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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O HIGHLANDER AGENTE SECRETO / Emilia Ferguson
O HIGHLANDER AGENTE SECRETO / Emilia Ferguson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Uma inteligente e engraçada moça das Terras Altas... um inglês inteligente com um segredo perigoso... e um assassino de sangue frio esperando terminar o romance antes mesmo de começar....
Um homem bonito com um segredo terrível...
O Capitão Henry Quinn é um homem acostumado a esconder coisas e se esgueirar, mas pode não estar usando a cabeça dessa vez contra o tempo. Ele está fugindo, se escondendo de um assassino mortal, e a coisa mais inesperada que se pode imaginar acontece: ele se apaixona. Ele agora se depara com uma decisão impossível: pode dizer tudo a ela e arriscar sua vida junto com a dele, ou pode deixá-la para trás e fazer de conta que ela nunca existiu... sabendo que seu coração será destruído para sempre.
Uma nobre prometida a outro...
A linda Amice MacConnoway não é estranha a perigosas mudanças de eventos, e sua família parece predisposta a histórias românticas e loucas. Então, quando ela encontra um bonito estranho, ela não fica chocada ao descobrir que seu coração é imediatamente atraído para ele. No entanto, saber que se prometeu a um homem estúpido que ela conheceu de toda a sua vida é um grande problema, e não consegue imaginar anunciar à sua família que quebrou o acordo de casamento por um estrangeiro.
Agora eles estão fugindo... Juntos!
Henry está acostumado a fugir, mas quando a estalagem em que está hospedado entra em combustão, ele rapidamente se vê fugindo para salvar sua vida com uma bela mulher ao seu lado. Ser pego seria a morte para os dois, mas ficar escondido poderia significar a morte de outra natureza: sua reputação estaria em frangalhos. Isso significaria o fim de qualquer romance para a beleza das Terras Altas, e se ele não pode tê-la, não desejaria nada além de felicidade e amor no futuro dela.
Agora, o espião tem algumas opções terríveis diante dele e pode significar um desastre para o futuro deles. Ariscaria tudo por amor? Ou jogar tudo fora e viver para ver outro dia?
Deveria a jovem teimosa permitir que seus sentimentos pelo belo estrangeiro nublem seu julgamento, e ele realmente a ama o suficiente para arriscar a separação de sua família para sua felicidade e possível morte, se ela for capturada com ele?

 


 


O cheiro delicioso de panificação, temperado, úmido e rico, subiu até o nariz de Amice. Ela sentiu a água na boca e estendeu a mão, sub-repticiamente, para pegar outro bolo.

Tia Alina sorriu do outro lado da mesa.

— Eu vi isso, senhorita Amice.

Amice riu. Sua tia não quis lhe dizer não. Ao lado dela, a mãe de Amice olhou para Alina, com a sobrancelha erguida.

— Alina MacConnoway, você pode não interromper minha história. — Ela estava sorrindo, e Amice, com oito anos de idade e surpreendentemente perspicaz, sabia que não faziam por mal.

— Eu não quero, — Alina concordou tranquilamente. — Mas eu o fiz.

Ambas riram.

— Agora, onde eu estava? — Perguntou Lady Amabel. A mãe de Amice, era vital e ruiva, como Amice, mas com um rosto esculpido e olhos verdes. Ela olhou em volta da mesa.

— Você estava no pedaço onde o gigante tenta parar o príncipe. Aquele que vai se casar com a princesa, — Brodgar, irmão de Amice, prestou ajuda.

— Oh. Sim. É isso mesmo, — respondeu Amabel. — Agora, esse gigante não era o cara mais esperto que se poderia conhecer, e quando ele tentou parar o Príncipe Cameron, o que ele esqueceu foi...

Amice deixou as palavras passarem por ela, carregando suas imagens: o belo príncipe, o gigante furioso, a bela dama. Ela fechou os olhos, imaginando o herói. Em seus pensamentos, ele parecia Hal McTae, o filho do aliado de seu pai. Hal era três anos mais velho que ela, alto e cabelos castanhos com um rosto marcante. Amice achava que ele era a criatura mais linda que já vira.

Hal é meu lindo príncipe.

Ela olhou para cima e viu os olhos de Alina sobre ela do outro lado da mesa, e olhou rapidamente para baixo. A expressão de sua tia fez Amice se sentir nervosa. Ela não estava observando nenhuma das outras crianças, nem mesmo sua própria filha, a linda e adorável Leona. Ela estava olhando diretamente para Amice, que estremeceu.

Ela está irritada? O que eu fiz?

Ela olhou de volta para Alina, que ainda a observava. Seus olhos estavam desfocados agora, e Amice mordeu o lábio.

Tia Alina é uma vidente. Talvez ela esteja vendo alguma coisa.

Amice não tinha muita ideia do que isso significava. Sua irmã mais velha, Joanna, havia explicado uma vez: tia Alina podia ver o futuro, ou algo assim.

— O tempo todo? — Amice perguntou, confusa.

— Às vezes, — explicou Joanna. — Se for dado a ela ver isso. Ele vem brevemente e é impossível dizer quando vai atacar, ou cujo futuro você vai ver.

Como Joanna também era uma vidente, Amice acreditava nela. Agora, sua mãe se mexeu um pouco, pegando sua bebida, trazendo seus pensamentos de volta ao presente.

— E então, — sua mãe disse, tomado um gole, — depois de todas as provações e desafios, o príncipe se casou com a adorável Princesa Pearl, e eles ficaram felizes até o fim de seus dias.

Leona suspirou. Era uma história romântica e seus olhos violeta brilharam com seus pensamento. Amice sentiu-se impaciente consigo mesma. Ela tinha divagado e perdeu a melhor parte!

— Contará uma outra? — Ela perguntou esperançosamente.

Amabel riu.

— Amanhã, doce. Está quase na hora de dormir.

Os protestos vieram em volta da mesa e Amabel riu.

— Contaremos mais contos novamente amanhã. Eu prometo. Agora é tarde. Temos que ir para a cama.

Alina conduziu as crianças para fora da quente sala da torre e para os quartos. Amice, Brodgar, Conn, Leona e o pequeno Alf. Joanna aos dezesseis anos estava em outro lugar, estava velha demais para se sentar com as crianças depois do jantar.

Enquanto Amice pensava em Joanna, ela olhou para Alina. Ela se lembrou do estranho olhar que sua tia lhe dera.

— O que é, Amice? — Alina perguntou e se inclinou para abaixar Alf em sua cama. — Você parece preocupada.

— Você estava... você estava vendo, algo? — Amice queria saber.

Alina suspirou.

— Sim, criança. Eu vi, sim. Eu vi algo em seu futuro. — Ela se endireitou cansada.

— No meu futuro? — Amice sentiu uma mistura de prazer e alarme. — O que, tia? O que vai acontecer?

Alina suspirou.

— Eu não sei. Não ficou claro. Eu não deveria dizer nada agora. Em alguns anos, talvez, quando você for mais velha...

— Eu tenho oito agora, — Amice protestou calorosamente. — Estou crescendo. Você pode me dizer.

Alina riu.

— Muito bem. Aguarde só um momento. Conn!

— Sim, tia?

— Venha e mantenha sua companhia com o seu irmão. O resto de vocês, para suas camas! E nem um som.

Alina se virou para ela quando eles se foram.

— Eu previ algo incomum, minha filha, — disse Alina, voltando-se para ela. Sua testa suave se franziu em uma careta. — Havia mar, céu e um estranho. Eu sinto que seu destino pode te levar para longe de casa. E para alguém... um outro alguém.

— Outro? — Amice tinha olhos grandes e eles ficaram ainda maiores com suas palavras.

Alina balançou a cabeça impaciente.

— Há algo diferente nele. Ele é... não consigo ver o que é — ela suspirou. — Tudo o que posso dizer é que ele será diferente de qualquer coisa que você esperaria.

— Oh. — Amice franziu a testa. Foi uma estranha profecia. — Como ele é? — Ela perguntou, intrigada.

Alina riu.

— Isso não me é revelado para ver, minha querida. Tudo o que posso dizer é que ele é bonito e você vai amá-lo de todo o coração. Agora. Para a cama.

Amice queria perguntar mais, mas ela conhecia as maneiras de sua tia e sabia que era tudo o que ia tirar dela.

Deitada em sua cama naquela noite, quase adormecendo, ela encontrou sua mente cheia de mar, céu e o estranho, de alguma forma incomum, com quem ela um dia se casaria.


CAPÍTULO UM

CHEGADA À FORTALEZA


Amice levantou os olhos da tapeçaria, ouvindo passos urgentes no salão. Ela colocou o bordado de lado e estendeu a mão para ajeitar o cabelo.

Espero que seja Brodgar. Ele deveria estar de volta hoje.

Ela ouviu a voz encantada de sua mãe.

— Meu filho!

Seu próprio rosto se abriu com um largo sorriso. Era Brodgar e Henriette! Eles estavam de volta. Ela correu para a porta do solar, olhando para o salão.

— Brodgar!

— Amice! — Seu irmão correu para frente, abraçando-a em um abraço de urso. Não o via há um ano, mas ele estava completamente como ela se lembrava dele. Mais alto que ela por uma cabeça, e fortemente construído, seus ombros eram ainda maiores do que ela lembrava. Ele sorriu para ela, suas bochechas coradas pelo vento e levantadas em um enorme sorriso. — Você parece muito bem, irmã.

Aos dezenove anos, ela era graciosa e bonita, embora totalmente inconsciente de qualquer um dos atributos. Ela sempre se sentiu pequena e franzina ao lado de seu irmão, que era tão alto quanto o pai e ainda mais largo nos ombros.

— Obrigada, Brodgar, — disse ela, em seguida, virou-se para a mulher alta ao lado dele com os cachos loiros. — Henriette! É tão bom que você está aqui.

Henriette abraçou-a calorosamente. Apenas dois anos mais velha que Amice, Henriette era a esposa de seu irmão. Ela veio para ficar com eles há pouco mais de um ano, quando Brodgar se apaixonou por ela. Ela era uma menina doce, quieta e Amice gostava muito dela.

— É lindo vê-la, minha querida irmã, — disse Henriette, apertando a mão de Amice com carinho. — Tem sido tão quente aqui a semana toda? — Ela tirou a capa grossa forrada de pele, sacudindo seus cachos.

Amice riu.

— Caloroso? Irmã, eu desejava ter feito outro xale. Está dolorosamente frio.

Henriette riu.

— No Norte esteve nevando o inverno todo! — Ela olhou para Brodgar com carinho. — Se seu irmão não tivesse abastecido o lugar com peles de ovelha suficientes para me fazer pensar que ele dizimara todas as ovelhas escocesas, estaríamos congelados.

Amice riu.

— Confie em Brodgar que ele sempre planeja com antecedência.

Brodgar riu. Ele passou um braço em volta dela e se dirigiu para o salão do solar. Amice sentiu seu coração aquecer de orgulho e carinho enquanto caminhava com ele.

— Eu sou tão previsível, irmã? — Ele perguntou.

— Só para nós, irmão, — disse ela, indicando a si mesma, sua mãe e Henriette. — Para qualquer outra pessoa, você é completamente inescrutável.

Ele riu, uma grande e quente risada que encheu o salão frio.

— Inescrutável, hein?

Os quatro caminharam pelo salão em direção ao solar. A luz clara da tarde brilhava através das altas janelas arqueadas do solar e Amice sorria, aquecendo-se nos raios quentes. Dunkeld era um belo castelo, a fortaleza sombria totalmente transformada, pelo que ela ouvira, por sua mãe quando se mudara. Agora em casa havia todos os tipos de coisas bonitas: mesas de carvalho, poltronas de madeira fina e tapeçarias.

Amice olhou em volta enquanto tia Alina aparecia no salão, em seu rosto claro uma imagem de surpresa.

— Brodgar! — Ela estendeu a mão magra para colocar o cabelo escuro atrás de uma orelha e depois apertou seus ombros, olhando para ele no comprimento do braço. — Você parece muito bem.

— Eu me sinto muito bem, tia. Embora eu esteja com fome o suficiente para comer direto do depósito de inverno e sair do outro lado.

— Esse é meu filho, — Lady Amabel abraçou-o. Seus cabelos ruivos agora estavam pintados de branco, mas ela ainda tinha uma vivacidade intensa que Amice lembrava de sua infância. — E Henriette parece tão bem também, não é, Alina? — Ela fez uma pausa, sem fôlego. — Blaire! Brenna! — Ela convocou duas servas que estavam descendo as escadas em direção ao salão. — Peguem cerveja por favor! E bolos de trigo. Nós temos dois visitantes com fome.

Blaire e Brenna, vendo Brodgar no salão, sorriram.

— Sim, senhora!

— Sim, milady. Nós vamos trazer o suficiente para todos, o mesmo de sempre.

Brodgar revirou os olhos.

— Vocês vão parar de me provocar sobre o meu apetite?

Amice sorriu. Surpreendeu-a descobrir o quanto sentira falta do irmão. Enquanto ele caminhava pelo solar, ela se viu estudando-o pelo canto do olho, percebendo o quanto ele havia mudado. Ele crescera, em tamanho e aumentara suas forças. Ele parecia resolvido, contente e feliz. O mesmo aconteceu com Henriette.

Todos se sentaram juntos, Amice esfregando as mãos para aquecê-las pois se congelaram no salão. Ela viu a mãe ir até a porta, com o rosto corado com toda a atividade.

— Greer? — Ela chamou um guarda. — Traga Lorde Broderick do seu escritório, sim? E Duncan sabe onde está? — Lorde Broderick era o pai de Amice e Brodgar, senhor do castelo. Duncan era seu tio, seu irmão mais novo.

— No pátio de treinamento, minha lady. Ensinando os meninos a usarem lanças.

— Bem, chame-o, imediatamente! É uma celebração! — Insistiu Amabel.

Amice viu como sua mãe rapidamente organizava tudo. Ser a castelã de um vasto castelo combinava com ela, algo que ela nascera para isso. Enquanto pensava sobre isso, Amice se perguntou se ela iria querer fazer o mesmo sozinha. Parecia ser muito exigente. No entanto, se ela se casasse com Hal, teria a vida dela.

Sua mãe voltou ao seu lugar, voltando-se para Brodgar.

— Agora, filho. Conte-me tudo sobre sua jornada enquanto esperamos que esses bolos cheguem.

Enquanto escutava, Amice encontrou seus pensamentos imaginando sua noção anterior. Hal McTae, o filho do aliado de seu pai, Lorde Alistair, fora uma escolha natural. Ela falara sobre isso com a mãe, que sugerira a ideia há alguns anos. Que melhor maneira de fortalecer a aliança do que casar? Hal e Amice combinavam tão bem.

Eu o conheço de quase toda a minha vida.

Lorde Alistair os visitava desde que Amice era criança, trazendo seu filho Hal com ele. Responsável, cortês e corajoso, Hal era certamente o epítome do que uma mulher deveria querer para se casar.

Sua mãe se mexeu no poltrona ao lado dela e ficou de pé, interrompendo sua linha de pensamento. Amice viu a cabeça dela virar para porta. Um momento depois, a voz de sua mãe interrompeu seus pensamentos.

— Filha?

— Sim, — ela perguntou educadamente. Sua mãe parecia preocupada. Seu rosto ficou vermelho de novo e ela tossiu.

— Querida, você acha que poderia ir até a cozinha e dizer-lhes para planejar um jantar para a próxima semana? Acabei de receber notícias surpreendentes. — Ela indicou um mensageiro que Amice mal reparara, em pé ao lado da porta. Ela olhou para tia Alina. Suas bochechas claras estavam vermelhas e seus olhos brilhavam, quase como se lágrimas brilhassem ali. Qualquer que fosse a notícia, Amabel claramente passara para ela primeiro.

— Sim, mamãe. Claro. Que notícias? — Seu coração bateu. O que poderia ter chateado sua serena tia assim?

— Seus primos Conn e Leona estão vindo da França para nos visitarem.

Não é de admirar que tia Alina estivesse tão emocionada. Ela não estava angustiada, mas feliz. Leona era sua única filha. Ela não a visitava há anos. Ela tinha seu próprio filho, um garotinho chamado Francis. Seria maravilhoso vê-los novamente!

— Quando eles vão chegar? — Ela perguntou.

— Eles devem chegar na Escócia hoje. Eles vão viajar desde Edimburgo, embora... isso deve levar cinco dias. Talvez mais, com este tempo. Eu os espero na segunda-feira.

— Ah! — Amice ficou animada. Seria tão bom ver Leona de novo! E o primo Conn também! Tia Alina estava um pouco deprimida desde que Leona partira, seria bom vê-la feliz de novo.

— Eles vão trazer meu novo priminho com eles?

— Com certeza vão! — Amabel assentiu. — Agora. Onde estão esses dois homens? — Ela olhou ao redor do salão com impaciência, procurando Broderick e Duncan.

— Aqui, minha querida, — disse Broderick, aparecendo na porta. Ele veio até eles, sorrindo para Amabel e bagunçou o cabelo de Amice. — Eu recebi sua mensagem. Nós estamos... — ele parou quando viu Brodgar e o olhou fixamente. — Filho!

Amice engoliu em seco quando seu pai alto e sombrio foi rapidamente para seu irmão, abraçando-o em um abraço esmagador. Ela amava sua família e era um grande prazer vê-los juntos novamente. Parecia que tinha passado muito tempo desde que era apenas ela, sua mãe e tias aqui no solar, com Broderick em seu escritório e Duncan e Blaine no pátio de treinamento.

— Ah! Aqui está o refresco. Amice?

— Eu vou, — Amice acenou para sua mãe, indo para a cozinha para entregar a notícia. Quando ela subiu novamente, quase bateu em uma sentinela, que subia correndo as escadas.

— Minha dama!

— O que é? — Ela perguntou.

— Mais convidados! Há um homem no portão Hal McTae.

Amice sentiu suas bochechas vermelhas. Hal estava aqui.

Calma, Amice MacConnoway. Ele é apenas uma pessoa. Respire.

— Bem, deixe-o entrar. Vou anuncia-lo. Não se preocupe.

— Oh! Obrigada, milady.

Amice subiu rapidamente as escadas, contorcendo as saias do vestido de veludo verde para verificar se ele estava bem preso. Oh, por que ela escolheu este, pensou um pouco desesperada. Era velho e até tia Chrissie disse que já era hora de passar para outra pessoa.

Isso me serve muito bem, entretanto, ela lembrou a si mesma. O vestido era costurado em duas partes, a parte da frente do corpete coberta de veludo verde e seda de ouro amarelo. A cor destacava o marrom de seus olhos e a cintura se encaixava perfeitamente em sua cintura estreita, acentuando suas curvas.

Na porta do solar, ela limpou a garganta. A família levantou os olhos esperançosa.

— Temos uma visita, — anunciou ela.

— Mais uma? — perguntou Amabel franzindo a testa. — Quem, querida?

— Hal McTae.

— Oh! — Amabel se levantou, chamando Brenna. — Mais ale.1

— Ele está sozinho? — Perguntou Broderick. — Ou Alistair está com ele?

— Ele está sozinho, — disse Amice, engolindo em seco. Ela se sentiu um pouco nervosa de vê-lo de repente. E se ele tivesse vindo pedir a mão dela? Era possível.

— Oh. Bem. É bom tê-lo aqui — disse Duncan com facilidade. — Outro sujeito que pode saber algo sobre esses novos machados saindo da Borgonha.

— Alabardas2? — Quis saber Brodgar. — Heath mencionou-os para mim no início deste ano.

— Oh. — Duncan se virou para ele, interessado. — Como eles são usados no campo?

Enquanto Brodgar e Duncan falavam sobre armamento, Amice olhou ao redor do solar, seu coração batendo em seu peito. Alina estava sentada à sua frente, trabalho na tapeçaria que estava no joelho dela. Duncan e Brodgar estavam mais perto da lareira, Henriette sentada ao lado do marido. Amabel acabara de voltar para se sentar ao lado de Amice e o pai olhava pela janela para o pátio.

— Tem Blaine! Alguém deveria buscá-lo — acrescentou ele, indo até a porta. — Se alguém quiser ouvir sobre esses machados, será...

Ele parou na porta quando o sentinela entrou. Atrás dele estava Hal.

Amice ficou olhando. Ele estava na porta, alto, de cabelos escuros e bonito, o manto de tartan verde de seu clã pendurado nas costas e em torno de seus ombros largos rigidamente. Seus olhos, azuis e penetrantes, foram de Brodgar e Henriette para Alina, depois se demoraram em Amice.

— Boa tarde, — disse ele. Ele parecia um pouco tímido. — Espero não ter chegado em um momento inconveniente? Eu vejo que já tem um convidado hoje.

Brodgar sorriu para ele. Na porta, Broderick se afastou para que Hal pudesse entrar.

— Bobagem, Hal, você é muito bem-vindo. Entre! Sente-se.

— A cerveja e tortas já estão a caminho — disse Amabel, indicando a mesa onde estavam alguns canecos e um prato de tortas condimentados, prontos para os visitantes.

Hal sorriu e curvou-se graciosamente para Lady Amabel.

— Obrigado minha lady. Uma visão para meus olhos doloridos. — Seu olhar girou dela para Amice, e ele se curvou. Amice engoliu em seco quando seus olhos encontraram os dela, quentes e cintilantes. Quando ele olhava para ela dessa forma, ela sentiu um calor estranho através dela e seu coração se acelerava. Ela olhou para a mãe, para verificar se não havia notado sua reação. Sua mãe parecia calma e Amice sentiu-se relaxar.

Amabel riu.

— Eu posso imaginar como você deve estar com fome, Hal. Está frio lá fora.

— Não é tão ruim assim, — Brodgar hesitou, e Amice gemeu.

— E você sabe que é mais frio do que o resto de nós, — disse ela provocativamente.

Brodgar estendeu a língua. Henriette riu. Hal se virou para ela. Ele estava sorrindo.

— Minha cara Amice. Tenho o prazer de vê-la — disse ele calorosamente. Naquele momento, parecia quase como se ela e Hal fossem as únicas pessoas na sala. Amice engoliu em seco novamente, sentindo-se subitamente tímida.

— Eu... é um prazer vê-lo também, Hal.

Ele deu-lhe um sorriso gentil. Ele era tão bonito, ela pensou. Ela sentiu que sua família estava olhando para ela e tossiu, olhando para as mãos. Hal se moveu, indo para a poltrona de frente, onde Broderick estava sentado.

— Tem lugar aqui? — Ele perguntou.

Amabel assentiu.

— Claro, Hal. Sente-se onde quiser. Ah! Aqui está algo para o nosso convidado comer.

A cerveja fresca e mais refrescos chegaram, e os olhos de Hal se arregalaram quando ele viu a bandeja cheia que a serva colocou diante dele. Ele pegou uma caneca de cerveja fervida e temperada e levantou-a apreciativamente.

— Obrigada, minha lady — disse ele a Amabel. — Sua hospitalidade é um exemplo para todos.

— De jeito nenhum, — Amabel riu. — É um vento bom que traz tantas pessoas à nossa porta neste dia.

Brodgar riu.

— Eu teria chegado mais rápido! Mas a viagem foi desagradável... paramos com Alf no caminho.

— Como está Alf? — Amabel queria saber. — Sua tia Chrissie ficará satisfeita com notícias dele!

Alf, o primo mais novo de Amice, casou-se com a famosa família McDonnell, que fora sua inimiga. Agora, com sua esposa Ambeal, os dois uniram suas casas. Chrissie, a tia de Amice, era a mãe de Alf.

— Onde está Chrissie? — Perguntou Brodgar.

— Fora em equitação.

Quando as conversas se elevaram no meio deles, Amice e Hal se entreolharam. Os olhos de Hal se arregalaram quando a olhou e Amice lutou contra o nó de sua garganta. Por que falar com ele era tão difícil?

— Minha lady, você parece radiante, se é que posso dizer. Eu confio que você teve um agradável Christmastide?

— Foi muito agradável, sim. Obrigada, Hal, — Amice conseguiu dizer. — Eu espero que seu tio esteja recuperado?

Seu tio adoecera, o que levou sua família a partir mais cedo. Eles costumavam passar os dias de Natal com a família de Amice, aqui, em Dunkeld.

— Sim, muito bem, obrigado, — ele assentiu. — Devo agradecer a sua tia por seus conselhos e medicação. Eu confio que foi o que o salvou.

— Ela vai ficar feliz em ouvir isso, — Amice assentiu. Hal lambeu o lábio, limpando um pedaço de bolo e então se virou para Lady Amabel.

— Se me der licença por um momento, minha lady, eu gostaria de esticar minhas pernas. Foi uma longa jornada. Amice? — Ele perguntou.

— Sim? — Ela olhou para cima.

— Você se importaria de me acompanhar para uma breve caminhada pelas muralhas? Eu acho que o vento frio pode revigorar minha mente cansada.

Amice piscou. Então ela assentiu.

— Claro, Hal.

Eles saíram da sala juntos.

Nas muralhas, o vento era menos do que antes, embora ainda soprasse cruel e frio a cada vez que chegavam a uma parte voltada para o sul. Amice estremeceu.

— Pelo menos o vento traz tempo bom para nós, — Hal comentou. — O clima vindo da costa é sempre bom.

Amice assentiu.

— Você está certo, Hal. Isto é. O que é bom, para a minha prima Leona hoje. — Ela quase tinha esquecido que Leona e Conn deveriam chegar na próxima semana.

— Isso é muito bom, — Hal assentiu gravemente. — Tenho certeza que você sente muita falta dela.

— Eu tenho, — Amice assentiu.

Eles conversaram sobre coisas simples: casa, família, o clima e o novo cavalo de Hal. Amice ficou surpresa ao descobrir que, aqui e fora da vista e da audição de sua família, sua língua se afrouxou e ela podia falar com Hal tão naturalmente quanto se ele fosse Brodgar.

Quase exatamente como Brodgar, na verdade, ela percebeu com surpresa. O formigamento e a urgência diminuíram um pouco e ele se tornou mais parecido com o irmão dela. Um amigo próximo e alguém que ela admirava. Não necessariamente o futuro marido glamoroso e misterioso.

— E você continua cavalgando? — ele perguntou, interrompendo o devaneio dela.

— Uh... ainda não, não, — comentou Amice. — Você deve saber como o tio Blaine é sobre os cavalos neste tempo. Embora ele não seja tão possessivo com meu cavalo, Dancer, quanto é sobre os cavalos de guerra.

Hal riu. Ele tinha uma risada agradável, quente e contagiante.

— Eu posso imaginar. Seu tio Blaine é um soldado formidável.

— Tio Blaine é obcecado com todas as coisas de guerra.

Hal assentiu.

— Parece. Eu não posso culpá-lo nisso.

— Não, eu suponho que não. — Amice assentiu.

Enquanto caminhavam pela ameia, Amice se perguntou se Hal era o homem para ela. Ela gostava muito dele, e ele morava perto dela, muito perto. No entanto, ele havia sido criado ao lado dela e, depois que o formigamento inicial de desconhecimento se esvaiu, ela descobriu que o tratava como Brodgar: confiante, provocante e provocada.

Era uma amizade adorável. Teria a magia ou o mistério que ela realmente desejaria em alguém com quem se casaria? Ela não sabia.

— Vamos entrar? — Hal perguntou então.

— Eu acho que sim, — Amice assentiu. Ela estremeceu um pouco no frio e puxou seu longo manto forrado de pele sobre ela. Estava frio aqui em cima. Frio e cinza.

— Bem, então. — Hal se afastou para ela passar, e então abriu a pequena porta que levava de volta para o calor comparativo do salão do castelo. — Depois de você.

— Obrigada, Hal, — Amice balançou a cabeça educadamente, indo na frente dele, segurando a porta para ele entrar depois dela.

— Obrigado, Amice, — ele disse educadamente.

Ela deu uma risadinha e eles se dirigiram juntos para o salão, de volta ao solar, onde o som da conversa ainda pairava através da porta alta e arqueada.

No interior, Amice sentou-se em frente à mãe, tremendo no calor súbito da lareira. Ela pegou uma pequena caneca de cerveja quente, encontrando-se perguntando, não pela primeira vez, sobre seu futuro.


CAPÍTULO DOIS

A CONVOCAÇÃO


O fogo crepitava na lareira. Amice estava sozinha no solar, apertando os olhos enquanto trabalhava em uma tapeçaria. Brodgar e Henriette ainda estavam no grande salão, Amabel estava em seu quarto e Alina a seguira. Blaine e Chrissie estavam em algum lugar no pátio. Daqui, ela podia ouvir a tia Chrissie rindo. Hal estava com Broderick no campo de treinamento.

— Pelo menos eu tenho um momento para terminar a minha tapeçaria, — ela murmurou para a sala vazia, alcançando uma nova meada de fios de seda. Depois de toda a atividade ocupada, era um descanso. Ela levantou a agulha para inspecioná-la mais de perto, precisando se concentrar para enfiá-la, e de repente seu foco foi interrompido quando alguém a chamou.

— Amice?

— Oh! — Amice colocou a agulha de lado com cautela. — Tia Alina! O que é?

— Eu preciso pedir sua ajuda, querida, — disse Alina, entrando hesitante. Seu rosto oval e suave, apenas um pouco pálido, era grave e perturbado.

— Minha ajuda, tia? Claro. O que é?

— É sua mãe, sobrinha, — ela suspirou. Seu rosto estava comprimido de preocupação. — Ela não está bem. Ela disse que não está doente, mas eu posso ver que sim. Ela não está totalmente recuperada daquela febre que teve antes.

Amice assentiu.

— Tenho certeza que você está certa, tia. — Tia Alina era uma curandeira habilidosa. Se ela disse isso, Amice acreditava nela. — Mas o que podemos fazer? — Seu coração bateu em seu peito. Sua mãe, embora robusta, estava propensa a ataques repentinos de febres. Ela sobreviveu a todos até agora, mas ela continuaria a fazê-lo?

— Estou tratando seu peito com raiz de malva, — explicou Alina. — E as dores com casca de salgueiro... mas isso é um aparte. O que eu preciso que você faça é ficar de olho nas coisas. Você sabe como sua mãe sempre fez tudo sozinha e se encarrega de tudo.

Amice assentiu.

— Eu sei.

— Bem, eu quero que ela fique em repouso pelas próximas duas semanas. Então, não conduza nada na cozinha, sem ir para ao hall ou para os estábulos. Nós vamos assumir suas obrigações por um tempo. Se pudermos.

— Claro, — disse Amice, balançando a cabeça vigorosamente. Que ela poderia fazer facilmente! Ela se sentiu aliviada. — Eu pensei que você poderia precisar de mim para fazer algo difícil, tia.

Alina deu um sorriso estranho. Era um pouco triste, quase melancólico.

— Espero que seja fácil, sobrinha.

Amice se sentiu tremer, um tremor momentâneo que logo passou.

— Por que você diz isso, tia? O que pode acontecer? — Se Alina disse coisas desse tipo, algo poderia acontecer.

Alina apenas sacudiu a cabeça.

— Provavelmente nada. Agora devemos entrar em ação imediatamente. Temos planos para um jantar na segunda. Devemos verificar as reservas no armazém. E eu devo fazer com que a câmara de Leona seja arejada e arrumada.

— Eu vou para o armazém agora, tia, — Amice disse rapidamente. — Desde que tivemos o banquete para Brodgar, vamos ter uma boa ideia do que restou para o resto da semana.

— Claro, sobrinha. Você vai. Eu subirei as escadas.

Amice deixou de lado o bordado e correu pelo salão. Ela desceu rapidamente os largos degraus de pedra que levavam ao pátio e à colunata externa, virando à direita para descer pelo salão de criados para a cozinha.

O calor da cozinha a atingiu com uma explosão quando ela se dirigiu para baixo. No inverno rigoroso, nas profundezas, o lugar ainda estava quente, iluminado pela luz avermelhada dos fogões e da lareira, reduzido a cinzas agora, enquanto os servos passavam para limpeza.

— Sra. Brewer? — ela chamou a cozinheira.

— Sim! — A mulher apareceu, as mangas arregaçadas até os cotovelos, braços cobertos de farinha. — Aqui, lady Amice! Gostei de vê-la aqui, com esse vestido extravagante. Qual é o problema?

Amice pigarreou, sentindo-se bastante satisfeita com suas novas responsabilidades.

— Minha mãe me pediu para supervisionar o jantar na próxima semana, — disse ela. — Eu quero repassar os suprimentos e descobrir o que há no armazém. Então precisamos planejar o menu.

— Oh, claro! — Sra. Brewer assentiu. — Bem. Temos doze sacos de farinha e oito de cereais, temos cinco peças de queijo e oito de manteiga, doze quilos de aveia e um saco de cevada, e as cebolas que chegaram na semana passada ainda estão aqui...

Quando ela saiu com a lista, Amice fez o melhor que pôde para prestar atenção. A cozinha era um lugar de distração, cheio de servos mexendo panelas de latão ou polindo panelas, e os cheiros eram inumeráveis e deliciosos. Um dos cães de caça veio do pátio e se acomodou junto ao fogo, olhando para Amice com olhos amigáveis.

— Bem, — disse Amice quando a mulher diante dela terminou seu inventário. — Nesse caso, talvez pudéssemos... — ela fez uma pausa, — comer um guisado de alho poró e cogumelos, e precisamos usar seis presuntos e estamos esperando todos os guardas com suas famílias e se você puder usar a cevada em caldo e fazer oito lotes de bannocks...

Enquanto planejava o banquete, Amice surpreendeu-se com sua própria capacidade de planejamento. Ela raramente tinha feito coisas assim antes, mas parecia vir naturalmente. Era uma agradável surpresa, pois, com uma anfitriã tão capaz como sua mãe, sempre achara que não tinha nenhum dom para isso.

É bom ver que não sou tão ruim assim.

Ela sentiu um arrepio de orgulho enquanto voltava para o castelo. Ela viu Brodgar chegando.

— Irmão! Você parece cansado.

— Eu estou, — disse Brodgar com um sorriso. — Acabei de passar meia hora com Blaine, contando a ele sobre o uso de machados de batalha, aqueles longos que os borgonheses estão fazendo incrivelmente populares. Talvez Conn saiba mais.

— Sim, — Amice assentiu. Ele estava no continente, afinal, muito mais perto da Borgonha do que aqui. Na verdade, Annecy não estava muito longe das fronteiras daquele ducado, até onde ela sabia.

— Estou tão feliz por ele estar nos visitando.

— Eu também.

Eles conversaram um pouco enquanto subiam as escadas, virando à direita em direção ao solar no topo do escadaria.

— Estou feliz que a mãe de Henriette está de volta à nossa casa no Norte, — acrescentou, assentindo. — Quando o bebê chegar, Henriette ficará feliz em ter sua mãe por perto.

— O bebê? — Amice olhou para ele. — Seu maluco! Você esqueceu de me dizer!

Brodgar ficou vermelho.

— Eu não deveria ter mencionado isso, irmã, — disse ele timidamente. — Henriette me proibiu. Ela não queria que ninguém soubesse. Não, até o próximo mês. Disse que ainda não tem certeza.

Amice assentiu.

— Compreendo. Bem, eu não vou contar a ninguém. Eu prometo.

Brodgar afofou o cabelo dela.

— Obrigado irmã. Que alivio!

Amice sorriu.

— Claro, vou manter isso em segredo, irmão. Embora você tenha que contar a alguém em breve. Pense como mamãe... — ela parou. Sua mãe ficaria encantada. O pensamento fez seu coração se apertar com preocupação. Sua mãe estaria bem quando o bebê viesse? Sua tosse piorou no último mês. Ela notou, mas fingiu que não, para que sua mãe não se ofendesse.

— Eu sei, — Brodgar assentiu. — Ela ficará feliz em ser uma avó novamente. Estou tão feliz por estar aqui agora. Henriette precisa de um descanso e quero passar um tempo com a mãe.

Amice assentiu. Ela sabia que Brodgar também estava preocupado com a mãe deles. Ambos haviam notado a palidez de sua pele e, provavelmente, tia Alina também havia passado uma palavra para Brodgar.

— Boa. Ela ficará feliz.

Brodgar assentiu, engolindo em seco. Eles voltaram para o calor do solar juntos.

Quando Amice cumprimentou Henriette e sentou-se ao lado dela na lareira, não pôde deixar de olhar para ela com cuidado. Era óbvio que ela estava esperando um bebê? Amice sabia pouco sobre o assunto, sua irmã Joanna tinha uma filha pequena, mas ela tinha dado à luz no castelo de Lochlann com Alina para cuidá-la. A maior parte do nascimento de crianças fora feita à parte de Amice, que não sabia como era.

— Estou tão feliz por estarmos aqui, — Henriette murmurou quando Amice lhe mostrou a tapeçaria em que trabalhava.

— Estou feliz também, — disse Amice, apertando a mão de sua amiga. De perto, ela podia ver um brilho na pele de Henriette, um brilho nos olhos que sugeria que ela estava cheia de saúde e felicidade. Ela imaginou que pelo menos parte disso era devido à criança, e parte de Brodgar, que compartilhava um amor especial com ela.

Enquanto pensava, olhou para o outro lado da sala onde Hal se sentava com Brodgar, desenhando um diagrama em um pedaço de couro. Ela o observou, considerando. Era o que ela sentia por Hal como o amor de seu irmão e sua nova esposa? Ela não sabia.

Quando estou com Hal me sinto confortável. Agradável. Eu confio nele. Eu me sinto segura com ele. Nós brincamos, rimos e provocamos juntos. Mas existe... essa coisa extra? Aquela coisa que Brodgar e Henriette compartilham?

Enquanto pensava, viu Henriette também olhar para a mesa onde Brodgar estava. Seus olhos se encheram de uma suavidade que fez Amice engolir em seco.

Não, ela pensou. É diferente de como me sinto com Hal. De como eu me sinto por qualquer pessoa.

Naquele momento, Alina entrou. Ela parecia tensa, embora fosse preciso conhecê-la bem para ler as entrelinhas sutis e na rigidez de seu movimento, a única linha em sua testa lisa. Amice foi até ela.

— Tia. O que é?

— É... não importa, sobrinha. Não se preocupe. — Ela deixou que Amice lhe trouxesse uma bebida, que mostrava como estava distraída. Alina era alguém que não suportava qualquer tipo de preocupação.

— Eu organizei o jantar, — disse Amice, sentando-se na almofada de pano ao lado dela.

— Bom, bom. — Alina acariciou as bochechas com cansaço. Perto dela, Amice podia ver prata na cortina escura e densa de seu cabelo. — Estou feliz que minha filha está vindo.

Amice assentiu. Seria um alívio e um apoio para Alina ter Leona perto. Embora Joanna e ela fossem muito mais parecidas, Alina gostava da filha voluntariosa e impulsiva que superava tudo o que sentia por alguém.

— Estou feliz também, tia.

Alina assentiu e então deu um sorriso cansado.

— Você é uma menina querida, sobrinha. É um prazer tê-la também.

Amice agradeceu, então, quando as palavras saíram de sua boca, e se perguntou por que Alina havia dito isso. Ela sempre foi a última das damas aqui. Por que Alina diria isso?

A menos que ela tenha algum senso de que eu vou para outro lugar?

Ela limpou a garganta, imaginando se poderia ser egoísta o suficiente para perguntar a sua tia preocupada o que ela quis dizer, quando alguém entrou.

— Minha lady! — O mensageiro disse, seu rosto tenso de preocupação. — Temos más notícias.

Alina levantou-se. Com Amabel em seu quarto, ela era a dama de Dunkeld, esposa do irmão do thane. Ela limpou a garganta.

— O que está errado? Me conte sua mensagem.

Ela parecia real e distante ao mesmo tempo, e Amice sentiu uma pontada de orgulho em sua adorável tia. O mensageiro limpou a garganta.

— O barco que traz Lady Leona e Lorde Conn foi detido. Se ninguém for negociar os desembarques, eles voltarão para a França.

Alina estendeu a mão e Amice segurou a mão dela. Ela ficou branca, e Amice sentiu um arrepio repentino passar por ela.

Tia Alina não precisava de mais surpresas ruins.

— O que significa isso, amigo? — Perguntou Brodgar, em pé. Ele se aproximou e Amice aproveitou a oportunidade para ajudar Alina a sentar-se. Ela a deixou, porém, ficou parada ao lado de Brodgar enquanto os dois encaravam o mensageiro.

— Senhor, eu, hum... — ele gaguejou. — Por causa do atual... impasse... com certos contrabandistas, o navio foi detido em Queensferry. Alguns papéis não estavam em ordem e o jovem lorde... se opôs a mais informações. Eles estão sendo mantidos no local até que tais documentos sejam levados, ou uma palavra possa ser levada a alfândega, como prova de sua identidade.

— Isso é ridículo, — Brodgar murmurou para Alina, que assentiu. — Claro que Conn não é contrabandista. Eu devo... — ele parou, virando-se para Amice e, atrás dela, para Henriette.

Amice viu o olhar que passou entre seu irmão e sua esposa, a ternura, o cuidado. O arrependimento

Brodgar não pode ir agora e deixá-la! Ela precisa dele.

Amice se encontrou limpando a garganta.

— Eu irei para Queensferry. Eu sou filha do thane, meu pai, e não há nenhum pedido que façam me fará ficar aqui. Eu irei.


CAPÍTULO TRÊS

DESPEDIDA E UMA JORNADA


Amice vestiu-se com cuidado em um vestido de linho creme, combinando-o com um kirtle3 trabalhado com rosas escuras. Com o cabelo vermelho escovado e uma pequena faixa de joias adornando, ela parecia muito bonita. Ela subiu as escadas até a sala da torre onde Hal estava alojado. Ela se sentiu surpreendentemente nervosa.

Eu preciso dizer meu adeus a ele.

Ela andou na ponta dos pés e bateu na porta. Não houve resposta. Ela esperou.

— Hal?

Sem resposta. Ela se virou e foi embora. Ela ouviu passos vindo pelo corredor, e então, de repente, lá estava ele, com o cabelo cor de trigo e maçãs do rosto altas e aquele sorriso sincero.

— Hal, — ela disse suavemente. — Aí está você. Eu queria dizer adeus.

— Oh. — Hal sorriu. — Bem, talvez possamos caminhar juntos pelas muralhas? Estou precisando desesperadamente de ar fresco.

Amice assentiu.

— Eu vou buscar um manto. Está frio lá fora.

Eles se encontraram na torre. Amice usava em um manto de veludo rosa, Hal ao lado dela, bonito em kilt verde e azul.

Eles caminharam ao longo das muralhas e Amice olhou para baixo, sem saber como começar.

— Eu deveria...

— Quando você...

Ambos falaram e riram.

— Por favor, — Hal convidou galantemente.

Amice pigarreou.

— Estou indo embora amanhã. Você sabe disso.

— Sim.

— Eu queria dizer um adeus, — ela disse cautelosamente. Céus, mas isso era estranho! O que ela deveria dizer? — Nós deveríamos nos vermos mais.

— Sim, — Hal assentiu gentilmente. — De fato, Amice.

— Bem, — ela amarrou as mangas de seu vestido, os dedos puxando nervosamente o tecido. Por que isso era tão difícil? — Suponho que tudo o que posso dizer é que me sentirei bem enquanto estiver fora. Cuide-se. E estou ansiosa pelo meu retorno. Talvez possamos nos visitar mais um pouco.

— Sim, Amice, — Hal assentiu. — Acho que vamos fazer isso.

Amice olhou para as colinas, desejando poder terminar essa conversa estranha. Por que se sentia tão difícil, tão confusa? Talvez se ele fosse mais animado, menos rígido, seria mais fácil. No entanto, não havia indicação do que ele pensava. Apenas aquela galanteria quieta, aquelas boas maneiras impecáveis.

Eu me pergunto se ele gosta de mim.

Hal era gentil e afável para todos.

Hal fez uma pausa.

— Eu queria dizer que estou ansioso pelo o seu retorno, — disse Hal com cortesia. — Eu entendo que meu pai planeja as festividades para a próxima temporada. Se quiser, talvez possa ficar conosco na propriedade?

— Sim. Eu gostaria disso, — Amice assentiu. Ela mordeu o lábio, olhando para as colinas distantes. Em algum lugar lá dentro, ela desejou estar a quilômetros de distância. Ela não precisava fazer nada disso. Por que ela era a obediente, aquela em que a família confiava para fazer a coisa certa?

— Bem, então, — Hal disse educadamente. — Nós devemos fazer arranjos. Eu confio que você não vai ficar longe por muito tempo? Sua família não esperaria que você fizesse uma longa jornada sem um acompanhante adequado.

— Eu vou com Bronn, — Amice disse teimosamente. Céus! Por que ele deveria ser tão rígido, tão correto?

— Bronn? — As sobrancelhas claras de Hal se levantaram interrogativamente. — Quem é ele?

— Ele é o cavalariço, — explicou Amice obstinadamente. — Ele é um tipo confiável. Eu o conheço toda a minha vida.

— Isso é muito inadequado, — disse Hal suavemente. — Seu pai deve estar distraído com suas preocupações. Se eu pudesse...

— Hal, — Amice disse gentilmente, não querendo se ofender com seu ar de propriedade, — eu estarei segura. Bronn se preocupa comigo e conhece o caminho como a palma da sua mão. Eu vou estar fora por apenas uma quinzena. Eu vou ficar bem.

Ele suspirou.

— Se você insistir, minha lady.

— Eu insisto.

Ele sorriu para ela.

— Ah, Amice, — disse ele. — Você é tão inocente e às vezes me preocupo...

— Hal, — protestou Amice. — Tenho vinte anos de idade. Eu não sou mais inocente do que qualquer outra pessoa.

— Oh, mas você é, — ele disse suavemente. — Uma flor inocente, criada aqui na fortaleza. Você precisa de uma guarda.

Amice sentiu seu carinho educado, substituído por uma súbita impaciência.

— Hal. Eu não sou uma garotinha.

Ele sorriu para ela daquele jeito educado e afetuoso que ele tinha.

— Bem, talvez não, — ele concordou.

Amice suspirou. Por que ela estava sendo tão injusta? Tudo o que ele estava fazendo era mostrar preocupação por ela. Ela balançou a cabeça cansadamente.

— Perdoe-me, Hal. Eu não sei o que há de errado comigo.

— Você está apenas preocupada, — Hal disse gentilmente. — E não é de admirar! Seus primos detidos, sua mãe se recuperando de uma doença... seja justa com você mesma, Amice.

Amice assentiu.

— Obrigada, Hal. Você é muito gentil. — Ela se sentiu abruptamente como se quisesse chorar. Hal era a única pessoa que realmente pensara sobre o fardo que carregava. Ela fungou ferozmente, tentando não deixar as lágrimas caírem agora. — Devemos ir antes de pegar um resfriado também.

— Sim, — Hal assentiu. — Sim, nós devemos. Por favor, minha lady. — Ele segurou a porta da torre e ela entrou.

No interior, ele se curvou.

— Obrigado por suas palavras de despedida. Aguardo com expectativa o nosso próximo encontro ainda este ano.

— Eu também, — disse Amice, inclinando a cabeça gravemente.

Ele beijou a mão dela. Quando ele fez isso, Amice sentiu uma leve vibração no ventre, mas não era nada como a paixão que sua irmã tinha falado, ou o amor duradouro que ela sentia entre seus pais. O que havia de errado com ela?

— Adeus.

— Adeus.

Amice fez uma reverência e correu pelo salão até o quarto dela. Lá dentro, ela fechou a porta e sentou na cama, perdida em pensamentos.

Este era realmente o seu destino, o casamento com Hal, uma vida tranquila e obediente? Ela se lembrou da profecia. Uma longa viagem. Alguém com algo diferente nele. Ela suspirou. Talvez a tia Alina estivesse falando figurativamente. Aos vinte anos, ela era mais velha do que muitas meninas quando se casavam, por isso talvez essa fosse a jornada. O algo diferente, como? Bem, Hal era tão cortês, tão educado... talvez fosse tudo o que tia Alina queria dizer.

Uma batida soou na porta. Amice levantou-se e foi abri-la.

— Olá?

Era Alina.

— Minha querida. Eu vim buscar você. Sua mãe está um pouco melhor. Ela queria falar com você.

— Ah. — Amice levantou-se imediatamente. — Claro. Onde ela está?

— Na torre oeste.

Amice seguiu sua tia até o pequeno e aconchegante quarto no topo da torre. Sua mãe estava sentada na janela. Ela se virou para ela.

— Olá querida.

— Mãe!

Sua mãe estava pálida, com os olhos escuros. Ela parecia exausta.

— Obrigada, Alina, — disse ela para sua irmã. Alina saiu, fechando a porta atrás de si. — Filha, — Amabel disse suavemente. — Eu queria falar com você, para dizer adeus.

— Mãe, não! — disse Amice, a voz oscilando perigosamente.

— Eu vou te ver quando voltar, — sua mãe assegurou. — Nunca tema.

— Eu não temo, — disse Amice. Ela olhou para as mãos, querendo conter as lágrimas.

— Eu também queria dizer que você parece triste ultimamente. O que te incomoda?

— Hum... nada, mãe. — Amice murmurou. Ela não queria que sua mãe se preocupasse com seus próprios problemas bobos. A família queria que ela se casasse com um McTae. O que mais realmente importava? O dever era tudo.

— Não, há alguma coisa. Eu sei o que é também. É Hal McTae, sim?

Amice engoliu em seco.

