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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O DESPERTAR DO HIGHLANDER / Emilia Ferguson
O DESPERTAR DO HIGHLANDER / Emilia Ferguson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Uma beleza tímida e inocente... um lindo Highlander... e um brutal laird de clã com uma filha prometida ao rapaz em questão...
Um novo encargo de cavaleiro...
Henriette Fraser, carinhosamente conhecida como Ettie, encontra-se em um dilema agora que seus pais estão fugindo por suas vidas. Ela acaba ficando com seu tio Heath e precisa se adaptar à nova situação.
Heath Fraser, um homem quieto que esconde um segredo trágico, sabe que deve fazer o melhor para ver sua nova tutelada casada e feliz.
Um filho prometido de um Thane...1
O belo Brodgar MacConnoway foi prometido em casamento com a filha de um clã rival para trazer a paz entre as duas famílias. No entanto, uma vez que ele coloca os olhos na beleza visitando o castelo de sua família em Dunkeld, ele sabe que nunca conseguirá manter sua parte no trato. Se isso significa implorar por liberação do acordo ou algo mais exigente, ele descobrirá uma maneira de manter a moça inocente que capturou seu coração completamente, a seu lado.
Medidas drásticas a considerar...
Quando Brodgar e seu melhor amigo Alf se encontram com o pai da futura noiva, eles rapidamente descobrem um novo problema no horizonte. Eles descobrem que muito mais está em jogo do que eles poderiam imaginar. Se eles falharem, isso pode significar reacender a guerra entre os clãs MacDonnell e MacConnoway, e isso é inaceitável. Mesmo que isso signifique sacrificar a única mulher que segura a chave de seu coração em sua mão clara e suave...
Para o corajoso e bonito Highlander, parece haver apenas uma opção — e a ação extrema pode custar não apenas sua vida, mas também a dela... mas vale a pena?
Pode o bravo escocês e sua amada, em vez disso, encontrar uma maneira de escapar da ameaça de guerra e encontrar paz com suas famílias — e talvez permitir que o verdadeiro amor floresça mais uma vez?

 


 


— Eu não posso suportar dizer adeus.

Ettie mal conseguiu pronunciar as palavras em volta do nó na garganta. Ela tinha dezenove anos e pela primeira vez em sua vida, estaria sozinha em um lugar estranho. Ela passou a mão pelo cabelo claro e tentou se concentrar em outra coisa.

— Eu sei, querida, — sua mãe, Lady Lynette, disse gentilmente. Ela acariciou a bochecha de sua filha e, em seguida, puxou-a para um abraço feroz e com aroma de rosa. — Mas pode não ser por muito tempo. Quem sabe?

— Eu não quero pensar sobre isso.

Lynette sorriu, seus olhos verdes vincando nos cantos.

— Eu sei querida. Eu também não quero. — Sua voz falhou. — Mas você estará segura com o tio Heath. E estaremos mais seguros fora deste lugar.

Este lugar era a casa deles — o Castelo de Elsmoor. Neste momento, não era um lugar seguro para um homem acusado de traição. Ettie sabia que o pai dela era um bom homem. Ele tinha fortes convicções, isso era tudo. Além disso, ele havia escolhido os lados imprudentemente em uma disputa recente. Ela entendeu a necessidade de seus pais velejarem para a França. Ela até entendeu por que não podia ir com eles. No entanto, não fazia doer menos.

— Eu sei que você estará mais segura, — disse Ettie, forçando as palavras ao redor do nó em crescimento em sua garganta. — Isso não torna mais fácil. — Sua mãe a puxou para seus braços novamente.

— Bem, deve ser, minha querida. — Ela beijou o cabelo dela. — Tio Heath é um homem difícil, mas sei que você vai se dar bem com ele. Ninguém pode deixar de amá-la, querida.

Ettie sentiu um toque no coração quando sua mãe disse isso.

— Obrigada. Nem você também, mãe.

Sua mãe, pensou Ettie, era a mulher mais linda e doce do mundo. O fato das pessoas dizerem que eram parecidas a deixava orgulhosa. Exceto, onde o rosto de sua mãe era longo e solene, ela tinha um rosto mais suave, com a boca cheia e olhos cor de ardósia em vez de verde. Agora, aqueles olhos azul-acinzentados piscavam furiosamente, tentando acalmar as lágrimas quando a mãe a puxou para os braços mais uma vez. Os passos lentos no corredor do lado de fora saudaram a chegada do pai. Ela recuou quando ele apareceu na porta atrás de Lady Lynette.

— Minha lady, — ele falou. Uma figura alta e imponente, com olhos e rosto sérios, Ettie sentiu o coração se arrepiar de amor por ele também. Ela deveria deixar os dois? Era muito difícil!

— Sim. Eu estou indo — sua mãe disse. Ela estava chorando também, agora, piscando para conter as lágrimas que fluíam de seus grandes olhos verdes. — Espere um momento, Ewan.

Lorde Ewan Fraser, o barão de Elsmoor, estava na porta. Ettie viu sua expressão sombria suavizar-se com uma expressão de imensa ternura enquanto ele observava a mãe e ela.

— Adeus, pai, — ela disse suavemente.

— Adeus, querida, — ele disse, suavemente. Ele deixou a mão descansar em seu ombro por um momento, e então se retirou, virando-se. Ettie era sábia o suficiente para entender que não era frieza, mas uma necessidade de esconder suas lágrimas.

— Bem, então, — disse Lynette, piscando rapidamente. — Nós iremos. Seu tio Heath acabou de chegar, ouço os criados abrindo a porta para o andar de baixo. Nós vamos partir agora. Fique bem, filha.

— Passe bem, mamãe.

— Adeus. — A voz de seu pai era rouca quando as duas viravam na porta, descendo as escadas.

— Adeus. — Ettie sussurrou enquanto ouvia seus pés ecoarem na escada, correu até a janela para vê-los partir. Ela também podia ouvir o barulho das grandes portas nas lajes enquanto seu tio era admitido dentro da casa. Ela não queria saber sobre isso. Tudo o que ela tinha era a força de ficar na janela comprida e ver seus pais se afastarem na carruagem, indo em direção ao mar e ao refúgio.

E eu vou ficar aqui. Eu me pergunto o que o futuro reserva?

Ettie sabia que seus pais esperavam que ela encontrasse um marido aqui. Essa era a principal razão pela qual eles não a levaram com eles — eles acharam injusto reduzir suas chances de encontrar um lorde e morar na Escócia. Mas por que eles me deixaram com o tio Heath?

Mais jovem que seu pai por alguns anos, recluso e quase silencioso, tio Heath dificilmente era ideal para começar sua busca por um noivo. Ele provavelmente não conhecia muitas pessoas.

Um antigo cruzado, o tio Heath era um homem amargo e silencioso com um caráter disciplinado. Ela não podia imaginá-lo sorrindo, nunca se importaria de receber visitas para bailes. Se mamãe e papai quisessem que eu encontrasse jovens qualificados, seria melhor que me deixassem aqui ou me mandassem para Edimburgo para ficar com a tia da mamãe. Mesmo que a tia de sua mãe, Mabel, fosse consideravelmente mais velha que seu tio, era mais provável que tivesse boas conexões do que ele.

Naquele momento, ela ouviu o som de passos no corredor. Ela olhou para cima quando um homem apareceu.

Alto, com um rosto longo, magro e grandes olhos castanhos, o homem era claramente bonito, embora um pouco mais jovem que o seu pai. Ettie engoliu em seco. Ele era bonito, mas irradiava ao mesmo tempo uma espécie de tristeza e uma disciplina rígida. Desde suas botas apertadas até o cabelo curto, este era um militar sem espaço para frivolidades.

— Henriette, — falou. Ele limpou a garganta. Sua voz tinha uma rigidez, como se raramente fosse usada. Ele olhou para ela com admiração.

— Tio? — Ela perguntou suavemente. — Você é meu tio Heath?

— Sim, minha sobrinha. — Ele assentiu gravemente. — Estou aqui para levá-la ao Castelo de Grenleigh, minha casa. Se você quiser me seguir?

— Sim, tio, — disse ela. Engolindo as lágrimas, ela pegou a mão que ele lhe ofereceu. Sua mão era quente, forte e segurá-la fez com que ela se sentisse muito mais segura. Ela o seguiu para o corredor.

Em um futuro incerto em que ela deveria encontrar um marido, estabelecer-se e planejar o resto de sua vida.


CAPÍTULO UM

PARTIDAS E VIAGENS


Brodgar levantou os olhos da mesa.

— Pai?

— Mmm? — Seu pai, Lorde Broderick, perguntou levemente de seu lugar oposto. O sol brilhava através das janelas do solar no Castelo de Dunkeld, fazendo Brodgar piscar.

— Você tem o saleiro ao seu lado? — Ele perguntou, franzindo a testa em seu belo rosto de queixo quadrado.

— Oh... sim. — Broderick, o thane, o passou através da mesa com um sorriso ausente. — Desculpe, filho. Eu estava a quilômetros de distância. — Ele passou a mão pelo rosto comprido, magro e cansado.

— Obrigado — disse Brodgar, pegando o sal e dando uma pitada no prato de prata com dedos fortes, depois repassando-o. — Você ainda planeja ir caçar mais tarde?

Broderick rolou seus ombros.

— Depende. Minha querida? — ele acrescentou, virando de lado.

— Sim? — Lady Amabel, mãe de Brodgar, levantou uma sobrancelha clara com cuidado. Uma mulher alta, com cabelos ruivos e um belo rosto oval, e piscou para ele, inquiridoramente. — Desculpe querido. Eu estava distraída. O que você disse?

— Você acha que vai chover mais tarde? — Perguntou Brodgar. — Eu me pergunto se seria seguro dar um passeio por esses caminhos da floresta.

Estavam sentados à mesa para um almoço prolongado. O Natal passara, e o ano novo trouxera um ar suave e melancólico junto com o tempo chuvoso. Era o tipo de dia em que ninguém queria sair do calor do solar e fugir da companhia do amigo.

— Acho que você poderia fazer isso antes da chuva — disse Amabel, franzindo as sobrancelhas para fora das longas janelas arqueadas.

— Bem, então, — disse Broderick confortavelmente. — Isso está decidido. Alf? — Ele se virou para um jovem alto de cabelos cor de areia que estava sentado ao lado dele.

— Sim, tio?

— Você vem ao passeio?

— Eu gostaria, — Alf concordou, engolindo um bocado de bannock2 de aveia. Brodgar assentiu para Alf, que sorriu de volta. Distantemente relacionados pelo sangue, Alf era considerado primo e era um dos amigos mais próximos de Brodgar. Seu melhor amigo além de Conn, que agora residia na França com Leona, a prima verdadeira de Brodgar.

— Eu me manteria longe do terreno montanhoso, — comentou o tio Duncan, pai de Leona. Deixando de lado a faca, que estivera inspecionando distraidamente, e sorriu para seu irmão, Broderick. — Você não vai querer errar o caminho novamente.

Broderick riu.

— Eu nunca tenho permissão para esquecer as coisas. — Ele fez uma careta.

Duncan riu.

— Bem, irmão, foi engraçado.

— Não seria engraçado se você quebrasse o seu maldito pescoço, — comentou Blaine, o pai de Alf, inclinando a caneca que ele segurava na direção de Broderick.

— Blaine, querido, — Chrissie disse, parecendo chocada. — Não diga essas coisas. — Ela era sua esposa, uma mulher pequena, de rosto delicado, de cabelos loiros encaracolados. Alf a seguiu com feições pontudas e elegantes, enquanto Conn tinha as características mais sólidas e fortes de Blaine.

Blaine deu um tapinha na mão dela.

— Eu sei que sou chocante. Eu tento ser.

Tia Alina, a única na mesa que não disse nada, sorriu para isso.

— Bem, você certamente terá sucesso.

Todos eles riram. Alina, alta e clara, com um rosto oval e uma cachoeira de cabelos negros, era a vidente da família. Não era um dom que impedia seu humor, e ela era frequentemente a vida de uma reunião como essa. Sua sagacidade afiada fazia todos rirem. Hoje ela parecia silenciosa, pensativa de alguma forma. Brodgar resistiu ao impulso de perguntar a ela o que estava pensando.

Se ela previu alguma coisa, é melhor eu não saber.

Alina era assustadoramente precisa em suas previsões. Sua presciência da mudança de sua filha Leona para a França sustentou todos durante sua ausência. Antes disso, sua mãe — irmã de Alina — lhe contara, fizera previsões para todos eles e cada uma delas foram verdadeiras.

Minha irmã tem o mesmo dom.

Joanna, a irmã de Brodgar, era a Senhora de Lochlann agora. Ela os havia visitado no Natal, com uma tranquilidade cobrindo-a como um manto semelhante à de Alina. Como morava distante, isso significava que a própria Alina funcionava como a vidente do castelo, embora ela e Joanna tivessem ficado sentadas durante horas, numa conversa séria, com voz baixa, juntas. Discutindo o futuro, Brodgar concluiu.

Se algo ruim acontecesse, elas teriam avisado, então.

Joanna não mencionara nenhuma preocupação e ela e Alina passaram horas felizes rindo juntas à mesa, sem qualquer sinal de tensão ou apreensão. Ainda. Brodgar olhou para cima quando sua mãe alcançou a mão de Alina, acariciando-a suavemente. Alina assentiu.

— Você está preocupada? — Perguntou Amabel. Alina sacudiu a cabeça.

— Talvez não seja nada. — Ela pegou o xale. — Um frio, nada mais.

— Você quer se recolher?

— Não, não... — Alina acenou com a mão com desdém. — Vai passar. É alguma coisa.

Amabel e Alina trocaram olhares preocupados. Brodgar também se sentia nervoso. Ele queria perguntar a ela o que a incomodava.

É algo no futuro do pai? No meu?

Ele balançou sua cabeça. Fosse o que fosse, isso aconteceria em breve. O que quer que ele fizesse, se houvesse algo desagradável armazenado em seu futuro, ele não poderia mudá-lo simplesmente sabendo. Tudo o que isso faria, provavelmente, era piorar.

Melhor deixá-lo. Brodgar decidiu que preferia não saber.

— Filho?

— Mmmm? — Perguntou Brodgar, olhando nos olhos escuros de seu pai.

— Você vai cavalgar com Amice para Duncraigh na próxima semana? Ela tinha vontade de visitar Lyonesse.

— Ah. — Amice era a irmã mais nova de Brodgar, atualmente com um resfriado. Lyonesse Duncan era sua amiga e informalmente parceira de cortejo de Brodgar. Ela era regiamente adorável, com cabelos escuros e um visual francês, como Alina possuía. Mesmo assim, Brodgar achou difícil se relacionar com ela como algo além de uma amiga próxima.

— Claro que vou, pai, — disse Brodgar. — Amice estará bem o suficiente?

— Ela vai estar nos próximos dias, — ele balançou a cabeça. — Ou assim Alina disse. E além disso, esse frio não é tão ruim. — Ele fungou.

Brodgar riu.

— Bem, parece que o resfriado está deixando-a em paz, finalmente.

— Sim. Sim. Levou três dias para melhorar essa coisa cansativa, lembre-se, mas estou curada agora.

— Boa.

Eles se sentaram em silêncio por um tempo. Alina se levantou e saiu da mesa, mas Amabel parecia despreocupada, então Brodgar relaxou.

— Você visitou Lyonesse na semana passada?

— Eu visitei, — disse Brodgar, sentindo-se desconfortável com a pergunta de seu pai. Ele, normalmente, nunca investigava seus negócios. Se ele estava perguntando, tinha razão.

— Oh. Amice não mencionou isso.

— Eu fui sozinho.

— Oh

Eles se sentaram em um silêncio desconfortável por um momento. Brodgar rodou a caneca de cerveja, olhando em suas profundezas como se esperasse que ela fornecesse alguma informação. Seu coração bateu.

Eu sei que ele quer que eu me case logo.

Com vinte e um anos, Brodgar já tinha idade suficiente para começar sua própria família, estender a linhagem. Além disso, ele era, o único herdeiro do castelo de Dunkeld e o título de Thane de Dunkeld, seria obrigatoriamente dele para recebê-lo.

Mas eu encontrarei alguém para me amar?

Ele suspirou. Seus pais encontraram, suas tias e tios encontraram. Joanna amava seu homem taciturno e melancólico. Ele tinha mais exemplos do que precisava do que um casamento verdadeiramente feliz existia.

Eu simplesmente não consigo ver a mim e a Lyonesse tendo o mesmo.

Ela era uma boa companheira, uma amazona com muitos interesses para compartilhar com Brodgar. Ela também era meticulosa e com certas particularidades, quieta e atenciosa. Um par perfeito de muitas maneiras. Apenas de alguma forma eles não se encaixassem.

Calma, jogue homem! Brodgar descartou seus próprios pensamentos. Lyonesse é perfeita para você, tem sorte de tê-la, por certo. Apenas aceite os desejos de seu pai: ele sabe melhor.

Mesmo assim, Brodgar não estava convencido. Ele suspirou novamente e pegou outro bannock. Nesse momento, Alina reapareceu na porta. Seus olhos eram enormes, seu rosto completamente imóvel. Suas costas estavam retas, duras e ela tinha o ar de alguém que havia cruzado para outra mundo e retornou com uma mensagem.

— Eles estão aqui, — disse ela.

A mesa inteira olhou para ela. Amabel se levantou, indo ajudá-la a sentar-se. Ela parecia exausta, e Brodgar notou que ela estremecia, como sempre fazia quando tinha uma visão verdadeira, exaustiva como deveriam ser.

Ninguém perguntou quem estava aqui, isso era uma surpresa. Um minuto depois, os visitantes entraram na sala.


CAPÍTULO DOIS

CHEGANDO AO CASTELO


— Tio? — Ettie assobiou quando eles estavam no limiar do solar. — Você tem certeza disso?

Tio Heath se virou para ela, deu-lhe um olhar. Não era um olhar irritado, meramente neutro e um pouco irônico. Ettie assentiu e entrou atrás dele.

— Eu não sei.

De pé no calor súbito da entrada, Ettie desejou ter sido mais reconfortante. Ela passou as mãos pelas saias azuis e desejou estar em outro lugar.

Tio Heath acha que isso será melhor para mim. Eu não sei.

Ela o olhou enquanto ele estava ao lado dela, notando o quão agitado ele parecia. Mantendo sua calma exterior, ela sabia por experiência como ele estava agitado por dentro. Sua postura estava tensa e suas mãos se torceram brevemente antes de deixá-las penduradas ao lado do corpo.

Por que o tio está tão pouco à vontade?

Chegar a Dunkeld fora ideia dele, afinal de contas. No momento em que o convite chegou a Grenleigh — sua casa — ele tinha ficado diferente. Carregado com uma nova vida de alguma forma, como um homem que recebeu um esboço restaurativo. Ettie, acostumada com seus humores morosos depois de um mês em sua casa, ficou surpresa.

Agora ela o viu limpar a garganta.

— Lorde Broderick?

Ettie olhou para o outro lado da sala, e viu um homem alto de cabelos escuros, raiado de cinza, de pé e cruzado para eles. Ele tinha um rosto magro e olhos escuros e inteligente, um passo medido.

— Meu lorde, — cumprimentou o tio Heath. — Que bom vê-lo. Já faz muitos anos.

— Heath, verdade. — O homem, Lorde Broderick, riu. — Demasiado longo. É uma surpresa vê-lo, Sir Heath.

Ettie, de pé na porta, recuou para a sombra. Se ele não me ver, ficarei satisfeita. Como filha única, acostumada à sua própria companhia, o pensamento de conhecer tantos estranhos assustava Ettie.

O trio riu baixinho.

— Você me surpreende, com tanta cerimônia.

— E você, comigo? — Broderick riu. — Vou chamá-lo de 'senhor' até que você decida não usar mais meu título.

Heath assentiu. Ele lambeu os lábios secos. Ettie o viu mover a mão, acenando para ela vir ainda mais perto.

— É... — ele fez uma pausa. — Todos estão aqui?

Broderick riu alto.

— Sim! Entre! Desculpe-nos, estávamos no almoço. Venha! Bem-vindo Sir.

Ettie observou seu tio estremecer e entrou no salão ao lado do homem. Ela tinha uma incerteza momentânea: deveria seguir ou ficar parada? Ela respirou fundo e o seguiu.

Eu vou ficar com muito frio aqui no hall do salão.

— Duncan! Blaine! Minha dama! Alina... e Chrissie. Olha quem chegou.

Quando o homem alto e magro apresentou Tio Heath a todos na mesa, Ettie se viu olhando em volta, interessada. Ela se inclinou para trás, as mãos entrelaçadas, sentindo-se tímida. Mesmo assim, ela não resistiu em estudar as pessoas.

Uma mulher alta, de cabelos avermelhados, alguns fios brancos entrelaçados, levantou-se e foi até Heath, segurando seus ombros e sorrindo.

— Heath! Você querido homem! — Ela sorriu maravilhada para seu rosto magro e inescrutável. — Foi um tempo muito longo.

— De fato, Lady Amabel.

Ettie ficou onde estava, desejando ser invisível. A mulher — Lady Amabel — se afastou sem notá-la.

— Heath. — Uma mulher alta com um rio de cabelos negros se levantou, apoiando-se na mesa, e se aproximou devagar. — Bem-vindo a Dunkeld. — Ela olhava diretamente para Ettie, seus olhos negros no nível dos dela.

Ettie empalideceu. Havia algo em seus olhos, mesmo com seu olhar neutro, levemente questionador, que a incomodava. Ela sentiu como se a mulher — elegante e bonita — estivesse lendo seus pensamentos, sondando sua mente.

Ettie engoliu em seco. Parece que ela me conhece de alguma forma. Aquele olhar inescrutável parecia reconhecer tudo sobre ela, desde seus segredos mais profundos até seus desejos ocultos, e então abruptamente afastou o olhar.

Ettie percebeu que ela não havia dito nada.

— Obrigada, — disse ela. Tio Heath tocou seu ombro gentilmente.

— Eu peço desculpas, minha lady. Esta bela dama é minha sobrinha. Henriette Fraser.

— Sua sobrinha? — A dama de cabelos ruivos se virou para encará-los, franzindo a testa. — Você quer dizer filha de Ewan?

— O mesmo, — reconheceu Heath. — Agora minha tutelada.

— Ewan não está... — Ela parecia desanimada.

— Ele está na França, — afirmou Heath secamente.

— Oh.

Seguiu-se um silêncio desconfortável, durante o qual Ettie se viu sob escrutínio. Oito pessoas a encaravam agora: as duas damas e seus maridos, dois jovens e um par da idade de seu tio.

Ettie lambeu os lábios nervosamente. Ela se concentrou no jovem ruivo; um rosto pontudo com olhos inteligentes e ombros largos.

Ele parece amigável.

Seus olhos percorreram a mesa. Seu coração parou.

O jovem, que estava sentado ali com um rosto calmo e sereno, olhos castanhos e um queixo que poderia ter sido esculpido por um escultor da corte, era impressionante.

Eu poderia tê-lo imaginado como um ser do ar. Ela percebeu que estava olhando e apressadamente desviou o olhar. Ela ouviu alguém limpando a garganta.

— Minha lady. — Ela fechou os olhos, a voz fazendo cócegas sobre sua pele como penas de ganso. Ela nunca ouvira uma voz tão linda. Grave, mas musical, enunciação perfeita, poderia ter sido um príncipe de uma história.

Exceto que não era. Ele está aqui diante de mim.

Ettie apertou as mãos, sabendo que corou. Ela limpou a garganta.

— Meu lorde.

O homem alto com o cabelo escuro olhou de um para o outro por um momento.

— Desculpas, minha lady. Sir Heath. Eu esqueci as apresentações. — Ele limpou a garganta. — Lady Henriette, Sir Heath, posso apresentar meu sobrinho Alf MacNeil e meu filho Brodgar.

Brodgar. Ettie engoliu em seco, deixando o nome se instalar em sua mente como uma folha, caindo. Ele era um homem sólido e forte, e o nome lhe agradava. Brodgar MacConnoway.

— Prazer em conhecê-lo, — disse Heath com cuidado. Ettie, acostumada com o humor e a voz dele agora, olhou de lado preocupada. Alguma coisa estava incomodando o tio Heath. O que era isso?

Ele lambeu os lábios. Apertou as mãos. Olhou para o final da mesa, onde estava sentada uma pequena e magra mulher loira que Ettie não tinha visto.

— Chrissie? — Seu tio sussurrou.

A mulher se virou. Olhos de centáurea-azul se arregalaram e um lento sorriso floresceu.

— Heath Fraser, — disse ela suavemente. — Bem-vindo.

Ela se levantou e pegou as mãos dele e o tio Heath a encarou. Ele apertou seus dedos e Ettie ficou surpresa ao ver sua garganta trabalhando enquanto ele engolia as lágrimas.

— Milady Chrissie, — disse ele, as palavras duras. Seus olhos brilharam. — Estou honrado.

A mulher riu.

— Oh, Heath, — disse ela, batendo a mão na dele. — Não seja assim. É tão, tão bom... — ela parou, suspirando. — É maravilhoso ver você. Venha. Sente-se! — Ela o puxou para frente e então se virou para Ettie. — Tão teimoso como sempre. — Ela piscou.

Ettie deu uma risada surpresa.

Não tendo certeza se concordava ou não — sim, seu tio era teimoso, por certo, embora ela não lhe contasse — simplesmente passou a mão pelo vestido e seguiu a mulher e seu tio até a mesa.

O tio sentou-se ao lado de Lady Chrissie, que a deixou do outro lado, em frente a um homem musculoso, com um sorriso doce e torto.

— Minha dama. Eu sou Blaine MacNeil, — disse ele. — Pai de Alf. Estou honrado.

— Prazer em conhecê-lo, — Ettie conseguiu dizer em voz baixa. Ela notou o tio Heath olhando para ele.

— Blaine, — disse seu tio, um sorriso estranho no rosto. Meio triste e meio satisfeito, falava de admiração e arrependimento. — Você parece bem.

— Estou bem, Heath, — disse Blaine, revirando os ombros experimentalmente. — Melhor do que eu mereço.

— Sim.

Os dois homens se entreolharam rigidamente. Ambos riram.

— É bom ver você, — disse Heath, apertando a mão do homem com carinho.

— E você, Heath. Seu velho diabo. Você também!

Ettie olhou para a mulher loira, que sorria. Ela parecia profundamente comovida. Ettie olhou para o jeito que seu tio estava sentado ao lado dela, toda a sua postura se suavizando, o rosto relaxado.

Meu tio amou essa mulher uma vez, ela decidiu.

Ela olhou para baixo da mesa, seu coração batendo. Ela avistou Brodgar. Ele olhou para trás.

Seus olhos — castanhos e nivelados — seguraram seu olhar. Ettie mordeu o lábio. Olhou para as mãos dela. Deslocada.

Ele me faz sentir desconfortável.

Desconfortável, sim. E maravilhosa. Ela engoliu em seco novamente, um estranho calor pulsando dentro de si. Ela conheceu muitos jovens ao longo dos anos — seus pais eram muito justos, querendo que ela conhecesse todos os gentry3 elegíveis para poder ajudar na escolha do noivo — mas ela não se sentia... assim. Esse homem me faz sentir coisas estranhas. Borboletas no meu estômago e ao seu redor. Ela chamou sua atenção e sua bochecha se ergueu, um sorriso involuntário. Ele sorriu de volta.

Por que ele é tão perfeito?

Ettie sentiu-se quase aborrecido. Seu sorriso era bonito também. Ele estava tão perto de uma criação de carne e osso de sua imaginação mais selvagem quanto qualquer um poderia ser. Porquê ele está aqui? O que ela deveria fazer? E como se sentiria se o herdeiro do thane fosse casado?

— Tio, — ela falou, percebendo que seu tio tinha dito algo e ela não respondeu.

— Desculpe, sobrinha. Eu estava dizendo que Lady Chrissie perguntou se havíamos comido alguma coisa hoje. Você gostaria de uma refeição?

Ettie engoliu em seco, sentindo a saliva começar a fluir com o menor pensamento.

— Sim, — disse ela, balançando a cabeça vigorosamente. Ela ouviu uma risada. Brodgar estava sorrindo. Ela corou e olhou para baixo imediatamente.

— Você cavalgou muito hoje? — Ele comentou. — É bom ver alguém que constrói seu apetite na estrada.

Ettie riu, apesar de quão tímida ela se sentia.

— Estou faminta, senhor.

— Brodgar, — ele corrigiu. — Por favor, minha lady.

Ela engoliu em seco.

— Ettie, — ela sussurrou.

— Perdão, — ele respondeu em uma voz amigável.

— Eu disse, por favor, me chame de Ettie.

Ele assentiu.

— Ettie, — ele disse gentilmente. — Um nome delicioso.

— Curto para... — Ettie começou, prestes a explicar que era curto para Henriette. O homem alto, Broderick, ficou de pé, limpando a garganta e interrompendo-a.

— Um brinde! Para nossos convidados. — Ele ergueu a caneca e Ettie engoliu em seco enquanto todos brindavam silenciosamente. — Agora. Evan! Pelo amor das boas maneiras, por favor, traga para os nossos convidados algumas valetadeiras4 e canecas de cervejas. De uma vez só.

Um criado curvou-se e saiu correndo. Um momento depois, Ettie viu-se abastecida com uma valetadeira e uma caneca, e Lorde Broderick acenou com a mão.

— Por favor. Coma seu complemento. Você deve estar morrendo de fome.

Ela estava. O cheiro de comida estava flutuando sob o seu nariz, e ela olhou, com a boca trabalhando, para o peixe assado em uma travessa. Estava do lado oposto de Lorde Brodgar. Ela engoliu em seco.

— Você pode... você poderia me passar... — ela conseguiu dizer.

— Oh! Eu certamente o darei. — Ele levantou a bandeja e passou para ela. Ela agarrou-o e enfiou um peixe no prato. Quando ela passou de volta, seus dedos se tocaram.

Foi apenas um contato breve, mas passou por ela como chamas. Ettie engoliu em seco, sentindo seu rosto esquentar de repente. Ela fechou os olhos enquanto o calor a consumia.

— Sobrinha? — disse o tio, virando-se para ela.

— Oh! Hum... desculpe, tio? — ela disse, assustada por não ter ouvido.

— Nada, — Tio Heath disse suavemente. — Só queria perguntar se você viu o sal em algum lugar.

— Oh...

— Aqui, — disse Brodgar, passando-o para ela com um sorriso ingênuo. — Eu tenho.

— Oh, — ela murmurou, tomando-o. Seus dedos tocaram os dela. Poderia ter sido deliberado ou um acidente. Quando ela passou de volta, ela o viu sorrir.

Foi deliberado. Ele havia tocado seus dedos de propósito. Ele gostou também?

Ela engoliu em seco quando o calor a pegou profundamente e ainda mais brilhante.

Pegando sua faca e uma pequena colher de chifre, ela cortou o peixe, tentando se concentrar mais nisso do que no jovem bonito. Seus olhos foram para ele várias vezes durante a refeição. E ele também a olhava.

O que está acontecendo?

Ettie sabia que gostava da maneira como se sentia sobre Brodgar. No entanto, ela estava confusa. Além disso, ela ainda não sabia nada sobre essas pessoas.

Ela olhou para o tio, mas ele estava envolvido com a comida. Quando ele olhou para cima, o que não era frequente, ele estava olhando para Lady Chrissie com uma ternura que derreteu Ettie.

Eles foram apaixonados.

Ela não sabia como ela sabia disso, apenas sabia.

Agora, ela pensou, sentindo o calor lento preencher seus membros que tinham pouco a ver com os peixes e tudo com Brodgar, pelo menos eu sei um pouco sobre isso.

O pensamento a fez corar, e, corando, ela olhou para cima para notar o olhar dele nela novamente. Isso a fez sorrir. Ela olhou para o prato, esperando que ninguém notasse.

Ela ouviu Alf rir e, enquanto ele contava uma anedota sobre andar pela neve que fazia todos rirem, Ettie se viu feliz por eles terem empreendido essa longa jornada.

Eu sinto como se o futuro fosse excitante.

Estranho, sim. Diferente, certamente. Mas também emocionante.


CAPÍTULO TRÊS

DISCUSSÃO COM AMIGOS


— O que há de errado comigo?

Brodgar estava de pé nas muralhas, observando sua respiração e se contorcer em tentáculos gelados quando ele exalava. Ele estremeceu, batendo os pés para ajudar o sangue a alcançá-los.

Pelo menos o frio vai limpar minha mente.

Desde o almoço — desde a chegada de Heath — ele se sentia inquieto.

É ela.

No momento em que viu Ettie Fraser, ele ficou tonto. Pelo menos, foi assim que ele descreveu para si mesmo. Incapaz de pensar direito ou de pensar em outra coisa que não fosse ela. Ele andava impaciente; desejando que pudesse pensar em outra coisa.

Meu sangue está ansioso e fervendo.

Seu pobre corpo estava desamparado. O mero pensamento de seus doces lábios rosados fazia seus músculos tensos e desejava que pudesse beijá-los, sua língua saqueando aquela caverna macia e rosada...

— Och !

Ele cerrou o punho. As imagens estavam em condições de deixá-lo louco. Mas por que?

Ela chegou há três horas. Ela é nova aqui.

Ele balançou sua cabeça. Era ridículo! Ele não a conhecia de forma alguma. No entanto, de repente ele não conseguia afastar sua mente. Era frustrante.

— Brodgar?

— Mm? — Brodgar se virou, ouvindo Alf de perto.

— Estava procurando por você, — Alf comentou. — Por que você está aqui fora? Está frio! Ele passou as mãos pelos seus bíceps, nuvens de respiração no ar gelado da noite.

— Procurando por silêncio, — disse Brodgar, dando-lhe um olhar de soslaio. Seu amigo riu.

— Se isso é uma dica, eu vou manter a boca fechada.

— Não é você, — disse Brodgar, empurrando seu ombro de brincadeira. — Se você falar a noite toda, não vai me perturbar.

Alf riu.

— Estou feliz. Sentindo-se inquieto?

— Você pode dizer isso — disse Brodgar, distante. — Não quero ficar parado.

— Eu sei do seu sentimento, — Alf concordou. — Talvez possamos dar um passeio pelas colinas? Será melhor cavalgar para longe do que ficar de pé aqui, tão quieto, estremecendo nossas cabeças.

— Eu não sei, — Brodgar encolheu os ombros. — Eu disse ao pai que o veria mais tarde. Não quero ir longe.

— Muito bem, — Alf assentiu. — Eu pensei que talvez eu praticasse meu novo golpe. Ainda está incorreto.

— Muito bem, — concordou Brodgar. — Quer uma luta? — Ele revirou os ombros hesitantemente, não tendo certeza de querer enfrentar Alf com suas lâminas de treinamento no pátio como ele gostava de passar as últimas horas do dia.

— Vou tentar sozinho, — disse Alf. — Eu preciso praticar a coisa miserável por si só, até acertar. O pai me disse isso.

Brodgar riu.

— Seu pai é um tirano mais difícil que Ethan.

Ethan era o mestre em armas, um homem sério, cerca de uma década mais velho do que eles, que os ensinara desde que eram rapazes.

— Eu vou dizer que ele é, — Alf fez uma careta. — Ele é habilidoso, no entanto.

— De fato, ele é, — Brodgar reconheceu sinceramente. Ele sabia o suficiente da história de seu pai para saber que Blaine MacNeil, pai de Alf e Conn, já fora o mestre de armas na casa de Chrissie. Foi assim que eles se conheceram, afinal de contas. Naquela época, ela estava noiva de Heath Fraser.

Ele percebeu a conexão de repente. Heath fora protegido pela família de sua tia e eles tinham sido prometidos informalmente desde a juventude. Tia Chrissie e ele resolveram as coisas amigavelmente, ou pelo menos ele ouvira dizer que Heath Fraser queria perseguir a vida monástica de um cavaleiro de São Lázaro.

Isso explicaria sua maneira séria.

Heath deu a impressão de ser muito reservado, bastante rigoroso. Não o tipo de guardião que eu escolheria, ele estremeceu. O pensamento de sua casa — provavelmente fria e estéril como os aposentos de um monge — o fez estremecer mais.

Pobre Henriette! Espero que ele tenha pelo menos um quarto quente e confortável em sua casa.

Ele cumprimentou Alf, que, já girando os braços experimentalmente, estava correndo para o pátio de treinamento.

— Eu deveria ir, — disse a si mesmo quando estava sozinho. O sol se pôs e a noite estava azul e gelada com as primeiras estrelas. Podia ouvir o guarda baixando o portão principal, e o ar tinha um cheiro frio e fresco, nem mesmo com o aroma de pinheiros das tochas ardendo ao longe no vento da noite fria.

Algo o fez ficar onde ele estava. Ele pulou quando, um momento depois, ouviu o estalo de um passo na pedra gelada das muralhas.

— Oh! — Um suspiro a traiu nitidamente. Brodgar ficou olhando.

— Lady Ettie — disse ele, engolindo em seco. — Me desculpe. Não fique assustada.

— Oh! Eu sou uma tola — disse Ettie, colocando a mão no peito. — Eu não queria ter medo. Eu... eu pensei que era a única andando por aqui esta noite.

— Eu pensei o mesmo, — ele sorriu. — Parece que não sou a única alma inquieta esta noite. Bem-vinda.

Ele se afastou, deixando-a vir e ficar ao lado dele nas ameias. Ela se inclinou contra a pedra firme, olhando para fora, com as mãos entrelaçadas. Ela estava usando luvas brancas, ele notou, com acabamento de pele. Elas combinavam com suas mãos longas e delicadas. Ele olhou para a expressão dela.

Deus tenha misericórdia de mim, mas ela é bonnie.5

Ele sentiu seus quadris se apertarem enquanto olhava para ela. Uma sensação estranha se instalou em seu peito, como o bater das asas das mariposas. Ele tossiu duramente.

Seus lábios eram um arco rosa e cheio, sua pele macia de porcelana-clara. Seu cabelo era dourado e perfumado com uma erva que ele não conhecia. Seus olhos estavam abaixados e, quando ela olhou para ele, era da cor da ardósia, em algum lugar entre cinza e azul-tempestade. Ele estremeceu.

— Meu lorde? — Uma língua rosa clara lambeu seus lábios enquanto falava, hesitante.

Oh meu Deus. Ele estremeceu quando seus quadris se mexeram. Ele olhou para suas mãos. Ele queria tanto beijá-la.

Eu não posso fazer isso.

Não só pelo reconhecimento de que era muito cedo para que fizessem algo parecido. Também era uma suspeita de que ele estragaria tudo.

Com pouca experiência em beijar garotas, Brodgar não tinha certeza se ele saberia beijá-la da maneira que ela gostaria.

Ela é uma dama e eu mal sei de nada. Ele tossiu novamente.

— Minha lady, — ele falou.

— Sim?

Brodgar estremeceu. Sua voz é linda também. Doce e baixa, melodiosamente musical. Brodgar respirou o aroma do cabelo dela e apertou o lábio nos dentes por um momento.

— Você está indo para algum lugar por perto?

Ela desviou o olhar.

— Somos convidados a ficar aqui, milorde.

— Brodgar, — ele corrigiu suavemente.

— Sim, — ela concordou.

Eles ficaram em silêncio por um tempo.

— O quarto da torre? — Perguntou Brodgar.

— Desculpa?

— Eu perguntei, eles resolveram deixá-la na sala da torre? — Quando perguntou, ele percebeu que era uma pergunta boba. A única causa para perguntar era porque estava imaginando-a no quarto da torre, na cama, penteando seu adorável cabelo. Ele tossiu.

— Acho que sim.

— Bom, — disse ele, procurando por alguma razão viável para perguntar. — É o mais quente.

— É muito quente, sim, — concordou Ettie naquela voz baixa e musical. — É um alívio poder mudar minhas roupas para algo mais leve.

Oh. Minhas roupas?

Brodgar fechou os olhos, lutando com as imagens que conjuravam. Ettie, nua, a pele clara lambida pela luz das chamas, coberta apenas com o cabelo. Ela estava de pé diante do fogo na sala da torre, sua figura doce e curvilínea clara como seda polida. Ele a imaginou se virando, o jogo de luz se alterando em sua pele, seus lábios entreabertos por sorrir.

— Aham. — Ele tossiu baixinho, desviando o olhar. Lá fora, no pátio, ele ouviu o suave bater de uma espada na madeira. Ele sorriu.

— O que foi isso? — perguntou Ettie, olhando para cima com aqueles olhos cinza-azulados tão abertos.

Ele sorriu.

— Meu amigo Alf. Praticando arremesso de golpes.

Ela assentiu.

— É frio estar do lado de fora, — ela acrescentou, passando as mãos pelos próprios braços.

Brodgar piscou.

— Está frio, — ele concordou. — Sinto muito, minha lady. Devemos ir para dentro de casa?

Ettie assentiu.

— Acho que sim.

Brodgar recuou, deixando-a seguir em frente pelas muralhas e passar primeiro pela pequena porta que dava para o interior do castelo. Embora não muito quente, o corredor de pedra parecia um paraíso tropical em contraste com o tempo gelado ao ar livre. Ele estremeceu, batendo os pés e sabendo que seu rosto estava ficando sombrio.

— Bem, — disse Ettie, voltando-se para olhar para ele. — Eu devo ir.

— Eu suponho que deveria ir também, — concordou Brodgar. — Ajudar Alf lá fora.

Ettie assentiu.

— Eu suponho que sim.

Nenhum dos dois se mexeu. Ela olhou para ele e por um instante de parar o coração, Brodgar sentiu-se inclinar-se. Ele considerou o que aconteceria se seus lábios tocassem os dela e, rapidamente, recuou espertamente.

— Boa noite, Brodgar, — disse ela em voz baixa.

— Boa noite, Ettie.

Ela caminhou até o topo das escadas e virou-se, brevemente, seus olhos azuis localizando os seus antes de se mover novamente e, seu cabelo balançando com seu movimento gentil, se dirigiu para o andar de baixo.

Deixando Brodgar parado no local, olhando para ela e se perguntando por que se sentia como se permanecesse enraizado no local.


CAPÍTULO QUATRO

FAZENDO NOVOS PLANOS


O fogo crepitava na grade, espalhando suas chamas avermelhadas e fazendo Ettie suspirar quando o calor encharcou seus ossos.

Por que não consigo parar de pensar nesse homem?

Ettie, sentada junto ao fogo em seus aposentos, desejou poder relaxar. Brodgar alimentava seus pensamentos. Era bobo, ela disse a si mesma. Ele era apenas um jovem, mais ou menos da idade dela. Era como se ela nunca tivesse conhecido uma coisa dessas antes! Eu não conheço alguém assim.

Ela tinha que admitir que, embora o fato em si de que ele era um jovem de sua idade, ou bem perto, não fosse digno de nota, o que certamente era.

Ela fechou os olhos, pensando na linha firme de sua mandíbula, no rosto esculpido, na maneira como o cabelo dele brilhava quase dourado, onde a luz da tocha o iluminava. Ele é notável.

Ela sorriu, sentindo um calor delicioso inundá-la com a lembrança de falar com ele nas muralhas. Ela não sabia que ele estava lá em cima, é claro, ou ela não teria ido. No entanto, tendo tropeçado nele sem saber, naquele momento seria rude simplesmente sair. Não seria?

O fogo fez barulhos pacíficos e Ettie sentou-se e observou-o, esperando que ela pudesse resolver seus pensamentos. Ela tinha coisas mais importantes para se preocupar. Seus pais — onde eles estavam? Como eles se saíram? — Dois dias antes, ela recebera a notícia de que eles estavam em segurança. A notícia demorou um mês para chegar até eles. Eu rezo para que eles possam voltar em breve.

Neste momento, pensou Ettie, teria sido um alívio ter alguém para conversar. Sua mãe poderia não entender — ou até aprovar — seus sentimentos súbitos e avassaladores por Brodgar. No entanto, ela seria alguém em quem poderia confiar. Eu não conheço ninguém aqui. Além do tio.

Ettie passou as mãos pelos seus braços, sentindo o frio deixar sua carne. Ela sabia que o tio Heath seria menos do que simpático com seus pensamentos. Ele próprio poderia estar apaixonado há muito tempo, mas desde os seus votos monásticos e os horrores da Cruzada deixaram-lhe uma casca seca, na qual habitavam poucas emoções ternas. Pelo menos, pensava assim. Até que o vi aqui esta noite.

Vendo Heath olhar para Chrissie tinha aquecido seu coração. Era triste que o chamado do tio o tivesse afastado da vida que ele teria. Então, novamente, se ele não tivesse seguido, Alf não teria nascido. Ele parecia uma alma gentil e bondosa.

Uma batida soou na porta, quebrando o devaneio de Ettie. Ela pulou.

— Ettie? — Uma voz chamou através da porta de madeira grossa.

— Tio? — Ettie rapidamente correu para abrir a porta. Seu tio estava em um quarto logo ao lado do dela, e eles estavam compartilhando o quarto inferior da torre, onde ela agora estava sentada diante das chamas quentes.

— Sobrinha. — Ele entrou, brevemente esfregando as mãos pelos braços com frio antes de vir se juntar a ela perto do fogo. — Eu confio que você está bem acomodada? — Como sempre, ele parecia cauteloso quando falou com ela, como se não tivesse certeza se estava transgredindo alguma lei importante.

— Eu estou sim. Obrigada, tio. — Ettie assentiu. — Está quente aqui.

Ele riu.

— Graças a Deus, que sim. É uma noite gelada sem duvida

— Isto é mesmo.

Eles sentaram-se em silêncio por um tempo, o único som na sala era o crepitar do fogo, calorosamente reconfortante. Ettie olhou para as mãos, considerando o que queria dizer.

— Tio?

— Mm?

— Por que nós viemos aqui?

— Fomos convidados, — disse seu tio em breve.

— Eu sei, — concordou Ettie suavemente. — Por Lorde Broderick?

— Sim, por ele. E a senhora Chrissie.

— Oh

Ettie queria sorrir. Ela tinha adivinhado a profundidade da conexão corretamente.

— Lady Chrissie e eu... eu a conhecia desde que era uma jovem moça. — Ele tossiu.

— Oh. — Ettie sorriu para ele. — Eu notei sua amizade.

— Nós éramos amigos, sim. — Heath assentiu. — Uma vez, eu pensei em ser mais que isso, mas... — ele suspirou. — Eu segui meu desejo para ser um cavaleiro.

— Você é um bom cavaleiro, — disse Ettie.

— Obrigado.

Eles se sentaram em um silêncio um tanto incerto.

— Você gosta dessa família? — O tio perguntou sombriamente.

— Eu gosto, — Ettie assentiu com cuidado. Ela queria dizer que gostava de um membro intensamente, mas achava que ele não aprovaria. — Eles parecem um tipo amigável.

Ele riu.

— Eles são. É... estranho eu conhecer os jovens de agora.

— Suponho que deve ser — concordou Ettie com cautela. — É... Eles são muito parecidos com seus pais, na idade deles? — Brodgar é como o pai dele? Em todo caso, acabará como ele?

— Nem tanto, — suspirou Heath. Ele passou a mão pelo rosto, pensando nisso. — Brodgar é... mais ainda. O tipo mais quieto de homem, eu acho. Contemplativo. Ele tem um rosto forte, mais regular, mais suave do que o pai dele na sua idade. — Ele riu. — Broderick sempre foi animado.

— Eu posso imaginar, — acrescentou Ettie. Naquele momento, um toque soou na porta. Ela ficou tensa. — Sim?

— Algo quente para beber, minha lady? Bolos e cerveja?

Ettie olhou para o tio, que assentiu.

— Isso seria bem-vindo. Obrigado.

A serva, uma mulher chamada Glenna que tinha sido designada para ajudar Ettie durante seu tempo aqui.

— Obrigada, — disse Ettie enquanto colocava os bolos e a cerveja em uma mesa e, sorrindo calorosamente, se retirou.

Ela e Heath pegaram um dos bolinhos de aveia quentes e quebradiços. Eles eram celestiais, quentes e Ettie descobriu que eles distraíam seus pensamentos inquietos. Engolindo em seco, ela se virou para Heath.

— Você já visitou Dunkeld antes?

— Não, — admitiu Heath, engolindo em seco. — É a primeira vez.

