veria o jovem Kester ou sir Archie como uma ameaça, não é?"
"Não, ele não veria," Liam disse devagar. "Você tem um plano?"
"Só possibilidades, mas se a oportunidade se apresentar, eu gostaria de ter as ferramentas adequadas à mão."
O aroma de carne assada enchia todos os cantos de Scarglas. Haveria um banquete aquela noite, mas Keira não sentia nenhuma alegre antecipação. Pela manhã, eles cavalgariam até Ardgleann. Nenhuma espada ainda havia sido desembainhada, mas a batalha realmente tinha começado. Ela afastou a culpa e a dúvida que a assaltaram. Isto tudo era culpa de Rauf Moubray, não sua, e ela deixou sua raiva pelo homem endurecer sua espinha enquanto ela ia procurar por Fiona.
Quando ela e Liam se juntassem ao exército que haviam reunido, haveria pouca privacidade, então ela decidiu encarar esta noite como a véspera da batalha. Keira queria que fosse tão memorável para ele quanto para si mesma, ainda que aquelas lembranças a fizessem ruborizar completamente até as solas dos pés. Já que Fiona estava casada por vários anos agora, ela tinha muita esperança que a mulher pudesse dar algumas idéias e conselhos. Ela não estava certa se algumas das coisas que ela fazia em seus sonhos eram o tipo de coisas que os homens gostavam ou queriam que suas esposas fizessem. Keira também encarava tal discussão com Fiona como um bom teste. Afinal, se ela não pudesse nem conversar sobre se comportar de forma libertina, havia pouca chance de que pudesse fazer realmente isso.
Para sua alegria, ela encontrou Fiona sozinha em seu solar, praguejando baixinho sobre seu bordado.
“Não está indo bem?” Ela perguntou enquanto se sentava ao lado de Fiona em um banco bem almofadado embaixo da janela.
"Oh, não, está indo bastante bem,” Fiona respondeu enquanto baixava o trabalho e sorria para Keira. “É só que eu gosto dos resultados, mas não gosto muito de fazer o trabalho.”
"Eu realmente conheço muito bem esse sentimento."
"Bem, ponha pra fora."
Keira olhou surpresa para Fiona. “Como você sabia que eu tinha algo que precisava, bem, pôr para fora?”
"Vi o olhar em seu rosto enquanto você se dirigia para cá. Era o tipo de olhar ‘eu posso fazer isso’. Problemas?”
"Não, nenhum problema.” Keira respirou fundo lentamente para aumentar sua coragem. “Como nós vamos cavalgar para Ardgleann pela manhã, uma vez que, bem, nós estaremos com este exército que reunimos, Liam e eu teremos pouca privacidade, eu pensei que hoje à noite—"
"Você poderia dar a ele uma noite para recordar? Fazer seus dedões do pé encolherem?"
Keira riu. "Algo assim. Já que você está casada há vários anos, eu pensei que podia me dar alguns conselhos."
Fiona acenou com a cabeça. “Você quer que eu lhe dê o conhecimento que posso ter juntado, o valor de minha experiência, por assim dizer."
"Exatamente. Também, eu tenho estes sonhos onde eu ajo de forma bastante livre, mas não tenho certeza se o que eu faço naqueles sonhos é algo que um marido desejaria que sua esposa fizesse."
"Eu duvido que qualquer coisa que você faça em seus sonhos chocaria Liam.” Fiona se ergueu para despejar sidra em duas canecas. "Se essas coisas a fazem se sentir bem em seus sonhos, suspeito que certamente farão vocês dois se sentirem muito bem se você as fizer realmente." Fiona serviu a bebida para Keira, então se sentou ao lado dela. “Então vamos conversar.” Ela piscou para Keira. “Isto será muito mais interessante que bordado."
"É o que nós esperávamos”, Sigimor disse enquanto observava Liam andar pelo escritório.
"Eu sei disto," disse Liam, lançando a mensagem que tinham recebido de um dos homens de Sigimor sobre a mesa. “Mas eu esperava por algo melhor."
"Alguma pequena estupidez da parte de Rauf que permitisse que nós apenas nos esgueirássemos para dentro." disse Lucas enquanto se jogava sobre uma das pesadas cadeiras de carvalho pelas quais Ewan era tão aficionado.
"Sim, algo assim," disse Liam enquanto observava fixamente um dos desenhos que Keira fizera que mostrava Ardgleann e como estava situado. "Não há nenhuma maneira de nos encobrir se tivermos que fazer um assalto direto. O terreno é aberto em toda volta do maldito lugar, e desde que está situado numa subida, os homens naqueles muros verão nossa aproximação de longe."
"Por isso eu escolhi ir agora," disse Sigimor. "Em alguns dias a lua vai estar completamente escura."
Liam acenou com a cabeça, silenciosamente elogiando o planejamento cuidadoso de Sigimor. Enquanto lutava para se acalmar de forma que pudesse pensar mais calmamente, ele estudou os outros reunidos na sala com ele, Sigimor e Ewan. Nanty, irmão de Fiona, sentado em um tamborete próximo à lareira, desnecessariamente limpando sua espada. Os irmãos de Keira sentados em cadeiras de carvalho pesado, suas pernas longas esticadas, seus tornozelos cruzados, e suas mãos ligeiramente apertadas juntas e descansando em seus estômagos. À primeira vista, se pensaria que eles estavam entediados com isso tudo, mas ele os conhecia bem o bastante agora para saber que eles estavam tão longe daquilo quanto qualquer homem podia estar. Kester se sentava próximo a Ewan na mesa de trabalho, diligentemente fazendo cópias dos mapas que Keira desenhara sobre o interior da propriedade. Eles precisariam daquilo se encontrassem um modo de entrar. Sir Archie se sentava próximo ao menino, suas costas eretas, os punhos fechados em seus joelhos, e uma carranca sem seu rosto enquanto ele ouvia atentamente cada palavra.
“O homem conquistou seu prêmio através do roubo e da perfídia.” Disse Kester enquanto jogava areia sobre o mapa que ele acabava de desenhar. “Ele esperaria que todos fizessem o mesmo, e terá um olho afiado para todas as maneiras que isso pode ser feito."
Havia obviamente uma boa mente dentro daquela cabeça desgrenhada, Liam pensou, mesmo enquanto murmurava concordando, “Consequentemente, lacrou todas as possíveis entradas.”.
"Não," disse sir Archie, surpreendendo a todos. "Um homem assim não sobrevive cortando todas as suas rotas de fuga. Sim, ele se trancou dentro daqueles muros para se proteger, mas em algum lugar existe um modo dele sair se todas as suas defesas falharem."
Liam estava contente que a visão de sir Archie fosse tão ruim, pois seu orgulho teria sido ferido pelos olhares de surpresa em sua direção. Apenas Sigimor e Kester agiam como se a perspicácia do homem fosse apenas de se esperar. Liam ficava irritado por admitir isto, mas seu primo tinha acertado novamente. Sir Archie podia não ser capaz de ver claramente com seus olhos ou ser um hábil guerreiro novamente, mas seus anos como mercenário deram ao homem uma riqueza de conhecimento útil.
"Sim, você está certo, velho.” Sigimor disse. “A pergunto é onde? E quem mais saberá sobre isso?”
"Moubray achará que não, mas alguém sempre sabe.” Disse sir Archie. “Alguém como ele é muito arrogante para ver isso."
"Keira conhece todas as entradas, mas nós não podemos arriscar experimentar cada uma."
"Um desperdício de tempo," disse Artan. "Não poderão ser abertas pelo lado de fora."
"Então voltamos ao ponto de partida”, disse Liam.
"Não exatamente," Sigimor murmurou. "Nós só precisamos ter um pouquinho de sorte. E um plano."
Depois de trocar um sorriso com Ewan, Liam se dirigiu a porta. "Bem, eu vou para a cama. Um homem que eu conheço uma vez me disse que dar prazer a sua esposa até que seus olhos estejam cruzados era o que um marido precisava fazer para mantê-la feliz." Ele piscou para Sigimor. "Eu acho que vou tentar isso." Ele fechou a porta enquanto Ewan estava dizendo que pensava que aquilo soava como um plano muito bom para ele.
Keira franziu o cenho para a porta do quarto e então terminou seu vinho. Se Liam não se juntasse a ela logo, ela estaria ou muito aborrecida ou muito bêbada para executar seu plano. De repente ela sorriu por suspeitar que havia outra esposa em outro quarto sentindo quase o mesmo. Quando ela e Fiona terminaram sua conversa, Fiona tinha feito planos para seu marido também.
Ela estava contente por ter criado coragem para conversar com Fiona. Embora estivesse um pouco consternada por descobrir que Ewan tinha contado a sua esposa tudo sobre Duncan e a humilhação que ela tinha sofrido durante seu casamento com o homem, aquilo tinha ajudado de algumas maneiras. Não apenas Fiona sabia que Keira não tinha nenhuma experiência anterior e pouco conhecimento, mas de muitas maneiras sutis, ela também fez Keira começar verdadeiramente a acreditar que nada daquilo tinha sido sua culpa. Depois, Fiona também tinha lhe assegurado que seus sonhos não eram nada para se ter vergonha. Na verdade, Fiona tinha absoluta certeza que Liam seria um homem muito feliz se a mulher que Keira era em seus sonhos o saudasse no quarto esta noite.
Olhando para si mesma, Keira percebeu que não estava mais preocupada com a reação de Liam sobre o véu fino de linho drapejado sobre seu corpo nu. Fiona tinha chamado aquilo de camisola, mas Keira achava que isso implicava uma substância que simplesmente não havia ali. Toda camisola que ela já possuíra tinha sido planejada para mantê-la aquecida e modestamente coberta. Esta nuvem de fumaça azul que ela usava não fazia nada disso. Ela se serviu de outro copo de vinho para sufocar a fraca pontada de modéstia que ainda sentia.
Quando a porta do quarto se abriu e Liam entrou, ela quase bebeu todo o vinho de um só gole para afogar um súbito ataque de nervosismo.
Observar seu rosto a ajudou a banir aquela inquietação melhor do que qualquer bebida poderia. O sorriso dele lentamente se transformou em surpresa boquiaberta. Seus olhos se arregalaram enquanto ele apressadamente fechava e trancava a porta. Mesmo de onde estava, ela podia ver seus olhos azuis arderem, o que indicava seu desejo crescente. Ele lambeu os lábios, e ela lutou para não se envaidecer. Fiona falara a verdade. Os homens gostavam de ver uma mulher quase, mas não completamente, nua. E, ela pensou enquanto dava a Liam um sorriso lento, se Fiona estava certa sobre isto, provavelmente estava certa sobre todo resto que aconselhou. Enquanto ele caminhava em sua direção, Keira se encontrou perguntando-se se devia pedir que ele dançasse nu agora ou mais tarde, e quase riu. Aquela moça devassa que passeava por seus sonhos definitivamente tinha tomado à dianteira.
Liam finalmente recuperou o suficiente de suas faculdades para se aproximar de Keira. Ele estava quase com medo de falar, como se isso pudesse quebrar qualquer que fosse o feitiço que ela estivesse tecendo. Colocando as mãos em seus ombros, ele lentamente as desceu por seus braços, parando apenas para tirar a bebida de sua mão e pousá-la sobre a mesinha perto dela. Ele segurou suas mãos e a olhou novamente. O linho da camisola que ela usava revelava o bastante para atormentá-lo e escondia apenas o suficiente para fazê-lo querer mais.
"Onde você conseguiu isto?" Ele perguntou.
"Fiona me emprestou por esta noite,” ela respondeu.
"Agora eu sei realmente porque podemos ver o sisudo Ewan sorrir de vez em quando. Talvez você possa descobrir onde ela encontrou um linho tão fino."
Decidindo que tinha se deleitado com seus olhares e palavras lisonjeiras o suficiente para deixá-la quase presunçosa, Keira libertou suas mãos e começou a tirar suas roupas. “Talvez eu faça isso. Claro, ele não é muito quente."
"Nós podíamos acender o fogo."
Keira podia dizer pelo sorriso lânguido em seus lábios que ele não estava se referindo apenas à lareira. Enquanto ela lentamente removia suas roupas, o brilho de curiosidade em seus olhos mudou para um de desafio. Ela estava no humor para enfrentá-lo. Recordando o conselho de Fiona relativo ao valor da antecipação, Keira levou tempo para colocar cada peça de roupa cuidadosamente sobre uma cadeira depois que ela as tirava. A maneira como ele permanecia lá e permitia que ela fizesse seu jogo a excitava.
"Diga-me, esposa, você está completamente acordada?” Liam perguntou quando estava finalmente livre de todas as suas roupas.
"Oh, sim, completamente acordada.” Ela o examinou tão lenta e cuidadosamente quanto ele fizera com ela.
"E quanto vinho você bebeu?"
"Apenas uma caneca e mais um pouquinho.” Ela colocou a mão em seu tórax e lentamente acariciou cada elevação e cavidade. Embaixo de sua palma, ela podia sentir seu coração bater tão rápido quanto o dela. “Você temia que a bebida estivesse me fazendo agir deste modo?” Ela acariciou seu estômago tenso. “Não, não foi a bebida.”, ela sussurrou contra sua pele enquanto beijava a cavidade na base de sua garganta.
"Então esta é a mocinha devassa que passeia por nossos sonhos"
"Talvez. Você vai começar a dançar?"
"Talvez. Mais tarde."
Ele não ficou surpreso quando aquela última palavra terminou em algo perigosamente perto de guincho, pois Keira envolveu seus longos dedos elegantes ao redor de sua ereção. Ela nunca o tinha tocado lá antes, e apesar da urgência com que ele queria isso, se forçou a ser paciente. A maneira como ela o estava acariciando, como espalhava beijos ardentes sobre seu tórax, tornaria muito difícil manter a paciência por muito tempo, porém.
Ele estava tremendo com antecipação quando ela se ajoelhou na frente dele e começou a acariciar e beijar suas pernas. Era duro de acreditar que sua esposa, a viúva virgem que se desculpava por beijar seu estômago, iria fazer o que ele agora desesperadamente queria que ela fizesse. Liam tinha apreciado aquele prazer uma vez, mas a mulher tinha tão claramente pensado ser a mestre dele que ele fez disto uma daquelas coisas que não fazia. Exigia um nível de confiança que ele simplesmente não sentia em relação às mulheres com quem tinha se deitado ao longo dos anos. Ele confiava em Keira completamente, ele percebeu. Confiava especialmente que ela só daria ou repartira o prazer, e nunca o usaria para conseguir poder sobre ele.
Quando o calor de seus lábios finalmente tocou em sua ereção, ele estremeceu com a força do desejo que corria por seu corpo. Ele gemeu suavemente e enfiou os dedos por seu cabelo para encorajá-la, deixá-la saber que sua ousadia era mais que bem-vinda. A ferocidade da paixão que assolou enquanto ela o beijava e acariciava com sua língua, o tempo todo acariciando seu traseiro e coxas com suas pequeninas mãos suaves, quase o atordoou. Keira nunca usaria a paixão que eles compartilhavam para ter poder sobre ele, mas ele percebeu que ela já tinha esse poder. Ele estava justamente agradecendo a Deus que a única mulher a quem ele não podia resistir tinha uma alma muito gentil e honestidade demais para fazer tais jogos quando Keira o tomou em sua boca. Liam teve que travar seus joelhos para se manter estável, e lhe restou capacidade de raciocínio apenas o suficiente para se manter alerta para o momento em que teria que se afastar.
Aquele momento veio extremamente cedo para o seu gosto. “Basta, amor,” ele disse enquanto a segurava pelos braços e a colocava de pé. “Eu não quero terminar lá. Não esta noite."
Esta noite ele queria enchê-la com sua semente tantas vezes quanto ele pudesse antes que os dois desmoronassem de esgotamento. Liam não sentia realmente como se ele logo fosse estar enfrentando a morte, mas aquele risco existia sempre que um homem ia guerrear. Ele tinha um desejo agudo de tentar plantar uma criança em sua esposa nesta véspera de batalha.
Enquanto cuidadosamente removia a delicada camisola emprestada que ela usava, Liam foi surpreendido ainda outra vez por sua noiva. O olhar levemente nublado dela e os tremores de prazer ondulando através do seu corpo revelavam que ela tinha sido tão afetada pelo que tinha feito quanto ele. Tinha sido um presente adorável que ela lhe dera, mas era óbvio que ela o tinha compartilhado completamente, e ele sentiu um estranho aperto próximo a seu coração.
Pegando-a em seus braços, ele a levou para cama, pausando apenas para satisfazer sua necessidade de beijá-la várias vezes. Pousando-a suavemente sobre a cama, ele desceu sobre ela. Duvidava que um dia se cansaria de ver seu corpo delicado, a maneira como ela ficava com seu longo cabelo escuro estendido sob ela. Depois de respirar profundamente várias vezes para recuperar algum controle sobre sua luxúria, ele a beijou.
Havia algo que ele conhecia, mas que nunca tinha feito, e estava ávido para experimentar. Agora era sua vez de dar.
Keira gemeu suavemente enquanto Liam se deleitava em seus seios. Ela não estava certa do quanto podia resistir quando sua necessidade de senti-lo dentro dela já era tão forte e exigente. Fazer amor com ele a tinha excitado muito mais do que ela teria imaginado, até em seus sonhos.
Enquanto traçava uma trilha de beijos até seu estômago, ele acariciava suas pernas. Keira estava tão entretida em quão bem se sentia que levou um momento para perceber que ele separara habilmente suas pernas. Uma ponta de embaraço nascido de uma modéstia que ela temia que nunca poderia superar completamente esfriou só um pouco sua paixão. Quando percebeu que ele estava olhando para ela lá, que realmente podia vê-lo fazendo isto, ela tentou desviar sua atenção antes que aquele embaraço que ela sentia crescer dentro de si matasse todo o delicioso calor em seu corpo.
"Liam, eu não estou certa de que posso aguentar muito mais desse jogo," ela disse, agarrando os lençóis enquanto ele beijava o interior de suas coxas, seu cabelo macio roçando sua carne feminina em uma caricia que enviou ondas de desejo por seu corpo.
"Seja forte, esposa," ele disse e mordiscou levemente sua coxa. "Pense sobre esfregar panelas."
Ela abriu sua boca para dizer que isso era uma coisa tola para dizer a ela, mas tudo que acabou soltando foi um guincho de choque quando ele a beijou diretamente lá, naquele lugar que ele tinha observado muito atentamente. Seu corpo inteiro ficou tão tenso que ela se ergueu da cama em alguns lugares. No mesmo momento em que ela estava pensando que não podia tolerar tal intimidade, ele a acariciou com sua língua. Keira pensou ligeiramente que tinha acabado de articular uma blasfêmia quando toda habilidade de pensar a deixou e ela se tornou uma criatura que era só sensações, calor e desejo.
Um minúsculo lampejo de sanidade surgiu quando ela percebeu que estava para explodir. Ela clamou, pedindo a ele para se juntar a ela, mas ele a ignorou. Uma batida de coração mais tarde, ela se sentiu sua liberação rasgar através dela com uma força que a sacudiu. Liam não lhe deu nenhum tempo para se recuperar, porém, usando seus beijos íntimos para conduzi-la naquela loucura toda de novo, mas desta vez, quando ela gritou para ele, ele lhe deu o que ela pediu. O acoplamento foi feroz, e o ritmo duro e rápido. Keira se deleitou em cada pequeno minuto disto.
Keira cautelosamente abriu seus olhos, franzindo o cenho em confusão por um momento, e então corou quando a memória do que tinha acontecido a inundou. Fechou os olhos novamente, mas era muito tarde. Liam já sabia que ela estava acordada. Ele a beijou, e então ela soube que ele estava olhando fixamente para ela. Quando ela abriu seus olhos novamente para encontrá-lo sorrindo para ela, fez uma carranca severa para ele. Ele riu, puxou-a para seus braços, e rolou sobre suas cosas. Esparramada em cima de seu corpo nu como ela estava, Keira achou um pouco difícil permanecer digna, especialmente quando se encontrou recordando como tinha sido bom.
"Minha devassa fugiu novamente?" Liam perguntou enquanto acariciava preguiçosamente suas costas.
"Ela deve estar debaixo de uma pedra, encolhida de vergonha,” Keira respondeu.
Liam sorriu novamente, pois, mesmo enquanto dizia isto, ela estava correndo seus dedos sobre suas costelas em uma carícia suave. Aquela parte ousada de Keira poderia retroceder um pouco de vez em quando, mas ele tinha a sensação que nunca estaria completamente atada novamente. Ele estava se sentindo bastante orgulhoso e vaidoso por tê-la amado até a inconsciência. Enquanto esperava que ela abrisse os olhos, ele percebeu que algo tinha sido ligeiramente diferente em seu ato de amor.
Embora a paixão de Keira sempre tivesse sido ardente, lindamente comparada com a sua própria, precisava ser persuadida, e embaraço ou modéstia frequentemente se intrometiam, tornando a escalada às alturas da paixão um pouco pedregosa às vezes. A única hesitação desta vez tinha sido quando ele começou a beijá-la intimamente, e ela tinha sido tão breve que se tornava sem importância. Liberando-se para ser tão corajosa e ousada quanto parecia ser em seus sonhos, Keira também libertara a mulher sensual dentro dela. Ela tinha se permitido desfrutar livremente de cada toque, cada beijo, e isso tinha sido uma maravilha de se ver. Ele pensava que o desejo que eles compartilhavam era o melhor que ele já tinha experimentado, mas agora sabia que podia ser muito melhor. Liam não a deixaria esconder aquele seu lado novamente.
"Oh, não, traga-a de volta,” ele murmurou enquanto penteava seus dedos por seu cabelo, desfazendo a bagunça causada por seu ato de amor. “Ela não tem nada do que estar envergonhada."
"Eu estou certa que ela quebrou várias das regras da igreja." Keira descobriu que uma parte muito grande sua realmente não se importava se ela tivesse. Liam era seu marido legal, afinal.
"Sem dúvida, mas tendo estudado todos aqueles éditos, eu acredito que existem muitas regras. Às vezes, eu começo a pensar que os homens que as fazem simplesmente desejam se certificar que ninguém encontre qualquer alegria na vida que Deus nos deu."
Keira parou de beijar seu tórax e estudou seu rosto por um momento. “Esta é uma das razões pelas quais você decidiu que não aguentaria uma vida na igreja?"
"Sim, uma delas. Da mesma maneira que existe no mundo fora da igreja, dentro dela existe hipocrisia, cobiça, e desejo de poder. Eu não tinha um chamado forte o bastante para continuar apesar disto, não como seu primo tem."
"Ele vê tudo isto, também?"
Liam meneou a cabeça. "Mas esta não é hora para pensamentos tão solenes. Não, não quando eu tiver aquela moça ousada de seus sonhos ao alcance."
Keira sorriu um pouco. "Você não ia dançar nu?"
Para sua surpresa, Liam a afastou dele e saiu da cama. Ele piscou para ela e então começou a cantar e dançar. Keira riu. O homem não tinha um osso modesto em seu corpo. Ele também tinha uma voz muito boa. Depois de observá-lo por um momento, ela parou de rir, embora um sorriso demorasse em seus lábios. Era uma coisa tola para fazer, contudo o homem tinha tal força e graça em seu corpo, que era um prazer observá-lo.
"Eu acredito em que também disse que tinha certeza que a pequena moça ousada provavelmente dançaria comigo,” ele disse enquanto agarrava sua mão e a arrastava para fora da cama.
Por um momento, Keira se sentiu tola e um pouco envergonhada, entretanto ele começou a cantar novamente. Era uma canção que ela amava, e logo ela estava cantando junto com ele. Eles dançaram elegantemente por algum tempo, os passos e movimentos cuidadosos, medidos, que assumiam um significado inteiramente novo quando dançavam nus. Então Liam começou a cantar uma melodia levemente picante, mais comum, e eles logo estavam saltando em volta do quarto como duas crianças, rindo, cantando e dançando como se não tivessem nenhuma preocupação no mundo.
Keira não tinha certeza de que foi a primeira a perceber que aquela brincadeira provocara uma necessidade muito ardente, ou se ambos foram atingidos no mesmo momento, mas ela de repente se encontrou olhando fixamente para Liam. Ele estava olhando-a fixamente de volta, e ela suspeitava que o calor que ela podia ver em seus olhos estava refletido nos seus. Ela lambeu os lábios. Ele lambeu os dele.
Ainda se sentindo um pouco brincalhona, ela se arremessou para longe quando ele tentou agarrá-la. A perseguição foi curta, porém, pois ela queria ser pega. Ela gritou surpresa quando ele a lançou sobre a cama, mas deu as boas-vindas de braços escancarados quando ele juntou-se a ela. Quando ele a beijou, ela sentiu quão feroz seu desejo era, e o dela cresceu para se igualar ao dele. Era muito bom ser uma vigorosa moça libertina, ela pensou logo antes da paixão afastar qualquer clareza da sua mente.
Sutilmente, Keira esfregou seu traseiro dolorido. Dois dias muito longos sobre uma sela deixaram-na dolorida e odiando a idéia de montar um cavalo novamente. O que ela realmente gostaria era de afundar em um longo banho quente, mas ainda passariam alguns dias antes que ela pudesse apreciar tal luxo. Ela iria, porém, tomar um bom banho no riacho perto do qual estavam acampados assim que Liam retornasse.
E quanto tempo poderia levar para conseguir dar uma olhada em Ardgleann? Ela pensou. Não era longe, e já que ainda estava claro, não havia nenhuma chance de procurarem quaisquer fraquezas sem arriscar serem capturados. O que realmente a incomodava era como Liam, Ewan, Sigimor, e até seus irmãos tinham sido inflexíveis quanto a ela não ir com eles. Keira supôs que podia ser simplesmente porque era muito perigoso ficar tão próximo de Rauf. Ela tinha a sensação distinta, porém, que eles estavam receosos do que ela poderia ver, já que ninguém tinha trazido nenhuma notícia desde que eles tinham parado na fronteira leste de Ardgleann.
"Milady, eu lhe trouxe um pouco de sidra."
Keira virou sorrindo para Kester. “Ah, obrigada, é muito amável.” Ela disse, aceitando a caneca e tomando um longo gole da surpreendentemente refrescante sidra. “Perfeita para tirar a poeira da garganta."
Ela relanceou o olhar para baixo e percebeu que a batina de Kester parava a algumas polegadas do chão. Quando olhou um pouco para cima, viu que ele tinha juntado esse comprimento extra acima do cinto de corda que usava. Keira de repente percebeu que Kester tinha lhe trazido uma caneca cheia de sidra e não havia nenhum sinal nele ou na caneca de que ele derramara sequer uma gota. Embora duvidasse que a redução do comprimento de sua batina o curaria completamente de seu desajeitamento juvenil, obviamente ajudara.
"Eu posso cortar esse comprimento extra, se você quiser.” Ela disse a ele.
"Oh, não, mas obrigado.” Kester disse “Lorde Sigimor fez isto, mas ele me disse para não cortar. Não ainda, ele disse."
E era óbvio que, no que concernia a Kester, a palavra de Sigimor era lei.
"Ele me disse que uma vez que Ardgleann fosse sua, eu poderia usar calções.” Kester continuou.
"Mas não ainda."
"Sim, lorde Sigimor diz que ainda não."
"Eu acho que ele não lhe disse por que quer que você espere.” Ela não ficou surpresa quando Kester meneou sua cabeça, e ela virou seu olhar na direção de Ardgleann novamente. “Eles foram há bastante tempo."
"Não tanto assim, milady. Lord Sigimor disse que eles iriam observar um pouco. Suspeito que uma observação cuidadosa pode levar tempo, quando se faz direito."
Sigimor claramente tinha se tornado o novo herói de Kester. Ela tinha que admitir que o homem era muito paciente com o menino. Depois de ter sido descartado tão insensivelmente por seu próprio sangue, Keira estava um pouco surpresa de quão avidamente Kester aceitava a orientação dos homens mais velhos. Havia mágoa lá, mas nenhuma raiva ou ressentimento reais que ele direcionasse a qualquer macho adulto. Ela teria que encontrar o caminho certo para ele, um que o faria um homem com quem se contar. Kester podia não estar bravo com seus parentes, mas ela estava. Um dia, ela ficaria feliz quando eles vissem o enorme engano que cometeram ao se desfazerem deste menino.
"Eu estou bem aqui, sir Archie.” Kester disse e começou a balançar seus braços. “Se você andar diretamente em minha direção, não tem nada em seu caminho.” Kester relanceou o olhar em Keira. “Ele pode ver este movimento, sabe.”
Um momento mais tarde, sir Archie cruzava seguramente a distância dos cavalos até eles, e batia levemente nas costas de Kester. “Você é um bom rapaz."
O vento bagunçou o cabelo longo de sir Archie, e Keira conseguiu um vislumbre da cicatriz dentada que corria da linha de seu cabelo até o lado de seu olho direito. “Você disse que começou a ter problemas com seus olhos depois que levou um golpe na cabeça?” Ela perguntou a sir Archie.
"Sim," respondeu sir Archie. “Levou um tempo para sarar, sim. Pensei que minha visão melhoraria quando sarasse, mas isso não aconteceu."
"Infeccionou muito?"
"Lady Keira é uma curandeira, sir Archie.” Kester disse. “Uma muito boa."
"Não creio que qualquer curandeiro possa consertar isto, mas, sim, infeccionou por semanas.”, ele respondeu. “O veneno não se espalhou, entretanto."
Podia não ter se espalhado, mas Keira não tinha certeza que todo o veneno tinha saído. “Eu podia dar uma olhada?”
Quando ele acenou com a cabeça, ela cuidadosamente examinou o ferimento recém-curado. Era áspero, muito áspero. Keira temia que houvesse algo preso embaixo da pele fechada, talvez até no osso. Havia também sinais de que o veneno ainda se infiltrava de vez em quando. Exceto que abrisse a ferida novamente, ela não poderia dizer mais apenas olhando. Com tantos homens que ela não conhecia bem vagando por perto enquanto montavam acampamento, ela não ousou usar seu dom, tampouco.
"Eu penso, sir, que o ferimento precisa ser reaberto e completamente limpo.”, ela disse.
"Você acha que se fizer isso, me fará ver mais claramente?"
"Não, eu não posso prometer isso.” Embora ela pensasse que havia uma chance de alguma melhora, ela não iria aumentar as esperanças do homem. Até que ela conseguisse dar uma boa olhada naquele ferimento, ela não podia ter realmente certeza de qualquer forma.
"Então deixe isto como está no momento, milady. Uma vez que tudo esteja resolvido e você voltar ao lugar ao qual pertence, eu pensarei nisto."
"Eu me certificarei de lembrá-lo disto, sir,” ela disse e virou para franzir o cenho na direção de Ardgleann novamente. “O que pode estar fazendo-os levar um tempo tão amaldiçoadamente longo?"
"Um homem gosta de dar uma boa olhada nas defesas do seu inimigo,” disse sir Archie, “e isso leva tempo.”
Obviamente não havia nada errado com a audição do homem, Keira meditou. “Bem, eu espero que eles voltem logo, pois estou ansiosa para saber o que eles viram."
"Nós não podemos deixar Keira ver isto.” Liam sussurrou enquanto olhava fixamente em horror os muros de Ardgleann.
Ele não notou nada a princípio; Ele tinha estado muito ocupado notando coisas tais como a riqueza da terra que eles estavam cruzando e o tamanho da aldeia. Tinha sido o nítido ofegar de Sigimor e Ewan e as pragas sussurradas dos irmãos de Keira que chamaram sua atenção. A princípio, ele não reconheceu o que estava olhando. Quando o fez, teve que lutar para não esvaziar sua barriga. Balançando no parapeito dos muros de Ardgleann estavam corpos. Eles estavam amarrados ao longo dos muros como um tipo horrível de colar.
"Eu suspeito que sejam os homens que tentaram defender seu lorde e seu lar.” Sigimor murmurou. “Rauf deve pensar que infligirá medo nos corações de seus inimigos."
"E você acha que não irá?”
"Em alguns, entretanto outros se sentirão como eu. Bravos. Muito, muito bravos."
"A aldeia está muito quieta," disse Lucas, chamando atenção de todos para longe dos muros. “E alguém viu ou ouviu algum animal? Não é noite ainda. Por que não há nenhum som de vacas, ovelhas, ou aquelas amaldiçoadas aves barulhentas?"
Liam procurou e percebeu que Lucas estava certo. Estava tudo muito parado e silencioso. Com luz para enxergar, alguém devia ter estado se movendo nos arredores. Não havia nem um vira-latas para ser visto.
"Ele já despojou completamente o lugar," disse Ewan.
"Ou isto, ou ele está acumulando tudo dentro daqueles muros.” Disse Liam. “Quando sir Ian chegar, é possível que ele saiba mais.”
"Sim, e se o homem viu o mesmo que Lucas, explicaria porque se aliou conosco tão rápido e avidamente."
"Rauf é muito parecido com aqueles gafanhotos na Bíblia."
"Muito parecido, agora que eu recordo a história. Não pensa no futuro, tampouco. Se ele estiver fazendo de cada refeição um banquete, sacrificando gado sem um pensamento sobre criar mais, ele terá que atacar as terras e posses de outros para não morrer de fome." Lançando um olhar em direção à aldeia silenciosa, Ewan acrescentou, “E ele não se importará nada de ter condenado todos eles à morte com sua cobiça."
"Eu lhe disse que ele precisa ser morto." Sigimor disse e se virou para começar a voltar em direção ao acampamento.
