França Júnior
COMÉDIA EM UM ATO
Representada na Fênix Dramática em 25 de setembro de 1870.
PERSONAGENS: MATIAS NOVAIS (capitão de cavalaria) GERTRUDES NOVAIS JOSEFINA NOVAIS RUPRECHT (criado alemão) ARTUR DE MIRANDA ANDRÉ BARATA
A ação passa-se no Rio de Janeiro. Época — Atualidade.
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ATO ÚNICO O teatro representa uma sala regularmente mobiliada.
CENA I Gertrudes e Josefina.
GERTRUDES (examinando a sala) Como está esta sala! É um brinco! Não há nada como o serviço de um criado estrangeiro.
JOSEFINA (sentada ao lado da mesa, lendo o Jornal das Famílias) Na realidade, papai não podia acertar melhor.
GERTRUDES E que moralidade, minha filha! Ontem ficou mais vermelho do que fogo de forja, porque entrando casualmente em nosso quarto... Não me lembrava que és uma criança e que não podes saber essas coisas.
JOSEFINA (com curiosidade) O que foi, mamãe?
GERTRUDES Uma indiscrição de teu pai. O que estás vendo aí?
JOSEFINA O último figurino do Jornal das Famílias. Não acha que este molde de corpinho ia-me às mil maravilhas? (Mostrando o jornal)
GERTRUDES Vaidosa!
JOSEFINA O Senhor Artur diz-me constantemente que quem não se enfeita, a si se enjeita. É preciso, portanto, que eu faça de minha parte todo o possível por agradá-lo.
GERTRUDES Minha filha, uma menina não deve cativar aquele a quem ama por essas fofas exterioridades que morrem com a lua de mel, mas sim pelos dotes do coração e do espírito.
JOSEFINA (levanta-se) O que vosmecê acaba de dizer é muito bonito, mas infelizmente na nossa família há exemplos do contrário. O noivo de Joaninha desmanchou o casamento porque, estando uma vez a conversar com ela, surpreendeu-lhe por baixo do vestido a ponta de um chinelo-detapete.
GERTRUDES Ora, de quem vens me falar! Um desgraçado, sem eira nem beira, que ia fazer a sua infelicidade! Ela deve levantar as mãos para o céu, e agradecer à Providência o favor que lhe concedeu.
JOSEFINA E a pobre Ritinha? Enxoval pronto, o padre já falado, vem uma camada de bexigas bravas, transforma-lhe o rosto e o noivo desaparece de casa do dia para a noite.
GERTRUDES Mas o Senhor Artur nunca seria capaz...
JOSEFINA Não é bom confiar nos homens. (Canta)
Infeliz da mulher que acredita Na constância do sexo barbado, Quando menos o espera é traída Por um fútil pretexto estudado. Há um meio, entretanto, infalível, De curvá-lo ante o nosso poder, É primar a mulher pelo agrado. Quem lhe agrada há de sempre vencer.
GERTRUDES (canta)
Esse noivo que a sorte te deu É dos homens, por certo, exceção; Não o hás de prender com tolices. Mas com os dotes do teu coração.
JOSEFINA Felizmente quando ele chegar há de encontrar-me de ponto em branco. Ah! mas quando penso naquilo...
GERTRUDES Aí vem a tua ideia fixa.
JOSEFINA E não quer que isto preocupe-me o pensamento?
GERTRUDES Eu quando me casei, minha filha, estava nas mesmas circunstâncias e teu pai nunca deu pela coisa.
JOSEFINA Mas os homens de hoje são tão espertos...
GERTRUDES Ora, depois de casado, que remédio terá ele senão calar-se.
JOSEFINA E se ele quiser divorciar-se?
GERTRUDES Pois isto é lá motivo para divórcio!
JOSEFINA É verdade que Dona Margaridinha, que é uma moça do tom, disseme outro dia que não o era.
GERTRUDES Há uma coisa, porém, de que não te posso absolver.
JOSEFINA Qual é?
GERTRUDES Por que recebes aqui às escondidas o tal sujeito?
JOSEFINA É porque...
CENA II As mesmas e Matias.
MATIAS (entrando pela esquerda, em trajes caseiros) Às que horas acostumam chegar os trem da serra?
GERTRUDES (pausadamente) O trem da serra costuma chegar às seis horas.
MATIAS A senhora diz isto assim com um tão de mestre de escola! Dará-se caso que eu tenha dito alguma asneira?! Já estou muito velho para arreceber liçãos.
GERTRUDES Mas é que tu me envergonhas, Matias, todas as vezes que abres a boca em público. Por que não te hás de corrigir deste mau hábito?
