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Series & Trilogias Literarias
Um corajoso e intrépido montanhês... uma moça bonita e ousada... e um nobre impiedoso que fará de tudo para conseguir o que quer...
Um futuro nebuloso
Leona MacConnoway é a filha da nobreza local, um pouco mimada e teimosa, mas generosa e amada por todos que a conhecem. Quando o pai de sua mãe morre na distante França, um mensageiro diz que deve viajar para sua propriedade por ordem do novo Lorde du Mas. No entanto, não há nenhuma palavra sobre quando - ou se - ela poderá retornar às terras da Escócia.
Um Guerreiro das Highlands em Resgate
Um homem belo, Conn MacNeil sempre soube que seu compromisso com Leona o levaria à felicidade para sempre, e ele nunca duvidou que a união deles seria uma união feliz. Porém antes que eles pudessem se casar, ela é arrancada e enviada à França a bordo de um navio, e meses se passam sem nenhuma palavra dela. Tudo que ele sabe é que talvez, seu único amor verdadeiro estaria casada com um francês ou fora enviada para ainda mais longe, mas uma coisa é certa: ele não vai parar até encontrá-la.
Fuja e esconda-se... Ou abrace o inevitável?
Quando um nobre impiedoso e violento se torna determinado a se casar com ela, e seu tio vê apenas as vantagens que obterá com o casamento, Leona deve decidir qual é a resposta correta: resistir ou fugir. Ela sabe que ceder seria o fim de sua vida com Conn, mas desta vez, seu tio não lhe ofereceu outra escolha: Casar ou sumir.
— Leona! Espere!
Rindo, Leona se virou para Conn no corredor, seus longos cabelos dourados balançando sobre um ombro com sua súbita mudança de movimento.
— Eu bati em você! — Ela sorriu para ele, os olhos azuis se inclinando de alegria. — Por que eu devo esperar?
— Aw, Leona ... — Conn protestou. Ele balançou a cabeça, olhando-a com tristeza enquanto ela corria, rindo, pelo corredor e explodia no solar. Conn seguiu-a para o quarto. Aos dezesseis anos, ele era um corredor veloz. Mesmo assim, ele não parecia tão rápido quanto ela.
Eu vou vencê-lo! Eu vou...
— Leona MacConnoway, — uma voz severa quebrou sua reflexão.
— Mãe! — Leona parou em sua corrida precipitada, olhos azuis cheios de surpresa.
Alina MacConnoway, vidente e dama do castelo, comprimiu os lábios em uma linha fina, escondendo um sorriso. — Você está procurando por algo?
— Eu estou me escondendo! — Protestou Leona. — De Conn!
Alina sorriu. — Oh! Bem, talvez agora que você está aqui se escondendo — ela fez uma pausa para esconder um sorriso — você pode me dizer o que gostaria de usar para o próximo encontro de inverno.
Leona corou, o rosto esculpido com maçãs do rosto pronunciadas e avermelhadas de prazer. — Sim! Eu havia esquecido.
— Bem, então, — disse Alina, acalmando a voz. — Visto que é um evento tão trivial que você esqueceu, eu suponho que você não faça ideia do que vestir?
Leona bateu com o pé.
— Oh, mãe! — Ela disse, exasperada. — Pare de provocar. Você sabe que eu tenho uma ideia do que gostaria de usar para o encontro.
— Eu sei, — Alina sorriu, um sorriso adequado desta vez. — E espero que tenhamos algo que atenda às suas necessidades.
— Ah, mãe, — Leona sorriu, dando a sua alta e magra mãe um afetuoso abraço. — Você me mima.
— Talvez, — admitiu Alina. — Mas apenas se estragará se você for ruim. E você, minha querida, é muito adorável. Dentro e fora. Vamos. Escolha algo. — Ela acenou com a mão para as peças de tecido caro que cobriam tudo e deu um passo para trás para deixa-la olhá-los.
Leona se debruçou sobre os baús, olhando atentamente as pilhas de tecidos caros e coloridos que estavam guardados dentro deles. Ela sorriu enquanto corria um dedo sobre os veludos caros, as cores: verde da floresta ou ouro outonal ou marrom da madeira. Ela sabia exatamente o que queria. Ela estava certa do que esses baús com sua preciosa carga — às vezes de terras tão distantes que demoravam anos para chegar a este país — teriam.
— Achei!
Ela sentiu as bochechas se elevarem em um sorriso de prazer ao vê-lo. O perfeito azul escuro. Ela foi até ele e o levantou até o peito, sentindo o tecido liso, frio como a água, sob o longo dedo indicador. Levantou o tecido com um olhar interrogativo em seu rosto.
— Este, mamãe? Por favor?
Alina sorriu. Mais uma vez, seu rosto grave e solene se iluminou em um sorriso.
— Eu achei que poderia ser este. Sim. Claro.
— Oh, mamãe! — Leona correu para ela, corada e feliz. Impulsivamente, ela a abraçou, chegando a beijar aquela bochecha de porcelana fria que cheirava, como sempre, a jacarandá e alguma essência mais forte — íris, talvez, ou mirra — que perfumava sua mãe.
Alina sorriu.
— Parece lindo, — ela disse gentilmente.
— Oh, mãe, — Leona disse novamente. Apertando o tecido contra o peito, sentindo um arrepio de prazer quando deslizou suas dobras sedosas através de seus dedos. Ela estava animada.
O encontro anual era o maior evento do ano inteiro. Embora Dunkeld Castle, sua casa, fosse palco de muitos bailes e festas o ano todo, o mais importante era o encontro. Todos os seus parentes estariam lá. E toda a nobreza local também. Lá, ela teria uma chance não só de ver sua prima Joanna e seu bebê, mas também os senhores locais elegíveis. Ela estava com dezesseis anos e não era cedo demais para pensar em casamento. Não imediatamente, é claro, mas os encontros anuais eram o lugar onde os arranjos eram feitos e as promessas dadas. Eles eram um lugar para encontrar parceiros. Para brilhar nas danças, flertar, ser feliz e se divertir.
Leona, amando a dança e a felicidade, era o centro das atenções da maioria das festas. E ela as amava.
— Quem você vai encontrar lá, eu me pergunto? — Alina disse, como se a tivesse ouvido falar em voz alta.
Leona corou.
— Não importa, mãe, — disse-lhe rapidamente. — Eu vou casar com Conn.
Era o que sua tia Chrissie, a mãe de Conn, havia decidido. Não realmente a tia de Leona, ela e Conn não eram verdadeiramente primos, embora tivessem sido criados juntos desde o nascimento. Eles estavam com a mesma idade e cresceram juntos. Eles cresceram sabendo que se casariam.
Alina riu.
— Eu sei que você sempre diz isso.
Leona franziu o cenho.
— Eu quero isso, mãe. — Então ela mordeu o lábio, lembrando quem era sua mãe. A vidente de Lochlann primeiramente; agora a vidente de Dunkeld — ela não falou por nada. — Por que você pergunta?
Alina franziu o rosto e colocou a mão na testa, balançando um pouco onde estava. Como uma coluna de marfim, vestida de veludo escuro, ela ficou ainda mais pálida e parecia mais delicada.
— Mãe? — Perguntou Leona.
— Eu vejo uma coisa... complicada, minha filha, — disse-lhe gentilmente. — Eu não sei o que é que eu vejo. Mas você vai viajar por muitas águas e há muitos caminhos pela frente antes de você voltar.
Leona sentiu o coração apertar de medo.
— Mãe?
Sua mãe balançou, e então seus olhos negros se concentraram mais uma vez em sua filha. Ela piscou; então sorriu.
— Desculpe, Leona, — ela disse gentilmente. — Eu estava a quilômetros de distância. Vamos encontrar Amabel e ver se ela pode ajudar a cortar isso para o seu vestido?
Leona olhou suas mãos, o coração batendo no peito.
— Sim, mãe, — disse ela gravemente. Sentindo como se um punho gelado tivesse apertado seu coração. Ela queria questionar sua mãe; perguntar o que ela viu. No entanto, não queria questionar a visão. Além disso, ela sabia que sua mãe provavelmente não se lembraria do que dissera. Muitas vezes foi assim, com a visão. Ela lhe ensinara. Leona estava, agora, com o dever de lembrar as palavras e, se pudesse entender, procurar o sentido por trás delas.
Um futuro com muitos caminhos. Muitas águas a serem percorridas antes dela voltar.
Ainda tremendo, segurando o tecido contra o peito, ela seguiu sua mãe altiva e régia saindo do aposento.
Tentaria encontrar respostas. De quantas maneiras ela poderia entender um futuro de muitos caminhos?
Ela suspirou. Tudo ficaria claro com o tempo.
CAPÍTULO UM
UM MENSAGEIRO DE LONGE
Leona olhou Conn do outro lado da mesa, ele lhe sorriu. Ela sorriu, sentindo o calor suave fluir através de seu corpo enquanto ele a olhava.
Ele é tão lindo.
Aos dezenove anos, Leona entendeu como se sentia por Conn. Sentia-se atraída por ele.
Ele era alto, com cabelos avermelhados e olhos castanhos, profundos, um largo sorriso e um rosto fino sob um pescoço esguio. Ele lhe sorriu, vendo sua tentativa de esconder o sorriso.
Leona desviou o olhar, concentrando-se no prato, que era truta ao molho. Era verão, e o pai decidira que era o momento perfeito para um jantar comemorativo de inauguração da estação. Ela olhou pela janela e avistou o sol raro naquela época, dourando o pátio além das janelas. A atmosfera se mostrava relaxante e pacífica, uma tarde perfeita de verão.
— Leona?
— Mm? — Ela perguntou, olhando para Conn com uma tentativa desesperada de mostrar um semblante sério.
— Você poderia passar o molho, por favor?
Ela sorriu.
— Claro, Conn.
Ela levantou a terrina e passou para ele. Estavam no solar, a refeição era informal e descontraída com a família, mas nenhum outro hóspede. Tia Chrissie, a mãe de Conn, estava bem na ponta da mesa, os cachos loiros puxados para trás da testa para salvá-los do calor e da transpiração que se mostrava em todas as testas.
Conn devolveu o molho, mas Leona estava olhando para o outro lado, distraída por Amice, sua prima, que estava tendo uma pequena disputa com o irmão mais novo de Conn.
— Alf, eu lhe disse! Eu quero jogar bola e aro. Nós sempre jogamos no verão.
— Devemos dar um passeio pela floresta, — declarou Alf. Aos dezessete anos, ele era ousado e convencido de que o mundo apresentava perigos para todos, exceto para ele.
— E deparar com um urso ou um javali? — Perguntou o tio Blaine, pai de Conn, suavemente.
— Ah, tio! — Amice, agora com dezesseis anos e bonita como uma pintura, protestou impaciente.
— O quê? — Blaine perguntou, parecendo ofendido.
— Não vamos ficar com medo. Os javalis e ursos não virão se levarmos cães, — explicou Alf.
Blaine sorriu.
— É por isso que eu te lembrei. Então você levaria Brindle com você. — Brindle era um cão de caça, malhado, quase na altura da cintura de Leona; um inimigo formidável e um amigo maravilhoso.
— Vamos levar Brindle, — disse Amice.
— Oh! Mas você não queria ir! — Brincou Conn, fazendo Amice piscar, depois lamentar em protesto.
— Conn! Não!
— Ele pegou você! — Alf sorriu. Ele sorriu para Conn, que levantou uma sobrancelha, tranquilo.
Leona, observando a conversa, sorriu calorosamente para Conn. Ele era tão afável, tão querido para todos! Ninguém conseguia encontrar nada que não gostasse em Conn. Ele era gentil e aberto com tudo.
Mas ele gosta mais de mim.
Leona sorriu para si mesma. Ela e Conn foram prometidos desde o nascimento, um fato que ficara claro para os dois desde o momento em que entenderam as palavras. Um vínculo de amizade ligava Alina e Chrissie — tia Amabel explicara como Alina ficara no lugar da mãe de Chrissie, embora apenas sete anos as separassem em idade. Quando elas tiveram filhos um dia após a outra, parecia perfeito que os dois se casassem. Portanto, Leona e Conn haviam crescido sabendo que eram parceiros prometidos um ao outro.
Seu devaneio foi interrompido por seu tio Broderick; o irmão de seu pai. Ele se esticou e limpou a garganta, onde se sentou ao lado da tia Amabel, de cabelos ruivos.
— Falando de cavalos, alguém quer descer até os estábulos?
— Por quê? — Alf perguntou inexpressivamente.
Brodgar, o filho de Broderick, ficou subitamente exultante.
— Pai! Você quer dizer os novos...
— Eles chegaram da França. Sim.
— Hurray1! — Ele gritou.
Leona sorriu indulgentemente. Os destriers2 eram os novos cavalos de Broderick. Ele havia encomendado um para si e outro para seu filho Brodgar. Cavalos criados para cavaleiros, treinados para a guerra, eram ao mesmo tempo temíveis aliados no campo de batalha e companheiros indomáveis. Para não falar no sinal de imensa riqueza e status. Embora não fosse por isso, Leona pensou, que Brodgar queria um. A preocupação dele com a ideia de se tornar um cavaleiro era enorme. Aos vinte anos de idade, já com muito treinamento atrás dele, ele poderia ter feito isso, se ele não sentisse a pressão de governar. Como o único filho de Broderick, Dunkeld seria seu um dia. Ele não podia sair em aventuras simplesmente por diversão. Foi bom vê-lo animado com alguma coisa pela primeira vez.
— Não vão descer? — Perguntou Amabel, com a sobrancelha arqueada.
— Oh, mãe! Sim! Podemos? — Perguntou Brodgar.
— Eu quero ir também, — declarou Amice instantaneamente. Dezesseis anos e ainda pairando à beira da juventude e feminilidade, Amice era uma delícia para todos eles.
Amabel sorriu para ela com carinho.
— Claro você deve ir.
— E Alf?
— Vamos todos! — Duncan, pai de Leona, sugeriu. Leona olhou para cima com leve protesto.
— Oh, pai! Estamos apenas na metade do jantar, — disse ela.
— Ela está certa, marido, — observou Alina suavemente. — Você sabe como é ruim para a digestão.
Duncan sorriu.
— Você está certa, querida. Bem, então, quem quiser vir ver os cavalos e se não se importar com um surto de indigestão pode ir com Broderick e eu. O restante pode vê-los depois. Provavelmente é melhor não sobrecarregar os pobres, em todo caso — acrescentou ele, pensativo.
— De fato, — respondeu Broderick.
— Vamos! — Brodgar, rude, bonito e ruivo, já estava saltando de seu lugar à mesa, fazendo sua tia Chrissie rir.
— Você está animado, filho! Isso me faz querer ver o que tudo isso significa.
Blaine lançou um olhar carinhoso para ela.
— Bem, ninguém disse que não poderíamos ir junto.
— Muito bem, — Chrissie concordou, de pé e empurrando sua cadeira. — Você acha que mais dois não vão assustá-los, Broderick?
— Tenho certeza que não vai, — disse Broderick suavemente. Ele olhou interrogativamente para Alina e Leona, que ainda estavam sentadas.
— Ficaremos aqui, Broderick, — disse Alina pacificamente. — Nenhuma razão para expor as pobres criaturas a tanta gente ao mesmo tempo.
— Verdade, é verdade, — ele sorriu. — Bem, então, vamos?
— Sim! — Brodgar e Alf gritaram, felizes.
Broderick levantou uma sobrancelha.
— Desculpem-me, senhoras, — disse ele galantemente para Alina e Leona. Amabel ficou de pé, lançando à irmã um olhar malicioso.
— Se eu não for, eles nunca vão parar de falar sobre os cavalos. Pelo menos, se eu os ver por mim mesmo, economizarei horas de ser levado silenciosamente à loucura.
Alina riu. Broderick fez uma careta e todos riram juntos.
O solar estava vazio, exceto por Alina, Leona e Conn. Todos se entreolharam e sorriram.
— Os sensatos, — observou Alina suavemente.
Eles riram.
— Eu escolhi o melhor lugar para ficar, — disse Conn, com seus olhos em Leona, que corou e olhou para seu prato. A voz dele fluiu sobre ela como xarope quente, aliviando seu coração. Ela adorava ouvi-lo falar. E ele dizia coisas tão lindas!
— Leona?
Leona olhou para cima e viu a mãe lhe olhando, séria e composta como sempre. Seu cabelo preto, tocado em uma das têmporas por fios prateados, estava preso na testa com uma faixa prateada. O olhar em seus olhos estava relaxado e tranquilo, mas Leona sentiu como se ela estivesse lhe perguntando alguma coisa.
— O que, mãe? — Perguntou.
— Eu só estava me perguntando se você possuía algum plano para a Lammastide3, — disse Alina suavemente. Leona franziu a testa. O Lammas, celebrado em meados do verão ou por aí, ainda faltavam dois meses.
Por que mamãe está perguntando isso agora?
— Ainda não, mãe, — respondeu-lhe com cuidado.
— Oh, — sua mãe disse suavemente. — Estava apenas me perguntando.
Leona franziu a testa. Sua mãe previu alguma coisa. Ela tinha certeza disso. Sentiu uma sensação de mau presságio e, de repente, em sua mente, ela estava novamente com dezesseis anos, com a mãe prevendo algo em seu futuro.
Você vai viajar muitas águas e há muitos caminhos pela frente.
Ela estremeceu. Desejando que sua mãe não fosse tão dotada quanto era, estendeu a mão para o prato de bannock 4e pegou um, distraindo-se quebrando um pedaço para mergulhar no molho que sobrara.
Naquele momento, um guarda entrou no corredor.
— Lady Alina, — disse ele, dirigindo-se a ela gravemente. — Imploro seu perdão por perturbar, mas há ... um homem. Disse que queria falar com você e sua irmã, minha senhora. Sozinhos.
— Oh! — Alina levantou uma sobrancelha escura e esculpida. — Bem, deixe-o entrar. Qualquer coisa que ele tenha que me dizer, ele pode dizer na frente desses jovens também.
Ele parecia desconfortável, mas se afastou. Um homem alto e magro, com um rosto grave e cabelos grisalhos, entrou atrás dele.
— Minha senhora — anunciou o guarda, ainda parecendo desconfortável, — apresento-lhe o monsenhor Montaigne. Ele veio como enviado do seu tio, ou pelo menos foi o que ele disse.
— Mostre ele, — disse Alina, em pé. Com as costas retas, a saia de veludo preto caindo ao chão, ela estava no seu máximo comando.
Leona olhou-a e depois estudou o homem que entrava. Ele talvez fosse dez anos mais velho do que o pai dela, com cabelos grisalhos e um rosto enrugado e magro. Seus olhos eram castanhos, com as pálpebras pesadas como as da mãe dele, evidência de sua herança. Ele possuía uma linha abaixo de uma bochecha que poderia ter sido uma cicatriz deixada por uma espada.
— Monseigneur, — disse Alina gravemente. — Bem-vindo. Por favor, sente-se perto do fogo. Temos pouca comida para oferecer a um viajante, alguns bolos e cerveja?
— Obrigado, minha senhora, — disse ele gravemente. Ele falava francês, como Alina.
Leona se esforçou para ouvir: sua mãe e sua tia lhe ensinaram um pouco da língua. O pai delas era francês e acharam que seria vantajoso para ela aprender, mas ela não era fluente.
— Agora, — Alina disse, enquanto se sentava diante dele, gesticulando para Leona e Conn se juntarem a eles no sofá de madeira de espaldar alto junto ao fogo. — Diga-me suas novidades.
— Minha senhora, — disse ele, — não é bom. Perdoe-me, mas trago a notícia de que seu pai morreu.
Alina colocou a mão em seu coração, seu rosto tornou-se branco, os olhos ficaram enormes.
— Eu peço perdão, monsenhor. Mas... quando isso aconteceu?
— No mês passado, no meio da temporada. Perdoe-me, madame. Meus sinceros sentimentos.
— Eu... — Alina engoliu em seco, balançando a cabeça. — Sinto muito, monsenhor. Mas é um choque. Ele estava bem de saúde.
— Ele estava milady. Foi muito repentino. Ele morreu de aflição no peito — disse ele, colocando a mão sobre o coração, um punho para indicar alguma dor ali.
Alina sacudiu a cabeça.
— Sinto muito, — ela disse novamente. — Isso tudo é bem repentino.
Sua voz era baixa e apertada e Leona estendeu a mão para colocá-la sobre a de Alina. Segurando, seus dedos frios e sem vida.
— Perdoe-me, — disse o enviado novamente. Seu rosto magro parecia angustiado. — Você será consolada pela sua família, eu acho? — Ele disse, indicando Conn e Leona, que estavam sentados com ela. Conn franziu o cenho com gravidade, enquanto Leona se inclinava para a mãe, preocupada, com as mãos entrelaçadas.
— Conn não é meu filho, — disse Alina levemente. — Desculpe-me. Não importa. Você veio com uma mensagem? — Ela perguntou, levantando a sobrancelha.
Leona e Conn se entreolharam, com preocupação em seus rostos. Então eles se voltaram para ela.
— Eu vim, — disse o mensageiro, atraindo o olhar de Leona para ele. — Minha senhora ... seu tio, lorde Dumas, o conde de Annecy depois da morte de seu pai... ele pediu que você fosse à França.
— Para os rituais funerários? — Alina perguntou suavemente.
— N... não, minha senhora. Para ficar.
— Para ficar? — Alina olhou para ele.
— Ele disse... ele mencionou sobre uma filha? Lady Leona?
Leona sentiu seu coração cair no chão. Ele a mencionou? Por quê?
Alina olhou-a. Ela limpou a garganta.
— Eu sou Leona MacConnoway. Ele mencionou-me?
— Sim, — disse o mensageiro, lambendo os lábios secos. — Ele mencionou que... ele desejou que... se a senhora não pudesse ir para Annecy, talvez sua filha fosse?
Leona olhou para ele. Alina olhou para Conn.
Conn ficou pálido.
— Leona? — Ele perguntou em voz baixa.
— Mãe? — Disse Leona, virando-se para Alina. Sua mãe estava com o semblante cinzento e silencioso.
— Minha filha, — ela disse suavemente. — Eu... você poderia nos desculpar, Monsenhor Montaigne? Preciso consultar minha família sozinha.
— Claro, senhora, — disse ele gravemente.
— Eu vou ter aposentos prontos para o senhor, — disse Alina na mesma voz tranquila de antes. — Você é bem-vindo para permanecer conosco o quanto quiser.
— Obrigado, milady, — respondeu ele. — Eu ficarei por... quanto você precisar para decidir. Embora eu deseje ir embora dentro de um mês. — Ele parecia esperançoso.
Alina riu, embora um som leve e distante. — Claro senhor. Eu não sou tão demorada nas minhas decisões para a necessidade de tanto tempo.
Leona olhou sua mãe, sentindo o coração afundar no chão. Sua mãe não estava bem. Ela estava em choque e precisava descansar. Ela pegou-lhe a mão.
— Venha, mãe, — disse suavemente. — Vamos lá para cima.
Alina piscou para ela, como se tivesse acabado de vê-la.
— Sim, filha, — ela assentiu.
Juntos, Conn como uma presença sólida atrás delas, eles subiram as escadas até os aposentos.
— Conn, — disse Alina distante. — Você vai buscar minha irmã? Ela precisa saber.
— Claro, tia — disse Conn, fazendo uma reverência. Virando-se e descendo as escadas, deixando Leona e Alina sozinha.
— Venha, mãe, — disse Leona. Ela levou-a para seu próprio aposento, guiou-a para sentar-se sobre o linho branco que cobria a cama. Sentou-se de frente a ela, no banquinho diante do espelho, e pegou suas mãos. — Mãe, eu sinto muito.
— Não, não sinta, — disse Alina distante. — Eu... já se foram muitos anos desde que vi meu pai. Nós não estávamos mais perto.
— Ainda assim, é um choque para você, — insistiu Leona. — Você não deve esperar que não seja.
Alina sorriu para sua filha, os olhos negros tocados com calor.
— Oh, filha! — Ela sorriu. — Você tem sabedoria. Uma sabedoria corajosa e gentil. Vai lhe servir bem, no futuro.
— Oh, mãe! — Disse Leona. Apertou-lhe seus dedos frios e finos. Nunca se sentiu tão perto de sua mãe, sempre achando-a um pouco distante e difícil de alcançar. Ela e Joanna, a prima dela, a filha de Amabel, deveriam ter nascido invertidas, ela sempre pensava: Joanna, sábia e serena, poderia ter sido a filha de Alina, enquanto ela se tornara mais parecida com Amabel.
— Filha, — disse Alina suavemente. Esfregou seus logos e finos dedos suavemente. Ficaram em silêncio, esperando por Amabel e Conn.
Foi só depois que os passos ecoaram pelo corredor, vindo em direção ao seu aposento, que Leona pensou em perguntar o que sua mãe queria dizer.
Vai lhe servir bem, no futuro.
Você viajará por muitos caminhos.
Ela estremeceu, repelindo o frio repentino. Sentiu que sua mãe previu algo de seu futuro. Ela deve ter visto ou porque teria dito tais coisas. Vai lhe servir bem no futuro, sua gentil sabedoria.
— Mãe? — Ela perguntou, assustada.
No entanto, sua mãe estava olhando para cima, com os olhos arregalados, para sua irmã, que estava no limiar da sala.
— Irmã, — disse Amabel gentilmente.
— Amabel, — disse Alina. — Obrigada.
— Eu vim o mais rápido que pude, — disse Amabel, sentando-se na cama ao lado de sua irmã em um gesto gracioso. — Eu sinto muitíssimo.
— Oh, irmã!
As duas se uniram e Leona se virou, dando a elas a privacidade que precisavam. Elas se abraçavam, cabelos negros se misturando com o ruivo brilhante, um veludo castanho avermelhado com o preto enquanto se abraçavam.
Leona olhou à porta, onde Conn esperava, olhando timidamente para as mãos. Leona sentiu a cor apertar suas bochechas. Conn não deveria, por direito, estar à porta de seus aposentos.
No entanto, este era um evento extraordinário, então o desrespeito à propriedade não era chocante.
— Conn? — Ela murmurou.
Ele encolheu os ombros. Ela olhou às duas mulheres, que se afastaram agora e estavam falando rápida e silenciosamente. Leona não estava perto o suficiente para discernir se elas falavam em francês ou escocês. Ela foi até a porta.
— Eu não posso deixar você ir, — disse Conn suavemente.
— Eu não quero ir, — disse Leona.
Ele pegou a sua mão, o polegar acariciava as juntas dos dedos enquanto esfregava os dedos sobre a pele, de novo e de novo.
Ela o olhou. Seus pálidos olhos castanhos estavam redondos e preocupados. Ela mordeu o lábio, olhando a mão. Apertando os dedos dele.
Ela sabia em seu coração que seu caminho estava definido. Sua mente já estava decidida, embora a decisão fosse doer muito.
Ela navegaria à França.
Sua mãe — sempre tão forte, agora subitamente carente — precisava que ela fosse.
CAPÍTULO DOIS
CONFISSÕES DO CORAÇÃO
Conn deixou a sala, estava andando lá embaixo. Ele andava às cegas, sem ver as esculturas e tapeçarias familiares, nem a beleza de sua casa. Ele estava em choque.
— Conn? — Brodgar chamou alegremente. — Venha ver os cavalos! Você perdeu.
— Não, primo — disse Conn devagar. — Eu prefiro caminhar. — Ele inclinou a cabeça às escadas que levavam às muralhas.
Brodgar levantou uma sobrancelha. — Como quiser, primo — disse ele, parecendo chateado. Conn mordeu o lábio.
— Eu vou mais tarde, Brodgar, — disse ele, já subindo a escada à porta do lado de fora.
— Alf ainda está lá embaixo, — Brodgar falou alegremente. — Papai diz que vamos colocar a cama no estábulo para que ele nunca tenha que sair de lá.
Conn sorriu, embora não conseguisse achar em seu coração a graça que tanto costumava ver nas palhaçadas de seu irmão mais novo. E saiu.
Lá fora, o vento soprava, como sempre, pegando-o de surpresa. O dia estava calmo, o céu alaranjado onde o sol baixava até o horizonte, com toques verdes e amarelos delicados ao lento início do anoitecer.
Puxando sua capa ao redor dele, tremendo quando a brisa o golpeou novamente. Olhou para baixo das muralhas, bem longe, para o caminho que levava ao castelo, a floresta como uma tapeçaria de ouro e verde-claro à direita, estendendo-se até onde os olhos viam.
Eu não suportarei se ela for!
Ele se encostou na parede atrás dele, os punhos cerrados. E fechou os olhos.
Sua mente estava cheia de pensamentos sobre Leona; lembranças de quando eram jovens, brincando aqui neste castelo: correndo do portão para o pátio, perseguindo uns aos outros pela floresta, subindo nos telhados dos estábulos para ver se conseguiam alcançar as maçãs na árvore da horta ao lado.
Através de todas aquelas memórias, Leona, com seu cabelo flamejante e olhos brilhantes, seus pés ágeis e língua provocante, era uma luz, uma marca ardente que queimava em seu coração.
Eu não consigo imaginar minha vida sem ela.
Ela era mais do que sua prometida. Ela era sua amiga, sua confidente, uma parte de sua alma. Ela lhe era tão necessária, quanto a respiração, a presença dela era parte da vida.
Eu não posso viver sem ela aqui comigo.
Ele suspirou. Abriu os olhos olhando à paisagem além. O céu estava branco agora com a retirada da luz do sol. Ele imaginou que talvez restassem duas horas para a hora do jantar.
Eu devo ir?
Como em resposta, ele ouviu alguém abrir a porta e esticar a cabeça.
— Conn?
— Alf. Eu estou aqui, — ele avisou bruscamente.
Ele ouviu seu irmãozinho sair pela porta e sentiu-o se juntar a ele, chegando a se inclinar ao seu lado na parede, olhando através da terra arborizada.
— O que quer que esteja incomodando você, — Alf disse baixinho, — tenho certeza que não é tão ruim quanto você pensa que é agora.
Conn piscou. Ele não esperava que seu irmão mais novo e divertido pudesse dizer algo tão sábio.
— Eu não sei irmão, — ele disse gentilmente.
— Eu tenho certeza que não é. — Alf observou. — Ou se fosse, todo o castelo estaria em alvoroço, não é? Papai disse que devemos esperar para ver o que acontece.
— Papai está certo, — disse Conn tristemente. Ele se virou para o irmão, os olhos vermelhos e tristes. — Não há muito mais que possamos fazer, hein?
— Você está certo, — Alf concordou calmamente. — Nós não podemos fazer nada. Então também não podemos fazer muito para mudar, não é?
Conn suspirou. Alf lembrava-lhe o pai algumas vezes. Pragmático, o pai deles era um soldado franco e honesto no papel como comandante da guarnição, demonstrando sua natureza. Ele era confiável em uma crise e nunca parecia preocupado com nada. Desde estar em desvantagem para perder no xadrez, ele sempre estava tranquilo, sempre pronto com algum comentário que os deixava rindo com vontade, e as preocupações esquecidas.
— Eu sei — disse Conn, sentindo raiva por seu irmão estar certo. — Mas ainda me preocupo. Leona está preocupada.
— Leona vai falar sobre o que quer que seja, — seu irmão disse, soando certo. — Ela confia em você.
Conn sorriu um pouco tristemente.
— Espero que sim.
Alf olhou para ele, olhos redondos.
— Irmão, claro que ela confia. Você não quer dizer que não percebeu isso?
Conn riu. Ele não podia dizer que sabia. Uma coisa que sempre o confundiu era como Leona se sentia em relação a ele. Ele nunca teve certeza. Sempre provocando, sempre repreendendo, Leona dava a impressão de que gostava somente da amizade dele e que o achava um tolo. Ele não estava certo qual era a mais verdadeira.
— Eu não sei, — ele disse honestamente.
Alf bufou.
— Claro que parece assim para mim, irmão. E não é que eu tenha experiência nessas coisas.
Conn riu. Alf estava com dezessete anos e, embora provavelmente tivesse tido muitos encontros com mulheres, não era experiente no sentido de ter encontrado a mulher com quem gostaria de se casar.
Eu tenho.
Conn não fazia ideia de como alguém saberia dizer. Tudo o que sabia era que ele tinha certeza. Ele amava Leona. Ele a amava com cada fibra de seu coração e cada respiração de sua vida. Ele sabia disso agora. Ela não podia ir embora. Não poderia viver sem ela.
— Obrigado, Alf, — disse ele suavemente. — Nós devemos descer. Mamãe vai se perguntar o que estamos fazendo.
— A mamãe está com Amabel, — explicou Alf. — Elas estão falando sobre algo importante... Eu não sei o quê. Não fiquei para ouvir. Além disso, isso não é certo. — Ele sorriu.
Conn soltou uma risada.
— Isto é. Estou feliz que você não tenha escutado. Onde está o papai?
Ele mudou de assunto, adivinhando o que sua mãe e sua tia poderiam estar discutindo. Se ele tivesse que falar com alguém sobre isso, seria com seu pai, aquele soldado franco e honesto. Ele precisava de sua orientação mais do que qualquer outro.
— Ele estava nos estábulos da última vez que o vi, — Alf disse lentamente.
— Ele ainda está lá embaixo? — Conn ficou surpreso.
Alf concordou com um sorriso em sua boca bem formada. — Eu o ouvi me provocando sobre minha obsessão com os cavalos. Ele é pior, no entanto.
Conn riu. Ele podia imaginar que seria. Seu pai estava interessado em todos os assuntos relacionados à guerra. Embora seu interesse por cavalos fosse limitado. Ele nunca fora um cavaleiro entusiasta de qualquer cavalo além do seu, um Clydesdale um tanto grisalho chamado Bert. Aquela obsessão era nova.
— Bem, — ele disse lentamente, — vamos encontrá-lo. E então poderemos passar algum tempo no campo de treino, hein? — Revirou os ombros, certo de que treinar com golpes de espada o distrairia de seus pensamentos.
— Sim! — Alf socou o ar com uma vitória feliz. — Eu ainda preciso bater em você.
Conn riu.
— Você pode tentar, — ele desafiou.
— Você está me desfiando!
Conn revirou os cabelos ruivos de seu irmão de uma maneira afetuosa.
— Desafio aceito.
Eles riram e, rindo ainda, seguiram pelo corredor em direção à escada.
Conn caminhou até os estábulos, respirando o cheiro de feno e calor, cheiros que preencheram sua infância e agora eram tão familiares quanto a curva da bochecha de sua mãe, ou uma canção de ninar. Ele se sentiu aliviado.
— Pai?
— Conn! O que é isso, rapaz?
Blaine apareceu por trás do maior cavalo de lombo largo que Conn já vira. Ele olhou para a vasta massa cor de areia, espantado.
Blaine, passando a mão pelo cabelo preto, sorriu.
— Você parece comigo quando eu o vi. Chama-se: Destemido. Ele tem um nome francês chique, mas seu tio disse que é isso o que significa, e eu acredito nele. O outro é chamado Dauntless. Ele está ali.
Ele apontou por trás das enormes costas pálidas como o trigo para uma extensão marrom fosca que enchia a baia.
— Ele é enorme, — apontou Conn desnecessariamente.
Blaine bufou.
— Você pode dizer isso outra vez, meu jovem.
— Ele é enorme.
Blaine riu ruidosamente.
— Bom! Agora, o que está lhe preocupando?
— Eu pareço tão mal assim? — Conn perguntou ironicamente. Ele recostou-se contra o portão da baia, com as mãos ao lado do corpo, e tentou encontrar uma sensação de calma em algum lugar.
— Aw, filho. Você nunca parece mal. Mas você parece tenso. Eu posso ver isso. E os cavalos parecem inquietos, o que significa que eles também sentem isso. Mas eu notei isso antes. O que está lhe incomodando, então?
Conn suspirou. — Você ouviu a notícia?
— Da França? Sim. — Blaine se virou, esfregando um ponto no casco de Fearless que era tão minúsculo que Conn não conseguia ver nada.
— Isso pode significar... — Conn engoliu em seco. — Isso pode significar que Leona está indo.
— Indo? — Blaine apareceu, uma mecha de palha presa em seus cachos escuros. Ele parecia perplexo. — Bem, então, rapaz, vá com ela.
— Não é tão fácil assim, — disse Conn imediatamente. Então ele fez uma pausa. Seu pai estava certo. Talvez ele pudesse ir com ela. Ele sempre poderia perguntar. Eles estavam noivos, afinal de contas. — Bem... — ele lambeu os lábios com cautela. Seu pai, vendo a mudança em sua expressão, riu.
— Bem então! Ai está! Não é tão difícil assim. Pense nisso. E nem pense em sua mãe e em mim, — estamos instalados aqui com o suficiente para nos manter ocupados até o inverno. Vou sentir sua falta, mas não tanto quanto você sentirá falta dela.
Ele quis dizer de Leona. Conn sentiu o coração apertar e assentiu.
— Sim, Pai. E... obrigada.
Blaine riu.
— Não precisa agradecer filho. Agora. O que você acha? Você acha que ele está apto para o desfile? Ou não?
— Eu acho, — disse Conn, parando com uma expressão exagerada e pensativa — que, se ele brilhar muito mais, cegará as pessoas e não haverá necessidade de enfrentá-las. Soa bem, assim?
Blaine riu.
— Bem, uma maneira de fazer isso, eu suponho, — ele concordou com relutância. — Aproveita a diversão, não é? Nesse ritmo, tudo o que precisamos é de uma dúzia de grandes espelhos e estaremos entrando em todas as fortalezas daqui até a costa. Um pensamento que...
Conn riu.
— Eu deveria ter adivinhado!
Blaine sorriu.
— Bem, é um plano. Embora duvide que padre Arnold concordasse em nos ajudar a fazer grandes espelhos para isso.
Conn assentiu. Padre Arnold era o padre dali, um sujeito culto que era mais erudito do que especialista religioso, e virava o rosto para tudo. As pessoas diziam que ele praticava alquimia, embora isso pudesse ser um rumor malicioso, pois ele parecia de todos os modos, inteiramente respeitável. De qualquer forma, se alguém precisasse de alguma coisa, de uma maneira mais eficiente de como fazer fogo, e de esmalte para azulejos, ele sabia como.
— Eu vou descobrir se posso ir junto, — Conn sorriu para seu pai. — Não fique muito tempo.
— Eu vou subir assim que esses rapazes estiverem instalados, — Blaine disse levemente. — O que significa que eu vou ficar até o anoitecer, mas provavelmente não mais cedo.
— Sim, pai, — Conn disse. — O jantar vai esperar por você.
— Sim, vai, — disse Blaine, inclinando-se para garfar feno fresco no chão da baia. — Eu nunca vi um jantar fugir antes. Na realidade...
— Não comece! — Conn gemeu, rindo enquanto corria à porta do estábulo. — Vejo você depois, pai.
— Vejo você depois, filho, — Blaine tranquilamente falou depois.
No castelo, Conn encontrou Alf no campo de treinamento. Ele estava enfrentando seu armeiro, Douglas, em um combate corpo a corpo que parecia estar lhe dando alguma alegria: ele carregava um sorriso feroz no rosto, o cabelo avermelhado grudado na testa com o suor do esforço, dando ao irmão uma olhada antes de voltar seu foco para o homem diante dele.
Pelo menos ele está praticando, pensou Conn com um sorriso pesaroso. Ele mesmo, realmente precisava praticar também, mas agora ele estava com outra coisa para preocupá-lo.
— Leona? — Ele chamou pela porta do solar. O fogo estava queimando baixo agora, o anoitecer preenchendo o lugar com sombras suaves de carvão.
— Ela está em seus aposentos, Conn, — disse a voz de Alina.
— Sinto muito por incomodar você, tia. Obrigado, — Conn respondeu de volta educadamente.
— Ela vai querer te ver, Conn, — disse suavemente.
— Obrigada tia.
Conn subiu as escadas, com o coração batendo no peito.
No andar de cima, ele encontrou a porta do aposento trancada. Sentiu uma sensação estranha — meio excitação, meio nervosismo — enquanto estava ali, imaginando se deveria bater ou chamá-la. Ele nunca estivera nos aposentos dela antes, e o pensamento disso o aterrorizou e o despertou. Corando-o.
Pare Conn! Você não deveria pensar assim.
Ele não fazia ideia do porque achava que, como eles estavam noivos, a falta dela seria ruim. Ainda assim, sentia-se quase como se houvesse alguma confiança sagrada que o impedisse de cobiçá-la. Ela havia sido criada com ele, afinal de contas.
— Leona? — Ele chamou.
— Vá embora, — uma voz suave respondeu.
— Leona, sou eu. Conn.
— Eu sei, — ela respondeu.
Conn esperou, sentindo-se triste e pensando se deveria ou não ouvir. Algo o fez ficar — o conselho de Alina, pensou. Ele ficou. Alguns momentos depois, a porta se abriu.
— Entre.
Conn ficou olhando-a. Com o longo cabelo vermelho pendurado até a cintura, um vestido de dia azul claro, o rosto úmido de lágrimas, ela parecia ao mesmo tempo trágica e inteiramente desejável. Ele sentiu seu corpo se amarrar em nós de desejo.
— Leona, — ele respirou. Ele queria dizer que não deveria entrar, mas de repente ela começou a chorar novamente. Ele não podia.
— Não, moça, — disse-lhe suavemente. — Ah, não. Vamos. Não é tão terrível.
— Conn! Você não entende! — Disse Leona, soluçando agora. — Eu devo ir! Estou deixando você... e todo mundo.
Conn mordeu o lábio. Ele estava vendo aquilo de sua própria perspectiva — ela saindo e quão miserável ele seria. Na verdade, não lhe ocorreu que ela sentiria falta dele também. Que ela estava deixando sua casa, família e tudo o que amava.
— Ah, moça, — disse-lhe. Ele a seguiu para dentro e eles se sentaram na cama juntos. — Ah, moça. Não chore.
Leona piscou os olhos azuis claros. — Como eu não posso?
Conn assentiu. — Verdade. Eu também choraria de verdade.
Leona lhe sorriu através das lágrimas. Ela parecia enevoada e adorável e ele lutou contra o desejo de dar um beijo naqueles lábios vermelhos.
— Oh, Conn, — disse ela. Segurou a mão dele em seu colo, os dedos entrelaçados em todos os seus.
Ele respirou fundo, sentindo o linho macio de sua saia e aspirando, tão perto, seu perfume de rosas. — Leona, — ele suspirou.
Ele a queria. Queria tanto que precisou cerrar os dentes para não a tomar em seus braços e colocar seus lábios naqueles lábios vermelhos macios, sentindo a suave doação de seu corpo enquanto a abraçava. Ele queria deitá-la na colcha, cobrindo-a com beijos, seu corpo suave cedendo sob o toque dele. No entanto, ele não podia.
— Eu não quero ir, — Leona respirou com força. — Mas eu devo.
Conn respirou fundo. — Eu poderia... — ele fez uma pausa, hesitante em perguntar a ela, para não ser rechaçado. — Eu poderia ir também?
Leona balançou a cabeça tristemente. — Não. Ele foi claro nisso.
— Quem foi claro? — Perguntou, embora supusesse que ela se referisse ao enviado da família de seu avô na França.
— Monseigneur Montaigne, — ela disse baixinho. — Ele disse que era eu, minha mãe e mais ninguém.
— Ele disse o porquê? — Conn perguntou cuidadosamente. Um pensamento horrível ocorreu a ele. Se o monsenhor levasse Leona embora permanentemente?
— Ele não disse.
— Oh! — Respondeu Conn.
Eles se sentaram em silêncio por um tempo. Conn olhou em volta, notando o linho branco da colcha, a penteadeira com vasos de porcelana de Heaven, o pente de marfim com fios do cabelo dela.
Ele suspirou. Ele a conhecera a vida toda, mas essa era a primeira vez desde que eram pequenos demais para se lembrar, que ele entrara em seus aposentos. Ele se sentia estranho: ao mesmo tempo bem-vindo e impossivelmente estranho em seu espaço. Era um sentimento incomum.
Pare Conn!
Ele sentiu seu corpo reagindo à nova intimidade e queria parar de pensar em como estava. Estava ali, no aposento de Leona, porque ela confiava nele. Ela não estava convidando-o para entrar ali para outra coisa além de conversar. Isso ficou claro.
— Leona? — Ele perguntou depois de um longo momento.
— Sim?
Ela o olhou, olhos azuis nublados, lábios molhados. Ele gemeu e olhou a mão dela. Estava na dele.
— Se nós...se eu falasse com o tio ou papai, você acha que eles ajudariam? Eu acho que eles poderiam argumentar com Monseigneur?
— Não — disse ela, arregalando os olhos. — Eu de alguma forma acho que não.
— E Alina? — Ele perguntou.
Leona sorriu abertamente. — Mamãe poderia argumentar com qualquer pessoa, — disse ela sorrindo. — Mas eu não acho que faria. Não por isso.
— Por quê? — Conn se sentiu perplexo.
— Eu não sei, — disse Leona tristemente. — Ela não disse. Acho que ela viu algo e não me contou.
— O futuro? — Conn sentiu o cabelo arrepiar. Tia Alina era assustadora o suficiente com sua calma antinatural, sua presença régia e imperturbável. Sua capacidade de ver o futuro o aterrorizava. Todo o pensamento sobre aquilo — de outros mundos e outras formas de ver — era algo que ele estava muito feliz de não considerar. O dom estava na família de Leona, e ela precisava contemplar; um fato pelo qual ele sentia tristeza e respeito ao mesmo tempo, por ela possuí-lo.
— Sim, — disse Leona em voz baixa, assentindo. — Eu acho que sim.
— Bem, — disse Conn, expirando com pressa. — Eu poderia perguntar a ela.
Leona lhe sorriu com tristeza. — Ela não vai lhe dizer, querido. Não acho que ela conte a ninguém.
— É verdade — disse Conn. Seu coração queimava como se um fogo se acendesse ali. Ela nunca antes o chamara de querido. — Obrigado, — disse ele, com os olhos arregalados.
— Obrigado? — Leona riu baixinho. — Por quê?
Ele corou, balançando a cabeça. Ele olhou as mãos, apertou a saia dela. — Não sei.
Ambos riram então. Ela lhe sorriu.
— Oh, Conn, você é bobo.
— Eu sou, — ele concordou, olhando em seus olhos. Aqueles olhos azuis eram as coisas mais bonitas que ele já tinha visto, queimando com uma luz interior. Ele se inclinou para mais perto, olhando para suas profundezas quentes e provocantes.
Ele a beijou. Sem pensar nisso, seus lábios traçaram os dela. Ele sentiu o toque daquela doce suavidade em seus lábios como uma sacudida que acendeu fogo em todo o seu corpo. E saudade. Sentiu os lábios dela tocarem os seus, gentilmente, e, incapaz de resistir, deixou a língua deslizar suavemente para lamber ao longo da linha de sua boca. Ela ficou tensa e ele parou, então, com os braços ao seu redor, ela relaxou de repente. Sua língua deslizou entre as almofadas de seus lábios e ele provou sua doce boca grudada.
Seu corpo inteiro estava em chamas. Ele a esmagou contra seu peito, os lábios dela em sua língua, os lábios dele nos dela e seu corpo suave a ceder contra ele. Ele a empurrou para trás, mesmo quando ela pressionou contra ele e caíram para trás, rindo.
Ele estava deitado sobre ela, olhando para seu rosto suave e doce. Seu corpo estava na curva de seu braço e sua boca, lábios entreabertos, ainda tocava os seus. Ele passou a mão pelo braço dela e depois endureceu, sentando-se.
— Leona, — disse ele, de frente para a parede em frente a ela. — Isto está errado.
Leona sorriu-lhe descontroladamente. Ela estava respirando pesadamente, ofegante e tensa. Ela riu sem fôlego para ele. Então seu rosto ficou sério de repente. — Eu sei, — ela suspirou.
Ela se sentou, com as mãos percorrendo a longa saia de linho. Olhando para os dedos, traçando um caminho no linho onde um fio puxava, repetidamente.
Ela olhou-o.
— Conn, — ela murmurou.
