Criar uma Loja Virtual Grátis
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O DESAFIO DE UM HIGHLANDER / Emilia Ferguson
O DESAFIO DE UM HIGHLANDER / Emilia Ferguson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT 

 

 

Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

O amor verdadeiro pode abrir caminho para dois corações solitários?
Um highlander determinado...
Duncan MacConnoway, filho de um poderoso conde e ansioso para entender seu caminho na vida, está desesperado para se casar com a mulher de seus sonhos. O tio dela, o astuto Conde de Lochlann, exige que ele cumpra três tarefas que até Hércules lutaria para terminar. O amor deles é tudo o que ilumina o caminho através daquele labirinto escuro, que se ele puder ficará por muito tempo...
A mulher sábia...
Alina du Mas pode ver coisas que ninguém mais acredita, então ela, geralmente guarda seus segredos para si mesma. Atormentada por sonhos sombrios, tudo o que Alina sabe é que ela tem o poder de encontrar um caminho através do futuro assustador que tem pela frente. Ela só precisa descobrir como. Enquanto isso, ela luta por um amor que seu tio Brien parece determinado a negar, embora, ele finalmente ofereça uma solução impossível...
Segredos Familiares Mortais...
Alina e Duncan logo percebem que o plano de seu tio pode ser ainda mais desonesto do que eles pensavam ? ele pode ter colocado Duncan para falhar. Pior ainda, o enredo de Brien conduz a uma situação mortal que convence Duncan que sua morte pode ter sido o objetivo o tempo todo. Com a ajuda do resto de sua família, cabe a Alina descobrir a verdade sobre as pessoas que ela mais preza e rezar para que não seja tarde demais para seu verdadeiro amor...
Como o amor verdadeiro pode prevalecer contra a vontade de ferro de um homem perigoso?
Duncan pode encontrar uma maneira de alcançar o impossível sem ajuda? Alina deve confiar à sábia tia Aili, a sua irmã Amabel ou Broderick a informação que poderia salvar seu amor?

 


 


A escuridão a pressionava.

Estranha e úmida, com teias de aranha e cheiro de quartos empoeirados, a escuridão a envolvia. Parecia uma ? névoa, mas mais espessa ? ela pressentia-a como um predador, espreitando em terras florestais. Alina, presa naquela escuridão, queria gritar. Ela não conseguia ir embora. Ela também não conseguia fechar os olhos. Ela desejou conseguir: não queria ver o que aconteceria enquanto a escuridão lentamente os envolvia. Primeiro ela própria, depois Amabel, depois Chrissie, com os cabelos brilhantes se transformando em cinzas. Broderick foi o próximo, depois uma menina que ela não conhecia e depois Aili ? nem mesmo ela foi poupada. Então foi a vez de Duncan também. Seu amado.

Alina gritou então. O som que surgiu dela era alto e fino, como um animal, lamentando sua dor. Enquanto ela gritava, a imagem se desfazia.

Estava sentada na cama, em seu próprio quarto.

Ela se inclinou à frente para abraçar os joelhos, o coração batendo, sentindo-se tonta de alívio. O suor escorria por ela. O fogo queimava na lareira, deixando o quarto em tons de cinza claro e negro. De repente, uma chama de luz brilhou no quarto.

? Minha senhora?

Blaire, sua empregada, apareceu ao lado da cama. Ela estava segurando uma lâmpada. Vestindo uma longa camisa de noite, de algodão, os olhos vermelhos de sono, ela parecia estar com um medo voraz, cachos escuros desordenados sob uma touca de noite.

? Blaire, ? disse Alina gentilmente, embora ela ainda tremesse ao lembrar-se de seu próprio terror. ? Eu acordei você?

? Eu ouvi um barulho, milady, ? Blaire estremeceu. ? Não soou como se viesse deste mundo. Um grito de horror como nunca ouvi. Ela estremeceu de novo.

Alina baixou a cabeça, a cortina de cabelos negros brilhando na luz avermelhada do fogo. ? Eu sinto muito, Blaire. Fui eu. Eu gritei. Eu estava sonhando.

? Oh, misericórdia! ? Blaire sorriu com um súbito alivio, seu rosto suave iluminando-se. ? Minha senhora. Estou bem feliz por você não ter sido machucada. Mas deve ter sido um sonho terrível.

Alina olhou para suas mãos, a pele pálida brilhando na escuridão. ? Eu não posso contar, ? ela disse suavemente.

? Oh, claro, senhora, ? Blaire concordou rapidamente. ? Posso pegar alguma coisa? Uma bebida para ajudá-la a dormir?

? Não, obrigada, Blaire. Eu ficarei bem. Você pode me deixar para que eu tente dormir, ? disse ela. Ela riu um pouco trêmula com a improbabilidade de voltar a dormir. No entanto, Alina nunca usou subterfúgios para dormir. Eles enchiam a mente com visões agitadas ? especialmente os remédios feitos com essência de papoula. Uma das coisas que todos sabiam sobre os sonhos de Alina, era que eles não eram visões agitadas.

Os sonhos de Alina sempre se tornavam verdade.

Isso foi o que a aterrorizou.

Alina esperou até ouvir Blaire fechar a porta que dividia seu lugar de dormir do de Alina, e então recostou-se nos travesseiros confortáveis e tentou pensar.

Qual seria o significado daquilo?

Ela suspirou. O sonho foi aterrorizante. Isso a encheu de um medo que ela só havia sentido, uma ou duas vezes, em sua vida anterior. A vez mais recente foi antes que Duncan, seu amado, a salvasse. Ela estremeceu quando pensou em quando foi capturada por Thomas MacDonnell. Depois daquilo ela teve pesadelos por meses. No entanto, este não era um daqueles pesadelos. Esse foi diferente.

Este foi um verdadeiro sonho. Uma premonição.

? Mas o que isso significa? ? Alina se perguntou, deitada no escuro reconfortante de seu próprio quarto de dormir. Era o que ela compartilhara com Amabel, sua irmã, antes que esta se casasse com Broderick e se afastasse. A sala ainda continha os ecos de suas risadas, a presença calorosa e amorosa de sua irmã. Era reconfortante. Alina suspirou. Mais calma agora, ela tentou se lembrar do que sua mentora, tia Aili, havia lhe ensinado sobre seu dom de sonhar. ? O que os símbolos significam para você, moça? É o seu sonho, então os significados também devem ser seus.

Trevas. Escuridão significava perigo para Alina. Uma escuridão irreconhecível era um perigo irreconhecível, espreitando nas sombras, esperando para devorá-los.

? Oh! ? Ela cobriu a boca em horror. Ela acabara de se lembrar da parte anterior do sonho. A escuridão chegara quando Duncan, seu amado, pedira sua mão em casamento ao seu tio Brien.

Ele não deve pedir. Se ele pedir, todos nós enfrentaremos nossa própria morte.

Ela estremeceu. Se eles quisessem se casar, ela precisava da permissão do tio. Isso só poderia ser obtido se Duncan perguntasse a ele.

Mas ele não pode. Ele não deve pedir. Fazer isso seria cortejar a morte.

O que eu vou fazer? Alina fechou os olhos negros, triste demais através das lágrimas. Se Duncan não podia pedir sua mão, então ela nunca poderia se casar com ele, e era o desejo de seu coração. No entanto, parecia não haver outro caminho.


Capítulo Um

UMA PERGUNTA E UMA RESPOSTA


? Não! Não vá até ele. Ele não vai ouvir.

Aquelas palavras quebraram o silêncio, cortando a luz do sol de verão, a paz e a quietude sonolenta e do lugar.

Duncan suspirou. Ele se sentou e estendeu a mão até os dedos longos e pálidos de Alina, pois ela se sentara ao lado dele no sofá. Ele acabara de dizer para Alina que pretendia pedir permissão ao tio dela para se casar com ela. Conhecendo Alina como ele, Duncan sabia que não devia fazer nenhuma suposição sobre sua reação. Mesmo assim, ele não achara que a reação dela seria algo tão veemente.

? Não se preocupe, querida, ? disse ele suavemente. ? Está tudo bem. Ele vai ouvir. Eu juro. Seu rosto forte e bonito estava preocupado, seus olhos castanhos enrugados sob uma carranca. ? Eu vou garantir isso.

Alina apertou a mão dele. ? Eu confio em você, querido. Eu acredito que você faria o seu melhor para fazê-lo ouvir. Mas eu não confio no tio Brien. Nem um pouco. Ela mexeu a cabeça, fazendo seu longo cabelo preto azulado balançar. Seu movimento provocou rios de luz do fogo dançando ao longo dos fios.

Duncan respirou fundo. Sentado tão perto de Alina, ele achou difícil se controlar. Tudo o que queria fazer era se inclinar e dar um beijo naqueles lábios carnudos e vermelhos. Ansiava por segurá-la perto dele, sentir o corpo esbelto dela contra o seu. Queria se casar com ela e logo. Ele a amara logo que se conheceram. Precisava ser em breve. Ele às vezes sentia que, se tivesse que esperar mais um minuto, morreria de saudade.

? Seu tio Brien é ambicioso, eu sei ? ele disse gentilmente, ? mas porque ele me recusaria a permissão para casar com você? Você acha que eu sou uma escolha muito pequena para ser de ajuda para as ambições dele?

Alina soltou uma risada trêmula. ? Eu suponho que não, ? disse ela, e lhe deu um sorriso provocante.

? Assim é melhor, ? Duncan concordou, sentindo seu pulso bater com o desejo crescente. Ele amava o sorriso provocante dela. Amava cada parte dela, desde a suave elevação de seus seios sob o vestido de veludo preto, até a alta curvatura de seu pescoço e a boca vermelha. Amava seus olhos negros e a pele pálida, sua misteriosa quietude e sua risada doce, que parecia completamente em desacordo com sua sábia seriedade.

Alina riu de seu comentário e Duncan se deitou no sofá, olhando para ela. Era tudo o que podia fazer para evitar devorá-la ali mesmo. Ele olhou para o teto, tentando apagar as imagens que sua mente estava formando. Limpou a garganta. Não podia deixar sua mente levá-lo por aqueles caminhos.

Assim, tudo o que ele fez foi beijá-la uma ou duas vezes. Isso foi o suficiente para fazê-lo saber que, em breve, precisaria pedir a mão dela em casamento.

? Eu devo ir, ? Alina disse suavemente, saindo de onde ela se sentou, ao lado dele. Duncan franziu a testa.

? Fique mais um pouco? ? Pediu ele.

Ela assentiu e ele sorriu.

Ele e Alina haviam se apaixonado um pelo outro pouco depois de se conhecerem, quase meio ano atrás, no noivado da irmã dela, com o irmão dele. Eles haviam enfrentado dificuldades imensas juntos e o amor floresceu mesmo naquela adversidade. Ele viera aqui, aceitando o convite do tio dela para passar um verão treinando seus homens, com a intenção explícita de pedir que ela se casasse com ele. Ele pensava que ela desejava se casar tanto quanto ele queria. No entanto, desde que levantou o assunto, ela se tornou distante. Ele não conseguia entender a mudança.

? Amado? ? A voz suave de Alina rompeu a névoa ao redor dele e, surpreso, abriu os olhos. Ele deve ter se perdido em pensamentos mais profundos do que percebera, deitado ali ao lado dela. A noite cheirava a gardênias, verão e às ervas que ela usava para perfumar suas roupas. Era um perfume que aquecia seu sangue. Ele se sentou.

? Sim?

? Coisas ruins vão acontecer. Se você pedir a ele, elas vão acontecer. Eu vi isso.

Duncan estremeceu e revirou os ombros musculosos, tentando remover o desconforto repentino que sentia.

? Que tipo de coisas?

Sua voz era baixa e séria. Alina era uma vidente. Ela sabia coisas que aconteceriam. Se ela era especialmente perspicaz ou o dom era de alguma fonte de outro mundo, ele nunca havia pensado em perguntar. Ele só sabia que quando ela falava assim, ou sonhava, ele a ouvia. ? O que você viu?

Ela suspirou. Então recostou-se no sofá de madeira, olhando para o teto abobadado do solar. ? Eu não sei. Não ficou muito claro ? ela suspirou.

? Para quem? Para quem eram coisas ruins? ? Duncan perguntou.

? Você. Eu. Amabel. Todos nós. Até mesmo Chrissie. Senti, em vez de ver, algo... prejudicial. Ele se escondia nas sombras e quando você pediu minha mão, chegou mais perto. Começou a engolir todos nós. Foi terrível, ? Alina disse, os olhos negros arregalados e vazios enquanto ela olhava em sua memória.

Duncan, sentado ao lado dela, passou um braço ao redor dos ombros dela. Ele quis fazer isso como um gesto de conforto, mas ficou tenso enquanto seu corpo latejava de desejo. Ele podia sentir o calor suave dela penetrando através de sua túnica e do veludo do vestido dela, e cheirar a água de rosas que emprestava seu delicado perfume àquela pele branca.

Ele rangeu os dentes para lutar contra o desejo crescente. Ela se aproximou, suspirando um pouco. Seu corpo doía e ele tentou ignorar a necessidade de cobri-la com beijos naquele momento.

? Duncan, você é doce, ? ela suspirou. ? Mas você não pode me proteger dessa escuridão que está vindo. Ninguém pode. Tudo o que você pode fazer é não pedir minha mão ao meu tio, foi assim que veio a escuridão.

? Mas eu preciso, ? disse Duncan. Seus olhos cinzentos se arregalaram quand olhou para ela. ? Eu quero me casar com você, Alina. Não posso viver se não o fizer.

Alina riu. Foi um som seco, um som triste. ? Eu estou tocada. Verdadeiramente. E se fosse só eu quem pudesse concordar com isso, eu me casaria com você, em um piscar de olhos. Você sabe disso.

Duncan suspirou. Ele moveu o braço para que sua mão descansasse no ombro liso, o calor arredondado dele, em sua mão larga.

? Estou honrado. ? Ele estava. Suspirou. ? Mas eu preciso pedir. Seu tio é aquele pode nos autorizar a casar. Ele vai concordar. Não vejo porque não.

? Eu concordo, não há razão para ele dizer não, ? disse Alina. ? Mas no sonho, a escuridão vinha dele. Eu sei que se você se aproximar dele, ela vai chegar. E nenhum de nós pode lutar contra isso.

Duncan respirou. Ele amava Alina. Ele a respeitava. No entanto, não queria acreditar naquilo. Pelo menos não queria acreditar que o que ela via fosse imutável.

? Vou tentar, ? disse Duncan. ? Talvez, se eu não perguntar diretamente a ele, não aconteça? ? Ele sorriu encorajador para ela.

Alina riu novamente. ? Duncan, quero casar com você. Profundamente e absolutamente. Mas sei que não há como impedir que isso aconteça. Tudo o que podemos fazer é, se tomarmos esse caminho, orar para que haja luz no final.

Duncan estremeceu novamente. Não estava frio. Ele estava assustado. Duncan MacConnoway era um homem corajoso ? ninguém diria o contrário. No entanto, a proximidade dos espíritos, a realização das maldições e o funcionamento do destino... essas eram coisas que ele não queria saber. Elas o assustavam e ele não tinha vergonha de admitir isso.

? Eu faria o que você diz, ? disse Duncan gentilmente. ? Mas não posso deixar de lado meu sonho de casar com você. Você é todo meu coração, Alina, e não posso a deixar de lado.

Alina riu. Desta vez, foi um som rico, cheio de calor e amor. Encheu seu coração de luz.

? Duncan, meu querido. Você é meu coração, e tem sido desde pouco depois que eu o vi pela primeira vez. Eu não penso que poderia dissuadi-lo, seria o mesmo que tentar parar um incêndio. Você pode pedir. Eu vou rezar. Isso é tudo que podemos fazer.

Duncan olhou nos olhos dela. Ele não conseguia acreditar que ela estava lhe dando permissão. O fato de que ele estava tão perto de conseguir o que queria, por tanto tempo, não parecia possível.

? Alina, ? ele respirou. Ele olhou para aquele rosto oval perfeito, para aqueles olhos negros, de longos cílios. Ela sorriu. Ele sorriu e se inclinou à frente.

Seus lábios tocaram as almofadas macias e cheias dos lábios dela e ele pensou que pegaria fogo de felicidade. Ele permitiu que sua língua os sondasse suavemente e quando ela separou seus lábios, deixando-o entrar, ele não conseguiu evitar. Passou os braços em volta dela e apertou-a contra o peito, sentindo o corpo dela encontrar o seu, mesmo quando a boca dele sondou a dela.

Podia sentir seu corpo tremer de desejo e sabia que se não parasse logo, ele se veria empurrando-a de volta para o sofá e fazendo coisas que sabia que não poderia, e não faria, antes de sua noite de núpcias. Ele se forçou a parar.

Seus lábios se moveram para longe dos dela.

Ela suspirou.

? Alina.

Ela sorriu para ele. Seus lábios estavam úmidos e vermelhos, e ele sentiu o sorriso dela se mover através dele como um incêndio.

? Eu confio em você, ? ela disse suavemente. ? Vá. Deve haver um caminho através daquela escuridão.

Duncan mordeu o lábio. ? Estou honrado pela sua confiança em mim.

Ela sorriu. ? Eu confio em você. Agora vá. Antes que eu o beije e acabemos fazendo coisas que nos arrependeremos.

Ele sorriu, balançando a cabeça. Alina era tão perspicaz que o assustava. Embora soubesse que ela era tão inexperiente quanto ele mesmo, não conseguia acreditar, o quão atenta e sábia ela era. Ele estava quase certo de que não havia conhecimento do qual ela não pudesse acessar. Nem mesmo os pensamentos dele.

Ele suspirou. ? Eu irei, ? disse ele. ? Ou eu realmente vou viver para me arrepender.

Ele riu, imaginou aquilo como uma piada. Ela olhou para ele, os olhos negros nivelados, e depois para baixo, para os dedos longos e afilados. Suspirando, Duncan saiu do solar e partiu para encontrar Brien, Conde de Lochlann e o governante do castelo e de todas as terras ao redor.

Ele desceu a longa escadaria em direção ao grande salão e depois cruzou para a torre oeste. De lá conseguiu encontrar o quarto da torre onde o Senhor Brien sempre supervisionava o funcionamento das propriedades. Se ele não estivesse lá, ele tentaria a câmara de audiências.

Alguém subia as escadas ? na escuridão não conseguia ver quem era. Ele se moveu bruscamente à esquerda e a figura ainda conseguiu esbarrar nele.

? Oh!

Duncan se virou e olhou para o rosto da prima de Alina, Chrissie. Agora com quatorze anos e claramente bonita, Chrissie olhou para ele, uma mão cobrindo seus lábios pálidos em choque.

? Desculpe, Lady Chrissie, ? disse ele e fez uma reverência. Chrissie deu uma risadinha.

? Duncan! É você. Eu pensei que era um fantasma.

Duncan sorriu, embora as palavras o deixassem desconfortável. ? Você não seria a primeira. ? Ele disse baixinho. As palavras de condenação e escuridão de Alina o perturbaram, talvez mais do que ele percebera. O medo no rosto dela havia tocado-o profundamente.

Chrissie franziu a testa para ele, mas, naturalmente de alto astral, riu novamente. ? Só porque você rasteja no escuro! Alina está lá em cima? ? Ela perguntou, mudando de assunto novamente.

? Ela estava no solar, ? disse Duncan. ? Seu tio está lá embaixo?

? Oh. Não, ? ela disse, pensando. ? Eu não o vejo há muito tempo. Eu acho que ele está na sala da torre. Alina está sozinha?

? Ela estava quando eu a deixei ? disse Duncan.

Chrissie riu e a leveza daquilo o seguiu enquanto ele descia rapidamente as escadas. Ele seguiu pelo corredor até a torre oeste.


No andar de cima, Alina ainda estava sentada no sofá. Ela se sentia exausta. Olhava a lareira. O fogo havia baixo, deixando brasas vermelhas.

? Alina?

Alina pulou. Ela se virou para ver Chrissie na porta.

? Oh! Chrissie, ? disse suavemente. ? Você me assustou. ? Ela estava sentada em silêncio, sozinha, perdida em pensamentos, observando as chamas.

? Desculpe, ? disse Chrissie se desculpando. Ela estava à porta, as mãos torcendo o linho branco do vestido longo. ? Você está ocupada?

? Não realmente, ? disse Alina secamente. Ela estava tentando descobrir qualquer coisa que pudesse sobre a escuridão que havia sonhado, sentando-se em silêncio e deixando que pedaços ? tanto de conhecimento quanto de inspiração do céu soubessem onde se encaixariam. No entanto, para os olhos de Chrissie, ela não estava fazendo nada e por isso não tentou explicar.

? Oh! ? Disse Chrissie. Ela se jogou na cadeira entalhada, em frente a Alina. ? Eu queria encontrá-la para falar com você sobre Heath.

? Oh! ? Alina franziu a testa, uma linha fina em sua testa clara e alta. Ela desempenhara o papel de mãe de Chrissie, quase desde que a verdadeira mãe da menina, a tia de Alina, morrera dez anos atrás. Havia apenas seis anos entre a idade dela e a de Chrissie, mas o papel continuava. Quando Chrissie estava feliz, triste ou preocupada, confidenciava para Alina. Os últimos dilemas de Chrissie eram todos concernentes a Heath.

? Eu estava conversando com ele ontem, ? começou Chrissie, ? e quando ele estava no pátio de treinamento e alguém o acertou, eu ri. Ele não quis mais falar comigo.

Alina sorriu. ? Ele está envergonhado, Chrissie, ? disse ela suavemente. ? Ele se importa com o que você pensa. Esta atitude mostra isso.

? Sério? ? A sobrancelha de Chrissie se ergueu. ? Você acha que ele não me odeia?

Alina teve que rir. ? Claro que não! Se ele odiasse você, sua risada quando foi espancado no campo não importaria para ele. Ele quer que você pense bem dele.

? Oh! ? Chrissie cobriu a boca com a mão novamente. ? Então... bem, isso explica muito! ? Ela sorriu. ? É por isso que ele sempre luta tão ferozmente quando estou lá, e porque ele se esforça tanto nas aulas, que até o Padraig diz que é um bom aprendiz. Ele sempre quer parecer inteligente.

Alina riu. ? Ele quer que você pense bem dele, de qualquer maneira.

Chrisse sorriu. ? Oh, Alina. O que eu faria sem você? Você é sábia.

Alina sorriu. Estendeu a mão e puxou a mão pálida da menina até ela. ? Eu não gostaria de ficar sem você, também, Chrissie, ? disse suavemente. ? Você é tão cheia de esperança. Tão cheia de luz.

Chrissie sorriu. ? Obrigada, Alina! ? Ela apertou a mão e se inclinou para beijá-la no rosto. Cheirava a mel e lavanda e Alina suspirou, puxando-a para um abraço. Ela se sentia quase como se Chrissie, mesmo bela e de cabelos dourados, fosse sua própria filha. Estava certa de que não sentiria mais amor por seu próprio filho.

? Obrigada, querida, ? disse entre os cachos. ? Eu gosto de falar com você.

? Vai embora, quando Duncan casar com você? ? Chrissie perguntou curiosamente.

Alina fez uma pausa. Ela se recostou e olhou para o teto, depois fechou os olhos. Não queria falar sobre Duncan naquele momento. A última coisa que ela queria era contemplar o casamento. Isso era triste, porque também era uma questão muito querida para o seu coração. Amava Duncan, há mais de meio ano agora. No entanto, não sabia o que aconteceria se esse amor se tornasse um casamento.

? Eu não sei, querida, ? disse ela gentilmente. ? Eu sinto falta de Amabel, então isso é uma coisa boa acerca da minha partida, não é assim?

? Amabel! ? Chrissie disse com entusiasmo. Amabel era a irmã mais velha de Alina. Ela se casou com o irmão de Duncan há um ano e deixara o castelo de Lochlann, para morar em seu castelo. Alina sentiu muita falta dela.

? Eu quero ver Amabel novamente, também, ? Chrissie continuou, olhando para as mãos. Ela olhou para Alina.

? Quando o casamento acontecer, Amabel poderá visitá-la.

Alina sorriu suavemente. ? Sim. Isso é verdade. Ela suspirou. Havia tantas coisas boas que poderiam vir do casamento dela e de Duncan. Sabia, agora. Ela as havia esquecido sob o medo. Chrissie estava certa. Talvez houvesse algo no fato de que a alegria deveria superar a tristeza. Talvez aquela luz ? seu amor por Duncan, seu amor por Amabel e também por Chrissie ? pudesse superar a escuridão iminente.

Suspirou. Esfregando as têmporas sob o filete de prata que lhe prendia o cabelo, sentiu a tensão dos últimos dias recuar. Talvez se preocupasse demais... no momento, como as coisas estavam agora, tudo que podia fazer era esperar.


CAPÍTULO DOIS

UMA TAREFA É FORNECIDA


? Não Senhor Duncan.

Duncan ficou olhando.

Brien, Conde de Lochlann, estava diante dele, seu rosto magro implacável. Ele ficou de pé contra a janela alta, sua postura ainda em pé, apesar de sua idade avançada, cabelos brancos escovados até à curvatura das costas. Ele estava inflexível.

? Mas, meu senhor... ? Duncan começou.

? Não vou tolerar nenhum argumento, meu jovem. ? A voz era firme. ? Eu expliquei a você meu raciocínio. Isso deve ser suficiente.

Duncan engoliu em seco. Ele queria gritar com aquele homem, para protestar contra suas palavras irracionais. No entanto, Brien, Conde de Lochlann, era um respeitado senhor, chefe de uma poderosa força de combate e também o mais forte aliado de Broderick, irmão de Duncan. Ele também era o único caminho para Duncan se casar com Alina. Não podia se dar ao luxo de ofendê-lo, em qualquer sentido.

? Meu senhor, eu não disse que discordo, ? disse ele por fim. ? Mas posso dizer que acho sua decisão injusta, ? ele retrucou cautelosamente.

? Injusta? ? O velho deu uma risada dura. ? Quem disse que a política deve ser justa, jovem?

Duncan olhou para ele. Seu pai era justo, primeiro e acima de tudo. Ele lhe ensinou que a liderança exigia justiça, ou as pessoas deixavam de ouvir o seu senhor e aprendiam a desrespeitá-lo. Ele apreciou novamente a sabedoria no argumento de seu pai.

? Eu arrisquei a minha vida, ? disse ele em um sussurro abafado. Ele havia se arriscado para salvar Alina, não a serviço desse homem, e ele faria isso de novo, mil vezes, sem pensar. No entanto, as palavras do Senhor Brien eram injustas ? ele não duvidava disso.

? Eu estou ciente disso, ? disse o velho para o ar. ? E então, peço a você que arrisque novamente. Qual a diferença?

Duncan piscou. Ele não conseguia acreditar no que o homem estava dizendo! Ele devia ser totalmente insano. ? Mas... mas essas tarefas definidas são loucura!

O velho riu, parecendo genuinamente divertido. ? Fui acusado de muitas coisas, meu jovem. Impassividade, crueldade, até mesmo... o que foi?... injustiça ? acrescentou ele com ironia. ? Mas nunca de ter me livrado do juízo. Eu estou em plena posse dele. E essas tarefas não são insanas.

? Mas...

? Encontre a espada que foi roubada. Devolva-a. Encontre a pérola que foi perdida e faça a pergunta que não foi pronunciada. Faça isso e você se casará com Alina.

Duncan olhou para ele. Isso era selvagem. Isso era como algo dos contos dos tempos antigos. Ele não era um príncipe antigo e esta não era a era da magia. Ele não poderia fazer isso.

? Eu não posso fazer isto.

O velho deu de ombros. ? Como quiser, ? disse. Ele se virou e caminhou até sua mesa. ? Deixe-me, então. Estou cansado. Preciso terminar minhas tarefas de supervisão... os castelos não se sustentam, sabe?

Duncan suspirou. ? Certamente, meu senhor.

? Bom, ? o velho disse com firmeza. Pegou uma pena e olhou para um livro. Duncan estava, para todos os efeitos, invisível.

Duncan suspirou novamente. Passou a mão pelo cabelo castanho, sentindo a derrota mais amarga. Olhou para o velho, mas ele estava trabalhando com firmeza, verificando o trabalho do administrador. Não iria interrompê-lo e arriscar sua ira.

Caminhou em silêncio, seus passos ecoando no espaço silencioso do escritório.

Desceu as escadas. Sentiu como se seu coração estivesse envolto em chumbo. Estava escuro, a noite se estabelecendo no castelo. Estava cansado, esgotado e totalmente perdido.

Caminhou desanimado pelo corredor, passando pelo grande salão onde os homens estavam sentados nos bancos, preparando-se para o jantar, e saiu para o pátio onde os homens de armas estavam, não poucos minutos atrás, praticando com as espadas e as lanças suas lutas.

Ele deveria ter se juntado a eles. Não deveria estar aqui. Deveria, percebeu agora, ter escutado Alina.

Deveria ter compreendido isso meses atrás. Alina sabia das coisas. Deveria ter respeitado isso. Afundou em um banco de pedra na beira do campo de prática. Respirou os aromas de lavanda e escuridão.

? Por que eu não fujo?

Suspirou. Seria uma boa ideia. Era a única solução que restava. Se ele não tivesse permissão para se casar poderia fugir. Poderia levar Alina com ele. Eles poderiam fugir e alcançar refúgio em algum outro território onde o Senhor Brien, Conde de Lochlann, tivesse menos influência. Poderiam morar lá, como foras da lei, satisfeitos um com o outro.

Balançou a cabeça. Não podia fazer isso. Primeiro, não podia fazer isso com Alina. Não queria condená-la, ou a si mesmo, a uma vida de esconderijos, indo de um lugar para outro, sendo perseguidos e vivendo como fantasmas, sem o lar desejado. Não pretendia isso para eles. Não podia fazer isso com seu irmão. Destruiria a aliança que Broderick mantinha. Embora ele amasse sua esposa, Amabel, a irmã de Alina, Broderick havia se casado pelas vantagens que a lealdade trazia. O fato de que eles se amavam mais do que a vida, havia chegado em segundo lugar. Ele suspirou.

? Não posso fugir. Eu preciso resolver essas tarefas ou morrer na tentativa.

Ele se sentiu miserável. Encontrou sua cabeça cheia de imagens de si mesmo morrendo, de maneiras criativas. Balançou a cabeça. Não era dele insistir na escuridão e no desespero. Broderick sempre brincou com ele sobre sua maneira de ser infernalmente alegre sobre tudo. Como ele era. Geralmente.

? Boa noite, sua graça, pensativo.

Duncan olhou para trás onde havia olhado para o céu escuro. Ele se viu olhando para um rosto jovem e sério, emoldurado por cabelos castanho escuros.

? Oh. Boa noite, Blaine.

Blaine era o chefe da guarda no castelo de Lochlann. Era estranho, uma vez que sua juventude possuía apenas dezenove anos de idade. No entanto, Broderick, com quem ele fez campanha há alguns meses, insistiu que o jovem possuía um talento profundo. Duncan sabia que Broderick, sóbrio e com os pés no chão, não era dado a exageros. O jovem devia ser tão habilidoso quanto ele relatou.

? Está olhando para o céu, senhor? ? Perguntou o jovem, imprudente. ? Perdeu algo lá em cima?

Duncan suspirou e passou a mão pelo cabelo pálido, distraído. ? Estou procurando e se eu descobrir, então pegarei.

Blaine riu. Um jovem atrevido e desrespeitoso, ele não gostava nem um pouco de ser vencido em uma batalha de línguas. Broderick ganhara seu respeito. Duncan estava começando a fazer o mesmo.

? Bem, então, quer alguma coisa, ? ele sorriu. ? Você se juntará a nós para praticar amanhã?

? Eu vou fazer isso amanhã, ? Duncan concordou prontamente. ? Estava apenas pensando.

? Qual é o problema? ? Blaine perguntou. Ele se sentou no chão diante do banco, as pernas longas inclinadas e descansando os braços casualmente sobre elas.

? Não é algo com que possa o sobrecarregar, ? disse Duncan.

? Algo errado com sua dama? Ou... algo mais? ? ele perguntou, os olhos se desviando para as regiões inferiores de Duncan.

Duncan olhou para ele. Então começou a rir. ? Blaine! O céu me ajude, mas você é um canalha. Não, isso está funcionando bem. Estava a última vez que olhei, de qualquer maneira.

Blaine riu da atitude casual de Duncan e depois parou de rir. ? Deve ser algo sério.

? É, ? concordou Duncan. Ele suspirou. Precisava de ajuda. Se o estranho mistério fazia sentido, talvez Blaine, que vivia aqui desde o nascimento e conhecia tudo, compreendesse os significados.

? O que é?

Duncan suspirou novamente. ? É o Senhor Brien. Eu quero casar com Lady Alina. Como você sabe.

? Como metade do castelo sabe, ? Blaine concordou. ? A metade que não é tão maluca que acredita que ratos voam.

Duncan riu, cansado. ? Bem, Blaine. Embora eu não ache que tenhamos nenhum desses...

? Nós temos! ? Blaine insistiu. ? Todos juram isso. Bruxas, aparentemente. Voando em disfarces estranhos. Depois eles contam nos campos, de qualquer maneira. ? Ele balançou a cabeça, rindo.

? Bem, dispensando o problema de ratos voando, ? disse Duncan, sorrindo: ? Eu tenho um problema que pode parecer bizarro.

? Bizarro?

? Ímpar. Como ratos voando.

? Oh! Você também não...

? Não. ? Duncan sorriu. ? Eu prometo que não vou falar sobre ratos voadores. Mas eu estava falando com o conde antes, e ele insistiu que não me deixará casar com Alina.

? O quê? ? Blaine ficou indignado. ? Mas... meu senhor! Ela o ama e você a ela!

Duncan sorriu. ? Sim, é verdade. Mas Lorde Brien não me recusou de imediato. Ele me colocou três tarefas.

? Três tarefas? O quê? Blaine piscou. ? Quem ele pensa que é?

? Eu sei, ? disse Duncan, cansado. ? Eu não sou um herói ou um santo. Não posso fazer isso.

? Talvez você possa, ? Blaine disse com firmeza. ? Não desista agora.

Duncan sorriu para ele. ? Você está certo, Blaine. Eu sou covarde.

Blaine deu a ele um olhar duro. ? Não, senhor. Você não é. Todos nós vimos o seu ferimento feito pelo Senhor Thomas. Você não é covarde. Mas e essas tarefas?

? Elas não fazem sentido, Blaine.

? Talvez sim, ? Blaine encolheu os ombros. ? Eu vi muitas coisas que não fazem sentido, mas no final elas acabam sendo como as águas claras do rio. O que ele disse?

? Ele disse isso. ? Duncan franziu a testa, tentando se lembrar. ? Ele disse: encontre a espada que foi roubada e devolva-a. Encontre a pérola que foi perdida e faça a pergunta não dita. Foi isso, ? ele terminou, pensando na lista.

Blaine estava olhando para o branco. ? Não, não faço ideia. ? Ele disse finalmente. ? Todo é um absurdo para mim.

? Bem, eu também penso assim, ? concordou Duncan.

? Alina pode saber, ? sugeriu Blaine depois de um momento. ? Ela é sábia. Chrissie diz que é a pessoa mais inteligente que ela já viu, ? disse Blaine, impressionado. ? E Chrissie é inteligente. Ela sabe ler.

Duncan suspirou. Blaine possuía seus próprios problemas ? o principal deles era seu afeto por Chrissie Connolly, a prima mais jovem de Alina. A garota estava além dele em status, qualquer um podia ver isso. Ele era um soldado, um homem de armas, capitão dos guardas. A ambição de Brien era ilimitada. Ele nunca deixaria sua sobrinha casar com um mero guarda. Se Duncan era impensável, Blaine era duas vezes.

? Isso é uma boa idéia, ? Duncan concordou suavemente. ? Exceto por uma coisa.

? Oh! ? Blaine estava de olhos arregalados. ? O que é agora?

? Alina me pediu para não pedir sua mão a ele. Sob pena de provocar a morte.

Blaine riu. ? Ela disse isso? ? Ele olhou para ele. ? Eu a escutaria se fosse você. Ela pode ser magra, mas a dama tem uma língua que pode amaldiçoá-lo ao fogo eterno, eu ouvi isto.

? Oh! ? Duncan ficou surpreso. As pessoas acreditavam que ela poderia amaldiçoar? Ele esperava que eles escolhessem manter essa crença quieta. Alguns sussurros sobre Alina ser uma bruxa não ajudariam ninguém. ? Bem, eu não acho que ela pretenda me matar.

? Não? ? Blaine parecia desapontado. ? Quem então?

? Eu acho que ela estava me avisando, ? explicou Duncan. ? Eu deveria ter escutado.

? Ela acha que você vai morrer? Se você seguir o caminho de seu tio?

? Sim, ? Duncan suspirou. ? Não. Eu não sei. Ele cerrou as mãos, sentindo-se miserável. Ele não sabia. Tudo o que sabia era que recebera três tarefas, todas sem sentido e impossíveis de realizar.

? Bem, ? disse Blaine sombriamente. ? Se há uma espada, há luta. E se houver luta, eu posso ajudar. Então, nós podemos.

Duncan olhou para cima. Ele se sentiu profundamente tocado. Estendeu a mão e apertou o ombro dele. ? Obrigado, Blaine. Eu talvez precise pedir a você para fazer exatamente isso.

Blaine inclinou a cabeça. ? Sim.

? Sim?

? Eu vou com você, ? explicou Blaine. ? Qualquer amigo que se aventure como você está fazendo, eu estarei junto.

Duncan respirou. ? Obrigado, Blaine, ? ele disse novamente. ? Eu valorizarei isso.

? Ora, ? Blaine deu uma risada de desprezo. ? Eu estarei lá por diversão... preciso sair dessas paredes. ? Ele inclinou a cabeça para as paredes do castelo, parecendo uma águia esticando suas asas.

? Não, Blaine. ? Duncan sorriu gentilmente. ? Você está me ajudando com a bondade do seu coração.

Blaine bufou. Não tenho nenhuma bondade em mim, senhor. O avô Allus disse que eu sou um demônio.

Duncan riu. ? Bem, se seu avô estiver certo, então eu espero que esteja destinado ao inferno. Um exército de pessoas como você seria a companhia eterna que eu gostaria.

Blaine ficou vermelho. Ele olhou para Duncan, com a cabeça inclinada. ? Obrigado, milorde. O mesmo para você.

Duncan sentiu seu coração se contrair. Blaine era um diabinho, mas em muitos aspectos, ele era como um irmão mais novo. Estendeu a mão e apertou o ombro dele, mais uma vez.

? Bem, então, Blaine. Prepare as armas ? ele concordou. ? Vamos sair durante a semana.

? Grande, ? Blaine concordou.

Duncan sorriu para ele e Blaine sorriu de volta, os olhos escuros esperançosos. Duncan mordeu o lábio. Vamos partir, ele pensou, em breve. Assim que eu entender o que me foi pedido para fazer.

Ficou sentado por alguns minutos, ouvindo a noite, sentindo o cheiro do orvalho e do ar. Ele se sacudiu, tremendo, quando a noite se estabeleceu. Deixara o manto dentro de casa e, embora fosse verão, a temperatura diminuía rapidamente.

? Eu vou entrar, ? disse ele para Blaine.

? Muito bem, senhor, ? Blaine assentiu. ? Eu vou para o arsenal. A minha espada está pronta. Vejo você amanhã

? Amanhã, ? Duncan assentiu.

Entrou no castelo.

Ele parou ao pé da escada e, suspirando, subiu as escadas. Pegaria sua capa e talvez passasse algum tempo no pátio. Deveria se exercitar. Talvez isso o ajudasse a relaxar. Ao atravessar o corredor, indo de seus aposentos na ala oeste em direção ao pátio, ouviu um barulho suave nas lajes.

? Duncan?

Ele suspirou. Conhecia a voz suave e calma. Alina

? Sim, querida?

Seu coração doeu. Não podia contar a ela. Ele não iria... ainda não.

? Você foi, não foi? ? Sua voz estava nivelada. Impiedosa, plana, sem expressão. ? Você pediu a ele.

Duncan fechou os olhos. Não sabia o que dizer, como contar a ela. ? Sim, ? disse ele.

Ele a ouviu parar de andar. Ficou onde ela estava. Sabia que ela estava olhando para ele com tristeza e desespero.

Não se virou. Odiando-se por sua incapacidade de enfrentá-la, para contar a ela, ele se virou e caminhou rapidamente pelas escadas até o escuro.


Capítulo Três

CONFRONTO COM O CONDE


O castelo estava quieto.

O vento acalmou, deixando em seu lugar um silêncio. Alina fez uma pausa, ouvindo o silêncio no corredor em volta dela. O sol pálido filtrava-se pelas janelas do corredor, padronizando as lajotas com a luz do sol. Mesmo assim, o lugar era frio e sinistro; uma parte do castelo que sempre parecia vazia de vida. Alina andou calmamente para a frente, com os pés silenciosos em seus sapatos aveludados.

Ele pedira. Ela precisava saber o que foi dito. Talvez ela pudesse impedir algo.

Alina andou propositadamente pelo corredor. Ela veria seu tio.

Escutou o quase silêncio do castelo, deixando-o acalmar seu eu inquieto. Do lado de fora, em algum lugar, ela podia ouvir o choque e o grito dos homens treinando, quietos pela distância. Podia ouvir alguém lavando algo no quintal além das cozinhas, a água derramada em drenos de pedra. Podia ouvir o grito de uma criança enquanto as meninas e os meninos de seus empregados brincavam nos estábulos. Mais perto, ela ouviu o baque lento de seu coração.

Eu preciso vê-lo. Para fazer isso.

O tio Brien não a assustava. Não gostava dele, ele a tratava com a fria indiferença com que tratava a maioria das pessoas além das que ela confiava e amava. Duncan, Amabel, Chrissie, Tia Aili, Broderick. Todos aqueles que foram afetados em seu sonho. Por isso ela devia enfrentá-lo.

Chegou à escada que levava à torre. O vento sempre parecia descer por aquelas escadas, não importava o quão quieto estivesse lá fora. Alguma coisa sobre a torre oeste e a orientação das janelas. Ela puxou a tapeçaria para o lado, onde obscurecia a entrada das escadas, e subiu os degraus. Alcançou a porta em arco. E bateu.

? Tio?

? Eu estou aqui. Alina? Entre.

Alina endireitou as costas e flutuou, passos sem som sob o veludo azul de seu vestido. Ela ficou em pé diante da mesa. Um raio de luz solar caia pela janela entreaberta, derramando-se nitidamente na pedra. Ela ficou na viga, deixando-a mais brilhante, mais alta, sua sombra se esticando para tocar a mesa.

Os cabelos negros caiam retos e soltos nas costas, o colar prateado, as mãos ao lado do corpo, as longas mangas de veludo cobrindo a forma esbelta.

? Eu tenho uma pergunta.

? Oh! ? Senhor Brien olhou por cima de seu livro, a sobrancelha levantada. Se Alina era friamente impassível, ela de alguma forma herdara isso de seu pai ou do próprio Brien. Como ela, aqueles dois homens eram mestres em batalhas de inteligência. ? Pergunte então, minha sobrinha.

? Duncan MacConnoway pediu para se casar comigo ? afirmou ela. ? Eu gostaria de saber o que foi dito a ele.

Brien olhou para ela. Seu rosto estava cuidadosamente neutro, as mãos cruzadas diante dele. Ele levantou uma sobrancelha.

? Porque sobrinha. Você está correta em sua suposição... ele realmente pediu. E sim, eu disse algo a ele. É isso que você quer saber, não é?

? Sim. ? A voz de Alina estava quieta, mas quebrou o silêncio, como um chicote.

? Eu disse a ele o que eu diria a qualquer um, ? ele disse suavemente. ? Encontre a espada que foi roubada. Devolva-a. Encontre a pérola que foi perdida e faça a pergunta que não foi dita.

Alina piscou. ? Você definiu tarefas para ele? ? Ela ficou surpresa. Quem seu tio achava que era ? algum monarca antigo e Duncan algum nobre vassalo? Ela não conseguia acreditar.

? Sim, eu coloquei tarefas para ele, ? Brien disse e, sentindo a brecha na defesa dela, agarrou-se a ela. ? E se ele não as completar? Bem, ? ele deu de ombros. ? Você estará livre para outro pretendente. Mais adequado.

Alina torceu os dedos nas mangas, mas não moveu mais nada. Ela manteve seu olhar nivelado, postura reta.

? Se ele não completar essas tarefas, ? ela disse, muito calmamente, ? todos nós estaremos em perigo. Você vai morrer, tio. E eu. E Duncan também. E todos nós. Este castelo será uma ruína e os ventos vão assobiar nele.

Brien levantou uma sobrancelha. ? Eu não estou convencido.

Alina respirou fundo. Ela estava suave novamente, indiferente. ? Bem, então. Como você vê, tio. Eu não preciso convencê-lo. Estou certa, mas não me alegro com isso. E nem você vai se alegrar.

Brien olhou para ela. Ela não disse mais nada. Virou-se e saiu do quarto.

Quando chegou ao corredor, Alina desceu as escadas. Ela parou quando chegou ao corredor que levava ao seu próprio quarto. Estava tremendo.

? Que tolo, ? sussurrou baixinho. ? Ele não deveria ter feito isso. Se ele fizer, haverá guerra.

Ela suspirou. Alisou o vestido. Deixou seu coração lentamente retornar ao seu estado natural. Quando começou a andar novament já havia começado a desvendar os mistérios.

Seu tio lhe dera a pista quando mencionou outros pretendentes, ? mais adequados. ? Ela sabia que ele queria que ela se casasse com Fraser Gleeson, filho do conde de Conwray. E ele não teria feito aquilo se não soubesse que Conwray estava em guerra feroz com seu último inimigo: Blackwood.

Ele queria que ela fosse a ferramenta para terminar aquela guerra. Ou, na falta disso, ele usaria Duncan.

Ela começou a ver para onde ele estava se dirigindo. Se Brien definiu as tarefas de Duncan, para que ele realizasse coisas que não seria capaz de realizar, se Duncan fosse seu parceiro. Se Duncan sobrevivesse às tarefas e se casasse com ela, então todas as intenções de Brien ainda teriam sido realizadas. Se ele morresse, ela estaria livre para se casar com alguém que se adequasse às finalidades dele.

Fraser, que logo viria a ser conde de Conwray, talvez.

Isso lhe deu uma ideia. Onde quer que a espada estivesse, seu retorno seria uma desculpa conveniente à guerra com os Blackwood. Isso devia significar que eles estavam de posse dela.

Quanto mais ela pensava sobre isso, mais fazia sentido. Se Duncan roubasse algum artigo precioso, Blackwood o desafiaria. MacConnaway saltaria em defesa de Duncan e lutaria contra Blackwood. Isso deixaria Brien com a chance de se livrar dos inimigos sem utilizar suas tropas. Se Duncan falhasse, bem, ele não perderia nada.

Quanto mais sentido isso fazia, mais Alina se convencia de que estava certa. Ela fechou a porta do quarto atrás dela e afundou no banquinho junto à lareira, olhando as chamas.

Havia apenas uma pessoa que saberia se ela estava certa. Essa era sua mentora, tia Aili.

Endireitando as costas, Alina se levantou e verificou seu vestido, alisando os lugares onde os dedos dela haviam torcido. Ela deslizou para fora da sala em direção às escadas. Ela veria Aili.

Se alguém sabia a resposta para seu questionamento, era ela.


Capítulo Quatro

CONSELHO E MISTÉRIO


Toda a ala leste do castelo estava escura. Sempre fora. Alina, andando nela, estremeceu. De todos os lugares da Terra, a escuridão que pairava naquela parte do castelo, estava mais próxima de seu sonho. Era úmida e fresca e cheirava a poeira. Como um túmulo aberto. Alina estremeceu.

Porque Aili escolheu morar aqui, não conseguia entender.

Tia Aili era a irmã do meio das filhas de Lochlann, a única filha sobrevivente, do irmão mais velho de Brien, Fergal. Ele havia morrido sem filhos, deixando seu irmão menor, para se tornar senhor. E nos deixou para viver com as consequências disso, Alina pensou ironicamente. A história da família a distraiu do ambiente assustador e frio e então ela preferiu se concentrar naquilo, abafando a escuridão.

