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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O HIGHLANDER DO TERROR / Emilia Ferguson
O HIGHLANDER DO TERROR / Emilia Ferguson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Uma moça com o dom da Visão... um cavaleiro realista... e um duque implacável e ganancioso...
Uma Lady com uma mente própria
A voluntária e bela Amabel Blackheath foi presenteada com as maiores bênçãos e maldição de sua família — o dom da Visão. Ela pode ver coisas que não quer, mas seu maior desejo é se apaixonar. Ao descobrir que seu pai a prometeu secretamente a um homem com quem ela não deseja se casar, e ao saber que um duque intrigante que não se deterá em nada para casar com ela e assumir o controle das posses de seu pai, Amabel desesperada, sabe que a hora de tomar medidas chegou.
Um cavaleiro bonito sem delírios de grandeza...
Sir Rufus Invermore não é um ninguém — ele é um cavaleiro sem muitas coisas para se vangloriar, na verdade — mas ele conhece seu lugar na sociedade educada. Quando conhece a linda filha de duas famílias ricas e poderosas, ele acha que é melhor ignorar o súbito desejo de seu coração. É melhor ter seu desejo não cumprido do que interromper um casamento arranjado, ele assim acredita, a dama deve cumprir seu dever e ser responsável por produzir o herdeiro certo para o espólio de seu pai.
Casar-se por dever... ou seguir seu coração?
Enquanto na corte, visões de um possível futuro ameaçam tudo o que Amabel preza, especialmente o homem por quem seu coração se sente atraído, embora ele seja um cavaleiro humilde e ela é a filha de um duque. Se ela escolher seguir seu coração e seus sonhos, terá que enfrentar a desaprovação de sua família... e pior, porque o canalha que quer as propriedades de seu pai fará tudo o que ele achar necessário para arrancá-la dele, mesmo que isso signifique manchar a sua reputação e deixando-a espancada e sem sentidos por seus guardas...
Será que Lady Amabel terá a chance de ver o que o futuro reserva para ela quando se trata de amor, ou será que o dever para com sua família a impedirá de escolher o romance? Será que algo muito pior forçará sua mão?
Sir Rufus terá uma chance de ganhar a mão da dama — ou deveria desaparecer, deixando que ela se case com quem o pai escolhera?

 


 


As paredes do sol pareciam tremeluzir com a luz do fogo. Amabel, filha de Joanna, lady de Lochlann, rastejou para mais perto do calor da lareira enquanto ouvia seu pai.

— Agora, Amabel, — disse ele suavemente. — Lembre-se do que estou dizendo hoje.

— Sim, pai, — respondeu Amabel. Ela estava totalmente focada em seu rosto magro, as bochechas esculpidas com luz de fogo e sombra.

— Você — disse ele gentilmente — é filha de duas casas muito poderosas: Buccleigh e Lochlann. Com quem quer que você se case um dia administrará ambas as propriedades. Você deve escolher sabiamente, minha querida.

— Sim, pai.

— Você terá muitas pessoas procurando por sua mão. Escolha apenas quem parece digno. Sua herança é um tesouro, mas, acima de tudo, seu coração é ainda mais. Eu não veria você atraída por alguém que quer apenas a sua fortuna. Seja sábia.

— Sim, pai.

Ela estava o olhando e ele deve ter notado a gravidade de sua expressão, pois seu rosto se suavizou.

— Venha, baby. Não é tão ruim. Vamos planejar o baile para o seu aniversário. Eu pretendo ter músicos da vila para fornecer música e dança. — Ele estendeu a mão e bagunçou o cabelo dela.

Ela sorriu, embora fosse um sorriso triste.

— Sim, pai.

— Venha, querida, — disse ele quando deu-lhe um grande abraço, estremecendo um pouco quando ele se levantou de seu lugar junto ao fogo da lareira. — Eu não queria fazer você se preocupar. É seu aniversário. Desculpe, não quero rostos carrancudos.

— Sim, pai. — Ela sorriu e ele também.

— Isso é melhor. Agora, me pergunto se sua mãe não terminou de organizar os criados ainda?

Amabel riu.

— Eu me pergunto o mesmo.

Era raro sua mãe, Lady Joanna, planejar festas — ela era naturalmente reclusa e viviam em silêncio no castelo de Lochlann. No entanto, era o décimo sexto aniversário de Amabel, era o tempo dela ser apresentada à sociedade geral.

Eles querem que eu conheça alguém com quem eu possa casar um dia. Eu posso sentir isso.

Os planos para sua introdução na sociedade não parariam com um baile, ela sabia. Seu pai tinha planos de levá-la a corte na próxima vez que ele visitasse a capital, e tecidos para seus novos vestidos já estavam sendo rastreados pelos mercadores de roupas locais. Amabel sabia que ela deveria estar animada, mas em vez disso estava nervosa.

— Eu vou e encontrarei Webster, — seu pai suspirou. Webster era seu mordomo e a tarefa perpétua de seu pai parecia ser estar checando as contas.

— Sim, pai, — disse Amabel. — Eu vou ver se a mamãe não terminou no salão ainda.

Ele sorriu carinhosamente para ela, acariciando seus longos cabelos negros.

— Você é uma boa menina, Amabel.

Amabel sorriu de volta, engolindo em seco.

— Obrigada pai.

Ela viu seu pai caminhar lentamente pelo corredor com uma expressão preocupada. Sua claudicação havia piorado nesse inverno — sempre acontecia com o frio. Um velho ferimento de batalha nunca tinha sarado completamente.

Eu sei que vai piorar um dia.

Amabel sacudiu a cabeça para limpá-la. Quando o pai dela caminhou pelo corredor, pareceu-lhe que viu, sobreposto a ele, um homem mais velho e encurvado. Ela podia ver o homem que ele se tornaria.

Eu odeio isso!

Ela desceu as escadas com impaciência para procurar sua mãe. A visão! Por que ela, de todas as pessoas, herdou esse talento perigoso? Era o dom de sua mãe. Lady Joanna era uma vidente, como sua tia Alina antes dela. Amabel não queria isso.

Ela fez uma pausa, seu próprio rosto na superfície reflexiva de um escudo polido que chamava sua atenção. Um rosto comprido, com as bochechas cavadas e uma sobrancelha alta sobre os largos olhos azuis marcantes, ela não podia negar que herdara a beleza de seus pais. Isso, junto com o cabelo preto grosso e sua estrutura compacta, fez dela uma mulher impressionante. Ela suspirou.

Se eu pudesse apenas parar de ver as coisas antes que elas acontecessem, eu ficaria muito feliz.

Ela se sentia mal-humorada e inquieta e não sabia por quê. Quando ela se virou para descer as escadas, avistou sua serva, Glenna, na superfície espelhada. Nesse momento, o rosto de Glenna mudou, torcendo em um grito assustador. Amabel a viu caindo, caindo...

Não!

Ela fechou os olhos e se virou para a mulher.

— Milady? — Glenna olhou para ela, grandes olhos cheios de preocupação. — Você está bem?

Amabel suspirou.

— Sim, Glenna. Eu estou bem. Você viu a mamãe?

— Ela está no corredor, milady, — disse Glenna. — Supervisionando as decorações para esta noite. Tem certeza de que não há nada incomodando?

Amabel sacudiu a cabeça.

— Não, Glenna. Está tudo bem.

Ela tinha dezesseis anos e não sabia como dizer isso. Como diria a Glenna, quatro anos a mais que ela, que previu que ela cairia?

Ela balançou a cabeça, os lábios franzidos, e correu para encontrar sua mãe. Ela a encontrou no salão, de pé no estrado.

— Um pouco para lá, — ela estava comentando com as servas quando penduraram no lugar as grinaldas de folhas verdes brilhantes. — Pronto!

— Mãe? — Amabel disse gravemente.

Lady Joanna se virou. Mais alta que Amabel, com longos cabelos ruivos e grandes olhos graves, Joanna era uma presença calma e real. Ela observou Amabel como se quisesse focar no momento presente.

— Mmm? — Ela perguntou. — O que é isso, criança?

Naquele momento Colla, a governanta, entrou correndo.

— Minha lady! Oh! Minha lady! Por favor! Venha!

Amabel e Joanna trocaram um olhar.

Não, Amabel pensou assustada. Por favor, não deixe ser.

— O que é, Colla? — Joanna perguntou gentilmente.

— Oh! Ama! É a Glenna! Ela caiu! Oh! Por favor, minha lady! Ela está gravemente ferida...

Amabel mordeu o lábio. Ela queria chorar. Ela olhou nos olhos de sua mãe e elas compartilharam um longo e lento olhar.

Ela sabe. Ela sabe que eu sabia.

Amabel estremeceu.

— Vamos ver o que aconteceu, — disse Joanna gravemente. Ela se afastou, deixando Amabel, olhando atrás dela.

Ela não se importa, Amabel pensou tristemente, sentindo lágrimas quentes nos olhos. Ela as espantou com raiva, não querendo que os criados a vissem chorar. Ela correu do salão para o corredor.

Mãe pensa que porque ela tem esse dom, é uma coisa boa. Ela acha que posso aprender a administrar isso como ela. Ela não entende! Eu queria que fosse embora.

Ela desceu o corredor para se juntar a sua mãe ao pé da escada, e ver o que poderia ser feito. Enquanto ela caminhava para o pequeno grupo de servos, em pé, amontoados e angustiados, ela teve outro pensamento.

Eu me pergunto se posso prever meu próprio futuro?

Ela tentou se obrigar a ver alguma coisa, mas tudo o que pôde ver foi o contorno de uma silhueta encurvada a cavalo, um homem com ombros largos demais e musculoso para o pequeno cavalo de caça que ele montava. Ele tinha algo diferente sobre ele, uma força forte e brilhante em sua presença, como um cavalo preparado, consciente e confiante em seu poder.

Ela balançou a cabeça para limpar.

É só minha imaginação, ela disse a si mesma, impaciente.

Ela foi se juntar aos outros ao pé da escada, para ver o que ela poderia fazer.


CAPÍTULO UM

VOLTAR A FAZER PLANOS


— É bom estar de volta em casa — Joanna suspirou.

Amabel, cruzando o limiar da sala da torre, soltou um suspiro e assentiu.

— Sim, mamãe, é.

— Embora eu acredite que você se divertiu na capital ou não? — Joanna perguntou gentilmente. — Você encontrou alguns belos vestidos, pelo menos, — ela acrescentou, sorrindo. — O suficiente para usar quando voltarmos na primavera.

— Sim, mãe, eu consegui.

Amabel passou a mão pelo vestido longo com uma cintura fina e um decote em “V”, o vestido de veludo meia-noite e a saia de brocado azul. Era uma criação magnífica. Ela e sua mãe tinham ido aos mercados perto da catedral e compraram um monte de tecidos caros, alguns dos quais haviam feito roupas enquanto estavam na corte. Ela precisaria deles quando voltassem.

Joanna sorriu.

— Você pode usá-lo para o baile esta noite também, minha querida. Eu espero que não tenha sido muito organizar uma festa de retorno, mas é época de caça, e seu pai tem um nome para manter no distrito... — ela balançou a cabeça, um sorriso de exasperação no rosto.

Amabel assentiu. O pai dela, desde que se mudara para cá no ano anterior ao nascimento dela, lançara grande parte de sua energia para reviver a caça em Lochlann; reabastecer as florestas com caça, cortando trilhas, empregando cerca de vinte verderers, lenhadores e caçadores. Ainda assim, ela sabia que não era apenas por essa razão que ele planejara um baile aqui em janeiro. Era por ela.

Ela tinha vinte anos e eles desejavam que ela se casasse.

— Devemos ir e supervisionar o jantar, — continuou Joanna. — Acho que vou pedir que o presunto seja retirado, se não o usarmos agora vai estragar, e esperamos vinte convidados, e é claro que todos os homens de armas e lenhadores também estarão aqui...

Amabel assentiu. Sua mãe era uma administradora capaz, mas ela parecia gostar de incluir Amabel em suas escolhas e planos — algo que ela fizera desde que Amabel era uma criança pequena.

— Mãe, você acabou de chegar! Você não deve descansar um pouco? — Ela perguntou, preocupada.

Joanna riu.

— Você é sensata, querida. Venha. Vamos sentar e tomar uma cerveja. Blaire? — Ela chamou uma serva que estava passando.

— Sim, milady?

— Bolos e cerveja, por favor. E diga a Lorde Dougal que ele é bem-vindo para se juntar a nós, se ainda não estiver fechado com suas contas.

Joanna e Amabel reviraram os olhos uma para a outra e Amabel sorriu.

— Oh, mãe, — ela disse enquanto se sentavam frente a frente nos assentos de madeira entalhada da aconchegante sala da torre.

— Estou feliz em vê-la sozinha, parece que mal nos vimos na capital! Eu tenho muito a dizer para você... — ela parou quando Amabel riu com carinho.

— Eu sei! Tantas coisas para ver e fazer, sempre cercadas de pessoas... você sabe que isso não me agrada, minha filha. — Ela suspirou, recostando-se no banco e fechando os olhos.

Amabel assentiu devagar. Ela sabia o quanto a pressão constante de estar nos olhos do público pesava sobre sua mãe. Ela mesma era bastante indiferente a isso, se as pessoas quisessem olhar para ela, com admiração ou censura, então ficaria feliz em deixá-los olhar. No entanto, para sua mãe, era um dreno em seus recursos. Era bom vê-la se sentir à vontade novamente no conforto de sua sala privada.

Ela ouviu Blaire atravessar a soleira com uma bandeja — o jarro de barro de cerveja na superfície de metal, taças tilintando levemente junto com o progresso da mulher pelo chão.

— Ah, — Joanna olhou para cima de onde ela estava olhando para o anel do clã em seu dedo. — Obrigada, Blaire.

Ela sorriu com covinhas.

— Um prazer, milady.

Enquanto ela servia a mesa — o cheiro de bolos acabados de cozinhar flutuando até o nariz de Amabel da bandeja, — Amabel deixou-se concentrar em suas próprias preocupações sobre o baile.

Eu não quero que meu pai escolha um marido para mim.

Ela sabia que era costume que seus pais pelo menos sugerissem fortemente alguém, embora também soubesse que sua mãe não era o tipo de pessoa que forçaria sua escolha. Seus pais haviam escolhido um ao outro — embora ambos fossem perfeitamente adequados um ao outro em status também — e Lady Joanna prometera permitir à filha a mesma liberdade.

Desde que eu escolha em breve.

Ela suspirou, pensando nisso. Ela tinha vinte anos. Ela sabia que estava velha para ainda estar solteira, ou pelo menos sem qualquer perspectiva em mente. Sua própria mãe tinha a idade dela quando se casara, e, embora nenhum de seus pais tenha discutido isso abertamente, ela sabia que eles estavam preocupados com ela.

Eu não me importo, ela pensou calorosamente.

Se eles pensam que eu sou inadequada, deixá-los-ei pensar.

Ela sabia em seu coração que ela se importava profundamente. Era só que ser desafiadora era mais fácil do que deixar sua sutil desaprovação doer.

— Sabe, minha filha, — disse Joanna suavemente. Ela ainda estava olhando para as mãos.

— Eu sei o quê, mamãe? — Perguntou Amabel.

— Você tem um caráter forte. Mas você terá que deixar de ter.

Amabel franziu a testa.

— Mamãe?

Joanna olhou para ela sem ver e Amabel estremeceu. Ela sabia que sua mãe não estava no presente, mas vendo um futuro distante... distante. Ela recostou-se e ficou quieta. A visão de sua mãe vacilou e clareou. Ela piscou, e então suspirou, se acomodando de volta.

— Mamãe? — Perguntou Amabel. Ela estava ansiosa, pois sua mãe muitas vezes se sentia fraca e instável após tais acontecimentos. Ela também estava curiosa. O que ela tinha visto?

Joanna piscou.

— Desculpe querida. Você sabe como é...

Eu sei disse Amabel gentilmente.

— Mamãe? O que você viu?

Joanna sacudiu a cabeça para limpá-la.

— Talvez nada. Um homem forte. Um homem, você precisará de toda sua vontade para desafiá-lo.

— Um homem? — Amabel franziu a testa. — Ele é um homem perigoso? — Ela pensou em seu tio exilado, um homem que quase assassinara seu pai por falta de herança.

Ela estremeceu.

Joanna fez uma pausa.

— Eu não sei, — disse ela depois de pensar. — Eu não pude ver. Mas você deve ter cuidado com ele, minha filha. Ele traz perigo consigo.

— Oh. — Amabel olhou para as mãos dela, pensando. Ela sabia que nunca era sábio perguntar demais — as visões não eram claras e, às vezes, tentar lê-las era mais perigoso do que simplesmente ouvir e lembrar. Ela olhou para as chamas do fogo.

— Você espera muitos visitantes? — Perguntou Amabel, mudando de assunto.

— Por volta de vinte, como eu disse, — comentou Joanna. Ela também estava olhando para o fogo da lareira. — Os Barries do vale e os McLemand e seus filhos...

Amabel fechou os olhos. Arthur e Bruce eram a ruína de sua vida. Cada um era cortês, gentil e educado; eles eram tudo que a mãe dela queria para ela. Esse era, obviamente, o problema.

— Sim, — ela perguntou. — Quem mais?

Joanna fechou os olhos, pensando.

— Bem, acho que Blanchard Knox, de Gowan Hill, estará aqui, e os Whitlaw, mas você deveria perguntar ao seu pai.

— Eu vou, — Amabel assentiu. Ela franziu a testa. — Douglas virá? Douglas McIntosh era o único homem que conhecera de quem ela realmente gostava. Ele era quieto, sensível e marginalmente interessante.

— Eu não sei, — disse Joanna. — Acho que sim.

— Bom, — ela concordou suavemente. Eles se sentaram em silêncio por um tempo.

— Estou feliz por estar de volta, — disse Joanna suavemente, olhando para as chamas. — Apenas por um tempo. Tem sido um inverno difícil.

— De fato — concordou Amabel. Ela tomou um gole da cerveja quente, fervida para reduzir o álcool e aromatizada com especiarias. Era uma bebida quente para uma tarde de inverno. Fazia muito frio naquele inverno. As estradas de Edimburgo teriam sido intransitáveis se tivessem atrasado sua jornada de volta por uma semana. Assim, chegaram em boa hora. Agora teriam um baile.

— Eu deveria verificar o salão, — ela comentou.

— Eu vou, — insistiu Joanna, sentando-se e colocando a caneca no chão.

— Não, mãe, — Amabel disse gentilmente. — Não se preocupe. Eu vou descer. Eu sei o que se precisa fazer.

Joanna riu, evidentemente notando a aspereza naquela voz.

— Eu sei que você sabe, querida. Você é muito capaz. Às vezes me preocupo que você seja muito capaz. Muito decidida...

Amabel ficou chocada, levantando a sobrancelha.

— Mãe?

Joanna suspirou, recostando-se na cadeira.

— Não se preocupe comigo, querida, — disse ela. — Tenho certeza que é provável que nada...

Amabel franziu a testa. Sua mãe estava olhando fixamente para o fogo e ela adivinhou que tinha visto alguma coisa. Ela suspirou.

Toda essa conversa do futuro está me incomodando. Eu quero esquecer isso. Não posso apenas aproveitar o momento presente?

Ela caminhou levemente para fora da porta e pelo corredor.

Na colunata, o brilho da luz da tarde sobre a neve chamou sua atenção, deslumbrando-a. Da galeria, podia-se ver por cima da alta floresta de pinheiros, do outro lado dos telhados dos armazéns e da fortaleza, e até as distantes colinas cobertas de neve. Era uma cena fria, uma cena dura. Ela puxou o xale sobre os ombros e desceu as escadas, querendo se afastar da paisagem dura e fria para além das janelas.

No salão, ela encontrou o alvoroço e a agitação costumeiras. Os bancos estavam sendo retirados, juncos frescos espalhados sobre as lajes cinzentas e frias, e havia servas varrendo o estrado, enquanto homens puxavam um vasto tronco de árvore para queimar na imensa lareira da parede esquerda.

— Ah, Glenna, — Amabel sorriu para sua serva. Ela havia sobrevivido ao outono, embora ela tivesse uma longa cicatriz que cortava seu lábio inferior em direção ao queixo e seu ombro tivesse sido quebrado e curado. — Tudo está conforme o planejado?

— Sim, milady, sim — Glenna assentiu. Ela era gravemente adorável e mal notava a cicatriz.

— Temos as cortinas e tapeçarias arejando no ar lá fora? — perguntou Amabel, notando alguns espaços nas paredes onde faltavam tapeçarias.

— De fato, milady. Mantendo afastadas as traças.

Amabel assentiu.

— Muito bom. Eu vejo que você é mais do que capaz de organizar as coisas aqui — ela acrescentou com um sorriso para sua criada. — Eu vou para a cozinha.

— Muito bom, milady.

Amabel se virou na porta assim que a governanta apareceu, parecendo preocupada.

— Milady! — Ela disse. — Oh, graças a Deus. Com seu pai ocupado e sua mãe no andar de cima... Eu não sabia para quem recorrer! Os convidados estão chegando!

Ah, Amabel sentiu o coração pular no peito e lutou pela compostura. Ela não ia permitir que alguns convidados a irritassem.

— Deixe-me recebê-los, Sra. Knott.

— Oh, obrigada, milady.

Amabel saiu para o corredor, indo para as portas principais.

Ela estava lá quando Lorde Alexander, pai de Arthur, chegou, e Blanchard, o lorde vassalo de confiança do pai no vale vizinho.

— Boa noite, Lorde Blanchard, — ela cumprimentou o homem compacto com a cabeça careca sinceramente.

Ele sorriu.

— Lady Amabel! Eu declaro! Você fica mais adorável toda vez que eu te vejo. — Ele olhou para ela com olhos grandes.

Ela riu.

— Obrigada, Lorde Blanchard, — disse ela, sorrindo com carinho. O lorde e vassalo de seu pai era um bom amigo da família, e sempre simpático com ela. — Venha para o solar. Nós vamos ter refrescos servidos. E Glenna vai te mostrar seu quarto, — ela adicionou, levantando uma sobrancelha ao ver Glenna, que pegou sua indicação e se apressou em ajudar.

Amabel se voltou para a porta.

— Ah! Lorde Alexander. Arthur. Bruce. — Ela fez uma reverência para os dois jovens que estavam atrás dele. Alto e ruivo, elegante em grossas capas de pele, os dois jovens eram réplicas suaves e régias de seu pai alto e elegante.

— Minha lady! — Alexander disse, radiante. — Você deve, por favor, deixar seu pai saber como nós apreciamos o convite dele.

Amabel assentiu.

— Eu o direi.

— Sim, — Arthur acrescentou suavemente. — Será um grande prazer caçar com ele em sua propriedade. Estou ansioso por isso.

— Obrigada, — Amabel assentiu. Ela se viu olhando para as lajes, ao invés do rosto de Arthur, sentindo-se tímida. Ela sabia que suas bochechas estavam vermelhas e sentiu uma onda de impaciência consigo mesma.

Ele é apenas uma pessoa, Amabel.

Ela se fez olhar para ele.

Era um homem alto, com cabelos vermelhos até o queixo, tinha um rosto bonito, suave e olhos castanhos com pálpebras pesadas que lhe davam a aparência de um falcão sonolento, apenas acordando em algum lugar.

— Meu lorde, — disse ela em uma voz baixa e educada.

— Lady Amabel, — ele cumprimentou-a, curvando-se e beijando a mão dela. Seus lábios estavam frios pelo ar do inverno e pressionaram a frieza contra os nós dos dedos, a leve umidade de sua respiração pressionando sua pele. — É uma honra te ver novamente.

— Obrigada, meu lorde.

Ele e seu irmão tinham vindo à casa no outono, quando o pai dela fez uma festa semelhante na época. Ela se sentiu desconfortável, quase como se seu pai estivesse se esforçando demais para apresentá-la ao jovens dos arredores da vizinhança. Ela balançou a cabeça, encaracolando os cabelos negros sobre o ombro. Ela não ia deixar-se cair pensando assim.

Ela viu os olhos de Artur se arregalarem e depois voltar para a suavidade sonolenta e soube que ele estava impressionado com ela. Tinha vivido com esses olhares impressionantes por tempo suficiente para estar sutilmente ciente de seu efeito. Às vezes, também a deixava impaciente.

Eu não sou apenas um lindo cabelo e olhos azuis.

Ela suspirou. Bruce, seu irmão, uma versão de cabelos loiros de seu irmão sonolento com olhos de falcão, estava se curvando sobre a mão dela.

— Minha lady, — ele disse com cortesia. — É um prazer vê-la novamente.

Amabel sorriu para Bruce. Ele tinha grandes olhos verdes, mais sérios que os do irmão, e dois anos mais jovem que ela. Ela gostava mais de Bruce do que de Arthur, embora achasse que ele era obcecado demais por ser tão bom quanto seu irmão em tudo. Isso deformava seu caráter de outro modo descontraído.

— É um prazer vê-lo também, Bruce, — disse ela com carinho. — Agora, meus lordes. Por favor. Deixe a Sra. Knott mostrar-lhe seus aposentos. Eu vou ter refrescos enviados para o solar quando estiverem pronto para eles.

— Obrigado, — Lorde Alexander disse suavemente. Ele entrou, carimbando a neve de seus sapatos do ar livre no degrau antes de entrar. Seus filhos o seguiram.

— Minha lady, — disse Arthur, chamando-a quando ela se virou, prestes a voltar para o corredor. — Venha, ande conosco. Eu sinto a necessidade de falar, eu não te vejo há meses.

Ela subiu as escadas com eles embora, em seu coração, ela estava irritada por querer estar em outro lugar. Não era a companhia — Arthur e Bruce eram perfeitamente educados, — era esse excesso de cortesia e a etiqueta impecável. Ela sentiu como se estivessem agindo em um jogo de mummer1, não realmente falando um com o outro.

— Foi uma longa viagem? — Ela perguntou levemente.

— Mmm, de fato, — Arthur assentiu. — A neve tão alta quanto a minha sola de botas enquanto cavalgávamos pelas estradas. Eu agradeço ao Céu por qualquer pobre alma que tenha cortado as valas.

— Sim, — concordou Amabel.

Ele suspirou.

— Embora eu não devesse sobrecarregar uma moça com pensamentos tão desagradáveis.

Amabel sentiu a sobrancelha subir. Ela acompanhara a mãe para curar lenhadores feridos, provavelmente vendo mais sofrimento e dificuldades do que Lorde Arthur. Como ousa assumir que ela era melindrosa só por causa de seu gênero?

— Meu coração está com qualquer um que tenha que trabalhar neste tempo frio, meu lorde, — disse ela em voz baixa.

— Você é muito gentil, milady, — Arthur disse suavemente.

— Obrigada, meu lorde.

— Você vai acompanhar a partida de caça? — Ele perguntou.

Amabel sacudiu a cabeça.

— Não este ano, — disse ela.

— Bom, — ele respondeu, dando-lhe um sorriso suave. — Não é lugar para senhoras delicadas. Eu sempre fiquei chocado que seu pai tenha aprovado sua equitação conosco.

Amabel fechou os olhos, procurando calma.

— Meu pai nem aprovou nem desaprovou, — disse ela em voz baixa. — Fergus, nosso rastreador, disse que eu tenho essas habilidades.

As sobrancelhas finas de Arthur se ergueram.

— Seu pai confiou a um lenhador humilde a sua segurança?

— Fergus é um verderer habilidoso, — observou Amabel. — Ele não é um simples lenhador, — acrescentou ela. — E eu estaria mais segura com ele do que com qualquer outra pessoa.

— Não mais segura do que comigo, milady, — disse ele. — Eu sou um cavalheiro.

— Sim — concordou Amabel — você é.

Finalmente chegaram ao topo dos degraus e Amabel acenou para a esquerda.

— Por favor, — ela disse cortês, — deixe a Sra. Knott te mostrar seus aposentos. Preciso cuidar dos negócios no pátio.

— Claro, minha lady.

Quando Arthur se curvou e ela fez uma reverência cortes, Amabel estava com seu coração acelerado de alívio. Ela quase correu para o outro lado do corredor inferior, saindo pela grande porta dupla e entrando no pátio coberto de neve, as lajes estavam limpas da neve, o vento forte tremulando o fino xale e o vestido que ela usava.

Eu prefiro estar aqui no frio do que lá com aquilo tudo condescendente!

Ela se sentiu impaciente. Sabia que não deveria estar — afinal, tudo o que Arthur estava fazendo era sendo educado, — mas ela não podia evitar. Sua presença a assustava e ela descobriu que ansiava por estar longe dele. Ele era como uma gaiola, sufocando-a.

Eu não sou uma pessoa que gosta de ser mimada. Eu sou como um dos nossos falcões, nas cavalariças. Eu sinto a mesma alegria feroz que eles, em ser livre.

Ela desejou que alguém em sua vida pudesse entender isso.


CAPÍTULO DOIS

EM EDIMBURGO


— Sabe, Seamus... eu odeio a corte.

— Rufus... Sir Rufus Invermore — alguém o chamou laconicamente por cima do ombro enquanto ele e seu escudeiro subiam as escadas até o alojamento.

— Eu sei, senhor, — comentou Seamus. Ele era um sujeito sincero, sério e capaz. Rufus achava-o um companheiro agradável. A relação entre eles era mais parecida com amizade do que com a de mestre para servo. Pelo menos para ele era.

— Eu odeio a pompa, o público chato, a... algazarra, desculpe milorde... as maneiras... — ele suspirou desculpando-se quando esbarrou em alguém descendo as escadas.

— Sim, senhor, — disse Seamus calmamente.

— Eu odeio a... oh! Aqui estamos nós — disse ele, alcançando uma porta limpa e lixada. — É isso aí, sim?

— Acho que sim, senhor.

— Número três do final, sim?

— Eu acho que sim, senhor.

— Bem, então! — Rufus sorriu para o homem e recuou, batendo no ombro dele. — Vamos entrar! Eu poderia tomar um bom banho.

Seamus assentiu e caminhou à frente de seu mestre, que acabara de destrancar a porta — uma brecha inaudita — cambaleando com sua armadura.

— Pronto, milorde.

— Sim, — Rufus sorriu. — Obrigado. Agora, vamos tomar o banho e depois comer! Eu me sinto como um nórdico que está preso na armadura desde a Noruega.

— Eu não acho que eles tinham, senhor.

— O quê? — Rufus perguntou, levantando uma sobrancelha.

— Armaduras, senhor.

— Oh. — Rufus piscou. — Bem, talvez eles tenham, talvez não. Eu estou faminto! Eu confio que os servos de Sua Majestade são alimentados?

— Sim, senhor, — seu escudeiro concordou, levando suas luvas para a mesa no canto, deixando a armadura pesada no baú no final da cama, onde ele tinha deixado cair.

— Bem, então! — Rufus sorriu expansivamente. — Você vai comer alguma coisa e eu vou vestir algo mais respeitável e ganhar algo para mim mesmo. Vejo você em uma hora, Seamus.

— Sim, senhor.

Quando ele se foi, Rufus sentou-se pesadamente. Ele suspirou. Estava cansado depois da longa jornada. Cansado e dolorido pela sela. Inquieto também. Ele se levantou, caminhando até a janela. A cidade se estendia muito abaixo da torre, o próprio castelo construído na colina que dava para Edimburgo. Daqui ele podia ver as torres da catedral, altas, finas e majestosas, e todo o arenito cinza da vasta e populosa cidade, estendendo-se para as margens das florestas. Em algum lugar distante, ele achou que podia ver o mar.

Ainda bem que não vou estar em um navio novamente. Deixa meu cabelo branco, isso sim.

Ele rolou seus ombros musculosos sob sua jaqueta, aliviando a dor e a tensão da cavalgada.

Tirando sua mente do pensamento de ser afogado com armadura completa se o navio afundasse, ele deu sua atenção para a câmara em que se encontrava. Era muito elegante. Com painéis e piso de madeira e janelas altas e arqueadas, o local era decorado com baús de madeira, uma elegante mesa de cabeceira esculpida e um espelho prateado. A vasta cama era revestida e coberta com uma colcha de linho grosso, toda limpa, fresca e perfumada.

Eu não tenho dormido em uma cama assim por um tempo.

Ele sorriu para si mesmo. A cama era grande, grande demais para uma pessoa sozinha. Ele sentiu suas bochechas levantarem em um sorriso e riu suavemente para si mesmo.

Provável você tenha muitas oportunidades para hospedar pessoas aqui.

Ele suspirou. Não havia tempo para seduzir a equipe de servas e ele não era do tipo que usava seu posto para forçar sua atenção aos outros.

— Meu lorde? — Ele ouviu Seamus chamar.

— Sim? — Ele abriu a porta com impaciência. Uma tina de madeira de banho apareceu, seguido por Seamus, que estava carregando-a.

— Você disse um banho, senhor?

— Ah sim! De fato. Se você pudesse deixar lá? Eu confio em alguém trazendo água para isso? — Ele sorriu.

Seu criado revirou os olhos.

— Sim, senhor.

Rufus riu e tirou a jaqueta apertada, revirando os ombros em antecipação a um banho. Quando uma serva apareceu alguns instantes depois com um vasto balde de água fervente, ele não pôde deixar de notar que ela era o suficiente graciosa. Ele deu-lhe um sorriso e ela olhou para ele com olhos azuis claros.

— Seu banho, senhor.

Ele assentiu.

— Meus agradecimentos.

Ela pareceu surpresa e, enquanto ele tirava a roupa e mergulhava na água, esperava que alguém aparecesse com outro balde — isso apenas cobriu seus joelhos — foi quando percebeu que a serva provavelmente não estava acostumada à gentilezas.

Algumas pessoas são assim, ele pensou, resmungando quando se mexeu na água, deixando a água quente acalmar seus músculos doloridos e machucados. Eu não entendo o tipo que é cortês com alguns, mas não com todos.

Ele gemeu de alívio e fechou os olhos. Quando a porta se abriu e um criado, com os olhos grandes e horrorizados, entrou com outro balde, ele assentiu.

— Obrigado, — ele disse apreciativamente quando o homem derramou a água sobre ele. A tina finalmente ficou cheia, Rufus se inclinou para trás e fechou os olhos, deixando suas preocupações se esvaírem.

A travessia de Calais é algo que quero esquecer.

Ele recostou-se na água e deixou-a levar embora as lembranças da espuma salgada, os confins próximos, a miséria de homens livres usados para travessia de terra confinados a um convés do tamanho de seu salão. Ele deixou tudo — o desagrado de uma travessia de primavera — drenar dele.

Estou aqui agora. Na corte de sua majestade, aguardando minhas ordens de marchar.

Voltar para casa após o Levante era surpreendentemente triste. Rufus havia se juntado aos Cavaleiros de St. James quando menino, contra a vontade de seu pai de ficar e se preparar para assumir o baronato. Ele passara a amar a vida regular e previsível do albergue dos cavaleiros, que, apesar de todas as suas leis, permitia ao homem alguma liberdade. Ele amava o céu azul e as terras onduladas e cobertas de seixos da região, onde se podia ver por quilômetros, o arco azul do céu quebrado apenas pela sombra de um falcão, pairando sobre sua caça.

Agora estou aqui, na maldita chuva com neve, tentando me aquecer.

Ele fechou os olhos e tentou não ficar zangado com o pai. Se ele não tivesse medo de deixar suas terras desprotegidas em sua morte, ele nunca teria tentado chamá-lo de volta. No entanto, ele o convocara aqui, razão pela qual Rufus escolhera se juntar à guarda da família real, em vez de simplesmente voltar para casa, para a fortaleza úmida e fria nas colinas povoadas de pinheiros e o tédio da administração.

Eu não sou administrador. Eu sou um homem livre.

Era um pensamento sombrio e azedo e criou uma raiva biliar nele.

Ele deixou a água lavar as preocupações e olhou para o teto, tentando muito deixar a raiva irrequieta que o tomou passar. Ele não queria ficar irritado o tempo todo. No entanto, ele se ressentia da convocação do pai chamando-o de volta.

— Oh, nada pode me ajudar, — ele suspirou. Ele notou que a luz estava se apagando do lado de fora da janela e deduziu que era por volta das quatro horas. Quando os sinos da catedral começaram a soar, sonoros e distantes, ele percebeu que estava certo.

Ele xingou e saltou da banheira, percebendo que tinha uma reunião com Sir Ivan, o chefe da Guarda, quase agora.

— Oh, explosão, — disse ele, estendendo a mão para pegar alguma roupas. Ele pegou a primeira túnica limpa e saiu, sacudindo os talos de ervas das dobras do seu melhor gibão. Ele os arrastou automaticamente cabeça a baixo, não se preocupando com o efeito em sua pressa.

Quando ele se virou para porta, imaginando onde seu melhor manto estava, se viu no espelho de prata.

— Oh, pelo amor de Deus. — Ele suspirou.

Vestia calças brancas, uma túnica creme e, sobre ela, um gibão bicolor de cetim claro e escuro. Ele parecia ridículo, mesmo para os seus próprios padrões.

— Eu não posso descer assim.

Ele foi para o baú de roupas novamente e tirou sua túnica escura favorita, a que alguém lhe dissera uma vez que tirava a cor de seus olhos, e a vestiu. As calças no baú seguinte eram pretas, ou muito castanho-escuros — ele não tinha certeza, nunca tinha tido certeza, quanto a elas — e as puxou mesmo assim. Em seguida, vestindo-as com um casaco de lã em marrom escuro semelhante, ele correu para fora com seu grosso manto marrom jogado sobre um braço. Ele correu pelo longo corredor do palácio, indo na direção que ele supôs estar indo certo.

Ele estava sentindo os primeiros fragmentos de pânico enquanto andava rapidamente pelo corredor em arco. Ele viu um jovem padre e parou para perguntar-lhe as direções.

— Esse é o caminho para a câmara receptora, sim?

O padre pareceu surpreso. Balançou a cabeça.

— É o outro caminho, milorde.

— Oh... — Rufus fechou os olhos, sabendo que as palavras que brotaram em sua cabeça não eram o que ele queria dizer diante de um padre. — Obrigado, — disse ele em seu lugar. — Muito grato.

O jovem sorriu.

— Não por isso, senhor.

— Boa noite, — Rufus falou por cima do ombro e se apressou pelo outro corredor. No final, ele alcançou uma escada alta e espiralada.

— Ah, não.

Ele avaliou suas chances de subir as escadas em poucos minutos. Elas pareciam íngremes, ásperas e desafiadoras. Ele suspirou.

Eu vou ter que correr.

Ele subiu as escadas em alta velocidade, mantendo-se à esquerda.

Foi quando deu um encontrão com uma pessoa descendo.

— Oh... — ele fechou os olhos, retendo qualquer palavrão que lhe veio à mente. Então abriu os olhos, preparando-se para dar alguma cortesia curta como desculpa ao administrador, ou lorde, ou servo, ou homem que ele havia batido. Ele olhou fixamente.

— Oh...

Ele não estava olhando para um rapaz. A lady que o estava olhando era menor do que ele por pelo menos uma cabeça, com longos cabelos negros encaracolados e lábios vermelhos. Ela tinha facilmente o rosto mais magnífico que já vira, com maçãs do rosto salientes, lábios carnudos e um nariz fino e reto. No entanto, foram os olhos dela que o fizeram ofegar. Com grandes pálpebras sonhadoras e sobrancelhas finas, eram duas safiras tão puras que teriam enfeitado o punho da espada de um sultão. Ele olhou para ela.

— Minha lady, — disse ele. Ele caiu em uma reverência enorme, colocando a mão no peito, outra ao redor das costas. — Desculpe-me.

A lady olhou para ele. Seus lábios estavam entreabertos e seus olhos azuis estavam arregalados. Ela o olhava em choque. Então, abruptamente, seu rosto se fechou. Seus olhos, suas profundidades de safira radiante há pouco tempo tão abertos, estavam agora fechados.

— Meu lorde, — disse ela em voz baixa. — Você vai me deixar passar?

Foi enquadrado como uma questão, mas era uma ordem indireta. Rufus recuou antes mesmo de pensar nisso.

— Milady.

Ele estava olhando para ela. Ele sabia que seu rosto devia parecer estúpido, com a boca aberta e os grandes olhos fixos nela, mas ele não podia evitar — o peito dele estava apertado e ele havia se esquecido de como respirar corretamente.

Ela andou alguns passos e parou. Virou-se e olhou para ele.

— O que disse?

Ele piscou. Seus olhos devem ter ficado vidrados e ele piscou rapidamente, e depois fechou a boca novamente.

— Desculpe, milady, — disse ele, engolindo em seco. — Nada.

Ela se virou e foi embora. Rufus ficou olhando para ela.

— Eu acho que o sol do deserto finalmente chegou até mim, — ele murmurou. — Estou vendo coisas.

Eles sempre disseram que faria um homem enlouquecer.

Ele próprio rejeitou-o como um absurdo supersticioso, mas entendia de forma diferente agora.

Agora sou eu quem vê gênios nas areias.

Ele não podia acreditar que a tinha visto.

Ela deve ser algum fantasma, conjurado fora de um cérebro febril. Ninguém poderia realmente parecer assim.

Ninguém tinha aquela forma esbelta e curva, aqueles olhos brilhantes.

— Ela me pareceu real quando esbarrei nela. Ela deve ser real. — Ele murmurou.

— Senhor? — Uma voz disse, em algum lugar perto de seu queixo. Era a voz de um homem. Soava incerto.

— Oh... — ele fechou os olhos. Ele estava no topo da escada e o homem descendo, o homem de cabelos grisalhos em uma túnica cinza com olhos claros e um rosto grave, era o mestre de armas. O cabeça da guarda imperial.

— Sir Rufus, — ele disse categoricamente.

— De fato, — disse Rufus sem emoção. — Quero dizer, sim. Olá.

— Sir Ivan Graves, — disse o homem em voz baixa. — Seu novo oficial comandante.

Rufus fechou os olhos.

— Sim, — disse ele. — Quero dizer, prazer em conhecê-lo. Desculpe. Eu estou tendo um longo dia. Acho que vou me deitar cedo.

— Sim, — Sir Ivan disse friamente. — Veja com que o faça. Nós começamos no dia seguinte. Cinco horas, na capela. Pela oração da manhã.

— Sim, senhor, — disse Rufus timidamente.

— E veja que esteja lá na hora certa.

Rufus não respondeu quando o homem passou por ele e desceu rapidamente as escadas. Ele fechou os olhos e suspirou. Nada do que acabara de acontecer fazia qualquer sentido.

Ele havia se apresentado a sua nova colocação tarde demais. Ele conheceu o homem frio e triste sob o qual iria servir. Ele o conheceu da pior maneira possível. Ele havia dado uma primeira impressão incrivelmente ruim. Ele também viu uma mulher linda como a meia-noite em seus sonhos mais febris.

— Acho que devo ir me deitar, — disse ele para si mesmo.

Antes que algo mais aconteça.

Enquanto voltava devagar para o seu aposento nos vastos e sinuosos corredores do castelo, ele não pôde evitar um pequeno sorriso levantando seus lábios. Ele poderia ter tido um longo dia. Ele pode estar cansado ao ponto da loucura. Ele poderia ter causado a pior impressão possível em seu oficial superior e se alinhado por toda a vida em liberdade condicional. No entanto, ele também havia visto aquela bela lady. Agora ele sabia que ela existia. Não apenas em seus sonhos, mas no mundo. Ele sabia que ela estava em algum lugar neste castelo. Com alguma sorte, ele poderia até encontrá-la novamente.

Isso significa que a vida não era tão ruim, afinal.


CAPÍTULO TRÊS

UMA CONTENTAÇÃO


Amabel voltou para seu quarto. Ela estava tremendo, mas de cabeça erguida.

Como ele ousava?

Ela fechou a porta atrás dela e se inclinou sobre ela, tentando acalmar seus pensamentos. Seus sentimentos estavam em tumulto, o coração batendo no peito. Ela podia sentir seu pulso vibrando e seu estômago estremeceu como se mil asas batessem ali. No entanto, ela não se sentiu assustada ou chocada. Não muito, de qualquer maneira. Ela estava principalmente, se pensasse nisso, excitada.

Ela recordou a maneira como o homem a encarou, seus olhos olhando nos dela. Olhos castanhos, profundos, escuros e estranhamente sensíveis com todo o poder brutal do homem.

E ele era uma presença bastante poderosa.

Seu corpo volumoso que encheu a escada, era quente, musculoso e terreno. Amabel hesitou em passar por ele, com medo de seu forte aperto. Se ele tivesse sido do tipo que quisesse machucá-la, não teria motivos para parar — ela não poderia lutar contra ele. No entanto, ele era estranhamente tímido.

Foi isso que a intrigou. Se não fosse por sua cortesia educada, quase deferente, ela simplesmente passaria por ele e sentiria apenas uma breve raiva por sua conduta grosseira. Em vez disso, com aquela estranha e quase assustada cortesia, ele agarrou o interesse dela.

Ele é a primeira pessoa que me olhou assim.

Considerando todas as coisas, ela pensou enquanto pendurava o xale sobre os ombros, sentou-se no assento acolchoado e olhou fixamente para o fogo, ele foi o primeiro homem que realmente olhou para ela.

Em comparação com os outros homens que conhecia — como Arthur, Hamish e até mesmo o querido Douglas — ele era o único que a olhara nos olhos e a encontrara cara a cara, sem condescender e sem semelhança. Ele tinha sido rude, mas ele se dirigiu a ela como uma igual, sem disfarces.

E ele olhou para mim como se eu tivesse saído do nada.

Foi uma reação peculiar, facilmente a mais estranha que ela já havia inspirado antes. No entanto, foi uma reação que fez seu coração bater e seu sangue cantar em seus ouvidos. Foi uma sensação boa. Isso a fez se sentir feliz.

— Eu não estava esperando muito disso, — disse ela para si mesma. Ela pegou o atiçador e mexeu o fogo, observando preguiçosamente as faíscas subirem pela lareira a cada movimento. Ela veio sozinha a corte — seu pai estava estabelecendo negócios na propriedade deles, Buccleigh, um castelo a meio dia de distância. Ele se juntaria a ela assim que seus negócios fossem concluídos, mas no momento ela estava aqui sozinha. Exceto por sua acompanhante, é claro. No entanto, Glenna provavelmente não a restringiria demais. Mais velha do que ela por apenas quatro anos, Glenna era mais uma amiga do que ela seria uma acompanhante tradicional.

— Milady? — Uma voz chamou fora de sua câmara.

— Sim, Glenna?

— Ah, aí está você. Eu trouxe o novo vestido azul... o que é? — O rosto oval e grave de Glenna ficou surpreso. — Você parece... rosada e com febre, milady... você está doente?

— Estou muito bem — disse Amabel com voz firme. Ela estava surpresa. Ela estava corada? O estranho no corredor a afetou tanto assim?

— Oh. Bem, tudo bem, milady. Eu tenho novidades.

— Oh? — Amabel levantou uma sobrancelha. — Venha, conte-me as novidades, — disse ela, acenando para Glenna sentar ao pé da cama. Glenna sentou-se timidamente e depois se virou para encará-la.

— Bem, milady, você sabe que haverá um baile de máscara aqui amanhã?

— Sim, eu sei, — disse Amabel, uma tensão filtrada em sua voz. Ela não estava totalmente feliz com isso. O pensamento de encontrar Arthur, Bruce e Hamish na pista de dança já era ruim o suficiente. O pensamento deles sentindo que podiam tomar liberdades como resultado de usar um disfarce excessivamente fraco era mais do que isso.

— Bem, o mestre de cerimônias disse que alguns servos podem comparecer. É tradição, então ele disse, para os servos do alto escalão irem mascarados também, e... — ela parou, seus grandes olhos cor de ardósia intensos.

Amabel assentiu.

— É claro que você irá, — disse ela sem pensar. — Você pode usar um dos meus vestidos, é claro, — acrescentou ela com franca generosidade.

— O quê? — Glenna estava olhando para ela, seu rosto em algum lugar entre descrença e medo. — Oh, não, milady! Eu não posso fazer isso.

— Você pode, — disse Amabel com um sorriso. — Claro que você poderia, Glenna. Minhas roupas não mordem, sabe. Eu tenho aquele lindo vestido azul profundo que eu nunca mais usei, vai ficar melhor em você, eu acho, melhor que o ocre, o que não combina comigo, agora que penso nisso, — ela adicionou com um sorriso. — Eu só peguei aquele tecido porque a mamãe disse que era bonito.

Glenna riu.

— Minha lady. Se você tem certeza...

— De fato eu tenho! — Amabel disse com uma impaciência característica. — Por que eu diria que não tenho certeza? Você virá comigo e isso tornará o baile muito mais divertido do que se eu precisasse enfrentar todo aquele tédio de pretendentes com suas máscaras e protocolo da corte.

— Oh, minha lady! — Glenna estava rindo agora, seu rosto magro e pálido brilhando com seu sorriso, embora as lágrimas descessem por suas bochechas sem controle. — Você não pode saber o quão maravilhoso isso é para mim... que emocionante... Oh, milady, — disse ela novamente, suspirando. — Obrigada, milady.

Amabel suspirou. Ela nunca havia pensado no fato de que um baile pudesse significar tanto para alguém. Ela mesma estava bastante cansada deles, com suas implicações e pressões e a constante determinação de seus pais para encontrar um pretendente.

Tendo Glenna, isso tornará muito mais emocionante.

Ela foi impulsivamente para baú de roupa e, remexendo ao redor para encontrar os vestidos que ela mencionou. Ela tirou um suave vestido de lã azul acinzentado e depois um de veludo de centáurea.

— Aqui, — disse ela, entregando as duas peças para sua serva. — Você pode tentar estes. Há isso, é claro — acrescentou ela, pegando um veludo ocre amarelo. Ela franziu o nariz. — Se você quiser, também?

Glenna riu. Ela estava rindo com abandono e, abruptamente, se levantou e abraçou Amabel. Amabel sentiu o coração se derreter. Ela não tinha irmãos, e Glenna era como uma irmã para ela. Ela beijou sua bochecha com carinho.

— Bem, agora, — disse ela, olhando para o baú e mordendo o lábio, tentando se recompor. Ela não choraria. Ela não faria! — Como vamos nos vestir?

Glenna olhou fixamente.

— Você quer dizer, os disfarces?

