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O ESPANTALHO E O HOMEM DE LATA / L. Frank Baum
O ESPANTALHO E O HOMEM DE LATA / L. Frank Baum

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Moravam na Terra de Oz dois homens esquisitos que eram melhores amigos. Eles ficavam tão felizes juntos que quase nunca se separavam, mas ainda gostavam de se separar de vez em quando para terem o prazer de se reencontrar.
Um era o Espantalho. Isso significa que era um traje de roupas azuis dos Munchkins, forrado de palha, sobre o qual haviam prendido uma cabeça de pano redonda, cheia de farelo para manter a sua forma. Na cabeça, foram pintados dois olhos, duas orelhas, um nariz e uma boca. O Espantalho nunca teve muito sucesso em espantar corvos, mas se orgulhava de ser um ser superior, pois não sentia dor, nunca se cansava e não precisava comer nem beber. Sua mente era afiada, pois o Mágico de Oz enchera o cérebro do Espantalho de agulhas e alfinetes.
O outro era feito todo de lata, com os braços, pernas e cabeças articulados cuidadosamente para que tivesse liberdade de movimento. Ele era chamado de Homem de Lata ou Lenhador de Lata, já que essa fora a sua profissão, e todos o amavam, pois o Mágico lhe dera um coração excelente de pelúcia vermelha.
O Homem de Lata morava em um castelo magnífico, todo feito de lata, construído nas suas terras no interior do País dos Winkies, não muito longe da Cidade Esmeralda de Oz. Ele tinha lindos móveis de lata e era cercado de um belo jardim, repleto de árvores de lata e canteiros de flores de lata. O palácio do Espantalho, às margens do rio, não ficava muito distante, e tinha o formato de uma enorme espiga de milho.

 


 


Um dia, o Homem de Lata foi visitar seu amigo Espantalho e, como não tinham nada melhor para fazer, os dois decidiram passear no rio. Assim, os dois subiram no barco do Espantalho, feito de um sabugo de milho gigante que fora escavado no centro, afinado nas duas pontas e decorado nas bordas com joias brilhantes. A vela era feita de seda púrpura e reluzia alegremente à luz do sol.

Uma brisa agradável soprava naquele dia, então o barco corria rapidamente sobre a água. Com o tempo, os dois chegaram a um rio menor, que fluía de uma floresta profunda, e o Homem de Lata propôs que navegassem nele, pois a sombra das árvores ajudaria a refrescá-los. Assim, o Espantalho, que estava guiando, virou o barco e os amigos continuaram a conversar sobre histórias passadas e as aventuras maravilhosas que haviam tido enquanto viajavam com Dorothy, a menininha do Kansas. A conversa era tão interessante que os dois se esqueceram de cuidar do barco, que agora navegava pela floresta, e não perceberam que o riacho estava ficando mais estreito e sinuoso.

De repente, o Espantalho ergueu os olhos e enxergou um pedregulho logo à frente.

— Cuidado! — gritou, mas o aviso chegou tarde demais.

O Homem de Lata se pôs de pé logo antes do barco bater na pedra e o choque fez com que perdesse o equilíbrio. Ele tropeçou e caiu pela borda fora. Como é feito de lata, afundou no mesmo instante e ficou caído lá embaixo, estirado e com o rosto virado para cima.

O Espantalho baixou a âncora imediatamente para que o barco não saísse do lugar. Inclinado na lateral do barco, ele olhou com tristeza para o amigo através das águas límpidas do rio.

— Ah, não! — exclamou. — Que azar!

— É mesmo — respondeu o Homem de Lata, a voz abafada por toda a água que o cobria. — Não posso me afogar, obviamente, mas vou ter que ficar aqui deitado até você achar um jeito de me tirar. Enquanto isso, a água está encharcando todas as minhas juntas, vou ficar horrivelmente enferrujado até ser resgatado.

— É verdade — concordou o Espantalho. — Mas tenha paciência, meu amigo, que vou mergulhar para buscá-lo. Minha palha não enferruja, e é fácil de substituir quando estraga, então não tenho medo de água.