Alina e sua irmã eram as filhas da mais velha senhora Lochlann. Lady Joanna. Ela morreu quando Alina estava com um ano de idade. Isso deixou Aili e a filha mais nova de Fergal, Lady Frances. Quando Frances morreu seis anos depois, Aili ficou profundamente afetada. Ela havia se retirado da vida pública, mudando-se para a ala leste, onde vivia desde então. Isso fazia bem mais de uma década.

Aili nunca voltou para o castelo, pensou Alina. Eu acho que entendo o porque.

Aili era conhecida pelos poderes misteriosos. Foi por isso que ela se tornou a mentora de Alina, após o incidente da captura de Alina. Aili ajudou-a a se curar e, durante esse tempo, Alina tornou-se mais consciente dos seus dons.

Ela escolheu ficar aqui para evitar distrações. E para estar segura.

Havia muitos no castelo que acreditavam que Aili possuía ligação com poderes demoníacos. Era mais seguro para ela estar longe dos outros. Alina, como possuidora de poderes semelhantes, entendia a necessidade de silêncio e tempo para refletir.

? Mas, mesmo assim, ? disse ela em voz alta, ? gostaria que o lugar fosse menos assustador. E quente. Ela alcançara o topo da escada cheia de teias de aranha. Ela enfrentou uma porta escura e arqueada. E bateu nela.

? Aili?

? Entre.

A voz era alta, mas árida. Soava como se o vento falasse, frio e assustador. Alina mordeu o lábio e entrou.

? Bem então. É minha sobrinha favorita! E como está a bela dama?

Alina sorriu. Ela se adiantou para cumprimentar a pequena senhora de cabelos brancos, com olhos azuis. Ela se colocou sob os ombros de Alina e abraçou-a, depois olhou para o rosto.

? Você está preocupada, moça. ? Era uma declaração, não uma pergunta. Alina assentiu. ? Conte-me.

Alina seguiu sua tia, que foi até a mesa no canto da sala. Uma cadeira alta, coberta de dosséis, estava de frente para a porta, e à sua direita havia uma seção entreaberta com uma tapeçaria que abrigava uma mesa e cadeiras de carvalho escuro, esculpidas e eretas, uma lareira crepitante e uma tela elegantemente esculpida. O lugar era lindo, mobiliado mais confortavelmente e ricamente do que o restante do castelo.

Alina sentou-se na cadeira indicada por sua pequena tia. Ela esperou enquanto Aili sentou-se e bateu palmas.

? Vamos lá, rápido! ? Aili disse rapidamente. Uma serviçal apareceu, de cabelos brancos e rosto redondo, com bochechas vermelhas e alegria no rosto.

? Milady?

? Aí está você! ? Aili disse. ? Bem, o que você está fazendo? Nós temos convidados! Que tipo de bárbaros horríveis somos nós, deixar nossos hóspedes sem comida? Busque cerveja e geléia. Amora, se você puder encontrar.

Alina sorriu. Amora era sua favorita. Confiava em Aili por relembrar esse pequeno fato entre os outros.

? Sim senhora.

? E seja rápida com isso. Temos muito a dizer e pouco tempo para fazer isso.

Alina reprimiu um sorriso. Ela não perguntou como sua tia sabia que o assunto era urgente. Ela simplesmente sabia que sim. Isso foi o suficiente.

? Agora, querida, ? disse Aili, virando-se para encará-la. ? Você precisa me contar.

Alina limpou a garganta. ? Eu tive um sonho, tia. Nele, a escuridão nos envolveu. Todos nós.

? Sim? ? Ela colocou a cabeça de um lado, lembrando Alina estranhamente de uma gralha.

? Sim, ? concordou Alina. ? Eu estava lá e Amabel. E você e Duncan e Broderick. E... e a criança ? ela lembrou.

? Sim. E ela, ? Aili concordou. Alina não mencionou que a criança era uma menina. Ela continuou sua narração.

? Nós todos fomos engolidos pela escuridão porque Duncan buscou permissão para se casar, ? disse ela, engolindo em seco. Ela odiava o pensamento de que era culpa dela!

? A escuridão era absoluta? ? Perguntou Aili. Naquele momento, a empregada apareceu com a bandeja. Ela colocou as coisas na mesa. Aili serviu a cerveja. Alina levantou o copo e molhou os lábios com ela. Era rica e espumante, refrescante e clara. Ela bebeu.

? Não, ? ela concordou. ? Era... nebulosa. Eu conseguia ver. Eu simplesmente não conseguia mudar.

? Você está fora do padrão, moça, ? Aili assentiu com firmeza. E apontou para ela. ? Você pode mudar as coisas. É por isso que você pode ver.

Alina fez uma pausa. Ela pegou uma torta, mas não a mordeu. ? Eu posso?

? Você pode mudar isso. Você começou? Você sabe o que deve ser feito. ? Sua voz era inabalável.

Alina soltou um suspiro trêmulo. ? Sim, tia. Ou... talvez eu quisesse perguntar.

? Você sabe que está certa. Não precisa de mim para afirmar isso, ? Aili bufou. ? Confie em si mesma, moça. Você deve.

Alina engoliu em seco. ? Eu vou tentar, tia.

? Tente muito, ? Aili riu sem humor. ? Você vai precisar de toda a confiança em si mesma, tudo que puder encontrar antes do fim.

Alina mordeu o lábio. ? Eu vou, tia.

? Bom, ? Aili riu. Ela pegou uma torta, mordeu e mastigou com prazer.

? Tia?

? Mm? ? Aili pegou um guardanapo, limpando as migalhas.

? Eu preciso saber. Havia... uma espada?

? Tem havido muitas espadas, moça. E muitas missões para encontrá-las. Que espada é essa que você procura?

Alina estremeceu. Às vezes, sua tia a surpreendia. Ela nem perguntou como sua tia sabia alguma coisa da missão. ? A que foi roubada. ? disse ela, inabalável.

? Bem, ? Aili disse com prazer, recostando-se na cadeira com um sorriso. ? Você deve me dizer. Você sabe onde está. Não me engane. Você sabe, moça.

Alina sorriu. Sua tia costumava falar da maneira mais cortês que ela própria. Quando ela ampliava seu volume para combinar com o da rua, isso significava que ela deixava sair seu lado infantil e brincalhão.

? Sim, tia, ? ela concordou, indo junto com sua brincadeira. ? Eu acho que eu sei.

? E ele pediu isto tudo, resmungou Aili. ? Ele. Aquele que pensa que é poderoso.

Alina riu. Ela teria descrito o tio Brien assim também. ? De fato. Eu acho que ele pediu. É por isso que ele enviou Duncan para recapturá-la.

? Ele pediu, sim? ? Aili riu. ? E quem ele pensa que é? O rei do monte?

Alina riu. Os montes eram lugares de fadas, e se seu tio pensava que ele era o rei dos seres do outro mundo, esse era o auge da arrogância. Ela assentiu. ? Algo assim, ? ela acrescentou secamente.

Aili riu. ? De fato. E o que o nosso auto proclamado rei acha que está fazendo agora? Enviando cavaleiros à galante peregrinação?

? Um cavaleiro ? Alina corrigiu. Sua voz falhou. Duncan era o símbolo do que os cavaleiros deveriam ser: honrados, corretos, nobres de coração. ? Um amado.

Aili estendeu a mão para cobrir a dela. Não disse nada. Alina engoliu em seco, permitindo que sua tia a consolasse.

? Eu o mataria, ? sussurrou Alina. Ela se referia ao tio Brien. ? Como ele ousa trazer sua arrogância para cá, para nos colocar em perigo?

Aili riu. ? Eu sei que você o mataria, coração de raposa, ? ela suspirou. Era o apelido que ela usava para Alina, dizendo muitas vezes que ela possuía o coração de uma raposa, feroz e questionadora. ? Mas você não pode. Não alcança nada. Além disso, ele acredita ser algum antigo nobre, ? ela riu. ? Desde que ele era jovem.

? Sério? ? Alina estava interessada.

? Sim, ? continuou Aili, mantendo o sotaque leve. ? Ele acredita. Ele se imagina distribuindo tarefas, com enigmas, como um rei antigo. Sempre teve um traço romântico, e ele continua. Lembro-me dele como tio Brien, o irmão mais novo do meu próprio pai, sem ter certeza de nada. Ela riu. ? Allus queria ser senhor, também. E ele amava as moças, oh! Ele amava.

Alina ficou olhando. ? De fato? ? Ela cobriu a boca com a mão, não acreditando nisso. Seu tio Brien como uma lady, era impossível de imaginar.

? É verdade, ? insistiu Aili. Ela estava rindo também. ? Não me faça rir, moça. Ele fazia isso. Allus tem suas noções românticas. Quando ele finalmente se fixou em Colla, fiquei surpresa.

? Oh! ? Colla era sua tia avó, esposa do tio Brien. Ela havia morrido jovem, deixando seu tio avô Brien para criar Colla, sua filha, sozinha. Aquela Colla, a filha, a tia de Alina, se casara com o duque de Athol e vivia muito longe. Ela podia contar em uma mão o número de vezes que a viu ou conversou com ela.

? Sim, ? Aili continuou sua narração. ? E eu me pergunto às vezes porque ele não se casou novamente. Ele era romântico, ? ela agitou sua cabeça tristemente.

? Tio Brien deseja ser um dos antigos reis, distribuindo missões aos cavaleiros? ? Disse Alina, sacudindo a própria cabeça. ? Isso explica. ? Ela riu.

? Isso explica muito, ? disse Aili.

Alina riu. Ela lhe perguntaria mais, sobre o que mais explicaria as coisas, mas foi abruptamente interrompida.

? Minha senhora! ? A empregada apareceu, os olhos aterrorizados, as mãos agarradas ao peito. ? Devemos sair! Estamos sob ataque.


Capítulo Cinco

ESCURIDÃO E SOMBRA


A cabeça de Alina girou.

Olhou para Aili. Ela parecia despreocupada.

Era o sonho!

Alina sentiu seu corpo inteiro esfriar. Previra que a morte e o terror seguiriam as palavras de Duncan e agora o castelo estava sitiado. O último cerco que Lochlann havia enfrentado foi há mais de sessenta anos atrás, no tempo do reinado de seu bisavô! Como isso era possível?

Ela se levantou e juntou as saias com a mão, tentando se recompor. Acenou para a empregada e para Aili. ? Precisamos sair. ? Ela não estava perturbada, estava completamente em si. Ninguém imaginaria que há um momento estava entorpecida pelo terror.

Aili ficou de pé. Não disse nada. Parou no meio da sala, braços ao lado dela, olhos fechados. Parecia convocar algum tipo de bênção, seu rosto sereno e calmo. Então ela se virou para Alina.

? Nós saímos agora.

Alina assentiu e juntas, ela, Aili, e a servente caminharam calmamente pelas escadas.

Alcançaram o caos.

O corredor que ligava a ala leste ao castelo era um pandemônio de guardas, gritos e pés correndo. Quando Alina entrou no corredor, um homem de armas quase correu para ela, depois exclamou e se afastou apressadamente. Alina o deteve, pegando o braço dele.

? O que está acontecendo? ? Ela exigiu. Gaire? Conte-me.

O uso do nome do homem ? felizmente Alina o conhecia pelo nome ? o acalmou. Parecia também acalmar os outros, enquanto o movimento se tornava perceptivelmente mais ordenado enquanto caminhavam para o corredor. Ele engoliu em seco. ? Minha senhora, o castelo está sob ataque. Nós estamos cercados. Os homens estão nos muros agora... ? ele fez um gesto mudo de apelo e Alina achou que ele queria se juntar a seus colegas.

? Obrigada, ? ela balançou a cabeça rapidamente. ? Vá. Bênçãos sobre você ? acrescentou ela. Ele sorriu radiante. Então, depois de se curvar e resmungar, correu para se juntar aos outros.

Ela voltou para suas companheiras. ? Eles estão nos portões, ? explicou ela rapidamente. A empregada parecia preocupada, mas Aili ainda estava calma.

? Devemos ir pelo corredor, ? Aili disse calmamente, sua voz mais profunda, forte e firme.

Alina assentiu. Isso fazia sentido. Com o comprimento do pátio, longe da ponte levadiça, com portas grossas, o grande salão era o lugar mais seguro para se proteger do ataque. Ela caminhou ao lado de Aili e, juntas, seguiram pelo corredor em direção às escadas.

No caminho, Alina tropeçou. Alguém havia batido nela.

? Alina! ? A pessoa que bateu nela disse, maravilhada.

? Chrissie? ? Alina olhou para ela. Não esperava ver sua prima pequena, com todos os cachos dourados e renda branca, subindo as escadas. Ela já deveria estar em segurança pelo corredor!

? Alina! Agradeço ao Céu! Chrissie correu para ela e jogou os braços ao redor dela, ficou agarrada.

Alina sorriu e acariciou suas costas, respirando o doce aroma de seu cabelo. ? Venha conosco. Nós estamos indo para o grande salão. Estará segura lá.

? Nós? ? Chrissie fez uma pausa. Ela olhou para a direita e deu um pequeno suspiro. Alina percebeu que Aili havia se retirado das reuniões no castelo quando Chrissie estava com um ano de idade. Ela nunca fora visitar a ala leste, até onde Alina sabia. Aili era uma total desconhecida.

A garota olhou para a mulher mais velha, com os olhos arregalados. Chrissie era pequena e ainda faltava um pouco para crescer. Alina imaginou que não seria tão alta quanto ela ou sua irmã, mas mais ou menos a mesma altura que sua tia.

Alina olhou de relance para o rosto de Aili. As linhas de sua mandíbula estavam rígidas. Seus olhos brilharam. Alina percebeu que sua tia estava tão próxima das lágrimas quanto jamais estivera. Ela se parecia naquele momento com Frances, a amada irmã de Aili, Chrissie a olhou. Seu coração doeu.

A menina parecia desnorteada e então deu um sorriso tímido para a tia.

? Saudações.

Aili pigarreou. ? Vamos, moça, ? disse ela, sua voz carregada de emoção. As três correram para o corredor.

Dentro do salão encontraram confusão e pânico. Os criados haviam fugido para lá ? as criadas, os cavalariços, os filhos dos guardas. Sentaram-se nos bancos, rostos inexpressivos de medo ou amontoados nos cantos, as crianças correndo de olhos arregalados. O salão estava escuro e cheirava a terror. Alina ouviu uma batida, um baque surdo. Ecoou através do edifício, o som de madeira rachando contra madeira. Ela fechou os olhos e as crianças choraram.

O inimigo estava batendo no portão.

O barulho de gritos e terror fez Alina estremecer. Ela colocou as mãos sobre as orelhas. Então, silenciosamente, Alina caminhou até o centro do corredor.

? Tam, ? ela chamou o grupo de jovens mais inconstantes que corriam, parecendo assustados e sem direção. Não fazia ideia se algum dos meninos se chamava Tam, mas era um nome suficientemente popular. Com sorte, uma pequena criança de cabelos claros virou-se de onde ele estava sentado perto da plataforma elevada.

? Sim?

? Você vai me ajudar a acender as tochas?

O garotinho assentiu. Ele teve uma conversa sussurrada com os outros meninos e logo eles estavam andando em sério silêncio, carregando os galhos de suportes de parede, para a enorme lareira. Alina suspirou. Aquilo resolveu. A sala lentamente se encheu de luz nebulosa e cheiro de troncos de madeira, queimando docemente.

? Blaire? ? Ela chamou a empregada. Havia visto a mulher encolhida com um grupo de mulheres mais velhas nos bancos. Ela enfrentou Alina diretamente.

? Sim, milady?

? Você vai organizar algumas mulheres para buscar sopa e pães? Podemos alimentar as pessoas e abastecer os homens de armas quando eles fizerem turnos.

? Sim, senhora. Glenna? Venha comigo.

Blaire correu para longe, reunindo um grupo de mulheres mais jovens ao seu redor. Juntas, eles saíram do corredor. Logo elas e as menininhas estavam distribuindo comida. O salão se acalmou.

Alina respirou com dificuldade, o alívio fazendo-a sentir-se cansada. Retornou para perto de Aili, onde ela ficara com Chrissie, no canto perto de uma tocha. As duas estavam em silêncio, Aili parecendo meio arrebatada, Chrissie olhando ao redor, assustada. A paz que Aili irradiava era reconfortante, e Alina sentiu-se relaxar. Só então se permitiu sentir sua própria exaustão.

? Tia? ? Ela torceu as mãos nas mangas, tensa, caminhando para o lado do salão. Duncan está lá fora. O que está acontecendo?

Com tudo em ordem no momento, sua mente poderia encontrar tempo para se preocupar. Ela quase desejava mais distração. Imaginou Duncan ferido, baleado, morrendo quando a escuridão o engolia.

? Venha, moça, ? disse Aili. Apertou o braço de Alina. ? Rezemos.

Alina assentiu. Esta era uma boa ideia.

Ela se ajoelhou e Aili permaneceu de pé, com os joelhos doloridos demais para se curvar e se ajoelhar. Chrissie caiu graciosamente de joelhos ao lado de Alina e curvou seus cachos loiros. Logo o grupo foi cercado por outros homens e mulheres, também profundamente em oração. O silêncio reinou no salão.

Alina, com o coração acelerado, rezou mais desesperadamente do que nunca em sua vida. Duncan. Deus deixe-o viver. Por favor. Por favor, deixe-o viver. Vamos encontrar um caminho através desta escuridão, seja ele qual for.


Capítulo Seis

UM RESGATE REPENTINO


O vento enrolava as capas dos defensores onde eles se encontravam na muralha. Duncan estremeceu, aproximando o manto dele. Mal podia ouvir o suave suspiro do vento sobre o turbilhão de atividades no pátio abaixo.

Os homens ao lado dele na muralha estavam armados com arcos. Com ele estava sua longa espada, adequada para combate caso alguém os alcançasse ali. Até agora, não parecia que os atacantes estavam equipados com cordas ou escadas. Eles estavam mais decididos a derrubar o portão.

O que não se realizaria.

Pelo menos, Duncan pensou sombriamente, por enquanto. Os homens que atacavam o portão estavam armados com um grande bate estacas, feito de um único tronco de árvore do fundo da floresta. Precisava de doze deles para suportá-lo, e cada vez que batia no portão, ele sentia o tremor de seu impacto até ali, a uns seis metros de distância ao longo da muralha.

Queria estar mais perto. Blaine, encarregado das defesas, enviara-o para o limite. Ele lhe perguntara como lutava com um arco longo, e quando Duncan admitiu que mal o usara, Blaine o enviara às margens. Ser avaliado como um soldado de infantaria por aquele jovem era amargo, mas Duncan podia entender seu pensamento. O arco longo era uma arma feroz. Os homens que mexiam com aquilo eram os mestres naquele tipo de guerra. Ele poderia utilizar uma besta, assim como o próximo homem, mas o alcance não era tão bom e o ataque era muito feroz.

Ele deveria estar lá para impedir que os homens entrassem no lugar.

Isso era o que mais temia. Homens no castelo matariam impiedosamente. Não fazia ideia de quem era o inimigo ? Blaine também não sabia, ? mas quem quer que fosse, se eles entrassem, pilhariam. Violência e abate seriam o principal e ele possuia uma família para proteger. A família de Alina.

? Nas costas!

Os homens abaixo estavam recuando. Duncan suspirou aliviado. Ele sabia o porquê: Blaine pedira vasos de óleo. Ele estremeceu ao pensar em usá-los, mas sabia que era o único caminho. O calor escaldante mataria os homens abaixo da maneira mais espantosa. O que seu jovem amigo ordenou o surpreendeu. Letal no campo ou em combate, Duncan ainda odiava a ideia de guerra de cerco, achando-a desonesta, em comparação à lutar cara a cara.

? MacConnoway!

Duncan se virou. Ele enfrentou Brien. Olhou fixamente. O velho estava perfeitamente em casa ali em cima. Usava um casaco de cota de malha e carregava uma adaga. Parecia tão sereno como se estivesse supervisionando um banquete.

? Sim, meu senhor?

? Em volta das muralhas. Precisamos de defensores do outro lado.

Duncan olhou para ele, confuso. ? Meu Senhor? Há poucos homens ? começou ele, acenando com a mão para a tropa abaixo deles. Além dos doze com a árvore, havia talvez outros, quinze. Era uma força minúscula, provavelmente não mais do que trinta homens. O perigo de estar cercado era infinitamente pequeno.

? Eu o mandei para outro lugar, ? disse Brien. Ele se virou, esperando que Duncan obedecesse sem questionar.

Duncan respirou fundo. Ele queria discutir. No entanto, era a fortaleza do conde e se ele queria Duncan longe do único lugar em que poderia ser útil, não havia como argumentar. Ele suspirou.

Lançou um último olhar para Blaine, mas o jovem, lívido pela luz do fogo, estava ocupado instruindo os homens dos arcos. Ele se virou.

Enquanto caminhava pelo pátio, olhando a parede onde os defensores estavam contornados pela luz das tochas, ele ouviu alguma coisa.

Um grito. Vindo do outro lado do castelo.

Lorde Brien estava certo, ele pensou, já correndo. Eles entravam pelo portão traseiro.

Sentindo-se suando, Duncan correu pelas lajes escuras e entrou no grande salão. No interior, ele encontrou o caos. Os homens de armas, vestidos de verde, estavam correndo, cada um indo para o portão dos fundos para enfrentar a ameaça. Deixando o lugar indefeso. Duncan olhou para eles.

? Fique! ? Ele comandou a um homem, rosnando a ordem. ? Se todos vocês forem, quem os impedirá?

O homem piscou para ele. Enquanto estava atordoado, outros pareciam ouvir a ordem de Duncan e se reuniram para obedecer. No entanto, restavam poucos. Como era, esperado a força estava principalmente na muralha da frente. Com metade dos que já estavam se dispersando em direção à parte de trás do castelo, Duncan ficou com uma dúzia de homens.

? Nós guardaremos o salão, ? disse ele com firmeza.

? Sim, senhor.

O homem a quem ele se dirigiu pareceu encontrar sua voz, e Duncan soltou um suspiro. Alguém, pelo menos, ouviu a razão.

? Obrigado, soldado, ? disse. Ele os levou para o corredor.

No interior, as lâmpadas estavam acesas. Duncan ficou impressionado. O lugar estava cheio de mulheres que serviam, damas de companhia, velhas e doentes. As crianças e os cuidadores de estábulos. Os velhos homens de armas. Até o momento, ninguém estava em pânico. Todos estavam calmos. Olhando para o estrado, ele percebeu o porque.

Alina estava lá, com uma lâmpada na mão. Ela conversava calmamente com uma mulher pequena e mais velha, vestida de veludo azul-claro, que assentia em concordância antes de se dirigir à parte de trás do salão. Ele olhou para Alina.

Seu cabelo estava solto e ela usava seu vestido mais escuro. Ele caia em uma saia estreita de sua cintura, arrastando-se a partir do cinto prateado em torno de seus pequenos quadris. Usava um filete prateado em sua testa e seu rosto oval estava tranquilo e pálido.

Ela olhou para cima, olhos negros pesados e serenos. Olhou diretamente nos olhos dele.

? Alina. ? Ele não conseguiu dizer mais nada.

? Duncan. ? Ela sorriu. Parecia calma. Tranquila. Feliz. Ele não conseguia se mover, e mesmo assim sabia que deveria. Ela seria assim ? o olho de qualquer tempestade. Ele soube que a amava então, como nunca percebera que a amara.

Naquele momento, o caos explodiu. Uma rachadura estilhaçada ecoou pela sala. A porta do corredor recuou e homens de cabelos e olhos selvagens, entraram.


? Duncan!

Alina gritou. Um deles correu para ela, e naquele momento Duncan perdeu toda a consciência. Tudo o que ele conseguia ver era a névoa vermelha de raiva. Tudo o que conseguia sentir era a necessidade urgente de matar. Fazer qualquer coisa para salvar Alina.

O homem a prendeu em volta da cintura. A mão dele estava em seu cabelo e ele a arrastava. Duncan deu um giro em sua cabeça, mas não podia arriscar um golpe com sua espada longa sem receio da lâmina cortar Alina. Amaldiçoou.

? Blaine! ? Rugiu sobre o estrondo, desejando que o jovem descesse com ele. Amaldiçoou novamente, lembrando que Blaine estava no comando na muralha.

? Fergal! ? Ele viu o antigo armeiro.

? Sim!

O velho sorriu para ele, o sangue escorrendo pelo cabelo branco. Duncan não fazia ideia se era dele ? não havia uma chance de perguntar. Ele acenou com os braços para indicar que não possuía uma arma.

? Nos pés, rapazinho! ? gritou o velho armeiro. Ele riu, ofegando e depois soltou um golpe mortal em seu oponente. Duncan olhou no chão. Desejando que tivesse pensado nisso um segundo atrás, pegou uma lança.

O homem que estava segurando Alina a arrastou à porta dos fundos. Duncan correu pelo corredor, apunhalando um homem que estendeu a mão para agarrá-lo quando ele passou. Ele chegou à porta.

? Duncan, ? Alina respirou. O braço do homem estava ao redor de sua garganta e ele podia ver que ela estava lutando para respirar. Sentiu seu coração se encher de raiva.

Rugiu e se lançou, apontando para baixo para os joelhos do homem. Foi bloqueado pelo corpo de Alina. O homem riu, sacando a espada. Ele largou Alina.

? Corra! ? Duncan gritou para ela com urgência. Ela saiu dobrada, tossindo, incapaz de respirar para fugir. Duncan se virou e encarou seu agressor.

O homem balançou uma espada para ele e Duncan largou a lança enquanto desembainhava a sua espada. Ele a balançou e então deixou sua própria espada colidir com o homem.

Duncan amaldiçoou em voz baixa quando sua espada assobiou pelo ar e depois mudou o ângulo, levantando-o novamente. O balanço do homem colidiu com o dele e o impacto estremeceu ao longo de seus braços.

Duncan torceu a lâmina, soltando-a e ergueu-a novamente. Ao redor dele, homens gritavam, armas se chocando. Os poucos guardas que ele trouxera estavam indo bem. No entanto, haveria o suficiente para lutar contra tantos? Ele não conseguia adivinhar.

Sua atenção havia sido chamada por Fergal, soltando um grito de batalha quando girou o machado. Quando olhou para trás, havia uma lança vindo em sua direção. Ele se moveu, mas ninguém poderia mover uma lança a caminho.

Na altura do arco, a lança vacilou. Pareceu perder sua força. Ele viu seu agressor ofegar, mas nenhum som saiu dele. O homem estava tossindo e espuma apareceu em seus lábios. Ele caiu para frente.

Duncan olhou para baixo. Alina estava no chão. Ela estava olhando para o homem com horror enquanto ele babava e se contorcia, a lâmina ainda dentro dele, arrancada de seu alcance quando caiu.

Duncan ficou olhando.

Pálida e com olhos negros arregalados de horror, Alina olhou para ele. Ela olhou para o homem, depois para Duncan e cobriu o rosto com as mãos. Duncan inclinou-se para segurá-la e ela respirou contra ele, a respiração estremecendo, os ombros tremendo.

? Eu o matei, ? ela sussurrou.

? Você o matou, moça. Você salvou minha vida.

? Eu nunca matei nada ou qualquer coisa antes.

Ela se sentou no chão, com o rosto branco. Soltou a faca, mas a mão ainda estava no colo como se já não a conhecesse como parte de si mesma. Estava balançando para frente e para trás, os olhos arregalados.

? Eu o matei.

Duncan a segurou e balançou com ela enquanto ela estremecia em seus braços. Ao redor dele, os sons da luta estavam se esgotando. Ele olhou para o outro lado do corredor. A mulher mais velha que estivera com Alina estava no canto, ainda como uma estátua, de alguma forma intocada. Do outro lado do corredor, viu outro rosto que reconheceu.

? Blaine! ? Ele gritou.

Como ele chegou aqui? Ele olhou em volta, a informação lentamente filtrada para sua mente cansada. Havia, de alguma forma, de repente, mais que o dobro do número de guardas que ele trouxera consigo. Eles encheram o chão e passaram pelo corredor com eficiência, despachando qualquer inimigo que estivesse muito ferido, para ficar de pé.

Blaine os devia ter trazido. Se ele não tivesse trazido, Duncan pensou sombriamente, todos eles estariam mortos agora.

? Blaine? ? Ele chamou.

Blaine pareceu não o notar e Duncan olhou para as sombras, imaginando o que prenderia sua atenção. Atrás dele, pálida e raiando de lágrimas, estava Chrissie. Duncan sentiu alívio em saber que a garota estava segura, e, em algum lugar em seu coração, ele estava satisfeito por Blaine ? pelo menos ao protegê-la, ele teve a chance de provar seu amor por ela.

Em seus braços, Alina parou de tremer. Ela olhou para Duncan. Juntos sentaram-se no chão enquanto o salão se enchia de gemidos, suspiros e o som de homens e mulheres se recuperando de um pesadelo.

O corpo de Alina estava muito perto de Duncan, o coração dela tremulando, o peito estremecendo com a respiração ofegante. Seu calor fluía para ele e ele podia sentir o cheiro de alecrim em seu cabelo. Rangeu os dentes, sentindo o corpo doer de vontade de possuí-la. Agora não era o lugar, nem a hora, e ele afastou aquele sentimento impiedosamente, sabendo que ela precisava de cuidados mais do que qualquer outra coisa.

? Duncan? ? Ela sussurrou. Sua voz estava quieta. Ele olhou nos olhos dela.

? Sim?

? Podemos ir a outro lugar, você acha? Eu preciso de ar. ? Ela perguntou trêmula, voz quieta.

Duncan assentiu. Ele se levantou e ajudou-a a ficar de pé. Suas mãos nas dele eram como gelo. Ela se debruçou sobre ele e ele a segurou, o braço ao redor de seus ombros, quando juntos saíram do salão lotado.

Lá fora, o pátio estava vazio. Duncan podia ouvir homens consertando o portão quebrado. O ar estava frio e seu manto se abriu na brisa. Ele se desenhou em torno de Alina. Ela olhou para ele.

? Duncan?

? Sim?

? Obrigada por ter voltado.

Ele olhou para o pálido rosto oval dela. Seus olhos eram redondos e muito negros, os lábios entreabertos, úmidos e quentes.

Seu coração batendo, o corpo tremendo de necessidade, ele baixou a boca para a dela. Seus lábios encontraram a doce suavidade de sua boca, a língua escorregadia, molhada e quente, entre eles.

Alina engasgou. Ela também parecia possuída pela mesma urgência que sentia, pois seus braços o seguravam perto e os lábios entreabertos para permitir que ele entrasse. Seu corpo latejava, seu coração pulsava com força em seu peito. Seus lombos estavam doendo e ele estremeceu com a necessidade crescente.

? Alina, ? sussurrou. As mãos dele desciam por suas costas, acariciando a garganta longa e magra e se enterrando na maciez negra e acetinada do cabelo dela. Ela gemeu e pressionou contra ele e ele sentiu as curvas suaves de seu corpo pressioná-lo. Ele fechou os olhos. Moveu a boca para a dela novamente e eles ficaram juntos em um lugar tão perto do céu que ele pensou que já havia morrido.

Alina engasgou e sua boca se moveu da dele. Ela estava tremendo também, e não estava com frio ? o manto dele estava enrolado em volta dela, o corpo dela contra o dele.

? Duncan, ? ela sussurrou.

? Sim?

? Nós devemos... parar, ? disse ela. Seus quadris foram se pressionando contra os dele e ele percebeu, com pânico, que seu corpo estava se empurrando cada vez mais perto do dela, como se seus corpos tivessem tomado a decisão por si mesmos e agiram fora de sua jurisdição.

? Sim, ? ele concordou. Seu coração afundou. Ele a queria. Ele a queria mais do que jamais quisera alguma coisa. Seu corpo estava tenso pela necessidade urgente e tremendo com isso.

? Eu... sinto muito, ? ela engasgou. Ela se virou, as mãos alisando as saias. ? Mas não podemos.

Ela se virou para encará-lo, os cabelos longos balançando ao redor de seu corpo magro. Na luz fraca do pátio vazio, ela era uma sombra, docemente curvada e tornada viva pelo prateado do céu estrelado.

Ele olhou para ela, seus olhos bebendo em sua forma ? seios altos, corpo estreito e pernas longas. Todo o seu ser vibrava com necessidade e ele estava certo de que não havia nada mais bonito do que o que estava diante dele agora.

Relutantemente, ele quebrou o contato, virando-se para olhar para a parede do corredor.

? Duncan? ? Uma voz chamou da porta, a dez metros de distância. A voz estava cansada, mal chegando até eles. Mesmo assim ele a reconheceu.

? Blaine?

? Sim. Estamos consertando a parede danificada. Precisamos de ajuda? ? Era uma pergunta, ou um pedido.

? É claro, ? Duncan falou. Sua voz era um sussurro estrangulado, então limpou a garganta. ? Em breve, ? explicou. Ele se virou para Alina, que estava olhando para o céu, o rosto sério e imóvel. ? Obrigado, ? ele sussurrou. Ele a envolveu em seus braços novamente e beijou seu cabelo. Aquele foi um beijo casto, um beijo de compromisso.

? Obrigada? ? Alina perguntou, confusa. Ela olhou para ele, lábios entreabertos em uma expressão de confusão.

? Sim, ? ele disse, sorrindo.

? Pelo quê?

Ele sorriu novamente. ? Por salvar minha vida? ? disse, então, quando ela fechou os olhos, ele acrescentou, ? pelo beijo. Por ser você.

Alina olhou em seus olhos, e os seus próprios cílios negros, abundantes e longos, emoldurando sua escuridão.

? Obrigada, Duncan MacConnoway. Por tudo isso e mais.

Duncan sorriu e fechou os olhos, envolvendo-a nos braços. Ela fechou os olhos e se inclinou contra ele, a cabeça contra o coração dele. Ele mordeu o lábio e pensou que, mesmo neste mundo que as convenções insistiam em tornar perverso, havia momentos completamente perfeitos.

Ao redor deles, a cinza brotava do portão traseiro parcialmente queimado, os homens resmungaram, e o castelo assentou, lentamente, em silêncio e se recompôs da paz despedaçada, novamente.


Capítulo Sete

ENCONTRANDO INFORMAÇÃO


? Foram nossos velhos inimigos. Os MacDonnell's.

Alina olhou por cima do mingau de aveia do café da manhã. Ela estava tão cansada que mal conseguia encontrar a energia para levantar uma colher. Ainda podia sentir o cheiro da fumaça de onde o portão ardia e, em algum lugar atrás do prédio, os martelos soaram enquanto os marceneiros reforçavam os portões. Ela lançou um longo olhar ao seu tio-avô. Para alguém que supervisionou as defesas a noite toda, ele parecia notavelmente cheio de energia.

? Você encontrou provas? ? Ela perguntou suavemente.

Ele dirigiu seu olhar afiado para ela. ? Nós encontramos. Um broche. E o testemunho de alguns prisioneiros. Eu não acho que eles mentiram. É difícil não revelar a verdade em tal trabalho... ? disse ele piedosamente.

Alina fechou os olhos. Sob o “trabalho penoso” da tortura, você confessaria voar em uma vassoura, ela pensou em particular. Qualquer um faria. Sentiu uma raiva lenta e belicosa contra o tio, uma impaciência causada em parte pelo cansaço e em parte pela raiva de sua necessidade de culpar e se vingar, de estar sempre no controle, como ele fizera com as vidas dela e de Duncan. Ela não pronunciou o comentário, mas foi cansada até o pote de sal, que ficava à sua direita.

? Aqui. ? Um dos convidados da casa de seu tio, um homem bonito de cerca de trinta anos chamado Dougal, passou para ela.

? Obrigada, ? disse Alina calmamente. Ela pegou a colher de sal e passou de volta.

Estava exausta além do imaginável, entorpecida pelo choque de ter tirado uma vida e zangada com o tio. A raiva e o cansaço a afetaram. Ela derramou a colher de sal no mingau e mexeu, esperando que isso a ressuscitasse.

Chrissie, branca e empinada, encarou-a do outro lado da mesa. Ela também parecia exausta, anéis negros ao redor de seus olhos pálidos. Alina levantou uma sobrancelha e lhe deu um sorriso amargo, inclinando a cabeça para o tio. Chrissie baixou os olhos e olhou para as mãos. Ela não queria rir abertamente. Alina estava satisfeita que, pelo menos, ela pudesse fazer Chrissie rir.

? Você planeja agir contra eles? ? Um jovem falou da mesa. Alina olhou para ele. A voz era de Heath, o adotivo. Seu rosto magro e inteligente virou-se para o tio Brien, buscando sua aprovação.

? Sim, rapaz ? Brien disse cansado. O rosto de Heath caiu e Alina desejou não ter sido tão indiferente. ? Mas devemos considerar as coisas antes de agirmos, ? ele continuou arrogantemente. ? Podemos enfrentá-los agora que eles se aliaram a essas feridas eternas, as do Duncraigh?

Alina olhou para ele. ? Nós enfrentamos os dois ao mesmo tempo?

Ele assentiu, pegando um quadrado de linho para limpar a barba. ? De fato.

Alina olhou através da mesa para Duncan. Ele estava olhando para o velho com descrença.

? Você sabe disso e não faz nada? ? Ele perguntou.

Alina respirou fundo. Ela olhou para Duncan como se dissesse para ele: não. Não o provoque.

Seu tio olhou para o prato, cortando uma fatia de presunto. Não olhando para Duncan, ele respondeu suavemente. ? Eu sei disso, e paro e reflito. É uma coisa sensata a fazer, meu jovem. Embora eu ache que é mais natural para aqueles com experiência avançada. Os jovens são impetuosos e tolos.

Alina engasgou. Todos olharam para ela e ela acenou com a mão esbelta, tentando transmitir que não iria sufocar até a morte. Quando se recuperou, ela olhou ao redor, os olhos úmidos de tosse.

? Eu aceito a sabedoria disso, meu senhor, ? disse Duncan quando ele também recuperou seu poder de fala após o choque da resposta de Brien. ? Mas eu questiono a sabedoria do atraso em face de tal aliança. Não deveríamos estar reunindo nossas próprias tropas?

? Contra aquele monte de vento e água? ? Brien riu. ? Eles fazem uma incursão contra o nosso portão, entram com menos de trinta homens e são repelidos em duas horas? ? Ele acenou com a mão para o resto da empresa, como se descartasse algo trivial. ? Eu conheço o conde deles. Ele se sentará em sua fortaleza em Inverglass e murmurará sobre as salas da torre serem frias e a farinha pedregosa. Não vejo motivo para preocupação.

Duncan levantou uma sobrancelha para ele. Ele se inclinou para trás, contemplando suas palavras. Alina observou-o e sentiu sua própria preocupação diminuir.

Na superfície, o que o tio dela disse estava correto. O conde de Inverglass era velho ? mais velho que o tio Brien, que de maneira alguma era jovem. Ele não era uma ameaça há muitos anos. A disputa entre eles havia desaparecido ao longo dos anos, nenhuma das partes interessadas em mantê-la por mais tempo. No entanto, com os MacDonnell, com a intenção de vingar a morte de Lorde Thomas, como seus aliados? Alina não tinha certeza se a avaliação simples de seu tio estava correta. Ela se inclinou para trás, os dedos longos arranhando as saias de veludo verde enquanto considerava as implicações.

? Deveríamos enviar vigias de reconhecimento lá, meu senhor? Heath falou novamente, fazendo uma sugestão. ? Determinar a magnitude de sua ameaça.

? Nós poderíamos, ? Brien concordou suavemente. ? Mas eles não nos dirão nada que não sabemos, então por que colocar os homens na tarefa infrutiferamente?

? E se os Duncraigh estiveram aumentando a força? ? Heath persistiu bravamente.

? Eles têm um exército de duzentos homens ? disse o conde, exasperado. ? E se recrutarem seus inquilinos, eles serão o dobro disso. Mas eles estão seguros em sua fortaleza e sabem que estão. Eles nunca trouxeram o exército. Vai ser o mesmo agora.

Heath se inclinou para trás, o rosto bonito confuso. Chrissie olhou para ele com uma carranca e Heath sorriu para ela carinhosamente e depois olhou para baixo, claramente preocupado.

Alina colocou a colher de lado, observando os dois jovens. Heath havia mudado recentemente: onde era cortês e atento com Chrissie e claramente interessado, ele parecia ter recuado. Sempre um jovem sério, ele se concentrou ainda mais em seus livros e contendas do que antes, permanecendo fora do castelo por horas a fio. Alina se perguntou o que causara a mudança.

? Eu preciso sair, ? disse Duncan de repente. Ele se levantou e empurrou a cadeira, surpreendendo a todos.

Alina olhou para ele. Ele olhou de volta para ela, seus olhos castanhos cheios de amor. Seus lábios se ergueram em um sorriso que ele rapidamente escondeu, mas não antes de Alina ver e se sentir arrepiada de surpresa.

Olhou para baixo e pegou Chrissie olhando para ela com uma expressão de espanto. Ela mordeu o lábio. Chrissie conseguiu desviar os olhos e olhou para as mãos, ruborizada por ter sido pega olhando para Alina.

? Eu também tenho muito a fazer, ? disse Alina ironicamente, quando Duncan saia pela porta. Ele parou e Alina quis sorrir. ? Vou me trancar no andar de cima em breve.

Fez uma tentativa final e valente de tomar um pouco de mingau, mas estava certa de que não guardaria nada. Ela se afastou e ficou de pé. ? Eu acho que vou costurar. Precisaremos urgentemente de novas tapeçarias no corredor, tenho certeza.

Tio Brien a olhou com tranquilidade e não disse nada. O resto deles olhou para ela, surpreso.

? Posso ajudá-la mais tarde? ? Chrissie perguntou, olhando para Alina com os olhos arregalados. Alina achou que ela estava com problemas e queria conversar.

? Claro, ? disse ela, inclinando a cabeça para a menina. ? Eu estarei no meu quarto em breve.

Ela se virou e saiu do salão.

No corredor, seu pulso bateu quando olhou à esquerda e à direita e subiu as escadas. Caminhou rapidamente até seu quarto e olhou em volta. Blaire não estava lá. Alina suspirou, entrou e desmoronou na cama, com o coração batendo.

Ela ficou lá por um minuto, finalmente relaxada. Olhou para o teto com sua abóbada e o arco alto da janela que ela conseguia ver se inclinasse a cabeça para trás.

Depois de um momento ouviu passos no corredor. Ficou tensa.

Alguém bateu à porta.

? Entre, ? ela falou, sentando-se rapidamente e ajustando a tiara que segurava o cabelo para trás de sua testa.

Ela se virou para a porta. Duncan estava lá. Ele estava com um sorriso tímido e encontrou seus olhos, seus próprios olhos gentis.

? Alina?

Ela se sacudiu. Duncan estava aqui, na porta de seu quarto. Havia algo mais contra o protocolo do que isso. Se ele fosse encontrado lá, ambos seriam desonrados e provavelmente banidos. Ela se levantou e caminhou rapidamente à porta, uma estranha faísca que superou o choque.

? Entre, ? disse em um sussurro. ? Feche a porta. Mas não fique muito tempo.

Duncan assentiu. Ele entrou, fechou a porta e se virou para ela.

? Alina...

Seus braços estavam quentes e Alina se adiantou, dizendo seu nome.

Eles se abraçaram. Suas mãos roçaram as costas dela, acariciando-a com um toque suave, mas com uma necessidade febril. Ela estremeceu e se aproximou. Sua boca se moveu sobre a dela, os lábios duros e firmes nos dela. Ela suspirou e abriu os lábios.

Duncan se aproximou e sua língua explorou sua boca. Alina suspirou e fechou os olhos. Seu corpo pressionou contra o dela e seus braços estavam fortes ao redor dela, os ombros sólidos de músculo onde seus pulsos descansavam, a mão em seu ombro e a outra em seu pescoço.

? Alina, ? ele murmurou, quebrando o beijo. ? Minha querida. Eu quero você. Eu a quero tanto...

Alina mordeu o lábio, sentindo o calor dentro de seu corpo e pensou que poderia derreter. Ela sabia muito pouco sobre o que acontecia entre homens e mulheres, embora, em seu trabalho de cura, tivesse visto homens desnudos e soubesse um pouco da anatomia do homem.

Ela sabia agora, que o desejava.

Ele se moveu e se inclinou para beijá-la mais uma vez. Ela suspirou e pressionou seu corpo contra o dele, sentindo seu próprio corpo palpitar com insistente necessidade. Segurou-o perto, os braços embrulhados firmemente ao redor dele.

Ele a apertou contra ele e se inclinou para frente. Ela sentiu o peso dele pressioná-la e deu alguns passos para trás, perdendo o equilíbrio.

Eles pousaram na cama. Ele deitou ao lado dela, seu corpo pressionado contra o dela, os braços apertando-a perto, seus lábios contra o cabelo dela. Ela podia sentir seu próprio coração batendo. Foi maravilhoso estar assim ao lado dele.

Ele se inclinou para beijá-la, seus braços se apertando, o corpo pressionando-a.

Então, de repente, ele engasgou.

Ele se sentou, quebrando o beijo.

? Alina. Eu não posso. Eu... ? ele respirou fundo. ? Se eu ficar, eu vou... ? ele hesitou. ? Eu farei...

Alina sorriu para ele, um pouco triste. Ela também se sentou com as mãos ao lado do corpo. ? Eu sei o que você quer dizer, ? disse ela suavemente. ? Eu acho que você está certo.

Duncan olhou para ela. Ele se sentou, a cabeça baixa, um sorriso triste em seus próprios lábios. Seus olhos castanhos pareciam aliviados, como se estivesse satisfeito por ela entender.

? Eu não quero manchar... nossos votos, ? explicou ele hesitante. ? Eu quero algo diferente.

Alina sorriu. Ela engoliu em seco. ? Eu sei, ? disse ela. Deslizou a mão pelas cobertas em direção a ele, um gesto de conciliação. ? Eu sei.

Ele sorriu. ? Obrigado.

Ela riu um pouco trêmula. ? Nós dois devemos ir, ? disse ela. Prometi a Chrissie que falaria com ela.

? Oh! ? Duncan sorriu. ? Bem então.

? De fato.

Ambos sorriram, embora seus sorrisos fossem melancólicos. Ele foi até a porta e ela o seguiu, amparada em seu ombro. Ele olhou nos olhos dela.

? Eu tenho que fazer como seu tio pede, ? ele disse suavemente. Balançou a cabeça, suspirando, um sorriso cruzando o rosto. ? Eu tenho que me casar com você, Alina. Senão morrerei.

Ela sorriu. ? Não fale da morte.

? Não. Preciso fazer o que ele pede, mas não sei como começar. Ele olhou para as mãos, impotente.

? Bem, ? disse Alina lentamente. ? Eu sei por onde você começa. O que acontece depois, não sei.

? Você sabe? ? Duncan sorriu para ela, um alívio claro em cada traço dele.

? Eu acho que sim, ? disse Alina. Então ela sorriu e acrescentou com firmeza. ? Eu direi a você. Só se descermos ao solar. Nós realmente deveríamos.

? Oh! ? ele riu, nervosamente. ? Sim. Verdade.

Ela o seguiu enquanto ele passava silenciosamente pela porta e pelo corredor, esperando que não saíssem juntos. Quando ela fechou a porta atrás dela mordeu o lábio, escondendo a tristeza. Havia uma parte dela que ansiava por fazer o que quase haviam começado e, embora soubesse que era impróprio, desejava que o tivessem feito. Ela o amava tanto. Precisava dele. Sofria por sentir o que seu corpo parecia saber, mesmo que sua mente estivesse desinformada.

Ele estava à frente dela na escada e ela caminhou levemente atrás dele. No corredor antes do solar, eles se juntaram novamente. A família havia ido embora, os criados limpavam silenciosamente a última refeição.

Alina foi até o sofá e sentou-se com o coração batendo forte. Duncan sentou-se em frente a ela. Ela deu um pequeno suspiro, sentindo-se grata. Se ele estivesse ao lado dela no sofá, não teria sido capaz de pensar com clareza. Ela precisava.

? Eu sei onde você deve começar, ? ela começou em voz baixa.

? Diga-me, ? disse ele, ansioso e urgente.

? A espada pertencia à minha família. Eu me lembro agora de que havia uma espada cerimonial ? que teria sido usada por Donald, o fundador da nossa linhagem. Ela desapareceu quase sessenta anos atrás. Acreditamos que Blackwood a tenha.

? Blackwood?

? Parentes distantes. Eles disputaram nosso direito à espada. Eles também têm várias disputas de limites que os tornaram inimigos de longa data. Se você for visto tentando tirar a espada deles...