O outros foram rápidos em segui-lo, mas Liam olhou fixamente para a propriedade por outro momento. Se isto era o tipo de coisa que Sigimor tinha visto como resultado da ação de Rauf Moubray, não era nenhuma maravilha que ele estivesse tão ávido para libertar a Escócia do homem. Liam também tinha certeza que esta não era a única atrocidade que o homem cometera. Não havia nenhum modo de esconder toda a verdade de Keira, e ele se preocupava sobre como a impediria de se afogar em uma culpa que ela não merecia. Ele benzeu-se, curvou sua cabeça e disse uma oração pelas almas dos homens nos muros aguardando um enterro adequado. Quando se virou para seguir os outros, encontrou Sigimor esperando por ele.
"Você não se libertou completamente do monastério, não é?" Sigimor disse quando começou a caminhar ao lado de Liam.
"Oh, sim, eu me libertei." Liam respondeu. "É só que"—ele encolheu os ombros—"eles precisavam de uma oração."
"Sim, eles precisavam. Ela descobrirá, você sabe. Não há como esconder tudo isso dela."
Liam meneou a cabeça. "Eu sei disto, mas tentarei esconder toda feiúra que eu puder. Ela não precisa ver isto também, para se enterrar em culpa."
"Culpa por quê?"
"Por não estar aqui, por levar meses para retornar para ajudá-los."
"Moça tola. Se ela ficasse, ela estaria morta ou desejaria estar. Quanto a esperar? Bem, ela precisava se curar, e apenas agora é a época para a batalha. Não vejo nenhum motivo para culpa."
"Nem eu, mas pode ser preciso mais do que essas verdades para limpá-la disso."
"Vai enfraquecer quando ela vir que nenhum dos sobreviventes a estará culpando."
"Você acha que eles não irão?”
"Um tolo ou dois poderiam, sim. Sempre existem pessoas que precisam de alguém para culpar por todo mal. Mas, não, duvido que muitos pensarão mal dela. É apenas uma moça pequenina. Desconfio que muitos deles estarão justamente pasmos que ela realmente voltou para ajudá-los. Afinal, ela era senhora de Ardgleann só há alguns meses."
Liam meneou lentamente a cabeça. "Verdade. Não houve muito tempo para formar quaisquer vínculos reais entre a senhora e o povo."
"Agora, antes que nós alcancemos os outros, há algo que eu tenho que perguntar a você. Tem me roído desde que nós deixamos Scarglas."
"Bem, pergunte então."
"Eu realmente ouvi canto e passos vindo do seu quarto aquela noite?"
"Não eram passos. Era dança." Liam teve que conter um sorriso diante do olhar que Sigimor lhe lançou.
Sigimor grunhiu e meneou sua cabeça. “Quando você nos deixou mais cedo naquela noite, você disse que iria adorar sua esposa até deixar seus olhos cruzados."
"Talvez seja por isso que eu estava cantando e dançando. Com minha esposa. Nus."
Desta vez, Liam não pôde conter seu riso. Sigimor parecia tão intrigado quanto temeroso que Liam estivesse completamente louco. “Sim, foi uma grande tolice, mas estranhamente foi, bem, libertador. Vamos, deve haver algo que você faz com Jolene que faria os outros pensarem que você está louco, ainda que faça você se sentir despreocupado, exuberante até."
"Natação. Natação nu com ela.” Sigimor meneou a cabeça. “Sinto-me um tolo toda vez que faço isso, mas foi por isso que fiz aquela pequena lagoa. A água é mais quente lá, sabe."
Liam pensou na lagoa que tinha aparecido lentamente no decorrer de um ano. Ele pensava que Sigimor a tinha feito para pegar peixes ou atrair aves selvagens para a mesa. Nem uma vez ele já tinha pensado que Sigimor e Jolene estavam se movendo furtivamente lá fora de vez em quando, para nadarem juntos nus. Isso explicava o muro de pedra bastante alto que a cercava quase completamente. Não era para manter os predadores afastados como ele tinha pensado, mas para dar ao lorde e sua esposa alguma privacidade enquanto eles pulavam na água.
"Eu me pergunto se Keira sabe nadar," ele murmurou e sorriu quando Sigimor riu.
Keira ouviu riso e relaxou um pouco. Ewan e seus irmãos pareciam tão austeros quando retornaram que ela sentiu medo. Suas respostas para suas perguntas sobre Ardgleann tinham sido suspeitosamente vagas. Então ela se voltou para observar Liam, certa de que ele lhe diria a verdade. Ouvindo aquele riso, ela não podia acreditar que as coisas podiam estar tão ruins quanto ela temia.
Liam viu Keira e sentiu todo seu bom humor escapar rapidamente. Sigimor estava certo em dizer que ele não podia esconder a verdade dela para sempre, mas ele estava determinado a fazer isso enquanto pudesse. Ele sorriu para ela, pôs o braço ao redor de seus ombros, e beijou sua bochecha.
"Eu não creio que um raio de luz do sol indicou o caminho para entrar sorrateiramente em Ardgleann.” Ela disse, trocando um aceno de cabeça com Sigimor antes de ele ir se juntar aos outros homens.
"Eu temo que não, amor," Liam respondeu. “Parece ter muros tão altos e resistentes quanto seu desenho mostrava."
"Você foi lá para ter certeza que meu desenho era preciso?"
"Essa foi um razão, porém uma bem pequena. Você fez um desenho muito bom, muito preciso, mas observar a propriedade nos ajudou a avaliar o local. Sim, é tudo campo aberto em torno da propriedade, mas parece que ele não tem sido pastado ou ceifado por meses. Isso pode fornecer uma pequena cobertura se nós nos mantivermos abaixados. Junto com o fato que a lua vai estar escura, pode ser suficiente."
"Mas seria muito melhor se vocês pudessem deslizar para dentre da propriedade propriamente e começar a luta direto no coração da toca do inimigo."
"Sim, seria."
"Então eu penso que nós devemos buscar Malcolm," ela disse e se preparou para uma discussão.
"Não, existe risco demais de sermos vistos," Liam disse, agitando sua cabeça.
"Malcolm pode saber de algo que poderia nos levar àquela passagem que vocês têm tanta certeza que ainda está lá."
"E Malcolm pode estar morto." Ele suspirou e beijou sua fronte quando ela empalideceu. "Desculpe, moça."
"Não, é a verdade. No entanto, eu acho que vale uma tentativa. Sua casa fica no fim da aldeia mais próximo de nós. A menos que Rauf coloque guardas em toda volta, nós devemos ser capazes de chegar até Malcolm em segurança."
"Eu não gosto disso."
"Nem eu.” Disse Sigimor enquanto andava até eles e entregava um odre de vinho a Liam. “Mas é uma chance muito boa para não ser aproveitada. Malcolm pode bem saber qual passagem não foi lacrada. Mesmo se ele não souber, terá informações que nós poderíamos usar."
Liam continuou a discutir por vários minutos, mas viu que era um desperdício de fôlego porque eles estavam certos. “Nós podemos confiar neste Malcolm?"
"Sim," Keira respondeu. “Ele é um homem bom e honrado."
"Bom e honrado o suficiente para se manter sua lealdade verdadeira mesmo debaixo da bota de Rauf?"
"Eu acredito nisso. Eu disse a vocês, tudo o que Malcolm quer na vida é viver tranquilamente com sua esposa Joan e fazer coisas bonitas. Ele abominaria um homem como Rauf. Eu tenho muita certeza disto."
"Nós não vimos nenhum guarda pela aldeia." Sigimor disse.
Keira estranhou aquilo, mas manteve sua atenção fixa no assunto em questão – convencer Liam que eles deviam ir e falar com Malcolm.
“Por todos estes homens e os outros que logo se juntarão a nós, eu penso que devíamos tentar chegar a Malcolm. Ele pode não ser um guerreiro, mas foi treinado como cavaleiro. Ele pode ter visto algo nestes últimos meses, alguma fraqueza que vocês podem usar contra Rauf."
Isso era uma verdade que Liam não podia discutir, embora desejasse fervorosamente que pudesse. O fato de Sigimor achar que isto era uma boa idéia só tornou mais impossível discutir. Liam sabia que seu primo nunca permitiria que uma mulher se arriscasse muito. Que Sigimor estivesse concordando com Keira queria dizer que o homem sentia que o risco de sua ida provavelmente não era tão grande, ou que valia a pena por tudo que eles poderiam ganhar. Liam sinceramente esperava que fosse a primeira opção.
"Quando estiver completamente escuro, nós faremos uma tentativa.” Ele disse, incapaz de impedir que sua relutância transparecesse em sua voz. “No momento, nós devemos nos ocupar em construir um pequeno abrigo para você."
"Eu não me importo em dormir aqui fora, Liam.” Keira disse.
"Eu não quero que você durma no meio de um exército. Muito em breve haverá homens aqui que nós não conhecemos bem."
Considerando quantos primos seus e dele estavam lá, Keira não achava que seria um problema tão grande, mas não disse nada. O modo como Liam olhou zangado para o divertimento que Sigimor não fazia nada para esconder lhe disse que provavelmente aquele silêncio era o melhor no momento. Na verdade, ela preferiria um pequeno abrigo, mesmo um de varas e lama, para o caso do clima se rebelar contra eles. Ela não se importava em dormir ao relento, mas não gostava disto quando estava fria e molhada.
No fim, eles tiveram muita ajuda. Keira tinha a sensação que seus parentes e os dele achavam que era uma boa idéia, apesar da maneira como arreliaram Liam. Um mensageiro de sir Ian MacLean chegou dizendo que ele estaria chegando com seus homens em algumas horas, e outro do outro filho do lorde oferecendo a si mesmo e dez homens para ajudar. Quando Keira viu os resultados, decidiu não reclamar sobre suas atitudes superprotetoras. As paredes eram uma mistura de pedra e galhos, e o telhado era de pano lubrificado. Era alto o suficiente apenas para ela ficar sentada, mas certamente a protegeria de tudo, menos das mais ferozes das tempestades. Com outro pano lubrificado pendurado sobre a entrada, ela e Liam realmente teriam alguma privacidade.
Não foi até bem depois que eles tinham jantado que Liam decidiu que estava escuro o bastante para tentar uma visita a Malcolm. Ele mais uma vez ofereceu sua opinião de que ninguém podia ter certeza de que Malcolm ainda era de confiança, mesmo que ele ainda estivesse vivo, mas ninguém lhe deu atenção. Relutantemente permitindo que Keira fosse à frente, eles se dirigiram à aldeia.
Liam estava tão ocupado procurando por quaisquer sinais de problemas que não prestou muita atenção ao caminho pelo qual Keira os conduzia. Não foi até que a ouviu dar um delicado e estrangulado grito que ele percebeu que estavam no alcance da vista dos muros de Ardgleann. Praguejando baixo, ele se apressou a puxá-la para seus braços. Ela se agarrou a ele, apertando o rosto contra seu tórax, e chorou.
Olhando para a propriedade, Liam praguejou novamente. Tochas iluminavam os muros e os horríveis troféus de batalha de Rauf. Os corpos pareciam até mais horripilantes do que quando ele os vira na luz do dia. Que Keira, uma mulher de coração suave e uma curandeira, tivesse que ser sujeitada a tal horrível brutalidade era razão suficiente para matar Rauf Moubray.
"Eu nunca deveria tê-los deixado.” Keira disse em uma voz rouca, instável.
"Não seja tola, amor," ele disse, pondo de lado sua compaixão pelo seu pesar e se forçando a soar firme. “Se tivesse ficado, você provavelmente seria apenas outra conta amarrada com barbante naquele colar horrível."
Keira gemeu e quase se arremessou de seus braços. "Eu vou vomitar."
Isso não surpreendeu Liam. Ele mesmo esteve muito perto disso. Ignorando suas exigências para que ele fosse embora, ele a sustentou enquanto ela vomitava. Quando ela acabou, ele a arrastou novamente para o abrigo da floresta, longe da visão de Ardgleann. Ficou aborrecido quando ela se sentou muda, tremendo um pouco enquanto ele lavava seu rosto com a água do odre que ela levava. Ele então a forçou a enxaguar sua boca com alguns goles de vinho que ele levava no seu. Ele agora estava contente que os tivesse feito levar tais coisas, embora tivessem que percorrer apenas um pequeno caminho, simplesmente porque sempre se preparava para o pior. Ainda não tinha certeza se esta ida até Malcolm era uma boa idéia, e queria estar pronto para correr por suas vidas, uma corrida que seria, por necessidade, na direção oposta do seu acampamento e parentes.
Sentando ao lado dela, ele pôs o braço ao redor de seus ombros e a puxou para si. “Eu não queria que você visse isso."
Respirando fundo para se acalmar, Keira disse, “É por isso que Ewan e meus irmãos pareciam tão carrancudos quando voltaram da vigília a Ardgleann, não é?” Ela o sentiu acenar a cabeça, sua face roçando contra seu cabelo com o movimento. “Por que alguém faria tal coisa?"
"Para apavorar aqueles que ainda vivem."
"É por isso que você pensa que Malcolm está morto? Você pensa que ele está lá em cima?"
"Eu penso que aquelas são as pessoas que tentaram defender seu lorde e seu lar."
"Nenhum deles sobreviveu?"
"Alguns. Sir Ian disse que existem algumas pessoas de Ardgleann abrigadas em suas terras. Alguns dos guerreiros, que virão com ele, e alguns daqueles que trabalharam e viveram dentro da propriedade. É assim que sabemos que todas as rotas de fuga estão hermeticamente fechadas. Quatro homens correram apenas para encontrar alguns dos homens de Rauf guardando-as. Apenas dois escaparam para tentar outra saída. Uma moça se escondeu durante quase três dias até que pôde escapar. Ela disse a sir Ian e outros como Rauf ordenou que todos eles fossem firmemente selados."
Keira olhou na direção da propriedade, sabendo que veria aquele horror para o resto de sua vida. Por um momento, ela quis se virar e ir para algum lugar, em qualquer outro lugar, e nunca retornar, mas rapidamente pôs aquele pensamento covarde de lado. Duncan falhou com ela de muitas formas, mas ela não falharia com ele. Nem falharia com as pessoas que estavam sofrendo sob o jugo daquela besta que se chamava Rauf Moubray. Ela podia ter que depender de homens para libertar Ardgleann de Rauf, mas cuidaria de restabelecer tudo o que uma vez tinha sido. Provavelmente sempre haveria fantasmas lá, mas ela aprenderia a viver com eles.
"Nós o mataremos, não é?" Ela perguntou enquanto se levantava e ajeitava sumariamente suas saias.
"Sim, amor," Liam respondeu. "Nós o mataremos."
"Bom. Agora, vamos conversar com Malcolm." Enquanto começava a andar novamente, ela ignorou as reclamações resmungadas de Liam.
"Você tem certeza que o homem ainda estará lá? Ou disposto a ajudar?"
Liam fingiu não ouvir o suspiro de Keira enquanto se esgueirava atrás dela. Sabia que estava sendo repetitivo, mas não podia banir completamente uma crescente inquietação. Uma vozinha em sua cabeça continuava lembrando-o que ela não conhecia estas pessoas há muito tempo, e que eles tinham estado sob o jugo de Rauf por meses. Ela estava apostando sua vida no que podia não ser mais que um breve conhecimento com o homem. A aldeia também lhe dava uma sensação ruim, Lucas estava certo; estava quieto demais. Mesmo que estivesse tarde, ele não pensava que devia estar tão quieto, tão silencioso e escuro. Aparte seu receio por sua vida, ele estava preocupado que se ela visse muitos mais sinais da crueldade de Rauf, ela seria esmagada por uma culpa que nada do que ele dissesse poderia remediar.
"Ele estará aqui," ela sussurrou de volta, "se ele ainda estiver vivo, e ele vai ajudar."
Keira entendia as preocupações de Liam. Ela as compartilhava. Estas pessoas sofreram por vários meses sob o jugo de um homem mais cruel do que ela imaginava. Ela não podia saber o quão amedrontados eles estavam. Ela não podia nem ter certeza de que Malcolm ainda estava vivo. O homem era um sobrevivente, mas Rauf poderia ter descoberto a verdadeira herança de Malcolm, e podia facilmente vê-lo como uma ameaça. Rauf dava um fim rápido a qualquer ameaça. Ela não precisava realmente ver tal evidência horrível para saber aquele fato. Suas afirmações para Liam eram ditas tanto para se acalmar quanto para silenciar suas preocupações muito razoáveis.
Ela se esgueirou até a pequena porta escondida habilmente por uma chaminé de pedra áspera e hera espessa. Silenciosamente rezando que não estivesse levando-os para morte, Keira bateu na porta usando a série de golpes que Malcolm lhe ensinara. Não compartilhando do otimismo de Duncan, Malcolm rapidamente a tinha chamado de lado quando ela chegou a Ardgleann e lhe mostrou esta entrada secreta. Isso a ajudou quando ela fugiu de Rauf, e ela esperava que a ajudasse agora.
Enquanto a porta se abria lentamente, Keira sentiu Liam se aproximar atrás dela. Ela não precisava olhar para saber que ele tinha sua espada preparada. Ele levava a proteção dela muito a sério. Isso devia fazê-la feliz, ela ralhou com si mesma enquanto estudava o homem escondido nas sombras que a perscrutava do umbral da porta.
"Malcolm?" Ela sussurrou, incerta se este homem um pouco tímido podia realmente ser seu amigo.
"Milady? É realmente você? Doce Maria, todos nós pensamos que você tinha morrido!" Ele começou a abrir violentamente a porta, então parou abruptamente quando viu Liam atrás dela. “Quem está com você?"
A suspeita dura na voz irritada de Malcolm a magoou um pouco, mas Keira colocou a mágoa de lado. Ela tinha deixado estas pessoas à mercê de Rauf por meses, sequer tentara avisar que tinha sobrevivido. Ele não a conhecia bem o suficiente para saber que ela nunca o trairia ou ao restante do povo de Ardgleann.
"Meu novo marido—" ela começou a responder.
"Você se casou novamente?"
"Isso foi, bem, inesperado."
Liam se adiantou ligeiramente. "A luz que sai da sua porta aberta e todos esses sussurros podem atrair uma atenção que nós não precisamos. Melhores tratarmos disso do lado de dentro."
"Claro, eu estou chocado com minha tolice," Malcolm disse. "Entre."
Conduzindo Keira diante dele, Liam olhou cuidadosamente em torno do que parecia ser uma oficina mal iluminada. Quando Malcolm acendeu outra vela, Liam percebeu que as formas que ele vira eram pedaços de madeira finamente esculpidos e metais lindamente trabalhados, alguns parecendo muito com prata. Até os cálices de madeira eram de uma qualidade que nenhum homem se envergonharia de ter em sua mesa.
Ele não disse nada enquanto o homem os levava a um aposento menor, indicando-lhes os bancos em volta de uma mesa. Liam se sentou próximo a Keira e observou Malcolm pegar três cálices e um jarro. Havia um desajeitamento estranho no modo como o homem segurava o jarro com sua mão direita. Enquanto Malcolm colocava os objetos na mesa, Liam praguejou internamente. A mão do homem estava coberta de cicatrizes, seus dedos entortados.
"Oh, Deus do céu," Keira chorou. "O que aconteceu com sua mão, Malcolm?" Ela estendeu o braço para tocar a mão nodosa que Malcolm descansava na mesa, mas ele lhe permitiu apenas um breve toque. Foi suficiente, porém, para lhe dizer que ele provavelmente estava sofrendo constantemente com a dor nos ossos mal curados.
"Rauf Moubray aconteceu," Malcolm respondeu enquanto servia a todos um pouco de cerveja inglesa.
"Ele sabe quem você é.”
"Não, eu não acho, ou eu estaria morto. Ele não fez isto por quem eu sou. Ele fez isto porque tentei impedi-lo de tomar minha esposa."
"Oh, não. Não. Não Joan."
"Sim, minha Joan. Ela está na propriedade. Eles tomaram muitas moças lá, até a pequena Meggie, a filha do tanoeiro, que tem apenas treze anos."
Keira cobriu seu rosto com as mãos. Sua covardia tinha custado ao povo de Ardgleann muito mais caro do que ela podia ter imaginado. Ela sentia Liam esfregando suavemente suas costas, mas aquele toque lhe deu pouco conforto. Forçando-se a não ceder ao desejo de chorar, ela olhou para Malcolm.
"Eu sinto tanto. Eu devia ter retornado mais cedo."
"Para quê? Para morrer? Ser estuprada por aqueles brutos? Você estava extremamente ferida da última vez que a vi. Eu suspeito que você levou tempo para se curar.” Malcolm meneou a cabeça. “Você não tem nada do que se desculpar.”
"Não? Enquanto eu estava escondida em segurança no monastério, você perdeu sua esposa e seu sustento.” Ela tocou brevemente em sua mão ferida novamente. “Eu sei o quanto você amava o seu trabalho."
"Ainda o faço."
"Você ainda pode esculpir e tudo com esta mão?"
"Oh, não, mas isso não importa. Veja, milady, eu escondo isto bem por algumas pessoas acham que isto é a marca do diabo, mas, bem, eu tenho mais facilidade com minha mão esquerda. Sempre tive.” Ele sorriu brevemente e então suspirou. “Eu deixaria o bastardo tomar a mão com a qual trabalho se isso me devolvesse minha Joan. Não me importa o que os homens tiraram dela, se entende o que eu quero dizer, salvo que isso a machucará de corpo e alma. Eu só a quero de volta. Sem ela, eu não posso ver beleza na madeira e metais, não posso destacá-la."
"Nós a traremos e as outras de volta." Liam disse, o olhar penetrante do homem dizendo-lhe que Malcolm ouviu o peso da promessa em cada palavra.
"Você tem guerreiros com você?" Malcolm perguntou.
"Alguns e mais para vir."
"Rauf e seus homens são bons."
"Nós somos melhores." Liam sorriu. "Nós também temos homens conosco que poderiam roubar a mortalha de um cadáver mesmo enquanto seus parentes estivessem o enterrando. E sem se sujar."
"Eu não tenho certeza se isto é algo do que se orgulhar tanto." Keira murmurou.
"Talvez não,” Liam concordou, “mas é útil.”
"E depois você será nosso lorde?"
"Keira me disse que você é o herdeiro verdadeiro embora seja bastardo."
"Eu não quero ser o lorde. Nunca quis. Disse a mesma coisa ao pai de milady quando ele perguntou. Eu só quero viver com minha Joan e descobrir a beleza na madeira e nos metais. Não, se você nos libertar de Rauf Moubray, será mais que bem-vindo como nosso lorde. Duncan sabia que eu não queria essa responsabilidade. É uma razão pela qual ele procurou uma esposa. Sim, e nós estávamos todos dispostos a aceitá-la como nosso lorde se qualquer coisa acontecesse a Duncan."
"Mas um homem como lorde seria muito melhor, claro.” Keira murmurou, e então quase sorriu quando os dois homens a olharam cautelosamente.
"Bem, sim, nem que seja apenas para impedir que outros tentem reivindicar Ardgleann.” Disse Malcolm. “Apenas quem é você?” ele perguntou a Liam.
"Oh, doce céu, eu não os apresentei, não é?” Keira meneou a cabeça. “Malcolm, este é sir Liam Cameron de Dubheidland, meu marido, como eu disse. Liam, este é Malcolm MacKaill, meio-irmão de Duncan, entretanto é evidente que ele ainda deseja manter segredo da maioria das pessoas." Enquanto os dois homens se cumprimentavam com acenos de cabeça, ela continuou, “Ele também é parente dos MacFingals de Scarglas.” Ela sorriu brevemente do olhar confuso de Malcolm. “Eles são Camerons, também, mas o velho lorde teve uma briga com seus parentes e adotou um novo nome. Isso ainda está sendo discutido."
"Uma história que eu vou querer ouvir quando este problema terminar. Quem são os ladrões?”
"Os MacFingals," Liam respondeu. "Eles são bons guerreiros também, talvez até melhores que os Camerons, embora eu me arrisque muito em dizer isso. A maioria deles passou a vida quase toda cercados por homens ávidos por matá-los."
"E mesmo assim ainda vivem."
"Exatamente."
"Quantos guerreiros você tem?"
"Quarenta, mais ou menos. Camerons, MacFingals, MacEnroys e alguns de seus aliados, e alguns Murrays."
"E Kester e sir Archie," disse Keira. "Você esqueceu deles."
Liam trocou um rápido olhar com Malcolm, e o homem quase sorriu, mostrando que entendia que havia uma boa razão para Liam não tê-los incluído em sua lista de guerreiros. “Não tema, moça. Eu ainda não pensei numa maneira de usá-los, uma que não vá ferir seu orgulho e ainda lhes dê uma boa chance de sobreviver à batalha."
Keira fez careta. Kester e Archie tinham coragem e honra, mas Liam estava certo em excluí-los de sua lista de bons lutadores. Kester estava mostrando alguma melhora e revelando algumas habilidades que podiam torná-lo um recurso valioso no futuro, mas ele ainda era um menino imberbe que passava muito tempo esparramado no chão. E o pobre sir Archie, ela pensou com um suspiro. Ele tinha habilidade e experiência, mas a menos que ela pudesse encontrar uma maneira de ajudá-lo a ver o mundo como mais que uma sombra, ele seria uma ameaça tão grande para seus aliados quanto para seus inimigos.
"O que você quer de mim?" Malcolm perguntou.
"Informações," Liam respondeu, e imediatamente começou a interrogar Malcolm sobre as defesas de Ardgleann e a força das tropas de Rauf.
Enquanto ouvia os homens, Keira sentiu seu medo reviver, e lutou para enterrá-lo novamente. Nas semanas desde que se apoderar de Ardgleann, Rauf Moubray tinha fortalecido suas defesas. O homem obviamente tinha um olho afiado para qualquer fraqueza que podia ser usada por um inimigo. Não a surpreendeu que a primeira coisa que Rauf fizera fora interditar todas as entradas secretas para a propriedade. A única maneira de entrar em Ardgleann ainda parecia ser escalando os altos muros ou direto pelos portões. Tais batalhas custariam muitos homens aos atacantes, feridos e mortos. Keira queria pôr um fim a tudo isso, mas sabia que era impossível.
Sua sensação de culpa era como uma coisa viva se retorcendo dentro dela. Se tivesse vindo mais cedo, Rauf não teria se estabelecido tão firmemente dentro dos muros de Ardgleann, o pobre Malcolm não seria mutilado, e as mulheres de Ardgleann não estariam sofrendo tão dolorosamente. Não importava quantas razões tinha se dado, fora principalmente o medo que a manteve no monastério
Em uma tentativa de afastar o gosto amargo do fracasso e os pensamentos sobre sua própria covardia, ela estudou a mão de Malcolm e então a agarrou. Ele sobressaltou-se ligeiramente, mas Liam prendeu sua atenção. Keira sabia que Duncan contara a Malcolm sobre seus dons, mas suspeitava que Malcolm nutria dúvidas, talvez até um pouco de medo. No momento, porém, o homem parecia disposto a permitir que ela fizesse qualquer coisa que desejasse, e Keira rapidamente tirou vantagem disto.
Apenas quando largou a mão de Malcolm e abriu seus olhos que Keira percebeu que os homens tinham parado de conversar. Malcolm estava olhando fixamente para ela com os olhos arregalados de surpresa, mas ela não viu nenhum sinal de medo ou horror. Liam, porém, tinha sua mão no antebraço do homem, mantendo-o firmemente no lugar. Ela tinha estado tão perdida na dor de Malcolm e em sua luta para discernir a extensão de seus danos, que sequer notara que em certo ponto, ele obviamente fizera uma tentativa de libertar sua mão.
"Você tem algum pão, mel e sidra?” Liam perguntou a Malcolm quando viu Keira oscilar ligeiramente e agarrar a beirada da mesa para se firmar.
"Sim.” Malcolm começou a se levantar, mas Liam já estava de pé, e o manteve em sua cadeira com uma mão em seu ombro.
"Não. É melhor que você fique sentado. Diga-me onde está."
Liam rapidamente serviu pão, mel e sidra para Keira, calmamente persuadindo Malcolm a comer um pouco também. Ele ignorou o homem enquanto incitava Keira a se concentrar, sussurrando enquanto a ajudava a visualizar a água fresca que lavava a dor que agora repousava em sua mão. Então ele se sentou e, ignorando seus protestos fracos, colocou-a no colo e abraçou-a. Sorriu ligeiramente quando em menos de um minuto ela afundou contra ele, dormindo profundamente.
"Duncan tinha razão.” Malcolm disse em uma voz baixa enquanto olhava fixamente para sua mão. “Ela tem o toque. Duncan estava tão contente por isto."
"Sim." Liam distraidamente beijou o topo da cabeça de Keira. “Ela não costuma usá-lo muitas vezes tão completamente. Isso exige muito dela, como você pode ver.” Ele olhou para a mão de Malcolm. “Você deve ficar livre da maior parte da dor por um dia ou mais. Isso não é uma cura, entende."
"Eu sei disto, mas um descanso da dor, não importa o quão breve, é dádiva suficiente."
"Quando ela despertar, aqui ou mais tarde no acampamento, ela provavelmente lhe dirá se existe qualquer esperança de consertar isto, mesmo que apenas em parte."
"Ela estava verificando o dano sob a pele, não estava?"
"Sim, de um modo que eu duvido chegar a entender um dia. Por que Duncan estava tão contente com seu dom?” Liam perguntou-se se este homem conhecia toda a feia história do casamento fracassado de Keira.
"Ele esperava que ela pudesse curá-lo"
"Ele estava doente? Ela não fala muito sobre isso."
Vendo que ele e Keira terminaram a sidra, Malcolm serviu um pouco mais de cerveja para si mesmo e para Liam. “O principal interesse de Duncan no casamento com a moça era conseguir uma aliança forte com seu clã, pois sabia que ela poderia chamá-los para seu lado se fosse necessário. Quando ela contou a ele sobre seus dons, ele ficou ainda mas ávido para torná-la sua esposa porque esperava que, algum dia, ela pudesse curá-lo.” Malcolm fez uma careta e tomou um grande gole de cerveja antes de continuar. “Ele tinha um problema em suas partes."
Liam olhou fixamente para o homem por um momento. "Você conhece toda a verdade, não é?"
"Que o casamento nunca foi consumado? Sim, mas o problema não era com seu corpo. Estava em sua mente, eu penso. Talvez em seu coração."
"Ele não era impotente. Ela me contou como ele se comportava toda vez que tentava se deitar com ela. Ele estava louco?"
"Sim e não. Ele tinha desejos, sentia uma profunda luxúria pela moça, mas não conseguia lidar com isto. Eu culpo seus pais. Sim, principalmente sua mãe, mas seu pai era quase tão ruim. Eu não vou aborrecê-lo com tudo o que eles fizerem com o rapaz, as várias maneiras que utilizaram para criar as dificuldades que ele sofria, mas eles tiveram sucesso em torná-lo incapaz de se deitar com uma moça. Eles e aquele padre vil que mantiveram em Ardgleann por muitos anos. A luxúria era pecado, sujeira, uma estrada certa para as covas flamejantes do inferno, e tantas outras coisas tristes, inclusive surras e outros castigos brutais. O pobre rapaz não podia sentir um bom, saudável desejo sem ser atormentado, até mesmo sentir náuseas. Se o casamento durasse mais tempo, poderia ter funcionado. Afinal, casamento e procriação de filhos não é nenhum pecado, não é? Mas o destino decidiu que não era para ser assim."
"Contundo seu pai deve ter sentido tais desejos, e os concretizado, ou Duncan não teria nascido e você não estaria aqui."
"Verdade, mas o homem também chicoteava a si mesmo até sangrar por tal pecado, e fazia isso muito frequentemente. Sua esposa frequentemente usava minha presença como prova da repugnante imundície dos homens e seus impulsos bestiais."
"Não precisa dizer mais nada. Eu encontrei muito disso. Estudei para ser monge durante algum tempo e conheci alguns homens dessa laia.” Liam sentiu seu resquício de ciúme de Duncan se afogar numa torrente de compaixão. “A infância do homem deve ter sido um tormento constante."
"Infelizmente, sim, foi. Tenho certeza que ele não me disse nem metade das coisas que eles faziam com ele toda vez que suspeitavam que ele estivesse até mesmo tendo um pensamento luxurioso."
"Ele nunca contou a Keira. Ela pensa que ele a achava indesejável, que era sua culpa que ele não conseguisse se deitar com ela. Eu não creio que realmente tive sucesso em convencê-la do contrário."
Malcolm meneou a cabeça. “Pobre moça. Eu disse a Duncan que ele devia ser completamente honesto com ela, mas ele demorava a reunir coragem. E então, sua chance tinha passado."
"Quantos conhecem esta verdade?"
"Apenas alguns, e eles nunca falariam sobre isso. Ela é uma boa moça, e aqueles que conhecem a verdade estão mais que dispostos a aceitá-la, assim como seu clã, como líder. Você pode precisar se provar. Embora se você puder nos libertar daquele demônio sujo que agora detém a propriedade, indubitavelmente ganhará a lealdade de todos."
Liam lentamente meneou a cabeça. “Talvez, mas será preciso muito mais que derrotar aquele porco para que Ardgleann volte a ser o que era. Os sinais da brutalidade e cobiça do homem estão em todos os lugares. Estou surpreso que ele tenha deixado algumas de suas peças tão finas."
