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Series & Trilogias Literarias
O verdadeiro amor triunfará quando a escuridão estiver determinada a arruinar duas vidas castigadas?
Um bravo guerreiro...
Blaine McNeil é o chefe de armas em Lochlann, situado no local mais selvagem e misterioso das Terras Altas escocesas e ele deveria defender seu clã a todo custo. Quando a mulher que ele ama é feita refém pelo terrível clã McDonnel, ele parte em seu resgate...
Uma jovem de espírito livre...
Chrissie Connolly, agora é uma jovem mulher, frequentemente visita a casa de suas amadas primas, Amabel e Alina, e agora ela tem um motivo especial: o bebê de Amabel.
Chrissie está diante do que parece ser, a mais difícil, decisão de sua vida: qual pretendente ela deve aceitar como seu futuro marido? Heath Fraser ou o inadequado, mas persistente Blaine McNeil?
Entretanto, quando ela é capturada e roubada de tudo o que ela mais desejava, ela sabia que sua juventude estava perdida para sempre...
Um negro e sombrio futuro...
Chrissie está destinada a ter uma vida de amargura, sem nunca poder conhecer e experimentar o verdadeiro amor em toda sua glória?
Chrissie Connolly elevou a cabeça para olhar o céu chuvoso, ofegante ao chegar ao caramanchão, seus cachos loiros desarrumados pela corrida. Ela caiu sobre um banco de pedras, sem ar, mas sorrindo. Heath estava voltando! Ela quase não acreditava como isso a fazia se sentir excitada.
A chuva atingia o pavimento e caía ao redor de seu abrigo. O cheiro de ervas se misturava ao cheiro da chuva, selvagem e excitante. A tempestade estava aumentando. Esse era o lugar preferido dela, o melhor lugar para se aconchegar e ler. Por mais surpreendente que fosse para uma mulher, ou qualquer outra pessoa, além dos padres, Chrissie sabia ler. Acomodada no banco, ela abriu o pergaminho. Ela inclinou seu corpo e levantou as pernas, colocando-as embaixo da saia para mantê-las aquecidas.
— Então a princesa tinha que fazer uma escolha...
O pergaminho era um conto romântico. Chrissie suspirou e deixou sua mente vagar. Aos dezenove anos, ela também tinha algumas escolhas a fazer. A mais difícil era eleger um marido. Heath ou algum outro?
Eu posso escolher quem eu quiser. Como a prima menos importante, era meu direito.
Heath ocupava a maior parte do coração de Chrissie. Ele esteve fora por alguns anos e agora estava voltando. Ele seria o tipo de homem que Chrissie gostaria de se casar afinal? Ela não sabia. Ela gostaria de ter alguém para quem pudesse perguntar.
A prima Alina era mais como uma mãe do que qualquer outra coisa e Chrissie esperava perguntar a ela. Em breve ela poderia, pois eles partiriam para Dunkeld amanhã.
Se não fosse por Blaine estar vindo.
Bruto, deselegante e grosseiro, Blaine estava sempre buscando desculpas para falar com ela, para sorrir para ela, com o tipo de atenção, que quando tinha dezesseis anos, ela achava desconfortável.
Ele é tão grosseiro! Ainda assim, eu gosto de saber que ele está aqui no castelo. Comigo.
Ela enrolou o pergaminho que estava lendo, parando para ouvir que a chuva estava ficando mais forte. Se ela não saísse em breve, ela provavelmente ficaria ensopada. O pátio estava tumultuado pela chuva. As gotas martelavam o pavimento, o barulho da chuva ocultado pelo som do trovão. Chrissie gritou ao sair de seu abrigo, a água gelada escorrendo por suas pernas e a ensopando imediatamente.
— Chrissie? Chrissie!
Blaine. O que ele está fazendo aqui?
Chrissie mordeu o lábio, se sentindo irritada. Ao mesmo tempo, seu coração começou a bater mais forte. Ela pensou ao vê-lo, em ser carregada nos braços dele até a casa...
Pare com isso! Ela não deveria aceitar ajuda daquele palerma. Não sem perder a dignidade.
— Corra! — Ela tremia e ria, correndo pela chuva. Ela viu Blaine cruzar o pátio. Ele pôs sob a cabeça um casaco fino de lã e se precipitou pela chuva. Chrissie escorregou para o lado para evitá-lo, sentindo uma estranha leveza no peito ao ver os olhos dele se estreitarem e se alargarem em súbita consternação.
Bom.
Subitamente braços quentes a agarraram. Chrissie gritou e eles a apertaram mais forte. Não era Blaine, porque ele estava do outro lado do pátio, perto do depósito de armas, a encarando com uma expressão estranha no rosto. Ela se debateu, chutou e lutou contra o aperto, mas foi facilmente levada até a coluna, onde o seu captor a apoiou.
— Calma. — Ele disse. Ele alcançou e afastou os cabelos dela, deslizando seus dedos pelos cachos. — Calma, calma.
Chrissie virou-se pronta para falar algo ou dar um tapa quando percebeu quem era.
— Heath! — Ela deveria ter adivinhado quem era, afinal, ela sabia que ele havia chegado. — Você me salvou! Obrigada.
— Espero poder sempre servi-la, Lady Chrissie.
Chrissie corou. Heath era tão corajoso. Tão perfeito. Ela permitiu que ele beijasse sua mão, sentindo o coração bater violentamente quando os lábios dele a tocaram. Então ela sorriu para ele.
— Bem-vindo ao lar, Heath Fraser. Vamos entrar?
— Claro, Lady Chrissie. Permite-me?
Para falar a verdade, essa não era realmente a casa de Heath. Ele foi criado aqui, afinal, como um filho adotivo do tio dela. Quando Chrissie passou o braço dela pelo de Heath Fraser, ela olhou para o pátio. Lá, olhando para eles, com o rosto estranhamente pálido, estava Blaine. Chrissie reprimiu um arrepio ao ver a expressão no rosto dele. Ele parecia vazio, seus olhos inexpressivos e seus lábios apertados. Ela não tinha ideia do que Blaine poderia fazer, mas sabia que seria algo temeroso. Ela teria que ficar atenta, assim como Heath.
Capítulo Um
A VIAGEM
As últimas milhas até o Castelo Dunkeld eram as piores: a excitação crescia até o ponto que se manter sentada era impossível. Chrissie estava sentada na carruagem, segurando sua respiração em antecipação. Ela não conseguia parar sua perna que balançava e seu corpo saltando no assento.
— Acalme-se mocinha. — Tia Aili disse com sua voz ressonante. — Falta apenas uma milha ou duas agora. Você verá suas primas em breve.
— Eu sei! — Chrissie respondeu, colocando uma de suas mãos sobre as magras mãos de sua tia. Ela apertou gentilmente, notando com alguma preocupação, que as mãos de sua tia estavam geladas.
Tia Aili riu.
— Ele estará de pé quando chegarmos. O castelo, eu quis dizer. A menos que eles não tenham construído tão bem como eu vejo hoje em dia...
— Oh, Tia! — Ela exclamou sorrindo. — Tenho certeza de que Dunkled é tão sólido quanto Lochlann. Nós veremos.
— Não tenho tanta certeza. — Aili disse obscuramente, apesar de sua face, claramente, mostrar que ela estava brincando e não falando seriamente. — A última vez que vi um castelo ser construído, já tem aproximadamente cinquenta anos.
Chrissie ainda sorria. O fato de Aili viajar com ela era surpresa suficiente. Sua tia — irmã de sua mãe, Lady Frances — tinha se afastado do contato com as pessoas, logo após a morte de Frances; indo viver no lado leste do castelo com sua criada pessoal, uma senhora mais velha que ela própria, que agora também viajava com elas. Lá, sua tia havia ganhado uma reputação como vidente. Sendo ou não verdade, Chrissie não tinha certeza, mas ela sabia que havia algo incomum na mulher.
Tia Aili nunca havia nem ao menos olhado para Chrissie até alguns anos atrás, quando elas se encontraram por acidente. Desde então, Aili passou a se interessar pelo mundo novamente.
— Não posso esperar para ver Alina! — Chrissie disse. Ela sabia que sua tia tinha conhecimento disso, ao ver o leve sorriso e seus olhos azuis brilhando.
— I ken that, lassie. Eu sei disso, mocinha. — Ela disse, falando a gíria de seus criados para enfatizar. — Mas também sei que nossa Alina tem muita coisa a considerar agora.
— Oh! — Chrissie mordeu o lábio. Alina e sua tia dividiam a reputação de vidente. Se Aili disse que sua sobrinha tinha algo para se preocupar, Chrissie acreditava que era verdade. — Ela não está bem? Espero que não seja isso! — Ela de repente se sentiu temerosa por sua querida prima.
— Não, lass.1— Aili assegurou. — Alina não está bem. — Ela franziu o cenho, aliás, seu olhar focou em alguma coisa mais além e Chrissie se sentiu dominada. Sua atenção havia sido completamente desviada de sua ansiedade em chegar logo, assim, quando ela sentiu a carruagem subir a colina e diminuir a velocidade, ela pulou.
— Estamos quase lá!
— Ai! — A criada disse, levando a mão ao seu peito. — Você me assustou, jovenzinha!
Aili ria.
— O que há com você! É apenas um pouco de euforia por estarmos perto. O que há de errado com todo mundo nesses dias?
Todas riam no instante que a carruagem se aproximava do portão principal.
Chrissie desceu, sentindo a brisa outonal atravessar o tecido de seu vestido. Ela havia usado o seu favorito, um amarelo claro que evidenciava a sua pele clara e seus olhos azuis. Ela passou a manhã inteira com sua própria criada, Ambeal, arrumando seu cabelo. Ela queria ficar bonita para encontrar-se com suas primas após tanto tempo. Além disso, Heath estava com elas, o que tornava prioridade ela estar bonita. Heath sempre a elogiava e era adorável receber esse tipo de atenção vindo dele.
— Ai, que frio! — Aili sibilou, parada ao lado de Chrissie na encosta fria e dura. A criada se juntou a elas e juntas caminharam em direção ao portão. No outro lado do portão, a família esperava nas escadas. Chrissie procurou pelo rosto oval e pálido e cabelos negros de Alina.
— Alina!
Incapaz de se manter afastada mais um minuto, ela se lançou através do espaço que as separava, sabendo que o seu comportamento era inadequado para uma jovem mulher, mas não se importou com isso. Alguém riu. Era uma risada suave e animada. Alina. Chrissie a agarrou em um grande e apertado abraço, envolvendo seus braços em torno dos quadris da mulher alta e esguia.
— Chrissie! — Alina sorriu, olhando dentro dos olhos dela, acariciando sua cabeça. Os olhos dela eram castanhos, tão escuros que pareciam pretos, com pálpebras pesadas e longos cílios. Seus lábios eram cheios e pareciam que faziam um beicinho logo abaixo seu delicado nariz, ambos, herança de seu pai, um aristocrata francês. — Estou feliz em ver você. — Ela disse gentilmente, acariciando os finos e claros cabelos de Chrissie. Sua voz era baixa e uniforme e seus lindos olhos amorosos.
Chrissie a beijou impulsivamente e depois olhou para o lado.
— Amabel!
A outra prima estava lá também, seu rosto amoroso emoldurado por flamejantes cachos. Os olhos verdes alegres, assim como seu sorriso, Amabel ergueu e pôs a mão no ombro de Chrissie, que também, a envolveu em um abraço caloroso. Ela beijou o rosto de Amabel, feliz por ver seu rosto rosado e saudável.
— Chrissie. — Amabel sorriu. — Bem— vinda a nossa casa.
— Sim. — Alina concordou. — É maravilhoso ver você novamente.
Alina avistou uma pessoa atrás de Chrissie e seus olhos se arregalaram de surpresa. Chrissie mordeu o lábio, tentando esconder o sorriso. Ela não havia mencionado que Aili viria, pois queria fazer uma surpresa para Alina. Ela evidentemente estava surpresa.
— Não é.. Não pode ser... — Alina estava dizendo, cobrindo sua boca com seus longos dedos e os olhos cheios de espanto.
— Pode ser, e é verdade. — Aili resmungou, o rosto tenso pela dor a medida que caminhava lentamente até a porta. — Slainte, Saúdeminha querida filha.
— Aili! — Alina estava chorando silenciosamente, lágrimas fazendo caminhos prateados. Ela se curvou para abraçar a velha dama, que a beijou no queixo, correu a mão pelos cabelos dela e em seguida, deu um passou para trás. Aili não era realmente a mãe de Alina, mas foi a mentora dela em sua juventude. Ela ergueu a cabeça e olhou diretamente nos olhos de Alina com um sorriso torto.
— E onde estão Amabel e todos os seus filhos?
Amabel riu.
— Tia Aili. — Ela disse sua rica e alegre voz cheia de prazer em ver a tia delas. — Fico feliz que os bebês pareçam prioritários, mas eu asseguro, que “todos” soa um número muito grande, quando só há dois deles. Joanna e agora o meu filho.
— Só dois deles agora, você quer dizer, lassie. — Aili disse grosseiramente. — Você terá tantos bebês que terá que procurar em locais distantes ideias de nomes adequados a todos eles.
As três primas pareciam surpresas, mas nada disseram. Amabel sorriu e, aparentemente, Chrissie achou que também estava corada e excitada. Evidentemente, a perspectiva de ter vários filhos não era algo ruim, pelo menos, no que dizia respeito a Amabel.
— Você primeiro, Tia Aili. — Amabel disse cuidadosamente, — Eu a levarei para conhecer meus filhos.
Elas entraram, para alívio de Chrissie que sairia do frio. Os cavaleiros que haviam feito a proteção da carruagem já tinham entrado, Heath no meio deles e Chrissie, mesmo que não pudesse ver, como chefe de armas, ela sabia que Blaine também as havia acompanhado até Dunkeld.
Bom
— Olá, prima. — Disse uma voz mais distante.
Ela ergueu a vista para o marido de sua prima, consciente de que se esquecera de cumprimentá-lo. Ela sorriu para o seu belo rosto, que agora estava diferente, sem aquele usual ar de gravidade devido a um agradável sorriso.
— Broderick! — Chrissie abraçou o marido de Amabel afetuosamente. — Como você está? E onde estão os bebês agora?
Ele sorriu.
— Eles são os membros mais interessantes do castelo, não são? — Seus olhos brilhavam carinhosamente. — Joanna está aqui no salão, já que não conseguimos mantê-la lá em cima, uma vez que ela estava ansiosa para encontrar vocês; e Brodgar está lá em cima, no solar, em um sono profundo.
— Oh, que bom! — Chrissie respondeu. Ela não via Joanna há algum tempo, desde Pentecoste e, ela não podia esperar para ver o quanto ela já crescera.
Ela não precisou esperar. Ao cruzar a porta do grande salão, agarrada à mão de uma sorridente e rosada cuidadora, estava Joanna. Seus olhos cinza encararam Chrissie, que se abaixou para que ela pudesse ver mais claramente.
Sua pele clara e suave era a imagem de Amabel — ou de Alina, já que em muitas características elas eram semelhantes — e ela tinha os lábios cheios pelo lado francês de Alina. Os olhos dela eram quase prateados. Eram, segundo Amabel disse da última vez que se viram, a cópia dos olhos da mãe dela, cujo nome a menina herdara. Mesmo sendo tão pequena, já era possível adivinhar que seria adorável quando ficasse mais velha. Aos cinco anos de idade, ela já era linda, com seus cabelos escuros na altura do ombro que brilhava sob a luz das tochas.
— Olá Joanna. — Chrissie disse com um sorriso. — Sou sua prima.
— Olá. — Respondeu Joanna, hesitante. Ela olhou para Chrissie e cobriu sua boca rosada com uma mão. A cuidadora sorriu e Amabel suspirou.
— Ela é linda, não é? Ela já aprendeu a andar. Estou tão orgulhosa dela.
— Você deve ver Brodgar também. — Broderick falou por trás delas.
— Sim. — Chrissie exclamou, se voltando para o marido de sua prima. — Você poderia me levar até ele? Oh, por favor?
Broderick sorriu divertido.
— Amabel? — Ele sorriu para sua esposa, que lhe sorria de volta.
— Mas é claro, Chrissie! Podemos ir agora.
— Alina...? — Chrissie olhou ao redor do salão, relutante em se separar de suas primas, agora que estava aqui.
Amabel gargalhou.
— Alina parece estar bastante ocupada neste momento.
Chrissie concordou. Alina estava em pé com a tia delas, ao lado de uma das colunas. Elas pareciam estar em uma conversa muito séria, pois Alina estava olhando diretamente nos olhos de Aili, balançando a cabeça afirmativamente, e toda sua postura era de quem prestava atenção em cada palavra. Os ombros de Chrissie caíram em resignação. Ela veria sua prima mais tarde. Agora, ela queria ver o bebê.
— Podemos subir agora?
— Claro. — Broderick respondeu sorrindo.
No solar, Chrissie abaixou-se sobre o berço onde o pequeno Brodgar dormia. Ele tinha o rosto firme e seguro de seu pai, com queixo pequeno, testa larga é um sorriso suave. Pequenos tufos de cabelos pretos, cobriam a pequena cabeça. Seus olhos estavam fechados e sua mão, tão pequenininha, fechada em punhos.
— Ele parece dormir profundamente, não é? — Chrissie perguntou a Amabel, que sorria alegremente.
— Ele dorme como um anjo. Não que eu saiba o quanto eles dormem. — Ela acrescentou com uma risada. — Joanna era tão diferente! Sempre acordada, querendo saber o que estava acontecendo. A cuidadora dela me disse que ela está impossível. Já Brodgar é totalmente diferente.
Chrissie se curvou novamente sobre o berço, olhando para o bebê com encantamento.
Ele era tão minúsculo! Como era possível um ser humano ser tão pequeno?
— Gostaria de segurá-lo? — Perguntou Broderick olhando para Amabel, que balançava a cabeça em aprovação.
— Oh! — Chrissie abriu um sorriso enorme, realmente eufórica. — Sim! Eu gostaria. Muito para dizer a verdade.
Broderick sorriu. Ele pegou o bebê e o pôs gentilmente nos braços dela, mostrando-lhe como segurar a cabeça para que ela não dobrasse no pescoço, o que parecia ainda bastante instável.
Chrissie olhava para seu colo. O bebê havia acordado e a encarava com olhos que pareciam não ter cor. Ela estava certa de que definiria a cor mais tarde. Ele sorriu hesitante e incerto, e ela sorriu de volta.
— Ele é tão lindo! — Ela disse em voz baixa.
No grupo que os acompanhava, Heath sorria em aprovação. Chrissie enrubesceu. Seu rosto fino era tão bonito e os olhos escuros, gentis e calorosos. Ele era tão atraente, como alguns cavaleiros das histórias antigas.
— Você fez um amigo. — Ele disse sorrindo.
— Sim. — Chrissie concordou olhando para ele. — Ele não é adorável? — Ela virou o bebê para mostrá-lo a Heath, que se inclinou para ver mais de perto, mas foi a pessoa parada atrás dele quem respondeu ao comentário dela.
— Você também está adorável, Chrissie.
Chrissie piscou. Blaine. Ela olhou com desconfiança para ele.
— Obrigada por permitir que o segurasse, Amabel. — Ela disse calmamente a sua prima, que pegou cuidadosamente o bebê dela, sorrindo à medida que o bebê sorria e levantava os braços gordinhos em direção a ela. Ela se sentiu embaraçada.
Por que ele estava aqui? O que ele queria dizendo aquilo para ela? Que homem impertinente! Ele a fez se sentir desconfortável e ela não gostou disso.
Sentindo suas bochechas queimarem, ela olhou resolutamente para o fogo, ficando fora do caminho da pequena multidão de parentes que se reuniu ao redor do menino no ombro de Amabel. Ela ouviu alguém chegar ao lado dela.
— Lady Chrissie?
Chrissie olhou com desconfiança.
Ele já não a envergonhara o suficiente, então por que cargas d'água ele simplesmente não se afastava?
Ela não disse nada, apenas o olhou com raiva. A última pessoa com quem ela queria falar era Blaine.
— Chrissie?
— Eu não quero falar com você. — Chrissie respondeu rispidamente.
Ela o ouviu suspirar e sentiu ele se afastar. Ela esperou até ter certeza de que ele tinha ido embora, e então se virou. Ele havia conseguido perturbá-la, então ela observou a sala por um tempo, esperando que seus nervos se acalmassem e voltassem a sentir a alegria de minutos atrás.
Ela percebeu que o resto da família havia se juntado no solar. Alina estava lá com tia Aili, ambas parecendo olhar para algum lugar, distraídas. O alto marido de Alina, sorria ao olhar sua esposa, com seu rosto bonito brilhando em um tipo de contentamento que tocou o coração de Chrissie. Ele teve um longo e duro trabalho para se casar com Alina. Eles tiveram êxito e, a felicidade deles era óbvia, para qualquer um que os observasse.
— Chrissie?
— Sim? — Duncan se aproximou dela para cumprimentá-la. — Olá, Duncan.
— É um prazer vê-la, Chrissie. — Duncan disse, sorrindo calorosamente. — Agora, posso pegar uma caneca de cerveja quente? Você precisa de algo para aquecê-la antes de descermos para jantar?
— Obrigada, Duncan. — Chrissie respondeu educadamente. — Mas não quero. Estou bem. Joanna está me fazendo companhia. Está vendo como ela está sendo hospitaleira?
Ela indicou o local, onde a pequena garota estava, segurando algum objeto com firmeza para mostrá-la. Duncan sorriu e saiu para ver o que seu irmão estava dizendo. A garotinha entregou o objeto para Chrissie e ela pegou. Parecia ser uma concha.
Era uma coisa de beleza frágil, toda branca, com sulcos e parecia ser de madrepérola por dentro. Ela aproximou do nariz, sentindo o cheiro distante de sal. Os peregrinos traziam essas coisas para mostrar que haviam estado na Terra Santa. Chrissie se perguntou de onde poderia ter vindo, já que essas coisas eram raras.
Ela guardou, planejando perguntar para Amabel. Ela estava colocando na manga de seu vestido, quando Aili passou por ela e notou.
— O que você tem aí, minha jovem?
— Uma concha. Eu acho. — Chrissie respondeu franzindo o cenho.
Aili pegou a concha dela. Ela segurou perto de seus olhos azuis claros e depois balançou a cabeça.
— Espero que você viaje bem, lass. — Ela disse calmamente.
— Tia? — Chrissie enrugou a testa.
— Você precisa ser uma boa viajante. Parece que há algumas jornadas para você, há um presságio, muitas delas. Alguém que você quer e alguém que você não quer e, alguém que levará você para um lugar diferente.
— Tia? — Chrissie perguntou de novo com um olhar questionador. A sua tia havia pegado a concha da mão dela, sem ver realmente e, parecia que estava olhando para algum lugar que só ela enxergava. Subitamente Chrissie sentiu um arrepio de medo pelo corpo. Sua tia acabara de fazer uma profecia para ela, mas ela não tinha a mínima ideia do que ela queria dizer. Estendeu a mão para sua tia, se sentido gelada.
— Tia?
As feições de sua tia mudaram. Suavizaram. Seus olhos focaram nela e ela sorriu.
— Bem, Chrissie, minha querida. Você não quer se sentar ali? Está muito frio aqui, tão distante do fogo. Venha, sente-se comigo.
— Chrissie! — Amabel sorriu, se juntando a elas. — Joanna, é hora de dormir, meu docinho. Vá com sua cuidadora. — Ela sorriu para Chrissie, depois pegou Joanna no colo com intenção de entregá-la a sua cuidadora.
— Eu não estou com sono. — A garota protestou. Ela já estava quase dormindo, Chrissie percebeu seus olhos pesados e quase fechados de cansaço. Amabel beijou carinhosamente, sua bochecha de porcelana.
— Você pode não estar com sono agora. — Ela sussurrou, conspirativamente. — Mas estará quando estiver toda coberta na cama, não é?
— Talvez. — Joanna disse bocejando. A jovem mulher, veio andando até ela e trocou um olhar terno com Amabel enquanto essa lhe passava sua sonolenta filha para ela. Ela o olhou, sorrindo por seus protestos.