— Mãe, não...

— Não minta para sua mãe, — disse ela com uma risada rouca. — Eu posso ver isso. — Ela tossiu e Amice estremeceu. Sua mãe estava gravemente doente. Como ela poderia pensar em perturbá-la agora?

— Mãe, não é nada.

— Você tem segundas intenções. Eu sei isso.

— É só... — Amice fez uma pausa. — Às vezes me pergunto se realmente sinto algo por Hal. Quero dizer, — ela suspirou. — Eu sei que o dever com o clã é mais importante, mas eu me pergunto se...

— O dever não é tudo, — suspirou a mãe. — O amor é mais importante.

— Mãe, eu...

— Se você realmente amasse alguém, saberia. O mundo pareceria diferente quando se lembrasse que ele estavam nele.

Amice engoliu em seco.

— Mãe, eu não...

— Você vai saber, se sentir esse amor, — insistiu sua mãe. — E eu rezo para você. Esta jornada... demorará um pouco. Aproveite esse tempo. Pense nisso. Diga-me quando voltar, o que decidiu.

— Mãe, eu não posso deixar você e o pai tristes.

— Sim, você pode, — disse Amabel, tossindo. — Eu teria feito, se tivesse conhecido seu pai em outras circunstâncias. — Ela riu.

— Sim, mãe, — Amice assentiu. — E, mãe?

— Sim, minha filha?

— Obrigada. — Amice apertou a mão dela. Os dedos de Amabel estavam frios. Amice queria chorar.

— Agora, então, — disse sua mãe. — Sem lágrimas. Sorria para mim, assim está melhor. Eu te vejo em breve. E Leona e Conn, eu espero. Tome cuidado, filha.

— Sim mamãe.

Amice sentiu a mãe se aproximar e puxá-la para um abraço. Ela a abraçou ferozmente e as lágrimas pingaram em seu ombro, encharcando seu vestido de noite e seu cabelo. Quando ela se sentou, sua mãe sorriu.

— Vá agora. Sem mais lágrimas. E me diga, hein?

— Sim, mãe. Vou pensar muito nessa jornada.

— Boa.

Os dedos de sua mãe, claros e fortes, se fecharam ao redor de seu pulso.

— Fique bem.

— Você também, mamãe. Vejo você quando voltar.

— Sim.

Era uma promessa.

Amice saiu da sala um momento depois e, uma vez no salão, fugiu rapidamente para seu quarto. Ela trancou a porta, deitou na cama e soluçou por um longo tempo. Ela estava enfrentando a doença de sua mãe e um futuro incerto. Ela também não tinha ideia de qual decisão tomaria.

Como ela escolheria outra coisa senão cumprir seu dever? Por muito tempo, isso tinha sido tudo o que ela sabia. Ela fungou e se sentou em sua cama, se decidindo. Ela encontraria coragem para seguir seu caminho. Onde quer que isso levasse. Se isso levasse a lugares estrangeiros e homens com algum costume estranho das deles, que assim seja. Tudo que ela sabia era que, seja o que for que estava por vir, seria a escolha dela ouvia e aceita-la. A vida era curta demais para qualquer outro caminho.


CAPÍTULO QUATRO

UM ENCONTRO INESPERADO


Na estalagem de Queensferry, o Capitão Henry Quinn, recostou-se na cadeira e olhou pela janela, fingindo estudar as nuvens de chuva que subiam da costa. Na verdade, ele estava observando o guarda vestido de azul na rua. Ele endireitou-se quando o estalajadeiro passou.

— Mais ensopado de mexilhões, senhor?

— Oh. — Henry piscou. — Sim, por favor. Obrigado.

O estalajadeiro lançou-lhe um olhar indagador e Henry engoliu em seco.

Pelo amor de Deus, homem. Se conhece mais cinco palavras de gaélico escocês, poderia pelo menos pronunciá-las corretamente.

Esse era o único problema em sua situação atual. Ele estava aqui, espionando a corte escocesa, e seu gaélico não era bom. Henry estreitou os olhos de safira e suspirou.

Não teria problema na corte, eles falam francês lá. Mas aqui na rua, era uma dificuldade real.

Não teria sido tão ruim se ele tivesse ido mais para o Sul. Lá, eles falavam o gaélico das terras baixas escocesas, que tinham algumas palavras em comum com as suas. Aqui, no entanto, o gaélico era mais frequente do que a língua dos habitantes da cidade, aquela língua selvagem e impenetrável das encostas. Ele achou quase impossível falar.

Ele ergueu a colher e provou o ensopado. Era bom e outra vantagem era com os alimentos, comendo ninguém era susceptível de falar com ele. Ele poderia ficar quieto.

Um servente apareceu ao seu lado e disse algo incompreensível. Henry mastigou rigidamente, tornando isso óbvio.

O homem abriu a boca para dizer algo mais que poderia ter sido um pedido de desculpas, Henry não sabia. Como ele ainda não tinha ido embora, Henry engoliu em seco e depois lançou um ataque plausível de tosse. Isso o mandou embora.

Bom, Henry pensou amargamente. Essa foi por pouco. Isto é ridículo! Qualquer um poderia me trair. E tudo por causa de um descuido!

Ele estava frustrado consigo mesmo. Ele tinha mais uma semana para ficar aqui, porque ainda não conseguira encontrar os enviados franceses que seu mestre estava esperando na corte escocesa. Era sua missão interceptá-los e descobrir qual era o propósito deles.

Nestes tempos conturbados, a última coisa que precisamos é que a França e a Escócia se aliem para esmagar a Inglaterra entre as duas.

Era uma grande preocupação na corte. Seu mestre acionou a cadeia de comando que levara ao espião e capitão inglês Henry Quinn, que estava agora sentado em uma hospedaria fria em um dia chuvoso na Escócia, temendo por sua vida e amaldiçoando o tempo pior do que em sua casa em Darbyshire.

Nesse momento, dois homens entraram no pátio da pousada. Henry os notou principalmente por causa de sua aparência comum. Capas negras, calças escuras, botas simples e sem adornos.

Se eu vejo duas pessoas tentando desesperadamente não se destacarem, são eles.

Ele recostou-se na cadeira, cautelosamente, mantendo os olhos nos dois homens. O que eles estavam fazendo aqui?

Ficou tenso quando, alguns minutos depois, eles desapareceram do pátio. Ele ouviu o bater de botas no salão do andar de cima e, em um momento, eles estavam aqui.

Henry os estudou com o canto do olho. Ambos eram bem constituídos, um ligeiramente menor que o outro. Tinham um ar competente que sugeria que não mexessem com eles. Ele engoliu em seco.

Eu acho que eles estão procurando por mim.

Ele não tinha certeza por que achava isso, a menos que fosse simplesmente o modo como se comportavam como lutadores, mas tentavam com tanto empenho não chamar atenção para si mesmos.

Henry observou fixamente. Os dois conversaram com o estalajadeiro, que gesticulou rapidamente, para frente e para trás. Ele inclinou a cabeça. Os homens disseram alguma coisa. Um deles olhou para Henry.

Ah, não. Aqui vamos nós.

Um marinheiro que havia começado como primeiro imediato e depois se graduado como capitão, Henry não estava com vergonha de lutar. Ele não gostava muito, mas podia fazer isso quando precisava. Tudo era o mesmo. Aqueles dois eram de aparência letal, e ele não gostava muito dos pensamentos e das chances se os dois o incitassem imediatamente a uma luta.

Eles estariam pescando um morto no porto antes do amanhecer.

Ele olhou ao redor, percebendo que a única saída era aquela em que o homem, sub-repticiamente, se posicionara. Seu coração bateu. O outro homem estava atravessando a sala em direção a ele.

— Fáilte4!

Henry franziu a testa para o homem. O que ele acabara de dizer? Poderia ser qualquer coisa de “prenda este homem”, ou “qual é o seu nome?”, ou “onde você conseguiu esse casaco?” Ele fechou os olhos, pensando muito.

De repente, um flash de inspiração o atingiu. Ele estava aqui procurando franceses. Por que não fingir que ele era um? Isso confundiria esses dois, especialmente se fossem contraespiões. Se eles achavam que ele era o francês que deveriam estar protegendo, isso mudaria um pouco seus pontos de vista.

— Perdon, monsieur?

Ele teve que sorrir quando o homem pareceu surpreso. Henry viu-o se recompor.

— Je cherche un gentilhomme anglais. Il est là? — Henry franziu a testa. Estou à procura de um cavalheiro inglês. Ele está aqui?

— Pourriez vous répéter cela, s'il vous plait — ele disse educadamente. Você pode por favor repetir isso?

O homem revirou os olhos. Repetiu sua declaração, lentamente. Henry entendia perfeitamente o inglês nobre do rei, falava francês quase todos os dias, mas queria tempo. Ele limpou a garganta para responder.

— Non, il est pas ici. — Não, ele não está aqui. No entanto, ele sabia que estava. Eles sabiam que ele não era francês. Ele engoliu em seco e lentamente se levantou, empurrando a cadeira para trás.

— Pourquoi vas tu? — perguntou o homem. Por que você está aqui?

Henry olhou em volta desesperadamente.

— Uh...

Naquele momento, ele a viu. Ela entrou pela porta atrás dos dois, e chamou sua atenção. Seu suave olhar castanho segurou o dele. Então ela limpou a garganta.

Palavras rápidas saíram de seus lábios em gaélico. Os dois homens pareciam ofendidos, depois envergonhados. Quando a moça terminou de repreendê-los, ambos ficaram de pé ali como duas montanhas coradas. Henry franziu a testa.

O que ela disse?

Observou-a enquanto ela se dirigia ao senhorio, falando palavras que ele não entendia, firmes e enfáticas. Enquanto ela falava, ele a observava. Ela não era alta nem baixa. Ela tinha uma figura curvilínea que o teria mantido acordado à noite com desejo. Ela também tinha um rosto como uma das inestimáveis porcelanas que ele vira adornando catedrais em Ghent. Ela era linda.

Ela olhou para ele. Quando ela chamou a atenção dele, corou calorosamente. Ela parecia tão doce que ele sentiu o calor subir em seu sangue, agitando-o ao desejo. Então ele desviou o olhar.

Quando ele olhou para cima novamente, ela atravessou a sala.

— Perdon, monsieur. V´Veuillez nous excuser. — Ela inclinou a cabeça para os homens, parecendo envergonhada com eles. Perdão, senhor. Por favor, desculpe-nos.

Henry assentiu.

— Pas ta faute. — Não é culpa sua.

Ela olhou para cima e sorriu. Então corou.

— Eu sou Lady Amice. Prazer em conhecê-lo, senhor, — disse ela. Ela falava francês impecavelmente, Henry notou espantado. Era melhor que o dele. Quem era ela?

— Minha lady. — Ele se curvou sobre a mão dela. Ele também falava em francês. Com a ameaça removida, veio mais facilmente a sua mente. — Eu agradeço por remover meus assaltantes. Obrigado, verdadeiramente. Eu sou Henry de Courin. — Ele inventou um nome rapidamente. — Estou honrado em conhecê-la. — Ele levantou os olhos para o rosto dela.

A dama corou novamente, lindamente. Ele sentiu sua garganta apertar com necessidade. Ele se virou e gesticulou para a cadeira.

— Se você está esperando por comida, vai se juntar a mim?

Lady Amice assentiu.

— Obrigada, senhor. Sim. Eu gostaria disso. Estou viajando com meu cavalariço, mas ele ainda está ocupado com os cavalos do lado de fora. Eu ficaria feliz em me juntar a um cavalheiro tão galante.

Henry sorriu. Algo de seu francês foi falado um pouco rápido para ele, pois ainda estava um pouco enferrujado e se recuperando do choque, mas ele adivinhou o significado das últimas palavras e elas realmente o tocaram.

— Fico feliz em ter sua companhia, encantadora dama.

Ela olhou para ele, um pequeno sorriso no rosto. Então ela se acomodou na mesa de um modo primitivo que fez o sangue de Henry acender.

Minha nossa, mas ela é uma mulher adorável.

Ele sentou-se em frente a ela. De repente, percebeu que teria que chamar o hospedeiro para perguntar o que ela queria comer e congelou. Teria que falar com o homem e ele não podia. Enquanto pensava, percebeu que não importava muito. Ele era supostamente francês agora e ninguém ia questionar se não podia falar uma palavra de gaélico. Quanta sorte e ela veio junto!

— Minha lady, — ele disse suavemente. — Eu devo pedir-lhe para me fazer a honra de comer às minhas custas, — disse ele. Ele tinha ouro, e isso era uma coisa do qual tinha muito. A espionagem pagava generosamente por isso e trouxera o suficiente para poder ficar nas estalagens até poder voltar.

— Obrigada, gentil senhor, — disse ela em voz baixa. — Você é da corte francesa?

Henry fez uma pausa.

— Eu viajei de Calais ontem, — disse ele com cuidado. Ele não respondeu a sua pergunta, mas era perto o suficiente para ela pensar que sim.

— Oh. — Ela engoliu em seco e ele viu uma carranca no seu rosto. Ele se perguntou o que a incomodava. Ela mordeu o lábio e o gesto, doce e terno, enviou o sangue correndo para sua virilha dolorosamente.

— Minha dama? O que é? — Ele tentou perguntar. Sua voz saiu como um grasnido e ele limpou a garganta com impaciência. — Há algo errado, minha lady?

Ela limpou a própria garganta.

— Senhor... eu tenho que perguntar. Você viu algum navio de Calais parado no porto? Ou talvez um pequeno navio com dois de seus compatriotas a bordo, barrados no porto?

Barrados no porto? A testa de Henry se ergueu.

Por que eles seriam barrados? A menos que o navio segurasse os espiões, é claro! Como essa mulher sabia disso? Ela estava envolvida? O que era tudo isso realmente?

— Não, minha lady, — ele disse sinceramente. Melhor ser honesto. — Eu não vi.

— Oh, — lady Amice, era seu nome, ele deveria lembrar que o disse. Ela parecia desapontada. Ele viu seus ombros caírem e de repente se sentiu triste também.

— Oh minha dama. Sinto muito. Quem você procura?

— Minha prima, — Amice disse com tristeza. — E seu esposo. Eles vieram para nos visitar uma semana atrás e... — ela fungou e Henry se sentiu infeliz. Ele pescou um lenço no bolso.

— Aqui. — Ele passou-lhe um lenço. Era de linho com um monograma no canto.

— Oh. — Amice fungou. — Obrigada, senhor.

Ele entregou a ela e, quando o fez, seus dedos se tocaram. Ele se contorceu ao contato, como se faíscas acertassem entre eles. Parecia que eles tinham sido inflamados. Seu corpo inteiro pegou fogo. Ela olhou nos olhos dele, intensificando a chama com aquele olhar doce e solene.

— Hum. — Henry tossiu. Amice enxugou os olhos. Colocou o lenço no colo e segurou-o com uma das mãos.

— Obrigado, — ela disse novamente. — Sinto muito. Eu só estou cansada... Estou viajando há muitos dias para chegar aqui. Estava tão esperançosa de que... — ela fungou novamente. — Que eles estariam aqui em algum lugar. Que boba. — Ela enxugou as lágrimas com as costas da mão.

— Não. — Henry, nem sequer pensou, ergueu a mão. Seu próprio polegar pressionou as lágrimas. Tão doce, tão triste! Ele sentiu como se suas lágrimas fossem de alguma forma especiais, como o bálsamo especial de certas árvores que choram, um curativo para doenças.

— Senhor. — Ela não soou como se estivesse com raiva. Era uma voz pequena, um pouco confusa, talvez. No entanto, não estava chateada.

Henry suspirou.

— Perdoe-me, milady. Me entristece vê-la tão triste.

Amice sorriu.

— Isso é muito gentil da sua parte, senhor. Me diga: todos os franceses são tão educados quanto você?

Henry reprimiu um sorriso, lisonjeado. Então ele pensou sobre isso. Por que ela perguntou isso? Ela suspeitava que ele não fosse francês? Espiões estavam por toda parte. Como ele sabia que não havia alguém observando-os?

— Alguns deles, — ele disse suavemente.

Lady Amice riu.

— Bem, não consigo imaginar um mundo composto de tantos cavalheiros! Então agradeço ao Céu, é apenas alguns de vocês.

Ele fez uma cara irônica.

— E o que haveria de errado com um mundo de cavalheiros? — Ele brincou com ela.

— Oh, nada, — Lady Amice disse levemente. — Só que, com tantos cavalheiros, me pergunto como uma dama da França decide sobre um deles.

Henry soltou uma gargalhada. Meu Deus, mas a garota era espirituosa! Ele franziu a testa, puxando suas bochechas para parar seu sorriso.

— Bem, — ele disse, fingindo considerar. — Fico feliz em saber que você escolheria um cavalheiro.

— Seguramente, — ela assentiu. — Um cavalheiro é o que eu quero. Eu não defini outra medida.

— Nenhum outro? — Henry fingiu estar chocado. — Bem, minha lady! Você torna isso muito simples para atrair uma beleza como você.

Ele não tinha a intenção de lhe dizer tão mal como se sentia, mas tinha disparado antes que tivesse tempo de pará-lo. Ele a viu corar. Aqueceu sua alma.

— Oh, senhor. Você é gentil.

— Não, — ele disse sinceramente. — Eu sou apenas franco.

Seus olhos se encontraram. Ele se viu encarando aqueles quentes olhos castanhos como se pudesse se afogar ali. Parecia quase como se ele estivesse realmente se afogando, puxado para baixo naquelas profundezas quentes por um redemoinho fervilhante. Nada poderia fazê-lo procurar em outro lugar.

Quando ela baixou o olhar, cílios negros descansando em pálpebras claras, ele tossiu.

— Perdoe-me, lady Amice. Eu nem sempre sou tão... direto.

Ela sorriu devagar.

— E nem sempre sou tão facilmente afetada.

Ele sorriu, sentindo o calor daquela declaração queimando através dele como uma faca na carne. Então ele estava causando um impacto! Ela certamente era adorável. Ele não se sentia assim sobre uma mulher em eras. Ele não tinha, se pensasse sobre isso, realmente sentido isso sobre qualquer outra mulher, nunca mesmo.

Naquele momento, alguém entrou pela porta. Um homem alto e magro, de túnica cinza, aproximou-se do ombro de lady Amice. Ele imaginou que fosse o cavalariço dela. Ele acenou para o homem, que inclinou a cabeça educadamente, mas não sorriu.

Ele disse algo para Amice e ela assentiu. Quando ele se foi, ela se virou para Henry, traduzindo para ele.

— Desculpas por isso, Monsieur de Courin. Acabei de discutir sobre nossos alojamentos com meu acompanhante. Ele disse que vai dormir no palheiro, e eu tenho um quarto no primeiro andar. Espero que você tenha conseguido arrumar sua própria acomodação?

Henry notou que suas bochechas coraram quando ela perguntou isso. Estava quase tentado a dizer que não, ele não tinha, apenas para ver o que ela faria. Acontece que ele arrumara acomodações com o estalajadeiro pelo simples precedente de produzir o dobro do dinheiro que achava que o quarto valia e passá-lo sem palavras sobre o balcão. Ele ainda não sabia o que tinha recebido por seus esforços, mas esperava que pudesse ficar o tempo que fosse necessário por conta disso.

— Eu tenho, — ele disse com sinceridade. — Mas obrigado, minha lady. Sua preocupação aquece meu coração.

Amice pigarreou.

— Não é nada, meu lorde. — Sua voz também soou rouca, surpreendendo Henry.

— Bem, então, — disse ele. Sua boca se virou com tristeza. — Desde que nós dois estamos instalados em alojamentos, suponho que deveria lhe oferecer uma boa noite.

Ele podia ver seu servo parado, evidentemente insatisfeito com seu encargo falando com um homem estranho. Ele supôs que ela estivesse em algum lugar entre dezoito e vinte anos de idade, viajando acompanhada. Ela talvez estivesse indo para a corte de Edimburgo? Ele não sabia.

— Eu suponho. Boa noite, meu lorde. — Ela disse em francês, doce e melodiosa.

— Boa noite, minha lady.

Ele se levantou, curvou-se de maneira extravagante e saiu apressado.

Enquanto subia as escadas escuras e rangentes até o alojamento, ele se perguntou quem ela era, de onde havia chegado e o que fazia ali. Quaisquer que fossem as respostas, a única coisa que sabia ao certo era que iria descobrir.


CAPÍTULO CINCO

ENCONTRO EM UM SALÃO


Amice sentou-se na cama no quarto da pousada, com o coração batendo forte.

Eu nunca conheci ninguém como esse homem antes.

Ela sentiu suas bochechas se aquecerem com rubor enquanto pensava sobre ele. Com aqueles olhos de safira profundos e o cabelo cor de trigo, ele era facilmente a pessoa mais bonita que já vira. Combinado com aquele sorriso preguiçoso e aquele corpo duro e musculoso... ela corou furiosamente.

Amice! Como você pode pensar em tais coisas?

Chocada como ela estava por sua própria resposta, ela não pôde evitar um sorriso. Ele é... notável.

Ela se deixou pensar sobre o encontro. Cada palavra que eles disseram um para o outro estava alojada firmemente em sua mente. Ela deixou a língua francesa musical sair através dela, colorindo cada frase que eles trocaram com seu próprio glamour brilhante. Ela lembrou como seus olhos tinham olhado nos dela, o que ele disse.

...tão linda dama.

Ela sorriu, brilhando.

Ele realmente achava que ela era linda! Era um sentimento tão bom. Ninguém nunca tinha dito isso para ela antes, agora percebia. Claro, sua mãe e tias disseram que ela era linda, mas sempre supunha que estavam sendo doces. Em uma casa que ostentava a impressionante Joanna e sua adorável prima Leona, ela sempre se sentiu simplesmente normal.

O quarto de dormir da estalagem exibia uma cama grande, coberta com capas grossas de linho, uma lareira e uma penteadeira na qual repousava um espelho de prata. Ela se olhou no espelho, contemplando seu reflexo.

Um rosto oval com grandes e sinceros olhos olhavam para ela. Ela tinha lábios carnudos, um queixo pequeno, e seus olhos castanhos estavam emoldurados por cílios negros que contrastavam com o cabelo vermelho claro.

Eu suponho que não sou exatamente feia...

Amice riu para si mesma. O que ela estava pensando? Seu rosto ficou sério de novo quando se lembrou de que não estava aqui por diversão e jogos, mas para ajudar seus primos.

Ela franziu a testa, sentindo-se de repente angustiada novamente. E se ela não pudesse ajudar seus primos? E se ela não pudesse encontrá-los? Considerando tudo, nem sabia por onde começar.

Gostaria de saber se Monsieur de Courin saberia por onde começar?

O pensamento fez seu coração bater mais rápido. Claro que ele sabia! Sim, ele pode não ter visto o navio, ela pensou, mas poderia ajudá-la a fazer perguntas! Pelo menos ele poderia ter ouvido falar de Conn, que agora era o conde de Annecy.

Ela olhou ao redor do quarto e então se levantou, pegando seu manto. Ela esperava que ele ainda estivesse na sala de jantar quando chegasse lá.

Na porta, ela fez uma pausa. Seu cabelo, que ela usava solto, como uma moça jovem, estava desgrenhado após a longa viagem. Ela pegou o pente e levou um momento para pentear, mordendo um pouco o lábio para deixar a cor mais forte.

Amice, pare de ser boba! A vida de seus primos pode estar na balança. Desça.

Ela não podia evitar que quisesse parecer melhor para ele e, voltando-se ao espelho uma última vez, desceu novamente as escadas.

O barulho da taverna deu lugar a risadas estridentes, gritos brutos. Ela ficou tensa. Ela estava muito obvia? Ali estava ela, uma jovem dama, filha de um nobre, indo para o salão de jantar comum de uma estalagem em Queensferry. Isso era perigoso. Sem mencionar ser altamente impróprio. Como foi que sua mãe hesitou em mandá-la sem uma segunda escolta? No entanto, ambos confiavam em Bronn e sabiam que ele ficaria de olho nela.

— Ei! Billie! Conte a história de novo!

— Não! Você ouviu a primeira vez!

Amice estremeceu com os gritos grosseiros, a linguagem tornando-se bastante descritiva e ainda mais rude quando Billie começou a recontar a história. Ela tinha certeza de que, se algum deles a visse, jovem, desacompanhada, seria tratada com malícia.

Por que não fui encontrar Bronn?

Ela pairou na porta da sala de jantar, olhando para dentro. A luz do fogo inundava o lugar e ela teve que piscar os olhos para ver contra o brilho súbito. Ela conseguiu distinguir três ou quatro figuras ao lado do balcão e várias outras nas mesas. Quando ela apareceu, piscando à luz das lamparinas, eles ficaram em silêncio.

O silêncio era predatório. Amice sentiu o coração bater no peito. Por que ela desceu? Sem o estalajadeiro para ficar entre ela e estes homens e talvez até precisar de sua ajuda, mas o que ele poderia fazer contra mais de um ou dois? Ela estava em sério perigo.

— Milady! — Um dos homens gritou. Ele disse isso em tom de brincadeira, provocando e exigindo resposta imediatamente, e Amice se enraizou na porta. Ela ponderou suas opções: correr pelo salão e se esconder em seu quarto, ou descer as escadas até o estábulo onde Bronn esperava. Enquanto ela hesitava, alguém riu.

Um dos homens gritou algo grosseiro, cujo significado ela mal entendeu. Então ele deu um passo à frente, enquanto seus companheiros gargalharam.

Não, não, não, e não. Amice queria correr, mas sua mente estava congelada. Seus pés estavam plantados no chão e ela não conseguia pensar, não conseguia se mexer, não conseguia gritar...

— Você vai deixar a dama em paz.

Uma voz falou letalmente atrás de seu cotovelo. Amice sentiu-se quase desmoronar, o alívio roubando-a de sua força apertada e controlada. A voz falara em francês fluente, firme e autoritária. Os homens que os enfrentavam não entenderam suas palavras, mas, não sem surpresa, entenderam sua presença física ameaçadora.

O homem que estava diante dela encolheu os ombros e recuou, sorrindo.

— Estava apenas me divertindo, — ele murmurou baixinho enquanto se sentava. O comentário fez Amice querer dar um tapa nele. Se divertindo, meu olho, ela queria dizer. Não havia piada pretendida. Eles pretendiam machucá-la.

— Minha lady, — Monsieur de Courin murmurou em seu ouvido. — Venha, por favor?

Amice engoliu em seco, assentindo uma vez. Ela recuou até o limiar e entrou no salão escuro. Henry de Courin olhou para o rosto dela, olhos azuis parecendo perturbados.

— Minha dama. Estou tão feliz por estar aqui. Venha. Vamos a algum lugar mais seguro.

Amice assentiu, sentindo como se tivesse corrido meia milha. Ela tinha os ossos dolorosamente cansados de repente.

É o alívio.

Ela seguiu Henry para um quarto ao lado do qual ele acabou de sair, enquanto ele segurava uma brasa e acendia uma lamparina, em uma sala de estar. Ele fez sinal para a poltrona de madeira entalhada, depois sentou-se em frente a uma caixa de roupas.

— Minha dama. Você é muito ousada. Mas este lugar não é seguro.

Amice engoliu em seco, assentindo.

— Eu sei disso. — Ela se preparou para ele começar a dar um sermão, sentindo-se mais do que ligeiramente aborrecida pela presunção. Homens a ameaçaram e ele era um homem. Como ela sabia que ele não era do tipo que tiraria vantagem de uma garota em circunstâncias semelhantes? Um cavalheiro ou não, ele ainda poderia ser perigoso.

— Estou feliz por ter encontrado você, — ele disse gentilmente. — Agora, eu sei que é impróprio para falar com você sozinha, então espero que possa me perdoar, — ele continuou.

Amice piscou surpresa. Parecia que ele tinha lido seus pensamentos quase.

— Eu posso te perdoar, — ela disse suavemente.

Ele riu.

— Estou muito feliz. Agora, já que eu a encontrei de novo, posso perguntar o que queria antes?

Amice engoliu em seco, sentindo o coração bater.

— Depende, — disse ela.

— Depende?

— Depende do que é, — disse ela. Ela não quis dizer como se fosse uma declaração provocante, mas o olhar em seu rosto era de tal consternação que ela não pôde deixar de rir disso.

— Minha lady, — disse ele, passando a mão por aquele cabelo loiro distraidamente. Ele estava rindo e o calor iluminou seus olhos. — Você é afiada na língua.

— Só com você, — Amice disse honestamente. Então os dois riram.

— Isso deveria me ferir, mas estranhamente, me deixa feliz.

Amice sentiu as palavras se instalarem em sua alma. Seus olhos olharam para ele e nenhum deles quebrou o olhar. Ela sentiu como se estivesse pegando fogo lentamente.

Ela tossiu.

— Fiquei feliz por tê-lo encontrado, — Amice começou devagar. — Não só por causa do que fez por mim naquele momento. Mas porque eu precisava te perguntar uma coisa.

— Oh. — Ele piscou. — Bem então. Eu proponho meus termos. Uma pergunta para uma pergunta.

Amice ficou olhando.

— Muito bem, — disse ela, espantada.

Quão abrupto era esse homem?

— Você pode começar, minha lady. Privilégio de dama.

Ela fez uma careta e depois falou.

— Você navegou da França. Ontem, você disse. Seu navio não encontrou problemas? Sem detenção? Nenhuma inspeção no porto? — Ela perguntou, intrigada. Por que ele escapou da alfândega? Por que Conn e Leona estavam sendo investigados? Onde eles estavam?

— Ah. — Ele franziu a testa. — Bem, minha lady, isso dificulta as coisas. Por várias razões. Sabe... eu não cheguei ontem.

Ela observou o rosto dele. Por que ele estava tão preocupado? E por que ele mentiu para ela? Pela primeira vez, ela se perguntou o que estava acontecendo aqui.

— Oh, — ela disse, suavemente.

— Sim.

Ambos ficaram parados por um tempo. Amice se contorceu e Henry abriu as mãos, inspecionando as juntas pensativamente. Várias perguntas passaram por sua mente.

Quando você chegou? Por que manter isso em segredo? O que um francês está fazendo aqui em Queensferry, sozinho, no final do inverno?

Ela não disse nada disso, no entanto. Não era, ela decidiu, o lugar dela. O único interesse que ela tinha agora era encontrar Conn e Leona e falar por sua libertação. Ou esse era seu único interesse, pelo menos até conhecer o cavalheiro alto e bonito.

— Suponho que soa estranho — disse Henry depois de um momento. Amice não disse nada. Ele tossiu, ou poderia ter sido uma risada, ela não tinha certeza. — Bem, eu gostaria de poder fazer mais para explicar, minha lady. Mas tudo que posso dizer é prometer que, com o tempo, ficará claro. E acredito que essa é a melhor resposta que posso dar à sua pergunta.

— Muito bem, — Amice disse, sentindo seu coração virar quando percebeu que era sua vez de fazer sua própria pergunta. O que ele diria?

— Bem. Agora é a minha vez? — Ele perguntou. Seu rosto estava estranhamente inexpressivo e Amice sentiu a primeira pontada de alarme. Como ela se deixou ficar isolada neste lugar com esse estranho? Ela se levantou e estava prestes a sair, quando ele falou, parando-a.

— Seus primos estão sendo detidos para evitar um incidente, — ele disse niveladamente. — Eu posso ser capaz de ajudá-la a encontrá-los. Primeiro, devo perguntar. É por isso que você está aqui?

Amice olhou para ele. Por que ele faria uma pergunta tão estranha? Claro que era! Que razão ela possivelmente teria para mentir sobre seus propósitos para um homem que nunca conhecera antes? Ela limpou a garganta para fazer uma réplica aguda, e ele riu.

— Eu ofendi você. Me desculpe. Mas minha lady, eu tenho que saber.

Amice suspirou, sentindo a cabeça afundar para a frente. Era tarde, ela estava cansada e confusa. Pior, nada fazia sentido.

— Sim, — ela disse timidamente.

— Sim?

— Sim, essa é a verdade! — Ela retrucou, sentindo sua paciência repentinamente passar. — Estou aqui para encontrar meus primos. Eles podem estar em perigo. A prima Leona está grávida! Estou aqui para levá-los em segurança para casa. Por que você acha que estou mentindo para você?

Sua voz ficou rouca de sentimento. Ela ouviu e soube que não podia mudar. Ela se afundou de volta no assento e suspirou, cobrindo o rosto com as mãos.

Ela não era tão boa quando estava sozinha em uma estalagem estranha, em uma cidade portuária perigosa, com um homem que ela não tinha motivos para confiar. Ela poderia estar enfrentando sua própria morte, barbaramente. Se ele a estuprasse e a matasse, quem saberia? Eles a tirariam do rio amanhã e ninguém em sua família saberia onde ela havia desaparecido.

Quando ela percebeu a intensidade de sua situação, seus ombros tremiam com soluços. Ela mordeu os lábios, não querendo chamar atenção para si mesma. Ombros arfando, ela soluçou com lágrimas silenciosas, seguindo caminhos de prata pelas bochechas.

— Aqui, — disse uma voz gentilmente. De repente, ele estava ao lado dela no poltrona, e sua mão cobriu a dela. — Por favor. Não chore.

Ele estava pescando algo no bolso e Amice lembrou que ela tinha o lenço. Ela pegou e mostrou a ele.

— Aqui está.

Ele sorriu.

— Eu não sabia que você tinha guardado.

Amice corou.

Menina tola! Agora ele sabe que você gosta dele. O que ele vai pensar de você?

— Eu o mantive, — disse ela friamente. Ela olhou para as mãos. — Eu não tenho um.

Ele riu.

— Bem, pegue o meu, então. — Ele cruzou as mãos sobre as dela. — Tenho certeza que nenhum pedaço de linho já teve um destino tão bom a ponto de tocar essa bochecha.

Amice sentiu um lento tremor percorrer seu corpo e subir em direção ao coração. Seu rosto estava ao lado do dela. Ele havia deixado as mãos onde estavam, segurando as dela. Sua boca estava perto da dela.

Antes que ela tivesse tempo de pensar sobre isso, seus lábios se moveram sobre os dela.

Ele a beijou.

Amice queria protestar, mas seu toque em sua pele era tão terno, tão agradável, que morreu em sua garganta. Ela fechou os olhos quando ele levantou a mão e segurou a cabeça dela, levantando sua boca suavemente para que ela pressionasse um pouco mais firmemente na dele. Ela estremeceu quando seus lábios acariciaram os dela, brincando levemente sobre sua boca. Eles mordiscaram e acariciaram seus lábios, sentindo-se exploratórios. Ela suspirou.

Ele se inclinou para frente e agora sua boca se separou da dela. Ela podia sentir a doçura dele quando sua própria língua saiu de repente. Sentiu-o tenso ao saboreá-lo e surpreso com sua ousadia.

De repente, ela se sentou, piscando com força.

— O que você vai pensar de mim? — Ela murmurou. Ela sentiu o rosto queimar de vergonha e olhou para as mãos. Quem ela achava que era, beijando um estranho no quarto de cima de uma estalagem? Ela deveria ficar chocada com seu próprio comportamento. Estranhamente, tudo o que ela podia sentir era alegria e a vibração maravilhosa em seu coração.

Ela o ouviu rir e seu coração se acelerou mais.

— Lady Amice, — disse ele em uma voz que acariciou sobre ela como uma cerveja aquecida. — Se eu fosse enumerar exatamente o que penso de você, iria corar tão docemente, e teria que te beijar mais. Mas basta dizer que me desculpe, eu presumi beijá-la assim. Foi minha culpa.

Amice olhou para ele.

Ele sorriu.

Suavemente, muito deliberadamente, ele se inclinou para beijá-la novamente. Como o primeiro beijo, este foi hesitante, gentil, o traço mais suave de sua boca movendo-se sobre a dela. Mesmo assim, acendeu fogos e fez com que ela quisesse ficar aqui com ele sempre.

Tudo foi muito brevemente, e ele parou. Ele se sentou, olhando nos olhos dela. Ele balançou sua cabeça.

— Eu sou um idiota, — ele disse francamente.

Amice franziu a testa.

— Não, você não é, — ela disse sinceramente. — Por que você pensa que é? O que você fez?

Ele riu.

— Eu... eu deveria resistir a você. Eu simplesmente não posso.

Amice sentiu uma nova cor tocar suas bochechas. Ela corou.

— Isso não parece tão ruim para mim.

Ele riu, tentando manter o barulho baixo. Seus ombros tremiam.

— Minha lady, estou muito feliz em ouvir isso. — Sua mão cobriu a dela novamente e ele parou de rir. — Verdadeiramente, essa é a melhor coisa que ouvi em eras. Mas agora, acho que temos que ter cuidado.

— Cuidado? — Amice franziu a testa. Suas mãos nas dela, apertando seus dedos, acendiam os fogos nos lugares mais inimagináveis nela. Ela piscou e tentou pensar. Não era fácil.

— Bem, — ele fez uma pausa. — Aqui estamos. Nós dois sabemos algo sobre o outro, mas não muito. Nós dois estamos em perigo. Nós dois procuramos algo. Além disso, corro o sério risco de esquecer toda a contenção com você. Então, talvez devêssemos dizer boa noite. Vamos nos encontrar no café da manhã, talvez?

Amice sabia que ela estava corada e sem fôlego, mas ela não podia mudar isso. Ela não podia acreditar no que acabara de ouvir.

— Sim, — ela conseguiu. — Te vejo amanhã.

— Boa noite, minha lady. Espero poder ajudar-te. Seria o meu maior prazer.

A palavra prazer permaneceu em sua língua e Amice estremeceu. Ela sorriu.

— Eu ficaria feliz se você pudesse, senhor. Eu aprecio sua ajuda. Você já me ajudou.

Ele olhou para as mãos.

— Não foi nada, — disse ele com voz rouca.

Amice sorriu.

— Certamente isso foi algo. Agora, boa noite monsieur.

— Boa noite, minha lady.

Amice saiu correndo pelo salão, descendo e subindo as escadas até o quarto dela. Ela se inclinou na porta, o coração batendo rápido. Só quando ela a trancou atrás de si e sentou-se pesadamente no baú de roupa, ao lado da lareira, finalmente parou de tremer.

O que está acontecendo?

Ela balançou a cabeça. Ela estava em Queensferry, procurando seus primos. Ela não tinha ideia de onde começar a procurar e o porteiro já havia dito que ele não poderia ajudá-la a procurar por eles. Agora ela conhecia um homem estranho, um homem com segredos. Ela se sentia mais perto dele do que jamais sentira antes.

— Você acabou de conhece-lo, Amice.

Ela balançou a cabeça. Ela sabia que era bobo, mas era como se sentia.

Acendeu a lamparina na penteadeira com uma brasa, como ele fizera. Então ela começou a se despir. Seu corpo, claro e curvado no brilho das chamas, parecia estranho para ela. Era como se ela se esforçasse para se ver através dos olhos dele. Ela suspirou.

Ele me chamou de linda... realmente.

Ela deslizou a sua camisola e apagou a lamparina, em seguida, se embrulhou debaixo das cobertas e tentou se aquecer. Quando ela se enrolou, as mãos em volta dos joelhos para o calor, ela percebeu que estava segurando alguma coisa. Com uma surpresa tingida de uma deliciosa sensação de expectativa, descobriu que era o lenço de de Courin.

Ela colocou debaixo do travesseiro e adormeceu com ele no rosto. Ela podia sentir o aroma do almíscar doce e temperado que a lembrava, vigorosa e maravilhosamente, dele. Ela adormeceu com um grande sorriso nos lábios naquela noite.


CAPÍTULO SEIS

CHAMAS COM PERIGO


Henry acordou sem saber o que o acordou. Ele ficou tenso e ouviu atentamente. Ele estava tendo um lindo sonho, estrelando a lady Amice e ele mesmo, e bastante colorido em seu conteúdo. Ele corou.

Bem, sonhar não é proibido neste país, é?

Ele se sentiu sorrindo. Se não fosse permitido, o sonho que ele acabara de ter seria quase certamente considerado um crime terrível. Ele balançou a cabeça e se obrigou a ouvir. O que o acordou?

Ele pensou ter ouvido uma luta no andar de baixo da taverna. Ele ficou tenso. Escutou com mais afinco.

Fumaça.

Acrescente e tingido com o cheiro de carvão, o cheiro de fumaça subiu do chão até o seu nariz, forte e insistente.

A pousada está pegando fogo?

Por puro instinto, Henry saiu da cama e ficou de pé. Ele pegou sua camisa, que ele havia deixado na cama instintivamente, e vestiu suas calças sem ver. A sala estava quase completamente escura; a única luz que iluminava era a do céu noturno, vazando pela janela descoberta perto da lareira.

Ele se vestiu e se ajoelhou, soprando as brasas para dar uma luz fraca. Então ele olhou em volta. Ele pegou seu estojo, viajava com um único alforje, carregando apenas alguns papéis e suas moedas, e nada mais e saiu.

Fumaça enchia o salão. Ele tossiu. Ele se ajoelhou, respirando o ar mais limpo que pairava logo acima do solo. Qualquer um que viajasse em um navio regularmente sabia algumas coisas sobre o que fazer se pegasse um incêndio que no mar eram mais comuns do que se pensava. Em uma engenhoca feita de madeira, tudo que precisava era um cozinheiro com uma mão descuidada ou um marinheiro desastrado para ser assado no escuro.

Ele tossiu. A fumaça ardia em seus olhos. Queimava seus pulmões. Mesmo assim, ele seguiu pelo salão.

Amice! O pensamento dela queimava em seu cérebro. Ele não podia sair sem encontrá-la! E se ela estivesse na parte que estava queimando? Onde estava o quarto dela? Ele fez um esforço de se lembrar.

Ela estava no primeiro andar.

Ele chegou às escadas e se arrastou pelos degraus. O primeiro andar era ainda mais cheio de fumaça do que o dele, se fosse possível.

Não, ele pensou, rastejando, tossindo e tentando transportar ar fresco e imaculado para os pulmões. Se ela estivesse aqui, dormindo, é possível que eu esteja atrasado. Ela poderia ter morrido sufocada durante o sono, ignorando o incêndio.

Sentiu-os ao lado dele, mantendo-se na parede, engatinhando tentou localizar as portas. As câmaras ficavam à direita, a taberna à esquerda. Deve ser um desses quartos. Sua mão foi para o primeiro espaço onde uma porta deveria estar. Ele respirou fundo e gritou.

— Amice!

Sem som. Ele arriscou bater na porta. Estava trancada e ninguém respondeu quando ele gritou.

Ele puxou outra respiração, tossindo e cuspindo. Seus olhos estavam lacrimejando tanto que ele os fechou, engatinhando para a frente com as mãos e os joelhos, os dedos se arrastando pela parede.

A próxima porta.

Tomar respiração. Bater. Gritar. Tente empurrá-la, teste se está aberta.

— Amice!

Sem resposta. Ele gritou o nome dela novamente. Esta porta se abriu em um quarto preto escuro, frio e vazio. Ninguém dormiu lá esta noite.

Henry se rastejou pelo salão, sentindo seus sentidos nadarem. Estava ficando difícil pensar direito. Ficando difícil de se mover. Ele estava cansando. Tão cansado. Ele queria ficar onde estava, bem aqui no salão. Ele precisava dormir.

Próxima porta. Tomar respiração. Gritar. Ficar acordado. Se você desmaiar, ela morre. Você também. Respire.

— Amice!

Ele bateu na porta, gritando. Desta vez, abriu.

— Henry? Oh! Ah, não!

Ela tossiu então. Uma tosse seca que dizia que a fumaça estava em seus pulmões. Henry semi levantou, estendendo a mão para ela. Ele a puxou para o chão ao lado dele. Quando ela ofegou, ele sussurrou, usando toda o ar que tinha para dizer:

— No chão. O ar... mais limpo. Respire... abaixo.

Amice deve ter entendido, porque ela assentiu. Henry sacudiu a cabeça enquanto se arrastavam até as escadas. Ele não tinha ideia de que língua ele falara, se francês, inglês ou escocês, mas ela o entendia, era o que importava. Explicações, estavam lá para se dar, e poderia vir depois.

Sim, ainda estamos vivos.

Ele arquivou o pensamento e envolveu seu pulso em sua mão.

— Escadas... deslizar — ele murmurou. Desta vez ele teve certeza de que era francês. Fez uma pausa e ela assentiu, ele sentiu o movimento ao seu lado, pois não podia mais ver nada. Ele apertou o pulso dela na mão e eles engatinharam no primeiro degrau. — Mais fácil, para... situação.

Henry se deitou, deixando seu estômago raspar pelas escadas enquanto se abaixava com os braços. Era uma maneira desconfortável de se mover, e todas as extremidades esbarraram nele, quase levando sua vida, buscando por ar. Ainda assim, era melhor do que ficar de pé. Mais rápido que engatinhar.

Eventualmente ele ouviu o som de tecido se deslizando ao lado dele e soube que Amice estava fazendo a mesma coisa que ele tinha feito. Ele assentiu.

— Boa.

Ele não podia falar acima de um sussurro. Ele não conseguia respirar além de um sopro. Não podia ver.

Agora eles estavam no térreo. Henry não precisou olhar para ver as chamas. Lá embaixo o rugido delas, o rangido de madeira gemendo enquanto se contorcia e se expandia, o crepitar de fogo em vigas de carvalho era alto. O calor queimava seus rostos. Henry tossiu.

Amice estava tossindo também, ele podia sentir seu espasmo quando ela se dobrou, grandes tosses que provavelmente vomitaria o jantar se não parasse em breve. Ele segurou o braço dela.

— Fácil, — ele sussurrou. — Nós... desse jeito.

Ele tentou manobrá-la para a direita, onde ele podia ouvir menos do estalo. Ela se moveu para trás e depois eles estavam rastejando ao lado da escada, abraçando a parede ao lado deles. Eles estavam indo para a porta do pátio, pensou Henry.

O quarto em que entraram estava surpreendentemente frio. Aqui, não havia madeira ou portas, apenas pedra bruta. Ele imaginou que deveria ser por onde os comerciantes entravam; nenhuma tentativa fora feita para embelezá-lo ou mantê-lo aquecido, e essa era a única razão, provavelmente, que fora poupada até agora. Ele ficou de pé, ofegante, enquanto respiravam o ar limpo que ainda pairava no espaço frio.

— Porta, — ele murmurou entre suspiros. Amice já estava lá, levantando o trinco.

O ar frio entrou. Henry engoliu em seco como se fosse água no deserto. Amice fez o mesmo.

— Deve... ir... agora, — disse Henry entre soluços. Amice assentiu. Ela se arrastou pela porta. Henry seguiu, tropeçando no escuro.

No pátio, olharam ao redor deles. A palha estava em chamas, pedaços de pedras caindo no pátio, depois caindo em cinzas e chamas vermelhas e depois pretas. O cheiro de fumaça estava em toda parte. Os gritos dos que escaparam era entristecedor.

— Temos que ajudar! — Amice protestou. — E se alguém... — ela parou quando ele gentilmente tomou seu pulso.

— Estão lá.

Uma multidão de pessoas estava perto dos estábulos, observando a pousada pegar fogo. Ele reconheceu vagamente o estalajadeiro e sua esposa, e um homem alto de cabelos brancos que ele havia notado na sala de jantar na noite anterior. Havia outros ali que ele vira na estalagem, ele percebeu, e alguns moradores da cidade que haviam jantado ali na noite anterior.

Os outros convidados já estavam fora.

Quando o alívio fluiu através dele, ele se virou para Amice, franzindo a testa. Se os outros já tivessem saído, este fogo foi armado deliberadamente? Alguém queria terminar com suas vidas?

Não querendo ficar ao redor para descobrir, ele pegou o pulso de Amice.

— Nós precisamos ir.

Amice assentiu. Ela estava respirando depois de tudo. Seu rosto estava pálido, pontos frenéticos de rubor nas bochechas. Ela parecia doente.

Henry a arrastou atrás dele, indo para os estábulos. Ele a sentiu escorregar e segurou seu braço com firmeza. Quando fez isso, suspirou.

— Nós precisamos sair daqui. Você acha que pode chegar aos estábulos, sim? — Aqui, havia ar suficiente para respirar. Ele poderia falar novamente.

Ela assentiu.

— Vamos lá.

Eles correram para os estábulos e encontraram seus cavalos. Foi só quando Amice estava montada e dizendo algo sobre seu cavalariço estar abençoadamente seguro que ele notou algo.

Ela só estava de camisola.

Sentindo um rubor lento se espalhar através dele, sabendo que era ridículo ter pensamentos como aquele em tal momento, mas incapaz de ajudar-se, ele virou seu cavalo.

— Nós estamos partindo.

Eles se afastaram, deixando a hospedaria em chamas e sua multidão horrorizada atrás deles enquanto se dirigiam para Queensferry.


CAPÍTULO SETE

ESCAPAR


O ar, frio e arrepiante, passou por Amice enquanto ela cavalgava, as pernas apertadas ao redor do corpo de seu cavalo. Ela estava segurando sua juba, nem mesmo pensando no que fazia, cavalgando com terror e instinto e com a profunda necessidade de escapar.

Ela podia ouvir batidas de casco, e não apenas as de seu próprio cavalo, mas de outro. Henry montava o cavalo que seu cavalariço havia montado antes, um garanhão alto e cinzento chamado Névoa. Ele estava cavalgando em pelo, como ela, guiando seu cavalo com os joelhos.