MATIAS O que envergonha o homem, senhora, são as más açãos; e graças a Deus, até hoje, ainda não partiquei um auto, de me arrependesse. (Para Josefina) Bravo! Meu anjinho, estás que é um céu aberto! Fizestes muito bem, o Senhor Artur não tarda e daqui a um mês estarás ligada àquele excelente moço pelos laços da Santa Madre Igreja (Para Gertrudes) Onde está o alamão?
GERTRUDES O alemão está lá dentro arranjando o quarto, onde deve ficar o Senhor Artur.
MATIAS (gritando para dentro) Rupretes? Xubregas? Que diabo! Como é que se pornuncia o nome daquele desarmado?
GERTRUDES (rindo-se) Pois se tu não podes com a tua língua, como queres pronunciar a dos outros?
(Josefina senta-se ao lado da mesa e lê o Jornal das Famílias)
MATIAS É pena que o ladrão tenha um nome tão arrevesado; tirantes disso é um criado como não há igual. Sério, de uma moralidade exemplar, cumpridor de seus deveres, e sobretudo fiel como um cachorro. Se eu pudesse enchia esta casa de alamões. Tive uma ótima ideia de mandá-lo vir de Petrópolis. (Canta)
De ter alamões em casa, Ninguém deve se queixar; Pois é gente papafina, Para uma casa guardar.
Quem quiser ter o sossego E a paz no coração, Lá da terra das bengalas Mande vir um alamão.
Que ventura, que prazer! Nada tenho a desejar; Estou servido de criado, E a filha vou casar.
E vivam os alamões! (Gritando para dentro) Xubregas? Rupretes? Ó Monsiú?
CENA III Josefina, Gertrudes, Matias e Ruprecht.
RUPRECHT Mein Herr? O senhor jamou-me?
MATIAS Sim, chamei-te. Irra! Tens um nome que não me passa da garganta. Pornucia lá isso, mas com toda a vagareza.
RUPRECHT Ruprecht Somernachtsraumenberg, uma zeu griado.
(Gertrudes vê o jornal com Josefina)
MATIAS Safa! Para pornunciar isto, só pondo uma batata quente na boca! Já arranjastes o quarto?
RUPRECHT Ya wohl.
MATIAS Mau, que você está degenerando; pois agora é que vai, quando eu lhe ordenei desde manhã que arrumasse aquilo?
RUPRECHT Mas eu xá arrumei!
MATIAS Então como é que me vem dizer "já vou?!"
GERTRUDES (rindo) Este criado acaba por te tornar maluco.
MATIAS Ora, vejemos se fizeste tudo quanto te encomendei.
RUPRECHT Está tudo brombto. Muito ponito tudo! A gama muito macia.
MATIAS O que compraste para o almoço amanhã?
RUPRECHT Rindfleich.
MATIAS Para que fostes comprar rim?
RUPRECHT Non, non é rim... é este gouza, eu nom zabe como se jama auf portuguische.
MATIAS Que diacho é isto, então?
RUPRECHT Rindfleich...esse picho que tem gapeça crande... poi, poi.
MATIAS Ah! vaca, vaca.
RUPRECHT Faca, non, poi, poi.
MATIAS O que mais?
RUPRECHT Gomprei mais uma bosta de beixe.
MATIAS Uma ova de peixe, queres dizer.
RUPRECHT Nein; um bedaço de beixe.
GERTRUDES Estás aí a usurpar as minhas atribuições. Sempre impliquei com homem que se mete com o governo da casa. Manda o criado embora; quando te sentares logo à mesa saberás o que há para comer.
MATIAS Tens razão; com uma mulher da tua orde e um criado destes pode-se passar a vida de braços encruzados.
JOSEFINA É muito bonito este romance do Macedo.
MATIAS (vendo as horas) O trem já devem ter chegado. Vão passarem uma vista d'olhos pelo quarto para que nada faltem ao filho do compadre. Eu vou fazer a barba. (Sai pela esquerda, Josefina e Gertrudes também saem)
CENA IV Ruprecht, só.
RUPRECHT Hum! Este gaza non está pom, non. Menina tem gabeça virada e velho zoldado non zabe de batifaria, que fai por aqui. Eu não quer canha dinheiro assim. (Canta)
Isto assim não esta ponito. Eu não bosso aqui fifer. Vai me embora b'ra Bedrobolis. Cerfexa e queixo facer.
O zoldado não está mau, Mas menina está xirando Com garinha de inocente, Bobre noifo anda enganando.
CENA V O mesmo e Artur.
ARTUR (entrando pelo fundo, com uma mala) Deus esteja nesta casa.
RUPRECHT A quem brocura?
ARTUR Onde está o Senhor Matias?
RUPRECHT Está facendo a parpa. Quem é o zenhor?
ARTUR Vá dizer-lhe que está aqui o filho do seu compadre.
RUPRECHT Ah! é o zenhor Ardur de Miranta?
ARTUR Em carne e osso.
RUPRECHT O namorato da menina?
ARTUR Então, avia-te.