— Obrigada, Bronna. — Ela agradeceu a jovem que era cuidadora. — Bem, nós estávamos falando que deveríamos descer em breve para o jantar. O que acha, Chrissie?
— Estou faminta! — Chrissie respondeu em voz alta. Todos riram. Amabel a beijou e Chrissie sentiu o coração se aquecer novamente. Ela ainda estava preocupada, mas o temor sentido pelas palavras de sua tia havia diminuído agora e, ela se sentia em paz novamente. O jantar seria um evento maravilhoso.
— ... . Pela a família e amigos! — Duncan propôs um brinde. O grande salão estava quente e lotado, um fogo alegre queimava na lareira, enviando uma luz alaranjada em torno de todos.
— Família e amigos! — Chrissie disse em voz alta.
— Slainte! Saúde. — Alguém mais adiante gritou.
Todo mundo brindou novamente e Chrissie bebeu a cerveja e sentiu o calor e a sonolência tomar conta de seu corpo. O jantar parecia longo, especialmente para alguém sonolenta como ela. Chrissie ficou agradecida quando, por fim, Amabel e Broderick se levantaram, o que significava que eles poderiam se retirar para seus quartos.
— Boa noite. — Chrissie disse empurrando a cadeira e se levantando. Ela se apressou a sair do salão atrás de Alina, que parecia louca para sair dali. Chrissie fez uma nota mental para perguntar a ela o que havia acontecido para deixá-la preocupada, assim que elas ficassem a sós amanhã.
No corredor, ela seguiu para as escuras escadas que levavam até a ala dos convidados. Lá, ela se encontrou, desconfortavelmente sozinha. Depois, sentiu uma mão tocar o seu ombro e deu um pulo.
— Chrissie. Sinto muito. Não queria te assustar. — Heath fez uma mesura e com uma voz gentil, continuou a falar. — Estou um pouco perdido.
Chrissie riu.
— Eu também! Eu acho que é por aquele caminho, afinal. Acompanhe-me!
Eles brincaram com isso, andando rapidamente pela sinistra escadaria, até alcançar uma tocha que queimava presa na parede, exatamente onde a torre começava.
— Eu acho que meu quarto é por esse caminho. — Disse Chrissie. Ela se recordava que o quarto dela estava do lado esquerdo do corredor, com vista para o terreno onde os homens treinavam.
— Sim. — Heath falou claramente. Ele parecia inclinado a não ir a qualquer local. Entretanto, quando Chrissie se virou, ele pegou a mão dela.
— Boa noite, Chrissie. — Ele disse suavemente. Ele se inclinou e, antes que ela pudesse perceber o que acontecia, os lábios dele, tocaram os dela.
Ela ficou tensa. Os lábios dele eram suaves e mornos, com gosto de marzipã da sobremesa servida, doce e divinos. Eles se moveram gentilmente sobre os dela e a língua dele deslizou sobre a curva dos seus lábios, como se procurasse uma abertura. O coração dela disparou e ela abriu os lábios, deixando que ele provasse sua boca. Ele percebeu que as mãos dele estavam sobre seus ombros e as dela o seguravam.
Parecia que o beijo deles havia durado um longo tempo e, de repente, ele quebrou o contato. Os olhos dele estavam ligeiramente nublados e os lábios úmidos onde haviam tocado os dela.
— Boa noite, Lady Chrissie. — Ele disse em tom sério. — Fique segura. Durma bem e até amanhã.
— Até amanhã.
— Até amanhã. — Chrissie sussurrou, com a garganta muito apertada para falar.
Já em seu quarto, ela apressadamente, puxou a camisola por sobre a cabeça e entrou no amontoado de lençóis, tremendo e implorando por calor.
Esse foi o primeiro beijo dela. Foi gentil, terno, tudo o que ela deveria desejar. Heath era tão justo, bondoso, atencioso, correto. Qualquer mulher estaria honrada por receber a corte dele.
Então por que eu me sinto inalterada?
Apesar de já estar quase caindo no sono, Chrissie não conseguia evitar o pensamento de que ela sentia muito mais coisas quando discutia com Blaine. A alegria selvagem de vencer uma batalha verbal era muito mais intensa, rica e satisfatória do que beijos ternos.
Oh, Chrissie! Pare de ser tão boba. Você está cansada.
Enrolada nos cobertores e com o fogo a aquecendo, Chrissie tentava dormir. Entretanto, a sua mente mantinha-se lembrando do beijo repetidamente. Ela finalmente caiu no sono e, quando acordou na manhã seguinte, ao ouvir o barulho das primeiras carroças atravessando a ponte, ela se surpreendeu ao perceber que não sonhara com Heath, mas com Blaine.
De todas as pessoas que ela conhecia, a única a quem ela poderia fazer esse tipo de pergunta era Alina. Ou a tia delas. Que havia falado de viagens que ela não queria fazer.
Chrissie se enrolou em volta de si mesma embaixo dos cobertores. Ela desejava não ter ouvido o alerta de sua tia, porque agora, ela ficaria com o pensamento sobrevoando e ela não podia fazer nada mais do que se perguntar o significado disso. Sentindo um desconforto que não era comum a ela, Chrissie mergulhou novamente em um sono profundo e sem sonhos.
Capítulo Dois
DISCUSSÃO ENTRE AMIGAS
O dia estava muito quieto.
Os homens foram para a floresta — ainda não era época de caça, mas ainda havia tempo para fazer uma ou duas cavalgadas antes da chegada da neve — e as mulheres ficaram para trás costurando, conversando e discutindo seus planos.
Todas elas estavam no solar, uma tapeçaria estava aberta entre Alina e sua irmã, que trabalhavam juntas em algum ponto complexo de bordado.
Aili se sentou com elas. Ela parecia como se não tivesse dormido, Chrissie notou. Ela sentia em saber que não era a única pessoa que sofreu para dormir.
— E eu disse a eles que tomassem cuidado. Mas ele me ouviu? Não! — Amabel estava dizendo, sua voz clara preenchendo a ambiente e fazendo Alina e Aili sorrirem. Chrissie, que havia ouvido apenas o final da história, sorriu timidamente. Era evidente que era algo sobre o marido dela, Broderick, cuja lendária teimosia era fonte de diversão entre o casal.
— Acho que ele deve ter aprendido pela experiência, afinal. — Alina disse secamente, inclinando-se para cortar uma linha branca da peça. Sua sobrancelha pálida franziu em concentração e ela notou Chrissie a observando e sorriu. Chrissie recordou o quanto ela parecia preocupada no dia anterior e resolveu descobrir o que estava acontecendo.
— Aprendeu pela experiência? Provavelmente. Realmente, deve ter ouvido meus conselhos para mudar. Bem, o que vocês acham? — Amabel perguntou.
Todas elas riram.
— Chrissie, querida. — Alina disse, se inclinando para falar com ela, enquanto Amabel colocava uma linha na agulha e contava sobre o último evento de caça a que Broderick participou. — Você parece preocupada. Você está bem?
Chrissie se estremeceu, esquecendo por um momento o quanto sua prima mais velha era perceptiva.
— Eu estou um pouco... centrada em meus pensamentos, prima. — Ela admitiu.
— Você não gosta dele, não é? — Alina perguntou. Chrissie a encarava. Ela estava segurando um pedaço de seu próprio bordado, planejando terminar mais tarde. Ela o abaixou.
Chrissie gaguejou.
— Eu...
Alina riu.
— Aquele que você beijou. Você não gosta dele. Eu posso dizer isso.
Chrissie suspirou. Ela havia desejado perguntar para Alina exatamente isso. Ela esperava que pudessem conversar em privado e, quando ela olhou ao redor da sala, assim parecia, pois, Amabel e Aili estavam brincando e a mulher de um visitante estava costurando uma tapeçaria com duas irmãs, conversando entre si. Ninguém estava prestando atenção nelas, assim, ela decidiu confiar em sua prima.
— Eu não sei.
Alina sorriu.
— Você sente algo, é verdade. Entretanto, eu acho que você se pergunta se é dessa forma ou é algo como se fosse um amor de irmão. Não é?
Chrissie mordeu o lábio.
Como Alina soubera tudo o que gostaria de perguntar? Ela nem ao menos disse a ela que ela havia sido beijada ontem à noite.
Nem havia se preocupado em falar sobre suas próprias dúvidas. Ou sobre Blaine.
— Alina...— Ela pegou a mão da prima. — Você está certa. Eu tenho pensado nisso. E também tenho me perguntado se eu poderia saber como é sentir o amor. Eu quero dizer...— Ela parou, umedecendo seus lábios secos. — Eu sei que parece bobo. — Ela adicionou. — Mas como você sabe quando ama alguém? Ninguém nunca me falou sobre isso. E então?
Alina deixou escapar o fôlego audivelmente.
— Não. — Ela disse, dando a Chrissie um sorriso gentil. — Não, suponho que eles não contaram. E tudo o que posso dizer, minha querida, é que seu coração saberá. Como seu coração se sente te indicará. Lembre-se, há diferentes formas de amar alguém. Você me ama, por exemplo e eu a você. Entretanto, meu amor por Amabel é diferente, assim como meu amor por Duncan. Você entende?
— Sim... — Chrissie disse, não tão certa se realmente havia entendido.
— Eu acho que você ama os dois, mas de maneiras bem diferentes. — Alina explicou com delicadeza. — Quando você tiver decidido, você saberá. Confie em mim. — Os olhos escuros se encontraram com o de Chrissie, transmitindo segurança em sua expressão que reafirmava o que ela havia acabado de falar.
— Obrigada. — Chrissie sussurrou docemente. — Eu confio.
Alina pôs as suas longas mãos sobre a de Chrissie e esta suspirou, se sentindo mais relaxada desde a tarde em que Heath a havia salvado da chuva. O rosto de Blaine enquanto ele assistia a tudo, ficou gravado na memória dela e ela nunca esqueceria a raiva estampada em seu rosto. Mesmo agora, aquecida, ela tremia ao recordar. Alina pareceu não notar. Ela se virou para Aili.
— Então você estará segura para o inverno? — Ela perguntou.
Aili grunhiu.
— Dos elementos da natureza, sim. De McDonnell? Talvez.
— McDonnell? — Chrissie perguntou.
Alina olhou para ela por um bom tempo, como se censurasse sua tia por ter falado em voz alta e tê-la preocupado. Depois ela suspirou.
— Os McDoneell, pelo que parece, estão ocupando suas fronteiras por um bom tempo. Tudo levar a crer que em breve, eles farão uma tentativa para recuperar terras que foram contestadas. Nós achamos que será nesse inverno.
Chrissie sentiu seu coração disparar. Elas estavam falando em guerra? Neste inverno?
Aili grunhiu.
— Não é com a disputa que eu estou preocupada. Nem eles, eu acho. É sobre a nossa legitimidade que preocupa mais, lass. Acho que eles têm os olhos nisso. A nossa legitimidade é mais importante, para ser exata, do que a disputa de todas as fronteiras juntas.
Alina mordeu o lábio e acenou.
— Eu sei, tia. E você está certa. Mas nós não devemos deixar essa preocupação ocupar toda nossa mente. Não há razão para eles tomarem o castelo. E, se isso acontecer, vocês todas seriam enviadas para cá. Fique aqui. Se houver até mesmo uma palavra sobre o cerco, nós o romperemos. Confie em mim.
Aili grunhiu.
— Eu confio em você, lass.
A ênfase foi no “você” e Chrissie se perguntava o porquê. Ela olhou para Alina, que por sua vez, olhava as próprias mãos. Finalmente, ela falou.
— Você não contesta nossa lealdade ou nossa força, eu sei. — Ela disse calmamente. — Mas entendo que você não acha que será tão fácil como eu digo. Espero que nós estejamos erradas e que realmente não seja nada sério. Eu rezo por isso.
— Bem, assim... — Aili disse, parecendo feliz novamente. — Nós deveremos falar sobre outro assunto. Qual é a perspectiva em cavalgar nessa floresta?
Alina, que sabia que a tia delas havia sido uma excelente amazona em sua juventude e antes da reclusão, respondeu.
— É uma boa cavalgada, tia. Plano na maior parte dos lugares, com árvores largas e com espaços entre elas, diferente de...
— Diferentes das árvores da floresta de Lochlann. — Elas terminaram juntas. Depois todas riram.
Havia uma história na família sobre a mãe de Alina, Lady Joanna e suas habilidades em cavalgar. Alina contava isso agora e todas elas riram no fim, na parte em que o pretendente dela acabou derrubado do cavalo por um galho de árvore.
Aili riu cheia de alegria.
— Oh, queridas. Há anos que não sento para conversar e rir assim. Nós devemos fazer isso mais vezes.
Alina e Amabel sorriram.
— Você deveria ficar mais tempo, tia. — Amabel suplicou. — Nós estamos muito felizes por ter você aqui.
— Sim. — Alina concordou. Se era algo referente ao iminente nascimento, Chrissie não sabia. Tudo o que ela sabia é que não gostava de ver Alina preocupada.
Isso e a conversa sobre um grande número de tropas nas fronteiras ao Norte, a fez se sentir particularmente preocupada. Ela sentou e costurou, mas não tirou da mente imagens de homens e cavalos, sangue, armas e morte.
Eu não quero uma guerra em Lochlann.
Pior do que o perigo e o horror, Chrissie se preocupava com sua família, com as pessoas que ela amava, Com Heath e Blaine.
Ela pensou nos rostos deles, um magro e aristocrático e o outro grosseiro e musculoso. Ela pensou na forma em que Blaine sorria, na forma que Heath transmitia alegria para ela. Ela pensou na voz de Heath e nas gargalhadas de Blaine. No jeito que Heath era tão cortês e como Blaine lutava por ela.
Quando chegar o momento de escolher, você saberá. Confie em você.
Chrissie mordeu o lábio e abaixou a cabeça. Por favor, — ela desejou do fundo do coração, — permita que isso seja verdade. Ela precisava saber como escolher entre os dois. O aniversário dela estava chegando e, em breve, seu tio iria querer saber a escolha dela. Ela precisava descobrir também.
Antes que Blaine fizesse algo precipitado.
O queixo teimoso de Blaine e as maneiras gentis de Heath. Eles eram tão diferentes. Ambos despertavam nela coisas diferentes, mas ambos tinham os sentimentos dela.
Ela só esperava, que com o tempo, ela pudesse aprender a escolher entre os dois.
Capítulo Três
CONFISSÕES A FAZER
— Pare!
Blaine ouviu o grito, mas não se importou. Ele lutava como se fosse uma batalha real, o oponente de treino caiu como um inimigo morto.
— Ha! — Ele gritou triunfante ao atingir o escudo do homem, o que fez com que ele recuasse um passo. Ele interrompeu um golpe e o devolveu, atingindo o lado desprotegido do homem. Eles estavam treinando as tropas, ele e Duncan. Duncan o havia convidado para ajudar com os guardas enquanto ele permanecesse aqui. Os dois haviam se tornado amigos próximos quando Duncan esteve em Lochlann, dois anos atrás. Ele provavelmente não queria que ele fosse tão violento, mas Blaine não se importava.
Eu preciso fazer isso, para aliviar minha ira.
Chrissie. Ela estava em seus pensamentos da mesma forma que um homem sedento sempre pensa em água. Ele tinha que tê-la. Tinha que estar perto dela. Mesmo com ela o desdenhando. Heath a havia segurado, naquele dia na chuva. Heath falara com ela. Heath podia tocar a mão dela durante o jantar e acariciar o cabelo dela. Ele não podia errar. Blaine era completamente negligenciado.
Isso não é justo.
Ele deu um passo para trás, estreitando seus olhos observando o seu oponente que havia feito um movimento desesperado em direção a sua cabeça, alcançando o escudo; ele então abaixou a espada em um golpe seco na parte de trás da cabeça de seu oponente, partindo o elmo protetor que ele usava como se estivesse em uma batalha.
Na verdade, era apenas uma espada de madeira. Todavia, a força da pancada fora tanta, que atingiu a parte de trás da cabeça do homem e ele caiu, sem sentidos, seu corpo sem movimento e debilitado, em frente a ele.
Subitamente, todo mundo que estava no pátio parou. A mulher que assistia saiu correndo, provavelmente para buscar ajuda. Todos os homens olharam para Blaine. O velho armeiro veio caminhando até eles.
— O que você fez?
— Espere. — Uma outra voz disse calmamente. Blaine elevou a vista para encontrar o rosto incisivo é bonito de seu amigo. — Blaine?
Duncan inclinou sua cabeça em direção à lateral do castelo e Blaine acenou a cabeça afirmativamente, sabendo que seu amigo queria que ele fosse e esperasse ali. O que era algo preferível, desde que seu humor no pátio rapidamente enegreceu. Machucar um estranho em uma luta falsa, quando você é o único homem de seu castelo em campo, era uma coisa estúpida a se fazer, Blaine concluiu. Ele acabara de fazer pelo menos vinte inimigos. Eles estariam atrás dele agora, procurando por vingança pelo irmão deles.
Blaine esperou e ficou preocupado enquanto Duncan checava o homem. A mulher havia retornado, com um padre andando diretamente atrás dela. Evidentemente, ele era o curandeiro do castelo, pois ele se abaixou para examinar o homem, correndo uma mão por seu pescoço, depois acenou, pedindo para que dois homens o carregassem até os bancos. Quando eles fizeram, Duncan se juntou a ele.
— Blaine? — Ele colocou uma mão em seu ombro, o empurrando para o lado. Eles caminharam juntos pela sombra formada pelo corredor de colunas.
— Sim?
— Blaine, você sabe que aquilo foi estupidez. Mas eu quero saber o que está te chateando. Por que você agiu assim? Você não está parecendo você mesmo. Eu vejo isso. Sem risadas, sem humor. O que está te incomodando?
Blaine soltou o ar lentamente. Duncan tinha uma mão em seu ombro, e naqueles olhos castanhos de falcão cheios de preocupação. Ele sentiu uma dor em seu peito, sabendo que ele havia mantido isso para ele mesmo por muito tempo. Era bom, ele pensou, ter amigos que ele pudesse confiar.
— Não é nada... . Na verdade, há algo sim. Chrissie. — Ele suspirou.
Duncan inalou profundamente.
— Oh. — Ele o levou até um banco onde os raios de sol batiam na parede, aquecendo o dia frio de inverno. — Bem, isso certamente é algo.
Blaine mordeu o lábio e encontrou o calmo olhar de seu amigo.
— Sim.
— O que está acontecendo?
— Ela... — Blaine hesitou. Falar fez ele acabar de perceber o quanto sua missão era idiota. Ele era o chefe de armas do castelo onde ela morava. Jovem para o posto, era verdade, mas alcançado por sua intensa capacidade. Ela estava fora de seu alcance. O tio dela era ambicioso, para dizer o mínimo. Ele nunca, de maneira alguma, permitiria que sua sobrinha se casasse com um de seus soldados, mesmo que esse homem fosse o capitão de sua própria guarda pessoal. Essa opção nem ao menos estava aberta para ele, assim, ele nem ao menos tinha ideia do porquê ele se entreteve com isso. Exceto...
— Ela é bonita, não é? — Duncan disse com um sorriso amigável.
— Sim! — Blaine disse com firmeza.
Duncan gargalhou.
— Então o que acontece? Eu sei que ela é descuidada, mas...
— Não é isso. — Blaine disse rapidamente. — Ela não é tão descuidada de qualquer forma. — Ele adicionou irritado, sentindo seu rosto esquentar. Chrissie era vibrante, alegre e brincalhona. — Não é isso. É o tio dela.
— Ah! Nosso homem favorito, você quer dizer? — Duncan grunhiu.
Blaine rolou os olhos.
— Exatamente.
Blaine sabia dos testes impostos para que Duncan se casasse com Alina. E foi por muito pouco que ele conseguiu. Se ele não tivesse, ela deveria ter se casado com qualquer outro homem. No entanto, ele teve sucesso. Agora Blaine se via de frente a uma situação similar, apenas que no caso dele, todas as probabilidades estavam contra ele.
— Você tentou se aproximar dele?
— O quê! — Blaine disse miseravelmente. — Como se eu pudesse.
Duncan se virou para poder olhar diretamente nos olhos dele.
— E por que não? — Ele perguntou.
Blaine soltou o ar.
— Olhe para mim! Eu sou... Você casaria sua filha comigo? Ou sua sobrinha ou quem quer que seja?
Duncan riu.
— Bem, eu não me casaria com você. Nem por todos os bannocks2 de Edimburgo. Mas minha filha ... certamente.
Blaine riu, sentindo com facilidade o carinho que existia entre eles.
— Bem, eu também não me casaria com você mesmo se você viesse com toda a Terra Baixa como dote. Mas o que quer dizer com isso? Você concordaria em uma união entre a sua filha e eu?
— Se eu tivesse uma, certamente. — Duncan deu de ombros. — Mas eu não tenho uma. De qualquer forma é tudo especulação. Você entende o que quero dizer? — Ele adicionou com um sorriso torto.
— Obrigado — Blaine disse, se sentindo pelo menos um pouco mais seguro. — Mas e Brien?
Brien, Conde de Lochlann. Ele era o tio de Chrissie e tão ambicioso que havia rejeitado incontáveis pretendentes para suas sobrinhas. Sua própria filha casou com um duque, mas não parecia ter sido suficiente para ele. Algumas pessoas diziam que ele buscava uma coroa. Ele nunca concordaria em perder tal vantagem, principalmente uma tão vantajosa como Chrissie, para deixá-la casar com um mero guarda.
Duncan rolou os olhos.
— Brien é um grande desafio. — Ele disse suavemente.
— Você pode repetir isso?
— Brien é um grande ... Oh, certo, seu diabo! Eu não quis dizer isso sinceramente. — Blaine riu, empurrando ele dolorosamente nos quadris. Duncan vestia uma meia armadura de aço e ele machucou seu ombro, mas ele só mordeu o lábio e não disse nada.
Duncan bateu, por brincadeira, na cabeça dele e ficou parado por um tempo pensando sobre o problema de Blaine enfrentava e sua tentativa de conquistar a moça por quem ele se apaixonara.
— Você tem apenas Brien para convencer?
— Se fosse tão simples, eu já teria agido. — Ele disse desajeitado.
— Tão simples? Brien é ... — Duncan começou balançando as mãos para indicar algo além de sua capacidade de fala.
— Bem. — Blaine começou triste. — Ele é mais fácil de convencer do que ela.
— Você quer dizer Chrissie? Oh... — Duncan pôs a mão nos ombros dele, apertando, mas sem machucar — Isso é complicado.
— Hum hum. — Blaine disse secamente.
No pátio, os homens já haviam retornado a seus postos. O treino, ao que parecia, havia sido declarado encerrado. O pátio estava vazio agora e os raios de sol agora batiam nas pálidas pedras do pavimento, fazendo o lugar ficar um pouco mais quente. Blaine observava uma folha — a última do outono — caindo.
— Você falou com ela?
— Se ela permitisse — Blaine disse.
— Oh. — Duncan parou. — Bem, meu conselho é que você deve tentar conquistá-la.
Blaine o encarava agora
— Conquistá-la? Como? Eu já salvei a vida dela uma vez... quase, de qualquer jeito. Se isso não funcionou, o que funcionará? Ela nem ao menos quer falar comigo! Por onde eu começo? Eu acho que nada a impressionará.
Duncan ficou em silêncio por um momento.
— Chrissie é brincalhona. Ama uma diversão. Tem um coração alegre. Você deve ser capaz de pensar em alguma coisa que chamará a atenção dela. Para ser sincero, vocês são bem parecidos.
Blaine sorriu com tristeza.
— Você está certo. Nós somos. E eu gosto disso nela. Ela é tão feliz, cheia de energia. Amo a risada dela.
Ele parou ao notar como Duncan o olhava, de um jeito de quem sabia das coisas.
— Você a ama, não é?
— Sim. — Blaine murmurou secamente, mas ele sabia que era verdade. Ele a amava. Ele só desejava saber como dizer isso a ela.
— Bem, então... — Duncan disse, olhando para seus dedos e depois para Blaine. — Então é sério.
Os olhos dele se suavizaram com o pensamento, o que parecia, era tipo de desafio. Blaine sentiu pela primeira vez um fio de esperança se acender em algum lugar dentro dele. Mas também sentiu um arrepio de apreensão.