— Sim! — Amabel riu. — Não podemos ir sem uma máscara é contra as regras. É um festival, lembre-se! É suposto ser uma noite em que as pessoas podem tomar liberdades que não assumiriam em sua própria identidade.

Ela se sentiu um pouco enjoada quando disse isso. O pensamento de Arthur tomando liberdades que ele não faria de outra forma não era uma que a enchesse de excitação.

Agora, se fosse aquele cavalheiro da escada, com aquele corpo de músculos largos, então... ela sentiu seu coração bater e um estranho calor fluir através dela. Ela suspirou.

O que ela estava fazendo? Ela não conhecia o homem. Eles não trocaram seus nomes... ela nem sabia quem ele era, muito menos qualquer outra coisa sobre ele!

Isso é ridículo.

Ela fez uma resolução interna para esquecê-lo. Imediatamente. Ele iria evaporar de seus pensamentos. Agora.

— Milady? — Glenna perguntou. Amabel percebeu que devia ter dito alguma coisa que não ouviu.

— Desculpe, Glenna? — Ela perguntou, franzindo a testa.

— Eu estava apenas pensando... poderíamos fazer algo com aquela renda de Bruxelas que você comprou aqui? Para a máscara, eu estava pensando... — ela acrescentou, com a voz sumida quando Amabel teve uma ideia.

— Oh, você é uma coisa inteligente! — Ela sorriu. — O mercado! Por que fazer uma máscara quando podemos comprá-la? Vamos! Vamos amanhã. Podemos conseguir coisas tão lindas. Eu quero uma prateada... vai combinar com a minha saia.

— Milady! — Glenna bateu palmas de excitação. Seu rosto oval parecia extasiado. — Vamos fazer isso! Que excitação.

— Sim, — Amabel assentiu devagar. — Vai ser divertido, com certeza.

Ela colocou o outro vestido no baú e depois sentou-se, pensando. Já estava quase na hora do jantar e ela deveria pedir a Glenna para ajudá-la a fazer o cabelo. No entanto, ela estava muito preocupada com pensamentos de amanhã. Pensamentos daquele estranho cavalheiro e o modo como ele a fez se sentir bem.

Mesmo agora, ela se sentia toda quente por dentro.

— Você vai vestir o roxo esta noite, milady? — Glenna perguntou.

— Desculpe? — Amabel franziu a testa, virando-se para ela onde procurava no baú contendo suas roupas. — Oh. Eu acho que o vermelho, Glenna.

— Oh. Bom, milady.

Ela sacudiu um vestido vermelho tão escuro que quase podia ser preto, uma cor vermelha escura, em algum lugar entre o roxo e a cor da tinta derramada.

— Aqui estamos, milady.

— Sim, — disse Amabel, olhando para a luz da chama. — Eu acho que vai fazer muito bem.

Ela tinha planejado usar o verde, talvez, que era mais contido e recatado. Depois de ver o homem nas escadas, no entanto, ela decidiu que preferiria se destacar.

Ela deixou Glenna escovar seus cabelos e então se virou na frente do espelho, deixando o vestido cair ao seu lado enquanto o segurava contra o pescoço.

— Sim, — ela disse novamente. — Esse vai ficar bem.

— Muito bom, milady.

Quando terminou, com o vestido preso, o cabelo escovado, os sapatos delicados nos pés e uma simples túnica da mesma cor quase preta presa na cintura por um cintoe pendendo logo abaixo do quadril, ela se virou e olhou para o reflexo no espelho.

A reflexão que a estudou fora do espelho mostrava-lhe uma garota de estatura baixa, uma figura compacta, de seios pequenos e curvilíneos, mal contornando o decote do vestido. Seus longos cabelos negros eram uma torrente caindo sobre os ombros, os olhos brilhantes.

— Tudo feito, — disse ela, satisfeita, virando-se do espelho. — Obrigada, Glenna.

Glenna fez uma reverência e se afastou dela.

— Tenha uma boa noite, minha lady.

Amabel assentiu.

— Eu vou ter.

Ela caminhou rápida e silenciosamente pelo corredor vazio até o salão de festas. Ao fazê-lo, sentiu o coração bater no peito. Seus pensamentos eram inquietos e continuavam voltando para o homem no corredor.

Eu me pergunto se ele estará lá esta noite?

Um brilho quente de velas e fogo anunciou o salão de festas antes que ela entrasse. Ela parou na porta, sentindo um pouco de falta de ar como sempre acontecia quando entrava aqui. O teto alto e arqueado pairava acima dela, quase perdido na escuridão acima. Abaixo, as mesas estendiam-se, uma longa mesa de carvalho rodeada por elaboradas cadeiras de espaldar alto em frente à porta, ladeadas por outras semelhantes. O estrado, onde a mesa real seria colocada, estava vazio esta noite.

Amabel entrou no salão, passando a mão pelas saias de veludo para alisá-las. Um servo apareceu e mostrou-a seu assento, um lugar vazio no topo da terceira mesa, ao lado do duque de Anderglen. Ela se sentou timidamente e olhou para o prato.

Ela estava a cerca de três lugares do pé do estrado real, um lugar de alta honra. Ela estava um pouco autoconsciente, já que era a primeira vez que ela estava sozinha. Ela sentiu as orelhas quentes e algumas mulheres olhando para ela, e a sensação do olhar delas sobre ela era como um toque físico.

Queria estar aqui com alguém que eu conhecesse.

Ela não pôde evitar que sua mente se desviasse, cada vez mais, para o homem do corredor.

Eu gostaria de saber como ele é chamado.

Ela sorriu para si mesma. Ali estava ela com seus pensamentos demorando no rosto do homem cujo nome ela não conhecia! Era tão bobo.

— Você teve um dia agradável, milady? — o duque perguntou educadamente. Um homem talvez um pouco mais velho que seu pai, com um rosto macio e preocupado, ela sorriu para ele.

— Sim, obrigada, meu lorde, — disse ela. Um servo deu a volta com um prato de peixe grelhado e colocou-o em algum lugar no centro da mesa. O duque estendeu a mão para pegar. Ele passou por ela uma parte primeiro, e depois se serviu.

— Obrigada, — ela disse educadamente. — Isso parece mais interessante.

O duque riu, um sorriso enrugando seus olhos.

— Espero que não seja muito interessante, milady. Eu reservo meu interesse por pergaminhos e manuscritos. Meu jantar eu prefiro bastante comum.

Amabel riu.

— Você lê, senhor? — Ela perguntou, surpresa. Com exceção do clero, poucas pessoas o fizeram. A tia de sua mãe e seu pai sabiam ler um pouco, mas ninguém mais sabia.

— Eu leio às vezes, — disse ele. — Embora, na maior parte das vezes, eu tenha o meu mordomo para lê-los para mim. Todos os tipos de pergaminhos. Fascinantes... belas cópias das bibliotecas de Constantinopla. Todos de terceira ou quarta mão, você entende... não poderia pagar a cópia direta. — Ele sorriu.

Amabel sorriu de volta. Ele era uma boa companhia, pelo menos interessante.

— O que esses pergaminhos discutem? — Ela perguntou.

— Oh! Todo tipo de coisas. Os meios de navegação pelas estrelas, tratados médicos, a estes hesito em lê-los, me dá calafrios e todo tipo de assuntos filosóficos bizarros.

— De fato?

— Ai, sim. Sabe, houve alguns trabalhos publicados que afirmam que o homem pode transformar metais básicos em ouro. Que noção, eh! Uma coisa boa que seria...

Enquanto ele continuava falando sobre o conteúdo de seus lindos pergaminhos, Amabel encontrou sua atenção e os pensamentos voltando novamente para o homem de cabelos escuros. Ela não pôde deixar de imaginar em que ele estaria interessado. Será que ele queria saber sobre as filosofias do Leste? Alternativamente, ele teria respondido da maneira que Arthur provavelmente faria, com algum comentário de que a leitura era para padres e não um tópico adequado para mulheres.

— Então, minha lady, — dizia o duque, — se você tiver uma oportunidade, deveria visitar o mercado. Você pode comprar quase qualquer coisa lá. Não rola pergaminhos, infelizmente. Ou, se tiverem algum, confio que são falsificações.

— Oh, sim, — Amabel assentiu, esfregando os dedos em uma tigela de água perfumada enquanto um servo limpava o primeiro prato. — Eu acho o mercado emocionante.

— Tão emocionante quanto o jantar?

— Quase, senhor. Quase.

Ambos riram.

Quando o jantar terminou, Amabel retornou, sentindo-se cansada, mas contente, a seu quarto. Ela estava caminhando para a porta quando por acaso olhou para o homem descendo as escadas. Era ele. O homem da escada.

Ele estava olhando para ela.

Ela limpou a garganta. Ela deveria dizer alguma coisa? O que ela deveria fazer? Era como se ele a conhecesse, mas não exatamente.

Ele limpou a garganta.

— Milady?

O som saiu gutural e rouco. Ele limpou a garganta. Tentou outra vez.

— Milady? Eu estava querendo dizer...

— Meu lorde — disse Amabel com uma indiferença impressionante — ela estava impressionada, de qualquer forma, seu coração batia como um fole e seus nervos tilintavam, o sangue acelerando enquanto ela olhava aquela figura alta, compacta e musculosa, a testa clara e olhos castanhos claros e profundos. Ela atravessou o andar e subiu as escadas, de frente para ele.

— Minha lady, eu estava querendo dizer... Sir Rufus. Rufus Invermore. Ao seu serviço, minha lady.

— Meu lorde, — disse Amabel, fazendo uma reverência. Ela olhou para o chão e depois levantou os olhos para encontrar os dele. Seu pulso bateu em sua garganta e suas bochechas coraram. — Prazer em conhecê-lo.

— Honrado, milady.

Ela hesitou e então decidiu que não havia mal algum em ser sincera.

— Eu sou Lady Amabel, meu lorde. Meu pai é o duque de Buccleigh. Prazer em conhecê-lo.

Ele se inclinou tão baixo que Amabel teve medo dele cair. Então ele se levantou.

— Lady Amabel.

Ele olhava nos seus olhos e ela para ele. Era como se uma faísca saltasse entre eles, uma sensação quase tangível quando seus olhos se encontraram. Ela estremeceu.

— Boa noite, milorde.

Ela fez uma reverência novamente e subiu rapidamente as escadas, o coração batendo na garganta.

Eu não vou me virar. Eu não vou me virar. Eu não vou...

Ela chegou ao topo dos degraus e se virou. Ela o viu indo apressadamente para baixo.

Ele não parou para esperar para ver se eu olhava.

Ela balançou a cabeça, incrédula.

Ela pensou que ficaria ofendida, muito ofendida. Ela deveria estar. No entanto, quando ela caminhou de volta para seu quarto, o coração palpitando em seu peito, a alegria voando, não era uma carranca que traçava sua testa, mas um sorriso que se estendia em suas bochechas. Ela estava absolutamente e inexplicavelmente feliz. Ela o viu novamente.


CAPÍTULO QUATRO

UM BAILE E UMA PROMESSA


A manhã seguinte amanheceu surpreendentemente ensolarada, mas apesar de todo o sol, o ar estava dolorosamente frio. Amabel sentou-se na cama e sentiu um formigamento de antecipação em seu estômago que ela não conseguia se lembrar de sentir há muito tempo. Ela sorriu, os olhos ainda fechados, lembrando o porquê. Era o dia do baile.

Um baile de máscara. Que bom.

Ela deslizou as pernas para a beira da cama, apreciando o linho macio dos lençóis e se levantou. Ela passou por cima do tapete macio e foi até a janela onde o sol brilhava. É provável que a nuvem caia mais tarde, mas, no momento, o tempo estava ótimo. Ela se deslizou em um manto e foi para a tela no canto.

— Glenna? — Ela sussurrou.

— Sim, milady? — Glenna estava evidentemente acordado já por um tempo... ela apareceu em seu vestido cinza com o cabelo bem preso para trás, alerta e acordada.

— Suponho que deveríamos ir ao mercado depois do café da manhã — disse Amabel, olhando para o céu. — Então talvez eu deva usar o vestido de linho verde? Parece que pode chover mais tarde. Não adianta estragar o veludo.

— Claro, milady. Eu deveria trançar o seu cabelo... há muito vento.

— Sim. Faz. Obrigada, Glenna.

Amabel olhou no espelho enquanto Glenna trabalhava em seu penteado. Ela ficou surpresa que parecia estar vendo seu próprio reflexo como se fosse pela primeira vez. Era um sentimento estranho. Ela olhou para os olhos arregalados, o nariz comprido, a boca vermelha. Acho que sou bonita, pensou ela, surpresa.

O que seria que o homem da escada — senhor Rufus — estava vendo? Ela colocou a cabeça de lado enquanto Glenna prendia o cabelo em um filete de fios de cetim verde.

Eu me pergunto se ele acha que sou tão bonita quanto o acho bonito.

Ela se surpreendeu com esse pensamento e sentiu um rubor quente encher suas bochechas, embora ela estivesse satisfeita em notar que isso não aconteceu em uma exposição. Ela olhou para as mãos, nervosamente pegando um prendedor de cabelo, colocando-o em seu estojo na penteadeira.

— Devemos fazer o nosso percurso para as bancas de tecido primeiro, milady? — Glenna perguntou, alcançando o final da trança lentamente.

— Eu acho que sim, — ela deu em resposta. — Embora talvez pudéssemos experimentar os mercadores estrangeiros? — sugeriu ela. — Eu suponho que eles podem ter máscaras prontas?

— Eles podem ter, milady, — sua serva concordou. — Quem sabe que modas seguem no continente?

Amabel riu.

— Bem, minha mãe tem uma prima na França — Leona. Você pode tê-la visto no castelo uma ou duas vezes? — Quando Glenna não comentou sim ou não, ela continuou. — Bem, parece que eles têm uma moda para máscaras também, especialmente para esta época do ano. É por isso que pensei nisso.

— Bem, então, — Glenna comentou, terminando o penteado. — É isso que vamos fazer.

— Sim.

Amabel vestiu o vestido verde, sentindo-se estranhamente extraviada no corte verde recatado. Ela mudaria isso, fazendo-o ficar de um jeito que estava mais na moda.

Ela sorriu para si mesma. Se ela não estivesse pensando nele, ela não estaria se sentindo assim agora, iria?

Depois do café da manhã elas foram para o mercado.

— Vamos, Glenna! — Ela chamou levemente enquanto caminhavam pelas fileiras de barracas. — Vamos lá! Eu acho que consigo ver alguma coisa! Apresse-se.

— Nossa, milady, — Glenna chamou, sua mão segurando seu penteado, que estava em perigo de se desfazer. — Eu não acho que eles vão se mover.

Amabel deu uma risadinha.

— Não! Nem eu! Mas corra! É divertido...

— Tenha cuidado, — Glenna chamou atrás dela enquanto corriam pelo mercado.

Amabel estava rindo enquanto corria à frente, correndo para os outros estandes com seus tecidos de cores vivas. Era a bandeira de seda que chamava sua atenção — seda tão fina importada de Veneza, ela sabia, de onde era comercializada, de tão longe a leste que ninguém que ela conhecia sequer falava das terras de lá. A barraca deve ser de propriedade de comerciantes que pelo menos se conectavam com Veneza.

Nesse caso, eles podem ter algumas máscaras.

Ela tinha que esperar. Ela correu para a tenda e sorriu para o homem no balcão.

— Você tem máscaras? Para um concurso de baile?

Um homem de aparência confortável, com longos cabelos brancos e olhos bondosos que se enrugavam nas bordas, assentiu.

— Eu tenho, jovem ama.

— Podemos vê-las? — Amabel exigiu ansiosamente.

— Claro, milady. — Ele sorriu e remexeu em algumas caixas as suas costas. — Agora eu não vendo muitos desses, então não trago muito comigo, mas para você ver, tenho três tipos. Aqui estamos nós... — ele colocou uma caixa diante dela e Amabel olhou maravilhada.

— Isso é perfeito, — disse ela imediatamente. Ela levantou uma. Isso poderia ter sido feito para ela. Feita de renda sobre a qual havia sido colocada uma espécie de cola e depois coberta com folhas de ouro, a máscara tinha a forma de duas longas asas ou formas de folhas — Amabel não tinha certeza e não estava realmente pensando nisso, pois a cor e o tecido eram o que lhe dava um brilho dourado mais forte.

O homem sorriu.

— São três peças de prata, milady.

Amabel engoliu em seco. Três peças de prata eram uma soma ridícula de dinheiro, mas ela realmente queria tanto. Ela olhou para ele.

— E se eu comprar duas? — Ela perguntou corajosamente. — Você vai reduzir o custo de cada uma?

O homem gargalhou.

— Você faz uma barganha, milady! Bem, sim. — Ele assentiu. — Eu lhe darei duas pela metade do preço.

— Bem, então, — Amabel disse corajosamente. — Você tem um acordo. Glenna? Qual delas você gosta?

Glenna se aproximou de seu ombro. Amabel teve a impressão dela nunca ter recebido uma oferta em uma banca de mercado antes — percebeu que provavelmente não tinha mesmo. Certamente não por algo assim.

— Eu vou pegar aquela, — disse ela, apontando para uma prata modesta de um desenho similar ao de Amabel, só que com menos renda nas bordas.

— Essa é uma peça de prata, — comentou o homem.

Amabel vasculhou sua bolsa.

— Então, duas peças de prata por completo?

O homem sorriu.

— Minha lady, eu não sonharia em mudar. De fato. Duas peças de prata. Obrigado!

Amabel entregou as duas moedas sem comentários, embora fosse metade de todo o dinheiro que ela trouxera consigo e uma extravagância que seria difícil justificar mais tarde. Ela olhou para o rosto de sua companheira e soube que valia a pena cada centavo da compra.

Sorrindo com prazer, correram para casa juntas.

O resto da tarde passou preparando-se para um baile. Amabel tomou um longo banho e Glenna penteou seus cabelos. Elas se sentaram perto do fogo e, quando seus cabelos estavam secos, começaram a experimentar vestidos. Amabel ainda não estava decidida em qual de seus dois vestidos azuis seria melhor... um de renda de Bruxelas ou um de veludo. Ela provou os dois.

— O veludo, — Glenna insistiu. — É tão lindo.

Amabel sorriu.

— Obrigada, minha querida. Você acha mesmo? Eu acho.

— Eu também.

Combinava perfeitamente com a máscara, um tom azul mais claro que os olhos de Amabel. Tinha uma frente cortada, a altura da moda, mas a cor era uma variante sutil da própria cor do vestido. Amabel ficou satisfeita com isso. Isso aumentou sua excitação.

— Eu deveria praticar minha dança, — ela comentou.

Glenna riu.

— Espero poder ajudá-la a praticar, milady. — Ela corou. — Ou eu vou me preocupar que não esteja pronta para a noite.

— Sim! Devemos dançar. — Amabel assentiu.

Ela passou a tarde ajudando Glenna a dançar. Foi uma boa prática para ela. Glenna provou ter uma graça natural, seu estilo fluindo e sem esforço. Amabel ficou satisfeita.

Eles estavam se vestindo antes de perceber que era hora.

— Eu vou ajudá-la com seus botões, — ela prometeu a Glenna quando sua serva prendeu os botões na parte de trás de seu vestido. Ela deu um passo para trás e olhou no espelho, encantada com a aparência.

Ela sorriu tentando apertar os botões de Glenna com destreza similar que a serva tinha mostrado. Foi um exercício divertido.

As duas se afastaram do espelho. O resultado era impressionante.

Amabel usava um azul brilhante, seu longo cabelo preto ondulando como chamas. Ela era uma versão mais brilhante e mais ousada de sua serva, que usava uma capa macia e sutil e tinha longos cabelos castanhos que usava em uma trança. Ela havia prendido de maneira sutil, mas elegante, e Amabel teve que admitir que estava linda.

— Bem, então, — ela riu. — Não somos um lindo par?

Então elas estavam descendo as escadas para um baile. Seu coração estava cheio de emoção.

O salão já estava cheio quando chegaram. Elas estavam adiantadas, mas ainda assim parecia que toda a corte também estava. A rainha ainda não havia chegado, mas o resto da corte estava lá e um grupo de músicos da corte tocava. Amabel juntou-se a eles, excitação e tensão construídas também nela.

— Olhe! — Ela sussurrou para Glenna. — Todos não parecem tão diferentes com suas máscaras?

Glenna e ela riram, notando a forma como as máscaras transformavam os rostos das pessoas. Todos os tipos estavam lá — simples, bonitos, grotescos e assustadores. Ela tentou se lembrar de segurar a dela em sua longa vareta incrustada de folhas de ouro, mas continuou achando que esqueceria.

— Como eu vou dançar com essa coisa?

Glenna riu.

— Eu também não sei.

Amabel encolheu os ombros.

— Nós teremos que tentar. Oh! Eu posso ver Lorde Glendower. Vamos nos juntar a ele. — Ela notou um velho amigo de seu pai e teria pelo menos um lugar seguro para começar sua aventura. Ela e Glenna correram pelo chão até a mesa do banquete.

— Milady! — O velho disse. Ele provavelmente sabia sua identidade imediatamente, Amabel adivinhou, mas ele ainda fez uma demonstração de não saber. Ela sorriu.

— Boa noite, meu lorde.

— Bem! Que par de beldades, hein?

Amabel sorriu e Glenna olhou timidamente ao redor. Eles se levantaram e conversaram com ele um pouco e Amabel mordiscou alguns doces na mesa. Então ela sentiu alguém atrás dela. Ela não poderia ter dito o que a alertou para a presença, além de que ela sentiu um corpo forte e firme preencher a lacuna atrás dela, um calor irradiando de quem quer que fosse. Ela virou.

— Minha lady. — Ele tinha uma voz baixa e ressonante. Comandando, como se estivesse acostumado a dar ordens. Ela sentiu um pouco de interesse nela. Não poderia ser.

Não era possível, mas era.

— Meu lorde.

Ela mordeu o lábio, sentindo seu coração bater. Quem quer que fosse, ele era alto e musculoso. Ele estava usando uma máscara simples, reparável e comum em marrom. No entanto, ele estava vestido com um belo gibão de veludo, também marrom, e calças de lã de qualidade excepcional. Ele se moveu com uma graça que a surpreendeu. Era ele?

— Você gostaria de se juntar a mim no final da mesa? — Ele disse levemente. — Acho que não conseguiremos encontrar espaço no chão, a menos que nos prendamos a um pedaço dele antes do tempo.

Amabel riu. Ela assentiu. Ela havia assistido bailes suficientes na quadra para saber como alguém brigava por um quadrado na pista de dança.

— De fato, sir.

Ele ficou tenso e ela adivinhou que deveria estar correta. Este era o jovem cavaleiro que ela havia conhecido antes. Como isso poderia ser?

A Guarda é essencialmente um posto ou dois acima do serviçais. Como é que eles frequentam aqui? Que estranho.

No entanto, então, ela lembrou, Glenna também estava aqui. A corte seguia as tradições da França, não as tradições mais sóbrias de seu próprio país. Se o festival fosse um tempo de licença, então isso incluía permitir que certas ordens servissem para se misturar com a nobreza. Isso significava que ele estava aqui.

Amabel seguiu sua direção e foi parar na beira da pista de dança. Ela olhou em volta com interesse. A pista de dança era uma tapeçaria colorida de brocado, seda, veludo e lã de alto brilho. Ela viu máscaras de todas as descrições. Uma lady se destacou — em um vestido de tecido dourado, uma graciosa máscara feita por um mestre joalheiro, ela deveria ser a rainha. É claro que ela chegara sem comitiva, discreta e sem adornos... era um concurso e ela era tão anônima quanto os demais. Ou fingindo ser.

— Olhe lá, — ela sussurrou para o homem ao lado dela.

Ele olhou e assentiu.

Os dois observaram, extasiados, quando a forma pequena, esbelta e graciosa abriu a pista de dança. Então outros casais se reuniram graciosamente. Ninguém comentou sobre o fato de que eles sabiam, mas estava claro quem era quem nesse salão. As máscaras eram um jogo, realmente, permitindo ao usuário ficar mais à vontade, não realmente porque eles estavam em disfarce, mas porque era aceitável para afrouxar os laços.

— Meu lorde?

— Vamos dançar?

Ele pegou a mão dela e, de repente, sem aviso, eles estavam dançando. Era um quarteto — uma dança para dois casais — e eles estavam com outro casal, Amabel pensando que ela conhecia a identidade do homem como Lorde Arnsley, duque de Westmoreland, um encantador desconhecido.

Ela foi trazida de volta ao momento de observar os outros quando uma mão desceu sobre a dela. Ela sentiu um formigamento quando as mãos dele a tocaram. Era uma mão grande, quente e carinhosa.

— Meu lorde, — ela sussurrou. Sua voz estava apertada em sua garganta.

— Minha lady?

— Nada.

Ela engoliu em seco, notando que ela devia estar fazendo papel de boba. Seus gestos eram menos fluidos do que poderiam ser, sua conversa forçada. Ela estava nervosa com ele.

Por quê?

Ela deixou-o levá-la através da dança, sentindo seu coração bater. Sua mão a tocou com mais frequência do que ela gostaria — ou ela disse a si mesma que estava ofendida. Na verdade, ela ansiava por sentir seus dedos quentes e fortes contra ela.

Não houve nenhum passo na dança para a mão dele acariciar seu ombro ou para seus dedos agarrarem seu pulso. No entanto, ele fez isso e, quando o fez, acendeu-a de admiração.

Eu nunca me senti assim antes.

Eles eram um bom par de dança, pois Amabel nunca sentira isso.

Ela seguiu sua liderança. Ela nunca se sentira tão segura com um homem antes, nunca sentiu que ele a conhecia e ela podia se apoiar nele, deixá-lo assumir o controle sem medo dele.

Era como se dançasse com outra parte de si mesma, como se ele a conhecesse intimamente, como se ela soubesse, e ele se associasse com ela tempos antes, ou estavam conscientes do fato de que estavam separados.

Eu nunca me senti tão maravilhosa, como ela pensou quando se virou e pegou a mão dele novamente, apreciando o toque dele sobre ela.

Eles fizeram uma reverência e se curvaram. Ele a estava olhando quando ela levantou o olhar mais uma vez, e o olhar percorreu seu sangue, excitando-a com admiração.

— Meu lorde, — ela engoliu, dizendo baixinho: — você dança bem.

— Minha lady. — Sua voz era um som pequeno e surpreso e isso a fez tremer. — Estou surpreso em ouvir você dizer isso.

Ela riu. Ela não pôde se conter.

— Por que o espanto?

— Bem, porque eu sou um dançarino chocante.

Ela riu novamente.

— Bem, quem te disse que não tinha a vantagem do seu nível atual de experiência, — disse ela. — Eu só posso imaginar que você aprendeu recentemente.

— Sim, — ele respondeu. Houve um sorriso levantando o canto dos lábios e Amabel sentiu um toque de excitação.

Ela mordeu o lábio, tentando julgar se deveria dizer mais alguma coisa.

— Bem, eu tenho razão para me perguntar se você não foi recentemente transferido para a corte, — disse ela. — Talvez de algum lugar além da Capital? Alguma posse distante?

Ela viu sua mandíbula relaxar. Ele olhou para ela, os olhos olhando através da máscara em evidente surpresa.

— O que, milady?

Ela riu.

— Eu acho que posso adivinhar muito sobre você, — disse ela.

Ela viu os olhos dele brilharem. Ele estava interessado. Ela sentiu o coração palpitar no peito.

— De fato?

Ela assentiu. Morda o lábio novamente, fazendo um show disso, estudando-o.

— Mmm. Eu acho que você é um sujeito muito interessante, sob essa máscara — ela comentou. Sua voz estava provocando e ela sabia disso. Ela sentiu o músculo de seu braço tenso e percebeu que eles ainda estavam de pé com a mão em seu braço, como faziam quando dançavam.

Amabel corou e retirou a mão dela. Ele tossiu.

— Minha lady, — disse ele sem jeito.

Ela sorriu, um sorriso malicioso.

— Sim, milorde?

Ela o viu sorrir. Ele sabia que ela sabia quem ele era. Ele pareceu surpreso, depois riu.

— Bem, — ele disse. — Eu acho que posso adivinhar um pouco de você também, — disse ele.

Amabel franziu a testa.

— Reze para adivinhar, — disse ela.

— Bem, — ele colocou a cabeça de um lado e ela ouviu sua voz ficar tensa de emoção. — Eu acho que você é uma lady aventureira. Uma mulher que define sua mente na liberdade. Um espírito ousado e corajoso. Acho que encontraria muito para discutir com você.

Amabel olhou para ele. Desnecessariamente, uma lágrima escorria pelo seu rosto. Ela limpou descuidadamente. Como ele poderia ter visto tanto sobre ela? Sua avaliação de seu caráter era mais correta do que qualquer pessoa de sua família provavelmente faria. Ele a conhecia melhor do que qualquer um que conhecesse. No entanto, eles tinham acabado de falar um com o outro. Como isso era possível?

Ela limpou a garganta, a voz tensa de emoção.

— Minha lady? — Ele disse suavemente. — Eu não quis dizer algo que a magoasse.

Ela tossiu.

— Não foi nada, meu lorde. — Ela fungou. De repente, ela sentiu a mão dele em seu ombro. Ele olhou em volta sub-repticiamente. — Minha lady, venha. Você deve tomar um pouco de refresco e ar fresco...

Amabel fungou.

— Eu estou bem, meu lorde.

Ele balançou sua cabeça. Com a mão pesada no ombro dela, ele a levou até a porta. Aqui, eles estavam de pé atrás de todos. Ele olhou nos olhos dela.

— Milady, — disse ele suavemente. — Por que as lágrimas?

Ela fungou.

— Eu não estou chorando.

Ele sorriu, terno e divertido.

— Não. Claro.

Ela riu em seu tom e ela sabia que ele viu seus olhos brilharem, porque o sorriso dele se aprofundou.

— Sir, — disse ela, com firmeza.

Ele colocou a mão no ombro dela.

— Sua identidade está secreta comigo, — ele sorriu.

— Milorde?

Ela o observou, com muito cuidado, ele abaixou a máscara.

— Eu posso me mostrar a você, — disse ele e sua voz era muito grave. — Aqui, onde você me conhece tão bem, todas as minhas máscaras estão desligadas.

Amabel engoliu em seco.

— Eu me revelo para você, — disse ela em uma voz grossa com lágrimas não derramadas, — embora eu pense que você me conhece melhor que qualquer outro antes.

Ela abaixou a máscara como ele fez. Ela olhou nos olhos dele.

Parecia que uma porta se abriu em sua mente que estava fechada por muito tempo quando ela sentiu o olhar dele em seus olhos. Ela estremeceu. Ele era tão familiar para ela, tão bem conhecido, embora o tivesse conhecido apenas um dia atrás.

— Tenho o prazer de encontrá-lo novamente, — disse ela em voz baixa.

Ele sorriu.

— Eu não tenho certeza se você pode chamar aquilo de nosso primeiro encontro.

— Foi, — contradisse Amabel. — Eu acho que nós vimos muito um do outro naquele momento.

— Você viu meus maus modos, — ele respondeu, um sorriso brincando sobre sua boca. Ela estremeceu com o calor em seus olhos, seu persistente olhar possessivo.

— Como observante, — brincou ela. — Sim, suas maneiras me assustaram, milorde. A você mesmo, não?

Ele gargalhou.

— Sua honestidade é encantadora.

Ela levantou uma sobrancelha.

— Minha honestidade é sincera.

Ele assentiu.

— Eu sei que você não pretende encantar, milady. Você faz isso sem cuidado.

Ela sorriu.

— Agora você me lisonjeia.

— Eu posso não ter boas maneiras, mas, aparentemente, lisonjeio. — De alguma forma, ele parecia irritado. Sua testa baixou. Ele colocou as mãos nos ombros dela e puxou-a para perto. — Eu não faço lisonja, milady. É verdade. Você me arrebatou.

Ela piscou.

— Você entendeu mal, milorde, — ela disse calmamente. Ela sentiu o coração bater no peito, algo parecido com medo de passar por ele.

— Talvez eu tenha feito, — ele disse baixinho. — Mas eu gostaria que soubesse que eu não mentiria para você. Pode confiar em mim?

Amabel franziu a testa. Ela acabara de conhecê-lo. Ele estava pedindo muito. No entanto, ela realmente fez.

— Você baixou a máscara, sir, — disse ela como resposta. Ele sorriu.

— Com você, não há máscaras. Eu gosto disso. Eu não pretendo te enganar.

— Então eu confio em você.

— Sim.

Ele pousou a mão no ombro dela e juntos caminharam até a porta do terraço. Por enquanto, estava fechado. Havia um recesso lá, no entanto, e uma sombra. Ela ficou ali, sentindo seu coração bater.

— Sir, — ela sussurrou. — Acho que devemos voltar.

— Por que, milady? — Ele perguntou com urgência.

Ela franziu a testa.

— Porque não é adequado.

Ele sorriu.

— Eu acho que você é alguém que faz regras, não uma seguidora delas, milady.

Ela riu.

— Eu não sigo ninguém, — disse ela rigidamente. — Mas eu não sou imprópria.

Ele riu.

— Não. Você é uma lady.

— De fato.

— Uma lady irresistível. Aquela que faz suas próprias regras. Mas uma lady, no entanto.

— Não, apesar delas. Por causa delas. — Ela riu. — Senhoras fazem as regras.

Ele realmente riu. Ela viu seus olhos castanhos dançarem com alegria, lábios cheios ligeiramente úmidos quando ele sorriu para ela. Isso acendeu seu coração.

— Minha lady, você está certa.

— Sei quem eu sou.

Ele riu.

— Como é que eu vivi antes de te conhecer?

— Isso é porque você nunca compareceu a corte, — ela disse simplesmente.

Ele riu.

— Você está certa de que não estive?

— Claro.

— Como?

— Suas maneiras? — Ela disse candidamente. Ele rugiu.

— Eu entrei naquilo.

— Sim, — ela assentiu. — Você o fez.

— Bem, então, minha lady, — disse ele. — Se as minhas maneiras já são terrivelmente ofensivas, então não preciso me desculpar por piorá-las agora.

Com isso, ele a beijou.

Amabel ficou tensa. Ela congelou quando ele fez isso. Ela sentiu os lábios dele, quentes, firmes e excitantes, movendo-se sobre os dela, sua língua empurrando o arco entre os lábios como uma criatura pequena e insistente. Ela suspirou e o deixou escorregar entre o lábio superior e inferior, sentindo-o sondar sua boca.

Eu nunca fui beijada antes.

Ela fechou os olhos, deixando-o provar e devorá-la. Suas mãos em seus ombros se moveram, acariciando seus cabelos, puxando-a para ele. Ela colocou a mão em seu braço e firmou-se quando ele se empurrou contra ela, forçando-a contra a parede enquanto a língua dele explorava sua boca. Ela estremeceu.

Ofegante, ela sentiu ele empurrar mesmo quando ela fechou os lábios, selando sua boca.

Ele se inclinou para trás, surpreso, sem ver seus olhos.

— Milady, — ele murmurou, tenso. — Eu não quis ofender... — ele parou quando ela balançou a cabeça.

— Você não ofendeu, milorde, — ela disse suavemente. Sua voz estava tremendo e ela estremeceu.

— Mas eu o fiz, madame.

— Não, — ela respondeu, apertando as mãos sobre o estômago por um momento, o peito arfando, enquanto procurava por compostura. Seu corpo inteiro estava correndo com suas entranhas vibrantes, a respiração ofegante.

— O que então? — Ele perguntou, segurando seu rosto.

— Eu... — ela se virou e o viu franzir a testa. — Perdoe-me, milorde, — disse ela trêmula. — Mas foi... uma surpresa. — Ela estava se concentrando no chão na frente dela, tentando por tranquilidade. Seu coração disparava.

Ele a estava olhando ainda.

— Para mim também, — ele sussurrou. — Mesmo para mim... eu normalmente não me comporto dessa forma vulgar, — ele admitiu com uma tentativa de rir.

— Você não está sendo vulgar, — ela retrucou. Ele piscou. — Desculpe, — ela acrescentou. — Estou abalada.

— Eu posso ver isso, — disse ele suavemente. — E isso me entristece.

— Não é sua culpa, — disse ela em voz baixa. Por que ela estava sendo tão estranha?

— Você é uma lady, — ele lembrou gentilmente. — Eu não deveria ter tomado liberdades com você. Como eu estava dizendo, você me subjugou.

Ela riu.

— Eu suponho que é minha culpa, — disse ela provocativamente.

— Claro, minha lady, — ele respirou. — Ninguém poderia me culpar.

Ela levantou uma sobrancelha.

— Você está em águas perigosas, milorde.

Ele assentiu.

— Eu não te culpo. Na verdade, não. Estou apenas procurando entender o que é que me faz comportar como um bruto quando estou perto de você. Eu não sou normalmente assim.

Ela sorriu.

— Tenho certeza que você não é. Nós somos ambos... não somos nós mesmos hoje à noite.

Ele olhou ao redor da sala.

— Bem, estamos na companhia um do outro.

Ela riu.

— Bem, se é assim que todos costumam parecer, eu sugiro que saiamos da corte como se estivesse em chamas.

Ambos riram. Olhando para o salão de baile com sua infinidade de homens e mulheres fantasiados como animais, como personagens grotescos de palhaçadas, anônimos e assustadores, era de fato intimidante.

— Eu sugeriria que saíssemos, — disse ele em uma voz firme. — Mas temo que seria muito tentador para mim.

— Você toma liberdades agora. — Amabel disse, e havia um toque de aspereza. Na verdade, ela estava assustada. Ela sabia algo do que ele queria dizer e também sabia que não havia absolutamente nenhuma possibilidade já que isso era apropriado para ela. Era uma lady e ela deve ser casada antes mesmo de pensar nisso.

— Perdoe-me. — Sua mão procurou a dela e seus dedos ficaram tensos quando ele os apertou. Ele agarrou e soltou.

— Perdoado, milorde, — disse ela em voz baixa. Ela afastou a mão. Seu coração estava dolorido. Ela queria ficar aqui, falando doce e maravilhosa loucura com ele, e segui-lo. Para fazer mais também. No entanto, ela sabia como era indesculpável e era errado.

Em sua cabeça, ela ouviu repetido seu status, sua necessidade de boas maneiras.

— Devemos ir agora, — disse ele em voz baixa.

— Sim.

Nenhum deles se mexeu. Uma voz soou.

— Ninguém deve remover suas máscaras até a meia-noite, por demanda real.

Eles se olharam, um lampejo de culpa em seus olhos. Então, sorrindo largamente, eles as levantaram.

— Venha, milady, — disse ele. — Vamos voltar.

— Sim, meu lorde.

Amabel deixou que segurasse seu cotovelo com ternura e a conduziu para a pista de dança novamente.

Quando ela se juntou ao grupo na mesa do banquete, Amabel sentiu o coração bater forte. Ela olhou ao redor do banquete com uma mistura de desânimo e excitação. Ela queria falar com ele de novo!

Ela sentou-se com o resto da festa — em algum lugar entre o duque com quem jantara na noite anterior e um homem alto e de ombros largos, com uma máscara aquilina, e passou a maior parte da noite revivendo a conversa. Achava difícil se concentrar em qualquer outra coisa, embora a refeição fosse requintada, as bebidas aquecidas à perfeição, a sobremesa deliciosa. Ela só conseguia pensar no beijo.

Como eu gostaria de vê-lo novamente em breve, e por mais tempo.


CAPÍTULO CINCO

ALGUMAS NOTÍCIAS SURPREENDENTES


A luz do sol se filtrava no travesseiro. Rufus, sentindo o sutil calor antes de bater em suas pálpebras, rolou. Ele se espreguiçou e bocejou. Então abriu os olhos.

Ele estava olhando para o teto do quarto. Ele se lembrou da noite anterior.

Essa foi a noite mais maravilhosa da minha vida.

Ele se sentou, passando a mão pelo cabelo despenteado, maravilhado.

Quando foi que ele se sentiu tão maravilhoso? Era como se algo tivesse acontecido. Ele riu. Ele sentiu como se tivesse passado a noite em hedonismo, e tudo o que ele fez foi conversar com a moça! Ele riu.

— Que lady!

Ele deixou trazer seu rosto à memória. Aqueles lábios carnudos e vermelhos, olhos azuis brilhantes. Ele sabia que nunca sentira nada tão maravilhoso quanto aquele beijo. Ele fechou os olhos, lembrando como tinha sido maravilhoso se inclinar contra ela, sentindo seu corpo duro abaixo dele.

Ela é primorosa.

Ele sentiu o sangue pulsar em sua virilha enquanto preenchia suas feições em sua mente. Aquela cintura fina, quadris largos, seios duros. Ele podia adivinhar que ela era bela sob aquelas vestes finas. Ele queria saber mais.

Ele riu com tristeza.

— Continue sonhando, Invermore.

A probabilidade dele descobrir mais sobre ela — no que diz respeito à cama — era incrivelmente pequena. Ela era uma lady. Ele era um cavaleiro.

Se sua família me visse, provavelmente me baniriam por olhar para ela.

Quem era ele? Um membro da guarda da casa! Algumas hierarquias acima de um servo. Seu pai era um lorde menor, mas provavelmente não teria muita água com uma família como a dela.

Não. Ela é filha de um thane, provavelmente. E ele olharia para mim e me enviaria para fora daqui!

Ele sabia que não era digno de tanta beleza. Não em sua vida — uma vida dura e estéril, — mas ele podia fingir.

Ele saiu da cama e foi até a janela, encolhendo os ombros sob a camisola branca. Ele recuperou o fôlego, sentindo um aperto no ombro — ele provavelmente tinha adormecido e acordado dolorido. Ele tirou a camisa e caminhou para se vestir.

O espelho mostrava-lhe um homem magro, feito em luta, o peito ondulado com sombras, os bíceps volumosos, os ombros enormes e superdesenvolvidos. Ele franziu a testa.

Não é ruim. Um pouco brutal para milady, talvez.

Seus olhos rolaram em sua presunção.

A única vez que ela o veria assim, pensou, pesaroso, ao mergulhar em uma confortável túnica de lã e calça preta, era se estivesse prestes a ser executado por afogamento.

Ela não é para tipos como eu e nunca será.

No entanto, ele poderia sonhar.

Quando ele passou um pente no cabelo e se preparou para o café da manhã, ele sonhou com ela. A sensação de sua pele sob sua mão.

Ele sentiu seu ventre se contraírem e sorriu, encolhendo os ombros.

Seu idiota bobo. Você está se atormentando.

Ele sabia que nunca ficaria satisfeito, mas não havia nenhum mal em se entregar a alguma fantasia ociosa, agora que estava lá.

O único dano, concluiu ele enquanto caminhava rapidamente pelo corredor, em direção ao refeitório onde os cavaleiros tomavam sua refeição diária, mais tarde do que o usual, uma gentileza após o festival, era que ele ficaria com muito sangue dividindo seus lombos e nenhum no resto dele.

No salão, ele encontrou fileiras de homens que já estavam lá, principalmente em suas túnicas brancas e cintos prontos para o trabalho. Ele suspirou. Ele teria que ir e mudar de novo antes de seu turno.

Ele viu um lugar ao lado de um homem que conhecia, um sujeito chamado Blaine.

— Bom dia, — disse ele, cobrindo a boca para evitar um bocejo. — Bom descanso, amigo?

Blaine revirou os olhos. Ele parecia cansado.

— Descansar? Não é muito provável.

— Oh? — Ele olhou para os homens e todos olhavam para longe, timidamente. Ele estava interessado.

— Nós tomamos um pouco da boa cerveja, — um dos homens, um sujeito chamado Artair, explicou hesitantemente.

— Oh. — Ele riu. — Bem, foi um dia de festa.

— E nós estamos gemendo de arrependimento agora, — Blanchard, o homem à sua frente, sorriu. Um sujeito arenoso com um rosto alegre e de nariz curto, Blanchard era um dos poucos homens de armas que Rufus conhecia. Um nobre meio francês de nascimento, ele era o quarto de seus irmãos e não estava na fila para herdar nada. Ele havia se juntado à Ordem brevemente, mas nunca havia sido ordenado como cavaleiro, preferindo viajar para Edimburgo para ocupar uma posição na Guarda real. O que, aparentemente, era onde ele havia ficado. Era bom ver seu rosto alegre e amigável em torno do lugar às vezes.

— Eu posso imaginar, — disse Rufus.

— Não, você não pode, — disse Blaine tristemente.

Todos eles riram.

O café da manhã era uma refeição saudável de bannocks e ovos, ou mingau, com sal para polvilhar sobre ele. Rufus mordeu um bannock, sorrindo enquanto o sabor de trigo enchia sua boca faminta.

Ele encontrou seus pensamentos vagando para Amabel enquanto mastigava, sua mente preenchendo a linha de seu lindo decote, a abundância de seu cabelo brilhante como carvão. Ele sentiu sua virilha doer novamente e sorriu para si mesmo.

— Você é alegre, — Blanchard comentou ressentido.

Ele riu.

— Estou pensando.

— Você parece estar vendo donzelas, — Blaine respondeu com pesar. — Eu gostaria de ter bebido o mesmo que você.

Rufus riu. Por acaso, ele não havia bebido nada — bem, um pouco de vinho, mas nada forte. Ele estava se sentindo inexplicavelmente bom naquela manhã, embora estivesse sóbrio nas festividades antes e não fosse tão bom sozinho.

Ele sabia que estava feliz por falar com ela.

Amabel.

Ele preencheu seu rosto em sua mente, imaginando seu corpo abaixo dele. Sua cintura fina e suas coxas bem torneadas. Ela era uma alegria para se ver.

Eu me pergunto se vou vê-la novamente.

Foi um pensamento que o deixou inquieto. Ele não queria considerar a possibilidade de que, naquela única noite, ele a tivesse provado tanto quanto ele jamais a conhecesse, tanto quanto ele queria e faria. Ele tinha certeza de que tinha que vê-la novamente. Ela não poderia ser colocada em seu caminho apenas para ser arrebatada dele. Ele não queria acreditar que a vida pudesse ser tão miserável.

Ele pegou outro bannock e mastigou, pensando. Naquele momento, Sir Ivan entrou.

— Homens, — disse ele. — Devemos tomar as armas!

Rufus ficou boquiaberto. Ele olhou para o homem em frente, que encolheu os ombros, fazendo grandes olhos para ele. Ninguém sabia do que se tratava, claramente, e todos se reuniram para ouvir.

— Temos a palavra, — continuou Ivan. Ele havia subido no alto de sua mesa, o que significava que três e seis outros bancos de guerreiros estavam todos olhando para eles, um fato que irritava muito Rufus. Ele balançou a cabeça e focou nas palavras do homem. — Ouvimos ontem sobre uma insurreição. Um complô contra a coroa.

Todos os homens balançaram a cabeça, rosnando desgosto. Como alguém poderia fomentar a insurreição? Contra a sua rainha? Como alguém poderia considerar isso?

— Devemos ir a Somerkirk para deter essa ameaça.

— Sim! — Um dos homens gritou. Todos os outros se juntaram.

— Enforque os traidores.

— Morte pela insurreição.

Rufus sentiu o sangue subir enquanto homens batiam nas mesas, empurravam as cadeiras para trás e rosnavam.

— Bem, — ele disse para seus amigos enquanto se levantava. — Esse café da manhã terminou.

Blanchard revirou os olhos para ele.

— Fácil para você dizer, — disse ele em tom de peraltice. — Eu não consegui manter nada por baixo ainda...

Rufus riu.

— Sua própria culpa, camarada.

Blanchard o olhou com raiva.

— Estou dolorosamente ciente disso. Agora, se você não se importa, tentará calar este lote? Minha cabeça está doendo.

Rufus riu.

Eles saíram juntos para o pátio de treinamento para ficarem prontos.

— Agora, homens, — declarou o comandante deles enquanto eles se armavam. — Vou dar uma hora antes de nos encontrarmos no pátio para partirmos. Um destacamento de vinte em vinte, o grupo de Dunstan vai ficar aqui. O resto de nós partimos.

Rufus foi até o castelo, seguindo o grupo. Ele dirigiu-se a seus alojamentos, esperando que tivesse alguém para ajudá-lo a arrumar sua armadura para a cavalgada.

— Seamus?

Sem resposta. Rufus gemeu. Onde estava o homem abençoado quando você o queria?

— Seamus?

Ele suspirou. Era isso então. Ele tinha que empacotar sua armadura ele mesmo. Ele correu até o baú e começou a desfazer os baús. Ele precisaria de suas caneleiras. Ele considerou usá-las e decidiu que poderia fazer isso. Isso pouparia ter que mexer nos cadarços quando chegassem ao local, caso ele precisasse entrar em ação imediatamente.

Enquanto tentava amarrá-los, ele não encontrou um dos cadarços necessários para substituir.

— Oh, por... — ele suspirou e ergueu a coisa, descendo as escadas. Ele considerou o que fazer sobre isso. Não era um desafio ruim — só precisava de um cadarço novamente. Ele foi ao arsenal, mas havia uma fila de homens ali, esperando que suas espadas fossem afiadas. Ele suspirou em impaciência. Se ele esperasse nessa fila, a hora passaria rápido e ele ainda teria cadarços quebrados.

Ele foi para o salão.

— Masie? — Ele chamou. Sem resposta. Ele esperava encontrar a moça que lhes trazia as refeições habituais. Se nada mais, ela provavelmente teria corda ou alguma coisa a mão para amará-lo. Ele olhou em volta e quando viu que não havia ninguém, ele deu de ombros e saiu.

— Não há ninguém? — Ele suspirou baixinho. O castelo parecia deserto, exceto por um oficial de cabelos escuros que desceu rapidamente as escadas, indo para o exterior.

Ele deu de ombros e subiu as escadas. Ele parou.

— Minha lady?

Com a luz do dia nos fios escuros de seu cabelo, ela era mais notável do que quando a viu na noite passada.

— Meu lorde? — Ela piscou para ele.

Ele riu.

— Sir Rufus, milady. Podemos dispensar as cortesias de praxe. — Ela o chamara de “lorde” porque ele usava uma máscara e ela não sabia quem ele era. Ele não deixaria que ela continuasse.

— Bem, então. — Ela sorriu, inclinando a cabeça. Então ela franziu a testa. — O que é isso?