— Parece adorável, — disse Ettie fervorosamente. — Não é grande, mas bem mobiliado. E quente.

Heath riu.

— De fato, querida sobrinha.

— Nós ficaremos aqui por muito tempo? — perguntou Ettie, pegando um copo de cerveja quente, fervida de modo que os vapores alcoólicos se foram, deixando apenas o sabor.

— Cerca de uma semana, — disse Heath. — Foi para isso que fomos convidados, de qualquer forma. — Ele deu de ombros.

— Uma semana? — Ettie franziu a testa. Ela se sentiu imediatamente apreensiva e preocupada. Apreensiva com a ideia de dividir um teto com Brodgar por tanto tempo. Preocupada porque não demoraria muito mais.

Ele sorriu.

— Talvez pudéssemos torná-lo flexível. É muito mais agradável aqui do que em Grenleigh, não é? — Ele revirou os ombros, absorvendo o calor. — E além disso, — acrescentou. — Seu pai gostaria que você estivesse em algum lugar para conhecer pessoas. Grenleigh não é muito bom para isso. É isso?

Ettie engoliu em seco.

— Grenleigh é... confortável, tio.

Ele riu.

— Nem mais, nem menos.

Ettie lançou-lhe um olhar irônico.

— Você sabe o que eu quero dizer. Verdadeiramente é.

— Confortável no sentido de atender às nossas necessidades. Não exatamente palaciano, sim? — ele riu.

— Não, — concordou Ettie, rindo. — Embora um palácio não seja necessário. — Ela olhou ao redor da sala, significando o que ela tinha dito. O lugar era confortável e adequado, e ela se sentia segura nessas paredes. Qualquer outra coisa parecia, bem, mas não tão segura como esta.

— Não. — Heath olhou para as mãos, perdido em pensamentos. — Sobrinha?

— Sim? — Perguntou Ettie.

— Como seria se... — ele fez uma pausa. — Se você ficasse aqui um pouco?

— Você quer dizer, aqui? — Ettie apontou para o chão. — Nesse quarto? Ou... — ela parou quando balançou a cabeça, um sorriso doce no rosto.

— Não. Eu quero dizer no castelo. Dunkeld.

— Você não vai ficar também?

Ele balançou sua cabeça.

— Eu preciso seguir em frente na primavera, — explicou ele. —Prometi que iria ao monastério dos cavaleiros, ajudaria com algum treinamento. Não esperava, então, ter alguém a quem cuidar.

— Não — concordou Ettie, passando a língua pela boca nervosamente. Ele quis dizer isso? Que ela ficaria aqui? Sozinha, na fortaleza de Dunkeld?

Sozinha com Brodgar?

Ela suspirou. Não era exatamente como se ela estivesse sozinha com ele — suas tias e tios, primos e amigos, servos e homens de armas estavam todos no castelo, afinal de contas. No entanto, ela estaria sozinha aqui, sem o tio. Ela engoliu em seco.

— Eu poderia fazer isso. — Ela suspirou. — Eu sentirei sua falta, no entanto.

Ela ficou surpresa quando seus olhos se suavizaram. Se ela não o conhecesse muito bem, diria que ele poderia estar chorando, mas pensava que ele estava piscando para conter as lágrimas.

— Eu também sentirei sua falta, — ele disse. Sua voz soava tensa também.

Provavelmente, é apenas o frio, raciocinou Ettie. Tio Heath não iria chorar por ela, iria?

— Isso seria permitido? — Perguntou Ettie.

— Não é como se estivéssemos esfaqueando um guarda na rua, — Heath riu calorosamente. — Tenho certeza que é permitido.

Ettie riu também.

— Quero dizer, Lord Broderick permitiria isso?

— Ele já disse que ficaria feliz em recebê-la contanto se você gostasse. — Heath fez uma pausa.

Ettie olhou para ele.

— Verdadeiramente? Oh...

Tantos pensamentos vieram à mente dela naquele momento. Pensamentos de ficar aqui, andar com Brodgar pelos corredores, na ameia do castelo, no pátio lá embaixo. Ela imaginou a primavera e indo para passeios juntos. Colhendo flores.

— Eu não estou surpreso que eles querem que você fique, — Heath sorriu. — Você é uma querida moça.

— Oh...

Ettie se viu piscando para conter as lágrimas, algo que acontecera com mais frequência do que ela gostaria.

— Eu não posso dizer-lhe adeus, — ela sussurrou. — Então não espere que eu faça isso.

Ele sorriu.

— Eu também acho difícil, — disse ele. — As muitas pessoas que eu disse isso ao longo dos anos, muito poucos retornaram. — Ele passou uma mão cansada pelo seu rosto, e de repente parecia muito mais velho do que os trinta e sete anos que ele tinha.

Ettie não disse nada, apenas esperou enquanto se olhavam.

— Bem, então, — disse Heath com um suspiro. — Eu vou seguir em frente em breve. E você ficará para trás. Nenhum de nós é bom em despedidas. — Ele riu.

— Não, — disse Ettie. — Eu não vou dizer isso. Eu só vou desejar que você fique bem.

— Como eu para você. — Heath assentiu. Ele se levantou, então, fechou seu manto. Ele caminhou até ela. Acariciou o cabelo dela. — Foi um prazer tê-la comigo, sobrinha.

— Eu gostei das nossas conversas, tio.

Eles olharam nos olhos um do outro e ele suspirou depois de um longo momento.

— Bem, eu devo ir. Tenho um longo dia amanhã. Duncan me fez prometer ajudar com os homens.

— Oh? — Perguntou Ettie, curiosa.

— Ele treina a guarnição aqui, ele e Blaine, — seu tio explicou quando ele saiu. — É eles estão se aproveitando de um cavaleiro para treinar este lote. — Ele empurrou uma cabeça triste em direção ao arsenal e ao campo de prática, sorrindo para ela.

— Bem, eles estão se beneficiando, — ela reconheceu.

Heath sorriu.

— Isso é uma coisa muito boa para dizer, moça, — ele reconheceu gravemente. — Agora, boa noite. Durma bem.

— Você também, tio. Boa noite.

Ele saiu e fechou a porta atrás dele, deixando Ettie sozinha. Seus pensamentos nadaram.

Eu vou ficar aqui sozinha com Brodgar e sua família. O tio não disse por quanto tempo. E eles me aceitam.

Ela sentiu o coração disparar de excitação. De todas as coisas que ela esperava que ocorressem quando ela e o tio saíram de sua fortaleza alguns dias antes, este não era um deles. Ela não teria esperado encontrar-se em uma propriedade tão luxuosa, embora pequena, cercada por pessoas amigas e calorosas. E ela especialmente não esperava encontrar alguém como Brodgar MacConnoway.

Eu não teria pensado que alguém como ele existia.

O pensamento a fez sorrir. A perspectiva de ficar ali enquanto o tio treinava os novos recrutas no Norte era realmente agradável.


CAPÍTULO CINCO

LEMBRETES


Os aromas quentes do desjejum saíam do salão do solar. Brodgar sentiu o estômago apertar de fome.

Droga está frio aqui fora.

Ele respirou em suas mãos, batendo os pés enquanto andava os últimos passos até a porta. No interior, sua família estava toda sentada em volta da mesa. Ele procurou por Ettie e a encontrou sentada ao lado da tia Chrissie. Ele corou.

— Bom dia, — disse ele.

Ettie corou. Ela olhou para ele.

— Bom Dia.

Ele rasgou seu olhar para longe. Quando olhou para trás, ela estava olhando para baixo novamente e decidiu que já tornara muito óbvio para toda a sua família como ele se sentia. Ele deveria se concentrar em outro lugar.

— Estou morrendo de fome, — disse, dirigindo-se a Alf, que estava sentado de costas para ele, ao lado do único assento desocupado.

— Bom, bom, — Alf disse alegremente. — Há muitas coisas para comer.

— Ahhhh! — Brodgar sorriu e se deslizou em seu assento. Ele olhou para a mãe, que estava sentada do lado oposto, e depois para o lado dela. — Oh! Irmã! Você está bem! Graças a Deus você está de pé.

Ao lado de sua mãe, sua irmã ruiva, Amice, cochichou lindamente e depois sorriu para ele.

— Você me surpreende, irmão, — disse ela. — Eu teria pensado que você me quer fora do convívio.

— Não por estar doente e de cama, não! — Brodgar retorquiu brincalhão, e depois mais a sério, — é bom vê-la melhor.

— Foi um resfriado horrível, — Amice concordou, balançando a cabeça com firmeza. — Estou feliz que tenha terminado.

— Você costuma pegar resfriado? — perguntou Ettie. Todo mundo olhou para ela. Amice deu uma risadinha e Ettie ficou vermelha.

— Ah, não, não com frequência, — disse Amice candidamente. — É o primeiro que tive neste ano todo!

Alf riu.

— Bom para você, Amice. Eu já tive um.

— Isso é porque você insistiu em escalar Scallis Peak no meio da neve, primo.

Todos eles riram. Ettie pigarreou.

— Desculpe-me se essa foi uma pergunta rude.

— Não! — exclamou Brodgar, surpreendendo-se com sua insistência. — Não, lady Henriette. Não foi de forma alguma uma questão impertinente. — Ele disse o último suavemente, seus olhos nos dela. Ela olhou para as mãos.

— Sim, — Lady Amabel disse cuidadosamente. — Não foi tomada de maneira rude. — Ela olhou para Brodgar com um olhar indagador que o fez olhar abruptamente para o prato.

Ela sabe o que penso de nossa nova visitante.

— Ettie sempre cuidou de todos no meu forte, — falou Heath.

Brodgar se sentiu surpreso. O homem raramente falava, sua voz rouca como se não estivesse acostumada a falar.

— Realmente? — Ele perguntou. E olhou para Ettie. Com seu corpo magro e mãos finas, ele achava difícil imaginá-la sendo uma curandeira. O pensamento dela cuidando de suas feridas era agradável, e o fez corar.

— Sim. Ela é um anjo curandeira, isso ela é — Heath assentiu.

Chrissie olhou para ele com ternura e Brodgar desviou o olhar, não querendo se intrometer no momento. Ele se encontrou estudando Ettie. Com seus longos cabelos dourados presos no topo da cabeça e o perfil do rosto, ela era realmente adorável. Ela tinha maçãs do rosto altas, bochechas levemente arredondadas e aquele beicinho rosa que fazia sua cabeça girar.

— Bem, é bom ter alguém que goste de cuidar dos doentes no castelo, — disse Amabel com firmeza. — Temos nossa curandeira, mas ela precisa descansar às vezes também. — Ela indicou tia Alina, que estava sentada ao final da mesa, ao lado do marido. Ela tinha uma mão na de Amice e parecia ainda estar olhando para ela.

— Tia foi tão bom para mim, — Amice concordou, sorrindo para a tranquila mulher mais velha. — Ela manteve minha febre longe e manteve minha mente ocupada, também, com suas histórias.

— Alina contou-lhe histórias? — Amabel estava interessada. — Bem, você tem sorte. Ninguém conta uma história tão boa quanto Alina.

Do outro lado da mesa, sua irmã fez uma careta.

— Você exagera, querida irmã. E me coloca em um lugar de dívida com nossos visitantes. Agora vou ser persuadida a contar uma história hoje à noite e levar todos nós à morte.

Todo mundo riu. Heath pigarreou.

— Receio, Lady Alina, que estarei em falta com a sua história.

— Nada a temer, isto é, — disse Alina com um sorriso triste. Todos eles riram novamente. — Mas se você for partir, viaje esta manhã. Há neve chegando depois. Eu posso sentir isso.

— Obrigado, — disse Heath gravemente. — Com essa informação, vou partir depois do desjejum.

— Se sentia livre para pedir algo quente para a viagem, Henriette — Amabel disse amavelmente a Ettie. Ela olhou para baixo, parecendo nervosa, e Brodgar se perguntou por quê.

— Minha sobrinha vai ficar, minha lady, — disse Heath. — Eu pensei que Lord Broderick falou sobre isso?

— Parece que Lorde Broderick se esqueceu — disse Amabel, dando ao marido um brilho travesso. Brodgar viu o pai tossir, passando um longo dedo pela ponta do nariz num gesto que ele sabia que era desconfortável.

— Eu sinto muito, querida. Eu esqueci. Heath estará ausente por um mês, no Norte, treinando soldados. Eu queria que ele ficasse e treinasse os nossos, mas parece que ele está com muita demanda. Então, teremos que nos contentar com ele voltando no próximo mês para recolher Henriette, que poderá ficar sob nossos cuidados por algum tempo? — Ele fez da última parte uma pergunta, embora estivesse claro que ele não achava que Amabel iria discordar.

— Não vejo razão para não fazer isso — acrescentou Amabel.

Brodgar soltou um suspiro que não sabia que segurava.

Henriette. Ficando aqui. Sozinha?

Ele olhou para o tio dela, que deu de ombros, parecendo satisfeito.

— Bem, obrigado, minha lady, — disse ele, sorrindo para Amabel. — Receio que sua casa tenha muitos visitantes em comparação com a minha ao Norte. E eu não sou uma boa companhia para uma jovem senhora de apenas dezenove anos. — Ele sorriu.

— Não! Eu gosto da sua companhia, — Ettie falou, então corou de novo quando todos olharam para ela. Heath sorriu e apertou o braço dela onde descansava na mesa.

— Obrigado, sobrinha. Eu gosto da sua companhia. Mas, infelizmente — ele suspirou — o mundo faz outras exigências. E eu devo ir embora. Você vai se sentir confortável aqui.

— Eu vou. Obrigada — disse Ettie, olhando para Amabel e Broderick com olhos de centáurea. Ela olhou para Brodgar, que sentiu um rubor rastejar através dele e o calor repentino ameaçou dominá-lo. Ele olhou para o lugar, os dedos se torcendo um no outro, onde suas mãos estavam abaixo do prato do desjejum.

— Bem, então, — Lorde Broderick disse. Ele estava olhando para o filho com um olhar estranho, e Brodgar se endireitou, olhando pela janela por cima do ombro de sua tia.

— Você vai cavalgar? — Perguntou tia Chrissie, enquanto o resto dos entusiastas voltavam sua atenção para conversas menores.

— Espero que sim, — concordou Brodgar. — Se Alf puder ser persuadido a ir comigo mais tarde?

— Vai nevar, — Alf disse sucintamente, e recebeu um sorriso de tia Alina em resposta.

— Vai nevar antes do almoço? — Perguntou Brodgar à sua tia.

Ela olhou para fora das janelas arqueadas, aqueles olhos negros largos, e profundos e pensativos.

— Não.

— Oh. Bom — disse Brodgar, voltando-se para Alf. — Então? Um passeio depois disso?

— Eu gostaria de cavalgar, — Henriette falou, em seguida, mergulhou em um silêncio constrangido quando Brodgar e Alf olharam em sua direção. — Quero dizer, — ela continuou depois de um momento, — eu gosto de cavalgar um pouco com o tio Heath, mas vou sair de qualquer maneira...

— É claro que você vai cavalgar conosco, — Brodgar se viu dizendo, e pensou como em sua vida disse essas palavras, ele era tão tímido com ela. — Nós ficaremos muito felizes.

— Sim — Alf concordou sucintamente, olhando de Brodgar para ela e de volta como se perguntando o que diabos acabara de acontecer.

— Bem, então, — disse Brodgar. — Isso está resolvido.

— Você tem que tomar desjejum primeiro, — disse Amabel.

Brodgar assentiu.

— Sim.

Enquanto ele comia um bannock quente, com a boca cheia de calor, ele se perguntava algumas coisas. Era sua imaginação ou sua mãe desconfiava de Henriette? O que estava acontecendo?

A refeição acabou, e Brodgar se certificou de ficar para trás na mesa enquanto os servos se afastavam e Heath e Henriette se levantavam para empacotarem os pertences da viagem.

Sua mãe ficou com tia Alina e Amice e, quando as duas se foram, ela foi ao salão buscar uma tapeçaria em que trabalhava.

— Mãe? — Perguntou Brodgar, parando diante dela.

— Sim meu filho?

— Eu queria te perguntar... hum... há algo errado, mãe?

— Errado? — Os olhos verdes de Lady Amabel o questionaram. — Por que você pergunta?

— Só... — ele parou, sabendo que estava apertando as mãos e parecendo nervoso, mas incapaz de mudar. — Só que parece que você está um pouco... preocupada com a permanência de Henriette?

— Não — disse Amabel em voz baixa, sentando-se no banco e indicando que ele deveria se sentar em frente enquanto ela desdobrava o trabalho. — Não, filho, não estou nervosa. Só lembre da sua promessa.

— Minha promessa? — perguntou Brodgar, sentindo o suor no pescoço.

— Você está prometido, filho. Para Ambeal MacDonnell. A filha do inimigo da nossa casa de longa data. O thane atual quer curar a brecha. E você é a chave. Eu sei que não é justo. Mas é assim.

Brodgar exalou alto. Ele havia esquecido. O arranjo tinha sido feito quando ele tinha pouco mais do que a idade de dois anos, e a filha do MacDonnell ainda era mais nova. Desde aquela época, ninguém tinha pensado em lembrá-lo disso... talvez porque ele nunca tivesse dado a eles a necessidade de fazê-lo. Até agora.

— Sinto muito, mamãe, — ele disse suavemente. — Eu sei. Eu não deveria. Mas...

— Mas a dama lhe interessa. Eu sei. Eu vi — sua mãe acrescentou com uma risada.

Brodgar se mexeu desconfortavelmente em seu assento.

— Sim, ela me interessa. — Ele não podia encontrar seu olhar por um tempo, e estudou as mãos, flexionando os dedos musculosos.

— Ela é linda, eu admito, — sua mãe disse suavemente. — Linda e, parece, uma pessoa bastante doce. Mas filho, você é comprometido.

— Eu sei. — Brodgar se sentiu infeliz.

Ele deveria saber. Ele havia esquecido e desejou que não tivesse. Se ele tivesse se lembrado mais cedo, talvez teria se comportado de maneira diferente. Então, novamente, o que poderia ter feito? Era como se ele não quisesse se sentir assim no começo!

— Sinto muito, — sua mãe disse em voz baixa. Seus olhos verdes eram gentis e ele sabia que ela queria dizer isso. — Eu mudaria isso. Mas não podemos.

— Eu sei, mãe. — Brodgar olhou para as mãos novamente. Ele se sentia miserável.

Ele tinha sido tão estúpido. Agora, não só ele estava se apaixonando por Ettie Fraser, mas e se ela... e se ela também gostasse dele? O que aconteceria então?

Um espirro soou na porta e ele olhou para o rosto doce de Amice.

— Irmã! — Ele disse.

— Aí está você — Amice sorriu, enxugando o nariz discretamente em um lenço de renda. — Desculpe, mamãe? Você precisa do meu irmão? Alf e eu queremos cavalgar...

— Calma! — Brodgar bateu na testa com tristeza. — Eu quase esqueci. Desculpe. Desculpe, Amice. Mamãe — ele inclinou a cabeça para ela que assentiu.

— Vá, filho. E lembre-se.

— Sim, mãe.

Brodgar saiu sentindo como se uma nuvem negra descia sobre ele. Amice saltou à frente, sentindo-se claramente melhor. Então ela se virou, um pouco carrancuda na testa.

— O que há de errado, irmão? — Ela perguntou, preocupada. — Você está se sentindo mal?

— Não, irmã, — disse Brodgar com um suspiro, com os dentes cerrados. — Não, estou bem. Apenas preocupado.

— Ah. — Amice deu de ombros, como se sua preocupação não tivesse nada a ver com ela, e então se virou, pulando pelo corredor novamente.

— Na verdade, está bastante quente, — explicou ela enquanto se dirigiam através das grandes portas e saíam para o pátio, atravessando-o rapidamente. O vento soprava na borda do manto de Brodgar, mas parecia que Amice estava certa, o tempo estava um pouco mais quente que o anterior.

Quente o suficiente para nevar.

Estremeceu, bateu os pés e chegou ao estábulo, depois tomou as rédeas de Arnold, seu cavalo, do cavalariço.

— Nós nos preparamos antes de você chegar, primo, — Alf chamou, já montado em Fire, seu garanhão castanho. — Pensamos que é melhor para que possamos sair antes que neve.

— Sim, — Brodgar assentiu, olhando através da porta. — Está chegando.

— Sim, — disse Amice, montando rapidamente na sela de seu cavalo preto, Swansong. Ela puxou as rédeas e eles se dirigiram para o pátio, indo para o portão.

— Ettie está se juntando a nós? — Brodgar gritou, assim que os outros dois pararam e se juntaram a um terceiro. — Oh...

Sentada em cima do cavalo branco de sua mãe, Snow-soft, estava Henriette. Ela estava vestida em um traje de equitação branco com pele clara em bom estado e seu nariz doce escondido debaixo do capuz largo. Seus olhos claros de ardósia estavam arregalados.

— Olá, — ela disse timidamente. Brodgar engoliu em seco.

— Olá, Ettie, — disse ele com cuidado. Ele olhou para Alf, mas se era óbvio que estava se apaixonando por Henriette, Alf não tinha visto.

— Vamos lá, — disse Alf, voltando-se para o caminho, seu corpo alto ligeiramente inclinado sobre as rédeas. — Agora, Brodgar, vamos embora.

— Sim! — Amice disse alegremente.

Brodgar esperou que Henriette passasse por ele, depois puxou as rédeas e os seguiu.

— É uma manhã agradável, — disse Ettie suavemente.

— É. — Brodgar conseguiu pronunciar as palavras apesar do nervosismo constringir sua garganta.

— Você está bem, Brodgar? — Perguntou ela. Seus grandes olhos azuis estavam preocupados.

— Sim. Sim, estou bem — murmurou Brodgar. Inferno, mas ela era linda! Seu capuz havia caído para trás e seu cabelo dourado enrolado em volta do rosto. Seus lábios eram suaves e levemente separados e seus olhos azuis, largos e grossos, brilhavam.

— Oh. Eu estava apenas preocupada. Você parecia triste.

— Não, — Brodgar negou baixinho. — Não, não fiquei triste. De modo nenhum.

— Oh.

Henriette estava cavalgando ao lado dele agora. Os outros estavam juntos à frente. Alf estava apontando para algumas pegadas e Amice bateu palmas animadamente, depois seguiram em frente, seguindo-as.

— Raposa, eu acho, — Brodgar comentou levemente com Ettie.

— Oh.

Essa foi a soma total da conversa por um tempo. Brodgar mordeu o lábio e obrigou-se a concentrar-se no balanço e na subida do movimento do cavalo pelo caminho. Ele estava determinado a não olhar para ela. Não para observar a suave ascensão e queda de seu corpo com a cavalgada de seu cavalo, a maneira como seu cabelo tremia com a brisa leve e o solavanco, imaginando-a com aquele manto e aquele cabelo solto no ar à deriva...

— Brodgar!

A voz de Alf quase o assustou. Ele levantou a cabeça, olhando para ele.

— O que, primo? O que?

— Inferno, — Alf riu, com tristeza. — Desculpe, primo. Eu não queria te assustar. Voltei para dizer que Amice e eu estamos indo para o precipício. Importa-se em vir?

Brodgar, ainda resmungando pelo susto que recebera, deu a Alf um olhar maligno. Alf suspirou.

— Desculpe, primo, — ele disse novamente. — Eu não queria incomodá-lo. Foi realmente tolo.

— Não — exclamou Brodgar, agitando a mão. — Não é sua culpa, primo. Eu prefiro ficar surpreso do que cair do penhasco por pensar demais.

Alf riu.

— Verdade.

Ao lado deles, Ettie riu também. Sua risada era o doce de pequenos sinos. Brodgar fez uma careta, mordendo o lábio para distraí-lo de seus pensamentos.

— Lady Henriette? Você vai nos acompanhar? — Alf perguntou formalmente. Brodgar sentiu a sobrancelha atirar para cima. Alf nunca era formal. Com ninguém. Ele franziu a testa para ele e Alf riu com facilidade. — Eu sinto muito, primo, — ele disse novamente.

Brodgar assentiu.

— Não se preocupe com isso, — disse ele magnanimamente. — Minha lady, — disse ele, voltando-se para Henriette. — Vamos cavalgar?

Henriette corou. Brodgar sentiu suas bochechas esquentarem e algo encheu seu corpo inteiro, terminando com seu coração. Ela sorriu e cavalgou em direção a ele.

— Sim, por favor.

Quando ela olhou nos olhos dele, Brodgar teve que engolir em seco. Todo o seu corpo foi consumido por um sentimento como se ele estivesse em uma fornalha, com cada centímetro formigando, queimando e vital.

— Bem, então, — ele disse com voz rouca. — Lá vamos nós.

O passeio foi tristemente breve, e eles conversaram um pouco mais. Quando Brodgar retornou ao castelo e foi para seu quarto, sua cabeça estava girando.

O que eu vou fazer? Estou apaixonada por esta senhora e não posso tê-la. O que eu posso fazer?

Parecia que havia pouco que ele pudesse fazer. Ele era o herdeiro do Thane de Dunkeld. Ele tinha que ser responsável. Ele tinha que obedecer aos desejos de seus pais e toda a sua família. Mas e o seu próprio coração?

Quando ele se jogou nas cobertas, a cabeça entre as mãos, tentou afogar as doces imagens de Ettie que brilhavam em sua mente como um fogo selvagem e pensar direito. Ocorreu a ele, talvez mais tarde do que deveria, que tia Alina poderia ter previsto algo sobre isso. Talvez fosse isso que a preocupava no dia em que Heath chegou. Talvez, ele decidiu, deveria perguntar a ela.


CAPÍTULO SEIS

POSSIBILIDADES


— Eu gostaria de me sentir mais bem-vinda aqui, — disse Ettie em voz alta. Olhou pela janela para a vista sobre a floresta, as terras cobertas agora por uma fina manta de branco. Estavam na tarde e, como Alina havia previsto, a neve caiu.

Ela parece ter uma previsão notável.

Ettie estremeceu. Havia algo sobre Alina que a interessava e a intimidava. Tão linda, com aquele sorriso sereno que insinuava mistérios incontáveis, Ettie teria dado muito para poder falar com ela.

Ela tem sido mais acolhedora do que qualquer outra pessoa até agora.

Ettie suspirou e sentou-se no banquinho perto da penteadeira, levantando alguns bordados em que estava trabalhando. Ela não podia reclamar exatamente como foi recebida. Aqui no quarto da torre, que tinha sido atribuído a ela havia tudo que precisava. O quarto era pequeno, mas luxuosamente decorado, com lençóis de linho macio e uma cama com dossel. Havia dois baús de roupas, perfumados com ervas espalhadas, e a pequena penteadeira era quase tão fina quanto a que ela usava em casa.

Não era o ambiente em si que faltava alguma coisa. Era apenas Lady Amabel e Lorde Broderick que a desconcertavam.

Eles são perfeitamente educados e acolhedores. É apenas... alguma coisa.

Ettie suspirou. Ela recostou-se na cadeira e olhou para o teto, onde uma abóbada fina apoiava o alto teto acima dela. A neve ainda passava pelas janelas arqueadas e ela ficou satisfeita ao ouvir um fogo crepitando na grade atrás dela. Ela deveria apenas aproveitar o descanso de ficar sozinha.

— Olá?

Ettie deu um pulo. Alguém bateu na porta.

— Sim, — ela gritou em resposta à voz. Ela não reconheceu quem quer que fosse.

— Olá, — disse tia Chrissie, aparecendo na porta. — Desculpe, estou perturbando?

— Oh. Não — Ettie respirou, levantando-se e acenando para a mulher mais velha sentar-se. — De modo nenhum. Estou feliz de ter companhia.

— Obrigada, — disse Chrissie, suspirando contente enquanto se sentava no banco, cansada. — Eu estava procurando alguém que pudesse me dar uma opinião sobre a escolha de roupas novas. Só que Amabel está conversando com a governanta e Alina não estava no sótão e Amice está em outro lugar... só consegui encontrar você.

Ettie reprimiu um sorriso por sua franqueza.

— Bem, estou feliz por isso.

— Oh, isso é gentil, — Chrissie sorriu. Ela deu um tapinha na mão dela.

Ela tinha olhos muito azuis, Ettie notou, um delicioso contraste com as massas de cachos loiros. Ela era extremamente bonita e simpática também.

Não é de admirar que o tio Heath a ame.

— Nem um pouco, — Ettie disse levemente. — É egoísta. Eu estava sozinha e esperando que alguém viesse me procurar e me fazer companhia.

— Oh, você é deliciosa, — Chrissie sorriu. — Bem-educada, gentil... assim como Heath. Perdoe-me, minha querida — acrescentou ela, piscando rapidamente. — É tão... tão extraordinário encontrar uma sobrinha dele. Realmente é.

Ettie sorriu com carinho.

— O tio se preocupa com você, — ela disse suavemente. — É bastante claro em seu comportamento que ele pensa muito bem de você.

— Oh! — Ela corou rosadamente. — Você acha?

Ettie esperava que não estivesse errada em dizer isso, mas Chrissie estava radiante como se o Natal tivesse voltado e prometido ficar. Ela decidiu que era bom ter-lhe dito isso.

— Sim, — ela disse. — Ele certamente se preocupa.

— Oh. — Chrissie piscou rapidamente e Ettie sentiu um nó em sua própria garganta. Ela se sentou e esperou que a mulher mais velha dissesse alguma coisa. Ela falou depois de um tempo. — Desculpa querida. Mas faz muitos anos... Eu sempre me perguntei o que aconteceu com Heath. É tão bom saber que ele está seguro. Ele é um amigo querido. — Ela enxugou o rosto com um lenço de renda, não escondendo as lágrimas.

— Eu tenho certeza que ele é, — Ettie assentiu com firmeza. — Tio Heath é um bom homem.

— Sim. — Chrissie assentiu, ainda piscando ferozmente. — Agora. Ah, eu esqueci. Você viria me ajudar a escolher tecidos? Eu quero fazer um vestido novo para a temporada de verão, e nós temos muito tecido fino no sótão; é uma verdadeira caçada para encontrar algo certo. Venha comigo?

Ettie assentiu com a garganta apertada.

— Eu gostaria disso, — disse ela.

Enquanto seguia tia Chrissie pelas escadas, não pôde deixar de pensar nela como tia, embora não fosse parente dela e a ouviu falar.

— E acho que você deveria escolher algo também, querida. Há uma reunião planejada para o verão, e todos nós vamos querer novos vestidos. Embora eu tenha certeza que trouxe algumas coisas muito bonitas com você, mas não há mal algum em escolher algo novo. Um pouco de escolha é bom, não?

Ettie sorriu para ela.

— Eu adoraria isso. Tem certeza de que isso seria permitido? Eu não gostaria de impor... — ela parou quando tia Chrissie suspirou.

— Não querida. De modo nenhum. Nenhuma imposição. Você é bem-vinda aqui. É praticamente da família — disse ela, depois se inclinou e disse com um sorriso conspiratório, — quase penso em você como filha, já que não tenho nenhuma.

— Oh, — Ettie engoliu em seco. — Isso é gentil. Obrigada. — Ela sentiu o coração amolecer e ficou com medo de que também chorasse. Sua própria mãe estava a quilômetros de distância, sem nenhum sinal de retorno em breve. Além disso, ela estava sozinha aqui. Ter sido adotada pela tia Chrissie, mesmo informalmente, a fazia se sentir muito melhor.

— Lá, querida, — disse Chrissie, acariciando sua mão. — Agora, venha e junte-se a mim. O sótão é pequeno, mas temos espaço suficiente para duas.

— Alina está aqui? — perguntou Ettie em voz baixa, imaginando que, se as três se apertassem no que pareci a ser um pequeno lugar no topo da escada, haveria pouco espaço.

— Oh, não, — riu Chrissie. — Ela está no outro sótão. Ela mantém ervas e coisas lá em cima, eu acho. Eu não gosto de perguntar, na verdade — ela acrescentou com um sorriso novamente. — Alina é muito sábia. Embora quando eu era uma menina, ela era quase mãe para mim.

— Oh? — Perguntou Ettie. Não podia haver mais do que alguns anos entre as duas mulheres, embora Alina não tivesse idade suficiente para pensar que tinham pelo menos idade iguais.

— Bem, ela não é muito mais velha que eu, admito. Mas quando minha mãe morreu quando eu era... talvez dez anos mais nova que você, querida... ela cuidava de mim.

— Oh. — Ettie ficou surpresa. A mulher alta e régia não parecia maternal. — Ela tem seus próprios filhos agora? — Ela perguntou.

— Ela tem uma filha, sim. Leona. Ela mora na França. Onde seus pais estão, sim?

— Sim, — disse Ettie em voz baixa. — Eu não sei se eles estão em algum lugar perto, — acrescentou ela. — Eu não sei onde eles estão.

— Oh! Minha querida! Isso é terrível. — Chrissie endireitou-se de onde ela estava olhando através de fardos e tomou-a em seus braços. Ettie sentiu-se chorar.

Ela mordeu o lábio para parar seus soluços e abraçou-a em troca. As duas mulheres estavam no sótão, o sol se projetando atrás de Chrissie, seus raios delineados em poeira.

— Calma, — disse Chrissie, balançando-a um pouco enquanto ela a abraçava, como se fosse uma criança. — Vai ficar bem. Eles estão seguros, você sabe disso, e eles estarão de volta logo. Provavelmente apenas quando você não estiver mais sentindo falta deles. — Ela riu.

Ettie riu.

— Pare, — Chrissie disse novamente. — Agora. Eu estava pensando no azul. Ficará bem, não acha? Os melhores tecidos são feitas em Flandres, pelo que sei. Acho que esse é um deles — acrescentou ela, arrancando um rolo de pano cor de safira do resto.

— Oh, isso é adorável, — disse Ettie com admiração. Ela olhou ao redor do espaço, que era de painéis de madeira e forrado com pilhas de rolos de tecido como o qual sua tia segurava. Ela imaginou todas as senhoras do castelo fazendo vestidos de tais peças. Chrissie e as outras duas senhoras eram lindas, ela tinha que admitir. Ela se sentia bem ao lado delas, apesar da disparidade de anos. Além disso, Amice era tão bonita e animada que tinha certeza de que se afundaria ao lado de sua presença vital.

— Vamos lá, querida, — disse Chrissie, soprando a poeira de algo prateado, uma vez que a poeira foi removida, revelou ser um espelho na parede. — Selecione algo.

— Oh, — Ettie fez uma pausa, olhando em volta. — Eu não sei... há muito.

— Tanto melhor para encontrar o que você quiser, — disse Chrissie, desenrolando o tecido e admirando o efeito pensativa. — Eu ainda não tenho certeza sobre isso, então continuarei caçando também. Talvez possamos encontrar alguma coisa se puxarmos rolos suficientes como este. — Ela riu e Ettie teve que rir.

— Você é sempre tão esperançosa? — Ela perguntou quando se abaixou para olhar as pilhas de tecido. A sala cheirava a alecrim e outras ervas, presumivelmente espalhadas para manter o tecido livre de traças. Respirou profundamente, a nostalgia do lar e da sala de costura de sua mãe, que sempre cheirava a ervas espalhadas, batendo nela como uma onda.

Chrissie deu uma risadinha.

— Eu sou querida? Eu não sei. — Ela puxou outro rolo de pano, olhou para ele criticamente e substituiu-o. — Eu só acho que, bem, todas as possibilidades são igualmente possíveis. — Ela se levantou e limpou as mãos na saia, em seguida, virou-se para encarar Ettie, que estava franzindo a testa. — Quero dizer, sempre pensamos, de alguma forma, que as coisas ruins estão certas, e que a felicidade é improvável, um sonho distante. Bem, sabe por que?

Ettie franziu a testa.

— Por que, tia Chrissie?

— Bem, por que achamos que as coisas ruins são tão poderosas e as boas tão improváveis? Se algo vai acontecer, pode igualmente ser uma coisa boa como uma coisa ruim. Então, por que não ser esperançosa?

Ettie riu.

— Que ideia adorável.

— É, não é? — Chrissie sorriu. — É verdade, no entanto. E, enquanto estamos falando sobre isso, muitas vezes as coisas que pensamos serem ruins também não acabam sendo tão ruins. Às vezes são boas coisas, só estão disfarçadas.

Ettie não pôde evitar. Virou-se e abraçou a mulher, até que Chrissie tossiu, protestando e teve que soltá-la.

— Oh, você querida, — Chrissie disse distraidamente, acariciando seu ombro. — É verdade, no entanto.

— Sim, — disse Ettie, inclinando-se para olhar agora para a pilha de tecido. — Eu acho que é.

— É, — Chrissie assegurou ela. — Isto é.

Ettie viu um rolo de tecido saindo e puxou-o. Um fardo de pano colorido atirou-se nela e ela acabou de costas no chão, rindo em choque, a poeira por toda parte. Chrissie deu uma risadinha e correu para ajudar.

— Oh, pobre coitada! Você está bem? E tudo que você tem é linho lá. Não é tão bonito, afinal de contas. — Ela olhou com tristeza para o linho que Ettie tirara da pilha, que era para bordados.

— Oh, — Ettie ainda estava de costas, olhando para o teto. Ela gemeu. Então notou uma cor na borda de sua visão. Um dos fardos. Era como flores, ou o cosmos, ou açafrão. Ou o pôr do sol. Ela sentou-se.

— Oh... — ela suspirou em voz alta enquanto puxava para fora. O rico linho lilás, era tão fino que poderia ser de seda, se deslizou para fora da pilha e envolveu-a calorosamente. — Oh, é adorável.

Chrissie sorriu.

— Que coisa! — Ela bateu palmas animadamente. — É perfeito com o seu cabelo. E seus lindos olhos! Oh... que bom que você achou.

— É bonito, — murmurou Ettie. Se ela não tivesse caído, ela não teria encontrado. Estava escondido debaixo da pilha.

As vezes são coisas boas. Só estão disfarçadas.

Ela se sentiu mais positiva do que há semanas. Quando colocou o tecido lilás sobre si, viu tia Chrissie olhando por cima do ombro com um grande sorriso.

— Oh minha querida. Perfeito. Isso combina com os seus olhos, assim como eu pensava. Você deve ter um vestido para a reunião. Todos vão pensar que você é a criatura mais linda de todas!

Ettie corou e riu. Ela se sentia bonita. A garota no espelho parecia confiante e amável. A púrpura magenta do tecido realmente ressaltava o azul de seus olhos e seu cabelo era uma nuvem radiante.

— Você é apenas doce, tia, — disse ela para Chrissie, que riu.

— Não. Marque minhas palavras. Você terá todos os rapazes caindo sobre seus pés. E nosso Brodgar também.

Ettie sentiu seu rosto se encher de cor.

— Tia? Você acha que ele gosta de mim?

Tia Chrissie deu uma risadinha.

— Eu teria que ser cega para não ver! — Ela acenou com a mão. — Desculpe querida. Mas ele está olhando para você como um bezerro doente desde que você chegou.

Ettie corou novamente.

— Sério? — Seu estômago revirou deliciosamente. Ela já havia percebido o que sentia por Brodgar, mas nunca imaginaria que ele realmente retornasse a sensação. Agora ela sabia.

— Sim, querida, — sua tia concordou. — Agora venha. Vamos encontrar a Alina. Vejamos se ela sabe para onde Greere, nossa costureira, saiu hoje. Se Alina disser que podemos usar isso, já que ela é a encarregada nominal da compra de tecidos, e tem mais senso com dinheiro, então nós o faremos.

Ettie sorriu e resistiu ao impulso de apertar sua tia em outro abraço esmagador. Em vez disso, ela pegou a mão dela e apertou-a.

— Obrigada Tia. Você não se importa se eu te chamar de tia Chrissie, não é? — ela perguntou, lembrando que não havia pedido permissão antes.

Chrissie sorriu com carinho.

— Minha querida, eu ficaria mortificada se você me chamasse de qualquer outra coisa. Agora vamos, vamos encontrar nossa costureira. Para mim, acho que gostaria dessa nova moda de mangas caneladas...

Enquanto tia Chrissie planejava seus vestidos em sua cabeça a caminho do solar, Ettie sentiu como se as flores florescessem em seu coração. Ela se sentira tão isolada antes, tão mal recebida. Agora ela tinha uma amiga e alguma esperança. E a possibilidade, ainda que pequena, de que Brodgar gostasse dela tanto quanto ela dele. Pelo menos alguém não desaprovava isso.


CAPÍTULO SETE

O QUE PODE ACONTECER


No desjejum do dia seguinte, Brodgar se concentrou no prato. Comiam no solar, era muito mais quente no inverno e mais íntimo, com apenas a família por perto, mas ele tinha consciência do olhar inquiridor da mãe e não ousava olhar para Henriette.

— E a neve não teve nenhum efeito nocivo sobre os currais de ovelhas, felizmente, — Broderick estava dizendo a Duncan, seu irmão. Duncan pigarreou.

— Bem. Eu estava preocupado. Os arrendatários seriam arruinados na primavera, se isso acontecesse.

— Nós poderíamos oferecer-lhes socorro daqui, — Alina apontou, estendendo a mão para uma fatia de presunto enquanto conversavam. — Temos mais do que suficiente armazenado para o inverno.

— Nós faremos, querida. Abençoado seja seu bom coração — Duncan sorriu. Ela olhou para ele com uma ternura que raramente mostrava para alguém.

Brodgar viu-se perguntando se deveria se aproximar dela com sua pergunta.

Talvez mais tarde. Primeiro quero pensar sobre esse assunto.

— Você vai sair hoje? — Alf perguntou ao seu lado. Ele estava partindo pedaços de um bannock e comendo com algum entusiasmo. Brodgar sorriu.

— Talvez, — ele concordou. — Você quer dar uma volta?

— Eu pensei que nós poderíamos levar os cavalos até o precipício novamente, — disse Alf, pensativo. — Eu quero que o Fire se acostume com caminhos estreitos.

Brodgar assentiu. O Fire era uma descendência do animal de seu pai com uma raça local. Alf insistira em domá-lo a treiná-lo, e ele e o cavalo eram inseparáveis. Os reprodutores originais haviam sido treinados na França e, para o desalento do tio Blaine, atendiam em francês; uma linguagem que ele mesmo não sabia, embora sua esposa falasse. Tentar fazer os cavalos responderem às palavras escocesas tinha sido uma verdadeira batalha.

— Pelo menos, Fire entende o que estamos dizendo, — Brodgar sorriu.

— Ele entende. Ele entende, — Alf assentiu. — Amice? Você virá?

— Eu vou ficar dentro hoje, — a irmã de Brodgar disse suavemente. — Eu devo terminar o meu bordado. — Ela fez uma careta e Brodgar sorriu. — Henriette? — Amice perguntou, chamando ao lado da mesa onde Henriette estava sentada com Chrissie à sua esquerda, Broderick à sua direita.

— Sim? — Perguntou Ettie. Ela olhou para Amice e Brodgar se encontrou desesperadamente concentrado em seu prato novamente.

— Você vai costurar comigo?

— Eu gostaria, — disse Ettie. — Eu quero fazer um bordado para minha nova túnica.

— Oh! — Amice parecia muito mais feliz. — Então terei companhia. Que bom. Isso torna a costura muito mais divertida. — Ela fez uma careta para a mãe, que riu.

— Sim, você vai achar divertido. E haverá mais pessoas para ficarem quietas para que eu possa enrolar meados de fios.

Amice deu uma risadinha.

— Eu posso correr rápida o suficiente para escapar agora, mamãe.

Brodgar teve que rir. Ele e Amice tinham sido sujeitados a ficarem parados enquanto a mãe enrolava os meados de fios de seda ou lã nas mãos — a maneira perfeita, ela sempre comentava, de conseguir um bom fio.

— Eu vou ajudar, — Ettie se ofereceu. Brodgar viu um olhar fechado no rosto da mãe e desejou que ela fosse mais gentil com a visitante.

— Obrigada, Ettie, — ela disse educadamente.

Brodgar desviou o olhar, pegando outro bannock no desjejum. Seu pai sorriu.

— Vamos rapaz! Você poderia parecer um pouco mais alegre. Como está o treinamento com Arnold?

— Bem, pai, — concordou Brodgar amavelmente. — Ele entende palavras escocesas, de qualquer maneira.

Broderick riu.

— Bem, Bem. Eu tive que aprender um pouco de francês, sabe.

Eles riram. Brodgar imaginou se seu pai não seria convencido a libertá-lo das obrigações que ele tinha com o MacDonnell. Ele era um homem gentil. Valia a pena descobrir.

— Bem, eu pensei que era mais rápido para o cavalo aprender escocês, — Blaine falou. — Então eu não me incomodei em aprender francês.

Todos eles rugiram de rir. Brodgar sorriu para Blaine. Sem rodeios, direto e gentil, Blaine estava sempre pronto com humor irônico e sua própria percepção especial.

— Bem, — disse Broderick, em pé. — Desculpem. Eu devo ir buscar os relatórios dos arrendatários. Ver se alguém precisa da nossa ajuda. Duncan?

— Sim, irmão?

— Você vem comigo?

— Claro.

Isso deixou Brodgar na mesa com Alf e sua mãe, Alina, Amice e Ettie. Chrissie e Blaine se desculparam e saíram; Chrissie com alguns negócios com a costureira, Blaine para ir se exercitar com os homens de armas.

— Eu acho que o tempo vai ficar firme hoje, — Alina observou para Brodgar e Alf. — Embora você possa pegar uma friagem nos penhascos. E eu recentemente o tive na enfermaria, Sir Alf.

Alf deu-lhe um sorriso torto.

— Eu vou tomar cuidado. Eu prometo, tia.

— É melhor tomar, — disse ela com um sorriso.

Brodgar esperou até que sua mãe e Amice tivessem desaparecido na sala de costura e Alf tivesse ido para os estábulos. Isso o deixou, com Alina e Ettie juntos. Ettie estava olhando para o prato, tentando muito ser invisível. Brodgar se sentiu mal por ignorá-la, mas pela vida dele, não pôde fazer mais com o olhar crítico da mãe sobre ele. Ele olhou para tia Alina.

— Tia?

— Sim?

— Eu tenho uma... hum... uma pergunta para você. Se você tiver tempo depois?

Alina olhou rapidamente para Ettie, quase como se soubesse o que seria.

— Claro, — disse ela. — Na sala. Estou indo para lá agora. Venha me encontrar quando estiver pronto para conversar.

— Sim, tia.

Brodgar esperou até que tia Alina saísse, a saia de veludo azul-escuro se balançando silenciosamente. Ele olhou para Ettie, mas ela ainda estava olhando para longe. Ele disse:

— É melhor eu ir falar com Alina, — ele disse gentilmente.

— Sim, — disse Ettie. Quando ela o olhou, ele poderia ter se amaldiçoado pela confusão e tristeza em seus profundos olhos azul-ardósia. Ele se sentia como a pior pessoa do mundo naquele momento, mas não havia muito que ele pudesse fazer sobre isso.

Ele se virou e saiu. O solar parecia estar cercado em sua própria aura de erva-aromáticas, e ele ficou no corredor, respirando o cheiro de tomilho e mirra e, recompondo seus pensamentos. O que eu quero perguntar a ela? Alina muitas vezes só respondia a uma pergunta, então é melhor ter certeza do que ele queria saber. Ele engoliu em seco e bateu na porta.

— Entre, — uma voz chamou. Sua voz, quente e divertida, enrolou-se em torno dele e, no entanto, deu-lhe um arrepio tenso.

— Tia Alina?

— Estou checando esta poção, — disse Alina, segurando um pequeno frasco no qual o líquido escuro estava drenando através de um pano de linho. — Vai ser para tosses. Vamos precisar antes que o inverno termine.

— Sim. Tia?

— Mm? — Ela virou aqueles olhos negros sonhadores para ele e Brodgar olhou para as mãos, sentindo-se repentinamente extremamente tenso.

— Eu... Ettie Fraser ao ter vindo ao castelo, me mudou. Eu estava pensando se... — ele parou, lambendo os lábios com preocupação.

— Você quer saber se vai se casar. Sim? — Alina levantou uma sobrancelha perfeitamente arqueada ao questionar.

— Sim. — Brodgar apertou suas mãos. Porra, mas por que ela podia ler seus pensamentos mais íntimos? Era desconcertante! Tudo sobre Alina era desconcertante, desde seu sorriso misterioso ao seu comentário amargo às vezes.