— O que você acha que nós podemos fazer?
— Penso que você deve impressioná-la.
Blaine olhou com desconfiança.
— Sim, mas como?
— Faça algo que ela não espera. Como ir a algum lugar para procurar alguma coisa especial para ela, ou se oferecer para levá-la algum local que ela nunca esteve e nem poderia ir sozinha. Você sabe que ela ama montar.
— Sim. — Blaine concordou com reservas. — Mas o que mais posso fazer? Eu quero dizer... eu não sei como falar com ela! O que falar? Eu não tenho nenhuma experiência nessa área.
Duncan riu.
— Blaine! Pare com isso!
— Parar? Parar o que? — Blaine piscou.
— Você está sendo tão crítico. Você é um homem bonito. Qualquer mulher gostaria de você.
Blaine soltou o ar em irritação.
— Eu não percebi que ela possa estar gostando de mim. Ela nem ao menos olha para mim.
— Talvez ela seja tímida com você. — Duncan sugeriu. — Algumas garotas são assim, você sabe.
— Ela sempre conversa com todo mundo: criados, visitantes, lordes... — Ele suspirou. — Menos comigo.
— Talvez porque você não age como você mesmo.
— Talvez. — Blaine concedeu.
Os dois homens ficaram em silêncio por algum tempo. Lá no pátio, algumas criadas carregavam baldes de água do poço do castelo. Uma delas viu Duncan e deu um aceno animado.
— Dia, Lorde Duncan.
— Bom dia. — Ele respondeu com um sorriso fácil e um aceno de volta.
Blaine olhou para ele com desconfiança.
— Vê? — Ele disse. — Você com essa boa aparência e seu sorriso, consegue todas as garotas. Eu... — Ele deu de ombros, sem saber o que dizer.
— Apenas porque você está ao redor como uma nuvem negra. Relaxe homem! Vá cavalgar ou fazer outra coisa. Eu vou te dizer o que. Nós podemos procurar Broderick e sair para as colinas, para uma longa cavalgada. Está um bom dia para isso, você não acha? E enquanto você estiver lá, pode planejar. Peça-me qualquer coisa. Ficarei feliz em ajudar.
Blaine soltou o ar devagar, levantando os olhos para encontrar seu amigo com um sorriso no rosto. Ele desejava que houvesse uma solução fácil, algo simples que ele pudesse fazer e sair desse dilema. No entanto, não havia respostas fáceis.
— Vamos cavalgar. — Ele, enfim concordou.
— Bom. — Duncan anuiu. — Irei e encontrarei Broderick. Ele precisa de ar fresco.
Blaine sorriu e, juntos, eles entraram no castelo, separando-se na porta principal. Blaine foi para a esquerda, em direção aos alojamentos de convidados, para pegar seu manto. No caminho, ele avistou Heath, que descia as escadas em direção ao pátio. Heath o cumprimentou, mas ele o ignorou, pisando duro ao subir as escadas.
Quando ele chegou a seu quarto, se jogou na cama, sentindo uma inexplicável pena de si mesmo. Ele odiava o fato de querer Chrissie, odiava o fato de que não poderia magoá-la. Odiava como ele se sentia.
Todo esse ódio era algo que ele poderia, facilmente e se desejasse, direcionar para Heath. Mas de alguma forma ele não queria fazer isso. Ele amava Chrissie e isso era a o seu objetivo mais importante.
Tudo o que ele tinha que fazer era planejar um modo de conquistar o coração dela. Pelo menos nisso ele tinha ajuda. Com sorte, hoje ele encontraria alguns meios de conseguir.
Ele tinha uma missão.
Capítulo Quatro
TRISTEZAS COMPARTILHADAS
A semana passou bem devagar.
Chrissie estava feliz de ter tempo para passar com suas primas. Porém, Blaine estava se transformando em uma distração e assim que ela teve uma oportunidade de falar a sós com Alina sobre isso, ela aproveitou.
Elas estavam sozinhas no solar do andar de cima, o sol brilhando em raios quentes através dos arcos da janela. Chrissie se sentou com Alina na poltrona do lado oposto das janelas. O bordado de Alina estava espalhado pelas pernas dela. Ela estava costurando quando Chrissie clareou a garganta.
— Alina? Eu poderia te perguntar uma coisa? Muitas coisas, na verdade... — Ela começou e depois hesitou, esperando pela resposta tranquila de Alina.
— Mas é claro, minha querida. — Alina respondeu carinhosamente.
— É sobre várias coisas: Blaine, meu tio, meu futuro... — Ela parou. — Mas principalmente sobre ele.
— Blaine?
— Sim. — Chrissie suspirou. — Ele está agindo tão estranho!
— Estranho? — Alina perguntou calmamente. Ela olhava para Chrissie por sobre a agulha que ela tentava colocar a linha verde de seda.
— Estranho! Muito... diferente. Como se ele fosse muito amigável; ele me convidou para cavalgar, me perguntou se eu queria alguma coisa da vila de Lochlann. Sabe aquelas flores bonitas na colina? Ele me perguntou se eu não gostaria de colhê-las? Estranho! — Ela se jogou na poltrona, olhando pensativa, para o teto.
Alina ficou um momento em silêncio.
— Querida. — Ela começou, cautelosamente.
— Hum?
— Ele está a cortejando.
Chrissie a encarou.
— Ugh! — Ela disse, sentindo-se surpresa. — Não! Ele não.
Alina gargalhou.
— Ele é muito bonito, sabe.
— Você acha? — Chrissie perguntou com certo cuidado.
— Sim. Com aqueles cabelos escuros e aqueles olhos grandes... e tão forte e corajoso! Você certamente o acha atraente, não é?
Chrissie se sentiu enrubescer. Sim, ela tinha que admitir que Blaine era muito bonito; de uma maneira bruta, ela tinha que confessar. Não bonito em um todo. Ela tinha passado algum tempo se perguntando como seria ser beijada por ele. Mas...
— Eu gosto dele, Alina. — Ela disse cheia de hesitação.
— Mas você gosta mais de uma outra pessoa.
— Eu creio que sim. — Chrissie arriscou dizer, relembrando o beijo e a forma que se sentiu que, estranhamente, foi indiferença.
— Você sabe que ainda não se decidiu. — Alina se aventurou a dizer. — Então você faz perguntas sobre... essa outra pessoa. Se você tivesse certeza, não faria.
— Não. — Chrissie admitiu, e depois soltou a ar. — Oh, Alina! É tão difícil! Como eu posso saber? Eu penso que não conheço nenhum dos dois tão bem e ... — Ela abriu os braços no ar, como se não soubesse expressar suas preocupações.
— Bem. — Alina começou. — Meu conselho é conseguir alguma informação. Fale com as pessoas, com os dois. Descubra mais coisas. Conheça outros... . Pode ser que nenhum dos dois seja o homem que você pode amar. Nunca se sabe. Mas vai saber quando estiver pronta, se entender o que quero dizer. — Ela disse impotente. — Oh, Chrissie. — Ela adicionou, acariciando sua bochecha. — É um grande prazer ter você conosco agora.
Chrissie sorriu. Ela olhou para Aline. Havia uma expressão estranha em seus olhos e Chrissie se perguntou o que era. Ela recordava como Alina e Aili haviam falado no dia que elas chegaram, lembrava da conversa sobre o perigo que se aproximava de Lochlann. Ela parou.
— Alina?
— Hum? — Alina respondeu costurando. Ela se virou com um estranho e vago olhar. Chrissie mordeu seu lábio.
— Eu me lembro da outra noite, durante o jantar, você e tia Aili estavam conversando sobre as coisas que estavam acontecendo. Eu quero dizer, você disse que havia perigo a frente? — Ela parou.
Alina respirou profundamente. O rosto dela parecia, subitamente, tenso e Chrissie imediatamente se sentiu culpada por preocupar e tirar a paz de sua prima. Ela estava prestes a mudar de assunto novamente, quando Alina respondeu.
— Bem, querida, nós não sabemos nada ainda. Porém, ouvimos dizer que o McDonnell convocou seus homens. Eles estão se reunindo na fronteira Norte, essa é a verdade. Em breve eles nos deixarão sabermos o que eles pretendem fazer em seguida.
— Eles atacarão as terras na fronteira?
Alina mordeu o lábio, uma careta enrugado seu rosto suave.
— Bem, isso é o que parece. Mas o quanto eles conseguirão chegar ao Sul? Bem... — Ela inspirou, deixando a questão em aberto. Chrissie estremeceu.
— Você acha que eles atacarão Lochlann?
Alina suspirou.
— É uma possibilidade sim. Essa é a razão pela qual tenho conversado com Aili. Ela concorda que é melhor você passar menos tempo aqui do que foi inicialmente planejado.
— Ir para casa antes! Mas Alina... — Chrissie ficou triste. Parecia que ela havia acabado de chegar! Ela mal tinha tido tempo de ver suas primas ou passar tempo suficiente com seu pequeno primo ou andar pelo pátio com Joanna. Ela não poderia partir!
— Você deve partir amanhã, querida. — Alina explicou com tristeza. — Eu sei. Eu também não quero que esta visita acabe. Eu tenho minhas próprias razões para esperar que todos vocês ficassem um pouco mais. Mas é o mais seguro. Duncan disse que as tropas estão se movendo e em breve será muito perigoso para arriscar uma viagem atravessando o país. Você sabe que McDonnell nos odeia. Se eles pegarem uma carruagem com alguém da família... — Ela murmurou. — Deixe-me apenas dizer que eu quero saber que vocês estão em casa e em segurança.
— Nós enviaremos uma nota assim que voltarmos, eu prometo.
— Se você puder, sim. — Alina acenou. — Por favor, faça isso. Eu gostaria.
— Eu tentarei.
Elas ficaram em silêncio por um momento. Subitamente, o solar aquecido parecia cheio de perigo. A tranquilidade era falsa, de algum modo, um silêncio esperando para ser quebrado. Chrissie ofegou e olhou através das janelas para o pálido horizonte, tentando pensar em coisas felizes.
— Você foi cavalgar com os homens ontem? — Chrissie perguntou. Ela não havia ido, sentindo-se um pouco mal e ávida para evitar qualquer contato com Blaine e todo o desconforto que vinha com ele. De qualquer forma, ela esperava por notícias.
— Não. — Alina respondeu calmamente. — Eu estava com Aili. Nós precisávamos conversar.
— Oh. — Chrissie não queria se intrometer na conversa de duas videntes. Então ela se recordou de algo.
— Aili me falou algo. — Ela começou a falar hesitando.
— Oh? — Alina ergueu a sobrancelha inquisitivamente. — E o que ela disse? Poderia ser útil em sua... missão. — Ela falou calmamente. Ela sorriu para Chrissie. O que quer que fosse ela não esperava que fossem más notícias.
— Ela disse que eu iria ter algumas jornadas. — Chrissie disse.
— Ah! — Alina franziu o cenho. — Bem, pode ser algo bom.
— Pode ser. — Chrissie respondeu com receio. Ela não diria que o fato de sua tia dizer qualquer coisa sobre as jornadas fosse algo bom. Tudo o que ela havia dito era que ela queria algo deles, de alguém que ela não queria e alguém que ela queria... e algo sobre ser levada para algum lugar novo.
Isso não parecia ter qualquer sentido. Ela franziu o cenho, esperando para perguntar a Alina sobre isso. Ela hesitou e depois clareou a garganta.
— Alina...
No exato momento, um criado apareceu no corredor, correndo até o solar.
— Lady Alina!
— O que? — Alina o encarava, sua mão passando pelo quadril de Chrissie.
— Minha Lady! Venha rápido! O castelo está sobre ataque.
Capítulo Cinco
UMA CAVALGADA PERIGOSA
Chrissie e Alina se encararam. Alina estacou.
— Dunkeld está sob ataque? Mas... por quem? Quando? — Ela se virou para Chrissie, que franzia a testa. O coração dela estava batendo em seu peito e ela se sentiu péssima. As mãos de Alina estavam sobre a dela e ela as agarrou, podendo sentir a rápida pulsação de Alina devido ao medo.
— Eles vieram do nada, milady. Uma multidão pelo portão dos fundos. Muitos deles... O Senhor disse que nunca viu nada assim. Não desde ... — Ele se calou.
— Basta. — Alina encerrou. — Mas por quem, Alec?
Ele deu de ombros.
— Eu não sei, milady. O Senhor apenas disse para vir buscá-la. Lorde Broderick está no portão agora, organizando as defesas de lá.
— Oh. — Alina cobriu as bochechas com as mãos em sinal de horror. Chrissie entendia o motivo. Juntas, e em silêncio, elas se levantaram e correram para a porta, seus passos ecoando pelo amplo espaço.
Se Broderick estava organizando as defesas no portão traseiro, então Amabel... Elas corriam já sem ar pelo corredor em direção à porta principal.
— Amabel! — Alina chorou quando sua irmã apareceu virando a esquina, com as saias de veludo erguidas, disparando pelo corredor.
— Oh, eu estava tão preocupada! — Amabel disse também sem ar, sua mão no seu coração. — Graças a Deus que eu encontrei você. Vamos descer.
— Broderick está... — Alina começou.
— Ele está no portão traseiro. — Amabel disse com uma feição sombria. — A luta está concentrada lá.
— Oh, irmã. — Alina disse, pondo a mão no braço de sua irmã. — Ele é um guerreiro experiente. Ele retornará em segurança. Eu sei disso.
— Assim espero. — Amabel disse em voz baixa, depois olhou dentro dos olhos de sua irmã. — Bem, sim. Eu sei disso.
— Sim. — Alina disse com firmeza. — Agora, para o grande salão. Nós nos abrigaremos lá até descobrimos o que está acontecendo. As criadas e os homens que estiverem muito feridos para lutarem, se juntarão a nós.
— Eles já estão se reunindo, irmã. — Amabel concordou e elas acenaram quando um grupo de criadas passaram apressadas por elas, descendo a escada em espiral, indo para o pátio ou para o grande salão.
— Duncan. — Alina disse firmemente. Era uma colocação, não uma pergunta, mas Amabel a encarou como uma.
— Ele está no fronte, planejando as defesas no portal principal. Ele suspeita que é um alarme falso e que a intenção real é atacar por lá. Ele manterá a defesa no local até ter certeza que a ameaça tenha passado.
— Homem esperto. — Alina acrescentou. Juntas elas desceram as escadas até o grande salão.
No salão, Chrissie sentiu os primeiros arrepios de medo verdadeiro. Todos pareciam estranhamente compostos, as criadas caminhavam em silêncio, os guerreiros muito feridos para lutar nos campos, falavam em sussurros.
— Alina? — Chrissie murmurou. Alina estava cruzando a sala em direção à tia delas. Inesperadamente, ela havia surgido no grande salão sem ao menos ter sido chamada ali. Chrissie estremeceu. Ela não fingia entender as maneiras de uma vidente.
Amabel estava no meio do salão, falando com os guerreiros que apareceram para organizar a reunião de criados ali. Amabel estava falando rápido, gesticulando com as mãos como ela sempre fazia. Chrissie apenas ouvia.
— Então os homens estão se concentrando no portão da frente. Nós podemos obter suprimentos deles? Tochas, toras de madeira, armas, sim? E se houver uma situação de cerco... — Ela parou de falar, fazendo um gesto indicando as cozinhas. — Nós ficaremos retidos?
— Por um mês haverá o suficiente, minha lady. Para aqueles dentro dos castelos. Para os convidados... — Ele deu de ombros. — Nós temos o suficiente para cem pessoas durante um mês, milady. Se formos extremamente cuidadosos. Não mais que isso.
Amabel pareceu se encolher. Os gestos dela, usualmente expansivos, se tornaram subjugados.
— Oh. E você acha que esse cerco é certo?
— Eu, não sei, milady. — O homem, que Chrissie achava que deveria ser o armeiro ou talvez o chefe de guardas deles, abrindo seus braços, olhando para os nós dos dedos, como se ali estivessem as respostas.
— Certo. — Amabel disse rapidamente. — Eu posso consultar meu marido. Certo? — Ela chamou um guarda, que piscou e se levantou ereto, parecendo ter mais medo de sua senhora do que de seu inimigo.
— Sim, milady? — Ele fez uma reverência profunda em sinal de respeito.
— Vá lá fora e encontre Broderick. Diga a ele que eu preciso saber qual a probabilidade de ficarmos sitiados.
— Muito bem, milady.
O homem fez outra reverência e correu para fora. Chrissie mordeu o lábio, rezando que ele chegasse em segurança ao pátio, que pelo que soava, parecia estar um caos. Ela se virou para Amabel.
Amabel havia cruzado o salão até se aproximar de Bronna e das crianças. Joanna estava alisando a sua saia verde, olhando para ela e parecendo despreocupada. Brodgar estava enrolado nos braços da sua cuidadora, observando tudo com olhos arregalados.
Amabel parecia mais calma e Chrissie foi até ela. Juntas elas observaram como as criadas mais velhas e os guerreiros forravam o chão para os feridos.
— Prima?
— Hum?
— Você acha que os homens nos manterão sitiadas aqui?
— Nós saberemos em breve. — Amabel disse, resolvida.
— Se houver um cerco, nós partiremos?
Amabel piscou. Ela colocou uma mão no braço de Chrissie, procurando olhar diretamente nos olhos dela com seus intensos olhos verdes.
— Minha querida, eu a enviaria embora apenas por sua própria segurança. Os suprimentos ficarão mais escassos aqui e eu não quero prendê-la conosco.
Chrissie engoliu em seco. O pensamento de um cerco era terrível. Ela sabia a quantidade desuprimentos que chegavam diariamente até o castelo, vindo das vilas e fazendas. Era verdade que eles tinham seus próprios terrenos, seus próprios lotes e algumas cabras leiteiras e galinhas. No entanto, aqueles que vivem no castelo confiam nos produtores de fora, para poder comer comida fresca todos os dias. O poço e os suprimentos dentro das vastas despensas e adegas, ou até nos sótãos, os manteriam por um tempo, mas com tantos homens guerreiros, servos e familiares para alimentar, não duraria muito tempo.
— Vocês não podem vir conosco? — Ela perguntou pensando nos bebês. Como eles lidariam com a escassez de comida aqui no castelo? — Se é seguro que nós saiamos, então provavelmente... — ela calou-se.
— Broderick não pode ir, então eu ficarei.
— Nem Duncan pode ir. — Duncan disse, aparecendo repentinamente atrás do pequeno grupo. — Mas ele acha que o melhor para nossos convidados é partir agora, antes que a luta se aproxime demais. — Ele indicou a parte da frente do castelo, onde a vasta fortaleza dava vista para os muros e para o portão.
— Você não teve nenhuma batalha? — Amabel perguntou de supetão. Alina havia se juntado a eles e olhava para Duncan, uma mensagem em seus olhos negros.
— Ainda não. — Duncan deslizou a mão entre os cabelos castanhos, respirando profundamente. — Mas não ficará assim por muito tempo. Todos aqueles que devem ir embora, devem fazer agora. E nós podemos enviar para Lochlann, talvez... — Ele não continuou. Chrissie adivinhou o que ele iria dizer e parece que suas primas também sabiam.
— É claro! — Alina disse rapidamente. — Nós podemos pedir ajuda de fora. Eles não nos terão no cerco por muito tempo... — Ela interrompeu a fala. Duncan olhou dentro dos olhos dela e, Chrissie concluiu, que ele provavelmente pensava sobre o assunto. Ele balançou a cabeça.
— Nós poderíamos fazer isso. — Ele disse soltando o ar lentamente.
— Eu posso ir. — Uma voz falou atrás dele.
Todos se viraram em sua direção. Blaine estava parado ali, seu elmo embaixo do braço. Ele vestia a camisa de malha e já estava pronto para sair do castelo. Duncan pigarreou.
— Blaine, é perigoso... — Ele calou-se. — Muito bem.
— E eu poderia acompanhar àqueles que partem. — Ele disse, olhando significativamente para onde Chrissie estava, fingindo não vê-lo, olhando para as paredes onde as criadas acendiam as velas e tochas para manter o lugar iluminado na noite que caía.
— Sim! — Duncan concordou, aliviado. — Bem, então está resolvido. Coração, quero que você vá com eles. — Ele disse para Alina.
— Não. — Alina o encarava com os olhos negros e firmes.
— Alina...
— Não. — Alina disse firmemente. — Eu não o deixarei. Chrissie deve ir. Amabel e os bebês também, mas eu sei que ela não irá. E eu também não. Você não pode me obrigar.
Duncan riu.
— Eu escolho as batalhas. — Ele disse com calma. — E agora mesmo, encontrei uma mais fácil lá fora. Então está certo. Ficarei honrado em ter sua companhia. Mas me prometa que se as coisas ficarem muito ruins...
— Eu farei qualquer coisa que for necessário. Eu lhe asseguro. Eu juro. — Alina pegou as mãos dele e Chrissie olhou para o chão, não querendo testemunhar o beijo que os dois trocavam. Finalmente Duncan se virou para Blaine. Ele ainda estava ali, Chrissie percebeu com raiva, não dando a Duncan a cortesia de se afastar para que ele pudesse dizer suas últimas palavras para sua esposa.
— Bem, então — Disse Duncan com pesar. — Blaine, eu deixo o necessário para você levar. Pegue Chrissie e vá em segurança. E rapidamente, assim que puder! Vá cavalgando. A carruagem é muito pesada. Leve Chrissie na sua garupa. Você pode pegar o meu cavalo, ele é treinado para batalha.
— Obrigado. — Blaine estava dizendo. Chrissie ficou boquiaberta com Duncan.
— Não. — Ela começou um protesto. Ela não montaria com Blaine. Ela sabia que a situação era urgente, mas o pensamento de montar com ele, ser segurada, pressionada contra o corpo dele... A enchia de repugnância. Pelo menos, ela pensava que era aversão. Entretanto, o coração dela estava batendo rápido e ela tinha que admitir que nunca se sentira tão viva.
Alina estava em silêncio e Duncan estava olhando para ela, de um jeito levemente inquisidor. Blaine fazia uma cara feia e abria a boca para dizer algo.
— Mas...
— Eu farei isso. — Uma voz grave disse. Chrissie sentiu seu coração dar um salto. Ela deu um sorriso espetacular. Heath. Ele a havia salvado novamente.
— Obrigada, Heath. — Amabel disse rapidamente. — Nós estamos em dívida com você.
— Não por isso. — Heath disse alegremente. — Sou eu quem tem uma grande dívida. — Ele estava olhando solenemente para Chrissie, que desviou o olhar, sentindo sua bochecha se avermelhar. Quando ela ia se afastando, seguindo Heath, ela não conseguia evitar de pensar que um pouco desse rubor, era de alegria por ter evitado ter que viajar com Blaine.
— Eu ainda montarei atrás deles. — Ela ouviu Blaine dizer é o coração dela se apertou. — Alguém ainda tem que levar sua mensagem até Lochlann. E é mais seguro se nós dois formos.
— Muito bem. — Heath concordou solenemente.
Chrissie mordeu o lábio. Ela não poderia discordar exatamente. Porém, o pensamento de ter Blaine cavalgando ao lado deles com seus olhares de esguelha e suas maneiras rudes não a deixava exatamente feliz.
Ou, ela assim pensou enquanto cruzava a sala, andando rapidamente para acompanhar Heath, o súbito aceleramento nas batidas de seu coração no instante em que Blaine disse que os acompanharia era sinal de algo mais importante?
Ela deu uma olhada por sobre o ombro para onde Alina estava junto com Aili e Amabel. Ela desejava poder perguntar a Alina sobre a forma que o coração dela se agitava enquanto ela caminhava rapidamente, mas eles já estavam atravessando a porta e ela tinha que se apressar. Enquanto ela andava, Aili ergueu sua mão em um gesto de despedida e bênção.
Chrissie engoliu em seco. Essa era a sua primeira jornada. Ela não tinha ideia alguma aonde iria levá-la.
Aili estava certa.
Capítulo Seis
UM RESGATE IMPREVISTO
Eles alcançaram os estábulos.
Heath estava apressado e suas maneiras ríspidas.