Ele suspirou. Ele não tinha percebido o quão estranho ele deveria parecer, parado no salão com um componente quebrado das placas de caneleiras da armadura pendurado à toa em sua mão. Ele balançou sua cabeça.

— Minha lady, me perdoe, — disse ele, suspirando alto. — Eu estou indo para batalha. — Ele apontou para o pátio, apenas mostrando os homens alinhados do lado de fora na frente.

— Você deve ir, não deve? — Ela olhou para ele e Rufus se contraiu.

Ela está olhando para mim como se pudesse ler os segredos da minha mente.

Ele se sentiu desconfortável. Ele suspirou.

— Minha lady, sim. — Ele observou seu comandante caminhar, direcionando os homens para seus lugares. Ele deveria ir mesmo.

— Sir Rufus, — disse ela. Ela desceu as escadas e ele se aproximou e eles estavam em frente um do outro. Ela usava um belo vestido de tecido, um tom vermelho escuro. Completamente espontânea, ela pôs a mão nos ombros dele, olhou para ele.

— Você vai cavalgar muito, — ela entoou. — Você verá ação em um campo. Haverá uma batalha. Esteja seguro.

Rufus piscou. Como ela estava...? Enquanto tentava entender, ela o beijou.

— Minha lady! — Ele ouviu o som de sua voz estridente e limpou a garganta, sentindo-se envergonhado. Ela havia se retirado, embora ainda olhasse para ele com aqueles olhos azuis safira.

Seu coração se virou. Seus lábios cheios e molhados de beijos eram uma visão que incendiava sua virilha. Ele foi duramente pressionado para não agarrá-la e puxá-la a seus braços novamente, com fome de beijar.

Ela estava limpando a garganta, porém, um pequeno sussurro. Ele se esforçou mais, querendo ouvir suas palavras.

— Você vai lutar, mas vai sobreviver, — ela sussurrou. Então, enquanto ele a observava, seus olhos reviram e ela desmoronou.

Ela caiu em direção aos degraus, os olhos fechados, o corpo caindo lentamente, como uma muda caindo em um vento de primavera.

— O que...? Minha lady? — Ele gritou.

Sem pensar no que estava fazendo, ele se abaixou e a levantou. Então, sem mais delongas, ele subiu as escadas e levou-a para os quartos. Lá, ele parou. Qual deles era dela?

Isso é realmente para se pensar.

Ele suspirou. Ali estava ele, com uma linda mulher nos braços, num corredor de quartos. O que alguém iria pensar quando tentasse explicar?

Eu a peguei quando ela desmaiou e a carreguei para colocá-la em sua cama. Seja honesto. Eu não fiz nada para ela, nem tanto quanto tocá-la. Ela só desmaiou no meio da nossa conversa, fácil como uma árvore caindo em uma tempestade. E então eu agarrei-a e peguei-a e levei-a pelas escadas. Mas eu não sei onde fica o quarto dela.

Se ele visse algo como isto, ele presumiria que a intenção do homem era seduzi-la e o encontrou em flagrante.

Ele pediu ajuda, mas ninguém veio. Ele olhou em volta desesperadamente. Então olhou para o rosto dela. Seu corpo macio estava contra seu peito duro. Ele só notou a linha tenra de seus lábios, úmida onde sua língua tinha acabado de estar, o branco de sua pele. Ela tinha uma delicadeza tão suave, da pele à ondulação de seu cabelo. Suas curvas cheias. Seus longos cílios. Ele sentiu seu coração se encolher com um sentimento que era quase dor. Ele queria beijá-la. Ele respirou pesadamente.

— Alguém... — ele começou um pedido de ajuda. Ele não podia ficar ali parado, desejando abraçá-la.

— Meu lorde? — Um servo apareceu, o cadarço quebrado em sua mão. — Encontrei isto, senhor — acrescentou ele, tenso.

— Obrigado, realmente. — Rufus suspirou. — Se você pudesse apenas carregá-la. Eu estava conversando e ela desmaiou, — ele explicou hesitante. Ele não esperava ser acreditado, mas o homem assentiu.

— Eu a conheço, senhor, — ele disse rapidamente. — Ela é lady Amabel, sim?

— Isso mesmo, — disse Rufus, cansado.

— Quarto na ala sul e leste, senhor, — ele disse sucintamente. — Me segue?


CAPÍTULO SEIS

UM ENCONTRO DE SURPRESA


O campo para o qual ela olhava era cinza e mofado varrido por um vento atormentado. Ela estava na planície deserta e sabia, apenas sabia, que cem homens tinham morrido ali. Ela sentiu seus gritos e gemidos de dor no vento, ouviu seus suspiros e sabia que a brisa que tremia em suas vestes os ouvira dar seus últimos gritos, recebera suas últimas exalações.

Ela sentiu o choque e o grito da batalha e procurou a única pessoa de quem gostava, o homem com olhos castanhos que sua alma tinha visto, embora ele fosse alguém com quem ela nunca tinha falado em sua vida.

Ela sabia que ele tinha ido embora. Sua alma gritou e ela gritou sua dor para o céu.

Ela sentiu o cinza do nevoeiro fechar em torno de suas pálpebras.

Ela estava em algum lugar, um oceano de sensações que não era nem o mundo estável da vida nem a clareza da visão de vidro. Ela estava deitada em algo macio, e a névoa flutuou diante dela. Leve, magra e desnecessária, aqueceu as pálpebras.

Quando sentiu a névoa se dispersar, sentiu a dor encher seu corpo. Era como se ela estivesse toda machucada, como se tivesse corrido por dias e dias. Tudo doía.

— Onde...?

A voz de seus sonhos mais profundos falou em sua confusão.

— Você está segura.

Ela soltou um suspiro. Ela queria abrir os olhos, mas o mais leve toque de luz machucava seu cérebro e então os fechou com força.

Ela sentiu algo apertar em volta de seus dedos e percebeu com alguma surpresa que era a mão dele, aquecendo seus dedos doloridos. Ela ficou tensa, retirou-se.

— Você vai explicar, milorde, — disse ela através de um conjunto apertado de lábios, — como é que você está aqui, comigo. No que parece ser meu quarto de dormir, ou um bom fac-símile disso.

Ela o ouviu respirar.

— Minha lady, eu...

Ela abriu os olhos um pouco, mas a luz ainda doía, então ela os manteve meio fechados pelas longas pestanas coladas no sono.

— Você não tem muito caso para defender isso.

Ela o ouviu abrir e fechar os lábios, depois começar.

— Minha lady, eu...

— Não me diga, — disse ela secamente. — Eu desmoronei e você me carregou.

— Bem, sim, — ele piscou.

— É por isso que você está sentado ao lado da minha cama como um padre que assiste aos últimos ritos, com sua mão na minha, mantendo sentinela.

— Minha lady, eu...

Ela riu.

— Eu não estou zangada. Meramente curiosa.

Ela virou a cabeça. Aqui, a luz não era tão brilhante e ela poderia arriscar vê-lo. Ela olhou fixamente. Seu rosto estava cansado e ele parecia infeliz. Seus olhos estavam arregalados e pareciam atormentados.

— Eu pensei que você estivesse morta.

Ela sorriu, uma expressão sem humor para toda a sua diversão anterior.

— Eu não estou.

— Percebi.

Ela riu e desta vez seu sorriso ainda estava mais quente.

— Bem, bom. Agora você poderia me ajudar a sentar? Precisamos arrumar algumas explicações sobre o que você está fazendo aqui e também precisamos conversar.

— Oh? — Ele franziu a testa.

— Eu vi alguma coisa, — disse ela, incerta. — Eu vi que você será morto se for com os homens. Você deve ser cuidadoso. Deixe-me repetir isso. É muito provável que você morra se se comprometer com esse empreendimento. Mas isso não é inevitável.

— Oh? — Ele franziu a testa.

— Agora escute, — ela disse, encontrando a força para se sentar e virar para ele, suas mãos em seus pulsos. — Você precisará ficar à direita do campo. Haverá duas colunas. Fique na direita. Você tem um melhor balanço de espada se enfrentar inimigos da direita. Além disso, seria sábio pegar uma faca comprida também. Não apenas a espada larga.

Ele olhou para ela. Ele estava claramente tentando digerir essa informação. Ela esperava que ele estivesse zangado com ela por ditar, mas como aconteceu, ele apenas escutou.

— Eu vou fazer isso, milady, — disse ele. Ele franziu a testa. — Você viu apenas isso? — Ele perguntou.

Ela assentiu. Sua boca estava seca e sua barriga azeda. Ela sempre se sentia esgotada depois que a visão passava. Ela não tinha certeza se era o ódio que sentia por isso, ou a terrível antecipação quando viu as coisas saírem um pouco do normal. Como ela sabia que uma visão havia entrado em seu mundo e começava a ver. De qualquer forma, ela estava completamente terminada.

— Eu vi isso, — disse ela em uma voz rouca. — Eu vi a morte. Muitas mortes. Você pode cavalgar, mas só se você prestar atenção nisso... — ela sussurrou. Ela balançou a cabeça e sentiu a raiva crescer nela. Como ele ousa? Ele quase a mandou de volta àquele lugar de visão nauseante e horripilante. Ela suspirou.

— Minha lady?

— Não me faça procurar, — ela disse impacientemente. — Eu não vou visitar isso novamente.

— Minha lady, eu não faria. Prefiro não renunciar ao aviso. Apenas tenha você.

Ela olhou para ele. Sua cabeça parou de doer, ou pelo menos naquele momento ela não estava mesmo ciente vagamente do que.

— Senhor... eu...

O que quer que ela estivesse planejando dizer, e não tinha certeza do que tinha sido, foi interrompida quando seus lábios se misturaram com os dela.

Ela ofegou e recostou-se quando ele a empurrou contra a cabeceira da cama, seus lábios firmes e insistentes precisando dos dela, sua língua entrando em sua boca, suas mãos se enterrando em seu cabelo ou em sua cintura. Ela tentou empurrá-lo, mas sabia que não estava realmente querendo resistir a ele. Seus dedos apertaram sua cintura e seu corpo pegou fogo quando ela sentiu o aperto firme de seus dedos a explorando.

Eu não deveria deixá-lo me tocar assim, neste lugar, nesse estilo.

Ela não queria dar atenção a essa lembrança. Ela queria senti-lo, queria saboreá-lo, sentir aquele corpo duro e esbelto pressionando contra ela, empurrando-a contra a cabeceira da cama, aquele peito esfregando seus seios.

— Sir, — ela gemeu quando ele se afastou. — Por favor. Não.

Ele pulou de volta instantaneamente. Seu rosto era uma imagem de contrição.

— Perdoe-me, por favor.

Ela suspirou.

— Você não fez nada, — ela disse gentilmente. Ela quis dizer isso. Seu corpo latejava e ela não queria que ele parasse, embora soubesse o quanto era vital que o fizesse. Ela suspirou e recostou-se.

— Eu deveria...

— Não — disse Amabel, estendendo a mão para seus dedos e segurando-os com força. — Sim, você deve ir, — ela concordou gentilmente. — Mas agora não.

Ele engoliu em seco.

— Eu não sei...

— Você não fará mal algum, — disse Amabel, — se simplesmente ficar para dizer adeus primeiro?

Ele sorriu para ela.

— Eu não acho que posso, — disse ele. Seus olhos castanhos eram hesitantes, dois poços incertos.

Ela franziu o cenho para ele.

— Eu não quero dizer adeus, minha lady, — disse ele em uma voz firme. — Só que eu vou te ver em breve.

Ela olhou para ele. Era como se alguém tivesse entrado em seu coração e o tivesse inflamado. Ela respirou instável.

— Meu lorde, — ela sussurrou.

— Vamos nos encontrar de novo, — disse ele com um pequeno sorriso. — Eu acredito nisso.

— Eu também, — disse ela com convicção. Ela tentou resistir à tentação de olhar, para ver se a visão poderia mostrar alguma coisa, mas as ondas de energia quase a deixara — tudo o que ela tinha era uma sensação de cansaço.

Se ele ficasse no lado direito, ele viveria.

— Eu devo deixá-la agora, — disse ele com um sorriso hesitante.

Ela assentiu.

— Vá então.

— Sim.

Nenhum deles se mexeu. Ela tentou se levantar, mas quando o fez sua cabeça caiu de volta na escuridão e ela piscou para clarear sua visão do escuro. Ela deitou de volta.

— Eu devo ir, — disse ele. Ele veio para a cama e ela sentiu a mão dele tocar os dedos dela. — Minha lady, fique bem, — disse ele com uma voz suave. — Eu vou te ver quando voltar.

— Sim, — disse ela com um sorriso. Ela sabia disso.

Então ele foi embora.

Ela ouviu seus pés descendo pelo corredor e ela fechou os olhos, saboreando as memórias de seu beijo. Foi muito mais tarde que ela se sentou e tentou se levantar novamente. Desta vez ela estava de pé e gemendo quando ouviu alguém no corredor.

Ela se arrastou até a porta e olhou para fora. Quem era?

Quando ela voltou e se sentou na cadeira coberta de bordados perto da penteadeira, viu a porta se abrir no lado onde Glenna dormia — o tecido pesado que dividia a parte da câmara maior da dela era grosso o suficiente para deixar a luz aparecer onde a porta se abriu e fechou, mas ainda assim, ela a viu.

Um momento depois, Glenna apareceu.

— Minha lady! Oh...

— Eu desmaiei, — disse Amabel. — Sim, foi uma visão. Sim, vi alguma coisa. Eu não vou discutir isso. Você sabe que não vou.

Glenna assentiu.

— Sim, eu entendo. Sim.

— Bem, então — Amabel disse severamente. Ela odiava ter que mencionar a visão e todas as suas implicações. — Pode me ajudar?

Glenna assentiu.

— Eu posso buscar algo para você beber, milady... um pouco de suco de morango, ajudou na última vez. E você deve se deitar por um tempo, com as cortinas fechadas...

Enquanto permitia que Glenna cuidasse dela, Amabel se viu pensando no homem que cuidara dela com tanta ternura, com quem ela tinha, agora que pensava nisso, compartilhado mais do que jamais teve de suas visões. A lembrança de seu beijo em seus lábios e a sensação de suas mãos em seu corpo permaneceriam com ela até que ele retornasse mais uma vez.


CAPÍTULO SETE

EM BATALHA


O vento soprava pelos cabelos de Rufus, onde ele cavalgava, estranhamente, desprotegido do capacete. Ele amarrou-o ao pomo da sela, preferindo ter uma visão clara à frente.

— Vamos lá, homens, — ele chamou enquanto Shane cavalgava lentamente ao lado dele.

O homem grunhiu.

— Você deve colocar um capacete, — disse ele. — Veja como é tentar andar quando só se consegue ver através de uma grade de buracos do elmo.

Rufus fez uma careta para ele, sabendo que a visão do homem estava limitada na frente. Do seu lado ele era invisível. Era uma das razões pelas quais ele não estava usando um. Ele poderia estar vulnerável a arqueiros, mas estaria a salvo de pessoas se esgueirando.

E ela fora insistente sobre isso.

Ele suspirou. Por que ele estava realmente recebendo a palavra de alguém que ele mal conhecia, a palavra de uma visão que poderia ter sido confundida ou completamente falsa?

Eu conheço Amabel. Eu confio nela.

Nada disso deveria ter sido verdade. Ele tinha dançado com ela algumas vezes, a visto menos vezes do que ele tinha facas de substituição no cinto. No entanto, ele tinha certeza de que era verdade. Ele podia confiar no que ela previra.

Nos recessos de sua mente, ele parecia lembrar-se de ter visto alguém com a mesma visão, uma conexão que conhecera e as coisas que acontecia porque ela os vira. Era uma mulher — essas coisas pareciam mais prontamente acessíveis a elas. Ele não sabia por quê. Ainda assim, ele acreditava nela.

Eu farei como ela disse.

— Ei, peludo, — um de seus amigos da manhã falou para ele.

— Por que cabeludo?

Blanchard sorriu e puxou seu cabelo. Ele riu.

— Eu odeio capacetes, — explicou ele.

— Eu também, — Blanchard assentiu. Ele o tinha debaixo do braço, cavalgando com os joelhos e uma única mão segurando as rédeas com frouxidão. — Mas eu odeio ser flechado também.

Rufus soprou.

— Então, — Blanchard continuou enquanto andava ao lado dele. — Nós planejamos emboscá-los, hein?

— Não, — Rufus suspirou. — Nós planejamos exigir a rendição. Eu acho que é isso, de qualquer maneira.

— Oh.

— Eu sei. Se eles não se renderem, nós apenas teremos anunciado nossa presença e tirado nossa vantagem, mas quem sou eu? Não sou nosso comandante, veja.

Blanchard assentiu.

Eles cavalgaram sombriamente. O campo através das colinas era verde, pontilhado aqui e ali com árvores varridas pelo vento. Eles cavalgaram em uma planície, as colinas subindo de cada lado. Rufus observava de um lado para o outro enquanto cavalgavam. Ele podia ouvir, em algum lugar, o lamento das ondas do mar e sabia que a costa não estava tão longe deles. Onde quer que esses nobres rebeldes estivessem, ficava à beira-mar.

Ele respirou o ar, deixando a brisa salgada do mar agitar seu cabelo. Ele se sentia estranhamente sereno. Ele conhecia o sentimento. Era um sentimento de resignação. Um bom, porém — ele poderia morrer em paz.

Eu acho que se eu morresse agora eu ficaria contente, menos em um fato.

Ele gostaria de ver Amabel.

Ele suspirou. Ele não ia ser moroso. Ele estava aqui, com a brisa soprando um cheiro de água salgada. Ele estava nas colinas. Ele estava com amigos, e o sol brilhava enquanto o vento fazia as nuvens esbarrarem. Era o suficiente por enquanto.

Enquanto cavalgavam, ele notou que o campo começou a mudar. As colinas eram mais próximas, mas ainda assim cavalgavam em pântanos de nível plano, a grama ondulando e crescendo mais como um pântano do que uma charneca enquanto se dirigiam para a frente. Ele piscou surpreso quando a torre da colina que os observava apareceu.

Ele percebeu que eles estavam prontos.

O lugar deu-lhe arrepios. Um campo de grama bela e fresca, as pontas flutuando na brisa leve. As árvores eram linhas distantes no céu. A torre os enfrentava.

Era o lugar que ela previra. O lugar que Amabel havia descrito. Exatamente.

Ele sabia que este era o lugar.

Assim, não foi surpresa para ele quando, seu comandante deu um sinal, a força de negociação subiu.

— Alto, — os homens na frente deles ecoaram de volta. Rufus ficou surpreso ao encontrar-se perto da parte de trás do grupo, quando ele pensou que ele cavalgava muito à frente. Ele percebeu que a força estava dividida em duas unidades — uma sob o comando de Ivan e outra, onde ele estava, sob o comando de outro homem que ele não conhecia o nome.

— Então, — Blanchard assentiu. — Esse é primo de Shane, — disse ele, apontando para o homem.

— Quem ele é? — Rufus estudou-o com cuidado. Com uma aparência pesada e uma garganta com músculos, o homem tinha um rosto desagradável. Ele descobriu que não gostava dele instantaneamente.

— Sim. Companheiro, ele é chamado de Stanner. Um tipo desagradável.

— Mmmm.

— Fique fora do seu caminho, — observou seu amigo.

Rufus observou o campo e viu o pequeno esquadrão de cavaleiros ser recebido por seu comandante. Seu próprio oficial comandante, Stanner, ficou onde estava. Rufus se viu estudando-o com frieza. O homem parecia, pensou ele, como o tipo de homem que intimidava suas tropas. Ele não gostava dele. Ele havia enfrentado sua espécie antes e visto como os homens geralmente conspiravam contra eles. Se eles mantivessem uma tropa leal, geralmente era porque cada um dos homens planejava acabar com ele no meio da luta sem ser visto.

Eu vou ficar de olho nele.

Ele estreitou os olhos quando o grupo falou e então seu comandante se virou para eles.

— Homens, façam duas fileiras.

A ordem foi repassada para aqueles que não estavam perto o suficiente para ouvir ou que haviam perdido o sinal dos padrões da frente — duas flâmulas azuis e brancas em um longo poste, seguras pelos portadores, Bruce e Henry, em seu cavalos.

Eu já vi isso.

Rufus trotou seu cavalo para a direita complacentemente. Foi só quando o movimento foi concluído que ele percebeu algo incrível. Duas colunas.

Era a visão dela.

Ele segurou o pomo diante dele, sua cabeça nadando.

Ele olhou para a esquerda, onde estava Blanchard.

— Fique comigo, — ele sussurrou. Ele queria Blanchard mais perto, não para protegê-lo, mas para que Blanchard não tivesse chance de estar na ala esquerda malfadada.

Não que ela dissesse que algo aconteceria com eles, pensou ele, pensativo.

Ela apenas o advertira para permanecer no lado certo.

Ele pegou a faca do cinto, satisfeito por ter lembrado o suficiente das palavras dela para ter uma. Ele estava armado como ela lhe dissera para estar e no lado correto do campo. Ele estava tão seguro quanto qualquer um poderia estar.

Ele suspirou.

Eu não costumo pensar nisso.

Esta foi a primeira vez que realmente se preocupou se ele retornaria da batalha. É claro que a ameaça de morte e dor nunca era agradável, mas essa era a primeira vez que ele se lembrou e considerou que talvez não voltasse para ver alguém. Era uma nova experiência.

Ele baniu o pensamento de sua mente e se concentrou no piloto à frente.

Quaisquer termos que eles tenham oferecido eram claramente insatisfatórios, pois os portões se abriram e uma fileira de homens cavalgou, protegidos, armados com lanças, os dois homens da frente carregando flâmulas, como os seus.

Ele ouviu o chamado das trombetas e as fileiras foram unidas por colunas, cada uma marchando, em passo lento. O inimigo tinha menos cavalos do que eles, mas muitos soldados de infantaria, cada um armado com lanças altas e perversas.

Sentiu uma estranha calma dentro dele, embora sua testa estivesse pulsando, uma contração nervosa que lhe disse que seu corpo estava tenso, esperando, pronto para atacar.

— Esperamos pelo sinal, — a ordem voltou. — Então, mexam-se.

O erro estava claro para qualquer homem que tivesse lutado antes. Rufus tinha visto ação nas escaramuças em terras do Leste. Ele sabia que, se os cavaleiros atacassem, as lanças opostas os impediriam, reduzindo sua linha de espadachins endurecidos a carcaças mutiladas.

Isso os deixou com a única opção sendo ficar parados. Esperando o inimigo avançar. Então, esperando que eles pudessem fechar a lacuna antes que as estacas afiadas fossem úteis. Uma longa lança só era boa se fosse abordada à distância. De perto, era apenas estranho. Seus homens poderiam derrubar o inimigo com facilidade.

Ele esperava que seu comandante soubesse disso.

— Esperem, — a ordem chegou. Ele assentiu. Ele estava rangendo o queixo, esperando que a carga começasse. Se eles ficassem parados, ele se entorpeceria, e talvez nada acontecesse. Os outros soldados apenas sentavam e olhavam para eles e depois se afastavam.

Ele sentou-se ali, sentindo-se inquieto. Ele sentiu seu cavalo estremecer e sabia que o cavalo também estava esperando para lutar. Ele deu um tapinha no pescoço dele.

— Não vai demorar muito até que algo aconteça, — ele disse ao garanhão de batalha suavemente. — Não muito tempo.

Eles voaram.

Nos segundos que levou para se abaixar e tranquilizar seu cavalo, as fileiras da frente opostas cobriram três metros de terreno. Ele piscou, não tendo certeza se ele tinha visto aquilo. Eles estavam se movendo? Sim. Lentamente.

Ele sentiu suas mãos se apertarem e respirou, lutando por calma. Respire, dentro. Fora.

Ele observou com impassível impassibilidade quando o inimigo se aproximou lentamente.

Então a distância se foi e ele estava testemunhando a batalha se desenrolar.

Ele ouviu os gritos de guerra e os gritos dos homens, os confrontos e os relinchos dos cavalos.

— Ataque! — Ele gritou. Ele não pôde evitar. Agora eles tinham que se mover rápido. As fileiras da frente estavam terminadas. Somente se fechassem a lacuna agora poderiam usar a vantagem que eles deram. Eles deviam ir a pé, correr para alcançá-los.

Ele viu Stanner se virar e olhar para ele. Ele engoliu em seco. Ele recuou, mas o homem estava claramente enfurecido. Ele esperou, desesperado, quando o homem da frente decidiu que estava vendo a mesma coisa que Rufus havia previsto. Ele acenou a bandeira para a desmontagem e ataque.

Rufus lançou a perna e estremeceu quando o impacto traçou uma mão dolorosa em suas pernas e espinha. Ele correu para frente.

Mantenha-se à direita. Mantenha-se à direita. A mão direita.

Ele estava correndo, concentrando-se na previsão, largando o capacete e levantando a grade, quando viu Stanner.

Ele não estava na frente de suas fileiras. Ele estava voltando. Ele estava correndo para ele.

— Você desafiou meu comando, — disse ele. Ele tinha uma voz fria e distante. Mesmo assim, carregou o rosnado e a insanidade da batalha.

— Não, — ele contradisse.

— Você o fez, — disse Stanner, e sua espada balançou em um arco sibilante, apontando para sua cabeça. Rufus recuou. Ele observou, em total recusa, aceitar esse fato de que seu próprio comandante imediato tentou cortá-lo.

Ele recuou e foi apenas um hábito vitalício que o salvou quando a espada brilhou diante de seus olhos. Ele ficou chocado, quase chocado demais para reagir. Ele puxou sua própria espada, desesperado para bloquear o balanço. Ele fez isso e sentiu quebrar sua lâmina.

Ele queria gritar. Ele não precisava de sua própria lâmina quebrando. Ela era o posto de reserva em uma batalha onde a frente estava se tornando um massacre. Ele tinha que lutar.

A raiva da batalha o fez rugir quando se lançou à frente. Ele não estava pensando quando puxou sua adaga e arremessou-a no peito do homem. Seu inimigo usava cota de malha, como ele, mas, mesmo assim, havia um ponto vulnerável. Ele tirou sangue e viu o homem recuar. Era tudo que ele precisava.

— Frente.

Ele disse isso tanto quanto a exortação como lembrete para si mesmo enquanto se movia, indo para a linha de frente.

Lá, como ele suspeitava, a luta era terrível. Ele notou que todos os homens haviam desmontado e lutavam com o inimigo a pé. Viu Ivan passando por eles com sua espada larga, fazendo carícias como um homem cortando feno, e sentiu uma relutante admiração pelo homem florescer dentro de si. Ele atravessou o inimigo, apunhalando com a adaga em vez da lâmina. Ele estava em quartos próximos agora, e qualquer arma mais longa que uma articulação de perna era uma responsabilidade pior que outra.

Ele alcançou Ivan e ficou ao lado dele.

— Como é?

Ele tinha que rugir acima do barulho e, mesmo assim, suas vozes mal se alcançavam.

— Boa.

Achou Ivan irrealista e alegre, mas virou-se para a esquerda e comprovou a precisão da avaliação.

Os homens que vieram para eles estavam armados com lanças e escudos, e suas habilidades com as espadas que carregavam era menor do que a dos cavaleiros que os encaravam. Os números eram quase iguais e nesses trimestres onde os piques estavam sem esperança, as chances eram mais favoráveis.

Ele ouviu os sons crescendo e percebeu que seus homens estavam sendo gravemente feridos também. Eles venceriam, ele pensou enquanto levantava a faca e se defendia contra um ataque de um ex-portador de lança com facas, mas não bem.

Ele observou Sir Ivan e depois se defendeu novamente, novamente e mais uma vez. Então, parecia que não havia mais assaltantes. O que não era uma coisa ruim porque o braço dele estava cansado. Ele olhou para o comandante.

— Termine, — ele disse severamente.

Rufus assentiu e se dirigiu para a luta obedientemente. Foi então que a lâmina veio assobiando do lado e ele teve apenas um momento para erguer a sua e bloqueá-la antes de cair para o escuro.


CAPÍTULO OITO

NO CAMPO


Amabel acordou. Ela percebeu que estava descansando em seu quarto de dormir. Ela piscou. O dia havia escurecido até a noite, o sol cobrindo o horizonte com tinta vermelha. Ela sentou.

Sua memória alimentou sua informação segmento por segmento. Ela lembrou estar em um campo de batalha, com o choque e o grito de luta ao redor dela. Ela sentiu preocupação com as perdas. Ela sentiu força. Ela sentiu uma pontada repentina e depois ficou escuro.

— Rufus.

Ela se levantou e correu para a porta. Ela sentiu uma mão pegar seu antebraço.

— Milady, — disse uma voz suave. Glenna entrou pela porta. — Milady. O que está acontecendo de errado?

Amabel sacudiu a cabeça para limpá-la. Ela não tinha certeza. Ela respirou profundamente, percebendo o quão desafiador seria explicar isso a ela.

— Eu vi Rufus, — explicou ela. — A batalha. Ferido.

Glenna fez um barulho reconfortante em sua garganta que deveria ser gentil, mas deixou Amabel mais extenuada.

— Glenna! — Ela disse, angustiada. Deixou-a levá-la a um assento e então ficou sentada ali, com o rosto coberto pelas palmas das mãos enquanto tentava apagar o horror de tudo aquilo.

— Agora, diga, por favor. Diga-me, milady. Você viu um ferimento. Sim?

Amabel suspirou. Ela percebeu que não contara a Glenna de Rufus. Como ela saberia quem ele era? Ela respirou profundamente e tentou encontrar a razão.

— Você me viu dançando no baile, sim? Havia um homem lá... um homem alto, com uma máscara escura. — Quando Glenna assentiu, ela continuou. — É Sir Rufus Invermore. Ele é um espadachim — explicou ela desnecessariamente. Ela suspirou. Ela sabia que estava falando sem saber o que dizer. Como ela deveria dizer tudo a Glenna? Que por alguma razão espontânea ela tinha tido uma visão com um estranho, uma visão em que ele foi gravemente ferido. Então, espontaneamente, ela sonhara com ele. Sentiu o ferimento. Esteve ao lado dele? Ela balançou a cabeça. — Glenna?

— Eu não me importo com o que você está me dizendo, — disse ela gentilmente. — Quão estranho é. Eu acredito nisso.

Amabel assentiu. Glenna, de todas as pessoas, acreditaria. Ela respirou fundo e suspirou.

— Eu o vi ferido. Nós devemos ajudar.

Glenna franziu a testa.

— O que poderíamos fazer?

Amabel sacudiu a cabeça.

— Eu não sei.

Ela não tinha ideia de onde os homens estavam. Quão longe. A batalha aconteceu antes do pôr do sol. Portanto, elas sabiam que o lugar estava dentro do alcance de um dia, mas não tinham ideia de qual direção poderia tomar.

— Eu tenho uma noção, — começou Glenna.

— Mmmm?

— Eu conheço um sujeito, — ela disse hesitante, — ele trabalha com o guarda daqui. Eu poderia perguntar a ele.

— Oh, Glenn! — Amabel disse, encurtando carinhosamente o nome dela enquanto ela pegava suas bochechas, apertando-as de brincadeira. — Obrigada!

Glenna corou e suspirou.

— Bem, então, milady.

— Bem, então.

— Nós duas fizemos amizades significativas.

Amabel riu.

— De fato, parece.

Glenna sorriu.

— Mas como pode...

— Droga, Glenn, — Amabel riu, batendo a mão em seu questionamento. — Eu não sei.

Ela sabia que sua amiga ia lhe perguntar algo que não poderia responder, ou que não queria pensar — algo como se ela pudesse ou não ver o caminho certo para fazer seus nobres pais aceitarem um soldado como um pretendente, mas ela não estava considerando isso.

O que quer que acontecesse, aconteceria de alguma forma. Ela não iria contemplar isso.

Tudo o que ela ia fazer era ter certeza de que ele vivesse.

Ela deu um longo suspiro estremecido.

— Certo, — ela disse para Glenna. — Precisamos nos preparar.

Glenna assentiu.

— Eu vou perguntar a Ron se ele sabe onde eles estão.

— Sim, — disse Amabel, assentindo. — Por favor, faça.

Elas fizeram seus planos. Elas empacotaram algumas coisas de viagem que iria no cavalo de Amabel. Glenna viajaria com ela ou em um palafrém que pegariam emprestado — e iriam para o local da batalha.

Enquanto verificava os suprimentos, Amabel franziu o nariz, descontente. Elas precisariam de mais.

— Glenna?

— Sim, milady? — Glenna tinha retornado do pátio de treinamento onde ela havia consultado o informante e estava ocupada organizando suas roupas para a cavalgada.

— Você vai cortar a minha saia velha? A lã branca sob o vestido? Acho que precisamos de maços de lã.

— Sim, milady.

Sem palavras, sabendo que era outra coisa para tentar explicar e não se importar, eles rasgaram a saia e a embalaram com os suprimentos.

Elas precisariam de todas as ataduras disponíveis. Amabel tinha visto muito dano. Elas estavam cavalgando para ajudá-los.

****

A dor bateu em Rufus. Alguma coisa segurou sua cabeça e a estava salvando. Ele gemeu e bateu com a mão, tentando derrubar a coisa escondida que o estava atingindo, cortando os músculos de sua mandíbula, fazendo-o querer gritar ou bater em alguma coisa.

— Eu ficaria quieto, senhor, — uma voz, magra e fria, disse em algum lugar na região do lado esquerdo. Ele estremeceu. — Exatamente. Acho sensato não molestar seu médico.

Médico. Ele tentou entender o cenário. Ele pensou que estava cavalgando na floresta, achou que havia caído do garanhão de caça e foi pego pelo que quer que fosse — um javali, possivelmente — que o perseguiu. Ele respirou. O lugar onde ele estava cheirava a espíritos, de algum estranho cheiro ácido e ervas secas. Mais distante, cheirava a fumaça e, mais perto e pior, como sangue, que fluía recentemente.

— Onde eu estou? — Ele perguntou.

— Você está aqui, na tenda do curandeiro, para ser preciso. Você está mais ou menos no centro de um campo que fica a cerca de quinze milhas ao Sul e a Oeste de Edimburgo, em um lugar chamado Glennock. Sim, eu sei que nada disso faz sentido para você agora. Mas essa foi a resposta precisa. A solução menos precisa, mas mais correta, — ele pausou, — para essa pergunta é que você estava inconsciente recentemente, e agora se encontra acordado, com uma lesão no couro cabeludo e eu para cuidar dela. Se eu tiver sucesso, você logo sairá da tenda. É uma resposta satisfatória?

Ele ficou onde estava e tentou não notar o tormento intenso do que estava errado com sua testa. O médico estava fazendo algo lá que o fez querer chorar em agonia.

— Eu suponho que sim, — disse ele.

— Bom, — respondeu o médico. Ele pareceu decidir aliviar um pouco a agonia, quando chegou à sua esquerda — Rufus ouviu as coisas tremerem em uma mesa lá atrás — e a agonia parou, para ser substituída por um calor agradável.

— Estou agitado?

— Provavelmente não, — continuou o médico. Ele tinha uma voz fina e sobressalente, como se o esforço e o prazer de falar fossem coisas que ele evitava normalmente. Ele falou sem rodeios e apenas para responder suas perguntas. — Não vou perguntar se você consegue lembrar o que aconteceu. Isso é para você descobrir mais tarde. Eu suspeito que seu cérebro está um pouco confuso. Mas agora — acrescentou ele, com um toque gentil do outro lado da sua cabeça, como se checar tudo estivesse bem também, — você pode descansar.

— Obrigado.

Rufus recostou-se por um momento, ouvindo o som do campo. Era noite, ou perto disso o suficiente, pois ele podia ouvir os grilos cantando e ele podia sentir o cheiro de fumaça de lenha que parecia querer dizer que alguém estava assando o jantar. Ele fingiu que não ouviu os ruídos por perto — os gemidos e grunhidos dos homens em tormento. O médico foi embora tão silenciosamente quanto chegara.

Ele sabia que a tenda do curandeiro era um lugar sombrio. Em seus anos na Terra Santa, ele aprendeu que era um lugar de sangue, queimação e ferimento. Um lugar onde muitas vezes levava três homens a segurar um quarto enquanto um médico trabalhava nele, removendo farpas ou costurando feridas. Ele tentou não ir lá se fosse evitável.

— Agora eu me pergunto se posso me sentar.

Ele suspirou. Falar em voz alta era doloroso — o corte se estendia até quase o queixo e ele sabia que devia estar se esticando toda vez que falava. No entanto, ele tinha que se mover. Era melhor do que ficar aqui no semiescuro fétido e infundido pela dor. Ele também tinha que descobrir o que havia acontecido.

Se perdemos, eu ainda poderia estar sendo cuidado pelo curandeiro?

Era provável que todos os feridos tivessem sido recolhidos por quaisquer frades ou monges que supervisionassem o hospital local. Ele próprio acabara dividindo uma enfermaria com um inimigo ostensivo uma vez e tinha certeza de que isso acontecia com mais frequência. A Igreja tendia a se importar igualmente com todos. Exceto pelo Infiel, claro. Embora no Levante, ele não tivesse sido ferido o suficiente para descobrir se os monges também estavam ou não lá, para os dois.

Eu devo descobrir mais.

Ele deslizou as pernas para o final da cama, estremecendo quando ele colocou peso sobre elas. Nada aconteceu.

Não havia feridos lá.

Ele se levantou, estendendo-se para as mãos, fazendo com que seus dedos com câimbras e desenrolasse enquanto ele flexionava os braços. Ele estava bem na medida em que as mãos e os dedos responderam.

— Todos aqui também.

Sem dedos faltando, sem cortes ou arranhões em seus braços. Ele olhou para baixo com alguma surpresa em suas mãos com suas juntas largas e planas, parecendo espantado em vê-las novamente.

Bem, isso tudo funciona. Agora. Vamos encontrar informações.

Ele tentou não olhar ao redor da tenda. Ele tinha que olhar, no entanto — alguém que ele conhecia poderia estar aqui. A visão das feridas cruas e regadas de sangue revirou seu estômago. Era pior por causa do cheiro — o cheiro horrível de sangue, aderente e metálico, que rasgou o ar e fez seu estômago se apertar.

Um homem em frente a ele soltou uma respiração ruidosa. Fez-se olhar para o homem, que tinha um curativo na cabeça, os olhos inchados. Ele o ouviu respirar lentamente e depois tossir. Ele sentou-se.

— Rufus?

Ele olhou fixamente.

— É você?

O homem riu.

— Bem, se essa não é a melhor saudação que recebi...

Rufus suspirou incrédulo. Era ele! Ele estava lá com a cabeça envolta em um pano, o olho inchado e o braço enfaixado, mas era definitivamente o homem que ele tinha visto antes de toda a loucura começar. Blanchard.

— O que aconteceu aqui? — Ele perguntou. Ele apontou para o lado de sua cabeça, esquecendo que ele estava ferido também. Ele estremeceu.

Seu amigo sorriu.

— Você também, hein?

Rufus assentiu.

— Parece que sim. Gostaria de lembrar o que aconteceu. — Tudo o que ele conseguia lembrar era estar no campo de batalha — a desorganização e a gritaria. Ele não conseguia lembrar nada do que aconteceu.

— Bem, eu vi um pouco, — respondeu Blanchard. — Eu vi você escorregar do seu cavalo e marchar para a frente, terminando com as pessoas de um lado para o outro. Você é um fenômeno e tanto.

Rufus se plantou no banco, hesitante.

— Eu não sei, — ele descartou o elogio de seu amigo. — Você se lembra de alguma coisa sobre o que aconteceu com você?

Blanchard sorriu.

— Eu caí fora da sela e fui atingido entre os olhos com uma espada antes de cair. Vi você se apressar antes que eu começasse e calculei que não queria ser espancado até chegar a sua frente — acrescentou ele. — Faz maravilhas para a carreira de um homem, cortando a batalha assim... — Ele parou, aparentemente impressionado.

A ferida em sua cabeça fez Rufus estremecer. Ele sentiu-se mal. Ele pelo menos sabia o que havia acontecido com seu amigo e um pouco de sua própria história recente. Ele só não lembrava o que aconteceu com a força deles.

— O que aconteceu? — Ele perguntou, apontando a mão na direção do ar livre.

Blanchard soltou um suspiro.

— Nós éramos os vencedores emergentes, — ele disse finalmente. — Mas foi uma coisa próxima. O comandante está em algum lugar em sua tenda. Ele também foi ferido.

— Oh? — Isso mexeu em algo em Rufus. Ele pareceu se lembrar de seu comandante grisalho em pé.

— Ele está lá fora, — disse ele, apontando com a cabeça em direção à tenda. Ele estremeceu, evidentemente com alguma dor de sua cabeça dolorida.

— Eu não sei se estou pronto para voltar, — disse ele, suspirando. — Eu sou capaz de andar em linha reta, mas apenas um pouco de tempo. Eu não acho que estou disposto a vagar no escuro com coisas para tropeçar, procurando pela tenda do comandante.

Blanchard riu.

— Concordo. Eu não estou prestes a sair. Além disso, está quente aqui.

Estava, Rufus teve que admitir. Os lampiões estavam aqui, e alguém colocara carvão em um braseiro, as brasas brilhantes proporcionando ao ar um calor avermelhado. Provavelmente estava frio lá fora, o ar entrando pela tenda e fazendo a luz da lamparina tremer.

— O que deveríamos fazer?

Blanchard sorriu.

— Neste buraco? Vá dormir. Poderia também tirar vantagem de ter uma cama confortável embaixo de você, heim?

Rufus riu. Ele não conseguiria dormir aqui. A tenda estava quente e bem iluminada, mas o fedor de feridas e os gemidos de dor estavam nela. Ele tinha muitas lembranças disso. Bem como nenhum desejo de passar a noite aqui com eles.

Ele se esticou, estremecendo quando a ferida doeu.

— Eu vou dar uma olhada lá fora... fazer uma incursão. Não pode doer tanto, hein?

Blanchard franziu o cenho. Em seu rosto inchado e dolorido, estava um olhar inquieto. No entanto, ele sorriu.

— Bem, pode ser só isso.

Em resposta, Rufus soprou.

— Só se eu pousar na minha cabeça.

— É o que eu quero dizer.

Rufus suspirou. Ele não deu nenhuma resposta e se dirigiu para o escuro crescente.

Eu não quero pensar na possibilidade de pousar a minha cabeça. Se o fizer, posso me deitar aqui no escuro e ser encontrado de manhã, congelado e meio morto.

Quando ele alcançou a aba da barraca, ele ouviu um barulho. Soou como se houvesse uma luta do lado de fora. Ele se endureceu e ouviu, preocupado com o que poderia ser. Uma luta? Um ataque?

— Absolutamente não, — alguém estava dizendo. Ele reconheceu os tons medidos de um clérigo. — De nenhuma forma eu poderia permitir tal indecência.

— Indecência! — Uma voz entoou. — Você vai manter sua língua delicada entre os dentes, senhor padre. Eu vou tê-lo respondendo por essa insinuação. Agora me deixe entrar.

Ele assobiou em uma respiração. Não foi possível. Ele deve estar dormindo. Algo desalojou seu senso e fez com que ele visse as coisas — como ele pensava, algo o colocara na insanidade final.

Soou como se fosse ela.

— Minha lady?

— Não, — alguém estava dizendo ao padre novamente. — Você vai esperar...

— Você vai esperar. — Então lá estava ela.

Rufus olhou para ela. Ela estava na porta com a luz quente sobre a pele branca e pálida, o cabelo escuro ondulado solto em volta dos ombros. Ela usava um longo vestido xadrez e uma camisa branca e tinha uma mochila pendurada no braço. Ela estava usando botas resistentes, a altura extra fazendo-a quase chegar até o seu nariz, e ela tinha uma faixa de sujeira ao longo de um braço. Ela estava linda.

— Minha lady?

— Rufus.

Ela o olhou e ele olhou para trás. Seus olhos azuis ficaram enormes. Então, sem mais delongas e ameaçando o padre com uma morte de choque, ela o abraçou.

— Rufus, — disse ela. — Graças a tudo que é sagrado que você está vivo. Graças a Deus!


CAPÍTULO NOVE

AS CONSEQUÊNCIAS


No dia seguinte, Amabel e Glenna começaram a trabalhar. Depois de uma noite passada confortavelmente na cidade vizinha, ela e sua amiga foram para o terreno plano onde a batalha tinha sido travada. Ela olhou ao redor da tenda do curandeiro com desgosto.

— Este lugar é um matadouro.

O médico estava estranhamente silencioso. Amabel lhe dera um olhar horrível quando ela entrou pela primeira vez, e sentiu que conseguira esmagá-lo. Ela tinha a suspeita de que era mais o choque de ter uma pessoa não masculina intrometer-se em seu domínio pessoal, o que o aniquilava quase tanto quanto a aparência dela. Não importa — ela não se importava com o que era. Ele estava mudo e isso era suficiente.

Ou, como alguém poderia dizer, ele está transportando seu jogo.

Ela riu para si mesma. Glenna estava em seu ombro.

— Glenna, vamos ficar.

Glenna soou entusiasmada.

— Sim, milady. O que está acontecendo?

Enquanto Amabel inspecionava a tenda, ela deu ordens quando viu o que precisava ser feito. Ela nunca soube que continha uma autoridade tão natural, mas aparentemente continha.

— Precisamos tirar essa cama do sol. Gracioso! No entanto, esse homem vai fritar se ele ficar lá por muito mais tempo. Ele não pode se mover. Além disso, precisamos colocar um cataplasma nessa queimadura. E alguém por favor, lave a mesa, o fedor é terrível.

Enquanto ela distribuía ordens, ficou surpresa ao vê-las sendo seguidas. Três homens que aparentemente tinham sido melhor curados ou que estavam aqui visitando começaram a deslocar a maca debaixo da borda da tenda. Glenna correu para cuidar do homem cujas feridas infligidas pelo cauterizador estavam ainda cruas e escorrendo. Um cavaleiro veio para lavar a mesa.

Ela se virou para Rufus.

— Quantos desses homens podem andar?

Rufus a olhou como se ela tivesse falado em alemão. Então ele deu de ombros.

— Homens?

Algumas cabeças ficaram de pé.

— Sim?

— Quantos de vocês podem suportar andar. Apenas tentem ficar em pé.

Amabel piscou. Isso foi simples, mas inteligente. Ela voltou sua atenção para os que não podiam se mexer. Ela estremeceu, vendo um homem que tinha feridas enormes em seu braço. Ela se abaixou para olhar a ferida, prendendo a respiração ante o cheiro de carne crua.

Fico feliz que minha mãe sempre me manteve informada.

Ela já havia visto feridas antes e ouviu as descrições da mãe sobre as feridas que se seguiram às escaramuças e confrontos em suas terras. Nada disso era novo para ela, pelo qual ela estava agradecida. Ela enfiou a mão no cesto para pegar um emplastro de pão.

— Aqui, — ela disse gentilmente, aplicando-a nos cortes crus e sangrentos. — Pode doer, mas aguente firme.

O soldado, que ela ficou surpresa ao ver que era ainda mais jovem que ela, assentiu.

— Obrigado, senhora.

Amabel sorriu.

— De modo nenhum. Agora vamos enfaixar isso. Fique quieto agora.

Ela trabalhava ocupada, amarrando cataplasmas e supervisionando a tenda ao fazê-lo. Ela pediu água para todos os homens e disse aos três que estavam sentados em volta do lugar do homem mais aflito, para ajudá-los a beber.

— Observe como segurá-lo, — disse ela, ilustrando com um homem mais próximo a ela, que estava deitado de costas, incapaz de se sentar totalmente. — Segure para que o homem possa beber. Não o faça submergir.

Risos duros ecoaram pela tenda e Amabel sorriu. Estava muito melhor aqui do que quando ela chegou. No lugar do sofrimento bruto, havia risadas.

Acho que podemos melhorar as coisas aqui.

Ela viu como Glenna estava sentada com um jovem que parecia ter um osso quebrado em seu antebraço. Ela observou-a molhar o cabelo e tentar questioná-lo, para descobrir se ele estava com febre. Ela pensou que ele provavelmente estava.

— Glenna?

— Sim, milady?

— A casca de salgueiro está na mesa.

Amabel observou a amiga acenar com a cabeça e descobriu que estava sorrindo.

Eu estou gostando disso.

Era a última coisa que ela planejaria, encontrar alegria trabalhando numa enfermaria de campo, mas a felicidade a elevava.

Ela estava ocupada segurando um homem contra o peito, tentando aliviar a dor em sua cabeça, que estava muito machucada e provavelmente precisava de uma compressa para ajudar no inchaço, quando ela ouviu alguém tossir.

— Sim, — ela disse.

— Milady? — Alguém disse humildemente.

— O quê? — Ela disse, sabendo quem falava sem olhar enquanto sua voz ecoava na medula dela e fluía através de seu coração como calor.

— Você notou que é tarde? Por favor, pare por um pouco de caldo.

Amabel suspirou. Ela olhou para cima e notou que o campo estava laranja com o sol baixo. Já passava das quatro da tarde e ela não almoçara. Ela se virou para o homem e tentou aliviá-lo.

— Aqui. Nós vamos nos sentar assim, — ela disse, pegando um rolo de roupa de cama extra. Ela estava feliz que eles estivessem pelo menos bem abastecidos.

Ela ficou de pé, se deslizando para fora do vime.

— Estou um pouco cansada, — admitiu ela. Na verdade, ela estava quase desmoronando. Sua mente pulsava e ela teve que sacudir a cabeça para clarear os olhos.

Ela sentiu uma mão no ombro e notou distraidamente que estava sendo guiada para uma cadeira. Ela queria encontrar a força para objetar, mas, de alguma forma, ela foi subitamente drenada. Ela permitiu que a mão forte e firme a pressionasse, sem resistência, em direção ao assento no centro da tenda. Ela suspirou.

— Estou um pouco cansada, — ela murmurou, cobrindo os olhos com a mão.

— Eu tenho certeza que não, — a voz familiar grunhiu. — Agora, coma. Aqui.

Amabel tentou afastar a tigela que segurava, mas ele empurrou-a para ela e, para sua surpresa, pressionou uma colher na sua boca.

— Por favor, minha lady, — disse ele. — Você está faminta.