? Lorde Brien teria o pretexto para anular seus limites, ? Duncan contribuiu diretamente.

? Sim, ? disse Alina, sorrindo. Ela ficou impressionada. ? Você entende rapidamente.

Ele riu. ? Você respondeu a pergunta para mim e diz que eu entendo rápido? Minha querida, eu estava perdido!

Alina estendeu a mão e pegou a mão dele. Ele se contorceu e olhou nos olhos dela. A intensidade do desejo naqueles olhos castanhos quase rasgou o coração de Alina. Ela apertou a mão dele e soluçou, engolindo lágrimas.

? Fique seguro quando você for, ? disse ela, com a voz crua de emoção. ? Eu não vou tolerar nada de ruim acontecendo com você.

Duncan sorriu. ? Acho bom eu me considerar avisado. Se eu fosse, não te desafiaria com um humor como esse.
Alina inclinou a cabeça para trás, rindo. ? Oh, Duncan. Você é doce.

? Não. Eu sou sensato.

Ambos riram disso. Alina fez uma careta para ele.

? Você está apenas fingindo. Eu conheço você. Você não tem medo de ninguém. Ela sorriu provocativamente.

? Eu tenho sim, minha querida. Meu pai sempre me ensinou que um bom guerreiro é alguém que é prudente. A prudência, ele aconselhou, inclui conhecer seu oponente. E saber quando você é superado.

Alina sorriu para ele. Ela apertou a mão dele. ? Estamos bem combinados, ? disse ela, com voz que continha lágrimas.

Duncan assentiu. Ele também mal conseguia falar. ? Sim, ? ele disse finalmente. ? Sim. Nós estamos.

Eles se inclinaram para frente e as mãos dele apertaram seus braços, puxando-a contra ele. Ela estendeu a mão e apoiou as mãos nos ombros dele. Eles se sentaram assim, olhando nos olhos um do outro, até que ouviram passos no corredor além.

Duncan recostou-se, sacudindo-se. ? Eu deveria ir, ? ele disse baixinho.

? Eu também, ? Alina assentiu. Ela mordeu o lábio. ? Eu não deveria manter minha jovem companheira esperando.

Duncan assentiu. ? Verdade.

Nenhum dos dois se mexeu. Eles ainda se olhavam.

Por fim, Duncan se levantou. ? Eu devo ir, ? disse ele, sem olhar para ela. ? Eu deveria planejar. Eu tenho muito a considerar...

Alina assentiu. Ela mordeu o lábio. Queria chorar. ? Sim, ? ela disse. ? Você precisa. Se eu puder ajudar... ? ela parou.

? Pode ter a certeza que eu perguntarei. ? Sua voz era quente, cheia de admiração. Alina engoliu em seco.

Ele se virou na porta e sorriu, os olhos brilhando. Então ele se virou, novamente, e caminhou rapidamente pelo corredor, indo à esquerda para as escadas.

Alina ficou sentada depois que ele se foi. Ela olhou para o outro lado da sala, mas estava olhando à memória e para o vazio. O vazio do espaço que sua partida deixaria. O vazio que encheria seu coração e a preocupação com sua segurança: ele poderia morrer naquela busca contra o inimigo. Ela mordeu o lábio. Não queria chorar.

Vou precisar encontrar uma maneira de suportar isso. Eu tenho que o fazer.

Ela se levantou e, passando as mãos pelas saias de veludo escuro, saiu para o corredor e para o quarto dela. Conversar com Chrissie, que ela estava quase certa de que acabara de passar pela porta. Que estava esperando lá em cima. Pelo menos, ela pensou, forneceria algum calor nos tempos que se aproximavam.


Capítulo Oito

PARTIDA E DESPEDIDA


Amanheceu, frio como gelo, apesar do outono ainda não tê-los deixado. Um precursor do inverno, com o céu escuro acinzentado de nuvens, além das janelas arqueadas

Alina desceu os degraus até o grande salão. Sentiu como se o inverno tivesse visitado seu coração: congelado e entorpecido. Ela alcançou a grande porta da frente.

? Duncan.

Ele estava no degrau. Nenhuma grande despedida, nenhuma assembléia dos homens de armas e servos para vê-lo sair. Vestido com uma jaqueta e uma calça, acolchoadas, ele esperava na soleira da porta, os cabelos louros despenteados pela brisa gelada. Alina fechou os olhos. Ele andaria por todo o mundo, como um cavaleiro dos contos. Um herói antigo, partindo em uma missão. Ela abriu os olhos novamente, tentando sorrir. Seu rosto estava congelado de tristeza, os olhos arregalados.

? Alina. ? Ele sorriu para ela, seus olhos se acenderam com o calor tingido de tristeza. ? Despedida?

Alina mordeu o lábio. Ele lançou a palavra como uma pergunta, um pedido. ? Vou tentar me sair bem, ? ela disse, engolindo em seco. ? Desejo-lhe bênçãos, Duncan.

Ela se inclinou para ele e ele passou os braços ao redor dela. Seus lábios encontraram os dela, uma promessa de retorno que torceu o coração dela. Alina olhou em seus olhos.

? Você voltará, Duncan MacConnoway.

Ele sorriu melancolicamente. ? Eu considero isso uma ordem.

? Eu considero isso uma promessa.

Ele riu. ? Sim minha senhora.

? Bom.

Ela apertou seu ombro e olhou em seus olhos. Então todas as tentativas de brincadeira ou humor falharam. Ela fechou os olhos, sentindo as lágrimas caírem.

? Vai se cuidar?

? Eu devo. Você também.

? Sim.

Eles se abraçaram novamente. Ela podia sentir o cheiro dele ? o almíscar e doçura de sua pele, o cheiro de alecrim em seu manto de proteção.

? Adeus.

? Adeus.

Ela ficou à porta, a mão levantada em saudação. Então ele se virou. Blaine estava atrás dele à porta e olhou para ele, os olhos arregalados.

? Vamos?

? Sim.

Duncan se virou para ela mais uma vez, olhos nos olhos. Ele acenou com a cabeça mais uma vez e ela mordeu o lábio, assentindo em retorno. Então ela se virou e caminhou em linha reta, subindo o corredor e as escadas. Subiu os degraus de dois em dois, caminhando apressadamente para seu quarto, abrindo a porta. Fechou-a silenciosamente atrás dela e depois desmoronou na cama.

Soluçou.

Depois de um momento, ela se virou. Deitada de costas, o teto arqueado acima dela, não conseguia acreditar que apenas ontem havia ficado ali, com Duncan ao lado dela. Suspirou. Ainda podia sentir o corpo dele ao lado do dela.

Eu o quero muito.

O pensamento a surpreendeu. Ela não tinha certeza do que queria, não exatamente. Relatos vagos do que homens e mulheres faziam sob os lençóis deixavam-na com uma pequena e preciosa ideia da verdade. Ela conhecia o mecanismo da concepção, tendo lido textos médicos, mas pouco mais além disso. De alguma forma, seu corpo sabia mais e doía para descobri-lo de primeira mão.

Por favor, ela pensou então, fechando os olhos. Faça ele voltar. Faça-o voltar para mim, pois eu acho que não posso viver sem ele.

Alina suspirou. Ela se sentou, assoando o nariz em um quadrado de linho. Não poderia ficar sentada ali o dia todo. Havia coisas que ela precisava fazer. Deveres que precisava realizar. Ela se levantou e foi até o espelho. Um rosto longo, pálido e raiado de lágrimas olhou para ela, cabelos negros caindo de onde Blaire havia arrumado naquela manhã, o vestido azul enfatizando a tristeza acinzentada que parecia emanar dela. Suspirou e molhou na bacia, na penteadeira.

? Ora, ? disse em voz alta para o seu reflexo. ? Melhor.

Ela não se sentia muito melhor. Beliscou as bochechas para, pelo menos, dar um pouco de cor nelas, e pegou uma tiara para ajustar o cabelo. Quando terminou, ela inclinou a cabeça para um lado, avaliando seu reflexo. Não estava tão ruim, decidiu pensativamente. Mas ainda parecia triste e abatida.

O que você precisa é de uma visita de Amabel, ela disse a si mesma. Seus olhos negros se aqueceram com o pensamento. Ou, pensando melhor, talvez você pudesse ser poupada dos deveres por alguns dias para visitá-la em Dunwray?

O pensamento era bom e Alina decidiu perguntar ao seu tio. Ao pensar no tio Brien, sentiu o estômago revirar, uma raiva súbita e biliosa perturbando-a. Alina quase nunca se incomodava com nada, mas sua raiva contra o tio era algo que não conseguia superar. Como se atrevia a arriscar a vida de Duncan, enviando-o em alguma tarefa tola destinada a beneficiar suas reivindicações ambiciosas?

Às vezes ela gostaria de poder fazer aquele homem infeliz. Balançou a cabeça. Tio Brien não era um homem mau ? era simplesmente um homem insensato. Incapaz de demonstrar simpatia pelos outros. Ela se afastou do espelho, alisando suas saias planas.

? Milady?

? Sim, Blaire? ? ela perguntou.

? Patrice nas cozinhas estava perguntando por você. Diz que a mãe dela está mal.

? Oh. ? Alina sentiu sua mente mudar instantaneamente para as preocupações de uma curadora. Patrice, a assistente do cozinheiro, possuía uma mãe idosa que repetidamente sofria de uma infecção nos pulmões. Alina estava com o pensamento na lista de ervas que a ajudariam enquanto caminhava até a porta. ? Eu vou descer diretamente, ? disse ela por cima do ombro, para Blaire. Ela encontrou com Chrissie na porta.

? Oh! Olá, ? ela sorriu para a garota.

? Alina! ? Chrissie olhou para ela esperançosa. ? Estava vindo encontrar-me com você! Eu preciso conversar.

? Sim?

? Blaine se despediu de mim esta manhã, ? disse Chrissie enquanto desciam as escadas em espiral em direção ao andar térreo. ? Ele me fez uma promessa de retornar. Eu não entendo o que ele tem, Alina! Por que ele está sempre tão atento a mim? Eu gostaria que às vezes ele simplesmente me deixasse em paz. Ela parecia infeliz.

Alina olhou para ela. Tentou esconder o sorriso no rosto, mas foi sem sucesso. Ficou totalmente surpresa: como a garota não notou o quanto Blaine era afetado por ela e por quê?

? O quê? ? Chrissie disse, parecendo ligeiramente ofendida.

? Eu não quis ofender, querida, ? disse Alina, tocando seu ombro. ? Eu simplesmente não consigo acreditar que você não sabe o porquê.

? Por quê, Alina? Eu não sei! Por favor, me diga? ? Ela perguntou, melancólica.

? Chrissie, querida. O homem a adora. Lamento dizer claramente, mas eu preciso.

Chrissie olhou para ela. ? Alina? É mesmo? ? Ela pareceu horrorizada.

Alina riu e se virou para ela, ambas de pé na metade da escada. ? Eu pensei que você sabia disso, ? disse Alina gentilmente. ? Eu teria mencionado isso há um ano, se soubesse que você era desatenta.

Chrissie estava olhando para ela, os olhos azuis claros, arregalados, a boca entreaberta. ? Eu só... eu nunca notei.

Alina riu deliciada. ? Isso é porque você é muito inocente e para o seu próprio bem, ? ela disse carinhosamente. ? Agora, ? ela acrescentou, vendo Chrissie franzindo a testa, ? estou pensando em uma jornada para Dunkeld. Quer se juntar?

Chrisse olhou para ela. Ela parecia não acreditar no que Alina dissera. Alina? Você... acredita verdadeiramente?

? Sim. Eu preciso pedir ao tio, é claro. Mas tenho quase certeza de que ele concordará. Tenho certeza de que ele pode nos liberar por alguns dias. Nós não ficaríamos muito tempo.

? Alina! Isso seria adorável! Chrissie apertou-a em um abraço.

Alina riu. ? Não me sufoque, querida, ? ela disse gentilmente. ? Agora. Eu preciso encontrar algumas mudas de salsa. Será que algumas foram deixadas na horta?

? Eu acho que sim, ? disse Chrissie, descendo os degraus atrás dela, com passos leves em seus sapatos de cetim macio. ? Ou você poderia olhar no pomar. Acho que vi algumas lá quando levei o Blue para passear...

Blue era seu novo cavalo, um pequeno cavalo de passeio ? leve e rápido ? dado a ela por parentes de Connolly. Ela o amava e cavalgava com frequência, ganhando em suas habilidades. Alina estava certa de que sua jovem amiga insistiria em ir cavalgando, mas ela preferiria pegar a carruagem. Ela precisaria insistir.

? Eu vou olhar lá, obrigada, ? ela respondeu às palavras de Chrissie.

Chrissie seguiu-a até o grande vestíbulo, e então avistou Heath na porta. Ele atravessou, curvando-se para as duas senhoras.

Lady Alina. Lady Chrissie.

? Heath. Aí está você! ? Chrissie disse impulsivamente. ? Eu estava procurando por você, ontem! Eu queria lhe perguntar sobre algo que Frei Bronn falou ontem nas lições.

Alina sorriu para si mesma enquanto ouvia Chrissie e Heath conversando seriamente atrás dela. Ela dirigiu-se aos jardins da cozinha para colher a salsa para administrar a mãe doente da cozinheira.

Depois de vinte minutos na cozinha, explicando a dose e aconselhando Patrice sobre o que fazer para condição de sua mãe melhorar rapidamente, ela subiu as escadas para o escritório do tio Brien. Sentiu crescer a tensão enquanto subia as escadas ? ter que pedir ao tio Brien qualquer coisa era desagradável, especialmente agora.

? Tio? ? Ela bateu, chamando através da porta. A porta estava fechada, mas sempre estivera.

? Alina? Entre, sobrinha. ? Uma voz chamou de dentro.

Alina endireitou sua espinha e entrou, sentindo os primeiros sinais de aborrecimento com o homem. Pelo menos, se estivesse com raiva, não teria medo. O pensamento era, estranhamente, reconfortante. Ela atravessou o limiar.

Ela se viu quase na escuridão, as telas de tapeçaria puxadas diante da janela para evitar as correntes de ar. Um fogo rugia na lareira ao lado da mesa, pintando a metade de seu tio em cores vivas. Alina foi até o centro da sala e ficou diante dele, onde ele estava sentado à mesa.

? Eu tenho um pedido para fazer, ? disse ela calmamente.

? Humm? Você precisa de mais tecido para vestidos, não é? Ou algo mais. ? Ele mal olhou para ela, ocupado com algo escrito.

Alina engoliu a bile que subia por sua garganta. ? Eu quero pedir permissão para visitar minha irmã em Dunkeld.

? Oh! ? Ele ainda não olhou para cima.

? Eu gostaria de ir acompanhada da minha prima Chrissie. E uma escolta de dois homens de armas.

? Oh. ? Então ele olhou para ela. Foi a primeira vez desde que ela entrou. ? Sim. Eu posso a liberar por alguns dias. E Fergal também, sem dúvida. Ele pode escolher dois homens para levar com você. Já Chrissie? Agora... não tenho certeza.

? Tio, ? começou Alina, jogando a cautela ao vento. ? A garota deseja ir. Não é justo para ela mantê-la tão isolada aqui.

Tio Brien piscou para ela. ? Não me lembro de precisar de você para me aconselhar, sobrinha.

Alina mordeu o lábio. ? Não, ? ela disse secamente. ? Eu não posso reivindicar uma parte em qualquer uma das suas decisões.

Ele levantou uma sobrancelha para ela. Ele aparentava ser um homem tentando não parecer divertido. ? Você é muito parecida com seu pai. O mesmo temperamento gaulês. Intolerável nele, mas não muito ofensivo para uma mulher. As francesas possuem seu apelo.

Alina engoliu em seco. O pensamento de seu tio sendo atraído por qualquer mulher era quase tão desconcertante, quanto se o padre da casa piscasse para ela. Ela estremeceu, depois lembrou-se da história que Aili contou.

? Eu aceito sua palavra para isso, ? disse Alina secamente.

? Sim, ? disse o tio, com um olhar estranho e distante no rosto. ? Elas podem ser pérolas sem preço.

Alina engoliu em seco, sentindo-se vagamente enojada com esse novo lado de seu tio. Ela não queria, realmente, pensar em seu tio astuto e distante naquele papel, nem ouvi-lo falar de pérolas inestimáveis. Ela parou. Voltou ao pensamento novamente.

Uma pérola sem preço? Uma pérola. Ela se perguntou...

Ela não queria que ele soubesse que ela havia notado aquela declaração, e então limpou a garganta. Se Chrissie pode ser poupada de suas aulas, não vejo razão para impedi-la de me acompanhar. Além disso, é impróprio viajar sem acompanhante, não é?

Seu tio ainda sorria para ela, com as mãos entrelaçadas e apoiando o queixo. ? Concordo, jovem senhora. Vá para Dunkeld. Leve sua prima com você. Passe três ou quatro dias lá. Volte para mim no final da semana. Você poderá assumir suas obrigações, então.

Alina olhou para ele. Mesmo que ela tivesse entrado com a intenção de persuadi-lo, ainda estava surpresa por ele ter concordado tão prontamente. Ela se remexeu. Por que ele podia desconcertá-la mesmo fazendo o que ela esperava que ele fizesse? Ela não conseguiu evitar um sorriso irônico por sua própria tolice.

Inclinou a cabeça. ? Obrigada tio. Voltaremos no sábado de manhã.

? Bom. Faça isso ? disse seu tio. ? Envie meus cumprimentos para sua irmã. Duvido que ela deseje ouvir isso de mim, mas a etiqueta apropriada é necessária. E lembre Broderick de seus deveres para comigo.

Alina engoliu em seco, sentindo-se um pouco incrédula. Seu tio era completamente egoísta? Ou ele simplesmente apresentava isso ao mundo exterior? Suspirou. Ela conseguiu o que queria. Não importava o que ele pensava dela, de Amabel ou de Broderick. Ela inclinou a cabeça novamente.

? Eu direi, tio. Obrigada.

? Bom. Feche a porta, quando você sair. ? Ele falou. Não estava olhando para ela, já havia voltado para seus livros, novamente.

Alina foi até a porta e fechou-a cuidadosamente atrás dela. Então desceu as escadas e saiu da corrente de ar que soprava da torre.

Parou ao redor da curva e respirou, reunindo seus pensamentos.

Ela havia ido pedir licença por um dia ou dois e havia retornado com informações.

Uma pérola sem preço. Uma pérola. Pode ser que a pérola que foi perdida não fosse um objeto, afinal de contas, mas uma pessoa?

O pensamento era promissor e, descendo as escadas para encontrar Chrissie e planejar a partida, ela não conseguiu deixar de se sentir satisfeita. Precisaria investigar aquilo. Talvez a próxima prova fosse mais compreensível do que se pensava anteriormente.

Enquanto caminhava silenciosamente pelas lajes do corredor do andar de baixo, ela refletia sobre o pensamento, perguntando-se por onde começar a fazer as perguntas para resolver a próxima parte do mistério.


Capítulo Nove

ENTRANDO NA FORTALEZA


? Agora. Lembra-se do que discutimos anteriormente?

? Muito bem. ? Blaine respondeu. Sua voz era baixa e Duncan se aproximou para ouvi-lo. Eles estavam abrigados em um desfiladeiro rochoso, o vento se espalhava ao redor deles, na escuridão da noite. ? Nós vamos para o portão juntos, e depois você parte. Eu vou deixar você ir sozinho.

? Sim, ? disse Duncan em voz baixa. ? E para onde você vai?

? Dou a volta por trás. Para o portão traseiro.

? Sim, ? Duncan assentiu. ? Bom. Precisamos fazer algo a respeito disso ? disse ele, passando a mão do ombro até os pés, indicando a si mesmo. Ele se sentia preocupado, mas também estranhamente leve, como se nada importasse e estivesse feliz quer vivesse ou morresse.

Blaine recuou, olhando para ele. Eles possuíam uma única tocha de pinheiro, a chama tremulava com o vento agitado. Mostrava Duncan, vestido com uma jaqueta de veludo e uma calça de linho, do tipo que um trabalhador demoraria um ano para comprar.

? Sim, ? ele concordou.

Duncan mordeu o lábio. ? Certo.

Sem dizer qualquer outra palavra, ele e Blaine colocaram as capas. Fazia frio lá fora, e o pensamento de tirar a roupa era por assim dizer, no mínimo, desagradável. No entanto, enquanto cavalgavam, ele e Blaine haviam desenvolvido um plano e isso exigia que ele se vestisse um pouco mal. Eles trocariam suas roupas.

Encolhendo os ombros, Duncan cerrou os dentes, tentando não tremer no ar gelado. Ele revirou os ombros, o frio dissipando a força de seus músculos. A luz da tocha de campo, que Blaine havia colocado no chão, brilhava. Ela brilhou em sua pele, delineando-a com as cores vermelha e laranja. Ele olhou para o corpo do rapaz, notando a barriga lisa, o peito largo, o antebraço musculoso. Não é tão ruim, pensou ironicamente. As roupas do jovem se encaixariam?

Eles trocaram. Elas couberam, com algum esforço e repuxando perigosamente as costuras. Em Blaine, a calça e a túnica serviram facilmente. Ele riu.

? Veja! Duncan, senhor. Essa camisa não vai aguentar.

Duncan mordeu o lábio. Ele não queria rir. A camisa do jovem cobria seu peito de um lado até o outro. Podia sentir aquilo se esticando e se preocupou se arrebentaria. Ele se sentia como chumbo derramado em um molde ? esticando as costuras. As calças eram dolorosamente desconfortáveis, as pernas curtas, acima dos tornozelos.

Blaine, em frente a ele, parecendo elegante no traje mais rico, estava olhando-o. Seu rosto estava animado de alegria e ele cobriu a boca, tentando alguma polidez. Ele falhou.

? Senhor! O senhor está horrível.

? Estou ciente disso, ? Duncan olhou para baixo, angustiado. Ele mordeu o lábio e riu. ? Bem, uma coisa é certa ? eu devo ser o mendigo menos afortunado por milhas ao redor! Parece que não tenho roupas novas desde que era um rapaz.

Blaine franziu o cenho para ele. ? Eu não sou tão baixinho, senhor.

Duncan riu. ? Não. Apenas eu sou mais alto que você.

Ambos riram. Blaine bateu nele e Duncan colocou uma mão em sua cabeça, empurrando-o de volta de brincadeira. Eles lutaram por um momento, e então Blaine levantou a tocha.

? Eu irei para longe agora, milorde. Sorte e bênçãos.

? Para você também, Blaine. ? Duncan concordou com firmeza. Ele observou o jovem caminhar até a borda do afloramento rochoso e para os pântanos além. Esperou, observando-o em sua roupa nova. Eu entendo agora, mais do que nunca, por que Broderick pensa muito nele.

Suspirando, tremendo de frio, contou até trinta e depois seguiu seu jovem companheiro pelo gramado.

O vento o fez estremecer. Estava frio fora da proteção do desfiladeiro.

Enquanto caminhava, pensou no futuro. Não conseguiu deixar de se sentir nervoso. Seu plano dependia dele entrar no castelo sem ser detectado, recebendo abrigo à noite. Precisaria encontrar a espada naquela noite e escapar pelo portão de trás, ou correr o risco de ser descoberto.

Ele tinha que fazer isso. Tinha que completar as tarefas. Se não o fizesse, não poderia se casar com Alina. Memórias dela, com seus lábios macios, seu corpo quente, seus seios macios contra ele enquanto estavam juntos, incendiaram dentro dele. Poderia encontrar a força dentro dele para fazer isso se ele se lembrasse do que significava.

Alina. Ele construiu uma imagem dela em sua mente, imaginando como seria voltar e beijá-la, senti-la perto. Beijar os lábios macios, tão úmidos e acariciar seus cabelos macios.

Perdido em pensamentos sobre ela, o que disparou seu sangue e iluminou sua mente, ele não notou que havia entrado em um caminho. Só notou, na verdade, quando a luz apareceu diante dele, no chão. Olhou para cima e viu um portão.

? Quem está ai?

Ele havia alcançado os portões da fortaleza de Tallhill.

Mordeu o lábio, quase xingando. Então enfrentou o guarda. Ele se inclinou para que, curvado, olhasse para o rosto do homem. O vento girou em torno dele, fazendo doer seu corpo de frio. Limpou a garganta.

? Eu não sou ninguém, mestre! Um mendigo, é só o que eu sou! O senhor Blackwood tem uma migalha para evitar a minha morte?

Os guardas se aproximaram. Dois homens, um portava uma lanterna e o outro descansava em uma lança. Eles possuíam uma espécie de arrogância preguiçosa que dizia que eles eram os mestres daquele lugar e estavam desinteressados de sua causa.

? Por favor, mestres, ? disse Duncan, fazendo sua voz baixar. Ele olhou para baixo.

? O que você está carregando? ? Perguntou o homem. Ele pegou a capa de Duncan, soltando-a para expor suas costas. Duncan olhou para o chão. Se ele olhasse para cima, o homem teria visto assassinato em seus olhos.

Segurando sua raiva, Duncan se encolheu. ? Oh! Milorde. Dê-me meu manto. Eu não tenho nada por baixo disso. Apenas eu mesmo, como você vê.

O outro guarda riu. ? Vamos, Camry. O desgraçado está usando as roupas dos pobres... ? ele riu, apontando para Duncan.

O outro guarda também. ? Quantos anos terão essas? Ora! Eu não vi assim, em nenhum outro lugar antes... calças curtas.

Duncan cerrou os punhos ao lado do corpo. Ele nunca se sentira tão escarnecido, tão deprimido antes. Engoliu em seco. Pensou, vergonhosamente, nos mendigos pelos quais passara, jogando um punhado de moedas e se sentindo magnânimo ou simplesmente ignorando-os. Ele nunca havia pensado em como seria fazer parte de um grupo que recebia desprezo ou piedade. No entanto, agora não era hora de pensar nisso.

? Sim! ? Ele disse, sorrindo maliciosamente. ? Eu não tenho roupas, mas tenho estas há dez anos ou mais. Meu pai me expulsou com dez anos e disse que eu era muito idiota para ser fazendeiro.

Os guardas riram novamente. Então ele notou que um deles mudou da zombaria, para uma espécie de piedade áspera.

? Sim, então vá, ? ele disse asperamente. ? Você é inofensivo o suficiente. Vá até a cozinha. Pegue uma sopa.

O outro guarda olhou estranhamente para ele, mas depois encolheu os ombros. ? Sim. Inofensivo o suficiente. ? Ele murmurou, se afastando. Ele alcançou a lança do outro lado da porta e levantou-a, balançando-a de lado. O guarda com a tocha olhou para ele.

? Ande logo, ? ele repetiu. ? O que você está esperando!

Duncan, ajoelhado na grama, olhou de um para o outro com aparente incredulidade. ? Você o que? ? Ele disse lentamente. Mantendo os olhos vazios, ele sorriu para eles como se estivessem flutuando no teto da catedral.

Os dois guardas trocaram um olhar. Eles encolheram os ombros um para o outro. Aquele com a lança se levantou.

? Vamos, ? disse ele enfaticamente. Ele o acertou levemente com o pé, fazendo-o cair à frente de quatro. ? E você, vá. Não fique por aí.

Duncan ficou de pé, arrastando-se para a porta.

? E pegue sua capa, ? disse o primeiro guarda, aquele com a tocha, descuidado. ? É certamente maluco. ? Ele jogou a capa em Duncan.

Ele a pegou e puxou em torno dele, grato pelo calor. Então olhou à torre do castelo em frente a ele. Conseguira! Estava dentro.

Ele mal podia acreditar.

O truque funcionou. Ele havia entrado.

Protegendo-se da luz límpida das tochas presas na parede da frente do castelo, ele andou rápido e silenciosamente, abraçando a parede e a escuridão, à sua esquerda, onde as cozinhas provavelmente estavam.

Ninguém o parou e ele manteve a cabeça baixa. Esperava que Blaine estivesse onde deveria estar. Ele teria que ser rápido e esperava que soubesse onde encontrar o que procurava.


Capítulo Dez

VISITA A UMA IRMÃ


Alina recostou-se contra o assento de couro da carruagem e fechou os olhos. Ela estava cansada.

Em frente a ela, Chrissie estava trabalhando em uma tapeçaria. Ela cerrou os olhos, observando a garota através de seus cílios. Fingir sono era uma maneira de deixar a cabeça dolorida e os nervos em frangalhos, longe da conversa feliz da jovem. Por mais que ela amasse Chrissie, ela estava tensa e cansada, e havia tanto entusiasmo alegre que ela não conseguia encontrar energia para enfrentar.

A carruagem correu suavemente pela trilha entre os pelos pântanos. A rota através da floresta seria sem dúvida mais rápida, mas Alina preferiu pegar o pântano. Com uma escolta de cinco homens armados, parecia mais seguro. Isso também significava que ela poderia dormir e aliviar seu coração dolorido.

O que Duncan estava fazendo agora? O pensamento a fez estremecer. Estava escurecendo rápido, o dia era quase noite agora. Estava certa de que ele havia chegado à fortaleza de Tallhill ? ela sabia que levava dois dias na viagem e ele havia partido na manhã anterior. Ela fechou os olhos, desejando saber onde ele estava e que ele estivesse bem.

Naquele momento, a carruagem sofreu um forte solavanco.

? Oh! ? Chrissie disse, assustada. Ela deu um salto e depois cobriu a boca com a mão quando Alina gemeu. ? Desculpe, Alina, ? disse ela sem fôlego. ? Eu não queria gritar. Sinto muito acordar você.

? Eu estava acordada, ? disse Alina em voz baixa, o som ecoando através de seu crânio dolorido. ? Estou me sentindo um pouco mal. Onde estamos? Você consegue ver?

Chrissie puxou a lona da janela, olhando para fora. ? Estamos à beira dos bosques, ? disse ela. ? Ou, parece que sim. Está muito escuro!

? Estamos indo à esquerda? Você tem certeza ? acrescentou ela, sorrindo. Chrissie sentou-se à sua frente e pareceu momentaneamente confusa. Ela esticou o braço para ver além da janela e depois assentiu.

? Sim.

? Oh. Bom. Alina suspirou. ? Estamos quase lá.

Chrissie recostou-se, parecendo satisfeita. ? Amabel ainda estará acordada?

? Eu acho que sim, ? disse Alina esperançosa. ? Não deve ser muito tarde.

? Bem, ? Chrissie respirou fundo. ? Saímos às oito horas da manhã. Quando perguntei pela última vez, a Fearrick, pela janela, ele disse que eram três horas do relógio ? ela disse alegremente. ? Isso significa que deve ser quase nove do relógio agora, se estou certa, foi há seis horas atrás.

Alina fechou os olhos. ? Bem, então, ? ela disse baixinho. ? Nós deveremos estar lá muito em breve. E Amabel está, sem dúvida, ainda bem acordada.

? Bom, ? Chrissie sorriu contente. ? Estou tão animada para vê-la novamente!

Alina assentiu. Ela sorriu, embora até isso lhe custasse um esforço. Ela se sentia esgotada, como se metade dela estivesse do lado de fora, cavalgando sobre a charneca escura ao lado de Duncan.

Como se para provar que estavam certas, a carruagem chegou a uma ligeira inclinação e desacelerou. Quando Alina estava prestes a pedir para Chrissie olhar pela janela mais uma vez, ela parou.

? Somos de Lochlann! ? Fergal gritou em resposta a alguma pergunta. ? Parentes de Lady Amabel.

Alina se inclinou para trás, o alívio fluindo através dela. Elas chegaram! Elas estavam em Dunkeld.

Depois de alguns minutos de discussão rápida, a maioria dos quais era muito baixa e urgente para ouvir de dentro da carruagem, o portão foi aberto. A carruagem delas passou.

? Estou tão animada! ? Chrissie disse. Alina abriu os olhos e sorriu cansada. Ela deu um tapinha na mão da mulher mais jovem.

? Como eu.

Ela se inclinou para trás e engoliu em seco. Agora que elas estavam ali, o pensamento de ver Amabel a inundou de excitação. Ela não havia pensado nisso durante a viagem, suas preocupações por Duncan preenchendo-a. Agora que elas estavam ali, ela percebeu que seu coração estava batendo e sua boca estava seca.

Amabel. Ela fechou os olhos. Ela não via a irmã há seis meses. Não desde que ela saiu, depois do casamento, mudando-se para a casa do marido em Dunkeld. Ela pensou no rosto de Amabel. O cabelo ruivo comprido e encaracolado. Olhos verdes grandes. Um nariz curto e maçãs do rosto altas, queixo ligeiramente pontudo.

Amabel, ela pensou animadamente. Minha irmã.

Ela ouviu algo na porta e Fergal, o cocheiro de cabelos brancos, apareceu. ? Posso ajudá-la, milady? ? perguntou ele, curvando-se. Alina assentiu. Ela se levantou, notando alarmada quão fraca e cansada ela estava. Se ela se sentia assim, quanto pior era para Fergal, que dirigira o dia todo e possuía mais que o dobro de sua idade?

? Obrigada, Fergal.

Ela estava na calçada diante das muralhas do castelo, o ar balançando os cabelos frouxamente, levantando as mechas soltas. Ela sentiu o peito apertar com antecipação e abraçou-se, tremendo de frio e excitação. Dunkeld era menor do que Lochlann, um lugar mais modesto, construído em uma fortaleza mais recentemente do que sua própria casa, mas ainda assim era imponente, especialmente sob a luz do crepúsculo, suas torres se erguendo no escuro, algumas das janelas iluminadas pelo fogo de dentro.

? Oba! ? Chrissie disse, pulando da carruagem. Alina sorriu e ouviu Fergal rir. Então Chrissie veio correndo até ela e juntas caminharam até o grande salão. Elas estavam no meio do caminho antes de ouvirem passos hesitantes, correndo.

? Alina! Irmã? É verdadeiramente você?

A voz que chamou parou o coração de Alina, atordoado admirado.

? Amabel!

Alina gritou, a garganta cheia de maravilha e prazer. Uma presença cálida se aconchegou nela e ela se sentiu envolvida em um firme abraço. Ela respirou o cheiro de água de rosas e balançou para frente e para trás, abraçando a irmã apertada contra si mesma.

? Amabel, ? ela disse suavemente, acariciando as madeixas vermelhas finas que estavam em um emaranhado descuidado em suas costas. ? Minha querida irmã!

Ela recuou, apoiando as mãos nos ombros de Amabel. Ela olhou para aquele amado e adorável rosto. Seus olhos estavam úmidos e os de Amabel cintilavam, as lágrimas se cravaram nos cílios claros.

? Você é uma tola querida, ? disse Alina carinhosamente. ? Não precisa chorar.

? Você também não, irmã! ? Amabel sorriu alegremente. Elas riram em um abraço esmagador. Riram alegremente.

? Minha querida irmã. Você vai me achatar ? ela riu, libertando-se do abraço. Ela deu um passo para trás, deixando Amabel ver atrás dela.

? Eu não vim sozinha, ? disse Alina gentilmente.

? Chrissie! ? gritou Amabel. Ela correu para a prima, mais baixa, e abraçou-a, acariciando seus cachos macios.

? Ammie! ? Chrissie estava rindo, as lágrimas riscando suas bochechas. Ela soltou um grito quando Amabel a ergueu e depois a abaixou. Alina riu.

? É maravilhoso ver você, ? ela disse sinceramente.

? Vocês duas! ? Amabel disse, olhando de uma para o outra. Com as mãos nos quadris estreitos, ela balançou a cabeça, sorrindo. ? Você não me avisou para que eu esperasse companhia!

Alina mordeu o lábio, sufocando seu sorriso. Sua irmã mais velha era mais organizada do que ela própria imaginava que fosse. Quando partilhavam um quarto de dormir, Amabel possuía um lugar para tudo e era cautelosamente cuidadosa.

? Eu sinto muito, querida, ? disse Alina. Ela passou o braço pelo braço de Amabel e Chrissie seguiu seu exemplo, tomando a esquerda de Amabel. Elas andaram de braços dados para o corredor. ? Não foi planejado.

? Não foi? ? Amabel riu, olhando. ? Alina! O que aconteceu? Você sempre planeja meses à frente! Eu conheço você.

Alina deixou a cabeça tombar de rir. ? Você me provoca, ? ela disse suavemente, acotovelando sua irmã mais velha nas costelas. Ela costumava ser composta e serena, e sim, sempre planejava cuidadosamente. Amabel era a mais imprevisível das duas irmãs. ? Bem, eu queria ver você, ? ela disse cuidadosamente. ? E eu tenho muito o que falar.

? Ah? Amabel olhou para o rosto dela, os olhos se arregalando e estreitando-se novamente enquanto ela parecia avaliar os recentes sinais de tensão. ? Bem, então, ? ela disse, com uma expressão clara. ? Nós deveríamos fazer uma festa! Vou ter que prepará-la para amanhã. Mas esta noite, você deverá se juntar a mim no solar, para o jantar. Você deve estar exausta. E morrendo de fome ? acrescentou ela.

? Sim! ? Chrissie disse ansiosamente. ? Nós estamos.

Todas elas riram.

Juntas, rindo, tagarelando e tão à vontade como há seis meses, como se nada tivesse mudado e não houvesse passado o tempo entre elas, as três subiram as escadas.

No solar, Alina recuou um momento, olhando para o teto e compondo seus pensamentos. Ela estava mais cansada do que ela percebera e sua cabeça girou com ela. O pensamento de enfrentar ainda mais companhia não era inteiramente excitante. Ela olhou ao redor do salão. Iluminado com um brilho alegre do vasto fogo no canto, as paredes revestidas e o teto abobadado, parecia mais elaborado que o solar em Lochlann. As janelas eram um conjunto de altos arcos que se abriam em uma noite escura ? só estas eram menos ornamentadas que as do castelo de Lochlann, a melhor característica daquele lugar austero. Ela se concentrou no homem que estava ao lado do fogo, virando-se para encará-las.

Ele era alto, longo cabelo escuro caindo em suas omoplatas. Mais alto que Duncan, com ombros mais largos, mas, ainda assim, menos encorpados e mais elegantes. Broderick, o irmão mais velho e sério de Duncan.

? Broderick? ? Amabel disse levemente. ? Olhe quem veio nos visitar!

Ele se virou, a luz do fogo brilhando nos músculos e em seu cabelo. Alina, observando-o, viu um rosto que contorcia suas entranhas, por causa da semelhança com seu amado, nariz ligeiramente inclinado por causa de uma lesão de batalha, olhos quase negros e sérios.

? Lady Alina, ? disse ele. Ele parecia satisfeito, um pequeno sorriso brincando naquela sua boca séria.

? Broderick MacConnoway, ? disse ela, sorrindo calorosamente. ? Saudações.

Broderick sorriu para ela. ? É um prazer vê-la novamente, Alina. Bem-vinda à minha casa.

Mais perto, a semelhança com Duncan, seu irmão mais novo, era menos pronunciada. Eles eram pessoas tão diferentes. Onde Duncan era alegre e brincalhão, Broderick era grave e comedido.

? Obrigada, ? Alina assentiu. Teria sido surpreendente bom ter conhecido seu pai, se ela não tivesse ouvido de Duncan que o ancião havia se retirado para a ala oeste, deixando Amabel e Broderick nominalmente no comando.

? Seu solar é lindo, Amabel ? disse ela gentilmente. O sofá estava coberto de almofadas macias e aveludadas, brilhando a luz das chamas. As paredes estavam cobertas de tapeçarias e o lugar brilhava, o carvalho polido com cera de abelha também brilhava. Ela estava certa de que tudo isso era trabalho de Amabel. Elas haviam sido criadas em Lochlann. Embora austero, apresentava os traços do bom gosto inspirado na corte, de sua mãe Joanna. Amabel, aparentemente, a seguira.

? Obrigada, ? disse Amabel, mordendo o lábio, parecendo de repente tímida. ? Eu gosto disso.

Broderick sorriu. ? Melhor espaço do lugar, este solar, ? ele disse com carinho. ? Aterroriza meu pai.

Todos eles riram. Lorde MacConnoway, até bem longe de Dunkeld, era conhecido pelo estilo de vida espartano, ainda mais do que o próprio Brien. O luxo moderno do castelo sob os cuidados de Amabel seria de fato um horror para ele.

Chrissie deu uma risadinha. ? Você deve nos contar a história sobre os javalis novamente, ? ela implorou a Broderick, que se curvou para ela.

? Lady Chrissie. Eu não a cumprimentei. É um prazer. Posso dizer que você se tornou uma linda jovem.

Chrissie corou furiosamente e Amabel riu. Alina também.

? Obrigada, Broderick, ? disse Chrissie, de repente tímida.

Broderick sorriu. ? Sim, vou contar sobre os javalis. Mas primeiro ? disse ele, olhando ao redor do solar ? devemos comer. Você está faminta, eu não duvido! A jornada é muito longa.

Alina, que estava se sentindo fraca de fome, assentiu.

Amabel viu a expressão dela e gentilmente a levou a um assento. Broderick e Amabel se sentaram em frente um ao outro na mesa de carvalho, Alina ao lado dela e Chrissie à direita de Broderick, em frente a Alina.

? Agora, ? disse Broderick, apontando para um criado, que parecia ter se materializado de algum lugar, ? vamos fazer um brinde para que tenhamos muitas reuniões felizes como essa.

O homem deu um passo à frente e encheu as taças prateadas. Alina ergueu a dela e molhou os lábios com o líquido que ele derramou, deixando o vinho rico e inebriante reanimá-la. Ela engoliu satisfeita e virou-se para Amabel.

? Seu gosto é excelente, ? ela elogiou-a pelo vinho. ? Tenho certeza que esta safra vem de muito tempo. Agora. Você precisa me contar todas as novidades.

Amabel riu.

? Não há muito a dizer, querida irmã, ? ela começou, sorrindo. ? Eu acho que a vida é bastante previsível sem você.

As duas irmãs riram. Eles tiveram aventuras mais que suficientes juntas, algumas aterrorizantes. ? Quem sabe a previsibilidade tenha sua vantagem, querida irmã? ? Perguntou Alina.

Amabel sorriu. ? Sim querida. Mas não é emocionante!

Chrissie, ao lado deles, riu deliciada. Broderick ergueu o copo para Amabel e uma criada apareceu com um ensopado rico que cheirava deliciosamente. Alina deixou-a colocá-lo em seu prato e levou uma colher aos lábios, saboreando o molho grosso.

Era, pensou ela, um prazer estar aqui com suas pessoas favoritas, desfrutando de um jantar simples. Ela sentiu a comida revitalizá-la e um brilho voltou a suas bochechas, o ensopado e o vinho a aquecendo enquanto se sentavam e conversavam. Os quatro se sentaram e tagarelaram durante o que pareceu um longo tempo. Alina sentia falta de Duncan ? se ele estivesse presente, teria sido perfeito.

Broderick contou a história que Chrissie pedira ? um relato hilariante de uma caçada que ele e Duncan haviam feito, que terminou com eles em uma copa de árvore por algumas horas.

?... e só conseguimos descer quando Donall, nosso mestre de caça, nos alcançou com uma equipe de cães de caça.

Todos eles riram. Broderick estava rindo e Chrissie riu como se estivesse ouvindo a história pela primeira vez.

Deve ter sido uma bela visão disse Amabel, os ombros balançando alegres.

? Não para nós! ? Broderick disse com um sorriso.

Alina se recostou, sentindo-se calma e à vontade pela primeira vez em mais de uma semana. Aqui com sua irmã, longe de Lochlann, ela poderia esquecer seus sonhos escuros e ficar em paz.

Ela piscou. Amabel estava dizendo algo para ela. Ela estava quase adormecida e não havia notado. Tudo o que ela ouviu foi a palavra ? visitantes.

? Você tem visitantes? ? Ela perguntou.

? Sim, ? explicou Amabel. ? Uma festa de homens de caça ? a caça final da temporada.

? Eles não estarão aqui por muito tempo... não concordaremos com nada que seja muito constrangedor, ? acrescentou Broderick gravemente. ? No caso... ? Ele parou,

Alina olhou para cima quando ele parou, olhando para trás para a porta. Ela se virou.

Encontrou-se olhando uns olhos verdes, que estavam amarelados à luz do fogo, que a olhavam com uma estranha mistura de encantamento e medo, que fez seu estômago apertar com um pressentimento.

Amabel olhou à irmã, sentindo o medo dela. Ela parou.

? Meus senhores, ? ela se dirigiu até os três homens jovens que estavam na porta, bem vestidos e parecendo surpresos. ? Tenho o prazer imprevisto de apresentar a vocês algumas de minhas parentas. Posso apresentar minha irmã, lady Alina de Lochlann, e minha prima, lady Chrissie de Lochlann?

Os três homens se curvaram. Alina engoliu em seco e Chrissie ficou corada quando um dos homens sorriu para ela. Alina estava olhando para o homem na porta. Que ainda estava olhando diretamente para ela, olhos verdes atentos.

? Alina, Chrissie? Posso apresentar os convidados da casa? ? Amabel disse casualmente. ? Eu apresento Lorde Bron, Lorde Camry e Lorde Fergus.

? Prazer em conhecê-los, ? Alina conseguiu dizer, sua voz quase sussurrando.

Chrissie se levantou e inclinou a cabeça. ? Prazer em conhecê-los, ? ela repetiu.

O jovem à esquerda de Alina, Lorde Fergus, que sorriu para Chrissie, piscou.

? Certamente estou honrado, mocinha. Prazer em conhecê-la.

? Um prazer, ? Lorde Bron disse galantemente, inclinando a cabeça na direção de Alina.

O terceiro homem ainda estava olhando para Alina.

? Prazer em conhecê-la, minha senhora, ? disse ele. Sua voz estava em algum lugar entre a zombaria e arrogância, e o sorriso que ele lhe dava estava cheio das mesmas características. Alina engoliu em seco.

Amabel franziu a testa de um para o outro, depois pareceu decidir simplesmente ignorar o que quer que houvesse notado.

? Bem, meus senhores, ? ela disse levemente. ? Por favor, junte-se a nós. Acabamos de nos sentar para jantar.

Os três homens foram até a mesa. Fergus foi se sentar ao lado de Chrissie. Bron foi até a esquerda de Amabel, e Alina fechou os olhos enquanto Camry ocupava o lugar ao lado dela. Duncan, ela pensou um pouco desesperadamente. Onde está você?

Ele se virou para ela, sorrindo, mostrando os dentes muito brancos.

? Bem, então, Lady Alina. Isso se transformou em uma noite surpreendentemente boa, afinal.


Capítulo Onze

PROCURANDO UMA ESPADA


? Sente-se lá, a cozinheira, uma mulher magra e mais velha com um rosto triste, disse resignadamente. Ela mal olhou por cima do cozido que estava mexendo.

? Obrigado, senhora. ? Duncan, mantendo-se no personagem de um mendigo lento, arrastou-se para o lugar, no canto que ela indicou.

? Cuide com a porta ? ela disse secamente. Duncan assentiu e se arrastou para trás, evitando a entrada, para o que ele presumia ser a passagem dos empregados.

Ele viu quando ela mexeu o ensopado novamente, sentindo sua barriga roncar. A luz do fogo tingiu seu rosto de um avermelhado, suor resplandecente. Ele sentiu a boca tensa enquanto o cheiro saboroso do guisado flutuava em sua direção e precisou morder o lábio para não gemer de verdade. Ele não precisava fingir fome ? ele e Blaine haviam viajado à luz, compartilhando um pedaço de pão entre eles, nos últimos dois dias, e algumas salsichas, parcialmente secas.

A cozinheira se manteve de costas para ele, procurando uma tigela grosseiramente esculpida. Ela pegou uma sopa.

? Aqui, ? ela disse desinteressadamente. Ela empurrou para ele e depois se virou. Duncan mordeu o lábio, evitando o esguicho de sopa escaldante em sua mão enquanto se acomodava no prato.

Ela caminhou para o outro lado da cozinha, onde havia uma longa mesa e rapidamente retornou. Então, sem palavras passou-lhe uma fatia de pão. O pedaço de pão era duro, seco e rígido como pedra. No entanto, ele aceitou com gratidão, quebrando um pedaço e amaciando-o na sopa, que não era mais do que um mingau fino. Ele comeu ruidosamente e ela ficou tensa, olhando irritada para ele e depois se afastando.

? Você pode dormir nos estábulos, ? disse ela, se voltando. Duncan assentiu.

Ele terminou o mingau, mantendo metade do pão parecido com uma rocha escondido sob o manto para no caso de que Blaine precisasse. Ele não estava certo de onde eles conseguiriam encontrar suprimentos, ou onde seria seguro parar novamente.