Malcolm relanceou o olhar em direção ao aposento onde seu trabalho estava exposto, então olhou para Liam. “Ele levou alguns, mas que importância tem isto? Ele me roubou meu maior tesouro, meu coração e minha alma quando tomou minha bela Joan.” Ele terminou baixinho em uma voz estrangulada. “Eu não posso dormir por pensar no que minha pequena moça pode estar sofrendo, e me sinto amaldiçoado por não poder fazer nada para ajudá-la. Olho fixamente para aqueles muros e penso como anseio por matar esse bastardo. Muitas vezes, eu comecei a me dirigir para lá, determinado a confrontar Rauf, apenas para ser detido por minha própria covardia."
"Seu próprio bom senso.” Disse Liam categoricamente, e então suavizou o tom. “Você realmente pensa que ajudaria sua esposa se ela tivesse que assistir você se sacrificar diante de seus olhos? Quanto mais ela sofreria se seu inferno incluísse ver seu cadáver apodrecer nas correntes penduradas das ameias como aquelas outras pobres almas?"
Empalidecendo ligeiramente, Malcolm estremeceu e sussurrou, "Não estavam todos mortos quando ele os pendurou lá."
Liam praguejou baixo e profusamente. "Ele precisa morrer." Ele sorriu, e se o olhar ligeiramente inquieto de Malcolm fosse uma indicação, conseguiu conter toda a fúria e abominação que agora guardava para Rauf moubray. “Eu devo me certificar de contar aos meus primos e aos irmãos de Keira sobre isto."
"Isso importará a eles?"
"Oh, sim. Vai enfurecê-los. Eles têm todos os motivos que precisam para querer aquele bastardo fora da propriedade. Ele roubou de um dos seus e a deixou viúva. Mas isto endurecerá sua calma resolução em uma fria, intensa. Ver os corpos pendurados nos muros começou isto. Esta história vai terminar de fazer isso."
Malcolm olhou fixamente para suas mãos. "Eu não sou nenhum guerreiro de verdade, mas posso usar uma espada, milorde."
Uma sensação de prazer percorreu Liam pela forma como Malcolm o chamou. A batalha ainda não tinha sido vencida, mas este homem estava claramente declarando que já o aceitava como lorde de Ardgleann. Muitas pessoas fechariam a cara por sua súbita ascensão de poder e prestígio, mas apenas a opinião do povo de Ardgleann realmente importava. Este primeiro passo em direção a sua aceitação era inebriante.
"Então você é bem-vindo a se juntar a nós. Tudo que precisamos agora é um plano.” Ele adicionou alegremente enquanto beijava distraidamente o topo da cabeça de Keira.
"Você ama a moça, não é?” Malcolm disse e sorriu ligeiramente quando Liam corou um pouco.
"Eu acredito que poderia amar," Liam respondeu e fez uma careta. "Ela não escolheu realmente este casamento." Ele contou a Malcolm uma versão muito sucinta de tudo que aconteceu para trazê-los até este ponto. “É um trabalho demorado convencê-la de que serei um marido fiel e de que toda esta riqueza que eu ganhei não é a razão pela qual a quis."
"Sim, será um trabalho duro, eu acho. Os antigos problemas com o pobre Duncan a feriram de várias maneiras, eu suspeito, já que ele nunca lhe contou a verdadeira razão deles."
Liam acenou com a cabeça e então direcionou a conversa para a batalha que enfrentariam. Estava claro que Malcolm tinha o tipo de conhecimento que podia se provar vital nos dias adiante. Quando o homem deixou claro que estava mais que disposto a deixar sua casa e se juntar a eles, Liam não desperdiçou mais tempo. Dentro de momentos, ele estava levando o homem para longe da aldeia, o fato de ter que carregar uma Keira ainda adormecida não diminuindo em nada a velocidade do seu passo.
Keira piscou, olhou em volta, e então franziu o cenho. Quando e como ela tinha voltado para o acampamento? Ela se sentou lentamente enquanto Liam a abordava e segurava uma caneca que ela reconheceu como sendo de Malcolm. Sorrindo em agradecimento, ela bebeu de um só gole a sidra fresca enquanto ele se sentava ao lado dela.
"Aquele é Malcolm conversando com Sigimor?” ela perguntou.
"Sim." Liam colocou o braço ao redor de seus ombros e a puxou para si. “Ele pediu para se juntar a nós, e seu conhecimento do que existe dentro do lugar, e às vezes onde, é valioso. Infelizmente ele não pode ter certeza de qual saída poderia ser a que Rauf escolheria para si próprio."
"A batalha começará logo?"
"Assim que os outros cheguem, ou logo depois disso."
"Não há volta agora, há?"
Ele beijou sua bochecha. "Não, moça. Depois de tudo que viu aqui, você realmente iria querer que nós fôssemos embora?"
Keira lentamente meneou sua cabeça. “É só que eu queria que apenas Rauf moubray e seus cães fossem feridos, e uma justiça tão pura não é realmente possível na batalha por vir."
"Provavelmente não. Contudo, se um homem deve morrer, é melhor se ele o fizer em uma luta para libertar o mundo de tal imundície. Sim, e os homens das terras vizinhas estão se juntando a nós porque sabem que um homem assim logo sangrará suas terras roubadas e contará com as deles para mais lucro. Como Sigimor diz, este homem é um furúnculo que deve ser lancetado."
"Eu devia ter prestado atenção quando minha família expressou preocupação com o casamento.” Ela murmurou.
Liam pegou seu rosto nas mãos e a forçou a olhar para ele. “Você deve se livrar desta culpa que a corrói, moça. Nada disto é sua culpa. Duncan estava tentando conseguir uma esposa. Rauf queria Ardgleann há muito tempo. Essas verdades duras estavam lá antes mesmo que você conhecesse Duncan. Se não fosse você, ele teria se casado com outra moça. Pelo menos você teve a esperteza e força para sobreviver e retornar com um exército."
"Muito tarde. Eu—"
Ele interrompeu suas palavras com um breve e duro beijo. “Quando você estava curada de seus próprios ferimentos e teve certeza que Rauf não estava caçando-a, já era muito tarde para deter o pior de sua crueldade. Desista da culpa, Keira. Você é a única que pensa que merece isto."
"Talvez.” Ela descansou a cabeça contra seu tórax. “Você tem algum plano? Algo melhor que um assalto direto aos muros?"
"Logo. Está se formando. E eu prometo, esposa, será um plano realmente muito astuto."
"Esse é o seu plano brilhante?"
Keira olhava fixamente para Liam, Sigimor, Kester, Malcolm, e sir Archie em absoluta descrença. Ela suspeitava que estava parecendo tão intimidadora e zangada quanto se sentia, pois todos os cinco homens pareciam cautelosos, embora Sigimor também parecesse divertido. O plano de enviar Kester e sir Archie até a propriedade para encontrar um caminho para o restante deles entrar era loucura absoluta, embora nenhum destes homens parecesse concordar. Como eles podiam pensar que um menino desajeitado e um homem que via o mundo através de uma névoa espessa podiam realizar qualquer coisa além de conseguirem se matar, ela não sabia. Infelizmente, ela não podia dizer isto em voz alta. Kester e sir Archie tinham seu orgulho. Pior, eles pareciam ávidos para empreender uma tarefa tão perigosa, ser uma parte tão importante desta batalha.
"Liam, posso falar com você em particular?" Ela não estava certa por que seu pedido frio, zangado, devia fazer Sigimor sorrir tanto, mas já tinha decidido que ele era um pouco estranho.
Por um momento, Liam hesitou. Não havia realmente nada para discutir. O plano estava estabelecido, e todos concordaram que era sua melhor chance de evitar uma carnificina. Então ele viu o medo em seus olhos. Se por nada mais, ele precisava acalmar suas preocupações por seus dois amigos, e isso exigiria alguma privacidade. Poderiam precisar dizer coisas que podiam magoar Kester e sir Archie ou ferir seu orgulho.
"Sim, moça," ele disse enquanto a pegava pelo braço, “mas nós não podemos discutir isso por muito tempo."
"Eu disse que queria falar com você, não discutir.” Ela protestou enquanto ele a levava em direção a grande árvore na extremidade mais distante do acampamento.
"Eu suspeito que estaremos fazendo um pouco de ambos."
No momento em que eles se detiveram e se encararam, ela explodiu. “Vocês estão loucos? Como podem sequer pensar em enviar aqueles dois até aquele lugar, direto para as garras sangrentas de Rauf? É como enviar cordeiros para o sacrifício. Você mesmo disse que Kester não pode caminhar uma jarda sem tropeçar, e sir Archie tem sido conhecido por atacar um arbusto, achando que era um javali selvagem."
"Exatamente."
Ela franziu o cenho. "O que você quer dizer?"
"Eles não serão vistos como uma ameaça."
"O que não significa que estarão seguros. Apenas significa que Rauf não ficaria preocupado em matá-los."
Liam a pegou nos braços e descansou o queixo no topo de sua cabeça. “Sim, existe perigo enfrentando-os. Eu não posso mentir para você e dizer que não.”
“Entretanto, Rauf mata apenas os fortes, apenas aqueles que são uma ameaça para ele. Ou aqueles que o enraivecem. Nenhum homem pode sequer ver Kester e sir Archie como uma ameaça, exceto que eles poderiam cair sobre ele."
"Como você pode estar certo disto?"
"Eu não posso, não completamente, mas estou certo o suficiente para arriscar duas vidas. Kester e sir Archie parecem tolos inocentes, a menos que você converse com eles por algum tempo, para entender quem eles são. Juntos, eles formam um guerreiro muito inteligente. Kester é os olhos de sir Archie, e sir Archie é a força de Kester. Eles entrarão lá alegando que seu primo mandou que eles falassem com você, e Rauf ao menos hesitará antes de matá-los. Ele vai querer planejar a melhor maneira de impedir seu clã de vir aqui, pelo menos até que ele possa fortalecer suas defesas ainda mais."
Keira deu um passo atrás para franzir o cenho para ele. “Mas como eles podem ajudá-los a atravessar os muros? Rauf vigia a todos, e os homens dele devem ser tão malignos e cautelosos quanto ele."
"Duas coisas darão a Kester e sir Archie uma chance. Eles parecerão impotentes para Rauf, nenhuma ameaça mesmo, então ele provavelmente não se aborrecerá em confiná-los. E Kester pode imitar Rauf."
"Bem, sim, mas ele não pode se fazer passar por ele."
"Sir Archie pode. Não haverá nenhuma lua hoje à noite. Até mesmo Malcolm diz que nas sombras, ele poderia passar pelo homem." Liam a beijou ligeiramente quando ela continuou com a carranca. “Kester e sir Archie praticaram de forma que, quando Kester falar, Archie mova sua boca. Eu os aconselhei a não tentar nada se acharem que os riscos são muito grandes, para apenas observar e registrar o número de homens, quantas armas têm, e onde pode haver um ponto fraco."
"E eles desejam muito fazer isto.” ela murmurou.
"Muito. Se isto não funcionar, nossa única escolha é um assalto direto àqueles muros."
"Que pode custar muito mais que apenas duas vidas."
"Sim. Todo mundo está disposto, mas invadir o ninho desta víbora na escuridão da noite seria muito melhor." Ele acariciou seu rosto com os nós dos dedos. “E não, não existe volta. Você precisa deixar de oscilar em seu compromisso, doce Keira. Nós juntamos o exército necessário. Agora, devemos agir."
Ela meneou a cabeça e então olhou para os homens acampados no meio das árvores. Havia alguns de seus parentes e aliados e alguns de Liam. Pouco a pouco, mais homens se juntaram a eles durante o curto tempo que estavam acampados lá. Na noite anterior, no curto espaço de tempo que ela e Liam estiveram com Malcolm, seu exército visivelmente aumentara. Surpreendia-se de que Rauf ainda parecesse não ter consciência do exército reunido nos limites de suas terras. Eles estavam acampados apenas há uma pequena marcha das terras de MacLean, e isso não devia tê-los tornado invisíveis.
"Como eles podem não saber que estamos aqui?” ela murmurou. “O homem não faz nada além de se esconder atrás daqueles muros?"
"Essa parece ser sua estratégia. Existem batedores, mas eles são facilmente evitados.” Liam sorriu de leve. “Ou eram expulsos pelos homens que sir Ian fixou desde o princípio em sua fronteira com Ardgleann. Se Rauf suspeitar de qualquer problema, esperará que venha desse homem. Desde que o clã de sir Ian é pequeno e não é conhecido por ser ávido por uma luta, eu duvido que Rauf esteja preocupado com eles." Ele pôs o braço ao redor de seus ombros novamente e começara a voltar para junto dos outros.
Uma vez junto com os outros homens, Keira escutou atentamente o plano inteiro. Kester e Archie entrariam como emissários do monastério, enviados por irmão irmão Matthew para procurar por ela. Eles alegariam que ninguém a viu por meses, mas que eles ouviram que seu marido morrera e ela tinha voltado para seus parentes. Faria Rauf acreditar que ela estava morta e que a história de seus crimes ainda não tinha se espalhado. Desde que Kester e sir Archie abordariam Ardgleann logo antes dos portões serem fechados ao pôr-do-sol, presumia-se que seriam convidados para permanecer em Ardgleann até a manhã. Se não pudessem encontrar uma maneira de deixar os outros se esgueirarem para dentro sob a cobertura de uma noite sem luar, eles sairiam de manhã depois que reunissem todas as informações que pudessem.
Isso tudo soava muito inteligente e bem refletido, mas Keira não podia evitar temer por Kester e sir Archie. Não se podia contar que um homem como Rauf fizesse o que era esperado dele. Ela não disse nada, porém. O orgulho intenso que Kester e Senhor Archie sentiam por terem sido escolhidos para esta pequena incursão era quase doloroso de se ver. Expressar suas dúvidas os magoaria.
O céu mal se tingira com as cores do pôr-do-sol quando sir Archie e Kester partiram. Sir Archie montava um cavalo de carga velho, e Kester trotava ao lado dele em um robusto pônei montanhês. Eles certamente não pareciam ameaçadores. Ela ficou um pouco surpresa quando Sigimor se adiantou até ela e deu tapinhas em sua cabeça.
"Eles voltarão, moça.” Sigimor disse. “Sãos e salvos, e com o orgulho inflado por um trabalho bem feito."
"Você parece muito certo disso." ela disse.
"Eu estou. Eles têm a inteligência, a coragem e a necessidade."
"A necessidade?"
"Sim, a necessidade de ser uma parte de Ardgleann uma vez que você e Liam a reivindiquem. Sim, e uma grande necessidade de ser visto como merecedores e úteis."
Keira observou o homem se afastar a passos largos, parando apenas uma vez para derrubar um sorridente MacFingal. “Este é um homem muito estranho.” Ela murmurou enquanto Liam a pegava pela mão e a levava em direção a sua parte do acampamento sempre crescente.
Liam riu baixinho e meneou a cabeça. Enquanto se agachava ao lado da pequena fogueira de acampamento para mexer a panela de guisado que ela tinha começado mais cedo, ele tentava explicar Sigimor. Quando terminou sua série de histórias, ele perguntou-se o que o cenho franzido dela queria dizer. Sentando ao seu lado, ele beijou seu rosto e depois sua mão.
"Ele casou-se com uma inglesa?" Keira disse e suspirou com uma exasperação falsa quando Liam riu. "Eu penso que eu posso ter sido informada sobre isto, mas ou eu não prestei atenção ou escapou da minha mente."
"Ela é uma pequenina e bela moça que o enfrenta. Jolene não tolera qualquer tolice, entretanto ele ainda pode incitá-la a uma raiva feroz às vezes. Eu venho de um lugar áspero, cheio de homens ásperos, mas para mim não existe nenhum melhor."
"Ásperos mas próximos. Ele é um bom homem apesar de seus modos estranhos. Não pensei que fosse tão sábio. Sim, e pensando em tudo o que você me contou, ele realmente é como um pai para seu clã.” Ela sorriu levemente. “E ele está certo no que disse sobre Kester e sir Archie, maldito seja. Eles precisam fazer isto. Eles precisam conquistar um lugar aqui, não pode apenas ser dado a eles."
"Sigimor frequentemente está certo. É uma das coisas mais irritantes sobre ele." ele sorriu quando ela riu, contente de ver que seus medos diminuíam por enquanto.
"Em todo seu planejamento, você decidiu o que eu vou fazer?"
"Ficar aqui."
"Mas—"
"Você ficará aqui, moça. Se eu puder, enviarei Kester e sir Archie de volta para ser seus guardas, ou alguém ficará para trás para fazer isto, mas aqui é onde você ficará até que eu possa vir e pegar você.” Ele a pegou pelo queixo e lhe deu um beijo rápido, forte. "E se alguém fugir por este caminho, você se esconderá. O homem tentará estuprar e matar você. Não dê a ele uma chance de ter sucesso."
Keira abriu a boca para discutir com ele e então a fechou. Realmente não havia nada que ela pudesse fazer para ajudar enquanto a batalha estivesse acontecendo. Na verdade, ela podia facilmente colocá-los em perigo, pois eles se sentiriam compelidos a protegê-la. Cuidar dela em vez de se preocupar com o inimigo podia fazer com que fossem mortos. Sua hora viria quando a batalha terminasse e houvesse feridos para atender. Seria duro sentar e esperar, porém, perguntando-se o tempo todo como estavam aqueles que lhe eram queridos.
Depois de compartilhar sua refeição com Sigimor, Ewan, Malcolm e seus irmãos, Keira rastejou para o pequeno abrigo que Liam e os outros construíram para eles. Tinha se provado um bom abrigo contra o vento e a névoa fria que envolvia a área durante a noite. Ela queria ficar com os homens enquanto eles conversavam, mas se tornou dolorosamente claro que sua presença restringia o que eles diziam. Já que eles estavam lutando por ela de muitas formas, ela silenciosamente deixou-os para fazer seus planos.
Enrolando-se em baixo dos cobertores, ela esperou que Liam não pensasse que ela era sempre tão submissa e receptiva. Ela também esperava que ele não demorasse muito tempo com os outros homens. Apesar das incertezas que ainda a incomodavam com relação a seu casamento, ela estava certa de uma coisa. Ela não gostava de dormir sem ele ao seu lado.
"Bem, eu nunca pensei ver esse dia,” disse Artan, olhando para Liam com ligeiro espanto, “mas parece que você domesticou nosso Melro.”
"Não acredite nisto.” Disse Liam. “Ela não queria ir, mas no momento está muita intimidada por um fardo de culpa e uma sensação pesada de dívida pelo que todos estes homens vão fazer."
"Ela não tem porque se sentir culpada, e eu não acho que alguém aqui espera que ela se sinta em dívida com eles."
"Verdade, mas levará tempo antes que ela acredite nisto."
"Se alguém devia se sentir em dívida, é você.” Lucas murmurou, habilmente mergulhando quando Sigimor tentou golpeá-lo. “É verdade."
"Sim, é," Liam concordou. "Eu subi muito. Sei disto. Também sei que fui quem mais ganhou com este casamento."
"Se você a fizer feliz, ninguém se importará."
Liam suspirou internamente. Obviamente levaria tempo para os irmãos de Keira aceitarem-no completamente, embora tivessem forçado o casamento. Os outros Murrays no acampamento pareciam contentes em aceitá-lo como marido de Keira, embora deixassem claro que seria melhor que ele fosse um bom marido. Se ele se comportasse mal, seria melhor começar a corre, Liam pensou. Um olhar rápido para um sorridente Sigimor lhe disse que seu primo estava pensando quase o mesmo. Liam também sabia que se ele enganasse ou machucasse Keira, os Murrays teriam que se apressar para pegá-lo antes que Sigimor o fizesse.
"Eu pretendo ser um bom marido," Liam disse firmemente. "Eu já lhes dei minha palavra, creio. Agora, nós devemos discutir o que nos espera adiante mais uma vez?"
"Não é difícil fazer planos quando você não tem certeza do que sir Archie e Kester poderiam fazer?” Malcolm perguntou.
"Um pouco," Sigimor concordou, “entretanto é sempre melhor ter mais de um plano."
"Você não pensa que nós precisaremos de mais de um, pensa?” Liam perguntou, reconhecendo o quão tranquilo seu primo estava e o que aquilo queria dizer.
"Não. Eu tenho certeza que eles terão sucesso, se não em conseguir nos colocar para dentro hoje à noite, então em nos trazer informações vitais.” Ele olhou para os irmãos de Keira, cuja dúvida estava clara em seus rostos bonitos. “Como eu disse à sua irmã, eles têm a inteligência, a coragem e a necessidade. Estão ávidos para conquistar por si mesmos um lugar em Ardgleann."
"Mas Keira já deu a eles um lugar aqui," disse Artan.
"Sim, lhes deu um. Tem um gosto parecido demais com caridade, e haverá aqueles que vêem isto desse modo. Ah, mas agora, apesar de suas óbvias fraquezas, eles marcharam direto para o covil do leão, e serão eles quem romperão aquelas defesas."
"Diabólico. Você é um homem muito diabólico."
"Obrigado. Eu faço o meu melhor." Sigimor então começou a listar detalhadamente seus planos para a batalha adiante.
Quando Sigimor terminou e aquela pequena discussão começou a minguar, Liam levantou-se. Os irmãos de Keira imediatamente fixaram nele um olhar penetrante. Ele suspeitava que um pouco de seu prolongado desconforto com ele era devido ao fato que ele se deitava com seu pequeno Melro.
"Onde você está indo?" Artan perguntou.
"Eu estou indo para minha cama onde, quem sabe, serei um bom marido.” Liam falou arrastado e quase sorriu do seu grunhido mal-humorado.
Sigimor riu e levantou-se. "Todo mundo devia tentar dormir um pouco. Nós podemos precisar nos mover rápido e lutar duramente logo."
Assim que todo mundo partiu, Liam apagou o fogo. Com tantos homens ao redor, não precisava ser mantido aceso para manter quaisquer animais a distancia. Do lado de fora da entrada do abrigo grosseiro que ele e Keira compartilhavam, ele se desnudou até ficar apenas de ceroulas, lavou-se rapidamente com a água que Keira mantinha em um balde perto da entrada, e então rastejou para dentro. Estava tão escuro que ele teve que tatear em volta até encontrar um caminho para deslizar para baixo dos cobertores, e então ele removeu as ceroulas. Virando de lado, uma nesga de luz revelou que ele estava atrás de Keira. Deslizou um braço ao redor dela e a puxou para si. O modo como ela murmurou seu nome e se aproximou mais dele, ajustando sua forma flexível contra seu corpo, deixou-o pronto e ávido numa batida de coração.
Ele sempre tinha sido um homem de apetites saudáveis, mas Keira tornava voraz com apenas um sorriso. Uma vez que esta batalha estivesse terminada, ele faria o seu melhor para fazê-la enxergar isto, fazê-la entender que ele não precisava nem queria outra mulher. Pensando sobre a batalha adiante, ele ficou ainda mais faminto por ela. Embora não sentisse nenhuma premonição de morte iminente, sabia que logo a estaria enfrentando. Aquilo o deixava quase desesperado para fazer amor com ela, tentar novamente engravidá-la. Beijando seu pescoço, ele deslizou a mão embaixo de sua camisola.
Keira despertou com a sensação de uma mão levemente calosa em seus seios, dedos longos e hábeis delicadamente provocando seus mamilos doloridos. Ela podia sentir o corpo excitado de Liam pressionado contra suas costas. Por um momento, ela saboreou o calor que ele provocava dentro dela, entretanto recordou onde eles estavam.
"Liam," ela disse, colocando sua mão sobre a dele, “nós podemos estar escondidos de vista, mas qualquer som que nós fizermos será ouvido por todos os homens lá fora."
"Então é melhor você ser muito silenciosa.” Ele sussurrou enquanto deslizava sua camisola até a cintura.
Keira ofegou quando ele acariciou a parte interna de sua coxa, o tempo todo beijando seu pescoço. Quando ele deslizou a mão entre suas pernas ela ficou tensa, mas as carícias habilidosas de seus dedos sobre sua carne cálida baniram seu embaraço prolongado sobre tal intimidade. Quando ela deixava seu lado devasso aparecer, muito de seu desconforto desaparecia. Ela cobriu rapidamente a boca com a mão quando começou a fazer aqueles suaves sons que era incapaz de conter.
"Liam," ela finalmente sussurrou, agitada com o desejo de senti-lo dentro dela, “eu devo me virar agora. Eu preciso—"
"Acalme-se, minha moça, eu posso dar o que você deseja.” Ele gentilmente colocou a perna dela sobre a sua e lentamente a penetrou, deleitando-se com o estremecimento que a percorreu enquanto ele mergulhava tão profundamente quanto podia.
Suas lentas estocadas deixaram Keira fora de si. Ela tateou ao redor e arrastou levemente as unhas sobre a parte detrás de sua coxa, algo que ela rapidamente descobriu que deixava Liam fora de si. Seus movimentos se tornaram gratificantemente mais ferozes. Então ele deslizou a mão abaixo de seus seios e com apenas um toque a fez cair em êxtase. Ela conservou juízo suficiente apenas para apertar ambas as mãos contra sua boca. Uma pequena parte dela estava ciente de Liam apertando o rosto contra seu ombro para amortecer seus gemidos enquanto ele lançava suas sementes profundamente em seu útero.
Vários minutos se passaram antes de Keira se recuperar o suficiente para perceber que Liam apertava suas pernas juntas, mantendo-se preso com ela. “Hum, Liam?”
"Deixe eu me demorar um pouquinho, doce esposa. É um bom lugar para se estar."
"Oh. Eu não sabia que havia três maneiras de fazer isto.” Ela disse, e ficou contente pela escuridão quando se sentiu ruborizar. Ficou muito mais contente por isso quando o sentiu sorriu contra seu ombro. “Existem mais?"
"Sim, e depois que eu descansar, eu lhe mostrarei outra."
"Você não deveria estar descansando para o caso de ser necessário mais tarde?"
"É isso que eu estou fazendo." Ele mordiscou sua orelha quando ela deu uma risadinha. "Eu não posso pensar em nenhuma maneira melhor de passar o tempo antes de uma batalha do que aconchegado firmemente em seus braços."
Keira queria acreditar em suas palavras doces. De fato, querer tanto acreditar nele a tornava muito ciente de sua fraqueza pelo homem, e a ajudava a manter um firme controle sobre sua cautela. Se ele desejava gastar as horas antes de uma batalha em seus braços, fazendo amor até que nenhum deles pudesse se mover, entretanto, ela estava disposta a participar completamente daquele plano. Apenas pensar no que podia acontecer com ele na luta que se aproximava a gelava até os ossos, e ela afastou aqueles pensamentos sombrios. Então ela pensou no que, agora mesmo, podia estar acontecendo a sir Archie e Kester.
"Eles voltarão em segurança para nós, não voltarão, Liam?" Ela perguntou de repente.
Desde que ele estava concentrando na curva adorável de seu pescoço e tentando decidir onde beija-lo, Liam levou um momento para entender o significado de sua pergunta. “Sim, minha bondosa esposa, eles voltarão. Lembre-se, eles têm três armas para usar."
"É claro — inteligência, coragem, e necessidade. Eu rezo que sejam proteções tão fortes quanto seu primo pensa que são."
"Elas são." Liam deslizou de seu corpo e a virou para encará-lo. "Agora, expulse sua preocupação, eu acredito que é hora de nós tentarmos uma quarta."
"Uma quarta o que? Oh, meu Deus . Essa quarta."
Kester esperou até que a porta do minúsculo quarto para onde ele e sir Archie tinham sido levados estivesse fechada, então desmoronou sobre uma das pequenas camas. Ele tinha apenas quinze anos de idade, e acabara de olhar a morte no rosto. Não era uma experiência agradável.
"Você está doente, rapaz?" Archie perguntou enquanto tropeçava na outra cama e se sentava.
"Não, eu estou apavorado."
"Shhh, não posso culpar você. Nunca é fácil para um homem se colocar no coração do acampamento inimigo."
Sentando-se e descansando as costas contra a parede, Kester olhou para o homem que rapidamente estava se tornando mais um pai para ele do que o seu próprio tinha sido. “Você parece um pouco com ele. Na escuridão, seu eu falar por você, poucos pensariam que não é ele. Na escuridão, ninguém pode ver aqueles olhos, de qualquer jeito."
"O que há de errado com seus olhos?"
"Eles são, bem, amarelos. Um pouco como os de um gato, eu acho, mas os dele tem o olhar fixo e sem piscar de uma serpente."
"Gatos têm um olhar fixo e sem piscar."
"Bem, sim, mas principalmente quando estão caçando. E eu não tenho medo de gatos. Nunca pensei que eles são maus, como alguns fazem. As criaturas do mal não seriam tão úteis em oprimir animais peçonhentos ou ficariam tão ruidosamente felizes por uma carícia leve ou um pequeno coçar na orelha.” Ele sorriu um pouco quando sir Archie riu. “Este homem é do mal. Se nós não parecêssemos tão impotentes, até mesmo tolos, ele teria apenas nos matado, e provavelmente não seria rápido. Ele nos considerou uma ameaça tão pequena, que nem pegou sua espada. Um olhar em seus olhos, e você sabe que a frieza lá é profunda. O olhar perdido, o desespero nos rostos das mulheres lá, poucos dos quais livres de contusões, só confirma isto. Não, estes homens não são nada alem de bestas raivosas, e já passou da hora de serem mortos."
"E eles serão. Assim que nós pudermos, começaremos nossa busca por um meio de ajudar nossos aliados a fazerem isso sem terem que se lançar contra esses bem-defendidos muros."
Kester começou a falar e então fechou a boca quando sir Archie de repente ficou tenso e começou a desembainhar sua espada. “O que é isto?” ele sussurrou.
"Eu juro que eu posso ouvir algo nas paredes," sir Archie sussurrou de volta.
"Ratos?"
"Psst!"
Sir Archie sorriu de leve. "Eu não acho que ratos dizem 'psst!'"
Embora sir Archie parecesse ter relaxado, Kester tirou seu punhal da bainha amarrada com correias em seu braço, onde estava escondido pela manga da sua batina de monge. Ele perscrutou em torno do quarto parcamente iluminado e viu uma linha fraca de luz no meio da parede mais distante. No mesmo momento em que ele começou a se esgueirar em direção naquela direção, a linha fina alargou-se, revelando uma abertura na parede e um pequeno e belo rosto emoldurado por cachos vermelhos.
"Venha, eu posso mostrar uma saída a você." a menina disse.
Desconfiado de uma armadilha, Kester perguntou, "Por que nós desejaríamos partir?" Ele franziu o cenho quando ela rolou seus grandes olhos castanhos, e lhe lançou um olhar de desgosto absoluto.
"Porque você quer encontrar um modo de deixar aqueles homens entrarem para matar aquele bastardo do Rauf. Eu conheço um modo. Eu sou Meggie, a filha do tanoeiro. Eu me escondi nestas paredes quando fui arrastada para cá por aqueles suínos. Escapei algumas vezes e vi o agrupamento de homens nos limites das terras de Ardgleann, e eu vi lady Keira."
"Mas nós fomos informados que Rauf lacrou todas as saídas secretas daqui."
"Como ele poderia se não sabia onde estavam todas? Poucos sabem."
"Então como você sabe disto?"
"Porque eu tenho deslizado dentro e fora destas paredes desde que cheguei aqui. Algumas das outras mulheres escondem comigo de vez em quando, mas elas não querem deixar aquele bastardo saber que existem esconderijos, então eu sou a única que fica aqui."
"Por que as mulheres não usam estas passagens para escapar?"
"Para que? Elas não podem ir para casa, e também sabem que suas famílias sofrerão por isto. Uma moça que fugiu teve que ver seu pai morto. Eu não, porque Rauf e os outros não se importaram realmente por eu ter fugido."
"Agora, duas das saídas daqui estão firmemente fechadas. Uma ele não encontrou, e uma está trancada apenas do lado de dentro." Ela segurou sua mão. "Venha."
"Vá com ela, rapaz," disse sir Archie. “Destrancar essa porta que está selada. Depois volte depressa para cá.” Archie olhou para a menina. “Você pode ir até onde os homens estão acampados e contar a eles tudo o que sabe? Conduzi-los até aqui?"
"Sim," Meggie respondeu, "mas por que vocês ficariam aqui?"
"Para nos certificar que nada os impeça de entrar. Você os conduzirá do lado de fora, e nós os receberemos do lado de dentro."
Antes de seguir Meggie, Kester lançou um breve sorriso torto a sir Archie. “Bem, parece que nós realizamos nossa missão sem fazer muita coisa. Tenho certeza que um dia eu poderei elegantemente aceitar compartilhar esta vitória com uma pequenina moça.” Ele fechou a porta enquanto sir Archie ria suavemente.
"Hora de embainhar sua espada, rapaz."
Liam piscou, olhou fixamente para a mão que segurava seu tornozelo, e então fez uma careta. Ele acenou a cabeça para Sigimor, que rapidamente desapareceu, mas era muito tarde para manter a chamada às armas em segredo de Keira. Enquanto ele se movia para se vestir e se armar, ela já estava pegando suas roupas. Ela não disse nada, porém, até que ambos estavam fora de seu pequeno abrigo, observando Sigimor conversar com uma pequena menina ruiva.
"Onde estão Kester e sir Archie?" Keira perguntou, quase aliviada de ter qualquer outra coisa em que fixar sua preocupação, além do fato que o homem por quem estava desamparadamente apaixonada estava por entrar na batalha.