Colocou a mão de dedos esbeltos no ombro dele. Atraiu-o para ela, com a boca molhada na dele.
— Oh, Conn, — ela murmurou, desviando o olhar, o beijo quebrado novamente. — Eu amo você.
Ele sentiu como se uma pedra tivesse atingido seu peito, atirada por uma catapulta. Ele soube disso naquele momento e pela primeira vez percebeu.
— Eu também a amo, Leona, — ele sussurrou, percebendo um caroço no peito como se fosse uma pedra. — Eu também a amo.
Eles se sentaram juntos, de mãos dadas.
Eles se amavam. Sabiam disso. Agora, ela sairia e atravessaria o oceano até a França.
CAPÍTULO TRÊS
DEIXANDO A COSTA
a Água estendia-se diante dela, atrás dela, para todos os lados. Cinzenta, fria, cheirando a sal, e algas, fazendo ondulações no horizonte, batendo no navio. Linhas que a mantinham presa.
Eu não posso fazer isto.
Ela acabara de sair da praia em Queensferry. A viagem até a costa demorara cinco dias. Agora ela estava a bordo acompanhada do sombrio e silencioso enviado de seu tio. E ela estava tendo a última visão da costa.
Eu não posso ir.
Leona não suportava aquilo. Não era simplesmente porque ela estava deixando sua casa, sua família, seus entes queridos e tudo o que ela conhecia: era porque estava deixando Conn. Ele preenchia sua mente, cada pensamento era sobre ele. Ela não podia deixá-lo. Não poderia ir. Não poderia fazer isso.
— Eu não posso, — ela soluçou.
— Minha senhora?
Ela se virou para o homem que a chamou e viu o enviado cruzando o convés para chagar até ela, o manto azul escuro mesclando-se às nuvens cinzentas, o rosto alongado e sério.
— Sim? — Leona perguntou.
— Venha, minha senhora. Você deve vir para baixo do convés. — Seus olhos se encontraram, mas ela não disse nada. Não sorria.
— Eu vou daqui a pouco, — disse Leona firmemente.
— Venha logo, — ele pediu. — Você vai pegar a febre do frio. — Ele se virou e foi embora, olhando-a friamente enquanto descia pela porta que levava às cabines. Aquele olhar — tão grave, tão indiferente — arrancou algo no cérebro de Leona.
Eu não posso. Eu não posso deixar a Escócia e Conn.
O mar batia nas tábuas, talvez uns dois metros abaixo dela, o fino guinchar das gaivotas soando alto atrás da névoa. Ela sentiu algo em seu coração se quebrar, olhando à costa cinzenta e rochosa, parecendo somente um alcance de mão longe dela.
— Eu não posso.
Sua resolução desvanecera e suas inibições foram embora. Ela pegou a saia e subiu no corrimão. Ela não era escrava do homem. Ela não faria isso! Eu vou para casa!
Ela se jogou no oceano, gritando quando a água a atingiu como um punho, puxando-a para baixo.
O frio a entorpeceu, devorando-a enquanto se agitava, desesperada por ar. Ela emergiu, lutando para respirar. A água sugou-a, devorando o tecido de seu vestido, tornando-a repentinamente incapaz de flutuar. Ela sabia flutuar — aprendera com Camma, uma garota da vila, no riacho perto do castelo, — mas não sabia nadar.
— Vou morrer.
Olhando para o convés, apenas visível acima de sua cabeça. Só podia ver onde ela estivera e sabia que ninguém havia notado sua saída. Ela fizera uma escolha muito estúpida e agora se afogaria. Ela não sabia nadar.
Uma onda lhe bateu, arrastando-a de volta. Ela sabia que não conseguiria chegar à costa. Não conseguia se manter à tona, não importava o movimento! Isso era aterrorizante. Ela estava acabada.
Vou morrer. Eu vou me afogar aqui no oceano. Eu nunca mais vou ver Conn e nunca saberei o final da história. Eu nunca saberei o que a profecia da minha mãe significa ou o que aconteceria comigo.
Ficou com raiva. Irritada consigo mesmo por sua escolha e zangada com todos que a colocaram naquele lugar.
Como eu pude ser tão estupida?
A onda bateu-lhe novamente, atingindo-a com água salgada e gelada. Ela respirou fundo, rezando para que suas pernas a mantivessem à tona. Ela estava se empurrando para cima com elas, mantendo a cabeça acima da água, mas seu vestido era pesado e as ondas castigavam, empurrando-a para baixo a cada segundo.
Ela cuspiu a água que procurava sufocá-la. Fechou os olhos. Seu coração estava doendo, batendo, esforçando-se. Suas pernas estavam pesadas. Seus braços congelados. Ela sentiu sua cabeça afundar e o terror passou por ela. Terror e a completa incapacidade de combatê-lo.
Eu estou me afogando.
O desejo de respirar cresceu, cresceu, tornou-se um medo abrangente e começou, abruptamente, a desvanecer-se. O mundo era um lugar escuro e sua mente estava se entregando, desacelerando, trazendo-lhe a paz.
Eu poderia ficar aqui. Eu gostaria de poder ver Conn antes de ir. Se eu pudesse ver Conn, ficaria aqui. É tão bom...
Ela estava morrendo. Ela sabia. Tudo estava escuro, mas se sentia em paz, como se estivesse banhada por um calor branco. Parte dela lutava, mas pareceu inútil. Era tão bom ali, tão quieto. Por que lutar?
Eu não quero ficar! Eu não posso! Ela queria ir à mãe e Conn para ver o que acontecia em seguida. Ela se obrigou a acreditar nisso, forçou sua mente a lembrar que não queria ficar na calma, sonolenta e pacífica ...
— Ugh! — Algo a agarrou. Apertado, intransigente, esmagando seu corpo, forçando-a à superfície. Ela chutou ajudando e apoiou os braços, o terror lhe dando novas forças.
A coisa a segurou mais apertado. Era um braço, ela percebeu quando rugiu com dor e alívio, cuspindo água e lutando para ficar acima da superfície, os pulmões queimando enquanto o ar fresco invadia o espaço dentro deles.
— Minha senhora, pare de se debater.
Ela se viu olhando para o rosto alongado e magro de Montaigne. Seu olhar a acalmou.
— Você quase se afogou, Madame.
Leona riu. Sim, ela quase se afogou! Foi tão engraçado quando ele mencionou aquilo, tão simples. — Sim, — disse entre risos. — Sim, quase!
Ele lhe sorriu, os olhos negros confusos quando ela riu, fraca e histérica, o terror deixando-a subitamente flácida quando se esvaiu.
Ele nadou com ela e deixou-se relaxar enquanto ele ia arrastando a água com o braço livre, ajudando-o a movê-los de volta até onde a tripulação havia pendurado uma corda ao lado do navio.
Ele estendeu a mão. Pegou a corda. — Espere! — Ele gritou para Leona.
Ela agarrou-lhe a mão. Magra e forte, o aperto o machucou, esmagando seus dedos com os próprios apertados. Ela respirou fundo. Então eles estavam subindo. Ela segurou-lhe a mão primeiro e depois, quando conseguiu alcançar, a corda ao lado do navio. Eles foram içados e em pouco tempo ela o ouviu suspirar.
— Eu estava aqui.
Ela desabou no convés. Ele deitou de costas, ofegando. Então percebeu como ele a resgatara com todas as suas forças. Ela olhou para o rosto retorcido e agonizado, lutando para respirar.
— Obrigada, meu senhor, — disse em voz baixa. — Você salvou minha vida.
— Danton, — disse ele, respirando com dificuldade. — Meu nome é Danton.
— Danton, — Leona disse fervorosamente. — Meus agradecimentos.
Foi a primeira vez que ela o viu sorrir. Transformou seu rosto sério em um rosto estranhamente bonito. Ela sentiu o coração se agitar agradecendo por ele.
— Venha, minha senhora! — Um jovem marinheiro, disse atrás dela, em sua própria língua. — Vai pegar um resfriado.
Leona olhou-o, de repente confusa. Sua mente estava se movendo lentamente, parando de repente. Frio. Sim, está frio. Tão frio... Tremendo incontrolavelmente, ela o deixou levantá-la, cobrindo-a com um cobertor.
— E Danton? — Ela murmurou enquanto eles a empurravam pelo alçapão. — Ajudem-no.
— Ele está vindo, milady, — o marinheiro disse gentilmente. — Agora, vá até o convés e coloque roupas quentes. Você não vai morrer.
— Obrigada, — ela sussurrou.
— De nada.
Em sua cabine, Leona olhou em volta. A parte de sua mente que ainda estava acordada reconheceu sua cama e o baú com suas roupas, a lamparina em seu suporte.
— Allie, — ela chamou. Sua criada apareceu e cobriu o rosto com as mãos em estado de choque.
— Oh, milady! Oh, olhe para você... oh! meu ...
— Roupas — disse Leona fixamente. — Eu preciso de roupas.
Conseguiu se desvencilhar da roupa que usava, estremecendo quando a roupa íntima, agarrada a ela com uma umidade salgada, foi-lhe arrancada. Ela mal teve forças para mover a extensão aderente a seu corpo e desmoronou, suspirando.
Allie ajudou-a e, ainda tremendo, Leona se viu na cama. Sua criada pegou um tijolo quente para colocar na cama para que seus pés esquentassem, mas, nem isso parecia ajudar.
Ela ficou imóvel, os cobertores puxados bem alto e estremeceu, suou e pensou que poderia ter morrido. Ela estava tão fria. Tão frio...
Acordou ouvindo vozes baixas. Era muito tarde, porque a cabine estava escura. Um deles era Danton, outro Allie. O terceiro ela não conhecia.
— Meu mestre vai pagar qualquer despesa... ela é muito querida para ele.
— Nós não temos um médico, senhor. Vamos tentar o nosso melhor, mas ela está febril.
— Vou tentar mantê-la aquecida, senhor, — disse Allie em uma voz baixa.
Estou com febre. Eu posso morrer.
A febre durou três dias. Leona acordou irregularmente, vendo Allie se curvando para molhar a testa ou levantando uma colher para alimentá-la. Momentos em que ela olhava à lamparina e via, com uma clareza sonhadora, seus arredores. No entanto, a consciência era fugaz. Por muito tempo ela suou. O suor lhe escorria e ela estremecia, murmurava e se debatia, mas quando cessou, ela estava acordada e lúcida.
Ficou onde estava, olhando em volta da cabine. Um objetivo claro a preencheu.
Eu irei à França. Verei o que ela me oferece.
Sentiu-se empenhada a viver. Carregada com nova determinação, ela escorregou da cama e foi até o baú para encontrar algumas roupas. Ficou surpresa ao encontrar-se molhada de suor, a roupa agarrada a ela. A cama e o travesseiro estavam úmidos. A percepção de quão perto havia chegado da morte a surpreendeu. Sentiu-se fortalecida. Abriu o baú e propositadamente, tirou um vestido de linho castanho avermelhado.
— Minha senhora! — Allie apareceu na porta, cobrindo o rosto em estado de choque. — Volte à cama! Monseigneur Montaigne cortará minha cabeça se alguma coisa acontecer com você. Eu lhe trouxe um pouco de caldo.
Leona cuidadosamente pegou a tigela. Naquele momento, alguém entrou pela porta. Allie se levantou do banquinho ao lado da cama.
Leona olhou para cima. Danton estava na porta, um manto preto em volta dele, os cabelos grisalhos escovados e os olhos sérios.
— Minha senhora, — disse ele suavemente. — Você parece bem.
— Eu estou, — ela disse suavemente.
— Você estava muito doente, — disse ele gentilmente. — Eu peço o seu perdão. — Ele acenou para Allie, que saiu apressada.
— Perdão? — Leona franziu a testa.
— Madame, — disse ele, limpando a garganta. — Quando eu... — ele fez uma pausa e desviou o olhar. — Quando eu era mais novo, eu possuía uma filha da sua idade. Adorável como uma pomba. Ela era meu tudo. Meu coração, meu amor... meu mundo. Ela morreu. Quatro anos atrás. De febre. Foi minha culpa. Eu deveria saber. Não deveria ter falhado ao não ver sua tristeza. Quando ela fugiu, fiquei apavorado. Eu me culpei. E quando eles a encontraram, ela estava doente. Gosto de você. Eu trouxe-a de volta... ela morreu quinze dias depois. Eu... — Ele olhou para as mãos, respirou fundo. — Eu nunca me perdoei, — disse ele. Olhou nos olhos dela. — Você entende o quão difícil isso pode ser. Então, agora eu peço perdão para você.
Leona estendeu-lhe a mão, unindo a mão dele na dela. Sua pele era enrugada, o único sinal de sua idade.
— Eu sei que sua filha lhe perdoaria.
Ele olhou-a nos olhos e depois olhou para baixo. Estava chorando. Ela conseguia ver as lágrimas, embora ele não as deixasse cair, apertando os olhos enquanto segurava a mão dela.
— Você é como ela, — disse ele. — Eu agradeço.
Leona sorriu para ele. — Não me agradeça, — disse ela, rindo trêmula. — Ou eu vou precisar agradecer por você me salvar e nunca vamos parar de agradecer um ao outro.
Ele riu também. — Você está certa.
Leona sorriu-lhe. Ela estava viva. Ela foi salva. Ela iria à França e descobriria o que poderia lhe oferecer. — Estou ansiosa para chegar a França, bom senhor.
— Bom, — ele disse com firmeza. — E agora sabe que se você tivesse morrido, arrepender-se-ia se perdesse o que vem a seguir. Você nunca saberia o que aconteceria, instantes depois de fechar os olhos pela última vez, ou quando a última onda passasse por cima da sua cabeça. A coisa que você menos esperava de repente torna-se realidade. A pessoa que você achou perdida retorna de alguma forma. Você encontra um caminho através da escuridão que achava interminável. Se você tivesse esperado por um momento mais, o sol teria saído e todo aquele cenário cinza mudaria para dourado. Tudo se você tivesse esperado para ver o que aconteceria a seguir.
Leona viu-lhe a dor no e imaginou que ele havia tentado acabar com a própria vida. Embora não fosse sua intenção quando ela se jogou no mar, foi um ato precipitado e desesperado. Ela sabia, mesmo quando a água se fechava sobre ela, que não desejava morrer. Ela queria ver o que aconteceria depois.
E ela ainda queria.
— Monseigneur? — Ela perguntou, curiosamente.
— Mm? — Ele respondeu, piscando quando ela atraiu sua consciência de volta ao presente.
— Como está o tempo em Annecy?
Ele sorriu. O olhar risonho transformou seu rosto, esculpindo rugas ao lado daqueles olhos de pálpebras pesadas, erguendo os lábios finos em um semblante belo.
— Assim é melhor. É ameno no verão, embora haja dias em que pode ser quente; insuportavelmente quente. Você vai achar que é moderado em comparação com os invernos rigorosos de sua terra natal.
— Eu espero que sim! — Leona disse com firmeza. — Eu odeio o frio.
Ambos riram. O tempo que passaram juntos foi tranquilo e feliz, e ambos pareciam se beneficiar disso. Eles estavam rindo sobre uma história que ele contava sobre ficar encalhado na costa, quando uma voz chamou à porta.
— Meu Senhor?
— Allie! — Disse Leona surpresa.
— Sim, — ele respondeu.
— Meu senhor, você... você é chamado lá fora.
— Oh! — Monseigneur se sacudiu, balançando a cabeça. — Desculpe-me. Eu me distraí. — Ele olhou carinhosamente para ela enquanto falava. — Eu vou imediatamente, — acrescentou, voltando-se para Allie. — Madame desculpe-me?
— Claro, — disse Leona, sorrindo.
Ele saiu e ela observou sua retirada, depois suspirou e recostou-se nos travesseiros. Ele estava certo: amanhã era outro dia. E quem sabia o que ele traria.
Ela fechou os olhos, imaginando o mundo da França e de Annecy, como ele havia descrito: todo branco, limpo e adorável sob o céu, incrustrado nas colinas de calcário, talvez a um dia de viagem do oceano.
Ela imaginou um lugar de beleza, um lugar elevado, com elegância e refinamentos que ela mal conhecia. Sua única tristeza naquele cenário de alegria foi que Conn não podia ver também.
CAPÍTULO QUATRO
FAZENDO PLANOS
— Irmão? Venha para fora para um jogo de pegar e largar?
Conn olhou para cima, seus pensamentos interrompidos pela pergunta melancólica de Alf. Ele estava sentado em uma janela na galeria, olhando por cima da terra verde. Olhando para Alf distante.
— Desculpe irmão. Eu prefiro que não.
Alf parecia angustiado. — Você tem estado assim há semanas, irmão! — Ele protestou. — Eu sei... — ele parou, não querendo mencionar Leona por medo de perturbar seu irmão novamente.
— Eu sei que você sabe, — disse Conn suavemente. Também sabia que Alf não entendia como ele se sentia. Ele apreciou as tentativas de seu irmão mais novo para animá-lo, mas eles estavam condenados a não trabalhar, já que não estava triste, não de verdade. Ele simplesmente não sentia nada. Seus sentimentos eram uma massa variada de tons cinzentos, como as nuvens distantes na encosta. Ele não se sentia nem feliz, nem miserável, apenas morto por dentro.
— Amice disse que queria jogar também, — Alf disse, sorrindo. — Você deveria vir — ela sempre nos faz sorrir.
Conn sorriu. Ele amava sua amiga, Amice, mas até ela, provavelmente não o animaria hoje. — Eu vou ficar, — ele disse.
— Muito bem. — Alf parecia triste. — Eu vou vê-lo no jantar. E vamos falar sobre isso então.
— Faça isso disse Conn gentilmente. — Ele se inclinou para trás e fechou os olhos, esperando até que não pudesse mais ouvir os passos do irmão. Então ele os abriu novamente. Suspirou e largou a escultura que estava fazendo; uma andorinha, esculpida bem pequena e fazendo parte de um anel. Isso estava sendo feito para Leona.
Leona não está mais aqui.
O pensamento drenou a cor de seu mundo, deixando-o cinza e sem graça. Por toda a sua vida, Leona estivera em Dunkeld. Eles cresceram juntos.
Ele odiava estar ali sem ela. Era tortura, pois tudo continha tantas lembranças dela. Havia as paredes onde eles escalaram quando crianças. O solar onde ela se sentava à noite, seu canto acariciando a alma dele. A janela onde ela às vezes espiava quando eles treinavam. Ele quase se deixou matar, olhando para os alegres olhos azuis dela durante uma luta de espada no pátio.
Ela está em todos os tijolos deste castelo, em cada respiração que eu dou.
Era uma tortura. Ele não conseguia parar de pensar nela, pois ele sempre fazia isto. De qualquer forma, era costume pensar nela quando acordava e quando se retirava à cama. Ele pensava nela com frequência e cada pensamento era uma dor. Um lembrete de que ela não estava ali.
Ela provavelmente gostará da França.
Não era nenhum consolo, pois havia o terror de que ela pudesse gostar e permanecer lá.
Havia perguntado ao tio Broderick sobre a França. Ele esteve lá uma vez, há muito tempo, em um empreendimento comercial; tomando conhaque e comprando espadas no mercado em Torun. Ele havia dito que era um lugar de refinamento; um lugar onde coisas como espadas e armaduras eram forjadas com cuidado e sob um olhar decorativo, onde coisas boas fluíam de Bruges5, de Toledo6, de Cologne7, de Gent8 e de Milão9. O comércio do mundo parecia encontrar o caminho até o porto de Calais e além, e as pessoas viviam uma vida refinada.
Ele sorriu. Imaginou-a em um castelo, envolta em rendas turcas e em cetim árabe e cumprimentando elegantemente os reis e senhores.
Ela gostaria daquilo.
Sentiu uma mão apertar seu coração quando uma nova preocupação o assaltou. E se ela conhecesse alguém enquanto estivesse lá? Casasse com outra pessoa? Ele balançou sua cabeça.
Não seja tolo, Conn. Se ela fizer, ela é livre para escolher isso. Você não tem nenhum direito de dizer nada sobre isto. Mas eu a escolho. Eu sempre a escolheria. Eu a escolho.
Com Leona não existia a obrigação de se casar. Ele fora com o pai para castelos e se misturava com muitas pessoas, tanto aqui em Dunkeld e também, muito longe. Ele conheceu senhores e senhoras e se juntou nos bailes, com moças da mesma idade, de alto nascimento e elegíveis. No entanto, ele nunca vira alguém igual a Leona.
Ela possui seu coração.
Ele balançou sua cabeça. Sentia-se tolo por isso, quase como se fosse capaz de esquecer; como se amar profundamente fosse uma falha, não uma força. No entanto, ele sabia que continuaria a fazê-lo.
Levantou-se da cadeira, encolhendo-se ao sentir como o pé esquerdo estava sem sangue, com uma cãibra repuxando-o quando o fluxo sanguíneo retornou. Ele se esticou e balançou a cabeça para clareá-la, saindo novamente.
Se alguém pode me ajudar a entender isso, é meu pai.
Ele desceu as escadas até o arsenal, onde suspeitava que seu pai pudesse ser encontrado.
— ...e então devemos enviar mais toras de pinheiro, — a voz grave de seu pai dizia com austeridade. — Precisamos fazer lanças delas para armar as fileiras da frente.
— Sim, senhor. Dougal, o armeiro forte, concordou seriamente.
Conn deu um passo para trás na porta, sabendo que seu pai provavelmente estaria ocupado por horas e não seria bem-vindo. O olhar castanho de seu pai o viu e virou seu rosto, com os olhos suaves.
— Espere filho, — ele disse gentilmente. — Então, Dougal, você acha que é um bom caminho para seguir em frente?
— Eu de fato acho. — O armeiro pequeno e fornido concordou. — Vamos pegar a madeira das terras do norte, senhor.
— Bom, Dougal, — disse Blaine, olhando através da sala para uma prateleira de adagas, recém-fabricadas. — E vamos ensinar aos homens essa nova manobra que discutimos, acho que é útil.
— Muito útil senhor! — Dougal soou entusiasmado. — Eu farei isso.
— Bom, — Blaine disse novamente. — Eu o vejo amanhã.
— Até logo, senhor. — Dougal assentiu. — Vou mandar para os registros diretamente...
Blaine saiu e ele foi para o banco no canto, um giz na mão, calculando quantos novas toras precisariam pedir, e o custo disso. Ele dirigiu-se à luz do pátio onde Conn estava parado, esperando. — Você está ocupado, filho? — Ele perguntou.
— Não, pai, — disse Conn, com as mãos abertas para indicar que não possuía nada para fazer.
— Bem, então, — Blaine sorriu. — Que tal um passeio, hein?
— Nós poderíamos, — disse Conn lentamente. — Mas se você... — ele parou. Seu pai devia querer dizer-lhe que pretendia exercitar os novos combatentes. Ele engoliu em seco nervosamente. O pensamento de realmente montar um daqueles imensos animais novos e intransigentes era intimidante. Muito.
— Eu pensei que nós poderíamos levá-los ao redor do desfiladeiro, — Blaine disse levemente. — É um caminho bom, fácil, com pouco para assustá-los. Parece sensato?
— Parece sensato — disse Conn, desolado. — Ele odiava aquela ideia. No entanto, ele queria conversar com seu pai e, se não houvesse outra maneira senão andar em um daqueles novos cavalos aterrorizantes, supunha que poderia fazê-lo. Levaria apenas uma hora, afinal.
— Certo então, — Blaine disse com um sorriso. — Nós vamos e os juntamos, hein?
Apalpá-los foi fácil, e quando terminou de colocar a pesada sela nas costas de sua montaria, Conn já estava se sentindo melhor com eles. Os dois cavalos podiam ser enormes, mas eles eram de temperamentos descontraídos. Eles haviam sido extremamente bem ensinados.
— Mas só em francês, — comentou o pai, balançando a cabeça e rindo ironicamente. — Eles são mais sábios do que eu sou! Eu só falo uma língua. Esses blighters entendem duas.
— Duas?
— Francês e Inglês, eu acredito, — Blaine disse com tristeza. — Ninguém pensou em ensinar-lhes a linguagem gaélica.
Ambos riram. Eles falavam gaélico e algum escocês da planície, o suficiente para sobreviver se precisassem ir mais ao sul do que Edimburgo para o comércio. No entanto, o inglês e o francês eram desconhecidos para eles.
Leona me ensinou um pouco. Ela me ensinou — olá — e — como vai.
Ele deu um tapinha no pescoço do cavalo. — Salut, — ele disse gentilmente. O cavalo bufou.
— Parece que é rude, — disse Blaine, sorrindo. — Não quero saber o que isso significa.
— Olá, — disse Conn, confuso.
— Bem, ele não parece querer dizer olá, — Blaine riu. — Embora não pareça que ele está pulando de raiva. Apenas desconcertado.
Eles terminaram de amarrar os cavalos e os levaram para fora. Lá fora, o dia esfriara ligeiramente, o céu estava pálido acima da linha das árvores, uma brisa resfriando o ar quente. Levaram os cavalos até a borda do cercado.
— Vamos, — Blaine disse alegremente. — Vamos.
Ele se lançou na sela, grunhindo enquanto se sentava no couro duro, e então andou à frente para que seu filho pudesse alcançar o bloco de montagem também.
Que bom que nós temos um.
Os cavalos eram muito altos e largos para permitir qualquer coisa, sem a ajuda de uma ligeira elevação. Conn, sentado nas vastas costas do de cor amarronzada, sentiu-se espantado com o músculo encolhido que se esticava e soltava, movimentando-o à frente, atrás do pai, com uma graça fluida.
— Eles são notáveis, — disse ele às costas de seu pai. Seu pai parou, deixando-o alcançá-lo.
— Eles são, — e balançou a cabeça. — Vieram de Flandres, eu acredito
— Oh!
— Muito bem, — respondeu Blaine. — Não muito longe da França.
Conn assentiu em silêncio. Flandres era, até onde ele podia se lembrar, parte do Ducado da Borgonha, um desdobramento da corte francesa. Explicava por que esses partidários em particular falavam francês. Pensar no lugar lembrava sua tristeza. Ele piscou, olhando à frente deles.
— Essas colinas parecem boas e verdes agora, — ele comentou, apontando para onde havia trigo crescendo no vale, bem em frente a eles.
— Sim, elas parecem — comentou Blaine, avançando à frente enquanto Conn avançava com o cavalo a trote. — Elas parecem sugerir colheitas abundantes.
— Bom, — Conn assentiu.
— Filho, o que é isso? — Blaine perguntou. — Você não está interessado na colheita. Nunca o vi assim em todos os anos que lhe conheço, é conhecedor suficiente para plantar uma muda de cabeça para baixo, como eu. Sommat está lhe aborrecendo.
Conn respirou bruscamente, sem ter certeza se estava zangado com o pai por ter tentado manter a indiferença ou, se alegrava, já que isso significava que poderiam finalmente conversar.
— Eu não estou irritado, — disse ele com firmeza. — Apenas me pergunto.
— Quer saber o quê? — Blaine perguntou. Conn observou o olhar tranquilo de seu pai e se sentiu relaxado.
— Sobre Leona e... e se ela vai ou não se casar lá. Você sabe... se ela conhecer algum rapaz e ele a tirar do chão. E isso pode acontecer, vamos ser justos, ela vai permanecer.
Blaine olhou-o e depois inspecionou os nós dos dedos, esfregando uma contusão. Quando olhou para cima, ele devolveu a seu filho um olhar sério. — Isso poderia acontecer, — ele concordou suavemente. — Mas duvido disso. Tenha mais fé em você, daftie.
Conn sorriu para o apelido que significava alguém maluco. Ele sorriu. — Eu merecia isso.
— Você mereceu, — ele observou suavemente. — Agora, como você pode pensar que Leona vai mudar desse jeito e esquecer de você? Você a esqueceria?
— Claro que não! — Conn falou enfaticamente.
— Bem, você respondeu.
— Mas Leona é... tão adorável, alegre e bonita, — disse Conn tristemente. — Claro que vou me lembrar dela, prefiro esquecer meu nome! Mas ela pensará em mim? Por que pensará em mim?
— Vamos, filho, — Blaine sorriu. — Se você precisa que eu lhe diga isso, então você não sabe de nada. Você é uma pessoa maravilhosa: gentil, confiável, engraçado. Você pensa. Você se importa. Você ouve as pessoas, mesmo para o seu velho pai, quando ele está falando bobagem. E você leva todos nós a ponto de rir às vezes. Mesmo quando as coisas parecem ruins.
Conn olhou para o pai com os olhos arregalados. Ele realmente pensava isso? Ele sentiu seu coração pular de surpresa. — Obrigado pai, — disse ele com voz rouca de sentimento.
— Não me agradeça, — Blaine disse rispidamente. — Você parece tão triste. Eu tenho vontade de animá-lo.
— Como? — Ele perguntou quando seu cavalo pisou em um lugar irregular, balançando-o para o lado e fazendo-o apertar com mais força com os joelhos, sentindo-se instável.
Blaine sorriu. — Esses sujeitos não estão envolvidos, — explicou ele, sorrindo. — Mas eu pensei que talvez você pudesse viajar.
Conn perguntou, sentindo o estômago revirar quando o cavalo estabilizou e depois recuou para a trilha. — Para onde?
— Bem, eu... — Blaine suspirou, passando a mão pelo cabelo encaracolado. — Eu suponho que seja egoísta. Mas eu tenho um negócio que gostaria de resolver. E se você quiser ir, bem... levaria cinco dias para ir até Edimburgo e voltar. E você precisaria ficar lá. Um pouco, talvez.
— Eu farei isso — disse Conn, sentindo sua vida animada. Edimburgo foi para onde Leona se dirigiu primeiro. Indo até lá significaria que ele estaria mais perto da França — e dela. Isso também significaria que ele não estaria aqui. Estaria fora de Dunkeld, onde tudo o que ele via o lembrava dolorosamente da ausência dela. Seria bom.
Blaine sorriu um pouco tristemente. — Tem certeza, filho?
Conn assentiu enfaticamente. — Tenho certeza, pai. Irei assim que você tiver o que precisa que eu leve para lá.
— Bem, isso é fácil, — Blaine riu. — A conta contestada está em meu escritório. Você poderia ir amanhã. Mas essas coisas precisam de planejamento. Talvez na semana que vem?
— Na próxima semana? — Conn se sentiu consternado. Ele preferiria sair mais cedo. Ele achava que enlouqueceria se ficasse ali por mais tempo. — Mais cedo, talvez?
— Sim, mais cedo, — disse Blaine lentamente. — Você poderia ir daqui a dois dias? Isso é bom?
Conn assentiu vigorosamente. Isso seria bom.
— Bem, então, — Blaine sorriu. Ele parecia triste, ainda, os olhos castanhos preocupados. — Dois dias então.
— Sim, pai, — Conn assentiu. — Obrigado.
— Oh, não me agradeça, — Blaine disse solidamente. — Eu sou egoísta, como disse. Eu não deveria estar lhe enviando em uma jornada de meu próprio interesse.
— Oh, pai, — disse Conn com carinho. — Eu conheço você.
Blaine deu-lhe um sorriso torto. — Eu realmente estou usando você, — ele insistiu. — Senão eu mesmo teria que ir. E você pode me imaginar na corte? — Ele assobiou e depois riu. — Eu ofenderia as luzes do dia de todo mundo lá, em dois segundos. Então eles me mandariam fazer as malas em menos tempo do que quando cheguei. Não, filho você fará bem.
Conn riu. — Eu acho que você pode conseguir fazê-los rezar, — ele admitiu.
— Rezar, — ele exclamou. — Eu teria sorte de não ser executado! Só é preciso um deles parecer altivo e poderoso comigo e eu pararia na cadeia. E então o que aconteceu?
Conn riu. Ele sabia que seu pai — impetuoso e totalmente honesto — não seria um bajulador de ninguém. E se isso era o que se esperava em um tribunal — bem, ele provavelmente seria expulso. O pensamento o fez sorrir. Ele admirava seu pai, mesmo quando os mesmos traços que ele admirava o exasperavam ocasionalmente.
— Oh, pai, — ele disse novamente. — Eu amo você.
Blaine piscou e se Conn não pensasse que seria impossível, ele teria jurado que o vira escondendo algumas lágrimas. Impossível, ele pensou.
— Filho, — ele disse pesadamente, — eu também te amo. É bom que você esteja feliz.
Conn sorriu. Ele estava feliz, mais do que antes. Ele possuía algo para fazer. Uma missão pela frente. E estaria saindo de casa, indo para o sul, mais perto de Leona. E à França.
Era a melhor coisa que ele poderia fazer neste momento.
Enquanto cavalgava não deixava de imaginar onde Leona estaria. Olhou para o céu e sentiu o coração cheio de tristeza ao lembrar-se de quando esteve nas colinas com Leona quando criança.
Eu a amo tanto quanto o céu de verão, ele disse a ela. Tão grande quanto as montanhas. Para todo o sempre.
Ela lhe dissera de volta, sua voz doce, infantil e alegre, repetindo, uma promessa.
Tão imenso quanto o céu de verão. Tão imenso quanto as montanhas ...
Quando as palavras retornaram para ele, fechou os olhos, não querendo deixar as lágrimas fluírem. Ele não conseguia barrar as lembranças daquela doçura da infância. Teria que enterrá-las bem no fundo, onde não poderiam machucá-lo.
CAPÍTULO CINCO
CHEGADA
A paisagem sobre as colinas se alargou, crescendo em uma profusão de azuis e brancos delicados. Leona olhou para fora, seu coração tocado pela beleza.
— Chegamos? — Ela perguntou baixinho.
Danton olhou pela janela onde estava sentado na carruagem, assentindo. — Mais duas milhas, minha senhora. Quase lá.
— Oh!
Leona ficou surpresa ao sentir uma onda repentina de excitação passar por ela. Ela estava quase lá! Eles haviam chegado à costa de Calais há dois dias. Passaram a noite em alojamento alugado, e então subiram de carruagem pelo campo. Parando em uma abadia à noite e continuaram no dia seguinte, malparando até chegarem a este lugar.
Eles estavam perto agora.
Leona observou, em transe, enquanto a delicada paisagem azul e branca dos penhascos, a floresta verde e densa e a nuvem distante se moviam continuamente para trás. Ela engoliu e sentiu como se houvesse pequenas asas flutuando em seu estômago. Eles estavam quase lá.
— Meu tio, — ela perguntou a Danton cautelosamente. — Como ele é...?
— Ele é um bom homem, — disse Danton apressadamente. Leona levantou uma sobrancelha. Ele mal deixara que ela terminasse a pergunta. Não era bom ser precipitado. — Justo, honrado, firme.
— Parece razoável, — disse Leona suavemente. Ela não podia imaginar seu tio muito melhor agora do que antes, mas pelo menos ela sabia que era uma pessoa confiável.
— Ele é, — Danton continuou em uma veia mais leve. — Você vai se dar maravilhosamente bem com ele.
— Espero que sim, — disse Leona calmamente. Ela recostou-se, os dedos apertados. Ela não havia percebido isso antes, mas estava realmente nervosa por conhecer seu tio. Não fazia ideia de como ele poderia ser, e sua mãe não pode ajudá-la muito a esse respeito.
Ele é muito parecido com o meu pai na aparência, mas não como ele no temperamento. Isso foi o que sua mãe havia dito, lembrou Leona. Mais teimoso, mais obstinado. Rígido em suas ideias.
Leona ficou nervosa. Ele parecia um homem severo. Ela podia imaginá-lo encontrando pouco mérito em sua sobrinha meio selvagem, criada bem longe.
E se ele não gostar de mim?
Ela estremeceu. Seria horrível tentar resistir em um lugar que você não gostasse, especialmente sozinho, sem ninguém para ajudar ou conversar gentilmente. Ela possuía Danton, lembrou-se.
— Você vai ficar também?
— Um mês, Mademoiselle, — ele disse seriamente. — Eu gerencio a propriedade do seu tio perto de Aix-sur-la-Lys.
— Oh, — disse Leona. — É longe?
Ele sorriu a expressão iluminando seus olhos. — Não muito longe, Madame. Estávamos ali perto quando paramos naquela pousada.
— Oh, — Leona disse novamente. Seria um dia de viagem a partir daqui, ou por aí — se andasse incansavelmente. Ela poderia fazer isso, se precisasse. Era bom saber que os amigos estavam perto. — Eu...você vai aparecer antes de eu ir embora? — Ela perguntou.
Ele olhou as mãos. — Eu espero, — disse ele com cuidado. — Eu não desejaria me separar sem vê-la novamente.
Leona engoliu o nó na garganta. — Nem eu, Danton. Você salvou minha vida e, — ela acrescentou, vendo-o levantar a mão em protesto, — você tem sido alguém em quem confiar. Um amigo.
— Oh, Lady Leona, — disse ele, mostrando-lhe a mão como se para afastar seu comentário. — Não é nada. Eu sou... Eu a admiro muito. E você me trouxe de volta da minha escuridão.
Leona piscou a beira das lágrimas. — Bem, então, — ela disse, tossindo um pouco quando o nó na garganta ameaçou sua respiração, — nós dois salvamos um ao outro.
— Muito, milady, — disse ele. Com voz também tensa.
Eles se sentaram em silêncio até que o cocheiro subindo um declive, diminuiu a velocidade. — Chegamos, Monsenhor, — ele avisou-os. — Annecy.
Leona engoliu as borboletas em seu estômago que caíram, trêmulas ali. Eles estavam ali!
— Venha, vamos descer, — disse Danton rapidamente. Ele assumira seu eu remoto e sério mais uma vez. Leona piscou, secando suas últimas lágrimas, e seguiu-o, de pé e alisando o vestido enquanto ele se abaixava para a saída e depois para baixo.
E se minhas roupas forem estranhas aqui? E se eu parecer estranha? E se eles não gostarem de mim?
Leona mordeu o lábio interno, sacudindo a cabeça com impaciência para si mesma. Ela teria que enfrentá-los como estava: se eles não gostassem dela, teria que aguentar isso. Não poderia fazer nenhuma mudança no que eles pensassem.
Eu só queria não ter medo deles.
— Pronta? — Danton perguntou suavemente.
Leona olhou-o, respirando com dificuldade. — Pronta. — Ela assentiu com a cabeça.
Ele sorriu com carinho. — Menina corajosa, — disse-lhe.
Leona sorriu-lhe, endireitou as costas e caminhou ao seu lado, a cabeça erguida. Ela vestira-se de preto, já que era uma casa de luto, e seu cabelo ruivo era estiloso. Ela esperava que Allie conhecesse algumas das modas da corte, como dizia, e que a corte da França e da Escócia fossem como os outros.
As duas cortes estão próximas — ambos aliados contra a Inglaterra. Eles podem ser semelhantes.
Ela precisaria esperar.
Olhando para Danton, ela caminhou resolutamente ao seu lado pela leve inclinação em direção à casa que ainda não vira. A casa de seu avô. A mansão de Annecy.
Ela ofegou. Um alto edifício de pedra cinzenta parecia crescer à frente deles. Possuía duas asas, ambas se encontrando em uma impressionante porta dianteira com um arco pontudo e degraus que levavam a ela. Parecia flutuar, atingindo mais alto do que qualquer edifício que ela tivesse visto. As paredes estavam unidas por estruturas semelhantes a colunas que Danton apontou.
— Os contrafortes, viu? — Explicou ele. — É por isso que é tão alto.
Leona olhou a estrutura, surpresa. Era bonita. Era elegante além de qualquer edifício que tivesse visto. Era a casa de seu ancestral.
Danton levou-a até a porta, subindo os degraus até uma pequena plataforma do lado de fora da porta da frente. Eles bateram e um criado abriu.
— Leblanc, o conde está em casa? — Danton perguntou ao homem de cabelos brancos que abriu a porta. Leona imaginou que ele fosse o administrador: certamente Danton o conhecia, o que parecia ser um bom sinal para ela e para ele.
— Ele está, meu senhor. Oh! — Olhando para Leona, então recuou. — Por favor, entre. Ele está aguardando a sua chegada, senhor; senhora.
Leona sentiu como se desmoronasse. O coração dela latejava no peito, os dedos das mãos e dos pés formigavam e gelavam, e ela se sentia rígida demais, como se pudesse rachar, como cacos de cerâmica, se pudesse se mexer.
Danton segurou seu braço, um gesto amigável. Eles entraram juntos no limiar. Leona olhou para cima.
O telhado subia acima da cabeça, terminando em escuridão. As janelas, com luz alta e oblíqua no interior, subiam com ele, a poeira se movendo nos raios azulados. Ela piscou. Olhou à frente. Alguém estava descendo as escadas em direção a eles. A luz das janelas a deslumbrou, então piscou e a forma se transformou em um homem alto.
O homem estava vestido de preto, com uma boina macia de veludo negro na cabeça. Ele andava com um passo lento e seus sapatos estavam forrados de pele, ela notou que o roupão lambia as bordas deles e o chão enquanto andava. Apresentava uma postura ereta, mãos fortes que estavam apertadas agora por um momento e pele pálida. — Bem-vinda, sobrinha. Danton, agradeço por tê-la conduzido até agora.
— Estou a seu serviço Conde, — disse Danton suavemente. Leona olhou em sua direção em busca de conselho, mas ele havia caminhado para o lado, movendo-se às sombras. Ela ficou na luz do sol, de frente para o conde de Annecy.
— Minha sobrinha, — ele disse gentilmente.
Ele falava com o sotaque da linguagem de sua mãe, com uma suavidade que o tornava bonito. Leona nunca a ouvira falar tão musicalmente. Acariciou sua alma como veludo surpreendendo-a.
Ela estudou o rosto de seu tio e teve outra surpresa. Poderia ter sido a mãe dela, processada como homem. O longo rosto oval com a testa aristocrática e olhos escuros embaixo era exatamente igual a Alina.
— Tio, — ela disse. Não havia como confundi-lo.
— Eu esperei muitos meses para ter você aqui, minha filha, — ele disse suavemente.
— Eu... — Leona molhou os lábios secos, sentindo-se no mar. — Estou honrada, senhor conde.
— Oh, não me chame de conde, — disse ele, acenando com a mão como se toda cerimônia fosse cansativa. — Onde está meu olá, tio? — Seu sorriso era largo e feliz, um sorriso jovial que parecia em desacordo em seu rosto real. Ela se encontrou dando um sorriso nervoso em troca.
— Olá tio.
— Ora! Isso não foi tão difícil, foi?
Leona riu e ele a beijou, primeiro em uma bochecha, depois na outra, depois a sobrancelha. Foi uma recepção formal, para todos os observadores, reconhecendo-a como sua parente.
— Sobrinha! — Ele anunciou olhando para ela. — Seja bem-vinda em minha casa. Meus céus, mas você parece com Louis. Isso tira meu fôlego.
— Eu sou? — Leona ficou surpresa. Louis era seu avô, pai de Alina. Ela não pensara que se parecesse com a mãe.
— Você parece. Os olhos são diferentes, mas o conjunto do seu rosto, o nariz fino, a mandíbula orgulhosa... — ele parou, suspirando. — Louis ficaria orgulhoso de você, disso tenho certeza.
Leona sentiu sua garganta se apertar e engolir, tocada. — Obrigada, — ela disse com firmeza.
— Não, sobrinha. De modo nenhum. Doce, encantadora e educada! — Ele anunciou para o corredor vazio. — Que combinação. Como Annecy vai amar você! Para não falar dos nossos amigos. Eles vão celebrar você daqui até o Loire, minha querida.
Leona sentiu o rosto corar com o orgulho tímido e riu.
— Monsenhor Montaigne se juntará a nós? — Perguntou ela.
Danton olhou-a, os olhos quentes como se estivesse grato por ela o ter lembrado e reconhecido.
O conde riu. — Sobrinha! Você faz eu me envergonhar. Eu claramente esqueci minhas maneiras. Claro! Danton e eu temos muito a discutir. Venha, senhor! — Ele acenou para o homem. — Venha! Vamos jantar.
Leona seguiu-o através de uma porta larga, em arco e através de um corredor. Ela olhou em volta maravilhada. Tudo na casa parecia tão diferente de sua própria casa e o refeitório não era exceção. Ela festejou com seus olhos pela beleza disso.
— É impressionante, — ela respirou.
Seu tio ficou vermelho. — Oh, sobrinha! Estou honrado que minha humilde casa tenha sua aprovação.
Leona olhou em volta, maravilhada. Uma mesa de jantar de madeira escura preciosa, ocupava quase todo o ambiente, cadeiras esculpidas de espaldar alto estavam colocadas ao redor. Do outro lado, as janelas estendiam-se do chão ao teto, todas decoradas com inestimáveis painéis de pedra opaca. O lugar não era tão grande quanto um grande salão, mas a natureza suntuosa causava duas vezes mais impacto.
— Venha, sente-se! — Ele disse, acenando com a mão na mesa. — Ferriers?
— Sim, meu senhor? — Um lacaio avançou ligeiramente à frente.
— Venha e traga o jantar, meu bom homem! Nós jantaremos cedo.
— Muito bem, meu senhor.
Leona ficou surpresa com os servos e a atitude de seu tio. Ao mesmo tempo espontaneamente amigável, ele também os ignorava como se não fossem humanos. Um homem puxou a cadeira do tio e ele nem percebeu, sentando-se como se isso fosse natural.
Leona copiou seu exemplo, tomando o assento que havia sido destinado para ela. Tio Marc olhou-a.
— Eu ainda não consigo acreditar que você está aqui, — ele confessou enquanto os servos se moviam, enchendo suas tigelas com sopa. — Ou no quanto você se parece com meu irmão.
— Fiquei triste ao saber de sua perda, — disse Leona, lembrando de repente, por que ela estava lá. — Minha mãe e minha tia ficaram profundamente chocadas.
— Louis faz falta para todos nós, — observou o tio Marc. — Ele era um grande homem.
Todos ficaram em silêncio então. Tio Marc levantou a mão, acenando à mesa. — Não nos detenhamos na tristeza! Comam! Por favor! Sejam bem-vindos. É um prazer tê-los aqui, vocês dois — acrescentou, com um sorriso para Danton, que se sentou rigidamente ao lado de Leona.
— Você costuma usar esse refeitório? — Leona perguntou, copiando Danton, que havia pego uma fatia de pão, que ela colocou ao lado de sua tigela de sopa e depois a provou. Quente, ligeiramente temperada e rico, estava deliciosa.
— Normalmente, — seu tio concordou. — Normalmente, quando tenho companhia. Não é, Danton? — ele acrescentou ao seu visitante silencioso. — Não que eu faça o tempo todo. Eu confesso meus maus hábitos. Primeiro, de ser mais recluso do que deveria, e, segundo, de comer no meu escritório. Tenho muito trabalho.
Leona deu uma risadinha. Ele era tão aberto, tão prontamente receptivo. Ela não podia deixar de gostar dele. — Eu acho que essas são confissões pesadas, milorde, — disse ela.
Ele riu. — Muito graves! Embora eu espere que você me ajude.
— Oh! — Leona questionou, tomando delicadamente a concha como ela havia aprendido a fazer. — Como, milorde?
— Bem, eu sou recluso demais, como eu disse. Muito recluso. — Ele quebrou mais pão, usando-o para raspar a tigela de sopa pensativamente. — Agora vamos ter festas.
— Oh! — Leona franziu a testa. Sentiu uma súbita chama dentro dela. Ela amava festas. Aqui na mansão elas pareciam idealmente colocadas. Fechou os olhos, imaginando o salão cheio de convidados. Seria emocionante.
— Claro! — Exclamou seu tio. Parecia sua expressão favorita, pois ele a usara pelo menos quatro vezes na meia hora em que o conhecia. — Minha adorável sobrinha vem de terras distantes... é claro que vamos celebrar! E toda noite se conseguirmos. Felicidade, Danton?
— Merece muita celebração, meu senhor, — ele saudou com o copo.
— Celebrações, — seu tio concordou, inclinando para trás uma generosa boca cheia de vinho. — Muitas delas também.