Ele olhou ao redor. A luz estava avermelhada na cozinha, o fogo já estava baixo. Ele conseguia ver uma porta em frente a ele com escadas que levavam até ela. Havia outra porta à esquerda, levando, ele supôs, ao pátio. A porta atrás dele provavelmente levava ao grande salão, um caminho discreto para os empregados entrarem e saírem com as bandejas e jarras. Ele se perguntou onde a porta principal levava. Ele precisava encontrar os alojamentos da família. A espada, ele imaginou, provavelmente estaria lá, não em exibição no grande salão onde o porte de armas era estritamente proibido.

Ele teve uma ideia. Levando a tigela de sopa aos lábios e drenando as últimas gotas, ele se levantou.

? Boa noite senhora, ? ele disse educadamente. Ele colocou a tigela de lado perto de um balde de lavar, e então se dirigiu incerto à porta principal. Ele balançou em seus pés, batendo alguma coisa no chão com um barulho. Como ele esperava, isso atraiu a atenção.

? Whist! Não é por aí, ande! Não é deste jeito. Esta é a entrada do castelo. Vá para o quintal.

Ela apontou à porta a esquerda, a que ficava no topo de algumas escadas de tábuas. Ele adivinhou que era o caminho para o estábulo.

Ele mudou de direção, indo em direção à porta, ainda se arrastando hesitantemente. Ele alcançou a porta e subiu as escadas, escorregando no topo e recuando.

? Misericórdia de mim, ? disse a cozinheira sarcasticamente. ? É uma bagunça certa. ? Ela estava caminhando à porta e ele se endireitou, e então caminhou rigidamente para fora, batendo atrás dele. Ele esperou até ouvir os passos dela vagarosamente voltados para o outro lado do quintal, agradecendo a abertura embaixo da porta que deixava o som passar por baixo.

Ele contou até vinte, depois se arrastou para os estábulos, onde uma tocha queimava em um suporte na parede, espalhando fumaça crepitante e um brilho na noite.

Ele não foi em direção aos estábulos, mas virou no último minuto e se afastou, indo em direção à escuridão em volta da lateral do castelo.

Lá, na luz incerta que se derramava de uma janela alta, um andar acima, ele encostou-se à parede e examinou seu prêmio.

Em suas mãos, o latão e brilhando suavemente na luz, estava a chave da cozinha. Ela havia caído da fechadura quando ele fingiu sua queda. Segurando-a no peito, ele se esgueirou à sombra profunda da parede, aninhando-se abaixo de um beiral, de modo que nenhum guarda acima pudesse vê-lo, esperando pela parte mais escura da noite.


Capítulo Doze

ENCONTRO NO JANTAR


Alina olhou para Broderick desejando que ela pudesse deixá-lo saber em silêncio quão desconfortável ela se sentia. Broderick parecia alheio. Duncan teria entendido, mas seu irmão realmente não notou. Ele estava em profunda conversa com o homem ao lado de Amabel ? Lorde Bron. Desde que Amabel, Chrissie e Fergus pareciam envolvidos em uma animada discussão sobre caminhar pelas florestas, isso deixou Alina como a única pessoa que estava livre para falar com Camry.

Aparentemente, Camry aproveitou essa oportunidade.

? Você parece visitar raramente, minha senhora, ? disse ele. A voz dele fez com que Alina se sentisse como se ela estivesse sendo observada da maneira errada. Ao mesmo tempo lasciva e especulativa, ela sentia cada pergunta como um avanço indesejado.

? Não, ? disse Alina com cuidado.

? Você passa seus dias no castelo, imagino eu, costurando, cantando e dançando.

Alina sentiu a bile subir em sua garganta. Como ele ousava assumir que ela não possuía mais nada para ocupar sua mente? Ele não a conhecia de forma alguma. ? Eu me mantenho ocupada, meu senhor. ? Ela apertou a mão esquerda, deixando as unhas cravarem na palma da mão. Era sua única chance para manter a sanidade.

? Tenho a certeza que sim. Embora eu pudesse pensar em melhores atividades para tal dama.

Alina fechou os olhos. A voz dele provocou-a, e sua mão, descansando na mesa, se moveu para tocar a dela. Ela engasgou.

Amabel se virou para ela, preocupada. ? Irmã, ? ela perguntou. E estendeu a mão como se fosse dar um tapinha nas costas dela.

? Estou bem, ? disse Alina, ainda tossindo. ? Se eu puder ser desculpada?

? Claro, irmã. Claro.

Amabel observou, olhando preocupada para ela enquanto Alina corria à porta.

No corredor ela se dirigiu às escadas. Ela encostou-se à parede, soltando um suspiro estremecido.

Eu nunca conheci um homem assim na minha vida. Espero que ele saia em breve.

Ela fechou os olhos. Na escuridão das escadas estava a salvo, o ar frio da noite soprando do corredor abaixo. Ali ela se sentiu, finalmente, como se ninguém pudesse vê-la. Ninguém poderia machucá-la.

Ela ficou tensa. No corredor atrás dela, ela ouviu passos.

? Alina?

Ela se inclinou para o lado, penetrando na sombra mais profunda. A voz não era de sua irmã. Não era uma mulher, mas sim Lorde Camry.

Eu não estou aqui, ela pensou, desejando poder fazê-lo acreditar. Você não pode me ver. Saia agora.

Enquanto ela ouvia, os pés recuaram, seguindo pelo corredor. Ela respirou. Esperou. Contando até dez.

Ela saiu devagar da escuridão e subiu as escadas. A luz do vestíbulo oscilou quando a tocha da parede balançou suavemente com o vento a sua passagem. Ela ouviu a conversa do solar, ouvindo a conversa ficar mais alta, o riso alegre. Ela queria dizer boa noite a Amabel, e planejava se retirar mais cedo. Afinal, estou muito cansada.

Ela atravessou o corredor e seguiu para o corredor mais curto que levava ao solar. Então ela ouviu os passos.

Lady Alina. É um prazer vê-la aqui. Sozinha.

Alina sentiu seu coração bater. Ela olhou ao redor, mas ele estava entre ela e o solar.

? Desculpe-me, meu senhor, ? disse ela, voltando-se para voltar à escada. Se ela pudesse alcançá-la, ela poderia descer as escadas, se afastar para a escuridão, escondendo-se ali até ele partir.

? Eu não posso, ? disse ele, estendendo a mão e agarrando o pulso dela. Ela olhou para ele.

? Meu senhor, ? ela sussurrou.

? Eu não posso desculpá-la, minha senhora, ? disse ele. Seu rosto magro sorriu para ela, os olhos verdes amarelados brilhando. Ele parecia perigoso.

Alina torceu o pulso, tentando quebrar o aperto dele. ? Você me insulta na casa de minha parente, ? ela disse em um sussurro de advertência. ? Você acha que ela não vai saber disso?

? Não, ? disse ele, inclinando-se à frente. ? Você não gostaria de deixá-la desconfortável, eu acho.

Ele se aproximou e seus lábios, duros e molhados, encontraram os dela.

Alina congelou por um momento. Ela não conseguia pensar no que fazer. Uma mão dele estava em seu ombro, a outra ainda segurando seu pulso, puxando-a para perto. Ela não conseguia romper as garras ? na verdade, ela não conseguia acreditar em quão forte um homem tão magro pudesse ser. Ela sentiu a língua dele deslizando entre os lábios e lutou contra o impulso de mordê-lo. Ela comprimiu os lábios em uma linha firme, torcendo a cabeça para longe.

Ele olhou para ela.

? Você me faz querer você, ? ele sussurrou. ? Sua estranha resistência. Sua ofensa.

Alina olhou para o rosto magro e sorridente. Ela queria muito bater nele. O som da bofetada poderia chegar aos convidados, e ele certamente teria uma marca para mostrar a eles. Ela levantou a mão e depois deixou cair.

? Você acha que é fácil prejudicar os mais vulneráveis, ? ela sussurrou. ? Talvez seja. Mas sempre haverá um acerto de contas, mais cedo ou mais tarde.

Ele olhou nos olhos dela, sorrindo.

? Que interessante esta sugestão, ? ele disse provocativamente. ? Você possui pensamentos incomuns.

Alina fechou os olhos e afastou a mão. Desta vez, ele quebrou o aperto, deixando-a se livrar dele.

Quando ela passou por ele em direção ao solar, ela se sentiu arrepiar. Seu coração estava batendo e todo o seu corpo estava cheio de desgosto e medo. Ela sentiu a raiva aumentar, tentando afastar a humilhação com raiva. Ela parou. Ela conseguia ouvir a conversa agora, estava quase no solar, e o pensamento a congelou. Ela não conseguiria encará-lo no jantar. Ela se virou e caminhou abruptamente na outra direção, a saia se contorcendo repentinamente enquanto ela se dirigia para a pequena sala em frente ao solar.

Ela entrou e fechou a porta. Estava escuro lá dentro. Ela cerrou os olhos e conseguiu distinguir os contornos de algumas cadeiras e uma longa cortina de veludo não muito distante. Ela continuou encostada na porta, rezando para que ele não a tivesse visto se afastar do solar. Por fim, ouviu passos passarem por ela.

Ela respirou e se deixou relaxar devagar. Ela deixou seu peso se apoiar na porta e fechou os olhos, sentindo as lágrimas escorrerem pelas bochechas. Ela não estava certa do que sentia mais fortemente ? raiva, medo ou uma combinação. Tudo o que ela sabia era que não poderia ver aquele homem novamente.

Ela esperou até ter certeza de que ele havia voltado para a festa e, em seguida, saiu silenciosamente pela porta e voltou pelo caminho por onde viera. Ela dirigiu-se pelo longo corredor desta vez e pegou a primeira escada até o último andar. A ala do castelo onde os convidados ficavam estava lá em cima. Se ela olhasse, ela seria capaz de encontrar os quartos reservados para ela e Chrissie.

Ela encontrou dois quartos com lareiras acesas e pegou o primeiro, não se importando com nenhum outro detalhe além de estar ali. Ela encostou-se à porta e deixou a barra de segurança se encaixar. Ela estava segura.

Havia uma cadeira esculpida junto à lareira e ela afundou cansadamente nela. Ela fechou os olhos.

Duncan, ela pensou entrecortada. Onde está você? Eu queria que você estivesse aqui, comigo, ao meu lado agora.


Capítulo Treze

OCORRÊNCIAS INESPERADAS


Duncan espreitava nas sombras.

Estava frio na noite de inverno, muito frio. As sentinelas estavam caminhando ao longo do muro, talvez a dez metros de onde ele se escondia. Ele podia ver que eles estavam com um fogo lá em cima, o brilho intermitente quando eles passavam, encapuzados, patrulhando o comprimento da parede.

Eu preciso ir agora.

As sentinelas haviam mudado há cinco minutos. Eles estavam distraídos, em uma breve calmaria enquanto as velhas sentinelas voltavam à torre de vigia e as novas falavam entre si, discutindo os acontecimentos da noite. Era o melhor momento para alguém tentar algo desagradável.

Mantendo-se nas sombras, Duncan grunhiu, sentindo que seus dedos estavam dormentes, e caminhou, arrastando-se, para a entrada dos fundos da cozinha. Na porta, ele ouviu os ruídos vindos de dentro. O vento havia morrido lá fora, fazendo com que as vozes de dentro fossem levadas mais claramente até onde ele estava. Ele esperou, contando até dez, e não ouviu nada.

Quando teve certeza de que quem quer que estivesse lá fora para outro lugar ou dormira, ele enfiou a chave na fechadura e a girou. Ele sentiu os ganchos se erguerem, um por um. Então a porta se abriu quando ele a empurrou, dando um leve rangido.

Ela se abriu na escuridão. A lenha se queimou, deixando duas poças de brilho vermelho-escuro onde brasas ficavam acesas, prontas para serem empilhadas e preparadas para atear fogo no dia seguinte. Duncan ouviu brevemente. Ele não podia ouvir nada ou quase nada. Uma ligeira subida e descida, quase inaudível, poderia ser a respiração de alguém que dormia ali. Ele escorregou para dentro.

As escadas estavam no escuro e Duncan quase xingou em voz alta quando escorregou, seus dedos dormentes não lhe dando nenhuma segurança nas tábuas estreitas. Alguém se mexeu e ele prendeu a respiração.

Quando ninguém pareceu procurar por ele, ele entrou e fechou a porta. Ela rangeu e depois houve silêncio. Ele deslizou a chave na fechadura novamente, mas não a girou. Ele poderia precisar escapar dessa maneira mais tarde.

Olhando ao redor da cozinha novamente, ele desceu cuidadosamente as escadas de tábuas estreitas e atravessou as lajes. Ele alcançou a porta que levava à casa principal.

Estava trancada. Por sorte, a chave estava na fechadura. Ele virou-a e novamente deixou-a destrancada atrás de si como fizera com a porta externa, para o caso de precisar dela para uma fuga rápida.

Ele estava no grande salão.

Aguçando o ouvido, seu corpo inteiro tenso com a necessidade de sigilo, ele caminhou em silêncio para frente.

O corredor estava quieto, escuro, iluminado por uma tocha talvez a uns três metros à frente. Duncan deixou sua mão tocar a pedra fria da parede da direita, arrastando os dedos ao longo dela. Ele caminhou devagar e silenciosamente pelo corredor.

Onde estou? Onde fica o salão? E os quartos de dormir da família?

Ele fez uma pausa. Ouvindo. Ele não ouvia nada. Depois de um momento, ele pensou ter ouvido o murmúrio dos guardas. O som vinha de uma porta à sua direita. Ele andou os dois passos até ela e ficou diante dela, ouvindo atentamente. A porta estava entreaberta. Abria-se para uma sala escura, com uma parede coberta de janelas arqueadas, e era através delas que o som passava.

Arriscando, Duncan entrou para olhar pela janela. Como ele pensava, o pátio estava abaixo dele e ele podia ver os castiçais com tochas piscando em toda a extensão pavimentada, marcando a entrada do grande salão.

Assumindo que a maioria das fortalezas estava disposta de maneira semelhante, Duncan supôs que ele deveria estar na ala de hóspedes. Era um castelo relativamente pequeno, pela escala de sua casa, Dunkeld, e não na escala de Lochlann, bem maior, onde ele morava mais recentemente. Ele saiu silenciosamente da sala, agradecido de que o piso de pedra estivesse silencioso abaixo dele e continuou pelo corredor.

Ele encontrou o final do corredor e virou à direita. Até agora, seu palpite estava certo de que aquele lugar estava disposto como os que ele já conhecia. Se ele realmente estivesse correto, o solar deveria estar por perto.

Ele seguiu pelo corredor e chegou a uma porta. O luar, prateado e macio, se agrupava no chão. A paz suave e sussurrante daquilo lembrou-o, de alguma forma estranha, de Alina. Ele entrou.

A sala era o solar, como ele esperava que fosse. Uma longa fileira de janelas arqueadas voltadas para o pátio, deixando entrar a luz do sol durante o dia, a luz da lua à noite. Ele entrou, feliz que o chão ainda fosse laje. O fogo havia apagado, as brasas se espalhavam, embora o calor fraco ainda se infiltrasse como se tivesse sido feito recentemente. Ele suspirou.

Se a espada estiver no castelo, estará nesta sala.

Ele olhou em volta. Desejando que ele pudesse acender uma tocha para enxergar, ele olhou às paredes.

A única coisa que conseguiu ver de metal foi na parede acima da lareira. Um brilho suave veio de lá. Alargando os olhos, Duncan se aproximou.

Era uma espada. Uma linda espada. Esforçando-se para ver melhor, Duncan quase suspirou em apreciação. Longa e de dois gumes, a espada era obra de um mestre. A lâmina claramente trabalhada em aço e ferro, os canais para o sangue correr brilhavam orgulhosos em sua lâmina. A borda brilhava com o tom azulado que lembrava do aço espanhol.

Ele chegou até ela. Era pesada e, à meia luz, era difícil ver como ela ficava pendurada na parede. Ele insistiu e, com sorte, seu palpite estaria certo. Dois ganchos haviam sido empurrados contra a parede, um para apoiar a lâmina e o outro abaixo do cabo. Ele levantou-a e, cuidadosamente, retirou-a.

A lâmina havia enferrujado um pouco, o que era bom ? seu único trabalho seria segurar a lâmina, até que ele ficasse ao lado dele. Ele segurou com ambas as mãos, surpreso com o peso dela. Com o cabo na mão, equilibrava-se perfeitamente. A espada havia sido feita especialmente para seu dono original ? quem quer que fosse ? e era obviamente equilibrada pelo seu peso. Por sorte, quem quer que fosse, devia ter sido como Duncan, talvez um pouco mais alto, pois o equilíbrio era perfeito para seu alcance.

Resistindo ao desejo de experimentar a lâmina, ele a envolveu em sua capa. Desejou ter pensado em trazer uma bainha ? apesar de que um mendigo com uma bainha teria sido difícil de explicar. ? ele empurrou o embrulho para debaixo do braço, surpreso mais uma vez com a força da espada.

Nossa essa coisa é estranha, ele pensou. Por baixo de um dos braços, a espada era um fardo desajeitado e ele andava devagar, mantendo-se a certa distância da parede para evitar que o manto se enredasse ou a lâmina encontrasse a pedra e fizesse uma faísca metálica.

Olhando rapidamente ao redor, respirando tenso, Duncan deslizou de volta pelo corredor do jeito que ele havia entrado. Ele caminhou ao longo dela, virando em direção ao local onde o corredor dos criados se abria. Então ele desceu até a cozinha.

A cozinha ainda estava em silêncio e a porta estava, misericordiosamente, destrancada. Ele escorregou para dentro. Entrou na ponta dos pés até a outra porta, notando pela primeira vez a cozinheira dormindo diante do fogo. Ele estava certo de que outros criados dormiam ali ? eles passariam as noites ali ou no grande salão, dormindo nos bancos ? e ele não queria acordá-los.

Ele foi na ponta dos pés até a porta, estremecendo ao levantar a espada ao lado dele. Ele se inclinou à porta. A espada escorregou e o cabo bateu à porta fazendo um som estridente. Ele respirou fundo.

? Gylas? ? A cozinheira murmurou. ? Volte para o sono. Não é manhã ainda.

Duncan ficou tenso e então, quando ouviu a respiração dela ficar calma, soltou um suspiro entrecortado. A porta estava aberta. Olhando em volta para ter certeza de que Gylas não estava lá ? quem quer que ele fosse ? ele saiu.

O ar além estava gelado e ele desejou não ter precisado tirar o manto. Rangendo os dentes contra o frio, ele fechou a porta e depois caminhou silenciosamente por volta da lateral do edifício.

Ele imaginou que o portão estivesse atrás do longo prédio que abrigava a guarda. Caminhando rigidamente, com o peso da espada o esgotando, dirigiu-se para lá, na esperança de que qualquer sentinela assumisse que era um homem de armas ou uma sentinela a caminho das privadas. Ele não havia ido longe, apenas contornando a parte de trás dos edifícios, quando o grito soou.

? Quem vai lá?

Duncan congelou. Ele recostou-se contra a parede, o coração batendo em seu peito. Eles o viram. Quando ele estava prestes a gritar, decidindo que poderia responder, gritando ? Adair, ? ou qualquer outro nome mais popular que ele pudesse pensar, ouviu mais gritos. Eles vieram de mais adiante.

? Seu desgraçado!

? Fora!

? Busque os homens!

Duncan ficou olhando.

Eles não estavam olhando para ele, mas para outro homem, que estava andando abaixo da parede principal do lugar. Enquanto Duncan observava, com o coração batendo forte no peito, viu o homem sacar sua espada e correr até a guarda.

O guarda uivou e desembainhou a espada, e logo todos os homens de armas na vizinhança estavam se aproximando deles. Naquele momento, dez outros homens apareceram como se viessem do nada, vestidos de modo similar ao primeiro, e correram para os guardas.

Duncan se aproximou do pandemônio, imaginando se era possível que Blaine tivesse conseguido uma pequena força de combate e estivesse agora, resgatando-o. Quando se aproximou, no entanto, percebeu que não era esse o caso.

Blaine não estava em nenhum lugar para ser visto, e esses homens eram homens esfarrapados e sujos das colinas, do tipo que vivia em fortes de madeira, intocados, atacando vilarejos e cidades quando podiam. Ele podia ouvi-los gritando e ele mal conseguia entender suas palavras, um dialeto rude que raramente ouvira antes e que não conseguia entender. Era certo que Blaine também não o faria e, portanto, não deveria estar com eles.

Enquanto Duncan observava, horrorizado, um dos homens das colinas esfaqueou um jovem da guarda, com idade não superior a quatorze anos. Quando o jovem caiu de joelhos, o homem levantou a adaga, prestes a dar um golpe mortal. O jovem se virou para Duncan que estava com os olhos arregalados em apelo mudo.

? Não! ? Duncan uivou e, uivando, se jogou na batalha. A espada estava sob o braço dele e ele a levantou em ambas as mãos quando a capa caiu para revelar a lâmina de aço azul. A luz do fogo das tochas lambia ao longo da lâmina e fazia dela uma coisa viva em suas mãos, uma chama azul de aço e vingança.

Não parando para pensar, Duncan empurrou a espada no agressor do jovem em um golpe que poderia ter cortado o homem ao meio. Duncan piscou surpreso quando ele caiu para trás. Ele não estava acostumado à espada ainda, nem à sua qualidade. Não teria adivinhado o que poderia fazer.

A força dos homens caiu sobre ele, parecendo decidir, provavelmente com razão, que ele era o inimigo mais perigoso no campo naquele momento.

Os guardas, notando que Duncan parecia estar do lado deles, lutaram com força renovada. Duncan ouviu o raspar de uma faca perto da orelha e virou-se bruscamente. Um homem estava ao seu lado, com o punhal puxado e o escudo na outra mão. Duncan baixou a espada com força contra o escudo, estilhaçando-o como se ele fosse mingau. O homem foi levado de costas e, sensatamente, decidiu correr.

Enquanto Duncan lutava, o espaço parecia claro. Entre a dúzia de guardas e ele mesmo, eles rapidamente superaram a ameaça.

? Os bastardos foram embora? ? gritou um dos guardas. Ele estava conversando com um homem ao lado de Duncan.

? Sim.

Todos pararam. Olhou ao redor, incrédulo, no caminho dos homens que ficam surpresos ao descobrir que ainda sobreviviam. Duncan respirou fundo, ofegando quando seu coração disparou e seu corpo esfriou no ar frio. Naquele momento, tudo o que ele podia fazer era ficar parado e esperar, olhos desfocados, enquanto seu corpo percebia que estava completamente exausto. Sua respiração ofegante e suor escorriam por seu rosto apesar do frio congelante lá fora.

Quando seu coração desacelerou e voltou ao seu padrão habitual e seu braço descansou ao seu lado, ainda doendo, a espada apertada em uma mão, o peso quase demais para um braço somente, especialmente um cansado, os guardas pareceram repentinamente notá-lo.

O homem ao lado de Duncan olhou para ele estranhamente. Ele limpou a garganta, claramente pronto para perguntar alguma coisa. Duncan estremeceu, esperando pela inevitável pergunta.

Naquele momento, o silêncio foi quebrado. Duncan ouviu o estrondo de cascos cruzando a primeira laje e depois a grama. Alguns homens a cavalo apareciam em volta dos estábulos, um ou dois com tochas. Eles olharam para os guardas.

? Al, Walter? ? O homem da frente perguntou. ? O que aconteceu aqui?

O guarda logo atrás de Duncan, que devia ser Al ou Walter, limpou a garganta.

? Nós não sabemos, senhor, ? ele ofegou. ? Nós estávamos aqui, em guarda. De repente, essa tropa apareceu. Ele fez um gesto para abranger os homens que jaziam ao redor deles. Duncan fez uma contagem e viu quinze corpos. Dezesseis, se ele contasse o jovem guarda, ainda ajoelhado, a respiração entrando em suspiros lentos.

Ele podia ver que o jovem estava ferido. Ele estava ofegando a cada respiração e segurando seu ombro, com o rosto acinzentado à luz da lâmpada. Olhando para os cavaleiros que observavam e esperando que eles não estivessem prestando atenção, ele caminhou lentamente em direção ao jovem. Ajoelhou-se ao seu lado. Se os homens a cavalo o vissem, eles o interrogariam, mas ele não poderia deixar um jovem morrer.

? Filho?

O jovem olhou para ele, parecendo estar mais apavorado dele do que dos outros. ? Dói, ? disse ele lentamente.

? Deixe-me ver, ? sussurrou Duncan. Olhando para os guardas mais uma vez, que pareciam ainda interrogar os dois homens de armas, ele se abaixou e olhou à ferida que o jovem relutantemente mostrara.

Era um buraco terrível. Entre a clavícula e o ombro, uma lâmina o havia perfurado. Duncan sabia muito pouco sobre as coisas médicas, mas sabia que, se o golpe tivesse sido mais um centímetro de cada lado, o jovem estaria morto. Como era de se esperar, o sangue escuro brotou a ferida, ameaçando derramar-se agora que sua mão foi movida.

? Aqui, ? disse Duncan, pegando o lenço que deveria estar em seu bolso. Ele se lembrou que estava com as calças de Blaine e amaldiçoou. Ele rasgou sua camisa. Ele apertou-a contra a ferida.

? Segure firme, ? ele explicou, com a voz deliberadamente baixa. ? Precisamos estancar o sangue.

O jovem pegou-a com dedos sem força. Enquanto ele segurava lá, o sangue já estava encharcando, ele olhou para Duncan, os olhos enormes.

? Você me salvou, ? disse ele. O tom era calmo, mas enfático. ? Eu estaria morto.

Duncan respirou. ? Tive a sorte de conseguir, ? disse ele. Ele sorriu. O jovem sorriu timidamente de volta, os olhos brilhando.

Enquanto conversavam, uma voz chamou a atenção.

? Você! Eu não sei quem é você.

Duncan fechou os olhos. Foi um dos guardas montados e eles o viram. Ele se levantou, olhando em volta. Ao fazê-lo, todos os homens de armas pareceram perceber que não o conheciam. Eles ficaram olhando.

Um deles limpou a garganta.

? Eu... você não é...? Eu vi você!

Duncan fechou os olhos por um momento. Ele conhecia o homem. Era o guarda do portão. Um dos mais grosseiros. Agora eles sabiam quem ele era. Eles se perguntariam por que um mendigo idiota estava no castelo, com uma espada ao seu lado que eles não pagariam com o pagamento de um ano, nunca. Ele olhou ao redor.

Seus olhos encontraram os do jovem no chão. O garoto olhou para trás, acenando para Duncan. Ele parecia querer que Duncan se virasse. Duncan se virou. Ele viu o cavalo atrás dele. O homem não estava prestando atenção, ouvindo o testemunho do homem de armas do outro lado do pátio onde Duncan e os homens estavam. Duncan entendeu o jovem.

Curvando-se para recuperar a espada, que havia largado quando foi ajudar o jovem, ele se virou para encarar os guardas. O aparente líder estava observando-o atentamente, mas o homem com o cavalo ainda estava distraído, ainda ouvindo a história de mendigos e capas, do guarda. Enquanto ele se movia, os homens subitamente o notaram. Entretanto, já era tarde demais. Duncan atacou o homem no cavalo.

Era quase impossível fazê-lo com a espada na mão. Desejando ter uma bainha, sabendo que não, ele enfiou a espada pelos laços de suas calças e rezou para que ela ficasse lá. Então ele se lançou ao cavaleiro, envolvendo seus braços ao redor dele.

Ele estava pronto. Ele estava sentado atrás do homem, que já estava tentando se virar, rosnando, com a mão no cabo da espada. Duncan o segurou e, sendo mais alto e com a vantagem de já estar agarrado a ele, deixou-se cair de lado. O homem resistiu, inclinando-se para se colocar contra ele. Duncan simplesmente o soltou.

O homem caiu atordoado. Exausto e contando com seus anos de cavalgadas, Duncan pegou as rédeas e correu para o portão de trás.

Que estava, por algum milagre, desbloqueado. Os guardas que deveriam estar ao redor, haviam se juntado à batalha. Duncan o atravessou.

Com o coração batendo forte no peito, aterrorizado, exultante e impressionado, Duncan saiu correndo pelo portão dos fundos e entrou na noite.

Ele ouviu quatro cavaleiros seguindo-o. Apertando a mandíbula, rezando para que seu cavalo estivesse acostumado a andar na floresta, que o caminho através da floresta estivesse desbloqueado, e que seu cinturão sustentasse e mantivesse a espada ao lado dele, ele entrou na floresta.

Os quatro cavalos mergulharam atrás dele.

Duncan esperou até que ele estivesse o bastante à frente para que eles não o vissem claramente e desviou bruscamente à esquerda.

Esperando no intervalo entre as árvores, Duncan prendeu a respiração. O estrondo de patas em perseguição cresceu e diminuiu.

Ele esperou, respirando fundo. Seu cavalo estava exausto. De cabeça baixa, as orelhas abaixadas, a pobre criatura ofegava e os dois permaneciam silenciosos, esperando que o silêncio descesse ao redor deles no lugar mais perigoso: o bosque, à noite.


Capítulo Quatorze

UMA DESCOBERTA


A luz da manhã foi derramada,

Suave e cinza, através das janelas altas e finas da torre do Castelo Dunwray. Ela brilhava em três mulheres, sentadas no sofá e nas cadeiras de madeira entalhada, um fogo rugindo na lareira ao lado delas.

? Eu senti falta disso, ? suspirou Amabel.

Ela se sentou em um sofá em frente à Alina e Chrissie, as almofadas acolchoadas sobre ela. Com seus longos cabelos ruivos em desordem, confortável, suas mãos postas diante dela em seu colo, ela parecia completamente em paz. A manhã pálida atravessava as janelas, jogando pequenas manchas de ouro ao longo de seu cabelo.

Alina sorriu para ela. ? Eu também, irmã.

Ela fez uma pausa. A noite anterior a desconcertara, ou talvez, ela não tivesse notado antes. Olhando para a irmã agora, ela acreditar que não. Seus olhos descansaram na cintura da irmã, e naquele momento foi como se um raio a tivesse atingido e ela viu, naquele raio, a menina de seus sonhos. Joanna

? Irmã? ? Alina perguntou, levantando os olhos para o rosto da irmã mais velha. As duas se entreolharam. Amabel parecia preocupada.

?Alina? O quê?

Alina sacudiu a cabeça. Sorriu. Era uma notícia maravilhosa! Sua irmã estava esperando uma filha! Ela não deveria ser tão medrosa sobre tudo isso. Ela olhou de lado para Chrissie, tentando decidir se deveria dizer alguma coisa. ? Eu sinto muito, ? ela acalmou seu rosto preocupado levemente. ? Não foi nada. Eu acho que estou cansada.

Amabel lançou-lhe um olhar penetrante como se dissesse que não acreditava nela, e então ergueu a mão até os olhos, apertando os olhos de um jeito que era tão típico dela e Alina sentiu um sorriso levantar os cantos de sua boca. É tão bom vê-la novamente.

? Bem, eu, por exemplo, estou feliz com uma desculpa para descansar aqui um pouco, ? disse Amabel, perfurando o linho com uma agulha enquanto falava. ? Esses visitantes e as intermináveis festas de caça de Broderick! ? Ela balançou a cabeça, fazendo uma careta.

? Esta é uma de muitas? ? Alina perguntou.

Amabel suspirou. ? Todo o outono tem sido uma procissão interminável deles! Eu digo a ele que ficaremos sem coisas vivas para ele atirar, mas você acha que ele escuta? ? Ela balançou a cabeça, passando a mão pelo fogo de seus cabelos.

Alina começou a rir. Por mais que desejasse que a caçada não estivesse presente e desejasse muito esquecer a presença deles, não conseguiu deixar de achar aquela exasperação divertida. ? E é claro que eles esperam serem alimentados todas as noites, ? disse ela, adivinhando como sua irmã amava e odiava as exigências disso.

? Muito bem! ? Amabel assentiu vigorosamente. Ela puxou a linha de algodão através do linho com um floreio, olhando para Alina e Chrissie com um rosto que era ao mesmo tempo exasperado e sorridente.

? Você tem festas todas as noites? ? Chrissie perguntou melancolicamente.

Alina e Amabel riram.

? Não é tão divertido quanto parece, eu lhe digo, ? disse Amabel, sorrindo para Chrissie. ? Declaro que, se ouvir ? Oh! Lassie, venha se casar, ? tocada pelo velho Norries, no violino mais uma vez, vou matá-lo com a faca.

Alina não conseguiu evitar uma gargalhada. Logo elas estavam todas rindo.

? Oh! Irmã, ? disse Alina, enxugando os olhos com um lenço, lágrimas de alegria riscando seu rosto. ? Deveríamos nos ver mais vezes.

? Nós devemos, ? Amabel disse em poucas palavras. ? Na verdade, vocês duas devem comparecer a uma festa de caça.

? Amabel! ? Chrissie disse alegremente. ? Nós poderíamos? Ela olhou de Amabel para Alina, com os olhos arregalados.

? Não vejo razão alguma para que não ? Amabel deu de ombros, levantando os ombros delgados por baixo de um vestido de veludo verde.

? Nós poderíamos arranjar alguma coisa, ? Alina concordou pacificamente. ? E talvez possamos concordar em trocar músicos com você por um tempo. O tio adoraria a chance de atormentar seus convidados e você pegaria Webster novamente.

Amabel franziu o cenho. O velho violinista do castelo era, possivelmente, ainda mais tortuoso que o novo em Dunwray. Alina riu.

? Não se atreva ? brincou Amabel.

Alina bateu as pálpebras inocentemente. ? Eu faria isso?

Todas elas riram.

Enquanto Alina estava sentava, o calor e a companhia confortável ao seu redor, ela se sentia em paz, mais do que durante muito tempo. Eu gostaria que as coisas pudessem ficar assim para sempre, ela pensou melancolicamente.

Se ela se casasse com Duncan, ela e Amabel poderiam compartilhar intermináveis manhãs como esta, costurando juntas na torre. Seria maravilhoso. Ela não precisava perder isso. Onde estava Duncan agora? Ela fechou os olhos, pensando nisso, mas não conseguiu ver nada; somente cinzas rodeadas de branco. Ele estará acordado? Inconsciente, em algum lugar? O pensamento a distraiu e ela furou o dedo com a agulha. Ela colocou na boca, provando o sangue.

Amabel viu o gesto. ? Tecido duro e horroroso! ? Ela descartou o tecido com raiva. ? Você gostaria de um dedal, querida?

Alina sacudiu a cabeça. ? Estou bem. Apenas uma pequena marca, ? ela disse, olhando para o dedo. Ela inclinou a cabeça para costurar novamente. O silêncio continuou em torno dela, quebrado apenas por Chrissie, contando os pontos.

? Um, dois, três...

Alina sorriu, olhando para ela com a cabeça inclinada sobre o linho em que ela trabalhava, a luz brilhando suavemente no cabelo e na pele. A garota estava crescendo rápido e quem sabia onde sua vida a levaria? Espero que não muito longe, pensou Alina. Ela amava Chrissie, em algum lugar entre irmã e filha, e ela não queria pensar em perdê-la de seu círculo alegre.

A outra mudança, claro, seria quando Joanna nascesse. Quando Alina sentou-se ali, observando Amabel, ela conseguiu ver como a gravidez já havia tocado seu corpo. Sua pele brilhava e ela parecia imersa em um contentamento que ela nunca vira antes. Ela parecia confortavelmente feliz. A presença da criança era como um segundo brilho dentro dela, um hesitante e cintilante.

Eu acho que ela está com a criança por cinco meses. Talvez seis. Não mais. Alina calculou, supondo que ela daria à luz em janeiro, o mais tardar. Se ela olhasse com cuidado, ela podia ver agora, um inchaço suave sob a mão protetora de Amabel em sua cintura.

A criança da minha visão era filha de Amabel. Era claro agora. O longo cabelo ruivo era como a mãe, apenas o cabelo era liso, não ondulado, como o de Amabel. Ela possuía um rosto delicado e, se Alina pensasse com cuidado, os olhos eram cinzentos e grandes. Quando ela a viu em seus sonhos, ela estava, talvez, com dez anos de idade. No entanto, ela estava à beira da imagem, uma visão do que seria possível, não do que era. Ela fazia parte de um futuro que nunca aconteceria se a busca de Duncan provocasse uma guerra.

Alina estremeceu, embora a sala estivesse quente. O que aconteceria para lembrar o fato de que essa criança nunca viveria, era terrível demais para contemplar. Amabel seria morta? Ferida? Perderia a criança? Ela não queria pensar nisso. Todas as possibilidades eram tão horríveis quanto às outras.

Eu não vou deixar esses pensamentos me intrometerem aqui, roubando-me agora.

Ela se inclinou para trás, olhando ao redor da sala. Amabel levantou os olhos da costura.

? Estou contente que os cavaleiros estão fora por tanto tempo, ? disse ela. ? Acho que a festança só recomeçará ao anoitecer. O jovem Bronn é um sujeito interessante. Um descendente de Duncraigh, bem distante.

? Oh! ? Alina olhou para ela. ? Verdade? ? Esse era o nome dos agressores que atacaram Lochlann! Ela tinha certeza disso.

? Sim, ? Amabel assentiu. Ela olhou para Alina estranhamente. As notícias do ataque ainda não haviam chegado aqui, Alina sabia.

? Ele aparece aqui muitas vezes? ? Ela perguntou suavemente. Chrissie estava olhando para ela com os lábios entreabertos. Evidentemente, ela queria dizer algo sobre o ataque e se perguntou por que Alina ainda não contara. Alina lançou a ela um olhar firme. ? Estou surpresa, já que eles estão a dois dias de viagem daqui, pelo menos.

? Sim ele vem. Não exatamente regularmente, devo dizer. Veio no outono passado e neste novamente. As visitas são irregulares, mas longas. Ela sorriu. ? Temos planos, brinca Broderick, para torná-lo um MacConnoway honorário, já que ele praticamente mora aqui mais do que nós. Ela sorriu. ? O tio gostaria disso.

? Ele gostaria? ? Alina estava agora confusa. Seu tio e o de Duncraigh eram adversários aparentemente ferozes. Porque o tio Brien gostaria que eles recebessem Bronn?

? Ele sempre falou de uma aliança com os Duncraigh, ? explicou Amabel, não parecendo notar o quão confusa sua irmã parecia. ? Pelo menos, lembro dele mencionando-a. Eu estava no grande salão, talvez pela primeira vez. Ela sorriu melancolicamente com a lembrança. As damas do castelo começavam a frequentar jantares aos treze anos, aprendendo a etiqueta e os modos da sociedade, aprendendo os laços de lealdade e dever.

Chrissie sorriu fracamente, olhando de Alina para Amabel. Ela era consideravelmente mais nova, e as histórias de seus anos mais jovens a interessavam claramente.

? O tio queria se aliar com eles então? ? Ela perguntou.

? Sim, ? concordou Amabel. Ela colocou o bordado de lado e bateu na mão enquanto pensava. ? Eu me lembro dele mencionar uma ou duas vezes depois. Ficou comigo porque me lembro quando ele parou de falar sobre isso, ? acrescentou. ? Foi bastante assustador, na verdade. Eu estava sentada à sua esquerda naquela noite, e o homem à sua direita, algum lorde ou conde ? não me lembro de quem ? perguntou-lhe: ? como está a lealdade com os Duncraigh? ? O que mais me lembro foi o rosto do tio. Ela fez uma pausa, perdida na memória. ? Ele ficou rígido. Você sabe, do jeito que ele faz quando está prestes a perder a paciência. Ele estava sorrindo antes disso, mas o sorriso desapareceu e seus olhos ficaram totalmente vazios. Ele disse que havia acabado. Ele não disse mais nada. Quando o homem perguntou mais, ele cuspiu as palavras para ele. ?“Está acabada”, disse ele. Ele se virou e pediu ao criado para encher seu copo. Depois se sentou pensativo a noite toda. Eu raramente o vi tão irritado.

Alina recostou-se na cadeira, pensando. Ela certamente havia visto o tio com raiva, pelo menos, ou mais ? parecia que ele gostava de Amabel, mas colidia com Alina, frequentemente. O que Amabel disse a interessou. Por que ele desejava se aliar com o Duncraigh, e então se virou tão bruscamente? Seus planos para fazer a aliança foram desviados?

Havia uma maneira fácil de selar a lealdade, e isso era através do casamento. Alina piscou surpresa. Na época, Amabel comentou que estava com treze anos e Alina com doze anos. Chrissie estava com seis anos. A tia Aili estava viúva e morava em reclusão. Quem ele usaria para garantir essa aliança? De toda a família do castelo, a maioria era jovem demais, falecida ou reclusa. Todos, ela percebeu lentamente, exceto o tio Brien.

Ele era a pessoa do castelo! O pensamento a surpreendeu. Ela levou a mão aos lábios, escondendo um sorriso surpreso.

? Alina?

? Mm? ? Ela levantou grandes pálpebras suavemente.

? O que é isso? Você parece perdida em pensamentos.

? Eu estava apenas pensando sobre o tempo, ? disse ela. ? Se vai chover, ou se um passeio depois do almoço seria possível.

? Uma cavalgada! ? Chrissie disse alegremente. ? Eu quero dar uma volta.

Todas elas riram. Alina sorriu para Amabel. ? Você deveria vê-la! Ela é bastante especialista agora.

Chrissie corou. ? Eu não sou especialista, Alina. Não exatamente ? ela moveu os pés, sentindo-se claramente embaraçada com a atenção.

Amabel sorriu. ? Tenho certeza que você se sai muito bem. Alina não exagere.

? Não, ? disse Alina secamente.

Todas elas riram.

Sentada ali, no calor e na paz, com duas das pessoas mais favoritas ao seu redor, Alina se sentia contente. Ela só queria que Duncan estivesse ali. Que ele pudesse estar seguro.

Tudo o que ela via quando pensava nele era o cinza incerto e vacilante. Ela não tinha conhecimento de onde ele estava, se ele vivia. Quando ele voltaria.


CAPÍTULO QUINZE

CHEGANDO EM CASA


A névoa estava espessa e vacilante. Duncan, cavalgando ao lado de seu companheiro, não conseguia ver um pé à frente através do cinza espesso e oscilante que se acumulava ao redor dele. Ele se virou para fazer uma pergunta a Blaine, mas ele não estava lá.

? Blaine?

? Sim, senhor?

Uma voz ecoou pelas névoas. Ele estava três passos atrás de Duncan. Enquanto esperava, descansando o cavalo, ele ouviu Blaine cavalgar em direção a ele.

? Esta é a planície antes do castelo, não é?

? Abençoado se for, ? Blaine disse inocentemente. Ele olhou ao redor. ? Eu acho que sim, senhor, ? disse ele depois de um momento. ? Existem aqueles carvalhos. O alto e oco. É isso aí, sim é?

Duncan se esforçou para ver para onde ele apontou. A névoa pairava espessa e cinza ao redor deles, mas ficava mais abaixo, de modo que os topos das árvores apareciam. Os pinheiros foram cortados à metade, de modo que ele viu os topos pontiagudos na altura aparente das crianças, onde por baixo da neblina havia bosques antigos. Antes da planície que atravessavam, era uma floresta e estranhamente na sua borda havia crescido um conjunto de antigos carvalhos. Quando sua visão clareou, ele viu as formas contra o cinza esbranquiçado da névoa. Blaine estava certo.

? Uau!

Ele suspirou, inclinando-se à frente no pomo da sela, deixando o alívio drená-lo da tensão. Ele estava tenso desde antes de chegarem ao castelo. A noite lá dentro havia sido uma provação que ele não queria lembrar, cheia de luz, sangue e conflito. A perseguição pelo bosque havia sido pior do que aquilo. Ele havia cavalgado nas florestas por cerca de uma hora, procurando por Blaine. Foi por algum milagre que ele havia fugido deles e, depois de meia hora de assobio, usando o sinal planejado, o encontrou novamente, esperando calmamente por ele como se nada tivesse acontecido.

? Noite longa?

Duncan fez uma careta. Percebendo que Blaine provavelmente não poderia vê-lo, ele fungou. ? Por que você diz isso?

Blaine riu. ? Desculpe senhor. Deve ter sido terrível.

? A sua foi ruim o suficiente, ? Duncan disse rispidamente.

Blaine riu. ? Sim, mas foi tudo culpa minha! A fantasia foi movida por causa de uma raposa.

Duncan riu. Blaine havia contado a ele o que havia acontecido enquanto saíam das florestas e seguiam às planícies. Ele havia esperado na posição como ele havia dito que faria. Ele havia desativado os guardas no portão de trás ? derrubando-os em uma rápida sucessão, com um cajado de madeira. Então uma raposa, de todas as coisas possíveis, saíra, olhando os homens, sem dúvida, e achando que eram algo comestível. As sentinelas viram o movimento quando a raposa arrastou um corpo e Blaine tentou assustá-la. Eles foram alertados e vieram correndo para o portão. Blaine havia voltado para a floresta para esperar até que as sentinelas se retirassem. Ele estava tentando encontrar o portão novamente quando Duncan o encontrou.

? Foi bom, no entanto, ? Duncan assentiu. ? Imagine se eu fugisse a cavalo com você lá. Além disso, eu poderia nunca ter encontrado o caminho se você não estivesse onde estava, esperando por mim.

Blaine riu. ? Você teria encontrado o caminho. Mas a raposa me salvou, certo o suficiente! Tenho certeza de que aquelas sentinelas se perguntaram porque no céu elas saíam dos portões por causa de uma raposa!

Duncan sorriu. ? Ela nos salvou, ? disse ele. ? E estamos quase de volta.

? Eu sei. ? Blaine concordou. ? E você a tem!

Duncan assentiu, sentindo o cabo da espada. Ele mostrara ela a Blaine assim que estiveram a uma boa distância do castelo e juntos haviam construído uma espécie de bainha, embrulhando-a em tiras de pano de suas mantas e fazendo uma alça, por meio da qual ela poderia ficar em volta do ombro de Duncan. Escondida sob o manto, esperavam que ela não fosse vista.

? Como está o seu ombro, senhor? ? Blaine perguntou.

Duncan suspirou. ? Não é tão ruim, Blaine. ? Na verdade, doía, machucado, pois alguém o havia golpeado com força, com a parte chata de uma espada durante a luta. Ele possuía cortes em suas mãos e uma ferida na lateral, mas nada que precisasse de cuidados imediatos.

? Devemos voltar, senhor, ? disse Blaine. Eles começaram a andar, arriscando não mais do que uma caminhada, querendo poupar seus cavalos para no caso de uma perseguição. Eles também não queriam se arriscar a andar rápido demais quando tudo que viam um passo à frente estava escondido pela neblina. Ambos haviam experimentado andar em pântanos ou cercas onde eles não sabiam o que estava lá. Em alta velocidade seria fatal.

? Nós devemos, ? disse Duncan, em seguida, fez uma pausa. Ele não estava certo do que seria melhor. Ele precisaria deixar a espada em algum lugar seguro, mas, agora que eles estavam fora do castelo, ele e Blaine com espadas e belos cavalos entre eles, ele estava relutante em continuar.

? Senhor?

? Desculpe, Blaine. Eu estava pensando em para onde ir em seguida.

? Não iremos para casa? ? Blaine perguntou cuidadosamente.

? Eu estava pensando... talvez devêssemos continuar?

? Para onde? ? Blaine perguntou, soando, se qualquer maneira, muito ansioso para ir.

Duncan mordeu o lábio. O problema era, claro, que ele não fazia ideia. Ele precisava encontrar uma pérola. Ele não fazia ideia de onde. As pérolas vinham da Itália a um custo substancial, e uma pérola seria mais provável na corte de Edimburgo, do que em qualquer cidade local.

? Acho que devemos voltar, ? disse ele, cansado. ? Precisamos entregar esta espada, de qualquer forma. ? Ele estendeu a mão e deu um tapinha com carinho, revelando a borda irregular de sua capa.

Ele olhou para a camisa de Blaine, mordendo o lábio. O homem mais jovem o amaldiçoou quando ele a trouxe de volta com rasgos. Eles haviam se trocado na floresta, tentando não gritar quando o frio os atingiu. Quando Blaine percebeu que uma parte dela estava danificada, ele bateu em Duncan com força, mas quando Duncan explicou, ele assentiu gravemente, claramente feliz por ele ter ajudado o jovem.