Quando ela olhou para trás, ele diminuiu a velocidade. Eles cavalgaram lado a lado pelas pastagens.

Amice sentiu seu corpo esfriar quando eles entraram no abrigo das árvores. Eles tinham atravessado um campo e estavam entrando na floresta. Atrás deles, talvez a dez minutos de distância, estivesse o porto de Queensferry e, em algum lugar, uma estalagem queimando. À sua esquerda estava Edimburgo.

O ar da noite estava frio e foi só quando entraram na cobertura das árvores que Amice percebeu duas coisas. Em primeiro lugar, que ela estava montada, como um homem, sem sela, nem freio para ajudá-la a se segurar, e estava fazendo isso instintivamente. Em segundo lugar, ela estava vestindo uma camisola com uma capa de equitação azul sobre ela. Então ela se lembrou de que estava cavalgando em companhia masculina. Ela corou.

Olhando de lado para Henry, sentiu uma mistura de vergonha e diversão. Ela olhou para ele de perto. Seu cabelo estava sujo de cinzas, sua túnica branca manchada e com buracos em lugares estranhos onde as brasas haviam aterrissado e queimado através do linho. Ele estava branco de cinza.

Ela riu.

— Oh, senhor! — Ela disse. Agora que ela estava rindo, era difícil não continuar. A risada era alívio, ela sabia, incontrolável e inundada. Ela mordeu o lábio, segurando-o com força.

Henry olhou para ela. Sua sobrancelha se levantou. Ele sorriu.

— O que foi?

Amice riu.

— Nós somos um par sem qualquer desculpas, não é assim? — Ela tentou novamente, percebendo que tinha falado escoceses. — Nós parecemos horríveis.

Ele assentiu, sorrindo.

— Eu estou horrível. Você não poderia parecer terrível.

Amice corou. Ela puxou o manto de montaria em volta dela com a mão esquerda, embora isso exigisse segurar o pescoço do cavalo com uma mão. Eles estavam trotando agora, caminhando lentamente, mas mesmo assim ainda era estranho, e ela estremeceu e segurou com ambas as mãos, nervosa para soltar-se e não cair.

Henrysorriu para ela.

— Estamos a salvo agora. Mas precisamos de calor.

Amice assentiu. Era estranho e irônico fugir do incêndio, só para congelar na floresta à noite. Ela fez uma pausa.

— Nós poderíamos voltar para a cidade?

Henry balançou a cabeça.

— Tentador, minha lady. Mas não, não devemos.

— Por que não? — Amice exigiu, sentindo-se confusa.

— Nós não sabemos o que aconteceu, — explicou Henry para ela. — Achamos que a pousada pegou fogo por acidente, mas suponhamos que isso seja falso?

— O que você quer dizer? — Amice sentiu seu coração bater. Por que alguém desejaria algum mal a eles? Henry estava muito bravo? Quem desejaria prejudicá-los, ou mesmo saber quem eles eram ou que estavam naquela hospedaria?

Henry suspirou.

— Sinto muito, Amice.

— Desculpas?

— Peço desculpas por ser... não muito honesto. Eu lhe disse quem sou, mas não era bem verdade.

— O que você quer dizer? — Amice perguntou. Então ela riu, um som pequeno e desesperado. — Henry, pelo amor de Deus! Nós estamos na floresta, no inverno. Nós acabamos de escapar. Se não entrarmos em um abrigo quente em breve, vamos congelar até a morte. Nenhum de nós está em qualquer estado apto para esconder a verdade. E seja o que for, você salvou minha vida. A verdade não pode nos prejudicar.

Henry olhou para ela como se nunca a tivesse visto antes; estudando-a com algo parecido com espanto naqueles olhos azuis. Então ele suspirou.

— Amice, você está certa. Eu te devo a verdade. Eu não sou um lorde francês.

— Oh. — Amice franziu a testa. — Bem, você fala bem o francês. Mas eu também.

Henry franziu a testa para ela, erguendo os lábios num meio sorriso.

— Acho que posso estar fazendo um jogo perigoso aqui, — disse ele.

— Por quê? — Amice estava confusa. — O que você quer dizer?

Henry riu. Ele balançou sua cabeça. Quando olhou para cima, seu rosto ainda sorria, mas seus olhos estavam tristes e cansados.

— Eu acho que é apropriado, — disse ele lentamente.

— Apropriado? — Amice sentiu sua paciência estalar. — Henry. Pelo amor de Deus, por favor, pare de falar nesses enigmas estranhos. Você não é francês, tudo bem. Eu realmente não me importo agora se você é o rei da Escócia disfarçado. Estou com frio, cansada e cansada de estar confusa. Eu quero ir a algum lugar quente e seguro. Em algum lugar onde eu não tenha que pensar.

Henry riu.

— Como você quiser. — Ele fez uma pausa. — Bem, acontece que não sou o rei da Escócia. No entanto, estou aqui em negócios estatais. Isso te diz o que você precisa saber?

— Não. — Amice se sentiu teimosa.

Henry riu.

— Muito bem. Primeiro, tenho que lhe dizer que estou cheio de admiração. Se alguém viria me prender, sou eternamente grato que eles mandassem você fazer isso.

— Prender você? — Amice balançou a cabeça. — Por que eu quero fazer isso?

Henry estava rindo dela agora, os ombros tremendo. Ela sentiu sua raiva se dissolver. Sem ele, ela estava mais fria. Ela estremeceu e olhou em vão, em busca de qualquer sinal de vida nessas florestas desertas.

— Bem então. Se você... não é o que eu penso... então posso te dizer isso. Eu sou um espião.

Os olhos de Amice se arregalaram. Ela não tinha certeza do que isso significava. Ela tinha ouvido falar que havia intrigas na corte, mas ela e sua família passavam os dias nas colinas, seu pai só se encontrava com o duque de Buccleigh, seu representante local do Conselho do Rei, uma ou duas vezes por ano. Acontece que ele era o sogro de Joanna e isso tornava as coisas muito mais fáceis. Mas um espião?

— O que você faz? Espiar o que? E onde?

Henry riu.

— Minha querida, ou você é absolutamente brilhante no seu próprio trabalho, ou você é a criatura mais doce e inocente que conheci. Mas de qualquer forma, estou cheio de admiração.

— A bajulação não ajuda em nada. — Amice disse, mas mesmo assim ela deu a ele um olhar de soslaio, sentindo suas próprias bochechas corarem.

— Bem, então, — Henry fez uma pausa. — Eu responderei suas perguntas. Mas primeiro, devo perguntar se você pode sentir o cheiro do que eu posso sentir.

Amice olhou para ele, sentindo-se zangado.

— Se este é um dos seus enigmas, então... Oh. — Ela cheirou, e então franziu a testa. — Eu posso sentir o cheiro de fumaça.

— Sim. Queimando. Queima de madeira, para ser preciso.

Amice sentiu seu coração bater.

— O que é? Faça... — ela parou. Será que eles tinham acabado de evitar a morte no incêndio da estalagem apenas para encontrar outro nas florestas? Ela olhou em volta descontroladamente. Onde estavam?

— Acho que temos sorte. Não só tivemos imensa sorte de escapar desse incêndio, mas acabamos de encontrar abrigo. A casa de um queimador de carvão.

— Oh

Amice sentiu-se enfraquecer de alívio novamente. Os queimadores de carvão viviam na margem da floresta, trabalhando com os lenhadores ou às vezes de forma independente, transformando madeira seca e gravetos em carvão. Era um processo demorado, exigindo que o fogo fosse montado corretamente e depois vigiado a noite toda para garantir que a madeira não se queimasse totalmente.

— Você acha que eles vão nos oferecer lugar em sua casa de campo?

Henry levantou uma sobrancelha.

— Nós podemos perguntar. Ou podemos apenas esperar que eles estejam fora, alimentando as fornalhas em algum lugar que é terrivelmente o que cheira, e entrar.

Amice ficou chocada. Então ela assentiu.

— Nós podemos explicar mais tarde. — Estava muito frio para querer fazer qualquer coisa, exceto encontrar quatro paredes, um telhado, um fogo e dormir.

— Eu também acho.

Eles seguiram em frente e logo chegaram à cabana do queimador de carvão. Era um lugar pequeno, feito de troncos empilhados e revestido com argila, palhas colocada sobre ripas que faziam o telhado. No entanto, estava quente.

— Vamos entrar.

— Eu vou amarrar os cavalos aqui. Devemos nos certificar de que também sejam mantidos aquecidos — disse Henry em voz baixa.

— Sim. Precisamos. — Amice desceu do cavalo e deu um tapinha no nariz. — Você dorme aqui, — disse ela. Seu cavalo bufou para ela.

No final, eles trouxeram os dois para dentro da cabana. Amice não podia suportar deixá-los no frio congelante e Henry teve que concordar com ela. Todos eles entraram.

Amice tossiu, respirando o ar empoeirado da cabana. Mesmo assim, com o vento afastado pelas paredes cobertas de barro, parecia quase incrivelmente quente em comparação com o exterior. Mesmo assim, ainda estava frio e ela colocou os braços em volta de si mesma, sentando-se no chão.

— Vou acender uma fogueira, — disse Henry. Ele foi até a lareira e consertou os troncos. Então ele encontrou uma pederneira, deixado perto da lareira, e o atingiu com movimento.

Leve. Uma fina mecha de chama, enrolada de casca de pinheiro. Então uma chama. Amice se juntou, alimentando com pequenas folhas o fogo e restos de grama e gravetos até que eles tiveram uma pequena fogueira na lareira entre eles. Ela estendeu as mãos para o fogo, agradecida pelo calor que aquecia sua pele fria.

— Isso é melhor. — Henry opinou.

Enquanto estavam sentados ali, a luz piscando em seus rostos, Amice estudou Henry encobertamente de lado com seu olhar. Ele era inegavelmente bonito, com aquele nariz esculpido e olhos azuis, com o cabelo loiro encaracolado e o sorriso de falcão. Ainda assim, quem era ele?

— Eu lhe devo uma explicação, — Henry começou secamente.

Amice tossiu.

— Você não precisa me dizer se preferir assim.

Sua sobrancelha subiu.

— Isso é gentil de sua parte. Mas, por mais idiota que eu seja, quero.

Amice encolheu os ombros.

— Se você quiser me dizer algo, quero saber. — Na verdade, ela estava profundamente curiosa e queria descobrir tudo o que pudesse sobre Henry. No entanto, ela não queria pressioná-lo. Se ele escondera sua identidade dela, tinha suas razões. Fosse o que fosse que ele estivesse aqui para espionar, tinha certeza de que quanto menos ela ou qualquer outra pessoa soubesse, melhor para ele e para si também.

— Bem, então. — Henry tossiu. — Meu nome é Henry. Eu não sou francês. Sou inglês, a serviço do espião mestre do rei.

— Oh. — Amice franziu a testa. Ela virou-se para olhar para ele. Era um pouco demais para absorver. A parte sobre o mestre espião que ela descartou significou pouco para ela. A primeira informação era mais importante. — Você é inglês?

Ele riu.

— Não é uma doença.

Amice deu uma risadinha consciente.

— Sinto muito, Henry. Tenho certeza que não é. Foi apenas uma surpresa, é tudo. Nunca conheci ninguém da Inglaterra antes.

Ele sorriu.

— Honrado em ser o primeiro inglês de seu conhecimento, milady.

Ele parecia tão hesitante, aqueles olhos de safira olhando debaixo de suas sobrancelhas para ela. Ele era tão bonito que a expressão desajeitada era ainda mais inesperada.

Ela riu.

— Você é o primeiro inglês e o primeiro espião. Mas eu não quero saber disso. Eu quero saber da Inglaterra. Como é? — Ela tinha tantas imaginações do lugar onde moravam seus inimigos históricos. Todas as pessoas eram como Henry, com aquele cabelo claro como o linho? A terra era tão estéril e pedregosa que eles tentaram invadir a Escócia?

Henry fechou os olhos. Ela viu uma expressão estranha atravessar seu rosto, uma espécie de tristeza melancólica. Ela se perguntou quanto tempo ele tinha estado fora de sua terra natal e sentiu abruptamente por ele. Ele suspirou.

— A Inglaterra é... verde. Diferente do verde da Escócia. Com colinas ondulantes e grama doce e prados cheios de gado e ovelhas satisfeitos. Pelo menos — acrescentou ele com um sorriso — a parte em que vivo é assim. Mais ao Norte, é frio, frio e chuvoso.

— Como a Escócia? — Amice riu.

— Quase como.

— Bem, se todos vocês acham que é tão ruim aqui, por que desejam nos invadir?

Ele balançou a cabeça, rindo.

— Eu sinto muito, minha lady. Eu não quis insultar. Eu gosto da chuva.

Ela assentiu, aplacada.

— Bem, então.

— Bem?

— Bem, você deixou tudo isso para trás, sua linda casa, para vir aqui... espiar... e agora o que acontece? Você vai voltar de novo?

Henry suspirou. Ele passou a mão cansada no rosto.

— Esse é o problema, — ele disse suavemente. — Eu não sei.

— Você não sabe o que? — Amice perguntou gentilmente. O fogo a fazia sentir-se quente agora e se recostou um pouco, ainda segurando as mãos no fogo. O capuz caiu de seu cabelo e ela não o levantou, mas ficou onde estava. Era bom estar olhando em seus olhos.

— Eu não sei quando posso voltar, — disse Henry. Amice franziu a testa, imaginando que segredos ele mantinha. Ela ouviu a lenta queima da madeira no fogo e esperou enquanto ele emoldurava sua resposta. Finalmente, ele limpou a garganta.

— Eu estou... estou aqui, procurando por um homem. Um espião francês. Foi por isso que procurei ser francês para despistar os agentes do seu rei que soubessem da sua chegada. Se eles achassem que eu era francês, isso os impediria de arriscar acabar com a minha vida.

— Ah. — Amice mordeu o lábio. Um pensamento estava começando a tomar forma em sua cabeça. Ela se virou para Henry, uma expressão horrorizada no rosto.

— O que é? — Ele perguntou. Ele parecia preocupado.

— Henry, eles acham que meu primo é o espião francês, não é? É por isso que ele está sendo detido.

Henry franziu a testa. Então ele inclinou a cabeça.

— Eu também pensei isso, minha lady. É bem possível. Temos razões para pensar que o enviado francês é esperado e será bem recebido por muitos dos agentes da corte. Então ele não deveria ser ferido.

— Ah. — Amice fez uma pausa, considerando. — Bem, — ela acrescentou, e agora não podia evitar que estivesse sorrindo, — se eles prenderem Conn e o levarem a corte, terão a surpresa de sua vida! Qualquer uma menos de ser um espião, você não poderia imaginar! — Ela riu.

— Oh? — Henry levantou uma sobrancelha. Seu rosto tinha uma expressão divertida. — Se ele não é como um espião? Quem é como um espião? — ele acrescentou sorrindo.

— Você.

Henry riu.

— Como assim?

— Bem, — Amice pensou sobre isso. — Bem... você é secreto. E... bem, e pensativo e observador. Conn não é... essas coisas. — Ela riu com tristeza.

— Ele é bastante impulsivo? — Henry perguntou. Ele parecia interessado.

Amice assentiu vigorosamente. Ambos riram.

— Bem, tenho pena dos oficiais escoceses que o detiveram, pensando que ele era o espião. Acho que não demorará muito para que percebam o erro de seus atos e o libertem.

— Se ele não é nada como um espião, como você disse, ele não está em perigo algum.

Amice soltou um suspiro longo e aliviado. Ela sentiu-se cair um pouco para o lado, perto dele. É o alívio, ela pensou. E o calor. O fato de que ela se sentia segura aqui, por algum motivo estranho, também, segura e preocupada. Ela estava em uma cabana de um queimador de madeira com um estrangeiro e ela sentia como se tivesse encontrado seu primeiro amigo verdadeiro em anos.

Ela olhou nos olhos dele. Eram de um azul safira profundo, a luz da lareira tecendo traços de amarelo sobre a superfície do líquido. Ele olhou de volta para ela. Amice estremeceu, lembrando do beijo deles. Teria sido apenas algumas horas atrás? Parecia impossível.

— Deite e descanse, milady. — Sua voz era espessa com sentimento.

Amice assentiu.

— Boa noite. — Ela se enrolou no chão ao lado dele e, antes que percebesse, estava dormindo profundamente.


CAPÍTULO OITO

UM NOVO PLANO


Henry acordou devagar naquela manhã. Ele estava rígido, cada membro com se tivesse chumbo e dor. Ele abriu os olhos devagar e depois os fechou novamente. A luz estava cinza e prateada pela manhã. Isso machucou a cabeça dele. Ele abriu os olhos novamente.

Ele estava olhando para uma parede cinza rebocada de terra. Gravetos secos desciam e encontravam o chão. Então, no chão, ao lado dele, estava uma presença adormecida.

Agora que ele a tinha visto e lembrado, era impossível desviar o olhar. Ela deitava de lado, os longos cílios tocando sua pele. Seu cabelo era um fogo desgrenhado na palha e seu corpo estava completamente quieto. Enquanto ele observava, ela inspirou, os lábios se abrindo. Ele estremeceu, desejando apunhalá-lo. Aqueles lábios carnudos e vermelhos imploravam por beijo.

Ele deixou sua mão se apertar em um punho, lutando para controlar a profundidade de sua necessidade. Ele desviou o olhar, encarando o fogo.

Henry, o que você vai fazer agora?

Era uma boa pergunta. Ele suspirou. Deixando seus olhos se deleitarem por um momento na lenta subida dos seios de Amice, ele olhou para longe, sentindo a virilha dolorida, e concentrou-se no problema em questão.

Precisamos sair da Escócia.

Ele estremeceu. Não, ele tinha que sair daqui. Amice estava mais do que bem em seu próprio país. Qualquer outra coisa era simplesmente pensamento egoísta.

Enquanto ele pensava, percebeu que estava errado. Ela estava em perigo aqui. Quem quer que houvesse incendiado aquela estalagem e ele estava quase certo de que ela fora incendiada de propósito, quem queria matá-lo não teria simplesmente desaparecido. Eles teriam esperado para ver se ele escapou ou não, e se tivessem, eles o teriam visto partir. Eles teriam visto Amice sair também.

Ela estava com ele agora. Ele não podia simplesmente deixá-la. No mínimo, não em Queensferry. Provavelmente não em Edimburgo também.

Eu não vou deixá-la em nenhum lugar se alguém assumir que ela é uma espiã também.

Henry conhecia o destino que os espiões enfrentavam quando se inscreveu para a tarefa anos atrás. Ele queria que a remuneração, que era boa, acrescentasse valor às suas receitas como marinheiro mercante. No entanto, ele concordara em assumir esses riscos apenas para si mesmo. Não para Amice. Ele não queria expô-la a tal perigo.

Isso deixava apenas uma escolha. Ele tinha que levá-la de volta até sua casa, ou deixá-la na companhia de seus primos. Eles poderiam viajar juntos. Parecia que estariam a salvo quem quer que fossem seus primos, pareciam bem equipados para ficarem de olho na prima mais nova. Além disso, se o suspeito espião inglês fosse visto na companhia de dois supostos agentes franceses, isso confundiria todos. Eles ainda estariam tentando resolver isso no momento em que ela escapasse.

Bem, então. Eu preciso encontrá-los.

Henry se levantou, não querendo fazer barulho e acordá-la. Ele olhou para fora da porta, para o céu. Era cinza, mas a névoa se elevava ligeiramente. Ainda estava frio, embora não tanto quanto a noite anterior. O fogo deles era cinza agora, mas aquecera o quarto. Um dos cavalos bufou quando se aproximou e ele sorriu.

— Espero que você tenha dormido bem também.

O cavalo bufou de novo e Henry deu um tapinha neles e depois caiu de joelhos para cuidar do fogo enquanto pensava.

Se eles acham que seus primos sejam espiões, eles os terão detido na alfândega. Seria fácil fazê-lo sob o pretexto de precisar verificar se havia mercadorias não autorizadas a bordo do navio. Comerciantes e contrabandistas são abundantes nessa direção.

Brandy da França era um bem valorizado, altamente tributado. Alguns senhores trouxeram ilicitamente da França e teria sido um erro fácil de fazer, pensar de que sua prima poderia ser cúmplice nesse comércio.

— Bem, devemos ir para lá.

Quando ele se acomodou novamente no fogo, Amice se mexeu. Ele ficou tenso e, em seguida, observou sua respiração, enquanto ela lentamente piscava e se sentou. Seus olhos se abriram, depois se fecharam e se concentraram. Ele segurou a respiração quando ela rolou de costas. A visão dela daquele ângulo mostrava suas curvas com perfeição e ele teve que lutar para não se abaixar e abraçá-la, sentindo aquelas preciosas curvas apertadas contra ele, sua boca na dela.

Ela fez um som pequeno e arregalou os olhos, abrindo a boca em um pequeno suspiro. Então ela se sentou. Muito rápida. Ela fechou os olhos.

— Minha cabeça dói, — disse ela.

— É do frio — assegurou Henry. — O que precisamos é de um pouco de água para ferver. Eu suponho que o carvoeiro possa obtê-lo de um fluxo em algum lugar. Eu deveria ir e encontrar. Se você me der licença? — Ele se levantou, alcançando um dos potes pesados que ficavam perto do fogo. Era estranho que o carvoeiro que morava naquela cabana não tivesse voltado ainda, mas era uma vantagem para eles. Ele só tinha que encontrar água em algum lugar próximo.

— Eu posso conseguir, — disse Amice rapidamente.

— Você tem certeza de que é seguro? — Henry perguntou, franzindo a testa. Ela deu-lhe um olhar.

— Eu não vou sair do alcance da voz. Eu prometo.

— Boa. Obrigado.

Ele agradeceu quando ela pegou o pote e saiu para as florestas. Sentiu-se inquieto com ela e tentou acender o fogo, depois se levantou e caminhou até a porta. Ele a viu voltando.

Ele olhou para ela. Ela era tão adorável, com o cabelo ruivo solto, um pequeno grampo preso aqui e ali. Sua camisola era de linho branco e balançava em torno de seu corpo enquanto ela se movia, o manto uma cor azul-ardósia que contrastava tão bem com a vermelhidão de seu cabelo e aquela boca doce e cheia.

Ela o viu e parou. Ela vacilou timidamente, tentando fechar o casaco em sua frente. Ela segurou o pote na outra mão, cheia de água. Henry ficou em pé.

— Deixe-me levar.

Ela olhou para cima quando ele olhou para baixo e seus olhos se encontraram.

Henry sentiu aquela estranha sensação de puxão que o atraiu para ela. Ele se abaixou e, muito gentilmente, ele baixou a boca para a dela. Ela ficou tensa e depois relaxou quando a língua dele a lambeu.

Ela suspirou e todo o seu corpo se iluminou tão suavemente, tão gentilmente, sua língua separou seus lábios.

Ele a sentiu tensa e recuou bruscamente, olhando para ela. Ele balançou a cabeça para limpá-la.

— Vamos, — ele disse gentilmente. — Está frio aqui fora.

Amice assentiu em silêncio, os olhos arregalados e observando-o enquanto ele se virava e se dirigia para a cabana. Ele colocou o pote na mesa, encheu uma panela e se conduziu a lareira, enlaçando a alça de metal sobre o espeto para mantê-lo pendurado logo acima das chamas. Ele percebeu que suas mãos tremiam um pouco e tentou não se concentrar que a queria neste momento.

— O que faremos?

Ele piscou, sua voz gentil trazendo-o de volta das fronteiras de sua imaginação.

— O que? — perguntou ele, sentindo-se bobo. — Oh. Sim. Bem, — ele esticou as mãos para o fogo. — O que eu acho que é... devemos ir ao porto. Encontremos as autoridades alfandegárias. Eles saberão com certeza onde eles estão.

Ele viu os olhos dela brilharem de esperança e interiormente desejou ter tido o bom senso de pensar nisso antes. A pobre dama! Tudo o que ela queria era encontrar seus entes queridos e viajar para casa. Agora ele mudava tudo. Ela estava presa na floresta, com um fora da lei, mais ou menos, ele.

— Você acha que podemos encontrá-los? — Ela perguntou.

— Eu sei isso.

— Boa.

Amice abaixou-se de joelhos, juntando-se a ele, onde se ajoelhara na lareira. Ele tossiu. Sua proximidade machucava seus nervos enquanto ele se esforçava e lutava para tocá-la, sentir seu corpo pressionado contra o dele. Ele olhou para as mãos, lutando contra o imenso desejo que brotou dentro dele.

— Eu acho que está fervendo agora, — disse ele. Ele podia ouvir as bolhas começarem a se formar na panela e se inclinou para frente, inspecionando-a cuidadosamente. Com certeza, estava começando a ferver.

— Acho que vi malva na floresta, — Amice confidenciou. — Perto do riacho. E grama doce. Nós poderíamos adicionar isso. Não é muito, mas é algo.

Ele sentiu uma sobrancelha subir. De todas as garotas que conhecera em casa, seu pai era barão e insistia para que ele conhecesse garotas qualificadas sempre que pudesse, mas nunca tinha encontrado uma como aquela.

— O que é? — Ele perguntou.

— Você quer dizer malva? — Ela perguntou. Ela corou, percebendo que tinha usado uma palavra escocesa. — Eu não sei o que é em francês ou inglês, — ela explicou suavemente. — Mas é uma planta que podemos comer. E grama doce também, embora você possa ter adivinhado isso.

— Ele cresce perto dos rios? — perguntou Henry, pensando que talvez soubesse do que ela estava falando.

— Mmmm. — Amice assentiu. — Vai engrossar o caldo um pouco se podemos realmente chamá-lo de caldo e adicionar um pouco de sabor a ele. Embora tenhamos que encontrar algo para comer em breve.

— Sim. Uma boa ideia — Henry assentiu. Ele franziu a testa, de repente se sentindo interessado. — Como você sabe sobre isso? — Ele perguntou, gentilmente. Ele não queria se intrometer, mas como ela sabia dessas coisas? Ela era uma dama, mas tinha o conhecimento da floresta como um lenhador poderia ter. Interessante.

— Você quer dizer as plantas? — Ela perguntou, olhando para a lareira.

— Sim.

— Minha tia me ensinou.

— Ela é a tia de quem é a mãe da prima? — Perguntou ele.

Ela riu.

— Que maneira de dizer isso. Mas, sim. Ela é a mãe de Leona.

— Conn também é seu primo? — Ele franziu a testa.

— Sim, mas distante, — explicou Amice. — É uma história complicada.

— Eu posso ver, — disse ele secamente. — Bem, nós temos algumas viagens para fazer, então, assim que tivermos essa sopa que você prometeu, pode me contar tudo sobre isso. Isso nos manterá distraídos do frio lá fora.

Amice riu e ele estremeceu com o som delicioso. Por que ele estava tão desesperadamente atraído por ela? Ele balançou sua cabeça. Isso ia lhe causar um sem fim de agonia, esse ardor não correspondido. Pelo menos até ele encontrar seus primos e mandá-la em segurança a caminho de casa! Ele esperava que seu palpite estivesse correto. Quanto mais cedo ele estivesse fora do caminho dessa linda e cativante mulher escocesa, melhor.

— Vou buscar a malva, então, — disse Amice. — Estarei de volta em um segundo.

Henry assentiu, observando-a sair. No momento em que ela se foi, ele se sentiu desolado. Ele desejou que ela fosse embora, para que pudesse parar de querê-la, mas ainda assim ele a queria. Ele a queria tanto que, no momento em que saiu do quarto, ele sentiu falta dela.

Henry Quinn, você é um idiota. Ele riu.

Não era apenas luxúria. Ele estava começando a gostar da companhia dela. Quando ele refletiu sobre a conversa na noite anterior e, na véspera, mesmo quando se conheceram, percebeu que havia poucas pessoas de quem gostava de conversar da mesma maneira.

Ela é engraçada, rápida e despreocupada. Tudo que eu gosto em alguém. No entanto, ela também pode ser séria.

Ele balançou sua cabeça. Inclinou-se para acender o fogo. Ele sabia que estava sendo ridículo. Ele conheceu essa garota há dois dias e atualmente não sabia nada sobre ela, exceto pelo fato de que era filha de algum laird local, evidentemente muito bem educada, ela podia falar francês tanto quanto ele e que tinha relações na França.

Eu ficarei feliz em saber mais.

Ele ouviu passos na grama do lado de fora e se virou para ela. Ela ficou na neblina, gotículas grudadas no cabelo que brilhava contra a névoa cinza. Sua pele clara contrastava com o cabelo ruivo, e seus olhos, olhando para ele, eram gentis.

— Você foi rápida, — comentou ele. Ela sorriu. — Calma, também, — acrescentou. — Você poderia ter colocado uma faca em mim e eu teria me atrasado muito em defender-me.

Ela riu.

— Eu costumava perseguir meu irmão nas florestas. O objetivo era me aproximar dele o mais rápido que pudesse, sem que ele me ouvisse. Era difícil.

— Bem, você deve ter se tornado muito boa nisso, — Henry disse, impressionado. Ele sorriu, imaginando a infância que Lady Amice teve.

— Você tem irmãos? — Ela perguntou.

— Não. — Henry balançou a cabeça. — É por isso que, suponho, é egoísta da minha parte estar aqui, fugindo pela Escócia. Eu deveria estar em casa, aprendendo a administrar a propriedade do meu pai. No entanto, fiquei sem paciência com isso há muitos anos. Não nos olhamos olho no olho. É por isso que fugi.

— Oh? — Amice franziu a testa. — Eu não te culpo. Eu também odeio o dever. Mas aonde você foi?

Henry sorriu para ela. Então ela era como ele, por dentro. Um espírito rebelde. Ela estava ocupada quebrando a raiz de malva e jogando-a na água fervente. Ele sorriu, embora não fosse um assunto engraçado, seu desacordo com o pai. Ele não tinha certeza porque disse a ela sobre isso.

— Bem, eu fugi para o mar. Porque eu sabia ler, primeiro eu me tornei bastante rápido imediato. No primeiro dia, na verdade. Provavelmente a sorte era uma tripulação sem brilho, ou eles não teriam me adiantado tão rápido. Então, depois de dois ou três anos, tornei-me capitão do navio.

— Você é um marinheiro? — Ela parecia fascinada. — Para onde você navegou?

Henry sentiu o peito se encher de orgulho.

— Oh, por toda a Europa, — ele disse com o que esperava ser um tom descuidado, como se navegar pela Europa fosse algo que ele fazia todo segundo dia.

— Para onde? — Amice queria saber.

— Todos os tipos de lugares, — disse Henry, aquecendo seu tema. Ele cuidou do fogo enquanto falava. — Para Ghent, é claro que todos os navios mercantes vão para Ghent; você pode ter tudo lá e na França, muito mais. Por toda a Inglaterra e, uma vez, para a Sicília.

— Oh? — Amice olhou para ele com olhos redondos. — Como é? Onde é?

— Perto da Itália, — explicou ele. — Lá é quente. Nós estocamos frutas e especiarias e vendemos espadas para eles.

— Oh. Onde você conseguiu as espadas? — Ela perguntou.

Ele sorriu.

— As melhores espadas são as lâminas francas. Nós os pegamos em Hamburgo, mas acho que eles foram feitas na Francônia.

— Ah. — Amice suspirou. — Você viu tantas coisas fascinantes, meu lorde.

Ele olhou-a. Com interesse em seu rosto, ela parecia especialmente adorável. Ele olhou e lutou contra o desejo de beijá-la novamente. Não que ela parecesse contrária a isso, mas ele estava preocupado agora. Ele logo a deixaria. E se ele não pudesse suportar ou e se já estivesse ligado a ela?

Ele olhou para a lareira.

— Eu acho que este cozido estará pronto em breve, — disse ela de cima olhando o fogo.

— Oh? — Henry olhou para cima. Ele a observou franzindo a testa enquanto cutucava algo no pote. Até mesmo sua carranca era doce, ele pensou distraidamente. Com aqueles doces lábios vermelhos fazendo beicinho era adorável, ele só queria beijá-la.

— Sim, — ela disse. — Se você puder encontrar uma tigela de algum tipo aqui, nós podemos comer.

— Oh. Obrigado. — Ele se levantou e começou a procurar na casa. Ele conseguiu encontrar algumas tigelas de madeira, mas não colheres. — Eu posso ter uma na minha bolsa. — Ele ofereceu.

— Podemos beber, — disse Amice sem rodeios. — Não é como se houvesse muito, sim?

Ele riu.

Eles comeram o guisado que era essencialmente água espessa com um sabor ligeiramente doce e adicionado com partículas de raiz e grama. Eles se alimentaram um pouco e deram a grama para os cavalos, que a comeram. Eles deviam estar com muita fome, pensou Henry.

Apagando o fogo e deixando uma pequena moeda para o queimador de carvão cuja cabana lhe pertencia, eles montaram e saíram.

— Sabe, — Henry disse enquanto cavalgavam: — Nós vamos ter que parar em algum lugar.

— Por quê? — Amice perguntou, franzindo a testa. Então ela corou, rindo também.

— Precisamos de roupas, — disseram juntos.

— Imagine o que aconteceria, — Henry disse, sorrindo. — Se chegamos vestidos assim?

Ambos riram.

Colocando as cabeças para fora dos bosques olharam e cavalgaram para a luz da manhã.

Primeiro, para encontrar um alfaiate e depois para a alfândega.


CAPÍTULO NOVE

NO PORTO


Amice observou Henry cuidadosamente, imaginando-o, enquanto cavalgavam para fora das florestas. Ele era um espião. Se ela pensasse sobre isso logicamente, não tinha nenhuma razão para confiar nele. No entanto, ele salvara a vida dela, quando também não tinha motivos para isso. Ela confiava nele.

Ela confiava nele o suficiente para estar andando pela floresta com ele, vestida com uma camisola e capa de montaria.

Eu deveria estar com raiva. De alguma forma, é um sentimento bom.

Ela riu.

— O que foi? — Henry perguntou. Ele levantou uma sobrancelha para ela, sorrindo.

— Hum, nada, — disse Amice, perturbada. — Eu estava pensando o quão estranho será quando chegarmos na cidade, vestidos assim. Como vamos conseguir roupas, quando a única razão pela qual precisamos é evitar assustar as pessoas?

— Bem, sim, — Henry sorriu. — Meu plano original era roubar alguma coisa, mas acho que você não vai gostar dessa ideia.

Amice assentiu vigorosamente.

— Tudo o que precisamos é realmente cometer um crime, — disse ela com firmeza. — Agora somos meramente suspeitos de ser criminosos, se fizermos isso, seremos criminosos.

Henry riu.

— Sim, minha lady. Eu vejo sua lógica. Dos quais, devo dizer, você tem um boa visão.

— Obrigada.

Ele riu.

— Agora, meu plano é esse. Nós cavalgaremos para o outro lado da cidade, fazendo um enorme barulho sobre como fomos roubados na estrada e tudo o que nos resta são essas roupas. Quando alguém descobrir quem podemos ser, alguém já nos ajudou no caminho.

Amice deu uma risadinha, aliviada.

— Brilhante!

— Obrigado. — Ele deu-lhe um sorriso satisfeito. — Agora. Aqui estamos. Prepare-se para colocar a roda de mummer em sua vida.

Amice deu uma grande gargalhada e depois mudou seus traços para o neutro.

— Como é isso? — Ela perguntou.

— Você está mordendo o interior de suas bochechas. Eu posso ver isso.

Seus olhos se detiveram e ambos estavam desamparados com risadinhas enquanto seguiam juntos.

— Shh, — disse ele.

— Shh, — Amice respondeu.

— Shh, — ele imitou. — Isso é essencialmente escocês para o shh, não é?

Amice assentiu.

— Você sabe alguma coisa.

Ele lançou-lhe um olhar gelado.

— Claro que sim. — Então os dois riram. — Embora, — ele acrescentou, — nunca lhe agradeci por salvar minha vida naquela época. Na estalagem. Se você não tivesse vindo em meu socorro, eu estaria em uma masmorra agora mesmo.

Amice estremeceu.

— Por favor, não diga isso. Estamos a salvo. É isso que importa.

— Sim. E obrigado.

Enquanto cavalgavam em silêncio, surpreendeu Amice o quanto isso lhe importava. Ela só conhecia esse homem há alguns dias, mas lhe importava muito viver ou morrer. Ela olhou para as mãos, onde seguravam a juba do cavalo, lutando por compostura.

Tão estranho, como acabamos de nos conhecer e sob circunstâncias tão perigosas!

Ela balançou a cabeça, espantada com isso. Suas mãos estavam sujas, a pele branca manchada de sujeira de onde ela havia cavado as raízes com elas.

— Espero que possamos encontrar um banho onde quer que estejamos indo.

Henry assentiu.

— Sim.

Eles encontraram mais do que um banho. Na primeira pousada que eles foram em Pheasant in the Grass eles colocaram seu emergente talento em ação.

— Socorro! — Henry gritou. — Ladrões! Nós fomos roubados.

Amice queria rir, mas ela conseguiu se conter. Ela tentou simular soluços e conseguiu encher os olhos com lágrimas verdadeiras quando pensou em casa e na saúde frágil de sua mãe.

— Olá! Qual é o barulho? — Um homem com ombros como um boi saiu da estalagem, franzindo a testa. Esse era o estalajadeiro, Amice presumiu. Ela olhou para Henry e decidiu que era melhor falar, já que ele estava gritando em francês.

— Ah... Saudações. Eu... falo um pouco gaélico — disse ela, entrecortada. — Você pode nos ajudar?

— Depende, — disse o homem, olhando para ela com desconfiança. — Por que eu deveria ajudar estrangeiros? Que tipo de pessoa você é?

— Somos franceses, — disse Amice. Ela viu seu rosto clarear um pouco. Boa.

— Oh. Depende do que você precisa de ajuda, milady.

Amice sorriu, aliviada e percebeu o momento em que notou suas roupas estranhas. Ele olhou e então ficou vermelho.

— Minha dama! Eu... — Ele não sabia onde olhar depois disso, seja no rosto dela, ou no corpo claro coberto pelo linho e pelo manto de veludo rasgado e sujo. Ele olhou para o chão.

— Fomos roubados, — explicou ela, enquanto Henry descia, fazendo um ótimo desempenho. Ele estava gritando em francês, gesticulando freneticamente. — Havia três deles, todos armados. Nos bosques, onde nossa carruagem foi parada... Oh!

Amice assentiu, fazendo-a encarar uma expressão preocupada.

— Fomos roubados por três homens na floresta. Toda a nossa bagagem estava na carruagem. Foi tudo roubado.

— Oh. — Seu rosto suavizou um pouco, embora ele ainda desse a Henry um olhar sombrio. — Bem, nesse caso, posso colocar os cavalos no celeiro. E podemos ver o que você pode usar. Você deve estar com fome também.

Amice assentiu e seu rosto ficou subitamente gentil.

— Entre. Nós vamos resolver isso.

Amice e Henry se entreolharam. O alívio genuíno inundou os dois. Logo, eles estavam no melhor quarto do estalajadeiro que Henry descobrira miraculosamente que ele ainda tinha uma bolsa de moedas e a esposa do estalajadeiro estava achando um vestido para Amice.

— Aqui, minha lady. Você pode ter o que minha filha deixou aqui quando ela foi morar com Alisdair na cidade. Vai se encaixar bem, eu acho.

O vestido era de linho simples; bonito e útil. Era a coisa mais simples que Amice já usara. Mesmo assim, quando ela saiu do banho morno e deslizou para dentro dele, sentiu-o bem contra sua pele. Era bom estar quente! E ficou lindo.

Ela se virou na frente do espelho, satisfeita com os resultados. Então ela se juntou a Henry para um enorme café da manhã.

Enquanto comiam, estavam cercados por um bando de habitantes da cidade, todos os quais ouviam, fascinados, quando Henry contava uma versão cativante de sua fuga. Ele colocou muitos detalhes sobre a bando de ladrões; o suficiente para distrair as pessoas de se perguntarem sobre eles. Amice traduziu, maravilhado com sua imaginação.

Quando estavam sozinhos nos estábulos, com seus cavalos foram alimentados e escovados, ele sussurrou para ela.

— Todos se lembrarão dos monstruosos fora-da-lei na floresta, e nenhum deles pensará em questionar por que dois nobres franceses estavam vagando por aqui em uma carruagem.

Amice assentiu.

— Brilhante.

— Obrigado. — Ele parecia satisfeito.

Eles seguiram juntos, em maravilhosas conversas depois do delicioso café da manhã.

Na cidade, Henry chegou mais perto.

— A alfândega está lá em cima, — ele indicou um prédio de dois andares com telhado e janelas levemente inclinadas, todas feitas de pau-a-pique. Amice assentiu.

— Boa.

— E, posso dizer, o vestido novo combina com você enormemente.

Amice fez uma careta.

— Obrigada, senhor.

— E você cheira adorável também. — Sua voz era rouca e Amice sentiu todo o seu corpo se aquecer.

— Senhor, você é muito presunçoso, — disse ela primorosamente. Ela riu. — E você está bem.

— Oh. — Henry endireitou-se, um suave rosa inundando seu rosto. — Obrigado minha lady.

Ela corou. Ele parecia bem. Ele estava vestindo uma túnica de linho branco e calça creme, um cinto grosso ao redor da cintura. Tudo se encaixava perfeitamente em seu corpo magro e duro. Ele estava mais robusto do que quando o conheceu, mas realmente lhe convinha.

Ele parece um belo príncipe fingindo ser um lenhador.

Ela riu de sua imaginação fantasiosa.

Logo eles estavam na alfândega.

Amice pigarreou e falou. Ela começou em francês e depois mudou para gaélico.

— Estou aqui procurando meus primos. Eles são Leona e Conn MacConnoway. Eles navegaram de Calais ontem.

— Os franceses? — O homem olhou para ela. — Eles são seus primos? O nome é MacConnoway?

— Sim. — Amice assentiu. Ela franziu a testa. — Por que isso é estranho?

Ele balançou sua cabeça.

— Nada estranho, milady. Nada mesmo. Nós vamos buscá-los.

Amice olhou para ele. De alguma forma, ela não esperava que fosse tão fácil. Sua forma inteira caiu de alívio. Então o homem subiu as escadas e ela e Henry estavam sozinhos.

— Nós fizemos isso, — ela sussurrou, aliviada.

— Espere, — advertiu Henry. — Ainda não saímos.

Amice assentiu, sentindo-se nervosa novamente. Então não havia tempo para pensar em outra coisa senão como tudo era esmagador.

Conn estava descendo as escadas.

Ela viu as pernas dele aparecerem primeiro finas meias de seda e botas de couro e depois o resto dele. Ele riu.

— Amice! Prima! Minha querida.

Ele correu para ela e a inundou em um abraço de urso. Amice sentiu seu coração se derreter um pouco quando ela o segurou em seus braços, sentindo-se segura novamente. Ela podia sentir o cheiro sombrio de qualquer erva que ele usava para guardar sua roupa, e o aroma temperado que era dele mesmo. Ela olhou para cima quando ouviu outro par de pés.

Uma dama de bom vestido creme apareceu.

— Amice!

— Leona!

Como sempre, a beleza de sua prima a impressionou. Com os cabelos claros dispostos no topo da cabeça, frouxamente cobertos com um véu que dava para vê-los, o longo pescoço rodeado por um simples aro de ouro, os largos olhos violetas, ela era uma visão. Ela viu o homem da alfândega olhando e quis rir.

Suponho que até mesmo Henry esteja se apaixonado por ela.

Ela se sentiu um pouco triste quando o viu olhando para Leona também, mesmo quando Amice a abraçou. Ela respirou o perfume de lírios e recuou.

Para sua surpresa, ele não estava olhando para Leona com o espanto que estava acostumada a ver. Em vez disso, seus olhos se estreitaram e ele a estudava com interesse. Amice franziu a testa.

Bem, essa é uma reação que não estou acostumada. Provavelmente Leona também.

Ela sentiu sua prima ficar tensa e a viu notar Henry pela primeira vez.

— Amice, sinto muito — disse Conn, distraindo-a do olhar que passou entre sua esposa e o espião. — Nós tentamos seguir viagem, mas este... cavalheiro aqui... — ele indicou secamente o funcionário, — disse que estávamos detidos. Não deu nenhuma pista do porquê.

O oficial da alfândega piscou.

— Senhor, foi um mal-entendido, — ele disse suavemente. — Nós tínhamos motivos para acreditar que criminosos estavam navegando da França. Contrabandistas, bandidos, você sabe como é. Pedimos desculpas pelo descuido.

Conn levantou uma sobrancelha. Naquele momento, seu rosto robusto tornou-se bastante dominante.

— Podemos perdoar a supervisão, — disse ele magnanimamente.

Amice sorriu.

Ele é em cada polegada um nobre da França.

Ela se sentia tão orgulhosa dele. Tornar-se o conde de Annecy lhe convinha bem. Ele parecia saudável e feliz, e ele e Leona eram um casal perfeito.

Ela ouviu Leona tossir e se virou. Ela pegou o olhar surpreso da prima e adivinhou que tinha sido rude por não apresentar os três uns aos outros.

— Então, me desculpe por não dizer algo, — disse ela rapidamente. — Mas eu estava distraída. É tão bom ver você! Primo, esta é Henry... hum... de Courin. Um compatriota seu, eu acho.

— Oh. — Conn estendeu a mão com seu bom humor característico. Se ele se perguntava por que sua prima estava viajando sozinha com um estranho francês, ele não pensou em questionar nenhum deles sobre isso. — Honrado, senhor.

Ele falava francês fluentemente e Amice viu Henry pestanejar, depois estendeu a mão.

— Encantado.

Ela supunha que Conn não se parecia em nada com um aristocrata francês, com seus cabelos ruivos e pele avermelhada, seu rosto atrevido e austero. Ele tinha crescido na dignidade em parte que se instalou nele, dando-lhe um ar aterrador e dominante.

— E minha prima, lady Leona — disse ela, indicando Leona. Ela observou com uma pontada de dor quando Henry se curvou sobre sua mão, levantando-a aos lábios.

— Encantado.

Seus olhos brilharam e Amice desviou o olhar, sentindo-se enjoada de inveja. Ela suspirou. Ela cresceu se sentindo inferior aos olhares marcantes de Leona. Ela deveria estar acostumada a isso agora. Alguém em uma sala notava a ela primeiro e Amice em segundo. Era sempre assim.

— Podemos ir? — Conn perguntou, surpreso.

— Senhor, não há nada para impedi-lo, — disse o homem da alfândega, desculpando-se. — Guarde isso, se eu fosse você, consideraria restringir minha visita. As rajadas de ventos marítimos estão chegando e agora é primavera e acho que o melhor seria evitar se demorar por aqui.

Conn olhou para Leona, que franziu a testa.

— Se fôssemos ficar, quanto tempo demoraria até que as rajadas acabassem? — Perguntou ela, de forma geral.

O homem da alfândega encolheu os ombros.

— Uma quinzena? Talvez três semanas se quiser ter certeza, minha lady. De fato, um mês.

Leona ficou consternada, Amice podia ver isso.

— Não podemos ficar longe tanto tempo! — Ela disse, chocada. — E quanto a Francis?

Conn assentiu.

— Leona está certa, prima, — ele disse rapidamente. — Não podemos deixar Francis por muito tempo sozinho. Além disso, eu me preocupo com Leona. Estamos esperando outro filho.

Amice sorriu, encantada, depois franziu a testa quando Leona falou.

— Só faltam três meses, — ela disse, assentindo, — mas isso significa que, se demorarmos mais um mês, serão dois meses. E esse é um momento perigoso para viajar. Você sabe quantas mulheres perdem o filho assim?

Amice assentiu vigorosamente. Ela havia aprendido com Alina, assim como Leona. Algo aconteceu naquela época na gravidez de uma mulher que tornou mais provável que ela perdesse o bebê. Ela concordou com Leona. Eles não poderiam ficar.

Com o coração apertado, ela se virou para Conn.

Ele suspirou.

— Companheiro, se saíssemos hoje, seria possível conseguir uma passagem?

O homem assentiu vigorosamente.

— Você poderia pegar a Sea Shanty de volta. Isso é um navio, — ele explicou redundantemente. — Navio mercante. Ela navega hoje. Certamente haveria passagem para damas e lordes. Você faria melhor se a tomasse hoje, esse é o meu conselho.

— Então vamos tomá-lo, — disse Conn levemente. Ele se virou para Leona, cujos olhos azuis estavam tristes.

Amice sentiu pena deles. Eles partiram com tanta esperança, e o atraso de duas semanas estragou seus planos. Era terrível.

— Bem, — Conn deu de ombros. — Nós vimos algumas coisas da Escócia novamente. Isso é tudo para o bem. Eh?

Leona assentiu.

— Eu queria ver minha mãe novamente, antes do nascimento.

Amice assentiu sem palavras.

— Minha doce prima. — Ela balançou a cabeça sem palavras. — Eu sinto muito que isso tenha acontecido.

— Assim como nós — murmurou Conn. — Mas não podemos evitar.

— Não, — Amice assentiu.

— Talvez você possa encontrar um capitão para levá-los assim que o perigo passar. — Henry disse, pela primeira vez que ele falou. Amice piscou. Ele era um capitão. Isso era uma oferta? Ela imaginou que sim.

— Talvez, — disse Conn distante. — Embora eu duvide que haja muitos loucos o suficiente para concordar com isso.