Leona sorriu. Ela já estava começando a gostar de seu tio, e a casa era linda além de sua imaginação. Sentia-se em casa ali. Era linda, como Danton havia dito. E possuía uma certa delicadeza com a qual ela não estava acostumada, mas já sentia apreciar muito.
— Venha, então! — Exclamou seu tio, enxaguando as mãos em uma tigela trazida por um criado e secando-as em um quadrado de linho dobrado que o homem estendeu para ele, — vamos participar do próximo prato. Eu acredito que tenha peixe fresco do rio no cardápio hoje. Soa bem, não é?
Leona assentiu e fez o que ele dizia, mergulhando as mãos na água que um criado segurava. Estava quente e, quando ela inspirava, sentia o perfume delicado de óleo de frutas cítricas, um cheiro que flutuava até ela e a fazia se sentir ainda mais tranquila do que antes.
Ela enxugou as mãos com linho, depois arregalou os olhos, surpresa, enquanto o próximo prato era apresentado em uma travessa. Seu tio cortou o delicado peixe do rio e colocou-o diante dela.
— Obrigada, — ela disse feliz. Cheirava rico e maravilhosamente temperado. E assim foi.
— Bem, nada é bom demais para minha sobrinha, — disse seu tio distraidamente. — Agora eu estava pensando. Você precisará de novos vestidos enquanto estiver aqui. Esta é uma casa de luto, mas já estamos três meses depois do funeral, por isso tenho a certeza de que metade do luto é aceitável ou até a púrpura. Se você desejar.
Leona olhou para cima, sentindo-se confusa. Ninguém jamais ofereceu a ela uma escolha, assim espontaneamente durante o jantar. Ela franziu a testa. — Se a púrpura é aceitável, tio, eu ficaria encantada.
— Oh, então está bom. Roxo também. Você ficará maravilhosamente bem.
Leona corou, erguendo um quadrado de linho do lado de seu prato para tocar seus lábios. Ela sentiu calor em direção ao seu tio — ele estava sendo tão gentil com ela.
— Você é tão gentil comigo, — ela murmurou.
— Bobagem, sobrinha, — seu tio rejeitou veementemente. — Você é minha parente. Minha própria família. Eu nunca tive uma filha ou um filho e agora você é minha filha.
Leona sorriu para ele com carinho. Ela percebeu que realmente poderia gostar de seu tio. Ele era generoso, e parecia inclusive, já gostar dela.
— Obrigada, tio, — ela disse calorosamente.
— Bem, então, — disse ele, acenando-lhe com a mão novamente, descartando seu elogio tão levemente quanto rejeitou a oferta de uma segunda recarga de seu copo de vinho, — nós deveríamos planejar! Eu tenho uma costureira aqui na mansão, embora devamos verificar as lojas de roupas. Danton, quem sabe qualquer coisa de Bruges?
— Eu não penso assim, milorde, — disse Danton.
— Eu recebo parte do comércio de Flandres e de além, — ele explicou a Leona em voz baixa.
— Oh, — Leona assentiu.
— Bem, então, — disse o tio, voltando ao foco novamente. — Teremos que pedir a Leblanc para baixar os baús e ver o que podemos encontrar, hein? Veja o que podemos encontrar.
Leona sorriu para ele e voltou sua atenção para seu prato.
Mais três pratos depois, sentindo-se satisfeita e sonolenta, Leona comeu uma fatia de queijo delicioso e ouviu seu tio e Danton conversarem. Conforme a refeição progredia, a conversa se tornava mais técnica, concentrando-se nos negócios que ele precisava tratar com o tio Marc.
Por fim, o mordomo apareceu, evidentemente convocado por seu tio.
— Meu Senhor?
— Leblanc, você pode ir ao sótão e mandar mover os baús de tecidos? Minha sobrinha precisará vê-los para selecionar alguns.
— Muito bem milorde.
Após recolhidos os pratos, Leona se viu em uma sala no andar superior da mansão, olhando para os baús de tecido quando Leblanc, o mordomo, abriu-os com cuidado.
Seu tio e Danton haviam se retirado para outra sala, discutindo os negócios que possuíam. Ela estava sozinha com o mordomo e um pedaço de tecido nas mãos.
— ... e o que pensa senhora do veludo adamascado?
— É incomparável, — disse Leona com humildade. — Mas devo escolher roxo. Estou de luto, sim?
— Claro, milady, — disse o homem uniformemente. — Acho que temos algumas sedas de Veneza. Ah, aqui...
Leona quase deixou de respirar ao revelá-lo. Brilhava como as profundezas do oceano, lustroso como nuvens de chuva, tão instáveis com o jogo de luz. Ela sentiu e fechou os olhos.
— É lindo, — disse ela, surpresa quase além das palavras.
— Muito bom, milady.
Mais tarde, quando ele se foi, os baús foram afastados, Leona foi até o espelho na ponta dos pés e segurou-o. O tecido transparente caiu do queixo ao chão, e captou a luz da noite e o brilho das velas, cor de amora escura. O rico roxo harmonizava com os olhos dela, fazendo-os parecerem azul-claro. Ele exaltava o vermelho suave de seu cabelo.
— É lindo.
Ela estava acariciando-o com hesitação quando ouviu alguém tossir na porta. Ela virou-se para ver seu tio.
— Você escolheu bem, — ele disse com aprovação.
— Oh, tio! É lindo! Eu posso realmente usar este? Mesmo?
Seu tio riu. — Foi comprado para uma dama tão bonita quanto você, — disse ele galantemente. — Eu apenas nunca vi uma antes.
Leona sorriu para ele. — Oh, tio!
Ele sorriu. — O quê?
— Nada.
Eles sorriram um para o outro com hesitação, e então seu tio se desculpou e foi dormir. Leona se sentou com a seda fluindo sobre seu corpo muito depois que ele se foi. Ela estava em um país distante, com pessoas que ela mal conhecia. Mesmo assim ela estava feliz. Ela se sentiu amada. Ela estava muito feliz mesmo. Se Conn estivesse aqui, tudo seria perfeito na verdade.
CAPÍTULO SEIS
PERIGO NA ESTRADA
Conn rapidamente descia a rua pavimentada pela chuva. Ele sentia o deslizamento dos cascos do cavalo sob ele e estremeceu, sabendo que havia tomado o caminho muito rápido. Ele diminuiu a velocidade.
Eu não gosto desta rua.
Ele estava, talvez, a uma hora de Edimburgo. Estava úmido por causa de uma tempestade de verão. Estremecendo em seu manto molhado, embora não fosse apenas da chuva.
Esta estrada é perigosa.
Seu pai o havia avisado antes de partir e, durante a viagem, ouvira o mesmo de muitos viajantes. Casa de bandidos e maltrapilhos, a floresta ao lado da estrada possuía uma reputação assustadora. Conn, andando sozinho, estava preocupado.
Ele era um alvo perfeito.
Enquanto cavalgava, Conn checou por trás dele para tocar o punho de sua espada. Ele a usava nas costas, mais fácil de puxar enquanto andava. Assim ficava tranquilo cada vez que a tocava. Não que isso seria uma grande ajuda para ele se houvesse muitos inimigos, no entanto.
— Só vamos precisar andar rápido e duro, garoto.
Ele deu um tapinha no pescoço do cavalo. Era um dos filhos de Bert, o pai de Clydesdale. Branco, delicado e adorável, Barr fora a escolha de Conn no momento em que ele o viu. Agora, ele o segurou com os joelhos, feliz porque estava montado nele e não um cavalo novo. Barr era um aliado.
— Vamos lá, garoto, — ele disse gentilmente. O cavalo parecia saber que ele estava nervoso, pois estava olhando em volta, as orelhas empinadas enquanto se esforçava para captar pequenos sons.
Conn não sabia por que se sentia tão nervoso. Provavelmente por causa da reputação do trecho da estrada, combinado com o crepúsculo de verão que se aproximava rapidamente. Ele estava feliz por estar armado e ainda desejava ter entrado em um grupo de comerciantes ou mercadores, buscando segurança para ter companhia na estrada.
— Estamos quase lá — disse Conn, encorajador. Ele sentia seu humor começar a levantar um pouco. Era um pálido anoitecer e ele conseguia ouvir um rouxinol. O ar cheirava a frio, a orvalho, e seu ânimo se elevou quando relaxou. Aqui o campo era diferente do que ele estava acostumado; mais árvores de folhas largas, a terra mais rica e arável.
Ele ouviu um farfalhar nos arbustos e ficou tenso. Escutou com mais afinco. Barr bufou. Conn acariciou seu pescoço em segurança. — Nós devemos ir.
Ele pressionou os joelhos, incentivando um ritmo mais rápido; um trote rápido. Não queria ir muito rápido, pois eles ainda tinham uma longa viagem pela frente e a estrada estava molhada e escorregadia. Respirou fundo e agarrou-se ao cavalo, seguindo o mais rápido que se atrevia a ir.
— Ahoy, meu rapaz!
Conn se virou, assustado, quando ouviu alguém o chamar da beira da estrada. Ele se virou e se viu olhando para um homem alto e malvestido parado na beira da estrada. Estava magro e ossudo. Ele lançava um olhar sinceramente desagradável sobre ele e Conn hesitou apenas por um momento. Então se apressou.
— Qual é a pressa? — Gritou o homem.
Conn estremeceu e foi mais rápido. Tentou livrar-se da sensação desagradável de que estava em uma emboscada.
Pare de ser tão nervoso, Conn McNeil. Relaxe. Era apenas um simples agricultor...
Naquele momento, algo acenou da beira da estrada. Algo branco e vacilante — talvez um lençol, Conn pensou vagamente. No entanto, era tarde demais para fazer qualquer coisa, pois Barr se esquivou, pisando de lado para evitar a aparente ameaça.
Conn gritou alarmado quando se mexeu de lado, agarrando-se às rédeas, seu cavalo deslizando na estrada gelada. Então algo bateu forte na parte de trás de sua cabeça e ele foi lançado para frente e para os lados, perdendo sua posição na sela.
Ele gritou alarmado, pegando sua espada. Rosnando e uivando, caiu no chão, a espada soltando-se da bainha ao fazê-lo.
Ele encontrou-se em meio a um grupo de três homens de espada na mão. Todos olhavam-no, com medo de atacar primeiro. Barr estava bufando, empinado quando um homem agarrou seu freio tentando levá-lo embora.
Conn lançou um grito de guerra sem palavras e correu para o homem alto com o manto xadrez. Aquele que o saudou inicialmente. O homem se defendeu do golpe que havia apontado para sua cabeça e atacou com sua adaga. Ele olhou para o manto de Conn, e teria sido um golpe letal. As espadas próximas eram inúteis; não havia espaço para balançá-las. Adagas eram perigosas.
Lembrando a tempo, Conn recuou. Os homens estavam circundando-o com cautela, cada um tentando empurrá-lo para dentro, fazendo-o entrar muito perto para a espada ser útil.
— Você briga como uma avó! — Um deles gritou ironicamente.
Conn ignorou. Nunca seja arrastado para uma briga. Seu pai lhe ensinara e o armeiro lhe ensinara o mesmo. Ele não se deixaria aborrecer o suficiente para apressar alguém, não importando o que dissessem.
— Barr, — ele assobiou. — Para mim!
Seu cavalo ouviu seu assobio e relinchou, indo até ele, puxando as rédeas de onde o homem procurava guiá-lo. Quando o viu levantar a mão para atacar o cavalo, Conn perdeu a paciência.
— Chega! — Ele gritou. Correu para o homem segurando as rédeas, sua espada levantada em um golpe mortal. Ele a manipulou e o homem caiu, o ombro cortado. Conn sentiu uma pontada de remorso quando ouviu o homem gemendo de dor e baixou a espada pela nuca, matando-o ali. Melhor aqui do que duas semanas lidando com aquela ferida que eu lhe fiz.
Os outros três, — não, quatro, que se juntaram a eles agora — olharam para ele cautelosamente. Conn recuou. — Nenhum mais de vocês precisa morrer! — Ele gritou. — Entreguem meu cavalo e deixem-nos em paz.
Eles o olharam. Então começaram uma conversa apressada em seu próprio dialeto.
— Devemos deixá-lo ir. Ele tem razão. Fiquem atrás.
— Absurdo! Há apenas um dele. O que ele tem nesses alforjes?
— Deixá-lo ir? Por que deveríamos...? Quem somos nós? A irmandade de ladrões ou cortesãos?
— Não! Deixem-no ir.
Enquanto discutiam, Conn voltou-se para Barr. Seu cavalo, parado pacientemente na beira da estrada, não precisava de mais incentivo. Ele correu para Conn.
— Hai! — Conn gritou em triunfo sem palavras enquanto corria para seu cavalo, a espada ainda na mão. Ele usou um impulso de batalha para subir na sela. Seu pai ensinou-lhe mais por diversão do que realmente acreditar que ele iria usá-lo. Ele mesmo aprendera com um velho membro da tribo; a maneira como eles lutavam séculos antes. Funcionou a seu favor.
Ao vê-lo, os homens gritaram um para o outro.
— Ele está fugindo!
— Parem ele!
Conn sentiu uma euforia selvagem enchê-lo enquanto se agarrava com os joelhos, afastando-se pela estrada. A espada em suas mãos era pesada e arrastada ao seu encontro e ele diminuiu a corrida, assim que eles estavam a uma boa distância, levantando o braço para enfiá-la na bainha.
Só então, trotando com Barr, elogiando-o por seu resgate e apoio durante a luta, ele percebeu como estava exausto. Estava tremendo. O esforço e a tensão estavam cobrando seu preço. Suas mãos estavam tremendo e todo o corpo se contraia. E ele se sentiu cansado. Tão cansado.
— Precisamos parar, — disse ele para Barr. O pensamento de um lugar quente e algo para comer era quase irresistível. Ele sabia que eles teriam meia hora a mais para ir, pelo menos, mas ele não tinha certeza se aguentaria tanto tempo.
— Precisamos de uma pousada.
Conversando com Barr, os dois saíram em um trote tranquilo, Conn seguiu pela estrada. Lutando para se acalmar.
São apenas seis milhas. Apenas seis milhas a mais.
Agarrou-se às rédeas, a luz do sol aquecendo-o lentamente enquanto seguiam em direção a Edimburgo.
Duas milhas adiante, eles chegaram a uma pousada. Conn soltou um suspiro de alívio. Eles parariam aqui por uma hora ou mais; tempo para Barr se recuperar e para ele encontrar alguma paz depois da luta.
Ele caiu da sela e passou rapidamente para a mão do cavalariço que veio buscar Barr.
— Uma mistura, farelo e feno para ele, por favor — disse Conn rapidamente, sentindo as moedas no bolso. Ele as entregou ao jovem, sabendo que o pagamento garantiria que Barr recebesse o melhor tratamento. Então ele entrou.
— Ensopado e cerveja, — ele ordenou.
— Será que o jovem mestre vai ficar à noite? — A esposa do estalajadeiro perguntou cortês. — Temos alguns bons aposentos livres no andar de cima.
— Eu não vou ficar senhora, — disse ele educadamente.
— Oh! É uma pena, isso. Pois nós temos uma boa pousada aqui e gostamos de hospedar todos os tipos de viajantes.
Conn assentiu com cansaço. — Obrigado, — disse-lhe, e afundou em um assento perto da janela. Ele olhou a vista do outro lado do vale, sentindo o batimento cardíaco lento e voltando ao normal. Só parando de tremer quando o cozido quente chegou.
Essa foi por pouco.
Agora que ele estava ali, no alegre refeitório da pousada, enchendo-se lentamente de fazendeiros, artesãos e mercadores, ele se sentia em paz.
Eu poderia ter morrido na estrada.
O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi que, se tivesse morrido, ele não veria Leona novamente. Ele se inclinou sobre a mesa, com a cabeça apoiada nas mãos, e soltou um suspiro trêmulo.
Não posso mais vê-la.
O encontro próximo com a morte o fez perceber quão profundamente ele a amava. Quanto precisava vê-la novamente. Ele não desistiria.
Seu manto estava rasgado onde a ponta da adaga roçara suas costelas, e ele podia sentir que ela havia deixado uma marca ali, embora longe de ser perigoso. Mesmo assim, foi uma briga com a morte. E isso o lembrou de como ele queria muito viver.
Eu irei à França se puder. Eu não vou deixar que eles afastem Leona de mim. Eu não posso negar o quanto eu a amo.
As lembranças dela fluíam para ele quando se sentou na sala de jantar da pousada: o sorriso dela e o jeito que seus olhos azuis se inclinavam maliciosamente quando ela o provocava. Sua vivacidade. Sua maneira irritante e maravilhosa de estar sempre certa, não importando se estava ou não. Ele sentia muita sua falta! Ela só havia saído há duas semanas, mas ele já se sentia como se uma parte sua tivesse morrido com sua ausência.
Ainda estava abalado pelo encontro na estrada, mas aquilo lhe ensinara uma coisa: o quanto Leona significava para ele. E quanto ele se recusava a desistir dela.
Ele a amava demais por isso.
CAPÍTULO SETE
UM NOVO LUGAR
A parede parecia prolongada debaixo dos raios solares azulados. O chão era de mármore, incrustado de diferentes tipos, em um padrão que formava círculos entrelaçados no chão, cada um deles em preto, cinza e branco.
Leona, sozinha no corredor, deu a volta fazendo passos de dança, os braços abertos, os pés cobertos com chinelos, leves e escorregando um pouco na superfície polida. Ela riu de prazer.
— Oh, tio! — Ela exclamou. — É maravilhoso.
Seu tio, parado na porta, sorriu. — Você é uma visão, — disse ele em voz alta.
Leona corou e olhou-o, ainda sorrindo. — Oh, tio. Você é tão gentil.
Ele franziu os lábios, assim como o de Leona. — Bobagem, — declarou ele. — Bem, estou feliz que você goste.
— Eu amo isso!
Leona estava usando o vestido que seu tio havia pedido. As dobras azuis púrpura brilharam quando ela se virou, e ela passou as mãos para baixo, saboreando a sensação do tecido. Era suave como a água, leve como uma lufada de ar. Ela girou no lugar novamente, deixando o vento atingi-la e mexer as saias, fazendo-as girar em torno de seus tornozelos.
Ela ouviu seu tio bater palmas, e parou, ficando consciente, a saia fluindo em torno de suas pernas como resíduo de seu movimento.
— Bravo, — disse ele, sorrindo. — Você é uma pintura, minha sobrinha. Aquela que deve deliciar toda Paris. Não importa minha casa humilde aqui no campo.
— Casa humilde! — Leona o repreendeu gentilmente, rindo. O lugar era um palácio; pelo menos tanto quanto ela conhecia. Nunca vira tanta beleza em sua vida. Todos os cômodos estavam suntuosamente decorados, mas com um bom gosto e estilo como nunca vira antes. Era maravilhoso, um baú de tesouros para os sentidos. Ela nunca se cansaria de viver aqui.
Foi a vez de seu tio corar. Ele sorriu. — Fico feliz que tenha a sua aprovação.
Leona sorriu novamente, sentindo o coração brilhar em seu peito. Ela amava o jeito de seu tio, sempre foi tão gracioso e sobretudo tão educado. Ele falava-lhe, como se ela fosse importante, nunca dizia uma palavra dura ou perdia uma oportunidade de gentileza.
— É tudo lindo, tio, — ela disse carinhosamente.
— Bem, eu estou feliz que você goste desse antigo salão de baile, — ele sorriu. — Eu preciso modernizar isso um dia. Os servos demoraram a limpar as teias de aranha! Era atroz. — Ele balançou a cabeça, sorrindo. — É bom ter a oportunidade de usá-lo mais.
Leona sorriu. — Estou feliz. Teremos muitos convidados?
— Oh, talvez cinquenta, — seu tio acusou. — Há pouco espaço para mais aqui; e, além disso, é o número de pessoas importantes que existem no local. Teríamos que chamar pessoas de lugares bem mais distantes como Calais!
Leona sorriu, vendo-o parecer tão feliz. A perspectiva de uma festa parecia deixá-lo quase tão feliz quanto ela. Era bom poder colocar um sorriso no rosto de alguém simplesmente por estar presente.
— Bem, cinquenta é o suficiente, tio, — ela disse levemente.
Ele riu. — Cinquenta é muito pouco para mostrá-la, minha querida! Você será a bela da festa.
Leona sorriu, sentindo-se feliz com o elogio. — Obrigada, — disse ela. E fez uma reverência. Nos dias em que estivera ali, seu tio assegurara que ela tivesse aulas de comportamento. Uma mulher foi encontrada para treiná-la na etiqueta da corte, a esposa de Leblanc. Era uma mulher austera e severa, sem dirigir uma palavra de elogio para qualquer um, embora parecesse ter prazer com o rápido progresso de Leona e tivesse até mesmo sorrido com suas mais recentes tentativas de reverenciar, um fato que aumentava um pouco sua confiança.
— Ah! Mas você tem graça natural, minha querida — disse o tio.
Leona sorriu. — Eu não posso agradecer o suficiente por tudo isso, tio, — disse ela, um nó na garganta quando fez um gesto que mostrou ao mesmo tempo o salão, os sapatos e o vestido.
— Bah! Não é nada — ele disse com desdém e então sorriu. — E o espanto de todos os meus convidados será mais que suficiente.
Leona sorriu. Em seu coração, ela se sentiu um pouco enjoada com esse pensamento. Todos os convidados. Todos eles estariam olhando para ela. Por quê?
Ele quer encontrar um marido para mim.
As palavras estavam todas ali, o significado sutil, mas ainda assim óbvio. Seu tio pretendia fazer seu casamento e estabelecê-la. Por que ele se interessava tanto por isso, ela não fazia ideia: só os filhos dele poderiam herdar a mansão e o título de conde de Annecy. Embora ela descendesse da linhagem distante, um filho seu não seria elegível de qualquer maneira.
Eu acho que, não possuindo nenhuma filha, ele me olha como se eu fosse sua.
Era ao mesmo tempo um prazer e uma espécie de responsabilidade. E ela não queria se casar.
Eu já conheço o único homem para mim, ela insistiu. Conn McNeil. Ele é o único homem que eu quero.
No entanto, ela não podia dizer isso ao tio. Ele havia organizado tudo isso para ela.
E eu posso pelo menos olhar para os outros. Não há mal em procurar, não é?
Ela lançou um sorriso malicioso. Ela sempre se permitiu olhar para os rapazes nas festas em sua casa: flertara apenas o suficiente para fazer Conn sentir ciúmes, depois, com remorso, cedia e dançava a noite toda com ele.
Conn sabia que eu não queria fazer isso.
Ele sempre a havia perdoado, assim como ela perdoou suas danças com as criadas, ou os momentos estranhos em que ele havia feito parceria com damas que eram hóspedes deles na época. Eles se conheciam.
— Vou ver se Madame Blois terminou na cozinha.
— E eu devo ir e praticar minhas reverências e comportamento com Madame Leblanc, — disse Leona, fazendo uma careta.
Seu tio Marc riu. — Bem, minha querida, se você quer saber alguma coisa, o ensinamento da mulher é incomparável.
Leona sorriu. — Obrigada tio.
— Eu suspeito que dependa principalmente da habilidade de sua aluna, — ele acrescentou, piscando.
— Oh, tio!
Leona riu e ele sorrindo se virou, acenando adeus com uma mão magra enquanto se dirigia para as cozinhas.
Eu sou tão sortuda!
Leona desceu levemente nas escadas até a galeria, onde treinaria para a noite.
Quando a festa começou, Leona ficou no corredor ao lado de seu tio, cumprimentando os convidados. Eles estavam todos vestidos sobriamente para marcar o falecimento do avô de Leona, mas havia um ar de excitação reprimida quando o salão lentamente se encheu de pessoas elegantes e tagarelas.
— ... e Lady Eustace, posso apresentar minha sobrinha, Lady Leona?
— Encantada, — a mulher disse, sorrindo.
Leona olhou-a, admirando o vestido amarelo-ouro que ela usava, o penteado encaracolado e o perfume de água de rosas que fluía dela, refrescando o ar da noite escura. Ela fez uma reverência baixa. — Encantada, minha senhora.
Leona cumprimentou cada um dos convidados, orgulhosa de que seu francês fosse quase natural. Quase sem vestígios de sotaque, onde antes, ela se destacava como sendo perceptivelmente diferente. Agora estava começando a absorver algo desse lugar e se sentia orgulhosa por isso.
Seu tio ficou tenso ao lado dela. Leona, que era protetora do homem mais velho, notou, embora fosse sutil.
— E Leona, minha sobrinha, posso lhe apresentar o conde de Cleremont, Guy Ferrand?
Leona engoliu em seco. Ela se viu olhando para um homem que poderia ter sido moldado em pedra. Características esculpidas e perfeitas, ele carregava toda a beleza fria de uma estátua. Seus olhos eram pretos e profundos, pareciam desprovidos de iluminação, como se sugassem a luz da sala e a tornassem mais escura. Ela estremeceu.
— Encantada, meu senhor, — disse ela em voz baixa. Fez uma reverência, abaixando os olhos ao fazê-la. Ela não gostaria de olhar para aquele rosto frio por mais tempo.
— ... Conde posso apresentar-lhe minha sobrinha, a linda Lady Leona?
— Encantado.
Sua voz era fria também; como o óleo nos caminhos de inverno. Suave, refinado e perigoso. Vazio de calor.
— Leona! O conde mora perto de nós e gosta da caça. — Informou seu tio ansiosamente. Pareceu para ela excessivamente ansioso, como se estivesse defendendo um ponto.
Ela olhou para aqueles olhos escuros quentes e assentiu. — Isso é bom, — disse ela. — Eu acredito que você se junte a nós em caçadas no outono, milorde?
Disse-lhe isso porque parecia esperado. E ficou surpresa quando os lábios dele se levantaram em um sorriso fino.
— Com toda a certeza, — ele assentiu. — Eu gosto da caça. Assim como você?
Leona lambeu os lábios nervosamente. Ela havia acompanhado a caçada uma ou duas vezes, mas apenas como espectadora. Embora muitas senhoras caçassem com falcões, ela não gostava da prática e não o fizera antes. — Eu ...não tenho muita experiência nisso, senhor.
Seu tio sorriu. — Perfeito! Vamos remediar isso, hein? — Ele sorriu largamente para o conde.
— Nós devemos.
Ele seguiu em frente e foi ficar com um grupo em torno de uma senhora alta de cabelos grisalhos em um vestido verde escuro. Leona sentiu um alívio surpreendente, como se todo o ar tivesse sido drenado dela.
Eu não gosto dele!
Ela olhou para o tio, mas ele estava se movendo para o próximo convidado, aparentemente inconsciente do pânico que fora provocado em sua sobrinha.
Por que ele quer que eu conheça esse homem?
Ela olhou de lado para onde o conde estava com o grupo mais compacto em volta da mulher, o conjunto de seus ombros escultural e ereto.
É como se ele fosse feito de pedra por dentro, assim como sua aparência.
Enquanto ela observava, ele curvou-se rigidamente e se mudou para outro grupo de pessoas. Sentindo alívio quando ele desapareceu nos confins escuros do salão. Embora seu tio tivesse tochas colocadas em todos os suportes a sala ainda possuía uma sombra gelada nas bordas, que combinavam com ele.
Espero que seja a última visão dele, pensou ela.
Seu tio se virou para ela e apresentou outra dama — Lady Bellgarde — uma senhora alta com um vestido lilás escuro e com cabelos claros. Ela estava com outra dama, lady Beaumont; e, embora possuíssem títulos diferentes, ela supôs que fossem irmãs. Lady Beaumont era alta, com cabelos escuros e um sorriso encantador.
Depois que os convidados foram recebidos, Leona se viu atraída pelo grupo em volta das irmãs. Era alegre e despreocupado e ela se sentia confortável ali, apenas a margem, incluída fazendo comentários ocasionais, mas não como foco principal. Ela ainda precisava de tempo para ganhar confiança aqui.
— E é encantador conhecer Lady Leona, — a senhora de cabelos escuros disse com um olhar amigável.
— Obrigada, — Leona murmurou, sorrindo. — Fico feliz em conhecer você e sua irmã, minha senhora.
— Oh, encantadora! — Ela disse, sorrindo. Ela possuía um leque com o qual acenou para manter a calma, e Leona se encontrou desejando ter um. Ela pareceria mais elegante!
Ela estava apenas olhando em volta do salão de baile, imaginando para onde o tio fora, quando ouviu alguém pigarrear atrás dela.
— Milady?
Ela ficou tensa. — Sim, Conde de Cleremont?
Ele sorriu. — Por favor, milady. Chame-me de senhor Ferrand. É mais íntimo.
Leona aspirou pelo nariz como se estivesse se afogando. Sentindo-se sufocada, inundada, incapaz de se mover. — Sim, milorde, — disse ela com firmeza.
— Bom — ele sorriu. E eu a chamarei lady Leona. É apropriado. Não?
Leona assentiu, sorrindo brilhantemente em uma tentativa de cobrir seu próprio medo trêmulo. — É sim.
— Você dança, milady?
Leona se sentiu encurralada. O que dizer? — Sim, meu senhor.
— Bom. Você me honraria com uma peça? Eu acredito que a sarabanda está tocando agora.
— Oh, — Leona assentiu. A sarabanda era um movimento lento de dança, no qual ela era boa. Ela fez uma reverência, sorrindo com força. — Honrada.
— Estou honrado, — disse ele, com voz baixa.
Leona estremeceu quando o deixou conduzi-la à pista de dança central. Ela o encarou e se forçou a olhar nos olhos frios. Ergueu a palma da mão direita, como todos os outros casais. Eles tocaram as palmas das mãos, olhando nos olhos um do outro enquanto o faziam. Leona se forçou a olhar para ele como fora educada.
Ele me assusta.
Ela sabia que provavelmente estava sendo ridícula, mas havia algo de repulsivo nele. Ele a fez pensar em alguém recentemente morto: sem alma, frio.
— Você está na França há muito tempo? — Ele perguntou enquanto realizavam um ou outro passo na dança.
— Três semanas, — Leona declarou quando passou por ele novamente, pisando levemente para trás nos intricados passos da dança.
— Oh! Você fala um francês excelente, — ele elogiou.
— Oh, — Leona mordeu o lábio, contando em sua cabeça enquanto a dança se tornava complexa. — Obrigada milorde.
— Sua família garantiu que você fosse tutelada?
— Minha mãe me ensinou, — disse Leona sem rodeios. Pensar em sua mãe a mudou. Ela apertou os olhos, desejando isso.
— Ela própria?
O conde sorriu, com os lábios subindo, como se estivesse se divertindo. Leona sentiu suas bochechas queimarem. Uma nobre sendo ensinada por sua própria mãe era certamente algo incomum. Ela provavelmente apenas se envergonhou. — Um pouco, — Leona hesitou. — Afinal, ela é a única com sangue francês.
— Eu vejo, — o conde refletiu. — Seu pai não é, então?
— Não, — disse Leona trêmula. — Minha mãe é filha do conde de Annecy.
— Oh! Ele não possuía nenhum problema masculino, então?
— Não, — disse Leona, franzindo a testa. Ele sabia disso, certamente? Ou por que seu tio teria herdado quando o irmão morreu? Este homem a confundia completamente.
— Muito bem, — disse ele. Sua voz era tranquila, mas seus olhos se estreitaram, pareciam questionar.
O que ele está planejando?
— Você vai ficar no país por muito tempo? — Ele perguntou quando eles passaram um pelo outro, em seguida na dança.
Leona, recuando para evitar a saia de Lady Bellmonte, que se arrastava no chão atrás dela, assentiu. — Pelo menos mais dois meses, meu senhor.
— Maravilhoso — ele disse levemente.
Leona ficou tensa. — Eu acredito que o outono aqui é uma estação bonita, — disse ela, mudando de assunto rapidamente. — Eu me arrependeria de ter perdido.
— É lindo, — disse o conde baixinho. — E uma boa hora para o casamento, não acredita?
— Oh? — Leona engoliu em seco. Por que ele estava falando sobre casamento? Parte dela sabia, é claro, embora o resto recusasse acreditar.
— Um tempo de tranquilidade. De repouso. De abundância na época da colheita, — acrescentou.
— Verdade, — disse Leona, olhando fixamente para longe dele.
— Eu próprio pretendo ter um matrimônio no outono, — disse-lhe com firmeza.
— Oh, — disse Leona levemente. — Uma boa escolha.
Ele olhou nos seus olhos e Leona se sentiu tremer.
Quando esta dança terminará? Oh, por favor!
Ela olhou ao redor, mas o resto dos casais parecia alheio à sua agitação. Eles estavam dançando, planando e sem saber de nada além do sublime som dos músicos e dos passos lentos da dança. Ninguém podia ver sua situação. Ninguém poderia ajudá-la nessa confusão que parecia estar envolvendo-a.
— Sim, milady, — ele disse suavemente. — Uma boa escolha.
Finalmente ela ouviu os tons finais da dança, uma nota cadenciada num tom grave. Ela fez uma reverência, arrebatadora. Ele se curvou.
— Encantado, minha senhora, — disse ele, quando saíram da pista de dança mais uma vez. Ele beijou sua mão.
Leona fechou os olhos, sentindo aqueles lábios duros e frios nas costas da mão, deslizando suavemente sobre suas articulações. Ela olhou para um local na parede onde podia ver acima da cabeça dele, ignorando-o.
Quando ele se levantou, soltando a sua mão, com os olhos fixos nos dela, ela sentiu como se estivesse assinando uma sentença de morte.
Este homem pretendia se casar com ela.
Era como se alguém tivesse anunciado sua própria morte. Quando ela olhou ao redor e viu seu tio, ela sabia que, feliz e jovial como ele parecia, havia planejado isso também.
No entanto, seu coração fora colocado em um homem; e somente nele. Conn, onde você está agora? Venha até mim!
CAPÍTULO OITO
PASSEIO NO CAMPO
— Se você quiser cavalgar, milady, você só tem que dizer...
Leona estava na colina observando as florestas que compunham grande parte da propriedade. Ela se virou ao ouvir os passos do tio se aproximando atrás dela.
— Obrigada tio. Você tem sido tão gentil, — ela disse e sorriu.
— Bobagem, — ele disse rapidamente. — Você é como uma filha para mim. Na verdade, tenho em mente fazer de você minha filha por lei.
Leona engoliu em seco. — Mesmo?
— Mesmo.
Leona ficou boquiaberta ante ele. Ele estava realmente oferecendo para ela que poderia viver ali para sempre? Fazer de Annecy sua casa? Era muito para pensar.
— Bem, — seu tio sorriu, parecendo entender o quanto ela se sentia sobrecarregada, — não há necessidade de tomar uma decisão tão difícil agora. Temos muitas diversões planejadas para hoje.
— Diversões? — Ela levantou uma sobrancelha. E ouviu batidas de cascos subindo a colina em direção a eles.
— Milorde! Lady Leona!
Leona sentiu seu coração pular alarmado quando o conde de Cleremont subiu a colina.
— Ah, conde! Bom Dia! Eu não estava lhe esperando tão cedo, — seu tio acusou. — Você vê, nós ainda não estamos vestidos para cavalgar.
— Bem, Lady Leona parece muito elegante para justificar uma mudança de roupa, — disse ele suavemente. Leona lhe sorriu. O brilho em seus olhos quando ele olhou-a fez sua pele arrepiar.
— Venha, sobrinha, — disse o conde. — Devemos voltar e nos vestir! Eu havia planejado uma longa jornada pela floresta ...você poderá ir onde a caçada geralmente acontece, estação errada agora, é claro ... — ele murmurou enquanto se virava, a mão no ombro dela para atraí-la, resistindo, junto a ele.
— Eu não trouxe nada para cavalgar... — ela protestou fracamente.
— Nós pensamos nisso, minha querida, — seu tio sorriu. — Eu providenciei algo antes de você chegar. Eu acho que deve ser de tamanho adequado.
Leona ficou boquiaberta de novo. Ele riu.
Em seu aposento, Allie ajudou-a a colocar um vestido amarelo ocre profundo. Leona estudou seu reflexo, as bochechas queimando quando notou a cintura apertada e o corpete baixo. O vestido mostrava sua figura mais do que ela gostaria. Era lindo, porém, e ela correu a mão maravilhada sobre a saia de veludo.
— Oh, senhorita! Você está adorável!
Leona sorriu para a empregada e desceu as escadas. Havia um cavalo pronto para ela nos estábulos, uma égua castanha, bem treinada e amigável. Ela foi colocada na melhor sela espanhola que já havia usado e seu espírito foi consideravelmente motivado enquanto seu tio a olhava com aprovação.
— Minha sobrinha! Você é arrebatadora.
Leona corou. — Obrigada.
— Sim. Você é uma visão para os olhos doloridos, milady. — A voz era do Conde.
Leona se encolheu quando os olhos dele viajaram da cabeça aos pés, parando um tempo desconfortavelmente longo em seu corpete. Ela corou e desviou o olhar.
— Bem, então, — seu tio disse claramente se sentindo estranho. — Vamos então.
— Sim, milorde.
O conde recuou, cavalgando ao lado de Leona. Eles seguiram o caminho pelos portões da mansão e entraram na floresta.
— É uma propriedade boa, não é? — Disse o conde para Leona. Ele andava perto dela; perto o suficiente para a perna dele acariciá-la enquanto o caminho se estreitava. Ela se encolheu e ele sorriu.
— É uma boa propriedade, — Leona assentiu.
— Uma pena que o Conde não tenha herdeiros, não é?
— Deve ser uma fonte de tristeza para ele, — Leona respondeu com cuidado. No interior, sua mente estava correndo. Este homem era dono de terras adjacentes ao seu tio. Provavelmente lhe convinha que ele não tivesse herdeiros. Por que ele fingia lamentar?
— Esta terra é semelhante à minha, — explicou ele. — Eu possuo todo a parte do território no vale. E tenho uma casa lá, Monte Bois. Espero mostrar-lhe algum dia.
— Oh! — Leona engoliu em seco.
— Sim, — ele insistiu. — Eu acho que seria um local maravilhoso nas noites de verão. Vinho no terraço e... flerte dentro de casa.
Leona sentiu os olhos dele se desviarem para seu decote novamente quando ele disse a palavra flerte. Ela fechou os olhos, desejando que ele fosse embora e a deixasse em paz.
— Eu posso imaginar, — disse educadamente. Ela observou seu tio desejando que ele tivesse o bom senso de ir mais devagar e voltar para onde eles cavalgavam juntos.
— Eu acho que você...
— Sobrinha! — Seu tio interrompeu, voltando. — Conde, me perdoe. Eu preciso ... perdoe-me, mas minha perna está me dando agonia, aquela minha velha lesão — ele acenou com a mão para o conde, como se estivesse discutindo um segredo entre eles. — Eu preciso voltar à casa. Mas por favor, não parem por minha causa.
— Tio ... — Leona começou sentindo-se instantaneamente preocupada.
— Vamos dar um passeio até os limites, eu acho, milorde — disse o conde ao mesmo tempo.
Leona olhou em volta desesperadamente. — Tem certeza de que pode voltar sozinho?
— Sobrinha, esta é minha terra. Eu certamente posso fazê-lo, — disse ele com um sorriso.
— Desejamos-lhe uma boa recuperação, — disse o conde.
Enquanto seu tio partia, o coração de Leona bateu em seu peito. Aqui estava ela, com um vestido revelador em um país estranho com um homem que fazia sua pele arrepiar. O que ela poderia fazer?
— Ah, — disse o conde, virando-se para ela com um sorriso. — Fortuito, não é?
Leona olhou para ele. — Desculpe milorde?
— Bem, é uma sorte, não é, que seu tio precise retornar? Isso torna mais ... picante.
Leona ficou tensa. — Eu não entendo senhor.
Ele sorriu para ela. — Como quiser milady. Venha! Nós vamos pegar o caminho mais à esquerda.
Leona ficou tensa e se virou para onde ele indicou. Juntos, eles cavalgaram pela floresta. Por fim, saíram debaixo das árvores e se viram em uma colina, com vista para um vale muito abaixo.
— Milady, vamos desmontar?
— Eu prefiro ficar sentada.
— Eu prefiro que você desmonte, — disse o conde.
Era sua imaginação, Leona se perguntou, ou isso foi uma ameaça? — Muito bem, milorde.
Ela deslizou para fora da sela e sentiu uma sensação de apreensão quando ele desmontou também e ficou de pé ao lado dela.
— Milady, — disse ele finalmente, — eu trouxe você aqui intencionalmente.
— Você trouxe? — Leona olhou para ele.
— Sim. Ali é onde minhas terras começam — disse ele, apontando para uma colina distante. — Um dia, alguém será a senhora de tudo isso.
— Sei, — Leona assentiu, lambendo os lábios secos.
— Minha senhora, — disse o conde baixinho. — Você é sábia. Você entende o significado. Você sabe o que eu desejo.
— Meu senhor... — Leona disse, sentindo-se desesperada. — Eu sou ... eu não posso ...
— Oh, silêncio! — Ele se inclinou e a beijou. Sua boca era dura nos lábios dela, sua língua forçando seu caminho entre eles. Suas mãos se moveram pelas costas dela, acariciando avidamente, tomando posse de seu corpo enquanto ele a esmagava contra seu peito.
Leona lutou, contorcendo-se em suas mãos, mas ele riu contra sua boca e puxou-a para mais perto. Quando ele a soltou, ela deu um passo para trás, olhando-o.
Seus olhos estavam vazios de desejo, seus lábios ainda úmidos de onde a haviam saqueado. Ela lhe deu um tapa.
Os olhos dele se estreitaram e ele agarrou seu pulso. — Essa é a última vez que você vai fazer isso, milady, — disse ele gravemente.
— Eu vou fazer isso quando eu tiver motivo para isso, — disse Leona, seu choque dando lugar à raiva quando ela puxou o braço, tentando tirá-lo de seu alcance.
— Você faz isso e eu vou quebrar o seu pulso, — disse ele.
Leona olhou para ele. — Você não ousaria. Meu tio...
Ele riu, soltando seu pulso. — Seu tio gosta de mim. Ele não iria intervir por você.
— Você mente, — protestou Leona. — Meu tio é um homem gentil. Ele não deixaria você me tratar como...
— Seu tio nunca saberá — disse o conde baixinho.
Leona piscou. Lá estava novamente aquela corrente ameaçadora. — Eu vou contar a ele se eu quiser.
Ele riu desagradavelmente. — Você valoriza a opinião do seu tio, não é?
— Sim, — disse Leona categoricamente. No instante em que ela confessou isso, desejou não ter feito. Ele sorriu.
— Bem então. Seria tão fácil dizer a ele que você é enganadora. Que você é um pouco, digamos, não muito certa...? Ele tocou a testa, um gesto para indicar loucura.
Leona soltou um suspiro indignado. — Você não ousaria!
— Eu não faria? — Ele sorriu.
— Você é desprezível!
Ele riu. Ele parecia muito satisfeito com o comentário. — Se você vê dessa maneira, milady, não posso discutir com você. Eu diria que é sensata.
Ele ficou diante dela novamente, e Leona ficou tensa quando ele a puxou para seus braços novamente.
Desta vez, quando seus lábios acariciaram os dela, sua língua forçando lentamente o caminho através da abertura entre eles, não tentou resistir. Ela se inclinou contra ele, cedendo e sem vida, quando ele empurrou a língua em sua boca, seu corpo esmagado contra o dele.
Que escolha eu tenho? Ele vai dizer ao tio que estou demente.
Ela esperou até que ele finalmente a soltasse e então caminhou rigidamente até o cavalo, seguindo o exemplo dele.
— Deixe-me ajudá-la, — disse ele, vendo-a tentar montar.
Ela sentiu o coração afundar, sentindo-se envergonhada e desesperada. No entanto, ela não podia recusar a ajuda dele e, quando lhe ofereceu as mãos, fazendo um estribo para lhe dar algo em que se apoiar, agradeceu-lhe. — Meu senhor, você é gentil.
Ele a olhou com aqueles duros olhos negros. — Entende o que eu falei?
Leona estremeceu. — Venha. Nós devemos voltar.
— De fato, milady.
Ele montou e eles voltaram à mansão em silêncio.
Leona fugiu para seus aposentos.
Eu odeio esse homem! Eu não posso acreditar que ele fez isso comigo!
Ela lavou o rosto, tremendo de repulsa, deixando a água limpar aquele nojo. Ela se sentou na cama, colocou os braços em volta de si e tentou acalmar o tremor.
— Milady?
— Sim?
— Seu tio anseia por sua presença no refeitório. Ele diz que já passou da hora do almoço.
Leona suspirou. — Sim, Allie. Eu vou descer em um momento. Ajude-me a mudar esse vestido?
Uma vez que ela estava fora das roupas de montaria e de volta em seu vestido de dia novamente, Leona se sentiu mais confiante. Um vestido verde com gola alta e um decote prateado, ela se sentia mais segura do que no vestido revelador que usara antes.
No refeitório, sentou-se ao lado de seu tio, feliz porque o conde não conseguiu se sentar ao lado dela. Ela tentou ignorá-lo durante o almoço e não participou muito da conversa. Então ouviu seu tio e o conde, que logo estavam discutindo assuntos de negócios juntos, como se ela não estivesse ouvindo.
Esses dois são velhos amigos.
Quanto mais ela chegava a entender o quão perto eles estavam, e o quanto suas propriedades adjacentes apoiavam uma à outra, mais ela percebeu que o Conde estava certo. Seu tio nunca a apoiaria contra ele. Ele tinha muito a perder.
E, suspeito que ele ganharia com o meu casamento com o homem.
A ideia fez as coisas parecerem subitamente claras para ela. Seu tio sempre quis que ela se casasse com o Conde! Foi por isso que ele os deixou juntos, insistiu em que eles se conhecessem, criou oportunidades para que ficassem sozinhos.
Ele possui seus próprios esquemas.
Leona engoliu em seco. Ela gostava do tio Marc. Respeitava-o. Apreciara a sua companhia. Ela foi tocada pela oferta dele de torná-la sua filha. No entanto, ele era um homem intrigante.
Ela balançou a cabeça empurrando o repolho em volta do prato enquanto ouvia a conversa sobre propriedades, fazendas e plantações. Ela deveria ter cuidado ali. Ela não podia se dar ao luxo de enfurecer o conde.
No entanto ela pensou, não posso fazer o que ele deseja. Eu não posso casar com ele.
Ela já fora prometida. Para Conn.
CAPÍTULO NOVE
NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Conn sentiu seu pé no tapete abaixo dele, fingindo não notar que era tecido de seda oriental e custaria tanto quanto um guarda poderia ganhar em cinco anos, talvez mais.
Eles podem manter seus tapetes extravagantes. É a minha vez e ficarei esperando aqui. E isso é o mais precioso para mim.
Ele suspirou, sabendo que estava sendo cansativo, mas não sendo capaz de mudar. Irritou-se por precisar esperar.
— E o Senhor Gowan está aqui, com uma petição ao rei...
Conn revirou os olhos, sentindo-se começar a ficar sem paciência. Barões, condes e cavaleiros passavam na sua frente e ele se irritava por ser tão descaradamente ignorado.
Eu posso ser das colinas do Norte, mas eu sou filho de um laird.
Deve contar para alguma coisa. Enojado como estava pelo fato de que homens titulados andavam a cavalo por mendigos nas ruas, ele ainda estava contente com a pequena vantagem que lhe dava. Ou deveria ter sido, se essas pessoas não o ignorassem descaradamente.
— ... e Sir Bosworth, aqui para apresentar uma reclamação em uma disputa ...
— Com licença, — disse Conn com urgência ao funcionário que estava na porta, presidindo a antessala. — Eu tenho uma reclamação de disputa também! E eu esperei muito tempo!
O homem lhe lançou um olhar fulminante. — Ordem de precedência, jovem senhor, — disse ele com firmeza.
— Precedência para ser enforcado! — Conn sussurrou calorosamente.
O homem olhou-o. — Meu jovem eu sou um oficial da lei! Um...
Ele parou quando uma trombeta atravessou a câmara, acalmando-os instantaneamente.
— Abram caminho para o rei! Sua alteza real, o rei da Escócia.