— Monte primeiro Chrissie. Eu montarei em seguida. Nós levaremos o cavalo de Duncan, Firedrake. — O cavalo era, Chrissie pensou, nomeado corretamente. Ela olhou para o cavalo marrom claro, um animal grande com as costas que pareciam uma mesa, lombos fortes e pelo brilhante. Ela mordeu o lábio e pôs o pé no estribo, fazendo uma careta ao montar na sela. Ela se sentou de lado, mas a sela não era apropriada para isso. Fazendo um gesto inapropriado, Chrissie se ergueu no estribo e desceu novamente, montando novamente, agora sentando da maneira certa. Sua saia se espalhou, cobrindo suas pernas. Heath estava olhando à distância, lá da porta, deixando-a arrumar suas saias. Blaine não tinha discernimento e a olhava.
Ela estreitou o olhar para ele, que nem se moveu. Ele parecia não ter nenhum conceito de boas maneiras, ele deu de ombros, como se a observar fosse algo perdoável. Depois, ele saiu.
— Pegarei meu cavalo, Heath. — Ele falou calmamente. — Serei mais rápido com um cavalo que estou acostumado a montar.
— Eu imagino que sim. — Heath disse. Blaine ficou tenso e parecia querer atacar Heath. Chrissie apenas conseguia ver suas costas, mas ela notou seus músculos enrijecerem. Ela também o viu cerrar os punhos. Ela mordeu o lábio, esperando que algo horrível pudesse acontecer.
— Eu o pegarei. — Blaine disse rigidamente. Ele caminhou pelas baias do estábulo até a última, onde estava seu cavalo, um Clydesdale cinza-amarelado com uma expressão maligna chamada Bert.
— Precisamos ir depressa. — Explicou Heath, deslizando para a sela e cautelosamente passando os braços por seu corpo e segurando as rédeas. — Então peço desculpas por qualquer falta de decoro observado. Mas devo segurá-la, para que você não caia.
— Oh, Heath.
Chrissie prendeu a respiração quando os braços dele a envolveram. Um deles segurava as rédeas e a outra ele pousou nela, em algum lugar entre o seio e a barriga, a mantendo bem perto dele. Ela sentiu seu coração bater mais forte quando a puxou para mais perto dele, apoiando-a sobre seu peito. Como ela era grata por ser ele quem estava ali, cuidadoso e sério! O que teria feito Blaine, rude e desrespeitoso, a segurando assim?
O que ele teria feito? Ela não podia evitar morder o lábio ante esse pensamento. Enquanto ela imaginava a grande mão de Blaine apoiada sobre seu seio. Seus dedos acariciando seus mamilos, ela sentiu o coração disparar e um calor se espalhar desde seu ventre, atravessar seu peito e chegar até a garganta. Ele seria tão diferente, ela pensou. Ele não manteria sua mão tão rígida ali, com cuidado para evitar o contato com os seios ou ventre como ela via os homens fazendo, atraindo-a para ele...
Ela balançou a cabeça, sentindo-se embaraçada. Se alguém pudesse ler os pensamentos dela...
— Uau!
Eles estavam atravessando rapidamente os portões, Blaine logo atrás deles. Eles cruzaram o pátio em segundos, e parecia que o portão estava erguido para deixá-los sair.
— Vá com Deus! — Duncan gritou, os saudando por cima da cabeça de seus homens. Eles haviam atravessado o portão e alguns homens estavam reunidos na parede. Eles estavam prontos para defender o castelo contra todos os ataques, isso era claro. Duncan parecia tão corajoso e audaz ali, como um herói em uma história não contada. Chrissie sentiu algo preso na garganta. Ela rezou para que Duncan ficasse a salvo, assim ele poderia voltar são e salvo para Alina. Para o bebê deles, ainda não nascidos. Que todos eles fiquem bem.
Era muito tarde para pensar em qualquer coisa, afinal, eles já haviam passado pelo portão e cavalgavam pela estrada de paralelepípedo. Heath cavalgou rapidamente, mas mesmo assim, Chrissie notou tochas à esquerda e quase gritou, sabendo que as forças do ataque já estavam se aproximando, para atacar o portão.
Eles estavam cavalgando tão rápido que ela mal podia respirar. Tão rápido, que o cabelo dela estava voando para trás com um assobio em seus ouvidos. Tão rápido que seus olhos se encheram de água. Todavia, quando uma mão a alcançou, não pareceu ser rápido o suficiente.
Então, Chrissie gritou. Ela também chutou o homem que se lançou sobre eles. Ele parecia não ter medo, pois estava se erguendo sobre o pescoço do cavalo dele, agarrando seu joelho. Ele vestia um tartã verde, pelo menos era o que ela achava, já que na escuridão, ela mal podia enxergar e ele a agarrou. Envolvendo os braços ao redor da cintura dela, ele parecia querer derrubá-la.
Se algum deles pusesse suas mãos em qualquer um dos nossos...
O alerta de Alina, detalhadamente, surgiu em sua mente. O McDonnell era um inimigo mortal de sua família. Se eles descobrissem quem ela era, ou qualquer coisa sobre ela ou sobre o destino deles... Ela estava em uma situação complicada.
O homem estava de lado, determinado, aparentemente, em derrubá-la. Ela poderia sentir que estava escorregando, levando Heath com ela, que mantinha os braços firmes. Ele estava lutando para esfaquear o homem e controlar o cavalo na mesma corrida — Chrissie nem queria pensar em como ele fazia com tanto peso nas costas — e lutar, tudo ao mesmo tempo.
— Ha! — Heath rosnou, atingindo a cabeça do homem com sua adaga. Seu objetivo foi atrapalhado por Chrissie estar no caminho e da necessidade dele em evitar esfaqueá-la, o tiro saindo fraco e curto. O homem sorriu e se levantou.
— Saia! — Ele rosnou. Chrissie gritou selvagemente. Ela se agarrou à sela desesperadamente, rezando que não derrubasse Heath com ela. Se ela fizesse isso, tudo estava perdido.
— Heath! — Ela gritou.
Nesse instante, algo os surpreendeu. Chrissie gritou. Um cavalo relinchou e alguém uivou.
O homem caiu, seu aperto repentinamente se afrouxou. A mudança foi tão repentina que Chrissie quase caiu para o outro lado. Ela teria caído, mas Heath a segurou.
— Obrigado! — Ele gritou. — Obrigado, Blaine. Você a salvou.
Blaine.
Chrissie o encarou. Eles estavam parados agora, fora de perigo. Seu cavalo estava ofegando e de cabeça baixa. Chrissie agarrada a sela, soluçando com a lembrança do medo.
Heath tinha caído, sua força drenada, o braço solto sobre sua cintura. Naquele momento, a propriedade das ações não importava para nenhum deles. Ambos estavam ofegantes. Chrissie podia sentir seu coração batendo em suas costas e ela podia sentir sua respiração irregular quando ele inspirava. Deveria ter sido maravilhoso, ela refletiu, se não estivesse tão assustada.
Ela olhou para Blaine. Ele estava sentado nos lombos do firme Bert, com uma expressão estranha no rosto e uma faca ensanguentada na mão.
— Chrissie. — Ele disse, sua voz irregular. — Você está finalmente a salvo.
Chrissie o encarava. Ele a tinha salvado. Ele havia matado seu atacante, ou pelo menos, o havia derrubado para que ele não a machucasse. Ele salvou a vida dela.
— Blaine. — Ela disse suavemente. Ele olhava para ela, guardando a faca já limpa em sua bainha. Ele tirou o cabelo de seu rosto e a olhou dentro dos olhos.
— Chrissie.
Chrissie não disse nada. A voz dele estava faminta e rouca e, ela sentiu um arrepio percorrer todo o corpo dela. De alguma forma, o toque dos olhos dele era mais intenso do que o braço dele se enlaçasse a sua cintura. De alguma forma, o modo que ele respirava, devagar e estável, se alinhou com a respiração dela, e um arrepio de excitamento tomou conta dela. O jeito que ele dizia o nome dela, a excitava.
Eles ficaram assim, todos os três, por um momento. No fim, Blaine puxou sua montaria.
— Nós deveríamos ir.
Heath, que não havia dito nada, clareou a garganta.
— Nós cavalgaremos mais devagar. Temos um outro dia pela frente.
— Sim.
Blaine concordou e, sem questionar, ele se pôs atrás deles. Ambos pareciam gratos um ao outro, por cavalgarem juntos. Quando eles montaram, a perna de Chrissie resvalou na de Blaine. Ela deu uma respiração profunda, sabendo que mesmo o mais breve contato com o corpo dele a fazia sentir uma alegria profunda.
Ela estava encostada em Heath, que a segurava com cuidado, como se ela fosse um pequeno bebê. Ela se inclinou contra ele, se sentindo segura. Ele era como um irmão.
Enquanto eles cavalgavam, Chrissie sentiu um pouco do terror a abandonando. Eles estavam seguros. Eles estavam vivos. Eles estavam em seu caminho para casa.
Ela acabara de descobrir algo importante sobre os sentimentos dela. Ela amava Heath, era verdade. Entretanto, ele não a preenchia com uma feroz exaltação.
Essa tarefa foi alcançada prontamente por Blaine. Que cavalgava atrás deles. Retornando com eles para a segurança do castelo, para Lochlann e para casa, para todos eles, onde ela teria mais tempo para analisar os fatos e pensar sobre o assunto.
Capítulo Sete
O REFÚGIO
Eles cavalgaram através da noite.
Chrissie estava exausta, com frio e aterrorizada. Ela caiu no sono uma vez, apenas para ser acordada novamente, quando eles passaram por um terreno mais acidentado. Eles iam devagar, como Heath havia sugerido que fizessem. Ela despertou lentamente, ouvindo as vozes deles enquanto cavalgaram. A noite ao redor era silenciosa e levou um pouco de tempo até que ela ficasse alerta e compreendesse o significado das palavras deles. Eles pareciam estar discutindo.
— ...Nós não deveríamos ir direto até lá. — Blaine dizia. — Poderíamos cavalgar até Dunmacreidh. É mais próximo.
— ...E procurar hospitalidade lá? Nós não sabemos nada sobre eles. Além do mais, estão há dez milhas a Oeste. Muito longe.
— Não parar é estupidez. — Blaine disse sem rodeio. — Montar nesse frio e chuva? Uma pessoa poderia encontrar a morte. Eu não quero isso.
— Você está com medo? — Eles pararam de se mover. Chrissie ouviu uma inspiração irregular e receosa, medo do ataque de alguém.
— Como você pode ser tão obtuso? Estou pensando nela.
Chrissie engoliu em seco. Blaine disse que estava pensando nela. Isso a surpreendeu. Ele realmente se importava com ela. Ele realmente se importava com ela? Ela sempre achou que ele estava apenas sendo duro.
Atrás dela, Heath soltou o ar.
— Bem. — Ele apontou. — Eu sou culpado. Eu admito. Você está certo e nós devemos parar essa noite. Eu sugiro que paremos em algum lugar próximo. Podemos procurar lenhadores ou talvez uma cabana. Ou fazendeiros livres. Desse jeito nós não teremos que cavalgar muito longe para retornar ao nosso caminho sãos e salvos amanhã.
A tensão a havia drenado e Chrissie sentia-se fraca, apesar de aliviada. Ela deslizou e Heath estreitou o aperto, impondo maior firmeza.
— Você está certo. — Blaine concordou se segurando para estabilizar-se. — Nós podemos parar em algum lugar perto da estrada. É mais seguro.
Heath anuiu.
— Eu acho que há algumas cabanas de lenhadores por perto. Nós deveríamos pedir por um telhado e um estábulo para os cavalos.
— Sim.
Eles seguiram em frente e a chuva ia diminuindo, uma garoa leve ensopava o vestido de Chrissie e a fez tremer. Ela estava tão gelada. Ela nunca esteve com tanto frio. Ela desejou estar morta. Ela sentiu sua mente nublar e a consciência a abandonar. Ela parou de tremer e começou a cair para frente.
Blaine a pegou no instante que ela escorregou para o lado. Ele cavalgava ao lado deles, a segurando e a estabilizando enquanto Heath a segurava contra ele.
— Olá!
Heath gritou e logo Chrissie entendeu a razão. Eles haviam chegado a um assentamento, ou pelo menos a um agrupamento de casas onde, em uma delas, havia fogo aceso. Eles podiam sentir, através da janela, o brilho e o cheiro de madeira queimando.
— Carvoaria. — Blaine explicou.
Chrissie inalou e tossiu.
— Nós pediremos por abrigo aqui.
Heath a segurava enquanto Blaine investigava. Eles encontraram um homem que disse que tinha um quarto para eles. Ele também tinha um estábulo que poderia acomodar os cavalos deles.
— Um de vocês pode dormir ali. — Ele adicionou, apontando com a cabeça para o estábulo, onde os cavalos, que pareciam extenuados, iriam. Chrissie se inclinou para Heath, muito exausta para se manter em pé sozinha.
— Eu irei. — Blaine se ofereceu. Ele olhava significativamente para Chrissie. — Senhor, por favor, a leve para dentro imediatamente.
Chrissie piscou ante sua cortesia e, evidentemente, o carvoeiro estava perplexo. Ele fez uma reverência, piscou e sacudiu a cabeça, tocando no braço de Heath.
— Por aqui, milorde.
Blaine ficou para trás, indo para o estábulo e, Heath a levou cuidadosamente. Chrissie se virou, sentindo-se preocupada... Blaine poderia congelar até a morte sozinho ali fora! Ela o olhou diretamente nos olhos, que pareciam os acompanhar com tal desejo, que rasgou o coração de Chrissie.
— Blaine...— Ela sussurrou.
Heath parecia não ter escutado, mas ele apertou a cintura dela um pouco mais, a guiando cuidadosamente.
— Em breve estaremos lá dentro. Você precisa se aquecer. Blaine estava certo. No que eu estava pensando? Você está quase congelada.
Ele a levou para dentro, fazendo alguns barulhos solícitos, e falando em voz baixa com o morador, que desapareceu com um balde, aparentemente para aquecer no fogo. Heath e Chrissie estavam sozinhos.
Heath posicionou Chrissie perto do fogo. O calor alcançou o ponto mais profundo dela e Chrissie pensou que fosse chorar de alívio. Ela pensou em Blaine e desejou que ele estivesse ali. Desejou que ele também pudesse ter um pouco desse calor.
— Blaine está seguro lá fora. — Heath disse gentilmente. — Eu acho que ele prefere assim do que está aqui dentro, conosco. — Ele acrescentou significativamente. Ele pegou a mão dela. — Você deve dormir.
Enquanto Chrissie se esticava e se deitava no colchão de palha diante do fogo, ela começou a cochilar quase que imediatamente. Ela começou a mergulhar em pensamentos sobre Blaine. Ela se recordou do olhar de desejo em seu rosto e se sentiu abalada pelo desejo que sentia quando ele se aproximava.
Quando Heath se deitou ao lado dela, a cabeça deitada ao lado, o corpo dele de costas para ela, ela se conscientizou sobre o que Heath quis dizer anteriormente.
Era mais fácil para Blaine dormir longe dela. Se ele estivesse aqui, ele não teria sido tão respeitador. Não como Heath.
Ela não pode evitar uma breve sensação de espanto diante desse pensamento. Blaine estava atraído por ela. Heath era... cuidadoso, atencioso, gentil. Ele também não despertara nela a mesma sensação que Blaine fazia. Ela tinha, talvez, começado a adquirir o conhecimento que ela tanto queria.
Ela caiu no sono com o som da respiração de Heath e acordou na cinzenta manhã seguinte, sentindo um cheiro de fumaça e ouvindo, em algum lugar, alguém cantando.
Blaine surgiu, parecendo bem acordado. Ele trazia com ele um pão duro.
— Bom dia para você. — Ele disse, sorrindo carinhosamente. Chrissie o olhava com cautela, percebendo que ela parecia horrível: o cabelo estava uma bagunça, seu rosto sujo e seu vestido todo amassado. Ela queria mandar ele sair, pelo menos até que ela estivesse decentemente limpa, mas a visão do pão atraiu a atenção de seu estômago e fez sua boca salivar. Ela recordou que não havia comido quase nada no dia anterior e seu estômago doía de necessidade por alguma comida.
— Blaine. — Ela disse com cautela. — Nós temos... algo para comer?
— Certamente, milady. — Ele sorriu. — Nós temos pão e, em algum lugar, um pouco de queijo velho. Pelo menos, eu acho que nós temos. Rezo para que não tenha comido ontem à tarde. — Ele franziu o cenho, consternado e ela riu. — Estava tudo na minha sacola de viagem, então ainda deve estar lá, ao menos, que eu tenha comido tudo ontem.
— Obrigada. — Chrissie disse fervorosamente. — Que maravilha que tenha pensado em trazer algo.
— Sempre tenha algo com você, minha lady. Primeira regra da batalha.
Heath riu.
— Bem, estamos perto o suficiente, de qualquer forma. — Ele semicerrou os olhos, suas feições magras mostrando sua alegria.
— Obrigada pelas provisões. — ela agradeceu
— Desjejum, minha lady.
— Estou faminta.
Todos riram. O proprietário havia aparecido com cautela. Chrissie supunha que ele havia se escondido para eles não pedirem comida a ele. Ela entendia sua preocupação, havia apenas o suficiente em sua cabana, sem dúvida, duraria mais tempo para ele apenas. E eles poderiam comer todo o seu suprimento sem ao menos notar.
— Nós deveríamos dar alguma coisa a ele. — Chrissie disse, aceitando um pedaço de um pão de Blaine. Ele acenou e ela mordeu o pão devagar, seu maxilar trabalhando. Estava duro, mas o gosto do trigo estava divino. Ela fechou os olhos, certa de que nunca havia comido uma refeição tão maravilhosa.
— Nós devemos. — Blaine concordou.
— Eu tenho algumas moedas em minha bolsa. — Heath falou. — Segunda regra de uma guerra: nunca vá a lugar nenhum sem dinheiro.
Blaine gargalhou e Heath sorriu timidamente. Chrissie riu com a piada deles e aceitou um pedaço de um queijo duro.
O queijo estava muito salgado e ela mastigou bem devagar, estremecendo a cada mordida que queimava a garganta dela, antecipando a dor que sentiria ao engolir. Heath percebeu a expressão dela e indicou um recipiente de água, que ela bebeu agradecidamente. Ela mergulhou o pão na água, grata por tornar a mastigação mais fácil.
Finalmente eles estavam prontos para seguir seu caminho. Heath pagou ao dono da cabana, que olhava a moeda como se ela queimasse em suas mãos, encarando Heath por um longo tempo. Heath sorriu.
— Obrigado! — Ele gritou, partindo em um ritmo acelerado, acenando para o homem que acenava de volta da segurança de sua pequena cabana no meio do bosque.
Chrissie se sentia melhor após o desjejum. Ela sentou mais na frente, tirando um pouco de se peso de Heath, que afrouxou o aperto, permitindo que ela permanecesse assim. Tão cortês, ela suspirou. Heath era um perfeito cavalheiro.
— Nós chegaremos em casa em meio dia de viagem.
— Sim. — Heath concordou com Blaine, se posicionando um pouco a direita, assim eles podiam ficar próximos um do outro. — Ficarei feliz quando chegar lá.
Eles sorriram. O espírito deles estava mais leve agora que eles seguiam viagem. Hoje não estava tão frio quanto o dia anterior e a chuva havia diminuído, deixando a luz dourada do sol atravessar a névoa.
No meio do dia eles puderam avistar as formas de Lochlan nas distantes encostas. Chrissie sentiu o coração retumbar. Casa! As costas dela sabiam. Seu traseiro doía. Seus braços, cabeça, dedos, pés, dedos dos pés, lados e quadris doíam.
— Casa. — Heath ecoou. — Aproximadamente em mais vinte minutos e nós ficaremos aquecidos.
— Uau! — Blaine gritou.
Eles gargalharam. Eles seguiram cavalgando devagar e, assim como Heath havia dito, cerca de vinte minutos depois eles se aproximaram, exaustos e congelados, nos portões do castelo.
— Hamish, abra o portão!
A voz de Blaine foi imediatamente reconhecida e, provavelmente, seu rosto também, mesmo um pouco sombrio, os homens abriram o portão com uma pressa reservada apenas para seu chefe. Chrissie sorriu, sabendo que eles nunca dariam tal atenção para ela. Ela gostou disso.
Ela sorriu para Blaine, apreciando a resposta instantânea que ela teve e ele enrubesceu.
A memória dessa expressão ficaria com ela.
Do andar superior, Ambeal falou um palavrão e depois correu para ela, gritando o nome dela.
— Chrissie! Oh, Chrissie! Minha querida. O que eles fizeram com você?
Chrissie cansada, explicou que eles tiveram que escapar, depois, segurando a porta, pediu para preparar um banho antes que desmaiasse.
Ela acordou novamente no paraíso de sua banheira. Quente, ensaboada e suave, e a voz de Ambeal ecoando de algum lugar do quarto.
— ...E eu não sei o que eles estavam pensando! — Ela estava falando com raiva. — Dividindo um quarto a noite toda com nada além de um vestido. Minha pobre Chrissie.
Ela ouviu um estrépito e supôs que Ambeal estava atiçando o fogo. Ela virou a cabeça, percebendo que seu pescoço estava rígido e tentou falar.
— Olá?
Suas palavras saíram como um coaxo e ela clareou a garganta e tentou novamente.
— Ambeal? Olá...?
Ambeal parou, pois ela a ouviu largar os ferros na grade. A madeira sibilou no silêncio, as chamas batendo nos troncos, enviando para as costas de Chrissie, um calor intenso.
— Milady! — Ambeal gritou, aparecendo ao lado dela com toda a sua dedicação. — Você não está doente, está? Devo chamar Padre Petros? Ele poderia ajudá-la...
Chrissie riu.
— Não, querida. Eu não estou doente. Eu... — Ela tossiu. Depois espirrou.
— Oh, minha lady. Nós devemos levar você direto para a cama... — Disse Ambeal balançando a cabeça.
Sacudindo uma toalha, ela ajudou Chrissie a sair da banheira e a vestir sua camisola. Depois, ela a pôs na cama, que estava aquecida com um tijolo enrolado por uma toalha e esquentado pelo fogo. Apoiando os pés no tijolo quente, seu corpo se envolveu de calor e Chrissie dormiu profundamente, provavelmente mais profundamente do que ela lembrava em anos.
Ela estava gripada. Ela passou os próximos dois dias tossindo, sem ar, espirrando e suspirando. A cabeça dela doía, mas era uma dor conhecida, não perigosa, não como a aborrecida e dolorosa noites geladas.
No terceiro dia, Heath apareceu. Ele parou no vão da porta, esperando que Ambeal deixasse ele entrar.
— Chrissie. — Ele disse, sua voz cheia de afeto.
— Heath! — Chrissie sorriu alegremente. Ela estava se sentindo muito melhor; a febre havia cedido esta manhã — sob os cuidados de Ambeal, que estava agora parada perto do fogo, esquentando a sopa para ela — e ela ansiava por mais companhia.
— Minha querida Chrissie. — Ele disse. Ele se aproximou e sentou na cama. — Fico feliz que tenha se recuperado. Eu também fui afetado, lhe asseguro. Entretanto, eu sei como deve ser horrível ficar confinado dentro do quarto. Aqui. — Ele disse, tirando um jogo de tabuleiro. Ele tinha uma pequena bolsa da qual ele sacava peças para jogar.
— Heath?
— Sim? — ele respondeu, olhando dentro dos olhos dela.
— Algo sobre Dunkeld?
— Bem. — Ele suspirou. — A mensagem foi entregue ao senhorio e ele ficou furioso, eu ouvi. Ele enviou um grupo exploratório, mas...— Ele deu de ombros. — Eu rezo que eles sejam bem sucedidos. — Ela olhou para suas próprias mãos.
— Estou rezando também.
Chrissie sentiu o coração apertado. Ela estava quase convencida que suas primas, a casa e a família delas sairiam ilesas, todavia, ela estava preocupada. Ela precisava saber o que tinha acontecido com eles.
— Você está com medo, por eles. Eu sei. — Heath disse, pegando a mão dela e depois apontando para as peças do jogo, seu rosto bonito demonstrando certa relutância, como se estivesse lamentando o fato de precisarem de uma distração e ele, oferecendo uma. Ela anuiu, aceitando a oferta.