Henry pigarreou e Amice, que o conhecia, viu-o sorrir. Ele não moveu nada em seu rosto, mas um músculo se contraiu e seus olhos brilharam. Ela também queria sorrir e mordeu sua bochecha.

— Talvez, — Henry disse levemente.

— Bem, — disse Conn. — Agora que nos encontramos, o mínimo que podemos fazer é ir e encontrar um lugar para comermos algo. Eu mesmo estou adorando sair de quatro paredes e esticar minhas pernas!

Amice riu.

— Oh, primo! É bom te ver.

Ele sorriu.

— Obrigado, Amice. Você também.

Todos saíram do escritório da alfândega em alto astral. Apanhada na atmosfera de comemoração, Amice sentiu seu espírito subir. Ela estava segura. Henry estava a salvo. Agora eles haviam resgatado Conn e Leona e estavam todos juntos como se nada disso tivesse acontecido. No entanto, isso aconteceu. Ela conheceu Henry e agora sua vida mudou, de modo que, de uma maneira estranha e amável, ele estaria sempre em seu coração.


CAPÍTULO DEZ

FAZENDO O PRÓXIMO RECONHECIMENTO


Era estranho, mas estar com Amice e seus primos parecia natural. Conn, pensou Henry, é um bom sujeito: contundente, blefante e direto. Ele gostava dele.

— Agora, — ele estava dizendo, quando se dirigiu ao estalajadeiro da melhor pousada em Queensferry, o Boar in the Woods. — Queremos o seu melhor almoço e tudo o que você puder reunir. Estamos todos famintos por boa comida.

Amice deu uma risadinha.

— Sim, — Leona assentiu vigorosamente. — Estou faminta, Conn. Você sabe como é quando eu estou esperando.

Conn assentiu. Um olhar de imensa ternura passou entre eles e Henry sentiu seu coração pulsar. O verdadeiro amor era lindo, e o amor entre Conn e Leona parecia ser uma coisa desse tipo de beleza.

Bem, ele pensou, a dama é deslumbrante. Eu prefiro um olhar mais doce. Ela não é tão atraente quanto sua prima. Não para mim.

Seu olhar caiu sobre Amice, onde ela se sentou com seus olhos castanhos arregalados, observando seus primos. Ela era como uma doce e solene coruja e ele queria beijá-la.

— Devo dizer, eu tenho sorte de ter conhecido todos vocês, — ele disse sinceramente. Amice sentiu seu coração aquecer com isso. Ele gostava da família dela. Isso era surpreendentemente bom.

— Tantos franceses, não é? — Conn riu. — Bem, é uma sorte que todos nós nos encontramos. — Ele se virou para Amice com carinho. — Você nos salvou, querida prima, — disse ele. — E adoraria ouvir a história.

Amice olhou para Henry, que inclinou a cabeça. Ela limpou a garganta.

— Bem, eu viajava sozinha, estava acompanhada por Bronn, porque a tia Alina está cuidando de mamãe que está doente. Papai não queria deixá-la.

— Oh! — O rosto de Conn caiu. — Sinto muito, Amice.

— Não é tão sério, — disse Amice

— Minha mãe está bem? — Leona perguntou rapidamente.

— Sim, — Amice assentiu. — Me desculpe, eu deveria ter te contado de uma vez. Todos estão bem. Sua mãe não queria deixar minha mãe sozinha. E seu pai está ocupado com os homens, treinando os novos guardas.

Henry a observou, notando o quanto ela estava tensa. Ela sente falta da sua família. Ele fechou os olhos por um momento, sentindo uma repentina infelicidade. Se seus primos retornassem, como ela poderia voltar em segurança? Quase como ele pensava, sua infelicidade se transformou em alegria. Ele iria acompanhá-la.

— Bom, — Leona caiu para frente, aliviada. — Por favor, dê-lhe todo meu amor. Trouxemos presentes para ela... Eu os tenho no meu baú na alfândega.

Conn riu.

— Temos pouco tempo para mudar de alojamento, preciso ver esse homem por uma cabine. Mas nós gostaríamos que você nos acompanhasse de volta. Precisamos passar muitos presentes. Não que desejemos sobrecarregar você, querida prima.

Amice sacudiu a cabeça.

— Claro que não. Seria um prazer.

— E, — disse Leona, franzindo a testa, — Eu tenho que dar o seu presente agora, Amice. Qualquer que seja a razão e nós ainda queremos ouvir sobre isso, parece que você está sem roupas limpas.

Amice corou. Henry sentiu um momento de afronta.

Amice está linda nesse vestido de linho, ele queria dizer. Você a aborreceu.

Então, Amice riu, fazendo-o sorrir.

— Prima, você sempre teve olhos aguçados. Sim, eu estraguei minhas roupas. Na verdade, fomos vítimas de um acidente — disse ela, voltando-se para Henry.

Henry assentiu, pensando rápido. Parecia seguro o suficiente falar sobre o fogo. Poderia facilmente ter sido um acidente, embora suspeitasse que era para enviá-lo ao seu fim.

— A estalagem em que Lady Amice e eu estávamos hospedados pegou fogo, — explicou ele.

— Oh! — Leona cobriu a boca em horror. — Meus queridos! Que assustador.

Henry sentiu-se sorrir. Então, rapidamente, ele olhou ao redor da sala, mas os únicos outros ocupantes pareciam ser capitães, fazendeiros ou comerciantes, e nenhum deles estava ouvindo.

Amice sorriu para ela.

— Nós escapamos ilesos. Henry me salvou.

Henry corou.

— Não foi nada, garanto-lhe.

— Bobagem, Henry, — Amice disse carinhosamente.

Henry viu Conn e Leona observando-os. Leona estava sorrindo e Conn riu.

— Bem, bem feito, meu amigo, — disse ele, estendendo a mão para Henry. — Um homem que salvou minha querida prima é um homem a quem tenho uma dívida. Meus agradecimentos.

Amice corou e Henry balançou a cabeça.

— Eu teria dado a minha vida para salvá-la, — disse ele sinceramente. Quando as palavras saíram de seus lábios, ele percebeu que elas eram completamente verdadeiras. Ele olhou nos olhos de Amice e ela olhou de volta para ele. Ele sentiu a sala inteira se esvaindo, tudo deixando de fazer sentido, exceto a presença dela e o amor que brilhava em seus olhos castanhos.

Conn disse alguma coisa. Henry piscou. Ele tinha esquecido completamente de onde estava, na verdade, exceto de Amice e como ele se sentia quando a via.

— Desculpe, meu lorde? — Ele disse para Conn.

Conn sorriu.

— Por favor, me chame de Conn. O que eu disse foi que é uma pena que você veio e não visitou a capital enquanto estava aqui. Tenho certeza que há muito para ver lá. E será algo novo para vocês dois, eu acho.

Amice olhou para Henry. Ele festava tenso. Na verdade, ele estivera em Edimburgo e tinha quase certeza de que, se mostrasse seu rosto, alguém poderia reconhecê-lo e capturá-lo como espião. Amice pigarreou.

— Devemos voltar para casa, — disse ela melancolicamente. — Embora eu gostaria de ver o palácio. Eu acredito que é uma grande visão.

— É — Conn assentiu. Enquanto conversavam, o estalajadeiro levara canecas de cerveja, tortas e carne de carneiro, e havia trenchers com eles. Conn ergueu a cerveja e bebeu apreciativamente. — Mmm. É uma pena que você não tenha visto. Agora, acho que vou cortar essa torta.

— Por favor, faça, — disse Leona.

Todos eles riram.

Enquanto Conn os serviva com pedaços de torta, Henry falou.

— Talvez possamos remediar isso, — disse ele lentamente.

Amice franziu a testa.

— Você quer dizer...

— Quero dizer, que eu conheci a cidade. Se voltássemos, poderíamos passar um dia em Edimburgo. Se você assim escolher? — Henry perguntou.

Amice olhou para ele com grandes olhos redondos. Ele faria qualquer coisa por aquele rosto, ele decidiu. A fraca chance de ser agarrado tornou-se de alguma forma sem importância. Ele riu.

— Henry? — Ela olhou. — Nós poderíamos...?

— Claro que poderíamos, — ele disse sinceramente. — Agora. Eu posso sentir o cheiro de algo de dar água na boca. Então, se você me der licença, eu devo provar isso.

Todos riram e viram Henry experimentar a torta de carneiro. Ele fechou os olhos, mastigando alegremente enquanto o sabor do rico molho de erva em sua língua era saboreante. Ele suspirou.

— Absolutamente maravilhoso.

Todos riram e Conn bateu na mesa, o pesado anel de sinete de Annecy batendo na madeira onde ele o usava no dedo indicador da mão direita.

— Bem. É um bom sinal. — Ele sorriu para todos. — Um francês que gosta de comida escocesa.

Todos eles riram. Henry olhou em volta, preocupado por ter alertado as pessoas sobre sua estranheza. Conn era tão sutil quanto um urso de mau humor, mas nenhum dos outros fregueses estava prestando atenção. Ele relaxou.

Depois do almoço, eles foram com Conn e Leona de volta para a alfândega. Conn despediu-se e foi procurar o capitão do Sea Shanty. Leona abraçou a prima e passou uma caixa de madeira de presentes.

— Eu espero que eles não sejam um fardo, — disse ela, corando.

Henry levantou uma sobrancelha, mas Amice sacudiu a cabeça.

— Nós vamos encontrar um lugar para colocá-los. Todos ficarão tão satisfeitos com eles.

Vamos redistribuí-los em alguns alforjes, Henry decidiu rapidamente.

— E agora, — Leona disse suavemente, — isto é para você.

Henry se voltou para as escadas, sentindo que estava se intrometendo em algo pessoal. Mesmo assim, ele esteve a tempo suficiente de pegar o olhar de prazer no rosto de Amice enquanto sua prima lhe passava um pacote.

— Oh, prima! É lindo! Oh, eu não posso possivelmente...

— Tome isso, — disse a voz de Leona com firmeza quando Amice protestou, interrompendo-a. — Está certo. Veja como isso combina com você. E é tão lindo! Você será o brilho de todos os bailes.

Ao ouvi-lo, Henry decidiu que queria ver o vestido. Ela provavelmente ficaria linda. Ele também queria acompanhá-la em algum lugar na primeira chance que ele tivesse.

Amice desceu as escadas, corada, os olhos brilhando de lágrimas. Leona a seguiu.

— Oh, prima, — disse Amice, abraçando-a. Sua voz foi abafada com o ombro de Leona quando ela sussurrou: — Vá em segurança.

— Obrigada. — Leona também estava piscando rapidamente, seu belo rosto apertado com choro reprimido.

Henry desviou o olhar.

Ele foi até a entrada enquanto as mulheres se despediam, e então levantou os olhos quando Amice se aproximou.

— Devemos ir agora, Henry, — disse ela. Sua voz ainda estava vacilante e ele queria abraçá-la. Ele parou, mal respirando.

— Sim, minha lady. — Ele assentiu.

Ele olhou para cima quando Leona entrou no salão e se inclinou para ela.

— Foi uma honra conhecê-la, minha lady.

— Fiquei feliz em conhecê-lo também, — ela disse suavemente. — Cuide de minha prima, senhor.

Ele assentiu.

— Com todo meu coração.

Ele olhou nos olhos castanhos de Amice. Ele engoliu em seco. A doçura no rosto dela rasgou seu coração. Sim, ele cuidaria dela. Com todo seu coração. Sempre.

Mais tarde, eles foram para a cidade juntos. Amice estava chorando, lágrimas prateadas e finas marcando suas bochechas bonitas. Henry queria parar para consolá-la, mas eles tinham que seguir se quisessem chegar a Edimburgo antes do pôr do sol.

— Eu sinto falta deles já.

— Tenho certeza que sim, — Henry a confortou, aproximando-se. Ainda não tinham selas, embora tivessem conseguido comprar dois freios do estalajadeiro. Eles eram de trabalho inferior e Henry sabia que tinha pago muito, mas estava feliz por tê-los. Além disso, o homem não era um fabricante de arreios, foi uma luta para ele se separar de qualquer um.

— Eu gostaria que eles pudessem ter ficado.

— Eles podem voltar, — disse Henry gentilmente. — E da próxima vez talvez eles tragam os bebês e ficarão por muito mais tempo; sim?

Amice riu.

— Oh, Henry. Você é um conforto tão grande.

Henry brilhou por dentro.

— Obrigado, minha lady.

Eles compartilharam um sorriso.

Enquanto cavalgavam em direção a Edimburgo, eles se viram presos em um fluxo de tráfego. Burros, carregados de mercadorias, carretas enormes, puxadas por grandes cavalos de patas peludas, homens com carrinhos de mão cheios de nabos, repolhos, cebolas, beterrabas e castanhas.

— Os caprichos da vida da cidade, — Henry murmurou. Amice riu.

— Eu nunca vi tanto em um só lugar!

— Oh, minha cara senhora, — ele murmurou. — Espere até entrarmos.

Quando ele disse isso, percebeu que nunca havia ligado para ninguém antes. Ele corou. Ele a viu sorrir como se tivesse visto um arco-íris e seu coração se encheu de luz.

— Eu... — ela gaguejou. — Obrigada por dizer que poderíamos vir aqui, Henry.

Ele sorriu.

— O prazer é meu.

Ele quis dizer isso. Enquanto atravessavam os grandes portões da cidade, as filas de casas, ombro a ombro ao longo da estrada de paralelepípedos, se abriram diante deles e Amice ficou olhando.

Ela andava mais perto de Henry, parecendo nervosa. Sua perna bateu de seu lugar onde ele se escanchava no cavalo e ficou tenso, sentindo o contato estremecer seu corpo. Ele estendeu a mão e seus dedos tocaram o joelho dela. Ele fechou os olhos com o toque íntimo e rapidamente retirou a mão.

Amice olhou para ele, uma mistura de timidez e prazer em seu rosto que fez sua virilha endurecerem com a necessidade. Ele olhou rapidamente para longe e se concentrou nas ruas ao redor.

— Estamos indo em direção ao castelo agora, — disse Henry suavemente.

— Oh! — Amice se endireitou e olhou em volta.

Eles estavam passando por um caminho estreito de paralelepípedos, os altos muros de pau-a-pique e os prendendo nos dois lados. Henry inspirou, notando o cheiro da cidade, a fumaça da cozinha e um leve tom de decadência. Com tantas pessoas em um só lugar, o esgoto era um problema. Enquanto subiam em direção à catedral, o cheiro desapareceu abruptamente, substituído pelo cheiro de pedras molhadas e limpeza.

A Catedral. Henry tinha visto isso recentemente, mas ainda era de tirar o fôlego. Com as suas enormes torres, o edifício de pedra cinzenta parecia pairar sobre o céu. Ele engoliu em seco, sentindo-se pequeno diante disso. Ele olhou para Amice, que estava o olhando.

— É... — ela balançou a cabeça. — Henry, eu nunca vi nada assim.

Ele engoliu em seco, sentindo um brilho de orgulho. Era como se ele tivesse feito isso. Ele riu.

— Estou feliz que você goste.

— É lindo, — ela murmurou.

Henry estava sentado perto dela. Ele estendeu a mão para pegar a dela. Ela ficou tensa, mas não se afastou. Ele sorriu.

— Isto é. Muito lindo.

Ela corou.

Eles seguiram juntos pela rua cada vez mais larga. Aqui, o lugar tinha uma atmosfera despreocupada. Havia barracas e lojas instaladas, e as pessoas vendiam mercadorias sob o olhar atento da polícia do mercado. Havia mendigos e comerciantes, artistas, agricultores e traficantes. Trabalhadores de couro, ferreiros e pessoas vendendo flores, tortas e castanhas por toda parte.

Amice inspirou, e Henry adivinhou que o cheiro de castanhas assadas estava lhe deixando com água na boca tanto quanto a dele. Ele sorriu.

— Você gostaria de algumas?

Ela assentiu ansiosamente.

— Sim, por favor.

Ele escorregou da sela e passou uma moeda levemente dobrada para o vendedor, que a pegou ansiosamente. Ele entregou-lhes uma medida das castanhas assadas e quentes em um saco de pano. Henry agradeceu e passou a bolsa para Amice.

— Está muito quente, — ele avisou.

Amice pegou uma noz avidamente e colocou-a na boca, respirando com o calor dela. Henry riu.

— Elas estão quentes! — Ela riu. — E deliciosas.

Os dois desmontaram e levaram seus cavalos pelas ruas apinhadas, seguindo em direção ao castelo.

Um edifício sombrio, estava no topo da colina. Henry mal podia vê-lo, enfiando-se acima das telhas vermelhas e da palha das casas. Ele estremeceu.

Um lugar que eu não quero estar é naquele lugar sombrio de novo.

A casa da rainha Yolande, a monarca atual, não deixava de ser uma fortaleza de mau presságio e não era o tipo de lugar que se queria ter, era um inimigo ou mesmo suspeito como um.

Uma fuga é boa o suficiente para mim.

Henry estremeceu novamente e olhou para Amice. Ela estava ocupada comendo castanhas, rindo das palhaçadas de um artista de rua. Ele sentiu seu coração brilhar. Ele não iria se colocar em perigo desnecessário agora que tinha muito para viver.

O pensamento o surpreendeu. Ele limpou a garganta.

— Se você olhar para cima, poderá ver o castelo. Você gostaria de ir à catedral, talvez?

Amice franziu a testa, pensando nisso.

— Talvez depois, — ela decidiu. — Primeiro, quero ver mais do mercado!

Henry riu.

— Bem! Estou feliz em escoltá-la. E com alguma sorte, encontraremos alguém vendendo selas.

— Boa ideia, Henry.

Ele sorriu.

Eles passaram pelas fileiras estreitas entre as barracas. Henry notou que Amice respirou fundo.

— O que é?

— Essas sedas. Eu tenho que dar uma olhada mais de perto!

Henry sorriu enquanto seguia o olhar dela. Havia uma banca de comerciante, uma mancha de cor na colcha de retalhos cinza e marrom ao redor deles. Ele assentiu.

— Esses são bons.

— Oh, sim! — Amice assentiu. — Eu só posso imaginar o que tia Chrissie diria se visse aquele azul! — ela estudou os tecidos por um tempo, depois se virou para ele. — Posso por favor olhar? Vai ser apenas um momento.

— Claro. — Henry assentiu.

Ele seguiu Amice até a tribuna e, ao fazê-lo, ouviu alguém suspirar ao lado dele. Ele se virou. Encontrou-se olhando para um rosto familiar.

Isso poderia ser uma coisa muito ruim, Henry refletiu. No entanto, quando se virou, não era.

— Meu lorde Henry! — O homem disse. Ele estava rindo. — Senhor! Que lindo te ver!

Henry procurou em seu cérebro e ficou grato quando o nome retornou para ele.

— Lorde Adair! Que maravilha te ver.

O homem jovem, talvez um ou dois anos mais novo que ele, tinha olhos dourados e cabelos ruivos. Ele apertou vigorosamente a mão de Henry e depois encarou Amice.

Henry sentiu um sorriso levantar o canto de seu lábio enquanto o homem se curvava extravagantemente.

Ele também pode ver. Claro que ele pode. Ela é tão bonita e tenho orgulho de ter sua companhia.

Mesmo assim, quando Lorde Adair, filho do duque de Cullver, se apresentou, sentiu uma pontada de inveja.

— Minha dama. Eu estou honrado. Por favor, lorde Henry, me faça a honra de uma apresentação à dama?

Henry pigarreou, sentindo-se impaciente.

— Lady Amice, conheça Lorde Adair, filho do duque de Cullver. Adair, esta é Lady Amice de... — ele parou, sentindo-se tolo.

— De Dunkeld, — ela preencheu imediatamente.

— Sim, — Henry assentiu. — De lá.

Adair riu.

— Eu entendo que nosso escocês é um desafio para mentes acostumadas com o francês, — ele disse suavemente. Ele mesmo falava francês fluentemente, assim como muitos nobres escoceses. A rainha em si era francesa, afinal de contas, e era a linguagem da nobreza. O próprio Henry falava francês por causa disso, embora, enquanto navegava, ele estivesse um pouco enferrujado.

— Muito bem, — ele murmurou.

Amice riu.

— É de fato, meu lorde. Embora você seja um orador habilidoso.

Henry sentiu-se carrancudo. Amice estava apenas sendo educada, ele disse a si mesmo com firmeza. Ele não ia ficar com ciúmes. Ele não era ciumento.

— É uma coincidência notável que nos encontremos aqui, — Adair continuou. — Especialmente por que estamos dando um baile na residência do meu pai. Eu ficaria honrado se vocês dois pudessem se juntar a nós.

Ele estava olhando primeiro para Amice, embora tenha se inclinado para incluir Henry no comunicado. Henry deu um pequeno sorriso. O homem foi ferido.

Amice ficou vermelha e Henry decidiu imediatamente.

— Nós ficaríamos honrados em participar, — disse ele suavemente. Ele queria tal oportunidade, percebeu de repente. E aqui estava!

Amice deu-lhe um sorriso deslumbrante. Ele sentiu seu coração brilhar. Valia a pena. Qualquer perigo para si mesmo... qualquer coisa. Ele faria qualquer coisa por aquele sorriso.

— Oh, Henry! — Ela disse, usando novamente a forma francesa de seu nome. — É tão emocionante.

Ele sorriu.

— Eu espero que sim, minha querida.

Adair olhou para os dois e sorriu.

— Bem então! Acho que vamos nos divertir muito.

— Sim, — Henry assentiu. — Eu também acho.

Os dois conversaram com Adair por um tempo, mas quando o outro nobre veio buscá-lo, dizendo algo sobre assistir a um torneio, ele recusou educadamente.

Henry olhou para Amice, que sorriu.

— Bem, querida, — disse ele. — Terei a honra de acompanhá-la a um baile depois de tudo.


CAPÍTULO ONZE

O BAILE E A BELEZA


Amice estava nos aposentos que lorde Adair lhes dera na mansão de seu pai. Ela olhou para a sala com painéis de carvalho, maravilhada com a mudança repentina em sua sorte. Como era possível que apenas uma noite atrás eles estivessem na floresta, com frio e fome? Agora eles estavam em uma mansão. Preparando-se para um baile.

Parece que a vida é cheia de surpresas.

Enquanto pensava, parecia que uma lembrança passava por sua mente. Tentativa e reluzente, como a luz na água, acendeu, brevemente, e depois se retirou. Algo sobre surpresas. Ela balançou a cabeça. Uma batida soou na porta naquele momento, e ela foi abri-la.

— Oh! Milady! — disse uma criada, com a voz estridente de surpresa. — Desculpe incomodar. Só que o mestre disse que eu deveria vir ajudá-la a se vestir.

— Ah. — Amice sorriu. Isso era gentil. Já fazia mais de uma semana desde que ela tinha alguém para ajudá-la a se vestir. E se ela usasse o vestido que esperava, seria muito útil. — Isso seria bom.

A serva corou.

— Oh, não é nada.

Meia hora depois, Amice olhou para seu reflexo. Ela estava usando o vestido que Leona lhe dera; uma cor amarela como ouro, feita de veludo e apertada na cintura com um kirtle de seda creme.Com os cabelos escovados e lustrosos, ela brilhava de castanho e dourado. Ela olhou fixamente.

Essa sou eu realmente?

Ela girou no espelho, sentindo o pesado balanço de veludo varrendo suas pernas. Era maravilhoso. Ela não conseguia tirar o sorriso do rosto. Ela se sentiu animada.

Houve um som de passos no corredor e Amice se virou para a porta, os cabelos longos se balançando ao redor dela. Ela olhou fixamente.

Henry estava no corredor, do lado de fora da porta aberta. Ele estava olhando para ela com tal expressão em seu rosto que ela sentiu a cor inundar suas bochechas.

— Henry! — Ela sorriu, satisfeita em vê-lo.

Ele balançou sua cabeça.

— Minha lady. — Ele sorriu. — Estou sem palavras.

Amice sorriu calorosamente.

— Oh, Henry. — Ela sentiu o calor encher seu peito. Ela não poderia ter sido mais feliz. Ela olhou para ele, sentindo-se orgulhosa também. Ele estava vestido com uma túnica nova em um azul tão escuro que era quase preto. Trouxe uma luz safira azul a seus olhos. Com calça e um manto de lã branca, ele parecia um príncipe de um conto.

Eles desceram a escada juntos. Amice engoliu em seco enquanto desciam para o salão. Ela podia ver uma multidão de pessoas reunidas ali, a luz das tochas e a luz do fogo na lareira brilhando em vestidos de veludo, finas túnicas de lã e o brilho de cabelo de estilo elegante. De repente, sentiu-se nervosa e procurou inconscientemente Henry. Seus dedos se fecharam em torno dos dela e seu coração parou de bater.

— Eles são inofensivos, realmente, — ele sussurrou.

Amice sorriu.

— Obrigada, Henry. — Ela apertou a mão dele e devolveu o aperto.

Quando chegaram ao salão, o súbito calor da multidão os envolveu, murmuraram conversa enchendo seus ouvidos, foram abordados por Lorde Adair. Ele sorriu calorosamente.

— Minha dama! Lorde Henry! Bem-vinda! Por favor, deixe-me apresentá-los ao meu pai, o duque.

Amice engoliu nervosamente enquanto ela e Henry subiam pelo salão atrás do anfitrião, conscientes do fato de que todos os olhos estavam sobre eles. Ela ouviu uma senhora sussurrar algo por trás de sua mão e ouviu um cavalheiro murmurar em resposta. Ela ficou tensa. Henry, ao lado dela, parecia completamente à vontade. Só ela, que o conhecia bem agora, detectou um salto em sua têmpora que mostrava que ele estava preocupado.

— Meu lorde pai, — disse Adair em uma voz cortês. — Permita-me apresentar Henry, senhor de Courin. Ele está nos visitando da França. E esta é Lady Amice, filha do thane de Dunkeld.

Amice corou e fez uma reverência para o homem alto de cabelos grisalhos que se virou para encará-los. Ele tinha um rosto longo e solene e ombros maciços. Ele evidentemente tinha sido um guerreiro temível em sua juventude. Ela se sentiu nervosa quando aqueles olhos tristes procuraram seu rosto.

— Prazer em conhecê-la, minha lady, — disse ele, curvando-se. Ele olhou para Henry e ela viu uma expressão estranha que obscureceu aqueles olhos azuis. Ela se sentiu retesar-se. Henry não fez mais que piscar. — Bem-vindo à Escócia, lorde Henry.

Henry curvou-se.

— Estou honrado por estar aqui, meu lorde. E ainda mais para conhecê-lo.

— Mmmm, — disse o duque suavemente. — Nós não vemos muitos enviados nesta casa.

Amice fechou os olhos, sentindo o coração bater.

Ele suspeita de algo. Eu não sei como sei, mas eu sei. Ele viu Henry em algum lugar antes.

— Eu não sou um enviado, senhor, — disse Henry suavemente. — Sou apenas um andarilho, encantado com tudo o que ouço da Escócia. Eu tinha que visitá-la.

— Oh. — O duque levantou uma sobrancelha. — Você tem terras que se governam então? Sortudo! Estou amarrado por todas as minhas obrigações ao meu ducado.

Henry não piscou.

— Bem, eu sou meramente uma soma, meu lorde. Você é um nobre duque. Tenho certeza de que minhas responsabilidades são insignificantes em comparação.

— Talvez.

Amice pigarreou.

— Foi tão gentil da sua parte nos convidar, — disse ela, favorecendo-o com um grande sorriso. — Ficamos muito satisfeitos em poder participar de um baile tão lindo como este.

Seu rosto se suavizou.

— Estou feliz que tenha aceitado. Muitas vezes não temos um rosto tão bonito para enfeitar nossos salões. O que você me diz, filho?

Adair tossiu. Ele estava olhando para Amice e ela sentiu a cor quente inundar suas bochechas.

— Humm, sim, pai.

Seu pai riu.

— Sim. Agora, acho que é hora de dançar, né? Estamos todos aqui e devemos dançar antes de jantarmos.

Adair assentiu. Seu pai chamou um servo, que deve ter dado algum comando, porque em alguns momentos o som de um flautista e um tambor de mão se juntaram a ele.

A música pulsou e vibrou e agitou a alma de Amice. Ela olhou para Henry.

— Vamos dançar? — Ele disse.

Ela assentiu.

Logo, eles estavam com os outros convidados, na pista de dança.

Amice sentiu que deveria se beliscar ao encarar Henry. Ele era tão bonito e ela se sentia tão adorável. Ali estavam eles, em um salão da cidade, com música ritmada, empurrando-os para uma dança, os passos doces de uma sarabanda.5 Ela pensou que seu coração iria quebrar pela beleza disso.

Henry era um bom dançarino. Ele conhecia os passos e executava-os com uma facilidade descuidada, como se ele andasse assim, não dançado. Ele estendeu a mão e ela colocou a palma da mão sobre ela nos movimentos da dança. Sua mão estava quente e sua pele suave e ela sentiu o contato estremecê-la como se uma faísca saltasse entre suas mãos.

Ele a olhou nos olhos e ela olhou para ele. O salão, com todas as suas finas e graciosas dançarinas, desapareceu diante dela. Havia apenas Henry, a dança e o espaço onde suas mãos se tocavam.

Antes que ela percebesse, a dança estava terminando e eles estavam se curvando, juntando-se aos outros convidados enquanto se afastavam.

Henry pegou-lhe o braço e ela ligou o dela ao dele, tão naturalmente quanto se fizessem isso todos os dias. Eles andaram sem intenção aparente, até a beira da pista de dança.

— Minha lady, — ele sussurrou.

Ela olhou nos olhos dele.

— Meu lorde.

Sua boca desceu suavemente sobre a dela. Seus lábios se separaram sob sua língua e ela ofegou quando se deslizou em sua boca, sondando e saboreando-a. Ele segurou-a perto, sua mão acariciando seus cabelos. Seu corpo estava pulsando e inundando com o calor, e ela não sabia o que queria, exceto que, de alguma forma, ela precisava pressionar seu corpo contra o dele, para sentir aquela firme forma dura contra ela.

Ele recuou e ela ofegou quando seus lábios se separaram. Ela piscou, percebendo que seus olhos estavam fechados, todo o seu corpo procurando cegamente se fundir com o dele. Ela suspirou.

— Oh... Lorde Henry, eu... — ela ficou repentinamente nervosa. O que ela estava fazendo? O que ela estava pensando?

Ele sorriu. Muito ternamente, ele moveu a mão do ombro dela.

— Eu lamento, minha lady, que eu devo parar de beijar você. Se não, receio que eu... — ele balançou a cabeça. — Tenho medo de fazer algo lamentável. Para nós dois.

Amice franziu a testa. Ela meio que entendeu o que ele quis dizer, e corou. Ela tinha ouvido falar do que homens e mulheres faziam entre si, tinha visto suas criadas, coradas e rindo, discutindo isso com grandes sorrisos e altos sussurros. Ela percebeu com alguma surpresa que seu próprio corpo estava procurando por isso. Aquela coisa da qual ela ouvira naquelas trocas sussurradas. Ela ficou surpresa. Como sabia, o corpo dela, quando ela não sabia? Era muito confuso.

Henry sorriu, seus olhos azuis arrependidos.

— Minha lady, você é tão linda. Eu poderia continuar beijando-a a noite toda.

Amice corou.

— Oh meu Deus. Meu querido Henry.

Ele a beijou muito gentilmente e depois se retirou.

Amice sentiu todo o seu corpo formigar ao toque em seus lábios. Ele permaneceu lá, um fogo lento, muito tempo depois que ele se moveu e ficou ao lado dela novamente.

Ela olhou para o outro lado do salão e pegou dois olhos nela. Lorde Adair. Ele tinha uma expressão sombria. Amice estremeceu e aproximou-se de Henry.

Esse é um problema. Ambos.

O grande e imponente duque e seu lindo filho poderiam pô-los em perigo. O pai suspeitou de algo, ela sabia disso. Uma palavra errada e ambos poderiam estar mortos.

Ela acenou para ele. Ele assentiu rigidamente de volta. Amice sentiu Henry se mexer. Ele se colocou bem ao lado dela, próximo e protetor. Sua mão roçou a dela, levemente.

— Eu acho que é outra dança, sim? — Ele inclinou a cabeça em direção à pista de dança, onde as pessoas estavam de pé, alinhadas uma em frente à outra no que parecia ser o início de um roundelay.

— Sim, — Amice disse calmamente.

— Bem. Devemos?

Amice assentiu e juntos eles se deslizaram pelo chão.

Amice viu os olhos de Adair sobre eles de novo, mas depois se virou para uma dama ao lado dele em um vestido de granada escura com cabelos de uma massa de cachos. Ele se curvou para ela e eles caminharam suavemente para se juntar a eles.

Com Adair envolvido com a dama, Amice sentiu-se menos tensa. Ela sorriu para Henry e ele olhou nos olhos dela. Então eles se perderam novamente naquele olhar fixo.

Amice ouviu uma tosse e olhou para um jovem senhor de cabelos lisos que parecia vagamente irritado. Ela percebeu com algum horror que ela estava parada no meio da pista de dança enquanto os outros casais se moviam ao redor deles.

— Me desculpe, — ela desabafou. Ele deu-lhe um pequeno sorriso.

— Claro, milady.

Amice e Henry retomaram a dança, ambos um pouco atordoados.

Mais tarde, o casal foi até os longos bancos e cavaletes, onde o jantar estava sendo realizado. Amice olhou espantada para tortas e assados, terrinas de nabos, repolho, feijão, beterraba e todo tipo de coisa que saía da cozinha. Ela nunca tinha visto tanta comida em um só lugar, nem tão elaboradamente preparada.

Estavam sentados à mesa alta, um pouco abaixo do duque e do filho, onde estavam sentados ao lado da terrina de sal. A mulher de cabelo com cachos estava lá, perto de Lorde Adair, o que aliviava um pouco sua ansiedade. Ele não os observaria muito. Como estava, ela estava certa. Ele estava olhando para a outra mulher, conversando seriamente juntos.

Mesmo assim, ela sentiu um arrepio quando o duque virou os olhos tristes para eles.

Ele provavelmente não está olhando para nós.

Mesmo assim, ela estremeceu.

— Minha lady. — Henry ergueu o copo para ela. Ela sorriu e levantou a dela. Eram canecos feitos de estanho sólido e deviam valer uma quantia substancial por conta própria. Todo o lugar falava de luxo contido, desde os bancos de carvalho até a lareira e os tetos altos, abobadados, bonitos e perdidos no escuro acima de suas cabeças.

— Meu lorde.

Eles beberam e comeram, conversaram e riram, e aproveitaram a noite. Amice sentiu-se relaxando, permitindo que o efeito de boa comida e boa companhia a relaxasse. Ela e Henry sorriram um para o outro e conversaram.

— Então você não tem irmãos, você disse? — Ela perguntou.

— Isso mesmo, — Henry assentiu. — Uma irmã, embora eu não a veja há anos. Jeanne. Ela se casou quando eu era um rapaz e não nos vemos regularmente. — Ele deu um sorriso irônico e pegou a terrina de repolho no centro da mesa.

— Isso é triste, — disse Amice.

— De fato. — Ele encolheu os ombros. — Mas não se pode evitar.

Amice tomou um gole da bebida e sorriu.

— Eu também sou a mais nova.

— Você é? — Ele sorriu. — Eu nunca teria imaginado.

Ela fez uma careta. Ele rugiu.

— Oh, Henry. — Amice sentiu seu coração se encher de amor por ele.

— O quê? — Ele perguntou, olhos azuis macios.

— Eu... — ela balançou a cabeça. — Estou tão feliz por nos conhecermos.

— Eu também.

Depois do jantar, a festa começou a cair. Alguns dos convidados se despediram do duque e foram a seus quartos de hóspedes. Alguns saíram pela grande porta da frente, saindo pela noite. Henry olhou para Amice quando os convidados ao lado deles partiram.

— Devemos ir?

— Sim, meu lorde, — ela assentiu. — Estou com sono. — Tinha sido um longo dia.

— Mmm. — Ele assentiu, sufocando um bocejo. — Vamos nos retirar.

Eles foram juntos para agradecer ao duque, que parecia muito cansado. Ele mal olhou para eles e Amice sentiu o nó que tinha amarrado dentro dela relaxar quando percebeu que ele não iria estudá-los muito de perto.

— Obrigada, meu lorde, por sua hospitalidade, — disse ela.

— Oh, sim, — disse ele, desdenhoso. — Claro, minha lady. Tenha um bom descanso.

— Obrigada, meu lorde. Você também.

Ela fez uma reverência, Henry fez uma reverência e então se voltaram para Lorde Adair.

— Boa noite, meu lorde, — Henry disse primeiro.

— Boa noite, lorde Henry.

Sua voz era firme e educada. Amice estremeceu. Ela fez uma reverência e ele lhe deu boa noite também da mesma maneira formal e distante. Ela soltou um suspiro de alívio quando ela e Henry saíram.

Subiram as escadas devagar juntos, indo para o lugar onde estavam alojados. No topo das escadas eles pararam.

A mão de Henry estava em seu pulso. Ela olhou nos olhos dele. Ela se sentiu tonta com cansaço e outra coisa, alguma faísca estranha que estava queimando dentro dela. Ele se aproximou e suas mãos descansaram em seus ombros. Ele olhou nos olhos dela.

Sua boca desceu sobre a dela suavemente, permanecendo ali. Sua língua, suave e rápida, tocou seus lábios e ela suspirou quando aquela estranha faísca estremeceu dentro dela. Ela deixou os lábios se separarem e sua língua penetrante deslizou entre eles.

Então seus braços a envolveram e ela sentiu seu corpo duro se pressionar contra ela. Ela se moveu contra ele, amando a sensação de seus braços fortes em seu corpo, o modo como as mãos dele acariciavam seus cabelos, a boca quente sondando a dela. Ela podia sentir o calor subindo nela e a necessidade ardia através de seu corpo, fazendo-a tremer de intensidade.

Ele ofegou e se afastou.

— Eu... — ele gaguejou. — Nós não deveríamos.

Eles se separaram na porta do quarto dela. Ele se inclinou para frente e a beijou novamente, um beijo ardente e apaixonado que a fez se sentir sem fôlego. Ela tropeçou pela porta e eles caíram na cama juntos.

Ele estava em cima dela e o doce peso de seu corpo a fez gritar de desejo. Ela podia sentir sua respiração se acelerando e sabia que ele se sentia como ela. Suas mãos acariciavam-na, primeiro o cabelo dela e depois descendo. Eles acariciaram a pele nua de sua garganta, traçando fogo através de seu corpo. Seus lábios se moveram para baixo, sugando suavemente a pele clara do queixo, o pescoço, o ombro. Ela estava estremecendo de desejo.

— Minha lady. — Ele se sentou, olhos enormes. — Eu... Nós não devíamos! — Ele soou firme e urgente. Ela sorriu para ele, seu próprio corpo uma cacofonia de necessidade.

— Eu sei, — ela sussurrou. — Mas eu quero...

— Oh, minha lady, — ele riu distraído. — Você não tem ideia do quanto eu quero, minha lady. No entanto, não podemos. Eu sou um cavalheiro. Você é uma dama. Nós não devemos.

— Sim, meu lorde.

Ela sentou-se, sentindo-se estranhamente desolada quando ele saiu da câmara.

Mesmo assim, quando ela se despiu e se deitou na cama quente e macia, os travesseiros macios sob a cabeça, não pôde evitar um sorriso delicioso enquanto se lembrava do modo como se sentira quando estavam deitados assim, com ele abraçando-a.


CAPÍTULO DOZE

UMA AMEAÇA SECRETA


Na manhã seguinte, Henry acordou com o som das rodas retumbando em um pátio. Era um som familiar; os produtos domésticos chegando ao castelo. Ele abriu os olhos na luz difusa de seu quarto e se espreguiçou, saboreando a sensação do colchão macio abaixo dele.

É raro eu passar uma noite tão confortável.

Isso era. Não era apenas o calor, o colchão confortável ou a deliciosa refeição. Era ela. Lady Amice.

Ele fechou os olhos, recordando todos os detalhes da noite anterior. Seu membro se endureceu quando ele se lembrou de como se sentira quando a língua dele empurrava entre aqueles lábios úmidos, ou como os seios rechonchudos dela se empurraram contra o tórax dele enquanto se deitava em cima dela, macio e redondo e convidando a mão e a boca.

Ele estremeceu, querendo-a.

— Droga, — disse ele para si mesmo, e riu. Seu membro estava tenso com a necessidade e, quanto mais detalhes ele lembrava, mais desesperador era. Ele sentou-se.

— Hora de descer.

Ele sempre acordou cedo. Era um hábito que havia aprendido na casa de seu pai, onde os nobres tendiam a não aparecerem antes das nove horas do dia, o que era para eles o mais cedo possível. Ele mesmo estava sempre alerta no momento em que ouvia as carroças rondando no pátio e queria ficar em pé.

Eu gosto do silêncio, antes que os outros se mexam.

Ele tirou a camisola, o frio fazendo seu corpo tenso. Ele pegou sua túnica, encolhendo os ombros musculosos para deixá-la assentar bem. Depois sentou-se para calçar as calças e lavou o rosto no jarro de água da mesa de cabeceira. Ele estremeceu.

— Está tão frio.

Ele riu. Era janeiro, e o inverno ainda mantinha a terra fria, embora tivesse que concordar com o aviso da autoridade alfandegária de que a primavera se aproximava agora.

Ele secou o rosto em um pedaço de linho e desceu as escadas.

No grande salão, os homens de armas estavam sentados no café da manhã. Ele acenou para eles. Ele imaginou que provavelmente não seria capaz de falar muito com eles e, além disso, havia firmado algumas expressões assustadoras. Ele não ficou surpreso por não ser um nobre estrangeiro que aparecia no salão para desfrutar do café da manhã. Os convidados do castelo provavelmente se encontrariam no solar, onde era mais silencioso.

Não há muita chance de obter qualquer informação.

Ele suspirou. Ele saiu pela porta lateral para o pátio, dando um rápido passeio. Os homens já estavam no campo de prática, e ele podia ouvir os grunhidos enquanto se revezavam frente a frente com suas espadas.

No andar de cima novamente, ele parou no salão que ele imaginou levar ao solar, logo acima da colunata superior. Ele deveria entrar? Não era provável que alguém estivesse por perto. Ele entrou.

A sala estava fresca e cinza, a luz se filtrando através da fileira de longas janelas arqueadas que davam para o quintal. Seus olhos se ajustaram à luz mais fraca e ele parou quando eles se concentraram em cabelos ruivos.

— Minha dama?

Ela se virou, aqueles olhos castanhos arregalados, lábios macios separados em um pequeno “o” formato que inflamava seu sangue.

— Lorde Henry! — Ela sorriu para ele. — Você se levanta cedo também?

Ele assentiu.

— Sim.

Ela riu, um tinido como sinos tocando.

— Bem então. Você deve se juntar a mim. Uma criada muito preocupada foi buscar mingau para mim.

Henry riu.

— Tenho certeza de que ela nunca viu os convidados cedo.

Amice assentiu.

— Sim

Eles se sentaram em silêncio sociável, ambos apreciando a quietude da manhã. A criada voltou, armada com um vasto caldeirão que cheirava delicioso. Provava conter mingau de aveia delicioso e quente. Henry pegou a concha e sorriu quando Amice ergueu a tigela de cerâmica, passando-a para ele.

— Você primeiro?

— Sim.

Eles riram e ele encheu o prato, que ela pegou com os olhos arregalados.

— Mmm. — Ela riu. — Este é um bom café da manhã.

— Sim. — Henry fez uma careta. — Eu sinto muito sobre essa bagunça de ontem, desculpe.

— Bem, nós mais do que compensamos isso depois.

— De fato.

Ela sorriu e pegou o saleiro de prata, espalhando um generoso punhado no mingau, que era servido com manteiga e bem salgado. Henry franziu a testa.

— Devo confessar que isso é novo para mim.

Amice riu.

— Mingau escocês. Aproveite.

Henry levou um gole aos lábios, estremecendo com o quente que era.

Ela riu.

— Sopre um pouco.

— Isso não é rude? — Ele levantou uma sobrancelha.

— Provavelmente é, na companhia de outros, mas eu estou aqui e eu te disse para fazê-lo.

Ele rugiu de rir. Ele obedeceu ao comando dela e soprou, depois comeu. Estava uma delícia.

Enquanto eles comiam, eles conversavam.

— Acho que vou querer falar com Adair hoje, — disse Henry. Ele fez uma careta. — Bem, isso é muito forte. Eu tenho que falar com Adair hoje. Estou tentando achar com isso... informação — ele suspirou. — Eu diria mais, mas não quero colocá-la em perigo. Com essas coisas, quanto menos se sabe, melhor.

— Eu entendo, meu lorde.

Henry sorriu.

— Obrigado.

— Bem, — Amice franziu a testa. — Eu não gosto muito de ficar neste castelo, acho que me assusta um pouco. Sua graça também. Acho que vou dar um passeio pelos jardins.

— Tome cuidado, — disse Henry, sentindo-se preocupado. Se ele era suspeito, ela também. Ele não gostava da ideia dela sozinha aqui.

Amice sorriu com carinho.

— Eu não vou deixar as terras da mansão. E eu posso levar Greer, minha serva.

— Bem, então. — Henry assentiu. — Nós temos nossos planos para a manhã.

Ela riu.

— De fato.

Eles se sentaram em silêncio por um tempo, contentes em compartilhar o silêncio. Depois de alguns momentos, eles ouviram passos no salão. Henry olhou para cima quando o duque entrou. Ele se levantou e se curvou.

— Meu lorde. Desculpas pelo nosso rápido levantar-se.

Ele riu.

— De maneira alguma, jovem rapaz. Incomum, mas não ilegal. — Seus olhos se estreitaram quando ele disse isso e Henry sentiu aquela tensão familiar enchê-lo.

Ele suspeita de algo.

Ele riu, tentando parecer como se não tivesse percebido.

— Não. Eu suponho que seria difícil bani-lo.

Sua senhoria favoreceu-o com um sorriso.

— Bem. Com tudo o que precisa ser feito antes de subirmos, inclusive o café da manhã, não seria muito bom para nós.

Henry assentiu.

— De fato.

Adair entrou atrás de seu pai, parecendo brilhantemente alerta em uma túnica verde. Henry acenou para ele, distante, mas não indelicado. Adair assentiu de volta. Ele viu Amice e sorriu.

— Ah! Lady Amice! Que lindo ver você acordada.

Amice olhou para o prato brevemente, as bochechas coradas. Então ela olhou para cima.

— Obrigada, meu lorde.

Henry franziu a testa.

— Este assento está ocupado? — Perguntou Adair. Ele se abaixou no assento ao lado de Amice com um sorriso envolvente. Ela não disse nada, mas Henry notou que a veia na testa dela se contraiu.

Ela está nervosa ou alerta. Eu me pergunto por quê?

— Você poderia me passar o sal, minha lady?

— Oh! — Ela sorriu. — Sim.

Eles começaram a conversar, e Henry notou que eles logo entraram em sua língua nativa, ambos evidentemente mais confortáveis nela. Ele tentou não se sentir magoado. Ele olhou para a mesa e procurou não sentir nada. Por fim, quando seu senhorio tomou o mingau e se acomodou para comer, a conversa acabou.

Ela olhou para Henry.

— Você mencionou algo sobre selas? — Ela perguntou.

— Eu vi alguns no mercado, — Henry disse de forma neutra.

— Oh. — Ela sorriu. — Bem, eu me recordo que Lorde Adair disse que eles têm muitas aqui. Poderíamos perguntar a ele se existe alguma coisa que se adapte às nossas necessidades.

— Nós poderíamos, — disse Henry suavemente. Em seu coração, ele acrescentou, eu prefiro pedir ao próprio Diabo que me empreste um centavo do que pedir a esse sujeito alguma coisa. No entanto, ele manteve o rosto sem graça.

— Talvez, depois, — Amice disse levemente. Ela olhou para Adair, que disse alguma coisa.

Adair assentiu.

Ela riu.

Henry se sentiu estranhamente ofendido. Ele pegou o jarro no centro da mesa, que provou conter leite fresco. Ele franziu a testa para ela enquanto servia no copo.

— Isso me lembra... Devemos partir hoje?

— Nós poderíamos, — Amice concordou. Ela franziu a testa também. — Embora, onde vamos ficar?

— Eu pensei que nós poderíamos voltar para a pousada em Queensferry, — disse Henry suavemente. — Então viajaremos pela costa?

Amice assentiu. Ela parecia triste de repente. Ele franziu a testa. Ele a tinha chateado?

— Claro, poderíamos pedir...

— Não, — ela disse rapidamente. — Não. Se você quiser ir embora, devemos ir. — De repente, ela ficou tensa, com os movimentos tensos enquanto colocava o jarro firmemente sobre a mesa e mexia na tigela.

Henry franziu a testa. O que ele fez?

— Minha lady, podemos ficar esta noite.

— Não, — ela disse levemente. — Por que deveríamos? Quanto mais cedo nos movermos, melhor. Não é isso?

Henry estava perdido. Por que ela queria ficar neste solar? Então algo bateu nele. Era Adair, não era? Ele quase podia ter rido. Ele sentiu um sorriso amargo revirar seus lábios.

