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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O ENVIADO / J. J. Benitez
O ENVIADO / J. J. Benitez

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

O Enviado

 

Apenas uma Reportagem

Sempre que tentei começar esta reportagem sobre Jesus de Nazaré de uma forma profunda, douta e complicada, as folhas terminaram na gaveta. Deste modo, instintivamente, me deixei levar...

Tampouco entendo por que me envolvi nesta "aventura". Sempre imaginei que falar sobre Cristo fosse coisa de sacerdotes. E, antes de prosseguir, considero imprescindível advertir o leitor de duas coisas.

Por um lado, até bem pouco tempo, minha fé neste personagem - Jesus - não era muito profunda. Aos 33 anos, e depois de haver passado por uma família cristã, por uma universidade cristã e por uma sociedade que se classifica como cristã, em meu coração havia de tudo menos cristianismo. E durante anos, a vertigem do jornalismo - da própria vida - acabou por congelar essa fé.

Não me envergonho de confessar: durante anos, Jesus de Nazaré me tem conduzido sem cuidado. Mas um dia - em minha tenaz perseguição aos OVNIS - "casualmente" (?) cruzou minha mente o quase esquecido personagem: Jesus de Nazaré.

E caí na armadilha. A pior em que pode cair um repórter de curiosidade insaciável. A armadilha - como não?! - era uma simples notícia: "Uma equipe de cientistas a serviço da NASA – não católicos - demonstrou, após três anos de investigação, que o `indivíduo' enterrado há dois mil anos numa caverna perto de Jerusalém, e que foi conhecido pelo nome de Jesus de Nazaré, emitiu - 36 horas depois de morto - uma misteriosa e desconhecida radiação que `chamuscou' o sudário que o cobria..."

Como jornalista, a notícia me pareceu plena de sensacionalismo. O que pretendiam dizer com "chamuscou o sudário que o cobria"?

E então, por assim dizer, começou tudo... pelo menos para mim. Hoje, após haver investigado o tema com toda profundidade de que fui capaz, decidi pôr as idéias em ordem. E tentei com este livro-reportagem transmitir ao leitor o que conheci e, sobretudo, senti. Que ninguém veja nessas anotações uma intenção teológica ou dogmática. Seria tão ridículo quanto presunção de minha parte.

Quanto a certos fatos - cientificamente provados pela ciência ultramoderna -, limitei-me a acrescentar, como licença pessoal, algumas hipóteses de trabalho sobre um personagem a quem comecei a respeitar...

  

 

As Sensacionais Descobertas dos Técnicos da NASA Sobre o Chamado Santo Sudário de Turim

 

                        Com Eles Chegou o Escândalo

 

O monumental "escândalo" eclodiu numa manhã de setembro de 1977. Os melhores especialistas do mundo sobre o chamado Santo Sudário de Turim se reuniram em Londres para tomar parte no primeiro simpósio sobre este enigmático e polêmico pano. A assembléia se reunia sob os auspícios da organização anglicana Institute for Christian Studies. No total, uns duzentos luminares da ciência moderna, correspondentes estrangeiros, a televisão londrina e um personagem miúdo, carente de carnes - mas não de espírito - e que, para culminar, era navarrino...

 

José Luis Carreno Etxeandía - velho missionário nas terras velhas da Ásia, teimoso, segundo suas próprias palavras, como o burro de Boal, isento de solenidade e um dos homens mais sábios e santos que conheci não pôde resistir à tentação e pediu a palavra em meio à conferência. Era a vez do jovem Dr. Eric Jumper, da Academia da Força Aérea em Colorado Springs, EUA. Carreno, que dedicou seus setenta anos de vida ao es tudo e investigação do Santo Sudário de Turim, de pé no meio do salão, perguntou ao americano:

 

- Dr. Eric, o senhor deve saber que uma das conclusões mais firmes da Comissão de Especialistas é a de que se deve descartar categoricamente a hipótese de que as imagens se formaram por contato. Pode nos dizer se seus estudos tridimensionais levam à mesma conclusão?

E o jovem cientista, escandindo e parodiando jovialmente as próprias palavras do navarrino, replicou:

 

- Na minha opinião deve ser... absolutamente... e definitivamente descartada a possibilidade de que as imagens do Sudário se formam por contato...

 

Aplausos retumbantes encheram o salão, enquanto o velho missionário murmurava um feliz Thank you!

 

E o "escândalo", por assim dizer, não se fez esperar nos corações dos ilustres agnósticos que assistiam à exposição feita naquele momento.

 

"Uma imagem tridimensional no pano conservado em Turim?" "Uma radiação potente e desconhecida que saiu do corpo do defunto?" "Mas que tipo de hipóteses insensatas eram aquelas enumeradas pela equipe da NASA?"

 

"Desde quando um cadáver pode causar uma impressão - praticamente queimar - num pano?"

 

A agitação logo alcançou os cinco continentes. Não se tratava de uma afirmação gratuita, fruto da imaginação delirante de um cientista.

 

Junto ao Dr. Eric Jumper achava-se uma equipe que foi contando, com a maior sinceridade, o fruto de seus estudos durante os últimos três anos. E para isso dispunha dos mais depurados e sofisticados aparelhos. Um instrumental nascido curiosamente à sombra da corrida espacial, da conquista do espaço...

 

Os americanos referiram-se com especial orgulho ao chamado VP-8, um analisador de imagem utilizado no exame das fotografias que haviam chegado do planeta Marte.

 

Utilizando suas horas livres - com o mesmo entusiasmo de adolescentes construindo um bote - os comandantes, cientistas e peritos da NASA haviam aplicado este mesmo VP-8 a uma fotografia de tamanho natural da imagem que aparece no Sudário de Turim. Analisaram os vestígios, seguindo o mesmo método usado para as fotos de Marte. Ou seja, decompondo-as em milhões de pontinhos microscópios. E cada ponto foi classificado com três números, que expressavam suas duas coordenadas cartesianas, mais seu grau de iluminação.

Essa informação - explicaram no congresso de Londres - foi submetida a um computador, que finalmente se encarregou de reconstituir a imagem. O resultado foi uma surpreendente revelação: as imagens do Sudário são TRIDIMENSIONAIS.

 

Mas esta descoberta seria apenas o princípio de uma grande série de apaixonantes e até agora ignorados detalhes da vida, paixão e morte daquele assombroso "homem" chamado Jesus de Nazaré...

 

           Autenticidade: Eis a Questão

 

Creio que, como muitas outras pessoas, em alguma ocasião ouvi algo a respeito do mencionado Sudário de Turim. Mas jamais lhe dei maior atenção da que pude dedicar ao "braço de Santa Teresa" ou à caveira de São Cirilo. Para mim, todas essas relíquias não possuíam o menor valor. E embora sempre tivesse procurado me comportar respeitosamente quando se falava no assunto, no fundo do meu coração eu não cessava de ver com clareza.

O obscurantismo, a morbidez ou a distorção sempre acabavam surgindo ante meus olhos quando deparava com qualquer desses relicários, na maioria das vezes, inclusive, até antiestéticos.

 

Por que seria uma exceção o trazido e levado Santo Sudário de Turim? Além disso, quantos "santos sudários" temos conhecido? Em muitas de nossas catedrais, igrejas ou simples capelas são conservados exemplares destes "sagrados" panos, e as pessoas do lugar juram e perjuram que o seu é o autêntico...

 

Portanto, meus primeiros passos na hora de investigai dirigiram-se em busca de dados que esclarecessem esta pretensa autenticidade. Um dos mais espinhosos obstáculos a superar foi o da tardia aparição do Sudário, relativo à morte de Jesus. Segundo os dados históricos, o pano só surgiu à luz pública cinco séculos mais tarde, no ano de 525.

 

Era lógico pensar que alguém conseguiria falsificar o Sudário, tanto por razões crematísticas quanto piedosas. Este fato colocou em situação embaraçosa - e até muito pouco tempo - a todos que se empenharam em defender a autenticidade do referido pano. Os agnósticos e hipercríticos encontravam nisso um motivo mais do que adicional para tachar o assunto de "puro embuste". E razões não lhes faltavam.

 

A história assegura que, até a destruição de Jerusalém, o Sudário ficou escondido em mãos cristãs, que quebraram o tabu hebraico contra panos que houvessem tocado um cadáver.

E dali, asseguram os estudiosos, o pano passou à cidade de Edessa, na Síria (hoje conhecida como Urfa, na Turquia). Os historiadores não sabem quando pôde ser efetuado esse traslado.

 

O que parece mais claro é que, quando um dos reis de Edessa se tornou apóstata, os cristãos ocultaram o Sudário, entaipando-o num buraco nas muralhas. Foi novamente descoberto e venerado em 525. Mas, ao contrário do que ocorre na atualidade, o pano não foi enrolado numa armação de madeira, mas sim dobrado em quatro partes. E só se podia contemplar a face, que era conhecida pelo nome de "Mandylion".

 

Quatrocentos anos depois - no ano de 944 - foi cedido ao imperador bizantino e trasladado para Constantinopla, onde permaneceu, na igreja de Santa Maria de Blaquerna, até 1204.

 

Neste ano, as hordas sedentas de butim da mal formada Quarta Cruzada saquearam Constantinopla. E o Santo Sudário desapareceu misteriosamente, para reaparecer quatro anos depois em Besançon (França), em poder do padre Otto de Ia Roche, o qual, "casualmente", tinha se incumbido da defesa da referida igreja de Blaquerna.

 

Através de várias vicissitudes, o pano caiu em poder dos príncipes de Savóia. Em 1578, para tentar suavizar o duro voto feito por São Carlos Borromeo de ir a pé de Milão a Savóia para venerar o Sudário, em ação de graças pelo fim da peste em sua arquidiocese, o príncipe Filiberto o levou a Turim, ao encontro do santo peregrino na metade do caminho.

 

E ali ficou, numa esplêndida capela construída por Guarini. Foi enrolado em torno de um cilindro de madeira e alojado, por sua vez, numa urna de prata. Uma pequena arca de madeira acolhe a dita urna, e uma grade dupla de ferro protege a ambas.

 

Se me estendi na árida exposição histórica da rota que, ao que tudo indica, foi percorrida pelo Sudário, foi com uma dupla intenção. Porque - oh, surpresa! - eis aqui que, com a chegada do século XX e de seus revolucionários conhecimentos, os especialistas em palinologia - moderno ramo da microbotânica - descobriram entre as fibras do linho a melhor prova da idade real do pano...

 

Vejamos.

 

Em 23 de novembro de 1973, e por vontade do cardeal Pellegrino, o Sudário de Turim foi exposto e mostrado aos italianos através da televisão. Nessa noite, um criminologista de renome mundial, o Dr. Max Frei, diretor do laboratório científico da polícia suíça, teve acesso ao Sudário, em companhia de outros cientistas. Em umas modestas tiras de celofane, Max recolheu uma amostra de pó existente nas beiradas do pano. E com seu humilde "tesouro" dirigiu-se a Neuchâtel, onde submeteu a amostra a seus microscópios eletrônicos. Seu achado seria decisivo.

 

No tecido, apesar do tempo transcorrido, havia grãos de pólen de plantas desérticas características da Palestina. Mas isso não era tudo.

 

Max Frei comprovou também que o pólen mais freqüente no Sudário é idêntico ao comumente encontrado nos estratos sedimentares do lago Genesaré, com uma antiguidade de dois mil anos.

 

E como se isto não bastasse, o palinólogo demonstrou ao mundo que entre as fibras do tecido havia amostras de pólen de plantas naturais da Ásia Menor, mais exatamente das imediações de Constantinopla. E o mesmo ocorria com grãos de origem francesa e italiana. Quer dizer, das zonas por onde o Sudário havia peregrinado.

 

E Max Frei acrescentou, naquela histórica declaração de 8 de março de 1976: "...A presença de pólen, pertencente a não menos de seis espécies de plantas palestinas, de uma da Turquia e de oito espécies mediterrâneas, nos autoriza desde já, mesmo antes de completar a identificação de todos os microfósseis, a chegar à seguinte conclusão definitiva: o Sudário não pode ser uma falsificação. Zurique."

 

No ano seguinte, no mencionado simpósio de Londres, o sábio respondeu, ao ser questionado por um cientista de Cambridge:

 

- É absolutamente certo que o Sudário estava na Palestina no século I.

 

Para Max Frei, a grande dificuldade desta transcendental investigação havia recaído na identificação daqueles grãos de pólen que hoje estão extintos. Como dizia Max, "se esses grãozinhos microscópicos de pólen são provenientes da vestimenta de um criminoso, é relativamente fácil determinar por que regiões e países andou, já que o pólen de plantas atuais já está catalogado. Mas quando se trata de pólen antigo - já desaparecido - e de regiões remotas, seria preciso consultar incontáveis coleções de livros... que porém ainda não foram escritos".

 

Apesar disso, Max Frei percorreu Chipre, Palestina, o Negev, Edessa, Anatólia e Istambul, identificando mais de um milhão de grãos de pólen. Cinco anos depois daquele primeiro e definitivo achado, Max Frei voltou a dirigir-se aos estudiosos do Santo Sudário, no II Congresso Internacional realizado em 1978, em Turim, e apresentou uma lista com 48 espécies de pólen, descobertos até agora no tecido do Sudário.

 

O pano - definitivamente - estava exposto ao ar na Palestina há exatamente dois mil anos. Assim é demonstrado categoricamente pela palinologia. Mas as dúvidas continuam fluindo em meu cérebro... Por exemplo, como um microscópico grão de pólen podia resistir à passagem do tempo durante dois mil anos?

 

         Um Zurbarán Sobre Terilene

 

Quem podia suspeitar que, dois mil anos depois, os especialistas em botânica iam chegar a uma das provas decisivas da autenticidade do Sudário de Turim?

 

Quando - tocado pela curiosidade - me tranquei na biblioteca da Faculdade de Ciências da Universidade de Bilbao, em busca de informações referentes ao meu recém descoberto mundo da palinologia, deparei com um dado que respondia a minha dúvida sobre a resistência do grão de pólen através dos séculos.

 

A ciência explica que os grãos de pólen, sempre tendentes a formas esféricas ou elipsoidais de diâmetros entre dez e duzentos micra, têm seu tecido fértil revestido por uma membrana protetora (esporoderme), composta de substâncias de altíssima inércia química, que apresenta ao microscópio variadíssimas e elegantes estruturas, facilitando com isso o reconhecimento de sua espécie.

 

Se a esta formidável "resistência" da "couraça" que cobre cada grão de pólen se une a sua fossilização, a conservação do espécime resultará quase ilimitada.

E é exatamente isso o que aconteceu com os restos de pólen encontrados no tecido que nos interessa.

 

Mas "minhas" descobertas não morreram aí...

 

Estudando o pólen, soube, por exemplo, que o planeta inteiro (seres vivos, campos, montanhas, edifícios, máquinas) está coberto por mantos de pólen.

 

A produção anual de pólen das plantas alcança valores impressionantes. Entre a catalogação realizada por Erdtman figura, por exemplo, a Calluna vulgaris (urze), com 4.060 milhões de grãozinhos de pólen por metro quadrado de bosque...

 

O amieiro, o Alnus glutinosa, alcança igualmente 2.160 milhões de grãos...

 

São números tão astronômicos - apesar da simplicidade de tais plantas - que, se dispuséssemos de visão microscópica, nossa imagem do mundo mudaria por completo. Tudo - até o interior de nossas casas - seria coberto por um manto vegetal de pólen, cuja cor mudaria segundo a planta dominante e a estação...

 

A tal ponto o pólen é impressionante que, para os paleontólogos e antropólogos, chega a constituir uma e muito vital parte da história de um território, convertendo-se assim num precioso documento das variações do conjunto vegetal.

 

A denominada "revolução do neolítico", por exemplo (a transição da cultura nômade do homem caçador para a sedentária do homem agricultor), ficou registrada pelos índices de pólen; a curva de vegetação florestal declina, enquanto a curva ascendente de plantas herbáceas, principalmente as gramíneas, sobe a olhos vistos.

 

Contudo, como numa cadeia inesgotável, a descoberta do pólen mostrou aos cientistas outro fator importante, que reforça a autenticidade do pano. Refiro-me à estrutura e idade do tecido em si.

 

Em sucessivos estudos foi possível verificar que o Sudário era feito por um tecido cuja fibra era de linho - segundo o professor Raes -, com uma ou outra fibra de algodão. Foram feitas ampliações de sua textura até de cinco mil diâmetros, porém jamais se encontrou o menor traço de pintura.

 

No último congresso sobre o Sudário, realizado em Turim, mais dois professores - Baima Bollone e Ettore Morano - mostraram ao mundo que a sarja de quatro em espiga, ou "rabo-de-peixe", que forma o Manto Sagrado é idêntica à da de outro tecido achado numa tumba egípcia datada do ano 137 de nossa era. E o mesmo se dá com a urdidura e composição.

Não devemos também nos maravilhar com isto, já que em qualquer museu egípcio ou pré-incaico, por exemplo, há tecidos que remontam a quatro ou cinco mil anos antes de nossa era, e sua perfeição até hoje surpreende nossos melhores fabricantes.

 

Em compensação, o tecido "em sarja" só foi conhecido na Europa semibárbara bem depois do século XIV...

 

Como entender então o já referido absurdo de uma falsificação?

 

Pensar, enfim, que a imagem do Sudário de Turim é produto de uma manipulação com pintura no século XIII - como têm acusado os detratores - é juntar o disparate ao absurdo. Algo assim como assegurar que alguém descobriu uma pintura de Zurbarán sobre terilene...

Como se sabe, historicamente, a indústria têxtil era fundamental na vida social e econômica do Egito. Subvencionavam o jovem aprendiz de tecelão, cuja formação técnica podia durar até cinco anos. A cidade de Palmira, por exemplo, empório da sarja do linho, distava algumas jornadas de caravana de Jerusalém. José de Arimatéia não deve ter tido dificuldade em encontrar este pano nobre em qualquer tenda judia.

 

Mas os achados da ciência ultramoderna - que foi posta a estudar o Sudário de Turim - mal começaram. E no último simpósio, em 1978, Max Frei e Aurelio Ghio iniciaram uma experiência que, algum dia, pode se tornar revolucionária. Estes cientistas introduziram entre o forro e o pano uma espécie de "aspirador" em miniatura, absorvendo o pó que se encontrava no Sudário. Esse material foi depositado sobre lâminas e analisado com os mais potentes microscópios eletrônicos. A finalidade da experiência consiste em isolar os microcristais e confrontá-los com aqueles que se encontram no interior das cavernas do monte Gólgota.

 

Mas esses resultados até agora não foram tornados públicos.

 

O que temos intuído é que Jesus de Nazaré "sabia" que vinte séculos depois de sua morte chegaria às mãos do homem um curioso invento: a fotografia...

 

         Um As na Manga de Jesus de Nazaré

 

Quando consultei meus amigos e companheiros, profissionais de fotografia - Fernando Múgica, Manu Cecilio, Giani Ferrari, Alberto Schommer, e um grande etcétera - todos terminaram com um dar de ombros.

 

Ninguém podia compreender como a imagem que aparece numa tela de 4,36X1,10m pode ser, na verdade, um "negativo fotográfico".

 

E daí se segue que, tal como tem ocorrido com outras revelações sensacionais, no momento não temos explicação para esta "característica" do Sudário de Turim. Mas façamos um pouco de história.

 

Imagino a cara de surpresa do bom e esforçado Secondo Pia, um advogado e aficionado recém-estreado na arte fotográfica, quando, na noite de 28 de março de 1898, viu entre suas mãos o verdadeiro rosto de Jesus de Nazaré...

 

Não era freqüente o Sudário de Turim ser exposto à curiosidade das pessoas. Na primavera de 1898, em razão do casamento do futuro rei Vítor Emanuel III, abriu-se uma nova exceção. O pano seria exibido por oito dias e visto por nada mais nada menos que oitocentos mil peregrinos de todo o mundo.

Mas aquela nova exibição teria um caráter muito especial, para não dizer histórico. E o protagonista seria o citado advogado, Secondo Pia, o primeiro ser humano a contemplar o "auto-retrato" de Cristo.

 

Eis aqui, em resumo, sua peripécia:

 

Pia herdara um tal amor pela sua formosa terra de Piemonte, que desde jovem era visto percorrendo os vales de Asti, lápis na mão, e penetrando nos templos e mosteiros para admirar e esboçar seus afrescos, colunas, grades e vitrais. De modo que, ao fazer vinte anos, por volta de 1870, e inteirar-se das maravilhas que começavam a fazer com a fotografia - inventada uns trinta anos antes por Daguerre -, viu abrir-se um céu de possibilidades para registrar suas descobertas artísticas de cada dia.

 

Já em 1876, elaborando ele mesmo em casa seus próprios negativos em placas de cristal, produzia excelentes fotografias. Claro que, embora formado em Direito, seu coração seguia o objetivo. E com isso se desenvolvera nele uma grande força para superar obstáculos. Muitas vezes, por exemplo, tendo de retratar o interior de templos, e vendo que a luz solar não o atingia, ele montava uma bateria de espelhos que refletiam a claridade do ar livre da praça. Outras vezes deparava com a rabugenta hostilidade dos aldeões e senhores da terra. E isso era algo mais difícil de domar do que as leis da natureza. Mas, de qualquer modo, de uma coisa pôde gabar-se por toda a vida: de não ter jamais retocado um negativo.

 

Foi lógico, pois, que a Associação dos Aficionados da Fotografia de Turim o elegesse seu presidente.

 

E seguem as "casualidades"...

 

Naquela primavera das bodas reais, parece que um grande devoto do Sudário de Turim, o sacerdote salesiano Noguiera de Valsálice, estava namorando uma idéia: aproveitar aquela ocasião para tirar as fotografias do pano. E, sem perda de tempo, levou sua proposta ao palácio.

 

Mas Sua Majestade o rei Humberto I, chefe da casa de Savóia, e portanto proprietário da relíquia, não gostou da coisa. Não seria isso uma intrusão desrespeitosa no sacrossanto? As cópias tiradas seriam tratadas com veneração? Não era uma sordidez venderem no mercado fotografias de algo sagrado?

 

Uma vez mais, o progresso esbarrava nas paredes refratárias do tradicionalismo mal-entendido...

 

Foi o barão de Manno quem se encarregou de aquietar as perplexidades da consciência real. Não era um dever fixar a figura do Sudário em fotografias, uma vez que um dia ela pereceria sem deixar uma cópia fidedigna? Não esteve o Sudário efetivamente a ponto de sucumbir nos vários incêndios de sua história? E quem podia garantir que, enquanto milhares de pessoas desfilavam diante do Sudário durante os oito dias de exposição, algum fotógrafo sub-reptício não conseguisse tirar uma péssima cópia clandestina que o desprestigiaria?

E o rei se deixou convencer. E o nome de Pia foi apontado como o profissional mais honesto e capacitado para obter as primeiras chapas fotográficas do Sudário. Ninguém podia suspeitar então no que resultaria daquela audácia...

 

Mas o que Secondo Pia tampouco imaginava era a fileira de obstáculos que o aguardava para poder realizar a tarefa. Ele mesmo o contou nove anos depois, em seu Memoria sulla riproduzione fotografica della Santissima Sindone.

 

Com efeito, a catedral de São João Evangelista - onde ficaria exposto o Sudário - era simplesmente tenebrosa. Como obter luz para a impressão das chapas? - foi a primeira pergunta que o fotógrafo se fez.

 

Iam desfilar, por assim dizer, oitocentas mil pessoas em oito dias. Como cada grupo - sem contar os empurrões - tinha seus minutos de desfile e contemplação estritamente marcados, como arranjaria ele um intervalo de sossego para a sua complicada operação?

 

Nem ele nem ninguém em Turim tinham qualquer experiência no uso da eletricidade para fotografar interiores. Além disso, nem na catedral nem na cidade havia fiação elétrica ou rede pública... Ao problema se juntava a necessidade de montar - e desmontar imediatamente após - uma plataforma diante do Sudário onde coubessem ele e sua parafernália fotográfica, já que o pano estaria elevado para ser visto pela multidão. Teria tempo para isso?

 

Homem de luta, Pia começou a treinar para a tarefa. Como não tinha instalação elétrica em sua casa, pôs-se a experimentar nos laboratórios de física: retratava objetos à luz do dia e voltava logo a retratá-los na luz elétrica dos laboratórios, anotando intensidades de luz, tempo de exposição, sensibilidade das chapas...

 

Em meados de maio se considerou suficientemente preparado para a tarefa. Mas as coisas não seriam tão simples...

 

Antes de mais nada descobriu, examinando o programa, que na exígua ordem de acontecimentos restaram apenas dois intervalos que ele podia aproveitar. Um, do meio-dia às três do dia 25 de maio; outro, na tarde do dia 28.

 

A primeira tentativa deu-se no dia 25. Tinha pouco mais de duas horas para montar sua plataforma, instalar a enorme câmera fotográfica, acionar seus dínamos, estender a fiação elétrica, fixar as luzes, testar todos os detalhes, expor as chapas e logo desmontar todo aquele aparato para deixar entrar a piedosa multidão. Sua câmara escura para revelação já estava instalada na sacristia, atrás da catedral, já que urgia ver os resultados.

 

E foi aí que chegaram os dramáticos momentos...

 

Avançando lentamente sob uma carga de madeira de vários tamanhos e formas, de ferramentas e porcas, os ajudantes de Pia cruzaram a porta do comungatório e penetraram no presbitério, onde estava exposto o Sudário.

 

Primeiro estenderam uns trilhos de madeira, como uma pequena linha de trem, e logo começaram a atarraxar o estrado construído dias antes e posteriormente desmontado para o transporte. Terminada a operação, ficava pronta uma plataforma de 1,5X2m, esperando a chegada da câmera.

 

As pernas que sustinham a plataforma, de 1,70m de altura, possuíam rodinhas que permitiam sua locomoção à frente ou atrás sobre os trilhos, enquanto que sobre ela descansava outro suporte de madeira. Pia subiu e se colocou atrás deste.

 

Então, seus ajudantes lhe passaram a volumosa câmera de madeira, com braçadeira de metal, que Pia colocou cuidadosamente sobre o suporte. Já estava carregada com chapa sensível, que media 51X63cm. A lente Voiglãnder estava focalizada diretamente no centro do Sudário. Foram acesos os dois focos de ambos os lados da plataforma, inundando a relíquia com uma vívida luz.

 

Mas a corrente era irregular, e as luzes se avivavam ou se debilitavam quase a cada minuto. Cada grupo era alimentado por seu próprio gerador, e Pia logo notou que o esquerdo era mais brilhante que o direito.

 

Contudo, já havia preparado filtros translúcidos de vidro esmerilhado. E no momento certo ordenou que seus ajudantes os fixassem diante dos focos, enquanto ele colocava outro delgado filtro amarelo sobre a lente. Alguns minutos depois, anunciou que estava pronto. E, com uma prece silenciosa, expôs a chapa. Tirou seu relógio de bolso e começou a cronometrar. Havia decidido, como resultado de suas experiências, levar a cabo duas exposições: uma de quatorze minutos e outra de vinte.

 

E ali estava Pia, de pé em sua plataforma, atrás de uma enorme câmera, penosamente consciente de que a intermitência daquela corrente pulsava de modo desigual seus arcos voltaicos. Mas já não havia nada a fazer para remediar. Deu uma olhada no relógio: mais nove minutos e sua primeira chapa estaria pronta para ser revelada. Exporia porém a segunda, enquanto começava a revelação da primeira em sua câmara escura na sacristia.

Logo, um estalido como cristal se rachando o fez levantar a vista, sobressaltado. Efetivamente, com o enorme calor dos focos, os filtros se haviam partido, ficando imprestáveis.

 

Pia se deteve um momento...

 

No fim, deu de ombros e desceu da plataforma. Já não havia nada a fazer. Era inútil seguir tentando sem os filtros. Não havia tempo para procurar outros. Já passava das duas e logo a catedral se abriria de novo ao público.

 

Pia teria de esperar três dias para a segunda e última tentativa. Afinal, pensou para consolar-se, havia resolvido alguns problemas. Por exemplo, durante aqueles três dias de graça, seus eletricistas regulariam a corrente dos geradores. A próxima tentativa tinha que sair perfeita...

 

Mas Secondo Pia não contava com outras mobilíssimas interferências. Na vez seguinte, quando focalizasse sua lente sobre a relíquia, a luz de seus focos teria de atravessar um espesso cristal.

 

O que havia acontecido?

 

A princesa Clotilde, que havia chorado ao beijar aquele pano, ficara horrorizada ao ver que se achava exposto, segundo ela, a contaminações e destroços. A fumaça das velas, o incenso que pairava no ar, e sobretudo aqueles refletores do fotógrafo que vertiam um jorro de calor e luz sobre o tecido indefeso, deixavam-na inquieta. Era preciso voltar a pôr o grosso cristal na moldura de proteção. Clotilde tinha uma veneração cálida e personalíssima pelo Sudário.

 

E, com efeito, tinha sido ela a escolhida - depois da exposição de 1868 - para substituir o velho forro gasto do Sudário. E realizou toda a tarefa de joelhos. Por fim, o grosso cristal protetor foi novamente colocado sobre o Sudário.

 

Às nove e meia da noite do dia 28, Secondo Pia chegou à catedral para descobrir que lhe haviam roubado as porcas que deixara na sacristia, junto com a plataforma desmontada. Com um profundo suspiro, ordenou a seus ajudantes que montassem a plataforma com qualquer material que pudessem encontrar.

 

Logo Pia notou que o espesso cristal que protegia o Sudário refletia seus dois focos e os ornamentos dourados do presbitério.

 

Às 10:45 a plataforma já estava montada, sustentada por cordas e arames. Para dar à lente uma visão mais despojada, Pia moveu para trás sua plataforma, fazendo-a deslizar sobre os trilhos até uma distância total de uns oito metros e meio. Agora, os dois refletores davam uma iluminação constante, enquanto os novos filtros de vidro esmerilhado suavizavam seu brilho.

 

Já eram onze da noite quando Pia destampou a lente, expondo sua primeira chapa para uma duração de quatorze minutos. Depois do fracasso do dia 25, desistira de instalar a câmara escura na sacristia. Faria a revelação em sua casa, a cinco minutos de carruagem. Devia ser meia-noite quando, ao fim de sua exposição de vinte minutos, o advogado recolheu suas duas chapas e se apressou a voltar para casa. Seus ajudantes ficaram para trás, desmontando a plataforma.

 

E aconteceu o inesperado...

 

"Havia naquela mesma região pastores que viviam no campo, e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e ficaram tomados de grande temor. E o anjo lhes disse: `Não temais, pois vos trago novas de grande alegria: nasceu hoje o Salvador... "' (Lucas, 2, 8-11).

 

Brilhava apenas uma luzinha vermelha em sua câmara escura quando Pia depositou com extremo cuidado suas duas enormes chapas na solução de oxalato de ferro. E começaram a aparecer umas linhas tímidas...

 

Pia soltou um suspiro de alívio. Pelo menos alguma coisa se havia obtido...

A primeira coisa que percebeu naquela primeira chapa gotejante, ao levantá-la até a luz vermelha, foi a parte superior do altar e, sobre ele, a imponente moldura que continha a relíquia. Mas aquela grande mancha pardacenta relativa ao relevo do corpo começava a assumir uma característica insuspeitada. Fez então a chapa girar sobre um dos ângulos e se pôs a observar o rosto. Santo Deus!...

As mãos começaram a tremer. E a grande chapa, ainda úmida e escorregadia, quase caiu ao solo. Aquela figura, ainda com os olhos revirados pela morte, era real... Aquele - assombrosamente - era o autêntico rosto do chamado Jesus de Nazaré. E Secondo Pia era o primeiro ser humano a contemplá-lo após dezenove séculos...

 

Mas isto significava que a figura visível no pano era um "negativo" fotográfico em tamanho natural. Por isso, a chapa fotográfica em negativo de Secondo se convertia num retrato em positivo.

 

"Encerrado em minha câmara escura", escreveu Pia mais tarde, "totalmente concentrado em meu trabalho, experimentei uma intensa emoção quando, durante a revelação, vi pela primeira vez surgir o Santo Rosto na chapa, com tal clareza que fiquei gelado."

 

E - como não?! - quando a notícia, uma das mais sensacionais que o homem da Terra pôde conhecer, foi destacada nas manchetes dos jornais, os agnósticos, os desmancha-prazeres e assemelhados repeliram o fato, afirmando olimpicamente que aquele negativo, sem dúvida, era obra de algum falsificador...

 

Neste caso, a argumentação dos céticos era frágil como um recém-nascido. Todos os estudiosos, especialmente os profissionais da fotografia, assinalaram que era inconcebível que, dezenove séculos antes, "alguém" pudesse ter criado um "negativo fotográfico" em tamanho natural...

 

Eu inclusive, em pleno século XX, e com as sofisticadas técnicas fotográficas hoje disponíveis, acho difícil igualar a imagem em negativo daquele pano.

 

Como devem estar lembrados, o primeiro negativo que a atual humanidade produziu em laboratórios chegou 1.800 anos depois do Sudário. E isto graças ao trabalho de inúmeros cientistas: uns, melhorando a câmara escura; outros, aperfeiçoando as lentes; uns, investigando os sais de prata sensíveis à luz; outros, procurando achar o modo de eliminar os sais não afetados, e outros, enfim, tentando fixar aqueles modificados pela ação da luz...

Foi só em 1841, quando o grande astrônomo, matemático, químico e humanista inglês, Sir U.W.F. Herschel, pôde batizar a sua criatura pela primeira vez com o nome de "negativo", coroando assim as descobertas de Niepce, Daguerre, Talbot etc.

 

O assunto, definitivamente, era coisa de enlouquecer. Na investigação do Santo Sudário de Turim, os mistérios se encadeiam às surpresas, e estas - como num jogo - àquelas...

 

E comecei a crer, em vista do que havia estudado, que Jesus de Nazaré - que devia levar em conta também os cáusticos homens do século XX - tinha guardado um ás na manga...

 

               A Imagem Não Tem Origem Química

 

O caso é que, como se a confusão dos cientistas fosse pouca, nas últimas análises óticas do pano, os investigadores observaram outro detalhe surpreendente.

 

Enquanto a imagem do rosto está em negativo, os fiozinhos de sangue aparecem em positivo. Algo como se o sangue se houvesse pregado por contato à tela, enquanto o rosto somente deixou seus traços. Mas, ao conhecer este detalhe, recordei as palavras do jovem comandante da NASA, Eric Jumper:

 

- "...Uma hipotética ação química ou bacteriológica fica excluída na formação da imagem no pano. Quer dizer, há que descartar a formação dos traços por contato."

 

Não conseguia entender. Ali, em minha opinião, existia uma contradição. Se a imagem era o misterioso produto de uma radiação ou energia, como diabos se haviam formado as estrias e manchas de sangue? Porque eram rastros de sangue... Ou não? Vejamos as provas e opiniões dos mais renomados especialistas em sangue.

 

A imagem não se formou sobre o tecido por uma transposição da matéria. Assim não se pôde formar um acontecimento externo, como a pintura teria podido provocar. Tampouco, asseguram os cientistas, é resultado de uma reação química...

 

Esta última tese havia sido até então, tal e como assinalava anteriormente, a "explicação" total da formação dos relevos no Sudário de Turim.

 

O primeiro cientista a estudar a gênese dos relevos de caráter fotograficamente negativo foi o biólogo Dr. Paul Vignon, adjunto do professor Yves Delage, da Sorbonne, acadêmico da França. Estudando as propriedades químicas do aloés, constatou que este oxidava facilmente em presença de substâncias alcalinas, produzindo-se nessa reação uma matéria pardacenta que penetrava com facilidade nas fibras de um tecido, aderindo tenazmente a ele. E que reativos alcalinos havia no cadáver de Jesus de Nazaré?

 

Emanações amoniacais, conclui Vignon, provenientes do suor e sobretudo do sangue, ambos líquidos orgânicos que contêm uréia e, portanto, amoníaco em estado potencial.

O Dr. Vignon aplicou teias de aloés embebidas em solução oleosa sobre moldes de gesso umedecidos com uma solução de carbonato de amônia, obtendo assim impressões que apresentavam certa analogia com as do Sudário.

 

Vignon batizou de "processo vaporigráfico" este procedimento para obter imagens positivas. A inevitável objeção a esta hipótese foi a de que a difusão dos vapores não é ortogonal, ou seja, os gases amoniacais não teriam se elevado em ângulo reto, e sim teriam se difundido em todas as direções. E isto por mais quieta que tivesse estado a atmosfera da gruta...

 

Além disso, objeta o Dr. Dezani, da Universidade de Turim, para se obter uma figura tão uniforme como a conservada no Sudário, seria preciso uma emanação regular do amoníaco, que biologicamente é difícil de explicar. Com efeito, a distribuição das glândulas sudoríparas não é uniforme no corpo humano, como tampouco o é sua atividade, nem a composição do líquido secretado.

 

Mais ainda, "o suor de sangue de Jesus no Getsêmani e a caminho do Calvário devia ter sido absorvido pela túnica, no que respeita à hipótese de Vignon", prossegue o Dr. Dezani.

 

Finalmente, "o suor do crucificado exposto nu ao sol e ao ar durante várias horas teve de evaporar-se, a uréia cristalizando-se". Quer dizer, passando esta a um estado físico no qual ficaria difícil o processo de fermentação. Esta se verifica facilmente a uma temperatura superior a vinte graus. Por outro lado o faz lentamente, a temperaturas inferiores. E temos de recordar que a morte do Cristo teve lugar, segundo parece, em abril, nas horas próximas ao entardecer e a uma altitude, em relação ao mar, similar a de Madri. Ou seja, abaixo dos citados vinte graus.

 

Mas antes de passar ao excepcional capítulo da misteriosa radiação ocorrida na escura gruta onde repousava aquele cadáver, quero expor os resultados das investigações dos médicos sobre as torturas e morte do chamado Jesus de Nazaré.