RUPRECHT (à parte) Coitato! (Sai pela esquerda)
CENA VI Artur e depois Matias.
ARTUR Quem será este palerma? (Coloca a mala e o chapéu em cima da mesa e senta-se) Eis-me, enfim, em vésperas de tomar estado. Quem diria?!
MATIAS (com um lado do rosto ensaboado e segurando a navalha) Eu bem dizia que o trem já tinham chegado. (Abraçando Artur) Cuidado, não se corte. O compadre não veio?!
ARTUR Não pôde.
MATIAS Seria por cerimônia?
ARTUR Sabe que meu pai não pode abandonar presentemente a fazenda.
MATIAS Eu logo vi; havera de ser bonito que o compadre fizesse cerimônia comigo. Mas onde está esta gente? Gertrudes? Josefina?
ARTUR Não as incomode.
MATIAS Olhe que esta casa já é sua; pode ir entrando, e dispondo de tudo.
CENA VII Os mesmos, Josefina e Gertrudes.
GERTRUDES Quanto folgo de vê-lo. (Aperta a mão de Artur)
ARTUR (para Josefina) Como tem passado?
MATIAS Eu já volto. (Sai)
CENA VIII Artur, Josefina e Gertrudes.
GERTRUDES (olhando maliciosamente para Josefina) Não imagina a ansiedade com que era esperado.
ARTUR Deveras?
GERTRUDES Esses dias têm corrido para Josefina com tal lentidão...
ARTUR Avalie como eu os passaria em Petrópolis. Há um mês que não vejo o sol. O astro rei, uma ou outra vez, por especial favor, mostra-nos a face naquele céu, sempre carrancudo que afugenta as estrelas e onde a lua raras noites desenha o perfil. Um poeta cantou a lua de Londres; eu hei de cantar o sol de Petrópolis. (Espirrando)
GERTRUDES e JOSEFINA Viva!
ARTUR Obrigado. Não façam caso, são efeitos daquele belo clima. Quem por ali passa paga o tributo de um defluxo, ou... (Espirra)
GERTRUDES e JOSEFINA Viva!
ARTUR Ora, por quem é. No meio daquela monotonia consolava-me uma ideia.
JOSEFINA Qual era?
ARTUR A ventura que terei de gozar no novo estado que me espera.
GERTRUDES (para Josefina) Curiosa!
CENA IX Os mesmos e Matias.
MATIAS Por que não vai se acomodar? Deve estar fatigado da viagem. (Artur espirra) Está constipado?
ARTUR Dou-me muito mal com a atmosfera lá de cima.
MATIAS Aquela fazenda de seu pai é muito sujeita a atmosferas.
GERTRUDES (baixo a Matias) Já começas a dizer asneiras.
MATIAS (alto) Qual foi a asneira que eu disse?! Minha mulher entende que eu sou um menino de escola e está constantemente a dar-me liçãos. Pois olhe, Senhor Artur, eu fiz, não há muitos anos, inzame de protuguês em Alagoas e fui aprovado com distinção.
GERTRUDES Está bom, nós já sabemos.
MATIAS Mas o Senhor Artur não sabe, porque ainda não lhe contei esta. Havia em Maceió um agente da companhia de vapores chamado Manoel Maria. O inzaminador, que queria espichar-me na tal gramática, deu-me para analisar a seguinte oração: — O vapor chegou. — O verbo é chegou, não? — Sim, senhor. Quem é o agente? Eu que sou fino, respondi-lhe imediatamente: — É o Senhor Manoel Maria. O meu professor, que estava ao lado, desatou a rir do sangue frio com que respondi à progunta e no dia seguinte vi o meu nome, como o de um dos concurrentes mais habilitados ao lugar que pretendia.
ARTUR Está visto.
MATIAS Eu serei burro, mas bão senso não me falta.
GERTRUDES Oh! pois não.
MATIAS Ultimamente no Paraguai mandei deitar abaixo uma linha do telégrafo.
GERTRUDES (interrompendo-o) Vamos para dentro, Senhor Artur. (Baixo a Matias) Estás dizendo muitas asneiras.
MATIAS Não acha que fiz bem?
ARTUR Muito bem.
MATIAS Pois o bão senso não estava dizendo que aquilo era uma coisa inútel?! Aquela gente falava o guarani, nós falamos o protuguês. De que nos servia um teléfrago em guarani? Mas eu estou aqui a maçarlhe a paciência. Então, não acha a menina mais gordinha?
JOSEFINA O que é isto, papai?
ARTUR Sempre bela e encantadora.
MATIAS Pois olhe: devia estar muito magra; pois que desde que o conhece vive aqui em casa numas afliçãos! Vestidos para aqui, rendas para acolá. — O Senhor Artur não gosta disso, gosta mais daquilo...
JOSEFINA Papai.
