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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O GARANHÃO / Jackie Collins
O GARANHÃO / Jackie Collins

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

O GARANHÃO

 

         TONY - LONDRES, 1969

Há algo de extremamente excitante no início da noite - bem, no início da minha noite, o que normalmente ocorre por volta das dez e meia, onze horas. Cada noite no Hobo é como se fosse uma festa - uma grande festa onde todos se conhecem e se gostam.

Começam a chegar lentamente. Primeiro, aqueles que querem assegurar uma boa mesa, depois, os observadores. Habitualmente, todo este grupo se amontoa ordenadamente fora do caminho, no lado errado da sala, ou, se são realmente violentos, na sala dos fundos. Temos um grupo de freqüentadores unido, mas alguns conseguem entrar de alguma forma. Depois, todos se acomodam nas suas cadeiras à espera da acção e, por volta da meia-noite e meia, uma hora, começam a chegar Raparigas de cabelos dourados com trajes à cowboy, acessórios índios, botas, camisolas sem costas e vestidos transparentes. Quanto mais extravagantes, melhor. Os seus acompanhantes variam da ralé de cabelos compridos, de grupos rock, aos mais recentes jovens actores. Jovens elegantes com vestidos de noite de cerimônia, com acompanhantes sem conversa. O grupo mais velho da sociedade. Os Gregos ricos. Os Árabes ainda mais ricos. Uma estrela de cinema bizarra. Um excêntrico membro do Parlamento ou senador visitante. Qualquer pessoa famosa que esteja na cidade. Jovens escritores, estilistas de moda, fotógrafos, modelos. Todos vêm para ver e para serem vistos, para verem os seus amigos. É como uma excitação crescente - atingindo um clímace único por volta das duas da madrugada, altura em que a sala está tão apinhada que seria impossível fazer entrar mais alguém, excepto, talvez, Frank Sinatra ou Mick Jagger.

Parece ridículo que, há seis meses atrás, me dariam uma libra ou duas e não me reconheceriam se nos cruzássemos na rua. Agora, mostravam-se impacientes por me pôr a mão em cima.

- Querido - (beijo, beijo, beijo). - Quem está cá esta noite? Um leve apalpar, se o namorado ou marido não estivesse a ver.

- Por favor, não nos arranjes uma mesa horrível como a da última semana. - Um aperto carinhoso e um olhar prometedor.

Então, o marido ou namorado avançam - um aperto de mão firme, a troca de algumas palavras íntimas e masculinas, e passo-os ao Franco, o chefe supremo dos empregados, que os conduz rapidamente para a mesa adequada à sua posição: os observadores de um lado, os activos do outro. Tudo muito ordenado, os de insucesso com dinheiro firmemente comprimidos na sala dos fundos.

Sim, sou agora muito popular, todos me querem conhecer. Engraçado, não é? Sou o mesmo tipo de sempre, falo com a mesma voz, as roupas são um pouco mais caras mas essa é, afinal, a única diferença. Contudo, não podem imaginar, as senhoras praticamente lutam para irem para a cama comigo. Podem pensar que lhes estava a fazer um grande favor e, pelo modo como as coisas têm corrido, creio que sim!

Digo-vos, a vida é bela, desde que a saibamos desfrutar.

Bem, devem estar a pensar como tudo isto aconteceu, como um tipo como eu, Tony Schwartzburg, de algures perto de Elephant and Castle, se tornou em Tony Blake, homem de cidade, amigo das estrelas, anfitrião da discoteca mais em voga, Hobo. Ouvi muitas confidências, tais como: "Onde podemos arranjar alguma erva?" e "Tens algumas miúdas? ", por parte de alguns dos mais famosos da região. "O Tony consegue arranjar tudo", tornou-se uma frase muito generalizada na cidade.

Bem, para começar, tive a mesma vida inútil e dura que a maioria dos miúdos da minha vizinhança - lutando nos becos, assistindo às lutas em casa. Os meus pais, Sadie e Sam, eram um simpático e velho casal judeu, que se odiavam um ao outro. Sam pouco se preocupava comigo mas, para Sadie, eu representava o sentido da sua vida.

- Aprende um ofício, como o teu primo Leon - costumava dizer -, faz com que a família se orgulhe de ti.

A primeira vez que fui para a cama com uma mulher, tinha treze anos. Se a família tivesse descoberto, teria ficado orgulhosa de mim! A rapariga (era alguns anos mais velha que eu) pegou-me "chatos" e passei cerca de seis meses a tentar livrar-me deles e a transmiti-los a qualquer outra rapariga! Por fim, passei-os à rapariga errada e toda a gente veio a descobrir. Sadie ficou histérica e Sam deu-me umas palmadinhas nas costas e comprou-me uma pomada.

Quando atingi os dezasseis anos, tinha já percorrido uma série de empregos. Distribuidor de jornais, varredor numa fábrica, arrumador no cinema local - fui despedido quando o gerente me descobriu a "fazer aquilo" com uma miúda na última fila de lugares. Ela era a sua melhor arrumadora e andava a fornicá-la ao mesmo tempo que eu pelo que ficou um pouco chocado. Infelizmente, engravidei-a e gerou-se um escândalo na família. Contudo, ao verem que o gerente a queria de volta, dado que era difícil encontrar boas arrumadoras, pagou-lhe o aborto e tudo terminou em bem.

Por esta altura, Sadie e Sam começaram a ficar um pouco fartos de mim e, sinceramente, quem os podia censurar? Sam deixou de gritar com Sadie e começou a fazê-lo comigo. Para me arranjarem trabalho, alguém pensou no tio Bernie.

O tio Bernie representava o sucesso da família. Possuía duas lojas de especialidades alimentícias e como que se desligara do resto do clã. De qualquer forma, Sadie sentiu que, sendo a sua única irmã, este lhe devia um favor, pelo que me arrastou até à sua loja, na Great Portland Street, e insistiu para que ele me desse emprego. Não ficou muito entusiasmado com a idéia mas, consciente de que não se livraria de Sadie de outra forma, concordou.

Tinha uma filha, Marion, uma robusta rapariga de espesso cabelo negro - em todo o lado. Qualquer que fosse o sítio onde o imaginássemos, Marion tinha espesso cabelo negro. Para além disto, até nem era má, era mesmo um pouco sexy. Grandes tetas e um nariz fino e arqueado. Eu sei que o não devia ter feito, afinal, era minha prima, mas, um dia, a oportunidade surgiu e, se a oportunidade surge, quem sou eu para a desprezar? Claro que o tio Bernie descobriu e assim terminou a minha carreira no negócio das especialidades alimentícias. Foi demais para Sadie e, mesmo Sam, não ficou muito satisfeito.

A vida em Elephant estava a tornar-se, de qualquer forma, uma chatice e, já que chegara a Great Portland Street, pensei que poderia ir mais longe. Arranjei trabalho como lavador de pratos no Savoy e um quarto na Camden Town. A vida era bela. Entrei nos meus vinte como um homem feliz.

Conheci uma rapariga, Evie, uma bonita loura de cabelo encaracolado. Trabalhava num clube. Conseguiu-me um lugar de empregado e descobri o mundo das gorjetas. Foi muito bom, ensinou-me muito sobre as pessoas. Ensinou-me o modo correcto de sacar uma libra a um bêbado cujas intenções eram de nada deixar.

Estava a fazer vinte libras por semana. A minha vida evoluiu para fatos italianos listados e sapatos pontiagudos; comecei a sair com raparigas com um pouco mais de classe, cabeleireiras, empregadas de balcão e outras dentro desse grupo. Nada mal. Sentia-me como um rei! Visitava Elephant aos domingos e entregava uma nota de cinco libras a Sadie. Claro que ela nunca a aceitava, iniciava sempre um discurso sobre como eu devia poupar o dinheiro, assentar, procurar uma simpática rapariga judia e casar-me, ser como o primo Leon - para mim, um autêntico traste.

Deixei o clube e comecei a trabalhar como ajudante de garçon num restaurante de categoria. Não dava muito dinheiro, mas foi o trampolim para coisas melhores. E essas coisas melhores encontravam-se todas ao meu redor. As miúdas que freqüentavam aquele lugar. Lindas! Peles, jóias, aromas caros,

A seguir, trabalhei como empregado num outro lugar de prestígio, onde me envolvi com Penny, filha do proprietário. Penny era algo de diferente. Era ruiva, muito bem apresentada, baixa e compacta. Penso que me apaixonei por ela. Era provavelmente por isso que eu não conseguia "fazer aquilo" com ela. Analisando agora o assunto, penso que ela era pouco dotada para o sexo mas, nessa altura, incomodava-me muito. Foi a primeira rapariga que desejei e não pude ter.

Não quero parecer presunçoso, mas imaginem um Tony Curtis mais alto, com um toque à Michael Caine e Kris Kristofferson!

De qualquer forma, Penny e eu queríamo-nos casar. Claro que o pai ficou furioso mas ela nunca o largou e, uma vez que ele não queria que a filha casasse com um empregado, abriu um novo lugar e colocou-me a dirigi-lo - uma espécie de chefe de empregados, de luxo.

Tudo começou aí. Onde, pela primeira vez, vi Fontaine.

Claro que toda a gente já ouviu falar de Fontaine Khaled, ela é uma espécie de instituição nacional, embora não tão velha - cerca de trinta e cinco anos, diria, mas, ainda hoje, não sei a verdade.

Fontaine tem um aspecto de inglesa altiva, da alta classe. Bonita, claro, estrutura bem delineada (se por natureza ou cirúrgica plástica ninguém sabe), pele de pergaminho e corpo angular magro que se empresta a roupas caprichosas e longo cabelo escuro puxado para trás.

A primeira vez que a vi, não consegui desviar o olhar. Aqui estava uma dama. Parece banal, eu sei, mas não podia haver qualquer engano. Fora, outrora, modelo fotográfico de fama mundial e retirara-se para casar com Benjamin Al Khaled, bilionário. Aparecia constantemente nos jornais, brilhando aqui, ali, em todo o lado. Revelando-nos a sua villa em Acapulco, o seu castelo em Espanha, a sua casa de Londres ou apartamento de cobertura em Nova Iorque.

Leio com freqüência as colunas sociais; no meu negócio, é sempre bom conhecer as pessoas. Desta forma, mal ela entrou, soube quem ela era. Fazia-se acompanhar por três homens e duas mulheres, todos do mesmo estrato social, mas não com a mesma classe. Conduzi-os pessoalmente à mesa, acto que deixara de executar desde que assumira a direcção. Dirigi-me a ela mesmo pelo seu nome, só para que notasse a minha existência. Mas nem sequer me dirigiu o olhar. Grande impacto imediato, o de Tony Blake.

Não havia qualquer marido com ela e não me pareceu que estivesse a acompanhar alguém. Os fulanos que estavam com ela eram bastante "quadrados", do tipo sem tomates, com vozes altas, próprias de quem freqüentou escolas privadas.

Trajava o que me pareceu ser um casaco de pêlo de coelho mas, mais tarde - durante um curso intensivo de educação social - descobri que era chinchila. Naquela altura, achei aquilo muito fino mas, também, não sabia distinguir um saco Gucci de um Marks & Sparks.

Rondei por diversas vezes a mesa, mas nada que se parecesse com um olhar.

Escutei: "St. Moritz está a tornar-se bastante aborrecido." "Sabiam que o Jamie partiu a perna no Tibete?" "Já viram St. Laurent este ano?" Pequenos fragmentos de conversa chata.

O tipo que pagou a conta nem gorjeta deixou.

Regressou duas noites depois, desta vez com o marido. Era muito mais velho que ela. Faziam-se acompanhar de um outro tipo de idade. Ela lançou-me um breve sorriso ao entrar, o qual me surpreendeu, e, depois disso, começaram a vir com freqüência, sempre que não se encontravam a viajar pelo mundo.

Penny estava a causar-me problemas. Desde que o pai, digamos, me promovera, eu disfrutava de bastante sucesso. Os clientes gostavam de mim; lembrava-me dos seus nomes, certificava-me de que a comida estava em condições e tornei-me amigo de alguns deles. O lugar adquiriu boa reputação e as pessoas ficavam desapontadas se eu lá não estivesse. Gostavam de ser cumprimentadas pelo nome, facto que as fazia sentir importantes.

O pai de Penny compreendeu que eu era bom para o lugar e eu compreendi que Penny não era boa para mim. Não estávamos numa boa situação. Começou a mostrar-se muito irritante e ciumenta, acusando-me de todo o tipo de coisas, a maioria das quais era verdade. Bem, não sei se ela pensava que eu andava a masturbar-me mas, uma coisa era certa, com ela, não havia qualquer acção. Mudei-me para um pequeno apartamento de uma assoalhada junto à Edgware Road, onde ela me apanhou um dia com uma croupier ruiva. Que lágrimas e cenas! Até me ofereceu a sua virgindade mas, nessa altura, já nem isso eu queria. Desta forma, separámo-nos como dois maus amigos.

Escusado será dizer que foi apenas uma questão de tempo até que eu e o pai dela nos separássemos também. Eu tinha os olhos postos num outro lugar. Estava já farto de ser empregado de mesa, queria subir no mundo, progredir. A situação ideal seria arranjar um estabelecimento só meu mas, para isso, precisava de dinheiro.

Lancei os olhos ao meu redor e, numa noite memorável, encontraram Fontaine. Foi um daqueles olhares! - os seus olhos calmos água-marinha colidiram com o meu olhar fixo e sombrio (muitas foram as mulheres que me disseram já possuir eu um olhar fixo e sombrio) e pronto. Ambos soubemos que algo iria acontecer.

Pouco depois, dirigiu-se à casa de banho das senhoras e eu encontrava-me à sua espera quando saiu.

- Tony - disse (tinha uma pronúncia profunda, cortante, muito inglesa) -, você está a desperdiçar-se aqui. Por que não vai amanhã ter comigo? Tenho uma idéia sobre a qual você me poderá ajudar. - Entregou-me um pequeno cartão lavrado à mão com a morada e acrescentou: - Por volta das três horas estará óptimo.

Anui, em silêncio. Para ser franco, fiquei atordoado com tudo aquilo.

Devo ter trocado de roupa umas dez vezes no dia seguinte - ficaria melhor com uma roupa informal ou deveria optar por um fato italiano, mais a rigor? Acabei por decidir levar uma camisa lilás-pálido, com colarinho branco firme e um fato em seda preta.

Cheguei com meia hora de antecedência à residência fenomenal que ela possuía em Belgravia. Era de mais! Descobri que fora, outrora, uma embaixada. Tinham, inclusive, uma piscina.

O mordomo levou-me ao que me pareceu ser a sala de estar mas que, depois, compreendi ser apenas uma sala de espera. Tudo tinha um aspecto dispendioso, com mobiliário cinzelado e velhas pinturas de cor berrante na parede. Algumas eram um tanto perversas - havia uma com três miúdas e um tipo mas, quando me preparava para a observar com mais atenção, Fontaine entrou.

- Interessa-se por arte, Tony? - perguntou.

Estava linda, numa espécie de robe em seda e cabelos soltos. Meu Deus, ainda me lembro como estava nervoso. Isto é que era classe.

- Vamos para o escritório - disse. - Quer tomar uma bebida? Pedi um sherry, pensando que era a bebida adequada para o

momento.

- Não me parece um homem que toma sherry - afirmou, olhos calmos e divertidos.

Comecei aficar excitado e, nas calças justas, revelei que não se tratava de uma brincadeira. Aproximei-me dela com prudência; não retrocedeu. Na verdade, dirigiu-se a mim. Abracei-a. Era alta e senti os seus ossos através do fino robe. Colocou os braços em redor do meu pescoço e puxou-me a boca para a dela. Que beijo! Parecia um animal faminto, investindo e sondando com a língua, mordendo e suspirando. Penso que posso seguramente afirmar que retribui, de igual forma, o que me foi dado.

- Vamos lá para cima - disse, por fim, e acrescentou: - não faz mal, Benjamin não está.

Segui-a até um pequeno elevador e juntámo-nos firmemente quando este começou a subir. Desapertou-me as calças e esfregou-me com os dedos longos e talentosos. Meu Deus, estava capaz de ejacular logo ali!

Subitamente, o elevador parou e ela libertou-se do robe.

Fitei o seu corpo magro. Tinha seios pequenos e mamilos pálidos e erectos.

- Já chegámos? - inquiri, pateticamente.

- Não, mas não tardaremos a chegar - replicou, puxando-me as calças.

O elevador era pequeno, o que me causava uma certa claustrofobia, mas ela conseguiu fazer-me ultrapassar tal sensação.

Devo dizer que, da minha experiência com mulheres, nunca nenhuma se portara assim.

- Tony, excedes tudo aquilo que eu esperava - murmurou. Vou mostrar-te agora como se faz num elevador.

Oh, meu Deus! Que experiência!

Pensando bem, não tive hipótese de fazer grande coisa porque ela fez praticamente tudo. Claro que me portei magnificamente. Estava fora do meu ambiente e sabia-o. Deixei-a conduzir a situação, para que tudo corresse bem.

Enterrou as unhas profundamente nas minhas costas e entrelaçou as pernas em meu redor. Não gemeu nem gritou. Murmurou:

- fode-me, meu filho da puta, mantém-no teso.

bom, nesse aspecto, nunca tive qualquer problema.

Depois, revelou-se calma e activa. Ergueu-se e envergou o robe. Esperou que eu enfiasse a roupa e o elevador voltou a levar-nos para o escritório.

Sentia-me destruído. Deixei-me cair numa cadeira. Ela fez soar uma campainha e o mordomo apareceu com chá.

Não parou de falar na sua voz de alta classe da sociedade; quem pensaria que, há meia hora atrás, estivera em delírio no elevador.

- Quero abrir uma discoteca - disse. - Algo diferente, algo chique, um lugar onde uma pessoa se possa divertir - algo de louco e exclusivo.

- Sim. - Eu era todo ouvidos. Tinha chegado a minha grande oportunidade.

- Eras capaz de organizar uma coisa desse tipo, não eras? Falou sobre o facto de não haver lugar algum que fosse chique.

- Tudo o que existe está cheio de gente chata e reles. Não te parece que esta cidade necessita de algo diferente - algo para gente adulta, como existe em Paris ou Roma?

O tipo de conversa era de mais para mim. Vejam bem, um lugar para gente adulta! Contudo, anui, de forma séria. Ando à procura de uma forma de largar o restaurante - podia estar aqui a oportunidade.

- Começa a procurar as instalações apropriadas, Tony. O dinheiro não é problema, o meu marido financiará tudo. Pagar-te-emos um bom salário e 5% dos lucros. Que tal? Claro, serás tu a dirigir todo o negócio. Agrada-te?

Se me agradava? Claro que sim. Levantou-se, alisando o robe.

- Agora tenho de me vestir. Começa a procurar e mantém-me informada. - Voltou-se para a porta. - oh, Tony, foi muito bom no elevador, mesmo muito bom. Havemos de voltar a fazê-lo em breve. - Depois, na mesma voz calma, acrescentou: - O mordomo acompanha-te à saída.

Foi uma tarde em cheio. Que mulher. Tinha a sensação que me encontrava no bom caminho.

Lancei mãos à obra. Levantava-me cedo de manhã e corria os agentes de imobiliário. Vi muitos clubes sem qualquer qualidade. Sabia perfeitamente o que ela queria, pelo que continuei a procurar até encontrar. Era um restaurante, situado no cimo do telhado, que falira - má vizinhança, dizia toda a gente, impossível estacionar mas, se tivermos um porteiro adequado, nada era impossível. Para mim, correspondia às exigências. Nem demasiado grande, nem demasiado pequeno. Diferente porque, em vez de se descer para uma cave, subia-se para um lugar com janelas e paisagem. Telefonei de imediato a Fontaine e ela chegou, esplendorosa, num carro com motorista, um Silver Cloud Rolls. Também adorou. O negócio estava lançado.

Tomámos chá no Fortim. Não voltara a vê-la desde aquele dia em sua casa. Trazia um casaco de marta e chapéu e todos se voltavam para a ver melhor. Fitou-me com aqueles olhos calmos e reconheci o olhar.

- O Benjamin está em casa - disse-, mas tenho outro lugar.

- Então, vamos - proferi, tragando umas sanduíches deliciosas e sentindo-me optimamente.

Mandou o motorista embora e apanhámos um táxi para um pequeno edifício de apartamentos em Chelsea. Tinha apenas uma divisão mas era luxuoso, com uma cama enorme coberta de peles, tapetes, espelhos por todo o lado, venezianas às ripas para ocultarem a luz do dia e luzes tingidas de vermelho. Alguns quadros eróticos na parede, muitos livros pornográficos e uma estante de livros embutida, junto da cama.

- Este é o meu quarto de prostituta - disse, com um leve sorriso. Não sabia o que dizer; jamais encontrara uma pessoa assim. Despiu a roupa e estendeu-se sobre a cama. Atrapalhei-me com a minha... também, estava envergonhado!

Consegui, por fim, tirá-la e lancei mãos à obra. Ela limitou-se a ficar muito quieta, sorrindo ligeiramente. Muito diferente da última vez. Na verdade, tal atitude era bastante excitante. De certa forma, fez-me deixar de ficar de sobreaviso. Quero dizer, estava à espera que fosse como da última vez.

Não levei muito tempo a acabar. Tirei-me de cima dela e observei os nossos corpos no tecto de espelhos.

Disse, muito lentamente:

- Tony, queres aprender a ser um amante a sério?

Apoiei-me num cotovelo e fitei-a. Estava a brincar? Afinal, eu dera o meu melhor naquele apartamento.

Pensando bem, e voltando atrás no tempo, ela realmente ensinou-me muito. Pequenos truques que aprendera em Beirute, Tânger, América do Sul. Conhecia qualquer país. Era uma óptima professora, descia ao ínfimo pormenor. Cada dia que passava ansiava mais pelas nossas aulas. Claro que, simultaneamente, eu andava com outra miúda. Fontaine não o sabia, mas tornava-se de grande utilidade, pois dava-me oportunidade de fazer os trabalhos de casa, encontrando-me depois em perfeita forma para Fontaine.

Lana era um pouco vulgar, mas de perder a cabeça quando se tratava de praticar as minhas lições. Na verdade, acrescentou algumas idéias de sua própria autoria. Tinha o melhor par de mamas das redondezas, era cheia e sumarenta. Não havia dúvidas que Fontaine tinha muita classe e tudo isso, mas um pouco em falta nos departamentos de tetas e rabo. Um homem gosta de um bom bife, mas também sente a falta do pão e das batatas.

A vida era uma autêntica maravilha. Deixei o restaurante e comecei a organizar o novo clube. Decorar o interior, descobrir empregados, listas de membros, encomendar o stock. Havia um milhão de coisas a tratar. Fontaine escolheu o nome, Hobo. Estava perfeito, embora Benjamin tivesse sugerido chamar-lhe Fontaine. Ela disse que revelaria falta de gosto e se tornaria vulgar. Tinha razão. Normalmente, tinha razão.

Por fim, deu-se a inauguração. Uma grande festa, muita publicidade, as pessoas adequadas. Toda a gente esteve presente, vinham sempre em enchentes, quando se tratava de algo gratuito. Fontaine supervisou pessoalmente a lista de convidados e penso que foi isso que despoletou a situação - a sua lista de convidados. Era uma amálgama tão extravagante - de grupos rock a estrelas de cinema, da alta sociedade a prostitutas (internacionais, claro! )

Foi uma maravilha. Em poucas semanas, Hobo tornou-se o lugar de selecção e eu, a pessoa a conhecer.

Que sensação! Ainda espero que o balão rebente. Mas aqui estou, Tony Blake - ex-nada, ex-empregado, agora grande anfitrião, amante e amigo das estrelas.

O maior!

 

         FONTAINE

Sempre adorei acordar tarde e tomar o pequeno almoço na cama. Benjamin diz que é por a cama ser o meu lugar preferido. Na verdade, tem razão. Ele levanta-se a horas despropositadas, sete da manhã. Assim, fico deitada, de olhos fechados, ouvindo-o tossir, arrotar e libertar gases! Encantador! Benjamin Al Khaled de manhã - pergunto a mim mesma o que as colunas de mexericos da sociedade fariam com um exclusivo deste tipo! Roguei-lhe quartos separados, mas foi a única coisa em que não cedeu. Gosta de me ter à mão, se lhe apetecer mesmo durante a noite. Por isso, mantém-se o quarto comum. Vale a pena, ele é muito, muito rico. Nem eu sei o que ele tem, milhões. Tem sessenta e um anos e endiabrado como poucos.

A cama é deliciosa. Posso aqui ficar deitada, pensando, descontraindo-me, sem ter de fazer nada. Às onze, a minha criada acorda-me. Traz o pequeno-almoço e os jornais, põe o banho a correr e prepara a roupa que lhe indico. Posso ter tudo aquilo que quiser. Benjamin dá-me tudo, com excepção de dinheiro propriamente dito.

Estamos casados há cinco anos e fomos ambos já casados antes. A sua ex-mulher é uma cabra. Fraca e medonha, com dois filhos dele, Alexandra e Ben Júnior. O meu ex-marido está algures na Califórnia gozando ao sol o dinheiro que Benjamin teve de pagar para que ele concordasse com o divórcio. Paul sempre foi um preguiçoso. Quando nos casámos, nunca fez nada para trabalhar, vivia do dinheiro que eu tão arduamente ganhava como modelo. Contudo, era realmente bonito e muito viril. Foi uma pena ter de me divorciar dele, mas estava farta de ser modelo. Como não estava a ficar mais nova, não podia recusar todo aquele dinheiro divino que Benjamin me oferecia. Bem, para ser sincera, não tive alternativa.

Estar casada com Benjamin é como ter um emprego em part-time. Trabalha tão duramente e viaja tanto que raramente o vejo. Por isso ele concordou em que eu avançasse com a discoteca, um local para onde eu pudesse ir: "um pequeno interesse", como ele o designou. "Um pequeno interesse", uma ova. Está a fazer uma fortuna! Benjamin ficaria doente, se soubesse, detesta que eu tenha o meu próprio dinheiro. Pensa que tal facto me tornaria independente dele. Não é uma parvoíce? Como se eu me tornasse independente de todos os seus milhões.

Benjamin acredita que lhe sou fiel. Disse-o a mim. Pensa que, tendo tudo em casa, não poderei querer mais. Para um homem de sessenta e um anos, é muito inocente, sobretudo porque está afastado a maior parte do tempo. Como se eu pudesse estar satisfeita com aquela coisa mirrada e velha!

Felizmente, organizei a minha vida de forma bastante satisfatória e tenho, por vezes, aventuras excitantes. Em Londres, tenho actualmente o Tony. É uma verdadeira beleza. Tremendamente sexual. Alto e robusto, tem um corpo encrespado de músculos ocultos e um peito coberto de pêlos pretos, o que é muito excitante. O seu rosto é um convite aberto para a cama. Que inocente era, quando veio pela primeira vez para as minhas mãos. Vejam-no agora. Claro que, basicamente, será sempre um empregado-chefe, mas penso que o melhorei de tal forma que está irreconhecível.

A primeira vez foi um desastre. Tinha um charme animal, um caminhar sexy, mas era tudo. Na cama, tinha um corpo maravilhoso, mas faltava-lhe a perícia. Para alguém tão bem dotado, era uma pena. Pensei para mim mesma: "É muito atraente, numa forma básica. Se me agrada, é provável que agrade a muitas outras mulheres." Por isso decidi usá-lo na discoteca. Precisava de alguém e, pelo que parece, é a pessoa indicada. Claro que sei que tem aventuras com todas as que lhe aparecem no caminho, incluindo a minha melhor amiga Vanessa. Pensa que nem suspeito. Não é idiota? Claro que não me importo, mas tenho de fingir que nada sei, simular um pouco de ciúmes, de outra forma o seu orgulho masculino ficaria ofendido. Rio-me com Vanessa sobre isso. "Tony, o Garanhão", chamamos-lhe. É muito divertido comparar experiências. Ele acredita ser o melhor amante do mundo. Não é mau, mas se não fosse tão bem dotado, seria desastroso. Pobre Tony convencido.

Nunca esquecerei a primeira vez que se encontrou comigo na minha casa. A roupa que trazia - inacreditável! Um fato preto de seda barata, com calças tão justas que o membro mais parecia um farol! Decidi que tinha de dar uma vista de olhos. Benjamin não estava pelo que o levei para o meu elevador e desfrutei-o aí. Devo dizer que não há nada mais maçador que fazê-lo sempre numa cama. Quando lhe despi a roupa, pensei: "nada mal" mas, quando tudo acabou, sabia que havia muita coisa a ensinar-lhe.

O melhor amante que alguma vez tive foi um grande Zulu negro. Estava a fazer uma passagem de fatos de banho no fim do mundo. Fizemos uma pausa para um cigarro e ele agarrou-me atrás de uma árvore e deu-me uma rápida. Delicioso! Nunca o esquecerei. O seu ritmo foi perfeito e fez-me atingir o mais lindo clímace que alguma vez experimentei! Infelizmente, mudou-se para um outro lugar e não o voltei a ver. Penso nele com freqüência, sobretudo quando Benjamin está estendido sobre mim, soprando e boiando.

Vanessa diz que Tony se sente intimidado por mim. Imaginem! Penso que talvez seja por eu estar casada com um bilionário ou coisa assim. Torna-se bastante útil, leva as pessoas a ajoelharem-se, a revelarem muito respeito. Fama, dinheiro e títulos, é com o que as pessoas realmente se importam.

Não quero filhos. Para quê? Estragam a nossa figura, só nos dão problemas aborrecidos e, no fim, abandonam-nos. Não preciso de filhos, não tenho aquilo a que é habitual chamar-se, instinto maternal. Pessoalmente, gosto de ser livre. Meu Deus, a minha mãe nunca conheceu qualquer vantagem pelo facto de me ter tido. Uma mulher deve ser forte e já vi demasiados casamentos falharem por a esposa ser fraca. Vanessa tem três filhos e nunca os vê. Vivem com a ama no quarto andar e ela nunca sobe até lá. É como se estivessem na Sibéria, não é uma parvoíce? Mesmo assim, Vanessa não tem uma má figura, talvez um pouco curvada. O que a salva é o rosto bonito. Um dia hei-de contar a Tony que sei o que se passa entre ele e Vanessa. Vai ficar aparvalhado! Pensa que é mais esperto que os outros. É como se fosse um garoto, detesta ser descoberto. Pouco me importa, desde que tenha o suficiente de sobra para mim, pode fazer o que bem entender. É realmente um idiota, um garanhão sexy idiota. Tudo por causa da sua mentalidade de classe baixa, nunca mudará. Contudo, é útil, vale a pena mantê-lo pela trela. É tão ávido para aprender. Sempre a perguntar-me de onde veio a minha mala, que perfume trago, quem fez as minhas roupas.

Acho que lhe vou telefonar, apareço antes de visitar a Vanessa...

Esta não estava vestida quando cheguei. Os seus grandes seios oscilavam no interior de uma camisa de noite azul; estava a comer uma torrada com mel e lia a coluna social.

É muito importante, no nosso círculo, ver o nosso nome impresso com freqüência. Se Vanessa não fosse muito rica, seria uma autêntica relaxada. Eu sabia que Leonard, o seu marido, mantinha uma vagabunda qualquer num apartamento, mas não contei nada a Vanessa - de que serviria?

Cumprimentámo-nos calorosamente, pedi um cocktail de champanhe ao jovem criado filipino, sentei-me e descontraí-me.

- Novidades, querida? - bocejou Vanessa. Despi o casaco.

- Nada de especial, acabei de ter uma sessão com o garanhão.

Rimo-nos ambas.

- Estava em boa forma hoje? - perguntou Vanessa. Pareceu-me que estava zangada com o Tony, por muito natural que tentasse parecer.

- Sim - repliquei. - Quando é que não está?

Vanessa ficou um pouco aborrecida. Teve de esperar que Tony a abordasse, eu tinha um relacionamento bem diferente com ele.

O criado trouxe-me o cocktail. Estava fresco e delicioso. Um bom cocktail de champanhe preparava-nos realmente para o dia.

- O que vais vestir esta noite? - inquiri. Vanessa encolheu os ombros.

- Ainda não pensei.

Como se isso fosse verdade. Planeei o que iria vestir com meses de antecedência. Não era para admirar que ela andasse sempre tão mal vestida.

Conversámos durante mais alguns instantes e depois fui ao cabeleireiro para me preparar para aquilo que supunha vir a ser uma noite medonha com a querida filha de Benjamin.

Ela não gosta de mim e eu não posso com ela mas, claro, Benjamin não se apercebe de nada.

Pelo menos iria usar o meu novo casaco de marta branco até aos pés; Vanessa iria adorá-lo. Não tenho qualquer dúvida que ela não tardará a aparecer com uma imitação ordinária-copia tudo aquilo que eu tenho mas, invariavelmente, não lhe fica bem usar o meu estilo. Somos de tipos completamente diferentes.

Oh, bem, vamos lá a essa noite divertida!

 

         TONY

Hoje vai ser uma boa noite. Duas grandes festas na cidade e, depois, toda a gente virá para cá. Fontaine quase me apanhou hoje. Deitado na cama, completamente adormecido, com uma rapariga

- Janet qualquer coisa - e sua senhoria telefona. "vou para aí." Encantador.

Acordo a Janet.

Esta queixa-se, numa voz chorosa horrível, cabelo longo e sujo, ugh! Devia estar com uma grande "pedrada". Enverga o vestido com dificuldade, lamentando-se sempre, vestido que mal lhe cobre o rabo jeitoso. Empurrei-a para a porta e, cinco minutos depois, Fontaine entra como um furacão. Mal tive tempo para esconder os lençóis!

Por vezes, ela parece uma bruxa, muito fria.

- Tenho de ir ao cabeleireiro - anunciou, tirando a saia Rhavis, os sapatos Gucci e meias Dior. Há ocasiões em que a odeio, não sou nenhuma máquina. Permanece em pé ainda com a roupa interior, o cabelo oculto num tocado em marta. Inclina-se obscenamente contra a parede. Quer fazê-lo de pé. Penso no marido. Pela parte de cima, parece um modelo das altas esferas da moda e, pela parte de baixo, uma fotografia nojenta. O pensamento excita-me e consigo satisfazê-la. Oh, meu Deus, posso imaginar a cena se ela me tivesse apanhado esta manhã!

Veste-se rapidamente. As suas pernas estão cada vez mais magras, faz demasiada dieta.

- Até logo à noite - diz, puxando o fecho da saia. - Prepara a minha mesa para sete. Teremos connosco um diplomata francês e a mulher. - Partiu então, deixando no ar o aroma de Calèche, de Hermes.

No início, foi bom. Fontaine Khaled e tudo o mais. Mas ela é biruta, completamente biruta e não quero ser usado do modo como ela me usa. O seu quarto de prostituta e as suas estranhas actuações.

E o velho? Pobre tipo, anda a trabalhar arduamente enquanto ela se diverte à grande. Nunca confies numa mulher, é o que eu digo. Mas ela tem-me preso pelos tomates. O Hobo é dela. Se quiser deixar de a fornicar, põe-me na rua e ponto final. Não é justo. Fui eu quem criou aquele lugar, quem trabalhou duramente até às cinco da manhã e tudo o que recebo são rebuçados, comparado com o que aquilo está a dar - e ainda estou para ver os meus cinco por cento dos lucros. Não tenho qualquer contrato, nada. Apenas trabalho para ela. É uma cabra fria, mas esperta.

- Franco, traz-me um scotch. - Franco é um óptimo empregado. Talvez consiga levá-lo comigo se deixasse isto e abrisse algo em qualquer lugar. Mas, com quê? Não tenho dinheiro. Diversas pessoas se ofereceram para me apoiar num novo estabelecimento - mulheres - mas a cena voltaria a repetir-se. Andava de olho num tipo qualquer que me financiasse um novo estabelecimento, um dos gregos ricos servia. Tenho um em mente, mas tenho de avançar com calma, fazer parecer que a idéia partiu dele.

- Olá, Tony querido. - Esta miúda lançou os braços ao meu redor. Juro que nunca a vi antes.

- Como tens passado? - disse, sorrindo e pestanejando. O bem conhecido charme de Blake, posto em funcionamento.

- Bem. Este é o Chicky, o Robin e este é o Henry. - Três pessoas sem importância avançaram para me cumprimentar. A noite começava.

Há certos clientes regulares que sempre se congregavam na mesa principal. É chamada a mesa principal porque fica situada no início da sala, na melhor posição para se ver tudo; é aí que eu me sento, quando me sento, o que acontece umas duas vezes por noite. Certifico-me de que está sempre disponível para qualquer celebridade visitante, para o caso de não haver qualquer outro lugar. Os regulares podem ficar em qualquer sítio. Se tenho uma acompanhante, é aí que ela se senta. Oh, posso ter acompanhantes, desde que não seja a mesma rapariga durante muito tempo. Afinal, limitam-se a ficar ali sozinhas toda a noite.

Os regulares são todos homens, uma selecção variada, meus amigos. O Sammy - baixo, magro, cabelo escuro. Fabricante de chapéus e bastante doido - mete sempre conversa com raparigas diferentes. Gosta delas altas. Na verdade, devia fazer com que ele e Fontaine se juntassem, mas ela diz que Sammy é repulsivo e ele diz que ela é uma velha cabra rica. Qualquer mulher com mais de 20 anos é velha para ele. Sammy é um bom tipo, mas muita gente não o compreende.

Há também o Franklin - calmo, jovem, atraente e tímido. Fica sentado toda a noite a beber Coca-Cola. Todos pensamos que ele ainda é virgem.

A seguir, Hal - um promotor americano, constantemente com a "pedrada", com enorme sucesso junto de velhas viúvas e ricas. Quarentão, atraente para quem gosta do gênero Dean Martin. Tem um grande coração - qualquer dinheiro honesto que consiga ganhar, envia para o irmão mais novo em Nova Jersey, sendo este o único assunto sobre o qual ele não faz qualquer ostentação.

Por fim, Massey, cantor. Homem atraente, para um negro. Grande dançarino.

Quando não há nada de melhor para fazer e se nenhum de nós tem encontro marcado com uma mulher, ficamos sentados a discutir o talento que existe à nossa volta. "Bem gostaria de fornicar aquilo! ", tornou-se um grito constante da nossa mesa. Fontaine detesta-os a todos. "Para que diabo tens tu sempre esse maldito grupo aqui? ", interroga. Mas eles pagam, pelo que não pode fazer nada.

Todos eles suspeitam da minha relação com Fontaine mas, concretamente, ninguém sabe. Gosto dos regulares. É um bom grupo de gajos.

Franklin foi o primeiro a chegar esta noite. com uma rapariga, que surpresa. O pai é uma pessoa importante no negócio dos filmes. A rapariga que o acompanha é, sem dúvida, demasiado "brasa" para ele, talvez pensasse que ele intercederia por ela junto do pai. Tinha aqueles lábios salientes e olhos cansados, que todas as pretendentes a estrelas de cinema possuíam. Fornicavam demasiado e apanhavam pouco ar puro! Franklin tratava-a como uma senhora, cheio de mesuras e delicadezas. É um bom rapaz, mas um perfeito pateta. Há que tratá-las com dureza, se queremos ir para a cama com elas. Tinha um cabelo ruivo e farto e lançou-me aquele bem conhecido olhar de convite.

- Janine James - Tony Blake - disse Franklin. - Janine está cá a fazer um filme.

- Olá - afirmou, com um sorriso afectado.

Ugh, por vezes as americanas fazem-me impressão, com aquela horrível pronúncia nasal. Ofereci-lhe o meu olhar ameaçador e conhecedor. Costuma surtir efeito. Respondeu com aquilo que me pareceu um olhar sexy. Pobre Franklin, não tinha qualquer hipótese com esta.

Um dos regulares que chegou de seguida foi o Sammy - o Sammy amigável, Cockney, louco por mulheres. Como não se fazia acompanhar por nenhuma, lançou-se imediatamente numa grande conversa com Janine. Franklin ficou sentado em silêncio. Percebi que iria ser uma daquelas noites.

A mesa habitual de Fontaine ficava junto da nossa. Explicara-lhe já, vezes sem conta, que não poderia ficar com a mesa principal porque era a única mesa que facilmente poderíamos libertar, numa emergência. Não ficou muito satisfeita, mas instalou-se na segunda melhor mesa. Afinal, nem todas as noites estava presente. Talvez seis noites seguidas e, depois, não voltava durante duas ou três semanas, quando andava nas suas viagens. Os lugares onde ela ia faziam-me ficar tonto. Benjamin Khaled tinha o seu próprio jacto privado, o que se revelava de grande utilidade. Nunca vinha sem, pelo menos, cinco ou seis pessoas. Tinha uma amiga, Vanessa, loura, bonita, um pouco desleixada, mas com tetas enormes. Casada com o filho do proprietário de uma rede de lojas muito famosas. Valia uma fortuna. com três filhos. Vanessa era complicada. Idolatrava Fontaine e imitava-a com fervor. Era por isso justo que eu também fornicasse com ela, Quase que mo suplicou. Fui a sua casa uma tarde, enquanto o maridinho se encontrava no escritório e os miúdos saíam com a ama. Creio que ela não sabe nada sobre mim e Fontaine. De qualquer forma, prometeu-me que não diria nada a ninguém sobre nós. Peço por Deus que não o faça. É tudo muito arriscado. Na cama, é péssima, mas aquelas tetas inacreditáveis... Podia ficar a brincar com elas horas a fio. Acalmam-nos, assim grandes e macias, muito maternais. Habitualmente, Vanessa está incluída no grupo de Fontaine, com ou sem o maridinho, que não é nada mau; muito melhor que Benjamin. Ouvi dizer que tem uma miúda enfiada num pequeno apartamento. No meu ramo de negócio, ouve-se muita coisa.

Fontaine o seu grupo fizeram a sua entrada grandiosa por volta da uma e meia. Estava coberta de marta branca da cabeça aos pés. O cabelo armado e seguro com diamantes reluzentes. O marido ao lado, baixo e gordo. Estava fantástica. Quem pensaria que, de manhã, estivera encostada à parede do meu quarto, com a região púbica à mostra! Tive um desejo louco de gritar: "Já a possuí! ", mas, em vez disso, dediquei-me à rotina integral de cumprimentos. Beijos, saudações e todas essas merdas. Naturalmente que a Vanessa e o seu maridinho estavam presentes. O ar desleixado era o mesmo de sempre. Cabelo encrespado, mamas caídas num vestido de chiffon. Dei-lhe um aperto discreto no mamilo quando a beijei no rosto. Corou e apertei a mão ao maridinho. "Como está a Verônica? ", senti-me tentado a dizer. Verônica era a namorada.

Estavam acompanhados por um casal de idade, um homem jovem e uma rapariga. Mantinha-se afastada dos outros e sentia-se, sem dúvida, acanhada perante estes cordiais cumprimentos. Em comparação, a sua roupa era simples: vestido de lã, um pouco comprido de mais, e um colar de pérolas com apenas uma volta. Tinha cabelo longo, de um ruivo brilhante, que usava puxado para trás e apertado com um travessão de pérolas. Muito pouca maquilhagem - na verdade, não era nada bonita - mas havia algo nela que me provocou uma contracção no estômago. Possuía uns olhos grandes e castanhos, muito inocentes, que me fitavam com um leve desprezo. Não era certamente uma daquelas que estavam constantemente obcecadas com quem iriam para a cama de seguida ou quão acima a saia poderia subir. Era bastante jovem, cerca de dezassete ou dezoito. No espaço de segundos, senti que a tinha de possuir. Esta era especial.

Estavam agora a sentar-se. Será que ninguém me ia apresentar? Fontaine estava ocupada a pedir champanhe, os seus olhos calmos água-marinha circulando em redor para ver quem estava presente. Acenou a algumas pessoas e depois o marido de Vanessa levou-a para dançar. Se há alguma coisa que Fontaine não sabe fazer, é dançar. É bom saber que existe, pelo menos, uma coisa em que ela não é perita. Não tem ritmo, mais parece uma boneca articulada.

Sorri para o tipo que estava com a rapariga ruiva e estendi a mão.

- Chamo-me Tony Blake - disse, em tom amigável.

A rapariga nem olhou para mim. Fitou à sua frente, com ar aborrecido. O tipo era horrível. Fato ultrapassado, mal constituído, um autêntico zero.

Benjamin meteu-se na conversa.

- Oh, Tony, não conhece o Peter Lincoln Smith?

O nome fez-me recordar. Estivera já por diversas vezes com o pai. Possuía metade de Londres.

- E esta é a minha filha Alexandra - terminou, com orgulho-, acabou de chegar da Suíça.

A sua filha Alexandra! Devo ter ficado de boca aberta durante, pelo menos, cinco minutos. A filha!

Lançou-me um "Como está?" mal-humorado.

O casal francês aproximou-se então e tive de conversar com eles. Parecia que a filha deles vinha com freqüência ao clube e tinham ouvido falar muito de mim. A filha deles era uma ninfomaníaca loura, horrível, que usava vestidos Paço Rabanne e pensava ser a maior vampe de sempre. Nunca a experimentei mas Sammy, que o fez, exprimiu o seu veredicto com o polegar para baixo.