 

"Detalhes" de causar calafrios e que só pudemos conhecer agora, estudando o manto de Turim. Um capítulo que me encheu de horror e assombro...

 

Depois de dezessete anos na fascinante profissão jornalística, creio que aprendi algo, ao menos no que se refere à técnica - à "mecânica" - da busca, elaboração e transmissão das notícias. Considero-me sobretudo um repórter. Um "impenitente" caçador de boas ou más-novas, que, quase com certeza, vai "ralar" atrás da notícia...

 

E digo isto porque, no caso que me ocupa agora - esta grande reportagem de Jesus de Nazaré -, lendo e relendo os Evangelhos, pude intuir que ali faltam muitos dados...

 

Em minha opinião - exceção feita a São Mateus -, os evangelistas não fariam um papel muito brilhante como repórteres nos dias de hoje.

 

Às vezes me pergunto o que teria acontecido se uma equipe completa de jornalistas pudesse ter acompanhado Jesus de Nazaré pelo menos em seus três últimos anos de vida.

 

Quantos detalhes, episódios, notícias ou enfoques sobre o Nazareno se conservariam até hoje!

 

Mas estava claro que - por alguma razão que quase todos ignoramos - os jornalistas, mais uma vez, foram deixados de fora...

 

E que fique registrado que, se eu algum dia puder chegar até Jesus, esta é uma das primeiras perguntas do "questionário" que tenho preparado.

 

Embora, a bem da verdade, pareça que o Nazareno "sabia o que estava fazendo". Aí está esse "documento" único - o pano conservado na cidade de Turim - e que, como comentava no início, começou a revelar a médicos, cientistas e especialistas uma infinidade de notícias que não conhecíamos.

 

Uma série de dados que simplesmente me encheram de horror. Ainda que eu esteja acostumado a ver cadáveres e a realizar reportagens e cobrir todo o tipo de calamidades, desastres e morticínios, fiquei abalado com a análise do que agora nos é mostrado em relação às torturas e morte que sofreu Jesus. E senti tanto aversão quanto espanto.

 

Vejamos, a título de resumo, alguns desses "detalhes" que não aparecem nos Evangelhos e que ficaram patentes no referido manto:

 

  1. Jesus de Nazaré foi açoitado selvagemente, recebendo golpes até nos testículos. Apenas a área do coração foi poupada - intencionalmente – do castigo.

 

  1. O Nazareno não foi pregado pelas palmas das mãos, e sim pelos pulsos.

 

  1. Por alguma razão que ignoramos, o cravo destinado ao pulso direito não entrou bem, sendo preciso despregá-lo e tentar de novo por duas ou três vezes...

 

  1. Certamente, Jesus de Nazaré não era coxo, como se chegou a dizer.

 

  1. Hoje sabemos que Jesus tinha 1,81m de altura.

 

  1. Os Evangelistas, Esses "Repórteres" Medíocres

 

  1. Esta grande corpulência, porém, tornou mais penosa sua agonia, ao ter que apoiar-se no             cravo - ou cravos - que atravessou ambos os pés.

 

  1. A "coroa" de espinhos não era tal. Tratava-se de um "capacete" de espinhos.

 

  1. Teve parte da barba brutalmente arrancada.

 

  1. No caminho até o Gólgota, Jesus de Nazaré carregou um único tronco nos ombros, pesando uns sessenta quilos.

 

  1. Foi amarrado por um dos tornozelos aos demais que iam ser justiçados.

 

  1. A lança perfurou-lhe a parte direita do coração, embora Jesus já estivesse morto.

 

  1. Sobre suas pálpebras, uma vez morto, foram colocadas duas moedas de bronze.

 

     "Projeção Mental" da Paixão e Morte do Nazareno:          

       Uma Experiência Inesquecível

 

Sempre imaginei que Jesus de Nazaré havia sido um judeu típico. Ou seja, dono de uma altura similar à média mediterrânea. Talvez com 1,60 a 1,65m de estatura.

 

Mas não. Também me enganava quanto a isso. Muito antes, certamente, que os cientistas da NASA decidissem trabalhar no Sudário de Turim, outros peritos - especialmente médicos de grande renome - extraíram suculentas conclusões das minuciosas checagens a que submeteram o manto.

 

Um destes prestigiosos cirurgiões, o Dr. Cordiglia, através de quatro páginas de medidas antropométricas, afirma, em importante estudo, que o "homem" do Sudário media 1,81m.

Segundo o médico, "a partir destes dados vemo-nos diante de um homem antropometricamente perfeito. Extraordinário em toda a sua imponente formosura, que se transluz das delicadas linhas do rosto". E acrescenta:

 

"Se levarmos em conta o conceito unitário do organismo e o significado biológico do psiquismo... e se aceitarmos a correlação que os vários autores sustentam entre as características psíquicas e somáticas, temos que ver nele também um indivíduo psiquicamente perfeito."

 

Em compensação, Cordiglia não consegue situar Jesus - pelo menos através de análises de suas medidas corporais - em nenhum grupo étnico. Isto resulta num extremo paradoxo se levarmos em conta as "raízes" do Nazareno ao longo da História do povo judeu...

 

A cabeça do "homem" que esteve envolto no Sudário de Turim, assegura o especialista, era claramente mesocéfala, seu índice sendo de 79,9. E embora a considerável estatura de Jesus não pareça corresponder ao citado índice, todos os relatórios médicos, no entanto, apontam para o tipo mediterrâneo.

 

"Mas afirmar, como muitos têm feito, fiando-se apenas na fisionomia", enfatiza Cordiglia, "que reflete as características semíticas, é ignorar os demais elementos especiais e excepcionais que, por seu alto grau de perfeição corporal, nos obrigam a classificá-lo fora e acima de qualquer grupo étnico."

 

Do ponto de vista teológico, esta conclusão não é de surpreender, já que, segundo os Evangelhos, Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo. Não houve, portanto, intervenção alguma do código genético do homem.

 

De minha parte - e sempre considerando estas afirmações como uma pura opinião pessoal -, depois de ler e refletir sobre o Antigo Testamento, inclino-me a pensar que a vinda de Jesus a este planeta exigiu toda uma complexa e, para nós, incompreensível série de "medidas" prévias. E uma dessas condições, talvez básica, foi a "eleição" e lenta preparação de um povo ou grupo étnico. Uma raça, enfim, conhecida por todos e que, precisamente, foi classificada como "o povo eleito"...

 

"Eleito", sem dúvida, a partir do ponto de vista físico, mas que - e nisto compartilho o critério de Cordiglia - ia desempenhar um único papel coadjuvante. E a melhor prova, enfim, aqui está: as "anormais" medidas corporais do Nazareno, se tomarmos como referência as características típicas dos judeus.

 

Mas voltemos ao tema central. Outras obras terão tempo de analisar com um máximo de objetividade este e outros pontos reveladores do Antigo Testamento que, na minha humilde opinião, não estão suficientemente claros.

 

Tal e como fiz notar no início deste capítulo, a raiz das descobertas dos técnicos da NASA, a paixão e morte de Jesus de Nazaré, foi se enriquecendo com exatidões e dados que não conhecíamos através dos Evangelhos e outros escritos e que, do ponto de vista puramente narrativo ou do conhecimento daquele fato, revelam-se apaixonantes.

 

Juntando estas novas informações aos testemunhos dos quatro evangelistas, tomei a liberdade de "reconstituir" a parte final dessa paixão e morte do Nazareno. Um relato, hora após hora, tal e como o escreveria, talvez, um repórter dos nossos dias...

 

Mas, procurando o máximo de realismo, introduzi uma novidade muito especial em tal "reconstituição". Três pessoas, entre as quais me incluo, levaram a cabo - em separado - o que a moderna ciência da parapsicologia define como "projeção mental". Tentarei explicar brevemente.

 

Cada membro da "equipe" - através de umas técnicas concretas da relaxação (quase hipnose) - "projetou-se" mentalmente no tempo - o período - em que decorreu o suplício e a crucificação do Nazareno. Estas técnicas - bem conhecidas de todos os que praticam ioga, controle mental, meditação transcendental etc. - visam basicamente a um declínio dos ciclos cerebrais por segundo. Desta forma, o cérebro emite um tipo concreto de ondas, passando a um estado especial de consciência. Um "mundo' no qual a mente cai livre: fora do tempo e do espaço.

 

Pois bem, um dos múltiplos "exercícios" ou "experiências" que o ser humano pode viver ou sentir em tal estado Alfa é exatamente o de "projetar" sua mente a outro tempo ou outro lugar.

 

Os resultados - como nesta ocasião - são sempre fascinantes.

 

Com grande surpresa de nossa parte, na hora de comparar os resultados, observamos que não havia grandes diferenças entre o que cada um de nós havia "visto", "ouvido" e, sobretudo, "sentido" na Jerusalém de dois mil anos atrás.

 

Eis aqui o resultado daquele apaixonante salto no tempo:

 

         SEXTA-FEIRA, 8:45

         OURO DO TEMPLO CONTRA JESUS

 

...Pilatos, cada vez mais contrariado ante o aspecto que ganhava aquele súbito assunto dos judeus e do chamado Jesus de Nazaré, mandou que trouxessem o detido novamente à sua presença. A guarda não demorou em levar Jesus diante do procurador. E Pilatos, uma vez mais, passeou em silêncio diante daquele polêmico galileu, que tanto conseguira irritar os sacerdotes e fariseus. Aquela circunstância - para que ocultar? -, e dado o profundo desprezo de Pilatos pelos judeus incultos e venenosos, havia despertado no procurador uma certa corrente de simpatia pelo "suspeito".

 

O romano, conhecedor das ações dos escribas e esbirros do Sinédrio, soube desde o princípio que o chamado Jesus, o Nazareno, já havia sido golpeado no rosto. Aquele hematoma na face era a prova mais clara.

 

Jesus seguia com a cabeça ligeiramente inclinada para o solo. Aquela posição, submissa e silenciosa, crispou os nervos de Pilatos, já mais do que alterados pela intransigência e agressividade dos judeus que lhe haviam trazido o Nazareno e que, desde as primeiras horas da manhã, se aglomeravam diante das escadarias do pretório.

 

Erguendo a vista para Jesus, Pilatos tornou a perguntar:

 

- És o rei dos judeus?

 

O detido fitou o procurador e, com voz grave, contestou:

 

- Dizes isto por ti mesmo ou outros te disseram sobre mim?

 

Aquilo exasperou o romano, que, gesticulando, encarou Jesus enquanto gritava, a curta distância do seu rosto:

 

- Sou por acaso judeu?... Teu povo e os pontífices te entregaram a mim! Que fizeste? Responde, maldito sejas!

 

Mas Pilatos não observou a menor sombra de temor naquele gigante. O olhar de Jesus continuava fixo nos olhos do procurador. E o romano se preveniu no mesmo instante contra algo insólito, pelo menos para ele, acostumado a lidar com todo tipo de ladrões, traidores e meliantes: o rosto, o olhar e as palavras daquele homem nada tinham a ver com os delinqüentes e sediciosos que havia julgado e condenado. Aquele gigante lhe inspirava respeito.

 

- Meu reino não pertence a este mundo - replicou Jesus. - Se meu reino fosse deste mundo, meus súditos lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus... Mas meu reino não fica aqui.

 

A surpresa transformou Pilatos.

 

- Então, tu és rei?...

 

- Tu o dizes... Eu sou rei.

 

Pilatos fez um gesto de incompreensão e, dando as costas a Jesus, começou a caminhar até a grande porta do pretório, onde a inquieta multidão aguardava. Mas as palavras do Nazareno o obrigaram a parar e escutar.

 

- E para isso nasci e para isso vim ao mundo. Para testemunhar a verdade... Todo aquele que é da verdade escuta minha voz.

 

Pilatos esboçou um meio sorriso cético e, sinalizando com o dedo a seus pretorianos, e posteriormente até o lugar onde a turba clamava, resmungou:

 

- A verdade... e o que é a verdade?

 

E, sem esperar resposta, seguiu seu caminho até o exterior do pretório. Junto dele seguiram alguns centuriões e parte da guarda, incumbidos de zelar pela segurança do representante do César.

 

A multidão voltou a inflamar-se ao ver Pilatos. E irrompeu em gritos contra Jesus de Nazaré.

Um dos centuriões se aproximou do procurador e sussurrou-lhe no ouvido:

 

- Sabemos que gente paga pelo Sinédrio está agitando a massa e subornando-a para que soltes Barrabás e condenes o Nazareno. Anás repartiu esta noite o ouro do tesouro do templo e apontou o nome daqueles que o receberam. Supomos que os porcos desses sacerdotes tentarão recuperá-lo...

 

Pilatos não fez o menor comentário e, erguendo o braço direito, pediu silêncio. Segundos depois, a multidão se acalmou. Apenas alguns latidos eram ouvidos nas ruas pró mas. Até os animais pareciam alterados naquela luminosa manhã de abril.

 

E Pilatos, adotando um tom solene, gritou:

 

- Eu não vejo nele culpa alguma... É costume vosso soltar um prisioneiro durante a Páscoa...

 

Um murmúrio começou a crescer entre as centenas de manifestantes. O procurador, erguendo a voz, perguntou:

 

- Quereis que eu solte o rei dos judeus?

 

As palavras do procurador foram abafadas por uma explosão de imprecações e mau humor. Os judeus se sentiram enganados pelo romano e aquilo precipitou os acontecimentos. E o que a princípio foram gritos isolados em favor de Barrabás, misturados com alguns em defesa de Jesus, acabou convertendo-se numa única e atroadora voz, que repetia, já presa da mais absoluta histeria:

 

- Barrabás! Barrabás!

 

Ao ver esta situação, Pilatos pediu uma bacia. E, com a teatralidade que o caracterizava, ergueu-a sobre a cabeça, mostrando-a à excitada multidão. Depois lavou as mãos, ao tempo que gritava:

 

- Sou inocente deste sangue!

E, dando meia-volta, entrou novamente no aposento onde Jesus esperava. Mas Pilatos não se atreveu a fitar o rosto do detido. E, nutrindo ainda uma certa esperança, deu instruções a seus soldados para que fosse açoitado de tal forma que, ao vê-lo, a multidão se acalmasse.

 

           SEXTA-FEIRA, 9:15

           URINARAM SOBRE 0 GALILEU

 

A guarda conduziu o Nazareno até o espaçoso pátio interno do palácio. Jesus pôde ver um dos romanos desatar alguns cavalos e trazê-los até o extremo oposto do local. Ali voltou a atar as rédeas à argola de ferro existente sobre um moirão de pedra. E lentamente, com um amplo sorriso de mofa, dirigiu-se até o Nazareno, que ainda esperava sob os pórticos que rodeavam o pátio retangular.

 

A empurrões, Jesus atravessou o espaço empedrado, encharcado aqui e ali pelos pestilentos esterco e urina das cavalgaduras. O Nazareno mal pôde se aperceber da maciça entrada no pátio de quase todos os soldados de folga que formavam a coorte do procurador. O romano que momentos antes desatara a meia dezena de cavalos, o despojou com violência do manto, fazendo o mesmo com a túnica branca.

 

Outro soldado começou a amarrar-lhe pelos pulsos com uma grossa corda, obrigando-o a inclinar-se sobre o moirão, que acabava de ficar livre e que não mediria muito acima de quarenta centímetros.

 

Aquela postura forçada fez com que Jesus - devido a sua considerável altura - tivesse que separar ao extremo suas pernas. E os compridos cabelos logo caíram diante de seus olhos.

 

Aquela postura forçada fez com que Jesus - devido a sua considerável altura - tivesse que separar ao extremo as suas pernas. E os compridos cabelos logo caíram diante de seus olhos. Mas aquilo      foi feito ouvindo-se o alegre e constante canto dos bandos de andorinhas que começavam a chegar a Jerusalém.

 

Não tardou a sentir brutal costas que o fez estremecer Mas logo um golpe seco e seus joelhos se vergaram. De ambos os lados da bárbara chuva de golpes, uma sistemática agressão ao corpo do prisioneiro

 

Utilizavam para isso grandes chicotes, dotados por sua vez de tiras de couro com pelotas de chumbo nas pontas. Logo os gritos e xingamentos da soldadesca se confundiram como estalar das tiras sobre a carne de Jesus, co o arfar dos verdugos e com os relinchos dos cavalos, perturbados com a presença dos soldados.

 

E o sangue começou a brotar ao longo das costas, costelas, coxas e panturrilhas do Nazareno. A princípio não era muito abundante, mas, conforme os golpes eram cantados pelos próprios algozes, as feridas - especialmente das largas costas - foram se abrindo cada vez mais. E os regueiros de sangue se tornaram tão copiosos que, a cada novo golpe, gotas eram expelidas e lançadas sobre as paredes próximas, assim como sobre as vestimentas dos romanos mais próximos do moirão.

 

Este, tal como boa parte do chão empedrado, ficou salpicado também por aquele gotejar...

No meio do castigo, os verdugos foram substituídos por outros dois romanos, que retomaram a flagelação com idêntica sanha. Quando a contagem dos golpes aproximou-se dos oitenta, Jesus terminou por cravar os joelhos nas pedras, deixando-se cair sobre o moirão. A esta altura, suas costas e pernas brilhavam ao sol, úmidas de suor e sangue. Mas o espetáculo começava a inquietar alguns dos soldados romanos e a cansar a maioria. E parte da coorte começou a retirar-se.

 

Foi então - quando o castigo atingiu o total de cem açoites - que um centurião se adiantou e mandou que interrompessem a carnificina.

 

- Soltem-no! - acrescentou o oficial.

 

No silêncio do pátio só se ouvia a respiração agitada dos verdugos, que, ainda com os chicotes nas mãos, contemplavam aquele gigante caído e ensangüentado. Um dos verdugos, banhado de suor, sentou-se à sombra do pórtico, tratando de limpar o sangue das tiras de couro. Jesus, porém, mal se movia. O oficial, temendo que ele Pudesse morrer, ordenou aos soldados que trouxessem água. Prontamente, os romanos regaram o corpo de Jesus.

 

E um dos soldados começou a desatá-lo da argola, tentando em vão levantar o Nazareno. Ao soltá-lo, o corpo caiu pesadamente no chão. Era evidente que o prisioneiro havia recebido um duríssimo castigo. E novos baldes de água foram derramados violenta mente sobre as costas e cabeça de Jesus.

 

Em poucos minutos, o Nazareno tentou levantar-se. E o centurião que fora encarregado do suplício respirou. Ele próprio, ajudado por outros soldados, terminou por levantar o prisioneiro. Jesus mantinha os olhos fechados. Algumas moscas e vespas zumbiam entre as feridas.

 

Alguém colocou sobre os ombros de Jesus uma velha capa púrpura, enquanto outros o acomodaram num dos bancos de pedra dos pórticos. E ali aumentaram as piadas, cusparadas e insultos. Não era muito freqüente os centuriões terem diante de si alguém que se proclamava "rei dos judeus". Rei de um povo tão desprezado quanto odiado por aqueles soldados, a maioria longe da pátria e de suas famílias.

 

Mas as zombarias e afetações sentimentais logo aumentaram numa das extremidades do grande pátio. Um dos soldados se acercava de Jesus em passo marcial. Levava entre as mãos um capacete trançado com espinhos, daqueles que cresciam junto às muralhas da cidade. Rodeando o romano, outros membros da guarda, que haviam adivinhado as intenções daquele e celebravam o acontecimento.

 

Entre reverências e petulância, o soldado ficou de frente para o Nazareno e levantou o capacete de espinhos sobre a cabeça do açoitado, que continuava com os olhos fechados e sem proferir o menor lamento ou protesto.

 

Em meio a uma mórbida expectativa, o romano enfiou o capacete de espinhos na cabeça de Jesus. E um rugido de satisfação se elevou de novo no pátio, assustando as já inquietas cavalgaduras.

 

As empoeiradas e arroxeadas bochechas do Nazareno se viram logo percorridas por estrias de sangue. E os cabelos, já pastosos pela água e sangue da flagelação, se umedeceram novamente.

 

Com um caniço entre os dedos, o prisioneiro assistiu então a uma "coroação" cruel e mordaz por parte da soldadesca.

 

E entre saudações cerimoniosas, os romanos terminaram de encaixar a pancadas - com paus e com as próprias hastes de suas lanças - o afiado capacete de espinhos.

 

Mas as gargalhadas atingiram o auge quando um daqueles soldados, colocando-se a curta distância de Jesus, soltou seus calções, urinando sobre o peito, ventre e pernas de Jesus.

Muito poucos daqueles romanos se aperceberam então das lágrimas que, sutilmente, haviam começado a misturar-se com os coágulos de sangue no rosto do galileu.

 

Foi novamente a chegada do centurião que pôs um ponto final naquele escárnio. E os soldados recolheram a capa e o caniço e o vestiram com suas roupas. Em passos trôpegos, Jesus foi reconduzido à presença do procurador.

 

         RELATÓRIO DOS ESPECIALISTAS

         "UNS CEM GOLPES"

 

Vamos fazer uma pausa na narração, na "projeção mental".

 

O que dizem os especialistas e estudiosos do manto de Turim em relação às feridas provocadas nesta primeira "fase" do suplício?

 

Os recentes achados dos cientistas da NASA, assim como de outros especialistas em medicina, deixaram claro que o homem do sudário de Turim foi açoitado ao estilo romano e não judeu. Esta última modalidade constava de quarenta golpes menos um. Mas a romana - more romanoru - não tinha limite. Simplesmente era suspenso quando sim achava conveniente o executor sententiae...

 

E estudando o "mapa" dos relevos do manto de Turim, os especialistas puderam constatar que a flagelação constou de mais de cem golpes. Chicotadas - a julgar peIas feridas - que caíram especialmente nas costas ou peito da vítima, curvada como estava sobre alguma pequena luna à qual lhe haviam atado as mãos.

 

Não obstante, julga-se que os açoites alcançaram igualmente as pernas, ventre, nádegas e até os testículos.

 

Todos os especialistas notaram, pela distribuição feridas, que a flagelação deve ter sido metódica e aplica por dois verdugos tão peritos quanto resistentes à fadiga. Um exemplo do primeiro caso é a área do coração: na dita área não aparecem tantos vestígios quanto no resto do corpo. O motivo parece óbvio. Um acúmulo de impactos nessa área do tórax poderia ter provocado um colapso. E os carrascos teriam se tornado responsáveis perante o magistrado romano...

 

Em compensação, são fartos no pano os vestígios de escoriações "figuradas" ou impressões de açoites, desde o tronco até as pernas. Essas marcas são batizadas com os qualificativos de "manivela de ginástica" e "estrias e lingüetas", e correspondem ao par de pelotas de chumbo do chicote e às suas tiras de couro.

 

Praticamente todos os investigadores se mostram de acordo no fato de que os golpes foram aplicados em dupla. Em outras palavras: que é quase certo que o suplício foi aplicado por dois verdugos ao mesmo tempo. E é muito possível também que cada chicote estivesse dotado de duas correias, cada uma com seu correspondente par de pelotas e chumbo ou talvez ossinhos do tarso do boi.

 

Quanto às manchas de sangue que aparecem em sua cabeça, o professor Cordiglia afirma em seus estudos:

 

"Trata-se de singulares calcaduras de gotas sanguíneas que interessam à região frontal, parietal-temporal e occipital. São a expressão de lesões sobre o couro cabeludo. Considerando sua distribuição em forma de auréola, devemos deduzir que foram causadas por objetos pontudos, aguçados, guarnecidos com pregos, friccionados na copiosamente regada pele da cabeça, sob a forma de coroa ou coifa de espinhos."

 

E acrescenta um detalhe arrepiante:

 

"Uma gota mais acentuada se encontra na região mediana da fronte, que apresenta a forma de um `3' invertido. O sangue abriu caminho entre as rugas da fronte em dois momentos: primeiro, quando foram contraídos os músculos da pele, no espasmo da dor. Por último, em seu relaxamento final, no momento da morte."

 

Nos vestígios do Sudário se observa igualmente como a fricção da madeira que Jesus carregou nos ombros a caminho do Gólgota, com este "elmo" de espinhos, lesionou marcadamente a região occipital e próxima à nuca. E, com a mesma precisão, os cientistas puderam deduzir e demonstrar o que já se aponta nos Evangelhos: Jesus de Nazaré foi golpeado em pleno rosto. Vejamos. O desvio do arco do nariz até a esquerda é claramente visível no manto. Como também é, alinhado com ele, a contusão em forma triangular na região zigomática direita.

 

Os médicos afirmam textualmente: "Exatamente ali onde a cartilagem se encontra com o osso nasal, e onde se observa uma área escoriada e contusa, o nariz inicia um ligeiro desvio até a esquerda... Trata-se, evidentemente, de uma paulada, aplicada com um porrete bem curto, redondo, de um diâmetro máximo de quatro a cinco centímetros, cuja força de contusão foi mais violenta em sua extremidade. Quer dizer, sobre o nariz. E de violência um tanto menor debaixo da região zigomática direita.

 

"O golpe foi desferido por um indivíduo que se encontrava à direita do agredido e empunhava o porrete com a mão esquerda."

 

Recordemos que durante o interrogatório na casa de Anás, o Nazareno foi golpeado por um dos criados ou esbirros do Sinédrio. E João, em seu Evangelho, emprega a palavra rapisma para descrever tal golpe. Este vocábulo significa em grego - e em geral - um golpe dado com pau, garrote ou bastão. A Vulgata, ao invés, o traduz como "bofetada".

 

Também não devemos esquecer que, enquanto os ro manos golpeavam com a direita, os judeus o faziam com a esquerda. Esta última maneira era lógica já que o povo judeu escrevia no estilo semítico: da direita para a esquerda, utilizando comumente a mão esquerda. Se o que o golpeou era um servidor do sumo pontífice, é natural imaginar que sua mão esquerda tivesse sido muito mais hábil que a direita. E em último e curioso detalhe, abordado pelos cientistas: a planta utilizada pela guarda romana para confeccionar o "capacete" de espinhos talvez seja a que os botânicos conhecem como espinho-de-cristo (Ziziphus spina Christi), que cresce na Síria.

 

Trata-se de um arbusto ou árvore de pequeno porte, de uns dois ou três metros de altura, com ramos brancos que se curvam com facilidade. As bordas das folhas apresentam dois espinhos em forma de gancho. Segundo o botânico G.E. Post, esta planta crescia nos arredores de Jerusalém, sobretudo nos lugares próximos ao Gólgota.

 

           SEXTA-FEIRA, 10:15

           CHANTAGEM POLÍTICA CONTRA PILATOS

 

O procurador Pôncio Pilatos fitou atentamente o prisioneiro. Muito perto de Jesus, o centurião responsável pela flagelação seguia com atenção o menor piscar de olhos do Nazareno, pronto a intervir com mais dois soldados em caso de desfalecimento do galileu.

 

Em silêncio, Pilatos caminhou em torno de Jesus de Nazaré, que continuava com a cabeça ligeiramente inclinada até o brilhante mármore do pretório. Sua respiração foi pouco a pouco se normalizando. O romano não dissimulou um esgar de horror quando, ao olhar para as costas, observou extensas manchas de sangue na túnica. Depois reparou nas lajes daquele mármore de brocatelo, orgulho da fortaleza Antônia, e ficou contrariado ao vê-las salpicadas por grossas gotas de sangue.

 

E enquanto assinalava com o dedo indicador o elmo de grossos espinhos, interrogou o centurião com o olhar. Este limitou-se a dar de ombros como resposta.

 

Pôncio Pilatos sentiu pena daquele filho de Israel. Mas ele era o procurador e não podia exteriorizar seus sentimentos, ao menos perante seus subordinados. Contudo, algo no fundo do coração o obrigava a desejar a liberdade daquele assombroso Jesus de Nazaré. E tentou novamente salvar o homem. Fez um gesto para que os soldados o levassem até a multidão que continuava concentrada diante do palácio, como era costume naquelas festividades da Páscoa, à espera da libertação de um réu. Quando Pilatos exibiu Jesus à turba, uma nova gritaria quase sufocou as palavras do procurador:

 

- Vede, eu vos trago o prisioneiro para que saibais que não vejo nenhuma culpa nele!

 

Mas os sumos sacerdotes haviam feito circular instruções e moedas entre os judeus para que se manifestassem a favor da morte do Nazareno. E a partir do instante em que Jesus surgiu diante da turba, só se ouvia uma palavra:

 

- Crucificai-o... crucificai-o!

 

Pôncio Pilatos, irritado, ordenou silêncio. E, mostrando o galileu, disse-lhes:

 

- Tomai-o vós... e crucificai-o! Não vejo nenhuma culpa nele.

 

Um dos sumos sacerdotes, tomando a palavra, respondeu ao procurador:

 

- Temos uma lei, e segundo essa lei, ele deve morrer... porque se considera o Filho de Deus!

 

E os milhares de judeus que já se agrupavam em frente à fortaleza Antônia, no alto da colina, irromperam em novos gritos e protestos, exigindo que o romano crucificasse Jesus.

 

- Filho de Deus?...

 

Aquilo era novidade para Pilatos. Um tanto confuso e surpreso, ordenou que voltassem com o réu ao pretório. Nesse meio-tempo, a guarda do palácio havia sido reforçada para prevenir qualquer ato de violência por parte do irritado povo judeu. O próprio procurador havia advertido a seus oficiais para que interviessem com todo rigor em caso de desordem. Aquela situação começava realmente a incomodar Pôncio Pilatos. Uma vez lá dentro, perguntou a Jesus:

 

- De onde vens?

 

Mas o réu se limitou a fitá-lo fixamente, o que exasperou Pilatos.

 

- Não queres me falar?...

 

Ante o silêncio do prisioneiro, o centurião avançou para Jesus, disposto a castigar aquela insolência. Mas o procurador se adiantou ao oficial e, encarando o galileu, voltou a perguntar com voz ameaçadora:

 

- Não sabes que tenho poder para soltar-te e poder para crucificar-te?...

De imediato, ainda com as mãos atadas, Jesus murmurou:

 

- Não terias nenhum poder sobre mim, se ele não te tivesse sido dado de cima... Por isso, aquele que me entregou a ti cometeu pecado maior.

 

E Jesus enfrentou o olhar do procurador.

 

Pilatos tinha certeza. Não havia soberba naquele homem. Não tinha o olhar nem o tom de um arrogante. Seria um louco?... Ou estaria realmente diante de um profeta? Mas como era possível que um indivíduo que havia sido tão duramente açoitado e humilhado pudesse falar assim?

 

"Pena não tê-lo conhecido antes", pensou o procurador.

 

Era a hora sexta quando chegaram ao romano gritos que o intranqüilizaram sobremaneira:

 

- Se soltardes esse homem - clamava a turba -, não sois amigo do César! Todo aquele que se faz rei enfrenta o César!

 

Aquilo era demais. Se a crescente rebelião dos judeus, às vésperas da Páscoa, chegasse aos ouvidos do César, seus favores junto àquele corriam sério risco. E embora consciente da chantagem de que estava sendo vitima por parte do Sinédrio, Pilatos titubeou. Sentou-se novamente no tribunal, no lugar conhecido como "pavimento", e colocou Jesus a seu lado. Então o procurador gritou:

 

- Aqui tendes o vosso rei!

 

Mas os manifestantes clamaram, com força:

 

- Fora... fora! Crucificai-o!

 

O romano insistiu:

 

- Crucificar o vosso rei?...

 

Os sumos sacerdotes, que foram ocupando um lugar próximo ao pretório, ergueram os braços ao céu e explodiram:

 

- César é nosso único rei!

 

E a chusma seguiu vociferando e apupando...

 

Pilatos golpeou então os braços de pedra do tribunal com a palma das mãos e se levantou bruscamente, desaparecendo no interior do pretório.

 

E ordenou a seus oficiais que providenciassem tudo para a imediata execução da sentença de morte: crucificação.

 

             SEXTA-FEIRA, 10:45

             AMARRADOS PELOS TORNOZELOS

 

Jesus de Nazaré foi reconduzido ao centro da praça d'armas. Fazia algum tempo que as centúrias romanas tinham sido retiradas, especialmente alertadas e distribuídas ao redor da fortaleza Antônia - sede do procurador Pôncio Pilatos durante sua estada em Jerusalém - e posicionadas para repelir a menor explosão de violência naquela inquietante manhã.

 

A atitude dos soldados que o custodiavam - e, sobretudo, a do centurião encarregado por Pilatos do cumprimento da execução - mudara sensivelmente desde que o procurador tornara pública sua decisão de terminar com a vida do prisioneiro. A partir daquele instante, as zombarias cessaram. E na face da maioria dos soldados que cruzavam com o galileu era fácil notar certa compaixão.

 

Desde o primeiro instante em que Jesus começou a ser interrogado pelo romano, a totalidade da guarnição se apercebeu dos desejos do procurador, que tentava inutilmente colocá-lo em liberdade.

 

Um dos guardiões soltou Jesus de suas amarras. E, por um instante, o Nazareno ergueu o rosto ensangüentado até aquele tépido sol do meio-dia. Mas seus olhos estavam tão inflamados em conseqüência dos golpes e chicotadas que mal se apercebeu da nítida transparência daquele céu turquesa. Isso mesmo, as andorinhas haviam desaparecido, evitando, como sempre, o rigor da canícula.

 

A uma ordem do centurião, um dos soldados, posicionando-se às costas do condenado, ergueu seus braços para colocá-los em cruz. E assim o manteve enquanto outro membro da escolta, pela parte frontal, e após empurrar violentamente a cabeça de Jesus para trás, uniu sua lança ao corpo do galileu, alinhada com os braços. Desta maneira pôde medir sua envergadura, transmitindo ao intendente da guarnição a medida exata do patibulum que o

condenado devia carregar.

 

O intendente sumiu na penumbra do portal que conduzia às galerias subterrâneas da fortaleza, não sem antes expressar suas dúvidas acerca da existência de uma viga das dimensões exigidas pela grande altura do Nazareno.

 

Embora os depósitos do palácio estivessem repletos destas vigas específicas - principalmente desde a chegada de Herodes, o Grande -, não era freqüente aparecer entre os judeus condenados alguém com 1,81m de altura.Naquele instante, e pelas mesmas escadas pelas quais acabava de se afastar o oficial-intendente, irromperam no pátio ensolarado quatro soldados munidos de lanças e açoites. E, imediatamente atrás, dois judeus que haviam sido surpreendidos roubando nas ruas de Jerusalém e que vinham se aproveitando das grandes aglomerações dos festejos da Páscoa.

 

A guarda havia colocado vigas de pouco mais de um metro de longitude sobre seus ombros e nuca. E seus braços e mãos estavam fortemente amarrados a elas. O peso das vigas os obrigava a caminhar ligeiramente inclinados enquanto forçavam a cabeça para não perder a visibilidade. Uma corda havia sido atada ao tornozelo direito do primeiro, prolongando-se cerca de dois metros até chegar a segundo condenado, que aparecia igualmente amarrado altura do tornozelo direito.

 

Um quinto soldado fechava a comitiva, trazendo mãos o resto da grossa corda de esparto.

A guarda conduziu os ladrões até a extremidade do tio onde ainda estava Jesus. Mas o Nazareno continua com a cabeça inclinada sobre o tórax e quase não se d conta de como os prisioneiros eram empurrados até cair a poucos passos dele.

 

Um dos ladrões, chamado Dimas, fixou seus olhos naquele terceiro e desconhecido condenado, que não vira nas masmorras. E sussurrou para seu companheiro:

 

- É Jesus, o profeta!... Mas o que fizeram com ele?...

 

Vergado sob o peso do patibulum, Dimas notou, trêmulo, que em volta das sandálias do galileu tinha se formado um charco de sangue, alimentado ininterruptamente por filetes que escorriam por dentro da túnica. O ladrão notou que o sangue também gotejava das têmporas do "profeta".

 

E, sem saber por que, sentiu pena...

 

"Ele é um bom homem", pensou. "Por que está aqui?" Mas Dimas não achou resposta em seu coração.

 

O centurião demonstrou impaciência. E mandou um dos soldados descer para procurar o intendente. Ao mesmo tempo, outro legionário, a uma ordem do oficial, colocou os ladrões de costas para Jesus, estendendo a corda até o pé direito daquele. Mas antes de atar a corda em volta do tornozelo, o soldado dobrou a perna do Nazareno, prendendo-a com suas mãos enormes, tal como os ferreiros costumam fazer com as patas dos cavalos ao colocar ferraduras. E começou a desamarrar a primeira sandália.

 

Aquela brusca e inesperada manobra fez cambalear o gigante, que esteve a ponto de cair sobre o empedrado da praça-d'armas. O soldado que estava a seu lado pôde impedir a queda. Mas as imprecações da soldadesca e o entrechoque de seus peitorais e espadas chamou a atenção dos ladrões, que se voltaram ao mesmo tempo para o grupo, com tanta má sorte que um dos condenados, ao girar, atingiu duramente o romano mais próximo com sua viga, derrubando-o. O incidente incitou o resto da guarda, que atacou Dietas e o companheiro com chicotadas e pontapés.

 

O castigo prolongou-se até que o intendente e o legionário se aproximaram de Jesus de Nazaré. Tal como anunciara o responsável pela intendência da fortaleza Antônia, não havia sido fácil encontrar um patibulum suficientemente grande para a cruz do galileu.

 

Mas, por fim, devido à ajuda do soldado enviado pelo centurião, o intendente havia conseguido localizar um pesado tronco de oliveira, de uns sessenta quilos de peso e quase 1,70m de altura. Aquele seria suficiente.

 

E a guarda se dispôs a colocar o patibulum sobre a nuca e os ombros do Nazareno.

Enquanto um dos legionários sujeitava em forma de cruz os braços do condenado, outro colocava o tronco. E, com extrema diligência e precisão, mais dois soldados foram amarrando o tronco aos pulsos, braços e axilas. A operação foi perfeita, ficando a corda, em sucessivas e apertadas voltas, atada ao peito de Jesus. Desta forma o patibulum ficava firmemente preso ao condenado. Uma segunda corda ligou por fim os três troncos que os judeus carregavam. Estava tudo pronto.