Eles sentaram em frente ao tabuleiro e passaram as próximas horas rindo histericamente um do outro, deles mesmos e da falta de habilidades de ambos em jogar xadrez. Eles perdiam as peças, uma por uma, no instante em que alguém bateu na porta.
— Heath?
— Sim? — Heath se virou. Seu rosto comprido, belamente sombrio, tornou-se levemente inquisidor.
— O Senhor solicita sua presença.
— Oh. — Heath suspirou. Ele deu uma olhada triste para Chrissie e pegou a mão dela.
— Eu vou ficar bem, Heath. — Chrissie sorriu em acordo. — Eu posso praticar enquanto você estiver fora. Com certeza eu preciso.
— Bem, ficarei ansioso para apanhar no retorno. — Ele brincou. — Devo ir agora. Não levará muito tempo, eu espero.
— Até mais, Heath. — Chrissie concordou. Uma vez que ele partiu, ela deitou-se sobre os travesseiros, pensando em tudo o que havia acontecido e no que ela havia descoberto disso.
Os pensamentos dela estavam em Dunkeld e em sua família. Ela rezava por notícias. Ao mesmo tempo, ela não conseguia evitar em ponderar sobre Heath e como ela se sentia sobre ele e Blaine.
Eu gosto do Heath. Eu o admiro. O considero o melhor homem que já conheci: doce, corajoso e atencioso. E eu também sinto algo, porém, completamente diferente do que sinto por Blaine.
Ela suspirou. Blaine... seu rosto duro apareceu em sua mente, com expressão alegre. Ele sorria para ela em seus pensamentos e ela sentiu um formigamento de felicidade. Seus olhos escuros zombavam dela.
Me sinto completamente diferente. Quando ele está perto, me sinto viva. Nervosa, é verdade. Até mesmo irritada por causa do nervosismo. Mas é completamente incrível.
O coração dela disparou ao pensar nos olhos dele. Todo seu corpo tremeu em imaginar como seria as mãos dele pegando as suas. Em seu ventre, uma deliciosa tensão, como se ela estivesse sendo pressionada pelas próprias pernas.
Eu gosto mais dele do que qualquer outra pessoa.
Ela se inclinou sobre o travesseiro, contemplando o doce pensamento. Enquanto ela estava deitada ali, ouvindo os barulhos que Ambeal emitia ao preparar o almoço, sua mente vagueava em doces pensamentos, e ela sorria pelas lembranças quando ouviu a porta abrir.
— Chrissie?
— Blaine!
Os olhos dela se arregalaram ao reconhecer a voz. Ambeal surgiu repentinamente, parecendo pronta para negar a entrada dele — afinal ele não era nenhum membro da família, apenas um guarda — mas Chrissie se sentou e clareou a garganta.
— Ele pode entrar. — Ela opinou.
Ambeal suspirou e retornou para perto do fogo, mostrando que estava insatisfeita com a decisão. Chrissie a pegou observando Blaine cuidadosamente, como se estivesse pronta para saltar nele ante qualquer transgressão contra sua virtude e expulsá-lo dali.
Chrissie escondeu um sorriso. Tê-lo ali era muito... a abalava. Ela viu os olhos dele a analisando e seu coração se acelerou à medida que ele elevava o olhar para o decote de seu vestido. Ela levantou a mão cuidadosamente, consciente de que os laços se esticavam e dava uma amostra de sua pele clara.
— Chrissie, minha lady. — Ele disse, fazendo uma pequena reverência. — Eu... — ele clareou a garganta, tossindo e começou a falar. — Eu tinha que vir aqui imediatamente. Assim que você se recuperasse. Eu tenho notícias... — Ele calou-se, os olhos se arregalaram, ao notar a óbvia mudança de expressão dela.
— Blaine! — Ela exclamou. — Obrigada. Por favor, sente-se. Estou ansiosa por notícias.
Blaine anuiu e sentou-se na cama, no lugar onde Heath havia se sentado. Tê-lo ali era completamente diferente. O coração dela estava disparado e, ela sabia, suas bochechas estavam coradas. Ele nunca havia entrado em seu quarto e, tê-lo ali, era tão... tão...
— Minha Lady, Dunkeld está seguro.
— Oh!
Chrissie sentiu-se fraca, seu coração fluindo livremente. Ela inspirou irregularmente, enquanto a tensão que ela não havia notado, lentamente se dissipar.
— Blaine. — Ela suspirou, depois do que parecia ter sido uma hora, apesar de não ter sido uns dois minutos ou menos. — Obrigada. Sou muito grata por ter vindo, tão logo pode, me trazer as notícias. Obrigada.
— Eu teria vindo antes, minha Lady. — Ele disse, passando a mão pelos cabelos de maneira tensa. — Eu apenas... você estava...
— Obrigada por esperar até que eu melhorasse.
Ele inspirou fundo.
— Eu tinha que esperar. Milady, eu não queria que um choque — era um alívio na realidade — a prejudicasse. Qualquer sentimento forte pode causar uma recaída, sabe, e eu não queria machucá-la... — Ele parou de falar, mordendo o lábio. Ele engasgou, engoliu em seco e a olhou nos olhos.
— Blaine. — Ela disse suavemente. — Você é tão atencioso.
Ele ficou tão vermelho quanto uma framboesa. Era espetacular ser testemunha disso e Chrissie mordeu o lábio. Ela não o queria envergonhar, apenas sorrir.
— Obrigado. — Ele disse com voz rouca.
Chrissie riu. Ela se sentia tão alegre por ele estar ali. Ela sentia por ele ter que sair em breve, mas agora, que havia dados as notícias, não tinha mais motivos para ficar ali. A permanência dele ali no quarto sem pretexto algum, realmente seria algo impróprio, Mesmo sendo acompanhante, Ambeal desaprovaria.
— Você deve ir. — Ela começou a falar. Ela notou o quanto sua própria voz era relutante e isso a surpreendeu. Ele sorriu meio nervoso e se levantou, mas não saiu do lugar.
— Sim. — Ele respondeu.
— Eu tentarei sair e caminhar amanhã. — Chrissie começou a falar. — Você poderia me acompanhar até o jardim?
Blaine sorriu.
— Sim, milady! Ficarei muito feliz!
— Obrigada. — Chrissie sorriu. Os olhos dela encontraram os dele e ficaram assim por um tempo.
Neste momento, poderia haver um exército no castelo, destruindo o grande salão. O lugar poderia estar pegando fogo. Eles poderiam ter sido invadidos por ogros e ela não iria se importar. Tudo o que ela via — tudo o que ocupava a mente dela — era aquele sorriso infantil que ele deu e os olhos dele nos dela.
— Bom dia, milady Chrissie.
— Bom dia, Blaine. — Ela suspirou.
Ele fez uma reverência com a cabeça e caminhou rapidamente até a porta, parecendo que, se ele não saísse rapidamente, não sairia mais. Quando ele se foi, Ambeal entrou em ação, reavivando o fogo, removendo a sopa do lugar para esquentar sobre a pedra central, arrumando os cobertores e puxando as cortinas.
— Céus, milady! Você deveria estar descansando. Se quiser estar de pé amanhã, precisa estar menos cansada do que aparenta hoje. Eu digo a você... — Ela interrompeu a fala para arrumar a mesa e servir a sopa.
Enquanto ela comia, Chrissie pensava sobre as descobertas que havia feito aquela manhã. Sua família estava segura — que era a informação mais importante. Entretanto, suas descobertas pessoais eram mais excitantes. Ela amava Heath, era verdade. Sua devoção por ele era de irmã, assim como ele a amava como irmão. A forma como ela se sentia em relação a Blaine, era bem diferente. Seu coração se incendiava quando ele estava por perto, sua respiração se acelerava, o pulso acelerava.
Ela desejava Blaine de uma forma que ela mal entendia. Ela também desconfiava que ele se sentia do mesmo jeito. Quando ela se sentou, recatada e obediente, comendo a sua sopa lentamente com uma colher e escutando Ambeal contar as notícias, ela não conseguia evitar em pensar em como seria passear com Blaine pelo jardim, escutando sua voz profunda e sua risada. Sentir o toque das mãos dele nas suas, a guiando enquanto caminhavam ao redor do atalho do jardim perto da cozinha.
Sim, ela pensou, abrindo um sorriso, realmente estava ansiosa pelo amanhã. Ela estaria bem o suficiente para o passeio. Ela tinha que estar.
Ela deitou-se pensando em Blaine, recordando a forma que os olhos dele haviam se deslizado pelo corpo dela e sentindo uma sensação nova e estranha pulsando através de si.
Ela mal se aguentava pela chegada do novo dia.
Capítulo Oito
UM PASSEIO NOS JARDINS
O dia seguinte chegou e encontrou Blaine desperto. Ele mal havia dormido. A noite inteira, ele havia se virado e revirado, achando impossível deixar sua mente descansar e dormir. Ele não conseguia para de pensar nela.
Ela quis mesmo dizer aquilo, quando falou que eles poderiam passear hoje? Ele sacudiu sua cabeça, olhando para seu reflexo no espelho enquanto jogava água no cabelo.
Considerando sua idade — ele tinha vinte e um anos — e sua experiência, ele não entendia como ela havia mudado tão repentinamente, da noite para o dia. Por que ela subitamente consentiu em falar com ele, rir com ele, que a acompanhasse em passeio no jardim. Por Deus!
— Parece impossível! — Ele murmurou para si mesmo. Ele olhou ao redor de seu pequeno quarto, fazendo um balanço. Seu melhor manto — um de lã grossa, marrom escuro — estava sobre a cadeira, levemente amassado. Sua túnica estava pendurada de qualquer jeito em um tronco de madeira encostado na parede e, uma de suas únicas três calças — todas as que ele possuía — estava jogada descuidadamente sobre um canto de sua mesa de cabeceira. Ele as levantou, apertando os olhos em desaprovação.
Suponho que não tenha nada o que fazer.
Ele soltou o ar lentamente. Ele desejava que pudesse estar apresentável e distinto, como algum guerreiro ou lorde, mas era tudo que ele não era. Ele era um soldado — bem, o chefe de armas, quando exigido — mas ele mal podia ter o manto e as botas que possuía, nem pensar em possuir algo extra ou luxuoso.
Ele deslizou os dedos entre os cabelos, tentando secá-los mais rápido e vestiu o manto. O manto se moldou ao seu corpo enquanto ele analisava seu reflexo no espelho, avaliando o efeito. Com seu cabelo preto levemente ondulado quando seco, olhos escuros e queixo quadrado, ele havia sido considerado um homem bonito por muitas mulheres. Agora ele rezava para que elas estivessem certas. Que ele fosse bonito o suficiente para ela também.
Ele estava vestindo uma túnica de lã escura — um verde musgo tão escuro que parecia marrom — calças escuras e o manto. A cor profunda parecia fazer seus olhos e cabelos parecessem ainda mais escuros, a dureza de suas feições, de alguma forma, eram equilibradas pela textura áspera de seu manto. O homem que o olhava de volta, parecia firme e confiante. Isso era, ele admitia, totalmente errado.
Estou aterrorizado.
Ele tossiu e clareou a garganta. Ele havia encarado batalhas, javalis enfurecidos e ficado perdido nas charnecas. Ele não sentira metade do medo que sentia agora, em nenhuma outra circunstância. De repente, ele sentiu como se passear com ela pelo jardim fosse a pior coisa que ele poderia fazer a si mesmo.
Por que ele ia fazer isso? Ele imaginou o corpo dela ao lado do dele, o balanço do quadril enquanto ela andava. O jeito que os seios dela se erguiam quando andava rápido. Seus quadris movendo-se. Ela tinha um corpo tão excitante! Ele desejava tocá-la. Ele desejava beijá-la.
Ele balançou a cabeça. Ele estava fantasiando, sendo tolo. Como se ela pudesse realmente deixar ele fazer essas coisas! Ele era sortudo o bastante em acompanhá-la no passeio. Ele não podia se permitir ter devaneios e fantasias, mesmo aqui, sozinho em seu quarto.
— Seja sensato. — Ele ordenou a si mesmo irritado. — Ela o convidou para caminhar e não para casar com ela!
Ele riu. Seria difícil caminhar com ela sem tocá-la, mas ele conseguiria. Ele queria que ela gostasse dele. Ele queria que ela confiasse nele.
Enrolando o manto sobre si mesmo, ele saiu rapidamente do quarto.
O desjejum passou rápido e, tão logo ele acabou, correu para o solar, os passos ecoando no piso enquanto andava tão rápido fosse possível através do corredor.
— Olá?
Ele irrompeu no solar, surpreendendo Lorde Brien, que evidentemente, estava terminando seu desjejum.
— Blaine! Entre, homem! O castelo está pegando fogo? Por que tanta pressa? Conte-nos! — Ele baixou a faca que segurava, erguendo levemente a sobrancelha ao olhar para Blaine.
Blaine olhou ao redor desesperado. Além do Lorde e duas outras pessoas que ele presumia ser convidados, não havia mais ninguém presente. Ele não podia ter escolhido pior momento e agora, ele desejava poder desaparecer.
— Hum... Eu... — Ele umedeceu seus lábios secos, olhando ao redor em busca de inspiração. — Um dos homens pensou ter visto alguém aqui em cima. Uma alucinação, tenho certeza. Apenas vim verificar. — Ele disse rapidamente. — Por favor, terminem vossas refeições... desculpem-me o incômodo, Sir.
Brien ergueu a sobrancelha.
— Os seus homens costumam ter alucinações, sirrah3?
Blayne rezou para que o chão se abrisse e o engolisse. Mas não ocorreria. Ele olhou para as cortinas que cobriam os arcos e teve uma explosão de ideias.
— Não, Sir. Apenas esse, Sir. Ele continua pensando que há tropas se infiltrando. Ele sofreu uma pancada na cabeça durante um ataque, sir. Vou descer para conversar com ele sobre isso e... não quero que a tensão se espalhe, sir. Ou algo assim.
— Nas atuais circunstâncias, Blaine? Não. — Ele disse educadamente. — Eu acho melhor que não.
— Correto, sir. — Blaine acenou firmemente. — Agora mesmo, vou falar com ele e assegurar que não há nada aqui. Certo, Sir?
— Exatamente. — Ele disse, dando a ele um sorriso irônico.
— Obrigado, Sir. Aprecie o vosso desjejum. Senhor, Madame.
Ele fez uma reverência aos convidados, que olhavam para ele, como se tivesse invadido uma cerimônia de coroação e saído apressado. Quando ele saía e fechava a porta, ele pode ouvir Lorde Brien explicar a seus convidados.
— Nosso chefe de armas é um pouco nervoso. Vos imploro, ignorem... sua atitude indedicada.
Blaine sorriu e se afastou rapidamente. Ele não quis fazer isso. Entretanto, desconcertar Lorde Brien era uma conquista. Ele deixou escapar uma respiração de alívio, rindo para si mesmo ao recordar o terror anterior, enquanto ele subia as escadas em direção aos quartos do andar superior.
Ela estava descendo as escadas, passos leves e ele não pode evitar e andou até ela.
— Chrissie!
Ela olhou para baixo, depois para ele. Suas bochechas que estavam pálidas devido sua recente doença, ganharam um tom rosado. Ela tinha os lábios separados e a linha umedecida entre eles fizeram o corpo todo dele doer de desejo.
— Blaine — ela disse suavemente. Ela desceu mais um degrau, seus passos quase inaudíveis, mesmo no silêncio pesado entre eles. Ela o encarou e nenhum deles se moveu.
Beije-a, sua mente gritava. Ele se inclinou, desejando beijá-la, mas no último instante ele se retesou. Afastou-se. Parado ao lado dela.
— Você quer visitar o jardim? — Ele perguntou educadamente. Chrissie sorriu entredentes.
— Eu esperei por isso. — Ela concordou.
Ele engoliu em seco. A melodia da voz dela ativava seu sangue, sem contar com o cheiro e a visão daqueles lábios rosados, um pouco separados, mas juntos o bastante para serem beijados.
— Então vamos. — Ele sussurrou.
Ela olhou para ele interrogativamente e ele balançou a cabeça para clarear a mente. Ele estendeu uma mão, indicando que ela deveria passar primeiro.
— Obrigada. — Ela murmurou. Ela passou lentamente por ele, seu quadril tocando o dele ao seguir adiante.
Ele quase gemeu alto. Mesmo esse choque dela contra ele o fazia querer gritar, a abraçar. Como era possível desejar alguém desse jeito?
Ele inspirou e seguiu a sombra dela, descendo a longa escada e atravessando o grande salão.
Eles atravessaram o piso de pedras em silêncio, o corpo dela a frente do dele. Blaine olhava ao redor, reconhecendo os guardas que estavam cumprindo suas tarefas. Farrel e Kenneth, ambos o reconheceram. Ambos o estudaram longamente.
Blaine exalou longamente.
— Sim? — Chrissie perguntou, olhando para ele com aqueles olhos azuis. — Você parece cansado. O que o está incomodando?
— O que? Oh. — Ele exalou. — Nada. De verdade.
Ela o olhou com desconfiança, mas permitiu que ele parasse ao lado dela ao sair do salão e entrar no pátio. Blaine sabia que seus homens estavam reunidos, esperando pelo treino matinal, mas ele havia pensado em informar Brennan, seu segundo em comando, para substituí-lo.
— Ah, que adorável! — Chrissie exclamou no momento em que eles avistaram os raios de sol. Eles cruzaram o caminho de pedras e ela deu um pequeno rodopio, sua saia creme ondulando sobre seu tornozelo. Ela sorriu para ele, tão alegre que o coração dele disparou.
— O Sol? — Ele perguntou timidamente.
— Sim! — Ela sorriu cheia de entusiasmo. — Eu fiquei dentro do quarto por três dias!
Ele riu.
— Soa terrível, do jeito que fala.
— E é!
Ambos riram. Ela seguiu em frente e eles continuaram o caminho até o jardim, pelo menos, Blaine sempre pensou assim.
O sol já havia nascido completamente, iluminando a grama que eles pisavam em direção a cozinha. Este realmente era a parte mais agradável do castelo. Aqui as pedras de pavimentação do pátio, davam lugar ao solo, canteiros de plantas e ervas; as ervas para a cozinha cresciam em terra boa e bem cuidada.
— Oh! Aqui é tão agradável! — Chrissie disse com entusiasmo.
Blaine sorriu, apreciando o quanto ela estava feliz enquanto corria até ele com o vestido voando.
O corpo dela era esguio, mas com curvas nos lugares certos — Seios fartos, uma cintura estreita e quadris largos. E um traseiro atrevido que ondulava suavemente enquanto ela corria. Blaine sentiu seu pulso se acelerar e quis se castigar.
Pare com isso, — ele se repreendeu ferozmente. — Você está aqui para escoltá-la em um passeio agradável. Não para ter ideias tolas.
De qualquer forma, quanto mais ele tentava dominar o crescente desejo por ela, ela realmente não conseguia. Especialmente não com ela correndo até ele, bochechas coradas, rindo, segurando uma flor.
— Você tem que fazer um também! — Ela sorria alegremente.
— Um o quê? — Blaine perguntou surpreso.
— Você tem que fazer um pedido e assoprar o dente-de-leão. — Ela explicou pacientemente, como se ele fosse uma criança. — Se todas elas voarem, seu pedido se tornará realidade! Tente. Por favor?
Blaine sorriu. A flor, em uma inspeção mais apurada, era na verdade uma semente. Ele aproximou seus lábios e se preparou para um assopro firme.
Eu quero mostrar a Chrissie o quanto eu a amo.
Ele assoprou, exalando um grande e explosivo ar. As sementes se dispersaram, todas, exceto uma que ficou no caule. Ele parecia desapontado. Ela sorriu para ele.
— Sem tanta sorte? Suponho... — Ele inspirou, sentido-se um pouco decepcionado. Ele balançou a cabeça, rindo. Os olhos dela tão azuis quanto a flor Não-me-esqueça4, tão azul quanto o céu pela manhã. Azul como os lagos na primavera. Ela estava olhando para ele e não se movia.
Ele olhou para ela. Ele deu um único passo para frente. Era tudo o que precisava para diminuir o espaço entre eles. Ela não se moveu.
Ele se abaixou e, gentilmente, a beijou.
Os lábios dela eram suaves, tão suaves, mais suaves que a mais fina linha de seda. A boca dela era quente e quando ele a provou docemente com sua língua, envolvendo pela curva dos lábios dela, eles se separaram. Ele estremeceu e deixou a língua entrar, tocar os dentes dela.
O língua dele deslizou entre os lábios dela; ele movia delicadamente e, para surpresa dele, ela separou os dentes, fazendo sua virilha formigar. Ele sabia que estava pronto para ela e se controlou, sabendo que não podia tocá-la, não importava o quanto ele desejasse. Agora, ela se inclinara sobre ele e seus lábios suaves puxavam a língua dele. Ele rugiu e a trouxe para mais perto.
Ela olhava para ele. Ele tocou levemente os lábios dela novamente, mantendo-a apertada. Depois se afastou.
Chrissie o encarava, os lábios levemente separados. Os olhos dela estavam arregalados e brilhantes. A respiração mais rápida.
— Chrissie. — Ele murmurou. — Eu...
— Psiu. — Ela disse docemente.
Ele sorriu. Ela sorriu de volta e os olhos se encontraram. Ele sentiu algo entre eles, algo doce, terno e maravilhoso floresceu no coração dele e inundava seu ser. Ele respirou profundamente. Ele estava irrevogavelmente enfeitiçado por ela.
— Chrissie. — Ele ofegou. — Perdoe-me.
Chrissie olhava para ele. Os lábios que até então estavam separados, se fecharam.
— Perdoar? — Ela riu. — Pelo quê?
— Eu agi... de forma imprópria. Errada. — Ele acrescentou, sacudindo-se vigorosamente como se quisesse se livrar de algo terrível. — Eu não devia ter lhe tocado... Não desta forma. — Ele adicionou envergonhado, passando as mãos, distraidamente, pela cabeça. Num gesto que demonstrava sua tensão.
Chrissie continuava olhando para ele. Ela sorriu.
— Blaine. — Ela o chamou. O nome dele em seus lábios o fez sentir um choque por todo corpo que chegava a doer.
— O quê?
— Estou feliz que o tenha feito.
Ela a olhou. Piscou. Ele tinha certeza que ouvira errado. O que ela realmente quis dizer? Que ela estava feliz por eles...
— Obrigado. — Ele disse, corando até a raiz dos cabelos. — Obrigado.
Ela gargalhou.
— Eu não acho que você deva me agradecer. — ela disse. — embora eu suponha, que como boas maneiras, eu deva agradecê-lo também. Agora podemos terminar de ver os jardins?
Ela deu um passo até o lado dele e passou sua mão pelo seu cotovelo, apoiando-se enquanto eles andavam. Ele olhava para ela, sentindo-se confuso.
Ela sorria serenamente, seu rosto era uma pintura de paz e felicidade.
Balançando a cabeça para clarear a mente, Blaine a acompanhava. Cada vez que eles se acotovelavam ao andar, o coração dele perdia uma batida. Ele podia sentir o calor do corpo dela através do linho do vestido. Ele podia ver a luz iluminando os fios do cabelo dela.
— Chrissie. — Ele sussurrou, notando a voz grossa e não cuidadosa.
— Sim? — Ela o olhou com olhos arregalados.
— Eu... — Ele interrompeu a fala. Ele não tinha ideia do que queria dizer. Ele apenas queria que ela entendesse a magnitude e como ele se sentia exatamente agora. — Obrigado. — ele disse novamente, sentindo-se um pouco decepcionado.
— Me agradecer? — Ela perguntou novamente. — Pelo que você está me agradecendo, Blaine?
Ele exalou ao ouvir ela repetir seu nome. Ele fechou os olhos, sentindo seu coração trovejar dentro do peito enquanto ela segurava seu cotovelo. Eles estavam caminhando tão próximos quanto dois namorados, sozinhos em um jardim que cheirava a rosemary e outras ervas de cheiro adocicados. Ele se sentia como se tivesse, de alguma forma, entrado no paraíso.
— Obrigado por... por isso. Por passear comigo. Por confiar em mim.