Benjamin solicitava agora ao tipo que dançasse com Alexandra. Esta corava e dizia que não queria dançar. Peter Lincoln Smith foi apanhado no meio e não sabia o que fazer, se agradar ao papá ou à filha. O papá ganhou e uma Alexandra relutante foi arrastada para a pista de dança. Havia indícios de um grande corpo. O vestido não revelava nada, mas estava lá, oculto por baixo.

Não sabia o que fazer, sentia-me atraído por esta rapariga, sem saber porquê. Nem sequer tinha falado com ela, não devia passar de uma cabra rica mimada. Ela apetecia-me doidamente. bom, ia ser difícil, será que me atreveria a arriscar?

Fontaine regressou à mesa, ofegante e levemente quente com toda aquela marta branca. Como toda a gente presente já o vira, despiu-o, revelando um vestido preto, moldado ao corpo e sem costas. Não havia dúvida que ela se sabia exibir.

Dirigi-me à mesa dos reguladores e pedi um scotch puro. Massey chegara com uma modelo magra e angular, chamada Suki. O seu cabelo estava aparado junto da cabeça, a saia junto do rabo e usava uma estranha maquilhagem branca, com grandes olhos de palhaço.

Massey mostrava-se o homem calmo de sempre.

- Ei, homem - disse, sentando-se junto de Sammy-, que tal o movimento esta noite?

- Como sempre, corre tudo sobre rodas - repliquei. Trajava um fato branco, muito elegante. iPensei que tinha de arranjar um fato branco para mim.

Espiei a Alexandra na pista de dança. No meio daquela gente agitada, permanecia imóvel, segurando o braço do namorado, arrastando os pés, como se estivesse a dançar.

Agarrei na Suki e levei-a para dançar, encaminhando-me para junto de Alexandra. A sua única reacção foi um olhar ligeiramente incrédulo na direcção de Suki. Merda! O que poderia eu fazer para que a cabra rica reparasse em mim?

Suki era uma dançarina muito estilizada; estudava religiosamente cada novo passo e não podia ser apanhada a fazer algo que não estivesse bem. Ela e Massey faziam um par muito unido. Eu... eu agitava-me um pouco e era tudo.

- Aposto que isto é diferente da Suíça - gritei, acima do ruído alto da música, um sorriso vazio no rosto.

Alexandra ignorou-me completamente. Ou isso, ou não me ouviu. Suki disse:

- O quê?

- nada - murmurei, arrastando-a de novo para a mesa. Carla Cassini, uma actriz italiana, fazia a sua entrada rodeada por três homens atraentes.

- Ena - afirmou Sammy, entre dentes. - Olhem só para aquilo. Era linda, cabelos negros, pele cor de azeitona, um corpo à

beira de ser gordo mas acabava por ser meramente voluptuoso. O seu novo filme acabara de ser estreado na cidade. Qualquer coisa sobre uma camponesa que é violada por um exército, fiem que eu compreendia o exército!

Apressei-me a ir apresentar os meus cumprimentos, a apertar as mãos calorosamente, a encarar os olhos verdes transparentes como o cristal, uma voz de pronúncia gutural. Habitualmente, eu revelar-me-ia um autêntico Mister Simpatia mas, esta noite, a minha mente estava noutro lugar. Arranjei-lhe uma boa mesa e deixeia com os três tipos.

A Miss Cabra Rica encontrava-se sentada à sua mesa. Peter estava a ser conduzido por Fontaine para dançar. Aproximei-me rapidamente. Vanessa dançava com o marido e Benjamin conversava com o casal francês. Sentei-me junto de Alexandra e ficámos os dois a olhar para o vazio. Bebia um sumo de laranja puro.

- Que tal, agrada-lhe? - inquiri.

- Que é que me agrada? - A sua voz era suave e muito formal.

- O clube. - fiz um gesto expansivo em redor.

- Muito agradável - disse, reprimindo um bocejo. Reparei que as suas unhas estavam cortadas rentes e pintadas com uma cor discreta. A maioria das raparigas ou mulheres que eu conhecia tinham longas garras vermelhas ou unhas pequenas e roídas.

- Gostaria de dançar?

- Não, obrigada.

Vejam só, "não, obrigada". A maioria das raparigas daria as pestanas postiças para dançar comigo. Ficámos sentados sem nada mais para dizer, até que Fontaine e Peter regressaram.

O clube enchia-se rapidamente. A música tornava-se cada vez mais alta. Chegara a altura de passar dos discos para o grupo. Era o momento para circular pelas mesas, distribuir um pouco de conversa. Altura para acelerar os empregados.

Levantei-me. Vaca estúpida, nem sequer era especialmente bonita e eu podia ter a mais linda de todas. Agarrei no meu scotch, bebi-o de um trago e circulei pelo clube. As pessoas gostavam que me sentasse às suas mesas, revelava que eram realmente importantes. Digo-vos, este é um negócio pretensioso; por isso Alexandra está ali sentada tão aborrecida e tão-pouco impressionada.

Juntei-me à mesa da estrela italiana. Estava com o seu "produtor" - gordo, atraente, não falava uma palavra de inglês; um actor inglês; e o seu namorado sensação. Carla Cassini era encantadora, com a sua pronúncia gutural incrível. O produtor mantinha uma mão firme na sua coxa, mas ela pestanejou-me e insinuou-se, segura no seu conhecimento de que ele não compreendia uma palavra.

- Você é muito atraente - ronronou. - Um corpo maravilhoso, mas sem dinheiro, huh? É uma pena. - Lançou uma risada sexy. Era uma garota esperta.

Convidei-a para dançar, mas abanou a cabeça.

- Ele é muito ciumento - disse, indicando o produtor-, não gosta que eu dance com outros homens.

Ninguém queria dançar comigo, não estava na minha noite. Subitamente, Franco aproximou-se apressado, fitou de olhos abertos Carla e murmurou algo ao meu ouvido. Parece que uma rapariga negra entrara com um vestido topless. O que deveria ele fazer? Mandá-la cobrir-se, ou quê? Apontou na direcção dela. Acabara de se sentar e a parte superior do vestido, composta por franjas, abria-se com os seus movimentos, revelando uns seios firmes e castanho-escuros. Era atormentador - tão depressa se viam, como não. O tipo que a acompanhava era velho, de facto; obviamente, tinha vindo à procura de divertimento. Ela era uma rapariga sem entraves, chamada Molly Mandy, uma estilista em part-time. Que diabo, não havia qualquer lei que proibisse vestidos sem a parte superior. Disse a Franco que a deixasse em paz.

Algumas pessoas tinham reparado e olhavam com insistência; levantou-se então para dançar e toda a gente a fitou. O tipo de idade não se sentia incomodado - levantou-se com ela, inchado como um balão. Ela começou por dançar sem grandes movimentos, aumentando então o ritmo; as franjas oscilavam e as tetas oscilavam e, meu Deus, ela oscilava.

Toda a gente parou de dançar e formou-se um círculo ao seu redor, batendo as palmas. Todos os tipos adoraram aquilo; algumas das miúdas pareciam um pouco perturbadas. Vi Fontaine aproximar-se da beira da pista de dança com Vanessa, para verem melhor.

Era uma cena de espantar. Os gregos juntaram-se à festa e atiraram com alguns copos para começar e alguns, afastando o velho do caminho, puseram-se a dançar com Molly. Uma das suas amigas despiu a blusa, desapertou o soutien e juntou-se a eles. Todos aclamaram.

Chegara a altura de pôr cobro àquilo, senão a polícia não tardaria a chegar. Maravilhoso! Abri caminho por entre a multidão, um pouco tarde de mais. Um dos loucos proprietários de navios grego agarrara-lhe numa teta castanha e o velho tentou socá-lo, acabando estatelado no chão.

Iniciou-se uma grande gritaria, mas Franco mandou os seus empregados rapidamente. O velho foi levado para fora, os gregos persuadidos a regressarem às suas mesas e Molly sentou-se na sua mesa, dizendo:

- Merda, homem, para quê toda esta confusão?

Era a acção deste tipo que tornava o Hobo no lugar único na cidade.

Olhei para a mesa de Fontaine. Esta acabava de se sentar, rindo. Alexandra e o seu companheiro tinham partido, provavelmente durante a confusão. Ainda bem.

- Eh, Molly querida, não voltes aqui assim - afirmei.

Sorriu para mim, filas de dentes brancos como pérolas, revelando alguns com capa de ouro.

- O que se passa, Tony, meu amor, não gostas das minhas maminhas? - Abanou os ombros e as franjas separaram-se, oferecendo-me uma visão plena.

- Sabes que gosto, mas não aqui. Ainda provocas um tumulto. Vamos, vou levar-te ao teu namorado.

Fez uma careta.

- Homem, aquilo não passa de um velho. Apetece-me divertir esta noite.

Começava a ficar irritado. Do que estaria ela à espera? De se agarrar a mim? Nem sequer gostava dela. Olhei para Sammy, mas este estava ocupado a falar com Janine.

Segurei-lhe no braço e conduzi-a para a área da recepção; o velho estava deitado no escritório das traseiras. Acabava de voltar a si quando chegámos.

- Voltarei. Não te parece que chegou a altura de, tu e eu, tentarmos qualquer coisa?

Empurrei-a na direcção do velho e saí. Penso que eram os dentes de ouro que não me agradavam nela.

Fontaine chamou-me, com o aceno imperial, quando voltei à sala. Conhecia bem o gesto - erguia um braço longo e fino bem alto e como que estalava os dedos na minha direcção. Encantador! Uma espécie de "vem cá, servo! "

Fui. Afinal, ela era a patroa.

- Conta-nos tudo - disse, a excitação luzindo nos seus olhos. Os outros inclinaram-se também para a frente, ansiosos por ouvirem a história. - Quem era aquele homem patético que estava com ela? - Continuou Fontaine. - Na verdade, faziam um par ridículo. - Deu-me um pontapé por debaixo da mesa, sinal que queria que eu a convidasse para dançar.

Acedi. Detestava dançar com ela. Olha quem falava em parecer ridículo - há alguma coisa mais ridícula do que uma senhora de aspecto elegante a saltar e a contorcer-se como se tivesse dezassete anos? Sobretudo, quando não possui qualquer ritmo. Fiz o meu sinal secreto a Flowers, o disc jockey, para pôr um disco de música lenta; é o melhor disc jockey da cidade. Um tipo negro, alto e magro, cabelo espalhafatoso e olhos azuis pálidos. Normalmente, não andava "bom" da cabeça. Mas sabe encher uma sala como eu sei encher uma mulher. Fez-se ouvir uma miscelânea de Tony Bennett, ao mesmo tempo que Flowers fazia uma careta; ele era, estritamente, um homem da Motown.

Fontaine abraçou-me com força.

- Tocaste-lhe? - inquiriu, lambendo os lábios revestidos de prata.

- Toquei em quem?

- Oh, sabes bem.

Ignorei a observação. Fontaine tinha uma pobre opinião de qualquer pessoa que não pertencesse ao seu círculo.

Dançava muito junta. Olhei para o marido. Conversava com o casal francês.

- Olá, Tone - cumprimentou-me uma rapariga. Dançava ao nosso lado. Sorri para ela. Fontaine pressionou as minhas costelas e disse, com um sorriso divertido:

- Adoras, não é verdade? Que todas estas bonecas andem atrás de ti.

Tenho de admitir que sim. E vocês? Não adorariam?

 

         ALEXANDRA

Como sabe bem estar de volta a casa.

Madelaine e eu regressámos juntas de avião. O pai dela e o irmão Michael foram ao nosso encontro, ao aeroporto. Há séculos que conheço o irmão dela. Crescemos juntos mas, ultimamente, tornou-se muito atraente.

Não me atrevi a contar a Maddy o que pensava dele, porque não me iria compreender. Quero dizer, pelo facto de ele ser irmão dela; é provável que o encare de outra forma. Sempre discutimos os rapazes uma com a outra, muito embora não tivessem havido grandes oportunidades na Suíça. A escola era dirigida como um convento. Contudo, Maddy esteve completamente "apanhada" pelo jardineiro da escola. Eu costumava destrancar a janela da entrada à noite e ela saía para ir ao encontro dele. Provavelmente, teríamos sido ambas expulsas se nos tivessem descoberto. Ele era bastante mais velho, cerca de trinta, e costumavam acariciar-se. Uma ocasião, permitiu que ele lhe tirasse a camisola e o soutien. Mas disse-me que ele ficara um pouco frenético depois disso e costumava tentar todo o tipo de coisas, pelo que se deixou de encontrar com ele. Ainda bem, porque eu não o considerava grande coisa.

De qualquer forma, estávamos finalmente fora da escola!

Madelaine e eu temos um plano. Ela vai "trabalhar" os pais e eu vou"trabalhar" a minha mãe, para que nos deixem partilhar um apartamento. Decidimos que Chelsea era o melhor local.

Afinal de contas, já estamos com dezassete anos há dois meses inteiros, estou praticamente velha! E nada me aconteceu até agora. nada!

Regressámos para casa de Maddy, em Virgínia Water, onde sempre viveu, com ambos os pais. Os meus pais estão divorciados. Éramos tão felizes antes e a minha mãe é tão divertida. Muito sensível. Quem me dera que não fosse tão sensível. Talvez assim tivesse continuado com ele. Tenho de admitir que Fontaine, a sua nova esposa, é bastante vistosa. Ela detesta-me, eu sei. Não que me preocupe muito, eu não posso com ela e, felizmente, não tenho que os ver muitas vezes, apenas em ocasiões como esta noite, em que vou a caminho de casa, vinda da escola.

Amanhã de manhã, vou apanhar o comboio para a casa da mãe, perto de Newmarket.

- Que vais usar esta noite? - Maddy entrou no quarto, envolta numa toalha. Demorava sempre uma eternidade no banho. Há meia hora que estava à espera para ir à casa de banho.

- Não vou vestir nada de especial - repliquei. Na verdade, não tinha nada de especial para vestir, mesmo que quisesse, dado que, na Suíça, vivíamos essencialmente com camisolas e saias. Quer Madelaine quer eu, tínhamos de arranjar roupa nova. As nossas roupas da escola eram horríveis e fora de moda.

- Não te censuro - disse Maddy. - Eu também não me iria vestir para ela.

Partilhávamos uma aversão por Fontaine, muito embora Maddy nunca se tivesse encontrado com ela; contudo, sabe tudo a respeito dela, através de mim.

Tomei banho, escovei o cabelo e coloquei o vestido que se encontrava em melhores condições no amontoado da minha desordenada mala.

- Diverte-te - afirmou Maddy, quando eu já estava pronta. Até logo. - Eu iria voltar, para passar a noite.

Desci as escadas e encontrei o Mr. Newcombe. Ia para um jantar de negócios em Londres.

Oh, óptimo! O Michael também vem. É muito atraente, alto, com um cabelo adorável e comprido. Vive em Londres. Espero que, quando eu e Maddy arranjarmos o nosso apartamento na cidade, o passemos a ver com freqüência.

Sentou-se na frente do carro com o pai e eu na parte de trás, pelo que não houve muita oportunidade de falarmos durante a viagem.

O meu pai vive numa casa grande horrível, em Belgravia. Tem uma série de estátuas brancas espalhadas no exterior e, no interior, é enorme e pouco confortável. Tem, inclusive, uma piscina interior, que está numa espécie de sala envidraçada, escura e deprimente, com centenas de trepadeiras e plantas crescendo em redor. Detesto aquilo.

Despedi-me do Mr. Newcombe. Michael sorriu para mim.

Eu disse:

- Até breve.

Talvez goste também de mim. Maddy está sempre a contar-me sobre as suas namoradas, talvez eu me possa tornar numa delas, ou ser a sua namorada. Meditava neste assunto enquanto o mordomo me abria a porta e me tirava o casaco.

Fontaine caiu em cima de mim.

- Alexandra, querida, que bom voltar a ver-te. - Beijou-me no rosto. Sabia que estava a actuar daquela forma apenas por causa do meu pai.

Este abraçou-me. Parecia ter ficado mais baixo e mais velho. Subitamente, senti uma certa ternura por ele e abracei-o também. Oh, se, ao menos, tivesse ficado com a mãe! Toda a gente sabia que Fontaine só o amava pelo seu dinheiro,

- Vamos passar uma noite agradável - disse o meu pai. - Que tal a escola? Conta-me tudo.

Sentámo-nos juntos no sofá e apeteceu-me chorar, só pelo facto de ele estar com ar tão velho e cansado. Vira-o quatro meses antes e pareceu-me bem mas, agora... Que lhe fizera ela?

- Estás bem, paizinho?

- Claro que estou bem. Trabalho muito, mas é disso que gosto. Nunca fui homem para ficar de braços cruzados. - Olhou na direcção de Fontaine, mas ela não nos prestava qualquer atenção. Bebericava champanhe e lia uma revista de modas. - Como está a tua mãe?

- Ainda não fui a casa, mas falei hoje à noite com ela e pareceu-me bem. Disse que acabara de receber uma carta de Ben e que ele se está a divertir imenso.

O meu irmão Ben, freqüentava uma universidade na América.

- A tua mãe é uma mulher maravilhosa, muito forte... Lembrava-me ainda do dia em que a mãe nos disse que ele se ia

embora. Não chorou, mas eu sabia que ele lhe estava a despedaçar o coração. A minha mãe é uma mulher bonita, com cerca de cinqüenta anos. Quando era nova, era linda. Sabia que tinha casado com o meu pai muito antes de ele ser rico.

- Direi à mãe que lhe mandas o teu afecto - disse e perguntei a mim mesma se aquela seria a palavra correcta. Mas deve ter sido, uma vez que ele se limitou a sorrir e a dar-me umas palmadinhas no joelho.

- vou viver em Londres - proferi, rapidamente. - vou partilhar um apartamento com a Madelaine e arranjar emprego.

- Quando decidiste tudo isso?

- Bem, há muito que eu e Maddy temos pensado no assunto. Na verdade, ainda não está tudo assente; mas inscrevi-me em três empregos e tenho entrevistas para a semana; entretanto, Maddy tem dois apartamentos em vista.

O meu pai franziu o sobrolho.

- Mas, se queres vir para Londres, podes viver aqui. Não precisas de arranjar emprego. Quer Fontaine quer eu ficaríamos encantados em te ter cá.

- Não, pai, não compreendes. Estou praticamente com dezoito anos e sei que, aos vinte e um, receberei dinheiro do depósito em Custódia. Bem, é por essa razão que me quero guardar; como que me sustentar durante uns anos. Não quero ser apenas a filha de um homem rico, Quero pensar por mim e trabalhar para mim e, então, aos vinte e um, estarei preparada para aceitar a responsabilidade do meu dinheiro. Quero, durante uns anos, ser uma rapariga vulgar.

Pronto, estava dito. O discurso que preparara para a minha mãe. O meu pai irradiou satisfação.

- Bem dito, filha - afirmou -, é assim mesmo. Mas podia ajudar-te a encontrares um bom emprego. Podias escolher à vontade.

- Não, pai.

Chegaram mais algumas pessoas e o meu pai juntou-se a Fontaine para as cumprimentar.

- Alexandra, quero que conheças o Peter Lincoln Smith. Teve a amabilidade de ser o teu par esta noite.

O meu rosto corou fortemente. Teve a amabilidade de ser o meu par! Oh, o meu pai era tão desconcertante. Não queria que tratasse desses assuntos por mim, era tão sem graça e antiquado; com a agravante que o meu pai nem sequer fizera qualquer referência sobre o facto.

Peter Lincoln Smith tinha uma boca fina e um aperto de mão flácido. Não gostei dele e não creio que ele tivesse gostado de mim.

Havia mais dois casais, pessoas muito mais velhas. Tivemos um jantar longo e aborrecido no Annabel. Só desejava estar com Michael.

Fontaine não parou de falar toda a noite. Sinceramente, não sei como o meu pai a suporta, é tão espalhafatosa.

Depois, todos quiseram ir à discoteca e eu e Peter vimo-nos forçados a ir também. Não creio que tenhamos trocado mais que seis palavras toda a noite.

Sentia-me pouco à vontade por andar atrás de Fontaine. Toda a gente olhava. A dado momento, o gerente sentou-se e tentou ser simpático para mim, por causa do meu pai, imagino.

Sentia-me muito cansada. Fora um dia muito agitado e tinha ainda de fazer a viagem até Virgínia Water. Perguntei a Peter se não se importava de me meter num táxi.

Registou-se uma certa confusão na pista de dança e Fontaine acorrera para ver o que se passava. Por isso, despedi-me do meu pai e, reconhecida, fui-me embora.

Peter tinha um MG vermelho, no qual me levara para o clube.

- Eu levo-a a casa - disse.

- Oh, não, ainda fica longe e já é tarde. - Não conseguia enfrentar outra hora da companhia de Peter.

- Disparate - afirmou, unindo subitamente o seu braço ao meu. - Não há trânsito a esta hora da noite. Não levarei muito tempo.

Não tive alternativa. Entrei e partimos em silêncio. Peter conduzia depressa e reclinei-me no assento. Não tardei a adormecer. Devo ter dormido imenso porque, quando acordei, estávamos parados numa azinhaga e Peter beijava-me.

Não sabia o que fazer, apanhara-me de surpresa e não o queria ofender. Afinal, dera-se ao trabalho de me levar até casa. Por isso, deixei-me ficar quieta enquanto ele me beijava, aguardando o momento oportuno para o afastar. Subitamente, senti a mão dele no peito. Bem, agora é que não ia ficar ali parada. Tirei-lhe a mão.

- Pare com isso, Peter - afirmei, com dureza.

Mas não retirou a mão e não tardei a resistir com violência. As suas mãos estavam em todo o lado.

- Não resista - disse, ao mesmo tempo que conseguia retirar-lhe as mãos de novo -, deite-se para trás e goze.

Odiei-o! Enfiava agora uma mão pela minha saia acima e lancei o braço na direcção da cabeça dele com toda a força que consegui reunir.

Parou imediatamente, movendo a boca onde o meu golpe o atingira.

- Minha cabra! - exclamou, surpreendido.

Saltei para fora do carro e corri para a noite. Estava terrivelmente escuro. Não se tratava de uma estrada principal e não fazia idéia onde estava. Ouvi um carro. Era o de Peter, com os máximos acesos. Vinha à minha procura.

Não sabia o que fazer. Deveria esconder-me e esperar que ele não me visse? Ou deveria subir para o carro e exigir que me levasse a casa?

Estava frio e chuviscava. Sentia-me completamente perdida. Permaneci imóvel na berma da estrada, com dignidade (assim o esperava). O carro parou junto de mim e Peter inclinou-se do seu lugar e abriu a porta.

- Esteja descansada. Não a vou violar - disse, como que lendo os meus pensamentos. - Entre.

Subi para o carro. O mínimo que podia fazer era pedir desculpa.

Encontrávamo-nos apenas a cinco minutos da casa de Maddy e ambos mantivemos um silêncio de pedra durante o curto percurso. Apeei-me mal ele estacou o carro.

- Boa noite - afirmei, friamente.

- Boa noite, provocadora de membros - gritou, e partiu.

 

         FONTAINE

Deixámos o Hobo e, uma vez na privacidade do nosso quarto, atirei-me para cima da cama, exausta. Que dia!

Benjamin anunciou que teria de partir para Paris na tarde seguinte. Se queria ir? Bem, eu queria, mas não para Paris. Decidi que podia ir até Nova Iorque, para o meu apartamento, durante uns dias. Adorava as lojas de lá e acho que devia visitar o Ray. Era um cabeleireiro adorável que Benjamin instalara naquela cidade, no seu próprio salão. Há muito que não passava uns tempos com Ray. Uns dias com ele podia ser divertido.

Benjamin tirava-me o vestido. Sabia que eu detestava isso. Levantei-me rapidamente e ele retrocedeu. Oh, coitado, assustei-o. Está sempre com medo que diga que não - mas claro que nunca o fiz.

Despi o vestido e pendurei-o cuidadosamente; estendi-me então sobre a cama, como ele gostava que eu me deitasse e esperei por ele.

Fechei os olhos e pensei em Tony e Ray e Paul e não foi mau de todo. Na verdade, se não fosse tão rápido, poderia até não ser desagradável.

Lavou-se depois, hábito que me perturbava. Retirei a maquilhagem e coloquei a máscara para dormir. Agora estava a ler. Oh, quem me dera ter quartos separados. Que bom seria! Fazer sexo com Benjamin é tão aborrecido mas, mesmo assim, penso que vale a pena. Afinal de contas, adoro ter roupas e jóias lindas, ser invejada e olhada. Acho que sempre soube que estava destinada para este tipo de vida.

Fui uma criança muito simples, com uma mãe muito simples e um filho da mãe de um pai, que fazia a vida da minha mãe num inferno. Felicity Brown, de Bournemouth. Cresci tranqüilamente, freqüentei a melhor escola para raparigas, decidi que gostaria de ser veterinária, e não sabia nada sobre sexo, a não ser o que as outras raparigas sussurravam. Todas as jovens inglesas querem ser veterinárias, faz parte da tradição - bem, pelo menos, fazia, nessa altura. Aos dezasseis anos, tive autorização para, pela primeira vez, sair com um jovem-'no meu passado, não há nada do habitual "violada aos treze". Ele tinha dezanove, era o filho do médico local e um rapaz sossegado. Entendíamo-nos bem, dávamos as mãos, trocávamos alguns beijos furtivos e decidimos casar. Eu era uma virgem casta de Bournemouth, noiva para casar, com um bonito anel de marquisette, e estrelas nos meus olhos pequenos e lânguidos. Decidimos, com o auxílio dos nossos pais da classe média, que nos casaríamos quando ele tivesse vinte e um e eu dezoito. O meu futuro estava talhado e planeado. Ele partiu para terminar os seus estudos médicos e eu envolvi-me em todo o tipo de actividades, tal como aulas de costura e cozinha. Na verdade, não conhecia outros rapazes e pensava que amava Mark. Que situação! Não fazia idéia do que era o amor.

Nas aulas de cozinha, conheci uma rapariga chamada Mareia. Estava grávida e solteira, e as pessoas teciam comentários sobre ela. A minha mãe chamava-lhe "apressada" e "chocante" e o meu pai dizia que era uma vergonha terem deixado que ela participasse nas aulas de cozinha. Mas participou e foi a primeira lufada de ar fresco que encontrei nos meus quase dezassete anos. Tornámo-nos amigas e contei-lhe tudo sobre Mark e os meus planos.

- Como é ele na cama? - perguntou.

Olhei para ela sem perceber.

- Oh, não. - Começou a rir -, não me digas que nunca o fizeste?

Tive de admitir que não. E mais, que não o iria fazer, pois as raparigas ajuizadas não o faziam, pois não?

A minha observação fê-la rir-se ainda mais. Ficou então muito séria e disse:

- Como diabo podes tu casar com alguém, se não sabes se gostam um do outro na cama? É muito importante, tens de o fazer.

Claro que ela não representava uma boa publicidade para o sexo, com a barriga inchada e sem marido visível, mas achei que tinha razão, devia tentar.

Aguardei ansiosamente que Mark voltasse a casa de férias, meio excitada, meio aterrorizada, com o que tencionava fazer.

Permitiram-lhe que levasse o carro do pai emprestado. Fomos ver um filme, segurou-me na mão e, depois, fomos para um dos grandes hotéis, onde jantámos.

Torna-se difícil, para uma virgem pacata, sugerir, ao seu igualmente pacato noivo, que faça amor consigo, sobretudo quando ele nunca tentou nada no gênero.

Eu disse:

- Vamos até à praia, está uma noite tão agradável.

- Felicity, estou cansado.

- Por favor, Mark. - Estava determinada a levar o meu plano avante.

- Está bem - concordou, relutante.

Estacionámos o carro e sentámo-nos. Não fez qualquer movimento na minha direcção.

Após alguns momentos de silêncio, disse:

- Mark, se vamos casar, não achas que nos devíamos conhecer um ao outro?

- Que estás a sugerir, Felicity? - replicou, mal-humorado. Aproximei-me dele.

- Sabes a que me refiro.

Ficou genuinamente chocado e afastou-me.

- Se eu quiser esse tipo de rapariga, há muitas por aí. Nesta altura, já eu estava excitada, a primeira vez na minha

vida que eu me encontrava sexualmente excitada e Mark, o homem da minha vida, repelia-me. Fiquei furiosa.

Levou-me a casa em silêncio e recusei voltar a vê-lo.

Na noite seguinte, ainda determinada a descobrir o que era o sexo, dirigi-me a um café-bar, onde conheci um rapaz alto e de casaco de couro, chamado Ted. Vira-o já na cidade e decidi que serviria para me iniciar nos mistérios da vida. Começámos a falar e, quando me convidou para dar uma volta, aceitei prontamente.

Caminhámos em direcção à praia e, então, abraçou-me, beijou-me, enfiou as mãos pela minha saia acima e ambos caímos na areia. Estava pronta para ele, sem quaisquer preliminares. Forçou a sua entrada em mim e a dor foi extraordinária. Agarrei-me a ele e pedi mais e, mesmo quando terminou e ficou flácido, não o libertei. Ele tentava afastar-se e eu ainda mais o segurava. Foi maravilhoso. Lutámos em silêncio, chamou-me cabra e disse que o estava a magoar. Eu a magoá-lo - que afirmação encantadora.

Uma nova Felicity Brown emergira. Toda uma nova vida se abrira para mim e não tardou que Bournemouth não fosse suficiente, pelo que parti para Londres. Nesta altura, o meu pai ficou satisfeito por me ver partir. Penso que a minha mãe deitou algumas lágrimas.

Cheguei a Londres, alta, magricela, cabelo emaranhado mas com muito para oferecer. Quando fiz os vinte e dois anos, já era Fontaine - modelo de classe. Bonita - algumas alterações aqui e ali - uma rapariga com Londres aos seus pés.

Ganhava muito dinheiro e tinha muitos homens. Foi então que conheci o meu primeiro marido, Paul. Era muito atraente. Magro e indolente, com olhos verdes e um corpo lindo. Umas vezes era modelo, outras actor mas, a maior parte do tempo, gostava de viver às custas de uma mulher. Era divino na cama. A sua ginástica quase igualava a minha. Foi o primeiro homem que verdadeiramente me satisfez e se preocupava com que eu ficasse satisfeita.

Assim, um dia, casámos, ao brilho de flashes; ele descansava enquanto eu trabalhava e a vida prosseguia. Jogava, bebia e era infiel, mas permanecíamos juntos porque, acho, devo tê-lo amado.

Toda a gente me dizia que devia estar louca, mas residia em mim ainda um pouco da Felicity Brown e queria que o meu casamento resultasse.

Aos vinte e nove, olhei para o espelho e fiquei chocada. Há sete anos que era modelo de primeira, o que representava muitos anos para estar no topo de qualquer carreira. Quanto tempo poderia isto durar? Paul gastara todo o meu dinheiro, eu não tardaria a fazer trinta anos e, quantas capas de revista teria à minha frente?

Além disso, estava exausta. Contrariamente aquilo que as pessoas pensam, é um trabalho duro, uma carreira constante de cabeleireiros, maquilhadores, luzes ofuscantes e quentes, poses anatomicamente impossíveis.

Obviamente que já não era fiel a Paul; após seis meses de casamento, ambos concordámos que era ridículo confinar-nos um ao outro. Na verdade, divertimo-nos imenso com "festas em grupo". Muito interessante.

Acabei por decidir que Paul era um luxo a que tinha de abdicar, e mantive-me atenta a outra pessoa mais substancial para tomar o seu lugar.

Conheci Benjamin em St. Moritz. Participava numa passagem de peles por um dia e ele estava lá, com a sua horrível mulher e duas crianças terríveis. Conhecêmo-nos num grupo e descobri quem ele era. Conseguimos trocar algumas palavras a sós:

- Posso vê-la em Londres? - inquiriu. Em altura, passava um pouco acima do meu ombro. Dei-lhe o meu número de telefone.

Levou-lhe exactamente cinco semanas para se oferecer a divorciar-se da mulher. Conduzi o meu jogo muito cuidadosamente, dei-lhe tudo excepto o que ele desejava, e fi-lo ficar doido por isso. Tony costumava usar uma expressão horrível: "Estou em ponto de rebuçado por ti, querida", o que, genericamente, sintetiza o que Benjamin sentia.

Livrar-me de Paul não foi difícil. Benjamin pagou e Paul aceitou. A mulher de Benjamin também foi fácil. Concordou em se divorciar dele, sem qualquer protesto. Claro que ficou com uma fortuna, bem como com as crianças. Nunca falamos uma com a outra, mas sou obrigada, por vezes, a ver o Ben Júnior e a Alexandra.

São uma desgraça. O jovem Benjamin tem vinte anos e é uma versão ainda mais baixa do pai. Alexandra é simples, sem brilho, tal como a mãe, suponho.

E esta é a minha história. Eu e Benjamin casámo-nos - mais uma vez ao brilho de flashes - e passámos a lua-de-mel num iate que ele adquiriu para a ocasião.

Compra-me tudo aquilo que eu quero, tenho o meu garanhão ocasional e sou feliz, penso. O que terá acontecido a Felicity Brown?

 

         TONY

Sammy disse:

- Para que estavas tu a dançar com aquela velharia? Sammy, o idiota! O que percebia ele de classe?

- Bem sei que é a dona disto, mas...

- Acho que ela é fantástica - interrompeu Janine-, mesmo fantástica. Reparaste no casaco que tinha vestido?

- De que serve o casaco se, por baixo, só há pele e osso? Sammy riu-se com a sua própria piada. - Mas aquela italiana não é nada má, um bom par de mamas.

Devo referir que Sammy só sabe conversar sobre mulheres. Todos tínhamos já ouvido descrições clínicas sobre cada uma das miúdas com quem tinha ido para a cama.

- Vem, querida, faço-te o favor - Sammy arrastou Janine para a pista de dança, que se encontrava repleta.

Franklin revelava um ar miserável.

- Escuta - disse -, aquilo não é para ti. Deixa o Sammy ficar com ela, é uma porca.

Massey disse:

- Tenho uma miúda bonita para ti. A irmã de Suki - não seria explêndida para o Franklin?

Suki anuiu e os seus olhos grandes de palhaço luziram.

- Tem apenas quinze anos, mas é uma beleza.

Já ouvira esta história. Toda a gente arranjava companhia para o Franklin, mas nunca nada se concretizava. Era demasiado tímido para lidar com uma rapariga. Levar Franklin para a cama com uma mulher era um dos projectos do nosso grupo. Ficava sentado e escutava as nossas conversas sobre as mulheres e concordava connosco quando lhe dizíamos que tinha de avançar, mas nunca nada aconteceu.

A noite atingia o seu auge.

O clube estava tão cheio que os ocupantes de algumas mesas tinham de fazer turnos para dançar, pois não havia espaço suficiente para se sentarem todos ao mesmo tempo. De qualquer forma, era sempre uma aventura dançar em ocasiões deste gênero. Por um lado, a pequena pista de dança estava tão cheia que ninguém se conseguia mexer e, por outro, uma pessoa arriscava-se a perder o lugar.

Olhei em redor com satisfação. Era uma das noites com maior afluência de estrelas. Havia exemplares de talentos de primeira, da maioria das profissões.

Os The Must, o grupo de maior fama do momento, encontrava-se presente na totalidade. Cabelos compridos, camisolas às flores, contas e cintos. Eram rapazes simpáticos, completamente drogados mas inofensivos, com as suas namoradas de cabelos cor de palha, todas parecidas. É engraçado como, no mundo do rock, é importante estar na mesma "onda" - vocês sabem - a cena do cabelo comprido. Parece que saíram todos do mesmo molde. Tentam ser diferentes de toda a gente e, afinal...

Chegaram mais pessoas, levantei-me e apresentei os meus cumprimentos. Vagueei pelas mesas, bebendo um scotch aqui e um scotch ali. O mundo começou a zumbir. Apetecia-me algo apetitoso. Fontaine deixara-me com um gosto amargo na boca. Na verdade, apetecia-me Vanessa. Mas isso era impossível, estava com o maridinho. Tenho de me lembrar de lhe telefonar, esquivar-me até lá enquanto a ama e os miúdos saem!

Continuei a pensar na Miss Cabra Rica - era tão diferente das outras raparigas, tinha este tipo de aura de classe que eu procurava. Perguntei a mim mesmo se a voltaria a encontrar. Provavelmente não, pareceu detestar o clube.

Flowers agarrou-me.

- Tenho de falar contigo, homem. - Os seus olhos estavam distorcidos e nervosos. Devia precisar de dinheiro para comprar droga, era sempre esse o seu problema.

Vivia com Tina, a nossa recepcionista sueca. Que par faziam ele, escuro e desenfreado, ela, branca e sossegada.

Emprestei-lhe cinco libras, escutei as suas tretas sobre como me estava grato e anotei mentalmente que as teria de recuperar no salário dele da próxima semana; de outra forma, não as voltaria a ver.

A Miss Estrela de Cinema Italiana e acompanhantes preparavam-se para sair.

- Adeus, Tony - proferiu, lentamente, através de dentes brancos de pérola -, voltaremos a ver-nos em breve, huh?

Adorava a sua voz, dava-me realmente a volta.

- Sim.

Ofereci-lhe o olhar fixo sincero. Todos os empregados italianos andavam numa roda viva, pairando à sua volta para a ver melhor.

- Até breve, Tony- disse o actor.

- Adeus, Tone - disse o homem sensação.

Todos me queriam conhecer, ser meus amigos. O produtor italiano murmurou algo em italiano, lançou-me um olhar obsceno, agarrou em Carla pelo braço e partiram. Ainda bem. Apressei-me a indicar a Franco que instalasse um senador em visita, bem como a sua comitiva, na mesa deles.

Assim, a noite atingiu o seu auge e, lentamente, por volta das duas e meia, começou a abrandar; às três e meia, só restavam os mais foliões. Franklin disse que se ia embora e Janine afirmou que queria ficar, discutiram um pouco e depois ele foi-se embora.

Apanhei-o à saída.

- Escuta, garoto, vamos arranjar-te um encontro com a irmã de Suki, OK? - Encolheu os ombros. Aproximou-se um empregado com a conta dele e agarrei nela. - As Coca-Colas são hoje por minha conta - disse.

- Obrigado, Tony.

De regresso à mesa, Janine pareceu gostar de mim e, apesar dos esforços de Sammy, pouco lhe ligou. Convidou-me para dançar, agitou o cabelo ruivo de estrela de segunda triste, insinuou o corpo bem delineado e a pronúncia vibrou.

Acabámos no meu apartamento. Não gosto de ir para casa sozinho.

Estava de cabeça cheia e ela não parava de falar. Escutei todos os pormenores acerca do filme que estava a rodar, algum papel importante num filme B, sem dúvida, e como o Franklin era tão querido mas infantil, como adorava Londres, como Hobo era um local incrível e, no momento em que a penetrei, disse:

- Posso ter um cartão de livre acesso? Por isso lho dei.

É a vida.

 

         ALEXANDRA

Que semana! Foi uma correria e tanta coisa aconteceu. Maddy e eu temos o nosso próprio apartamento em Chelsea, na segunda-feira começo a trabalhar e, logo à noite, tenho um encontro com Michael.

Telefonou ontem e disse que ele e um amigo nos iam levar a sair. Maddy atendeu a chamada e eu tentava escutar.

- Queres ir? - sussurrou para mim.

- Sim - murmurei também -, claro que sim. - Ficou assim combinado, para meu grande prazer; viriam buscar-nos às oito.

Discuti com Maddy o incidente com Peter Lincoln Smith e ambas chegámos à conclusão que se comportou como um idiota.

Tinha decidido, secretamente, que eu e Michael haveríamos de ter uma ligação. Discuti com Maddy, durante horas, sobre o controlo de natalidade. Maddy disse que tínhamos de encontrar um médico de idade que nos receitasse a pílula. Parece certamente muito mais fácil que qualquer outro método pouco digno. Quero dizer, parecem tão complicados.

Entre nós, a nossa experiência sexual é muito limitada. Fui beijada por três rapazes, incluindo Peter e Maddy mais ou menos a mesma coisa, embora, claro, tenha sido semidespida quando o jardineiro da escola lhe tirou o soutien e a camisola. Maddy disse que sentiu os joelhos enfraquecerem quando ele a beijou aí e sugou dos seus mamilos como se fosse um bebé Mas, depois, ele zangara-se quando não o deixou avançar mais.

Maddy tem seios pequenos. Os meus são maiores. Sinto-me completamente atrapalhada quando penso em Michael a olhar para eles.

- Como será o Jonathan Roberts? - inquiriu Madelaine subitamente. - Engraçado, o facto de Michael querer sair contigo. Talvez venhas a ser minha cunhada. - Riu-se.

Corei.

- Não sejas idiota. Está apenas a ser simpático por não conhecermos ninguém em Londres.

- Huh! Michael nunca foi simpático para mim. Na verdade, é muito egoísta. O que eu penso é que ele quer o teu corpo, o teu corpo puro e virgem.

Michael e o amigo chegaram com meia hora de atraso. Senti que se tinham esquecido completamente de nós.

Jonathan pareceu ser simpático e Madelaine ficou satisfeita. Michael disse:

- Bem, meninas, vamos mostrar-lhes a cidade. Estava com um aspecto incrível, com uma camisola de gola alta amarela e calças pretas.

Amontoámo-nos no Mini de Jonathan, eu e Maddy sentadas atrás. Levaram-nos a um pequeníssimo restaurante numa cave, completamente apinhado de gente, sentámo-nos numa mesa de canto em pinho, com uma vela preta num suporte de vidro. Muito romântico, mas um pouco barulhento.

Fiquei sentada na frente de Michael. Este inclinou-se para a frente e disse:

- Estás com óptimo aspecto esta noite, pelo que vejo, estás a dar-te bem com Londres.

Oh, que noite maravilhosa.

Bebemos vinho tinto e comemos galinha na caçarola. Madelaine entendia-se bem com Jonathan e Michael estava muito simpático para comigo. Na verdade, o melhor foi quando ele me disse, no final da refeição:

- Sabes, para rapariga, até és bastante inteligente.

Já passava da meia-noite quando saímos e Michael segurou-me na mão.

- Que vamos fazer agora? - perguntou Jonathan a Michael. Queres ir até ao Judie, para dançarmos?

- Não suporto esse lugar, está sempre cheio de gente horrível.

- E que tal o Hobo? - Não me diverti muito lá mas, com Michael, seria diferente.

- Não sou membro - disse-, e são muito exigentes quanto à entrada dos não membros.

- Não faz mal - repliquei -, o meu pai tem capital nesse clube. Deixar-nos-ão entrar.

- Num sábado à noite, não acredito - afirmou Jonathan. Hobo é o sítio mais "quente" da cidade.

- Estou segura de que não haverá problema. - Sentia-me bastante orgulhosa pelo facto de todos pensarem que o sítio era tão exclusivo. Tentei recordar o nome do gerente. Tony qualquer coisa

- Beard, Bird- não estava bem certa.

- Escutem, se Alex diz para irmos, vamos - retorquiu Madelaine.

- Será uma viagem em vão - replicou Jonathan -, aquele lugar é impossível, temos que ser o Marlon brando, pelo menos.

- Vamos, Marlon - disse Michael, com um sorriso, apertando a minha mão. - Mostra-nos o impossível.

Desejei poder satisfazê-lo.

 

         TONY

Uma semana passou. Vi quatro filmes, jantei no Trader Vic, perdi vinte e cinco libras na roleta, comprei três camisas novas e fui para a cama com uma garota diferente, todas as noites.

Fontaine partiu, numa das suas viagens. Nunca me avisa que vai, limita-se a desaparecer. Penso que ela considera ser boa idéia manter-me na expectativa.

Janine parece ter-se mudado para minha casa e não me consigo livrar dela. "A Fanhosa", como eu lhe chamo, pensa que veio para ficar. Aparece todas as noites no clube e senta-se com o grupo; vem depois para minha casa e corre para o estúdio, algumas horas mais tarde. Regressa às sete; quando acabo de me levantar. Vendo bem, até nem é má rapariga. Mas terá de ir embora. Nem sequer tive oportunidade para ligar a Sadie esta semana.

Hoje é sábado, a noite mais agitada da semana. São oito horas da noite e penso seriamente em me levantar. "A Fanhosa" ainda dorme. Coitada, anda a dar cabo dela, pobre miúda.

Preciso de um apartamento novo. O que tenho é muito pequeno. Quando Fontaine regressar, vamos ter uma conversa séria sobre dinheiro. Preciso de mais, mereço mais. Todas as noites, com excepção de domingos, das dez da noite às quatro da manhã não é brincadeira.

Penso que hoje vou vestir a camisa preta de seda, de colarinho justo, e as calças pretas novas. É para onde vai todo o meu dinheiro, para a roupa. Bem, tenho de ter boa aparência, manter uma imagem. É importante, no meu negócio. De nada serve ter o aspecto daquela gente de cabelo comprido, com ar nojento e sei lá que mais. Na minha opinião, tenho boa aparência e quero mantê-la.