— Ajoelhe-se! — O oficial sussurrou-lhe. Conn, olhando ao redor rapidamente, notou que ele e o oficial eram as únicas pessoas que não estavam se ajoelhando. Apressou-se em obedecer e ambos caíram, de repente, como se fossem um mastro.
— Abra caminho à Sua Alteza Real!
Quando a procissão se aproximou, Conn ergueu os olhos com admiração. O rei andava à frente, resplandecente em um manto forrado de pele, o corpo de veludo vermelho profundo. Ele usava uma túnica de lã e um gibão de ouro. Atrás dele seguia uma longa fileira de nobres, brilhantes em veludos verdes, ocre e azuis. Ele balançou a cabeça, espantado.
Esse é o rei da Escócia! Eu acabei de vê-lo. O que Leona pensaria?
Ele segurou um sorriso. Onde Leona estava agora, ela provavelmente estava encontrando todo tipo de nobreza: cavaleiros, condes, barões. Provavelmente ela ficaria impressionada com a visão do rei da Escócia!
Durou apenas cerca de cinco segundos.
Ele sorriu tristemente para si mesmo, balançando a cabeça. A procissão já havia passado, o último séquito de oficiais passando rapidamente. O homem que se ajoelhou ao seu lado lhe lançou um olhar.
— Por que você está sorrindo? — Ele perguntou irritado.
— Nada, senhor, — assegurou Conn, morrendo o sorriso que cruzou seu rosto. — Nada mesmo.
Seu humor irônico pela situação se dissipou lentamente. Na verdade, havia pouco para sorrir, — ele estava ali, preso em uma Edimburgo fria e úmida, com uma reivindicação que seu pai precisava de assinatura, conferindo a propriedade de um pedaço de terra em sua fronteira norte para ele, sobre seu vizinho, Laird de Gorline. Ele suspirou, no entanto, havia visto um rei.
Eu queria que Leona estivesse aqui.
Isso tornaria esse dever cansativo mesmo para seu pai valer a pena. Se, no final de sua jornada, ele pudesse voltar e ver Leona no castelo, esperando-o.
Eu daria tudo por isso.
Ele esperou até que a procissão oficial passasse, e então ficou de pé, espanando suas calças onde ele havia se ajoelhado no chão empoeirado da sala.
— Bem, então, — disse o oficial. — Lorde Dennehue entrará primeiro e depois você — disse ele, observando Conn com um olhar banal.
Conn sorriu, encolhendo os ombros com facilidade. Isso combina comigo.
Ele esperou enquanto o lorde que estava na sua frente possuía alguma disputa vigorosa, e então ele próprio entraria. Ele respirou fundo quando o oficial finalmente o deixou passar.
Viva! Eu nunca vou precisar vê-lo novamente, nem ficar aqui para esperar.
A sensação de alívio e júbilo o seguiu até o escritório pequeno e apertado.
— Nome? — Uma voz árida saudou-o.
Conn. Conn McNeil disse apressadamente.
— Negócios? — Ele perguntou voz cansada.
Conn, ajustando os olhos à relativa escuridão do escritório, viu um padre atrás da escrivaninha de madeira de carvalho, o rosto com uma expressão cansada e entediada. — Estou aqui para uma disputa, padre, — disse ele rapidamente. — Uma reivindicação de terra.
— Uma mudança maravilhosa, — disse o padre sarcasticamente, olhando para o céu por um momento como se quisesse rezar por força. — Bem, vamos ver então.
Conn, surpreso com a descontração de comando, enfiou a mão na pasta de couro na qual transportava cuidadosamente o documento de Dunkeld à capital e retirou-o. Estava marcado com o selo de seu pai e o de seu vizinho. Tudo o que precisava era ser autenticado.
— Bem, então, — disse o homem, cansado. — Eu posso verificar ser genuíno e oficial. Eu suponho que é o que você quer de mim.
— Sim, senhor, — disse Conn apressadamente. — Se você pudesse assinar e selar para mim. Isso seria apreciado.
— Isso é o que eu estava prestes a fazer, filho, — o padre resmungou. — Bem, onde estão as coisas velhas, hein? — Ele vasculhou a mesa, encontrando um vasto selo de bronze, que ele passou a segurar em uma mão enquanto a direita alcançava uma barra de cera e a lâmpada.
— Lá... vamos... nós..., — disse ele lentamente, enquanto esperava que a cera escorresse e se assentasse, depois apertou o selo. — Tudo feito.
Ele assinou com um floreio, espalhou areia na tinta para fazê-la secar mais rápido, em seguida, soprou a areia e levantou-a, entregando-a para Conn com um gesto elevado de sua mão. Ele usava o anel de um bispo, Conn notou entorpecido.
— É isso? — Perguntou, ouvindo sua voz sair mais estridente do que o pretendido. Ele não podia acreditar que a espera estivesse terminada. E um processo tão rápido! Era fantástico.
— Bem, isso é tudo que tenho a fazer, filho, — disse o padre pacientemente. — Conseguir que os companheiros nomeados na carta concordem com a minha ratificação é a sua missão. Não minha, pelo qual agradeço ao Céu. Adeus, filho.
Conn inclinou a cabeça, fazendo uma reverência. — Adeus, padre.
Ele saiu da porta apressadamente, quase achatando o oficial que estava diante dele, com papéis na mão.
— Essa é a saída, — disse o homem friamente.
— Obrigado, senhor. — Conn agradeceu ao homem e caminhou apressadamente até a porta, apressando-se como se fosse perseguido por desordeiros.
Na rua, ele desenhou um suspiro longo e trêmulo.
— Acabou, — disse ele, sentindo-se subitamente mais leve. A longa e árdua jornada, com a preocupação de que talvez alguma coisa desse errado, e a carta fosse questionada, estava terminada. Ele tinha feito isso.
Bem, isso é um alívio.
Ele sorriu e saiu rapidamente, deixando a maior parte do palácio para trás.
Ele partiu assim que encontrou o estábulo e reclamou seu cavalo, virando-se mais uma vez para olhar a massa atarracada e resiliente do castelo onde estivera, na colina atrás dele.
Ele seguiu a estrada sinuosa até a cidade, com a intenção de ficar em uma estalagem ou pousada em algum lugar onde pudesse encontrar uma refeição.
Então, depois, resolvidas as acomodações planejaria o retorno.
Havia sido uma breve estada — cinco dias na estrada, batendo lama e tempestades de verão, depois mais um dia ali. Ele ficaria outro dia e talvez visitasse o mercado se tivesse tempo, — depois sairia amanhã para os cinco dias de volta para casa.
Enquanto percorria as estreitas ruas de paralelepípedos, passou por lojas de ourivesaria, lojas de mercadores e locais que vendiam tecidos finos e fitas. Ele balançou sua cabeça. Se ele estivesse voltando para casa com a esperança de ver Leona, pararia naquele lugar.
Ela adoraria isso, pensou, olhando para um fino veludo verde apresentando um brilho como a superfície dos lagos de inverno, prateados e sutis.
Este é o tipo de lugar que Leona adoraria. A vida da cidade, os nobres e a riqueza.
Ele sabia que Leona amava coisas bonitas: joias, comida, roupas. Edifícios e mobiliário. Todas as coisas em sua vida eram mais apreciadas por ter alguma beleza adicional nelas.
Eu às vezes me pergunto o que ela vê em mim.
Ele sorriu com o pensamento, olhando para si mesmo no reflexo de uma vidraça de vidro grosso enquanto passava nos degraus do Red Flag Inn.
Assim chamado, ele presumiu, por causa da flâmula carmesim, ligeiramente manchada de fumaça, que decorava o telhado de palha, embora o lugar parecesse limpo e bem equipado.
— Boa tarde, — ele se dirigiu educadamente à esposa do hospedeiro. — Eu gostaria de almoçar, por favor.
— Tome um assento no balcão, filho. Estamos servindo ensopado e cerveja.
Conn sorriu, feliz por aproveitar uma tarifa familiar. Ele se sentou no banco que ela indicou e observou o grupo ao seu redor.
Comerciantes discutiam negócios em uma mesa, distinguidos por suas roupas finas. Dois funcionários sentavam-se em outra, vestes marrons que contrastavam nitidamente com os tons vibrantes que os comerciantes usavam. Dois carpinteiros ou sapateiros — Conn não fazia ideia de qual — ocupavam outra mesa, gesticulando enquanto demonstravam algum método, falando alto.
O mundo inteiro vem aqui, parece.
Conn se viu aguçando um ouvido à conversa ao seu redor, vendo se conseguia distinguir outras línguas além das que conhecia: a escocesa e gaélica. Ele pensou ter ouvido uma palavra que reconheceu.
— Bon. Je va ...
Eu vou.
Os homens à mesa à sua esquerda, dois ricos comerciantes vestidos de veludo, eram franceses.
Conn ouviu enquanto falavam, ansioso por qualquer conexão com Leona. Ele sabia que ela estava na França, e de alguma forma a presença desses homens criava um elo para ele, como se pudesse alcançá-la lá.
Eu me pergunto o que ela está fazendo agora? Onde ela está? Ele pensou ansioso.
Ouvindo as palavras, ele tentou evocar a imaginação do que a rodeava. Eles seriam suntuosos, ele tinha certeza, bem adequados ao gosto dela.
Se eu fosse um comerciante, ele pensava distante. Eu poderia pelo menos fornecer coisas boas para ela usar, joias finas e móveis.
Ele fechou os olhos, deixando-se imaginar Leona vestida com elegância, caminhando ao seu lado. Como todos em Edimburgo olhariam para sua refinada e graciosa esposa. Ele sentiu uma onda de orgulho.
Pensamentos sobre Leona fizeram todo o seu corpo ficar tenso de saudade. Ele terminou sua refeição distraidamente e foi à frente da pousada para providenciar acomodação e pagar por ela.
Ele passou algumas moedas, grato ao fazê-lo pelo fato de que os bandidos não conseguiram despojá-lo. O pensamento o fez estremecer, lembrando-se do instante em que o punhal veio em sua direção e ele pensou que poderia morrer.
A lembrança trouxe consigo a nova determinação de ver Leona mais uma vez e breve. A França não estava tão longe assim. Se ela não voltasse logo, talvez ele pudesse viajar até lá para visitá-la.
A possibilidade existia. Isso seria o suficiente para ele. Precisava ser. Ele agradeceu ao estalajadeiro pelo seu tempo e subiu as escadas para cair na cama, relaxado no sono sem sonhos.
CAPÍTULO DEZ
PLANOS PARA O FUTURO
Leona sentou-se, tensa, no banco de madeira abaixo dela, tentando focar sua atenção na vista além da janela.
— ... e acho que será um inverno ameno.
— Sim. Será bom! Mas benéfico para as uvas. Suas vinhas vão florescer, Milorde.
A voz do tio encheu o pequeno e íntimo solar onde jantaram. Leona se concentrou em suas palavras e tentou ignorar o homem que estava sentado à sua frente. Mas falhou.
O conde de Cleremont estava lá novamente. Ele havia aparecido bastante de repente naquela manhã, afirmando sua intenção de permanecer na área por algum tempo. Seu tio concordara imediatamente em oferecer-lhe alojamento, e ele foi instalado na suíte de hóspedes no segundo andar.
Pelo menos meus aposentos não são próximos dos dele.
Leona, ocupando o aposento que outrora abrigara seu avô quando jovem — antes de se mudar para o aposento principal, como o conde de Annecy — possuía uma vista espetacular da encosta e estava longe o suficiente dos aposentos de hóspedes, de frente para o sul.
Não há risco de esbarrar nele inesperadamente.
Esse havia sido seu pior medo. Por algum motivo que ela não conseguia discernir, o pensamento de estar em qualquer lugar sozinha com o Conde a deixou com medo.
Não sei o que espero que ele faça comigo.
Apenas estar em frente dele no jantar era quase o suficiente, ela admitiu. Precisar olhar para cima e se deparar com aqueles olhos vazios e inexpressivos presos nela a fez estremecer.
— ... Leona, sobrinha? Você concorda também?
Leona virou-se para o tio, que estava sentado à sua direita, sem saber do que ele estava falando. — Desculpe tio, — disse levemente. — Eu não ouvi bem isso.
— Você estava sonhando, talvez, com a nossa festa? — Disse o tio com carinho.
— Sim, talvez sim, tio, — disse ela no que era para ser um tom despreocupado. Ficara mais ameno do que Leona esperava. — Vou precisar pedir que você repita outra vez. O que foi que perguntou?
— Oh, nada importante, — disse o tio com facilidade. — Só queria saber se você preferiria um selim espanhol para o passeio. Os que temos aqui parecem um pouco incômodos.
— Oh! — Leona se viu atraída pela conversa, apesar de seu desejo de estar em outro lugar. — Uma sela espanhola parece intrigante.
— Na verdade elas são! — Seu tio sorriu. — Feito com o melhor couro de Córdoba! Meu amigo aqui disse que elas valem seu peso em ouro. O que eu acho que é um pouco exagerado, pois, embora sejam construídas com material leve, eu ainda hesitaria em separar tanto ouro quanto elas pesam. Para uma sela, pelo menos! — Ele riu calorosamente.
— Tenho certeza, — disse Leona, enxugando os lábios com um quadrado de linho. Estavam jantando um primeiro prato de sopa de erva-doce, um sabor delicado que a atraía. Se ela estivesse em companhia mais condizente, estaria se divertindo enormemente. Ela sentia falta dos dias em que jantava sozinha ali em cima com seu tio, discutindo tudo, desde política até agricultura, de modas e carruagens a queijo.
— Bem, então, — seu tio riu. — Eu ficaria feliz se o nosso amigo pudesse lhe emprestar uma! Ele diz que tem uma sela lateral encomendada ao senhor Laguerre, e eu, pelo menos, estou ansioso para testemunhar isso.
Nós não queremos aceitar as coisas deste homem.
Leona surpreendeu-se com seu fervor. Ela absolutamente não queria um presente dele. Pois presentes daquele homem não são dados sem expectativa. Ele quereria algo em troca.
Ela estremeceu. Sabia que ele estava procurando sua mão em casamento — seu tio havia sido exatamente franco sobre isso. Ele havia dito que seria muito vantajoso para ele.
O Conde é o nosso vizinho mais próximo, dissera ele. Ele é dono de fazendas no vale que eu pagaria o resgate de um rei para acrescentar em nossas posses.
Leona começou a entender. Uma viúva poderia herdar propriedade. Se ela se casasse com o Conde, então isso significaria que, após a sua morte, a terra que ele possuía passaria para ela. Além disso, sua posição, se ele morresse sem problemas, ou com apenas filhas para herdar, daria à casa de Annecy a reivindicação sobre o local.
Seu tio, apesar de todo o seu jeito fácil, era bastante conivente.
Não era um traço que entrava em suas discussões do dia a dia: ele era generoso, amigável e equitativo. Ela nunca iria acusá-lo de ser dissimulado na vida cotidiana. No entanto, a herança e a política de propriedade da terra eram claramente uma arena na qual a mente astuta dele possuía predominância.
— Um passeio antes do almoço seria bom, — disse ela, afastando-se de discutir o presente.
— Eu gostaria de ir até a floresta, — Lorde Ferrand disse rapidamente. — Se milady se dignasse a cavalgar tão longe me acompanhando.
— Uma perspectiva agradável, Milorde, — Leona conseguiu dizer.
— Bem, então, — disse o tio, soando tenso. — Vamos concordar com isso então. Amanhã às dez da manhã, talvez?
— Uma ótima ideia.
Leona acenou com a própria concordância sem palavras e pegou a taça de vinho que ficava à direita de seu prato.
Quando ela a levou aos lábios, o conde ergueu a dele. — Um brinde à lady Leona, — disse suavemente. — Uma perspectiva agradável.
A maneira como ele disse aquilo, seu olhar sobre ela, vagando de sua boca para o corpete decotado de seu vestido cinza fez sua pele arrepiar.
O olhar dele permaneceu em seus seios, e então voltou para seu rosto. Ele sorriu e colocou o copo na mesa. — Muito agradável.
Ela ergueu o copo e depois abruptamente abaixou de novo. Seu estômago revirou. Ela se sentiu horrível. Lançou um olhar para o tio, desesperada para fugir. — Com licença?
Seu tio franziu a testa, parecendo um pouco desnorteado. — Claro sobrinha.
— Obrigada.
Leona levantou-se e empurrou a cadeira, em seguida caminhou rapidamente até a porta, seus sapatos silenciosos nas tábuas de madeira do chão. No corredor, ela se encostou na parede, fechando os olhos.
Eu devo ficar calma. Eu vou relaxar. Ele não pode me prejudicar.
Ela respirou instável.
Eu estou segura. Eu sou...
— Milady?
Ela virou-se, o horror dando velocidade aos seus movimentos, quando sua mente quase se recusou a reconhecer a voz.
Ele me seguiu!
A indignação competiu por um momento com o terror. O terror ganhou.
— Desculpe-me, senhor, — disse ela, falando tão elegantemente quanto poderia gerenciar ao se sentir tonta com o choque.
— Eu não vou machucá-la, — disse ele. Estendeu a mão, encostando-a na parede, seu braço bloqueando a saída às escadas. Ela olhou-o. Seu rosto estava a centímetros do dele, os olhos fixos nos dela intensamente. — Por que você foge assim?
Leona se virou e tomou outra direção. Ele simplesmente a bloqueou com o braço esquerdo, removendo o direito. — Milorde, — disse ela em um sussurro horrorizado.
— Você vai falar agora? — Ele perguntou.
Efetivamente, ela estava presa. Leona olhou-o, o coração batendo de desespero. — Deixe-me passar.
— Só se você me disser se deseja o que eu desejo.
— E o que é isso? — Leona perguntou, lutando por calma. Ela odiava a ideia de sua presença diante dela. Podia sentir o cheiro de nardo com o qual ele perfumava sua roupa, um cheiro forte e intenso. Ela podia ver as minúsculas veias em seus olhos, a espessura de seu cabelo. Ele talvez fosse dez anos mais velho que ela — uma diferença favorável de idade para um casal, alguém lhe diria. Ele era um nobre, desembaraçado e titulado. Rico além do que ela teria imaginado, se até mesmo o tio desejava acesso às suas terras.
No entanto, ele me causa repulsa.
— Eu desejo estar o tempo todo com você, — ele respirou.
Leona olhou em volta desesperadamente, sem saber como responder isso. Ela não podia dizer a verdade, pois isso embaraçaria seu tio. Além disso, ela não conseguia dizer a ele o contrário, — que ansiava pela presença dele, como ele, aparentemente, fazia pela dela.
— Isso é... gentil milorde.
Ele riu. — Não, não é. É muito egoísta.
Desta vez, enquanto ela tentava se afastar, ele se inclinou à frente. Seu corpo pressionou contra o dela. A boca caiu em seus lábios.
Leona fez um pequeno ruído de choque, e depois de repulsa quando sua boca úmida queimou sobre a dela, seus lábios pressionados contra os dela, a língua empurrando contra seus dentes. — Pare milorde!
Ela torceu a cabeça para o lado, e quando ele se moveu para tentar repetir ela lhe deu um tapa.
O som era o único ruído no corredor quando o impacto desapareceu. Ele cobriu a bochecha com a mão, ocultando a impressão avermelhada da palma da mão dela. Seus olhos se estreitaram.
Leona olhou em seus olhos, a respiração rápida aterrorizada. Foi impulso. Ela não havia pensado em dar um tapa nele, não pretendia isso.
— Mi ... milorde, — disse ela, olhando às mãos. Ela estava livre agora, ela percebeu devagar. Deu um passo para o lado, prestes a correr para longe.
Ele torceu-a para ele, a mão esmagando seu braço. — Quando estivermos casados, — sussurrou-lhe, — e nós estaremos, não cometa erros, — ele fez uma pausa, — você vai pagar por isso.
Leona piscou-lhe. Ele ameaçava violência contra ela? Como ele ousa! — Você, milorde, esqueça-se, — ela sussurrou. — Você é um convidado aqui! Como eu também sou.
Ela virou de lado, torcendo o braço para tentar quebrar o aperto de ferro duro. Ele a soltou. Ele estava respirando com dificuldade, como se tivesse corrido bem longe, embora nenhum dos dois se movesse.
— Você me bateu, — ele disse naquela perigosa voz aveludada. — Eu não esqueço.
— Nem eu, — disse Leona suavemente.
Ela não fazia ideia de onde esse desafio estava indo, só que, por um lado, ela desejava que ele parasse. Não podia se permitir irritar esse homem, que possuía poder e privilégio ao seu lado. Ela era uma novata ali e, por mais que confiasse e amasse seu tio, ele teria uma possibilidade limitada de ajudá-la se ela fizesse desse homem um inimigo. O que ela faria?
Ele estava olhando-a, os olhos negros apertados, prestes a dizer algo mais.
Ela virou-se rapidamente e se dirigiu às escadas.
— Milady! Você...
— Transmita minhas desculpas ao meu tio, por favor, — ela disse. — Estou indisposta.
Não querendo ver se ele fez o que ela havia pedido, Leona caminhou, rígida e furiosa, subindo as escadas. Chegou à porta do aposento e entrou, encostando-se nela depois de ter colocado o ferrolho no lugar.
Agora que ela estava ali, sentiu o efeito do terror. Seu corpo inteiro tremia, ela sentia frio, cansaço e o coração batendo.
— Eu o insultei, — ela sussurrou para si. — Atingi-o. Ele me odeia.
Ela não tinha dúvida em sua mente que o modo como ele a olhara mostrava ódio. E ela também não tinha dúvida em sua mente que ele quis dizer exatamente aquelas palavras. Ele a faria pagar.
Quando nos casarmos, ela lembrou, tremendo. Ela se inclinou para trás e fechou os olhos, depois os abriu. Sentiu-se rígida, mas com determinação.
— Eu não me casarei.
Ela não se casaria com aquele homem por nada. Ela amava seu tio — percebeu isso imediatamente — mas nem por ele, e nem por qualquer um, ela se ligaria a esse homem.
E eu não estou livre para me casar com quem eu quiser. Eu já estou noiva.
Ela se casaria com Conn. Sempre soubera disso. Ele nunca lhe perguntara: não havia necessidade. Ele era seu prometido.
E eu vou garantir isso mesmo.
Ninguém poderia impedi-la. Ninguém poderia fazê-la ficar. Ela faria seu próprio caminho, escaparia.
Olhando ao redor do belo aposento com seu tapete macio, o linho de cama rendado, ela sentiu uma pontada de arrependimento. Era uma prisão dourada, leve e fina. No entanto, era uma prisão.
Eu não ficarei aqui esperando por aquele homem.
Ainda tremendo, ela pegou os vestidos que Allie deixou de lado para serem passados. Ela retirou a tampa do baú de roupas que trouxera com ela. Deslizou os vestidos ao lado de cinco antigos, e fechou o baú.
Eu vou precisar deixá-los todos aqui, ela pensou com tristeza. Mas vou fugir. Eu levarei meu colar de prata. Isso seria bom para o comércio, se ela pudesse encontrar um ferreiro e persuadi-lo a dividi-lo em pedaços para ela usar no comércio.
Ela fez algumas escolhas rápidas. O vestido que usava. O manto. Suas botas de montaria. O colar e a escova de cabelo. A bolsa.
Todo o resto vai ficar.
Ela reuniu todos os seus pertences e os colocou ao lado da porta.
Eu posso correr para Aix-sur-la-Lys. Era lá que Montaigne administrava uma fortaleza. Se ela pudesse chegar ao lugar, então estaria segura.
Fazendo planos, Leona sentou-se na cama, com pensamentos girando.
Meu único arrependimento, além de Allie, é o tio. Allie estava se acomodando com a casa, ao menos parecia, e era possível que ficasse feliz em ficar. Ela havia confidenciado que o chefe dos lacaios era do tipo que ela gostava, e Leona esperava que o relacionamento deles tivesse amadurecido naquelas semanas. Pelo menos Allie estaria segura.
Leona poderia deixar algo escrito para ela, sua mãe lhe ensinara a leitura e escrita rudimentares quando criança. Ela conhecia as cartas, mas fazia pouca ideia de como soletrar a maioria das palavras, pior ainda, em francês.
Eu poderia deixar uma nota para o tio, explicando meu paradeiro.
Seria uma tarefa difícil ela percebeu, uma bem perigosa. Se ela deixasse um bilhete para o tio, quem saberia se ele guardaria para si mesmo, ou mostraria aos convidados de sua casa?
Para onde ela iria, em todo caso? Como ela poderia escapar?
Não, pensou tristemente. Ela não podia ir. Ainda não. Ela deveria ficar um pouco e esperar o tempo passar, fazer mais planos para chegar dali até Aix. O mordomo talvez soubesse de alguns meios para chegar lá — ele mesmo viajava o tempo todo. Além disso, era impensável que ela viajasse desacompanhada. Ela precisaria esperar até que pudesse escapar com um bando de viajantes.
— Ele não deve ficar aqui por muito mais tempo, — disse Leona a si mesma, referindo-se ao conde. Ele teria que retornar às suas próprias terras em algum momento.
O que quer que ele faça, eu não ficarei sozinha com ele novamente. E eu vou escapar.
Antes que eles a fizessem se casar com ele.
Não havia outro futuro para ela.
CAPÍTULO ONZE
À BEIRA MAR
O mar rosado batia na costa perto de Edimburgo, sussurrando em silêncio. A noite estava quieta. Conn, subindo o cais, olhou em volta.
Eu não deveria ter parado ali por tanto tempo.
Balançou a cabeça para si mesmo, espantado com sua própria tolice. Ele havia descido para as docas de Queensferry, no porto de Edimburgo. Pretendia fazer algumas negociações, talvez conseguindo algumas coisas que sua mãe ou seu pai pudessem gostar. Adagas da Espanha. Linho fino. Utensílios de mesa Todos os mercadores possuíam armazéns ali, e parecia provável que ele pudesse conseguir um bom preço. No entanto, onde havia comerciantes, também havia bandidos. As docas eram perigosas o suficiente durante o dia: um homem com moedas em sua bolsa poderia esperar um pouco de violência se quisesse mantê-las por mais de uma hora. À noite? A violência era inevitável.
Conn respirou fundo. Eu poderia ser morto.
— Você é um grande tolo, — disse a si mesmo. — Isso é loucura.
Olhou em volta, examinando os recessos negros da sombra ao lado do armazém, pintando a pedra do cais com uma densa escuridão. Os edifícios estavam todos em silêncio agora, a agitação do dia partira. Ele ouviu o barulho de algo na madeira e olhou para o cais, o coração batendo. Não havia ninguém para ser visto, apenas um pequeno veleiro, batendo contra o molhe.
Provavelmente apenas o barco, batendo na madeira.
Ele soltou um suspiro e continuou. A noite estava escura, mal iluminada pelo fio da lua que se erguia. Todo o estaleiro transformava-se à noite, tornando-se um lugar sombrio, visitado por horror sem forma.
Passos
Conn olhou em volta, sentindo o coração disparado. Desta vez foram pés. Ele não podia negar isso.
— Quem vem lá? — Gritou.
Sem resposta. O porto de Queensferry se estendia estranhamente quieto sob uma noite quase sem lua. O céu estava escuro como safira, cravejado de estrelas geladas. Apesar de estar no começo do verão, e não muito frio, Conn estremeceu. Uma suave brisa o fustigou, estalando sua túnica contra ele. Ele ouviu um uivo triste.
Era só um cachorro, ele disse a si mesmo. Não foram passos. Apenas cachorros, investigando; procurando por restos.
— Vamos lá, — ele se repreendeu. Olhou ao redor, tremendo, sabendo que havia sido tolo por vir aqui. Deveria ir agora, antes que algo de ruim realmente acontecesse. Ele se sentiu um tolo: tendo escapado por pouco da outra vez, por que insistiu em se colocar novamente em perigo? Isso foi idiota!
Ele se afastou da água escura e caminhou, com firmeza e rigidez, em direção aos edifícios. Onde dois homens saíram de trás de uma pilha de tábuas.
— Aqui, rapazinho, — um homem rangeu duramente. — Entregue-nos sua bolsa.
— Sim, — o outro homem disse, sorrindo para mostrar os dentes brancos, um deles desaparecido na arcada inferior. — Nós não queremos brigar.
Conn olhou de um para o outro. Ele trouxe sua adaga, mas não queria mostrá-la ainda. Ergueu os punhos.
— Ah, vamos, rapazinho, — o primeiro homem disse indelicado. — Entregue.
— Não, — disse Conn rigidamente, surpreendendo-se.
No instante em que ele disse isso, tão desafiador, lamentou a bravata.
Entregue a bolsa, seu tolo. É prata. Eles poderiam matá-lo.
Seria melhor viver e perder parte de sua moeda do que morrer aqui nas docas, perdido sem a chance de ser encontrado novamente.
— Vamos.
Ele balançou a cabeça, teimosamente. — Não, — disse novamente.
— Rapaz tolo, — disse o homem alto, com os dentes abertos, furioso. Ergueu o punho e, tão casualmente como se estivesse puxando redes, acertou-o.
Conn cambaleou quando o golpe o derrubou para trás. Ele soltou um suspiro chocado, sabendo que seu olho ficaria inchado, perguntando-se vagamente se algo estava quebrado. O tempo pareceu parar por um momento e então, quando as mãos tentaram agarrar seu bolso, ele cambaleou à frente, a consciência retornando.
— Ugh!
Ele uivou um grito de raiva e atacou o homem alto, tentando chutar o mais baixo, mais robusto, que deu um salto para o lado, alcançando o bolso ao lado, onde suas moedas estavam alojadas. O espaço ao redor dele se tornou uma chuva de punhos e pernas chutando. Ele atingiu um homem no peito e sentiu um golpe se conectar com o braço, empurrando-o de volta. Ele pousou um chute em uma canela e recebeu um.
Os três se separaram, circulando um ao outro. Nenhum ficou ileso. O olho direito de Conn estava colado com inchaço e hematomas, enquanto o homem grande esfregava o braço. O homem mais baixo e mais largo agitava os dedos da mão direita, inclinando-se mais para um lado, preferindo uma perna.
— Este deve ser um lutador, — disse o homem mais baixo, rindo sem fôlego. — Entregue para ele.
O homem alto bateu forte enquanto o homem mais baixo tropeçou. Então, antes que pudesse detê-los, o homem mais baixo enfiou a mão no bolso enquanto jazia no cais, entorpecido, ofegando e pegando suas moedas.
— Consegui! — Ele gritou em triunfo. Os dois homens riram. Depois de chutar Conn nas costelas como uma medida adicional para mantê-lo atordoado, eles fugiram.
— Hey! — Conn gritou, sentindo suas costelas doerem onde a contusão do chute floresceu. Ele cuspiu sangue e se colocou de pé. — Seus bastardos!
— Nós conseguimos!
Os homens gritaram de prazer e Conn teve um último vislumbre deles, delineados de prata contra o ondulante horizonte azul escuro, antes de virarem à direita, indo às docas.
— Ei! — Conn gritou. Foi demais para ele. O tédio da espera, a humilhação e o ataque à estrada somavam-se.
Sem pensar, ele correu atrás deles.
— Seus patifes! — gritou. — Me deem minha bolsa!
Ele desceu correndo as docas atrás deles, ouvindo-os rir, satisfeitos, enquanto saíam. Fez uma pausa, julgando para onde eles foram e então se dirigiu à esquerda. Ele surgiu ao redor do grande armazém a tempo de vê-los a bordo de um navio.
Sem pensar, subiu correndo a prancha atrás deles. Estava determinado a recuperar suas perdas daqueles dois, se tivesse que lutar até a morte por isso. Os bandidos safados!
Conn olhou em volta. Nunca estivera em um navio antes — não que ele se lembrasse, de qualquer forma. O convés subiu e desceu, suspirando, com a crista e a depressão das ondas. O vento suspirou ao redor deles. Ele tentou se aproximar de onde os dois homens estavam na popa, mas achou difícil manter o equilíbrio e caiu, deslizando à frente. Ele subiu.
— Fora!
Enquanto corria pelo convés, percebeu, com algum alarme, que o navio estava equipado como se fosse navegar. O cordame estava ondulando, um homem no leme. Marinheiros estavam puxando cordas.
— Ah não...
Ele olhou em volta, desesperado, no momento em que a prancha foi puxada para dentro e o navio zarpou. O vento soprava forte e subia, e as velas pararam com um suspiro, quebrando as ondas enquanto o porto ficava longe.
— Espere! — Ele gritou. — Há um erro...
— Apare as velas! — Gritou uma voz autoritária. — Vento Sul! Nós temos vento.
Conn sentiu o coração afundar. Ele estava a bordo. Ele estava indo para algum lugar — o céu sabia para onde.
Ele estava preso.
Sem querer, ele havia embarcado ilegalmente em um navio e agora estava indo, sem provisões ou dinheiro, para o mar aberto.
— Espere, — ele gritou novamente. No entanto, o vento estava inflando a vela e ninguém podia ouvi-lo. Ele olhou em volta descontrolado.
Em algum lugar no fim do convés, avistou a camisa branca e a musculatura sombria do bandido alto. Ele andou a passos largos.
Sem pensar, ele bateu no homem com força no peito, logo abaixo das costelas.
— Ugh! — Ele gritou. Recuou, com o punho aberto, preparado para atacar.
— Espere, Beiste, — o homem mais baixo gritou com urgência. O homem alto parou e piscou.
Então começou a rir.
— Abençoe-me! — Ele disse, rindo mais um pouco. O homem mais baixo se juntou a ele e juntos eles cercaram Conn que estava estupefato, rindo juntos.
— É ele! — O homem mais baixo disse, sufocando com o riso. — O magrela. Ele nos seguiu!
— Uma boa piada! — O homem maior concordou, sorrindo para Conn.
Conn, que achava que seus dias estavam contados, ficou surpreso. Ele quase caiu quando o homem agarrou seu ombro.
— Bem-vindo a bordo, rapaz, — disse o homem cordialmente. — Vamos à França.
Conn ficou olhando. Seu coração parou. Ele não havia planejado isso. Não esperava por isso. Não fizera nada para que isso acontecesse. No entanto, ali estava ele, a bordo de um navio, rodeado de companheiros.
Navegando à costa da França.
Leona, ele pensou, a mente se recuperando do choque e do assombro misturados. Estou a caminho.
CAPÍTULO DOZE
UMA SURPRESA
Leona olhou a paisagem.
Ela estava sentada à mesa no andar superior da mansão de seu tio. Dali, ela podia ver, pela janela à direita, o azul pálido do céu. As colinas e os bosques eram de um verde forte, abaixo ela ouvia o canto dos pássaros subindo dos elegantes jardins de flores dos andares abaixo.
— ... E devemos nos preparar para o evento no final do verão.
— De fato, milorde.
Leona olhou pela janela. Ela não estava ali. Isso não estava acontecendo. Estava a quilômetros de distância. Em algum lugar flutuando acima daqueles campos. Ela não estava sentada em uma mesa com seu tio, discutindo seu casamento com o conde, Guy Ferrand.
— Estou feliz que você concorde. Quanto mais cedo melhor, não é?
— Muito bem, meu senhor, — disse Leona calmamente.
Ela ouviu seu tio se afastar, empurrando a cadeira alta de madeira entalhada na qual ele estava sentado. — Sobrinha?
— Sim, — ela perguntou, piscando e concentrando-se no seu rosto. Ele estava sorrindo para ela, hesitante.
— Alguma coisa lhe incomoda?
— Não, — disse Leona, depressa. Ela olhou para as mãos. Não — nada a incomodava. Consentia em unir-se ao matrimônio com um homem assustador que ameaçara fazê-la pagar por um pequeno e inconsequente ferimento, e que lhe impusera as mãos calejadas e forçara sua atenção a ela. Ela estava estragando sua chance de felicidade. Seu amor por Conn.
Por que ela estaria incomodada com isso?
Esperava uma espécie de indiferença surgir nela onde uma vez a raiva estivera. Não sentiu nada. Sem ressentimento, sem arrependimento. Sem raiva. Só aquele vazio frio que a preenchia desde aquela época, três dias antes quando seu tio a notificara.
Leona, e eu dei meu consentimento, ele dissera. O Conde é um homem bem estabelecido. Você não precisa temer nada.
Ele parecia tão feliz por ela. Tão ansioso para ela ser feliz e encontrar contentamento na escolha que ele fizera por ela. Ela ficou perplexa.
Não havia nada que eu pudesse dizer.
Ela tentou dar voz aos protestos, mas seu tio os havia deixado de lado. Até mesmo a sugestão hesitante de que o conde era um tipo assustador foi descartada.
— Ele é desajeitado, apenas desajeitado, sobrinha, — declarou ele com rapidez. — Quando você o conhecer mais, verá. Você não poderia esperar conhecer ninguém mais afável do que ele.
Afável.
A palavra agora retornava para Leona, mesmo ali onde ela se sentava à mesa de seu tio, tentando fingir que estava focada nele e não no frio vazio dentro dela.
Oh, Conn! Onde está você?
Ela queria gritar. Sempre amou Conn. Nunca acreditou que não o veria novamente.
— Bem, — seu tio disse, ainda parecendo inseguro. — Se você tem certeza. Continuaremos planejando.
Leona inclinou a cabeça, permitindo que ele continuasse. Em sua mente, deixou de estar em outro lugar. Ela estava presente e planejando uma fuga.
Eu preciso fugir. Eu posso fugir.
— ... E, claro, para o enxoval, você é bem-vinda para aproveitar o que tiver no sótão, — continuou seu tio calorosamente. — Há todo tipo de coisas boas lá em cima. Renda, veludo, brocado ... você encontrará tudo que quiser.
— Obrigada, tio, — disse Leona distante. Mal estava ouvindo. Se eu puder alcançar Aix, então eu poderei me abrigar com Danton. Eu preciso encontrar uma maneira de chegar até lá.
— E para o vestido em si? A renda de Bruges seria ideal para você, querida.
— Obrigada, tio, — respondeu automaticamente.
— E se nós ... oh, eu imploro seu perdão.
Seu tio parou no meio da frase, olhando à porta. Leona olhou para cima para ver qual era a interrupção e viu um homem alto, de rosto esguio, com um robe de seda parado na sombra.
— Milordy?
— Ah! Frei Reynard! Aí está você. O que procura? — Tio Marc parecia genuinamente satisfeito ao ver o visitante.
— Eu anseio por um momento, milorde, — respondeu o homem alto. Evidentemente, era um padre.
— Claro, é claro. — Tio Marc lançou para Leona um sorriso de desculpas, acenando com a mão à entrada. — Desculpe-me, sobrinha. Eu devo ir com Frei Reynard. Ele veio discutir comigo a melhor maneira de reparar a parede das muralhas. Só um momento.
— Claro, tio, — disse Leona gentilmente. Não foi surpresa para ela que ele confiasse em um padre para ajudá-lo em questões de engenharia: a maioria dos estudiosos eram homens da igreja. Quando ele se foi, ela se recostou na cadeira. Sentiu-se desesperada. Como vou chegar a Aix sozinha?
Então uma ideia chegou.
— Frei Reynard! — Ela sussurrou em voz alta. Claro! A resposta estava ali. Era ele! O padre veio de uma abadia não muito longe de Aix-sur-la-Lys. Ele poderia levá-la até lá!
No instante em que pensou no plano, Leona descartou-o com tristeza. Por que ele a ajudaria? Ela não poderia lhe dar nada pela ajuda. Mais importante, ele certamente gostaria de pedir permissão ao tio dela, que nunca a daria.
Ele poderia ser assassinado por me levar embora.
Leona estremeceu. Não poderia se arriscar. Nem mesmo o papel sacerdotal do padre o salvaria se ele tivesse ofendido um nobre. Seu tio poderia perdoá-lo. Mas e o concílio de Cleremont? Ela estremeceu. Ele com certamente não o faria.
Por que esse homem deseja me casar tão obsessivamente?
Não podia ser apenas sua pessoa — embora ele tivesse deixado claro que a amava. Deve ser algum esquema adicional contra — ou com — seu tio. Ele queria casá-la, antes de conhecê-la, isso era claro. Portanto, não eram apenas seus encantos.
Eu não faço ideia do que se trata. Tudo o que sei é que não vou deixar isso me prejudicar.
Não era justo. Para o conde e seu tio, tudo aquilo era um jogo de poder, uma espécie de partida de xadrez humana. Para ela, era toda a sua vida. Eles poderiam ganhar terras e títulos, mas ela deixaria sua casa, sua família e seus entes queridos. O futuro dela. Seu amor por Conn. Tudo por um homem estúpido e cruel que a ameaçara, ali mesmo, embaixo do teto do seu tio.
Eu não vou deixar isso acontecer. Ela escaparia. O padre poderia levá-la, querendo ou não.
Ele não podia impedi-la de ir embora.
Leona se flagrou sorrindo, repentinamente, uma nova esperança iluminando-a. Claro! Ela poderia se esconder na carroça dele! Ele poderia sair sem qualquer ideia de que ela estivesse lá. Então, mesmo se eles fossem detidos e ela fosse descoberta, ele poderia dizer a verdade, que não fazia ideia.
Eu não poderei levar nada. Só o que eu visto e carrego na minha bolsa. Ele veio com uma carreta pequena puxada por dois cavalos de carga. Ela simplesmente subiria e se esconderia atrás. No entanto, tudo isso teria que acontecer quase ao mesmo tempo.
— Ele irá amanhã.
Leona disse a si mesma em voz alta, sentindo o coração na garganta e a tensão insuportável. Se ela fosse fazer isso, precisaria agir imediatamente.
Lutando para acalmar as batidas de seu coração, ela levantou-se e caminhou até a janela. Enxugou as mãos úmidas de suor nas saias. Enquanto olhava para fora, ouviu vozes no corredor. Ficou tensa ao ouvir seu tio e o padre retornando.
— ... E faremos o melhor para enviá-los em um caixão. O que você diz? — Perguntou seu tio.
— Bem pensado lorde. Os pergaminhos são suscetíveis ao ar úmido. Altamente suscetíveis.
— Muito bem, — disse seu tio distraidamente. — Oh! Sobrinha?
— Sim, tio? — Leona caminhou rapidamente da janela à porta do escritório, que ficava do outro lado do corredor.
— Ah, aí está você! Talvez você possa ajudar o bom padre? Ele voltará amanhã à abadia e precisará levar alguns panos com ele. Coisas para curativos. Talvez você possa ajudar a selecioná-los no sótão? Tenho certeza de que você conhece mais aquele material do que qualquer um de nós.
Leona sorriu para o tio com carinho. Mesmo com toda a participação dele naquele plano diabólico, ela não conseguia deixar de gostar dele. Ele era gentil e sempre a tratou com carinho.
— Claro, tio.
— Bom, muito bom! Você vai, vocês dois — disse ele, acenando com a mão espalmada na direção deles.
Leona e o padre se olharam. Os dois deram de ombros e olharam para o tio.
— Sobrinha, vamos voltar amanhã. O bom padre deve sair cedo e eu preciso consultar meus livros.
— Claro, tio. Leona fez uma reverência e se virou para o sério e quieto estudioso. — Siga-me, padre.
— Sim milady.
Ele a seguiu até o lance de escadas que levava ao sótão, claramente desconfortável por estar sozinho com uma dama. Porém, já que foi ideia do tio de Leona, não havia um sopro de impropriedade. Mesmo assim, ele permaneceu rígido, enquanto Leona foi até a pilha de roupas empilhadas às suas costas, respirando superficialmente para não ficar sufocado com o cheiro de mofado e empoeirado.
— Acho que talvez isso seja adequado, padre — sugeriu-lhe, selecionando um rolo de linho muito macio, de um barril. Ela queria encontrar uma maneira de interrogá-lo a respeito de quando ele iria embora, e usou o cérebro para pensar em uma, enquanto o padre piscava, curvando-se, para passar através da porta do sótão, atrás dela.
— Sim. Essa é uma boa escolha, minha filha.
Ele sentiu a qualidade, acenando para si mesmo. Leona sabia o suficiente da cura básica para saber que a peça era perfeita para curativos: macia, flexível e absorvente. Esperou distraidamente enquanto ele supervisionava. Ela queria gritar. Sim, é uma boa escolha. Eu preciso lhe perguntar uma coisa!
No fim, ela não conseguiu mais esperar. — Padre?
— Sim, minha filha?
— Você estará viajando por um longo caminho amanhã?
— Apenas algumas horas, minha filha — oito, para ser preciso. Vou parar na estalagem do caminho e completar a jornada no dia seguinte.
— Oh! — disse Leona rapidamente. — Isso não é tão ruim.
— Não, — o padre concordou, parecendo confuso. Provavelmente era um tanto desconcertante que a dama do castelo — como Leona era — prestasse muita atenção aos planos itinerantes de um padre humilde.
— Eu só queria verificar se o meu tio havia reservado provisões para sua jornada, — Leona hesitou, pensando rapidamente e arrumando uma desculpa.
— Oh! Não, criança — disse ele, com o rosto amolecendo por causa da gentil oferta que lhe fizera. — Sou grato pela cama e pensão aqui. Eu vou fazer meu caminho sem ajuda à jornada.
— Ainda assim, — disse Leona insistentemente. — Você deveria levar alguns dos nossos pães finos. Vou pedir para Madame Blois mandá-los para sua carroça.
— Isso é muito gentil, criança, — disse ele gravemente.
— Não é nada.
— Meu equipamento está atrás dos estábulos, creio eu, — acrescentou o padre, com um sorriso irônico no rosto. — Eu acho que a Sua Senhoria quis esconder isso dos visitantes, para eles não acharem que ele era o dono. É uma coisa triste.
Leona riu então. — Isso é quase certamente verdade. Imagine o escândalo!
Os dois sorriram um para entre si, conspiradores ao estarem provocando seu tio.
— Vou levar o pano até a carroça, — disse o padre, descendo os degraus à frente de Leona. — Obrigado pela sua ajuda. É o tecido mais adequado.
— Vou mandar Ferriers para baixo com o rolo, — Leona ofereceu. Ferriers era o chefe dos lacaios. Se ela pudesse acompanhá-lo, dar-lhe-ia uma boa chance de ver a carroça e fazer seus planos.
— Obrigado, minha senhora. Isso é muito gentil.
Não é não. Se você soubesse o que eu planejei, você ficaria chocado. Ela sorriu distraidamente. — De modo nenhum.
No corredor do andar de baixo, ela se despediu do padre e correu até a cozinha para encontrar Ferriers. Ele estava na mesa da cozinha, comendo um brioche.
A senhora Blois, a cozinheira, ergueu os olhos quando ela entrou, quase deixando cair a massa que sovava, no chão. — Milady!
— Ferriers? — Leona perguntou rapidamente. — Se você puder vir comigo ao sótão. Eu preciso pegar uma peça de pano.
— Claro, milady.
Alto e bastante bonito, ele empurrou a cadeira para trás e a seguiu pelos degraus. Leona sorriu para si mesma. Se Allie conseguiu enlaçá-lo, ela vai se sair bem. Deixar sua serva para trás para ter um destino tão agradável não era uma má ação.
Os ferreiros carregavam o pano atrás dos estábulos, Leona seguiu-os apressada. Lá, eles encontraram uma carroça coberta de lona.
— Esta é a carroça do padre, milady.
Leona mordeu o lábio, tentando não sorrir. Ela entendeu agora porque seu tio a escondera nos fundos. Era uma coisa vergonhosa, coberta de lona remendada, as tábuas rachando por falta de manutenção.
— Obrigada, Ferriers.
De pé atrás dele, ela tentou o mais discretamente que conseguiu, olhar por cima do ombro dele enquanto ele abria a lona e arrumava a carroça. O planejamento era essencial e, em primeiro lugar, ela precisava saber onde poderia se esconder.
A carroça estava razoavelmente empacotada embaixo da lona, cheia de sacas de grãos, pedaços de material, alguns equipamentos agrícolas. Evidentemente, o padre aceitava doações de todas as esferas da vida. Ela decidiu que seria fácil se esconder em algum lugar lá.
Ufa! Seu coração batia forte e seus dedos formigavam com antecipação nervosa.