Agora, eles cavalgaram pelo frio doloroso, indo em direção a Lochlann. Casa. Era estranho, pensou Duncan, distraído, que chegara a pensar nisso como sua casa. Ele havia vivido lá alguns meses no total, era verdade. No entanto, não foi isso, o que fez parecer com sua casa, era ela.

Alina

Sua mente se encheu de pensamentos sobre ela. Seu rosto de traços finos, franzindo a testa enquanto pensava. Seu corpo mole, pressionado contra o dele quando deitaram juntos, enquanto ele acariciava aquele cabelo sedoso e seus lábios carnudos e macios separados abaixo de seu próprio...

? Senhor!

Duncan esconjurou quando Blaine gritou. Ele estava perdido em pensamentos, distraído por seus pensamentos sobre Alina. ? O quê? ? Ele disse, a mão contra o coração martelando com medo.

? Você quase caiu em um buraco, senhor, ? disse Blaine simplesmente.

Duncan olhou para ele e depois olhou para baixo. Ele estava certo. Havia uma vala correndo pelo campo. Não profunda, mas profunda o suficiente para tropeçar com um cavalo, se o cavaleiro estivesse desatento. Ele suspirou.

? Obrigado, Blaine, ? disse ele, com cortesia suficiente. ? Eu estava pensando e muito.

? Allus disse que pensar poderia ser perigoso, senhor, ? disse Blaine alegremente. ? É por isso que eu não exagero.

Ambos riram. Duncan se juntou a Blaine quando eles percorreram o caminho, cuidadosamente, através do único lugar onde a vala se tornava um pouco mais rasa, batendo alegremente em seu ombro quando eles chegaram a um chão firme. ? Você fala bobagem, ? disse ele suavemente. ? Eu nunca soube que um homem use sua cabeça, para fins melhores do que você.

Blaine corou. ? Obrigado, senhor. ? Ele limpou a garganta. ? Mas meu avô, ele fez allus dizer que pensar demais era a certeza de matar um homem. Allus disse que cobrir a cabeça como um cavalo em um lugar incendiado, é o caminho para lutar batalhas.

Duncan olhou para ele, completamente confuso. ? O quê? ? Ele riu.

Blaine apenas sorriu e ergueu os ombros enquanto cavalgavam.

Quando ele pensou sobre isso, fazia sentido. Em um incêndio, os cavalos eram vendados para que pudessem ser levados em segurança sem se assustar com a visão do fogo. O avô de Blaine provavelmente quis dizer que era melhor ser voluntariamente cego para algumas possibilidades do que deixá-las pará-lo.

? Seu avô disse algumas coisas inteligentes, ? disse ele francamente.

? Ele também disse algumas malucas, ? disse Blaine com alegria indecente. ? Tipo: eu vou marcar a mão em seu rosto. Ele queria dizer que ele me bateria, mas por que ele disse isso? ? Ele riu. ? A mão dele não estria na minha cara, para começar!

Ambos riram.

Duncan cavalgou ao lado dele, sentindo seu ânimo se levantar. Eles estavam indo para casa, eles possuíam a espada e, em breve, agora parecia provável, ele seria capaz de se casar.


Capítulo Dezesseis

PARTINDO E CHEGANDO


Alina ficou nos degraus.

Ela engoliu em seco, desejando não sentir como se estivesse prestes a chorar. Ela olhou para Amabel, que estava diante dela.

? Eu gostaria que você ficasse ? disse Amabel suavemente.

? Eu não vou dizer adeus, ? insistiu Alina. ? Eu não posso deixar você.

Amabel suspirou. ? Sim, querida, estou grávida, ? disse ela, cobrindo o abdômen de forma protetora com dedos longos e finos. Elas haviam conversado sobre a criança na noite anterior, quando estavam juntas. Alina havia dito apenas que a criança seria uma menina. Ela olhou para Amabel com preocupação enquanto continuava, ? mas o parto é com meses de folga. Você terá tempo para voltar e cuidar de mim então.

Alina sorriu, embora o sorriso estivesse tingido de preocupação. ? Suponho que seja verdade, disse ela cuidadosamente. ? Mas vou voltar mais cedo do que isso.

Amabel riu. ? Eu gostaria disso, minha querida! Eu poderia ter você aqui sempre. Talvez isso seja provocado.

Alina mordeu o lábio. Ela havia dito à irmã algo sobre as tarefas que Duncan enfrentava, sentindo que era errado manter o conhecimento para si mesma. No entanto, ela não queria pensar nisso em demasia, pois o medo de discutir isso causaria uma terrível falta de sorte. Ela sorriu tristemente. Você nunca foi supersticiosa, ela se repreendeu. Mesmo assim, não era necessário se arriscar desnecessariamente.

? Sim, talvez, ? ela disse despreocupadamente. Ela sorriu para sua irmã. ? Em qualquer caso, não pense que você verá minhas costas por muito tempo.

Amabel riu. ? Minha querida, anseio por seu retorno.

Alina sorriu. Ela pegou a mão e se encontrou enredada em um abraço firme. Ela apertou a irmã ardentemente, respirando o cheiro de água de rosas e madressilvas que se apegavam a ela. Ela sentiu uma sensação quase física de dor ao se separar dela depois de tão pouco tempo, juntas.

? Eu vou ver você em breve, ? disse ela, mas sua voz era um ruído rouco. Ela piscou os olhos ferozmente, afastando as lágrimas. Ela não chorou quando elas se separaram, seis meses antes. Eu não sei se vou vê-la novamente. A ameaça do sonho pairava sobre ela, tornada ainda mais real pela descoberta de que parte daquilo era verdade. Joanna nasceria. Ela vai nascer. Eu farei tudo o que puder para que isso aconteça.

? Vejo você em breve, irmã, ? disse Amabel pegando a mão dela e apertando-a. Alina apertou de volta. Ela se virou então, deixando as lágrimas caírem.

? Adeus, Amabel, ? Chrissie disse com tristeza. Ela deu um passo atrás de Alina e Alina ouviu Amabel dar um pequeno grunhido quando ela colocou os braços ao redor da garota, segurando-a com força.

Alina olhou para o outro lado da floresta, deixando as duas terem seu momento particular, juntas. Ela não escutou a conversa de voz baixa, mas olhou através da floresta para onde os pinheiros limpavam a névoa, sua mente já na longa jornada para casa.

Eu deveria ter trazido mais bordados, ela pensou, recordando o pedaço de linho que ela havia trabalhado no dia anterior. Estava sendo preenchido rápido, e ela precisaria de mais trabalho se quisesse se distrair na jornada de volta.

Quando ela considerou pedir a sua irmã por mais suprimentos, ela viu um movimento à beira da floresta. Os homens estavam caçando e ela dissera adeus a Broderick mais cedo naquele dia. Seus hóspedes já estavam no pátio, esperando que os cavalos fossem preparados, e ela fora poupada da despedida. Ela olhou para o pontinho á beira da floresta, sabendo com uma sensação de quem o cavaleiro era.

Era Camry. Ela olhou mais forte, sentindo frio misturado a algo parecido com o medo, enquanto suas feições se tronavam rudes.

Ela estremeceu. O bosque terminava talvez a uns doze metros de distância, de modo que não era difícil identificá-lo, seu longo manto azul surgindo entre a névoa, em contraste com o mundo cinza, marrom e verde em torno dele. Seu rosto era muito pequeno naquela distância para ela ver uma expressão, mas ela imaginou que estava retorcida em um olhar malicioso. Como fora na noite anterior. Ela estremeceu novamente, desejando ter uma capa também, para se aquecer.

Ela se sentiu paralisada por seu olhar observador, hipnotizada como uma presa caçada, observando o caçador se aproximar. Tensa, esperando e incapaz de se mover. Enquanto ela observava, ele levantou a mão em um gesto zombeteiro de despedida.

Alina engoliu a bile. Ela se virou para Amabel e Chrissie, para onde elas estavam nos degraus, o braço da mulher mais velha em torno da mais nova, conversando em uma conversa fácil.

? Devemos ir agora, ? disse ela com urgência.

Amabel levantou a sobrancelha com um olhar gentil e questionador. Chrissie pareceu desanimada.

? Já? ? Ela se agarrou à mão de Amabel, de repente como uma criança novamente, buscando segurança.

Amabel olhou estranhamente à irmã. ? O que é isso, querida? Você está parecendo como se tivesse visto algo horrível.

Alina balançou a cabeça, piscando para clarear os olhos. ? Sinto muito. Eu fui tola. Eu só tive uma sensação de... eu não sei. Ela encolheu os ombros, sentindo-se boba. ? Eu não posso descrever. Desculpe por ter lhe incomodado.

Amabel e Chrissie pareciam preocupadas.

? Irmã, confio no seu desconforto, ? disse Amabel firmemente. ? Se você acha que não deveria viajar hoje, há muito espaço aqui na fortaleza! Você poderia facilmente passar uma noite ou duas mais... E não precisaria enfrentar riscos desnecessários.

Alina ficou tensa. O simples pensamento de ficar ali por mais uma noite, com aquele estranho de olhos negros zombando dela das sombras do corredor, fazendo-a acordar, suando e com medo, prestando atenção nos ruídos no corredor, para não ser ele, era horrível. Ela não percebeu até aquele momento quanta tensão ela suportava sozinha. O homem desconcertou-a como ninguém conseguiu.

? Não, irmã, ? ela falou apressadamente. ? Seria bom estar longe. Meu sentimento não foi... uma premonição ? ela disse honestamente. Não foi mesmo. ? Foi apenas desconforto geral.

? Você se preocupa comigo, irmã ? disse Amabel gentilmente. ? Eu acho que isso a deixa mais preocupada do que deveria.

? Talvez, ? Alina concordou com cuidado. Ela sabia porque estava preocupada e essa faceta não tinha nada a ver com sua preocupação com Amabel. Ou Chrissie. Foi tudo por si mesma.

? Eu mostrei a você o que Bronn me deu? ? Chrissie disse, sorrindo. Ela estendeu uma meada de fita de seda, branca e bonita.

? Isso é lindo, ? disse Alina com admiração. O jovem lorde se encantou com Chrissie, embora parecesse vê-la como uma irmã mais nova ou uma filha. O cuidado dele com ela mudou Alina, e a fez pensar melhor dele, do que talvez ela faria. O jovem é uma benção para sua família, ela pensou calorosamente. Ela recordou a discussão sobre os Duncraigh no dia anterior, lembrando a história da aliança e a possibilidade do envolvimento do tio.

Vou perguntar a Aili sobre isso quando voltar, ela decidiu. Ela olhou para Chrissie, que segurava a mão de Amabel com firmeza. Ela amava Alina como mãe, mas idolatrava Amabel.

? Vamos? ? Ela perguntou gentilmente.

A mulher mais nova esticou o lábio, fazendo beicinho. ? Se você diz, ? ela disse cansada. Alina sorriu.

? Não vamos ficar longe por muito tempo. Talvez você possa voltar mais cedo do que eu. Com o consentimento do Tio e talvez Blaine para acompanhá-la, tenho certeza que você poderia ficar mais tempo. ? Ela escondeu a ideia no fundo de sua mente, sabendo que Chrissie deveria encontrar uma gama maior de pessoas. Amabel certamente a entreteria mais do que o tio.

Chrissie estava olhando extasiada, mas com a menção de Blaine ela franziu a testa. ? Talvez Heath possa vir comigo, ? ela disse. Alina suspirou. Em seu coração, ela desejava que algo acontecesse para elevar o homem de armas profundamente amoroso ao status correspondente ao dela. Ainda assim, ela sabia como era improvável. Heath era de longe mais adequado, e talvez fosse melhor que Chrissie o preferisse.

? Se você gostar, ? ela concordou, encolhendo os ombros. Ela olhou para a floresta, mordendo o lábio ansiosamente. O cavaleiro havia ido embora.

Bom, ela pensou, aliviada.

Chrissie viu seu rosto e obedientemente apertou Amabel em um abraço de urso. ? Adeus, Amabel. A vejo em breve!

Amabel beijou o cabelo macio da menina. ? Adeus, Chrissie. Eu rezo para você retornar imediatamente!

Ela riu. ? Eu também! ? Ela pareceu se iluminar instantaneamente e Alina sorriu para si mesma. Se o tio Brien recusasse seu pedido, ela não o deixaria fazê-lo sem uma contenda severa.

Ela se aproximou para encarar sua irmã. ? Adeus, irmã, ? disse ela. As palavras grudaram e saíram como um sussurro, mal ouvidas. Amabel assentiu.

? Adeus.

Elas se abraçaram ardentemente e quando se afastaram, as duas estavam com os rostos úmidos de lágrimas.

Alina andou cuidadosamente atrás de Chrissie, descendo os degraus até a carruagem que as aguardava. Ela subiu e afundou de volta no assento de couro, cansada pela emoção. Só então se virou e olhou para onde Amabel estava, diante do portão, a mão pálida erguida em despedida.

Ela levantou a própria mão, acenando para ela. Então, quando a carruagem se afastou, ela a deixou cair. As lágrimas correram e ela mordeu o lábio, não querendo fazer barulho e alarmar Chrissie.

Pelo menos, ela pensou, quando a carruagem roncou lentamente pela trilha que levava primeiro através de parte da floresta e depois à terra dos pântanos, eu verei Duncan novamente.

Ela e Chrissie haviam saído há quase uma semana. Havia, ela esperava, uma possibilidade de que ele já tivesse retornado. Que ele estaria lá esperando quando a carruagem chegasse.

Ela fechou os olhos, tentando senti-lo. Quando ela fez isso, tudo que viu foi a luz do sol. No dia cinzento e ameaçando chuva, ele disparou seu coração de esperança. Parecia que ele estava vivo, longe dela. Talvez o sol não fosse tão físico quanto o sinal de esperança, e de felicidade. Em algum lugar, Duncan estava vivo. E feliz. Esse pensamento a sustentaria até o castelo de Lochlann.


Capítulo Dezessete

VOLTAR PARA LOCHLANN


Estava escuro.

Escuro, molhado e chuvoso. O sol surgira mais cedo, brilhando na neblina e ajudando a secar suas capas. Duncan ficou contente com a breve pausa da chuva gelada e chuviscante. Mesmo que ela não durasse.

? Imagino: vai estar quente, quando chegarmos lá, ? disse Duncan para Blaine. Blaine bufou.

? Não fale isso até estarmos sentados lá em frente à lareira, senhor - aconselhou ele. ? Não até que eu esteja quente o suficiente para não sentir dormência em mim, outra vez.

Duncan riu. Ele estava entorpecido também, suas pernas, há muito tempo foram perdendo a sensação de cavalgar no frio. Ele ficaria mais do que feliz em chegar ao castelo. Agora, o terreno era conhecido por eles. Eles atravessaram os pântanos enquanto havia luz e chegaram ao ponto em que subiriam as colinas, quando a noite caiu. Eles estariam lá em breve.

? Quase lá, ? ele disse alegremente. Se Blaine houvesse comentado, sua resposta foi cortada porque seu cavalo cambaleou para o lado. Blaine estava prestes a esconjurar, mas só saiu metade da palavra e aí ele riu.

? Ele nos colocou novamente no caminho, senhor! Ele encontrou a estrada, senhor.

Duncan piscou surpreso. A estrada de paralelepípedos que atravessava o pântano e subia até a colina elevada, onde Lochlann se encontrava, estava, de fato, abaixo deles. Fez o mesmo com seu cavalo, virou à direita e a marcha mudou, andando mais devagar e rolando nas pedras, no caminho escorregadio pela chuva.

? Estamos quase lá, ? ele disse novamente. Blaine riu.

? Você me provou que eu estava errado, senhor, ? ele disse alegremente. ? E você estava mesmo certo.

Duncan sorriu. Ele não se importava com quem estava certo. Tudo o que ele se importava ? tudo o que ele pensava no momento ? ficaria quente e seco mais uma vez.

Os cavalos certamente sentiam que calor e comida também estavam se aproximando, pois aceleravam o passo, subindo ligeiramente em direção ao castelo.

Duncan cavalgava como se estivesse em transe, cansado demais para fazer qualquer coisa, a não ser manter os olhos meio abertos e se manter acordado. Casa. Alina. Casa. Ele se manteve acordado com a ladainha, girando e girando em sua cabeça. Casa. Alina...

? Quem vem lá?

Duncan saltou, mordendo o lábio de surpresa. A sentinela!

Eles estavam na porta. Depois de toda aquela espera e saudade, ele se aproximou, quando menos esperava. Ele sorriu, exausto demais para sentir uma leve sombra de alívio.

? Eu sou Duncan MacConnoway, ? ele respondeu para onde a sentinela estava, talvez dez metros acima deles. Sua voz estava rouca. Ele limpou a garganta e depois gritou novamente. ? Duncan MacConnoway e Blaine MacNeil.

? Seu assunto? ? A sentinela questionou cautelosamente de sua posição. Duncan mordeu o lábio, sentindo a paciência se esvair dele. Ele estava com frio, exausto, molhado e cansado. Ele queria um fogo, roupas novas e algo para comer. A sentinela estava sendo deliberadamente difícil.

? Eu sou um convidado daqui, ? disse ele com firmeza. ? Você sabe disso tão bem quanto eu. ? No instante em que ele disse isso, sentiu seu coração afundar. Tudo o que ele precisava era que o homem insistisse em provas, o que envolveria chamar o conde, que provavelmente jantava e não gostaria de ser incomodado. Eles poderiam ficar esperando ali, por uma hora, por causa disso. Ele estava prestes a se virar novamente, amaldiçoando, quando uma voz chamou de perto de seu ombro.

? Tenha bom senso, Alec, ? Blaine berrou alegremente. ? Você sabe quem eu sou eu. Agora pare de me enlouquecer, antes que eu chegue lá e pegue você.

Duncan não pôde deixar de rir. O próprio Blaine provavelmente tinha dez anos, pelo menos, a menos que a sentinela no portão, mas ouviu o homem pigarrear bruscamente. Blaine era, afinal de contas, o mestre de armas e, durante toda a sua juventude, fora respeitado pelas habilidades que o haviam deixado crescer tão rapidamente.

? Sim, senhor.

Um momento depois, o som de metal, raspando na madeira, disse-lhe que a barra de bloqueio estava sendo içada, os portões abertos. Um instante depois, quando a madeira gritou, em protesto contra as dobradiças mal lubrificadas, o portão estava aberto e ele e Blaine cavalgavam lado a lado, juntos, em direção ao grande salão. Ele não acreditava que logo sentira um maior alívio.

Ele e Blaine deixaram seus cavalos nos estábulos, um prazer em si mesmos ao sentir alívio com o calor e a comida, farelo trigo caindo de baldes enquanto os moços das baias corriam para cuidar deles. Então, exaustos, a espada sob o braço, em seu invólucro oculto e áspero, eles se dirigiram para o salão.

? Mingau de aveia, senhor. E ensopado. E presunto. E grandes jarras de cerveja quente, grandes como sua cabeça, ? Blaine suspirou.

Duncan riu. ? Tudo bem, Blaine. Alguns passos mais e estaremos lá. Sua própria mente estava cheia de anseios mais complicados. Ele queria, mais que tudo, ver Alina.

Subiram a escada até o corredor e foram admitidos no corredor. O calor atingiu Duncan como um punho, queimando sua medula. Ele começou a suar, os dedos começando a inchar com o calor.

? Calor sangrento. ? O calor o desconcertou, e ele sussurrou o esconjuro para Blaine. Que riu?

? Eu estou vermelho como groselha, senhor, ? disse ele, apontando para o rosto corado. As bochechas ardiam e seu rosto estava manchado com o brilho laranja avermelhado, o suor escorrendo em sua testa larga, escurecendo o cabelo já úmido.

Duncan riu, estremecendo quando seus próprios dedos incharam com o calor, ficando vermelho quando a circulação retornou. Os dois sentaram-se no banco onde os homens de armas estavam sentados, enquanto os criados, que acabavam de servir o jantar, foram solicitados para buscar cerveja. Duncan pegou o copo de cerâmica e deu um grande gole, sentindo-se desequilibrado enquanto o fluído quente corria por seu sangue, chegando em sua cabeça.

?... E bolos de aveia e castanhas e grandes tortas, ? Blaine continuou a ladainha quando os servos voltaram, carregando tigelas de sopa fumegante.

Duncan riu. Ele estava feliz por eles terem trazido algo menos substancial, pelo menos para começar, pois seu estômago estava duro e vazio e ele sabia que qualquer alimento sólido teria voltado direto para cima novamente. Ele e Blaine se sentaram em silêncio sociável, sentindo o formigamento doloroso da vida voltando ao nariz, dedos e orelhas, brancos pelo congelamento. A espada estava apoiada no joelho de Duncan.

Graças a Deus eles me deixaram entrar. A presença de uma arma afiada, que não fosse a de uma faca de comer, era estritamente proibida no grande salão. Escondida e acolchoada como a espada estava, foi observada curiosamente pelos guardas, mas eles deixaram Duncan carregá-la quando ele e Blaine insistiram. O peso dela apoiado em sua perna era agradável, um lembrete de que eles realizaram alguma coisa. A primeira prova.

Tudo o que ele precisava fazer era entregá-lo ao seu senhorio.

Quando ele havia comido, satisfeito, ele se levantou surpreendentemente rápido. Blaine, de cabeça para baixo sobre o terceiro prato de sopa, olhou para cima aturdido.

? Eu vou subir, Blaine, ? disse Duncan. Ele tocou a espada de ao lado dele. Blaine assentiu.

? Quer que eu vá junto, senhor? ? Ele parecia melancólico e Duncan riu, balançando a cabeça.

? Não, Blaine. Você fica aqui. Termine seu jantar. Eu não vou demorar muito.

? Sim, senhor. Obrigado.

Ele pegou sua caneca de cerveja. Quando Duncan saiu silenciosamente pela entrada dos fundos, ele estava começando a cantar. Ele sorriu, feliz por ouvir o jovem voltar à rotina.

Ele atravessou o corredor, iluminado com luzes bruxuleantes em candeeiros nas paredes, depois acenou com a cabeça para os guardas que ficaram em posição de atenção quando ele passou. Ele deveria fazer um esforço para aprender mais sobre seus nomes, assim decidiu. Balançando a cabeça, subiu as escadas levemente na escuridão cinzenta, dirigindo-se à torre oeste. Até Brien.

Quando ele chegou, andando levemente através dos corredores e subindo as longas escadas, ele parou. A porta estava fechada. Ele bateu. A espada estava estranhamente pesada em seu braço e ele estremeceu, revirando o ombro dolorido.

? Entre.

Ele abriu a porta.

Brien estava sentado à sua escrivaninha, com um robe comprido e escuro ao redor dos ombros. Um fogo queimava na lareira, a luz mais branca das velas inundando a mesa diante dele. Ele olhou para cima quando Duncan entrou, colocando a espada ao seu lado com uma leve saudação.

? Oh, ? ele disse suavemente. ? É você. Saudações.

Duncan olhou para ele. De todas as respostas que ele esperava, quase a total indiferença era a última. Ele limpou a garganta. ? Eu estou de volta, bem sucedido, com a primeira tarefa, meu senhor. ? Ele estendeu a mão para a espada ao seu lado.

? Vamos ver isso, ? Lorde Brien disse suavemente. Ele se esticou sobre a mesa e a pegou da frente de Duncan, segurando-a facilmente apesar do peso. Ela poderia ter sido feita para ele. Duncan piscou. Ele supôs que era ? pelo menos para um membro da família que provavelmente possuía a mesma altura e força que Brien.

Duncan assistiu como ele desembrulhou-a. Ele viu seu rosto brilhar com calor, um sorriso movendo seus lábios.

? Ah, sim, ? Brien suspirou. Na luz, a lâmina brilhava como uma prata acinzentada, os padrões fantasmagóricos da solda, fazendo traços pretos e azulados na lâmina, como se tivessem sido inspirados por um fantasma. Ele sorriu. A espada era um objeto de primorosa beleza, o cabo liso, mas decorado com uma única pedra verde, um cabochão de pedra escura de cor musgo que Duncan nunca havia visto.

Ele o observou, com o coração estranhamente tocado, enquanto o velho segurava a lâmina, fazendo um gesto com ela, e então, descansando-a sobre a mesa.

? É bom que ela tenha voltado para nós, ? disse Lorde Brien com simplicidade. ? Você fez bem e eu agradeço a você.

Duncan limpou a garganta, sentindo um nó estranho. ? Eu posso me retirar para meus aposentos agora? ? Ele perguntou. ? Ou... lady Alina ainda está acordada?

Lorde Brien olhou para ele de maneira estranha. Havia compaixão em seu rosto, se Duncan conseguisse ver isso, embora desaparecesse quase tão rapidamente quanto havia aparecido, substituído por uma suavidade.

? Lady Alina se retirou à cama, ? ele disse suavemente. ? Ela viajou muito ? visitando sua irmã. Acho que ela não estará acordada até amanhã de manhã, bem tarde.

? Oh! ? O coração de Duncan afundou. De todas as coisas que o sustentaram, mantendo-o vivo e acordado na viagem de volta para casa, foi o pensamento de vê-la novamente. O fato dela estar ali, dormindo ? tangível e inalcançável ? era esmagadoramente decepcionante. Ele engoliu em seco. ? Bem, ? ele disse um pouco impotente e encolheu os ombros.

? Vá agora para o seu descanso, ? disse Lorde Brien alegremente. ? Você mereceu, jovem rapaz. E mal posso esperar para ver os resultados das tarefas restantes que defini para você.

Duncan engoliu em seco novamente, sentindo outra decepção menos aguda. Em algum lugar dentro dele, ele nutrira uma vaga esperança de que Lorde Brien, após a conclusão da primeira tarefa, cedesse. Veria o esquema como a loucura que era, e o retiraria. Essa esperança morreu lentamente nele.

? Sim, meu senhor, ? disse ele timidamente. Ele saiu devagar, toda a exaustão da semana anterior parecendo alcançá-lo imediatamente, de modo que mal conseguia colocar um pé diante do outro. Ele chegou ao limiar e sentou-se pesadamente, com o coração batendo no peito.

A porta se fechou atrás dele. Lorde Brien trabalhava por longas horas.

Duncan lutou para manter sua própria vigília. Ele estava muito decepcionado e cansado, além de qualquer coisa que ele poderia ter imaginado anteriormente.

Talvez ela ainda esteja acordada, ele pensou esperançoso. E, mesmo se ela não estiver, não posso simplesmente esperar sem vê-la.

Sabendo que estava errado, ele ficou de pé. Enxugou as mãos nas calças, ainda usando a mesma calça e túnica da viagem, e voltou pelo caminho por onde viera. Então, no final do corredor, ele foi à direita. Para os quartos da família.

Tomando outro lance de escadas, ele caminhou em silêncio, ciente de que o território não era aquele em que ele deveria entrar ? certamente não a essa hora da noite, em todo caso. Ele caminhou levemente até o quarto de Alina, sabendo onde era desde quando ele esteve ali a última vez. Parecia imediatamente como ontem e, como se tivesse acontecido, há cem anos, na vida de outra pessoa. Ele bateu. Ouviu por um longo momento a madeira, procurando ouvir qualquer som de vigília. Não houve nenhum. Sabendo o que ele faria era perverso, ele descansou a mão na maçaneta da porta.

A porta se abriu suavemente, revelando uma sala da cor de carvão na escuridão, as sombras pintadas em um cenário incerto pela luz da lua e o último brilho dos fogos.

Ele ouviu. Ele podia ouvir o som de alguém respirando. Quando seus olhos se ajustaram à luz mais suave, ele distinguiu as bordas da cama e a forma dentro dela.

Ele foi na ponta dos pés e parou ao lado da cama.

Alina

Era ela. O cabelo brilhando na luz pálida, azul brilhante, os cílios descansando em suas bochechas de porcelana, ela dormia.

Duncan olhou para ela. Sua respiração era suave e uniforme, o botão de rosa de uma boca entreaberta enquanto ela suspirava em seu sono. Ele sentiu seus quadris se mexerem e morder o lábio, lutando contra o estímulo.

Seu desejo dela parecia fora do lugar. Ela era tão linda, uma beleza tão pura e absoluta que ele sentia que era errado qualquer anseio por ela. Ele viu quando ela suspirou em seu sono, virando-se levemente para revelar o suave arredondamento de seu seio, coberto com a camisa da noite e as cobertas.

Ele ficou tenso. Ele nunca a vira tão despida antes ? os longos vestidos de veludo e anáguas que ela usava, que só o Céu sabia que tipo de roupas de baixo eram aquelas ? não revelavam sua beleza assim. Aqui, vestida apenas em uma simples camisa, ela brilhava por dentro, sua forma parecendo etérea demais para as palavras.

Ele viu quando ela suspirou e se mexeu novamente no sono, uma ruga na sua testa mostrando que seu sonho a perturbava. Ele quase se abaixou para acariciá-la, mas parou a tempo.

Whisht! Você não quer acordá-la, ele se repreendeu. Lorde Brien estava certo ao dizer que ela estava cansada. Ele tinha certeza de que, se ela não estivesse, provavelmente teria acordado quando ele abrisse a porta, deixando a luz do corredor cair, suavemente, em seu rosto.

Observando-a por mais algum tempo, tentando resistir ao toque, ele ficou ao lado da cama, com o coração como um carvão dentro dele ? brilhando, mas queimando tudo naquele brilho, como se ele morresse de saudade.

? Vá, patife. ? Ele sussurrou para si mesmo, sentindo-se de alguma forma contaminado, como se sua presença ali fosse brutal e errada em face da beleza.

Ele caminhou em silêncio até a porta e saiu, fechando-a o mais silenciosamente que conseguiu atrás dele. Então ele se sentou no chão.

Perdido em pensamentos, coração brilhando com seu amor por ela, Duncan se enrolou ao lado da porta e, mais cedo do que ele teria pensado, ele estava dormindo profundamente.


Capítulo Dezoito

MOMENTO PRECIOSO


O mar estava cinza e enevoado, as ondas se enrolando em uma luz metálica. Alina engasgou quando elas se levantaram e a luz caiu sobre elas, transformando-as em brilho.

Ela abriu os olhos.

O brilho do sol.

Sua visão mostrara Duncan à luz do sol, feliz e bem-sucedido. Talvez a luz do sonho fosse ele, sorridente e feliz. Quando ela se sentou, estremecendo com dor nas têmporas, afastando o sono das pálpebras cansadas, sentiu uma crescente convicção.

Duncan voltou.

Ela não poderia dizer porque ou como, mas ela tinha uma forte sensação de que ele estava ali, no castelo. E não muito longe também. De pé, ela colocou os pés em chinelos de seda e caminhou levemente em direção à porta. Ela podia ouvir sua criada respirando regularmente, dormindo, atrás da tela que dividia seu lugar de dormir do de Alina. Ela sentiu a maçaneta da porta, fria sob a mão. Ela virou e saiu para o corredor.

O luar projetava uma mancha de luz prateada no chão diante da porta. Alina olhou para isso, os olhos se ajustando ao brilho mais brilhante além da porta, e então se virou à direita.

Ela respirou bruscamente, com um susto repentino. Havia alguém lá! Um homem. Então sua visão se aguçou e ela olhou.

A luz brilhou no cabelo dele, lançando as mechas de linho raios de prata pálida. Seus olhos estavam fechados, a luz delineando o contorno orgulhoso de seu nariz bem esculpido. Sua testa alta estava relaxada, uma ou duas linhas suavizadas no sono. Suas mãos ? grandes e fortemente musculosas ? estavam abertas, os dedos se curvando levemente enquanto ele dormia.

Alina caiu de joelhos ao lado dele. Ele estava ali. Ele foi devolvido em segurança. Ela se fartou da visão dele, suas bochechas esticadas em um sorriso.

? Duncan.

Ela não queria falar, mas o nome escapou de seus lábios, suave como uma brisa.

Enquanto ela o observava, ele se mexeu. Seus olhos se abriram e depois se fecharam. Ele respirou estremecendo. Então outra vez. Seus olhos se abriram.

Eles olharam diretamente para ela.

Os olhos dele ficaram tensos, estreitando-se, claramente assustados e confusos, então, quando os sentidos começaram a ser registrados, ele relaxou. Ele olhou nos olhos dela, os próprios castanhos levemente injetados, mas brilhando com um calor que ela nunca vira em ninguém, homem ou mulher, antes.

? Alina, ? ele respirou.

Ele estendeu a mão à frente. Ela pegou os dedos dele. Eles eram fortes e firmes, endurecidos com anos empunhando uma espada. Ela apertou-os. Eles eram os dedos mais queridos da terra.

? Duncan.

Ele sorriu para ela. ? Você está acordada.

Ela riu baixinho. ? Bem, sim. Ou, nós dois estamos sonhando. Mas a sua mão na minha parece real. Ela sussurrou, as vozes suaves na escuridão intacta, próximas e aveludadas, segurando-as perto.

Duncan sorriu para ela, um sorriso de doçura particular. Ele apertou a mão dela, enrijecendo os dedos nela. ? Se estou sonhando, posso ficar para sempre neste reino, ? ele sussurrou. ? Só você e eu. E a luz da lua.

Alina sorriu para ele e depois estremeceu. Não seria tão frio. ? Você está acordado, ? ela lembrou a ele. ? Não fale de sono eterno. ? Ela sorriu, sentindo o ferrão de suas palavras. ? Pelo menos não, a menos que eu durma também.

As palavras eram leves, provocantes. No entanto, a menção de dormir lado a lado, mesmo que ligeiramente referida como uma metáfora da morte, fez suas bochechas ficarem vermelhas. Ela o ouviu engolir e sabia que seus pensamentos eram semelhantes. Ela corou e desviou o olhar.

? Eu acho que você deveria descansar, ? disse ela rapidamente. Ela ainda sussurrou, mas havia um toque preocupado em sua voz. Ele deveria estar em algum lugar quente! O que ele estava fazendo ali, sozinho e no frio? Fora do quarto dela? Ela estremeceu com o pensamento. Se ele fosse descoberto ali, ambos seriam desonrados.

? Eu estou descansando, ? disse Duncan, dando-lhe um sorriso irônico. ? Eu estava dormindo, se você se lembra.

Alina respirou cansada, sacudindo a cabeça em sua teimosia. ? Sim, você estava. Mas dormir em um corredor frio provavelmente fará você ficar mais doente do que se estivesse acordado no frio. Venha. O solar ainda está quente. Pegando a mão dele, guiando-o com firmeza pelas escadas novamente, eles atravessaram o corredor até o solar.

Ainda estava quente. O fogo na grande lareira estava quase apagando. Ali, as grandes janelas deixavam entrar a brilhante luz das estrelas, de modo que as bordas da mobília eram prateadas e as lajes brilhavam como aço derretido. Ela se sentou em uma cadeira perto da lareira, levando-o até o sofá em frente a ela.

? Está mais quente aqui, ? Duncan assentiu. Ele falou mais alto ? não havia servos para ouvi-los, e o membro da família mais próximo, Chrissie, dormia em um quarto perto de Alina, um andar acima. Eles estavam sozinhos.

? Sim, de fato, ? disse Alina secamente. ? As brasas ainda estão brilhando. ? Ela apontou para a lareira ao lado deles, onde uma luz avermelhada aparecia.

Ela estava se sentindo mais desperta agora, e com a vigília veio uma busca inquieta. Sua mente estava estudando-a, considerando o estado de sua saúde. Ele precisava de calor. Ele precisava de descanso. Ele precisava de um longo banho em uma banheira. ? Por que você não está na ala oeste, nos aposentos de hóspedes? ? Ela perguntou de repente.

Seus olhos negros encontraram os dele, as pálpebras levantadas questionando. Ele olhou nos olhos dela e deu um sorriso incerto.

? Você é mais assustadora do que o médico da aldeia, ? disse ele. O clérigo que supervisionou a vida religiosa da aldeia de Lochlann também trabalhou como farmacêutico e cuidou dos males. Assim foi, até que a maioria das pessoas começou a se voltar para Alina, cujas habilidades cresciam diariamente.

Alina riu. ? Suponho que isso tenha sido dito como cortesia, ? disse ela secamente.

? Foi, foi! ? Ele disse, levantando as mãos em sinal de rendição. Ambos riram.

? Estou tão feliz em vê-lo, ? disse Alina. Parecia que não havia palavras para descrever seu coração acelerado, a alegria que enchia seu peito. Todas as palavras pareciam insuficientes e, por isso, ela não tentou, mas disse o mínimo possível.

? Como eu estou em ver você, ? Duncan respirou.

Afinal, ele não estava tão longe. Quando a mão dele alcançou a dela, ela o deixou. Quando ele a puxou para ele, ela foi com o aperto na mão dela.

Seus lábios se encontraram. Ele a beijou.

Alina fechou os olhos quando sentiu a boca dele se mover sobre a dela, o beijo lento dessa vez, como se seus lábios estivessem tentando se lembrar dos dela, movendo-se devagar, mordiscando a cada impacto e inchando, sua língua passando na curva deles.

Alina suspirou e separou-os, deixando sua língua encontrar entrada. Ela sentiu o choque de surpresa estremecer através dela enquanto a língua dele empurrava, as sensações de formigamento se espalhando de seus lábios através de seu corpo. Ela pressionou seu corpo contra o dele, deixando o fogo que queimava de seus lábios ir para sua barriga e de volta preencher cada parte dela.

Eles se sentaram assim pelo que parecia muito tempo, seus lábios nos dela, seus braços ao redor dele, suas mãos acariciando suas costas. Não havia nenhum som na sala, exceto os que eles faziam, que eram pequenos e suaves ? o suspiro da respiração, o som da boca na boca.

Alina estremeceu. Ela usava apenas o seu manto e a camisa da noite, e estava feliz por ter pensado em puxar a capa de veludo sobre ela antes de sair. Do jeito que estava, as duas camadas de tecido eram o mínimo que havia entre eles. Ele usava apenas túnica e calça, sua capa não escondendo nada. Ela podia sentir seu coração, firme e devagar, e ela pensou que poderia realmente morrer, presa entre o intenso contentamento e um desejo constante, exigindo mais.

Mais proximidade. Mais contato. Mais tempo.

Ela suspirou. Ajeitou-se. Ele engasgou, lábios ainda separados por um beijo. Ela descansou as mãos nos joelhos, notando, com algum choque, que eles estavam tremendo. Ela não podia permitir que seu próprio anseio a dominasse.

? Você vai ficar muito tempo aqui? ? Alina perguntou. Ela limpou a garganta, notando o quão rouco soou.

? Sim, ? disse Duncan em voz baixa. Então ele mordeu o lábio, balançando a cabeça, fechando os olhos. ? Não. Quero dizer... não sei, querida.

Alina suspirou, o termo carinhoso estremecendo através de sua alma já dolorida com os dardos lançados. Ela fechou os olhos por um instante e depois os abriu. ? Você não sabe para onde ir? ? Ela perguntou cuidadosamente.

? Sim. ? Duncan assentiu enfaticamente. ? Você me ajudou com... a primeira pergunta, ? disse ele com cuidado.

? A segunda? ? Alina perguntou lentamente. ? A Pérola.

? Sim. ? Ele assentiu. Ele parecia totalmente desgraçado. ? Eu não faço ideia...

? Eu acho que tenho algo que poderia nos ajudar, ? disse Alina com cuidado. Duncan olhou para ela. Seus olhos castanhos se estenderam com esperança.

? Você tem? Conte-me!

Alina mordeu o lábio. Sua ânsia mostrava que ele estava tão pronto para o casamento quanto ela. Ela não conseguiu deixar de sorrir ao pensar nisso. ? Eu acho que sim, ? disse ela com cuidado. ? Não estou certa.

? Conte-me?

Alina disse a ele. Sobre a pérola ser alguém preciosa para seu tio. Sobre a aliança Duncraigh. Sobre o desapontamento e tristeza de seu tio, lembrado por Amabel quando falaram na última vez.

? Então você pensa... ? Duncan começou, ofegante, quando ela terminou.

? Eu acho que o tio Brien quer que você encontre uma mulher que ele amava.

Duncan olhou para ela. ? Realmente? ? Se o surpreendeu ao saber que o homem era sensato, ou se estava impressionado com o enigma e sua solução, Alina não sabia. Ela não conseguiu evitar uma risada, ele parecia tão surpreso.

? Sim, ? disse ela, rindo. ? E não me diga que você não sabia que ele já amou. Tenho certeza que todas as pessoas amam. Embora eu deva admitir, que às vezes me pergunto no caso desse homem.

Ambos riram.

Sentada ali, no escuro, Alina se sentia mais confortável do que jamais sentira. Duncan era um companheiro tão simples e reconfortante, tão adequado a ela, que ela sentia que sempre se sentaram assim, com o cheiro de poeira e madeira de pinheiro ao redor deles, a luz da noite se filtrando pelos arcos e espirrando no chão diante dos dois.

Alina pigarreou, sentindo uma dor no coração. ? Devemos nos retirar agora ?, disse ela gentilmente. Sua voz era seca e ela não mudou isso. Ela ansiava por ficar ali com ele. Ansiava por fazer o que ela estava bem certa que ambos queriam. No entanto, ela não poderia ? era impensável.

Mordendo o lábio enquanto ele se movia na cadeira em frente, ela suspirou.

? Eu concordo, ? disse ele. Ele parecia tão relutante quanto ela se sentia. Ele se sentou com as mãos cruzadas na frente, de cabeça baixa.

? Bem, então, ? disse Alina suavemente.

? Bem, ? ele concordou. Ele olhou para cima, olhos escuros encontrando os dela. Ele sorriu para ela. ? É difícil sair daqui.

Ela engoliu em seco. ? Sim.

Ele se inclinou para frente. Tomou a mão dela na dele. Segurou firme.

? Eu não vou demorar muito, ? ele disse suavemente. ? Não dessa vez. Isso não parece tão perigoso quanto à última tarefa. Sem espadas, sem roubo. ? Ele riu baixinho.

Alina mordeu o lábio. Não era seguro ? isso era certo. Os Duncraigh's eram certamente inimigos de Lochlann. Ele teria que ter certeza de que ninguém saberia que ele vinha do castelo, a fim de entrar com qualquer garantia. No entanto, ela precisava concordar com suas palavras.

? Sim, ? ela disse baixinho. ? Eu suponho.

? Eu deveria ir, moça, ? disse ele. ? Eu preciso dormir.

? Sim.

Por um longo tempo, nenhum deles se mexeu. Eles se sentaram juntos como se imprimissem a lembrança de sua presença na mente, absorvendo cada gesto, cada perfume, som e visão, de modo que, quando se separassem, seriam sustentados. Até que eles se vissem mais uma vez.

Alina se virou rapidamente. Ela ficou.

? Boa noite, meu querido, ? ela sussurrou. Sua garganta doía com o choro silencioso.

? Boa noite, meu doce.

Duncan sussurrou, sua voz quase desapareceu. Alina fechou os olhos, sentindo as lágrimas ardendo em suas pálpebras.

? Boa noite, ? ela disse novamente. Ela pegou a mão dele, apertando-a ferozmente. Ela levou-a ao coração. Ele ficou de pé e se abaixou, acariciando o cabelo dela.

Alina virou-se bruscamente e se apressou em direção à porta. Ela passou por ele rapidamente e depois caminhou levemente pelo corredor, indo às escadas.

Ela não parou até chegar ao seu próprio quarto. Desmoronou, lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto ela ficava deitada na cama, o rosto enterrado na colcha para abafar o som do choro.

Ela ficou lá até sentir que estava sem lágrimas, então, silenciosamente, tirou os sapatos e a capa e deslizou para debaixo das cobertas.

Era importante dormir. Amanhã ela precisaria estar acordada. Para dizer adeus. Embora ele não tivesse dito isso com tantas palavras, Alina sentiu a tensão dele porque precisava completar o empreendimento e partiria pela manhã.

Ela estaria lá para desejar-lhe o bem. Fechando os olhos, sentindo seu corpo lentamente se aquecer sob as cobertas, o fogo ainda lançando um pouco de calor das brasas brilhantes ao lado da cama, ela se enrolou e tentou, com sucesso, descansar e dormir, reunindo forças para a manhã seguinte.


Capítulo Dezenove

DEIXANDO O CASTELO


Duncan foi despertado por alguma coisa, mais exausto do que ele estava quando retornou ao castelo pela primeira vez. Ele olhou para o teto abobadado acima da cabeça, inclinando-se contra as almofadas macias atrás dele e pensando no dia seguinte, e na noite anterior.

Parecia que ele havia sonhado isso. Os pensamentos de Alina ferviam por ele. Ele estremeceu, sentindo sua virilha mexer com o simples pensamento nela. Ele riu.

Pare com isso, ele pensou consigo mesmo. Há tempo para isso e ainda está longe.

Ele suspirou. Sua mente se voltou para o dia próximo. A manhã ainda era amena, a luz do lado de fora das janelas era fria e cinza esverdeada, pintando o teto de verde e manchas de carvão nas sombras. Em algum lugar, ele conseguia ouvir os criados mexendo, o rolar de carroças no pedregulho enquanto os suprimentos chegavam da aldeia ? carvão, farinha e legumes, entrando pelos portões do castelo.

Eu vou sair daqui em breve. Ele suspirou. Ele havia decidido isso na noite anterior, sabendo que quanto mais cedo voltasse às suas tarefas, mais provável seria que ele as terminasse cedo. Se ele ficasse aqui no conforto e proximidade com Alina por mais do que algumas horas, sair seria algo insuportável.

Preciso ir antes de me lembrar do quanto eu a amo, completamente.

O pensamento o fez parar. Ele a amava. Ele amava. Não deveria ter sido uma surpresa ? ele estava, afinal de contas, pretendendo se casar com ela ? mas quando percebeu a magnitude total de como se sentia, isto o atingiu com a força de uma pedra vinda de um trabuco.

Eu a amo com todas as partes de mim. Além de qualquer coisa que ela pudesse fazer comigo. Irracional. Não havia condições para seus sentimentos, nada que ela pudesse fazer para mudá-los. Ele a amava, corpo, mente e alma. Seu corpo, sua mente e sua alma. Nada poderia remover esse amor de seu coração.

Ele suspirou e virou a cabeça para o lado, aliviando a rigidez em seu pescoço, enquanto se sentava. Ele respondeu satisfatoriamente e ele suspirou novamente, e então deslizou para fora da cama.

Espalhando o rosto na água da mesa de cabeceira, ele se concentrou nas pequenas tarefas cotidianas de se vestir, lavar e pentear o cabelo. Ele se recusou a pensar além deles, para o vazio dolorido que levaria em seu coração quando ele fosse embora.

Ele olhou ao redor do quarto. Ele deveria reunir coisas para levar com ele. Desta vez, ele levaria mais provisões. Bem como um manto mais grosso. Ele também se vestiria com roupas mais quentes. Ele não gostaria de enfrentar aquele tempo frio novamente.

Desdobrando as roupas do baú, no canto, ele sacudiu-as, estremecendo quando o ar, cheirando a alecrim, subiu até as narinas.

O cheiro de alecrim e ervas aromáticas era o cheiro de Alina. Ela se lavou com alecrim, ele se lembrou, infundindo a água com a erva de modo que seu cabelo grosso e lustroso, ficasse perfumado como os campos noturnos...

Ele fechou os olhos, mordendo o lábio. Pare com isso! Ele não poderia pensar nela. Agora não. Ele podia sentir seus olhos umedecidos e entregues para eles, impacientemente.

Alcançando as calças quentes de linho, um tecido grosso tornando-as boas para lhe dar calor, ele as vestiu. Ele envolveu os ombros em uma túnica de lã, olhando-se no espelho para checar se parecia com o que pretendia ser, quando cavalgasse até o castelo que deveria visitar: um próspero filho de lorde, ou, talvez, um rico comerciante, procurando abrigo na estrada à noite, antes de continuar sua jornada para o sul.

Ele pegou sua capa, sacudindo as dobras verdes escuras dela. Caiu em uma linha confortável sobre ele. Esta era mais adequada ? o manto de veludo de um verde profundo da floresta, a cor que a família assumira mais, ou menos, como símbolo.

Olhando uma última vez no espelho, vendo o jovem alto de cabelos claros, com o nariz ligeiramente torto e os olhos profundos olhando para ele, ele se virou.

Café da manhã, ele pensou com determinação. Ele não pensaria em Alina, ou em qualquer outra coisa além das tarefas imediatas que ele precisava fazer para se preparar para sua jornada. Eu posso pegar alguns suprimentos da cozinha enquanto estiver lá embaixo. Pegando uma sacola pequena para embalar um pedaço de pão e talvez um pouco de queijo ou presunto, ele desceu as escadas em direção ao grande salão.