Tal não significa que tenha o cabelo curto. Encaracola em redor do colarinho - na altura certa. Se tiver sorte, consigo sair antes que "A Fanhosa" acorde.

Não tive essa sorte. Apanhou-me à porta.

- Querido - guinchou -, espera por mim, onde vamos?

Oh, merda! Isso significava que estava à espera que lhe pagasse o jantar.

Esperei que enfiasse o seu corpo de estrela num vestido branco demasiado apertado, penteasse o cabelo e colocasse as pestanas. Definitivamente, estava a tornar-se uma chata.

Telefonei para Sammy. Tinha um encontro marcado, pelo que nos juntámos a ele num pequeno restaurante italiano, onde jantámos principescamente spaghetti e almôndegas.

A acompanhante de Sammy tinha quinze anos, se é que os tinha. Engatara-a numa paragem de autocarro. Um dos hábitos de Sammy era percorrer as ruas no seu Jaguar em segunda mão, tipo E, em busca de possíveis engates. Nunca vinha de mãos a abanar. Suponho que elas devem gostar de tipos E em segunda mão. Uma das suas histórias favoritas era como tinha seguido um autocarro da Baker Street ao Elephant and Castle porque lhe agradara uma rapariga que seguia nele e, de acordo com a sua versão, fez "aquela coisa" no fim do percurso! Um dia destes, ainda se vai meter em grandes sarilhos. Algum pai mais severo havia de lhe enfiar a mão pela boca abaixo. De qualquer forma, até que esse dia chegasse, era feliz.

Após o jantar, fomos para o clube. Aos sábados, gostava de chegar com antecedência. Como era ainda cedo para que chegasse alguém, Flowers tocava alguns sons antigos. Franco gritava em italiano para os seus empregados, Tina envernizava as unhas.

"A Fanhosa" e a miúda de quinze anos foram à toalete das senhoras, onde permaneceram, pelo menos, meia hora.

- Que fazem as raparigas à cara, que lhes leva tanto tempo? - inquiriu Sammy.

- Estás a levar a sério a tua ligação com a americana, não estás?

- Sammy, Sammy, tu já me conheces. A propósito, será que não queres tentar a tua sorte com ela?

Sammy abanou a cabeça, tristemente.

- Ela já teve a sua oportunidade. De qualquer forma, é um pouco velha para mim.

Janine tinha vinte e cinco anos.

Para ser franco, sinto-me realmente mal em relação a Franklin. Sabia que ele ficava chocado pelo facto de ela andar sempre atrelada a mim. Quem me dera convencê-la ou, como dizer, levá-la a ir para a cama com ele. Era um rapaz muito atraente, estava reservado para uma rapariga de sorte. Também, há muito que se andava a poupar!

Começavam a chegar. Como habitualmente, aqueles que não tinham a certeza de arranjar uma boa mesa, chegavam primeiro. Fazia-me lembrar um espectáculo. O público entra calmamente em fila, senta-se e aguarda; depois, chegam as músicas. Saudações calorosas, beijos a todos, vestindo maxis, minis, cafetãs, flores, sinos; usavam de tudo. As pessoas bonitas. Um grupo variado de talento de alta freqüência e, todos eles, meus amigos.

Aos sábados, aparecia também o grupo daquelas pessoas que só saem uma vez por semana. Vestidos a rigor, provocavam muita algazarra. Contudo, têm dinheiro e fazem grandes despesas, pelo que temos de os aturar.

Eis que chega agora um grupo desses. Hymie Verne Blatt, fabricante de vestidos, e a sua esposa, pesadamente adornada, Ethel Verne Blatt, com Jack Davidsonly, fabricante de casacos, e a sua esposa, ainda mais pesadamente adornada, Bessie Davidsonly. Que grupo! Sempre que as mulheres saem da cidade, o que era freqüente, Hymie e Jack apareciam com os seus engates; inchados como balões. Entretanto, pelo que ouvi, Ethel e Bessie tratavam da sua vida, com rapazes espanhóis, freqüentadores de praia, em Maiorca!

Contudo, esta noite, eram uma família feliz. Nenhum dos casais aparecia, fosse onde fosse, sozinho; andavam sempre os quatro, ou os dois tipos ou as duas mulheres. Fornicavam juntos? Todos nós perguntávamos isso.

Que cumprimentos recebi quando me aproximei da mesa deles! Qualquer um havia de pensar que era o seu amigo mais íntimo e querido. Estas quatro pessoas nem olhavam para mim de lado quando eu era empregado de mesa; muitas vezes lhes mexi a salada.

- Quem vem cá hoje, Tony querido? - perguntou Ethel ansiosa. Era a loura. Bessie era morena. Obviamente que pensavam ser algo de espectacular, atraentes para todos os tipos.

Dei-lhe um beijo no rosto, procedimento padrão. Tinha quatro procedimentos diferentes para apresentar cumprimentos. Para as grandes estrelas que eu não conhecia, um aperto de mão firme e um olhar sexy. Para as grandes estrelas que conhecia, beijinhos. Para os freqüentadores habituais (homens ou mulheres), um abraço e um beijo. Para qualquer outra pessoa, um beijo no rosto.

A noite começava a aquecer. Prometia. Num sábado à noite, e mesmo que tivéssemos cem mesas mais, estas ficariam ocupadas. Quem haveria de pensar que as pessoas lutavam e se esforçavam arduamente para entrar numa atmosfera quente e cheia de fumo, com música ensurdecedora? Mas era o que acontecia e adoravam. Franklin chegou, sem companhia feminina e de rosto triste. Sentou-se e fitou "A Fanhosa".

Hal apareceu com uma viúva americana, a quem andava a mostrar Londres. Que manipulador! Sempre vestido a preceito, no que Savile Row tinha de melhor para oferecer, sapatos feitos à mão, camisolas Turnbull e Asser coberto de ouro, dos pés à cabeça. Entretanto, estava duro, completamente falido. As suas últimas cinqüenta libras tinham ido para o seu jovem irmão, em Nova Jersey.

Vivia nos melhores hotéis, promovendo aqui, promovendo ali, e aparecia sempre alguma velha rica que o livrava de sarilhos. Esta, desta noite, era um verdadeiro horror. Desde o cabelo escorrido, ao corpo flácido. Oh, meu deus, Hal tinha de ter um grande estômago e eu não o invejava.

Franco fazia-me sinal no ombro; estávamos a atingir o ponto de saturação e restavam apenas algumas mesas de emergência. Alguém, na recepção, solicitava a minha presença. Merda! Ele sabia que eu nunca ia à recepção nas noites de sábado. Tornava-se demasiado embaraçoso recusar a entrada às pessoas. Murmurou algo sobre amigos de Benjamin Khaled. Bem, que se lixassem. Não havia lugar, não numa noite de sábado. Pensando bem, talvez fosse melhor ser eu a dar-lhes a má notícia. As pessoas nunca diziam que eram amigas de Benjamin, era sempre: "Fontaine insistiu para que viéssemos", e ficavam chocados quando lhes apresentava a conta.

Dirigi-me à recepção. Estavam dois rapazes jovens, uma rapariga loura e uma outra conversava com Tina.

- Lamento - disse-, mas não temos mesas; sabem, é... A rapariga que conversava com Tina voltou-se.

O meu estômago deu um salto. Era Alexandra. Fitou-me com enormes olhos castanhos e sorriu. Tinha um sorriso espantoso. - olá, lembra-se de mim? - disse, suavemente. Se me lembrava dela; ha!

- Claro que sim. - Como a devia tratar? Alexandra? Miss? Alexandra Khaled?

Ela disse:

- Não nos consegue enfiar num buraco qualquer? O papá disse que não haveria problema.

Como se eu a mandasse embora, mesmo sem a ameaça do "papá". Estava diferente, mais bonita. O cabelo ruivo solto, afastado do rosto por uma bandelette verde; vestia uma camisola verde a condizer, com umas calças em tweed. Nada de espectacular, mas ficava-lhe muito bem.

- Estou certo de que lhe arranjo um lugar. Quantos são? Quatro? Anuiu, satisfeita, e segurou-se ao braço de um dos rapazes. Senti imediatamente que não gostava dele.

Foi então que tive um rasgo de inspiração e decidi juntá-los todos na minha mesa. Que grande idéia!

Conduzi-os até lá e pedi a Sammy, etc. que se desviassem. Ficaram todos aborrecidos. A mesa estava já cheia. Mas consegui sentar os quatro. Ofereci-lhes então uma bebida e fiquei chocado quando Alexandra concordou em beber vinho, tal como os outros três. Imaginara que ela não bebia.

Conversaram entre si enquanto eu circulei pela mesa. Sammy esboçou uma careta para mim, como que dizendo: "Que raio é isto? "

Não sei francamente por que razão fico de cabeça virada por esta rapariga, mas o facto é que fico e, desta vez, não a ia deixar escapar.

Observei o tipo que a acompanhava. Vestido normalmente, cabelo ligeiramente comprido, demasiado bonito, para o seu tipo de rapaz. Tinha um braço em redor dela e dava-lhe palmadinhas no ombro ao ritmo da música. Este não era um tratante como o Peter Lincoln Smith. Era, provavelmente, o namorado. Bem, não tardaríamos a descobrir.

"A Fanhosa" gritou subitamente para mim, do outro lado da mesa:

- Podemos dançar, querido?

Lancei-lhe um olhar gelado. Estúpida rapariga! Falava de mais. Tenho de me livrar dela.

- Franklin, dança com Janine - proferi, em tom agradável. Em silêncio, pensei: "Pelo amor de Deus, atira-te a ela e fá-la interessar-se por ti. "

Foram dançar. Bem, era um começo. Sentei-me. Estendi a mão para o namorado de Alexandra, forçando-o a retirar o braço de cima dela.

- Tony Blake, prazer em conhecê-lo. Alexandra replicou:

- Oh, desculpe, este é o Michael Newcombe. - Depois indicou os outros dois: - A irmã de Michael, Madelaine, e Jonathan Roberts.

Todos apertámos a mão.

- Foi muito simpático da sua parte em nos arranjar um lugar - disse Madelaine. - Não acreditámos em Alex quando nos disse que nos conseguiria fazer entrar. Há tanto tempo que Michael estava a tentar cá vir!

O que tornava Michael num perfeito idiota.

- Espero que gostem - retorqui. - Os sábados à noite são uma verdadeira festa.

Sammy inclinou-se para a frente, a sua pronúncia cockney cortando o ar.

- Eh, olhem para aquilo.

Todos nos voltámos para ver Massey e Suki chegarem. Trazia o vestido mais curto que jamais se vira, aberto debaixo dos braços até abaixo da cintura, de lado. Ainda bem que não tinha qualquer volume no peito. Mesmo assim, era um vestido e pêras. com a sua pesada maquilhagem à palhaço, o corte de cabelo à homem e rosto branco, parecia que estava mascarada.

Massey apresentava-se calmo como sempre.

- Olá, homem.

Cumprimentaram-se na mesa e notei que Michael fitava a Suki. Óptimo. Procedi às apresentações e não tardou que todos conversassem.

Alexandra tinha uma daquelas vozes sem classe e bonitas. Era um verdadeiro espanto. Não era uma cabra rica estúpida como eu pensava que fosse. Os amigos, claro, eram um pouco "quadrados", pouco vividos, pareceu-me. Da conversa, depreendi que Madelaine e Alexandra estiveram juntas numa escola da Suíça.

Michael não tirara os olhos de Suki e reparei que Alexandra estava a ficar aborrecida. Que idiota ele era para se fixar numa tipa como Suki, com uma rapariga como Alexandra ao seu lado. Em todo o caso, era melhor assim; o que sabia ele, era do gênero típico de estudante bem educado. Desejei que pedisse à querida Suki para dançar. Suki querida, realmente. Era o modelo típico, só pernas, nada de tetas. Massey e ela andavam juntos há já alguns meses, com períodos de interrupção e, embora ambos aparecessem regularmente com outras companhias, tinham uma boa relação entre eles.

Bingo. Michael, o idiota, estava a convidá-la para dançar. Pensei, por um segundo, que a cara de parva ia recusar, mas não podia resistir à oportunidade de serpentear o traseiro. Levantou-se. Michael levantou-se. Alexandra franziu o sobrolho.

Madelaine pareceu ficar embaraçada e começou a tagarelar em voz alta. Agarrei a oportunidade com ambas as mãos.

- Venha dar uma volta para conhecer o clube - disse, directamente para Alexandra.

- Óptimo - replicou Madelaine. Alexandra abanou a cabeça.

- Acho que fico por aqui. Olhei para Madelaine que se levantara e, para rematar tudo aquilo, Jonathan pediu a Alexandra para dançar e foram. Como me trocaram as voltas! Detectei um sinal de Franco e disse para Madelaine:

- Tenho de ir à recepção.

Tina recusava pacientemente a entrada às pessoas. Sorriu para mim. Estava com ar cansado e pálido. Acho que não deve ser nada fácil viver com Flowers; provavelmente nunca descansava.

- Como estão a correr as coisas?

- Bem, Mr. Blake. - Puxou para trás uma mecha de cabelo louro da testa.

Senti pena dela.

- Vai hoje cedo para casa, estás com ar cansado; vou pedir ao Franco que traga um dos rapazes para te substituir.

- Oh, obrigada. Não me sinto muito bem...

Voltei para dentro e circulei pela pista de dança. Alexandra fazia uma tentativa para dançar com ritmo. Não revelava grande habilidade. Estudei o seu corpo, parcialmente visível através das dobras da roupa. Um peito agradavelmente cheio, cintura fina, ancas pequenas e pernas compridas. Seria, ou não seria? Teria já feito, ou não? Tinha de descobrir.

Madelaine dançava. Sammy e o seu engate adolescente não se encontravam à vista. Franklin e "A Fanhosa", estavam sentados.

- Olá, Tony - disse uma rapariga que eu conhecia, ao regressar da pista de dança. Era muito bonita. Apertou-me o braço. - Quando combinamos um encontro?

Honestamente, não me lembrava se o tínhamos feito ou não. Em certas noites, estava tão atestado de álcool que não poderia saber quem se encontrava por baixo de mim.

Estava acompanhada por um cantor muito conhecido, Steve Scott. Um dos cantores da nova raça, tentando projectar a imagem do inglês sexy e estando a conseguir bons resultados. Ela era uma dançarina que gostava de se divertir; recordava-me, efectivamente, dela. Chamava-se Carolyn qualquer coisa. Sentei-me na mesa deles e paguei-lhes uma bebida.

- Queres vir amanhã a uma festa? - inquiriu Steve. - Na minha casa. Tudo o que precisas levar é uma garrafa e uma rapariga.

- Sim. - Ao mesmo tempo, ia olhando de soslaio para Alexandra, que dançava no meio da multidão.

- Tens de vir, vai ser formidável - disse Carolyn. Escreveu o endereço de Steve que eu, absorto, enfiei na algibeira. Quem precisava de festas a um domingo?

Flowers lançava-se em música de ritmo lento e, quando olhei de novo para Alexandra, estava toda agarrada ao idiota com quem dançava. bom, Flowers bem podia partir para outra. Apressei-me a ir junto dele e obriguei-o a mudar para uma música mais rápida.

Automaticamente, Alexandra e o parceiro separaram-se. Reparei, com satisfação, que o mesmo não sucedera com Suki e Michael.

Massey reparou também.

- Acho que a perdi - disse, em tom de brincadeira, quando me sentei -, sempre soube que ela iria com o primeiro gato branco que lhe aparecesse.

Vejamos, - e quanto a Massey e "A Fanhosa"? Não, ela só gostava de estrelas. Oh, bem...

Alexandra regressava à mesa. Parecia excitada.

- Pelo aspecto, deixaram-nos sós, Jonathan - replicou.

Peguei-lhe no braço, que ela educada mas repentinamente, afastou.

Oh, meu Deus, a sua pele parecia veludo.

- Escute, gostaria de a fazer (deveria acrescentar o resto da frase?) membro do clube. Vamos até ao escritório.

- Agora? - Pareceu surpreendida. - É muito simpático da sua parte, mas não me parece...

Não a deixei terminar.

- Tem de ser membro, não levará mais do que alguns minutos e, depois, poderá cá vir sem ter que passar outra vez por toda esta maçada.

- OK. - Levantou-se. - Vamos, Jonathan.

Este ergueu-se também e, pensando rapidamente, disse:

- Você fique aqui senão a mesa enche-se de pessoas e não terão onde se sentar quando regressarem.

Sentou-se. Era minha.

Desta vez, segurei-a firmemente pelo braço e conduzi-a através da multidão. Ela olhava para a pista de dança, em busca de Michael e Suki. Levei-a até à recepção e depois descemos um lance de escadas até ao escritório. Estava bastante escuro e apenas uns remotos sons de música chegavam até nós. Destranquei a porta e liguei a luz. Era uma sala simples, com armários, uma secretária e algumas cadeiras, muito pouco romântico.

Espreguiçou-se e bocejou, os seios comprimidos contra a camisola.

Senti uma louca tentação de a agarrar, de lhe despir a roupa e de fazer amor violento com ela. Esta miúda atingira-me fortemente. Mas, de nada serviria apressar as coisas. Para a tirar do meu sistema, tinha de a possuir e, para a possuir, tinha de jogar pelo seguro.

Acendi um cigarro e ela sentou-se, bateu com as unhas impacientemente sobre a secretária e disse:

- Quem é aquela rapariga horrível com quem Michael está a dançar?

Cantei algumas linhas de uma velha canção, Ciúmes. Fitou-me.

- Não estou com ciúmes, posso assegurar-lhe. - espetou o queixo, gesto que adorei de imediato. - Mas ela é um horror. Quem é ela?

- Uma modelo estúpida. Michael é o seu namorado?

- Oh, não. - Corou. - Na verdade, conhecemo-nos há muitos anos, não se esqueça que é irmão de Madelaine, mas esta é a primeira vez que saímos juntos.

A situação tornou-se clara: uma paixoneta de uma menina de escola, a velha história de que "gostava dele desde criança". Bem, não tardaríamos a nos livrar dele.

Encontrei uma proposta para inscrição e rabisquei-a com um lápis roído que se encontrava sobre a secretária. Ela olhava para mim em expectativa, grandes olhos castanhos, olhos lindos.

- Qual é a sua morada? - perguntei. Ela punha-me nervoso.

- Talvez seja melhor dar-lhe o endereço da minha mãe - meditou, em voz alta. - Provavelmente, hei-de estar lá aos fins-de-semana e é, efectivamente, o meu endereço correcto.

Não queria a morada da mãe, queria mesmo a dela. Lambeu os lábios, muito cheios e reluzentes, com uma espécie de baton de brilho, muito sexy.

- Não, talvez seja melhor dar-lhe a minha morada cá, embora não saiba se vai ser permanente ou não.

Seria virgem? Não, era impossível. Não restavam virgens com mais de catorze anos em Londres. Nem Sammy encontrara ainda alguma.

- Eu e Madelaine partilhamos um apartamento - disse, com certo orgulho. - Será que Madelaine também pode ser membro do clube? O endereço é 14, Dundee Court, Chelsea.

Chelsea! Para que queria ela viver no meio daquela ralé? Oh, bem, pelo menos estava em Londres e não vivia nem com a mama nem com o papá.

- Número de telefone? - inquiri, ensaiando, em silêncio, o que diria da primeira vez que lhe telefonasse.

Deu-me o número e eu retorqui:

- Perfeito, mandar-lhe-emos o cartão esta semana e, depois, espero vê-la com freqüência no clube.

Corou. Havia realmente raparigas que ainda sabiam como corar.

- Duvido - replicou, erguendo-se. - Começo a trabalhar na segunda-feira e tenho de me apresentar todos os dias às nove.

- Às nove horas da manhã? - A minha voz revelava incredulidade. Nove da manhã era ridículo. Sorriu.

- É verdade, sou secretária.

Estaria a ficar louco, ou havia um tom de orgulho na sua voz?

Uma secretária! Podia ela ser a filha de Benjamin Khaled? Sentia-me perplexo mas, de qualquer forma, gostava dela, mesmo sem dinheiro. O velho bastardo, obrigá-la a trabalhar. Fontaine, vestida de marta dos pés à cabeça e esta pobre rapariga tinha de trabalhar. Que jogo.

Contudo, era melhor assim. Se ela tivesse dinheiro, toda a gente iria pensar que eu andava atrás disso.

Encontrava-se junto da porta, ansiosa por regressar para ver o que Michael estava a fazer, sem dúvida. Eu permanecia sentado à secretária, como um idiota.

- Vamos? - perguntou, educadamente.

Será que não percebia que me agradava? Não compreenderia? Tratava-me como se eu fosse um zé-ninguém. Quero dizer, não quero parecer um gabarolas mas, afinal, era eu quem dirigia o clube e toda a gente gostava de mim. Não sou mal parecido e bem que podia prestar-me mais atenção. Devia ser doida, andar atrás de um estudante de cabelos compridos.

Subimos as escadas e Tina ofereceu-me um sorriso de entendimento.

À mesa, Sammy disse, em voz alta, como sempre:

- Por onde têm andado? - E depois, "A Fanhosa" teve coragem para dizer:

- Tony, amor, não me tens ligado nada. Vamos dançar.

Foi o fim dela. Desta vez, foi longe de mais. Podia emalar as pestanas postiças e as madeixas de cabelo e partir. Alexandra proferiu:

- O Michael ainda está a dançar?

Madelaine anuiu e pareceu atrapalhada. Aproveitei a oportunidade e, puxando por Alexandra antes que esta se sentasse, disse:

- Se não os consegues vencer, junta-te a eles. - E conduzi-a para a pista de dança.

Ouvi vagamente "A Fanhosa" a gritar, surpreendida:

- Filho da puta!

Alexandra deixou-me abraçá-la discretamente, ao som de "Jimmy Mack". Fiz sinal a Flowers para colocar música lenta e ela disse:

- A sua namorada está furiosa.

- A minha namorada? - Fiz um ar surpreendido. - A primeira vez que a vi foi esta noite.

Sorriu, aquele sorriso inocente louco e puxei-a para mim quando Flowers mudou para "Groovin". Resistiu um pouco, mas eu segurava-a com firmeza e não fazia tenção de a libertar. Cheirava a cabelo lavado e a pasta de dentes. Podia sentir os seus seios firmes contra mim e a sua cintura estreita nas minhas mãos. Tudo nela sabia bem, tal como eu esperara.

- Aquele não é o Steve Scott? - inquiriu, subitamente. Ele e Carolyn dançavam junto de nós.

- Sim, porquê? Gosta dele?

- Oh, sim - parecia uma colegial. - Compro todos os discos dele, acho que é um cantor formidável.

Estava à espera que, a qualquer momento, aparecesse com o livro de autógrafos na mão. Era realmente inocente.

Subitamente, tive uma grande idéia. - vou dizer-lhe o que irei fazer, uma vez que é tão simpática.

Olhou para mim, com aqueles grandes olhos castanhos.

- Gostaria de ir amanhã a uma festa em casa do Steve Scott?

- Está a falar a sério? Quer dizer que eu posso realmente falar com ele?

- claro, eu levo-a. Que tal? Suavizou um pouco.

- Foi convidado?

Oh, esta rapariga era de mais! Anui, com uma expressão séria.

- Claro. Vamos, está bem?

- A Madelaine pode ir?

Raios partam Madelaine, estava a ficar farto dela.

- Pode ser mais difícil, mas não deixaremos de ir. Decidiu rapidamente.

- Está bem, mas não posso ficar até tarde.

Será que procedi com sensatez? As festas de Steve Scott incluiam sempre um pouco de orgia. Bem, não tinha importância. Podíamos sempre sair em qualquer altura e ir para outro lugar, ou para um restaurante agradável e romântico, ou para minha casa, o meu palácio sumptuoso em Edgware Road. Continuava com vontade de me mudar mas, quem tinha dinheiro para isso?

Flowers olhou para mim quando passámos por ele, ao dançar.

- Quem é hoje o disc jockey? - murmurou, rolando os globos oculares endiabrados. Por vezes ficava muito temperamental. Começava a tocar música que ninguém conhecia e, quando lhe pediam para tocar algo mais popular, ficava amuado durante alguns dias. Outras vezes, encontrava-se tão drogado que nem sequer sabia que música estava a passar. Mas, quando se encontrava em perfeitas condições, o caso mudava de figura. Punha as pessoas a mexerem-se, como ninguém. Era sensacional.

Alexandra disse:

- Que devo levar vestido?

Todas as mulheres faziam essa pergunta, quando sabemos que, afinal, já têm tudo planeado.

- Nada de especial, aquilo que mais lhe apetecer.

Talvez lhe apetecesse algo com um grande fecho de correr nas costas, que me possibilitasse despir-lho o mais rápido possível.

Devo dizer que tenho negligenciado o clube desde que Alexandra chegou; subitamente, apercebi-me que havia um grande alvoroço a um canto e, tudo o que consegui ver, eram as costas de três empregados e um Franco preocupado. Alexandra sabia tão bem que a não queria deixar, mas há sempre um amanhã. Negócios eram negócios. Empurrei-a suavemente na direcção da nossa mesa.

- Seja boa menina e sente-se. Sinto que vamos ter sarilhos.

Steward Wade, um actor medíocre e bêbado, encontrava-se sentado no chão, gritando para os empregados, enquanto estes lhe retorquiam irritados, em italiano. Tentavam levantá-lo e este distribuía socos embriagados.

- Que se passa? - perguntei a Franco, Acenou os braços, excitado.

- O homem diz que não quer pagar. Partiu o nariz a um dos meus rapazes e diz que não paga contas em lado nenhum. Abri caminho por entre os empregados.

- Vamos, meu caro - disse. - Deixemo-nos de cenas. De pé.

- Ah, Tony. - Tinha uma daquelas vozes sonantes shakespearianas. - Diz aos teus criados que me deixem em paz.

- Vamos lá para fora conversar.

- Quero ficar aqui. - permaneceu sentado, com os seus noventa quilos e um sorriso infantil e embriagado. - Que se lixem, vocês - gritou, alegremente. - Chamo-me Steward Wade, o Steward Wade. Nunca pago, por isso, vão-se lixar.

Os empregados murmuravam irritados entre si.

- Peguem nele e ponham-no fora - disse. Estava farto. Não precisávamos de clientes como ele.

Felizes com o seu trabalho, os quatro empregados pegaram nele pelas pernas e braços e transportaram-no, enquanto ele gritava:

- vou chamar a polícia.

Depois, adormeceu. Um tipo enorme, com uma minissaia e pernas de jogador de futebol apressou-se a sair atrás dele.

Franco e eu olhámos um para o outro e encolhemos os ombros. No nosso trabalho, estávamos habituados a tudo.

De regresso à nossa mesa, Michael e Suki estavam já presentes e Alexandra dizia que se queria ir embora, tal como Madelaine e Jonathan. Michael não dizia nada, limitava-se a olhar fixamente na direcção de Suki, enquanto esta observava o rosto num estojo de maquilhagem da Mary Quant.

- Podia arranjar-nos a conta? - pediu Jonathan.

- Não tem importância. - olhei para Alexandra, que fitava o Michael. - É uma oferta minha.

- Oh, é muito simpático da sua parte - disse Madelaine. Não parecia ser má rapariga. Uma companheira de quarto adequada para Alexandra, sem pretensões a grandes vôos e um pouco caseira.

Todos se ergueram e apresentaram as despedidas. Acompanhei-os até à recepção. Consegui puxar Alexandra à parte.

- vou buscá-la amanhã, por volta das oito horas.

- Oh, está bem. - Parecia que já tinha esquecido completamente.

Meteram-se no elevador e partiram. Na última visão que tive dela, lançava um olhar acusador a Michael. Abriu a boca para dizer qualquer coisa, mas as portas do elevador fecharam-se.

Antevi a noite seguinte. Não tardaria a fazê-la esquecer o Michael.

Eram duas da manhã e a noite atingira o seu auge. Flowers vinha a sair, dado que o grupo iniciara a sua actuação.

- vou só dar uma volta - disse.

Ia para a rua para "trepar", pelo menos tinha o bom senso de não fumar no clube.

Hal apareceu com a amiga de cabelo escorrido. Tinha de o admirar, não havia dúvida que possuía muito estilo.

- Vamos jogar um pouco - anunciou, pestanejando para mim. Isso significava que o ia fazer com o dinheiro dela. Era um jogador inveterado e, por vezes, ganhava umas notas, que gastava imediatamente em roupa nova.

Ela sorriu, filas de dentes manchados de nicotina.

- Adoro o vosso clube, meu querido. Hal afirmou:

- A Mamie está à espera de uma amiga na próxima semana, talvez possamos combinar qualquer coisa os quatro.

Uma amiga! Tinha cerca de sessenta! Abanei a cabeça, em tom sério.

- Estou comprometido.

- Oh, que pena, ela iria adorá-lo.

Hal era um idiota. Sabia que eu não alinhava em sair com viúvas velhas e ricas, mas nunca desistia, tentava sempre recrutar-me.

"Tu e eu, como uma equipa, dávamos cabo delas", costumava dizer.

Fontaine era suficiente para mim, obrigado. Podia apenas fazê-lo com ela, embora se estivesse a tornar cada vez mais difícil.

Fontaine, tinha-me esquecido dela; também, estava ausente. Mas, com tristeza, apercebi-me de que não tardaria a regressar. O que diria ela de mim e de Alexandra? Ponderei sobre o assunto e decidi que ela não iria gostar, mesmo nada, Era uma situação difícil. Se tivesse juízo, nem me aproximava de Miss Alexandra Khaled.

Mas estava doido por ela, atingira-me com toda a força. Portanto, há que encarar, não era uma atitude sensata, mas Fontaine nunca haveria de descobrir; Alexandra e eu podemos ter uma relação rápida e, depois, adeuzinho. "Idiota", repetia uma voz no meu ouvido, mas ignorei-a.

- Bem, querido, penso que está tudo acabado entre nós - disse uma voz furiosa. Era "A Fanhosa", o seu metro e setenta estremecendo tudo.

Apeteceu-me dizer: "Sim, tens razão", mas Alexandra deixara-me em ponto de rebuçado e "A Fanhosa" estava ali, acessível, e não parecia haver nada mais ao meu redor. Uma noite mais com ela não seria assim tão difícil de suportar. Dei-lhe uma palmadinha no rabo sexy.

- Clientes, minha querida. Tenho de ser simpático para as pessoas que pagam. - Fez beicinho e coloquei o braço à sua volta. Vamos dançar.

 

         FONTAINE

Nova Iorque é fria. As pessoas, nas ruas e lojas, são aborrecidas. Toda a gente parece descobrir que somos ingleses e, para eles, tal significa amizade instantânea; pensam que podem conversar connosco durante horas sobre a avó horrível que têm em Scunthorpe. Hoje, uma pessoa completamente estranha veio ter comigo no Bendel e perguntou-me, com uma acentuada pronúncia do sul, onde tinha comprado a minha chinchila. com os diabos, praticamente a tirou das minhas costas com o olhar. Mesmo assim, são chiques, as mulheres mais ricas.

Ray tornou-se o homem mais querido do momento. Todos o querem presente nas suas festas. Para ser franca, tornou-se um pouco afeminado, fiquei chocada! Ele, que sempre foi tão viril. Talvez seja imaginação minha, mas não me costumo enganar nestas coisas. Nem sequer insinuou ainda que fôssemos juntos para a cama. O sucesso subiu-lhe à cabeça.

Após uma semana nesta cidade, encontro-me a pensar em Tony. Uma semana sem qualquer acontecimento sexual, apenas uma curta relação de duas horas com o marido de uma amiga minha. iNada de especial, foi até bastante chato.

Seria divertido ter o Tony aqui comigo por uns dias. Exibir o animal sexual. Poderia dizer a Benjamin que queria que ele conhecesse Nova Iorque para se inteirar das possibilidades da abertura de um Hobo aqui. Tony iria adorar. Poderia comprar-lhe algumas roupas, mostrar-lhe a cidade.

Sim, vou telefonar a Benjamin esta noite e pedir-lhe-ei que trate de tudo. Tony poderia chegar na segunda-feira e regressávamos juntos no fim-de-semana seguinte.

Vesti-me a rigor. Almoço no 21 com Sarah, a esposa do homem com quem tive a tal relação de duas horas. Sabia que me queria contar tudo sobre o seu último amante. Os rumores na cidade diziam que era um criado chinês. Bem, Sarah sempre foi estranha, pelo que não me surpreendeu.

Sarah iria adorar Tony. É uma matrona da sociedade, muito bem educada, nos seus trintas, magra e bonita; fomos as duas modelo. Casou com um milionário texano do petróleo, depois com um milionário californiano vendedor de propriedades e, agora, com Alan, um escritor atraente mas sem sucesso. Tem montes de dinheiro e Alan gasta-o bem. Ambos têm relações extramatrimoniais e nenhum parece importar-se. Na verdade, ficaria bastante satisfeita se lhe contasse sobre o meu caso com Alan. O pior é que ele não foi muito bom, um desapontamento. Só mérito e nada de tomates!

Sarah estava divina. Se alguma vez pensasse em me tornar lésbica, ela seria a minha escolha. Rosto fino eslavo, cabelo preto, dramaticamente modelado para baixo, com um risco ao meio. Vinha de amarelo, a cor deste ano; eu estava um pouco mais avant garde com o meu Yves Saint Laurent.

Iniciámos com cocktails de champanhe e encomendámos melão e bife. A vida é uma dieta permanente.

- Conta-me tudo - exigi. Sorriu, como que em sonho.

- Fontaine, minha querida, se ainda não tentaste os mistérios do Oriente, ainda não viveste.

Retribui o sorriso.

- Gosto dos meus homens, digamos, um pouco mais altos.

Riu-se.

- É a qualidade, não a quantidade que interessa.

- Eu quero é a quantidade, para o diabo com a qualidade!

Foi um almoço agradável, sempre gostei de estar com Sarah. Em muitos aspectos, somos parecidas. Mais tarde, telefonei a Benjamin.

- Querido, tive uma idéia maravilhosa. Que tal um Hobo em Nova Iorque? Sim, aqui em Nova Iorque. Consegues arranjar as coisas por forma a que o Tony venha cá por uns dias? Agora, imediatamente, amanhã, se possível. És um querido. Claro que sinto a tua falta. Sim, amor, pede à tua secretária que me telefone a informar dos detalhes. Sim, claro que voltarei a casa em breve. Também te amo. Adeus. - pobre Benjamin.

Oh, bem, uma festa no Sidwell esta noite. É melhor deslumbrá-las com o novo Courrèges. Não tardaria a deslumbrá-las com o Tony. Que divertido!

 

         ALEXANDRA

Madelaine e eu ficámos a conversar até tarde no sábado, quando regressámos do Hobo. Decidi que estou apaixonada por Michael!

Vi-me forçada a contar-lhe o que sentia, porque tinha realmente de contar a alguém e, dado que era sua irmã e a minha melhor amiga, talvez pudesse ajudar.

Desatou a rir quando me ouviu.

- O velho Michael! Espero que estejas a brincar.

Mas, quando se apercebeu de que não estava, ficou muito séria e disse:

- Alex, ele é horrível para as raparigas. Só as quer para uma coisa e depois larga-as.

Não entendia como Maddy poderia saber uma coisa dessas. Estivera fora comigo na escola a maior parte do ano. De qualquer forma, se era isso que queria de mim, podia tê-lo. Muito embora eu estivesse furiosa com ele por ter conversado com aquela modelo toda a noite.

- Vê como estás ciumenta - disse Maddy. - O que temos de fazer é que ele tenha ciúmes de ti. Penso que gosta de ti, mas não creio que te encare como uma namorada potencial. Afinal de contas, vocês conhecem-se desde crianças.

- Ele ainda me vê como uma criança - retorqui, com ar miserável-, ele próprio mo disse.

- Só temos de o fazer aperceber-se como és bestial e desejável. - Os olhos de Maddy brilhavam, adorava organizar coisas. Amanhã à noite, quando Tony nos vier buscar - oh, só espero que também possa ir - bem, vamos arranjar as coisas de modo a que Michael cá esteja. Passarás por ele simplesmente soberba e vais tratá-lo com absoluta frieza e indiferença.

- Achas mesmo que devo ir à festa do Steve Scott com Tony? E, de qualquer forma, como vou eu ficar "absolutamente soberba"? Não tenho nada para vestir.

Passámos revista à minha roupa e a única coisa que eu possuía que fosse remotamente soberbo era uma camisa de dormir ornamentada,

- Podes usar isso! - exclamou Maddy. - É perfeito. Colocas um cinto à volta e ninguém se aperceberá.

Experimentei-a e, com os sapatos e um cinto, não ficava nada mal. Decidi então que a iria usar e acabámos por nos deitar às três da manhã. Estava exausta.

Maddy telefonou para Michael na manhã seguinte. Na verdade, era cerca do meio-dia; ambas nos tínhamos deixado dormir.

- Estamos num sarilho horrível - choramingou. - rebentou um fusível, não consigo pôr a televisão a funcionar e temos uma avaria na casa de banho.

- Cristo! - queixou-se Michael. Eu escutava na extensão. Está bem, passo por aí quando me levantar.

- Agora temos de sair. Achas que podes vir por volta das sete?

- Sete! Onde raio vão vocês?

- Temos de ir ver o pai de Alex. Fica então combinado para as sete?

- Sim, acho que está bem, mas não vos posso levar a jantar, se é isso que estás a tentar preparar. Tenho um encontro.

- não tem importância - afirmou Maddy suavemente e desligou, rindo. - Tudo preparado - declarou. - Agora, tens de o devastar.

Passámos a tarde em preparações.

Quando Michael chegou, eu estava fechada na casa de banho, o cabelo com rolos, tentando fazer uma maquilhagem decente. A mão tremia-me e borrei os olhos com o eyeliner, pelo que tive de o retirar e recomeçar tudo de novo.

Maddy estava pronta. Prometera manter o Michael ocupado até que Tony chegasse. Só devia sair do quarto quando Tony aparecesse e, então, passaria por Michael, ignorando-o totalmente.

Só acabei de me preparar por volta das oito horas. Ouvi a campainha da porta.

Oh, bem, lá vou eu.

 

         TONY

São quatro horas da tarde e não me consigo livrar da "Fanhosa". É o seu dia de folga e está a tirar o melhor proveito. Profundamente adormecida, o rosto desmaquilhado oculto por baixo de um emaranhado de cabelos. À luz do dia, é cor-de-laranja e bastante repulsivo; diz que fica fantasticamente bem em fotografia. É muito ambiciosa. Eu também sou ambicioso; ambicioso por a pôr na cama e por a mandar à sua vida.

Bati-lhe levemente no ombro. Aconchegou-se na cama e ressonou ligeiramente. Oh, meu Deus, a única coisa que a iria acordar era algo que não me apetecia dar-lhe esta manhã.

Fui para a casa de banho e lavei-me. Ela continuava a dormir. Fiz café e pus a televisão alta. iNão se mexeu. Dei-lhe um empurrão. Suspirou e estendeu os braços de tarântula. Ignorei-os. Abriu uns olhos cheios de sono e disse:

- Volta para a cama, querido.

Francamente, ela e Sammy é que estavam bem um para o outro.

- Levanta-te, Janine - retorqui. - A minha mãe vem visitar-me.

- A tua mãe? - Abriu muito os olhos e sentou-se, revelando uns seios redondos como laranjas e cheios, qual página central do Playboy.

- Sim, a minha mãe. Meteu na cabeça vir visitar-me uma vez por ano. Hoje é o dia.

- Oh, merda - proferiu Janine e ergueu-se.

Era bem constituída, embora, sem maquilhagem, o seu rosto ficasse balofo e deslavado. É impressionante, o que a maquilhagem consegue fazer a uma rapariga.

Cambaleou até à casa de banho e fechou a porta. Congratulei-me sobre a invenção da mãe e arrumei as coisas. Podia sair, arranjar alguma coisa de comer e depois preparar-me para ir buscar a Alexandra. Queria que o apartamento estivesse em ordem, para o caso de ela o desejar ver.

Janine apareceu uma hora mais tarde, o rosto no lugar, o corpo coberto com uma camisola e uma saia demasiado curta. As mini-minis não ficavam bem ao seu tipo de corpo.

Actuava com calma, por forma a fazer pensar que não se importava muito. Eu tinha reunido todas as suas coisas, para o caso de ela não ter percebido a insinuação.

Sorriu para mim friamente.

- Adeus, amor - disse. - Até breve. - A "Fanhosa" saiu. Telefonei a Sammy.

- Oh, que noite - gemeu. - A histericazinha não me deixou em paz.

- Queres ir comer qualquer coisa? - perguntei-lhe.

- Sim, vem buscar-me.

Vesti uma roupa usada e dirigi-me a casa dele, que ficava a cinco minutos. Eu andava com um Mini decrépito e velho, "que uma amiga deixara comigo, para que cuidasse dele enquanto participava numa tournée de dança ao Extremo Oriente. Perguntei a mim mesmo se conseguiria convencer Sammy a emprestar-me o seu tipo E para esta noite. Muito sexy, este tipo E, um símbolo fálico estrondoso.

Sammy estava com um aspecto terrível, ainda em pijama, por barbear e com olhos abatidos.

- vou desistir das miúdas jovens - anunciou. - Têm demasiada energia.

Fomos a um restaurante próximo e escutei a história das acrobacias sexys da Miss Quinze Anos.

- E, para cúmulo - concluiu Sammy-, tirou uma nota de cinco libras da mesa-de-cabeceira, ao sair. Liberdade!

Eram já seis e meia e queria ir para casa para trocar de roupa.

- Que vais fazer esta noite, Samuel? - inquiri.

- Vou-me deitar, estou estafado.

- Emprestas-me o teu carro?

- Para quê? Tens o Mini.

- Oh, então, Sammy. Tenho um encontro importante. Não a posso transportar naquilo.

- Quem é? - Sammy parecia uma velha bisbilhoteira. Falei sem grande emoção.

- Tu sabes quem é, a miúda da noite passada, Alexandra.

- Não é o teu tipo - disse Sammy, surpreendido. - Tu gostas de mulheres mais vistosas.

- Gosto dela - disse, em tom final. - Emprestas-mo, ou não?

- Claro, mas preciso dele às oito horas da manhã. Atirou-me as chaves e dei-lhe as do Mini. Sammy era um bom rapaz.

Quando cheguei a casa, o telefone tocava e, debaixo da porta, encontrava-se um telegrama. Peguei no auscultador e abri o envelope de cor amarelada.

- Mr. Blake? - disse uma voz feminina nítida e eficiente. Fala Alice, a secretária do Mr. Khaled. Tenho estado a tentar contactá-lo todo o dia, mas parece ter havido qualquer problema com a sua linha.

Tiro sempre o telefone do descanso quando estou a dormir.

- Sim - disse. Talvez Fontaine tivesse tido um acidente.

- Mr. Khaled solicita que vá a Nova Iorque para investigar a possibilidade da abertura de um Hobo naquela cidade.

- O quê? - fiquei perplexo.

- A Mrs. Khaled sugere que parta imediatamente. Na verdade, tinha reservado lugar no vôo das oito horas da noite, mas não me parece que o consiga apanhar. Claro, se se apressar...

Interrompi-a.

- Não posso ir esta noite, uma morte na família, sabe. - Sempre fui um mentiroso exagerado.

- Oh! - A voz calou-se. - Bem, que tal amanhã, às sete e quarenta e cinco?

Mas, que raio se passava? Que urgência era aquela? Claro que adorava conhecer Nova Iorque, mas para quê tanto pânico? Li o telegrama de relance.

PRECISO DE TI CÁ STOP BENJAMIN EXPLICARÁ STOP APRESSA-TE. FONTAINE.

- Quanto tempo terei de estar fora? - perguntei a Alice.

- Alguns dias, penso. O vôo das sete e quarenta e cinco está bem?

- Sim, está bem.

- Óptimo. Irá um carro buscá-lo às sete da manhã. Nessa altura, estará tudo tratado; um carro encontrar-se-á à sua espera, quando chegar. Bon voyage! - Alice desligou.

Fiquei sentado. E os vistos e documentação do gênero? Pensei que levavam meses a serem emitidos. O que deveria levar? Hobo em Nova Iorque. Que cena!

Não havia tempo a perder. Não queria chegar atrasado a Alexandra. Ia partir para Nova Iorque de manhã; parecia-me formidável.

Pensei em algumas coisas para levar e contei o dinheiro; apenas vinte libras. bom, acho que Fontaine trataria disso. Vesti-me depois. Roupa a preceito. Estava pronto.

Alexandra e Madelaine habitavam num grande e sujo bloco de apartamentos. Toquei à campainha do n. 14 e aguardei. Fiquei chocado quando o irmão de Madelaine, Michael, respondeu. Estava indiferente por me ver e convidou-me para entrar para uma sala de estar grande e antiquada. Madelaine entrou de seguida alegremente, com um vestido azul aos folhos " disse:

- Não há problema em eu ir também? Fiz um ar triste.

- Lamento, querida, é impossível. Eu avisei a Alex.