— Bem, — disse ela, colocando a garrafa de lado e sentando-se em um banquinho para que pudesse olhar para ele. — É complicado. Esse caminho está aberto, mas há obstáculos nele. Alguns você conhece. Alguns não. Alguns só acontecerão por causa de como você escolhe andar. Mas no final, pode ser bom. Você precisa aprender alguma coisa.

— Eu preciso? — Brodgar estremeceu. Ela sorriu para ele.

— Sim. A confiar.

— Eu confio... — protestou Brodgar. Ela deu a ele um olhar vazio.

— Bem, isso é tudo que tenho a dizer para você, rapaz. Se você terminou, eu vou continuar com esta preparação. Sua irmã precisa de uma poção para os pulmões. E você pode levar isso para ela mais tarde, se tiver vontade.

Brodgar engoliu em seco.

— Tia? Sinto muito. Eu não quis ofendê-la.

— Você não o fez, — disse ela com um sorriso afiado. Ela era tão alta quanto ele e olhar naqueles olhos negros como a noite o fez desviar o olhar com medo. Ela era pior do que quando ofendida, ela era enigmática.

— Eu fiz, — disse ele.

— Não, — ela sorriu. — Você acabou de provar meu ponto de vista. Agora vá embora.

— Obrigado, — Brodgar disse rapidamente, lembrando de suas boas maneiras. Então ele saiu apressado. No corredor, ele ficou surpreso ao descobrir que estava suando. O encontro com Alina o deixou tenso. Ele estava feliz por ter perguntado. Não foi de todo ruim.

Ela disse que era possível. Ela disse que havia obstáculos. Ela disse que devo aprender a confiar.

Brodgar franziu a testa. De todas as lições que ele esperava, a confiança não era uma delas. Parecia um conto de herói de algum tipo: o herói tem que executar algumas tarefas para ganhar a donzela. No entanto, desta vez, a tarefa era obscura. Ele preferiria, pensou ele, ter sido determinado algum exercício direto: recuperar algum tesouro perdido, lutar contra uma fera. Como as tarefas nos contos. Mas tinha-lhe dito a algo que parecia mais difícil.

Confiar. Confiar em quem? Por que?

Sentindo-se como se as vespas estivessem aninhando-se em sua mente, Brodgar dirigiu-se ao pátio. Lá, Alf esperava.

— Aí está você! — Alf disse, sorrindo.

— Desculpe estou atrasado. Eu queria falar com a nossa tia rapidamente. Perguntar a ela algumas coisas.

— Aham? — Alf perguntou, balançando-se na parte de trás de seu cavalo. — Fácil, não?

Brodgar montava logo atrás dele e os dois cavalgaram lado a lado pelo grande portão, saudando os sentinelas enquanto passavam. Alf espirou, observando sua respiração no ar gelado.

— Então? — Ele disse. — Pronto para uma corrida?

— Definitivamente, — Brodgar assentiu. Ele considerou o que Alina havia dito. Obstáculos. Confiar. Ele confiava em Alf? Surpreendentemente, ele descobriu que sim.

— Espero que este clima se estabilize. Se isso acontecer, Amice pode sair com a gente amanhã.

— Isso seria bom, — concordou Brodgar. — Hum, Alf?

— Sim? Fácil, a pista é escorregadia como ardósia polida.

Brodgar assentiu, sentindo o cavalo escorregar um pouco enquanto percorriam o caminho lamacento.

— Eu estava me perguntando. Você conheceu Ambeal MacDonnell?

— Sua noiva? — Alf perguntou. — Uma vez.

— Foi no encontro que eu perdi? — Perguntou Brodgar. Três anos antes, quando ele tinha dezesseis anos, ele perdeu o encontro, ficando com Blaine em uma patrulha de fortificação na fronteira.

— É isso, — Alf assentiu. — Uma falha infeliz. Veja. Esses arbustos deve ser cortado um pouco, o caminho está ficando coberto. Lembrará a papai, quando voltarmos?

— Eu vou, — concordou Brodgar, mordendo o lábio enquanto se abaixava sob um galho baixo. — Então? Alf, como ela é?

— Quem? Oh, Ambeal. Ela é agradável. Eu suponho.

— Você falou com ela?

— Um pouco. Ela é uma garota educada e agradável — Alf disse com firmeza. — Por quê?

— Oh. — Brodgar suspirou. Alf não parecia excessivamente tagarela sobre o assunto de Ambeal, o que era estranho, pois seu primo costumava falar sobre todos os assuntos. Ele franziu a testa. Como ele poderia perguntar a Alf? — Um...

— Opa! Veja uma raposa! Ela é bonita também. Toda vermelha contra as folhas. O que é, primo?

— Eu queria perguntar, — disse Brodgar pacientemente, — o que devo fazer?

— Sobre o que?

— Sabe, a coisa é... eu prefiro Ettie.

— Eu sei, — Alf concordou. — E?

— Bem, eu quero... você sabe... descubra se eu posso romper esse noivado. É possível? Eu preciso de ajuda.

Alf passou a língua pelos dentes da frente. Pausando. Finalmente, ele limpou a garganta.

— Poderia ser.

— Você acha? Como eu poderia fazer isso?

— Bem, há duas possibilidades. Primeiro, acho que devemos conhecê-la. Pergunte a ela sobre isso.

— Oh? — Brodgar sentiu seu coração afundar em suas botas com os nervos. Como Alf achava que ele ia encontrar uma garota para dizer que não ia se casar? Como ele poderia fazer isso?

— Mas primeiro, — Alf continuou sensatamente, — acho que a melhor coisa a fazer seria alertar seu pai. Peça sua permissão. O que você acha?

Brodgar fez uma pausa. O pensamento de confrontar seu pai com esse pedido o deixava nervoso. A parada da contenda significava muito para Broderick e Amabel. Essa luta já havia explodido várias vezes ceifando muitas vidas e prejudicado cada membro da família. Sabia que eles queriam uma conciliação. Seu pai não ficaria com raiva?

Confiança. Ele respirou fundo.

— Muito bem.

Alf sorriu para ele, deslumbrante.

— Eu vou também?

— Obrigado, Alf, — disse Brodgar, suspirando. — Gostaria disso.

O passeio foi curto, tia Alina estava certa de que o vento soprava intermitentemente nos penhascos, e Alf, tossindo, concordou em partir. Quando chegaram ao castelo, com os cavalos seguros, quentes e com farelo para comer, foram até seus aposentos, concordando em encontrar Broderick no grande salão assim que trocassem suas roupas externas.

No salão, Brodgar esperava nos bastidores, enquanto seu pai, no estrado, ouvia as necessidades e os prejuízos dos aldeões. O administrador, Alec, acenou para a frente depois de uma breve pausa nos procedimentos.

— Pai?

— Sim. Filho, Alf! Isso é uma surpresa. O que é?

— Você está ocupado?

— Eu não sei, — disse Broderick agradavelmente. — Alec?

— Sim, senhor?

— Mais peticionários hoje?

— Não, senhor. O salão interno está vazio agora mesmo.

— Oh. Boa. Ufa, — ele adicionou com um sorriso. — Certo, rapazes. Eu sou todo ouvidos agora.

Brodgar sorriu para o pai, sentindo-se aliviado ao vê-lo tão alegre.

— Hum, pai..?

— Sim?

Brodgar olhou de lado para Alf, que sorriu encorajadoramente. Confiança. Ele respirou fundo.

— O noivado. Aquele com Ambeal. Eu sei que não... Eu não fiz nada sobre isso. Qualquer cortejo ou algo parecido. Seria possível... er... reconsiderar isso?

Broderick franziu a testa e Brodgar se sentiu arrepiado. Finalmente, seu pai assentiu.

— Poderia ser. Claro, nós precisaríamos vê-la. E o MacDonnell, provavelmente. Explique. Mas nada é impossível, filho. Se é isso que você realmente quer.

— Obrigado pai!

— Mas... — Broderick fez uma pausa. — Eu sempre fui um homem precipitado. Eu te aviso agora. Você deve se certificar de conhecê-la. Fale com ela. Passe algum tempo lá. Ou como você saberá que está fazendo a escolha certa? Você não sabe nada sobre ela, afinal de contas.

Alf olhou para Brodgar, que acenou de volta.

— Você disse que era uma boa ideia, — ele comentou.

Alf sorriu.

— Estávamos pensando em fazer isso, senhor, — disse ele respeitosamente para Broderick. — Talvez hoje?

— Eu não vejo por que não, — disse Broderick. — Assumindo que o MacDonnell está em casa, e não em Edimburgo ou em outro lugar para as festividades pós Yule, é claro.

— Sim. — Brodgar assentiu. — Bem, com a sua permissão, pai, vamos sair imediatamente.

Broderick assentiu.

— Você a tem, filho. Diga a sua mãe e você, Alf, é melhor obter algumas informações de Alina. Se você pegar um resfriado novamente, ela mesma vai acabar com você.

Alf sorriu ironicamente.

— Eu acredito nisso, senhor.

Todos eles riram.

— Obrigado, pai, — disse Brodgar novamente, sentindo-se um pouco sobrecarregado. De todas as coisas que ele esperava que acontecessem, o acordo de seu pai era a última coisa que ele achava que ocorreria romper.

Confie, ele ouviu em sua cabeça. Viu o sorriso mordaz de Alina.

Bem, ele pensou, enquanto ele e Alf saíam para seguir caminhos separados para se aprontarem, parecia que ele estava aprendendo a confiar. Lentamente, mas com firmeza. Além disso, parecia que, como sempre, Alina estava certa. O principal obstáculo em seu caminho foi aprender a confiar. Ele seguiu Alf ao andar de cima e correu para arrumar o alforje. Eles poderiam ficar no forte MacDonnell por vários dias. Além disso, ele gostaria de ter a melhor aparência possível; afinal de contas, era sua noiva potencial que ele estava indo conhecer.


CAPÍTULO OITO

ROTAS E PROBABILIDADES


Ettie sentou-se no solar. Era pela tarde, o entardecer mal se escondendo nas copas das árvores. Seu bordado estava espalhado na poltrona ao lado dela, a parte que ela estava trabalhando em suas mãos. Ela olhou para os pontos, pensando que deveria se aproximar da luz do fogo se quisesse ver os pontos finos que fazia. Ela estava fazendo um desenho de flores magenta em um profundo solo verde-floresta.

Eu acho que sou a última aqui. Lady Amabel, Amice e Alina ocuparam a luz solar com ela durante a maior parte do dia. Ela estava quieta, principalmente, concentrada no bordado de seu kirtle6 e tentando manter um perfil baixo enquanto as outras três mulheres conversavam. Ela pegou o olhar de Alina ocasionalmente e moveu o olhar rapidamente para o lado quando percebeu.

Ela me deixa com medo.

Ettie ficou meio admirada e meio com medo da imponente vidente. Linda ela indubitavelmente era, mas também tinha um ar sinistro. Chrissie parecia amá-la sem reservas, e isso lhe deu algum incentivo: talvez por baixo daquela natureza serena e mística houvesse um coração quente. Ela desejou poder pedir a vidente que previsse seu futuro. No entanto, ao mesmo tempo, ela estava com muito medo de perguntar.

— Lady Henriette?

Ettie saltou assustada e quase apunhalou o dedo com a agulha.

— O que?

Ela achava que estava sozinha. Deixou a costura de lado, concentrou-se na pessoa que se sentava à sua frente mais perto do fogo, tão silenciosa que não soubera que estava ali, até que ela falou. Ela se virou para encarar a oradora.

Ela estava olhando nos olhos negros de Alina. As chamas cintilaram em sua superfície lúcida, e Ettie teve a sensação de que ela estava olhando dentro de sua cabeça, lendo sua mente. Ela estremeceu. A vidente falou.

— Você tem uma pergunta.

Ettie ficou boquiaberta.

— Eu... minha lady, eu... sim. — Ela assentiu com a cabeça, olhando para as mãos, a pele clara na luz avermelhada do fogo. Como ela sabia?

Alina sorriu.

— Eu posso ler mentes, sim: quando surge a necessidade. Mas neste caso não foi necessário.

— Minha lady, eu tenho uma pergunta. O que você vê? — Ela fez uma pausa, sentindo a necessidade de se explicar mais. — No dia em que cheguei, notei que você parecia em outro lugar. Eu me perguntava se a minha chegada tinha colocado algo em movimento? Alguma mudança em nosso futuro? Você viu isso?

Alina sorriu. Ettie olhou para aqueles belos olhos, milimetricamente imaginando os olhos de uma cobra.

— Bem, — a vidente disse calorosamente, — você está certa. Algumas coisas mudaram, sim. Algumas coisas fazem isso. Algumas coisas permanecem como eram. As mudanças estão todas por dentro.

— Dentro? — Ettie engoliu em seco. — Minha lady, o que muda?

Alina riu.

— Não muito. E tudo para o bem, parece. Primeiro, você precisa confiar.

— Confiança? — Perguntou Ettie. Ela lambeu os lábios secos.

— Sim. Nada acontece sem isso. O futuro está subindo uma escada, Ettie. Você tem que andar, às vezes, sem ver o topo.

Ettie olhou para as mãos dela.

— Eu entendo, — ela disse suavemente. — Eu acho que sim.

— Bom, — Alina sorriu. — Você tem humildade. Isso é mais que alguns. Você vai longe. Você sabe o que não sabe. Isso é um começo.

Ettie estremeceu.

— O que eu não sei? — Ela fez uma pausa. — Eu não entendo.

— Ah, mas você saberá. — Alina assentiu. — Você sabe que existem coisas que não conhece. Você pode admitir isso. E esse é o começo da confiança. Saber que não pode saber.

Ettie assentiu.

— Espero que sim, — disse ela. — Eu quero estar... hum... pronta para todas as possibilidades.

Alina sorriu. Desta vez, havia calor em sua expressão. Quando ela sorria, sorria de verdade, transformava seu rosto de planos inconstantes de mistério em uma beleza de tirar o fôlego. Ela não poderia ter pouco mais do que a idade Ettie naquele momento, embora soubesse que devia ter pelo menos o dobro de sua idade. Seus olhos amendoados brilhavam, grossos, nas chamas, bochechas pálidas impecáveis ao lado de seu cabelo negro liso.

— Você é sábia, jovem dama, — disse ela. — Há doçura em você e força. Você ficará bem. — Ela estendeu a mão e pegou sua mão de repente. — Segure-se. Não mude. Apenas cresça. Esse é o segredo. E já estará fazendo isso.

Ettie sorriu para ela, engolindo em seco enquanto tentava entender a mensagem que recebera.

— Obrigado, tia Alina. Eu posso te chamar assim, não posso? — ela acrescentou apressadamente, com receio de ofender a poderosa vidente com um nome tão comum.

Alina sorriu.

— Você pode me chamar como quiser, querida. Um nome é o significado que você dá a ele.

Ettie assentiu. Ela sentiu como se sua cabeça estivesse girando. Conversar com Alina era como andar por um corredor sinuoso, com perguntas em todos os cantos. Ela respirou fundo, sustentou seu senso do que era real e presente.

— Obrigada, tia, — disse ela.

— O prazer foi meu. — A voz riu.

Quando Ettie se recostou na cadeira, Alina se levantou.

— Sempre que você quiser conversar, me encontre lá em cima, — disse Alina. E, com isso, alisando suas saias de veludo escuro com uma mão macia e clara, ela se foi tão silenciosamente quanto apareceu.

Ufa!

Ettie recostou-se no balcão, de frente para o telhado. Ela não tinha notado, mas o fogo tinha queimado e ficado em brasas incandescentes enquanto elas conversavam, deixando o quarto na escuridão. Ela estremeceu. Isso era facilmente a coisa mais assustadora que aconteceu até agora.

Algo sobre a vidente era profundamente desconcertante. Enigmática, desafiadora. Ela teve a sensação de que Alina estava testando-a com tudo o que disse, tomando-a, sondando sua mente. Ela fechou os olhos novamente e pensou sobre as palavras.

Confiar. O futuro está subindo uma escada. Você não pode ver o topo.

Ela respirou e abriu os olhos.

O que quer que ela fizesse no futuro, teria isso em mente.

— Ettie?

Ettie olhou para o rosto preocupado e corado de Amice, a filha do senhor castelo. Ela sorriu.

— Olá, Amice. Desculpe... eu te preocupei?

— Ah, não! — Amice disse, sentando-se no banco onde, um momento antes, Alina estava. — Mamãe estava procurando por você. Estamos sendo servidos de bolos e cerveja na sala da torre e ela se perguntou se você gostaria de comer alguma coisa? Estou morrendo de fome — Amice acrescentou com um sorriso.

Ettie franziu a testa. Seu estômago revirou ao pensar em comida e ela lembrou que mal comeu no almoço. Ela assentiu.

— Obrigada. Eu gostaria.

— Bem, então! — Amice sorriu. — Vamos. — Ela se levantou e curvou o braço para que Ettie pudesse deslizar o dela em seu cotovelo, de braços dados, elas deixaram o solar, indo para o corredor, onde as tochas piscavam para iluminar o caminho para a torre Norte.

— Você está costurando um novo kirtle, sim? — Amice perguntou. — Chrissie disse isso.

— Para o encontro. Sim.

— Oh! — Amice bateu as mãos com entusiasmo. — Você está fazendo um vestido? Que cor? Posso ver?

Ettie sorriu. Ela deu um tapinha na mão dela. A menina mais nova era a irmã que ela sempre quis, animada, gentil e doce. Ela estava feliz por tê-la conhecido: era uma das melhores coisas sobre estar no castelo, ela decidiu. Amice e Brodgar eram pessoas adoráveis.

— É roxo, — disse ela. — Chrissie está no comando. Acho que a costureira cortou a estampa ontem. — Ela passara quinze minutos no sótão com Chrissie, enquanto a mulher media o vestido, depois outro quarto de hora, discutindo as últimas modas com elas. O vestido não teria cintura, mas longas mangas retas e um pescoço alto. Como o decote pareceria, eles ainda não haviam decidido. A costureira disse que tinha várias ideias. Ettie o descreveu.

— Oooo! — Amice assentiu com entusiasmo. — Eu devo ter um também! Chrissie está certa. Eu acho que... verde?

— Verde ficaria agradável, — concordou Ettie. — Seu cabelo iria aparecer bem. Isso combinaria com você.

— Oh! Obrigada. — Amice sorriu para ela. — Estou feliz por estares aqui. Sinto saudades da minha irmã. Você é como uma irmã.

Ettie sentiu o coração dela brilhar.

— Obrigada, — ela disse fervorosamente. — Eu não tenho irmã. Mas se eu tivesse uma, eu gostaria que fosse como você.

— Ah! — Amice piscou e Ettie ficou surpresa ao ver que a menina mais nova tinha lágrimas nos olhos. — Isso é tão gentil, — disse ela. — Você é adorável.

— Não, — disse Ettie com firmeza. — Eu sou honesta. Agora, é melhor subirmos... essas escadas são estreitas.

— Sim! — Amice riu, indo rapidamente para frente. — Elas são. Ainda bem, Alec ou Brod sempre se certificam de que as tochas queimem aqui. Ou alguém quebraria o pescoço!

Ettie assentiu, estremecendo com o pensamento. Ela agarrou-se à balaustrada de corda e seguiu sua jovem companheira pelas escadas escuras.

O futuro é uma escada. Você não pode ver o topo.

Engolindo em seco, concentrou-se em onde colocava os pés, acompanhando o ritmo da companheira mais jovem, enquanto subiam cegamente, guiadas apenas pelo dourado cintilante e intermitente das tochas à frente.

No quarto da torre, ela ficou satisfeita em encontrar um fogo aceso. Pequeno, redondo, arejado e aconchegante, o espaço era um alívio depois dos corredores escuros.

— Ah, aí está você, querida, — disse Chrissie de uma cadeira perto do fogo. — Como vai o vestido?

— Eu ainda não vi a Greere, tia.

— Oh. Bem, da última vez que a vi, ela cortara tudo e estava ocupada costurando as mangas. Ela vai querer que você experimente logo, marque minhas palavras. Sente-se, querida. — Ela indicou um cadeira em frente. Ettie olhou para Amice, que estava servindo cerveja na mesa baixa e sentou-se. Do outro lado da sala, Lady Amabel olhava para ela.

Ettie engoliu em seco. Ela não gosta de mim.

Ela não tinha ideia de como, mas parecia ter ofendido a dama real da casa. Ela olhou para as mãos, imaginando o que poderia dizer.

— Brodgar ainda está cavalgando? — perguntou ela.

No instante em que saiu de seus lábios, ela sabia que estava errado. A sobrancelha de lady Amabel subiu.

— Ele e Alf partiram, — disse ela sucintamente. — Eles vão voltar na próxima semana.

— Próxima semana? — Amice disse, desanimada. O comentário dela era exatamente o que Ettie queria dizer, o que era bom. Isso a salvou de ter que dizer isso. Tinha certeza de que Lady Amabel a desaprovaria de todo o desapontamento.

— Eles terão ido por quatro dias, ou cinco, — a senhora continuou suavemente. — Eu espero que eles voltem com algumas novidades. — Seus lábios se endureceram e Ettie estremeceu.

Ela parece estar esperando que algo mude.

Enquanto pensava, olhou para a piscina de sombras perto da porta. Alina estava lá. A luz do fogo brilhava em seus olhos e a enigmática vidente sorriu para ela.

Existem mudanças. E elas estão todas por dentro.

Ettie engoliu em seco.

— Eu confio que as notícias serão boas, — ela murmurou. Alina olhou para ela e poderia ter sido a imaginação de Ettie, ou poderia ter realmente acontecido, mas ela pareceu inclinar a cabeça em rápida aprovação.

O resto da tarde foi gasto em animada discussão. Chrissie contou uma história sobre um vestido que tinha sido feito muito pequeno para ela, e teve que fazer ajustes de última hora momentos antes do evento, e Amabel provocou Amice sobre as danças no encontro. Alina ficou quieta durante a conversa, observando Ettie. Ela estava costurando algo e observando os outros com um olhar estranho no rosto.

Ela a viu olhando para sua irmã, Lady Amabel, com uma diversão suave. Ela estava surpresa. Será que, apesar da inimizade evidente que a dona da casa sentia, Alina estava do lado dela nisso? Ela balançou a cabeça. Alina e Amabel eram irmãs, seu amor era lendário. Até mesmo ela ouvira como haviam salvado a vida uma da outra uma vez, em uma luta causada por MacDonnell, um temível clã local e o amargo inimigo de Lochlann e Dunkeld.

Não, ela pensou, olhando para as mãos, que continham uma caneca de cerveja quente, deve ser imaginação.

Amice sorriu para ela.

— Ettie? — Ela perguntou, — se eu pegar um pergaminho, você poderia me ajudar a desenhar uma imagem do que eu quero para o encontro? Eu tenho uma ideia clara na minha cabeça de como o vestido deve parecer, só que não consigo pensar em como explicar a Greere.

Ettie assentiu rapidamente.

— Claro. Acho que desenhar é um ótimo plano.

Amice fez uma careta.

— Às vezes, uma imagem é melhor que palavras. E Greere é tão peculiar. Ela conhece todas as palavras extravagantes para desenhos de vestido, e eu só sei como deve ser. Agora, eu estava pensando, as mangas devem ficar assim... — Ela gesticulou, depois foi até a mesa onde havia pergaminho e um bastão de carvão, para desenhar. — Eu quero que eles saiam do pulso, assim...

Com os olhos estreitando-se ligeiramente à meia-luz do fogo, Amice começou a desenhar o vestido que queria. Ettie a encorajou.

Sentada ali, a luz do fogo jogando calorosamente sobre as duas, Ettie sentiu uma profunda sensação de paz. Ela olhou para as três mulheres mais velhas, mas elas estavam sentadas mais perto agora, conversando entre si em voz baixa. Ettie sentiu uma súbita vibração de nervosismo.

Para onde Brodgar foi? Por que ele iria ficar longe por tanto tempo. E, o importante, o que poderia mudar?

Ela não tinha como saber: tudo o que ela podia fazer era confiar.


CAPÍTULO NOVE

ASSUNTOS DO CORAÇÃO


Brodgar sentiu as costas começando a doer. Ele e Alf cavalgaram o dia todo pelas colinas encobertas da florestas, indo para o Norte e o Leste a tarde toda. A luz estava se apagando e Alf gritou.

— Aqui! Inferno. Finalmente.

Brodgar soltou um suspiro explosivo que ele não sabia que estava segurando. Finalmente.

— Boa.

— Isso mesmo — Alf riu. — Meu traseiro está doendo.

Brodgar lançou-lhe um sorriso.

— Eu tenho que concordar.

— Eu não precisava saber, — Alf riu.

— Bem, você que disse, — ele disse gentilmente.

— Sim. Eu suponho que sim. Eu simplesmente não consegui me conter. — Alf riu e apertou as rédeas para encorajar seu cavalo enquanto ele trotava.

Brodgar riu e, aliviado e alegre, seguiu Alf pelo caminho até os portões altos e arqueados.

— Diga seu nome, — um sentinela contestou quando chegaram ao local. As muralhas da fortaleza erguiam-se acima deles, sombrias e pouco iluminadas pelas duas tochas que queimavam entre argolas nas muralhas atrás dele.

— Alf MacNeil, — Alf disse rapidamente. — De Dunkeld.

— Lorde Brodgar, filho do thane de Dunkeld, — disse Brodgar quase ao mesmo tempo. Ele lançou um olhar para Alf, que sorriu.

— Bem feito, — ele murmurou. — Mantenha-os nervosos.

Brodgar sorriu de volta, sentindo seu coração bater. Embora o novo thane fosse seu pai, eles ainda estavam andando em uma história de conflito, e ele não tinha ideia de como seriam recebidos. Parecia quase provável que eles fugissem dessa terra com uma flecha nas costas como convidados.

— Bem-vindo, Senhor Brodgar, — disse o guarda instantaneamente. — E Alf. Entrem.

Brodgar e Alf se entreolharam, sentindo-se surpresos. Brodgar engoliu em seco.

— Obrigado, meu bom homem.

Ele passou pelas sentinelas, que o saudaram e tentou fingir que era seu pai. Manteve as costas retas, os olhos fixos na parede da fortaleza à frente. Eu sou o filho do thane. Eu sou aceito. Ninguém vai me machucar.

— Brodgar? — Uma voz ecoou na borda de seus pensamentos. Brodgar mal notou.

Eu sou o filho do thane. Eu sou...

— Brodgar! — Alf sibilou novamente, cortando seus pensamentos. Ele virou-se bruscamente.

— Sim?

— Lá em cima. Quem é aquele?

Brodgar ficou rígido. Nas altas muralhas da Bronley Fortress estava uma forma. Ele olhou para cima. Tinha cabelos compridos, brilhando suavemente à luz do fogo. O corpo era magro. A postura elegante.

— Eu não sei, — Brodgar sussurrou de volta. Quem quer que fosse, a figura parecia tê-los notado. Ela olhou para baixo, e depois inclinou-se por cima do muro, as mãos apoiadas ali. Brodgar reprimiu um arrepio. A forma era pequena e ele pensou ter visto a pele clara. Uma ideia formada. — Você acha que é...?

Suas palavras foram cortadas quando um homem chamou antes dele.

— Lorde Brodgar! Alf! Bem-vindos, senhores.

Brodgar se viu olhando para o rosto de um homem alto e magro, com uma leve inclinação em um dos ombros e as bochechas altas. Era um rosto bonito, bem formado, com lábios cheios e olhos arregalados. Quem quer que fosse o homem... Brodgar presumiu que fosse Lorde Edward, o pai de sua noiva. Ele escorregou do cavalo e se curvou.

— Meu lorde, — disse ele, sentindo-se nervoso. Ele olhou para Alf, que fizera o mesmo, que o olhava, encorajador.

— Bem-vindo, bem-vindo. — O thane se adiantou, apertando seu ombro. Ele fez o mesmo com Alf, que olhou para cima com um sorriso nervoso.

— Meu lorde, peço desculpas por não enviar a palavra, — Brodgar começou. — Estávamos na área e nos encontramos sem abrigo. Podemos receber uma refeição aqui?

O thane sorriu para ele.

— Meu lorde Brodgar, minha hospitalidade é sua. Entre, entre! Entregue suas rédeas aos meus homens, lá eles cuidarão de seus cavalos. Cavalos bons também. Homens? Vejam que aqueles cavalos sejam bem-cuidados. Agora, venha para dentro.

Brodgar e Alf trocaram olhares nervosos. O thane de Bronley deveria ser um homem temível, severo e cruel de coração. Este homem era como um tio. Alf encolheu os ombros, como se dissesse: Parece seguro. Brodgar assentiu.

— Elric? — O thane disse para um guarda, que era alto e claramente nórdico em descendência.

— Sim, meu lorde?

— Traga Lady Ambeal. Diga a ela que temos convidados. — Ele sorriu para os dois jovens. — Minha filha é a castelã aqui, depois da morte da minha abençoada Margaret, o Céu a descanse.

— De fato, — disse Brodgar, cruzando-se e soprando os dedos. Alf fez o mesmo.

— Agora, já houve miséria suficiente. Vamos festejar! Ambeal vai ter certeza do que queremos. É hora de um bom jantar. Subam as escadas.

Brodgar e Alf seguiram-no em escadas escuras para o solar, encontrando seu caminho em sua maioria pelo tato. Sua senhoria, claramente, conhecia o caminho cegamente. Ele os conduziu por um longo corredor, lembrando-o aquele que tinha em casa e depois virando à direita.

— Ah! — Ele disse. — Minha filha. Nós temos visitantes. Se você pudesse avisar o cozinheiro, pode? Nós estaremos alimentando quatro agora.

— Sim, senhor.

Brodgar e Alf olharam para a oradora. Ela os olhavam. Ruiva, alta e esguia, a locutora não era outra senão, como Brodgar suspeitava, a figura nas muralhas. Ela era de pele clara, com enormes olhos cinzentos e lábios escuros. Brodgar tinha certeza de que, ao lado de sua mãe e tias, e claro de Henriette, nunca vira um rosto tão bonito. Ele olhou para Alf.

— Alf? — Ele sussurrou com urgência. Sua Senhoria tinha ido embora. No entanto, Alf ficou surdo a tudo.

Brodgar o olhou, onde ele estava, enraizado no local. Ele estava olhando para ela como se tivesse visto um anjo celestial descer no corredor. Ele tinha uma expressão concentrada no seu rosto e Brodgar teria rido se a situação não fosse tão séria. Ali estavam eles, em uma fortaleza inimiga — pois Brodgar ainda não tinha certeza se ele confiava na morte do thane de Bronley — e a última coisa de que precisavam era ofender o homem observando sua claramente admirada e amada filha.

— Alf, — ele sussurrou. — Alf!

Seu amigo piscou. Virou-se sonhadoramente, como se tivesse acabado de acordar.

— Oh, — disse ele, vendo Brodgar como se fosse pela primeira vez. — Desculpe. Eu estava... hum, desculpe-me, minha lady. — Ele sorriu ingratamente.

Oh pelo amor de Deus...

Brodgar queria amaldiçoar sob sua respiração. Agora não era o lugar nem o tempo! Se ele pudesse, teria sacudido Alf como um terrier agitando um par de ratos. No entanto, ele não podia.

— Com licença, milady, — ele disse educadamente. Ele pegou a manga de Alf, puxou-o para longe.

— Alf, — ele sussurrou. — Controle-se...

Ele parou quando o thane apareceu ao lado dele.

— Ah, aí está você! — Ele disse. — Venha. O fogo na lareira está quente. — Ele gesticulou para a frente. — É uma noite fria. Vocês devem estar congelados. — Ele esfregou as mãos pelos braços em ênfase.

— Não, não excessivamente, — Brodgar observou suavemente. Estava quente neste corredor, com suas muitas lamparinas e tochas abrigadas ao longo das paredes. Além disso, sua preocupação com Alf e seu olhar descarado o deixava nervoso, e ele estava suando de acordo com a situação. — Mas obrigada, — acrescentou ele, sentando-se. — O calor é bem-vindo.

— Eu tenho certeza que é! — O thane retumbou. — Agora, uma vez que você se aqueceu, venha até a mesa. Eu mandei uma palavra para as cozinhas. O jantar estará pronto quando você estiver aquecido.

Brodgar assentiu. Ele e Alf estavam ao lado da lareira. Ele estendeu as mãos. E olhou para Alf.

Alf encolheu os ombros. Brodgar lutou contra o desejo de sacudi-lo.

Eu preciso da ajuda dele! A última coisa de que preciso é que ele esteja deprimido, esperando por uma palavra de Ambeal. Não é bonito.

Enquanto pensava, outro pensamento ocorreu. Se Ambeal e Alf... ele descartou. Não havia nenhum ponto real. Se ele pedisse a seu pai para transferir o noivado para Alf, ele certamente iria enfurecer a todos. Alf era um MacNeil, então o noivado dos dois acabaria, no final, sem resolver nada.

Chrissie é uma filha de Lochlann, entretanto. E não foi Lochlann que rivalizou com MacDonnell inicialmente?

Ele descartou o pensamento. Não. Eles fariam melhor em negociar com o McDonnell mais tarde. Uma sugestão de trocá-lo por um MacNeil não seria bem recebido.

— Meus senhores? — O thane disse, acenando com a mão. — O jantar chegou.

— Obrigado. — Brodgar inclinou a cabeça, notando um cheiro de dar água na boca saindo das salvas transportadas por dois homens. Ele foi até o outro lado da mesa. Ficando do lado direito. Alf sentou-se na frente dele. O jantar foi colocado sobre as tábuas de carvalho. O thane limpou a garganta.

— Ah. Agora tudo o que temos a fazer é... — ele parou quando passos, leves e quase não ouvidos, soaram atrás deles. — Aí está você, minha querida! Estava falando de você.

— Oh? — Uma voz doce perguntou. — Isso soa preocupante.

O thane gargalhou.

— Nada mal, filha. Venha — acrescentou ele, enquanto Alf permanecia respeitosamente, secundado por Brodgar. — Conheça nossos convidados. Este é o Lorde Brodgar, filho de Dunkeld. E seu companheiro, Lorde Alf.

Alf parecia como se quisesse protestar contra o título, mas Brodgar lançou-lhe um olhar severo e ele não falou. Ele estava olhando para as mãos, mas quando Lady Ambeal se aproximou, ele a olhou timidamente.

Ela estava de pé na cadeira ao lado da dele, em frente à do pai. Ela olhava nos olhos dele. Pareceu por um momento como se tudo tivesse parado. Os dois se entreolhavam. Brodgar a viu inclinar a cabeça ruiva. Ele sentia por Alf, que parecia estar sendo inflamado.

— Bem, — disse o thane, limpando a garganta. — Agora que conheceu Ambeal. Vamos comer.

Todos se sentaram e, enquanto Brodgar servia sua bebida, ele olhava para Alf.

Pobre rapaz, ele queria dizer. Alf estava olhando para Lady Ambeal como se ela fosse um vidro de valor inestimável. Ela era linda, ele tinha que admitir. Com a pele branca e cremosa e aqueles olhos grandes e finos, seu rosto era um longo e solene oval enfeitado com grandes lábios vermelhos, ela parecia algo saído de seus sonhos mais febris. Mesmo assim, ele tinha que admitir, ele preferia Ettie. Ela é mais suave que Ambeal. Mais gentil. Mais doce.

Apenas o pensamento dela fez seu virilha se contorcerem e seu coração bater.

Não, pensou ele, olhando Alf e Ambeal juntos e de lado oposto. Eu sei quem eu quero. Infelizmente, Alf também.

Ele lançou um olhar de soslaio para o anfitrião, que estava ocupado cortando o prato principal, que parecia ser salmão assado. Ele estava falando sobre alguma anedota em torno da caça, cujo começo Brodgar não ouvira.

— E a coisa é, — continuou o thane, cortando o peixe com cuidado, — você tem que considerar, quando a neve é espessa, que seu ritmo vai ser mais lento que o normal...

Brodgar tentou se concentrar, mas ele estava muito ciente de Alf e sua situação para prestar muita atenção à história. Ele fez sons adequados de encorajamento, observando os dois.

— Você pode me passar o jarro? — Ambeal perguntou em voz baixa, indicando o jarro pelo centro da mesa.

— Claro! — Alf estendeu a mão imediatamente, como se levar o jarro para Ambeal o mais rápido possível fosse uma missão altamente urgente. — Aqui, milady.

Brodgar sorriu quando ela agradeceu.

— Oh! Obrigada, senhor. — Ela corou, tirando o jarro dele. Seus dedos eram longos e cor de creme na luz do fogo e Brodgar quase sentiu Alf tenso quando, passando o jarro para frente, sua mão tocou a dele.

— Cof cof cof, — Alf tossiu. Brodgar sorriu para si mesmo, saboreando o desconforto do amigo.

— Você caça, Lorde Brodgar? — Perguntou o anfitrião deles.

— Às vezes, — concordou Brodgar. — Temos falcões em Dunkeld e confesso que prefiro falcoaria. Minha irmã também é uma vendedora ávida e temo que ela me supere.

O thane riu.

— Falcoaria, né? Você tentou, minha filha?

— Uma vez, — admitiu Ambeal. — Nossas cavalariças não são tão bem cuidadas quanto acredito que sejam as suas — disse ela, com voz baixa, para Alf, o que significava que as cavalariças abrigavam os falcões.

— Eu acredito que Dunkeld tem uma bons estábulos, — Alf gaguejou. — Embora eu goste de cavalgar.

— Oh, eu também, — Ambeal concordou. — Eu não tenho paciência para uma caçada.

— Eu também, principalmente caçar, — Alf assentiu. — Eu gosto de ir a lugares. Ver as coisas.

— Faço uma corrida, às vezes, — admitiu Ambeal.

Alf riu.

— Corrida! Eu também. Embora não gostaria de correr contra você, milady. Eu aposto que você é rápida. E meu cavalo precisa de treinamento.

— Oh?

— Ele entende principalmente francês, — disse Alf.

Os dois rugiram em risadas de alegria. O thane franziu a testa para Brodgar.

— Meu lorde?

— Sim? — perguntou Brodgar, fechando os olhos por um momento, certo de que ele estava prestes a repreender. Como ousa trazer seus amigos descarados aqui para cortejar minha filha? Ou algo assim.

— Você tem certeza de que quer ficar para a caçada? — Ele perguntou. Brodgar piscou.

Ele não tinha percebido, mas durante sua distração com o amigo conversando, ele deve ter concordado com alguma coisa.

— Uh... eu ficarei muito feliz, — disse ele. No instante em que ele aceitou o convite, fechou os olhos. Isso foi estúpido. Agora você pode ficar preso aqui por mais de uma semana! Quando será, afinal?

Ele olhou de lado para o thane, mas ele estava conversando com sua filha agora. Ele decidiu que não podia perguntar exatamente quando, já que ele acabara de concordar.

Ele olhou para Alf, esperando que ele pudesse ajudar. Pensando bem, não.

Alf estava sentado lá com um sorriso bobo no rosto, olhando para o vazio. Ele estava como se estivesse louco. Brodgar sacudiu a cabeça. Ele sentiu suas bochechas levantarem em um sorriso. Ele amava seu primo como se fosse sua própria carne. No entanto, às vezes ele podia bater com um machado no seu crânio duro. Como agora, por exemplo.

— E o que você me diz, Alf? — O thane perguntou. Brodgar tinha perdido o momento que ele fez sua pergunta e Alf também. Evidentemente. Ele piscou devagar.

— Desculpe, senhor? — Ele perguntou. — Estava a milhas de distância.

O thane riu alto.

— Não importa, — ele disse levemente. — Eu estava apenas perguntando se você preferiria pegar emprestado um garanhão ou égua. Temos bons estábulos.

— Eu entendo que você tem um dos estábulos mais finos do distrito, — Brodgar colocou em cortesia.

— Oh, muito bem, — o thane exclamou. — Tudo bem. Apenas o seu excede-os, Lorde Brodgar. Os estábulos em Dunkeld estão bem abastecidos e seus cavalos ainda mais bem treinados que os nossos, eu acho.

— Só quando eles ouvem francês, — disse Ambeal. Seu pai rugiu em risada.

— Sim! Só quando eles ouvem francês. Piada boa. Sim, de fato. — Ele bateu com a mão grande no carvalho da mesa em admiração.

Ambeal sorriu para Alf.

— Alf aqui estava me dizendo que eles tiveram sucesso com um cruzamento da raça destriers com cavalos locais.

— Oh? — O MacDonnell olhou para ela surpreso. — Você treinou eles também?

— Nós temos tentado, — Alf concordou. Ele se inclinou para frente, falando avidamente para o thane. Brodgar se viu momentaneamente sozinho. Ele observou os três à mesa e, bebendo cerveja, sorriu calorosamente.

Eu poderia muito bem não estar aqui, ele pensou com alguma satisfação. Os três poderiam viver assim por anos. Eu sou o estranho.

O pensamento foi agradável. Por si mesmo, ele não desejava se ligar ao MacDonnell. Seu coração estava de outra forma ocupado.

Quanto mais a noite avançava, mais Alf se acostumava com a conversa, e os três passavam mais tempo conversando juntos do que Brodgar conversando com algum deles.

Mais tarde, quando o jantar foi retirado e as bebidas acabaram, um pequeno prato de queijo circulou para terminar a refeição, o rapaz limpou a garganta.

— Vou me retirar, acho, — disse ele. — Se formos caçar no dia depois de amanhã, é melhor eu me encontrar com meus Verderers7 em breve para discutirmos isso. De manhã cedo fica melhor. Embora só o céu saiba por quê. Esses sujeitos insistem em se levantar em horas ímpias para cumprir suas obrigações, então... — ele deu de ombros e deu um lindo sorriso para sua filha. — Boa noite querida.

— Boa noite, pai, — disse Ambeal, em pé. — E acho que eu deveria me retirar também, — acrescentou. — Há muito a fazer amanhã. Saudações.

Ela estava se dirigindo a ambos, mas estudava Alf.

Alf engoliu em seco, olhando para as mãos. Ele e Brodgar se levantaram e gaguejaram o boa noite.

Quando estavam sozinhos no corredor, prontos para se retirar para a noite, Brodgar olhou para Alf.

— Amigo, — ele começou, preocupado.

— Não diga nada, — Alf descartou. — Só não o diga. Já é ruim estar nessa bagunça como está. Eu não preciso de seus comentários. Sim?

Brodgar suspirou.

— Alf, meu amigo. Eu simpatizo com você — ele disse suavemente. — Não estamos aqui porque eu estou apaixonado? Com alguém inadequada? Por que você e lady Ambeal não deveriam... — ele fez uma pausa enquanto Alf soltava um suspiro trêmulo.

— Brodgar, pare. Estou acabado. — Ele suspirou. — Eu nunca... nunca me senti assim. É estranho.

Brodgar sorriu.

— Agora você sabe como me sinto, — disse ele com uma risada. — Pelo menos eu sei que não sou o único que sofre. Isso torna tudo melhor.

— Não é? — perguntou Alf ceticamente. — Eu não tenho certeza. Eu só sei que... oh, colhões. Eu não sei mais o que sei. Estou tão confuso. — Ele suspirou.

Brodgar sorriu.

— É supostamente o que se sente, eu acho. — Ele assentiu. — Pelo menos, é assim que me sinto a semana toda. Desde que Henriette chegou. — Ele parou, sentindo a garganta apertar com a sensação de apenas pensar nela. — Vamos, — disse ele com voz rouca. — Vamos dormir um pouco. Parece que nos convencemos a ficar alguns dias, pelo menos.

— Não tenho certeza se é bom, — Alf murmurou enquanto o seguia para a grande câmara que havia sido reservada para seu uso. — Alguns dias disso, de vê-la e... — Ele suspirou. — Não tenho certeza de que serei a pessoa que fui quando cheguei ou se poderei sair sem deixar metade de mim para trás. De qualquer forma, — ele suspirou. — Eu estou ficando maluco.

Brodgar sorriu com carinho.

— Não, você não está, — ele disse gentilmente. — Ou de qualquer forma, somos ambos tolos.

— Você é sempre tonto, — disse Alf, sorrindo quando ele se sentou na cama e tirou as botas. — Mas eu o amo como a meu próprio irmão.

Brodgar sorriu, sentindo seu coração aquecer com o comentário.

— E também te amo como um irmão, Alf. Agora é melhor dormirmos um pouco. Parece que estaremos de pé manhã cedo.

Enquanto estava deitado na escuridão, o brilho vermelho do fogo era a única luz no quarto, Brodgar se viu perdido em pensamentos. Ele e Alf estavam ambos apaixonados pelas pessoas erradas: ele deveria se casar com Ambeal, e, se Alf colocasse em seus pensamentos que deveria tentar cortejar Henriette, todos se alegrariam. No entanto, como acontecia agora, era o contrário.

Eu me pergunto, Brodgar pensou, desacostumadamente inquieto, se pudéssemos trocar de lugar. Ele estava quase completamente certo de que seu pai discordaria, mas quando ele fechou os olhos, ele ouviu uma frase. Confie, a voz de Alina disse, em um sussurro no limite de sua mente. É o que você precisa fazer.

Ele suspirou. Ela estava certa. Ele deveria saber. Deveria ter adivinhado que ela estaria certa. Ela sempre estava, afinal. Confiança não era uma coisa tão fácil de ter depois de tudo.


CAPÍTULO DEZ

UM PROBLEMA INESPERADO


Ettie entrou na ponta dos pés na manhã seguinte, atraída pelo cheiro de mingau de aveia e bolinhos recém-assados que flutuavam, atraentes, pela porta aberta do solar. Ela achara difícil dormir naquela noite, se virando e revirando na cama. Apesar da amizade súbita de Alina e da proximidade que sentia com Chrissie e Amice, ela ainda estava pouco à vontade ali. Além disso, com Brodgar desaparecido, ela descobriu que não podia descansar.

Acordando cedo, ela convocou Brenna, a serva, e vestiu um vestido suave de cor azul e creme, um feito da última moda. Ela desceu as escadas, tremendo na brisa fria e alcançou o solar, entrando rapidamente. Ela caminhou até o fogo na lareira e parou quando ouviu algo na mesa.

Ela pensara que era a única tão cedo, mas Lady Amabel estava lá, sentada do outro lado da mesa. Ela estava sozinha, o que significava que ela e Ettie estariam sentadas juntas no desjejum, se ela ficasse.

— Oh... — Ettie se virou, prestes a sair. Amabel gritou.

— Não. Venha, Henriette.

Ela sentiu o coração bater dolorosamente no peito. A última coisa que ela esperava — a última coisa que queria — era um confronto com Lady Amabel. No entanto, teria sido chocante e rude sair, tendo sido notada. Ela suspirou e se aproximou mais.

— Minha lady, eu...eu não quis incomodar. Sinto muito, — ela disse suavemente. Com a desculpa veio uma série de outras, não faladas. Desculpe por invadir sua casa. Desculpe por perturbar sua paz. Pois seja o que for que faça você desaprova.

— De jeito nenhum, — Amabel disse levemente.

Ettie engoliu em seco. Puxou um assento, aquele em que Amice geralmente se sentava. Tomou um fôlego. Confiança.

— Minha lady, — ela falou, sentindo um nó na garganta e forçando as palavras.

— Sim, — disse Amabel, pegando o jarro de leite que estava ao lado dela.

— Minha lady, o que eu fiz que te ofende? Por favor, diga? Odeio pensar que não sou bem-vinda aqui, ou que minha presença na casa a incomoda tanto.

Os olhos verdes de Amabel se arregalaram.

— Não, querida! — Ela disse. Ela estendeu a mão e acariciou a sua. Seus dedos eram longos, as articulações proeminentes, anéis em três de seus dedos, grandes e dourados. — Você não me ofendeu! Que o Céu me livre.

Ettie sentiu-se relaxar.

— Mas minha lady. Se eu estiver ofendendo, por favor diga.

— Não, criança, — Amabel sorriu. Ela tinha um sorriso bonito, pensou Ettie. Quente e descontraído. — Você não fez nada de errado. Me desculpe se... — ela fechou os olhos, pensando. — Suponho que fui negligente. Não é você. São meus planos.

— Oh? — Ettie pegou a manteiga, adicionando-a a sua tigela de mingau quente, em seguida, pegou sal e uma colher para mexer.