MATIAS Ontem estava dizendo à mãe que queria cortar aquela duas barruguinhas do queixo porque parecia-lhe que o senhor implicava com elas.
JOSEFINA Papai.
MATIAS E no entretanto eu acho que aquilo dá-lhe muita graça. Parece dois grãezinhos de milho.
GERTRUDES (baixo) Grãos, grãos.
MATIAS Com os diabos! No outro dia disseste-me — capitão, capitães; logo grão, grães.
GERTRUDES Está bem; dize lá como quiseres.
MATIAS Faceirice até ali.
JOSEFINA Vosmecê nunca há de perder o sestro de contar tudo quanto ouve e vê.
ARTUR É um hábito, como outro qualquer.
MATIAS Diz muito bem, é um hábito. Não sabe da história da raposa e do macaco?
ARTUR Não, senhor.
MATIAS O macaco disse um dia à raposa: — Por que olhas para trás sempre que entras em um capão de mato? A raposa perguntou ao macaco: — E tu, por que não podes estar cinco minutos sem te coçares? Apostaram qual dos dois levaria mais tempo, um sem se coçar, outro sem olhar para trás. Seguiram ambos por um campo. A raposa, mais astuta, querendo ver o que lhe ficava pelas costas sem perder a aposta, puxou a seguinte conversa: — Aqui houve em outros tempos uma grande batalha em que morreu uma quantidade extraordinária de bichos; todo este campo (Voltando-se ao redor da cena) ficou cheio de cadavres. O macaco, que era mitra, acudiu logo: — É verdade, o defunto meu avô cá esteve e ficou todo baleado por aqui, por ali... (Imita o macaco, coçando as costelas)
ARTUR (rindo) Magnífico, magnífico!
MATIAS Assim sou eu.
GERTRUDES Pois fazes mal, nem tudo se deve contar. Há bem pouco tempo deste motivo a boas gargalhadas em casa do Queiroz com a história dos cadetes.
MATIAS Riram-se, é verdade, mas foi por causa da lição que dei aos tais sujeitos. Vinha uns cadetinhos no bondio dos fumantes, já se sabe — charutinho na boca, e nada de me tirarem os chapéu, apesar de eu estar fardado e trazer as competentes divisa. Eu viro-me para eles e digo-lhes com certo ar de ironia: — Senhores cadetes, como vai? A coisa produziu logo efeito, porque um deles, descobrindo-se com todo o acatamento, disse-me: — Senhor capitão, como vão?
GERTRUDES (para Artur) Por que não entra?
ARTUR Se me permite, ficarei conversando com Dona Josefina.
GERTRUDES (baixo a Matias) Vamos, eles querem ficar sós.
MATIAS (para Artur) Maganão! (Sai juntamente com Gertrudes)
CENA X Artur e Josefina.
ARTUR Por que hás de ser tão faceira?
JOSEFINA Não acredite nas histórias de papai. E quando fosse verdade... (Com intenção) Quem não se enfeita...
ARTUR A si se enjeita, tens razão. Se nós homens pagamos tributos à vaidade, as mulheres devem render a essa deusa o mais fervoroso culto.
JOSEFINA Pelo que vejo, então, a minha pessoa representa um papel muito secundário nesse amor que diz consagrar-me?
ARTUR Oh! não, minha cara Josefina; mas essas aparências, que o mundo chama futilidades, são para o sentimento o que a aragem é para o fogo. Um poeta disse que a toalete é a alma da mulher.
JOSEFINA Amargo epigrama às filhas de Eva. Seria o mesmo que dizer que o merecimento artístico de uma tela depende da custosa moldura que a cerca.
ARTUR Quando te vejo, ostentando as galas da elegância, parece-me que teus olhos brilham com mais fulgor, que teus lábios purpurinos se abrem como dois botões de rosa aljofrados pelo orvalho da manhã, que tens sobre a fronte um diadema de luz e que pisa a criação com o pezinho mimoso e feiticeiro que o sapatinho oprime.
JOSEFINA (à parte) Meu Deus! Se ele soubesse! Eu morreria de vergonha!
ARTUR Parece que tua cintura quebrar-se-ia ao menor contato...
JOSEFINA Tu não me amas.
ARTUR Se te amo! (Tirando uma sempre-viva do bolso) Conheces esta sempreviva? Trago-a bem junto do coração, desde o dia em que ma deste. Esta flor quer dizer — amar até morrer. Eu juro, por este penhor sagrado, que hei de amar-te até a morte.
A sempre-viva que me deste, ó bela, Oh! sempre viva me será na mente, Nas pétalas d'ouro que esta flor ostenta, Leio o protesto de um amor ardente.
Se a flor mimosa desbotar não pode, Mesmo dos anos ao poder nefando, Ao seio unida, viverei com ela, Beijando as pétalas morrerei te amando.