Ouvindo sua pergunta quando os abordava, Malcolm respondeu. “Ainda do lado de dentro. A moça pequenina é Meggie, a filha do tanoeiro. Ela nos disse como chegar do lado de dentro. Kester e sir Archie ficaram para se certificar que não armassem nenhuma armadilha para nós."
"Então Rauf não os machucou ou os encarcerou?"
"Não, milady. Ele os considerou nada mais que tolos inocentes, e pelo que Meggie nos disse, está ocupado inventando alguma história sobre o seu destino para mandar a seus parentes pela manhã.”
"E Joan?" Keira perguntou, certa que Malcolm teria perguntado à menina sobre sua esposa.
"Viva," foi tudo o que Malcolm disse antes de se afastar a passos largos para juntar-se aos irmãos de Keira.
Vendo como Keira parecia chateada, Liam colocou o braço ao redor de seus ombros e a puxou para si. “Estar viva é a coisa mais importante, moça. Todo o resto pode ser curado com o tempo. Pelo menos a mocinha Meggie parece ter saído incólume."
Keira acenou a cabeça, observando a jovem menina conversando muito seriamente com Sigimor e os outros homens. "O que nós devemos fazer com ela enquanto entramos em Ardgleann?"
"Nós?" Liam deu um passo atrás e meneou a cabeça para ela. “Não, esposa, você ficará aqui."
"Aqui? Mas esta batalha é minha. Já que vocês não terão que se lançar nas ameias como nós temíamos, então eu posso ir com você."
A expressão do rosto de Liam lhe disse que havia pouca chance dele ceder nisto, mas ela se sentia compelida a tentar fazê-lo mudar de idéia. Se esgueirar escondidos para dentro da propriedade e surpreender o inimigo não podia ser tão perigoso quanto um ataque contra os muros. Tinha ouvido aquilo várias vezes. Já que não seria tão perigoso para eles, então não seria tão perigoso para ela. Keira disse tudo isso para Liam, mas o olhar de ‘por cima do meu cadáver’ não mudou nada. O homem por quem estava desesperadamente apaixonada obviamente tinha uma grande veia teimosa.
"Ainda haverá luta, esposa.” Liam disse, esforçando-se para negar isso a ela sem soar autoritário, pois sabia que ela podia se virar contra ele se bancasse o marido dominador. Keira tinha o hábito de se eriçar quando recebia uma ordem direta. “Sim, o destino sorriu para nós e nos deu um modo de penetrar aqueles muros espessos, uma chance de surpreender nosso inimigo. Mas esse inimigo não vai se render em massa, não é? Se por nada mais, eles têm sangue inocente demais em suas mãos, e sabem muito bem disso. Eles acreditarão que não haverá nenhuma clemência para eles, ainda que ergam seus braços."
"E então eles decidirão morrer lutando," ela disse e suspirou quando ele acenou a cabeça.
"Alguns tentarão fugir, e alguns terão sucesso, mas a maioria verá poucas escolhas. Morrer por enforcamento, ou morrer lutando. Eles vão lutar duro, e eu não quero ver você no meio disto. Será difícil o suficiente tentar garantir que nenhum inocente morra na batalha para libertá-los. Eu suspeito que seja uma razão pela qual sir Archie enviou a moça para nos dizer como conseguir entrar – para mandá-la para fora."
"Então eu ainda devo esperar aqui e apenas me preocupar com todos vocês."
"Sim." Ele a puxou para seus braços, silenciosamente rezando para que logo voltasse a segurá-la deste modo novamente. "Fique aqui com a pequena Meggie."
"Meggie não terá que conduzi-los até o lugar por onde entrarão?"
"Talvez, mas ela será enviada diretamente de volta para cá para esperar com você. Dentro da propriedade existirão poucos lugares seguros. Nós podemos entrar sem sermos vistos, mas não há como saber onde está todo mundo dentro do lugar. Nós todos estudamos cuidadosamente o mapa que você desenhou, mas dessa moça, Kester e sir Archie, nós podemos apenas ficar sabendo onde cada um deve ou pode estar." Ele deu um passo atrás e lhe deu um beijo breve e duro. “Fique aqui, minha esposa. Mantenha uma vigilância cerrada. Se vir alguém se aproximando do acampamento, avise o guarda, depois se esconda rápido e fique escondida. Se for um de nós, você vai saber logo."
Embora sentisse como se todo seu corpo doesse com a necessidade de ficar ao seu lado, Keira acenou a cabeça. Era a coisa mais sábia e mais segura para fazer por todos eles, mas ela odiava isto. O pensamento de como ela passaria o resto da noite sem luar, esperando para ver se Liam, seus irmãos, e todos os outros homens com quem ela se preocupava retornavam em segurança, enviou um calafrio terrível por ela. O bom senso lhe dizia que ela seria mais um empecilho que uma ajuda, que a única coisa que ela podia fazer para mantê-lo seguro era colocar seu corpo entre ele e uma espada, mas ela desejava ardentemente que não fosse verdade.
Ela caminhou com Liam enquanto ele foi se juntar aos outros. Ignorando seus resmungos, ela abraçou cada um de seus irmãos. Como eles retribuíram afetuosamente o abraço, ela sabia que suas reclamações sobre mulheres tolas eram falsas. Ela abraçou até Malcolm, Ewan, e Sigimor. Os dois últimos a surpreenderam pelo modo vigoroso como retribuíram o abraço. Não foi até Liam arrancá-la de Sigimor e fuzilar os dois homens extremamente sorridentes que ela percebeu que eles agiram tão estranhamente apenas para provocar seu ciúme.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa sobre tais jogos tolos quando eles estavam enfrentando uma dura batalha, os homens estavam partindo. Ela mal tinha pensado que precisava abraçar seus primos quando se viu só. Em apenas um momento, a escuridão engoliu todos eles. Até o som de tantos homens armados se movendo pelas sombras rapidamente enfraqueceu. Keira se abraçou e estremeceu, rezando que não fosse nenhum presságio. O toque de uma mão em seu braço a tirou de sua escuridão, dos pensamentos assustadores, e ela olhou para Meggie. A menina obviamente não tinha precisado mostrar o caminho aos homens.
"Eles vencerão, milady,” Meggie disse. "Você tem muitos parentes e aliados bonitos. Meu pai disse que foi uma das razões por que o lorde a escolheu como sua noiva e também para ficar em seu lugar se alguma coisa acontecesse com ele. Claro, você é bonita, também."
"Obrigada." Keira estava um pouco surpresa que todos soubessem que Duncan tinha buscado uma esposa por tais razões.
"Sim, meu pai disse que foi mesmo a melhor escolha, pois você logo se casaria novamente se o lorde morresse, e nos daria um homem forte para cuidar da terra. E você fez isso, não fez?"
"Eu certamente fiz. Um homem forte, com um exército de muitos parentes fortes." Ela sorriu um pouco. "E claro, ele é bonito, também." Seu sorriso se alargou um pouco quando Meggie deu uma risadinha.
"Não se preocupe. Ele voltará tão bonito como sempre."
"Eu não me preocupo que ele ainda esteja bonito, apenas que ainda esteja vivo."
"Oh, ele estará."
A confiança da mocidade, Keira pensou. "É por isso que eu rezo."
Meggie franziu o cenho e olhou fixamente para baixo enquanto esfregava um pé na lama. “Milady, este rapaz Kester é realmente um monge?"
Apesar da preocupação que a incomodava, Keira quase sorriu novamente. “Não mais. Ele foi enviado para o monastério por seus parentes que não o queriam, mas Kester não tem o verdadeiro chamado. Quando soube o que eu ia fazer, ele me seguiu até Scarglas, a propriedade dos parentes de meu marido. Ele encontrou sir Archie no caminho. Eu não tenho certeza do que eles farão, mas eles têm um lar comigo agora.” Quando Meggie sorriu para ela, Keira retribuiu com uma piscadela. “Kester ainda precisa crescer um pouquinho, mas eu penso que ele será um belo rapaz um dia."
"Sim, ele só precisa crescer em seus pés."
"Ah, você tem um irmão, não é?”
"Três." Meggie relanceou o olhar em direção à fogueira em brasa no meio do acampamento. “Eu suponho que não há nada para comer, não com tantos homens juntos."
"Eu acho que podemos achar algo." Não foi até que elas estavam sentadas junto ao fogo, com Meggie devorando um pedaço de pão, queijo, e guisado de coelho, que Keira ousou perguntar, “Como estão as pessoas na propriedade? Tem sido muito duro para eles?"
"Tem sido o inferno, milady,” Meggie disse e estremeceu. “Rauf e seus cães de caça são malignos. Eles tomam qualquer moça que esteja por perto sempre que querem. Reclamar apenas faz com que seja surrada. Quando Malcolm perguntou sobre Joan, eu fiquei contente de poder dizer a ele que ela só sofreu na primeira semana e que não está tão triste. Rauf descobriu que ela era uma boa cozinheira. Daquele dia em diante, ela foi deixada sozinha. O bruto gosta de sua comida mais do que de estuprar mulheres. A única coisa que me poupou foi que eu não cresci muito em meu peito, sabe. Os bastardos estavam tão ocupados disputando sobre quem conseguiria a moça mais voluptuosa depois que tinham prendido todas nós que eu pude escapar. Eu acho que eles acabaram esquecendo de mim depois disto."
Keira pôs a mão sobre os olhos e lutou contra o mal-estar violento.
"Agora, milady, não chore. Isso logo vai acabar, não é? E meu pai diz que qualquer homem que desprezar uma mulher pelo que ela sofreu lá terá alguma sensatez diretamente socada nele."
Keira levou um momento para se libertar de seu pesar o suficiente para perceber o que as palavras de Meggie implicavam. “Você viu seu pai depois que foi capturada?"
"Sim, duas vezes. Uma vez quando ele trouxe alguns barris para a propriedade e uma vez quando eu escapei. Ele teve que se esconder, ou estaria nesta briga. Sim, meus irmãos também. Ele ouviu por acaso dois dos cães de Rauf perguntando por meu irmão mais velho, dizendo que o rapaz era imper... imperti..."
"Impertinente?"
"Essa é a palavra. Bem, meu pai sabia o que queria dizer. Sabia que queria dizer que meu irmão era um homem morto, também, então ele e meus irmãos fugiram para as colinas tão rápido quanto podiam. Eu teria ido, também, mas achei melhor ficar para o caso de você voltar e precisar de uma maneira de entrar." Meggie enfiou o último pedaço de pão na boca e rolou seus olhos enquanto o mastigava. “Rauf estava furioso. Espancou aqueles dois tolos quase até a morte por falhar em levar meu irmão para morrer."
"Eu devia ter vindo mais cedo," Keira sussurrou. "Eu sou tão covarde."
"Shhh, ninguém pensa isso.” Disse Meggie enquanto lambia seus dedos. “A verdade é que a maioria não esperava que você voltasse mesmo. Alguns pensaram que você estava morta, também. Quando eu contei a Joan sobre o agrupamento de homens e como eu a tinha visto com eles, ela ficou muito surpresa. Então ela chorou. Lagrimas de felicidade, você sabe."
"Você contou a Joan?"
"Sim. Eu não devia ter contado? Ela não contaria a ninguém."
"Não, claro que ela não contaria, mas Joan sabe o que você fez esta noite?"
"Sabe. Tive que contar a ela, pois não queria que fosse me procurar como costuma fazer e ficasse preocupada quando não me encontrasse. Disse a ela que podia tentar levar quantas pessoas pudesse para algum lugar seguro. Ela disse que faria isso."
"Vocês são maravilhosas." Keira sorriu quando a menina corou tão profundamente que era visível na fraca luz do fogo e então franziu o cenho. “Por que as mulheres não escaparam de lá quando você encontrou um meio delas fazerem isso?"
"Porque Rauf mataria suas famílias. Matou o pai de uma moça quando ela conseguiu fugir pelo portão um dia, e ela não conseguiu ir muito longe de qualquer jeito."
"Sigimor esta certo — que o homem precisa ser morto."
"Oh, sim, e é uma vergonha que você não possa matá-lo várias vezes."
"Sim, uma vergonha muito grande. Você gostaria de trabalhar na propriedade?"
"Como o que?"
"Como o que você quiser e para o que tiver habilidade."
"Uma vez que aqueles animais peçonhentos tiveram ido, sim. Você disse que Kester estava ficando com você, não é?"
Keira acenou a cabeça, e a menina deu seu sorriso muito adulto e muito feminino. O pobre Kester não tinha nenhuma chance.
Liam estremeceu quando Kester abriu a porta, e a luz no quarto feriu seus olhos. Ele tropeçou para dentro do quarto, um pouco contente por ouvir os homens com que ele fazerem o mesmo, indicando que ele não era o único afetado pela longa, lenta caminhada pela passagem escura. Quando sua visão clareou, Liam percebeu que várias mulheres estavam com Kester e que eles entraram no que parecia com uma grande despensa. No mesmo instante em que estava para perguntar a Kester por que as mulheres estavam lá, Malcolm passou correndo por ele, sussurrando o nome de sua esposa. Vendo a mulher que agora se agarrava a Malcolm, Liam ficou um pouco surpreso. A maneira como o homem falava sobre sua esposa fez Liam pensar que ela era uma beldade. Joan era pequena, magra, e um pouco comum.
"É bom estas mulheres estarem seguras.” Liam disse, “mas você se arriscou contando a elas sobre nós."
"Eu não,” Kester respondeu. “Foi Meggie. Ela contou a Joan, e Joan tem trazido mulheres aqui pela última hora. Parece que Meggie escapou e nos viu no acampamento. Ela sabia quem nós éramos e que estávamos tentando achar um ponto fraco."
"Sim, ela é uma mocinha inteligente."
"Sim, assim parece. Rauf e seus homens não perceberam nada, se é o que o preocupa."
"Por enquanto.” Vendo que o quarto agora estava lotado com os homens que vieram com ele, Liam foi até Malcolm e bateu ligeiramente em suas costas. “Nós devemos nos mover agora. Não podemos ser encurralados aqui, ou toda nossa boa sorte será por nada."
"Sim, meu amor,” Joan disse, se livrando do abraço de Malcolm. "Vá. Limpe Ardgleann desta pestilência."
"Kester, você fica aqui para ter certeza que nenhum destes suínos tenha a chance de escapar.” Liam ordenou. “E proteja as mulheres. Eu suspeito que logo mais se juntarão aqui.” Ele olhou para Joan, que acenou a cabeça.
"Você pensa que eu não posso lutar, não é?" Kester murmurou.
"Você nunca participou de uma batalha, rapaz. Sim, você precisa ser treinado. Não há nenhuma vergonha em admitir isto. E eu lhe dei uma parte muito importante para executar. Guardar a rota de fuga e as mulheres é muito importante, e eu não tenho nenhuma dúvida que você fará isso bem."
Ainda enquanto Kester se endireitava e acenava a cabeça, Liam começou a levar os homens para fora do cômodo. Com apenas o mais leve sussurrar de um sinal dele, os homens começaram a se espalhar. Em grupos de dois ou três, eles atravessariam os corredores, e usando o mapa de Keira e as informações da pequena Meggie, eles conseguiriam encontrar Rauf e seus homens. Enquanto pudessem, eles eliminariam furtivamente os soldados de seu inimigo.
Liam normalmente considerava uma punhalada nas sombras assassinato, não uma tática de batalha, mas não sentia tal mal-estar agora. Enquanto marchavam para a propriedade, Sigimor contou a Liam tudo que Meggie disse a ele. Além de contar onde os homens poderiam estar, a menina revelou muito. Rauf e seus homens transformaram a uma vez pacifica Ardgleann em um inferno vivo. Ele queria que a propriedade estivesse limpa destes animais peçonhentos tão depressa quanto possível.
Quando Liam e Malcolm deixaram um quarto onde agora descansavam dois homens mortos, deram de encontro com Sigimor. Parando apenas para mandar uma mulher para onde Joan e as outras se escondiam, Liam então se virou para seu primo. O punhal de Sigimor estava ensanguentado, mas ele parecia tão tranquilo que ninguém de fora acreditaria que o homem tinha se esgueirado pelos corredores da propriedade matando. Liam suspeitava que Sigimor sentia que este era um castigo justificado, e um que estava muito atrasado.
"Eu não posso acreditar que não soou nenhum alarme ainda.” Disse Sigimor.
Sigimor mal terminou de falar quando um homem seminu gotejando sangue de um ferimento no ombro tropeçou para fora de um quarto gritando uma advertência para Rauf e seus homens. Liam olhou para Sigimor e encolheu os ombros. Resmungando sobre tolos que não podiam nem silenciar um homem adormecido e desarmado, Sigimor andou a passos largos em direção ao ferido. Liam ouviu seu primo perguntar ao homem se ele se rendia. A resposta do homem foi grosseiramente profana enquanto ele lutava para desembainhar seu punhal. Sigimor o matou com um golpe limpo de seu punhal. Ele então ficou lá parado, abriu bem os braços e soltou um grito de guerra que fez Malcolm saltar, depois murmurar algumas maldiçoes em uma voz instável.
"O homem tem um bom par de pulmões," Malcolm disse.
Liam riu ainda enquanto ouvia os resultados do alarme e do grito de guerra de Sigimor. Não havia mais apenas alguns sons sussurrantes enquanto o exército de Keira deslizava pelos corredores. Agora se podia ouvir o som de pés correndo, homens gritando para outros juntarem-se a eles, e então, finalmente, os sons de espadas se chocando. Agora a batalha verdadeiramente começava.
"Mantenha Malcolm por perto,” Sigimor ordenou. “Aquele bastardo pode ter deixado alguns dos homens de MacKaill vivos, e nós precisaremos reconhecê-los. Não queremos matar os homens errados. Agora vamos caçar Rauf o Rato."
"Seu primo é pouco estranho, não é?" Malcolm murmurou enquanto ele e Liam corriam para acompanhar Sigimor.
"Oh, sim, só um pouco. Eu o advirto, se algum dia você conhecer sua esposa, ficará chocado."
"Ah, então ela não é nenhuma grande guerreira, de seios grandes."
"Não, uma pequenina Sassanach de cabelos negros." Liam só teve tempo suficiente de rir do olhar arregalado de choque no rosto de Malcolm antes da batalha começar para valer.
Logo ficou claro que os homens de Rauf Moubray tinham sido treinados para fazer uma coisa bem – proteger Rauf Moubray. Enquanto os outros lidavam com os homens no pátio ou sobre os muros, Liam juntou-se a Ewan, Sigimor, Malcolm, sir Ian, e alguns outros para eliminar qualquer um que tentasse impedi-los de alcançar Rauf. As poucas pessoas que encontraram que eram de Ardgleann estavam protegidas até que pudessem escapar do perigo. Sigimor os mandava para sir Archie, e Liam os mandava para Kester e Joan.
Liam enfrentou um dos homens de Rauf em frente à entrada do salão. Com Malcolm guardando suas costas, Liam lutava implacavelmente, lentamente forçando o homem a caminhar para trás. Quando eles passaram pela entrada, Liam tropeçou ligeiramente e amaldiçoou veementemente sua perna direita ainda um pouco fraca. Aquele desajeitamento podia ter lhe custado caro, se o homem com quem estava lutando também não tivesse hesitado, tropeçando sobre o corpo encolhido de uma criança apavorada. Gritando uma maldição maligna, o homem levantou sua espada, claramente pretendendo matar a criança. Ainda enquanto Liam se adiantava apressado, sabendo que chegaria muito tarde, uma faca se enterrou na garganta do homem. A criança chorou muito mais forte quando o sangue do homem escorreu, e ele desmoronou, morto aos pés da criança que teria assassinado. Liam olhou para Malcolm, incapaz de esconder sua surpresa.
"Eu pensei que você tinha dito que não era nenhum guerreiro," ele disse enquanto Malcolm calmamente recuperava sua faca.
Malcolm encolheu os ombros. "Eu posso usar uma espada apenas adequadamente. Porém, eu sou muito bom com uma faca."
"Estou vendo." Liam de repente viu o homem que todos eles queriam matar de pé na outra extremidade do salão atrás de oito homens bem armados. “Veja que a criança chegue à segurança, Malcolm."
"Eu devia proteger suas costas," Malcolm disse.
Relanceando o olhar para a entrada, Liam viu Ewan, Sigimor, sir Ian e os irmãos de Keira lá de pé. “Não há necessidade de se preocupar com isso agora. Veja que a criança esteja seguramente longe, de volte se estiver ávido para se juntar a luta."
Malcolm acenou a cabeça, agarrou a criança, e se apressou para fora do salão. Liam caminhou em direção a Rauf e seus homens, ouvindo seus aliados rapidamente se aproximar atrás dele. Sabia o que o posicionamento queria dizer. Uma vez que Ardgleann estivesse livre, ele seria o lorde aqui, e eles estavam sinalizando esse fato com este show de deferência. O olhar que cruzou o rosto largo de Rauf disse a Liam que o homem entendeu isto, também.
"Você se rente?" Liam perguntou, detendo-se fora do alcance da espada de Rauf e seus homens, embora não parecesse que Rauf tinha intenção de estar à frente nesta luta.
"E você quem é? Que direito você tem de vir e tomar o que é meu?" Rauf exigiu.
"Sir Liam Cameron. Eu me casei com lady Keira Murray MacKail."
"Aquela cadela ainda está viva?"
"Se você está pensando em se render, poderia ser sábio parar de insultar minha esposa."
"Eu farei mais que a insultar! Se um dia eu conseguir pôr minhas mãos na pequena prostitua, eu a matarei lentamente! Olhe o que ela fez com meu rosto!"
Liam escondeu sua surpresa quando ele olhou para a cicatriz rota na face esquerda de Rauf. Keira disse que tinha lutado com o homem. Ela nunca mencionou o fato de ter rasgado metade do seu rosto. Ele iria ter que ensiná-la a ser um pouco mais específica quando lhe contasse as coisas, ele decidiu, então sorriu friamente para o homem que ele queria tanto matar.
"Eu perguntarei mais uma vez—você se rende?"
"Não! Matem-nos!" Rauf ordenou a seus homens.
Quando os homens se adiantaram, Rauf agarrou a parte de trás dos mantos de dois homens e os manteve na frente dele como uma proteção humana. Liam ficava surpreso que Rauf não visse que acabava de roubar a si mesmo da pequena vantagem que ele tinha – seus oito homens contra seus seis. Ele então concentrou toda sua atenção no homem que agora tinha que combater a fim de chegar a quem realmente procurava.
O homem que enfrentava provou ter pouca habilidade e Liam rapidamente o despachou. Procurou ver se seus aliados precisavam de alguma ajuda e, por um breve momento, admirou-se com sua habilidade. Os irmãos de Keira eram surpreendentemente habilidosos, até graciosos, enquanto prosseguiam lutando mortalmente. Então, ainda enquanto Liam estava se voltando para enfrentar Rauf, um por um, os homens de Moubray foram mortos. Os dois de pé com Rauf perceberam que seria os próximos sacrificados, e uma fina camada de suor surgiu em seus rostos pálidos.
"Pare de se abaixar atrás desses tolos e me enfrente.” Liam exigiu.
"Oh, não, eu não acho," Rauf disse e riu suavemente.
"Cuidado com suas costas!" Ewan gritou, ainda enquanto se virava para combater um homem que se aproximava rapidamente por trás dele.
Praguejando, Liam se encontrou preso em uma batalha feroz, ele e seus alados ultrapassados em quase dois para um. Foi apenas questão de momentos antes que os primos de Keira e alguns MacFingals chegassem, mas Liam sabia que a ajuda viera muito tarde. Quando os últimos homens de Moubray caíram mortos, Liam olhou para onde Rauf estava antes, mas não ficou surpreso ao descobrir que o homem tinha fugido.
Ele começou a sair do salão, determinado a encontrar o homem, parando apenas tempo o suficiente para enviar os irmãos de Keira e sir Ian para o quarto que sir Archie protegia para eles. “O bastardo podia bem saber onde estava pelo menos uma rota de fuga. Como sir Archie disse, ele era do tipo que se certificava de ter uma.” Disse a eles, então, com Sigimor e Ewan logo atrás dele, correu para onde Kester e as mulheres estavam, Malcolm surgindo ao seu lado ainda quando eles começavam a descer os íngremes degraus que levavam as entranhas da propriedade.
Eles mal começaram a descer os degraus quando ouviram muitos gritos. Liam correu degraus abaixo, ignorando a dor crescente em sua perna. Quando tropeçou para dentro da despensa, sentiu seu coração afundar. Eles chegaram muito tarde. Dois homens de Rauf estavam caídos no chão, mas Rauf se fora. Embora soubesse que era inútil, tentou abrir a porta, mas o homem a tinha bloqueado do outro lado.
"Nós podemos derrubar isto," disse Sigimor.
"Isso tomará muito tempo." Um rápido olhar para dois homens revelou que estavam mortos, e Liam percebeu os gritos que eles ouviram tinham nascido da fúria, não do medo. “Jesus," ele sussurrou quando de repente soube sem uma única dúvida para onde Rauf tinha se dirigido. “Keira.”
"Você acha que a batalha já acabou?” Meggie perguntou enquanto se embrulhava num cobertor.
"Seria bom se tivesse acabado tão rápido. Melhor ainda se nenhum dos homens tiverem se machucado ou morrido. É muito difícil ficar sentada aqui e apenas esperar."
"Meu pai diz que é por isso que as mulheres têm uma natureza mais doce e mais paciente que os homens."
"Porque nós devemos nos sentar e apenas esperar nossos homens voltarem das batalhas?"
"Sim, isso e outras coisas. As mulheres esperam bastante."
"Muito verdadeiro. Quem sabe ainda Deus deu às mulheres uma natureza mais doce e paciente, de forma que nós não estrangulemos todos os homens."
Keira riu quando Meggie deu uma risadinha tão forte que caiu de lado. A menina tinha provado ser uma boa companhia, ajudando-a a impedir que seus piores medos a oprimissem. Meggie tinha uma mente muito rápida, como também muito espírito e coragem.
Keira estava determinada a nutrir aquilo uma vez que retomasse seu lugar como senhora de Ardgleann.
Observando ao redor do acampamento deserto, Keira estremeceu ligeiramente. Surpreendeu-se que nenhum homem tivesse ficado para trás para guardar os equipamentos e cavalos, ou mesmo pra vigiar Meggie e ela. Tinha certeza que Liam, Sigimor ou Ewan teriam desejado isso. Até seus irmãos teriam desejado pelo menos um homem armado aqui. Ou alguém desobedecera ordens, ou na confusão de se apressar para batalha, aquelas ordens nunca foram dadas. Era muito tarde para se preocupar com isso agora, ela pensou. Esperava que ninguém sofresse muito pelo que ela estava certa tinha sido apenas um simples engano.
Meggie bocejou e, enroscando-se ao seu lado, embrulhou o cobertor com mais firmeza ao seu redor. “Está tão quieto, não é?"
"Sim, e você está muito cansado. Descanse, moça. Você trabalhou duro hoje."
"Eu devia fazer companhia para você em sua espera."
"Você fez um bom trabalho nisso, mas descanse agora. Eu não acho que vai demorar muito agora até que nós saibamos o que aconteceu. Tenho confiança na esperteza e habilidade de nossos homens, contudo não posso deixar de me preocupar com eles. Não há necessidade que você sofra por minha tolice a noite inteira. E se eu tiver que acordá-la e disser para você se esconder, faça isto sem perguntas."
"Sim, eu farei, milady. Sou muito boa nisso."
Um sorriso cansado cruzou rosto de Meggie, e um momento mais tarde, a menina estava adormecida. Keira disse a si mesma firmemente que era tolice se sentir de repente tão sozinha. A menina tinha trabalhado duro, e tudo para seu benefício. Embora fosse pouco mais que uma criança, Meggie tinha visto coisas terríveis, e ainda conservara coragem e esperteza para ajudar onde podia e reconhecer a chance para salvação de Ardgleann, quando essa apareceu. Keira se surpreendeu que embora a menina pudesse ter fugido da propriedade em qualquer momento, ela tinha ficado na esperança que o salvamento viria, de forma que ela pudesse mostrar a eles o cominho para o lado de dentro. Quando Ardgleann estivesse livre, Keira estava determinada a se certificar que todos soubessem a parte importante que a filha do tanoeiro tivera nisso tudo.
De fato, ela pensou com um leve sorriso, se eles vencessem a luta contra Rauf, deveriam isto, em grande parte, a três heróis muito improváveis. Um menino que era mais desajeitado que qualquer um que ela já vira, um velho guerreiro que era tão bom quanto cego, e uma menina mirrada. Se alguém dissesse a ela antes da batalha que tais pessoas seriam tão importantes, Keira sabia que teria pensado que essa pessoa estava louca. Quando eles vencessem a batalha, ela se corrigiu apressadamente, imediatamente lutando contra qualquer insinuação de incerteza. Keira sabia que tinha que se agarrar a tal confiança, ou ficaria fora de si de preocupação.
Ela voltou seus pensamentos para Liam em um esforço para deixar de pensar sobre o que estava acontecendo dentro dos muros de Ardgleann. Era quase assustador o quanto ela amava o homem. Tentar restringir seus sentimentos tinha se provado totalmente infrutífero. O melhor que tinha feito foi se impedir de dizer isso a ele várias vezes por dia. Ela não estava certa de quanto tempo mais poderia manter aquelas palavras presas dentro dela. Elas se precipitavam em sua boca toda vez que ele sorria para ela.
Ele era um bom marido, como Fiona disse que ele seria. Embora ele tivesse todos os defeitos masculinos habituais, mas ele os temperava com generosidade e compreensão. Quando ele dava uma ordem, não esperava que ela pulasse ao seu comando; Ao invés disso, ele se explicava e até permitia que ela discutisse com ele. Muito melhor, ele realmente escutava o que ela tinha a dizer. Keira não tinha nenhuma dúvida que ele seria um bom lorde para Ardgleann, trabalhando duro para prover e proteger todos que dependiam dele.
Ele também era um amante maravilhoso, um que prometeu ser apenas seu. E isto, ela pensou, era uma coisa que ainda podia causar algumas de suas incertezas, não importava com que frequência dissesse a si mesma que estava sendo injusta com ele, que o julgava culpado antes mesmo que ele cometesse o crime. Contudo ela não podia deixar de se perguntar quanto tempo um homem podia resistir à tentação quando ela estava constantemente se colocando em seu caminho. As mulheres eram atraídas por Liam como abelhas pelas flores, ela temia que sua vida inteira agora seria constantemente gasta afastando mulheres oferecidas. Pior ainda era saber que poderia não estar sempre lá para afastá-las.
"Se ao menos eu soubesse como ele se sente a meu respeito." ela sussurrou enquanto adicionava alguns gravetos ao fogo.
Esse era realmente o ponto crucial de seu problema, ela decidiu. Liam a desejava, disso ela não tinha mais nenhuma dúvida, e aquilo amainava muito a ferida que Duncan inconscientemente lhe causara. Infelizmente, ela estava muito ciente do fato que o desejo de um homem não tinha que nascer em seu coração. Liam certamente tinha se deitado com muitas mulheres, embora alegasse que não tivera nenhuma ligação verdadeira com alguma delas. Como um homem podia ser tão íntimo de uma mulher com quem pouco se importava, ela não sabia, mas era uma verdade com a qual não podia discutir.
Tomando um gole de vinho do odre de Liam, Keira decidiu analisar muito atentamente aquilo do qual tinha certeza. Ela estava sozinha pele primeira vez em semanas, com exceção de uma adormecida Meggie, e aquele era o momento perfeito para separar algumas coisas em sua mente. Ele tinha ciúme dela, ela percebeu. Embora fosse verdade que os homens podiam ter ciúme de uma caneca favorita, o ciúme que Liam sentia dela não devia ser completamente ignorado. Ele apreciava sua companhia. Disso ela não tinha nenhuma dúvida. Ele conversava com ela, discutia muitas coisas, e nunca agia como se pensasse que a mente de sua pobre mulher era muito fraca para entender. Até sua avó tinha enfatizado a importância disto. Ele estava sempre a tocando e beijando. Keira corou quando pensou sobre como ele fazia amor com ela. Apesar de seu passado, ela não podia acreditar que ele pudesse ser tão terno, tão preocupado que ela encontrasse prazer também, segurando-a depois junto a si a noite toda, se não sentisse algo mais que simples desejo.
Um som chamou sua atenção, arrancando-a de seus pensamentos. Alguém estava correndo rápido, diretamente para o acampamento. Já que o som podia percorrer longas distâncias na noite, Keira não podia julgar quão próximo a pessoa estava. Ela sacudiu Meggie para acordá-la.
"Esconda-se. Agora," ela ordenou.
Keira ficou surpresa quando Meggie não apenas fez o que ela mandava, mas também fez isto muito rápida e eficazmente. Num momento, a menina estava dormindo profundamente; no próximo, ela tinha desaparecido completamente na escuridão. Saltando de pé, Keira buscou um lugar para se esconder, algum longe de Meggie. Ainda enquanto se dirigia para uma árvore no canto oposto do acampamento, pensando em subir nela e se esconder no meio das folhas, ela soube que tinha perdido sua chance.
Um homem entrou no acampamento, e por um momento, Keira não o reconheceu nas sombras. Então ele riu, e ela sentiu um frio profundo atravessar seu corpo. Era Rauf Moubray. Keira combateu o impulso cego de correr por sua vida. Não ganharia nada com isso, exceto dar a Rauf uma chance de agarrá-la por trás, algo que ele apreciaria bastante.