— Eu deveria explicar, — disse Amabel. — Este é o momento certo para fazer isso também. Podemos ser francas quanto precisamos, você e eu. Ela sorriu.

Ettie engoliu em seco.

— Por favor, seja.

— Bem, — os olhos verdes brilharam. — Minha família lhe diria para não me pedir para ser muito franca. Tenho certeza de que a minha franqueza ofende todos eles pela maneira sincera às vezes — respondeu Amabel. — Mas aqui está. Brodgar está prometido.

Ettie sentiu seu coração cair em seus sapatos. Era disso que Alina estava falando? Em suas palavras? Confiar.

— Ele está?

Amabel assentiu.

— Desde que ele era um bebê, — explicou ela. — Ou por aí. Você entende? — ela fez uma pausa. — Nossa família tem um inimigo. O MacDonnell. Seu tio pode ter mencionado isso? Os feudos estavam passando por uma guerra durante a sua estadia.

— Ele mencionou algo semelhante.

— Oh, bom. Então você sabe, pelo menos um pouco, do que aconteceu e por que o ódio cresceu. Que devastação o passado nos causou.

— Um pouco, — concordou Ettie. Seu coração ainda estava no lugar dele, mas afundando progressivamente. O que Amabel lhe disse a fez perder a esperança. Esperança. Todas as possibilidades.

Ela engoliu em seco e escutou enquanto Amabel continuava.

— Bem, prometemos Brodgar para se casar com a filha do atual thane. Ele é um tipo progressivo. Acredito que sim. Temos grandes esperanças para ele e para o fim dos nossos problemas. Brodgar e este casamento nos trará paz. Ou assim esperamos. — Ela sorriu com carinho. — Oh, não fique tão triste. Veja, quando você chegou — ela fez uma pausa. — Eu vi o Brodgar mudar. Ele não quer esse casamento. Você tem o interesse dele. — Ela riu.

— Minha dama...

— Não, não discorde, — Amabel disse, provocando. — Eu conheço meu filho e reconheço isso muito bem. Ele está de olho em você. Eu não posso deixar isso acontecer. Você entende por quê? Agora você sabe porque sou tão desajeitada. — Ela suspirou. — Eu sinto Muito.

Ettie olhou para ela. Mesmo que suas palavras a cortassem, ela podia em seu coração sentir simpatia pela orgulhosa senhora que estava sentada diante dela.

— Eu estou... sinto muito, — disse ela em um sussurro abafado. — Eu não sabia nada sobre isso. Eu pensei...

— Claro que você não pensou, — disse Amabel, acariciando sua mão novamente. — Eu sei que não é intencional. Você não disse exatamente aos jovens obstinados para se apaixonarem por você. — Ela sorriu, mostrando dentes pontiagudos.

Ettie riu, embora tristemente.

— Suponho que não.

— Você supõe corretamente — disse Amabel com firmeza. — Agora, a melhor coisa a fazer é ter uma boa refeição. Então você e eu podemos sentar juntas e pensar em algo sobre este problema. Agora você sabe o que é, talvez possamos chegar a uma solução juntas. Parece bom para você?

— Sim...

Ettie mexeu seu desjejum, sentindo-se completamente infeliz. Ela havia acordado apreensiva, mas esperançosa. Agora ela sentia como se essa esperança tivesse sido destruída por um tiro de pedra de uma funda. Ela estava sem esperança.

Todas as possibilidades e esperanças. Bem, este parece não ser mais possível. Eu também posso desistir.

Ela suspirou.

— Henriette?

— Sim? — Ela olhou para cima, sem graça, quando Amice apareceu. Sua amiga estava vestida de linho, os cabelos ruivos soltos nas costas. Ela estava sorrindo.

— Decidimos dançar hoje — disse ela, inclinando a cabeça para tia Chrissie e Blaine, que acabara de chegar à porta. — Com a reunião chegando, a tia Chrissie disse que precisamos de prática. E eu, por exemplo, concordo. Isso não vai ser tão divertido? Vamos pegar o violinista da aldeia, ou talvez o gaiteiro, e passar a tarde no grande salão juntas.

— Uma ótima ideia, — Amabel disse com aprovação. — Embora se for o velho Norries, eu juro que ficarei surda.

Todos riram, Ettie franziu a testa.

— O violinista da aldeia — explicou tia Alina, deslizando silenciosamente para o assento ao lado dela. — Todos nós temos uma vendeta interminável contra ele e as três músicas que ele toca habilmente e incessantemente.

— Sim! Se eu ouvir a serenata, “Lady Wilt Thou Be Mine” novamente, vou enlouquecer! — Declarou Amice. Todos eles riram.

— Talvez possamos persuadi-lo a diversificar, — disse Alina, pegando um bannock, que passou manteiga levemente, cortando pedaços para comer.

— Se fosse possível, teríamos feito isso há muito tempo. — Amabel assentiu.

— Sempre há uma primeira vez, — Chrissie disse.

— Com Norries, nunca há uma primeira vez.

Todos rugiram de alegria com o comentário de Blaine. Ettie sorriu. Ela queria se juntar às brincadeiras espirituosas, mas não conseguia encontrá-las em seu coração para tentar. Ela estava infeliz. Parecia que o lindo futuro que ela se permitira imaginar havia sido lançado da muralha. Ela ficou com os cacos quebrados e não havia como consertar.

— Confie.

Ettie se virou para Alina, com uma expressão de espanto total.

— Desculpe, tia?

— Brinde, eu disse, — disse Alina sucintamente. — Estes bannocks são gostosos, — acrescentou, indicando o que ela segurava, que fora um pouco carbonizado.

— Oh. — Ettie piscou. Tinha certeza de que ela havia dito outra coisa. — Desculpa. Eles são. — Ela encolheu os ombros. Enquanto ficava sentada, ouvindo sem entusiasmo a conversa sobre a reunião e os preparativos ainda a ser feitos, ela considerou. Confiança. Se o futuro fosse uma escada para algum lugar incerto, a única maneira de escalá-lo era ter fé que isso levava a algum lugar que a faria feliz.

Talvez Brodgar seja o que me faça feliz. Talvez não. Ela suspirou. Ela faria tudo o que pudesse e confiaria que, onde quer que a escada levasse, estivesse em algum lugar bom. Afinal, por que não deveria ser?

Todas as possibilidades são possíveis.

Ela ouviu as palavras como se Chrissie as tivesse dito em seu ouvido. Do jeito que estava, ela estava no meio da mesa, fazendo uma boa demonstração às últimas danças da corte, ainda em seu assento. Amice, sentada em frente, ria de prazer. Blaine assistia feliz.

Todos pareciam tão alegres com a reunião, pensou Ettie com entusiasmo. Mas não tenho razão para estar feliz, agora?

Ela olhou para Amabel, que estava cortando um bolo de aveia, e parecendo satisfeita. Ela estava rindo com Broderick e Duncan, que acabara de chegar de alguma expedição à floresta, e parecia mais feliz desde que relatou sua preocupação.

Eu gostaria de me sentir aliviada também, mas não. Ela quase desejou não ter decidido perguntar a Lady Amabel o que a preocupava. Sabendo que a fazia tão infeliz, desejou poder ir embora.

Se eu partisse, para onde poderia ir?

Tio Heath era sua única outra casa. Ele não estava em casa, mas no Norte, treinando os cavaleiros. Ela tinha que ficar aqui. A outra possibilidade, claro, era procurar refúgio em Lochlann, a casa de Joanna, a irmã mais velha de Amice.

Ela olhou para Amice, que sorriu.

— Você vai me ajudar a aprender a quadrilha? Oh, por favor diga sim, Ettie! Não será tão divertido sem você...

Ettie sorriu, fazendo o melhor que pôde para parecer que não estava triste.

— Eu vou.

— Oh! Bravo! — Amice disse, olhando de volta para ela e então se virando para Chrissie. — Explique de novo, por favor, tia?

— Bem, — começou Chrissie, suspirando. — Primeiro você precisa começar com as mãos para cima, assim. Recoste-se no seu pé de trás e dê um passo à frente...

Enquanto Chrissie explicava os movimentos da dança novamente, Ettie encontrou sua atenção vagando. Ela sentiu o olhar de alguém sobre ela e se virou para ver Alina olhando para ela. Havia compaixão ali se ela escolhesse aceitá-la. Ela assentiu.

Alina acenou de volta. Ettie quase podia jurar que ouviu a voz da mulher falar em sua mente. Confie. Eu não disse que era fácil. Você consegue. Eu acredito em você.

Ettie sorriu para ela. Ela inclinou a cabeça novamente, e depois desviou o olhar quando Duncan pigarreou.

— Minha dama? Você me acompanharia até a floresta mais tarde?

— Claro, Duncan, — ela concordou. — Eu tinha em mente sair hoje. Também não me importo de juntar mais algumas mãos para buscar verbenas... — Ela olhou significativamente para Ettie, que corou. Ser convidada por Alina para ajudar com o trabalho dela, por mais leve que fosse, era uma honra. Ela estava prestes a concordar quando Amice protestou veementemente.

— Oh, tia! Não agora... por favor? Eu preciso que Ettie me ajude com as danças! Você pode tê-la amanhã.

Amabel sorriu para Ettie com verdadeiro calor. Ettie olhou para cima e depois para as mãos dela novamente.

— Bem querida. Você não pode se sentir indesejada. Nós a queremos muito.

Ettie sorriu.

— Obrigada. — Ela olhou para o prato, sentindo um nó na garganta que dificultou a ingestão.

Eu gostaria que isso fosse verdade. Eu queria que todos me quisessem. Todos e Brodgar também.

Ela suspirou. Se ela e Brodgar queriam um ao outro era provavelmente irrelevante neste momento. Nem sequer lhe era permitido pensar em se casar com ele, e nem parecia que ele era para ela.

Ela terminou seu desjejum em silêncio e, ao sair do salão, sentiu o braço agarrado por Amice.

— Vamos, irmã! — Amice disse alegremente. — Eu espero que você não se importa se eu te chamar assim. Importa? — Ela perguntou, o rosto bonito elevado fervorosamente. — Eu quero dançar!

— Eu estou indo, — Ettie assentiu placidamente.

— Bem, eu também, — Chrissie declarou ruidosamente atrás delas. — Preciso de prática. Além disso, eu estive em Edimburgo mais recentemente. Eu devo repassar o que vi lá. Embora só o Céu saiba que memória terrível tenho para tais coisas...

— Bobagem, querida, — Blaine se colocou atrás dela, inclinando para dar-lhe um beijo na bochecha antes de seguir em frente. — Eu sei que você fala francês e Deus sabe o que mais. Se você tem uma memória ruim, devo ser um idiota.

— Meu idiota, — disse Chrissie, apertando sua bochecha. Ela estava corada e feliz, o elogio trazendo cor para suas feições.

Ettie olhou de um para o outro, sentindo dor no coração. Tantas pessoas aqui encontraram alguém que amavam. Ela tinha a sensação de que amava Brodgar — ela sabia que não o conhecia há muito tempo, mas a conexão era forte e esmagadora — e ainda assim eles seriam negados.

— Vamos lá, — Chrissie disse, acariciando a mão dela enquanto, juntas, as três desceram para o piso do salão. — Vamos ser ousadas e decididas... precisamos ser se Norries estiver tocando violino.

Todos riram e Ettie se permitiu entrar no clima, tentando esquecer.

No salão, os bancos onde os homens de armas se sentavam para jantar tinham sido puxados para trás, dando-lhes um espaço de talvez dez metros por quinze para dançar. Ettie recostou-se, olhando para o teto abobadado. O grande salão era realmente grande, um vasto fogo rugindo na grade da lareira oposta, enchendo o espaço de calor vermelho. O alto estrado estava à sua esquerda, a entrada do castelo à sua direita. Chrissie ficou ao lado dela enquanto Amice girava no espaço aberto, cantarolando melodiosamente.

— Ah. Lá está o nosso homem, — Chrissie sorriu, vendo um idoso grisalho em uma túnica de linho e calças aparecer na porta. Ele tinha um gorro de tartan na cabeça e uma vasta barba grisalha, superada em magnitude apenas pelo sorriso.

— Ah! Milady! — curvou-se para Chrissie, que sorriu.

— Norries. O homem de que precisamos. Agora, se vamos praticar a quadrilha, precisamos de algo com uma medida constante. Que tal “Lady Wilt, Thou Be Mine?” Isso funcionaria?

Ela olhou para Amice com um sorriso tão perverso que até mesmo Ettie se sentiu sorrir. Amice soprou as bochechas com um suspiro.

— Bem, então, — disse Chrissie, assumindo o ar de uma tutora. — Venham. Vocês meninas venham e fiquem comigo, e eu vou falar através dos passos. Agora. Um, dois, três, quatro e um, dois...

Ela demonstrou, e Ettie, franzindo a testa, fez o possível para copiá-la, viu-se sonhando em dançar com Brodgar. Como seria ter a palma da sua mão sobre a dele, como agora; como seria olhar em seus olhos enquanto a música flutuava e fluía em volta deles.

Eu também poderia sonhar, ela pensou um pouco desafiadora. Ninguém pode dizer que não posso sonhar.


CAPÍTULO ONZE

PASSEIO NA FLORESTA


Brodgar respirou o ar fresco da montanha e tentou manter os dois cavalgando à frente dele e sob sua visão. O caminho subia e descia e, enquanto ele estava na crista de uma colina, podia vê-los, mas às vezes, quando mergulhavam sob arvoredos, não conseguia.

Melhor ficar de olho em Alf.

Ele suspirou. Alf estava apaixonado. Era completamente óbvio. Ele conhecia Alf como um irmão — os dois tinham sido criados juntos a vida toda — e conhecia sua natureza amorosa.

Ele é tão imprevisível quanto um par de esquilos em um pomar de nozes.

Desde o momento em que Alf decidira espontaneamente cavalgar até Whitley para nadar no lago e apostara com a filha de MacDonnel que não poderia ser superado na floresta, Brodgar sabia que os riscos espontâneos faziam parte dele. A certeza de que Alf iria empurrar os limites cavalgando com Ambeal na medida em que poderia ir sem se matar o estava incomodando. Tudo o que precisavam era que ele reiniciasse a luta.

Isso é tudo de que preciso.

Suspirando para si mesmo, Brodgar seguiu para avistá-los. Ele não queria atormentar seu quase irmão. Era injusto negar-lhe tempo com a garota também. Ainda assim, ele não podia se arriscar que os dois fugissem agora — e ele tinha a sensação de que Ambeal era uma alma tão selvagem quanto Alf, se não mais.

— Alf! — Ele chamou, subindo enquanto os dois desapareciam rapidamente na linha das árvores.

— O que, primo? — Alf respondeu sonhadoramente. Ele se virou na sela e em seus olhos castanhos, Brodgar notou enquanto cavalgava, estavam lívidos de desejo. Ambeal, ao lado dele, estava corada, um olhar em seus olhos que sugeria que ela era, de fato, tão impetuosa quanto Alf.

Vá com calma, Brodgar disse a si mesmo. Ele não precisava que Alf ficasse ofendido. Ou Ambeal. Conversar com os dois era como ficar de pé com uma foice de feno nas duas mãos. Apenas a desatenção de um momento e todo o lote se perderia.

— Eu queria ir ao rio, — Alf disse sonhadoramente. — Ambeal estava me dizendo que é um ótimo lugar. Há um prado nas proximidades... ela disse que poderíamos cavalgar com falcões aqui no verão, se quisermos.

— Oh. — Brodgar sorriu para a moça, que sorriu de volta.

— Aposto que meu falcão pode vencer o seu, Lorde Brodgar.

Brodgar suspirou.

— Você é tão ruim quanto Alf.

Alf e Ambeal rugiram de alegria.

— Eu te disse, — Alf disse a ela, rindo. — Você é pior do que eu.

— Ele disse ruim, — disse Ambeal, mostrando a língua para ele. — Então eu ganho de novo.

Brodgar riu quando eles riram. Eles estavam tão felizes que ele foi apanhado no humor jovial. Ele sabia que eles tinham que ser cautelosos, no entanto. Um grande incidente entre os clãs era absolutamente a última coisa que eles precisavam nesse momento.

E se isso acontecesse, seria minha culpa.

Ele os apresentou. Foi ele quem disse a Alf que queria terminar o acordo. Ele era responsável se Alf colocasse em sua cabeça que tinha que ser impetuoso.

— Alf?

— Mm? — Alf perguntou, fixando-o com um olhar de falcão.

— Não deveríamos voltar agora? — perguntou Brodgar com cuidado. — Quero dizer, estamos longe de Bronley e vai ser noite em breve, você sabe o quão rápido a noite cai aqui nesses meses. — Brodgar estremeceu, sua preocupação aumentando à medida que ele notava o frio.

— Brodgar, — Alf disse cansado, — pare de ficar tão preocupado.

Ambeal olhou para ele com um sorriso, como se perguntasse se ele era sempre tão cansativo. Brodgar suspirou. Ele sentiu como se estivesse infinitamente velho com esses dois jovens.

— Sinto muito, — ele disse novamente. — Eu estava apenas pensando no thane de Bronley... — Ele parou quando o rosto de Ambeal mudou.

— Eu não me importo com o que o Thane de Bronley faz hoje, — disse ela, jogando o cabelo para trás. — Vamos cavalgar.

A sobrancelha de Brodgar se ergueu, mas Alf estava girando também. Enquanto ela se afastava, ele deu a Brodgar um olhar nivelado, como se dissesse: Como você pôde? Brodgar engoliu em seco.

Agora o que eu fiz?

Ele seguiu atrás deles o mais rápido que pôde, tentando não intrometer-se em sua privacidade, mas manter-se à vista. Ele realmente tinha feito isso. Lady Ambeal parecia prestes a ferver e Alf ficou irritado. Ele poderia muito bem ter dito a eles para se rebelarem.

Os dois foram mais rápidos quando as árvores se abriram em clareira. Brodgar estremeceu, vendo como casualmente Alf empurrava seu cavalo para um galope, ignorando o fato de que ele não conhecia o território e poderia atravessar uma vala ou um buraco facilmente.

Alf. Por favor, não corra riscos.

Brodgar sabia que poderia pedir tempo para pararem um momento. Ele suspirou e cavalgou.

— Oh! — Ambeal estava dizendo. — O nível da água é mais alto do que eu me lembro. Eu não acho que seria sensato atravessar.

— Eu vou levar você, — disse Alf galantemente. Brodgar ouviu Ambeal rir. Ele viu Alf montar em seu cavalo mais perto dela. Os viu se beijarem de um jeito que disparou seu sangue só de vê-los.

Alf e Ambeal são perfeitos juntos. Brodgar sacudiu a cabeça. Qualquer um teria que ser cego se perdesse o quão perfeitamente adequados eles são.

Mesmo assim, ele sabia que estar perfeitamente adequado um ao outro não iria influenciar a política do clã. Ele precisava fazer a aliança. Não Alf. Ou seria infrutífero.

— Alf? — Ele gritou enquanto os dois cavalgavam em direção à costa. Ele sabia que era inútil chamá-los de volta e balançou a cabeça enquanto os observava cavalgando ao longo da margem, desafiando um ao outro a saltar com os cavalos.

— Por favor, Alf, — ele murmurou em voz baixa. — Não. Apenas volte vivo para casa.

Ele fechou os olhos quando seu quase-irmão cavalgou de volta, divisando o salto. Ele podia imaginar o pior: Ambeal sendo jogada em sua tentativa de salto, quase se afogando, pegando um frio mortal. Ele enfrentando o pior inimigo de seu pai com a notícia de que, por negligência, ela estava doente ou morrendo, ou pior.

Ele viu Alf franzir a testa e depois pareceu pensar melhor.

— É muito largo, Ambeal, — ele chamou.

Brodgar soltou um suspiro enorme. Boa. Alf mostrando algum sentido.

— Eu suponho que sim, — ela falou de volta. Ela olhou por cima do ombro para ele, os olhos brilhando com malícia. — Eu te desafio a fazer isso no verão, então.

— No verão, — Alf concordou.

Brodgar os ouviu virar os cavalos e cavalgar, rápido demais, de volta.

— Ali está você! — Alf gritou, vendo Brodgar como se fosse pela primeira vez. — Já estamos aqui há algum tempo.

— Eu tomei um caminho mais longo, — disse Brodgar, não querendo dizer-lhes que ele esteve aqui no topo o tempo todo. Sentiu-se subitamente envergonhado por ter testemunhado seu terno beijo. Ele não queria envergonhá-los. Seu irmão merecia encontrar a felicidade, assim como essa adorável jovem. Ele não estava aqui para impedi-los.

— Devemos ir, — Alf disse com pesar. — Você está certo sobre o anoitecer.

— Eu quero ficar, — Ambeal protestou, e então suspirou. — Mas devemos ir. É perigoso a noite. Não é apenas pelos ursos — acrescentou com um sorriso malicioso. — Mas é difícil ver na floresta densa, e o caminho não é fácil de seguir sem se perder.

— Sensata, minha lady, — Brodgar assentiu. Ela olhou para ele.

— Eu acho que você aprova a sabedoria, — disse ela em uma voz que fez soar como uma coisa ruim. — Embora eu deva elogiá-lo por isso, — acrescentou ela como uma reflexão tardia.

Brodgar riu.

— Eu não sei se é louvável, minha lady, — ele admitiu, movendo o cavalo de volta para que ela pudesse ir em frente. — Mas é mais seguro.

— Mais seguro, — ela disse, mais uma vez com um tom de desgosto.

Alf sorriu para ela.

— Dama imprudente.

Ela riu dele.

— Eu não quero saber o que isso faz de você, Lorde Impudente.

Ele rugiu de tanto rir e os dois saíram em disparada. Brodgar, suspirando, foi para trás.

Eles chegaram ao castelo exatamente quando o crepúsculo estava caindo. Brodgar elogiou Alf pelo bom senso. Alf sorriu para ele.

— Você sabe que eu não teria tido bom senso sozinho. Obrigado meu primo.

Brodgar deu-lhe um sorriso caloroso.

— Eu sou muito cauteloso, — ele disse honestamente. — Mas neste caso, fico feliz que você tenha escutado. Estar na floresta sem a ideia de qual caminho deve tomar não é divertido.

— Eu tampouco, — Alf assentiu. Ambos cavalgaram atrás de Lady Ambeal, que atravessou o pátio rapidamente e depois alcançou os estábulos, se deslizando violentamente da sela e jogando as rédeas na mão do cavalariço. Ela parou no pátio, olhou para Alf e depois se afastou.

— Quente e temperada, não acha? — Brodgar disse para Alf, que soprou.

— Como um forno, — ele concordou. Ele sorriu. — Mas muito, muito bonita.

— Sim, bem bonita. — Brodgar sorriu para ele. Alf riu.

— Eu sei, amigo, — ele disse com tristeza. — O que devo fazer?

— Nada, — disse Brodgar tristemente. — O que não é o que você quer fazer, eu sei. Eu sinto muito.

— Desculpas? — Alf perguntou. Ambos deixaram seus cavalos nos estábulos, caminhando lentamente para o pátio. — Por que, primo?

— Se eu nunca tivesse nascido — disse Brodgar com tristeza — você poderia se casar com ela.

Alf olhou para ele.

— Brodgar?

— Sim.

— Não se atreva a pensar nisso, não importa dizê-lo! — Alf interrompeu. — Eu te amo como um irmão e se você não existisse, eu estaria sem um melhor amigo. Agora vamos para dentro. Nós precisamos de um pouco de calor. E eu quero falar com você. Eu preciso da sua opinião.

— Muito bem — disse Brodgar, duvidoso. — No que?

— Eu vou te dizer mais tarde.

****

Lá em cima, em sua câmara, Alf jogou a capa na cadeira e se virou para Brodgar. A rapidez natural de seus movimentos foi aumentada pela agitação. Brodgar encostou-se na parede, sentindo-se apreensivo.

— Eu preciso do seu conselho, — disse Alf.

— Sobre o que, primo? — disse Brodgar com cautela.

— Ela tem medo dele.

— De quem? — Brodgar franziu a testa. — Do thane? MacDonnell?

— Esse homem mesmo.

— Ele parece um pai amoroso, — Brodgar franziu a testa. — Eu estou surpreso. Não que eu duvide da palavra dela, primo — acrescentou ele, vendo seu amigo franzir o cenho. — Eu confio em sua palavra.

— Você também deveria, — Alf disse calorosamente. — Que causa a dama teria para mentir? Ela o teme.

Brodgar suspirou.

— Você quer dizer... ela estaria com medo de ir contra a vontade dele?

— Esse é o meu ponto exato, — Alf assentiu.

Brodgar soltou um longo suspiro. Se Ambeal estava com medo de como seu pai levaria a ideia de trocar de parceiros, ele também deveria ter medo.

— Alf, — disse Brodgar com cautela, — acho que talvez...

— Ah, pendure o cuidado! — Alf estalou. — Você sempre espera o pior, Brodgar, esse é o seu problema. Às vezes, só precisa pular e saber que será pego.

— Eu sei, — disse Brodgar apressadamente.

— Não, você não, primo. — Alf sacudiu a cabeça. — Você sempre pensa tanto a ponto de parecer sem graça fazer qualquer coisa. Você poderia convencer um homem a não colocar as botas, — ele acrescentou com uma risada enquanto tirava suas próprias botas. — Quero dizer, olhe para todos os problemas! O alarido, as correias e se elas não se encaixam! Que tal se deslizar sobre uma calça corretamente? Quero dizer, se você tem as botas erradas, então... — ele parou, enquanto, rindo, Brodgar jogou um travesseiro na direção dele. Ele passou muito longe da cabeça e os dois riram, impotente.

— Eu não sou tão ruim, — Brodgar questionou. As palavras de seu amigo tinham chegado em sua mente, no entanto, se viu pensando nelas. Eu sou realmente tão cauteloso? Ao ponto de não falar sobre certas coisas?

— Não, — admitiu Alf. — Eu exagero.

Brodgar levantou uma sobrancelha.

— Talvez não totalmente, — disse Alf, os ombros tremendo de alegria. — Mas muito frequentemente. Eu admito, — ele gemeu, enquanto seu amigo jogava o outro travesseiro. Também passou por uns bons cinco centímetros. — Você sabe o porquê? — ele disse.

— Eu admito que você não é muito cauteloso. E que eu posso ir longe demais, rápido demais. Se...

— Se o que?

— Se você desistir de jogar todos os nossos travesseiros na poeira. Eu tenho que dormir nessas coisas, sabe.

Brodgar rugiu de alegria e, ao se abaixar para pegá-los da poeira, ergueu um punho brincalhão ao ombro do amigo.

Alf rugiu de surpresa e lhe lançou as botas novas. Os dois jovens acabaram rolando no chão, ficando empoeirados e jogando travesseiros um no outro.

Uma batida soou na porta e ambos se levantaram. Corando, Brodgar se viu olhando para o rosto de uma criada. Ela olhou para eles.

— Hum, meus senhores? Lady Ambeal mandou dizer que o jantar será servido no solar. Se alguém quiser um pouco? — ela parou, cautelosa, como se não tivesse certeza de que esses dois bárbaros realmente comeriam o jantar, ou se até falavam uma língua humana.

— Obrigado, — disse Brodgar, recuperando-se primeiro. — Nós vamos subir agora.

— Muito bem, meu lorde.

A serva desapareceu e os dois jovens se entreolharam. Os olhos de falcão de Alf brilharam e Brodgar riu alto.

Os dois desabaram a correr, agarrados um ao outro com alegria, lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto riam e gargalhavam.

— Oh! — Alf suspirou, apertando sua barriga, lágrimas em suas bochechas. — Se ela disser a Ambeal o que viu...

— Nós teremos sorte se estivermos por perto para fazer perguntas, — disse Brodgar, pressionando a mão para o lado que doía de tanto rir. — Eu acho que o thane vai nos expulsar. Perigosos lunáticos: somos nós.

Alf sorriu para ele, a boca peculiar com diversão. Cada um deles respirou fundo e saiu apressado. Antes que o riso começasse novamente.


CAPÍTULO DOZE

ESPERANÇAS E PREOCUPAÇÕES


— Ettie! — A voz de Amice ecoou da porta de pedra quando ela colocou a cabeça para fora, dando um aviso. — Tenha cuidado lá fora!

Ettie virou-se sonhadoramente. Ela afastou o cabelo solto e olhou para a amiga.

— Estou segura o suficiente, — ela disse suavemente.

Amice correu para as muralhas para se juntar a ela.

— Ettie! Eu estava preocupada. Está ventando aqui fora. Vamos. Você pode cair.

— Há uma amurada, — disse Ettie, ainda sonhadoramente. Ela se sentia cansada, embora não pudesse dizer exatamente por quê. Os últimos dois dias no castelo tinham passado com uma espécie de qualidade sobrenatural, sua mente em outro lugar.

Minha mente é onde quer que Brodgar esteja agora.

Hoje, no entanto, era diferente. O vento crescente e a promessa de derreter a neve não era o único motivo. Hoje, ela tinha ouvido a palavra, de que Brodgar voltaria. Um mensageiro viera de Bronley, dando a notícias e explicando que os dois jovens haviam sido pegos de surpresa na floresta e voltariam em dois dias.

O que significava, pensou Ettie com uma estranha vibração no peito, chegariam hoje. Ela esteve inquieta a manhã toda.

Depois, até mesmo Chrissie comentou que ela estava se remexendo muito, ela decidiu ir ao ar livre. Caminhando ao longo das muralhas o ar limparia a cabeça dela. Além disso, daqui ela os veria.

— Ettie, — disse Amice, saindo para se juntar a ela, envolvendo-se em seu manto contra o frio do vento. — Realmente não é seguro. Se o vento te pegar distraida, você pode passar pela brecha nas ameias e pelo muro antes que alguém possa te agarrar.

— Eu sei, — disse Ettie suavemente. — Eu vou voltar. — Ela deu um passo para trás e encostou-se na parede da paisagem cinzenta. Era tudo floresta deste lado do castelo, com penhascos cobertos com pedra escuras por cima. Um céu agitado completava a imagem.

A temporada certamente estava mudando, observou Ettie. Seu próprio coração parecia se derreter com isso.

— É um dia frio, — disse Amice. — Se Alf ficar doente, a tia vai à loucura.

Ettie riu.

— Tenho certeza que ele não ousaria. A ira de sua tia seria bastante impressionante, eu acho.

Amice revirou os olhos.

— Conte com isso.

As duas riram e se apoiaram na parede juntas, o sol aquecendo-as enquanto quebrava as nuvens e brilhava calorosamente.

— A reunião será em breve, — comentou Amice.

— Eu sei.

— Meu vestido está pronto, — disse ela. — Estou tão animada. — A menina mais nova estava praticamente pulando para cima e para baixo e Ettie teve que sorrir.

— É um vestido bonito, — disse Ettie em voz baixa. Amice havia escolhido um tecido azul-celeste que fazia seu cabelo vermelho parecer fogo vivo. Ettie olhou para a paisagem, sentindo o coração bater no peito. De alguma forma, ela tinha a sensação de que ele estava lá fora, no horizonte. Cavalgando logo à frente do vento.

— Acho que devemos entrar, — Amice comentou, esfregando as mãos sobre os braços enquanto o vento frio estremecia a ambas.

— Um pouco mais? — Ettie protestou. — Eu preciso ficar aqui por um tempo.

— Se você insiste, — Amice disse com ceticismo.

— Eu quero, — disse Ettie.

— Bem, eu posso descer ou pelo menos me afastar um pouco do frio.

Quando Ettie se virou para encará-la, avistou um movimento na escuridão do bosque, bem no limite de sua visão.

— Ettie... — Amice protestou quando ela foi para a muralha novamente.

— Espere, — disse Ettie. — Eles estão aqui.

— São eles?

Amice correu para se juntar a ela na ameia e ambas se elevaram, segurando nas pedras enquanto olhavam para a borda. Ettie sentiu seu coração se iluminar. Eram eles!

— Eu direi à mamãe — disse Amice imediatamente. — Precisamos definir algo para eles comerem. Cerveja e bolos. Oh! É tão bom que eles estão de volta...

Quando Amice desceu a escada e entrou nas entranhas do castelo, Ettie sentiu a ansiedade de apertar seu punho e também algo dentro dela. Ela podia ver Brodgar claramente daqui de cima, o seu cabelo ao vento, sua postura forte. Não foi a ansiedade que fez seu coração bater, ela percebeu com alguma surpresa. Era outra coisa. Atração, talvez.

Ele é um homem tão bom.

Ela sentiu seu coração bater dolorosamente em seu peito, suas mãos, segurando a pedra, úmida de suor. Ele cavalgava com uma facilidade poderosa, seu corpo balançando ligeiramente na sela, as costas retas e altas. A mão dele, tirando o cabelo dos olhos, era um gesto tão seguro e quase arrogante que ela sentiu um sorriso, mesmo quando seu corpo respondia ao seu poder sem esforço. Ela nunca se sentira assim sobre alguém antes. No entanto, ela nunca tinha visto um homem que se comportava como este.

Ele é tão bonito. Ela viu quando ele atravessou o portão e entrou no pátio, saltando de leve da sela para as lajes e depois atravessando o pátio. Ela o viu levantar a cabeça.

Ele a viu. Ela tinha certeza disso. A essa distância, ela mal podia ver suas feições, mas ele olhou para cima, a cabeça inclinada para trás, e ela sentiu-se arrepiar quando os olhos dele a percorreram. Ele olhou diretamente para ela por cerca de um minuto, depois olhou para baixo e foi embora.

Ele virá aqui quando terminar de chegar. Ela não sabia por que pensava isso, simplesmente sabia disso. Ela sentiu a respiração presa no peito e disse a si mesma para ficar calma. O que acontecesse, aconteceu. Ela teria que encontrá-lo como estava, em seu vestido azul e branco, com o cabelo solto e desarrumado pela ação do vento agitado.

Ela estava de pé na amurada quando ouviu seus passos atrás dela. Ela se virou.

— Henriette, — ele respirou.

Ela se jogou em seus braços. Ele a esmagou contra si e sua boca desceu sobre a dela, suave, molhada e faminta. Ela sentiu a língua dele empurrar imperiosamente contra seus lábios e separou-os, deixando-o se deslizar para dentro. Seu corpo, seguro contra o peito musculoso, estava quente e satisfeito de uma maneira que ela nunca imaginou. Foi tão bom sentir a língua dele sondar sua boca. Seu beijo aprofundou, sua língua explorando-a enquanto ele a pressionava contra si. Suas mãos acariciaram-na.

Ettie o abraçou, empurrando seu corpo contra o dele. Ela sentiu uma dureza na região de seu ventre e ficou surpresa com isso, e igualmente surpresa pelo modo como seu corpo respondia. Havia uma sensação inata de que isso estava certo e ele a queria. Ela se segurou contra ele e se deleitou com a sensação de seu corpo musculoso sobre o dela. Quando suas mãos se moveram pelos cabelos dela, acariciando-a, ela sentiu seu corpo derreter-se com ternura contra ele.

— Ettie, — ele murmurou enquanto quebrava o beijo.

— Brodgar.

Eles se entreolharam, ambos, ela pensou, com alguma surpresa. Ela havia se transladado a um novo patamar e parecia como se estivessem à beira de algo enorme. Alguma nova compreensão de alguma coisa que nunca havia sido pensada antes. Ela se sentiu corar.

Ele também parecia sentir isso, pois deu uma risada ofegante, o som que a fez sorrir.

— Uau, — disse ele. — Eu... eu estava perdido sem você, Ettie.

Ela sorriu.

— Eu também senti sua falta, — ela sussurrou. Ela caminhou em direção a ele e se abraçaram novamente. Ele olhava para o rosto dela. De tão perto, ela podia ver as pequenas manchas de quase preto em seus olhos âmbar. Ela lhe acariciou o cabelo e ele sorriu, beijando seu nariz.

— Eu queria muito você, — ele disse francamente. — Eu estava... é bobagem, suponho. Mas desde que você chegou aqui, desde que nos conhecemos, ficarmos alguns dias separados parecem uma vida inteira.

Ettie riu, maravilhada alegrando-se.

— Eu senti o mesmo, — ela reconheceu.

— Realmente? — Ele olhou em seus olhos com surpresa no rosto.

— Sim! — Ela riu. — Oh, Brodgar. Como você pode não saber?

— Não sabe o que? — ele perguntou, embora o sorriso tímido a fez pensar que sabia o que ela queria dizer.

— Como você pode não saber o que eu sinto por você?

Quando o disse, Ettie ficou vermelha. Ela disse isso? Henriette Fraser, dizendo a um homem como ela se sentia? Ela olhou para as mãos de dedos longos.

— O que disse?

— Eu... isso foi... me desculpe se eu ofendi você, — disse ela, ainda corada.

Brodgar olhou para ela, incrédulo.

— Ettie! Como você pode pensar isso? — Ele respirou. — Eu estou... não tem ideia de que honra é para mim que você se sinta assim comigo. Garanto-lhe que sinto o mesmo e provavelmente mais. por você.

Ettie olhou para ele. Ela sentia que poderia chorar. Ela também queria rir. Ela se viu fazendo as duas coisas enquanto ele a tomava em seus braços e a beijava com uma paixão terna.

— Nunca me senti assim antes — confessou Ettie, olhando para o rosto dele.

Ele sorriu.

— Nem eu! — Ele admitiu. — Eu nunca pensei que sentiria, na verdade.

— Eu não achava que fosse possível.

Ambos riram.

— Nós... oh, Ettie, — disse Brodgar, fechando os olhos. — O que podemos fazer?

— Você quer dizer... seu noivado? — Ettie sussurrou.

Os olhos de Brodgar se arregalaram.

— Você sabe?

— Ela me disse. Sua mãe. Ela se desculpou — acrescentou ela, fungando enquanto suas lágrimas caíam, súbitas e descontroladas.

Brodgar suspirou.

— Ela estava errada em lhe dizer. Se eu tivesse dito, diria que isso não importa para mim. Eu quero acabar com esse acordo. É por isso que fui, — acrescentou ele.

— Oh? — Ettie franziu a testa, não tendo certeza se podia acreditar no que ele estava tentando transmitir.

— Eu... — Ele se virou, caminhando para a ameia. Com as mãos cruzadas atrás das costas, o vento, agora mais brando, agitava seus cabelos. Ele parecia uma pintura que ganhava vida, o Rei Arthur, ou um desses heróis românticos de qual ela leu. — Eu fui a Bronley. Eu queria discutir com o thane como terminar meu compromisso.

— Oh! — O coração de Ettie bateu e ela sentiu de repente o alarme. — Oh, Brodgar! Isso foi arriscado.

— Eu falei com meu pai, — disse ele, dando-lhe um sorriso torto. — Eu não estava me arriscando.

— Oh. — Ettie olhou para baixo. — O que disse o thane?

— MacDonnell? — Brodgar franziu a testa. — Eu não sei. Eu não perguntei. Vamos dizer, er... complicações surgiram.

— O que? Oh, Brodgar — disse Ettie, cobrindo a boca com as mãos. O que tinha acontecido? Teria havido algum tipo de declaração de inimizade por causa dela? Haveria uma luta e a culpa era dela? — Conte-me!

Brodgar suspirou. Ele a segurou em seus braços.

— Nada de mal, — disse ele. Ele estava franzindo a testa. Ettie acariciou sua cabeça e fechou os olhos.

— Eu não vou pedir para você dizer se não quiser, — Ettie franziu a testa. Em seu coração, havia um medo se construindo.

— Eu posso te dizer, — disse ele. — Mas prometa não contar ao pai. Ou qualquer um. Por favor?

Ettie olhou para ele com surpresa.

— Claro. Seus segredos são meus segredos. Sempre.

Brodgar deu um sorriso carinhoso.

— Obrigado. Bem, então. — Ele soltou um suspiro. Segurou as mãos dela. — O problema é, na verdade, uma solução, se eu puder fazer isso funcionar de alguma forma. Alf a ama.

— O quê? — Ettie sentiu um sorriso visitar sua boca. — Brodgar! Isso é perfeito!

— Sim, — Brodgar assentiu distraidamente. — E não. A coisa é, o thane quer que sua filha se case com um MacConnoway. Isso significa eu. Alf é o filho de Blaine MacNeil.

— Sim. Está correto. — Ettie franziu a testa. — Então não há esperança?

— Tem que haver, — insistiu Brodgar. — Uma coisa que tenho certeza é que nos casaremos, Ettie.

— O quê? — Ettie olhou para ele. Ela sentiu um sorriso em seu rosto. — Brodgar! — Ele realmente disse isso? Essa era uma proposta, mas a mais estranha que ela já ouviu!

— Oh, — Brodgar sorriu timidamente. — Eu esqueci. Você se casaria comigo?

Ettie sentiu o riso crescer dentro dela.

— Brodgar MacConnoway! — Ela disse. — Sim.

O olhar que ele lhe deu foi de total descrença. Para alguém que tinha tanta certeza disso tudo segundos atrás, ele pareceu surpreso.

— Oh, Ettie, — ele respirou. — Meu amor. Minha vida.

Ele a atraiu para ele e seus lábios, quando tocaram os dela, eram lentos, doces e ternos. Eles a mordiscaram, a língua lambendo a linha de sua boca sem sondar. Era uma sensação doce, que poderia deixá-la louca, ela estava certa disso, se ele continuasse fazendo. Eventualmente, corajosamente, ela deixou sua própria língua sair e tocar a dele. Ela sentiu sua surpresa e sorriu. Ele moveu a língua em sua boca.

Suas línguas se deslizaram uma na outra enquanto ele a puxou com mais força contra ele. Ela podia sentir a dureza pressionando sua virilha e ela se moveu, tocando-o com seu corpo. Eles se uniram, movendo-se um contra o outro com uma urgência.

Finalmente, Brodgar recuou.

— Meu amor, — disse ele. Ele estava ofegante, os olhos selvagens. — Nós não deveríamos... — ele parou. — Eu sinto muito. Eu quero você.

Ettie sabia o que ele queria dizer. Ela sabia pelo menos um pouco das coisas que homens e mulheres faziam quando se casavam. Ela sentiu o rosto corar.

— Eu entendo, — disse ela em uma voz que tremia.

— Devemos ir para dentro, — disse ele com uma risada trêmula. — Está frio lá fora.

— É, — concordou Ettie, ainda corada. Ela sabia o que ele queria dizer. Ali, sozinhos, na ameia, apesar da geada, estava isolado demais e tentador demais.

— Venha, — disse ele, descendo os degraus. Ele estendeu a mão e ela pegou, e, rindo, desceu os degraus.

Dentro da torre, eles se beijaram novamente. Então, ofegante, os olhos cegos para qualquer coisa menos ele, ela recuou. Ele parecia tão desesperado quanto ela.

— Vamos descer, — disse ele.

Eles o fizeram.


CAPÍTULO TREZE

UM CAMINHO À FRENTE


Brodgar ficou na porta do escritório de seu pai, observando o homem em sua mesa. A luz de uma única vela estremeceu no castanho escuro de seus cabelos, agora fosco nas têmporas, e ele parecia sereno. Era um homem grande com uma aura de poder sobre ele, vendo-o aqui neste ambiente acolhedor, a luz do fogo cintilando sobre seu rosto esculpido, o tornava vulnerável. Brodgar engoliu em seco.

Meu pai é um homem poderoso e gentil. Eu não quero causar problemas para ele.

Ele e Alf tinham concordado em se encontrar com o thane depois do jantar, no tempo que passava verificando as contas da propriedade. Brodgar olhou ao redor do corredor, desejando que Alf aparecesse. De alguma forma, tê-lo com ele tornaria mais fácil de fazer.

— Brodgar? — Alf sussurrou. Ele subiu pelo corredor do lado oposto e Brodgar sentiu os olhos se arregalarem e depois estreitarem enquanto seu pai ouvia sua voz.

— Oh! Filho! Alf! Que surpresa — disse ele, levantando os olhos do seu trabalho para vê-los na porta. — Venha! Sentem-se. A que devo esta delegação?

Brodgar e Alf riram, constrangidos.

— Pai, eu...

— Nós queríamos...

Ambos falaram juntos. Lorde Broderick deu uma risada calorosa.

— Eu vou ter que arbitrar, eu vejo. Alf, você é geralmente a parte mais explicativa. — Ele fez uma careta para Brodgar, que riu. — Você pode falar primeiro.

— Bem, — Alf fez uma pausa, respirando fundo. — Meu lorde, eu... eu queria te perguntar se... você sabe que seu filho está prometido a Lady Ambeal, bem...

— Sim, um compromisso para unir clãs em guerra e um que nos convém bem. O que é que tem?

Brodgar sentiu seu coração afundar em suas botas. No entanto, os olhos de seu pai estavam quentes, para sua surpresa; a declaração claramente pretendia provocar.

— Meu lorde, eu... — Ele olhou para Brodgar, seu rosto pálido à luz do fogo, buscando apoio.

— Pai, nós queríamos fazer uma troca.

— O que? — Broderick estava incrédulo agora. Ele riu, seu rosto reduzido a metade ao sorrir. — Que travessura os dois patifes fizeram aqui, hein?

— Pai, sem maldades, eu declaro — disse Brodgar, sentindo-se começar a rir quando os olhos alegres de seu pai tocaram os seus. Logo os dois estavam rindo.

— Eu sou sincero, Lorde Broderick, — Alf disse insistentemente. — Eu tenho... sentimentos... por essa senhora. — Ele inspecionou seus dedos. Suas bochechas estavam vermelhas. Ele estava tímido, de repente. Brodgar ficou olhando.

— Esse é outro assunto, — o thane disse seriamente. — Rapazes? Vocês sabem o que eu tenho a dizer, não sabem?

— Eu suponho, — disse Brodgar, sentindo seu coração afundar. Ele não podia realmente esperar que seu pai concordasse com suas maquinações malucas, afinal de contas. Seu pai era um homem sábio e aquele que sempre colocava os interesses do clã em primeiro lugar. Ele nunca concordaria com isso.

— Bem, o que tenho a dizer é tudo de bom. Minhas bênçãos estão com vocês. Devemos apenas encontrar um caminho.

Brodgar olhou para ele.

— Pai? Realmente? — Ele não podia realmente acreditar que ele ouviu corretamente. Seu pai realmente deu sua bênção? Para eles? Por esta troca?

Broderick sorriu e suspirou.

— Eu não posso garantir que possa fazer qualquer coisa, — disse ele. — Isto é difícil. Você entende, — ele disse, dando a Brodgar um olhar fixo.

— Eu entendo. — Brodgar engoliu em seco.

— Não pretendíamos dificultar as coisas, — Alf disse rapidamente. Broderick virou o olhar fixo para ele.

— Bem, você fez, — disse ele, embora o sorriso com o qual disse que desmentia suas palavras furiosas. — Mesmo assim, com nós três aplicando nossas mentes para o problema, e para não mencionar a sua mãe, cuja resolução de problemas é incomparável, podemos ter sucesso. — Ele sorriu para Brodgar, depois para Alf. — Assim. Você tem minha palavra. Eu posso tentar. Mas não prometo muito. Tem que ser algo adequado.

— Sim, pai — disse Brodgar, sentindo um nó na garganta. Ele nunca tinha percebido antes o quão profundamente seu pai se importava com ele. Que se importaria o suficiente para colocar suas necessidades antes das do clã. Ele estendeu a mão e apertou a sua, sem saber como mostrar o quanto o apreciava e amava. — Sim

Broderick piscou. Se seu filho não o conhecesse bem, teria pensado que o brilho em seus olhos eram lágrimas. Deve ser um truque da luz, ele descartou. Broderick MacConnoway não choraria por algo assim.

— Lorde Thane — disse Alf formalmente. Ele parecia atordoado, como se um coelho tivesse acabado de sair da lareira, ileso pelas chamas. — Eu te agradeço... eu não posso acreditar... Obrigado, — disse ele, sorrindo aturdido.

Broderick riu.

— Eu lhe asseguro que não sou tão sem coração. Eu já fui jovem, uma vez, como vocês dois. — Ele fez uma pausa, e Brodgar sabia que ele estava perdido em memórias do passado. Sua mãe era a segunda esposa de Lorde Broderick, a primeira fora brutalmente morta em um ataque. Ele se perguntou que memórias passavam por sua mente.