- Oh! - A vivacidade de Madelaine quebrou-se um pouco, mas acendeu um cigarro e tossiu. Depois, alegrou-se. - Bem, Alex pode contar-me tudo depois. - Não era má rapariga e muito compreensiva.

Michael ofereceu-me uma bebida. Parecia que vivia ali. Depois, entrou Alexandra. Estava encantadora, com um daqueles vestidos vitorianos com arrebiques por todo o lado; o cabelo estava preso atrás, o que lhe conferia um ar realmente jovem e bonito. Fiquei fascinado.

Michael disse:

- Tens tudo em cima, com excepção do fogão da cozinha, Ela fitou-o e replicou:

- É melhor do que vestir apenas o mínimo. "Bastante inteligente", pensei. Proferi:

- Está um espanto.

Olhou triunfantemente para Michael.

Estava a ficar farto de toda aquela história entre ela e o idiota, pelo que despejei rapidamente o scotch fraco que ele me dera e disse:

- Vamos, não podemos chegar atrasados.

Seguiu-se depois toda a explicação por que Madelaine não podia ir também. Estava metido em sarilhos, se Steve desse com a língua nos dentes sobre a sua casa aberta a toda a gente.

Por fim saímos e admirou o tipo de Sammy. Esqueci de mencionar que não era meu; também, para quê confundir as coisas? E partimos.

Apercebi-me subitamente que era cedo de mais para irmos para a festa. Nove e trinta era o mais cedo possível que podíamos aparecer e, mesmo assim, seríamos os primeiros.

O melhor era tomarmos uma bebida num sítio agradável. Decidi que o bar no topo do Hilton era adequadamente romântico. Londres vislumbrante e reluzindo a nossos pés, era um bom cenário. Ou talvez a destruísse com uma daquelas bebidas terríveis no Trader Vic.

Estava sentada com ar afectado; a fita que atava os seus cabelos atrás conferia-lhe um ar de miúda. Para ser franco, estava preocupado com o facto de a levar a casa de Steve. As suas festas tornavam-se demasiado impetuosas - muita bebida e muitas mulheres e toda a gente a efervescer. Eu, pessoalmente, não alinho na droga - não percebo para quê tanta excitação - a mim não me faz qualquer efeito. Dêem-me alguns scotches e fico bem. Claro que, no meu negócio, e para certas pessoas, tenho de simular grande interesse, pois, de outra forma, pensariam que era um bananas; afinal, eu tinha de manter uma certa imagem. Fontaine e os seus amigos fumavam ocasionalmente. É como se fossem um bando de garotos fazendo maldades. Pensam que são tão decadentes. Descobri que os verdadeiros fumadores de droga gostam de o fazer a sós, sem grandes cenas de grupo. Hal estava sempre "nas nuvens", mas nunca falava sobre isso.

- É uma pena que Madelaine não pudesse ter vindo - disse Alexandra.

- Sim, também lamento. Escute, pensei em irmos tomar uma bebida rápida. Ainda é cedo para a festa.

- Oh, a que horas começa? - O roçar dos folhos vitorianos do seu vestido parecia música.

- Cerca das nove. Gosta do Hilton? Inclinou a cabeça.

- Nunca lá fui.

Fiquei espantado. Nunca conheci uma pessoa que nunca tivesse ido ao Hilton. Levei-a ao bar, no topo do edifício. Se nunca lá esteve, valia a pena conhecer. A vista era formidável.

Percebi que ela não conseguia decidir o que iria beber, pelo que pedi um cocktail de champanhe para ela e um scotch duplo com Coca-Cola para mim. Atacámos as nozes.

- É verdade que nunca cá esteve?

- Não - abanou a cabeça. - Para ser franca, nunca passei muito tempo em Londres. A mãe detesta cá estar, por isso nunca cá vimos. Mas, agora que acabei a escola, desejei tanto vir que a mãe teve de concordar em me deixar partilhar um apartamento com Madelaine - sabe, a mãe de Madelaine e a minha são grandes amigas.

- E o seu pai? - inquiri.

- Oh, o papá - encolheu os ombros. - Bem, desde que casou com aquela mulher horrível, não passamos muito tempo com ele. Parou e apressou-se a dizer: - Acho que não a devia chamar de mulher horrível, mas é.

Se tivesse deitado a língua de fora e acrescentado: "É assim mesmo", não teria ficado surpreendido. Perguntei a mim próprio o que Alexandra diria se soubesse da minha relação com Fontaine.

Bebericou o cocktail de champanhe e eu traguei o meu scotch. O vestido não revelava nem um pouco de carne, mesmo os braços estavam cobertos e a saia não era particularmente curta.

Como que sentindo o que eu estava a pensar, disse:

- Agora que estou em Londres, tenho de encurtar as saias. Sinto-me uma velha antiquada. Na Suíça, tínhamos de usar uma altura de saia regulamentada e mais nada.

- Não precisa da saia mais curta - acrescentei, rapidamente. Muito francamente, estava farto até aos cabelos das miúdas que praticamente expunham as calcinhas. Numa noite de menos enchente no clube, uma pessoa fartava-se. Não queria que Alexandra se juntasse ao grupo de exibidoras de rabos. Uma saia muito curta só ficava bem numa rapariga de dezassete anos, sem peito, com boas pernas (magras) - e quantas, com esses requisitos, há por aí? Não muitas posso assegurar.

Alexandra terminou a bebida.

- A que horas podemos ir para a festa? - perguntou, com vivacidade.

Consultei o relógio, um dos muito raros presentes de Fontaine; numeração romana, correia em pele de crocodilo preta. Eram quase nove, pelo que achei que estava na hora.

No momento em que pedia a conta, uma voz alta gritou: "Tony, meu fofinho" e braços atiraram-se a mim. Era Molly Mandy. Mesmo o que eu precisava. Usava um vestido de jersey multicolorido, com aberturas por todo o lado e, quando me tentava libertar daqueles tentáculos, reparei na expressão de Alexandra de - bem - espanto, penso.

Molly terminou a sua saudação, luziu dentes muito brancos num sorriso amigável para Alexandra, pestanejou e disse:

- Divirtam-se.

Riu-se e regressou para junto do seu acompanhante, um velho soberbamente vestido, a sua especialidade. Deus sabe onde ela os arranja e Deus sabe por que queriam ser vistos com ela.

- Quem era? - inquiriu Alexandra, um pouco sem fôlego.

- Apenas uma freqüentadora do clube, uma estilista de moda. Vamos.

Segurei-lhe na mão. Ficou um pouco tensa mas não a retirou. Dirigimo-nos ao elevador. Oh, se Fontaine me pudesse ver agora Pensei que o melhor era apagar os meus indícios.

- Ouça, sabe que o seu pai pode não aprovar que eu saia consigo. Trabalho para ele indirectamente e pode não gostar, pelo que me parece melhor não o mencionar. Certo?

- Está bem - replicou, um pouco surpreendida.

- Gostaria de vê-la muitas mais vezes - acrescentei, rapidamente. - Que lhe parece?

- Que me parece o quê?

Estava a fazer figura de idiota. Nunca actuei de forma tão estúpida em relação a uma rapariga. A maneira correcta de agir para com alguém que queremos engatar é, no final da noite, murmurar, sem grande relevo: "Depois telefono-te", e só telefonar ao fim de duas semanas. Isso fá-las sempre interessarem-se. Mas eu considero esta rapariga maravilhosa, doce e amorosa e queria que ela soubesse o que sentia. Estávamos no exterior.

- Horas da festa - disse e ajudei-a a entrar no carro.

Eu tinha razão, chegámos demasiado cedo. Steve veio à porta, em calções e camisola.

- Entrem - disse. - A tua garrafa?

Esquecera-me que ele pedira para levar uma garrafa.

Carolyn apareceu, envolta numa camisa de dormir cor-de-rosa.

Não trazia nada por baixo e reparei na firmeza dos seus seios pequenos; recordei a noite que passámos juntos. Era uma entusiasta!

- Tony, és mesmo avarento - disse ela. - Sem garrafa, francamente. Penso que te esqueceste. - Sorriu para Alexandra. - Olá, chamo-me Carolyn.

Alexandra retribuiu o sorriso e reparei que os seus olhos vagueavam pelo baixo ventre de Steve. Fiquei um pouco corado.

- Fiquem à vontade - disse Steve. - Vamo-nos vestir. Abre a porta se alguém tocar.

- Oh, ele é fantástico - murmurou Alexandra quando Steve desapareceu.

- Sim, bem vi que gostou dele - repliquei secamente, mas ela não entendeu o sarcasmo.

Preparei um vodka, que foi a única coisa que encontrei. Fez uma careta, mas bebeu, mesmo assim. Não vi comida em lado nenhum. Quem era o avarento era o Steve.

A ralé não tardou a chegar. Todos os rostos familiares. Que cidade pequena, Londres é. Espalhei a novidade que ia para Nova Iorque para abrir um clube. Toda a gente ficou adequadamente impressionada. As festas de Steve eram boas no início; só umas duas horas depois começavam a adquirir demasiado entusiasmo.

Alexandra parecia bastante feliz, sentada com o seu vodka (o terceiro, tenciono deitá-la abaixo).

Steve disse:

- Quem é a gatinha?

Filho da mãe nojento - nunca pensei que fosse do seu tipo. Conversou um pouco com ela e nunca arredei pé. E, então, quem havia de entrar? "A Fanhosa".

- Oh, Tony, é esta a tua mãe? - perguntou, na sua voz alta e nasal. Apeteceu-me matá-la. - És um reles filho da puta - disse, em tom mais baixo. - Eu não preciso de ti.

Então, por que não me deixava em paz?

Pensei para comigo que eram horas de irmos embora. Não queria Alexandra envolvida nas cenas de cocaína e "erva" que se iniciavam.

- Vamos - disse -, chegou a altura de arranjarmos algo para comer.

- Sinto-me mal - proferiu-, como que tonta.

Ajudei-a a levantar e a apoiar-se em mim. Apercebi-me que estava embriagada; por minha culpa. Janine disse:

- Adeus, Don Juan. - Tinha, realmente, uma grande boca.

Cá fora, o ar frio atingiu Alexandra como uma tonelada de tijolos. Agarrou-se ao meu casaco e disse:

- Estou mal disposta.

Vomitou, então, não atingindo o meu casaco por pouco. Começou depois a chorar e senti-me como a pior merda do mundo.

- Por favor, leva-me a casa - murmurou. Assim terminava a grande noite de farra.

Meti-a no carro e ela aconchegou-se miseravelmente no assento.

- Estou tão envergonhada - proferiu, em voz fraca. - Nunca me aconteceu nada assim na minha vida.

- Não te preocupes - disse. - Acontece a toda a gente. Bebeste apenas um pouco demais; não tardarás a sentir-te melhor.

- Lamento imenso. - Estava, realmente, em mau estado.

- Tive uma idéia. Vamos até minha casa e preparo-te uns ovos e poderás descansar um pouco.

Fez uma careta.

- Não conseguiria comer, ugh! A única coisa que quero é enfiar-me numa cama e esconder-me.

Será que ela não percebia que era exactamente isso que eu tinha em mente?

- Então, e se for um bom café forte?

Inclinou a cabeça e rumei o tipo na direcção do meu apartamento. Liguei o rádio do carro - um pouco de Aretha Franklin numa música suave - muito agradável. As coisas começavam a compor-se.

Chegámos e Alexandra disse:

- Onde estamos?

- Na minha casa, vou preparar-te um café quente.

- Oh, Tony, já dei tanta maçada. Eu posso fazer café, não é preciso estares a incomodar-te. Deixa-me em casa e já não te aborreço mais.

Seria ela muito esperta ou genuinamente inocente?

Apeei-me do carro e ajudei-a a sair.

- Não incomodas.

Estava um pouco pálida mas, ao vomitar, ficara melhor. Permanecemos junto do carro.

- Prefiro ir para casa - disse. - Sentir-me-ei muito melhor.

- Não sejas pateta - estava determinado a levá-la ao meu apartamento-, sentir-te-ás muito melhor depois de um pouco de café.

- Não, Tony, sinceramente, tenho de ir para casa. - começou a entrar no carro.

Bem, não podia ficar ali a discutir toda a noite. A mãezinha provavelmente alertara-a quanto a ir para os apartamentos dos grandes homens maus e a mãezinha tinha razão.

Entrei também no carro.

Sorriu para mim.

- Estás a ser muito simpático.

Como podia eu resistir àqueles olhos castanhos líquidos? Levei-a a casa. Acompanhei-a até à porta, apertámos as mãos (idéia dela, não minha), beijei-a no rosto (idéia minha), disse adeus e prometi telefonar-lhe assim que regressasse de Nova Iorque.

- Óptimo - disse e entrou no apartamento, fechando a porta na minha cara mais rápida que um relâmpago. Encantador!

Mas era uma miúda adorável e eu podia esperar.

 

         ALEXANDRA

O meu primeiro dia na McLoughton & Co. foi horrível. Para começar, cheguei atrasada, o que era imperdoável no primeiro dia de alguém; em segundo lugar, sentia-me mal, com o que supunha ser a minha primeira ressaca; e, em terceiro lugar, segundo Madelaine, tudo o que Michael dissera a meu respeito na noite anterior fora: "Que vestido ridículo".

Para além do mais, não estava bem certa se gostava de trabalhar. Sentia-me ansiosa que chegassem as cinco horas, altura em que podia correr para casa e conversar convenientemente com Maddy.

Felizmente, as cinco horas acabaram por chegar e apanhei um táxi para casa, Maddy estava refastelada, lendo revistas. A felizarda só começaria a trabalhar na próxima semana.

- Que tal correu? - perguntou. - Tens um superpatrão que olha para as tuas pernas quando estás a tomar notas?

- Não, tenho um velho rabujento que nem sequer sabe o que são pernas!

Rimo-nos ambas.

- O que há para o jantar? - perguntei. Planeámos estabelecer turnos para organizar as refeições e, hoje, era a vez de Maddy.

- Carne assada e pudim de Yorkshire - para começar, purê de pêra abacate, para terminar, creme de caramelo. Excedemos já o nosso orçamento e Michael e Jonathan vêm para jantar. Pensei que ias ficar satisfeita.

- Como conseguiste isso?

- Foi fácil. Limitei-me a convidá-los. O meu irmão não é pessoa para recusar uma refeição gratuita.

Fiquei encantada.

- Que posso eu vestir? - lamentei-me. A roupa em Londres era um grande problema. Tinha de ir às compras.

- Umas calças e uma camisola apertada. Ele que veja o teu peito, talvez isso o atraia.

Tinha de admitir que o meu peito era um dos meus melhores atributos.

Dado que não possuía uma camisola apertada, pedi uma a Maddy. Ficava realmente bem.

- Oh! - disse Maddy. - tens soutien?

- Claro.

- Tira-o. Os homens gostam mais de ver as mulheres sem eles. - não posso fazer isso.

- Queres apanhá-lo nas tuas garras malignas, não queres? Regressei ao quarto, despi o soutien e voltei a vestir a camisola.

Notava-se que não o trazia, os meus seios balançavam quando caminhava.

Michael e Jonathan chegaram, viram uma série de detectives na televisão e devoraram tudo o que havia para comer.

Michael, que me ignorara toda a noite, acabou por dizer:

- Que tal correu a festa de ontem à noite?

- Foi óptima, mas eu fiquei...

Antes que pudesse acabar, Maddy afirmou rapidamente:

- Ficou com um encontro marcado com Steve Scott. Está louco por ela,

- Estás mesmo a conhecer Londres - disse Michael rispidamente-, começas já a envolver-te com as pessoas certas. Aposto que a tua mãe não ficaria muito satisfeita com a companhia que

- arranjaste.

Era insuportável! Viram mais um pouco de televisão e partiram. Decidi que o odiava.

Madelaine riu-se mal eles saíram.

- Está a resultar - disse. - Penso que está com ciúmes.

- Não é verdade, é tão sarcástico para comigo.

- É bom sinal. Finalmente está consciente da tua existência, já não és a miúda que ele conhece de há longa data. E não conseguiu tirar os olhos da tua camisola. Verás, há-de pedir-te para saíres com ele.

- Acreditas mesmo que sim? - afirmei, empilhando os pratos e levando-os para a cozinha.

- Sim, aposto.

Arrumámos tudo. Estava realmente exausta, com a ressaca, o primeiro dia de trabalho e o jantar. Tomei banho, escovei o cabelo e atirei-me para a cama. Não tardei a adormecer e tive um sonho horrível, onde aparecia no trabalho totalmente nua e muitos dedos dactilografavam no meu corpo. Então, os meus seios transformaram-se em máquinas de escrever, o Michael chegou, olhou para mim e voltou-me as costas, com repugnância.

 

         TONY

Creio que nunca conheci uma rapariga como Alexandra. É tão inocente, menina, bonita e afável. Tem um aspecto óptimo. Limpo, arrumado e jovem; gosto realmente dela. Nem o pensamento da minha ida a Nova Iorque me excita tanto; quanto a Fontaine, essa não me excita mesmo nada. Tendo em conta a relação próxima envolvida, o melhor será evitar Fontaine completamente. (Impossível! ) A única saída seria deixar o Hobo e abrir um estabelecimento meu. Mas, o velho problema continuava a pôr-se - dinheiro.

Gostei da hospedeira que circulava para cima e para baixo no corredor do avião, numa saia justa. Aposto que tem alguma coisa à sua espera em Nova Iorque. Sammy diz que já o fez uma vez no avião, numa viagem nocturna para o sul de França. De acordo com a sua versão, fê-lo com a hospedeira na casa de banho; um pouco apertado, aposto.

- Posso arranjar-lhe alguma coisa? - sorriu para mim, ignorando a senhora de idade sentada ao meu lado.

- Sim, mas não creio que esteja no menu.

Riu-se, compreendendo. Estas hospedeiras não eram de compreensão lenta.

- Deseja ver o filme? - puxou para baixo a saia justa.

- Há outras sugestões? Outra gargalhada.

- Bem, alguns passageiros sentam-se lá atrás, no caso de terem já visto o filme.

Não restavam dúvidas. Sou irresistível para as mulheres. - Nesse caso, vou-me sentar lá atrás.

- Óptimo. - Outro sorriso e, depois, apagando-o, inclinou-se para a senhora de idade e disse, rispidamente: - se quiser ver o filme, terá de pagar sessenta pence. - Chegou até mim o aroma do perfume barato mas sexy.

Só estávamos no ar há uma hora, mas as coisas pareciam correr bem.

Após um intervalo decente de cerca de três minutos, segui a saia justa até às traseiras do avião. Estava ocupada, com outra colega, a retirar tabuleiros de folha metálica com carne assada fria, salada de batata congelada e ovos cozidos duros, que viram já dias melhores.

- Precisa de ajuda? - perguntei, tentando entrar na pequena cozinha.

- Lamento, mas não é permitido entrar aqui. - Sorriu, como que para apagar as suas palavras. - Pode sentar-se em qualquer um dos bancos de trás, se quiser. Ficarei disponível quando o filme começar.

A outra rapariga riu-se também para mim. Estava bronzeada e tinha sardas. Prometia ser uma boa tarde.

Sentei-me junto da janela, observei a vastidão de céu e mar e adormeci.

Fui acordado pela Miss Saia Justa, que se sentara junto de mim. Não parei de pensar na experiência de Sammy.

- Já alguma vez fez um vôo nocturno para Nice? - inquiri, casualmente.

- Por acaso, já fiz, antes estive colocada nesse percurso. Oh, não, não podia ser verdade!

O filme estava a ser projectado e o avião encontrava-se na obscuridade. Encontrávamo-nos sentados nos dois bancos interiores, de um grupo de três, e não havia ninguém do outro lado do corredor.

- Qual é a acção? - perguntei.

- O que lhe apetecer - replicou. Francamente, tinha que ser a mesma rapariga.

Pensei em Alexandra, tão doce e inocente. Creio que não estaria a ser infiel, dado que nada se passara com ela; ainda. Coloquei uma mão no joelho da hospedeira.

- Oh, então - disse -, pode fazer melhor que isso. - Puxou uma manta enorme para cima de nós. - A Shirley avisar-nos-á se alguém vier cá abaixo para ir à casa de banho.

Que cena. Por baixo do cobertor, enfiei a mão pela saia justa acima. Moveu-se no assento, auxiliando-me. Não tinha nada por debaixo; como ela facilitava as coisas! Desapertei-lhe o soutien por debaixo da blusa. Os seus seios eram pequenos, mas agradáveis. Queria vê-los, mas ali estávamos, amontoados por debaixo da manta.

Desapertou-me as calças e, num movimento hábil, virou-se para mim e, de seguida, eu subi e trepei!

- E os pilotos e as hospedeiras? - perguntei. Ela ria-se e contorcia-se a um bom ritmo.

- Não tenha receio, estão todos ocupados a beber lá à frente - disse, ofegante.

Muito bem, os pilotos bebiam à frente e a hospedeira fornicava atrás. Não voltaria a viajar nesta linha aérea!

- Depressa, vem aí alguém - murmurou uma voz. Era Shirley, e como ela tinha razão.

Oh, meu Deus; divertimento a 8000 metros de altitude. Mal tinha acabado quando a saia justa foi puxada para baixo e, num só movimento, levantou-se, alisou a saia e sorriu para o passageiro que se dirigia à casa de banho.

- Está tudo bem, sir? Ele inclinou a cabeça.

- Gostaria de tomar um whisky com soda, será possível? Pestanejou para mim, destruído por debaixo da manta.

- Tudo é possível nesta linha aérea, sir.

Apertou o soutien com destreza quando o outro' seguiu o seu caminho.

- Não sei o seu nome - disse, para mim-, mas espero que volte a viajar connosco.

Regressei ao meu lugar. De nada servia ficar por ali. A velha senhora sorriu para mim e inclinou a cabeça.

- Uma viagem agradável - disse.

- Sem dúvida!

- Perdão?

- Nada. - Recostei-me no meu assento e vi o resto de um filme com Doris Day, sem som. Uma Doris Day sem som é sempre melhor que uma a falar. Como estava cansado. Dormi até que a Miss Saia Justa apareceu, abanando-me o ombro e dizendo:

- Aperte o cinto, por favor, vamos aterrar.

Retocara a pintura e vestira um casaco e um boné a condizer. Muito elegante e eficiente.

Bocejei e inspeccionei a vista. Nova Iorque estendia-se a meus pés. Que visão! Perguntei a mim mesmo o que estaria Alexandra a fazer naquele momento. Pobre garota, ficar assim mal disposta. Rabisquei um postal rápido, convenientemente fornecido em conjunto com um saco de papel para vomitar.

"Querida A. Vôo aborrecido. Bebeste um bom vodka ultimamente? Até breve, Tony. "

Ao sair, entreguei-o a Miss Saia Justa para que o metesse no correio.

- Que faz logo à noite? - perguntei, mais para fazer conversa do que para qualquer outra coisa.

Ofereceu-me um largo sorriso.

- vou dar uma volta pela cidade com o meu noivo. É piloto,

Encantador!

Passei pela Imigração e Alfândega. Um visto de emergência estava à minha espera no aeroporto de Londres, tal como um certificado de vacinação. O dinheiro pode comprar tudo. Fontaine esperava por mim, envolta em marta, calçada de crocodilo. Fiquei surpreendido; nunca pensei que os aeroportos também servissem para se exibir. Forcei um sorriso na sua direcção. Toda a gente olhava para ela duas vezes, era esse tipo de mulher, Queria que a beijasse. Ofereceu aquele rosto elegante e cinzelado, mas eu não ia cair nessa, com toda a gente a olhar para nós. Benjamin podia ter mandado alguém segui-la ou qualquer coisa do género, e eu não iria ser o patinho. Disse:

- Que tal correu a viagem?

- Bem. - Bocejei, toda a minha actividade me estava a deitar abaixo! - vi um filme, bebi um pouco. De que se trata tudo isto, afinal?

Encolheu os ombros. - Apenas uma idéia que tive. - já arranjaste localização?

- Oh, não, não estamos assim tão avançados. Pensei primeiro em ouvir a tua opinião e saber o que achas. Podemos visitar toda a concorrência e poderás decidir se será uma boa idéia. Não consegui evitar de rir. - queres dizer que o pânico todo era apenas para eu ver o que há?

- Sim, na verdade, era. Pensei que ficarias excitado por conheceres Nova Iorque.

- Sim, mas tinha de partir como o tiro de uma pistola?

- Francamente, Tony, estou surpreendida contigo. Querias vir enquanto eu cá estivesse, não é verdade?

Inclinei a cabeça. Encontrávamo-nos já no seu carro e pediu ao motorista que nos levasse ao apartamento dela.

- Reservei um quarto para ti num hotel - disse-, podes ir para lá depois. Como vai o Hobo? Foi lá algum amigo meu? Vanessa e Leonard?

- Não os vi.

- Nem sequer a ela?

Fitei a encantadora Fontaine. Que raio queria ela dizer com aquilo? Mas ela sorriu docemente.

- Que te parece Nova Iorque? A cidade de contos de fadas e caixotes de lixo, bailes de sociedade e tumultos. Aqui, pode-se ter tudo ou fazer qualquer coisa, desde que se tenha o dinheiro, claro. Planeei uma série de coisas excitantes para esta noite.

Olhei ao meu redor. Tudo o que vi foi arranha-céus, pessoas apressadas e engarrafamentos.

O apartamento dela era espectacular! Enorme e muito moderno, no último piso do edifício mais alto que jamais vira, rodeado por um jardim, com um mordomo oriental chamado Adamo, com pronúncia inglesa e vestido com uma túnica harmoniosa. Realmente de mais!

Era o cenário habitual. O empregado fazendo vénias, servindo bebidas e depois desaparecendo. Este saiu do apartamento, sempre voltado para nós, com um sorriso tão inane no rosto que pensei fosse saltar da túnica.

- Que maravilha! - disse. - nunca vi nada assim. Esta vista é espectacular.

- E que tal esta vista?

Era a Fontaine de sempre; despira a roupa e incitava-me.

Oh, não, depois da noite anterior, da viagem e da sua relação familiar com Alexandra, não sabia se o iria conseguir. Mas a resistência logo o dirá, e tentei fazer o melhor. Que poderia eu fazer? Alexandra nunca me perdoaria isto mas, que podia eu fazer?

A minha mente divagava em dezasseis direcções diferentes, todas no caminho oposto à senhora por baixo de mim.

"Aquela mulher horrível", como Alex a descreveu. E era uma mulher horrível. Encantara-me, da primeira vez, com todo o seu deslumbramento e fama mas, agora, via através dela. Uma ninfomaníaca da sociedade, era o que ela era.

- Estás sem prática, Tony. - A sua voz era fria e aguçada. Terminei antes que ela estivesse pronta e subiu as paredes. Mal sabia ela que muita sorte ainda tinha em receber qualquer coisa, depois do que se passara no avião.

- Sim, também, o que esperavas, não tens lá estado.

- Oh, por favor, Tony. Não vamos fingir que somos duas pessoas virgens e inocentes. - Voltou-se no chão. - Acaba o trabalho, pelo amor de Deus.

Obedeci.

Esta é realmente uma grande cidade. Grandes hotéis, TV fantástica no quarto, com muitos canais. Desde que o motorista me trouxe para o hotel, há duas horas atrás, mudei de estação dez vezes. É só escolher - concursos, filmes ingleses antigos, cowboys e índios.

É mesmo de mais! E o serviço de quarto? Formidável. Sanduíches com as quais só tinha sonhado. Já é a terceira vez que faço um pedido.

Isto é que é vida. Deitei-me na cama tamanho familiar após um duche, observando uma miúda loura com uma gabardina de plástico anunciando o tempo na TV. Fontaine vinha-me buscar às sete, ainda tinha uma hora.

Queria telefonar a Alexandra. Mas seria Benjamin quem iria pagar a conta e não me interessava que ele, no caso de investigar, descobrisse chamadas para a filha.

Digo-vos, as mulheres casadas metem-me nojo, andam todas em busca de acção quando estão longe dos maridos. Não deve existir praticamente nenhuma mulher casada minha conhecida em relação à qual eu possa honestamente afirmar que não poderia possuir, se quisesse. Faz com que um homem pense duas vezes antes de se casar.

Para que estava eu a pensar em casamento, afinal? Não é coisa para mim, não depois de tudo o que tenho visto. Mas, se alguma vez me casar, será com Alexandra. A minha querida, Alexandra. E ela não tinha dinheiro, por isso, onde iria parar?

O que não significa que eu me importe pelo facto de ela não ter dinheiro - também penso que é um pouco forte por parte de Benjamin - mas eu também não tenho dinheiro, por isso nem podia pensar em casar. Alexandra Blake. Humm - não era muito lírico, mas era agradável, muito agradável. Imaginei as caras de Sadie e Sam se casasse com uma rapariga que não fosse "uma simpática rapariga judia". Ficariam zangados, mas pouco me importava, Era já um rapaz crescido.

Chegara a altura de me vestir. Fontaine tinha planos para o divertimento da noite; desenrolara uma lista de coisas que iríamos fazer, as quais me fizeram ficar tonto. Para começar, íamos a uma festa, depois ao apartamento de uns amigos dela e depois jantar e depois a uma série de discotecas e mais não sei quantas festas a que podíamos assistir.

Escolhi cuidadosamente o fato. Esta seria a primeira vez que apareceria em sociedade com Fontaine. Creio que, em circunstâncias normais, ficaria lisonjeado, mas, agora, as coisas eram diferentes, parecia mais um frete. Fora um dia em cheio.

Optei por uma camisa em lilás-pálido do Turnbull e Asser, feita à mão, claro. Na verdade, fora feita para Hal, mas ele não gostara da cor, por isso comprei-lha. Vestíamos o mesmo número de camisa, o que dava jeito. Tinha roupa óptima da qual se aborrecia rapidamente; e eu comprava-a a ele, por metade do preço inicial. Ganhava dinheiro dessa forma porque, provavelmente, fora alguma velha querida quem lhe comprara a roupa. Grande amigo, o Hal. O último dos grandes promotores.

Para fazer conjunto com a camisa, coloquei uma gravata às bolinhas, do mesmo tom. O fato era preto. com ele, usava botões de punho em pérola e um alfinete de gravata; meias e sapatos pretos. Não havia dúvida, estava realmente bem.

A recepção telefonou-me para me avisar de que um carro me aguardava.

Óptimo. Cidade de Nova Iorque, aqui vou eu!

 

         FONTAINE

Depois de Tony ter saído e o motorista ter regressado, fui receber a minha massagem. Mãos quentes e suadas martelando e esmurrando a minha pele branca. Depois, um banho de vapor delicioso, seguido de uma massagem suave com óleo de amêndoas, o seu odor penetrando no meu corpo.

Oh, que luxo - quase tão bom quanto o sexo. Envolta em toalhas cor-de-rosa, lavaram-me e secaram-me o cabelo.

Estou no lady's Parlour, o mais recente salão de beleza e, devo dizer, muito impressionante.

Sarah arrastou-me até cá imediatamente após a minha chegada.

- É tão divino, querida, virás dezoito vezes.

É a beleza, numa atmosfera afrodisíaca. Todos os rapazes que aqui trabalham são homossexuais, é como que um harém com eunucos preparando-nos para a fantasia da noite. Pensei em Tony.

Continuava atraente como sempre, aquele algo animal, aquela palidez misteriosa de clube nocturno que contrasta de forma tão excitante com o seu cabelo negro farto. É uma pena que não seja um pouco mais inteligente. Claro que, se o fosse, não estaria a desperdiçar a sua vida numa discoteca.

Pobre Tony. Pobre garanhão. O que lhe acontecerá quando o seu corpo firme e cabelo encaracolado tiverem desaparecido? Quem o quererá então? Na verdade, depois da sua actuação de hoje, diria que não estava nada em forma.

Roger penteou-me o cabelo, o pequeno Roger com uma massa de caracóis dourados e lábios franzidos de meretriz.

- Querida, consegue imaginar o que a Clarissa levou vestido ontem à noite para a première? Parecia um elefante bebé amarelo!

Ridículo. O meu amigo diz que o vestido dela era um Rudy Gernreich, mas não acredito que o Rudi fosse tão mau.

Sorri. O que Roger tinha de bem era o facto de podermos ficar sentadas a escutar toda a bisbilhotice. As suas histórias maldosas eram infindáveis.

Continuou:

- Ontem vi um filme horrível. No entanto, as roupas eram espectaculares, muito na moda. Você ficaria divina em cetim branco e muita pele de raposa. Acho que vou pentear o seu cabelo ao estilo grego. Enfeitá-lo com pérolas e coisas do gênero.

Sentia-me tão bem da massagem, o meu corpo latejava. Oh, meu Deus, se estas madames pudessem ver o Tony, derretiam-se todas!

Tony começava a adquirir uma atraente qualidade de autoconfiança; comigo, sempre fora bajulador e idólatra, agora parece tratar-me de uma forma mais fria. Embora, claro, fosse ainda um escuteiro quando se tratava de coisas materiais. Como a sua boca se abrira quando viu o meu apartamento. O garanhão, rondando e cheirando o luxo!

É óbvio que eu sei que, mais cedo ou mais tarde, começaria a bater as asas, mas estou certa que esta viagem o acalmará e o fará compreender com quem lida. Afinal, não há muitas mulheres como eu e, por mais relações em que ele se envolva, não tardará a descobrir isso.

Roger fez maravilhas com o meu cabelo.

- Divirta-se muito - disse, dando um passo atrás para admirar o seu trabalho.

Fui para casa e telefonei a Sarah; íamos jantar todos juntos. Não lhe contei sobre Tony. Disse apenas que iria connosco um sócio dos negócios de Benjamin. Estava ansiosa por ver a sua cara!

- Que vais levar vestido? - perguntou ela.

- Ainda não decidi - repliquei, embora fosse levar o Cardin preto de seda, sem costas.

- Nem eu. - Que mentirosa,

- Encontramo-nos cerca das oito. Vou dar uma saltada à festa dos Carlton.

- Que aborrecido. São uns exibidores, Alan não pode com eles. (Na verdade, sabia que Sarah e Alan não tinham sido convidados,

dado que Salamanda Smith, uma estrela de cinema de Hollywood, e Alan foram um tema muito quente no Verão anterior; Peter Carlton, com quem ela casara depois, era terrivelmente ciumento. Oh, as complexidades da sociedade.

- Os Bell e Sidwell vão também ter a tua casa?

- Sim, está tudo combinado - Sarah baixou o tom de voz -, tive uma tarde maravilhosa. Já alguma vez tentaste ioga?

Não me queria envolver numa das discussões sexuais de Sarah, iniciavam-se sempre com um tom de voz baixo.

- Sim, querida, muitas vezes. Até logo. - Desliguei.

 

         TONY

Fontaine é a maior negociante de todos os tempos. Aqui estou eu, com óptimo aspecto, sentindo-me com a melhor das disposições, pronto a avançar e ela dá-me um dos seus pequenos sorrisos e diz:

- Tony, querido, temos realmente de parar num sítio qualquer para te comprar uma gravata decente. Não podes sair assim.

Ela que se lixe, ali sentada com aquele cabelo, mais parecendo uma rainha do Carnaval. Quem pensa ela que é? Não me possui e não tardará a descobri-lo.

Arrastou-me para uma loja e acumulou-me com seis das piores gravatas que se possam imaginar. Importadas, no entanto, provavelmente não teriam comprador no país de onde vieram.

Pus a melhor do conjunto, apenas para a manter feliz e irritei-me em silêncio. Fontaine era uma vaca velha. Ainda encarei a hipótese de a mandar dar uma volta, mas não tinha dinheiro para pagar o hotel e, se o fizesse, podia estar certo que, ao regressar, estaria sem trabalho.

Mrs. Khaled tinha-me nas mãos e, o que era pior, sabia-o bem.

Chegámos à festa. Estava muita gente, mas todos se voltaram para olhar para nós. Fontaine nem se incomodara em me dizer de quem era a festa, mas depressa percebi, quando Salamanda Smith, a Salamanda Smith, entrou, como que valsando.

Era uma miúda gira, corpo bem delineado e loura, com um par de tetas que atraíam a atenção dos nossos olhos. Vira-a num filme rodado no deserto, do tipo cheio de sexo e areia. Fontaine apoderou-se logo dela, mas eu podia ver que tinha os olhos (azul-bebé) postos em mim, e começámos a falar no seu último filme.

Tinha de ir cumprimentar mais pessoas e Fontaine desaparecera, pelo que me encontrava entregue a mim mesmo. Circulei e apoderei-me de um scotch de um tipo de casaco branco que me tratou por "Copincha" e que se encontrava realmente embriagado. Seria criado? Pelo modo como agia, não estava muito certo. Mas pegou numa bandeja, arrotou e partiu na direcção de alguns convidados, pelo que depreendi que deveria ser.

Foi de encontro a uma coluna a imitar o mármore e esta oscilou, mantendo-se contudo erecta; depois, cambaleou com a bandeja, enquanto se dirigia a umas pessoas e mãos estenderam-se como abutres, aliviando-o dos copos. Voltou, pouco seguro, na minha direcção.

- Rica festa - murmurou-, muito para beber.

Partiu então de novo na direcção de Salamanda e, deixando cair a bandeja com grande estrondo, agarrou-a com uma mão e, com a outra, desapertou a braguilha e disse:

- Prova um pouco disto, querida!

Registou-se um curto silêncio, enquanto ela lutava para se libertar. Depois, três tipos saltaram para cima do criado.

Na verdade, foi uma cena divertida. Salamanda respirou fundo, sorriu e o criado foi arrastado, o sangue pingando do rosto, para fora da sala. Óptimo! Contei até dez, sabendo que Fontaine apareceria junto de mim, ansiosa por ouvir tudo.

Fontaine - a última das grandes coscuvilheiras. Apareceu ao meu lado, quando chegava aos nove.

- Que aconteceu? - Os seus olhos, de pálpebras prateadas, brilhavam de ansiedade.

- Apenas um criado embriagado, nada de especial.

- Oh- revelou-se desapontada-, foi só isso.

Salamanda recontava a história a um pequeno grupo que a rodeava e Fontaine aproximou-se. Segui-a. Ela dizia apenas "e ali estava sua coisa enorme! Fitando-me no rosto! "

Fontaine lançou-me um olhar irado. Não lhe contara o melhor.

Desejei poder telefonar a Alexandra. Olhei em redor em busca de um telefone. Ninguém iria reparar que estava a fazer uma chamada rápida para Londres. Saí da sala, olhei em redor e encontrei um quarto vazio, com um modelo brilhante e dourado, junto da cama. Peguei nele rapidamente.

- Uma chamada intercontinental, por favor; Londres, Inglaterra, uma chamada particular para Miss Alexandra Khaled, 8934434. Não, eu espero.

Uma linda rapariga entrou no quarto, longo cabelo liso preto, longo corpo preto. Olhou directamente para mim.

- Vai depois ao Marcello?

- Quem é o Marcello?

Os olhos dela eram como que de pedra, sem qualquer sorriso.

- Está a brincar comigo?

- Não - abanei a cabeça e pestanejei. - quem é ele? Não sou de cá.

- Ah, Deus Todo-Poderoso. - Alisou o cabelo longo e preto. - Marcello é um restaurante, homem, parece que toda a gente vai para lá, estou à procura de alguém que me leve. Está interessado?

Sim, estava interessado, mas não disponível.

- Estou acompanhado. Que tal outra noite? Os seus olhos percorreram-me de cima a baixo.

- Sim, talvez.

Nesse momento, a telefonista disse:

- vou fazer agora a ligação.

Depois, a voz de Alexandra, nítida e doce.

- Está?

A rapariga penteava o cabelo no espelho.

- Olá, querida, como estás hoje?

- Oh, Tony, é simpático da tua parte telefonares-me da América. Estou muito melhor, obrigada. Sinto-me tão idiota em relação à noite passada.

Fui invadido por uma certa ternura.

- não voltes a pensar nisso. A culpa foi minha por te ter levado para uma porcaria de festa como aquela. Que estás a fazer?

- Estou na cama. Imaginei-a com o cabelo escovado e brilhante e uma leve camisa de dormir cor-de-rosa.

- É o melhor sítio para se estar. - olhei para a rapariga. Andava de um lado para o outro. Cobri o bocal do telefone: - escreva o número do seu telefone - disse-lhe. Falei de novo para Alexandra - tenho sentido a tua falta.

E era verdade. A rapariga escreveu Norma e um número numa carteira de fósforos e atirou-os para mim, saindo de seguida. Alexandra estava em silêncio.

- Disse que tenho sentido a tua falta.

- Eu sei - a sua voz não passava de um murmúrio.

- Então?

- Então, o quê?

- Sentiste a minha falta?

- não sei. Quero dizer, ainda só estiveste fora um dia e, afinal, não nos conhecemos muito bem. - fez uma pausa. - sim, sinto a tua falta.

O meu coração deu um salto.

- vou regressar em breve e, então, poderemos conhecer-nos muito melhor. Sê boa rapariga.

- Sim. - tinha uma pronúncia encantadora.

- Até breve. - desliguei. Era bom estar vivo. Olhei para a minha imagem no espelho. Estava com bom aspecto, mas desejei estar bronzeado. Talvez Fontaine gostasse de ir passar alguns dias à Flórida.

Regressei à festa e descobri Fontaine. Reunira uma corte à sua volta, a pronúncia britânica espalhando-se pela sala. Quando parou para tomar ar, reparou em mim.

- Oh, estás aí, temos de ir andando.

Não se mostrava tão amigável para mim como era habitual. Nunca sabíamos com o que podíamos contar com Fontaine, tão depressa estava bem como mal. Talvez não gostasse que eu saísse com ela, talvez pensasse que eu não era suficientemente bom. Servia para fornicar, mas não para os amigos. Franzi o sobrolho. Ela mirou-me. Partimos.

No carro, disse, impacientemente:

- Sabes, Tony, não devias actuar tanto como um provinciano. Pensava que, nesta altura, já estarias habituado a lidar com celebridades.

Eu, um provinciano! Fiquei chocado! Podia ser tudo, menos isso. Bateu com as unhas de garra na pequena bolsa dourada (verdadeira, claro) e acrescentou:

- Fizeste figura de idiota com a Salamanda. Actuaste como um admirador de filmes. Não sabes que, há cinco anos atrás, fazia strip-tease e tu, qualquer um, a podia ter por dez dólares?

Aprendi uma lição na vida. Nunca discutir com uma mulher quando esta está a deitar abaixo uma outra mulher.

- Sim, tens razão - concedi. Quem precisava de discutir? Ficou menos severa.

- Apenas não o esqueças - provavelmente hás-de conhecer muitas estrelas importantes enquanto cá estiveres. Não menciones o trabalho delas ou qualquer coisa a esse respeito; socialmente, não fica bem.

Vaca estúpida! Bocejei.

- Adoraria ir à Flórida. Ignorou-me.

Chegámos a um enorme bloco de apartamentos e o porteiro quase partiu o pescoço ao auxiliar Sua Senhoria a apear-se do carro.

- Estes são os meus amigos mais queridos em Nova Iorque - disse Fontaine-, Sarah e Alan Grant, um casal maravilhoso. Não me envergonhes.

Que pensava ela que eu ia fazer? Mijar para a carpeta ou quê?

Entrámos num apartamento fenomenal, no rés-do-chão. Grande, escuro, repleto de antigüidades, animais embalsamados e plantas altas. Muito agradável. O que uma pessoa podia fazer ali!

Aproximou-se uma senhora para nos cumprimentar, rosto ossudo, cabelo preto puxado para trás e mais branca que a pele branca. Parecia que sofria de subnutrição. Ela e Fontaine beijaram-se, inspeccionando a roupa uma da outra com os olhos. Depois, Fontaine afirmou:

- Sara, gostaria de te apresentar o Tony. Benjamin mandou-o. Meu Deus, referia-se a mim como se fosse um embrulho! Sarah

mirou-me. Possuía uns olhos negros que nos observavam integralmente. Os lábios eram finos e pintados de vermelho-escuro. Penso que deve ter cerca de quarenta. Para quem gosta de tipas mais velhas e magras como um esqueleto, ela era um espanto. Eu, pessoalmente, não gosto. Olhava ora para mim ora para Fontaine, e sorria.

- Bem, que surpresa. Fontaine sorriu também.

- Sim-disse e, de braço dado, dirigiram-se para o bar, deixando-me ali em pé, como um idiota.

Sentadas, encontravam-se mais umas quatro ou cinco pessoas e um tipo levantou-se e aproximou-se. Tinha o que as revistas de mulheres chamariam, uma cara máscula e bonita. Vestia um fato cinzento, sem formato.

- Alan Grant - disse, apertando-me a mão e lançando-me um piscar de olhos divertido.

- Tony Blake.

- Venha tomar uma bebida. - Levou-me até ao bar e preparou-me uma boa quantidade de scotch com gelo. Preparou para si um ainda maior e despachou-o em três enormes goles. Arranjou outro e disse:

- Quem é você?

Encantador! Eu adorava perguntas desse gênero de uma pessoa completamente estranha. Que se diz, numa altura destas? O Papa? Gunga Din?

- Vim até cá para cuidar das propriedades de Benjamin Khaled.