Amabel suspirou.

— Estou cansada, sim. No entanto, não me lembro de me tornar muito mole da cabeça para segurar uma colher na minha boca. Obrigada, — ela acrescentou quando ele passou a colher para ela. Ela ouviu um rangido de lona e percebeu que ele havia se acomodado no banquinho.

Ela olhou para dois grandes olhos a observando. Ela riu.

— Sinto muito, — disse ela.

— Não, — ele sussurrou. — Não. Você nunca deve se arrepender. Eu não posso acreditar que você... — ele parou, balançando a cabeça com espanto.

— Você não pode acreditar que eu estou sentada aqui em um vestido de camponesa, com botas de fazenda, e até meus braços estão com fluidos corporais?

Ele balançou a cabeça quando ela respondeu e riu.

— Não, milady, — disse ele. — Eu não posso acreditar que você queria vir.

Ela sentiu as palavras dele fluírem e tocar seus sentimentos. Ela tossiu. Ela não ia chorar.

— Claro que eu vim, — disse ela duramente. — O que eu deveria fazer? Esperar chorando e pensando que você partiu? Para o reino dos cantores celestiais?

Ele riu.

— Eles não me querem, milady.

Amabel sorriu apesar de sua tensão.

— Eu posso imaginar que não.

Ele sorriu para ela.

— Nenhum coro me quer.

— Eu posso imaginar.

Ambos riram. Ao fundo, Amabel avistou o padre e esperou que ele simplesmente os ignorasse. Ela estava feliz. Ela não queria que ninguém a acompanhasse.

— Você vai ficar aqui? — Ele perguntou a ela. Ele passou-lhe a tigela e Amabel sentou-se com ela em uma mão, saboreando-a com a outra.

— Mmmm. Sim, eu vou — disse ela, engolindo o ensopado espesso. — Na cidade.

— Na cidade! — Ele olhou, incrédulo.

— O quê? — Ela disse, sentindo-se divertida.

— Você não pode fazer isso!

Ela suspirou.

— Por que nunca não? Eu tenho meios. Eu tenho uma acompanhante. — Ela acenou com a mão para uma mulher de cabelos escuros.

Ele suspirou. Ela podia ver que ele não gostava da ideia dela ficar sozinha na cidade e isso a irritava tanto quanto a movia. Ele não deveria sentir aquela intensa proteção em relação a ela — ela não era uma criatura indefesa, mas uma mulher capaz de se defender sozinha.

Mesmo assim, ela pensou, saboreando o ensopado, que era surpreendentemente satisfatório para uma cozinha de acampamento — era bom ter alguém cuidando dela. Ela teria ficado sem ele por muito mais tempo do que era sensato para fazê-la parar.

— Sir, — ela falou, franzindo a testa. De repente, percebeu que não tinha visto o ferimento dele. Ela estava com raiva de si mesma por tê-lo ignorado em face de todos, que aparentemente, estavam mais feridos em torno dela.

— O quê? — Ele perguntou. Ele olhou para ela com um sorriso. Ele parecia estranhamente hesitante e ela adorava a maneira como seu sorriso aparecia na borda, como uma criança hesitante roubando a despensa.

— Minha obsessão com a limpeza parece ter-me feito ignorá-lo, — disse ela com um sorriso. — Você não parece muito ferido.

— Não, — ele respondeu ao seu pedido implícito. — Eu vou consertar.

— Eu vou olhar para isso, mais tarde.

Ele atirou-lhe um olhar.

— Está consertando, — ele disse firmemente.

Ela suspirou.

— Você não precisa esconder isso, — ela disse suavemente. — Eu já vi piores, sabe.

— Estou bem, — disse ele. — Eu não quero que você trabalhe demais. Você está esgotada.

— Não, eu não estou, — disse ela, sentindo sua impaciência florescer. — Você vai se sentar na tenda do curandeiro e deixa eu dar uma olhada no ferimento da sua cabeça.

Ele olhou para ela por baixo daquelas sobrancelhas pesadas. Ela se encontrou sorrindo. Ele era tão atraente que ela achou difícil não ceder apenas pela falta daquele sorriso.

— Você sabe que vai ser melhor se alguém limpá-lo corretamente, — disse ela.

Ele suspirou.

— Eu confio em você.

Amabel sentiu o coração revirar. Ela estendeu a mão para ele quando a mão dele tocou a dela.

Seus dedos se fecharam ao redor dos dela, como na escada, como na dança e na noite mágica em que estiveram na alcova, conversando.

Ela apertou os dedos dele.

— Eu sei, — ela disse suavemente. — Eu também confio em você.

Ele sorriu. Seus olhos se iluminaram e ele se inclinou para frente. Amabel ficou tensa. Ele não podia desgraçá-la beijando-a aqui, na enfermaria, na frente de todos...

Ele suspirou e colocou a mão direita no ombro dela. Ela a agarrou. Eles sentaram-se assim, com a respiração suave no rosto, de alguma forma mais perto do que beijar.

— Vamos, venha, — disse ela em voz baixa. — Eu preciso ver essa ferida.

Ele revirou os olhos, mas a deixou se levantar e empurrá-lo para o assento. Ele se sentou e estremeceu quando ela passou os dedos pela atadura, levemente.

— Rufus, — ela murmurou. — Esta é uma ferida ruim.

Ele se encolheu quando os dedos dela deslizaram através do que parecia uma linha abaixo do osso, levemente inchado. Uma rachadura.

— Eu acho que parece sim, — disse ele com uma voz tensa. Ela estava sorrindo.

— Tenho certeza que sim, — ela disse suavemente. — Agora... vamos desmontar isso. Quero verificar se a ferida está devidamente limpa. Precisamos mudar isso de qualquer maneira — acrescentou ela, franzindo o nariz. A atadura estava rígida com sangue seco.

Ela o ouviu assobiar de dor quando desenrolou o curativo e depois deu um tapinha na ferida com um chumaço de lã encharcado de conhaque. Ele pulou e ela sentiu uma pontada de culpa.

— Desculpe, — ela sussurrou. — Eu tenho certeza que dói bastante e terrivelmente.

— Eu não poderia ter melhorado isso, — disse ele através de uma mandíbula cerrada.

Ela riu.

— Bem, quem enfaixou isto fez um trabalho muito bom. Vou colocar um pouco de enchimento de lã para guardá-lo e dar-lhe uma atadura nova agora...

Ela falou com ele enquanto trabalhava. Então, quando foi feito, ela se virou. Sua mão saiu para pegar seu pulso. Ela ofegou, sentindo a pressão quente e firme dos dedos dele apertando seu braço.

— Sir..! — Sua voz estava sem fôlego. Ela podia fingir estar afrontada tanto quanto ela gostava — na verdade, havia, junto com a afronta, uma excitação suave crescendo profundamente dentro dela.

— Perdoe-me, — ele disse enquanto a puxava para encará-lo. — Eu só quero lhe agradecer.

Ela olhou nos olhos dele. Ela torceu o pulso em suas mãos e ele soltou.

— Você não precisa me agradecer, — ela disse suavemente. Seu coração batia em seu peito, rápido, vibrante e intenso.

— Eu quero, — ele disse suavemente. — Você está aqui. É... é uma benção.

Seus olhos estavam nos dela, quentes e cheios de emoções tão complexas que ela mal conseguia entendê-las. Ela sentiu o coração tenso de desejo e então ele se levantou. Ele tomou-a nos braços e, para seu espanto, sua boca desceu sobre a dela.

Ela sentiu seu coração bater em seu peito enquanto a língua dele explorava sua boca. Ele a puxou contra seu peito e ela sentiu seus próprios braços apertarem ao redor dele, segurando-o perto. Seu corpo tremia quando seus lábios deslizaram sobre os dela, cada parte de sua ferida em um tom de excitação.

Ele se inclinou para trás e olhou nos olhos dela.

— Minha lady, — ele sussurrou. — Me perdoe.

Ela pegou as mãos dele, tentando controlar sua respiração.

— Não há nada para perdoar, — ela sussurrou de volta.

Ele se inclinou para frente e a beijou novamente, os lábios escorregando suavemente sobre os dela. Ela colocou os braços ao redor dele e segurou-o perto. Ela estava corada e podia sentir seu corpo respondendo ao dele, preenchendo com aquela estranha urgência, aquela necessidade crescente e volumosa.

Ele se afastou e sorriu em seus olhos, acariciando seus cabelos.

Então Amabel soltou um longo suspiro.

— Eu deveria ir, — disse ela. Ela se moveu cansadamente.

Ele se afastou para deixá-la passar e, muito gentilmente, ela colocou a mão em seu ombro.

— Tome cuidado, — ela disse gentilmente. Ela passou, piscando as lágrimas que não entendia completamente.


CAPÍTULO DEZ

ALGUMAS INFORMAÇÕES PERTURBADORAS


Demorou dois dias para que Rufus fosse considerado pronto para retornar. Ele esperou pelos cavalos que arrastaram os feridos gravemente atrás deles. Ele se virou para olhar para as tropas que cavalgavam para trás.

— Muitas vítimas, né?

Blanchard não disse nada. Ele apenas suspirou. Seu rosto dizia tudo. Ele ainda tinha um curativo na testa, embora seus olhos parassem de inchar. Parecia com ele mesmo novamente. Rufus deu um longo suspiro.

— Bem, estamos quase em casa.

Blanchard assentiu.

— Ele está parecendo sombrio. — Ele acenou com a cabeça em direção ao seu comandante. Ele montava na frente da coluna, Rufus e Blanchard no meio.

— Ele está se sentindo mal, — Rufus disse simplesmente. — O homem culpava a si mesmo.

Blanchard suspirou.

— Ele nos disse para virmos aqui para nos infligir isso.

Rufus riu.

— Não, ele não disse. Ele não está pensando claramente.

Blanchard revirou os olhos.

— Ele não estará sozinho... Eu acho que a última vez que minha cabeça ficou tão confusa foi quando eu caí no campo da vila e alguns lutadores me chutaram.

Rufus não pôde evitar uma risada. Doeu sua cabeça, então ele a segurou.

— Eu não vou perguntar.

— Não, — Blanchard sorriu. — Eu não diria, mesmo.

Ambos riram. Rufus se viu observando os cavaleiros que cavalgavam atrás do carregador principal. Estavam todos cansados e andando devagar, todos enfaixados. De todos eles, ele mal podia ver alguém que não estivesse ferido em algum grau.

Ele sentiu que o erro se instalou nele e decidiu ir para a cabeceira da coluna. Ele tinha que falar com seu oficial principal. O homem não deveria suportar tudo isso sem ajuda.

A cavalgada levou mais tempo do que ele pensava e quando chegou ao topo da coluna, sua cabeça doía muito. Ele encontrou seus pensamentos vagando para Amabel enquanto se aproximava.

Ele não tinha ideia de como ela pensara em vir encontrá-lo aqui. Era tão selvagem que ele mal podia imaginar o que tinha acontecido e meio que considerou que sonhara o episódio inteiro. Ela ficou com eles até que o menos ferido entre eles — e ele figurou naquela contagem de cabeças — estivesse pronto para partir. Então ela tinha voltado para a cidade e daí, presumivelmente, para a corte.

Essa lady é indomável.

Ele não podia imaginar alguém que pudesse lhe dizer o que fazer e, mais precisamente, não podia imaginar como alguém poderia querer dizê-lo. Ela era uma força de grande proporção e ele não pensaria nisso.

Ele se lembrou de como as mãos dela haviam trabalhado nele e ele imediatamente se moveu e agradeceu por ela ter intervido assim. Ele pensou que não teria se recuperado tão rapidamente sem ela. Ele ainda estava sorrindo, lembrando-se de sua crítica, quando chegou à frente da coluna.

— Você está alegre, — disse seu comandante acidamente.

Ele suspirou.

— Eu suponho que estou, — disse ele, rapidamente limpando seu sorriso. Ele percebeu imediatamente como estava errado na situação.

— Bem, eu não me importo, — disse ele aridamente. — Você continue. Pelo menos alguém está alegre.

Rufus suspirou.

— Quão ruim foi, senhor? — Ele perguntou.

O homem fixou-o com aquele olhar cinzento achatado. Era como uma espada batendo em sua bochecha e ele se encolheu, o peso da tristeza machucou seu coração.

— Nós perdemos um quinto deles, — disse ele em voz baixa.

Rufus ficou olhando. Um quinto! Isso era dez homens. Dos feridos, alguns não estavam propensos a andar. Ele não fazia ideia de que as perdas tinham sido tão grandes.

— Então vencemos a insurreição?

— Nós a aniquilamos, — ele disse com uma voz que soava como uma espada batendo no escudo.

— Boa.

Ele cavalgou silenciosamente ao lado dele por um longo caminho. Ele não conseguia parar de pensar em Amabel e sabia que provavelmente começaria a sorrir de novo. Para sua surpresa, seu comandante sorriu para ele.

— Você parece que se recuperou bem. — Ele parecia feliz.

— Eu me recupero, — disse Rufus.

— Ouvi dizer que houve alguma ajuda, — disse ele.

— Você ouviu?

Ele assentiu.

— Os homens foram bastante rígidos sobre isso. Eu os questionei, mas eles tinham contos interessantes. Aparentemente, uma visão de seus sonhos febris se condensou e os curou. Perguntei ao padre o que diabos ele tinha colocado naqueles cataplasmas, para fazê-los ter alucinações, mas ele foi reservado.

O sorriso passou por Rufus, divertindo-o.

— É verdade, meu senhor, — disse ele. — Eu vi o mesmo.

— Você viu? — Ele perguntou. — Você também teve um cataplasma encantado? Bem, por compaixão, me dê um pouco.

Rufus riu.

— Você não precisa alucinar, senhor. Ela existe!

— Agora duvido que sua cabeça esteja tão curada quanto o médico sugeriu.

— Não, na verdade — insistiu Rufus, imaginando se o homem sinceramente achava que todos haviam perdido a cabeça com o cataplasma do padre. — O nome dela é Amabel.

Ele o olhou fixamente.

— Lady Amabel?

— Você a conhece? — Rufus ficou surpreso.

Ele riu duramente.

— Eu não a conheço, homem. Eu já ouvi falar dela. Nós todos ouvimos.

— Por quê?

— Bem, ela é, como eu disse antes, febrilmente adorável. Não se admira que todos os homens achem que estão alucinados. — Ele balançou a cabeça. — Mas o que ela estava fazendo aqui?

— Ela achou que precisávamos de ajuda, — disse Rufus.

Seu comandante assentiu.

— Bem, ela estava certa.

— Sim, ela estava.

— Nós poderíamos precisar de qualquer ajuda que pudéssemos conseguir, — acrescentou ironicamente. — Uma nova carroça seria bom. Eu tive que pegar esta emprestado da abadia.

— Eu sei, senhor, — forneceu Rufus.

— Eu sei que não é o tipo de ajuda que ela estava fazendo, — acrescentou sombriamente. — Mas estamos em uma confusão. Estou feliz em ter você aqui, a propósito. Uma pessoa experiente.

— Eu sei, senhor, — ele concordou.

— Agora, precisamos de carroças, — disse ele. — Eu preciso de homens. Nós precisamos de armadura. E sim, precisávamos de alguém para lidar com as baixas — acrescentou com um suspiro. — Embora por que ela pensou ser a única a fazer isso, não faço ideia. Não é tarefa das damas.

— Não, — Rufus forneceu. Ele descobriu que estava surpreendentemente irritado com isso. A lady havia se arriscado muito para ir ao acampo de batalha. Ele poderia pelo menos reconhecer sua ajuda.

— Não há necessidade de me olhar assim, — seu comandante riu. — Eu estou dizendo a verdade.

— Eu suponho que sim, — disse Rufus em voz baixa. — Mas você tem que admirar a lady.

— Eu admiro a lady, — ele concordou. — Então, como todos na corte.

— Mas? — Rufus tinha uma ideia que ele ia dizer alguma coisa. Qualquer coisa sobre o assunto de Lady Amabel era de interesse.

— Mas ela se prometeu a Lorde Callum.

— Não.

Rufus olhou para ele. Não era possível. Como isso poderia ser? Se ela estivesse, ele saberia — ela diria...

— É verdade, bom senhor.

Parecia que o mundo inteiro havia parado.

Ele olhou ao redor. Ele estava surdo e cego. Nada fazia sentido para ele. Ele não podia ver, ou ouvir, ou sentir a sela debaixo dele. Ele não tinha noção de nada. Havia sentido em alguma coisa?

— Vou me juntar ao fim da coluna, — disse ele.

Ele cavalgou até o final da coluna. Ele não podia subir aqui. Ele não queria que ninguém o visse e ele não queria ver ninguém. Ele estava tão abalado como se uma espada o tivesse atingido.

Ele passou pelos homens subindo a colina. Ele passou pelas carroças dos feridos. Alguns deles sorriram para ele — eles o reconheceram como o instigador, de alguma forma, de seu assistente surpresa.

Ele se juntou à parte de trás da coluna e não piscou.

Um homem subiu e ele se virou ao ouvir o casco bater. Era Blanchard.

Ele se virou bruscamente. O que quer que o homem tivesse a lhe dizer, ele não queria ouvir.

Ele não queria ouvir mais nada.

A profundidade de sua reação o surpreendeu.

— Você só a conhece há uma semana.

Ele suspirou. Não importava. Ele já se sentia mais perto dela do que com qualquer outra pessoa que conhecesse, confiara nela.


CAPÍTULO ONZE

UMA DESCOBERTA CHOCANTE


Era estranho voltar ao castelo. Amabel, entrando no pátio com Glenna ao seu lado, sentiu como se tivesse sido parte de outro mundo por um tempo. Ela não tinha certeza, quando se deslizou para fora da sela, seus pés batendo no chão com um baque sólido, se ela estava feliz por estar de volta ou não.

— Vamos nos preparar para o almoço, eh, Glenna? — Ela chamou quando tirou o pó de sua longa capa e saiu para o sol da manhã.

— De fato, milady, — disse Glenna. Ela saltou cansada de seu próprio cavalo, um palafrém branco. Amabel ficara muito impressionada com a melhora em suas habilidades de amazonas ao longo do tempo em que estavam fora.

— Uma coisa que eu ficarei feliz é estar em um lugar com boa comida regular.

Glenna riu.

— De fato, milady!

Ao entrar no castelo e subir os degraus, Amabel sentiu uma estranha resistência às paredes que começavam a se fechar em torno dela. Ela não tinha certeza se gostava daqui.

Eu estava livre naquele mundo. Era eu mesma.

Ela encolheu os ombros duramente. Este era o mundo dela, o mundo em que ela nascera. Um lugar de Ladies, de festas, e tapeçarias como atividade. O outro mundo era aquele do qual ela foi barrada pelo nascimento.

— Minha lady, — Glenna chamou quando chegaram ao seu quarto de dormir. — Devo pedir um banho?

Amabel sacudiu a cabeça, cansadamente colocando a sela ao lado dos baús de roupa e sentando-se com alívio evidente na poltrona da penteadeira. Seus pés doíam.

— Você está certa, milady? — Glenna disse. Ela estava dobrando as capas e colocando-as com cuidado.

— Vamos almoçar primeiro — disse Amabel, decidida.

— Muito bom, milady.

Pelo menos, assim Amabel pensou com cansaço quando se levantou, arrastando-se até o baú para encontrar algo para vestir que não estivesse sujo de montar, ela poderia esperar um almoço quente. Eles não teriam que pagar por isso. O dinheiro que o pai lhe dera estava quase terminado.

O que me lembra, ela pensou. Onde está o meu pai?

Ele deveria se juntar a elas há uma semana. Era tão bom, ela pensou, agradecida, que ele não tivesse chegado enquanto elas estavam fora. Ele ficaria tão preocupado! Se ele descobrisse onde ela estava, bem... ela não tinha certeza de como ele reagiria, exceto pelo fato de que sabia que ficaria angustiado e provavelmente com raiva.

— Glenna? — ela chamou, deixando cair seu vestido de linho manchado no chão e pegando uma de lã branca, quente e longa, confortável contra a pele, depois do tecido caseiro que ela tinha usado nos últimos três ou quatro dias.

— Sim, milady? — Glenna tinha mudado de roupa também, e agora estava vestindo algo de linho e um véu de cabeça, quente sobre o cabelo escuro e fofos.

— Você poderia me ajudar com meus botões, por favor? — Ela pediu. Era um aborrecimento que ela ainda não conseguia administrar a tarefa sozinha, mas não fora ela quem decidiu que os vestidos de gala teriam tantos botões quanto fechos que tornariam impossível colocá-los sem ajuda.

— Claro, milady.

Enquanto Glenna apertava seus botões, Amabel pensou em seus últimos dias no campo com os guardas. Foi uma experiência notável. Ela tinha visto muito sofrimento, mas, estranhamente, a experiência aqueceu seu coração. Ela gostava de poder dirigir os cuidados para os homens. Suas lembranças foram aquecidas pela presença de Rufus. Ela pensou sobre o toque da mão dele em seus dedos, o modo como seus olhos se aqueciam quando a olhava.

Ela engoliu em seco, pensando naquelas lembranças adoráveis.

— Você está pronta? — Glenna perguntou a Amabel enquanto ela passava um pente através de seu longo e rebelde cabelo preto.

Acho que sim disse Amabel, piscando. Ela verificou o jeito de seu vestido no espelho, pegou um kirtle e foi até a porta.

O salão estava cheio de convidados. Ela entrou em seu lugar entre o duque e um homem que ela não conhecia — ele era um enviado de algum tipo, ela adivinhou. Um jovem com um rosto alegre, ele parecia amigável.

— Boa tarde, — ela murmurou, sentando-se.

— Ah, milady! — O duque, Lorde Glendower, olhou para cima quando ela se deslizou para o assento ao lado dele. — Você finalmente voltou.

— Eu voltei, sim, — disse ela. Ela estendeu a mão por cima da mesa para uma fatia de pão recém-assado, sorrindo para a consistência quente crocante. Ela tinha perdido a padaria do palácio! O pão que eles haviam comido na viagem não podia ser comparado com a maravilha leve e fofa que o cozinheiro aqui servia.

— Bem, parece que a viagem foi agradável, pelo menos, — Lorde Glendower disse gentilmente. — Suas bochechas estão cheias de novas cores, minha lady.

— Oh. Obrigada.

— De modo nenhum.

Enquanto os poderes revigorantes do almoço lentamente passavam por sua mente, Amabel se perguntava onde estava a partida dos cavaleiros. Ela sabia que eles tinham saído naquela manhã. Eles certamente deveriam estar de volta agora.

Eles estão vindo devagar. As carroças com os homens feridos que ainda não podem andar levarão algum tempo para chegar aqui.

Ela se lembrou de olhar para eles algumas horas antes do jantar.

Depois do almoço, ela subiu as escadas até o quarto dela. Glenna não estava lá e, sentindo-se inquieta, ela decidiu ir para o solar. Encontraria alguém com quem conversar lá era uma certeza, e ela achava que a companhia iria aliviá-la um pouco.

No solar estava três senhoras, sentadas a costurar. Amabel reconheceu uma delas como Frances, uma doce lady e filha de um parente de Lorde Glendower. Ela foi se juntar a ela. Loira e sincera, com um rosto adorável, sua amiga afastou para deixá-la sentar-se no sofá com ela.

— Amabel! — Ela sorriu. — Eu não sabia que você estava aqui. Venha e junte-se a nós. Preciso te apresentar Elody e Thaddea — ela gesticulou para as duas mulheres sentadas em frente a elas.

Amabel sorriu educadamente.

Elody, que tinha cabelos ruivos e um rosto bonito e elegante, levantou uma sobrancelha.

— Eu vi você no baile, — ela comentou. — Esse vestido era de um estilo interessante. Reviver a moda de uma saia com uma armação foi uma ideia tão singular.

Amabel sentiu o coração afundar. Depois de tudo o que ela enfrentou sozinha, vir aqui e ser insultada pelo corte de vestido não era algo que ela estava preparada para enfrentar.

— Obrigada, Elody. Terei em mente que você considera seu dever criticar a moda que os outros escolhem.

Silêncio.

Frances deu uma risada nervosa.

— Ah, Amabel, — ela disse levemente. — Você é tão divertida.

Amabel suspirou. Ela sabia que sua amiga estava tentando aliviar a tensão que havia se infiltrado na sala, mas não era a melhor maneira de minimizar sua ofensa legítima.

— Você tem um pouco desse algodão ocre? — ela disse para Frances, decididamente escolhendo uma cor. — Eu gostaria de trabalhar a fronteira da minha tapeçaria com ela.

Ela percebeu que Elody e Thaddea se entreolharam com as sobrancelhas levantadas e ela queria sacudir a cabeça. O que essas duas serpentes estavam planejando a seguir?

— Sabe, — Thaddea disse, acenando com a cabeça, seu cabelo escuro e luxuriantemente encaracolado para dar ênfase, — Eu acho estranho que Lady Arnott estava dançando com Sir Jeffrey.

— De fato, prima, — respondeu Elody atentamente.

— Quero dizer, ela está noiva de Lorde Averdale.

— De fato. É chocante.

— Bem, — disse sua prima, — Não é nada, aparentemente.

— Sim, — disse Elody dando a Amabel um olhar aguçado.

O que?

Amabel encolheu os ombros.

— Exatamente, — sua prima respondeu sabiamente. — Algumas pessoas não levam essas coisas a sério.

— Muito, prima, — a mulher de cabelos vermelhos disse atentamente. — Algumas pessoas estavam dançando com Sir Rufus.

Amabel olhou para elas agora.

— O que? — Ela disse sem rodeios.

— Bem, você está noiva de Lorde Callum.

Amabel sentiu a agulha entrar em seu dedo sem saber que ela havia se esfaqueado. Ela estava horrorizada. Ela levantou o dedo e chupou, provando o sangue sem ser capaz de identificar o cobre entre os lábios.

— O que? — Ela perguntou, sentindo-se ridícula.

— Você não pode dizer que não sabia, — disse Elody, claros olhos cor de menta estavam redondos.

Thaddea deu uma risada irônica.

— Eu não sabia, — Amabel disse sombriamente. Se essas duas garotas estavam girando este conto apenas para machucá-la, ela não tinha certeza se poderia ser responsabilizada por dar um tapa nelas. No entanto, havia verdade aqui?

— Amabel, — Frances disse gentilmente. — Você está bem?

— Frances? — Disse Amabel. — Elas estão brincando, com certeza.

As duas jovens senhoras estavam coradas de raiva de repente.

— Como você se atreve! — Disse Elody.

— Chamando-nos mentirosas, aos nossos rostos assim!

Frances recostou-se, afastando-a e a Amabel sutilmente da fúria.

— Não é brincadeira, — disse ela para Amabel gentilmente. — Certamente você sabia?

Amabel olhou para ela. Seu fio de tapeçaria caiu até o joelho e ela estava olhando para a amiga com alguma expressão — ela não poderia ter dito o quê — em seu rosto. No interior, seu coração parecia não funcionar, estava batendo, mas dolorosamente.

— Eu não sabia, não.

Frances olhou para as duas senhoras, que estavam tentando não parecer presunçosas e falhando mal. Ela se levantou.

— Venha, — disse ela friamente. Ela olhou para as duas, que olharam para ela primeiro em choque e então ficaram tristes.

Amabel se levantou e seguiu Frances para outro aposento. Ao lado havia uma sala de audiência menor, mais íntima, com uma lareira elaborada e grossas tapeçarias nas paredes, aconchegantes e elegantes. Ela sentou-se no sofá junto ao fogo. Não tanto porque ela queria, porque se ficasse de pé ela poderia desmaiar. Ela estava tão cansada! Nada registrado em sua mente cansada e chocada.

— Amabel, — Frances disse gentilmente.

— Sinto muito sobre essas duas, — Amabel disse entorpecida. — Eu fiz inimigas para você.

Frances suspirou.

— Eu não me importo com essas duas — eles são uma bagagem cruel. Você é minha amiga.

— Por favor, diga. É verdade?

— É verdade — disse Frances suavemente. — Pensei que você soubesse. Eu sei porque sou prima de lorde Callum, o duque que eles nomearam. Pensei que você soubesse.

Amabel sacudiu a cabeça, muda e em choque. Ela não sabia. Como os pais dela poderiam fazer isso? Agora ela nunca estaria livre para se casar onde seu coração encontrasse amor.

Fora a revelação mais cruel.


CAPÍTULO DOZE

TOMANDO AÇÃO


Amabel subiu ao corredor pelos arcos. De volta ao palácio. Indo para seus aposentos. Ela abriu a porta e afundou-se cegamente na cama.

O que eu posso fazer?

Enquanto estava lá, visões de Rufus passaram por sua mente. Cavalgando no campo. Conversando na tenda. No palácio. Se beijando.

Ela estava chocada. De repente, ela começou a arrumar os baús. Ela não ia aceitar isso sentada.

Pai está a meio dia de cavalgada daqui. Ele me dará as respostas que eu procuro. Ele não pode ter me enganado por tanto tempo e esperar que eu aceite docilmente sua sentença!

— Glenna? — Ela chamou.

— Sim, milady? — Parecia que sua amiga estava descansando; ela ouviu o movimento de cama ao lado. Ela veio.

— Glenna, convoque um homem para selar meu cavalo. Estou partindo.

— Sim, milady.

Glenna se retirou para a porta e, um momento depois, quando evidentemente passou a mensagem, retornou.

— Minha lady? — Ela perguntou baixinho. — Posso perguntar onde você está indo?

— Para Buccleigh. Para enfrentar meu pai. Tenho notícias que exigem sua resposta imediata.

Glenna não hesitou.

— Posso ir com você?

Amabel sentiu seu coração amolecer.

— Obrigada, mas não, — ela disse, felizmente. — Eu estarei melhor sozinha. Eu não pretendo ficar mais do que uma noite lá. Eu voltarei no dia seguinte.

— Milady, logo estará escuro, — disse Glenna, franzindo a testa enquanto consultava a janela, olhando para a altura do sol acima da linha das árvores distantes.

Eram talvez quatro horas, deduziu Amabel. Ela assentiu.

— Eu chegarei lá depois do anoitecer. Talvez seja melhor — disse ela secamente. — Eu vou ter menos tempo para ficar, então. — Ela não gostava da ideia de sentar-se para as refeições com um homem que a traiu a este ponto. Ele deu-lhe a ideia de que o casamento era sua escolha desde que ela tinha dezesseis anos! Essa era a mais profunda traição que ela já imaginou.

— Sim, milady, — disse Glenna inquieta.

— Eu volto amanhã, — disse Amabel decididamente.

— Se você diz, milady.

— Eu digo.

Suas mãos estavam ocupadas enquanto ela falava. Ela embalou apenas os itens que eram necessários. Seu bolsa com o restante do dinheiro, ela deveria parar em uma pousada. Seus brincos, para que ela pudesse pelo menos fazer uma boa apresentação no jantar, quando ela o confrontasse. Um véu e um par de luvas. Ela pegou a pequena faca que às vezes usava em longos passeios, hesitando em embalá-la também. Ela não queria se lembrar de seu pai dando a ela, as palavras amáveis. Todas as mentiras! Ela também empacotou.

— Estou pronta, — disse ela para Glenna. — Eu te vejo amanhã à hora do almoço.

— Obrigada, milady, — disse Glenna gentilmente. — Boa equitação.

— Obrigada.

Amabel andou a passos largos pelo corredor, sua raiva cedendo abruptamente à tristeza. Ela não podia acreditar — não queria acreditar — que seu querido e bondoso pai estava mentindo para ela há anos! No entanto, o que mais ela pensava?

Fungando, piscando os olhos para evitar lágrimas furiosas, ela marchou pelo corredor e se dirigiu ao pátio. Lá, ela encontrou seu cavalo já selado fora dos estábulos.

— Brogan? — Disse ela ao cavalariço que estava ao lado da cisterna, buscando água para limpar os estábulos. Ela sabia seu nome de visitas repetidas ao palácio — ele sempre se importava com seus cavalos e achou útil conhecer a pessoa responsável por isso.

— Sim, milady?

— Posso te pedir um favor?

— Sabe que sim, milady, — disse ele em voz alta. Ele olhou para ela, parecendo nervoso com sua oferta. Ela supôs que ele tivesse cerca de dezesseis anos.

— Estou disposta a pagar-lhe para compensar o déficit do seu salário. Você virá comigo em uma cavalgada? Nós teremos ido e vindo em dois dias.

Brogan assentiu.

— Claro, milady.

Amabel sentiu um nó de tensão se soltar em sua barriga. Como mulher e sozinha cavalgar à noite seria pura loucura. Com Brogan com ela, embora ele fosse jovem e inexperiente, estava mais segura.

Ela esperou enquanto ele encontrava um cavalo que pudesse montar — um dos cavalos do verderer, ela imaginou, de construção robusta e de pele mais grossa — e cavalgar.

Juntos, eles saíram pelo portão e entraram no final da tarde na cidade.

— Para onde estamos indo? — Perguntou Brogan enquanto percorriam as ruas em direção ao portal ocidental.

— Para Buccleigh — disse Amabel com firmeza. — Tenho notícias urgentes para transmitir ao meu pai.

— Bem, milady! — Brogan olhou. Ele parecia animado. — Essa é uma longa jornada.

Amabel sorriu.

— É, Brogan. Estou feliz que você aceite o desafio.

— Sim! — Ele gritou de alegria. — Um dia ou dois fora do celeiro, longe do cavalariço e seus modos rabugentos!

Amabel riu. O menino estava arrebatado. Seu deleite era contagiante, e logo ela estava conversando com ele, apontando a queimada que percorriam e fornecendo a força para girar as rodas do moinho, os carvalhos verdes revestidos com seus trajes de verão, os pássaros.

— Cor, senhora! Você é justamente isso nesta floresta, — ele disse com grandes olhos castanhos esticados.

Amabel riu.

— Obrigada, Brogan. Eu fui ensinada pelos verderers desde quando eu tinha a sua idade, talvez antes.

— Bem, você tem uma vantagem sobre mim, — ele disse alegremente. — Embora eu deva aprender mais. Você acha que Alisdair me ensinaria?

Amabel franziu a testa. Ela achava que Alisdair era o principal verderer, o homem que gerenciava o parque de caça real.

— Tenho certeza que ele ensinaria, — disse ela, balançando a cabeça. — O Verderer faria um bom negócio.

— Faria. — O menino assentiu. — Então eu seria capaz de me assentar um dia. Ter uma cabana minha. Deixar o castelo e se esconder atrás das árvores.

Amabel assentiu.

— Você está certo de sonhar mais, — disse ela distraidamente. O menino franziu a testa, intrigado, e ela adivinhou que ele realmente não sabia o que ela queria dizer. Ela suspirou. O que ela quis dizer?

Suponho que falo mais para mim do que para ele. Eu quero sonhar mais do que meu pai me daria. Seu mundo estreito não atende às minhas necessidades.

Ela ficou surpresa por ter pensamentos tão ousados. No entanto, ela nunca ia ser comum.

Papai deveria ter tido uma filha como uma daquelas duas serpentes que me contou esta notícia! Elas teriam ficado felizes em se casar com um duque e ganhar status mesmo se perdessem a liberdade. Elas não eram do tipo que usavam a liberdade de qualquer maneira.

— Lá em cima na colina! — Brogan chamou, apontando para cima. — Veja! Nós podemos ver o castelo corretamente agora.

Amabel olhou para trás. Daquela distância, o castelo parecia uma prisão sombria. As paredes se erguiam no penhasco, lançadas da pedra que as sustentava. Ela estremeceu. Chocante e cinza, dominava a cidade murada.

Estou feliz por estar livre disso.

Quando o vento bagunçou seus cabelos, Amabel sentiu seu ânimo se elevar. O dia havia cedido agora e o sol brilhava sobre seus ombros, proporcionando um pouco de calor. Ela aproximou o manto de veludo, sentindo-se gelada. A noite logo estaria se instalando.

— Estamos seguindo pela noite?

— Sim, — Amabel respondeu calmamente. Ela estremeceu ao ver seu próprio pesar.

Os bosques são perigosos à noite, um lugar de fora-da-lei e bandidos. Eu não deveria entrar neles agora.

Que escolha ela tinha? Valia a pena resolver imediatamente, antes que ela tivesse a chance de deixar sua raiva diminuir. Ela estava furiosa com o pai, uma fúria fria e branca que deveria ser desencadeada. Ela sorriu para o homem mais jovem, fingindo uma despreocupação que ela não sentia verdadeiramente.

— Vamos passar pela floresta e vamos sair antes de sabermos que estávamos nela, — disse ela com um grande sorriso. — Eu vou até competir com você.

— Milady! — Ele parecia absolutamente espantado. — Você sabe como isso é arriscado, sim?

Amabel riu.

— Já correu ladeira abaixo?

Ele assobiou. Isso era possivelmente ainda mais perigoso do que correr em uma floresta. No entanto, correr em uma floresta à noite era facilmente uma das coisas mais loucas que uma pessoa poderia fazer.

Amabel sorriu para si mesma. Se eles estivessem se concentrando em atacá-la, poderiam atravessar a floresta rápido o suficiente para permanecerem vivos. Essa era a sua melhor esperança.

— Nós podemos correr também. — Brogan ofereceu. Sem mais delongas, ele disparou.

Amabel riu.

— Seu pequeno diabinho!

Ela estava rindo, gritando palavras e tentando respirar enquanto galopavam, e mal notou que o dia já estava escurecendo, as sombras se alongando ao longo do chão como precursores da noite, quando eles entraram nas árvores.

Silêncio.

Denso e envolvente, cobria-os. Amabel seguiu com uma súbita sensação de que tudo deveria ser silenciado. O único ruído era o farfalhar de folhas e a nota oca da queda dos cascos de seus cavalos no chão. Ela ficou em silêncio.

— Milady? — Brogan sussurrou para ela. — Você acha que devemos ficar?

— Hsssh, — disse Amabel, autoritária. O menino ficou calado. Eles cavalgaram silenciosamente por um longo caminho.

— Milady? — Perguntou Brogan. Havia um pálido crepúsculo agora. — Eu me pergunto se não deveríamos ter ido embora?

Amabel sacudiu a cabeça.

— Eu sei o caminho, Brogan. Pela frente será mais curto. É um caminho mais difícil, mas nos leva direto para a estrada.

— Sim, milady, — respondeu Brogan. Parecia que ele também sabia disso. O pensamento de tomar o caminho mais curto era de algum modo assustador.

— Eu sei que não é tão seguro, — respondeu Amabel. — Mas é rápido.

— Sim, milady. — Ele parecia miserável, no entanto, Amabel notou. Ela suspirou. A luz os deixava, o mais claro azul-claro entre os troncos das árvores.

Dentro de alguns minutos, estará escuro aqui.

— Fique à minha direita. Fique no caminho. Se você ouvir um barulho, congele. Não fuja. Se o seu cavalo sair da trilha, você se achará perdido.

Amabel deu ao rapaz o conselho que Alec, o lenhador-chefe, lhe dera quando ela tinha quatorze anos e estava aprendendo. Ele era mais velho do que ela e deveria saber disso, mas ela o aconselhou mesmo assim.

Ele precisa saber.

Estava mais escuro agora, a floresta silenciosa e misteriosa. Ela ficou tensa, ouvindo um galho estalar.

O que poderia estar nesses bosques à noite? Foras-da-lei e vilões, refugiados da justiça. Ela sabia muito bem quem morava aqui e o que fariam se a encontrassem. Ela e Brogan ficariam satisfeitos se terminassem rapidamente mortos.

Ela estremeceu.

— Vamos lá, — ela sussurrou. — Eu posso ver as árvores desbastando. Nós estaremos fora em cerca de duas mãos no valor de minutos...

— Sim, milady. — A voz do menino era um fio fino e Amabel suspirou. Ele estava nervoso. Então, ela estava também. No entanto, não havia utilidade em se resignar a esse destino ainda. Eles ainda tinham vinte minutos.

Em breve estaremos no castelo. Estaremos no grande salão comendo guisados e pãezinhos e pensando em como somos gratos pelo calor, pelo fogo e pelas companhias.

Naquele momento, outro galho quebrou. Amabel sentiu o cabelo subir de repente. Ela tinha conhecimento de algum farfalhar nos arbustos. Ela esperava que fossem apenas pássaros, acomodando-se em seus poleiros, ou uma raposa, procurando uma caça inquisitivamente.

Isso não era um pássaro. Nem raposa. Era muito grande.

Ela auditou os perigos. Javali. Urso. Lobo. Homem.

— Milady...

Ela levantou a mão. A escuridão era absoluta, mas ele deve ter captado o movimento, pois parou.

Crack. Crack.

Amabel fechou os olhos. Seu coração estava batendo descontroladamente agora. Havia algo. Alguém.

De repente, os arbustos farfalharam. Se afastaram. Um rosto surgiu.

— Boa noite, meu filho. Ama.

Amabel gritou. O homem sorriu, mostrando dentes podres.

— Sobre eles, Adair! — Ele gritou.

Homens irromperam dos arbustos. Amabel ouviu Brogan arrancar da sela e girar o cavalo, elevando-se acima do perigo, esforçando-se por alcançá-los. Ele estava gritando e depois ficou em silêncio.

— Vocês canalhas! — Ela gritou. Ela chutou neles, puxou cabelos e olhos com os dedos, girou o cavalo e rezou para que ele atropelasse alguém. Então as mãos estavam segurando seus tornozelos, alguém agarrou sua cintura e ela foi arrancada do cavalo.

Então houve escuridão.


CAPÍTULO TREZE

ALGO ESTÁ ACONTECENDO


— Você ouviu a palavra?

Rufus sentou-se com Blanchard no banco. Era o jantar e ele acabara de chegar ao castelo. Ele partiu o pão, mastigou e levantou uma sobrancelha para Blanchard.

— Qual palavra?

— Palavra sobre a lady, — disse Blanchard.

— Não.

No interior, Rufus era uma colcha de retalhos de tristeza, preocupação e alegria. Ele estava feliz por estar de volta, com os nervos em carne viva com a alegre possibilidade de ver Amabel novamente. No entanto, ele também estava triste. Ela mentiu para ele. Ele achava que jamais esqueceria isso. Ele achava que ela sentia o mesmo, e era mentira. Não que fosse culpá-la por isso, ele decidiu que ela sentia tudo por conta própria, sem que mencionasse isso. Não foi culpa dela que ele estava ferido. No entanto, doía.

Eu me fiz de bobo. Ela não me fez de bobo. Eu estou com vergonha.

Como poderia ele, um homem experiente e mundano, deixar-se tecer tais contos para si mesmo?

Ele também estava preocupado. Ele queria fingir que não se importava, mas estava esperando ver sinais dela quando voltaram — pelo menos seu cavalo branco parado em algum lugar na baia. No entanto, ele não viu nada. Ele se virou para Blanchard, perguntando.

— O que?

Seu amigo suspirou.

— Ela deixou o castelo.

— O quê? — Rufus sentiu o bannock cair de seu alcance em seu prato. Ele não se moveu de onde estava sentado. Seu sangue esfriara em suas veias — ou assim parecia. Seu coração estava duro e seu batimento cardíaco parou.

Blanchard franziu a testa.

— Você não ouviu? Todos os homens estavam dizendo. O cavalo dela desapareceu e, quando perguntaram a Will, o chefe cavalariço, ele disse que ela tinha ido embora.

— Não, — Rufus disse novamente. — Ela não pode ter ido.

Blanchard deu de ombros.

— Quem sabe, hein? — Sua sobrancelha subiu fracamente em direção a sua linha do cabelo. Ele estava sem atadura agora, a ferida era uma marca crua e irritada em sua cabeça, terminando acima da orelha direita.

— Eu estou dizendo a você, ela não teria ido, — Rufus disse teimosamente. — Ela teria dito.

— Bem, — Blanchard suspirou. — Você poderia tentar descobrir.

Rufus ficou rígido.

— Eu nunca teria pensado nisso sem o seu conselho, — disse ele cortante.

Blanchard assobiou baixinho.

— Não há necessidade de colocar facas na minha pele, velho amigo, — disse ele. — Algum homem já fez isso. Deveria colocar um sinal de corte-me na minha cabeça o que parece ser um esporte favorito por aqui.

Rufus sorriu, mesmo que sombrio. Confiava em Blanchard para poder fazê-lo sorrir, mesmo agora.

— Não há necessidade disso, — disse ele, empurrando o ombro do amigo de brincadeira. — Eu vou deixar de ser tão terrível e me retirar.

— Onde você vai?

— Descobrir algo mais.

Blanchard parecia angustiado e Rufus se dirigiu abruptamente para fora. Ele não queria que ninguém mais lhe dissesse que o que ele estava fazendo era estúpido. Ele já conhecia essa parte. Ele tinha que pelo menos se assegurar que a notícia era verdadeira.

Ela não pode ter ido embora. Ela teria me avisado.

Ele riu. Ela não teria razão para deixá-lo saber. Ele não tinha nada a ver com ela, não de verdade.

— Eu sou um estúpido.

Ele suspirou, recriminando-se todo o caminho do salão até quando puxou a capa em torno de seus ombros, tremendo na súbita friagem da noite.

Como eu pude ser tão tolo? Tão cego? Ela nunca, realmente, teria interesse em um cavaleiro como eu.

Ele atravessou o corredor escuro e subiu as escadas, parando primeiro em seu andar para ver se Seamus estava por perto. Quando não houve resposta do homem ao bater na porta de seu quarto, ele foi para o próximo nível, para onde havia levado Amabel naquele dia, quando ela desmoronou devido às exigências da visão que teve.

Não se lembre disso e não pense nisso.

Ele apertou a mandíbula, apagando as lembranças de seus seios, seus lábios, seu beijo.

Na colunata ele virou à direita e à direita novamente. Ele encontrou a câmara e parou do lado de fora. Bateu na porta.

— Olá?

Sem resposta.

Ele esperou.

— Olá? — Ele tentou novamente. Desta vez, ele pensou ter ouvido algum movimento do outro lado, um leve sussurro do movimento de alguém ou de uma cadeira ou cama.

— Sim?

A porta se abriu um pouco e alguém olhou através da abertura. Uma mulher de rosto fino, com grandes olhos e cachos castanhos apenas visíveis nas bordas da porta, ele a reconheceu como a criada que acompanhou Amabel até a tenda de batalha.

— Senhorita, — ele disse respeitosamente. — Estou aqui para perguntar pela sua ama. Ela está bem?

— Sim, — a serva assentiu. — Ela está muito bem.

Rufus suspirou.

— Ela está recuperada de seus esforços? — Ele alcançou com uma mão sub-reptícia em seu ferimento na cabeça, que estava se curando muito melhor, graças ao seu próprio interesse valioso.

— Sim, meu lorde.

Havia algo de hesitante, quase secreto, sobre as reações da mulher e Rufus se viu imaginando o que era.

— Posso falar com ela? — Perguntou Rufus.

— Meu lorde, infelizmente, não — disse a serva. — Eu me arrependo de te dizer... ela se foi.

— Se foi. — Rufus repetiu a palavra, entorpecido. Ele não podia acreditar. Era verdade!

— Ela saiu em torno de quatro horas, — disse Glenna. Ela estava quase chorando, Rufus notou e ele instintivamente levou a mão ao ombro dela para consolá-la.

— O que foi, Glenna? — Ele perguntou gentilmente. — Por favor, diga?

— Oh, senhor! — Soluçou ela. — Ela saiu tão tarde. Eu temo por ela. Ela está tentando cavalgar até Buccleigh, o que seria a difícil cavalgada de uma manhã. Ela não vai conseguir antes do pôr do sol.

Rufus sacudiu a cabeça.

— Não, ela não vai. — Ele já estava se movendo, seu sangue carregado com a necessidade de agir e rápido.

— Onde você está indo? — Glenna chamou atrás dele.

— Eu vou trazê-la de volta.

— Antes que algo aconteça.

Ele sentiu como se seu coração tivesse se transformado em gelo quando ela disse isso. De todas as coisas! Ele conhecia Amabel. Ele não a tinha tomado como um ser completamente sem juízo.

— Como ela poderia ter feito algo tão idiota? — Ele balançou a cabeça, murmurando para si mesmo todo o caminho até o andar de baixo e a seu próprio quarto. — Como ela poderia correr um risco assim? Ela deve ser louca!

Ele ainda estava murmurando para si mesmo quando chegou à porta. A essa altura, ele se acalmou um pouco e percebeu que, se Amabel fizera isso, deveria ter um bom motivo. O que seria? Em que circunstâncias ela escolheria arriscar-se na floresta à noite?

— Se algo aqui a ameaçou, pelo diabo eu encontrarei quem foi e eu juro que vou causar tal... Seamus? — Ele gritou, batendo na porta.

— Meu lorde?

— Oh! Boa. Você está de volta. Você pode me deixar entrar, por favor? E faça um alforje. Estou partindo.

— A essa hora? — O rosto fino e bonito de Seamus apareceu em torno da borda da porta. Seus olhos estavam arregalados de surpresa.

— Não, daqui a quinze dias, e é por isso que eu estou despertando você agora para me ajudar a ficar pronto, — disse ele tristemente. Seamus pareceu ofendido e suspirou.

— Desculpe, Seamus, — disse ele, pegando seu grosso manto externo. Era primavera, mas ainda fazia frio à noite. — Estou exagerando. E muito.

— Eu posso ver, — disse Seamus, um alforje de sela em suas mãos. Ele já estava alcançando a mesa, arrumando coisas que achava que seu mestre poderia precisar para a jornada. Uma navalha. Uma faca. Um lenço. Dinheiro.

— Obrigado, — disse ele quando Seamus passou o alforje sem palavras. — Você tem algo limpo que eu possa usar lá? — Ele acrescentou com um olhar envergonhado.

Seamus sacudiu a cabeça.

— Há uma túnica nova aqui, — disse ele, abrindo um baú e passando-o sem palavras para Rufus. Era o de lã marrom e Rufus se arrependeu de tê-lo — era a melhor túnica que ele possuía e já tinha tantas lembranças dela entrelaçadas nos seus fios. No entanto, ele encolheu os ombros, embalando-o apressadamente.

— Eu volto no dia seguinte — prometeu ele, trocando as botas por botas altas de couro de camurça enquanto se dirigia para a porta. — Se alguém vier com negócios para mim, mantenha os papéis sobre a mesa.