— Tudo feito, milady, — disse Ferriers, olhando-a com o mesmo divertimento que o padre havia mostrado quando ela fez tantas perguntas sobre sua jornada.
— Bom, Ferriers, — ela disse rapidamente. — E você pode pedir para Madame Blois que mande seis pães; diga-lhe que às seis horas no relógio?
— Muito bem, milady. Embora eu acredite que ele pretenda partir ao nascer do sol.
Graças a Deus eu perguntei! — Faça as cinco, então.
— Muito bem, milady.
Leona assentiu e entrou o mais rápido que conseguiu. Em seu aposento, ela se sentou na cama com o coração batendo forte. Já estava quase anoitecendo e tinha muito a planejar.
Ela escaparia pelas escadas da porta lateral. Estava em uma parte da mansão que quase nunca foi usada; fechada para reformas e ainda não terminada. Leona descobrira a porta por acidente quando explorava os jardins. Era um caminho perfeito, se ela pudesse abri-la.
Eu vou agora para verificar se ela pode ser aberta suavemente. Eu não posso perder tempo.
Ela saiu na ponta dos pés do aposento e desceu as escadas, sentindo um arrepio na espinha enquanto cruzava até o espaço negligenciado da mansão. Estava úmido e fresco, o ar cheirando a argamassa e pó de tijolo, seus passos ecoando no telhado e às costas. Este é um lugar estranho.
A porta estava em um canto cerca de vinte passos para baixo. Ela tentou o trinco. Era fácil de destrancar deste lado e, quando testou, não havia sinal de grudar ou estalar, o que era bom. Ela fechou e foi na ponta dos pés até o corredor principal. Na entrada, ouviu vozes. Coração batendo, ela recuou para as sombras.
Quem é esse?
— ... E seria melhor se tivéssemos o contrato pronto em breve.
— Vou pedir a Auvergne para fazer isso, imediatamente, Conde.
Era o tio dela e o Conde! Eles estavam indo para lá. Leona se encolheu em um recesso, rezando para que eles não a vissem lá.
Se eles me pegarem com curiosidades sobre o castelo, ocorrerá a eles que estou planejando algo.
Seria o pior momento possível para eles a notarem. Sabia que o conde conhecia sua relutância e, mesmo agora, suspeitava que ela não fosse sincera em seu desejo de se casar. Tudo o que precisavam era descobrir que ela estava prestes a provar as suspeitas dele.
— ...Devemos nos encontrar novamente na próxima semana. Então podemos assinar este contrato... — disse o conde arrogante.
— De fato, meu amigo.
Os dois homens atravessaram o hall de entrada e subiram as escadas juntos. Leona ouviu as botas nas escadas e se esgueirou de seu esconderijo.
Naquele momento, alguém bateu na porta da frente.
Os dois homens se voltaram às escadas. Leona, no meio dos ladrilhos, congelou no lugar. Eles me viram. Eu estou acabada agora.
Assustada, ela ficou ali, esperando pelo interrogatório que se seguiria. O conde olhou para o tio, os olhos encobertos. O tio limpou a garganta e parou.
Ferriers que estava colocando a mesa no refeitório apareceu como por magia. — Perdão, meu senhor, — disse ele aos dois homens respeitosamente, e abriu a porta da frente. Leona, a cerca de dez passos de distância, não conseguia ver nada da pessoa parada na porta, apenas uma cabeça de cabelo avermelhado.
— Boa noite, — disse Ferriers formalmente. — Você é um convidado esperado?
Leona, com uma curiosidade esmagadora, esforçou-se para ouvir a resposta, ignorando os homens nas escadas que deviam, agora, tê-la notado. Quando a resposta chegou, ela congelou. Como isso poderia ser? Como?
— Não, eu não sou, — disse o homem sem rodeios. — Meu nome é lorde McNeil. Eu conheço a dona da casa.
Leona sentiu seu coração flutuar. Sem pensar, voltou-se para o pobre Ferriers, que não conseguia entender uma palavra do gaélico de Conn, e correu à porta.
— Conn! — Ela gritou. — Você veio!
CAPÍTULO TREZE
REUNIÃO DEPOIS DE MESES
Conn entrou no grande salão. O teto subiu acima dele. O chão sob seus pés era de pedra incrustada. A escada subia à escuridão sobre sua cabeça. Conn mal percebeu nada disso. Tudo o que ele viu foi ela.
— Leona!
Ele a olhou. Cabelos loiros avermelhados soltos nas costas, usando um vestido cinza que destacava os tons azuis escuros de seus olhos, ela parecia uma visão esplêndida. E ela estava aqui! Sua Leona!
— Conn!
Ela correu para ele e jogou os braços ao seu redor, sem fazer nenhuma tentativa de ser cortês. Assim cativa, Conn sorriu e segurou-a com força contra ele, acariciando seus cabelos.
— Leona. Leona! Minha querida.
Ele sentiu como se algo em seu coração tivesse derretido e ele não pudesse manter o sorriso afastado de seu rosto.
Leona, você está aqui comigo. Finalmente.
Ele aspirou o doce perfume de pétalas de rosas e sabia que não poderia ter ficado mais feliz se tentasse. Levou duas semanas para chegar a este lugar, mas todos aqueles dias se dissiparam sob o sol de sua felicidade. Ele estava ali. Ele estava com ela. Eles estavam seguros.
— Conn, — disse ela, inclinando a cabeça para trás e com um sorriso em seus olhos.
Ele sentiu seu coração disparar e seus quadris se apertarem quando notou a cor rosa umedecida de seus lábios e seu doce sorriso. — Leona. — Ele sussurrou o nome dela, aspirando seu cabelo.
Alguém limpou a garganta, bem alto. Ele olhou para cima e viu um homem. Recuou.
— Um... — ele gaguejou. Olhando para Leona, que se afastou abruptamente.
— Oh! — Ela disse. As mãos voando para suas bochechas. — Tio! Conheça Conn. Meu... meu primo.
— Oh! — O homem era de estatura mediana, com cabelos escuros, pele escura como oliva e grandes olhos negros. A semelhança instantânea com Alina era impressionante. Ele, como ela, possuía um olhar particularmente desaprovador. Ele usou aquele olhar agora. E com efeito.
— Imploro seu perdão, senhor, — Conn falou humildemente. — Minhas condolências pela sua perda.
— Ele pediu perdão, — traduziu Leona, estupefata com ele. — Oferece condolências pelo acontecido.
— Oh, — o homem de cabelos escuros observou. Ele não parecia nada impressionado.
— O que você disse? — Conn sussurrou para Leona.
Ela se virou lhe lançando um olhar fulminante. — Eu disse a ele que você pediu perdão e trazia suas condolências.
— Bom, — respondeu Conn com muito alívio.
O homem ainda o olhava como se ele tivesse aparecido em uma nuvem de fumaça, completo, com o que os mais velhos descreveriam como chifres satânicos e um tridente. Ele limpou a garganta e curvou-se para baixo. — Senhor Conde, meus cumprimentos, — ele disse educadamente. — Desculpe-me por minha intrusão. Eu estava ansioso para ver minha prima.
Leona repetiu as palavras, corando quando disse a parte sobre a prima. Embora suas mães fossem parentes distantes, elas não eram primas. Essa não era a razão para a conexão deles. O homem deveria estar se perguntando por que os primos se cumprimentaram com uma paixão tão evidente.
O Conde disse algumas palavras em francês, que Leona relatou num tom sussurrado. — Ele oferece-lhe um convite para mais a noite. Ele diz que um lugar será colocado para você na mesa do jantar desta noite.
— Oh! Agradeça gentilmente a ele.
Leona disse algumas palavras e depois disse a ele para seguir o homem alto com o rosto comprido, até as escadas. Ele era aparentemente o mordomo-chefe, pois conduziu Conn sem palavras aos aposentos de hóspedes.
Conn olhou em volta, sentindo-se surpreso. Ele havia viajado em um navio pouco salubre, através de cidades e pousadas que ficavam cada vez mais escassas à medida que seu dinheiro diminuía. Ele agora, chegara ao paraíso. Leona estava ali, isto bastava. Ele sorriu, sentindo-se espantado.
— Eu deveria me lavar para o jantar. Aquele homem me odeia. — Ele riu para si mesmo, banhando seu rosto na bacia de água colocada na mesa de cabeceira. Era refrescante, pois o calor havia sido opressivo no caminho à mansão, e ele estava feliz por poder lavar a sujeira.
Eu consegui aborrecer o tio de Leona. O que eu vou fazer sobre isso?
Ele suspirou. Tudo o que podia esperar era que conseguisse desfazer a má impressão que acabara de causar. Ele inspirou e fez uma careta.
Se eu tivesse algumas roupas que não tivessem sido usadas por três dias, poderia ser mais fácil.
Ele cheirava a mar, suor e poeira. Assim que ele abriu o guarda-roupas, com a esperança de que um hóspede descuidado tivesse deixado para trás algumas roupas do tamanho dele, ele ouviu um barulho do lado de fora da porta. Ele fez uma pausa, inexplicavelmente nervoso.
— Sim?
— Conn, — um sussurro urgente soou através da madeira. — Sou eu.
— Leona? — Conn correu à porta sem pensar e abriu-a apressadamente.
Leona entrou. — Conn! — Ela respirou. — Graças a Deus você está aqui.
Ela parecia bem agitada e Conn sentiu-se instantaneamente preocupado. — O que é isso, querida?
— É ele, — disse ela. — Ele. O conde de Cleremont.
— Quem? — Perguntou Conn. Ela parecia angustiada e ele pegou suas mãos, notando o quão frias elas estavam.
— Você viu o homem na escada?
Conn sacudiu a cabeça e ela continuou.
— Ele é o homem com o qual meu tio tem me pressionado para casar.
— O quê? — Conn gritou. Leona estremeceu e ele baixou a voz, espantado. — Mas Leona! Você... eu... nós...
— Eu sei, — Leona disse. — Isso é o que eu sei. Mas meu tio... — ela suspirou. — Ele tem grandes planos. E eu sou de alguma forma a parte central para eles. Eu sei, — ela suspirou, sentando na cadeira diante de uma pequena mesa. — Eu não quero isso mais do que você. Mas estou mais ou menos a mercê dele aqui.
Conn sentiu uma pontada de raiva aflorar no peito dele. — O quê? — Ele grunhiu.
— Não, não é assim, — Leona explicou cansada. — Ele não é cruel. Ele é tudo menos cruel. Essa é a dificuldade.
— Leona...
Ela estava chorando, o rosto coberto por suas mãos. Conn, com o coração contorcido, foi até ela. Segurando-a nos braços e ela chorou. — Leona, meu amor. Minha querida... — Ele sussurrou contra os cabelos dela e segurou-a com força enquanto ela chorava.
Finalmente, ela soluçou e fungou, virando-se para ele. — Oh! Conn, — disse ela. E deu-lhe um pequeno sorriso.
Eles estavam sentados muito perto, o corpo dele pressionado firmemente contra o dela, sua presença suave e quente, encostada nele, presa na firmeza de seus braços. Ele podia sentir o cheiro dela: o perfume feminino misturado com delicadeza floral e especiarias. Seu sangue ferveu. — Leona, — ele sussurrou. E beijou o cabelo dela. — Eu a amo.
— Oh, Conn.
Ela se aproximou em seus braços e se abraçaram. Beijando-se.
Conn sentiu que todos os nervos de seu corpo formigavam quando o corpo macio e cheio de curvas se encostou a ele. Apertando ainda mais o abraço, deixou a língua deslizar entre os lábios dela, para o calor da sua boca. Ela possuía um gosto tão doce, e a suavidade de seus lábios contra os dele era incrível. Seus músculos doíam e ele a pressionava levemente contra a cama, uma sensação de urgência excitando-o enquanto ela se inclinava para trás suavemente sob ele.
Eu a quero muito.
— Leona, — ele rosnou, beijando sua garganta. Era perfumada com cheiro de rosas e a pele como porcelana. Ele a lambeu suavemente fazendo-a gemer. Ele podia ver a doce elevação dos seios dela no vestido decotado e queria tocá-los.
Enquanto ele acariciava a pele macia de seu peito, ela ficou tensa, sentando-se.
Seu cabelo era uma nuvem quente ao redor de sua cabeça, seus olhos brilhantes e intensos. — Não, Conn, — ela sussurrou, rouca e urgente igual a como ele se sentia. — Nós não devemos.
Ele suspirou. Sentou-se. Colocou as mãos ao lado dela na cama, segurando a manta para conter seu desejo de segurá-la. — Eu sei.
Eles ficaram em silêncio por um longo tempo.
Conn clareou a garganta. — Nós deveríamos jantar, não?
— É meia hora depois das oito, — Leona disse suavemente. — Temos pelo menos, meia hora a mais.
— Leona... — Conn engasgou.
— Eu sei, eu sei. — Ela suspirou. — Nós não devemos ficar. Se eu ficar aqui com você, bem... — A voz dela ficou sem som e seus olhos olharam para os dele, apelativamente amplos e inocentes.
Ele sorriu. — Bem, é assim que me sinto.
Eles riram um pouco trêmulos.
— Conn, — disse Leona depois de um longo momento. — Você poderia... eu preciso deixar este lugar. Nós poderíamos ir embora?
— Sim, — disse Conn irregularmente. — Por que mais eu viria?
Ela sorriu. — Para me visitar?
Conn riu. Mesmo sem o feliz acidente, ele teria chegado ali mais cedo ou mais tarde. Ele precisava. — Bem, sim. Eu precisava vê-la outra vez, Leona. — Sentindo o rosto ficar tenso de preocupação quando se lembrou das semanas sem ela. As noites sem saber onde ela estava e os dias que eram sem graça, sem seu sorriso e sua voz.
— Estou tão feliz, — Leona sussurrou, aproximando-se dele. — Você não faz ideia do quanto você perdeu.
— Nem você também! — Conn riu.
— Oh, Conn, — Leona respirou. — Eu não consigo acreditar que você está aqui.
— Nem eu também, — ele riu.
Ele arriscou colocar um braço ao redor dela e se sentaram lado a lado na cama. Era lindo apenas estar perto dela, sentir sua presença quente em seus braços e saber que ela estava por perto.
Leona encostou a cabeça em seu ombro e eles se sentaram juntos como haviam feito durante toda a vida. Conn sentiu seu coração relaxar, as coisas se estabelecendo de uma maneira que não foram desde a partida dela. Ele a segurou pela mão.
— Senti sua falta.
— Oh, Conn. Eu também senti sua falta.
Eles olharam nos olhos um do outro e se beijaram novamente, mas desta vez foi um beijo lento e gentil. Conn sentiu sua necessidade retornar quando ela engasgou e se aproximou, com a boca rosada e úmida, e recostou-se, o rosto carregado de desejo. Ele lutou contra o desejo de empurrá-la de volta à cama e cobri-la de beijos. Ele precisava dela.
— Conn?
Ele ficou de pé, indo de repente à janela. Depois se virou. — Desculpe, Leona, — disse-lhe, com a boca curvando-se em um sorriso. — Eu só... eu não posso ajudar. Eu quero você.
Leona suspirou. — Eu também quero você, Conn, mas não podemos arriscar.
— Eu sei. — Ele suspirou. — Bem, a primeira coisa que precisamos fazer é tirar você daqui.
— Sim, — Leona assentiu. — Eu estava pensando...
— Nós devemos ir...
Eles falaram simultaneamente e ele sorriu com tristeza. — Desculpe, Leona. Você fala primeiro.
Ela riu. Era uma ocorrência comum, que atormentava o início de suas conversas.
— Bem, então, — ela disse. — O que eu ia dizer era que eu possuo um plano para deixar este lugar. Eu ia fazer isso sozinha. Talvez pudéssemos fazer isso juntos?
— Diga-me, — disse ele, sentindo a esperança queimá-lo por dentro.
Ela lhe disse. — ... E nós sairíamos pela porta lateral às quatro horas pelo relógio, — explicou. — Dessa forma, estaremos em posição quando o bom padre for embora.
— Verdade, — Conn assentiu rapidamente. — Mas, é muito arriscado, Leona.
— É arriscado, — disse ela imediatamente. — Mas não muito. Precisamos fazer isto Conn! — Ela estava desesperada. — Como mais podemos ir?
— Nós poderíamos apenas andar? — Ele sugeriu. — Diga ao homem que vamos dar uma volta. Nunca mais volte.
— Verdade... — Leona disse, olhando-o. Então ela sorriu. — Conn! É brilhante! Nós poderíamos fazer isso!
Ele sorriu, sentindo-se incrivelmente orgulhoso de si mesmo. Ele olhou às mãos. — Não foi nada.
Ela riu. — Modéstia não é com você, Conn! — Ele fez-lhe uma careta e ambos sorriram.
— Que horas são? — Ele perguntou depois de um momento.
Leona levantou-se e olhou pela janela, esticando os olhos para ver algo no jardim. Ele se juntou a ela por cima de sua cabeça.
— Vinte minutos depois da hora, — informou-lhe. — Há um relógio de sol no caramanchão das rosas. Veja. Você pode ver apenas daqui.
— Oh, — disse Conn parecendo impressionado. — Muito bem.
Leona deu uma risadinha. — Bem, devemos terminar nossos planos.
Eles assim fizeram. Sussurrando juntos, elaboraram um plano de ação. Eles esperariam até o dia depois de amanhã, diriam que estavam indo à floresta dar uma volta e depois, simplesmente iriam até a costa. Eles seguiriam a estrada, mas cavalgariam paralelamente, mantendo-se nas florestas. Eles ficariam em abadias para evitar serem detectados na estrada e pegariam o primeiro barco de Calais para ...bem ...para qualquer lugar.
— Temos que sair desse lugar. Para onde nós vamos é o menos importante. Contanto que possamos finalmente voltar à Escócia, — explicou Conn.
Leona assentiu devagar. — Concordo. O primeiro barco que deixe Calais, vamos comprar passagem. Eu possuo prata. Nós podemos pagar.
Conn sorriu para ela. — Confiei que você diria isso. Você pensa em tudo, Leona.
Leona sorriu. — Estou tão feliz por você estar aqui, Conn!
Conn soltou um suspiro irregular. — Você não faz ideia de como estou satisfeito por estar aqui! Não faz ideia, moça. Ele beijou seu cabelo e então ela se levantou, caminhando rapidamente à porta.
— Eu devo me preparar para o jantar, — disse rapidamente. — E, Conn?
— Sim, — ele sussurrou.
— Vou mandar Leblanc com uma nova túnica. Você precisa de uma.
— Leona! — Ele disse, rindo incrédulo, o rosto de um vermelho brilhante. — Você é uma coisa chocante!
— Você disse que eu penso em tudo, — disse-lhe, sorrindo maliciosamente. Então ela abriu a porta e silenciosamente saiu para o corredor.
Conn sentou-se pesadamente, sentindo-se atordoado de felicidade.
Ele estava ali. Leona estava ali. Eles escapariam. Em uma semana ou duas, eles poderiam estar em casa com tudo isso bem atrás deles. Quando chegassem ao solo do castelo, eles se casariam. Não havia mais razão para esperar.
CAPÍTULO QUATORZE
UM PASSEIO E UMA DESCOBERTA
Na manhã seguinte Conn acordou com um sorriso. Esticou-se e sentiu o linho macio debaixo dele. Levou um momento para lembrar onde estava. Ele estava em Annecy. Em algum lugar naquela mesma construção estava Leona.
Seu sorriso ficou mais largo então. Lembrou-se de como ela parecera linda naquele vestido na noite anterior, ele permitiu que sua imaginação se concentrasse naquelas curvas suaves e imaginasse como seria despi-la. Beijar aquele pescoço macio e deixar sua boca se mover para baixo até a suave elevação de seus seios. Ele os imaginou cheios e quentes em suas mãos enquanto seus lábios se fechavam sobre um mamilo duro, sugando-o carinhosamente em sua boca. Imaginou o sorriso dela, surpreso de prazer quando ele fez aquilo.
Homem pare! Ele sentiu um endurecimento na virilha e riu para si mesmo. Deslizou para fora dos lençóis e se espreguiçou, bocejando.
O servo que apareceu com uma túnica para ele fungou em desaprovação quando Conn caminhou pesadamente até a bacia e enxaguou o corpo nela, suspirando de prazer por estar novamente limpo depois da longa jornada.
— Obrigado, — comentou Conn quando o homem deixou a túnica limpa e retirou-se.
Quando Conn encolheu os ombros, deixou que sua mente se voltasse para pensamentos mais sérios. Como, por exemplo, o problema que Leona lhe confidenciara na noite anterior.
Há algo estranho acontecendo aqui. E eu não gosto do olhar daquele outro sujeito que está aqui como hóspede da casa.
Ele terminou de se vestir e penteou o cabelo, descendo para o salão.
— ... E devemos nos certificar de visitar, ah! — O conde de Annecy declarou, sorrindo para Conn quando ele entrou. — Olhe, sobrinha! Seu parente surgiu mais cedo do que esperávamos.
Conn corou quando Leona se virou na cadeira, dando-lhe um largo sorriso. — Bom dia, Leona, — ele disse calorosamente.
— Olá, Conn, — disse ela lhe lançando o sorriso provocante que sempre havia lhe dado desde que eram crianças. — Estou surpresa de ver você acordado. Você fez uma longa jornada ontem.
Conn sorriu-lhe e sentou-se no assento que o lacaio alto lhe oferecia. — Eu dormi muito bem, acho que nunca mais vou estar cansado, — Conn sorriu.
Ele notou o tio dela olhando-os, com um sorriso perplexo, então viu Leona notar também e o traduziu para ele.
Enquanto Leona estava ocupada transmitindo a conversa para o tio, Conn se permitiu olhar mais de perto. Seus olhos desciam de seus cachos cor de morango para o vestido que ela usava; um vestido simples de linho verde, mas cortado de uma maneira que mostrava cada uma de suas deliciosas curvas pelo melhor aproveitamento. Ele se viu corando e olhou rapidamente para longe.
— ... E nós deveríamos... Conn!
— Uh? Sim, Leona? — Conn olhou-a de volta, sentindo-se tolo. Ele não percebeu que ela estava falando com ele!
— Eu estava apenas perguntando ao meu tio se podemos pegar emprestado alguns cavalos dos estábulos, — disse Leona, levantando uma sobrancelha para Conn.
Ele reconheceu o gesto da infância como um alerta, com um significado oculto. — Oh, — Conn piscou. — Sim. Sim, por favor, senhor — acrescentou ele, sorrindo esperançoso para o conde de Annecy. — Isso seria muito gentileza.
Leona revirou os olhos para ele e depois traduziu para seu tio, que assentiu, dizendo algo breve e depois bateu palmas para chamar um criado que veio correndo.
Conn pegou um pouco de pão e observou as travessas centrais.
Enquanto seu tio explicava suas necessidades ao criado, Leona se virou para Conn. — Eu preciso falar com você sozinha. Nós podemos fazer isso no passeio. Oh! Há um grande dragão no seu nariz.
Conn a olhou como se ela tivesse enlouquecido. — Leona? O que... —
— Quieto, — ela admoestou.
Conn sentou-se ao seu dela, sentindo-se confuso. Ela havia perdido a cabeça? Qual foi aquele absurdo sobre o dragão? — Leona...
Naquele momento, o tio de Leona tossiu e eles se viraram para encará-lo. Ele disse algumas frases, depois assentiu afavelmente e empurrou a cadeira.
— O tio disse que ele tem que fazer alguns negócios com o Conde, — Leona explicou em um sussurro. — Ele diz que somos bem-vindos à sua hospitalidade e a um passeio antes do almoço.
— Obrigado, — disse Conn ao tio dela. Ele assentiu e saiu. Conn se virou para Leona. — Leona! O que...
— Ufa, — ela disse, ignorando seu sussurro urgente. — Agora podemos conversar. Conn, acho que o conde de Cleremont entende mais do que acreditamos que ele entenda.
Conn olhou para ela. — Leona. Como ele pode entender o gaélico? Você tem certeza?
— Eu não tenho certeza de nada, — disse Leona seriamente. — Mas esta manhã, quando desci, ele estava no café da manhã. Disse algo sobre o relógio de sol no caramanchão. Lembra quando estávamos falando sobre isso ontem?
— Sim?
— Bem, ele me perguntou se eu havia explorado os jardins. Eu disse que sim e ele mencionou o relógio de sol. Perguntou se eu posso ler. Eu lhe disse que sim.
— Então?
— Bem, ele disse que não estava surpreso... que eu sempre penso em tudo.
— Tem certeza de que não é apenas coincidência? — Perguntou Conn. Ele foi recompensado com um olhar cético.
— E ele teria citado a brincadeira que fizemos sobre como eu sempre penso em tudo, também? Por coincidência?
Conn soltou um longo suspiro. — Leona ...
— Precisamos ter cuidado, — continuou Leona em um sussurro.
— Como você sabe que seu tio não entende gaélico? — Ele perguntou.
— Existe um dragão no seu nariz? — Leona perguntou com um sorriso distorcido.
— Que diabos você es... Oh! — Conn assentiu, compreendendo. Ela viu seu tio observando-os e queria descobrir como ele reagiria. Como ele não reagiu ao comentário maluco dela, ele não deve ter entendido. — Esperta, — disse ele, assentindo.
— Obrigada, — Leona sorriu.
De repente, eles pareciam ser crianças, juntas novamente. O pensamento torceu o coração de Conn dolorosamente, lembrando-o de sua dificuldade atual. — Bem então. Como sabemos que o conde nos entende, o que podemos fazer?
— Vamos cavalgar? — Leona sugeriu.
Conn assentiu. Ele já estava de pé, empurrando a cadeira. — Vamos.
Eles se encontraram nos estábulos e Conn precisou se conter para não olhar boquiaberto para ela. Em seu vestido de montaria cor de fogo, sua figura era mostrada com perfeição. Ele podia ver seu generoso decote, cintura estreita, pernas compridas. Ela era tão bonita que fez todo o seu corpo doer.
— Leona...
— Olá, — ela sorriu timidamente. — Você está pronto para cavalgar?
Ele sorriu. — Sim.
Eles montaram e partiram.
Enquanto percorriam o caminho que levava ao topo da colina, Conn conseguiu diminuir a marcha para poder admirar Leona de todos os ângulos. A segunda vez que fez isso, ele pegou os olhos azuis dela, cravados nele, um olhar travesso neles.
— Conn, — disse ela com um sorriso. — Pare com isso.
— Parar o quê? — Ele perguntou inocentemente.
— Pare de encontrar desculpas para desacelerar. Nós ainda não somos casados. E se não encontrarmos um jeito de passar por essa bagunça, nunca seremos.
Conn assentiu, sentindo-se tolo de repente. — Sim, Leona.
Ela lhe sorriu e ele se colocou ao seu lado. — Conn?
— Sim?
— Você acha que poderíamos ir até Aix em uma noite?
Conn mordeu o lábio pensando. — Não. Não apenas por causa da distância. Por causa do perigo na estrada, acho que seria melhor nos escondermos aqui em algum lugar, em uma abadia ou algo assim, antes de partirmos para Calais. Precisamos percorrer a menor distância que for possível.
— Eu concordo, — Leona assentiu.
— Eu acho que o que devemos fazer é cavalgar até Bois, e lá podemos parar em ... — Seu próximo pensamento foi interrompido por um grito. Ele se virou para ver um homem correndo pelo caminho atrás deles.
— Milady Leona! Milorde — o homem de serviço arquejou, dobrando-se por causa corrida. Ele se virou para Leona e disse uma longa frase, então, quando ela assentiu, sorrindo, ele desapareceu de volta pelo caminho que viera.
Conn se virou para Leona com uma carranca na testa.
— Ele disse que meu tio o enviou. Ele nos chamou de volta à casa.
— Oh! — Conn a olhou com os olhos arregalados.
Leona assentiu. — Eu acho que alguém está por trás disso.
— Você quer dizer...?
— Quero dizer que nosso conde de Cleremont não gostaria que fôssemos amigáveis demais. — Ela fez uma cara azeda.
— Acha que ele pediu ao seu tio que nos levasse de volta? — Perguntou Conn, colocando-se ao lado de Leona enquanto conduziam os cavalos de volta à mansão.
— Eu acho que há muito que não sabemos sobre o meu tio e sua amizade com o Conde, — disse Leona severa.
Conn engoliu em seco. — Você não acha que ele quer forçá-la a se casar com ele, não é?
Leona assentiu. — Eu acho que combina com ambos, Conn. Meu tio não é cruel, mas é ambicioso. Ele quer a terra que o Conde está lhe oferecendo. Ele imagina o valor que agregará ao seu patrimônio, quanta receita pode obter de fazendas do ensolarado lado sul.
— E ele venderia você por isso? — Conn olhou-a, horrorizado.
— Ele venderia quase tudo por um lucro maior, — disse Leona com firmeza. — Como eu disse gosto dele, mas ele quer que Annecy seja a propriedade mais rica do noroeste da França. E quem pode culpá-lo?
Conn assentiu, sentindo-se um pouco doente. — Eu suponho. Mas isso é... isso está errado, Leona.
Leona piscou para ele. — No entanto, casamentos em nossa própria terra são negociados por menos todos os dias.
— Eu suponho que sim.
— Venha, — acrescentou Leona. — Ali está ele. Nós precisamos tentar nos falar sozinhos mais tarde.
Conn olhou o caminho, percebendo que ela estava certa: seu tio saíra e estava perto dos estábulos, esperando por eles. Atrás dele, o sorriso cuidadosamente colocado no rosto, estava o conde.
Conn descobriu que se sentia um pouco doente. Leona estava certa, ele pensou. Homens de poder manipulavam e usavam seus filhos e filhas todos os dias. Por terra, por poder. Para ganho. Mesmo assim, era um mundo que ele nunca imaginara existir antes. Agora, olhando para o conde e o modo como seus lábios finos se erguiam em um sorriso triunfante enquanto ele e Leona subiam o caminho, ele desejava que ainda fosse ignorante.
— Ah, Leona, — o tio dela disse, virando-se para onde ela estava à frente de Conn. Conn não entendia muito do que ele dizia, apenas que mencionara o jantar naquela noite.
Bem, vou precisar rezar para que fiquemos sozinhos depois do jantar.
Sentindo-se mais desconfortável do que poderia ter imaginado, Conn seguiu Leona e seu tio, e o silencioso e melancólico Conde subindo os degraus e voltou à casa.
CAPÍTULO QUINZE
PLANOS FINAIS
o anoitecer estava apenas começando a transformar as sombras púrpuras no solar, quando Leona entrou silenciosamente, o vestido cinza foi trocado por um azul suave. Seu tio já estava lá, usando um longo manto preto e sentado à cabeceira da mesa. Ele lhe sorriu, embora seus olhos fossem sérios.
— Ah, minha sobrinha. Você está bonita. Espero que você tenha tempo para conversar com seu compatriota.
— Sim. Obrigada, tio — disse Leona calmamente.
— De modo nenhum! De modo nenhum. Sente-se aqui perto de mim. O conde está momentaneamente ocupado, — acredito que ele se juntará a nós em breve.
Leona sentiu seu sangue se esvair enquanto se sentava ao lado esquerdo do tio, o lugar que se tornara dela. Ela estava tão animada com Conn, que se esquecera de que ele também estaria ali! Como ela faria isso?
— Meu senhor? — Uma voz grossa disse à porta atrás dela.
— Ah! — Seu tio olhou por cima da cabeça para onde o homem estava na soleira atrás dela. — Senhor Conde!
Leona girou em volta, sentindo o coração como se alguém a tivesse golpeado no peito.
— Milady. Encantadora, — disse ele em voz baixa. — Você passou algum tempo formando novo contato com seu compatriota, eu acho? — Ele entrou e sentou-se ao lado de seu tio, em frente a ela.
Leona engoliu em seco. A mudança nela era tão clara? — É bom ter notícias de casa, senhor, — disse ela com humildade. Que ele não adivinhe como me sinto sobre Conn! Se soubesse, poderia conspirar contra ele; Leona podia sentir que ele não toleraria nenhum rival.
— Eu imagino que sim, — disse ele aridamente. — Milorde, — ele se virou para o tio dela, a voz mudando, de repente, mais suave. — Você nos prometeu uma boa refeição esta noite!
— Eu prometi, de fato, milorde, — disse o tio alegremente. — Aguardamos apenas nosso convidado escocês. Você diz que ele não fala francês, sobrinha? — Perguntou preocupado.
— Nada senhor.
Seu tio suspirou. — Bem, precisamos fazer o que pudermos com gestos e sinais. — Ele lançou os olhos para o céu. — Ele não fala inglês também? Nem franco?
— Nenhum deles, meu senhor, — admitiu Leona.
O conde de Annecy suspirou novamente. — Bem, devemos chamar você para traduzir, minha querida. É oneroso, mas é assim?
— Sim, — concordou Leona. Ela tocou a borda da taça nos lábios, feliz por não ser algo mais forte: ela precisava de sua cabeça no lugar esta noite. O conde, na sua frente lhe lançava um olhar de olhos duros.
— Você permitirá que essa... chegada... atrase sua partida para Cleremont? — Perguntou ele.
— Eu... — Leona hesitou, procurando compostura. O que poderia dizer? Ela não poderia muito bem dizer que nunca pretendia ir com ele, em primeiro lugar! — Eu acho que a visita do meu compatriota não é longa, — ela hesitou.
— Oh, — o conde franziu a testa. — Eu entendo então que isso não afetará nossos planos?
— Não, milorde, — disse Leona. Pode afetar o seu, não o meu.
— Isso é bom. — Ele se inclinou para trás, parecendo relaxado.
Todos se sentaram em um silêncio tenso. O único som na sala era o delicado gotejo de um relógio de água do corredor, alto, na quietude da sala.
Leona se mexeu desconfortavelmente, tentando pensar em algo para dizer. Ela puxou um fio solto na manga e olhou para o tio.
Naquele momento, alguém entrou na sala. Leona não ouviu nada, mas viu as expressões dos dois homens mudar quando olharam à porta.
— Boa noite, milorde. — Gaélico, cadenciado e puro. Leona sentiu o coração disparar, ouvindo aquela voz agora.
O rosto de seu tio se estabeleceu em uma máscara de polidez tensa. O rosto de Guy Ferrand, em contraste, foi cruzado por um olhar de tal ódio que seu sangue gelou.
— Ah, senhor McNeil. Bem-vindo, bem-vindo! — Seu tio ficou de pé, acenando com a mão à mesa. O coração de Leona estremeceu quando ela viu o Conde lentamente mudar do ódio, para uma serenidade enquanto seu tio acenava para Conn se sentar ao lado dele.
Leona olhou para Conn. Ele estava mais limpo do que antes, com o cabelo avermelhado brilhando como se tivesse sido recentemente lavado e enxugado, uma túnica branca limpa cobrindo sua forma fortemente musculosa. Ele usava calças marrom, limpas e seu manto verde parecia ter sido liberado da poeira. Ele era incrivelmente bonito e ela tinha certeza que alguém perceberia aquilo.
Ela olhou de soslaio para o conde que ainda estava olhando para Conn, estreitando os olhos quando percebeu a presença dele. Leona sentiu-se brilhar de orgulho ante o olhar de ressentimento no rosto do homem. Ele deveria se sentir bastante desafiado por Conn.
— Bem-vindo, — seu tio estava dizendo para Conn, sempre educado. — Nós chegamos aqui há um minuto. Ferriers? Traga ao nosso convidado escocês sua sopa, vá? Venha, senhor. Você pode sentar aqui, à minha direita.
Leona observou enquanto Conn se acomodava no banco ao lado do conde de Cleremont. Ela comprimiu os lábios em uma linha fina, reprimindo o sorriso que foi provocado quando Conn olhou para os talheres com uma carranca. Garfos eram de uso comum na França, embora na Escócia eles usassem faca e colher. Seus olhos dançaram divertidos enquanto observava o olhar de perplexidade em seu rosto.
— É gentil da sua parte oferecer-me pousada, milorde, — disse ele ao tio de Leona.
Seu tio se virou para ela, o sorriso educado ligeiramente desgastado nas bordas.
— Conn agradece pela hospitalidade, tio Marc — ela disse levemente. Ambos os homens pareciam aliviados.
— Ah não! Não é nada... — Seu tio descartou aquilo generosamente. — Agora, aqui estamos nós! Tente isso. — Ele acenou com a mão à sopa, que Ferriers colocou na frente de Conn com um floreio.
Leona observou quando Conn levantou a colher acima do prato e olhou-a em busca de orientação. Ela levantou um bocado e delicadamente tomou da concha. Ele imitou-a.
— Delicioso, meu senhor, — disse ele ao tio dela, que sorriu.
— Estou tão feliz. É uma sopa delicada. Peixe aromatizado com um novo vegetal chamado cenoura. É uma coisa curiosa. Um legume de raiz, da Espanha, eu acredito. Você ouviu falar?
— Não, — disse Leona. Ela gostou do sabor, embora achasse doce e ligeiramente semelhante ao funcho. — É muito bom.
— Estou feliz em ouvir isso! — Seu tio sorriu. — Nosso jardineiro chefe está cultivando-as. Ele me mostrou uma e me deixou completamente espantado, devo admitir. Fico feliz por não ter visto antes de prová-la. Como uma pastinaca10, mas com cores vivas.
— Mais incomum, — observou Leona. Ela estava observando Conn e o conde.
O conde estava fazendo o melhor que podia para ignorar completamente o homem ao seu lado. Um pouco de relutância teria sido perdoável, já que não havia uma língua comum entre eles. No entanto, isso transbordou para a rudeza. Ele nem sequer olhou para Conn. Isso era descortês!
— Milorde, — disse Leona, surpreendendo o tio de suas reflexões. — Acho que não apresentamos formalmente nossos visitantes uns aos outros.
— Ai, sim! Terrivelmente negligente de minha parte, — seu tio disse rapidamente. — Milorde, apresento-lhe lorde McNeil, primo da nossa bela lady Leona. Lorde McNeil, você não entende uma palavra, mas este é o seu senhor, Guy Ferrand, o conde de Cleremont. — Ele parou hesitante.
Leona prendeu a respiração quando o conde de Cleremont olhou para Conn. Os dois homens se encararam. Leona sentiu como se o ar pudesse crepitar, o momento estava tão tenso. Ninguém estava fazendo qualquer esforço para esconder sua antipatia. Ela olhou para o tio, que estava de volta com o sorriso educado no rosto, olhando nervosamente do conde para Conn. Ele poderia estar alheio às afeições de Leona por Conn, mas ele estava sozinho nisso.
— Senhor McNeil, — disse o conde rigidamente. Ele inclinou a cabeça um pouquinho para Conn. Todo o seu corpo ficou rígido, o rosto tenso como se tivesse mordido algo com um gosto ruim.
— Meu senhor Conde, — Conn inclinou a cabeça. Sua voz estava tensa.
O conde lhe lançou um olhar gelado e sentou-se outra vez.
Ele ergueu a colher e voltou a comer, esquecendo Conn.
Leona olhou para Conn, que levantou uma sobrancelha, fazendo-a querer sorrir. Então ele se sentou e ergueu sua própria colher e continuou tomando a sopa como se nada tivesse acontecido.
— Tenho certeza de que o senhor McNeil tem muito a dizer, — disse o tio Marc. — É uma pena que ele não entenda as palavras. Leona. Se você pudesse se voluntariar. Talvez possa perguntar ao nosso convidado sobre sua jornada.
Leona soltou um suspiro profundo. Ela olhou para o conde, que estava olhando-a. Ela clareou a garganta, dando a Conn um sorriso frágil. — Meu Senhor? Você teve uma boa viagem?
— Eu tive, — disse Conn. Olhando-a nos olhos e então foi impossível para Leona não sorrir. Ele estava lhe dando um sorriso tão perverso. Ela mordeu o lábio, corando furiosamente. — Foi uma viagem agradável, embora as boas-vindas tenham sido mais do que isso.
Leona lhe lançou um olhar e depois se virou para o tio. — Ele diz que o tempo estava agradável, meu senhor, e que sua mansão é adorável.
O conde fungou secamente. Leona lhe lançou um olhar. E recebeu um olhar vazio.
— Eu pensei que ele poderia ter dito outra coisa, — disse o conde levemente. — Parecia um longo discurso para um comentário tão pequeno.
— Meu primo é muito objetivo, senhor, — disse Leona suavemente.
Seu tio sorriu. — Objetivo, é? Uma boa palavra. Agora, se não me engano, nosso cozinheiro deveria ter preparado os capões para o jantar. Muito maravilhoso. Ah!
Ferriers apareceu como se fosse convocado por magia, e começou a tirar os pratos de sopa. Leona ainda não havia terminado o dela, e bebeu delicadamente, ao mesmo tempo amando o fato de que Conn estivesse lá e desejando que eles estivessem em outro lugar, sozinhos.
— Ah! Venham! — Seu tio interrompeu seus pensamentos, olhando atrás dela.
Os pratos de sopa foram removidos, um grupo de dois servos trouxe o capão, fumegante e delicioso. Leona ficou feliz por todos terem desviado a atenção para a refeição. Até mesmo o Conde parecia mais interessado em saber onde o peixe havia sido pescado do que em vitimar Conn. Leona relaxou.
No final da refeição, enquanto se sentavam e comiam nozes e frutas cozidas, o tio Marc pigarreou. — Desculpem-me, meus jovens convidados; mas vou me recolher cedo. Eu tenho negócios com meu mordomo amanhã e desejo estar alerta. Se vocês me derem licença?
— Eu acompanharei você Milorde, eu tenho um assunto para discutir. — Os olhos de Lorde Ferrand se moveram significativamente para Conn e Leona e ficaram tensos. Ela o viu se levantar e seguir seu tio para fora.
Conn e Leona se olharam sobre a mesa.
Leona sentiu um sorriso dividir seu rosto. — Conn, — ela murmurou. — Estou tão feliz por você estar aqui.
— Eu também, Leona. Não consigo pensar em nada melhor do que estar aqui — disse ele fervorosamente.
Leona sorriu. — Com melhor companhia, talvez?
— Nem mesmo isso estraga as coisas. Leona... — Sua voz carregada de saudade, ele se levantou movendo-se ao redor da mesa, então se sentou ao lado dela.
Suas mãos se esticaram e ela se inclinou à frente, enquanto Conn se movia para ela. Eles se beijaram.
Leona sentiu uma excitação selvagem quando se beijaram no que era, mais ou menos, totalmente em público. Seu tio ou o conde poderiam voltar a qualquer momento! Os servos poderiam ver, ou o padre Reynard. Não importava.
— Leona... — A voz de Conn era rouca enquanto ele acariciava lentamente, o cabelo dela, afastando-o da testa.
— Conn. — Ela agarrou seus dedos fortes e musculosos, segurando-os firmemente.
Alguém se moveu no corredor e os dois se afastaram culpados. Ferriers apareceu, dois servos com ele, bandejas prontas, limpando a mesa.
— Nós devemos ir, — Leona murmurou.
— Sim.
Nenhum dos dois se moveu por um momento.
— Leona, — sussurrou Conn enquanto eles se levantavam.
— Sim?
No corredor, eles se encontraram e se abraçaram, então, se afastaram apressadamente ao som de passos se aproximando.
— Amanhã, — sussurrou Conn. — Devemos sair.
— Sim, — Leona sussurrou de volta.
Eles olharam em volta e depois foram na ponta dos pés até uma antecâmara.
— Leona, — disse Conn, de frente para ela. — Aquele homem sabe. Eu sinto.
— Eu sei, — Leona assentiu. Ele estava certo.
— Precisamos ir em breve.
— Eu sei, — Leona concordou. — Eu tenho planejado uma fuga durante dias. Antes mesmo de você chegar.
— Você planejou? — Conn olhou-a espantado. — Bem, graças ao Céu você não o fez! Eu poderia ter sentido sua falta.
Leona deu uma risadinha. — Oh, Conn. — Ela corou, percebendo o quanto ele deve ter querido vê-la.
— O que você ia fazer?
Leona contou a ele. Quando ela terminou, ele a olhou com tanta admiração que ela se sentiu vermelha de corar.
— Isso é brilhante! — Conn respondeu. — Nós poderíamos usar isso. Nós devemos fazer como você planejou, apenas juntos. E nós vamos cavalgar, levando cavalos dos estábulos.
— Sim, — concordou Leona. Ela não conseguia acreditar que planejara fazer aquilo sozinha. Seria impossivelmente arriscado sem alguém armado e fisicamente capaz com ela.
— Bem, então, — Conn sorriu. — Minha bela e brilhante mulher! Mostre-me essa porta secreta.
— Eu não posso arriscar agora, — disse Leona, sentindo medo. — Devemos ir amanhã de madrugada.
— Sim, — concordou Conn. — Podemos passar o dia nos preparando. Precisamos de provisões, cavalos e devemos nos vestir com cuidado, pois só poderemos levar o que vestirmos.
— Sim. E nós precisaremos de prata, — Leona lembrou-o. — Para acomodações, refeições e passagem.
Conn sorriu, seu coração dançando ao ver a familiar peculiaridade dela. — Minha mulher brilhante, — ele disse novamente.
Leona corou. — Quieto, — disse ela, batendo a mão para ele enquanto suas bochechas ardiam ardentemente. — Eu não sou mais brilhante do que você é.
— Sim, você é, — ele disse, seu rosto suave. — Sim você é.
Ele se inclinou e seus lábios encontraram os dela, famintos e quentes. Leona sentiu seu corpo se derreter sob o toque deles, seu pulso latejando quando ele a puxou para seus braços.
— Quando nós iremos? As sete pelo relógio? Amanhã ao anoitecer? — Perguntou Conn.
— Sim, — concordou Leona. — Sete no relógio. — Eles planejaram sair à noite, assim que o dia escurecesse um pouco. Dessa forma, ainda seria brilhante o suficiente para ver, mas escuro o suficiente para se misturar à sombra.
Eles se abraçaram na escuridão da câmara. O coração de Leona estava batendo com apreensão e excitação. Ela olhou em seus olhos brilhantes e sentiu todo o seu ser transbordando com isso.
— Nós vamos fazer isso, meu amor, — ele sussurrou, ecoando seu pensamento.
— Sim, — ela murmurou. — Sim, nós devemos. Nós teremos ido embora amanhã as sete, no caminho para o nosso futuro.
— Sim. Nosso futuro.
Eles apertaram as mãos. Os dedos de Conn estavam quentes nos dela enquanto ele os acariciava, a ternura em cada linha de seu rosto. — Leona, — ele sussurrou irregularmente.
— Conn.
Ele a beijou e ela se inclinou contra ele, sentindo seus lábios devorando os dele com uma urgência selvagem. Seu coração bateu no peito e ela segurou-o com força, deleitando-se com a sensação de seu corpo duro contra o dela.
— Nós devemos ir, — ela sussurrou quando se afastaram. — Nossa ausência será notada.
— Sim, — Conn assentiu. — Até amanhã, meu amor.
— Sim.
Quando Leona entrou no corredor atrás de Conn, ela pensou ter visto uma sombra no corredor. O leve balanço de um manto, como se alguém estivesse na porta escura do solar. Quem quer que fosse, ele mal se mexia. E eles se esforçaram para ouvir.
Provavelmente a cortina se contorcendo no ar do verão.
Ela ficou ali, observando as sombras.
— O que foi? — Perguntou Conn.
— Espere, — Leona sussurrou.
Quando nada se moveu por um minuto inteiro, ela decidiu que provavelmente estava imaginando.
— O que foi, minha querida?
— Nada, — ela descartou. Seu coração estava cheio de excitação para prestar atenção. — Boa noite.
— Durma profundamente, — ele sussurrou de volta.
Eles se separaram no topo da escada. Ela foi para o aposento dela, ele para o dele. No entanto, ela não conseguiu encontrar descanso. Allie ajudou-a a se despir e ela se sentou na cama tentando costurar à meia-luz das velas e dos fogos, esperando que isso acalmasse seus nervos.
Amanhã eu poderei ir embora daqui. Nós poderemos estar juntos. Indo para casa.