"Então o destino finalmente sorriu para mim esta noite." ele disse. "Eu não só encontrei você, mas cavalos e suprimentos também."
"Você não estaria correndo pela floresta como uma lebre assustada se não tivesse perdido a batalha.” Ela disse, “Já que você obviamente está tão ávido por salvar sua própria pele miserável, eu sugiro que continue a correr."
Keira observou seus olhos frios se estreitarem e seus lábios recuarem em um grunhido baixo. Era loucura talvez, pura loucura falar tão insultuosamente com o homem, mas ela duvidava que no fim fizesse qualquer diferença para o seu destino. Ele podia não ter corrido deste modo esperando encontrá-la, mas agora que tinha encontrado, ela não tinha nenhuma dúvida que ele a mataria. Ela podia apenas tentar, de alguma pequena maneira, tornar isto mais difícil para ele e rezar que ele estivesse com muita pressa para salvar sua própria vida para demorar na ação. Só de pensar na crueldade com que ele assassinou outras pessoas, seu medo aumentou tanto que ela sentiu seu estômago se rebelar em sua garganta, e lutou contra a náusea que a dominou. Podia ser brevemente agradável vomitar no homem, mas ela sabia que ele reconheceria ser resultado do terror, e se recusava a deixá-lo saber quão apavorada ela estava.
"Oh, não, não, minha pequena cadela de cabelos negros." ele disse, sua voz dura e fria. "Você e eu temos uma dívida a saldar entre nós."
"Dívida? Que dívida? Você pensa que eu lhe devo algo por sacrificar meu marido e muitos de seu povo? Por não ter permitido que você me estuprasse? Em público? Se há qualquer dívida entre nós, o devedor é você, por tudo o que roubou de mim. Infelizmente, já que a maior parte do que foi roubado foram as vidas daqueles queridos para mim, nunca poderei ser reembolsada, exceto com sua morte."
"Você devia estar morta, sua prostituta!"
"Oh? Bem, eu imploro seu perdão por não ter morrido dos ferimentos que você me causou.” Keira achou tão surpreendente quanto intrigante que quanto mais Rauf ficava enfurecido, mais indiferentemente tranquila ela ficava.
"E veja o que você fez com meu rosto!"
A cicatriz rota no lado de seu rosto quase a fez estremecer. Ela podia ainda recordar seu grito de ira e dor e o cheiro de sangue quando ela rasgou sua face com um punhal. Keira desejava ardentemente estar com aquele punhal agora. Como curandeira, o ato de ferir alguém, de derramar sangue, era nauseante, mas ela estava mais que disposta a causar algum dano a este homem. Só tinha que pensar no pobre Duncan, nos homens enforcados nos muros de Ardgleann, e no destino triste das mulheres presas dentro da propriedade para sentir uma frieza absolutamente assassina.
"É uma melhoria, se você me perguntar."
Isso provou ser um insulto muito grande. Keira mal teve tempo de notar que ela desembainhava sua espada e seu punhal antes dele estar sobre ela. A sensação do corpo dele empurrando o seu, seguido por seu corpo atingindo o chão duro, roubou sua respiração. Ela lutou para mandar algum ar para seus pulmões, quase inconsciente das mãos que cruelmente a espancavam. Quando podia finalmente respirar, percebeu que suas mãos estavam livres, e começou a esmurrar Rauf na cabeça. Ele realmente suportou vários golpes duros com não mais que um grunhido antes de reagir a eles.
Ele pôs sua grande mão calejada ao redor de sua garganta e lentamente aumentou seu aperto até Keira se encontrar lutando para respirar de novo. “Eu posso me satisfazer com você, estando viva ou morta, mulher. Não faz nenhuma diferença para mim."
Keira estava tão chocado por aquelas palavras frias, que parou de arranhar suas mãos e o olhou boquiaberta. Quando captou a sombra do movimento atrás de Rauf, ficou quase contente de ter revelado quanto suas palavras a tinham chocado. No espaço de uma batida de coração depois que ela teve o relance da sombra, um pedaço espesso de madeira bateu no lado da cabeça de Rauf. Ele grunhiu e caiu de lado. Keira agarrou a mão que Meggie estava estendendo para ajudá-la a se levantar, mas o som fraco de movimento ao seu lado a fez enrijecer.
"Corra, Meggie," Keira tentou gritar, mas suas palavras terminaram em um rouco coaxar, e a advertência estava muito atrasada de qualquer maneira.
Com um rugido de fúria, Rauf se levantou. Meggie tentou atingi-lo novamente, mas ele tirou a clava rústica de suas mãos pequenas e a atirou de lado. Então ele agarrou Meggie, ignorando os punhos e pés da menina que ele segurava firmemente.
"Eu sei quem é você," ele disse. "A pirralha do tanoeiro. Bem, aquele covarde fugiu com todos os seus rapazotes, não é? Poupou seu filho desrespeitoso, mas deixou sua pequena cadela para trás. Assim seja. Eu matarei você como queria matar aquele tolo do seu irmão."
Ignorando seu corpo dolorido, Keira se levantou. Ela se lançou sobre as costas de Rauf, envolvendo suas pernas ao redor de sua cintura e um braço firmemente ao redor do seu pescoço. Com sua mão livre, bateu nele novamente.
"Deixe-a ir, seu bastardo imundo!” ela bradou. Ouvindo como sua voz estava baixa e rouca, Keira temia que ele pudesse ter danificado algo em sua garganta, e isso a deixou muito mais brava. “Deixe-a ir, ou vou arrancar seus olhos!"
Um grunhido profundo e estrondoso escapou do homem. “Eu poderia apenas quebrar seu pequeno pescoço."
"Sim, você poderia fazer isto, e sua morte seria a última coisa que veria, pois eu iria cegar você. Isso eu juro!"
Por um momento, Keira temeu que ele realmente cumpriria sua ameaça. Então ele gritou uma praga tão ruidosamente que seus ouvidos doeram e lançou Meggie longe como um pequeno osso do jantar. Keira gritou quando a menina atingiu o chão duro e não se moveu. Ela não teve nenhum tempo para lamentar ou mesmo ver se isso era necessário, pois com suas mãos agora livres, Rauf continuou se esforçando para arrancá-la de suas costas.
Keira rapidamente percebeu que não podia ficar pendurada no homem por muito tempo. Tudo o que podia fazer para proteger sua cabeça dos golpes que ele tentava infligir era simplesmente manter sua cabeça dobrada firmemente contra suas costas. Mesmo os desajeitados golpes que a atingiam de raspão, eram mais do que ela podia aguentar. Contudo, sabia que não poderia descer de suas costas e se mover rápido o suficiente para escapar, e também deixar Meggie desprotegida. Então ele agarrou suas pernas e começou a se esforçar de modo doloroso para tirá-las de sua cintura.
No momento em que começava a temer que ele realmente quebraria suas pernas, uma espada entrou em seu campo de visão, e estava apontada diretamente para a garganta de Rauf. Ela encarou Liam com surpresa. Atrás dele, ela podia ver Sigimor ajudando uma instável Meggie a se levantar. Então, duas mãos grandes envolveram sua cintura e a puxaram para trás, para longe de Rauf. Ela relanceou o olhar para trás para ver que era Ewan quem punha fim ao seu dilema. Atrás de Ewan estavam seus irmãos.
"Você é um homem muito estúpido, Rauf Moubray,” disse Liam, dando um passo atrás. “Você poderia ter escapado, quem sabe até vivesse alguns dias mais antes que nós caçássemos você. Ao invés disso, você pára aqui para atormentar duas moças pequeninas."
"Você pensa que eu não sei que já era um homem morto?” Rauf perguntou. “Talvez eu apenas tenha decidido que seria justo fazer você pagar um preço por tomar Ardgleann."
Estava terminado, Keira pensou, e afundou contra Ewan. Seu corpo inteiro doía, e suas pernas pareciam muito fracas para mantê-la em pé por muito mais tempo. Ela estava quase perguntando por que ninguém se apressava e matava Rauf de forma que ela pudesse conseguir descansar um pouco quando Rauf desembainhou sua espada e ninguém fez nada para detê-lo. Respirando profundamente na esperança de que isso fizesse sua voz soar mais alta e firme do que estava até agora, Keira pretendia dizer a estes tolos que um homem como Rauf Moubray não merecia uma chance de morrer em combate honrado. Sua opinião era que ele devia ser estripado como o porco que era. Antes que pudesse articular uma única palavra, porém, uma grande mão estava suave, mas firmemente, colocada sobre sua boca.
"Quieta, moça.” Ewan sussurrou em sua orelha. “Este é o melhor jeito. Liam pode explicar o propósito disso tudo mais tarde."
Tudo o que Keira podia pensar quando Liam e Rauf começaram a lutar foi que a explicação tinha que ser muito boa. Ewan começou a remover sua mão, mas ela colocou a sua em cima para mantê-la no lugar. Embora soubesse muito bem que gritar qualquer coisa quando um homem tomava parte em uma briga podia distrai-lo perigosamente, Keira não estava muito confiante que pudesse ficar calada. Ela sentiu Ewan acenar a cabeça, revelando que ele tinha entendido sua preocupação.
Apesar do fato de Liam obviamente estar sofrendo alguma dor em sua perna, a luta acabou muito depressa. Rauf era bom, mas Liam era muito, muito melhor. Não importava o quão bom Liam era, porém, Keira jurou para si mesma que tentaria ao máximo nunca observá-lo numa luta novamente. Seu coração simplesmente não podia aguentar a tensão.
Liam limpou sua espada no manto de Rauf e a embainhou ante de se dirigir para Keira. Sua perna, tendo decidido que não podia suportar mais nenhum abuso naquele dia, dobrou embaixo dele depois de apenas alguns passos. Conseguiu se controlar apenas o bastante para se poupar da humilhação de se esparramar na lama, sem graça. Liam sorriu para Keira quando ela se ajoelhou ao seu lado. Agora que seu medo e raiva diminuíram, ele estava muito ciente de toda a dor na perna. Ele tinha se esforçado muito duramente e exigido demais de si mesmo nos últimos dias.
Quando percebeu para onde Rauf tinha se dirigido, Liam se sentiu apavorado por Keira, mas também por si mesmo. Ele temeu perdê-la, temeu nunca ouvir sua risada novamente, nunca mais ouvir aqueles murmúrios suaves e ruídos intensos que ela fazia quando sua paixão estava correndo quente, e nunca saber se ela o amava. Ignorando todos os conselhos para se acalmar, ele correu para o acampamento. Sigimor agarrando suas rédeas tinha sido o que o impediu de anunciar ruidosamente sua aproximação para seu inimigo. A única coisa que o impediu de se sentir totalmente humilhado por seu descuido cego era saber que tanto Sigimor quanto Ewan tinham sofrido o sentimento eles mesmos e entendiam.
A cautela que ele precisava para alcançar Rauf antes do homem vê-lo ou ouvi-lo tinha sido duramente conquistada quando ele viu como o homem estava tentando ferir Keira. Dizer a si mesmo inúmeras vezes que ela estava viva foi tudo o que o manteve se movendo lenta e silenciosamente. Ele até tomou um momento para começar a planejar o sermão que daria em Keira por não se esconder e por atacar um homem 30 centímetros mais alto e vários quilos mais pesado que ela. Agora, porém, ele podia ficar à vontade; descansar sua pulsante perna exaurida; e quem sabe, se aquecer um pouco no calor de sua gratidão e elogios por um trabalho bem feito.
"Seu idiota!” Keira começou a tirar sua bota, apavorada que ele tivesse machucado sua perna de algum modo. “Sua perna só está curada há uma semana, e você fica pulando dobre ela numa luta de espada."
Preocupação com seu bem-estar era quase tão bom, ele disse a si mesmo. Então ele franziu o cenho. Havia algo errado com a voz dela, e ele não achava que estava tão baixa e rouca porque ela estava lutando contra lágrimas.
"O que aconteceu com sua voz?" Ele perguntou.
Aliviada por encontrar apenas um pequeno inchaço quando finalmente segurou sua canela, Keira respondeu, “Rauf decidiu me mostrar quão facilmente pode estrangular uma moça pequenina com uma só mão."
Ela afastou sua mão quando ele tentou olhar para sua garganta, escondida de sua visão por seu cabelo. Estudando o rosto do Liam, ela viu todos os sinais de que ele estava sofrendo muito. O mínimo que ela podia fazer por ele depois que ele libertara Ardgleann e salvara sua vida era livrá-lo de sua dor. Ela esfregou suas mãos juntas. Isso foi obviamente o bastante para ele adivinhar o que ela pretendia fazer, pois ele prendeu suas mãos nas dele.
"Moça, nós não estamos sozinhos.” Ele disse calmamente. “Você arrisca seu segredo.”
"Meus irmãos já sabem disso, e você confia em seus parentes, não é?” ele acenou a cabeça, embora ainda franzisse o cenho. “E eu acho que podemos confiar em Meggie para manter um segredo.” Ela sorriu para a jovem menina que tinha se movido para ficar do outro lado de Liam. “Você vai jurar manter o que eu fizer agora em segredo, sim, Meggie?"
"Sim," Meggie concordou, "Porém, se vocês estão falando sobre seu dom curativo, ele não é um segredo tão grande aqui"
"Duncan lhe contou?"
"Bem, ele contou a algumas pessoas, não todo mundo. Achou isto um dote maravilhoso. Disse que nós não devíamos aborrecê-la com isto, entretanto, pois você fica fraca ao usar seu dom.” Meggie franziu o cenho para a perna de Liam. “Ela não parece ferida.”
Livrando-se do choque de saber que seu segredo não era mais tão secreto, Keira disse, “eu não posso curar com um toque, Meggie. Posso tomar a dor e às vezes ver com minhas mãos o que aflige uma pessoa."
"Ainda é um dom maravilhoso."
"Obrigada. Eu ainda preferiria que não falassem muito sobre isso. Alguns não vêm isto como um dom.” Keira respirou fundo para se afiançar, fechou seus olhos, e pôs suas mãos na perna de Liam.
Liam sentiu suas mãos começarem a fazer sua mágica. Ele brandamente ordenou aos irmãos de Keira que tentassem encontrar alguma comida e bebida, sidra, mel, e pão sendo a escolha preferida. Desde que Keira frequentemente levava tais coisas com ela, ele disse que eles verificassem seu alforje primeiro. Então ele se sentou, pronto para apanhá-la quando ela tivesse acabado, cuidadosamente planejando tudo o que diria para ajudá-la a se livrar da dor que ela estava tomando em seu corpo.
Ninguém falou enquanto Keira fazia sua mágica. Seus irmãos foram rápidos em dar sua comida e bebida quando ela terminou. Liam teve que se mover depressa também, a fim de agarrar ele mesmo um pouco da farta refeição antes dela devorar tudo. Assim que ela terminou, Liam abraçou-a e sussurrou um conto sobre chuva fria caindo e campos frescos de urze. Quando a sentiu começar a relaxar, ela murmurou um agradecimento muito cortês e então afundou contra ele, adormecendo profundamente.
"Ela sempre faz isso depois de fazer sua cura?" Meggie perguntou, finalmente quebrando o silêncio.
"O que? Comer como um leitão faminto e depois adormecer?” Liam sorriu quando a menina acenou a cabeça. “Sim. A cura rouba suas forças. Ela toma muita dor para si mesma e depois deve tentar fazê-la ir embora. É um dom que custa muito."
Meggie acenou lentamente a cabeça. "Não um que ela pode usar o tempo todo. Uma boa razão para manter isto tão secreto quanto possível."
"Verdade." Liam olhou em volta do acampamento e percebeu alguém já jogara o corpo de Rauf em cima de um cavalo. “Eu acho que Keira e eu terminaremos a noite aqui."
"Sim, isso poderia ser melhor," disse Sigimor. "Vai nos dar tempo para retirar os corpos."
"E remover aquelas pobres almas dos muros?"
"Isso já estava sendo feito quando nós saímos correndo da propriedade."
"Bom." Liam franziu o cenho para Artan quando o homem se inclinou para Keira e afastou seu espesso cabelo para expor sua garganta. "O que é isto?"
"Só queria ver o dano que aquele bastardo causou.” Artan respondeu. “Isso pode precisar de cuidados."
Todos praguejaram, inclusive Meggie, quando mesmo na fraca luz do fogo, as contusões na garganta esbelta de Keira pareceram arroxeadas. Liam sentia muito que não tivesse apenas estripado Rauf, que tivesse permitido ao homem morrer como o cavaleiro que ele nunca fora, mas estivera determinado a não fazer nada que pudesse levantar dúvidas sobre sua posse de Ardgleann. Estremeceu quando Artan esfregou uma pomada nas contusões.
"Ela não pode se curar?" Meggie perguntou.
"Não," Liam respondeu, "mas ela obviamente trouxe pomada, e saberá o que fazer para aliviar sua garganta."
"Sir Ian e seus homens sem dúvida passarão para recolher seus cavalos e suprimentos.” Disse Sigimor. “Eu direi a ele para se certificar de avisá-lo antes. Deixe a moça ter um bom descanso, pois suas habilidades serão necessárias quando ela chegar a Ardgleann. Alguns pequenos ferimentos. Apenas dois mortos, e ele eram homens de sir Ian. Foi uma boa vitória."
Mesmo enquanto murmurava concordando, Liam teve que se perguntar como Sigimor encontrou tempo para fazer aquela contagem. O homem nunca deixava de surpreendê-lo, Liam pensou enquanto observava os outros partirem. Assim que ele e Keira estavam sozinhos, Liam a levou para seu pequeno abrigo, despiu-a, e a deitou em sua cama rústica. No momento em que estava para se juntar a ela, sir Ian e seus homens chegaram. O homem quis discutir a batalha e trocar palavras de gratidão, para grande desânimo de Liam. O sol estava começando a subir antes de ele poder se juntar a Keira.
Quando deslizou para baixo dos cobertores e a puxou para seus braços, Liam suspirou de alívio. O último de seus temores foi afastado quando ela se aconchegou contra ele, ajustando suas costas esbeltas contra a frente do seu corpo. Ele desejava ansiosamente fazer amor com ela, mas sabia que ela precisava descansar. Tinha a sensação que Rauf causara muitos danos em Ardgleann nos poucos meses que tinha estado lá, e ele sabia que Keira iria querer restabelecer tudo que pudesse tão depressa quanto pudesse.
"Liam, nós não estamos de volta a Ardgleann, não é?" Keira perguntou.
"Não, amor, nós ainda estamos no acampamento." Sentindo que ela estava mais adormecida que acordada, ele beijou seu rosto. "Descanse."
"Mas existe tanto trabalho para fazer."
"Você pode começar a isto mais tarde. Ele não vai pra lugar nenhum."
"Isso vai partir meu coração, não é?"
"Sim, eu sabia que poderia. Mas ele e a propriedade se remendarão."
Keira olhou em volta do pátio de Ardgleann enquanto agarrava firmemente a mão de Liam. Ele a tinha deixado dormir por horas, e agora já passava do meio-dia. Embora ele tivesse dormido pela maior parte daquele tempo também, ela não se sentia menos culpada por isso. O fato de ela temer encarar o povo de Ardgleann tinha muito gosto de covardia, e ela que fosse uma razão pela qual se perdeu no sono. Ela tinha um forte desejo de correr de volta para o pequeno abrigo na floresta, mas lutou contra isto. Ardgleann era sua casa agora, e era seu dever limpá-la do fedor de Rauf e de todas as lembranças.
Parecia que muito trabalho já tinha sido feito. Existiam poucos sinais da batalha que tinha sido travada, mas a marca de Rauf no lugar ainda estava clara de ser ver. Ele realmente não tivera nenhuma compaixão por Ardgleann, e nem seus homens. Haveria muitas semanas de trabalho duro pela frente para limpar a sujeira e reparar todas aquelas coisas que sofreram com o descuido ou precipitação de mãos destrutivas.
"Ele era um porco," Liam murmurou. “O lugar está deplorável, mas pode ser reparado."
"Sim." Ela olhou para as portas da propriedade, de espesso carvalho finamente entalhado. “Ele não estragou as portas."
"São portas boas, espessas pelo que parece. Boas para defesa."
"Claro."
"Você tem que entrar algum dia, amor," ele disse suavemente. "Melhor superar isto."
Ela balançou a cabeça e, ainda segurando sua mão, entrou na propriedade. Levou apenas um momento para ela perceber por que as portas tinham sido deixadas parcialmente abertas. Meses de homens rústicos vivendo como porcos deixaram um mal-cheiro. Keira temia que um pouco do cheiro também pudesse vir dos cadáveres deixados para apodrecer nos muros. Ela estremeceu e então endureceu sua espinha. Aquele açoite tinha saído de Ardgleann agora. Haveria a perda de algumas coisas bonitas para lamentar, ela não tinha nenhuma dúvida, mas as vidas perdidas eram de muito mais importância. Ardgleann podia ser consertada e limpa. Os mortos nunca poderiam ser substituídos.
"O salão primeiro, eu penso.” Ela disse, e Liam a levou para lá.
Ainda enquanto andava os poucos passos até o salão, Keira olhava ao redor num misto de choque e surpresa. Havia meia dúzia de mulheres trabalhando duro para retirar rapidamente a sujeira do chão e limpar tudo. Uma parte da mobília tinha obviamente se perdido, mas as tapeçarias elegantes nas paredes pareciam não ter sido danificadas. Quando Joan levou as mulheres até ela, Keira ficou tensa, insegura se seria bem-vinda.
"Milady, nós esperávamos ter o salão e talvez alguns outros aposentos limpos antes que você chegasse.” Disse Joan.
Relaxando um pouco quando viu apenas boas-vindas nos rostos das mulheres, Keira disse. “Vocês não precisavam começar a trabalhar tão cedo, Joan.” Ela podia ver contusões em varias das mulheres, e sentiu seu coração apertar de pesar pelo que elas deviam ter sofrido. “Vocês precisam de tempo para se curar, para estar com suas famílias."
"Nós estamos nos curando, milady.” Joan disse firmemente. “Livrarmos-nos de qualquer sinal daqueles porcos está nos curando." Todas as mulheres atrás de Joan acenaram vigorosamente a cabeça e murmuraram seu acordo.
"Esfregar este lugar de cima a baixo é uma das maneiras de fazer isto.” Disse Claire, a lavadeira. A mulher de repente alisou as saias e ajeitou seu cabelo. “Este é o novo lorde, então?"
Um pouco atordoada, Keira apresentou Liam. Ela quase lamentou a maneira como ele saudou cada mulher como se ela fosse a mais fina lady. Enquanto o observava conhecer o nome de cada uma, seu lugar em Ardgleann, e até sua família, ela sentiu alguém puxando gentilmente seu braço. Ela voltou o olhar para Joan e deixou a mulher afastá-la alguns passos de onde Liam estava fazendo sua mágica.
"Não pareça tão triste, milady." disse Joan.
"Mas eles têm sofrido tanto," começou a Keira.
"Sim, eles têm, e existem alguns ferimentos profundos que levarão tempo para curar. Mas você não vê? Todas as mulheres de Ardgleann sofreram. Nós damos conforto e força umas as outras agora, da mesma maneira que fizemos enquanto estávamos presas aqui. Sim, alguns escaparam, mas muito poucos."
"Existem muitas viúvas?"
Joan acenou a cabeça e suspirou. "Pouquíssimos dos homens dentro da propriedade sobreviveram. Os homens de Ardgleann que sobreviveram darão boas-vindas de volta as suas mulheres, e isso é uma coisa boa. Vai acontecer, não se preocupe. Nós vemos isso tudo como uma prova de fogo, e nós sobrevivemos."
"Eu devia ter—"
"Feito exatamente o que fez. Correr – rápido e longe. Todos nós sabemos o que aquela besta planejava para você. Ele reclamou durante dias por não ter podido fazer isso. Você voltou, senhora, e nós ficamos todos surpresos. Você era uma moça pequenina casada com um homem doente, problemático, há apenas alguns meses. Não éramos nada para você. Não houve temo para isso, não é? Mas você voltou com o melhor grupo de homens que eu já vi e mandou aquele demônio diretamente para o inferno onde ele pertence."
"Vocês realmente não esperavam que eu voltasse?"
"Por que você deveria? Sim, e nós temíamos que você tivesse morrido, já que estava tão ferida e por conta própria. De vez em quando, nós esperávamos que você estivesse viva e pudesse pensar numa maneira de nos ajudar. Nós também esperávamos que sir Ian visse a ameaça que Moubray era e iria querer se livrar dele. Mas nós nunca esperamos que nosso inferno fosse terminar em apenas alguns meses."
Keira sentiu a culpa que carregava por tanto tempo começar a deixar seu coração. Joan estava dizendo o que todos tentaram lhe dizer várias vezes. Como Joan tinha sido um daqueles a sofrer nas mãos de Rauf, porém, as palavras tinham muito mais peso vindo da mulher. Keira podia ter certeza que eram verdadeiras, não simplesmente palavras de conforto.
"Seu marido é um belo rapaz," disse Joan, "e meu Malcolm diz que ele é um bom homem, também. Você nos trouxe um bom lorde."
"Oh! Malcolm!" Keira pegou Joan pela mão. "Eu esqueci de falar com Malcolm sobre sua mão."
"É uma coisa triste." Joan procurou ter certeza que ninguém estava perto o bastante para ouvir e acrescentou, “Mas você sabe que essa não é sua mão de trabalho. Ela dói, entretanto, e eu espero que Moubray sofra mil tormentos no inferno por isto."
"Eu olhei sua mão, Joan. Acho que posso ajudá-lo. Provavelmente nunca voltará a ser como era, mas eu acho que posso melhorar, diminuir a dor." Ela fez uma careta. "Infelizmente, eu teria que lhe causar dor para fazer isso."
"O que você precisaria fazer?"
"Quebrar seus dedos, e então ajustá-los corretamente." Ela balançou a cabeça quando Joan estremeceu. "A dor e o modo como sua mão ficou torta assim é porque os dedos não cicatrizaram direito. Não deve ser deixado assim por muito mais tempo, entretanto."
Joan balançou a cabeça. "Tem que fazer isso antes que fixe errado permanentemente. Faz sentido. Eu falarei com ele, milady. Uma dor rápida que pode por fim a maior parte da dor constante soa como uma coisa boa. Se ele aceitar, eu encontrarei alguém para quebrar seus dedos, e então você pode fazer o ajuste."
"Sua mão estaria quase inútil por seis semanas ou mais."
"Está quase inútil agora, e eu estarei lá para ajudá-lo."
Keira respirou fundo para impedir sua coragem de afundar. "Eu sei como vocês todas sofreram aqui, e, bem, se qualquer uma de vocês se encontrar grávida e não puder ficar com a criança, porque a lembrará demais de seu tormento, traga-a para mim."
"Você não pensa que a criança levará a mancha de seu pai?"
"Não mais do que eu acredito que uma mulher estuprada carregando uma criança signifique que ela devia estar gostando. Não, só porque o homem era um bruto que fez coisas tão cruéis que faz o estomago revirar, não significa que seu filho será da mesma laia. Não, se ele não tiver educado essa criança. Eu não creio que Rauf estava louco, de qualquer jeito, e isso é estranho, mas eu acho que torna tudo isso mais deprimente."
"Eu entendo o que você quer dizer. Ele tinha mais uma doença na alma que na mente. Eu direi às mulheres, mas creio que não haverá muitas crianças nascidas disto, e menos ainda que não poderão suportar a criança. Sim, especialmente quando eu disser a elas que Moubray e seus homens eram um bando de cachorros selvagens, mas um filhote de cachorro pode ser treinado para ser um bom companheiro se tratado com uma mão amorosa. Na verdade, serão os homens que terão mais dificuldade para aceitar uma criança nascida deste tempo."
"Milady! Que bom que você veio!"
Ao se virar para ver Kester correndo para ela, Keira começou a sorrir até que viu a preocupação estampada em seu rosto. “O que foi, Kester?” ela perguntou quando ele tropeçou até ela, Meggie grudada em seus calcanhares.
"É sir Archie.” Kester respondeu. “Ele rachou sua cabeça novamente."
"Ninguém me disse que ele tinha sido ferido durante a batalha."
"Um homem ou dois perguntou a ele se ele estava ferido, e ele lhes disse que não era nada mais que um arranhão, mas eu acho que seu antigo ferimento foi aberto. Dois dos homens de Rauf tentaram escapar pelo quarto que sir Archie estava guardando. Uma das mulheres foi muito boa em ajudar sir Archie a encontrar seu alvo, e o outro homem estava lidando com as outras escondidas dentro das câmaras por sir Archie. Mas sir Archie levou um golpe na cabeça antes de lidar com aquele porco."
"Onde está ele?" Ela perguntou enquanto Liam se aproximava dela, ouvindo com atenção.
"No pequeno quarto para onde nos levaram quando chegamos aqui."
"Bem, eu queria dar uma boa olhada naquele ferimento, e tinha pensado em abri-lo para isto. Pelo menos eu não terei que abri-lo." Ela olhou em volta para todo o trabalho que precisava ser feito. "Ele está sangrando muito?"
"Vá cuidar do homem," disse Liam antes que Kester pudesse responder. “Eu posso começar a cuidar de um pouco do trabalho, embora pareça que estas senhoras não precisam de muita direção. Vá. Meggie e Kester podem ajudá-la a conseguir o que você precisar. E você pode aproveitar para ver os outros feridos também." Quando ela continuou hesitando, ele lhe seu um beijo rápido. “Vá e faça o que você faz tão bem, e deixe-me inspecionar os danos. Eu posso ser apenas um homem, mas penso que posso dizer o que precisa ser limpo."
Keira riu suavemente e então saiu com Kester e Meggie ajudando-a a juntar o que ela precisaria para cuidar do ferido. Liam odiava pensar que qualquer daqueles que ajudaram a retomar Ardgleann estava sofrendo, mas ele estava contente que Keira estaria completamente entretida tratando das pessoas por algum tempo. Ele queria conferir com as mulheres que danos elas viam e o que sentiam que precisava ser feito primeiro. Assim que Keira desapareceu, ele se virou para conversar com as mulheres, apenas para encontrá-las todas reunidas observando-o.
"É melhor você fazer os registros, milorde.” Disse Claire. “Nós não tivemos uma chance de conhecer muito bem a pequena moça, mas sabemos que ela tem um coração suave, e que aquele homem a fez sofrer muito."
Joan balançou a cabeça. "E acrescente seu remorso." Joan olhou para as outras mulheres. "A moça tola pensa que falhou conosco por não ter voltado mais cedo."
Liam ouviu as mulheres exclamarem de surpresa, e então Claire olhou para ele. “Não se preocupe, milorde. Nós logo tiraremos essa tolice de sua cabeça. Agora, você vai precisar de algo para registrar ou anotar tudo isso?"
"Sim, algo para escrever seria muito útil," Liam respondeu, lutando para conter o deleite que sentiu, por ter certeza que estas mulheres realmente removeriam finalmente o fardo de culpa que Keira carregava por tanto tempo.
Claire saiu apressada para arrumar o que ele precisava, e Joan disse, “As cozinhas não precisam que nada seja feito. Os homens raramente iam lá. Nós também limpamos um quarto para você e nossa senhora. Há três mulheres lá em cima agora o arrumando."
"Eu suspeito que Rauf Moubray usava o quarto do lorde."
"Sim, ele usava, então nós limpamos o quarto da senhora para vocês. Nenhum dos homens dormiu lá porque era usado pela mulher de Rauf.” Joan indicou com a cabeça uma morena muito voluptuosa com olhos castanhos desgostosos. “Hattie dormia lá. Quando aquele demônio perguntou quem era a prostituta do lorde, sabendo que o homem tinha intenção de agir como lorde aqui. Ela também nos ensinou algumas coisas que nos ajudaram a sobreviver, já que ela tem, bem, lidado com muitos homens em sua vida.” Joan corou.
Para surpresa de Liam, Hattie riu, e as mulheres rapidamente juntaram-se a ela. “Bem, Hattie, se você um dia decidir que gostaria de parar de lidar com homens, apenas me deixe saber disto.” Ele podia dizer pelos olhos arregalados de Hattie que ela o tinha entendido, e suspeitou que logo teria notícias dela. “Há outras pessoas que precisam de cuidados?"
"Suspeito que nossa senhora estará fazendo isso logo." Joan respondeu. “Aqueles dois grandes lordes foram diretamente para as masmorras para libertar as pobres almas que Rauf pôs lá, e a maioria deles estão com os poucos homens feridos na batalha. O trabalho verdadeiramente horrendo está feito. Aquelas pobres almas que o porco pendurou nos muros finalmente foram postas para descansar. Rauf e seus homens foram despidos de tudo que valesse qualquer coisa e enterrados em uma cova cavada por seus homens e até por alguns de sir Ian que ficaram aqui por enquanto. Então o trabalho foi feito pelo filho de lorde MacKay e seus homens. Eles trabalharam rápido, e eu os alimentei bem antes deles partirem. Quando viram o que tinha sido feito aqui, bem, para um homem, os MacLeans e os MacKays ficaram muito contentes por você ter vindo libertar esta terra de Moubray."
O que significava que ele não teria nenhuma objeção de seus vizinhos para reivindicar Ardgleann como sua por causa do breve casamento de sua esposa com Duncan MacKail, Liam pensou. De uma só vez, ele ganhara terras e uma boa propriedade e conquistara aliados. Tudo correra tão bem, que ele tinha certeza que seria preciso muito tempo antes que ele pudesse acreditar completamente nisso. Claire retornou, e Liam deixou sua mente fazer uma lista do que precisava ser feito e o que poderia precisar ser substituído. Ele estava justamente no que tinha sido o escritório de Duncan MacKaill, reconhecidamente pouco usado por Rauf e seus homens, quando Sigimor, Ewan, e os irmãos de Keira juntaram-se a ele.