Ela sorriu.
— Eu confio em você, Blaine. Com minha vida.
Ele fechou os olhos. Ele quase não acreditava no que ela acabara de dizer. Seu coração se encheu e ele pensou que poderia chorar, o que não o ajudaria em nada. Ele piscou rapidamente, olhando para as nuvens que passava pelo céu azul.
— Você é adorável, Chrissie. — ele disse em voz baixa. — Eu amo vê-la assim.
Ela sorriu para ele.
— Obrigada, Blaine. Eu também gosto.
Ele fechou os olhos. Seu desejo não apenas havia se realizado, como tinha excedido as expectativas. Ele fez uma oração silenciosa e esperava que sua vida pudesse ser sempre tão fascinante.
Ele não soube dizer quando ele passou a ser tão abençoado.
Capítulo Nove
FELIZ DESCOBERTA
— Eu não consigo acreditar!
Chrissie caminhou sozinha no jardim, fazendo umas piruetas no caramanchão quando ela teve certeza que estava fora da visão do castelo. Ela cantou para si mesma uma pequena canção e olhou para o céu, que brilhava azul através das folhas verdes escuras das árvores.
Blaine havia passeado com ela. A beijado. Ela suspirou ao recordar do beijo, a memória a tocando de uma maneira estranha, fazendo o corpo dela todo formigar como se ela estivesse no fogo. Ela estremeceu, recordando a deliciosa sensação dos lábios dele mordiscando os dela.
— Blaine! — Ela sussurrou, amando a sensação de simplesmente ouvir o nome dele saindo de sua boca.
Ela sorriu para si mesma. Como isso havia acontecido? Ela sempre o odiara! Bem, talvez nem sempre...
Quanto mais ela pensava sobre isso, mais percebia que nunca o havia odiado de verdade. Ela sempre o havia amado, para falar a verdade. Sempre sentiu... como ela se sentia agora. É isso era tão intenso, tão fervoroso, que a fazia se sentir estranha, desajeitada e tímida perto dele. Não era que ela o odiasse, mas odiava a intensidade de como ele a fazia sentir.
— Eu amo Blaine McNeial. — Ela testou admitir em voz alta. Soava tão bom que a fez rir novamente. Parecia que, de dentro do peito dela, saiam raios de sol e que o mundo inteiro era iluminado por eles. Ela estava tão feliz.
— Chrissie?
Uma voz grave a chamou, quebrando sua fantasia silenciosa.
— Heath! — Ela sentou-se de repente. Em seu estado de felicidade, ela havia se esquecido de tudo, inclusive de Heath. Ela se sentiu corar de embaraço. Como ela pôde? Heath pensava que... Ela enterrou a cabeças entre suas mãos. Ela achava que estava apaixonada por ele! Agora ela sabia que não estava. Como ela diria isso a ele?
— Chrissie? — A voz dele parecia preocupada. Ele parou na entrada do caramanchão e, vendo ela sentada no banco embaixo do salgueiro ele parou. — Você está bem? Eu posso ajudá-la?
Chrissie levantou o rosto. Estava vermelha de vergonha e ela não queria olhar dentro dos olhos dele.
— Heath. — Ela disse cuidadosamente. — Não. Eu estou bem. Apenas deixe-me sozinha. Voltarei para casa em breve.
Heath não se moveu.
— Chrissie? Eu não posso deixá-la assim. Você está chorando.
Chrissie mordeu o lábio, sentindo raiva de si mesma. Ela secou as lágrimas e olhou fixamente para um ponto além do caramanchão, obrigando-se a parar de chorar.
— Não. — Ela disse resoluta. — Estou bem.
— Sabe. — Heath exalou, sentando-se ao lado dela. — Eu queria falar com você. Estive preocupado sobre meu futuro e... um monte de coisas. Eu queria conversar porque eu preciso saber sua opinião. Seria bom para você se eu falasse?
— Muito bem. — Chrissie disse firmemente. Ele pegou a mão dela, mas ela puxou de volta. Ela se manteve olhando para frente, se refugiando na raiva. Ele suspirou.
— Chrissie, eu sempre amei você. Você sabe disso. Desde o dia em que a conheci. Mas...— Ele fez um gesto de desamparo com as mãos. — Ó Céus! Eu não sou bom nisso, não é? O que eu quero dizer... Chrissie. Eu quero me tornar um Cavaleiro. Isso é o que sempre quis, desde que era um menino. Você sabe que os Cavaleiros fazem votos sagrados, não sabe? Chrissie? Ainda está me escutando? Eu preciso saber se entendeu. Por favor.
Chrissie virou seu rosto para ele. Seus olhos azuis cheios de lágrimas, mas elas eram de felicidade. Lágrimas de alívio.
— Oh, Heath! — Ela exclamou. Ela passou os braços dela em torno dele e o trouxe para perto, apertando-o perto do peito, como faria com uma criança ou um irmão. — Essa é uma notícia maravilhosa! Isso me fez tão feliz!
Heath ergueu o rosto e a encarou.
— Chrissie? — Ele perguntou gentilmente, como se estivesse preocupado que ela ficasse perturbada. — Você entendeu o que quis dizer, não é? Eu nunca me casarei.
— Sim, Heath. Eu entendi. Eu entendo. E isso me deixa feliz. Você sabe que eu sempre te amei. Entretanto, é um amor diferente. Como o de um irmão. Eu não sei explicar, mas... Oh! É maravilhoso!
Heath sorriu para ela, um sorriso de surpresa tomava conta de seu rosto.
— Eu não sei se eu entendi, Chrissie. — ele disse suavemente. — Mas é uma boa notícia. Obrigado. Oh! Obrigado!
Ela o beijou, um beijo gentil, casto e amoroso. Parecia que ele tentava não chorar. Os lábios deles encostaram os dela, ambos os mantiveram fechados, sem demandas. Querendo nada mais do que a proximidade, sentir o amor e dividir a amizade deles.
— Heath. — ela disse cuidadosamente, quando o beijo foi quebrado. — Estou muito, mas muito feliz por você ter me contado. Você será um cavaleiro maravilhoso. Você sabe disso.
Heath parecia um pouco inseguro. Seu belo rosto tinha um sorriso gentil.
— Você acha mesmo?
— É claro que sim! — Chrissie disse cheia de alegria. Ela apertou a mão dele. — Oh Heath! Essa é a melhor notícia do tempo. Estou muito feliz por você. Por nós dois. Isso quer dizer que terá tantas coisas excitantes! Você vai viajar?
— Eu ainda não sei. — Ele respondeu. — Eu irei ficar com Tio Seamus. Ele é um Cavaleiro da Ordem de St, James. Nós viajaremos até Edimburgo dali? Quem sabe? — Ele soltou o ar devagar, seus olhos escuros pareciam prever o futuro.
— Você viajará todo o mundo e verá coisas incríveis e, algum dia, você retornará e me trará presentes especiais. — Chrissie disse decidida.
Ele riu, os olhos brilhando.
— Levarei isso como uma ordem. A minha primeira ordem oficial.
Eles ficaram sentados por um momento, pensando sobre o futuro. O silêncio aumentou, preenchido apenas pelo som das abelhas ao redor das últimas flores de lavanda. Chrissie clareou a garganta, esperando quebrar a distância entre eles.
— Bom! Aliás, por falar em presentes, eu gosto de jóias.
Ele riu.
— Considere-se feito. Alguma preferência?
Ela inclinou a cabeça para um lado, fingindo que pensava na sugestão.
— Bem, as pérolas são minhas favoritas, então, qualquer coisa em que elas estejam, será um ótimo presente.
Ele soltou um riso abafado e a empurrou de brincadeira.
— Farei o meu melhor.
O aspecto divertido da conversa acabou e eles contemplaram o lado menos prazeroso. Ele iria para longe — todo o caminho até Levant5, provavelmente, onde as coisas eram mais agitadas — e ele encararia combates, guerras e muitas lutas. Ela ficaria aqui, e provavelmente se casaria e... quem sabe? Tudo o que ela sabia até o momento era que eles se amavam profundamente e não haveria um dia em que ela não pensaria nele, se perguntasse onde ele estava e como ele se arranjava. Todavia, eles não se casariam. Eles eram livres para amar, explorar e voltar para dividir suas jornadas entre eles, não importa o que eles encontrassem.
— Você partirá logo? — Ela perguntou em voz baixa.
— O próximo mês. — Heath disse em poucas palavras. — Estou esperando meu tio voltar da capital e depois seguiremos juntos. Primeiro Edimburgo e em seguida para a costa e de lá para Roma, onde serei ordenado e me juntarei ao Hospital de St. James. Eu não consigo acreditar nisso.
Chrissie suspirou e arregalou os olhos. Ela não tinha ideia do que era viajar tanto. Ela nunca havia ido mais longe do que Dunkeld. Ir tão longe, cruzar o mar, era inimaginável. Ela olhou nos olhos dele.
— Você tomará cuidado? Não vá fazer besteiras!
Heath jogou a cabeça para trás e riu alto.
— Oh, Chrissie! — Ele disse afetuosamente. — Prometo que tentarei. Obrigado. Obrigado por se preocupar.
Chrissie olhou para ele cuidadosamente, guardando cada aspecto de seu rosto, desde seus olhos suaves, seu nariz reto até o furinho de seu queixo fino. Ele parece um Cavaleiro. Ele é corajoso, gentil, respeitador, bonito... tudo o que ela imaginava que um Cavaleiro pudesse ser. O Sir Gawain das histórias. Ela o beijou na bochecha.
— Oh, Heath. — Chrissie falou em voz baixa, descansando a cabeça no ombro dele. — Eu te amo. De verdade, te amo. E sempre amarei. E estou muito feliz por você.
Ele a beijou no rosto e pegou a mão dela.
Eles ficaram assim por um longo tempo antes que ele se levantasse e fosse embora, a deixando ali, olhando para o gramado e pensando sobre o futuro — um futuro em que ela era livre para amar.
O que quer que fosse que ela pensasse, seus pensamentos voltavam sempre para Blaine. Ela se perguntou o que ele estava fazendo agora
Capítulo Dez
PLANOS SÃO FEITOS
Blaine estava sentado em seu quarto, cansado depois do treinamento de luta. Entretanto, essa não era a razão de seu tormento. O gosto daquele beijo ocupava cada aspecto de seu pensamento. No campo de treino, no salão, no seu quarto; o beijo o seguia em todos os lugares, fazendo ficar sedento por Chrissie. Ele ansiava pela presença dela, doía por segurá-la, beijá-la e ir mais além.
Seu corpo tremia e ele tentava, valentemente, apagar os pensamentos que vinha até ele. De Chrissie nua, seu cabelo sedoso caído em seus ombros, os seios dela como pequenos globos com botões vermelhos, o corpo macio, com curvas suaves como porcelana. Obviamente, isso era tudo especulação, uma vez que ele nunca a viu nua. No entanto, ele tinha certeza que ela era deslumbrante por baixo daquelas roupas. Sua virilha doía e ele rosnou, arrumou a calça e caiu sobre a cama.
— Chrissie Connolly! — Ele gritou para o teto. — Você me atormenta!
Ele sorriu. Ele sabia que estava duro por antecipação e havia sido assim por um tempo — cada vez que ele recordava daquele passeio, ele sentia sua virilha se encher de sangue, seu corpo ficar rígido e esperando para poder encontrar alívio com ela.
Ela havia deixado que ele a beijasse, e riu e rodopiou daquele jeito delicado que a fazia parecer de outro mundo. A alma dele estava enfeitiçada pela dela, seu coração perdido e seu corpo ansiava por ela.
— Blaine..?— Alguém bateu na porta, interrompendo a suas belas fantasias. Ele exalou.
— Vá embora. Ou eu darei um tapa na sua orelha!
Houve um silêncio por alguns minutos e depois uma voz sibilou novamente.
— Blaine!
Blaine reconheceu a voz e desejou não ter dito isso. Era Theodor, seu amigo. A última pessoa que ele realmente queria ver essa hora do dia. Tudo o que ele queria fazer era deitar de costas e contemplar o teto e apreciar a experiência que ele tinha vivido. Todavia, ele não podia ignorar seu amigo. O que quer que fosse, parecia grave. Um momento depois, suas suspeitas foram confirmadas.
— Blaine! — Theodor chamou com urgência através da porta. — Eu preciso de sua ajuda.
Blaine gemeu. Ele não podia ignorar um amigo necessitado. Ele abriu a porta e Theodor, magro e com longos membros, caiu dentro do quarto. Se apoiando no batente ele se arrastou para dentro.
— Qual o problema? — Blaine perguntou casualmente.
Theodor o encarou e, sem dizer uma palavra, se jogou sobre uma cadeira com o orgulho ferido. Ele sentou e olhou para Blaine novamente. Depois ambos caíram na risada. Blaine fechou a porta e se juntou ao amigo.
— O que aconteceu?
— Estou me escondendo de Fergus. — Theodor explicou aos sussurros. — Estou devendo a ele e, se ele me encontrar, arrancará minha cabeça.
— Não, ele não irá. — Blaine respirou fundo. — Lorde Brien não quer que as pessoas matem seus guardas. Tudo o que você tem que fazer é encontrar Fergall, o armeiro, e ele se encarregará do assunto.
— Não, ele não irá. — Theodor falou decidido. — Eu já fiz isso e ele disse que, dessa vez, é minha própria bagunça e eu tenho que consertar. Vou ficar aqui, se não se importar.
Blaine deu de ombros. Ele foi até o jarro e derramou um pouco de água fresca em uma tigela de barro e deu para Theodor beber. Ele pegou agradecido. — Então fique. Não é como se eu tivesse alguma coisa para fazer, de qualquer forma. — Ele não podia sair dizendo por aí, que ele estaria ocupado imaginando Chrissie nua, podia?
— Obrigado. — Theodor grunhiu, esfregando o rosto. — Eu realmente precisava disso. Eu trouxe algo. — Ele ofereceu, mostrando uma garrafa de pedra contendo cerveja. Blaine inclinou a cabeça.
— Oh! Vou pegar os copos.
Eles despejaram a cerveja nos copos e ficaram sentados no pequeno quarto de Blaine com cheiro de carvalho atravessando a pequena e alta janela virada para o jardim. Em algum lugar, pássaros cantavam ao pôr do sol e Blaine se pegou pensando em Chrissie.
— O dia foi bom? — Theodor perguntou, limpando a cerveja de seus lábios com as costas de sua mão. — Cerveja boa. — ele disse em aprovação, batendo seu copo com o de Blaine.
— Você trouxe, não eu. — Blaine deu de ombros, rindo para ele.
— Bem, eu sei. — Theodor gargalhou. Ambos riram alegremente.
— Bastardo arrogante. — Blaine sorriu ironicamente. Theodor o chutou e ambos riram.
— Sério. — Theodor disse interrogativamente. — Não vejo você rir tanto há anos. O que aconteceu?
Blaine deu de ombros.
— Você realmente acha que eu pareço diferente?
— Cara! Você não parou de rir desde que entrei aqui! Eu sei que minha companhia ilumina e tudo mais, mas isso é excessivo.
Ambos gargalharam. Blaine estava feliz que seu amigo estivesse ali. Se alguém pudesse ser uma distração agradável, esse alguém era seu amigo de longa data.
— É uma garota. — Blaine disse timidamente.
— Chrissie? É ela, não é? Eu sabia! — Theodor adivinhou imediatamente, rindo e apontando para o sorriso sem graça de Blaine. — Muito bem, homem!
— Obrigado, Theodor. Não é nada demais. — Ele adicionou, fazendo gestos com as mãos que denotavam cuidado. — Foi só um beijo. E nada foi decidido, não de verdade.
— O quê? — Theodor o encarava, quase derrubando seu copo. — Você é idiota, moço?
— O quê? — Blaine o questionou, limpando os lábios com a mão. — Por que eu sou um idiota? Você é quem está se escondendo de um credor?
— Oh, isso. — Theodor deu de ombros. — Eu estava sendo dramático. Fergus não me matará. Sério. Foi apenas uma desculpa para entrar e conversar. Mas isso! Chrissie beijou você e, você não ofereceu nada? Você é um idiota!
Blaine o encarava. Ele apoiou o seu copo cuidadosamente na mesa de cabeceira, se inclinou para frente e voltou a olhar firmemente para seu amigo.
— Você quer dizer, que acha que eu deveria ter perguntado diretamente para ela? Para se casar comigo? Hoje?
— Sim! — Theodor abriu um sorriso. — É claro que deveria! Martele uma espada enquanto ela ainda está brilhando, Blaine. Primeira regra dos ferreiros. Não espere até as coisa esfriarem para depois martelá-las.
Blaine soltou o ar.
— Chrissie não é uma espada, Theodor. Ela não é feita de metal e eu não posso obrigá-la a fazer o que eu quero.
— Verdade. — Theodor falou depois de um minuto de silêncio. — Mulheres não são como espadas. O que não é uma coisa ruim. Eu não sou devoto em dormir abraçado a uma espada!
Ele riu como se fosse uma boa piada e Blaine ficou ali sentado, sentido-se vagamente zangado com ele. Se tudo o que ele queria era fazer piadas grosseiras sobre seu amor, que fosse embora. Ele estava prestes a dizer isso quando Theodor clareou a garganta.
— Se eu fosse você, Blaine, eu me mexeria agora.
— Por quê? — Blaine perguntou ainda chateado.
Theodor limpou a boca com a mão.
— Porque ela estava passeando nos jardins com aquele sujeito mais cedo. Não é como se ela tivesse os olhos em uma única direção, se você entende o que quero dizer, amigo.
Blaine retesou. Ele estava bem consciente de quem era “aquele sujeito”. Era Heath Fraser. A última coisa que ele precisava pensar era nisso, pensou amargamente. Ele já havia suportado a proximidade dele com Chrissie por muito tempo.
— Você realmente pensa que ele é um risco? — Ele perguntou cautelosamente. Ultimamente parecia que ela tinha mais afeição por ele do que por Heath. Ele tinha, pelo menos, conseguido se convencer disso.
— Um perigo, Blaine, um perigo.
Theodor parecia como se estivesse um pouco bêbado e Blaine estava tentado a colocá-lo para fora, mas tinha que admitir que, o que seu amigo falava tinha sentido. Ele tinha que, pelo menos tentar, falar mais um pouco com Chrissie. Se ela tivesse afeição por Heath e ele por ela, ele deveria saber agora. Antes que ele construísse todos esses castelos no ar.
— Sabe...— Ele inspirou fundo. — Acho que você está certo. Sobre ser rápido.
— Sim, eu estou. — Theodor acenou.
— Que horas são? — Blaine perguntou apressado, a mente já no futuro. Se a família ainda estivesse jantando, ele teria tempo...
— São nove horas ou perto disso, Blaine. — Theodor disse.
— Eu tenho que ir a um lugar agora Theodor. — Blaine falou, pensando rápido. — Se quiser ficar aqui, será capaz de evitar Fergus. Além do mais, você me deixará entrar quando eu voltar. Certo?
— Muito bem. — Theodor inclinou a cabeça. — Eu devo dar um cochilo enquanto você estiver fora. Se eu fizer, bata na porta com força. Eu o escutarei.
— Farei isso. — Blaine disse sobre os ombros. Ele deixou Theodor onde ele estava, encostando na parede e procurando focar a visão em algo ao longe. Ele fechou a porta, pôs a chave em seu bolso e seguiu para o solar. Pelo menos seu amigo estaria a salvo ali por um instante.
Quando ele chegou ao solar, ele pode ouvir vozes, o que era um bom sinal. Se a família ainda estava jantando, ele poderia falar com Chrissie. Ele alcançou a porta e entrou. Cinco rostos se viraram para ele. Nenhum deles era o de Chrissie e, apenas dois deles ele reconhecia: Heath e Lorde Brien.
— O que foi? — Lorde Brien perguntou. — Oh, você novamente. Mais alucinações?
Blaine grunhiu. Lorde Brien, seus convidados e Heath estavam sentados na mesa principal, saboreando alguns cogumelos da estação e algo saboroso da panela. Entretanto, onde estava Chrissie?
— Humm, sim. Não! — Ele parou, balançando a cabeça e tentando pensar rápido. — Estava procurando por Lady Chrissie. Um de meus homens acha que a viu na torre e eu queria checar se ela está segura. Ela está?
— Ela não está aqui, como pode ver? — Lorde Brien disse brevemente. Ele olhou de Blaine para seus convidados como se ele os alertasse que Blaine não estava muito bem e depois voltou a encarar Blaine. — Você precisa de algo mais?
Blaine ouviu a ironia na frase e engoliu em seco. Quem ele era, além de um mero soldado, para perturbar o jantar do conde?
— Desculpe-me, Senhor. Não, Senhor. Voltarei lá para fora.
— Certifique-se de fazê-lo. E da próxima vez que seus homens se alucinarem “dragões, sobrinhas, névoas ou qualquer coisa” certifique-se de enviá-lo até mim. Estou certo de que eu possa curá-lo. — ele deu um leve sorriso.
Todos eles riram e Blaine saiu, sentido-se como se tivesse levado uma bofetada. Ele se sentiu embaraçado. No entanto, o pior disso, é que ele estava preocupado. Onde estava Chrissie?
Ele não podria saber a razão de por que estava preocupado, apenas estava. Ele se apressou ao longo do corredor e subiu as escadas. Ele não tinha, estritamente falando, permissão para acessar a área destinada à família, especialmente na ala onde estavam localizados os quartos, mas a criada de Chrissie, pelo menos, havia permitido que ele entrasse. Ele foi até o quarto dela, o mais distante com a visão da torre, e bateu.
— Olá?
Sussurrando pelo buraco da fechadura sem receber resposta, ele bateu novamente e esperou. Após um momento a chave virou. Ambeal, a criada de Chrissie, apareceu.
— Senhor?
Ela parecia assustada e estava quase fechando a porta. Blaine empurrou a porta e a segurou com força.
— Desculpe-me. — Ele sussurrou, sentindo-se mal. — Lady Chrissie está? Eu preciso saber.
Ambeal ergueu o rosto e o encarou.
— Não Senhor. Ela não está aqui. Eu achei que ela estava jantando. Ela não está?
— Não. — Blaine disse sombriamente. — Ela disse se iria sair?
— Ela não disse diretamente, Senhor. — Ambeal parou. — Ela saiu para cavalgar. Mas disse que voltaria antes do jantar. Ela disse que se chegasse tarde, iria direto para o solar. Então era onde eu achei que ela estaria, senhor. — Ela se calou, mordendo o lábio. — Se ela não está lá, então, será que pode estar no estábulo?
Blaine acenou. Ela tinha que estar. É claro.
— Checarei. — Ele prometeu à criada que, agora, olhava preocupada também. — Se eu a encontrar, direi que você está preocupada. Está bom assim?
— Oh, obrigada, senhor. Estou preocupada! Obrigada pela gentileza. — Ela sorriu para ele.
— Não mencione isso. — Blaine disse suavemente. Ele tentou se recompor, mas, por alguma razão que quase não conseguia entender, estava profundamente preocupado. Ela tinha desaparecido depois que eles havia conversado pela manhã e ele não conseguia evitar em pensar que era culpa dele. Por que ela havia saído para cavalgar, depois de todas essas coisas! Havia tropas hostis ao redor e o ataque a Dunkeld não queria dizer que eles simplesmente haviam ido embora.
Deslizando distraidamente a mão entre os cabelos, ele caminhou rapidamente pelas escadas, indo direto para o estábulo. Ele atravessou as portas ofegante. Não havia ninguém lá.
— Olá? — ele gritou, sentindo-se impulsionado por uma urgência desesperadora. Alfred, o chefe de estábulo, ouviu e saiu de uma baia, com um garfo de feno em uma mão, um rosto pálido e cansado.
— Alfred! — Blaine disse rapidamente. — Lady Chrissie? Ela está aqui?
— Huum? — Alfred passou a mão pelo rosto. — Não. Ela saiu há cerca de quatro horas, Senhor. Não voltou ainda.
— E você não achou que deveria contar para alguém? — Blaine sibilou. Depois percebeu que estava sendo injusto. Não era trabalho do chefe de estábulo tomar conta dos membros da família. Era dele.