 

Jesus, sob o peso do patibulum, aparecia agora encurvado e com as pernas ligeiramente fletidas. A túnica, esmagada pelo grosso tronco, acabara por tingir-se de vermelho. E os longos cabelos deslizaram até o rosto, ocultando-o quase por completo. Jesus tentou em vão levar atrás a cabeça. Cada vez que tentava, os espinhos afiados como adagas eram pressionados pela madeira, cravando-se no couro cabeludo.

 

E quase às cegas começou a seguir os dois condenados que o precediam. Mas seus passos, vacilantes e lentos, foram percebidos de imediato pelo centurião que marchava à frente dos vinte legionários designados pelo procurador para conduzir condenados até o chamado Gólgota, a colina do Crânio.

 

As turbas de judeus esperavam a passagem da comitiva, e seus ânimos e maneiras não infundiam excessiva confiança aos romanos. Daí que tivesse sido triplicada a guarda habitual para esses casos.

 

Ao atravessar o corpo de guarda, o ladrão que abria o cortejo deu uma cusparada nos romanos que observavam a passagem dos condenados. E o centurião encarregado da custódia partiu sobre o judeu, aplicando uma duríssima pancada na genitália do prisioneiro. A violência do golpe fez o ladrão cair por terra, arrastando Dimas e, por fim, Jesus.

 

Os soldados, acostumados a este tipo de queda em cadeia, reagiram no mesmo instante, forçando-os a levantar à força de chicotadas e sonoros pontapés em costelas e ventres. Aos poucos, e não sem ingentes esforços, os dois primeiros conseguiram se erguer. Mas não o Nazareno, que permanecia esmagado pelo peso do patibulum.

 

Como Jesus não reagia às novas chicotadas, um dos guardas o aferrou pela barba, puxando-a com raiva. O gesto foi tão violento que o romano arrancou um tufo e o Nazareno voltou a cair pesadamente, seu rosto batendo contra as lajes. O sangue se derramou aos borbotões sobre o corredor. O centurião exigiu silêncio. E, junto com outros legionários, foi ver o Nazareno, que estava imóvel, preso sob o patibulum e banhado em suor e sangue.

 

- Não vai resistir - comentou um dos soldados.

 

- Está bem! - ordenou o oficial. - Colocai-o de pé!

 

Com a respiração entrecortada, o galileu foi erguido e apoiado por vários romanos. O sangue continuava brotando dos ferimentos e as mãos, por causa das fortes ligaduras, começaram a arroxear. Mas o centurião não parecia disposto a perder o dia inteiro com aquele tedioso assunto e mandou seguir até o interior do pretório. Já a caminho da Porta Judiciária, e pouco antes de iniciar a íngreme descida desde a fortaleza até as muralhas da cidade, a guarda se viu obrigada a desembainhar as espadas. Centenas de judeus, instigados pelos sumos sacerdotes e anciãos, esperavam a passagem do Nazareno, vociferando e gesticulando de forma ameaçadora das ruas e terraços. Algumas mulheres jogaram pelas janelas urina e excrementos sobre a comitiva.

 

O oficial apressou então o passo dos prisioneiros amarrados que se entrechocavam, às vezes golpeando a multidão que se apinhava de ambos os lados das estreitas vielas de Jerusalém. Num daqueles arrancos, o galileu perdeu de novo o equilíbrio, caindo e obrigando a cortejo a parar. Como era o costume naquelas circunstâncias, a escolta cercou os presos mais estreitamente, de frente para a multidão e com as armas preparadas. Mas as pedras e frutas podres continuavam caindo sobre soldados e condenados.

 

- Ele está perdendo muito sangue - informou um dos legionários ao oficial após examinar Jesus, que permanecia por terra, esmagado sob aqueles sessenta quilos.

 

0 centurião o observou com crescente preocupação. O Nazareno, com a bochecha esquerda sobre a arei amarelada que cobria a rua, respirava agitadamente. A cada aspiração e expiração, Jesus levantava uma minúscula nuvem de pó.

 

Logo se fez silêncio entre os judeus. O centurião ha sacado sua espada e, com um gesto grave, abriu caminho entre os soldados, caminhando até a multidão, que retrocedeu de imediato. Fazendo sinal com a ponta da arma a um dos mais corpulentos curiosos, instou-o a se aproximar.

 

O judeu, conhecido como Simão de Cirene, que voltava de seu trabalho no campo, foi obrigado, tal como determinava a praxe romana, a carregar o patibulum de Jesus de Nazaré. Uma vez desamarrado, o Nazareno foi posto de pé e o cortejo retomou seu caminho.

 

Simão, um homem simples e afastado das intrigas dos fariseus, aceitou a ordem do centurião sem o menor protesto. Aquilo, depois de tudo, era algo extraordinário na rotina de sua vida. E ele caminhou atrás do "profeta", de quem já ouvira falar.

 

Ao ultrapassarem as altas muralhas da cidade, Jesus de Nazaré, um pouco mais recuperado, começou com os demais soldados e condenados a ligeira subida até o penhasco do Crânio, que se erguia a pouco mais de trezentos metros acima de Jerusalém.

Dimas ficou paralisado pelo terror ao divisar no alto da colina várias estacas cravadas na terra. Eram os stipes, ou estacas verticais das cruzes, rematadas por amplas vergônteas nas quais seriam encaixadas as vigas que agora carregavam.

 

Um grito quase animalesco escapou da garganta do meliante, alarmando toda a escolta e as pessoas que, em numeroso grupo, seguiam os romanos a prudente distância.

 

Dimas se recusou a caminhar. E foi preciso açoitá-lo até o sangue brotar por entre os fios de suas roupas para que concordasse, quase maquinalmente, em seguir em frente. A partir daí, suas lágrimas e seus gemidos tornaram-se constantes.

 

Foi naquela pausa forçada que algumas mulheres, em prantos e lamentos, se destacaram da multidão e tentaram se aproximar de Jesus. Mas foram impedidas pelos legionários. O Nazareno, voltando-se para elas, disse, com voz entrecortada:

 

- Filhas de Jerusalém! Não choreis por mim! Chorai, isso sim, por vós e por vossos filhos! Porque eis que virão os dias em que se dirá: bem-aventuradas as estéreis, os ventres que não geraram e os seios que não amamentaram!

 

Um dos soldados tentou calar Jesus, mas o centurião, que ouvia atento, o impediu. E o galileu concluiu:

 

- Então começarão a dizer aos montes: caí sobre nós! E aos outeiros: cobri-nos! Porque, se à lenha verde fazem isto, o que se fará à lenha seca?

 

E Jesus ficou em silêncio, prosseguindo em seu caminho até o Gólgota.

 

         "ARRANCARAM-LHE TUFOS DE BARBA"

 

Os médicos que examinaram o pano guardado em Turim concordam num fato: o "homem" coberto há dois mil anos com aquele sudário carregou algo muito pesado sobre os ombros.

Sobre o ombro direito - região supraescapular e acromial direita - "vê-se uma vasta área escoriada e contusa, de forma quase retangular, que se estende meio obliquamente de cima a baixo e de fora adentro, de uns 10X9cm. Outra área de iguais características é observada na região escapular esquerda".

 

E prossegue o Dr. Cordiglia, catedrático legista: "Um exame atento das duas áreas nos revela que sobre ele gravitou, embora fosse através de alguma peça de vestuário, um instrumento enrugado, de peso considerável, movível e friccionante, de uns quatorze centímetros de espessura, que aplanou, deformou e tornou a abrir as lesões produzidas pela flagelação, lacerando os lábios das feridas e produzindo outras. Este conjunto traumático de contusões e escoriações induz a pensar que foi causado pelo patibulum (viga transversal da cruz) que o condenado sustinha com ambas as mãos sobre os ombros (região supraescapular) em seu trajeto para o local do suplício."

 

Este fato - demonstrado, insisto, cientificamente - rompe de certo modo com a tradicional imagem de Jesus com a cruz nas costas. Segundo os cálculos dos peritos, esta viga transversal que Jesus carregou sobre os ombros podia medir entre 1,60 e 1,70m, com um peso aproximado de sessenta a setenta quilos. Há outras surpresas, porém.

 

Os cientistas da NASA deduziram - pelas marcas que aparecem no pano de Turim - que o tornozelo direito do Nazareno foi amarrado com uma corda. Uma corda que, sem dúvida, uniria todos os condenados, evitando assim uma possível fuga. Esta estreita união entre Jesus e os dois ladrões foi o que, talvez, causou as quedas. E, quanto a isto, os médicos afirmam:

 

"Os tornozelos oferecem um notável interesse (referem-se aos do Sudário de Turim). O direito, além de ter mais contusões, apresenta inúmeros desgastes de tamanho variado, de aspecto e forma pouco definidos. Estas lesões", concluem os relatórios clínicos, "por sua direção e situação determinada, nos indicam como puderam se produzir: ou seja, acusam a ação descontínua de um agente escoriador e feridor, que poderia ter sido um terreno acidentado contra uma superfície cutânea convexa, um joelho, sobre o qual a ação lesiva foi atenuada pela interposição de objeto macio, como um tecido, uma vestimenta."

 

Por fim - e também à luz dos achados dos comandantes da NASA, Jumper e Jackson - temos tido notícia da falta de tufos de pêlo na barba de Jesus de Nazaré. Segundo os cientistas, estes tufos só poderiam ser arrancados pela raiz, possivelmente por algum dos legionários romanos.

 

         SEXTA-FEIRA, 11:30

         0 CARRASCO, UM ESPECIALISTA

 

Sucedeu que Jesus tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago, e subiu ao monte a orar. E estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e seu vestido ficou branco e mui resplandecente. E eis que f lavam com ele dois varões... " (Lucas, 9, 28-30). "E desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra, e saiu da nuvem uma voz que dizia... " (Marcos, 9, 7).

 

Sem pronunciar nenhuma palavra, Simão de Cirene deixou cair a viga ao pé das três estacas de quase três metros que, desde a invasão romana, haviam sido profundamente cravadas na terra e utilizadas habitualmente pelos estrangeiros para execuções. Depois, Simão se retirou em direção às altas muralhas da Cidade Santa. Sabia o que aguardava aqueles infelizes e fazia questão de afastar-se o quanto antes.

 

Aproximava-se a hora sexta e o sol havia transformado a brilhante cúpula do segundo templo de Jerusalém numa montanha mágica coberta de neve. Por trás da torre de Davi, o Nazareno, ainda em pé, pôde ver, quase perceber, o Cédron com suas águas planas, recortando os pequenos bosques de tamarineiros e choupos. E talvez seu coração tenha voado aos galhos do Getsêmani e às restantes árvores de alcaçuz e rícino, tão solitárias a partir daquela hora...

 

Mas os lamentos crescentes dos que acompanhavam o cortejo o trouxeram de volta à realidade. Cada salteador foi libertado de seu patibulum. E enquanto um dos soldados lhes arrancava os andrajos, o resto dos romanos formou um círculo em torno dos condenados, situando as pontas das lanças a tão curta distância de seus corpos que, no caso de tentativa de fuga, seriam fatalmente trespassados.

 

Dimas, gemendo como um menino, cobriu instintivamente o baixo-ventre. E todo o seu corpo se viu sacudido por calafrios e contrações. Os dentes não demoraram a chocalhar, e um fétido odor fez os legionários olharem para a parte posterior das coxas do ladrão, por onde seus excrementos começaram a escorrer.

 

Uma torrente de insultos e escárnio desabou sobre ele...

 

O pavor havia garroteado Dimas, que, numa última tentativa para fugir da realidade, fechou os olhos, chorando e suplicando.

 

A uma ordem do centurião, parte dos soldados desce cerca de cinqüenta passos do liso penhasco do Crânio. E depois utilizando suas lanças, eles impediram que a multidão curiosos - entre os quais se achavam os sumos sacerdote familiares de Jesus - desse um passo sequer até o local da execução.

 

Quando, ao cabo de alguns segundos, voltou a abri-los, o ladrão tinha diante de si mãos nodosas e brancas que lhe ofereciam uma vasilha de barro. Era uma anciã de rosto e olhos abatidos, coberta por uma manta negra. E, junto a ela, outras três mulheres de Jerusalém, carregando recipientes idênticos.

 

- Se queres, podes beber - disse o centurião.

 

E o condenado, trêmulo, aproximou a vasilha dos lábios. E, consciente do que aquilo significava para ele, bebeu até o fim a mistura verde-amarelada formada pelo fel e o vinagre.

O mesmo se deu com o segundo salteador quando outra das mulheres lhe ofereceu a mesma beberagem. Mas este, não podendo suportar as náuseas, terminou vomitando tudo o que havia ingerido. Uma terceira mulher se acercou do Nazareno, que ainda não havia sido despojado de suas vestes. Ela levou até seu rosto uma cuia com uma não menos abundante ração do pastoso anestésico.

 

Mas Jesus, após levar a cuia aos lábios, devolveu-a à mulher, negando-se a beber. Sem perda de tempo, os legionários obrigaram Dimas a deitar no chão, de modo que suas costas ficassem apoiadas no patibulum. E cada braço foi estendido e colocado ao longo da madeira por outros tantos romanos. Em nova tentativa para escapar, o prisioneiro atingiu com os pés um terceiro soldado, o qual - munido de um martelo e uma bolsa com cravos - dispunha-se a crucificá-lo.

 

No limite de sua paciência, o oficial empunhou uma lança e assestou com a haste um golpe certeiro na testa do ladrão. Aqueles minutos de hesitação por parte de Dimas foram aproveitados pelo carrasco, que, afundando o joelho esquerdo no diafragma do comocionado judeu, colocou-lhe um grosso cravo no pulso direito, erguendo o martelo no ar.

 

Um violento impacto sobre a redonda e grossa cabeça do cravo fez com que este abrisse caminho facilmente entre ossos e tecidos, perfurando também a madeira. A dor intensa contraiu até o último músculo de Dimas. E um berro chegou às muralhas da cidade.

 

Mais duas marteladas certeiras fixaram definitivamente o pulso do condenado à extremidade direita do patibulum. O romano encarregado de segurar aquele braço abandonou sua tarefa, dirigindo-se a Jesus de Nazaré. E começou a desnudá-lo.

 

Uma vez pregado por ambos os pulsos, o peito de Dimas foi cingido com a mesma corda que servira para atar pelos tornozelos os três prisioneiros. E com ajuda de outros dois cabos, ligados às extremidades do patibulum, a guarda, colocando-se na parte de trás da stipes, preparou-se para içar o condenado até o alto da vergôntea, que deveria encaixar no molde da madeira transversal.

 

O oficial encostou uma escada de mão na face posterior da stipes e subiu até situar-se acima da vergôntea. E nesta posição, após descansar as cordas sobre as ombreiras de bronze de sua couraça, ordenou que seus soldados puxassem. Ao primeiro puxão, a madeira foi içada a um metro do solo. Mas o crucificado havia perdido a consciência e a operação pôde efetuar-se com relativa rapidez. Animando-se com rítmicos monossílabos, os legionários terminaram por içar o patibulum e, com ele, o desfalecido corpo de Dimas. A cada puxão dos soldados, um jorro de sangue manava por entre os cravos, empapando a base da viga vertical, assim como boa parte do penhasco.

 

O patibulum chegou até o centurião e este, controlando-o com mãos e tórax, o acoplou à vergôntea. As cordas foram retiradas do corpo e da madeira e o legionário que havia martelado os pulsos do ladrão se dispôs a fazer o mesmo com os pés, que pendiam de ambos os lados da stipes.

 

O carrasco, perito nesse mister, a julgar pela precisão de seus movimentos, levou à boca um dos cravos de meiaquarta e ali os reteve entre os dentes, enquanto, com ambas as mãos, Puxava com força até abaixo do pé direito de Dimas. E, forçando-o, ajustou a planta do pé à superfície da madeira.

 

Com um som quase ininteligível e um brusco movimento de cabeça, o soldado deu a entender a seu companheiro mais próximo que segurasse com força aquele pé, tal e como ele o fazia.

 

Com aquela manobra, o ossinho do tarso se tornou perfeitamente visível sob a pele. E o romano, que tinha o pé do condenado ao nível de seus olhos, colocou o cravo sobre aclara referência do astrágalo - e desferiu a martelada. O cravo penetrou obliquamente: da frente para trás até abaixo, pregando-se com firmeza na madeira.

 

A dor intensa tirou Dimas de seu desmaio. Abrindo os olhos até quase desorbitá-los, berrou com tal intensidade que até a guarda que impedia a passagem da multidão se virou para o Iocal do suplício.

 

Aquele berro foi diminuindo e enfraquecendo, e o condenado começou a bater o crânio contra a cruz, numa desesperada tentativa de acabar com o martírio.

 

Ao ser pregado o outro pé, o ladrão mergulhou outra vez na inconsciência. E todos sentiram-se aliviados...

 

Ainda que aqueles crucificações se repetissem com freqüência - em especial desde que a família Herodes chegou ao poder -, tanto os oficiais quanto a maior parte dos legionários romanos acabavam quase sem preangustia dos ante gritos e as longas horas de agonia de todos os crucificados.

 

Com o segundo ladrão, os problemas se tornaram m simples. Antes que o condenado se apercebesse da sua iminente crucificação e prevendo novas violências, o carrasco lhe assestou na base do crânio e pelas costas um seco golpe de clava. Aquilo o desacordou e os romanos se aproveitaram para fixar os pulsos no patibulum.

 

Jesus de Nazaré, sempre escoltado por um dos legionários, pôde ver como o judeu era içado também até o alto do tronco, tendo seus pés ali pregados. Quando o último cravo prendeu o calcanhar do ladrão à stipes, o carrasco retrocedeu um passo e - ainda com o martelo entre as mãos - perguntou-se se não teria exagerado na violência do golpe sobre a cabeça do prisioneiro.

 

Aquele homem não conseguia recuperar os sentidos. Mas o soldado, dando de ombros, girou nos calcanhares e, suarento, dirigiu-se ao Nazareno, ao mesmo tempo acenando, ameaçador, com sua ferramenta.

 

           SEXTA-FEIRA, 11:55

           ALGO FALHA: 0 CRAVO DO PULSO

           DIREITO NÃO ENTRA...

 

Dois dos legionários romanos seguraram Jesus pelos antebraços. E assim foi obrigado a caminhar até o pé da madeira vertical. A uma ordem do centurião - e ante a aparente docilidade do galileu -, um terceiro soldado desembainhou a espada e se dispôs a auxiliar o carrasco e seu companheiro na fixação do primeiro cravo. Sem a menor resistência, a guarda havia derrubado o prisioneiro, de modo a ficar com as largas e fortes costas sobre o patibulum.

 

O Nazareno, após sustentar sua cabeça no ar durante breves segundos, deixou-a cair por terra. E os espinhos, com o choque, fizeram nova penetração em seu couro cabeludo. Os olhos fecharam-se e os lábios do galileu tremeram levemente.

 

Enquanto um dos romanos segurava firmemente seu braço direito, já estendido sobre a madeira, um outro, de joelhos, fez o mesmo com o esquerdo. Este último soldado - a um sinal do carrasco, que já havia enterrado o joelho no esterno do condenado - aferrou com a mão direita a extremidade do antebraço, na altura da articulação do cotovelo, enquanto a esquerda estirava os dedos de Jesus, obrigando-o a manter as mãos totalmente abertas.

 

Logo os legionários perceberam que todas aquelas precauções eram excessivas no caso do chamado "rei dos judeus". E se entreolharam, intrigados.

 

Aquele homem não externava o menor sinal de medo ou nervosismo. Deixava-se levar. Com uma martelada tão certeira quanto nas crucificações anteriores, o soldado, que bloqueava o tórax de Jesus com seu joelho, introduziu o primeiro cravo na parte interna do pulso esquerdo. Como ocorrera nos dois casos precedentes, a cabeça do cravo se dirigiu até os dedos do Nazareno, e a ponta, já dentro da madeira, na direção do cotovelo.

 

Ao trespassar os tecidos, a fortíssima dor fez Jesus levantar a cabeça. E um leve gemido escapou até o rosto empoeirado e curtido do carrasco. Durante segundos, a guarda, num silêncio expectante, pôde observar as brancas e perfeitamente alinhadas fileiras de dentes do crucificado, agora crispados num ricto de dor. O sangue brotou no mesmo instante, embora não tão abundante como nas perfurações dos ladrões. E, muito lentamente, os olhos do Nazareno voltaram a se encher de lágrimas, enquanto sua cabeça caía novamente sobre a terra. E todos puderam ouvir as palavras:

 

- Perdoai-os, Pai, porque não sabem o que fazem!...

 

E as pessoas aglomeradas na ladeira junto ao Gólgota rugiram. A batida do martelo sobre o primeiro pulso do profeta as açulou a vociferar mais uma vez contra Jesus.

 

Alguns até pegaram pedras para jogar sobre o Nazareno. Mas a guarda, brandindo as lanças, obrigou-os a desistir dessa atitude. O carrasco, num gesto maquinal, tirou um segundo cravo da bolsa presa às suas correias. E, sem maiores cerimônias, posicionou-o entre as veias azuladas do pulso direito do réu. E vibrou a martelada na cabeça do cravo... O lamento de Jesus foi agora diluído pela imprecação do romano. O cravo, ante a surpresa geral, havia parado a meio caminho. E sobressaía amplamente por cima do pulso ensangüentado.

 

O carrasco não conseguia entender e, com raiva renovada, desferiu novo golpe. Ao mesmo tempo, um jorro de sangue salpicou o legionário que segurava o braço de Jesus. O soldado se recompôs praguejando. Algo estranho - isso estava claro para o carrasco - fechava o caminho do afiado cravo.

 

Com um gesto de contrariedade, o encarregado da crucificação se dirigiu aonde estavam guardados os suprimentos da escolta. O que procurava devia estar no fundo do saco. E, efetivamente, se viu obrigado a retirar primeiro as Papas, bolachas, legumes e queijo reservados para a ceia, a fim de alcançar as tenazes.

 

Ante uma tal situação, o melhor para todos era despregar o pulso. E o carrasco, parcimoniosamente, retornou ao local das cruzes. O segundo ladrão havia recobrado a consciência e estremecia com espasmos de dor.

 

O Nazareno conseguira desconcertar toda a guarda. De sua garganta - ao contrário do que ocorria com os Condenados crucificados à direita e à esquerda - só haviam escapado alguns lamentos. E, contudo, o garroteamento de seus dedos e a posição em ângulo reto de seus polegares eram um claro indício do bárbaro castigo a que estava sendo submetido por seus verdugos. O oficial necessitou de todas as suas forças para sustentar durante alguns segundos aquela pesada viga e o não menos pesado corpo que pendia das extremidades. Trêmulo, com as mandíbulas e as artérias do pescoço salientes, o centurião centralizou o vão do patibulum sobre a vergôntea da stipes, deixando-o cair de imediato. Ao encaixar-se, a viga transversal ficou imóvel, e o carrasco - que contemplava a operação do posto a pregar os pés - viu como os oitenta quilos do Nazareno foram violentamente travados em sua queda elos ferros que atravessavam seus pulsos.

 

Aquela chicotada de dor fez Jesus abrir os olhos. Mas, embora sua boca ficasse aberta e as pupilas fixas no horizonte, ninguém pôde ouvir o menor queixume. Seu olho direito já se fechara por completo devido aos golpes, e os lábios, violentamente abertos, se escureciam, tomados moscas. pelas Após uns segundos de espera, o carrasco sentiu-se satisfeito com a primeira parte de seu trabalho. E aproximou-se dos pés daquele que estava sendo justiçado.

 

E tal como fizera com os crucificados anteriores, furou primeiro o pé direito. A pressão exercida sobre o peito do pé para nivelar a sola contra a madeira, estirou até embaixo todo o lado direito do Nazareno. Seu ombro ficou literalmente afundado, e as costelas se desenharam sob as chagas, retesados como a corda de um arco.   

 

Como era habitual neste tipo de crucificação, não foi possível esticar por completo a perna esquerda, que caiu levemente flexionada.

 

Duas imensas poças de sangue logo cobriram o escasso metro de madeira que separava os pés do galileu do buraco onde havia sido enterrada a stipes.

 

       SEXTA-FEIRA, 12:30

       0 SUPERSTICIOSO RECEIO DO PROCURADOR

       RELATÓRIO DOS ESPECIALISTAS

       "NÃO HOUVE ECLIPSE DO SOL"

 

Sem qualquer explicação, o límpido azul do céu de Jerusalém se tornou escuro. E uma repentina treva tudo inundou. Mas nenhum dos presentes - nem a guarda nem a multidão - conseguia vislumbrar nuvens de tempestade no céu...

 

E os demais consideraram aquele sinal um presságio de grandes e iminentes males. Boa parte dos que assistiam às crucificações se afastou temerosa do Gólgota, e as ruas da cidade se viram muito percorridas por pessoas que comentavam o fato com espanto. Muitas casas acenderam velas e lâmpadas de azeite antes da hora normal.

 

O acontecimento chamou inevitavelmente a atenção do procurador Pôncio Pilatos, que, naqueles momentos da hora sexta, despachava de novo com os sumos sacerdotes dos judeus. Estes, com evidente indignação, tinham vindo até o pretório para protestar junto a Pilatos por causa da tabuleta de madeira que o centurião acabava de pregar na parte central do patibulum, pouco acima da cabeça do Nazareno.

 

Um dos escribas do procurador havia gravado, da direita para a esquerda, em hebraico, latim e grego, a seguinte inscrição: "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus."

 

O romano, porém, mais preocupado com a alarmante escuridão que cobria Jerusalém do que as queixas dos judeus, dispensou-os com frieza, dando uma única resposta:

 

- O que está escrito, assim será.

 

O procurador, profundamente supersticioso, mandou chamar à fortaleza os astrônomos e cientistas da cidade, que se reuniam para as festas da Páscoa, e pediu-lhes que explicassem aquele singular fenômeno. Mas ninguém soube dar-lhe uma explicação convincente. Somente alguns mais audazes insinuaram a possibilidade de que "aquela treva antes do crepúsculo fosse sinal de um importante acontecimento".

 

E Pôncio Pilatos dirigiu seu olhar para a colina que os judeus chamavam de Gólgota e que mal podia ser vista dos arcos do palácio. E, sem poder ser tranqüilizado, o romano associou aquela insólita escuridão ao homem que condenara à morte e que todos conheciam como Jesus. Mas estes pensamentos calaram fundo no coração de Pôncio Pilatos e ninguém jamais soube de seu pressentimento...

 

Para os astrônomos não resta a menor dúvida de que nas citadas horas, enquanto Jesus de Nazaré permanecia na cruz, não houve nenhum eclipse solar. Esta possibilidade ficou total e absolutamente descartada.

 

Vejamos o que me disse o eminente astrofísico, o jesuíta Antonio Romaná, diretor do Observatório do Ebro, quando o consultei sobre esta teoria:

 

"...É absolutamente certo que no momento da morte de Nosso Senhor não se produziu nenhum eclipse do Sol, nem total nem parcial, pois, para que possa ocorrer este fenômeno, temos que estar na lua nova, e o 14 do Nissan ou seja, o dia da Páscoa dos judeus, coincidia com a lua cheia, isto é, a posição totalmente oposta da lua. Isto não oferece nenhuma dúvida."

 

O que pode ter sido então aquele escurecimento parcial da Cidade Santa e de seus arredores? Porque, embora os evangelistas façam alusão a que as "trevas cobriram terra", é de se supor que tal escurecimento afetasse única mente o lugar onde se desenrolava a crucificação do Nazareno. Do contrário, teriam restado outros testemunho históricos e astronômicos nesse sentido em inúmeras cidades... e não foi assim.

 

         SEXTA-FEIRA, 13:00 DADOS DE MARFIM

 

Antes de guardar os cravos e demais ferramentas utilizadas no suplício, o carrasco inspecionou, um por um, o três crucificados. Apesar das convulsões, os cravos continuavam firmes no lugar.

 

"Esta escuridão", pensou o legionário, "nos aliviará do rigor das últimas horas de sol..." Finalmente, parou diante do galileu. A respeitável altura do judeu e seu peso considerável faziam-no temer pela estabilidade da cruz.

 

As feridas no pulso direito - ainda mais descarnadas e exageradas que as do esquerdo - não faziam recear uma ruptura iminente. O cravo, apesar de ter sido extraído e pregado de novo entre os ossinhos do carpo, parecia, aos olhos do carrasco, solidamente pregado na madeira.

 

Como sempre, uma nuvem de moscas e insetos zumbia e se agrupava sobre as chagas e coágulos de sangue, submetendo os condenados a uma nova e angustiante tortura...

Foi então - uma vez concluída a crucificação do Nazareno - que o centurião autorizou os soldados a dividirem os pertences e roupas dos condenados, tal como era o costume.

 

Se a roupa dos salteadores era pobre e minguada, a ponto dos legionários rejeitarem aqueles farrapos, a do Nazareno, em compensação, despertou a cobiça de todos. E coube ao próprio oficial fazer a partilha: as sandálias para um, e o largo e leve manto de algodão para dividir entre o resto da guarda que trabalhara nas crucificações. Quando chegou a vez da túnica, o carrasco fez notar a sua qualidade. Na verdade, uma excelente prenda. Sem costuras e tecida com esmero em uma só peça, de cima a baixo.

 

- Não a rasguemos - disseram. - Vamos tirar a sorte para ver quem fica com ela...

 

E assim foi. E os inseparáveis dados de marfim dos legionários apontaram o ganhador.

 

Passadas as primeiras horas de histeria e nervosismO por parte da turba que havia pedido a morte do Nazareno , o centurião ordenou aos infantes que haviam guarnecidO a encosta do Gólgota o seu retorno à fortaleza Antônia.ll junto às cruzes permaneceriam apenas quatro legionário% e o próprio oficial. O carrasco, por seu turno, também desceu até as altas muralhas de Jerusalém que, em conseqüência da inesperada escuridão, começaram a ser iluminadas com tochas desde as torres de vigilância.

 

Alguns grupos de fariseus e curiosos, contudo, prosseguiram injuriando e ultrajando o Nazareno. E escarneciam dele, gritando das faldas do penhasco do Crânio:

 

- Salvaste a outros... Agora salva-te a ti mesmo, se' és o Cristo de Deus, o Eleito!

 

Mas conforme se aproximava a hora do descanso do sábado, as pessoas foram se retirando e os escárnios cessaram.

 

E enquanto os soldados se sentavam em torno dos crucificados, à espera da rendição, um dos malfeitores que havia sido pregado ao lado de Jesus de Nazaré insurgiu-se contra ele, dizendo:

 

- Não és Cristo?... Pois salva-te a ti mesmo e salva nos também!...

 

Mas o Nazareno continuava com os olhos semicerrados, já acusando o acometimento da incipiente asfixia. Se rosto, como o dos ladrões, apresentava uma tonalidade avermelhada. E o suor tornava mais brilhantes os coágulos

 

Cada golfada de ar era conquistada depois que ele se espichava sobre os cravos dos pés. E aquela dor lacerante percorria as extremidades e ventre dos crucificados, transformando seus músculos e nervos em pacotes de ferro que dificilmente podiam ser distendidos.

 

E o escasso oxigênio que lhes chegava aos pulmões se via queimando antes do tempo pelos alaridos dos infelizes. Mais de uma vez os legionários comentaram com o centurião a singular resistência daquele judeu de Nazaré - o "rei" -, que ainda não abrira os lábios para proferir um só grito.

 

Foi Dimas quem reprovou o ladrão que insultava Jesus:

 

- Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença?... E nós com justiça, pois fizemos por merecer... Por outro lado, esse aí nenhum mal cometeu...

 

E, dirigindo-se ao Nazareno, rogou entre gemidos:

 

- Jesus... recorda-te de mim quando vieres com teu reino!

 

Com as veias túrgidas pelo galopante bombear do coração, Jesus levantou a cabeça e respondeu a Dimas:

 

- Eu te asseguro: hoje estarás comigo no Paraíso.

 

         SEXTA-FEIRA, 14:30

         UM DENÁRIO PARA SE APROXIMAR DE JESUS

 

O vinagre com mirra havia começado a fazer efeito. E os salteadores que haviam sido crucificados de ambos os lados de Jesus, e que beberam dele, caíram num profundo torpor.Seus esfíncteres, paralisados, haviam deixado escapara urina e as fezes, e o odor em torno dos três homens já era insuportável.

 

Apesar da queda de sua pressão arterial e da angustiante falta de oxigênio em seus pulmões, Jesus de Nazaré dava porém tal sensação de vigor que o centurião, prevendo uma possível ordem do procurador para apressar a morte do judeu, ordenou a dois dos seus soldados que recolhessem lenha suficiente para provocar ao pé da cruz uma fumaceira que acabasse de asfixiar o condenado.

 

E assim fizeram os legionários.

 

Estavam em meio à tarefa quando se aproximaram d mulheres. Uma, Maria Madalena, era sobejamente conhecida e popular entre a tropa romana por sua antiga profissão de mulher pública. E Maria Madalena, mais decidida que a outra, pôs nas mãos dos soldados um denário de prata rogando-lhes que falassem com seu oficial a fim de que permitisse à mãe de Jesus de Nazaré e a um reduzido grupo de familiares chegarem aos pés da cruz. E tanto insistiu Maria Madalena que os romanos, após guardarem a moeda concordaram em fazer o pedido a seu superior.

 

E mais por curiosidade e divertimento que por com compaixão, o centurião deu sua autorização, e um escasso grupo de mulheres - entre as quais destacava-se um rapaz, João que caminhou pressuroso até chegar ao alto do penhasco e algumas das mulheres, tais como a irmã da mãe do Nazareno, Maria, mulher de Cleófas, e a própria Madalena, ficaram de joelhos na ensangüentada esplanada e, ocultando rostos entre as mãos, choraram amarga e silenciosamente e Maria, a mãe do galileu, permanecia de pé junto a ela, confortando-a entre seus braços, João.

 

O centurião, a curta distância, observou o rosto daquela judia. E ainda que ninguém o tivesse anunciado, soube desde o primeiro instante que se tratava da mãe do crucificado. Apesar de seus escassos cinqüenta anos, os traço rosto conservavam todavia uma primitiva beleza que, a teria distinguido, sem dúvida, do resto das mulheres de sua comunidade.

 

Os pensamentos do oficial foram cortados de súbito ao ouvir as palavras do Nazareno. Este, apesar da progressiva perda de visão, havia fixado suas dilatadas pupilas na figura da mãe e do rapaz que a acompanhava. E, tentando controlar as cãibras e as convulsões cada vez mais freqüentes, ele disse, entre longas e atormentadas pausas:

 

- Mulher... aí tens... teu filho... aí... tens... tua mãe!

 

As sobrancelhas, barba, fossas nasais e cabelos do galileu se haviam coberto de poeira com o passar das horas. O suor era tão intenso que banhava por completo o corpo desnudo do moribundo, refletindo desde o seu diafragma em movimento à luz avermelhada das tochas que a guarda colocara ao redor.

 

O centurião tentou descobrir alguma lágrima nas faces da mãe do Nazareno. Mas o rosto da mulher parecia sereno, como que absorto. E o romano chegou a pensar que aquela hebréia, de alguma forma, sabia desde muito tempo que Jesus terminaria assim, asfixiando-se e esvaindo-se em sangue diante da cidade santa.

 

A julgar pelo leve adejar de seu queixo e dos lábios pálidos, o centurião deduziu o quanto era profunda a sua aflição. E sentindo admiração pela integridade daquele espírito, ordenou aos soldados que não os molestassem.

 

         SEXTA-FEIRA, 14:50

         HORA NONA: VOLTA A CLARIDADE

 

O centurião aguçou os ouvidos. E ordenou silêncio a seus homens e às mulheres que continuavam soluçando aos pés do crucificado.

 

A guarda instintivamente levou as mãos às empunhaduras das espadas e tratou igualmente de localizar um possível inimigo ou intruso. Mas nenhum deles foi capaz d descobri-los. As curtas encostas do Gólgota continuava tranqüilas.

 

Foi o oficial, após certificar-se, quem assinalou aos legionários o inusitado silêncio que, de imediato, havia caído sobre o penhasco e, inclusive, sobre toda Jerusalém. E os soldados, após uns segundos de escuta, assim ratificaram.

 

As corujas que se aninhavam no monte Sião e nas defesas próximas ao palácio de Anás haviam guardado um silêncio total. E o mesmo ocorria com as centenas de av que chegavam a cada entardecer às margens do Cédron. outro tanto com as miríades de insetos dos campos vizinhos à cidade. Foi muito perto da hora nona (até as três da tarde) que o Nazareno, fazendo um titânico esforço sobre seus pés com o peito a ponto de rebentar e os lábios abertos pela sede, clamou em voz bem alta:

 

- Eli, Eli...! Lemá sabactâni? (Meu Deus, meu Deus! Por que me abandonaste?)

 

Dito isto, o galileu caiu em novo ataque convulsivo. E dezenas de moscas se despregaram momentaneamente de suas feridas, para pousar quase no mesmo instante sobre as poças de sangue ressecado. Os soldados trocaram olhares e comentaram com indolência:

 

- Agora está chamando Elias...

 

E Jesus voltou a falar:

 

- Tenho sede!

 

Um dos legionários se aproximou então da vasilha que continha a apreciada posta e submergiu uma esponja na mistura de vinagre e água. Colocando-a na ponta de um ranide hissopo, dirigiu-se a Jesus. Mas outros soldados tentaram dissuadi-lo, dizendo-lhe:

 

- Deixa... Vamos ver se Elias vem salvá-lo.

 

Contudo, o soldado levou a esponja aos lábios do Nazareno. E este bebeu da esponja.

 

Imediatamente, o ventre do crucificado palpitou com força e uma sufocação mais intensa surgiu em seu rosto, com forte voz, voltou a dizer:

 

- Tudo está cumprido!

 

Todos presentes observaram como o gigante inclinava a cabeça de chofre. E todo seu corpo ficou como morto...