"Nós estaremos partindo pela manhã," Sigimor anunciou enquanto se inclinava contra a pesada mesa de trabalho à qual Liam se sentava.
"Sabem que têm meus sinceros agradecimentos.” Disse Liam.
"Sim, mas nós não precisamos deles. Isso precisava ser feito. Você ganhar este lugar só adoça isso tudo um pouco mais."
"E nós teríamos vindo por causa de Keira," disse Lucas. "Nós estamos muito contentes porque não tivemos que lutar sozinhos pelo que era dela."
"Está ruim?" Ewan perguntou, relanceando o olhar sobre a lista que Liam tinha a sua frente.
"Não muito bem,” Liam respondeu. “Você estava certo sobre os banquetes. O homem não dedicou um pensamento para o que aconteceria quando ele e seus homens comessem tudo. As pessoas conseguiram salvar algumas vacas, ovelhas e aves, mas passará um longo tempo antes que possamos repor o que foi sacrificado para sua glutonaria."
"Nós podemos ajudar nisso. Algumas pequenas contribuições de cada um não deixaria nenhum de nós sofrendo, mas o ajudarão a manter os lobos longe da porta no inverno que se aproxima."
"Sim," Sigimor concordou, e os irmãos de Keira acenaram com a cabeça. “Todos nós ganhamos com isto, e com pequeno custo para nós mesmo. Você agora tem mais cavalos do que precisa ou deseja. Use-os para trocar com seus vizinhos pelo que você precisar."
"Você não quer algum deles?" Liam perguntou.
"Bem, existem um ou dois que eu penso que você devia manter, e eu estarei buscando um garanhão ou um potro ou dois, se você não se importa, mas não mais.” Quando Liam acenou com a cabeça, Sigimor disse, “Eu mostrarei a você aqueles dos quais estou falando antes de deixar este lugar."
"Como está minha irmã?" Artan perguntou.
"Lamentando ver o que foi feito ao que era uma propriedade muito fina," Liam respondeu, “e, ainda mais, o que todas as pessoas aqui sofreram. Entretanto, isso passará, e se todos se sentirem como as mulheres que estão limpando o salão, Keira finalmente vai abandonar toda aquela culpa a qual se agarrou por tanto tempo."
Artan praguejou baixinho. “Todos nós dissemos a ela que não tinha nada do que se culpar, mas é claro que ela não nos deu atenção."
"Sim, entretanto nós não éramos aqueles sofrendo, éramos? Aquelas mulheres dizendo a ela para deixar de ser uma tola tem muito mais peso que qualquer coisa que nós fizéssemos ou pudéssemos dizer. Na verdade, eu quase podia ver o peso deixando-a enquanto ela conversava com a esposa de Malcolm."
"Bom," disse Sigimor. "Agora, diga-nos se há algo que nós e os homens podemos fazer agora. Não há sentido em desperdiçar a chance de pôr tantas costas fortes para trabalhar."
"Sim," Ewan concordou. "O trabalho duro também me ajudará a decidir como agir quando eu voltar para casa e para minha esposa grávida."
"Fiona está grávida novamente?" Liam perguntou. "Eu fico surpreso que você ainda tenha se juntado a nós para esta batalha."
"Tive que fazer isso. Eu sabia que era por isso que ela se esforçava tanto para guardar segredo de mim.” Ewan balançou a cabeça. “Quase todos em Scarglas sabiam da gravidez, e já que nenhum deles acredita que ela iria cumprir qualquer das ameaças terríveis que usou para mantê-los calados, não demorou para eu ouvir sobre isso. Apenas tenho que decidir se eu devia agir com surpresa ou ralhar com ela por tentar guardar segredos de seu lorde e marido."
Liam riu junto com os outros. Quando todos voltaram sua atenção para o trabalho que poderia ser feito antes deles partirem, porém, Liam frequentemente se encontrou distraído com seus pensamentos. Assim que os outros os deixaram, ele procurou por Keira antes de juntar-se ao trabalho que estava sendo feito. O anúncio de Ewan de que Fiona carregava seu filho fez Liam pensar sobre Keira, de como logo ela poderia estar carregando seu filho ou filha, e ele sentiu uma necessidade forte de vê-la.
Depois de algum tempo ele a encontrou sentada no solar da senhora. O quarto parecia outro que misericordiosamente escapara da mancha de Moubray e seus homens. Keira se sentava em um banco almofadado perto das surpreendentemente grandes janelas. Ele caminhou até ela, sentou-se ao seu lado, e segurou suas mãos. Foi só então que ele notou que ela estava estudando uma peça de metal longa e fina.
"O que é isto?" Quando ela estendeu a peça para ele, Liam a tomou de sua mão e a estudou cuidadosamente. “Parece um pouco como um pedaço de um mangual ou o que quer que alguns homens poderiam colocar em uma clava para torná-la uma arma mais perigosa."
"É exatamente o que é.” Disse Keira. “Estava na cabeça de sir Archie."
"Jesus. Deve ter sido uma fonte constante de dor."
"Eu acho, também, mas ele insiste que não estava tão ruim. Também penso que pode ser por isso que sua visão estava tão borrada, mas não poderia ter certeza disso por algum tempo ainda. O ferimento precisava de muita limpeza, mas essa coisa foi uma grande surpresa. Eu tive que pedir a um de meus primos para puxar isto fora, pois estava preso no osso. Sir Archie está dormindo agora, mas uma vez que ele acorde, eu saberei melhor se tirar isso vai ajudar a melhorar sua visão."
"E quanto aos outros que você atendeu?"
"Os ferimentos da batalha curarão. Eles não estavam tão ruins. As pobres almas que Rauf manteve trancadas nas masmorras precisarão de cuidados por algum tempo. Alguns foram espancados, alguns foram torturados, mas principalmente, eles não estavam se alimentando muito ou recebendo água suficiente. Eles precisaram ser banhados antes que eu pudesse até mesmo ver seus ferimentos."
"Eles sobreviveram a isto. São claramente fortes, e têm vontade de viver."
Keira balançou a cabeça. "Ah, Liam, eles estavam todos tão agradecidos," ela sussurrou. "Eles estavam tão contentes por eu ter voltado, e a seus olhos, eu fiz isso muito mais depressa do que poderiam imaginar."
"Então agora você acreditará em mim e em todos os outros que tentamos fazer você entender que não tem nada do que se sentir culpada?"
Ela sorriu e descansou a cabeça contra seu ombro. "Sim, eu irei. É estranho, mas quando Joan falou do quão surpresos eles todos estavam por eu ter mesmo voltado, em apenas alguns meses, foi como se mãos invisíveis erguessem um peso enorme de meus ombros. E de meu coração. Agora, ele dói apenas pelas vidas perdidas, pelo sofrimento dos que ainda vivem, e pelo mal feito a um lugar que era todo beleza e paz."
"Bom. É como devia ser." Liam olhou em volta, novamente notando os toques elegantes que pareciam existir em toda a propriedade, de uma bela tapeçaria na parede ao tapete no chão. “Os MacKaill tinham apreço pelas coisas finas, não?"
"Sim, eles tinham. Muitas destas coisas são feitas aqui, você sabe. Muito tempo atrás, o lorde aqui começou a reunir bons artesãos em sua volta. Desde que as palavras se espalham rapidamente entre tais pessoas, mais vieram para cá, pois era um lugar normalmente pacífico, e a terra é surpreendentemente boa aqui. Você encontrará mercadoria de Ardgleann em todo mercado. Diferente de tantos outros nesta terra, Ardgleann é um lugar bastante lucrativo para todo seu povo. Acho que é por isso que achei tão difícil suportar que Rauf viesse aqui. Tudo que estas pessoas desejavam era fazer coisas bonitas. Que tal homem viesse aqui parecia uma abominação."
"Bem, nós devemos acertar isto, e será um lugar pacifico novamente.” Ele contou a ela sobre as fortes alianças que, estava certo, tinham sido feitas com os clãs vizinhos; Dos cavalos que podiam ser usados para permuta; E qualquer outra coisa que ele pôde pensar que podia ser considerada uma boa notícia, não importa quão pequena fosse.
Keira sorria enquanto ouvia Liam falar. Ele estava se esforçando tanto para tentar voltar seus olhos em direção a tudo que era bom e impedi-la de lamentar tudo que tinha sido ferido ou perdido. Ela quase riu quando ele suspirou fortemente e resmungou uma praga, pois sabia que significava que ele tinha ficado sem boas notícias.
Ela se empertigou, segurou sua mão, e lhe deu um beijo breve. “Tudo isso soa maravilhoso, e nós somos afortunados por nossos parentes. Agora, conte-me todas as más notícias."
Ele fez isso, e era ruim, contudo Keira percebeu que não era tão ruim quanto ela temia. Rauf Moubray e seus homens tinham sido brutos grosseiros, mas parecia que Rauf minimizara a destruição das coisas finas em Ardgleann. Ele queria bancar o lorde, e deste modo via coisas tais como as tapeçarias, o vidro nas janelas, e os tapetes como a decoração de um lorde. Obviamente nunca tinha ocorrido a ele que era melhor manter as pessoas que fizeram aquelas coisas vivas, mesmo que apenas para manter sua bolsa cheia.
"O pior, aparte aqueles que morreram, é a perda de tanta comida e atraso no plantio dos campos.” Keira disse quanto Liam terminou. “Entretanto, parece que nossos parentes nos salvarão este ano."
"Como Sigimor e Ewan disseram, eles ganharam com isto, também. Outro proprietário de terras na família, mais aliados, e um laço mais forte feito com alguns dos antigos."
"Homens tão práticos," ela arreliou e levantou-se. "É hora de trabalhar. Se por nada mais, nós precisamos encontrar um lugar para dormir."
"Nós já temos um. Não, não o quarto do lorde.” Ele disse quando viu a consternação que ela não podia esconder. “O quarto da senhora. Só Hattie ficou lá. Você tem algum problema com isto?"
"Por quê? Porque ela é uma prostituta? Não." Ela sorriu levemente. “Ela era uma prostitua muito limpa. Eu só queria saber como ela ficou aqui.” Seus olhos se arregalaram quando Liam contou a ela o que Hattie tinha feito, como também a oferta que ele fizera para a mulher. “Eu espero que ela aceite a oferta. Eu sempre tive a sensação que ela era o que era porque não havia nada mais que ela pudesse fazer, ou pensou que pudesse fazer. E eu creio que se ela andar longe daquela vida agora, será aceita pelas outras mulheres. Ela poderia ter uma nova vida."
"Eu acredito que ela irá aceitar. Se por nada mais, ela parece uma mulher inteligente, e ela verá tudo isso por si mesma."
"Nós devemos ir trabalhar, então?" Ela enganchou o braço no dele.
Liam a beijou e sussurrou contra seus lábios. "Ficará tudo bem, amor."
Quando encarava seus olhos azuis esverdeados, Keira quase podia acreditar nele.
Liam sorriu quando pisou na área onde estava a horta. Keira e Joan estavam trabalhando lado a lado em suas mãos e joelhos, removendo ervas daninhas da horta. O que o fez sorriu foi que cada uma tinha um gato montado nas costas. Os dois gatos de Keira chegaram com os suprimentos de Scarglas um mês atrás, e eles rapidamente se tornaram dois animais muito mimados. Rauf, ao que parecia, abominava gatos, e fez seus homens matarem todos que puderam encontrara. A maioria dos cães também foram vítimas de jogos cruéis. Só dois gatos sobreviveram, ambas fêmeas, embora uma delas fosse bastante velha. Raio seria um macho feliz quanto finalmente atingisse a maioridade.
Fazia apenas dois meses desde a batalha, mas Ardgleann estava quase tão bem quanto tinha sido. Havia ainda algum pesar e feridas invisíveis, mas a cura tinha começado. Existiam sinais de que alguns dos homens dos clãs vizinhos estavam de olho nas viúvas de Ardgleann. A vida continua, Liam pensou enquanto andava até Keira e tirava Raio de suas costas, dando um suspiro exagerado quando o gato se enrolou sobre seu ombro e ronronou. Trovão pulou de cima de Joan e se enrolou sobre seus pés, obviamente tentando ronronar mais alto que seu irmão. Gatos realmente muito mimados, ele pensou.
Keira se sentou sobre seus calcanhares e riu suavemente. “Eles não acreditam em todas as suas carrancas e resmungos."
"Isto não é digno.” Liam disse, ociosamente coçando as costas de raio apenas para ver se conseguia que o gato ronronasse mais alto. “Um lorde não deveria estar envolto em gatos.” Ambas as mulheres riram, e Liam apreciou o som da contínua cura de Ardgleann. “Eu acabei de descobrir outra habilidade em nosso Kester. Ele é muito bom em caçar coelhos. Ele tem uma série deles e quer saber o que fazer com eles agora."
Joan se levantou e alisou suas saias. “Eu verei isso, milorde. Eles nos darão uma boa refeição esta noite.” Ela se apressou em direção à cozinha.
Liam estendeu sua mão, e quando Keira franziu o cenho para sua própria mão bastante suja e hesitou em lhe oferecê-la, ele a agarrou para puxá-la de pé. “Eu estou coberto de gatos, Keira. Um pouco de sujeira não terá importância. Se você fosse muito amável em tirar esse gato dos meus pés, nós poderíamos nos sentar embaixo da macieira por um tempinho."
Erguendo Trovão, Keira caminhou com Liam até o banco de pedra rústico embaixo da macieira. Ela se sentou ao lado dele, colocando o gato em seu colo. "Eu devia terminar de retirar as ervas daninhas."
"Nós dois retornaremos a nosso trabalho logo." Ele pôs o braço ao redor de seus ombros e a puxou para si. “Você acha que resta bastante tempo da primavera para conseguir uma boa colheita da sua horta?"
"Se inverno for amável o bastante para chegar um pouquinho atrasado este ano, sim. Caso contrário, nós conseguiremos uma colheita, mas as coisas serão muito menores do que normalmente são."
"Sim, isto é o que os homens dizem sobre os campos plantados.” Ele murmurou, “mas vale a pena tentar. Entretanto, até lorde MacKay diz que, neste primeiro inverno, ele nos ajudará se precisarmos. Mas ainda existe esperança, pois parece que estamos tendo uma parte igual de sol e chuva, o que é bom para a plantação. Pelo menos é isso o que os homens nos campos me dizem.” Ele sorriu. “Eu balanço a cabeça em todos os momentos apropriados."
Keira riu. "Eles estão certos, se é isso que você está se perguntando. Tanto quanto eu mantenho minha declaração, nós somos muito afortunados por nossos parentes e aliados. Eles não permitiriam que nós passássemos fome, e é um grande conforto saber disso. Também é muito reconfortante que nossos guerreiros tenham sido repostos. Sir Archie está muito contente com eles."
"Como eu estou. Eles começarão a agir como um agora, como deveriam."
"E você está muito contente que seu primo Tait veio para ser seu segundo em comando. Pode admitir isto.” Ela arreliou. “Eu juro não contar a ninguém."
Liam puxou ligeiramente sua trança num castigo gentil por sua provocação. “Sim, eu estou muito contente. Estava apenas um pouco hesitante porque temia que houvesse alguma triste razão para ele ter vindo aqui, como ter brigado com Sigimor. Mas é como ele disse. Sigimor tem mais homens do que ele precisa, e irmãos e primos em abundância. Tait pensou que eu poderia precisar de um outro."
"E aqui ele não é apenas um de muitos.” Keira murmurou. “Aqui ele pode ser mais que apenas outro irmão mais novo do lorde."
"Existe alguma verdade nisto. Também não é nenhum pecado ter um pouquinho de ambição. Em Dubheidland, Tait era realmente não mais do que outro dos homens em armas. Aqui, ele é meu segundo, e tem um pouco de comando sobre os homens. Uma vez que eu soube que a visão de sir Archie tinha sido restabelecida, pensei em lhe pedir para ser meu segundo, mas hesitei por que ele não parecia querer fazer mais do que treinar os homens. Estou contente agora por ter hesitado, pois a aceitação calorosa de sir Archie para com Tait revelou que eu estava certo. Sir Archie gosta do que ele é – um bom soldado e um bom treinador de homens. Oh, você sabia que ele tem estado cortejando Hattie?"
Keira balançou a cabeça, apreciando o calor raro de um dia ensolarado quase tanto como apreciava se sentar com Liam e ser segurada contra ele. “Hattie não está certa do que fazer. Ela me disse que há uma parte sua que está muito feliz vivendo em sua pequena cabana, fazendo suas tinturas, e não tendo que lidar com homens, mas existe outra parte que se sente solitária."
"Ah, mas esta parte solitária é para sir Archie?"
"Hattie se sente certa que é. Quando ela disse a ele que tinha sido uma prostituta por cinco anos e tinha se deitado com muitos homens, ele disse que tinha sido um mercenário por quinze anos e provavelmente colocara mais homens no sepulcro do que ela podia pôr na cama em toda vida. Ele disse que ambos provavelmente vão para o inferno, mas pelo menos podiam estar lá juntos se fossem casados." Keira sorriu quando Liam riu, mas rapidamente ficou séria novamente. "Hattie também pensa que está com criança."
"Ela está?" Havia apenas seis mulheres até agora que se encontravam grávidas após sua provação, contudo, nenhuma pareceu pensar que precisariam aceitar a oferta de Keira para entregar a criança aos seus cuidados.
"Sim. Ela ainda não acredita nisto, mesmo que eu lhe diga que trinta e dois não é velho demais, e que nada fora a abstinência pode garantir que uma mulher não conceba uma criança. Sir Archie diz que ele não se importa mesmo, ainda que a criança seja seguramente de Rauf. Eu pensava que estava livre das superstições relativas a sementes ruins e tudo isto, mas eu sofri um momento de desconforto quando ela me contou. A pobre criança provavelmente sofrerá por isto, também, pelo menos um pouquinho."
Liam balançou a cabeça, tendo justamente sofrido aquele mesmo desconforto. “Você precisa parar e se lembrar que é mais a criação do que a ascendência que faz o homem. Ou a mulher. Basta apenas olhar para Kester para se lembrar, também. Ridicularizado e rejeitado por seu próprio sangue, homens duros, indelicados, e ainda assim ele é um bom rapaz."
"Eu acho que de algum jeito, foi bom que ele tenha ido para o monastério, que aqueles parentes não tiveram total influência sobre ele."
Por algum tempo eles se sentaram ao sol, calmamente apreciando um momento de paz juntos. Liam logo decidiu que Keira não estava pronta para dizer a ele que estava grávida. Havia uma pequena chance de que ela não tivesse notado ainda, embora fosse uma curandeira, estando ou muito ocupada ou muito cega para as mudanças em seu próprio corpo. Ele tinha notado, porém, mesmo que apenas porque de repente lhe ocorreu que não houve nenhuma interrupção em seus atos de amor desde o dia em que se casaram. Se ela não estivesse sofrendo quaisquer dos outros males que afligiam uma mulher com criança, era possível que não tivesse percebido isto ainda. Estava ficando mais e mais difícil apenas não perguntar a ela, porém.
Decidindo que seria melhor ele retornar Liam tirou Raio de seu ombro e colocou o gato sobre o banco, ignorando o olhar aborrecido do animal. “Eu tenho que voltar ao trabalho.” Ele disse, beijando Keira antes de ir embora. Mais uma semana, disse a si mesmo. Ele lhe daria mais uma semana para contar a ele.
Keira observou seu marido ir embora, admirando sua graça enquanto ele caminhava e, ela não estava mais envergonhada em admitir, a forma de suas pernas. Já que o dia estava bom, ele vestia o que chamava de kilt de Ardgleann por cima de uma camisa de linho áspero e suas botas de couro cru. O kilt que ele usava tinha o fundo verde e azul, com um toque de preto. Ela o provocou na primeira vez que ele tinha vestido o traje, alegando que ele era muito tímido para mostrar suas pernas nuas, e ele lhe disse que usava suas botas porque havia muitas coisas no chão que não desejava ter escoando entre seus dedões do pé. Keira entendia aquilo muito bem, mas também sabia que seu marido era um homem muito melindroso.
Ela suspirou, colocou trovão no chão, e retornou às ervas daninhas. Muito logo ela teria que contar a Liam que ele seria pai em aproximadamente sete meses. Ainda ficava envergonhada ao pensar sobre quanto tempo levara para perceber isto. Por muito tempo, ela desculpara a inquietação em seu estômago dizendo a si mesma que estava trabalhando muito duro ou estava muito preocupada com Ardgleann e seu povo. Quando finalmente encarou o fato que carregava um filho de Liam, ela tinha ficado deleitada, e depois desmaiado.
Por quase uma quinzena agora, ela chegava perto de contar a ele, apenas para sufocar nas palavras. Era provavelmente tolice, mas Keira queria saber como ele se sentia sobre ela antes de se tornar a mãe de seu filho. Já que não podia discernir como ele realmente se sentia sobre ela quando eram apenas eles dois, duvidava que conseguisse isto depois que ele soubesse sobre a criança que ela carregava. O único modo de ela poder saber o que ele sentia então seria se ela perguntasse a ele diretamente, talvez até dizendo a ele tudo o que ela sentia. Keira não tinha coragem de fazer isto ainda, e suspeitava que levaria muito tempo antes de fazer.
"Você não contou a ele, não é?"
Corando um pouco, Keira olhou para Joan. “Bem, não.” Ela se sentou sobre seus calcanhares e encolheu os ombros. “Isto não deveria ser tão difícil, mas é. Isto é muita tolice, até, é quase como seu eu tivesse ciúmes de meu próprio bebê. Não tenho nenhuma dúvida em minha mente que Liam ficará muito contente, e provavelmente, muito atencioso, até demais."
"E você gostaria que ele agisse assim apenas por sua causa, e não pelo que carrega em seu útero."
"Sim, isso resume muito bem."
Joan agarrou Keira pela mão, a fez levantar, e começou a levá-la em direção ao banco. “É hora de você e eu termos uma conversinha, de mulher para mulher."
"Eu já gastei tempo demais sentada," Keira protestou fracamente. "As ervas daninhas—"
"Ainda estarão lá." Joan se sentou e então balançou a cabeça quando Keira finalmente se sentou próximo a ela. "Você tem um bom homem lá, milady."
"Eu sei disto, e se estamos para falar de mulher para mulher, você ainda devia estar me chamando de milady?” Keira teve que encarar longamente o cenho franzido de Joan antes de corar por seu estratagema para tentar deter a repreensão que sabia estar vindo.
"Não tente desviar meus pensamentos para outro caminho. Você está casada com aquele homem há dois meses, e agora está carregando seu filho. É hora de parar de se perguntar e suspirar e pensar tão malditamente duro sobre tudo isso."
"É bom pensar sobre um problema com muito cuidado."
"Bem, isto é verdade, mas você pensa até a morte. Você ama o homem, não é?"
"Oh, sim," Keira respondeu suavemente. "Eu o amo tanto que às vezes de noite, eu posso ter muito prazer apenas em deitar junto dele, ouvindo-o respirar."
"E eu suspeito que tem sido desse modo desde o início."
"Muito possivelmente, entretanto eu fui muito bem sucedida em mentir para mim mesma."
"Isso atinge alguns de nós forte e rápido assim. Eu dei um olhar em Malcolm e pensei, este aqui é meu.” Joan piscou para Keira. “Eu tinha dez anos então. Malcolm tinha dezesseis. Mesmo quando ele deixou a aldeia por cinco longos anos, foi embora aprender com fazer coisas bonitas com os metais, eu nunca perdi a fé. Você precisa ter fé."
"Eu tenho fé no que eu sinto, Joan. E eu tenho fé em Liam – como um bom homem, um homem amável, um que nunca vai dar as costas ao seu dever. É no que ele pode sentir por mim que me falta fé. Ele é tão lindo e instruído—"
"E você acha que ele não pode gostar de uma moça pequenina como você? Você não está ainda preocupada com seus problemas com Duncan, não é? Sei que Malcolm lhe contou tudo sobre aquele pobre homem. Não era você. Nunca foi você. Sabe disso agora, não é?"
Keira balançou a cabeça. "Eu sei disto. O pobre homem tinha sido, bem, danificado antes de eu o conhecer. Os mesmos que deviam tê-lo amado e nutrido, o destruíram."
"Sempre é triste quando isso acontece.” Joan concordou. “Então, você não tem nenhuma fé em si mesma.” Joan cruzou os braços e franziu o cenho para Keira. “E por que isto, hein? Por que deveria uma bela moça como você sentir que não é boa o suficiente para algum homem?"
"Você não viu o tipo de mulheres que Liam pode atrair.” Keira murmurou, querendo negar a perspicácia de Joan, mas incapaz disso. Tinha que se perguntar quando ela tinha começado a perder a fé em si mesma e por que.
"Eu estou certa que algumas delas eram beldades, mas você está longe de ser comum, moça. Você tem olhos brilhantes, bonitos. Seu cabelo é adorável, longo e espesso. Sim, você não é uma moça muito exuberante, mas tem o bastante em seus ossos e em todos os lugares certos.” Ela abaixou o olhar para seu próprio corpo e sorriu levemente. “Mais do que eu, e meu homem nunca reclamou. Não é o corpo que segura um homem ao seu lado, de qualquer jeito, mas o coração, o seu espírito, e você tem genuinamente bastante de ambos."
Keira ficou um pouco surpresa quando Joan lhe deu um quadrado de linho limpo, e então percebeu que estava chorando. “Isto é tão tolo.” Ela disse brandamente enquanto enxugava as lagrimas de suas faces.
"É o bebê. Bem, pelo menos um pouco. Agora, me escute antes de ir descansar um pouquinho—"
"Descansar?" Keira disse, mas Joan ignorou sua interrupção.
"Você tem um homem muito bom. Ele é o lorde e seu marido, mas ouve você. Isto é uma coisa muito boa. Ele deixou muito claro para todos nós que você e ele são os líderes aqui, que você fala por ele assim como ele fala por você."
"Oh. Eu não sabia disto."
Joan balançou firmemente a cabeça. "Compartilhar sua autoridade com a esposa não é uma coisa pequena para um homem fazer. E nós sabemos que ele compartilha sua cama toda noite. Eu suspeito que ele a mantém realmente muito aquecida.” Joan riu suavemente quando Keira corou. “O homem não pode manter as mãos longe de você, milady. Está sempre a tocando ou dando-lhe um pequeno beijo quando você está ao alcance. Ora, uma bela moça bem-nascida como você deve ter sido cortejada dúzias de vezes."
"Não, eu não fui. Foi uma das razões porque fui rápida em aceitar Duncan, embora não conhecesse o homem tanto quanto gostaria. Eu tinha mais de vinte, e nunca tinha sido seriamente cortejada.” Ela suspirou. “Eu queria muito ter filhos, você sabe."
"O que eu vejo é, bem, como dizer isto? Você nunca considerou que só não via as tentativas dos homens de cortejarem-na porque não estava realmente interessada naqueles homens? Para mim isso soa como se você já tivesse decidido aceitar o primeiro homem que abordasse você ou seus parentes, e então nosso Duncan apareceu. Um homem decidido a tomar uma esposa, e ele era muito hábil em, er, testar a água primeiro. Se não houvesse nenhuma receptividade, ele iria a outro lugar. Eu acho que, como você nunca deu qualquer sinal a um homem de que receberia bem sua corte, nem mesmo percebeu que estava sendo cortejada. Então eles se dirigiam a próxima moça."
Keira se empertigou e começou a considerar isto, de repente recordando coisas muito parecidas ditas a ela por sua própria família. Infelizmente, ela teria que pensar sobre aquilo mais tarde. Joan claramente tinha mais para dizer.
"E, pense, milady, você é uma curandeira maravilhosa com uma benção de Deus descansando nestas mãos pequeninas. Você partiu daqui ferida e só, contudo conseguiu chegar a um lugar seguro, curou-se, e recuperou sua força, então nos trouxe o que precisávamos para nos libertar daquele bastardo do Rauf. Sim, e você tinha passado uma penosa provação em seu casamento com um homem que estava tão marcado e incapacitado em sua mente, que nunca devia ter tomado uma esposa. Mas você se controlou rapidamente, e nós sabemos que Duncan realmente acreditava que você poderia tê-lo ajudado com seus problemas. Só não teve tempo suficiente. Você curou sir Archie. Meu Malcolm já não sofre a dor interminável em sua mão, e ela está quase tão boa quanto era. Tudo por sua causa. Você curou aquele seu marido, e por sua causa, ele é um lorde, um homem com terras e poder, em vez de apenas outro primo de um lorde. Tudo o que ele é agora é devido a você."
"Mas o que tudo isso tem a ver com os sentimentos dele, ou mesmo se são profundos?"
"Nada. Tem a ver com o que você parece pensar, que não é boa o suficiente para ele. Sim, a maioria de nós pensa que ele nasceu para isto, que teria sido um triste desperdício se ele permanecesse apenas outro primo, mas ele conquistou isto por sua causa. Você o ama; é fácil ver que ele está satisfeito por você lhe aquecer a cama; ele a trata realmente como uma igual em tudo, e você está para lhe dar um filho." Joan encolheu os ombros. "Eu não posso pensar em mais nada para dizer. O que você precisa é olhar bem para si mesma, e ver tudo que há de bom em você, o que eu não acho que você faz, não claramente.” Joan levantou-se e fez Keira se levantar. “E você poderia pensar em apenas dizer a ele."
"Oh, eu pretendo contar a ele sobre o bebê logo."
"Bem, mas eu quis dizer que talvez você devesse apenas dizer a ele que o ama, e ver onde isso os levará. Agora, vá descansar um pouco."
Não foi até que Keira estava em seu quarto limpando a terra de suas mãos que ela percebeu que tinha acabado de ser enviada para seu quarto como uma criança malcriada – pela sua cozinheira. Ela riu e balançou a cabeça. Fez um sermão completo, disse-lhe para pensar seriamente sobre o assunto, e a mandou sair para fazer isso.
Keira suspirou; Ela era forçada a admitir que Joan estava certa sobre muitas coisas. Ela tinha perdido a fé em si mesma. Também era muito possível que ela simplesmente não tinha notado quaisquer tentativas de cortejá-la porque não tinha estado interessada em qualquer homem o suficiente para notar. Aquela falta absoluta de interesse certamente desestimularia muitos homens. Muitas de suas primas tinham tentado lhe dizer o mesmo. Ela notara Duncan, mas isso pode ter sido porque ela tinha decidido que precisava se casar, e Duncan tinha sido o primeiro homem a surgir na sua frente depois disso. Era tudo muito triste. Recordando como tinha se sentido na primeira vez que viu Liam, mesmo contundido e inchado como ele estava, ela soube que não tivera nenhum interesse real por nenhum homem antes disto. Era fácil ver como seus sentimentos, ou a completa falta deles, desestimularam qualquer um de até mesmo pensar em cortejá-la.
Observando-se no espelho, Keira viu novamente o quanto se parecia com sua avó, várias de suas tias, e muitas de suas primas. E, contudo, ela não as considerara sempre mulheres bonitas?, ela pensou. De alguma maneira ela tinha negligenciado aquela avaliação sobre seu próprio rosto. Cercada por tantos que pareciam semelhantes a ela, supôs que era muito fácil começar a se considerar muito comum. Ela não era uma grande beldade como lady Maude, mas não havia nada nela do que se envergonhar.
Ou seu corpo, ela pensou, enquanto baixava o olhar para si mesma. Ela era pequena e esbelta, mas não havia nenhuma parte pouco apresentável que ela precisava esconder. Ela também era forte e saudável. E ela tinha bons dentes, pensou e riu.
Ela despiu sua túnica, lavou-se completamente, e foi para cama. Faltavam apenas algumas horas até que todos estivessem reunidos no salão para o jantar, e provavelmente era uma boa idéia descansar um pouco antes de ter que ajudar com a refeição. Keira colocou a mão sobre seu estômago ainda plano e sorriu um pouco. Ela sempre dizia às mulheres para descansar muito quando estavam carregando uma criança. Estava na hora desta curandeira seguir um pouco do seu próprio conselho.
Seria melhor se ela estivesse bem descansada, decidiu enquanto fechava os olhos, pois tinha a intenção de confrontar Liam hoje à noite. Ainda que não conseguisse encontrar a coragem para dizer a ele que o amava, ela contaria a ele sobre a criança. Seria errado esperar tanto tempo que ele acabasse descobrindo isto sozinho ou, pior, por outra pessoa.
Liam combatia o desejo se enfiar na cama com sua esposa quando ela finalmente respondeu aos seus chamados suaves e lentamente abriu os olhos. Havia um olhar tão suave neles, dando-lhe as boas-vindas. Ele podia quase acreditar que era um olhar cheio de amor, mas rapidamente sufocou sua esperança. Até que Keira lhe dissesse como se sentia, ele só conseguiria deixar a si mesmo louco tentando descobrir o que cada olhar, sorriso, ou beijo poderia querer dizer.
"Eu adoraria me enfiar aí com você, amor,” ele disse e a beijou, “mas Joan trabalhou duro para preparar nossa refeição, e Kester está ávido para ver como ela preparou os coelhos que ele pegou."