— Eu farei, milorde.

— Muito bom. Obrigado, Seamus. E Seamus?

— Sim, meu lorde?

— Fique de olho na serva, Glenna, sim? Se houver notícias da minha lady, quero saber no retorno.

— Sim, meu lorde.

Com o coração batendo no peito, a capa girando enquanto descia a escada sinuosa, ainda desesperado para alcançá-la antes que qualquer dano ocorresse primeiro, Rufus correu.

Nos estábulos, ele gritou para o cavalariço de plantão, um jovem magro que estava meio adormecido, bocejando, em sua posição junto à segunda barraca.

— Sele um cavalo. Um cavalo de caça. Eu preciso ir rápido.

— Sim, meu lorde.

Em um momento ou dois, o menino estava habilmente selando um cavalo, embora se irritasse com impaciência em que parecia ter se demorado. A qualquer momento, qualquer coisa poderia acontecer a Amabel. Já estava ficando escuro.

— Vamos, — ele sussurrou. — Depressa. Não há tempo a perder.

— Aqui, meu lorde. — O menino lhe deu um olhar preocupado, como se precisar de um garanhão de caça, rápido, às seis horas da noite, fosse uma predileção estranha.

— Obrigado, — ele falou. Ele jogou uma moeda para o menino e só percebeu quando ele disparou pelo portão e para a cidade o que, provavelmente, poderia ter-lhe dado um sustento por um certo tempo.

Ele suspirou. Pelo menos uma família seria feliz esta noite. Poderia mantê-los alimentados durante meses!

Ele esperava que estivesse sentindo felicidade — ou alívio, no mínimo — antes do amanhecer.

Ele tinha que encontrá-la.

Estava escurecendo depressa e ele estava grato por ter escolhido um cavalo de caça quando saiu em disparada, atravessando as ruas quase desertas, indo para o campo e, à frente, a floresta.

Eu preciso chegar até ela em breve.

Antes que fosse tarde demais.

Na floresta, ele teve que fazer suposições. O lugar era desconhecido e ele se arrependeu de não ter o bom senso de trazer um guia com ele. Ele sabia onde Buccleigh estava — ou mais ou menos. Era Norte e Oeste de Edimburgo. Só tinha que seguir as pistas Norte e Leste até chegar a um lugar onde ele queria chegar. Como uma estrada principal.

De lá, seria fácil.

— Eu não posso ver onde estou indo, — disse ele em voz alta. Seu cavalo bufou e bateu, passos estranhamente ocos no silêncio das árvores.

— Eu sei, — disse ele, acariciando o pescoço de seu cavalo. — É assustador agora.

Ele estremeceu apesar de si mesmo. Os bosques não eram lugar para ninguém sozinho. Ele poderia amaldiçoar Amabel por impulsividade tanto quanto ele desejasse. Ele tinha sido tão tolo quanto ela, viajando desacompanhada só com seus pensamentos.

Pelo menos ela sabe onde está indo! Eu poderia me perder aqui e nunca mais emergir.

Ele suspirou. Era quase escuro o suficiente para ver as trilhas e ele decidiu confiar no instinto de seu cavalo. O cavalo provavelmente conhecia as trilhas da floresta melhor que qualquer humano. O fato de que era um cavalo de caça quase fazia com que ele cavalgasse nessas florestas mais vezes do que qualquer outra pessoa.

— Não há muito tempo agora, hein? — Ele perguntou ao cavalo quando eles tomaram uma curva à direita, indo para o Oeste em uma rota que ele imaginou estar certo.

O cavalo não disse nada. Rufus segurou as rédeas o mais firmemente que pôde, sem assustar o cavalo, concentrando-se em suas lembranças de Amabel e apagando o terror crescente de que algo havia acontecido com ela.

Lembro-me dos seus lábios nos meus, cedendo enquanto os separo com a minha língua.

O pensamento era excitante e, se não estivesse nas árvores, num cavalo emprestado, numa noite gelada, teria, sem dúvida, o efeito contrário.

Assim, seus lombos ardiam e sua respiração ficou presa em seus pulmões, o coração batendo.

— Certo, — ele disse ao cavalo. — Devemos ir para a esquerda aqui, não devemos? — Perguntou ele. — Ou em linha reta.

Ele pensou sobre isso. A esquerda provavelmente os levaria para o Norte. O da direita levá-los-ia de volta à direção em que entraram. Era o caminho reto.

— Espero que esteja certo, — ele disse para si mesmo em voz alta. Estava perto de estar totalmente escuro e ele tinha que rezar para que seu cavalo soubesse onde a trilha ia, ou podia vê-lo, pois, de sua própria visão, havia desaparecido completamente.

Ele ouviu um farfalhar nos arbustos. Ele ficou tenso.

Em algum lugar, um pássaro cantou sonolentamente com um amigo e ele relaxou. Foi apenas um pássaro ou alguma outra criatura da floresta! Ele estava sendo nervoso.

Eu não posso evitar, porém... este lugar me dá arrepios.

Ele sabia muito bem que tais lugares eram as casas de homens desesperados. Ele iria no mínimo perder seu dinheiro e qualquer armamento que ele carregasse. Certamente, também seu cavalo. Provavelmente, manto e botas também.

E neste tempo, sem cavalo, manto e botas, perdidos apenas na floresta, posso estar morto.

Ele estremeceu. Se ele estivesse em perigo, não queria pensar em como era perigoso para Amabel.

— Como ela pôde?

Ele tentou criar uma raiva contra ela, xingando baixinho até sentir que estava realmente louco. Isso pelo menos aqueceu seu sangue e tornou marginalmente mais fácil continuar. Para continuar confiando que o caminho à frente estava certo, que seu cavalo sabia disso, e que os ruídos nas árvores eram pássaros, encontrando poleiros sonolentos.

Ele olhou em volta dele. A escuridão era absoluta e algo sussurrava.

À frente, havia uma nesga de raio do céu que sugeria que, em algum lugar à frente de ambos, as árvores começavam a afinar.

— Olha, — ele disse ao seu cavalo, acariciando seu pescoço tranquilizadoramente. — Eu acho que a floresta está diminuindo. — Ele sorriu. — Em breve estaremos fora, — ele tranquilizou os dois.

Seu cavalo bufou. Ele ouviu algo ranger nos arbustos e franziu a testa.

— Olá?

Nada. Nenhum um som. Deve ter sido um ramo, ele decidiu.

Ele continuou pela estrada. Ouvi o crack, crack para o lado esquerdo se renovando.

— Quem está aí? — Ele gritou alto. Seu cavalo bufou, ofendido.

Então ele ouviu o murmúrio de palavras e alguém gritando.

O som soltou toda a sua preocupação, tornando-se em uma ação furiosa. Ele sacou sua espada.

Rugindo como um homem selvagem, como um homem desesperado, ele mergulhou nas árvores.

Para encontrar quem foi que gritou e salvá-lo.


CAPÍTULO QUATORZE

PERIGO E AMEAÇA


Amabel gritou. Ela fez isso para repelir o homem que estava olhado para ela e depois segurou seu pulso. Ela sabia que provavelmente era inútil — qualquer um aqui na floresta provavelmente a ignoraria ou seria outro de seus inimigos.

— Calma, agora... — o homem disse. Seu aperto no pulso dela era frio e duro, e Amabel torceu a mão em suas mãos, soltando-a. Ele se lançou para trás e bateu no rosto dela e ela caiu para trás. Ela soluçou em puro espanto. Ninguém nunca havia batido nela antes.

— Tam, pare com isso, — disse uma voz dominante. — Nós não estamos aqui para fazer isso, mas seguir às ordens de Sua Senhoria.

— Ah, vamos, Lewis. Quem vai saber?

— Se alguém descobrir, ele vai te matar. Ele não é Duque por nada.

Amabel franziu a testa.

— Que duque?

— Lorde Callum, — alguém disse prestativamente. O homem que parecia estar no comando o atingiu. Amabel congelou.

O duque de Astley? Não! Por que ele iria...?

— Você é um tolo, Duncan, — ele jurou. — Como vamos explicar que acabamos de gritar esse segredo por toda a floresta?

— Desculpe, senhor.

— Obrigado. Eu posso pedir desculpas quando o duque assar meus dedos.

O homem riu e o que estava no comando olhou.

Naquele momento, Amabel pigarreou. Ela pensou ter ouvido alguma coisa, algum farfalhar nos arbustos. Aconteceu duas vezes agora — o suficiente para fazê-la pensar que poderia ser alguém. Ela tossiu.

Ela soltou um grito de gelar o sangue.

— Droga! — O homem mais próximo a ela assobiou. Ele a golpeou novamente e desta vez Amabel sentiu sua dissolução se dissolver. Ela gritou em voz alta e isso trouxe outro golpe. Ela soluçou, curvando-se na dor.

O som do grito dela também trouxe cavalos.

Batidas de cascos explodiram pelo caminho e Amabel viu cascos entrarem na clareira. De seu ponto de visão no chão, isso era tudo que ela podia ver. Cascos grandes e sólidos com os tornozelos delgados de um cavalo de caça acima deles. Ela viu a roda do cavalo e a traseira e ouviu um dos soldados gritar de susto.

Ela ouviu alguém gritando, soltando gritos incoerentes de raiva quando ele atacou. Ela deduziu que quem quer que fosse chegara no cavalo. A clareira estava se desintegrando em pés, gritos e uivos. Ela se enroscou com força, com medo de ser pisoteada quando os homens correram para as árvores. Três deles tinham ficado para lutar e ela ouviu o estrépito da espada contra espada e se encolheu, desejando poder ver o que estava acontecendo.

Um homem saiu correndo, atravessando os arbustos do lado direito. Então o líder gritava — ela reconheceu sua voz — e envolvia quem quer que fosse com uma espada. Ela ouviu o barulho de uma lâmina contra uma lâmina e depois outro tinido. Ela podia ver dois pares de pés e os cascos do cavalo, movendo-se sutilmente para dar vantagem ao cavaleiro enquanto ele lutava.

Ela ouviu um grito e a fenda, indescritíveis e retumbantes, de uma espada barata estalando. Então o segundo homem fugiu.

O líder do grupo pareceu decidir partir logo depois, pois ela o ouviu se movendo com passos leves pelo mato. Ela ficou tensa quando ouviu o farfalhar ali, com medo de que ele pudesse puxar uma adaga ou lançar uma lança em seu salvador, mas nada aconteceu. Ela ouviu o farfalhar dos pés recuar e então, aparentemente, o homem fugiu.

Ela se enrolou, fria, dolorida e com medo. Ela estava tão cansada. Muito cansado para se sentar ou até para falar.

É o choque. Você está cansada por causa do choque. Você tem que se mexer.

Ela suspirou. Por que ela deveria se mover? Ela estava quente aqui. Quente e segura. Se ela simplesmente se deitasse, estaria segura. Ela poderia descansar. Dormir.

Ela ouviu o cavaleiro desmontar, suas botas quebrando os galhos enquanto ele diminuía o espaço entre o cavalo e ela. Ela o ouviu respirar e depois se ajoelhar.

Então ele soltou um sussurro explosivo.

— Amabel?

Ela o olhou fixamente. Ela conhecia a voz. Foi a primeira palavra que ele falou. Não poderia ser. Ele não estava aqui! No entanto era ele.

Ela lutou para se ajoelhar e o olhou.

— Sir!

Era Rufus. Ele estava ajoelhado no molde das folhas, a túnica brilhando na escuridão, os olhos horrorizados.

— Minha lady, — disse ele. Ele estendeu as mãos grandes e quentes para ela e segurou seus pulsos. Ela se encolheu. Ele pareceu entender e soltou-a, abrindo os braços. Quando ela não se moveu, ele os deixou cair de lado.

— Minha lady, — ele sussurrou. — Você... você está ferida?

Ela fungou, secamente.

— Provavelmente, — disse ela. Ela pretendia não soar afetada, em nível. Sua voz saiu como um pequeno grasnido e ela estremeceu, limpando a garganta. — Você está bem?

Ele suspirou.

— Ah, Amabel. Estou bem. Pronto. Você vai congelar. Onde está o seu manto?

— Eles pegaram, — disse ela. Ela olhou para o chão desconfortavelmente. Ela estava usando uma simples manta de lã, o manto de montar e o vestido de dormir estava de fora. Os homens os haviam roubado, dizendo que iriam vender por um belo centavo na cidade algum dia.

Então eram quase vagabundos. No entanto, não era bem assim. Eles estavam a serviço de alguém.

Ela balançou a cabeça para limpá-la. Ela estendeu a mão, sentindo a massa inchada de uma contusão. Ela sabia que o sentido comum em uma contusão pode resultar em algo sério, e decidiu que iria tentar e fazer uma conclusão sobre o evento mais tarde. Seu cérebro poderia ter preenchido o absurdo sobre Lorde Callum. Era completamente louco. Ela suspirou.

— Minha lady? — Perguntou Rufus. Sua voz era surpreendentemente humilde, quebrada. Amabel suspirou também.

— Sir, — disse ela em uma voz suave. — Me leve para casa?

Rufus ficou de pé. Ele estendeu as mãos e, desta vez, ela deixou que ele segurasse seus dedos com força e a ajudasse a se levantar. Então, gentilmente, ele a puxou para seu peito.

— Você está tremendo, — disse ele. — Precisamos te aquecer. — Ele fez uma pausa. — Você iria... — ele se virou, remexendo em seu alforje de sela. — Você usaria isso?

Ele passou a ela uma túnica de lã. Ela olhou para baixo. Marrom escuro e tão macio, ela pensou que reconheceu isto como algo que ele tinha usado. Ela olhou para ele.

— Obrigada, — disse ela. Sua voz estava tensa de sentimento. Ele sorriu.

— Minha lady, — disse ele. Sua mão levantou-se para segurar sua bochecha e depois caiu para o lado. Ele ainda sorria, o mesmo sorriso doce, hesitante e travesso, como se totalmente inseguro de boas-vindas. No entanto, ele não iria tocá-la sem a permissão dela.

Ela suspirou e encolheu os ombros na túnica. Seus dentes estavam batendo agora, o choque a deixando sentir novamente, e ela sentiu frio.

Ela lutou contra a roupa, que estava pendurada até a metade dos joelhos, e raspou as mãos pelos seus braços, tentando combater o terrível e dolorido frio.

— Por favor, — ela sussurrou. — Me leve para Buccleigh? Agora?

Ela precisava falar com o pai. Ela tinha que enfrentá-lo. Agora ela precisava entender o que ouvira. Por que Lorde Callum estava à procura de estranhos cavalgando entre Edimburgo e Buccleigh? Não fazia sentido. Seus próprios terrenos estavam espalhados pela paisagem próxima, embora soubesse que ele mantinha terras perto de Buccleigh.

Por isso, supôs, que seu pai e seu avô achavam que era um acordo apropriado.

No entanto, eu não acho que eles teriam uma visão tão gentil de um homem cujos bandidos quase me bateram e deixaram-me inconsciente.

Ela cerrou os dentes, pois parecia lembrar que a ferida em sua cabeça piorava a dor que sentia ali. Ela sentiu a mão dele tocar seu ombro e ela ficou tensa, sem querer recuar.

Então, gentilmente, ele a levou até o cavalo e a ergueu. Ela agradeceu, sentindo-se sonolenta. Por que ela estava tão exausta?

— Ao seu serviço, milady, — disse ele suavemente. Ele montou atrás dela, segurando-a com firmeza contra ele enquanto respirava contra seu ombro, guiando o cavalo de volta à estrada e sussurrando. — Eu sempre vou encontrar você, não importa se vai se afastar ou não. Meu coração está amarrado ao seu, querendo ou não. Para sempre ou não.

Ela nem sequer tentou dar sentido a essas palavras. No entanto, o discurso gentil entrava em seu coração e, junto com o calor seguro e o conforto, enviava-a, quase imediatamente, completamente imprevista, para dormir.


CAPÍTULO QUINZE

CAVALGADA A SEGURANÇA


Rufus segurava Amabel contra ele enquanto cavalgavam. Ele sentiu seu peso quente pressioná-lo fortemente e suspirou. Ele sabia que ela estava dormindo.

— Não acorde, querida.

Ele sussurrou as palavras suavemente, não querendo perder a oportunidade de falar com ela, dizer-lhe todas as palavras que sabia que deveriam permanecer para sempre em seu coração. Ele a amava.

Estranho, mas eu pensei que não sabia como seria o amor.

Não tinha irmãos, e ele e seu pai nunca foram amigáveis. Ele não tinha primos. No entanto, ele sabia amar.

Irmãos no campo e fora dele. Meu vínculo com meus companheiros armas é assim. Mas diferente. A profundidade disso é a mesma.

Ele suspirou. Havia outras coisas, é claro, que ele não sentia por seus irmãos de armas. As coisas sobre ela que incendiavam sua virilha, por exemplo. Ele riu, notando isso.

Meu pobre corpo.

Ele segurou Amabel perto, ciente agora mais do que nunca do peso suave de seu corpo moldado em seu braço enquanto cavalgavam. Ele podia sentir a dura curva de seus seios pressionados contra o braço dele, e o volume de suas nádegas enquanto se empurravam contra seus quadris com cada centímetro de subida ou descida na trilha.

Ele sorriu para si mesmo. Ele alcançaria Buccleigh em um estado de excitação sem esperança a esse ritmo.

Não há nada que eu possa fazer sobre isso.

Ele só teria que esperar que, uma vez que ela estivesse em segurança fora de seu cavalo e sob os cuidados de seus parentes e amigos, ele pudesse se acalmar.

Ele suspirou, respirando o perfume de seu cabelo, onde descansava em seu peito e sabendo que ele provavelmente não seria capaz de encontrar descanso.

Ele desejou que ele pudesse tê-la, pudesse conhecê-la. Pudesse segurá-la, beijá-la e apertar seus dedos e dizer-lhe todas as palavras dentro de seu coração. No entanto, ele deveria ficar em silêncio. Ela não era dele.

A trilha se alargou e a luz brilhou mais forte aqui. Ele percebeu que podia distinguir o caminho mais claramente porque não era mais uma trilha, mas uma estrada. O caminho através da floresta era terra, embalado pela passagem de cavalos e pelas botas da humanidade. No entanto, esta era uma estrada de paralelepípedos. Indo para o Leste.

Certo. Estamos quase lá agora, ele disse a si mesmo. Quase em Buccleigh.

Ele saiu da clareira. Ele não tinha ideia de quão longe ainda tinha que ir. A noite estava fria e mesmo com o manto sobre os dois, os braços em volta da cintura dela envolvendo os dois, estava frio.

O céu estava claro hoje. Vai estar congelante daqui há pouco. E haverá geada também esta noite.

Ele suspirou.

Eles teriam sorte de chegar a Buccleigh esta noite. Com azar, eles enfrentariam uma morte lenta na estrada e com frio.

— Senhor?

Rufus ficou olhando. Agora as árvores estavam animadas e conversando com ele. Ele suspirou. Foi a lesão na cabeça. Estava fazendo ele ver coisas.

Não vejo coisas, ouço coisas.

Ele estava cansado demais para discutir a semântica.

Ele seguiu em frente.

— Senhor. Pode esperar?

Ele parou.

— Tudo bem, — disse ele com resignação triste. — Se você é uma árvore, falando comigo, Deus tenha misericórdia e me deixe morrer de frio agora. Se você não é uma árvore, eu o abençoo e desejo que você saia. Isso é desconcertante.

Ele fez uma pausa. Assim como estava prestes a concluir que tinha sido sua imaginação e ele estava realmente louco, algo sussurrava.

— Senhor.

Um menino apareceu. Ele tinha talvez quinze anos; era difícil dizer na luz das estrelas claras. Ele estava vestindo uma longa túnica e estava descalço. Um machucado dolorido marcava o lado de seu rosto branco. Seu braço estava pendurado em um ângulo estranho e Rufus pensou que alguém devia ter quebrado um osso em seu ombro, em algum lugar no alto. Ele moveu o braço e Rufus revisou seu julgamento, adivinhando que, em vez disso, estivesse só machucado.

— Sim, — ele perguntou, mais gentilmente desta vez. Se ele o deixasse aqui fora, o menino iria congelar, certamente.

— Senhor. Por favor ajude! A lady... oh. — Ele olhou para o semblante pálido, apenas visível debaixo do manto envolvente. Ele reconheceu Lady Amabel, claramente, pois ele o olhou, a garganta trabalhando, então soluçou. — Ela está bem.

Rufus assentiu.

— Ela certamente está viva, — ele disse gentilmente. — Você é um servo de sua comitiva?

— Eu sou um cavalariço, — disse ele com alguma aparente afronta por ter sido confundido com um pajem ou lacaio. — Eu estava cavalgando com minha lady. Você pode ajudar? — Ele adicionou.

Rufus assentiu.

— Eles levaram suas montarias?

O menino assentiu em silêncio.

— Certo, — disse Rufus com um suspiro. — Você pode cavalgar com ela, — disse ele com relutância. — Eu vou seguindo.

Ele se deslizou do cavalo, firmando Amabel ao fazê-lo. Ele a ouviu suspirar profundamente e desejou que o jovem tivesse ficado onde estava por mais um momento — como ousaria arriscar acordar Lady Amabel?

— Oh, milorde!

Rufus suspirou.

— É Sir Rufus para você, rapaz. E lembre-se de você ter um bom lugar na volta dela. Não vou deixar você acordar a lady... ela está esgotada e precisa descansar.

— Tem minha palavra, — disse o menino. Ele subiu na sela e sentou-se atrás de Amabel. Ele estava claramente aterrorizado por machucá-la, pois hesitou em estender a mão para segurar as rédeas, e Rufus, tentando segurá-la firme, suspirou suavemente.

— Segure-a, garoto.

O jovem limitou-se à terminologia decrescente, mas fez o que lhe disse.

— Nós vamos envolvê-la calorosamente. Aqui. Você também — disse ele e, com a boca dura, os dentes apertados contra a tagarelice, ele tirou a grossa capa de lã forrada de pele, entregando-a.

Então, caminhando na escuridão, os três se dirigiram para a estrada.

— Você ficou para ajudá-la? — Rufus perguntou, indicando a lady sonolenta com a cabeça. Ela havia escorregado um pouco para frente e ele estendeu a mão, mal confiando em si mesmo para tocar aquela doce coxa.

— Sim, senhor, — disse o menino, horrorizado. — Eu faria qualquer coisa por Lady Amabel. Senão eu perderia a minha vida.

Rufus assentiu. Ele sentiu um sorriso sombrio torcer sua boca.

Ela faz isso com as pessoas, ele queria dizer. Ela te faz devotado. Rouba sua alma.

Ele não disse isso, no entanto. Ele simplesmente assentiu e foi em frente.

O jovem não disse nada por muito tempo. Rufus suspirou.

— Sabe, eu estou feliz que você veio, — ele murmurou. Os dedos do jovem estavam ficando azuis e ele estremeceu ao vê-lo.

— Por quê? — Ele perguntou. Sua voz estava falhando de frio, mas ele conseguiu mantê-la ainda. — Porque você está... contente, senhor?

— Porque eu não sei onde diabos estamos. Você é daqui, então eu confio que conhece o caminho para uma cidade próxima? Está mais perto do que o castelo, a propriedade do duque de Buccleigh?

O jovem assentiu, fazendo Rufus se sentir fraco com alívio súbito.

— Há, sim? Quantas milhas? Em qual direção?

Ele ouviu Amabel se mexer e pensou que sua voz ansiosa a perturbava. Ele tossiu, baixando o tom.

— Por favor?

— A cidade é ali, — disse o jovem confiantemente. Ele apontou para a esquerda. — O lugar é chamado Astmorland.

Rufus soltou um longo suspiro.

Ufa.

— É longe? — Ele perguntou.

— Uma milha, meia milha? — O menino encolheu os ombros.

Rufus fez um rápido cálculo mental. Isso levaria cerca de meia hora. Talvez menos.

— Mais perto ou mais longe do que Buccleigh?

Mais uma vez o menino fez um ruído desdenhoso. Foi um sutil desprezo, mas estava lá. Rufus controlou o impulso de acondicionar seus ouvidos. Afinal, o menino era tudo o que estava entre Amabel e uma morte lenta na estrada.

— Sim, — respondeu o menino. — Buccleigh está a uns bons cinco quilômetros daqui.

— Certo, — Rufus assentiu com força. — Nós estamos indo para Astorland.

Eles foram para a esquerda.

Demorou vinte minutos. Durante esse tempo, Rufus passou por todo o catálogo de músicas que ele conhecia. Ele cantarolou em voz baixa, vagamente, mais um ritmo de respiração do que uma melodia real.

Eu não quero acordar a lady.

Nos últimos cinco minutos, ele estava cantarolando sem parar, começando a notar que não conseguia sentir os dedos dos pés. Seus dedos estavam muito anestesiados. Ele estava desesperado. Se eles não chegassem à cidade em breve, morreriam. Ele estava apenas pensando no que poderia fazer... talvez tirá-los do cavalo e amontoarem-se embaixo do arbusto em algum lugar...

Luzes. Lá na frente.

Ele olhou fixamente. Lá, talvez a cinco minutos de distância, havia uma aldeia. Espalhado na encosta da colina, ele podia ver um aglomerado de casas com luzes nas janelas ainda. Ele achou que poderia chorar de alívio.

— Você estava certo, — ele falou ao menino. — Obrigado! — Ele sentiu seu coração subir. — E agradeço ao Céu também. Isso é um milagre, se é que houve tal coisa.

O garoto sorriu.

— Sim, vi muitos deles, senhor. Acho que encontrar vocês foi um.

— Sim, — Rufus assentiu severamente. — Eu vi muitos deles também.

Ele os levou até o portão.

— Quem vem lá...? — Uma sentinela gritou friamente, a voz doendo de sono. Rufus sentiu um momento de pena dele, suportado por suas próprias vigílias. Então ele tossiu, a irritação substituindo a pena bastante rápido.

— É Sir Rufus Invermore. E uma lady ferida. E algum sujeito com o nome de...

— Brogan, senhor. Brogan Brodley.

— Exatamente. Ele também.

Eles pararam.

— Ocupação? — A sentinela resmungou.

— Oh, por... — Rufus respirou. — A ocupação está defendendo a paz real. Se você me fizer ficar de pé aqui e me congelar, eu tomarei isso como quebrar a paz acima mencionada e ter sua cabeça na estaca.

— Muito bem, muito bem, — resmungou a sentinela. — Você sabe a floresta, senhor. Cannae tem corpos estranhos no exterior a esta hora da noite. Ruim para a cidade, então. Muito mal. Perigoso, senhor.

Rufus suspirou.

— Eu sei.

Ele ouviu o homem se deslizando para trás os ferrolhos do portão sendo abertos enquanto continuava explicando o quão perigoso era o ato que ele estava fazendo agora, e então ele estava andando, levando o cavalo atrás dele para a cidade.

— Obrigado, — ele disse com a mais leve mancha de ironia.

— Bom, bom senhor.

Rufus revirou os olhos.

— Vamos, — disse ele. Seu cérebro estava cansado com o frio e formar frases estava se tornando cada vez mais difícil. — Onde eu encontro a pousada? A pousada mais próxima. Antes que eu congele.

— Oh! Lá! Do outro lado da rua. Primeira à direita. A de arco redondo no pátio da frente. Não pode perder isso.

— Obrigado, — Rufus forçou com os dentes batendo. Então ele, o jovem chamado Brogan Brodley, e lady Amabel estavam andando pela rua da pequena cidade iluminada e de paralelepípedos para a pousada.

Lá dentro, Rufus encostou-se à porta, Amabel em seus braços, Brogan a seu lado e fez o melhor que pôde para ficar de pé.

— Precisamos de um quarto, — ele sussurrou. O calor súbito estava escaldando-o, suas bochechas coradas e doloridas. — Dois quartos, na verdade.

— Um xelim e seis pences senhor.

Rufus fechou os olhos. Ele não tinha mais dinheiro. Dormir no estábulo não ia funcionar. Esses dois poderiam morrer por aí.

— Senhor? — O menino sussurrou.

— O quê? — Ele perguntou. Ele se sentiu letal. Tudo o que ele precisava era do jovem tentando explicar por que estaria tudo bem dormir no estábulo e ele acabaria com ele.

— Senhor, — o jovem disse novamente. Seus olhos eram enormes. — Eu tenho o dinheiro. Veja.

Ele produziu uma peça de prata.

Rufus queria chorar. Ele suspirou em seu lugar.

— Obrigado, rapaz.

— Não mencione isso.

Eles pagaram o estalajadeiro, que estava olhando para o improvável trio como se pudessem ser uma alucinação selvagem enviada para atormentá-lo, e depois se arrastou pelas escadas.

Rufus permaneceu de pé o tempo suficiente para colocar Amabel na cama do quarto onde ainda havia fogo. Ele olhou para ela, esfregando a mão ainda adormecida para garantir que o sangue continuasse fluindo. Então, lentamente, sabendo que estava errado, mas incapaz de resistir, ele beijou sua testa. Então, ele saiu.

— Nós vamos pegar o outro, — ele suspirou para o jovem.

Eles entraram pela porta juntos. Rufus viu o menino sentado ao lado do fogo, gemendo em tormento enquanto o calor reanimava os dedos dos pés. Então ele desabou sobre a cama e logo adormeceu.


CAPÍTULO DEZESSEIS

UM ENCONTRO EM UMA POUSADA


O balanço do cavalo se movia sob ela, devagar, devagar. Como uma canção de ninar, como uma canção no berço, ela a embalou, alcançando sua alma. A noite estava escura e a estrada diante deles branca como giz em ardósia fresca.

Amabel descansou, sem saber quem a segurava. Ela estava segura e aquecida. Segura. E quente...

Ela se mexeu. Estremeceu. O fogo comeu em seus dedos, fazendo-os escaldar e coçar. Ela chorou e rolou, balançando os punhos juntos, tentando fazer a dor parar. Ao fazê-lo, ela se deu conta de outras coisas. Seus dedos congelados, tão frios que ela não conseguia senti-los. Seu ombro, queimando de um golpe, coberto com um cobertor de lã. A cabeça dela descansava em um travesseiro recheado de algodão.

Ela sentou-se.

Rangendo os dentes contra a dor em suas mãos, fechando os olhos enquanto endireitava os dedos, ela se fez flexionar cada um deles.

Ela abriu os olhos.

Onde estou?

A memória voltou de repente, muito depressa. Ela se levantou. Sua cabeça latejava e ela se sentou. Seus pés estavam doridos.

Os ladrões. Fora-da-lei. Rebeldes. O que quer que eles fossem.

Eles devem tê-la capturado. Ela levou a mão à cabeça e estremeceu. Ela ficou inconsciente, sonhando com a cavalgada, segura em braços quentes. Eles devem tê-la trazido para esta prisão, o que quer que fosse.

— Eu preciso ir!

Ela assobiou as palavras em voz alta e se levantou novamente. Os dedos dos pés dela doíam e ela se perguntou o que aconteceria quando a sensação voltasse completamente. Se eles estivessem quebrados, qualquer um deles, ela só descobriria sobre isso, quando fosse tarde demais para remediar.

Ela esgueirou-se no final da cama, procurando por suas botas. Ela as encontrou. Alguém os tirou e cobriu-a com a suave manta de lã. Eles eram ladrões corteses, para fazer isso!

Eu tenho que sair daqui.

Ela foi até a janela e olhou para fora. Ela estava em algum lugar no primeiro nível acima do solo em um prédio com paredes de pedra. Lá fora, o céu estava azul escuro, a lua enorme sobre as colinas negras. A cidade abaixo era amarela com tochas, apoiada em paredes, ocre com paralelepípedos e telhas. Ela balançou a cabeça.

Onde quer que esteja, devo fugir.

Com o despertar vieram novas lembranças. A lembrança do que aquele homem dissera. Duncan ou Douglas ou o que quer que estivesse em perdição na mente, sobre seu nome.

Lorde Callum.

O que ele estava jogando? Por que deter partidas de equitação?

Ela suspirou. Nada disso fazia sentido. No entanto, ela tinha que levar isso ao seu pai. Ele saberia o que fazer. Estremecendo e rangendo os dentes contra a agonia em seus dedos — ela tinha certeza de que um deles pelo menos estava quebrado no pé direito — ela se levantou.

Puxando as botas, ela foi para a porta.

Acabou.

Dirigiu-se para as escadas.

— Milady?

Um rosto apareceu em uma das portas e ela gritou.

— Não! — Ela gritou. — Eu tenho que ir!

Ela correu, os pés batendo nas tábuas de madeira.

— Milady... — o rosto tornou-se um corpo, um homem, perseguindo-a.

Amabel correu para as escadas. Ela escorregou e endireitou-se, soluçando em lufadas de uma respiração áspera e dura enquanto corria.

— Milady.

Ela parou. A mão em seu pulso estava quente, mas não constritiva. A pressão que a impediu de sua corrida precipitada era gentil. A voz... falava ao coração dela, deixando-a calma.

— Você! — Ela soluçou. Foi um grito de alívio, de espanto. Isso a surpreendeu, a profundidade do sentimento que experimentou em relação a ele.

Ela sentou-se sem aviso nas escadas. Então, sem esperar, começou a soluçar.

— Milady, — disse ele. Ele estava agachado no topo do patamar mais alto, mantendo uma distância respeitosa dela enquanto ela segurava o rosto nas mãos em concha e soluçava.

— Eu estou tão... desculpe, — ela fungou. — Eu sinto muito. Eu não fiz...

Ele suspirou. Muito gentilmente, ele estendeu a mão e segurou-a.

— Eu sei que você não fez, — disse ele, sem ela ter dito ou mesmo, realmente, compreendido dentro de si mesmo — o que ela não fez. — Eu sei. Está bem. Você está segura agora. Você está segura.

Soluçando se abraçou a ele, e foi só mais tarde, quando o medo desapareceu dela e sua mente lentamente voltou ao seu senso, que ela percebeu que estava agachada no chão e ele a segurava, muito gentilmente, em direção ao peito.

Ela ficou tensa e se afastou. Ele suspirou.

— Eu estou... est... desculpe, — ela disse novamente, trêmula, respirando enquanto sua voz vacilava com o fim de seus soluços. — Eu não queria acordar você. Eu pensei...

Ele colocou uma mão gentil em seu ombro.

— Não importa, moça, — disse ele suavemente. — Está tudo bem. Não poderia ter dormido muito de qualquer maneira, — ele disse novamente com um sorriso.

Amabel viu seu sorriso, mas não sabia se devia perguntar por que razão ele sorria. Ela retornou, hesitante, sentindo suas bochechas geladas se erguerem em um sorriso recíproco. Ela estava com frio!

— Cansada, — ela murmurou. — E congelada.

— Sim, — disse ele. Lentamente, tão devagar, ele se levantou e a pôs de pé. Respeitosamente, mantendo a mão no topo de seu ombro, ele a guiou, muito gentilmente, pelo corredor onde ela tinha acabado de sair. Ele a levou para o quarto dela e para a cama. Ele fechou a porta e certificou-se de que ela estava deitada na cama.

— Você precisa ficar debaixo desse cobertor, — disse ele gentilmente. Ele se ajoelhou diante dela e cuidadosamente tirou suas botas, da maneira que sua criada poderia ter feito quando era pequena. Então ele se levantou, virando a colcha na cama.

— Vamos, moça, — disse ele suavemente. — Entre para dentro.

Amabel suspirou. Ela recuou, tensa enquanto seu dedo quebrado, latejando com o fluxo sanguíneo de retorno e o movimento súbito, enviava sua nova mensagem de dor ao cérebro.

— Meu dedo do pé está quebrado, — ela sussurrou.

Ele franziu a testa suavemente.

— Qual?

— O segundo, — disse ela. — Pé direito. Eu cuidarei disso amanhã.

Ele sorriu.

— Eu posso tentar.

Ela olhou para ele. Surpreendendo-se por ter um sorriso irônico que quase fechou os olhos cansados e avermelhados.

— Senhor, confio a você a minha vida. Incessantemente, — ela respondeu. — Mas toque meu dedo quebrado e não vou parar de bater em você.

Ele riu. Ele tinha um sorriso bonito, ela notou novamente. Ele enrugou nos cantos de seus olhos, tornando aquele rosto severo e áspero uma planície de doçura.

Seus olhos permaneceram nos dele. O contato era mais íntimo que um toque, embora parecesse um toque de suas almas. Ela piscou, seu coração batendo no peito. Sua respiração estava entrecortada em sua garganta e seus pulmões estavam apertados, de alguma forma, apertados.

Ele sorriu e suas pálpebras se fecharam momentaneamente, então ele se mexeu onde estava sentado.

Sem aviso, ele estava sentado no final da cama e sua mão, macia, quente e gentil, se estendeu para tocar a dela. Amabel sentiu sua respiração parar.

— Sir, — ela sussurrou.

— Desculpe, — ele sussurrou. Ele beijou a mão dela. Ela fechou os olhos. Seus lábios fazia cócegas sobre os nós dos dedos, quentes e macios. A respiração era quente e gentil na pele e ela suspirou, desejando que o leve toque de seus lábios em sua pele pudesse continuar.

— Não, — ela respirou.

— Não, — ele falou. Ele olhou em seus olhos, seus próprios olhos escuros e aquecidos com a luz do fogo e por sua expressão impertinente.

— Não. Não se desculpe. — Ela sorriu.

Ele riu.

— Eu não sinto muito, — disse ele, virando a mão. Muito deliberadamente, ele beijou os dedos, cada um de cada vez. O toque de seus lábios traçou fogo nos braços dela, acendendo seu coração e fazendo-a sentir como se todo o seu corpo estivesse derretido, mergulhado em doçura pelo toque de seus lábios.

— Não, — ela sussurrou novamente.

— Não, — ele concordou. Ele segurou o pulso dela, o polegar firme e o toque reconfortante.

— Você sabe que não devemos, — ela sussurrou.

— Eu sei, — ele concordou. Ele se moveu para se sentar de modo que eles estivessem ao comprimento da palma da mão, os olhos olhando diretamente nos dela.

— Rufus, — sussurrou Amabel. — Há algo que preciso dizer, — disse ela solenemente. — Eu preciso falar com você. É tão estranho... — Ela mordeu o lábio, sacudindo a cabeça.

— Diga, então, moça. — Ele suspirou. Seus olhos estavam quentes nos dela e ela sabia que ele nunca iria trair sua confiança. — O que está incomodando você?

Ela sorriu, ouvindo como seu sotaque aumentava quando estava com sono. Ela balançou a cabeça.

— É... me deram... uma notícia problemática. Ontem, na verdade. É por isso que eu parti.

— Diga-me o que era, — ele murmurou. Ele segurou a mão dela em ambas as suas, um toque gentil e amigável. Nenhum sorriso com barreiras, nenhuma imposição. Apenas se importava.

Ela suspirou. Ela queria dizer a ele, mas por onde começar? Ela fechou os olhos.

— Ontem encontrei uma amiga. Estávamos costurando juntas e... e descobri... indiretamente, acontece que... — disse amargamente — que meu pai tomou providências sobre minha cabeça.

— Isso acontece, — disse ele com um sorriso triste. — Foi por isso que me juntei ao guarda. Mas isso é para outra hora. O que aconteceu...?

— Oh? — Ela franziu a testa, interessada em sua própria história. No entanto, ela queria contar por si mesma. Ela suspirou e fez uma pausa, tentando reunir seus próprios pensamentos. Ela nem mesmo entendia essa notícia. — Bem, eu descobri que meu pai tinha feito arranjos para um noivado.

— Oh!

Ela viu seus olhos ficarem imóveis, sem emoção, como se ele estivesse diante de um julgamento para execução. Ela franziu a testa, perguntando por que. Ele tossiu.

— Com quem? — Ele perguntou. — Quero dizer, presumo que não seja uma nova aliança? — Ele perguntou formalmente.

Amabel olhou para ele, a cabeça empurrada para trás. O que ele estava falando?

— Não, — ela disse lentamente. — Não, esta é a primeira vez que eu ouvi falar disso. A primeira vez que eu soube que... foi prometida.

— O quê? — Ele olhou para ela. Era o rosto dele que estava sem expressão agora, embora seus olhos ardessem.

— Sim, — disse ela, surpresa com a qualidade insondável de suas respostas. O que o afligia? — Eu descobri ontem, pela primeira vez, que estou prometida a Lorde Callum.

Ele a olhou fixamente. Então, para sua surpresa, seus olhos ficaram úmidos. Ele tossiu. Olhou para baixo. Havia uma profundidade de emoções inexploradas ali, muito complexa para se ler. Ela pensou ter visto surpresa, com certeza. Assim como descrença ou espanto. O outro, mais elusivo, parecia uma alegria. Talvez amor.

— Minha lady, eu... me desculpe, — disse ele. Ele puxou uma longa e irregular lufada de ar. Tossiu. Limpou a garganta lentamente. — Sinto muito... eu... não sei o que dizer. Não exatamente.

Ela balançou a cabeça, sorrindo para ele em completa confusão.

— Por que você está se desculpando, senhor?

Ele riu.

— Eu não sei, moça. — Ele esperou por um tempo, claramente pensando nisso. — Eu acho que... eu suponho que estou me desculpando por acreditar nele.

— Por acreditar nele? — Amabel levantou a cabeça, franzindo a testa para ele, totalmente confusa. — Quem?

— Sir Ivan. — Ele suspirou. Quando o nome não teve efeito sobre ela — quem era esse? Ela nunca tinha ouvido o nome do homem — ele se sentou de volta. Olhou em seus olhos. — Sinto muito, — ele disse novamente. Ele tossiu e abaixou a cabeça.

Amabel sorriu. Muito gentilmente, hesitando, estendeu a mão e apoiou-a no ombro dele. Ele estremeceu e então parou. Seus olhos olhavam nos dela.

Ele se inclinou para frente e ela também se inclinou.

Seus lábios se encontraram e eles se beijaram.

Amabel deixou a respiração fluir em uma corrida longa e prolongada. Ela sentiu seus lábios mordiscar os dela, o toque deles tão suave que parecia a mais leve ondulação. Então o contato endureceu, empurrando contra sua boca, desenhando primeiro um lábio e depois o outro entre os seus, para provar. Sua língua saiu, exploratória, e sondou a parte de seus lábios. Ela suspirou e cedeu a sua entrada. Sua língua quente se empurrou em sua boca, forte e pressionando.

Ela fechou os olhos e deixou o beijo se prolongar, depois ficou tensa e depois relaxou, enquanto seus braços se aproximavam dela. Ele segurou-a perto. A cabeça dela estava contra o peito dele, e os braços dele a puxaram contra si. Ela podia sentir o peito magro pressionando contra os seios e acariciou a palma da mão em suas costas, tremendo quando sentiu a ondulação de seus músculos sob os dedos.

Ele se inclinou para trás, os olhos se concentrando lentamente. Sua respiração estava irregular como a dela.

Ela sorriu quando ele recuperou o fôlego.

— Amabel, — ele sussurrou. — Eu não devo...

Ela sorriu. Seu corpo estava inflamado de desejo e ela tinha a sensação de que, de alguma forma, sabia o que desejava. Saberia exatamente o que fazer, embora sua mente não tivesse uma noção real do que se seguiria.

— Eu sei, — disse ela. Sua voz era pequena e ofegante e ela ficou surpresa com o som dela. Mais uma vez, parecia procurar coisas que sua mente racional mal captava.

— Amabel, — ele disse novamente. Desta vez ele disse o nome dela com tanta intensidade de desejo que ela sentiu o corpo se dissolver.

Ele a envolveu em seus braços e ela acariciou sua forma musculosa quando ele a beijou novamente, a língua grossa e exploratória em sua boca enquanto ele a empurrava de volta sobre os travesseiros. Ela suspirou e deixou seu corpo empurrá-la para baixo, para dentro da almofada, sua boca a devorando.

Então, enquanto seu corpo pulsava insistentemente, o calor se enchia e se tornava mais insistente quando ele deixou a mão dele cair na cintura dela, seus dedos fortes a massageando suavemente, ela suspirou.

— Não, — disse ela com uma espécie de arrependimento em sua voz. Ela sentou-se e olhou em seus olhos. Os dele eram suaves como a luz do fogo e cheios de desejo.

— Eu sei, — ele disse gentilmente. Sua voz rosnou.

— Eu sei, — disse ela, sorrindo com tristeza. — Confie em mim, estou com tanta relutância em desistir como você.

Seus olhos se arregalaram e para sua surpresa, ele gargalhou.

Ela sorriu também.

— Bem, você disse que devemos dizer a verdade um ao outro.

Ele rugiu de alegria novamente, e então ficou sério de repente.

— Sim, nós devemos. — Ele assentiu. — Minha lady, sabe então que eu digo a verdade quando falo que devo partir, mas... — ele balançou a cabeça, olhando para a cabeceira da cama novamente.

Ela assentiu.

— Eu sei. — Ela sabia o suficiente do corpo humano para saber algo de como se fazia réplicas de sua própria espécie. Ela conhecia os mecanismos disso, tanto de termos médicos desapaixonados quanto de descrições muito mais lascivas, todos implícitos e vislumbres, ela ouvira da tagarelice dos criados na colunata. No entanto, tudo isso somado a uma explicação justa do que seu corpo sentia agora.

Isso era algo que ela não podia fazer antes do casamento.

Ele suspirou.

— Eu deveria deixar você, — disse ele. Sua voz sangrava.

— Eu sei.

Eles se olharam carinhosamente.

— Estou feliz que te disse, — ela disse suavemente.

O sorriso que ele lhe deu foi como um nascer do sol.

— Eu também.

Ela piscou, sentindo os olhos se encherem de lágrimas repentinas.

— Bem, então.

— Bem, então.

Nenhum deles se mexeu.

— Boa noite, — ele sussurrou suavemente.

— Boa noite.

Ela quase não conseguia passar as palavras além do caroço que, de repente e sem garantia, bloqueava sua garganta.

Ele se levantou e, enquanto ela sorria através das lágrimas iminentes, saiu do quarto.

— Bom descanso.

Ela assentiu. Quando ele fechou a porta suavemente atrás dele, ela cobriu o rosto com as mãos e soluçou. Ela o amava. Ela sabia disso agora. No entanto, foi prometida a outro, e ela não achava que poderia suportar o pensamento disso mais do que poderia suportar a dor lenta do desejo que estava queimando nela como uma fornalha e ameaçava não deixá-la descansar até que saciasse aquele desejo com o homem que ela tinha, de repente e inesperadamente, começado a amar.


CAPÍTULO DEZESSETE

DECIDANDO O QUE FAZER


Rufus estava deitado na cama, incapaz de dormir. Não foram os roncos do menino do estábulo, embrulhados sob o cobertor ao lado do fogo, que perturbaram seu descanso. Não eram os pássaros que passeavam sonolentos na palha acima de sua cabeça, nem mesmo o barulho de panelas na cozinha enquanto alguém lá embaixo se movia devagar, colocando uma panela no suporte sobre a lareira, para ferver água quente para o banho ou chá.

Era ela.

Amabel.

Ele suspirou. Seu pobre corpo estava em chamas com sua imaginação. Lembrou-se da doce separação de seus lábios sob sua língua, o modo como sentira o corpo dela, arredondado e quente, ao empurrar-se sobre ela. Ele não conseguia dormir por falta dela.

Ele suspirou. Ela não estava dissimulando. Ele sabia que ela estava dizendo a verdade que não tinha ideia do seu noivado.

Isso não faz com que seja menos obrigatório, não é?

Ele suspirou.

O que eles fariam?

Ele fechou os olhos, arrancando sua imaginação de sua imagem nua — ele desenhou um corpo curvilíneo e sedoso, seus seios firmes e mamilos da cor das flores de cerejeira — para as soluções do problema.

Ele só conseguia pensar em uma. Se o pai dela se recusasse a mudar de assunto, era isso. Ele teria que partir.

Ele imaginou fazer votos e viver em Constantinopla com os cavaleiros, levando uma vida de silêncio, contemplação e viagem. Isso só seria a compensação por perdê-la. Ele suspirou. Ele deveria tê-la ou ver o mundo de outro ângulo. Essas eram as únicas opções que eram até mesmo vagamente iguais. Mesmo assim, elas estavam longe da verdadeira permutabilidade.

Sem ela, o mundo seria um vazio que ele procuraria preencher com distração.

Ele suspirou e rolou, sabendo que nunca iria dormir agora. Ele ouviu alguém começar a atiçar o fogo na cozinha e percebeu que era provavelmente uma hora antes do amanhecer — os servos na cozinha estariam se mexendo, preparando-se para fazer o café da manhã antes de qualquer outra pessoa — mesmo as pessoas que trabalhavam no quintal ou o estábulo estavam acordados.

Ele rolou para o final da cama e se levantou, alongando-se, com a cabeça cansada pela falta de sono. Ele se espreguiçou novamente e bocejou. Ele notou que os cobertores estavam cuidadosamente dobrados e percebeu que o jovem, que era um cavalariço de profissão, provavelmente estava acostumado a se levantar naquele momento. Ele balançou a cabeça e pegou uma túnica. Sua mão encontrou a que ele havia lhe emprestado ontem e, quando ele deu de ombros, um sorriso gentil cruzou seus lábios.

A túnica havia tocado sua pele. Ele suspirou, pensando nisso. Ele se perguntou, fugazmente, como seria tocar sua pele, explorar a maciez acetinada de seu corpo, dos ombros suavemente e arredondados até a barriga, da pele interna do pulso até a coxa e ainda mais abaixo.

Tremendo de prazer ao mero pensamento deles, ele puxou a túnica para baixo sobre sua cabeça e, sobre as costas largas e musculosas, ele alcançou as calças. Vestindo, ele jogou a água do jarro na mesa de cabeceira no rosto, assobiando com a frieza do gelo.

— Agora, — ele disse para si mesmo, trabalhando em um pente sobre o cabelo lentamente, — eu me pergunto para onde o garoto foi?

Ele alcançou a porta e colocou a cabeça para fora.

— Senhor?

— Oh! — Ele sorriu ao ver o jovem no corredor. Conseguira obter um par de calças de algum lugar e um casaco novo. Ele parecia bem conservado nas roupas novas, Rufus tinha que admitir.

— Aí está você, — disse ele, sorrindo. — Eu me perguntava onde você tinha ido.