 

Naquele instante - a hora nona -, as trevas que cobriam o lugar foram se dissipando. E as tochas foram apagadas. E os campos recobraram seus sons, e as aves voaram novamente sobre a Porta Dourada e sobre as hortas.

 

E enquanto os céus se abriam e deixavam passar a luz do entardecer, a terra estremeceu sob os pés dos soldados e das mulheres e dos que passavam a caminho da cidade.

       

O penhasco do Gólgota se abriu e pouco faltou para que uma das cruzes desabasse. As mulheres retrocediam, assustadas, e o centurião, movendo a cabeça afirmativamente, comentou quase que para si:

 

- Na verdade, este homem era inocente!

 

       RELATÓRIO DOS ESPECIALISTAS

       "FOI PRECISO DESPREGÁ-LO"

 

Quando, ao investigar a vida de Jesus, conheci o costume de algumas mulheres notáveis e piedosas de Jerusalém de proporcionar uma bebida - metade anestésica, metade embriagante - aos condenados, não pude reprimir um sentimento de admiração por aquele galileu chamado Jesus. Que ser humano, consciente do horroroso suplício que o aguardava, não teria feito o mesmo que os ladrões? Quem teria resistido a tomar até mesmo a borra daquela beberagem?

 

O Nazareno, isto está claro, tinha de saber a ação indulgente daquele vinho ou vinagre misturado com fel ou mirra.

 

Mas passemos aos últimos achados dos especialistas e cientistas da NASA relativos a estas últimas horas da crucificação do homem que foi envolvido no pano de Turim.

 

E a primeira coisa que lhes chamou a atenção foi o relevo do pulso esquerdo...

 

O veredicto pericial foi conclusivo:

 

"A disposição das manchas inequivocamente afirma, e confirma, que o homem que deixou sua impressão no Sudário foi crucificado não pelas palmas das mãos, mas sim pelos pulsos..."

 

O fato - a partir do ponto de vista médico - resulta totalmente lógico.

 

"Um cravo atravessando a palma", assegura o notável Dr. Cordiglia, "não teria conseguido sustentar, pregado a ele, um corpo de seus oitenta quilos (o peso estimado de Jesus). Quer dizer, com uma força de oitenta quilos em cada braço."

 

Para o eminente cirurgião Barbet - que testou mais de dez transfixões ou perfurações nos pulsos de braços recém-amputados -, esta circunstância se apresenta igualmente clara:

 

Se é colocado um cravo de 1 cm' de corte contra a parede interna do pulso, basta uma martelada para atravessá-la. O ferro resvala sem resistência, alterando ligeiramente sua direção. A ponta vai na direção do cotovelo e a cabeça fica orientada para os dedos. E a ponta emerge, atravessando a pele.

 

Este teste deu sempre os mesmos resultados. E graças a essa espontânea torcedura do cravo, se pôde evitar a fratura do ossinho do carpo chamado "semilunar". As radiografias tiradas pelo Dr. Barbet revelaram que o cravo entrava sempre no espaço denominado ponto de Destot.

 

E, como eu, muitos outros se aperceberam também de algo anormal: no pano de Turim não há forma de encontrar os vestígios dos dedos polegares do cadáver...

 

Um pensamento comum nos assaltou a todos: Será que haviam amputado os polegares?

 

Não podia ser...

 

A explicação chegou, como sempre, pela mão da ciência.

 

Com efeito, o polegar não é visível no Sudário. O que ocorreu foi que, mal o ferro atravessou as primeiras camadas moles do pulso, o polegar se dobrou, saltando até colocar-se atravessado em direção oposta às dos quatro outros dedos, que só se haviam dobrado ligeiramente.

 

E, chegado a este ponto, o relato do cirurgião se torna estarrecedor:

 

“Os nervos medianos - sumamente sensíveis - foram alcançados aqui pelo cravo. E ficaram lacerados e estirados pelo ferro, tornando-se retesados como cordas de violino...”.

 

"Isto deve ter provocado no torturado uma dor de paroxismo."

 

Segundo os médicos, este suplício desencadeara na quase totalidade dos mortais uma perda de consciência. A Natureza, na realidade, se "desentende". Eis aqui outro ponto realmente a considerar no comportamento de Jesus de Nazaré, se levarmos em conta que não existe certeza de que tivesse perdido a consciência em qualquer instante.

 

Há mais, porém.

 

A ferida no pulso esquerdo é a melhor definição. Tem forma oval e mede 15X19mm. Suas bordas são nítidas, e dois pequenos regueiros de sangue brotam obliquamente dela.

 

Esse sangue caía perpendicular ao solo quando os braços estavam pregados na cruz.

 

E os técnicos fizeram os seguintes cálculos matemáticos:

 

"O ângulo que formavam os ditos regueiros com o eixo do braço - 25 graus - nos permite deduzir, por se turno, o ângulo formado pelo braço do crucificado com viga vertical da cruz, ou stipes: 65 graus."

 

E por trás desta simples operação geométrica se esconde outra dramática verdade...

 

Uma vez pregados os pulsos no patibulum, ou viga transversal, este foi içado até ser encaixado na vergôntea da viga vertical. Esta operação, não resta dúvida, provocou a queda do peso do crucificado até que foi freado pelos ferros que atravessavam seus pulsos.

 

A dor, segundo os médicos, deve ter sido insuportável

 

E os matemáticos arrematam:

 

“A freada deixou o braço retesado num ângulo de 6 graus com a viga vertical. Se dividirmos o peso do co entre os dois braços - quarenta quilos para cada um a força de tração exercida sobre o braço equivale a: 40/ cos. 65 = 40 : 0,4226 = uns 95kg”.

 

Segundo os médicos, as hemorragias na perfuração do pulso esquerdo não devem ter sido muito copiosas. O mesmo cravo, possivelmente, produziria a hemostase ou estiramento do sangue, ficando bloqueada a ferida. Mas se o sangue não manava fartamente, as dores deviam ser terríveis...

 

Mas os especialistas e peritos legais que analisaram o Sudário de Turim ficaram surpreendidos quando chegaram aos relevos dos dedos da mão esquerda.

 

O que havia ocorrido ali? Por que apresentavam esse excessivo alargamento? -

 

A conclusão provoca calafrios:

 

"A mão direita", observa Cordiglia, “foi mais torturada, a julgar pelas zonas que foram forçadas a aderir ao patibulum através de manobras violentas...”.

 

"Enquanto o pulso esquerdo ficou cravado com rapidez e precisão, o mesmo não parece ter ocorrido com a mão direita, já que o cravo não penetrou à primeira martelada, mas foi extraído e pregado de novo, talvez várias vezes, antes de alcançar a madeira."

 

A possível razão deste "incidente" com o cravo do pulso direito deve ter sido decorrência de algum defeito na ponta do ferro, e inclusive na área da madeira situada imediatamente debaixo do referido pulso de Jesus.

 

O que acho que não se deve pôr dúvida é a perícia do carrasco, obviamente acostumado a centenas de execuções similares.

 

Não quero passar às seguintes e desconcertantes investigações dos cientistas sem comentar um fato que, de imediato, se me apresentou.

 

Se é uma realidade cientificamente comprovada que o homem envolto no Sudário de Turim foi pregado pelos pulsos, como entender então as chagas dos santos, iluminados e demais estigmatizados, "nas palmas de suas mãos"?

 

Tem algo errado aqui...

 

Se foram verdadeiramente"sinais sobrenaturais" como sempre se disse, esses estigmas se apresentariam nos lugares exatos onde se registraram. Mas jamais se teve notícia de um só estigmatizado que mostrasse as feridas das mãos no carpo...

 

Era lógico, uma vez que ninguém - até agora - havia encontrado uma prova tão decisiva. Por outro lado - e aí temos a tradição pictórica mundial que se encarregou de nos recordar isto -, sempre se falou de "cravos que atravessavam as mãos".

 

A afirmação não é incorreta. Hoje, em anatomia, a "mão" é considerada como formada por três partes: o carpo, ou pulso; metacarpo, ou "mão" propriamente dita; e dedos.

 

No entanto, esta "sutileza" tem "jogado sujo" com os que se consideravam "iluminados"...

Contudo, continuava me perguntando, o certo é que essas chagas dos estigmatizados são autênticas. O sangue mana delas e o mais desconcertante - pelo menos para os leigos no assunto - é que aparecem sem causa aparente.

 

Quando consultei os parapsicólogos e psiquiatras, a resposta foi sempre a mesma:

 

"O poder da mente dessas pessoas, sob o influxo de uma crise de misticismo, por exemplo, pode alcançar tais níveis, `transmitindo' às células das palmas das mãos as ordens oportunas, como para deteriorar e abrir as feridas que todos conhecemos..."

 

Este fenômeno, absolutamente explicável dentro do campo paranormal, não poderia ser compreensível nem esclarecido em épocas anteriores à nossa. Daí a confusão e as falsas interpretações...

 

Todos nós que temos conhecido e feito experiências com as ondas cerebrais alfa, sabemos que estas "ordens" da mente - a maioria das vezes involuntárias - são reais.

 

Se os santos e estigmatizados em geral tivessem sabido dos lugares exatos onde situar as feridas das mãos de Jesus, possivelmente suas chagas teriam feito ato de presença nos pulsos e não no centro das palmas.

 

Voltando à tradição pictórica: como entender que um só mestre universal - Van Dyck - pintasse a crucificação com os cravos nos pontos exatos? (0 quadro de Van Dyck está exposto no Palácio Real de Gênova.)

 

A única explicação possível está no fato de que Van Dyck tenha chegado a ver o Sudário por ocasião de sua viagem a Gênova, reparando no grande "detalhe" da mancha de sangue...

Onde não ocorre uma confluência de critérios, ao menos de momento, é nos cravos dos pés.

Enquanto alguns médicos e especialistas afirmam que o homem do Sudário de Turim teve os dois pés perfurados com um só ferro, outros - a maioria - inclinam-se a pensar que o carrasco usou dois cravos: um para cada pé.

 

Uma ligeira olhada na impressão dos pés pelo seu lado dorsal não só nos faz ver de imediato que tanto o pé quanto a perna esquerdos ficaram menos gravados no pano, como também dá a idéia de que a perna esquerda aparece mais curta que a direita. E, como era de se esperar, tanto observadores quanto estudiosos começaram a se perguntar - a princípio com timidez - se Jesus de Nazaré havia sido coxo.

 

Para culminar, aí estavam as iconografias russas e bizantinas, com uma espécie de parte oblíqua na parte inferior das cruzes. Todo um "detalhe" que se pode contemplar hoje sobre as torres do Kremlin e que a tradição associa com a anomalia que apresentava a parte dorsal de Jesus no Sudário. Esta tradição pôde nascer quando os fiéis - séculos atrás - começaram a venerar, todas as sextas-feiras, em Constantinopla a mencionada relíquia. Para aquelas pessoas sem excessivos conhecimentos médicos era evidente que o Senhor tinha uma perna mais curta que a outra...

 

Contudo, a ciência demonstra hoje algo muito diferente. Tanto os doutores Barbet como Ricci chegaram à conclusão de que ambos os pés foram fixados na madeira por um único cravo. O joelho esquerdo havia ficado então dobrado sobre o direito e, ao sobrevir a rigidez cadavérica, os músculos da perna esquerda retiveram a posição mantida na cruz.

 

A explicação - à margem da teoria de um só cravo - convence a uns e a outros. Mas, como digo, a crucificação com um ou dois cravos continua em debate... Para Cordiglia, "a coxa esquerda e seu joelho se deslocaram até acima e para a frente em relação ao lado direito, de modo que a perna esquerda aparece mais curta que a direita".

 

O citado Cordiglia opina que, uma vez estirada e imobilizada a perna direita pelo cravo no pé, já não foi possível aos carrascos pregar a perna esquerda paralela e a par. Portanto, o joelho esquerdo ficou arqueado e assim permaneceria mais tarde, quando sobreveio a morte.

 

Mas as descobertas não terminam nesta fascinante exploração da ciência ultramoderna sobre o pano de Turim.

 

Parece que o evidente afundamento do ombro direito de Jesus - perfeitamente claro nos relevos - se deve a "uma deformação profissional, derivada do trabalho exercido pelo galileu como carpinteiro".

 

E a qualquer um ocorre que a observação pode ser tão verossímil como perspicaz. Se aquele corpulento galileu trabalhou entre vinte e vinte e três anos como carpinteiro, o peso dos troncos e tábuas pode ter-lhe provocado esse ligeiro afundamento do citado ombro direito.

 

Não obstante, e por aquilo de não perder a "compostura científica", mantenhamos porém, como possível e primeira causa de tal "abaixamento", o forte puxão que o carrasco deu em toda a perna direita do Nazareno quando se dispunha a pregar este pé na stipes. Esta manobra - segundo os médicos e peritos - causou o afundamento d ombro e de todo o lado direito do corpo do crucificado Suponho que é inevitável.

 

Embaralhando esta galáxia de dados, relatórios e tecnicismos sobre a anatomia e torturas do homem do Sudário, qualquer um termina fazendo-se as mesmas perguntas: Qual foi a causa final que ceifou a vida de Jesus de Nazaré? De que morreu realmente?

 

Segundo os especialistas que consultei, o Nazareno faleceu em conseqüência de um "complexo encadeamento de causas".

 

Talvez todas possam ser resumidas como o fizeram os médicos de Colônia: Numa pessoa pregada por ambos os punhos, o sangue se acumula muito depressa na metade inferior do corpo. Ao cabo de seis a doze minutos, a pressão arterial cai à metade, e o número de pulsações duplica. O sangue chega ao coração em quantidade insuficiente. O resultado é a perda da consciência. À falta de uma irrigação suficiente do cérebro e do coração, o condenado logo sofre um "colapso ortostático".

 

Portanto, a morte por crucificação, concluem os especialistas de Colônia, deve-se a um colapso cardíaco. Contudo, a realidade é sempre mais complexa. Eu me atreveria a afirmar que, no caso do Nazareno, com mais justificação. Não podemos esquecer que Jesus de Nazaré perdeu um considerável volume de sangue durante a longa flagelação.

 

Este tipo de morte era concebido para que o condenado permanecesse vivo durante dois, três e até mais dias no alto da cruz. Surpreendentemente, Jesus sucumbiu em umas três horas. O que havia acontecido?

 

Parece que o primeiro impacto de uma crucificação é uma dor vertical - se me permitem a expressão - de uma extremidade a outra do corpo. O condenado se via absolutamente imóvel e desconcertado por um terremoto de dores. E em breve chegavam os primeiros avisos da asfixia. A respiração se tornava entrecortada, difícil. Era preciso conquistar cada bocadinho de ar...

 

E para isso o condenado tem que arquear o diafragma, expelindo o ar viciado que enche seus pulmões. Mas esta operação constitui uma nova agonia. Cada golfada deve ser absorvida, apoiando-se nos cravos dos pés. E assim, unir o corpo - nem que seja só por alguns milímetros - e expulsar esse ar estancado. Mas esse exercício mínimo repercute nos pulsos pregados, e a respiração resulta assim num carrossel de angústias e duríssimas lacerações.

 

E o coração desfalece. Seu trabalho de bombear o sangue triplica. As veias e vasos mais finos se encharcam. O, sangue não circula bem. O oxigênio tampouco chega ao tecidos, e os músculos sofrem contrações espasmódicas tetânicas.

 

Uma perigosa intoxicação geral começa a avançar pelo organismo do crucificado. O cérebro e as meninges se "fartam" de sangue venoso, de baixo índice de oxigênio. E explode uma implacável dor de cabeça. As unhas azuladas e o pescoço inchado são novos sinais de alerta, aproxima-se uma catástrofe cardíaca e pulmonar. E a visão falha. A falta de oxigênio na retina vai escurecendo a visão, e o condenado tem seu grau de confusão aumentado. As figuras que se movem ao seu redor tornam-se indistintas. E muitos crêem que a noite caiu sobre eles...

 

Alguns médicos opinam, inclusive, que talvez no fundo dos olhos de Jesus teria começado a se formar um edema papilar - uma inchação dos nervos óticos -, também devido à hipertensão intracranial, originada pelo estancamento do sangue no crânio e pelos transtornos de ventilação, que repercutem na circulação venosa cerebral aumentam a viscosidade do sangue mediante a "policitamia", ou aumento do volume de glóbulos vermelhos. E aparecem o suor e a progressiva sufocação. E uma sede irrefreável que resseca a língua e os lábios. Depois, cãibras e acessos convulsivos paroxísticos quase ininterruptos.

 

A prolongada suspensão na cruz, como assinalei antes, origina nos condenados uma diminuição do tônus ou energia nas paredes abdominais. O sangue se estagna nos órgãos viscerais, e a conseqüente falta de oxigênio castiga e danifica os tecidos. Este é, em definitivo, o "colapso ortostático".

 

Mas esta comprometida situação, concordam os médicos, conduz geralmente a uma inibição da natureza, e o condenado perde os sentidos. Isto não ocorreu com o Nazareno. Pelo menos não temos certeza disso. É possível - como assinalam outros destacados médicos - que Jesus tenha acabado por perder os sentidos, quando os evangelistas afirmam que "deu um grande grito ao expirar".

 

Nesse caso, a falta dos sentidos ia desembocar também na morte. Pouco importa, pois. Como vemos, não se pode subestimar - por enquanto, claro - a razão última que acelerou o fatal desenlace. Foi a insuficiência respiratória? A queda de pressão? A parada cardíaca?

 

Talvez, como apontam os mais prudentes, uma mistura de tudo. A estocada de lança, como veremos mais adiante, nada teve a ver com a morte de Jesus. Segundo os estudiosos do Sudário, naquela ocasião o Nazareno já estava morto. Não quero encerrar este "relatório técnico" sem descrever um ponto original - ao menos para mim - que foi estudado também por outros médicos. Afirmam que o vinagre com água, dado ao galileu quando este se achava em plena agonia, provavelmente tenha precipitado sua morte. Causa: uma síncope de deglutição.

 

Segundo esta hipótese, no Oriente existe a crença de que os crucificados e empalados podem falecer de repente se bebem um líquido e, especialmente, se se trata de vinagre.

 

Binet, por exemplo, dá grande importância a isto. E assegura que a morte repentina de Jesus foi provocada pela ingestão da posta. E ilustra a observação com alguns exemplos que, pessoalmente, não pude constatar. O assassino do general Kleber, Suleiman el-Halebi, afirma Binet, foi condenado à empalação. Durante o suplício pediu em vão aos verdugos egípcios que lhe dessem de beber. Estes responderam que, ao ingerir um líquido, cessariam no ato as batidas do seu coração.

 

Quando os egípcios se retiraram, quatro horas depois de iniciado o tormento, deixaram Suleiman aos cuidados dos franceses. E ante seus reiterados pedidos para que lhe saciassem a sede, um dos guardiães, possivelmente mais misericordioso, deu-lhe uma cuia de água. Pouco depois de molhar os lábios, ele expirou, lançando um grande grito...

 

Esta morte, afirmam alguns médicos, poderia ser atribuída a um reflexo produzido pelo contato do líquido com o peritônio perfurado pela estaca. Não obstante, Binet segue firme em sua primeira idéia: efeito mortal causado por uma síncope de deglutição, ou digestiva.

 

Se fosse assim, cabe perguntar por que aquele soldado romano aproximou a vara de hissopo com a esponja na ponta dos lábios do galileu. Conheceria os efeitos fulminantes do vinagre?

 

Pessoalmente, inclino-me a pensar em algo muito mais simples: sem dúvida, o legionário tentou aplacar a sede do condenado. E o fato de que pouco depois o surpreendesse a morte ou perda de consciência de Jesus pouco ou nada, teve a ver com essa insólita teoria da "síncope de origem digestiva". Entre outras razões, porque o Nazareno estava sendo crucificado e não empalado...

 

Mas passemos à última parte de nossa "reconstituição" pessoal da paixão e morte de Jesus.

Como pôde ter sido em verdade a descida da cruz? Isto foi o que "vimos" em uma nova "projeção mental" ao Gólgota.

 

           SEXTA-FEIRA, 16:00

           LINHO DOS OÁSIS DE PALMIRA

 

O procurador Pôncio Pilatos pediu duas jarras e muito vinho. Tinha sido realmente um dia esgotante para o romano...

 

Segundo os técnicos da NASA, o corpo do "homem do Sudário" permaneceu sem gravidade durante o tempo em que durou a ressurreição. É possível que, nesse espaço de tempo infinitesimal, o cadáver de Jesus de Nazaré tenha emitido uma radiação desconhecida, que chamuscou pano. Mas José de Arimatéia recusou com um sorriso. Ele não desejava vinho- Todo seu interesse se concentrava em algo mais difícil pelo menos à primeira vista. José de

Arimatéia aguardava somente uma resposta:

 

O procurador lhe permitiria descer da cruz o corpo de seu mestre, Jesus de Nazaré? E assim, diretamente, havia exposto isso ao romano. E talvez aquela sinceridade e coragem por parte do judeu - além do conhecimento de sua considerável fortuna - tenham inclinado Pilatos em favor de José.

 

Mas o romano, que ainda conservava no cérebro a imagem insólita do galileu e suas não menos estranhas palavras, havia começado a sentir curiosidade pela vida daquele homem que não opusera a menor resistência para morrer e que, para culminar, havia sido crucificado em meio a trevas e terremotos- reter José. E enquanto esvaziava uma, imensa taça daquele generoso vinho, Pilatos tentava reter José de Arimateia, perguntou-lhe:

 

- Mas, como tu, homem rico e culto, e membro do Conselho, te consideras discípulo desse Jesus de Nazaré, a quem os sumos sacerdotes classificaram e de impostor e José de Arimateia teve de ocultar seu ódio por aquele de romano que acabava de executar o seu mestre. E, tentando unicamente não piorar as coisas, respondeu-lhe:

 

- Procurador Poncio... Esse homem a quem condenaste à cruz foi vítima das invejas e da incompreensão...

 

- Incompreensão? Como entender um homem que se proclama rei e assegura que seu reino não é deste mundo?... Tu o compreendes?

 

Pilatos se sentia condescendente ante o tranqüilo olhar do judeu.

 

- Muito não souberam interpretar as palavras do mestre. Ele nos falou do Espírito e não das armas ou conquistas.

 

- Então, José, onde achas que fica o reino do teu mestre?

 

- Tal como Ele disse, na alma de cada um de nós... E agora, se me permites, procurador... O dia da Preparação está chegando ao fim, e amanhã, sábado, é um dia solene. Não convém que estes corpos fiquem expostos no Gólgota.

 

Pôncio Pilatos bebeu do vinho. E uma vez que o sol de fato já apontava para o ocaso entre as muralhas da distante Gaza, mandou chamar o centurião que dirigira as execuções e que ainda permanecia no penhasco do Crânio. E enquanto aguardava o oficial, o romano pediu um pouco de paciência a José de Arimatéia.

 

- Asseguras que Jesus morreu - expôs o procurador - e acredito em ti, mas devo me certificar através dos meus próprios soldados. Transcorreram apenas três horas desde que o enviei à cruz... como pode estar morto?

 

Antes que o oficial se apresentasse a ele, Pilatos, chamando José de Arimatéia à parte e procurando não ser ouvido pelo resto da guarda e oficiais presentes no pretório, perguntou ao judeu:

 

- Eu gostaria de conhecer algo mais da doutrina de teu mestre... Poderia enviar-te um convite para que me visitasses em Cesaréia?

 

José, desconfiado e confuso, não soube o que responder. Mas terminou assentindo com a cabeça. Naquele instante, entrava na sala da fortaleza o centurião que havia assistido à crucificação do Nazareno e dos salteadores. Pilatos, sem mais preâmbulos, o interrogou, interessando-se pelo estado do galileu. E ficou surpreendido quando o oficial confirmou-lhe a possível morte do chamado "rei dos judeus". Os outros crucificados, acrescentou o oficial romano, continuavam vivos, embora letárgicos devido às beberagens e suplícios.

 

- Bem - concluiu Pilatos, ao se despedir de José -, tens minha permissão para retirar o corpo de Jesus.

 

Mal José de Arimatéia se retirou, o procurador ordenou ao centurião que regressasse a seu posto e liquidasse os três crucificados. Ato contínuo, o romano se dirigiu aos oficiais e escribas restantes e encomendou-lhes a confecção de uma lista o mais completa possível de quantos familiares, amigos e seguidores havia tido Jesus de Nazaré. E determinou que aquele documento lhe fosse entregue no menor espaço de tempo e que o incluíssem nas atas da execução, que deveria remeter ao imperador.

 

Alguns amigos - entre os quais discípulos do Nazareno - esperavam José de Arimatéia às portas da fortaleza Antônia. E por seu olhar e passo apressado já souberam, por não vê-lo mais entre a guarda pretoriana, que o romano fora indulgente.

 

E o membro do Conselho foi-lhes explicando, a caminho do templo, os incidentes e pormenores de sua visita ao procurador. Mas nada disse, por prudência, acerca do pedido do romano de conhecer o que Jesus havia pregado. O tempo urgia. Assim, as mulheres que seguiam com José o apressaram a comprar o sudário e os aromas. E assim o fizeram, chegando aos mascates que ficavam ao pé da luminosa fachada de mármore branco do segundo templo.

 

Maria, mãe de Tiago, adquiriu umas cem libras de aloés, incenso, goma e outros perfumes e aromas, enquanto José, por expressa indicação de Salomé e Maria Madalena, conseguiu uma peça de linho puro de quase cinco metros, transportado nesse mesmo dia desde Tadmor, um oásis de Palmira. José se viu obrigado a pagar várias peças de prata ante a insistência do sírio, que entre constantes lamentações e batidas no peito, assegurava que aquele era um pano destinado à casa real de Herodes.

 

         SEXTA-FEIRA, 17:00

         0 GRITO DE MARIA

 

Quando o jovem João viu chegar o grupo liderado por José de Arimatéia, correu ladeira abaixo. E chegou até eles, presa de grande excitação.

 

- Os romanos o trespassaram com uma lança... - foi explicando-lhes enquanto caminhavam até o penhasco do Gólgota. - Tentaram quebrar-lhe as pernas... mas um deles garantiu que não fazia falta, porque já estava morto... e eu vi como saía sangue e depois água... e o mestre não se moveu quando o legionário lhe cravou a lança entre as costelas... Pensais realmente que Jesus morreu?...

 

José apenas o fitou. Seu rosto era grave. E continuou subindo em grandes passadas até o Gólgota. Uma vez junto às cruzes, as mulheres cercaram Maria e os demais familiares e amigos que haviam permanecido junto ao Nazareno. E trataram de consolar a mãe do crucificado.

 

José, a quem se juntara Nicodemo, falou em particular com o centurião, e após entregar-lhe uma bolsa com dinheiro, o oficial ordenou a seus homens que começassem a descer o galileu. E um dos legionários se dispôs a extrair os cravos dos pés.

 

A curta distância, as mulheres aguardavam com o pano de linho nas mãos. O abatimento físico e moral havia se apossado do grupo, e quase já não se ouviam soluços ou lamentos. Para o discípulo amado, João, aquelas eram horas de total desalento. Não podia entender. Seu coração estava submerso entre a cólera e a mais dilacerante tristeza Como podia ser? Como Jesus, que havia ressuscitado os mortos, se deixara matar?... Onde estava seu poder?... E, o mais importante, em que posição os deixara - seus discípulos - perante a sociedade?

 

José de Arimatéia, visivelmente nervoso, dirigiu seu olhar até o horizonte. O sol - igualmente banhado em sangue - já avermelhava as silhuetas negras das palmeiras do Getsêmani. E as primeiras lâmpadas de azeite indicavam nas casas de barro de Jerusalém a iminente chegada do sábado.

 

Era necessário acelerar o despregamento. E assim o membro do Conselho dos judeus fez ver ao oficial. Mas este, sem se alterar, limitou-se a dar de ombros. Nicodemo e José se aproximaram então do legionário. Mas não se atreveram a falar-lhe.

 

Alavancando com a forquilha metálica do martelo, o soldado conseguiu extrair o primeiro dos cravos dos pés. Em segundos, com pequenos golpes de alavanca, o pé direito ficou logo livre. O forcejar fez brotar sangue de novo, mas o Nazareno estava realmente morto. A liberação do esquerdo foi mais rápida. Após repetir a operação com a forquilha, o carrasco pegou umas tenazes e, aferrando com elas a cabeça do cravo, puxou com força, ao mesmo tempo em que, com as duas mãos, empunhava o ferro para a direita e para a esquerda. Isto provocou hemorragia maior, mas a parte dianteira do pé soltou-se da stipes.

 

E, para surpresa do grupo, a perna esquerda do mestre, que havia permanecido flexionada durante toda a crucificação, ficou rígida e na mesma posição, apesar de ter sido despregada.

Um dos soldados apoiou então a escada de mão utilizada horas antes pelo centurião num dos braços do patibulum. O verdugo, ao mesmo tempo, fazia a mesma coisa com uma segunda escada no extremo oposto da viga.

 

Não se precisou de muito tempo para tirar os dois cravos dos pulsos do cadáver. Um dos romanos susteve o braço esquerdo do executado, enquanto completava as extrações com o ferro do lado direito. Nesse instante, ao ficar totalmente separado da cruz, José de Arimatéia, Nicodemo e outros discípulos sustentaram o corpo frio e assombrosamente pesado de Jesus de Nazaré. E com grande lentidão foi depositado sobre o sudário, previamente estendido pelas mulheres exatamente ao pé da stipes.

 

José, Nicodemo, João e todos aqueles que se prestaram a recolher o corpo sem vida do galileu, ficaram manchados pelo sangue que, em alguns movimentos, brotou das múltiplas feridas e lacerações. Uma vez sobre o sudário, os familiares e discípulos cercaram o corpo de Jesus. E como se alguém tivesse aberto comportas até então bloqueadas, Maria se lançou sobre o filho, tomada de desconsolo. E, abraçando-o, derramou sobre seu rosto sujo e inchado as lágrimas que ainda restavam em seu coração.

 

E então um grito de mulher, afiado como um sabre, encheu o crepúsculo de Jerusalém. Foi José quem, inclinando-se sobre a mãe do Nazareno, retirou-a com tanta doçura quanto firmeza. O tempo do dia da Preparação estava esgotado e urgia dar sepultura a Jesus. Assim, com a maior rapidez, os homens transportaram o cadáver, segurando o sudário pelas pontas.

 

E José de Arimatéia os conduziu até uma das vertentes do Gólgota, onde possuía uma horta. Nele, os criados de José haviam concluídos a escavação na pedra de uma cripta funerária, destinada à família de Arimatéia. E ali, sobre o solo da fria rocha, os discípulos e familiares colocaram o corpo. E antes de cobri-lo com o sudário, uma das mulheres se desfez de seu xale e o amarrou ao redor da cabeça do mestre, procurando assim manter a boca fechada.

 

José tirou então de sua bolsa duas pequenas moedas de bronze e, após fechar os olhos do Nazareno, colocou-as sobre as pálpebras, tal como rezava o costume hebreu.

 

A escuridão se havia fechado sobre a cidade e Nicodemo pediu, da entrada da gruta, que terminassem o quanto antes. O pano sobre o qual repousava o Nazareno foi então dobrado à altura da cabeça e estendido ao longo de todo o seu corpo. Suas mãos foram cruzadas sobre o baixo ventre, e só o joelho esquerdo ficou levemente fletido, por causa do rigor mortis.

 

E, sem mais preparações, os que haviam carregado o corpo de Jesus foram saindo do sepulcro pelo estreito passadiço. Uma grande pedra, cortada especialmente pelos operários, foi rolada pelos quatro homens, sendo assim fechada a câmara funerária.

 

Quando o grupo se retirou, apenas Maria Madalena e Maria mãe de Tiago permaneceram sentadas no lugar. E suas lágrimas e preces só terminaram quando a noite já ia avançada.

Enquanto todos se encaminhavam para Jerusalém, José de Arimatéia regressou à esplanada da crucificação. Sendo, como era, um homem compassivo e justo, falou pela segunda vez com o centurião para que descesse da cruz os dois ladrões, cujas pernas pareciam fortemente arroxeadas e inflamadas por causa das pauladas. E depositou em suas mãos o resto das moedas que guardava na sua bolsa, prometendo-lhes elogiar seus serviços ante o procurador.

 

Ao voltar para junto de Maria e dos discípulos, na cidade santa, eles prepararam os aromas e a mirra que haviam comprado, a fim de lavar e embalsamar o corpo do Senhor quando findasse a Páscoa.

 

       RELATÓRIO DOS ESPECIALISTAS

       "ANTES DA ESTOCADA DE LANÇA,

       0 HOMEM DO SUDÁRIO JÁ ESTAVA MORTO"

 

Quando a Igreja católica autorizou as primeiras análises científicas do Sudário de Turim, alguns dos técnicos torceram o nariz. O tecido era demasiado perfeito para ser datado dos tempos de Jesus...

 

Anos depois, quando as investigações sobre o pano se tornaram mais profundas e completas, a coisa mudou. E, além das descobertas do já referido Max Frei - que detectou grãos de pólen do tempo de Cristo entre os fios do pano -, especialistas como T. Walsh chegaram a escrever: "Na Europa Ocidental não se teceu sarja até bem depois do século XIV."

 

Bem ao contrário do que vinha acontecendo no Oriente. Segundo os especialistas, o tecido que forma o Sudário procedia do Oriente Próximo. Há provas concretas e inúmeros testemunhos escritos e gráficos da existência e construção de teares capazes de produzir este tipo de tecido na Síria do século 1. A leste em Damasco, a cidade de Palmira parece ter sido o empório especializado na fabricação de sarjas de linho. Os egípcios, por sua vez, desde tempos imemoriais utilizavam também tecidos de linho para suas sepulturas, embora esteja provado que não os teciam na modalidade de sarja. Esta era reservada para as prendas de lã. É fácil imaginar que o bom José de Arimatéia pôde comprar com toda comodidade a peça de linho na qual envolveram o corpo do mestre.

 

Aquelas eram festas solenes em Jerusalém. E dada a aglomeração de pessoas, chegadas dos quatro pontos cardeais, era mais que provável que entre os comerciantes houvesse também os do ramo têxtil. E - por que não?l - vindos inclusive dos oásis de Palmira. Há que levar em conta que Damasco dista menos de Jerusalém do que Burgos de Madri... (Em sua última guerra, os israelenses alcançavam os subúrbios de Damasco com sua artilharia no monte Hermon. E não esqueçamos também que São Paulo cobria esse percurso... a pé.)

 

Recentemente, um perito têxtil como Virginio Timossi publicou um importante relatório sobre o tecido do Sudário de Turim e nele faz referência ao tecido de sete metros descoberto no Museu Egípcio da citada cidade italiana. Esse tecido - idêntico ao Sudário - pertencia à 12s dinastia. Quer dizer, entre os anos 1966-1784 a.C. E é de linho puro...

 

Por último, os investigadores atuais chegaram à conclusão de que o linho do Sudário de Turim foi tecido à mão. O tear, dizem, era de pedal, mas podia ser usado manualmente também. No que se refere à finura do fio, o da urdidura corresponde ao número 50 da classificação inglesa, contando-se 40 fios por centímetro. Em compensação, o fio da trama corresponde ao número 30 da norma citada, tendo sido contabilizadas 27 inserções por centímetro.

 

Sobre esta base podemos calcular que o peso do tecido por metro quadrado deva ser de uns 234 gramas. Como 0 pano mede atualmente 4,36X1,10m - ou seja, uns 4,801112 de superfície - seu peso provável deve estar por volta de 1, 123kg. À vista destes resultados, qualquer investigador sério e com um mínimo de boa fé deduz que o pano hoje recolhido em Turim pôde ser fabricado realmente na área ge gráfica onde se desenrolaram os acontecimentos conhecidos de todos.

 

Quanto às apreciações dos médicos-legistas em relação à estocada de lança, isso é "farinha de outro saco". E o que dizem os cientistas a respeito do vestígio deixado no Sudário e que parece corresponder a um ferimento produzido por uma lança? Consultando os textos evangélicos, um deles observa que o único "repórter" que assinalou a estocada de lança foi João, que, segundo parece, se encontrava muito perto da cruz. Os demais evangelistas "não se inteiraram" da notícia, ou, pelo menos, não a descreveram em suas respectivas "matérias".

 

E aí vieram, como digo, os médicos-legistas. E começaram as análises da marca no Sudário.

As primeiras observações permitiram concretizar os seguintes pontos:

 

1- A cor da marca é roxo-granada e mais escura que a das outras manchas de sangue.

 

2- A mancha se estende uns seis centímetros acima e desce depois, dividindo-se em uns quinze centímetros.

 

3- Sua margem interna ziguezagueia em linhas curvas.

 

4- A ferida da qual flui esse regueiro é nitidamente visível e foi produzida por um instrumento de ponta e corte (lança) com duas aletas ou rebordos em suas extremidades; daí sua forma elíptica.

 

E o grande especialista, o Dr. Barbet, vai mais longe: Tomando como referência a ponta do esterno, visível no pano, e determinando por radiografia sua posição na caixa intercostal, ele assegura, podemos afirmar que a lança do soldado deslizou por cima da sexta costela, atravessou o quinto espaço intercostal e encontrou em sua rota Primeiro a pleura e, depois, o pulmão direito. Se o romano tivesse impulsionado sua lança em direção quase vertical, esta teria penetrado nos pulmões. E ali não teria dilacerado mais que algumas veias. Isto, segundo os médicos, só teria feito brotar um pouco de sangue e não um jorro e água, como disse João.

 

Não resta dúvida, segundo os legistas, de que a estocada foi dada em direção quase horizontal. É possível que Jesus não estivesse demasiado alto na cruz, ou talvez o lanceiro tenha manejado sua arma de uma certa altura, quem sabe montado a cavalo. Não podemos esquecer que os soldados servindo em Israel deviam ser - dada a natureza insurrecta e intrigante dos hebreus - bons profissionais de guerra, legionários acostumados a tudo. E, por certo, com domínio completo das armas. A estocada no coração era um lance clássico na esgrima romana. Mirava-se no costado direito, já que o esquerdo costumava ser protegido pelo escudo.