Ela nunca se sentiu tão animada ou assustada, antes. Seria arriscado. Isso seria perigoso. No entanto, eles precisavam fazer aquilo.
CAPÍTULO DEZESSEIS
PERIGO NA FLORESTA
O anoitecer caiu pesado nos campos. Um cobertor quente e transparente acalmou o som e turvou a floresta em sombras sonolentas. Um grilo cantou na grama alta, e em algum lugar um rouxinol chamou. Conn, vestido com um manto quente e as roupas de montaria, andava ao lado dos estábulos, esticando os olhos para ver o corpo principal da casa.
— Vamos, Leona.
Conn sussurrou para a noite fria, batendo no lugar para manter os pés quentes.
Espero que ela possa escapar sem ser detectada.
Conn suspirou. Ele confiava em Leona mais do que confiava em si mesmo. A porta secreta, a prata, os estábulos... tudo fazia parte do plano dela! Ele sempre foi muito menos capaz de fazer planos do que ela. Quando eram pequenos, até seus esquemas de roubar tortas sempre davam errado.
Claro que ela vai conseguir.
Mesmo assim, parecia que ela estava atrasada. Ele não pôde evitar um arrepio, sentindo uma espécie de presságio sinistro. Conn andava ansioso, desejando poder ver o relógio de sol dali. Ele estava certo de que ela estava atrasada.
Não seria de muita ajuda olhar o relógio Conn! Não há sol.
Ele balançou a cabeça para si mesmo. Mostrava como ele estava nervoso.
Em sua mente, ele correu pelo caminho, esperando que tivessem tempo para fazer tudo sem serem perseguidos. O plano era simples: cavalgariam da mansão às colinas arborizadas e se esconderiam ali a noite, seguindo a estrada até a abadia, onde descansariam pela manhã. Conn sabia o caminho, tendo cavalgado dois dias antes. Ele sabia que eles seriam capazes de passar praticamente invisíveis.
— Vamos Leona.
Soprou profundamente o ar quente na ponta dos dedos, esfregando-os contra o frio da noite. Ela deveria estar aqui agora. Onde ela estava? Ele avançou na ponta dos pés e correu o risco de espreitar ao redor do estábulo, olhando ao longo do caminho do caramanchão.
Tudo está no lugar. Nós devemos ir em breve.
Ele caminhou até onde havia deixado os cavalos amarrados no portão nos fundos.
Passos.
Era um som inconfundível, o pisar de botas sobre a grama, o ritmo marcante. Ele ficou tenso, escutando. Quem quer que fosse, eram passos pequenos, levemente construídos. Eles vinham rapidamente pela grama.
Leona!
Conn espreitou para fora dos estábulos, bem a tempo de vê-la correndo na direção dele. Ela usava uma capa cinza de montaria, o capuz jogado para trás, o cabelo cor de fogo solto.
— Conn!
— Leona...
Foi quando ele viu a sombra. Alta e ameaçadora. Era alguém espreitando ao lado do celeiro. Quando ele respirou, a silhueta disparou e uma mão agarrou o braço de Leona. Quem quer que fosse, a arrastou para longe dele.
Leona gritou
— Leona! Resista!
Conn agarrou a mão dela, mas quem quer que fosse, havia passado os braços ao redor da cintura dela e a puxava para trás, quebrando seu aperto. Soltou uma maldição. Agarrou um galho. Sentiu um arrepio de raiva e depois perdeu toda a contenção e correu, rugindo, para seu agressor. — Ei!
Conn rachou o galho contra a cabeça da figura sombria, que rugiu e, arrastando Leona à frente dele para agir como um escudo recuou. O homem era alto, com um rosto magro e duro. Ele havia sido um boxeador, talvez; seu nariz estava torto como se tivesse sido quebrado; braços enormes.
— Conn! Ajude ... — Leona sussurrou sem palavras.
Ele olhou para ela, desamparado. Ele não podia fazer nada! O demônio a posicionou na frente de si mesmo e qualquer golpe nele atingiria Leona. Conn não se arriscaria a bater nela. Ele correu atrás do homem, planejando acompanhá-lo antes que chegasse ao bosque de árvores.
Foi quando algo de muito acima dele atingiu-o com muita força na cabeça. Conn cambaleou à frente. Ele viu estrelas. Provou o sangue e cuspiu, então se levantou. Ele estava de joelhos. — Leona! Não!
Ele levantou a tempo de ver o homem alto levantar Leona. Ele estava de pé do outro lado de Conn e a carregava sobre seu ombro. Ele entregou-a a um homem a cavalo; um homem armado com um bastão, aquilo com o que acabara de bater em Conn. Um homem que lhe sorria daquele jeito familiar que congelava seu sangue.
— Saudações, — ele gritou para Conn em gaélico.
Conn sentiu o coração rolar pelo chão. — Seu filho da puta! — Ele gritou para o conde. Correu para seu cavalo, mas o conde estava galopando, com Leona pendurada em sua sela, cabelos brilhantes soltos, balançando.
Conn chegou ao cavalo e montou depressa, cavalgando para alcançar o conde e seu assistente alto e silencioso, que também montara, e estava correndo atrás dele.
— Yah! — Conn gritou. Ele se inclinou à frente e respirou fundo, incitando o cavalo a chegar ao lado do Conde. Ele podia ver Leona, pendurada na frente da sela, cabelos brilhantes balançando a cada sacudida do cavalo.
Assim que ele fechou a distância, o homem alto com o nariz quebrado se virou, desenhando com uma espada. Conn desenhou com a dele. As lâminas se cruzaram, causando faíscas. Conn grunhiu, sentindo o golpe no braço. Ele girou a lâmina ao redor, levantando-a para outro golpe, mas o homem havia se afastado.
— Hey! — Conn gritou. Desceu o caminho que levava aos portões da propriedade, correndo, tentando pegar os dois homens. O conde possuía uma vantagem inicial, mas ele estava conduzindo duas pessoas em seu cavalo e era bem possível que Conn pudesse alcançá-lo.
Quando ele fechou a distância, o homem estava lá antes dele, novamente.
Conn gritou, erguendo a espada, mas o homem também levantou o cavalo, empinando-o para permitir que mirasse melhor. Quando a lâmina cortou o braço de Conn, ele gritou alarmado. Ele não sentiu dor, não realmente; apenas um golpe seco. O homem puxou a lâmina de volta e então foi embora.
Conn o viu ir se sentindo atordoado. Então a dor ficou gravada nele. Ele gritou e seu braço soltou as rédeas, seus dedos repentinamente fracos. Ele alcançou o ombro com a outra mão, deixando a espada cair. Seus dedos ficaram vermelhos de sangue.
— Oh, não, — disse Conn em voz baixa. — Desgraçado!
Ele não podia alcançá-los agora. Não havia como. Tinha sido gravemente ferido — e estava sozinho em uma terra estrangeira. Ele havia feito um inimigo no tio de Leona e a perdera para sempre.
— Eu sou tão tolo, — disse ele. Balançou a cabeça para si mesmo, amargo e desesperado. — Eu sou um tolo.
Ele virou o cavalo, guiando-os de volta para a mansão. Ele não tinha mais para onde ir. Se seu ombro não estivesse enfaixado logo, poderia desmaiar devido à perda de sangue. E isso seria fatal à noite nos bosques.
Eu preciso ir para Cleremont. Ele levará Leona lá. Eu vou encontrá-la.
Cerrou os dentes. Seu ombro estava agonizando, uma dor ardente e dolorosa como se facas o cortassem enquanto cavalgava. Ele escorregou da sela e caminhou, conduzindo o cavalo com a mão direita, tentando ignorar a dor agonizante no braço esquerdo.
— Não muito tempo agora... não muito tempo.
Ele fez uma ladainha, repetindo-a várias vezes enquanto cavalgava para a mansão. A última coisa de que ele se lembrava era uma luz na porta e alguém saindo enquanto chamava com batidas e gritos.
— Meu senhor McNeil! — Disse a voz.
Conn tentou concentrar-se na figura alta e vestida de marrom, mas não conseguia fazer os olhos obedecerem do jeito que ele queria. Ele os fechou e deixou-se afundar lentamente na escuridão. Tudo ficou preto.
CAPÍTULO DEZESSETE
A CAMINHO
A paisagem serpenteava passando pelo rosto de Leona. O trote sacudia todos os seus ossos. Ela estava pendurada sobre a sela, as mãos pesadas e frias, a cabeça solta e batendo contra a lateral do cavalo, o cheiro de poeira no nariz.
— Socorro!
Em todas as suas veias corria o terror, todo seu corpo estava rígido. Ela sabia quem montava o cavalo sobre o qual estava pendurada. O conde de Cleremont.
Ele descobriu sobre Conn e eu. Ele não podia arriscar minha fuga.
O ouvinte na outra sala havia sido ele. Estava claro. Ela teria chorado em voz alta de raiva, se sua garganta não estivesse tensa de medo. Onde ele estava levando-a? E por quê?
— Mestre?
— Sim, Rogier?
— Eu consegui pará-lo. Ninguém nos segue.
— Bom.
Leona sentiu seu sangue virar gelo. Eles machucaram Conn, e se ele estivesse morto? O que eles fizeram? — Conn...?
O grito escapou de seus lábios sem querer. Acima dela, alguém riu asperamente.
— Você acha que ele vai salvá-la, não é? Eu acho que não. Rogier cuidou disso...eventualmente.
A maneira como ele disse aquilo, zombando e alegremente, fez Leona se desesperar. Ele o matou. Ela estava quase certa disso agora. — Conn!
Ela soltou um suspiro quando a mão dele a atingia.
— Você não vai dizer isso de novo.
Ela estava muito atordoada para fazer mais alguma coisa. Ele havia batido nela! Homens não atacavam mulheres. Era algo que havia sido ensinado para ela desde o nascimento. Nenhum cavalheiro atacaria uma dama. Então, novamente, ela sabia que ele não era um cavalheiro.
Ela não conseguiu pensar em nada depois daquilo, pois eles se juntaram a uma estrada e a cavalgada chocante e sacolejante, continuou em um ritmo mais rápido, seus ossos tremendo e doendo a cada passo. Então, quando ela pensou que não poderia suportar mais, sua mente pairando no final da consciência, cada articulação e músculo gritando, eles pararam.
— Aqui.
A parada repentina a sacudiu e o conde desmontou, as mãos se estendendo para agarrá-la.
— Deixe-me, mestre.
— Sim, Rogier.
Ela sentiu ser erguida por mãos fortes e carregada por um trecho de grama, depois caiu sobre algo misericordiosamente almofadado. Era, ela percebeu, olhando em volta, aturdida, para o espaço confinado, o assento de uma carruagem. Ela podia ver acima, sentir o cheiro de couro, sentir as tábuas de madeira atrás de seus pés, onde a outra porta a mantinha prisioneira.
— Deixe-me ir, — ela sussurrou timidamente.
— Não, — disse o conde. Ele lhe sorriu, deslizando no assento oposto. — Feche a porta, — ordenou.
O criado fechou a porta.
— Não! — Leona conseguiu forçar seu corpo machucado a ficar em pé na vertical, voando à porta, batendo no interior.
— Está fechada, minha senhora, — uma voz aclamou. — Não há escapatória. Você também pode relaxar.
— Não! — Leona soluçou. Desmoronou contra o assento de couro, lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Oh, pare, — a voz suave insistiu. — Não é tão ruim assim, é? Você será minha esposa em breve. Embora talvez eu adie o casamento por alguns dias, prevenindo o...
Uma mão estendeu e correu pelo cabelo dela, acariciando seu rosto de uma maneira familiar. Leona ficou tensa em choque e depois recuou.
O belo rosto diante dela mudou, estreitando os olhos. — Oh, pare, — uma voz sussurrou; zangado e perigoso. — Eu não sou monstruoso.
— Dentro de você é — Leona sussurrou.
Quando chegou o golpe, surpreendeu-se. Ela caiu de costas contra a porta da carruagem, rígida e silenciosa. Uma lágrima escorreu pela bochecha dela.
— Você vai aprender a segurar sua língua, — a voz silvou baixinho. — E um dia você vai sorrir para mim. Você vai aprender a me querer. Você verá.
— Nunca, — sussurrou. Ela viu o rosto dele escurecer novamente e encolheu-se contra o assento, balançando-se em completa miséria.
A carruagem estava correndo à frente. O único som no espaço escuro e fechado era o rugido de cascos e rodas contra a pedra. Leona se acomodou no banco, encolhida, a cabeça nas mãos, os joelhos cruzados contra o peito. Desprovida de qualquer coisa além de terror e exaustão, ela dormiu.
Ela acordou com a escuridão. E silêncio. A escuridão era tão completa que ela não fazia ideia se os olhos dela estavam ou não abertos. Ela olhou à frente. — Olá?
— Levante-a, — o comando veio.
— Sim mestre.
Leona sentiu-se erguida nos mesmos braços fortes e indiferentes que a colocaram na carruagem, e se deixou pesar, não facilitando o trabalho. Ela foi recompensada quando o homem amaldiçoou o esforço.
Bom, pensou distante. Se ele a soltasse, talvez ela batesse sua cabeça e desmaiasse. Pelo menos estaria inconsciente para qualquer coisa que acontecesse em seguida.
— Para onde, senhor? — Uma voz perguntou perto de seu ouvido.
— À sala de estar, — disse o conde baixinho.
Leona sentiu o ar da noite em seu rosto. Ficou tensa, os olhos se arregalando. Ela estava em um jardim, podia sentir o cheiro de orvalho e o cheiro de flores e o pó de flores noturnas. Esforçando-se contra os braços que a seguravam, chutando e se movendo, tentando quebrar o aperto que a segurava firme.
— Pare com isso! — Uma voz grunhiu em seu ouvido quando o aperto aumentou.
Leona sabia que não havia esperança contra o homem que a segurava — quem quer que ele fosse, não adiantava lutar com uma força tão superior. Ele não a deixaria ir até que lhe fosse dito para fazê-lo. Ela novamente se tornou tão pesada quanto possível e ficou muito quieta.
Ela se sentiu subindo as escadas e abriu os olhos, esforçando-se para ver onde estava. Sua cabeça estava no ombro dele e ela podia ver um longo caminho de pedra em direção a alguns arbustos distantes. Nada mais.
Então, ela estava cruzando um limiar, em um corredor bem iluminado. Podia sentir um leve aroma almiscarado, o ar quente e perfumado. Uma porta bateu.
— Bem-vinda, — aquela voz fria disse, — a Monte Bois, minha casa de campo.
Leona sentiu que baixou, depois elevou novamente quando o homem começou a subir os degraus de pedra. Ela olhou para baixo, notando um distante caminho de entrada com cobertura de pedra e o longo e curvo lance de escadas. Depois, ela estava em uma pequena sala onde um fogo queimava e repleta de elegantes móveis de madeira.
— Deixe-a aqui.
— Sim, Conde.
Leona sentiu seus pés calçados com botas baterem no chão de pedra. O choque foi tão repentino que ela caiu para trás e encontrou-se sentada nas lajes frias, ao redor da lareira. O conde estava na porta. Alguém saiu do aposento e ela ouviu a porta.
— Você está aqui, sozinha, — a voz suave ameaçou. — Você não pode escapar.
— Você me sequestrou, — Leona sussurrou, encolhendo-se contra a parede, fazendo-se tão pequena quanto possível. — O que você acha que meu tio fará?
— Seu tio não fará nada, — disse o conde com facilidade. Ele se abaixou em um assento de madeira esculpido perto do fogo, onde se sentou, relaxado, e se virou para encará-la. — Ele valoriza a terra no vale em demasia.
— Meu tio... ele me venderia? Por causa de sua terra?
— Oh, pare, — disse o conde, parecendo cansado. — Não seja tão mercenária! Nenhuma venda de terra, ou venda de qualquer coisa foi feita, e sob nenhuma outra forma. Ele simplesmente não ousaria negar meu... pecadinho... por causa daquilo.
— Você é desprezível, — Leona sussurrou. Sua pele estremeceu como se houvesse um vento frio.
Para sua surpresa, ele sorriu. — Obrigado, — ele murmurou. — Não é uma descrição que foi aplicada a mim antes. É muito apropriada.
— Você me parece um ser horrível, — disse Leona, esquecendo seu terror por causa da surpresa e horror.
— De fato, — a voz aveludada e perigosa meditou. — Ser desprezível é ser temido. Ser temido é exercer o poder desse medo. Eu não estou descontente com isso.
Leona se afastou dele, movendo-se de lado de modo que suas costas pressionaram contra o assento atrás dela. — Você está louco.
Ele sorriu, aquele rosto bonito iluminado pela vermelhidão do fogo que saltava e crepitava. Leona estremeceu. — Oh, não, — ele sorriu. — Estou bem. Se eu fosse louco, você não teria motivos para temer. Estou perfeitamente no comando da minha racionalidade, o que torna tudo mais perigoso.
Leona se virou de lado, avançando em direção à porta. Se ela pudesse esgueirar-se por ela, teria uma chance, ainda que pequena, de escapar dele.
Ele a viu e se levantou, caminhando à porta. Ela ouviu os saltos das botas na laje e viu o farfalhar de um longo manto. E parou.
— Você me agrediu, senhor — disse ela, com voz trêmula. — Você me sequestrou contra a minha vontade. O que mais você quer fazer comigo?
Ele sorriu. Foi ainda mais desconcertante do que o seu olhar. — Casar com você, milady.
Ela cuspiu. — Você acha que eu concordaria com isso?
Ele sorriu. — Venha, você é uma mulher inteligente. Você deve ver o sentido disso. Aqui está você comigo; sozinha. Você não gostaria que todos soubessem que você passou a noite aqui comigo sozinha?
Leona ficou tensa como se ele tivesse lhe agredido. Ela não havia pensado nisso. Sua reputação estava um tanto quanto arruinada agora. De fato, ela passara horas, sozinha, com o Conde. Se ele a devolvesse ao tio agora, ela não teria chance de um casamento decente. Não com todos ao lado dele.
— Você é mau, — ela sussurrou, balançando a cabeça em total surpresa. Como alguém poderia pensar em um esquema tão diabólico e selvagem?
— Não, — ele sorriu — eu sou esperto. É uma boa característica. Como você acha que eu acumulei essa terra e riquezas?
Leona sacudiu a cabeça. Estava cansada. Sentia-se doente. Estava assustada. Sentou-se pesadamente, encolhendo-se na cadeira ao lado do fogo. E o estudou sem expressão.
— Você não tem escolha a não ser aceitar, docinho, — ele disse suavemente. — E quem sabe? Não será uma coisa ruim para você. Você ganhará um título, terras. Um marido. E aposto que terei você implorando pelo meu favor na nossa cama.
Leona o olhou. — Você é louco, — disse ela com total certeza.
Ele lhe lançou um olhar de raiva. — Você vai pagar por isso, milady, — disse-lhe, com voz baixa. — E talvez depois de pagar o suficiente, você venha a desejar meu toque e temer meu desgosto.
Leona olhou para longe dele, para o fogo. Ela observou as chamas saltando, procurando significado nas cores: vermelho e ocre. As palavras de uma canção de infância passavam por sua cabeça e ela se ouviu rir, um pouco descontrolada. Sabia que sua mente estava se dispersando sob a tensão do medo e da ameaça, e se sacudiu, não querendo dar lugar à onda lenta e constante de insanidade que a estava levando embora.
Ela sentou-se e encarou-o. Olhou em seus olhos. Tossiu e falou. — Talvez você esteja certo, — disse-lhe controlada. — Talvez eu me case com você. Talvez tudo seja como você diz. Mas eu prometo a você, milorde, haverá um acerto de contas. O que você fez não vem sem um preço. No entanto, eu não preciso amaldiçoá-lo. Você se amaldiçoou. Você semeou tristeza, ódio e desamor. Isso é o que você vai colher.
De repente, a tensão se esvaiu dela. Antes, sentira aquela sensação de absoluta calma e certeza, agora, estava exausta. Ela viu o olhar de raiva atravessar pelo rosto dele e sentiu não medo, mas cansaço. — Vá em frente, — disse-lhe, encolhendo os ombros, cansada. — Bata em mim. Faça o que você quiser. Eu não me importo. Você destruiu sua própria vida. Maldição minha se você deseja. Eu não vou pará-lo.
O conde respirou com dificuldade. — Você cuspiu maldições como uma menina da aldeia, — disse ele, balançando a cabeça. — São apenas palavras.
— Não... palavras, — Leona sussurrou. O cansaço estava inundando-a agora, drenando sua força, deixando-a fria, rígida e exausta. Ela se encolheu no banco, deitando a cabeça no encosto. E fechou os olhos.
O conde suspirou. — Vamos ficar aqui esta noite, — explicou ele. — Então amanhã, vamos continuar a viagem para Cleremont. Lá ficaremos diante do padre. Você vai se tornar minha esposa. Eu vou ganhar uma posição em Annecy; seu tio vai ganhar a encosta sul que ele tanto quer. Não vê que todos se beneficiarão?
Leona balançou a cabeça cansada. Fechou os olhos.
— Eu vou deixar você, — continuou o Conde. — Vamos viajar amanhã cedo e vou descansar. Não tente fugir. A porta é trancada pelo lado de fora. As janelas estão três andares acima, e qualquer queda delas quebrará alguns de seus ossos.
Leona se enrolou como uma bola no assento, não escutando. Ela o ouviu, distante, quando ele se retirou; ouvindo a porta bater.
Estou cansada demais para tentar escapar.
Ela se enrolou mais forte, feliz com o calor do fogo. Estava tremendo. O frio estava dentro dela e nenhuma quantidade de cobertores ou calor o baniria dali. Ela estava condenada a se casar com o Conde.
A menos que eu possa escapar.
Ela pensou em Conn, ele estava morto. Em seu coração sabia disso. Ela tinha certeza de que o criado o havia matado. Sua mente tecia uma foto dele, ainda sob o céu gelado.
Eu nunca mais o verei. Por que eu desejaria algo menos que a morte?
Leona se levantou e cambaleou até a janela. Olhou para fora. O pavimento chamou-a três andares abaixo. Ela pensou sobre isso. Então ela olhou às estrelas.
Se eu morrer, nunca verei o que acontece a seguir.
Ela se afastou da janela. Voltou para o banco. Enroscou-se nele, a mente de repente mais clara do que havia estado.
Estamos em Monte Bois. Talvez eu possa escapar. Vou me perder na aldeia. Esperarei alguém chegar com uma carroça, indo para Annecy. Eu ainda possuo a prata. Ela sorriu, lembrando as moedas escondidas em sua bota. Ela poderia pagar por uma pousada. A esperança não estava perdida.
Tudo o que preciso fazer é esperar até amanhecer. Quando eles abrirem a porta, eu poderei escapar.
Era um plano absurdo, mas talvez funcionasse. Era a única esperança que ela possuía. Se conseguisse chegar à porta da frente, poderia se esconder na propriedade; alcançar a aldeia. Escapar.
Ninguém, exceto meu tio e o conde, saberá onde eu estive. Se eu conseguir chegar à Escócia, estarei livre da censura.
Sua mãe acreditaria em sua história. E alguém deveria explicar sobre Conn. Que estava morto. Que morreu salvando-a. Que nunca andaria com ela, sorriria para ela, riria mais com ela.
Ela apertou os olhos com força, nem mesmo querendo pensar naquilo. Conn estava morto. Alguém precisaria contar para sua tia e seu tio.
Leona mordeu o lábio, também se moveu para não chorar. Não havia sentido em pensar aquilo; não fazia sentido. Conn poderia não estar morto. Ele era o mundo dela. Sua vela na escuridão. Ele não podia morrer. Ele não podia.
Com os olhos apertados, ela se enrolou na cadeira, balançando e soluçando até que a inconsciência a reivindicou.
CAPÍTULO DEZOITO
ACORDAR
O céu pulsava dentro e fora de sua cabeça, uma imagem estonteante e torturante. Conn piscou para clarear sua visão. Sua cabeça doía. Ele mal podia ver. Tentou se mover, mexer os dedos dos pés, mas estava entorpecido. Não conseguia sentir seu corpo.
— O que...? — Ele resmungou. — Onde estou?
Suas pernas estavam apertadas e doloridas, as mãos entorpecidas. Ele se sentou, estremecendo quando as sensações voltaram para seus membros. Seus pés há muito tempo perderam o tato. Ele podia ouvir pássaros cantando e cheirava pinus e orvalho.
— Eu estou vivo.
Com o cheiro e os sons, veio a memória. Ele estava nas florestas ao lado da propriedade. Havia lutado com o homem do conde, tentando salvar Leona.
Leona.
Um pânico súbito passou por ele. Conn cambaleou e caiu aos seus pés, cuspindo e tossindo enquanto seu estômago se agitava em náuseas. Tropeçando em direção às árvores, o chão ainda agitado pelas pegadas na lama. Ele as seguiu um pouco, sabendo que era inútil.
— Eles já terão desaparecido faz algumas horas agora!
Ele amaldiçoou em voz baixa. Leona e seus captores haviam ido embora há muito tempo. Ele precisava chegar a Cleremont. Ele precisava salvar Leona.
— Mas como?
Balançou a cabeça, sentindo-se absolutamente desamparado. Ali estava ele, na floresta de Annecy, na França, a cerca de dois quilômetros a pé da aldeia. Ele não possuía dinheiro, nem suprimentos, nada. Nenhuma ideia de onde era Cleremont. E não falava francês.
— Precisa ser feito, — disse, suspirando. Leona precisava dele, e isso era tudo o que ele sabia. Todo o resto se resolveria. Precisava fazer.
Fazendo uma careta quando sua cabeça girou, sibilando de dor quando seus pés tocaram o caminho, Conn mancou à frente. Enquanto caminhava em direção à estrada, ele fazia seus planos.
Eu deveria voltar para Annecy. Pedir ajuda ao tio de Leona.
Enquanto pensava sobre essa possibilidade, chegou à conclusão de que era uma péssima ideia.
Por que ele faria algo para nos ajudar?
Se o tio de Leona não tivesse apoiado o conde, ela não poderia ter sido raptada de sua casa. Seu tio favoreceu o conde. Ele não iria interceder em seu nome. Especialmente porque Conn é quem pediria para ele. O pensamento era repulsivo, mas ele precisava acreditar. Seu tio sabia muito bem o que havia acontecido. Não havia ajuda a ser encontrada lá em Annecy.
Tudo o que posso fazer é seguir em frente.
Seus pés se juntaram à estrada de paralelepípedos e ele voltou pelo caminho por onde viera; caminhando até a aldeia de Annecy. A manhã ainda estava gelada, apesar da aproximação do verão e do céu ensolarado acima. Ele cruzou os braços, enfiando as mãos nas axilas para se aquecer e desceu a colina.
Depois de meia hora caminhando ao longo da estrada, ele encontrou seus pés descendo uma ladeira. Abaixo dele, no pequeno vale, podia ver telhados de palha e, um pouco distante, uma torre de igreja que subia em direção ao céu. As matas se abriam para os campos quando ele chegou ao fundo do vale, e podia ouvir pessoas, carroças e em algum lugar um cachorro latindo.
Eu estou em Annecy.
Conn sentiu seu rosto frio se animar com um sorriso. Ele não conseguia acreditar que conseguira encontrá-la novamente.
Parecia estar fazendo progressos em sua busca por Leona. Ali estava ele, na aldeia. Tudo o que precisava fazer agora seria encontrar informações.
Sabendo que ele não poderia realmente fazer perguntas, sabendo que medo e desconfiança, provavelmente, seriam tudo o que receberia por suas dores, ele seguiu em frente. Algo aconteceria. Ele tinha fé.
Ele encontrou uma pousada. Pelo menos, imaginou que fosse uma estalagem: uma placa de ferro pendia do lado de fora da casa de palha, caiada de branco, o símbolo de um palheiro e uma flor forjada no ferro. As palavras abaixo diziam — La Fleur de Annecy.
Ele encolheu os ombros. Parecia tudo sem sentido. Ele levantou a manga e bateu na robusta porta de madeira.
Uma mulher atendeu. Sorriu para Conn corando-o, sentindo-se envergonhado.
— Olá... — ele disse.
O sorriso dela mudou para uma carranca e se retirou um pouco. — Perdão?
Conn levantou os ombros em um encolher de ombros, sorriu impotente. — Esta é uma pousada?
— Je ne comprende11, — disse ela, lentamente, fechando a porta.
— Não! Por favor! — Conn disse urgentemente. Ele correu à frente, enfiou o pé na porta.
— Bertrand! — Gritou a mulher com urgência. Ouviu os passos de um homem descendo as escadas, e se viu confrontado por um homem alto e corpulento, com uma careta feia no rosto bronzeado.
— Que faites-vous12?
— Por favor, — disse Conn, sorrindo um pouco desesperado. — Eu não quero machucar ninguém. — Uma ideia surgiu em sua cabeça e ele levantou as mãos, recuando no que ele esperava que fosse um gesto de rendição.
— Je.... va... an Cleremont,13 — ele conseguiu dizer.
O homem e a mulher se entreolharam e depois o olharam. O homem encolheu os ombros.
— Que faites-vous la14?
Conn se encolheu de novo. Repetiu sua declaração. — Je va a Cleremont.
O homem lançou um olhar à esposa, com os olhos arregalados que parecia transmitir a Conn que lhe faltava inteligência. Então ele deu um suspiro.
— Quel est votre travail15?
— Eu imploro seu perdão?
O homem ergueu as mãos, exasperado.
— Travail! Travail16 ... — Ele se inclinou, imitando o feno, batendo com um martelo, cavando. — Travail. Ele repetiu novamente, olhando esperançosamente para Conn.
— Oh! Trabalho! — Conn sorriu, a ideia repentinamente se instalando em sua mente. — Eu combato.
Ele deu um tapinha na espada, fingindo agitar ao seu redor. O homem pareceu surpreso, depois sorriu.
— Il est un Chevalier17, — ele anunciou a sua esposa. — Bienvenue18.
Conn piscou assustado, quando o homem estendeu a mão e deu um passo para trás, acenando à porta. Conn inclinou a cabeça. — Obrigado, senhor. Muito obrigado a todos.
Ele sentiu seu coração se animar. Superado o primeiro obstáculo: encontrar uma estalagem. Ele também conseguira, depois de uma luta longa e difícil, entender algo que alguém lhe falou. E aprendera uma palavra. Travail. Trabalho. Ele se perguntou o que eles haviam entendido sobre sua profissão.
Ele descartou a dúvida quando a esposa do hospedeiro apareceu, carregando uma cesta de pães. Ele lhe sorriu. — Minha senhora, — disse suavemente. — Eu gostaria de lhe dizer que você é um anjo.
Ela sorriu, claramente sem entender nada do que ele dissera, além de seu tom. Ela corou e riu, depois colocou um pão em uma mesa e acenou para Conn.
— Etre assis. 19
Conn supôs que ela queria que ele se sentasse, e assim o fez. Ela sorriu feliz. Conn sorriu de volta sem palavras. — Obrigado, — ele disse novamente.
Quando ela apareceu novamente com uma jarra de cerveja e um prato de sopa, ele começou a se sentir ansioso. Ele não possuía nada com o que pagar pela hospitalidade.
Talvez eu possa trabalhar por isso.
Decidindo que o pagamento tomaria conta de si próprio, ele quebrou o pão pequeno e crocante e mergulhou-o na sopa, depois comeu com vontade. Estava morrendo de fome.
Quando a refeição estava quase terminada, ele ouviu as pessoas começarem a entrar na sala de jantar. Uma lenta procissão de fazendeiros, carreteiros e ferreiros entrou, ocupando lugares nas mesas, tagarelando animadamente entre si. Um ou dois deles o olharam, as sobrancelhas levantadas. A mulher do estalajadeiro lançou um olhar severo para eles, disse algo que Conn pensou como para que o deixassem em paz e depois conversou com os próximos clientes.
Quando Conn terminou a refeição e ficou de pé, temendo o tempo que se aproximava rapidamente, quando precisaria explicar a essas pessoas boas que não possuía dinheiro, viu outro cliente entrar. O homem era alto, com uma cabeça enorme e uma longa barba, o manto marrom de um padre cobrindo sua forma alta e magra.
Ele se perguntou se ele conheceria o gaélico?
Era uma possibilidade extremamente duvidosa: mesmo que padres e monges fossem letrados, a chance de ele estar capacitado com algo tão obscuro quanto o conhecimento do gaélico era infinitamente pequena.
Se você não tentar, você não poderá saber, ele pensou ironicamente.
Conn pigarreou. Foi até onde o padre estava. — Saudações, padre.
O padre o olhou. Piscou. Olhou outra vez. Então quando Conn desistiu de ter esperança, ele perguntou: — Você é escocês?
Conn queria chorar de alívio. O homem sabia falar sua língua! Ele falava o dialeto das terras baixas, não o gaélico, mas era o suficiente.
— Sim! — Ele disse, quase chorando. Sorriu para o homem, acenou com a cabeça enfaticamente. — Sim. — Ouvir uma língua comum, por mais que o discurso fosse curto, era como se ele encontrasse água no deserto.
— Eu não falo muito o gaélico, — disse o padre com cuidado. — O que você está ... fazendo ... aqui ... filho? — Conn lhe sorriu. Não se importava se ele falava devagar ou cometesse erros. Ele poderia falar com ele!
— Estou aqui procurando minha prima, — explicou-lhe. — Ela foi tirada de sua casa. Tenho motivos para acreditar que ela está em Cleremont.
— Oh! — O homem franziu a testa. — Sua prima. Ela fez... o quê?
Conn suspirou. Ele viu pessoas olhando-os e inclinou a cabeça para onde ele estava sentado, indicando que deveriam se sentar. O padre assentiu.
— Agora, — disse ele quando chegaram à mesa. — Pode falar outra vez, por favor?
Conn lhe sorriu, ainda se sentindo estupidamente aliviado. — Estou procurando minha prima. Um bandido raptou-a da sua aldeia. Eu acredito que eles estão agora em Cleremont. Eu preciso ir lá. Para resgatá-la.
— Oh! — A resposta do padre soou grave.
Conn clareou a garganta, prestes a explicar melhor, mas a mulher do estalajadeiro apareceu e falou rapidamente com ele, indicando Conn e franzindo a testa, depois sorrindo com expectativa para o padre.
— Ela pergunta se você está indo para o torneio em Calais.
— Oh! — Conn franziu a testa. Ela pensara que ele era um cavaleiro? — Não, — ele respondeu. Porém não pôde evitar um pequeno sorriso brincando em seus lábios. Ele parecia um cavaleiro? Verdadeiramente? Sentiu-se orgulhoso.
A mulher disse alguma coisa ao padre novamente e depois desapareceu de volta à cozinha. Voltou-se para Conn. — Meu filho, lamento saber de seus...hum...problemas — disse o padre. — Eu estou... a caminho de Aix. Se você quiser, pode viajar comigo. Eu preciso de... segurança, — ele disse, encolhendo os ombros e indicando a espada que Conn usava.
— Oh! Conn o olhou, quase incapaz de acreditar no que acabara de dizer. — Eu posso? Verdadeiramente?
O padre riu. — Não fique...surpreso.
Conn lhe sorriu, preso entre chorar e celebrar. — Eu não posso lhe agradecer o suficiente!
O padre sorriu e acenou com a mão, indicando que não era nada. — Ajudamos uns aos outros, meu filho. — Ele olhou para cima quando a esposa do hospedeiro retornou com pães frescos e alguns ovos. — Eu orei por segurança na estrada e o Bom Deus me enviou meu próprio cavaleiro. Entende? Todas as orações são respondidas. Você jantou?
— Sim, padre, — disse Conn rapidamente.
— Bem, você pode comer um ovo. E enquanto você come, talvez você possa... explicar mais?
Conn agradeceu novamente ao padre, sentindo o coração disparar de felicidade. Ali estava ele, com seu transporte para Cleremont, pelo menos parcialmente, fornecido. E ainda teria um segundo café da manhã.
Esquecendo a dificuldade em sua mente sobre como ele pagaria pelo café da manhã, sentou-se e conversou com o padre, explicando sua história.
Quando terminou, o homem balançou a cabeça. — O mundo pode ser mal, meu filho, — ele disse gentilmente. — Mas devemos perseverar. Eu o abençoo.
Conn inclinou a cabeça. — Obrigado padre.
Conversaram um pouco mais e depois o padre disse que ele deveria ir descansar. Eles partiriam à tarde. Conn assentiu com a cabeça e levantou-se, depois foi tentar explicar sua situação ao estalajadeiro.
Depois de muita mímica e gestual, concordaram que ele limparia os estábulos em troca de seu café da manhã.
Conn se preparou para o trabalho com afinco, jogando para fora a palha, espalhando feno limpo no lugar do velho, e limpando a imundície dos animais que ele lançou porta afora. Enquanto trabalhava, sua preocupação voltou. O que estava acontecendo com Leona? Ele precisava alcançá-la.
Graças a Deus pelo padre. Sem ele nunca chegaria a Cleremont. Com a ajuda dele, poderia chegar lá, talvez ao anoitecer.
Tudo o que ele podia fazer era apenas rezar.
CAPÍTULO DEZENOVE
TENTANDO ESCAPAR
Foi somente no final da manhã que Leona acordou. O sol estava brilhando através da janela, incidindo seu rosto. Ela se sentou de repente, aterrorizada.
— Eu estou muito atrasada! — Ela certamente perdera a chance de escapar.
Queria gritar de frustração. Se ela estava planejando escapar, já deveria ter feito isso. Certamente quem quer que fosse mantê-la alimentada e cuidada já teria ido embora? Olhou em volta descontroladamente.
Ninguém havia tocado em nada ainda.
Nada mudara ou fora movido. A capa do conde ainda estava jogada sobre uma cadeira onde ele a deixara na noite anterior. Ninguém trouxera comida ou uma bacia para a higiene matinal. A sala inteira estava como antes, o fogo na lareira apagado.
A euforia inicial de Leona foi substituída por um medo doentio. E se nada tivesse mudado porque ninguém viria ajudá-la? E se o conde tivesse decidido deixá-la ali, presa, para morrer de fome?
Ela se levantou e cambaleou até a porta. Suas pernas estavam entorpecidas e lentas e seus pés doíam pela falta de circulação. Ela sentiu dores penetrantes através deles e por todos os músculos ao longo de suas pernas enquanto mancava até a porta. Na porta, caiu de joelhos, olhando pelo buraco da fechadura.
O corredor estava inundado pela luz da manhã. Ela conseguia ver o que poderiam ser as escadas e uma janela. Nada mais.
Deslizou-se pela porta e sentou-se. Pensou no problema que enfrentava. Poderia bater na porta, incomodando até que alguém viesse, ou ela poderia esperar.
Mas, e se eles me deixaram aqui para morrer de fome?
Leona tomou uma decisão. Ela mancou até a lareira, levantou um dos ferros de metal pesado e foi até a porta. Bateu contra ela, chamando. — Olá? Tem alguém aí? Socorro!
Ela manteve-se persistente; batendo, chamando, gritando. Alguns momentos depois, foi recompensada com o som de pés correndo.
— Mon dieu! 20
Alguém colocou uma chave na porta, virou-a. A porta foi aberta. Leona ficou onde estava encostada contra a parede atrás da porta.
— Olá? — A pessoa chamava em francês. Não era o conde; Leona imaginou que fosse um criado. Ela esperou. Ouviu quem quer que fosse andando à frente, indo em direção à lareira. Segurou a respiração, o coração batendo.
Apenas mais um passo adiante; então eu vou ter tempo para fugir. Apenas mais um...
Ela ouviu o homem chegar perto da janela, um leve rangido quando ele se apoiou no peitoril da janela de madeira.
Sim!
Ela Saiu de trás da porta, deslizou através dela e a fechou atrás dela. A chave não estava na fechadura, então não podia trancá-la e não queria perder tempo. Correu para baixo. Ouviu o homem esmurrar a porta e depois a ouviu ser despedaçada atrás dela. Ela gritou quando desceu correndo os degraus, ofegante de terror. Estava sozinha em uma casa hostil. Ela ouviu alguém correndo as escadas do andar de cima, dobrou a esquina e correu para baixo.
A porta estava em frente às escadas.
Apenas continue. Apenas guarde...
Lá!
O coração de Leona bateu quando chegou ao andar térreo. Ela ouviu os pés correndo em pedra e chegou a tempo de ver um homem correndo em sua direção. Gritou, lançou o ferro e ouviu-o uivar agonizante quando o ferro pousou no seu pé. Então, correu até a porta. Estava desbloqueada, o que era por si só, um milagre. Ela entrou no jardim.
Eu estou livre!
A sua alegria transformou-se num novo terror quando a porta foi aberta atrás dela. Ela ficou de pé no chão por um segundo; tempo suficiente para ver dois criados aparecerem, um enfurecido e mancando, e o outro correndo e gesticulando. Então ela se virou e correu.
Eu não posso fugir deles. Eu preciso me esconder. Eles vão me pegar se eu tentar fugir.
Ela estava cansada e sozinha em um pedaço de terra que não conhecia. Eles estavam descansados e em seu terreno natal. Ela precisaria se esconder.
Correu cegamente para os galhos das árvores, o mais rápido que conseguiu, tentando não tropeçar nas raízes. O som na vegetação rasteira mostrava-lhe que estava sendo perseguida.
Com o coração batendo no peito, ela avistou um arbusto e mergulhou para dentro. Os galhos rasgaram sua pele e os galhos finos arranharam seus cabelos e rosto, fazendo-a arder. Ficou de joelhos, enrolada como uma bola.
Um par de pés passou correndo. Leona se encolheu, fechando os olhos para que o brilho deles não a entregasse. Era um simples esconderijo; provavelmente não aguentaria uma pesquisa real por mais de alguns segundos. Tudo o que ela podia fazer era esperar que seus perseguidores estivessem desesperados demais para acreditarem que ela estava pensando claramente.
— Pelo amor de Deus, homem! Vá procurá-la.
Ela ficou tensa ao ouvir a voz do conde, imperiosa e zangada, gritando para um criado. Ouvindo batidas de cascos, percebeu, com algum choque, que ele mesmo estava de vigia, perseguindo-a.
É uma caçada e eu sou uma presa.
Ela se enrodilhou mais ainda e ficou onde estava. O som de passos diminuiu. E arriscou um olhar.
Um homem parou na beira da clareira onde estava deitada. Ela viu que era o homem que a encontrara no andar de cima; reconhecendo o cabelo castanho dele. Sentiu seus olhos lhe tocarem. E ficou onde estava sabendo que ele a vira. Queria chorar. Estava acabada.
Ela o viu permanecer onde estava, olhando-a nos olhos. Houve reconhecimento lá, arrependimento e compaixão. Então ele se virou. Saiu da clareira. Voltou para o caminho.
— Para o portão, meu senhor! — Ele gritou.
Leona sentiu os olhos subitamente molhados de lágrimas. O homem a vira; ela não tinha dúvidas sobre isso. Ele a vira lá e escolhera deixá-la ir.
Se algum dia eu sair daqui, voltarei a Monte Blois e retribuirei esse homem. Ele salvou minha vida.
O conde não a mataria, mas casar-se com ele teria sido uma morte de coração e alma, senão de corpo. O homem de cabelo castanho salvou seu futuro. Ela ficou onde estava ouvindo a comoção enquanto os criados e o conde convergiam para o portão.
O portão está atrás de mim. Eu devo ir pelo outro caminho.
Com o coração batendo no peito, sabendo que ela só teria, talvez, um minuto ou dois para fazer isto, correu de volta pelo caminho que viera, então parou na entrada do bosque.
Eu deveria ir à esquerda.
O bosque se estendia um pouco à esquerda, uma massa emaranhada de troncos e galhos e o chão de floresta coberto de folhas.
Sair por onde ela entrou seria tolo. Sair por outro caminho poderia levá-la muito mais perto do outro lado da mansão.
Deslizando pelos espaços entre os troncos das árvores, prendendo a respiração de medo, Leona atravessou o pequeno crescimento de árvores e saiu do outro lado.
Encontrou-se em um campo. À sua direita ficava a casa de campo, com suas paredes de pedra altas. Ela podia ver por cima de uma porção de terra arborizada, e em algum lugar ao longe conseguia ver uma torre de igreja, sua forma imponente alcançando o céu claro.
A aldeia é lá.
Seu coração batendo de excitação e terror, esforçando-se para ouvir o que estava acontecendo no portão, Leona se contorceu através da massa emaranhada de galhos e saiu para o campo. Ela estava totalmente exposta para ser vista de uma das janelas da casa. Prendendo a respiração, correu pelo espaço aberto em direção ao próximo amontoado de árvores.
Abrigando-se ali, escutou, todo o corpo vivo com a tensão, esforçando-se para ouvir o menor som ou indicação de que ela havia sido vista.
Nada. Nem um grito, um grito, um passo. A floresta era um paraíso verde e dourado ao seu redor.
Prendendo a respiração, ainda tensa e esperando, a qualquer minuto, um grito quando ela fosse avistada, contorceu-se entre galhos de árvores, indo à floresta. Esta, ao que parecia, era um local apropriado. Ela desceu a encosta e agarrou-se nos troncos de árvores enquanto deslizava ladeira abaixo, sem saber para onde estava indo.
De alguma forma, a casa tem uma ligação com a aldeia. Deve haver um caminho. Deve haver.
Leona seguiu em frente, sentindo seus medos passarem da descoberta para simplesmente se perderem na floresta, incapazes de encontrar qualquer saída.
Deve haver um caminho em algum lugar. Deve haver...
Leona enrijeceu quando ouviu algo, congelando no lugar. Ela contou até dez, mas nada aconteceu. Então continuou andando.
Deve haver um caminho.
Ela continuou indo. Ouviu o som novamente. E olhou para cima.
Ela não havia encontrado um caminho. O que havia encontrado, no entanto, era um lenhador. Ele carregava um pequeno porco com ele, a criatura amarrada farejava o chão, que estava coberto de folhas de carvalho, suaves ao sol.
— Senhorita, — disse ele olhando-a.
— Olá, — disse Leona, dando-lhe o que esperava ser um sorriso não ameaçador. — Estou perdida. Aqui é Monte Bois?
— Eu... hum...sim, — disse o homem. Seus olhos estavam tensos de terror, e Leona podia ver o branco por toda parte. Ele era, na reflexão, não muito mais velho do que ela. Ele estava tremendo e o porco parecia sentir sua tensão, pois olhou para Leona e recuou, com as orelhas para cima, o corpo rígido de nervosismo. — Não me toque, — ele acrescentou, afastando-se devagar.
Leona franziu a testa. — Eu não quero lhe fazer nenhum mal, — ela disse suavemente. — Eu prometo.
— Jura, — disse ele. — Jura que você não é um fantasma, nem uma bruxa.
Leona suspirou. — Eu juro, — disse. Uma ideia lhe surgiu. Ela entoou o Pai Nosso em voz baixa. O jovem relaxou imediatamente.
— Meu nome é Gaston, — ele disse suavemente. — Eu imploro seu perdão, milady. Eu venho do Monte Bois. Eu levarei você lá.
Leona engoliu em seco. Agora que ela havia desistido de seu status de ser sobrenatural, não estava certa se seria seguro confiar em Gaston. No entanto, quando ela olhou em seus olhos, não viu perigo lá, apenas um desejo genuíno de agradar.
Ela suspirou. — Obrigado, Gaston, — disse-lhe suavemente. — Eu ficaria feliz se você pudesse fazer isso.
Ele sorriu e Leona o seguiu, enquanto ele caminhava de volta pela floresta, indo para um caminho. O porco o seguiu, evidentemente feliz com Leona, já que Gaston não sentia mais medo. Os três caminharam pela floresta em silêncio e, quando encontraram o caminho, Gaston começou a falar.
— Minha senhora, me perdoe! Eu pensei que você fosse um espectro. Esses bosques são o lar de muitas coisas estranhas... as pessoas enxergam luzes aqui à noite, e há histórias de goblins21 nas montanhas em frente. — Ele apontou. — Eu cultivo no vale lá embaixo. Phillipé e eu — disse-lhe indicando o porco carinhosamente, — venho aqui buscar trufas.