No corredor, ele ficou surpreso ao ver Blaine diante dele. Ele o olhou de onde estava sentado na mesa do café da manhã, olhos cinza, mas brilhantes e animados.

? Bom dia para você, ? disse ele, revirando os ombros e bocejando. Ele pegou um jarro de barro e bebeu, limpando a boca nas costas da mão.

? Bom dia. ? Duncan sentou-se em frente, sentindo a boca já com água, enquanto respirava os aromas de mingau de aveia e bolos de aveia, manteiga, queijo e presunto dispostos nas tábuas entre eles.

Ainda era cedo, e alguns homens de armas, aqueles veteranos que adquiriram o hábito de pouco sono, estavam com ele. Quase todos os outros bancos estavam vazios, deixando um grupo de talvez oito a dez homens ao redor de Blaine. Tomando o café da manhã e pegando alguns bolinhos de aveia para adicionar ao seu suprimento de viagem, Duncan conversou com Blaine, que estava aparentemente focado em seu prato de aveia.

? Eu vou novamente esta manhã, Blaine, ? ele disse baixinho. ? Eu tenho uma informação nova. Eu não quero ficar... não por muito tempo.

Blaine estava mexendo seu mingau, deixando o sal misturar com a massa dele. Ele olhou para cima.

? Você sabe para onde deve ir agora? Seus olhos estavam arregalados e redondos.

? Sim, Blaine, ? disse Duncan suavemente. ? Como eu disse, tenho novas informações...

? Você estava planejando ir sozinho?

Para surpresa de Duncan, Blaine parecia surpreendentemente magoado. Ele limpou a garganta, espantado por se sentir aborrecido ao ouvir o jovem tão ferido por sua escolha.

? Eu sinto muito, Blaine, ? ele disse suavemente. ? Eu acho que é melhor.

? Não quer me levar em sua aventura? ? Blaine perguntou, seus olhos provocando. Ele ainda parecia triste, porém, e Duncan sentiu uma súbita pontada de culpa.

? Eu acho que é melhor para mim ir sozinho para conseguir isso, ? explicou ele com cuidado. Os homens de armas ao redor deles estavam tomando o café da manhã, quebrando ovos cozidos ou mastigando fatias grossas de presunto e queijo e parecendo alheios a eles. Duncan ainda não queria se arriscar a dizer mais.

? Você não vai se meter em qualquer arranhão sério, meu senhor? ? Blaine disse, sorrindo torto. ? Eu não quero vê-lo se machucar muito, ? disse ele. ? Isso estragaria a diversão de eu conseguir fazê-lo em algum momento.

Duncan sorriu para ele. Sentia-se triste também e sabia que, se achasse que o plano funcionaria, ele o levaria consigo. A juventude era boa companhia, perspicaz e uma boa amiga.

? Bem então. Voltarei em boa forma para que você possa testar essa ideia.

Blaine riu então, o calor tocando seus olhos tristes. ? Eu não sei se minhas ideias estão de acordo com os planos, senhor, ? ele riu. ? Eu acho que, talvez, seja quem seria deixado de lado.

Ambos riram, então. Duncan brindou com sua própria caneca de madeira, que parecia conter uma cerveja ? fervida, para reduzir os efeitos, mas ainda assim, mais limpa que a água. Ele bebeu um pouco, apreciando o sabor da levedura. Lembrou-lhe, estupidamente, de casa. Broderick sentado à sua frente na mesa em sua infância, chutando seus pés e fazendo caretas enquanto comiam a aveia matinal.

Eu também não o verei, se eu falhar, ele pensou miseravelmente. Ele gostaria de ter perguntado a Alina, que havia visitado-os nos dias anteriores, por qualquer notícia de casa.

Eu nem sei se Broderick está bem ou doente. Como meu pai está. Se Amabel finalmente conseguiu sua ambição de civilizar Dunkeld e torná-lo mais parecido com o castelo de Lochlann.

Ele engoliu em seco. Eles pareciam tão distantes, como se fossem contos contados pelo velho Norries ou sua esposa no grande salão quando todos eram jovens. Broderick, Amabel. Seu pai. Ele os vira pela última vez há dois meses, era verdade. No entanto, as coisas já estavam embaçadas, de modo que ele não conseguia se lembrar se o queixo de seu irmão era rude ou mais pontudo, e o rosto de Amabel nublou, de modo que ele se lembrou simplesmente de olhos verdes e uma cabeleira ruiva.

Eu sobreviverei. Eu preciso ver todos eles mais uma vez.

Sentindo-se mais forte ao decidir isso, Duncan deixou a colher de lado. Seu estômago já estava se sentindo esticado e ele sentiu o começo de mal-estar, trazido tanto pelo estômago encolhido quanto pela preocupação de sair.

? Estou indo à cozinha para estocar, ? disse ele a Blaine.

Blaine olhou para cima. Ele piscou, tentando esconder a umidade de seus olhos antes que Duncan notasse, mas ele já notara. Blaine estendeu a mão para ele, apertando sua mão com firmeza.

? Você fique em segurança, seu maluco ? disse ele com firmeza, ? ou o Céu é minha testemunha, de que eu irei e vou derrotá-lo por isso.

Duncan riu. A ameaça foi feita com carinho, tomando qualquer desafio imediatamente. Ele apertou a mão do jovem.

? Fique inteiro enquanto eu estiver fora, ? disse ele. ? Eu não vou voltar para encontrar você espancado.

Blaine riu. Ele sorriu torto. ? Eu vou fazer o melhor, senhor.

Ainda rindo, apesar de sua garganta doer com a despedida, Duncan se dirigiu para fora do corredor e através da porta que conduzia às cozinhas.

No ambiente quente e movimentado, Duncan escolheu alguns suprimentos, e os embrulhou em lenços, em seu saco. Então, depois de agradecer ao cozinheiro, que corou vermelho e fez uma profunda reverência, ele se dirigiu para o andar de cima.

Ele já havia escolhido sua roupa, então, com as duas mochilas, ele foi até os estábulos. As mãos do estábulo selaram seu cavalo Clydesdale e ele o montou depois de dez minutos de espera. Seu cavalo também parecia melhor descansado, embora ainda sentisse uma pontada de culpa ao tirá-lo do calor e da nutrição dos estábulos de Lochlann depois de tão pouco tempo.

Quando voltarmos dessas tarefas, ele poderá descansar um mês inteiro. Vou montar no cavalo de Broderick e espero que ele não me derrube.

Pensamentos de casa não ajudaram, e ele mordeu o lábio, caminhando os últimos passos até o portão.

Ele seguiu resolutamente, sem olhar para trás, não se permitindo virar.

Eu estou na estrada. A estrada está à frente. Eu não vou me virar.

Ele cantou a ladainha em sua mente, repetindo-a várias vezes até que não fizesse sentido.

Talvez a trezentos metros do castelo, ele se virou.

O castelo estava atrás dele, um edifício alto e cinzento de pedra bem cortada. Era um cinza diferente do céu, as torres redondas se estendiam em direção a ele, imensas e imponentes, as silhuetas nítidas contra a nuvem cinza oscilante.

Todos, exceto por um ponto, no topo da torre oeste.

Lá, havia um borrão, uma mancha de azul que era de uma mulher, vestida com um longo vestido de veludo azul. Ela estava alta e orgulhosa na torre, e o vento ergueu seu cabelo preto ao redor dela, fazendo-o subir e descer suavemente na brisa da manhã.

Enquanto observava, pareceu que a figura levantou a mão em despedida. Ele a olhou fixamente.

Ele levantou a mão.

Então, ele puxou o cavalo de volta para a estrada sob seus pés.

Eu estou na estrada. A estrada está à frente. Eu não olho para trás.

Ele cavalgava olhando para frente, as costas dobradas enquanto apertava as rédeas, apertadas ? com muita força ? em seus dedos refrigerados pelo vento. Ele não conseguia ver os dedos, as rédeas ou o pomo embaixo. Sua visão estava turva, afogada em lágrimas não derramadas.

A estrada estava diante dele e ele não conseguia parar. Não era possível voltar atrás. O futuro, com todo o seu trabalho e todas as suas esperanças, jazia como o horizonte, muito à frente.


Capítulo Vinte

CHOQUE REPENTINO


O interior do castelo estava quente.

Muito mais quente do que a fria manhã ao ar livre. Alina, estava sentada na sala da torre, encolhida junto ao fogo. Não era só o frio gelado no topo da torre oeste, onde ela acabara de sair. Era a tristeza que se instalou dentro dela, entorpecendo todo o calor.

Não conseguia acreditar que ele havia partido. Ele acabara de chegar ali, apenas se sentou e conversou, a beijou, abraçou e amou.

Ela manteve os dedos perto do fogo, estremecendo quando o sangue lentamente se espalhou entre eles, fazendo-os doer e coçar com calor súbito. Como o calor do fogo que a inundou, ela se sentiu ganhar coragem. Duncan retornaria. Ele iria. Por que não? Esta tarefa não era tão perigosa quanto à última.

Ela sentou-se ao lado do fogo, deixando-se retornar do entorpecimento e do frio da torre, para uma espécie de meio conscientização à deriva. Uma vez que ela chegou a esse estado, ela saiu silenciosamente da sala da torre e desceu as escadas. Ela pegou o avental ao passar por seu quarto, e ajeitou o manto sobre um dos braços. Ela tinha trabalho a fazer.

? Bom dia, minha senhora, ? Patrice cumprimentou Alina quando ela apareceu nas cozinhas. O lugar era como uma fornalha, os criados com o rosto vermelho e suando, enquanto lavavam panelas, limpavam carnes, picavam nabos ou assavam pão. O barulho era ensurdecedor e Alina precisou se levantar para ser ouvida acima da alegre cacofonia de panelas, frigideiras e gritos.

? Patrice! ? Ela gritou. ? Como sua mãe está?

? Oh! Muito bem, obrigada. Bem melhor. Ela está mais forte a cada dia.

Alina sentiu uma onda de felicidade com essa notícia. ? Bom. Você ainda tem salsa?

? Não, minha senhora. Terminei dois dias antes.

? Como está o peito dela? ? Ela perguntou.

? Bem, minha senhora. Ainda chiando um pouco, quando chove ou à noite. Patrice virou-se rapidamente, levantando uma enorme massa de pastinaca em uma panela fumegante. O suor escorria pelo seu rosto e seu cabelo já encaracolado ondulava no calor fumegante.

Alina colocou a cabeça de um lado, pensando. ? Eu vou lhe dar um pouco mais. Você deve secá-la e usar uma medida em um chá. Sirva de manhã e à noite.

? Obrigada, milady. Patrice fez uma reverência e limpou o suor da testa na manga. ? Muitas bençãos.

Alina sorriu para ela e saiu para os jardins encharcados pela chuva, aliviada pela primeira vez, por estar fora do calor da fornalha da cozinha, com os bate panelas, os cozinheiros, os cheiros, as carnes e os sons. Aqui, pelo menos, havia paz total.

Quando ela voltou, a salsa foi entregue, e ela parou do lado de fora do grande salão. O lugar estava vazio, preso naquele estranho silêncio entre o amanhecer e o meio-dia. Os guardas estavam jogando dados ou no quintal, onde aplausos desconexos e o estalar de espadas nos postes significavam que eles estavam praticando sua arte. Não havia, no momento, nenhuma reclamação pelo tempo de Alina.

Eu acho que vou visitar Aili.

Ela não havia visto sua tia desde o ataque ao castelo até agora. Ela gostaria de saber como ela estava. Ela também gostaria de procurar o conselho de Aili. A preocupação com Duncan, o incômodo desconforto do hóspede no castelo de Dunwray e a preocupação com Amabel pesavam sobre ela. Seria bom descansar esse fardo por um tempo.

Ela voltou para o quarto e tirou o avental. Então ela se dirigiu à parte gelada e abandonada do castelo, feliz por não ter deixado o manto para trás.

? Aili?

? Entre.

Alina entrou para encontrar sua tia sentada em sua cadeira esculpida, como de costume. Ela estava usando um vestido preto que Alina não vira antes e parecia mais viva do que a tinha visto em muitos anos. Ela sorriu.

? É bom ver você, tia.

? E também você, minha querida. É bom ter você de volta em Lochlann.

Alina sentiu uma pontada de surpresa, e balançou a cabeça. Não deveria realmente surpreendê-la mais, que sua tia soubesse exatamente onde ela estivera e onde ela estava a qualquer momento. Havia muito pouco que lhe escapava ? fosse por algum estranho sentido ou simplesmente por seus poderes de observação.

? É bom estar de volta, tia, ? ela admitiu, sentando-se à mesa. Suas visitas eram uma rotina confortável: Aili pedia bolos e cerveja e conversavam, desde as preocupações cotidianas até preocupações subjacentes mais profundas e finalmente às suas soluções.

? É bom ver você, ? Aili concordou. ? Este castelo está cheio de acontecimentos nesses dias! Mil histórias diferentes voando por aí, e provavelmente nenhuma delas precisa. Sua tia deu de ombros com desdém e levantou o copo da bandeja.

Alina levantou uma sobrancelha, selecionando, cuidadosamente, uma delicadeza. Ela escolheu um quadrado de marzipã ? sua guloseima favorita ? e mordeu, deixando o sabor doce e rico derreter em sua boca ? Que histórias? ? Ela perguntou enquanto engolia.

? Oh, você sabe... ? Aili acenou com a mão em um gesto vago. ? Os MacDonnell estão à espreita na floresta, esperando para atacar. O Conde de Inverglass está acumulando um exército, e vem nos buscar. O castelo está cheio de espiões. Bruxas também, aparentemente ? ela fungou. ? Embora esse seja sempre de verdade.

Alina encontrou seu olhar e ambas riram.

? Mas as pessoas realmente esperam um ataque? ? Alina perguntou, voltando à seriedade. Ela segurou a taça entre as mãos, feliz por sua tia ter pensado em aquecer a cerveja. Aqueceu o último dos seus dedos frios.

? Mm, ? Aili assentiu, engolindo em seco. ? Elas fazem isso. E quem sou eu para dizer que são tolos? Pessoalmente, não pensarei que o conde MacDonnell se moveria contra Lochlann. Não se o velho Benoite ainda estiver vivo.

? Benoite? ? Alina olhou para ela.

Aili bufou. ? Você não sabe, não é? Não, eu suponho que não. Seu tio possuía um carinho por ela. Mais que isso. Eu acho que o homem estava totalmente em transe. Ele era tolo para isso.

? Oh! ? Alina a observou paralisada. ? Ela era uma dama de MacDonnell?

? Não, ? Aili acenou com a mão, sorrindo. ? Ela nasceu em Inverglass. Irmã do último conde. Mas ela foi casada com um MacDonnell mais tarde. Depois dele. ? Ela disse a última palavra com ênfase. A mente de Alina saltou para o significado daquilo.

? Você quer dizer... depois do tio...? ? Ela perguntou hesitante.

? Depois que o velho idiota sugeriu se aliar com Duncraigh e foi dito que ele poderia ir em seguida, sim. ? Aili sorriu. ? Por, mas você conhece as histórias tão bem quanto eu.

? Obrigada, tia. ? Alina registrou o elogio de sua tia um pouco distraidamente. Ela estava pensando em outras coisas, tentando encaixar os novos fios na trama que havia construído. ? Mas... ? ela fez uma pausa, mordendo os lábios vermelhos. ? Se a dama fosse de Duncraigh e depois se casasse... ela estaria com MacDonnell agora, não é?

? Sim, moça, ? Aili concordou, inclinando-se para trás, contente. ? Ela retirou-se para a reclusão depois que seu marido, o irmão mais velho, faleceu.

? Mas... ? Alina cobriu a boca com a mão, sentindo medo repentino. ? Mas isso... ? ela parou.

? O que, moça? ? Aili perguntou, estendendo a mão sobre a mesa até ela.

Ela enviara Duncan para Inverglass. Para encontrar a pérola. Que parecia não estar nem perto daquele lugar, mas sim de MacDonnell. Duncan estava indo para um forte hostil, pronto à guerra com Lochlann ? onde ele não encontraria nada. E era culpa dela.

De pé, ela olhou descontroladamente ao redor.

? Perdoe-me, tia. Eu preciso ir.

? Calma, moça, ? disse sua tia tranquilamente. ? Você sabe o que está fazendo. Não tenha medo disso.

Alina balançou a cabeça, o coração batendo. Seu sangue parecia ter se acumulado em seus pés, e não no corpo, ela pensava em uma enxurrada de pensamentos selvagens. Eu preciso sair. Para encontrar Duncan. E se ele já estiver muito longe?

? Eu preciso ir, tia, ? ela disse um pouco descontroladamente. ? Eu preciso sair. Agora.

Antes que fosse tarde demais.

Colocando o manto nas mãos, acenando para a tia e à velha empregada que aparecera para trazer cerveja nova, ela passou correndo pelas duas e saiu pela porta, descendo os degraus gelados e subindo até seu quarto de dormir. Empacotar. Preparar. Para sair agora, enquanto ela ainda tinha a chance de alcançá-lo.


Capítulo Vinte E Um

NO ESCURO


Só havia uma maneira de chegar lá mais rápido do que Duncan.

Alina arrumou suas coisas em seu quarto, jogando roupas em uma bolsa que ela poderia amarrar na sela. Ela pegaria apenas uma capa de reposição e usaria seu vestido de equitação e botas mais quentes. A única maneira era ir por terra, não pela estrada. E isso significava que ela teria que andar.

Alina terminou sua arrumação e desceu para as cozinhas para buscar suprimentos. A refeição do meio-dia já estava quase terminada. Ela podia ouvir o riso dos homens de armas no grande salão e, se respirasse, podia sentir o cheiro de gordura e mingau e, em algum lugar mais perto da cozinha, pão fresco. A família estava, sem dúvida, abrigada no calor do solar, provavelmente imaginando onde ela estava.

Ela caminhou silenciosamente até a cozinha, olhando em volta. Ela pegou um pedaço de pão e talvez um pouco de queijo. Ela pretendia passar não mais do que dois dias na estrada. Mais tempo seria muito longo. Ela estava pegando um pão quando Patrice apareceu sobre seu ombro.

? Minha senhora! O que precisa neste momento?

Alina olhou em seus olhos escuros, notando que ela estava preocupada, não inquisitiva. ? Eu estou indo em um passeio, Patrice, ? disse ela calma. ? Eu preciso estar longe em um curto prazo. Eu pensei em pegar um pão. Você tem queijo?

Patrice assentiu. Ela caminhou rapidamente pela cozinha, anos de prática enviando-a através dos balcões, passando pelo cachorro e até as prateleiras da despensa, sem bater em ninguém. Quando ela voltou, ela levava um pequeno queijo redondo e um pacote que continha ovos cozidos, embrulhados em um pedaço de gaze.

Alina mordeu o lábio, sentindo-se tocada. ? Obrigada, Patrice.

Patrice fez uma reverência. ? Claro, senhora.

Alina deu um tapinha no ombro dela ? um gesto totalmente fora de sua posição, mas ela não se importou. Ela estava grata e queria mostrar isso. Então, ela saiu apressada. Ela não queria precisar se explicar mais e, graças a Patrice, ela conseguira os suprimentos sem perguntas. Ela os guardou cuidadosamente em uma bolsa e foi para os estábulos.

O velho Knox, o chefe dos estábulos, um velho guarda que perdera uma perna, ajudou-a a preparar o cavalo, um belo palafrém, e saíram juntos dos estábulos.

? Você deveria usar uma manta para o seu peito, ? ela comentou, ouvindo o velho dar uma tosse ofegante.

? Sim, Milady, ? disse ele, tossindo novamente ao fazê-lo. ? Eu vou fazer isso. Deus vai com você.

Alina engoliu em seco. ? Obrigada. Eu rezo para isso.

Ela sentou-se na lateral, tomando as rédeas, e juntos ela e Argent, seu cavalo, cavalgaram pelos portões.

Alina mordeu o lábio. Não era tão tarde, mas a neblina já estava se acumulando, fazendo dos pântanos ao redor do castelo, um lugar escuro e ameaçador. O chão abaixo dos cascos do cavalo estava molhado e escorregadio, o que tornava perigoso tentar algo mais rápido do que um trote.

Eles desceram a encosta em direção à planície.

Quando chegassem à planície, deviam seguir a estrada até a floresta. A rota para Inverglass era talvez dois dias de viagem, embora o caminho que ela escolhera fosse cortar a metade de um dia. Foi por isso que ela planejou isso. Ela estremeceu. A única preocupação da rota que escolheu foi que a levaria perto de Gormond, a sede do pai de Camry.

Whist! Pare de ser tão tola. O homem não podia fazer nada. Tudo que você fará é passar pelo forte. Além disso, apesar de tudo, Camry Blackwell ainda estava fora. A lembrança de Camry, e o medo que ele induziu nela, ainda a fez tremer e puxar o manto para mais perto. Ela não gostou da ideia de andar pela floresta sob o controle de sua família. Ela mordeu o lábio. Não havia outra maneira.

Sentiu Argent lento quando chegaram à floresta, e emitiu ruídos de aprovação. ? Bom. Precisamos diminuir agora. Precisamos ter cuidado. Eles cavalgariam um pouco pelo bosque e atravessariam o território de Blackwell, talvez mais tarde naquela noite.

Argent bufou e Alina deu um tapinha no pescoço dele. ? Bom. Vamos diminuir agora. Eles entraram na floresta.

A floresta estava em silêncio. A última chuva, pingando das folhas longas, era o único som. Abaixo das folhas, o chão da floresta estava seco, por causa da proteção das folhas, cheirando a terra e a um silêncio antigo. Alina respirou profundamente, sentindo a estranha cautela de estar em uma antiga floresta descendo sobre ela. O lugar possuía o silêncio da sepultura e, como a sepultura, uma sensação de presenças aguardadas, ancoradas do outro lado do tempo.

? Eu vou para arrumar algo mal feito, ? disse ela em voz alta.

A afirmação era para ela, assim como para as antigas presenças que pairavam no silêncio da capela. Se elas estivessem guardando o lugar ? e ela sentia uma sensação de hostilidade, não havia dúvida, ? a razão certamente as faria tolerá-la ali.

Houve uma pausa, depois houve um suspiro estranho, quase como se um vento soprasse, embora nenhuma das folhas se mexesse. A luz iluminou a floresta, como se uma nuvem se afastasse, deixando temporariamente a luz do sol entrar. Foi apenas um momento fracionado, e depois tudo voltou ao normal.

Alina sentiu a tensão diminuir um pouco, e ela suspirou quando o batimento cardíaco diminuiu novamente. Argent, abaixo dela, também parecia relaxar, pois suas orelhas se moviam de contraídas, para relaxadas. Alina sentou-se mais à frente, relaxando pela primeira vez desde que saíram.

? Fácil, agora, ? ela disse para Argent. ? Esta é a parte mais longa dela. ? Ela meio que fechou os olhos, confiando em Argent para seguir os rastros pela floresta. Ela não tinha certeza de como explicaria sua presença nas terras de Blackmuir ? invasão era o domínio de caçadores e armadilhas era um crime. Nenhum caçador pensaria que ela estava lá para roubar sua senhoria!

Contanto que eles não perguntassem para Lorde Camry.

Ela cravou as unhas na palma da mão, puxando a concentração de volta para o momento presente. Os bosques estavam escuros, a chuva pingando na capa, mas deixando-os secos.

Não vou me preocupar com nada além, ela decidiu, mas com o momento presente.

Havia perigos suficientes para preocupá-la ? javalis, ursos, outros animais selvagens. Foras da lei. Ela não precisava se preocupar com o perigo e nebuloso Lorde Camry. Ela seguiu em frente. A certa altura, quando a estrada se abriu, eles passaram a um galope, acumulando tempo. Então, quando chegassem novamente a árvores densas, talvez dez minutos depois, eles trotariam.

Alina seguiu em frente quando a luz desapareceu na floresta, escurecendo para malva e bronze e depois, finalmente, para preto. Ela sentiu a cabeça se inclinar à frente e andou meio adormecida; a única coisa que a mantinha reta era a sela e os dedos nas rédeas.

Mais tarde, ela ficou agudamente acordada. Ela ouvira um barulho.

Ela deu um tapinha no pescoço de seu cavalo, mas seu cavalo parecia tão nervoso quanto ela. O coração de Alina bateu.

Lobos. Ela estava certa de que era. Por que outro motivo o Argent pararia tão de repente? Ela se amaldiçoou. Não há nada que eu possa fazer ? não posso acender uma tocha. Eu vou morrer aqui. Ela parecia descontrolada. Não havia para onde ir. Não havia maneira de escapar dali.

Ela se preparou, esperando para ver o brilho de seus olhos. No entanto, nada veio.

Em vez disso, houve um som novamente. Um estalo de galhos atrás dela. Ela sentiu seu coração bater forte. Ela estava com muito medo de se virar. Seria um urso? Um homem selvagem? Algum demônio horrível da noite?

Ela estava rígida demais para se mexer. Eu não quero ver... Ela se preparou: ela precisava olhar. Sentindo o pescoço ranger enquanto ela se movia, ela se virou.

Encontrou-se olhando para um verde e depois para o homem a cavalo mais atrás.

Lorde Camry.


Capítulo Vinte E Dois

Impressionado


A noite foi escura e fria, a manhã, ainda mais fria. Duncan, cavalgando pela charneca, há muito tempo deixara de sentir os dedos.

Tudo o que sabia era que, àquela noite, ele teria chegado.

Deu um tapinha no cavalo, feliz por tê-lo trazido em vez de aceitar a oferta de um novo cavalo de guerra. Ele deu um tapinha no cavalo com carinho.

? Você me conhece, e, pelo menos, eu posso falar com você. ? Ele riu, pensando em Broderick.

Seu irmão, talvez tolamente, permitira que seu senhorio lhe desse um cavalo como presente. O cavalo era enorme, treinado e criado na França para o serviço de batalha. O problema era que ele só falava francês. Seus treinadores haviam lhe ensinado naquela língua, e agora era tudo que o cavalo sabia.

Duncan riu novamente, sacudindo a cabeça. Alina precisará falar com o cavalo por mim. Alina e sua irmã falavam duas línguas, eram as filhas do embaixador do rei da França na corte, isso sempre o fazia sorrir com espanto quando ela falava aquela língua estranha.

O pensamento de Alina atravessou seu coração dolorosamente. Eu me pergunto onde ela está. O que ela está fazendo agora?

Ele deixou sua mente construir imagens de casa, dela. Sentada e costurando na sala da torre, rindo de algum comentário de Chrissie. No jardim, o cenho franzido na testa enquanto pensava no tratamento de um paciente. No solar, lutando contra Heath ou Brien com sua inteligência e muitas vezes ganhando.

Ela é tudo que eu amo. Deixou que os pensamentos dela o aquecessem, deixando sua mente vagar em um espaço distante da charneca cinzenta e das nuvens cinzentas.

Ele e seu cavalo, Douglas, pararam para o almoço. Ele compartilhou as rações com o cavalo, sabendo o quanto um cavalo resistente como esse precisava de comida neste frio. Mais do que grama era certo.

Eles descansaram um pouco e depois continuaram. Quando o céu começou a escurecer, ele conseguiu ver o contorno de uma fortaleza em uma colina, uma torre orgulhosa contra o céu que escurecia.

Ele atravessou a charneca, estreitando os olhos para manter o lugar à vista enquanto a luz caía rapidamente e as sombras se estendiam à noite. Quando ele finalmente subiu o caminho para o portão, ele mal podia ver sua mão na frente de seu rosto, uma escuridão forte, com o calor estranho que aparece, quando a terra devolve seu calor fraco para o céu.

? Quem vem lá? ? Uma sentinela intimidou-o no portão.

? Um amigo, ? Duncan começou. Ele pensou muito. Ele não queria reivindicar qualquer ligação com a família Lochlann ? essas pessoas eram seus inimigos. No entanto, se ele dissesse seu próprio nome ? MacConnoway ? eles saberiam por causa do casamento de seu irmão? Isso foi seis meses antes. Eles não estavam tão longe.

? Nome? ? O homem disse, com um cansaço que ousou Duncan para testar sua impaciência.

? Duncan MacConnoway ? ele disse, um plano se formando em sua mente.

? O assunto?

? Eu gostaria de falar com seu laird. Eu tenho informações que podem ser... úteis para ele.

? Espere aqui.

Duncan assentiu em agradecimento ao guarda enquanto o conduziam para o lado da guarita. Ele escorregou cansado da sela de Douglas. Ele daria ao cavalo uma trégua.

Em breve, ele orou, ambos estaremos atendidos.

Ele olhou ao redor. Ele acenou para os outros guardas, mas eles olharam para o outro lado, e então ele deu de ombros e olhou pela janela.

Muitas vezes ele se perguntava como era Inverglass ? a imponente fortaleza da colina era frequentemente mencionada, ostentada como impossível de cerco. Estava bem colocada, ele precisava admitir: da colina íngreme, eles podiam atacar seus inimigos, bem como avistá-los por quilômetros.

Ele forçou os olhos, tentando olhar às paredes. Estava escuro demais para ver o topo, mas ele tinha a sensação de que elas eram altas.

Alguém bateu à porta.

? MacConnoway?

? Sim?

? Você pode entrar. O laird vai ver você.

Duncan olhou para ele. Funcionou! Ele não esperava que isso acontecesse. Ele fechou a boca, percebendo que o homem o achava um pouco louco e caminhou até a porta.

Deixou Douglas, o cavalo, nos estábulos e depois seguiu o guarda que estava conduzindo-o pelo caminho em direção ao grande salão. Na porta ele foi parado.

? Armas?

Ele suspirou. Ele usava uma faca de cinto, que ele lhe passou. Era boa, e ele esperava vê-la novamente. Ele lançou um olhar duro para o homem que a pegara. Ele estava quase certo de que ele não a entregaria, quando ele fosse buscá-la de volta.

Bastardos, ele pensou com raiva.

Sentindo-se nu, vulnerável e inseguro, ele seguiu o guarda de rosto duro ao longo da passagem e subiu as escadas em direção a uma torre.

A torre estava gelada, o vento entrando pelas fendas das janelas, descendo as escadas. Ele mordeu o lábio, tremendo enquanto seguia o homem silencioso até a torre sinuosa. Por tudo o que sabia, ele o estava seguindo para a prisão. Ele não tinha ideia de onde ele estava.

O guarda bateu em uma porta alta e arqueada, uma tocha balançando ao vento em um suporte ao lado dela. Ele fez uma pausa e depois repetiu.

Duncan mal ouviu o comando para entrar, mas o guarda deve ter ouvido, pois ele abriu a porta e a mostrou para Duncan. Em seguida fechou-a atrás dele.

Do outro lado da porta, Duncan se encontrou em um escritório. Estava quente, um fogo ardente, as paredes densamente cobertas, tecidos preciosos fazendo de tapeçarias que bloqueavam o vento e a frieza da pedra. Ele olhou em volta e viu uma mesa de madeira. Atrás estava um homem idoso, cabelos brancos brilhantes à luz do fogo. O se velho virou e acenou com a cabeça, tranquilamente.

? Duncan MacConnoway. Sente-se.

Duncan engoliu em seco e assentiu. Ele estava esperando ser repreendido. Interrogado. Preso, talvez. Prendê-lo para obter vantagens de Lochlann teria sido um plano inteligente. A última coisa que ele esperava era essa polidez indiferente. Era, francamente, mais aterrorizante do que se o conde o atacasse.

Ele limpou a garganta, procurando suas boas maneiras. ? Boa noite.

O conde riu. ? Boa noite, de fato. Você tem negócios aqui?

Duncan assentiu. ? Sim. ? Sua garganta estava apertada e a palavra saiu áspera. Ele se amaldiçoou interiormente, mas sabia que não podia fazer nada diferente. Este velho homem de cabelos brancos e voz seca e árida era facilmente mais assustador do que a prisão.

? Você não é meu aliado. Você é um aliado do meu inimigo. Ainda assim você está aqui. Por quê?

Ele acariciou a barba devagar enquanto falava, e Duncan desviou o olhar, tentando se concentrar na resposta.

? Eu não sou amigo, nem inimigo, ? disse Duncan, mecanicamente. ? Eu sou irmão de um aliado do seu inimigo, isso sim. Mas eu não tenho lealdade.

? Oh!

Isso trouxe vida a ele. Ele se sentou e os olhos estranhos e claros brilharam. Duncan estremeceu. Isso era o que lhe faltava. Ele era corpulento, animado. Alguma centelha essencial parecia ter sido drenada dele no nascimento, deixando-o vazio e frio.

Duncan, odiando a si mesmo, continuou. ? Eu venho para acordar com uma aliança com você. Eu mesmo. Não como um MacConnoway.

? Oh! ? O homem levantou a mão da barba, colocando-a no braço da cadeira. ? E por que eu devo concordar com isso? Por que eu devo confiar em você?

Duncan estremeceu com os tons sibilantes. ? Eu trago uma oferta, ? disse ele.

? Fale isso.

? Eu planejo, ? disse Duncan, ? derrubar meu irmão. Ele é um governante fraco. Meu pai está ausente. E Broderick é um mau administrador. Ele cobra os empregados e sobrecarrega os servos. Ele desperdiçava a vida de seus homens de armas e tudo com o que se preocupa são caçadas. Eles o odeiam. Com o menor encorajamento, seus próprios homens o derrubariam. E entregariam o castelo para mim.

? Oh! ? O velho parecia interessado. Ele colocou a mão sobre a mesa e então franziu a testa para Duncan. ? O que você quer de mim? O que você vai oferecer em troca?

Duncan apertou as mãos debaixo da mesa, deixando as unhas rasparem as palmas das mãos e lembrá-lo de que ele não estava morto, e este homem era algum guardião do mundo dos mortos. ? Eu ofereceria ouro. Tudo que preciso é vinte soldados. Não posso garantir que todo o nosso povo me apoiaria, e preciso de uma pequena força... além disso... para proteger-me.

? E o ouro?

? Eu sei que Dunkeld tem riqueza. E procuramos intermediar uma aliança com os Saefirths. Eles controlam grande parte do transporte em Clyde. Você conhece a riqueza que pode ser feita de impostos.

? Sim, ? A voz era grossa.

? Bem, então? ? Duncan disse cautelosamente.

Ele esperou pelo homem, mas não houve resposta. Ele olhou ao redor da sala, notando as cores marcantes das tapeçarias, os desenhos cuidadosos. Quem quer que as tenha feito, deve ter sido uma mestra costureira. Enquanto estudava uma linda tapeçaria retorcida e colorida, o laird se moveu. Tomando seu pulso em seus dedos brancos, Duncan sentiu ele puxá-lo para perto. Ele encontrou-se a um centímetro de distância daquele rosto velho, olhando para os olhos gelados.

? Por que devo aceitar sua palavra? Um homem que trai seu irmão é um mentiroso do pior tipo. Eu não confio em você.

Duncan estava naquele momento mais aterrorizado do que se lembrava. Esperou, tenso e assustado, quando o velho mancou até a porta e convocou os guardas.

Enquanto ele estava marchando, ele olhou em volta, de volta para a porta onde o velho estava, observando-os friamente.

Pelo menos, pensou ironicamente, seguindo o guarda pelo corredor e para outro lance de escadas, estou sob um teto. Eu estou quente. E, esperançosamente, nunca mais precisarei ver aquele homem aterrorizante novamente.

O pensamento foi divertido, mas a alegria logo morreu nele. Encontrando-se encarcerado em um quarto da torre com um cobertor, um balde e uma pequena fenda como janela, sentou-se contra a parede e fechou os olhos.

Alina, ele pensou melancolicamente. O que eu faço agora?

Ele completaria a tarefa? Ou ele morreria ali, sozinho e gelado, traído por sua própria mão? Tudo o que ele queria era ganhar a confiança do homem, conhecer sua família. Agora, ao que parece, ele não encontraria ninguém. Ele poderia nunca deixar este castelo também.

Fechando os olhos, preenchendo sua mente com lembranças de amor, tentando conjurar esperança para o futuro, procurando pelo rosto de Alina, ele se aconchegou sob o manto, esperando pelo sono.


Capítulo Vinte E Três

UMA DISCUSSÃO


A noite estava escura.

Alina sentou-se ao lado do fogo com a postura rígida. Ela olhou para as chamas. Ela olhou para o rico carpete no chão. Ela parecia, na verdade, estar em todos os lugares, menos no assento onde estava e em frente a ela, Camry estava sentado.

? Você parece triste, ? disse ele suavemente. Alta e grave, sua voz soou ao redor de Alina como uma névoa sinistra, fazendo-a estremecer.

Ela não disse nada.

Ele riu.

? Bem então. Se você não se importa, eu vou me servir um pouco. Pelo menos um de nós deve estar de bom humor.

Ele riu de suas palavras e se serviu de um bom uísque. Alina sentiu o cheiro amanteigado e sentiu seu estômago apertar sentindo-se enjoada. Ela não havia comido nada desde a tarde anterior e ela se sentia tonta, o quarto girando sobre ela.

? O quê? ? Ele perguntou, segurando o copo na posição vertical. Ele obscureceu parte do rosto dele, de modo que ele olhou para ela através de um olho, verde ouro, como o de um falcão gerifalte. Ela desviou o olhar.

? Nada.

Sua voz estava rouca pela falta de uso e pelo medo que corria por suas veias. Ela ficou de costas para ele, encarando a chama. Ela esteve ali por um dia inteiro. Desde que ele a capturou na noite anterior, ela não o vira. Ela recebera um quarto confortável na ala leste, bem equipado e quente. Ela fora convidada para o solar para jantar com Lorde Camry, mas recusara o convite. O pai dele, informou-a, estava no oeste, visitando seu próprio irmão. Isso deixava Camry como o único membro da casa na fortaleza. E ela não desejava a companhia dele.

Camry riu. ? Venha, minha senhora. Diga alguma coisa... Você é geralmente mais tagarela!

Alina deu uma risada dura. Ela não conseguiu evitar. Ela esperava que ele a rejeitasse pela grosseria, mas ele não fez nada. Ela olhou para cima para vê-lo estudando-a.

? Você pode se explicar, ? disse Camry suavemente. ? Eu esperei o dia todo você visitar-me. Eu tenho sido tão solícito. E ainda assim você me despreza.

Sua voz falhou nas últimas palavras, e Alina estremeceu, percebendo o quão apaixonado ele era, e com que raiva. Este homem não era totalmente estável, ela percebeu. Como uma fera faminta por muito tempo, ou uma criatura destemida, ele não era racional por muito tempo. Ele atiraria em alguém simplesmente para vê-lo reagir, para mostrar através da dor que ele ainda existia.

Tenha cuidado, Alina, ela disse a si mesma. Você pode escapar aqui, mas só se você pensar antes de agir.

? Fiquei simplesmente surpresa, Lorde Camry, ? ela disse, lutando para ficar calma, ? que você pensasse em me ter aqui em tão pouco tempo.

Ele riu disso. ? Foi bastante espontâneo. Um trabalho de boa sorte. ? Ele gesticulou com o copo. ? Eu tenho os melhores caçadores aqui... Meu pai me deixa administrar a caça, conhecendo minha paixão por isso. Estes homens são escolhidos a dedo e respondem a mim.

? Mm? ? Alina disse, encorajando-o a prosseguir.

? Onde eu estava? Oh, sim. Os caçadores. Dougal relatou-me que ele havia visto alguém na floresta. Eu o pressionei para dar mais informações. Ele explicou que era um cavaleiro. Sozinho. Claro, isso despertou meu interesse. Quando ele acrescentou era um cavaleiro alto, de cabelos compridos, vestido de veludo, vindo de Lochlann, é claro que pensei em você. Então saí para investigar.

Alina sorriu amargamente. ? De fato. Inteligente vindo de você.

? Sim. ? Ele sorriu. Parecia acreditar que ela queria realmente dizer isso, pois parecia absurdamente satisfeito consigo mesmo. ? Não é por nada que meu pai me agrega mais ainda. ? Fez uma pausa e depois continuou. ? Bem então. Agora você está aqui. Você deveria jantar comigo.

Alina sentiu seu estômago apertar. Ela não estava exatamente com fome ? ela havia parado de sentir fome há cerca de cinco horas. Ela sentiu uma pontada vaga em algum lugar do abdômen que parecia lembrar-lhe que deveria comer. ? Eu não discutiria com uma tigela de mingau, ? disse ela com cuidado.

Ele sorriu. ? Muito bem! ? Ele se levantou e bateu palmas e um criado saiu de trás de uma das tapeçarias. ? Arrume a mesa no solar! Lady Alina vai jantar comigo esta noite.

Alina engoliu em seco. Ela não pretendia realmente concordar com aquilo. Tudo o que ela queria era a chance de se livrar da terrível dor de cabeça e da letargia que desceu sobre ela, em algum momento do dia anterior.

Quando o criado foi embora, Camry se acomodou novamente no lugar. ? Estou feliz por ter você aqui, ? comentou ele. ? Eu tenho refeito meus planos para o futuro, desde que eu vi você na semana passada.

Alina ficou olhando. Refeito planos... ? Meu senhor?

Ele riu. ? Falaremos mais disso durante o jantar. Eu acho que você será mais receptiva ao meu ponto de vista se você tiver comida fresca e um copo de clarete dentro de você.

Alina estremeceu. Ela estava certa de que não concordaria com qualquer ponto que aquele indivíduo perigoso tivesse para fazer. Ela possuía um forte senso do que ele queria dizer, e sabia que ela absolutamente não queria ouvir sobre isso.

? Não tenho a certeza de poder manter-me muito atenta depois do vinho, meu senhor disse ela, cuidadosamente.

? Bobagem! ? Ele disse com desdém. ? Você tem um estômago mais forte do que isso!

Alina piscou. Penso, meu senhor, estou ciente da capacidade do meu próprio estômago. Eu tenho convivido com ele por vinte anos. Ela não disse nada, apenas assentiu e deixou que ele segurasse a mão dela, ajudando-a a se levantar. Seu toque a fez estremecer, mas ela se sentiu tão fraca, sentindo a dor em sua cabeça enquanto se levantava, que não estava disposta a afastar a ajuda.

Ele se inclinou para mais perto, unindo o braço ao dela. Ela sentiu a absoluta repulsa subir quando ele pegou a mão dela em suas próprias mãos frias, acariciando a pele e encarando-a com admiração.

? Estou sentindo-me melhor, meu senhor, ? disse ela, limpando a garganta. ? Eu tenho certeza que uma caminhada rápida vai me fazer bem. ? Fixando seus pés, ela caminhou para frente, sem se importar com a dor em sua cabeça. Ela atravessou a porta em arco e desceu as escadas. Um momento depois, ela o ouviu seguindo-a.

? Você parece conhecer o layout da minha casa, ? disse ele por trás dela. ? Eu acho que é uma... característica útil.

Alina suspirou. ? Sua casa não é tão diferente em seu layout que eu não possa imaginar que o solar esteja em algum lugar no centro, de frente para o corredor.

? Muito bem, ? ele disse suavemente. Ele estava atrás dela agora, e sua mão descansou em seu pescoço. Ela sentiu a bile subir em sua garganta e caminhou à frente, deixando-a escorregar.

? Aqui estamos, ? disse ela, forçando leveza à sua voz, como se ela tivesse a intenção de correr até a porta, para ficar longe de sua mão.

? De fato.

O solar era menor do que o que ela estava acostumada, a linha de janelas arqueadas estava escondida agora, atrás de telas de proteção, para evitar os ventos cortantes. Um fogo rugia na lareira e a sala era dominada por uma longa mesa de jantar de madeira escura, com cadeiras entalhadas em volta.

Alina olhou em volta e notou um criado em pé ao lado da mesa e apressadamente selecionou um assento na ponta. Lorde Camry não podia se sentar ao lado dela lá. Quando ela olhou para cima, viu a sobrancelha dele escurecer, depois clarear. Ele se aproximou e se sentou à direita dela. Ele olhou para ela desafiadoramente, como se dissesse que sabia que ela estava tentando evitá-lo, e não permitiria que ela o fizesse.

Alina mordeu o lábio. Valeu a pena tentar.

Enquanto eles estavam sentados lá, outro homem apareceu com um copo. Ele encheu o cálice de Alina com vinho escuro e depois encheu o seu senhorio da mesma forma. Os criados se retiraram, deixando-os momentaneamente sozinhos.

? Um brinde!

Lorde Camry levantou a taça. Alina não tocou a dela, sabendo que subiria à cabeça se ela não comesse. Ele fez uma pausa. Olhou para ela, como se recusasse acreditar que ela o desafiava.

? Um brinde! ? Ele disse com raiva. ? Você também deve beber.

Alina olhou para ele. Viu como ele estava corado, como se a raiva ameaçasse se transformar em febre ou violência, e ela concordou, sentindo-se abalada. Ela levantou a taça. Um criado apareceu e colocou uma tigela de sopa à frente de cada um deles, interrompendo momentaneamente o brinde. Ao sair, Lorde Camry limpou a garganta, levantando a taça mais alto.

? Para minha futura noiva.

Alina deixou a taça de lado com um barulho. Uma gota de vinho tinto derramou na mão dela, parecendo sangue. Ela olhou para ele. ? Sua o quê?

Ele riu. ? Oh, não tenha medo. E não banque a ignorante comigo. Você deve saber que foi por isso que eu a trouxe aqui. Desde a primeira vez que a vi, sabia que devia ter você. Eu não preciso obedecer meu pai... uma aliança com Lochlann é algo que até ele pode ver sentido. E eu preciso ter você.

Alina olhou para ele. Seus olhos verdes pálidos haviam se estreitado e ele estava corado. Ele parecia um homem febril, ou um homem que tomara uma beladona e estava suando e tendo visões. Ela moveu as mãos cuidadosamente para o colo e buscou a paz. Este homem não está bem, Alina. Seja cuidadosa. Ele é imprevisível.

? Meu senhor, ? disse ela com cuidado. ? Você não considerou isso. Você precisaria fazer muitos preparativos para fazer tal proposta. Você não conhece meu tio Brien ? o conde de Lochlann ? e não sabe se ele tem planos para o meu noivado. Você precisaria consultá-lo primeiro.

Lorde Camry olhou para ela. Então ele riu. Foi um som alto e tenso. ? Por que eu deveria? Você acha que seu tio poderia fazer alianças através de você, depois de uma noite no meu forte? Quem acreditaria que você está imaculada?

Alina sentiu todo o sangue dela drenar para seus pés.

Ela se virou para ele, lentamente. ? Você não faria.

Ele sorriu para ela, os olhos brilhantes de luxúria, o rosto corado pelo vinho. ? Eu não faria?

Alina ficou de pé. Ela se inclinou contra a cadeira. ? Você não ousaria.

Observando-o, ela recuou devagar em direção à porta. Ela havia se movido para o meio do tapete, antes dele falar de novo.

? Eu não vou agredi-la no solar, Lady Alina. Dê-me um crédito pelo bom gosto. Talvez no corredor... Ou na torre. Não aqui perto do ensopado de coelho. É impróprio.

Alina sacudiu a cabeça. O homem estava muito bravo. Ela continuou se afastando. Ela ouviu Lorde Camry empurrar a cadeira para trás e atravessar a sala. Ela estava quase na porta quando ele chegou até ela, chegando por trás, bloqueando seu acesso à porta. Ela se endireitou, chegando a sua altura máxima. Sua voz era baixa e nivelada, um aviso que também era uma afirmação simples. No interior, ela estava apavorada. Do lado de fora, ela estava friamente calma.

? Você não ousaria me prejudicar. Você não tem ideia do que aconteceria se você fizesse isso. Você não gostaria de se amaldiçoar com suas próprias mãos. Ela olhou para ele, olhando por baixo de seus cílios, reunindo todos os anos de suspeitas de feitiçaria, naquele único olhar. O único poder que ela possuía para se proteger era o medo que ela poderia gerar. Ela o usou agora.

Para seu alívio, ele recuou. Ela viu os olhos dele se arregalarem e depois se estreitarem e soube que ela o deixara com medo, mesmo que apenas por um ou dois segundos.

? Você não está sendo você mesmo, Lady Alina, ? disse ele. Ele pegou um lenço e secou a testa. ? Eu acho que você precisa dormir e descansar, e considerar isso pela manhã.

Alina não disse nada.

Ele olhou para ela, balançando a cabeça. ? Se Benoite estivesse aqui.

Alina olhou para ele. ? Benoite? ? Ela sabia esse nome! Essa era a senhora que Duncan procurava. Seu queixo caiu e ela fechou a boca rapidamente.