 

E continua o professor Barbet: "A ponta, pois, e a julgar pelas experiências similares que pratiquei em cadáveres, penetrou no pulmão direito. Após percorrer uns oito centímetros, alcançou o coração, que está envolto no pericárdio. Acontece que a parte do coração que se estende até, o lado direito do esterno é a aurícula direita. E esta aurícula, que se liga até acima com a veia cava inferior, se acha sempre cheia de sangue líquido nos cadáveres recentes...O que significa isto? Se a lança se tivesse dirigido mais para a esquerda teria desgarrado os ventrículos que - nos cadáveres - tão vazios de sangue."

 

Por seu turno, o Dr. Cordiglia afirma: "Repeti o mecanismo de tal lesão, da mesma forma que Barbet, sobre um cadáver, tal como havia sido crucificado Cristo, enfiando um bisturi de dissecação ao nível borda da sexta costela no hemitórax direito, perfurando cima a baixo e da direita à esquerda o quinto espaço int costal, para penetrar em profundidade... a pleura pulmonar, pericárdio... e, finalmente, a aurícula direita, sem trespassar a parede posterior...

 

"O sangue só pode originar-se na aurícula direita... Sobre sua fluidez não cabe dúvida alguma, quer se admita a hipótese de Hynek (morte por asfixia), quer se recorde que a aurícula direita - sobretudo em tão curto espaço depois da morte - contém sangue fluido."

 

É lógico, enfim, que, após a estocada de lança, saísse sangue em estado líquido... Quanto à "água" que João disse ter visto, seu rastro ou indício não ficaram visíveis no pano de Turim.

Alguém pode pensar então que o "repórter" pôde ter se equivocado. E, realmente, se nos atermos aos fatos, João se enganou.

 

Vamos por partes.

 

Que dizem os médicos-legistas sobre essa "água" que João afirma ter brotado imediatamente depois do sangue? Era líquido exsudado ou transudado? Em palavras claras: era ou não um líquido de origem inflamatória?

 

Alguns especialistas falam de hidropericárdio de origem agônica. Outros, de serossanguíneo. Outros, de líquido plêurico... Tem havido, inclusive, quem acene com a possibilidade de que Jesus fora tuberculoso.

 

No entanto, todas essas teorias foram mais uma vez eclipsadas pelos estudos do Dr. Cordiglia. Para este médico, as citadas hipóteses - em especial as últimas - são tão absurdas quanto inaceitáveis. E finaliza dizendo que a "água" que João viu era de origem inflamatória ou exsudada. Causa? As repetidas pancadas no tórax que recebeu, tanto na casa de Caifás como na flagelação.

 

"Todas essas graves agressões traumáticas", explica o legista, "descarregadas contra a serosidade pericárdica que reage com extrema rapidez a ataques externos violentos através de um estado hiperêmico de breve duração (algumas horas), determinam a formação do líquido inflamatório."

 

E Cordiglia conclui com uma afirmação que vem a ser de grande importância:

 

"A estocada de lança ocorreu, com toda certeza, depois da sua morte."

 

Eis aqui seus argumentos:

 

1- Não há turgidez nos lábios da ferida.

 

2- A impressão elíptica deixada pela lança é de natureza "passiva", devido à elasticidade e extraordinária tensão da pele naquele momento.

 

3- O sangue que brotou - em dois momentos diferentes - não deixou mais que sinais difusos, de cor pouco intensa.

 

4- A grande quantidade de líquido sero-hemático in dica uma evidente plenitude na zona direita do coração e certa pressão (coração em diástole).

 

Resumindo:

 

Todas as lesões do "homem do Sudário" - com a única exceção da do tórax - se produziram em vida. Que esta lesão no flanco direito se produziu post mortem e, certamente, a curto espaço da ocorrência da morte, segundo o que se deduz da rigidez cadavérica das zonas de "pseudocoagulação", já que não há coagulação verdadeira, devido a uma concentração e aglutinação de glóbulos vermelhos nas malhas de fibrina precipitada.

 

Isto vem confirmar que Jesus de Nazaré permaneceu vivo na cruz umas três horas, aproximadamente. E que seu falecimento pôde ter sobrevindo no instante em que "inclinou a cabeça" - segundo os evangelistas - ou pouco após esta possível perda de consciência. Habituados como estavam ao fenômeno da morte, tanto o centurião como os legionários da guarda puderam perceber com relativa facilidade quando o galileu deixou de viver.

 

Mas as descobertas sobre o pano de Turim não terminam aqui...

 

Nas costas do homem que foi envolto com este sudário se observa também um regueiro de sangue que cruza toda a cintura. A que se deveria isto? Os médicos e cientistas também encontraram a explicação: Ao se baixar o corpo da cruz, este ficou em posição horizontal. Pois bem, se após a estocada houvesse vazado pela ferida do peito o sangue da aurícula direita e da veia cava superior, ao alcançar a posição horizontal o cadáver derramou igualmente o sangue contido na veia cava inferior. Esta hemorragia final teria aumentado no traslado final do corpo até o sepulcro. Nesta segunda fase - despregamento, descida e traslado -, o sangue deslizou ao longo da cintura, caindo, obviamente, ao solo.

 

Aí chegam os americanos com seus sofisticados analisadores espaciais e dizem ao mundo:

"Por enquanto - já que as investigações nos EUA sobre o pano de Turim não fizeram mais que dar a partida - observamos, por exemplo, que colocaram moedas de bronze sobre as pálpebras do homem sepultado naquela gruta."

 

Senti calafrios quando soube deste achado da Academia da Força Aérea de Denver (Colorado) e do Laboratório de Propulsão de Pasadena (Califórnia). Se a ciência ultramoderna está chegando a tais extremos, o que nos reserva o futuro? O que ainda conseguiremos averiguar com relação à vida e morte de Jesus de Nazaré? Através do famoso VP-8 - que servira para analisar as fotografias recebidas do planeta Marte - os técnicos e especialistas a serviço da NASA comprovaram que sobre os olhos do Nazareno havia dois objetos de pequeno porte, circulares e sólidos. Algo muito parecido com... botões!

 

Contudo, naquela época ainda não eram fabricados... O que podia ser?

 

Embora os americanos suspeitassem desde o início que os objetos tinham de estar relacionados com metais ou cerâmica, decidiram investigar todas as alternativas. E, durante semanas, submeteram o rosto do "homem do sudário" a uma meticulosa exploração. Outras explorações - tal como imaginaram - foram caindo por si mesmas. Aqueles sinais em cada pálpebra não eram deformações no processo de formação da imagem. Tampouco eram a conseqüência de uma reação local biológica química ou térmica. O VP-8 detectava que os "círculos" eram metálicos. E de uma circunferência quase perfeita.

 

Por outro lado, essa identificação concorda com o antigo costume de sepultamento dos judeus, no qual, às vezes, colocavam-se objetos sobre os olhos (geralmente moedas ou fragmentos de vasilhas de cerâmica).

 

Os jovens oficiais da NASA - sempre prudentes em suas investigações - prosseguem com estas frases: "Não é possível fazer uma identificação detalhada sem uma investigação maior. Mas propomos que pode tratar-se de alguma espécie de moeda”. E eis aqui as razões:

 

“Primeira: ambas são circulares e aproximadamente do mesmo tamanho”.

 

"Segunda: os relatos bíblicos indicam que José de Arimatéia, um homem rico, foi encarregado de enterrar Jesus. Obviamente, levava dinheiro no momento de sepultar Cristo, já que pôde comprar-lhe um sudário. Portanto, se José de Arimatéia seguiu o costume dos grandes sepultamentos, pôde cobrir os olhos, não sendo irracional pensar que a coisa mais natural e cômoda para se usar fossem moedas, em vez de fragmentos de cerâmica."

Esta descoberta lança nova luz sobre um ponto-chave: a época exata e concreta em que ocorreu a morte do Nazareno. Os homens de Pasadena, partindo de primeiríssimos planos dos olhos do "homem do Sudário", estão trabalhando na tarefa de decifrar as inscrições que apareciam nas pequenas moedas.

 

E a obtenção de um relevo através do ordenador, partindo exatamente destes primeiros planos, fez com que suspeitassem de que as moedas depositadas sobre as pálpebras de Cristo eram léptons. Quer dizer - e segundo lan Wilson -, tratavam-se de moedas de bronze da Judéia, que tinham um tamanho similar ao que aparece no Sudário de Turim. E entre estes léptons um em especial atrai a atenção dos investigadores da NASA: um de Pôncio Pilatos, cunhado nos anos 30-31 da era cristã.

 

Na suposição, por assim dizer, de que os americanos pudessem decifrar as possíveis inscrições, a localização do personagem chamado Jesus na História seria total. Esta determinada situação, contudo, já está demonstrada por outros canais, aos quais irei me referir mais adiante.

 

Parece inclusive haver consenso de que estas moedas foram de pequeno tamanho, já que usar o dinheiro de prata de Tibério, cunhado nos anos 14-37 dessa mesma época, teria sido excessivamente volumoso. E, sinceramente, à vista desses achados, foi se desvanecendo minha inicial e total desconfiança acerca da autenticidade do pano de Turim.

 

Que falsificador ou pintor da Idade Média, por exemplo, teria plasmado essa imagem... com o quase imperceptível vestígio de um lépton de bronze sobre cada pálpebra? O resultado é ridículo. Mas voltemos a estes assombrosos "cowboys" da NASA...

 

O VP-8 reservava novas surpresas.

 

O tufo de cabelo à esquerda do rosto estava mais empapado de sangue... A cabeça do "homem do Sudário" foi amarrada ou submetida com uma venda ou tela por debaixo do queixo.Este último dado coincide plenamente - como veremos em capítulos seguintes - com o narrado pelos evangelistas. E fiquei novamente perplexo. Como a ciência espacial podia ratificar detalhes tão pequenos e escondidos... que se produziram há dois mil anos?

 

Pelo visto, esta venda foi utilizada no sepultamento de Jesus, já que o cabelo do lado esquerdo do rosto parece prender sobre a borda de algum objeto invisível. Certamente um segundo pano, ou tela, que mantinha a boca fechada. Além do mais, essa venda "invisível" parece dividir uma barba.

 

Este tipo de venda era conhecido até bem pouco tempo em nossa própria sociedade. E é muito possível que ainda continue sendo usada em defuntos. A missão fundamental da tela que rodeava a cabeça era evitar que a mandíbula inferior caísse.

 

Enfim, algo similar aos panos que nossas avós nos colocavam quando estávamos com caxumba ou dor de dentes...

 

Mas o que pôde ter ocorrido na escuridão do sepulcro durante as quase 36 horas que durou o enterro de Jesus de Nazaré?

 

               Uma Radiação Saiu do Cadáver

 

Confesso que custei a entender o processo de "tridimensionalidade". A esta altura de minhas investigações em torno dos achados da NASA continuo duvidando... Os americanos, tal qual adiantei no ponto de partida desta recompilação, haviam ficado aturdidos quando os computadores "ventilaram" a questão com uma imagem. Mas "aquela" não era uma imagem qualquer...

 

Tratava-se das impressões deixadas no Sudário... em relevo! Apesar de ter a dita imagem em minhas mãos, e de perscrutá-la até a exaustão, continuava sem compreender... Logo soube - e não escondo que isto me consolou - que três quartos da mesma coisa haviam acontecido com muitos cientistas de Pasadena e do Colorado. Tentarei, pois, explicar o dito processo de "tridimensionalidade", tal qual tiveram que o ensinar a mim mesmo. Talvez tenhamos o exemplo mais ilustrativo numa simples fotografia.

 

Se nos tiram uma foto atual, vestidos com paletó preto e camisa branca, a brancura da camisa e o negror do paletó no retrato não dependem da sua maior ou menor distância da objetiva da câmera, está claro.

 

Essa fotografia, em suma, não tem "tridimensionalidade". Na imagem que aparece no Sudário de Turim não ocorre isto. Segundo os técnicos que trabalham para a NASA, o grau de intensidade da imagem no pano está em função da distância do corpo ao pano. Esta imagem, enfim, sim, é tridimensional. E adiantemos a "chave" da descoberta: segundo os cientistas, o grau de intensidade dessa imagem que ficou impressa no Sudário é inversamente proporcional à distância do corpo ao tecido. Ou, o que dá no mesmo, quanto mais colado ou próximo se encontrava o linho ao cadáver de Jesus de Nazaré, menos registrou o relevo.

 

Mas continuemos, porque o mistério mal acabou de começar...

 

As provas que os cowboys desenvolveram, como se poderá compreender, foram tantas que não restou um só fio solto. E a definitiva voltou a ser protagonizada pelo meu muito simpático VP-8. O analisador de imagem foi aplicado a uma fotografia de tamanho natural do pano e, pela enésima vez, o resultado foi o mesmo: "aquilo" era tridimensional. Em compensação, não ocorreu o mesmo quando se aplicou este engenho técnico a umas simples fotografias do papa Pio XI, tanto em positivo quanto em negativo. Ao se "passar" o VP-8 sobre tais chapas, estas apresentaram imagens desastrosas do pontífice. Os olhos apareciam afundados, o nariz achatado, o braço como que amassado dentro do peito. Em outras palavras, ali não havia "tridimensionalidade" nem nada Parecido... E embora, neste caso particular, eu não seja muito propenso a entrar em detalhes técnicos e matemáticos, dada a sua extrema complexidade, faremos porém uma rápida "incursão" à trama sobre a qual se teceu a investigação.

 

O estudo - a cargo principalmente de John P. Jackson, Eric J. Jumper, Bill Mottern e Kenneth E. Stevenson - se prolongou nesta primeira fase pelo espaço de três anos. Três longos anos de silêncio e meditação. Ninguém soube o que ocorria naqueles laboratórios do Colorado e da Califórnia...

 

Hoje estes cientistas têm revelado que "trabalharam" muito ativamente na análise de tal tridimensionalidade os melhores computadores dos Estados Unidos. Nada mais nada menos.

"E mediante o uso desses ordenadores de última geração revelou-se que a imagem do Sudário está impressa em relevo, no sentido de que a informação que define os contornos espaciais do corpo de Jesus está codificada nos níveis variados de intensidade da imagem."

 

Continuemos a tentar "traduzir" estes tecnicismos:

 

Para começar - e uma vez que o pano original só seria cedido pela Igreja aos especialistas da NASA ao final de 1978 -, os americanos fizeram suas experiências e análises sobre uma fotografia, em tamanho natural, da conhecida imagem. Mas foi suficiente.

 

Com a ajuda deste VP-8 - orgulho, diga-se de passagem, dos americanos -, a totalidade da imagem foi decomposta em milhões de pontos. E a cada ponto - de um diâmetro microscópico (um mícron) - atribuíram três coordenadas. As primeiras são as cartesianas, que situam ou localizam tal ponto no conjunto do pano. A terceira corresponde ao grau de intensidade luminosa da imagem de Jesus nesse ponto concreto.

 

Todo esse material, assim codificado, foi absorvido por um computador, que se encarregou primeiro de individualizar os do tecido: trama e urdidura foram assim reconstituídas e isoladas. E notou-se, além disso, que eram idênticas às utilizadas na Palestina do século I.

Em seguida, o ordenador ignora tais imagens e se concentra sobre às correspondentes à figura.

 

Desta forma, as fotografias resultantes lançam uma nitidez insuperável até o momento.

A experiência - resumindo - abarcou três capítulos chaves:

 

1- Medição da distância entre o corpo e o sudário.

 

2- Cálculo da intensidade da imagem.

 

3- Comparação da distância entre o corpo e o tecido com a intensidade da imagem em diversos pontos do Sudário.

 

Para o primeiro - como saber a distância que haveria entre o pano e o cadáver de Jesus! - os homens da NASA reconstituíram a configuração do sepultamento, tal como o sugeria o próprio linho. E o conseguiram, como não?!

 

Para isto cobriram um voluntário de altura e proporções similares as de Jesus com um pano similar ao utilizado por José de Arimatéia. Sobre o corpo deste voluntário traçaram-se - com extremo cuidado - as feridas e sinais que aparecem no Sudário.

"Uma de nossas maiores preocupações", explicaram os cientistas, “foi a mais exata colocação do pano sobre o corpo do voluntário. Precisávamos ter certeza de todas as características e riscos da imagem situados sobre a parte correspondente ao corpo. Depois obtivemos duas fotografias: uma, com o pano em posição, e a outra, sem o dito pano”.

 

"A seguir - a partir destas fotografias – preparou-se um desenho similar ao corpo jacente. Utilizando-se este desenho, constituía um procedimento simples medir a distância entre o corpo e o sudário, a partir de uma linha de dobras do modelo do sudário."

 

Para a segunda fase - ou seja, as medições da intensidade da imagem que vemos no Sudário -os técnicos se valeram de um aparelho chamado "microdensitômetro". Desta forma exploraram os relevos, ao longo do percurso da "linha de dobras". Esta "linha" assinala os pontos mais altos do contato do corpo com o pano.

 

"Por fim", concluíram os cowboys com grande satisfação, “representamos graficamente a intensidade da imagem referente à distância entre pano e corpo e estabelecemos uma relação entre os dois”.

 

"Portanto, fica patente que a imagem existente no Sudário de Turim deve ser equivalente a uma superfície tridimensional do corpo de Jesus."

 

Esta afirmação tem uma enorme importância. Como sabem os profissionais e aficionados da fotografia, as imagens fotográficas comuns não podem em geral converter-se em relevos tridimensionais verdadeiros. O processo fotográfico não faz com que os objetos filmados sejam expostos pela luz em relação inversa à distância da câmera.

 

Portanto, na película não se registra informação tridimensional.

 

Mas os americanos - dispostos a tudo - submeteram ao VP-8 duas fotografias de outros tantos quadros famosos (cópias da imagem do Sudário de Turim). Todos os que trabalhavam neste projeto estavam conscientes de que nenhum falsificador poderia ter codificado em pleno século 1 a informação necessária para conseguir esta imagem tridimensional. Não fazia sentido...

 

E os resultados sobre as cópias foram redondamente negativos. O retrato de Cussetti assinalava - uma vez submetido ao analisador - uma clara distorção. Por sua vez, o do pintor Reffo se mostrou igualmente descomposto. O rosto ficou afundado, e a totalidade da composição claramente plana. Se a ansiada tridimensionalidade não havia sido conseguida por dois reconhecidos artistas do século XX, como aceitar que o tivesse conseguido algum pintor ou "mago" dos primeiros séculos de nossa era?

 

E dessa forma nasceu o grande desafio à tecnologia espacial.

 

Como e quem pôde ter "colocado" esta misteriosa imagem tridimensional, em negativo, de um corpo humano sobre um tecido de linho em pleno século I?

 

Esse achado assombrou e animou dois cientistas de Pasadena. Aquele sudário era realmente algo fora de série.

 

E havia demonstrado - e as fotos posteriores terminaram de esclarecer - que, além disso, essas impressões de um cadáver eram tridimensionais...

 

Pessoalmente necessitei de semanas para começar a assimilar o problema.

 

Mas seus "circuitos cerebrais" saltaram em sua totalidade quando, para culminar, os homens do Laboratório de Propulsão de Pasadena e os comandantes da Academia da Força Aérea de Colorado Springs asseguraram publicamente - e o demonstraram, é claro - que essa imagem do "homem do Sudário" não pôde formar-se por contato. Aquilo já era demais...

 

E, naturalmente, meio mundo se fez a mesma pergunta. Se os relevos que todos conhecemos não se formaram por contato, como diabos estariam ali? Por pura lógica, a primeira coisa que ocorre a qualquer um é que o tecido ficou manchado com o sangue, o suor ou outros elementos químicos e orgânicos. Mas não.

 

Segundo os homens da NASA, essa idéia de "contato" tem que ser... absoluta... e definitivamente descartada. Não houve contato direto, mas sim uma radiação ou energia desconhecidas para nós que "chamuscou" (scorching, para os mencionados cowboys da NASA) o pano, e de modo uniforme. "E isto se deu", explicam, "porque, se o mecanismo tivesse se produzido por contato direto, a imagem de relevo criada pelo VP-8 apareceria aplainada na parte superior, onde as áreas de contato tenderiam à mesma elevação vertical."

 

E como plataforma desta afirmação mostraram uma infinidade de cálculos matemáticos e físicos que haviam desenvolvido durante três anos e que nem sequer me atrevo a sintetizar, dada a minha proverbial nulidade no mundo das ciências exatas...

 

A revolucionária hipótese dos americanos vinha a coincidir, por outro lado, com as observações apontadas pelo médico inglês David Willis, que foi um dos poucos admitidos pela Igreja em 22 de novembro de 1973 para contemplar "ao vivo" o pano de Turim. À raiz daquela observação "sobre o terreno", Willis escrevia: "Um detalhe do qual me dei conta mal me vi diante do pano, foi a importância que adquire a cor dos chamuscos em comparação com a imagem do corpo: ambas se esfumam imperceptivelmente na parte do pano que as rodeia..." (Como se sabe, o sudário foi afetado - ao longo de séculos de peregrinação - por incêndios que chegaram a derreter parte da moldura de prata em que está encerrado, chamuscando parte do linho.)

 

E a pergunta-chave - apesar de minhas constantes tentativas para evitá-la - voltava a se me apresentar, como se fosse um jogo: "Então, como e de que maneira aquele sudário foi chamuscado?"

 

E, mais uma vez, eu a evitei. E me distraio com outros assuntos. Por exemplo, com os inegáveis restos de sangue que qualquer um pode apreciar no tecido. Se os cientistas asseguravam que os relevos não se deveram a um contato direto, o que representavam ali os claríssimos ferimentos, regueiros e regueirinhos de sangue?

 

Pelo pouco que investiguei sobre este detalhe, pude dar-me conta de que as manchas de sangue não tinham nada a ver com o resto das impressões no corpo do Nazareno...

 

Vou me explicar. Se alguém observa atentamente as feridas e emplastros de sangue, cairá numa apreciação desconcertante: Enquanto as impressões do corpo formam um negativo fotográfico - tal e como temos explicado - as manchas de sangue são impressões diretas por contato. Quer dizer, são positivas, a partir do ponto de vista ótico.

 

Meu cérebro voltou a desfalecer...

 

Ademais, os hematólogos mais eminentes haviam opinado categoricamente que ali não ficaram restos orgânicos de tal sangue. "Aquilo" havia sido sangue. Isso era evidente. Mas já não havia o menor vestígio químico ou orgânico que o pudesse demonstrar... Em suma, uma loucura.

 

Alguns médicos que consultei, além disso, me trouxeram outro dado desconcertante. Sempre acaba sendo praticamente impossível separar ou remover um único coágulo de sangue de um pedaço de pano sem prejudicar a impressão nele deixada pelo sangue.

 

Como então permaneceram esses sinais absolutamente nítidos sobre o linho de Turim? Como era possível que depois de mais de trinta horas nas quais o sangue coagulado esteve materialmente grudado ao sudário, os dois regueirinhos no dorso da mão esquerda, os dos antebraços, a grande mancha do flanco direito, os coágulos e regueiros sobre as sobrancelhas e cabelos tenham ficado intactos?

 

Mas, embora supuséssemos que tudo isso se deu ao ser erguida a metade frontal do sudário, restava ainda a metade dorsal, com seus meandros na região occipital, o sangue da zona solar, os dois regueirinhos que se entrecruzam ao longo da cintura...

 

E, como se isto não bastasse, como explicar que os sinais registrados nas costas não tenham aparecido amassados? Jesus, segundo os estudos médicos, pesava uns oitenta quilos. Tombado sobre as costas, aquele corpo - por maior que fosse a rigidez cadavérica que firmara seus músculos - tinha que gravitar sobre o pano subjacente com uma precisão que se deveria acusar numa impressão sobre este. A diferença relativa à impressão frontal deveria ter sido mais do que notável.

 

Contudo - oh, surpresa! - os diversos músculos dorsais não estão amassados sobre o pano. Os relevos são uniformes, brevíssimos, tênues e quase esfumados. Como explicar esta "uniformidade" de impressão, tanto na zona superior como na inferior? Reproduzo aqui as opiniões da Comissão de Especialistas de Turim.

 

"Na verdade, parece como se o cadáver se houvesse `esfumado' ou `vaporizado'."

 

Era como se aquele corpo se houvesse evadido do tecido tal como um raio de luz atravessa um cristal: sem dilacerar os coágulos nem deformar as imagens. E era lógico suspeitar que aquele pano - depois de 36 horas - estivesse materialmente colado ao corpo...

 

Mas meus desejos de achar uma explicação "lógica" e "razoável" continuavam naufragando.

E aquele ponto de interrogação voltava a se materializar: "Uma misteriosa radiação... mas como?" Como aceitar que um corpo morto - umas 36 horas sem vida - pudera emitir (?) uma energia ou radiação? Como?...

 

O sepulcro, além disso, devia estar na mais absoluta escuridão no momento em que a radiação ocorreu.

 

Um prestigioso arquiteto italiano, Nicola Mosso, escreveu um importante relatório sobre este episódio. E afirma:

 

"O `homem do Sudário', no instante em que ficou impresso no tecido - e misteriosamente em negativo -, se encontrava na escuridão absoluta. De fato, em nenhuma das figuras se observa qualquer traço de sombras diretas ou indiretas, projetadas por qualquer foco luminoso externo."

 

Então, se não havia uma fonte externa de luz, onde localizar esse inegável foco de energia, radiação, calor, ou lá o que fosse? Só resta um caminho. Ao menos por enquanto. A radiação deve ter partido do interior do cadáver. E aí chegam os homens de Pasadena e batem na mesma tecla: "Essa radiação desconhecida para a ciência deve ter sido igual em todos os pontos do corpo. Só assim poderiam ter impressionado com a mesma intensidade luminosa partes tão diferentes e distantes como a nuca e os pés. E essa energia", prosseguem, "só se pode extrair do interior do corpo. De outra forma, como explicar que as costas e o peito, por exemplo, tenham sido `irradiados' de idêntica forma e com a mesma força? Mais claramente: todo o corpo do Nazareno foi foco..."

 

E ante o assombro e - por que não dizer? - irritação dos hipercríticos e agnósticos, os cientistas da NASA concluem: "É muito possível que no instante - talvez um décimo de segundo - da emissão desta força ou radiação, o corpo do `homem do sudário' ficasse livre e radiante."

 

Isso queria dizer que o Nazareno havia levitado no momento mesmo da radiação. Mas como conseguir entender?...

 

Foi esse então o instante exato do que se acostumou a classificar como "ressurreição"?

 

Pôde ser essa - a enigmática e formidável radiação que emitiu o cadáver - a que catapultou inclusive a grande pedra redonda que cobria e selava o sepulcro?

 

O "infinitesimal" do momento do desprendimento (?) da radiação ficou também demonstrado no final de 1978, no último congresso celebrado pelos peritos e cientistas em Turim.

 

Por fim, uma legião de sábios pôde checar o pano original, submetendo-o a centenas de provas e investigações. E uma dessas experiências veio a demonstrar que a radiação só havia chamuscado uma das faces do sudário, e de forma totalmente superficial. Algo como quando nossas avós ou mães esqueciam-se de retirar os velhos ferros de: engomar e apareciam os típicos chamuscados sobre o pano.

 

Investigações que, diga-se de passagem, em breve lançariam nova luz sobre esse apaixonante mistério. E embora os cientistas não tenham localizado ainda a explicação dessa fortíssima radiação no interior de uma caverna hermeticamente fechada, não parecem, todavia, em desacordo com a possibilidade real de que um corpo - por procedimentos que ainda desconhecemos - "desapareça" materialmente e "reapareça" mais tarde. À margem da fé religiosa e da intenção espiritual da Ressurreição, semelhante fenômeno, insisto, é cientificamente possível. A transferência da matéria de um ponto a outro é possível através da desintegração da própria matéria com a transformação da massa em energia.

 

Foram levadas a cabo experiências deste tipo com reações nucleares, e as radiações emitidas pelo bombardeio atômico impressionaram imagens, de forma muito similar às do Sudário de Turim.

 

Naturalmente, se admitirmos a realidade dessa radiação - como assim o provaram os especialistas da NASA - cabe imaginar também que a presença de tal e desconhecida energia ou força pôde alterar os resíduos orgânicos e químicos de sangue sem alterar em absoluto as formas dos regueiros, feridas etc., já que estavam impressas no pano. O sangue, em outras palavras, havia perdido sua natureza, mas continuava gravado no linho.

 

Chegados a este extremo - com a demonstração científica de que a imagem do Sudário de Turim não pôde surgir por contato -, o que podemos pensar das diversas teorias, atualmente em vigor pelo mundo, e que tentam "descafeinar" o fato físico da Ressurreição?

 

Resumirei algumas dessas hipóteses, e o próprio leitor julgará o que considerar mais prudente:

 

1- Ressurreição é objeto de fé e, portanto, está fora da História: não falemos dela.

 

2- Os discípulos sofreram uma alucinação patológica.

 

3- As aparições do Ressuscitado são visões pneumáticas.

 

4- A Ressurreição não é mais que o Kerygma: esqueçam da tumba vazia.

 

5- Uma ressurreição é um mito trans-histórico: a História não tem nada a ver com isso.

 

6- A ressurreição de Cristo é uma interpretação subjetiva.

 

7- Cristo é a "Palavra". Anunciá-la: isso é a Ressurreição.

 

Para mim, bem como para todos aqueles que começaram a procurar nestas investigações sobre o Nazareno, "algo" já se distinguia com clareza no horizonte: No interior daquele sepulcro judeu, há dois mil anos, registrou-se um acontecimento que jamais voltou a repetir-se em toda a história desta Humanidade. "Alguém", com um poder pouco comum, havia ressuscitado fisicamente, no mais literal dos sentidos...

 

E agora, com a chegada do homem aos primeiros astros de nosso sistema solar, começamos a dispor de dados e provas científicas para corroborá-lo.

 

O trágico é que, durante quase vinte séculos, bem poucos chegaram a dar-se conta disto e, o que é mais importante, ninguém pôde demonstrá-lo à luz da ciência ou da razão. E a esta situação - incerta para os que careciam de fé - deve-se somar, além disso, tanto os erros lamentáveis como as péssimas traduções dos Livros Sagrados que nos foram legados. Aí temos, ainda em vigor, as desastrosas transcrições de alguns dos versículos dos Evangelhos que fazem alusão, justamente, à ressurreição de Jesus de Nazaré...

 

Erros, como veremos no próximo capítulo, que, involuntariamente, nos têm certamente mantido perdidos numa triste escuridão.

 

               Uma Péssima Tradução

 

Os jornalistas sabem muito bem. Quantas vezes chega uma péssima notícia à redação do jornal ou à emissora de rádio ou TV, e pouco depois, quando o repórter acorre ao local dos fatos, ou entrevista os afetados, tudo muda! Aquela primeira notícia, ou boato, que havia circulado estava incorreta. Ou então tinha sido cometida uma "barriga", como se diz em nosso jargão...

 

O profissional dos meios de comunicação comete um bom número de erros deste tipo ao longo de sua vida. No rastreio e posterior confecção de qualquer matéria, seja de que tipo for, o jornalista pode se equivocar. Poderíamos citar centenas de exemplos.

 

Nessas desfigurações totais ou parciais dos fatos, mil razões podem influir: desde a má vontade ou a ignorância das testemunhas e protagonistas, aos interesses econômicos, políticos, militares ou particulares de uns poucos ou de todos. Desde a simples circunstância de que o fato tenha ocorrido de dia ou durante a noite, da presença ou não do repórter no mesmíssimo instante da notícia, de que uma Palavra ou uma frase tenham sido mal interpretadas.

 

Até que o ocorrido chegue afinal ao cidadão, através do rádio ou da palavra impressa, a realidade pode ter sofrido tais mutilações que nem os seus próprios protagonistas a reconheceriam. Se, para culminar, essa informação é traduzida posteriormente para outros idiomas, o desastre pode ser total...

 

Eu me pergunto: se isso acontece hoje, em plena era tecnológica, com a possibilidade de transmitir ou observar os fatos no momento da sua ocorrência -, o que não dizei em séculos remotos, em que a maior parte das notícias circulava graças à transmissão oral, alcançando os confins do mundo anos depois de terem se produzido?

 

E este é o lamentável caso ocorrido com o Evangelho de São João, vítima de má tradução e de uma não menos infeliz transcrição...

 

Esbarrei neste caso por pura casualidade, como creio deve ter sucedido com outros estudiosos. Ou não existe casualidade?

 

Desde menino sempre li e ouvi que os apóstolos, ao correrem até o sepulcro, haviam-no encontrado vazio e "com as vendas no chão". Durante muitos anos - praticamente até agora -, esse "detalhe" das vendas no solo me havia parecido normal. Quase, é claro. Se Jesus de Nazaré se havia levantado da tumba e ressuscitado, era normal que as vendas tivessem ficado por ali, ignoradas. Em minha ingenuidade infantil, sempre dei por certo que Jesus retornara à vida completamente vestido e, possivelmente, com uma túnica nova. Pelo menos, a "ocasião" assim o merecia...

 

Em minha casa fui acostumado a identificar as grandes festas e solenidades com a estréia de uma roupa ou de uns simples sapatos...

 

Mas voltemos ao assunto.

 

A tradução textual desse parágrafo do Evangelho São João (versículo 20) diz:

 

“No primeiro dia que seguia ao sábado, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra removida do sepulcro. Correu pois e foi a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro. e não sabemos onde o puseram”.

 

"Então Pedro saiu com o outro discípulo, e foram ao sepulcro. E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais apressadamente do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. E, abaixando-se, viu no chão as vendas: todavia não entrou. Chegou pois Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão as vendas. E que o sudário que tinha estado sobre sua cabeça não estava com as vendas, mas enrolado num lugar à parte. Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu. Porque ainda não sabiam a Escritura: que era necessário que ele ressuscitasse dos mortos. Tornaram pois os discípulos para casa."

 

Até aqui, repito, esta é a versão comumente aceita e que continua sendo lida em público e particularmente. Mas se alguém consultar o chamado Codex Alexandrinus, que data do século V ou talvez de fins do IV, e que pode ser admirado no Museu Britânico, em Londres, a versão não é a mesma. Eis que o texto integral e textual do parágrafo em questão (João, XX, 3-8), segundo o mencionado Codex:

 

"Saíram, pois, Pedro e outro discípulo e foram ao sepulcro. Corriam os dois juntos, e o outro discípulo se adiantou mais velozmente a Pedro e chegou primeiro ao monumento, e abaixando-se vê OS LENÇÓIS APLANADOS. Mas não entrou. Chega pois Simão Pedro, seguindo-o, e entrou no sepulcro e contempla OS LENÇÓIS APLANADOS e O SUDÁRIO que esteve sobre a cabeça d'ELE, NÃO igual aos LENÇÓIS, APLANADO, mas sim ao contrário, ENROLADO EM SEU DEVIDO LUGAR. Então, pois, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro. E VIU E CREU."

 

As matizações das palavras, neste caso, tornam-se de uma importância transcendental. Tal e como foi escrita no Codex Alexandrinus, a palavra grega othonia significa "lençóis" e não vendas, como vem sendo traduzida. Assim traduziu São Jerônimo na versão Vulgata.

 

Mas, por essas coisas da vida, hoje temos "nossa" própria versão.

 

Também São Lucas foi advertido sobre o erro. E no versículo XXIV, 12, a palavra "lençóis" é traduzida por "vendas".

 

Mas continuemos com São João.

 

Claro está, consultando-se este Codex, que a palavra "lençóis" fazia referência a toda uma peça ou sudário. Quando o "repórter" João quis falar de "vendas" ou "faixas" - caso da ressurreição de Lázaro (João, XI, 44) -, utiliza a palavra grega correta: keirai.

 

Uma vez esclarecido o primeiro "tropeço" dos tradutores, continuemos com o agravo. Nas versões atuais, "as vendas estavam no solo". Nada disso. O Codex Alexandrinus repete duas vezes que os "lençóis estavam APLANADOS". E para isso ele se utiliza do termo grego adequado: keimena. Este verbo, segundo o magistral estudo de P. M. Balagué, significa primariamente jazer, estar estendido, sentado, horizontal, dormir, estar depositado. Também se diz de uma coisa plana, em oposição a uma elevada, ereta; do mar calmo em oposição ao inflado.

 

Em outras palavras, tanto João como Simão Pedro viram lençóis, aplanados, jacentes, murchos, caídos, desinflados, planos... Esta matização, por assim dizer, tem uma importância muito especial, porque - além de ser a verdade – foi recentemente ratificada pelos cientistas que trabalham na NASA.

 

Os célebres médicos-legistas J. Cordiglia e Romanese efetuaram dezenas de provas em cadáveres afim de obter alguma impressão como a que aparece no Sudário de Turim. Isto foi o melhor que puderam conseguir. A comparação com o rosto de Jesus de Narazé - acima - fala por si mesma.

 

Se o lençol ou sudário aparecia aplanado ou "desenfiado", e se horas antes apresentava um aspecto avultado, envolvendo o cadáver do Nazareno, era mais do que compreensível o assombro dos discípulos: o corpo se havia "volatilizado"...

 

Imagino que nem Pedro nem João teriam "acreditado", ao entrarem na câmara funerária, se "as vendas - como foi traduzido - estivessem somente dispersas pelo solo".

 

Não que os discípulos fossem uns luminares, suponho, mas tampouco deviam ser malucos...

Se o amigo João tivesse visto os lençóis "atirados pelo solo", em vez de crer em "algo" milagroso ou sobrenatural - não é lógico que pensasse nesse momento na Ressurreição - tivesse "acreditado" que alguém havia se apoderado do cadáver do Mestre.

 

Elementar...

 

Parece, contudo, que alguns "pais latinos" da Igreja, entre os quais Santo Agostinho, não eram muito fluentes em grego, e aí temos essa lamentável tradução para prová-lo. O que havia ocorrido no sepulcro para que o pano de linho aparecesse aplanado ou "desinflado"?