Keira piscou, percebendo de repente que Liam realmente estava debruçado sobre ela. Ela tinha pensado que era um sonho. Sua mão ainda estava tocando sua face, e ela podia quase sentir o gosto das palavras ‘eu te amo’ em sua língua.
"Oh, sim," ela murmurou, lentamente se sentando. "Kester deve estar se sentindo muito orgulhoso de si mesmo."
"Ele está." Liam franziu o cenho, porque se ela não estivesse grávida, este cansaço podia se sinal de alguma enfermidade. "Você está se sentindo indisposta?" Ele perguntou, uma pontada de medo passando por seu corpo inteiro ante o mero pensamento mero de Keira adoecendo.
"Não, eu estou bem. Muito bem. Acho que passei muitas horas puxando ervas daninhas no sol." Ela sorriu. "Nós tivemos poucos dias quentes, ensolarados, não é de se espantar que eu não esteja acostumada a eles."
Liam a beijou novamente. "Eu a encontrarei no salão."
Keira acenou com a cabeça, observando-o partir, e então caiu de costas na cama com um gemido suave. Ela quase dissera tudo a ele. Embora ela estivesse planejando fazer isso, era preciso uma hora e um lugar melhor. E seria melhor ela escolher sua hora e lugar logo, ela disse a si mesma firmemente enquanto saía da cama e começava a se vestir. Era covardia ficar quieta, e não podia continuar assim. Keira sabia que mesmo que Liam não pudesse retribuir seus sentimentos por completo, ele nunca trataria seu voto de amor como insignificante ou como um fardo.
Depois de um exame completo, Keira se julgou pronta. Ela usava seu melhor vestido, tinha escovado seu cabelo até ficar brilhante e o tinha prendido apenas frouxamente por que era assim que leiam preferia, e passara óleo de lavanda muito ligeiramente sobre sua pele. Esta noite, depois de terminado o jantar, ela contaria a ele seus segredos. Ou pelo menos parte deles, ela pensou enquanto saía do quarto. Estava sendo difícil se livrar da covardia, Keira não queria prometer demais a si mesma.
Um sorriso curvou seus lábios enquanto ela caminhava pelo salão. Estava cheio de homens rindo, conversando, e até discutindo. Era uma mistura estranha de homens. Alguns vieram de terras dos seus parentes, alguns dos de Liam, os poucos MacKails que tinham sobrevivido, e até alguns MacLeans e MacKays, mas Liam estava certo. Eles estavam começando a agir como um. Era bom ouvir riso dentro de Ardgleann novamente. Até as poucas mulheres lá não mais conservavam aquele olhar assustado quando na companhia dos homens. Keira sentia que o riso era uma coisa que limparia o lugar de todo mal de Rauf melhor e mais completamente que qualquer faxina poderia.
Keira sorriu para Tait Cameron que se sentava à direita de Liam enquanto seu marido a ajudava a sentar a sua esquerda. Com cabelos de um tom de ruivo diferente dos de Liam e olhos verdes como hera, Tait era bastante bonito. Parecia estranho para ela que o homem não tivesse feito nada com as mulheres que trabalhavam dentro de Ardgleann. Talvez, ela pensou enquanto enchia seu prato com a ajuda do pajem, Tait mantivesse algumas das mesmas regras de Liam. Ela ficaria contente se fosse isso. No momento, ela estava contente apenas que o homem não fosse tão estranho quanto seu irmão mais velho Sigimor.
Quando os pajens e as criadas removeram as sobras do último prato e começaram a partir frutas e outros doces, Keira estendeu a mão para segurar a de Liam. Ela estava abrindo a boca para pedir a ele para levá-la para um passeio no jardim, ou para ir ao solar com ela se o tempo estivesse ruim, quando uma perturbação alta fora das portas do salão afastou sua atenção de Liam tão rapidamente que a deixou um pouco atordoada. Então ela reconheceu a voz da mulher que discutia com os homens de Liam, que queriam que ela esperasse calmamente em algum lugar. Ela arrancou sua mão longe de Liam. Desta vez, não era a covardia que detinha suas confissões, mas a fúria.
Keira voltou o olhar furioso para Liam enquanto uma doce voz feminina gritava, “Liam, meu doce príncipe, onde está você?" Keira também chegou muito perto de repetir o xingamento obsceno que Liam cuspiu.
O olhar que Keira lhe lançava devia tê-lo matado em sua cadeira, Liam pensou. Ele quase se surpreendia por não ver o sangue empoçando em seus pés. Liam estremeceu, porém, ainda que não estivesse certo de quanto daquela reação era devido ao olhar de Keira, e quanto era pela voz estridente de lady Maude ecoando muito nitidamente pelos corredores de Ardgleann. Quando ouviu Tait murmurar as palavras doce príncipe, Liam fuzilou seu primo com um olhar duro de reprovação antes de lady Maude entrar correndo no salão.
"Oh, Liam," lady Maude disse, parando alguns passos dentro do salão para postar as mãos juntas como se em oração e apertá-las contra si, erguendo os seios. “Afinal o encontrei, meu amor mais querido."
Keira observou cada homem e menino no salão fixar o olhar nos seios de lady Maude e quase gritou. Uma tranquila e razoável parte sua tentava fazê-la notar cuidadosamente o fato que Liam não fazia parte desse grupo, que ele olhava para a bela lady Maude como se ela fosse um rato na comida. Ela ignorou a voz, muito zangada para se importar. Não apenas a chegada de lady Maude era uma dura lembrança do passado de Liam, mas também arruinava os planos cuidadosos que ela fizera para a noite. Keira teve que se perguntar se era um presságio também.
Aqui estava seu futuro como esposa de um homem como Liam, um futuro cheio de mulheres tentando afastá-lo dela ou fazer com que a traísse. Ela tinha quase certeza que Liam dissera a verdade quando alegou que nunca tinha sido amante da mulher, mas isso não importava. Keira poderia acreditar nele agora, mas e da próxima vez? Ela não podia ter certeza que não se transformaria numa bruxa ciumenta, e qualquer esperança que tinha de um casamento longo e feliz rapidamente desapareceria. O fato de que ela poderia nunca saber se ele a amava para calar suas dúvidas tornava esta possibilidade muito maior.
Quando lady Maude correu para Liam e quase se lançou em seu colo, Keira apertou seus dentes tão forte que suas mandíbulas doeram. Liam pegou a mulher pelos braços e a segurou longe dele, mas sua rápida rejeição do abraço da mulher não fez Keira se sentir menos violenta. Ela tinha vontade de correr para seu quarto e se trancar lá dentro antes que cedesse ao desejo doloroso de arrancar todos os fios do cabelo dourado de lady Maude. Endurecendo a espinha, Keira se forçou a ficar em sua cadeira. Ela não se permitiria fazer nada tão fraco, tão sem força moral, e tão indigno diante do povo de Ardgleann.
"Maldição, Maude, o que você está fazendo aqui?" Liam exigiu enquanto a empurrava na cadeira que um dos homens apressadamente trouxera para ela.
"Procurando por você," ela respondeu e então tirou um quadrado de linho delicadamente bordado para tocar de leve nas lágrimas que de repente começaram a brilhar em seus grandes olhos. "Meu marido me manteve trancada em casa depois que me arrastou do monastério onde fui para você, meu amor. Levei semanas para ficar livre de forma que pudesse vir até você novamente. Oh, meu belo rapaz, meu marido foi tão bruto comigo."
"Talvez, ter sua esposa galopando pelo país perseguindo outro homem o irrite um pouquinho.” Keira murmurou. Ela achou quase engraçado quando lady Maude de alguma maneira conseguiu lhe lançar um olhar furioso dissimuladamente enquanto ainda mantinha seu ar de agonia e sofrimento apaixonado. "Foi só um pensamento."
"Quem é esta, meu amor?" lady Maude perguntou a Liam.
"Esta é minha esposa, lady Keira," Liam disse. "Eu sou um homem casado agora."
Isso era tudo um jogo para a mulher, Keira percebeu. Embora realmente começasse a acreditar que Liam nunca tinha se deitado com a mulher, ela continuava dividida em relação a quanto da aparente adoração de lady Maude era culpa dele. Agora ela duvidava que a mulher amasse mesmo Liam. Ela o cobiçava, talvez, pois que mulher com sangue nas veias não desejaria se deitar com Liam se ele a quisesse, ou se ela fosse ousada o bastante para tomar um amante. Mas amá-lo? Não. O que Keira não podia sequer começar a entender era por que a mulher faria este jogo todo?
"Eu sugeriria que você voltasse para seu marido, milady.” Liam disse, rezando que tudo isto pudesse ser resolvido tão simplesmente, mas duvidando que seria tão sortudo.
"Para Robbie? Mas, meu doce príncipe, ele foi tão cruel comigo. Nossa, ele me apavorou bastante.” Ela deu um pequeno estremecimento que imediatamente atraiu quase todos os olhares masculinos de volta para seus seios. “Você nunca conseguiria imaginar como horrivelmente ele me tratou."
Olhando ao redor para os homens reunidos no salão enquanto lady Maude continuava a listar conto atrás de conto sobre o tratamento bárbaro de seu marido para com ela, Keira decidiu que a mulher estava tão segura sobre seu jogo que nem mesmo notava quando ia longe demais. Com exceção de Tait e Liam, a maioria dos homens inicialmente pareceram ultrajados por sua história e até simpatizantes com sua situação. Kester, Malcolm e sir Archie começaram a parecer céticos muito rapidamente, e então, um por um, lady Maude perdeu os outros. Até o homem mais bêbado tinha que duvidar das alegações da mulher quando ela se sentava lá parecendo tão bonita, tão saudável, tão forte e tão bem vestida. Os sobreviventes do brutal, mas misericordiosamente curto, reinado de Rauf, e aqueles que os viram antes de seus ferimentos se curarem começaram a parecer particularmente repugnados com lady Maude. Eles conheciam muito bem a aparência de uma mulher frequentemente espancada ou um corpo obrigado a sofre de pouca comida ou água durante dias sem fim.
"Você acusa seu marido de alguns crimes severos contra você, milady.” Disse Liam. “Talvez seja melhor levar sua história a seus próprios parentes." Ele relanceou o olhar nos três homens que entraram com ela. “Se você sente que precisa de mais proteção, creio que nós possamos encontrar alguns homens para ajudar os seus."
"Mas como você pode me expulsar tão cruelmente?” lady Maude perguntou. “Sabe que eu seria simplesmente devolvida a Robbie se fosse para meus parentes. Eles não me protegeriam de meu marido." Ela começou a chorar. "Eles não podem entender os caminhos do amor. Robbie foi uma escolha muito boa, eles me dirão, enquanto me devolvem a suas mãos cruéis e desamorosas. Rico, poderoso, e possuindo muitas terras. Isto é tudo com que eles se importarão."
Enquanto a mulher fungava e reclamava, Liam esfregava sua têmpora direita onde uma dor aguda crescia rapidamente. Pelo canto do olho, observava Keira observar lady Maude. Keira comia devagar, raramente tirando o olhar da mulher. Liam podia sentir a fúria de Keira em cada linha tensa de seu rosto e corpo. Lady Maude parecia completamente inconsciente disto, o que Liam achava completamente incompreensível.
"Por favor, meu amor," lady Maude implorou, "deixe-me ficar aqui com você."
"Eu não a protegerei de seu marido legal, milady.” Liam disse.
"Mas depois de tudo que eu lhe contei—"
"Você deve me permitir duvidar um pouco de suas alegações.” O modo como suas lagrimas pareceram secar tão depressa disse a Liam que ele a tinha irritado. “Como eu disse, posso lhe oferecer alguns homens para proteção extra em sua jornada—"
"Mas, Liam, meu amado, o sol se pôs, e o tempo está horrível."
Um olhar rápido para seus homens revelou que isso pelo menos era verdade. Os homens pareciam molhados, enlameados, e muito cansados. Como lady Maude não parecia que estivesse sequer úmida, Liam teve que assumir que ela tinha montado em um carro coberto ou que todos os homens tinham sido forçados a sacrificar suas capas enceradas pelo seu conforto.
"Então você pode ficar aqui pela noite," ele disse.
As palavras estavam ainda caindo de seus lábios quando Liam percebeu que acabava de cometer um enorme engano. Ele devia ter colocado a mulher fora de Ardgleann, oferecido a ela uma cabana nos limites de suas terras, ou até pagar por uma cama para ela na hospedaria da aldeia. Sua simpatia pelos homens que lady Maude arrastava com ela incitou seu convite, mas notou que agora eram eles que estavam olhando para ele com simpatia. O modo como todos no salão quase ofegaram, porém, lhe dizia que sua explicação seria posta em dúvida. Liam nem mesmo olhou para Keira por um momento. Ele quase juraria que podia sentir o olhar dela queimando um buraco em suas roupas. Para seu alívio, a tentativa de lady Maude de envolve-lo em um abraço foi frustrada pelo braço da cadeira, longo o suficiente para lhe dar uma chance de mantê-la afastada.
"Assim que o tempo melhorar, você partirá.” Ele disse firmemente enquanto empurrava a mulher de volta para sua cadeira. “Eu me recuso a ser pego no meio do que quer que você esteja jogando com seu marido."
"Oh, o quão cruel você pode ser," ela murmurou.
Liam notou que sua crueldade não fez nada para mitigar seu apetite, enquanto ela se servia de qualquer comida que estivesse dentro do seu alcance. Em voz baixa, Liam instruiu uma das servas carrancudas para ver que lady Maude e seus homens fossem servidos mais cordialmente. Então se virou para olhar para sua esposa.
"Seus homens precisam de um descanso." ele disse.
"Claro," Keira respondeu. “Eles parecem muito fatigados. Cansados, famintos e irritados.” Ela olhou para lady Maude, deixando muito claro quem considerava completamente responsável por isto. “A cortesia exige que nós não os mandemos embora no escuro e na tempestade."
"Sim exige.” Havia algo no tom de Keira que disse a Liam para não ter esperanças, que isto não era uma aceitação cortês e submissa como soava.
"A cortesia não exige que eu goste disto, porém."
Liam suspirou enquanto assistia Keira sair do salão. Ficou surpreso, porém, quando todas as outras mulheres de Ardgleann também partiram. Até Meggie deixou o lado de Kester.
"Eu acredito que as linhas de batalha acabam de ser definidas.” Tait murmurou, e sorriu quando Liam o fuzilou com o olhar.
Voltando seu olhar furioso para quem responsabilizava completamente por suas dificuldades, Liam explodiu. “Eu acredito que este jogo já foi longe demais, lady Maude. Estou muito cansado disto. Não sei o que você pensa que ganhará com isto, mas está começando a me custar muito caro. Eu agora sou um homem casado—" ele começou.
"Sim, eu ouvi dizer. E agora posso ver.” Lady Maude respondeu enquanto olhava em volta do salão. “Você se saiu muito bem. Apesar de seus muitos charmes, eu nunca teria imaginado que você teria permissão para subir tão alto." Ela sorriu e acariciou sua mão, parecendo não perceber a maneira como ele afastou bruscamente a sua. "Agora será mais fácil para nós, meu amor. Você agora é um lorde com um exército sob seu comando. Nós podemos desafiar o mundo todo em nome do nosso amor. Isto não é maravilhoso?"
Ele realmente não pensava que ela era louca, mas Liam não podia começar a entender exatamente qual era o seu jogo e o que ela realmente poderia pensar. "Não, isso não é maravilhoso. Eu não sei a que estranho sonho você está se agarrando, milady, mas não vai me arrastar para ele com você. Eu lhe disse – que não serei nenhum parceiro num adultério. Eu manterei os votos que fiz com minha esposa. Estas são as regras que eu sigo, bem conhecidas por muitas pessoas. Por que eu as quebraria por você?" Para sua surpresa, ela pareceu brevemente, intensamente furiosa.
"Por que você não faria isso? Você certamente não seguia suas pequenas regras virtuosas quando se deitava com minha irmã, lady Grace."
"Lady Grace MacDonnell?"
"Sim. Eu vejo que você lembra muito bem dela."
"Claro que eu lembro. Eu falei com seu marido Edmund muitas vezes, até mesmo jantei com ele e sua esposa em uma ocasião. Nunca me deitei com sua esposa, porém.” O convite certamente estivera lá, mas Liam rapidamente tinha se agarrado às regras que estipulara para si mesmo. Também considerava Edmund um amigo, e nunca o trairia desse jeito.
"Ela me disse—"
"Não me importa o que ela lhe disse. Eu nunca me deitei com uma mulher casada. Você acreditou em uma mentira, e deixou seu aflito marido acreditar em mais mentiras ainda. E para quando nós podemos esperar lorde Kinnaird?"
Lady Maude olhou fixamente para ele por um minuto inteiro, então encolheu ligeiramente os ombros. “Eu não posso dizer. Ele não estava em casa quando me livrei de minha prisão e procurei você.” Ela fungou. “Apenas para ter você quebrando meu pobre coração como sempre. Eu não sei o que fazer em seguida. Não tenho ninguém para quem me virar em minha hora de dificuldade. Na verdade, a vida se tornou um fardo tão cansativo para mim, tão cheia de dor e decepção, que eu muitas vezes me perguntou se devia continuar a lutar por outro dia."
"Bem, se você finalmente decidir em sua pequena mente que a resposta é não,” disse Liam enquanto se levantava e apontava para o leste, “o rio é daquele lado.”
Ele a ouviu ofegar, mas foi rapidamente abafada pelo riso de Tait, um riso que rapidamente se espalhou pelos outros homens no salão. Estava tentado a deixar a propriedade e partir, para bem longe, e não retornar a Ardgleann até que estivesse absolutamente certo que Maude Kinnaird tinha ido embora. Olhando para os degraus, Liam suspirou e recomeçou a subi-los. Havia uma parte dele que sentia que não devia ter que aplacar sua esposa furiosa, que ela não tinha nenhum direito de estar furiosa com ele. Ele não fizera nada de errado, nunca tinha se deitado com a mulher cuja sanidade ele agora seriamente questionava, nem sequer a encorajara.
Então ele recordou como Keira parecia adorável esta noite. Ela obviamente tinha tomado um cuidado extra com sua aparência. Depois da maneira como ela tinha tocado seu rosto e sorrido para ele quando a despertou para vir até o salão jantar, ele acreditava que ela tinha decidido contar a ele sobre a criança. Aquela convicção tinha sido reforçada quando ela estendeu a mão para a sua à mesa. Havia um olhar muito quente e suave em seus olhos novamente. Infelizmente, o que quer que Keira tivesse intenção de dizer ou fazer se perdera quando lady Maude tinha, mais uma vez, se intrometido em sua vida.
"A mulher é uma maldição," ele resmungou e então parou do lado de fora do quarto que compartilhava com Keira.
Por um momento, ele tentou pensar no que dizer, mas foi inútil. Ele não estava exatamente certo de sobre o que ela estava brava, ou com quem. Liam encolheu os ombros, agarrou o trinco e tentou abrir a porta. Ele tentou várias vezes antes de aceitar o fato de que Keira o tinha trancado do lado de fora.
"Keira!" Ele gritou enquanto batia na porta.
"O quê?" Sua esposa gritou de volta.
"Deixe-me entrar."
"Não, não hoje à noite. Eu preciso pensar, e eu não consigo fazer muito disso quando você está por perto."
Isso soava bem, mas deixá-la sozinha para pensar soava muito ruim. Liam de repente recordou o que os irmãos de Keira disseram sobre o perigo de deixá-la pensar. Ele tinha achado suas observações engraçadas no momento, mas não sentia nenhuma inclinação para rir delas agora. Não havia como dizer por qual caminho seus pensamentos poderiam levá-la. Liam podia facilmente pensar sobre várias conclusões às quais ela poderia chegar que o fariam sofrer.
"Eu penso que seria melhor se nós conversarmos."
"Não, nós podemos conversar sobre isso depois que eu tiver pensado."
Liam olhou fixamente para a porta fechada. Ele considerou trazer alguns homens fortes e alguns machados muito afiados e transformar a porta em uma pilha de lascas. Era um pensamento agradável, mas ele reprimiu firmemente o desejo de fazer aquilo por apenas duas razões. Seria indigno, e ele teve o súbito pensamento que lady Maude encontraria muito prazer nisto.
"Muito bem, então," ele explodiu. "Pense. Eu acharei qualquer outra coisa para fazer, e outra pessoa para fazer isto comigo."
Isso foi uma coisa estúpida para dizer, ele decidiu enquanto voltava apressadamente para seu escritório. Ele queria que Keira confiasse nele, e tinha acabado de deixá-la pensando que ele estava corrrendo para agir como o porco libidinoso de que ela uma vez o chamara. Quando encontrou seu primo Tait esperando por ele, quase ordenou que ele saísse, entretanto viu o grande jarro de vinho e as duas canecas sobre a mesa.
"Eu tive uma pequena suspeita de que você poderia se esconder aqui.” Disse Tait enquanto servia vinho para os dois. “E que você poderia apreciar algo para afogar suas mágoas."
Liam se jogou em sua cadeira e bebeu metade do vinho na caneca antes de dizer, “Ela me tranou fora de nosso quarto.”
"Ela por acaso disse exatamente por que o trancou fora do quarto?"
"Ela diz que tem que pensar."
"Isso soa como um mau-agouro."
"Sim, e quando eu parti, dei a ela ainda mais para ponderar.” Ele contou a Tait o que tinha dito.
Tait fez uma careta. "Isso não foi particularmente sábio."
"Isso foi estúpido, isso é o que foi. Totalmente e assombrosamente tolo."
"Sobre o que você acha que ela precisa pensar? Você? Lady Maude? Ou você e lady Maude juntos?"
"Tudo isso, eu suponho." Liam franziu o cenho enquanto bebericava seu vinho. “Eu só queria entender o jogo que lady Maude está fazendo conosco."
"Você tem certeza que ela está jogando?"
"Cada vez mais, com cada coisa que a mulher diz e faz. Eu não posso ter certeza de quem é o bobo declarado neste jogo – eu ou seu marido?"
"Talvez os dois.” Disse Tait depois de franzir o cenho, pensativo, por um momento. “Você acha que ela realmente deixará Ardgleann pela manhã? Ela parece do tipo obstinado, e que é muito boa em ouvir apenas o que deseja."
"Ela pode não partir pela manhã, mas ela vai partir amanhã antes que o sol se ponha. Então vou tratar de abrir aquela maldita porta. Eu não vou passar mais uma noite sozinho."
Keira quase destrancou a porta quando a advertência de despedida de Liam ecoou pelo quarto, mas se forçou a não ceder àquela fraqueza. Ele tinha lhe dito que realmente manteria os votos que eles fizeram. Ela tinha que confiar nisto. E se ele fosse o tipo de homem para quebrar aqueles votos simplesmente porque eles tiveram uma discussão, era melhor que ela soubesse disso, também.
"Você acha que ele quis dizer isto?" Meggie perguntou enquanto ela se sentava na beirada da cama e coçava a barriga de Trovão.
"Não, claro que ele não quis.” Disse Joan. “Foi uma ameaça vazia provocada pela raiva, dita para fazer milady se irritar em retribuição por tê-lo trancado do lado de fora. Tem certeza que isto é o que você devia fazer?" Ela perguntou a Keira.
"Sim," Keira respondeu. “Eu preciso pensar, e aquele homem pode tornar isso muito difícil às vezes."
"Sobre o que exatamente você precisa pensar? Ele e aquela mulher? Eu acreditaria nele quando diz que nunca se deitou com ela. Se tivesse, teria sido antes de se casar com você, e então não haveria nenhuma razão para ele negar isso."
"Oh, eu acredito nisso, também.” Keira disse e percebeu que tinha dito a verdade. “Ainda assim tem que haver alguma razão para a mulher agir deste modo. Assim que cheguei aqui, eu estava brava – com ele, com ela, com a situação inteira. Eu pensava que queria pensar sobre como isto era um presságio ruim para meu futuro com aquele homem, contudo, agora que me acalmei um pouco, descubro que não é sobre isto que estou pensando."
"Sobre o que você está pensando?"
"Eu não posso realmente dizer o porquê disto, mas algo me diz que lady Maude não é tão maluca quanto ela gostaria que nós pensássemos. Não, não de todo. Na verdade, eu começo a pensar que ela está fazendo algum jogo com todos nós.” Keira franziu o cenho para as chamas enquanto deixava que o pensamento pairasse em sua mente por um momento, e descobriu que parecia certo.
"Um jogo? Que tipo de jogo?"
"Eu não sei. Esta é uma das coisas sobre o que devo pensar agora. Eu realmente acredito que ela não ame Liam, como continua alegando. Então, por que ela faz isto? Não faz nenhum sentido mesmo. Parece que as regras de Liam sobre não cornear um homem são bem conhecidas, então lady Maude não pode ser tão fútil para pensar que será a pessoa que pode fazê-lo quebrar essas regras."
"Bem, eu achei que ela parecia fútil.” Disse Meggie.
"Veja só como ela manteve a atenção atraída para seus grandes seios."
"Oh, isso não tem que significar que ela é fútil.” Disse Keira. “Ela apenas sabe que a maioria dos homens aprecia tal generosidade, e a usa para chamar sua atenção para ela. Algumas mulheres pensam que aquela tolice é flerte." Keira as mãos nos quadris e lentamente meneou a cabeça. “Não, eu tenho mais certeza a cada minuto que passa que essa mulher está fazendo algum jogo, e Liam é apenas peão nisso. Ela provavelmente é a pessoa que o mandou surrar, vocês sabem."
"Bem, certamente soa como o ato de uma mulher ciumenta.” Disse Joan. “Então, não significaria que ela goste dele?"
"Não necessariamente, embora isso tenha me causado hesitação. O ciúme pode nascer de muitas coisas, porém. Quem pode dizer? Talvez ela esperava que Liam acreditasse que seu marido tinha feito isto, e então quebrasse suas próprias regras deitando-se com ela como uma forma de vingança contra seu marido. Ela pode até mesmo ter ordenado aquilo numa explosão de temperamento por Liam não ter entrado no seu jogo da maneira que ela desejava."
Joan balançou a cabeça. “Eu não sei como você pensa que pode desenredar isto. A mulher poderia apenas ser tão maluca quanto parece."
"Maluca ou não, ela é inteligente o bastante continuar encontrando Liam. E há uma consistência em tudo isto. Em muito pouco tempo, seu marido enorme e seus homens igualmente enormes estarão aqui, e lorde Kinnaird estará gritando pelo sangue de Liam."
Meggie franziu o cenho. "Isso acontece toda vez?"
"Até onde eu posso dizer, sim." Keira respondeu. “Seria de se imaginar que uma mulher inteligente o bastante para escapar de um marido alerta e conseguir encontrar um homem que não deseja ser encontrado, poderia fazer isso sem deixar uma trilha que seu marido consegue seguir tão fácil e rapidamente, não é?"
"Sim, certamente seria. Então a pergunta que eu gostaria de responder é, qual homem ela quer morto?"
Keira olhou fixamente para Meggie, surpresa. Notou Joan fazendo o mesmo. Por mais que tentasse, Keira não podia negar a percepção aguçada que a pergunta Meggie tinha revelado.
"Meggie, você tem uma mente maravilhosamente inteligente e tortuosa.” Keira disse.
"Isso é uma boa coisa?"
"Oh, eu certamente acho. Eu apenas rezo que ela continua afiada e tortuosa pelo resto da noite."
"Por quê?"
"Porque nós precisamos encontrar a resposta para essa pergunta antes que lorde Kinnaird chegue berrando em nossos portões.
"Quanto tempo você vai permitir que Keira pense?"
Liam olhou feio para seu primo. O fato de Tait surpreendê-lo parado no pátio, olhando furioso para a janela do quarto onde Keira tinha se trancado, o deixava irritado. Agora seria impossível agir como se não o aborrecesse o fato de que sua esposa não o veria ou falaria com ele. Pior ainda, o sorriso de Tait dizia a Liam que seu primo sabia que ele não tinha absolutamente nenhuma idéia de como resolver este problema.
"Em duas horas, serão exatamente dezesseis horas desde que ela começou a fazer beicinho—"
"Pensar," Tait disse.
Ignorando aquilo, Liam continuou, "—e se ela não abrir a porta para mim, então eu a derrubarei.” Ele olhou feio para Tait novamente. “Ria, e eu esfregarei você na lama."
"Eu rirei mais tarde quando você não puder me ouvir.” Tait balançou a cabeça. “Desculpe, Liam, mas depois de anos observando as moças desmaiarem ao vê-lo, e ouvindo você encantar até a velha mais rabugenta, eu não posso deixar de achar isso divertido."
"Você acha engraçado que minha esposa pense que sou um porco libidinoso? Que ela esteja indubitavelmente magoada com tudo isso?"
"Oh, não." Tait cruzou os braços sobre seu tórax, relanceando o olhar para a janela que Liam tinha estado observando furiosamente. “Realmente, eu não penso que ela acredita naquela mulher."
"Se ela não acredita em Maude, então por que me trancou do lado de fora?"
"Ela lhe disse. Ela precisa pensar." Tait riu quando Liam rosnou. "Talvez, primo, ela precise decidir se tem a força para suportar esta tolice por toda vida."
"Eu disse a ela que manterei meus votos."
"Sim, mas você disse a ela que a ama?" Tait perguntou calmamente.
Liam abriu a boca para dizer a seu primo que isso não era da sua conta, entretanto suspirou e passou os dedos pelo cabelo. Ele amava Keira; soube disto com certeza no momento em que pensou que Rauf a mataria, mas nunca tinha contado a ela. Covarde que era, queria que ela dissesse isto primeiro. Havia uma chance de que ele estivesse agora pagando caro por aquela timidez.
"O que o faz pensar que eu a amo?” ele perguntou, ignorando o modo como Tait rolou os olhos.
"Tudo. Não esqueça, eu observei você com as mulheres por anos. Oh, você é amável, diz coisas bonitas para elas, mas pouco mais que isto. Tenho certeza que você se certificou de que elas estivessem completamente satisfeitas na cama, ou pensou que elas estivessem. Mas novamente, nada mais que isto. Você apenas, bem, gostava delas de um modo passageiro como gosta de muitas mulheres. Quando Sigimor me contou que você tinha encontrado sua companheira, a única certa—"
"A única que combina." Liam murmurou.
"Sim, a única que combina. Bem, eu não tinha certeza se acreditava nisto. Apenas um dia aqui, e eu acreditei."
"Você pensava que eu tinha me casado com ela por este lugar, pela chance de ser um proprietário de terras?"
"Não há nada errado com isso, Liam. Pelo menos você seria um bom marido para ela. Eu não tinha dúvidas sobre isto.” Ele sorriu levemente. “Eu acredito que você combina com ela, mas, eu suspeito, ela não lhe contou, tampouco."
"Então por que eu devia despir minha alma para ela?"
"Porque ela precisa saber e acreditar nisto mais do que você precisa. Sim, eu desconfio que seja difícil não saber como sua esposa se sente a seu respeito, mas você tem experiência o bastante com mulheres para saber como sua esposa se sente sobre você mantê-la esperando pacientemente em troca. Essa sua esposa pode conhecer os modos dos homens, mas não nesta situação, não apaixonada ou desejosa. Eu temo que você deve ser aquele a dar o primeiro passo."
Liam lançou um último longo olhar furioso para a janela do quarto. "Eu posso estrangular você primeiro?"
Tait riu e balançou a cabeça. "Você terá que se satisfazer ameaçando isto."
"Milorde!"
Ainda enquanto se virava em resposta aquele chamado, Kester tropeçou parando ao seu lado, sua sombra Meggie colada em seus calcanhares. O rapaz parecia preocupado. Meggie também parecia preocupada, mas havia raiva em sua expressão também. Ele teve um pressentimento de que sabia o que estava errado.
"Está aqui aquele homem—" começou a Kester.
"Cameron, seu bastardo!"
Liam suspirou e balançou a cabeça enquanto o berro de Kinnaird ecoava pelo ar. “Eu realmente temo que o único modo de acabar com isto é se eu matar aquele tolo.” Ele pegou Meggie abrindo a boca para dizer algo, mas a menina rapidamente a fechou e apertou seus lábios juntos. “Ele me levará a isto, moça, mesmo que apenas para impedi-lo de me matar."
"Eu não penso que o tolo segure as rédeas, milorde,” ela resmungou e então se afastou correndo.
"Agora o que ela quis dizer com isto?" Kester perguntou, franzindo o cenho para as costas de Meggie.
"Eu estava para perguntar a mesma coisa a você," Liam murmurou.
"Cameron, seu porco corneador, venha aqui fora!"
"Você pensa que nós podemos ter uma conversa sensata com o tolo?” Tait perguntou enquanto juntava-se a Liam e Kester na caminhada em direção a muralha dianteira onde sir Kinnaird estava berrando insultos e desafios.
"Isso até agora não funcionou." Liam respondeu.
"Eu temia que você dissesse isto."
Keira permanecia na entrada do quarto que tinham dado a lady Maude Kinnaird, Joan ao seu lado. Ela, Joan e Meggie finalmente tinham desistido de tentar entender o jogo ardiloso que esta mulher fazia com eles e procuraram suas camas. Quando fora acordada algumas horas atrás, Keira parecia cansada, sua cabeça doía, e seu estômago finalmente deixara de ser meramente inquieto pela manhã e tinha se rebelado abertamente contra ela.
Enquanto lutava para acalmar seu estômago e se vestia, determinada a manter uma vigilância cerrada em lady Maude, começava a duvidar de suas próprias conclusões sobre a mulher. Agora, ali de pé observando a mulher sorrindo para seu marido furioso, Keira perdeu toda dúvida.