Amor tão puro, como eu sonho, arcanjo, Vejo exalar-se desta flor divina, Oh! seja embora meu amor um crime, Hei de adorar-te como a flor me ensina.
A sempre-viva que me deste, ó bela, Oh! sempre viva me será na mente, Nas pétalas d'ouro que esta flor ostenta, Leio o protesto de um amor ardente.
CENA XI Os mesmos e Ruprecht.
RUPRECHT (entrando com uma vela e acendendo as da sala) Lá esta a zonza a iludir o bobre rabaz. Eu vai te arma uma poa laço.
ARTUR (a Josefina) Que maçante! Quem é este palerma?
JOSEFINA É um criado alemão, por quem papai morre de amores. Dê-me o seu braço e vamos ao jardim.
(Artur dá o braço a Josefina e passa por perto de Ruprecht)
RUPRECHT (baixo) Eu guer lhe falar.
ARTUR Se me permite, irei daqui a pouco.
JOSEFINA Como queira. (Sai)
CENA XII Ruprecht e Artur.
ARTUR O que queres?
RUPRECHT (examinando cautelosamente as portas) Scio!
ARTUR Que diabo de mistério é este?
RUPRECHT Este menina não está pom, non.
ARTUR O que queres dizer com isto?
RUPRECHT Bai não sape de nata e mãe sem ferconha serfe de capa.
ARTUR Patife!
RUPRECHT Batife, ia wohl, endra todo o tia neste zala e está azim. (Ajoelhando-se) Ao bé de noifa de focê.
ARTUR Estarei eu sonhando, Santo Deus! Fala, demônio; mas fala português, de modo que eu te entenda.
RUPRECHT Menina tem um amande, focê não defe gasa com ela.
ARTUR E se eu te disser que estás mentindo como um cão!
RUPRECHT (zangado) Engole este palafra, eu não mente. (Avançando) Engole já palafra. Du bist ein Schaffskopf. (Ameaçando-o com o punho no rosto)
ARTUR Está bom, está bom.
RUPRECHT Engole já palafra.
ARTUR Já engoli.
RUPRECHT Eu guer lhe abre os olhos em dempo e focê está muito sem ferconha.
ARTUR Mas tu tens certeza do que estás dizendo?
RUPRECHT Ya wohl. Gewiss.
ARTUR Pois será crível que aquele anjo de candura... Ó Deus de bondade, eu te agradeço por me teres iluminado tão horrendo precipício!
RUPRECHT O que fai facer?
ARTUR Lançar em rosto desta mulher a infâmia que cometeu para comigo e despedir-me para sempre desta casa.
RUPRECHT Esbera um bouco. Focê guer fêr com suas próprias olhos?
ARTUR Sim, sim.
RUPRECHT Então gala sua boca, não dá esgandalo. Nós abanha sujeita com poca na potija. Fai pra dentro e faz cara de dolo.
ARTUR Mulheres! Mulheres!
RUPRECHT Fai pra dentro. (Artur sai) Bobre rabaz! (Acende a última vela e sai)
CENA XIII André Barata, só.
ANDRÉ BARATA (entrando pela última porta da direita) Aquela menina ainda há de ser a causa da minha perdição. Obriga-me a entrar aqui pela porta da cozinha, num belo dia esbarro-me face a face com o pai e dão-me cabo do canastro. Se a mãe não consentisse, eu já tinha sido infalivelmente pilhado, e tudo por um capricho tolo; sim, por que no fim de contas, que mal havia que o noivo soubesse das minhas visitas? O coração está me vaticinando que hoje acontece-me alguma (Canta)
Por amor de uma menina, Estou metido em boa cama, Se me livro da esparrela Não caio noutra trama.
Quando entro aqui à noite, Perco a fala fico mudo, Sinto câimbras pelas pernas, Sinto frio, sinto tudo.
CENA XIV O mesmo, Josefina e depois Ruprecht.
JOSEFINA Constipava-me no jardim, à sua espera... Jesus! o senhor aqui?!
ANDRÉ Pois não me disse anteontem que esperava-me hoje a estas horas? Sou pontual como um inglês.
JOSEFINA Meu Deus! Ele pode chegar...
ANDRÉ Minha senhora, declaro-lhe, com a franqueza que me caracteriza, que não compreendo os seus escrúpulos.
JOSEFINA O senhor não vê que se ele soubesse deste segredo me repeliria no mesmo instante.
ANDRÉ Não creio, minha senhora; ele havia de fazer todo o possível para ocultar isto e, até depois de casado, as portas de sua casa abrir-seiam de par em par para receber-me.
JOSEFINA Depois de casada, nunca, senhor! Porque eu morreria no dia que meu marido suspeitasse disto.
ANDRÉ E sua mãe não sabe de tudo?
JOSEFINA Sabe, é verdade; porém ela padecia do mesmo mal quando se casou com meu pai...