— Sele meu cavalo.
— Huum?
— Eu vou atrás dela.
Enquanto Alfred selava o cavalo e Blaine esperava, batendo seu pé impacientemente, ele sabia que tinha que sair logo. Antes que fosse muito tarde.
Capítulo Onze
PERDIDA
— Deveria ser esse caminho. Tinha que ser.
Chrissie apertou os dentes. Ela sentiu raiva. Ou pelo menos, ela estava tentando muito sentir raiva. Era muito melhor do que sentir medo. Estava escuro, afinal e, era muito fácil sentir medo. Ela estava perdida no pântano à noite.
O que ela ouviu era quase o uivo dos lobos.
— Era o vento. — Ela disse firmemente para ela mesma. — Apenas o vento. Não seja boba, Chrissie. Você está deixando se levar pela imaginação.
Ela tremeu. Os lobos deveriam ser frutos da imaginação dela, ela rezou que assim fosse e certamente sua égua, Princesa, não parecia sentir cheiro de nada. Entretanto, o frio era bem real. O frio comia até seus ossos, fazendo-a se sentir fraca e cansada, seu coração acelerado. Por que o frio fazia a cabeça dela doer tanto? Ela balançou a cabeça, desejando que pudesse clarear a mente. A dor não a ajudava a recordar.
— Nós viramos a esquerda quando passamos pelas árvores. Então agora nós deveríamos ir para direta. Eu sei disso...
Ela suspirou, olhando ao redor. Estava muito escuro para ver qualquer marca. Ela não conseguia ver o aumento da floresta, que era tão óbvio durante o dia. Ela não tinha ideia se estava de frente para ela ou saindo dela, ou se o pântano era tudo o que se estendia à sua frente, infinito até o horizonte.
Fechando os olhos por um momento, apertando os dentes para se manter acordada, ela seguiu o caminho. O frio a estava corroendo, congelando seus dedos, fazendo-a se sentir cansada. Tão cansada...
Princesa tropeçou, sacudindo Chrissie que acordou. Ela se sentou rapidamente, assustada. Ela realmente dormiu? Ela se chocou contra si mesma. Era inútil! Ela não poderia cochilar.
— Vamos, Princesa. Vamos em frente!
Um galope rápido — era isso o que elas precisavam! Para acordá-las e esquentar o sangue novamente.
Ela se inclinou, rangendo os dentes enquanto o galope abalava a sua já machucada e dolorida coluna. Esse era o caminho! Ela seguiu, tentando se concentrar, tentando manter o foco.
Subitamente, Princesa recuou, se erguendo. Chrissie gritou e escorregou para trás, caindo. Ela bateu a cabeça e ficou ali, atordoada.
— Princesa?
A voz de Chrissie ecoou no silêncio. Ela estava caída na terra dura, o frio se infiltrando como se ela tivesse deitada sobre a superfície de um rio congelado. A noite era silenciosa, apenas alguns grilos cantavam das árvores.
— Princesa?
Chrissie suspirou. Ela queria chorar. Ela estava perdida e sozinha. Ela não tinha cavalo e nem ideia de onde estava. Ela também estava com frio e cansada. Há um bom tempo que ela não tinha mais fome, embora seu corpo estivesse tão fraco que ela não conseguia nem ao menos engatinhar. Sua cabeça doía. Ela estava assustada.
Em sua mente ainda estavam as lembranças da manhã, de Blaine e do beijo. Ela lembrou dos raios de sol e como havia estado feliz. Ela sentiu um tipo de nostalgia melancólica ao pensar naquelas horas, que acontecera a poucas horas atrás, quando o presente era tão adorável e o futuro excitante. Ela queria viver.
— Eu realmente posso morrer. — Ela disse em voz alta. Acima dela, o céu escuro com estrelas brilhantes. O brilho prateado delas a confortava.
Ela se virou de lado e chorou. Tentou engatinhar, mas seu tornozelo queimava e ela gemeu em agonia quando apoiou o peso dela sobre ele. Não havia nenhum movimento a sua frente. O solo estava congelado.
— Ótimo. — Ela disse resignada. — Agora nem engatinhar eu posso.
Ele voltou a deitar de costas, ofegando pelo esforço e olhou para o céu. Alguns minutos depois, ela rolou para o lado e tentou se mover novamente. Dessa vez, ela empurrou o pé direito, arrastando a inútil perna esquerda para trás. Ela se esforçou, grunhiu e depois deitou-se imóvel novamente. Por que ela estava fazendo isso? Ela nem ao menos sabia para que lado deveria ir!
— Eu não posso... ficar deitada aqui. — Ela disse para si mesma, sua mente mergulhando no frio e no cansaço, uma estranha névoa bloqueando a maior parte de seus pensamentos. — Ir... árvores. Abrigo. Calor.
Ela tinha que seguir adiante. Enquanto estava deitada ali, ficou claro o motivo pelo qual o sua égua a havia abandonado, era porque elas haviam chegado a um bosque de árvores.
Sentindo a cabeça latejar devido ao frio e a exaustão, Chrissie arrastou-se até a proteção das árvores e deitou-se ali. Rolou até ficar de costas e olhou para cima, para as folhas pontiagudas dos pinheiros, delineados pelo brilho das estrelas. Estava um pouco mais quente ali, o solo coberto com uma camada fina de folhas e ela tentou colocar seus pensamentos em ordem.
Estou na floresta. Não sei onde Princesa está. Eu não posso simplesmente ficar aqui no chão ou eu congelarei ou serei devorada. Mas eu também não consigo caminhar. E eu não posso ficar em pé.
Chrissie mordeu o lábio e se forçou a seguir em frente. Ela poderia engatinhar. Era tudo o que ela poderia fazer. Ela poderia ao menos engatinhar mais para dentro da floresta, onde poderia ficar protegida do vento gelado.
— Ugh. — Ela rosnou, arrastando-se para frente, apoiada nos braços que doíam e nos dedos que estavam tão dormentes que ela nem sentia. — Ooo, Oh...
Ela se obrigou a seguir em frente. Um pouco de cada vez. Os olhos dela fecharam e ela esqueceu onde estava, sonhando e flutuando em pensamentos sobre raios de sol, beijos e felicidade. No entanto, ela tinha que seguir, arranhando o chão em tentativas inúteis, já que estava congelado.
Luz. Apareceu diante dela, sólida e persistente. Chrissie abriu os olhos. A luz ainda estava ali. Era forte, da cor de limões, um brilho pálido atravessando as árvores. De qualquer forma, era uma luz, sem sombra de dúvidas. Ela manteve os olhos abertos, se arrastando sobre sua barriga, sem se importar com os galhos afiados do pinheiro que machucavam sua pele.
A medida que ela rastejava, pensou ter ouvido algo. Vozes. Vozes humanas, conversando em voz baixa. Ela se retesou. Poderia ser alguém que poderia ajudá-la? Ela sentiu vontade de chorar de alívio. Ela teria chorado se algum instinto de preservação não a tivesse alertado para manter-se quieta. Pelo menos, até ela descobrir que tipo de pessoas eles eram. Ela se rastejou sobre a barriga, indo em direção a luz pálida.
Quando ela se aproximou o suficiente, percebeu que era um acampamento, com quatro ou cinco homens sentados, ela quase não podia ter certeza de quantos. Eles pareciam ser soldados.
Soldados. Na floresta, escondidos de Lochlann. À noite.
Chrissie instantaneamente se retesou, sentindo que ela estava realmente encrencada. Teria ela, sem querer, ter tropeçado com o exército invasor do qual Aili a havia alertado? Ela se esforçou para ouvir o que eles diziam, mas eles estavam murmurando entre si. Um deles riu.
Chrissie ficou deitada ali, pensando no que ela poderia fazer. Poderia fazer uma ou duas coisas. Ou ficar ali, deitada, esperando que algum calor a alcançasse e eles não a vissem ou, ela ir diretamente até eles.
Enquanto ela decidia, um dos homens se levantou. Se espreguiçou.
— Eu vou me esvaziar. — Anunciou. Eles riram.
— Cuidado para que os ursos não o comam, Keith.
— Ursos? — O homem questionou.
— Vá em frente. — O primeiro homem falou brincando. — Aqui. Leve um galho se estiver preocupado. Apenas não ponha fogo nas árvores.
Ele deu ao homem um galho e depois ele colocou no fogo. As chamas atearam e ele empurrou com mais vigor, espalhando as cinzas. Chrissie rezou para não espirrar. E ela não espirrou.
O homem que precisava se esvaziar, como ele mesmo havia dito, partiu. Chrissie continuou deitada. Ela prendeu a respiração. O coração disparado. O grupo não era de Lochlann, ou eles saberiam que não havia ursos nesta parte da floresta.
Chrissie continuou deitada enquanto o homem atiçou o fogo e o outro se afastou.
— Atchim!
Um homem espirrou e o outro, ao lado dela pulou. Perdendo o equilíbrio, ele escorregou e caiu.
Em cima dela.
Chrissie gritou.
— O que... — O homem também gritou, depois parou. — Uma dama!
— Não! — Chrissie soluçava. — Não, por favor.
O homem a havia agarrado pela cintura e agora a virava, a encarando.
— Oh, ela é magra. — Ele disse, com censura em suas palavras. O seu rosto era a imagem da luxúria e Chrissie sentiu as suas estranhas virarem água em puro terror. Era um olhar de ameaça o que a fez desejar correr. E ela tentou fugir.
— Não, Por favor. Ajuda! Deixe-me ir...
Ela lutou e quase conseguiu se livrar, mas ele era muito forte e muito pesado. Ela tentou se erguer e seu tornozelo doía tanto que ela desabou, soluçando, lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Shhhhh, moça. — O homem que ainda a segurava, agora parecia desconfortável.
— Por favor, me deixe ir! — Chrissie disse desesperada. — Estou perdida e machucada. Por favor não me machuque.
O homem a olhou nos olhos. A luxúria ainda estava ali e Chrissie se desesperou ao notar. No entanto, tinha algo mais. Vergonha e bondade.
— Vamos, moça. — Ele sussurrou com urgência. — Corra
— Silêncio! — Uma voz veio do grupo. — O que você achou? Uma dama?
O coração de Chrissie se apertou. Um outro homem havia aparecido na borda das árvores, empunhando um galho como o que o seu companheiro segurava. Ele a encarou, como se fosse perguntar o porquê que ela não estava correndo e fez um movimento de enxotar com as mãos.
— Vá. Vá!
— Eu não posso. — O tornozelo dela doía e não havia jeito que ela pudesse colocar o peso do corpo dela para caminhar, quando mais para correr.
— Uau, Keith! — O homem assobiou. — Você pegou uma bonita. Traga-a para cá!
— Ela não pode andar. — O homem explicou, parecendo desesperado. — Ela é nobre... diga algo! — ele disse para Chrissie com urgência.
— Olá? — Chrissie disse se sentindo estúpida de repente. Por que ela havia escolhido dizer algo tão estupidamente educado no meio de uma situação perigosa?
— Oh! — O homem exclamou. Esse homem tinha um rosto largo, olhos grandes e se não fosse um pouco mais alto do que o homem que tropeçou com ela, também era um pouco maior. Chrissie se acanhou. — Oh! Keith. Não a mantenha só para você! Seu bastardo. Traga-a aqui, assim todos nós podemos dividi-la.
— Não! — Chrissie gritou. Ela com esforço se ergueu, rosnando quando o tornozelo estalou enviando uma dor como o fogo por toda sua perna. Ela se levantou e deu três passos antes de tropeçar e cair. Ela gritou. Ela se agarrava e rastejava pelo chão. O homem correu até ela, pegando a gola de seu vestido por trás, a levantando com uma mão.
— Não! — Chrissie gritou novamente.
— Não! — O homem chamado Keith disse com urgência. — Bruce, não. Ela é uma mulher nobre. Aristocrata. Talvez ela... talvez ela saiba algo.
Chrissie olhou para ele agradecida. Seu captor a olhava, com os olhos estreitos.
— Bem, então... — ele disse, se direcionando a seu salvador. — Se ela é uma nobre, como você diz, vamos descobrir o que ela sabe. Levante-se!
Ele levantou Chrissie. Ela soltou um grito quando se apoiou sobre tornozelo quebrado e Keith protestou.
— Eu a carregarei. Ela está muito machucada.
O segundo homem, evidentemente o chefe, o olhou estranhamente.
— Certo. — Ele disse decidido, dando um passo atrás, assim Chrissie vacilou e caiu de novo, sentada sobre as agulhas do pinheiro.
— Sinto muito. — Keith sussurrou. Chrissie mordeu o lábio.
— Não é sua culpa.
Ele parecia miserável, balançando a cabeça. Os olhos estavam umedecidos, Chrissie notou, e ela se sentiu tocada por seu cuidado. Ele a ergueu e a carregou até a fogueira, atrás de seu captor.
No meio dos soldados, Chrissie olhava para a floresta. Do lado oposto a ela, o líder se agachou e a olhou.
— Então, meu homem disse que você é uma lady. — Os homens riram e Chrissie estremeceu. — Prove.
Chrissie engoliu em seco.
— Eu farei, se me deixarem ir.
Todos riram novamente.
— Isso depende de quem é você. Diga-me! — De repente o rosto dele estava a centímetros do dela, seus olhos estreitos, o odor de seu hálito nas narinas dela. Chrissie se afastou, sentindo-se assombrada. Ela fechou os olhos, tentando pensar.
— Sou Chrissie Connolly. — Ela enfim respondeu, sentindo-se desesperada. Ela esperava que isso significasse algo para eles — ou o suficiente para mantê-la segura — ou não. O que poderia, se eles fossem inimigos de Lochlann, ser algo muito ruim.
Os homens começaram a falar. Evidentemente houve algum debate sobre o que isso queria dizer e quem era ela. Chrissie se esforçou para entender o que era dito, mas o dialeto que eles falavam era um pouco diferente que ele ela conhecia.
— ...ela não é do castelo.
— Cale-se, homem! Claro que é. A casa dela é Lochlann. Claro que é.
— Bruce é um idiota. Deveria perguntar a ela...
— Quietos!
Bruce evidentemente, tinha alguma ideia sobre o que estava sendo dito, especialmente sobre ele, e fez com que toda a atenção voltasse para ele, que estava sentado no fim da clareira, de braços cruzados.
— Lady Connolly. — Ele disse, fazendo uma paródia de cortesia que a fez se encolher. — De onde você vem? Nos conte.
— Do castelo. — Ela disse. Ela não tinha ideia se essa era a resposta certa ou não, apenas que seu protetor parecia achar que seu status de nobreza poderia salvá-la. Ela esperava que sim.
Todos ficaram em silêncio.
— Você está certa disso? — O líder perguntou em voz baixa.
Chrissie teria achado isso engraçado se não estivesse tão aterrorizada. É óbvio que ela sabia de onde ela vinha!
— Sim. — Ela disse com firmeza.
— Bem, sendo assim...— O homem parecia desapontado. — As coisas são diferentes. Você virá conosco.
Chrissie o encarou assustada.
— O quê? — Ela perguntou. — Não. Espere. Por favor! Eu não entendo... — Entretanto, eles já a sustentavam. Chrissie se viu jogada sobre as costas de um cavalo, cabeça pendurada, um homem montado atrás dela. Ela gritou, debateu-se e chutou, mas lhe homem bateu forte e ela caiu em silêncio.
Quando eles se afastaram da floresta, as brasas queimando foram deixadas para trás, Chrissie fechou os olhos e rezou. Ela estava protegida do frio, era verdade, e estava indo para algum lugar. No entanto, ela não sabia aonde.
Quando começaram a cavalgar, batendo, sacolejando e em um terreno acidentado, Chrissie sentiu-se começar a perder a consciência do frio e do terror. O último pensamento antes de desmaiar foi: me pergunto se Blaine ao menos saberá o que aconteceu.
Ela rezou para que ele soubesse.
Capítulo Doze
ENCONTRANDO PISTAS
Blaine cavalgava pelo bosque, seu cavalo, Bert, ofegante embaixo dele. Ele sabia que estava sendo duro, mas ele não podia parar. Não podia esperar. Ele tinha que encontrá-la. Tinha que encontrá-la agora.
— Chrissie! — Ele gritava desesperadamente. — Chrissie.
Ele sabia que era idiota gastar energia chamando, mas gritar o nome dela era um grito de guerra. Isso o incentivava a continuar quando ele tinha que parar. Suas costas doíam devido a cavalgada e seus pés estavam dormentes devido ao frio. Ele sabia que Bert estava exausto e ele sabia que tudo isso era estupidez, estar ali fora, na floresta a noite. Sozinho.
Deveria ter esperado, reunido alguns guardas e os enviado em todas as direções. Ele não sabia razão, além de um pressentimento e do fato que ele já tinha visto, antes, Chrissie vir nesta direção para pensar do que imaginar que ela tinha ido para o Leste.
— Sou um cabeça dura. — Ele disse a si mesmo enraivecido. Recriminar-se não ajudava em nada, assim, Blaine começou a xingar em voz baixa, tentando manter o ânimo.
— Essas árvores são uma porcaria durante a noite. — Ele falou com Bert em voz baixa. — Todas essas raízes, galhos, espinhos e... O que é isso?
Ele parou. Algo estava vindo entre as árvores. O que quer que fosse, estava correndo rápido. Ele podia ouvir os passos batendo no chão duro e seco. Ele assobiou baixo, o terror o mantendo no lugar.
Não soava como um lobo. Não era um urso. Não soava como um ser humano, mas nada que ele conhecia podia correr tão rápido. Tinha que ser um veado. Ou um javali. Ou um...
Um cavalo. Estava correndo, olhos arregalados e bufando, o rabo balançando na noite fria, patas batendo no silencioso solo coberto de folhas de pinheiro. Era um cavalo de estábulo, de pernas compridas e finas. Um Jennet, um cavalo compacto, menor e mais delicado, o tipo que as damas montavam.
— Oh, por Deus... — Blaine olhava sem reação. — Princesa?
Era o cavalo de Chrissie. A visão o encheu de terror. Ele sabia o nome que Chrissie havia dado a sua nova Jennet, porque ele havia zombado disso uma vez, chamando o nome de tolo. Chrissie tinha ficado ofendida e eles brigaram. Depois ele se sentiu culpado. Agora ele estava aliviado pelo incidente, pois isso o fez recordar do nome.
— Princesa! Nay, eia! — Ele chamou em voz alta.
A égua o ouviu, pois ela se virou e olhou para ele, ofegando. Era ela. Ela reconheceu seu nome.
— Hey, calma. — Blaine murmurou com gentileza. — Assim, muito bem. Sou eu. Blaine. Você está segura. Shhhh.
A égua parou de correr e ficou onde estava. Ela continuava ofegante, a cabeça baixa, olhando para suas próprias patas, a respiração pesada ardia nos pulmões após a corrida. Blaine esperou. A última coisa que ele precisa fazer era assustá-la e fazê-la fugir. Ele a estudava, tentando desesperadamente para ver se havia qualquer indicação de onde ela vinha, ou como ela tinha vindo de onde quer que fosse, sozinha, sem sua amazona.
Onde estava Chrissie? Mil pensamentos de cenas assustadoras cruzou a sua mente. Chrissie arremessada de sua égua, caída em algum lugar com ossos quebrados, congelanda lentamente no frio. Chrissie atacada por ladrões ou invasores, empurrada de sua sela em uma tocaia, levada para qualquer lugar longe dali. Chrissie sendo atacada por lobos...
— Princesa. — Ele sussurrou novamente. O seu cavalo, misericordiosamente, ficou parado e ele desceu tão suave quanto ele podia, aterrisando no chão com seus pés dormentes. Princesa, Graças a Deus, ficou parada no mesmo lugar.
— Shhhh. — Ele falou, tranquilizando a égua. — Eia, Princesa. Está segura. Sou eu. Nós podemos voltar para casa. — Ele pegou o arreio. — Onde ela está, Princesa? — Ele perguntou, desejando que ela pudesse responder. A égua ficou onde estava, o observando de soslaio.
Blaine foi procurar por pistas. Ele notou que Princesa parecia ilesa. Isso, pelo menos, sugeria que nenhum lobo as atacara. Ele analisou as patas. As sentiu. Se elas estivessem suadas e quentes, era porque, provavelmente, haveria feito uma corrida dura por um bom tempo. Elas estavam quentes, mas não exageradamente.
— Bem, então. — Ele disse em voz alta, pensando enquanto deslizava as mãos pelos cascos, procurando mais pistas. Ela não veio de longe. Mas ela estava ali, então de onde viera? Ele suspirou. Subitamente ele teve uma inspiração e checou os cascos. Se ela tivesse barro neles, provavelmente, elas tivesse ido ao pântano, o que dava mais ou menos uns quatrocentos metros de distância.
— Sim. — Ele sussurrou, sentindo um pequeno senso de triunfo. Em suas patas haviam barro e este havia secado a pouco tempo. Ela deve ter estado no pântano a aproximadamente um hora, uma hora e meia atrás. — Você perdeu Chrissie lá, não foi?
Supondo que Chrissie pudesse ter sido arremessada. A sela estava no lugar, então ela não havia se deslizado da sela frouxa. Ele decidiu seguir até a margem da floresta.
Montou seu próprio cavalo, mas segurando as rédeas de Princesa, para que ela os seguisse. Ela parecia aliviada em ver rostos conhecidos.
— Se ela estivesse lá por uma hora e meia, ela deve estar quase morta de frio agora. — Blaine balbuciou. Ele estava com medo. Se ela estivesse lá, talvez machucada, ela estaria congelando. Era esse o motivo pelo qual os lobos ainda não a haviam encontrado. Ou os bandidos. Blaine não era religioso, mas encontrou-se rezando pela segurança dela.
Devo alcançá-la em breve.
Ele cavalgou pela floresta, agitado e alerta, quando encontrou sinais de fogo. Os cavalos sentiram primeiro, senão ele nem teria notado.
— Uma fogueira, heim? — Ele perguntou, enquanto Bert cheirava e Princesa parou onde estava, rolando os olhos, agitada. — Vamos ver.
Blaine caminhou, suas botas silenciosas sobre as folha. Ele se agachou perto do que restou da fogueira, sentindo-a. Ainda estava quente, o carvão ainda em brasa.
— Isso aqui foi abandonado há pouco tempo. — Ele decidiu. Ele olhou ao redor. Havia uma depressão em um amontoado de folhas perto dele, onde parecia que um homem havia se sentado. Ele caminhou analisando ao redor, tentando fazer com que as coisas fizessem sentido. Alguém tinha colocado um galho no fogo, ele percebeu, pois este estava caído nas folhas, ainda em chamas. Ele descartou isso. Quando se abaixou para checar se estava frio, ele viu algo.
As folhas do pinheiro estavam bagunçadas aqui, amassadas como se alguém tivesse deitado sobre elas. Ou duas pessoas. Havia sinais de alguma atividade ali: galhos quebrados, um broto e uma samambaia pisoteadas. E uma marca de bota. Uma marca muito pequena.
A marca da bota de uma mulher?
Temendo estar se iludindo, com o coração retumbando em seu peito, Blaine procurou pela clareira. Estava quase desistindo quando encontrou uma mecha de cabelo. Cabelos claros como a luz da lua.
— Ela esteve aqui. — Ele falou em voz alta. Isso era terrível. — Quem quer que esteve aqui — foras da lei, caçadores furtivos ou ladrões de fronteira — eles a levaram com eles.
Ele procurou, o coração disparado, até que encontrou algo. Estrume e pegadas de cavalo. Muitas delas.
— Eles mantiveram seus cavalos aqui. — Ele falava em voz alta, procurando ao redor. Ele podia ver que o chão estava remexido no final da clareira e no barro ele descobriu que as pegadas iam para a esquerda. De volta a Lochlann.
— Droga! — Ele praguejou. Se eles tivessem seguido aquele caminho, poderiam estar em qualquer lugar. A única razão para ele acreditar que poderia encontrá-los, era que os restos da fogueira ainda estavam quentes. Eles haviam saído a pouco tempo.
Rezando para que ele ainda pudesse encontrá-los, Blaine montou. Levando seu cavalo, montando quase que às cegas ao longo das marcas que eles deixaram, ele foi para a Floresta e voltou para o pântano, quase o mesmo caminho que ele acabara de vir.