O Espantalho tirou o chapéu, saltou do barco e mergulhou na água, mas era tão leve que mal rompeu a superfície do riacho e, mesmo com os braços de palha esticados, não alcançava o Homem de Lata.

— Não se desespere, meu amigo — ele disse enquanto flutuava de volta para o barco. — Eu tenho uma segunda âncora, vou amarrá-la ao redor da cintura para conseguir afundar e então mergulho de novo.

— Não faça isso! — respondeu o Homem de Lata. — Você também ficaria ancorado ao fundo, onde eu estou, e nós dois ficaríamos desamparados.

— É mesmo — suspirou o Espantalho, limpando o rosto molhado com um lenço, mas então deu um grito de espanto quando viu que havia apagado um dos seus olhos pintados e agora só enxergava do outro.

— Que horror! — disse o pobre Espantalho. — O olho deve ter sido pintado com guache, não com tinta a óleo. Preciso tomar cuidado para não apagar o outro, ou então não vou enxergar nada e não vou poder ajudá-lo.

Essa fala foi recebida por uma gargalhada malandra. O Espantalho olhou para cima e viu que as árvores estavam cheias de corvos, que pareciam achar muito engraçado o semblante caolho do homem de palha. Ele conhecia bem os corvos, no entanto, e estes eram quase sempre seus amigos, pois ele nunca tentara enganá-los e convencê-los de que era um homem de carne, que é o tipo de homem que realmente os assusta.

— Não riam — disse ele. — Vocês também podem perder um olho algum dia.

— Não ficaríamos tão engraçados assim — respondeu um corvo velho, o rei do bando. — Mas o que aconteceu com você?

— O Homem de Lata, meu caro amigo e companheiro, caiu pela borda fora e está no fundo do rio — disse o Espantalho. — Estou tentando puxá-lo de volta, mas estou com medo de não conseguir.

— Ora, isso é fácil — o velho corvo declarou. — Amarre uma corda nele e todos os meus corvos vão descer voando, agarrar a corda e puxar ele para fora da água. Somos centenas, nossa força unida ergueria muito mais do que isso.

— Mas não tenho como agarrar uma corda nele — respondeu o Espantalho. — Minha palha é tão leve que não consigo mergulhar na água. Já tentei, mas perdi um olho.

— Você não poderia pescá-lo?

— Ah, que boa ideia — disse o Espantalho. — Vou tentar.

Ele achou uma linha de pescar, com um anzol firme na ponta. Não seria preciso usar isca, então o Espantalho deixou o anzol cair na água até alcançar o Homem de Lata.

— Prenda numa junta — aconselhou o corvo, que se empoleirara em um galho que pendia sobre a água.

O Espantalho tentou, mas como tinha um olho só, não enxergava as juntas claramente.

— Rápido, por favor — implorou o Homem de Lata. — Você não faz ideia de como está úmido aqui embaixo.

— Você não tem como ajudar? — perguntou o corvo.

— Como? — perguntou o homem de lata.

— Pegue a linha e amarre no seu pescoço.

O Homem de Lata se esforçou e, após várias tentativas, amarrou a linha ao redor do pescoço e prendeu-a com o anzol.

— Boa! — exclamou o Rei dos Corvos, um velho muito matreiro. — Agora vamos todos agarrar a linha e tirar você daí.

O céu se encheu de corvos negros, todos os quais prenderam a linha com seus bicos ou garras. O Espantalho assistiu tudo muito interessado e esqueceu que havia amarrado a outra ponta da linha ao redor da própria cintura, para que não a perdesse enquanto tentava pescar o amigo.

— Todo mundo junto agora, sem grasnar! — berrou o Rei dos Corvos. No mesmo instante, todos os pássaros bateram as asas e se ergueram no ar.

O Espantalho, alegre, bateu suas palmas estufadas de palha quando viu o amigo sair da água e subir ao ar, mas no próximo segundo estava ele próprio voando e esperneando inutilmente, pois os corvos haviam se erguido acima da copa das árvores. Em uma ponta da linha ia o Homem de Lata, pendurado pelo pescoço, e na outra se balançava o Espantalho, pendurado pela cintura e abraçado com todas as forças à âncora do barco, que agarrara para tentar se salvar.