ANDRÉ Então, já vê que...
JOSEFINA Mas meu pai não se importa com essas coisas.
ANDRÉ É um excelente marido.
JOSEFINA E eu a conversar com o senhor! Artur não tarda por aí, vá-se embora.
RUPRECHT (aparecendo na porta) Prafo! Abanhei-os. (Sai)
CENA XV Josefina, André e depois Artur.
ANDRÉ A minha demora é muito pequena; sente-se e vejamos como vai o seu pé. (Senta-se no sofá)
JOSEFINA Ele pode surpreender-nos.
ANDRÉ São cinco minutos apenas.
JOSEFINA Aqui mesmo?
ANDRÉ Por que não?
JOSEFINA Ai, ai, se não lhe tivesse tanto amor... Vamos, mas muito depressa.
(Artur aparece na porta, Josefina senta-se no sofá e André, ajoelhando-se, segura-lhe no pé)
ARTUR (entrando) Infame!
JOSEFINA (assustando-se) Ai!
(André esconde-se rapidamente na primeira porta da direita. Artur olha com raiva concentrada para Josefina, que abaixa a cabeça)
CENA XVI Ruprecht, Josefina e Artur.
RUPRECHT Eu fai arruma minha baú, e fai me embora, patifaria muito crande. (Entra pela segunda porta da direita)
JOSEFINA Artur!
ARTUR Sei de tudo, senhora.
JOSEFINA Sabes de tudo?! Céus! O que disse ele! Não me desprezes, eu te peço, em nome do que tens de mais santo.
ARTUR Vilmente enganado!
JOSEFINA Eu te juro que é falso. Não creias, não é verdade.
ARTUR E ousas negar quando acabo de ver...
JOSEFINA (com vivacidade) Não viste, é mentira.
ARTUR Basta, senhora; esta cena está me irritando os nervos e eu saberei o partido que hei de tomar. (Canta)
Linda e pura como um anjo Julguei-te nos sonhos meus, Quebraram-se os teus encantos Serena imagem de Deus.
Dos jardins da minha vida Foste a rosa sedutora: Já não vives neste peito Mulher falsa e traidora.
JOSEFINA (canta)
Enganá-lo já não posso, Para sempre estou perdida, Quebraram-se os seus encantos, E a ilusão de minha vida.
JOSEFINA Artur! (Quer segurar-lhe na mão)
ARTUR (saindo pela segunda porta da esquerda) Deixe-me.
(Josefina quer segui-lo, mas volta, deixando-se cair no sofá)
CENA XVII Josefina e Gertrudes.
GERTRUDES Onde está o Senhor Artur?
JOSEFINA (encostando a cabeça ao peito de Gertrudes e chorando) Hi! Hi! Hi!
GERTRUDES O que tens, menina?
JOSEFINA Está tudo descoberto!
GERTRUDES Como?
JOSEFINA (levanta-se) Artur vai abandonar-me e propalará a minha vergonha por toda a parte.
GERTRUDES Mas como foi isto? Conta-me.
CENA XVIII As mesmas e André.
ANDRÉ (tremendo) Já se foi?
GERTRUDES O Senhor André!
ANDRÉ É verdade, minha senhora, antes não fosse.
GERTRUDES Mas o que veio fazer o senhor hoje cá?
JOSEFINA Artur surpreendeu-o aos meus pés e disse-me que já sabia de tudo. (Chorando) Hi! Hi! Hi! (Sai pela primeira porta da esquerda)
CENA XIX André e Gertrudes.
GERTRUDES Que indiscrição, senhor?
ANDRÉ E então! Pois é a senhora que me chama de indiscreto? Quem foi que me disse que eu viesse cá hoje?
GERTRUDES É verdade, não me lembrava... saia, saia.
ANDRÉ Eu sairia correndo como um veado, mas não sei que diabo tenho que as pernas estão a tremer-me como caniços agitados por um grande temporal.
GERTRUDES Onde está o seu chapéu?
ANDRÉ Daria um doce à senhora, se me dissesse onde está a minha cabeça. (Gertrudes procura o chapéu). Muito custa a levar-se esta vida honradamente.
GERTRUDES (achando o chapéu, em cima de um dos aparadores) Tome.
(André toma o chapéu, deixa-o cair aos pés de Gertrudes e abaixa-se para apanhá-lo, no momento em que aparece Matias na segunda porta da esquerda)
CENA XX Os mesmos e Matias.
MATIAS Um home nos peses de minha mulher! (André corre precipitadamente, escondendo-se na segunda porta da direita) Senhora Dona Gertrudes! (Com furor)
GERTRUDES Não é preciso alterar-se, é a coisa mais simples deste mundo.
MATIAS A senhora arrecebe um home em minha ausência, e tem o atrevimento de vir dizer-me que é a coisa mais simples deste mundo!