Claro que ela prefere ele. Ele estava certamente olhando para ela, e por que ela não deveria olhá-lo de volta? E eles são escoceses. Eu sou um estranho. O que eu estou pensando?

Ele olhou para Adair, que estava olhando para ele suavemente.

— Há algum problema? — Ele perguntou imediatamente.

— Não, — Henry ofegou. — Nada mesmo. Apenas fazendo planos.

— Bem, nossa hospitalidade está aqui o tempo que você quiser, — ele disse grandiosamente.

— Você é muito gentil, — Amice murmurou.

Henry sentiu como se ela o tivesse esfaqueado.

— Bem, então, — Henry disse rapidamente. — Nesse caso, nos ajudaria muito se pudéssemos passar mais uma noite também. Não é verdade, sim? — Ele olhou para Amice, que franziu a testa.

— Bem, sim, poderia, — ela disse francamente. — Gostaríamos de dar uma pausa de viagem, obrigada, senhor.

Adair corou vermelho-escuro. Ele tossiu.

— É uma honra.

Henry olhou para o teto, não tenho certeza se ele queria rir ou chorar. Ele deveria estar esperando que isso acontecesse, ele disse a si mesmo. Por que era uma surpresa para ele? No momento em que conhecia uma garota de quem gostava, descobria que estava prometida ou apaixonada. Isso tinha acontecido com ele antes. Lady Gertrude, lady Isabel. Por que era uma surpresa agora?

— Eu estou indo para uma caminhada, — disse ele, enquanto empurrava as coisas do café da manhã. Ele tinha que sair daqui antes que seu sangue fervesse. Ele viu Amice olhar para ele com uma expressão magoada e rangeu os dentes.

— Meu lorde Adair? Me agradaria se em algum momento pudesse me contar sobre o uso daqueles escudos redondos que vi no pátio de treinamento. Eles parecem intrigantes.

Ai estava. Ele tinha um pretexto para falar com a criatura repugnante. Isso pelo menos significaria que ele poderia continuar com seu trabalho.

Encontre o espião. Descubra por que ele está aqui e para quem trabalha e quem está o pagando. Então parta.

— Claro, meu lorde. Poderíamos organizar uma demonstração... — Adair começou devagar.

Henry ficou tenso.

— Nenhuma demonstração é necessária, — disse ele rapidamente. — Tenho certeza que você pode me falar sobre isso admiravelmente bem.

Adair encolheu os ombros, dando a Henry o mesmo olhar ferido que ele parecia estar provocando a manhã toda. Primeiro ela, agora ele. Ele balançou sua cabeça.

— Desculpe. Meus lordes, lady Amice.

Ele saiu para o salão, sentindo como se alguém tivesse entrado em seu coração com um machado de mão e cortado em pedaços.

No pátio, ele andou pelas lajes, indo para o portão. Ele se sentia impulsivo e inquieto. Agora eles estavam presos aqui e ele seria forçado a assistir Amice sorrindo para aquele homem atrevido, arrogante e bonito, por um dia inteiro. Ele balançou a cabeça, odiando a si mesmo.

Por que eu sou tão idiota?

Ele encontrou seus pés levando-o para os estábulos e não resistiu à ideia. Seu humor estava escuro e ele não se importava, neste momento, se o duque batesse nele com correntes.

— Meu lorde! — Um cavalariço disse brilhantemente. — Acabei de receber notícias do castelo. Você deve pegar as duas selas da sala de arreios. Elas são suas.

Oh, por... Henry cerrou os punhos. Agora o homem também estava lhes dando selas. Ele queria cuspir. Ele tinha que ser tão educado, tão gentil? Lorde Adair estava se transformando em um verdadeiro aborrecimento.

— Tudo bem, — ele disse deselegantemente. O homem piscou como se tivesse lhe dado um tapa e Henry fechou os olhos. Todos neste lugar miserável tiveram que dar-lhe essa cara? Como se ele tivesse parado na mesa do banquete e gritado alguma coisa rude? Ele suspirou. — Obrigado por me dizer, — acrescentou.

O cavalariço assentiu.

— Não, senhor. — Ele o observou, confuso, enquanto Henry descia as fileiras de baias.

Henry ficou muito satisfeito em ver seu cavalo.

— Olá, você, — ele disse carinhosamente. O cavalo bufou. — Pelo menos você gosta de mim, hein, garoto?

Abatido e montado, ele entrou na estrada que saia do castelo.

Foi só quando saiu das florestas que cercavam a mansão e se dirigia para a cidade que percebeu algo. Alguém o seguia.

Ele olhou de lado, checando novamente. Talvez ele estivesse sendo excessivamente suspeito. Não, era o garanhão da baía. O cavalo era pequeno e compacto, era de uma raça que custaria um bom valor, um garanhão de caça, não era um grande e musculoso cavalo de guerra.

O duque. Ele o enviou.

Ele fechou os olhos, pensando rápido. O duque o reconhecera. Ele esperava que fosse uma coincidência, mas quando estivera na corte há duas semanas, tinha estado várias vezes em salas onde o duque estava. Ele estava fingindo ser um cavaleiro e não pensou que ele tivesse notado. Esse homem não deveria perder nada. Ele queria se chutar por sua desatenção. Se ele tivesse pensado mais rápido, teria mantido a pretensão com Adair. No entanto, eles se conheceram em outros lugares da cidade e ele não tinha feito a conexão, contando-lhe uma história diferente.

Agora eu posso morrer por esse erro.

Ele subiu a rua, andando pelo mercado, indo para a parte menos limpa da cidade. Ali, as casas estavam gastas e pareciam se erguer acima da rua, contornando a água servida e a sujeira que entupia os canais à beira da estrada. Ele respirou superficialmente e seu cavalo deu um relincho.

Eu não te culpo garoto.

Ele seguiu em frente e olhou para trás. Ele soltou um longo suspiro. Ele parecia ter perdido o cavaleiro. Ele olhou em volta, planejando um caminho de volta por este lugar. Ele seguiu em frente e algo o fez virar-se para um espaço entre as casas onde a estrada se abria para uma rua mais larga.

Ele ainda está seguindo.

O garanhão vermelho e seu cavaleiro estavam ambos lá. Henry congelou, rezando para não ter notado. No entanto, o homem olhou para cima e viu-o. Ele se virou e chamou um soldado, que estava vagando na sombra de um prédio.

É isso.

Henry começou a suar. Ele viu o homem fazer um gesto para o soldado, dizendo-lhe alguma coisa. Eles olharam para Henry, que congelou.

— Esquerda, garoto, — ele sussurrou para o cavalo. Ele falava francês, não tinha certeza se seu cavalo entenderia ou não, mas ele o guiou com os joelhos e sentiu-o responder à sua urgência, movendo-se rapidamente entre as casas.

Assim que entrou na rua, soube que era um erro. Era minúsculo, estreito e fétido. Os altos edifícios quase bloqueavam a luz. Ele pode se esconder da guarda, mas quem mais estaria aqui? Ele não pensou nisso. Como ele hesitou, ele ouviu passos. Alguém gritou.

— Ei, ei!

Henry fechou os olhos. Sua mente correu. Ele olhou para trás, mas um homem grande, vestido com uma cota de malha, bloqueou o caminho. Na frente dele estavam outros dois. Eles sorriram.

Um deles disse algo. Ele parecia ameaçador. Henry fechou os olhos. Poderia ter sido engraçado se não fosse tão sério. Aqui estava ele, escapando da morte, só para acabar morrendo de qualquer maneira em uma briga de taverna.

Henry sorriu afavelmente.

— Agora, você vai nos deixar passar? — Ele desmontou, o que provavelmente foi outro erro. Não só o chão estava escorregadio sob os pés, como também perdera a altura. Não que isso ajudasse ele não estava armado com nada.

Eu tenho uma faca, no entanto.

Lembrou-se do que havia em sua meia e sentiu um leve lampejo de esperança.

O homem riu. Ele não disse nada, o que não o surpreendeu, já que Henry falou em gaélico das terras baixas escocesas que ele provavelmente não entendeu. Ele levantou o porrete, dirigindo um golpe a cabeça de Henry.

Henry se abaixou. Longas horas de treinamento no castelo de seu pai haviam sido ampliadas pelas brigas no mar, de modo que ele tinha um repertório de movimentos que incluía o mais sofisticado e o mais básico. Ele estava bem adaptado a tais compromissos.

Levantou-se quando o bastão passou, evitando por pouco a cabeça e, em seguida, enfiou a faca no peito do sujeito. Ele estremeceu quando sentiu a ranger de ossos e puxou-a para fora, odiando o deslizamento de sangue quente em suas mãos. Ele estava desesperado, no entanto.

O homem gritou e seu rosto se contorceu. Ele bateu com o porrete e desta vez acertou no ombro de Henry. Ele gritou também e sentiu um osso estalar. Ele ainda podia levantar o braço, e ele fez isso, nivelando a faca enquanto o segundo homem, rugindo, corria para ele.

Henry sentiu a faca deslizar contra as costelas do homem, não entrando, mas cortando-o de uma maneira que deve ter doído. O homem rugiu e atingiu o crânio de Henry com um golpe que encheu sua visão de pontos branco. Ele recuou quando o terceiro homem correu do lado.

Estou morto, pensou Henry pela primeira vez. Ninguém poderia lutar com três de uma vez. O primeiro homem, aquele a quem ele havia esfaqueado, estava caindo, mas ele ainda levantou seu porrete para atacar novamente. Então, Henry, acertou o segundo homem com um soco, e se preparou para o golpe da morte, o homem escorregou.

Teria sido cômico, não fosse desesperador. Henry viu o porrete cair e agarrou o bastão, e a sorte estava com ele, pois o homem estava tão surpreso que suas mãos se abriram.

Agora Henry estava armado. Ele tinha um porrete e uma faca. Segurava a faca com a mão direita, o bastão com a esquerda e usava o última para bloquear o segundo homem enquanto corria novamente para ele, com os punhos voando.

Desta vez, o homem se moveu para o lado para evitar o golpe e Henry se moveu com ele, deixando o balanço levá-los em volta, de modo que a parede acabou em suas costas e o segundo homem tropeçou. O primeiro homem não se levantou ainda. A ferida que Henry infligira era claramente pior do que ele pensava. Neste momento, ele não teve tempo para pensar sobre isso. Tudo o que ele queria fazer era se mover, colocando a maior distância possível entre ele e os bandidos. Ele teve um momento claro e correu.

Ao fazê-lo, o terceiro homem, o com cota, agarrou-o. Ele escorregou, mas se levantou de novo e correu para frente. O homem atacou e Henry descobriu que ele também tinha uma faca, pois algo o machucou no ombro e um momento depois ele sentiu o sangue quente e pegajoso jorrar. Ele correu.

Enquanto ele se dirigia para o brilho ofuscado da rua, ele encontrou alguém.

— Droga! — Alguém disse. Era uma mulher pequena e curvada. Ela olhou para ele com olhos negros. Ele gritou e gesticulou atrás dele e ela assentiu, puxando-o para o lado enquanto o grande homem corria para eles. Na sombra de um lintel de porta, os dois estavam deitados enquanto o homem passava.

— Ufa. — Henry soltou um suspiro. Ele estava ofegando, suas costas doíam. Sua cabeça ainda doía e seu ombro estava queimando agora. Quando ouviram mais ruídos, a mulher acenou. Ela o levou de volta ao recesso. Estava escuro como breu e ele pressionou as costas contra a parede, respirando superficialmente na escuridão fétida. Ela assentiu. Disse algumas palavras que ele não entendeu.

— Eu não entendo, — disse ele. Ele falou em francês, depois gaélico das Lowlanders. Ela sorriu.

— Och, você vem de lá, — ela sorriu. — Então me faz se sentir vovó. Agora. Você quer ficar fora do caminho de Big Bill. Me siga.

Henry assentiu com a cabeça, seu coração subindo. Ele queria rir de alívio. Ele poderia ter abraçado a pequena mulher de olhos brilhantes quando ela olhou para ele. Ela estava magra, com um rosto simples, queixo torcido como se tivesse sido quebrado e inadequadamente curado. Mesmo assim, ela era um anjo enviado para salvá-lo.

— Obrigado, — ele sussurrou. — Você acabou de salvar minha vida.

Ela riu.

— Talvez eu tenha feito. Talvez eu não tenha feito. De qualquer forma, você está melhor agora. Vamos. Você está ferido Me siga.


CAPÍTULO TREZE

UM HOMEM DESAPARECIDO


Amice caminhava em volta do salão que passava pelos aposentos. Seu coração estava batendo. Onde estava Henry? Ela não conseguia entender.

Ela andou na ponta dos pés pelo salão, passando pelos quartos de hóspedes, imaginando qual era o dele. Ela deveria se arriscar e bater em um deles? Ela olhou para dentro de um através de uma porta entreaberta. A cama estava feita, mas ela podia ver um manto caído em um baú de roupas; de veludo vermelho. Este era o quarto de uma senhora. Ela balançou a cabeça e seguiu em frente.

Ela bateu em uma porta, mas não recebeu resposta. Corajosamente, ela bateu em outro. Uma mulher com uma nuvem de cachos vermelhos levantou a cabeça.

— Sim, milady? — Ela franziu a testa. — Milady? Você está perdida?

Amice sentiu seu coração bater. A pobre serva, Greere, olhava para ela como se estivesse enlouquecendo. Amice quase sentiu como se concordasse com esse diagnóstico.

Uma manhã sem ele, e você está agindo como se estivesse mortalmente doente.

— Sabe de Lorde Henry?

A serva franziu a testa.

— Esta não é sua câmara, milady. É o segundo antes desse. Aqui, deixe-me levá-la.

Amice agradeceu-lhe distantemente, seguindo-a. Se a mulher achava impróprio que ela estivesse visitando um cavalheiro em seu quarto, ela não disse nada.

Ainda bem que ela não viu nos viu dois dias antes.

Amice sacudiu a cabeça. Ela não queria se lembrar daquela noite. Ela não queria lembrar como eles se beijaram.

Henry decidiu que não gosta mais de mim. Ele quer se livrar de mim.

Ela ficara tão magoada quando ele falara em voltar à cidade portuária. Ele queria encontrar Bronn na estalagem e deixá-la partir para casa. Ela queria ficar o maior tempo possível, aproveitar os dias que tinham juntos. No entanto, tudo que ele queria era deixá-la.

Eu estou sendo idiota. Ele é um espião. Ele tem uma tarefa para concluir. Eu o ajudei. Agora ele está aqui com um trabalho e eu sou uma responsabilidade súbita.

Ela mordeu o lábio, sentindo vontade de chorar.

— Aqui, minha lady. — Sua serva franziu a testa para ela com grandes olhos castanhos. — Agora, vou voltar a arrumar. — Ela fez uma reverência e Amice assentiu.

— Sim. Eu que agradeço.

Ela bateu na porta, mas não houve resposta. Ela olhou para o corredor, mas a criada havia desaparecido. Ela virou o trinco e entrou furtivamente.

Ninguém. Ela olhou ao redor do quarto, indo na ponta dos pés mais para dentro. Greere não tinha arrumado aqui ainda e a cama estava desgrenhada e ela podia ver a marca onde ele estivera. Ela sentiu uma dor no peito que era quase um golpe. Ele tinha ficado aqui à noite, dormiu aqui. Ela respirou, notando o aroma picante dele no ar. Ela suspirou. Quantas vezes ela se inclinou perto dele, cheirando esse perfume? Ela sentiu os braços doerem, desejando abraçá-lo.

— Oh, Henry, — ela suspirou. Ela fungou, querendo sair. Ela não podia suportar estar nesta sala que falava tão alto de sua ausência. Seu próprio coração sentiu o suficiente.

Ela se virou e foi até a porta, depois se demorou, olhando em volta. Não havia nada fora do lugar. A capa dele estava onde ele a deixara, o alforje de sela, até a camisa velha e calças largas. Ele não foi longe.

Um arrepio repentino desceu pela espinha dela. E se ele estivesse em perigo? Ele saiu sem uma palavra naquela manhã e tinha ficado fora o dia todo. Ela andou na ponta dos pés até o corredor e olhou pela janela arqueada.

Já era pôr-do-sol agora. Um pôr-do-sol invernal, o céu azul-escuro nas colinas distantes, o sol uma linha de vermelho lívido como sangue derramado em tinta. Ela estremeceu.

Por favor, deixe-o estar seguro.

Ela ouviu passos e se virou. Adair estava lá. Ele a viu e ele pareceu satisfeito.

— Minha lady, — disse ele. — Aí está você. Alguma coisa está errada? Você parece triste.

— Eu... — ela considerou perguntar se ele tinha visto Henry. Algo lhe dizia que não era uma boa ideia. Ela balançou a cabeça. — Não estou triste, não.

— Eu tenho uma surpresa para você, — disse ele de repente. — Eu pretendia não dizer nada, mas acho que não posso conter minha impaciência.

— Oh? — Amice franziu a testa. — O que é?

— Bem, isso estragaria a surpresa ao responder, — ele sorriu, — mas eu não posso guardar para mim mesma. Lembra que você mencionou um déficit de selas?

— Mmm?

— Bem, eu mandei nosso cavalariço doar dois dos nossos. Eles não são os melhores, receio, mas são úteis e continuam bons apesar de um ano ou dois de uso.

— Oh! — Amice sorriu para ele. — Você é tão gentil! Henry e eu seremos gratos. — Ela ficou comovida, tinha que admitir. Uma sela poderia durar dez anos. Mais até. Este era um presente generoso.

— Oh, — ele deu de ombros. — Não pense nada disso. Embora eu espere que, enquanto você ficar, considere me acompanhar em uma cavalgada?

Amice assentiu. Depois de um presente tão generoso, ela mal podia dizer o que quer que pensasse de Adair, e ela realmente gostava dele, não podia recusar o convite dele depois de um presente tão grande.

— Oh, bom, — ele sorriu, e pareceu aliviado, quase como se tivesse pensado que ela iria rejeitá-lo.

— Você é tão gentil, — disse Amice novamente. Ele riu.

— Não, sou egoísta. Eu esperava cavalgar com você hoje, na verdade. — Ele deu de ombros. — Mas talvez amanhã. Você gostaria de ver as selas?

— Sim, — disse Amice, coçando com a necessidade de sair da mansão por um tempo. Ela estava começando a se preocupar com Henry, e de pé em seu quarto a deixaria louca com a inação.

— Bem, então. — Ele se curvou e se afastou para ela descer as escadas com ele. — Vamos.

Nos estábulos, eles passaram por baias de belos cavalos e Amice se acalmou. Onde quer que Henry estivesse, ela tinha certeza de que ele estava seguro. Afinal, ele era o espião. Ela era uma moça simples do campo, dama ou não. O que quer que estivesse acontecendo, ele estaria bem equipado para enfrentar tais coisas sem ela.

— E eu devo apresentá-lo ao meu garanhão de caça, Blade, — ele estava dizendo. — Ele é uma raça com esses novos cavalos árabes e tão rápido quanto uma nevasca.

Amice sorriu.

— Eu gostaria de conhecê-lo.

— Ele está no final, perto de onde nós colocamos seus cavalos, os mais novos vão para lá, para que os outros tenham tempo para se familiarizar... oh — Ele franziu a testa. Amice veio para ficar com ele, imaginando o que o incomodava. Ele olhou fixamente. Em uma baia vazia.

— O que é?

— O cavalo do seu amigo estava ali, eu acho. Não é assim, Alex? — Ele perguntou a um cavalariço, que assentiu.

— Sim, senhor.

— Bem então. Eu me pergunto aonde ele está. É muito tarde, para um passeio. — Ele encolheu os ombros.

Amice sentiu seu sangue gelar.

— Alex, — disse ela para o cavalariço mais jovem, que congelou como se ele nunca tivesse sido requisitado por uma dama antes.

Talvez ninguém o tenha.

— Sim, milady, — ele gaguejou.

— Quando foi que Lorde Henry saiu?

O cavalariço franziu a testa, coçando a cabeça.

— Não sei, milady. Eu entrei de plantão depois do meio dia. Mas ele já estava fora. Isso eu sei.

— Ah. — Amice engoliu em seco. Seu coração bateu. Ele estava fora desde o meio-dia? Onde ele estava? Ela virou os olhos preocupados para Adair. — Meu lorde?

— O que é, Lady Amice? Você está preocupada com ele?

— Eu estou, sim, — disse ela, esfregando as mãos nas mangas, um hábito nervoso. — Eu não posso imaginar onde ele está.

— Oh, — Adair encolheu os ombros, como se não fosse de grande importância. — Tenho certeza que ele está bem. Os bosques ao redor da propriedade são bastante seguros. Não há ursos neles. Nenhum bandido também. — Ele sorriu suavemente.

Amice olhou para ele.

— Você acha que Henry está andando na floresta, sozinho?

— Provavelmente, — disse ele. — A menos que ele fosse para a cidade. Ou foi embora? Por que você está preocupada?

— Nenhuma razão, — Amice disse levemente.

Porque ele está em perigo. Porque ele é um espião.

— Bem, então. — Adair sorriu. — Se ele se foi, não temos razão para pensar nele. Não é?

— Adair, eu... — Amice gaguejou quando ele estendeu a mão e muito gentilmente acariciou seus cabelos. Ela congelou.

Quando ele se inclinou para beijá-la, a porta no outro extremo foi aberta com uma explosão. Um homem tropeçou, entrecortado e mancando. Ele olhou para eles. Seu rosto empalideceu. Seus olhos, azuis e escuros, ardiam.

— Henry! — Amice gritou e correu para ele. Ela chegou a ele assim que ele desabou.


CAPÍTULO QUATORZE

ESCURIDÃO E LUZ


Henry fechou os olhos. Ele estava exausto. Muito cansado para se mexer. Muito cansado para ficar de pé. Muito cansado para falar. A mulher que o havia ajudado na rua, que era chamada de Ainsley tinha amarrado seu ombro e parou o pior da hemorragia. Mesmo assim, a dor o atingiu, esmagando-o enquanto ele cavalgava. Ele tinha voltado para o solar finalmente. Ele havia percorrido o longo caminho através da floresta, para evitar possíveis perseguidores. Então ele subiu para os estábulos.

Agora, no final de tudo isso, acho que estou certo.

Ele descobriu que sua raiva era justificada. Ele estava certo sobre como Amice e o filho mais velho do duque se sentiam um com o outro. Foi o que o colocou em todo esse problema em primeiro lugar. Ele ria, pela ironia. Mas tudo doía. Ele olhou para o telhado. Ele estava tão cansado.

— Henry! — Amice estava dizendo. Ela se abaixou ao lado dele, sua mão roçando seu cabelo. Ele fechou os olhos. Ele não a deixaria ver como o torturava.

Ele sentou-se. Tudo doía e ele assobiou através dos dentes, expulsando a agonia. Ela olhou para ele.

— Henry, por favor! Diga-me onde dói. O que aconteceu?

Henry sacudiu a cabeça. Ele não queria dizer nada ou fazer nada. Ele se sentiu zangado, miserável e exausto. Ele olhou para Amice e depois para Adair. Olhou para ele e então para a mão do cavalariço que estava ao lado dele, apenas por uma boa medida.

Adair pigarreou.

— Alex? — Ele disse para cavalariço.

— Sim senhor?

— Busque o boticário. Ou o médico. Ou o padre. Quem for o mais próximo. Este homem precisa de ajuda urgente.

— Sim, milorde.

— Eu estou... bem. — Henry chiou. Ele sentiu uma pontada de ressentimento por Adair torcer sua barriga. Como se não fosse mau o suficiente que ele tivesse tirado seu coração dele. Agora ele estava tentando salvá-lo? Ele queria cuspir. Ele teria feito, exceto que Amice se moveu e se ajoelhou na frente dele.

— Henry, — ela murmurou em francês. — Por favor. Diga-me onde você está ferido.

— Não... só dolorido, — ele disse. Pelas Feridas Sagradas, ele não precisava da pena dela. Foi ela quem decidiu dar as costas a ele. Que preferia esse moço quieto, grave e nobre a ele. Ele olhou além dela para o outro cavalariço. — Cuide do meu cavalo.

O homem gaguejou algo incompreensível e olhou para Adair. Henry fechou os olhos. Como se não fosse ruim o suficiente estar à mercê de Adair sem que o cavalariço o ignorasse também!

— Alguém cuidará do meu cavalo? — Ele disse em francês.

Adair assentiu.

— Vou mandar Hamish para ver isso.

— Faça isso.

Ele ignorou Amice quando ela lhe perguntou, novamente, o que estava errado. Ela balançou a cabeça e então se levantou. Ela se afastou, atravessando o salão entre as colunatas. Ele piscou. Ele não esperava isso, de alguma forma. Ele estava bravo com ela.

Boa. Quanto mais ela ficar longe de mim, melhor. Eu não posso suportar tê-la perto.

Tê-la perto significava que podia sentir o calor dela, sentir seu cheiro e tocá-la. Seu corpo a queria tanto e ele não podia se sentir assim. Não podia deixar-se envolver por ela. Era melhor assim. Melhor que ela estivesse com um homem do seu próprio país. Ele era muito mais adequado para ela.

Ele se pôs de pé, cansado de estar no chão. Ele se inclinou em uma baia, ofegante. Manchas negras o cegaram. Ele estava começando a cambalear e pensou que poderia desmoronar novamente. Ele grunhiu e forçou a cabeça para cima, encontrando-se com o olhar de Adair. Um homem estava logo atrás dele, um homem alto com uma túnica branca de padre.

— Ah. Lorde Henry. Conheça o padre Matthias. Obrigado, padre, por ter vindo em tão pouco tempo.

— Não, não precisamos da ajuda dele, — disse Henry, cambaleando nos pés. — Eu sou... perfeitamente... capaz. — Ele se inclinou contra a parede, e então deu um passo para frente. Sua perna saiu de debaixo dele.

— Sim, nós sabemos, — Adair disse sucintamente. — Por favor, Alex, Lewis? Peguem ele.

— Sim, meu lorde.

Fechando os olhos contra a completa humilhação de ser levantado pelos dois jovens, Henry os deixou ajudá-lo.

— Estou bem, — ele protestou. Os dois cavalariços não disseram nada.

Seu corpo machucado e dolorido apoiado entre eles, a procissão se dirigiu para a escuridão. Mais tarde, deitado na cama, o médico de pé ao lado da cama olhando para ele, um novo curativo em suas feridas e um tijolo quente a seus pés, Henry relaxou.

— Você está se sentindo melhor? — Perguntou o padre Matthias.

— Eu provavelmente vou viver, — disse Henry com o fantasma de um sorriso.

— Rezamos para que você faça, — disse o padre gentilmente. — Esses ladrões... eles não limpam suas armas, estou com medo. — Ele estremeceu com desgosto.

Henry riu.

— Não. Suponho que não. — Durante o curso de seu trabalho, ele passou a gostar do médico, que parecia um homem razoável e inteligente. Ele havia explicado que havia sido ferido em uma briga de rua, o que era verdade. O motivo de sua presença em uma rua onde um bando de bandidos patrulhava permanecia em segredo.

Eu preciso descobrir quem está me seguindo.

Ele fechou os olhos enquanto o médico verificava sua testa e o pulso, acenando baixinho para si mesmo.

— Você parece estar em ordem, meu lorde, — disse ele.

— Prazer em ouvir isso, — Henry sorriu.

— Eu estarei no castelo por alguns dias, é bom que estivesse aqui esta tarde, — acrescentou. — Sua senhoria ficaria mais triste se eu chegasse tarde demais para ajudar um de seus convidados.

— Oh. — Henry disse, neutro. Ele mesmo tinha outra opinião sobre esse assunto. Quem quer que tenha enviado o homem para vigiá-lo, ele tinha quase certeza de que era o duque.

Um homem tão bom quanto ele sabe meu nome. Ele sabe que eu não sou Lorde Henry, de qualquer maneira. Além disso, ele não é estúpido.

— Lorde Henry? — Murmurou o médico.

— Mmmm?

— Perdoe-me, mas preciso verificar seu crânio. Tenho uma forte suspeita de que pode estar rachado.

— Oh. Bem, eu prefiro que você verifique, — Henry disse secamente. O padre o favoreceu com um sorriso fino.

Henry estremeceu quando os dedos hábeis do padre se moveram sobre seu crânio, sondando o osso. Ele chegou a um lugar dolorido e Henry saltou.

— Ah. Não é de admirar que você estivesse de um jeito tão ruim. Me surpreenderia se não houvesse uma rachadura.

— Oh. Adorável — Henry disse tristemente. Ele riu. — Quanto tempo até que eu esteja apto para montar de novo?

— Meu caro senhor. Eu entendo sua frustração, — ele disse. — Mas você deve ter paciência. Uma semana de descanso vale um mês de ação, passada em agonia, na minha opinião.

Henry riu e doeu, então ele parou.

— Eu concordo, padre.

— Boa. Então, quando eu prescrever uma semana na cama, espero ser ouvido, meu jovem.

Henry assentiu. De certa forma, era um alívio ter alguém encarregado.

— Sim, padre.

Quando o médico terminou seu trabalho, Henry suspirou. Agora ele estava preso neste lugar, gravemente ferido, com um homem que o queria morto e sozinho.

Eu acho que Amice decidiu que ela me odeia.

Pelo menos, acho que Adair suspeita de algo.

Com Amice ao seu lado... ele balançou a cabeça. Ela poderia estar apaixonada pelo sujeito, mas não o trairia.

Ela é irreverente, não cruel.

Mesmo assim, enquanto ele estava lá, ouvindo o médico sair silenciosamente, sentiu como se ela o tivesse ferido pior do que o brigão. Ele confiara nela, dormira ao lado dela. Ele a amava. Ele sabia disso agora. Por que ele sabia disso agora, quando já era tarde demais?

Eu sou um tolo

Ele ouviu passos no corredor. O fogo havia diminuído agora, e ele mal podia ver algo além do brilho avermelhado das brasas na lareira. Ele ficou tenso. Quem estava lá?

Ele se sentou na cama, estremecendo quando a bandagem se moveu e a ferida puxou dolorosamente. Ele respirou pela boca e esperou.

Toc Toc Toc

Os passos estava se aproximando.

Henry rolou para o lado, planejando emboscar o ladrão. Ele se deslizou para fora da cama para o chão, contente que seus braços segurassem seu peso quando ele se abaixou. Ele estava invisível agora, escondido na escuridão. Ele também estava cego.

A porta se abriu e ele desejou poder ver quem entrava. Tudo o que podia ver era a mancha de luz fraca onde a noite estava menos escura para além da porta. Os passos pararam.

Então, tão devagar, tão silenciosamente, alguém entrou na ponta dos pés. Henry prendeu a respiração. Quem quer que fosse viera para matá-lo. Ele não tinha dúvidas sobre isso. Ele ficou muito quieto, mantendo o fôlego regular. Estava raspando em sua garganta e ele podia sentir seu coração batendo alto e forte em seu peito.

Os passos se arrastaram para a cama. Ele sentiu seus músculos apertarem.

Não se mexa. Não respire. Feche seus olhos, ou o reflexo da borda lhe delatará.

Ele fechou os olhos.

Quem quer que fosse tocava a cama. Parou. Ele os ouviu se aproximar, claramente se perguntando onde a pessoa que deveria estar dormindo ali, onde tinha ido.

Ali! Ele viu o balanço de pano enquanto a pessoa se movia. Eles estavam indo para o final da cama. Eles estavam quase a frente da luz do fogo, e ele quase podia vê-los chegando cada vez mais perto...

Leve luz. Quente e dourado, brilhava pela porta aberta.

— Henry? — Uma voz disse. Ele conhecia aquela voz.

Amice!

Ele queria gritar. No entanto, quem quer que fosse, ele tinha ouvido também. Ele se virou para a porta. Amice gritou. Henry levantou-se então, mas quem quer que fosse se precipitou para ela.

— Amice!

Ela se moveu e correu em direção a ele no exato momento em que o assassino correu para fora. Amice escorregou e quase caiu em seu abraço.

— Henry! Oh, querido... — soluçou ela. Ele a segurou perto, com os braços apertados ao redor de seu corpo morno e trêmulo enquanto ela soluçava contra seu peito. — O que aconteceu?

Ele suspirou. Ele ainda estava tremendo. Quando ele diminuiu a velocidade, de repente percebeu que ela estava usando roupas de dormir finas. Até onde isso foi? Ela estava em seu traje de dormir a noite. Então era ela. Ele recuou.

— Amice, minha querida, — disse ele. — Nós não deveríamos...

— Eu não vou deixar você.

Ele sorriu.

— Você é um doce, querida.

— Eu não posso arriscar que volte a se ferir. — Ela falou asperamente. — Além disso, se quem quer que seja não tenha partido, quero estar com você.

Henry riu suavemente. Ele sabia que era perigoso. Além do fato de que quem quer que fosse poderia estar no castelo, se alguém a visse em seus aposentos, sua reputação estaria terminada.

Neste ponto, isso importa? Eu não sou nem mesmo quem eu digo que sou. E como eu, não tenho reputação de falar. Para o bem dela, porém, devo recusar. Mas...

— Eu estarei seguro, — ele insistiu. Sua voz era rouca. Ele não tinha certeza se a pessoa voltaria naquela noite, e o pensamento dela estar aqui sozinha, quando quase o atacaram era desagradável. O pensamento de tê-la aqui, porém, era... bom demais.

Ele estremeceu, embora não de tensão. Ele afundou na cama. Ela já estava sentada lá. Ele olhou fixamente.

Ela usava o cabelo solto e pendia sobre sua forma doce como uma cortina. Seu corpo era docemente curvado, seus seios cheios apertados e pressionando o tecido do vestido solto. Ela se sentou com a cabeça inclinada para frente, a chama de seu cabelo brilhante ao redor dela, os braços longos relaxados ao lado dela.

— Amice, — disse ele suavemente. Ele se deslizou para dentro da cama, ciente de que não havia lugar para ela dormir. — Você não pode ficar aqui.

— Eu não vou sair, — disse ela.

Ele riu.

— Bem, eu prefiro que você não faça, para disser a verdade.

Seus olhos se arregalaram.

— Mas, Henry?

— O quê? — Ele perguntou. Ela parecia tão surpresa que ele teve que rir. — O que é, querida?

Ela sorriu para ele.

— Você é o mais... — ela balançou a cabeça. — Você estava tão zangado!

— Eu? — Agora ele estava realmente confuso. — Eu não estava zangado, querida. Triste, sim. Mas, zangado?

— Triste? — Amice olhou para ele. — Você estava triste? — Ela balançou a cabeça novamente. — Por que você estava triste?

Ele riu.

— Você não precisa fazer parecer como se eu estivesse dançando nu na frente da câmara do conselho da rainha. Fiquei triste porque pensei... — ele balançou a cabeça. — Perdoe-me, querida.

— Perdoe-lhe por quê? — Sua voz era suspeita.

Ele teve que sorrir.

— Perdoe-me por ser um pouco possessivo com você. Eu sei que é idiota da minha parte. Quer dizer, eu só... — ele parou.

Ela estava quase cuspindo.

— Você é possessivo comigo? Como? Quando? — Ela parecia zangada, mas sorria.

— Mais cedo. Quando você estava... — ele parou. — Eu não deveria comentar. Não tenho nenhum direito.

— Comente sobre o quê? — Ela perguntou. — Henry, pelo amor da razão, você vai me dizer?

Ele riu.

— Se você insiste.

— Mmmm.

Ele suspirou e olhou para o teto. A luz de sua lamparina estava se espalhando calorosamente pela sala e ele podia ver o brilho dela ondular e dançar nas vigas. Sua pele brilhava à luz da lamparina e ardia intensamente no rio de cobre de seus cabelos.

— Quando você estava conversando com Adair, — ele disse, — eu senti ciúmes.

— Você estava com ciúmes, — disse ela. — Dele. E eu.

— Sim.

Ele soltou um longo suspiro. Fui como atiçar o fogo. Quando ele estava queimando de novo, a sala brilhava com luz laranja dourada e quente, ela olhou para ele.

— Henry, você é maluco.

Ele sorriu.

— Por quê?

— Como deve saber por quê? — Ela respondeu, depois riu. — Muito bem. Não acredito que você pensou assim!

— Pensou o que? — Perguntou ele. Ele estava genuinamente perplexo.

— Como você pôde pensar que eu estava realmente interessada nele? Eu estava tentando ajudar!

— Ajudar? — Agora era a sua vez de ficar confuso.

— Tentando fazê-los se sentirem mais receptivos para nós, — explicou ela. — Henry, como você pode pensar que eu quero alguém... — ela balançou a cabeça, suas bochechas ardendo.

— Alguém...?

— Ninguém além de você?

Ele a olhou fixamente. A sala ficou em silêncio novamente.

— Ah, Amice, — ele disse, com alguma paixão.

Ela balançou a cabeça.

— Me perdoe. Eu não deveria dizer isso.

— Oh, mas você deveria.

Ele estava ao lado dela e, sentindo a dor em sua ferida, mas não percebendo demais, inclinou-se para beijá-la. Seus lábios se separaram docemente sob os dele e seus lábios doíam quando ele a puxou para seus braços, sua boca firme na dela, saboreando a suavidade abaixo de seus lábios duros.

Ele pressionou-se contra ela, saboreando a sensação de seu corpo macio contra ele, o modo como se rendia à sua dureza. Ele a puxou mais contra si e estremeceu com um desejo súbito enquanto suas doces curvas se apertavam contra seu corpo latejante.

Ela ofegou quando ele a beijou e se aproximou, de modo que parecia que seus corpos eram uma única forma, tão perto que eles estavam se movendo. Ele podia sentir o cheiro do doce perfume de sua pele, um cheiro que era parte floral, parte rico em especiaria. Ele segurou-a nos braços e desejou poder levá-la para a cama.

Ela estava se pressionando contra si e ele podia sentir a firmeza suave de seu corpo contra ele. Ele sofria para tocar seus seios, para chupá-los. No entanto, ele sabia que, se fizesse isso, não pararia até...

— Eu deveria parar, — ele murmurou. Ele acariciou o cabelo dela e ela deu um pequeno suspiro.

— Eu deveria parar também.

Ele riu.

— Bem, então.

Nenhum deles se mexeu. Ele se sentou para atrás, mas ainda estava perto o suficiente para sentir o calor de sua mão, sentir o calor de seu corpo ao lado de seu braço. Ele a queria tanto. Ele fechou os olhos, gemendo quando imaginou o quão doce seria atraí-la para a cama e abraçá-la. Como seria espantoso explorar aquele corpo macio sob aquela camisola, sentindo a pele que ele imaginava ser como cetim sob suas mãos enquanto acariciava a curva daquela doce cintura e a puxava para mais perto ainda.

Pare com isso, Henry!

Ele se levantou e muito firmemente se obrigou a sacudir sua capa. Ele envolveu-se e sentou-se no baú de roupas.

— Agora, minha querida, — disse ele com firmeza. — Eu vou fechar a porta e colocar isso contra ela. — Ele apontou para o baú no qual ele estava sentado. — E então você vai dormir.

— Na sua cama?

— Sim.

Ela olhou para ele com olhos grandes.

Ele suspirou. Como ele a queria.

— Eu vou dormir aqui, — disse ele, em resposta à pergunta que seus olhos expressavam.

— Estará frio lá.

— Muito bem, — disse ele enquanto tentava puxar o baú para a porta. Ele conseguiu, grunhindo e acenando para ela quando se deslizou para ajudá-lo. — Eu posso... gerenciar isso. — A ação de se abaixar para segurar o peito fez a pele de sua ferida ficar esticada e o deixou sibilando de dor.

Ela o observou com olhos grandes. Ele balançou sua cabeça.

— Estou bem.

Ela deu-lhe um olhar cético com aqueles grandes olhos, mas concordou.

— Se você diz.

— Eu digo, — disse ele. — Agora. Você deite-se e vá dormir. Vou me enrolar nessa cadeira junto ao fogo sob as minhas capas. Viu? — Ele foi até a cadeira e vestiu um manto, enquanto o outro puxava até os joelhos.

— Se você diz, — ela disse ceticamente.

— Sim, de fato.

Ela fez uma careta para ele.

Ele riu.

Ela deslizou levemente sob as cobertas e ele a observou fascinado. Quando ele colocou os olhos nela pela primeira vez, ele nunca teria imaginado que iria compartilhar uma cena tão íntima com ela. Eles haviam dormido um ao lado do outro na cabana, mas isso... aqui no quarto de dormir, em sua camisola, era muito mais excitante de alguma forma, muito mais próximo.

Ele ficou tenso, sentindo o desejo crescer insuportável enquanto observava a luz do fogo brilhar em seu cabelo, o balanço lento enquanto ela se inclinava e se deslizava para a cama de dossel. Ele suspirou.

— Boa noite, — ela disse. Ela parecia tão doce que seu coração doía.

— Boa noite. — Um momento depois, algo o atingiu. Ele piscou.

— Almofada, — explicou ela. — Para sua cabeça. Ou você vai ter torcicolo.

Ele colocou debaixo da cabeça, rindo, e logo caiu, exausto, absolutamente adormecido.


CAPÍTULO QUINZE

ENCONTRANDO O CAMINHO A SEGUIR


Na manhã seguinte, Amice se mexeu. Ela se sentia completamente, deliciosamente pacífica e não poderia dizer exatamente por quê. Ela se aconchegou em sua cama, os olhos ainda fechados. Seus pés estavam deliciosamente quentes, a cabeça apoiada em uma almofada macia e felpuda. Ela suspirou. Ela tinha tantos sonhos encantadores, a lembrança deles ainda se demorando por trás de suas pálpebras.

Abrindo os olhos, ela se sentiu alarmada. Ela estava olhando para um teto estranho, sua cama em frente a uma parede. Ela tinha certeza de que deveria haver uma janela lá.

Então seus olhos pousaram na figura no final da cama. Ela lembrou e corou. Ela estava no quarto de Henry! Ela se sentou rapidamente.

Henry havia dormindo no final da cama. Ele estava envolto em duas capas de lã crua e uma tingida de verde suave. Ele tinha os olhos fechados e o sol da manhã de um branco puro caia sobre o cabelo claro. Ele estava em pleno sono, vulnerável de uma nova maneira. Quando aqueles olhos azuis estavam abertos, ele estava sempre em guarda. Ela olhou, deixando-se beber em sua beleza.

Ele se mexeu, suspirando. Ela prendeu a respiração quando viu o brilho suave de seu peito, nu sob a camisa folgada abotoada. Ela podia ver a firme ondulação de músculos ali e desejou, de repente, que ela pudesse tocá-lo. O pensamento foi tão chocante que ela deu uma risadinha.

Seus olhos se abriram. Fechando novamente. Ele suspirou. Então ele abriu os olhos.

Amice, tentando se mover ao longo da cama antes que ele acordasse e a encontrasse lá, se viu olhando para aquelas profundezas de safira. Ele estava a distância da cama, mas ainda assim a vira imediatamente. Ele sorriu. Esticou-se e sentou-se.

— Minha querida dama, — disse ele em uma voz que enviou calor inundando de seus dedos do pé para seu cérebro.

Ela sorriu, sentindo um arrepio doce começar dentro dela.

— Bom dia, — ela disse.

Ele riu.

— Bom dia, milady.

Ele se levantou e abriu as cortinas. Além da janela arqueada, o céu estava sombrio e branco, uma madrugada fria.

Ela se mexeu e puxou as cobertas até o queixo. Na escuridão, era uma coisa estar aqui sozinha com ele. No entanto, à luz do dia, quando ele podia vê-la...

Quando ela podia vê-lo, ela pensou ironicamente. Ela viu quando ele mudou de posição, a camisa se deslocando para deixá-la ver um pouco mais daquele corpo rígido. Ela corou deliciosamente.

— O que foi?

Ela sorriu. Quando ele sorriu para ela, ela simplesmente não podia respirar.

— Nada.

Ele riu. Pegou seu manto e retirou-o. Ela olhou para ele, vendo os ombros largos, quadris estreitos, torso longo e musculoso. Ela percebeu que era óbvio que estava olhando para ele e se virou.

Ele a estava olhando quando ela olhou para cima. Seu rosto estava vermelho de timidez.

— Senhor, — ela disse tão educadamente como poderia administrar. — Eu entendo que eu... cometi um pouco de uma impropriedade por ficar aqui, — disse ela desconfortavelmente. — Mas eu espero que você consiga ignorar isso. Foi resultado de circunstâncias exigentes.

Ele soltou uma grande gargalhada.

— Minha lady, não há nada para ignorar. Embora eu suponha que a olhe demais. — Ele sorriu.

Ela corou.

— Senhor, você é absolutamente chocante, eu espero que você saiba disso, — disse ela primorosamente. Ela puxou a coberta de cama para cima primordialmente em volta de si mesma. — Agora, se você deixar, eu quero sair dessa cama e não vou fazer isso sem uma capa.

Os olhos de Henry dançaram.

— Você esqueceu. Eu já a vi em seu traje de noite.

— Eu não me esqueço de nada, — Amice disse, as bochechas queimando. — Em ambas as circunstâncias, eu não estava sem uma capa, no entanto. E estava escuro. Isto é diferente.

Ele sorriu.

— Se eu recusar, o que acontece então?

Amice revirou os olhos. Ela não tinha certeza se estava indignada ou divertida, embora, se fosse honesta, gostava de sua provocação.

— Se você se recusar, terá que explicar à serva ou ao médico por que há uma mulher estranha em sua cama. Eu não vou me mover sem uma capa. Isso é final.

Henry soltou uma gargalhada.

— Bem, minha lady! Eu declaro rendição! Você tem uma vontade forte e eu me rendo. — Ele entregou-lhe o manto de lã fina.

— Obrigada. — Amice disse, e puxou-o em torno de seus ombros e se deslizou rapidamente para fora da cama.

Henry a observou, uma sobrancelha levantada. Ela olhou para ele.

— O que foi?

Ele fez uma cara de inocente.

— Nada.

Ela sorriu e sentiu mais um rubor rastejar sobre seu corpo enquanto caminhava na ponta dos pés até a porta com o olhar ainda sobre ele.

— Dia bom.

Ele sorriu.

— Dia bom. E, obrigado. — Ele limpou a garganta, parecendo tímido. — Você salvou minha vida.

Amice sacudiu a cabeça.

— Você salvou a minha também, senhor.

Ele sorriu.

— Bem então. Nós somos iguais.

Amice olhou em seus olhos azuis. Ela nunca tinha tido tal reconhecimento disso antes e isso a atingiu. Ela gaguejou algo e correu para seu quarto. Ela fugiu pelo corredor e bateu a porta, aterrorizada que alguém a visse saindo de seu quarto. Ela trancou a porta e sentou-se na cama. Ela precisava pensar.

O que acabou de acontecer?

Aquela noite tinha sido notável. Ela teve que colocar isso em perspectiva: havia tantos sentimentos inundando sua mente. Felicidade, maravilha, timidez, surpresa. Medo e preocupação.

Os últimos foram diretos. Alguém tentou matar Henry. Isso significava que alguém sabia quem ele era.

É o duque. Tinha que ser.

A única maneira que ela poderia pensar em um assassino para estar ali era se o duque sancionasse isso.

Ela engoliu em seco. Eles tinham que partir. Vestiu-se rapidamente, não querendo esperar que a serva entrasse. Ela puxou a roupa de cama e reorganizou um pouco as coisas para que parecesse ter dormido ali. Então ela fez uma pausa antes de descer para o café da manhã.

Lembranças da noite invadiram sua mente. Os beijos, o toque do corpo de Henry no dela. A proximidade.

Não, Amice, ela disse a si mesma com firmeza. Não pense sobre isso. Agora não. Quando ele estiver seguro, então você poderá pensar sobre isso.

Ela escovou o cabelo e desceu para o café da manhã.

No solar, ela encontrou o duque e o filho já ali, embora felizmente os outros convidados tivessem descido também, o que significava que ela poderia passar despercebida em um assento perto do pé da mesa. Ela olhou para o prato de mingau nervosamente, não querendo arriscar contato visual com o duque ou seu filho.

Ela ouviu alguém atravessar o salão e olhou para cima. Henry. Ele estava vestido com uma túnica de linho tingidos, que tinha usado na estrada, e, assim como na viagem, ele parecia enrolado e tenso, pronto para entrar em ação.

— Este lugar está ocupado? — Ele perguntou, indicando o assento oposto a ela. Ela balançou a cabeça.

— Não. Por favor, sente-se. — A voz dela estava tensa e ela olhou de lado para o duque, que havia olhado enquanto Henry entrava. Ele não pareceu surpreso ao vê-lo, mas seus olhos se estreitaram.

Ele ouviu sobre a tentativa falha. Ele está bravo.

Ela estremeceu. Henry sorria para ela e a visão dele a acalmou.

— Passe-me o leite, por favor? — Ele pediu. Ela assentiu. Eles poderiam ter jantado juntos a qualquer hora, não diretamente depois de um atentado contra sua vida. Ela sorriu, tomando sua sugestão dele.

— Claro.

Eles tomaram café da manhã. Amice sentiu-se cautelosa, como se as coisas se arrastassem sobre ela. Ela continuou olhando para o duque e Adair, meio que esperando uma ordem para agarrá-la e a Henry. Em frente a ela, Henry era afável e relaxado. Ele estava conversando com o casal ao lado dele em francês, contando sobre sua viagem à cidade.

Eu não sei como ele faz isso.