Ele piscou. ? Sim. Lady Benoite. Uma relação distante da minha mãe. Uma dama de Inverglass. Ela está lá agora, eu entendo. Retornou de MacDonnell quando o marido dela morreu.

? Benoite está em Inverglass? ? Alina sentiu uma súbita esperança enlouquecedora preenchê-la. ? Você a conhece?

? Sim, ? disse ele. ? Se ela estivesse mais perto da minha própria casa, eu a chamaria agora. Você não me ameaçaria tão friamente diante de outra bruxa.

? Benoite é uma bruxa?

? Se alguém acredita em tais coisas, sim, ? ele disse com desdém. Alina precisou morder suas bochechas para evitar sorrir. Ele claramente queria, ou talvez porque ele tivesse medo, desejava que ela estivesse lá para contrariar qualquer maldição que Alina fizesse?

Ela deslizou o olhar à porta, onde um empregado apareceu com uma bandeja de pão fatiado. Ela viu o homem olhar de seu senhorio para ela interrogativamente e quase o viu encolher de ombros quando colocou o pão sobre a mesa e retirou-se silenciosamente.

? Alec?

? Meu senhor! ? O homem pareceu surpreso ao ser chamado.

? A senhora não comerá conosco nesta noite. Devolva-a a seus aposentos. E mantenha a porta protegida.

O homem parecia angustiado. Alina inclinou a cabeça um pouco e ele pareceu aliviado. ? Sim, meu senhor. ? Claramente odiando a tarefa, o criado conduziu Alina à porta e subiu as escadas, indo à câmara onde ela estivera praticamente presa no último dia.

Quando ele fechou a porta atrás dela, Alina afundou na cama. Ela sentiu o cansaço e o alívio fluírem através dela.

Duncan estava no lugar certo.

Aquela havia sido uma das preocupações constantes que a assombraram por todo o tempo em que ela estivera ali. Duncan estava em perigo. Agora ela sabia, pelo menos, que por mais perigoso que fosse, a tarefa era possível. Duncan seria capaz de encontrar o que procurava. Deixe-o voltar em segurança, ela rezou.

Ela estava deitada na cama, cansada e com fome, perdida em seus pensamentos, quando ouviu uma batida à porta. Foi um som hesitante, um toque suave.

? Entre, ? ela falou.

Alec apareceu. ? Minha senhora?

Ela olhou para baixo. Ele estava carregando uma tigela de guisado ? aquele que ela havia deixado no solar ? e um prato de pão fatiado.

? Sim?

? Uh... sua senhoria disse para jogar isso aos cachorros. Mas sei que você esteve aqui um dia inteiro e não comeu nada. Você aceitaria isso?

Alina sentiu seu coração se derreter com a gentileza. Ela olhou para ele, piscando freneticamente para não chorar.

? Obrigada, ? ela sussurrou.

O servente corou impetuosamente e colocou a bandeja em um banquinho baixo. Então, curvando-se, ainda vermelho, ele se retirou.

Quando Alina comeu o guisado lentamente, encharcando o pão no líquido para amolecer o suficiente para mastigá-lo, sentiu o alívio e a calma fluírem através dela. O ensopado e o pão fizeram sua cabeça formigar, trazendo a sensação aos dedos dos pés que ela havia esquecido que estavam entorpecidos e fazendo-a de repente suar, enquanto seu corpo voltava lentamente à vida. A sensação foi maravilhosa. Mais, até do que o alívio disso, foi o alívio que Duncan estava no lugar certo.

Ele estava onde deveria estar, afinal de contas. E a próxima tarefa estava ao seu alcance.

Depois da refeição, sentindo-se cansada e profundamente calma, Alina se encolheu no chão ao lado do fogo e, pela primeira vez desde que saiu de Lochlann, adormeceu.


Capítulo Vinte E Quatro

MISTÉRIOS E REUNIÕES


A luz passando através da longa fenda da janela mudou de um feixe mais simples para um brilho pálido. Deslizou pelo chão e pousou nas pálpebras da forma encolhida sob um manto, no centro das lajes.

Duncan esfregou os olhos e depois se sentou, cada músculo duro e dolorido.

? Eu realmente me meti em uma bagunça, não é?

Duncan disse em voz alta, virando a cabeça e sentindo o clique do pescoço. Cada parte dele doía e sua cabeça estava dolorida por dormir no frio, apoiada em seus braços.

Ele permaneceu grogue e caminhou até a porta. Estava trancada. Ele esperava por isso. Suspirou e se perguntou se sua senhoria planejava matá-lo de fome.

Só havia uma maneira de descobrir.

? Olá? ? ele gritou pela porta, surpreso com o quão fraca sua voz estava.

Se ele pensou sobre isso, ele não ficou surpreso. Ele não havia comido desde o queijo, na hora do almoço, ontem e ele estava se sentindo exausto. Ele sacudiu a maçaneta da porta, procurando despertar alguém.

? Olá?

Ele se manteve assim, por cerca de dois minutos ? batendo com força na porta, sacudindo a maçaneta, chamando através dos painéis de madeira. Por fim, ele ouviu passos. Alguém puxou uma chave de uma corrente e a colocou na fechadura, depois se virou. A porta se abriu.

? Eu estou aqui, você pode parar a ladainha, ? um guarda resmungou. Ele alcançou o batente da porta.

? Eu devo esperar o café da manhã? ? Duncan perguntou cortês. O guarda ? um homem talvez dez anos mais velho do que o próprio Duncan, olhou para ele.

? Só um minuto, ? ele disse, muito educadamente. Fechou a porta e saiu.

Bem, isso foi bom, disse Duncan a si mesmo ironicamente. Você tem a chance de escapar ? ou pelo menos de obter informações ? e você realmente aproveita bem, não é?

Ele suspirou. Colocou as costas contra a parede e deslizou para baixo, sentindo-se derrotado e miserável. Ele veio até ali para encontrar a pérola. Agora, ele estava graças ao seu próprio erro de julgamento, trancado em uma torre, provavelmente destinado a ficar faminto e com o tempo livre.

? Bom herói você é, ? disse a si mesmo com tristeza. Ele se sentiu infeliz. Ele sabia que a melancolia não seria removida por causa da fome, mas isso não ajudava. Ele se sentia como um completo idiota.

Ele ficou sentado lá por algum tempo, desconhecido, perdido em sua própria depressão, quando ouviu a chave.

Ele se levantou apressadamente, estremecendo quando sua cabeça girou.

O guarda apareceu novamente, parecendo severamente constrangido. ? Lorde Duncan... ? ele começou.

? Bem, não fique aí parado, homem! Deixe-me vê-lo! Eu não tenho o dia todo, e nosso convidado precisa de comida. ? Uma voz exigiu de algum lugar atrás do guarda. Grossa e arrogante, aquela era uma voz jovem, uma voz usada para comandar.

Duncan olhou e, um momento depois, um jovem apareceu.

Vestido com um longo manto verde, uma túnica e calças marrons, o homem parecia ter planejado um dia de caça na floresta. Ele possuía cabelos ruivos que alcançavam seus ombros e brilhavam. Seu rosto comprido e magro estava sério, a boca virada para baixo. Ele parecia vagamente familiar para Duncan, embora não conseguisse pensar no por que.

? Lorde Duncan, ? disse o homem formalmente. ? Peço desculpas por sua... circunstância atual. Meu pai foi... negligente ? disse ele cuidadosamente. ? A situação foi corrigida. Pode vir conosco agora?

Duncan ficou olhando. Ele teve a presença de espírito para inclinar a cabeça, em um arco. ? Meu Senhor. É um prazer conhecê-lo. Ele estendeu a mão. Ele não sabia que havia um filho, embora devesse ter adivinhado que havia um.

O jovem piscou. Então ele sorriu. ? Desculpas. Agora eu sou negligente com a cortesia. Permita me apresentar. Eu sou Alf.

Duncan pegou sua mão, agitando-a com firmeza. Alf era um nome nórdico. Um dos progenitores de Alf devia ter vindo de Ostmen, os descendentes dos invasores nórdicos. No entanto, ele gostou da aparência de Alf.

? Prazer em conhecê-lo, Alf. Eu sou Duncan.

O jovem sorriu. ? Sim, eu sei. Nosso guarda me informou. Se não tivesse feito, estremeço ao pensar no que teria acontecido. Agora venha. Eu preparei alojamentos melhores do que esse.

Duncan, piscando, espantado com a mudança de sorte, seguiu o jovem lorde pelas escadas da torre fria.

Elas se transformaram em um longo corredor, agora, cheio de painéis e quente, e depois chegaram em uma pequena sala.

Alf acenou para que Duncan fosse à frente dele, e entrou depois. Sentaram-se à mesa ? a sala estava confortavelmente mobiliada com uma cama grande, duas cadeiras, uma mesa baixa e um fogo rugindo na lareira. Quando Duncan tentava se recompor, Alf bateu palmas.

? Bem então! Traga isso! Sua senhoria esperou o tempo suficiente para quebrar seu longo jejum!

Um criado apareceu com uma bandeja e colocou-a no chão, depois recuou, nervosamente. Duncan olhou à comida e tentou ignorá-la, sem sucesso.

Quando o criado se foi, um guarda trancou a porta atrás deles. Duncan olhou para Alf, uma pergunta em seus olhos castanhos.

Alf deu de ombros levemente. ? Peço desculpas. Eu não posso libertar alguém que meu pai tenha aprisionado, por mais que eu deseje. Eu, no entanto posso garantir que nossos prisioneiros de alto nível sejam mantidos um pouco melhores do que os servos.

Duncan piscou para ele. ? Eu devo lhe agradecer, ? ele disse cautelosamente. Ele queria comer desesperadamente, mas não queria quebrar a cortesia comendo antes de seu anfitrião.

Alf olhou para ele e depois sacudiu a cabeça, franzindo a testa para si mesmo. ? Bem, devemos quebrar nosso jejum! Experimente esta... parece cerveja, mas não é ruim. Mais refrescante para esta hora do dia. Aquece também.

Duncan assentiu. Levou uma taça de barro aos lábios e bebeu, sentindo a boca subitamente menos seca. Sem mais delongas, ele se atirou na refeição, comendo bolo de aveia e pato frio como se nunca tivesse visto uma refeição em sua vida anterior. Ele se sentia como se não tivesse.

Seu novo captor comeu moderadamente, observando-o com algum divertimento. Quando Duncan teve a certeza de que poderia falar sem sentir tontura, ele falou.

? Meu senhor, eu...

Alf sorriu. ? Tenho certeza que você quer perguntar por que estou aqui. Fiquei intrigado quando o mordomo do meu pai me contou sobre sua proposta. Meu pai é íntegro, mas ele também está se perdendo em sua mente. Eu próprio estou mais interessado no que você tem a oferecer.

Duncan estava levantando uma fatia de pão da bandeja. No instante ele a colocou de volta.

? Você está interessado? ? Ele perguntou.

? Sim. ? Alf se inclinou para trás, retirando os longos cabelos ruivos de sua testa alta. Ele parecia bastante confortável, apoiado nas almofadas de veludo atrás dele. ? Uma aliança com MacConnoway me serviria muito bem. E se você quiser tropas emprestadas para garantir seu poder em Dunkeld? ? Ele levantou um ombro. ? Temos tropas para colocar à sua disposição.

? Você tem? ? Duncan olhou para o jovem. Ele estava confiante, como Duncan havia adivinhado. Confiante e intrigante.

? Nós temos. Os Duncraigh’s não têm escassez de homens armados. Você, certamente está ciente disso? Novamente o ombro levantado, o olhar sob as pálpebras entrecerradas.

Duncan assentiu.

? Bem, então. Podemos concordar com, digamos, quarenta dos homens das nossas tropas? Provavelmente mais do que você precisa. Mas quanto mais eu o ajudar, mais, tenho certeza, você poderá me ajudar.

Duncan pigarreou. ? Ajudar você? ? Ele perguntou. ? Em que empreendimento?

O jovem sorriu. ? Para recuperar o que é meu.

? Seu?

? As terras MacDonnell. Eu as quero. Eles pertenciam a um ancestral distante. Desde a morte de seu herdeiro, lorde Thomas ? ele continuou, olhando de maneira estranha para Duncan, como se soubesse de seu envolvimento, ? lá existe um espaço vazio, esperando para ser preenchido. Eu serei o homem que vou preenchê-lo.

Duncan deu um suspiro, surpreso. ? Você quer minha ajuda para conquistar MacDonnell?

? Sim, ? ele concordou suavemente, arrumado seu ombro onde um manto o cobria, completamente à vontade. ? Eu acho que é certo que os amigos se ajudem, sim?

Duncan pigarreou de novo, inquieto. ? Talvez, ? disse ele.

Alf sorriu. ? Ah! Mas, talvez, você não confie em mim. E nem eu, apesar da minha desobediência para com meu pai, confio em você. ? Duncan olhou para ele e Alf continuou, levantando a caneca de cerveja. ? Eu preciso concordar com a afirmação de meu pai de que um homem que trai seu irmão não é um homem em quem se possa confiar. Então, eu gostaria de saber sua sinceridade nisso.

? Você gostaria? ? Duncan ficou pálido. Em sua experiência, havia somente duas maneiras de determinar se alguém estava sendo sincero ou não. Testando-os ou torturando-os.

? Sim, ? o homem mais jovem disse. Então ele riu. A maneira que tenho em mente não é tão desgastante, lorde Duncan ? disse ele, sorrindo. ? De fato, não requer nada de você. Bem, quase nada.

Duncan olhou para ele. Ele largou a caneca de cerveja, inclinando-se para frente, as mãos entrelaçadas. ? O que você quer dizer? ? Perguntou.

? Você tem alguma familiaridade ? desculpe o jogo de palavras ? com feitiçaria?

Duncan olhou para ele. ? Bruxaria? ? Ele pensou em Alina e em sua tia, Aili. Elas eram a coisa mais próxima que ele conhecia para o que as pessoas frequentemente chamavam de bruxas: mulheres sábias e atentas com uma intuição que podia ser estranha.

? Sim. Feitiçaria ? Alf disse pacientemente. ? Bem, se você não tiver, agora é a hora de testar sua fé. Por assim dizer. Ele riu.

? O que você quer dizer?

? Bem, minha tia é uma bruxa. Você vai encará-la. Se ela decidir que você é sincero, eu vou acreditar.

Enquanto Duncan olhava para ele, Alf se levantou, se equilibrando em seus pés bem calçados. ? Bem, então, Lorde Duncan. Devo dizer que foi um prazer conhecê-lo. Eu vou a uma caçada agora. Voltarei à noite para descobrir se é verdade o que você diz.

Tendo dito isso, Alf caminhou até a porta e, sem mais explicações, saiu, dizendo alguma coisa para o guarda quando saía.

Duncan ficou muito quieto por um longo tempo depois que ele se foi. Ele balançou sua cabeça. Isso tudo estava se tornando demais para ele. Mistérios, encarceramento, agora feitiçaria.

Tudo que eu sempre quis, Duncan pensou tristemente, virando-se para olhar para o fogo, é uma esposa que eu amo, crianças saudáveis, e uma chance de apoiar meu irmão na administração de nossa casa.

Ele fechou os olhos sentindo como se, em algum lugar, alguém estivesse zombando dele e de seus sonhos simples. Neste momento, eles eram tão complexos. Tão completamente fora de seu alcance.


Capítulo Vinte E Cinco

UMA MEDIDA DESESPERADA


Alina olhou o teto. Havia amanhecido horas atrás, traçando raios laranja e depois dourados através da extensão pálida e abobadada. Tremendo, apesar do manto que a cobria e do fogo que queimava na lareira ao lado dela, Alina balançou a cabeça para clareá-la.

Lorde Camry havia lhe falado seus termos. Casar com ele ou ser desonrada.

Ela fechou os olhos, descansando a cabeça dolorida nas palmas das mãos. O problema era que ela se tornara infantilmente fácil para ele. Ninguém sabia por que ela havia deixado o castelo. Tudo o que sabiam era que ele a encontrara na floresta. Enquanto a maioria dos moradores a amava por suas habilidades de cura, muitos deles, particularmente os religiosos interessados em manter as pessoas leais ao seu próprio método de cura, odiavam-na. Tudo o que Camry precisava fazer era dizer a alguém que ele a encontrara lançando um feitiço na floresta, e ela estaria morta.

E mesmo que ele não fosse tão cruel, simplesmente dizendo que passou duas noites ali em seu castelo, sem acompanhante, a arruinaria para sempre. Ninguém se casaria com ela. Se ela tivesse sorte, seu tio permitiria que ela se retirasse para um convento, ajudando-a a encontrar alguém que a aceitasse. Se ela não tivesse sorte, ele a mandaria sair do castelo para procurar seu próprio caminho.

De qualquer maneira, ela enfrentaria uma vida de dificuldades e desconforto, e possivelmente maus tratos e morte.

? Eu não tenho certeza do que eu prefiro, ? disse Alina ironicamente para si mesma. ? Ser maltratada na rua, pelas irmãs na abadia ou por ele.

A escolha era surpreendentemente difícil. Se ela tivesse sorte, na rua ela poderia encontrar abrigo e alguém para protegê-la da violência e luxúria dos homens. Não havia ninguém para protegê-la da luxúria ou da violência de Lorde Camry.

Ela pensou sobre o jeito que ele olhou para ela e estremeceu. Havia algo em sua natureza predatória, em sua arrogância ameaçadora, seus modos depreciativos, que todos a repugnavam. Ela não poderia se casar com ele! Fazer isso a rebaixaria, para além de qualquer coisa que ela pudesse sonhar.

Eu vou escapar, ela pensou descontroladamente. Eu preciso.

Ela se recostou na cadeira, pensando muito.

Lorde Camry a trancou ali. Era um quarto útil ? confortável e agradável. Havia apenas uma janela ? uma alta, esculpida na parede de pedra. Ela não poderia alcançá-la e, mesmo que quisesse, saltar através dela seria a morte certa. Ele havia levado uma refeição pela manhã e, a partir do dia anterior, um convite para se juntar a Camry, no almoço, que ela havia recusado. A luz do lado de fora da janela se apagara um pouco desde então, e ela julgou que talvez ainda houvesse seis horas entre a hora presente e o jantar.

Isso significava que talvez ela tivesse quatro horas de luz solar.

Alina fechou os olhos. Deixou a mente dela formar um plano. Finalmente, ela se levantou. E bateu à porta.

? Milady?

Uma empregada ? Greere ? apareceu. Alina a reconheceu de quando Camry a trouxe até aqui, ordenando que ela ajudasse Alina em qualquer necessidade que fosse mencionada. Ela estava certa de que era esse o nome da mulher.

? Greere, ? disse Alina, hesitante. Ela viu o rosto da mulher mudar ao usar seu nome. ? Estou terrivelmente faminta. Se você pudesse buscar algo para eu comer? Talvez alguns bolos de aveia? Ou só um pouco de mingau?

Greere parecia preocupada. ? Claro, minha senhora! Sua senhoria ficaria aborrecida se ele achasse que ela havia morrido de fome! ? Ela fez uma reverência profunda e recuou. Alina olhou ao redor da sala.

Enquanto a empregada se foi, ela correu até a parede. Engoliu um sentimento de culpa ao enganar a serva, mas sabia que não havia outra escolha, se quisesse escapar daquele destino.

Ela olhou a parede, retomando a busca. As pedras estavam cobertas de tapeçarias cujos desenhos eram trabalhados em dourado e vermelho. Ela puxou uma, grande, que era, facilmente, duas vezes a sua altura, mostrando animais mágicos em dourado e vermelho, em um terreno branco. Ela não fazia ideia de quanto tempo teria e puxou novamente, com o coração batendo no peito.

Quando se soltou na mão dela, arrastando poeira, ela sentiu uma onda de alegria e gratidão. Essa parte, pelo menos, estava funcionando.

Ela correu levemente até a porta, com medo de perder um momento. Ela ficou parada lá, o coração batendo. Seu plano dependia de tempo para ter alguma chance de trabalhar. Ela ficou com a imensa tapeçaria em suas mãos, os fios penetrando em seus dedos por causa da pressão.

Por fim, ouviu passos na escada de pedra.

A criada girou a maçaneta e empurrou a porta, devagar.

? Minha senhora?

Ela olhou ao redor da sala, a confusão aparecendo em seu rosto. Ela deu um passo à frente, a bandeja na mão.

Alina respirou fundo. Rápida como um relâmpago, ela deu um passo atrás da mulher, levantou a tapeçaria e a largou para baixo, apontando para a cabeça. A peça aterrissou onde havia sido planejado e cobriu a mulher, efetivamente, prendendo-a e cegando-a por um tempo. Contanto que demorasse para ela escapar de suas dobras pesadas.

? O quê? Ugh! Tire isso de cima de mim!

Alina atravessou a porta, ouvindo Greere tossindo e gritando debaixo da tapeçaria. Ela não possuía tempo para se sentir culpada, apenas se apressou para rezar que Greere não fosse culpada, e então correu levemente pelo corredor.

Ela sentiu sua mente explodir em uma ação urgente. Eu tenho tão pouco tempo!

Ela se lembrou de ter virado à direita no solar, para chegar a este lugar na noite anterior. Isso significava que, se ela quisesse evitar aquela parte da casa, ela deveria ir à direita novamente quando saísse daqui. Ela seguiu pelo corredor à sua direita, com os pés rápidos, mas sem correr, para evitar chamar a atenção. Ela andou depressa e silenciosamente por cima da pedra, com o coração na boca.

Calma, Alina, ela disse a si mesma, sentindo seu coração batendo. Ela ouviu dois homens rindo em um dos cômodos e ficou tensa, mas eram apenas dois guardas observando seus companheiros por cima do parapeito enquanto eles brigavam no pátio. Ela seguiu em frente.

Calma, Alina. Sua mão estava sob seu coração, sentindo sua respiração e a batida selvagem.

Ela chegou ao topo da escada. Ali, ela precisaria de uma decisão. Ela poderia descer, o que a levaria para o pátio e o grande salão, ou ela poderia continuar por ali, o que levaria à outra torre. Ela não fazia ideia de qual caminho seguiria. Ao longo do corredor, ela ouviu passadas. Provavelmente os homens de armas, saindo do salão da galeria.

Ela mordeu o lábio e fez uma escolha. Virou à direita.

O pátio estava cheio de homens treinando que certamente notariam uma dama e questionariam isso, e seu senhorio ainda poderia ser advertido no grande salão. Pela cozinha teria sido boa ideia, mas os criados provavelmente a impediriam. A torre, no entanto, poderia ter uma janela ou uma porta.

Ela caminhou pelo corredor até a torre, batendo os pés clicando na pedra.

Calma, Alina. Alina, calma. Inspire e depois saia. Inspire. Respire. Seu coração bateu e suas palmas estavam encharcadas. Ela andou pelo corredor a toda velocidade, olhando à esquerda e à direita. Ela chegou às escadas onde ela correu.

Ela bateu em alguém.

Ela gritou.

Ela olhou para cima.

De frente para ela estava Lorde Camry.


Capítulo Vinte E Seis

UMA PÉROLA


Entre.

A voz que falou do outro lado da porta parecia velha. Não humana. Duncan, do lado de fora, com Alf perto de seu ombro, mordeu o lábio, percebendo que estava suando.

Isso é um absurdo, Duncan. Você sabe que as pessoas são cheias de superstição.

Ainda. O corredor estava escuro agora. Alf havia retornado bem tarde de sua caça, encontrando Duncan quando o sol começou a se pôr. O corredor em que estavam estava bem conservado, limpo e quente. No entanto, o medo estava em Duncan e não iria embora.

Alf sorriu, o ombro levantado e depois um encolher de ombros. ? Bem, você ouviu, ? ele disse encorajadoramente. Ele inclinou a cabeça para a porta onde a mão de Duncan ficou a menos de três centímetros da maçaneta.

Duncan mordeu o lábio e virou a mão. Empurrando a porta aberta, ele se adiantou e se encontrou com o que quer que o esperasse além dela.

Ele piscou. O quarto estava escuro. A luz vinha de uma única vela, colocada sobre uma longa mesa de madeira escura. Depois das tochas brilhantes do corredor, o lugar estava escuro e seus olhos levaram um momento para se ajustar a ele.

Em algum lugar da sala, ele ouviu uma risada sibilante.

A risada não era uma gargalhada, mais um farfalhar, como folhas secas soprando em corredores antigos. Um som de morte, imitando uma risada. Todo o cabelo dele estava em pé. Ele olhou em volta descontroladamente, como se quisesse escapar.

? Você veio me visitar? ? Perguntou a voz.

Duncan ficou com os olhos arregalados. Por fim, seus olhos se acostumaram à escuridão. Ele viu o cabelo primeiro. Cabelos brancos, arrumados num estilo alto e amontoado que teria agraciado a corte do rei anterior. Abaixo deles, surgiu um rosto da escuridão.

Duncan se viu olhando nos olhos cinzentos daquilo que era facilmente o rosto mais real que já vira.

? Minha senhora, ? ele gaguejou. Sentiu-se fazer a mais profunda reverência que já fizera. O rosto dela, de ossos finos e majestosos, levou qualquer pensamento de sua cabeça, exceto o respeito.

A voz o atingiu. Uma risada baixa desta vez, cheia de calor e ironia.

? Venha, meu jovem, ? disse ela. ? Você veio com tanta violência, tanta aversão. Por que mudar agora? Se você quiser acabar comigo, eu estou aqui. Esperando.

A voz era um desafio, os olhos de aço zombando dele, embora também o provocassem.

Duncan soltou um suspiro trêmulo. ? Minha senhora, ? disse ele lentamente. Ele conseguia ver as coisas agora e discerniu outra cadeira, mais baixa que a dela. Ele sentou-se e olhou-a. ? Se eu vim com violência e aversão, peço perdão pela ofensa. Eu não vim aqui voluntariamente, mas sob pressão.

? Oh! ? A velha senhora levantou uma sobrancelha, os olhos brilhando. ? Então meu tio decidiu trazer seus convidados aos leões, por assim dizer? Ou será seu filho, talvez, com algum esquema selvagem?

Duncan estremeceu. ? Minha senhora, acho que ambos. Nem eu sei. ? Ele balançou a cabeça, sentindo-se profundamente inadequado diante daqueles olhos. Como ela sabia tanto?

Ela sorriu. Ela era muito bonita, seu rosto maduro era radiante, mesmo com as linhas finas enrugadas e os cabelos desbotados. Acima de tudo era elogiável. Fazia com que ela irradiasse um poder como uma tocha, nas paredes de alabastro desgastadas, de modo que uma luz brilhava através dela.

? Você não precisa se preocupar. Eu vejo muito do que diz respeito ao coração, embora muitos escondam isso de mim. E de si mesmos. Eu vejo que você não possui nenhum mal em você. ? Ela sorriu. ? Você está aqui contra a sua vontade, sim. Mas eu acho que você não foi honesto?

Duncan engoliu em seco. Ele sentiu como se algo se movesse em sua mente, procurando-o, sondando os pontos fracos e testando-o.

Ele limpou a garganta. ? Minha senhora, eu... ? ele gaguejou, depois recomeçou. ? Eu não fui honesto. Eu admito isso para você, embora eu não o fiz com nenhum outro. Eu vim sob falsos pretextos. Eu disse que vim para trair meu irmão. Na verdade, eu vim aqui procurando uma pérola.

? Uma pérola? ? As sobrancelhas finas da velha senhora subiram uma fração. Ela sorriu. ? Há poucas aqui. As jóias preciosas foram levadas para longe, pelos mares do Oriente.

Enquanto ela falava, ela se inclinou ligeiramente à frente. Duncan ficou olhando.

Com uma corrente em volta do pescoço, ela usava uma única e grande pérola. Ela captou a luz da vela e a luz tremulou ali, uma gota de luz agradável.

Duncan tentou falar. Sua voz saiu um grunhido sem palavras. ? É esta...?

Ela riu. ? O que você acha? Pense bem, jovem rapaz. Uma pérola poderia ser muitas coisas. Uma semente. Uma ideia. Uma esperança não concretizada. Um nome.

Duncan mordeu o lábio. Ele não fazia ideia se estava certo. Se esta pérola era a que o tio de Alina procurava. Pensou nos planos que fizera antes de vir, procurando a resposta.

Ele viera até aqui, ele se lembrou, procurando uma dama. Uma senhora que seria velha, da idade de Lorde Brien, talvez um pouco mais velha. Uma dama de Duncraigh. Uma dama.

Ele ofegou. Uma dama velha e majestosa. Uma pérola sem preço.

Em frente a ele, a idosa riu. Foi um som quente, um som adorável. O riso de uma jovem garota, encantada com um charme.

? E então? ? Ela perguntou, levantando a sobrancelha elegante novamente. Naquele momento, ele viu a garota que fez Lorde Brien esquecer-se, esquecer de tudo, menos ela. ? Aguardo uma resposta?

Duncan tossiu. ? Você, ? ele disse hesitante. ? Você... qual é o seu nome, minha senhora?

Ela sorriu. Foi um sorriso brilhante, radiante. Seus lábios, vermelhos por artifício ou preservação cuidadosa, recuaram para mostrar dentes perfeitos.

? Meu nome, Lorde Duncan, é Benoite. Você tem sua resposta?

Duncan suspirou. Recostou-se. Olhou para o teto e sentiu vontade de explodir em uma oração de agradecimento. Ele a encontrara. A pérola além do valor.

Em frente a ele, lady Benoite estava tranquila, embora seus olhos ainda brilhassem. ? Eu acho que você conhece um velho amigo meu, ? disse ela com cuidado. ? Alguém que era tão arrogante, com tanto medo de ser recusado, que nunca fez a pergunta que vive para sempre em seu coração. Estou correta?

Duncan, sentado em frente a ela, na cadeira, sentiu o último aperto em sua mente explodir dolorosamente, mesmo quando seu coração irradiava graças. A busca acabara e ele completara todas as tarefas.


Capítulo Vinte E Sete

À BEIRA DO DESESPERO


Alina gritou novamente.

Lorde Camry riu.

? Você pensou que poderia escapar? ? Ele perguntou. ? Eu sou tão terrível, um pretendente tão repulsivo?

Seu rosto escureceu, sua mão apertou seu pulso. Alina olhou em volta, apavorada. A qualquer momento ele chamaria os guardas e ela estaria encarcerada em algum outro lugar, desta vez sem chance de escapar.

Ela respirou fundo. Enviou uma oração particular. Então, torcendo o pulso com força, ela puxou. O aperto dele se quebrou. Ela se afastou.

? Guardas! ? Ele gritou. Alina correu de volta pelo caminho que viera, indo às escadas, para o grande salão. Sua única chance era o pátio. Se ela pudesse, de alguma forma, evitar os guardas e alcançar o portão de trás, talvez pudesse atravessá-lo e penetrar nas florestas além. Tão louco, mas ela precisaria tentar.

? Guardas! ? Lorde Camry gritou. Ele acabara de fazer uma refeição e estava lento, cabeça embotada pelo vinho. Alina viu guardas correndo, confusos, diretamente para ela.

Ela gritou e, em seguida voltou. Desceu as escadas correndo. Ela viu um guarda vindo em sua direção e desviou em torno dele. Deu tempo de apenas evitar a mão dele estendida. O lance de escadas para o pátio era curto e ela desceu pelas grandes portas em arco que levavam até ele.

Lá fora, o dia estava mudando rapidamente, o crepúsculo já caindo. Ainda assim, os homens estavam praticando muito e estavam fazendo muito barulho para ouvirem os gritos e comandos, lá de dentro. Ela passou correndo pelos homens, o vestido fluindo atrás dela. Se um ou dois homens notaram, eles se viraram e olharam, assobiando em agradecimento.

Fechando os ouvidos para o barulho, ela correu.

? Parem-na!

O grito ecoou pelo pátio enquanto ela passava pelo grande salão, indo em direção ao portão. Os homens foram claramente fazendo silêncio, pois os sons das espadas pararam. O pátio ficou em silêncio, exceto por Camry, gritando seu comando.

Alina sentiu seu coração bater a ponto de explodir. Ela estava cansada. Tão cansada e, completamente, apavorada!

Ela olhou rapidamente. Estava a trinta passos do portão. Bem atrás dela, ela podia ouvir o som pesado dos pés, nas pedras, movendo-se rapidamente. O pátio não era grande e ela imaginava que talvez tivesse menos de meio minuto antes que os primeiros homens aparecessem atrás dela e explicassem sua missão aos guardas do portão.

Ela correu até eles, gritando, angustiada. ? Oh, por favor! Abra o portão! Por favor! ? Ela olhou descontroladamente para trás dela, tentando reagir contra a histeria, as lágrimas que corriam em rios rápidos pelas suas bochechas. Ela estava exausta, aterrorizada. No seu final.

? Desculpe, moça? ? O guarda do portão, um homem gentil com um capacete e uma velha cota de metal. ? Você deveria estar no corredor?

? Não! ? Alina chorou. ? Por favor! Ajude-me! Estou sob ataque!

? O quê? ? O segundo guarda perguntou, parecendo preocupado. ? Fale com clareza. Você disse...

? Prendam-na!

Alina gritou. Os dois guardas ergueram os olhos em absoluta confusão quando um bando de homens de armas apareceu no final do caminho, a vinte passos de distância. Eles estavam prestes a fazer o que foram instruídos, quando algo soou do lado de fora do portão, parando momentaneamente todos ali.

Um momento depois, o portão se abriu e os homens entraram.

Os caçadores!

Havia homens em capas verdes a cavalo, armados com arcos e lanças e alguns com espadas. Uma matilha de cães corria em seus calcanhares, as cabeças baixas, os ombros arfando enquanto procuravam da esquerda à direita, latindo, enquanto invadiam os portões para chegar em casa. Alina encostou-se ao portão, deixando a caçadores passar, e eles diminuíram a velocidade quando se encontraram com a parede de homens armados. Quando o último homem ficou às suas costas, Alina se moveu ao longo das grades do portão e deslizou para trás do último cavalo.

Atrás, em pé, desprevenido, estava um cavalo de carga. Um cavalo pequeno com uma sela que parecia larga. Ela viu uma criatura morta olhando-a. Era uma caça. Um jovem que segurava as rédeas, olhando-a de olhos arregalados e de queixo caído à frente.

Aproveitando aquele momento de distração, Alina correu para ele.

Ela gritou ao fazê-lo, com um alto som que fez o jovem pular do cavalo e se virar, soltando um suspiro pelo medo repentino. Alina se lançou na sela, deixando a carcaça deslizar e cair da sela, enquanto ela ajeitava os joelhos ao lado do pequeno cavalo e iniciava a cavalgada.

? Bom cavalo. Bom! ? Alina sussurrou no ouvido dele enquanto ele se levantava irritado e querendo lançá-la fora, ele parou e colocou todas as quatro patas no chão. ? Bom, ? sussurrou Alina, cerrando os dentes enquanto todos os seus ossos doíam por causa do impacto e o rapaz, a poucos centímetros atrás, se voltava. O cavalo, então, pareceu tomar uma decisão e disparou em direção à entrada da floresta.

Deixando o castelo, onde os homens protestavam e tentavam passar por vinte cavaleiros, cães de caça e caçadores que insistiam que era seu direito bloquear o portão.

Chorando de alívio e medo, o cabelo fluindo com o vento, a sua passagem, o coração batendo de alívio, terror tardio e euforia, tudo misturado de uma forma inebriante e efervescente dentro de suas veias, Alina cavalgou a liberdade.

E em uma floresta à noite.


Capítulo Vinte E Oito

CHEGANDO EM CASA


Duncan andou levemente e rapidamente pelo corredor. Levou o dia todo e a noite toda para voltar, mas, assim que Lady Benoite assegurou sua libertação do castelo, ele pegou o cavalo e cavalgou, durante toda a noite e todo o dia seguinte, para chegar em casa.

? Alina?

Ele ficou no corredor que levava ao seu quarto de dormir. Evitando a hospitalidade de sua senhoria, o oferecimento de um bom banho, um jantar no solar, Duncan fora direto para lá. Ele precisava vê-la primeiro. Precisava contar a novidade para ela.

? Alina?

Ele fez uma pausa. Caminhou depressa e silenciosamente até a porta do quarto dela. Bateu suavemente nela.

? Alina?

Uma mulher a abriu. Ele reconheceu a criada de Alina, Blaire. Só que ela não se parecia nada com a que ele deixara, como se tivesse envelhecido um inverno desde a última vez que a viu. Seus olhos estavam inchados e seu rosto estava alinhado e pálido.

? Blaire, ? ele perguntou, sentindo-se assustado. ? É Alina...

? Oh, senhor! ? Blaire disse, levantando um lenço, quando novas lágrimas começaram.

Duncan ficou de boca aberta para ela. É Alina... ele nem queria pensar nisso. Ela está doente? Febril? Morta?

Naquele momento, ele ouviu passos e alguém chamou seu nome. Chrissie.

? Duncan?

Ele olhou-a. A menina também estava pálida, o rosto descompensado. Ela olhou para ele e seus olhos azuis se inundaram.

? Chrissie, ? ele sussurrou através da garganta muito apertada para falar. ? Conte-me. Alina es...?

? Duncan! ? Chrissie foi até ele, as lágrimas fluindo em uma inundação. Ele a abraçou, sabendo que, por mais impróprio que fosse tocar uma dama, ela precisava de cuidados. Ele acariciou o cabelo dela, apertou o ombro dela, balançou com ela por um momento, então se abaixou para olhar em seus olhos.

? Onde ela está?

? Oh, Duncan! Ela está perdida! Não sabemos onde ela está! ? Ela soluçou e soluçou. ? Enviamos alguém até Amabel e Broderick para pedir ajuda. Eles estão procurando na floresta, mas até agora... até agora... ? ela parou. ? Ninguém a encontrou. Oh!

Ela encostou-se a ele, então, soluçando e, Duncan, acariciando seus cabelos e murmurando palavras sem sentido de conforto, sentiu seu coração tornar-se sombrio e frio como o gelo.

Alina está perdida.

? Onde, Chrissie? ? Perguntou ele gentilmente, enquanto a garota soluçava e parou de soluçar aos poucos. ? Onde? Por favor... diga-me qualquer coisa que você saiba.

Ela tocou a bochecha com os dedos e Duncan enxugou o rosto dela com o próprio lenço, depois ergueu os olhos enquanto respirava estremecendo.

? Seu cavalo foi encontrado, Duncan. Argenta, ele estava na floresta. Sozinho. Alguém a desmontou e...

Chrissie não conseguiu mais, pois explodiu em soluços novamente. Duncan sentiu sua garganta se fechar. Ele olhou à criada, Blaire, que estava chorando também, e ela concordou.

? O quê? ? Ele sussurrou com voz rouca.

Blaire pigarreou. ? O que a senhora diz é verdade. O cavalo da minha senhora foi encontrado na floresta, não muito longe daqui. Talvez um dia de distância, pelo menos foi o que Joe me disse ? explicou ela.

? Onde? ? Perguntou Duncan.

? Ao norte daqui, meu senhor ? disse Blaire em voz baixa. Encostou-se no batente da porta, um lenço no rosto, enxugando os rastros lentos de lágrimas.

? Quando foi isso? ? Perguntou Duncan. Ele se levantou, abrindo gentilmente os braços ao redor de Chrissie, que olhou para ele, assustada e confusa.

? Por quê? ? Blaire suspirou, olhando para Chrissie para que confirmasse. ? Dois dias antes, senhor.

? Dois dias! Mas... Duncan olhou em volta descontroladamente, pensando. Ele havia saído há três dias ? um viajando para o castelo, um ali e depois toda a noite seguinte e hoje. Ela deve ter saído no mesmo dia que ele, ou no dia seguinte.

? Ela sumiu na noite em que você saiu, Duncan, ? Chrissie disse em voz baixa. ? Nós pensamos que no início ela havia lhe seguido, mas, quando seu cavalo foi encontrado em uma parte diferente da floresta, nós pensamos que não.

Duncan quase jurou. ? Ela me seguiu? ? Ele sentiu a mão apertar com raiva. Claro que ela fez! Por que eles não enviaram alguém para Inverglass para perguntar sobre ela? Pelo menos, ele pensou, sentindo um surto de esperança, se ela estivesse lá, nenhum mal aconteceria a ela! ? Por que não mandaram alguém até Duncraigh, para perguntar a ele?

Ele olhou para Chrissie, que balançou a cabeça lentamente. ? Nós fizemos, Duncan, ? disse ela lentamente. ? Enviamos uma mensagem para ele no dia seguinte. O tio concordou, mesmo que fosse contra o orgulho dele fazer isso. Ele estava muito angustiado. Ele enviou Fergal para Inverglass com uma mensagem. Ontem à noite, a resposta voltou. Ela nunca esteve lá.

As palavras de Chrissie tremeram quando ela chorou novamente. Blaire deu um passo à frente, sem palavras, e segurou a garota em um abraço. Duncan, sentindo o coração afundar, desviou o olhar.

? Obrigado, Chrissie, por me dizer, ? disse ele. ? Obrigado, Blaire. ? Sua voz estava seca, exausto além de qualquer coisa que ele já conhecera. Ele estava cansado, então, ele de repente percebeu. Ele havia cavalgado por um dia e uma noite, quase sem pausa. Ele fora ali com o coração cheio de alegria, esperando ver Alina e compartilhar a maravilha de sua descoberta. Agora ela estava desaparecida, talvez morta.

Ele se sentia cansado demais para se mexer. Suas pernas pareciam pesos de chumbo, ele se virou e caminhou rigidamente pelo corredor, de volta pelo caminho que ele viera. E se dirigiu às cozinhas.

Colocando a cabeça sob a bomba no pátio, embora a água fosse gelo em estado bruto e o fez estremecer, ele cruzou o espaço sufocante da cozinha. Lá, se atirando em um banquinho, ele pediu pão e cerveja ao cozinheiro e ela, aterrorizada com a perspectiva de um lorde em sua cozinha, obedeceu sem questionar.

Com o maxilar trabalhando enquanto mastigava o pão, duro e seco, a mente divagando, Duncan fez seus planos. Faria seu relatório ao tio Brien assim que comesse aquilo, depois descansaria por talvez uma hora, para clarear a cabeça. Depois disso, ele levaria todos os caçadores e os cães. Ele começaria a procurar por Alina nas florestas.

Pelo coração que morreu dentro dele.


Capítulo Vinte E Nove

A MAIS PROFUNDA ESCURIDÃO


Alina atravessou a floresta.

O pequeno cavalo, valente e forte, estava começando a se cansar. Ela podia ouvir os sons dos captores atrás dela, mais abaixo na colina.

Ela sentiu o cavalo diminuindo a marcha e ela o deixou descansar. Ele fez isso, de cabeça baixa, respirando fundo, estremecendo.

Alina mordeu o lábio. Seu coração estava doendo, desesperado, triste. Ela estava quase sem esperança. Atrás dela, talvez a cento e cinquenta metros de distância, os captores começavam a se fazer ouvir. Ela ouviu gritos, distantes ainda, e os toques de chifre, abafados.

Eu não conseguirei fazer isso? Ela pensou com tristeza. Não havia como fugir dos captores por muito tempo. Em um cavalo de carga, recentemente carregando uma carcaça e provavelmente ainda levemente fedido de sangue, em uma floresta estranha e na escuridão.

Se os captores não me pegarem, os lobos podem, ela pensou sombriamente. Os perigos estavam por toda parte.

Enquanto se sentava, acariciando gentilmente o pescoço do cavalo, ouviu os gritos e o som do chifre, novamente. Somente uma coisa a alegrou ? aquele barulho era suficiente para assustar os lobos também. Ela riu daquilo e sentiu uma chama de calor crescer em seu coração.

Deu um tapinha no cavalo, outra vez, gentilmente no pescoço dele. ? Vamos querido, ? disse ela com cuidado. ? Hora de ir.

O cavalo bufou com resistência, mas decidiu ajudar. Ele se virou e, em uma caminhada lenta, eles se afastaram dos sons dos captores e entraram na floresta mais profunda.

Ali, os sons eram mais silenciosos, a floresta ainda silenciada parecia mais brilhante, Alina notou, o chão amortecido sob os pés. Eles cavalgaram à frente, auxiliados pela luz das estrelas azuis, as sombras das árvores imitando formas no chão prateado e escorregadio.

Enquanto seguia em frente, cantarolando para manter o espírito do cavalo ? e o dela ? ela se deu conta de que a as árvores eram mais finas ali.

Sentindo uma esperança selvagem acender de repente em seu coração, Alina seguiu em frente.

Bobagem, Alina, ela disse a si mesma razoavelmente. É somente uma clareira. Não é o fim da floresta. Não tenha esperanças.

Ainda assim, ela seguiu em frente, conversando com seu cavalo enquanto andava. A luz das estrelas era prateada e Alina falou suavemente, sentindo seu coração batendo.

? Aqui estamos. Quase lá. Olhe à floresta. Elas não são adoráveis? Não muito mais tempo. Aqui estamos...

Ela estava cansada, sua mente caindo em uma névoa de exaustão enquanto ela cavalgava, os lábios murmurando, apesar de estar meio adormecida. Os sons dos captores estavam desaparecendo, o bosque pálido estampado ao redor dela, o luar suave em seus olhos.

Luar?

Alina piscou.

Luar!

Eles estavam de frente para um fino trecho de árvores, na beira de uma vasta charneca. As árvores haviam se desbastado, folhas intercaladas com aberturas através das quais a luz brilhava.

? Luar!

Alina gritou, exultante. Ela olhou para o pântano, pintado de cinza e azul contra o céu negro de tinta além. Os grilos estridentes chilreavam na grama longa e molhada. O vento estava parado. Em algum lugar, uma raposa uivou.

Alina sorriu, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto. ? Obrigada, ? ela sussurrou em voz alta.

Obrigada.

Eles estavam fora da floresta. Ela poderia encontrar o caminho ali. Ela poderia, se os perseguidores perdessem seu tempo andando pela floresta, eles encontrariam o caminho de casa.

Casa. Seria muito tarde, Alina pensou. Ela e seu cavalo andaram pelos pântanos pelo que pareceram horas. O terror da perseguição deixara os dois encharcados de um suor que esfriara e ali nas charnecas, o frio os atormentava, deixando Alina entorpecida e cansada. Ela pensou em como o cavalo estaria com frio, ela já havia decidido que voltaria para casa com ele, e garantiria que os últimos anos de sua vida fossem dez vezes melhores que os primeiros, em agradecimento. O pensamento era nebuloso, à beira do sono, sonhando com o castelo de Lochlann... em casa.

Ela cavalgou em seu sono. O cavalo, ela teve certeza ao acordar, que ele também estava dormindo. O castelo parecia uma visão impossível, algo com o qual ela sonhara, não, em algum lugar concreto e real e a um dia e meio de distância.

? Casa, ? ela sussurrou para o cavalo. Ele mexeu os ouvidos, procurando a voz dela. Ele cavalgou resoluto, do jeito que estavam indo.

Alina se sentiu lentamente voltando a dormir, a cabeça assentindo. Ela estava grata pelos anos de prática de cavalgada e pelas lições ? totalmente não ortodoxas ? de montaria. Ela teria caído há séculos, atrás.

Ela estava dormindo, pensando no homem de armas que ensinara a ela e a Amabel a cavalgar, olhos cintilando, elogiando-as em seus menores esforços, quando sentiu algo mudar.

Ela ouviu um pássaro piar, sonolentamente, para si mesmo em algum lugar em uma árvore retorcida.

Ela olhou em volta.

A charneca estava cinzenta, de manhã, a primeira hora do sol. Ela pensou ter reconhecido uma colina no horizonte. Uma grande forma aparecendo lá como um urso. Ela sabia que estava na estrada para Lochlann.

Ela mordeu o lábio e depois deu um tapinha no cavalo.

? Eu acho que é manhã, ? ela sussurrou para ele. ? E acho que sei onde estamos.

Ele bufou uma resposta, parecendo entender o sentido de suas palavras. Eles continuaram.

Alina se sentiu mais acordada agora, ouvindo como um pássaro e depois outro, se juntava ao coro da madrugada. O ar estava frio ? um frio terrível e monótono ? e em algum lugar uma leve brisa inclinou a grama.

Alina suspirou, sentindo um sorriso esticar seu rosto. Em algum lugar uma raposa passou em seus filhotes. Então, quando Alina sentiu seu coração se levantar, o cavalo parou.

Ela mordeu o lábio, sentindo uma repentina miséria.