GERTRUDES Miserável! Duvidas de tua mulher!
MATIAS Não me faça ferver o sangue. Olhe que entre mim e a senhora há um mundo de cobrinhas furta-cores. Eu não estou bão, senhora.
GERTRUDES Fala baixo; queres fazer um escândalo?
MATIAS Falo bem arto; todo o mundo há de saber que a senhora me traiu. O casamento de nossa filha está desmanchado, porque a senhora acaba de comprometê-la.
GERTRUDES Mentes.
MATIAS Artur acaba de me contar tudo; ele julgava que Josefina, aquela pomba sem fel... — e no entretanto é a mãe...
GERTRUDES Senhor Matias, deixe-me falar.
MATIAS Não; primeiro hei de saciar a minha vingança no infame sedutor. Entra para ali Lucrécia Brógia. (Aponta para a primeira porta da esquerda) Já para ali.
GERTRUDES O que irá acontecer, meu Deus! (Sai)
CENA XXI Matias e Artur.
MATIAS Sou eu a vítima.
ARTUR O senhor?!
MATIAS Sim; o negócio é com minha mulher.
ARTUR (zangado) Ora, Senhor Matias.
MATIAS Apanhei-os.
ARTUR Quem?
MATIAS Gertrudes e o tal sujeito de que me falou.
ARTUR Se não está caçoando comigo, digo-lhe que está doido.
MATIAS Mas se eu vi.
ARTUR Se eu também vi.
MATIAS O senhor está bem certo disso?
ARTUR Pois não lhe disse já que estive há pouco com ela nesta sala?
MATIAS Então são dois. Nós também samos dois, seguremos os bichos.
ARTUR Acredita porventura que eles estejam ainda aqui?
MATIAS O meu entrou ali. (Indicando a segunda porta da direita) Fechemos as portas. (Fechando a porta do fundo e a primeira e segunda da esquerda) Ah! é preciso apagar as velas. (Apaga-as) Agora toda a cautela são poucas. (Tateando) Venha me seguindo. (Chegam à segunda porta da direita) Coloque-se do lado de lá, eu ficarei aqui.
(Artur fica a um lado da porta e Matias do outro lado)
ARTUR Mas isto assim, sem uma bengala ao menos.
MATIAS O senhor não tem mões? Scio! Assim que aparecerem a cabeça do sujeito... zás. (Apertando o pescoço) Deve-se fingir voz de mulher. (Com voz fina) Pode entrar.
ARTUR (com voz fina) Entrem, eles já se foram.
CENA XXII Os mesmos, Ruprecht e depois André.
RUPRECHT (entrando) Gue escuritão!
(Matias e Artur agarra-lhe no pescoço. Ruprecht quer gritar e não pode, e vêm os três à boca da cena)
MATIAS Aperte sem dó, nem piedade.
ARTUR Está seguro.
(André entra)
ANDRÉ (à parte) Bonito! A porta do quintal fechada, e eu aqui às escuras. (Tateando)
MATIAS Hás de morrer como um porco. Aperte, seu Artur.
ANDRÉ (à parte) O que ouço?!
ARTUR O bicho não nos escapa mais.
ANDRÉ (á parte) Morrer como um porco! Caí num matadouro!
RUPRECHT (conseguindo tirar do pescoço a mão de Matias) Zogorro! Zogorro!
MATIAS O alamão?!
(Artur larga o pescoço de Ruprecht)
ANDRÉ (à parte) Santa Bárbara! Onde estará a porta da rua? (Tateando)
RUPRECHT Gue guer dizer isdo?!
MATIAS Cala a boca, não faças barulho. O sujeito está aqui; e é preciso gazofilá-lo.
RUPRECHT Mas eu não zou o zujeito!
ARTUR Os patifes são dois e não um, como me disseste. Procurêmo-los.
(Os três tateiam pela cena)
ANDRÉ Ei-los comigo! (Tateando, esbarra-se no sofá, e fica de cócoras em cima daquele. Ruprecht esbarrando em Matias, toma-o por André e segura-lhe no pescoço, Matias quer gritar e não pode, Artur passa a mão pela cara de André)
ANDRÉ (gritando e correndo) Socorro! Socorro!
RUPRECHT Um xá está securo.
ARTUR (tateando, em procura de André, esbarra-se com Ruprecht, toma-o por aquele e aperta-lhe o pescoço) Achei-te enfim!
(Ruprecht quer gritar e não pode)
ANDRÉ (gritando) Socorro! Socorro!
CENA XXIII Gertrudres, Josefina, André, Artur, Ruprecht e Matias.
GERTRUDES (de dentro, batendo na porta) Abram a porta.
ARTUR Aguente, seu Matias. (Gritando) Uma vela, que eu já não posso.
ANDRÉ (à parte) Se eu achasse a porta da rua...