Ela se sentiu mal no final, mas ele não parecia afetado por tudo isso. Ela tossiu, querendo chamar sua atenção. Ele olhou para ela com um sorriso preguiçoso. Ela chamou sua atenção e, de repente, suas preocupações foram secundárias, substituídas por suas lembranças da noite anterior. Ela podia ver pelo jeito que ele olhou para ela que estava pensando nisso também. A sala encolheu para o espaço entre eles e ela corou.

— Henry, — ela disse suavemente.

— Mmmm?

— Você vai descer para o pátio? Eu quero tomar um pouco de ar fresco.

— De fato, minha lady. — Ele balançou a cabeça e virou-se para os seus comensais. — Com licença, — disse ele. — Vou dar um passeio.

Amice se desculpou e saíram juntos. No salão, ela olhou para ele preocupada.

— Henry...

— Sssh , — ele advertiu, com um dedo nos lábios. Ele sacudiu a cabeça na direção do solar. Ela assentiu. Eles poderiam facilmente ser ouvidos aqui.

No pátio, os dois começaram a conversar urgentemente ao mesmo tempo.

— Depois de você, — disse Henry educadamente.

Amice engoliu em seco.

— Henry, nós temos que partir. Nós devemos ir. Agora.

Henry assentiu.

— Eu tenho observado o duque. Ele suspeita quem eu sou. Acho que ele ainda não sabe ao certo, mas o vi ontem, recebendo um homem à paisana. Eu acho que seria nosso assassino. Ele ordenou minha morte.

Amice fechou os olhos, sentindo a necessidade urgente de se afastar daqui agora.

— Henry! Nós temos que cavalgar.

— Sim, — Henry concordou. — Nós devemos esperar. Nós não queremos simplesmente desaparecer. Isso confirmará suas suspeitas.

— Henry, ele já sabe, — disse Amice com urgência. — Ele tentou matar você! Temos de ir.

Henry piscou.

— Você não entende. Devemos esperar até que eles saiam. O duque mencionou uma caçada. Ele nos convidou. Devemos nos juntar a ele e fugir. Então nossa ausência será ocultada até mais tarde.

— Não! — Amice riu. — Henry, você está bravo? Ele quer atirar em você durante a caçada. É óbvio! Pense nisso. Você é francês ou ele pensa que você é. Ele é escocês. Ele usa um arco longo, você não usa. Por que ele convidaria você para ir caçar com ele a menos que ele quisesse atirar em você? Você não teria qualquer utilidade em uma caçada escocesa.

Henry olhou para ela friamente. Não disse nada.

— Henry! — Amice disse. — Confie em mim! Fazer uma morte parecer um acidente de caça é o truque mais antigo que se pode imaginar. Se você fosse daqui, veria isso! — Ela estava impaciente com ele, querendo que ele visse o quão estúpido ele estava sendo. Ela falou com a intenção de picar seu orgulho e ele reagiu.

— Eu acho, minha lady, que eu sei mais do que você sobre esses assuntos. Se eu entendo alguns costumes atrasados e bárbaros ou não, não importa. Não é o ponto.

— Pelo contrário, é o ponto! — Amice sussurrou de volta. — E como você ousa chamar meu povo de atrasado! Não, eu já tive o suficiente. — Ela se virou. — Você acha que é tão inteligente, não é? Isso é tudo que importa.

Amice sentiu suas bochechas coradas pelo calor. Ele a insultou, olhando para ela. Ele se recusou a ouvir o bom senso. Por que ela estava incomodando? Ela se virou e entrou, caminhando rapidamente para a entrada do grande salão.

Quando ela subiu pelo salão até seus aposentos, sentiu as lágrimas quentes começarem a cair. Como ousava dizer essas coisas sobre ela, sobre o seu povo? Eles não eram atrasados ou bárbaros! Era uma terra de maneiras diferentes. Porque ele não entendia!

Ela bateu a porta, deitou-se na cama e soluçou. Ele não se importava com ela. Ele achava que ela era uma jovem primitiva e claramente não pensava muito em sua mente ou em sua capacidade de deduzir as coisas. Se ele fizesse, a teria escutado. Como ele ousava?

Ela soluçou. Ela era tão estúpida. Ela se sentia tão estúpida. Agora ela se afastou quando ele precisava dela. Só porque ela havia sido insultada. Ela se enrolou em uma bola, levantando os ombros com seus gritos.

— Estranho estúpido e arrogante! — Ela disse. Quando as palavras saíram de seus lábios, ela ouviu sua tia falar. Era uma lembrança de uma dúzia de anos atrás, tão boa quanto outra vida. Há algo diferente em seu marido. Haverá viagens e provações quando você o encontrar.

Ela fechou os olhos. Ela sentiu como se uma pedra pesada, como a que selava um túmulo, tivesse sido colocada em seu coração.

Era ele.

Ele era o homem que sua tia previra. Agora ela o abandonara.

Ela soluçou e soluçou.

— Milady?

— Vá embora! — Amice falou. Então ela se sentiu culpada e sentou-se, fungando. — Não, Greere. Espere. — Ela foi até a porta.

— Oh, milady. Desculpe — Greere contestou. — Eu estava apenas passando para arrumar e notei que a porta estava trancada. Oh, eu sinto muito. Você está doente, milady?

— Não, — disse Amice, sacudindo a cabeça. — Não, estou bem.

A serva deu-lhe um olhar incrédulo, mas não contradisse isso.

— Posso entrar agora ou devo esperar? Você vai à caça?

Amice piscou.

— Eu não sei, Greere. Entre e arrume agora. Eu acho que preciso andar.

— Como quiser, minha lady.

Amice subiu ao salão, fungando. Ela enfiou a mão na manga por um lenço. Achou um. Quando ela desdobrou, se lembrou de algo. Era o seu lenço. Ela olhou para as iniciais costuradas no canto e explodiu em lágrimas. Cobrindo o rosto, ela andou pelo salão até o quarto dele.

— Henry, — ela chamou. Sem resposta.

Ela esperou, imaginando se deveria entrar. Só então ouviu passos no corredor e congelou. Havia duas pessoas falando.

— E acho que podemos concordar que nosso método foi inadequado.

— Sim. Sim.

— Bem, então, tudo o que podemos fazer é torcer para que este seja proveitoso.

— Acordado.

Amice fugiu para o abrigo de uma alcova, esperando os pés passarem. Enquanto eles olhavam ao redor do corredor de pedra para ver quem era quem estava falando. Era o duque. Ele estava conversando com um homem mais baixo, construído de forma compacta. Havia algo sobre ele que a fez pensar que o tinha visto antes.

Quando ela correu de volta ao salão do jeito que veio, percebeu que o tinha visto. Ele era o assassino. O homem no quarto de Henry. Ele era bastante baixo, com ombros largos e uma caminhada ágil, como se seus músculos estivessem feridos e tensos para a ação. Era ele.

Ela voltou para o pátio, tremendo de repente no ar frio.

— Henry? — Ela rezou para que ele estivesse lá. Ele tinha que estar. Eles não podiam ir caçar! Ela tinha que encontrá-lo. Ela estava certa.

Ela procurou descontroladamente para ele. O campo de treino estava vazio, mas dois ou três homens atacavam uns ao outro com espadas. O pátio estava vazio, só pardais perseguindo uns aos outros sobre o pavimento de pedra. O quintal estava ocupado por uma serva de cozinha, enxaguando panelas. Era como se Henry tivesse desaparecido.

— Henry?

Ora, Amice. Ele poderia estar em qualquer lugar. Ele poderia estar no grande salão. No solar. Na torre. Ele poderia estar caminhando nas muralhas. Ela deu um passo para trás, indo para o portão, onde poderia ter uma visão melhor. Ela passou pelos estábulos, coração batendo. Lá, ela o encontrou.

Ele estava encostado na parede, cabeça para trás, olhos fechados. Por um momento ela pensou que ele estava morto, preso ali por alguma flecha que o deixava imóvel, tão imóvel que mal respirava. Então ele olhou para cima. Seus olhos azuis estavam úmidos, cheios de emoções complexas. Quando ele a viu, seu rosto se iluminou e depois ficou sério.

— Amice, — disse ele suavemente. — Eu fui estúpido. Você pode me perdoar?

Amice sorriu para ele. Ela sentiu seu coração se derreter imediatamente. Ele era tão bonito e sincero. Claro, ela poderia perdoá-lo!

— Claro, — disse ela.

Ele soltou um suspiro sincero.

— Obrigado, — disse ele. — Eu fui tão arrogante! Tão rude. Você não é primitiva nem bárbara ou... nem sei o que disse. — Ele estendeu as mãos para as dela. — Eu fui tão idiota. — Ele balançou a cabeça e ela sorriu, deixando-o levar seus dedos as palmas das mãos quentes. Ele parecia infeliz e ela se inclinou para beijá-lo.

— Eu sei que você não quis dizer isso, — disse ela suavemente. Ela o beijou no queixo e olhou nos olhos dele. Ela própria se iluminou. — Você é um inglês e eu te amo.

Ele riu.

— Obrigado por me perdoar. E me aceitar com todas as minhas falhas.

Ela riu.

— Eu não acho que ser inglês é ruim.

Ele rugiu com alegria.

— Bem, você é provavelmente a primeira escocesa a dizer isso.

Ela apertou a mão dele.

— Bem, talvez eu seja. No entanto, eu sei disso: eu te amo, meu Henry. Eu te amaria se você viesse da Inglaterra ou de algum lugar tão desconhecido que não esteja em nenhum mapa.

Henry piscou rapidamente, os olhos cheios de cuidado.

— E eu a você, minha querida.

Ele a beijou.

Mais tarde, eles planejaram. Eles tirariam as provisões de um dia da cozinha, empacotariam as poucas coisas que tinham trazido e partiriam. Eles diriam que decidiram visitar a catedral em Edimburgo e depois seguir em outra direção. Eles escapariam. Juntos.


CAPÍTULO DEZESSEIS

INDO EMBORA


Henry sentiu o coração disparar enquanto observava Amice montar seu cavalo no pátio. Ele às vezes se perguntava sobre o fato de que se sentia tão fortemente protetor com ela depois de tão pouco tempo. A visão dela pisando na sela agitou seu sangue e também moveu seu coração. Ela tinha tanta força de espírito e graça.

Ele subiu na sela e seguiu pelo pátio.

Os guardas gritaram algo enquanto ele passava pelo portão.

— Nós vamos aproveitar a visita a Catedral! — Ele gritou em francês. Ele se sentia ridículo por fazê-lo, mas sentia bastante certeza de que quem o queria morto estava observando-os sair. Ele tinha que fazer um show.

Depois disso, eles estavam cavalgando pela rua de paralelepípedos em direção à cidade de Edimburgo. Eles se dirigiram para o abrigo da floresta. Ali parou até que Amice estivesse ao lado dele.

— Onde devemos ir?

— Bem, — ela franziu a testa. — Eles nos esperam em Edimburgo. Provavelmente também Queensferry.

— Sim. — Ele assentiu com firmeza. — Bem, então. Eles esperam que a gente vá para o Leste. Nós vamos para o Oeste.

Ela assentiu. Ao longe, o som de uma buzina de caça passou pelas árvores.

— Vamos lá.

Eles assentiram. Virando à esquerda, mantendo-se dentro da cobertura da linha das árvores, eles se foram. A floresta ao redor deles era de folhas largas, as árvores nuas e o solo grosso com o marrom das folhas caídas. Eles sussurravam através deles enquanto seguiam o caminho, o único som era o barulho dos pássaros e o bater do casco do cavalo nas trilhas.

Ele a seguiu para as florestas.

Depois de meia hora de cavalgada, eles saíram da trilha e chegaram a uma estrada. Ele franziu a testa.

— Isso vai para o Oeste.

Amice piscou.

— Parece que sim.

Ele deu de ombros, sentindo-se um pouco bobo.

— Bem então. Nós vamos segui-lo.

Eles entraram na aldeia. Era um aglomerado de casas com telhados de palha, as partes externas pintadas com tinta de lima, branco cruzado com vigas escuras. A fumaça subia preguiçosamente pelas chaminés. Em algum lugar, ovelhas baliam e um cachorro latia. Era um lugar pacífico e agrário. Henry sentiu-se finalmente começar a relaxar.

— Oh, olha! — Amice disse em francês. — Um mercado.

Ele assentiu. Eles estavam descendo a única rua da aldeia, indo em direção à igreja. Em frente à igreja ficava o mercado central, onde estandes e barracas haviam sido montadas. Ele ouviu um flautista e o riso de crianças e sorriu para Amice, que acenou de volta.

— Parece que estamos a vista de todos no mercado, — disse ele com uma risada.

— Devemos ir?

— Por que não? — Henry concordou, sentindo-se imprudente com seu alívio. — Além de qualquer outra coisa, podemos descobrir algumas informações. Como onde estamos e como encontrar o caminho de volta para sua casa.

Amice olhou para ele.

— Você quer dizer... — ela fez uma pausa.

— Bem, eu não posso esperar que você volte sozinha agora, posso?

Ela riu.

— Henry! Eu... — ela balançou a cabeça, e ele ficou surpreso ao ver lágrimas em seus cílios.

— O que? — Ele disse suavemente.

— Quando você disse que deveríamos ir a Queensferry, achei que você queria me deixar lá sozinha! — soluçou ela. Ela estava sorrindo através das lágrimas, e Henry balançou a cabeça. Ele ficou chocado.

— Amice! — Ele disse com raiva. — Como você poderia pensar que eu faria isso? Não é de admirar que você estivesse zangada!

Ele podia entender agora, aquele descontentamento que tiveram. No terror do quase assassinato, ele a empurrou para o fundo de sua mente. Agora era óbvio demais. Ela pensou que ele queria se livrar dela, e foi por isso que de repente ela ficou em silêncio. Ele havia confundido sua indiferença por desinteresse.

Ela estava rindo também.

— Eu não sei como! — Ela disse, olhando para ele com um sorriso triste. — Eu acho que pensei que não poderia ser tão sortuda a ponto de ter você me acompanhando até o fim.

Henry riu.

— Você minha querida, é uma mulher tola.

Ela rugiu com alegria.

— Oh, Henry. Só você poderia me chamar de idiota e me fazer rir disso.

Ele fez uma careta.

— Obrigado. Agora, vamos ao mercado?

— Sim!

Eles desmontaram e levaram seus cavalos para trás através do gramado. Era um mercado pequeno, apenas um conjunto de cavaletes com peles de ovelhas, arreios e metais bem forjados. Em algum lugar alguém assava maçãs e o cheiro pegou em ambos os narizes. Henry levantou uma sobrancelha e Amice deu de ombros.

— Por que não? — Ela disse em francês. Henry assentiu de volta.

— Vamos encontrar algo para comer.

Enquanto caminhavam e conversavam, ele notou as pessoas olhando para eles de maneira estranha. Ele adivinhou por quê. Não só eram visíveis em suas roupas, mas eles estavam falando alguma língua estrangeira estranha. Ele viu não apenas suspeita nos rostos das pessoas, mas medo ativo.

Onde há medo, logo haverá hostilidade.

Ele seguiu Amice para o comerciante de maçãs, a mão no punho de sua espada curta.

O comerciante olhou para ele e disse algo incompreensível. Ele olhou para Amice.

Ela levantou uma sobrancelha e sorriu para o dono da barraca. Eles tiveram uma conversa rápida que Henry não pôde seguir, e então ela sorriu para o homem novamente, presumivelmente agradeceu, e se virou para Henry com suas maçãs, espetadas em gravetos.

— Obrigado, — ele disse em francês. Amice lançou-lhe um olhar de advertência e ele ficou em silêncio, dando uma mordida na rica e suculenta fruta assada.

— Mmm. — Seu rosto coberto de sucos pegajosos, a doçura de sua polpa e as especiarias saborosas inundando sua boca, ele sorriu para ela. Ela andou com ele para as árvores.

— Ele me perguntou qual era o problema com você, — explicou Amice, entre mordidas da maçã. — Eu disse que você era francês. Ele não levou isso muito bem. Disse que eles não gostam de estrangeiros por aqui. A única maneira que ele aceitou você foi porque eu disse que era amigo do meu irmão, um marinheiro. E que... — ela parou em sua narrativa, seu rosto vermelho.

— E o quê? — Ele perguntou, enxugando a boca com um lenço de reserva.

— E... me desculpe, Henry. Eu disse que somos casados.

Ele sentiu o calor inundar seu coração.

— O quê foi? — Ela perguntou. Ela parecia divertida, mas também um pouco preocupada.

— Por que você achou que eu estaria zangado? — Ele perguntou, sorrindo.

— Bem... — ela fez uma pausa, claramente considerando sua resposta. Então ela olhou para ele. — Bem, eu não queria que você pensasse que eu estava... bem... sugerindo isso.

Ele riu.

— Minha querida, como você poderia se preocupar com isso? — Quando ela sorriu, ele riu novamente. — Bem, com todas as preocupações de lado, acho que a curto prazo isso salvará nossas peles. Nós vamos usar essa pretensão.

— Ah. — Amice piscou. — Muito bem.

Henry franziu a testa. Ela não estava feliz por ele ter pensado que não era uma boa ideia?

— É uma ótima ideia, — disse ele.

— Obrigada, Henry. — Ela assentiu com a cabeça.

Ele franziu a testa. Olhou para o rosto dela. Adoravelmente, sua boca estava cercada de carvão da casca da maçã assada. Ele enfiou a mão no bolso pelo o lenço e limpou-a gentilmente.

Ela olhou em seus olhos e quando chegou até a mão dele, ele segurou seu rosto. Ele a beijou.

Seus lábios eram doces de sua refeição e ela tinha um sabor picante e excitante. Ele a abraçou, desfrutando do delicioso sabor dela e do refúgio seguro de sua boca. Ela o segurou contra si e o mundo inteiro pareceu dar um passo para trás, a única realidade era o doce sabor dela e o calor de sua presença.

Ele ouviu passos e quebrou o beijo, os olhos brevemente desfocados.

— Apenas um pastor. — Ele suspirou de alívio quando o homem caminhou ao longo da grama na margem da mata, com uma vara na mão, o rebanho seguindo através do campo verde.

Amice suspirou.

— Boa.

Ele olhou para ela e a beijou brevemente, incapaz de resistir. Eles foram se juntar ao mercado.

No ferreiro, Henry pensou em comprar outra faca. Ele havia perdido o que usualmente usava amarrada na perna. Ele os inspecionou. Passou a ela uma pequena.

— Você consideraria tomar uma? — Ele perguntou em francês. Ele viu o dono do estábulo olhando para eles e ficou nervoso. A única coisa pior do que ser considerado um recém-chegado perigoso era quando a pessoa pensava que estava atrás de uma mesa cheia de facas.

— Não, — disse Amice, suave mas firme. — Henry, não. Eu não saberia como usar uma! Se alguém me atacar, eu estaria morta. Eu não estou prestes a aprender como tirar uma vida.

Henry levantou uma sobrancelha.

— Minha querida, eu me sentiria melhor se...

— Não, — Amice disse com firmeza. — Sinto muito, mas eu não carrego armas e não vou começar agora.

Henry assentiu e colocou de lado a faca. Ele comprou a mais comprida para si. Amice iniciou uma conversa. Ele viu o homem olhar para eles e seu rosto se iluminou, então ele comentou, e riu. Amice riu também e disse algo de volta. Henry observou, confuso.

— O que ele disse? — Ele perguntou quando eles se afastaram.

— Ele disse, — ela disse e sorriu, — que éramos um casal tão amável. Nós até discutíamos.

Henry soltou uma gargalhada e puxou-a para baixo do seu braço. Ele beijou o cabelo dela.

— Eu gosto disso. Bem! Uma coisa que posso dizer é que gosto desse disfarce. Isso significa que eu posso te beijar e ninguém pode me dizer nada.

— Henry! — Amice disse, chocada. Ela olhou para ele com um grande sorriso e começou a rir.

— O quê? — Ele disse, encolhendo os ombros.

— Você é o mais querido, mais incorrigível... Oh! Henry.

Ele riu e abraçou-a perto. Juntos, eles voltaram pelo campo. Até o momento que voltaram para seus cavalos tinham adquirido uma faca, maçãs assadas, um saco de castanhas e um queijo. Eles estavam indo bem e, para todos os efeitos, eles eram casados.


CAPÍTULO DEZESSETE

DESCANSO E AÇÃO


Amice sentiu um calor estranho no peito enquanto voltavam pela aldeia até a igreja. Ela percebeu com alguma surpresa que a sensação era de orgulho.

Eu realmente sinto como se ele fosse meu marido.

Ela mordeu as bochechas, tentando não sorrir. Toda vez que ela olhava para ele, sentia o mesmo sentimento de calor dentro de si. Ela quase sentiu como se o estivesse vendo através dos olhos dos outros. Ele era tão bonito, tão musculoso e tão gracioso pela maneira como se movia. Ela percebeu que estava orgulhosa dele.

Havia um grupo de homens agrupados na beira do gramado. Eles a encararam. Adivinhando claramente que ela era uma nobre, eles esperaram até que ela passasse antes de assoviar. Amice viu Henry endurecer. Ela sorriu.

— Henry, não deixe que eles te provoquem. Se acalme. Eles não vão me machucar.

Ele franziu as sobrancelhas sombriamente.

— Mesmo assim.

Ela deu uma risadinha e eles foram juntos até a igreja. Lá, Henry desmontou.

— Não sairei em um minuto só quero dar uma olhada. Verei se consigo encontrar o padre. Ele deve poder falar francês pelo menos.

Amice assentiu. Ela se deslizou de seu cavalo quando ele desmontou, e eles amarraram as rédeas ao redor da cerca próxima, e então entraram.

No interior, a igreja estava quase escura, a estrutura baixa e robusta. Foi construída muito antes da catedral, com os lados espessos e o telhado baixo, os semicírculos dos arcos, não os arcos pontiagudos dos prédios posteriores. Velas queimavam no altar e a luz do dia se filtrava no espaço escuro.

Ela ouviu Henry conversando com alguém e caminhou cautelosamente. Ele havia encontrado o padre. Eles estavam falando em francês.

— Oh. Bem, meu filho, — ela ouviu o padre dizendo: — Não posso dizer que vi ou ouvi falar de algum francês na aldeia. Mas eu vou perguntar ao meu rebanho quando os veja. Enquanto isso, talvez você pudesse de ficar na pousada? E sua esposa, é claro — acrescentou ele, inclinando a cabeça para Amice com um sorriso.

Amice ficou vermelha.

— Sim, padre, — ela disse com humildade.

Henry agradeceu e eles saíram para a luz. A estalagem local ficava perto de onde eles haviam chegado, mal afastada da estrada principal por seu grande pátio de pedra. Eles abrigaram seus cavalos e foram para um quarto.

— Henry, — Amice sussurrou com urgência quando eles se aproximaram do balcão onde o estalajadeiro da pousada estava sentado.

— Sim, querida, — ele murmurou.

— Nós vamos ter que tomar um quarto individual.

— Sim, — ele concordou suavemente. — Seria estranho se não o fizéssemos, não seria?

Amice engoliu em seco.

— Henry! Eu...

— Sim, minha lady? — O estalajadeiro perguntou a ela.

Ela respirou fundo.

— Boa tarde. Eu sou Lady Amice, e este é o Senhor Henry, meu marido. Ele é francês — acrescentou ela, quando o estalajadeiro ergueu as sobrancelhas, com um olhar indagador. — Nós vamos nos alojar aqui por... — ela olhou para Henry, que encolheu os ombros.

— Três dias?

— Por três dias, — ela confirmou.

— Claro, minha lady, — disse o estalajadeiro. Ele deu a Henry um olhar de soslaio. — Eu tenho um quarto lindo no primeiro andar. Deve ser adequado para pessoas tão gentis como vocês. Tem alguma bagagem?

— Foi enviado à frente, — Amice disse suavemente. Ele pareceu surpreso, mas assentiu.

— Bem, então. Você vá. Primeira porta à esquerda. Não pode se perder.

— Obrigada.

Amice e Henry foram para o seu quarto. Enquanto ia, podia sentir seu pulso latejando.

Estamos em um quarto de dormir. Estou dividindo um quarto com Henry. Compartilhando uma cama com Henry.

Seu rosto ficou vermelho. Seu coração batia forte. O pensamento era ao mesmo tempo profundamente chocante e maravilhosamente excitante.

Eles entraram no quarto juntos. No interior, as paredes eram revestidas de carvalho, a cama era graciosa, com uma colcha azul grossa e almofadas macias. Amice sentou-se, grata por isso. Já passava do meio-dia e ela estava cansada, com frio e com fome. Ela ouviu o chão estalar quando Henry entrou e ficou em frente à janela, onde a luz branca entrava. Ele parecia cansado também, embora suas costas estivessem rígidas e sua postura alerta. Amice engoliu em seco.

Eu passei uma noite com ele antes. Mas isso é diferente.

Ela estava realmente dividindo um quarto com ele. Eles tinham uma cama. Além disso, eles estavam compartilhando como se estivessem casados.

Ela tentou desviar o olhar dele, mas achou difícil. Ela olhou para o fogo, observando as chamas subir e descer na grade. Ela ouviu uma batida suave de uma bota nas tábuas do assoalho e quando ela olhou para cima, Henry estava olhando para ela.

Havia uma profundidade de fome naqueles olhos azuis que a surpreenderam. Ela estremeceu, mas não com medo. Sua fome provocou uma fome profunda dentro dela. Ela ficou de pé, mas ele foi mais rápido, e ficou na frente dela, com as mãos na sua cintura.

— Amice, — ele murmurou. — Oh, minha querida.

Ele a beijou avidamente e seu coração disparou. Aqui não havia ninguém. Nenhuma perturbação, nenhuma necessidade urgente de estar em fuga. Nenhuma ocultação. Eles estavam sozinhos.

Ela suspirou e colocou os braços ao redor dele. Seus lábios desceram sobre os dela e pressionaram contra eles, sua língua sondando e se deslizando no meio, explorando sua boca. Ele a empurrou um pouco para trás e eles caíram na cama.

Ele estava deitado em cima dela, com uma mão no seu cabelo, olhando para ela. Seu corpo era um peso doce em seu seio e seu coração bateu no barril de suas costelas, rápido e urgente. Ela podia sentir o peso dele pressionando-a abaixo da cintura, e de alguma forma a sensação de calor em seu corpo concentrou-se ali, pulsando e aquecendo e fazendo-a querer se empurrar contra ele.

Ela fez isso e ele gemeu, beijando seu pescoço. Sua mão se moveram para o fecho do vestido enquanto a outra se movia em direção ao seio. Ela ofegou quando ele o segurou na mão dele. Ninguém jamais a tocou dessa maneira, mas se sentia bem. Parecia certo.

A mão dele estava na gola do vestido e os botões lentamente se desfizeram. O primeiro, depois o segundo, depois o terceiro... depois até o meio das costas, enquanto ele a virava suavemente para o lado.

Ele recostou-se enquanto a rolava, puxando o vestido e a anágua para baixo e beijava seu pescoço e seus seios. Então ele parou abruptamente.

— Não, — ele sussurrou com voz rouca. — Não. Se eu fizer isso, então...

Ele se sentou, balançando a cabeça. Seu rosto estava pálido. Ele estava tremendo. Suas mãos estavam apertadas. Enroladas em punhos. Ela sentou-se, sentindo o rubor de vergonha enchê-la.

— Henry, eu...

— Não é você, — ele disse gentilmente. Ele virou para encará-la. Seus olhos estavam escuros, torturados. — Sou eu.

— Não, Henry, — ela disse gentilmente. Ela estava abotoando o vestido e ele olhou para sua pele, e então fechou os olhos. — Não é você, — ela insistiu.

— Sou eu, no entanto. — Ele riu. Ele se moveu, quando ela terminou de abotoar o vestido. Ele se ajoelhou no chão, olhando para cima. — Eu sou mau, eu sei.

Ela sorriu. Estendeu a mão e, muito gentilmente, acariciou sua bochecha. Ela suspirou.

— Henry, você não é mau. Não mais que eu.

Ele riu, seu rosto incrédulo.

— Não. Não, você não é.

— Eu sou, — Amice disse gentilmente. — Eu... — ela balançou a cabeça. — Henry, eu gosto de como você me faz sentir. Eu não sei nada sobre isso, mas não quero parar. Eu também sei como isso é errado.

Henry riu.

— Então você sabe exatamente como me sinto.

Ela sentiu seu coração derreter. Ele parecia tão ansioso e tão culpado por ela. Ela o beijou. Ele ficou tenso e a beijou de volta. Seus lábios se encontraram e se separaram em um beijo que foi casto e gentil e disse não menos de amor do que o beijo anterior, apesar de sua inocência.

— Agora — ele disse, asperamente, — eu deveria me mexer. — Ele se levantou e caminhou até onde seus alforjes estavam alinhados contra a parede, vasculhando um deles. — Se eu me sentar perto demais de você, nunca pararei.

Ela sorriu.

— Oh, Henry. Eu também.

Ela se surpreendeu o quão trêmula sua voz estava. Ela percebeu realmente o quanto ansiava por ele. Seria tão difícil não tocá-lo, não permitir o fim natural de seus anseios.

Não que eu saiba onde tudo isso acaba. Na verdade não. Eu quero, no entanto.

Ela corou. Não conseguia acreditar que ela, a mais nova, o gentil bebê da família, estivesse pensando em tais coisas.

— Agora, — Henry estava dizendo enquanto mexia na bagagem, — acho que a melhor coisa que podemos fazer é almoçar.

Amice riu.

— Uma boa ideia. — Ao pensar, seu estômago se contraiu de forma alarmante e ela percebeu que, para um dia ativo, eles realmente comeram muito pouco. Ela estava faminta.

Eles se acomodaram na sala de jantar juntos. O local era bastante rústico, os outros clientes, fazendeiros ou ferradores, estavam debruçados sobre o guisado com pãezinhos frescos, e discutiam seus planos.

Eles falavam francês, o que atraía alguns olhares furiosos até que o estalajadeiro disse aos fregueses, em termos inequívocos, que eram um casal quase local e não os incomodassem. Amice lhe deu um sorriso e ele corou, assentindo.

— O que ele disse? — Henry murmurou.

— Ele disse para nos deixar em paz.

Ele sorriu.

— Boa.

Debaixo da mesa, o pé dele roçou o tornozelo dela. Ela pulou. Ele sorriu e ela não tinha certeza se o contato fora acidental. Seu pulso disparou.

— Henry, — disse ela com firmeza.

— O que?

Ela corou.

— Nada.

Ele riu. Ele partiu o pão e eles compartilharam, Amice saboreando o sabor delicioso.

Enquanto comiam, Henry contou-lhe uma história sobre quando ele era menino, andando pela floresta perto da fortaleza de seu pai. Quando ela olhou para ele, notou alguma coisa.

Não, não podia ser.

Mas era. Ela tinha certeza disso.

O homem perto da porta era um dos criados das propriedades do duque. Ela estava quase completamente certa disso. Ela ficou de olho nele. Henry franziu a testa. Ela sacudiu a cabeça. Ele levantou uma sobrancelha, mas não olhou de imediato. Terminou o conto, partiu o pão e depois se virou sub-repticiamente.

— Oh. — Ele assentiu. — Ele?

— Mmmm. — Amice assentiu. Ela enfiou o pão em seu ensopado, absorvendo o molho. — Ele está observando. — Ela comeu o pão e depois continuou. — Tenho certeza que ele está ouvindo.

— Oh? — Henry franziu o cenho. — Nesse caso, eu lhe contei sobre o tempo que tive um acidente de caça? Havia um sujeito como aquele pobre tonto perto da porta, também.

Amice olhou para ele. Do outro lado da sala, o homem franziu a testa e afastou a cadeira. Henry ficou tenso. Ele acenou para ela.

— Sim. Ele entende francês.

Ela quase riu, mas a seriedade da situação era grande demais. Eles pensavam que tinham escapado, mas agora ela não estava certa. Se ao menos ela soubesse com certeza que era o mesmo homem!

— O que devemos fazer..? — ela começou.

Henry tossiu.

— Eu gostaria de um passeio quando terminássemos esta refeição. O que diz você?

Amice engoliu em seco e depois assentiu.

— Boa. Sim.

No pátio da estalagem, Henry puxou-a para o lado.

— Bem, andando! — Ele assentiu. — Você estava certa.

Eles estavam na sombra de uma parede perto dos estábulos. No corpo principal do pátio, um servo levava farinha para a cozinha e um carroceiro checava sua equipe de cavalos. Um cavalariço ceifava feno e a cozinheira cantava para si mesma enquanto lavava as panelas. Era um lugar pastoral e pacífico. Mesmo assim, ela estremeceu.

— Henry, acho que o conheço.

Ele olhou para ela.

— O que? Como você pode... — ele parou quando ela interrompeu gentilmente.

— Henry, acho que o reconheço da casa do duque. Ele estava no banquete, e também no solar, durante o café da manhã. Ele trabalha para ele.

— Oh. — Henry ficou tenso. — Bem. Isso é ruim.

— Sim.

Eles ficaram em silêncio por um tempo. Amice olhou para ele, sentindo-se tão preocupada. Ele já estava ferido. Por que essas pessoas não podiam deixá-lo em paz? Ela apertou o braço dele.

— Nós vamos encontrar uma saída, — disse ela tranquilizadora.

Ele assentiu.

— Sim. De fato, nós provavelmente deveríamos fazer isso agora. Na verdade... — ele franziu a testa. — Eu tenho uma ideia.

— Você tem? — Amice olhou para ele, curioso. — O que deveríamos fazer?

— Isto.

Ele disse a ela seu plano. Era simples, mas brilhante. Ele olhou para ela depois com olhos preocupados.

— Amice. Você acha que... não. — Ele balançou a cabeça. — Não podemos fazer isso. É muito arriscado.

— Não, — Amice balançou a cabeça. — Tenho uma ideia melhor.

Ela disse a ele. Ele parecia indignado.

— Não! — Ele balançou a cabeça. — Não, Amice. Eu não posso permitir...

— Shhh, — ela disse com firmeza. — Eu sei que você acha que é uma má ideia. No entanto, pode funcionar. Além disso, confio em você. Você poderia pelo menos considerar...?

Ele suspirou.

— Muito bem.

— Mesmo?

— Sim. — Ele fechou os olhos. — Mas se você for ferida... se alguma coisa acontecer com você. Se um cabelo de sua cabeça for prejudicado, eu nunca vou me perdoar.

Amice sorriu. Surpreendida por sua própria ousadia, ela o beijou. Ele a beijou de volta. Ele a segurou contra si como se achasse que era o último momento deles. Como se ela pudesse desaparecer no ar. Como se ele se afogasse e ela fosse sua sobrevivência. Então ele se afastou.

— Muito bem, — disse ele. — Vamos entrar.

Eles tinham um plano a seguir.


CAPÍTULO DEZOITO

NOVO COMEÇO


Eles voltaram ao mercado e passaram algumas horas lá. Quando a noite começou a cair, o crepúsculo rastejou pela floresta rápido e cedo, eles se retiraram de volta para a pousada.

Eles pediram o jantar e sentaram-se para comer. Era salmão e bolinhos de massa, um molho numa terrina entre eles.

— Você poderia me passar o molho? — Henry perguntou.

Amice assentiu. Ela passou e derramou um pouco na mão dele.

Ele gritou.

— Você é desastrada! — Ele disse em voz alta, em francês. — Você sua desajeitada, idiota e tola!

Amice olhou para ele. Ela se levantou, a cara indignada. Ela deu um tapa nele.

Ele pulou da cadeira e foi para ela. Ela gritou e tropeçou para trás. Alguns clientes ignoraram outros se levantaram. Alguém gritou para mantê-lo quieto e outra pessoa concordou. Amice se encolheu no chão quando o estalajadeiro veio rapidamente.

— Isso é o suficiente, senhor, — disse ele a Henry. Um homem grande, com uma grande presença, ele não precisava fazer muito para ser ameaçador. Ele apenas ficou entre ela e Henry.

Os olhos de Henry se estreitaram. Ele levantou a mão e depois pensou melhor. Amaldiçoando, ele se virou e seguiu para o salão. Amice ouviu as botas no chão, depois viu a luz captar seu manto claro enquanto ele girava sobre si mesmo. Ela o ouviu ir até a porta e sair.

— Eu... — ela gaguejou quando o estalajadeiro se inclinou para ajudá-la.

— Você está bem, moça? — Ele perguntou gentilmente. — Como ousa aquele monstro estrangeiro... — ele balançou a cabeça. — Sinto muito, moça. Eu não deveria dizer essas coisas. Mas você está bem?

— Eu estou bem, — disse ela trêmula. — Eu acho que vou me deitar. Ele não tem sido o mesmo ultimamente — acrescentou calmamente. — Tão preocupado. Eu acho que é por causa dessa carta que ele tem. Em seu alforje de selim. Eu não sei o que leu. Mas está agitado desde então.

O hospedeiro apalpou seu ombro, pensativo.

— Pronto. Você está bem? Ou posso chamar minha esposa? Ela pode te dar uma bebida para deixá-la dormir.

— Eu... obrigada, — Amice murmurou. Então ela franziu a testa. — Ele estaria sempre tão bravo comigo, — disse ela, soluçando nervosamente. — Eu não deveria ter dito a você. Essa carta é um segredo. Ele ficará louco!

— Ora, ora, — disse o dono da pousada. — Está tudo bem. Eu não vou dizer. Você tem uma promessa. Você vai se sentir melhor de manhã. Diabo cruel — ele murmurou baixinho.

Amice deixou-a levá-la para as escadas, apoiando-se no braço dele. Então, quando ele se foi, ela correu rapidamente pelas escadas até o quarto deles. Bateu a porta atrás dela e encostou-se nela por um momento. Então ela se sentou na cama, a cabeça girando.

Certo. Essa foi a parte fácil. Agora é a parte difícil.

Ela ouviu uma batida na porta. Era a esposa do dono da estalagem.

— Ora, ora, lass,6 — disse ela suavemente. Ela estava carregando uma bandeja na qual descansava um grande jarro de barro. — Aqui. Trouxe-lhe um pouco de leite com algumas ervas especiais. Isso vai ajudá-la a descansar. Sempre funciona. Um pouco de descanso, você se sentirá muito melhor de manhã.

— Obrigada, — Amice murmurou. — Você é muito gentil.

Quando a mulher a olhou e deixou a bebida, ela fez o seu melhor para se acalmar, apesar do fato de que seu coração estava batendo e queria se levantar e correr.

Quando a mulher foi embora, ela levantou o jarro e jogou fora o conteúdo. Então tirou as roupas, vestiu a camisola e subiu na cama. Ela fechou os olhos e ficou imóvel.

Espere, ela disse a si mesma. Não adormeça. Eu sei que você está cansada. Um, dois, três, quatro, cinco, seis...

Quando ela contou dez lotes de dez, ouviu alguma coisa. A trava mexeu. Ela ficou onde estava.

Não se mexa. Você está dormindo. Não se contorça.

Ela contou novamente. A trava sacudiu, depois ficou imóvel. Então, silenciosamente, regularmente, a porta se abriu. Amice, de olhos fechados, só sabia disso por causa da luz ligeiramente mais brilhante no quarto e do sussurro de uma brisa nos seus cabelos.

O chão rangeu. Parada. A luz brilhante desapareceu. A porta se fechou.

Agora era ela, o quarto iluminado apenas pelo brilho vermelho intermitente do fogo, e alguém.

Alguém que andava com os pés silenciosos pelo chão. A única razão pela qual ela sabia que ele se movia era porque uma sombra ondulava e tocava seu rosto, enquanto ele ficava em pé diante do fogo. Ela fez sua respiração lenta.

Dentro. Fora. Não se mexa. Você está dormindo.

A sombra desapareceu. Ela ouviu um som. Um farfalhar. Quem quer que fosse, ele estava procurando em seu alforje de sela. Ela ouviu o som do cadarço sendo desatado, o baque quase inaudível quando a aba da tampa caiu quando alguém a abriu.

Respire. Não se contorça.

Ela ficou imóvel enquanto a pessoa terminava de vasculhar o seu alforje de selim. Então ela o ouviu se mover novamente. O chão rangeu. Então parou. Então os mesmos sons novamente de quem quer que fosse abriu o outro alforje, desta vez pertencente a Henry. Ela ouviu sussurros furtivos enquanto vasculhava a bagagem.

Ela ouviu uma respiração ofegante. Então a pessoa se levantou e o chão rangeu quando ele se moveu. Ela viu a sombra crescer e cobrir seu rosto, e então ela ouviu um passo. Quem quer que fosse, estava ao lado da cama. Ele estava olhando para ela. Ela ficou tensa.

Não se mexa. Imóvel ainda. Respire. Você não está acordada. Você está dormindo. Ainda.

Seu coração estava fazendo tanto barulho que ela tinha certeza que quem quer que fosse deveria ouvir. Ela sentiu como se coisas se arrastassem em sua pele enquanto pensava nele olhando para ela. Ela ouviu uma respiração e sentiu uma mão se estender.

Quando quem quer fosse que tocasse o cabelo dela, ela não podia mais ficar deitada. Ela ficou tensa. A pessoa assobiou em uma respiração. Ela sentiu a mão deles se mover, cobrindo sua boca.

Ela abriu os olhos e tentou gritar.

O homem era o mesmo de cabelos vermelhos e rosto fino que eles tinham visto antes, e a atingiu no lado da cabeça. Ele segurou-a. Ele estava tentando cobrir o nariz dela, forçar a cabeça dela no travesseiro.

Ele vai tentar me sufocar. Eu posso morrer. Eu vou morrer.

Ela não tinha ideia do que fazer. Havia apenas uma coisa que ela podia fazer. Ela lutou.

Ela mordeu a mão dele e ele gritou, e então levantou a mão para atingi-la. Então a porta se abriu tão violentamente que bateu na parede com força.

— Você! — Uma voz rugiu. Alguém pulou em seu atacante. Ele virou-se a tempo de enfrentar o ataque.

Henry estava lá. Henry, que usava apenas a camisa e calças e estava desarmado, exceto pelos punhos. Henry, cujos cabelos brilhavam à luz do fogo e cujo rosto estava retorcido de raiva. Henry, que estava branco de raiva e que empurrou o homem com tanta violência, que caiu contra a parede e depois bateu a cabeça, sistematicamente, nas vigas de carvalho.

— Você seu malvado, mau, cruel, imundo... — ele estava rosnando, cada palavra pontuada com um golpe. — Como você se atreve a tocá-la! Como você se atreve... — Ele continuou em seu ataque quando Amice rolou debaixo do cobertor e ficou ao lado dele.

— Henry, pare, — ela sussurrou enquanto o homem lutava e tentava fugir. — Henry? Henry! — ela bateu no ombro dele com o punho. Ela estava com medo. Ela nunca tinha visto alguém tão bravo antes e sabia que seria muito fácil para ele matar o homem neste estado atual. — Henry...

— Huhh? — Ele virou-se quando ela bateu em seu ombro com toda sua força. De alguma forma, isso atravessou a névoa de loucura que o dominara, pelo menos por um momento. Ele olhou para ela.

— Henry, estou bem. Deixe ele ir. Henry, você não quer ser um assassino.

— Hãnn? Oh... — Henry suspirou. Suas palavras cortaram a raiva selvagem e ele abriu a mão, deixando o homem ir. O homem ficou onde estava, encostado na parede. Ele estava atordoado, evidentemente. Quando Amice e Henry recuaram, pareceu que ele havia sido libertado. Ele olhou para Henry, sua visão finalmente se clareando e se levantou. Então, tropeçando, ele saiu do quarto apressadamente. Henry esperou até ouvir passos de botas batendo nas escadas. Então ele fechou a porta. Bloqueando-a. Sentou-se.

Ele se inclinou para frente, os joelhos nos cotovelos. Cobriu o rosto com as mãos. Ele estava tremendo.

— Henry? — Amice disse. Agora ela estava preocupada com ele. Ele parecia exausto. Seu rosto estava branco, todo o seu corpo estremecendo. — Henry, eu estou bem, — ela disse gentilmente, chegando a se sentar ao lado dele no baú de guardar roupas. — Henry. Estou bem... estou bem. Ele foi embora. Nada de ruim aconteceu. Está bem. Você pode parar de se preocupar agora.

Henry ficou parado. Ele sentou-se. Seus olhos encontraram os dela. Enquanto ela observava, seus olhos se encheram de lágrimas e ele a abraçou, balançando-a e segurando-a.

— Meu querido amor, — disse ele. — Meu querido, querido amor. — Ele beijou sua testa, depois seu cabelo, depois seus olhos. — Eu sinto muito. Eu não posso acreditar que isso aconteceu. Eu quase deixei ele te matar. Oh, minha querida.

Amice deixou-o falar e sentou-se. Ela colocou as mãos em ambos os lados do rosto dele.

— Henry, meu amor, — ela disse gentilmente. — Está bem. Ele não o fez, fez? Eu não estou ferida. Você me salvou. Você salvou minha vida novamente. Nada aconteceu. Você pode relaxar.

Henry suspirou. Ele pousou a mão no joelho dela e depois colocou as mãos sobre as dela, onde estavam entrelaçadas no joelho.

— Sinto muito, minha querida. — Ele riu. Sua voz estava seca e áspera. — Eu não queria... enlouquecer. — Ele balançou a cabeça. Enxugou os olhos com o lenço. Ele deu uma risada trêmula. — Eu quase terminei com ele.

Amice assentiu.

— Estou feliz que você tenha se detido. Não queremos ser presos por assassinato.

Henry riu.

— Não, querida. — Ele assentiu. — Obrigado, por, humm, o que você fez lá.

Amice soltou um suspiro trêmulo.

— Bem, obrigada também. — Ela assentiu. — Agora. O que descobrimos?

Henry riu.

— Você parece o padre Baldwin, meu tutor. Eu aprendi o quão ruim meu temperamento pode ser. E que eu não deveria me deixar levar. Ah, e não matar pessoas.

Amice deu uma risadinha.

— Henry, você sabe que eu não quis dizer isso. Eu quis dizer, descobrimos algo útil?

Henry suspirou.

— Como sempre, você me fez ver a razão. Sim nós descobrimos. Primeiro, sabemos que o homem é um espião. Segundo, sabemos que ele também sabe que eu sou. Em terceiro lugar, você estava certa sobre quem ele é, ele nos serviu no jantar. Ele estava entre os servos do duque. Bem suspeito, minha querida. — Ele fez uma pausa. — Eu deveria tê-lo segurado. Ele deve ter mais informações. Eu o deixei ir.

Amice sacudiu a cabeça.

— Você tem o direito disso, Henry — ela disse devagar. — Nós já sabemos tudo o que precisávamos saber. Não há necessidade de fazer o sujeito sofrer mais.

Henry riu.

— Minha querida, você me ensina muito. Observação, racionalidade. Bondade.

Amice sorriu.

— Você também me ensina muito, Henry. Coragem. Confiar. Amar.

Henry olhou para ela com imensa ternura. Ele a segurou em seus braços e quando a beijou, parecia que nada havia sentido antes. Completamente certo e inteiramente maravilhoso. Ela olhou para ele, piscando para conter as lágrimas.

Eles abriram o queijo que haviam comprado e fizeram um jantar com o que tinham em seus alforjes. Castanhas, queijo. Alguns pãezinhos da cozinha do castelo.

Henry riu.

— Nós fizemos um ótimo show esta noite, não foi?

— Eu quase acreditei em você, — disse Amice. — Você parecia tão cruel! — Ela balançou a cabeça.

— Eu acho que o dono da pousada teria acabado comigo, — ele riu, mastigando algumas castanhas. Ele a quebrou e passou para ela gentilmente. — Ele parecia um assassino.

Amice deu uma risadinha.

— Bem, pelo menos sabemos que ele fica de olho em seus clientes. Espero que ele não cause problemas para nós.

— Tenho certeza que ele não vai, — Henry hesitou. Ele lambeu um ponto do lado esquerdo do dedo indicador com tristeza. — O molho queimou!

Amice sorriu tristemente.

— Desculpe querido. Eu gostaria que tivéssemos algo para colocar nele.

— Não é ruim.

Terminaram a refeição simples em silêncio e depois, lentamente, prepararam-se para despirem-se para dormir.

— Eu vou para lá, — Henry disse rapidamente. — Você pode ir atrás da cortina da cama.

— Muito bem, — Amice concordou. Ela puxou a cortina e se deslizou para fora do vestido. Ela fez isso com uma urgência deliciosa, consciente o tempo todo que estava se despindo de que ele estava perto.

Ele poderia se virar a qualquer momento e abrir a cortina.

Ela vestiu a camisola.

— Pronto, — ela chamou. Ela esperou e, quando ouviu a mudança do andar, moveu-se em volta da cortina e puxou-a para trás, subindo na cama.

Ele estava do outro lado do quarto, vestido com a camisa da noite. Ficou em pé, com uma túnica de linho transparente, abotoado na frente. Ela olhou para ele. Ele era tão lindo. Ela se afastou timidamente na cama.

— Você pode dormir aqui, — disse ela. Sua garganta estava arranhando, sua boca estranhamente seca como se tivesse sugado cidras.

Ele se sentou, a cama abaixou com o peso dele. Então ele colocou as pernas na cama e se deslizou para debaixo das cobertas.

— Está frio lá fora, — ele murmurou.

Amice ficou imóvel. Ela assentiu.