— Não podemos agradecer o suficiente, — disse ele.

Lorde Broderick riu.

— Por que vale a pena, — disse ele. — Lembre-se, não sei o que posso fazer. Minha inclinação é chamar MacDonnell aqui, e fazer algum acordo. Eu poderia ceder os direitos do campo do Norte para ele, talvez. Ou algum outro arranjo. Não que ao tomar meu sobrinho seria uma dificuldade tão grande que eu precise adoçá-lo — acrescentou ele, rindo com Alf. — Mas vamos ver.

— Obrigado, pai, — respirou Brodgar. Ele se sentia tão aturdido quanto Alf parecia estar. Os dois olharam um para o outro, o alívio os afundando em seus assentos.

— Devemos ir, — Alf disse apressadamente, ficando de pé. — Deixemos você com o seu negócio, meu lorde.

— Obrigado, Alf, — disse Broderick com uma careta. — Eu não me importo de evitar isso. Alec tem uma caligrafia horrível e isso machuca meus olhos.

Brodgar riu.

— Sinto muito, pai, — ele disse com tristeza. — Eu gostaria de poder ajudar.

— Você pode, — disse Broderick, sorrindo e entregando-lhe o livro, em seguida, retirando-o quando seu filho pareceu horrorizado. — Não se preocupe. Você terá que fazer isso quando eu partir, mas eu farei isso o máximo que puder. Dar-lhe-ei uma folga disso.

Brodgar sorriu para ele.

— Obrigado, pai.

— Não mencionem isso ainda. Ah, e rapazes? — ele disse enquanto caminhavam até a porta, parando para ouvi-lo. — Se verem Lady Amabel, peçam a ela para entrar aqui por um momento. Há algo que eu quero lhe perguntar. E ela deve saber que ainda temos um excesso de colheitas de raízes. Algo que os arrendatários podem usar se o inverno durar mais que o ano passado.

— Nós vamos dizer a ela, — disse Brodgar com sinceridade. — Assim que a vermos.

— Você faça isso, — Broderick chamou. — Boa noite, rapazes.

— Boa noite, pai.

— Boa noite, meu lorde.

Ao saírem do escritório, Brodgar e Alf olharam um para o outro com espanto. Não parecia possível que pudesse ser tão fácil assim. No entanto, eles tinham feito isso. Eles perguntaram se podiam fazer a troca.

Além disso, ele concordou.

****

Mais tarde, Brodgar foi ao quarto de Alf para conversar. Alf tinha um quarto na torre, uma escada que levava a um tipo de corredor com dois quartos. Conn tinha compartilhado o lugar, mas por enquanto ele estava usando o maior dos dois quartos, era mais fácil de compartilhar. Brodgar encostou-se à parede, suspirando.

— O que podemos fazer?

— Eu não sei. Estou impressionado — acrescentou ele, servindo uma bebida para Brodgar, que pegou a taça de estanho em punho, olhando para as profundezas dela como se as respostas estivessem flutuando nela.

— Eu também, — disse ele depois de um momento, bebendo profundamente. — Isso foi inesperado.

— Você pode dizer isso de novo? — disse Alf.

— Aquilo foi...

— Oh inferno! Você e seus truques! Você sabe o que eu quis dizer — Alf disse, lançando-lhe um olhar irônico. Brodgar assentiu.

— Bem, — disse ele finalmente, — isso nos deixa com alguns planos para fazer.

— Muito bem, — Alf assentiu. — Você sabe... não.

— Alf, o que? — Perguntou Brodgar. Seu amigo estava franzindo a testa, olhando através da janela para as florestas negras.

— Eu estava pensando... não... é muito arriscado.

— Se você pensa assim, — disse Brodgar, colocando a bebida de lado na mesa, — deve ser o plano mais louco que eu possa imaginar.

Alf riu.

— Não. Na verdade não. Apenas... pode dar errado.

— O que, Alf?

— Nós poderíamos fugir, — disse Alf suavemente. — Quero dizer, se eu roubasse Ambeal, o pai dela me culparia, não a sua família. A contenda terminaria e, se MacDonnell passasse o resto de seus dias com uma vingança em chamas contra mim, o que importa?

— Alf, — disse Brodgar, sentindo-se preocupado. — Não.

— Por que não? — Alf disse, com os olhos amargos. — Eu tenho pouco a perder. E muito a ganhar. Eu a amo, Brodgar. Eu sei que você entende isso.

— Eu sei, — Brodgar assentiu. Ele se sentia infeliz por dentro.

Como ele poderia deixar Alf arriscar tudo? Ele estaria de fato arriscando tudo. Se ele fugisse com Ambeal de Bronley, não haveria como voltar atrás. Ele não poderia voltar a Dunkeld. Todo o plano dependia do fato de que Dunkeld se manteria distante da fuga. Ele fugiria com ela — ele teria que fazer.

Ele perderia tudo.

— Alf, — disse Brodgar lentamente. — Você sabe que isso muda tudo, não é?

Alf riu.

— Claro que sim! Mas não é isso que queremos? Eu não me importo, Brodgar! Me compreende! Tudo isso... — ele acenou com a mão que abrangia o castelo, o povoado, as terras. — Não significa nada. Eu a amo. Eu sei — disse ele, olhando para o rosto de Brodgar. — Eu sei no que você está pensando: eu a conheço há quatro dias, então como eu posso desistir de tudo? Mas eu quero. Você entende.

Brodgar assentiu devagar. Ele entendia. Entendia muito bem.

— Eu entendo, — disse ele. — Eu amei Henriette desde o momento em que a vi. Eu sei disso.

— Bem, então, — Alf disse, e havia um sorriso em seu rosto magro e bonito. — Estamos prontos.

— Alf! — Disse Brodgar, incrédulo. Ele riu.

— O quê? — Alf disse com tristeza.

— Você está pensando em sair de casa. Sabe que nunca voltará. E está tão calmo com isso!? Você nunca deixará de me surpreender. — Ele riu.

— Bem, se você estivesse pensando em Ambeal, você seria feliz também, — disse Alf com um sorriso. — Tudo isso: um castelo, terra, um nome... um reino, mesmo se fosse para segurar um, seriam pérolas para fundir a seus pés.

Brodgar riu. Sempre efusivo e melodramático, isso era típico de Alf. No entanto, também sabia o que ele queria dizer isso. Ele sabia como se sentia.

Eu voltaria minhas costas para tudo, por Henriette? Afastar-se-ia de parentes e herdades, para nunca mais voltar, para casar com ela? Eu iria?

Ele se imaginou: cavalgando com ela ao lado dele, em seu cavalo, talvez. Dirigindo-se a algum destino desconhecido com tudo o que podiam carregar com eles e um coração cheio de esperança para guiar seus passos.

Naquele momento, ele sabia que faria isso também. Ele faria isso em um piscar de olhos. Tudo isso não era nada comparado a ter sua vida com ela. Ele teve sorte que não era uma escolha que teria que fazer.

— Alf, — disse ele, encarando-o seriamente. — Irmão em tudo, menos no nome. Eu não posso te agradecer o suficiente.

Alf sorriu. Ele pegou a mão dele. Olhou em seus olhos, um sorriso torcido sua boca.

— Meu irmão de meu coração. Se não fosse por você, eu nunca teria conhecido Ambeal. Eu que agradeço.

Brodgar sorriu. Eles se olharam por um longo momento, amizade e amor de irmãos em seus olhos. Ele suspirou.

— É uma loucura, como isso acabou, — ele admitiu. — Quero dizer, o fato de que estamos essencialmente trocando de noivas. Inimaginável.

— É, — Alf sorriu. — Mas então, nós não fizemos as regras. Nós nascemos, crescemos e descobrimos que elas não se encaixam bem.

Brodgar riu.

— Isso é verdade.

— E não há mal em ajustar as coisas para se adequar às vezes. Não, desde que podemos fazer isso sem que um único disparo de flecha seja dado, por assim dizer.

— Sim, — disse Brodgar, e então franziu a testa. Pode não haver disparos entre o seu clã e o de Lady Ambeal. No entanto, o que aconteceria com Alf? — Meu irmão, vá com cuidado. — Ele suspirou. — Você sabe que MacDonnell irá atrás de você. Eu não quero que nada de ruim aconteça contigo. Seria minha culpa e eu nunca me perdoaria.

— Eu vou deixar você me ajudar a planejar, se quiser, — Alf disse com o mesmo sorriso torto. — Então nós saberemos que será seguro. Como sempre é quando você planeja as coisas. Lembra quando éramos moços? Você sempre encontrou uma maneira de tornar as coisas mais seguras; como escalar a parede do pomar para roubar damascos ou invadir o galinheiro.

Brodgar riu, sentindo-se incomodado com a expectativa que seu amigo colocou nele.

— Acredito que sim. Mas não sou tão bom em planejar.

— Você é melhor do que eu, — Alf sorriu. — Minha ideia de segurança foi escolher o pedaço do muro que não tinha dez metros de altura.

— Mas não a parte que não tenha uma queda de dez pés de altura no outro lado. Eu sei. Eu lembro.

Ambos riram da lembrança. Brodgar sacudiu a cabeça. Foi preciso muita persuasão para Alf desmoronar e tentar outra abordagem.

— Bem, se você confiar em mim, vou tentar ajudar. Mas não posso pensar que vou ser muito bom, no entanto.

— Eu sei que sim, — Alf disse, apertando seu ombro. — Agora. Devemos planejar um pouco e depois dormir. Queremos estar em forma, se vamos fazer isso em breve.

— Sim, — Brodgar assentiu. Ele sentiu seu coração apertar com o pensamento do que realmente estava acontecendo.

— Antes da reunião, — disse Alf. — É mais seguro assim.

Brodgar assentiu.

— Dentro da semana seria melhor, — ele concordou.

— Sim, — disse Alf.

Eles se sentaram e conversaram por algum tempo, mas a apreensão estava nublando os pensamentos de Brodgar. Finalmente, eles decidiram dormir.

Brodgar, sozinho em sua câmara, encontrou sua mente cheia de Ettie. Se Alf fugisse, o deixaria livre para casar com ela. Ele imaginou a noite de núpcias deles. Para sua vergonha, ele sentiu suas virilhas se endurecerem enquanto pensava nela, despojada de seu vestido, suas curvas expostas à luz do fogo e da lamparina. Ele se perguntou como ela era sob aquele vestido. Construiu uma imagem daqueles seios firmes e altos — ele imaginou os mamilos rosados — e sua cintura fina, suas longas pernas, seu corpo macio e doce.

Ele imaginou beijando seus lábios, seu próprio corpo nivelado sobre ela, empurrando profundamente dentro dela, e sabia que iria morrer de desejo se isso não acontecesse logo.

Tudo o que tinham que fazer agora era planejar e esperar. E esperança. Confiança. Ele fechou os olhos, sorrindo quando se lembrou das palavras de Alina e como assumiu que tinha entendido de forma descuidada. Bem, ele estava aprendendo. Ele sentiu seus olhos ficarem pesados com o sono e desejou poder dizer a vidente que ele estava, lentamente, vindo a entender.


CAPÍTULO QUATORZE

PREPARAÇÕES PARA A COLETA


Ettie ficou na frente do espelho, olhando para si mesma. A garota que olhava de volta para ela era uma beleza exótica. O vestido violeta enrolava-se ao redor de seus pés, agarrava-lhe a cintura abaixo do bordado, o corpete cortado para mostrar seu decote e pele cremosa. Ela balançou os cabelos, soltos, uma cortina de ouro brilhante.

— É apenas maravilhoso, — ela sussurrou para tia Chrissie. — Eu não posso te agradecer. É demais para palavras como obrigada para fazer justiça.

Chrissie riu.

— Minha querida, não, obrigada não é necessário. Estou feliz que tenha gostado. Agora. Vamos tentar os brincos... — ela passou a ela um par de pedras verdes combinadas, em forma de gotas de lágrima, do comprimento de seu polegar. Ettie passou os ganchos pelas orelhas e ficou olhando, impressionada, para o efeito.

— Oh... — ela murmurou, virando a cabeça enquanto as joias brilhavam na luz.

O verde profundo da floresta era um tom mais azul que o kirtle, e captou o azul em seus olhos, brilhando suavemente quando ela virou a cabeça. A garota no espelho era linda. Ettie não podia mais negar isso.

Chrissie deu um longo suspiro.

— Minha querida, você será a conversa do encontro. Oh! — Ela colocou os dedos nos lábios, rindo de prazer.

Ettie a abraçou impulsivamente, respirando o aroma de doçura e flores de gardênia.

— Obrigada! Obrigada, tia! — Ela apertou-a com força, fazendo a pequena mulher chiar e depois rir enquanto a soltava.

— Oh minha querida. Não há necessidade de me esmagar! — Ela protestou, abanando-se e rindo. — E eu devo mostrar a você o que eu planejo usar também... meu vestido está quase pronto... falta apenas alguns toques nas costas.

— Oh, sim, por favor, — Ettie sorriu. — Eu quero ver como ficou. Já que eu estava lá desde o começo, por assim dizer. — Ela sorriu.

— Aqui está, — disse Chrissie, levantando um pacote azul da cama. — Eu vou usar pérolas, acho. Eu sempre uso minhas pérolas. Só o Céu sabe onde Blaine os encontrou, elas devem ter custado muito e um pouco de sorte, mas eu as amo muito.

Ettie sentiu seu coração aquecer com o amor que aqueles dois compartilhavam claramente. Ela pensou em seu próprio amor por Brodgar e sentiu seu coração transbordar com a doce alegria por ele.

Ele a pedira em casamento e ela concordou. Ela não tinha ideia do que aconteceria — sua mãe certamente a odiaria por isso. Parecia quase como se ela já a odiasse, embora sempre fosse educada e atenciosa. No entanto, ela tinha o apoio de Chrissie, o que era uma benção.

— Chrissie? — Amice chamou do lado de fora. Ettie voltou para a sombra, de algum modo não querendo que sua amiga a visse aqui. Chrissie assentiu e deu um passo à frente, o vestido embrulhado no braço.

— Sim, querida, — ela chamou.

— Oh! Aí está você! Eu vim te chamar. Estamos planejando a música. O homem de quem eu te falei, o Sr. MacDonnel, ele está aqui para o ensaio.

— Oh! — Chrissie assentiu. — Eu vou para baixo. — Ela colocou o tecido sobre a colcha e saiu, virando na porta para dar um aceno de cabeça antes de sair.

Ettie se moveu, indo para o solar. Organizar o encontro era um dever que Amice compartilhava com sua mãe, e as quatro damas: Amabel e Alina, Amice e Chrissie, e tinham que ouvirem um novo músico que Amice havia encontrado. Evidentemente encantadas com uma pausa do repertório de Norries, as três seguiram Amice até o grande salão.

Pelo menos isso me dá um tempo sozinha.

O solar estava vazio e a poltrona no lado oposto ao fogo estava sem ninguém. Ettie entrou e olhou para os pontos do bordado, tentando pensar direito. Ela desejou que sua mãe estivesse aqui! Como ela teria adorado ter alguma ideia extra. Sua mãe estava a alguns milhares de quilômetros de distância do outro lado do oceano. Ela tinha Amice para conversar, Chrissie para animá-la e, surpreendentemente, o encorajamento de um poderosa vidente. Eu não estou sozinha.

O pensamento era reconfortante. Mesmo assim, quando ouviu passos no corredor, seu coração bateu. Se fosse Lady Amabel, que voltasse mais cedo, ela daria uma desculpa e sairia. Não achava que poderia ficar ali sentada com ela, mantendo um silêncio gelado ou uma troca educada de palavras. Isso era horrível.

— Eu gostaria que ela entendesse, — ela sussurrou. Ela se inclinou sobre os pontos e tentou pensar em uma maneira de escapar sem fazer ninguém perder a paciência com ela.

— Henriette?

— Oh!

Não era a dama do castelo depois de tudo, mas o seu filho. Ettie olhou para ele, sentindo seu coração batendo forte no peito.

— Desculpe, eu te assustei, — disse ele com um sorriso bonito. — Eu estava esperando encontrar você sozinha.

— Oh. — Ettie corou quando ele disse isso. — tem algo que você queria me perguntar?

— Eu tenho coisas que temos que discutir, — disse Brodgar. O sorriso tímido estava de volta e ele se abaixou cuidadosamente na cadeira em frente.

Seus joelhos estavam a um centímetro do dela e Ettie encontrou sua respiração presa na garganta. Ela sentiu como se estivesse tentando respirar e desviou o olhar, sorrindo timidamente.

— Que coisas, Brodgar?

Mesmo dizer seu nome fez seu coração fazer algo estranho. Ela sorriu e ele sorriu de volta. Suas mãos pegaram as dela.

— Bem, nós temos que fazer arranjos para o nosso casamento, — disse ele.

Ettie ficou olhando.

— Casamento... nosso?

Brodgar riu.

— Eu perguntei se você queria se casar comigo. Eu confio que... você decidiu? Quero dizer, espero que você me aceite. Você poderia?

Ettie sentiu as bochechas queimarem. Ela riu.

— Oh, Brodgar. Claro que vou aceitar! Eu te amo.

Ele a olhou e ela percebeu que era a primeira vez que dizia isso. Ela olhou para ele. Ele olhou para trás. Seus olhos estavam úmidos, ela percebeu a surpresa. Ela engoliu em seco, sabendo que seu próprio coração estava transbordando de sentimentos também. Ela pegou as mãos dele, seus dedos estavam quentes.

— Eu também te amo.

— Oh...

Quando ele o disse, sentiu como se o fogo se derramasse pelas veias de Ettie. Ela estremeceu e derreteu imediatamente. Quando ele se inclinou e tomou-a em seus braços, segurando-a contra o peito, ela sabia que estava mais feliz do que nunca.

Seus lábios se uniram ternamente um ao outro, um beijo onde a paixão estremeceu em uma doçura que fez Ettie sentir seu coração se derreter em seu peito. Ela o segurou com força, seus dedos acariciando seus cabelos enquanto ela provava, tocava, o sentia e sabia que este era o único lugar que ela queria ter toda a sua vida, se ela soubesse vencer o medo.

— Meu amor, — disse Brodgar, os olhos brilhando, enquanto se movia. — Precisamos conversar.

— Nós devemos.

Ettie esperou que ele começasse. Ele parecia preocupado, e ela queria dizer-lhe que não queria que fizesse algo que o machucasse. Ela preferiria perdê-lo do que vê-lo zangado. Ela fez uma pausa, pensando.

— Minha querida, devemos fugir, — disse Brodgar suavemente.

— Não! — Ettie ficou chocada. — Não. Existe uma maneira de fazer isso. Uma maneira de deixar todo mundo feliz. Eu sei isso.

— Minha querida moça, — ele disse suavemente, apertando a mão dela. — Você é tão gentil.

— Não, — Ettie balançou a cabeça, sorrindo com carinho, mesmo enquanto pensava. — Não, eu não sou gentil. Eu só sei que é possível. — Todas as possibilidades são igualmente possíveis.

— Temos o consentimento de meu pai sobre isso, — disse Brodgar, e seus olhos se arregalaram de surpresa.

— Verdadeiramente? Mas como...

— Vamos apenas dizer, Alf está cuidando disso, — disse Brodgar com um sorriso.

— Alf? Mas como? O que...

Brodgar riu.

— Alf concordou em trocar comigo. Por assim dizer. Ele recebe Lady Ambeal e todos os problemas que se seguem. Eu te recebo.

— O que? Oh... — Ettie olhou para ele. — Oh, Brodgar! Mas eu não posso deixar você... não pode deixá-lo... — Ela balançou a cabeça, sentindo-se confusa, exultante e confusa.

— Eu não posso impedi-lo, — disse Brodgar com um sorriso. — Eu realmente não posso. Ele está determinado.

— Ele a ama? — Perguntou Ettie.

— Até a loucura, — Brodgar disse, e então riu. — Alf sempre foi um impetuoso cabeça quente. Mas às vezes, na maior parte das vezes eu gostaria de ser como ele. Eu o admiro. Ele faz o que quer. Não se preocupe.

— Não, Brodgar, — Ettie fez uma careta para ele, brincalhona. — Eu não quero que você seja diferente do que é.

— Obrigado, meu amor. — Brodgar apertou a mão dela. Ettie beijou seu pulso.

— Não, — disse Ettie com uma risada. — Obrigada.

Brodgar acariciou a cabeça dela.

Eles se sentaram por um tempo, o silêncio entre eles. O fogo queimou mais baixo, as cinzas deslizando umas sobre as outras com o sussurro de carvão contra o carvão. A sala esquentou e o dia esfriou do lado de fora. Ettie se aproximou e Brodgar se sentou ao lado dela. Eles estavam sozinhos em uma ilha de tranquilidade.

— Eu devo ir, — disse Brodgar longamente. — Alf está planejando. Ele precisa de mim.

— Você deve ir — concordou Ettie, embora não tenha se movido de onde estava contra ele e nem sequer levantou a mão de onde estavam no joelho.

— Alf quer partir antes do encontro — disse Brodgar suavemente. — Isso é semana que vem.

— Eu sei, — disse Ettie. — Isso é muito em breve.

— Quanto mais cedo ele se mover, menos MacDonnell terá tempo para tentar impedí-lo. Ou então ele pensa... — suspirou Brodgar. — Com a neve ainda fazendo algumas das trilhas intransitáveis, ele espera deter a perseguição.

— Ele vai partir para Edimburgo?

— Eu acho que ele planeja isso. Daí para o porto. Então? — Ele encolheu os ombros. — Talvez vá para a França.

— Seu irmão está aí?

— Conn, sim. — Brodgar assentiu. — Minha prima, a filha de Alina, Leona, herdou terras lá. Eles se estabeleceram. Alf ficará bem. Tenho certeza de que Conn, Leona e o bebê ficaram felizes em tê-lo em casa.

— Eles têm um filho? — Perguntou Ettie.

— Uma filha. — Ele sorriu. — Eu a conheci quando eles nos visitaram, um ano antes desse. Uma linda filha. Cabelo como a luz do fogo. Parece uma mistura de Alina e Chrissie. Mimada como uma diabinha. — Ele riu.

Ettie sorriu.

— Eu tenho certeza que ela é adorável. — Ela tentou imaginar Alina com um bebê, a filha de sua filha. Sua mente desistiu como um trabalho ruim. Alina era francamente sem idade.

— Ela é, — Brodgar assentiu. — É bom vê-los assim. Tão felizes. Eles sempre planejaram se casar. Estou feliz que eles conseguiram.

— Eu também.

Ettie sorriu e aninhou a cabeça no ombro dele. Ela não podia deixar de desejar que todos no mundo fossem tão felizes quanto ela mesma. Ela estava tão feliz. Neste momento, tudo o que importava estava ao alcance de um braço.

Brodgar deve ter sentido também, pois se inclinou e beijou sua testa.

— Meu amor.

Ela suspirou.

— Você deve ir e encontrar Alf, — disse ela.

— Eu devo, — concordou Brodgar. — Ele planeja levar seu cavalo e uma troca de roupa. Tenho que persuadi-lo a pelo menos pegar um mapa.

Ettie riu.

— Por favor! Vá e a persuadi-lo então! Ele precisa de um.

— Ele precisa, — Brodgar assentiu. Ele a beijou novamente, seus lábios macios um no outro. Então ele se levantou. — Bem, adeus, querida.

— Até a hora do jantar, — sussurrou Ettie.

Ele sorriu.

— Que pensamento adorável.

A tarde passou rapidamente depois disso. Ettie mal podia acreditar nas notícias que Brodgar lhe trouxera: em breve eles se casariam! Depois que Alf partisse, o caminho estaria aberto para eles. Ela nunca teria imaginado que as coisas poderiam funcionar tão bem.

Ela fechou os olhos, a gratidão brotando dentro dela. Como sua vida — monótona e mundana — se tornou tão cheia de luz?

No jantar, ela se viu sentada ao lado de Alf e Brodgar. Ela viu os olhos de Brodgar brilharem. Ela olhou para longe, sentindo suas bochechas se erguerem em um grande sorriso.

Sua mãe vai nos ver e nos dar aquele olhar de desaprovação e então não vou saber o que fazer comigo mesma. Ela ofegou.

Brodgar, com o joelho pressionando o dela, levantou uma sobrancelha suavemente. Ele parecia como se fosse completamente inocente. Ela queria rir. Ela sentiu o coração disparar quando o pé dele se moveu entre os dela. Ela tossiu, era tudo o que ela podia fazer para não soltar um grito.

— Ettie? — Amice perguntou preocupada. — Você está bem?

— Desculpe querida. Eu estou bem... — Ela parou, tossindo e repentinamente nervosa. — Não. Apenas uma tosse.

— Você deveria descansar, querida, — Chrissie pronunciou. — Suas bochechas são vermelhas. Tem certeza de que não está se resfriando?

— Está quente aqui, — Alina falou. Chrissie lançou-lhe um olhar agradecido.

— É verdade — concordou Lady Amabel. — Brodgar você tem o saleiro?

— Eu tenho, mãe. Aqui está. — Ele passou para ela e Ettie olhou firmemente para longe.

Ela se viu olhando para o olhar negro de Alina, observando e sorrindo. Seus olhos pareciam dizer: Bem feito. Você passou. Estou orgulhosa de você.

Foi só um instante, mas Ettie sentiu o coração se encher de alegria. Então ela olhou nos olhos de Brodgar.

— Lady Henriette?

— Sim?

— Você poderia me passar o jarro, por favor?

— Oh!

Ettie, com as bochechas em chamas, estendeu a mão para passar a louça para ele. Quando ele pegou, fez um show tocando em seus dedos. Ela se derreteu por dentro.

Durante toda a refeição, seu pé ficou onde estava. Ela estava ciente disso e fez a refeição passar mais rápido. Ela se retirou para o quarto quando o jantar terminou, encostando-se à porta, aliviada.

— Ufa, — disse ela. A tensão era esmagadora. Esconder a paixão do resto da família era um desafio mais difícil do que ela imaginara. Não que alguns deles já não soubessem. Na verdade, apenas Lady Amabel desaprovava. O resto não tinha ideia ou era favorável.

Brodgar é tão diabólico.

Ettie sorriu calorosamente ao recordar o pé no dela, o modo como ele tocava a mão dela quando passava alguma coisa. E sua insistência em pedir-lhe várias coisas no jantar, só para poder fazê-lo.

Ela se despiu, passou a camisola de linho sobre a cabeça e se deslizou para a cama. Estava quente, o tijolo esquentado no fogo colocado no final dos lençóis aquecendo seus pés. Ela suspirou e se enrolou, sentindo-se surpreendentemente acordada, apesar do longo dia.

Enquanto estava deitada sob as cobertas quentes, os pensamentos de Brodgar passaram por sua mente. Ela se viu pensando nele, imaginando como seria se casar com ele. Como se deitar com ele.

Ettie Fraser! O pensamento era deliciosamente mau. Ela tentou se lembrar de tudo o que ouviu. Isso era pouco precioso, infelizmente. As declarações genéricas de sua mãe sobre abraços à conversa mais explícita, mas mais mistificadora, da equipe de servos, ela mal conseguia juntar uma ideia do que aconteceria.

O que quer que envolvesse, ela pensou, tinha certeza de que gostaria. A maneira como ele a beijou foi o suficiente para deixá-la saber que qualquer outra coisa que ele fizesse com ela no mesmo padrão seria agradável. Ela sentiu seu corpo ficar quente pensando nisso. Ela o imaginou ao lado dela na cama, abraçando e beijando e o que mais eles fariam. Ela confiava nele. Ela estava animada para descobrir.


CAPÍTULO QUINZE

UMA DIFICULDADE SURPREENDENTE


Brodgar acordou cedo, olhando para uma paisagem cinzenta. Ele passou a camisa por cima da cabeça, flexionou as pernas enquanto vestia calças de lã e lavou o rosto na bacia.

Se o desjejum for como o jantar, fico feliz.

Ele balançou a cabeça para si mesmo, sorrindo para seu reflexo. Ele nunca esperou ser tão desobediente. Era ela... ela era irresistível.

Ele penteou o cabelo, inspecionou seu reflexo e se dirigiu para o solar.

A família estava no desjejum, mas o assento em frente a Ettie era ocupado por Terry Knott, o chefe das forças florestais. Não era muito surpreendente vê-lo no desjejum com eles, seu pai mantinha um salão informal e, se tivesse negócios com seus lenhadores ou um comerciante, às vezes tomava o desjejum com eles.

— Você teria gostado da velha trilha pela floresta, milady, — o homem estava dizendo. De cabelos e olhos escuros, e um sorriso perverso, Terry Knott tinha talvez dez anos de idade a mais, mas na verdade era bonito. Ele ficou surpreso com a pontada de insegurança que sentiu quando Ettie deu uma risadinha.

— Bem, senhor Knott, — ela sorriu calorosamente. — Eu confio que você tenha mantido trilhas melhores?

— Oh, sim, — o homem concordou. — As melhores ainda são bem mantidas. Sua Senhoria disse que a do vau é boa, não foi minha lady?

Brodgar relaxou quando seus olhos calorosos pousaram em sua mãe. Ela respondeu suavemente.

— Você faz o seu trabalho bem, senhor Knott. A trilha é boa.

Ufa, pensou Brodgar, vendo o homem visivelmente diminuir. Mãe pode ser fulminante.

Ele ficou feliz por não estar do lado dela e sentiu simpatia por Ettie, que estivera suportando seu ombro frio, mais ou menos, desde que chegara. Ele sorriu vitoriosamente para ela.

— Mãe, você ainda planeja caçar com falcão este ano?

— Eu quero, — ela sorriu. — Estou sem prática, — acrescentou ela. — Mas espero melhorar. Se algumas senhoras me acompanharem quando o tempo esquentar?

Brodgar sentiu o coração acelerar quando seus olhos se voltaram para Ettie, que assentiu.

— Eu gosto de falcões, minha lady, — ela concordou. — Ouvi dizer que você mantém uma boa falcoaria aqui?

— Nós temos, — Amabel concordou. — Tenho certeza que você conseguirá fazer amizade com nossos falcões em pouco tempo.

— Eu gostaria muito.

Enquanto Brodgar via o calor crescente, mesmo tentativo, entre as duas mulheres de sua vida, ele relaxou. Ele não tinha percebido o quanto o desconforto delas estava influindo nele até agora.

— Eu também quero ir, — disse Amice. — Nós duas vamos nos acostumar com algumas coisas, — Amice sorriu, — porque eu conheço os falcões, mas nunca tinha caçado antes.

— Tenho certeza que você vai aprender muito facilmente.

Brodgar estava feliz por Ettie e sua irmã serem amigas. Ele olhou para Chrissie, que estava assentindo.

— Eu pediria a Alf para levar os falcões também, — disse Blaine. — Ele sempre foi melhor do que eu com essas coisas.

Chrissie sorriu para ele com carinho.

— Você treinou meu falcão, Blaine.

— É por isso que ela é meio selvagem. O que me faz pensar em Alf. Onde ele está?

Chrissie franziu a testa.

— Talvez ele esteja se sentindo mal.

— Se ele pegou um resfriado, — Alina falou, fazendo todos rirem. — Eu vou ter coragem para bater nele.

Brodgar sorriu. Ao mesmo tempo, um arrepio de desconforto passou por ele. E se Alf... não, ele não faria.

Ele não poderia já ter partido. Ele não faria isso, faria? Eles haviam concordado em esperar até antes da reunião. Eles ainda não haviam planejado. Ele ainda não tinha encontrado seus mapas! Certamente, ele estava no castelo, ainda dormindo.

— Brodgar?

— Sim, tia?

— Você recentemente viajou pelo caminho do penhasco. Estava desmoronando?

— Não — disse Brodgar, sentindo-se distraído. — Ainda estava sólido há uma semana. Por que, tia?

— Só checando, — disse Alina. — Tenho a sensação de que devemos reforçar a seção superior. Senhor Knott? O que diz você?

— Começou a desmoronar, milady, — reconheceu Knott. — Estou enviando uma equipe de rapazes até lá, ainda esta semana. Se você acha que devemos ir mais cedo, eu vou fazer isso.

— Eu acho que você deveria ir amanhã, — observou Alina. — Há chuva chegando. Você não quer descer pelas rachaduras na rocha e congelar.

— Sim, minha lady.

Brodgar observou a troca de palavras, nunca deixando de se surpreender com o dom de sua tia quanto com a aceitação das pessoas. O Sr. Knott tinha, reconhecidamente, trabalhado aqui por uma década, então ele sem dúvida sabia do dom da dama.

Quando a conversa morreu novamente, ele se viu preocupado. Ele olhou para Ettie e seu sorriso tímido iluminou seus pensamentos.

Eu gostaria de estar sentado em frente dela e não o florestal. Se estivesse lá, por debaixo da mesa eu...

— Então, — seu pai estava dizendo, inclinando-se para trás. — Eu devo ir. Sr. Knott? Devemos nos dirigir aos negócios? Você já comeu?

— Sim, milorde. Comi bastante e enchi a barriga.

Todos eles riram. Brodgar sorriu para o pai e o homem piscou ao sair.

Quando ele se foi, Lady Amabel limpou a garganta.

— Eu preciso consultar com o cozinheiro, — disse ela. — Precisamos planejar a que servir na reunião... O que me lembra se alguém tem algum pedido? Pratos favoritos que eles sentirão falta?

Esse comentário trouxe um tumulto de comentários, como Brodgar esperava que fosse. Enquanto a família argumentava com bom humor sobre o mérito dos nabos das cebolas, ou se deviam pescar salmão ou usar algumas reservas de presunto, ele descobriu que seus pensamentos se desviavam para Alf.

Onde ele está? Ele olhou em volta e se levantou.

— Com licença, mãe, tias, tios. Irmã e Lady Ettie. Estou no andar de cima.

— Passe pela cozinha mais tarde — disse Amabel. — Eu quero perguntar sobre o estoque...

— Sim, mãe, — Brodgar assentiu. Ele inclinou a cabeça em uma pequena reverência e saiu.

No corredor, seus passos o levaram direto para o quarto de Alf. Ele caminhava pelos aposentos de pedra, quase não os vendo, sua mente fervendo.

Se ele se foi agora, então está em perigo. Ele nunca vai entrar sem ajuda. Não à luz do dia. E se ele esperar até o anoitecer, como vai fugir? Ele tem botas extras? Alf, seu louco...

Ele abriu a porta, desejando além de seus desejos mais selvagens que Alf estivesse lá na cama, as cobertas puxadas até o queixo. Ele olhou para dentro.

— Alf?

Seus piores medos tomaram asas. Sua cama estava feita. Suas coisas guardadas. Sua capa estava faltando.

Brodgar se virou no pequeno espaço. Ele olhou ao redor.

— Alf?

Talvez ele estivesse no sótão. Talvez acabou de sair agora? Talvez ele estivesse cavalgando?

Ele suspirou. Sabia que ele tinha ido embora. Ele era bobo ao querer se enganar.

— Você é louco. Você é louco, tolo, ousado... — ele suspirou. Ele não sabia se naquele momento lhe dava um tapa ou batia no ombro dele, elogiando-o. Ser como Alf, era ser selvagem, livre... era ao mesmo tempo um enorme presente e um risco.

Ele deu uma última olhada. Então tomou uma decisão.

Não podia fazer nada a não ser torcer para que Alf tivesse sucesso, ou ele poderia seguí-lo. Vá atrás dele. Ele não tinha ideia de quando ele saiu. Se ele tivesse saído ao nascer do sol, ele poderia estar em qualquer lugar. Ele teria uma boa hora a sua frente, pelo menos. Não havia qualquer chance.

— É inútil cavalgar atrás dele.

Ele se virou para a porta. Na falta disso, havia apenas uma outra coisa que ele poderia fazer.

Tia Alina. Eu poderia perguntar a ela e ver o que prevê. Pelo menos podemos fazer algo para evitá-lo.

Se isso significasse guerra — e muito bem poderia ser — o conhecimento prévio era essencial. Ele suspirou.

— Que bobo!

Ele queria bater em Alf. Sua impetuosidade havia comprometido Dunkeld. O que Lorde Broderick diria? Ele concordou em fazer arranjos, então por que Alf teve que ir e justo agora?

Ele suspirou. Alf tinha suas próprias razões. Em seu coração, Brodgar sabia que Alf estava pensando nele, assim como em si mesmo. Foi um gesto louco e bonito — arriscando tudo por Ambeal e por seu amigo.

Se ele conseguir, eu posso casar com Ettie. É possível que ele tenha feito isso por mim também.

O reconhecimento era pesado. Brodgar suspirou. Tudo o que ele podia fazer era consultar a vidente. Se o pai dele não estivesse envolvido, eles o envolveriam.

Eu não quero alarmá-lo se não for preciso. Talvez o pai dela não suspeite de mim. Talvez nada de ruim aconteça. Eu não posso saber. Suando de preocupação, ele foi procurar Alina.

— Tia Alina? — Ele foi na ponta dos pés para o solar. Ele ainda podia sentir o cheiro de aveia e banana do desjejum. A sala estava em silêncio, apenas a velha Gwenny, a governanta, retirando os pratos. O som aliviou seu coração acelerado, enchendo-o de lembranças da infância. A velha senhora se virou quando o ouviu entrar.

— Sim, senhor?

Brodgar sorriu para o carinho — ela sempre o chamava assim. Mais uma vez aliviou sua tensão. Estranhamente, embora ele estivesse ansioso para encontrar sua tia e resolver esse mistério, ele ainda achava que conversar com a velha Gwenny aliviava sua mente.

— Você viu a senhora Alina?

— Lá em cima, senhor. Ela geralmente está por lá pela manhã. Negócios da sala de ervas.

— Sim. Obrigado, Gwenny.

— Sim, senhor.

Ele deu um sorriso irônico. Então, sentindo-se ansioso de novo, se afastou. Foi para o andar de cima. Seus passos eram apressados — o pensamento em Alf e o que ele estava prestes a soltar deu-lhe uma nova explosão de velocidade. No momento em que chegou ao topo da escada, um leve suor surgia em sua testa.

— Eu posso ouvir você, — disse Alina, de costas para a porta. Ela estava usando um vestido azul claro, que era a única razão pela qual ele a via na sombra. — Só um momento... estou reforçando isso.

— Tia! Preciso da tua ajuda.

— Em um minuto... ah. Pronto. Sim, sobrinho? O que é tão urgente?

— É Alf! — Disse Brodgar. — Ele se foi.

— Se foi. — Alina olhou para ele, os olhos negros chatos.

— Sim! — Brodgar sabia que sua voz estava apertada com o pânico, mas não tinha tempo para mudá-lo. — Ele está... ele está fazendo algo feroz, tia.

— Feroz? — Tia Alina andou para ficar ao lado dele, fechou a porta atrás deles. Levou-o para seu banquinho atrás do banco alto, perfumado com ervas e mirra. — Agora. Conte-me.

— Ele foi para Bronley, tia. Para fugir com a filha do thane.

— Bronley. Ambeal.

— Sim.

Para sua surpresa absoluta, ela sorriu.

— Agora isso é interessante.

— Interessante! — Brodgar sentiu como se estivesse prestes a ter um ataque apoplético. — Tia! Pode haver guerra! Se o thane vir aqui em busca dela... o que acontecerá? — Ele suspirou, enquanto, para seu espanto, ela começou a rir.

— Você pode ver que há uma certa... vantagem para essa situação. Para você, quero dizer. Eu sei como você e Henriette se sentem. Isso explicaria muito do que pode ocorrer... — Ela mordeu o lábio, claramente perdida em pensamentos.

— O que ocorrerá? — Brodgar estava desesperado. — O que você previu?

— Eu não sei. — A testa suave de Alina franziu com uma carranca. — Brodgar, não está claro. — Seu olhar encontrou o dele. — Existem dois caminhos.

— Dois caminhos? Por favor, você poderia me dizer mais?

Tia Alina cobriu os olhos com a mão. Ela estava inclinada para a frente, com um cotovelo na mesa. A queda de seus ombros a traiu como ela estava desesperadamente cansada.

— Eu posso ver a felicidade em um futuro, — disse ela. — Essa coisa que Alf fez... pode levar a alegria. Muita alegria. Também poderia levar a muita dor. Eu posso ver tristeza no futuro também. Se as coisas seguirem o outro caminho.

— O que eu posso fazer? — Brodgar disse, sua voz caindo para um sussurro. — O que fará as coisas seguirem o outro caminho? Como posso fazer as coisas seguirem a boa?

— Eu não sei, — disse Alina. Ela olhou para ele com os olhos negros como dois poços vazios nas sombra. — Não consigo ver. Neste momento, os dois caminhos ainda estão se desdobrando.

Brodgar estremeceu. Parecia que, naquele momento, o tempo parou. Ele ouviu o vento soprando lá fora e em algum lugar um pássaro cantou.

Alina piscou para ele.

— Frio, — ela disse.

— Desculpe, tia, — disse Brodgar. Ele ficou subitamente preocupado. Sua tia estava de cor cinza-claro, o rosto contrito como se ela sofresse uma dor em todos os lugares.

— Eu preciso me sentar perto do fogo, — disse Alina sucintamente. Ela se levantou e se arrastou para o fogo, o passo lento. Ela se sentou no banquinho que Brodgar o moveu para lá, e o olhou brevemente. Ela não parecia zangada em seus olhos continham um brilho de bondade, rapidamente se fechando enquanto suas pálpebras caíam pesadamente.

— Há alguma coisa que eu possa fazer, tia? — perguntou Brodgar rapidamente. — Eu deveria buscar alguém? Amabel ou... — Ele parou quando ela acenou com a mão para ele.

— Vá, Brodgar. Faça seus planos. Você deve fazer o que está em seu coração.

Brodgar franziu a testa.

— Eu vou tentar, tia.

— Pare o modo padrão. Você consegue. Eu sei disso.

Brodgar estremeceu. Sua voz estava cansada, afundando em um sussurro.

— Acredito que sim.

— Agora vá.

Brodgar correu escada abaixo. Ele não tinha ideia do que fazer. Seu primeiro pensamento foi encontrar sua mãe. Ela era a irmã de Alina. Ela saberia como ajudá-la neste momento. No entanto, o que ela quis dizer?

Faça o que está no seu coração.

Henriette. Ele queria encontrá-la. Ele virou-se para os degraus e desceu as escadas correndo para o solar para encontrá-la. Isso era tudo em que ele conseguia pensar. Ele tinha que seguir seu coração.


CAPÍTULO DEZESSEIS

RESOLVENDO O PROBLEMA


— Henriette!

Ettie se virou bruscamente quando ouviu Brodgar chamar seu nome. Isso era uma nota de urgência em sua voz? Ela olhou para Amice, que também ouvira. Elas largaram o novelo de algodão que estavam estendendo entre si e se viraram para encará-lo, com expressões preocupadas em seus rostos.

— Brodgar? — Perguntou Ettie.

— Ettie! Oh, aí está você. — Brodgar olhou para ela da porta. Ele tinha corrido todo o caminho até aqui, claramente: ficou orgulhosa do suor em sua testa e tinha o rosto corado.

— Brodgar? — Amice disse. — Irmão. O que é isso? Mãe...

— Ela está bem. Ela está lá em cima. Ettie você pode descer um momento?

— É claro, — disse Ettie. Ela olhou para Amice. Sua amiga estava franzindo a testa, com uma pequena ruga.

— Vá, Ettie, — disse ela.

— Eu vou. Fica aqui até eu voltar? Eu vou te dizer se há alguma coisa errada.

— Obrigada. Eu fico.

Ettie correu atrás de Brodgar, que segurava a mão dela enquanto corriam para o solar.

— O que é isso? — Perguntou Ettie. — Por favor, Brodgar...!

— É Alf! — Brodgar disse rapidamente. Ele estava de pé na frente dela, encostado na parede, o rosto perto... tão perto que ela podia ver os longos cílios dos olhos, as veias onde o sangue dele corria.

— O que aconteceu? Ele está...

— Em Bronley.

Ettie ofegou.

— Brodgar! Ele foi..?

— Ele tomou Ambeal.

Ettie sentiu o coração dela cair pelo chão. Alf fazer isso agora... era perigoso. A senhora Amabel havia lhe contado como seria perigoso romper a aliança, e como o futuro girava em torno disso. Tudo o que precisavam era que Alf entrasse nesse equilíbrio precário, sem noção do perigo. Ele acabaria com anos de negociação em um instante.

— Brodgar. O que podemos fazer?

Brodgar suspirou.

— Eu não sei. — Ele balançou a cabeça. — Eu deveria ter previsto isso. Eu não sabia...

— Como você poderia ter previsto? — Perguntou Ettie. — Alguém já previu isso?

— Você quer dizer, se minha tia me contou?

— Sim.

Brodgar suspirou.

— Você perguntou a ela hoje de manhã? — perguntou Ettie.

— Eu perguntei, — concordou Brodgar. — Ela disse que poderia seguir de qualquer maneira.

— O que isso significa? — perguntou Ettie franzindo a testa.

Brodgar se recostou, fechando os olhos por um momento. Então ele suspirou.

— Eu não sei. Vamos. Vamos sentar. Eu sinto muito. Eu não deveria ter vindo encontrar você. Eu só... eu deveria seguir meu coração, então acho que pensei primeiro em você.

Ettie sentiu suas bochechas coradas. No meio dessa situação horrível, ele pensara nela quando queria seguir seu coração. Ela pegou a mão dele e segurou-a.

— Meu querido. Essa é a coisa mais fofa que já ouvi.

Brodgar corou. Ele apertou sua mão também.

— Bem, é verdade, — disse ele. Eles se sentaram assim por um tempo, ela em frente a ele na poltrona, seus dedos agarrados nos dele. Ela podia sentir seu pulso sob seus dedos; batendo rápido. Ela tomou conforto no ritmo doce e constante disso.

— O que podemos fazer? — Perguntou Ettie, limpando a garganta.

Brodgar suspirou.

— Não tenho nenhuma ideia.

— Seu pai sabe? — Perguntou Ettie.

Ele estremeceu.

— Eu sei que deveria contar a ele. Mas eu não posso trair meu amigo assim. Como eu poderia?

— Ele deve saber, — disse Ettie com firmeza. — Alguém tem que avisá-lo.

— Você está certa, claro. — Brodgar assentiu. — Eu contarei a ele. Talvez, se eu lhe disser, isso possa ser evitado. Se ele souber o mais rápido possível, poderá enviar mensageiros para MacDonnell, explicando nossa falta de envolvimento. Nós poderíamos evitá-lo. Nós podemos ainda conseguir isso.

— Tudo o que posso fazer para ajudar, — Ettie se viu dizendo: — Eu vou fazer.

— Minha querida. — Brodgar apertou a mão amorosamente. — Eu a agradeço.

Ettie corou.

— Claro, meu querido. — Ela adorava dizer essas palavras! Só de pensar nele e ela juntos fazia o sangue correr para o seu rosto. No entanto, ela não podia se satisfazer agora.

— Eu vou descer. — Brodgar disse.

— Se você estiver pronto, — disse Ettie. — Eu vou também?

Brodgar riu.

— Eu agradeceria, Ettie. Obrigado.

Eles endireitaram os ombros e desceram as escadas para o salão. Brodgar subiu a escada do Norte até o escritório de seu pai. Ele parecia pronto, Ettie podia ver seus ombros tensos sob o manto, a mandíbula apertada.

— Eu vou esperar aqui, — ela disse suavemente.

Brodgar sorriu por cima do ombro para ela.

— Obrigado.

Ettie observou-o entrar, com os nervos em guerra com o profundo orgulho que sentia por ele.

Ele é um homem tão bom. Tão corajoso. Dizer ao pai não será fácil.

Quando Brodgar entrou, ela ouviu seu pai perguntar qual era o problema. Ele parecia gentil. Ela fez uma pausa.

Ele pode parecer gentil agora. Não sei o quão gentil ele será quando souber que suas perspectivas para o futuro acabaram de ser achatadas por uma escapada mal pensada.

Ela andava no corredor. O sol brilhava através da janela alta, derramando luz empoeirada nas lajes. Ela não podia ouvir a conversa atrás da porta fechada, mas desejou que pudesse. O suspense estava a matando. Por fim, Brodgar surgiu.

— O que houve? — Ela disse, correndo. — O que meu amor? Conte-me? Por favor.