- Oh, nesse caso, tem uma relação amorosa com a encantadora Mrs. Khaled?

Que queria ele? Que lhe desse um murro? Felizmente, Fontaine chegou.

- Alan, seu maroto, que estás a dizer?

Estava a insinuar-se, atitude nela que me deixava ficar louco.

Ele riu-se.

- Nada. Como estás, minha querida?

- Bem. - Os seus olhos encontraram-se, no tipo de intimidade habitualmente reservada aos amantes. O que, provavelmente, eram. Esse era, afinal, o comportamento normal de Fontaine, caçar os maridos das suas melhores amigas. Pouco me importava. A minha pequena Alexandra estava enfiada na cama e era apenas isso que me interessava.

Sarah pegou no meu braço.

- Venha, Tony, quero que conheça os outros. Esforcei-me por me lembrar onde a tinha já visto. Orgulho-me de nunca esquecer um rosto e sabia que já tinha visto esta mulher em qualquer outro lado. Nunca estivera no clube, disso estava certo. Era, certamente, muito vistosa, embora, como já referi, não fosse do meu tipo. A sua mão apoiava-se fragilmente no meu braço. Os dedos de esqueleto penetrando-o. Subitamente, recordei-me de onde a conhecia. Da revista Vogue, de há três meses atrás, um grande plano dela nas Bermudas, ou lá o que era, fazendo passagem de modelos de praia exóticos. Bem vos disse que tinha uma excelente memória. Sarah Grant - uma grande da sociedade - cidade de Nova Iorque.

- Fontaine nunca me falou em si - afirmou, numa voz profunda-, você é divino.

daquelas que vão logo para a cama, é preciso acautelar-me, não quero aborrecer a Sua Senhoria.

Fui então apresentado aos outros, também casais ricos; nenhuma das mulheres se podia pôr no mesmo plano que Fontaine ou Sarah e os homens eram insípidos, movendo-se numa nuvem de fumo de charutos.

Após alguns momentos de conversa, saímos, num comboio de carros com motorista.

A primeira paragem era para jantar, num restaurante exclusivo na Quinta Avenida, com plantas de estufa enormes e empregados de jaquetas douradas. Fiquei sentado entre Fontaine e Sarah, lutando numa batalha perdida para saborear a comida contra os aromas dos seus respectivos perfumes.

Ambas me ignoraram, conversando por delicadeza com o resto dos presentes na mesa. Não podia participar, dado que não sabia sobre quem ou o quê estavam a falar. Quem estava preparado para "Fleur encontrou Itsy em St. Moritz, tiveram uma zanga terrível e ele acabou por ficar com Poopsie no Mooey". Alan foi o único que falou comigo. Tive a impressão que estava tão aborrecido quanto eu.

Era então isto Nova Iorque; o circuito social número um. É pegar e largar.

O jantar arrastou-se e eu começava a sentir-me incapaz de parar de bocejar. Por fim, Fontaine disse:

- Acho que o melhor é levar o Tony ao Pickett, antes que caia a dormir em cima de nós.

Lançou-me um olhar negro, para que eu soubesse que estava furiosa por ter passado a noite a bocejar.

O Pickett foi o último disco a abrir e estava a ter um sucesso enorme. Já ouvira falar nele mas, mesmo assim, foi um choque.

Todo o interior do clube era como que a boca aberta de um monstro enorme.

Presas e teias de aranha pendiam de todo o lado e, num dente transparente pendendo do tecto como um aparelho luminoso, uma mulher praticamente nua oscilava ao som intenso de James Brown. Havia uma série de empregadas vestidas com finos pedaços de teias de aranha e muitas aparições instantâneas de um seio aqui, um rabo ali. Muito excitante, mas não aquilo que eu chamaria um local moderado. Afinal, quem precisava de prestidigitação? Quem vem à procura de divertimento são os clientes.

Fontaine fez a sua habitual entrada espectacular e o tipo que dirigia o clube quase lhe beijou os pés. Era baixo, moreno e de aspecto nervoso. Ali não havia concorrência.

Sentámo-nos a uma mesa com a forma de uma enorme mão mirrada e um miúdo adolescente, feliz no seu trajo de teia de aranha, recebeu os nossos pedidos. Champanhe para todos e scotch para mim.

- Para quê combater? - murmurou Alan. - Por que não se habitua aos hábitos dela?

- Só bebo scotch - retorqui.

- Anda, Alan querido, vamos mostrar-lhes. Fontaine começava a animar, ao arrastar Alan para dançar. - Quer? - perguntou-me Sarah, com o sobrolho arqueado, levantando-se sem aguardar pela minha resposta.

Segui-a para a pista de dança. Dançava de forma ainda mais desagradável que Fontaine.

Que raio fazia eu ali? Há seis meses atrás, teria dado tudo para me encontrar numa situação deste tipo, com estas pessoas; na verdade, nunca teria acreditado que fosse possível. Mas, agora; quem precisava disto? Tudo me estava a correr bem em Londres, não necessitava de andar atrás de Fontaine.

Ficámos uma hora no Pickett e depois fomos para The Flower Mission, um aglomerado estranho de símbolos psicodélicos e efeitos de luzes.

Nesta altura, os outros dois casais tinham desistido e restava apenas Fontaine, Sarah, Alan e eu, contra o mundo. Estávamos já todos bem bebidos.

- Já alguma vez estudou ioga? - perguntou-me Sarah, os olhos pretos trespassando e sondando.

- Não.

- Devia tentar. Tem um corpo poderoso. Estou certa que sobressairia nesse tipo de actividade.

- Tony - disse Fontaine excitada. - O Alan encontrou aqui um homem que nos pode arranjar cigarros. - A sua voz baixa ao referir a palavra cigarros percebi, com uma sensação de enjôo, que se referia a "erva". Era só o que eu precisava, uma das suas cenas de suposta malvadez por fumar "erva". É coisa que não me agrada, não me faz nada a não ser pôr-me a dormir e, pelo modo como Fontaine está a agir, se há coisa que ela não tem em mente é que eu adormeça.

- Vamos para casa de Sarah e Alan?

Não era uma pergunta, mas sim mais uma afirmação. Partimos, e o motorista levou-nos para o apartamento dos Grant. Quando chegámos, as duas mulheres desapareceram e Alan dirigiu-se, com esforço, para o bar. Não falava, limitou-se a deitar abaixo um grande copo de brandy e a revelar olheiras.

- Então, qual é a acção? - perguntei, servindo-me de uma bebida, dado que ele não ofereceu.

- Só Deus sabe - afirmou. - Tem sorte, pelo menos não é casado com a sua.

Que queria aquilo dizer?

Consultei o meu relógio. Eram três horas da manhã. Estava esgotado. Tentei calcular que horas seriam em Londres. Cinco horas de diferença, mas não me recordava em que sentido.

Sarah foi a primeira a regressar. Mudara para um cafetã brocado comprido e o cabelo preto estava penteado para baixo. Parecia vagamente indiana.

Seguiu-se Fontaine, o cabelo ainda armado no cimo da cabeça, mas trocara para uma coisa comprida, branca e flutuante, levemente transparente, e podia ver os contornos dos seus pequenos seios nus.

- Alan - disse Sarah -, e se tu e o Tony vestissem isto? - Entregou a cada um, um curto quimono preto de seda.

- Vamos - disse Alan, resignado.

Segui-o para uma outra sala. Despiu a roupa & colocou o quimono.

Sorriu, tristemente.

- Eu sei por que razão estou a fazer isto, e você? Sentia-me mal com tudo aquilo mas, que diabo, de certa forma era excitante. Vesti o quimono. A seda sabia bem. Desejei que não fosse tão curto, cobria-me apenas os tomates!

Voltámos para dentro. Fontaine e Sarah fumavam já, inspirando longas "passas". Fui-me sentar ao lado de Fontaine, mas ela encaminhou-me para Sarah! Oh, meu Deus, se os habituais me pudessem ver agora!

Soava uma estranha música japonesa e Sarah ofereceu-me o seu cigarro. Dei uma "passa". Estávamos sentados num sofá e, num outro sofá em frente, encontravam-se Fontaine e Alan.

Devolvi o cigarro a Sarah. Ela fumou-o e inclinou a cabeça para trás, lançando no ar pequenos anéis de fumo.

A minha vez. Isto até não era mau, senti um certo entorpecimento invadir-me e a música pareceu-me fantástica. Coloquei o cigarro de novo na boca dela e Sarah, inclinando-se, pôs as mãos debaixo do quimono. Os seus dedos pareciam tenazes ardentes ao percorrerem a minha carne.

Olhei para Fontaine. Estava encostada às almofadas e Alan retirava-lhe a coisa branca. Observei, fascinado, quando o seu corpo ficou à vista e ele a começou a beijar. Tinha as pernas afastadas e gemia suavemente.

Entretanto, as mãos de Sarah manipulavam-me. Tirou-me o quimono e, homem, como eu me senti bem! Comecei então a voar e fui de encontro a alguém. Quando olhei, vi que era Fontaine, logo de seguida Sarah e, depois, ambas se encontravam sobre mim. Era como um caleidoscópio de rostos e, pela primeira vez, me senti com uma enorme "pedrada".

Abri os olhos e estava no meu quarto de hotel, deitado sobre a cama com toda a roupa vestida. Como regressara eu?

Aquela cabra da Fontaine gostava mesmo de estragar um bom prazer, tal como a sua amiga magricela, Miss Sem Tetas da sociedade. Pronto, admito, envolvemo-nos numa grande cena e não tive qualquer pistola apontada à cabeça mas, como pude eu fazer tal coisa? E Alexandra? E Sadie e Sam, os meus velhos e simpáticos pais? E se eles alguma vez viessem a saber, pudessem ver? Sempre tive este tipo de pensamento engraçado de que, quando morremos, nos sentamos numa sala e, como que assistindo a um filme, toda a nossa vida é projectada num écran e toda a gente que conhecemos o vê também. Encantador! Os acontecimentos da noite passada teriam dado um espectáculo fora de série. Merda. Fazê-lo com Fontaine era uma coisa mas envolver-me com as suas supostas amigas era outra!

Aquele marido meia-tigela de Sarah tentou entrar no jogo enquanto as duas mulheres se apoderavam de mim. Mas eu não queria nada disso, muito obrigado. Lembro-me de Fontaine dizer: "Deixa-o fazer, Tony, vais gostar." Cabra! Estava realmente drogada.

Eram duas horas e estava esfomeado. Tomei um duche e pedi três ovos e um hamburger ao serviço de quarto. Que devia fazer? Ficar por ali até que Sua Senhoria decidisse chamar-me? Vi televisão. Talvez fosse melhor ligar para o clube mais tarde. Talvez eu devesse ligar agora para Alexandra. Que raio faço eu aqui, afinal? Fica muito longe do Elephant e Castle. Penso que devo ter adormecido de novo porque, quando acordei, o écran de televisão estava cheio de adolescentes adoráveis e o telefone tocava.

- Yeah?

- Ena, ena. Como já estamos americanos!

Consultei rapidamente o relógio, cinco e um quarto, e ela estava apenas a telefonar.

- Que se passa? - inquiri.

- Bem, querido, toda uma série de coisas excitantes. Gostaste da noite passada?

- Não.

A sua voz tornou-se gelada.

- Oh... porquê?

- Sabes que não é o meu tipo de coisa, Fontaine. Não gosto de trios nem de quartetos. O que há de mal com o sexo normal?

O seu riso revelou-se divertido.

- Tony, és um pequeno, ou devo dizer grande, púdico. Foi divertido. Se te descontraísses, podia ser muito mais divertido.

- Não quero voltar a repeti-lo. OK? A sua voz era sarcástica.

- Yes, sir. Não voltaremos a participar em mais orgias indecentes.

Registou-se um certo silêncio. Sabia que ela detestava ser criticada mas, Deus Todo-Poderoso, alguém lho tinha de dizer. Já era suficientemente mau andar a enganar o marido mas isto ultrapassava todos os limites.

- Que há hoje para fazer? - perguntei.

- Não te quero corromper, Tony querido, mas pensei que gostarias de vir até cá por uma hora ou duas; depois, temos duas festas e jantar com Sarah e Alan.

Oh, Cristo! Eu certamente não queria voltar a encarar Sarah e Alan de novo. Que tínhamos nós para fazer? Discutir posições?

- Escuta, não quero vê-los. Vou às festas contigo e depois talvez vá dar uma volta, para conhecer o ambiente.

- Tony, consegues ser um chato! Está bem, então, faz isso. Está cá dentro de meia hora. - desligou o telefone com violência.

Como raio me meti eu nisto?

Era cedo demais para ligar para o clube, mas Alexandra devia estar em casa. Será que estaria a actuar com prudência ao arriscar um telefonema? Não.

Pensei no seu rosto bonito de olhos grandes e no seu cabelo ruivo macio. Era o tipo de rapariga que ainda devia ter um aspecto formidável daqui a dez ou mesmo vinte anos. Decidi que, quando regressasse a Londres, a levaria a Elephant e Castle e a apresentaria a Sadie e Sam. Que choque teriam quando me vissem com uma rapariga tão encantadora. Pensavam que eu só andava com raparigas exibicionistas e "miúdas duvidosas", como Sadie sempre dizia. Quantas vezes me disseram eles: "Arranja uma rapariga simpática judia e assenta." Que diferença fazia se era judia ou não, desde que fosse simpática? Iriam adorar a pequena Alex.

Vesti-me. Camisa de seda às riscas, colarinho à polo, uma das melhores aquisições de Hal, e o meu fato cinzento Dougie Hayward. Tinha de pedir algum dinheiro a Fontaine. Andava sem nenhum. Era desconcertante, sobretudo se queria dar um giro por minha conta.

Em cima do aparelho de televisão, com o meu pente e cigarros, estava uma série de carteiras de fósforos que guardara dos diferentes sítios por onde passara na noite anterior. Gostava de coisas daquele tipo. Espalhá-las pelo meu apartamento para que as pessoas soubessem que eu viajara. Escrevinhado por cima de "Lorenz - coma com estilo", estava o nome Norma e um número.

Norma? Não conhecia nenhuma Norma. Pensando bem, também nunca estive num lugar chamado Lorenz.

Norma, Norma, Norma. Ah, sim, a mulher alta e negra com o longo cabelo preto na festa de ontem à noite. Bastante bonita, arrebatadora mesmo, cheia de estilo. Liguei o número e uma voz cansada respondeu:

- Sim?

- A Norma está?

- Só um minuto, vou ver. Quem fala?

- Tony Blake, mas ela não sabe o meu nome. Conhecemo-nos numa festa...

- Tenha calma, homem, não quero saber a história da sua vida. A voz deixou-me à espera enquanto me esforçava por ouvir a

conversa abafada no outro lado. Depois, uma voz idêntica à primeira disse:

- Sim?

- Conhecemo-nos ontem à noite, na festa de Salamanda Smith. - Nada como lançar um nome. - Eu estava ao telefone no quarto, recorda-se?

- Sim.

Conversava que se fartava.

- Pensei que talvez nos pudéssemos ver logo mais tarde. Poderia pagar-lhe uma bebida ou qualquer coisa no gênero.

- Por mim, está bem. Vou jantar com uns tipos, pode vir ter connosco, se quiser.

"Alguns tipos" não parecia um programa atraente.

- Escute, se está ocupada, podemos deixar para outra noite.

- Como quiser. Estaremos no Marcello, se mudar de idéias. Desligou. Rapariga amigável, pouco se importava se eu fosse ou não.

Nem sequer tinha dinheiro para pagar um táxi, pelo que percorri a pé a curta distância até ao apartamento de Fontaine. Abriu-me pessoalmente a porta, o cabelo caído sobre as costas, o rosto numa massa de creme branco embora com os olhos perfeitamente maquilhados. Vestia uma camisa de seda fina.

- Vem para o quarto. Estou a arranjar-me. Prepara primeiro o champanhe; está no frigorífico.

Entrei na cozinha com painéis de carvalho, totalmente equipada, e abri diversos armários até localizar o frigorífico, que se encontrava habitualmente disfarçado como fazendo parte da parede.

Abri o champanhe e levei-o para o quarto. Fontaine estava deitada na cama, a camisa de dormir de seda expondo-a da cintura para baixo, conferindo à visão um caracter um pouco obsceno.

- Não precisamos de copos - murmurou. - Trás apenas a garrafa; vamos bebê-lo ao meu modo.

Embora contrariado, sentia-me excitado. Ela repugnava-me, mas o meu corpo correspondia-lhe. Despi o fato e a camisa. Certamente que não ia estragar o meu cenário.

- Vamos, Tony - disse, impaciente. - Estou sedenta.

Quando tudo terminou, todo o quarto cheirava a champanhe. Fiquei deitado na cama, observando-a enquanto, calmamente, continuava com a maquilhagem. Sabia que não poderia voltar a fazê-lo. Oh, podia "fazê-lo" no sentido físico, aí não tinha problemas, mas, depois; bem, sentia esta sensação de sujidade, esta sensação de vergonha. com as outras mulheres, existia sempre alguma ternura - algo - mesmo que não passasse de uma fornicação casual. Mas Fontaine é fria como o gelo, é como se se limitasse a usar o meu corpo para se satisfazer a ela própria. É uma cabra e tenho de me livrar dela. Sobretudo agora, que surgiu Alexandra.

- Posso tomar um duche? - perguntei.

- Claro, não tens de pedir autorização. Utiliza o do quarto de hóspedes. - Pintava os lábios finos e nem olhou para cima.

Lavei o cheiro a champanhe e o de Fontaine e deixei-me ficar ali, ligando a água fria. Sabia bem.

Quando regressasse a Londres, iria descobrir alguém que me apoiasse num novo clube. Não devia ser assim tão difícil. Tinha muitos conhecimentos e eu, num novo clube, não podia falhar. Não quero parecer pretensioso mas o Hobo nunca teria progredido sem mim. Talvez o novo clube se pudesse chamar Tony, ou seria demasiado evidente? Pessoalmente, agrada-me, soa bem. Descobrir uma localização, descobrir alguém que me financie e dar as despedidas a Fontaine Quebra Tomates Khaled.

- Tony, estás pronto? - Entrou, vestindo cetim preto e muitos diamantes. Ficou aborrecida. - Que raio estás a fazer aí?

Saí rapidamente do chuveiro, a pele contraída do frio.

- Despacha-te, pelo amor de Deus. Detesto estar à espera. Saiu do quarto.

Vesti-me rapidamente e fui encontrá-la no terraço, fumando.

- Escuta, uma vez que nos vamos separar mais tarde, é melhor eu ter algum dinheiro comigo - disse. - Tive de partir tão depressa que não consegui trazer nenhum.

- Compreendo. - Estava furiosa. Sabia que ela detestava falar em dinheiro. - Por que diabo não pediste à secretária de Benjamin?

- não estive com ela. Foi tudo tratado pelo telefone. Abriu a pequena mala de cerimônia e extraiu três notas de dez dólares.

- É tudo o que tenho - disse. - Amanhã trato do teu assunto. Encantador! Trinta míseros dólares para visitar Nova Iorque.

Não ia longe, com essa quantia.

Fomos à primeira festa. Estava a ter lugar num restaurante e a confusão era terrível. Fiquei à porta, observando Fontaine a circular de um lado para o outro. Bebi três scotches.

Meia hora mais tarde, encontrou-me, agarrou-me no braço e disse:

- Vamos embora. Vê se consegues ser um pouco mais sociável na próxima festa. Klaus vem connosco.

Klaus revelou ser um costureiro baixo e homossexual, vestido com roupa horrível e sem gosto, dentes estragados e olhos bojudos. Ficou sentado entre mim e Fontaine no carro, pressionando a coxa contra a minha.

- Klaus revolucionou Nova Iorque com os seus fatos com calças à anos trinta - observou Fontaine.

Ainda bem, para o pequeno Klaus de olhos bojudos. Podia ter revolucionado Nova Iorque, mas ia levar um murro no nariz se pressionasse com mais força a perna dele contra a minha.

A segunda festa era ainda pior. Uma festa cheia de pessoas estranhas e de maricás. Entre eles, encontravam-se algumas senhoras bem vestidas e alguns - muito poucos - tipos normais. Pelo menos pareciam normais.

Klaus afirmou.

- Que divino. Está cá toda a gente.

Fontaine disse:

- Todos os melhores estilistas de Nova Iorque. É melhor ficares perto de mim, Tony, sei o que sentes pelo teu precioso rabo!

Odiava-a. Tão bonita, elegante e tão cabra.

Permaneci lá durante dez minutos. Começava a sentir tantos olhares furtivos e pessoas a mirarem-me de forma tão tímida que já não suportava mais.

- vou pôr-me a andar daqui - disse a Fontaine. Despediu-se com um frio "adeus" e penetrei na noite de Nova Iorque.

Era ainda cedo, antes das nove, e tentava decidir se seria cedo demais para tentar o Marcello. Sentia-me esfomeado, com dores inquietantes no estômago. Entrei numa casa de hamburgers e comi três. Sentia-me agora melhor. E a seguir? Deveria procurar a Norma de aspecto delirante? Parecia não ter mais nada para fazer. Fiz parar um táxi e pedi-lhe que me levasse ao Marcello. Sabia onde ficava.

Do exterior, tinha bom aspecto. Pequeno toldo vermelho e branco, uns degraus que desciam, uma rapariga bonita na recepção. Sorriu para mim.

- O senhor reservou mesa?

Era italiana. Devia ter percebido, quando vi aqueles grandes olhos.

- Pensei tomar uma bebida.

- com certeza, é só descer as escadas.

Sorriu de novo. Eu sorri. Se Norma não aparecesse... Perguntei a mim mesmo a que horas esta queridinha terminaria o trabalho.

O piso inferior encontrava-se repleto de pessoas. O bar delimitava o restaurante e todas as mesas estavam cheias. Era como o Hobo num sábado. Pedi um scotch e procurei a Norma.

Foi fácil de detectar, com o seu cabelo preto lustroso numa longa trança e óculos enormes com aros de tartaruga colocados no nariz. Estava sentada a uma mesa, com três tipos. Observei-os um pouco, antes de me aproximar. Era uma rapariga que dava nas vistas, com os seus grandes e nobres olhos.

- Olá - disse ela. Era autoritária. Estalando os dedos, fez com que um empregado trouxesse outra cadeira. Inclinou a cabeça em redor da mesa.

- Mark, Terry, Davy, este é Tony. - Dois deles eram brancos, o outro um negro muito atraente com barba.

- Olá, homem - cumprimentou-me o Davy de barbas.

O ambiente era acolhedor. Podia descontrair-me. Norma observou-me calmamente, através das lentes de cor.

- Eh, que estavas a fazer naquela festa horrível? Uma chatice, do princípio ao fim!

Anui.

- Alguém me levou.

- Sim, não há dúvida que alguém te levou. - Riu-se. - Foi a primeira vez na vida que um homem falta a um encontro marcado comigo. Um gajo ficou de lá ir ter, mas o verme nunca chegou a aparecer.

- É para aprenderes a não sair com estrelas, menina - disse Davy, sorrindo.

- Podes estar certo - concordou Norma. - Para cúmulo, a secretária do tipo - a secretária, imaginem, o tipo nem tem tomates para me telefonar ele próprio - liga-me hoje e diz - e passo a citar: "Mr. Nicholas lamenta não ter podido comparecer a noite passada. Queria confirmar o seu endereço uma vez que o Mr. Nicholas deseja enviar-lhe um aparelho de televisão a cores. "-Meu Deus, como me ri. - "Diga ao Mr. Nicholas que pegue na TV a cores e que a enfie no seu reles rabo branco" - disse.

Toda a gente se riu.

- Aquele tipo é de mais - continuou Norma. - Só o consegue fazer com raparigas negras. Tem qualquer deficiência, não o consegue fazer com mulheres brancas. E, depois, o pobre tipo sente obrigação de pagar. Tenho algumas novidades para ele - se eu estivesse a pensar receber dinheiro, uma televisão a cores não estaria nem próximo do custo a cobrir! Não o devia ter engatado, mas é tão bonito - umm - aquele corpo, meu Deus!

Buck Nicholas era um actor de cinema muito conhecido que aparecia normalmente com T-shirts justas e Levis apertadas para revelar o seu corpo igualmente famoso.

- Sabes, já nos encontrámos antes de ontem à noite - disse Norma, erguendo os óculos, equilibrando-os no cabelo e fitando-me.

- Sim? - Não me lembrava e eu tinha uma boa memória.

- É verdade, no Hobo, em Londres. Tu antes gerias aquilo, com todas as meninas derretendo-se por ti.

Tinha a certeza de que nunca esqueceria uma rapariga como Norma.

- Continuo a gerir o Hobo. Quando foi isso?

- Há uns dois meses atrás, não podias recordar-te de mim. Tinha uma cabeleira loura na altura. Aproximaste-te da mesa onde eu estava com Steve Scott.

Bingo! Como podia eu ter-me esquecido? Que noite aquela, com os homens todos lutando para a conhecer e Steve fechado numa concha.

- Claro! Estás completamente diferente agora.

- Sim. Só uso a cabeleira quando os quero realmente aos meus pés. Só estive em Londres dois dias, uma cidade louca. Voltarei em breve. Que fazes por cá?

- É possível que abra um Hobo aqui. Estou a apalpar o terreno.

- Sim? Óptimo. Fala com Davy, ele é o homem para te mostrar realmente a cidade.

Tinha razão. Após o jantar (eu apenas bebi), Terry e Mark partiram e Norma, Davy e eu vimos Nova Iorque. Digo-vos, vimos realmente. Deslocámo-nos no Porsche prateado de Davy - para a zona alta da cidade, para a Baixa, Harlem, Chinatown. Norma era uma rapariga maravilhosa. Falava sem parar no seu estilo lacônico e dançava como uma perita. Ria-se muito e bebia muito. Às seis da manhã, exaustos, embriagados e felizes, aterrámos no seu apartamento.

- Eh, tu és realmente fora de série - disse ela, rindo-se e desfazendo a trança de cabelo preto, até que este pendeu livremente até à cintura.

- Também não és má de todo - repliquei, colocando os braços à sua volta e puxando-a para mim.

Estávamos ambos cheios de álcool e com a mesma disposição feliz. Era quase tão alta quanto eu e eu meço um metro e oitenta e cinco. Trazia um vestido justo cor de laranja, que ajudei a despir. Por debaixo, uma linda pele castanha e nada mais.

Riu-se e saiu dos meus braços.

- Queres uma bebida?

- Sim, seria óptimo. - Vi-a andar pela sala, servindo dois scotches e colocando gdo. Tinha um corpo fantástico, como uma longa e macia pantera.

Sentia um sentimento de culpa em relação a Alexandra, mas esta rapariga era tão linda! Um homem não pode resistir a tanta tentação.

Aproximou-se e levou-me a bebida aos lábios. Agarrei um dos seus seios extraordinários. Afastou a bebida de mim e colocou-a cuidadosamente sobre a mesa.

- Queres divertimento, homem, vamos divertir-nos. Tenho um quarto de sonho. Nada de inibições, huh?

Cobri-lhe o rabo com as mãos.

- Nada de inibições.

- OK. Vamos. - Voltou-se e segui-a, as minhas mãos coladas ao seu traseiro, tão saliente e redondo como o de um rapaz.

O quarto dela era fantástico. Peles de leopardo nas paredes e uma cama circular enorme, com um pôster gigante de Mick Jagger (Mick Jagger?) no tecto. Pressionou um botão e, Ray Charles cantando Eleanor Rigby, invadiu o quarto.

Puxei-a para a cama e fitou-me com olhos pretos e divertidos de gata, à medida que me despia. Premi os seus ombros contra a cama. Comecei a beijá-la e começámos a divertir-nos. Podia jurar que os olhos de Mick Jagger se moveram! Moveram!

Deixei-a a dormir às onze da manhã seguinte, e regressei de táxi para o hotel. Havia uma mensagem à minha espera:

"Por favor, esteja pronto para partir no avião do meio-dia para Londres. Bilhetes, etc. devem ser levantados no aeroporto Kennedy no balcão das informações. Alice Clerk - secretária de Benjamin

Khaled. "

Encantador! Lá ia eu de novo.

 

         FONTAINE

Reflectindo em tudo, conclui que se tratara de um erro terrível. Devia ter deixado o Tony onde ele estava, aqui não passava de um empecilho.

Desde o momento em que chegou, há três dias atrás, tem-se revelado um desajeitado, ingênuo, admirador de estrelas e um chato. Claro que houve aquela noite divertida, quando estávamos todos nas nuvens, mas teve a ousadia de me pregar um sermão no dia seguinte, de que não me devia envolver em orgias e que ele não voltaria, com certeza, a participar numa. Francamente, tanto quanto me lembro, divertiu-se mais que qualquer um de nós. Sarah considera-o um chato. "Só tem membro, nada de miolos! ", disse. "Sinceramente, Fontaine, arranja um oriental. "

Ela tem razão. O garanhão é um fracasso desanimador em Nova Iorque. Tratei de tudo para que ele partisse no vôo do meio-dia e, desta vez, não irei ao aeroporto.

De qualquer forma, Benjamin está a chegar. Querido Benjamin.

Há muitas coisas de que eu necessito no Tiffany. Vi também um lindo casaco de Zibelina. E o Saks tem alguns originais divinos de Rudi Gernreich. Benjamin chega na altura ideal.

O telefone tocou e esperei que Adamo anunciasse quem era.

- Mr. Blake, madame.

- Tony, querido. - Já agora, podia despedir-me com charme, provavelmente o pobre garanhão estava destroçado.

- Escuta, Fontaine, acabei de receber uma mensagem avisando que terei de partir.

- Sim, querido, Benjamin vem a Nova Iorque e penso que já viste o suficiente para formares uma opinião. De nada serve estares muito tempo afastado do Hobo.

- Sim, acho que tens razão. Mas sou empurrado de um lado para o outro como se fosse bagagem. Por que não mo disseste a noite passada?

- Oh, não sejas aborrecido, Tony. Eu não sabia a noite passada. De qualquer forma, manda cumprimentos meus a todos, sobretudo a Vanessa. Estou certa de que encontrarás a Vanessa. - oh, meu Deus, provavelmente estava ansioso.

- Sim, vemo-nos então em Londres.

- Ciao, amor.

Assim me via livre dele. Que regressasse para as suas bonecas de Londres. É tão tacanho e provinciano. Depois de tudo o que lhe ensinei, só continua a gostar de uma posição! Rapaz estúpido.

O telefone de novo.

- Mr. Grant, madame.

- Alan, querido.

- E se nos encontrássemos hoje?

- Onde está a Sarah?

- Saiu. Então? Às duas horas no Plaza?

- Não, é muito tarde, o Benjamin chega logo à tarde. Que tal no St. Regis, à uma?

- Está bem. Vou tratar disso.

- Alan.

- Sim?

- Traz a tua imaginação.

Riu-se. O pobre Alan não era mau de todo, não tão bem dotado quanto o Tony, mas aceitável. Depois da ménage à quatre da outra noite, começara a gostar realmente dele. Seria uma boa forma de passar o dia até que Benjamin chegasse.

 

         ALEXANDRA

O meu segundo dia na McLaughton & Co. não foi melhor que o primeiro. Não me parece que consiga ficar neste emprego. Tony telefonou-me de Nova Iorque a noite passada. Maddy ficou muito impressionada.

- Espera até que Michael descubra que, quer o Tony quer o Steve Scott andam atrás de ti - disse. - Vai ficar branco.

Quando cheguei a casa, Maddy tinha rolos na cabeça e creme na cara.

- Tenho um encontro - anunciou, muito satisfeita consigo própria. - Jonathan telefonou para me agradecer pelo jantar fabuloso da noite passada e convidou-me para ir ao cinema.

- Óptimo - disse, com o máximo de entusiasmo que consegui reunir. - E Michael?

Mostrou uma cara culpada.

- lamento, Alex, Jonathan não mencionou nada a respeito dele. Mas prometo que lhe saco esta noite todas as informações. com que raparigas sai e coisas desse gênero. Será de muita utilidade saber tudo isso.

- Sim, muito. - Sentia-me extremamente miserável. Madelaine passou a hora seguinte a preparar-se, a cantar e, de forma geral, a sentir-se demasiado alegre.

- Não te mostres quando Jonathan chegar - pediu. -'Dir-lhe-ei que estás numa festa fantástica.

- Obrigada - disse, fechando-me no quarto com uma lata de feijões cozidos frios. Ouvi a campainha da porta e o som abafado de vozes. Depois, a porta fechou-se e fiquei só. Telefonei à minha mãe. Desejei estar em casa.

- Não queres trazer alguns amigos contigo para passarem o fim-de-semana? - disse a mãe. - Podíamos ir passear de cavalo.

- Talvez leve. Posso avisar-te depois?

Decidi convidar o Michael, quer Maddy pensasse ser uma boa idéia ou não. Não me agradava estar no apartamento sozinha. Acho que esta é a faceta má de se viver longe de casa. Sentia-me até nervosa, como que se estivesse a ouvir barulhos esquisitos, à medida que entardecia e escurecia.

Puxei as cortinas, liguei a televisão e concentrei-me numa peça de teatro. Então, o telefone tocou.

- A Alexandra está? - Uma voz rouca e misteriosa.

- É a própria.

- Steve Scott. Como estás?

- eh, estou bem. E tu? - Sentia-me corar.

- Fino. A portar-me bem, como um bom rapaz. Pensei que gostarias de sair.

- Agora? - Corei ainda mais.

- Talvez amanhã à noite, podíamos ir jantar. Queres?

- Oh, sim, gostaria muito. - esperem só até Michael saber isto!

- Fica então combinado. Vem por volta das nove.

- Está óptimo.

- Até amanhã.

- Só um instante - disse, procurando freneticamente um lápis e um papel. - Diz-me o teu endereço.

Assim o fez e acrescentou:

- Não venhas vestida a rigor - e desligou.

Que maravilha! Se bem que eu preferisse que tivesse sido o Michael. Estava ansiosa por ver a cara de Maddy.

Quando entrou, vinha horrível. Lembrava-me o estado em que eu estivera na noite de domingo. Era bastante tarde, mas fiquei propositadamente acordada a ler.

- Alex, acho que vou vomitar! - anunciou.

- Bem, pelo amor de Deus, fá-lo na casa de banho.

Foi e, tal como eu, sentiu-se melhor depois. Ficou deitada sobre a cama, gemendo, e preparei-lhe um chá.

- Acho que estou apaixonada - murmurou, entre gemidos.

- Que aconteceu?

- Tentou violar-me no seu Mini. Claro que não o fez. Fingi desmaiar e ficou tão meigo... Até me colocou o soutien no lugar e ajudou-me a vir até à porta, sem parar de me perguntar se me sentia bem.

- Até onde chegaram?

- A um ponto razoável - replicou, misteriosamente -, um ponto razoável. - E, com tais palavras, caiu num sono profundo, ressonando alto, com a roupa vestida.

Consegui tirar-lhe os sapatos e o vestido, mas era demasiado pesada para que conseguisse despi-la convenientemente, pelo que a cobri com uns cobertores e a deixei com os seus roncos.

Assim ficavam as minhas excitantes novidades sobre Steve Scott. Teria de esperar até de manhã.

- Não estejas tão nervosa. Não te vou comer. - Estas foram as palavras de abertura de Steve Scott, quando me surgiu à sua porta.

Tinha de admitir que estava nervosa. Afinal de contas, é uma estrela e, embora não seja convencionalmente bonito, é de certa forma excitante, com o seu longo cabelo desgrenhado e brilhantes olhos azuis directos.

- Entra, então, não fiques aí parada de boca aberta.

Fechei a boca rapidamente. Honestamente, tinha de admitir que ele era bastante rude. O meu estômago encontrava-se em alvoroço. Madelaine e eu discutimos o encontro, mal ela abriu os olhos, de manhã.

- O que quer que façam, tens de dormir com ele - anunciara, dramaticamente. - É tão aborrecido ser-se virgem, e seria uma perfeita maravilha para tu poderes afirmar que o teu primeiro homem foi Steve Scott. Sim, tens de o fazer.

- Então, o que contas de novo? - perguntou ele.

- Ahm... nada - repliquei.

- És uma miúda engraçada - disse. - Por que razão vieste com o mauzinho do Tony na outra noite?

- Ele trabalha para o meu pai - gaguejei. - O que quero dizer é que o meu pai é como que o dono do Hobo. - Desejei não ter dito aquilo. Parecia uma horrível menina rica a falar.

- Quem é o teu pai, afinal?

Não queria começar a gabar-me sobre o meu pai.

- Ninguém de especial, apenas um... um homem de negócios.

- Oh - disse Steve, observando-me atentamente com aqueles olhos brilhantes dele. - Que fazes, então? És modelo, actriz?

- Nada disso. Sou secretária. - Isso iria pôr fim a qualquer idéia que pudesse ter de que eu era rica.

- Óptimo! Queres dactilografar-me umas coisas?

- Sim, se quiseres.

- Estava a brincar. Sabes, acho que és um bebé inocente.

- Tenho dezoito anos - menti.

- És velha - replicou, ainda rindo. - Por onde tens andado?

- Tenho estado a estudar na Suíça. Pegou-me no braço.

- Sabes, para uma rapariga de dezoito anos, dás a imagem de teres catorze.

Fiquei furiosa e libertei o braço, mas ele agarrou-o de novo e disse:

- Eh, não estou a fazer troça. Agrada-me. Não sabes como isso é pouco habitual. És virgem?

Corei.

- És mesmo! - disse, rindo. - aposto que és.

Oh, quem me dera nunca ter vindo. Como podia ele me fazer perguntas destas?

- Vamos jantar - afirmou. - Quero saber tudo sobre o teu pai, a Suíça e por que razão és ainda virgem, na tua idade avançada.

Tinha um Bentley enorme e antiquado, muito reluzente. Toda a gente olhava para nós quando passávamos.

Felizmente, quando chegámos ao restaurante, foi abordado por diversos amigos, pelo que não teve oportunidade de me questionar durante o jantar. Penso que, quando chegámos ao café, se tinham juntado a nós umas dez pessoas e sentia-me aliviada. Na verdade, ele atemorizava-me.

Bebia muito e a linguagem na nossa mesa era incrível. Estava ansiosa por me ir embora. Talvez pudesse ir à casa de banho e nunca mais voltar.

- Eh, vocês todos, escutem - disse Steve, subitamente, em voz alta. - Esta rapariga é virgem. - Bateu com a mão no meu ombro e toda a gente me fitou.

Oh, chão, por favor abre-te e engole-me!

- Ainda bem para ti, Steve - disse uma das raparigas. - É uma variante. - Riu-se.

Corei até ficar vermelha.

- Acho que és uma merda - afirmei-, por favor, leva-me a casa.

- Não é nada de que te tenhas de envergonhar - disse, surpreendido. - Provavelmente, és a única virgem de dezoito anos existente em Inglaterra, talvez até na Europa!

Bebi rapidamente o café, queimando a língua, e ia precisamente para me levantar e sair quando vejo entrar o Michael, o meu Michael, acompanhado por aquela rapariga com quem dançara toda a noite no Hobo. Estava bastante ridícula, com uma roupa prateada.

Aproximou-se para cumprimentar o Steve, e Michael veio atrás dela. Quando me viu, ficou surpreendido.

- Olá, Michael - acenei jovialmente, a língua ardendo, desejando que Steve pusesse agora o braço em redor dos meus ombros.

- Olá, Alex- disse Michael, retribuindo a minha saudação. Percebi que estava impressionado.

- Vemo-nos mais tarde no Hobo - disse Suki a Steve, e foi-se sentar com Michael numa mesa para dois, próxima. E agora?

Pouco depois, Steve disse:

- Bem, o que queres fazer? Ir para minha casa? Ao Hobo? Ou a uma festa qualquer?

- Acho que gostaria de ir ao Hobo - retorqui, esperando que Michael fosse lá ter brevemente.

- Vamos, então. - Levantou-se e, sem se despedir de ninguém, saímos.

No carro, acendeu um cigarro e ofereceu-mo.

- Não, obrigada, não fumo.

- Não faz mal, dá uma "passa"; ficarás em boa forma. Assim fiz. Tinha um sabor esquisito e um cheiro repulsivo. - Vês, menina, estás a ficar numa boa onda.

- Não quero mais - disse, educadamente, e devolvi-o. Ficámos sentados no carro em silêncio, enquanto ele acabava o cigarro.

Sei que estou apaixonada por Michael. Aqui estou eu, sentada ao lado de Steve Scott e a única coisa em que consigo pensar é em Michael.

- OK, vamos a isso - afirmou Steve, mais para si próprio do que para mim. - Vamos avançar na noite e subir bem alto, rapariguinha.

O Hobo não estava muito cheio.

- Gosto de chegar cedo - afirmou Steve. - Assim, podemos sentir o clima a aquecer.

Não tardaram a juntar-se a nós algumas das pessoas que estiveram connosco no restaurante, bem como outras. Decidi determinadamente que não me embriagaria, pelo que não passei da Coca-Cola, Resolvera que, apesar do que Maddy dissera, não iria para a cama com ele. Nem conseguia suportar a idéia de ele me ver sem roupa. Honestamente, toda essa cena já iria ser bastante embaraçosa por si só, mesmo com uma pessoa diferente dele.

Vigiei a entrada, à espera de Michael, que era, obviamente, a única razão por que me encontrava ali.

- Anda, vamos dançar - disse Steve. - Sabes dançar, não sabes? - Claro que sei!

Na pista de dança, e após alguns minutos, afirmou:

- Pensei que tinhas dito que sabias dançar.

- Não sei por que me convidaste para sair - disse, irritada. - Só tens sido rude para mim toda a noite.

- Oh, deixa-te disso, pequena Miss Virgem, estou só a brincar contigo. Não aceitas uma piada?

- Não sou uma virgem e não aceito as tuas supostas piadas. Dito isto, fui-me sentar, surpreendendo-me a mim própria.

Ele seguiu-me, rindo.

- Isso é que foram palavras de guerra, menina. Queres outra Coca-Cola ou vamos até minha casa para ver quem tem razão?

- Outra Coca-Cola, por favor.

Por fim, Suki e Michael chegaram. Essa dirigiu-se imediatamente a Steve.

- A Carolyn está lá em baixo - sussurrou.

- Oh, merda - afirmou, rapidamente. - Ela devia estar a trabalhar esta noite. Que chatice! - Voltou-se para mim. - Vês os sarilhos que me arranjaste?

- Porquê? Que fiz eu?

- A Carolyn é a minha namorada, ficará louca se me vir com outra rapariga. Escuta, vai-te sentar ao pé da Suki. vou ver se me

consigo livrar dela. -'Mas...

- Vai com a Suki. - Honestamente! Suki riu-se.

- A Carolyn arranca-te os olhos. Vem sentar-te ao pé de nós. Então, completamente consternada, vi-me compelida a sentar-me

com Michael e Suki. Michael perguntou: -'Que se passa? - e Suki explicou. Ele sacudiu um dedo para mim.

- Não há dúvida que estás bem lançada na tua primeira semana em Londres.

Michael tinha o braço em redor da cintura de Suki e não parava de lhe dar pequenos apertos.

Onde estava Steve? Não queria ficar ali sentada, fazendo papel de idiota para o homem que amava.

- Oh, olha! - disse subitamente Suki. - Está ali o Jan e o John. Tenho de ir ter com eles. - E foi a correr.

Michael observou:

- deves estar muito mal da cabeça, para te envolveres com o tipo com quem estás! Não tens juízo? Corei.

- Não é nada da tua conta. - Repliquei, absolutamente furiosa.

- Graças a Deus que assim é. Só espero que não tenciones apresentar a minha irmã aos teus amigos.

Ficámos sentados, num silêncio de irritação, até que Michael se levantou repentinamente e disse:

- Diz à Suki que volto já. Vou apanhar um pouco de ar fresco.

Deixou-me ficar ali sentada, sozinha. Era insuportável! Havia de lhe mostrar que não era a estúpida rapariguinha que ele parecia pensar que eu era.

 

         TONY

No avião, de regresso à velha Inglaterra, tomei diversas decisões importantes:

1) Abandonar o Hobo e iniciar uma outra coisa qualquer, onde não fosse agarrado com unhas e dentes por uma ninfomaníaca doida por sexo.

2) Dizer a Alex o que sinto por ela (amo-a, realmente) e deixar as outras raparigas.

3) Poupar algum dinheiro, se possível, para o caso de decidir casar.

Ficara estabelecido, na minha mente, que um lugar chamado Tony seria fantástico. Tinha muitos amigos e, entre eles, podia reunir o dinheiro suficiente - não necessitava de um grande banqueiro. O novo clube seria, de longe, muito melhor que o Hobo. Torná-lo muito exclusivo. Parecia que o estava a ver.

A primeira coisa a fazer amanhã seria procurar umas instalações apropriadas. Acho que consigo tudo por cerca de dez mil libras. Não devem ser assim tão difíceis de obter. Se conseguir, pelo menos, arranjar cinco pessoas que me dispensem duas mil libras cada um... O Sammy deve ter duas mil libras de reserva, o Hal deve saber onde as arranjar e Franklin pode falar com o seu velho. Iria correr tudo bem.