— Isto é bom. Boa noite.

— Boa noite, — ele sussurrou. Ele disse outra coisa e foi só quando ela se virou, dando as costas para ele, que percebeu o que era.

Boa noite meu amor.

Ela fechou os olhos e apertou as lágrimas. Ela o amava tanto! Ela o queria muito! Ela ficou tão tocada pelas palavras que ele falou. Então, cansada, caiu em um sono profundo.


CAPÍTULO DEZENOVE

NA ESTRADA NOVAMENTE


Na manhã seguinte, Henry acordou sentindo-se deliciosamente quente. Ele rolou e olhou para Amice, onde ela deitou, com a cabeça apoiada ao lado da dele. Ela se virou durante o sono e ele estava olhando para o seu rosto doce. Seus olhos estavam fechados, os cílios escuros descansando em suas bochechas. Ele sentiu como se nunca tivesse visto nada tão bonito antes.

Ela estava respirando baixo, até suspirava. Seu ombro subiu e caiu com eles, coberto pelo linho creme de seu vestido. Mostrava-lhe o pescoço, nu e macio, e ele desejava beijá-la.

— Amice, — ele murmurou.

Suas pálpebras tremeram. Ele a observou se mexer e, lentamente, chegou à vigília. Suas pálpebras tremeram e ele se viu olhando em seus olhos castanhos.

Ele soltou um suspiro.

Se eu sobreviver a esta missão, vou acordar assim todas as manhãs, apesar do dever até o fim dos meus dias.

Foi uma promessa para si mesmo. Sim, suas famílias provavelmente se oporiam. Sim, ele provavelmente teria que dar as costas à sua vida como filho do barão e passar o resto de seus dias como um humilde marinheiro. No entanto, valeria a pena. Qualquer coisa valeria.

Ela olhou para ele. Seus lábios macios se afastaram em um sorriso.

— Henry, — ela sussurrou.

— Amice

Ele se sentou na cama, o travesseiro atrás dele. Ele teve que se mover um pouco, colocar apenas uma pequena distância entre eles ou definitivamente faria algo que iria se arrepender. Ele tossiu.

— Nós... devemos pensar em seguir em frente hoje, — disse ele cautelosamente.

— Mmm. — Amice se espreguiçou. Ele fechou os olhos. Ele não ia pensar em como ela era deslumbrante. Ele não ia pensar em beijá-la. Ele absolutamente não ia pensar em como seria maravilhoso estar em cima dela, com os braços em volta dela, explorando-a enquanto o resto dele...

— Vamos levantar, — disse ele duramente.

Ela piscou.

— Bem, se você insistir, — disse ela, soando um pouco surpresa. — Eu gosto de ficar em paz um pouco antes de me lançar no dia, mas outras pessoas... — ela murmurou, olhando para ele com olhos grandes, — outras pessoas têm outras maneiras de fazer as coisas.

Ele riu.

— Minha querida, garanto-lhe que, se fosse possível, passaria dias inteiros fazendo exatamente isso. Mas agora, nós temos um espião para encontrar. — Ele tirou as pernas da cama e puxou as cobertas sobre o colchão de forma meticulosa.

— Nós faremos, — Amice concordou. Ela também se levantou da cama e endireitou as cobertas, deixando o lado limpo e arrumado. Ela foi até a penteadeira. — É um dia ensolarado.

— Hum, — Henry assentiu. — O primeiro que tivemos.

— É, — Amice concordou. Ela se esticou e ele fechou os olhos, não querendo assistir a demonstração descuidada de magnificência que era ela simplesmente habitando seu corpo.

Ele tossiu novamente. Sua garganta estava muito apertada! Ele sabia que era porque estava focado inteiramente em seu desejo por ela. Ele lavou o rosto no jarro gelado. Pronto! Isso deveria esfriar a cabeça dele.

Ele riu enquanto enxugava o rosto e o cabelo, pegando sua túnica. Ele parou.

— Volte-se, — ele disse rapidamente.

— Sim, senhor.

Ele a ouviu se mexer no banco e cautelosamente tirou a roupa de dormir por cima da cabeça. Ele estava usando um breeks7 mas nada mais. Calçou as calças e se virou para tirar a túnica da cama. Para pegá-la o olhando.

— Amice! — Ele repreendeu. Ele sentiu-se corar e ela corou também. Ambos estavam rindo impotentes, como crianças travessas. Seus ombros tremiam. — A ideia era não olhar! — Ele disse, com uma afronta simulada. — E lá estava eu acreditando que você estava olhando para longe!

— Eu sinto muito, — disse ela, seu largo sorriso contradizendo suas palavras. Ela riu. — Eu sou horrível, não sou? — Ela balançou a cabeça, chocada. Ele riu.

— Não, você não é. Eu tenho que admitir que não estou nem um pouco chateado com isso. Agora vamos, — ele adicionou com um sorriso. — Nós realmente deveríamos ter alguma refeição. Temos de partir.

Amice assentiu.

— Agora, — disse ela, em pé. — Eu vou fechar a cortina da cama e não vou aceitar nenhum observador.

— Você tem a minha palavra, — disse ele solenemente. Ambos riram.

— Henry, estou falando sério, — ela disse com firmeza.

— Muito bem. Eu prometo.

Ele foi e ficou do outro lado da sala, perto da porta. Ele podia ouvir os doces sons dela se movendo por trás da cortina e deixou sua imaginação tomar conta. Ele estava vermelho e dolorido de desejo no momento em que ela apareceu.

— Pronto, — disse ela. Ela viu sua expressão e seu rosto caiu. — Você não espiou. Você fez?

Henry sorriu.

— Não, minha querida. Eu prometo. Eu estava aqui o tempo todo.

— Eu acredito em você, — disse ela, olhando para ele com confiança sob os olhos. — Agora, vamos encontrar um café da manhã.

— Sim.

Rindo, seu coração se sentindo leve de maneiras que nunca sentira em sua vida, ou pelo menos em qualquer de suas lembranças, ele a seguiu descendo as escadas até a sala de jantar e o café da manhã.

Todos os comensais lhes deram um amplo espaço. O dono da pousada deu a Henry um olhar sombrio, mas trouxe-lhes o café da manhã. O espião ruivo não estava.

Enquanto comiam, saboreando o café da manhã com pães recentemente assados, ovos cozidos e leite, eles discutiram seus planos.

— Precisamos voltar para a mansão, — disse Henry. Ele estava com raiva agora. — Eu preciso descobrir o que esse homem está querendo.

— Você vai dizer o que ao duque? — Amice perguntou, franzindo a testa. — Nós não deveríamos simplesmente ignorá-lo? Contanto que possamos ficar fora do alcance dele.

— Eu não posso ignorar isso, — disse Henry, balançando a cabeça. — Primeiro, porque preciso descobrir o que está acontecendo, é meu dever para a coroa fazê-lo. Segundo, porque esse homem poderia ter matado você. Não pode ficar sem resposta.

Amice sacudiu a cabeça. Ela estava sorrindo, a expressão gentil em seus lábios doces.

— Você não precisa mais ficar bravo com isso, — disse ela. — Devemos esquecer isso.

— Hum, — Henry concordou com relutância. — Eu sei que é o que devo fazer. Eu posso te colocar em pior risco se não fizer isso. Mas não posso descansar até descobrir por que ele está fazendo isso. Ele sabe quem eu realmente sou? Ou ele acha que eu sou o espião francês?

Amice levantou uma sobrancelha.

— Eu não considerei isso. Como você vai saber?

— Eu não sei ainda, — disse Henry suavemente. — Talvez tenhamos que pensar sobre isso à medida que avançamos.

— Muito bem, — Amice concordou. — Bem, se tivermos um bom café da manhã, poderemos considerar melhor isso.

Henry riu.

— Sensível como sempre. — Ele pegou outra fatia do pão. — Eu gosto disso.

Amice corou.

— Obrigada querido.

Os dois comeram mais pão e sentaram-se em silêncio, satisfeitos, vendo a estalagem acordar lentamente. Do outro lado da janela, uma carroça deixava o pátio e, em outro, um homem carregava sacolas de grãos, transportando-as desajeitadamente para o armazém.

Henry mastigou o pão fresco e considerou suas várias opções diferentes.

Se voltarmos para a casa do duque, o que podemos fazer? Não podemos exatamente nos apressar e confrontá-lo. Não sabemos quantos guardas ele tem lá.

O que achava que ele ia fazer? Entre no grande salão e acuse o duque de Cullver de tentar matá-lo? Ele era espião: toda a Escócia aplaudiria o duque por isso. Como ele poderia saber de que lado o homem estava ligado? A única maneira que ele conseguia pensar era via Adair.

— Henry? — Amice perguntou.

— Mm? — Suas palavras o trouxeram de um mundo onde ele confrontou o duque e enfrentou sua própria morte.

— Se tivermos um bom tempo, poderemos chegar a Dunkeld em cinco dias.

— Oh. — Henry franziu o cenho. — Bem, você é quem sabe para onde estamos indo. — Ele ficou surpreso com o tumulto de sentimentos que sua declaração levantou nele.

Quando chegarmos lá, ela ficará tão feliz de estar de volta com sua família, provavelmente esquecerá tudo sobre mim. Afinal, por toda a nossa proximidade nesta jornada, ela é uma delas. Eu não pertenço ao mundo dela.

— Eu suponho que sim, — ela disse calmamente.

Henry franziu a testa, imaginando o que ele tinha feito para aborrecê-la. Ela provavelmente está exausta, ele decidiu.

Eu estou sendo injusto. Afinal, nós dois escapamos por pouco da morte ontem.

Eles terminaram o café da manhã e Henry se esticou e então tomou uma decisão.

— Acho que tenho que voltar, minha querida. Mas você deveria ficar aqui.

Amice deu-lhe um dos seus olhares especiais. Um dos que questionou sua sanidade.

— Eu não vou deixar você ir a lugar nenhum sozinho.

— Amice... — ele suspirou. — Por favor. É para sua segurança.

— Oh. — Ela olhou para ele sem expressão. — Então você espera me deixar aqui em uma cidade onde eu não conheço ninguém, enquanto você sai e se mata. Porque isso é muito mais seguro para mim.

— Você tem um ponto, — ele admitiu.

— Eu faço isso às vezes.

Henry soltou uma gargalhada.

— Não há ninguém como você em todo o mundo, espero que você saiba.

— Você pode agradecer suas estrelas da sorte por isso, — disse ela com um sorriso. — Nós estávamos lá, nós te conduziríamos idiota.

Ele balançou a cabeça e estendeu a mão sobre a mesa para a dela.

— Não. Não, você não faria. Se houvesse mais pessoas como você, o mundo seria um lugar muito melhor.

Amice suspirou.

— Você não deveria dizer essas coisas.

— Nem mesmo quando eu quero dizer?

Ela apenas sorriu.

— Oh, Henry.

Ele deu um tapinha na mão dela com carinho e levantou uma sobrancelha.

— Devemos ir?

Ela respirou fundo.

— Sim.

Eles tinham um inimigo perigoso para enfrentar e um espião para encontrar. O tempo estava acabando.


CAPÍTULO VINTE

INCERTEZA E VÔO


A estrada de volta para Cullver era longa e sinuosa e Amice estava em um estado de espírito subjugado. Ela cavalgava ao lado de Henry em silêncio, a floresta ao redor deles silenciosa, exceto pelo leve cantar de um pássaro em algum lugar no meio do mato ou o vento nos galhos nus.

Amice observou Henry enquanto eles cavalgavam. Ela tinha uma sensação de presságio em seu coração. Ela bebeu de todas as visões dele, tentando memorizar o máximo dele: o jeito que ele se sentava tão bem na sela. O vento gentilmente despenteando o seu cabelo loiro e macio. O jeito que seus olhos azuis se suavizavam quando ele sorria. Cada minúsculo detalhe era precioso para ela.

Quando chegarmos a Dunkeld, provavelmente será um adeus.

Ela tentou imaginar a reação de seus pais a seu amor por Henry. O que ela diria a eles? Que ela não poderia se casar com o homem a quem eles haviam prometido, porque ela decidira se casar com um espião inglês? Ela riu.

— O que foi, querida? — Henry perguntou. Ele deu-lhe um sorriso triste. Ele parecia tão preocupado quanto ela se sentia.

Ela balançou a cabeça. Não há necessidade de sobrecarregá-lo com seus pensamentos.

— Nada. Eu só tive um pensamento engraçado.

— Oh, — ele levantou uma sobrancelha, como se quisesse saber o que era o pensamento engraçado, mas ela não queria dizer e ele não insistiu.

Um galho quebrou na floresta e Amice se endureceu. Ela estava ficando desnecessariamente nervosa, ela disse a si mesma. A última coisa que o duque esperaria era que voltassem para sua mansão. Mesmo assim, ela se sentia terrivelmente desconfortável.

Crack

Crack

Mais galhos quebrando. Junto com um farfalhar nas folhas. Amice parou seu cavalo. Henry virou-se.

— Você também ouviu isso? — Henry sussurrou.

— Sim.

Ambos pararam e escutaram. Amice sentiu seu coração batendo no peito e as palmas das mãos estavam escorregadias de suor. Ela esperava que uma flecha aparecesse a qualquer momento. Por fim, um cervo apareceu na clareira. Henry soltou um longo suspiro de alívio e o cervo ouviu-o, descendo para os arbustos.

Ambos sorriram.

— Uau! — Amice disse.

Henry riu.

— De fato. Estou começando a ficar nervoso.

— Eu também.

Eles cavalgaram em silêncio. Os bosques estavam se desbastando, o sol brilhava através das nuvens altas para mostrar a parede cinza que marcava o limite dos terrenos da mansão.

Henry parou o cavalo.

— O que devemos fazer?

Amice engoliu em seco.

— Deveríamos entrar? — Uma ideia estava começando a se formar em sua mente, uma perigosa, mas plausível.

Henry sacudiu a cabeça.

— Se formos assim, seremos tão bons quanto prisioneiros.

— Mm. — Amice limpou a garganta. — Eu tenho uma ideia. E se eu for sozinha e confidenciar a Adair que algo aconteceu com você? Se o duque pensar que você está morto, ele não vai tentar matá-lo.

Henry olhou para ela.

— Brilhante!

Amice corou.

— Obrigada querido.

Henry estava sorrindo. Ela podia ver que ele estava pensando muito, tomando a ideia e expandindo-a em sua mente.

— Se você entrar ali — começou ele, — e o duque estiver esperando pela confirmação da minha morte, então talvez eu possa me esgueirar e olhar em volta. Eu preciso ver sua correspondência privada.

Amice franziu a testa.

— Eu não quero que você faça nada perigoso, querido.

— Eu não quero que você faça algo perigoso também, — Henry respondeu calorosamente. — Eu acabei de dizer que vou mandar você desacompanhada para as garras do duque. Cada um de nós pode se arriscar.

Amice suspirou.

— Henry, você deveria parar de se preocupar tanto comigo. — Ela balançou a cabeça, um sorriso em seus lábios.

— Eu vou quando você parar de se preocupar comigo, — ele respondeu.

Eles riram. Depois de um longo silêncio, ele estendeu a mão para ela.

— Amice?

— Sim?

— Eu... se algo acontecer comigo, eu preciso que saiba disso.

— Saber o que? — Amice perguntou suavemente.

— Eu preciso saber que te disse o quanto a admiro e amo você.

Amice olhou para ele. Ela engoliu em seco. Suas palavras estavam em sua garganta e ela não podia dizê-las. Seus olhos ardiam e lágrimas rolavam por suas bochechas.

— Eu te amo, Henry, — ela sussurrou.

Ele olhou nos olhos dela. Ela podia ler o amor nas profundezas deles, doce, forte e verdadeiro. Ela virou-se na sela e levou a mão ao rosto dele. Ele estendeu a mão e beijou as costas de seus dedos. Espremendo com força. Então se virou, tossindo.

— Nós devemos ir. Precisamos planejar o que precisamos dizer.

— Sim, — Amice assentiu. — Eu já tenho algumas ideias.

Henry assentiu.

— Boa. Bem, você mostrou a bela atriz que é, então eu confio que vai administrar perfeitamente.

Amice deu uma risadinha.

— Obrigada, Henry.

— É meu prazer. — Ele olhou para ela com uma expressão melancólica.

— O que foi? — Ela perguntou, sua própria garganta apertada com lágrimas controladas.

— Essa é a sua imagem que eu sempre guardarei na memória. — Ele balançou a cabeça. — Com o cabelo solto e a névoa nos cílios, sorrindo para mim.

Amice tossiu. Ela pegou um lenço.

— Não, Henry, — disse ela, a voz abafada pelo pano enquanto enxugava as lágrimas. — Não fale assim. Nós dois vamos sair disso vivos.

— Acredito que sim.

Ela segurou a mão dele.

— Eu sei disso.

Ele assentiu.

— Muito bem. Eu também sei disso. Obrigado.

— O prazer é meu. Agora. Quando estiver no lugar, sairei as muralhas. Então você saberá o que fazer.

— Sim, — ele disse, assentindo. — Boa ideia. Vá com segurança.

— Cuidado.

Ela cavalgou.

As sentinelas estavam nos postos de vigia, o portão que dava para o pátio da mansão estava fechado. Amice pigarreou. Ela ainda estava na cobertura das árvores, embora em um momento estivesse à vista dos postos de vigia. Ela trouxe seu papel para a mente. Uma dama aflita, testemunha de um assassinato. Então ela apertou com os joelhos, incitando o cavalo a um galope.

Ela disparou para o portão, o cabelo voando em volta do rosto, o vento fluindo e pegando seu manto de veludo azul.

— Quem vai lá? — Um dos sentinelas falou.

— Ajude-me! — Amice gritou implorando. — Oh, por favor!

O homem começou a puxar a corda para levantar o portão.

— Entre.

Amice desacelerou seu cavalo e entrou na mansão em um trote.

— Minha lady, — disse o guarda gentilmente, descendo do posto de guarda. — O que a aflige? — Ele descansou uma mão no braço dela, e Amice se endureceu então ele retirou respeitosamente.

— Eu sou Lady Amice, — disse ela trêmula. — Filha do thane de Dunkeld. Sou amiga de Lorde Adair... preciso vê-lo. Por favor?

O homem assentiu rapidamente.

— Claro, minha lady. Vou mandar uma mensagem para ele imediatamente. Mas siga-me Ele teria minha pele para praticar tiro ao alvo se algo te machucasse.

Amice deixou-o levá-la ao solar e se afundou agradecida na poltrona, cobrindo o rosto com as mãos. Ela não precisava fingir o esgotamento. Mantendo este desempenho que estava revestindo nela dolorosamente.

Então, quando ouviu a sentinela se retirar, ela se levantou. Ela tinha que ir até as muralhas. Ela saiu e subiu a escada em espiral na torre, rezando para que ela pudesse subir e descer novamente antes que Lorde Adair fosse convocado.

Se ele me encontra-se aqui, eu vou dizer que estava procurando o solar privado e me perdi.

Ela encontrou a porta, escorregou para as muralhas e caminhou até a ameia da frente. Ela ficou lá por um minuto inteiro, tremendo enquanto o vento despenteava seu cabelo. Então ela se virou e entrou.

Quando ela desceu as escadas, o castelo estava em alvoroço.

— Onde está ela? — Lorde Adair exigia. — Eu preciso vê-la.

— Meu lorde, eu... — seu guarda soou aterrorizado.

Amice saiu da porta da torre para o salão, o coração batendo contra a caixa torácica.

— Aqui estou, — ela disse rapidamente. Ela viu o rosto magro de Adair suavizar de alívio.

— Minha lady, — disse ele suavemente. — Me entristece saber de sua aflição. Venha. Me siga.

Ele a conduziu até o solar, onde ela acabara de chegar, e mostrou-a a um assento. Em sua ausência, bolos com especiarias e clarete apareceram na mesa. Ela estudou seu rosto em uma imagem de horror e olhou para o filho do duque, quebrado.

— Meu lorde Adair, eu...

— Silêncio, — ele disse gentilmente. — Aqui. Beba. Eu entendo que o que aconteceu, afligiu você. Estou tão feliz que você trouxe sua preocupação para mim.

Amice sorriu abertamente. Ele era um homem gentil. Ela desejou não ter que tirar proveito disso. Ela aceitou a taça e molhou os lábios com a bebida escura e forte, não querendo beber demais para não esquecer suas falas.

— Agora, — ele disse quando ela aceitou vinho e mordiscou um bolo. — Se você pode falar sobre isso, por favor me diga.

Amice pigarreou.

— Lord Adair, eu... quando estava com o lorde Henry, eu... nós...

— Tome o seu tempo, — disse ele suavemente. Seu rosto magro com seus graves olhos castanhos era solene.

— Obrigada. É tão recente. Mas devo falar disso. Quando eu estava andando no mercado, paramos em uma aldeia chamada Currie, de repente fomos atacados. Um homem de cabelos vermelhos que correu para Henry e ele... — ela engoliu em seco, — ele tinha uma faca. Ele mergulhou em Henry uma vez, duas vezes... Oh! O sangue! — soluçou ela. — Não havia nada que pudéssemos fazer. É claro que os aldeões correram em nossa ajuda, mas estava perto da floresta e ele correu e escapou. Henry está... Meu lorde, ele está morrendo. Eu nem sei se ele vai durar até hoje.

O rosto de Adair ficou duro. Amice franziu a testa, o coração batendo.

— O que foi, meu lorde? — Seu primeiro pensamento foi: ele sabe. Ele sempre soube. Ele estava junto nos planos de seu pai para nos matar.

Ele limpou a garganta. Estendeu a mão para a dela.

— Minha lady, — disse ele com firmeza. — Eu sinto muitíssimo. Me desculpe. Mas devo dizer que... o homem era francês. Ele era estrangeiro. Quem sabe por que ele estava aqui? Sinto de coração, embora eu lamente com você. Estou feliz que você esteja livre dele.

Amice olhou para ele.

— Meu lorde, eu...

— Não. Sinto muito — disse Adair, fechando os olhos. — Eu não deveria ser tão honesto. Mas é verdade. Minha lady, ele não era bom o suficiente para você.

Amice sacudiu a cabeça.

— Meu lorde é gentil, — ela disse em uma voz suave. No interior, sua mente estava correndo. Adair era sincero em sua busca por ela? Ele quis dizer o que disse, que estava feliz por Henry ter morrido!? Eles estavam certos em suspeitar de seu pai? Ou o homem da faca tinha sido enviado por ele? Ela não conseguia entender.

— Meu lorde, acho que está angustiado, como eu estou, — Amice disse gentilmente. — Eu mesmo gostaria de me deitar.

— Claro, — disse Adair, de pé abruptamente. — Vou mandar Greere ter seu quarto preparado para você. Por favor, me perdoe pelas minhas palavras. Foi cruel da minha parte dizer essas coisas agora.

— Você disse o que sentiu, — disse Amice. — Isso não é crime.

— Pode ser.

Ele andou até a janela e Amice se levantou, seguindo-o. Ela olhou para a floresta.

Oh, Henry, por favor, esteja a salvo.

Ela não tinha ideia de onde ele estava.

Uma vez em seu quarto, ela descobriu que não conseguia ficar quieta. Andou de um lado para o outro e sentou-se, inquieta com a saia, tentando consertar um buraco usando uma agulha que encontrou na gaveta. Quando a porta se abriu, ela pulou, quase apunhalando o dedo com a agulha.

— Minha dama?

— Oh! Greere! Você me assustou.

— Me perdoe. O mestre pediu para vê-lo na colunata.

— Oh. — Amice ficou rapidamente. O mestre? — Sua graça o duque?

— Não, milady. Lorde Adair.

— Ah. — Amice virou na frente do espelho, pegou um pente e arrastou rapidamente através de seu cabelo. Então ela saiu para a colunata.

Adair estava lá quando ela chegou.

— Minha lady, — disse ele. Ele se curvou sobre a mão dela.

— Minha lady. — Ele tinha mudado para uma túnica nova, ela notou, uma de linho cru trabalhado com uma borda estampada em volta do pescoço. Ele tinha calças marrons escuras e seu cabelo de cobre brilhava. Ele estava tentando impressioná-la? Ela olhou para baixo, escondendo seu desconforto.

— Meu lorde.

— Eu queria que você soubesse que meu pai enviou um médico para Currie, — disse ele gravemente. — Na medida em que tudo pode ser feito, vamos ver.

Tenho certeza de que seu pai verá isso, Amice pensou gravemente. Não creio que o médico fosse o padre Matthias ou que lhe dissessem para curar Henry.

— Obrigada, — ela disse baixinho.

— Não é nada. Agora, — ele disse, abruptamente mudando de assunto. — A última vez que você esteve aqui, discutimos o assunto da equitação. Eu queria levá-la em uma excursão adequada aos nossos estábulos. Eu...

Naquele momento, um grito separou o ar silencioso. Um homem rugia para outro, em algum lugar nas profundezas do castelo. O barulho foi seguido pelo som de um golpe de espada, soando na pedra. Amice virou-se para encarar o barulho, quase perdendo o equilíbrio.

— Isso foi o pai.

Os dois, por diferentes razões, correram em direção ao barulho.

Não, pensou Amice. Não, não, não. Ele não pode ter encontrado Henry. Não pode ser.

Eles correram para o castelo.

Dentro, havia o caos enquanto os guardas corriam em direção à ala de hóspedes e outros guardas desceram a escada. A pessoa que Amice supunha ser o duque, o pai de Adair ainda rugia. O som do armamento havia parado. Enquanto ela corria, eles foram passados por outra pessoa, correndo na direção oposta.

— Henry! — Amice gritou.

— Amice! — Ele ofegou. — Me siga!

Amice virou-se e correu. Adair estava olhando para os dois, um olhar de tal descrença em seu rosto que Amice soube, naquele momento, que ele não sabia o que seu pai planejava.

Então ela estava desaparecendo no salão atrás de Henry.

— Aqui! — Ele sussurrou, puxando-a para um quarto em que ela não estivera antes. Ele fechou a porta atrás deles, trancando-a por dentro. Ela olhou em volta. Deve ter sido uma vez uma sala de estar, pois havia uma lareira e uma única janela larga e arqueada. Também estava sem mobília.

Ela olhou para Henry. O rosto dele era branco e fantasmagórico, os olhos arregalados.

— Henry, — ela sussurrou. — Você está sangrando.

Era verdade. Uma mancha escura apareceu em sua túnica, molhada, vermelha e pegajosa. Enquanto ela observava, ficou mais escura e se espalhou. Henry encolheu os ombros.

— Não é nada. Agora. Vai! Através da janela. Eu encontrei este quarto mais cedo. É a única saída.

— Henry... — Amice gaguejou. Ela estava aterrorizada a estas alturas. Ela foi até a janela e olhou para fora. Henry estava certo. Um telhado estava abaixo da janela, projetando-se sobre o pátio. De lá, o telhado se juntava a uma treliça de videira na horta e eles poderiam descer. Ela saiu.

— Traidor!

— Espião!

Os gritos através da porta eram altos e Amice prendeu a respiração quando os ouviu batendo na madeira. Eles iriam romper a qualquer momento. Henry ainda estava lá dentro.

Ele grunhiu, balançando-se até a borda da janela. A ferida era dolorosa, claramente. Ele estendeu a mão.

— Aqui! — Amice gritou, pegando a mão dele. — Puxe!

Ela se apoiou na borda e recostou-se enquanto ele se aproximava, usando as mãos como apoio. Então ele chegou. A porta quebrou.

— Corre!

Eles correram. O telhado estava exposto a qualquer um que quisesse apontar um arco para eles, mas, felizmente, os guardas externos pareciam alheios ao que estava acontecendo lá dentro, pois ninguém atirava neles. Amice ofegou, o terror dando asas enquanto corria para a beira do telhado. As treliças das videiras estavam em grande parte nuas, as videiras mal estavam começando a brotar com a mudança da estação. Ela endureceu e parou. Como eles iriam descer?

— Siga-me! — Henry gritou. Ele agarrou a borda, um longo bastão sobre a espessura do braço dela, e desceu. Ele soltou. Seus pés bateram no chão com um baque e ele girou os braços para se equilibrar, e então congelou. — Pule, Amice. Você consegue.

Ela colocou as mãos em torno do poste, balançou como ele havia feito. Abriu as mãos.

Ela estava no chão ao lado dele, e eles corriam por suas vidas.

— Atrás dele! — O próprio duque gritou pela janela. Eles o viram, com o rosto escuro e carrancudo, enquanto corriam para o portão. Um grupo de guardas correu de lá, para afastá-los.

— Esquerda! — Amice gritou. Henry assentiu. Eles correram para a esquerda. Uma flecha derrapou em cima, quase batendo nela. Ela gritou e cambaleou para a esquerda, Henry agarrando o braço dela.

— Sem tiros! — Uma voz gritou. Adair. Amice sentiu uma dor no coração enquanto corria com Henry para o jardim. Ele não a queria morta.

— De volta... a entrada, — Henry gritou. Ele estava exausto, ela podia ouvir a maneira como sua voz se arrastava. — Deve ter... o portão.

— Sim! — Amice gritou. Eles correram pelo gramado, passando por sebes de topiaria e roseiras, em volta de carvalhos e trilhas. Então eles estavam fora da parte ornamental do jardim e lá, na frente deles, havia um portão. Um pequeno.

Henry puxou o portão.

— Tente o parafuso! — Amice gritou. Ele alcançou e moveu isto. Estava enferrujado, mas se movia devagar. Henry grunhiu quando ele puxou, e Amice sentiu seu coração bater e seu sangue se incendiar quando viu os soldados correndo em direção a eles.

— Está preso. Não. É... aqui. — Henry suspirou aliviado quando o ferrolho deslizou para trás. Amice o empurrou na frente dela e seguiu, batendo o portão atrás deles. Então eles estavam na floresta e correndo por suas vidas.

Ela já podia ouvir um chifre de caça. O duque estava enviando seus verderers8 e caçadores atrás deles.

— Corra! — Henry gritou.

Ela assentiu.

Sem fôlego, ofegantes, desacelerados pela ferida de Henry e sua própria exaustão, eles correram. Pelas florestas.


CAPÍTULO VINTE E UM

FERIDO


A floresta estava escura, as nuvens voando acima. Henry correu por folhas escorregadias, procurando a mão de Amice. Se alguém os atacasse agora, como ele poderia protegê-la? Seu peito doía e ele podia sentir o cheiro ocre de seu próprio sangue, sentir o puxão e a queimadura do sangue, secando. Ele estava começando a ficar com sono. Tão sonolento...

Corre. Amice está com você. Se eles o pegarem, o que será dela? Corre. Fique acordado. Se você morrer, quem saberá o que descobriu?

Ele correu.

À frente deles, ele ouviu um chifre de caçador. Ele ficou tenso. Parou de funcionar. Olhou para Amice.

— Se eles tiverem... cachorros... — ele fez uma pausa, ofegante, tentando recuperar o fôlego. — Estarei morto.

Amice assentiu com os olhos grandes.

— Acima da árvore? — Eles estavam encostados em um grande carvalho, seus galhos nus. Era alto e eles poderiam passar despercebidos lá em cima. Henry sacudiu a cabeça.

— Nós estaremos... presos, — sussurrou Henry. Amice assentiu enquanto continuava. — Temos que... atravessar a água.

— Sim.

Se cruzassem um pequeno riacho, os cachorros perderiam o cheiro. Valia a tentativa.

Eles esperaram para ver se podiam ouvir os caçadores, depois seguiram em frente. Os bosques estavam vazios.

Amice ouviu, todos os sentidos preparados. Eles tinham que achar água. Eles andaram em frente, ouvindo.

— Henry, — Amice sussurrou. — Onde estamos?

— Indo... sul, — sussurrou Henry de volta. Ele tinha que parar e descansar. A dor estava o desgastando e a perda de sangue o deixando tonto. Ele ainda podia sentir isso correndo, embora o fluxo tivesse diminuído. A ferida era um talho e não uma facada. Se fosse uma facada, o teria matado.

Eles passaram pelas árvores. Henry viu Amice ficar tensa.

— Escute? — Ela sussurrou.

Ele se esforçou para ouvir o que ela ouvia. Um gotejar, fraco e murmurante. Ele assentiu.

— Agua. Por aqui. — Ele apontou um pouco para a esquerda.

Amice assentiu.

— Vamos lá.

Eles chegaram à água depois de dez minutos de caminhada. Um riacho raso, cortando o chão da floresta. Estava calmo e tranquilo, a água limpa apesar das folhas que enchiam o barranco. Henry afundou-se contra o tronco de uma árvore, sentindo-se subitamente fraco.

— Cruze primeiro, — ele sussurrou para Amice. — Então eu vou atravessar.

Amice assentiu. Ela levantou as saias um pouco e atravessou o riacho. Ela ficou na margem, olhando ansiosamente.

— Venha. Henry! Eu posso ouvir alguma coisa.

Henry levantou-se devagar. Por que tudo doía tanto? Ele estremeceu e atravessou o riacho. Então ele desmoronou.

— Henry! — Amice gritou.

Henry estava deitado onde caíra, cansado demais para continuar. Ele olhou fixamente para as folhas, sabendo que morreria se não obtivessem ajuda em breve. Ele não podia morrer. E quanto a Amice? E ele? Se ele morresse agora ele nunca mais a veria. Nunca descobririam o que aconteceu em sua história.

Rangendo os dentes, grunhindo com esforço, ele rolou até se ajoelhar, seu tronco caiu para frente. Então ele se levantou.

— A aldeia é por ali.

Amice assentiu. Ela estava chorando, as lágrimas escorrendo sem palavras pelo rosto.

— Nós vamos chegar lá, — disse Amice suavemente. — Nós vamos. Você vai viver. Por favor, viva.

Henry riu, mas a ação machucou suas costelas, então ele parou.

— Vou tentar.

— Boa.

Eles caminharam, passo a passo vertiginoso, dolorido, através das árvores.

A fumaça, afiada e rica, vinha de perto. Henry respirou o cheiro, que se agitou em seus sentidos confusos e cansados. Ele tossiu.

— Fumaça, — disse ele para Amice.

Ela assentiu.

— Eu sei. Eu também posso sentir o cheiro. Deve ser alguém fazendo fogo.

— Devemos estar perto agora.

Amice assentiu.

— Eu acho que posso ver uma parede.

Henry sentiu as pernas fracas quando olhou para onde ela estava olhando. Ela estava certa. Lá na margem das árvores, havia uma casa. Eles conseguiram atravessar a floresta para algum lugar.

— Sim, — disse ele. — Agora, eu preciso... andar.

Amice riu.

— Sim, amor. Sim, você vai. — Ela pegou o braço dele e, por mais que ele estivesse relutante em fazê-lo, Henry achou que ajudava a se inclinar contra ela. Juntos, cansados e aliviados além de qualquer coisa que Henry já conhecera, saíram da floresta e foram para a fazenda.

O cheiro de feno e calor flutuou até Henry, misturando-se ao cheiro de fumaça. Ele tropeçou nas pedras do quintal e sentiu Amice envolver as mãos firmes em volta do seus ombros, puxando-o para cima. Sua visão estava nadando, agora, um túnel estreito de preto que admitia uma pequena imagem de cada vez.

— Seguro, — ele sussurrou. Eles foram até a porta. Ele ouviu um lavrador dizer alguma coisa e gritou de volta. — Socorro.

Ele falou em francês e sabia que não era compreendido, mas ouviu Amice repetir as palavras e o homem apareceu. Então uma mulher saiu pela porta, cabelos cobertos por um gorro de linho. Ela deu uma olhada em Amice, nele, e saiu para ajudar.

Quando a mulher mais velha pegou o outro braço, puxando-o para cima, Henry sentiu a dor cegante surgir em seu lado esquerdo enquanto ela esticava a ferida. Sua visão nadou e vacilou. Ele desmaiou.

A última coisa que ele se lembrava era de ter visto o rosto amável de Amice, uma expressão de preocupação se alinhando em sua testa.

Se essa é a última coisa que eu vejo, pensou Henry, seu coração se aqueceu, eu vivi minha vida também.

Ele deixou a escuridão preencher sua visão, afundando-o completamente. O barulho de um fogo, crepitante, atingiu seus ouvidos. Perdido na lembrança da hospedaria em chamas, Henry se esforçou para acordar. Ele tinha que se mover, tinha que alcançá-la. Se ele não fizesse, ela iria queimar.

Ele se sentou de olhos arregalados. Onde ele estava? O quarto não era familiar e ele estava em uma ampla cama de dossel, um fogo rugindo na grade da lareira oposta.

— Amice, — ele disse com sono. — Onde está Amice?

Ele ouviu uma voz mais velha dizer alguma coisa. Quem quer que fosse o dono da voz, ela parecia confusa. Ele ouviu outra voz responder. Então ele ouviu uma terceira voz, uma que ele reconheceu.

— Ele é... Oh!

Amice estava lá. Ele sentiu a mão dela pegando a dele e então a viu, o rosto macio com seus grandes olhos castanhos arregalados de ternura e cuidado.

— Henry, — disse Amice, sentando-se ao seu lado. — Graças a Deus você está acordado.

— Eu estou, — disse ele secamente. Tentou rir, mas a dor o transpassou e ele parou. Ele mal conseguia pensar ou falar, cada palavra chegando até ele através de uma névoa. — Onde estamos?

— Estamos na fazenda. Essas pessoas são chamadas de Lewis. Eles nos ajudaram. Nós teríamos morrido se eles não tivessem nos deixado entrar.

— Provavelmente, — Henry assentiu. — O que aconteceu?

— Chegamos à casa da fazenda assim que os caçadores saíram da floresta. Eles haviam atravessado o rio. Eu os ouvi perto da fazenda. Quando entramos, os ouvi passar pelo quintal. Eles teriam nos visto... — ela balançou a cabeça, soluçando.

— Bem, eles não fizeram. Graças ao Céu — Henry acrescentou. Ele riu e então ofegou. A dor parecia estar piorando, por alguma coisa. Ele fechou os olhos, rangendo os dentes.

— Sra. Lewis disse que você precisa ser medicado — Amice disse, voltando sua atenção para a dor de sua ferida.

Ele assentiu.

— Eu acho que ela está certa.

Amice riu. Então ela estava séria novamente.

— Precisamos levá-lo para um mosteiro ou algo assim, em algum lugar onde as pessoas possam ajudá-lo e não façam perguntas.

— Boa... ideia. — Henry soltou um suspiro. — Existe um?

— Eu perguntei a Sra. Lewis. Ela disse que a abadia de São Bernardo está próxima.

— Boa.

Amice segurou a mão dele.

— Você deveria descansar. Experimente e coma alguma coisa.

— Eu deveria tentar, — Henry concordou. — Você também.

— Sim.

Henry respirou com dificuldade. Sua visão estava embaçada e ele podia sentir sua cabeça latejando. Ele estava com frio, tanto frio. Ele sabia que estava começando a ficar febril.

— Ouro. No...bolso.

— Eu vou olhar, — prometeu Amice. — Sinto muito, Henry. Mas nós tivemos que tirar suas roupas.

Henry corou.

— Amice! Você me surpreende.

Amice deu uma risadinha.

— Fechei meus olhos, juro.

— Eu não acredito em você.

Ele ouviu Amice rir e voltou a dormir abruptamente, levando a lembrança daquele som brilhante para o escuro.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

TEMPO E DESCANSO


A viagem para a abadia levou um dia inteiro. Foi um dia que Amice desejou esquecer. Sentada ao lado da cama de Henry na cela monástica fria, ela tentou não pensar sobre isso.

Eu quase o perdi.

Henry estava queimando de febre, tremendo e suando, murmurando coisas sem sentido enquanto o levavam para a carroça. O fazendeiro Lewis os levara até lá e, quando Amice deu a ele e a sua esposa uma moeda de ouro da bolsa de Henry em agradecimento. Ele quase chorou de apreciação.

— Eu não sei o que teríamos feito sem eles, — Amice murmurou. — Eu quase perdi você.

Henry estava inconsciente desde aquele dia. Ele ainda estava inconsciente, um dia depois. Isso fazia três dias de febre. Hoje, algo havia mudado. Em vez de tremer e se contorcer, ele ainda estava imóvel. Padre Brogan, o curador da abadia, lhe dera algo na noite anterior, quando as convulsões tinham começado. Amice realmente pensou que eles iriam perdê-lo.

Agora ele está apenas dormindo.

Ela olhava para o rosto dele. Ele estava descansado e seu rosto sem rugas, mas isso a alarmou com a rapidez com que perdia peso. Ele estava magro agora, com anéis escuros ao redor dos olhos, a boca rígida com linhas. Ele não tinha comido em três dias, embora ela tivesse conseguido colocar algumas colheres de água em seus lábios.

Ela ouviu alguém andar pesadamente pelas lajes. Um homem mancando, a estaca de madeira que ele usava como uma bengala batendo no chão grosso de pedra. Ela se virou.

— Padre Brogan?

— Mina filha. Como ele está?

— Ele está dormindo, — disse Amice, fungando.

O velho monge estava ao lado dela. Ele olhou para o rosto calmo.

— Tudo o que podemos fazer, minha filha, é orar. A ferida está muito melhorada. Quando eu costurei, não cheirava mal. Eu acho que ele vai voltar para nós. Rezemos.

Quando ele abaixou a cabeça, Amice fez o melhor que pôde para se concentrar. Falava em latim e o som dele a envolvia, acalmando seus sentidos e acalmando sua alma. Quando ele terminou e se afastou, Amice olhou para Henry.

Ele era tão bonito. Ela esticou a mão e tocou a sua fria e sem vida. Ela mordeu o lábio. Tão bonito. Ela acariciou o cabelo dele.

Ele se mexeu. Ela congelou.

— Padre Brogan?

Ela chamou o padre com certo alarme, meio que pensando que aquilo era uma doença nova, talvez o retorno de convulsões. No entanto, Henry não se mexeu. Em vez disso, os olhos dele piscaram e depois se abriram.

— Henry?

Ela sorriu para ele. Ele piscou e o olhar azul se focou em seu rosto. Ele franziu a testa.

— Amice? Mas... o que...? Onde? — Ele pegou a mão dela, apertando os dedos com força. — Eu estava... estava queimando. Eu pensei que você estivesse morta. — Ele olhou para ela, seus olhos azuis bebendo ao vê-la.

Ela riu.

— Eu pensei que você estava morto. Henry! Graças ao céu! Você voltou para nós.

Henry piscou.

— Minha cabeça. Eu... — Ele balançou a cabeça, franzindo a testa e depois sorriu. — Eu acho que vou viver, — disse ele suavemente.

Amice estava chorando agora, as lágrimas rolando por suas bochechas. Ela também estava rindo.

— Sim, — disse ela com uma risada. — Sim, Henry. Eu também acho.

Ela o beijou carinhosamente e depois foi procurar o padre. Ele franziu o cenho para a convocação dela e então, quando viu seu paciente sentado e olhando ao redor, aparentemente acordado e bem, seu grande e solene semblante se abriu em um sorriso.

— Quantos dedos eu tenho? — Ele disse a Henry, segurando três. Henry franziu a testa. Ele olhou de lado para Amice.

— Ele pergunta quantos dedos tem? — Ela traduziu.

— Dez, como todo mundo, espero, — disse Henry. Então ele viu o que ela queria dizer. — Oh. Três.

O padre olhou para Amice, confuso, e ela traduziu.

— Ele disse três, padre.

— Bom, bom. — O padre sorriu. Ele parecia muito feliz. — Certo, — disse ele, apertando as mãos. — Agora vamos para o próximo estágio. — Amice franziu a testa para ele, preocupada, e ele riu, continuando: — Nós o alimentaremos.

— Ah! — Amice sentiu o coração disparar de alívio. — Boa. Eu posso ajudar com isso, padre.

— Bom, bom, — disse ele, balançando a cabeça, o mesmo largo sorriso no rosto. — Eu preciso ver meus outros pacientes. Sempre tantos pacientes. Você cuida dele, minha lady.

Amice assentiu.

— Eu cuidarei.

O padre saiu, deixando-os sozinhos. Quando ele se foi, Amice olhou para Henry. Ela riu.

— O quê? — Henry disse. Ele parecia ofendido.

Amice apenas riu.

— Oh, Henry. É tão bom ter você de volta.

— É bom estar de volta, — ele replicou. — Agora. O que o sujeito disse? Estou em ordem?

— Ele disse que você precisa comer.

Henry riu.

— Agora nunca uma palavra mais verdadeira foi falada. — Ele se arrastou para sentar. Amice viu-o estremecer e inclinou-se para a frente, movendo os travesseiros para que ele pudesse se sentar corretamente.

— Você pode não se sentir capaz de comer muito por um tempo, — ela advertiu quando o padre voltou com uma vasto prato de mingau fumegante e uma jarra de água.

— Tente-me, — Henry desafiou.

Ela riu e o monge, entendendo apenas parcialmente a troca, também riu. Então Amice pegou a tigela dele e ele saiu, deixando-os sozinhos.

— Agora, — disse Amice suavemente, segurando-o e passando-lhe a colher, — se você está muito cansado, eu vou alimentá-lo.

Os olhos azuis de Henry olharam para os dela. Ela sentiu o calor inundar seu corpo quando viu a expressão neles. Ela tossiu. Henry sorriu.

— Se você quer que eu fique nessa cama para sempre, — ele disse, sorrindo, — faça isso. Se você me estragar muito, juro que nunca vou sair.

Amice riu, sentindo alegria, brilhante e maravilhosa, encher seu coração. Henry estava de volta.

— Agora, eu não sei por onde começar com um paciente tão recalcitrante, — disse ela severamente. — Mas eu vou alimentar você. Sente-se direito.

Henry obedeceu e ela levantou a concha de mingau, segurando-a nos seus lábios. Ele tomou um gole, seus olhos azuis olhando profundamente nos dela. Ela sentiu um lento tremor começar em seu corpo, cortando o cansaço e a preocupação e fazendo-a querer jogar a precaução ao vento e se deslizar sob as cobertas com ele, seu corpo pressionado contra o dele. Ele sorriu.

— Eu recebo mais disso?

— Oh! — Amice riu, concentrando-se novamente. — Claro. Aqui.

Ela levou a concha aos lábios novamente e ele tomou um gole do mingau. Ela tentou não se concentrar naqueles lábios duros e moldados onde eles apertaram a borda da colher, a maneira como sua garganta se movia quando ele engolia. Ela podia sentir seu corpo tremendo e ela queria tanto beijá-lo, tocá-lo e abraçá-lo.

Eles terminaram metade da tigela assim. Henry suspirou.

— Por mais que eu queira que isso continue, me sinto um pouco cansado, — disse ele. — Se você não se importa, eu iria dormir um pouco.

— Claro, — Amice assentiu, colocando o mingau de lado. — Durma meu amor. E recupere sua força. Quando você estiver bem o suficiente, nós estaremos a caminho.

— Sim. Boa. Para Dunkeld.

Amice piscou, sentindo os olhos embaçarem.

— Para Dunkeld.

Demorou quatro dias. No final, Henry foi capaz de andar pela sala sem se sentar.

— Estou pronto, — disse ele.

Amice protestou.

— Não, você não está, — disse ela com firmeza. — Você não vai a lugar nenhum! Como você pode?

— Eu posso tentar, — disse Henry com firmeza. Ele a observou com aquele olhar azul morno. — Por favor, minha querida. Nós temos que tentar. Eu tenho uma carta para escrever ao meu rei. Então devemos ir.

Amice assentiu. Ela estava animada e exultante, mas também se sentia um pouco triste. Sua jornada estaria chegando ao fim em breve. O que aconteceria quando chegassem a Dunkeld? Seus pais seriam convencidos a aceitar seu casamento?

Eles saíram naquela tarde, viajando para Queensferry com a carroça. De lá, eles teriam que contratar cavalos e pegar a estrada para Dunkeld. Na floresta, com os primeiros brotos aparecendo nas árvores, o som de pássaros tagarelando e vislumbres de céu azul no céu, Amice sentiu a alegria encher seu coração. Ela estava com Henry e eles estavam indo para casa.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

INCERTEZA E DÚVIDA


Enquanto se afastavam do porto, Henry sentiu seu ânimo se elevar, apenas para senti-los afundar novamente com um mal-estar crescente. Eles estavam chegando ao fim de suas viagens, ele percebeu, franzindo a testa preocupado.

A principal preocupação, claro, era o que a família dela pensaria dele. Ele era estrangeiro. Pior que isso, ele era inglês. As tensões entre os dois países eram altas. Sua família o aceitaria? Provavelmente, não.

Se a atitude do duque era algo para continuar, duvidava.

O duque certamente sabia que ele era inglês. Que ele descobriu enquanto estava no castelo. Ele havia lido uma carta que o homem enviara ao bispo local, denunciando Henry e pedindo perdão pelo assassinato.

Ele não teria se referido a mim como um porco inglês amaldiçoado se pensasse que eu era francês, eu acho.

Isso foi o que ele escreveu em sua última carta para casa. Ele tinha pouco mais a informar além do fato de que sua presença havia sido detectada. Isso em si já era suficiente para ver sua espionagem chegar a um fim abrupto e decisivo. No entanto, ele estava feliz com isso.

— Henry? — Amice o chamou.

— Sim?

— Veja. Nós podemos ver um navio.

— Sim. — Havia um navio mercante a sair do porto, para a baía, o vento enrijecido em velas de lona branca.