Brodgar estava branco. Suas mãos estavam cerradas. Sua mandíbula rígida.

— Ele está furioso.

Ettie sentiu o coração afundar no chão.

— O que ele disse?

— Eu não vou repetir, — sussurrou Brodgar. — Eu só... — Ele se afastou enquanto falavam, descendo rapidamente as escadas de volta para o salão. — Eu tenho que fazer alguma coisa. Mas não sei o quê.

Ele se virou para Ettie com uma expressão tão ferida que ela sentiu o coração apertar. Ela queria abraçá-lo, deixá-lo encontrar conforto em seus beijos, em sua proximidade. No entanto, sabia que ele precisava fazer alguma coisa agora. Ela franziu a testa.

— O que você poderia fazer?

— Só há uma coisa que posso fazer, — disse Brodgar em voz baixa. — Vou atrás dele.

Ettie cobriu a boca com as mãos. Essa era a coisa que ela temia que ele fizesse. Ela não queria que ele fosse. Não queria que ele assumisse riscos. Em sua mente, ela podia vê-lo cavalgando pelas florestas, perseguido pelos soldados de Bronley Fortress. Ela estava apavorada por ele.

— Eu sei que você tem que fazer isso, — ela sussurrou. — Mas você não pode levar Blaine? Alguém? Os homens?

Brodgar suspirou.

— Apenas eu. Se eu chegar lá à frente de um pequeno exército, não parecerá ser uma visita amistosa. — Ele deu um pequeno sorriso tenso. — Eu farei o meu melhor para estar seguro, meu amor.

Ettie engoliu em seco. Era a primeira vez que ele usava esse carinho com ela. Mesmo assim, a felicidade era manchada de medo. Ela pegou a mão dele.

— Esteja seguro.

— Vou tentar.

Ele tinha ficado mortalmente pálido. Ettie sabia que ele entendia a magnitude do perigo que enfrentava. Ele poderia cavalgar para lá e não voltar. O thane não aceitaria bem o sequestro de sua filha. Não. Isso poderia ser uma guerra. Bronley não estava longe deles — eles compartilhavam uma fronteira do Norte. O pensamento do que poderia acontecer a fez suar.

— Eu sei que você vai voltar para mim, — ela sussurrou. Ela beijou sua testa. — Agora, vá com segurança.

— Eu vou.

Ele a apertou contra o peito. Ela o envolveu seus braços com força, esmagando-se contra ele. Ela podia sentir o cheiro do almíscar de seu corpo e sentir o músculo duro contra sua forma macia. Ela não queria deixá-lo ir. Se ela o soltasse, ele partiria. Se ele se afastasse, poderia morrer. Ela não queria que ele morresse.

Ela conteve as lágrimas, sorriu-lhe enquanto ele entrava no pátio. Então ela fugiu. Seus pés a levaram para seu quarto de dormir, o que era uma coisa boa, porque quase não podia ver o caminho até lá, cega por suas próprias lágrimas. Na câmara, ela deitou de bruços na cama e soluçou e soluçou.

— Brodgar, — ela sussurrou para o ar vazio. — Fique seguro. Por favor.

Enquanto ela estava lá, sentindo-se muito cansada e esgotada para se sentar, ouviu um som estranho. Era um sussurro suave no ar, um pequeno suspiro ofegante. Alguém estava chorando por perto. Ela sentou-se e, esquecendo-se da própria desgraça no momento, saiu na ponta dos pés.

O barulho levou-a até a porta de madeira ao lado da dela. Ela bateu. O choro parou.

— Olá? — Henriette chamou suavemente.

— Henriette? — A voz estava tensa. Henriette reconheceu instantaneamente. Era Chrissie. — Tia? Você está bem?

— Eu não sei se estou... oh! — Chrissie apareceu na porta. Seus olhos estavam enevoados e ela segurava um lenço em suas bochechas. Eles estavam prateadas com os traços de lágrimas.

— Tia Chrissie. — Henriette deu um passo à frente e abraçou-a sem palavras. — Oh minha querida. Eu sinto muito...

Henriette segurou a pequena mulher em seus braços e acariciou suas costas enquanto se apoiava em seu ombro.

Finalmente, Chrissie se afastou e olhou em seus olhos.

— Estou com tanto medo por ele. Broderick me disse e... — Ela suspirou, os ombros tremendo enquanto soluçava. Ela entrou em seu quarto e sentou-se. Henriette hesitou antes de seguir seu convite. A sala estava quente, um fogo ardia na lareira, pequenos toques dos bordados de Chrissie por toda parte. Cheirava a perfume de rosas. Chrissie sentou-se à sua penteadeira, olhando para as florestas.

— Tenho certeza de que isso pode ser remediado, tia — disse Chrissie em voz baixa. Ela estava em frente dela, não querendo se sentar na grande cama com dossel. Sua tia acenou para o assento no canto e mudou de posição para que pudessem se ver de maneira apropriada.

— Eu não vejo como — Chrissie fungou. — Broderick... ele estava furioso. Ele é um bom homem e não me culparia nem Blaine por isso, mas... Oh, Ettie. Meu filho deveria saber o que isso traria e ainda assim... e ainda assim não posso condenar seu proceder.

— Alf está apaixonado — disse Ettie em voz baixa. — Todos nós somos inteligentes o suficiente para saber como ele se sente. Nenhum de nós deveria condená-lo.

Chrissie sorriu.

— Você está certa. Você é sábia.

— Eu não sou sábia, — Henriette disse suavemente. — Eu só tenho sorte. Sorte o suficiente para ter encontrado o amor.

Chrissie sorriu para ela.

— Bem, de certa forma, não sinto muito. Isso significa que você está livre para se casar com Brodgar, não é verdade?

Henriette sorriu.

— Eu não sei.

— Eu não acho que Broderick iria deixar isso ter repercussão para ninguém, — disse Chrissie, fungando e enxugando os olhos com o quadrado de linho. — Ele não é do tipo que guardaria rancor ou buscaria punição. Ele fará o melhor para resolver esse problema, seja o que for preciso.

Ambos foram interrompidos pelo som de pés no corredor.

— Esse é Blaine? — Chrissie perguntou. Ela olhou ao mesmo tempo apreensiva e encantada. Henriette sentiu-se subitamente desajeitada. Ali estava ela, dando consolo a Chrissie, onde, por direito, ela desejaria o conforto de Blaine, com certeza.

— Eu devo ir, — ela disse sem jeito. Os passos recuaram.

— Não é Blaine, então, — Chrissie disse com tristeza. — Oh. Bem, não vá, minha querida. Eu gostaria de conversar um pouco. Eu não sei o que vai acontecer agora. Broderick provavelmente cancelará a reunião...

— Ele iria?

— Bem, se algo acontecer, nós seremos obrigados, — Chrissie disse tristemente.

— Não vai, — disse Henriette, sentindo-se totalmente convencida. — Por que isso deveria acontecer?

Chrissie assentiu.

— Bem, não deveria. Por que tantos morreriam por um ato tolo e corajoso?

— Exatamente. — Henriette disse, sentindo uma força renovada em si mesma. Ela assentiu enfaticamente. — Se não fosse por algumas obrigações impostas aos jovens antes que eles pudessem sequer andar, Alf poderia pedir a Ambeal para se casar e não haveria necessidade de tanta precipitação. Alf não fez nada. Ele só procurou fazer suas próprias escolhas.

Chrissie sorriu tristemente.

— Ah se todos nós tivéssemos essa clareza de visão, minha querida, — ela disse suavemente.

Henriette sorriu.

— Talvez iremos ter um dia.

— Eu rezo para isso.

Elas se sentaram em silêncio por um tempo. Henriette ouviu passos de botas passando devagar pela porta.

— Esse vai ser ele, — disse Chrissie, sorrindo. — Esse é o Blaine. Você deve ir, minha querida.

— Eu vou. Você está se sentindo melhor?

Chrissie sorriu.

— Eu estou querida. Eu sinto como se as coisas estivessem direitas, afinal de contas. — Ela fungou. Chrissie sorriu.

— Bem, você me disse que todas as possibilidades são igualmente possíveis.

Chrissie sorriu.

— Você está certa, querida.

— Bem, então, — Henriette disse com firmeza. — A possibilidade de Alf e Ambeal se casarem e serem felizes e voltarem para cá como se nunca tivessem sido proibidos é possível.

Chrissie respirou fundo e assentiu.

— Obrigada, minha querida. Obrigada por me lembrar disso.

— De modo nenhum.

Henriette beijou a bochecha da tia rapidamente e correu para fora. Enquanto caminhava pelo corredor, ouviu Blaine entrar na câmara. Viu ele tomar Chrissie em seus braços e ouviu-a chorar quando a abraçou, embalando-a.

Henriette sentiu uma pontada dolorosa no peito, vendo aquele amor. Isso a fez pensar em si mesma e em Brodgar.

Esteja seguro, meu amor. Esteja seguro.


CAPÍTULO DEZESSETE

PRISIONEIRO NO FORTE


A floresta estava escura ao redor de Bronley quando Brodgar chegou. Ele estava exausto e as luzes do castelo penetravam na escuridão, fazendo-o fechar os olhos momentaneamente enquanto subia a breve inclinação até o portão.

— Quem vai lá?

— Brodgar MacConnoway, filho do thane de Dunkeld.

Ele viu as sentinelas tensos de repente. Ouviu-os gritar para os homens nas muralhas.

— Abra o portão!

Ele atravessou o portão até o pátio escuro. O vento sussurrava ao redor dele, frio e cortante. Ele sentiu como se estivesse entrando em uma armadilha. Havia mais homens de armas no espaço do que ele podia se lembrar — em pé em torno dele, tochas agitadas pelo vento agudo. Ele desmontou, deixando um cavalariço repentinamente atento para levar seu cavalo para os estábulos.

O thane atravessou as portas do grande salão quando se aproximou deles.

— Prendam este homem!

Brodgar olhou para ele com horror. Seus guardas, dois daqueles oito que o ladeavam, avançaram. Colocaram as mãos pesadas sobre ele e Brodgar decidiu que era melhor não resistir.

— Meu lorde! — Ele gritou. Ele havia treinado sua voz para ser ouvido em um campo de batalha. Isso acontecia agora.

O thane virou-se para onde ele estava, impassível enquanto amarravam Brodgar. Seus olhos cintilaram com interesse e depois entorpeceram.

— O que é?

— Meu lorde! Meu pai não sabe nada do que aconteceu. Não era do nosso interesse. Por que eu sequestraria sua filha quando desde menino estava noivo dela? É desnecessário isso.

— Você veio aqui, — disse o thane. — A viu. A roubou. Usou-a? Como devo entender suas mentes perversas? Tudo o que sei é que vou tê-la de volta. Sua vida não significa nada para mim. Você está aqui como refém até que seu pai considere adequado devolvê-la.

— Meu lorde! — Brodgar gritou. Ele notou que os guardas em volta deles pareciam desconfortáveis. Ele sabia que eles também não queriam cumprir as ordens do seu mestre.

— O que, MacConnoway?

— Escreva para o meu pai. Ele vai explicar. Ele lhe dirá que não temos sua filha.

O homem estava desinteressado. Ele desviou o olhar.

— Eu não acredito em você.

— Meu lorde... — Brodgar suspirou. Ele decidiu que não adiantava contar-lhe nada. Ele não estava preparado para ouvir a razão. Quando os guardas o levaram, ele se perguntou como alguém poderia deixar de ter bom senso. Que mérito haveria em antecipar seus votos e guerrear?

— Isso é loucura, — ele murmurou.

Os guardas levaram-no sem palavras para a torre. Havia uma pequena sala lá no topo — provavelmente usada uma vez para guardar tapeçarias ou algo assim, ou para um único guarda vigiar a trilha do Sul. Eles o colocaram lá.

Os guardas pareciam desconfortáveis com o trabalho deles. Um deles foi buscar um balde — Presumivelmente, para funcionar como penico, pensou Brodgar, distante. O outro deu de ombros.

— Vou pegar alguma coisa, — disse ele. Quando voltou, tinha um cobertor.

— Obrigado, — disse Brodgar suavemente. Ele o tocou.

— Está frio aqui, — o guarda disse rispidamente. — Não fique resfriado.

Brodgar agradeceu novamente. Os guardas se afastaram. Trancou a porta. Deixando-o lá.

Brodgar se apoiou na parede e fechou os olhos. Ele sentou no chão.

O que eu vou fazer?

Tomá-lo prisioneiro só aumentaria as coisas.

O que MacDonnell esperava? Que seu pai traria milagrosamente a garota que nunca esteve no castelo? E se ele não pudesse — o que certamente não poderia — o que aconteceria?

Ele levará homens para Dunkeld e a guerra começará.

Brodgar suspirou. O que ele poderia fazer? Ele decidiu seguir o único conselho que lhe foi dado. Seu coração. Siga seu coração.

Se eu tivesse feito isso, nunca teria vindo. Eu estaria com Henriette agora. Ou com Alf, tentando impedi-lo de fazer qualquer coisa estúpida. Eu não vim aqui por amor. Eu vim aqui porque meu pai teria desejado isso de mim. Eu fiz isso para tentar fazê-lo sentir orgulho de mim; ou pelo menos ficar menos envergonhado.

Brodgar olhou em volta. Em frente a ele, a minúscula janela deixava entrar um pedaço da noite, coberta de estrelas. Ele olhou para o céu e pensou nela.

Henriette. O que ela estaria fazendo agora? Ela estava triste? Indiferente? Ela estaria em seu quarto, penteando o cabelo? Ela pensava nele e se perguntava onde ele estava? Perguntando-se quando ele voltaria para ela, e se estiva em perigo aqui...

— Eu preciso voltar.

Quando ele disse isso, percebeu que não era uma má ideia. Se ele pudesse escapar, ele poderia voltar para seu pai, dizer-lhe para não enviar tropas ou se envolver com o MacDonnell até que Ambeal fosse encontrada. Alf teria que ser persuadido a trazê-la de volta.

Pelo menos eu posso encontrar Alf. Ele se lembrou do que planejavam fazer. Alf estaria na pousada em Hightop esta noite — uma pequena aldeia na próxima encosta. Ele ficaria lá, mantendo-se fora das estradas, e depois viajando para o vale na manhã seguinte. Eles iriam pelos caminhos da floresta. Dessa forma, eles escapariam dos homens do thane que provavelmente vasculhariam as estradas.

Eu poderia encontrá-lo, se trocasse de cavalos pelo tempo suficiente. Se eu pudesse sair daqui amanhã, eu poderia pegá-los e fazê-lo trazê-la de volta.

Agora que seu pai sabia do amor entre Alf e Ambeal, e como os sentimentos deles eram sérios, ele acharia adequado se mover rapidamente. Ele faria o que já havia decidido e negociaria com o MacDonnell.

Parece loucura: se Alf levar Ambeal de volta a Dunkeld, parecerá que somos responsáveis. Mas se eu puder deixar claro que meu pai os trouxe de volta, isso seria um fator atenuante. Como poderíamos fazer isso..?

Brodgar pensou nisso por um longo tempo. As estrelas mudaram no momento em que ele teve uma resposta.

Ele suspirou. Estava frio aqui. Ele estava grato pelo cobertor. Ele rolou e considerou deitar. O chão era de madeira, pelo menos. As paredes eram de pedra e drenavam o calor. Ele se enrolou no meio do chão, puxou o cobertor sobre si mesmo e tentou dormir.

Na manhã seguinte, ele acordou com uma dor de cabeça, cada articulação rígida e dolorosa. Ele sentou-se e encostou-se à parede. A longa janela mostrava-lhe um céu claro, as nuvens estanhavam-se na sua indiferença branca e suave.

Eu preciso fazer algo hoje.

Sua primeira consideração foi o desjejum. Ele não tinha jantado ontem, e só tinha comido o almoço que tinha levado para a estrada. Pelo menos parte das dores e cansaço eram devidas à fome. Ele foi até a porta. Bateu educadamente.

— Olá?

Sem resposta. Ele suspirou. Ele era um prisioneiro — até mesmo os mais bondosos guardas provavelmente não estariam lá o tempo todo, prontos para as refeições.

— Olá?

Ele bateu novamente. Desta vez, ele ouviu algo do lado de fora da porta. Botas, arrastando-se pelas escadas. Alguém abriu a porta.

— Sua Senhoria está fora, — disse o guarda, com voz baixa. — Vasculhando as florestas.

— Oh. — Brodgar franziu a testa. Por direito, eles não deveriam estar falando. Ele ficou surpreso que os guardas o deixaram saber algo tão potencialmente útil quanto a ausência de seu próprio senhor.

— Não gostamos disso, — confidenciou o guarda. — Manter prisioneiro uma pessoa gentil como você — acrescentou ele, com um gesto desdenhoso da cabeça na direção da sala, que na verdade estava fria e desagradável.

— Eu te agradeço, — disse Brodgar em voz baixa. Naquele momento, um cheiro maravilhoso subiu pelo corredor. Era mingau de aveia, pensou ele, embora também sentisse o cheiro de caldo. Sua boca encheu de água e ele engoliu em seco.

— Ah, — disse o guarda, grave. — Estarei de volta em um segundo.

Esse deve ser o desjejum do guarda. Homem de sorte. Espero que as ordens deles não sejam me matar.

Ele estremeceu. O pensamento entrou em sua cabeça, mas o deixou logo depois. O MacDonnell não era impetuoso — se ele tivesse a intenção de manter Brodgar para barganhar pelo retorno de sua filha — o que parecia ser sua intenção — por que matá-lo? Mesmo assim, a falta de água ou alimentos sugeria que ele não foi feito para viver assim.

Brodgar gemeu quando seu estômago revirou. Ele foi se sentar na torre, sentindo como se pudesse enlouquecer se algo não acontecesse logo. A fome, a incerteza e a inatividade estavam roendo sua sanidade como a água do rio minando a margem do rio. Ele apertou as mãos com força.

Uma batida soou.

— Meu lorde?

— Aqui, — Brodgar gemeu.

O guarda apareceu. Para espanto de Brodgar, ele trazia uma bandeja. Uma tigela de caldo fumegava ali, e dois pães pequenos de aveia ocupavam a parte inferior da bandeja.

— Não quero que você morra de fome, — disse o guarda placidamente. Ele colocou no chão.

— Obrigado, — disse Brodgar. Sua voz estava rouca e ele sabia que seus olhos estavam molhados. Ele não se importava.

— De modo nenhum.

O guarda saiu, parecendo tímido e desapareceu. Ele ouviu a chave girar na fechadura.

Graças a Deus por esses homens gentis. Brodgar levantou os pequenos pães e terminou de comer antes de sequer pensar nisso, e depois tomou o caldo. Ele podia sentir seu corpo começar a tremer enquanto comia, a força retornando a seus músculos com cada gole.

— Certo, — disse ele, recostando-se contra a parede, de olhos fechados. — Isso foi o desjejum.

Naquele momento, ele estava cansado demais para fazer qualquer coisa, mas ficou parado por um tempo e deixou seu corpo necessitado continuar a tarefa de digerir o desjejum. Ele flexionou os dedos, observando o comprimento musculoso deles enquanto pensava.

Isso dificulta as coisas. Agora que os guardas foram gentis, não quero me arriscar, tornando-os negligentes. Eu não posso arriscar seus meios de subsistência por uma fuga.

Ele suspirou. Ele tinha que escapar. Talvez houvesse uma maneira de fazer isso sem que os guardas — pelo menos sem esses guardas — fossem responsáveis.

Havia uma lasca de luz solar atravessando a nuvem. Ele iluminava um caminho no chão. Brodgar se banhou em calor. Ele se levantou e olhou pela janela. Era estreito demais para seus ombros — ou pelo menos ele achava que era — e era quatro vezes a altura de um homem no chão. Ele não podia pular.

— Vamos lá, Brodgar. — Cada minuto que ele perdia aqui era a diferença entre seu plano de trabalho — encontrar Ambeal e Alf, trazê-los de volta — ou não.

Enquanto andava, os guardas retornaram.

— Perdão, milorde, — o guarda amável disse. — Sua Senhoria solicita a sua presença.

— Oh, — disse Brodgar. Ele estava surpreendido. Por que o thane o tiraria daqui agora?

Provavelmente quer me questionar.

Qualquer que fosse o caso, agora era sua oportunidade de escapar. Se ele conseguisse fugir do salão — ou onde quer que o Thane fosse lhe receber — e escapar dos guardas, ele seria capaz de sair sem colocar em risco esses guardas.

Certo. É isso.

— Bem, então, — disse ele, acenando para os guardas. — Vamos lá então. Obrigado — acrescentou ele, inclinando a cabeça para a bandeja de desjejum que um deles estava limpando sub-repticiamente.

— De maneira alguma, senhor, — disse o guarda. — Não mencione isso.

Ele sorriu.

— Eu não vou.

Os guardas desceram com ele através de uma porta com colunas e na frente do grande salão, onde uma porta alta e arqueada, ladeada de sentinelas, admitia pessoas no próprio salão.

É isso.

Enquanto os guardas trocavam uma palavra com seus companheiros no portão, Brodgar correu para a direita. Os guardas ficaram tão surpresos que levaram um momento para reagir. Então o mundo se dividiu em uma massa de homens correndo, homens gritando, homens com armas tentando não entrar no caminho um do outro enquanto eles convergiam para a figura agitada que se movia pelo pátio.

Brodgar correu. Ele não achou que fosse conseguir. Não havia como. O lugar estava cheio de guardas e ele não tinha uma única esperança de sair pelo portão da frente. Ele não teve tempo para planejar. Não havia tempo para pensar. Ele só podia correr.

Os estábulos. Eu tenho que ir aos estábulos. Se eu puder encontrar meu cavalo, então posso encontrar minha espada. Então, pelo menos estarei armado.

— Pare!

Um guarda balançou o cajado, na esperança de derrubá-lo. Brodgar viu o movimento e se deslizou para o lado. Mesmo assim, atingiu seu tornozelo, fazendo-o gritar bem alto. Ele continuou correndo.

Ele ouviu um som que tanto temia. Cascos

Um guarda montado apareceu da direção em que ele estava indo.

Dessa maneira. O estábulo é por ali.

Ele correu. Seu corpo inteiro estava cheio do fogo fluido de terror e urgência e ele não percebia como seu coração batia ou sua respiração se rompeu ou suas pernas doíam. Ele só sabia da necessidade de escapar.

Quando chegou aos estábulos e viu o grupo de homens, todos correndo para pegarem seus cavalos ou se armarem, ou simplesmente para fazer as ordens de Sua Senhoria e deter Brodgar, ocorreu-lhe um pensamento.

Nós treinamos os cavalos; meu cavalo.

Ele respirou fundo e assobiou.

Quando ele fez isso, ouviu um som maravilhoso. Um baque na madeira. Ele viu Arnold aparecer, momentos depois, correndo para ele, passando por homens que procuravam deter seu progresso.

— Sim! Arnold. Muito bom Arnold. Minha beleza...

Ele o chamou mesmo quando seu coração disparou. Ele deu o salto que seu pai lhe ensinara e, depois, o tio Blaine aperfeiçoou, fazendo-o passar por cima do animal repetidas vezes até que pudesse fazê-lo como reflexo. Ele deu um pulo, agarrou a cernelha do cavalo e levantou-se para se sentar.

— Ugh! — Ele gritou enquanto as mãos se esticavam, procurando se armar. Ele viu um homem com uma lança, preparando-se para empalar sua montaria. Ele gritou de raiva. Desembainhou sua espada.

Ele não pensou em nada enquanto sua espada cortava a carne. Ele nunca havia usado sua espada em batalha antes. No entanto, para matar seu cavalo — seu amigo, que acabara de salvar sua vida — ele não aprovaria.

Ele ouviu um grito de guerra escapar de sua garganta, selvagem e louco. Ele estava surpreendido. Ele não tinha ideia de que poderia fazer nada disso. Ele tinha feito isso mil vezes no treinamento, mas ele nunca realmente lutou na prática. Ele estimulou Arnold para a esquerda, procurando o portão de água. Apenas não iria pela entrada principal.

Eles cavalgaram. Enquanto eles iam, homens se aproximavam, mas Brodgar estava pronto como o aço e poucos se aproximaram. Ele estava grato por ninguém ter bestas na ameia. Ou ele estaria morto.

Ele cavalgou em direção ao portão.


CAPÍTULO DEZOITO

EM BUSCA DO CAMINHO A SEGUIR


O solar estava quente, apesar da brisa agitada do lado de fora das janelas. Mesmo assim, Ettie se sentiu completamente entorpecida. Ela se sentou na poltrona, sozinha, curvada sobre um novo bordado.

Onde ele está? Por favor, por favor, deixe-o ficar bem e em paz.

Ela esteve andando mais cedo, mas parou agora e sentou-se com a cabeça inclinada sobre os pequenos desenhos de flores e folhas que bordava, como se houvesse algum significado entre os fios de seda.

— O que eu vou fazer se eles o matarem?

Não fazia sentido. Contemplar um mundo sem Brodgar era como tentar imaginar o castelo sem suas paredes — não, como o mundo inteiro sem céu. Era como olhar para um vazio escuro.

Ela olhou para longe, perdida em suas lembranças dele. Brodgar, beijando-a aqui neste lugar. Na ameia juntos. Na floresta.

— Henriette?

Ettie piscou. Alguém estava chamando o nome dela? Não. Deve ter sido o vento, sibilando pelas janelas.

— Henriette!

— Oh!

Henriette viu quando Amice apareceu na porta. Seu rosto estava branco e em choque e seus olhos eram enormes.

— Ettie! — Ela sussurrou. — Por favor. Eu preciso de ajuda.

— Amice? — Ettie se levantou e foi até ela, pôs os braços em volta dela e a atraiu para dentro. — O que é, irmãzinha? Conte-me?

Amice segurou a mão dela. Ela estava olhando para o quarto, mas claramente não vendo. Seu corpo tremeu e Ettie a abraçou, muito preocupada agora. O que tinha acontecido?

— Alf. É o Alf. Oh, Ettie... — Amice cobriu o rosto e soluçou.

— O quê? — Ettie sentiu como se alguém a esfaqueasse no peito. Onde estava Alf? Ele estava morto? Capturado? Machucado? — O que tem ele?

— Ele está aqui.

— O quê? — Ettie olhou para ela. De todas as notícias, essa era a mais surpreendente. E horrível, por muitas outras razões. Se Alf estava aqui, então... então é só uma questão de tempo antes que o MacDonnell descubra, e então realmente haverá uma guerra.

— Ele está lá embaixo, — Amice sussurrou. — Na adega. Eu o escondi. Oh, Deus... o que faremos?

— Você o escondeu. Boa. — Ettie sentiu o coração disparar, mesmo quando uma calma estranha desceu sobre ela. Agora podia pensar de novo, devagar. Fazer um plano. — Alguém mais o viu? Alguém sabe que ele está aqui?

— Não. — Amice balançou a cabeça. — Pelo menos eu não penso assim. Eu não deixaria o pai nem ninguém saber.

— Bom, — disse Ettie, acariciando seu cabelo vermelho e macio. — Isso é bom.

— O que podemos fazer? — Amice sussurrou. — Isso é tão perigoso, Ettie... — Ela parou, enterrando o rosto nas mãos.

— Ele está sozinho? — Ettie perguntou rapidamente. Alf sozinho não seria um problema real: se nenhum dos homens MacDonnell o visse, como alguém saberia que ele era responsável? Isso poderia ser explicado.

— Não, — Amice disse em um sussurro.

— Não?

— Ele tem Ambeal com ele.

— Oh. Meu Deus. — Ettie sentiu-se tremer em seu assento. Isso realmente era ruim. Alf! Como ele poderia pensar em fazer uma coisa dessas? Ele queria arriscar tudo? Trazer guerra à sua porta? — O que podemos fazer?

— Eu não sei, Ettie, — Amice sussurrou. — Eu os vi nos jardins. Pela ameia. Eu pensei que eram pessoas do povoado, vindo em busca de ajuda. Eu fui até eles e me imploraram para escondê-los. Disse que as estradas estão cheias de homens de armas. Temos que ajudar.

— Bem, ele não nos deu muita escolha, não é? — Ela sorriu. Amice conseguiu rir.

— Oh, Ettie. Você é tão sensata e prática. Eu sabia que ia ajudar.

Ettie estremeceu.

— Espero que eu possa.

— Eu não sabia o que fazer. — Amice disse. — Eu não tinha certeza com quem deveríamos contar.

— Devemos dizer a Chrissie.

— Ah, não! — Amice cobriu a boca de botão de rosa com a mão. — Não, Ettie. Não podemos arriscar nenhum deles sabendo...

Ela quis dizer qualquer um dos membros mais velhos da família. Ettie estaria inclinado a concordar, exceto pela tristeza de Chrissie. Descobrir que seu filho estava aqui provavelmente a animaria, apesar do perigo. E eles poderiam contar com uma cabeça extra para pensar sobre este problema.

— Ela é sua mãe, — disse ela razoavelmente. — Ela ajudaria.

— Você está certa, claro. — Amice fungou. — Mas se o pai descobrir... nunca o vi com tanta raiva. Eu pensei que ele poderia exilar Alf ou matá-lo... — ela estremeceu.

Ettie colocou o braço em volta de Amice.

— Eu sei que ele estava bravo. Mas não acho que Lorde Broderick seja o tipo de homem que deixe sua raiva obscurecer tudo.

— Eu espero que não, — Amice sussurrou.

Ela olhou nos olhos de Ettie. Ela se fez de confiante, embora por dentro estivesse terrivelmente nervosa.

— Vamos. Nós vamos encontrá-la.

Elas se levantaram e, Ettie ainda segurando a mão dela, caminhou até a suíte de Chrissie ao lado do quarto dela.

— Tia Chrissie? — Amice chamou e Ettie bateu. — Você está aí?

Elas esperaram por alguns momentos e ouviram passos, e então a porta se abriu. Chrissie apareceu. Ela tinha chorado recentemente, julgou Ettie, embora tivesse encoberto com pó facial. Ela piscou para as duas no limiar.

— Sobrinhas? O que é isso? — Ela perguntou suavemente. — Posso ajudar?

— Você está sozinha, tia? — Ettie perguntou, indicando a câmara atrás dela.

— Sim.

— Podemos entrar? — Amice perguntou.

— Claro, garotas. Mas o que é? — Chrissie perguntou, parecendo preocupada. — Aconteceu alguma coisa? É sua mãe? — perguntou Amice, franzindo as sobrancelhas. Lady Amabel estava inconsolável desde que Brodgar saíra, e a última vez que Ettie a tinha visto, estava andando no corredor superior, não falava com ninguém exceto com Alina.

— Não, não é isso, — disse Amice. Ettie fechou a porta atrás delas e enfrentaram Chrissie juntas.

— É Alf.

— Ele voltou.

Quando a notícia saiu, o rosto de Chrissie se transformou em um sorriso.

— Ele voltou? Ele está seguro? Onde ele está? Posso vê-lo?

— Ele está lá embaixo, — disse Ettie com cuidado. — No porão.

— Por quê? Por que ele não está aqui, comigo? — Chrissie perguntou rapidamente. — Ele está ferido? Me leve até ele!

— Ele está se escondendo, — explicou Amice rapidamente. — Ele é um fugitivo.

— Por quê? — Chrissie parecia agoniada, seus olhos azul-claros arregalados de descrença e tristeza. — O que aconteceu?

— Ele tem Ambeal com ele. — Ettie disse rapidamente. Quanto mais cedo ela soubesse, melhor. Então elas poderiam pensar em uma solução juntas.

— Oh... — Chrissie sentou-se abruptamente. Ela olhou para as meninas. — Que o paraíso nos ajude. No que ele estava pensando? Como ele pode?

— Eu sei, tia — disse Ettie sombriamente. — Ele está nos colocando em perigo.

— Ele está escondido, no entanto, — disse Amice prestativamente. — Se ninguém souber que eles estão aqui, então não há perigo, não é?

Chrissie pegou a mão dela, sorrindo afetuosamente para a sobrinha.

— Minha querida, você está certa. Tudo o que precisamos fazer é mantê-los seguros e escondidos até as negociações acabarem. Isso é verdade.

— Bem, então, — disse Ettie, sentindo-se subitamente nervosa. — Alguém vai encontrá-los?

— A adega é raramente usada, — explicou Amice. — A única pessoa que desce lá muitas vezes é a cozinheira, e Lady Amabel, para fazer um balanço. Ele está na adega, na parte de trás — explicou ela rapidamente a Chrissie, que assentiu.

— Menina sábia. Ele pode ficar escondido lá por um tempo. Agora, que tal provisões?

Ettie não pôde deixar de se sentir aliviada quando Chrissie fez planos práticos. Parecia viável mantê-lo escondido por alguns dias e Ambeal com ele. Pelo menos até que elas tivessem uma chance de pensar em algo melhor.

— Certo, — Chrissie estava dizendo. — Agora. Precisamos de dois mantos. Duas lamparinas. Alguns cobertores, uma cesta de pães e bolos. Um presunto. Um braseiro, talvez, para o calor...

— Sim, tia, — Amice estava dizendo, contando os itens em seus dedos a medida que Chrissie dizia. Ettie assentiu.

— Devemos manter um guarda, — comentou Ettie. — Alguém postado no caso que alguém vá por lá e avise-os para ficarem escondidos.

— Bom pensamento, Ettie, — Amice sorriu para ela, fazendo-a sentir-se orgulhosa.

— Poderíamos pedir a Glenna — sugeriu Chrissie — ou Blaire, minha serva. Não teríamos que explicar a elas exatamente o que estava acontecendo. Dessa forma, se forem questionadas, não precisam mentir.

— Sim. Boa ideia. — Amice assentiu fervorosamente. — Se eles descessem para a torre Norte, para o quarto no fundo, poderiam ver alguém vindo e saírem pela porta dos fundos, — ela acrescentou, pensando em voz alta.

— Bom pensamento, sobrinha. — Chrissie acariciou seus cabelos. — Agora. Vamos pegar provisões.

— Alguém não vai suspeitar de nós, se tirarmos coisas da cozinha? — perguntou Ettie praticamente. Ela foi recompensada com um sorriso irônico de Chrissie.

— Se eu disser que quero uma cesta de pães e bolos, não acho que a cozinheira questione nada. E quanto às lamparinas, mantos e outras coisas, podemos tirá-las do sótão sem que ninguém saiba. Se alguém perguntar damos uma desculpa. Vamos embora.

— Boa ideia, tia! — Amice sorriu. Ela parecia muito mais feliz e parecia como se estivesse se transformando em uma aventura.

Ettie podia sentir a esperança dentro dela.

— Bem, então, — disse ela, olhando em volta. — É melhor que tudo seja feito rapidamente. Eles congelarão lá sem roupas quentes.

Amice estremeceu e assentiu.

Vinte minutos depois, com as provisões juntas, as três desceram correndo as escadas até o porão da fortaleza. Elas chegaram a um espaço escuro que cheirava levemente a mofo. Ettie puxou seu manto ao redor dela. Estava frio aqui embaixo! Ela caminhou sobre o piso de pedra, segurando no ombro de Amice para guia-la na sua direção.

— Alf? — Amice sussurrou. — Sou eu.

— Filho? — Lady Chrissie chamou. — Meu filho?

— Mãe! — O jovem apareceu de repente da escuridão e se lançou sobre Chrissie. Ocupada acendendo a lamparina, Ettie se viu piscando para conter as lágrimas. Os dois se abraçavam na repentina luz dourada, a pequena forma de Chrissie pressionada contra o peito de Alf. Ele acariciou suas costas e o rosto de Chrissie se retorceu enquanto ela continha suas lágrimas.

— Amice? — Uma voz sussurrou. Amice se virou.

— Sim, Ambeal?

— Não é seguro se as pessoas souberem... — ela começou, e então calou quando Ettie levantou a lamparina. Ela se viu olhando para uma garota alta da sua idade ou talvez um pouco mais velha, com cabelos ruivos que pendiam até a cintura e um rosto comprido e magro. Seus olhos castanhos estavam ligeiramente inclinados nos cantos, a boca cheia e tremendo levemente. Ela era linda, pensou Ettie. Ela podia ver porque Alf ficou um pouco apaixonado ao vê-la.

— Esta é minha prima Henriette, — explicou Amice com firmeza. Ettie sentiu seu próprio coração aquecer com as palavras, que eram totalmente falsas, ela não era parente de sangue. — Ettie, conheça Lady Ambeal, filha do thane de Bronley.

— Prazer em conhecê-la.

— Eu também me alegro em conhecê-la.

As duas se olharam firmemente. Ettie descobriu que gostava de algo nela — o modo como via seu olhar destemido, o jeito que ela era solene, apesar do perigo claramente diante deles. Ela tinha coragem.

— E você acha que vai ficar muito tempo?

— Eu não sei.

Ettie voltou para onde Alf e Chrissie estavam conversando. Suas vozes baixas e graves, eles estavam claramente tendo uma discussão importante. Ela e Amice se viraram para sintonizar. Ambeal se juntou a elas. Ela era metade de uma mão mais alta que Ettie, muito mais alta que Amice. Todos ouviram a resposta de Chrissie.

— Filho, você sabe que não é seguro. Mas faremos o nosso melhor para mantê-los escondidos por quatro dias. Dessa forma, quando Broderick fizer algum plano, talvez você possa seguir seu caminho, em segredo.

— Os caminhos foram todos fechados, — ele sussurrou, claramente ainda chocado com o que tinha visto. Seu rosto comprido e esbelto mostrava sinais de choque e Ettie desejou que elas pudessem fazer mais para consolá-lo.

— Você acha que eles não vão levantar o bloqueio em breve? — Ettie perguntou.

— Meu pai é implacável, — disse Ambeal com firmeza. Ela parecia irritada mesmo que suas palavras fossem ditas suavemente. Ettie percebeu no franzir de sua boca e na sua postura desafiadora que ela não gostava muito do pai. — Ele não vai parar de procurar.

— Talvez se forem pela estrada para Inverglass, — disse Chrissie, meditando. — E se forem disfarçado, poderiam passar. Vá para o Norte.

— Isso pode funcionar, mãe, — disse Alf, descansando a mão em seu ombro. Chrissie sorriu calorosamente para ele. — Para onde iríamos?

— Eu tenho uma conexão em Inverglass, — disse Chrissie, pensativa. — Você poderia ficar lá um dia ou dois. E eles podem te levar a Lochlann.

— Eu não gostaria de trazer perigo para Joanna, — Alf disse instantaneamente. — Seria ruim, se eu fosse descoberto lá. Pai iria ajudar-nos e ainda haveria guerra, só que agora em duas frentes.

— Isso é verdade, — Chrissie assentiu.

— Se vocês estivessem disfarçados, no entanto, — ponderou Ettie, — ninguém saberia que estão lá.

— Joanna poderia esconder você, Alf, — disse Amice. — Lochlann é muito maior e mais antigo e você sabe que ninguém nunca a invadiu.

— Verdade, — Alf assentiu. — Bem, poderíamos tentar. — Ele olhou para Ambeal e Ettie foi tocada pela expressão que passou entre eles. Ele a adorava claramente. Ambeal limpou a garganta.

— Eu deveria desistir. Eu nunca deveria ter trazido esse perigo para todos vocês. — Ela mordeu o lábio. — Meu... pa... pai é um homem cruel. Mas eu devo voltar.

Sua voz era corajosa, mas Ettie ouviu o tremor abaixo dela. Ela pegou-lhe a mão enquanto Alf abria a boca para protestar.

— Não, Ambeal, — disse ela com firmeza. — Ninguém deseja que você vá embora.

— Minha filha, — disse Chrissie, surpreendendo todos eles. — Você é bem-vinda aqui. Aconteça o que acontecer, não desistiríamos de você. Eu acho que Alf lutaria com eles todos sozinho, mas ele não precisa disso, — ela acrescentou com um rápido olhar para o filho.

Alf riu.

— Eu tentaria, mãe, — ele concordou. — E eu mesmo lideraria a primeira luta. Melhor que nunca tenhamos que fazer isso.

— Oh, meu filho. — Chrissie passou a mão pelo cabelo ruivo com carinho. — Eu sei que você tentaria. Mas eu não quero você morto. Ninguém tem que morrer por isso. Esperança. Temos que ter esperança.

Ettie assentiu, sentindo a esperança inundar seu corpo. Quando as velas e tochas se acenderam, o lugar assumiu um calor avermelhado. Elas limparam um lugar no centro do chão e espalharam um pano, fazendo uma mesa de piquenique improvisada. A cesta de pães e bolos foi aberta e Alf comeu como se nunca tivesse visto uma refeição antes.

Ambeal, segurando uma massa folhada, com uma mancha nos lábios, virou-se para Ettie.

— Obrigada, — ela disse suavemente. — Por ajudar.

— Só fiz um pouco. — Ettie sorriu para ela. Ela se achou gostando da mulher alta e solene. Ela esperava que elas fossem amigas — seria provável que elas tivessem uma chance de ser, se tudo corresse bem.

— Nós devemos ir, — disse Amice depois de um tempo. — Mas antes de irmos, temos que terminar o planejamento.

— Sim. — Alf assentiu, engolindo em seco. Ele limpou a boca e sentou-se perto da mãe. — Vamos ficar por quatro dias, como você sugere. Depois sigo para o Norte, para Inverglass disfarçado.

— Vocês podem ser dois vendedores ambulantes, — sugeriu Amice. — Talvez possa pegar uma carroça.

— Pode funcionar, — Chrissie assentiu. — Quanto mais convincente, menos provável é que qualquer um dos guardas olhe de perto.

— Ou dois leprosos, — disse Ettie, meditando. — No caminho para o mosteiro.

Alf assentiu.

— Acho que até mesmo os guardas de seu pai nos deixariam passar assim.

Ambeal assentiu.

— Qualquer coisa para impedi-los de olhar muito de perto.

Eles decidiram que a ideia — macabra e tentadora do destino — poderia funcionar. Ambeal concordou que os guardas de seu pai só os deixariam passar se estivessem completamente disfarçados.

— Bem, então, — disse Chrissie. — Nós colocamos Glenna de guarda. E voltaremos mais tarde com mais provisões. Faremos uma rotina, para que ninguém perceba que qualquer uma de nós está se esgueirando. Estamos nisso juntas, senhoras — disse ela, virando-se para todas como uma líder.

Ettie sorriu, sentindo uma sensação de harmonia que nunca sentira em sua vida antes. Ela era filha única, criada sozinha com os pais em seu solene salão. De repente tinha uma grande família.

Piscando para conter as lágrimas, ela se levantou.

— Venha, — disse ela para Amice. — Nós devemos ir.

Chrissie já estava de pé.

— Vamos deixar as tochas e lamparinas acesas, não há razão para que apaguem, já que não se pode ver de fora. Se Glenna bater no teto três vezes, apague-as.

— Sim, mãe. — Alf sorriu para ela. — Sabe, eu não tinha ideia de que você era tão boa nisso. Você pode ser nossa guardiã sempre que quiser.

Chrissie fez uma careta.

— Eu poderia tentar, — disse ela. — Mas não acho que seria boa em seguir ordens. Eu só faço o que meu coração me diz.

— Você me ensinou o mesmo, mãe, — Alf assentiu. — E eu estou feliz por isso. — Seus olhos, olhando para Ambeal, estavam cheios de luz.

Ettie engoliu em seco, vendo a beleza da ternura entre eles. Sim, ela pensou. Era o único jeito de viver. E Alf seguindo seu coração significava que ela também poderia. Se Brodgar pudesse voltar em segurança para eles. Onde ele estava?


CAPÍTULO DEZENOVE

PARTINDO E CHEGANDO


— Adeus, Alf. — Ettie olhou para o rosto esbelto de um homem que ela gostava como um irmão. — tenham uma viagem segura.

— Obrigado, Ettie. Pelos seus votos e por tudo.

Ettie engoliu em seco.

— Adeus, Ambeal.

— Adeus, — sussurrou Ambeal. — E obrigada.

— Não foi nada, — disse Ettie rapidamente. — Agora, eu devo deixá-los partirem.

— Adeus! — Chrissie falou um pouco mais atrás. Ela já havia se despedido e recuou para a entrada Norte. O vento passou por eles. Era pela manhã logo cedo, a luz cinza era incerta. Ettie estremeceu, passando as mãos pelos braços sob o manto vermelho ocre.

— Adeus, mãe. Eu vou vê-la de novo.

Ettie se viu engolindo em seco quando Alf montou suavemente, saudando-os do cavalo. Ele parecia tão bonito e tão corajoso. Naquele momento, ele não era simplesmente Alf. Ele era todo herói de cada história, em busca do que amava.

Ao lado dele, em um pequeno palafrém, Ambeal cavalgava. Eles iriam até o chalé do lenhador — Chrissie falara com o Sr. Knott sobre isso — e ali vestiriam o disfarce. A carroça estava lá, esperando por eles. Eles seguiriam o caminho da floresta para o Norte.

— Adeus! — Ambeal falou por cima do ombro. Seu traje vermelho de montaria se deslizou por seu cabelo liso, mostrando seu claro fogo para a manhã. Então, silenciosos como as sombras, eles desapareceram.

As três mulheres ficaram no súbito silêncio do rastro deles, piscando para conterem as lágrimas. Ettie sentiu como se estivesse enraizada no local. Ela estava tão esgotada e cansada que mal conseguia pensar direito. Ela olhou em volta para suas companheiras.

— Bem, — ela disse, ouvindo sua própria voz tensa e rouca. — Nós devemos entrar.

— Sim, — Amice sussurrou. — Não queremos perder nosso desjejum. Ninguém suspeita de nada.

Chrissie assentiu. Ela abriu a porta e as três entraram em silêncio, subindo as escadas para o solar e o desjejum.

Durante quatro dias, elas mantiveram a presença de Ambeal e Alf escondida de todos no castelo, até mesmo de Blaine. Deve ter sido difícil para Chrissie esconder a verdade do próprio pai de Alf. No entanto, Blaine era leal a Broderick e Duncan, e teria sofrido com a lealdade conflitante. Tinha sido uma gentileza manter fora do conhecimento dele.

— Bom dia, — Duncan falou, dirigindo-se a partir da escada, cortando seu caminho. — Vocês estão tão radiantes e saíram logo cedo nesta manhã!

Ettie se endureceu, mas Chrissie não teve medo.

— Nós fomos respirar o orvalho, — ela explicou, com naturalidade. — O orvalho da primavera é um poderoso encanto contra o envelhecimento.

Duncan sorriu. Ele tinha um sorriso bonito. Aberto e fácil. Ettie desejou poder confiar nele e em Broderick.

— Chrissie, você sempre será jovem, — disse ele galantemente.

Chrissie sorriu. Ettie, ao lado dela, podia ver a ligeira ponta de pânico que se esforçava em esconder, mas tinha certeza de que era invisível para Duncan.

— Obrigada, Duncan, — ela disse educadamente. — Agora, vamos ao desjejum. Estou faminta.

— Eu também! — Amice comentou fervorosamente. Todas elas riram.

No solar, Amabel já estava presente. Sentada ao lado de Broderick, ela estava pálida, tensa e comeu pouco. Ettie queria confortá-la. De todos eles, ela sabia como era doloroso saber que Brodgar estava fora, incapaz de ser alcançado. Ele estava fora há cinco dias sem qualquer palavra.

— Temos algum relatório da fronteira? — perguntou Broderick quando Duncan entrou e sentou-se ao lado de Ettie, em frente a ele.

— Nada ainda, — Duncan suspirou. — Aparentemente, um comerciante de gado passou esta manhã, indo para o Sul pela primavera. Mas nada mais.

— Maravilhoso, — Broderick disse ironicamente. — Parece que estamos aprendendo mais sobre as rotas comerciais locais todos os dias. Mas nenhum sinal do meu filho. — Uma veia pulsou em sua testa e Ettie sentiu sua tensão e dor. Ao lado dele, ela viu Lady Amabel tensa.

— Deve haver novidades, — disse ela em voz baixa. — Haverá.

— Estou fazendo o meu melhor, — falou Broderick.

Ettie, vendo como a preocupação dela os machucava, queria chorar. Ela viu Alina sair das sombras, e colocar a mão na da irmã.

— Não há necessidade disso, — disse ela a Broderick em voz alta. — Estamos todos exaustos. Devemos terminar nosso desjejum e pensar em um plano.