— Eu estava fora, senhor, — disse o jovem. Ele não olhou para Rufus que se perguntava como, legalmente, ele tinha conseguido aquela roupa. Então ele se lembrou da peça de prata e pensou que havia uma discussão que ele havia pago por ela.

Ele suspirou.

— Bem, você está diante de mim, claramente. Agora, onde está o café da manhã?

O jovem riu.

— O cozinheiro está apenas começando, — afirmou. — Eu senti o cheiro dos pães pelo caminho... acho que eles terminaram. Descendo?

— Provavelmente, — Rufus bocejou. — Pode muito bem quebrar meu jejum, hein? Nada mais quer minha atenção. Meu estômago, por outro lado, tem seus planos.

O menino riu. À luz do dia, pensou Rufus, parecia mais velho do que quando o encontrou nas florestas.

— Meu estômago tem uma mente própria, senhor.

Ambos riram.

— Você parece melhor, — observou Rufus.

— Eu dormi, senhor, — ele disse simplesmente.

Ambos riram.

— E bem quente.

— Sim, — Rufus assentiu. Ele estremeceu. Ele nem queria pensar em como estava frio lá fora. Era algo que ele nunca quis experimentar novamente em todos os seus dias. — E é quente.

Ele deixou o jovem liderar o caminho e eles desceram as escadas em direção à cozinha.

— Droga! — disse a cozinheira, rindo quando entraram. — Testando sua paciência, gentil senhor! — Ela corou para Rufus, dando-lhe um olhar apreciativo que o fez sentir-se quente por dentro. — Agora, vão. Vocês dois! Vai! Sente seus corpos na sala de jantar, onde está quente. Vou demorar um minuto ou dois a mais com os pães antes que o café da manhã seja servido.

Eles saíram e a ouviram rindo sobre os homens e seus apetites.

Na sala de jantar, Rufus recostou-se pragmaticamente no assento e observou o fogo cintilar na lareira. Observou o jovem girar a cabeça para fazer comentários do salão, mais em paz do que estivera durante dias.

— Ei, rapazes!

— Ei Yersel, — um homem gritou.

Ele sentiu o estômago roncar apreciativamente e ficou agradecido quando, um minuto ou dois depois, a mulher do estalajadeiro apareceu com os pães. Ela também trouxe uma jarra de leite fresco, quente e grosso, e as sobras de qualquer queijo que tivesse aparecido no aparador na noite anterior.

— Vocês senhores festejarão bem, — ela comentou com um sorriso. — Esse é apenas o primeiro lote e você tem bastante tempo para outro antes que o resto chegue aqui. Eu gosto de homens que gostam de suas refeições. — Ela sorriu para Rufus com um piscar de olhos e ele riu.

— Deveríamos ficar aqui pelo resto dos nossos dias? — perguntou Rufus ao jovem, que assentiu.

— Poderia fazer com mais alguns cozinheiros como esse, senhor. — Ele quebrou um pequeno pedaço do tamanho da mão de um homem ao meio e mastigou um grande pedaço, fechando os olhos com prazer.

Rufus sorriu. Ele pegou um pouco de pão e serviu uma jarra de leite para acompanhar. Leves e levedados, o pão era exatamente o que ele precisava. Ele engoliu em agradecimento e sentiu o calor e a força retornarem a seu sangue após as provações de ontem.

— Então, — ele perguntou ao menino, interessado. — Você viveu em Edimburgo sempre?

— Não é assim, senhor, — ele respondeu. — Cresci em uma aldeia como esta, só que menor — Elmsley era assim chamado — e então meu pai foi trabalhar no estábulo, ele é um ferrador, e então comecei a trabalhar. Não é uma vida ruim — ele deu de ombros.

— Você quer ser um ferrador quando crescer? — Ele perguntou.

— Eu não sei, senhor, — disse o menino. — Eu treinei com ele e ele iria querer isso, claro, mas e eu? Não sei o que quero.

Rufus o considerou. Ele era leal, honrado, digno de inspirar confiança nos outros. Ele seria um bom cavaleiro.

— Eu poderia precisar de um escudeiro como você, — disse ele.

— Você poderia? — O menino olhou para ele, com os olhos arregalados.

— Sim, — disse Rufus agradavelmente. — Preciso de um escudeiro para afiar minha espada, polir o meu escudo e cuidar do meu cavalo...

— Senhor! — Os olhos do jovem estavam brilhando. — Senhor! É isso que você quer dizer! Eu poderia ser um escudeiro! Eu!

Rufus teve que esconder seu sorriso quando o jovem estava quase pulando do assento com excitação. Ele balançou a cabeça carinhosamente.

— Eu quero dizer isso, filho, — disse ele calorosamente. — Um sujeito como você, com um senso de confiabilidade... — ele balançou a cabeça. — Você é do tipo que nós queremos.

O jovem olhou para ele com olhos brilhantes.

— Ei, rapazes! — Ele gritou para o salão de onde os homens estavam vindo do pátio, a batida de suas botas enquanto caminhavam, fazendo Rufus sorrir com sua familiaridade.

— Ora você mesmo! Jovem pretencioso.

— Eu vou ser um escudeiro!

Rufus riu. O entusiasmo fez com que ele se sentisse velho, apenas vendo. Ele se inclinou para trás, as mãos cruzadas sob o queixo, observando-o pular.

Ele estava sentado, começando a segunda fatia de pão, observando o cozinheiro que aparecera com pães frescos, quando viu um movimento no corredor. Um pedaço de azul, descendo as escadas.

Ele se sentiu em pé sem ter percebido que fizera suas pernas obedecerem.

— Minha lady?

Ele olhou fixamente. Vestida com um vestido de lã branca que ela devia estar usando ontem, embora ele não tivesse visto na época, com algum tipo de xale ou manto que ela inventara de algum tecido em azul-ardósia, ela era a criatura mais linda que ele já havia visto.

Seus seios altos, o torso longo e os quadris bem formados eram mostrados com perfeição pelo vestido e ela estava pálida e desequilibrada por falta de sono, mas era magnífica. Aqueles lábios vermelhos e olhos azuis, com aquele longo cabelo encaracolado, eram tão impressionantes.

Ele sentiu a necessidade de se curvar e depois conduzi-la à mesa. Ela olhou para ele incerta.

— Bom dia, senhor, — ela sussurrou.

Ele sorriu. Parecia que ambos, ao mesmo tempo, recuperavam uma lembrança da troca da noite anterior, enquanto os dois coravam e seus olhares se mantinham.

— Sir, — ela disse provocando. Ele sentiu as palavras dela correrem pelo seu corpo e inflamar seu sangue. Ele sorriu. Seu rosto estava perto do dele e ele podia ver aqueles doces lábios vermelhos tão perto, sua superfície úmida implorando por beijos.

— Senhor! — Alguém disse e ele reconheceu a voz da cozinheira. Ele olhou em volta e percebeu que havia se enraizado na porta da cozinha, olhando para a moça. Ele pulou do caminho do cozinheiro, uma bandeja carregada de pães frescos na mão.

— Sinto muito, senhora.

— Oh! Bem, um homem com boas maneiras. E um apetite. Marque minhas palavras; você é um homem em dez mil, você é.

Sentiu-se corar e olhou para Amabel, que estava de pé com um rosto firme e tenso, tentando com muita força, percebeu quando viu os olhos dela dançarem, para não sorrir.

— Minha lady, — disse ele a Amabel. — Você virá sentar-se conosco, ficaríamos muito gratos por sua companhia, milady.

Ele sorriu para ela e ela correspondeu.

— Bem — disse Amabel, sorrindo para ele, — suponho que posso ser convencida a acompanhá-lo, com tanta educação e apetite, acho que seria uma tola se deixar passar!

Rufus também estava rindo agora, com os ombros tremendo. Ele sorriu e ela sorriu de volta, os olhos brilhando de felicidade. Ele sentiu seu coração batendo em seu peito e teve que lutar para não se inclinar e beijá-la nos lábios. Aqui, como havia sido no campo, ou na câmara anterior, ou no castelo, havia um espaço de facilidade entre eles.

O jovem, Brogan, estava olhando de um para o outro com um forte interesse. Rufus viu a expressão em seu rosto e sorriu.

— Bem, Brogan. Eu acho que você não precisa ser apresentado a minha lady Amabel.

— Lady Amabel, uh... não. Não, senhor. — Ele olhou para Amabel com uma expressão que Rufus reconheceu — o tipo que dizia que ele morreria apenas para fazê-la sorrir. Ele mordeu de volta um sorriso.

— Estou muito feliz em vê-lo, Brogan, — disse ela em voz baixa. — Acho que devo minha segurança pelo menos em parte a você. Eu que agradeço.

— Brogan insistiu que viéssemos aqui, — disse Rufus rapidamente. — Se ele não conhecesse o local e andasse conosco... ele também me ajudou, nós teríamos congelado.

— Obrigada, Brogan, — disse ela. — Nós lhe devemos uma dívida verdadeiramente incomensurável.

Rufus o viu olhando para a mesa, olhando para as mãos. Sua pele clara estava vermelha como um carvão e ele estava todo vermelho até o branco da raiz de seu cabelo macio.

— Bem, eu não fiz nada, madame...

— Bobagem, — disse Rufus amavelmente. — Você fez muito. E você pagou pelos nossos alojamentos.

— Brogan, — disse Amabel, sua voz suave. — Você deu a eles a moeda de prata? Para nós? Meu querido...

Isso foi demais para Brogan. Ele estava vermelho e gaguejou.

— Milady, eu...

Rufus riu.

— Você fez a todos nós um favor, Brogan, — disse ele.

Amabel estava procurando em sua bolsa, tentando encontrar uma moeda, para substituir a que ele pagara por eles.

Rufus levantou a mão.

— Ele pode ganhar de mim, — disse ele. — Ele vai ser meu escudeiro.

Repeti-lo para outra pessoa parecia tornar mais concreto para Brogan, pois ele encarava Rufus e depois Amabel, com os olhos enormes.

— Sim! — Ele disse, regozijando novamente. — Sim.

Ele pulou da cadeira e foi correndo através da sala de jantar para a cozinha. Rufus o viu abraçar a cozinheira e os dois dançaram em um carretel desajeitado. Ele sorriu para Amabel.

— Você deveria ter me deixado dar a moeda, — ela repreendeu gentilmente. — Eu queria agradecer a ele mesmo assim.

Rufus riu.

— Confie em mim, uma palavra sua vale um milhão de peças de prata.

Ela corou.

— Seu homem bobo, — ela protestou. — Lisonja não vai te levar a nada, sabe.

Mesmo assim, Rufus viu o sorriso cruzar seu rosto e ficou feliz por ter dito isso. Ele riu.

— Bem, então, — disse ele depois de um longo momento.

— Bem, então. — Amabel encontrou seu olhar. A mão dela se aproximou e Rufus a apertou.

Eles se sentaram juntos, os olhos fixos um no outro. Então Amabel suspirou e pegou o pão.

— Estou morrendo de fome, Rufus, — disse ela insistentemente. — E nós temos que conversar sobre o que fazer a seguir.

Ela pegou uma fatia de pão em seus dedos e Rufus assistiu com alguma surpresa enquanto ela rasgava ao meio e mordeu uma grande parte dele. Mastigando, ela o favoreceu com um olhar de pedra.

— O que?

Ele riu.

— Nada, minha lady. — Ele sorriu.

Ela riu também e ambos sentaram juntos rindo para si mesmos.

Mais tarde, quando ela comeu um dos pães pequenos e um pouco de queijo, limpou a garganta.

— Nós precisamos conversar.

— Você diz primeiro, — disse ele.

— Eu tenho uma pergunta e então você pode assumir. Onde estamos?

Ele riu.

— Acho que estamos em uma cidade chamada Astorland. Precisamos perguntar ao nosso jovem escudeiro, eu acho. Ele conhece essas partes melhor do que eu.

— Seu escudeiro, — Amabel sorriu. — Foi uma grande ideia.

— Ele é um bom menino.

— Ele é, — ela concordou. — Eu não poderia ter escolhido melhor. Para ele ou para o seu assistente.

— Eu também.

Eles se sentaram por um tempo. Amabel bebeu leite e ele a observou, sentindo um arrepio quando a viu limpar a boca, os lábios vermelhos úmidos de saliva, onde ela os lambeu uma vez.

Ela o pegou observando e olhou para ele.

Ele riu.

Ela corou.

Ele a viu sorrir e se inclinar para trás, alcançando o copo. Ela parou.

— Astmorland.

— Sim, — disse ele, sentindo-se preocupado, então. Por que ela estava franzindo a testa?

— Se não estou errado, esta é a detenção do duque de Astley.

Ele encolheu os ombros.

— Poderia ser. Por que... — ele parou.

Ela estava empurrando sua cadeira, de pé, uma pressa repentina a possuindo. Ela parecia preocupada.

— Não podemos ficar aqui, — disse ela rapidamente. — Ele está procurando por nós agora. Temos de ir.

— Ele? — Rufus franziu a testa. Ele também se levantou, sentindo-se preocupado. O que estava incomodando Amabel?

— Precisamos partir, — disse Amabel. — Se ele nos encontrar aqui, não sei o que vai acontecer. Mas acho que não será bom. O que me faz pensar... — ela fez uma pausa, com as pálpebras escorrendo sobre aqueles magníficos olhos de safira.

— Maravilha? — Rufus estava completamente perplexo.

— Venha, — disse ela com o comando característico. — Eu explicarei no caminho. Se alguém conseguisse extrair Brogan da cozinha? Vamos pegar um cavalo de reserva na pousada. Temos de ir.

Rufus suspirou e encolheu os ombros. Ele não tinha ideia do que se tratava. No entanto, quando Amabel dizia algo assim, sabia que era sensato ouvir. Tomando um punhado de dois pães para a viagem, dirigiu-se à cozinha para encontrar Brogan e pagar suas contas com a estalajadeira.

Eles tinham uma viagem para fazer. Um lorde para fugir. Em algum lugar, em algum momento, algo para descobrir também. Um mistério para resolver.


CAPÍTULO DEZOITO

RETORNAR PARA UMA CASA ANCESTRAL


Amabel caminhou rapidamente pelo corredor da pequena e apertada estalagem até seu quarto de dormir. Ela tinha muito o que pensar. Astmorland. Assim como o duque de Astley — o homem a quem seu pai supostamente a prometera— estava envolvido em algum subterfúgio que ela não entendia.

Por que ele está tentando impedir que as pessoas passem pela estrada para Buccleigh?

Essa era a explicação mais óbvia, não era possível que os homens fossem colocados ali para detê-la simplesmente — ninguém sabia que ela iria cavalgar até lá hoje. Deve ser que ele estava tentando isolar Buccleigh da capital de alguma forma. Nesse caso, por quê?

— Eu preciso encontrar o meu pai.

Amabel empacotou rapidamente enquanto pensava sobre isso. Não que houvesse muito para empacotar — sua bagagem tinha sido roubada. Tudo o que ela tinha era o dinheiro que escondia no cinto, o que era pouco e precioso.

Ela se sentou na cama com o coração batendo forte. Ela tinha dois mistérios para resolver. O primeiro era a cerca do duque — o que ele estava fazendo e por quê? — e a segunda era a mais doce: o que ela sentia por Rufus?

Ela sentiu o peito apertar só de pensar nisso. As lembranças da noite anterior eram tão doces que fizeram seu coração doer com sua ternura. Ela nunca se sentira assim sobre alguém antes. Ela confiava nele. Ela gostava da companhia dele. Ela sentia como se ele conhecesse cada parte dela e ela soubesse o mesmo nele.

Eu não posso oferecer outra explicação além de que o amo.

Ela estava cantando quando desceu as escadas.

Estava nublado lá fora, o dia escuro e prometedor de neblina. No entanto, ela estava tão feliz. A primavera estava aqui e seu coração estava cheio de sol.

— Minha lady?

Ela se virou, as bochechas rosadas com o doce embaraço quando ouviu a voz dele atrás dela.

— Oh! Meu lorde. — Ela corou. — Eu estava me preparando para ir.

— Você não deveria estar envergonhado, — ele disse suavemente. — Eu amo sua voz.

Ela olhou para ele.

— Obrigada, meu lorde.

Ele sorriu. Seu sorriso era tão quente que iluminava seus olhos e ela se sentiu inclinada, querendo sua boca na dela. Ele se inclinou e seus lábios se roçaram juntos.

— Bem! Passando por aqui, por favor...? — Uma voz alegre interrompeu o beijo.

Amabel e Rufus voaram se separando. Ela olhou para longe, quente de vergonha. Rufus estava sorrindo

— É claro, senhora estalajadeira, — disse ele. Amabel ouviu-a rir alegremente quando Rufus se afastou para ela com uma reverência demonstrativa. Ela sorriu.

Eu tenho muita sorte em conhecer alguém tão atraente.

Ela olhou pela porta para o quintal, onde alguém conduzia cavalos para o pátio do estábulo, prontos e selados. Ela franziu a testa para Rufus, que assentiu.

— Devemos ir, — disse ele. — Eu organizei um cavalo para dois de nós. Brogan vai comigo. Boa cavalgada, — acrescentou ele.

Amabel sorriu. Ela se sentiu um pouco desapontada por não estar cavalgando com ele, mas entendeu muito bem que escândalo seria se eles entrassem em Buccleigh juntos.

Não posso dizer ao meu pai que ouvi falar de seus planos quando já estou cavalgando ao lado do homem que escolhi.

Ela sorriu. Em certo sentido, seria mais fácil. Se o duque de Astley a achasse maculada, ele provavelmente iria embora.

E se ele é tão peculiar quanto pensamos que é, isso seria certo.

Ela não podia imaginar que seu pai desejaria uma aliança com um homem que estivesse claramente envolvido em uma conspiração. Porque se era assim, por que mais deteria as pessoas na estrada?

Quem ele está procurando? Um mensageiro? Um enviado?

Ela piscou, percebendo que estava em pé no corredor, olhando para fora da porta para o quintal.

— Nós devemos ir, — disse ela, assentindo. — Obrigada por organizar o cavalo extra.

— Não foi nada, milady, — disse ele suavemente. — Como está, devemos nosso alojamento atual para nosso cavalariço de mãos abertas. E seu antigo presente.

Ela sorriu.

— Eu poderia ter dado a ele o dinheiro e ele não precisava compartilhá-lo conosco.

Rufus riu.

— Eu acho que não.

Eles sorriram um para o outro, um sorriso conhecedor que disse a Amabel que ele se lembrava da noite anterior e gostava tanto quanto ela. Ela corou.

— Devemos ir, — disse ela. — Estou pronta.

Ele riu.

— Você me bateu nisso, milady. — Ele fez uma careta. — Eu posso ver que vou ficar na ponta dos pés durante esta jornada...!

Ela riu, sentindo-se mais feliz do que há séculos.

— De fato, — disse ela.

Ele sorriu e, virando-se, subiu as escadas. Amabel ficou no corredor e logo se juntou a Brogan.

— Minha lady! — Disse ele, olhando para ela com grandes olhos castanhos.

Amabel sorriu.

— Pronto para ir?

— Tenho todos os meus pertences, — disse ele com orgulho, batendo no bolso, que ainda tinia de novo. Ela notou que ele tinha roupas novas e se perguntou onde ele as tinha achado.

— Você vai estar quente o suficiente? — Ela olhou para o quintal.

— Tem que estar, — disse ele com um encolher de ombros. — Queria que eu fosse uma ovelha, milady. Crescendo meu próprio pelo.

Os dois riram e ainda estavam rindo quando Rufus desceu as escadas, com o manto pendurado no braço, um pequeno saco sobre o ombro direito. Amabel viu e franziu a testa.

— São provisões para a jornada, — disse ele.

— Ah. Uma doação da nossa cozinheira?

Ele corou vermelho.

— Sim.

Ela riu.

— Bem! Entendo. Um homem que pode obter alimentos com a força de seu sorriso é o tipo de amigo que precisamos. Eh? — Ela sorriu para Brogan.

— Eu também tenho comida, — disse Brogan com orgulho.

Todos eles riram.

No quintal, quando montou no cavalo de caça de Rufus, passou-lhe o manto.

— Rufus, — disse ela em protesto. Eles perceberam que ela nunca usou o nome dele quando estavam sozinho e ambos coraram. — Eu aguento, — ela continuou. — Você vai ter frio.

— Não, eu não vou, — ele disse simplesmente. — Você precisa disso e eu me preocupo se você não o tiver. O que me deixará mais desconfortável do que o frio faria. Então vamos lá.

Amabel sorriu.

— Obrigada.

Ele colocou-a gentilmente ao redor dos ombros dela, e Amabel sentiu o traço de seu dedo em seu ombro como uma queimadura, de tão forte que ela sentiu. Ela sorriu em seus olhos e ele deixou seu dedo ficar lá por um momento. Sua garganta trabalhava, engolindo em seco, e Amabel imaginou que ele sentia o mesmo que ela. Ela sorriu.

Brogan estava observando-os com interesse. Ele não disse nada e Amabel ficou vermelha, sabendo que havia notado a profundidade de sua consideração.

Bem, se é tão óbvio o que sentimos um pelo outro, isso é ruim?

Ela sorriu. Provavelmente não.

Todos eles montaram e cavalgaram para a estrada.

No instante em que saíram da cidade, Amabel se virou para Rufus.

— O que você acha...?

— E se...

Ela riu enquanto os dois falavam juntos.

— Você primeiro, — ela ofereceu.

— Não, você.

Ela riu.

— Muito bem. Eu queria dizer que precisamos discutir o que está acontecendo. Acho que fomos impedidos de ir a Buccleigh por algum motivo. O que significa que precisamos chegar o mais rápido possível. Precisamos descobrir o que está acontecendo.

Ele assentiu.

— Eu estava pensando que devemos contornar a estrada principal de alguma forma.

Amabel assentiu.

— Precisamos nos manter nas estradas secundárias. Alguém sabe, — disse ela, incluindo Brogan na discussão com uma voz levantada, — como chegar a Buccleigh sem precisar seguir o caminho principal até lá?

— Eu sei, — Brogan falou em sussurro.

Amabel e Rufus riram.

— Nós sabíamos que você sabia, — disse Rufus.

Atrás dele na sela, Brogan brilhava de orgulho.

— Bem, se pegarmos essa estrada, e depois seguirmos para o Norte na próxima bifurcação, e depois para Leste na próxima, teremos percorrido a aldeia e entrado pelo portão Norte. Tanto quanto eu posso entender — acrescentou ele.

Amabel sorriu.

— Isso parece sensato para mim. Não é assim, Rufus?

— Parece muito sensato, — ele concordou. — Vamos lá.

Eles cavalgaram.

A primeira virada para o Norte veio depois de cinco quilômetros de cavalgada. Amabel sentiu as costas endurecerem, pois mantinham um bom ritmo de trote. Ela observou Rufus. Ele parecia relaxado e à vontade. Cavalgar com ele era um bom momento para estudá-lo, e ela o observava pelo canto do olho, aproveitando o tempo livre para olhá-lo um pouco.

Ele é bonito.

Ela deu um olhar furtivo para o lado daquele musculoso corpo, do jeito que ele se sentava no cavalo mostrando perfeitamente como os músculos da cintura e do peito dele deveriam estar bem desenvolvidos. Ele montava com graça tensa, a maneira como ele fazia tudo. Ela sentiu suas bochechas queimarem quando percebeu que estava pensando em como seria se...

— Milady!

— Sim? — Ela piscou, ouvindo-o chama-la. Ela se virou para olhá-lo, o cabelo seguindo a cabeça em uma espuma de cachos. Ela desejou que ficasse onde ela tinha amarrado, mas continuou escapando de seus laços.

— Estamos na metade do caminho, ou assim meu informante me disse, — disse ele, com um aceno de cabeça na direção de Brogan.

Brogan sorriu.

— Ah, senhor. Você me faz parecer mais esperto do que sou.

Rufus riu.

— Eu duvido que você se importe com isso, hein?

O menino corou e Amabel riu.

— Fico feliz em ouvir isso, — disse ela, falando para cobrir seu desconforto de ter sido pego em tais pensamentos maliciosos. — Quando você acha que vamos chegar?

— Meio-dia, ou por aí? — Rufus deu de ombros.

Seu informante assentiu.

— Deveria estar lá às onze da manhã, senhor. Não é longe.

— Mmm. Bom — Rufus assentiu. — Embora seja uma vergonha, não precisaremos dos alimentos para o almoço.

Amabel riu.

— Eles não vão se desperdiçar. Estamos sempre precisando de provisões.

— Aye! — Brogan disse, animadamente verbalizado. — Eu disse que o meu estômago é cruel, não disse? Nunca me deixa dormir por falta de reclamações.

Todos eles riram. Amabel, com o cabelo solto na brisa, num simples vestido e botas, cavalgando sob a manhã de primavera nublada, estava mais feliz do que se lembrava de estar.

— Vamos lá, então! — Rufus sorriu. — Corra para as florestas.

— Rufus... — Amabel disse em protesto. No entanto, ele estava correndo. Rindo, ela se juntou a ele e, o cabelo fluindo ao vento, rindo e ofegando enquanto o ar frio da manhã lhe enchia os pulmões a cada respiração.

Eles alcançaram as árvores quase ao mesmo tempo.

— Eu ganhei! — Rufus disse contente.

Amabel lançou-lhe um olhar.

— Apenas espere, Rufus Invermore.

Ele sorriu e novamente o sorriso estava tão carregado que ela tinha certeza que o ar iria pegar fogo. Ela suspirou.

— Você acha que nós...

— Vai!

Rufus gritou em reflexo enquanto uma lança passava por sua cabeça. Amabel sentiu o cavalo sair de debaixo dela e não havia nada que pudesse fazer para detê-lo.

— Rufus! — Ela gritou. Agarrou-se às rédeas, sentindo o cavalo correr precipitadamente pelo caminho à frente deles, uma trilha de lama que era pouco mais que uma trilha de rota entre as árvores. Ela se virou, olhando fixamente, apavorada por Rufus e pelo garoto, que não podia se arriscar a ir tão rápido com dois cavaleiros. E se ele tivesse sido atingido?

— Rufus!

Ela ouviu os cascos então. Ela olhou para trás. Ainda assim, ela não podia fazer seu próprio cavalo parar.

— Pare, — ela sussurrou. — Por favor. Pare. — Ela recuou nas rédeas, acariciou o pescoço da criatura, recostando-se... mas nada, ela sabia, não iria parar o cavalo. Ele estava apavorado.

Os sons das florestas estavam ao redor dela, e o rugido do casco batia enquanto seu cavalo, bufando em pânico, voava através das árvores.

— Pare! — Amabel gritou. Ela estava plenamente consciente de quão perigoso era uma corrida precipitada. Eles estavam em floresta densa e seu cavalo correndo poderia colher em um galho que poderia derrubá-la sem sentido ou quebrar sua espinha. Ela viu uma árvore à frente e gritou, estendendo a mão para cobrir o olho direito do cavalo.

Cego daquele lado, seu cavalo virou para a esquerda. Na hora certa. Eles passaram pela árvore.

Amabel estava soluçando agora, aterrorizado e sem fôlego. Onde eles estavam? Eles haviam deixado o caminho e corriam na floresta. Ela estava em um curso que não podia parar. Para algum destino desconhecido.

— Por favor, oh por favor...

Cascos. O rugido deles, outro par, vindo pela floresta atrás. Ela ficou tensa. E se fosse um inimigo? Ela mal podia se arriscar, pois precisava ficar de olho no caminho...

— Amabel!

Rufus.

— Eu não posso parar!

Ela o ouviu grunhir e ouviu a velocidade aumentar. Ela segurou a respiração.

— Não! — Ela gritou. — É perigoso. Vá..! — Ainda assim ele veio. Ela ouviu o cavalo se aproximando do seu e de repente ele estava ao lado dela. Ele agarrou o braço dela. A puxou para o cavalo dele.

Amabel sentiu o coração dela se acelerando quando ele se aproximou, agarrando-se no pomo de sua sela. Ele segurou firme, e então se inclinou para frente.

— Cubra o olho esquerdo! — Ele gritou.

Amabel fez isso. Ao mesmo tempo, ele cobriu o direito. O cavalo parou.

Amabel sentiu um grito de espanto em sua boca quando ela foi jogada para trás e depois, ainda mantendo-se sentada, caiu com força de novo para a frente. Toda a sua coluna se agitou e ela pensou que seu pescoço poderia quebrar se ele fizesse isso mais uma vez. Ele não fez.

Tremendo e suando, seu cavalo parou nas árvores. A floresta estava em silêncio. O único som era o farfalhar de alguma pequena criatura, indignado com a intromissão inoportuna deles, correndo na vegetação rasteira. Ela ouviu o fôlego de seu cavalo e o dele e o seu próprio. Ela estava chorando. Em algum lugar no alto dos galhos, um tordo cantando ficou em silêncio.

— Rufus, — ela soluçou. — Obrigada. Você... você salvou minha vida.

Ele olhou nos olhos dela, apertado com preocupação.

— Eu quase perdi você, — disse ele. Sua voz era rouca de emoção. — Eu não posso acreditar o quão perto...

Ela suspirou. Ainda sem fôlego com o terror recente, ela estendeu a mão. Tomou a mão dele. Ele agarrou a dela.

— Eu não posso acreditar no que... aconteceu... — ela suspirou, cansada. — Ele só... foi... e... — ela balançou a cabeça, apoiando-se no pomo da sela, sentindo sua reserva se lavar em lágrimas. Ela estava tão cansada, tão aliviada. Ela estava tão assustada.

— Você deve pensar que eu sou inútil, — ela confessou trêmula, tentando secar as lágrimas de suas bochechas. — Deixando meu cavalo disparar desse jeito.

— Ah, Amabel... — Rufus se inclinou. Ele pegou as mãos dela. — Amabel. Como você pode pensar que eu pensaria isso? Eu te amo, Amabel. Eu te amo.

Amabel olhou para ele. Ela sentiu seus olhos fixos nos dele e seus olhares pareciam como se eles se tocassem em todo o espaço e tempo, toda a sua vida e todo o seu coração entrando no dele. Ela escorregou da sela e ele desmontou também, de pé em frente a ela.

Em um espaço entre as árvores e a floresta que estavam em silêncio, exceto pelo lento fôlego de seus cavalos e sua própria respiração, eles se beijaram.

Amabel deixou sua boca aceitar a língua sondadora e aproximou-se dele, os corações descansando juntos. Ela podia sentir a respiração entrecortada e o batimento cardíaco lento, como se estivessem dentro dela, parte de seu próprio corpo. Ela colocou os braços ao redor dele e saboreou o doce sabor da boca dele na dela. Seus lábios — duros e apaixonados — se pressionaram por conta própria. Quando eles se afastaram, seu coração estava acelerado. Ela olhou nos olhos dele.

— Eu amo você, Rufus. Muito. Muito...

— Eu também te amo, Amabel Blackheath. Te amo muito. Com todo meu coração. Para sempre.

Eles se beijaram novamente, e pareceu tão solene quanto um culto na igreja, ali no silêncio entre as árvores.

Eles estavam apaixonados. Eles eram felizes. Era tão bom quanto estivessem prometido.

Amabel se endureceu quando ela sentiu as mãos dele acariciando suas costas. O clima do abraço mudou, tornando-se mais íntimo, mais quente. Ela estava tremendo, embora não fosse de frio. O corpo dela se pressionou contra o dele e ela percebeu que as mãos dele estavam descendo pelas costas dela, suavemente, procurando. Ele agarrou-a e puxou-a para mais perto, sua boca devorando a dela. Ela respirou quando seu corpo se derreteu nas sensações doces que ele despertava nela.

Quando a mão dele tocou seu seio, Amabel ficou tensa. A sensação que corria por seu corpo era tão poderosa que quase chorou em voz alta. No entanto, não era um sentimento que ela pudesse seguir. Aqui, não. Agora, não. Ela ficou tensa e ele se moveu.

— Rufus... — ela suspirou.

— Amabel...

Seu rosto era uma máscara de dor e ela desejou que pudesse se entregar aos sentimentos que estavam fluindo dentro dela e sobre ela e, levá-la a fazer coisas que nunca teria imaginado, nunca imaginaria que ela quisesse. Ainda assim, não havia como ela conseguisse fazer isso. Agora, não.

Ela balançou a cabeça. Suspirou sem fôlego.

Ele riu. Sua risada estava tingida de admiração.

— Eu sei, — ele disse suavemente. Ele fechou os olhos. — Nós não podemos.

— Oh, Rufus, — ela respirou. — Eu desejo que... — ela balançou a cabeça. — Não importa. Precisamos fazer o que pudermos. Mas primeiro — disse ela com um sorriso irônico — devemos chegar a Buccleigh.

Ele sorriu.

— Sim, — ele concordou gentilmente. — Nós devemos.

Ela olhou ao redor, a clareira se reafirmando em sua visão. Ela sentiu como se tivesse estado em outro lugar nos últimos minutos, transportada para algum lugar novo pelo amor declarado. Agora, ela estava de volta em uma clareira no sol do fim da manhã de primavera, as sombras traçando padrões de mudança no molde das folhas sob seus pés. Ela caminhou até o cavalo, se balançando levemente de exaustão.

Ela deslizou o pé no estribo e montou. Rufus levantou-se para a cabeça do cavalo e olhou para ela, olhos suaves e tristes quando ela lhe deu um sorriso gentil e virou o cavalo.

— Nós cavalgamos para o Sul, — disse ela. — Precisamos redescobrir o caminho.

Ele assentiu.

— Nós vamos para o sul.

Ele montou e eles voltaram pela floresta.


CAPÍTULO DEZENOVE

SITUAÇÃO PREOCUPANTE


— Nós conseguimos! — Respondeu Amabel. Com seu cabelo solto fluindo na brisa da cavalgada, suas bochechas brancas cheias de calor e seu sorriso iluminando seu rosto, ela estava tão deslumbrante que Rufus sentiu como se uma lança o perfurasse.

Ele sorriu.

— Boa! Onde agora? — Ele disse. Sua voz era rouca e ele tossiu, maravilhado com o efeito que ela tinha sobre ele.

Eu não posso chegar perto dela sem pensar em coisas que não deveria estar pensando.

— Certo! — Amabel chamou de volta, virando-se. Ele estava atrás dela e admirava sua postura, reta e dura, claramente acostumada a cavalgar. Ele suspirou. Ela era tão bonita e tinha capturado seu coração.

Estou apaixonado por ela. Eu quase não acredito que ela sente o mesmo.

Ele não podia evitar a sensação de admiração que inundava seu peito, um prazer contundido. Os pensamentos dela eram tão fortes que eram quase dolorosos.

E não consigo parar de olhar para ela.

Seus olhos estavam tão enlouquecidos quanto o resto dele, demorando-se em sua cintura estreita, seus quadris largos. O cabelo dela.

— Brogan! — Ele a ouviu gritar.

Ele soltou um suspiro de alívio. Portanto, o menino tinha feito isso. Ele havia lidado com o assaltante rapidamente, e então deixou Brogan sozinho no caminho, indo encontrá-la.

— Brogan?

Ele se inclinou para frente, enviando seu cavalo para trás dela. Ele viu seu novo escudeiro sorrindo para sua lady como se ela fosse o nascer do sol no Paraíso.

Agora há uma dificuldade imprevista.

Ele riu. Ele não esperava que seu pobre escudeiro um dia ficaria tão apaixonado por sua mulher quanto ele próprio.

Ela largou as rédeas e se deslizou para fora da sela com facilidade, fazendo-o respirar com sua graça consumada.

Ela é tão adorável andando como cavalgando, sentada no palácio ou no salão de jantar.

Ele nunca tinha visto uma mulher como ela antes. Uma verdadeira lady. Tão bonita coberta de manchas na enfermaria como ela estava em uma máscara.

— Brogan? — Ela disse. — Que notícias tem?

— Descobri muito, senhora, — disse ele alegremente. ? O Sir tem um balanço de espada como você não teria visto antes. — Ele sorriu para Rufus, que levantou uma sobrancelha sarcasticamente. — Ele terminou com o homem, — explicou sucintamente.

— E você deu uma boa olhada no cadáver? — Perguntou Rufus.

Amabel lhe lançou um olhar de repugnância e ele sorriu, encolhendo os ombros.

— Alguém tem que ver, — continuou ele. — Precisamos descobrir quem ele é. O que ele está fazendo aqui? O vilão tentou nos matar — acrescentou ele com uma súbita pontada de raiva.

Amabel suspirou.

— Ele tentou. Embora eu ache que ele era apenas um vagabundo inofensivo.

— Ele era, milady, — disse Brogan, boquiaberto e com admiração, como se ela tivesse acabado de prever seu futuro.

Apenas espere até que ela faça, jovem.

Rufus riu.

Então vamos ver o quão surpreso você estará.

Ele sorriu. Parecia que não havia fim para as surpresas dela. Ela o surpreendia com algo novo a cada dia.

— Então, o que mais havia para descobrir? — Amabel estava perguntando a ele pensativo.

— Não muito, — disse o menino com um sorriso e um levantar de um ombro, como se sugerisse que tudo isso era esperado. — Ele estava carregando seis pence, no entanto. E eu encontrei isto. — Ele tirou um objeto de estanho. Rufus pegou. Ele olhou fixamente.

— É assim que parece? — Ele disse para Amabel. Ela ficou ainda mais pálida, olhos austeros no rosto de pele branca.

— O brasão do clã do duque, — disse ela. — Ele é do clã McDonahue.

Brogan olhou para ela.

— É?! Então ele é.

Rufus quase deixou cair o broche que segurava em estado de choque. Ele olhou para o broche, a cabeça do falcão de alguma forma contaminada agora. Ele passou sem palavras para Brogan.

— Fique com ele, — ele disse. — Mas coloque em algum lugar seguro. Nós precisaremos disso, — ele adicionou.

— Devemos mostrar a meu pai, — Amabel concordou com firmeza.

— Sim, — Rufus assentiu. — Nós devemos.

— Temos que nos apressar — disse Amabel, expressando seus próprios pensamentos enquanto se dirigia apressadamente a seu cavalo.

— Sim. Nós devemos. Brogan?

— Sim, milorde?

— Coloque o broche no meu alforje. Na verdade, não. Lady Amabel?

— Sim, sir? — Ela olhou para ele, os lábios ligeiramente separados. Ele sentiu seu membro inchando de desejo. Ele desejou poder empurrar sua língua naquela abertura, provar seu sabor. No entanto, ele não podia. Eles tinham que se apressar. Brogan estava olhando para ele novamente. Ele suspirou.

— Eu acho que você deveria ter isso, — ele decidiu, soltando o ar em um longo suspiro.

— Mas, senhor, — respondeu Amabel. — Nós vamos juntos...

— Não, — disse ele. Ele olhou para as mãos, sentindo-se miserável. — Eu deveria ficar longe. Melhor se você encontrasse seu pai sozinha. Não quero estar junto. Além disso — acrescentou ele com uma sobrancelha erguida na direção de Brogan, — ele e eu temos coisas para fazer. Nós seremos melhores um ao outro se estivermos na cidade. Nós vamos para lá, — ele adicionou, tentando se convencer mais que ela.

Amabel pareceu confusa por um momento e desejou novamente que pudesse segurá-la e molhar seu rosto com os lábios. No entanto, ele não podia. Sua expressão se iluminou.

— Eu acho que você está certo, — disse ela com firmeza.

Ele ouviu a tensão em sua voz e queria chorar. Ele ficou surpreso que ela parecesse tão relutante quanto ele próprio em se separar agora. Ainda assim, fazia mais sentido que eles se separassem aqui. Ele suspirou.

— Nós vamos chegar ao portão juntos. Então você pode entrar e nós vamos até o portal dos comerciantes. Em volta da costas. Podemos ser ferreiros ou algo assim, hein? — perguntou ele ao menino.

Ele riu.

— Nós podemos ser mais como mensageiros, senhor, — disse ele candidamente. — Não temos nada para negociar.

Rufus revirou os olhos para o céu.

— Oh, por... muito bem. Se você diz, nós somos...

— Não são mensageiros. — Amabel falou em voz alta.

Ele olhou para ela.

— O que...? — Ele perguntou suavemente.

— Não há portadores de mensagens, — disse ela com firmeza. — Escolha outra identidade. Eu acho que sei o que está acontecendo aqui. E se eu estiver certa, a última coisa que vocês querem é ser conhecidos como homens da capital. Confie em mim.

Rufus sentiu os olhos se arregalarem de surpresa, mas assentiu.

— Sim, milady.

Amabel suspirou.

— Espero que descubramos mais, — ela acrescentou suavemente. — Eu posso estar errada, mas... tenha cuidado?

Rufus sentiu o coração doer.

— Eu terei, — ele disse suavemente. — Você tem minha palavra.

Ela sorriu para ele.

— Bem, então, — ela disse. — Agora, temos uma ideia do que está nos perseguindo, é melhor irmos. — Ela sorriu, um sorriso que fez com que a sua espinha tremesse. — Se não queremos que quem quer que seja passa nos pegar.

Ele viu que ela estava sorrindo, aquele sorriso que dizia que ela estava tão bêbada do perigo quanto ele mesmo. Ele sentiu seu coração bater mais rápido, sentindo-se acelerado. Ele sentiu, pensou, como um cão de caça deve sentir, no momento em que a caça começa. Alerta, ansioso. À espera de algo.

Amabel subiu no estribo e virou o cavalo. Juntos, todos eles cavalgaram para o Leste. Indo para o salão ancestral do pai e novas informações.

Enquanto cavalgavam, Rufus encontrou seus nervos se debatendo de preocupação. O que aconteceria quando chegassem ao salão da família dela? Ela seria levada, unida ao pai. Então o que? Será que ele iria repreendê-la, mandá-la casar com esse homem que, por tudo que eles sabiam, os mataria aqui na floresta? Ele ficaria bravo com ela por seu tempo sozinho com Rufus? Será que ele proibiria que eles se encontrassem?

Se ela passar por aquele arco, pode não voltar.

Ele fechou os olhos. Ele não queria pensar nisso. Eles se conheciam há duas semanas ou mais, mas já se sentia como se o sol deixasse de brilhar, se ela fosse levada.

— Vamos, idiota, — ele sussurrou para si mesmo. Ele estava com raiva. Como ele poderia deixar de ser assim? Ele tinha que entregá-la aos cuidados de sua família. Qualquer outra coisa era secundária.

— Senhor? — Perguntou Brogan.

Rufus apertou os dedos nas rédeas, uma pontada de irritação passando por ele.

— Nada, Brogan, — disse ele com voz rouca. — Só pensando em voz alta.

— Oh. — Brogan parecia surpreso, como se o conceito fosse completamente estranho. Então ele suspirou. Rufus sentiu-o relaxar onde estava sentado atrás dele, segurando a sela com as duas mãos. — Bem, tudo bem então. Pelo menos um de nós está pensando, senhor. Eu estou apenas me agarrando a querida vida aqui. Tentando não cair.

Rufus não queria se divertir, mas ele não pôde deixar de rir.

— Aguente firme, então, — ele disse com uma risada. — Nós estamos indo para cima por algum tempo.

— Maravilhoso, — Brogan contestou sombriamente. — Apenas o que eu gosto. Eu já sinto como meus testículos estão serrados ao meio. Um pouco mais chocante e eu vou ser colocado em agonia, senhor. Então, você sabe.

Rufus riu novamente.

— Brogan? — Ele disse.

— O que senhor?

— Lembre-me de não contar sobre meus planos. Eu vejo que você sempre terá algo para reclamar.

— Sempre, senhor, — concordou Brogan. — Se não estou reclamando, então não sou eu. Meu avô costumava dizer que a língua podia enrolar todos os relógios em Edimburgo. Nunca vi um relógio... não de perto. Então, como é que isso funciona, não faço ideia. Já viu um, senhor?

— O que?

— Um relógio, senhor. Essas coisas que dizem o tempo. — Brogan disse sucintamente.

Rufus soprou.

— Aquelas coisas? Vi uma vez, — disse ele. — Embora isso estivesse longe, em Constantinopla.

— Onde é isso?

— Do outro lado do mar, — explicou a Brogan. — Roma. França. Para as margens das terras otomanas.

Ele ouviu o menino respirar profundamente.

— Longe! Acho que é isso.

Rufus sorriu, satisfeito por ter conseguido surpreendê-lo temporariamente. Ele poderia manter seu silêncio por tempo suficiente para pensar. Pareceu funcionar, porque o jovem ficou quieto por algum tempo.

— Você foi para a França? — Amabel perguntou.

Rufus piscou.

Ele não percebeu que ela havia se movido ao lado.

— Eu fui, uma vez, — Rufus concordou suavemente. — Para a instrução cavalheiresca. Eles têm os grandes hospitais de todas as ordens lá. Eu estava lá com nosso grande mestre.

— Oh? — Amabel estava olhando para ele com aqueles olhos azuis brilhantes. Ele sentiu seu coração se levantar quando viu seu evidente interesse.

Mordendo de volta seu desejo de embelezar, ele disse a ela apenas os fatos.

— Eu entrei na ordem como um rapaz de catorze anos, — explicou ele. — Considerando que já tive o suficiente do meu pai até então. Fugi e fui o escudeiro para um sujeito chamado Sir Angus Blainford. Fiquei com ele na França por algum tempo. Então fui para Roma. Então, depois de ser admitido na ordem, dirigi-me à Terra Santa. Fiquei lá por um tempo.

— Você viu Jerusalém.

— Eu estive em Jerusalém, — ele concordou. — Quente. Seco. Indescritivelmente sagrado.

Amabel estava olhando para ele com olhos grandes.

— Oh, que maravilha, — ela sussurrou. — Eu adoraria viajar um dia para longe. Que vida notável você teve.

Ele riu.

— Não parece tão notável para mim. — Ele sorriu. — Eu suponho que é porque eu vi todos os erros que cometi ao longo do caminho. Você teria rido.

— Não, — ela sorriu. — Você me testa.

Ele riu.

— Confie em mim. Você vai rir das minhas histórias de cavaleiro. E minhas desventuras.

— Diga-me uma? — Amabel perguntou inquisitivamente.

Ele riu. Contou a ela a história de como ele esteve em uma cidade na época em que foi atacado e, enquanto corria para pegar sua espada, ele estava com os pés presos pelos cadarços e caiu, mesmo tendo sido mal preso. Ele tropeçou e se esparramou, e quase arriscou a dignidade final com suas calças caindo.

— Então lá estava eu, — ele riu. — Bainha em meus pés, as calças caindo da minha barriga. — Ele estava sem fôlego de riso e Amabel estava rindo impotente. — Eu estava segurando minha espada e gritando todo tipo de bobagem. Eu não sei porque. Na esperança de ameaçar as pessoas, eu acho. Embora se alguém tivesse me encontrado, o pior que eu poderia ter feito era fazê-los rir, tanto, que ficariam sem fôlego e morreriam tossindo.

Eles estavam todos impotentes com risadinhas, ele acima de tudo, lembrando a cena, quando eles chegaram ao surgimento de uma cimeira.

— O portão está naquelas árvores, — Amabel confirmou informativamente enquanto o olhava com uma pergunta. Sua voz estava tensa e soava como se ela falasse em volta de um caroço que se formara, de repente, em sua garganta. Rufus assentiu, engolindo em seco e sentindo um nó semelhante se formar no dele.

— Vamos até o portão, então, — ele disse com voz rouca.

Ele a olhou e ela olhou para trás. Seus olhos, ele notou com algum espanto, estavam enevoados de lágrimas.

— Eu vou ver você em breve, — ele murmurou.

Ela engoliu em seco e assentiu.

— Eu vou ver você em breve. — Sua voz estava apertada com lágrimas.

Ele sorriu e piscou rapidamente. Ela sorriu de volta, assentindo sem fôlego.

Juntos, eles saíram da clareira. Lá eles pararam. Ele e Brogan foram para a direita e ela foi em frente. Enquanto cavalgavam, Rufus olhava por cima do ombro, deixando o deslizamento de uma figura no cavalo ficar cada vez menor em sua visão até que juntos, a figura e o cavalo, trotando, desapareceram de vista.


CAPÍTULO VINTE

UM LUGAR CONFUSO


O arco de pedra do portão subia das árvores que cresciam perto. Amabel olhou para cima, o céu subitamente ofuscante e azul-claro acima da cabeça. Ela engoliu em seco, lutando para respirar.

— Diga seu nome e negócio! — gritou duramente uma sentinela. — O que você está fazendo aqui em Buccleigh?

Amabel ficou rígido. Ela olhou para a sentinela categoricamente.

— Eu sou a lady de Buccleigh, — disse ela fracamente, mas com uma voz que não admitia recusa. — Amabel Blackheath. Estou aqui para ver meu pai com notícias de natureza urgente. Por favor, transmita a palavra da minha presença para ele. Ele vai querer saber se fui admitida assim que cheguei.

A sentinela engoliu em seco, parecendo de repente ficar sem ar fresco.

— Sim, milady.

Ele gritou ordens rapidamente e ela ouviu um rangido alto quando o portão foi elevado.

Ela cavalgou, os cascos de seus cavalos batendo ruidosamente no espaço abaixo do arco. Ela o dirigiu para a direita ao longo das pedras, atravessando a cidade e seguindo em direção à fortaleza.

Eu vou resolver isso. Então vou embora. Eu vou ver Rufus novamente.

Ela ficou surpresa, enquanto cavalgava pelas casas de pau-a-pique com sua palha, as paredes de pedra e as igrejas, sentia falta de sua presença. Ela se viu olhando como se esperasse que ele aparecesse à sua direita, como ele sempre fazia, com algum humor peculiar.

Eu sinto muito a falta dele.

Ela suspirou. Ela estava sendo boba. Ela o conhecia há duas semanas. Ela não podia sentir isso com força. Não fazia sentido.

Eu amo-o. Esse é todo o sentido que preciso fazer disso.

Seu coração se acalmou quando se concentrou em seu entorno imediato. As paredes, os paralelepípedos, o som do casco do cavalo batendo na pedra. Ela passou por várias pessoas da cidade e eles se afastaram, deixando-a passar. Ela sentiu os olhos deles e percebeu que devia parecer um espetáculo incomum.

Aqui estou eu, com meu cabelo solto, em um manto branco e um xale azul, cavalgando desacompanhado na estrada, sou só uma lady.