Se o "homem do sudário" não estivesse morto - coisa impossível e já demonstrada suficientemente -, e ao cabo dessas 36 horas tivesse "voltado" à consciência, a primeira coisa que tentaria, suponho, teria sido tirar o pano de cima de si. Nesse caso - e suponho, pois já é muito supor, que tivesse podido levantar-se, alcançar a saída, empurrar os mil quilos que deviam pesar a imensa roda de moinho da porta, aterrorizar os soldados e escapar -, o pano teria ficado caído, e, de qualquer forma, no piso da gruta.

 

Mas não. As duas testemunhas afirmam que o sudário aparecia aplanado. Misteriosamente "desinflado". A parte superior do tecido "tinha vindo abaixo" ao esfumar-se o cadáver sobre o qual repousava.

 

Mas o desaforo dos tradutores não termina aí. Uma parte da "notícia" transmitida no Codex Alexandrinus ficou também muito mal parada. E Simão Pedro chegou depois ao sepulcro. E diz o Codex que contemplou os "lençóis aplanados e o sudário que esteve sobre a cabeça d'Ele, não igual aos lençóis aplanados, mas ao contrário, enrolado em seu próprio lugar". Qualquer semelhança, como se vê, com a transcrição moderna é pura coincidência.

 

Nem o bom Pedro viu as "vendas por terra", nem o "sudário dobrado e em outro lugar"... O que viu foi muito diferente. E exatamente aquilo tão insólito que disse ter visto foi o que logicamente o fez se enganar...

 

E voltamos ao ponto de partida. Como dizem os italianos: traduttore, traditore.

 

Analisemos com uma lupa essas frases do Codex.

 

Para começar, hoje entendemos por "sudário" a totalidade da mortalha que costuma cobrir os cadáveres. Mas na época não tinha esse sentido. A palavra utilizada pelo evangelista - Soudarion - não é grega, e sim latina. (Hoje com as modernas "colonizações", adotamos a "CocaCola". Então, com os romanos, entrava o latim...)

 

E o sudário nada mais era senão um xale ou lenço para secar o suor. Uma prenda de uso comum numa terra como a Palestina, onde o calor é sufocante. E mais ainda no deserto.

Esse sudário - "que esteve sobre a cabeça d'Ele" -foi detectado agora pelo famoso VP-8 da NASA e, efetivamente, serviu para firmar a mandíbula do Nazareno, fechando assim sua boca. Mas esse xale ou sudário, dizem os discípulos, não estava, como o lenço ou sudário, aplanado ou "desinflado", mas sim "enrolado"... em seu próprio lugar.

 

É óbvio que para firmar a mandíbula - e com um máximo de firmeza - era preciso enrolar o pano na cabeça. O estranho - que deve ter "fundido" também os circuitos cerebrais de Simão Pedro e João - era que o citado xale estivera onde sempre havia estado antes da "desaparição" do Mestre: no seu lugar e sob a parte superior do lenço, conservando inclusive a posição que havia mantido a crânio de Jesus.

 

Aquilo fazia mais patente ainda a "vaporização" do cadáver. Era - utilizando uma analogia - como se alguém tivesse podido absorver a totalidade do corpo com uma seringuinha...

Este "espetáculo" que os discípulos viram ao penetrar na gruta - e não aquele com que fomos brindados pelos tradutores - era como se para crer ou enlouquecer...

E, em vista disso tudo, as velhas dúvidas voltaram ao meu coração. Quantas passagens mais dos Antigo e Novo Testamento terão sido mal traduzidas - ou pior interpretadas - por tradutores ou teólogos? Quantos fatos da vida de Jesus de Nazaré puderam ocorrer de forma diferente de como conhecemos hoje? Sua "mensagem" foi traduzida ou transcrita até nossos dias e idiomas modernos com absoluta e total fidelidade? E uma última e excitante hipótese: além dos apóstolos, quem mais "colaborou" com Jesus no grande "plano" da Rendenção desta Humanidade?

 

Este delineamento abre a segunda parte da atual "reportagem" sobre o Ungido.

 

         Agora Talvez Pudéssemos Começar a Entendê-lo...

 

Quando nos decidimos a deixar de crer em algo no que temos acreditado até então, percebemos, imediatamente, não só as razões existentes para não crer, mas também que tínhamos essas razões constantemente diante de nossos olhos.

 

Talvez eu esteja equivocado. Ou talvez não preparado o suficiente. Talvez ainda se aninhe no fundo de meu código genético o que Freud descreveu como "condicionamentos de índole familiar, econômica, cultural e religiosa". Talvez não tenha podido arrancar ainda de meu espírito o "totem" do convencionalismo. Não sei...

 

E talvez por tudo isso tenha sentido certo temor na hora de iniciar esta segunda parte da "reportagem" sobre Jesus de Nazaré. Temor, acima de tudo, não pelo ridículo, mas sim pela possibilidade de semear confusão. Não é essa a minha vontade. Pelo contrário. Se pretendo alguma coisa, é buscar, me aproximar, descobrir a Verdade.

 

E uma "força" que não posso descobrir, mas que se apoderou de mim, está me empurrando há muito tempo para tornar públicas estas idéias e meditações. Uma "força" infinitamente maior que meu temor...

 

Ao contrário do que acontece com a experiência da NASA sobre o Sudário de Turim, que ninguém considere os estudos que agora exponho como algo provado ou dogmático, e sim como uma grandiosa possibilidade. Como o furto de milhares de quilômetros e horas de investigação pessoal Como a sombra de meus pensamentos e desejos...

 

Talvez hoje - durante os primeiros passos da conquista do sistema solar - estejamos começando a entender o que, até agora, foi apenas "mistério".

 

       Uma Checagem na Chamada "Estrela" de Belém

 

Ao se ler um dos Evangelhos, é evidente - está escrito - que Jesus de Nazaré esteve unido desde o seu nascimento a feitos "milagrosos", "sobrenaturais", ou, pelo menos, "misteriosos".

Talvez o primeiro e mais tangível tenha acontecido com sua chegada ao mundo. Mas vamos nos ater estritamente ao que foi escrito pelos evangelistas Mateus e Lucas.

 

Assim disse o primeiro: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, nos tempos do rei Herodes, uns magos que vinham do Oriente, se apresentaram em Jerusalém, dizendo: `Onde está o rei dos judeus que nasceu? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.

 

E prossegue mais adiante o versículo 2:

 

"Então Herodes, chamando secretamente os Magos, inquiriu exatamente deles acerca do tempo em que a estreIa lhes aparecera. Depois, enviando-os a Belém, disse: `Ide e perguntai diligentemente pelo menino; e quando o achardes, participai-mo, para que eu também vá e o adore.' E tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve no lugar onde estava o menino. E, vendo a estrela, se encheram de imensa alegria."

 

Por sua vez, o evangelista Lucas nos conta em seu também versículo 2:

 

"...Ora havia naquela mesma comarca pastores que guardavam durante as vigílias da noite seu rebanho. E eis que o Anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: `Não temais, porque eis que vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois na cidade de Davi vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo o Senhor. E isto vos servirá de sinal: Achareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.' E no mesmo instante apareceu com o anjo uma multidão de exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo: `Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.' E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos, disseram os pastores uns aos outros: `Vamos pois até Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos fez saber.”

 

Durante séculos a estrela mencionada por Mateus passou pouco menos que despercebida dentro do prisma astronômico. Todo mundo, durante dois mil anos, aceitou de bom grado a realidade dessa estrela. Mas muito poucos tentaram achar uma explicação científica, supondo que a houvesse. A estrela de Belém tem sido um fato absoluta e geralmente aceito.

 

Mas, conforme vamos nos "acercando" dos sóis que formam nossa galáxia - através da corrida espacial -, os investigadores e astrofísicos se perguntam: "Como uma estrela... um sol, na verdade... pôde guiar os Magos? Como podia ir `adiante' deles e, principalmente, como se deteve em cima do lugar onde estava o Menino?"

 

Antes de chegarmos a qualquer possível conclusão, examinemos, uma a uma, todas as possibilidades, a partir de um ponto de vista racional e conseqüente.

 

A "ESTRELA" DE BELÉM ERA UMA ESTRELA (UM SOL)?

 

Hoje sabemos que as estrelas - considerando-as do ponto de vista astronômico - são sóis parecidos com o nosso. São, definitivamente, grandes condensações de matéria que emitem luz devido à sua alta temperatura. Parece que nelas se concentra a maior parte da matéria que constitui o Universo, embora este ponto ainda se ache sujeito a discussão. Certamente, as estrelas não emitem unicamente luz visível, e sim também todo tipo de radiações: desde ondas de rádio, até raios X.

 

Mas vamos ao que interessa. A astronomia estabelece hoje que o tamanho das diferentes estrelas pode oscilar entre uns poucos quilômetros e mil vezes o de nosso Sol. Quer dizer, até uns setecentos milhões de quilômetros. Sabemos também, em especial a partir de 1937, com os trabalhos de Bethe e de Von Weizsãcker, que os processos que mantêm as estrelas como objetos luminosos durante milhares de milhões de anos não são outros, em suma, senão as reações termonucleares de fusão entre diferentes elementos químicos.

 

Daí também suas altas temperaturas. O Sol que nos ilumina e sustenta, por exemplo, atinge em sua coroa (área externa imediata à superfície) temperaturas de até um milhão de graus.

E nosso Sol - como diz a astronomia - é uma "simples" estrela de "tipo médio"...

 

Resulta absurdo - de um ponto de vista científico - pensar que uma dessas estrelas, ou sóis, tenha podido aproximar-se não só de nosso planeta mas do próprio sistema solar que constitui nosso "bairro" sideral. Se qualquer dos cem milhões de estrelas que parecem formar nossa galáxia tivesse abandonado sua posição inicial para "chegar" até Belém, a "intrusa" teria desencadeado um apocalíptico desastre cósmico, muito antes de divisar nosso sistema planetário.

 

E, logicamente, Belém e o resto do planeta teriam desaparecido do mapa celeste... Basta mostrar-se hoje o firmamento para saber que a estrela (ou sol) mais próxima de nós - algo assim como nosso "vizinho" de andar - dista mais de quatro anos-luz. Esse "vizinho", Alfa de Centauro, na suposição de que pudesse chegar até nosso mundo, teria necessitado, além disso, e viajando à velocidade da luz (300.000 km/seg.), um total de quatro anos.

 

E segundo os mapas de todos os astrônomos, a "vizinha de andar" não se moveu do seu lugar desde que o homem teve a possibilidade de olhar para as estrelas...

 

É certo que Deus pode conseguir tudo. Inclusive, que um sol de milhões de quilômetros de diâmetro e altíssimas temperaturas possa cruzar os espaços e "guiar" uns magos

do Oriente. Contudo, algo me diz que Deus tem que ser muito mais sensato...

 

             PODERIA SER UM COMETA?

 

Após contemplar a impossibilidade de que a "estrela" de Belém fosse um sol, resta-nos também a hipótese de que "aquilo" se tratasse na realidade de um cometa. Em nossas árvores de Natal e presépios quase sempre representamos essa "estrela" com uma extensa esteira ou cauda.

 

Mas o que dizem os astrônomos?

 

Todos os que estudam o firmamento sabem que um cometa, quando ainda se encontra muito distante do Sol (nas proximidades de Plutão ou mais longe), está constituído por um agrupamento de corpos rochosos - o chamado "núcleo" -, cuja estrutura, contudo, não se conhece com certeza.

 

Ao aproximar-se do nosso Sol esse núcleo comentário, a energia radiante solar faz com que dele se desprendam gases e pequenas partículas sólidas, que ficam gravitando ao seu redor e dão lugar à chamada "cabeleira" do cometa.

 

Ao chegar à órbita de Júpiter, esta "cabeleira" se desenvolve amplamente, e em algumas ocasiões alcança uma longitude superior a 150 mil quilômetros. A uma distância do Sol de duas unidades astronômicas (uns 300 milhões de quilômetros), a partir da "cabeleira" do cometa surge e se desenvolve uma estreita "cauda", também à custa da matéria do núcleo. E se estende em direção oposta ao Sol, ao longo de vários milhões de quilômetros. O que significaria isto?

 

Simplesmente que a existência de um cometa - por menor que seja - traz implícita umas dimensões gigantescas, totalmente alheias às características descritas por São Mateus para a famosa "estrela" de Belém. E há que acrescentar, certamente, que nenhum cometa ingressa na atmosfera terrestre sem ocasionar sua autodestruição, assim como uma infinidade de sérias perturbações. Aí temos o exemplo do cometa de Halley que, ao "tocar" as últimas camadas da atmosfera com sua "cauda", em 1911, provocou uma histeria mundial...

 

Se a estrela de Belém tivesse sido um cometa, sua proximidade do mundo seria notada pela imensa maioria dos povos. E sua passagem figuraria nos anais da História, fato este que não consta. As únicas referências históricas à presença de cometas nas épocas imediatamente anteriores e posteriores ao nascimento de Jesus de Nazaré são as seguintes: Depois do assassinato de César, perto dos idos* de março do ano 44 a.C., apareceu um brilhante cometa. No ano 17 da nossa era surgiu outro, de repente, com uma cauda magnífica, que pôde ser observado por uma noite inteira nos países mediterrâneos. O seguinte em importância, ao menos pelo que nos consta historicamente, foi visto no ano 66, pouco antes do suicídio de Nero. E nesse meio-tempo se produziu um relato de muita precisão, proveniente dos astrônomos chineses.

 

Na enciclopédia Wen-hien-thung-khao, do sábio Ma tuanlin, assim é contado sobre tal aparição: “Nos primeiros anos do imperador Yuen-yen, no sétimo mês, no dia Sin-uei (25 de agosto), foi visto um cometa na parte do céu Tung-tsing (perto de Mu, da constelação de Gêmeos). Deslocou-se sobre os U-Tschui-Heu (Gêmeos), saiu entre Ho-su (constelações Castor e Pólux), empreendeu sua corrida para o norte e penetrou no grupo Hienyuen (Cabeça do Leão) e na casa Thaiouci (Cauda do Leão)...”. "No 56 dia, desapareceu em Dragão Azul (constelação Escorpião). No total, o cometa foi observado durante 63 dias."

 

O detalhado relato da antiga China contém - segundo tem se podido averiguar nos tempos modernos - a primeira descrição do célebre cometa de Halley, o vistoso astro que passa pelas "cercanias" do Sol a cada 76 anos e que tem sido efetivamente visto na Terra. A última vez que surgiu, como relatei anteriormente, foi de 1909 a 1911. Voltará em 1986.

 

Os cometas, no entanto, embora tenham uma característica cíclica como o de Halley e dimensões tão consideráveis, nem sempre são vistos por todo o mundo. Assim, no ano 12 a.C., o cometa de Halley constitui um acontecimento celeste e foi visível em detalhes. Por outro lado, nem nos países do Mediterrâneo, nem na Mesopotâmia, nem no Egito, se faz menção, naquela época, a um corpo sideral tão luminoso e impressionante.

 

Em compensação, para o mundo do esoterismo pode ser importante - talvez transcendental e altamente significativo - que esse formidável cometa passasse sobre o nosso mundo pouco antes do nascimento de Jesus...

 

E para concluir esta seção, façamos uma nova pergunta: que cometa poderia "guiar" os Magos, desaparecer do firmamento ao chegar à cidade de Jerusalém e, pouco depois, quando estes Magos retomaram a viagem até a aldeia de Belém, reaparecer diante da caravana, assinalando seu rumo?

 

E como filigrana cósmica final, o "cometa" se "deteve acima do lugar onde estava o menino"...

 

É coisa demais para um cometa, como diz a juventude de hoje.

 

           TERIAM OS MAGOS VISTO

           UM METEORO OU METEORITO?

 

Esta tentativa de justificação "razoável" da "estrela" vista e seguida pelos Magos do Oriente nos soa mais despropositada, inclusive, que as anteriores. Os meteoros, diz a ciência, são minúsculas partículas, do tamanho de uma cabeça de alfinete, metálicas ou pétreas, que só ficam visíveis quando penetram na atmosfera terrestre, à velocidade de algumas dezenas de milhares de quilômetros por hora.

 

O calor que produz na fricção com a atmosfera os torna incandescentes. E traçam então no céu noturno essas estrelas luminosas tão conhecidas pelo nome de "estrelas fugazes".

 

Pelo contrário, os meteoritos alcançam às vezes dimensões de alguns metros e, portanto, são sempre grandes o suficiente para não se consumirem por completo durante sua queda.

Quando um meteoro entra na atmosfera de nosso mundo tem a mesma velocidade que um corpo orbitando ao redor do Sol, a uma distância igual à da Terra. Esta velocidade depende do tipo de órbita. Para as circulares, como a terrestre, é de trinta quilômetros por segundo. Para que nos entendamos melhor: esses meteoros que vemos rasgar com sua luz as noites de verão caem à bagatela de 150 mil quilômetros por hora!

 

Naturalmente, a visão dessa queda só dura uns segundos ou décimos de segundo. E se o meteorito já é de dimensões respeitáveis, o assunto se complica muito mais...

 

Nessa arrepiante velocidade de queda é preciso somar o seu peso, às vezes de até um milhão de toneladas. É mundialmente famoso, por exemplo, o que caiu em 12 de fevereiro de 1947 no sudoeste da Sibéria. O meteorito se fragmentou no ar em incontáveis pedaços, que caíram sobre a terra como uma chuva de ferro. Cobriu de crateras uma área de um quilômetro quadrado, a maior das quais com um diâmetro de 27 metros.

 

Também é sobejamente conhecida a cratera meteórica do Arizona. Alcança um diâmetro de 1.250 metros e uma profundidade de 170. Estima-se que a quantidade total de fragmentos encontrados ao redor da cratera pese, aproximadamente, doze mil toneladas. E assim podíamos seguir citando uma quantidade de casos. É evidente que nenhum meteoro ou meteorito teria podido manter um "vôo horizontal", guiando uma caravana e, para culminar, parar sobre um estábulo...

 

         A "ESTRELA" PÔDE TER SIDO

         UMA NOVA OU UMA SUPERNOVA?

 

Imagino que os astrofísicos e entendidos no assunto e que cheguem a ler este trabalho tenham esboçado um sorriso indulgente. E têm razão. Como assinalei ao desenvolver a primeira possibilidade - a de que estivéssemos diante de um sol ou estrela -, não podemos esquecer em nenhum momento que seria catastrófica a aproximação de um destes gigantescos astros ao nosso sistema solar. Diz a astrofísica do século XX: “As modernas teorias da evolução estelar predizem, para grande número de estrelas (ao menos para aquelas cuja massa, ao chegar à seqüência principal, superam em mais de quatro vezes o tamanho do nosso Sol), uma explosão como etapa final de suas vidas. Este resultado não deixa de delinear inúmeros problemas, mas parece fornecer a chave de um dos fenômenos mais espetaculares estudados pela astronomia: as supernovas”.

 

"Uma supernova é uma estrela na qual se produz um aumento rápido - em uns poucos dias - e extraordinariamente grande (vários milhões de vezes) de seu brilho, seguido também de uma rápida extinção."

 

Trata-se de algo relativamente pouco freqüente. Nos últimos mil anos, por exemplo, em nossa galáxia só foram observadas três supernovas. A primeira, no ano de 1054, foi estudada pelos astrônomos chineses e japoneses. Os restos desta explosão constituem a nebulosa de Câncer, ainda em expansão.

 

A segunda apareceu na constelação de Cassiopéia, em 1572. A terceira, na zona de Sagitário, foi observada em 1904. Atualmente se admite que - por termo médio - em uma galáxia aparece uma supernova a cada trinta anos.

 

Enquanto as estrelas denominadas novas são, em sua aparência imediata, muito semelhantes às supernovas, embora numa escala muito menor. Sua luminosidade aumenta a inicial de dez a cem mil vezes. Mas ao contrário também das supernovas, constituem um fenômeno que se repete ao cabo de certo número de anos.

 

Conclusão: nenhuma nova ou supernova pode registrar-se dentro de nosso sistema solar. Entre outras razões, porque neste "bairro" planetário onde se move a "velha caneca azul" que chamamos Terra, não há nem tem havido este tipo de estrelas. A única de que dispomos - e oxalá nos dure muito tempo - é essa que aparece a cada amanhecer e que produz (ou produzia) substanciosas divisas na Costa do Sol...

 

Tentar associar a "estrela" que seguia diante dos Magos, rumo a Belém, com uma nova ou supernova é o mesmo que confundir Sophia Loren com um criado de vocês.. Que a explosão de uma destas estrelas no firmamento - a milhões de anos-luz de nosso planeta - tivesse alertado os Magos e os pusesse a caminho em busca do Rei dos Judeus, é outro problema a discutir. Mas esta apreciação prefiro analisar na próxima seção: o de uma possível "conjunção" planetária.

 

           FOI UMA "CONJUNÇÃO" PLANETÁRIA?

 

Eis aqui um debate interessante. Hoje, astronomicamente falando, se conhece como "conjunção' o fato de que os planetas se situem no mesmo grau de longitude. Ou para sermos mais claros, que se "acerquem" ou se alinhem tanto entre si, que possam chegar a parecer uma única estrela de grande luminosidade. Foi isto que os Magos viram ou que os guiou?

 

Não nos apressemos - ao menos por enquanto - em emitir um juízo. E comecemos do início...

 

A história da "conjunção" planetária virou moda no mundo à raiz da descoberta feita pelo astrônomo e matemático imperial Johannes Kepler.

 

Na noite de 17 de dezembro de 1603, o célebre personagem estava sentado na Hradschin de Praga, sobre o rio Vltava. E observava com grande atenção a aproximação dos planetas. Aquela noite, Saturno e Júpiter se encontravam na constelação de Peixes.

 

E ao voltar a calcular suas posições, Kepler descobre um relato do rabino Abarbanel que dá detalhes sobre uma extraordinária influência que os astrólogos judeus atribuíam à mesma constelação. "O Messias", asseguravam, "teria que vir durante a conjunção de Saturno e Júpiter, na constelação de Peixes."

 

E Kepler pensou: "A conjunção ocorrida na época do nascimento do Menino Jesus teria sido a mesma que agora se repetia em 1603?"

 

O astrônomo pegou papel e lápis e fez os cálculos necessários. Resultado: observação de uma tríplice "conjunção" dentro de um mesmo ano. E o cálculo astronômico assinalou a data do ano 7 a.C. para este fenômeno.

 

Segundo as tábuas astrológicas, deve ter ocorrido no ano 6 a.C.

 

Kepler decidiu-se então pelo ano 6 e remeteu a concepção de Maria ao ano 7 a.C. E o matemático deu a conhecer sua fascinante descoberta em uma porção de livros e artigos. Kepler foi "vítima" de uma crise de misticismo e - como costuma ocorrer nestes casos - suas hipóteses e achados caíram no esquecimento ou foram menosprezados.

 

E chegou o século XX. E, com ele, outra descoberta que reivindicaria o que foi dito por Kepler: em 1925, o erudito alemão P. Schnabel decifrou uns fragmentos cuneiformes, procedentes de um célebre instituto técnico da antiga escola de astrologia de Sippar, na Babilônia. Ali havia uma notícia surpreendente.

 

Tratava-se da situação dos planetas na constelação de Peixes. Os planetas Júpiter e Saturno vêm cuidadosamente assinalados durante um período de cinco meses. E isto ocorre- no sétimo ano antes do nascimento de Jesus de Nazaré achado era tão importante que boa parte da astronomia oficial se dedicou à comprovação do cálculo. E graças aos ultramodernos planetários ratificou-se – para satisfação de todos, com exceção do já finado Kepler, claro - que no sétimo ano antes da nossa era houve uma "conjunção" de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes e,como calculara o matemático do século XVII, repetiu-se por rês vezes. E parece que tal "conjunção" teria sido visivelmente condições muito favoráveis a partir do Mediterrâneo

 

Segundo esses cálculos astronômicos modernos, as três "conjunções" citadas se produziram nas seguintes datas: Em 29 de maio do ano 7 a.C. aconteceu, visível durante três horas, a primeira aproximação dos planetas. A segunda "conjunção" se registrou em 3 de outubro, a dezoito graus, na constelação de Peixes. A 4 de dezembro teria lugar a terceira e última.

 

O achado astronômico - importante em si mesmo, sem dúvida - serviu para que muitos estudiosos das Sagradas Escrituras tenham associado esta tríplice "conjunção" com a "estrela" de Belém.

 

Para isto contribuiu - e de que maneira! - a não menos importante confirmação de que Jesus não nasceu no ano zero na nossa era, como se acreditava, mas sim, exatamente, entre seis e sete anos antes.

 

Vamos abrir um parêntese para desenvolver, muito brevemente, este lapso histórico. A cronologia cristã, inaugurada por iniciativa do monge Dionísio, o Pequeno, no século VI, atribui o ano 1 ao que se segue ao instante do nascimento de Jesus de Belém. Distanciava assim as antigas cronologias das Olimpíadas gregas ou a fundação de Roma. E foi mundialmente aceita.

 

Contudo, essa data contém um erro. Dionísio, o Pequeno, se enganou. Todos os historiadores admitem que Herodes, o Grande, morreu no ano 4 a.C. E Jesus, segundo dizem os Evangelhos, nasceu nos tempos de Herodes, que, além disso, o perseguiu para matá-lo. Isto quer dizer que o Nazareno teve que vir a este mundo não no início do ano 1, como dizia o monge Dionísio, mas sim quatro anos antes. Quanto tempo antes?

 

O Evangelho de Mateus (2, 16) diz que Herodes, de acordo com os dados investigados dos Magos do Oriente, mandou matar os meninos com menos de dois anos de idade. Isso significa que é preciso atrasar o momento do nascimento de Jesus de Belém em um ou dois anos antes da morte do tirano, cruel e astuto Herodes. Exatamente entre os anos menos 6 ou menos 7 da atual era cristã.

 

Como uma das bases dessa afirmação citarei os dados do historiador judeu "romanizado" Flávio Josefo em torno da morte de Herodes, o Grande: "Herodes", diz Josefo, que foi contemporâneo dos apóstolos em grande parte de sua vida, "recebeu o reino (trinta ou quarenta léguas de longitude) dos romanos no ano da Olimpíada grega 184, sendo cônsules Domício Calvino, pela segunda vez, e Asínio Polião". (Ver seu livro Antiguidades Judias, XIV, 14, 5.)

 

Pois bem, a data inicial das Olimpíadas corresponde ao ano "menos 773" da era cristã atual. E o assinalado por Flávio Josefo para o começo do reino de Herodes se identifica historicamente com o "menos 40" atual. (Sabemos também o ano dos cônsules romanos citados e o das Olimpíadas, pela citação de Flávio, e corresponde ao -40.) Como conseguimos determiná-lo? O mesmo historiador judeu nos diz. Após fornecer a data do começo do reinado, acrescenta a da morte de Herodes: -4 da era cristã.

 

Diz Josefo: "Depois de tudo isto, morreu no quinto dia, após mandar matar Antipas (seu filho), tendo reinado 37 anos desde que recebeu o `reino dos romanos'."

 

Este dia exato da morte de Herodes pôde ser determinado com certeza. Pouco antes de seu desaparecimento - não mais que um mês -, quando estava em seus últimos furores, houve uma grave ocorrência. Acreditando que ele havia morrido, conta Flávio, um grupo numeroso de jovens se deslocou para o templo e, a machadadas, depredou e derrubou uma águia de ouro romana ali instalada. Foram advertidos pelos doutores da Lei, que não podiam permitir aquele sacrilégio. Mas Herodes vivia. E sua cólera e decisão foram inenarráveis. Mandou queimar vivos os doutores e os líderes dos jovens e matar os restantes das mais diferentes formas...

 

Este grau de bestialidade em Herodes, o Grande, não pode nos assombrar, já que - além da matança dos bebês de Belém (mais de trezentos) - mandou eliminar inúmeros amigos e parentes.

Entre outros, por exemplo, a sua mulher, a formosa Mariane, que foi decapitada. E seus dois filhos, aos quais estrangulou. Cinco dias antes de sua morte, como assegura Flávio Josefo, ordenou também o suplício de seu terceiro filho, Ântipas.

 

Mas seu ódio e loucura foram tais que, querendo que sua morte fosse chorada, não lhe ocorreu melhor forma de consegui-lo senão deixar escrito que os principais vultos da nação fossem reunidos no hipódromo de Jericó e ali passados ao fio da espada, depois que ele houvesse expirado. Com este "sistema", o duelo seria geral...

 

Mas quando o monstro morreu, sua irmã Salomé ocultou sua morte pelo espaço de um dia. Apossou-se do anel real e selou a ordem de libertação. E Josefo diz que - queimados vivos os doutores e os "cabeças" do atentado do Templo - Herodes morreu antes que se passasse um mês. A data de sua morte, pouco antes do dia da Páscoa ou da lua cheia, foi considerada pelo povo como um castigo de Deus. Porque, além disso - acrescenta o historiador em seu livro -, "no dia em que mandou queimar os doutores da Lei houve um eclipse lunar".

 

Então, esse fenômeno era considerado como importante. Este dado permitiu controlar a data com grande precisão. E os astrônomos modernos fixaram o dia do eclipse em 13 de março (lua cheia) do ano "menos 4" de nossa era. Herodes morreu antes de um mês: pouco antes da Páscoa, que foi o 11 de abril (14 do Nissan). Tudo encaixa, portanto.

 

Este erro nas datas do calendário do monge Dionísio, o Pequeno, nos conduz, ademais, a outras curiosas conclusões. Por exemplo, demonstrado que o nascimento de Cristo ocorreu entre os anos -6 e -7, a comemoração do bimilenário de tal iluminação não será no ano 2000, como acreditamos todos, e sim nos anos de 1994 ou 1993.

 

Se levarmos em conta que Maria não teria mais que quatorze anos completos - como era o costume judeu - quando deu à luz o seu primogênito, isto quer dizer que o bimilenário do nascimento de Maria tem que centrar-se no ano de 1980. E o bimilenário de sua concepção teria que ser celebrado também um ano antes: entre 1979 e 1980.

 

Como conclusão desta "escapada" histórica, podemos afirmar que Jesus de Nazaré foi morto quando corria o ano 30 de nossa era. Os astrônomos modernos assinalavam, além disso, que apenas nesse ano e no ano 34 a Páscoa caiu no sábado, tal qual se narra nos Evangelhos. O ano de 34 já era tarde demais.

 

Segundo isto, o Nazareno viveu uns 34 ou 35 anos completos, e não 33, como se acredita até hoje. Mas voltemos ao tema central que nos ocupa: a estrela" de Belém. Eu dizia que nestes tempos em que vivemos, uma das teorias mais aceitas é a que "identifica" tal "estrela" com a mencionada "conjunção" planetária descoberta por Kepler. E embora a proposta seja cientificamente aceitável, e inclusive convincente, também apresenta pontos obscuros..

Vejamos alguns. Admitamos que os Magos (sem dúvida, astrônomos e astrólogos) tenham-se fixado na cidade de Sippar, na florescente Babilônia, onde foram achadas as tabuinhas que confirmaram a descoberta de Kepler

 

Se os Magos viram a "estrela" - perdão, a "conjunção" - no Oriente, tal qual contaram a Herodes, por que não se puseram a caminho até o Oriente? Por que, em vez disso, tomaram o rumo oposto, até o Ocidente?

 

Mas os exegetas e intérpretes da Bíblia têm resposta para tudo. E eis aqui o que dizem desta contingência: Os observadores do céu no Oriente, astrólogos que eram, atribuíam a cada estrela um significado especial. Segundo a opinião predominante na Caldéia, a constelação de Peixes era o signo da Terra do Ocidente, das terras do Mediterrâneo. Segundo a tradição judia, era o signo de Israel, o signo do Messias. A constelação de Peixes está no final de uma velha trajetória do Sol e no princípio de uma nova. Nada mais adequado que considerar aquele signo como o fim de uma era e o princípio de outra! (Assegura o especialista Werner Keller.)

 

"Júpiter era considerado por todos os povos e em to. dos os tempos como a estrela da fortuna e da realeza. Segundo as antigas tradições judaicas, Saturno tinha que proteger Israel; Tácito o põe no mesmo nível que ao deus dos judeus."

 

A astrologia babilônica considera o planeta do anel como estrela especial dos países vizinhos Síria e Palestina.

 

"Desde Nabucodonosor, muitos milhares de judeus viviam na Babilônia. Muitos dentre eles podem ter realizado seus estudos na citada escola astrológica de Sippar. Uma aproximação tão resplendente de Júpiter e Saturno - o protetor do povo de Israel - na constelação do `País do Ocidente', do Messias, deve ter comovido os astrólogos judeus. Pois, segundo a interpretação astrológica, isso significa a aparição de um rei poderoso na Terra do Ocidente, na de seus pais. Assistir a isso, ver com seus próprios olhos, esse foi o motivo da viagem dos Magos", conclui Keller, "conhecedores das estrelas, procedentes do Oriente!"

Até aqui, é o argumento dos exegetas.

 

Mas vejamos por partes. À margem dessas especulações astrológicas sobre as influências, proteções e crenças em torno das constelações e planetas, o que já se torna mais difícil de provar é se os citados Magos ou astrônomos foram mesmo judeus. Não existe uma só testemunha ou documento valioso para prová-lo. Nem sequer sabemos com certeza se eram três - Melchior, Gaspar e Baltasar -, nem se seguiram juntos ou em separado...

 

A constância histórica de tais personagens baseia-se unicamente nos Evangelhos.

 

E a primeira alusão à dita existência coincide com sua entrada na cidade de Jerusalém. Nada mais. Parece-me, portanto, absolutamente gratuito afirmar que os Magos procediam de ou viviam em Sippar. E muitíssimo mais que eram judeus...

 

Não faz muito sentido, por outro lado, que tal "conjunção" - vista não só da Babilônia, mas também de toda a bacia mediterrânea (incluindo Israel) - só fosse "interpretada" pelos astrólogos e astrônomos da distante Babilônia. Se a vinda do Messias era esperada com autêntica expectativa pelo povo hebreu - como realmente era -, como é possível que os doutores, astrônomos e astrólogos judeus que viviam na Palestina - e que deviam ser tão bons profissionais como os de Sippar - não se aperceberam de que a trazida e levada "conjunção" planetária era o sinal tão longa e ansiosamente esperado?

 

E uma vez que a "conjunção" dos planetas se repetiu por três vezes no mesmo ano, não podemos imaginar que, nas três ocasiões, o fenômeno os pilhara dormindo ou em greve...

Teria faltado tempo aos astrólogos e magos israelitas para comunicar aos sumos sacerdotes - não sei se ao povo - o supremo acontecimento, supondo que a dita "conjunção" lhes tivesse chamado a atenção.

 

Mas não foi assim.

 

E uma prova do que digo é que, quando os Magos se apresentaram diante do inquieto Herodes, a primeira coisa que fez o rei - mais sobressaltado do que nunca - foi chamar os sumos sacerdotes e escribas e perguntar-lhes onde devia nascer o Messias.

 

Repito que se os homens do povo de Israel tivessem percebido o menor sinal nos céus - leia-se "conjunção" -, os "serviços de informação" de Herodes, o Grande, teriam ficado a par em questão de horas.

 

Tudo isto me leva a pensar que as três "conjunções" do ano "menos sete" pouco ou nada tiveram a ver com a cada vez mais intrigante e misteriosa "estrela" que apareceu no Oriente, "guiou" os Magos até a Palestina e - mais concretamente - "seguiu adiante da caravana até que chegou e se deteve acima do lugar onde estava o Menino"... (Sigo lendo o Evangelho, como se pode comprovar.)

 

E ainda que os Magos se informassem sobre a aldeia exata onde deveria nascer - ou já havia nascido - o "rei dos judeus", já que assim acabara de ser comunicado a Herodes, também é estranho (para não dizer cômico) que a "conjunção" em questão "seguisse à frente" da caravana e "parasse" exatamente acima do lugar. Belém não devia ser muito grande àquela época, mas deveria agrupar um número suficiente de casas, estábulos, porões e currais capaz de confundir um estrangeiro que procurava um dos muitos bebês do povoado. E não estou errado quando digo "muitos". Em Israel, naquele tempo, a esterilidade era um signo negativo, e as mães judias se compraziam com uma generosa prole. Se a essa arraigada tradição hebréia acrescentarmos a falta de luz elétrica, de televisão e da pílula, a população infantil em Belém e em qualquer outro povoado judeu tinha de alcançar altas taxas...

 

Razão a mais, enfim, para que a "estrela" parasse em cima do lugar exato onde vivia o Menino que procuravam e sobre o qual - com toda certeza - os Magos não dispunham de qualquer identificação. Mas, antes de prosseguir, quero relatar minha única experiência com uma "conjunção" planetária. Durante várias noites da terceira semana de 1975 foi possível observar da Espanha uma "conjunção" entre os planetas Vênus e Júpiter. Com efeito, o fenômeno foi realmente vistoso. E muitas pessoas chegaram a confundi-lo com OVNIs.

 

Mas, como dizia, numa daquelas noites eu viajava de Saragoça a Pamplona. Regressava de uma ampla investigação sobre OVNIs e tencionava descansar na casa de meus pais na capital de Navarra.

 

Pois bem, ao chegar na altura da localidade de Caparroso, comecei a distinguir a citada "conjunção". E como é meu costume quando deparo com qualquer fenômeno "suspeito", parei o carro e focalizei as brilhantes luzes que se levantavam a muito poucos graus sobre o horizonte. Através da teleobjetiva de minha câmera fotográfica podia-se ver com grande nitidez as duas massas luminosas de Vênus e Júpiter. E, por cima da "conjunção", a Lua.

Segundo meus cálculos - e dada a posição onde me encontrava naqueles momentos -, seguindo em direção à chamada "conjunção", teria chegado à cidade de Pamplona. Agora, uma vez ali, o fenômeno astronômico continuava sendo visto muito mais além... E se eu tivesse me lançado na absurda "perseguição" à "conjunção", ainda estaria correndo...