— Você está certa. — Broderick falou.

Ettie respirou bruscamente. Ufa!

— Eu quero cavalgar para as falésias, — disse Amice. — Talvez de lá eu possa ver a estrada. Se houver tropas... — ela parou quando o pai se virou para ela.

— Nenhum de nós sairá do castelo, — disse Broderick. — Amice, minha querida. Eu não vou deixar o MacDonnell te levar também.

Amice olhou para as mãos dela. Ela claramente queria protestar, mas não disse nada. Chrissie limpou a garganta.

— Alguém já decidiu qual músico nós vamos ter para o encontro? — Ela perguntou brilhantemente.

Blaine sorriu para ela.

— Nós devemos ter quem você quiser, minha querida. Você é a mais adequada para encontrar alguém.

Ninguém parecia inclinado a comentar sobre música. O desjejum passou em um silêncio tenso. Ettie achou difícil de engolir. Ela ficou feliz quando todos se levantaram para sair.

Como se a tensão aqui não fosse ruim o suficiente sem a preocupação de Alf e Ambeal.

Ela não conseguia parar de pensar neles — na estrada agora, provavelmente, disfarçados. Isso funcionaria? Conseguiriam alcançar o Inverglass e obter assistência? Ou eles seriam pegos? O que aconteceria com eles se não conseguissem?

Ela olhou para Amice e Chrissie, que pareciam tão tensas quanto ela, ambas atormentadas pela preocupação e pelo segredo. Ela tentou pensar em algo para distraí-las, mas não havia possibilidade.

Alina veio até ela depois do desjejum. Ela estava vestida de preto, um filigrana prateado segurava seus longos cabelos negros na testa. Seus olhos estavam sérios.

— Ettie, posso pedir sua ajuda?

Ettie piscou surpresa.

— Se eu puder ajudar, eu vou, — disse ela prontamente.

— Bom, — Alina disse rapidamente. — Venha comigo para o quarto de ervas. Nós podemos falar lá.

Ettie seguiu a alta e elegante curandeira até o topo da torre. Lá, se sentou em um banco repleto de ervas e mirra, e se virou para ela, seu coração batendo de desconforto.

— É Brodgar, — explicou Alina. — De todos nós, depois de sua mãe, e como não posso perguntar a ela, pois está muito afetada, você é a mais próxima dele. Não — ela ergueu a mão quando Ettie fez um leve protesto. — Você é. Eu posso sentir essas coisas. Eu preciso de alguém para me ajudar a encontrá-lo. Você é quem está mais próxima dele.

— O que eu posso fazer?

— Sente-se aqui comigo. Ali. Ao oposto. Agora pense em Brodgar. Olhe para a água. — Ela indicou uma tigela de pedra preta, quase cheia de água do poço. A luz tocava na superfície, fazendo espelhos quebrados e imagens fraturadas.

— Pense em Brodgar, — a voz da curandeira falava em sua mente. — Onde ele está? O que ele pode ver? Sinta-o. Pense em sua mão na sua, seu coração no seu. Veja através dos olhos dele. O que ele pode ver?

Ettie deixou as palavras entrarem em seus pensamentos, concentrando-se nos sentimentos que a curandeira estava invocando nela. Ela não sabia o que deveria fazer, então olhou para a água e escutou e deixou seus olhos meio fechados, olhando para a água, a luz das tochas e o reflexo de luz nas folhas, percebeu que estavam mudando para uma floresta.

De repente, ela estava ali, de volta no quarto de dormir, com o cheiro de ervas em seu nariz e o vento gelado da torre em seus ombros. Sua cabeça doía. Ela se sentia mal.

— Alina...

A curandeira olhava para ela, os grandes olhos negros sem ver.

— Ele está na floresta. Esperando. Perdido. Ele pode ouvi-los, as tropas, homens gritando. Vindo para encontrá-lo. Perdido... ameaçado... sozinho. Sem ajuda.

Ettie estremeceu. A descrição estava perto da experiência que tivera, apenas mais detalhada e completa, mais dirigida. De repente, a visão de Alina clareou. Ela olhou para ela. E foi caindo para a frente.

— Estou cansada. Devemos nos mover, o vento está frio.

Ela se levantou, seu corpo claramente cansado e dolorido. Indo para a janela para abrir as persianas. Ettie ficou de pé rapidamente. Sua visão nublou e nadou e ela cambaleou em seus pés, tudo momentaneamente em branco.

— Não, deixe-me, — disse ela, pegando a persiana para abrí-la. A sala estava escura, de repente, exceto pelo fogo e a lamparina.

— Nós devemos fazer chá, — disse Alina propositalmente. Ela já estava no banco, preparando ervas.

Na lareira, uma panela pequena estava fervendo; Ettie não tinha notado antes. Ela foi verificar a temperatura da água.

— Eu acho que está pronto, tia.

— Boa. Traga aqui. Nada como chá para restaurar a mente — disse ela, colocando algumas folhas que Ettie achou que deveria ter escolhido por sua qualidade revigorante. Momentos depois, estavam de novo sentadas à mesa, bem abaixo da bacia de pedra negra, quente entre as mãos o chá de hortelã.

— O que você viu? — Alina perguntou, tomando seu chá. Ettie podia ver que ela estava tremendo e resistiu ao impulso de colocar um xale sobre o corpo estreito da mulher. Seria errado de alguma forma.

Ela descreveu sua própria visão. Alina assentiu.

— Isso confirma, — disse ela. — Ele está na floresta, sozinho e assustado. Seu inimigo está por perto. Ele não sabe como fugir.

— Como podemos ajudar? — Ettie perguntou, tomando seu chá.

— Poderíamos tentar enviar ajuda, — ponderou Alina. — Sempre assumindo que poderíamos descobrir em que parte da floresta ele está. Mesmo se pudéssemos alcançá-lo, como poderíamos ajudar? Uma escaramuça nos colocará no caminho errado.

— Poderíamos distraí-los? — Perguntou Ettie. — Dar a ele tempo para fugir?

— Uma distração funcionaria, — Alina assentiu, olhando para ela como se a visse pela primeira vez. — Isso não é uma má ideia.

Ettie corou.

— Obrigada, tia.

— Sim. Bem, — Alina drenou o chá e se levantou, esticando as costas, como se dar louvores fosse algo que ela não fazia com frequência. — Precisamos conversar com Amabel sobre isso. Ela nos ajudará.

— Sim, tia, — concordou Ettie. Ela bebeu mais chá, pensando. Ela decidiu tentar esquecer o que havia acontecido, essa visão era estranha e tinha sido muito desencorajador. Ela ficou onde estava quando Alina se moveu para o balde no canto, lavando as xícaras.

— Nós devemos descer, — disse Alina. — Você e Amice são boas uma para o outro.

— Obrigada, tia.

— Conhecimento é poder, — disse Alina, quase para si mesma, como se não tivesse ouvido Ettie. — Devemos passar esta notícia assim que pudermos. Agora, tenho a sensação de que teremos visitantes esta tarde. Não do tipo que gostaríamos. Eu devo ir e me preparar para isso. E você também deveria. Mantenha Amice ocupada. Ela está preocupada e com medo. A última coisa que precisamos é que ela se apresse em alguma missão heroica para resgatar Brodgar.

— Sim, tia.

Ettie esperou até que Alina se juntasse a ela na porta e depois desceu as escadas para encontrar Amice.

Elas a encontraram na colunata superior, olhando para o pátio. Ela estava praticando os passos da quadrilha, mas estava distraída e infeliz. Assim que Ettie apareceu, foi até ela.

— O que está acontecendo? O que podemos fazer?

— Não devemos fazer nada ainda — aconselhou Ettie, sentindo uma estranha certeza de que era nova para ela. — Exceto esperar.

— Eu sei, — disse Amice, mordendo o lábio. Ela parecia infeliz e triste e Ettie simpatizava com isso. Esperar sem poder fazer nada para ajudar era um tormento. Pelo menos ela tinha uma ideia de onde Brodgar estava.

— Eu gostaria de saber o que está acontecendo, — Amice disse suavemente.

— Brodgar está seguro, — disse Ettie. — Não sei como eu sei disso, mas sei.

— Eu confio em você, Ettie, — disse Amice. — Eu sei o quão perto você está dele. Se sabe que ele está seguro, sei que é verdade.

Ettie engoliu em seco. Ela desejou ter tanta fé em si mesma quanto Amice tinha nela. No entanto, Alina e ela tinham visto a mesma coisa. Certamente Brodgar estava vivo e ileso. Ele também estava cercado, mas aparentemente ainda livre. Ela desejou poder ajudá-lo.

Amabel vai saber o que fazer. Alina está com ela agora. A essa hora, amanhã, tudo isso poderá ser resolvido.

O pensamento a fez se sentir mais calma. Ela se virou para Amice, tentando compartilhar sua nova paz.

— Talvez Chrissie possa nos ajudar a fazer novos véus, — disse ela. — Ouvi dizer que as damas de Edimburgo estão usando chapéus com pequenos véus esvoaçantes, podemos fazer algo assim. E Chrissie precisa de distração.

— Verdade, — Amice assentiu. — Pode até ser divertido. Obrigada, Ettie. Você é tão reconfortante.

Ettie sorriu e engoliu em seco.

— Obrigada, Amice. Você também.

Juntas, de braços dados, eles saíram da sala.

****

Mais tarde, os visitantes da tia Alina chegaram. Sombrios e silenciosos, os homens eram um destacamento de guardas enviados por MacDonnell. Ettie e Amice observaram eles chegarem da colunata, e então entraram para ver se podiam ouvir alguma coisa.

Os homens foram levados ao escritório de Broderick. Elas conseguiram pegar algumas palavras: Liberdade. Troca. Então a porta se fechou e eles ficaram em silêncio.

— Você acha... — Amice sussurrou. — Você acha que eles capturaram Brodgar?

— Não sei o que pensar — disse Ettie em voz baixa. Ela podia sentir seu coração batendo no peito e apesar do frio, estava suando. Ela limpou as mãos úmidas sobre as saias de veludo e lutou por calma.

Ela tentou alcançar sua mente, com a parte dela que estava mais perto de Brodgar. Ela não conseguia ver nada, mas imaginava que pudesse sentir uma sensação de abrigo.

Esteja seguro, Brodgar. Por favor se cuide.

Mais tarde, Ettie sondou seus pensamentos seguindo as linhas do que falou com Alina. Um plano estava se formando no fundo de sua mente, algo feroz, ao longo das linhas da distração que Alina havia mencionado. Ela foi encontrá-la com Amice — que estava com ela no quarto, preparando um chá para a dor de cabeça de sua mãe — e discutiram o plano.

— É selvagem, — disse Alina, embora seus olhos estivessem considerando.

— É arriscado, — disse Amice suavemente.

— É possível, — disse Ettie.

— Pode funcionar. — Alina assentiu.

Lady Amabel foi chamada para se juntar a elas e, juntas, preencheram os detalhes. Refinaram o plano. Ettie se perguntou se ela estava louca para arriscar, mas sabia em seu coração que era o único caminho. Elas tinham que tentar.


CAPÍTULO VINTE

EM PERIGO


Brodgar, enrolado em uma caverna que ficava por trás das samambaias, tentou dormir. Ele estava tremendo e colocou seu manto sobre ele, se protegendo do ar gelado.

Eu preciso voltar para casa.

Ele estava escondido na floresta há por vários dias. Seu cavalo ele havia liberado e tinha certeza de que já devia ter chegado à fortaleza de Dunkeld. Ele tentou seguir pela estrada, mas ficara muito visível e os guardas estavam em toda parte. Não havia como se disfarçar ou trocar de roupa, e assim ele teve que se esconder.

Eu não posso fazer isso por muito mais tempo. Uma chuva forte e eu estou morto. A floresta estava fria de uma maneira que minava sua força, deixando-o fraco e tremendo. Bastava ficar encharcado e, por ser incapaz de acender uma fogueira para não alertar os soldados, Brodgar pegaria uma febre e provavelmente morreria. Ele tinha que voltar para casa.

Mas como posso sair daqui?

Ele havia seguido as estradas da floresta, evitando por pouco a detecção por sentinelas ou verderers, armados e esperando-o. A fortaleza MacDonnell deve ter sido quase toda esvaziada, ele pensou. Todos os homens de armas estavam na estrada em algum lugar, em uma rede apertada de vigilância para prendê-lo. Ou Alf, ou ambos.

O que podemos fazer?

Pelo menos a presença de tantos soldados significava que Alf ainda estava foragido. Se eles o pegassem, provavelmente não se incomodariam com a vigilância. Ele próprio só era importante para o MacDonnell como uma ferramenta de barganha: se ele tivesse descoberto sua filha, provavelmente chamaria de volta seus homens.

— Alf, meu irmão, — ele sussurrou em voz baixa. — Você nos colocou em uma confusão certa, sabe.

Mesmo quando pensava nisso, percebeu que não era verdade. Se não fosse por Alf e sua heroica tentativa de roubar sua amada da regra de ferro de seu pai, ele ainda estaria prometido e não teria esperança de casar com Ettie. A ousadia de Alf lhe dera essa possibilidade.

Ettie.

Ele focou sua mente nela, fez-se imaginar seu sorriso, seus olhos. Ouviu sua voz, dizendo que o amava, dizendo que ele era seu querido.

Deve ter dormido, pois acordou com um amanhecer frio. Abriu os olhos para a luz cinzenta e o cheiro de chuva e sentou-se, estremecendo quando a cabeça doía e latejava.

Através da dor de cabeça ofuscante, cerrando os dentes contra o frio e a dor em seus membros, se levantou. Arrastou os pés. Fui para a abertura da caverna e olhou para fora. Ele podia ver a estrada. Estava livre.

Aconteceu alguma coisa? Talvez alguém tenha se lembrado das tropas? Talvez eu possa sair.

Ele balançou a cabeça, desejando poder esclarecê-la. Comida. Algo para comer, para ajudá-lo a pensar direito, já que não tinha nada a não ser o que ele poderia procurar na floresta e nada para beber desde que se escondera. Então pegou sua capa e começou a andar. Manter-se-ia nos arbustos. Observaria se a estrada estava limpa. Mesmo se estivesse, levaria dois dias caminhando para chegar ao castelo.

Eu preciso manter minhas forças.

Ajoelhou-se, procurando nas folhas o que colecionara no dia anterior. Nozes. Cogumelos. Folhas comestíveis. Ele comeu devagar, estremecendo com o gosto de cogumelos crus. Mesmo aquela comida escassa trouxe calor ao seu corpo. Ele percebeu em choque de como estava com fome. Podia sentir sua cabeça clareando, a dor de cabeça recuou momentaneamente. Ele sabia que voltaria logo e se levantou, batendo os pés para fazer o sangue fluir. Recolheu seu manto e colocou sobre si, se dirigiu para a estrada.

Que estava vazia.

Alguma coisa mudou.

As possibilidades eram poucas. Alf deve ter sido encontrado. Por que mais os homens foram movidos?

Ele olhou para a terra molhada, vendo as marcas no chão. Pegadas. Quem quer que tenha estado aqui como sentinela foi chamado de volta recentemente, as trilhas ainda estavam frescas, não tinham sido levadas pela chuva que caía.

Eu deveria ir para Bronley. Me entregar. Negociar uma troca.

Pensamentos sobre o que poderia estar acontecendo com Alf lutavam com a necessidade resoluta de voltar para casa. Ele queria poder pensar direito! O frio, o cansaço e a fome brincavam em sua mente. Fazendo seus pensamentos confusos. E tudo o que ele podia fazer era andar em linha reta, mantendo-se no caminho. Vacilou por um momento e ele estava com frio. Tão frio.

— Continue, — disse para si mesmo. — Continue na pista. Um passo. Outro. Para cima e para a frente.

Ele caminhou com as pernas rígidas ao longo da trilha, feliz pela chuva recente que a transformou em uma confusão lamacenta, deixando uma faixa limpa sobre as folhas. Ele podia ver pelo menos. Seguir a rota.

— Vamos. Um passo de cada vez. Continue. Você consegue.

Ele caminhou pela floresta, ouvindo o som de uma cachoeira enquanto o dia avançava. Ao meio-dia — ele julgou ser meio-dia pelos padrões inconstantes de luz — encontrou um riacho. Bebeu. A água estava fria e levou meia hora, cambaleando e tremendo, para conseguir forças para seguir em frente.

— Droga, — ele jurou em voz baixa. Nesse ritmo, caminhar até Dunkeld seria uma missão. Ele poderia nem conseguir em dois dias. Ele respirou, sentindo cheiro de fumaça.

Um carvoeiro ou um lenhador. Talvez ele tenha algo que possa compartilhar.

Ele estremeceu, imaginando se parecia mesmo, ou remotamente, como um lorde renegado. Ele suspirou. Com o cabelo grudado, as roupas sujas, camadas de terra sob as unhas, ele parecia mais como um bandido, menos um filho de um thane. Tirou o broche do ombro, estava com a insígnia de Dunkeld.

Eu poderia trocar isso por comida, ele pensou, colocando-o na bolsa em seu cinto. Prata era inútil para um homem faminto.

A fumaça vinha de uma pequena fogueira ao lado de uma encosta. Sem isso, ele poderia ter perdido o lugar, tão bem escondido que era. Ele respirou, nervoso para se aproximar de quem estava lá. Esperou.

Um homem com um gorro de pano e uma túnica disforme saiu. Um verderer, Brodgar decidiu. Ele ficou tenso, esperando. O homem estava sozinho, parecia, e apenas levemente armado. Brodgar tinha sua espada ainda presa às costas.

Ele se arrastou para fora do mato, enxugou o pior da sujeira e bateu na porta assim que o homem entrou.

— Esmola? — Ele perguntou esperançoso. Ele foi recebido com um olhar de medo.

— Siga o seu caminho, — disse o homem nervosamente. — Eu não tenho nada para compartilhar.

— Eu poderia oferecer-lhe alguma coisa, — disse Brodgar esperançoso. Ele indicou sua fivela do cinto que era de latão. — Isso, talvez.

— Há cozido na panela, — disse o homem em uma voz desconexa. — Você é bem-vindo sob uma condição. Não vou fazer perguntas e nem responder a nenhuma delas.

— Obrigado.

O cozido fez milagres. Composto de grãos, caldo e cevada, quente, era a melhor refeição que ele tinha em dois dias, o nevoeiro em sua cabeça miraculosamente limpou e, com isso, sua visão. Seu senso de direção e lógica começou a retornar, ainda que lentamente. Com isso, ele recuperou a sensação nos dedos das mãos e dos pés. Ele ofegou enquanto todo o seu interior parecia se acender, seu coração começando a bater mais forte.

Espero nunca mais estar tão desorientado.

Ele ouviu o homem falar enquanto compartilhavam a refeição. Principalmente comentário sobre a floresta, a chuva e como ela havia apagado os rastros, os vestígios de veados. Alguém tinha colocando armadilhas para peixes e como isso era contra a lei. Junto com isso, ele jogou em outras conversas.

— Avistaram a moça, eu ouvi dizer.

— Moça? — Brodgar olhou para ele.

— A filha do MacDonnell.

Brodgar largou a colher e olhou para o verderer com horror.

— Viram? Onde?

— Na floresta. A moça parece ter insultando os guardas. Depois ficou fora de alcance. Levando-os adiante.

Brodgar olhou para ele, esquecendo todo o sentido naquele momento. Ambeal ficou louca? Por que ela faria isso?

— É o que eu ouvi, — o homem suspirou.

— Bem, não é da minha conta, suponho — disse Brodgar, lembrando-se subitamente de que era um simples mendigo, e por isso não deveria ter muito interesse nessa conversa. — Quando isso aconteceu?

— Quando a moça desapareceu? Quatro, cinco dias — ele disse, indicando com uma reviravolta que ele queria falar no passado.

— Não, quero dizer, quando os homens a viram voltar?

— Ontem à noite, — o verderer transmitiu, parando para saborear o caldo. — Mmm. Isso é bom. Pouco ralo. Poderia ter feito com mais ingredientes.

— É bom, — disse Brodgar fervorosamente.

O lenhador riu.

— Você é estranho. Você está faminto. Já passou muito tempo?

— Um... um bom tempo, — disse Brodgar, perguntando se o homem iria começar a colocar informações juntos.

— De onde você vem, não é da minha conta, — acrescentou o homem, arrogante. — Não me importaria se você é um fora da lei... pelo que eu sei, ajudar não é crime, sabe. Então não me diga nada, — acrescentou ele com um sorriso caprichoso.

Brodgar sorriu e acenou com a cabeça.

— Nenhuma palavra.

Depois do cozido, Brodgar agradeceu ao homem e se levantou, procurando algo para arrancar a fivela.

— Eu não aceito nenhum pagamento, — disse o homem, acenando com a mão para fivela oferecida. — Uma boa e velha conversa é o suficiente para mim.

— Eu insisto, — disse Brodgar, estremecendo ao ouvir a frase. Ele não estava no salão do pai dando generosidade, ele estava no chalé de um lenhador, fingindo ser um fora da lei.

O homem sorriu.

— Eu não vou dizer não, — acrescentou ele, pegando a fivela. Brodgar suspirou e amarrou o cinto da melhor maneira que pôde, não querendo perder suas calças na barganha. — E quem quer que você seja, meus lábios estão selados.

— Obrigado.

Brodgar despediu-se do homem e, divertindo-se com sua visão clara, voltou para a trilha.

As coisas mudaram. Onde estavam as sentinelas, ele encontrou rastros de cascos de cavalos no chão enlameado. Todos tinham sido chamados, pelo que parecia. Por terem avistado Ambeal.

Por que ela estaria fazendo isso?

Brodgar tentou entender a razão, mas nada lhe passou pela cabeça e, no final do dia, quando sua visão começou a ficar turva, o sol se desvanecia, enquanto o dia morria para a noite, ele desistiu. Era tudo o que ele podia fazer para lembrar onde estava, quem era, o que fazia. Pensar em problemas complicados como o motivo pelo qual a estranha filha do thane provocaria seus guardas era demais.

Um pé na frente do outro. Um pé...

Ele continuou andando. No momento em que os bosques eram de ardósia azul e com barras negras pelas sombra, o dia entrando em uma noite úmida e gelada, ele havia coberto, por seu próprio julgamento, talvez dezesseis quilômetros. Ele olhou em volta, tentando encontrar uma caverna ou um bosque adequado.

Naquele momento, ele os ouviu. Cavaleiros cavalgando forte e rápido, um chifre de caça emitindo um apito, o apelo era urgente.

Caçadores. Na floresta. Caçando alguém.

Sentindo o coração bater forte, o corpo tenso pela urgência e a necessidade de se esconder, Brodgar correu de volta para as árvores. Foi quando os cavalos apareceram.


CAPÍTULO VINTE E UM

UMA SURPRESA


— Cavalgue! — Ettie sussurrou para sua égua. Ela se agarrou às rédeas, o coração batendo enquanto cavalgava. Os bosques estavam escuros, o chão escorregadio. Ela estava montando Snow-soft e tinha pouca experiência com a égua ou o que ela poderia fazer. Tudo o que ela sabia era que havia quatro homens atrás dela, com a intenção de capturá-la.

Eles não devem me alcançar. Se eles fizerem isso, perceberão que eu não sou Ambeal.

Prendendo a respiração, o coração batendo, Ettie apertou as rédeas em seus dedos e cavalgou.

Ela podia ouvir o chamado de caça atrás dela, sentindo seu cavalo escorregar na trilha abaixo dela. Segurando nas rédeas como se fosse a morte.

— Lá está ela! Vai! Peguem-na!

Quando ela ouviu os gritos — como se fossem cachorros uivando pelo sangue de uma presa — ela percebeu que Ambeal tinha amplos motivos para fugir. Um pai que enviava caçadores para capturar sua filha no intento de levá-la de volta sem qualquer cuidado com a moça, além do poder que ela poderia comprar, era cruel.

Estou feliz que Alf a tenha levado embora.

Enquanto se agarrava às rédeas, esforçando-se ao máximo para guiar o cavalo galopante ao longo das trilhas para longe dos galhos, encontrou seu coração estendendo as mãos para Ambeal.

Se os homens me virem perto demais, saberão que não sou ela.

Ela usava seu traje ocre vermelho, o mais próximo possível do vermelho que Ambeal usara. Seu cabelo estava escondido sob a capa e o capuz, mas, se a peça se soltasse de sua cabeça, um único raio de luz a trairia. Ela era quase tão alta quanto Ambeal, e sua habilidade a cavalo era quase tão boa quanto. De longe, ela poderia enganá-los.

Não se eles me pegarem.

— Lá está ela! À Frente! Galopem!

Ela ouviu os homens perigosamente perto agora. Quando um deles a alcançou, ela sentiu seus dedos roçarem seu pulso. Ela gritou.

— Não!

Ele estava muito perto. Ela podia senti-lo chegar novamente, e desta vez seus dedos se fecharam ao redor de seu braço. Se a puxasse agora, ela iria cair para trás, provavelmente sendo pisoteada até a morte antes que ele pudesse realmente puxá-la para si.

Naquele momento, várias coisas aconteceram. Seu cavalo parou abruptamente. Ela gritou quando foi jogada fora. Ao mesmo tempo, ela ouviu os homens gritarem, e uma confusão na clareira. Houve o som de cascos batendo em todas as direções.

— Onde ele foi?

— O bastardo!

— Encontre-o.

Ettie estava onde caíra, cada parte do corpo machucado. Por que Snow-soft a jogou assim? O que tinha acontecido? Graças a Deus ela estava bem, ou estaria agora morta, pisada por cascos, ou cativa dos soldados que saberiam em um instantes que ela não era Ambeal.

Onde estou?

Sua cabeça estava doendo e ela teve que se esforçar para se concentrar. Ao fazê-lo, ela se viu assistindo a uma cena maluca.

Na clareira, três cavaleiros emergiram, claramente confusos. Um quarto homem estava de pé, com a perna aparentemente quebrada, desorientado e nervoso. Seu cavalo estava perto dele, parado e tremendo. Outro cavalo saiu no meio do mato, saltando livre.

Ela escutou. Juntamente com os gritos e as ordens conflitantes dos homens, ela podia ouvir alguém assobiando. Pareciam ser os assobios que desorientavam os cavalos, pois estavam irritados e confusos, não ouvindo seus cavaleiros. Ela ficou onde estava.

Alguém assustou o cavalo do homem. Que tinha feito Snow-soft a derrubar.

Uma ideia começou a se formar em sua mente. Havia apenas uma pessoa que teria conhecido o comando para dar a Snow-soft para saltar. A pessoa que estivera treinando os novos cavalos em Dunkeld durante todo o verão. Brodgar.

Não poderia ser. Não poderia ser.

Ela ficou onde estava. Ela ouviu um barulho repentino nos arbustos.

— Ali! — Um dos homens gritou. Outra colisão.

— O bastardo está correndo. Atrás dele!

— Vamos!

Um dos homens levantou o chifre e soprou-o. Livres dos assobios conflitantes, os cavalos pareciam adquirir a realidade. Eles seguiram a instrução dos cavaleiros e correram para vegetação rasteira, seguindo os sons, que se instalaram.

Depois que os homens foram embora, Ettie percebeu que estava aterrorizada. Ela estava ofegante de medo, seu corpo tremendo, sua pele suando. Ela ficou onde estava em uma pequena bola, incapaz de se mover. Cada parte dela doía. E ela estava cansada. Muito cansada para se mexer. Muito cansada para se sentar.

Ela ficou tensa. O cansaço foi substituído por uma nova urgência. Passos vindo pelo caminho. Vindo para encontrá-la.

Ela não sabia mais o que fazer. Ela rolou em uma bola, puxou o manto. Deitou-se e fechou os olhos. Estava escuro e úmido. Talvez ninguém a visse. Misture-se com a vegetação, ela disse a si mesma. Essa era sua única opção. Ela estava cansada demais para correr.

— Minha lady? — Uma voz sussurrou.

Algo sobre essa voz provocou seus sentidos. Acalmou seus pensamentos confusos. Lembrou-a de uma ameia e do céu. Da floresta. Do espaço ao lado de um fogo na lareira, com as mãos macias nas dela.

Não. Não é ele. Fique onde está. Finja-se de morta.

— Minha dama? Lady Ambeal?

É um deles. Um guarda. Soa parecido. É um truque. Fique onde está.

Ettie se enrolou mais forte, puxando seu manto sobre si mesma. Fique quieta. Finja ser um tronco.

— Minha dama?

Quem quer que fosse, a tinha visto. Não havia qualquer esconderijo. Ele se aproximou. Ela podia ouvir o lento ruído dos pés sobre o manto de folhas. Ela quase podia sentir o calor da presença dele, aquecendo o ar gelado. Ela ficou imóvel. Sentiu o olhar da pessoa se mover sobre ela. Ouvi ele se aproximar.

— Minha dama?

Uma mão tocou seu ombro. Ela ficou tensa, o coração batendo no peito. Ela estava apavorada. Relaxe. Se você se fingir de morta, ninguém vai tocar em você. Ele não sabe quem você é, lembra? Finja-se de morta.

Ettie paralisou seu coração que estava acelerado, forçou a respiração a diminuir a velocidade. Se ele a tocasse, talvez pensasse que a queda a matara. Com sorte, ele continuaria andando.

A mão se moveu, agarrando seu ombro, gentilmente puxou o capuz para trás. Dedos acariciaram seus cabelos, gentilmente. Dedos cujo toque derreteu seu corpo. Alguém a tocou no lado dela.

Uma voz de seus mais gentis sonhos soprou em total descrença.

— Henriette? — Brodgar ofegou. — É você?

Ettie se moveu. Sentou-se, rindo e chorando. Abraçou-o.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

MOVENDO-SE PARA A FRENTE


Brodgar olhava para ela. Era Ettie! Ele pensara que era Ambeal. Achara que era Ambeal. Ele colocara seu plano desesperado em ação, reconhecendo o cavalo que ela montava. Tinha funcionado, mas ele tinha pensado com horror que poderia tê-la ferido. Agora ele viu que ela estava viva — talvez ferida — mas não era Ambeal.

— Ettie! — ele acariciou o cabelo dela, sabendo que as lágrimas corriam por suas bochechas. Lágrimas de exaustão, de espanto, de medo, horror e alívio. — Ettie. É você?

— É claro que sou. — Ettie riu. Ela tinha machucado as costelas na queda, ao que parece, por rir doía em seu peito. Ela parou. Ergueu a mão e acariciou seu cabelo molhado e encharcado de chuva. — Meu amor.

Brodgar sorriu. Seu rosto estava coberto de sujeira e tenso. No entanto, o sorriso, quente e sincero, era a coisa mais doce que ela tinha visto.

Eles se beijaram. Sua boca estava quente na dela e ela sentiu-se derreter em seu abraço. Ela respirou, muito surpresa e encantada por seu pensamento claro.

— Você está congelando, — comentou Brodgar enquanto se movia. Ele segurou-a contra o peito, balançando-a em seus braços. — Venha. Temos que encontrar abrigo.

Ettie assentiu. Agora que ela pensou nisso, seus dentes estavam batendo. Sua queda a fez cair no tapete úmido de folhas e seu vestido estava molhado, a umidade encharcando sua pele. Ela estremeceu e se aconchegou mais perto de Brodgar, buscando calor.

— Vamos, — ele disse de novo suavemente. — Há uma caverna aqui perto. Podemos nos abrigar nela.

— Snow-soft, — disse Ettie, batendo os dentes. Ela lutou para encontrar palavras enquanto se levantava. Por que tudo era tão difícil? — Onde... está... ela? — Céus, mas ela estava cansada. Uma palavra veio de cada vez em sua mente. Devagar... devagar...

— Ela está aqui, — disse Brodgar: ele estava segurando Ettie ao lado dele, o braço dela através do dele, e na sua outra mão, ela notou cansada, segurava uma rédea. Ele havia chamado o cavalo, e eles estavam todos indo para a caverna.

— Bom, — sussurrou Ettie. — Salvou a minha vida. Você. Ela... — ela parou. O golpe em sua cabeça quando ela caiu, combinado com o frio e os esforços loucos da perseguição, a deixaram muito cansada para pensar direito. Brodgar assentiu.

— Eu não acho que eles teriam matado você, minha querida.

— Perguntas, — sussurrou Ettie. — Muitas. Não há perguntas que eu possa responder.

— Sim, — Brodgar assentiu, como se ela falasse claramente. — Que bom que eles não poderiam lhe fazer perguntas. Agora venha. Não está muito além disso.

— Obrigada, — ela sussurrou.

Ela se encontrou em uma caverna. Samambaias e vegetação escondiam a entrada, embora dentro dela fosse grande o suficiente para ficar de pé. Brodgar levou o cavalo com eles. Ela aqueceu o espaço. Ele se ajoelhou no tapete de folhas.

— Fogo, — ele murmurou. Ettie observou-o sonhadoramente. Veio a mente dela que ele estava tentando iniciar um pequena fogueira. Ela se agachou.

— Deixe-me ajudar, — ela sussurrou. Tinha certeza de que, em algum momento não tão distante, havia se lembrado de colocar uma pederneira e uma isca em seu sporran por baixo do manto. Ela procurou por ele, seus dedos grossos e sem resposta com o frio.

— Deixe-me ajudar, querida, — disse Brodgar, a alcançando ternamente para tirá-la dela. Ele se atrapalhou e suspirou. — Você é uma menina maravilhosa, inteligente.

Ettie sentiu sua alma derreter. Ela deu um sorriso torto para ele. Ela estava tão fria!

— Obrigada... eu acho, — ela sussurrou. — Você parece muito surpreso por eu aceitar isso como um elogio.

Ele sorriu.

— Eu não estou surpreso, — ele insistiu. Ele estava reunindo uma pequena pilha de gravetos, movendo a pederneira e a isca enquanto falava. — Apenas grato, minha querida. Tão grato.

Ettie sorriu para ele quando a chama se acendeu, depois se apagou, depois se acendeu e pegou. Os gravetos que ele tinha acendido estava seco e crepitava, lançando uma nuvem de fumaça. A égua se mexeu, claramente nervosa pela fumaça, mas Brodgar sussurrou para ela que ficou parada.

Ettie se inclinou para o fogo, alimentando-o com restos de folhas secas, casca e punhados de grama até que tiveram uma pequena chama oscilante.

— Galhos, — disse Brodgar sucintamente, se rastejando para a entrada da caverna. Ele saiu em busca de comida e gravetos. Voltou com os poucos galhos secos que conseguiu encontrar.

Mais duas viagens e os dois estavam sentados em volta de uma pequena fogueira, jogando sombras por toda parte. Eles seguraram as mãos para o fogo intermitente, deixando-as aquecer. Ettie estremeceu.

— Você me salvou, — ela sussurrou.

— E você a mim, — disse Brodgar. — Você desimpediu as estradas.

Ettie corou.

— Não foi nada.

— Foi corajosa, brilhante e maravilhosa, — retrucou Brodgar com firmeza. — Você salvou minha vida.

— E você a minha.

Os dois se entreolharam, hesitantes e surpresos. Seus olhos azul-ardósia formavam poças na escuridão, a luz da fogueira se movia sobre a superfície, alaranjada e negra, se deslocando. Ele olhou para eles e pegou a mão dela.

— Henriette Fraser, eu te amo.

— Eu te amo, Brodgar MacConnoway.

Eles queriam dizer isso. Ettie sentiu como se uma rocha tivesse se instalado em seu peito — firme, pesada e segura. Esse amor era sólido, firme e maravilhoso e a guiaria toda a sua vida: iria ancorá-la e apoiar seus passos para sempre.

Mais tarde, tremendo, sentaram-se contra a parede. Suas mãos estavam aquecidas e Ettie sentiu que Brodgar tomava seus dedos nos dele, aqueles longos e musculosos dedos apertando e acariciando sua mão, ajudando o sangue a fluir.

Seu braço estava ao redor dela e eles a tocaram de lado, compartilhando seu calor.

— Eu sei que isso é inadequado, — sussurrou Brodgar. Seus dedos se moveram sobre os dela, fazendo cócegas no seu pulso. Ela ofegou. Ela podia sentir sua respiração ao lado dela e seu calor penetrou através de sua roupa já seca, deixando seu coração em chamas. Tão perto, ela podia sentir o cheiro dele, senti-lo e tocá-lo e estava ciente das mudanças em seu corpo, um pulsar mais rápido, o calor se espalhando através dela, convergindo para suas coxas, uma captura na respiração.

— É, — ela sussurrou.

Eles riram.

— Estamos noivos, — Brodgar sussurrou de volta. — gostaria de... eu sinto muito, está tão frio, — ele sussurrou de volta.

— Por quê? — Ettie perguntou, embora algum instinto a fez corar, sabendo as respostas.

— Porque... Se não fosse por isso, eu anteciparia as núpcias sem nossos votos.

Ettie ficou vermelha. Ele também. Eles se beijaram.

O fogo virou carvão avermelhado e eles adormeceram.

Na manhã seguinte, eles acordaram em um espaço frio, abraçado e tremendo, Ettie virou de lado. Ela se viu olhando nos olhos de Brodgar. Eles eram fora da lei. Estavam apaixonados e se beijaram.

Mais tarde, eles planejariam. Eles tinham que encontrar o desjejum primeiro, sabiam que estavam perigosamente fracos. Ettie tirou um pouco de pão dos alforjes e ficou horrorizada ao ver como Brodgar o devorava, quase morrendo de fome. Ela notou que o rosto dele estava mais magro e podia sentir suas costelas. Ela comeu a parte dela lentamente, muito fria e tremula até mesmo para sentir fome. Ela deu uma pequena medida para o cavalo, que soprou e pegou.

— Deveríamos seguir para o Norte — disse Brodgar, depois que o desjejum acabou. — Irmos para Lochlann.

— Lochlann? — Ettie recordou vagamente do lugar. Ela tinha certeza, em algum momento antes de sua queda, quando ela não estava com frio, com fome e exausta, tinha significado algo.

— Minha irmã Joanna mora lá, — explicou Brodgar. — É uma fortaleza forte. Duvido que MacDonnell suspeite que tenhamos ido para lá. E já que ele agora estará convencido de que sua filha está em algum lugar nestes bosques, sozinha e cavalgando, ele estará focado aqui. — Ele sorriu para ela. — Minha lady, fez bem feito.

— Não foi apenas minha a ideia, — Ettie corou. Quatro delas planejaram isso, Amice, ela e Alina, com Chrissie adicionando alguns pensamentos. Tinha sido ideia dela que a distração deveria ser Ambeal, e ela concordou em fazer isso.

— Bem, foi brilhante. — Brodgar a beijou. — Brilhante, inspirador e verdadeiro. Agora. Vamos fazer um balanço e ver se podemos seguir para o Norte.

Ettie assentiu. Suas pernas tinham adormecido durante a noite e ficar em pé era difícil. Brodgar ajudou-a e juntos eles conseguiram. Eles tinham um cavalo. Algumas provisões. Um senso de direção.

— Nós podemos fazer isso.

Brodgar ajudou-a a subir no cavalo. Por motivos de ocultação, eles trocaram de capas. Ettie teve que sorrir, vendo-o com a capa de veludo ocre.

— Nós parecemos foras da lei, — Brodgar sorriu torto.

— Nós somos, — Ettie sorriu.

Ele balançou a cabeça pois juntos, ela, Brodgar e Snow-soft, todos eram fora da lei, traçavam a fria e solitária estrada para o Norte até Lochlann.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

ABRIGO E UM LUGAR SEGURO


O vento estava frio. Brodgar olhou de soslaio para Ettie, que estava ao lado dele, rezando para que seu manto puído estivesse quente o suficiente para ajudar a preservar seu corpo contra o frio arrepiante. Ele olhou para as paredes altas.

— Aqui estamos, — disse ele. O comentário foi mais para si e para sua própria segurança do que útil: ninguém poderia deixar de notar o castelo de Lochlann.

A estrada que levava a ele era pavimentada, uma das menores rotas comerciais da região. Levava direto para o imponente portal, guardado por sentinelas.

Brodgar limpou a garganta, pronto para as investigações.

— Alto! — Alex, uma das sentinelas que ele reconheceu, chamou em voz alta. — Faça o seu negócio aqui conhecido para nós!

Brodgar suspirou. Sua cabeça estava embaçada pelo pouco sono e falta de comida e ele mal conseguia enxergar direito.

— É Brodgar, filho de Broderick, thane de Lochlann. Quero ver minha irmã. Esta é minha noiva, Lady Henriette. Temos negócios apenas para a audição da minha irmã.

A sobrancelha de Alex subiu. Ele parecia bem descansado e quente e naquele momento Brodgar poderia alegremente tê-lo atingido com um murro. Ele tinha uma bochecha!? E estava quente, o que era motivo suficiente neste momento para ter ciúmes dele.

— Uma história pouco provável! São viajantes cheios de pulgas. Dê a volta e vá embora. A esmola do senhor Dougal foi esta manhã.

Brodgar sentiu a raiva inundá-lo como água quente. Ele sentiu a mão de Henriette em seu braço, que era a única razão pela qual ele não acertou o homem e perdeu sua chance preciosa de entrar.

— Nós não estamos mentindo, — ela disse suavemente.

— Não, — concordou Brodgar. Suas palavras lembraram-lhe que ele tinha provas. — Eu sou o filho do thane. O que você acha de um símbolo para provar isso? Além do mais, se eu não fosse, como é que cheguei com uma égua espanhola tão boa? Diga-me, se puder. — Ele indicou o magnífico cavalo branco que era de sua mãe, Snow-soft, cujas rédeas ele segurava.

— Roubou-a? — A segunda sentinela perguntou. Ele foi recompensado com um olhar de Alex.

— Você tem algum sinal? — Ele perguntou severamente.

— Eu tenho, — disse Brodgar teimosamente. — Mas serei amaldiçoado se mostrarei para alguém tão míope quanto você, Alex Farley. Você não me reconhece?

Ao lado dele, ouviu Ettie suspirar de surpresa e então viu seus lábios se moverem como se escondesse um sorriso. Ele queria rir de si mesmo. Ele não tinha ideia de onde a audácia repentina tinha vindo, mas estava satisfeito por isso, já que a garantia alterava as coisas.

— Meu lorde? — Alex disse. Ele se inclinou mais perto, colocando a mão em seu ombro. Brodgar reprimiu o desejo de atacá-lo. Homem insolente! Ele estava olhando em seu rosto, claramente pensando e muito.

Finalmente, ele exclamou.

— Meu lorde. É você. Bem-vindo.

— Droga, Alex, — Brodgar suspirou. — Demorou muito tempo.

— Meu lorde. — Alex parecia arrependido. — Sinto muito. Perdão, mas você é uma sujeira terrível. Não me surpreende que não soubesse que era você.

Brodgar riu e ouviu Ettie rindo ao lado dele.

— Sim, estou muito sujo, — concordou Brodgar. — Espero poder consertar isso em breve. Se você pudesse nos levar a minha irmã? Está terrivelmente frio aqui fora.

— Sim, meu lorde. É isso. Venha. Entre!

De repente, completamente solícito, o homem os conduziu até o vasto pátio de Lochlann. Ele fez alguns chamados e logo os homens corriam para cuidar de Snow-soft.

— Veja que ela seja bem alimentada e aquecida. Dê-lhe farelo e uma manta quente — comentou Brodgar. Ele andou atrás de Alex, seu braço em Ettie, tentando acompanhá-lo. Droga, mas por que ele estava tão cansado?

— Meu lorde, Sua Senhoria e sua irmã estão no solar, — disse Alex após consultar com os guardas na entrada do grande salão. — Bronn aqui vai te acompanhar.

— Eu sei o caminho até lá, mas obrigado, Alex. — Brodgar suspirou cansado. — Vá se aquecer.

Enquanto seguia Bronn para o castelo, o súbito calor de quatro paredes com lareiras para aquecê-los, ele descobriu que não se ressentia de alguém estar aquecido. Ele estava exausto, faminto, com frio e tudo o que ele queria era um lugar para sentar, um fogo e uma refeição. Em qualquer ordem possível.

Sua cabeça nadou e ele se virou para olhar para Ettie, que sorriu de volta. Ela estava pálida, magra e tinha grandes manchas ao redor dos olhos por falta de sono. Seu coração doía por ela. Se não fosse por ele, ela não teria sofrido.

— Minha vida, — ele sussurrou, apertando a mão dela enquanto seguiam a guarda silenciosa no andar de cima juntos. — Me perdoe. Eu não posso me perdoar por fazer você sofrer isso, é minha culpa.

— Brodgar, — sussurrou Ettie. — Estamos juntos. Essa é a causou disso. Não me arrependo de nada.

Brodgar sentiu aquelas palavras aquecerem seu coração. Ele apertou a mão dela, sentindo seu corpo responder a sua proximidade apesar de sua total exaustão. Eles atravessaram o salão, a colunata e foram para a esquerda.

Calor. Calor. O aroma de especiarias. Em algum lugar, a voz de uma mulher.

— Brodgar?

Brodgar, piscando, focou sua visão turva e se viu olhando em grandes olhos cinzentos que era a imagem de Alina.

— Irmã! — Ele sussurrou.

— Dougal, meu querido. Por piedade, traga o médico! E peça Glenna para trazer cerveja e caldo. Estes dois estão mortos mesmo estando de pé!

Brodgar fechou os olhos momentaneamente, cambaleando onde estava. Agora que haviam chegado ao abrigo, parecia que seu corpo decidira entrar em colapso total. Ele não podia ficar de pé. Não conseguia ver direito. Apoiou-se em algo, que depois reconheceu-o como o braço de Joanna e sentiu-se guiado para a poltrona. Ettie se sentou ao lado dele e o mundo ficou enevoado.

Momentos depois, ele acordou com o cheiro de comida. Enquanto seu corpo e sua boca passava pelos movimentos de comer — pão de aveia, pudim de sangue8 e caldo de carne, quente e salgado, — sentiu sua mente acordar.

— Temos os homens reunidos — Joanna estava dizendo — e podemos fornecer uma escolta a Dunkeld assim que você disser a palavra. Mãe deve estar frenética de preocupação. Eu adoraria ouvir como vocês dois vieram pela estrada sozinhos, nesse estado!

— Não, — disse Brodgar. Ele queria que fosse mais alto, mas só um sussurro tenso emergiu. Ele limpou a garganta e tentou mais. — Não queremos uma escolta. Nenhuma mensagem. Deixe-nos explicar.

Portanto, intermitentemente, entre bocados de caldo, pão e linguiça, contaram a história. Henriette preencheu os pedaços que Brodgar não conhecia. Dougal retornou e se juntou a sua esposa na poltrona em frente a eles e juntos eles ouviram extasiados.

Quando Brodgar terminou de falar, ele foi drenado. Sua boca parecia uma lixa e tudo doía. Ele olhou para a irmã. Seu rosto ainda estava sereno.

— Então? — Perguntou Brodgar. — Você vai nos esconder? Eu sei que o que peço não é pouca coisa. Sei que você arrisca sua segurança. Tudo que eu peço é um dia. Então podemos nos recuperar, nos aquecer e cuidar dos nossos hematomas. Então vamos embora. Eu prometo.

— Não, irmão, — Joanna falou suavemente. Ela estendeu a mão para ele, seus dedos delgados eram fortes, claros e quentes. — Fique por uma semana.

— Não podemos, — sussurrou Brodgar. — É muito arriscado.

— Ninguém vai encontrá-lo aqui, — disse Dougal. Era um homem alto de cabelos negros e finos, rosto solene e grandes olhos escuros, ele era uma presença forte e grave. — A chance de palavra saindo daqui para Bronley é pouca. E a partir do que você disse, eles estão preocupados, procurando na floresta. Você se saiu bem com o desvio que fez — acrescentou ele, dando um sorriso a Henriette. Brodgar tentou não sentir ciúmes quando ela sorriu de volta. Ele conseguiu, se desviando por pouco.

— Dougal está correto, — disse Joanna suavemente. Ela estava com uma sobrancelha levantada e sorrindo dele. — Bem, sim, você está! — Ela acrescentou, cravando-o nas costelas e fazendo o rosto solene brilhar com um sorriso. — Vocês dois são bem-vindos aqui, enquanto precisar. É muito mais seguro estar aqui do que partir a Dunkeld. Pelo que você disse, a floresta é intransitável. Para não falar de miserável e mortalmente frio. Você ficará na torre Norte o tempo que precisar. Nosso povo não vai levar contos para as terras MacDonnell. E não há, afinal de contas, nenhuma razão para eu não entreter meu irmão em nosso próprio salão — acrescentou ela, sorrindo para Dougal, que assentiu.