Era algo inédito.

Ela alcançou os portões do castelo, o coração batendo.

— Minha lady! — Uma voz, atônita, chamou abaixo.

— Greer, — ela disse com urgência. — Abra o portão.

— Sim, milady.

Ela viu o homem de armas — um dos poucos que conhecia de suas visitas a Buccleigh ao longo de sua infância — se curvando para a manivela que abriria o portão. Então ela ouviu o suave guincho de metal deslizando sobre metal lubrificado.

Ela estava em casa.

Ela cavalgou com urgência pelo pátio de pedras até os estábulos.

— Veja que ele seja bem cuidado, — ela disse sucintamente para o cavalariço. O homem pegou as rédeas quando ela pulou, olhando para ela em uma mistura de admiração e terror. Ela passou suavemente, sentindo seu coração subitamente enrijecer de tensões quando se aproximou das portas em arco que a admitiam no salão.

E se o pai dela nem estivesse aqui? O que ela faria? Como ela explicaria a seu avô que simplesmente chegara aqui, sozinha e sem acompanhante, em alguma missão selvagem? Ela respirou. No bolso dela estava o broche. Ela tinha que se convencer de que tinha razão suficiente para estar aqui. Ela deu um tapinha. Era o suficiente.

Ela continuou subindo as escadas até a porta.

— Abra, — ela ordenou aos guardas. O que estava à sua esquerda se enrijeceu, mas o que estava à sua direita fez o que ela pediu apressadamente, talvez chocado demais com a ordem vinda de uma mulher — incomum e aterrorizadora, sem dúvida, pensou ela — para obedecer.

Ela caminhou rapidamente e levemente para a escuridão cinzenta.

A porta se fechou atrás dela.

Lá dentro, Amabel olhou para o hall de entrada pavimentado com lajes cinzentas. Ela sentiu seu coração batendo lentamente em seu peito e respirou profundamente para se recompor. Ela estendeu a mão e ajeitou o cabelo, desejando que ela tivesse um pente para consertá-lo corretamente.

Não pode ser ajudado. Eu preciso encontrar meu pai. De uma só vez.

Ela escolheu ir ao solar e subiu os degraus.

— Milady. — Um guarda a reconheceu, olhando para ela surpreso. No entanto, ele ficou atento e Amabel quase podia ouvi-lo imaginando como ela chegara tão rápido e se o pai a convocara para cá. Ela caminhou até as portas em arco à sua direita, passando pela luz do sol no chão da colunata superior.

— Pai, — disse ela, entrando pelas portas. Ela parou. Olhou fixamente.

— Minha lady, — disse um homem. Ele não era seu pai, embora ele tivesse uma vaga semelhança com ele, algo sobre o conjunto de seu corpo e sua mandíbula mais do que seu rosto, que era mais longo que o do pai, barbudo e com pálidos olhos azuis, ligeiramente bulbosos, que não eram nada como o profundo olhar castanho de seu pai.

— Senhor, — ela falou. Ele estava vestindo uma túnica preta e ela adivinhou que ele poderia ser um padre de algum tipo.

— Amabel.

Amabel se virou e sorriu, aliviada, com a voz à sua esquerda.

— Saudações, avô, — disse ela formalmente. Ela foi até o velho, que era uma versão mais curta e musculosa de seu pai com um rosto mais velho. — Como está meu avô?

— Bem, filha, — disse ele com uma voz suave. — Por que você está aqui no meu hall de repente? Quando meu filho partiu?

— Partiu.

— Oh, sim, — o homem mais velho disse, franzindo a testa e depois suavizando como se estivesse na memória. — Sim, ele saiu dois dias antes. E por favor conheça Sir Jacques Prolegnac. Ele é um enviado da França.

— Oh. — Amabel fez uma reverência para o homem. Ele se curvou. Ele pressionou seus lábios secamente na mão dela e Amabel estremeceu. Havia algo que ela decididamente não gostava do homem, embora não tivesse razão para o sentimento a não ser que ele estava aqui, agora, onde ela esperava encontrar outra pessoa, a saber, seu pai. — Encantado, bom senhor.

— Estou honrado, mademoiselle.

Amabel afastou-se dele assim que foi educado fazê-lo, voltando ao seu avô.

— Avô, — ela perguntou rapidamente. — Quando meu pai foi? Onde ele está? Tenho novidades que devo entregar pessoalmente a ele.

Seu avô pegou a mão dela.

— Dougal está ido para Avermarsh, jovem lady, — disse ele levemente. — Ele estará em um dia ou dois lá. Tem que organizar um pouco de ferro do comércio lá. Eu entendo que ele quer se dirigir rapidamente de volta. Peço desculpas se tivermos arruinado a sua visita, — disse ele com um sorriso pesaroso. — Receio que seu pai tivesse voltado para você muito mais cedo, se nosso amigo Prolegnac não tivesse chegado no dia anterior à sua intenção de partir.

— Oh. — Amabel soltou um longo suspiro. Ela se sentiu fraca de repente. Foi com alívio. — Oh, meu avô... — ela suspirou. Ela se deixou encostar no braço dele por um momento. — Desculpas, — acrescentou ela. — Mas quando ele não veio ao castelo, eu tinha razão para acreditar que poderia estar em perigo... — Ela balançou a cabeça.

— Por que você achou isso? — O enviado perguntou suavemente. — Você encontrou problemas na estrada, madame?

Amabel sentiu a sobrancelha levantar-se bruscamente. Por que ele estava perguntando isso a ela? Ele sabia? Ou, pior, ele sabia de problemas na estrada para algum propósito mais sinistro?

— Eu não vi nenhum problema, — disse ela com firmeza. — Alguns bandidos, talvez, mas nenhum para me incomodar. — Ela inclinou o queixo, observando sua expressão mudar. Ela imaginou que viu seus olhos se arregalarem um pouco, como se ele estivesse surpreso com isso, e então claro. Ela mordeu o lábio.

Eu posso estar imaginando tudo isso. Eu simplesmente não gosto dele. Algo sobre ele me deixa inquieta.

Ela balançou a cabeça. Provavelmente apenas cansado, ela pensou.

— Agora, minha neta, — seu avô estava dizendo em tom de censura. — Você montou até aqui sem acompanhantes, não é? — Ele balançou a cabeça, acariciando sua mão distraidamente. — Quantas vezes eu tenho que te contar? Estas florestas não são um lugar seguro para uma mulher.

Amabel suspirou, dando a seu avô um sorriso impaciente.

— Avô, você sabe que eu montei sem minha escolta. No entanto, eu tinha que chegar aqui. Eu estava tão preocupada com o pai... — ela parou. Ele olhou para ela com olhos que falavam de tristeza e impaciência, agitados.

— Agora, neta, — disse ele. — Eu já te disse antes. Você vai se desgraçar um dia...

Ela fechou os olhos, parando no centro da sala enquanto ele a conduzia para o corredor.

Quando ela abriu os olhos, ele sorriu.

— Sabe, você é como se fosse um rapaz. Impaciente, impulsivo. Muita energia para um corpo. Vamos, então. — Ele sorriu indulgentemente. — Vá e prepare-se para o jantar. Seu antigo quarto está arrumado. Você sabe que sempre está pronto.

Amabel sorriu. Ela usava o mesmo quarto na ala oeste desde que era menina. Ela pegou a mão dele, fazendo-o corar. Ela estremeceu, sentindo a frieza dos dedos dele.

— Obrigada, — disse ela. — Eu vou me preparar para jantar e me juntar a você no solar em um momento.

— Fora com você, então.

Quando ela subiu para seu quarto, Amabel encontrou sua mente em tumulto. O que estava acontecendo? Nada disso fazia sentido. Se seu pai foi detido, por que ele não lhe mandou nenhuma palavra? Por que ele tinha ido tão repentinamente em uma viagem não planejada? Quem era Sir Prolegnac?

Ela abriu a porta do seu quarto e desabou na cama, cansada e confusa. Ela olhou para o teto. O sol aqueceu a colcha de linho azul e ela se enrolou no calor, o primeiro descanso apropriado que ela teve em dois dias.

O que eu posso fazer?

Ela suspirou, sentindo a presença pesada do broche no bolso, onde deslizou por sua coxa até a cama. Ela estendeu a mão e segurou-a bem perto.

Era o selo de seus inimigos. No entanto, ultimamente, tinha sido achado por Rufus, enquanto ele franzia a testa para o emblema, seu rosto irritado e confuso. Ela recordou cada centímetro dele e sentiu seu coração derreter com o calor.

Contanto que ela tivesse o broche, ela estava perto de Rufus. Ela fechou o punho em torno da prata aquecida e segurou-a com força.

Então ela deslizou de volta em seu bolso, sentou-se e foi para a penteadeira.

Ela sentou-se no assento coberto de bordados, abriu uma gaveta e encontrou o que ela esperava estar lá — o pente prateado que ela deixara ali para usá-lo aqui, um lugar que ela visitava pelo menos uma vez por ano, talvez mais. Ao passar o pente pelos cabelos, estudou o reflexo.

Ela parecia cansada. Seu rosto estava pálido e seus olhos ainda maiores que o normal. Suas bochechas pareciam ter afundado um pouco na jornada, provavelmente resultado do frio e da falta de comida. Com o cabelo escovado suavemente, porém, a selvageria em seu rosto diminuiu um pouco. Ela parecia menos desesperada, mais calma. Mais no controle.

— Pronto.

Então ela tinha que se vestir. O baú de roupas continha um par de vestidos. Um era de brocado tão velho que ela duvidava que coubesse, o segundo era um veludo azul brilhante que ela deixara aqui alguns anos antes. Ela pegou e foi até a porta.

— Olá?

Uma breve incursão pelo corredor produziu Merry, a mulher mais velha que trabalhara como serva dela e de sua mãe sempre que a visitavam. Merry era o nome que ela havia dado quando ela era uma garotinha. Ela há muito tempo deixara de pensar nela com qualquer outro nome.

— Minha lady! — A mulher mais velha disse gentilmente. — Uma surpresa rara! Venha! Deixe-me apertar esse vestido. E faça o seu cabelo corretamente! Com uma tiara, mantendo-o fora do seu rosto. Você tem cabelos tão bonitos. Não podemos deixar que tudo seja assim...

Enquanto a mulher se agitava e Amabel se sentia irritada sob o ministério cuidadoso, ela olhou de lado pela janela. Lá, ela viu algo que a fez olhar com interesse.

Era Prolegnac.

O homem alto e de roupas escuras estava no pátio conversando com outro homem. Os dois homens que estavam com eles estavam, vestindo vestes escuras. Ela franziu a testa. Eles estavam falando a sério. Ela viu Prolegnac entregar algo ao homem mais importante, que o ocultou em uma bolsa de couro. Então o grupo estava se afastando, levantando a mão e indo para o portão dos mercadores. Ela franziu a testa.

Em si, não havia nada de estranho para ver nisso. Talvez Prolegnac fosse um frade, como sugeria seu manto. Os outros homens podiam ser membros de qualquer ordem a que ele pertencia. Eles poderiam estar recebendo alguns manuscritos dele, algo que eles não poderiam obter em seu próprio país. Ou mensagens de um bispo para outro. Erai uma ocorrência regular.

Eu não pensaria nada disso, exceto que seus modos são tão estranhos.

Ela pensou em como Prolegnac olhara em volta. Ele voltou a verificar a esquerda e a direita, de alguma forma furtivo.

Eu não confio nele.

Ela estremeceu.

— Pronto agora, — a serva estava dizendo com carinho. — Tudo feito. Minha nossa! Você está adorável.

Amabel piscou. O espelho mostrava-lhe um rosto com maçãs do rosto altas e lábios largos, as feições intensificadas pelo fato do cabelo ter sido puxado para trás, preso à testa por um fio de filigrana de prata. O azul brilhante de seus olhos era realçado pelo veludo azul-claro do vestido. Ela parecia impressionante.

Eu gostaria de estar sentado para jantar em outra companhia.

Ela desejou que ainda estivesse com Rufus na floresta. Usando lã e uma capa improvisada, com os cabelos soltos e, ela estaria mais feliz do que vestida de veludo em um castelo, sentada no grande salão.

Espero que Rufus esteja seguro.

Ela engoliu em seco e se levantou, virando-se para a mulher mais velha que sorriu para ela com carinho.

— Obrigada, Merry, — disse ela.

— Oh, senhora, é tão amável ver você aqui novamente. Eu pensei quando vi o mestre e que ele veio sozinho. Estou feliz que não seja assim.

— Não, — Amabel assentiu. Ela franziu a testa. Ela considerou perguntar à mulher se ela tinha ouvido alguma coisa — se ela soubesse por que seu pai tinha partido tão repentinamente, talvez. No entanto, ela decidiu contra isso. Não iria querer que ela tivesse a menor possibilidade de problemas com Prolegnac.

E ele é um homem perigoso.

Não sabia por que pensava isso, mas ela sabia.

Estremecendo, ela se dirigiu para o solar.

— Obrigada, — disse ela a um lacaio, que apareceu e, curvando-se, mostrou-a seu lugar. Ela caminhou rapidamente, franzindo a testa, dizendo que o lugar ainda estava vazio. Então ela olhou surpresa quando Prolegnac se levantou da escuridão da esquina, onde ele estava sentado, lendo um pergaminho.

— Minha lady, — ele disse suavemente. — É encantador ver você.

Amabel franziu a testa.

— Obrigada, senhor, — disse ela. — Onde está meu avô?

— Ele está vindo, — disse ele. — Embora eu acho que ele pode estar com alguma pressa.

— Pressa, — Amabel ecoou sem rodeios. Ela fixou-o com um olhar. — Que pressa?

Ele sorriu.

— Desculpe, milady, — ele disse suavemente. — Mas parece que seu avô foi chamado para negócios urgentes.

— Negócios urgentes?

— Sim, — ele respondeu. — Sinto muito. É uma pena que sua reunião com ele seja foi demorada. Mas era urgente, e você não desejaria segurá-lo, tenho certeza.

— É o mesmo negócio que chamou meu pai? — Ela perguntou corajosamente.

Ele sorriu. Era um sorriso diferente, no entanto. Um que não alcançou seus olhos.

— Ah, — ele disse. — Parece que você é uma lady que tira conclusões precipitadas. Talvez você seja muito apressada. Não, é um negócio diferente. É para ele dizer-lhe, no entanto.

— Sim, — disse Amabel friamente. — Isto é. Agora, vamos nos sentar? — Ela perguntou, puxando para trás sua própria cadeira e sentando-se impacientemente. — O avô não fica em cerimônia. Eu o conheço tempo suficiente para saber.

Ele sorriu timidamente.

— Você tem o temperamento dele, — ele disse com um pouco de calor. — Espero que não seja perigosa, como ele sugeriu.

Amabel olhou para aqueles olhos azuis frios. Ela olhou fixamente. Seu coração bateu. Isso era uma ameaça?

— Eu não acredito que meu temperamento me causou perigo no passado, — disse ela, o coração batendo forte quando ela abriu um pano de linho no joelho e pegou uma jarra de cerveja aquecida. — Eu acho que é a interferência dos outros que me põe em perigo, não por mim mesma.

Ele riu novamente, uma risada baixa.

— Oh, os perigos estão em toda parte, milady.

Amabel olhou em seus olhos. O olhar que ela encontrou foi de hostilidade mascarada. Ela olhou de volta. Coloque o cálice. Ele olhou para baixo e ela ouviu passos no corredor de piso de pedra atrás.

— Ah! Neta, — ela ouviu a voz familiar de seu avô chamando. — Você fez isso antes de mim. Bem-vinda. — Ele bateu palmas. — Bem, homens! Vamos jantar. Minha neta morrerá de fome antes de alimentá-la, nesse ritmo. Agora, então. Vamos começar.

Ele sentou-se à cabeceira da mesa, à sua esquerda, e sorriu calorosamente para os dois, apertando as mãos sob o queixo. Ele pareceu sentir a tensão, pois ela o viu olhar para a esquerda e para a direita, de um para o outro e depois de volta para ela.

— Alguém tem alguma objeção a um brinde? — Perguntou ele.

— Por favor, faça um, — Amabel disse sem emoção.

— Para o seu pai, o futuro duque e para o nosso empreendimento.

— Meu pai e o empreendimento. — Amabel ecoou. Ela franziu a testa. Presumivelmente, seja qual for o “empreendimento”, esse era o motivo da presença do enviado. O que estava acontecendo?

— Eu fui informada que você vai nos deixar em breve, — ela perguntou sem rodeios.

— O que, ah, oh sim. — Ele avô balançou a cabeça. — Eu devo ir para o litoral. Eu sinto muito, neta, — ele disse e parecia genuinamente apologético, fazendo Amabel estender a mão para ele.

— Não importa, vovô, — ela disse carinhosamente. — Eu volto em breve.

— Eu sei, eu sei, — ele suspirou. — Mas eu não sou tão jovem quanto antes e conto os anos e me pergunto se serei agraciado com o suficiente para ver você crescer e se tornar uma jovem lady aqui em Buccleigh.

— Você vai estar por aí por muito tempo ainda, — ela disse com carinho. — Na verdade, você estará por aí por tanto tempo que o pai vai começar a fraquejar que ele nunca verá qualquer herança.

Seu avô riu alto, mas quando ela mencionou a “herança”, ficou surpresa ao ver um tremor de tensão atravessar o rosto do enviado.

Eu me pergunto o que você está realmente fazendo aqui?

Ela franziu a testa.

— Você mencionou um empreendimento, vovô?

— Eu acho que seria educado deixar seu avô comer seu jantar sem se perturbar, — disse o enviado suavemente.

A cabeça de Amabel se levantou. Ela olhou para ele. À sua esquerda, a risada de seu avô rompeu a tensão.

— Eu sei que não é convencional, senhor, — disse ele ao enviado, — mas não guardo segredos da minha neta. Afinal, ela é uma herdeira também. Ela deveria saber alguma coisa do lugar. Amabel, — ele disse suavemente. — Eu estive em negociação com esse sujeito aqui, — ele acenou com a mão para Sir Jacques, que refreou o gesto, fazendo Amabel sorrir sem humor. — E ele me disse que há uma grande riqueza nas exportações. Particularmente na importação de clarete, e exportação de aguardente. Agora, como você sabe, há muito tempo incentivo a destilação aqui. Eu estava pensando em montar um negócio com um homem na França. Nosso bom amigo do outro lado da mesa está preparando tudo para mim — disse ele, sorrindo para Amabel. Ele estava claramente ciente da tensão do lado dela. Ela sorriu felizmente e deu um tapinha na mão dele.

— Obrigada por me dizer, vovô, — ela disse carinhosamente. — Isso soa fascinante. Agora — acrescentou ela, voltando-se para o cavalheiro, — posso afirmar que a ausência do avô está ligada ao seu empreendimento comercial. Portanto, não me preocuparei. Não é assim, vovô.

— Oh, você se preocupa demais com um velho espantalho, neta, — ele disse carinhosamente. — Eu estou endurecido pelo tempo e batalhado e vai levar um bando de bestas selvagens para tirar a vida de mim.

— Eu sei, — ela disse com carinho. — Mas eu ainda me preocupo. — Ela acrescentou, com um olhar nivelado sobre a mesa.

— Encantador, — o francês disse categoricamente. — Esse afeto de filha e neta é uma alegria de se ver.

— Obrigada, senhor, — ela disse docemente.

Seu avô, completamente alheio à troca subjacente, bateu palmas.

— Ah! Aqui vem o primeiro prato. Eu confio que todo mundo aqui é parcial para pescado?

— De fato, vovô, — Amabel sorriu, respirando o perfume salgado em um quadro faminto.

— Ah. Perfeito. Adoro um bom jantar.

Eles comeram em silêncio. Amabel sentiu o coração disparado. Ela estava com medo. O que quer que o enviado pensasse dela, ele claramente queria o seu mal.

Por que seu pai foi embora tão de repente? Ela ainda não tinha resposta para essa pergunta. Por que o homem estava tão relutante em saber onde seu avô estava indo? O que estava acontecendo?

O jantar foi demorado e, durante toda a duração, Amabel se viu contraindo-se. Ela tinha que sair daqui.

Quando as maçãs, cozidas em xarope picante e cobertas de crocante, circulavam pela mesa de jantar, ela estava quase enlouquecida pela tensão.

Ela terminou a sobremesa em silêncio, lambendo a colher — era uma das suas favoritas, apesar da tensão — e se levantou.

— Obrigada pelo excelente jantar, — ela disse educadamente ao seu avô. — Mas você me dá licença, avô? Estou muito cansada.

— Oh, claro, é claro, — disse ele, acenando uma mão amiga em sua direção. — Por favor! Descanse. Eu vou para o pátio, como você mencionou. Eu tenho que arrumar minha jornada amanhã. Nós saímos na primeira luz. Primeira luz.

Amabel sorriu para ele e assentiu.

— Com licença, vovô.

Ela estava andando rapidamente pelo corredor até as escadas quando ouviu passos atrás dela. Ela se virou.

— Hei?

Sir Jacques apareceu ao lado dela. Ele pegou os pulsos dela em suas mãos e, para seu horror, puxou-a para ele. Seu rosto estava tenso e pálido de desgosto e raiva.

— Senhor! — Ela gritou em alarme. — Você vai me deixar ir.

Ela torceu para o lado, mas seu aperto era imutável.

— Você vai ficar em silêncio, — ele sussurrou. — Seu avô permite muitas liberdades. Não é de admirar que seu pai se desespere em fazer de você uma herdeira adequada. Não. Você não fará perguntas. Você fará o que lhe é pedido — sibilou ele enquanto Amabel tentava se afastar. — Você vai ficar aqui quando seu avô partir amanhã. E você vai sorrir e se casar com Lorde Callum. Fazendo dele o herdeiro de Buccleigh.

— Não! — Gritou Amabel.

Ela se endureceu quando ele soltou seu pulso e levantou o punho. Ele não iria atacá-la, iria? Ela se encolheu, lembrando-se do golpe quente e agonizante que o vagabundo lhe dera naqueles dias antes.

— Você vai fazer o que está sendo convidada, — disse o homem, e puxou-a para o lado.

— Onde você está me levando? — Gritou Amabel em voz alta.

— Se você não pode ser confiável, e eu vejo que não pode ficar livre, você vê muito. Você estará trancada em sua câmara. Quem na terra deixou você chegar aqui? Eu não faço ideia.

— Não! — Gritou Amabel. Ela tentou arrancar o pulso do aperto dele, mas era firme demais.

Gritando, chutando e protestando, ela foi arrastada até o corredor a certa velocidade, em direção a seu quarto. Ela se viu trancada pelo lado de fora, a chave girou. Ela sentiu o coração afundar no desespero quando ouviu os pés dele subirem pelo corredor, nos degraus e desaparecendo lentamente.

Como ela impediria que isso acontecesse? Algo estava muito errado e ela sabia disso agora. Como ela poderia parar, no entanto?

Ela não sabia.

Com medo e tensão a esgotando, ela rolou na cama e chorou.


CAPÍTULO VINTE E UM

AO RESGATE


Rufus olhou pela janela da pequena estalagem na aldeia de Buccleigh para a noite que se estendia. Ele se mexeu na cadeira, sentindo-se inquieto e desconfortável. Ele supôs que fosse perto das seis horas. Onde ela estava? O que estava acontecendo?

Rufus, pare com isso. Ela acabou de se encontrar com seu avô. Claro que ela vai ficar a noite. É apenas natural.

Ele sabia o quão estúpido ele estava sendo. Não havia nenhuma razão na terra para que Amabel o contatasse antes de amanhã. Se contatasse. Tudo o mesmo, ele não podia deixar de se preocupar. Por que ela não mandou uma mensagem?

Ela não é obrigada a lhe contar seus planos, Rufus. Deixe a moça fazer o que deve.

— Noite, senhor, — disse uma voz em seu cotovelo.

Brogan

— Oh. Olá, Brogan. — Rufus suspirou, distraído.

Brogan puxou um assento e sentou-se à sua frente.

— Sem fome, senhor?

— Oh. Sim. Eu suponho que sim. — Brogan sorriu abertamente. Ele estava sentado aqui com uma tigela de caldo e um pedaço de pão e tinha esquecido completamente o que estava fazendo aqui. Sua mente estava com Amabel, preocupado.

— Se importa se eu me juntar a você? — Brogan perguntou, alcançando ansiosamente por uma fatia do pão.

Rufus riu.

— Claro que não, Brogan. Nem por todos os meios.

Brogan arrancou um pedaço de pão e mastigou-o apreciativamente. Ele olhou para Rufus com uma pequena carranca.

— O que é isso, senhor?

Rufus deu de ombros.

— Eu gostaria de saber, Brogan. Alguma coisa não está certa.

— Você quer dizer, este negócio com os fora-da-lei, senhor?

— Isso, — Rufus assentiu, pegando outro pedaço do pão, — e este negócio com o duque.

— Duque? — As sobrancelhas de Brogan dispararam com interesse. Rufus esquecera que provavelmente não sabia nada sobre isso. Ele suspirou.

— Não é importante, Brogan. Na verdade não. Eu só queria saber onde ela estava.

— Lady Amabel, senhor?

— Mmm. — Brogan colocou o cotovelo na mesa e apoiou o queixo pensativamente. Ele queria poder parar de se preocupar com Amabel, mas não podia. Ele disse a si mesmo que era egoísta — é claro que ele estava pensando nela, e provavelmente não inocentemente também. No entanto, ele sabia que era mais que isso.

Algo não parece certo.

— Senhor, nós poderíamos dar uma olhada por nós mesmos, — sugeriu Brogan, com os olhos brilhando.

— Você quer dizer, ir a Buccleigh e fazer investigações?

— Exatamente. — Brogan engoliu em seco, balançando a cabeça com ênfase. — Nós devemos dar uma olhada. Descubrir o que está acontecendo. Algo é, isso é, não é certo. Nós deveríamos descobrir o que.

Rufus levantou uma sobrancelha, pensativo. A ideia era muito atraente, ele não podia negar. Ele precisava descobrir o que estava acontecendo e essa era a maneira ideal de fazê-lo. Estava se irritando com ele, parado e esperando. Ele precisava de ação.

— É uma boa ideia, Brogan, — ele respondeu. — Devemos ir dar uma olhada ao redor.

— Vamos logo antes do anoitecer, senhor, — propôs Brogan. Ele olhou pela janela, indicando o crepúsculo lentamente caindo.

— Sim. — Rufus assentiu lentamente. — Eu não daria muito por nossas chances de descobrir as coisas depois do anoitecer. Eu não acho que as sentinelas no castelo de Buccleigh aceitem gentilmente as pessoas entrando e saindo com perguntas sobre eles.

Brogan riu.

— Muito bem, senhor.

Eles terminaram o jantar em silêncio e saíram na noite.

Na rua, com seu manto pesado, Rufus sentiu imediatamente que algo estava acontecendo. Os próprios habitantes da cidade eram perfeitamente comuns. No entanto, os soldados do castelo pareciam alertas. Por que tantos deles saíram a rua? Deu um pulo para o lado de uma cavalgada que atravessava o portão, um homem no centro e quatro homens de armas que o ladeavam.

— Abram caminho para o duque de Buccleigh.

Rufus piscou. Ele e Brogan tinham acabado de sair do caminho no momento em que o grupo de homens montados corriam colina abaixo em direção ao portão da cidade.

— Qual é a pressa deles? — Brogan perguntou com alguma afronta.

— Não faço ideia, — disse Rufus lentamente.

O grupo estava quase invisível agora, perdido entre as pessoas e casas que se comprimiam na rua. Isso era estranho. Rufus franziu a testa. Se o duque estava saindo de casa, por que Amabel não havia retornado para eles? O que estava acontecendo?

— O que foi senhor?

— Eu realmente não sei, — comentou Rufus lentamente. — Mas parece estranho para mim. Por que o duque está saindo agora?

Brogan encolheu os ombros. Então seu rosto se iluminou quando ele inclinou a cabeça para frente, indicando um edifício de pedra no final da estrada.

— Podemos entrar e perguntar aos guardas... olhe!

Ele apontou para um prédio que parecia um celeiro. Rufus podia ver apenas homens andando pela porta entreaberta.

— O posto de guarda?

— Sim, senhor. Acho que sim. Aqueles sujeitos simplesmente vieram de lá. E há uma pequena bandeira no topo.

Rufus assentiu.

— Ai, sim. Então aí está.

Ele partiu em direção a ela. Na porta ele e Brogan pararam. Rufus pensou rápido. Que razão ele daria? Ele não podia muito bem invadir e perguntar onde Lady Amabel estava, e por que seu avô tinha escolhido partir na véspera de sua chegada.

Brogan olhou para ele, uma pergunta em seus grandes olhos escuros.

— Eu tenho uma ideia, — disse Rufus rapidamente. Ele se dirigiu para a porta com mais confiança do que realmente sentia. Limpou a garganta.

— Sim? — Perguntou um guarda. Ele parecia cauteloso.

— Estou aqui de Astorland, — disse Rufus com sinceridade. — Eu queria falar com um enviado de Sua Senhoria, o duque de Buccleigh?

O homem a quem ele se dirigiu franziu a testa. Então ele chamou por cima do ombro.

— Ei! Alex?

— Sim, senhor? — Um homem perguntou interrogativamente.

— Esses sujeitos estão com Lorde Prolegnac.

Rufus franziu a testa. Ele não tinha ideia de quem era, mas devia ser um representante do duque. O nome soou francês e seu interesse foi imediatamente despertado. Com que trato com a França o duque estava envolvido?

— Obrigado, — ele disse casualmente. O guarda — Alex, presumivelmente — olhou-o estranhamente, mas não disse nada.

Eles foram conduzidos através de um portão lateral para uma vasta área pavimentada de laje. Rufus olhou em volta com interesse. Este era o pátio da casa do avô de Lady Amabel. Ele se achou imaginando ela aqui. Ela tinha visitado o lugar como uma menina? Como foi então? O que ela achava disso?

Ele suspirou. Ele deveria parar de pensar nela assim. Este era um compromisso sério, uma tarefa.

— Senhor?

— Sim?

— Espere aqui, por favor.

Rufus e Brogan se entreolharam e deram de ombros. Eles ficaram onde foram instruídos, esperando no pátio de treinamento do lado de fora da colunata. Eles ouviram os passos do guarda enquanto ele subia as escadas e entrava no grande salão. Rufus passou as mãos pelos ombros, tremendo. Ainda estava frio lá fora, apesar do fato da estação ter progredido um pouco com o frio do inverno.

Rufus olhou em volta. Os guardas pareciam alertas — ele ouviu a sentinela acima deles andando de um lado para o outro na muralha e, em algum lugar, um homem gritou uma senha e foi atendido.

Algo está acontecendo aqui. O lugar todo está em alerta máxima. Eu posso sentir isso.

— Senhor?

Rufus olhou para cima quando o guarda retornou.

— Sim?

— Me siga.

Rufus e Brogan se entreolharam novamente. Em resposta à pergunta de Rufus, Brogan deu-lhe um olhar neutro. Rufus assentiu. Eles seguiram o guarda para dentro.

Ele os levou para uma pequena sala iluminada com luz de tochas avermelhadas. Rufus olhou ao redor, sentindo-se desconfortável por algum motivo que não conseguia entender. Ele esticou os olhos para ver alguém na escuridão.

— Ah, — disse uma voz. Era uma voz suave, como cetim. Ele imediatamente se sentiu em alerta. O dono da voz saiu da sombra, andando em pés calçados. — Sir Douglas. Bem-vindo. Mais cedo do que eu esperava, mas mesmo assim bem-vindo.

Rufus franziu a testa. Quem diabos era Sir Douglas? Um enviado do duque de Astley, presumivelmente. O que era interessante em si mesmo. Ele decidiu usar isso como uma desculpa para ter acesso ao castelo na conjectura selvagem de que os problemas na floresta estavam de alguma forma ligados a algum problema aqui no castelo de Buccleigh. Loucamente, parecia que ele estava certo. Havia claramente uma ligação. O que ele poderia fazer agora?

— Sim, bem, — disse ele, limpando a garganta. — Nós esperávamos levar mais tempo. Mas aqui estamos nós.

— Eu entendo. — O homem olhou para Brogan, com a sobrancelha levantada. — Quem é aquele?

— Meu escudeiro, — disse Rufus sem rodeios. — Brogan.

— Ah. — Ele deu um aceno de cabeça. — Ele é discreto?

— Ele é tão fechado como um tijolo de granito, senhor.

O homem deu um sorriso fino.

— Boa. Bem, então. Ele pode nos acompanhar. No entanto, devemos ser rápidos. Os homens não suspeitam de nada.

Ele saiu da sombra e pela primeira vez Rufus pôde se concentrar em seu rosto. Ele tinha maçãs do rosto altas e comprido com uma sobrancelha filosófica. Sua barba estava bem aparada e seus olhos estavam com as pálpebras pesadas. Azuis e bulbosos, deram a impressão de que viram muito e perderam pouco. Ele estremeceu.

Limpando a garganta, ele assentiu.

— Bom, meu lorde.

— Bem, então. Vamos para a tarefa em mãos? — Ele disse.

Rufus engoliu em seco e encolheu os ombros.

— De fato, senhor.

— Bom. — Ele estava sorrindo agora, embora Rufus não pudesse ver seu rosto, virando-se enquanto caminhava à frente. O sorriso estava em sua voz, entrelaçando-a e aquecendo-a à consistência de água morna, calmante e envolvente. Havia algo que Rufus desconfiava profundamente desse homem, embora ele ainda não pudesse dizer o quê.

Ele seguiu o homem estranho pelas escadas e depois para a esquerda, subindo mais degraus e até uma torre.

— Você descobrirá que as coisas não são... tão suaves quanto se poderia esperar — disse Lorde Prolegnac devagar enquanto subiam a escadaria mal iluminada. Rufus encostou-se na parede, querendo ter certeza de que não sentiria falta do chão e desabaria descendo as escadas, desalojando Brogan.

— Estamos acostumados a dificuldades, — ele disse suavemente. O homem riu.

— Como eu diria. Ah! Aqui estamos. Agora, teremos que tomar precauções que eu não esperava, então você pode precisar esperar um pouco aqui. Vou convocar os outros para que possamos fazer... o que deve ser feito... em sigilo.

— Oh. — Rufus franziu a testa. Agora ele realmente estava curioso. Onde eles estavam sendo levados? O que deveria ser feito? A torre estava escura e sombria aqui em cima, não o tipo de lugar que ele esperaria ser trazido para uma simples discussão sobre algum acordo.

Ele ouviu o homem tirar uma chave de uma bolsa em algum lugar perto de sua pessoa — o estalo e o estrépito de chaves tilintando juntos o alertaram para isso. Ele franziu a testa.

A chave deslizou na fechadura e se girou. Então Lorde Prolegnac se virou para eles, uma expressão estranha em seus olhos encapuzados.

— Eu sugiro que você entre rapidamente, senhor. Vou trancar a porta atrás de você enquanto busco as testemunhas necessárias... não queremos que haja qualquer risco de, digamos, perturbação.

Rufus assentiu. Ele estava mistificado agora.

— Claro, senhor, — ele disse com firmeza.

Ele sentiu Brogan se inclinar mais perto quando a porta se abriu e ele resistiu ao impulso de segurar os dedos do rapaz em um gesto que lhes daria alguma segurança concreta.

— Aqui estamos nós — disse Lorde Prolegnac em voz baixa. — Agora, você vai, rapidamente. Eu vou me juntar a você em alguns momentos.

Rufus assentiu.

— Sim, senhor.

Ele respirou fundo e, esperando enfrentar algum terror desconhecido, entrou no limiar.

Brogan o seguiu.

O quarto estava escuro. Rufus piscou, tentando ver através da escuridão premente. Ele podia ver o brilho suave da luz do fogo em uma lareira, embora o lugar estivesse frio. Uma tocha iluminava um canto. A única janela era uma fenda de flecha, admitindo que não havia luz agora que o dia estava escuro.

A porta se fechou atrás deles.

Rufus olhou em volta. Parecia que não havia ninguém aqui e, por um momento horrível, suspeitou que ele e Brogan tivessem ficado presos ali.

— Olá?

— Rufus?

Rufus ficou olhando. Ele conhecia aquela voz. Como em nome do Céu era possível?

— Amabel?

Ela estava lá. Ele a viu emergir do canto, saindo para a luz bruxuleante da tocha. Ela estava vestida com lã branca simples e seu cabelo macio e ondulado estava solto e selvagem ao redor de seus ombros. Seu rosto estava branco, a bochecha machucada no alto do que parecia ter sido um golpe. Ela estivera chorando recentemente, embora tivesse parado.

— Amabel! — Ele disse novamente. Ele correu para ela, Brogan logo atrás dele. Ele estendeu a mão para ela, os braços estendidos, mas ela levantou a mão e empurrou-o gentilmente para longe.

— Rufus? — Ela soou como se não acreditasse que ele estivesse aqui. Ela olhou para ele hesitante, como se não pudesse confiar que era ele. — Como você chegou aqui?

Rufus sacudiu a cabeça.

— Eu não sei, milady, — ele disse com sinceridade. — E adoraria fazer a mesma pergunta. Agora, acho que há algo mais importante. Como escapamos?

Amabel sacudiu a cabeça.

— Se eu soubesse, Sir Rufus, já teria feito isso, não é? — Ela sorria, embora o sorriso não chegasse aos olhos. Rufus suspirou.

— Sim. Eu suponho que sim. Mas venha. Há pressa. Nós não temos muito tempo... — ele pegou a mão dela, puxando-a para a parede ao lado da porta. Uma ideia estava se formando em sua mente.

Amabel se encolheu quando sua mão tocou seu pulso e ele soltou seu aperto, deixando-a segui-lo. Todos os três se encostaram na porta e ele sussurrou seu plano para eles nos momentos em que ainda podia explicar.

Quando ele terminou, Brogan estava sorrindo para ele.

— Boa, senhor. Que noção excelente...

Rufus suspirou.

— É uma noção idiota, — ele respondeu. — Mas nós poderíamos fazer funcionar.

Brogan assentiu. Com os olhos brilhando, ele correu para a lareira e a tocha, encostada na parede.

Amabel ficou onde estava e Rufus foi até a esquina para buscar o balde de água que ele havia notado antes.

— Agora, — ele sussurrou. — Nós esperamos.

Todos eles ficaram juntos em suas posições. Rufus sentiu seu coração batendo enquanto esperavam. O silêncio era fundamental. Então, abruptamente, o silêncio foi quebrado pelo som de pés no corredor. O ruído surdo dos pés em lajes, se aproximando.

Rufus respirou com o coração aos pulos enquanto se levantava na beira da sala. Ele pegou o olho de Amabel. Eles se entreolharam e ele esperou, contando em sua cabeça enquanto esperavam

— Agora, — ele sussurrou.

Brogan apagou a tocha. Rufus jogou a água no chão diante da porta. Amabel correu para o canto da sala.

— O que ac...? — A voz de um homem gritou.

— Guardas! — Gritou Lorde Prolegnac.

Algumas coisas aconteceram de uma só vez. Dois homens correram pelo chão em direção a Brogan. Eles escorregaram nas lajes molhadas e caíram no chão com um gemido e o som de metal, batendo na pedra. Rufus ficou tenso. Ele estava armado com sua espada e facada. Brogan não tinha nada. Ele correu em direção aos homens, esfaqueando-os.

Ao lado dele, Brogan empunhou a tocha com eficiência impiedosa. Rufus ouviu um baque sólido quando ele acertou um homem na cabeça e alguns gritos cessaram. Ele ouviu uma espada sussurrar saindo da bainha e ficou tenso quando Lorde Prolegnac se virou para ele. Ele e Brogan estavam de frente para a porta, com alguma vantagem da luz que entrava através dela. Os homens de frente para eles eram cegos.

— Avante! — Ele gritou para Brogan. Ele atacou o homem com a espada, reduzindo o espaço para que pudesse esfaquear...

Ele jurou. O homem usava um colete de malha. Nessa proximidade, a espada em sua mão era inútil, mas também a faca de Rufus. Ele amaldiçoou e, embainhando-o, passou os braços ao redor do agressor e tentou jogá-lo de lado, brigando como um lutador.

— Agh!

Ele ouviu Brogan gritando alto quando ele empunhou seu porrete improvisado e outro homem caiu, batendo no chão como o som de uma espada, deixando os dedos entorpecidos. Ele ouviu alguém falando latim, dizendo uma oração.

Ele rugiu e jogou todo o seu peso para o lado, mas Lorde Prolegnac ficou de pé. Ele assobiou quando alguém pisou duro em seu pé com uma bota.

Ele sentiu o joelho dele cair por debaixo e então estava caindo, arrastando o homem até o chão.

— Brogan! — Ele gritou em aviso quando dois guardas entraram pela porta atrás deles. Tentou se sentar, mas Lorde Prolegnac estava apertando sua garganta e sentiu a mão apertar sua traqueia.

Ele tossiu e fechou seu corpo, tentando desalojar o homem. Ele ouviu Brogan terminar com os dois na porta — ele deveria ter se armado com uma arma de um dos caídos, pois havia o som de metal batendo no metal e então houve um silêncio sinistro.

Brogan jogou o peso para o lado e o homem rolou, mas as mãos em sua garganta continuaram. Ele estava rosnando e tossindo, mas lentamente a luz estava embaçando na frente de seus olhos e ele sentiu sua consciência vacilar, a escuridão se aproximando. Ele não conseguia respirar. Ele sentiu seu peito arfar e a primeira onda de pânico fluiu através dele quando sua visão escureceu e ele percebeu que estava flutuando... se afogando...

De repente, houve outro som, um grito sem palavras e estridente. O peso nele se contraiu e dobrou e, de repente, as mãos soltaram-se de sua garganta. Por um instante, mas foi o suficiente. Cuspindo e vendo pontos brancos flutuando em uma névoa de escuridão, ele se jogou de lado e rolou, saindo do homem caído.

Mesmo cambaleando, balançando a cabeça embriagada, Rufus se levantou e ficou olhando.

— Rufus! — Amabel assobiou. — Agora.

Rufus a viu onde ela estava ao lado da porta, um atiçador de fogo e ferro forjado na mão. Ele viu Lorde Prolegnac olhar para ele aturdido e percebeu o que deveria ter acontecido. Ela bateu nele! Ele pegou sua espada onde havia caído e assentiu.

— Amabel, Brogan. Fora!

Brogan já estava na porta, uma espada afiada na mão. Amabel correu para a porta e parou, olhando para trás.

— Corra! — Gritou Rufus. Ele gesticulou para ela e seguiu seu próprio conselho ao ouvir Lorde Prolegnac se levantar. Ele correu. Ele fechou a porta atrás deles, mas sabia que não poderia trancá-la e isso atrasaria seu inimigo apenas alguns segundos. Ele se juntou a Brogan e Amabel enquanto corriam para as escadas.

Eles correram para baixo. Atrás deles, ele podia ouvir Lorde Prolegnac, com as botas duras na pedra.

— Como... sem saída? — Ele gritou para Amabel.

— Vá para a esquerda! — Ela sussurrou enquanto corriam. — Não... fora... a frente.

Rufus assentiu. Assim, ele podia ouvir o homem berrando para os guardas e sabia que o caminho pelo portão da frente seria barrado para eles. Era a casa de Amabel, porém, e ele confiava que ela conhecia todas as saídas. Ele a seguiu e Brogan, o peito arfando, a garganta doendo onde a quase asfixia havia queimado, enquanto corriam.

— Por aqui! — Gritou Amabel. — Pela entrada dos fundos.

Eles a seguiram por um corredor com um teto alto e, correndo sobre o chão de pedra em direção ao portão dos fundos. Lá, eles atravessaram.

A noite estava fria. Rufus estremeceu, ofegando em ar gelado, dobrou-se com a dor na garganta. Ele ouviu os sentinelas na muralha gritando.

— Vá! — Ele sussurrou para Amabel. Ele tinha que ter certeza que ela saísse daqui.

— Nós vamos juntos, — ela disse de volta. — Todos nós! — Ela gritou, estendendo a mão para ele.

Amabel e Brogan correram e Rufus fez o melhor que pôde para continuar. Sua cabeça doía ainda, como durante a asfixia. Ele seguiu os dois pelo caminho em direção a um portão na muralha.

— Aqui! — Amabel sussurrou. Ela recuou um raio e então eles estavam correndo para a floresta.

— Parem eles! — Alguém gritou.

Uma lança assobiou no alto, sacudindo as folhas.

Rufus tropeçou atrás de Amabel e Brogan e juntos eles se dirigiram para a segurança das árvores. Eles correram e correram. Rufus pensou que poderia expirar correndo, com a cabeça doendo, os pulmões queimando. Quanto pior para Amabel e Brogan estava? Eles correram.

Depois de alguns instantes, Amabel parou, ofegante. Ele podia ouvir que ela estava com dor, seu peito arfando enquanto soltava a respiração em seus pulmões. Ele e Brogan pararam e olharam ao redor. Ele se ajoelhou para frente, tossindo. Brogan tinha as mãos apoiadas nos joelhos, puxando os pulmões de ar.

— Nós parecemos... seguros, — ele sussurrou.

— Sim, — Amabel murmurou. Ela sentou-se pesadamente. Ela se inclinou contra o tronco de uma árvore e fechou os olhos.

Brogan sentou-se também. Todos ficaram sentados em silêncio por algum tempo, recuperando lentamente suas forças.

— O que em nome do céu... acabou de acontecer? — Brogan sussurrou.

Rufus suspirou.

— Não... tenho ideia. — Ele puxou outra respiração lenta e áspera. Seu peito ainda doía.

— Lorde Prolegnac — Amabel assobiou o nome — mandou meu avô embora. Ele assumiu o controle de Buccleigh. Nós temos que ir.

— Eu notei, — disse Rufus, tossindo. — Mas por que?

— Eu não sei, — disse Amabel. Ela mudou de posição e Brogan achou que ela estava tentando se levantar. Ele estava cansado demais para tentar algo. Ele sabia que deveriam ir, mas aqui, na sombra profunda das árvores, eles estavam, pelo menos, longe do risco dos guardas no momento. Ele ouviu um chifre de caça à distância e suspirou, ficando lentamente de pé.

— Devemos ir, — disse ele.

Amabel assentiu.

— Há um vau aqui perto, — disse ela. — No rio há um moinho. Nós poderíamos dormir em um dos celeiros.

Rufus franziu a testa.

— Eles não nos entregariam aos guardas?

Amabel sacudiu a cabeça.

— Eu conheço o Sr. Webster o moleiro e sua esposa, — explicou ela. — Eles me conhecem desde que eu era uma garotinha, brincando nesses bosques. Eles não me trairiam.

Rufus tinha menos certeza de sua lealdade, mas suspirou e se levantou. Não era como se eles tivessem muita escolha. A noite caíra depressa e as florestas tinham seus próprios perigos, como eles sabiam. Eles tinham que encontrar algum lugar para passar a noite.

— Bem, então. Lá vamos nós.

Eles seguiram os passos lentos de Amabel para as árvores.

Enquanto caminhavam, Rufus encontrou sua mente lentamente se acomodando novamente. Ele encontrou-se juntando eventos, tentando dar sentido a eles.

Amabel olhou para ele.

— Como você... me achou? — Ela perguntou. Seus olhos azuis eram enormes e Rufus percebeu pela primeira vez que ela havia sido mantida em cativeiro naquele lugar. Ele poderia estar cansado, mas quanto pior sua provação foi? Ele pegou a mão dela. Ela se encolheu, mas deixou que ele segurasse seus dedos e eles caminharam juntos para a floresta. Quando o fizeram, ele pensou em sua resposta.

— Eu estava... foi um palpite de sorte, — disse ele lentamente. — Lembre-se de que descobrimos que o duque de Astley tinha... tentado nos deter na floresta?

— Sim, — perguntou Amabel, franzindo a testa. — O que isso tem a ver com ele?

Rufus suspirou.

— Eu não sei, minha lady. Talvez nada. Exceto pelo fato de que, quando chegamos a Buccleigh — indicou Brogan, incluindo-o na conversa, — tivemos uma corrida com os guardas. Tive a ideia de fingir ser um enviado de Astorland. Isso nos colocou dentro

Amabel olhou para ele. Seus olhos eram enormes, lábios macios separados em uma pequena expressão de horror.

— Você quer dizer... — ela parou. — Oh. Isso explica muitas coisas. Muitas.

— Amabel? — Rufus se sentia confuso. — Você poderia me dizer mais..?

Ela se virou para ele com uma pequena carranca no rosto.

— Eu direi a você, mas primeiro vamos encontrar o moleiro. Estamos com frio e cansados, e precisamos encontrar um lugar seguro antes do anoitecer.

Rufus assentiu.

— Você está certa. Vamos lá.

Eles seguiram pela floresta, seguindo uma trilha.

— Certo. Buccleigh é ali — disse Amabel depois de alguns instantes. Ela apontou na direção que eles tinham acabado de sair. Se olhassem, poderiam ver a forma escura e volumosa da fortaleza que se erguia acima da linha das árvores, dando-lhes uma indicação de direção. — Então, devemos ir para a direita.

Ela andou corajosamente e Rufus a seguiu. Brogan andou atrás deles, estranhamente silencioso.

Ele está pensando em sua primeira luta real, pensou Rufus conscientemente. Era possível que ele tivesse matado alguém lá atrás. Ele deve ter lutando por isso, como Rufus sabia que fez. Ele decidiu que era melhor não perturbá-la.

— E deve estar à frente agora, — disse Amabel, parecendo hesitante.

Rufus parou ao lado dela enquanto ela se levantava mais, tentando ter uma ideia de onde eles estavam. Então ela assentiu.

— Sim. Continue. Não está muito longe agora.

Rufus assentiu e eles continuaram. Ele a viu sorrir.

— Ah. Ouça. Aqui estamos.

Todos ouviram o som da água escorrendo, um som doce e suave em algum lugar entre uma risada e uma música. Estava escuro na floresta agora, e era impossível ver o caminho na luz fraca que se filtrava entre as árvores.

Quando chegaram ao moinho, Amabel foi em frente sozinha e, um momento ou dois depois, acenou para eles.

Rufus olhou para ela e limpou a garganta.