 

Claro está, portanto, que uma "conjunção" não pode sequer assinalar ou marcar uma casa ou estábulo, quanto mais toda uma cidade ou nação. Se eu estivesse indo a Pamplona procurar uma determinada casa - extrapolando o caso de Belém -, e com o único apoio da "conjunção", teria deparado com "sérios" problemas...

 

Mas os exegetas e hipercríticos esquecem, entre outros, um detalhe importante, que desmonta ainda mais a teoria da "conjunção" planetária. Em todos os arquivos, bibliotecas e testemunhos que pude consultar - e que fazem referência ao comércio e transporte daquele tempo - raríssimas vezes se faz alusão ao fato de que as caravanas avançavam durante a noite.

 

Tanto os mercadores quanto os mensageiros, emigrantes e até expedições militares faziam suas viagens "de dia". E embora não disponha do testemunho histórico definitivo, é quase certo que os Magos - juntos ou em separado - seguiram o costume generalizado de percorrer léguas ou jornadas de sol a sol.

 

As mais elementares normas de segurança - frente a salteadores, acidentes no terreno, ataques de animais etc. - assim o aconselhavam. E duvido muito que os Magos tivessem sido exceção.

Mas, de acordo com isto, e uma vez que estrelas, cometas, meteoros, meteoritos e "conjunções" planetárias não são visíveis à plena luz do dia, que tipo de "estrela" era a que guiava os astrônomos?

 

Se os Magos falaram de "estrela", isso significa, sem o menor traço de dúvida, que "aquilo" que viam no céu possuía ou emitia luz. Do contrário teriam utilizado outra terminologia, como nuvem, pássaro, tormenta ou não sei mais o quê...

 

O assunto, como vemos, parece complicar-se. Certamente - e embora não o tenha mencionado -, creio e aceito que aquela gente (os Magos) viu realmente "algo". E o que Mateus e Lucas puseram em seus evangelhos é rigorosamente certo. E que isso siga adiante, antes de se passar a outras investigações e arrazoados.

 

E estamos chegando ao fim...

 

         A "ESTRELA" DE BELÉM

         FOI UMA BELA METÁFORA ORIENTAL?

 

E antes de passar ao que eu, pessoalmente, creio que possa ser a simpática "estrela" que conduziu os Magos até Jesus de Nazaré, avaliemos uma última alternativa...

 

A aparição da dita "estrela" e dos Magos poderia ter sido uma formosa e sugestiva parábola, às quais eram tão propensos os povos orientais?

 

Neste sentido creio que é muito mais categórica a palavra de um ilustre jesuíta, o padre Antonio Romaná, até bem pouco diretor do Observatório do Ebro, na cidade tarraconense de Tortosa.

 

A pretexto da elaboração deste livro, aconselhei-me com ele - bem como com muitos outros ilustres doutores em teologia, astrônomos e cientistas em geral - sobre questões muito delimitadas: as súbitas trevas que caíram sobre Jerusalém durante a crucificação do Nazareno e à presença da "estrela" de Belém. Esta foi a resposta - em carta manuscrita do padre Romaflá - relativa à minha segunda pergunta:

 

...Quanto à estrela de Belém, formularam-se muitas hipóteses para identificá-la com possíveis conjunções de astros, todas certamente muito violentas e forçadas. Creio que o que o evangelista pretende descrever é algo fora da ordem normal da natureza e pelo menos de caráter milagroso ou maravilhoso, já que diz que a estrela (fenômeno luminoso) precedia e como que guiava os Magos e que parou sobre o local onde estava o Menino Divino. Você sabe que hoje em dia muitos exegetas católicos discutem a natureza dos capítulos sobre a infância de Jesus e duvidam se são descrições estritamente históricas ou de narrações do gênero que chamam "midráshico", em que um fato histórico, de caráter religioso, se apresenta como embelezado e adornado com personagens mais ou menos legendários e piedosos, que possam contribuir para ressaltar a idéia ou ensinamento que se pretende inculcar com a narração. Confesso-lhe que não sou partidário desta maneira de interpretar e que prefiro ver nas narrativas da infância, narrativas tão históricas como as do resto dos Evangelhos, principalmente quando deparamos com prólogos como os de São Lucas, que afirmam haver-se informado cuidadosamente acerca de quem testemunhou os fatos; mas saiba que a teoria que chamou dos "gêneros literários" é hoje admitida por muitos professores de Sagrada Escritura católicos, e talvez para muitos apresente a solução de certas dificuldades. Creio que com isto contestei suas perguntas. Se algo mais se lhe oferece, estou a seu inteiro dispor. Já sabe o quanto é sinceramente apreciado por seu afeiçoadíssimo

ANTONIO ROMANA, S.J.

 

Pouco se pode acrescentar a estas frases, tão claras e precisas. Talvez somente que os exegetas citados pelo jesuíta parecem ter passado por alto que o rei Herodes se reuniu com seus escribas e sumos sacerdotes a fim de informar-se sobre o nascimento daquele "intruso"...

 

E embora eu não tenha notícia da descoberta de algum documento histórico onde se faça referência a este fato concreto e nada metafórico, suponho que - dadas as desconfianças e intrigas de que fala Herodes, o Grande, durante seu reinado - a reunião em questão pode ter realmente ocorrido. Era um passo lógico dentro da política de terror que havia implantado o amigo Herodes.

 

Mas há dois outros extremos que guardam muito pouca relação com os coloristas e etéreos contos e lendas orientais. Refiro-me à brutal matança dos inocentes em Belém de Judá...

 

Por outro lado, encaixa-se à perfeição com os atos e decisões - constatados historicamente - do bárbaro Herodes. Além disso, os defensores do gênero chamado "midráshico" tampouco levaram em conta que, à ocasião em que ocorreu o "holocausto" de centenas de bebês, já havia decorrido um tempo mais do que prudente para que seus respectivos pais os tivessem registrado, como havia sido ordenado pelo imperador romano Augusto. Na realidade, a presença do carpinteiro José de Nazaré em Belém, a cidade de Davi, se devia unicamente a este trâmite administrativo e obrigatório para todos.

 

Ignoro também se já se investigou, mas seria de grande utilidade, como fundamento histórico e científico, tratar de encontrar os restos daquele "censo". É muito possível - se isto ocorresse - que em relação à cidade de Belém aparecessem os nomes de todos ou quase todos os meninos que, pouco depois, foram assassinados. Que melhor prova para os "midráshicos" - desculpem - da fragilidade de seus argumentos?

 

Embora, na verdade, já estejam sobejamente escaldados com a descoberta de Antioquia...

Tal qual me dizia o padre Romaná, alguns exegetas católicos puseram em dúvida - rotulando como "lenda" ou "metáfora" - até mesmo a veracidade do "censo" mencionado nos Evangelhos.

 

"Aconteceu", diz São Lucas, "que por aqueles dias foi emitido um edito de parte de César Augusto, em que se ordenava que fossem inscritos no censo os habitantes de toda a terra. Este primeiro censo se realizou sendo Quirínio o pretor da Síria..."

 

Segundo alguns destes exegetas, o tal Quirínio chegou à Síria, na qualidade de legado, no ano 6 d.C. Junto com ele Roma enviou Copônio como primeiro procurador da Judéia. E, entre os anos 6 e 7 de nossa era, realizaram um censo. E os hipercríticos - já começo a denominá-los de "exegetas de salão" - pisaram nas tamancas, afirmando que este não podia ser o "censo" citado pelo Evangelho, já que nos anos 6 e 7 da nossa era, Jesus de Nazaré tinha treze ou quatorze anos.

 

Teria São Lucas, o médico, se equivocado? Assim pareceu até que um belo dia, em Antioquia, alguém achou um fragmento de uma inscrição romana no qual se demonstrava que o discutido Quirínio estivera outra vez - como legado do imperador Augusto - na Síria, exatamente nos tempos do procônsul Saturnino. Naquela época coube-lhe por sorteio uma missão puramente militar. Dirigia então a campanha contra os homonadenses, tribo estabelecida na cordilheira do Tauro, na Ásia Menor. Quirínio havia estabelecido seu quartel-general na Síria e corriam os anos 10 e 7 a.C. O censo, enfim, tinha sido real.

 

E isto supunha uma nova rachadura - eu diria que o desmoronamento final - da hipótese sobre a "estrela" de Belém puramente simbólica... Com que nos defrontamos então? Se a "estrela" de Belém não era um sol; se a "estrela" de Belém não era um cometa; se a "estrela" de Belém não era um meteoro ou meteorito; se a "estrela" de Belém não era uma nova ou supernova; se a "estrela" de Belém não era uma lenda ou metáfora oriental - e se os evangelistas dizem a verdade -, o que era então a chamada "estrela" de Belém?...

 

           A "Estrela" de Belém Foi uma Nave Sideral?

 

Não ficarei fazendo rodeios demais. É possível que muitos já tenham adivinhado por onde andam voando meus pensamentos. De fato. Se aquela "estrela" não pôde ser nada do que foi exposto anteriormente e, contudo, voava, brilhava e dava a impressão de mover-se como se alguém a dirigisse, aquela "estrela" só podia ser o que nós hoje descrevemos como um "objeto voador não-identificado" (OVNI).

 

É muito lógico e humano que para muitas pessoas esta afirmação - repito que total e absolutamente pessoal e cientificamente indemonstrável - as faça sorrir, ou até as escandalize. Como posso atrever-me a misturar algo tão sagrado como o nascimento de Jesus com os OVNIs? No fundo, tudo é questão de matizar. Os que conhecem meu interesse e dedicação na investigação dos polêmicos "objetos voadores não-identificados" saberão que este assunto se reveste para mim de uma seriedade tão profunda que cheguei a abandonar o trabalho de repórter em meu jornal para dedicar-me exclusivamente ao estudo e rastreamento do fenômeno OVNI. Nada mais distante de mim, portanto, que o desejo de banalizar o tema...

 

Foram exatamente esses anos de estudo, essas centenas de testemunhas entrevistadas em todos os cantos do mundo, além do fato transcendental de tê-los visto eu mesmo, que me inclinam agora - depois de ler e reler os testemunhos de Mateus e Lucas - a suspeitar de uma intervenção direta ou presença dos OVNIs deste primeiro capítulo da vida humana de Jesus Cristo.

 

Certamente, descer em profundidade neste tema nos levaria com certeza a novos e insuspeitados "horizontes". Mas talvez não seja este o momento oportuno... Fiquemos, por enquanto, na "superfície".

OVNIs. O que entendo por tais? E, o que é mais importante: supondo que assim fosse, e que os ditos objetos existissem, que papel podiam desempenhar, guiando a caravana dos Magos e assinalando o lugar onde estava o Menino?

 

Seria absurdo de minha parte que, depois de quase trezentos mil quilômetros atrás dos OVNIs, depois de ouvir tantos testemunhos, de ter em minhas mãos documentos oficiais e secretos da Força Aérea, onde aparecem estes objetos e, sobretudo, depois de tê-los visto a duzentos metros, seguisse pensando que os OVNIs não existem.

 

Esclarecido este ponto - básico, naturalmente -, disponho nestes momentos de declarações suficientes a ponto de crer que tais objetos são naves procedentes do espaço exterior. Astronaves extraterrenas. Consegui reunir igualmente um volume tal de informação sobre testemunhas que dizem ter visto seus "pilotos" ou tripulantes, que não me repugna, em absoluto, a idéia de que naves sejam tripuladas em sua maior parte. Feitas estas ressalvas - como é natural ainda não demonstráveis cientificamente -, passemos à segunda parte do meu argumento.

 

Estas civilizações galácticas que nos visitam - e desde tempos remotos - têm que estar, por lógica, muito mais adiantadas que a nossa. E não só em sua pura tecnologia mecânica ou de "navegação" espacial, como também em suas idéias e conhecimento do Cosmo e do Espírito. Ou, o que é o mesmo, de Deus.

 

Se a encarnação de Cristo em nosso planeta há dois mil anos exigiu todo um plano cósmico ou divino - como é natural que assim fosse -, por que repelir a possibilidade de que as "raças" ou "seres" mais evoluídos ou "próximos" ao Criador, ou Força, ou Energia Suprema, ou Deus, ou como queiramos defini-lo, tomaram parte de alguma forma da mencionada vinda?

 

Pessoalmente considero muito mais fantástica ou fantasiosa a crença de um anjo alado, que voa para lá e para cá como uma cegonha...

 

Parece-me mais racional e próprio de um Deus sábio e "sensato", a presença de "homens" ou "seres" - com ou sem base física - que "percorram o caminho da Perfeição", apoiando-se numa lógica evolução física, tecnológica ou espiritual. Por que repelir então a possibilidade de "astronautas" celestes, autênticos "missionários" do espaço, a serviço desse grande Deus?

 

Por acaso nossos missionários na Índia, na África e na Amazônia não aproveitam e utilizam os helicópteros, aparelhos de raios X ou penicilina em seu trabalho? São Gregório e São João Damasceno admitiam que os "anjos" do Antigo e Novo Testamento puderam adquirir formas materiais... São Bernardo estimava que "a natureza de Deus é a única que não tem necessidade de um instrumento corporal..." São Tomás de Aquino aceitava que, quando as circunstâncias o exigiam, as criaturas celestiais podiam conseguir "pelo poder divino, corpos sensíveis", que eram vistos ou tocados... Para Santo Agostinho era "crível que os anjos se apaixonassem pelas mulheres e se casassem com elas", tal qual indica a Bíblia nos primeiros capítulos do Gênesis... Para São Paulo, por fim, pode haver seres celestiais dotados de um corpo celestial superior (como os que aparecem a Daniel ou à Virgem Maria) e outros, isentos de pecados, mas que não possuem corpos de tão elevada categoria celestial... E os exemplos tornariam esta lista interminável.

 

Nossa ciência mais moderna - a utilizada pela NASA na conquista do espaço - já está, como temos visto nas experiências sobre o Sudário de Turim, a serviço desse Deus...

 

Enfim, essa "estrela" que foi vista sobre Belém de Judá podia ser uma nave sideral, de características e natureza desconhecidas para nós, sem falar para os homens da época, a bordo da qual viajassem os já conhecidos e familiares "anjos" do Antigo Testamento e que nele são mencionados nada mais nada menos que 108 vezes!

 

"Anjos" de roupagens resplandecentes e estranhas que hoje identificaríamos, talvez, com nossos próprios astronautas, de indumentária não menos estranha e metalizada... Mas esta, logicamente, é uma hipótese indemonstrável nos dias de hoje. Quantos casos típicos e famosos dentro da ufologia mundial coincidem em suas principais características - luz, brilho, movimento etc. - com a "estrela" descrita por Mateus!

 

Claro que se nos valemos de outros testemunhos históricos, fortalece-se a crença de que a "estrela" dos Magos era realmente um OVNI. No século 1, por exemplo, o bispo de Antioquia assim descrevia a citada "estrela": "Sua luz era indescritível. Surpreendia por sua novidade... Todos estavam assombrados, perguntando-se de onde poderia vir esta novidade, tão diferente dos outros astros."

 

Por seu turno, o cronógrafo Júlio Africano, no século III, relatava a "descida" de uma estrela na Pérsia, que anunciou o nascimento de Belém e "guiou" os Magos...

 

E num estudo da Epístola aos Efésios (capítulo 19), Santo Inácio sublinha a "novidade" dessa estrela, que fazia com que aqueles que a contemplassem caíssem mudos de estupor...

 

E deixou de lado os livros chamados apócrifos, e aqueles em que são feitas interessantes referências a esta "estrela", exatamente para não se afastar do regueiro dos livros canônicos.

 

Por último, vejamos o testemunho de São Lucas, tão esplêndido quanto esclarecedor neste mesmo sentido. Diz o evangelista: "Havia na mesma região (Belém) pastores que viviam nos campos e guardavam o rebanho durante as vigílias da noite. E surgiu-lhes o anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu em sua luz e se encheram de temor. O anjo porém lhes disse: `Não temais, pois vos trago uma boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal. Encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura.' E subitamente se juntou ao anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: `Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens que ele quer bem.' E ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: `Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer.' E foram apressadamente."

O fato, segundo se depreende do texto evangélico, se produziu na mesma noite do nascimento de Jesus. Dias ou semanas antes, claro, da chegada dos Magos e da "estrela".

 

Mas vamos esmiuçar o relato...

 

De acordo com o já exposto, e sempre de um ponto de vista pessoal, o "anjo do Senhor" que se "apresentou" aos pastores no meio do campo de Belém pode ser interpretado aqui como uma nave ou como algum dos seus tripulantes.

 

Tanto um quanto outro deviam possuir alguma poderosa luz, já que, ato contínuo, "a glória do Senhor os envolveu em sua luz e se encheram de temor".

 

Talvez caibam aqui várias possibilidades: ou que, já que era noite, a nave iluminara a área e os pastores, ou que alguns dos "astronautas" ou "anjos" do Senhor portasse ou utilizasse algum sistema de iluminação artificial. Ou, inclusive, os dois sistemas ao mesmo tempo.

 

Em meus arquivos, como nos da maioria dos investigadores de OVNIs do mundo, figuram centenas de avistamentos destes objetos que - principalmente durante a noite - lançam amplos e potentes fachos de luz branca ou de diferentes tonalidades sobre os campos, montanhas e mares que sobrevoam. Há também inúmeras testemunhas que afirmam ter visto estes OVNIs e como, a partir das naves, foram projetados sobre elas e seus automóveis e lanchas focos imensos e deslumbrantes que lhes permitiram ver "Co mo se fosse de dia".

 

Estas expressões - "...e a noite se iluminou como se houvesse saído o sol" ou "tudo, até onde nossa vista alcançava, ficou claro como o dia" - repetem-se incessantemente em muitos testemunhos sobre OVNIs. E numa altíssima porcentagem de casos - e isso constato pessoalmente - as testemunhas passam do assombro ao terror. Se isto sucede hoje, quando sabemos das sondas espaciais e da sofisticada tecnologia dos vôos à Lua, o que se podia esperar de uns pastores primitivos da Judéia? Era mais do que lógico que caíssem de rosto na terra e confundissem seus efeitos elétricos ou eletromagnéticos com a "glória do Senhor ou de Jeová..."

 

E não creio que este argumento estrague ou desvalorize a carga cósmica, divina ou sobrenatural que possa encerrar a presença destes "mensageiros" ou "missionários" do grande Deus...

 

Pelo contrário. A mim, pessoalmente, me aproxima e torna mais clara a "figura" desse Deus...

 

Mas continuemos com o texto de São Lucas: "...o anjo porém lhes disse: `Não temais, pois vos trago uma boa nova de grande alegria...”

 

É evidente que falou o "anjo", ou "astronauta", ou "mensageiro" do Espaço. E o fez de tal forma que os pastores, homens rudes, o entenderam.

 

Entre os muitos casos de testemunhas que viram os tripulantes dos OVNIs e que pude investigar pessoalmente pelo mundo, há um número considerável de contatos, como agora são classificados, "do terceiro grau". E em alguns desses "contatos", os "pilotos" extraterrenos se dirigiram às aterrorizadas testemunhas em sua língua natal. Disponho de casos nos quais os ocupantes dos OVNIs falaram - com fonemas - em inglês, espanhol ou francês. E dou fé ao fato de que muitas dessas pessoas são gente honrada e de total confiança, que não mentem.

 

Por outro lado, tampouco deve nos resultar incompreensível que uma ou mil civilizações galácticas - talvez de anos de desenvolvimento - captem e aprendam nossos idiomas à perfeição. Nós já o fazemos com as tribos mais primitivas...

 

E se esse grupo de "anjos" ou "astronautas" do Cosmo participava de alguma forma do "plano divino" da chegada de Jesus a esta "velha e formosa caneca azul", o que fazer senão comunicar aos pastores e vizinhos da região de Belém o mais importante acontecimento de todos os tempos?...

 

Além do mais, os citados "anjos", ou "astronautas ou "mensageiros" deviam conhecer muito bem as circunstâncias e pormenores do nascimento daquele menino, já que facilitaram aos assustados pastores a indicação das faixas e da manjedoura. Tampouco este "detalhe" deve nos alarmar.

 

Se hoje nós, com nossa rudimentar gama de satélites artificiais, podemos saber quando se apaga a luz do gabinete de um chefe de Estado, ou fotografar um objeto do tamanho de uma bola de tênis que se encontre no solo, o que não poderão "ver", controlar ou inspecionar estas naves siderais, infinitamente mais perfeitas que nossos satélites "espiões"?

 

Era mais que possível - segundo isto - que as naves destes "missionários" espaciais e especiais tenham "guiado" até Belém aqueles que deviam intervir de alguma maneira no "plano"...

 

E, arrematando, São Lucas diz:

 

"...E ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros..."

Eis aqui outro rasgo interessante na narrativa. Se aqueles "anjos" tivessem sido - permitam-me a licença - "de altíssima categoria ou bordo", praticamente espírito ou energia pura, não teriam necessitado "ausentar-se para o céu". Desaparecendo ou desmaterializando-se no mesmo campo onde se achavam os judeus, "aqui a paz e depois a glória..."

 

Mas não. Os anjos - que além do mais necessitavam de luz - deixaram os pastores, seguindo ou afastando-se para o céu. Isto, em palavras do século XX, poderia ter sido traduzido como um simples "afastamento" de suas naves ou dos próprios "astronautas", supondo-se, é claro, que dispusessem das correspondentes equipes individuais de autopropulsão.

 

E insisto em que tudo isto não diminui num único ponto a transcendência e grandiosidade do momento. Como tampouco é motivo de escândalo que hoje a Sagrada Eucaristia seja levada por um sacerdote de uma aldeia a outra da Amazônia em meio ao rugir de um helicóptero. Como tampouco será ridículo ou degradante para os filhos de Deus que, algum dia, um "sacerdote-astronauta" celebre a primeira missa na Lua ou em qualquer laboratório espacial em órbita.

Talvez estejamos ainda muito longe de levar a palavra de Deus a outros planetas cujos habitantes não a conheçam. Contudo, estou convencido de que esse momento também chegará para o homem deste mundo.

 

O que seremos então - com nossa altíssima tecnologia espacial - para aqueles anjos deuses "enviados", "astronautas" ...?

 

Mas tudo isto, repito, é apenas uma opinião pessoal. E embora meu coração me diga que não, eu poderia muito bem estar errado...

 

         A "Transfiguração": Um "Contato do Terceiro Grau"

 

Quanto mais me aprofundo na leitura e reflexão do Novo Testamento, mais se enraíza em meu coração a idéia de que Jesus de Nazaré foi "ajudado", "acompanhado" ou "assistido" de alguma forma por toda uma "equipe" de seres que hoje poderíamos rotular como "astronautas".

 

Como assinalava no capítulo precedente, seres em avançadíssimo estado evolutivo - tanto espiritual como tecnológico - e que podem povoar muitos dos milhares de milhões de galáxias que formam os diferentes universos, puderam "colaborar" nesse formidável "plano" da redenção desta Humanidade.

 

Daí sua constante presença na Bíblia: no Antigo Testamento - como dizia - os "anjos", "mensageiros" ou "enviados", são citados até um total de 108 vezes. No Novo, esses seres - que têm de comer, que precisam de iluminação durante a noite e que jamais aceitam que se lhes adore dão o ar de sua presença em outras 165 ocasiões.

 

São muitas para que possamos falar de casualidades ou simples "metáforas orientais"... Mas sigamos com outras "aparições" - as mais espetaculares - narradas no Novo Testamento e que estão diretamente vinculadas com a figura do Nazareno, tal qual já vimos no mesmíssimo nascimento.

 

São Lucas diz em seu Evangelho:

 

“Sucedeu que, oito dias depois destas palavras (o evangelista se refere à próxima vinda do Reino), tomou (Jesus) consigo a Pedro, a João e a Tiago, e subiu ao monte a orar. E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência de seu rosto, e seus vestidos eram de uma brancura fulgurante, e eis que falavam com eles dois varões, que eram Moisés e Elias; os quais apareciam com glória, e falavam de sua partida, que havia de cumprir-se em Jerusalém. Pedro e seus companheiros estavam carregados de sono; e quando despertaram viram sua glória e a dos varões que estavam com ele. E sucedeu que, quando se separaram dele, disse Pedro a Jesus: `Mestre, é bom estarmos aqui. E façamos três tendas, uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.’ Pedro não sabia o que dizia. E, dizendo isto, veio uma nuvem que os cobriu com sua sombra; e, entrando eles na nuvem, se encheram de temor. E veio da nuvem uma voz que dizia: `Este é meu amado Filho; escutai-o.’ E tendo soado aquela voz, Jesus se viu só. Eles. se calaram, e por aqueles dias não disseram a ninguém nada do que tinham visto."

 

De acordo com o relato evangélico, por aqueles dias Jesus devia estar nas imediações do mar da Galiléia, talvez em Betsaida ou na região de Magadan. Partindo dessa área até as montanhas de Hermon, ao norte, ou às suas vertentes, podia-se chegar em questão de horas ou, no máximo, em uma ou duas jornadas.

 

Para mim, a decisão do Nazareno de afastar-se dos núcleos de povoamento e "subir uma montanha alta" - como diz São Marcos nesta mesma passagem da Transfiguração - tinha toda uma clara finalidade. Ele "sabia" que ia haver um "contato" com parte de sua "equipe" - Santo Deus, como limitam as palavras! - e o lógico era que o "encontro" se desenrolasse num lugar adequado, longe de olhares curiosos, de povoados ou aglomerações humanas. Afastados, enfim, de certas pessoas que não tinham condições de entender e que, na melhor das hipóteses, seriam tomadas de pânico ou confusão.

 

E que melhor cenário para um "contato de terceiro grau" do que o cume de um monte?! Nós que temos acorrido dezenas de vezes ao que se denomina "avistamento de OVNIs ou de naves, previa cita" entendemos muito bem essa vontade de querer distância da cidade, essa busca de solidão...

 

Jesus podia ter esperado a noite cair e ter este "contato" em qualquer paragem do mar da Galiléia, onde andava pregando naqueles dias. Mas não foi assim. Convocou seus três mais destacados discípulos e subiu uma montanha. Talvez a forte luminosidade destas naves - quase sempre especialmente aumentada na escuridão das noites - tivesse alarmado e despertado as numerosas aldeias que se alinham em torno do lago. Para que correr riscos desnecessários?

 

E de forma mental ou por algum procedimento que não podemos saber agora, Jesus soube da necessidade dessa "entrevista" com seus "anjos" ou "astronautas"... Nem eu tampouco acredito na gratuidade ou casualidade, na hora de celebrar esses "encontros". Precisavam

ter um sentido, uma justificativa importante, que tornava de todo necessário o contato físico...

 

Mas prossigamos com o texto evangélico: "E estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e seus vestidos eram de uma brancura fulgurante..."

 

Mateus, por seu turno, acrescenta um dado mais a esta "mudança":

 

"...seu rosto ficou brilhante como o sol e seus vestidos se tornaram brancos como a luz."

 

E o "repórter" Marcos dá uma volta completa e faz o seguinte comentário: "...e seus vestidos se tornaram resplandecentes, muito brancos, tanto que nenhum lavadeiro na terra os poderia branquear."

 

Os três evangelistas utilizam palavras muito similares: "brancura fulgurante", "brancos como a luz", "resplandecentes"...

 

Mas o que significa "fulgurante"? Segundo a Real Academia da Língua, fulgurar é "brilhar ou emitir raios de luz". Quanto a "resplandecer", o sentido vem a ser muito parecido: "emitir luz ou brilhar muito uma coisa". Está claro, portanto, que as três testemunhas - Pedro, João e Tiago - viram como as vestimentas de seu mestre brilhavam ou emitiam luz, tal qual o rosto.

E embora eu reconheça que Jesus, como Filho de Deus, pudesse ter o poder de fazer sair luz de todo o seu corpo, como se fosse uma lâmpada viva, por outro lado não vejo sentido prático nesta "transformação". Seu corpo não experimentou a grande "mudança" - o "corpo glorioso" - até a Ressurreição. Por que então variar essa natureza humana no alto de um monte? Eu, pelo menos, não acho isso muito lógico...

 

Para mim, outra explicação se encaixa melhor. Como os investigadores de OVNIs têm comprovado, há inúmeros casos - tanto de dia quanto de noite - em que estas naves emitem uma formidável luminosidade. Se Jesus e os discípulos subiram ao monte e tiveram este "contato" quando ainda era dia - circunstância mais do que lógica e que os próprios evangelistas descobrem quase sem querer ao falar da "sombra" que fazia a "nuvem" - é justo pensar que a fortíssima radiação luminosa da nave na qual se haviam deslocado os dois "homens" do relato, pode ter sido a causa direta daquele resplendor ou brilho nos vestidos de Jesus.

 

Se o "contato" tivesse ocorrido à noite ou ao entardecer, com mais razão ainda. E falo de "nave" porque, tal como ocorre em muitas outras passagens dos Evangelhos, esta aparece onde quiser, em forma de "estrela", "glória", "nuvem" ou "luminosidade". Era, em definitivo, a única forma daquelas pessoas de dois mil anos atrás descreverem o que podiam assimilar e que, repito, associavam de imediato com o "sagrado", "desconhecido" ou "sobrenatural".

 

Os dois "homens" da "transfiguração" - cujas vestimentas brilhavam também como as de Jesus - deviam ter chegado de alguma forma até o alto daquela montanha. E o fato de os evangelistas não citarem, desde o início do relato, a aproximação ou a presença da nave, não significa que não estivessem ali mesmo ou nas proximidades. Pouco depois, inclusive, os evangelistas se referem a uma estranha "nuvem" que "os cobriu com sua sombra".

 

Se a nave se encontrava sobre as cabeças das testemunhas, pairava em silêncio, como é habitual nestes objetos, e além disso tinham um formato lenticular ou fusiforme - como é típico também nos casos de OVNIs -, os pescadores só podiam identificar aquela "coisa" como uma nuvem...

 

Como podiam imaginar que uns seres - infinitamente mais evoluídos que eles - tivessem conseguido dominar a força da gravidade, construir máquinas de ligas metálicas insuspeitadas e manipular a seu capricho muitas das forças da natureza, que para eles, e ainda para nós, são incontroláveis?

 

Há mais, porém. São Lucas assegura que os discípulos "entraram na nuvem" e que isto os encheu de temor. E Mateus aborda outro detalhe curioso, em torno desta "nuvem". E diz: "...uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra." Aqui há "pontos" que não se encaixam com o que entendemos por nuvens. Uma nuvem luminosa?

 

Nenhuma formação de nuvens - pelo que sabemos - tem a faculdade de emitir luz. Quando muito, podem ficar brevemente iluminadas em seu interior caso se vejam cruzadas ou afetadas pelo resplendor de alguma faísca elétrica. Mas este fenômeno tem duração muito curta.

 

Nem tampouco é a primeira vez que uma "nuvem" com estas características - brilhante ou luminosa "como uma brasa viva" - acompanha o povo de Israel. Recordo, por exemplo, os casos da travessia do mar Vermelho ou da "nuvem" que permanecia quase que permanentemente sobre a Tenda da Reunião, em pleno deserto...

 

Mas não nos desviemos do tema.

 

Há que supor que, tratando-se de homens que tinham vivido e trabalhado às margens do mar da Galiléia - Pedro era um consumado pescador - estavam acostumados a distinguir todo tipo de nuvens, ventos, tormentas e outros fenômenos atmosféricos. E se isto era assim, por que "sentiram temor" - como diz o Evangelho - ante a proximidade daquela nuvem? Ou não era uma nuvem?

 

Se aquilo que os "cobriu com sua sombra" tivesse sido pura e simplesmente névoa - fenômeno, por outro Ia do, mais do que raro nas ressequidas terras da Palestina -, os três apóstolos tampouco teriam se alterado. Além disso, para "cobri-los" com sua sombra, aquela nuvem teria que oferecer mais do que uma forte oposição à passagem dos raios solares.

Para culminar, concordam os evangelistas, "daquela nuvem saiu uma voz...".

 

É possível, inclusive, que os discípulos tivessem visto realmente uma nuvem. Mas uma nuvem que encerrava luz em seu interior, que se comportava "inteligentemente" e que deveria situar-se a pouquíssima altura acima de suas cabeças. Vou me explicar.

 

Também na casuística ufológica ocorrem muitos testemunhos de OVNIs que parecem "camuflar-se" mediante cortinas de fumaça ou, inclusive, nuvens que rodeiam e ocultam por completo a fuselagem de tais naves. E, por vezes, essas "nuvens" passearam sobre cidades ou povoados sem que ninguém ou quase ninguém se tivesse apercebido de sua verdadeira natureza.

 

Contudo, às vezes, as "nuvens" em questão são detectadas por radares militares, como aconteceu recentemente em Portugal. Segundo me consta, naquela ocasião vários caças lusitanos - alertados por um eco não-identificado nas telas de radar - voaram ao seu encontro. Mas - que surpresa! - o que desencadeara o alarme tinha sido uma nuvem. Uma nuvem enigmática, solitária no céu, e que, desafiando todas as leis da meteorologia, resistia imóvel às fortes rajadas de vento.

 

Logo - e ante os olhos atônitos dos pilotos -, a "nuvem" em forma de charuto descia sobre o penhasco de Santona, em Santander. Era a única nuvem em todo o céu limpo. E no interior daquela nuvem peculiar se desenhava outra forma geométrica e mais escura...

 

Dois bons pilotos de linhas aéreas comerciais também tiveram em 1979 outro "contato" com uma destas misteriosas nuvens. E seus instrumentos eletrônicos ficaram paralisados pelo espaço de vários minutos. Casualmente, o tempo que permaneceram com seu avião no interior da nuvem...

 

Os casos, enfim, seriam intermináveis.

 

E, pensando bem - utilizando o mais racional e prático dos pensamentos -, que melhor procedimento de ocultação ou camuflagem para alguém que deseja observar sem ser visto do que cercar-se de uma nuvem que ele próprio possa fabricar e controlar?

 

Em qualquer dos casos - uma nave de forma lenticular ou fusiforme, ou uma nave dentro de uma nuvem -, o fundo do problema é o mesmo: os três discípulos, Jesus e seus dois "acompanhantes" estavam frente a "algo" físico, pilotado por seres inteligentes e, desde logo, com um objetivo concretíssimo.

 

Se, como aponta Lucas, os apóstolos "entraram na nuvem" - e esta tivesse sido realmente um aparelho metálico -, o assunto se complicaria. Isto significaria - nada mais nada menos - que as três testemunhas teriam sido introduzidas num OVNI, tal como hoje o entendemos.

Mas ajustemo-nos ao que aparece no Evangelho. "...e eis que", prossegue Lucas, "falavam com ele dois varões, que eram Moisés e Elias; os quais apareciam com glória, e falavam de sua partida, que havia de cumprir-se em Jerusalém."

 

Tanto Mateus quanto Marcos asseguram igualmente que os homens ou varões "conversaram com Jesus".

 

É evidente, portanto, que os "anjos", ou "astronautas", ou "enviados" emitiam sons ao articular suas palavras. No caso de não ter sido assim, as três testemunhas não teriam feito referência à conversação, nem muito menos ao seu tema: a "partida" do Mestre da cidade de Jerusalém.

 

Mas nenhum dos discípulos conseguiu captar com clareza ou em sua totalidade a "conversação" de Jesus com os dois homens. Entre outras razões porque todos, diz Lucas, estavam carregados de sono, e é de supor, por outro lado, que o temor lhes enchera o cérebro. Em tais condições, a mente não pode mostrar-se muito serena ou disposta, a ponto de prestar atenção numa simples conversa...

 

O fenômeno do sonho, além disso, também se repetiu e se repete em testemunhas que - por quaisquer razões que fossem - chegaram muito perto dos OVNIs. Não que se trate exatamente de sonho. Na maior parte dos casos, a testemunha cai presa de grande torpor, ou fica, inclusive, paralisada. Uma das constantes nos "contatos" imediatos com OVNIs, e muito especialmente com seus tripulantes, é a perda da noção do tempo. Em quase todos os casos típicos de "ingresso" de testemunhas no interior das naves, aquelas são vítimas de amnésias, ou, pelo menos, de "lacunas" mentais, que só podem ser dissipadas e "reconstruídas" através da hipnose.

 

Os investigadores têm colocado uma infinidade de provas que dão respaldo a isso. É possível que estes fenômenos de perda de memória ou de tempo - de confusão mental, em suma - sejam provocados diretamente pelos que pilotam essas naves ou sejam uma conseqüência da proximidade da testemunha com os OVNIs, cujos sistemas de propulsão e auto proteção ainda ignoramos.

 

Não sabemos com certeza o que pode ocorrer no organismo de um ser humano quando este invade o possível campo magnético ou eletromagnético que, sem dúvida, circunda essas naves. A única coisa que sabemos é que o homem se defronta com o desconhecido...

 

Contudo, não se deve pensar que o "contato" de Jesus e seus três acompanhantes com os dois "homens" e a "nuvem", o "sonho" de Pedro, João e Tiago, fosse provocado pelos que manipulavam aquelas naves. Se assim fosse, Jesus não se teria feito acompanhar dos três discípulos. Isso parece lógico. Talvez seja mais natural que as três testemunhas tivessem mergulhado naquela espécie de letargia ou sonho, por alguma razão acidental e puramente física. Uma razão, que, diga-se de passagem, não afetava o Nazareno e cuja origem, insisto, podia estar na proximidade de uma ou várias naves.

 

Quanto à coincidência dos três evangelistas a respeito da identidade dos dois "homens" - Moisés e Elias - pessoalmente tenho minhas dúvidas...

 

Nem Pedro, nem João e nem Tiago conheciam um ao outro. Moisés e Elias tinham vivido centenas de anos antes dos apóstolos, e não creio que estes pudessem reconhecer com tanta facilidade personagens dos quais não havia - não há - referências pictóricas ou esculturais fidedignas.

 

Como puderam saber então que aqueles dois "homens que falavam com ele e que apareciam em glória" eram Moisés e Elias? Nos textos evangélicos não há menção alguma de que Jesus ou os "homens" misteriosos tenham comunicado sua identidade aos apóstolos. E pelo que se deduz das narrativas, os "homens" em questão permaneceram todo o tempo a uma certa distância de Pedro, João e Tiago.