Aterrámos cerca da meia-noite e decidi apanhar um táxi directamente para o clube. Só tinha uma mala.

Que viagem! Mal tive tempo para fazer um "xixi" e já estava de novo no avião! Mesmo assim, sabia bem regressar a casa. Iria esperar pela manhã para telefonar a Alexandra. A esta hora encontrava-se provavelmente já em vale de lençóis. Pobre miúda, ter de trabalhar num reles emprego, das nove às cinco. Talvez um dia destes case com ela e possa então passar o seu tempo a cuidar de mim. Oh, meu Deus! Não posso pensar nela assim, começo a sentir-me excitado. Acho que a altitude me deve ter afectado!

Apanhei-os a todos de surpresa no clube. Flowers conversava com a namorada na recepção - o filho da mãe. Deu um salto quando me viu, como se tivesse uma vela debaixo do rabo. Franco não estava à vista. Lá dentro, um empregado punha os discos a tocar e não vi qualquer outro empregado na sala.

Entrei de repente na cozinha, onde parecia desenrolar-se um casamento italiano. Franco e a rapariga da caixa dançavam - a dançar, imaginem! E os outros empregados reunidos em volta, observando. Não podia realmente ausentar-se dali.

- Vamos a saber, minha gente - gritei. - Que raio se passa aqui?

- Senhor Blake! - Franco deu um salto como um coelho assustado. - Senhor Blake, não estávamos à sua espera.

- Sim, isso vejo eu. Voltem para a sala, seus mandriões. Vamos ver aqui um pouco de acção, quero essas bebidas a serem servidas.

Os empregados moveram-se em pânico e confusão, enquanto Franco começava subitamente a gritar com eles em italiano. A rapariga da caixa deslizou para trás do seu balcão.

Franco viu-se livre de todos os empregados e voltou-se para mim, pesarosamente:

- Senhor Blake, eu...

- Sim, sim, eu sei, Franco, não estavas à minha espera.

Voltei para dentro. Flowers estava no seu posto e os empregados andavam numa roda-viva. Regressávamos à normalidade.

Aproximei-me da mesa dos habituais. Lá, encontrava-se Sammy, o braço em redor de uma adolescente horrível de olhos pretos.

- "Tony, meu velho, já regressaste? Que aconteceu? É bom voltar a ver-te, rapaz.

- Sim - repliquei. - Bebe qualquer coisa, Sammy. Vou fazer a ronda, venho já ter contigo.

Digo-vos, o Hobo põe aqueles clubezinhos de Nova Iorque a um canto. Tem aquilo a que eu chamo, um toque de classe, de excitação; seja o que for que lhe chamemos, ele tem.

Paguei uma bebida aqui, outra ali, apertei muitas mãos, beijei muitos rostos, belisquei alguns traseiros. Então, com todos os diabos! Alexandra ali sentada, na maior das calmas. Bonita, era mesmo bonita, como uma rosa de cultura linda entre muitos dentes-de-leão.

Que raio fazia ela ali?

Apertei-lhe a mão, tentando ficar calmo. Sorriu para mim. Tinha um ar cansado. Estava acompanhada pela maluca da Suki e por aquele palerma do estudante. Sentei-me.

- Conta-nos sobre Nova Iorque - pediu Suki. Seria ela quem estava com o estudante ou Alex?

- Como te sentes? - perguntei à minha adorada Alex.

- Bem - disse, alegremente. - não há dúvida que a viagem foi curta.

- Vamos, querida, está tudo arranjado. - Steve Scott apareceu. - Eh, Tony, já voltaste?

- Sim, já voltei. - Apertámos a mão.

- Bem, vamos então - disse a Suki (pensei), mas Alex levantou-se.

Fiquei a ver, chocado, Steve a dar-lhe a mão e a levá-la para outra mesa.

A minha Alex com aquele cantor pop de meia-tigela - a minha Alex. Impossível. Devia haver qualquer engano.

- Que está ela a fazer com o Steve? - perguntei à Suki de cara de palhaço.

Esta encolheu os ombros.

- Não sei. Acho que ele está noutra onda; sabes como é, para variar, anda atrás de uma menina toda educada e comportada.

- Quem te dera a ti teres um décimo da educação que ela tem - afirmei, irritado. - É educada e comportada por que não anda a fornicar a torto e a direito?

- Que se passa, Tony, eu apenas disse...

- Pouco me importa o que tu disseste, Suki. Não tens nível para estares sentada à mesma mesa que ela. - Meu Deus, sentia uma tal revolta dentro de mim. Levantei-me e dirigi-me rapidamente à mesa de Steve e dos seus amigalhaços.

- Tony, senta-te e toma qualquer coisa. Conta-nos sobre Nova Iorque.

Apetecia-me esmurrar a sua cara estúpida. -'Alex, quero falar contigo - disse, tentando revelar normalidade.

- Sim, Tony? - Interrogou-me com os seus olhos grandes e castanhos.

- Deixa-a em paz - afirmou Steve em voz alta. - Esta noite, é minha. Se alguém a vai ter, sou eu. Compreendes?

- Estás a falar com uma senhora - disse eu, rispidamente. - E, se não te importas, gostaria de falar com ela.

Alex levantou-se rapidamente, corando. Levei-a para o terraço e segurei-a muito gentilmente pelos ombros.

- Escuta - afirmei, calmamente. - Podes dizer-me para me meter na minha vida, mas, uma rapariga como tu, não pode andar por aí com uma merda como Steve Scott.

Puxou o cabelo para trás, com a mão.

- Ele é realmente horrível - admitiu, para meu alívio.

- Despede-te dele, então. Levo-te a casa.

- Não posso fazer isso. Afinal, levou-me a jantar fora e tudo. Não posso ser mal-educada.

- Querida, o animal nem sabe o que é má educação.

- É simpático da tua parte estares preocupado, mas, sinceramente, sei cuidar de mim.

Não me consegui conter. Abracei-a com firmeza e beijei-a. Premi a boca contra os seus lábios, fortemente. A sua boca estava seca e recusou-se a abrir, mas forcei a língua entre os seus dentes e compeli-a a deixar-me entrar. Pus uma mão no seu seio e senti o seu calor e forma redonda, através do vestido.

Alex resistiu e afastou-me. As suas faces estavam vermelhas.

- Honestamente! - exclamou. - pensei que me estivesse a alertar sobre Steve.

- Posso ver-te amanhã? - O novato pateta a mendigar um encontro.

- Lamento, Tony, estou ocupada. - Endireitou o vestido e fitou-me de forma estranha. - É melhor ir para dentro.

- Sim. - Sentia-me destruído. - Acho que é melhor. Parecia que me tinham dado um murro no estômago. Primeiro,

fiquei em brasa depois de a beijar e de sentir o seu corpo fantástico. Senti, então, que não podia deixar o Steve Scott levá-la a casa.

Segui-a para o interior. Sentou-se ao lado de Steve e este murmurou-lhe qualquer coisa. O filho da mãe! Ia tratar dele. Dirigi-me a Suki, ocupada a conferir prazer ao namorado por debaixo da mesa. Meu Deus. Massey fez bem em se livrar desta tipa.

- com quem veio Alexandra? - perguntei. Estava furiosa comigo.

- Não sei.

Manifestei um pouco do famoso charme Blake.

- Então, Suki querida, não fiques tão melindrada.

- Veio com o Steve. Depois apareceu a Carolyn lá em baixo à procura dele. Bem, deve-se ter visto livre dela porque voltou para vir buscar a Miss Cinderela outra vez. Por que estás tu tão interessado, afinal de contas?

Encolhi os ombros.

- Não passa de uma garota, ando de olho nela.

- Oooh! - suki, a freak, lançou-se numa risada. - sir Galahad Blake!

Michael meteu-se na conversa.

- Penso que ela sabe cuidar de si.

Fitei-o. Quem lhe pedira opinião?

De qualquer forma, tinha um plano. Desci as escadas para o escritório e liguei o número de Steve. Tal como pensava, Carolyn respondeu. Tinha-a mandado para casa, para esperar por ele. Disfarcei a voz (podia ter sido um actor de valor).

- O seu namorado está no Hobo a divertir-se com outra rapariga.

Desliguei depois, subi para o piso superior e aguardei.

Quinze minutos mais tarde, Carolyn apareceu como um furacão, o cabelo ruivo esvoaçando, os olhos faiscando de raiva e cerrados.

- Grande filho da puta - gritou. - Que raio se passa aqui? Vieste com uma história de que tinhas de mostrar isto ao chefe do Gloom Records. Que grande chefe. - Fez uma pausa e mirou Alex, que parecia calma e serena. - Pode ser que te interesse saber - continuou-, estás sentada ao lado da merda do meu marido. Casámo-nos a semana passada e eu não devia dizer nada porque podia perturbar a merda das admiradoras dele. Por isso, põe-te a milhas.

O Steve praticamente deslizou para debaixo da mesa. Que cena! Mas Carolyn ainda não acabara.

- Também estou grávida de três meses por isso, engole esta, minha vaca!

Alexandra ficara visivelmente branca na obscuridade do clube. Levantou-se.

- Lamento imenso - disse, calmamente. - não sabia - e dirigiu-se para a saída.

Tinha efectivamente classe, muita e muita classe.

Apanhei-a no exterior. Chorava. Queria tomá-la nos braços e levá-la para um local seguro. Em silêncio, passei-lhe o meu lenço e assoou o nariz.

Chamei um táxi e entrámos. Dei o meu endereço ao condutor. Desta vez, não a ia deixar escapar. Alexandra não disse nada até que o táxi chegou a minha casa e depois iniciámos a velha discussão de sempre.

- Oh, Tony, é demasiado tarde. Tenho de ir para casa.

- Só um brandy rápido, estás a precisar.

- Detesto brandy.

- Nesse caso, um café.

- Vai fazer com que eu desperte, por favor, leva-me a casa. O motorista do táxi ficou ali sentado, o rosto feio escutando cada palavra.

- Escuta, apenas cinco minutos, bebemos um café rápido, conversamos e depois prometo que te levo a casa.

Suspirou.

- Está bem.

Paguei ao condutor do táxi. Este pestanejou e murmurou:

- Goze o seu café rápido, rapaz. Velho nojento.

O meu apartamento tinha um cheiro terrível. Todas as janelas estiveram fechadas e algo se estragara no frigorífico. Deixei o ar entrar e pus a chaleira ao lume. Era um apartamento horrível, tinha de me mudar.

Alexandra sentou-se no sofá e pus a tocar um disco de Astrud Gilberto. Agora que a tinha aqui, não sabia o que fazer com ela.

- É um apartamento agradável - disse, polidamente. - Vives aqui há muito?

- Há alguns meses, mas é demasiado pequeno. Quero mudar para um sítio mais agradável.

Ficámos em silêncio até que o assobio da chaleira se fez ouvir, sinal de que a água estava a ferver. O café foi um erro, devia ter-lhe oferecido uma bebida, por forma a fazê-la ficar mais descontraída.

- Que tal um irish coffee? - inquiri. - nunca bebi.

Não tinha natas nem açúcar amarelo, mas podia pôr um trago de whisky, sempre era melhor que café simples.

- Vais adorar.

Astrud cantava The Shadow of Your Smile. Se me encontrasse com qualquer outra rapariga, a esta hora já estaríamos despidos e bem avançados.

- Gostaste de estar na América? - perguntou.

- Sim, muito. - Acabei de preparar os cafés e dei-lhe um. Sabia bem - pessoalmente, acho que não é necessário nem açúcar nem natas.

- Sabes, Alex, tenho muita coisa para te dizer.

Bebericou o café e fitou uma fotografia minha, tirada na noite da inauguração do Hobo.

- Queres ir para a cama comigo, Tony? - disse, com cortesia, como se estivesse a perguntar a que horas era o próximo autocarro para casa.

Fiquei abismado. Quase que entornei o café.

- O quê? - Gaguejei como um idiota. Ficou corada e mordia o lábio inferior.

- Então, queres?

Não era exactamente este o modo como tinha planeado as coisas. Pensara em lhe dizer o que sentia, talvez beijá-la e acariciá-la por momentos.

- Bem, sim, claro que quero - disse, sem firmeza. Apanhara-me realmente de surpresa.

- Está bem, então - afirmou.

Estávamos sentados e ficámos a olhar um para o outro por momentos; reparei que a mão dela tremia ao beber o café.

Dirigi-me a ela, tirei-lhe a chávena da mão e beijei-a. Desta vez, os seus lábios afastaram-se e ofereceu-me um ligeiro suspiro.

Percorri as mãos pelo seu corpo, sentindo-a contrair-se. Trazia um vestido de lã castanho, de gola alta e com pequenos botões nas costas. Comecei a desapertá-los.

- Podemos ir para o quarto? - perguntou. - Talvez eu possa ir primeiro.

- Sim, está bem. - fizera-me ficar tão excitado que nem sabia o que estava a fazer.

- Chamo-te quando estiver pronta.

Foi-se e deixou-me em estado de choque. Oh, e eu que pensava que ela era uma menina inocente. Ainda a amava, imenso, apesar do facto de, obviamente - bem - já ter circulado.

Será que me devia despir? Desejei ter tempo para tomar um duche, sentia-me cheio de calor e transpirado, depois da viagem de avião.

- Estou pronta, Tony - chamou uma vozinha. - Por favor, não acendas a luz.

Estava na minha cama, os cobertores puxados até ao queixo.

Despi a roupa desastradamente, atirando-a para o chão. deixei-me ficar com as cuecas vestidas e saltei para a cama, para o seu lado.

Tinha uma pele de veludo. Juro por Deus que a pele dela era puro veludo. Mal a podia ver, na obscuridade do quarto. Tinha puxado as cortinas e não me deixava tirar os cobertores de cima dela.

Senti-a lentamente. Os seus seios eram firmes e cheios, a cintura estreita e as coxas bem torneadas, tudo coberto por esta pele sensacional de veludo. Estava deitada de costas, o corpo tenso, as mãos agarrando os cobertores.

- Descontrai-te, querida - murmurei. - Acalma-te e goza.

Os pêlos púbicos eram escassos e de veludo, como uma fina penugem. Comprimiu as coxas quando lá sentiu a minha mão.

Rolei para cima do seu corpo e forcei-a a largar os cobertores. Tremia. Levantei-me e tirei as cuecas. Ela fechou os olhos e voltei a colocar-me por cima dela. Tentei abrir-lhe as pernas.

- Tony, sou virgem - disse, subitamente, após uma curta batalha em silêncio, durante a qual não lhe consegui abrir as pernas.

Senti-me ir abaixo, como um balão furado.

Alex abriu rapidamente os olhos.

- Não te importas, pois não?

Importar-me? Importar-me! Estava encantado. Só que o caso mudava completamente de figura. Era virgem e queria ir para a cama comigo, o que podia unicamente significar que me amava.

- Minha pateta, claro que não me importo, acho que é maravilhoso, perfeito.

- Oh, óptimo. - Senti-a descontrair-se.

Segurei-a nos braços, e abracei-a.

- Compreendes, não sei o que tenho de fazer, nem sequer sei como não ficar grávida. É... é a primeira vez que vejo um homem nu.

Bem, dizem que, quem espera, sempre alcança. Sentia-me como um gigante! Um rei!

Ficámos deitados por instantes. Sentia-me perfeitamente satisfeito apenas por abraçar o seu lindo corpo. Fechei os olhos. Estava um pouco exausto por causa da viagem.

- Tony, estás bem? Não estás desapontado?

Abri os olhos rapidamente. Sentia-me tão confortável e feliz que devo ter adormecido por segundos.

Escapara dos meus braços e encontrava-se ajoelhada na cama, com o lençol na sua frente.

- Claro que não, querida. Volta para aqui.

- Quero dizer... bem, se estás desapontado e não o queres fazer, bem... eu compreendo.

- Estás a brincar! -"Puxei-lhe o lençol e deitou-se com rapidez. Beijei-lhe o rosto, afaguei-lhe o cabelo e senti os seus seios inacreditavelmente perfeitos. Começou a emitir uns sons suaves, como uma gatinha.

Tinha uma sensação estranha. Cristo! Como eu gostava desta rapariga. Nem era uma questão de sexo. iNão estava assim tão certo de que queria fazer amor com ela. Era tão pura e inocente e talvez permanecesse assim.

Mas ela desejava-me. Queria pertencer-me. Cheirava tão bem, como flores de Verão.

Estava em cima dela e indicava-lhe o que devia fazer. Ela respirava com dificuldade e mordia o lábio inferior, ao mesmo tempo que me fitava com aqueles grandes olhos castanhos inocentes.

Oh, meu Deus! Saí mesmo a tempo. Foi fantástico. Alex deitou-se então de barriga para baixo.

Era minha.

 

           FONTAINE

Foi um grande alívio, ver-me livre do garanhão. Aprendi uma pequena lição - nunca tirar as pessoas do seu ambiente natural. Meu Deus, vejam o zôo, por exemplo, todos aqueles animais encarcerados em jaulas, neuróticos como o diabo.

Em Londres, à frente do Hobo, Tony é um homem. Aqui, não é nada.

Passei uma tarde muito divertida com Alan. Acho que somos iguais. Trouxe realmente a imaginação com ele, e que imaginação! com o pretexto de trabalhar numa cena para o seu novo livro, fez-me vestir as suas roupas e ele as minhas. Oh, foi hilariante! Veio até equipado com uma cabeleira comprida e maquilhagem. Um homossexual latente, claro, mas, por que me havia eu de importar, desde que fosse apenas latente? Devo dizer que tem muitas possibilidades. Contou-me algumas histórias absolutamente chocantes sobre ele e Salamanda Smith. Três risque! Tenho de encarar a rainha loura do cinema com outros olhos.

Benjamin já chegou. Está agora a tomar duche, a lavar os dentes e a gargarejar. Benjamin é imaculado. Sempre que faz amor, toma duche antes e depois, um hábito de enfurecer, embora muito higiênico. Muda a roupa interior e peúgas duas vezes por dia, por vezes três. Como homem de negócios, Benjamin é um gênio. Mas, como marido, é um chato!

Benjamin e eu temos muito pouco para dizer um ao outro. As intrigas sociais não o interessam e eu detesto conversas sobre temas financeiros e de negócios. Os filhos dele aborrecem-me totalmente e ele detesta discutir sobre as minhas roupas. Para ser franca, estamos muito poucas vezes sozinhos. Talvez se estivéssemos, as coisas fossem diferentes.

Uma vez perguntou-me se queria ter um filho. Disse-lhe que, na idade dele, era uma idéia ridícula.

Talvez tivesse sido preferível ter-lhe dito que sim, mas, sinceramente, não saberia o que fazer com uma criança. Devo dizer que estou bastante feliz com o meu tipo de vida. Tenho efectivamente tudo.

É tão excitante encontrar novos garanhões e observar os seus progressos. Tony é um perfeito exemplo - de empregado a meu amante, a... bem, o que é ele, exactamente? Acho que lhe podemos chamar um parasita.

Chega o momento, em cada relação, em que o corpo do homem já não é suficiente. Penso que atingi esse momento com Tony. Acho que ele tem de ir. Vou atirá-lo a todas aquelas bonequinhas que podem não o querer quando já não estiver no Hobo.

Tenho de me lembrar de pedir a Benjamin que trate de o despedir quando regressarmos.

Claro que o que eu preciso realmente é de um garanhão rico, com tudo o que Benjamin tem. Poderia então divorciar-me de Benjamin e ser realmente feliz.

Penso que nunca deparei com nenhum, parece até que nem existem. Todos os homens com o dinheiro e posição de verdade, são velhos e gordos, tal como Benjamin. Pobre Benjamin. Embora, às vezes, não seja mau de todo.

- Gostaste do teu duche, querido?

- Sim, muito. A minha secretária já chegou?

- Não sei, vou ligar para o Adamo. Combinei um jantar com Sarah e Alan. É o último marido de Sarah, um escritor, estou certa que vais gostar dele.

- Sabes que não suporto a Sarah.

- Querido. - Dirigi-me a ele e comecei a puxar a toalha de banho que trazia atada à cintura.

Voltou-se.

- Agora não, Fontaine. A minha secretária já cá deve estar. Bem, bem! O Benjamin independente. Depois de uma separação,

estava normalmente pronto a atacar. Deliberadamente, despi o negligee e espreguicei-me.

- Acho que vou tomar um duche, enquanto estás com a tua querida e velha Miss Clerk. Achas que estou a engordar demasiado?

Sabia que não havia um grama de gordura no meu corpo. Sabia que a visão do meu corpo excitava Benjamin.

- Não, não estás a engordar. - Os seus olhos esvoaçaram sobre mim e depois, abruptamente, voltou-se pela segunda vez.

Será que estava a ficar senil?

Liguei para Adamo pelo intercomunicador.

- A secretária já chegou?

- Sim, madame. Benjamin vestia-se.

- Já chegou. Estás pronto às seis, não estás? Prometi aos Sidwelí que passávamos por lá para tomar uma bebida.

Anuiu. Espreguicei o meu corpo nu, atirei-lhe um beijo e fui para a casa de banho.

Afinal, se o pobre tipo não o consegue pôr em pé, o que posso eu fazer?

 

         TONY

Ainda me lembro de, quando era miúdo, ver todos aqueles filmes de Hollywood, em que se desenrolavam cenas de amor de paixão e, depois, o herói (normalmente Gene Kelly) dava as boas noites à sua rapariga e saía para a rua, cantando e dançando, no meio de uma tempestade.

Bem, é exactamente o que me apetece fazer agora. Sinto-me como um autêntico Gene Kelly.

E se eu começasse a dançar no meio da King's Road? Provavelmente levavam-me preso por estar embriagado.

Levei a minha pequena Alexandra a casa, de táxi. Estava muito calma, muito amorosa, muito tímida. Na verdade, não disse uma só palavra. Vestiu-se na casa de banho, enquanto eu passei pelas brasas, acordando-me depois e pedindo-me que a levasse a casa.

Não sabia o que lhe havia de dizer, estava tão abalado com os acontecimentos. Assim, ficámos calmamente sentados no táxi até que a deixei em casa. Segui no mesmo táxi e aqui estou, em Chelsea. São três horas da manhã e agora sinto-me desperto, esfomeado e de excelente humor.

Chamei um outro táxi e pedi para me levar ao Hobo. Nunca aprendem - desta vez, não estava ninguém na recepção.

Corri para dentro, apanhei um Franco assustado e disse:

- Onde raio está a Tina?

- Senhor Blake, não estávamos à sua espera.

- Sim, não me estás a contar nenhuma novidade.

- Penso que Tina não se estava a sentir bem, foi cedo para casa.

- Óptimo, Franco, óptimo. Então, se a deixaste ir para casa, por que não meteste ninguém no lugar dela?

- Claro que pus, senhor Blake. Está lá o Frederico.

- O Frederico não está lá. Franco ficou chocado.

- Eu mato aquele Frederico, disse-lhe uma centena de vezes para lá ficar.

Sentia-me demasiado bem para discutir mais. Simplesmente, tinha que lá estar, era tudo. Franco portava-se bem quando eu estava presente. Flowers tocava Lou Rawls. O clube tinha aquela agradável atmosfera descontraída do fim de uma boa noite e restavam apenas umas trinta pessoas na sala.

Sammy permanecia ainda sentado com a sua maravilha juvenil. Agarrou-me.

- Por onde tens andado? Perdeste uma grande excitação. Ainda bem que eu cá estava, impus um pouco de ordem.

- Que aconteceu?

- Aquela Carolyn é doida. Começou por apanhar tudo o que tinha à mão e a atirar ao Steve, e este a esconder-se debaixo da mesa. Ninguém tinha nada a ver com o assunto! De qualquer forma, agarrei nela e começou então a chorar. Saiu a correr e, logo de seguida, aparece gente dos jornais; algum brincalhão lhes deve ter telefonado. Que cena!

Encolhi os ombros. Não estava arrependido por ter perdido tudo aquilo, porque, se tivesse ficado, teria provavelmente partido aquele cantor pop medíocre aos pedaços.

A miúda de Sammy estava sentada, melancólica, ao canto, chupando o polegar.

- Podemos ir? - choramingou.

- Vamos já, não estejas ansiosa. Já to vou dar - replicou Sammy, pestanejando para mim e afirmando: - Uma doidivanas.

Sammy continuava a andar atrás de nulidades. Por que não haveria ele de procurar uma rapariga decente?

- Eh, Sammy, enquanto permaneci em Nova Iorque, estive a pensar.

- Ena... ele já pensa!

- Não, Sammy, a sério. Tive uma idéia excelente de abrir um novo clube.

- Um novo clube? Para que queres tu fazer isso? Que há de errado com este?

- Bem, sabes, Sammy, sou a última pessoa a ganhar algum dinheiro com isto. Está a facturar uma fortuna e eu só vejo uns trocados.

- Sim? Bem, és um idiota, não és? Que te levou a fazer um mau contrato?

- Porque não estava em condições de fazer nenhum contrato quando isto abriu. De qualquer forma; quem podia saber que isto iria ter tanto sucesso?

- Sim, bem... e por que não lhes pedes para te pagarem mais? Tu trabalhas duramente; guando aqui estás, obviamente.

- Para quê fazê-los ganhar mais dinheiro? Este clube sou eu; sem mim, estarão arruinados no espaço de algumas semanas.

- Tem calma, rapaz, és importante, mas conseguiram passar sem ti quando estiveste em Nova Iorque.

- Então, Sammy, vamos - disse a miúda de voz chorosa. - Estou farta de estar aqui toda a noite.

- Sim, vai, Sammy, falo contigo amanhã. - Podia perceber que não ia ter grande saída com ele.

- Senhor Blake. - Franco estava junto de mim. - está lá fora o Mr. lan Thaine com um grupo de dez pessoas. Querem entrar, mas não podemos servir bebidas alcoólicas e não pára de gritar por esse motivo.

- OK, Franco, vou tratar disso.

lan Thaine era um chato. Fizera fortuna a vender roupas, recordações, uniformes antigos, posters. Era proprietário das lojas Thaine, espalhadas por todo o lado, e fazia com que Sammy parecesse pertencer à aristocracia. Era sensivelmente da minha idade, magro e de aspecto macilento, empenhado em se promover socialmente mas nunca o conseguindo. Sabia que ele me detestava, porque me via a conversar com todos os que chegavam - estrelas de cinema, lordes, políticos. Dava cabo dele. Queria ser alguém. Na verdade, dizem os rumores, contratou um agente de publicidade permanente para tentar colocar o seu nome nas colunas sociais, ao lado da elite. Suponho que vale uns dois milhões, pelo menos. Fazia-se habitualmente acompanhar de um grupo do seu nível.

Esta noite, o grupo era composto por duas debutantes da vida social, três elementos de um grupo pop sem interesse, uma actriz outrora deslumbrante com o seu manager de dezanove anos, um actor de segunda, e duas adolescentes de olhos esbogalhados, obviamente seleccionadas das ruas de Piccadilly.

- lan, meu rapaz - dei-lhe o aperto de mão fraternal, firme e sincero.

- Tony. - Sorriu, desdenhosamente. - É verdade que não podemos tomar a merda de uma bebida?

- Lamento, lan, é verdade, temos de pensar na nossa licença

- Que se lixe a vossa licença - disse, impertinentemente. - Queremos bebidas.

Sorri de forma agradável.

- Nesse caso, terão de ir a outro lado. lan mordeu o lábio inferior.

- Oh, está bem, vamos sofrer com Coca-Cola. Estou a ver que tenho de abrir um clube meu nesta cidade para que possa tomar uma bebida.

Bingo! As luzes acenderam-se. lan Thaine. Por que não pensei nele antes?

- Vem daí, lan. - Coloquei o braço em redor do seu ombro -, eu próprio te vou oferecer as Coca-Colas.

A minha cabeça trabalhava rapidamente. lan era perfeito para o projecto que tinha em mente. Ele iria delirar com a idéia de possuir um estabelecimento próprio com sucesso. Tudo o que eu precisava era de saber conduzir o assunto. Ele tinha o dinheiro, e muito. Podíamos ficar em cinqüenta por cinqüenta. Ele entrava com o dinheiro e eu comigo próprio.

- Eh, lan - disse-, tenho estado a pensar...

Cavaqueei com ele e este respondeu como um bebé. (Dificilmente lhe teria dado as horas no dia anterior, dado que era um filho da puta sem igual, mas, ao falar com ele, compreendi como queria que gostassem dele.

Após uma hora cansativa de custos, lucros e coisas do gênero, apertámos a mão.

- Negócio fechado - afirmou lan.

Lindo! Ia entrar com todo o dinheiro. Eu faria tudo o resto e receberia um salário, para além de quarenta e nove por cento. Esforcei-me pelos cinqüenta, mas lan não foi nisso.

- Vamos chamá-lo de lan - retorquiu.

- Sim - murmurei. Podíamos discutir isso mais tarde.

Era tudo demasiado bom para ser verdade. Fazia-se tarde e os empregados pareciam estar a ficar amontoados. lan e o seu grupo eram os últimos clientes. Uma das debutantes veio instalar-se no joelho de lan. Este enfiou a mão pela saia dela acima. A actriz envelhecida encontrava-se de corpo muito junto ao do seu jovem manager. Ninguém parecia cansado.

Levantei-me.

- Acho que são horas de irmos para a cama.

lan ergueu-se; a ex-debutante escorregou para o chão.

- Sim, vamos. - lan era agora meu amigo.

Para alívio dos empregados, todo o grupo se reuniu e saiu. Acompanhei-os.

Na rua, os três cantores pop enfiaram-se num Ford com as duas adolescentes e partiram. A actriz, o seu manager e o actor de segunda, entraram num táxi. Restavam as duas debutantes, lan e eu. Ele possuía um Lincoln Continental com acessórios em ouro e estofos castanhos.

- Onde está o teu carro? - perguntou-me.

- Ahm... na garagem, a reparar.

- Nesse caso, eu levo-te.

- Não, não é preciso, lan. Posso ir de táxi.

- Eu disse que te levo. - Puxou-me para o lado. - Além disso, quero que leves a Diana contigo. Vais gostar dela. - Murmurou uma especialidade em que ela era perita.

- Escuta, lan, não quero...

Mas ignorou-me. Subi para a parte de trás do carro com Diana. Tinha cara de cavalo, era alta e magra. Não poderia ter gostado dela nem na melhor das noites.

- Para onde? - inquiriu lan. Disse-lhe. Como raio ia eu safar-me desta?

Era óbvio que ele pensava estar a fazer-me um grande favor. O melhor a fazer era actuar de improviso.

Deixou-me à porta de casa e Diana saiu também.

- Então, até amanhã às três, no meu escritório - disse lan. Divirtam-se.

Merda! Partiu e fiquei com Diana ali especada.

- Onde moras? - perguntei-lhe, quando deixei de ver o carro.

- com lan - replicou, levemente surpreendida. - Porquê? Parecia que estava num beco sem saída. Por que era tão idiota?

Por que não puxara lan para o lado e lhe explicara? Simplesmente porque eu queria fazer negócio e, se o aceitar de uma das suas meninas o ia agradar, acho que o melhor era aceitá-la.

- Vamos - afirmei, cansado.

Por favor perdoa-me, minha querida Alexandra, mas estou a fazê-lo por nós.

 

         FONTAINE

Benjamin está diferente do que era. Carrancudo, mal-humorado e positivamente grosseiro para Sarah e Alan. Estou completamente furiosa. Nunca o vi assim. Claro que sei que, nos negócios, é um monstro, mas, comigo, sempre foi calmo e cortês e nunca atacou verbalmente os meus amigos. atitude que tomou com maldade a noite passada, ao chamar Alan de "um pobre Tennessee Williams poltrão". com franqueza! Não sabia que ele já lera alguma coisa de Alan.

Sarah estava lívida. Raramente a vi zangada, mas, ontem à noite, os seus olhos faiscaram e quase que cuspia as palavras através dos lábios. Escusado será dizer que nos separámos no exterior do Lê Club como os piores dos amigos. Não voltei a dirigir palavra a Benjamin desde então. Como se atreve a insultar-me e aos meus amigos?

Alan diz que ele sabe sobre nós. Que disparate! Como poderia ele saber? Sou sempre discreta.

Para cúmulo, vamos ter a grande emoção de ter por companhia esta noite o queridíssimo Ben Júnior. Já basta Alexandra, a mirar-me com aquele olhar toda a noite, mas Ben Júnior é impossível. Abunda um ódio mútuo.

O que me apetecia realmente fazer era regressar a Londres. Espero que tenham sentido a minha falta.

Decidi aguardar algumas semanas antes de pedir a Benjamin que despeça o Tony. Afinal de contas, ele é diferente em Londres e, já agora, posso servir-me dele até encontrar outro garanhão londrino. Devo dizer que me sinto um pouco nostálgica em relação a Vanessa, ao Hobo e a todas aquelas intrigas.

Oh, Deus, acho que tenho de fazer as pazes com Benjamin. A razão por que tenho que fazer as pazes, desconheço, mas quero realmente comprar hoje aquele casaco de zibelina e custa doze mil dólares. vou vestir o de marta sem nada por baixo e acordá-lo.

Claro que Benjamin já está levantado e no seu escritório. É meio-dia e levanta-se sempre às sete.

Adamo permaneceu impassível ao ver-me andar de um lado para o outro de casaco. Querido Adamo, o empregado perfeito.

Benjamin não iria gostar que eu aparecesse no escritório vestindo apenas o casaco de marta e nada mais. O segredo erótico de se estar nua por baixo é extremamente excitante. Mas claro que Benjamin é demasiado frio para apreciar tal coisa.

Telefonei a Sarah.

- Querida, lamento imenso, nem sei o que te hei-de dizer. A voz de Sarah estava ácida.

- Eu lamento por ti, amorzinho, tu é que estás casada com ele,

- Não tem importância, querida. Hoje está cheio de remorsos. Vou agora sair para comprar um zibelina novo.

- Este ano, são mais chiques em Paris.

Sarah era uma cabra, mas eu podia ser mais cabra que ninguém.

- E se comprasses um ao Alan?

Riu-se, friamente.

- És tão divertida, Fontaine, talvez o faça. Despedimo-nos e telefonei a Benjamin, para o escritório.

- Sim, o que é, estou ocupado.

Oh, meu Deus, ele era impossível. Passou-me pela cabeça esquecer o casaco e fazê-lo implorar pelo meu perdão. Mas. um casaco de zibelina valia realmente um pequeno esforço.

- Não me digas que ainda estás zangado?

- O que é, Fontaine, estou ocupado e não posso estar a discutir essas coisas agora.

- Bem, querido, preciso de algum dinheiro.

- fala com a minha secretária, ela manda-te o que precisares.

- Vinte mil. Fez-se uma pausa.

- Vinte mil dólares?

- Sim, querido, vi um casaco de zibelina fantástico, e tenho de comprar mais umas miudezas.

- Mas, ainda há pouco te comprei o branco de marta.

- Eu sei, querido, mas eu preciso de um zibelina novo. -'Não, Fontaine, falamos mais tarde nisso.

- Que queres tu dizer com "não, Fontaine"? - Tremia de fúria.

- Adeus. - Desligou-me o telefone na cara. Telefonei de novo imediatamente.

- Mr. Kahled está numa reunião, não pode ser interrompido. disse uma secretária comprometida.

- Mas, daqui fala a Mrs. Khaled.

- Lamento, Mrs. Khaled, ele disse-me para não o interromper, fosse por quem fosse.

Desliguei, furiosa. Como se atrevia ele. Pagaria muito mais que um casaco de zibelina por isto!

 

         TONY

Considero-me um verdadeiro filho da mãe. O que deveria ter feito era dizer a lan que levasse consigo para casa a sua menina horrível e lixar-me no facto de que tal podia dar cabo do nosso negócio. Se o negócio dependia de eu fornicar com uma das suas miúdas, então que fosse para o diabo - quem precisava disso?

Eu precisava. Quem podia ter a absoluta certeza de que ele iria entrar com o dinheiro? Afinal, até aqui, não passava de conversa.

Sentia-me realmente mal. Diana foi-se embora, tive de a forçar a ir. Era repulsiva. E eu também, ali deitado, deixando-a babar-se por cima de mim. Bem, pelo menos, não lhe toquei.

Decidi, definitivamente, que vou casar com a minha pequena Alex. É uma grande decisão, eu sei, mas amo-a. Amo-a sinceramente. Acho que mataria qualquer filho da puta que lhe tentasse tocar.

Toda a situação é melindrosa. Tenho de me afastar de Fontaine e do Hobo. Cristo, se Alex alguma vez descobrisse sobre mim e Fontaine, estava tudo acabado. É uma rapariga de princípios, tão doce e meiga, e aquele corpo! Nunca vi um corpo tão fabuloso, e se já vi corpos. Pele firme de veludo, tão tímida e virgem. Mal posso acreditar, e é minha, só minha.

Acho que o que vou fazer é levantar-me, vestir-me e talvez levar Alex a almoçar. Claro, não tenho o número do telefone do seu emprego. Devia ter-lhe perguntado ontem à noite, mas talvez a amiga esteja em casa.

Liguei para o apartamento, mas ninguém respondeu. Merda. Nem me lembrava sequer do nome da firma onde ela trabalhava. É meio-dia, o que significa que tenho de aguardar cinco ou seis horas antes de ela chegar a casa.

Tinha de me encontrar com lan Thaine às três. Isso faria passar a tarde. Talvez Sammy gostasse de ir almoçar.

Não consegui localizar o Sammy, mas encontrei Hal e Franklin no nosso café preferido, um sítio agradável onde podíamos ficar sentados todo o dia a ver os turistas a passar.

Hal disse:

- Escuta, tenho em mãos um excelente negócio. Lembras-te da Mamie? Bem, o pai dela investiu numa companhia cinematográfica em Roma antes de morrer. Agora, a companhia está à beira da falência, pelo que ela está a entrar com muito dinheiro e eu vou assumir a gerência. Partimos amanhã para Roma. Excelente, não é? Se te portares bem, arranjo-te um papel num filme, és suficientemente bonito!

Hal aparecia freqüentemente com negócios do gênero, mas alguma coisa estragava sempre tudo, normalmente ele.

- Que óptimo, Hal, ainda acabas por te tornar gente importante.

- Amigo, sou sempre gente importante. - Os seus olhos analisavam duas americanas, que se debatiam com as suas estolas de marta. Andava sempre à caça. - Que tal estava a minha cidade?

- Uma maravilha, Hal, uma maravilha, diverti-me imenso.

- Sim, um dia destes tenho de regressar. Naquela cidade, uma pessoa tem de criar sucesso, de outra forma, estamos acabados. A minha empregada preferida aproximou-se.

- bom dia, Mr. Blake. O mesmo de sempre?

- Sim, linda. Assegura-te de que os ovos estão no ponto e bem firmes.

Lançou-me um sorriso.

- Pelo que vejo, o seu clube vem em destaque hoje.

- O quê? Hal replicou:

- Sim, não viste? Só merda sobre Steve Scott.

- Não. - Dei uma palmadinha no traseiro da empregada. Senti que não tinha nada por debaixo da fina saia azul e avental branco. Sê uma jóia e traz-me o jornal.

- vou tentar, Mr. Blake. Estamos muito atarefados neste momento.

Regressou dois minutos depois com três jornais da manhã. Folheei-os rapidamente. Steve Scott era mencionado na primeira página de todos eles. Os cabeçalhos difundiam o seu casamento secreto. Li o primeiro artigo:

"Steve Scott (23) revelou, na discoteca londrina Hobo, ontem à noite, o seu casamento secreto com a actriz e dançarina Carolyn England (23), num dia da passada semana. Steve Scott encontrou fama há dois anos atrás, quando o seu disco Laurie Baby alcançou os primeiros lugares nas listas de discos mais vendidos. Desde então, os seus discos têm-se situado entre os dez mais vendidos. Acabou há pouco de gravar o seu programa semanal na TV e está para iniciar brevemente o seu primeiro filme lodo. Miss England tem aparecido vezes sem conta nos vossos écrans de televisão e foi Votada, no ano passado, A rapariga com as pernas mais compridas da televisão'. A notícia surgiu quando Miss England surpreendeu o marido no Hobo, onde este estava a passar uma calma noite de divertimento com Alexandra, a filha de dezoito anos do bilionário Benjamin Al Khaled. A nova Mrs. Scott anunciou também que estão à espera de um novo elemento na família. O Clube de Admiradores de Steve Scott içou, bem cedo esta manhã, uma bandeira negra nas suas janelas. Steve Scott não fez qualquer declaração sobre este casamento surpresa. "

Havia uma grande fotografia de Carolyn espreitando com ar sexy, e uma fotografia de Steve com a camisa a ser rasgada por um bando de admiradoras.

Sentia-me furioso. Onde raio teriam ido buscar as informações sobre Alexandra? Por que razão teria de aparecer o nome dela? Jornais sem escrúpulos. Todos traziam, mais ou menos, a mesma história.

A minha pequena Alex ficaria aborrecida se visse isto. Bem, servir-lhe-ia de lição, para nunca mais sair com um filho da mãe daqueles. Ataquei os ovos.

- Olá, importam-se que me sente aqui?

Era Suki, com roupa de dia, composta por um vestido indiano e um casaco.

Franklin disse:

- Onde está a tua irmã? Prometeste arranjar-me um encontro.

- Oh, sim, lamento, tenho estado ocupada. Esqueci-me. Falarei com ela.

Não compreendo o Franklin. Tem todas as oportunidades para andar com qualquer uma das raparigas do clube, mas nunca avança. Agora está com esperanças depositadas na irmã de Suki.

- Se lhe prometeste, fá-lo - disse eu. Traz a tua irmã esta noite.

- É capaz de estar ocupada - replicou Suki, pegando no espelho e observando o rosto. - Alguém viu o Massey ultimamente?

Por debaixo de toda aquela maquilhagem, era capaz de ser bonita.

- Para que queres tu o Massey? Tens agora o teu estudante - repliquei.

- Só perguntei se alguém viu o Massey, apenas isso - afirmou, em tom de defesa. - Pensei que estivesse aqui hoje.

Terminei os ovos e pedi bolo de queijo. Comer é um dos meus passatempos favoritos, mas nunca engordo, fico em plena forma. Vinte e cinco flexões por dia. O meu estômago está duro como uma pedra.

Quem havia de chegar naquele momento? Massey. Sereno como sempre, num fato branco e camisola de gola alta castanha. É um tipo muito atraente.

- Tony. - Deu-me uma palmada no ombro. - É bom voltar a ver-te. Olá, Suki, Franklin, Hal. - Sentou-se na nossa mesa.

Suki fechou o espelho e guardou-o.

- Mass, posso voltar? - inquiriu.

- Não - disse, de forma gentil -, não, querida, fica com o teu rapazinho branco.

Os seus olhos de palhaço encheram-se de lágrimas.

- Oh, então, Mass, deixa-me voltar.

- Já disse que não, Suki. - E voltou-se para mim para falar sobre Nova Iorque.

Suki permaneceu sentada durante alguns instantes e depois, com duas grandes lágrimas nos olhos, levantou-se e saiu.

Comi a sanduíche de queijo que ela nem chegara a tocar.

- Pensa que pode assim voltar para mim quando se aborrece do seu rapazinho branco - afirmou Massey. - Bem pode esperar sentada.

Na verdade, penso que Massey estava com ciúmes.

Deixei-me ficar por ali, até serem horas de me encontrar com lan Thaine; depois, percorri a pé a curta distância até ao seu escritório.

Estava sentado num trono de cabedal preto, em frente de uma secretária enorme antiga, numa sala vermelha cheia de fotografias dele próprio. As suas palavras de abertura foram:

- Bem te disse que havias de fazer um bom trabalho, não disse? Aquelas putas educadas em conventos são únicas. - O rosto dele era magro e nocivo e os olhos como fendas pequenas e amarelas.

- Sim, obrigado, lan.

- De nada.

Fez-me então um sumário completo das mulheres que tinha a viver com ele, incluindo Diana. Destrancou então uma gaveta da secretária e retirou uma pilha de fotografias Polaroid, revelando-o em diversas fases de nudez. Tornaram-se obscenas. Sentia-me terrivelmente enojado.

- Fui eu quem as tirou todas - disse, com orgulho. - Às vezes, tenho festas especiais. Da próxima vez, vou ver se és convidado.

Aqui estava um homem pior que Fontaine! Estaria eu a saltar da frigideira para o lume? E se passássemos aos negócios? Vi rapidamente o resto das Polaroids e disse:

- Muito bem, lan. E quanto aos contratos e essas coisas?

- Contratos? - proferiu. - que se passa, não confias em mim?

- Claro que confio, mas se vou começar a dedicar-me a procurar umas instalações, quero ter a certeza de que está tudo sob controlo, sabes como é. preto no branco. Claro que, assim que tivermos qualquer coisa, deixo o Hobo.

De uma coisa tinha a certeza. Não voltaria a ser um Tony idiota. Se me ia envolver com este filho da mãe, iria ser tudo legal, para que, quando ele quisesse que eu fosse a uma das suas festas, eu pudesse seguramente dizer que não, sem ser posteriormente lixado. Fontaine, embora de forma não intencional, ensinara-me a ser esperto.