— Bem-vindo, vocês dois, — acrescentou.

Brodgar suspirou.

— Eu não posso agradecer-lhe, — ele sussurrou. — É muito bom para tão poucas palavras.

— Bobagem, — Dougal soprou. — Não é nada. O castelo é grande o suficiente para cinquenta vezes o seu número. Nós nos agitamos por aí o dia todo, não é, querida?

— Fale por si mesmo, — brincou Joanna. — Estou muito preocupada com Amabel com tanto barulho.

Amabel era a filha primogênita de Joanna, batizada em homenagem a sua mãe. Brodgar sorriu.

— Tenho certeza de que você está, — disse ele. Seu cérebro estava embaçado. Ele sentiu suas pálpebras caídas. Por que ele estava tão cansado? Ele se forçou em sentar e olhar para sua irmã. — Obrigado de novo, — disse ele.

— Bobagem — interrompeu Joanna rapidamente. — Agora vocês dois! Eu sei que ainda é cedo, mas não dormem por dias. Para cama já! Glenna?

— Sim, minha lady? — disse uma criada, atravessando a porta arqueada do solar.

— Leve estes dois para a torre do Norte, por favor, e veja que eles vão para a cama.

Brodgar sorriu para sua irmã, isso era típico de Joanna, tomar conta deles assim! Ele ficou de pé, cambaleando e deixou a serva guiá-los pelos longos e frios corredores de pedra.

— Aqui estamos, meu lorde, — disse ela, parando do lado de fora de uma porta. Brodgar olhou para Henriette, que olhou para trás. Por um momento, ele sentiu seu membro se incendiar com o pensamento de que talvez sua irmã tivesse assumido que já estavam unidos por um vínculo matrimonial. Nesse caso...

— Minha lady, pode me seguir? Sua câmara está à esquerda, com vista para as florestas...

Brodgar sentiu o coração afundar. Impulsivamente, ele puxou Henriette para mais perto dele. Sua boca desceu sobre a dela com força e paixão e, quando seus lábios se separaram calorosamente para admitir sua língua sondadora, ele sentiu o corpo doer de desejo.

— Boa noite, minha lady, — disse ele. Ele sorriu, sabendo que era dia. — Te vejo em breve?

— Boa noite, meu lorde, — sussurrou Henriette. Seus olhos estavam brilhando e Brodgar teve que forçar seu olhar para longe, sabendo que o desejo o inundaria se ele olhasse mais um momento.

Deixou que Glenna o conduzisse até o limiar e para a vasta cama aquecida com um tijolo, e depois partisse suavemente. Ele se despiu, aqueceu os pés no fogo e depois desabou na cama, os olhos pesados com a necessidade urgente de dormir.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO

A CAMINHO


Calor. Ettie se remexeu, sentindo os dedos dos pés quentes e relaxados. Ela estava em algum lugar... ela não tinha ideia de onde. No entanto, estava quente. Sua mente ainda estava flutuando em camadas de sono e ela lutou lentamente até a vigília. Sua mente fez uma pergunta.

Onde estou?

Ettie, com os olhos ainda fechados, procurou na memória e a resposta para essa pergunta.

A floresta. Brodgar. A caverna.

Sua mente alimentou suas lembranças aos poucos — as sentinelas em um portão. Uma vasta torre. Uma mulher com cabelos ruivos escuros e os olhos solenes de uma vidente. Irmã de Brodgar.

Lochlann, o nome retornou então. Você está em Lochlann.

Ettie se virou. Abriu os olhos. Ela estava olhando para uma lareira, as chamas se projetavam em um brilho avermelhado do carvão. Ela se virou, trazendo os joelhos até o peito. Ela estava quente. Tão quente. Ela estava bem descansada. Ela tirou a mão de debaixo das cobertas e passou sobre o cabelo seco. Ela lembrou-se, bem distante, tinha tomando um banho. Ela cheirava a limpeza. Seu cabelo estava macio.

Eu estou em Lochlann. Estou limpa. Estou quente.

Isso respondia a todas as questões imediatas. Ela ficou lá por mais um minuto, pensando.

Onde está Brodgar?

Acordar sem ele, mesmo em circunstâncias tão agradáveis como essas, era de alguma forma perturbador. Ela havia se acostumado em seus três dias de viagem em acordar contra seu ombro, ouvindo sua respiração.

Ela sentiu um rubor rastejar em suas bochechas, ao pensar isso. Eram solteiros, e passaram três noites juntos. Embora sem qualquer chance de fazer qualquer coisa... pura. Ainda.

Eu sei agora um pouco mais do que antes, de como será.

Espantada com seus pensamentos perversos, ela sentiu seu rosto se enrugar em um sorriso. Ela rolou e se sentou. Sua cabeça estava confusa com o sono diurno, mas ela não tremia ou se sentia doente pela primeira vez em dias.

Ela se deslizou para fora da cama, tropeçou e se segurou no dossel, de pé no tapete macio e tremendo levemente.

— Glenna?

A serva apareceu depois dela ter puxado um cordão de sino — ela deve ter ficado velando por ela a distância, toda a tarde.

— Sim, Lady Henriette?

— Que horas são?

— São oito horas, minha lady.

— Verdade? — Ettie franziu a testa. Estava claro do lado de fora, o céu era cinza ardósia.

— Sim, minha lady. Oito horas, domingo de manhã.

Ettie olhou para ela. Ela realmente dormiu o dia todo? Ela passou a mão pelo rosto, espantada consigo mesma.

— Minha lady gostaria de ajuda em se vestir? — Ela perguntou.

— Sim, por favor, — disse Ettie sonhadoramente. Ainda se sentia cansada e agradecia quando a criada ajudou-a a sentar-se e depois começou a pentear seus longos cabelos dourados.

Joanna havia providenciado dois vestidos para ela — um de linho branco e outro de lã azul-escuro. Ettie escolheu o último e a serva ajudou-a a vestí-lo, lamentando o quão fraca se tornara.

— Nós logo vamos lhe deixar mais forte, milady, — ela sorriu. — Dentro de uma semana você estará pronta para dançar novamente. Marque minhas palavras.

Ettie sorriu e agradeceu. Um relance no espelho mostrou-lhe uma mulher com grandes olhos cinza ardósia, um rosto longo com pele pálida pela de falta de sono, o cabelo dela uma nuvem dourada até sua cintura.

— Onde está Brodgar? — perguntou ela à serva, que sorriu.

— Mal se levantou, minha lady. Está no desjejum com Sua Senhoria. Eu te levo lá?

— Obrigada, Glenna. Sim.

Ela seguiu a serva, hesitante, pelos longos corredores, olhando espantada as paredes de pedra grossas. Esta era a fortaleza onde seu tio Heath frequentou quando tinha a sua idade. Imaginou como deve ter sido, quando Amabel, Alina e Chrissie eram as damas de Lochlann, na idade dela.

É um ótimo lugar.

— E aqui está o solar, milady. Agora eu vou sair. Chame-me se for a câmara no caso de querer descansar novamente depois de quebrar seu jejum.

— Obrigada, Glenna. — Ettie piscou de volta as lágrimas espontâneas. Ela era tão gentil! Todos aqui tinham sido gentis com ela. Ela poderia ter morrido de frio ou fome em mais alguns dias sem isso.

Ela hesitou na porta, ouvindo vozes. Joanna estava falando, sua voz baixa e urgente.

— Então, à luz disso, achamos que seria melhor se você voltasse.

— Sim, — Brodgar estava respondendo. — Sim. Entendo.

Ettie se balançou e se segurou no lintel para não cair. Ela não percebeu que deve ter ficado sem fôlego, porque um momento depois Brodgar se virou para olhá-la. Ele também estava bem descansado, embora pálido, com o cabelo penteado. Ele usava uma túnica de linho branco e parecia bonito.

— Ettie! Venha! Sente-se! — Ele estava ao lado dela em um instante, guiando-a para um assento na mesa. Ela se deslizou ao lado dele, notando distraidamente a bela mesa de carvalho entalhada com seus doze assentos elaboradamente decorados ao redor. O solar ali era mais grandioso do que o de Dunkeld, com os seus arcos finos e pontiagudos escondidos quase de vista por detrás de uma cortina requintada. Movia-se com o vento, quente e discretamente.

— Você dormiu bem? — perguntou Lorde Dougal, solícito.

— Sim, obrigada, — respondeu Ettie suavemente. O cheiro de pão recém-assado e queijo, aveia, cerveja e manteiga salgada e fresca, estava atraindo-a. Ela lutou para manter o foco.

— O que vocês estavam discutindo quando eu entrei? — Ela sussurrou baixinho para Brodgar. — Onde vamos?

Brodgar pegou a mão dela. Ela olhou para ele de novo e notou, pela primeira vez, que ele estava sorrindo como se o sol tivesse nascido.

— Temos novidades. Alf está seguro. E Ambeal também. Nós podemos ir para casa.

— O quê? — Ettie franziu o cenho para ele.

Não fazia sentido. Ela diminuiu a velocidade de entendimento, forçou-se a considerar cada palavra. Notícia. Alf e Ambeal. Em casa. Seguro. Nós podemos ir.

— Mas, como, Brodgar? Como pode ser? Quando... — ela parou quando um criado trouxe uma bandeja de biscoitos e Joanna propositalmente serviu sua cerveja, fervida para remover os destilados alcoólicos e para fazer uma bebida quente e refrescante, e passou-lhe um bannock.

— Quebre seu jejum, — ela disse, nivelando aquele olhar cinza e flácido para ela. — Brodgar pode informá-la enquanto você come. Brodgar? Diga a ela as novidades.

Brodgar riu.

— Sim, minha irmã. Ettie, recebemos um mensageiros de Dunkeld na noite passada.

— Oh?

— Parece... parece que Alf e Ambeal estão lá. Eles se casaram. Eles retornaram para casa assim que foi feito, com o documento e um padre para testemunhar. Atiram-se à mercê de MacDonnell. Ele, surpreendentemente, perdoou-os. Parece que ele estava muito satisfeito por sua filha estar viva. Graças ao céu! Ele viu sentido finalmente.

Ettie franziu a testa. Ela deixou sua mente ir mais devagar novamente, digeriu cada palavra. Alf e Ambeal estavam casados. Seu casamento foi aceito. Eles voltaram para casa.

— Isso significa que nós... — Ela se virou para Brodgar, um grande sorriso crescendo em seu rosto, mesmo quando seu coração inchou e subiu em seu peito. — Isso significa que nós...

— Sim, — disse Brodgar, sorrindo e o sol se levantou. — Isso significa que podemos ir para casa, minha querida. E casar. Meu amor.

Ela descansou a mão no ombro dele, muito suavemente. Ele sorriu com seus olhos. Eles se entreolharam amorosamente. Ela se inclinou para frente e seus lábios se roçaram.

Então Brodgar afastou-se com relutância, virou-se para a irmã.

— Eu não posso te agradecer o suficiente, — disse ele novamente.

— Oh, você pode, — Joanna sorriu. — Você já o fez. Não agradeça mais, irmão. Você sabe disso. Me agradeceu mais do que o necessário, então, pode parar? Agora. Nós temos que planejar. Dougal?

— Sim, minha lady? — Dougal sorriu. Ele tinha um sorriso bonito. Medido e doce. Ettie gostava dele e o amor entre ele e Joanna a aquecia.

Eu amo ver pessoas apaixonadas. Isso aumenta a minha alegria. Agora que encontrei Brodgar, quero que todos tenham essa coisa maravilhosa acontecendo com eles também. Eu estou tão feliz.

Ela sorriu para Brodgar, que sorriu e apertou a mão dela. Então eles se voltaram para Dougal, que ainda estava falando.

— Então podemos pegar a estrada para o Sul, talvez amanhã. Você sem dúvida estará ansioso para voltar para casa novamente — disse ele a Brodgar e Ettie com um sorriso. — Há preparativos que tenho certeza que você planejará fazer.

— Preparativos de casamento, — disse Brodgar com firmeza.

Ettie sentiu seu coração parar e sorriu para ele. Ele sorriu de volta.

— Bem, eu perguntei a ela, — disse ele com um sorriso.

Joanna soltou uma risada.

— Eu deveria esperar que sim.

Ettie deu uma risadinha.

— Lady Joanna, você tem um bom irmão.

— Eu sei, — Joanna sorriu. — Um bruto impetuoso, selvagem e teimoso de um irmão, que só o Céu sabe onde a mãe o encontrou, mas sim. Um homem excelente e honesto. Eu amo-o.

Henriette tentou não rir, mas foi inútil. Brodgar estava olhando para a irmã com uma expressão de surpresa no rosto, Dougal rindo alto e um músculo na bochecha de Joanna se contraiu, mostrando que ela tentava não rir da expressão de seu rosto, enquanto seus olhos brilhavam.

Logo estavam todos rindo.

— Brodgar, meu irmão, — disse Dougal com um sorriso. — Ela tem você onde quer.

— Minha irmã sempre foi observadora, — Brodgar sorriu. — Receio não poder discutir com nenhuma de suas astutas descrições.

— Obrigada, irmão, — disse Joanna. — Você me lisonjeia. Agora, seja um querido e coma mais desse pão. Tem que comer, sabe, ou vai ficar magro. E você também, minha querida. Coma mingau. Aquecido e salgado, do jeito que achar melhor.

Ettie sorriu para Joanna, que deu um tapinha na mão dela. Ela fez o que lhe foi pedido e comeu o mingau. Joanna contou-lhes todas as histórias sobre o seu trabalho com os arrendatários como curandeira — algumas engraçadas, outras trágicas — e Ettie sentiu-se gostar dela.

Quando a refeição terminou, Dougal se espreguiçou amplamente.

— Eu estou indo ao campo de treino. Vocês dois devem se preparar para partirem... provavelmente seria melhor se partíssemos amanhã de manhã cedo, para que possamos alcançar Dunkeld enquanto ainda houver luz.

— Um plano sábio, — Brodgar assentiu. Ettie se sentou ao lado dele enquanto Joanna pegava sua capa e se levantava, desejando-lhes um bom dia antes de sair para a sala de estar.

Ettie ficou onde estava ao lado de Brodgar, ouvindo no silêncio os passos que ecoavam nos corredores forrados de pedras. Ela estendeu a mão e pegou a dele. Ele apertou a dela calorosamente.

— Assim. Amanhã nós vamos?

— Sim, — Brodgar assentiu. — Dá a impressão de que ainda não possível, não é?

— É, no entanto podemos, — Ettie sussurrou de volta. Ela apertou a mão dele e, quando os olhos dele olharam nos dela, ela sentiu o coração bater forte.

Eles se beijaram, profundo e quente. Ettie ficou tensa enquanto seus lábios acariciavam os dela, sua língua procurando avidamente ao longo da linha de seus lábios. Quando os separou e ele empurrou calorosamente para dentro de sua boca, sentiu seu peito tenso.

Ela o queria tanto! Ela deixou seus lábios se separarem suavemente sob a língua dele e enquanto sua boca quente explorava a dela, a língua rígida e dura, ela sentiu como se o calor se derretesse através de seu abdômen, fazendo-a inclinar-se contra ele, sonolenta e dolorida por um desejo intangível. Alguma coisa que seu corpo conhecia e ansiava, e ainda assim sua mente não compreendia completamente. Ela colocou os braços ao redor dele e se apertou contra ele, sentindo a pulsação em seu corpo querendo se pressionar cada vez mais perto...

Brodgar estava ofegando quando seus lábios se separaram.

— Uau, — ele riu. — Minha querida. Eu não deveria fazer isso.

— Não? — Ettie sorriu.

— Bem, não. Não a menos que queiramos ser realmente muito malcriados.

Ettie tomou seu significado, lembrando-a de sua descoberta na caverna. Quão perto eles chegaram, então, de quebrar o acordo! Eles teriam consumado seu casamento sem votos se não houvesse frio demais ou sua própria necessidade de fazer as coisas corretamente.

— Sim, — ela disse, corando. — Nós não seremos.

— Não, — ele sussurrou contra sua testa, beijando-a. — Nem um pouco.

Ela se sentiu deliciosamente quente por dentro. Eles se levantaram logo depois e foram cuidar de seus negócios, mas ela não conseguiu esconder o sorriso no rosto. Seu corpo inteiro ansiava por Brodgar e sua alma sussurrava: em breve eles voltariam para casa; para Dunkeld.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

UM CASAMENTO NA FORTALEZA


As árvores se separaram lentamente quando o declive se nivelou. No topo, Brodgar sabia, estava Dunkeld. Casa. Seu coração estava batendo em seu peito. Ele não conseguia acreditar em sua boa sorte.

Em breve estarei em casa. Vou ver mãe e pai, Amice, tias, tios e Alf e sua esposa e... e todos. E Henriette está aqui. E nos casaremos.

A última parte da viagem estava passando maravilhosamente. Ele olhou para ela, sub-repticiamente. Ela estava montando uma jennet 9 emprestada, seu cabelo estava penteado e brilhante, revelado sua face. Seu rosto claro tinha um rubor saudável e suas bochechas se encheram um pouco, brilhando de saúde.

— Minha querida.

Ela o ouviu e sorriu. Sua respiração ficou presa na garganta. Sempre ficava luminosamente linda, quando sorria, Henriette era incrivelmente bela.

— Estamos de volta.

Eles disseram ao mesmo tempo. No cume, as primeiras torres quebraram a linha das árvores. Logo eles alcançariam o portão. E finalmente em casa.

— Quem vem lá? — A sentinela gritou. Brodgar respirou fundo.

— Sou eu, Alec. Você sabe quem. E trago a dama Henriette. E lady Joanna e o lorde Dougal de Lochlann. Você nos conhece.

Alec sorriu calorosamente.

— Sim, eu conheço, senhor. Tenho que perguntar. Questão de costume. Agora vamos nós. Callum?

— Sim?

— Abra o portão de forma inteligente.

— Sim, senhor.

O portão se abriu e Brodgar prendeu a respiração enquanto o pátio se estendia, cinzento e familiar sob os raios claros do sol.

— Meu lorde! — Gritou um guarda. — Você está em segurança em casa!

— Eu estou sim, — Brodgar gritou alegremente, ouvindo suas botas baterem nas lajes. Ele olhou para Henriette, que se deslizou elegantemente da sela e se juntou a ele no chão. — Agora. Onde está Sua Senhoria?

— No salão. Muito aconteceu desde que você partiu. Tanta novidade que você terá que acompanhar.

— Obrigada, — Ettie murmurou para um menino cavalariço, que tomou sua rédea. — Veja que ela esteja bem cuidada.

— Claro, milady, — ele respondeu. Ettie não se esquecera de que a égua salvara sua vida.

— E pretendemos logo ter uma cerimônia — disse Brodgar enquanto ela o seguia. O guarda sorriu para eles e Ettie corou.

— Meu querido, poderíamos esperar até fazermos um anúncio formal, — ela sussurrou, deslizando a mão na dele enquanto caminhavam juntos através do arco. — Levará muito tempo se contarmos a todos de boca em boca.

— Estou tão feliz, — ele sorriu. — Eu quero que todos compartilhem isso. Eu direi a todos.

Ettie riu. Ela sabia exatamente como ele se sentia.

— Eu quero contar a todos também.

Ele apertou a mão dela, o rosto cortado com um sorriso.

— Vamos ver quem pode dizer mais rápido.

Ettie riu e subiram os degraus até o interior do castelo para encontrar sua família.

O solar estava lotado. Ettie olhou em volta, sentindo o coração disparar e seus sentidos nadarem enquanto via todos ali. Broderick, estava sorrindo em boas-vindas. Ela esperava pelo menos uma repreensão, mas não, ele os havia perdoado. Lady Amabel, com os cabelos ruivos escovados e brilhantes, estava ao lado dele, o rosto esbelto sorrindo amplamente. A seu lado, Alina se levantou. Seus olhos brilharam. Chrissie estava lá, envolta em sorrisos. E Amice ao lado dela. E ao lado de Amice, com um sorriso torto que aquecia suas feições, estava o jovem ruivo que antes Ettie pensara que estava morto.

— Alf! — Ela falou. — Você está seguro.

— Chegamos há dois dias, — disse Alf, abraçando-a enquanto ela jogava seus braços impulsivamente em volta dele. Ao lado dele, Ambeal se adiantou.

— Eu ouvi o que você fez por nós, — disse ela, sua voz baixa e sussurrante. — Obrigada, irmã.

— Não foi nada, — disse Ettie, puxando-a para um abraço firme.

— Foi corajosa e resoluta, — disse Alina, dando um passo à frente. Ela usava um vestido azul escuro que brilhava à luz do fogo, seu cabelo preto solto e reto. — Eu a agradeço, sobrinha.

— Foi ideia sua, — desaprovou Ettie.

— Só em parte, — disse Alina. Seus olhos negros seguraram seu olhar e Ettie engoliu em seco, vendo o calor e o cuidado.

— Bem-vinda, filha.

Isso, para espanto de Ettie, era Lady Amabel. Para sua surpresa ainda maior, a mulher alta a abraçou com força. Ela beijou o cabelo dela.

— Obrigada por ajudar a todos nós.

Ettie olhou em seus olhos claros e engoliu em seco.

— Não foi nada, minha lady. Eu amo Brodgar... tanto... — Sua voz ficou presa na garganta e ela parou, sabendo que não havia palavras para a profundidade de seu sentimento.

— Eu sei, — disse Amabel. — E só posso elogiá-la. Peço desculpas pela minha antiga resistência. Eu pensei que estava certa. Mas estava errada.

— Apenas quanto aos detalhes, — disse uma voz atrás dela, e Lorde Broderick pôs a mão em seu ombro, sorrindo calorosamente. — E essa foi a minha primeira ideia.

Amabel sorriu para ele, os olhos cintilando maliciosamente.

— Eu não posso concordar com isso, — disse ela com uma voz calorosa. — Ou as pessoas pensarão que eu o escuto e presto atenção às suas sugestões. E então, onde estaríamos?

Broderick riu e Ettie sentiu seu coração derreter, vendo a proximidade entre eles. Ela sentiu que estava segurando seus próprios dedos calorosamente e sorriu para Brodgar, que sorria.

— Bem, — ele sussurrou. — Parece que somos bem-vindos.

— Tragam um banquete! — Broderick falou, fazendo com que todos ficassem temporariamente quietos. — Meu filho está de volta. E temos que celebrar um casamento também — acrescentou ele, dando um olhar caloroso para Alf e Ambeal.

— De fato! — Duncan assentiu. — Embora o par astuto fugiu e fizeram a cerimônia longe.

— Vamos descer para o grande salão, então, — declarou Blaine, apertando o ombro de seu filho, que sorriu. — Eu senti o cheiro da comida durante todo o dia. Estou faminto.

Todos riram e Brodgar e Ettie seguiram a festa descendo as escadas até o grande salão. Brodgar segurava a mão dela e eles esperaram até que todos tivessem passado, querendo ficarem sozinhos por um momento.

— Será minha esposa em breve, — sussurrou Brodgar.

— Meu querido.

Ettie sorriu ao beijá-lo. O beijo começou suave, mas logo se intensificou. Eles estavam nas escadas no meio da fortaleza, mas Ettie perdeu toda a consciência de lugar e contexto. Ela estava caindo através das estrelas, o vento sibilando passado. Ela estava em bosques florestais com folhas verdes. Ela estava apaixonada.

— Minha querida, — Brodgar sussurrou, acariciando seus cabelos e colocando a mão em seu rosto.

— Minha vida.

Eles se beijaram novamente.

Ettie soltou um longo suspiro e juntos desceram as escadas.

****

A semana passou como se ela sonhasse. Logo chegou a manhã que eles escolheram — um sábado — a primavera mal começara a derreter o gelo.

— Minha lady? — Glenna acordou Ettie de um sono firme e sem sonhos.

— Glenna? — Ettie murmurou, acordando devagar. — O que foi?

Quando ela percebeu o quão amplamente Glenna sorria, se lembrou. Era o dia do seu casamento.

— Hora de se vestir, milady.

Ettie sentou-se na vertical. Se deslizou para fora da cama e correu para o jarro, espirrou água no rosto e secou. O espelho mostrou seus olhos brilhantes, um sorriso que ela não pôde reprimir.

— Sim, — ela concordou. — É melhor nos vestirmos.

Glenna foi buscar o vestido enquanto Ettie penteava o longo cabelo dourado. Era um vestido de linho branco, tão fino que flutuava como névoa sobre ela. A saia era comprida, um longo comprimento do tecido se arrastava atrás dela. A cintura era baixa e ajustada, um kirtle de prata segurava o vestido em seus quadris estreitos. O decote era baixo e oval, as mangas cortadas em pontos que chegavam as mãos. Seu véu era uma esvoaçante gaze de Bruges, cobrindo o cabelo solto.

— Aqui está você, minha lady, — disse sua serva atrás dela quando prendeu os últimos botões. — Por Deus! Você está linda.

Ettie engoliu em seco. A figura que olhava para ela era alta e esbelta, o corpo bem-feito envolto no vestido branco, macio que se agarrava e caía flutuando enquanto ela se movia, fluindo como água fresca.

— É adorável, — ela respirou, passando as mãos pela saia.

— Você é linda, milady, — disse sua serva calorosamente. — O vestido lhe faz justiça. Agora. Vamos colocar essa coroa de flores no seu cabelo... — Ela mexeu fazendo pequenas alterações, recuou para admirar o efeito. Ela piscou para conter as lágrimas quando terminou de examiná-la com orgulho.

— Agora, temos que ir, — disse ela. — Falta só os sapatos e as flores, e você está bela como a chuva.

Ettie ficou vermelha de excitação quando a serva lhe passou o buquê de margaridas e lírios, depois recuou.

— Você precisa ir.

Ettie andou pelo corredor sonhadoramente. Quando ela se juntou a Amice — usando um vestido de linho creme e decorado com pequenas flores, os cabelo brilhando como chamas em suas costas — ela desejou que o tio Heath pudesse estar lá para vê-la. Como seu guardião, o que ele certamente era deveria levá-la pelo braço e entregá-la ao seu Brodgar.

Uma surpresa a esperava. Ao pé da escada, seu tio sorriu para ela.

— Tio Heath! — Ela ofegou, cobrindo a boca com a mão. Toda a família estava lá: Amabel, Amice, Alina. Broderick e Duncan, Chrissie e Blaine. Alf e Ambeal. Todos sorriram para ela.

— Seu tio foi liberado do seu dever no Norte na semana passada — explicou Broderick gentilmente. — Recebemos a notícia de seu retorno e enviamos uma mensagem as pressas para chamá-lo. E aqui está ele.

— Tio Heath. — Henriette engoliu em seco, tentando evitar as lágrimas. Ela olhou para o teto abobadado, bem acima da sua cabeça. Enquanto contava até dez e podia confiar que falaria sem que sua voz vacilasse, ela o olhou. — Você está aqui.

— Eu estou, — ele riu. — E tenho boas notícias. A ameaça acabou. Seus pais podem voltar. Eu os avisei na França na semana passada. Eles devem estar aqui no próximo mês. É o tempo permitido.

— O quê? — Era demais. Maravilhoso demais. Ettie lutou contra o desejo de se beliscar, para verificar se não estava dormindo, perdida em algum sonho maravilhoso. Quando ela pensou nisso, pegou dois pares de olhos nela,

O olhar negro de Alina segurou o dela. Confiança. Eu sabia que você poderia fazer isso. Você é amorosa e o coração nos torna corajosos.

Enquanto ela parecia quase ouvir as palavras em sua cabeça, outro par de olhos encontrou os dela. Chrissie. Todas as possibilidades são possíveis, sua lembrança retornava enquanto o rosto da pequena mulher se alargava com um sorriso.

Ela engoliu em seco. Essas eram duas mensagens que ela nunca esqueceria.

Heath estava ao lado dela. Heath, com seu sorriso sério e seus olhos escuros, que permaneceram com amor e admiração em Chrissie antes de se virar para ela.

— Bem, minha sobrinha. Estou grato por não ter perdido esse momento. Você parece superável. Devemos ir?

— Sim, — ela sussurrou, tentando não chorar. — Sim. Obrigada tio.

Ele deu um tapinha na mão dela.

— Não mencione isso.

Depois atravessaram as lajes do salão e o pátio adjacente, passaram pelo arco alto da porta da capela.

Henriette olhou para a luz do sol esverdeada e depois seguiu os raios até o altar, onde havia um homem com um manto verde, calça e túnica marrons.

Um homem cujos cabelos brilhavam com reflexos acobreados quando ele se virou, rapidamente, e enviou um sorriso radiante à sua maneira que fez estremecer cada parte de seu corpo.

Ela engoliu em seco e, piscando rapidamente, incapaz de olhar para qualquer outro lugar, foi se juntar a Brodgar.


CAPÍTULO VINTE E SEIS

NOITE QUENTE DO CASAMENTO


O grande salão estava quente e cheio de gente. Todos os homens de armas estavam lá, todos os criados e moradores da aldeia, arrendatários, inquilinos e o padre da aldeia. Todos lotavam o salão para participarem do banquete.

Sentado ao lado de sua esposa no estrado, Brodgar sentiu como se tivesse entrado em um sonho incomparável. Ele respirou pesadamente. Seu nariz estava cheio do aroma delicado de rosas que emanavam de Henriette. Ele não conseguia tirar os olhos de sua pele clara, o pescoço exposto quando ela se virou para sua irmã com um sorriso alegre. Ele observou a maneira como a luz refletia na pele macia de sua bochecha, curvada com um sorriso.

— E assim, um brinde ao noivo! E a noiva! Saúde!

— Saúde! — Todos gritaram. Brodgar sentiu seu coração aquecer, ouvindo o clã inteiro declamar. Mesmo assim, quando a música começou e os pratos foram retirados, as taças cheias e os gritos de alegria ficaram altos, ele se viu impaciente.

Apesar da alegria de compartilhar sua felicidade com o clã e sua família, ele queria, talvez egoisticamente, fugir. Ele não podia mais se manter longe de Henriette.

Ele moveu a mão para a dela e pegou seus dedos. Ela apertou de volta. Sentiu uma emoção passar por ele quando ela sorriu calorosamente de volta.

— Eu me sinto cansado, — ele sussurrou para ela. — Poderíamos nos recolher a algum lugar?

— Meu marido, — Ettie sussurrou de volta docemente, fazendo seu sangue queimar, — eu acho que você é excessivamente desobediente. E insensato também. Podemos?

Ela tirou o fôlego dele. Ele esperava uma pequena risada, alguma hesitação tímida. Ele não tinha realmente pensado que ela concordaria com isso! Bem, então, ele decidiu, enquanto seu coração batia dolorosamente. Para o inferno com o costume.

— Talvez possamos fugir.

Ettie sorriu calorosamente para ele.

— Quando a dança começar.

— Sim.

Quando o violinista começou a primeira dança, eles escapuliram ostensivamente para se juntar à dança. O que eles fizeram. Por um tempo. Então, apertando a mão dela, Brodgar indicou a Ettie para virar à esquerda.

Seu coração disparou quando eles saíram da pista de dança, movendo-se entre os homens de armas e os inquilinos. Eles chegaram à porta. Ele não podia acreditar que estavam abertamente desrespeitando o costume — a cerimônia da cama era uma antiga tradição bem estabelecida. Sua família estaria zangada com ele de manhã.

— Brodgar? — Ettie sussurrou. Ela sorriu para ele e seu sangue faiscou quente em suas veias. — Estou me sentindo cansada.

— Sim, — ele sussurrou. — Vamos lá.

Segurando suas mãos, ele a conduziu pela longa escadaria, virando à esquerda no topo, de modo que eles seguiram para outra pequena escadaria e para a câmara principal, que estava reservada para eles.

Entrando pela porta da antecâmara e passando pelas guirlandas que estavam amarradas, Brodgar cruzou a soleira e recebeu um jato de calor.

— Eu deveria carregar você, — ele sussurrou para Ettie. — Dá melhor sorte desse jeito. — Seu corpo ficou tenso com o desejo de levantar aquele corpo doce e levá-la em seus braços para a cama.

— Bem, então, — disse Ettie timidamente. — Levante-me.

Brodgar sentiu a virilha doer quando ela sorriu maliciosamente, mostrando uma boca rosada e dentes pequenos e claros. Ele se inclinou para frente e tomou-a em seus braços. Então, se baixando, ele a levantou apoiando o braço na sua cintura e sob os joelhos dela e a carregou, embalada para ele, através do limiar da porta. Ele ficou com ela no meio do quarto, seu coração batendo tão forte que ele pensou que todos abaixo iria ouvir.

— Aqui estamos, — ele sussurrou, beijando-a.

— De fato.

Ela se moveu para ficar em pé novamente e ele a levou para a beira da cama antes de colocá-la em pé. Tomou-a nos braços e aproximou-a dele, sentindo-se tremendo de desejo quando o corpo quente e arredondado se pressionou contra ele. Ele a beijou, saqueando sua boca com a língua. Então ele se inclinou contra ela, empurrando-a para a cama.

Ela sorriu para ele e, muito deliberadamente, estendeu a mão para o véu, que ainda usava. Brodgar sorriu.

— Eu acho que há mais uma coisa que eu tenho que fazer, — disse ele.

Ela sorriu.

Ele removeu o véu e colocou-o cuidadosamente de lado. Então deslizou as mãos pelas costas dela, sentindo os botões que mantinham o vestido fechado. Tremendo tanto que mal conseguia se concentrar, ele conseguiu deslizar as alças, abrindo os botões um a um.

Finalmente, ele chegou a cintura dela, onde o último botão estava. Ele tirou o vestido dos ombros e a olhou. Ela usava uma camisola por abaixo do vestido, cortada de modo a revelar seu busto branco e puro. Seus seios eram altos, cheios e se moviam com a respiração. Ele acariciou seu pescoço, respirando o calor da pele e o perfume sutil que ela usava. Ele sentiu o corpo doer e se moveu mais abaixo, para pele sedosa deslizando sua língua exploratória.

Ele desceu o vestido até seus quadris e quando a empurrou de volta para a cama, deslizou-o completamente, deixando-a com sua camisola. Ele se inclinou, lambendo uma trilha pelo seu seio. Sua pele era acetinada em sua boca e ele queria beijá-la para sempre.

Ele puxou a camisola e ela gemeu baixinho quando revelou seus seios. Ele sentou-se, olhando para ela. Sua pele era creme e seus mamilos rosados e duros. Ele se abaixou e pegou um na boca. Ela ofegou e o som fez seus músculos tensos quando ele chupou o mamilo, sentindo seu membro endurecer mais, enquanto acariciava o outro seio firme com os dedos. Ele sentiu como se quisesse ficar aqui para sempre, a pele sedosa se deslizando entre seus lábios, sua língua utilmente serva dela.

Ela se mexeu, ofegou e ele a moveu para que se deitasse ao longo da cama, com a cabeça no travesseiro, beijando seus lábios.

— Posso te despir completamente? — Ele sussurrou. A camisola ainda cobria metade dela. Ela assentiu intensamente.

— Sim. — Sua voz era um sussurro que o excitou ainda mais e ele deslizou a camisola.


* * *

Ettie não fazia ideia de que pudesse parecer tão maravilhosa quando Brodgar a beijou. Seu corpo estava nu abaixo dele e sua boca cobria a dela. Ela gemeu e se mexeu. Suas mãos exploraram sua forma nua e ela podia sentir o calor crescendo dentro dela, alguma estranha urgência construindo e aumentando, e recusando-se a ser negada. Ela acariciou a parte de trás do pescoço dele que ficou tenso e retesou, olhando para ela.

— Minha adorada?

— Eu acho, — ela sussurrou timidamente, — que você deveria se despir.

Ele sorriu.

— Eu acho que você está correta.

Ele se levantou e se despiu apressadamente. Se juntou a ela na cama, ajoelhado ao seu lado, os olhos devorando-a.

Ela olhou para ele. Na luz da chama, sombras brincavam em seus músculos, fazendo parecer como se cada centímetro dele estivesse amarrado e tenso. Ela adorava a ondulação dos ombros dele, a forma dos seus braços, as linhas do seu peito, onde o músculo ficava tenso e flexionado enquanto ele se movia. Ela já conhecia esse corpo um pouco — sabia o quão forte era quando ele a segurava, como ela se sentia segura contra ele, como era dormir ao lado daquela presença quente.

— Meu amor?

— Sim, — ele sussurrou.

— Eu não sei o que é, — ela confessou. — Mas meu corpo... precisa do seu.

Ele sorriu.

— Eu acho que sei como você se sente, — ele concordou. — E eu tenho uma maneira de resolver isso.

— Você tem? — Ela sussurrou. Ele assentiu e baixou o corpo sobre o dela. Ela engasgou quando ele se pressionou contra ela, sentindo uma dureza tocá-la em um lugar muito improvável. Improvável, pode ser, mas se sentia bem. Isso era o que seu corpo precisava. Isso, e que ele se movesse, seu musculoso torso sobre ela enquanto ele se movia e empurrava entre suas coxas...

— Oh!

Uma súbita pontada de dor a tomou, seguida por uma bem-aventurança flutuante tão profunda que ela pensou que poderia ter morrido e estava flutuando em nuvens, suave e sem substância.

— Oh! — Ela gritou. — Oh! Meu amor...

Então ele estava se movendo dentro dela e toda a maravilha foi expelida pela beleza incompreensível do que ele a fazia se sentir. Ela estava satisfeita. Segura e satisfeita e havia um doce calor se acumulando enquanto ele se movia, e construindo e aumentando...

— Oh! — Ela ofegou quando a sensação aumentou e rompeu sobre ela, levantando-a para o céu. Ela fechou os olhos, sentindo como se seu corpo estivesse derretendo, como se ela flutuasse em um mar de água doce, como se tivesse morrido e estivesse caindo entre as nuvens.

Ela ouviu, muito distante, como ele estava ofegando mais alto agora e o sentiu empurrar, movendo-se com urgência, necessidade e poder e, em seguida, caiu em cima dela.

Ela estava deitada, quente e satisfeita. Ela nunca havia sentido nada parecido antes. Se era isso que deviam fazer, ela estava animada para fazer mais. Ele se moveu e rolou para longe dela.

Ele olhou para ela que ficou surpresa ao ver a maravilha em seu rosto, como deveria também estar refletindo no dela.

— Minha querida, — ele sussurrou, e a beijou. — Obrigado. Isso foi maravilhoso.

Ela sorriu. Por alguma razão, isso a fez sentir como se seu coração tivesse derretido. Ela o beijou de volta, a mão na cabeça dele, puxando-o para baixo quando ambos ofegaram e seus corpos se aqueceram novamente.

— Meu amor, — ela sussurrou. — Isso foi o céu. Muito obrigada, mesmo.

Ele riu e acariciou seu rosto e então eles se beijaram novamente.

Ele se deitou ao lado dela e parecia como naquela noite na floresta — aquelas noites de seu exílio — só que estavam mais quentes.

Ele a tomou em seus braços e ela se deitou ao lado dele, e juntos adormeceram.

Eles acordaram quando o sol estava alto no céu e se beijaram. Fizeram amor de novo, só que desta vez mais devagar, mais plenamente, com mais tempo. Então dormiram novamente.

Henriette, com os braços ao redor dele, tinha certeza de que estava no céu.


EPÍLOGO


— E o que você acha que eu deveria fazer? Você acha que...?

— Silêncio, — Ettie sorriu carinhosamente para Brodgar. — Pare de se preocupar. Apenas seja natural. Eles vão te amar.

O rosto de Brodgar estava rígido.

Qualquer um pensaria, ela pensou com algum divertimento, que ele estava marchando em um covil de criaturas carnívoras sedentas de sangue.

— Eu não sei, — disse ele.

— Amor, eles são minha família, — Ettie sorriu para ele. — Eles são pessoas boas.

Brodgar sorriu carinhosamente para ela.

— Eu sei querida. Eu apenas me sinto indigno de você. Eles vão notar.

Ettie riu sem fôlego.

— Querido! Eu sinto como se metade do mundo me inveja, e a outra metade o inveja. Então, como você acha que eu me sinto? Vamos, vamos descer. Respire profundamente.

— Respirar profundamente? — Brodgar tomou um grande fôlego, e então beijou seu queixo. — Você é adorável.

— Você é desobediente, — ela respondeu. — Distraindo-me assim. Venha comigo.

Ele riu e desceram as escadas juntos. Apesar de si mesma, Ettie sentiu uma onda de apreensão enquanto descia as escadas. Estavam na casa do seu pai, para onde viajaram depois do casamento e se prepararam para a chegada deles. Ela estava nervosa.

O que eles vão pensar? Eles vão aprovar? Ela olhou para o vestido lilás, alisando-o com as mãos. Amice a ajudou a escolher o tecido e a lembrança a tranquilizou. Ela não iria desgraçar a si mesma.

Confiança.

Ela chegou ao último degrau. Encontrou-se olhando em olhos verdes.

— Mamãe!

Ela gritou, surpreendendo-se com a alegria em seu coração enquanto abria os braços para a mulher alta, que a segurava contra o peito e soluçava enquanto riam e se abraçavam.

— Minha filha, — Lady Lynette piscou as lágrimas. — Você parece radiante. E isso... — Os olhos dela brilharam calorosamente quando ela olhou para Ettie. — Este é seu marido?

— Sim, é ele, mamãe, — ela concordou sem fôlego. — Brodgar MacConnoway, minha mãe.

Ela os apresentou brevemente. Então, enquanto eles se cumprimentavam e conversavam, ela se virou para o pai. Ele pegou a mão dela e olhou em seus olhos. Nenhum dos dois falou. Ela podia ver lágrimas nos olhos de Lorde Ewan quando a olhava, os olhos cinzentos tão parecidos com os dela apenas mais marrons e menos azuis.

— Minha filha, — disse ele depois de um longo momento. — Estou tão feliz por você estar bem.

— Eu estou bem. E feliz. E contente. — Ettie sentiu o coração disparar enquanto procurava por adjetivos para descrevesse como ela se sentia incrivelmente bem. Ela tinha certeza de que não existiam palavras e desistiu. — E estou muito feliz em vê-lo, meu pai. Mais do que eu poderia dizer.

— É uma espécie de milagre, parece, — disse seu pai e assentiu gravemente. — Tantas coisas boas acontecendo juntas. — Ele balançou a cabeça, seus olhos escuros confusos.

— Todas as possibilidades são possíveis.

Ele franziu a testa quando ela disse isso, então sorriu.

— Eu suponho que é isso. — Ele assentiu. Passou o braço pela esposa e compartilharam um sorriso suave.

— É verdade.

Então todos seguiram o mordomo até o solar, onde o almoço estava preparado.

Depois do almoço, de estômago cheio e satisfeita, Ettie conversou com a mãe. Ela também tinha notícias de Dunkeld.

— O sobrinho do thane está esperando um bebê com uma dama MacDonnell. Isso consolidou a paz entre as casas — explicou ela gravemente.

Henriette e Brodgar encontraram o olhar um do outro. Brodgar assentiu.

— Eu sei da paz e estou feliz por isso.

— Sim — disse o senhor Ewan gravemente. — Um brinde ao thane, seu pai e todas as bênçãos para o novo tratado de paz forjado.

De fato, Brodgar assentiu.

— Um brinde a isso.

Todos beberam e Ettie sentiu-se relaxar enquanto as conversas se moviam lentamente das notícias trocadas para os contos e anedotas que sua família compartilhava. Longe de estar de fora, Brodgar foi imediatamente incluído na conversa e logo estava rindo junto com os outros. Ele se encaixava tão bem que Henriette mal podia acreditar que aquela era a primeira refeição que eles compartilhavam.

Mais tarde, depois que a família foi para a cama, Henriette se deitou no ombro dele, deleitando-se com o calor de seus braços, abraçando-a.

— Deve ser bom vê-los novamente, — ele sussurrou em seu cabelo.

— É bom, — disse Henriette com cuidado. Ela falara com a mãe em particular antes e perguntava-se se deveria confiar-lhe as novidades. Em breve, com certeza, ele saberia. No entanto, ela não podia manter as novidades tão bem escondidas. Não por mais dois meses.

— Foi uma tarde muito boa, — murmurou Brodgar, beijando-a no ombro. Ela assentiu.

— Querido?

— Sim, — ele perguntou, acariciando seus cabelos. Ela ficou tensa, sentindo uma deliciosa antecipação.

— Falei com minha mãe mais cedo. Lembra que eu me senti mal ontem? E antes disso? E como eu fico doente pela manhã, já há uma semana?

— Sim, querida? — Brodgar disse, acariciando seus cabelos. Sentiu-o tenso, incerto, e ela sorriu quando ele pareceu chegar à mesma conclusão que ela e sua mãe também chegaram.

— Estou esperando um filho.

— Você está?! — Brodgar sussurrou. — Oh, minha querida Henriette! — O sorriso no rosto dele aqueceu seus dedos dos pés. Ela deu uma risadinha e sentiu o riso crescer dentro dela, enviando a felicidade para baixo através de cada parte de seu corpo, dos dedos dos pés até as raízes de seus cabelos. Ela o beijou carinhosamente, olhando nos olhos dele.

— Nós vamos ter um bebê, — ela o informou. Ele suspirou. Seu sorriso parecia tão amplo quanto qualquer outro que ela tivesse visto. Ele a beijou carinhosamente.

— Eu não posso acreditar.

— É verdade.

— Como vamos chamá-lo? Ou ela? Alguma ideia? — perguntou Brodgar.

— Oh, você se move rápido! — Ela riu. — Do anúncio ao nome em segundos.

— Desculpe, — ele murmurou, beijando sua garganta. — Eu fico animado. Isso é aceitável?

— É desculpável, — ela repreendeu, rolando para olhar em seus olhos. — Broderick, — ela sussurrou.

— Humm?

— Broderick, se for um menino. Se for uma menina, Lynette. Aceitável?

Brodgar sorriu para ela como o sol nascendo.

— Aceitável, de fato.

— Boa.

Ficaram juntos, lado a lado, calorosos, contentes e felizes.

Brodgar se virou e a beijou e ela sentiu seu corpo se inflamar. Como a necessidade para ele se construiu e ele respondeu, rolando e se abaixando em seu corpo para que eles pudessem fazer amor, ela sabia que estava tão feliz.

Porque tudo é possível, e o amor é confiança e confiança é a nossa bússola no escuro. Isso nos leva sempre para frente. Na luz.

 

 

 

Notas

 

[1] Thane (barão ou conde) Thane era o título dado a um membro local na Escócia medieval, equivalente ao posto de filho de um conde, que estava à frente de uma autoridade administrativa. Guerreiro de categoria inferior à nobreza hereditária anglo-saxónica
[2] Bannock é uma variedade de pão plano rápido ou qualquer artigo grande e redondo assado ou cozido a partir de grãos. Um bannock é geralmente cortado em seções antes de servir.
[3] Gentry – pequena nobreza.
[4] Valetadeira — Um trencher (do francês antigo tranchier ; "cortar") é um tipo de talheres , comumente usado na culinária medieval. Um trencher era originalmente um pão achatado usado como um prato , sobre o qual a comida podia ser colocada para comer. [1] No final da refeição, a trincheira poderia ser comido com molho. Mais tarde, o trencher evoluiu para uma pequena placa de metal ou madeira, tipicamente circular e completamente plana, sem o bordo ou borda levantada de uma placa. Valetadeiras deste tipo ainda são usadas, tipicamente para servir alimentos que não envolvam líquidos; a tábua de queijos
[5] Bonnie – bonita, bela, linda.
[6] Kirtle – túnica escocesa.
[7] Verderers – guarda florestal. Na Floresta, um verderer é um oficial não remunerado cujo dever é regular e proteger os interesses dos plebeus da Nova Floresta e preservar a beleza natural e o bom caráter tradicional da Florest
[8] Pudim de sangue — uma linguiça de sangue com uma alta proporção de aveia ou cevada
[9] Jenett – raça de cavalo espanhol.

 

 

                                                   Emilia Ferguson         

 

 

 

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