 

E se os discípulos o imaginaram, então? Moisés e Elias eram personagens de especial destaque para o povo judeu. Isso está provado. Se os discípulos - embebidos já no poder e santidade do Mestre - alcançaram o cume da montanha e ali, de chofre, se viram diante de seres envoltos em trajes de grande brilho - possivelmente metalizados - e cuja origem e presença não era fácil de assimilarem, que mais podiam fazer senão identificá-los com personagens tão edificantes como Elias e Moisés?

 

E que esses "homens" usavam uma vestimenta deslumbrante é possível deduzir pelas palavras de Lucas: "...os quais apareciam com glória".'

 

A não ser que o evangelista quisesse nos dizer com isso que os interlocutores do Nazareno apareciam no interior ou junto a alguma de suas naves e veículos e para os quais Lucas não podia ter outras palavras ou explicação senão a "glória" em si, entendendo-se esta como "algo" celestial, sobrenatural ou simplesmente com capacidade de voar.

 

Extrapolando o tempo - e são apenas dois mil anos - como reagiriam os pastores de Belém ou o povo da Judéia em geral, e até os mesmíssimos apóstolos, se os introduzíssemos hoje na cabine de comando de avião ou na sala de controle de cabo Kennedy?

 

Tampouco o súbito "desaparecimento" de "Elias e Moisés" e da "nuvem que os cobriu com sua sombra" constituem na realidade um fenômeno novo para os que investigam ou estudam a problemática dos OVNIs. Quantos casos foram relatados de desaparecimento repentino de naves e tripulantes? Milhares. As assombradas testemunhas nos repetem sem cessar que "o objeto estava à vista e que, sem se saber como, já não estava..."

 

A "desmaterialização", ou qualquer outra técnica que talvez se encaixasse nesta expressão, permitiria aos "homens do espaço" "viajar" e "transportar-se" de um lugar a outro. Desconhecemos todavia a forma para desenvolver isto, mas as provas de que outras civilizações mais evoluídas e superiores já o fazem estão aí, nos muitos testemunhos recolhidos pelos ufólogos...

 

Esse, ademais, como já comentei em outros livros, algum dia pode ser para nós o verdadeiro procedimento para "atravessar" o Cosmo e vencer assim as astronômicas distâncias intergalácticas. Com uma "desmaterialização" total, a nave e seus "astronautas" poderiam talvez "saltar" o tempo e o espaço, chegando a outros mundos quase instantaneamente. Tudo seria questão de "materializar-se" mais tarde e no lugar exato.

 

Nem mesmo a luz, com seus trezentos mil quilômetros por segundo, pode se comparar a este revolucionário sistema de "viagem"... "...e falavam de sua partida, que ia cumprir-se em Jerusalém".

 

A "partida" só podia referir-se a sua iminente paixão e morte e posterior Ressurreição. E assim, inclusive, o confirma o próprio Jesus de Nazaré, quando já descendo da montanha, pediu-lhes que nada comentassem "até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos".

 

O que pode ter ocorrido realmente no alto daquela montanha? Por que o Nazareno se entrevistou com os "astronautas" ou "mensageiros"? E por que dialogaram sobre sua "partida"?

 

Algo era evidente: o "plano" cósmico ou divino estava se cumprindo. E por motivos que não podemos entender agora, era necessário esse "contato".

 

Eis aqui, mais uma vez, outro sinal claro de que Jesus desempenhava seu "trabalho" como redentor, ajudado de alguma maneira por toda uma "equipe" de "anjos", "enviados" ou "astronautas".

 

E aparece igualmente nítido que o gigante de Nazaré era "alguém" muito importante para esses "anjos" ou "astronautas", já que, como veremos, todos estavam a seu serviço.

  1. 0 que Aconteceu Realmente no Deserto?

 

Os evangelistas Mateus e Marcos dizem: "Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo. E tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome..." E conclui Mateus: "...Então o diabo o deixou; e eis que chegaram os anjos, e o serviram."

 

Marcos também conclui de forma similar esta parte de seu evangelho: "... e logo o Espírito o impeliu para o deserto. E ali esteve no deserto por quarenta dias, tentado por Satanás. E vivia entre as feras, e os anjos o serviam."

 

Deparamos aqui com outro capítulo tão apaixonante quanto desconhecido na vida de Jesus de Nazaré. O que pode ter acontecido naquele deserto e durante tanto tempo? Se os "enviados" ou "astronautas" acompanhavam - e muito de perto - a vida do Nazareno, é fácil imaginar que durante sua estada de quarenta dias naquele lugar desértico, tal "equipe" celestial - para empregar uma expressão exeqüível à nossa linguagem curta - esteve próxima ao Filho do homem. Tão próxima que, uma vez terminado o jejum, "chegaram e o serviram". E a palavra "chegar" significa estar próximo ou se acercar da pessoa interessada...

 

E é curioso que, justamente depois deste retiro e do "contato" com os "anjos", Jesus de Nazaré - que havia sido "impelido" pelo Espírito até o dito deserto - se lançou abertamente à pregação.

 

A "equipe" o teria feito ver a necessidade de iniciar de imediato a grande missão que o havia trazido a este planeta? Jesus foi definitivamente preparado naqueles quarenta dias e quarenta noites para a sua chamada "vida pública"? Por que os evangelistas dizem que o Espírito "levou" ou "impeliu" o Nazareno - uma vez batizado no Jordão - a esse deserto?

 

         36 Mil "Anjos" à sua Disposição...

 

As alusões de Jesus de Nazaré a esses "anjos" são freqüentes nos Evangelhos. Ele - não resta a menor dúvida - sabia de sua existência. E outros, com ele, também haviam sido testemunhas diretas - como temos observado - da descida de tais seres à Terra.

 

São Lucas, por exemplo, transmite as seguintes frases, pronunciadas pelo galileu: "Eu vos digo: por todo aquele que se declare por mim ante os homens, também o Filho do homem se declarará por ele ante os anjos de Deus. Mas o que me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus."

 

Não creio que Jesus empregasse aqui uma de suas costumeiras parábolas. Os "anjos" em questão, como digo, eram "seres" visíveis, que deixavam vestígios e que foram vistos por alguns dos discípulos do Nazareno. Seres, definitivamente, que causaram um grande impacto emocional nos judeus. Jesus, ademais, não fala de se mostrar a favor ou contra os homens "perante Deus". Diz "ante os anjos de Deus". Jesus devia ter sólidas razões para saber que esses "anjos" eram importantes...

 

Tão notáveis e poderosos para que o Cristo - e leio de novo Mateus - diga durante a própria captura: "Mete no seu lugar a tua espada, porque todos os que lançarem mão da espada pela espada morrerão. Ou pensas que não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?" Doze legiões, segundo os cálculos das legiões romanas, somavam cerca de 36 mil infantes.

De acordo com isto, segundo as palavras de Jesus, a um desejo seu, mais de 36 mil "anjos" ou "seres do espaço" se teriam apresentado ali, em total "demonstração de força", como se diz nos termos militares...

 

E mesmo que em momento algum passasse pela mente de Jesus a intenção real de lançar tal pedido de socorro a seu Pai, fica ainda, não obstante, sua afirmação, clara e determinada, com "estatísticas" incluídas.

 

Num momento de tensão, como deve ter sido aquele de sua detenção no Jardim das Oliveiras, o Nazareno não recorreu ao poder de seu Pai, ou de Moisés e Elias, ou ao próprio Espírito Santo, ou às forças da Natureza. Não. Jesus pensou nas "legiões de anjos": personagens que o vinham "acompanhando" desde sua chegada a este planeta...

 

Uns "anjos", ou "enviados", ou "astronautas" - e por que não? - que "não o perderam de vista" nem na fascinante madrugada daquele domingo de glória...

 

         Um "Astronauta" Junto ao Sepulcro

 

E vai daí que, nestes últimos capítulos, aliviei meu coração. Tudo que aqui escrevo deve ser entendido - não me cansarei de repetir - como fruto da inquietude de meu espírito, de minhas investigações e de minha crescente curiosidade por Jesus de Nazaré. Mas isso não me situa, de modo algum, como dono da Verdade...

 

O fato de minha intenção ser honesta e límpida não significa que as "coisas" ocorreram realmente como pude esboçá-las aqui...

 

A única coisa que posso dizer é que se trata da verdade do jeito que a sinto. E enfronhado nas investigações em torno das descobertas dos cientistas e peritos da NASA sobre o chamado Santo Sudário de Turim, li com profunda surpresa o seguinte texto do Evangelho de São Mateus: O sepulcro vazio. Mensagem do anjo

 

Passado o sábado, ao raiar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. De súbito produziu-se um grande terremoto, pois o anjo do Senhor desceu do céu e, acercando-se, fez girar a pedra e sentou-se sobre ela. Seu aspecto era como o de um relâmpago, e seu vestido branco como a neve. Os guardas, atemorizados por ele, começaram a tombar e ficaram como mortos. O anjo se dirigiu às mulheres e lhes disse: "Não temais, pois se buscais a Jesus, o Crucificado, ele não está aqui, ressuscitou, como o havia dito." Elas partiram a toda pressa do sepulcro, com medo e grande júbilo, e correram a dar a notícia aos discípulos.

 

Sem poder dissimular minha emoção, consultei também esta mesma passagem nos Evangelhos restantes. E embora tenha apreciado algumas diferenças de forma, inclusive pequenas contradições quanto ao momento exato da aparição do "anjo" ou "anjos" - porque os evangelistas tampouco chegaram a um acordo neste detalhe -, em essência, os quatro acabam dizendo o mesmo: naquela madrugada, os "anjos" - nossos já velhos amigos - desceram junto ao sepulcro e anunciaram às mulheres que Jesus não estava ali, que havia ressuscitado.

 

Mateus, em minha opinião, se destacou novamente como melhor "repórter" que seus companheiros. Dava maior riqueza de detalhes. Melhor "informação".

 

Segundo conta Mateus, "produziu-se um grande terremoto, pois o anjo do Senhor desceu do céu". Tratava-se de um terremoto ou movimento sísmico, tal como hoje interpretamos?

Embora Jerusalém se erga muito perto da faixa sísmica que vai desde a atual Turquia até o mar Vermelho e os vales fendidos da África Oriental, lambendo praticamente a totalidade da costa de Israel, delta do Nilo e costa da Arábia, os terremotos não são freqüentes nem importantes na dita região. Desde 1456, por exemplo, ate nossos dias, Israel jamais engrossou a lista negra dos terremotos famosos.

 

Quero dizer com isto que se verdadeiramente tivesse se registrado naquela madrugada um abalo sísmico em Jerusalém e arredores, possivelmente teríamos deparado com toda uma certeza de tipo histórico. Flávio Josefo, por exemplo, grande historiador do povo judeu e que viveu do ano 32 a 107 de nossa era, general das hostes galiléias na guerra de 67 contra os romanos e que acompanhou Tito na destruição de Jerusalém, não faz a menor referência a tal terremoto.

 

E Josefo, no entanto, faz menção - e por três vezes em seu livro Antiguidades Judias - à realidade histórica de Jesus.

 

Um sismo naqueles dias de Páscoa, com milhares de judeus apinhados na cidade santa, não teria passado despercebido, como não passou, segundo parece, o registrado pelos evangelistas em plena crucificação do Nazareno e que provocou algumas fissuras nas rochas. Supondo, claro, que aquele tivesse sido um movimento telúrico...

 

Mas naquela madrugada, tudo foi diferente... O "terremoto" havia sido provocado por algo muito diferente do choque das placas tectônicas, afundamento de falhas e demais causas naturais. O mesmo Mateus nos dá a explicação:

 

"...De imediato se produziu um grande terremoto, pois o anjo do Senhor baixou do céu."

Outro farto fenômeno freqüente e que é contado na Bíblia à exaustão: "anjos" do Senhor, "nuvens", "carruagens de fogo" ou a "glória de Jeová" que voam, que "pousam sobre as montanhas" ou "abrem as águas", ante os olhares e corações atemorizados do povo hebreu, que segue sem compreender.

 

Estas aproximações das naves - especialmente as aterrissagens - aparecem quase sempre rodeadas de estrondo, raios, luz e "terremotos".

 

Mas que melhor forma de explicar - para um povo do século 1 - a tomada de terra de um destes objetos?

 

Poderia ser também - seguindo o texto que nos ocupa - que a descida do chamado "anjo do Senhor" tivesse sido na realidade não uma nave, e sim vários de seus tripulantes, munidos de um pequeno veículo de transporte para curtos trajetos. Inclusive um único "astronauta", com seu correspondente aparelho autopropulsor.

 

Por menor que fosse tal veículo de transporte para curtas distâncias, sempre deveria dispor de capacidade para abrigar dois ou três "anjos" ou "astronautas". Hoje, a ufologia transborda de centenas de milhares de testemunhos "gêmeos" deste de Mateus.

 

Não faz muitos meses - e o descrevo em um dos meus últimos livros -, uma espécie de "cabine telefônica" (segundo relato das testemunhas) foi vista quando descia numa distante mansão dos arredores da cidade Biscaia de Baracaldo. O estranho objeto desgalhou em seu pouso metade de uma árvore e queimou boa parte da moita onde conseguiu pousar. Do "veículo" saíram dois seres, de aparência totalmente humana, que mediam quase dois metros de altura e usavam trajes muito justos no corpo e que brilhavam como alumínio...

 

As testemunhas - apesar de habitantes do século XX - se aterrorizaram...

 

Também na região de Valladolid constatou-se um desses pousos de um pequeno OVNI, do qual saiu outro "piloto" que permaneceu uns minutos contemplando um campo de alfafa...

E o que pensar daquele avistamento ocorrido num terreno de San Román de Ia Hornija, no qual uma nave, também de reduzidas dimensões e de forma cilíndrica, esteve descrevendo círculos em torno de um tratorista durante quase meia hora?

 

Em vários momentos - e segundo me contou seu protagonista, Emiliano Velasco - o OVNI, que emitia um zumbido como o de mil besouros, lançou vários clarões de grande potência, que o deixaram temporariamente cego... E aquela luz era branca e potente como a de um flash.

 

E há centenas de casos assim. Por que estranhamos então que o "anjo do Senhor" fosse na realidade um "ser espacial", um "piloto" com seu veículo?

 

"E acercando-se", prossegue o evangelista, "fez girar a pedra e sentou-se sobre ela."

Nessa segunda "fase", após a descida do céu, o "anjo" ou "tripulante" do veículo teve de "acercar-se" até a pedra que fechava a gruta sepulcral. E fazê-la rolar. Por fim - não sabemos por que motivo - sentou-se nela.

 

Não consigo crer que Jesus de Nazaré necessitasse que lhe abrissem o sepulcro para poder sair dele. Se sua nova natureza tinha a característica e o selo de "gloriosa", lhe seria mais do que fácil passar através até do chumbo. Por que então a presença de "anjo" para girar a pedra de moinho?

 

Talvez a explicação do "problema" não necessite ser procurada no ressuscitado, e sim nos mortais: nos judeus, nas mulheres que já estavam ali, ao pé do sepulcro - estupefatas - ou que estavam a caminho. Tal como escreve São Marcos (16, 2-4), "e no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro de manhã cedo (as mulheres) e diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?"

Era muito inteligente que alguém abrisse a porta da caverna de par em par e que comunicasse àquelas pessoas, simples e receosas, a "segunda boa-nova". Repito que estou absolutamente convencido de que - no grande "plano" de redenção - nada foi deixado à improvisação...

 

Aquela "magnificência" - com "anjos" e outros - estava, por outro lado, mais do que justificada, se levarmos em conta que o "plano" se havia consumado e com êxito total. Nós, possivelmente, teríamos feito um carnaval sobre isso...

 

Mas continuemos com o magnífico relato de Mateus: "Seu aspecto (o do `anjo') era como o do relâmpago, e seu vestido branco como a neve."

 

Naqueles momentos - "quando ainda estava escuro", diz João -, qualquer vestimenta espacial teria brilhado, refletindo talvez a luz da nave, que não devia achar-se muito longe.

 

É também possível que o "astronauta" levasse algum mecanismo de iluminação, que foi o que fez o evangelista dizer que "seu aspecto era como o do relâmpago, e seu vestido branco como a neve".

 

Se observarmos as fotografias dos astronautas do projeto Apolo na superfície lunar, notaremos que, de fato, seus trajes são brancos como a neve. E inclusive até brilhantes quando refletem a luz solar...

 

Nem há por que eliminar a possibilidade de que suas vestimentas dispusessem de luz própria. Uma técnica tão avançada consegue isto e muito mais. Mas não esqueçamos de que nem os judeus nem os romanos tinham a menor noção do que fosse uma lanterna ou a corrente elétrica ou fotônica.

 

E isto me traz à memória um fato ocorrido no início deste século de nossos pecados, num pequeno povoado da província de Saragoça. Foi-me relatado por meu sogro, o prestigioso advogado Julio Forniés, homem sério como poucos:

 

O caso é que, naquela época, as forças atuantes da comunidade tomaram a decisão de trazer a luz elétrica à aldeia. E chegou a luz. Mas, com tanta má sorte, que a inauguração da fulgurante iluminação pública veio a coincidir com uma das maiores tormentas da história da comunidade.

 

Aquilo indignou e surpreendeu - em partes iguais - a tal ponto, que os paroquianos, armando-se de pedras, paus e outros objetos contundentes, investiram contra as lâmpadas. E, contam as crônicas, não deixaram sobrar nenhuma...

 

E foi necessário um longo tempo para provar àqueles cidadãos que a luz elétrica não era coisa do demônio...

 

Não é absurda, portanto, a seguinte manifestação de Mateus na qual comenta que "os guardas tremeram, espavoridos, e ficaram como mortos". Hoje eu diria que quase cem por cento das testemunhas que afirmam ter visto OVNIs e seus tripulantes sofrem dessas crises de medo e confusão. E é lógico. E embora os guardas que Pilatos mandara colocar em frente ao sepulcro fossem profissionais da guerra e legionários mais tarimbados que um bom repórter de ocorrências, o "espetáculo" - tão inesperado naquela aprazível noite de abril - deve ter rompido com seus não muito sólidos esquemas mentais até limites pouco decorosos...

 

Se a isso juntarmos a profunda e arraigada superstição praticamente inata em cada cidadão romano, as reações da guarda são mais que justificadas.

 

Porém há mais. Outro fator que não devemos deixar passar. Mateus especifica que os soldados "ficaram como mortos". Isto se pode traduzir como "paralisados" ou "sem consciência". Mas essa paralisação podia ser provocada, única e exclusivamente, pelo medo. No caso de ter sido assim, algum ou todos os romanos teriam acabado por fugir do local.

 

Inclino-me a pensar que a "paralisação" em questão pôde obedecer a outras causas externas ao próprio temor dos soldados e que, como assinalei anteriormente, se repete com assiduidade nos casos atuais de "contatos" próximos com OVNIs.

 

Não faz muito tempo, outro vizinho da zona mineira de Gallarta, nas proximidades de Bilbao, e que presenciou a descida de uma nave de uns cinqüenta metros de diâmetro, contava-me como ficou "enrijecido" na sacada de sua casa, enquanto o OVNI manobrava a curta distância dele. "Conforme foi se afastando", acrescenta, "pude recobrar os movimentos e me vi livre."

 

Outro piloto espanhol ficou igualmente paralisado numa zona rural de Algeciras - quando praticava caça - ao chegar nas proximidades de um disco de grande luminosidade que se encontrava pousado num grotão. "Não podia me mover", contou. "Via e escutava, mas meu corpo não me obedecia. E não pude andar até que o objeto levantou vôo, perdendo-se no horizonte."

 

Desde então, o piloto não conseguiu mais fazer trabalhar seu relógio de pulso, que parou no exato instante do avistamento: três das madrugada. Um mínimo senso da segurança por parte do "anjo" ou "astronauta" teria tornado compreensível a paralisação geral dos três ou quatro soldados encarregados de vigiar a porta do sepulcro.

 

Isto, pelo menos, é o que se pode depreender atualmente nos inúmeros casos de OVNIs.

Que os "anjos" estivessem dentro ou fora do sepulcro, já não tem muita importância. Pode ter ocorrido que desceram primeiro junto à gruta, deslocaram a pedra, falaram com as mulheres e, por fim, entraram no sepulcro, onde, certamente, Jesus já não estava. Assim assegura o "anjo" ao finalizar sua mensagem para as mulheres.

 

Curiosamente, e como que obedecendo com total fidelidade um "plano" traçado em minúcias, os citados "anjos", ou "enviados", ou "astronautas" não tocaram nem manipularam o lençol e o sudário utilizados para envolver o cadáver de Jesus. Tudo estava em seu lugar, tal como constataram pouco depois os apóstolos ao entrarem na gruta. Em definitivo: os "anjos" sabiam o que tinham nas mãos...

 

             "...E Foi Levado ao Céu"

 

E para concluir esta hipótese, eis aqui outro "assunto" muito pouco claro, sobre o qual a Igreja tem preferido manter-se prudentemente "neutra": a ascensão de Jesus ao céu.

Voltemos aos Evangelhos: "Com isto o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus." (Marcos)

 

Versão de São Lucas: "Então os levou para Betânia, e erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia se retirando deles, sendo elevado para o céu."

Talvez aqui os relatos não apareçam suficientemente claros a ponto de indicar conclusões. Porém, tanto pela leitura destes textos, quanto de acordo com a opinião da própria Igreja católica, deduz-se que Jesus de Nazaré foi elevado ou transportado - fisicamente - aos céus. Mas como? Elevou-se por si mesmo? Talvez o tivesse conseguido. Pode-se esperar isso e muito mais de um ser que ressuscita dentre os mortos...

 

Mas os Evangelhos coincidem na circunstância de que "foi levado ou elevado". Quer dizer, por outros. Do contrário, é muito possível que tivessem escrito, simplesmente, "que se elevou". Talvez, o "plano" geral exigisse também esta parte final, absolutamente na medida da capacidade cerebral daquelas pessoas. Uma súbita "desmaterialização" de Cristo - sem mais - não teria provocado nem desencadeado as mesmas reações entre seus apóstolos e seguidores. Isso era igualmente razoável.

 

Se Jesus de Nazaré desfrutava já de outro corpo, de natureza diferente do corpo terreno, era quase certo que tivesse podido deixar este planeta sem maiores problemas. Quem pode descrever hoje - ou simplesmente imaginar - esse "organismo glorioso", e o Reino, Dimensão, Plano ou Vida para os quais se dirigia?

 

Mas o Nazareno se viu obrigado a deixar sinais e provas exteriores de seu poder até o último momento. E talvez esses "anjos", ou "enviados", ou "astronautas" tenham tomado parte ativa - com suas naves -, e pela última vez, na definitiva partida de Jesus deste velho, famoso e cruel mundo ao qual teve que vir por desejo expresso de seu Pai...

 

Que cada qual busque a resposta em seu próprio coração.

 

...PELA MÃO DA CIÊNCIA se demonstrou que o chamado Santo Sudário de Turim é um pano do tempo de Jesus de Nazaré.

 

...PELA MÃO DA CIÊNCIA foi provado que a imagem que aparece no dito pano de linho é todo um "negativo fotográfico".

 

...PELA MÃO DA CIÊNCIA, especialistas da NASA anunciaram ao mundo que esses relevos no sudário só puderam se formar por causa de uma enigmática e poderosa radiação.

 

...PELA MÃO DA CIÊNCIA se pôs em destaque que "algo" tão estranho como revolucionário - e que os crentes chamam de "ressurreição" - ocorreu na escuridão daquele sepulcro, dois mil anos atrás.

 

...PELA MÃO DA CIÊNCIA se sabe que este foi o primeiro caso, cientificamente avaliado, no qual um cadáver levita e irradia a energia suficiente para "chamuscar" um sudário.

 

...E A VOZ DE MEU CORAÇÃO E MINHAS INVESTIGAÇÕES me dizem que Jesus de Nazaré - o grande Enviado - foi acompanhado e ajudado no "plano" da Redenção por toda uma "equipe" de seres que hoje - talvez - associaríamos com nossos "astronautas".

 

   Jesus de Nazaré, ou a Entrevista que Nunca Ocorreu

 

Creio que teria sido uma boa entrevista. De primeira página. Pelo menos do ponto de vista deste repórter...

 

"Entrevistar" Jesus de Nazaré, uma vez ressuscitado, teria culminado as ambições profissionais de muitos colegas. E, certamente, as minhas. Mas o que teria respondido o Nazareno?

 

E começamos a imaginar: por que não escrever tal entrevista?

 

Eis aqui algumas das muitas perguntas que eu teria formulado. Talvez - por que não? - suas respostas poderiam ter ficado parecidas com estas.

 

Quem sabe...

 

Parece como se Jesus de Nazaré tivesse praticado muito esporte. Suas costas são as de um nadador, e sua altura rivaliza como a de um jogador de basquete. Creio que qualquer cidadão comum - como é o meu caso - se sentiria ligeiramente complexado perto dele. Pelo menos foi o que pensei a princípio, quando cheguei até sua presença.

 

Depois, conforme fomos falando, tudo ficou diferente. Aquele galileu de barba fina e meticulosamente tratada, de cabelos cor de ouro velho repousando levemente sobre os ombros, tão afável e disposto a qualquer tipo de gracejo como ninguém.

 

Devia ter notado meu nervosismo. Apesar de minha experiência de dezessete anos como jornalista, meus nervos começavam a disparar, e aquele meu velho gravador se portava como um colegial ante sua primeira namorada.

 

"Droga", pensei. "Era só o que faltava, esse troço não funcionar..."

 

O Nazareno, após fechar sobre seu ombro esquerdo o largo manto cor de vinho, tocou minha nuca com sua mão direita e comentou, divertido:

 

- Fique tranqüilo...

 

Uma espécie de intenso calor acompanhou aquele gesto conciliador sobre minha nuca. Jesus de Nazaré deve ter notado minha confusão, pois se adiantou a meus pensamentos:

 

- É energia... Sai de minhas mãos sem querer... Tal como das de qualquer outro.

Olhei minhas mãos num movimento reflexo e, erguendo minha vista até Ele, perguntei:

 

- Energia?... De que tipo?

 

Mas Jesus não respondeu, limitando-se a sorrir. E uma branca e perfeita "seqüência" de dentes me deixou atônito. Estava claro que aquele homem não sofria de cáries. Mas meu gravador já estava funcionando e, após um encolher de ombros, comentei:

 

- É que não sei por onde começar... Tanto tempo esperando esta oportunidade e agora fico "seco"...! Pensava que o senhor fosse mais baixinho... Como qualquer judeu médio...

 

Nazareno riu com prazer. E interveio de novo:

 

- Por que não nos tratamos por "você"?... É melhor, não acha?

 

- Sim, claro - balbuciei.

 

- E por que acha que eu tinha de ser mais baixo?

 

- Bem, não sei... Mas também não tem maior importância - respondi, desejando entrar logo nas perguntas de fundo. - Há, bem... não é que eu duvide, mas se importaria em me mostrar as cicatrizes?

 

Jesus levantou ligeiramente os braços e deixou cair as folgadas mangas de sua túnica cor de marfim. Ao ver aquelas marcas em seus pulsos senti como se uma onda de vergonha subisse desde o estômago e me queimasse até as sobrancelhas. Santo Deus, como me senti ridículo!...

 

- Perdão - sussurrei. E tentei desculpar-me. - Sabe como é... as pessoas vivem desconfiando...

 

- E você também, pelo que vejo.

 

- Bem... Você tem de reconhecer que é a primeira vez no mundo que alguém é justiçado e morto e ressuscita...

 

- Sim, também é verdade...

 

E nós dois, em uníssono, como se tivéssemos entrado em acordo, começamos a rir, ante o olhar grave dos que nos rodeavam e que asseguravam ser seus discípulos.

 

- Vamos por partes. Há algumas coisas que nunca pude entender. Por exemplo: depois de passar tanto tempo pregando por aí, como me resumiria sua "mensagem"?

 

O Nazareno me perscrutou com seus olhos negroazulados. Oh, Deus! Aquele olhar parecia um raio laser... Fui tomado de tal angústia, que estive a ponto de pegar o gravador e ir embora. Aquele "personagem" era demais para qualquer um...

Minha impressão - porque jamais pude averiguar - era de que Jesus tentava "ler" meus sentimentos ou intenções. E deve ter ficado tranqüilizado ao ver que não havia em mim o menor desejo de trapaça ou frivolidade. E suas sobrancelhas negras tremendamente marcadas - relaxaram.

 

E assim falou:

 

- É triste que ainda não tenha compreendido... Veja bem, só vim a este planeta para comunicar que o Pai concedeu a salvação...

 

- Façamos o que façamos?

 

- Sim. Mas será que ainda não se deu conta de que ser Filho de Deus ou do Pai é algo importante?

 

- Receio que não...

 

- Pois já é hora.

 

- Não, não pode ser - comentei. - Se alguém infringe a lei, mata, rouba, etcétera, durante a vida, como se pode "conceder-lhe" a salvação? Jesus se armou de paciência. E me perguntou, por sua vez:

 

- O que você faria se algum dos seus filhos fizesse uma ou todas as diabruras do mundo?

 

- Não sei... Tentaria convencê-lo de que está no caminho errado.

 

- Mas você o esqueceria ou o destruiria?

 

- Não, por Deus!...

 

- Perfeito. Creio que já tem respondida a pergunta anterior.

 

- Mas e se alguém morre e não "entendeu" nada do que você tem dito e pregado?

 

- Sempre há uma segunda oportunidade. - Sempre?

 

O Nazareno confirmou com a cabeça.

 

- Mas... onde?

 

- Eu disse uma certa ocasião, e você sabe, que "na casa de meu Pai há muitas moradas". Por que se preocupa então com o lugar ou com a forma? Viva intensamente agora, pois está aqui por alguma coisa, como todos...

 

As perguntas começavam a se atropelar em minha mente. E tive que tomar uma ampla e profunda inspiração.

"Calma, calma...", eu me disse interiormente.

 

- Então, essa história do inferno e o arreganhar de dentes...

 

- Diga-me outra coisa. O que acha deste mundo em que vive agora? É agradável ou é um "inferno"? E o que me diz da ignorância?... Acha que pode haver algo pior do que viver submerso na escuridão e na falta de conhecimento? Eu lhe asseguro que aquele que está longe de Deus não sabe o que está perdendo... Esse é o grande "inferno" e a pior das condenações.

 

- Mas você diz que sempre há uma segunda oportunidade...

 

- Tão certo como eu ressuscitei. O que acontece é que entender isso é mais difícil para uns do que para outros. E têm que "repetir" e "repetir" o curso, até "descobrirem" a Suprema Luz e sua verdadeira natureza. Então começam realmente a ser felizes...

 

- E todos chegaremos a esse momento?

 

- Todos estão "condenados" a ser felizes. Cedo ou tarde. Isso é o que tentei lhes dizer com minha vinda... - Mas para isso era preciso tanta confusão? - Confusão?

 

- Sim, a sua morte, e tudo o mais.

 

- As "coisas" aparentemente são ainda complicadas para vocês. Tudo tem e leva seu tempo. Só posso lhe dizer aqui, no planeta Terra, havia chegado a plenitude dos tempos, e que quando esse "momento" ocorre, o Pai comunica sempre suas intenções e desejos a seus filhos. Tem graça. Você disse que havia chegado a plenitude dos tempos... Faz dois mil anos?

 

- Vou lhe dar outro exemplo. Quando seus filhos são bebês e permanecem no berço, ocorre a vocês, pais deles, explicar a eles quem são e o que os aguarda?

 

- Não, claro...

- Esse momento depende sempre de cada menino ou adolescente. Nem todos são iguais. A uns é preciso falar antes e a outros mais tarde. Para a Terra esse momento chegou quando fui enviado por meu Pai... e não me pergunte por que...

 

- Mas insisto: era absolutamente necessário que o matassem? Podia simplesmente ter "deixado o recado" e adeus...

 

O Nazareno voltou a sorrir e apontou para o gravador. A fita havia terminado. Enquanto a fazia retornar, amaldiçoei a minha sorte. "Certamente se perderam palavras importantes...", pensei.

 

- Cada "menino", cada "filho", cada "mundo", em definitivo, que formam a Casa de meu Pai, exige um tratamento diferente, de acordo com sua evolução e características. A Terra, então, tinha aquelas... Era difícil e "tivemos" que forçar a barra. E se era preciso morrer, ressuscitar e demonstrar-lhes que a mensagem era autêntica, pois muito bem. Como dizia a vovó, "bem está o que bem termina". Ou não?

 

Devo ter feito um tal gesto de assombro que o Nazareno se adiantou à minha próxima pergunta:

 

- Sim, sei o que está pensando. Há outros mundos... mais do que você pode compreender e assimilar... e em todos eles há "filhos do Pai".

 

- Então não somos os únicos?

 

Nova gargalhada do Nazareno:

 

- Só vou lhe dizer uma coisa: aí fora há mais "tráfego" do que aqui embaixo...

 

- E por que as pessoas e os cientistas não terminam por acreditar?

 

- Repito: tudo tem seu tempo, fique calmo. Veja o que houve com os papas. Quem teria conseguido convencer Júlio II... o das rixas com Miguel Ângelo Buonarotti... que poucos séculos depois, outros "colegas" seus... João XXIII, Paulo VI, João Paulo II... iam servir-se de reatores para voar de um ponto a outro do planeta... para levar minha "mensagem"?

 

- Tem toda razão.

 

- Claro.

 

- Mas se há tantas "moradas", tantas civilizações em seu Reino...

 

- Em nosso Reino, você quer dizer...

 

- Isso, em nosso Reino. Foi preciso levar o "recado" a todas e a cada uma delas?

 

- Sem esquecer nenhuma.

 

- E em cada "missão" você teve que deixar a pele, se me perdoa a expressão?

 

- Não. Já lhe disse que este seu planeta reunia algumas características diferentes.

 

- Mas a "mensagem" acaba sendo conhecida até o último dos filhos do Pai?

 

- Até o menor e mais escondido, na última das galáxias dos universos visíveis ou invisíveis.

 

- Então, segundo isto, existirão outros mundos e "Terras" como a nossa que ainda não saibam nada sobre você?

 

- Existem... Mas tudo está previsto.

 

- E o que acontecerá quando todos nós "filhos do Pai" tivermos sabido e entendido o "negócio"?

 

- Não posso dizer... Há coisas que você deverá descobrir mais adiante.

 

- Voltando ao ponto anterior: apesar de sua encarnação na Terra e da "mensagem", a verdade é que as coisas não correm lá muito bem aqui embaixo... Algo voltou a sair errado?

 

- Ainda que não acredite, o Pai dá liberdade absoluta a seus filhos. Ele diz o que você deve fazer para ser feliz e prosperar. E os filhos, se quiserem, o fazem. A verdade é que só os "meninos pequenos"... vocês, por exemplo...fazem algumas travessuras e "emporcalham" a "casa" desta grande "família cósmica". Mas também se farão "maiores". Já vai ver. E tudo mudará. Eu lhe digo que todos estão condenados à Felicidade...

 

- Me diga... como posso ser feliz?

 

- A Felicidade não é uma flor natural deste mundo. Não se esqueça disso. Por enquanto, ame seus semelhantes.

 

- Falar é muito fácil!...

 

- Embora não as entenda, ame as pessoas. As que conhece e as que não conhece. O Amor; esse é o único "passaporte" para passar ao outro lado..

 

- E se não quero ou não sei?

 

- Vai precisar de mais tempo até aprender a lição. Porque você, como todos, está aqui e agora por alguma coisa. Lá em cima há muita "gente" trabalhando para o Pai. E não escapa nem se disfarça nem o mais profundo dos pensamentos e sentimentos.

 

- Então, como você diz, lá em cima tem "gente". São os mesmos que colaboraram com você no, plano' da Redenção?

 

Jesus, o Nazareno, pôs novamente a mão sobre meu ombro e respondeu com um interminável sorriso:

 

- Se já sabe, por que pergunta?

 

- Algum dia chegaremos a viver na Perfeição?

 

- Sim. De fato há gente que vive no Amor. Esses, por exemplo, já levam uma boa vantagem.

 

- O que é então o céu?

 

- A Perfeição. Viver no Conhecimento e na Harmonia com aquele que tudo pode e sustenta.

 

- Ou seja, que a santidade e a perfeição são compatíveis com a tecnologia e o progresso...

- Não imagina até que ponto...

 

- Nós temos tecnologia e lançamos foguetes ao espaço, mas não somos felizes. Por quê?

 

- Porque não terminaram de ver a "mensagem" ou o "recado"... como você diz... que o Pai me incumbiu de transmitir aos terráqueos. Há outras raças e civilizações que progrediram tanto ou mais que você e que são infinitamente mais prudentes e felizes. E o segredo só está nisso que lhe digo: em saber que somos "filhos do Chefe", e que, acima de tudo, deve estar o espírito e o amor. Ame a todos e tudo que os rodeiam cada segundo da sua existência neste mundo. Não se preocupe com o resto...

 

- E o que me diz do "sistema de andaimes" de algumas religiões?

 

- Isso: não passam de `andaimes". Às vezes nem sequer os mais chegados entendem que o "negócio" vai por outros caminhos...

 

- Uma última pergunta: como é o Pai? É como você?

 

Jesus de Nazaré ficou sério. Foi a única vez em que vi a expressão do seu rosto mudar. Por um momento pensei que tinha dado "mancada". Mas o ENVIADO não se perturbou nem perdeu a voz. E, enquanto se levantava e apertava minha mão, respondeu:

 

- Olhe à sua volta e, sobretudo, "olhe" para si mesmo. Assim saberá como é e quem é o "nosso" Pai...

 

E uma imensa e branca paz caiu sobre meu estremecido coração.

 

E desde então o mundo no qual vivo deixou de ser o mesmo...

 

                                                                                J. J. Benitez  

 

                      

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