- Está bem - disse lan-, vou preparar um contrato. Entretanto, começa a procurar. E quanto à Mrs. Khaled?

Olhei para ele, surpreendido. Como sabia ele de mim e de Fontaine?

- Que tem ela? - disse, em tom de suspeita.

- Devo fazer referência a ela no contrato?

- Para quê? - Agora estava realmente surpreendido.

- Ela é tua... sócia, não é? Vai estar envolvida nisto connosco, não vai?

Bem, isto era realmente encantador. Quando é que eu alguma vez mencionei Fontaine?

- Ela está em Nova Iorque - disse, vagamente.

- Aí está uma bonita mulher - afirmou lan, em tom de admiração, trancando as Polaroids.

Levantei-me.

- OK, lan. Vou ficar à espera das tuas notícias

- Sim, vou pedir ao meu advogado que prepare alguma coisa. Não há-de levar muito tempo.

- Está bem, vou começar a procurar.

Apertámos as mãos. Não confiava nele mas, desde que pensasse que Fontaine estava envolvida, entraria com o dinheiro e com um contrato. Não sei por que razão pensa que ela é minha sócia mas, se tal o mantém amigável, que pense. Para quê desiludir o pobre pateta antes do tempo?

Mal podia esperar que a minha Alex chegasse a casa do emprego. Perguntava a mim mesmo o que quereria ela fazer esta noite. Não ia levá-la para grandes excitações, apenas um agradável e calmo jantar num sítio pequeno e uma conversa séria sobre nós. Depois iria para casa deitar-se cedo. A minha querida precisa de dormir. Considerei em visitar alguns agentes de propriedades para passar o resto da tarde. Era melhor começar a avançar.

 

         ALEXANDRA

Creio que nunca me senti tão embaraçada na minha vida! Mr. McLaughton chamou-me ao seu gabinete. Cheguei meia hora atrasada esta manhã e pensei: "Já está".

Era um homem grande, com espessas sobrancelhas, sobre as quais espreitavam olhos vermelhos.

- Sente-se, Alexandra - ribombou. - Não se importa que a trate por Alexandra, pois não? - e riu-se.

Sentei-me, nervosa. O pai tinha razão. Devia ter arranjado emprego numa firma de um dos seus amigos.

- Bem, bem, bem - disse Mr. McLaughton, com um súbito ataque de tosse. - Temos então uma celebridade entre nós.

- Uma celebridade, sir? - questionei, vagamente.

- É filha de Benjamin Al Khaled, não é? Como terá ele descoberto?

- Sim, sir.

- Devia ter-nos dito. Para quê tanto segredo? Corei.

- Não sei, sir.

Honestamente, o que queria ele que eu fizesse? Que chegasse aqui, anunciando em voz alta que o meu pai era Benjamin Khaled?

- Penso que lhe podemos dar uma posição melhor que aquela que tem actualmente - afirmou Mr. McLaughton, sorrindo. - Acho que a podemos promover a assistente pessoal júnior, com mais cinco libras por semana. Não que o dinheiro lhe diga alguma coisa, suponho.

Eu não queria ser promovida a assistente pessoal júnior, com mais cinco libras por semana, apenas porque eles sabiam quem era o meu pai.

- Obrigada, sir - murmurei. Sou fraca, detesto provocar cenas. Teria de telefonar ou pedir a Maddy que ligasse para dizer que já não podia trabalhar ali.

- As minhas duas filhas adoram Steve Scott, terá de lhes arranjar o autógrafo dele.

Olhei para o homem, espantada.

- Steve Scott... - gaguejei.

Pegou num jornal de cima da secretária e acenou-o para mim.

- Casou com uma rapariga bonita - disse. - também é sua amiga?

Tirei-lhe o jornal das mãos e li-o rapidamente. Tudo se tornou claro. Foi assim que descobriram.

- Não tinha visto isto - murmurei.

- Bem, não se esqueça dos autógrafos. Pode tirar o resto da semana de folga, se quiser, começa o seu novo posto na segunda-feira. Talvez eu possa conhecer o seu pai uma noite destas, conversarmos um pouco sobre a sua talentosa filha. - Riu-"e de novo.

- Sim, sir. Obrigada, sir. - Fugi.

Às três horas, já estava em casa. Madelaine tinha saído. Telefonei à minha mãe. Aparentemente não tinha lido os jornais, uma vez que não me mencionou nada sobre aquela confusão.

- Vais trazer alguns amigos este fim-de-semana, não vais? inquiriu.

- Sim, talvez.

- Ainda bem, querida. Então, até amanhã.

Madelaine chegou pouco depois, cheia de embrulhos.

- Fui às compras - anunciou. - Arranjei umas roupas giríssimas para mim. Que raio fazes tu em casa? E já viste os jornais de hoje?

- "Sim, já os vi. Por que achas que estou em casa? Assim que o meu patrão descobriu quem eu era, disse-me logo: "Oh, vamos dar-lhe um aumento" e "Tire o resto da tarde". Não é pretensioso? Acho que não vou voltar.

Conversámos enquanto ela abria os embrulhos e experimentava toda a roupa.

Maddy descobrira, por intermédio de Jonathan, que Suki tinha dormido no apartamento deles e que, o que era pior, levara muitas das suas coisas para lá.

- O Jonathan está irritadíssimo! - disse Maddy. - O apartamento é pequeno e as coisas dela estão espalhadas por todo o lado. Diz que o Michael está doidinho por ela. Lamento, mas estou certa de que não há-de durar muito. Quando te vais encontrar com Tony outra vez?

- Não sei, nunca mais, espero.

- Oh, Alex, ele é um espanto, tremendamente atraente. De qualquer forma, é teu amante, terás de o ver.

- Não, não terei.

Tínhamos discutido a perda da minha virgindade das sete da manhã, altura em que Maddy acabou por acordar, às oito e meia, quando tive de correr para o escritório. Maddy fizera mil perguntas. Doeu? Amava-o? Era enorme? Gritei? Na verdade, não me lembrava de qualquer pormenor. Penso que ele tinha, efectivamente, um corpo bonito. Claro que não o amava. Eu amava Michael. Michael, Michael, Michael, era a única coisa em que pensava. Como que se o meu pensamento nele tivesse produzido qualquer tipo de poder mágico, o telefone tocou, e era ele.

- Alex? Queres vir jantar comigo hoje?

- Jantar? - Fiquei sem fala.

- Sim, quero ter uma conversa séria contigo.

- Está bem.

- vou buscar-te perto das oito.

- Óptimo.

Fiquei encantada. Contei a Maddy e esta anuiu, aprovando. Às seis horas, telefonou Tony.

- Então, querida, como te sentes? Que raio queria ele?

- Bem, obrigada - repliquei.

- Quanto àquilo dos jornais, lamento muito, é horrível para ti.

- A culpa não é tua.

- Sim, com efeito. De qualquer forma, gostaria de tê-lo impedido. A que horas queres que te vá buscar?

- Vires buscar-me? - Puxei pela memória, para ver se me lembrava de ter combinado algo com ele, mas estava certa de não o ter feito.

- Que tal às oito horas? Vamos apenas jantar e depois levo-te logo a casa.

- Escuta, Tony, tenho muita pena, mas já estou comprometida para esta noite.

Registou-se uma longa pausa e depois ele disse:

- Estás a brincar?

- Não, já estava prometido há muito. Houve uma nova pausa longa e Tony afirmou: -. (Nesse caso, desmarca.

- Desmarco o quê?

- O teu encontro. Vou buscar-te às oito.

- Tony, não posso, é...

A voz dele ficou subitamente muito irritada.

- com quem te vais encontrar, que é assim tão importante?

Detestava ver pessoas zangadas comigo.

- Desculpa, Tony, é... é família, não posso fazer nada.

- Oh, Alex, Alex. Que me estás a fazer?

- Não te estou a fazer nada.

- Estás zangada comigo por causa da noite passada, é isso?

- Honestamente, não estou zangada. Adorava estar contigo, só que não é possível esta noite.

- Está bem. E se for mais tarde?

- Não sei...

- Telefono-te às onze; se não estiveres cansada, vou aí durante cerca de uma hora antes de ir para o clube. Que tal?

- Óptimo. - Soltei um suspiro de alívio por me ter livrado dele ao telefone sem uma cena desagradável.

Pedi o vestido de crochet a Maddy e Michael lançou um assobio quando me viu.

- Estás a crescer - comentou.

Levou-me a um pequeno restaurante, muito escuro e acolhedor e deu-me uma lição severa sobre o facto de eu andar metida com más companhias, que se não tivesse cuidado ainda arranjava sarilhos, e que toda aquela gente com quem eu andava fumava drogas e outras coisas. Bem, eu sabia isso.

- Sinto-me responsável por ti - disse. - Não podes sair assim da escola e tornares-te numa vadia qualquer. O que disseram os teus pais sobre os jornais de hoje?

- Nada - murmurei. Estava amuada e desapontada. Pensei que ele queria jantar comigo, quando, afinal, só me queria dizer que eu era uma rapariga pateta.

- Então, e tu e aquela rapariga engraçada? - acabei por dizer, incapaz de ficar calada por mais tempo. - Que pensam os teus pais de tu estares a viver com ela?

- Eu não tenho dezoito anos - afirmou, com voz austera. - Só estou a tentar ajudar-te, Alex, não passas de uma miúda.

Decidi que o odiava de novo.

Às dez e meia já estava em casa, tendo-me despedido friamente de Michael, logo que terminámos o jantar. Tony telefonou pontualmente às onze.

Iria mostrar a Michael. Convidei Tony a passar o fim-de-semana no campo. Michael chamara Tony de vulgar e espalhafatoso. Bem, vamos ver o que ele pensa sobre isto! Se tal não o fizer ficar ciumento, não sei o que o fará.

 

         TONY

A vida corre, dia a dia, sem grandes ondas. A vida é boa, as coisas correm bem, muitas miúdas, amigos, comida, dinheiro suficiente para jogar um pouco, comer fora todas as noites. Uma maravilha!

Claro que sempre quis fazer melhor, ter o meu próprio estabelecimento. Mas sabia que não valia a pena forçar, tudo acabaria por acontecer. Só tinha de me descontrair e gozar a vida. Era cá uma sensação, quando pessoas que eu só conhecia de nome me tratavam como um irmão há muito perdido e ter, à minha disposição, quantas raparigas quisesse.

Subitamente, aparece na minha vida a Miss Alexandra Khaled, cabelo ruivo brilhante, grandes olhos castanhos, corpo incomparável, jovem, inocente, com classe, doce, tímida, gentil. E eu fico apaixonado.

Significava uma mudança imediata na minha vida. Preciso de muito mais dinheiro, não para jogar ou comer fora, mas para construir um lar. Tenho de ter algo para lhe oferecer. Neste momento, reconheço que devia ter dado ouvidos a Sadie e poupado algum dinheiro.

Ela fita-me com aqueles grandes olhos de confiança e derreto-me. Nunca me senti assim na minha vida. Sinto que tenho de cuidar dela, protegê-la do mundo.

Quando me disse que não se podia encontrar comigo esta noite, senti-me destruir. Passei todo o dia na esperança de vê-la à noite. Estava zangado, ciumento e doente. Mas explicou a situação de forma tão agradável, tão doce.

Oh, rapaz, nunca pensei que me deixasse apanhar assim. Conheci muitas mulheres e pensava que, no que dizia respeito a elas, tinha tudo sob controlo. Fornicar com elas e deixá-las à espera de mais. Nunca falhava. Mas, agora, estava apanhado naquela ratoeira bem conhecida. Quando me disse que não se podia encontrar comigo, foi como uma sensação de dor física.

Claro que tinha de casar com ela. Era tudo. Metê-la num pequeno apartamento, dar-lhe alguns filhos. Será que ela sabe cozinhar?

Passei uma noite miserável com Sammy e com a miúda de voz chorosa da noite anterior. Comemos num restaurante e sou capaz de jurar que ela lho estava a fazer por debaixo da mesa. Chuchava no polegar entre as garfadas de comida e limpava o nariz com as costas das mãos. Encantador!

A dado passo, foi à casa de banho e Sammy disse:

- "Que se passa contigo, por que razão estás tão irritado?

Encolhi os ombros.

- Nada, estou bem. - Não estava com intenção de contar a ele o que se passava.

- Então, o que pensas da minha miúda? Ainda anda na escola. Não é uma coisa querida?

- Só ficas satisfeito quando fores apanhado, palerma. Ela é menor.

- E quem é que me vai apanhar? Ela diz que os pais nunca fazem perguntas. Pode entrar e sair quando bem lhe apetece.

- Sammy - abanei a cabeça, tristemente-, para que andas tu atrás disso?

- Estás a brincar, não estás?

Ela regressou. Bem parecia uma miúda de quinze anos, com o seu vestidinho e meias com padrão.

As onze horas chegaram muito lentamente. Tentei ficar calmo e telefonei a Alex. Estava adorável.

- Estou na cama, Tony, há muito que cheguei a casa.

- vou até aí e leio-te uma história,

Oh, meu Deus, estava a afirmar coisas que nem eu próprio acreditava.

- vou dormir, mas queria perguntar-te uma coisa. Gostarias de ir passar o fim-de-semana no campo?

- Quando? - perguntei, estupidamente.

- Tinha pensado amanhã à tarde, e poderíamos voltar no domingo à noite.

- Sim, seria formidável.

Que se lixasse o clube, teriam de se arranjar sem mim no fim-de-semana. Três dias completos com a minha Alex. Não podia ser melhor.

- Vamos de comboio? - perguntou ela. - Ou queres levar o teu carro? É só uma hora de viagem.

Não acreditava que Sammy se separasse do seu tipo E durante o fim-de-semana, pelo que disse:

- Vamos de comboio.

- Parte um às quatro horas de King's Cross. A minha mãe vai ter connosco à chegada.

Tinha-me esquecido sobre a querida mãezinha. Isso iria esfriar as coisas um pouco. E se a mãe contasse ao pai e o pai contasse a Fontaine? Oh, enfim, não tardaria a sair do Hobo.

- Sim, está perfeito. Vou buscar-te perto das três.

- Que aconteceu? - perguntou Sammy. - parece que encontraste ouro.

- Sim. - ri-me. - Vamos para o clube.

Ia ser uma daquelas noites. Começou a encher cedo, muitos rostos, Franco correndo de um lado para o outro, Flowers tocando Wilson Pickett. Hal, Franklin e Massey já lá se encontravam, Massey com uma loura de pasmar, Franklin só, como era habitual, e Hal com uma grande "pedrada", celebrando a sua última noite de liberdade, antes de Roma e de Mamie.

Convivi um pouco. Era ainda cedo de mais para difundir a notícia de que ia abrir um clube meu, mas convinha espalhar o meu charme com abundância. Tenho de me lembrar de fazer uma cópia da lista de membros.

"A Fanhosa" chegou com um grupo de pessoal das filmagens, lábios amuados, uma massa de cabelo cor de laranja; "ultrapassara já a sua ira para comigo. Deu-me um abraço e um beijo, os seios pendendo para fora num vestido de veludo preto. Não era má rapariga, tínhamo-nos divertido imenso.

- Sabes uma coisa, Tony querido? - guinchou ela. -vou contracenar em Lodo, com o Steve Scott. Não é fabuloso?

- Sim, sensacional. - Sentia-me cheio de bondade para todo o mundo.

- Que tinha ela para dizer? - inquiriu Sammy, quando me sentei.

- Disse que vai contracenar com Steve Scott, em Lodo.

- Huh! - exclamou Franklin. - Candy Cook é a estrela principal, ela deve ter conseguido um papel importante. - Ainda não se recomposera do seu encontro com "A Fanhosa".

- Franklin - disse, em tom sério -, que vais fazer a teu respeito?

- Que queres dizer?

- Refiro-me em ires para a cama com uma mulher, é isso. Estás a poupar-te para quê? Meu Deus... se tivesse a tua idade e as tuas ligações, estaria a divertir-me à grande.

- Ainda não encontrei a rapariga certa.

- Merda, homem, nesta altura, qualquer rapariga séria é certa. Não podes desperdiçar a tua vida, sabes. Escuta, sinto-me tão bem esta noite que te vou arranjar pessoalmente uma rapariga.

Franklin mergulhou num silêncio e fui tomar um scotch com um dos elementos do The Must, acabados de regressar de um concerto em Paris.

Há algo num scotch com Coca-Cola que me agrada. É uma longa e saborosa bebida, com um impacto oculto. Devia ter tomado uns seis ou sete quando fui fazer "xixi"; apercebi-me, então, que estava bem "cheio". Normalmente, só fico levemente "tocado" quando estou a trabalhar, mas, esta noite... UPA! Atingiu-me fortemente.

Estava todo a transpirar, depois de ter dançado com Molly Mandy, uma dançarina dos diabos. Viera sozinha e sentara-se à nossa mesa. Tinha esta vaga idéia de a juntar a Franklin mas, Deus Todo-Poderoso, ela havia de o comer vivo! Talvez fosse isso mesmo o que o miúdo precisava.

Pouco depois, encontrei-me a dançar com "A Fanhosa".

- Oh! Tony, isto é divertido - guinchou. - Nunca dançavas comigo quando estávamos juntos.

Funky Street. Flowers dançava no seu posto. "A Fanhosa" abanava os seios na minha frente. Homem, estava "passado". Flowers sorria abertamente. Jack Flash. O suor libertando-se de mim. Hal desenrolava um jogo de gritaria com Franco. Toda a gente se ria. Toda a gente se divertia. Sammy em manobras com a sua menina de escola. Por que razão teria o Otis Redding de morrer num acidente de avião? Flowers de luto durante semanas, mais que por Martin Luther King. Estás com óptimo aspecto. O vestido da "Fanhosa" caindo-lhe, ela rindo-se, agitando o cabelo cor de laranja. Subitamente, ela transformou-se em Molly Mandy e eu disse:

- Faz-me um favor - vai divertir-te com o Franklin.

A música foi ficando cada vez mais suave. com quem estava eu a dançar? Carla Cassini, uma linda estrela de cinema italiana. Tinha um cheiro fantástico, mas estragava tudo com sovacos cabeludos.

- Você é um grande homem, não é?

Deixei o coração em São Francisco. Aqueles eram Massey e Suki? E a loura espectacular a dançar com Hal? Hal nunca dançava, mas estava a fazê-lo hoje. E quem não estava?

- O meu produtor teve de voltar para Roma apenas por um dia, por isso vim vê-lo hoje. Boa idéia, não foi? - era uma mulher que me enchia os braços. E Alex? Estaria, mais uma vez, errado? Para quem me posso voltar? Moldou o seu corpo ao meu, esfregando uma perna entre as minhas coxas. Cristo, agarrou-me nos testículos e magoou-me. - Temos de ter cuidado - murmurou. - Estou a ser seguida - ele manda sempre seguir-me. Não consigo tirar os olhos de si. - agitou o corpo contra o meu, mantendo um ritmo perfeito com a música.

- Estou na Marlofield, 102, numa pequena casa. Daqui a meia hora, entre pela janela das traseiras, eu trato de tudo.

Merda, homem! Franco e os empregados italianos pairavam na berma da pista de dança, tentando ver melhor o que se passava.

- Vou agora - disse, abruptamente e deixou-me ficar ali especado.

Uma desgraça nunca vem só. Sentei-me.

Molly Mandy trabalhava afincadamente, murmurando algo ao ouvido de Franklin. Parecia um pouco aparvalhado. Homem, como a sala girava. "A Fanhosa" apareceu.

- E esta noite, em memória dos velhos tempos? - sussurrou ao meu ouvido, ao mesmo tempo que pressionava a língua lá dentro.

Molly Mandy lançou-me um piscar de olhos do outro lado da mesa. Massey e Suki vieram e sentaram-se. Um tipo baixo e gordo aproximou-se da "Fanhosa" e firmou uma mão gorducha no seu ombro. Tinha um charuto entalado entre os dentes.

- Vais ficar com esse traste toda a noite?

- Oh, Chucky, desculpa. Vou já.

- Acho bem - retorquiu.

- Quem é aquele? - perguntei.

- É o Chuck Van Marless Júnior - explicou-, o produtor. É melhor voltar.

- Quem te está a impedir? Lançou-me um olhar triste.

- És um filho da mãe, Tony.

A voz dela fazia-me nervos. Voltou para junto do Chucky Júnior, e do grupo com quem estava.

Amo a Alexandra.

Qual fora o número da Praça Marlofield que Carla dissera? Afinal, não era casado - ainda.

Franklin e Molly Mandy levantaram-se subitamente.

- Nós vamos indo - anunciou ela com um grande sorriso, fazendo luzir os dentes de ouro. Franklin olhava para o chão, embaraçado. Por fim, por fim!

- E a minha irmã? - disse Suki.

- Onde está a tua irmã - perguntei.

- Bem, está cá, algures. Viu alguns amigos quando chegámos, mas não tarda a aparecer aí e pensa que tem um encontro com o Franklin.

- Escuta, querida - disse Massey-, não acredito que esteja assim tão ansiosa. Já cá estamos há uma hora e por onde anda ela?

Suki encolheu os ombros.

- Vamos dançar.

Foram, felizes por estarem juntos de novo.

iNão me conseguia recordar do maldito número - cento e qualquer coisa - 102, era isso. Ia-me embora. Afinal de contas, uma estrela de cinema é uma estrela de cinema e, o que Alex não sabia, não a podia magoar. Era óbvio que tal não significava que não a amava. É um facto bem conhecido que os homens precisam mais disso que as mulheres. Então, e Fontaine?

Apanhei um táxi; recordando o aviso de Carla, pedi-lhe que me deixasse na praça, onde andei à procura do 102. Era um trabalho inglório, encontrar os números debaixo de chuva, mas fui de casa em casa, espreitando as portas com o meu isqueiro de confiança. Oh, meu Deus, o que uma pessoa não faz por uma estrela!

Encontrei. Esperava que ela tivesse scotch e Coca-Cola, bem precisava. Abri caminho por entre as árvores até às traseiras e comecei a tentar as janelas. Estava ensopado.

Subitamente, uma luz incidiu nos meus olhos e uma voz alta proferiu:

- Se fosse a si, não dava nem mais um passo. Então, um polícia enorme fez-se ver.

- Que pensa que está a fazer? - inquiriu, educadamente. Era uma particularidade dos nossos polícias, as suas boas maneiras.

Ali estava eu, ensopado até aos ossos e com uma ressaca eminente, na Estação Central da Polícia de Londres Oeste. Encantador! O raio do polícia nunca ouvira falar em Carla Cassini, nem o casal que vivia na Praça Marlofield, 102. Compreendi, tarde de mais, que devia ser na Rua Marlofield, mas o braço doce da lei nem sequer queria confirmar a minha história. Imaginei a Carla à minha espera, numa curta camisa preta transparente, o tipo de coisa que usava na maioria dos seus filmes.

Envolvera-me numa autêntica embrulhada. Que cena! Após longa discussão, acabaram por enviar alguém para confirmar a minha história no número 102 da Rua Marlofield e Carla, a cabra, negou sequer conhecer-me! Nova discussão, até que os consegui convencer a telefonar para o Hobo; Franco e Sammy apressaram-se a vir identificar-me. Franco confirmou que a Miss Cassini estivera no clube naquela noite e que estivera a dançar comigo. Acabaram por acreditar em mim e libertaram-me.

Merda, homem! Sammy ria-se tanto que as lágrimas lhe rolaram pelo rosto.

- Parece que estou a ver a cena - disse-, tu, cheio de tesão, a tentares entrar por uma janela e o polícia a lançar-se a ti!

Oh, muito divertido. Muito divertido, mesmo.

Franco tentava fazer uma cara séria e preocupada, enfiado no banco de trás do tipo E de Sammy; mas eu sabia que, mal chegássemos ao clube, a história seria imediatamente espalhada.

- Não quero que ninguém saiba disto - disse, severamente.

- Senhor Blake! - exclamou Franco com horror. - Corto o meu braço direito se contar alguma coisa.

Filho da puta mentiroso!

 

         FONTAINE

Fiquei sentada a planear a minha vingança. Era já altura de dar uma lição a Benjamin. Deus Todo-Poderoso, estava a tratar-me como uma esposa.

Vesti-me, saí, e comprei, de qualquer forma, o casaco de zibelina. O crédito de Benjamin era bom, sabiam quem eu era.

- Mande a conta para o escritório do meu marido - disse. - Ele gosta que seja eu a escolher os meus próprios presentes de Natal.

Isso iria ensinar o querido Benjamin a não me dizer que não. Será que o velho tonto não compreendia a sorte que tinha em ter uma esposa como eu?

Logo à noite, quando ele estiver à espera que eu faça sala com o estúpido do filho, vou arrasá-los aos dois. Benjamin não pode estar à espera de me tratar assim e ficar a rir-se. Primeiro que tudo, tenciono regressar a Londres amanhã, com ou sem Benjamin. Vou mostrar-lhe quem dita as regras no nosso casamento. Meu Deus, se pensa que me pode tratar como tratava a primeira mulher, está muito enganado.

Vesti um cat-suit Courrèges, em renda branca. Roger chegou e penteou o meu cabelo num estilo devastador; depois, Adamo preparou-me um cocktail de champanhe e aguardei o regresso do meu querido marido.

Este chegou prontamente as seis, seguido por Ben Júnior, que me espreitou através dos óculos.

- Olá, Benjamin querido - afirmei friamente, ignorando o filho. - Foi muito simpático da tua parte teres retribuído a minha chamada.

- Não viste o jovem Ben? - disse Benjamin, agudamente. - sim, vi o jovem Ben - repliquei, numa voz cantante.

- Fontaine, vê se te acalmas. Falamos nisso mais tarde.

- Não há nada para falar. Oh, a propósito, comprei o casaco. Está no quarto, é absolutamente divino. Obrigada, querido.

O seu rosto perdeu a firmeza, mas mostrou-se relutante em discutir na presença do seu precioso filho. Voltou-se alegremente para Bem Júnior.

- Então, a que restaurante gostarias de ir?

- A qualquer lado, senhor - replicou Ben Júnior, estudando o chão, embaraçado, por ter sido apanhado no meio de uma discussão.

- E tu? - Benjamin voltou-se para mim, tentando desesperadamente manter uma atmosfera alegre.

- Creio que não vou. - Saboreei o seu ar de aborrecimento. Estou com dor de cabeça.

Registou-se um curto silêncio delicioso e Benjamin afirmou então:

- Põe-te à vontade, Ben, toma uma bebida e vê as revistas. Fontaine, vem até ao quarto e mostra-me o teu casaco enquanto tomo duche.

Oh, compreendo. Ia perdoar-me por ter comprado o casaco se fosse sair com eles, como uma boa rapariga, e se me mostrasse simpática para o filho horrível e chato.

Estava certa.

- Fontaine, não sejas cabra.

- Cabra?

- Sabes a que me refiro.

- A quê?

- O rapaz é sensível. Não o magoes; põe-no à vontade.

- Então, e eu? Também sou sensível, sobretudo quando o raio de uma secretária qualquer não me liga contigo ao maldito telefone.

- Tens de compreender...

- Também tu. Não espero ser tratada assim.

- Já tens o casaco, o mínimo que podes fazer é seres cortês.

- Sim, tenho o casaco apenas porque te ignorei e o comprei, de qualquer forma.

- ôh, Fontaine, tens agora o casaco que querias. Sei que o meu dinheiro, e aquilo que te pode comprar, é a única razão por que te casaste comigo. Não me amas e penso que, finalmente, o compreendi.

- Poupa-me a história triste, por favor.

- Por favor, Fontaine, sejamos amigáveis agora, por causa do rapaz.

- Ele não é nenhum rapaz, Benjamin, não o mimes. Provavelmente, está mais do que chateado por ir jantar connosco, tal como eu-muito aborrecida com tudo isto.

- Receberás o resto do dinheiro que queres amanhã de manhã.

- Oh, está bem, então, mas lembra-te que nunca mais me deves tratar desta forma.

- Está bem, Fontaine, mas, por favor, faz com que tenhamos uma noite agradável.

Odiei o Benjamin. Odeio um homem que se deixa pisar assim.

A sua punição ainda não terminara, havia de ver. Assim que me vier adolar, à espera de ir para a cama comigo, terá de esperar. Tal como teve de esperar antes de nos casarmos. Oh, meu Deus, fi-lo enlouquecer de ansiedade então e é exactamente o que irá acontecer agora. Terá de implorar. Pobre filho da mãe.

 

         TONY

Encantador! Arrastado para a esquadra da Polícia como um criminoso qualquer! Sadie teria mil ataques, se soubesse. Tudo por causa de uma italiana que, se querem saber a verdade, nem sequer me agrada. Bem, pelo menos, não muito; se não fosse quem era, com certeza que não teria ido à Praça Marlofield - rua - ou o que quer que fosse. Honestamente, a única pessoa de quem gosto é de Alex.

São duas horas da tarde, e já me barbeei e vesti (roupa muito informal - camisola branca, calças pretas e casaco de camurça). Não sei exactamente o que levar para a viagem. Um fato, para o caso de a minha querida querer ir sair? Pijama? Nem sequer tenho um, durmo sempre nu - para que a pele respire, sabem.

Por fim, emalei mais algumas camisolas e as coisas necessárias para a barba. Afinal, um fim-de-semana no campo tinha como objectivo descansar.

Não me sentia muito bem. Leves vestígios de uma ressaca. Mas estava com bom aspecto; se estivesse bronzeado, até parecia que tinha acabado de regressar do sul da França.

Alex estava à minha espera. Muito bonita, num fato-calça verde, o cabelo caindo-lhe em redor do rosto encantador. Tinha uma mala enorme e disse:

- Levo toda a roupa suja para casa! Muito bem!

- Queres café? - inquiriu.

- Tenho um táxi à espera.

- Oh, OK. A Maddy não demora nada.

Maddy? Não me digam que ela vinha também. Só servia para estorvar.

Vinha mesmo. Maddy, de fato-calça cor de malva, com um grande e gordo traseiro, um boné à John Lennon e um rosto simples.

Estava ansioso por ter uma conversa calma com a minha Alex, mas tal já não ia acontecer. No comboio, Maddy manteve uma enchente ininterrupta de conversas pouco inteligentes, tudo sobre roupas e um palerma chamado Jonathan e como o Natal ia ser fabuloso. Depreendi, pela conversa, que Alex ia passar o Natal na casa de Madelaine. Encantador. Teria de a convencer a não ir.

- A mãe vai sempre passar o Natal a St. Moritz - observou Alex para mim, finalmente incluindo-me na conversa -, é tão agradável, com o ski e tudo o mais. Este será o primeiro Natal que não vou com ela.

 

- Só falta uma semana e ainda não comprei um único presente - exclamou Madelaine. - Que queres tu, Alex? Ela riu-se.

- Sinceramente, nada. Onde vais passar o Natal, Tony? Onde ia passar o Natal? Se calhar, ao The Elephant.

- Ah... ainda não decidi.

Na verdade, Sadie e Sam não celebram o Natal - quero dizer, não fazem nada de especial. Normalmente, no dia de Natal, levanto-me tarde e vou até ao Hilton, com a miúda com quem estiver na altura, e como o almoço de Natal especial deles. É muito agradável. Volto depois para casa, deito-me e vejo televisão.

Adormeci ao som das raparigas a conversar. Havia de apanhar Alex sozinha mais tarde, podia esperar.

- Acorda, já chegámos!

Desci do comboio atrás delas, carregando a mala enorme de Alex, o saco que pesava toneladas de Madelaine, com o essencial apenas para uma noite e o meu saco. Tony, o carregador.

As raparigas percorreram rapidamente a plataforma e eu segui-as. Alex atirou os braços em redor de uma mulher loura, que permanecia junto de uma carrinha. Sorriu para mim, quando me aproximei com toda aquela tralha.

Alex disse:

- Mãe, gostaria de te apresentar o Tony Blake.

Ofereceu-me um sorriso amigável. Sabia agora onde Alex arranjara aqueles lindos olhos castanhos. A mãe era uma mulher atraente, muito melhor que qualquer uma das mulheres de mais idade com quem Hal aparecia.

- Muito prazer em conhecê-lo, Mr. Blake. Terá de desculpar a minha filha por fazê-lo transportar tudo, mas não tem maneiras nenhumas.

Todos nos rimos. Gostei da mãe.

Chegámos a casa. Mostraram-me as instalações e depois deixaram-me sozinho num quarto de hóspedes em mogno e com uma casa de banho adjacente em mármore. Que casa! Estábulos, piscina; o melhor. Criados circulando por toda a parte, três carros no caminho de acesso. Tinha imaginado a pobre mãe abandonada a viver numa vivenda com uma ajuda diária. Fiquei realmente chocado. Como podia a Alex ter um pai bilionário, uma mãe que vivia neste luxo e, mesmo assim, trabalhar como uma simples secretária? Não compreendia.

Chegou um mordomo com o meu saco.

- Quer que desfaça a mala, sir? - Olhava com ar de desdém para o nariz longo e fino.

Oh, merda - se o Sammy me visse agora.

- Não, não é necessário - disse aereamente, pensando nas duas camisolas amarrotadas e num par de calças limpas, com um buraco.

- Tem a certeza, sir?

- Sim, tenho. - Olhei para ele, na esperança de que se fosse embora.

- Quer que lhe prepare uma bebida, sir? Assim, está bem.

- Sim, gostaria de tomar um scotch com Coca-Cola, muito gelo.

- Scotch com Coca-Cola, sir?

- Sim, com Coca-Cola.

- Muito bem, sir.

Velho magricela, nem sabia o que se passava no mundo, aqui enfiado no campo.

Abri o meu único elemento de bagagem e desejei ardentemente ter trazido um fato. Alex e Madelaine tinham-me depositado neste quarto, dizendo alegremente:

- Vamos trocar de roupa para o jantar, vemo-nos lá em baixo às sete.

Não tinha nada para trocar, excepto por uma camisola e estava a poupá-la para o dia seguinte. Tinha a sensação horrível de que trouxera a roupa errada. Ainda não estive com a minha querida Alex. Onde raio ficava o quarto dela? Teria de o descobrir, para mais tarde.

O nariz longo e fino regressou com uma pequena porção de scotch num copo, um balde de gelo cheio e uma garrafa de Coca-Cola.

Traguei o scotch de uma só vez. Mudei então de camisola e parti em busca de Alex.

Era uma casa enorme, com maciças portas de carvalho por todo o lado - todas fechadas. Desci as escadas e, em frente de uma lareira crepitante, encontrei a mãe, com um vestido de cocktail em chiffon azul, acompanhada por um gigante de cara vermelha, em fato de cerimônia.

- Ah, Mr. Blake - disse a mãe de Alex. Desejei que ela parasse com aquela história do Mr. Blake. - Gostaria de lhe apresentar o Dr. Sutton.

Apertei-lhe a mão. Bem, pelo menos iam a qualquer lado, pelo modo como estavam vestidos.

- Mr. Blake é um amigo de Alexandra, de Londres.

- Oh, sim - disse o Dr. Sutton. - Muito bem... sim, Londres. Irei lá dentro de três semanas. Amigo de Alexandra. Uma rapariga encantadora, tal como a mãe - encantadora. Sim... muito bem, muito bem.

- Deseja uma bebida, Mr. Blake? - perguntou a mãe de Alex. Não consigo tratá-la por Mrs. Khaled.

- É uma boa... quero dizer, sim, obrigado, é muito simpático da sua parte. Prefiro que me trate por Tony.

- Certamente. - Sorriu. Tinha um sorriso como o de Alex, só que estava um pouco gasto nos cantos.

Chamou o nariz longo e fino, que sorriu para mim maliciosamente e disse:

- Scotch com Coca-Cola, sir.

- Sim.

- Ora aí está uma bebida engraçada. - O Dr. Sutton era um homem que gostava de conversar. - Muito engraçado, afogar o sabor do álcool com uma bebida carbônica. É como se estivesse a beber Coca-Cola simples.

Desejei que os velhotes se fossem embora. Por onde andava a minha Alex? Como que respondendo à minha deixa, entrou com Maddy. Ambas traziam roupa requintada. Ocorreu-me, subitamente, que talvez trocar de roupa para jantar significasse vestir a rigor para o jantar.

Maddy confirmou as minhas suspeitas.

- Ainda não trocaste de roupa, Tony? - perguntou, no momento em que o nariz longo me trouxe a bebida.

- Então, Madelaine - disse a mãe de Alex. - Mr. Blake não é obrigado a trocar de roupa.

- Oh, meu Deus, Tony - interrompeu Alex. - esqueci-me de te dizer que nos vestimos sempre para jantar. Pensei que sabias... - a sua voz foi morrendo. - Por favor, desculpa, por que haverias de saber?

Sim, por que haveria eu de saber? Afinal, não passo de um ex-empregado. Senti-me um idiota.

- Não se preocupe com isso, Mr. Blake. Está bastante respeitável- disse a mãe.

Fiquei ali parado, com cara de parvo, enquanto todos inspeccionavam a minha camisola às riscas pretas e brancas (pelo menos era do Simpson) e calças pretas justas.

Madelaine abafou o riso. O que ela precisava era de um bom pontapé no traseiro.

- O jantar está servido, minha senhora. - O velho de nariz fino e longo estava de volta. Pensava que cenas como estas só existiam nos filmes.

Encaminhámo-nos todos para a sala de jantar, com Alex dando-me o braço e murmurando:

- Desculpa!

A sala de jantar possuía a prata suficiente para afundar um navio. Ainda bem que já fui criado, de outra forma nunca teria sabido que facas, garfos e outros utensílios utilizar.

O jantar foi um verdadeiro aborrecimento. O Dr. Sutton entretendo-as com uma história acerca de um seu doente com uma doença incurável; a mãe a contar-nos que tinha de ir às compras de Janeiro e o que ia adquirir; e Alex e Madelaine rindo-se ocasionalmente.

Estava verdadeiramente farto. Após o jantar, que se arrastou, passámos à saleta, para tomarmos o café. Então, toda a gente começou a bocejar e a mãe disse:

- O melhor é deitarmo-nos cedo, se queremos ir andar de cavalo logo de manhãzinha.

Tentei captar a atenção de Alex, mas estava entretida com a amiga, como habitualmente.

- Você sabe montar, não sabe, Mr. Blake? - inquiriu a mãe de Alexandra.

Ainda a mato, se não pára de me tratar por Mr. Blake. Apeteceu-me dizer: "Sim, amorzinho, sei montar, mas não no modo como estás a pensar!" Em vez disso, afirmei:

- Não.

- Que pena. Mas pode descansar bastante e estaremos de volta à hora do almoço.

Oh, muito agradável.

Toda a gente desejou as boas-noites uns aos outros e as raparigas e eu começámos a subir as escadas, enquanto a mãe acompanhava o doutor à porta.

- Onde fica o teu quarto? - murmurei a Alex.

- Oh! - corou. - maddy dorme comigo. Encantador!

- Nesse caso, vens tu ao meu quarto.

- Tony, não posso, aqui não. Peguei-lhe na pequena mão e apertei-a.

- Só quero conversar contigo, apenas conversar, prometo. O meu corpo já respondia - estava rijo como uma pedra.

- vou tentar.

Dei-lhe um beijo no rosto enquanto Madelaine ficou parada a olhar.

- Não te demores. Ela anuiu.

- Se puder. - E seguiu com a amiga.

Que situação péssima. Que grande chatice em que estava metido. Consultei o relógio. Apenas nove e meia. Desde os dez anos que não me deitava às nove e meia!

Fui para o meu quarto. Nem televisão, nem rádio, nem telefone. Alguém abrira a cama e tirara as coisas do meu saco. Bem, que se lixasse - pouco me importava o que um mordomo qualquer de nariz fino podia pensar de mim.

Deitei-me na cama e fumei um cigarro - depois outro e outro.

Isto era ridículo, quase meia hora e nada de Alex.

Não podia suportar a idéia de que ela não viria. O meu corpo estava já numa ansiedade nervosa. Dar-lhe-ia mais cinco minutos, dez minutos, quinze minutos. Raios! Quase uma hora e onde estava ela?

Saí para o corredor. Nenhum sinal de vida, apenas uma luz fraca acesa. Como um idiota, não fazia idéia onde ficava o quarto dela. Espreitei pelo buraco da fechadura da porta ao lado da minha - estava escuro; depois, o buraco da fechadura seguinte - era uma casa de banho; depois o outro, um armário. Estava a fazer grandes progressos.

O corredor fazia uma curva e havia uma porta com luz por debaixo. Inclinei-me para espreitar através da fechadura e dei um salto para trás, espantoso. A mãezinha malandra. Estava estendida na cama, metros de chiffon azul em redor da cintura, pernas bem levantadas no ar e, curvado por cima dela, o velho amigo, Dr. Sutton. A mãe era danada para a brincadeira.

Não consegui evitar de sorrir. Que cena! O Dr. Sutton tinha ainda grande parte da roupa vestida, não podia estar muito confortável!

Bem, bem, bem. Arrastei-me para longe da fechadura - gostava de fazer, não de ver.

Agora sentia-me excitado. Onde estava Alex?

Dirigi-me à outra extremidade do corredor e iniciei a rotina dos buracos de fechaduras. O quarto estava na mesma posição do da mãe, mas ela não, dormia num divã, com uma pequena cama separando-a de Madelaine, que dormia também.

Olhei para ela por momentos. Sentia-me como um ladrão. Respirava suavemente com os cobertores puxados até ao pescoço e o cabelo espalhado pela almofada. Sentia tamanho amor por ela. Mantendo um olho alerta em Madelaine, que soltava alguns roncos, puxei gentilmente os cobertores de Alex para trás. Vestia uma camisa de dormir branca ornamentada. Suspirou e voltou-se de costas.

Comi-a com os olhos. O meu corpo sufocava por a agarrar. Pus uma mão no seu seio tão macio e imóvel. As suas pálpebras agitaram-se e retirei imediatamente a mão.

Abriu os olhos.

- Tony!

- Sssh. - Não queria que a amiga acordasse. - Que te aconteceu?

Pareceu um pouco embaraçada.

- Eu queria ir ter contigo para falarmos, mas adormeci. Muito lisonjeiro, não havia dúvida que ela vibrava comigo.

- Então vem - murmurei.

- Mas é tão tarde, e Maddy? - protestou, levantando-se, mesmo assim, e vestiu um robe cor-de-rosa acolchoado.

iPeguei-lhe na mão.

- A Maddy dorme profundamente e não tardarás a ir para a cama. - Não se apercebeu que eu me referia à minha cama, evidentemente.

Percorremos cuidadosamente o corredor até ao meu quarto. Instalou-se numa cadeira e fitou-me, com aqueles grandes olhos castanhos.

Apaguei todas as luzes, à excepção de um Tifanny na mesa-de-cabeceira.

- De que queres falar? - inquiriu, docemente.

Estava ao lado da cadeira e afagava-lhe o cabelo. Se não a possuísse rapidamente, iria explodir.

- Peço desculpa pelo jantar - disse. - Devia ter-te avisado que nos vestimos sempre a rigor, a mãe gosta de fazer tudo a preceito.

Lá isso era verdade!

- Alex - disse, com voz estrangulada. Comecei a desabotoar os botões da sua camisa de dormir.

Afastou-me as mãos.

- É uma pena não saberes montar - afirmou, em voz alta. Oh, mas eu sei... eu sei.

As minhas mãos atingiram os seus lindos seios e apertei-lhe os mamilos. Agitou-se na cadeira, tentando libertar-se.

- Fica quieta, descontrai-te - disse. Eu tremia. Queria desesperadamente possuí-la. E dizia eu a ela que se descontraísse.

Consegui despir-lhe a camisa pela cabeça. Cobriu-se rapidamente com as mãos e começou a tremer.

Desempenhei então o papel de homem forte e, pegando nela ao colo, coloquei-a no meio da cama. Tinha ainda vestidas umas cuecas brancas e deitou-se rapidamente de barriga para baixo, pelo que a única coisa que podia ver eram as suas costas macias como o veludo, o traseiro redondo através das cuecas e longas pernas espantosas.

Libertei-me das minhas roupas. Se não me apressasse, ia estragar tudo. Deitei-me em cima dela. Oh, meu Deus, poderia tê-lo solto em cima daquelas pernas sexys! Mas controlei-me e introduzi-me entre a parte de trás das suas coxas. Afaguei as suas costas e, enfiando as mãos por debaixo dela, agarrei-lhe nos seios. Ela tentou tirar-me dali.

- Por favor pára, Tony. Não quero... por favor.

Mas, quando começou a chorar com soluços altos, senti-me a pior rês do mundo. Esta não era uma miúda qualquer, era a rapariga maravilhosa com quem ia casar.

- Eh. - Saí de cima dela e acariciei-a suavemente. - Tem calma, menina, se não queres, não vamos fazer, não há problema.

Levantou-se rapidamente e vestiu-se. Levei-a até à porta, beijei-a e, sorrindo para mim, disse:

- Obrigada, Tony. Boa noite. - E foi.