GERTRUDES (de dentro) Então abrem ou não?
ARTUR (gritando) Uma vela, pelo amor de Deus!
GERTRUDES (arrombando a porta e seguida de Josefina que traz uma vela)
O que é isto?!
ARTUR (deixando Ruprecht) Pois era tu?!
RUPRECHT (deixando Matias) Pois era o zenhor?!
ARTUR Onde está o sedutor?
JOSEFINA (para André) Fuja, fuja.
MATIAS (avançando para André) Eis aqui o marvado. (Segurando-o pela gola do paletó) Agora não me escaparás.
ANDRÉ (a Gertrudes) Ó senhora, deslinde toda esta alhada, que a minha vida está por arames.
GERTRUDES Este homem está inocente.
MATIAS Eu já te vou dar a inocência, grandissíssimo maroto. Xubregas? A minha espada.
RUPRECHT Brombto. (Sai)
CENA XXIV Os mesmos, menos Ruprecht.
GERTRUDES Senhor Matias, um escrúpulo mal entendido da nossa filha é a causa desta cena.
JOSEFINA Pelo amor de Deus, minha mãe, cale-se.
ARTUR Deixe sua mãe falar, senhora.
GERTRUDES Este homem é um pedicura.
MATIAS Pedicura!
ANDRÉ É a pura verdade, senhor; sou formado neste difícil ramo, e merecia que me tratassem com mais consideração.
MATIAS Mas o que veio fazer em minha casa?
GERTRUDES Josefina sofre...
JOSEFINA Ela vai dizer tudo! Minha mãe...
ARTUR Fale, fale, minha senhora.
GERTRUDES Josefina sofre de uma moléstia horrível...
MATIAS e ARTUR Qual é?
GERTRUDES Tem um joanete!
JOSEFINA Está tudo acabado! (Cobre o rosto com as mãos)
MATIAS (deixando André) Um joanete?! Que diacho vem a ser isto, senhor?
ANDRÉ (com tom dogmático) O joanete é o diabo em forma de osso que se agrega ao pé, faz com ele comércio de amizade, aumenta-lhe a base e uma vez estabelecido o seu domínio, entendiam os antigos pedicuras que era impossível desalojá-lo. Eu, porém, depois de um acurado estudo, em que gastei a mais bela parte da minha mocidade, descobri um remédio milagroso, perante o qual todos os joanetes se abatem, como provam os atestados, que passo a ler. (Tira diversos papéis do bolso)
MATIAS Não me explicará, senhora, esta embrulhada?
GERTRUDES Josefina queria ocultar este defeito ao Senhor Artur. Vendo anunciadas nos jornais curas milagrosas feitas pelo Senhor André Barata, resolveu, com meu consentimento, recebê-lo aqui em segredo...
MATIAS E como me ocultaram isto?
GERTRUDES Com o teu gênio falador, irias contar tudo ao Senhor Artur e a pobre menina estava persuadida que o seu noivo a abandonaria no dia em que soubesse do fatal segredo.
ARTUR (para Josefina) Por que me julgaste tão mal? Acreditavas porventura que te idolatrando com um anjo...
GERTRUDES Era o que eu lhe observava, porque, no fim de contas, o que quer dizer um joanete? (Para Matias) Eu tenho um enorme e tu nunca deste pela coisa.
JOSEFINA (para Artur) É de família.
ANDRÉ (lendo) "Atesto que o Senhor Barata tirou-me oito calos do dedo mínimo... "
MATIAS Esta bão; abasta. Vá em paz e agardeça à Providência o não ter de ir daqui para a botica.
JOSEFINA (para Artur) Não me desprezas?
ARTUR Pelo contrário, cada vez te amo mais. (Para André) Autorizo-o a continuar desassombrado a cura encetada e ponho à sua disposição a minha bolsa.
JOSEFINA Mas atestado, por forma alguma.
CENA XXV Gertrudes, Ruprecht, Artur, André, Matias e Josefina.
RUPRECHT (com a espada embainhada e fazendo esforço por tirá-la da bainha) Aqui está a esbada. Muito verrugem, non sai, non.
MATIAS Leva-a para dentro; já não é preciso.
RUPRECHT Gomo?
MATIAS (batendo no ombro de Gertrudes) Sempre me meteste um susto...
RUPRECHT (para Artur) Gomo se expliga isdo?
ARTUR As aparências muitas vezes enganam, meu palerma.
RUPRECHT (à parte) Bercepo, apafaram o negocia em família.
JOSEFINA (canta)
Meus senhores e senhoras, Quero dar-lhes um lembrete, Não propalem por aí...
GERTRUDES (canta)
Que ela tem um joanete.
TODOS (menos Ruprecht)
Silêncio! Scio! Atenção! Por favor bico calado,
Que um defeito de família Não deve ser revelado.
França Júnior
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