— Oh! — Leona assentiu. Ela ouviu a conversa dele e o seguiu com gratidão ao longo do caminho, rezando o tempo todo para que eles fossem rápidos o suficiente para chegar à aldeia antes que alguém imaginasse que ela havia ido para lá.
Chegaram a um ponto em que o caminho se transformava em pedras e Leona inspirou, sentindo o cheiro de madeira queimada distante, a fumaça das chaminés queimando carvão. Ela deveria estar perto de uma aldeia.
— Eu preciso deixar você aqui, milady — disse Gaston, curvando- se. — Minha fazenda vai naquela direção. Se seguir esta estrada, chegará à aldeia de Monte Bois.
— Obrigada, — Leona disse fervorosamente. Enfiou a mão nos bolsos e encontrou alguns elos quebrados do colar. Ela lhe passou três. — Obrigada, Gaston. Que o Senhor o abençoe.
O homem engoliu em seco e olhou à prata. Ele fez o sinal da cruz. Colocou a mão no peito. — Abençoe você, minha senhora! — Ele olhou ao redor, como se estivesse apavorado que alguém aparecesse e lhe tirasse aquilo. Então ele saiu apressadamente, como se pensasse que os demônios poderiam aparecer e levar de volta a prata.
Se sua situação fosse menos urgente, Leona teria rido. Evidentemente, ela mudara de ser um espectro para ser uma menina da aldeia perdida e ele não a especulara novamente.
Eu ainda estou na floresta, mas pelo menos eu sei o caminho.
Não sabendo mais o que fazer, ela entrou pelo caminho. Continuou a caminhada. As árvores aumentaram bem próximo a ela, e ela estremeceu, indo em direção ao cheiro e ao som da madeira sendo serrada.
Eu não me sinto segura sozinha aqui.
Leona passou por uma casa de queimadores de carvão. Parecia abandonada. Ela continuou o coração palpitando forte. Quem estaria queimando madeira na floresta, se não eles?
Pensamentos desesperados acerca de bandidos, assaltantes e outros homens a dominavam. Ela ouviu o estalo de um galho perto do caminho e se adiantou, correndo. Passos. Alguém está me seguindo.
Com o coração batendo no peito, ela correu pela estrada. Então, algo a atingiu por trás e ela gritou. O golpe se repetiu, fazendo sua visão se transformar em estrelas dançantes.
— Ei, olhe! É uma menina! — Gritou uma voz grosseira. Um mocassim assoviando passou bem perto de seu ombro. Ela tentou se sentar, mas sua cabeça estava doendo e estava cansada, tão cansada. Fechou os olhos.
Então tudo ficou preto.
Quando acordou, um tempo depois, foi somente porque um som a acordou. Ficou com os olhos fechados, ouvindo. Música. Uma música invadiu sua cabeça e quando ela aspirou, sentiu o cheiro forte de lavanda e o cheiro de incenso.
Leona se moveu com cautela, sentindo algo suave abaixo dela. Ela estava quente e coberta com uma manta. Sorriu. A harmonia cresceu e se agitou ao seu redor, os doces e suaves tons de um hino.
Eu estou morta. Eu estou morta e no céu. E esses são anjos.
Ela sorriu de novo e se espreguiçou, sentando-se. Se estivesse morta, Conn também estaria aqui. Ela se reunira com ele novamente. Ela se lembrou dos bandidos na floresta, estremecendo. Estava segura agora. Segura e além de todo o perigo. Abriu os olhos.
Ela estava em um aposento caiado de branco, a luz se infiltrando por uma única janela no alto da parede. A roupa de cama era lisa e branca, o teto abobadado. Um crucifixo, liso e sem adornos, estava fixado na parede. Ela aspirou a lavanda e ouviu um farfalhar de vestes.
— Bem-vinda, filha, — uma voz gentil disse em francês. — Eu sou a irmã Ignatia. Este é o convento das Clarissas em Bois. Bem-vinda. Um fazendeiro encontrou você na floresta, inconsciente. Ele a trouxe aqui. Estou tão feliz por você ter voltado para nós dos reinos da morte.
Leona fechou os olhos. Afinal, ela não estava no céu. Ela estava na aldeia de Monte Bois, em um convento. Ela fechou os olhos, sentindo um baque surdo de desespero. Não estava morta. Conn não estava aqui.
Ela estremeceu, lembrando-se da floresta, dos homens gritando e do terror. O que aconteceu comigo?
A freira sorriu suavemente, vendo o espasmo do terror, aparecer. — Seja o que for que aconteceu no passado, você está segura agora, minha filha, — ela sussurrou. — Todos os pecados passados são purificados de você quando entra nestes recintos e pede perdão.
Leona assentiu com a cabeça. — Obrigada, — ela sussurrou.
Porque ela era uma mulher caída agora. O que quer que aqueles bandidos tivessem feito a ela, a freira parecia pensar que ela precisava ser perdoada. Seu corpo estava machucado e trêmulo e ela queria morrer, pensando que aqueles homens a violaram.
Eu sou uma vergonha.
Ela se enrolou e chorou. A irmã Ignatia sentou-se com ela e tentou consolá-la, e quando ela balançou a cabeça, recusando-se a ser consolada, a gentil mulher sentou-se e rezou. Leona deixou as palavras fluírem sobre ela como uma bênção purificadora. Ela sabia o suficiente de francês para quase entender.
Senhor purifique a vergonha de nossa irmã e deixe que ela venha a nós renovada e inteira.
Leona fechou os olhos e acrescentou sua própria oração às palavras sagradas da irmã.
Senhor deixe-me colocar tudo isso para trás. Deixe-me encontrar uma nova vida.
CAPÍTULO VINTE
CHEGADA EM UMA VILA
Ele andava através das árvores, o movimento sacudindo Conn e colocando-o em um sono inquieto.
— Bem-vindo, filho, à aldeia de Monte Bois.
Conn piscou sonolento para o padre, que estava sentado e conduzindo as rédeas da carroça, conversando na mesma monotonia reconfortante em que estivera falando o dia todo. Conn sacudiu a cabeça, tentando se forçar a acordar e enfocar as palavras do santo homem. — Monte Bois? — Ele perguntou. — Já estamos aqui?
— Sim, — respondeu o padre, sorrindo-lhe. — Já que você perdeu a maior parte da jornada, terei que explicar. Depois de minha demora em Annecy, decidi que seria prudente fazer um desvio pelas colinas para chegar a Cleremont mais rápido. Vamos parar aqui para uma refeição e depois continuar até o anoitecer. Vou deixar você em uma pousada na estrada para Cleremont.
Obrigado padre, concordou Conn. — E me desculpe, eu estava dormindo. — Ele piscou espantado consigo mesmo. A noite no bosque deveria tê-lo deixado mais exausto do que ele pensava.
O padre sorriu. — Não, meu filho. Eu confio que, se os bandidos nos tivessem atacado você teria entrado em ação. Esta estrada tornou-se extremamente perigosa. O Conde não administra as florestas como deveria e há muitos fora da lei, infelizmente. Meu colega padre, daqui de Bois, faz o melhor com eles. Estamos quase na abadia. Você vai encontrá-lo em breve ...
Conn se deixou aliviar pela voz reconfortante do padre quando a carroça sacudiu pela estrada e pela floresta e entrou em uma pequena aldeia. Ele mal notou a aldeia, antes de se dirigirem para o outro lado do vale, subindo até chegarem a um grande prédio baixo de pedra com uma igreja ao lado.
— Aqui estamos. Esta é uma abadia franciscana, — explicou o padre. — Minha irmã entrou na ordem das Clarissas, e o convento fica ao lado de onde os irmãos sagrados permanecem. — Ele e Conn pularam da carroça, entregando as rédeas a um monge vestido de marrom que saudou o padre calorosamente. — O nome dela é irmã Marcia agora. Eu irei visitá-la mais tarde. Se você me seguir até o refeitório, talvez cheguemos a tempo de jantar.
Conn assentiu com a cabeça e seguiu o padre até o prédio de tijolos baixo e em ruínas. O cheiro de pão assado assaltou seus sentidos enquanto eles se moviam pelos corredores sinuosos, fazendo sua boca se encher de água. Ele mordeu o interior de sua bochecha, tentando conter a vontade de ir direto para onde a comida estava.
— Ah, padre Antoine! —
— Padre Tobias. — O companheiro de Conn cumprimentou com carinho o padre mais baixo e depois começou em francês rápido, gesticulando para Conn e depois de volta para si mesmo, com os dedos longos e nodosos, eloquentes, enquanto conversavam. Finalmente, ele se virou para Conn. — Meu irmão em Cristo cumprimenta você. Ele nos convida a compartilhar a refeição da noite.
— Graças a Deus — disse Conn, com assentimento.
Os sacerdotes sorriram beatificamente para ele e todos se encaminharam para o refeitório. O padre Antoine explicou que visitaria a irmã antes das orações da noite, deixando Conn momentaneamente por ali. Deixado sem sua capacidade de conversar, Conn sorriu em silêncio para os monges que estavam sentados à sua frente, e eles sorriam incertos de volta.
Ele mordeu o pão e sorriu, ação que fez os monges sorrirem alegremente.
— Bom, — Conn disse entusiasmado.
— Est bien? 22
— Bom, — declarou Conn. — Muito bom. — Ele deu um tapinha na barriga e todos os monges riram. Conn estava entrando em uma discussão animada, embora completamente silenciosa, sobre nabos agrícolas, quando o padre retornou.
— Ah, meu jovem amigo. Minha irmã relata um milagre!
— Oh! — Conn olhou.
— Sim! — Disse o padre. Ele ficou impressionado. — Apenas algumas horas antes de nossa chegada, um fazendeiro veio ao convento. Ele trouxe com ele uma mulher, gravemente ferida. Ela estava muito ferida para falar no início, mas, quando minha irmã perguntou sobre sua história, veio à tona que ela era uma de suas compatriotas. Esta poderia ser a prima que você procura?
Conn olhou para o padre. Leona? Aqui? Seria possível? — Padre? — Ele perguntou hesitante.
— Sim meu filho?
— Sua irmã... ela mencionou o nome da jovem?
— Não, meu filho, — o homem balançou a cabeça. — Parece que a mulher não deu seu nome. Perdoe-me esta notícia ruim, mas minha irmã confidenciou que a menina foi muito ... afetada. Parece que a memória dela se foi. Ela não tem conhecimento de sua identidade ou de seu passado imediato. Minha irmã só sabe que é da sua terra porque falou um pouco em gaélico.
Conn olhou para o homem. Ele sentiu como se alguém tivesse espancado ele no peito, quebrando seu coração. — O que? Padre! Ela está ferida? Posso vê-la?
— Eu não sei, filho, — disse o padre suavemente. Sua mão fina e ossuda cobriu Conn. — Vamos comer agora. Então minha irmã vai trazê-la para falar com você. Você não pode entrar no convento, mas Marcia vai levá-la ao jardim. Está quente o suficiente para conversar do lado de fora, louve a Deus.
— Amém, — Conn ecoou sombriamente. Se essa mulher confusa e quebrada fosse Leona, o que acontecera com ela? O conde a machucou?
Se ele tiver enlouquecido Leona, vou matá-lo.
Depois do que pareceu um tempo interminável, o padre se levantou, agradeceu aos irmãos e deu um tapinha no ombro de Conn. — Venha, meu filho. Talvez você ajude aquela mulher. Nenhum de nós fala gaélico. Ouvir você pode despertar sua memória.
Talvez, concordou Conn em voz baixa. Ele o seguiu por uma porta. Eles se encontraram em um jardim perfumado.
— Espere aqui, filho.
Conn ficou sob as macieiras, irritado com a demora. Então ele ouviu um passo na grama.
Uma jovem estava diante dele. Ela usava uma longa túnica branca e seu cabelo estava escondido debaixo de um véu. Ela olhava para o chão, as mãos cruzadas diante dela. Então ela olhou para seu rosto.
Era Leona.
O coração de Conn desabou. Ele sorriu a euforia disparando suas veias — Leona? — Ele respirou. — Minha querida. Sou eu!
Leona olhou para ele sem expressão.
— Comente a t'appelles23? — Ela disse em francês. E recuou com medo em seus olhos azuis.
Conn olhou para ela. — Leona?
Atrás dela, ele ouviu uma mulher tossir. Viu uma freira vestida com um hábito cinza, olhando preocupada para ele. Ela balançou a cabeça, fechando os olhos tristemente.
— Leona, — sussurrou Conn. — Você não me reconhece?
— Perdon? A mulher, que era Leona, mas não era ela, respondeu. — Je comprends pas24. Sua voz era calma.
A freira deu de ombros, desesperada. Avançou. Tocou seu ombro. — Bien, bien. Ela fez pequenos ruídos acalmando-a, pegando a mão dela.
Assentindo uma despedida, a irmã sagrada virou-se e levou-a, rígida e relutante, de volta à abadia, arrulhando como se fosse um bebê pequeno.
Conn cambaleou para trás. Sentou-se pesadamente em um banco. Aspirou as ervas aromáticas e cobriu o rosto. — Ela não me reconhece.
Ele soluçou. A mulher que ele viu era tão bonita quanto a porcelana. Ela era sua Leona. No entanto, ela estava congelada por dentro, o choque e o terror roubaram sua consciência. Levaram-na embora, deixando-a como uma embarcação frágil, vazia da alma que a tornava quem ela era. Ela estava em outro mundo, além de seu alcance.
Conn estava sentado no jardim, soluçando. Quando o padre veio encontrá-lo, ele olhou para ele, as bochechas molhadas de lágrimas. — Ela não me reconhece, — disse ele, sua voz pequena, incompreensível. — É ela. Minha prima; Leona. É ela. Mas ela não me reconheceu de maneira alguma.
O padre sentou-se ao lado de Conn, tomando as mãos dele. — Eu sinto muito, meu filho, — ele disse suavemente. — Mas ela está segura aqui e bem cuidada. Talvez seja melhor que ela não lhe reconheça. Talvez seja a vontade de Deus que ela fique aqui e se torne uma irmã sagrada. Seus caminhos são misteriosos, e Ele levou-a por uma razão, disso tenho certeza. Venha. Rezemos.
Conn fechou os olhos e deixou que o suave e familiar latim do Pai Nosso inundasse ao redor dele. Ele aspirou as ervas aromáticas, a terra rica e o orvalho da noite e desejou que aquelas palavras pudessem limpar sua alma.
Ele havia encontrado Leona. No entanto, ele chegou tarde demais. Ela já havia se afastado dele.
CAPÍTULO VINTE E UM
UMA NOVA IDENTIDADE
— Marjorie?
Leona piscou de onde estava sentada, diante de um tear e depois se virou, lembrando-se do nome que a gentil irmã Marcia lhe dera.
— Sim?
— Ah! Você está fazendo uma boa tecelagem. Bom! — Ela indicou o tear, sorrindo encorajadoramente.
Leona sorriu de volta hesitante.
— Obrigada.
— Se você conseguir terminar mais dois panos como esse, vamos querer entregar para os pobres este mês. Abençoada você, Marjorie. — Ela encorajou.
— Obrigada, irmã.
— De modo nenhum.
Leona sorriu novamente quando a mulher acariciou seu ombro com carinho, depois saiu novamente, deixando o cheiro de ervas preenchendo o aposento atrás dela. Leona balançou a cabeça para si mesma, em tom de cumplicidade.
Precisar mentir para as freiras, fingindo ter esquecido todo o seu passado, estava castigando-a.
Eu gostaria de não precisar enganá-las. Mas como eu poderia saber que elas trariam Conn aqui? Eu precisei fingir.
Ela sabia que era Conn. Claro que sim! Ela apertou os olhos com força, parando as lágrimas quando se lembrou dele. Ver a tristeza nele fora a coisa mais terrível que ela havia visto.
Eu o torturei fingindo não o reconhecer. Foi cruel. No entanto, ela precisava fazer isso. Ela não podia voltar. Sua vida feliz com Conn fora estragada naquele dia na estrada.
Se eu me casasse com ele depois... depois do que aqueles bandidos fizeram... eu não conseguiria me perdoar.
O pensamento do que deveria ter acontecido quando ela estava inconsciente a assombrava. Ela foi informada pela irmã Allectia que havia sido trazida, ferida e semivestida, por um fazendeiro. Embora ela não tivesse dito mais nada, as implicações estavam lá. Ela poderia ter descartado a ideia que seu fluxo não tivesse atrasado neste mês. Ele deveria ter chegado no dia em que ela viera para cá. No entanto, ela estava ali, já há uma semana e não havia sinal dele. Ela poderia estar grávida.
Era um pensamento assustador e terrível. Ou seria, em qualquer lugar, menos aqui. As freiras vão cuidar de mim.
Irmã Marcia já a adotara. Todos acreditavam que ela era meio louca, mas todas as irmãs a tratavam com uma gentileza distraída que a comovia. Se ela tivesse um filho, elas já sabiam de sua história. Ela pensava que elas entenderiam. Seu filho teria um lar entre os órfãos que as irmãs cuidavam.
Talvez eu pudesse receber a ordem sagrada. Ficaria aqui com elas para sempre. Ajudaria os pobres, como elas fazem.
Foi um pensamento agradável. Aqui, ela poderia recomeçar sua vida e encontrar significado nela, dedicando-se a servir os pobres. Talvez as boas irmãs estivessem certas em dizer que ela foi levada à porta delas por um bom motivo. Eles já haviam lhe dito que seus dons para tecer e costurar eram uma bênção para o trabalho delas.
— Marjorie? — Disse uma voz. Ela olhou para cima e encontrou a irmã Marcia ali com uma mulher mais jovem ao seu lado, vestida com o hábito cinzento da ordem. Irmã Marcia e a jovem freira sorriam gentilmente para ela.
— Sim?
Marjorie — disse a irmã Marcia gentilmente — esta é a irmã Florentia. Eu disse que você a ensinaria a costurar. Seus olhos jovens são muito mais aguçados do que os meus e acho que você tem um dom maior do que eu.
Leona sorriu. — Obrigada, irmã. — Ela olhou para o rosto sério e bonito da jovem freira ao lado dela e decidiu que já gostava dela. — Venha, irmã, — disse-lhe, mostrando o banco onde estava sentada. — Deixe-me lhe mostrar.
— Obrigada, — a jovem freira respirou.
— De nada, — Leona murmurou.
Enquanto trabalhavam, Florentia conversou com Leona. Ela era filha de um comerciante antes de vir para cá, explicou-lhe. Depois de viajar e ver as pessoas desesperadamente pobres nas cidades visitadas, ela decidiu seguir um caminho de serviço para os necessitados e doentes. Ela estava aprendendo sobre ervas com a Irmã Márcia e passava todo o tempo no aposento com ela e a irmã Allectia.
— ... E porque a irmã Márcia acha que eu deveria aprender a costurar, não faço ideia, — ela disse teimosamente. — Isto tem pouca serventia para cuidar dos doentes!
Leona riu. — Talvez ela queira que você saia um tempo da sala?
— Talvez! — Florentia riu. — Eu nunca pensei nisso. Estou feliz por conhecer você.
— Eu também.
Elas se sentaram costurando em silêncio. Leona observava os pontos dela com cuidado, notando que já havia alguma melhora desde que a aula havia começado.
— Eu soube que você não tem memória do seu passado, — a irmã Florentia perguntou depois de um tempo.
— Eu tenho... trechos, — Leona disse, não querendo mentir em um lugar sagrado.
— Imagino que você seja uma boa dama de algum lugar, — sorriu a irmã Florentia. — Em um grande castelo, com servos e cavaleiros para fazer o que você lhes pedir. E lindos vestidos e um cavalo para cavalgar! Onde mais você aprenderia a costurar tão bem?
Leona sorriu. — Talvez, irmã. — Ela mordeu o lábio. A jovem freira chegara mais perto da verdade do que ela jamais suspeitaria.
— É divertido imaginar, — disse a irmã Florentia. — Você é boa para se imaginar histórias.
Leona riu. — Obrigada. Eu acho que sim. — Ela fez uma careta.
A irmã Florentia deu uma risadinha. — Estou feliz por você ter aprendido a costurar. Ou eu não teria conhecido você.
— Estou feliz também, — Leona concordou.
Leona se perguntou enquanto se sentavam juntas, em um silêncio amigável, se essa não era a intenção da boa irmã o tempo todo. Ela provavelmente viu que Florentia poderia tirá-la de seu silêncio, enquanto ela poderia ajudar a aterrar a Florentia, que de outra forma seria facilmente distraída.
Eu estou começando a gostar deste lugar.
Ouvindo a voz feliz de Florentia quando ela descrevia uma lavagem de urtiga para infecções oculares, Leona sentiu um profundo contentamento como nunca antes havia sentido. Cercada por mulheres que pareciam ansiosas por serem amigas, ela percebeu que havia perdido a companhia de outras mulheres da sua idade por toda a vida.
E me pergunto se eu poderia ficar?
Os dias transcorriam em um padrão uniforme: orações matinais, café da manhã, jardinagem. Costuras, orações e almoço. Costuras, visitas aos pobres, mais orações, jantar e cama. Todos os dias rolavam sem problemas para outro e, no final de uma semana, a irmã Marcia fez uma pergunta a Leona. — Marjorie, se você quiser, pode receber a ordem. Torne-se uma freira como nós. Fique aqui e sirva os pobres. Você gostaria disso?
Leona fechou os olhos, pensando por um momento. Para sua surpresa, seu coração estava partido. Enquanto parte dela sentia falta de sua casa e daria quase qualquer coisa para retornar a ela, havia uma parte dela que sabia que seria impossível. Ela ansiava pela paz e harmonia desta vida. — Eu gostaria de um dia para pensar sobre isso, irmã, — disse ela suavemente.
O rosto suave da irmã Marcia se encheu com um sorriso feliz. — Claro, Marjorie. Demore o quanto quiser. Nós não faremos nenhuma ordenação até a próxima semana, no mínimo. Não tenha pressa.
Leona assentiu. — Obrigada, irmã.
Elas saíram silenciosamente para jantar juntos.
O anoitecer estava se estabelecendo nas terras da abadia e Conn aspirou o cheiro de orvalho da grama molhada e depois ergueu a marreta que segurava.
Mais alguns golpes, e esta cerca vai ficar pronta.
Ele suspirou e derrubou o grande e pesado martelo repetidamente no tronco, grunhindo com esforço. Ele ficou satisfeito por haver muito trabalho manual ali na abadia: isso o distraia, afastando sua mente da dor de suas lembranças de Leona. Aquelas anteriores, e aquelas de como ela se encontrava agora.
— Meu filho?
Conn virou-se cansado, dali, de onde ele fincava um tronco no chão. — Sim, Padre?
Padre Antoine, o padre que o trouxera até ali, estava no caminho atrás dele. Ele sorriu gentilmente. — Você deveria ir embora, meu filho. Ficar aqui está torturando você.
Conn suspirou. Encostou a marreta de cabo longo com cuidado a seus pés e virou-se para encarar o padre alto e magro. — Eu não posso ir e deixá-la aqui.
O padre balançou a cabeça tristemente. — Filho, o Senhor tem os seus caminhos. Sua parente é feliz aqui. Minha irmã diz que ela está encontrando contentamento em seu trabalho dentro do convento.
Conn apertou os olhos com força. O pensamento sobre Leona como uma escultura sem alma era assustador. O pensamento de Leona, penitente e quieta, fazendo votos que sempre a manteriam longe dele era uma tortura. — Você acha que ela... quer ficar aqui?
O padre suspirou. — Acho que é isso que minha irmã quis dizer, meu filho.
Conn sentou-se pesadamente na cerca que estava consertando. Cobriu o rosto com as mãos. — Bem, então, — disse ele depois de um longo momento.
— Bem, o quê, meu filho? — O padre perguntou gentilmente.
— Bem, eu deveria ir-me então. Se isso é realmente o que Leona deseja.
— Sim, — o padre concordou. Então ele fez uma pausa. — Eu tenho outra ideia.
— Qual? — Perguntou Conn, levantando-se novamente. Ele olhou-o nos olhos, sabendo que devia parecer desesperado e não se importou muito. Estava mesmo desesperado.
— E se você sair daqui por uma semana? Eu entendo que minha irmã concedeu para sua Leona algum tempo para decidir o que ela deseja fazer. Se você estivesse ausente por um tempo, com tempo para pensar, isso poderia ajudá-lo também. Eu tenho uma carta que precisa ser levada para Cleremont. Eu peço para você levá-la para mim.
Cleremont? Conn cuspiu a palavra. Ele recostou-se contra a cerca, assustado com a onda negra de raiva que inundou seu cérebro. Era lá que aquela criatura vil vivia! O conde de Cleremont, que havia roubado Leona, transformou-a na concha vazia que ela era agora.
— Não, padre! — Ele sussurrou sentindo a raiva sufocando suas palavras. — Eu não iria lá para... — Ele fez uma pausa. Observou o olhar bondoso do padre. Entendendo, de repente, por que estava recebendo aquela missão. — Você sabe que eu tenho negócios inacabados lá, não é? — Ele perguntou intencionalmente.
— Eu sei que você carrega ressentimento e raiva em seu coração, meu filho, — disse o padre lentamente. — Eu acho que você tem o direito de buscar reparação daqueles que lhe ofenderam. Você não conhecerá a paz sem isso.
Conn soltou um suspiro profundo. Queria dizer que, mesmo que manejasse a adaga através da garganta do conde, não encontraria a paz, mas não poderia dizer isso àquele homem santo e gentil! — Vou pensar sobre isso, — ele concordou.
— Bom, meu filho.
Quando o padre saiu, caminhando de volta à abadia para o serviço da noite, Conn endireitou as costas, olhando para o campo onde as cores delicadas do pôr do sol acabaram de ser pintadas no céu. Ele decidiu que não podia sair dali. Não sem ver Leona mais uma vez.
Ele se perguntava se deveria visitá-la novamente. Apenas para vê-la. Ele não queria perturbar a mente perturbada dela com sua presença. Depois disso, ele iria para Cleremont. Entregaria a carta para o santo padre. Então mataria o conde de Cleremont.
Então, só então, ele poderia voltar para casa.
Ele levaria consigo o fardo das notícias. Ele precisaria dizer para sua tia que Leona estava doente, além da redenção. No entanto, ele poderia, pelo menos, dizer-lhe que ele havia matado o homem que fizera aquilo com ela.
Sim, ele decidiu. Ele iria para Cleremont. Depois ele voltaria para casa. Ele estava muito longe.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
DIRIGINDO-SE PARA CLEREMONT
Toda a cidade de Cleremont ficava no topo de uma colina, um distrito rico abarrotado de campos e cultivos. Conn, subindo a colina em direção a ela, sentiu-se mal do estômago.
Eu sinto que o ar está contaminado.
Ele balançou a cabeça, sabendo que estava sendo ridículo. No entanto, ele não conseguiu evitar. O homem que governa esse lugar é o causador da dor de Leona e também a sua.
— E o padre Antoine não me deixou nem dizer adeus.
Ele apertou os olhos, derramando suas lágrimas. Ele ficara furioso com o bondoso padre quando lhe trouxera a notícia. Marjorie estava em reclusão, dissera ele. Ela estava tentando decidir se devia ou não fazer os votos. Ela não o veria, nem a mais ninguém.
Agarrou seu cavalo com os joelhos, — um belo garanhão cinza que os monges lhe emprestaram de seus próprios estábulos — e subiu os últimos degraus até a colina atravessando os portões de Cleremont.
No portão, os guardas o detiveram. — Fale sobre seu assunto, — eles desafiaram.
Pelo menos, Conn fora informado de que era isso que eles estavam dizendo. As palavras não significavam nada para ele, exceto pelo que o padre Antoine dissera.
— Estou aqui para entregar uma carta à sua graça: o bispo, — disse Conn, interrompendo o francês, esforçando-se por recordar as palavras que o padre lhe ensinara antes de partir.
— De onde?
— De Bois — explicou Conn.
— Oh! Entre — disse o homem, parecendo entediado. Outro guarda fez uma demonstração de verificar as suas malas, mas não encontrou nada além do pão da abadia. Ele depois acenou com indulgência.
Conn subiu a colina, virando à direita, onde lhe disseram que encontraria o palácio do bispo.
Quando chegou, ficou surpreso ao encontrar o lugar bastante ocupado. Um edifício alto e imponente cercado por imensas paredes, um pequeno pátio estava preenchido por uma grande carruagem, de aparência impressionante. Conn desmontou, atirando as rédeas para um cavalariço. — Estou aqui, vindo da abadia de Bois, — ele conseguiu dizer enquanto subia os degraus de mármore até a entrada.
— Você tem um negócio? — Perguntou o guarda do portão.
— Eu não entendo.
O homem suspirou e revirou os olhos. — Negócio. Ter. Você?
Conn sacudiu a cabeça.
O guarda apontou para um ponto junto à porta externa e entrou. Conn suspirou e olhou para o céu pálido, notando que as nuvens o atravessavam de vez em quando. Poderia chover em breve. Seu coração estava vazio de emoção: sem apreensão, não era de admirar. Tudo o que ele sabia era que tinha a responsabilidade de fazer o que lhe foi pedido e depois ir embora. Não havia razão para ele permanecer naquele lugar.
Sua atenção foi desviada pela chegada do guarda, marchando de forma elegante. — Entre, — ele lhe disse. Conn deu de ombros e assentiu, mas o guarda o empurrou para o lado, murmurando algo que ele não entendeu. E esperou.
Um homem saiu pela porta passando por ele e desceu as escadas. O guarda o saudou e ele o saudou de volta. Quando ele se virou, Conn ficou boquiaberto.
Era o conde de Cleremont.
Alto, moreno e robusto, ele o reconheceria em qualquer lugar. Aquela face longilínea com os olhos negros, teria sido reconhecida em qualquer lugar. Os dois homens se entreolharam. Conn viu os olhos dele se arregalarem e depois estreitarem enquanto ele também se lembrava de Conn. Ele gritou alguma coisa para o guarda e o guarda se apoderou de Conn.
Conn gritou em protesto. — Eu não fiz nada! Deixe-me ir, seu bastardo. Ele é um assassino!
Retorcendo-se e ficando livre, ele desceu as escadas. Correu direto para o conde que gritou alarmado.
O guarda desceu as escadas e empurrou Conn contra a parede. Com uma mão livre, ele começou a procurar nos bolsos. Conn avançou, esforçando-se contra o braço que o prendia. Ele se afastou, mas um segundo guarda veio ajudar seu companheiro de guarda, revistando os bolsos de Conn.
A carta foi encontrada e entregue a outro homem para levar para dentro.
Conn gritou. — Eu não fiz nada! Prenda ele, não eu!
O conde observou com aqueles olhos escuros e um branco intenso, quando os guardas descobriram a adaga na manga de Conn. Eles o desarmaram e o conde sorriu. Disse-lhe outra coisa. Conn supôs que fosse uma ordem para capturá-lo, pois os guardas o agarraram e começaram a afastá-lo.
Conn gritou quando eles o arrastaram passando pela carruagem. Naquele momento, avistou o criado do conde, o homem que levara Leona. Então ele perdeu toda a razão. — Seu desgraçado!
Gritando, ele se afastou dos guardas e se lançou contra o conde. Correndo até ele e derrubando-o. O conde caiu para frente, apoiando-se em um dos cavalos da carruagem. Ele girou, ficando de frente para Conn.
Quando os guardas agarraram Conn, o conde gritou para eles que pararam. O conde sorriu.
Sem palavras, ele alcançou a porta aberta de sua carruagem e sacou uma espada. Ele avançou contra Conn, a lâmina cintilando. Ele ergueu-a com as duas mãos e estava prestes a decepar a cabeça de Conn quando um dos guardas gritou, protestando.
O conde girou ao redor, os olhos estreitos. Conn achou que ele poderia atacar o guarda e prendeu a respiração. O conde baixou a espada. Gritou alguma coisa e gesticulou para Conn.
Conn franziu a testa, desejando saber o que aquilo significava. — Seu bastardo! — Ele gritou, lutando contra o guarda que o segurava. — Eu vou matá-lo por Leona!
À menção de Leona, os olhos do conde se arregalaram. Ele disse alguma coisa para os guardas e eles pareceram desconfortáveis. Eles deram de ombros e afastaram-se. Conn enfrentou o conde sozinho.
Eu gostaria de ainda ter minha adaga. Ele enfrentava seu inimigo, desarmado. No entanto, esta seria sua única chance e ele precisaria aproveitá-la. — Por Leona! — Ele gritou.
Correu para o homem, de mãos nuas, sabendo que era morte certa. O conde só precisava se curvar, pegar sua espada e poderia atravessá-lo. Quando o conde se inclinou para recuperá-la, Conn colidiu com ele. O homem caiu para trás e então ambos estavam lutando no chão, agarrando a espada.
Os guardas correram para segurar Conn, mas o conde gritou-lhes que o deixassem. Ele balançou a cabeça. Levantou-se e limpou a poeira. Lançando a Conn um olhar de puro ódio, ele alcançou sua carruagem e tirou uma segunda espada. Gritando para os guardas, ele jogou-a aos pés de Conn.
Conn piscou. Olhou para o guarda, franzindo a testa. O homem assentiu e, como Conn ainda permanecia imóvel, revirou os olhos. Disse algo. Repetiu. Dobrou-se, recuperando a lâmina.
Conn se inclinou e levantou-a. Tirou-a da bainha. Era aço espanhol, azul claro e letal. Ele assobiou, nunca havia segurado algo tão bom.
O conde segurou sua espada. Os guardas recuaram, infelizes. Um deles gritou alguma coisa, irritado e severo, e o conde o olhou furioso, mas assentiu. Ele gesticulou para Conn.
Conn, sentindo o coração afundar nas botas, seguiu-o para fora da propriedade.
O empregado alto os seguiu e os guardas foram atrás. No fim da colina, eles foram à esquerda, em direção a um campo.
O homem quer lutar comigo. Conn estava incrédulo. O conde de Cleremont estava desafiando Conn McNeil, para uma luta? Era um absurdo!
Ele segurou a espada nas mãos, sentindo-se desajeitado. Ele nunca havia lutado com alguém antes. No pátio de treinamento, ele havia feito isso inúmeras vezes.
Então, o inimigo era Alf e eles estavam armados com porretes.
Agora, o inimigo era um homem que era tão implacável que transformara a mente de Leona com sua crueldade e estava armado com uma espada de Toledo.
Conn assobiou por entre os dentes, lambendo os lábios ressecados pela tensão. — Vamos lá, — ele murmurou em voz baixa. — Vamos acabar com isso.
O conde tomou um lugar oposto a ele. Um dos guardas andou a dez passos de distância, parou onde estava. Conn imaginou que aquele fosse o limite de sua arena. Ele sentiu como se todo o tempo tivesse diminuído, e nada fosse real.
O homem alto estava atrás do conde. O outro guarda limpou a garganta. Ele parecia estar contando.
Na palavra que soava como — três, — o conde avançou. Ele foi implacavelmente rápido, e Conn assobiou chocado quando a lâmina se projetou em direção à sua cabeça. Ele ergueu a sua arma e rebateu o golpe, gritando pelo esforço enquanto o choque ressoava por seus braços, o aço faiscando com o impacto da lâmina.
O conde recuou. Os dois homens se entreolharam por um momento. Conn recuou, planejando uma varredura lateral. O conde ergueu a lâmina e encontrou Conn, as duas espadas se tocando como uma reunião. Conn estremeceu.
Ele é forte demais para mim. O conde talvez fosse uma década mais velho do que Conn e seus braços estavam amarrados com músculos. Conn imaginou que ele havia lutado em batalhas reais e sabia que era superior.
Quando o terceiro golpe passou por sua perna e ele conseguiu dançar para trás, sua própria lâmina ressoando contra ele, ele desejou que seu pai pudesse vê-lo.
Eu gostaria que ele soubesse que seu filho morreu bravamente.
Conn sabia que não havia escapatória. Ele morreria ali. O homem era muito habilidoso para ele, forte demais. Além disso, ele estava cansado, enquanto seu oponente estava em forma e descansado, uma viagem fácil de carruagem desde sua casa.
O conde sorriu para ele, recuando. Gritou alguma coisa. Conn não entendeu nada. E gritou de volta. — Desgraçado! Você levou Leona à loucura!
Ao pensar em Leona, todo o seu controle explodiu. Levantou a espada e colocou-a em um arco no sentido da cabeça do conde. Sorrindo, o conde se aproximou e levou sua lâmina para cima, então balançou para o lado, escorregando e fazendo Conn cair à frente. E ficou em cima dele.
Conn se pôs de pé no momento em que o golpe desceu perto de sua cabeça. Ergueu a espada e as lâminas se cruzaram, então a lâmina do conde escorregou, passando pelo braço dele.
Conn gritou de dor quando a lâmina cravou em seu antebraço. Ardeu e queimou, e ele observou, surpreso, a manga da túnica cheia de vermelho carmesim.
Ele cambaleou para trás. O conde estava sorrindo. Conn ficou tenso, sabendo que seu braço direito estava debilitado agora. Ele podia senti-lo enfraquecendo e sabia que possuía apenas alguns minutos para terminar as coisas.
Gritando o nome de Leona, ele correu para o homem, no nível da lâmina. O conde ergueu a sua espada e o teria aparado, mas Conn estava correndo muito rápido. Ele correu para Conn e tropeçou. Ao fazê-lo, Conn torceu a lâmina.
O conde gritou quando a lâmina de Conn pegou em seu braço. Ele ergueu a espada, mas agora também estava ferido. E fez um balanço para baixo lentamente.
Conn observou, sem rodeios, o braço encharcado com o próprio sangue, quando o balanço veio em sua direção.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
DESCOBERTA
A cela era escura e fria. Leona franziu a testa, tentando se concentrar em sua costura. O corredor estava cheio de barulhos e ela desejou que todos ficassem quietos.
O som fez sua cabeça doer. Cortou a parede de silêncio que a ocultava do mundo, tornando mais difícil escapar de suas preocupações. Algumas pessoas estão em reclusão! Ela queria gritar, mas ela estava em reclusão. Ficou onde estava e ouviu alguém chamando preocupada.
— Irmã Allectia?
— Sim?
— Onde está a irmã Marcia? Você a viu?
— Não, irmã.
Mais chamados, mais pés correndo. Leona apertou os olhos com força, sentindo o último aperto em sua raiva.
O que há de errado com todas elas? Elas não sabem que esta é uma casa de silêncio?
Leona olhou para cima novamente quando uma nova voz chamou à sua porta.
— Marjorie?
Vá embora. Ela ficou onde estava enrolada na cama. Quem quer que fosse ela não queria saber.
— Marjorie!
A voz a chamou novamente, insistente. Leona tropeçou até a porta. Ela estava em reclusão há três dias. Durante todos aqueles dias, alguém trouxera refeições para sua cela, deixando-as na porta. Ela não viu ninguém e não falou com ninguém. Por que alguém a perturbaria agora?
Ela limpou a garganta. — Sim? — Sua voz era um sussurro e ela tossiu. — Irmã? — Ela tentou novamente. Desta vez, um fio de som saiu.
— Marjorie! — Sua amiga chicoteava ao redor da porta quando ela abriu. Olhos enormes, ela olhou fixamente. — Oh! Marjorie! Aí está você! Eu sei... eu não deveria falar com você, mas oh! Eu preciso contar a alguém.
— Dizer a alguém, o quê? — Leona resmungou.
— Bem, eu não deveria falar, eu sei, mas eu estava no pomar quando alguém veio correndo, o mensageiro do padre Antoine do mosteiro! Ele estava chamando alguém para levar bandagens... eles estão com um homem ferido lá! Eu entrei para encontrar a irmã Marcia. O padre precisa de ajuda com um paciente. Você a viu?
— Ela não está com as crianças? — Perguntou Leona. Por que ela deveria ter visto Marcia mais do que ela — ela não saía dali há três dias. — Ela suspirou, adivinhando que sua amiga estava angustiada e não estava pensando direito. Ela a viu sorrir aliviada.
— Obrigada, Marjorie. Eu vou procurar.
Leona se sentou em sua cama depois que ela partiu, pensando. — Um homem ferido? — Ela disse em voz alta. Estava curiosa. Todos os feridos — homens ou mulheres — eram levados à Irmã Marcia diretamente. Era incomum que eles fossem levados para o mosteiro. A única razão para isso seria se eles conhecessem alguém no mosteiro, ou se viessem de lá. Um pensamento cintilou na parte de trás de sua cabeça.
E se...?
E se fosse Conn, voltando por algum motivo? Leona fechou os olhos, sacudindo a cabeça. Conn deveria ter ido embora há semanas atrás. Por que ele teria ficado na França? Ele foi para casa, Leona. Este é provavelmente um fora da lei da floresta.
Ela estremeceu e puxou os joelhos até o peito, enrolando-se novamente. Assim que ela estava novamente construindo o muro de silêncio ao seu redor, alguém passou correndo pelo corredor. Ela ficou ouvindo.
— Irmã? Oh! Irmã Marcia! Graças a Deus! Nós estávamos todos em alvoroço, procurando por você.
— Eu sei, — a voz gentil da Irmã Marcia respondeu. — Padre Antoine enviou um mensageiro para me buscar. É para o estrangeiro, não é? Ele é o paciente.
— Eu acredito que é. — Uma voz respondeu.
O cabelo de Leona ficou em pé. O estrangeiro. Conn.
— Vou mandar alguns cataplasmas e um pouco de valeriana, para que ele durma enquanto o costuram, — ela ouviu a irmã Marcia dizer.
— Muito bem, irmã. E talvez pudéssemos enviar um pouco de mel para uma bandagem... — Enquanto a irmã Marcia discutia seus planos para tratar o homem, Leona foi até a porta. O estrangeiro. Poderia ser...? Ela descobriu que não podia esperar mais. Ela não jurara o voto, nem prometera ficar isolada. Ela foi na ponta dos pés até o aposento ao lado.
Lá, ela quase correu até Florentia, concentrada para arrumar uma mala com as coisas que a irmã Marcia havia pedido.
— Oh! Marjorie! Aí está você! — Ela exclamou, vendo-a na porta. — Eu sei que não deveria falar..., mas não posso evitar. Irmã Marcia está enviando ataduras. E valeriana! Eles vão precisar costurar as feridas do pobre homem. Ele está inconsciente de qualquer maneira, então, como eles administrarão eu não tenho nenhuma... oh! Irmã! Olá! — Ela olhou para cima, corada e envergonhada, quando sua mentora, Marcia, apareceu na porta.
— Irmã! O que você está ... oh! Marjorie!
Ela olhou para Leona surpresa. Não havia razão real para ela não estar ali, ou para a irmã Florentia não lhe falar: ela não jurara voto algum. A mulher mais velha ainda parecia surpresa, e então se virou para sua companheira freira. — Irmã, se você puder buscar a abadessa para mim, por favor?
— Sim, irmã! — A irmã Florentia se apressou, corando furiosamente, feliz por ser liberada sem comentários.
Marjorie, — disse a irmã Marcia, voltando-se para Leona. — Minha filha, não posso lhe dizer que estou contente por você estar fora de reclusão! Eu acho que preciso da sua ajuda.
— Minha ajuda? — Leona franziu a testa.
— Sim, — sua mentora disse gentilmente. — Você é a melhor costureira entre nós. Seus olhos jovens são muito melhores. E você não fez nenhum voto! Posso pedir-lhe para sair do nosso recinto e ir ao depósito? Pedi que o paciente fosse levado até lá, já que nenhuma mulher pode entrar no mosteiro. Você poderia costurar aquele homem ferido por nós.
E se ele for Conn? Conseguirei? Ela engoliu em seco e depois assentiu. — Eu farei isto, irmã.
Como ela poderia recusar? Se fosse Conn, e ele morresse por falta de ajuda, ela nunca se perdoaria.
— Deus abençoe você, — disse a irmã Marcia fervorosamente.
Leona pegou o embrulho de Florentia e seguiu-a em direção ao depósito. Ela entrou na ponta dos pés pela porta, prendendo a respiração. Não era. Não poderia ser.
No entanto, era.
Deitado estendido no banco estava Conn. Ele estava pálido, seu cabelo avermelhado emaranhado na testa. A frente da camisa dele estava cheia de sangue. Seu braço estava curvado de modo não natural e dois padres pairavam em torno dele.
Leona mordeu o lábio, chocada demais para se mexer. — Conn... — ela sussurrou. — Não.
Um dos sacerdotes olhou para cima. Ele sorriu hesitante para Leona. — Ah! Minha filha. Venha. Precisamos da sua ajuda.
— Padre. É ele...
— Sim, criança, ele está vivo. Precisamos estancar esse sangramento logo, no entanto. E se essa ferida não for fechada corretamente, ele nunca mais poderá usar a mão.
Leona se inclinou, olhando para onde o padre indicava. Ela engasgou quando viu. Uma fatia fora cortada do antebraço direito, como se alguém tivesse passado uma faca pela manteiga. Deixou um grande retalho de pele solta, sangue, preto e vivido, escorrendo por baixo dele em um fluxo que quase estava estancado.
— Nós colocamos um torniquete no cotovelo, aqui... — o padre indicou. — Ele está sedado, mas eu não tenho visão para costurar a ferida.
— Sim, padre. — Leona engoliu em seco, o cheiro de ferro vindo do sangue flutuando na frente da camisa. Ele possuía outras feridas, evidentemente, embora nenhuma parecesse séria. Ela fechou os olhos, não querendo pensar em quanta dor ele poderia estar sentindo. Estendendo a mão tocou-o no cabelo. Ele se mexeu e, em seguida, a cabeça dele sacudiu inquietamente para longe.
— Venha minha filha. Enquanto ele estiver dormindo.
Leona assentiu. Com as mãos trêmulas, tirou a agulha e enfiou a linha, depois se inclinou para onde o outro padre se ocupara em limpar o sangue, revelando a ferida no antebraço.
Este é o Conn. Eu brinquei com ele. Persegui ele até as colinas. Ele me levantou com esses mesmos braços, segurou-me quando eu chorei. Eu não posso costurá-lo como se ele fosse um pedaço rasgado de roupa de cama!
No entanto, ela precisava. Se ela não o fizesse, aquela ferida nunca se curaria e ele poderia morrer. Leona fechou os olhos, fez uma oração silenciosa e começou a costurar.
Ela sentiu Conn tenso enquanto ela empurrava a agulha através da pele e ouviu-o começar a gemer. Ela estremeceu e queria chorar. Nunca havia feito isso antes e a sensação de sua agulha na pele a revoltou. Ela o costurou o mais rápido que conseguiu, cerrando os dentes por causa do soluço que escapou de seus lábios.
— Imagine que seja couro, — disse o padre, prestativo. — Eu faço isso. Eu costuraria, mas minha visão está muito pior agora. Precisamos de seus jovens olhos, minha filha. Eu gostaria que não tivéssemos que pedir isso a você.
— Eu posso fazer isso padre, — Leona sussurrou. Ela apertou os dentes e começou a puxar devagar. Estava tremendo e queria chorar, mas depois do que pareceram horas, a ferida estava fechada.
Ela tropeçou para trás enquanto amarrava o último ponto, soluçando de alívio. Ela se ajoelhou no chão, exausta.
— Venha, padre Tobias. Vamos levar a pobre criança de volta ao convento. Ela fez o suficiente.
— Não, — Leona sussurrou. — Eu quero ficar. Por favor?
Os sacerdotes se entreolharam. Eles deram de ombros. — Se você quiser minha filha.
Leona assentiu e se encostou na parede, olhando para Conn. — Eu quero
— Muito bem. Porém nós devemos terminar nosso trabalho aqui primeiro.
Leona ficou onde estava drenada de energia. Eles terminaram de enfaixar o braço de Conn e lavaram o sangue de seu peito e pescoço. Eles saíram então, lançando olhares preocupados para Leona, que estava ao lado de sua cama.
Ela esperou até que eles fossem embora. Então lhe falou.