? Não, ? ela sussurrou com urgência. ? Você não pode parar agora. Não quando estamos tão perto! Por favor. Não faça isso. Não faça isso comigo...

Ela olhou para cima, mordendo o lábio, sentindo as lágrimas começarem a fluir.

Foi quando ela viu a estrada. Branca no início da luz, estava em meio às charnecas. Talvez a cinquenta passos de distância.

Sentindo seu coração aumentando suas batidas, Alina foi em direção a ela. Era o caminho que a levaria para casa.

Entrar na estrada custou um pouco de persuasão. Alina desmontou e conduziu a montaria dela um pouco, rezando para que os captores tivessem voltado para o castelo durante a noite. A grama molhada encharcava a bainha de sua saia, tornando-a pesada. Seu manto estava enrolado em volta dela e se arrastava na umidade, às vezes, se agarrava em uma pedra, grama ou toco. Alina suspirou. Seu progresso foi lento, mas não era nada comparado à alegria de não estar mais perdido.

? A estrada está à frente, ? disse ela ao cavalo. ? E quando chegarmos lá, encontraremos uma pousada. Em algum lugar seguro. E você terá feno, farelo de trigo e calor e poderemos descansar um pouco. Então vamos continuar até em casa.

Ela falou enquanto andavam, sobre calor e amizade e de casa. Ela também precisava acreditar nelas, embora falasse com o cavalo, encorajando-o.

Nós vamos chegar em casa, ela disse a si mesma. Nós vamos. Nós vamos. Não falta muito tempo agora.

Ela não tomou conhecimento da dúvida persistente que dizia que as estalagens eram perigosas e era melhor serem evitadas, que diziam que não havia tempo para parar, que lhe diziam que estavam exaustos e nunca chegariam a uma estalagem a tempo, antes de morrerem de exaustão, de fome e frio. Eles estavam na estrada agora. Tudo o que eles precisavam fazer era segui-lo.

Nós vamos chegar em casa. Nós vamos. Não falta muito tempo agora.

Ela seguiu em frente, dando passos cansados e doloridos. Ambos estavam com frio, e Alina podia sentir como o orvalho encharcava suas botas, os dedos dos pés entorpecidos até serem nada. Pelo menos na estrada eles não poderiam ficar mais molhados.

Nós vamos chegar em casa.

Ela fechou os olhos e caminhou, sentindo as pedras ásperas e irregulares sob os sapatos, torcendo o tornozelo enquanto andava. Ela conduzia o cavalo, com os olhos fechados, sabendo onde eles estavam pela sensação das pedras abaixo, o som do casco batendo na estrada, o cheiro de orvalho e o cheiro frio de pedra molhada da estrada abaixo dela.

Suas botas estavam começando a escorregar. Ela se pendurou no freio do cavalo, sentindo suas pernas começarem a ceder.

Ela gritou, mordendo o lábio.

Eu não cairei. Não vou parar. Eu vou chegar em casa.

Ela escorregou então e caiu.

Não!

Ela sentiu as lágrimas encharcarem seu rosto, quente sobre a pele congelada de suas bochechas. Ela piscou os olhos furiosamente, mordendo o lábio. Levantou a mão para afastar as lágrimas. E olhou para cima.

Lá, na charneca, perto da estrada, estava um cavaleiro. Ele estava a uns vinte metros de distância, mas mesmo dali ela podia ver o cabelo castanho dourado de seu cabelo, sua altura, o longo manto escuro que ele usava.

? Duncan? ? Sua voz era um sussurro. Como isso poderia ser? Poderia...?

? Duncan!

Ela gritou, tentando se levantar. Ela ficou de joelhos.

O cavalo, parecendo saber que ela precisava de ajuda, cutucou-a gentilmente. Ele estava com a cabeça baixa e ela segurou as rédeas e então se arrastou para cima, segurando a perna dele em busca de apoio. Ela se levantou, apoiando-se no cavalo, estremecida e exultante.

? Duncan! ? Ela gritou, usando cada gota de energia em seu corpo. Ao lado dela, o cavalo bufou. Ele não fugiu ? muito cansado e acostumado ao som da voz dela.

Ela respirou, cheirando o cheiro quente e almiscarado.

Ela olhou para o cavaleiro. Ele virou-se. Ele a tinha visto! Ela levantou a mão. E acenou.

? Duncan!

? Alina? ? Ele gritou o nome dela. ? Alina! Alina!

Quando ele chegou mais perto, ele a reconheceu e ela o reconheceu. Aquele rosto bonito, aquele cabelo, o nariz comprido, corpo magro, postura firme! Era ele!

? Duncan! ? Ela sussurrou. ? Duncan!

Ele a alcançou e freou. Seu próprio cavalo estava quase tão cansado quanto o dela, ela pensou, vendo-o ficar de pé, de cabeça baixa, ofegante. Duncan deslizou, seu rosto estava cinzento, o cabelo molhado de chuva, os olhos rodeados de escuridão. Ele sorriu para ela.

? Alina!

Suas bochechas estavam molhadas de lágrimas. Alina engoliu em seco e colocou os braços ao redor dele com firmeza.

Eles ficaram parados, assim, pelo que pareceu uma eternidade, seu corpo aquecido contra o peito firme e duro, seus braços quentes apertados ao redor dela.

Alina sentiu seu coração disparar, as bochechas com um sorriso, o coração desacelerou.

Ele a beijou então, seus lábios quentes em seus lábios frios e duros. Ela sorriu e sentiu todo o seu corpo aquecer e relaxar, segurando-se perto dele.

? Alina, ? disse ele. Ele tocou o cabelo dela e em seguida, olhou para o rosto dela, acariciando-o com os dedos longos e quentes. ? Você está segura. Você está aqui. Eu não posso acreditar.

? Duncan, ? disse ela com firmeza. Ela não conseguia pensar em mais nada. Ele estava ali. Eles estavam vivos, seguros e livres. Eles iriam para casa.

Ele envolveu seu braço ao redor dela, puxando sua capa para cobri-la também, emprestando a seu corpo congelado e trêmulo, outra camada de calor. Tomou as rédeas de seu cavalo, que estava se recuperando, e do dela, e juntos os quatro viajantes cansados, caminharam lentamente ao longo da estrada. Alina, sentindo o braço de Duncan ao redor dela, o próprio braço em volta da cintura firme e magra dele, sentia-se exausta, dolorida e tão feliz quanto jamais estivera.

Duncan a encontrou. Eles estavam livres. Eles estavam voltando para casa.


Capítulo Trinta

VOLTANDO PARA CASA OUTRA VEZ


Eles andaram,

Duncan contou a Alina à história. Ele chegara em casa, bem sucedido, de Inverglass e a encontrou desaparecida. Ele partiu quase imediatamente e, partiu para encontrá-la.

Alina olhou para o rosto ferido e não conseguiu evitar que sua voz vacilasse ao responder. ? Oh, Duncan! Eu sinto muito. Eu queria estar lá. Eu não poderia esperar. Eu pensei... eu precisei... ? ela não podia falar, as lágrimas estavam fluindo. Agora que ela estava segura, fora do alcance daquele homem, todo o terror inundou-a e ela sentiu bloquear sua garganta.

Duncan estava ao lado dela em um instante, os braços ao redor dela, a voz macia.

? Calma querida. Seja o que for, você pode me dizer. Eu não vou me importar com o que for. Eu te amo. Eu te amo, Alina.

Ela suspirou, seus soluços diminuíram.

Na chuva suave, suas montarias andando um pouco atrás deles, ela contou para ele como ela havia cavalgado para avisá-lo do que ela acreditava estar errado. Como Camry a capturou, e as ameaças que ele fez. Quando ela terminou sua história, o rosto dele estava sombrio.

? Eu não posso deixar isso ficar impune.

? Duncan... ? Alina descansou a mão em seu peito. ? Está tudo bem. Eu estou segura. Nós vamos nos casar. Ninguém pode me machucar agora. Eu quero esquecer. Deixe-me esquecer? Por favor?

Ela estava cansada, sua voz falhando na última palavra, perto das lágrimas.

Duncan soltou um grande suspiro trêmulo. Ele ficou com os punhos cerrados por um longo momento, o rosto mudando de raiva, para ferido, depois para aceitação.

? Claro, ? ele sussurrou longamente. ? Por mim, não descansaria até destruir aquele homem e todos os vestígios dele. Mas eu entendo que você foi ferida o suficiente. Se você quiser, vamos deixar as coisas como estão.

Alina suspirou. Um grande alívio passou por ela. Ela não havia percebido o quanto a preocupava que Duncan, ou seu tio, buscasse retaliação. Isso tornaria sua dor uma coisa de conhecimento público, e acrescentaria mais humilhação ao que ela já havia recebido. Tornaria mais difícil esquecer. Desta forma, todo o evento seria algo que não precisava ter influência sobre ela, a menos que ela escolhesse. Ela escolheu não fazer nada.

Eles caminharam em silêncio por alguns momentos depois disso, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Por fim, Alina se virou para ele, os olhos escuros brilhando.

? Você quer dizer que você trouxe uma cavalaria inteira para me encontrar? Que estaríamos seguros na estrada?

Duncan riu. Ele acariciou seus longos cabelos, molhados de orvalho e chuva. ? Claro que sim. Podemos chamá-los agora, se você quiser?

? Se eles estão conosco, podemos nos arriscar a parar em uma pousada?

Duncan riu. ? Eu certamente espero que sim, ? disse ele. ? Seria bom tomar café da manhã.

Café da manhã. Alina fechou os olhos, deixando sua mente vagar na maravilha disso. Visões de pão fresco e mingau, ovos cozidos, creme de leite e manteiga, nadavam diante dela.

? Chame-os? ? Ela pediu fracamente, olhando para ele com os olhos arregalados.

Duncan riu. ? Claro! ? Ele tirou o chifre de caçada de Lochlann e, colocando-o nos lábios, deixou soar, alto, claro e brilhante.

Enquanto esperavam, homens apareceram do bosque.

Alina reconheceu todos eles ? lenhadores e caçadores leais, todos devendo lealdade à sua família. Quando os viu, sentiu as pernas fracas. Estas eram as pessoas dela. Quase familiares e protetores. Ela estava segura.

? Quanto tempo até chegarmos à pousada?

Ele riu. Olhou para o sol, onde ele aparecia irregularmente através das nuvens, apenas tocando a névoa das charnecas.

? Talvez vinte minutos. Você vai aguentar?

Alina bufou. ? Eu vou aguentar qualquer coisa.


O ritmo dos cavalos era tranquilo e Duncan, que havia cavalgado toda a noite anterior, logo se viu adormecendo na manhã fria. Quando chegaram à estalagem, ele estava dormindo na sela.

? Meu senhor? ? Uma voz chamou no ouvido de Duncan.

? Onde estamos? ? Duncan perguntou, ainda sem saber o que estava acontecendo. Ao lado dele, ele ouviu alguém dar uma risada suave. Alina ele reconheceria aquela risada em qualquer lugar.

Ele se virou e olhou para ela, esquecendo todas as coisas sem importância como onde estavam ou por que pararam. Ela estava com ele. Isso era o suficiente.

? Estamos aqui, senhor, ? explicou Joe pacientemente. ? O Fir Tree Inn.

? Oh! ? Duncan limpou a garganta novamente, sentindo-se subitamente tolo.

Ao redor dele, os homens desmontaram e entraram na hospedaria. Duncan desceu da sela e foi até o cavalo de Alina, levantando-a.

Ela riu e deslizou do cavalo, aterrissando como uma pilha em seus braços. Ambos riram. O peso de seu corpo era suave e quente contra ele e, antes que Duncan soubesse o que estava fazendo, ele a beijou.

Ele recuou e eles ficaram ofegantes, olhando um para o outro como se fossem os únicos homem e mulher do mundo. Somente eles existiam.

? Milorde?

Duncan se virou, sentindo-se envergonhado. Ele não conseguia tirar o sorriso e Doug, um de seus homens, sorriu largamente. ? Sim?

? Nós pedimos ovos, senhor. Presunto. E seis pães. Você acha que precisamos de mais?

Duncan sentiu seu estômago roncar. ? Talvez, ? ele concordou.

Alina deu uma risadinha. Ambos riram.

O café da manhã foi um momento feliz. Duncan e Alina sentaram-se lado a lado nos bancos de madeira, cercados pelos homens, resmungando, rindo e comendo grandes quantidades de ovos e pães. A informalidade foi um alívio depois de horas sentado, tenso ao lado de Alina nos almoços ou jantares formais, desejando poder alcançá-la e sabendo que não podia. Ali, a mão dela estava ao lado da dele e eles se sentaram juntos, as pernas se tocando, os dedos entrelaçados.

Enquanto Duncan observava, Alina comeu seus primeiros ovos, parecendo um pouco ruins a princípio. Ela colocou a mão na barriga e fechou os olhos rapidamente.

? O que houve querida?

? Eu acho que vou ficar doente, ? disse ela prontamente.

Duncan apertou a mão dela. ? Só coma o que você puder, querida. Posso chamá-los para trazer mingau, se isso for mais fácil?

? Não, não, ? ela acenou com a mão e sorriu para ele. ? Uma vez que eu tenha me estabelecido, terei tanto apetite quanto qualquer um de vocês aqui, confie em mim.

Ele sorriu. Ele confiava nela. Ela mostrou que estava certa, fazendo justiça ao bom guisado do estalajadeiro, aos bolinhos de aveia e ao pão fresco. A única mancha sombria no horizonte deles era o pensamento de contar ao tio Brien.

E se estivermos errados?

Duncan não havia expressado sua preocupação para Alina, mas ainda o atormentava. E se o palpite estivesse errado: sobre a pérola, a questão e tudo o que isso significava? Não tenho certeza se tenho energia para outro desafio. E eu não vou sair do lado dela. De novo não. Nunca.

A luz lentamente se ia pela tarde enquanto eles cavalgavam. Os pensamentos proibidos de Duncan se desvaneceram quando o sol caiu e o dia foi lentamente para o anoitecer. Ele e Alina conversavam enquanto cavalgavam, pensamentos aconchegantes sobre ele.

? Estou tão animada para ver Amabel novamente, ? disse Alina suavemente. ? Mas acho que devemos viajar para Dunkeld. Amabel não deve andar muito... não em sua condição.

? Condição? ? Duncan franziu a testa.

? Amabel está esperando um filho, Duncan, ? disse Alina.

Duncan olhou para ela. ? Ela está? Mas... Mas então Brod... ? ele parou. A notícia era incrível. Broderick, seu severo irmão mais velho estava prestes a ser pai? Ele balançou a cabeça, sorrindo.

Alina estava rindo dele. ? Seu irmão vai se tornar pai. Sim. E você, meu querido Duncan, é um tio. Ou você será, se Deus quiser.

? Tio? ? Ele olhou para ela, um sorriso confuso esticando o rosto.

? Tio Duncan. Não tem um som agradável? ? Alina disse, sorrindo provocativamente.

? E tia Alina, ? ele apontou.

Alina corou. Duncan nunca a vira assim e foi espetacular. Ele sorriu.

? Desculpe, ? disse ela, voz surpreendentemente chorosa. ? Eu não havia pensado no fato de que quando nos casarmos, seremos tio e tia duas vezes! Vou casar com você, Duncan.

Duncan riu. O pensamento não havia tomado, totalmente, em nenhum dos dois. Embora tivessem vivido os últimos meses desejando, trabalhando isso... o fato de que era verdade, uma realidade, também não havia realmente penetrado em suas cabeças. Todas as implicações daquilo.

? Eu sei, ? ele sussurrou suavemente. ? Eu também não consigo acreditar.

? Precisamos dizer ao tio Brien assim que voltarmos, ? disse Alina com firmeza.

? No minuto em que voltarmos, ? prometeu Duncan.

Eles andaram em silêncio por um longo tempo, ambos examinando o horizonte. Quando Duncan viu o castelo de Lochlann aparecer, ele se virou para ela.

? Aí está!

? Casa!

Os dois gritaram ao mesmo tempo e começaram a rir.

? Eu vou correr com você, ? disse Alina, já cutucando seu cavalo em um trote.

? Eu vou pegar você!

Joe e os outros guardas ficaram olhando para eles, mas Duncan não se importou. Ele estava tão feliz. Os dois riram e, entre risadas e gritos de alegria, partiram, perseguindo-se pela colina.

Eles chegaram ao castelo quando o crepúsculo começou a cair. Eles caminharam rapidamente, lado a lado. Duncan ficou ereto e alto ao lado de Alina e ela teve a sensação de que ele era um herói, voltando para casa com sucesso. Ela balançou a cabeça em suas ideias tolas. Estou cheia demais de contos antigos, então não devo castigar o tio Brien por suas noções românticas, ela pensou. Mesmo assim, a faísca da felicidade não morreria.

Juntos, eles subiram as escadas até a sala da torre, e Duncan bateu.

? Entre.

Os dois se entreolharam. Alina assentiu e Duncan sorriu para ela, embora ele parecesse extremamente nervoso. Ele abriu a porta.

Tio Brien olhou para cima quando um par de passos cruzou seu domínio. Seus olhos estavam arregalados quando Duncan se aproximou da mesa.

? Eu as encontrei. Ambas. Nós podemos nos casar agora.

? Oh! ? Brien pareceu surpreso. Ele se inclinou para trás, seu habitual desapego caindo sobre suas feições. ? Conte-me.

Alina se afastou, tornando-se menos perceptível, sabendo que seu tio não gostaria que ela conhecesse os segredos que Duncan descobriu sobre seu passado. Ela não precisava se preocupar com isso: quando Duncan falou, o tio Brien ficou mais e mais atento. Quando Duncan a descreveu, Alina viu o tio piscar rapidamente. Ele ergueu um lenço e limpou uma lágrima com alguma irritação.

Alina sentiu seu próprio coração. Tio Brien realmente amara Lady Benoite. Era mais que triste que ele nunca tivesse encontrado coragem para pedir pessoalmente a mão dela: era uma tragédia.

Quando terminaram a conversa, seu tio olhou para eles.

? Você veio, sem dúvida, para ter minha resposta. A única para a pergunta que você fez.

Duncan assentiu. Ele lambeu os lábios nervosamente, sorrindo para o tio Brien.

? Bem, é sim à primeira pergunta: essa é a pérola perdida. Sim, para a segunda. E para a primeira questão, que eu acho que foi uma questão de casamento, e mão da minha sobrinha-neta... minha resposta também é sim. Você pode se casar. Com todas as minhas bênçãos.

Alina olhou para Duncan, que olhou de volta para ela. Ela sentiu sua garganta fechar com emoção. Sorriu para o tio e, quando ele sorriu de volta, viu algo do jovem idealista, do menino que os enviara nessa busca, que amara a dama Benoite com todo o seu coração e a perdera pela incerteza.

? Obrigada, tio Brien, ? ela sussurrou.

? Obrigado, ? disse Duncan.

? Bem, então, ? disse o tio Brien depois de um longo momento. ? Fora agora. Estou ocupado. E agora eu tenho um casamento para pensar também.

Alina riu. Duncan sorriu. Olhando um para o outro, eles deram as mãos e caminharam rapidamente para o sol da tarde, brilhando no corredor vindo do lado de fora.


Capítulo Trinta E Um

CASAMENTO NA FORTALEZA


Alina olhou o rosto no espelho. Ela respirou fundo. Um longo cabelo preto parecia uma cortina de cetim junto ao rosto, a testa coberta de flor de laranjeira, o rosto pálido e etéreo, com profundos olhos escuros e lábios vermelhos, com seu clássico biquinho gaélico.

Essa é realmente eu?

Ela abafou uma risada. Era ? claro que era ? mas parecia tão improvável! A figura no espelho deu um sorriso ligeiramente nervoso. Ela usava um vestido comprido e reto de seda importada, o corpete chegando à cintura e rodeada por uma cinta prateada. A saia fluía e suas dobras volumosas brilhando como a luz na água enquanto caía por sua forma alta e esbelta.

? O quê? ? Uma voz provocante perguntou por trás dela. Alina olhou por cima do ombro no espelho para ver Amabel, obviamente grávida agora, de pé atrás dela. Ela estava sorrindo.

? Eu só... ? Alina parou. Ela não conseguiu encontrar as palavras.

? Você está tão linda, minha linda irmã ? disse Amabel gentilmente. Ela acariciou seu ombro, o pano acetinado mudando com o jogo de luz enquanto seus dedos se moviam pela longa manga.

Alina engoliu em seco. ? Como você, querida.

Amabel riu. Usando um longo vestido de veludo avermelhado, a cor do clarete profundo, a renda de bronze que cobria a saia, ela parecia adorável. ? Eu não acho que alguém vai olhar para qualquer lugar, exceto para você, ? Amabel sorriu.

? Bobagem, ? Alina bufou. ? Eu posso pensar em alguém.

Amabel corou.

Eles foram interrompidos pelo som dos passos. Chrissie entrou. Vestida com um vestido azul-claro, os cabelos arrumados na cabeça em um estilo que quase conseguiu domar seus cachos, ela estava corada e sorridente.

? Eu encontrei o buquê! ? Ela disse alegremente. ? Podemos ter jacintos.

Alina engoliu em seco. Eles eram seus favoritos ? arautos da primavera e com as cores mais brilhantes do inverno. Ela se virou para Chrissie.

? Obrigada, minha querida. ? Sua voz vacilou perigosamente.

? De nada, ? disse Chrissie, inclinando-se para beijar sua prima em sua bochecha de porcelana. A bochecha sob os lábios de Alina era suave e quente, corada pelo esforço. ? Heath me ajudou... ele sabe onde elas crescem, como cultivá-las em ambientes fechados no inverno.

? Não, ele não, ? disse uma voz do corredor. Todas as três se viraram abruptamente.

? Heath, não!

? Você não é permitido aqui!

Todas as mulheres gritaram e Heath, rindo, saiu pelo corredor.

Um momento depois, quando as três mulheres fizeram os ajustes finais em seus vestidos, Alina franziu a testa enquanto movia a cinta para permitir que a saia caísse ao máximo, elas ouviram passos no corredor.

? Sobrinha?

Alina se virou. Tio Brien estava esperando no corredor, um sorriso incerto no rosto. Vestido com um longo manto verde e uma túnica cinza, ele parecia elegante, o longo cabelo branco penteado até brilhar.

? Tio.

Ela deu-lhe um sorriso deslumbrante e pegou o braço dele e juntos eles saíram do quarto.

Eu sempre argumentei com esse homem, pensou Alina, contemplando Brien enquanto desciam a escada em Dunkeld. No entanto, sinto mais carinho por ele do que jamais imaginaria.

Eles caminharam pelo corredor, pelo pátio e saíram para onde a capela estava construída. Então eles entraram. Todos os pensamentos de Alina se concentraram no homem, em pé, no altar da pequena capela, a luz incidindo sobre ele da janela acima do altar.

Alto, a luz batendo em seus cabelos castanho-dourados, Duncan usava o manto verde florestal de Dunkeld envolto em seus ombros largos e fortes. Ele se virou e olhou para ela enquanto a congregação silenciava. Ele sorriu.

Alina mordeu o lábio. O amor naquele sorriso a atingiu como um golpe, surpreendendo-a com sua profundidade e intensidade.

Ela sorriu de volta.

Eu amo você, Duncan MacConnoway. Eu o amo com todo o meu coração.

A cerimônia foi breve, conduzida pelo padre residente em Dunkeld. O latim de Alina foi perfeito e o de Duncan menos, e ele deu-lhe um sorriso triste quando tropeçou nas frases. Ela sorriu de volta e suas mãos se encontraram, enviando uma faísca pelo braço.

Então, antes que qualquer um deles pudesse perceber, a cerimônia acabou. O padre os abençoou. Eles poderiam se beijar.

Duncan se virou para Alina e levantou lentamente o véu transparente. Ele se inclinou para ela.

Seus lábios se encontraram.

O beijo foi intenso e casto de uma só vez. Uma mistura de paixão, desejo e a mais pura chama de amor que fez Alina sentir como se todo o seu corpo estivesse derretendo, inflamado pela chama daquele amor.

Ela olhou nos olhos dele e ele olhou para os dela.

Um mundo de amor e saudades brilhou em seu olhar e o dela, olhando para ele, refletiu. Eu sei agora, Alina pensou vagamente, quando se viraram para encarar a congregação, que as histórias não são apenas para crianças. O verdadeiro amor existe e você o encontra nos lugares mais inesperados.

Juntos, de mãos dadas, eles caminharam pelo corredor, os aplausos e os parabéns chovendo enquanto eles, rindo e chorando, saíam da capela para o sol pálido do outro lado.


Capítulo Trinta E Dois

UMA NOITE MARAVILHOSA


Todo o banquete passou como um borrão nebuloso. Alina, sentada ao lado de Duncan, estava muito cansada, muito animada para comer. Ela sorriu das piadas e riu das histórias de Amabel e Broderick. Quando ela começou a se cansar, Duncan a levou gentilmente para o pátio.

No pátio, seus lábios se encontraram. Alina sentiu um calor lento e trêmulo começar a preenchê-la. Ela era esposa de Duncan agora. Agora eles poderiam ser tudo o que sempre desejaram. Seu corpo pressionado contra o dele e através do vestido acetinado, ela podia sentir cada contorno duro dele, pressionando contra sua forma.

Sob a brilhante luz das estrelas de inverno cinzelada, eles se beijaram. De novo e de novo. Com cada beijo, Alina sentiu seu corpo derreter um pouco mais, alcançar novos lugares de desejo.

? Duncan? ? Ela respirou. Seus lábios estavam machucados com amor, seus dedos em seus cabelos.

? Sim?

? Podemos...? ? Ela olhou em volta. Para ela e Duncan se esgueirarem para longe do banquete, sem a estridente cerimônia de colocá-los na cama, seria impensável. No entanto, era exatamente o que ela queria. Este era o amor deles, a expressão da união deles. Ela não queria que fosse algo que os outros compartilhariam.

? Sim.

? Duncan? ? Alina sorriu para ele, incrédula. Ele sorria com um sorriso perigoso e vertiginoso, seus olhos castanhos quentes. Ela mal podia acreditar que ele concordaria com algo monumental tão prontamente.

? O quê? ? Ele perguntou. Ele encolheu os ombros. ? E se subirmos agora? Eles dificilmente podem nos parar! E pela manhã eles simplesmente ficarão felizes em compartilhar nossa alegria para pensar em nos repreender.

Alina olhou nos olhos dele. Ela era quase tão alta quanto ele, talvez um ou dois centímetros de diferença. Ela sorriu tão imprudente quanto ele.

? Sim, ? ela sussurrou. Seus longos braços entrelaçados ao redor do pescoço dele, mergulhando a cabeça dele na dela para outro beijo.

Eles sorriram e, de mãos dadas, andaram o mais silenciosamente que podiam do pátio para o corredor interno.

Eles correram pelas escadas até o quarto que estava preparado para eles. Alina sentiu o cheiro de alecrim e juncos frescos, o calor dos troncos na lareira. Então todos os seus sentidos ficaram sobrecarregados quando Duncan encostou-se à porta, fechando-a atrás dele. Sua boca desceu sobre a dela, suas mãos em seus ombros, puxando-a para perto.

Alina sentiu a língua dele deslizar entre seus lábios, sondando sua boca com uma urgência que ele nunca teve antes. Ela deixou que ele explorasse sua boca e se apoiasse contra ele, seus braços envolvendo seu corpo, segurando-o contra ela.

Seu peito magro e musculoso pressionou contra seus seios e ela amou a sensação, querendo mais. Ainda beijando, eles voltaram para a cama. Ele quebrou o beijo por um momento, olhando nos olhos dela.

? Alina?

Seus olhos eram imprudentes, sua voz grossa de saudade. Alina sentiu a alegria de se sentir tão desejada infiltrando-se nela, fazendo todo o seu corpo estremecer.

? Sim, ? ela sussurrou.

Ele engoliu em seco e, muito gentilmente, puxou a seda de sua manga para baixo, deixando o decote do vestido passar por seu ombro. Ele beijou a pele exposta e Alina engasgou quando seus lábios quentes pareceram escaldá-la, mesmo quando ele deu uma lambida suave, fazendo movimentos que ela sentiu cócegas.

Seus dedos abriram as fitas de seu vestido, trabalhando devagar enquanto ele beijava cada centímetro de pele enquanto aparecia. Primeiro a fenda entre as clavículas, depois a linha do esterno. Então, finalmente, quando o vestido deslizou até a cintura, ele se afastou.

Ele descansou a mão no ombro dela, apenas olhando para ela. Seus longos cabelos escuros pendiam ao redor de seu corpo, a pele pálida à luz das velas.

? Você é tão bonita, ? ele sussurrou.

Alina sorriu. Suas palavras, o olhar em seus olhos, fizeram seu ventre se agitar dentro dela, preenchendo-a com a sensação mais estranha de alegria e saudade, tudo em um.

? Você não é exatamente um monstro, ? ela disse, quase antes que pudesse impedir que as palavras saíssem de sua boca. Ele havia tirado a túnica em algum momento, e a luz da fogueira tocou seus músculos ondulados, pintando sombras no brilho da pele e nas fendas e tendões em seus braços.

Ele olhou para ela com uma risada surpresa.

? Obrigado, minha esposa, ? disse ele, rindo da sinceridade.

Ela mordeu o lábio. Era verdade. Ele era tudo o que ela jamais imaginou e todas as coisas que ela não poderia ter imaginado.

Sentindo-se ousada, ela atravessou a sala em direção a ele, deixando a mão descansar em seu ombro quente e musculoso.

Ele estremeceu quando ela passou a mão pelo corpo dele.

? Oh, moça, ? disse ele, voz rouca. ? Você me faz querê-la muito.

Alina sorriu para ele. ? Espero que sim.

Ele olhou para ela novamente e riu. ? Minha. Eu sou o homem mais sortudo do mundo.

Ela se inclinou contra ele, seu corpo aqueceu por sua pele, e sentiu a estranha maravilha de sua pele contra a dela, o calor contra seu peito, enquanto se beijavam.

Ele levou-a á cama e lá eles se deitaram juntos, lado a lado.

Ele se apoiou em um cotovelo, a mão traçando sua cintura lisa.

? Você é tão linda, ? ele disse, impressionado.

Alina sentiu seu corpo inteiro tremer sob seus olhares ternos.

Duncan não conseguia parar de olhar para Alina. Ela era, sem sombra de dúvida, a mulher mais linda que já vira. Sua pele era como um alabastro impecável, seu cabelo era um manto de seda. Seu rosto, com aqueles olhos profundos em que um homem poderia se afogar. Seu corpo era... Eu não acho que nem os poetas conheçam as palavras, ele pensou, enquanto olhava para ela, embebido em cada curva.

Ela era alta e magra, os seios altos e macios, os mamilos rosados e firmes. Sua cintura era esculpida profundamente; suas longas pernas pressionadas juntas, se escondendo e revelando uma fenda rosada.

Duncan sentiu seu corpo inteiro tenso. Ele não queria fazer nada além de olhar, mas o resto dele estava doendo, tremendo e cheio de necessidade. Ele se inclinou e a beijou novamente, sentindo seu corpo tremer quando tocou o dela.

? Querida, ? ele sussurrou em seu cabelo.

Ela se aninhou mais perto e seu corpo subjugou tudo o mais.

Ele sorriu e se moveu para baixo dela, alcançando seus seios. Ele olhou para eles, tão perfeitos, pontudos e inclinados em rosa pálida. Ele não podia acreditar que a pele era tão quente e macia quanto à pele que ele tocava. Ele se inclinou e experimentou um, deixando seus lábios apertarem em torno de seu mamilo, sentindo-o tenso sob sua língua.

? Oh!

Seu gemido de prazer o incitou ainda mais, então ele brincou gentilmente, passando sua língua pela ponta endurecida. Ela se moveu embaixo dele, aparentemente sem saber se deveria se deitar ali ou se afastar, e sentou-se devagar.

? Eu não feri você, eu a feri, querida?

Os olhos de Alina se abriram. As pupilas eram redondas, os olhos negros na sala escura. ? Oh, Duncan, ? ela murmurou. ? Nem um pouco.

Ele riu, sentindo o prazer dela preenchê-lo com maior prazer. Ele se moveu para o outro seio dela, tomando entre os lábios e então, lentamente, deixou a mão vagar para descansar em sua barriga. Ele a sentiu tremer e esperou um momento, depois se moveu para baixo.

Quando ele alcançou a divisão de suas coxas, ela fez um pequeno som. Ele olhou para ela, mas seus olhos estavam fechados, sua boca curvada em um olhar que parecia satisfeito. Ele sorriu também e se moveu para baixo.

Quando sua mão deslizou na fenda quente entre suas coxas, ele precisou morder o lábio para se impedir de gritar em voz alta. Ele não podia acreditar em como ela estava pronta! Ele não conseguiu resistir e desceu ainda mais baixo e, gentilmente, estendendo a língua.

Quando ele a lambeu lá, ela ficou tensa e gritou. Ele sorriu, sabendo que era uma expressão de felicidade ? ele já conhecia um pouco do seu vocabulário de sons. Ele repetiu o ato, lambendo a fenda da pele quente e úmida e sentindo a experiência o incitar a um desejo cada vez maior enquanto ela gemia e resistia.

Quando ele finalmente se levantou e se moveu sobre ela, seus olhos se abriram uma vez em deleite sonolento.

? Sim?

? Sim...

O sussurro era tudo o que ele precisava. Descendo, ajustando seu peso, ele a encontrou se abrindo e deslizou para dentro dela. Ele encontrou resistência e esperou, depois empurrou mais gentilmente. Ela gemeu, um som de dor, e ele parou, contra todo desejo de continuar. Seu corpo estava gritando, cada nervo se esforçando, como se os cavalos selvagens o puxassem. Ele olhou para o rosto dela.

? Está bem?

? Sim, ?ela sussurrou. ? Sim.

Ele se moveu então. Moveu, moveu e moveu. Ele era um corpo, atraído para o mais completo e requintado lugar de tranquilidade, tremendo no pico de algo que o transportaria para outro mundo, se ao menos ele se movesse dentro daquele calor, e se movesse...

? Oh!... ? ele estava ofegando, estremecendo, tremendo, tão perto do clímax que ele pensou que poderia explodir. No entanto, ele não queria alcançá-lo... ainda não. Ele se afastou e foi mais devagar, movendo-se e movendo-se e...

? Oh! Oh! ? Alina estava chorando agora, seu corpo estremecendo enquanto eles se moviam juntos, escorregadios com a transpiração. Quando ele abriu os olhos, ela soltou um grito estremecido e ofegou, depois ficou imóvel. Ele sorriu. Ela estava sorrindo.

Ele se moveu então, deixando seu próprio clímax se construir dentro dele, levantando-o para cima e para cima e... Quando ele chegou, quebrou como uma onda no oceano, excitando seu sangue como fogo. Ele engasgou e gemeu, bombeando nela enquanto seu corpo assumia, passando pelos movimentos enquanto sua mente, flutuando no paraíso, não sabia nada.

Mais tarde, quando ele estava deitado em seus seios e, em seguida, ao lado dela, embalando-a em seus braços, seu corpo ainda dentro dela, ele se inclinou e a beijou. Seu rosto estava molhado de lágrimas, mas ela estava sorrindo.

? Alina, ? ele sussurrou, acariciando a testa úmida. ? Meu amor.

? Duncan, ? ela sussurrou. Ela não tinha palavras. Ela envolveu seus braços ao redor dele e juntos eles caíram em um sono profundo e feliz.


Capítulo Trinta E Três

VIDA NOVA


Alina ficou no canto da grande câmara em Dunkeld. O fogo estava inclinado a rugir, fazendo-a suar em seu longo vestido de veludo.

? Aqui está a verbena, senhora.

? Obrigada, ? disse Alina brevemente a Blaire, enquanto ela trazia uma tigela de tintura fumegante. Era a melhor lavagem para feridas que ela conhecia. Blaire deixou onde Alina mostrou e então Alina foi até onde Amabel estava deitada, com a testa cheia de suor, olhando para cima.

? Você está bem? ? Alina perguntou. Ela podia ver que sua irmã estava com alguma dor, embora parecesse calma ? toda vez que uma contração passava por ela, ela ficava tensa, enrijecendo o rosto e depois relaxando.

? Eu estou, ? Amabel sussurrou. ? Estou feliz que você esteja aqui. ? Ela estendeu a mão e segurou o pulso de Alina, os dedos segurando a forma esbelta deles.

? Eu também, ? disse Alina. Ela olhou nos olhos da irmã e sorriu. ? É ruim o suficiente ter que viver com a senhora MacFarlane como ela é, é bom não tê-la aqui agora.

Ambas as irmãs riram. A velha parteira não era permitida sob as regras estritas de Alina no quarto de dormir ? ambas as meninas haviam perdido a mãe no parto e a ideia de confiar em alguém, exceto uma na outra, era algo em que não conseguiam pensar.

? Foi bom você vir, ? disse Amabel.

Alina olhou em volta. Ela não precisou viajar para nenhum lugar, ela morava em Dunkeld agora. Ela viu para onde sua irmã olhava e seu próprio rosto se enrugava de tanto sorrir.

? Bem, continua congelando até a morte na ala norte, ? disse uma voz seca.

? Aili, é maravilhoso ter você aqui, ? Alina sorriu para sua tia diminuta, que fez a viagem sobre o solo gelado no frio do inverno.

? Eu gosto de estar aqui, ? disse Aili com firmeza. Nem Alina nem Amabel pareciam acreditar nessa afirmação, com razão. Aili não saíra da torre por quase quinze anos. Ela fez uma coisa notável, voltando ao mundo de novo, e ambos se sentiram admiradas.

? Estou feliz, ? disse Amabel, tensa. Alina viu como seus dentes apertaram, mordendo o lábio. Ela se virou para Aili e elas trocaram um aceno de cabeça.

? Agora, quando a próxima dor vier assim, me diga, ? Aili instruiu calmamente. ? Quando elas estiverem perto o suficiente juntas, eu e sua irmã podemos segurá-la. Isso vai facilitar as coisas.

Amabel assentiu, o rosto corado pela transpiração. Alina olhou para o fogo, sentindo-se preocupada. Ela olhou às chamas. Enquanto ela observava, a respiração de sua irmã raspando no silêncio atrás dela, ela lentamente se sentiu atraída pela chama, o mundo se tornando silencioso, como antes de ter uma visão. Na chama, um rosto a encarava, um rosto emoldurado por longos cabelos ruivos. O rosto era um oval grave, a boca firme e exatamente uma réplica de Broderick. Os olhos eram largos e pretos, um pouco parecidos com o dela. A cor era impressionante: espelhados cinzas, brilhantes e tranquilos, eles atingiram Alina com um solavanco que doía. ? Mãe!

A garota na visão possuía olhos iguais aos da mãe que Alina não sabia que se lembrava. Até agora.

? Alina...

Um suspiro entrecortado da cama rompeu a visão e fez Alina atravessar o chão com grande pressa, sentando-se à esquerda de Amabel na grande cama de carvalho escuro.

Aili olhou para cima brevemente, olhos azuis brilhando. ? Lá, agora ? disse ela, sorrindo. ? Na próxima assim, nós vamos levantá-la e você pode empurrar. Pronto? Um, dois...

? Aaah!

Amabel gritou quando a contração seguinte a atravessou e Alina sentiu todo seu peso dela apertar seu ombro. Ela mordeu o lábio, lutando para apoiar sua irmã, tentando ignorar os gritos e grunhidos de dor, a respiração ofegante.

Ela estará segura. Ela ficará bem. Deixe-a ficar bem...

A ladainha prosseguiu pela cabeça de Alina, enquanto sua irmã lutava, ofegava, gritava, chorava e gritava.

Alina sentiu seu coração partir, desejando poder fazer alguma coisa, qualquer coisa, para aliviar a dor.

Deixe-a viver. Deixe-a viver.

Um grande grito inundou o ar e Amabel ficou tensa. Alina grunhiu com esforço, segurando-a enquanto ela empurrava e empurrava.

? Ah! Lá estamos nós, moça. Eu tenho os ombros. Mais um empurrão assim e...

Amabel gemeu e estremeceu, depois ficou imóvel. Mais abaixo na cama, Aili estava sorrindo.

? Bem, você pode receber sua filha no mundo, ? disse ela. Sua voz era cheia de admiração e Alina podia ver o rastro de lágrimas.

Ela mesma estava ofegante, sentindo um alívio que a fez fraca. Ela olhou à irmã, que estava deitada, suada e encharcada, na cama. Na palavra ? filha, ? ela sorriu.

? Filha? ? Ela se virou para Alina, os olhos brilhando de amor pelo novo bebê. ? Eu posso vê-la? Deixe-me vê-la!

Aili riu. ? Eu só estou lavando ela, querida, ? disse ela. ? Paciente. ? Alina podia ouvir o som da água e da tosse e depois um choro severo. Aili estava curvada, sua forma sólida forte enquanto ela embalava o bebê sob a água.

Dois minutos depois, ela se voltou à cama. Alina estava sentada com a mão na de sua irmã, apertando sua mão fria e pálida, sorrindo para ela enquanto sorria de volta, olhos brilhantes de admiração.

? Aqui estamos, ? disse Aili. Ela estava ao lado da cama, segurando em seus braços um embrulho que parecia a Alina incrivelmente pequena para embalar uma vida humana. Ela olhou, olhando fixamente como se estivesse paralisada, e se viu olhando para um rosto enrugado e amarrotado, os olhos arregalados em pálpebras enrugadas, a profundidade de um cinza profundo e firme.

? Oh!... ? Amabel soltou um suspiro. Ela sentou-se, embora Alina estendesse a mão para tentar detê-la, e a expressão em seu rosto era uma mistura de maravilha, felicidade e um amor tão profundo e doloroso que fez o coração de Alina ficar quieto de repente.

? Aqui estamos. Agora, segure-a assim, cuidado com a cabeça... ainda não está firme. Aili riu gentilmente enquanto colocava o bebê nos braços de Amabel.

? Oh!... ? Amabel olhou para sua filhinha, sua mão oscilando diante de seu rosto. O bebê estendeu a mão e encontrou o dedo dela, a forma minúscula tão perfeita que o coração de Alina subiu em sua garganta.

O bebê agarrou o dedo de Amabel e ela respirou com admiração, e então começou, de repente, a chorar. Ela balançou para frente e para trás, segurando o bebê. Ela estava cantando para ela, um enorme sorriso no rosto, os lábios traçando a testa do bebê com beijos.

Aili se afastou, tirando o lençol manchado da cama. Enquanto Alina a observava, ela viu seus ombros tremerem e soube que sua tia chorava.

Ela sentiu o próprio coração torcer dolorosamente e olhou à cama. Ela sorriu para Amabel, que sorriu de volta, o sorriso todo maravilhado, alegria e amor.

Alina olhou para o bebê e o bebê olhou para trás. Quando seus olhos se encontraram, a criança soltou um pequeno grito. Alina sorriu para ela.

Joanna, ela pensou. Bem-vinda Joanna.

O bebê fez um pequeno ruído e depois ficou imóvel, com os olhos desfocados, mas vagando na direção de sua tia.

Então Amabel se moveu para alimentá-la e a sala ficou quieta.

Alina olhou para o fogo, pensando que, afinal de contas, seu coração poderia realmente explodir, estava tão cheio.


Epílogo


Alina aninhada ao lado de Duncan, onde juntos estavam em seu quarto quente. Era o final da manhã, o sol baixo no céu de inverno. Estava frio lá fora, mas ali no quarto estava quente, um fogo rugindo ao lado deles na lareira.

? Bem, meu amor? ? Duncan sorriu para Alina. Ela sorriu de volta.

? Bem o quê?

Ele riu, acariciando seus cabelos. ? Devemos deixar a nossa câmara, ou ficar mais tempo ainda?

Alina sentiu prazer e plenitude em cada parte dela. Eles acordaram cedo, o primeiro coro de pássaros os chamando para acordar. Não se levantaram durante horas, não se moveram da cama e das cobertas quentes. As manhãs eram seus momentos favoritos ? uma época de lenta exploração, de aprendizado e de conhecer seus corpos de maneiras novas e prazerosas.

Agora, Alina acariciou o cabelo de Duncan, ainda não acreditando que ele era um companheiro perfeito como ele acabou sendo. Ela olhou para o perfil reto dele, a luz do fogo tocando aquele nariz firme e beijou seus lábios.

? Se você me permitir decidir, não vamos sair.

Duncan abriu os olhos e olhou para ela, um sorriso lento.

? Oh! ? Ele girou para que se deitasse de lado, seu braço sobre ela. ? Bem então. Nesse caso, eu delego todas as decisões sobre isso para você.

Enquanto ele falava, deslizou para trás dela, movendo-se para que seu braço a segurasse contra ele, seu corpo contra o peito.

Ela riu quando as mãos dele acariciaram seus seios, ofegaram quando elas se moveram para baixo.

? Bem então. Acho que temos um cronograma satisfatório para os próximos anos ? disse ela, recuando para que as nádegas pressionassem os quadris dele. Ele assobiou e ela sorriu feliz.

Ele estava se movendo contra ela, deixando seu corpo deslizar contra o dela enquanto suas mãos seguravam seu seio e seus lábios procuravam sua garganta.

Ela riu e pressionou de volta contra ele e eles se moveram juntos, ela se aconchegou firmemente em seus braços, o corpo dele procurando entrar no dela.

? Oh! Oh!

Ela gritou, pressionando contra ele enquanto eles se juntavam mais uma vez. Ela engasgou e deixou seu corpo assumir, movendo-se contra ele enquanto ele pressionava contra ela, mais e mais profundo e...

Quando eles se deitaram, saciados, um ao lado do outro mais uma vez, a mão dele em seu seio, sua mão acariciando com os longos dedos pelo braço dele, ele olhou para ela.

? O que houve? ? Ele perguntou novamente. Ela estava olhando para ele, os olhos arregalados.

Eu deveria contar para ele? Ela pensou, ou esperar.

? O quê? ? A voz era provocativamente insistente e ele se moveu para baixo para beijá-la. Ele olhou nos olhos dela, os castanhos procurando os escuros, tentando ler a mensagem dela.

? Duncan, eu... ? ela mordeu o lábio. Ela não fazia ideia de como dizer isso. Como ele aceitaria. Ela olhou em seus olhos, de repente incerta.

? O que é querida? ? Ele disse, olhos apertados com preocupação. ? Seja o que for, diga-me. Nada é tão ruim que não possamos superar juntos... ? ele parou. Ele estava franzindo a testa, os olhos olhando para os dela profundamente preocupados

Ele achava que era uma coisa ruim! Ela quase deu uma risadinha e mordeu o lábio novamente, forçando o rosto a se acalmar.

? Duncan, eu... ? ela se sentou, apoiando-se sobre um cotovelo, o cobertor em volta da cintura, mechas de cabelo escuro em sua pele pálida. ? Eu acho que estou... esperando... uma criança.

Ela disse aquilo com pressa e depois olhou para o rosto dele.

Os olhos dele estavam arregalados. Seu rosto era uma imagem de admiração. Então ele riu.

? Alina! ? Ele explodiu. ? Você querida, é maravilhoso... ? ele ficou sem palavras. ? Por que você não me contou? ? Ele perguntou, rindo de uma vez. ? Por que hesitou? Eu pensei que era algo ruim! É a melhor notícia em todo o mundo.

Ela se deitou, sorrindo, e ele se inclinou, sua boca beijando seu cabelo, sua testa, seu pescoço. Suas mãos procuraram a barriga dela e fizeram cócegas, fazendo primeiro uma risadinha e então, quando as mãos dele ficaram mais insistentes e hábeis, gritaram em voz alta.

Eles se deitaram nos braços um do outro, soluçando, rindo alegres.

Quando Alina ficou ali, olhando para o teto, um rosto vago brilhou diante de seus olhos; um rosto forte e conhecido ? um garotinho ? com cabelos que ela ainda não enxergava e um largo sorriso. Ao lado estava o rosto da garota de sua visão, a pequena Joanna.

Bem-vindo, meu filho, ela pensou, conhecendo o rosto alegre e sorridente de seu filho pela forma como seu coração pulava apenas ao vê-lo.

Ao lado dela, Duncan acariciou seus cabelos e ela se deitou em seus braços, sorrindo. Eles estavam completamente felizes.

 

 

                                                   Emilia Ferguson         

 

 

 

                          Voltar a serie

 

 

 

 

      

 

 

O melhor da literatura para todos os gostos e idades