Eu posso ser um simples marinheiro se eu sair da espionagem. Eu prefiro ser um simples marinheiro casado com Amice, é claro.

Ele olhou pelo canto do olho enquanto cavalgavam juntos. Ela era tão bonita, com as costas retas enquanto cavalgava, o cabelo solto e lavando os ombros como chuva vermelha.

Ela sorriu para ele, estimulando o cavalo à frente e ele suspirou. Ele sabia de uma coisa. Sua vida estaria vazia sem ela. Ele quase podia desejar que o assassino o tivesse matado na estalagem, do que pensar em encarar a vida sem ela agora.

— Uau! — Ela gritou, cavalgando ao longo dos penhascos do mar, o cabelo caindo para trás, o manto azul ondulando atrás dela.

Durante a permanência no mosteiro, ela adquirira alguns lençóis de linho e costurara uma espécie de vestido, uma longa túnica que ela cingia na cintura. Era disforme e branco cremoso, mas combinava com ela. Ele a observou, respirando a beleza dela.

Ela era como nenhuma mulher que ele já conheceu. Conhecera muitas mulheres e teve muitas amantes, mas nenhuma delas o havia cativado como ela. Ele era dela, e sempre a amaria.

— Henry, — ela chamou, se voltando para ele. Ela estava sem fôlego, o rosto corado e todo o seu corpo doía quando olhou para ele, seus lábios rosados úmidos e sedutores.

— Sim?

— Antes de chegar a Queensferry, paramos em uma cidade chamada Seafirth. Acho que devemos parar por aqui esta noite, sim?

Henry encolheu os ombros.

— Você é a única que fez isso antes, — disse ele suavemente.

Ela sorriu.

— Eu suponho que sim. Bem, felizmente me lembro do caminho.

— Sim. — Ele sorriu. — Ou estaríamos em apuros.

Ela riu.

— Oh, Henry. Eu mal posso esperar para voltar para casa!

— Tenho certeza disso, — disse Henry. Seu coração se contraiu quando ela disse isso. Ele não queria que a jornada terminasse. Ele estava fugindo de tudo e agora que eles poderiam finalmente relaxar um pouco, ela estava impaciente para que isso acabasse. Ele suspirou.

— Espero que os monges entreguem minha carta, — disse ele, mudando de assunto enquanto ela cavalgava ao lado dele.

— Tenho certeza que eles vão, — ela comentou. — Com sua rede de diferentes abadias, sua carta não poderia estar em melhores mãos.

— De fato, — Henry assentiu. Ele também tinha menos preocupação de que o duque a interceptava. Por que alguém esperaria que sua carta viajasse com os monges?

— O que você descobriu? — Amice perguntou. — Você não tem que me dizer, é claro, — ela hesitou. — Eu entenderei se você preferir não dizer.

Ele sorriu.

— Bem, posso lhe dizer que o duque sabia quem eu era.

— Ah, — Amice franziu a testa. — Como você descobriu isso?

— Bem, eu não acho que ele me chamaria de porco inglês se ele não soubesse.

Amice cobriu a boca com a mão.

— Ah não! Eu sinto muito por ele ter dito isso. Meus compatriotas podem ser francos em suas expressões.

— Mmm, — disse Henry, franzindo a testa. — Se... — ele fez uma pausa. Ele queria perguntar como poderia ser recebido em sua casa, mas não queria preocupá-la.

— O que, Henry? — Amice franziu a testa. — O que é?

— Nada, — disse ele, sorrindo. — Eu estava pensando em... se tivermos que trocar cavalos, onde faremos isso?

— Ah. — Amice fez uma pausa, considerando. — Bem, nós fizemos isso em Gorling. Mas suponho que poderíamos mudar mais cedo?

— Não, nossos cavalos estão decansados, — disse ele, então suspirou. — Eu gostaria que não tivéssemos tido que deixar seus belos cavalos para trás.

Amice olhou para ele.

— Não me lembre. Chorei por dois dias sobre isso.

Henry fechou os olhos.

— Sinto muito, minha querida. Eu não sabia disso. — Ele balançou a cabeça. — Quão doente eu estava?

— Você estava muito doente, — disse Amice. — Oh, Henry. Pensei que também te perderia.

— Isso é ruim, hein? — Ele estremeceu. Ele ainda podia sentir o jeito que a ferida puxava seu peito e ele podia se lembrar de alguns incidentes ao acordar, sua cabeça em tormento, seu corpo gelado, e o suor escorrendo dele. No entanto, tudo foi perdido sob o delírio da febre.

— O padre Brogan era muito habilidoso, — comentou Amice. — Eu gostaria de ter agradecido a ele corretamente.

— Bem, talvez tenhamos uma chance de agradecer aos nossos ajudantes, — disse ele. — Eu gostaria de poder encontrar Ainsley e agradecer a ela também. — Ele contou a Amice sobre a mulher que o ajudou a escapar da briga.

— Sim. — Amice assentiu. — Talvez meu pai possa encontrá-la de alguma forma quando for a Edimburgo.

Henry franziu a testa. Ela já estava vendo um futuro quando ele estava na Inglaterra? Ele balançou sua cabeça. Se tivesse metade de sua inteligência, ele também o veria.

O vento soprava do mar, frio e salgado. Ele respirou fundo. Seria bom estar de volta a um navio novamente. Ele se concentrou nisso e esqueceu as dificuldades imediatas da separação.

Naquela noite, eles pararam na aldeia de Seafirth. Henry seguiu até a estalagem e eles pediram um quarto para a noite.

No andar de cima, eles entraram no quarto com cautela. Era um pequeno, com uma única cama vasta dominando o espaço. Uma janela dava para o horizonte. Amice fechou a porta atrás deles e mexeu nas alforjes, parecendo distraída.

Henry olhou pela janela, para o pôr do sol, tentando não pensar nela e no fato de que eles estariam compartilhando uma cama.

Eu não sei se eu posso me manter longe dela.

Ela ofegou e ele se virou, seu membro doendo com sua necessidade por ela.

— O que é isso, querida? — Disse ele, mas sua voz estava apertada em sua garganta e ele teve que tossir para limpá-lo.

— Eu só tive um pensamento, — disse ela. — Eu tenho seu lenço. HQ, está gravado. Acabei de perceber que não sei o nome da sua família.

Henry olhou para ela. Ele riu.

— Quinn, — disse ele. — Eu sou o capitão Quinn.

Amice assentiu.

— Quinn, — disse ela. Então ela riu. — Eu não consigo acreditar! Eu tenho viajado com você todo esse tempo, e não nós apresentamos. Prazer em conhecê-lo, capitão Quinn.

Ele sorriu.

— Lady Amice. Tenho o prazer de poder conhecê-la, finalmente.

Ambos estavam desamparados com risos, então. Ainda rindo, ele se inclinou para frente e a beijou, gentil e lento. Ela suspirou e seus lábios se separaram. Seus braços dobraram em volta dele e ele sentiu todo o seu corpo respondendo ao dela. Ele a puxou contra si, seu membro duro com sua necessidade. Ela se inclinou para frente e ele tropeçou, caindo na cama.

Eles ficaram juntos, surpresos e sem fôlego. Ela estava ao lado dele e ele a olhou nos olhos. Ela se inclinou para beijá-lo, seus seios macios pressionados contra o peito dele. Ele gemeu e abraçou-a, puxando-a contra ele.

Sua língua penetrou em sua boca e seu corpo inteiro ficou tenso de desejo quando o fez, o doce calor de sua boca sobre ele o deixando louco de desejo. Seu corpo estava tenso com a necessidade e ele desejou poder virar-se e deitar-se sobre ela, tirar aquele vestido bonito e disforme e entrar nela.

Ela estava pressionada contra ele, sua boca trancada com a dele e seus braços estavam de seu pescoço. Ele acariciou os cabelos dela, beijou-a e deixou as mãos acariciarem suas costas, descendo pela espinha até as nádegas macias. Ele podia senti-los através do linho, os músculos firmes e queria tocá-los, senti-los contra ele.

Ele gemeu e sentou-se, todo o seu corpo pulsando. Ele balançou sua cabeça.

— Sinto muito, Amice, — disse ele com tristeza. — Você não imagina o quanto. Mas eu não posso.

Ela olhou para ele com grandes olhos castanhos.

— Eu sei, — ela sussurrou. Sua própria voz estava apertada. Ele suspirou.

— Devemos ter a nossa refeição, — disse ele com tristeza. — E depois dormir.

— Sim.

Ambos estavam subjugados quando desceram as escadas para a sala de jantar. Um jantar de peixe e cerveja logo restaurou seus espíritos, e eles estavam conversando e rindo novamente em pouco tempo.

Amice contou-lhe um pouco sobre sua família, parecia que ela vivia com um número insondável de tias, tios e primos.

— Isso é notável, — disse ele. — Era só eu e meu pai, quase toda a minha vida.

— Ah, — disse Amice, cobrindo a boca com tristeza. — Isso é terrível.

Henry riu.

— Na verdade não. Quer dizer, eu não conhecia nada melhor, sabia?

Ela riu.

— Oh, Henry.

— O que disse.

Ela apenas sorriu e sua mão encontrou a dela e apertou-a. Ele às vezes pensava que, se a perdesse, perderia o coração. Ela já era muito parte disso.

Naquela noite, foram na ponta dos pés até o quarto de dormir. Amice pegou o cinto e desamarrou. Ele sentiu todo o seu corpo estremecer quando a viu fazer isso.

— Não olhe, — Amice sussurrou. Ele assentiu. Ele virou as costas e obedientemente olhou para o outro lado. Virou-se a tempo de vê-la levar a túnica por cima da cabeça, as costas compridas e claras e as duas nádegas duras e arredondadas expostas. Sua respiração ficou presa na garganta e ele pensou que poderia realmente entrar em colapso por necessidade. Ela pegou e vestiu o traje da noite que a cobriu de vista e o vestido disforme dobrou e guardou. Ela se virou e ele a ouviu se sentar na cama.

— Pronto, — ela falou. — Sua vez.

— Eu pediria para você não olhar, — ele disse com um sorriso enquanto pegava sua camisa, e então se virou para o lado oposto da sala, — mas eu suspeito que você não iria ouvir de qualquer maneira.

Ela riu. Ele ouviu seu riso delicioso que disparou seu pobre corpo para um desejo ainda maior.

— Não, — disse ela.

— Não o quê? — Ele perguntou quando virou-se, encolhendo os ombros na camisa.

— Não, eu não olharia.

Os dois riram e foram para a cama.

— Boa noite, — ela sussurrou.

— Boa noite.

Ele a ouviu se virar e reprimiu um gemido, depois virou-se, fechando os olhos com força.

Ele esperava ser atormentado por seu corpo e sua necessidade, mas estava muito mais cansado do que achava que estava e, antes que percebesse, adormecera.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO

VOLTAR AO FORTE


Dunkeld.

No momento em que eles estavam perto, Henry viu uma mudança em Amice. Ele notou que ela se tornava mais alerta, sua postura ereta, o rosto corado. Ele franziu a testa e então percebeu o que era. Eles estavam quase em sua casa.

— Não está muito longe agora, — ela falou por cima do ombro para ele.

Henry assentiu.

— Boa. Isso é bom. — Ele estava envolto em seu grosso manto de lã, com cobertores de pele de carneiro nas pernas e nas mãos, mas ainda estava com frio. A ferida no peito havia se aberto há dois dias, embora fosse apenas uma pequena lágrima. Sua alegria em ver o sorriso de Amice apagou todas as suas preocupações.

— Eu posso ver a torre. Lá em cima, olhe! — Ela apontou para cima das árvores verdes. A floresta aqui era de coníferas, espessa, densa e verde-escura, as árvores já mais claras e com novo crescimento aqui e ali. Era primavera. Ele olhou para onde ela olhava.

— Sim. Eu vejo isso, — ele balançou a cabeça, dando-lhe um sorriso. — Parece uma fortaleza poderosa.

Amice ficou vermelha.

— Espero que você goste.

Henry riu.

— Eu gosto de tudo em você.

Amice corou.

— Henry. Você é muito lisonjeiro.

— Nem um pouco disso. — Ele sorriu.

Ela estendeu a língua e ele riu.

A floresta crescia na encosta aqui, então eles foram mais devagar, seguindo um caminho que serpenteava para a direita, indo para o portão.

— Aqui está! — Amice cantou. — Estamos em casa.

Henry ficou olhando. Enfrentavam um portão de ferro entre duas torres, as próprias torres feitas de pedra cinzenta, parecendo crescer da encosta como dois pilares naturais firmes. Enquanto ele observava, uma sentinela olhou para baixo.

— Lady Amice! — Gritou ele. Seu rosto se iluminou com um largo sorriso. — Minha dama! Abram os portões!

Amice gritou para ele.

— Fergall! Sou eu! Deixe-nos entrar! — Ela acenou.

Os portões se abriram e eles entraram.

Henry olhou em volta. Estavam em um pátio pavimentado de pedra, todo o lugar cercado por uma parede espessa. O prédio que se erguia diante deles era um lugar severo de pedra cinzenta, uma colunata firmada no pátio de treinamento, um lance de sete ou oito degraus de pedra cinza que levavam à porta. Enquanto eles estavam lá, a porta se abriu e uma mulher apareceu. Ela estava vestida de veludo preto, um kirtle preto e um cinto em sua cintura. Seu cabelo era como a escuridão de carvão, seu rosto claro com maçãs do rosto arrogantes. Seus olhos, quando olhavam para Amice, eram redondos e brilhantes.

— Amice! — Ela ofegou.

— Tia Alina! — Amice cumprimentou a mulher. Ela subiu os degraus e abraçou-a. Quando eles se afastaram, a mulher mais velha estava sorrindo, Amice chorando.

Elas se falaram, rapidamente, e Henry, que tinha pegado uma palavra ou duas de gaélico em suas viagens, ouviu.

A mulher mais velha disse alguma coisa e Amice sorriu. Então ela gesticulou para ele. Ele piscou. Amice disse outra coisa. Ele reconheceu seu nome e a palavra — amigo. Ele sorriu.

A mulher mais velha levantou uma sobrancelha, olhando para ele interrogativamente. Quando seus olhos negros encontraram os seus, ele teve a sensação mais peculiar, quase como se ela estivesse olhando em sua mente, lendo seus pensamentos. Passou quando ela desviou o olhar. Ela sorriu para ele.

— Bem-vindo, — disse ela. Foi só depois dela ter dito que ele percebeu que ela disse em italiano. Salve.

— Obrigado, — ele disse em francês.

Amice olhou de um para o outro e riu. Então, com o braço ligado ao da mulher mais velha, ela a seguiu para dentro.

Henry seguiu as duas.

No salão, eles foram recebidos por um grupo de pessoas. Henry não os contou, mas supôs que fossem seis ou sete. Eles também estavam vestidos de preto. Ocorreu-lhe que todos estavam de luto. Ele segurou a respiração, pensando que Amice poderia ter más notícias para receber. Ele foi ficar ao lado dela.

Todos estavam rindo. Uma mulher alta com longos cabelos ruivos correu para Amice e abraçou-a, lágrimas escorrendo pelo rosto. Um homem da sua idade com cabelos castanhos espessos e um grande sorriso bagunçou seus cabelos, e então a envolveu em um abraço de urso. Amice tossiu e pousou a mão no braço dele, rindo. Então ela viu outra mulher, um pouco mais velha que ela, e adivinhou. Ela tinha as maçãs do rosto salientes e os olhos das pálpebras pesadas de Alina, mas as mechas vermelhas de Amice a quem ele supunha ser a irmã dela. Amice correu para ela.

— Joanna!

Os dois se abraçaram. Joanna olhou para ele por cima do ombro da irmã, e ele tinha a mesma sensação de coceira em sua mente, como se ela estivesse vendo dentro dele. Ela acenou para ele e disse algo para Amice.

Amice corou e se virou para encará-lo.

— Irmã, — ela disse em francês. — Conheça lorde Henry. Ele é meu bom amigo.

— É bom ter um amigo, — disse Joanna. — E qualquer amigo seu é bem vindo aqui. Bem-vindo, lorde Henry.

Henry levantou uma sobrancelha. A mulher falava francês tão bem quanto ele. Ele pegou a mão dela.

— Honrado, minha lady.

Amice estava ocupada cumprimentando um homem que Henry assumiu ser seu pai, um homem alto com um longo rosto ossudo e cabelos escuros e, em seguida, uma mulher bonita com cachos loiros. Então ela se voltou para ele.

— Venha, Henry! Você deve conhecer todos. Esta é minha mãe, Lady Amabel e lorde Broderick, meu pai, e Brodgar, meu irmão, e Henriette, sua esposa, e aqui estão tia Chrissie, tio Duncan, tio Blaine e... Oh! — ela sorriu, rindo. — Muitas pessoas.

— Tenho certeza de que vou encontrá-los em um tempo adiante, — disse ele com um sorriso irônico. — Mas eu não deveria me intrometer em seu retorno.

— Henry! — Ela disse com raiva, — você é bem-vindo. Venha. Eu entendo que há uma refeição disposta no solar. E você deve falar com Alina. Ela pode consertar sua ferida.

— Eu ficaria grato se ela pudesse examiná-la, sim, — Henry assentiu.

— Eles pensaram que eu estava morta, — explicou Amice sem rodeios.

Henry riu.

— Oh! Isso explica o preto.

— Sim

Alina estava ao seu lado, uma presença solene.

— Deixe-me ver essa ferida. Eu posso dizer que está drenando muito da sua força. Precisa de um novo curativo.

Henry assentiu aliviado.

— Você poderia ter lido minha mente, — ele disse sinceramente.

Ela levantou uma sobrancelha preta arqueada.

— Não, desta vez, — ela disse enigmaticamente. Henry piscou e ela sorriu. Pela primeira vez desde a chegada, ele se sentiu em alerta. Ele procurou por Amice, mas ela estava no centro do grupo de membros da família, rindo e sorrindo.

— Vamos, — disse Alina. — Primeiro algo para comer, e então você precisa de um novo curativo.

— Eu não poderia concordar mais.

Ele seguiu o grupo no andar de cima para um solar bem decorado. Lá, a mesa estava preparada para uma refeição e os criados trouxeram os pratos assim que se sentaram. Ele se sentou ao lado de Amice no meio da mesa, com a mãe dela em frente, Alina à sua esquerda. O resto da família os cercou e perguntas vieram de todos os lados.

— Espere! — Lady Amabel riu, fazendo um gesto moderado com uma mão. — Deixe Amice falar.

Amice pigarreou.

— Primeiro, devemos comer, — disse ela. Isso foi recebido com rugidos de aprovação. Henry sorriu. — Mas antes de fazermos, devo dizer que, o Lorde Henry e eu, estamos muito gratos por estar de volta com todos.

— Sim! — Brodgar gritou. — E estamos contentes de ver você e tudo mais. — Ele falou em francês quebrado, e Henry sorriu para ele com gratidão.

— Toda a sua família fala francês? — ele sussurrou para Amice, que estava sentada ao lado dele. Isso tornaria as coisas consideravelmente mais fáceis para ele. Ele imaginou que não haveria maneira de falar.

— A maioria deles, — disse Amice. — Meu pai e tio Duncan falam menos. O tio Blaine não fala nada. Não o leve para o assunto dos cavalos de guerra franceses. Você não vai ouvir o final disso.

— Cavalos de guerra franceses? — Perguntou Henry.

Ela revirou os olhos.

— Tudo. Apenas não faça isso.

Henry riu e ela riu com ele. Então o servo estava distribuindo grandes quantidades de sopa e todos estavam comendo e rindo. Henry sentiu sua força lentamente retornando e o fogo em suas costas aqueceu seus ossos de dentro para fora. Ele se sentiu melhor do que em dias.

Mais tarde, Lady Alina levou-o ao andar de cima para uma sala de torre onde olhou sua ferida. Ela removeu a bandagem com uma fungada.

— Está se inflamando de novo, — disse ela.

Henry estremeceu.

— Eu pensei que poderia ser isso.

— Precisamos lavá-lo com uma tintura de bálsamo.

Henry piscou.

— Eu estou em suas mãos, minha lady.

Alina fez uma careta de ironia.

— Na minha, você pode estar, — disse ela, enquanto desenrolava o curativo. — Mas acredito que você também está sob os cuidados da minha sobrinha. E ela na sua.

Henry olhou para ela. Ele não ia perguntar como ela sabia disso. No entanto, o que ele poderia dizer?

— Sim, — ele disse simplesmente.

Inesperadamente, ela sorriu.

— Boa. Venha — ela se virou para o fogo e jogou a velha bandagem, que se abriu dramaticamente e depois queimou. — Vamos apenas secar isso... — ela pegou um pano de linho e secou-o. Henry estremeceu enquanto ela trabalhava. Ela aplicou um forte fluido olfativo na ferida e então recuou, acenando em satisfação.

Começou a queimar como fogo e Henry ofegou. Alina sorriu.

— Certo. O tecido não é decadente então. Isso é bom. Agora, precisamos enfaixá-lo. Você precisará disso três vezes por dia. E não discuta comigo.

— Sim, minha lady.

Ela sorriu para ele e olhou para cima quando ambos ouviram passos no corredor.

— Tia?

— Estamos terminando, querida, — Alina disse, habilmente amarrando o curativo em torno de seu peito. Era apertado e o fez ofegar, mas ela parecia inconsciente de qualquer barulho de dor dele.

Amice entrou.

— Henry! Aí está você! Eu queria lhe falar.

— Quase pronto, — disse Alina. Ela recuou. — Pronto. Agora eu recomendo que você use uma túnica nova que esta cheira horrivelmente — acrescentou ela, passando-lhe sua velha túnica de linho.

Ele corou.

Amice deu uma risadinha.

— Oh, tia.

— Bem, já disse, — disse Alina com um sorriso. — Agora, vou procurar algumas bandagens novas. Você sabe onde estão as túnicas limpas, Amice.

— Sim, tia.

Os dois estavam sozinhos. Henry sorriu para Amice.

— Você tem uma família adorável, — disse ele.

— Sim, — Amice assentiu. Ela parecia distraída e ele franziu a testa.

— O que é, querida? — Ele sentiu um súbito pânico. Alguém o denunciou? O que tinha acontecido? — Diga-me o que é. Não pode ser tão ruim assim.

Ela sorriu e sentou-se ao lado dele no poltrona.

— Não é. Eu estava conversando com mamãe e... — ela olhou nos olhos azuis dele. — Ela disse que a escolha é minha. Mas eu não sei...

— Não sabe o que? — Henry perguntou gentilmente. Ele pensou que sabia o que ela queria dizer, e sentiu o coração dele ficar triste. Ela queria dizer que não sabia se queria se estabelecer com ele. — A escolha é sua, — ele concordou. — E bastante natural se... — ele parou quando ela limpou a garganta.

— Se o que?

Ele balançou sua cabeça.

— Não se preocupe comigo, querida. Você deve decidir. Eu vou respeitar isso. — Ele engoliu em seco, tentando se preparar para o que ela diria. Ele não sabia se poderia ouvir isso dela, as palavras que o afastariam dela. Ainda assim, ele tinha que fazer.

Ela soluçou.

— Oh, Henry. É tão difícil! Mas eu não posso te perguntar... — ela fungou. — Você teria que deixar a sua casa e tudo, e...

— O que você quer dizer? — Henry perguntou, embora a esperança estivesse de repente queimando nele e ele sentiu suas bochechas coradas com a nova alegria disso.

— Eu não posso esperar que você realmente, verdadeiramente pense... — ela fez uma pausa, — de me pedir para casar com você.

Henry olhou para ela. A alegria floresceu em seu peito, enviando calor e brilho como as bolhas no vinho através de sua mente e coração.

— Amice MacConnoway, — disse ele solenemente. Ele pegou a mão dela. — Eu queria dizer isso há semanas. Você quer se casar comigo?

Amice olhou para ele.

— O que? Henry..? Eu... — ela colocou os braços ao redor dele e o beijou. — Sim. Sim! Eu me casarei com você.

Ele riu, ela riu e então seus braços estavam ao redor dela e os dela ao redor dele e seus lábios estavam juntos, beijando apaixonadamente, intensamente e alegremente.

Quando eles quebraram o beijo, Henry olhou para o rosto dela, seu coração cheio de admiração.

— Ah, Amice, — ele disse suavemente, acariciando aquele lindo cabelo ruivo da testa dela. — Eu te amo muito. Você me faz muito feliz.

Mais tarde, Henry esperou na colunata enquanto Amice entrava no quarto da mãe para conversar sozinha. Sentia-se tenso por ela, pois a mesma passara algum tempo explicando as expectativas da família e por que achava que seu pedido poderia ser recusado.

Henry respirou profundamente, observando o vento se mover sobre a floresta. Ele ouviu passos atrás dele e se encontrou de frente com Brodgar.

— Você é estrangeiro, — disse Brodgar francamente.

Henry engoliu em seco e assentiu.

— Isso mesmo. — Ele se sentiu tenso, esperando para entrar em ação. Esse escocês imensamente musculoso, vestido com túnica, calças e kilt, provavelmente seria do tipo que matara ingleses antes. Ele não tinha certeza de como suas notícias seriam recebidas.

— Você não é francês, não é mesmo? — Brodgar disse, estreitando os olhos para ele.

— Não, — Henry concordou.

— Eu pensei que não. Eu viajei por essas paragens e nenhuma delas se parece com você. Você é inglês.

Henry engoliu em seco.

— Sim. — Ele fez uma pausa, coração batendo. Ele não tinha armamento e não teria sonhado em levar algum para a casa de Amice. No entanto, ele sentia a necessidade de um escudo, pelo menos. Com seus ombros largos e postura levemente curvada, esse irmão era um guerreiro.

— Ah. — Brodgar sorriu, então. — Bem, se você fosse francês, teríamos um pouco de dificuldade.

— Nós teríamos? — Henry franziu a testa. — Por quê?

— Não vê, metade da família é francesa. Se você fosse francês também, teríamos muitos franceses. Você é uma lufada de ar fresco. Bem-vindo.

Henry olhou para ele, sabendo que ficou boquiaberto e incapaz de parar.

— Você quer dizer... Obrigado, — disse ele, recuperando-se rapidamente e estendendo a mão para apertar a mão grande e carnuda de Brodgar. — Estou honrado em ser bem-vindo à sua morada.

Brodgar riu.

— Bem, estamos satisfeitos por ter você aqui, — ele concordou. — Qualquer um que faça Amice feliz é meu amigo.

— Eu faço? — Henry perguntou, sentindo-se satisfeito.

Brodgar revirou os olhos.

Henry riu.

Estavam de pé conversando quando ouviu passos cruzarem a colunata. Ele olhou para cima. Amice estava lá. Seus olhos brilhavam.

Ele deu a ela um olhar questionador.

— Oh, Henry! — Ela disse, correndo para ele. Então ela estava rindo enquanto contava o que aconteceu. — Ela disse sim.

— Isso é maravilhoso, — disse Brodgar atrás deles.

Henry mal o ouviu. Seus braços eram rodeados em Amice e ele não conseguia pensar em ninguém ou qualquer outra coisa. Não conseguia pensar em nada além das maravilhosas notícias. Ele estava aqui, com Amice. Eles poderiam finalmente casar.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

CASAMENTO E MARAVILHA


A primavera chegara à floresta, os pinheiros verdejantes de novo cresciam. As rosas brotavam no pátio e o ar cheirava a inebriantes lilases.

Amice estava em seu quarto enquanto sua serva, Blaire, atava seu vestido. Era um vestido branco de veludo fino. Caia até ao chão com uma cintura baixa, e um cinto branco e dourado que se agarrava aos quadris. Seus cabelos estava escovado até que brilhavam e quando ela terminou com os botões, Blaire colocou uma coroa de flores de primavera em seu cabelo, e então prendeu o véu, um suave sussurro de gaze da França.

Amice se olhou no espelho polido. A garota no espelho era alta e macia, com lábios vermelhos e largos olhos castanhos. O vestido branco se ajustava perfeitamente, moldando-se à cintura estreita e aos quadris largos. Ela rodou e o tecido pesado a seguiu, sussurrando em seus tornozelos. Ela se sentia tão bonita. Atrás dela, ela ouviu uma tosse.

— Você está bonnie9, moça.

Amice sorriu para sua serva, que estava chorando, lágrimas furtivas percorrendo suas bochechas.

— Blaire, — ela disse gentilmente, — não chore! Eu estou feliz.

— Eu também estou minha moça. Eu também estou.

Ela entregou a Amice um buquê de narcisos e gardênia e elas saíram da sala e desceram as escadas. Broderick e Amabel estavam ao pé das escadas, Joanna e Alina, Henriette e Brodgar, Duncan, Chrissie e Blaine. Ela sorriu para todos eles.

Quando ela ligou o braço ao de Broderick, que a levaria para a capela nos jardins do castelo, todos deram parabéns. Ela viu Alina olhando para ela com carinho e engoliu em seco. Era tudo maravilhoso demais.

Entraram na capela, a luz esverdeada e descendo das altas janelas do clérigo até o salão. Ela piscou, deixando os olhos se ajustarem à escuridão. Então ela o viu. Alto, vestido de linho branco e calças escuras, era Henry. O sol brilhava em seu cabelo claro e ele era tão adorável que ela não conseguia falar.

Ele se virou e olhou para ela, e aqueles olhos azuis queimaram os dela. Ela sentiu suas bochechas levantarem em um sorriso. Ele sorriu de volta, o sorriso especial que eles compartilhavam. Então ele olhou de volta para o padre. Ela veio e se juntou a ele no altar.

O padre pigarreou e começou a cerimônia. Amice deixou as palavras latinas fluírem ao redor dela, familiares e amáveis. Algumas delas, que eram como o francês que ela entendia. O resto ela sabia de cor.

— Henry Arthur Quinn, vis accípere Amice MacConnoway, hic præséntern in tuam legítimam marítum iuxta ritum sanctæ matris Ecclésiæ?10

Henry pigarreou.

— Volo, — ele disse com voz rouca.

Amice sentiu a palavra vibrar nela. Volo. Quero. O padre virou-se para Amice com um largo sorriso.

— Amice MacConnoway, vis accípere Henry Arthur Quinn, hic præséntern in tuam legítimam marítum iuxta ritum sanctæ matris Ecclésiæ?

Ela limpou a garganta.

— Volo. — Quero.

Ele disse mais algumas coisas, e Amice sentiu seu coração disparar quando a cerimônia chegou ao fim. Ele os pronunciou marido e mulher.

Amice sentiu sua respiração quando Henry se virou para ela, suas mãos gentis erguendo o véu que cobria seu rosto. Então ele estava sorrindo para ela, seus olhos azuis brilhando quando eles olharam para o dela. Ele se inclinou para frente e seus lábios se tocaram, tão gentilmente. Ela fechou os olhos quando ele se inclinou para frente, sua boca delicadamente mordiscando a dela, seus próprios lábios deslizando sobre os dele, e suas mãos gentilmente acariciando seus cabelos. Ela estendeu a mão, colocou as mãos nos ombros dele e sentiu como se seu coração pudesse explodir.

Então eles estavam se virando para o espaço lotado onde toda a família dela estava, olhando para eles e sorrindo. Eles eram marido e mulher.

***

— Henry?

Henry olhou para Amice, onde ela se sentou ao lado dele na mesa do banquete no grande salão.

— Sim, — disse ele, levantando a voz para transportar o ruído. O salão estava lotado de pessoas, os guardas, os moradores do povoado e os criados, os caboclos, fazendeiros e inquilinos, todos acomodados no vasto espaço. Em algum lugar, um violino tocava e muitas pessoas dançaram.

— Você está com sono? — Ela perguntou.

Henry levantou uma sobrancelha.

— Não particularmente, — disse ele. Ele se sentia bastante acordado.

— Oh. — Amice franziu a testa. — Eu pensei que poderíamos... sair daqui um pouco mais cedo.

Henry sentiu o sangue correr para seu pênis quando ele entendeu o significado dela de repente.

— Oh, — disse ele. — Sim. Talvez devêssemos. — Ele olhou em volta.

Seus pais estavam bem acima da mesa, e eles se sentavam com Brodgar e Henriette, sua esposa, com Joanna e seu calmo e bonito marido e com a mulher alegre que Amice disse ser sua tia Chrissie. Nenhum deles estava procurando descansar naquele momento, todos focados nos dançarinos.

Amice sorriu para ele.

— Ficamos tanto tempo quanto deveríamos.

Ele assentiu.

— Sim. Bem, talvez devêssemos esperar até o gaiteiro começar a tocar — disse ele, examinando o salão em busca de possíveis distrações. Amice riu. — O que foi? — Ele perguntou.

— Parece com... os velhos tempos, — disse ela com um sorriso. — Como quando nos conhecemos.

Henry riu.

— Você quer dizer todo esse subterfúgio?

— Sim.

Ele sorriu carinhosamente para ela, lembrando daqueles dias. Parecia que pertencia a outro tempo, uma lembrança distante que eles compartilhavam, embora na verdade tivesse sido apenas um mês atrás. Aqui, com ela vestida com seu traje de noiva, cercada por seus parentes conversando e rindo, parecia um sonho.

O flautista começou uma melodia ritmada e agitada enchendo o salão.

— Sim! Dança do Feno! — Alguém gritou, lançando-se no ritmo. Todo mundo estava rindo, batendo palmas, alguns estavam cantando. Na mesa alta no estrado, os parentes de Amice estavam todos assistindo a dança.

— Agora, — sussurrou Henry.

Amice assentiu. Ela empurrou a cadeira para trás e se deslizou silenciosamente pelas as costas do estrado. Henry esperou, mas ninguém comentou nada e assim, trinta segundos depois, ele se levantou e saiu silenciosamente.

Eles se encontraram no pátio, sem fôlego e rindo. O ar estava fresco e Henry puxou Amice para perto, envolvendo o braço em volta dos ombros dela.

— Vamos entrar.

Seu coração estava batendo em seu peito, seu corpo lentamente pegando fogo. De tão perto, ele podia sentir o cheiro doce e floral dela e as notas baixas, inebriantes e picantes que não eram perfume, mas o próprio cheiro natural dela. Ele sentiu seu membro apertar e ele a puxou para perto, com os braços apertados ao redor dela.

Eles entraram no corpo principal do castelo, aderindo às sombras. Eles não queriam ser vistos e alertar a família que ambos estavam planejando evitar o constrangimento da cerimônia da cama. Esta era uma noite só para eles.

Henry seguiu Amice enquanto ela subia a escada em espiral até o andar onde ficavam os aposentos, e eles se deslizaram silenciosamente pelo longo do salão superior até a porta. Ela abriu e eles se deslizaram para dentro.

Ele estendeu a mão para ela, atraindo-a para um beijo.

— Henry, — ela sussurrou.

Ele sorriu. Seus lábios desceram sobre os dela e seu corpo a pressionou. Sua virilha estava latejando agora e ele mal conseguia controlar sua necessidade dela. No entanto, ele faria. Esta era a noite deles. Uma noite em que ele queria que tudo fosse certo para ela.

Seus lábios se moveram sobre os dela e sua língua sondou, muito gentilmente, entre os seus. Ele ficou tenso quando experimentou a doçura de sua boca. O gosto era doce e seu membro se endureceu mais ainda quando ele a penetrou com a língua, saboreando sua doçura e segurando-a perto dele.

— Amice, — ele sussurrou.

Ele acariciou o cabelo dela, ela olhou em seus olhos, e ele abaixou-se suavemente, removendo o véu. Deixou-o cuidadosamente sobre a mesa e depois se voltou para ela. Seus olhos olharam para os dela e ele a beijou novamente. Seu corpo, firme e arredondado, pressionou contra seu peito esbelto e ele a puxou mais apertado em seu abraço, mesmo quando a beijou novamente, sua língua empurrando e sondando em sua boca. Ela murmurou enquanto suas mãos se moviam para seus ombros, e ele se atrapalhou, sentindo um botão.

Ela olhou para ele, os olhos cheios daquele brilho impertinente que ele lembrava de sua jornada juntos. Ele acariciou o cabelo dela, e então alcançou atrás dela novamente, soltando o segundo botão.

Ele foi desfeito e depois o seguinte e o seguinte. Tremendo, ele se moveu de modo que seus lábios acariciaram a pele macia e perfumada de sua garganta. Ele mordiscou suavemente e ela ofegou. Ele moveu-se para baixo, seus lábios deslizando sobre sua clavícula e depois abaixando ainda, procurando por seus seios.

Ela ofegou quando ele desabotoou o vestido e puxou-o para baixo. Ela usava uma anágua abaixo e ele puxou-a para baixo de seus ombros, expondo seus seios. Ele ofegou. Alta e firme, as pontas rosa como pétalas, eram lindas. Ele não pôde resistir a levar um a sua boca e trabalhar nele com seus lábios. O mamilo se endureceu sob a língua dele.

Ela ofegou e ele deu uma risada ofegante, olhando nos olhos dela.

— Eu não estou machucando você? — Ele perguntou sinceramente.

Ela olhou nos olhos dele com aquele olhar impertinente.

— Henry Quinn, você não é problema algum.

Ele rugiu de rir e depois a alcançou novamente. Ele balançou o outro seio dela, em seguida, empurrou-a suavemente abaixo dele para a cama. Ela ficou lá e ele olhou para ela. Seu cabelo ao redor de seus ombros claros, aqueles seios doces apontando para o teto, ela era tão bonita que ele mal conseguia se conter. Ele pegou o vestido e passou-o pelos quadris. Ele se deslizou e juntou-se a seus pés.

Ela ofegou e se sentou enquanto ele deslizava sua anágua para baixo sobre seus quadris. Ela estava nua na cama.

Ele olhou para ela, não acreditando muito no que via. Suas curvas doces, a pele tão clara na colcha de pano cru. Ele estendeu a mão para tocar aquelas pernas acetinadas e deixou a mão cair.

— Você é tão bonita, — ele murmurou.

Ela sorriu para ele. Ela estendeu a mão e beijou-o e ele sentiu seu corpo pegar fogo com a necessidade quando seus lábios se separaram sob sua língua. Ela estava tão perto e ele podia sentir o cheiro doce dela, aquele cheiro almiscarado que ele lembrava de suas viagens. Ele a queria tanto que cerrava os dentes.

— Você é tão bonita, — ele rosnou.

Ela sorriu e deixou que ele a empurrasse de volta para a cama, suas mãos acariciando sua cintura, seus quadris, sua coxa. Ela riu então e ele franziu a testa.

— Cócegas?

— Sim! — Ela riu e então protestou quando ele fez isso de novo, querendo vê-la sorrir. Ele fez cócegas nela e ela riu impotente, e então se sentou.

— Eu acho que esta situação é injusta, — disse ela, com os olhos dançando.

— Oh?

— Estou em desvantagem, senhor. Você está vestido.

— Oh. Sim. — Ele olhou para sua túnica e calça. Ele quase se esquecera disso.

Ela estendeu a mão e puxou a túnica e ele riu, puxando-a sobre a cabeça. Quando ele se levantou e continuou a despir, ele a viu olhando para ele com total abertura. Ele riu.

— Eu suponho que você já viu tudo, — disse ele, corando de vergonha quando a viu dar-lhe um olhar apreciativo.

— Só por trás — disse ela, com a voz provocadora e cadenciada e depois ele não conseguiu mais se conter, rindo, juntou-se a ela na cama.

— Ah, Amice, — disse ele. — Eu te amo.

— Eu também te amo.

Ele deitou ao lado dela, sua mão deslizando sobre sua pele macia. Ela ofegou quando ele tocou seu corpo, e se ajoelhou na cama.

Ela olhou para ele com tanta confiança que ele sentiu o coração apertar. Então ele gentilmente se moveu para baixo e separou suas coxas. Ele não podia mais controlar seu tremor e sentiu como se todo o seu corpo explodisse se esperasse muito mais tempo. Ele abaixou-se de modo que estava entre as coxas dela.

— Sim? — ele disse, sua voz rouca.

— Sim, — Amice sussurrou. — Ai, sim.

Ele se moveu para que entrasse nela. Ele rangeu os dentes, esperando a resistência, e encontrou-o. Ele fechou os olhos e empurrou, muito gentilmente, não querendo machucá-la. Ela ofegou e a barreira se foi. Ele empurrou o resto do caminho e ela ofegou novamente, mas desta vez sua expressão não era de dor.

Ele recuou, retirando quase todo o membro, e depois avançou. Ela ofegou e gemeu de prazer enquanto ele se movia, saboreando o calor e a tensão dela ao seu redor. Estava voltando para casa depois de uma longa viagem, a segurança da lareira, a maravilha da perseguição e a acolhida do amor. Era tudo o que ele jamais imaginara e, além disso, ele se movia e dirigia, empurrava e pulsava dentro dela até que a ouviu gritar e então, choramingar, e sentiu seu corpo atingir o clímax.

Ele adormeceu em cima dela, seus corpos pressionados juntos, os braços em volta um do outro.

Mais tarde, quando acordaram, ele fez amor com ela novamente, mais devagar. Ele tomou seu tempo e se moveu mais baixo, dando prazer a ela com a boca. Quando ela ofegou e gritou sem palavras, ele entrou nela novamente, tendo renovado o prazer no calor e na maravilha de seu corpo.

Foram muitas horas e o céu já estava cinzento de manhã quando dormiram.


EPÍLOGO


As ondas lambiam o lado do navio. Amice agarrou-se, rindo, enquanto o mar batia em tábuas de madeira a dois metros abaixo de onde ela estava.

— Vamos! — Henry gritou de onde ele estava na frente do convés, chamando os marinheiros no cordame. — Cortem a vela, rapazes! Olhem! Terra à frente!

Amice sorriu. Ela observou-o secretamente enquanto ele trabalhava, cheia de admiração por ele e do modo como ele alegremente comandava o navio. Todos os homens pareciam respeitá-lo a ponto de morrerem por ele se precisasse.

Não houve pensamento de morrer neste dia. Neste dia, o vento cheirava a verão e eles estavam indo para a Escócia.

— Eu posso ver o porto, — disse Amice. Ela não tinha pensado que Henry tivesse ouvido, mas ele veio se juntar a ela um momento depois, quando o navio foi velejando, indo em direção à costa.

— Eu sei, — disse ele, beijando-a. — É bom estar de volta.

— É, — Amice concordou. Ela observou as colinas verdes se aproximarem mais. O vento estava rígido e eles se moviam rapidamente sob a vela.

No cais, a multidão habitual reunira homens para ajudar a transportar, homens para descarregar as cargas e os inevitáveis funcionários do fisco, esperando para checar suas importações. Por acaso, eles não tinham nada a declarar. Eles haviam navegado de Dover para Calais e agora estavam indo para Queensferry, tudo estava concluído. Esta era uma viagem por prazer. Eles estavam indo para casa.

Amice se aconchegou em Henry e ele colocou o braço em volta do ombro dela.

— Quase lá, — disse ele. E beijou seu rosto.

Quando eles desceram, ele estendeu-lhe a mão, firmando-a enquanto ela descia do passadiço para o píer. Ela riu.

— Oh, Henry. Eu não sou de vidro veneziano.

— Não, — ele concordou. — Você é muito mais preciosa.

— Henry Quinn, — ela protestou, rindo e beijando sua bochecha. — Nós não temos que ser tão cuidadosos por meses ainda.

— Eu não me arrisco, querida.

— Oh? — Ela olhou para ele, sorrindo. — Você não se arisca, não é?

Ele rugiu de tanto rir e atravessaram o porto para conversar com os homens da alfândega.

A jornada de Queensferry até seu castelo natal era cheia de recordações. Eles pararam nas mesmas estalagens e Amice se viu piscando as lágrimas mais de uma vez enquanto se sentava em lugares familiares, a lembrança de quando eles tinham viajado assim juntos, antes de refrescarem seus pensamentos.

— Henry, — ela sussurrou. — Eu te amo.

— Eu também te amo.

Em Dunkeld, eles foram recebidos de braços abertos. Henry conseguira aprender um pouco da língua dela no ano seguinte, e ele agradava a todos com suas tentativas. Todos acabavam rindo juntos.

Alina olhou atentamente para Amice.

Amice sorriu de volta para ela.

— Você vai viajar muito, e o homem com quem você se casou terá algo diferente sobre ele, — disse Alina, citando quase as mesmas palavra da profecia quando a revelou.

Amice pigarreou, sentindo os sentimentos se apertarem.

— Oh, tia, — ela disse gentilmente. — Você estava certa. Eu sei. Ele tem algo diferente sobre ele.

— Bem, sim, — disse Alina secamente. — Eu deveria dizer que o sangues inglês é o menor deles, mas eu estaria sendo injustamente crítico.

Amice rugiu de alegria e ambas compartilharam um sorriso especial. Henry olhou para elas carinhosamente e sentaram-se à mesa juntos.

Mais tarde, Alina confidenciou sua novidade a sua tia e sua mãe. Ela estava carregando uma criança.

— Você deve ficar aqui, é claro, — insistiu sua mãe. — E ter seu filho em Dunkeld.

— É o que nós desejamos. — Amice concordou. — Eu não quero qualquer outra parteira, mas você, tia.

Alina sorriu.

— Bem, então. Parece que você terá o seu desejo.

Ambos riram.

Eles ficaram o verão em Dunkeld e, quando o milho estava pronto para entrar no depósito, Amice estava em trabalho de parto.

O trabalho durou cinco horas, mas foi fácil e direto e, no final, Alina colocou um pequeno pacote embrulhado em seus braços.

— Aqui está sua filha.

Amice olhou para o rosto minúsculo e vermelho e sentiu seu coração se encher de amor.

— Ela é tão linda, tia. Tão bonita.

— Parabéns, minha querida. — Joanna sorriu para as duas. Ela havia ajudado no parto.

— Obrigada, — Amice sussurrou. — Eu poderia... Henry pode entrar agora?

Alina riu.

— Eu tive tanta dor por afastá-lo. Deixe-o entrar, Joanna.

Joanna sorriu e abriu a porta. Então Henry estava lá, com o rosto todo preocupado e com carrancas. Henry, que estava pálido como a morte e parecia selvagem de preocupação. Quando ele a viu, seu rosto se suavizou.

— Amice! — Ele disse. — Minha querida! Eu estava com tanto medo!

Amice riu.

— Oh, Henry. Você não tem medo de nada.

— Eu tenho, — ele disse gentilmente — De perder você.

Amice engoliu em seco.

— Meu querido. — Ela fez uma pausa. Ele estava olhando para o pacote em seus braços com tal expressão que ela pensou que seu coração poderia romper com o amor que sentia por ele naquele momento.

— Aquilo que...

— Conheça nossa filha, Henry.

— Nossa filha. — Ele riu. — Nossa filha! Minha cara Amice! Minha querida. Eu estou... — ele engoliu em seco. Sua garganta funcionou. — Eu estou tão feliz.

Amice riu.

— Eu também estou, querido.

Mais tarde, em seu quarto de dormir, com os braços em volta um do outro, a filha dormindo no berço ao lado da cama, aquecida na luz do fogo, discutiram possíveis nomes para ela.

— Amice, — sugeriu Henry. Amice riu. Ele franziu a testa. — O que?

— Eu não posso chamá-la com meu nome.

Seu rosto caiu.

— Bem, eu gosto do nome. O que então?

— Eu não sei, — disse Amice, franzindo a testa. — Eu tinha pensado em Amabel ou o nome da esposa de Alf Ambeal, e não podemos ter muitas Ambeals, ou Amabels.

— Bem, então, — disse Henry. Ele franziu a testa. — Que tal algo completamente diferente?

— Algo Inglês? — Amice perguntou.

Ele piscou.

— Você consideraria isso?

— Não tenho certeza, — Amice disse suavemente. — Nós poderíamos pensar sobre isso.

— Eu sei, — disse ele. — Que tal algo francês.

— Sim! — Amabel sorriu. — Perfeito. Que tal Amélia?

— Eu gosto disso.

Os dois foram ao berço.

— Amélia? — Amice disse gentilmente.

O bebê se mexeu, abriu os olhos.

Ambos assentiram.

— Bem, então.

Eles sorriram um para o outro e voltaram para a cama.

Debaixo do cobertor, Henry passou o braço em torno de Amice e ela se aconchegou mais perto.

Eles se beijaram e depois dormiram.

Quando ela adormeceu, Amice sabia que era incrivelmente feliz.

No final de sua longa jornada, ela finalmente chegou em casa para amar. Pois o amor está sempre apenas no horizonte, esperando até chegarmos para tocá-lo.

 

 


Notas

 

[1] Ale – cerveja.
[2] Alabarda é uma arma antiga composta de um machado e por uma longa haste. A haste é rematada por uma peça pontiaguda, de ferro, que por sua vez é atravessada por uma lâmina em forma de meia-lua, com um gancho ou esporão no outro lado.
[3] Kirtle – túnica feminina.
[4] Fáilte – bem vindo
[5] Sarabanda (do francês sarabande, por sua vez derivada do espanhol zarabanda) é uma dança em compasso ternário (geralmente 3/4 ou 3/2) e andamento lento.
[6] Lass - moça
[7] Breeks – calção britânico.
[8] Verderer -Guardas Florestal
[9] Bonnie – bonita.
[10] Henry Arthur Quinn, você toma Amice MacConnoway, aqui presente como sua legitima esposa como manda os ritos do matrimônio da Santa madre Igreja?

 

 

                                                   Emilia Ferguson         

 

 

 

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