— Eles disseram que vão nos esconder. Nós devemos ir para os estábulos. É quentinho.

Rufus assentiu e os três entraram no prédio de madeira com o chão de terra coberta de palha. Ele andou até a parede dos fundos e se deslizou para baixo, devagar. Os outros dois se sentaram ao redor dele.

— Você poderia nos dizer o que nossos amigos no castelo estão jogando? — Rufus perguntou suavemente.

Amabel assentiu.

— Eles queriam que eu me casasse com o duque de Astley agora. Por procuração Eu acho que o homem que eles pensaram que você era deveria ser um enviado... — ela parou, balançando a cabeça cansada.

Rufus sentiu as sobrancelhas subirem em sua despedida.

— Eles queriam que você se casasse com ele agora? Por que moça?

Amabel suspirou

— O duque de Astley precisa de sua herança agora. Ele me vê como um meio para obtê-lo. Ele está em aliança com os franceses, eu acho e isso explicaria Lorde Prolegnac, não é? Eles concordaram em trabalhar juntos para ajudá-lo a assumir o controle de Buccleigh.

— E seu avô? — perguntou Rufus devagar.

Amabel mordeu o lábio.

— Eu não quero pensar sobre isso. O avô está em grave perigo. Ele saiu esta tarde com uma comitiva dos homens. Eu suspeito que Prolegnac os colocou para assassiná-lo. Ou alguns deles, de qualquer forma. — Ela se inclinou para frente, apoiou os cotovelos no colo e cobriu o rosto com as mãos.

Brogan franziu a testa.

— Devemos voltar?

Amabel sacudiu a cabeça.

— Não podemos evitar isso agora. Tudo o que podemos fazer é ficar aqui. Esperar pelo amanhecer.

— Sim, — sussurrou Rufus. — Sim, na verdade nós não podemos.

Amabel ficou vermelha, um ato que fez Rufus limpar a garganta. Ali estavam eles, agachados juntos em um celeiro. O lugar era silencioso e coberto de palha, e cheirava a farelo e à proximidade de animais de fazenda. No entanto, aqui com o ombro pressionado em Amabel, ele sentiu que não havia um paraíso maior na terra. Ele se virou e sorriu em seus olhos.

— Nós devemos dormir, — disse ele suavemente.

Amabel assentiu.

— Nós estaremos seguros aqui. Sim. Deveríamos dormir... — ela fechou os olhos e Rufus sentiu pena de como estava completamente exausta e pálida. Ele tirou a capa.

— Devemos compartilhá-lo, — disse ele gentilmente. Ele olhou para Brogan, que deu de ombros.

— Eu posso dormir no feno, senhor. Não vai me machucar. Às vezes, faço isso no verão, quando é bom dormir fora de casa.

Rufus levantou uma sobrancelha e observou Brogan enrolado no feno. Ele deu de ombros e desdobrou seu manto sobre os ombros, espalhando-o sobre Amabel. Ela já parecia adormecida. Ele deu de ombros e deitou ao lado dela. O ombro dele tocando o dela, a mão dele colocada cuidadosamente em seu próprio colo, embora toda animação nele gritasse para pôr uma mão em sua perna ou costas ou pulso. Sentou-se ali encostado na parede, o manto puxado para cima de ambos e, antes de saber o que estava fazendo, adormecera ao lado dela.

O manto estava quente, o som da respiração dela calmante e quieta. Eles estavam juntos e sozinhos. Seguros também.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

RETORNAR PARA EDIMBURGO


Amabel ouviu pássaros cantando, suaves, do lado de fora das janelas. Ela abriu os olhos. Ela estava rígida e machucada. Ela estava quente também. Ela deixou seus olhos acostumarem-se à escuridão.

Eles estavam em um estábulo. Ela se viu olhando para um teto de tábua com padrões de luz aparecendo aqui e ali. O céu além estava nublado, mas não chovia, e ela estava agradecida pela chuva ter sido mantida fora naquela noite também. Ela ouviu um som suave e virou para a esquerda.

Rufus estava lá. Ele estava sentado fazendo uma pequena fogueira logo na entrada. Ela sorriu e ele olhou para cima e seus olhos se encontraram.

— Amabel, — ele sussurrou.

— Rufus.

Ele deixou seus lábios se moverem lentamente através dos dela e eles se beijaram. Ela suspirou quando o beijo acendeu seu corpo e ela se inclinou para trás, deixando sua língua explorar sua boca lentamente. Ela riu e ele se afastou.

— Amabel, — ele disse gentilmente.

— O quê? — Ela perguntou. Ela estava com frio, machucada e cansada. No entanto, ela estava tão feliz.

— Eu deveria me fazer útil com o fogo, — disse ele com um sorriso. — Mas confesso que é difícil se concentrar em mais nada. Eu estou tão feliz.

Amabel sentiu seu coração acender com calor. Ela sorriu e assentiu.

— Estou feliz também, — ela sussurrou. — Posso ajudar com o fogo?

— Não, — ele disse gentilmente. — Você descanse, querida.

Amabel sentiu seu sangue se aquecer com o gentil termo carinhoso. Ela sorriu e seus olhos se encontraram e se seguraram.

— Obrigada, querido.

Ele riu e se voltou para o fogo. Amabel se esticou e ficou de pé, olhando para os campos além. Seu corpo inteiro estava apertado e machucado, e sua cabeça doía. Ainda estava feliz. Ela olhou em volta.

— O que devemos fazer?

Rufus suspirou.

— Devemos voltar para Edimburgo, — ele disse suavemente. — Não tenho dúvidas de que Lorde Callum deve ser exposto pelo que fez.

— De fato, — disse Amabel. Um pensamento preocupante ocorreu a ela então. — Meu avô? — Ela sussurrou. — O que aconteceu com ele?

Brogan franziu a testa. Ela viu seu rosto se endurecer e sentiu um profundo desespero. Achava que o avô dela fora ferido, talvez morto. Uma mão de gelo se moveu sobre seu coração.

— Devemos avisar as autoridades assim que voltarmos, — ele disse suavemente. Amabel assentiu. Então ela se lembrou de outra coisa.

— Lorde Prolegnac. Ele... ele disse que meu pai tinha sido chamado em negócios urgentes também. E se ele... — ela engoliu em seco, não querendo considerar isso. — E se ele foi machucado de alguma forma? — Ela nem sequer iria considerar que ele poderia estar morto agora.

— Nós vamos encontrá-lo. — Rufus disse com firmeza. — Estes dois responderão por seus feitos errados.

Amabel suspirou e sentou-se em um tronco. Ela se sentia esgotada. Outro pensamento ocorreu a ela. Este era mais agradável.

— Se Lorde Callum for descoberto como o tipo traiçoeiro que ele é, então... então...

— Então você provavelmente vai ser libertada de ter que se casar com ele, — disse Rufus com um sorriso enorme. — Eu sei.

Ambos sorriram um para o outro. Amabel sentiu seu coração se encher de alegria. Ela se virou para Rufus e pegou a mão dele. Ele sorria com seus olhos.

— Minha querida, — disse ele suavemente. — Eu não sei se eu...

— Oh, Rufus.

Ela se inclinou para frente, e eles se beijaram. Ela suspirou quando seus lábios se moveram tão suavemente sobre os dela e sentiu o toque suave de sua mão em seu cabelo, tão suave quanto uma brisa de verão. Então ela se endureceu quando alguém apareceu na porta.

Ela se virou para ver Brogan parado na porta, as mãos dele segurando um balde de água e um pedaço de pão dormido e seus olhos enormes e brilhantes.

Rufus se virou e olhou para ele, uma expressão de culpa no rosto.

— Bem, se isso não vai vencer os concursos de arco e flecha, — disse ele com um sorriso.

— Brogan, — disse Rufus com uma risada.

— O que, meu lorde?

— Venha tomar um café da manhã, — ele disse com carinhosa exasperação.

Durante o café da manhã eles planejaram. Distribuíam o pão e a água, e Amabel mastigou e engoliu, pensando que a comida era o melhor que já provara. Ela estava faminta e exausta depois do trauma do dia anterior. Ela também estava tão feliz.

— ...assim que voltarmos, — disse Rufus, — vamos ao juiz.

Amabel franziu a testa.

— Não deveríamos ir a corte? — Perguntou ela. — Os amigos do meu pai estão lá. Eles seriam capazes de nos ajudar melhor.

Rufus piscou e assentiu.

— Você está certa, milady, — ele concordou.

Amabel sorriu. Sua mão se moveu para cobrir a dela. Eles ficaram sentados por um tempo.

O único som no estábulo vazio era a canção distante do rio e o som de Brogan comendo.

O sol brilhava através das rachaduras no telhado e Amabel se mexeu, deixando-se aquecer. Ela engoliu o último pedaço do pão e ficou de pé.

— Vamos, — disse ela, alongando-se. — Devemos agradecer aos nossos amigos moleiros e depois ir.

Rufus assentiu.

— Eu também vou.

Quando Amabel agradeceu aos Websters por sua ajuda, eles insistiram em arranjar lugares na carroça que ia para Edimburgo com os sacos de farinha. Eles concordaram, as cabeças balançando ansiosamente, e partiram na parte de trás da carroça.

Acelerando pela zona rural primaveril, apoiando-se em um saco de farinha e com o céu quente e cerúleo acima deles, Amabel tinha certeza de que nunca se sentira tão feliz em todos os seus dias. Eles estavam indo para casa. Então ela estaria livre para se casar com o homem que amava.

Papai nunca pensaria em dizer não agora. Não, agora, que ele saberá como Rufus salvou a todos nós.

Ela olhou para Rufus, concentrada no seu rosto limpo e forte e nos cabelos castanhos e macio, observando, atento e alerta, enquanto se afastavam. Ele era tão lindo. Ela achou sua mente vagando por detalhes de como que ele poderia parecer abaixo daquela camisa e sentiu-se corar.

Amabel! Você é a filha de um duque. Pare com esses pensamentos vergonhosos!

No entanto, ela não podia. Ela sorriu, sentindo a excitação correr através dela. Ela estava quase lá agora.

— Ooah... — o moleiro falou quando eles se juntaram à estrada principal. Eles rodavam e logo as paredes de Edimburgo estavam se aproximando.

Quando chegaram ao mercado, Brogan e Rufus saltaram e Rufus desceu Amabel.

— Obrigada, — disse ela ao Sr. Webster. — Eu cuidarei para que você e sua esposa recebam uma recompensa digna. Mas por enquanto, por favor, aceite isso, — ela disse e pegou de seu vestido sua última moeda.

O Sr. Brewster franziu a testa.

— Não, milady. Eu não posso pegar isto...

— Por favor, — disse ela. — Eu insisto. Nós teríamos perecido sem a sua ajuda. Com isso, vamos encontrar a felicidade. Obrigada é mais do que posso dizer.

Ele corou e gaguejou seu agradecimento, mas finalmente, ele aceitou. Ele seguiu seu caminho.

Amabel e Rufus continuaram pelo mercado. Brogan andou ao lado deles. Eles se dirigiram para o castelo.

Quando chegaram aos portões, Amabel viu o olhar do sentinela.

— Sir Rufus e Lady Amabel, — disse ela antes que eles tivesse a chance perguntarem quem eram. — E Brogan, — acrescentou, indicando o jovem que estava do seu lado esquerdo. — Buscamos uma audiência com lorde Glendower. Ele não se recusará a me ver — acrescentou ela com confiança.

— Minha lady.

Eles esperaram no pátio. Eles não precisaram esperar muito.

— Minha lady! — Disse um guarda. Ele parecia agitado. — Por favor. Venha comigo.

Eles o seguiram até o salão.

Eles se encontraram com Lorde Glendower e explicaram seu caso. Quando terminaram, seu rosto estava muito sério.

— Eu sei que você fala a verdade, minha lady Amabel — disse ele gravemente — porque sei que você não é mentirosa. Mas você tem provas?

Amabel assentiu. Ela enfiou a mão no vestido e tirou o broche que haviam encontrado.

— Nós tiramos isso de um dos fora-da-lei, — explicou ela.

Ele assentiu. Seus olhos ficaram grandes.

— Eu entendo, — disse ele gravemente. — Bem, isso torna o caso mais convincente. Muito convincente, de fato.

Ele colocou o broche no bolso.

— Agora, — ele acrescentou, continuando, — vou levar isso para o juiz e tomaremos as medidas que devem ser tomadas. Vocês dois foram corajosos. Vou garantir que seu caso receba a devida atenção. Agora vá e descanse.

Amabel suspirou e assentiu. Ela estava quase caindo de exaustão. Ela se virou para Rufus, que sorriu.

— Eu vou ver você em breve, — ele prometeu.

— Eu também, — ela sussurrou. Ela andou insegura no salão e subiu as escadas. Era tão estranho estar de volta.

Enquanto seguia pelo corredor até o andar de cima, não pôde deixar de considerar que, por toda a beleza intensa do lugar, uma parte dela estava mais feliz na floresta com Rufus, ou dormindo no estábulo na palha.

Ela encontrou seu quarto e bateu.

— Olá? — Sua voz era o mais baixo sussurro, e ela não esperava ser ouvida, mas alguém a ouviu e a porta se destrancou. Uma cabeça olhou para fora.

— Minha lady? — Glenna olhou para ela.

— Glenna, — disse Amabel. Ela sorriu para sua acompanhante. Seus olhos eram suaves e ela estendeu a mão com uma expressão de desânimo quando Amabel se balançou onde estava.

— Minha lady! — Glenna disse novamente. — Entre. Oh, minha pobre lady! Venha. Sente-se. Vou preparar um banho e você deve trocar de roupa e lavar o cabelo... Ah! Olhe para você. Minha pobre, pobre querida...

Enquanto Glenna se agitava ao seu redor, Amabel sentiu o calor suave da cama sob ela e lutou para ficar acordada. O banho chegou mais rápido do que ela pensava ser possível, em poucos instantes, ela estava flutuando em vapor perfumado, e seus olhos estavam se fechando enquanto ela saboreava o delicioso calor.

Enquanto ela se banhava, Glenna arrumava suas roupas sujas e conversava.

— O palácio inteiro estava em tumulto quando você desapareceu, minha lady, — ela estava dizendo. — Lorde Glendower era o principal entre eles. Ele teria as tropas à sua procura se estivesse sob seu poder... — ela sorriu. — E também faltou Sir Rufus. Seu valete estava frenético.

Amabel sorriu, tão satisfeita por ver sua amiga novamente.

— O que mais aconteceu? — Ela perguntou enquanto a água morna revivia lentamente seu corpo, lavando o pior da tensão.

— Bem, Lorde Glendower enviou emissários para procurar seu pai. Quando ele não teve notícias de Buccleigh, acredito que os enviou para mais longe.

— Oh? — Amabel se levantou. — Ele teve notícias? — Seu coração estava batendo em seu peito. Onde estava o pai dela? Ele estava seguro? Ele ainda estava vivo? E o avô dela? — Oh, Glenna...

Glenna sorriu.

— Eu não sei o que ele descobriu, — disse ela suavemente. — Mas tenha certeza de que seu pai está vivo.

Amabel sentiu seu coração amolecer.

— Oh, Glenna! — Ela disse, sentindo suas pernas enfraquecerem de alívio onde elas as apoiavam. Ela teria escorregado no banho se Glenna não a ajudasse a levantar e sair para vestir a camisa da noite. Amabel passou os braços em volta da serva e elas se abraçaram, seu coração finalmente se sentindo seguro e cuidado na presença afetuosa e carinhosa da mulher.

Ela dormiu pouco tempo depois disso. Quando ela acordou, já era noite. Ela ficou surpresa com o quão bem descansada ela se sentia. Glenna estava lá quase imediatamente — Amabel suspeitava que ela tinha se sentado ao lado da cama o dia todo — e ela ajudou a vestir o vestido azul aveludado que era seu favorito.

Ela comeu em uma pequena sala naquela noite, com Rufus ao lado dela.

— Eu poderia comer o guisado inteiro sozinha — Amabel declarou avidamente enquanto se sentava à mesa, o rico aroma de guisado e bannocks em suas narinas.

Rufus riu.

— Eu também, minha lady.

Amabel sorriu, seus olhos brilhando. Ela estendeu a mão e cobriu a mão dele.

— Minha lady, — ele sussurrou.

— Rufus... — ela suspirou quando ele se inclinou para frente e gentilmente a beijou. Ela podia sentir seu corpo respondendo, cada parte dela tremendo com seu toque gentil e experiente.

— Amabel, — ele sorriu.

Eles comeram, e ela se viu olhando para ele ocasionalmente, para encontrar seu olho já sobre ela. Ela corou.

Depois, eles saíram para o salão e desceram para o pátio. Eles ficaram sob os arcos abobadados e a noite azul.

— Amabel — disse Rufus gentilmente. — Eu sei que não tenho liberdade para te perguntar isso. Ainda não, até sabermos que você está livre das obrigações...

Amabel sentiu seu coração se encher de luz.

— Sim, Rufus, — ela disse suavemente. — Sim, eu vou casar com você. No meu coração já estamos prometidos. Nós fizemos essa promessa há muito tempo atrás. Eu sinto como se sempre soubesse que você era meu e eu sua. Eu vou casar com você e vou amá-lo sempre. Para sempre.

Rufus sorriu para ela. Seus lábios tocaram os dela e ela olhou para aqueles gentis olhos castanhos com suas linhas de sorriso e seu calor. Ele a beijou.

— Bem, então. Eu tenho minha resposta. E você tem minha promessa. Eu vou te amar agora e sempre, minha Amabel. Para sempre.

Eles se beijaram de novo e sob a luz azul fria das estrelas, eles se abraçaram, e pareceu a Amabel que o tempo pareceu parar. Tudo o que ela sabia era da sensação de seu peito pressionado contra ela, o calor de seus braços em volta dela e a sensação de seus lábios, beijando-a.

Eles estavam livres para amar.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

A VERDADE


Rufus acordou em uma maciez de almofadas e olhou para o teto que era de pedra cinza e pendia em algum lugar sob a neblina do sol da manhã sobre sua cabeça.

Ele se sentou, piscando.

Sua mente estava embaçada pelo sono cansativo e ele não tinha ideia de onde estava. O primeiro pensamento que lhe veio à mente foi imaginar onde Amabel estava. Ele parecia lembrar que eles estavam na floresta, escondidos, e ela deveria estar perto de algum lugar.

Com o pensamento veio a memória. Ele lembrou que ele estava no castelo. Ele havia chegado no dia anterior e Amabel estava onde deveria estar, em seu próprio quarto do outro lado do corredor. Ele se lembrou da noite anterior e corou.

Ele estava tão feliz.

Ele se deslizou para fora da cama e foi até o grande salão para o café da manhã. Lá, ele ficou surpreso com a notícia.

— Você foi convocado para a sala de audiência.

Rufus franziu a testa.

— Eu? — Ele perguntou. — Por quê?

Seu comandante deu de ombros.

— Não adianta me perguntar, Rufus — ele disse honestamente. — Bem poderia me pedir para dançar uma quadra. O que não vai acontecer também.

Ele bocejou e Rufus riu. Ele sentou-se para o café da manhã e depois correu para a sala de audiência.

Ao subir as escadas, ouviu passos descendo. Ele olhou para cima. Em um longo vestido azul com uma saia larga com desenhos bordados, seu cabelo preto em cachos, estava Amabel.

Ele sorriu incerto.

— Olá, — ele disse.

Ela sorriu.

— Bem, isso não é incomum, não é? — Ela riu. — Venha. Temos que ver quem está aqui! — Ela soou animada e Rufus sentiu sua tensão dar lugar à alegria.

Na sala de audiências, ele ficou surpreso ao ver um homem alto com cabelos negros e um rosto comprido e duro como um granito. Amabel olhou para o homem com uma alegria completa nos olhos dela.

— Rufus, — disse ela com prazer. — Venha conhecer meu pai.

Rufus sentiu-se enraizar-se. Este homem severo e imponente, com o cabelo preto e o físico musculoso e pensativo, era o pai de Amabel? Ele se sentiu nervoso. Ele engoliu em seco.

— Meu lorde, — ele gaguejou, curvando-se baixo.

Quando ele olhou para cima, a expressão do homem era a mesma, embora seus olhos negros tivessem um olhar de interesse neles que não estavam lá antes.

— Venha para a frente, Sir Rufus, — ele disse suavemente. — Eu ouvi muito sobre você. E posso dizer o quanto estou satisfeito em conhecê-lo? Acho que encontraria um destino terrível sem sua ajuda. Para não falar da própria fuga da minha filha. Eu estremeço por minha própria parte em colocá-la em perigo.

Rufus sacudiu a cabeça.

— Você não quis dizer isso, senhor, — ele disse rispidamente. — Estou feliz em te ver bem. Amabel estava tão preocupada.

— Eu acredito que sim, — disse ele com um sorriso de lábios finos que, apesar de toda a sua gravidade, lembrou Rufus de sua filha. — Eu já recebi muita censura a esse respeito.

Rufus riu.

— Eu acredito em você.

Amabel olhou para ele com olhos grandes, lábios entreabertos e bochechas coradas. Então ela olhou para o pai. Ela riu.

— Vocês dois! — Ela disse, balançando a cabeça e ainda rindo de alegria, embora estivesse fingindo estar zangada com os dois. — Qualquer um pensaria que sou a pessoa mais mal-humorada do mundo. Teimosa, intransigente e impulsiva e... — ela balançou a cabeça.

— Pior temperamento? Não — o pai dela disse gentilmente. — Intransigente? Na verdade, não. Teimosa e impulsiva... — ele deu um grande sorriso que incluía Rufus na alegria, gentilmente.

— Oh, pai, — disse Amabel, rindo quando ela o abraçou. — Você é uma tentação. Vocês dois — acrescentou ela.

Mais tarde, eles conversaram. O pai de Amabel explicou que ele fora chamado para Astmarsh, outra fortaleza do duque de Astley, a um dia e meio de distância. Ele havia chegado lá para não encontrar sinal de insurreição na fronteira, e sentiu que algo estava errado. Quando ele retornou ao castelo, no dia seguinte à sua própria fuga, ele tinha ouvido falar de assuntos de administração.

— Seu avô está seguro, — disse ele. — Ele nunca chegou ao porto. Seu cavalo perdeu uma ferradura e ele insistiu em parar na pousada a noite para ver seu cavalo ferrado para a viagem. Nós o buscamos na pousada na manhã seguinte. Ele está em segurança abrigado em casa, reclamando amargamente sobre a falta de cuidado com seus cavalos.

Amabel riu deliciada. Rufus a observou, sentindo seu coração brilhar de calor. Ele ficou tão satisfeito por ela estar tão feliz.

— Agora, — seu pai disse a ele. — Eu entendo que você é a escolha da minha filha. Ela sempre teve sua própria escolha neste assunto. Fiquei profundamente angustiado ao ouvir como o acordo com Lorde Callum foi exagerado. Sempre foi para ser apenas uma possibilidade, nunca acordada como o homem disse.

Rufus viu Amabel soltar um longo suspiro.

— Eu deveria ter acreditado em você, pai, — ela disse suavemente.

Seu pai sorriu.

— Eu não te culpo. Eu também sou uma criatura teimosa e impulsiva, não tão diferente de você. Você pensou que eu tinha perdido a minha mente durante a noite, de repente. Só lamento não estar aqui para dizer a verdade.

Amabel sacudiu a cabeça.

— Não foi sua culpa, pai. Nada disso foi. Estou tão feliz em saber a verdade finalmente. Eu deveria ter confiado em você.

— Bem, agora você pode, — disse seu pai com um brilho nos olhos. — E agora, acho que, depois de almoçarmos aqui, deveríamos estar a caminho. Sua mãe vai querer tempo para preparar Lochlann para o evento. E você a conhece... nós teremos que dar a ela um aviso prévio.

Amabel deu uma risadinha e Rufus sorriu, e então os três desceram para almoçarem juntos.

Depois disso, eles deixaram o castelo. Eles cavalgaram em uma longa comitiva. O pai de Amabel estava na cabeça, com Amabel logo atrás. Glenna, sua serva, montava um palafrém ao lado dela e Rufus cavalgava do outro lado. Seamus estava atrás dele com Brogan. Eles tinham cinco guardas como escolta na estrada, cortesia de Lorde Glendower, que insistiu em fazer o máximo para permanecerem seguros.

— A jornada levará cinco dias — informou Amabel a Rufus enquanto cavalgavam. — Quando chegarmos a Lochlann, é claro que você está convidado a ficar conosco o tempo que quiser.

Ela olhou para as mãos delicadas nas rédeas.

Rufus sorriu.

— Eu gostaria de ficar com você contanto que me queira, Lady Amabel, — ele disse sinceramente.

Amabel corou e eles seguiram pela tarde.

A jornada foi mais rápida do que Rufus imaginaria ser possível e não parecia que haviam passado cinco dias no momento em que eles estavam subindo um longo caminho de paralelepípedos em direção a um castelo.

Rufus observou enquanto Lochlann se aproximava. Com suas paredes escuras e torres altas e severas, o lugar tinha uma qualidade sombria e imponente. Ele estremeceu enquanto cavalgavam, tanto pela antecipação quanto pela brisa fresca que se elevara com o pôr do sol da tarde.

— Meu lorde! — A sentinela gritou, parecendo surpresa. — Bem-vindo a casa! Sean...! Abra o portão.

O portão foi aberto e depois eles estavam no pátio. Rufus viu Amabel tensa e então ela saiu da sela, subindo as escadas.

— Mãe!

Sorriu quando uma mulher alta, de cabelos ruivos escuros e graves olhos cinzentos, abraçou Amabel. Então ela se virou para Rufus.

— Bem-vindo, — ela disse, e parecia que não havia nenhuma explicação necessária entre esse par de mãe e filha. Rufus sentiu que ela sabia exatamente quem ele era.

— Minha lady, — ele se curvou.

Ela sorriu e se virou novamente para Amabel, que sorria sem fôlego.

— Bem, então, — a lady de Lochlann disse, voltando-se para os dois. — Eu acho que nós temos algum planejamento para fazer, sim, Amabel?

Amabel sorriu, o rosto pálido corou.

— Sim, mamãe.

Rindo, as três entraram juntas.


CAPÍTULO VINTE E QUATRO

UM CASAMENTO E UM JANTAR


O casamento foi planejado para um mês após o retorno de Amabel a Lochlann. Parecia muito tempo para esperar, mas, com os preparativos e exigências — o vestido, o buquê, os convidados, — Amabel achou que estava passando rápido e quase poderia ter desejado um mês a mais.

Quase.

Ela acordou na manhã do dia do casamento com um tremor no estômago que a fez transbordar de alegria. Ela sabia que não poderia ter esperado por mais tempo.

— Bom dia, minha lady, — disse Glenna, aparecendo em seu quarto.

— Bom dia, Glenna, — ela sorriu. Ela considerou adicionar. — Sra. MacGowan, pois Glenna se casou com o guarda bonito com quem dançou no baile. Seu casamento havia sido duas semanas antes. Amabel estava tão feliz por ela.

— Eu trouxe o vestido do solar, — Glenna sorriu. — Eu acho que suas tias finalmente concordam em algo, o trabalho só está terminado com a saia.

Amabel sorriu.

— Graças a Deus por isso.

Ela e Glenna riram sobre como suas grandes tias de Dunkeld se preocuparam com o vestido. Ela deixou Glenna ajudá-la nisso, seu coração saltando.

Depois, ela se afastou do espelho e olhou para seu reflexo. Com um corpete com a base cortada em um “v”, a saia cheia e comprida, coberta em uma camada de renda preciosa, o vestido era elegante e estiloso. O decote era um oval baixo, as mangas tão compridas que cobria as mãos. O tecido era puro linho branco, tão macio que era de seda, o ajuste perfeito. Ela olhou para a mulher que olhava para ela do espelho.

Com seus longos cabelos negros soltos e escovados em uma juba fluindo, uma coroa de flores de laranjeira nos cachos, ela parecia ao mesmo tempo impressionante e bonita. Ela se virou na frente do espelho de prata, não acreditando muito que o reflexo era dela mesma.

— É lindo, — ela disse.

Glenna riu.

— Você está linda, minha lady. Agora, acho que é hora.

Ela entregou a Amabel o buquê de íris e margaridas e Amabel abraçou-a, com o rosto esticado por um sorriso.

— Oh, obrigada, Glenna, — ela fungou.

Sua acompanhante sorriu.

— Nada disso, — disse ela. — Agora vamos embora.

Ela recuou para Amabel sair pela porta e descer as escadas. Ela fez isso devagar, sentindo-se um pouco surreal. O vestido dela ficou atrás dela, o suave sussurro da renda na pedra era o único som enquanto ela se dirigia lentamente pelas escadas. Então ela estava de frente para seu pai, que estava lá, esperando para levá-la à capela no pátio do castelo. Ela engoliu em seco.

Este era o dia do seu casamento.

Ela atravessou o pátio, vendo multidões de guardas sorridentes e servindo homens e mulheres, e sentiu seu coração pairando acima da cena, todo o seu corpo cheio de felicidade.

A uma curta caminhada, ela estava entrando na escuridão verde da capela, o lugar iluminado pelas janelas do clerestório2 no alto da parede. Ela piscou, deixando seus olhos se ajustarem à escuridão no pequeno e silencioso espaço.

Então ela viu Rufus. Suas costas altas e retas, firmes e seu cabelo castanho escovado de modo que brilhava suavemente na luz esverdeada das janelas. Rufus parecia imponente e bonito. Ela descobriu que não podia olhar em nenhum outro lugar.

Ela subiu os degraus até o altar e se sentou ao lado dele.

Quando o padre deu um passo à frente para começar a cerimônia, Rufus olhou para o lado e Amabel viu sua bochecha se erguer em um sorriso. Ela estava usando um véu de chiffon, mas ainda podia ver seu sorriso. Ela sorriu de volta e esperou que ele pudesse ver também.

A cerimônia foi surpreendentemente curta. Amabel esperava sentir-se como se ela estivesse ali por um tempo, enquanto as frases em latim inchavam e fluíam ao redor dela, mas parecia que a cerimônia passava quase rápida demais.

Então o padre estava olhando para ela, esperando por sua resposta.

— Volo, — quero ela disse, muito distintamente, muito certa.

O padre repetiu a pergunta para Rufus, e sua resposta foi igualmente clara, tão firme quanto.

— Volo. — Eu quero.

O padre disse mais palavras e depois, abruptamente, acabou. Amabel sentiu Rufus se virar para encará-la. Então ele foi gentilmente erguendo o véu. Ela sentiu o coração bater em seu peito quando ele o puxou cuidadosamente sobre seu cabelo e o dobrou para trás. Ele sorriu com seus olhos.

Então, ternamente, cuidadosamente, com a mesma ternura que estava em seu olhar quando ele estava com ela no hospital de campanha, quando ele tinha se escondido na floresta com ela, quando eles fugiram do castelo, ele a beijou.

Amabel fechou os olhos. Seus lábios se moveram suavemente sobre os dela e ela sentiu-se respirar com a maravilha disso. O beijo foi tão hesitante, tão gentilmente colocado, que ela sentiu como se fosse um ato de adoração. Ela deixou que ele a abraçasse e o segurou para trás e seus corpos estavam pressionados juntos. Amabel estremeceu ao sentir seu batimento cardíaco, lento e firme, contra o dela. Ela deixou os lábios se separarem suavemente, permitindo que a língua dele entrasse.

Eles ficaram assim, os braços de um ao redor do outro, lábios se tocando, olhos fechados.

Então, com a mesma cautela com que colocara o beijo, Rufus estava afastado e eles se viravam para encarar a capela de novo, e os parabéns para eles.

Amabel engoliu em seco enquanto caminhavam lentamente pelo corredor e para as portas. Seu coração estava batendo em seu peito e ela se sentiu maravilhosa por dentro. A alegria borbulhava dentro dela e suas bochechas doíam por sorrir secretamente. Ela podia sentir o calor do toque de Rufus em seus dedos e sua alma subiu enquanto caminhavam juntos pelo corredor e saíam para o pátio para receber os parabéns do clã e da casa.

Então, lentamente, com a cabeça erguida e um sorriso radiante, eles estavam entrando no grande salão, de braços dados.

Amabel deixou Rufus conduzi-la ao estrado e eles se sentaram juntos, ela à direita de seu pai, ele à sua esquerda. Ela se sentava ao lado de sua mãe e ela podia sentir o joelho de Rufus contra o dela debaixo da mesa. Seu coração estava cheio de calor e ela corou.

Rufus olhou para ela inocentemente.

Amabel sorriu.

Ela sabia que ele estava a provocando e deixou seu pé descansar suavemente sobre o dele, e então moveu-o, sentindo o calor de todo o seu corpo com desejo.

Enquanto o pai dela propunha um brinde e o clã, servos de serviços, guardas, aldeões, moradores da cidade e comerciantes gritavam das muitas outras mesas no salão, ela achou seus próprios pensamentos deslizando para a parte do dia que se seguiria. A cerimônia da cama.

Ela viu Rufus corar enquanto o olhava e sabia que ele também estava pensando nisso. Seu coração batia lentamente em seu peito, uma intensidade pulsante que fez o sangue cantar em seus ouvidos. Ela achou que sua mente estava cheia de pensamentos de outras vezes juntos — os beijos no baile, os toques no campo de batalha, a doce proximidade quando dormia no celeiro do moleiro. Aquela noite na pousada juntos.

Como seria? Como seria a cama de Rufus Invermore? Só de pensar nisso fez seu coração bater mais rápido e seu ventre tremer de antecipação.

Ela sentiu a perna dele pressionando a sua sob a mesa e imaginou que ele estava pensando a mesma coisa. Ela corou.

A dança estava começando — o povo da cidade aplaudindo e batendo os pés enquanto saltavam para dançar. Amabel comeu um pedaço do delicioso peixe assado e mastigou, deixando o sabor intenso se espalhar por sua boca. Ela viu Rufus sorrindo para ela. Ele tinha um sorriso provocante.

— O quê? — Ela perguntou.

Ele levantou um quadrado de linho ao lado de seu lugar.

— Você tem molho no seu queixo.

Ela corou e, para sua surpresa, ele habilmente o alcançou e o enxugou. Mesmo esse contato fez seu sangue cantar em seus ouvidos. Ela não tinha ideia, como aquele olhar nela deixava seu coração batendo no peito assim, como iria continuar sentada nesse jantar?

Parecia que Rufus estava tendo dificuldades semelhantes. Ele olhou para ela, corado e com os olhos dançando.

— Amabel, — ele sussurrou.

— Sim?

— Você acha que devemos... — ele começou. Ele viu Lady Joanna se virar de onde estava sentada ao lado de Amabel e parou abruptamente.

Amabel mordeu o lábio, tentando não sorrir. Era uma empolgação deliciosa planejar uma fuga. Tudo considerado, afinal eles tinham prática.

— Sim, — ela sussurrou. Ela revirou os olhos na direção da porta que levava para fora do estrado.

Rufus assentiu.

Eles se sentaram em silêncio por um tempo. Amabel mordiscou um bannock com cuidado, tentando reprimir a crescente excitação dentro dela. Por fim, ela ouviu Rufus tossir.

— Meu lorde? — Ele disse, virando-se para o pai dela. — Por favor, me desculpe sair por um momento.

— Claro, filho. É claro — ele disse e se inclinou para tomar outro bocado de seu jantar, perguntando a Amabel se ela poderia passar-lhe o sal.

— Claro, — disse ela. Ela fez isso e depois esperou cinco minutos.

— Oh! — Ela disse com falso sorriso. — Eu vejo a Glenna, me chamando na pista de dança. Me desculpe, só um momento enquanto eu vou descobrir o que há de errado? — Ela perguntou.

— Claro, filha, — Lady Joanna disse suavemente. — Eu vou te ver daqui a pouco.

— Obrigada, mãe.

Sentindo seu coração bater de excitação, sentindo-se docemente perversa, Amabel saiu pelas portas para o pátio.

— Rufus? — Ela sussurrou.

Ele saiu das sombras e ela sentiu um par de braços fortes e quentes envolvendo-a. Seus lábios nos dela eram duros e apaixonados e a profundidade de seu desejo lhe tirou o fôlego. Então, com o coração batendo no peito, ele estava do lado dela e pegou sua mão.

— Vamos subir? — Ele sussurrou. Sua voz estava tão tensa quanto Amabel.

— Sim, — ela sussurrou. — Sim, por favor.

Eles atravessaram o pátio e subiram a longa escada esculpida, indo para o quarto.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

NOITE DE NÚPCIAS


A luz no quarto se apagara. O fogo tinha quase queimado e a sala estava cheia de uma rica névoa dourada. O ar cheirava a lavanda e o aroma quente das flores. Rufus, respirando, sentiu o coração batendo no peito com uma excitação constante e crescente.

Ele se abaixou e beijou Amabel novamente. Sua língua sondou seus lábios suavemente e ele sentiu todo o seu corpo palpitar com um desejo crescente enquanto empurrava entre seus lábios macios, saqueando o calor de sua boca. Ele a segurou contra o peito e tentou se controlar.

Ele podia sentir os seios dela pressionando seu peito e suas mãos envolveram sua cintura macia, encaixando perfeitamente na doce curva. Queria jogá-la na cama e tirar-lhe o fino vestido de linho, para permitir que seu membro empurrasse e empurrasse novamente, deixando-a transbordar com sua necessidade. No entanto, ele não faria isso. Esta era a noite dela assim como a dele.

Ele acariciou o cabelo dela suavemente e respirou o cheiro doce e suave deles. Seu corpo era curvilíneo e doce, e se pressionava contra ele quando a beijou novamente, desta vez mais devagar e ternamente.

Ela gemeu quando a língua dele a explorou e ele ficou tenso, incapaz de segurar por mais tempo. Ele passou os braços em volta dela e afastou um pouco para trás, até ficarem ao lado da cama macia e coberta de linho. Então ele a empurrou para cama.

Ela soltou uma risadinha e caiu na cama, suas curvas tão perfeitas no tecido creme da colcha. Rufus se afastou e a olhou deitada, o cabelo era uma nuvem ao redor dela, os seios apontando e empurrando para fora de sua forma doce de um jeito que disparou seu membro com desejo dolorido.

Ele esticou o comprimento de seu corpo ao lado dela nas cobertas e sua boca se moveu sobre a dela. Ele a segurou em seus braços, seus seios pressionando contra seu peito e ele estremeceu com a intensidade de seu desejo.

— Amabel, — ele sussurrou.

Ele passou a mão pelo cabelo dela e, em seguida, moveu-se lentamente para baixo, alcançando os botões das costas de seu vestido. Ele queria vê-la nua. Ele tinha que beijar cada centímetro desse doce corpo curvilíneo.

Ele desabotoou o botão mais alto e depois moveu a gola do vestido para baixo. Ele desfez o próximo e depois o seguinte. Ela ficou tensa e depois relaxou, e ele beijou seus lábios e, em seguida, moveu-se para baixo, acariciando seu pescoço. Sua pele era macia, tão macia. Ele lambeu e sentiu seu membro cheio de desejo quando ele alcançou a suavidade de seus seios. Ele puxou o vestido para baixo e, em seguida, gentilmente, o desamarrou. Ele a ouviu ofegar e lentamente beijou sua pele.

Ele puxou o vestido para baixo de seus seios e ficou tenso de espanto quando os olhou. Eles eram cheios e redondos, com mamilos rosados. Ele tomou um em sua boca e chupou, sentindo-o se endurecer debaixo de sua língua.

Amabel gemeu e ele trabalhou em seus seios com os lábios, amando o jeito que eles respondiam a sua língua. Ele se moveu para baixo, sentindo sua necessidade aumentar enquanto trabalhava no vestido pelo corpo dela até que ele estava em uma pilha no chão no final da cama. A vestimenta interna o seguiu.

Ele sentou-se na beira da cama e olhou para ela. A luz do fogo era suave em sua pele clara e cintilava ao longo de suas curvas, destacando-as docemente em luz e sombra. Ele provocou a si mesmo, deixando seus olhos viajarem de seu lindo rosto oval e pescoço longo, até os seios doces e a barriga, terminando no suave arredondamento de suas coxas.

Ele estendeu a mão e deixou-a acariciar a pele macia da perna dela e, então, muito gentilmente, separou as duas pernas. Ela ficou tensa quando a mão dele se moveu entre suas coxas e ele prendeu a respiração quando gentilmente a acariciou lá.

Ele se moveu para baixo, e ele deixou sua língua trabalhar lá, movendo-se sobre suas dobras doces. Ele a ouviu gritar, o respirar soluçando em sua garganta e sabia que ela estava pronta.

Ele se ajoelhou e olhou para o rosto dela, os olhos abertos e observando-o sem medo, apenas um desejo crescente que combinava com o seu. Ele sentiu seu membro latejar e se despiu rapidamente se ajoelhando entre suas coxas.

— Sim, — ele sussurrou.

— Sim, — ela sussurrou em resposta.

***

Amabel olhou nos olhos gentis de Rufus enquanto se deitava debaixo dele. Ela sentiu todo o seu corpo tremer quando ele se moveu entre suas coxas. Seu corpo era tão bonito, com os ombros largos, os bíceps ondulados e a cintura estreita. Ela sabia que queria ver mais, mas nunca imaginou que seria tão bonito.

Ela mal conseguia tirar os olhos dele enquanto ele se movia e, com muito cuidado, deslizou-se dentro dela.

Oh!

Ela ficou tensa, sentindo o grosso membro contra ela. Algo doeu e ela gritou, sabendo que seria doloroso, mas não esperando aquela dor breve e intensa. Então, quase tão logo a esfaqueou, a dor desapareceu, substituída por um prazer tão intenso que ela pensou que iria se derreter, que estava morrendo, que estava flutuando em um tonel de doçura que a atravessou e a envolvia enquanto ele se movia, lento e cuidadosamente, dentro dela.

— Oh, — ela ofegou. Ele estava se movendo devagar, mas cada impulso parecia pressionar novos pontos dentro dela, cada vez preenchendo-a com uma doçura que era parte cócega, parte dor, parte prazer. Ela o sentiu chegar a um lugar onde ela achava que o prazer poderia realmente dominá-la, de tão intenso. Cada vez que ele se movia as ondas de prazer sacudiam através dela, a princípio lentas e doces, e então intensas e quase insuportáveis enquanto ele se movia, cada vez mais rápido e mais rápido...

— Oh!

Ela gritou em voz alta quando a sensação se formou e, em seguida, rompeu sobre ela como a faísca que acende um inferno. Ela fechou os olhos e deixou a sensação fluir através dela, toda a sua parte inferior do corpo se sentindo como se estivesse se afogando em um banho de xarope, tão doce, tão dolorosamente quente.

Ela fechou os olhos quando ele gritou e caiu em cima dela e a abraçou. Ela colocou os braços ao redor dele e eles devem ter dormido, pois a próxima coisa que ela sabia era que ele beijava seus lábios e murmurava seu nome e depois rolava para se deitar ao lado dela.

Ela deitou com a cabeça no braço dele, seus próprios braços em volta dele e eles descansaram. Então, lentamente, ela sentiu a mão dele acariciar sua coxa e sentiu o corpo tenso e começou a sentir o mesmo desejo doce que tinha sentido antes, só que agora era mais lento, mais intenso, mais dirigido.

Eles encontraram prazeres, aprendendo as maneiras que gostavam de se tocar. Cada um deles aprendeu muito sobre seu próprio prazer e o do outro naquela noite até que, finalmente, desmoronaram e dormiram.

Dormiram com ela embrulhada em seus braços e, seus braços ao redor dele.

Na manhã seguinte, Amabel acordou com o cinza da luz se filtrando através das telas e o calor dos braços de seu amante em volta dela.

Ela se aproximou e eles ficaram juntos, saboreando o calor da manhã.

— Bom dia minha querida.

Amabel sorriu quando ele beijou seu ombro. Ela sentiu o corpo tenso novamente e percebeu com alguma surpresa que estava pronta para mais uma sessão amorosa.

— Bom dia, — ela sussurrou de volta.

Ele se moveu ao lado dela e ela descansou a cabeça no ombro dele, enquanto, juntos, eles assistiam a manhã se estabelecer sobre as colinas além da janela.

Amabel tinha certeza de que ela nunca havia se sentido assim antes.


EPÍLOGO


O dia estava escuro, embora fosse tarde. Amabel sentiu o calor do fogo acalmar seus ossos e se sentou, sentindo-se completamente contente.

— Meu querido?

— Mmmm?

Amabel sorriu para a mãe, que entrou brevemente. Seu rosto oval e liso era grave, mas seus olhos estavam quentes.

— Eu só queria perguntar se você gostaria de mais chá que eu fiz antes?

Amabel sorriu.

— É adorável, mamãe, — ela disse carinhosamente. — Mas isso me deixa tão pacífica que acho que posso me afastar para dormir e não acordar. Eu já estou muito tranquila.

Lady Joanna sorriu.

— Estou feliz em ouvir isso, filha.

— Estou feliz.

Lady Joanna sorriu.

— Eu acho que não preciso dizer o que previ?

Amabel sorriu.

— Eu acho que nós vimos o mesmo.

O sorriso de sua mãe iluminou seus olhos gentis.

— Estou quase certa disso.

— É uma filha, não é? — Ela disse. Ela descansou a mão em sua barriga protetoramente. Fazia seis meses desde o casamento e ela estava mais do que certa de que estava grávida.

— Sim, — Joanna sorriu. — Com sua aparência e...

— E o cabelo de Rufus. E seu caráter difícil.

Ambas riram.

— Bem, sim, — Lady Joanna acenou com a cabeça, sorrindo. — Eu não poderia ter descrito melhor isso.

Amabel sorriu.

— Você sabe que eu o amo, apesar de quão duramente eu pareço criticá-lo.

Joanna sorriu.

— Você o ama, filha. Ele te ama. Se vocês fossem diferentes juntos, não seria... como é.

— Eu sei, — Amabel assentiu. Ela estava tão feliz. O relacionamento deles era exatamente correto para ela. Suas brincadeiras e provocações, a maneira como eles discutiam as coisas, até mesmo acaloradamente às vezes. Sua paixão. A confiança que sentiam um pelo outro, que era absoluta. Subjacente a tudo o que eles fizessem.

— Estou tão feliz — disse Joanna, levantando-se de onde se sentara brevemente no sofá, para sair.

— Bem, devo ir para a sala, — disse ela.

— Sim, — Amabel assentiu.

— Eu vou te ver mais tarde, filha.

— Vejo você no jantar, mamãe.

Sua mãe foi embora. Amabel ouviu seus passos caminhando suavemente pelo corredor e ela se sentou onde estava, olhando para o fogo. Ela sorriu para as visões e lembranças que se misturavam, todas igualmente sensíveis ao seu coração.

Ela estava pensando em Rufus quando ouviu passos no corredor. Ela conhecia seus passos e seu coração bateu de felicidade quando ela o ouviu entrar.

— Amabel? — Ele gritou suavemente.

— Rufus.

Ele veio se sentar ao lado dela e ela sentiu os lábios dele se moverem suavemente sobre o cabelo dela. Ela sorriu e se inclinou contra ele, seu coração estava quente enquanto ele a segurava com tanto cuidado e doçura.

— Você parece feliz, — disse ele suavemente.

— Estou feliz, — murmurou Amabel.

— Eu também.

Eles se sentaram em silêncio por um tempo.

— Você esteve no campo de treinamento? — Perguntou Amabel.

Ele assentiu com sono.

— Mmm. Eu estava lutando com Brogan. O menino está indo bem.

— Fico feliz em ouvir — disse Amabel com carinho. Brogan já era um bom complemento para a guarda da casa, firme e verdadeiro. Amabel sabia que, se Rufus cavalgasse para a batalha, ela se sentiria melhor sabendo que o jovem cavalgava com ele. Eles já estavam bem acostumados a trabalhar juntos.

Amabel sentiu Rufus descansar uma mão gentil em sua barriga e ela sorriu.

— Você já pensou em um nome? — Ele perguntou.

Amabel sorriu.

— Esta é uma menina, — disse ela com total certeza. Como de costume, Rufus não pensou em questionar como ela sabia.

— Bem, então, — ele disse com ternura. — Você tem muitos nomes para escolher.

— Eu tenho, — Amabel sorriu. — Mas eu quero chamá-la como você, de alguma forma. — Ela tocou seu cabelo, o marrom castanho apenas suavemente iluminado com luzes vermelhas.

— Bem, eu não tenho certeza se existe uma moça chamada Rufus, minha querida... — ele fez uma pausa. — Existe?

Amabel sorriu.

— Bem, Rufus quer dizer vermelho, ou ruivo, ou ao contrário, como suponho que você saiba.

Ele sorriu.

— Eu suponho que soubesse disso.

Ambos riram.

— Nesse caso, — Amabel continuou gentilmente. — Eu sugiro que nós a chamemos de Rubina.

Rufus levantou uma sobrancelha.

— Eu gosto disso. É incomum.

Amabel assentiu.

— Eu acho que ela será uma lady incomum.

Rufus riu.

— Se ela for parecida com a mãe, então sim. Eu posso dizer isso com total segurança.

Amabel sentiu o amor inundar seu peito, tão intenso e maciço que mal conseguia respirar.

— Oh, Rufus, — ela disse gentilmente. — Você é incomum também. Incomum e maravilhoso e muito, muito adorável. Eu te amo muito.

Ela beijou sua bochecha e ele riu e a beijou de volta.

— Você é incomum, maravilhosa e amável, — ele disse, beijando-a na bochecha com cada descrição. — E inteligente, e sábia, e linda e... oh! — Ele riu, sentando-se. — Eu também te amo.

Eles se beijaram. Do lado de fora, o sol brilhava em um pôr do sol vermelho, enchendo a sala com uma luz quente e dourada. Lá dentro estava mais quente ainda, um lugar de luz, de fogo, confiança, segurança e amor.

Agora e sempre.

 

 

 

Notas

 

[1] Mummer - ator em uma mímica mascarada tradicional, especialmente de um tipo associado ao Natal e popular na Inglaterra no século XVIII e início do século XIX.
[2] Em arquitetura clerestório é o nome que se dá à parte da parede de uma nave, iluminada naturalmente por um conjunto de janelas laterais do andar superior das igrejas medievais do estilo gótico.

 

 

                                                   Emilia Ferguson         

 

 

 

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