Ena, isto é que era amor. Se posso desistir do que acabei de desistir, estava mesmo atacado. È agora estou com um problema, e nem uma revista do Playboy à vista!

 

         ALEXANDRA

Maddy acordou-me de manhã batendo-me nas costas até que me vi forçada a abrir os olhos. Bocejei.

- Que horas são?

- São sete. Onde estiveste tu ontem à noite? Levantei-me para ir à casa de banho e não estavas. O Tony devastador arrastou-te até ao seu quarto e desonrou o teu corpo de donzela?

- Oh, Maddy, cala-te, pareces uma revista feminina.

- Então, fodeu-te?

- Maddy!

Fui para a casa de banho antes que ela a ocupasse e tomei um banho frio.

Queria discuti-lo com Maddy, mas era demasiado pessoal. Maddy estava toda irritada quando saí da casa de banho.

- Agora fazes muito segredo - observou, friamente.

Ao pequeno-almoço, comemos ovos mexidos e bacon; depois, fomos andar de cavalo. Tinha o meu próprio cavalo, "Pinto".

Sentia-me culpada em relação à noite passada, culpada por aborrecer Maddy e culpada por tudo, em geral.

Cavalgámos através do bosque e aproximávamo-nos de um riacho quando, subitamente, "Pinto" se empinou e eu caí.

A mãe e Maddy tinham já atravessado o riacho, mas pararam e voltaram para trás.

Sentia-me bem, nada partido, mas quando tentei pôr-me em pé, a perna esquerda cedeu e senti uma dor horrível.

- Acho que deslocaste alguma coisa - disse a mãe.

- Oh, Alex! - lamentou Maddy.

Colocaram-me em cima do "Pinto", agora calmamente parado, e regressámos a casa.

A mãe mandou chamar o Dr. Sutton, que veio imediatamente. Era uma desarticulação e bastante grave.

- Não vais poder andar de pé durante, pelo menos, cinco ou seis dias - pronunciou o Dr. Sutton.

- Pobre Alex - choramingou Maddy.

A mãe permaneceu muito calma.

- Não há nada a fazer. Penso que parte um comboio para a cidade às duas horas e que o Mr. Blake pode ir nele. E tu, Madelaine, querida? Queres ficar ou também gostarias de ir?

Gemi. Começava a sentir-me mal.

- Acho que é melhor ires, Maddy. Não vou ser grande companhia.

- Se tens a certeza, Alex. Posso ficar, se quiseres.

- Não. - Abanei a cabeça. O Dr. Sutton dera-me qualquer coisa para as dores e uns comprimidos para dormir, pelo que me começava a sentir sonolenta.

- Anda, Madelaine - disse a mãe. - Vai sentir-se melhor depois de dormir.

Saíram do quarto. A perna latejava, a cabeça doía-me e os meus olhos não tardaram a fechar-se.

 

         TONY

É mesmo de mais! Sentado num outro comboio ao lado da grande amiga Madelaine, sem sequer ter visto a minha adorável Alex pela última vez.

- Foi pouca sorte, não foi? - perguntou Madelaine pela sexta vez.

Penso que ela se diverte de forma perversa ao ver-me tão chocado.

- Sim-'murmurei, desejando que se calasse.

- O que vais fazer logo à noite?

- O que faço sempre num sábado à noite, vou para o clube.

- Tens tanta sorte. Eu estou abandonada, o meu namorado está fora e detesto ficar sozinha no apartamento.

Que vida dura.

Tivemos cinco minutos de um silêncio delicioso, quando...

- Tony, será que posso ir contigo ao clube? Portar-me-ia bem, e não iria atrapalhar a tua vida.

Franzi o sobrolho. Quem precisava dela?

- Bem, não Maddy, irias chatear-te muito. Num sábado à noite, é uma casa de loucos.

- Por favor, Tony. Eu não me importo. Estou certa que Alex haveria de querer que me levasses. Na verdade, disse qualquer coisa sobre ficarmos juntos.

Ficarmos juntos? Que era aquilo?

Merda, por que teria a minha querida de cair do maldito cavalo?

- Fica então combinado?

Cristo! Será que nunca se calava? O pobre tipo que alguma vez tivesse sorte, teria de a amordaçar enquanto o tivesse de fora.

- Está bem - disse, relutante. Não queria que ela fosse contar histórias a Alex de que a não quis levar ao clube.

Continuou a conversar de forma infantil, Deus sabe sobre o quê. Estava farto dela. Por fim, King's Cross!

- Posso partilhar o teu táxi, Tony? Apanhado de novo.

Falou todo o caminho até Chelsea e deixou-me como...

- Podes vir buscar-me por volta das oito horas? Não, definitivamente, não.

- Lamento, Maddy, tenho de ir visitar a minha mãe e o meu pai. Se queres aparecer no clube, estarei lá por volta da meia-noite.

Isto ia tratar dela. O seu rosto caiu.

- Que pena, pensei que podíamos jantar primeiro.

- Lamento, querida, o dever acima de tudo.

- Oh, Alex vai ficar desapontada quando lhe disser. Qualquer um havia de pensar que estava a rejeitar a própria Alex!

- Sabes como é. Talvez nos vejamos mais tarde. Voltei a entrar no táxi e murmurei ao condutor:

- Vamos embora.

- Até logo - gritou Madelaine, corajosamente.

Ela não tencionava desistir, mas duvidava que fosse dançar para o clube à meia-noite. Sentia-me triste. Sentira-me como um rei na noite anterior, na expectativa de estar com a minha querida e, agora, estava deitada, ferida, numa casa e nem me deixaram vê-la antes de me vir embora. Decidira falar com ela sobre os meus planos, ficar com tudo esclarecido durante o resto do fim-de-semana. Certamente que não me teria importado de ter permanecido enquanto ela estava de cama, mas a mãe e Madelaine tiraram-me de lá de forma tão rápida quanto o tiro de uma arma.

O meu apartamento parecia pior que nunca. Nunca podia esperar que Alex viesse viver para cá, nem que fosse apenas como um começo. Talvez se nos livrássemos de Madelaine, eu pudesse ir viver para casa de Alex.

Estava a pensar talvez em Caxton Hall para o casamento, realizá-lo rapidamente antes que alguém se opusesse. Teria de falar com ela sobre isso assim que a tornasse a ver. Mas, quando iria isso acontecer? com o atrevido do Dr. Sutton a comandar as operações. quem poderia saber?

De qualquer forma, a partir de segunda-feira de manhã, iria começar a procurar as instalações para o novo clube. Já que Alex estaria longe, o melhor que tinha que fazer era começar a tratar de qualquer coisa.

 

         FONTAINE

Benjamin e eu regressámos a Londres de avião, em silêncio. Todo o nosso relacionamento se baseava em silêncio, desde aquela noite horrorosa com o Ben Cretino Júnior.

Quando estávamos prestes a aterrar, Benjamin agarrou-me subitamente no braço e disse:

- Quero o divórcio, Fontaine.

- Queres o quê?

Tossiu, e observei a rede de linhas finas da idade espalhadas por todo o seu rosto.

- Quero o divórcio - repetiu.

Olhei pela janela, completamente perdida. O velho tonto a pedir-me o divórcio! Que irônico. Que humilhação. Como se atrevia ele? Sorri, friamente.

- Lamento, meu caro, mas a idéia não me agrada! - Dentro de mim, sentia uma ira ardente.

- Não tens alternativa - disse, acidamente. - Mandei seguir-te. - Retirou um maço de papéis da mala. - Sei tudo a teu respeito e de Alan Grant e Tony Blake. Tenho até fotografias.

Entregou-me uma fotografia dez por oito de mim e Tony na cama do apartamento de Nova Iorque.

Oh, meu Deus, eu estava com um aspecto horrível e Tony tão cabeludo, como um enorme macaco - ugh!

- Onde arranjaste isto? - perguntei, em tom agradável.

- Adamo.

- Ori! - aquele estafermo! Não conseguia raciocinar. Tinha de falar imediatamente com o meu advogado.

- Vão estar dois carros à nossa espera no aeroporto - disse Benjamin. - Tenho uma suite no Claridge's e tu podes ficar na casa até ser vendida.

A minha cabeça girava. Que fizera eu a este velho para que ele me tratasse assim?

- Claro que te vou dar uma boa pensão, embora não seja obrigado a fazê-lo e podemos chamar, ao casaco de zibelina, uma oferta de despedida. - Guardou as provas de novo na mala e as rodas do avião tocaram suavemente o solo.

Por uma razão completamente estúpida, os meus olhos encheram-se de lágrimas e disse:

- Mas eu pensei que me amavas. Olhou para mim, em tom sério.

- E eu pensava que tu me amavas. - Desapertou o cinto e ergueu-se. - Adeus, Fontaine, boa sorte.

 

         TONY

Dormi um bom sono. Como não me apetecia ver ninguém, fui sozinho ao cinema e cheguei cedo ao clube. Não estava ainda ninguém. Sentei-me e pedi a Franco para que o chefe me preparasse um bife com batatas fritas.

Flowers entrou e sentou-se ao meu lado. Parecia mal-humorado e miserável.

- Como correm as coisas? - perguntei. Encolheu os ombros.

- Nada bem, homem. - Roía as unhas das mãos.

- Então, qual é o problema? - Sabia que não ia sair dali nada de agradável mas queria mantê-lo nas mãos, dado que tinha planos para ele e para Tina no novo clube.

- Preciso rapidamente de cinqüenta para a Tina, está metida em sarilhos.

Encantador. Logo cinqüenta.

Continuou a roer as unhas, enquanto eu pensava com rapidez. Queria que eles fossem comigo quando me fosse embora e que melhor processo havia para garantir esse facto do que tê-lo em dívida para comigo? Para além de que eu gostava de Tina, é uma rapariga trabalhadora.

- OK, vou arranjar-te o dinheiro. Segunda-feira. Flowers sorriu, radiante.

- És formidável, Tony, sabia que podíamos contar contigo. Foi contar as boas notícias a Tina.

Fontaine vai ficar furiosa quando eu sair. Não dou dez dias ao Hobo sem mim. O plano era preparar completamente o novo clube e depois dizer adeus à Mrs. Khaled.

Afinal, por onde andava a Mrs. Khaled? Ainda em Nova Iorque, espero, gozando os seus divertimentos estranhos.

As pessoas de dinheiro começaram a chegar e foram instaladas cuidadosamente fora do caminho. Flowers colocou um álbum de Antônio Carlos Jobim. Um dos The Must chegou sozinho e sentou-se junto de mim. Era, de longe, o mais inteligente do grupo mas sempre cheio de ácido. Discutimos sons e o facto de a polícia andar já a fazer buscas à sua casa, embora fosse demasiado esperto para eles guardara todo o material enterrado no jardim!

- Onde está a Lissy? - perguntei. Lissy era a sua mulher de dezasseis anos e cabelo louro.

- Está a tomar um banho de saúde na Alemanha.

- Oh. - Que outra coisa podia uma pessoa dizer em relação a uma afirmação daquelas?

Sammy entrou sozinho.

- Tenho estado a trabalhar como um doido! - anunciou. -vou tomar um scotch com Coca-Cola.

Levantei-me para cumprimentar algumas pessoas. Um político bem conhecido e a sua nova esposa. Ainda por cima acompanhado por Vanessa e pelo marido Leonard. Sorriu nervosamente para mim, as grandes tetas escapando do tule púrpura. Leonard apertou-me a mão, num toque limpo e masculino. Tinha a impressão de que ele não gostava de mim. (Nesta profissão, uma pessoa adquire um sexto sentido de confiança sobre coisas deste tipo.

Toda a gente começou a chegar em enchente e Franco ocupou-se de os instalar. Havia certos lugares em que certas pessoas se sentavam, e certos lugares em que não o podiam fazer. Franco sabia exactamente como actuar e era perfeito a tratar desse assunto.

Permaneci junto da entrada, cumprimentando, abraçando, lisonjeando.

Vanessa veio à casa de banho das senhoras e murmurou:

- Posso falar contigo, Tony?

- Sim. - Para quê todos aqueles sussurros? Estávamos fora da visão do maridinho.

- Já sabes de Benjamin Khaled?

- Sei o quê?

- Aparentemente, e sei isto de fonte segura, na verdade, da minha cabeleireira...

- Avança - estava impaciente.

- Bem, tens de prometer não dizer nada a Fontaine. Prometes?

- Sim, prometo. - Ela era impossível.

- Na verdade, ele anda com outra mulher, e não é uma mulher qualquer - Delores! A minha querida Fontaine ficará fora de si quando souber. Nunca havia de sonhar que ele a pudesse trair. Não é simplesmente pavoroso?

Sem as tetas, nunca teria olhado para Vanessa mas, agora, mesmo com elas, não me atraía minimamente. Se há coisas que detesto, são mexericos. Dei uma palmada no traseiro gordo de Vanessa e pestanejei.

- Não acredites.

- Mas é verdade. Sinceramente, Tony. Delores freqüenta o mesmo cabeleireiro que eu e ouvi dizer que...

- Mesmo assim, não acredites. Fez beicinho.

- A ama leva as crianças a passear todos os dias entre as três e as quatro, tal como antes. Por que não me vais ver? Encolhi os ombros. Entre nós, estava tudo acabado.

- Sim, talvez. Riu-se, nervosa.

- Não digas talvez, diz que sim.

Fui salvo pelo aparecimento de Sammy.

- Eh, há alguma coisa disponível por aí?

Vanessa lançou-lhe um olhar de desprezo e desapareceu na casa de banho.

Sammy riu-se.

- Andas sempre com uma mulher à tua volta. Que tens tu, que eu não tenha?

Uma das coisas boas em relação a Sammy era que uma pessoa nem precisava de se incomodar em lhe responder.

A noite avançava. Permaneci sóbrio, rejeitei algumas raparigas e senti-me satisfeito comigo próprio. Não ia ser infiel à minha querida Alex. Não queria ser e não iria ser. Isto era verdadeiro amor.

Um pouco antes da uma, Madelaine apareceu.

- Custou-me imenso entrar - queixou-se. - Cheguei à meia-noite e aquela estrangeira horrível disse-me que ainda cá não estavas e nem sequer me deixou entrar para esperar. Voltei depois e continuou a dizer que ainda não estavas, pelo que esperei por uma oportunidade em que ela não estava a ver-me e entrei. Francamente, acho que a deves despedir.

Estava horrível, num vestido de crochet e rosto vermelho. A Tina tinha instruções precisas para nunca deixar entrar raparigas não acompanhadas, sobretudo se perguntavam por mim.

Sentei-a junto de Sammy, que olhou para ela com algum desinteresse. Pedi uma Coca-Cola para Maddy, pois não queria que ela se embebedasse. Desapareci rapidamente e sentei-me com um casal de compositores de música, que tinham, presentemente, o melhor espectáculo na cidade. Conversa fútil. Fui depois saudar uma estrela de cinema dos velhos tempos, que media um metro e meio de altura. Parecia um gigante no écran. Estava acompanhada pela "Fanhosa", que se tornara rapidamente companhia para todos.

- Tony, querido - guinchou. - Vais ficar tão orgulhoso de mim. Já assinei os contratos para dois novos filmes. Primeiro Lodo e depois um filme com este cavalheiro amigo. - Apertou o braço da estrela de cinema dos tempos antigos e riu-se. A sua teta esquerda chegou à boca dele!

Perguntei a mim mesmo se ainda estaria disponível para mim se eu a quisesse, ou se agora só o fazia a troco de uma parte num filme.

- Que maravilha - disse, considerando-me um autêntico filho da mãe.

- Sim, estou tão excitada, é tudo tão maravilhoso! Tens uma boa mesa para nós?

De repente, começava a falar comigo como se não passasse de um criado.

- Franco vai cuidar de ti. - Fui para a recepção. Tina disse, envergonhada.

- Obrigada, Mr. Blake.

A pobre garota estava com um ar horrível.

- Vai para casa, um dos rapazes pode ficar aqui.

- Mr. Blake, eu estou bem... sinceramente.

Eu próprio sentia vontade de sair mais cedo.

- Tony! - Um grito vindo de uma voz profunda e gutural. Seu filho da mãe sexy. Como estás, querido? Ainda a melhor fornicação da cidade, aposto!

Era Margo Castile, famoso transsexual... Ele era, inicialmente, um peixeiro ou qualquer coisa do gênero mas, após muitas operações, ela transformou-se numa personalidade bem conhecida na cidade. Muito exótica, bonito aspecto, mas com voz profunda e linguagem de peixeira. Estava bem acompanhada por dois homens, um italiano baixo e um actor inglês.

- Tony, querido. Quando me vais mostrar o que tens nessas calças justas e sexys? - Riu-se com fervor. Estava sempre embriagada.

- Sim, Tony! - afirmou o actor inglês. - Quando vais mostrar a Margo?

Sorri fracamente. Não estava preparado para este grupo hoje. Fomos todos para dentro.

- E se déssemos uma fornicação organizada? - gritou Margo. - Todos aqueles que querem participar levantem a mão!

- Cala-te, és horrível - riu-se o actor.

Sentei-os numa mesa e pedi-lhes que se comportassem. Margo riu-se e deu uma palmadinha numa bonita loura sentada na mesa do lado.

- És bonita - afirmou, arrastando as palavras -, mesmo bonita. Fornicas?

A rapariga ficou ofegante e voltou-lhe as costas. Margo desatou a rir.

- Escuta, se não te sabes portar bem - disse eu -, tenho de te pôr fora. - Estava sempre a ameaçá-la com isso, mas de nada servia.

- Prometo ser boa rapariga. - Sorriu para mim. - Prometo, prometo.

Era uma nulidade, mas não podíamos evitar de gostar dela. De regresso à mesa, Sammy conversava com Madelaine.

- Quem é ela? - murmurou. Disse-lhe tudo o que sabia.

- Não é nada de encher a vista, mas deve ser uma lunática na cama!

Por mim, à vontade.

Decidi, subitamente, mandar tudo para o diabo. Ia para casa. Aquele lugar estava a dar cabo de mim. Chamei o Franco e saí. Quem precisava daquilo?

 

         FONTAINE

Não conseguia acreditar que Benjamin queria divorciar-se de mim. Como podia? Depois de tudo o que fiz por ele, do que lhe dei. Era ultrajante. Que rumo ia agora eu seguir? Não tinha dezassete anos, não era uma miúda disposta a começar a vida outra vez.

Apesar de ser tão cedo, telefonei ao Tony. Claro que não me podia ajudar em nada, mas talvez pudesse passar o dia com ele, abandonar-me, deixar de pensar nas coisas. Que outra coisa podia eu fazer num domingo?

Ele estava a dormir, o que era natural.

- Pensei que gostarias de vir até cá e dares as boas-vindas à minha chegada - disse.

A sua voz não passava de um ruído sonolento.

- não posso, vou sempre visitar a minha mãe aos domingos.

- Francamente. - Desliguei. A arrogância dele era incrível! Desprezar-me por causa da mãe. Se não fosse eu, ainda andava a correr por uma gorjeta.

Toda a gente me tratava tão mal. Sou demasiado branda, é esse o meu problema. Deixo as pessoas usarem-me, só que Benjamin não ia ficar a rir-se de mim. O velho estafermo que pense duas vezes antes de me tratar assim. Não sou a primeira mulher dele, pronta a ser posta de lado como um ratinho branco.

Claro que tudo foi uma autêntica surpresa para mim; contudo, devia ter percebido, assim que ele chegou a Nova Iorque e não quis ir directamente para a cama comigo, que algo se passava.

Tem de haver outra mulher. Uma cabra em busca de dinheiro! Fico quente e fria, com uma ira incontrolável. Como se atreve ele?

Quanto àquele Adamo, farei com que não volte a trabalhar em lado algum. Que nojento pensar nele a observar-me na cama. Onde diabo estaria ele escondido? E Tony, Alan. Estariam eles metidos nisto?

Estou ansiosa por telefonar à minha querida amiga Vanessa. Se houverem rumores por aí, ela está ao corrente.

Dado que era domingo, vi-me forçada a esperar, pelo menos, até às dez para lhe telefonar, e fui atendida por Leonard.

- Ela ainda está a dormir, Fontaine. Fomos ao teu clube a noite passada. Quando voltaste?

- Esta manhã. Que tal estava o clube? Alguém interessante? Leonard começou então a contar-me uma história aborrecida sobre como Margo Castile fizera strip-tease até ficar apenas com um biquini reduzidíssimo.

- Um traseiro fantástico - acrescentou. - Tinha tudo, como uma autêntica mulher.

- Injecções, querido, até tu podias ficar com um assim. Não entendo por que te preocupas tanto com traseiros, tendo a tua mulher tim de porporções de mamute.

Riu-se, um pouco embaraçado.

- Direi à Vanessa que te telefone assim que acordar. Tenho a certeza de que têm muito que contar uma à outra.

Saberia ele alguma coisa?

Vagueei pela casa. A minha linda casa, posta à venda. Oh, esperem só até eu falar com o meu advogado amanhã. Vanessa só ligou ao meio-dia.

- Fontaine querida, como estás? Quando chegaste?

- Esta manhã.

- Deves estar exausta!

- Não, na verdade, estou bem disposta. Pensei ir até aí e saber todas as novidades. Estou certa de que tens muito para me contar.

- Ainda estou deitada, mas adoraria ver-te. Vem almoçar. O Leonard foi jogar golfe.

- Divino.

Dependia de Vanessa ser capaz de me dizer exactamente o que se passava.

Tinha razão. Ela estava impaciente por me contar tudo sobre Benjamin e uma modelo reles qualquer chamada Delores.

- Por que não ligaste para Nova Iorque? - inquiri. Meu Deus, se tivesse sabido, teria estado numa posição muito mais forte.

- Pensei que soubesses - replicou a minha fiel amiga, mal arranjada numa jaqueta de casimira azul, onde faltava um botão. - Aparentemente, ele ofereceu-lhe uma esmeralda enorme e um anel de diamantes, um carro e diversos casacos de pele.

- Muito simpático. - A minha voz era ácida.

- Que vais fazer? - perguntou Vanessa. Abanei a cabeça, lentamente.

- Divorciar-me daquele estafermo e tirar-lhe todo o dinheiro que tem.

 

         TONY

Tenho telefonado à minha adorável Alexandra todos os dias. Mas sou sempre atendido pelo mordomo de nariz de falcão ou pela mãe. Ambos me dizem que Alex está bem, registando progressos maravilhosos, mas que ainda não pode ir ao telefone. Encantador! Telefonei, como habitualmente, e disseram-me que Miss Khaled fora passar o Natal com os OSfewcombe.

É véspera de Natal e chove abundantemente. Passei uma semana péssima à procura de novas instalações. Ainda não encontrei nada. O clube tem sido uma autêntica chatice, toda a gente partiu para celebrar o Natal. Nem o velho Sammy tem aparecido.

Sinto loucamente a falta de Alex, em todos os sentidos: Está a tornar-se difícil não levar uma rapariga qualquer para casa e "martelá-la", meramente por razões fisiológicas. Fontaine já regressou; talvez eu devesse ter ido visitá-la quando telefonou. Para cúmulo, tenho uma constipação terrível.

Passei horas a tentar localizar os Newcombe na lista telefônica. Por que não fui mais simpático para Madelaine? Agora, estavam com a minha Alex algures e eu nem podia telefonar. Raios! Vendo bem as coisas, Alex devia ter-me telefonado ou contactado de qualquer outra forma. Mas lembrei-me então que ela não tinha nem o meu número nem a morada. Oh, bem, deixemos passar o Natal e esperemos que ela regresse, tudo se comporá então.

Após a véspera de Natal, o clube fechou durante cinco noites, reabrindo na noite antes da véspera do fim-de-ano. Apanhei uma gripe e permaneci na cama durante esse período. As minhas refeições reduziram-se a comida enlatada e passei um Natal miserável com suores frios e febre.

Sadie veio visitar-me com um tacho com canja e uma repreensão por achar que tudo aquilo era fruto de sexo em demasia. Sexo em demasia, imaginem! Ha!

- Vives como um porco - disse. - Quando vais assentar, arranjar um trabalho decente? Devias ver agora o teu primo Leon, a viver numa casa enorme em Finchley, uma esposa encantadora, um bebé a caminho. Quando vais arranjar uma rapariga decente, de quem não te envergonhes de levar a casa dos teus pais?

 

Estava demasiado doente para lhe contar sobre mim e Alex, ela não tardaria a saber. Dei-lhe um abraço e um beijo e pedi-lhe para não se preocupar.

- Em breve terá uma surpresa - repliquei. Querida Sadie. A sua única ambição na vida era ver-me casado, para que pudesse ter alguns netos para mimar.

Um médico meu amigo veio consultar-me, deu-me uma injecção e contou-me algumas anedotas picantes. No dia seguinte senti-me melhor e levantei-me. Desperdiçara cinco dias. Fez-me passar a época natalícia.

Barbeei-me, vesti-me e telefonei a Alex, não obtendo, ainda, qualquer resposta do seu apartamento em Chelsea.

Telefonei a lan Thaine, mas não estava. Queria aquele contrato nas mãos, Estava seguro de que encontraria o local esta semana.

Fui ao clube, analisei as reservas para a véspera do Ano Novo. Ia ser uma loucura - completamente lotado.

Quando raio é que Alex ia voltar?

 

         ALEXANDRA

- Que maravilha ver-te - disse Maddy-, tenho tantas novidades.

Era bom estar fora da cama e de regresso à vida. O meu tornozelo ficara óptimo, e estava ansiosa por passar o Natal em casa de Maddy.

- O Michael já chegou? - inquiri, ansiosa.

- Vem esta noite, acabou tudo entre ele e aquele modelo, vais ficar satisfeita por saber.

- Sim, eu sei. Telefonou-me todos os dias. Estava simplesmente furioso por ter levado o Tony para passar o fim-de-semana. Penso, honestamente, que estava com ciúmes. Mas, depois de me dizer isso, ficou tão simpático. Estou ansiosa por o ver. Que tal te deste em Londres sozinha? Como está o Jonathan?

Maddy encolheu os ombros.

- Bem. Alex, conheci um homem horrível e estou louca por ele!

- Quem?

- Bem, quando regressei a Londres, Tony insistiu para que fosse ao Hobo com ele. Conheci um amigo dele, bastante velho, mas tão divertido e terrivelmente sexy. Não me consegui controlar, fiz coisas divertidíssimas com ele!

- Maddy! E o Jonathan?

- Vi o Jonathan uma noite, mas foi tão aborrecido. O Sammy faz chapéus. Fui um dia ao seu escritório e deu-me dois. Alex, ele é judeu. A minha mãe tinha um ataque!

- Não posso acreditar. E tu... bem, sabes.

- Não propriamente tudo, excepto o final. Penso que o farei depois do Natal. Prometi-lhe que o faria. Está deliciado por eu ser virgem. Oh, Alex, e tenho novidades sensacionais. O Sammy diz que o Tony e a tua querida madrasta têm uma ligação violenta. O que achas disso?

Senti-me enojada. Como fui permitir que ele me tocasse? Era obsceno. Que coisa horrível. Provavelmente, está farto de se rir à minha custa. Talvez até tenha contado a Fontaine sobre mim. Estremeci.

- Maddy, estás a brincar?

- Não, é verdade. Sammy contou-me tudo, diz que é a única razão por que Tony está no Hobo. Terrível, não é? Alex, pensei em irmos visitar as lojas, comprar algumas coisas de última hora.

Abanei a cabeça, entorpecida.

- Vai tu, Maddy, estou com dor de cabeça.

 

         FONTAINE

- Mrs. Khaled? - sim.

- Chamo-me lan Thaine.

- Sim?

- Eu... sabe quem eu sou?

- Não, Mr. Thaine, não sei.

- É acerca do novo clube, o nosso novo clube. O Tony Blake disse-lhe que era eu quem ia entrar com todo o dinheiro?

- Que novo clube?

- O novo clube, o lugar que vai substituir o Hobo. Pensei que nos devíamos encontrar, uma vez que vamos ser sócios.

- Mr. Thaine, não faço a menor idéia sobre o que está a falar, mas parece interessante, talvez fosse realmente bom encontrarmo-nos. Diga-me, tem alguma coisa a ver com as lojas Thaine?

- Eu sou as lojas Thaine.

- Que óptimo. Talvez pudesse vir tomar chá hoje, por volta das quatro. Oh, Mr. Thaine, por favor, não refira a nossa conversa ao Tony Blake, vamos resolver isto entre nós primeiro.

 

         TONY

A véspera do Ano Novo é uma chatice. Deviam imprimir pequenas insígnias com esse slogan e fazer com que as pessoas que sentem como eu as usassem. Uma pobre desculpa para quem apanhou uma grande "piela", para quem se sente destruído e fodido. Claro que não estaria aqui esta noite se não fosse importante manter contactos, longe da vista, longe do coração, como diz o velho ditado. com o novo clube praticamente preparado, tinha de me relacionar com toda a gente.

O clube estava enfeitado com balões, bolas de papel, chapéus de festa, apitos-"tudo.

Cheguei muito cedo, sufocado porque acabara finalmente por receber resposta do apartamento de Alex, em Chelsea, e Madelaine informara-me que Alex tinha saído e só regressava tarde. Saiu para onde? Ela não sabia. com quem? Não sabia. Como estava ela? Bem. A Madelaine Newcombe é uma autêntica cabra. Deixei o número do clube e o número de minha casa e disse-lhe que pedisse a Alex para me telefonar mal chegasse. Ia resolver um certo número de coisas rapidamente. Na verdade, não via qualquer razão para que não nos casássemos imediatamente, íamos ao Caxton Hall, e mantínhamos o casamento em segredo até que o novo clube estivesse terminado. Boa idéia, talvez amanhã, dia de Ano Novo. Era a melhor maneira. Concretizá-lo e depois contar às pessoas. Dessa forma, Fontaine não poderia intervir.

Flowers chegou com umas calças amarelas, camisa preta e colete de pele de carneiro bordado.

- Muito fino - disse, pensando que algum do meu dinheiro tinha acabado nas mãos dele.

Pôs Sérgio Mendes a tocar e foi à cozinha comer qualquer coisa. Não era má idéia, as pessoas só começariam a chegar dentro de uma hora. Não telefonei ao Sammy, Massey ou a qualquer um dos rapazes. Estavam, provavelmente, na festa do Steve Scott. Eu nem me aproximaria do filho da mãe, embora a sua esposa (ha! ) tivesse telefonado enquanto estive doente e me implorasse que fosse.

Comi um bife e bebi alguns scotches, tinha de adquirir um pouco de disposição festiva. Chegou então um Franklin tímido com Molly Mandy, vestida, embora sumariamente. Toda ela estava irradiante e não parava de lançar os braços em redor do pescoço dele, beijando-o. Franklin sorria calmamente. Penso que, desta vez, entrara em acção.

Flowers lançou-se em James Brown e a noite começou. Quem me dera saber por onde Alex andava.

Na véspera de Ano Novo, tudo começava muito mais cedo e, por volta das onze, o clube enchia-se rapidamente. Franco e os seus rapazes estavam a fazer um bom trabalho, servindo frango e champanhe, o habitual para os bilhetes de entrada especiais, lan Thaine reservara uma mesa para dez. Até o velho Sammy tinha feito uma reserva. O objectivo geral era chegar antes da meia-noite e, pelas onze e meia, apareceram em enchente. "A Fanhosa", Suki com Massey, três dos The Must, algumas estrelas de cinema, dois membros do Parlamento e todo um grupo de modelos fotográficos e actores, que completaram a cena.

Depois, Fontaine, verdadeiramente espectacular num casaco qualquer fabuloso. Esperei que Franco tivesse onde a sentar, pois não me lembrava de ver o seu nome nas reservas. Ela que se lembrasse de me lixar o plano das mesas.

Por que não me teria Alex telefonado?

Funky Broadway soava no ar e eu, colocando um sorriso no rosto, fui cumprimentá-la.

Lançou-me um olhar gelado e passou a meu lado, seguida de perto por lan Thaine, depois Vanessa, Leonard e todo o seu grupo.

- Olá, lan - estendi a mão. Apertou-a com pouca firmeza. Tenho tentado telefonar-te, mas nunca te apanho.

Vanessa avançou e beijei-a no rosto. Tinha as faces coradas e parecia pouco à vontade.

Onde raio anda o Franco? Um empregado idiota está a sentar Fontaine junto de lan.

- Vai buscar o Franco, depressa - pedi a um outro empregado. Franco veio a correr, o suor caindo-lhe pelo rosto.

- Que se passa aqui? - inquiri. - Arranja uma mesa para Mrs. Khaled.

Apressou-se a ir onde estavam sentados e falou com Fontaine. Regressou e disse:

- Não há problema, Mr. Blake. A Mrs. Khaled está com o grupo de Mr. Thaine.

- O quê? - Não podia acreditar no que ouvia. Fitei a mesa e captei a atenção de Fontaine. Sorriu-me friamente e depois voltou-se para lan com alegria.

Tinha uma sensação estranha no estômago de que acabara de estragar o negócio. Bem, lan Thaine e os seus milhões que se lixassem. Quem precisava dele? Podia arranjar qualquer outra pessoa. Deviam existir muitas pessoas que ficariam deliciadas em fazer negócio comigo. Sim, mas quem?

Alguém estava a atirar-me bolas de papel. Era a deliciosa Carla Cassini, enfiada num vestido negro, com o peito quase de fora.

- Olá, Tony amoroso - ronronou alegremente, sentada em segurança com o seu "produtor" e outras pessoas. - Feliz Ano Novo!

Um grupo enorme de pessoas que estivera na festa de Steve Scott chegou. Eu estava a ficar bem "cheio". Pouco me importava. Depois, Sammy com Madelaine - que par! Logo de seguida, Alexandra - não podia acreditar, a minha querida, que viera para celebrar a entrada de um Novo Ano comigo, afinal.

Ergui-lhe o queixo com a mão e sorri suavemente.

- Olá, meu amor. - Estava estonteante, com algo macio e cor-de-rosa.

- Olá, Tony, lembras-te de Michael Newcombe? Michael, o idiota. O que raio fazia ele com ela?

- Vamos - gritou Maddy-, temos de nos sentar antes da meia-noite. É verdade, Tony, a Alex já te contou a grande novidade? Ela e Michael estão noivos! Imagina, vamos ser cunhadas!

Surge uma altura na vida em que o botão cai. Quando tudo desaba por terra e uma pessoa já não se importa com nada. Era o meu fim. Fitei a minha Alex em descrença e ela olhou para mim com os seus grandes e líquidos olhos castanhos; senti como se tivesse sido esmurrado no estômago por mil cavalos. Fui para a cozinha e agarrei numa garrafa de scotch, bebi até me sentir arder.

Nunca chorei na minha vida. Mas a cozinha estava com tanto fumo que as lágrimas me vieram aos olhos.

Franco veio à minha procura.

- Mr. Blake, faltam apenas cinco minutos para a meia-noite.

- Sim, filho. - Estava perdido da cabeça. Voltei para a sala e agarrei a rapariga mais próxima.

- Eh - protestou ela, enquanto a arrastava para junto de Flowers.

- OK, minha gente - gritei. - Vamos tirar o melhor proveito. Mais cinco gloriosos minutos. Bebam.

A rapariga libertou-se.

- O meu namorado vai ficar furioso - disse, desaparecendo. Chamei um empregado e pedi-lhe para me trazer a Miss Cassini,

a fim de anunciar o Ano Novo. Sorrindo, escoltada por dois empregados, não tardou a encontrar-se a meu lado, o "produtor" junto dela.

Flowers acabava de passar Land of a Thousand Dances e as serpentinas voavam, os balões saltavam.

- Vamos, comece a contar a partir de dez. - Passei o microfone a Carla e esta começou a contar...

- Nove, oito, sete... Por que fizera Alex isto? - seis, cinco, quatro... Como pôde ela fazer-me isto?

- Três, dois, um. Feliz Ano Novo!

Aula Lang Syne foi cantado em voz alta e toda a gente se beijava, ria e apertava as mãos. Agarrei na Carla e premi a boca fortemente contra a dela. Resistiu e mordi-lhe a língua. Estava a retribuir à cabra por aquela noite.

Afastou-se e o seu "produtor" lançou-me uma torrente de insultos em italiano. Ri-me e penetrei na multidão. Feliz Ano Novo. Que havia de feliz nele?

- Eh, Tony - Sammy chamava-me. - Vem tomar uma bebida connosco.

- Oh, sam, vem-'Solicitava Madelaine.

Claro. Ficar ali sentado a ver Alex e Michael a fitarem-se perdidamente.

"A Fanhosa" apareceu e agarrei-me a ela, beijando os seus lábios carnudos e comprimindo a perna entre as dela.

- E se tu e eu nos juntássemos mais tarde? - murmurei

- Oh, Tony, não posso. Estou acompanhada por um director tão importante... Diz que talvez me possa arranjar um papel no seu próximo filme.

- Sim, mas eu tenho um papel para ti agora. Riu-se.

- Anda, vamos até ao escritório, só por alguns minutos. Tenho uma coisa para ti.

Hesitou e depois pensou melhor.

- Outra noite, Tony, não posso deixar este director tão importante.

Que se lixasse, então. A sala rodopiava. Que toda a gente se lixasse. Podia dar agora uma boa a Fontaine. Podia realmente enfiá-lo da forma que ela gostava. Aproximei-me da mesa.

- Um bom Ano Novo para todos.

- Obrigada, Tony - replicou Fontaine, agitando o dedo no copo de champanhe. - Oh, a propósito, desejo-te a melhor sorte para o teu novo clube. lan decidiu ser meu sócio aqui, por isso, não contes com ele, mas muita, muita sorte. Estou certa de que te vais sair bem. Oh, e dadas as circunstâncias, acho que o melhor é deixares de trabalhar aqui. Tratei com que recebesses o ordenado de duas semanas, pelo que não é necessário estares a incomodar-te em apareceres cá a partir de hoje.

O seu rosto oscilava na minha frente. Olhos malévolos e frios, lábios finos. Ignorou-me e voltou-se para falar com lan. Faziam um bom par. Ele nem se atreveu a olhar para os meus lados. Percebi que Vanessa me espreitava, com ar preocupado, pelo que me ri. Será que ninguém entendia que, sem mim, o clube não iria sobreviver?

O barulho, os gritos, o rebentar de balões. Pessoas envoltas em serpentinas de papel colorido. Quero a minha querida Alex. Onde está a minha adorável garota?

Fui até à varanda e isolei-me do barulho. O ar frio atingiu-me como um golpe e os meus olhos pestanejavam. Desejei não ter bebido tanto. Queria pensar com clareza, resolver as coisas.

Sentei-me no chão. Estava molhado da chuva.

Muito bonito, tinha perdido a noiva. Tinha perdido o meu clube. Que ia eu fazer? Deixei-me ficar ali sentado alguns instantes e depois pensei: "Que se lixe." O que não faltam são raparigas e haverá outros clubes. A vida é uma beleza. Desta forma, regressei ao interior e bebi e dancei e rebentei balões e atirei serpentinas e bebi, bebi, bebi.

Apareceu então Hal com a sua velha Mamie.

- Eh, Tony, querido, Mamie e eu casámos, dá-nos os parabéns.

Olhei para Hal. O último dos grandes promotores fora finalmente apanhado. Mamie sorria e apoiava-se carinhosamente no seu braço. Podia ser mãe dele.

- Viemos de Roma para assinar alguns papéis. Vou ficar com o estúdio, sabes.

Que estúdio?

- óptimo! - Tentei sorrir. Mamie emitia felicidade.

- Tony, querido, esta é a minha grande amiga Delphine Cohen, de Miami. É a sua primeira viagem à Europa e Haily e eu vamos mostrar-lhe as paisagens.

Delphine Cohen era uma loura de cabelo pintado, com os seus cinqüenta e muitos. Inclinei a cabeça para ela. Mostrou-me muitos dentes.

Sentámo-nos todos e pedi champanhe. Sammy veio ver o que se passava. Mamie e Delphine foram à casa de banho das senhoras e Hal agarrou-me imediatamente.

- Escuta, Tony, não sejas idiota! Sei que não é o teu gênero, mas o velho de Delphine Cohen possuía praticamente Miami e foi-se com um ataque cardíaco há seis meses atrás, por isso, é melhor partido que pode haver. O que vais fazer? Ficar nesta espelunca toda a vida? Vê se aprendes, homem, olha para mim. Agora sou uma pessoa importante.

Olhei para Hal. Estava com uma tal "pedrada" que os seus olhos possuíam um brilho vítreo permanente.

Mamie e Delphine regressaram e beberam mais champanhe. Franco continuava a vir ter comigo para resolver pequenos dramas, mas disse-lhe que se fosse lixar. Hobo já não me dizia respeito. Alguém que se esfolasse agora por ele.

Delphine tinha braços roliços com sardas. Penso que até não era má de todo para uma mulher da sua idade. Oh, meu Deus, mais champanhe. Muito, muito mais.

Mamie dizia:

- Tony, não quer vir connosco até Roma por uns dias? O Hally anda tão ocupado. Necessitamos de um homem para nos proteger nas ruas. É verdade o que se diz sobre os italianos, a pobre Delphine está toda negra!

A pobre Delphine riu-se e agitou uma pesada pulseira de diamantes, ao ritmo da música. Será que eu conseguiria? Será que o devia fazer?

Hal pestanejou para mim.

- Sim, vem até Roma, vamo-nos divertir muito. Que diz, Delphine?

- Claro. - Sorriu para mim -, é uma idéia maravilhosa. Virá? - Os seus olhos demoraram-se no meu rosto, eles próprios inquirindo.

Ergui-me, abruptamente.

- Sim, talvez. Terei de pensar. Peço desculpa, tenho de ir ver o que se passa. Regresso já. - Dirigi-me rapidamente à recepção.

- Feliz Ano Novo, Mr. Blake - disse Tina.

Vinha a chegar um grupo de raparigas, vestidas como árvores de Natal. Automaticamente, fui cumprimentá-las. Uma das raparigas era fantástica, cabelo negro comprido, com pérolas, uma toalete de calças brancas, olhos verdes fixos. Alguém nos apresentou, chamava-se Miranda.

Sorriu para mim e lambeu os lábios cheios e rosa.

Senti uma agitação familiar, que sabia devia guardar para Delphine Cohen. Agarrei-a por um braço e levei-a para dançar.

Flowers agitava o ambiente com Clarence Carter. Fiz-lhe sinal e mudou para José Feliciano, Light My Pire.

Miranda, nos meus braços, era alta e suave. Abracei-a fortemente. Que Delphine Cohen e a sua comitiva fossem para o inferno. Não voltaria a ser apanhado numa cena dessas.

É verdade que vou ficar falido. E depois? Algo há-de aparecer, algo pelo qual não tenha de me vender. E se não acontecer? Bem, a vida é assim. Sempre posso lavar pratos.

A rapariga nos meus braços não é Alex mas é, seguramente, uma linda rapariga. Pele macia e olhos brilhantes.

- Não estava à espera de encontrar alguém como tu esta noite - murmurei, puxando-a mais para mim.

- Nem eu - afirmou, rindo suavemente. - Ainda ontem vim de Nova Iorque. Pensei que os ingleses tinham a reputação de serem todos formais e enfadonhos.

- o que pensas agora?

Limitou-se a comprimir fortemente o corpo contra o meu.

Dançámos e dançámos. Hal e o seu grupo acabaram por se ir embora.

- Idiota! - murmurou ele, aproximando-se de mim. - Estás a deitar fora uma excelente oportunidade por uma outra rapariga qualquer.

Fontaine foi-se embora depois das três, com o Seu séquito, o lan Thain no seu rasto.

Não vi a minha Alex partir, nem queria ver. Queria apenas esquecê-la.

Miranda e eu saímos às seis da manhã. Trazia na mão uma série de balões e caminhámos, pelas ruas desertas, até ao meu apartamento.

Adorava o rosto dela. Era sério e sexy. Tinha um corpo firme de rapaz, com seios pequenos adoráveis e tive de afastar o seu longo cabelo negro para os poder beijar.

- Tinha acabado de romper o noivado quando parti - disse, enquanto a explorava com as mãos. - O meu noivo só o consegue fazer em grupo. Ugh! Detestava aquilo. O meu pai disse que o melhor era eu apanhar um avião e ir para qualquer lado, para o esquecer. Estava realmente certo. Oh, adoro isso!

- A minha noiva acabou de ficar comprometida com outra pessoa.

- Que pena. Oh, oh, oh, faz isso outra vez! Deves vir até Nova Iorque para esqueceres.

- Sim. - Subi para cima dela. Era uma rapariga linda. - De que forma?

Ela voltou-se.

 

- Eh, Tony, és fantástico! Mesmo de mais! Escuta. Já sei. Podes vir trabalhar para o meu pai, tem negócios em todos os ramos. Oh, upa! Feliz Ano Novo! Querido, querido, querido! Faz isso de novo. Temos uma discoteca em Nova Iorque chamada Pickett. Deve ser perfeita para ti e, oh, Tony, que maravilha! Adoro! Fantástico! Oh, Tony, és mesmo um garanhão!

 

                                                                                 Jackie Collins  

 

                      

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