— Opa, cuidado! — o Espantalho gritou para os corvos. — Não subam tanto. Deixem a gente pousar na margem do rio.

Mas os corvos estavam querendo travessuras. Eles acharam que seria muito engraçado incomodar os dois, agora que os tinham cativos.

— Agora são os corvos que espantam o Espantalho! — riu o Rei dos Corvos, sapeca.

Ao seu comando, os pássaros sobrevoaram a floresta, onde uma árvore morta se estendia acima de todas as outras. No alto desta havia uma forquilha formada por dois galhos secos, e foi nela que os corvos soltaram o centro da linha. Depois que largaram a linha, eles voaram embora, conversando e gargalhando enquanto os dois amigos ficavam suspensos no ar, um em cada lado da árvore.

O Homem de Lata era muito mais pesado do que o Espantalho, mas o motivo para estarem tão equilibrados é que o homem de palha estava ainda abraçado à âncora de ferro. Lá estavam, pendurados a menos de três metros um do outro, mas sem alcançar o tronco desnudo da árvore.

— Por favor, por favor, não solte essa âncora — disse o Homem de Lata, ansioso.

— Por que não? — indagou o Espantalho.

— Se soltar, vou despencar até o chão e a queda vai me amassar todo. Além disso, você voaria para o alto e acabaria pousando no meio das copas.

— Então vou segurar bem a âncora — o Espantalho disse, sincero.

Os dois ficaram pendurados em silêncio por algum tempo, balançando gentilmente com a brisa. Por fim, o Homem de Lata disse:

— Meu amigo, nesta emergência, só o cérebro vai nos salvar. Precisamos pensar em algum jeito de escapar.

— Deixa que eu penso — respondeu o Espantalho. — Meu cérebro é o mais aguçado.

Ele pensou por tanto tempo que o Homem de Lata cansou de esperar e tentou mudar de posição, mas descobriu que as suas juntas já estavam tão enferrujadas que não conseguia se mexer, e sua lata de óleo ficara no barco.

— Você acha que o seu cérebro enferrujou, Espantalho, meu amigo? — perguntou baixinho, pois sua mandíbula mal conseguia se mexer.

— Não, não mesmo. Ah, uma ideia afinal!

E, com isso, o Espantalho levou as mãos à cabeça, esquecendo-se da âncora, que despencou até o chão. O resultado foi incrível. Exatamente como dissera o Homem de Lata, o Espantalho, que era leve, foi arremessado por cima da árvore e voou pelo ar até pousar em um espinheiro. O Homem de Lata, por sua vez, caiu direto para o chão e aterrissou em uma pilha de folhas secas, sem se amassar. As juntas do Homem de Lata estavam tão enferrujadas, no entanto, que ele não conseguia se mexer; enquanto o Espantalho era prisioneiro dos espinhos.

Presos naquelas tristes circunstâncias, os dois ouviram o som de cascos. Por uma trilha vinha o pequeno Mágico de Oz, sentado em um Cavalete de madeira. Ele sorriu quando avistou o Espantalho caolho sobre o espinheiro, mas ajudou a libertar o pobre homem de palha.

— Obrigado, meu caro mágico — disse o Espantalho, agradecido. — Agora precisamos buscar a lata de óleo e salvar o Homem de Lata.

Eles correram juntos até a margem do rio, mas o barco estava no meio do rio e o Mágico precisou murmurar algumas palavras mágicas para trazê-lo mais para perto e para que o Espantalho alcançasse a lata de óleo. Depois, os dois correram de volta para o Homem de Lata. Enquanto o Espantalho lubrificava com cuidado cada junta do amigo, o Mágico puxava as juntas para um lado e para o outro, com muita delicadeza, até que voltassem a se mover livremente. Após uma hora desse trabalho, o Homem de Lata estava de pé novamente e, apesar de ainda um pouco travado, conseguiu caminhar até o barco.

O Mágico e o Cavalete também subiram no barco de sabugo de milho e, juntos, todos voltaram para o palácio do Espantalho. O Homem de Lata, no entanto, tomou muito cuidado para não se pôr de pé no barco novamente.

 

 

                                                   Lyman Frank Baum         

 

 

 

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