— Conn, — ela sussurrou. — Amado. Eu menti para você. Sinto muito. Agora você poderá morrer. E você poderá nunca saber o quanto eu o amo. Conn — soluçou. — Eu o amo. Eu o amo tanto quanto o céu de verão e as montanhas. — Ela riu. Era algo que eles disseram quando eram crianças. Então ela soluçou sem palavras, a memória muito dolorosa, cheia de sua inocência e amor.
Conn suspirou. Ele se mexeu e relaxou em seu sono.
— Conn, — disse Leona, soluçando. — Eu o amo muito. Eu não posso deixar você ir. Eu não sabia, até agora, que nada mais importava. Não importa que eu não possa ir a você, pura. Não importa que você tenha pensado que eu havia me esquecido de você. Não importa para mim. Tudo o que importa — tudo o que importa — é o nosso amor. Volte para mim?
Leona chorou. Ela recostou-se contra a parede do depósito e soluçou até pensar que nunca pararia.
Quando os padres voltaram, ela ainda estava chorando. Eles a olharam. O padre Antoine pegou sua mão. — Minha filha, fizemos tudo que pudemos. Você foi excelente. Se ele puder mexer a mão, será graças a você. Mas agora tudo o que podemos fazer é esperar.
— Eu sei padre, — soluçou Leona. — Eu sei. — Ela disse depois de vê-los lavar as feridas: pelo menos sabia que todos os cuidados foram tomados, como ele havia dito.
Agora tudo o que eles podiam fazer era esperar.
Leona sentou-se pesadamente na cama em sua cela. Ela não achava que se mudaria de lá. Ela estava exausta: mentalmente, fisicamente e emocionalmente.
Ela se enrolou como uma bola, e deve ter dormido, porque a próxima coisa que ela viu era que estava escuro e estava ouvindo alguém chamar seu nome.
— Marjorie?
Ela se sentou, piscando quando uma vela apareceu em sua cela. — Sim? Sim irmã?
— Eu sei que não deveria falar com você, mas não posso evitar, — sussurrou a amiga. — Acabarei de lhe contar o que a irmã Marcia acaba de ouvir do irmão Antoine. O paciente está acordado.
Leona a olhou. Sem palavras, ela a abraçou. Ele estava acordado! Conn estava acordado! Ele estava vivo. — Vamos orar, — ela sussurrou.
Não havia mais nada que ela pudesse fazer exceto agradecer. Conn estava acordado. Ela também sabia a resposta para sua pergunta: ela seguiria Conn onde quer que ele fosse. Até os confins da terra, se necessário. Ela o amava.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
DE VOLTA À VIDA
Conn se mexeu.
Sua cabeça doía. Ele aspirou, cheirando o cheiro acre de metal, o cheiro de pergaminho queimado e o cheiro de mirra. Ele se recordou da luta, da ferida em seu braço, do sangue. Os cheiros e o crepitar de fogo entraram em seu crânio, evocando imagens de seus pesadelos. Ele gemeu em voz alta.
— Eu estou no inferno, não estou?
Ele ouviu alguém colocar uma garrafa em uma mesa. Então alguém riu calorosamente. — Talvez jovem. Embora alguns chamem isso de França.
Conn gemeu e sentou-se, depois desejou que não tivesse feito aquilo. Seu braço parecia rasgar de dor e sua cabeça doeu. — Padre, — ele perguntou incrédulo.
— Sim, sou eu, padre Antoine, — disse o padre pacientemente. — Estou surpreso que você me confunda com Mefistófeles, mas vou assumir que é o resultado da valeriana que minha boa irmã mandou, e não uma indicação do que você pensa de mim.
Conn abriu os olhos. Tudo estava escuro. — Onde estou?
— Você está no mosteiro em Bois, filho, — explicou o padre. — No depósito, se você quer saber.
— Como eu cheguei aqui?
Ele ouviu alguém se sentar em uma cadeira de corda, o rangido das cordas sob seu peso. Então o padre suspirou. — Você está bom para perguntas, não é? Os guardas do palácio do bispo trouxeram você. Eles conhecem nossa reputação de cura. Você é sortudo. Não só porque eles o largaram aqui antes de sangrar até a morte, mas porque eles pensaram em trazer você de alguma forma. Você deveria ter sido preso.
— Oh! — Conn suspirou. — Então eu sou um criminoso? — Brilhante. Ele presumiu que era ideia do Conde, o que significava que o Conde ainda vivia. Maldito seja ele. Sua cabeça estava rodando, ele sentiu náuseas e seu corpo doeu. Agora estava enfrentando acusações criminais também? — Padre? Eu sou um fora da lei?
— Não, filho, — o padre sorriu. — Você é um fugitivo.
Conn assobiou por entre os dentes. — Obrigado, padre. Da próxima vez que eu precisar de alguém para me proteger, ou discutir, eu virei encontrá-lo. Ele fechou os olhos.
O padre riu. — Estou feliz em ouvir isso. Eu sempre pensei em ser um juiz, na verdade.
— Você deveria ter sido, — disse Conn azedamente.
Ambos riram.
O peito de Conn doeu e ele sibilou através dos dentes. — Padre, — ele perguntou. — O que exatamente está errado comigo?
Ele ouviu o padre limpar a garganta. — Filho, é mais um caso do que não está errado. Você tem cortes suficientes no seu peito para comparar favoravelmente com o meu melhor queijo e você está fraco pela perda de sangue. Tenho motivos para acreditar que alguma coisa bateu forte na sua cabeça, embora ninguém saiba se isso aconteceu na briga ou se você apenas desmaiou — acrescentou ele, de pé para banhar o ombro de Conn com um pano.
— Obrigado, — disse Conn ironicamente. — Da próxima vez que eu precisar do meu orgulho destroçado, eu venho até você.
— A qualquer hora, meu filho.
O padre continuou seu trabalho. Conn abriu os olhos e notou que ele estava sorrindo. Ele verificou a ferida no braço e uma que sangrava na pele do seu torso. Parecendo satisfeito, ele grunhiu e então se acomodou ao lado da cama. — Filho, eu estou tão feliz que você esteja bem.
— Obrigado, padre. E... — ele fez uma pausa, indicando seu corpo, que ele só conseguia ver na meia luz da chama. — Obrigado por tudo isso.
— Oh, eu não fiz isso sozinho. Graças ao Senhor por isso. E o padre Tobias e Marjorie.
Marjorie? Perguntou Conn. O nome significava algo para ele distantemente, mas ele não conseguia se lembrar. Ele franziu a testa para o padre, que assentiu.
— Marjorie. Esse é o nome que minha querida irmã deu à pobre garota que perdeu sua inteligência. A sua conterrânea que... — ele parou quando Conn se sentiu ruborizado.
— Leona? Você trouxe Leona para me curar?
O padre estremeceu. — Sinto muito, meu filho. Mas eu não consigo ver para costurar mais feridas. Então, nós a buscamos e ela fez isso muito bem.
Conn olhou para o homem santo com espanto. Ele não sabia exatamente como se sentia. Parte dele queria rir, parte queria chorar. Tudo se fundiu em seu peito e saiu como um soluço profundo e ressonante, formando o som de seu nome. — Leona!
Naquele momento, ele ouviu alguma coisa. O padre pulou e olhou à porta. Conn seguiu seu olhar.
Ali, no corredor, os cabelos ruivos delineados de chamas, rosto magro e cheio de emoção, vestida de branco, estava Leona.
— Conn — disse ela. Sua voz era suave e hesitante, como se pensasse que seria mandada embora.
O queixo dele caiu. — Leona! Leona! Você me reconhece! — Ele estava chorando e não se importava com quem o via. Ela sabia quem ele era! Ela disse o nome dele! — Leona!
Ele gritou de novo quando ela se lançou no espaço entre eles.
— Conn! — Ela colocou os braços ao redor dele e beijou-o ternamente. Ela cheirava a lavanda, calor e sabonete.
Ele a abraçou, rindo e chorando imediatamente. — Leona! Minha Leona! Você está melhor!
— Oh, Conn, — ela suspirou, olhando em seus olhos. Ele olhou para o rosto dela, maravilhado por vê-la presente, sorridente e sã. Ele acariciou o cabelo dela e eles se beijaram novamente, mais devagar desta vez, mais ternamente.
Leona se virou quando o padre soltou uma leve tosse.
Conn sentiu as bochechas queimarem e se moveu de volta instantaneamente, virando-se para o seu amigo sagrado, abaixando a cabeça. — Padre, perdoe-me por mentir. Leona não é minha prima, mas minha esposa prometida.
O padre lhe lançou um sorriso suave. — Eu imaginava, — disse ele. — Eu tenho muitas primas e não tenho a tendência de... cumprimentá-las assim.
Conn riu. Para sua alegria, depois de um olhar momentâneo de total constrangimento, Leona também o fez. Os três riram e o padre ficou de pé, limpando a garganta.
— Acho que devo ir e terminar de avaliar o barracão de lã.
Conn abriu a boca, prestes a protestar. Devia ser uma hora da manhã! Ele não poderia sair agora para a noite fria! Quando começou a expressar suas objeções, ele percebeu que era uma desculpa para deixá-los sozinhos. Ele sorriu, desejando poder agradecer-lhe em voz alta.
Então ele estava sozinho com Leona e todos os outros pensamentos fugiram. — Leona, — ele sussurrou. — Minha vida! Você está aqui. Meu amor.
— Oh, Conn, — ela sussurrou. — Eu sinto muitíssimo. Eu o amo muito!
— Eu também a amo, — ele sussurrou, apertando a mão dela com firmeza. — Eu também a amo.
Mais tarde, eles ainda conversaram. Com o fogo em contraponto crepitante às palavras, Leona se aconchegou mais na cama e sentou-se com a mão dele na sua, a outra mão acariciando seus cabelos, enquanto conversavam sobre tudo o que havia acontecido desde a despedida.
Leona contou a ele sobre a fuga do Conde. Sua voz ficou tensa quando lhe contou sobre o ataque dos bandidos. Contar-lhe era algo que ela nunca imaginou que faria e ela não fazia ideia de como dizer.
— Conn ... Quando eu estava inconsciente, eu...eu não sei o que aconteceu comigo. O que foi feito comigo. Você entende? — Ela observou seu rosto. Ele parecia totalmente vazio. Ela esperou que ele dissesse alguma coisa; choque, horror ou raiva para esmagar seu coração.
Quando ele não disse nada, ela limpou a garganta. — Conn, eu não queria vê-lo de novo porque eu não queria falar sobre... sobre isso. Conn, eu posso estar grávida. Eu sei que você acha que eu o enganei. Oh, Conn! Eu queria ser digna de você! Eu desejo...
— Pare! — Conn a interrompeu. Ela se virou para olhá-lo. Ele estava rindo um pouco histericamente. — Moça! Não! Você está louca? Você não me enganou. Leona, minha querida. Eu a amo. Eu não me importo. Nada mais importa para mim, exceto você. Eu não me importo com mais nada.
Leona olhou para o rosto sorridente dele. Ele parecia exasperado, ou qualquer coisa; mas não havia desprezo, nem horror. Nenhuma pena mesmo. Apenas amor. — Oh, Conn, — Leona sussurrou. — Oh, meu querido. — Ela desmoronou em seus braços e eles se sentaram juntos na cama, as lágrimas se misturando.
Depois de muito tempo, Conn sugeriu seu plano para ela. Eles se casariam.
— ...E na Escócia, chegaremos como marido e mulher. Dessa forma, se você estiver esperando um filho ou não, isso não importa. Você vai se casar comigo. Como nós sempre quisemos que fosse.
Leona olhou em seu rosto e acariciou sua cabeça, além das palavras. — Oh! Conn, — ela sussurrou. — Eu o amo.
Conn fechou os olhos, as lágrimas escorrendo pelas próprias bochechas. — Leona. Minha querida. Eu também a amo. Você não pode acreditar o quanto eu senti sua falta, quando eu pensei... eu pensei ... — Ele limpou a garganta e Leona beijou sua testa.
— Eu sinto muito, meu querido. Eu pensei que era o melhor. Eu pensei que você estaria melhor sem mim.
— Oh, Leona. — Ele sorriu tristemente para ela. — Aconteça o que acontecer, devemos nos prometer agora e sempre que nunca iremos nos afastar um do outro assim. Nada é mais importante que o nosso amor.
Leona assentiu, com a garganta apertada demais para falar. — Sim, Conn. Você está certo. Nada é mais importante que o nosso amor.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
UM CASAMENTO NA FRANÇA
Leona retornou para o convento depois disso. Ela não conseguia acreditar que tudo havia mudado tão rápido. Ela e Conn se casariam assim que ele pudesse ficar de pé. Então eles voltariam para casa juntos.
Ela se abraçou, muda de felicidade.
Na manhã seguinte, ela não conseguiu evitar. Ela precisava contar a alguém. Ela encontrou Florentia na antessala onde às vezes costuravam.
— Marjorie! — Disse sua amiga, olhando para cima.
Leona não lhes havia dito seu nome verdadeiro; e mesmo se ela tivesse feito isso, ela não queria que elas mudassem. Marjorie era o nome dela ali. — Irmã Florentia! Eu tenho notícias empolgantes...
Leona se sentou ao lado dela no banco e derramou sua história. Ela lhe contou tudo: como Conn a amava, como ele estava se curando, como ele prometera se casar com ela quando estivesse bem.
Esta última declaração foi recebida com uma pequena carranca. — Marjorie, você entende, não sabe que isso pode levar semanas? As feridas dele são ruins — sua amiga perguntou cuidadosamente.
Leona engoliu em seco. — Eu entendo irmã.
Florentia assentiu. — Bem, se você pode ter paciência, então você é mais paciente do que eu sou!
Leona olhou para ela, surpresa. — Florentia...?
— O quê? Bem, se fosse eu casando, eu declararia o mais rápido possível! — disse sua amiga, corando bem vermelho.
— Oh, irmã, — disse Leona, e começou a rir.
As duas desabaram em risadas felizes. — Oh, Marjorie! Estou tão feliz por você — ela disse quando tiveram a respiração de volta. — Isso é um milagre, minha querida amiga. Um milagre.
Leona sorriu. Certamente parecia assim.
Dois dias depois, ela estava no café da manhã no refeitório, apenas terminando o pão, quando ouviu uma voz sussurrar atrás dela. Marjorie?
— Sim, irmã Allectia? — Ela perguntou.
— Está aqui um homem vindo do mosteiro de meu irmão. Ele veio com uma mensagem para você.
— Obrigada. Eu vou até lá.
Leona foi até a porta, onde um jovem noviço lhe disse para ir ao depósito. Lá, ela teve uma surpresa.
Conn estava parado em frente à porta, segurando-se à cama, ainda estremecendo um pouco por causa das feridas no peito enquanto tentava se endireitar. No entanto, ele conseguia ficar de pé. Presenteou-a com um sorriso pálido e triunfante, a testa escorregadia de suor.
— Conn! — Leona gritou. O padre e Conn olharam um para o outro e começaram a rir.
— Eu disse a ele que não fizesse, — disse o padre com tristeza. — Mas ele insistiu em tentar.
Leona balançou a cabeça, sorrindo, as lágrimas molhando as bochechas de uma só vez. — Oh, Conn, — disse ela.
O padre sorriu gentilmente. — Ele está de pé, minha senhora. Então eu acredito que tenho um casamento para realizar?
Leona assentiu com um nó na garganta, lembrando-se do acordo deles. — Sim, Padre.
Eles se casaram na capela. Leona usava um longo vestido branco do convento, um buquê de lavanda e ervas em suas mãos, cortesia de sua boa amiga. O padre Toby e as irmãs Marcia e Florentia foram testemunhas.
O padre sorriu para eles, o rosto vermelho, as cerimônias concluídas. — Bem, meus filhos, este é um evento feliz. Agora, acho que vou me retirar para meus aposentos para contemplação.
Leona e Conn sorriam para ele.
— Obrigada, — Leona sussurrou.
— Eu lhe devo minha vida, padre, — disse Conn sinceramente.
— Eu não fiz nada, meu filho.
— Eu também devo muito a você, — disse Leona. — E você, a irmã Florentia, o padre Toby e a irmã Marcia ... oh! — Ela sentiu o rosto molhado de lágrimas e se virou para Conn.
— Venha, mulher, — ele disse gentilmente em sua língua nativa. — Vamos.
Eles saíram da capela para o jardim, onde foram abordados pela irmã Florentia.
— Eu não deveria contar isso, mas a irmã Marcia e eu temos uma surpresa para você... — Ela corou, olhando para Leona. Leona olhou da freira mais velha para a amiga, com um sorriso interrogativo no rosto.
— Não está aqui, criança, — disse Marcia gentilmente. — Venha, me siga...
Elas os levaram para o lado do convento, onde os comerciantes deixavam suas mercadorias. A surpresa era uma carroça.
Quando Leona e Conn franziram as sobrancelhas para elas, confusos, elas explicaram.
— Pedimos para Bruno, o carreteiro, que nos ajudasse... — A irmã Marcia começou com cuidado.
— Ele disse que isto a levaria à aldeia! — Exclamou a irmã Florentia. Sua mentora franziu a testa com uma explosão quase exuberante e todos eles riram.
Leona olhou de uma para o outra. Ela engoliu em seco, sua garganta apertada pelo sentimento. — Obrigada, — murmurou para a irmã Marcia. — Oh, obrigada.
O que elas a estavam presenteando era mais do que apenas uma viagem em uma carroça: era a chance de celebrar a primeira noite de seu casamento longe dos jardins da igreja. Eles seriam homem e mulher de verdade. Era o maior presente que elas poderiam ter oferecido.
— Eu nunca vou me esquecer de vocês, — Leona sussurrou-lhes. Ambas as mulheres piscaram as lágrimas.
— Adeus, — disse Florentia, fungando.
Leona abraçou-a e ela riu, piscando para conter as lágrimas. Então Leona pegou as mãos de sua mentora, beijando-as. Sem palavras, ela se virou para Conn. — Devemos ir?
— Sim, minha senhora.
Eles sorriram um para o outro e subiram na carroça. Então foram embora, indo em direção à aldeia.
Eles eram homem e mulher.
Eles chegaram a uma pousada ao meio dia. Conn desceu, ainda estremecendo um pouco quando seus pés atingiram os paralelepípedos. Ele a ajudou e se entreolharam, sorrindo nos olhos um do outro.
— Vamos, moça — disse Conn bruscamente.
Leona o seguiu para dentro. Fizeram uma boa refeição juntos e pediram o melhor aposento que o estalajadeiro oferecia. Então subiram juntos.
— Minha esposa, — sussurrou Conn, acariciando as mechas cor de morango de Leona.
— Conn, — Leona murmurou, sentindo um rubor subindo pela garganta. — É meio da tarde...não devemos ...
Ele sorriu. — Por que não deveríamos?
— Conn! — Leona repreendeu. Ela sentiu seu estômago formigar quando ele lhe sorriu, aquele sorriso travesso levantando os cantos de sua boca.
— O quê? — Ele sussurrou, pressionando-se contra ela, de modo que a prendeu contra a parede enquanto acariciava seu cabelo novamente, o corpo duro contra o dela.
— Conn... — ela tentou protestar. Ele parou suas palavras com um beijo. Sua língua quente e firme deslizou entre os lábios dela, silenciando todo o debate. Além disso, quando seu corpo pegou fogo sob o beijo, Leona percebeu que não queria discutir sobre aquilo. Ela se inclinou contra ele, o corpo formigando todo.
— Venha, moça, — ele sussurrou em seu cabelo. — Vamos entrar.
Leona o seguiu para dentro. As cortinas foram fechadas, a luz do sol se infiltrando sobre a cama. Ela pressionou seu corpo contra o dele quando se beijaram novamente no meio do recinto.
— Minha Leona, — ele suspirou. — Você é tão bonita...
Ela sentiu seu corpo derreter sob as palavras, sob o calor de seu olhar. As mãos dele alcançaram atrás dela para desamarrar as costas de seu vestido.
Ela ficou tensa, e depois relaxou enquanto ele acariciava a parte de trás do seu pescoço, sussurrando doces tolices em seu cabelo. Ela ficou surpresa por não ter lembranças de violência ou medo. Seus únicos pensamentos foram para ele quando a beijou, gentilmente desabotoando seu vestido até ele caiu no chão.
Ele a empurrou até a cama. Olhando-a, o desejo escrito em todo o seu rosto. — Você é tão linda, minha esposa.
Quando ele se sentou na cama e se inclinou para beijá-la, ela fechou os olhos, deixando seus sentidos correrem com loucura. As pontas dos dedos acariciaram sua garganta, descendo até o decote da camisa interna. Ele passou a alça por cima do ombro e inclinou-se para beijar seu seio, suspirando de admiração.
— Oh!
Leona ficou tensa e gritou de espanto. Ela não esperava que aqueles lábios apertados em seu mamilo parecessem tão incrivelmente maravilhosos. Quentes, firmes e provocantes, o toque lançando-se através de seu corpo e enchendo sua barriga de calor.
Ele lhe sorriu, e então se curvou para prová-la novamente. Ela gritou quando ele levou sua boca até um deles, segurando o outro seio com a mão. Leona fechou os olhos, depois os abriu novamente quando ele se afastou, sussurrando seu nome.
Ele olhou-a, seus olhos castanhos dançando maliciosos. Então ele se sentou e tirou a camisa de seu corpo, deixando-a deitada, nua, diante dele. Leona sentiu seu pulso tamborilar quando ele beijou uma linha abaixo de sua barriga, terminando em sua cintura. Seus lábios fizeram círculos úmidos em sua pele, o puxão suave deles em sua carne, docemente excitantes.
Quando ele alcançou o lugar onde suas coxas se encontraram, beijando-a ali, ela gritou de surpresa e ele olhou para cima, uma pergunta em seus olhos.
— Eu posso...?
— Sim, — ela sussurrou timidamente. Ele assentiu.
Quando ele a beijou de novo, a língua acariciando suas dobras, Leona sentiu seu corpo inteiro tenso de espanto e gritou com voz rouca. Parecia quente, gentil e surpreendente. Ele a lambeu novamente, lentamente, e depois, repetiu mais rápido, a língua se movendo em pequenos gestos. Ela pensou que morreria de um prazer estranho, quase doloroso se acumulando dentro dela lentamente. A língua dele se moveu, fazendo as sensações se intensificarem. Construindo e construindo e...
— Oh!
Quando ela chegou ao auge do prazer, foi intenso. Quase a assustou. Ela gritou alarmada, sentindo como se todo o seu corpo estivesse se derretendo, como se seu ser físico tivesse se dissolvido em um banho maravilhoso. Então relaxou e simplesmente suspirou quando as ondas de prazer pulsaram através de seu corpo, deixando-a quase adormecida.
Conn se levantou e Leona ouviu os pequenos sons de seu despir-se. Quando ela olhou para cima novamente, os olhos entreabertos de prazer, ele estava vestindo apenas suas calças. Seu peito ainda estava cheio de cortes, alguns deles recém curados, alguns ainda muito profundos. Seus olhos capturaram a ferida em seu antebraço, e ela estremeceu ao vê-la. Ele era tão lindo! Enquanto se inclinava para soltar o cinto, seus músculos ondulavam à luz do fogo. Ele era magro e forte e ela estava certa de que nunca vira nada tão bonito.
Ele se despiu completamente e ela o olhou. Estranhamente, embora nunca tivesse visto um homem sem as roupas, não sentiu medo. Ela confiava em Conn e sabia que ele nunca a machucaria. Ele era tão lindo. Ele foi tão gentil. Ela não estava com medo.
Conn estava ao lado dela. Ela se aproximou dele, encostando a cabeça em seu ombro.
— Oh, Conn, — ela sussurrou.
Ele acariciou seu cabelo e lhe sorriu, olhando-a como se nunca tivesse visto nada tão bonito antes.
Conn havia imaginado como seria e agora ele fizera isso: havia despido Leona e a beijara em todos os lugares. Ele a olhou deitada ao seu lado e sentiu um maravilhoso e esmagador desejo. A pele dela era perolada, lisa como cetim. As auréolas dos seios eram de um suave rosa, e a doce elevação deles, com os mamilos duros pelo ar frio, disparavam desejo em seu corpo.
Ele estava se segurando, certificando-se que ela alcançasse as alturas do prazer, querendo certificá-la que não precisava temê-lo. Agora, ouvindo seu gemido de prazer ao seu lado, ele não conseguia se segurar mais.
Ele se ajoelhou, olhando-a. Moveu-se para se ajoelhar no final da cama.
Os olhos dela se abriram quando ele empurrou o joelho suavemente entre suas pernas, pressionando as coxas separadas. Ele olhou para aqueles doces olhos azuis de safira e fez uma pergunta. — Sim?
— Sim.
Ele sentiu seu corpo pegar fogo quando ela lhe sorriu.
Ele lentamente se empurrou para dentro dela. Seu calor e firmeza o atraíram e ele engasgou. Nunca acreditara que isso aconteceria. Estar dentro dela, olhando para baixo e vendo seu rosto, sorrindo de prazer, uma sobrancelha franzida.
Isso, ele precisava admitir, era maravilhoso. Ele empurrou para dentro dela novamente, e então, ficou quase completamente fora de si, amando a sensação de entrar nela de novo e de novo e de novo. Suas feridas se esticaram e puxaram um pouco enquanto ele se movia, mas mal as notou. Todo o seu corpo se esforçou pelo clímax, inundando todo o resto, todas as outras sensações desaparecendo sob o fogo selvagem de sua necessidade.
Ele alterou o ângulo e empurrou mais, indo devagar no começo e depois mais rápido e mais rápido, sentindo sua própria necessidade aumentando e crescendo, aumentando a cada impulso, e cada gemido em uma corrente selvagem e implacável de necessidade que o atraía e o impulsionava...
— Oh! Oh! Ah...
Ele gemeu e sentiu seu corpo bombear dentro dela quando se desmoronou em sua pele macia, ondas de liberação fazendo-o gritar de espanto. Ele se deitou em cima dela, o seu prazer ondulando através dele.
Finalmente, ele rolou para longe dela, mexeu-se para se deitar ao lado dela. Ela se aninhou mais perto e descansou a cabeça em seu ombro.
— Querida, — ele murmurou. — Minha Leona. Meu amor.
Leona se aconchegou contra ele, aquela pele macia e acetinada pressionando perto dele. — Meu Conn. Eu também o amo.
Ele deitou com ela em seus braços, ouvindo o som de sua respiração e sabia que nunca imaginara estar tão feliz.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
DE VOLTA AO LAR
Na manhã seguinte, eles saíram da pousada, um delicioso café da manhã em suas barrigas e suas cabeças cheias de planos.
— Devemos ir para o oeste até chegarmos à costa, — explicou Conn.
Leona lhe franziu a testa, cavalgando ao seu lado em um cavalo de jennet que eles haviam contratado na estalagem. — Conn, não podemos arriscar a sermos vistos na estrada.
Conn assentiu. — Eu sei. — Ele lhe dissera sobre sua luta com o Conde, e de como o homem havia — de acordo com o padre Antoine — colocado um preço em sua cabeça. Enquanto o Conde estivesse vivo, eles não estariam seguros na França.
— Nós poderíamos ir para o norte, — sugeriu Leona. — Vamos à Borgonha. Estaremos a salvo lá.
— Nós poderíamos, — concordou Conn. Eles decidiram que era o que fariam. Quando eles pararam em uma pousada naquela noite, dividiram a mesa com dois comerciantes. A conversa se voltou para eventos locais.
— ...E é uma grande perda. Ele era tão jovem!
— O que aconteceu? — Conn sussurrou para Leona.
— Alguém está morto, — Leona sussurrou de volta. — Quem morreu? — Perguntou ela aos homens, em francês.
— O conde de Cleremont. Apenas vinte e nove anos... jovem demais para morrer em sua cama, por certo.
— Ele está morto? — Leona sussurrou, horrorizada.
— Sim, — o outro comerciante concordou. — Morto em combate corpo a corpo ... morreu por causa de seus ferimentos há dois dias. Que Deus descanse sua alma.
— De fato.
Os dois comerciantes fizeram o sinal da cruz piedosamente e Leona fez o mesmo, depois se virou para olhar para Conn. O rosto dele estava branco de espanto, dizendo que também entendera.
— Ele está morto, — ela sussurrou em surpresa. — O conde está morto.
Isso mudava seus planos. Eles decidiram voltar pelo caminho que tinham vindo, indo para o sul novamente e depois para o oeste. No caminho, passariam por Annecy, contornando a estrada principal.
— Parece que o tio pode conseguir a terra dele apesar de tudo — comentou Leona para Conn quando passaram pela aldeia, indo para o oeste.
Conn concordou em voz baixa. — O que ele vai fazer com isso, um homem sozinho, eu não consigo imaginar.
— Nem eu, — Leona assentiu. — De alguma forma, sinto muito por ele.
— Desculpe-me, Leona! — Conn olhou para ela com espanto, movendo-se em sua sela para encará-la. — Depois de tudo o que ele fez?
— Ele realmente não fez nada, — disse Leona suavemente. — Ele é intrigante e implacável, sim; mas não consegui deixar de gostar dele.
Conn sacudiu a cabeça e não disse nada. Passaram pela pequena vila caiada e entraram no crepúsculo crescente.
Uma semana depois, eles chegaram ao mar. A passagem à Escócia não foi muito difícil de encontrar; e o restante do colar de Leona pagou por aquilo. A travessia foi rápida e nenhum deles ficou enjoado, o que os surpreendeu.
Leona estava no convés, observando a aproximação da terra.
Tão diferente do que quando eu fui embora.
Ela podia sentir a forte presença de Conn ao seu lado, ouvir o estalido do vento em sua capa. Ela estendeu a mão para segurar a dele, lembrando o quão desolada se sentira quando soube que estava saindo de perto dele pela primeira vez.
Ele pegou os dedos dela e eles ficaram juntos, enquanto os cordames estalavam, as gaivotas guinchavam e o mar os levava para sua terra natal.
Quando chegaram às docas de Queensferry, Conn saiu primeiro e depois se curvou para Leona, ajudando-a a desembarcar. Eles subiram o cais, juntos.
— Meu Senhor! Minha senhora! — O hospedeiro cumprimentou-os na língua nativa deles. — Um prazer ter pessoas tão boas aqui. Bem-vindos!
Leona sentiu as palavras passarem por ela, faladas em sua própria língua. Ela se virou para Conn, piscando para conter as lágrimas. Ele também estava sorrindo, um sorriso de puro deleite.
— Nós queremos o seu melhor aposento, senhor! Uma tigela de guisado e canecas de cerveja!
Eles celebraram aquela noite e depois, na cama, eles se deitaram em sua terra, pela primeira vez.
Leona se aconchegou contra Conn, sentindo sua presença já familiar na escuridão. O único som era o crepitar do fogo na lareira e o sussurro suave das respirações. — Conn, — ela sussurrou.
— O quê? — Ele rolou para o lado, o corpo pressionado contra o dela. Ela sentiu seu próprio corpo formigar de excitação, sentindo a evidência de seu desejo por ela, pressionada contra seu quadril.
— Estamos de volta. Estamos em casa.
Ele lhe acariciou o cabelo. — Nós estamos moça. Nós estamos.
Eles fizeram amor devagar a princípio, depois com completo abandono. Leona sentiu como se todo o seu corpo tivesse derretido, consumido no fogo de sua paixão. Ela estava deitada ao lado dele, a pele molhada de suor, todo o corpo relaxado por dentro e por fora.
Na manhã seguinte, eles fizeram amor novamente, depois partiram, iniciando a longa viagem para casa.
As florestas e vales, colinas e lagos pareciam tão familiares quanto sempre, embora se tornassem novos e maravilhosos novamente em sua ausência. Eles conversaram, riram, conversaram e se alegraram com tudo, desde a solene grandeza de um pinheiro até o cheiro de urze. Quando chegaram aos últimos quilômetros da jornada, eles ficaram completamente em silêncio.
Estou aqui, Leona pensou, tremendo de admiração. Depois de todas as minhas longas aventuras, estou aqui em casa.
Ela sabia o que Conn também estava sentindo, porque estava completamente em silêncio. Eles cavalgaram através das árvores, o coração de Leona pulsando em seu peito enquanto ouvia, revia e cheirava todas as visões familiares e sons de casa.
— Quem vai lá?
Leona sentiu seu rosto se partir com um sorriso quando Alec, o guarda do portão, gritou um desafio.
— É Conn McNeil, seu safado — gritou Conn, descendo o capuz de sua capa. — E a senhora Leona. Abra de uma vez! Estamos em casa.
— Conn? — Alec ficou cinza com o choque. — Você... nós pensamos que você estava morto! O mestre realizou uma missa em seu nome! E Lady Leona? Nós ouvimos que você havia se estabelecido em uma terra estrangeira! Bem-vinda! Esta tem sido uma casa de luto. Agora será uma casa de alegria!
Leona olhou para Conn maravilhada. Eles pensaram que Conn estava morto? E ela está estabelecida? Leona sentiu seu coração bater mais rápido.
— Eles estão em choque, — Conn riu.
Leona assentiu, sentindo-se estranhamente apreensiva. Ela não via sua família há meses! O que eles diriam? O que eles pensariam dela? O que seria...
— Filha...? — Alina estava no degrau. Vestida de veludo preto, com o cabelo preso para trás, ela desceu lentamente a escada do grande vestíbulo, como se tivesse envelhecido de repente.
— Mãe!
— Filha!
Alina desceu correndo as escadas em sua direção e Leona correu para encontrá-la, lançando-se em seus braços. Ela puxou o firme corpo da mãe contra ela, chocado com o quão frágil ela parecia. — Mãe! Sou eu! Estou de volta!
Alina sorriu, recuando e olhando em seu rosto, uma mão acariciando seus cabelos. Ela procurou os olhos de Leona, em seguida, assentiu. — Filha, — disse-lhe, sorrindo. — Você está feliz. Eu estou tão feliz. Suas viagens trouxeram você para uma costa ensolarada.
Leona estremeceu, recordando a profecia de sua mãe. — Sim mãe. Eles trouxeram. Eu estou muito feliz.
— E este é Conn, — disse Alina, olhando-o maravilhada. — Eu me perguntava se você não estava vivo em algum lugar. Eu disse...
— Conn! — Uma voz gritou, cortando a declaração suave de Alina. Todos se voltaram para o topo da escada.
Chrissie estava parada ali, o vestido vermelho cereja soprando para trás enquanto corria, com o rosto impregnado de admiração, lágrimas escorrendo por suas bochechas. Ela atirou-se em seu filho e segurou-o contra o peito, soluçando e rindo, beijando seu rosto. — Oh, Conn! — Ela sussurrou. — É você! Realmente é mesmo! Eu pensei ter ouvido sua voz no pátio! Meu garoto. Meu próprio menino maravilhoso...
— Conn!
Alf apareceu atrás deles, Amice ao seu lado. Alf correu para seu irmão, envolvendo-o em um abraço de urso que quase o derrubou.
Leona se encolheu, sabendo como as feridas de Conn ainda doíam às vezes. Ele ficou pálido, mas bagunçou o cabelo do irmão mais novo. — Meu irmão, — disse ele. — Estou tão feliz em vê-lo novamente.
— Nós pensamos que você estivesse morto! — Amice disse francamente. Leona olhou para sua prima e Amice corou cobrindo a boca. — Bem, nós somente pensamos, — ela insistiu enquanto abraçava Leona, esmagando sua prima mais velha até que Leona pensou que poderia parar de respirar.
— Amice, — ela sorriu para o rosto em forma de coração, acariciando seu cabelo vermelho. — Estou tão feliz em ver você.
— Entre! — Amice insistiu. — A mãe terá uma festa preparada! Queremos ouvir tudo sobre isso, como você voltou e como você veio para ficar junto e ...
Enquanto ela conversava animadamente, Alf e Conn seguindo-a até os degraus do grande salão, Leona conversou com Alina.
— Então você está casada minha filha? — Alina perguntou suavemente.
— Como você...? Bem, ignore isso. Claro que você sabia, — Leona sorriu carinhosamente para sua mãe. — Oh mãe! Eu senti tanto a sua falta! Eu a amo.
Alina relaxou. Ela sorriu para Leona, toda a tensão escorrendo de seus olhos escuros. — Leona, minha filha. Eu às vezes pensei que você desejasse que eu fosse mais como Amabel, mais mundana, menos ... envolvida com o futuro, — ela suspirou. — Fico feliz em saber que você não desgosta de mim por isso.
— Oh, mãe! — Leona apertou sua mão, descrença em seu rosto. — Como você pode pensar isso? Sim, achei você difícil de entender às vezes, mas eu amo você; muito mesmo.
Alina piscou e as duas engoliram, tentando não chorar. Então eles entraram.
A tia Amabel realmente forneceu uma festa.
Sentados no grande salão da mesa principal, os homens de armas e a equipe de funcionários atrás deles, nas mesas mais baixas, Leona e Conn fizeram o melhor que puderam para responder a todas as perguntas que a família lhes fez.
— E nos casamos em Bois — explicou Conn, apertando a mão de Leona para ter certeza.
— Eu sei bem, — Duncan, pai de Leona, comentou de onde estava sentado ao lado de sua esposa. — Uma cidade adorável. Nós estivemos lá uma vez, não estivemos querida?
— Muitos anos atrás, — disse Alina com impaciência.
Todos eles riram.
— Bem, — tio Broderick, o laird de Dunkeld, disse com um largo sorriso, — isso exige uma celebração! — Ele se levantou, a taça levantada na mão. — Para o casal recém-casado! Lady Leona e o Senhor Conn!
Enquanto os homens e mulheres que serviam e os homens de armas e suas esposas e famílias aceitavam o grito, batendo contra as tábuas e batendo os pés em aplausos, Leona se virou para Conn e corou. Eles eram oficialmente casados.
Mais tarde, quando se deitaram juntos na cama, Leona percebeu algo. Ela se virou para Conn, maravilhada. — Conn, meu doce. Eu não estou grávida.
Conn olhou-a, um sorriso lento se espalhando por seu rosto. — Você não está...?
— Não!
Os dois riram e então Leona chorou de alívio. Ela não sabia o quão terrivelmente o pensamento pesava sobre ela, a possibilidade de que eles pudessem ter um filho que não fosse de Conn. Um lembrete eterno daquele evento terrível na floresta. Embora ela tivesse tentado amar a criança, ela sempre conheceria suas origens e teria sido difícil.
— Oh, Leona, — sussurrou Conn. — Eu estou tão feliz. Estamos livres disso. Você está livre disso.
— Estamos, — concordou Leona. — Eu posso esquecer agora, na verdade.
Ela sorriu e eles fizeram amor com um abandono passional que eles não haviam conhecido antes, seu amor livre para ser expresso ao máximo. Leona sentiu como se pudesse realmente confiar em Conn, verdadeiramente se entregar às paixões que se moviam através dela. Era um novo e maravilhoso lugar de conexão para os dois.
Enquanto se deitava a seu lado, com o cabelo úmido de suor, o corpo dele se aconchegou ao dela, Leona percebeu que estava absolutamente, completamente feliz.
— Conn, — ela sussurrou, acariciando seus cabelos.
— Sim meu amor?
— Eu o amo.
Conn se sentou e beijou-lhe o cabelo. — Minha querida, — ele disse, — eu também a amo. Tão grande quanto o céu de verão. Tão grande quanto as montanhas. Para sempre e sempre.
Eles se beijaram.
Eles se juntaram à família na mesa para o café da manhã, e descobriram que eles haviam entrado quase como se nunca tivessem saído. O dia se estendia para uma semana e uma semana para quinze dias.
Leona sentou-se costurando um vestido novo no solar. Ela ouviu passos no corredor e sorriu, reconhecendo-os. — Conn?
— Leona! — Seu rosto se iluminou quando a viu e ela sorriu.
— Meu querido.
— Leona! Eu tenho... há um mensageiro para você lá embaixo.
— Oh? — Leona franziu a testa. Ela ficou de pé, passando a mão pela saia azul do vestido. — Quem é esse?
— É melhor que você vá para baixo, — Conn resmungou.
Quando Leona chegou ao corredor, ela estava tensa de apreensão. Para sua surpresa, ela viu um rosto que ela reconheceu. — Allie? E Ferrier?
Sua ex-criada sorriu largamente. — Não pretendíamos lhe dar um susto, milady — explicou Allie.
— Mas o quê? Como...? — Leona abraçou sua empregada, sentindo-se oprimida. — O que você está fazendo aqui?
Ferrier sorriu. — Seu senhorio o conde nos enviou. Ele possuía... negócios com seu supervisor, Montaigne. Eles elaboraram um plano.
— Que plano? — Perguntou Leona.
— Um... — Ferrier começou. Eles falavam francês, mas Allie interrompeu em sua língua nativa.
— Lady Leona, a terra é sua!
— O quê? — Leona olhou para eles.
Allie riu e até o solene Ferrier teve que sorrir.
Ele limpou a garganta e assumiu a narrativa. — Minha senhora, o conde, meu mestre, realmente se importava com você. Ele decidiu que, desde que a terra em sua fronteira sul se tornou recentemente maior... — ele fez uma pausa, deixando a informação chegar, então continuou. — Desde que ele entrou na terra que queria, há muita terra que ele não precisa mais. Ele decidiu passar toda a seção oriental para você. Como presente, — acrescentou ele.
Leona olhou-o. Conn veio para ficar ao lado dela e ela agarrou a sua mão, sentindo como se tivesse acabado de acordar em outro mundo. — Conn, — ela sussurrou.
— O que, minha querida?
Quando Leona terminou de lhe explicar, ele lhe sorriu.
— Leona. Você quer dizer... você quer dizer que toda aquela terra é nossa?
— Só a parte oriental, meu querido ...
— Leona! — Ele riu, espantado. — Aquele lugar é grande o suficiente para perder um exército!
Leona olhou-o maravilhada. Então ela também sorriu. — Meu querido, somos ricos.
Ele balançou a cabeça, o sorriso se alargando. — Não, querida, — disse ele. — Nós sempre fomos ricos. Agora somos prósperos.
Leona riu, sabendo o que ele queria dizer. — Sim, meu amado. Nós sempre fomos ricos. Nós sempre tivemos um ao outro.
Conn assentiu. Ele a puxou para perto e eles se abraçaram com força. Leona fechou os olhos e sentiu o coração batendo forte, sua alegria subindo como uma cotovia, bem acima de sua cabeça. Ela e Conn se beijaram e, quando se separaram, ela sorriu-lhe. — Eu o amo, Conn, — ela sussurrou.
— E eu também a amo, Leona.
A última parte eles disseram juntos, lágrimas de alegria escorrendo pelo rosto dela. — Eu a amo tão grande quanto o céu de verão, tão grande quanto as montanhas. Para sempre e sempre.
EPÍLOGO
O sol brilhou no gramado verde. Leona, olhando por cima da janela do andar de cima, sentiu um braço serpenteante ao redor de sua cintura. Aconchegou-se mais perto de seu marido. Ela sorriu, sentindo-se segura em seus braços.
— Um belo dia, sim? — Sussurrou Conn enquanto a beijava.
Leona sorriu e se virou para ele, sentindo-se aquecida por dentro. — Sim querido. É sim.
Eles ficaram aninhados bem perto, o braço em volta dela, o corpo dela colado ao dele. Lá fora, o sol subiu um pouco mais alto. Uma cotovia chamou. Um balde de água espirrou no quintal, o som transportando-se até eles.
— É estranho que acabamos aqui, — Leona sorriu, de pé e inclinando-se contra Conn, em seu ombro. Eles estavam em sua casa francesa, examinando o terreno.
— É querida, — disse ele, descansando as mãos na cintura dela, uma palma espalmada sobre a barriga, protetora.
— Eu me pergunto se o nosso bebê vai falar francês, — ela riu.
Conn deu uma risada grande e quente. — Você acha que ele vai?
— Ou ela, — Leona disse educadamente. — Sim. Eu acho.
Conn assentiu com firmeza. — Sim, ou ela. E vão falar os dois.
— Sim, — concordou Leona. — Nós vamos ensiná-los.
— Bem, eles precisam ser capazes de falar com seus primos escoceses, — Conn sorriu.
— Eles vão.
Eles ficaram em silêncio por algum tempo, Leona se aconchegou em seus braços quentes, examinando a terra além da janela. A cotovia subiu em espiral contra o céu de verão, despejando notas claras na paisagem. Uma serviçal cantava no dialeto local em algum lugar da cozinha.
— Estou feliz que Allie tenha vindo trabalhar para nós, — observou Leona.
— Sim. Ela e Ferrier são tudo o que precisamos aqui, realmente.
— Verdade.
Conn estava certo, Leona pensou. O Little Hall — ou assim eles haviam chamado a casa deles — realmente só precisava de dois funcionários, e um cozinheiro, e o velho Gaspard, para cuidar da propriedade.
— Pelo menos Allie pode ajudar a ensinar o bebê a nossa língua, — pensou Conn. — Quando ela não está falando francês como todo mundo.
Leona riu. Ela e Conn falavam francês às vezes também, agora que ele era fluente, e ela tinha certeza de que ambos ensinariam os dois idiomas ao bebê.
— Eu perguntei a Florentia se ela poderia me trazer ervas de Bois para ajudar com o nascimento.
— Quando ela a visitou na semana passada? — Conn perguntou, respirando a respiração quente em seu pescoço.
— Sim, — Leona respondeu, tentando resistir as suaves cócegas em seu ouvido e falhando desesperadamente.
— Bem, então — Conn sorriu, passando as mãos pela cintura de um jeito que a fez ficar tensa de desejo. — Parece que tudo está definido. Embora eu esteja impossivelmente preocupado.
Leona deu uma risadinha, seu corpo se inflamando sob o toque dele, levando seus pensamentos para longe de quaisquer provações ou medos e para um lugar de prazer total. — Bem, então, — disse ela, virando-se para poder beijar sua bochecha. — Acho que não precisamos nos preocupar com isso por um tempo.
— Bom, — respondeu Conn, um pouco sem fôlego. — Eu tenho muito o que pensar.
— Eu também, — Leona sussurrou.
Rindo, eles caíram de volta na cama juntos sob um sol vindo do sul.
Quando seus braços se envolveram ao redor dela e de suas mãos, hábeis e cuidadosos, e acariciaram suas costas, Leona se sentiu sorrir.
Sim, as coisas acabaram perfeitamente para eles. Suas longas viagens a trouxeram de volta ao seu próprio coração e ao seu maior contentamento. Ela estava realmente feliz.
Notas
[1] Hurray - Ufa
[2] Destriers - O destrier é o cavalo de guerra mais conhecido da era medieval. Ele carregava cavaleiros em batalhas, torneios e justas. Foi descrito por fontes contemporâneas como o Grande Cavalo, devido à sua importância. Embora altamente valorizado por cavaleiros e homens de armas, o destrier não era muito comum.
[3] É um festival para marcar a colheita anual de trigo e é o primeiro festival da colheita do ano
[4] Bannock - pão achatado feito com a farinha da primeira colheita anual
[5] Bugres - Bruxela
[6] Toledo - Espanha
[7] Cologne - Alemanha
[8] Gent - Bégica
[9] Milão- Itália
[10] A Pastinaca ou cherovia ou chirívia ou ainda pastinaca é uma raiz que se usa como hortaliça. Relacionada à cenoura, embora mais pálida e com sabor mais intenso do que esta, tem cultivo que remonta a tempos antigos na Eurásia. Antes da introdução da batata, a cherovia era um dos alimentos que ocupavam o seu lugar
[11] Eu não compreendo
[12] O que você está fazendo?
[13]Eu vou para Cleremont
[14]O que você está fazendo aqui?
[15] Qual é o seu trabalho?
[16] Trabalho! Trabalho
[17] Ele é um cavaleiro
[18] Bem-vindo
[19] Sente-se
[20] Meu Deus!
[21] Goblins são criaturas geralmente verdes que se assemelham a duendes. Fazem parte do folclore nórdico, nas lendas eles vivem fazendo brincadeiras de mau gosto
[22] Está bem?
[23] Qual o seu nome?
[24] Perdão, eu não o compreendo.
Emilia Ferguson
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