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Os homens e mulheres do Longínquo Oriente viviam sua vida dependendo de que um de seus deuses, cujo nome era Cheu Sing, lhes concedesse o dom de viver sem achaques, nem doenças, nem medos, nem temores, nem miséria, nem desdita, nem infelicidade.
O que o antigo povo chinês desejava na realidade era que Cheu Sing fosse benevolente e impedisse a chegada da velhice. Já que a deidade venerada por todos os homens e mulheres tinha o poder para deter o tempo, devia apiedar-se dos humanos e preservá-los do pior dos males que lhes espreitava de contínuo, e que consistia em observar como, dia após dia, o enfraquecimento do vigor do corpo ia espremendo e restringindo o espírito até reduzir a mente ao nada. Não tomar conta de si mesmo ao chegar a velhice era o maior dos temores dos homens e mulheres que veneravam o deus Cheu Sing, e por isso lhe pediam continuamente que lhes ajudasse, que preservasse seus copos e suas mentes de maneira que nunca se deteriorassem suas capacidades originais, nem se desgastasse o vigor que haviam recebido no momento dos seus nascimentos.
Na verdade, o que pediam os antigos povoadores da ancestral civilização chinesa ao deus Cheu Sing não era alongar suas vidas, senão que os mantivesse sempre jovens. O que desejavam não era nem mais nem menos que manter-se sempre jovens em plenas faculdades, tanto físicas como espirituais.
Assim, cada qual adorava, a princípio, tudo aquilo que via ao seu redor, os fenómenos e forças naturais, o raio, o trovão, as tormentas, os terremotos, as inundações..., para assim aplacar a ira dos deuses e evitar que enviassem atrozes castigos contra os fracos mortais que, assustados e impotentes, só podiam elevar preces e súplicas às suas deidades para que se amansassem e acalmassem.
Aqueles homens e mulheres da antiga civilização chinesa não descuidavam também do contato com seus antepassados, pelo que, com frequência, meditavam em solidão e chamavam os espíritos daqueles que lhes precederam no caminho da vida, pois assim sentiam o amparo e a proteção dos seres que, mesmo que há tempo tivessem partido para sempre, um dia estiveram ao seu lado.
Mas, também consultavam os oráculos e esperavam ouvir conselhos úteis para sua vida cotidiana ou profecias para o futuro. Todo seu afã, entretanto, era permanecer sempre igual com o passar do tempo, conseguir uma longevidade perene. E só havia um deus capaz de conceder o bem supremo da eterna juventude; e esse deus era Cheu Sing, e por isso o adoravam em todo momento.
O mito narra que Cheu Sing salvaguardava a vida dos mortais, já que tinha o poder de fixar o dia e a hora em que cada criatura humana devia morrer. Mas, segundo a antiga crença transmitida pelos antepassados, era possível mudar os planos do deus Cheu Sing e evitar, deste modo, que se cumprisse o inexorável destino no tempo estabelecido e predeterminado pelo destino. Para alongar a vida havia que manter-se muito fiel ao deus Cheu Sing; mas, para conseguir a eterna juventude, eram necessários todos os rituais, sacrifícios, oferendas, cânticos consagradores e preces.
O deus escutava e decidia, mas nunca se sabia com antecipação quais seriam os agraciados. De maneira que sempre havia que estar oferecendo dádivas ao deus que tinha o poder para decidir o dia e a hora em que a morte visitaria uma determinada criatura humana, mas também era necessário ser fiel e não abandonar as práticas piedosas se quisesse gozar dos favores do deus, e principalmente conseguir o maior de todos eles, isto é, conseguir em vida a eterna juventude e chegar à velhice com o corpo e o espírito jovens.
Os deuses, portanto, ostentavam um grande poder, já que em muitas ocasiões distribuíam a felicidade entre os humanos, de maneira que não havia que incomodá-los nem enfadá-los e, por isto, era conveniente praticar algum ritual e ter em grande estima uma determinada deidade.
Havia deuses maiores e deuses menores, mas o importante era escolher um como companheiro da vida. Deste modo, os ritos e preces sempre se dirigiam a esse deus que, a princípio, velaria para que não faltasse a felicidade nem a dita na casa daquele que lhe havia erigido um altar. O deus do Lar, por exemplo, era venerado de forma especial pelas famílias, pois assim não se ressentiam as relações entre marido e mulher, os pais e os filhos, os anciões e os jovens, e a felicidade alcançava a quantos viviam sob o mesmo teto. Pelo geral, no altar dedicado ao Deus do Lar aparecia a esfinge de um ancião que tinha a barba branca e, a seu lado, se colocava também a imagem que representava uma mulher, a qual era reconhecida como esposa do ancião e venerável deus.
Em ocasiões, em lugar de estatuetas ou esculturas, se colocava um desenho na parede da sala escolhida para louvar ao Deus do Lar, onde aparecia rodeado não só de sua esposa, como também de vários animais domésticos, como galinhas, porcos, cavalos e cachorros; e a todos eles lhes dava de comer e os cuidava a esposa do Deus do Lar, pois existia a crença de que, ao representar num desenho estas cenas, na vida real também haveria sempre abundância de comida para todos os que vivessem na casa e, portanto, ninguém seria desgraçado nem passaria fome ou calamidades.
Nesses desenhos, se observa como o artista respeita as hierarquias recolhidas nas narrações mitológicas, já que, em todo momento, o Deus do Lar aparecia num lugar destacado, sentado sobre um trono que sobressaía por seu grande colorido e com o semblante sereno e relaxado. Enquanto que, de forma contrária, a figura da sua mulher está de pé e se ocupa da limpeza da casa e dos labores domésticos, ao mesmo tempo que dá de comer aos animais e cuida que todos recebam seu alimento.
A cena indica a importância que concediam ao Deus do Lar os povos da ancestral civilização chinesa, já que, segundo sua antiga crença, a proteção do venerável deus de barba longa e branca assegurava o sucesso da casa. Daí que em numerosos lares se reservasse uma sala, um espaço ou um canto para erigir um altar ao deus benfeitor e protetor da casa.
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