Ela marchou até a mulher e agarrou-a pelo braço, torcendo-o para cima atrás das costas da mulher. “Apreciando o joguinho que você tem feito, milady?"
"Solte-me neste momento!” lady Maude exigiu. “Quem você pensa que é para me tratar deste modo?"
"A senhora desta propriedade que você forçou a agir deste modo. A esposa do homem que seu marido tenta matar. A mulher que vai quebrar o seu braço se você não responder minhas perguntas prontamente e sinceramente."
"Eu não sei sobre o que você está falando."
Keira torceu o braço um pouco mais e estremeceu quando lady Maude gritou alto de dor. Ela esperava que a curandeira nela estivesse horrorizada pelo modo como estava se comportando, mas não encontrou nenhuma insinuação de remorso ou repulsa em seu coração. Keira decidiu que isso era porque ela tinha certeza que esta mulher tinha planejado tudo isso, que lady Maude tinha trabalhado muito duro para pôr estes dois homens prontos para lutar. Se machucando esta mulher, ela podia impedir dois homens de matarem ou mutilarem um ao outro, ela o faria de boa vontade, e sua consciência estaria em paz.
"Não me pressione muito, milady,” Keira disse. “Eu não estou de muito bom humor. Minha cabeça dói, e meu estômago não está muito feliz com esse cheiro de rosas que você despejou sobre todo seu corpo maquinador. Agora, me responda – qual homem você deseja ver morto e por quê?"
"Você está dizendo um total absurdo."
"Eu posso quebrar seu braço. Não duvide."
"Sim," disse Joan, olhando casualmente pela janela. “Ela quebrou todos os dedos de uma das mãos do meu homem."
Keira quase sorriu quando lady Maude empalideceu. Joan escolhera um brilhante modo de dar peso à ameaça de Keira. Ela dissera apenas a verdade, então suas palavras continham o tom apropriado de convicção. Lady Maude não podia saber que isso tinha sido feito de forma que os dedos de Malcolm pudessem ser ajustados e a mão curada.
"Não, você não entende. Liam e eu—"
"Não fizeram nada," Keira explodiu. “Liam estipulou para si mesmo uma regra de nunca tomar parte em adultério, e nunca a quebrou. Você pensou que ele passou cinco anos em um monastério porque gostava das batinhas? Ele acredita nas leis de Deus, e ele pode seguir regras, mesmo aquelas que ele próprio fez. Sim, ele foi um porco libidinoso por anos, mas ele nunca foi um corneador. Então, vamos tentar novamente com a verdade, vamos?"
"Ele se deitou com minha irmã casada. Ela assim me disse!"
"Ela mentiu."
"Esta obviamente é uma característica que se alastra na família.” Joan murmurou.
"Oh, o que você sabe sobre isto? Você não conhece minha irmã Grace,” lady Maude disse, sua voz encrespada por lágrimas de dor e, Keira suspeitou, fúria. “Ela pode ter qualquer homem que quiser. Ela teve meu marido!"
"Ah, entendo," disse Keira. "É por isso que você tentou o cornear com Liam."
"E por que não? Se ele pode, então eu posso, mas, oh não, de repente, sir Liam Cameron vestiu a armadura de santo. E tola que eu era, acreditei nele. Então, ele se deitou com Grace, que é casada. Ele me dispensou, mas não ela."
"Então você se certificou que seu marido infiel soubesse tudo sobre sua perseguição a meu marido. Agora, por que eu penso que Liam quase foi morto porque você ouviu as mentiras de sua irmã?"
"Ele não devia ser morto!"
"Não, claro que não. Apenas castigado." Keira olhou para Joan. "Eu acho que isto é suficiente. Os homens já estão lutando?"
"Não, mas acho que isto não vai demorar agora.” Joan respondeu. “Eu acho que seu marido está tentando ter uma conversa sensata com o marido dela, mas o tolo não está escutando. Ele só continua berrando insultos. Eu não creio que nosso lorde poderá aguentar muito mais."
Keira mostrou a Joan como segurar o braço de lady Maude em um aperto que podia ser doloroso, podia até ser usado para quebrar o braço, mas também era um meio útil de restrição. Com Joan segurando firmemente lady Maude, elas encabeçaram a saída do quarto, Keira parando para pegar a espada que tinha encostado contra a parede ao lado de da porta. No humor em que estava agora mesmo, ela podia provavelmente usar isto, Keira pensou enquanto saíam da propriedade.
Liam balançou a cabeça enquanto a palavra covarde ainda ecoava na muralha agora totalmente silenciosa. Se ele não estivesse em sua terra, cercado por seu povo observando de perto, ele poderia ter deixado aquele insulto passar sem discutir, da mesma maneira que fizera com todos os outros. Ele sabia que não era verdade. A maioria das pessoas assistindo sabiam que não era verdade também. Infelizmente, ele não podia simplesmente ficar lá e tentar ser razoável com este tolo agora que ele tinha dito isto. Era um daqueles insultos que se esperava que um homem respondesse com sua espada. Como um lorde, isso era mais verdadeiro ainda. Contudo, ele ainda esperou até sir Kinnaird puxar a espada antes de puxar a sua.
"Eu sou não um covarde, sir, e você sabe bem disto,” Liam disse calmamente. “Apenas odeio derramar sangue, seu ou meu, por uma mentira."
"Provavelmente é o que você diz para todos os homens que corneia,” disse Kinnaird.
"Existem muitas coisas que eu diria para alguns maridos. Uma delas é que eles deviam tirar algum tempo para conhecer melhor suas esposas. Se você fizesse isso, iria saber que ela está mentindo, e provavelmente o por que.”
"Minha Maude era um anjo antes que você a pegasse em sua rede, seu porco libidinoso,” Kinnaird explodiu, empurrando um de seus homens de lado quando o homem tentou falar sensatamente com ele.
Era óbvio para Liam que pelo menos alguns de seus próprios homens questionavam as histórias de sua senhora, mas lady Maude certamente tinha convencido seu marido. O homem estava cego de ciúme e, Liam começava a suspeitar, mágoa. A justiça seria mais bem servida se lady Maude fosse a única que tivesse que lutar por sua mentirosa e manipuladora vidinha, em vez dele ou seu pobre e entorpecido marido. Ela os trouxera a este ponto, e ele desejava ardentemente saber por que.
No mesmo instante que Kinnaird começava a brandir sua espada, e Liam se tencionava para aparar o golpe, o homem ficou imóvel, e seus olhos se arregalaram. Liam começou gradualmente a ver mais que apenas seu oponente e a espada na mão do homem; ele percebeu que todo homem, mulher e criança na muralha também arregalavam os olhos, e muitos deles estavam boquiabertos. Então as mulheres começaram a sorrir. Levou outro piscar de olhos antes de Liam ousar afastar o olhar de Kinnaird por tempo suficiente para ver Joan segurando uma pálida, porém furiosa, lady Maude diante dela. Percebendo que não corria o risco de ser atacado por Kinnaird no momento, Liam perguntou-se onde Keira estava. Ele se inclinou um pouco para o lado para ver atrás de Kinnaird e soube que agora parecia tão surpreso quanto todos os outros. Keira estava atrás do homem, a ponta da espada que ela segurava tocando as costas dele.
"Esposa, está se intrometendo em um assunto de honra." ele disse calmamente.
"Não há nenhuma honra nisto," Keira explodiu, brava pelos insultos que tinha ouvido Kinnaird lançar para Liam, que estava tentando tão arduamente fazer a paz. Ela estava violentamente tentada a dar ao homem algumas picadas com a espada. “Diga a verdade a eles, lady Maude,” ela ordenou.
"Meu doce príncipe," lady Maude começou, olhando para Liam, "sua esposa me atacou violentamente—"
"Joan?" Keira moveu a cabeça com satisfação quando Joan puxou o braço da mulher e ela gritou.
"Aqui," Kinnaird protestou, "você não tem nenhum direito de machucá-la.” Sua última palavra terminou em um grunhido fraco quando Keira lhe deu uma rápida, dolorosa, mas insignificante cutucada com a espada.
"Cale-se. Não me pressione muito, milorde,” disse Keira. “Eu estou com dor de cabeça."
O tom lúgubre que Keira usou para anunciar aquilo quase fez Liam rir, mas ele engoliu apressadamente o desejo. Kinnaird parecia surpreso, mas ele também continuou muito quieto. Estava claro que Keira tinha descoberto algo que finalmente poria fim a este jogo macabro.
"Agora, milady, nós devemos tentar novamente?" Keira perguntou, esperando que a mulher parasse de tentar continuar mentindo, pois a espada era pesada e seu estômago estava se comportando muito estranhamente. Keira apenas queria se deitar.
"Eu nunca tomei sir Liam como meu amante,” lady Maude começou novamente.
"Eu acredito que você queira dizer que meu marido nunca tomou você como sua amante."
"Ow! Você quebrará meu braço se não parar!"
"Sim, isso poderia acontecer. Joan é um pouquinho mais forte que eu, eu acho."
"Certo! Sir Liam se recusou a ser meu amante. Ele alegou que não se deitava com mulheres casadas. Hah! Eu devia ter sabido que ele mentia como todos os homens fazem, pois ele se deitou com Grace, e ela é casada.” Ela olhou furiosamente para o marido. “Como se sente por saber que sua amante é tão infiel a você quanto você é a mim?"
"Sobre o que você está resmungando?" Kinnaird exigiu. "Eu nunca fui infiel a você."
"Grace me contou tudo sobre vocês dois! Não minta para mim! Ela me contou tudo sobre seus muitos encontros!"
Ela virou brevemente seu olhar furioso para Liam. “Sim, e os seus."
Kinnaird olhou fixamente para sua esposa, então para Liam, e então para sua esposa novamente. "Ela mentiu, e, eu estou pensando, você tem mentido, também." Ele embainhou sua espada enquanto olhava para Liam novamente. "Eu assumo que é sua esposa que me cutuca com uma espada ou um punhal."
"Sim," Liam respondeu enquanto ele também embainhava sua espada. "Keira, pode parar de cutucar as costas de sir Kinnaird agora."
"Diga a esta mulher para me soltar," lady Maude exigiu quando Keira saiu de trás de Kinnaird.
"Não, não ainda," disse Kinnaird quando Liam abriu sua boca para dizer a Joan para soltar lady Maude. “Muito inteligente,” o homem disse enquanto estudava o modo como Joan estava segurando sua esposa. “Machuca, eu desconfio, hein, Maudie."
"Robbie, como você pode permitir que esta mulher me maltrate tanto?" perguntou lady Maude em uma voz chorosa.
"Parece isto faz você dizer a verdade, algo que obviamente tem sido estranho para você há algum tempo."
Não querendo arrastar Joan para o meio disto, Liam olhou para Keira. “Talvez você pudesse—" ele hesitou gaguejando quando Keira estendeu o braço, sua palma virada em direção ao seu rosto.
"Não. Eu acabei com isto. Estive acordada metade da noite tentando compreender a pequena mente tortuosa dessa mulher. Estou cansada, e minha cabeça dói. Tudo o que eu quero fazer é me deitar e, talvez, beliscar um ou dois pedaços de bolo de aveia e beber um copo de leite de cabra. Tenho certeza de que Joan não se importa em ajudar vocês a desatar os laços em que esta mulher miserável prendeu todo mundo.” Quando Joan murmurou sua concordância, Keira balançou a cabeça. “Bom. Cuide disso então.” Ela os deixou, rezando a cada passo do caminho que pudesse chegar até seu quarto antes de vomitar.
Liam, junto com todos os outros na muralha, observou Keira desaparecer na propriedade, ainda agarrando a espada, embora a ponta desta estivesse arrastando na lama. Seria agradável se tudo o que Keira tivesse pensado fosse na conspiração que lady Maude tinha planejado, mas Liam duvidava que seria tão sortudo. Olhou para Kinnaird no mesmo instante que o homem olhou para ele.
"Uma moça Murray até o osso,” disse Kinnaird. “Você terá as mãos cheias com essa aí.” Ele olhou feio para sua esposa. “E você não terá mais problemas com esta aqui. Sua irmã é uma prostituta mentirosa, Maude, e você é uma grande tola por acreditar nela. Sim, e você me fez de tolo. Tenho tentado matar um homem que não me fez nada de errado,” ele relanceou o olhar brevemente para Liam. “Na verdade, eu podia ter sido morto. Era esse seu plano?"
"Não, meu amor, eu—"
"Cale-se. Apenas cale-se." Ele olhou para Liam novamente. "Eu lamento que ela o tenha metido nisso. Ofereço-lhe minhas desculpas."
"Por tentar me combater honradamente ou por ter me espancado quase até a morte?" Liam perguntou, sem se surpreender quando sir Kinnaird pareceu chocado e confuso diante daquela última acusação, pois Liam agora estava certo que lady Maude tinha ordenado a surra. Ele não a deixaria esconder aquela verdade de seu marido. “Então não foi você quem enviou aqueles homens atrás de mim?"
"O insulto era para mim, e minha honra exigia que eu vingasse isto eu mesmo. Ou melhor, o insulto que eu pensei que você tinha me infligido.” Kinnaird olhou feio para sua esposa novamente. "Você o espancou? Por que? Porque ter se recusado a me cornear?"
"Ele corneou Edmund," lady Maude disse.
"Não, eu não acho.” Kinnaird olhou para os homens que vieram para Ardgleann com sua esposa. “Vocês deviam ter me dito o que ela fez. Não fui preciso o suficiente em minhas ordens para vocês, eu posso ver. Vocês continuarão acompanhando-a onde quer que ela vá, mas agora vocês me dirão mais do que onde. Vocês me contarão tudo o que ela faz, todos com quem ela se encontra, e tudo o que ela diz. Levem-na para a carruagem."
"Mas, meu amor—" protestou lady Maude quando os homens a pegaram de Joan.
"Melhor você se manter calada no momento, mulher. Eu falarei com você mais tarde.” No momento em que ela foi levada, Kinnaird voltou a encarar Liam. “Você deve me permitir compensá-lo pelo que ela fez, por aquela surra e por todos os problemas que ela lhe causou."
"Não, não há necessidade. De um modo, me serviu bem." Liam sorriu levemente. "Eu conheci minha esposa por causa disto." Ele deu uma olhada ao redor de Ardgleann. "Eu ganhei muito mais do que perdi."
"Eu ouvi que você teve que lutar para reivindicar este lugar e que vocês libertaram a Escócia de um flagelo ao fazer isto."
"A sorte estava conosco, e a batalha nos custou pouco."
"Do que eu vi enquanto cavalgava até aqui, aquele bastardo deixou uma marca dura no lugar. Eu lhe enviarei algumas coisas para ajudar a encher sua despensa para o inverno."
Sabendo que eles podiam usar tal contribuição e que Kinnaird sentia necessidade de fazer algo como indenização, Liam disse, “Eu agradeço. Será um presente muito bem-vindo."
Kinnaird o saudou e foi embora. Dentro de alguns minutos, ele, sua esposa, e todos os seus homens saíram de Ardgleann. Liam suspirou e balançou a cabeça. Aquele homem tinha uma estrada dura à sua frente. Embaixo da raiva e da decepção com sua esposa, definitivamente havia dor. A mulher podia ter estado tentando conseguir que seu marido fosse morto, e Kinnaird sabia disso.
"Bem, sua esposa obviamente estava pensando arduamente.” Disse Tait enquanto se aproximava de Liam. “Lady Maude não é muito sã em seu ciúme da irmã. Pergunto-me como Keira descobriu isso."
"Eu desconfio que ela começou a ter suspeitas do mesmo que nós fizemos. O braço torcido provavelmente fez o resto."
Tait sorriu. "Uma coisa boa para ensinar uma moça pequenina."
"Não fui eu. Desconfio que foram seus irmãos. Ou algum de seus muitos primos."
"Eu creio que o tempo que você lhe concedeu para pensar acaba agora. Poderia ser melhor se você a alcançasse antes dela voltar aquela pequena mente tão inteligente para você."
Liam franziu o cenho. "Poderia ser melhor, embora ela ainda parecesse muito brava."
"Isso poderia se provar útil. Sigimor pensa assim."
Acenando a cabeça devagar, Liam começou a se dirigir à propriedade. Quando alcançou o pé da escada que levava ao andar onde ficava seu quarto, ele estava se sentindo muito hostil. Ele havia sido insultado e pressionado para lutar em sua própria muralha, tudo por causa do ciúme e das mentiras de uma mulher. Sua esposa devia estar de pé ao seu lado, apoiando-o e acalmando-o, não amuada em seu quarto.
E, ele pensou enquanto alcançava a porta, ela era muito rápida em acreditar nas mentiras sobre ele. Desde o momento em que a conheceu, ele nunca fez nada para abusar de sua confiança, contudo ela se recusava a confiar nele. Ela estava grávida, contudo não julgou conveniente informá-lo do fato. Os olhares que ela lhe dava às vezes insinuavam os mais profundos e ricos sentimentos que ele queria e precisava dela, mas ela não dizia nada.
Mal contendo seu temperamento, Liam começou a debater consigo mesmo sobre os muitos males causados pela perda de controle. Tentou abrir a porta do quarto. Estava trancado novamente. Liam sentiu todas as amarras com que tinha acabado de atar seu temperamento arrebentarem, e bateu na porta.
"Abra esta porta!"
Keira abriu um olho e olhou com raiva para porta, estremecendo ao som do punho de Liam a esmurrando. Ela a tinha trancado para impedir que alguém interrompesse o descanso que ela precisava tão desesperadamente. Sua paz não tinha durado muito tempo, ela pensou de mal-humor.
"Abra isto agora, Keira, ou eu juro que farei esta porta em pedaços!"
Seus olhos se arregalaram enquanto ela saía lentamente da cama. Liam soava furioso. Ela destrancou a porta e rapidamente deu um passo atrás, no caso dele escancarar a porta como os homens zangados frequentemente faziam. Quando a porta foi aberta quase suavemente e seu marido entrou no quarto com sua graça habitual, ela começou a se sentir um pouco inquieta. Quando ele calmamente fechou a porta e a trancou, Keira olhou para seu rosto e teve que lutar contra o desejo de ir se esconder embaixo da cama. Liam estava realmente muito furioso. Seu marido, geralmente calmo e de fala suave, obviamente tinha escondido seu temperamento típico dos ruivos sob sua tranquilidade.
"Você ainda está amuada?" Ele perguntou.
"Eu não estava amuada," ela protestou. "Eu estava pensando."
"Sim, sobre o porco libidinoso do seu marido?"
Keira abriu sua boca para refutar isto, mas Liam não lhe deu nenhuma chance de fazer isso.
"Sim, eu fui um pouco um tolo luxurioso por alguns anos,” ele disse enquanto começou a andar pelo quarto diante dela. “Eu admiti isto. Até mesmo admiti que não agi bem. Mas você escuta quando eu juro que nunca me deitei com aquela mulher maluca? Não! Você escuta quando lhe digo que nunca me deitei com uma mulher casada ou noiva, nunca me deitei com uma donzela inocente, nunca seduzi ou menti para levar uma mulher para cama, e nunca fiz a uma mulher uma única minúscula promessa? Não!"
"Liam, eu—" ela começou a dizer, apenas para quedar nervosamente muda quando ele parou na frente dela, as mãos nos quadris, e olhou feio para ela.
"Eu estou definitivamente perdendo a cabeça com você, Keira,” ele disse. “Eu troquei votos solenes com você, mas você não acredita que eu quis dizê-los, não é? Eu jurei para você que seria fiel, e você duvida da minha palavra nisto também, não duvida? Eu lhe dou palavras bonitas, e você apenas encolhe os ombros e as deixa de lado. Eu tenho feito coisas com você que nunca fiz com outra. Tudo isso, e você ainda me olha como se eu fosse agarrar a moça mais próxima e fornicar com ela sobre a mesa!"
"Oh, não, eu certamente não faço isso," ela protestou, mas sua carranca a impediu de dizer qualquer outra coisa em sua defesa.
"Eu disse a mim mesmo que fosse paciente, que sou a pessoa que mais ganhou com nosso casamento. Bem, eu tenho sido paciente, e estou cansado disso. Você vai parar de pensar que estou para traí-la a cada momento. Nem se eu quisesse, eu poderia, pois fiz meus votos diante de Deus e dos homens. Um juramento solene. Mas eu não quero trair você com ninguém, nunca, embora eu não consiga pensar em como fazer você acreditar nisto."
Uma nota quase melancólica entrou em sua voz, e ele começou a andar novamente. Keira abriu a boca para assegurar Liam que ela tinha começado a acreditar nele em relação à lady Maude, mas alguma voz interna a fez fechar a boca depressa. Liam estava desabafando violentamente, e ela sabia muito bem o quanto alguém podia expor seus sentimentos e pensamentos quando pego em um desabafo. Poderia ser sábio apenas ficar quieta e deixar o homem continuar falando.
"Eu tentei lhe dizer tudo isso quando nós fizermos amor, mas você não podia entender isto. Entretanto estava lá, em cada toque meu, em cada beijo. Porém, você ainda continua cega. Você mantém uma parte sua afastada de mim, guardando-a como algum grande tesouro que eu poderia saquear e destruir. Como nunca tive que me preocupar em espreitar o coração ou a mente de uma mulher, acho que não tenho nenhuma habilidade em ler o seu. Se não posso fazer você ver que meu desejo é apenas por você, como posso fazê-la entender que meu coração é seu também?” ele meneou a cabeça. “Eu nunca pensei que me apaixonaria. Depois de estar com tantas mulheres, senti que devia ser imune. Até me preocupava de vez em quando sobre essa deficiência. Porém agora, eu às vezes desejo que realmente fosse um homem que não pudesse amar. Eu—"
Liam grunhiu quando Keira se lançou contra ele e o abraçou firmemente. Ele piscou e olhou para o topo de sua cabeça enquanto tentava pensar sobre tudo que tinha acabado de dizer. Era óbvio que tinha dito algo certo quando estava discursando, e isso lhe serviria bem se ele apenas pudesse recordar o que tinha sido.
Seus olhos arregalaram ligeiramente quando ele envolveu os braços ao redor de seu corpo esbelto. Em um certo ponto durante seu desabafo, sua raiva começara a enfraquecer, e ele tinha começado a se sentir tristemente derrotado. Percebeu que não tinha mais nenhuma idéia de como fazer sua esposa ao menos confiar nele, sem falar de como fazer com que ela o amasse como ele a amava. Liam tinha a distinta sensação que dissera a Keira que a amava em algum ponto de sua ladainha de reclamações. Parecia que Tait estava certo. Ele precisava ser o primeiro.
Keira pensava que não podia segurar Liam próximo o suficiente. Ela estava tremendo, e seu coração estava martelando, mas isto era pura alegria martelando em suas veias. Liam a amava. O conhecimento se espalhava por ela, aquecendo-a da cabeça até os dedões do pé. Ela se sentia como se tivesse bebido um jarro cheio de vinho.
A declaração não veio durante um momento doce de paixão ou mesmo no tipo de momento romântico que ela sempre fantasiara. Ele não tinha olhado diretamente em seus olhos e declarado seu amor de modo claro e preciso. Ela sabia que ele tinha dito isso, porém. Tinha estado lá entre todas as queixas sobre o quanto ela era cega e como ela nunca o escutava. Muito estranhamente, foi isso que a fez acreditar nele.
"Oh, Liam, eu amo você, também," ela disse e tentou abraçá-lo ainda mais apertado.
Liam inclinou seu rosto e a beijou. Foi um beijo voraz, faminto e exigente, e Keira o recebeu e o igualou. Ela não tinha certeza quem começou a remover suas roupas primeiro, mas logo os dois estavam despidos. Eles caíram sobre a cama em um emaranhado de braços e pernas. Keira se entregou completamente à paixão selvagem que ela e Liam provocaram um no outro com suas palavras de amor. Liam acariciou e beijou cada polegada sua, e ela amorosamente retribuiu aquele presente, dando tudo o que sabia dar e não pegando nada de volta dele. Ele a levou a beira do êxtase várias vezes, até que ela começou a amaldiçoá-lo por lhe negar aquilo, em vez de implorar que ele se juntasse a ela. Então ele estava profundamente dentro dela, e Keira o agarrava enquanto ele ferozmente os empurrava do precipício.
Tentando não se mover muito, pois Liam parecia dormir profundamente sobre ela, Keira olhou em volta do quarto e sorriu. Havia roupas espalhadas por todo lugar. Ela tentou recordar quando eles bateram na mesa, mas suas memórias ainda estavam agradavelmente nubladas por pensamentos do prazer e alegria que eles encontraram nos braços um do outro.
Keira franziu o cenho levemente. Liam não tinha dito as palavras claramente ainda, embora sua reação a sua declaração certamente fosse tudo que qualquer mulher podia querer ou esperar. Ele a fez repetir suas palavras novamente enquanto eles faziam amor, como se não pudesse ouvir o bastante delas. Keira não tinha nenhuma dúvida que seu amor era desejado, avidamente bem-vindo.
Ela se sentia como se seu coração tivesse sido libertado. O passado de Liam agora apenas lhe causava uma pequena fisgada, e ela tinha certeza que muito cedo enfraqueceria. Apesar das belas palavras que ele tinha dado a elas, e da maneira amável como ela tinha certeza que ele as tratara, Liam tinha usado aquelas mulheres em seu passado tanto quanto elas o usaram. Não houve nenhum real sentimento profundo, apenas luxúria. Não havia nenhum fantasma em seu passado com quem ela tivesse que competir ou banir de sua memória.
E ele tinha alguma razão em suas queixas, ela concedeu silenciosamente. Ela escutava suas palavras, mas não ouvia realmente ou acreditava. Perguntou-se o que ele fazia com ela que nunca tinha feito com qualquer outra, porém. Na esperança de despertá-lo, de forma que ele pudesse responder aquela pergunta, ela começou a passar seus dedos de cima abaixo em suas costas.
Liam abriu um olho, viu a curva do seio de sua adorável esposa, e teve que beijá-lo. Sua esposa o amava. Ele a tinha feito repetir as palavras várias vezes durante seu frenético ato de amor. Liam não pensava que pudesse ouvir aquilo frequentemente o bastante. De um modo que ele não entendia realmente, o fazia se sentir inteiro. Também o fazia se sentir forte e pronto para enfrentar o que quer que o futuro reservasse.
"Liam?"
Ele sorriu. Ele gostava da nota rouca que se demorava na voz de Keira depois que eles faziam amor.
"M-m-m?"
"Quando você estava esbravejando —"
"Eu não estava. Eu estava meramente discutindo algumas coisas com você."
"Claro. Bem, quando voe estava discutindo estas coisas comigo, você disse que fez coisas comigo que nunca tinha feito com outra. Já que eu não sou tão mundana quanto você, eu não consigo imaginar quais dessas coisas poderiam ser."
Não ouvindo nenhuma raiva em sua voz quando ela falou de seu passado, ele ergueu sua cabeça para olhar para ela. “Você está curiosa?"
"Bem, sim. Você sabe tudo que eu não fiz com outro, já que eu era uma virgem. E já que tudo o que eu sei agora, eu aprendi com você, como podia saber o que é novo para você também?"
"Muito verdadeiro.” Ele começou a espalhar beijos sobre seu rosto ainda levemente ruborizado. “Eu nunca dormi com uma mulher. Nunca tomei banho com uma mulher.” Ele sorriu do rubor que aqueceu suas faces enquanto ela obviamente recordava aquelas vezes que eles tinham compartilhado um banho. “E eu nunca louvei o corpo de uma mulher com beijos como faço com o seu." Seu rubor se aprofundou em uma sombra tão brilhante que ele soube que ela entendeu exatamente a que ele estava se referindo e riu suavemente.
"Então era realmente apenas sexo," ela murmurou.
Percebendo que ela estava tentando pôr seu passado firmemente no passado, ele concordou. "Eu seguia minhas regras; Eu dizia palavras bonitas para fazê-las sorrir; E eu ficava à vontade com elas.” Ele roçou um beijo sobre sua boca. “Eu queria que pudesse ter vindo para você tão puro quanto você veio para mim."
"Oh, isso teria sido bom, mas provavelmente é melhor que um de nós tivesse um pouco de prática."
Pensando sobre o embaraço e desajeitamento que constituiu sua primeira vez com uma mulher, ele silenciosamente concordou. “Eu ainda estou aprendendo,” ele disse.
Keira teve que rir. "Tolice. Um homem que tem, er, praticado como você, não tem mais nada para aprender."
"Oh, sim, ele tem.” Liam estudou seu rosto, distraidamente afastando os fios de cabelo dele. “Eu aprendi muito desde que me casei com você. Aprendi o gosto de uma mulher.” Ele piscou quando ela corou. “Aprendi que algumas daquelas posições que vislumbrei nos livros menos santos que alguns monges têm podem realmente dar prazer. Eu tinha feito apenas duas antes.” Ele engoliu um sorriso, pois podia dizer pelo olhar em seu rosto que ela estava rapidamente contando todas as posições que eles experimentaram. “E aprendi o quão completo me faz sentir estar com a mulher que eu amo,” ele acrescentou em uma voz suave. “Como amar a mulher com quem estou faz todas as outras vezes parecerem sem sentido, vazias, pois nenhuma nunca poderia equiparar o prazer que ela me dá."
Keira envolveu os braços ao redor de seu pescoço e apertou o rosto contra sua garganta. “Você disse isto claramente. Eu estava me perguntando se você o faria."
"Você disse isto claramente. E muito ruidosamente algumas vezes,” ele murmurou e riu quando ela o beliscou levemente. “Não quero que você duvide disso nunca, moça, entretanto eu posso demorar um pouquinho de vez em quando para dizer isso."
"Eu sei que você nunca diria tal coisa a menos que você realmente quisesse dizer isso, Liam."
"E você confia em mim agora, amor?"
Ela ergueu a cabeça para sorrir para ele. “Oh, eu acho que tenho confiado há algum tempo. Aquela mulher apenas me deixou muito zangada, e eu não estava certa do porquê, ou se alguma dessa raiva estava direcionada a você. Gostaria que você lembrasse disto, Liam. Eu confio que você vai manter seus votos. Confio em seu amor por mim e em nosso casamento. Eu apenas não confio em todas aquelas mulheres lá fora que olham para você e querem você, e pensam passar direto por cima de mim para chegar até você. Eu ficarei brava. Não posso prometer que não ficarei. Mas mesmo se eu explodir e grunhir para você, não será porque eu penso que você estará correndo para a cama mais próxima com qualquer mulher que o esteja cobiçando naquele momento."
"Eu acho que eu entendo o que você está tentando dizer. É a situação, não eu."
"Sim. Eu posso não apenas esmurrá-las na boca sempre, mas há aquela raiva repousando aqui no meu estômago e—"
"Eu estou nessa posição. Se nós não vivêssemos tão abrigados aqui, você teria que lidar com o mesmo da minha parte, moça.” Ele a beijou quando ela franziu o cenho. “Confie em mim, você seria bastante desejada se fosse para a corte do rei."
Keira apenas sorriu, não acreditando em uma palavra daquilo, mas lisonjeada que seu marido a considerasse tão bonita que temia que outros homens a perseguissem. "Há algo que eu tenho desejado lhe dizer, Liam,” ela murmurou, olhando fixo para seu tórax enquanto corria distraidamente seu dedo sobre os músculos ali.
Era difícil não revelar seu conhecimento, que ele sabia que ela estava para contar a ele sobre a criança que eles fizeram. “Ah, um segredo profundo e sombrio?"
"Eu não tenho nenhum segredo profundo e sombrio, Liam. Onde eu os conseguiria? Passei minha vida inteira vivendo em um lugar muito parecido com este. Minha época no monastério foi uma grande aventura.” Ela sorriu quando ele riu e então acrescentou muito calmamente. “Mas eu penso que posso logo ter outra aventura. Em, oh, talvez, sete meses?"
Embora ele soubesse o que ela estava para lhe dizer, Liam ainda se sentiu profundamente comovido. Ela parecia um pouco insegura, e ele a beijou. “Nós teremos uma moça pequenina com cachos negros e olhos verdes escuro,” ele disse enquanto acariciava seu estômago.
"Não, um rapaz com cabelos escuros cor de cobre e olhos que podem ser azuis e podem ser verdes.” Ela riu e então acariciou seu rosto. “Está contente? Você nunca falou muito sobre querer uma criança ou duas."
"Ah, amor, como você pode perguntar? Eu pensava em você como mãe de meus filhos desde antes de nós nos casarmos. Eu podia ver isto muito claramente quase desde o começo. As pequeninas moças de cabelos negros que eu poderia estragar e você teria que disciplinar."
"Obrigada."
"O prazer é meu."
"Oh, querido. Eu acabei de ter um pensamento."
"Seus irmãos me advertiram sobre deixar você pensar demais," ele arreliou.
"Miseráveis. Não, eu acabei de perceber que nós devemos nomear Sigimor como padrinho."
"Você acha que seria uma boa idéia?" Ele sabia que ela não estava bastante certa sobre Sigimor, mas agora que ela falava em nomeá-lo como padrinho de sua primeira criança, ele sabia que queria muito aquilo.
"Oh, não, seria maravilhoso. Eu apenas pensei como uma moça seria totalmente estragada com você como pai, meus irmãos como tios, e Sigimor como padrinho."
Ele riu e a abraçou. "Nós teremos uma vida muito boa, meu amor. Uma vida realmente muito boa."
Hannah Howell
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