Enquanto cavalgava, Blaine pensava nela. Chrissie. Os lábios dela contra os dele. Rindo ao sol. Sorrindo para ele daquele jeito que fazia o coração dele vibrar como asas de um pássaro.
— Por favor. — Ele sussurrava na noite, desejando que ela pudesse ouvi-lo. — Por favor, esteja segura.
Se ela se importasse com ele, se ela fosse se casar com ele, se os sonhos dele um dia virassem realidade. Nada disso importava nesse momento. Tudo o que ele queria era que ela pudesse estar viva, bem e segura. E que no futuro, às vezes, ele pudesse apenas vê-la, o sorriso dela, ouvir a risada, mesmo que a distância.
— Você deixa meu mundo mais bonito apenas por estar viva. — Ele murmurava na escuridão, de repente sabendo que era verdade. — Por favor, Chrissie. Por favor. Esteja a salvo.
Capítulo Treze
NA FORTALEZA
A luz penetrou nos olhos de Chrissie e fez a cabeça dela doer. Ela estremeceu e gemeu com a dor. A luz continuava, laranja e pulsante, então ela se arriscou a abrir os olhos.
A luz vinha da lamparina. De repente, Chrissie estava totalmente desperta e aterrorizada. Ela estava em um cavalo, lembrava agora. Ela lembrava o motivo. Ela foi feita prisioneira por soldados que estavam na floresta. Agora ela estava, no que parecia ser, uma fortaleza.
— ... Já estava na hora de retornarem! — Alguém gritou. Chrissie se encolheu, mas percebeu que eles não gritavam com ela, mas sim com o homem que a segurava. Bruce, seu sequestrador.
— Levou muito tempo para cruzar a floresta. — O homem disse, soando azedo. Ele evidentemente não gostava de ter sido questionado. — Uma coisa boa, também. Olhe o que encontramos.
— O quê? Você encontrou uma moça? Grande. — O homem respondeu sarcasticamente. — Tente contar isso para Black Leonard.
— Eu contarei a ele. — O homem disse em voz baixa. — Ele ficará feliz em ouvir. Esta é a prisioneira.
— Não precisa me dizer isso. — O homem disse rindo. — Eu posso ver por mim mesmo.
Chrissie sentiu uma ponta de raiva. Ela estava com frio, cansada e com dor. Não queria dizer que isso era desumano e que não podia ser tratada assim. Ela retesou.
— Sou Chrissie Connolly. — Ela disse, desejando que isso quisesse dizer algo. — Exijo ver quem quer que seja que comande essa fortaleza.
Ambos os homens ficaram em silêncio por um momento. Mais abaixo, no túnel, Chrissie podia ouvir os homens desmontando, desembalando suas coisas e se acomodando. Enfim, o segundo homem falou.
— Aye, lass6. Você o verá em breve.
Chrissie engoliu em seco. Agora que ela havia dito aquilo, não estava certo que era isso que queria. Quem era Black Leonard, e porque ele estaria bravo?
— Onde vamos? — ela perguntou.
O primeiro homem, aquele que a mantinha cativa, fez uma tentativa de risada.
— Por que deveríamos contar isso a você?
Chrissie ficou em silêncio. O homem era claramente um valentão e não tinha como ser razoável com este tipo de pessoa. Tudo o que ela podia fazer era rezar que quem quer que fosse, que comandasse o forte, fosse mais razoável e entendesse sua situação. Ela realmente era alguém, apenas uma mulher, sozinha, machucada e vulnerável, pega em sua própria terra a noite. Ela não era uma ameaça a ninguém.
— Por favor, apenas me deixem entrar. — Ela tentou. — Está frio aqui.
Ambos homens riram.
— Aye, lass. — O recém chegado disse e estranhamente ele não soou inteiramente cruel. — Leve-a para cima.
Resmungando baixinho, Bruce desmontou. Ele levantou Chrissie da sela, jogando-a sobre o ombro de um jeito que a deixou sem ar e a carregou ao longo do túnel de pedras, seguindo o primeiro homem. Eles alcançaram a porta.
— Sean!
— Sim, chefe?
— Tire a sela de meu cavalo. Eu tenho negócios lá dentro.
— Aye, Bruce.
Com isso, a porta abriu e os dois homens entraram, levando Chrissie com eles. Ela olhou ao redor.
Eles estavam em um corredor, o chão de pedras, o teto de madeira. Havia uma tocha acesa em um candeeiro no corredor iluminado a frente deles. Seus captores caminharam em frente e, ela ainda pendurada sobre o ombro do homem como um saco de pano, ia junto.
Eles pararam. Chrissie, com a cabeça pendurada, não conseguia ver o motivo. Ela esperou.
— Alec?
— Sim, Senhor?
— O Lorde está?
— Sim. Ele está lá dentro. E disse que não quer ser perturbado.
— Eu acho que precisaremos perturbar-lo.
A voz desse homem era severa e quem quer que fosse que estava na porta, pareceu levar a sério, pois Chrissie ouviu uma porta estalar e o homem desapareceu lá dentro, seus passos ecoando antes que a porta fosse fechada e tudo se silenciasse.
Por fim, o som da porta se abrindo.
— Entrem.
Chrissie prendeu o ar. Eles seguiram o caminho para dentro. Para ver quem quer que fosse o lorde dessa fortaleza. Ela rezava que não fosse o tal Leonard.
— Meu Lorde. — Bruce disse, inesperadamente soando respeitoso.
— O que você tem ai? — A voz era fria, imparcial. Chrissie engoliu em seco, sentindo um aperto de medo em sua barriga. O coração batia tão forte e a respiração falhava. Ela pensou que nunca havia sentindo tanto medo antes.
— Uma garota, Senhor. Uma lady. — Ele corrigiu ironicamente. — Nós encontramos ela na floresta, a noite.
— Coloque-a no chão.
— Ela está machucada, Senhor. Não pode andar.
— Eu disse, coloque-a no chão. Eu quero vê-la.
— Sim, Senhor.
O homem a largou em pé, sem qualquer cerimônia e Chrissie gritou quando tocou o chão. Ela se sentiu escorregar e se agarrou ao braço do homem para ter suporte. Ela se ergueu, vacilante, mantendo a perna elevada, assim não precisava apoiar seu peso nela.
Ela se encontrou olhando para um homem alto. Ele tinha um rosto alongado, nariz grande e cabelo comprido já ficando grisalho. Era difícil dizer qual a idade que ele tinha, pois seu rosto não indicava, apesar do cabelo quase branco. Ele a encarava com olhos escuros que pareciam mortos. A olhava sem emoção, como se ele tivesse visto tanto da vida e perdeu o interesse, preferindo uma fria e implacável morte. Aquele olhar poderia ser interpretado como triste, se eles não fossem totalmente vazios.
Chrissie tragou.
— Eu peço a vossa proteção, Senhor. — Ela disse, tentando manter um bom nível de voz. — Sou Chrissie Connolly. Estava cavalgando na floresta quando meu cavalo fugiu e eu...
— De onde?
Chrissie ficou de boca aberta.
— Perdão, Senhor?
— De onde você vinha?
— Lochlann. Oh... — Chrissie cobriu a boca com a mão. No momento em que ela disse o nome, ela viu aqueles olhos mortos brilharem com interesse e soube que apostou errado. Terrivelmente errado. Ela se encolheu e apertou o pulso de seu captor em um esforço de se manter em pé e longe daquele homem.
— Lochlann. — O homem falou apreciando o nome em sua boca, como se de alguma forma pudesse ser saboreado, como um vinho.
— Eu quero dizer, eu realmente não vivo lá. — Chrissie objetou. — Eu sou uma servente. Uma das criadas das damas. Eu...
O homem riu.
— Uma criada das damas. Com seu próprio cavalo. Cavalgando na floresta sem assistência. Eu sei que você sabe o quanto isso é improvável.
Chrissie engoliu em seco, sentindo sua estupidez. Ela já havia dado todas as informaçõe que ele precisava. E esse, era um homem, que claramente odiava a sua família. Alguém que daria muito para destruí-los.
— Você é McDonnell. — Ela murmurou. Subitamente fazia sentido. O último barão havia morrido recentemente e fora substituído por seu tio. Deveria ser ele. O nome do tio era Leonard.
Ele riu.
— Muito bem! — Ele parecia quase feliz.
Chrissie se encolheu. Ela estava tremendo e apertou o seu captor com tanta força que ele se retesou e se afastou, fazendo-a oscilar.
— Lady Chrissie. — O homem disse, fazendo uma reverência zombeteira. — Acho que temos muito o que conversar. Você deve ir. — Ele adicionou para o captor dela, olhando para ele brevemente.
— Senhor...
— Fora!
O homem deu um passo para trás e Chrissie caiu de costas, agarrando a coisa mais próxima para se firmar, o que acabou sendo um corvo. Ela se arrepiou.
— Vamos, sente-se. — O homem convidou. — Nós temos muito o que conversar.
Chrissie olhou para o lugar que ele indicou, uma poltrona e algumas cadeiras perto da lareira, com lenha queimando atrás deles.
— Eu não consigo andar.
— Oh. — O barão disse. Ele a alcançou e pegou no pulso dela. Chrissie odiou a forma que sua mão fria tocava a sua pele... tinha uma sensação que não havia vida, um aperto fraco e a pele gelada.
— Obrigada. — Ela falou enquanto ele a levava até o poltrona. Ele esperou que ela se sentasse e depois fez o mesmo em uma cadeira de frente a ela.
— Certo. — Ele disse com firmeza, no instante em que ela estava confortável. — Conte-me as fraquezas de sua casa.
— O quê? — Chrissie o encarava como se ele fosse louco.
— As estratégias militares de defesa de sua casa e o que eu posso fazer para superá-las. — Ele explicou pacientemente.
Chrissie ainda o encarava sem reação.
— Eu... Eu não sei! — Ela balbuciou, o que era quase verdade. — Como eu poderia?
Ele soltou o ar.
— Verdade. — Ele comentou. — Você não é um soldado. Embora, você possa me contar algo. Lorde Brien está preparado para uma guerra?
— Lorde Brien está sempre preparado para tudo. — Chrissie disse sem hesitação, rezando interiormente que fosse verdade. Ela não fazia ideia se ele estava pronto ou não, apenas que, se não estivesse, ela deveria tentar escapar desse lugar e ter uma palavra com ele. E breve. — Ele está sempre preparado para enfrentar homens do seu tipo nos campos de batalha, seja inverno ou não.
O homem mais velho riu. Não era um som agradável.
— Bem, então. — Ele disse em voz baixa. — Suponho que deva aceitar isso... sua opinião... ligeiramente tendenciosa de Lorde Brien.
— Sim. — Chrissie falou no que parecia ser um jeito petulante. — Terá que aceitar.
Ele riu.
— Você tem um espírito guerreiro, jovem dama. Você é sobrinha de Brien, não é?
Chrissie parou. Aqui, ela estava navegando em águas perigosas, com nenhuma ideia se a identidade dela iria ajudá-la a proteger ou pô-la em perigo. Ela não sabia nada sobre McDonnell, além do fato de que ele possuía uma disputa de longa data com sua família, cuja a origem havia se perdido ao longo do tempo. Ele iria matá-la por ela ser quem era? Ela podia adivinhar.
— Não.
— Oh! — O homem ergueu a sobrancelha. — Se você não é, então como é uma das damas de Lochlann? Eu achei que todas as jovens damas de lá eram as sobrinhas do astuto velho safado. Estou errado?
— Eu sou... Sou forasteira. — Chrissie mentiu. — Eu venho do outro lado do vale.
— Ah! — O homem soltou o ar. — Então você veio na semana passada, da festa de Dunellen?
— Sim.
— Bruce! — Ele chamou. O coração de Chrissie estava acelerado.
— Sim, meu Lorde.
Bruce tinha aparecido extraordinariamente rápido, Chrissie percebeu. Aparentemente ele não havia ido muito longe.
— Você viu essa dama na festa de Dunellen?
— Não, milorde.
Chrissie olhou para o chão. Ela queria chorar. Não importava muito se ela chorasse ou não, então ela chorou sem fazer barulho, as lágrimas escorrendo por sua face.
— Obrigado. Você pode ir agora.
Quando Bruce os deixou, o lorde se levantou e circulou a cadeira dela. Chrissie ficou tensa, sentindo que algo terrível estava prestes a acontecer.
— Então...— Ele disse em voz baixa. — Você acha que pode mentir para mim. Você é a sobrinha de Sua Senhoria. Eu sei disso agora. E você achou mesmo que esconderia isso de mim? Bem... — Ele veio até a frente do assento e a olhou nos olhos, com aqueles olhos negros a milímetros de distância. — Eu não gosto de pessoas que tentam me fazer de tolo.
— Por favor. — Chrissie murmurou. Ela estava assustada. As coisas pareciam ter deixado de serem reais para ela. Isso não estava acontecendo de verdade. Ela devia estar sonhando. Era isso. Era um sonho que ela iria despertar amanhã. Seria algo que ela poderia esquecer com uma caneca de leite quente e um pouco de mingau de aveia. Um mingau quente e cremoso, como apenas Cook sabia fazer; com sal e um pouco de manteiga derretida, cheirando a aveia e leite quente.
— Eu decidi o que irei fazer. — Lorde Leonard falou, a tirando dos seus quentes sonhos de desjejum. Isso não era um pesadelo. Era real.
Chrissie não falou nada. Ela apenas o encarava, desejando que ele desaparecesse e fosse substituído pela familiaridade de seu dormitório.
— Eu vou... — ele continuou falando. — Ter que matá-la. Nós cortaremos sua garganta e deixaremos seu corpo nos portões de Lochlann. Isso deve causar uma agitação naquele ninho de vespas.
— Não! — Chrissie sussurrou. — Não. Não. Ele não devia estar falando isso. Ele não queria dizer isso. Ela não estava prestes a morrer. Ela não estava. Ela não estava...
Ela tentou ficar em pé, mas seu tornozelo não suportou e tropeçou, escorregando. Ela caiu no chão, mas não podia ficar ali. Ela tinha que sair. Tinha que...
Ela estava engatinhando, suas mãos e joelhos sobre o chão de pedras, se arrastando o mais rápido que podia, sem pensar na dor, no frio, na rigidez de seus membros. Ela tinha que chegar na porta. Tinha...
— Peguei você! — Leonardo gritou triunfantemente. Ele a agarrou, a erguendo com tanta facilidade, como se ela não pesasse nada. Chrissie gritou e chutou, seu tornozelo machucado bateu na bota dele. Ele tinha envolvido sua bota com metal para proteger contra ataques de espadas. A dor foi tão grande que ela choramingou.
— Por favor! — ela disse com lágrimas escorrendo por sua face enquanto a carregava até o assento. — Por favor. Não. Não. Não...
Ele não falou nada. Ele a mantinha presa à cadeira com os dois braços esticados e a fitando friamente.
— Eu não aprecio isso, sabia? — Ele confidenciou. — Eu não odeio tampouco. Não amo. Realmente eu não me importo. Eu faço essas coisas, vou para cama, acordo e nada me dá prazer, como também nada me chateia. Nada, ninguém, de nenhuma maneira. — ele encolheu os ombros.
Chrissie engoliu em seco. Havia algo muito estranho nesse homem. Ela se encolheu com medo, mas ele não estava olhando para ela, seus olhos estavam focados em algum horizonte bem distante. Ela piscou. Se ela alcançasse e pudesse pegar a adaga dele...
— Guardas! — Ele gritou. No momento em que ela se moveu, ele a agarrou pela cintura. Chrisse gritou, mais de raiva do que de medo. A última esperança dela havia acabado. Os guardas estavam lá agora, cercando os dois.
— Sim?
— Leve-a para a torre. Nós faremos o que deve ser feito amanhã. Isso deve concluir algumas questões de maneira bem rápida.
— Sim, meu Lorde.
Chrissie deu o seu melhor, gritou, uivou, chutou e tentou fazer com que eles a deixassem ir, mas eles resistiram pacificamente, subjugados pelo medo que sentiam de seu líder do que qualquer outra coisa.
Eles alcançaram o quarto da torre e trancaram ela lá dentro. Nenhum deles parecia feliz com o que tinham feito. Chrissie considerou implorar a eles, mas um olhar para o rosto do líder deles — resignado e frio — e ela sabia que isso seria impossível.
O quarto da torre não continha nada, exceto um balde e um cobertor. Chrissie, tremendo de frio, jogou o cobertor ao redor dos ombros e se enrolou no chão que, misericordiosamente, era feito de ripas de madeira. As espessas paredes de pedras mantinham o frio embaixo da fenda da janela, e pelo menos, ela sabia que não morreria de frio essa noite. Por que, afinal, ela seria preservada do frio, apenas para morrer pela manhã?
Se ela morresse, nunca mais veria nenhum deles novamente. Ela nunca mais veria Alina, ou seguraria o bebê dela nos braços. Ela nunca mais veria Amabel e suas crianças gorduchas, ou Ali. Ela desejou que ela estivesse ali com seus sábios conselhos. Jornadas. Ela a tinha alertado. Bem, essa jornada deveria provar ser a última, mas Aili não tinha prometido nenhum futuro depois dela. Ela não poderia esquecer Blaine. Blaine sorrindo, com suas feições enrugadas temporariamente devido a seu grande sorriso. Ela nunca mais veria Blaine novamente. Nunca mais o abraçaria, o beijaria. Nunca casaria com ele, mesmo se isso de alguma forma se tornasse possível.
— Blaine. — Ela murmurou dentro do silêncioso quarto. — Blaine. Eu te amo.
Naquele instante, no remoto silêncio da torre, ela soube que era verdade. Ela apenas desejou que não soubesse disso. Não quando era muito tarde.
Capítulo Quatorze
As trevas surgem
— Certo.
Blaine havia seguido as pistas por toda a noite. Era, ele supunha, quase de manhã. Talvez três ou quatro horas antes da primeira luz quebrar no horizonte e dos pássaros começarem a cantar. Ela já podia sentir a noite acabando.
Ele havia chegado, ele e dois cavalos, a um muro que erguia-se com os pântanos de um dos lados e a floresta do outro, agarrada a pedra escura como um manto.
— Um forte de fronteira? — Ele perguntou aos cavalos. Bert resfolegou e Blaine considerou. Eles haviam cavalgado para Oeste; será que eles haviam ido muito longe para alcançarem o começo das terras McDonnell? Neste caso...
— Chrissie!
Ela estava ali, prisioneira e nas mãos do inimigo. O que estava acontecendo com ela? — Ele estremeceu. Ele tinha que tentar tirá-la de lá.
Se ela ainda estivesse viva.
Blaine ignorou esse pensamento. É claro que ela estaria viva! As pessoas simplesmente não matam moças bem nascidas, não, apenas...
Não pense sobre isso. Apenas a tire de lá.
Blaine mordeu o lábio, a testa enrugada com uma careta. Ele recuou por um caminho, contemplando o forte. Até agora ele não pode distinguir se haviam sentinelas no topo, pelo menos não do lado dele.
— Vamos dar a volta. — Ele disse aos cavalos. Não parecia que era um forte muito grande e, parte dele estava escondida pelas árvores. Ele começou a ir pela direita, mantendo uma larga distância deste lado, por onde os sentinelas poderiam vê-lo nos terrenos abertos dos pântanos.
Ele completou o circuito em pelo menos quinze minutos. Era um forte muito pequeno. Muros altos, mas pequenos em diâmetro. Deve ser guardado por uns quarenta homens. Um posto avançado.
— Eles apenas usariam um forte como esse se eles estivessem entrando em nossas terras. — Ele pensou. Por que ele não havia enviado alguns homens para averiguação, algumas semanas atrás? Com aqueles rumores, esse deveria ter sido o primeiro lugar para se observar! Ele balançou a cabeça, sentindo-se um idiota.
— Pare de perder tempo e pense. — O frio estava tornando isso mais difícil. Era necessário falar seus pensamentos em voz alta, para que eles não ficassem tão confusos e se misturassem em sua cabeça. — Nós não podemos ir pela direita. Eles nos verão. — Alguns sentinelas já haviam aparecido naquela parte do muro e Blaine se escondeu na linha das árvores, rezando para não ter sido notado.
Não havia jeito, ele pensou pesarosamente, de um homem, sozinho, entrar em uma fortaleza. Ele deveria ir buscar reforços, o que levaria horas e, no instante em que eles retornassem, quem sabe o que poderia acontecer? Se eles o vissem, eles poderiam desaparecer, antes que ele tivesse a chance de voltar.
— Por favor. — Blaine disse, incerto a quem deveria encaminhar suas orações, mas rezando assim mesmo. — Deixe-me encontrar um jeito de entrar.
Escolhendo uma direção a esmo, ele foi para a esquerda, entre as árvores. A medida que cavalgou por ali, ele ouviu algo. Àgua.
— Até onde será que vai? — Ele perguntou para si mesmo em voz alta. Os cavalos sentiram e instantaneamente ficaram alerta. Blaine inspirou e deslizou das costas de Bert, permitindo que ambos cavalos bebessem água enquanto ele averiguava mais a frente. Ele voltou, tremendo de excitamento.
— Existe um portão. Um portão de água.
Ele não acreditava que pudesse ter perdido isso da primeira vez, entretanto, recordando o que ele havia feito, não ficou surpreso. Estava abaixo do solo — tão pequeno que ele não podia ver, ao menos que estivesse desesperado — e a água era um pequeno arroio.
— Se eu puder arrancar algumas das barras, poderei atravessá-lo. Levando sua espada, ele rastejou. Deitou com sua barriga no chão, apertando os dentes por causa da água gelada que ensopou seu peito e roubou de seu corpo toda força e calor.
Ele estocou com sua espada e depois soltou um assobio de triunfo. A grade do pequeno arco — alta o suficiente para sua cabeça, ombros e, ele rezava, seu traseiro e seus pés passarem — era de madeira.
Trabalhando na grade com a ponta de sua espada, ele encontrou a madeira mais podre. Ele conseguiria quebrá-la. Ele pensou ter ouvido sentinelas no muro e trabalhou mais rápido, suando pelo nervosismo. Se eles olhassem para baixo, eles o veriam e depois tudo estaria perdido...
Enfim, a grade quebrou. Sem hesitar, ele se deitou com a barriga no liso piso formado pelas pedras e se contorceu para frente. Sua cabeça atravessou, depois seus ombros. Sua espada entrou em seguida, mantida esticada rente ao braço direito. Suas costas deslizaram a medida que ele se impulsionava para frente e depois seu traseiro seguiu o exemplo, se contorcendo. Suas pernas e pés vieram logo em seguida, as botas raspando nas pedras. Ele estava dentro!
Parando para fazer uma oração de agradecimento, ele olhou ao redor. Ele conseguia ver apenas o lado mais distante do pequeno pátio em que ele se encontrava, os muros das torres acima dele. Ele se encostou na parede, deslizando para o lado em direção a uma sombra. Ele se retesou quando ouviu passos.
— Fearick?
— Aye? Sim?
— O mestre disse para subirmos. Agora.
— Estou indo. Estou indo. — O primeiro homem rosnou. — Não sei para que ele está com tanta pressa. — Adicionou. — As pessoas morrem rápido quando têm a garganta cortada e não acontecerá mais rápido se estivermos lá.
Blaine se contraiu. Quem teria a garganta cortada? O que quer que estivesse acontecendo, aqueles homens sabiam o caminho para o castelo. Ele os seguiu, deslizando-se sem fazer qualquer som, mantendo-se rente a parede, agradecido pelos anos de treinamento com com o Guarda Florestal enviado pelo rei para fiscalizar as fronteiras e que foi seu mentor em espionagem.
Ele se esgueirou pela porta atrás deles, notando que não haviam guardas para evitar ou checar quem chegasse. Claramente eles não esperavam intrusos dentro do forte e porquê deveriam, quando estavam tão afastados?
O forte por dentro estava tão vazio como o lado de fora. Ele estreitou seus olhos, agradecido pela escuridão que significava que ele poderia seguir os homens sem ser notado enquanto eles subiam a escada em espiral. Mantendo-se a uma pequena distância deles para evitar ser visto, ele seguiu pelas escadas.
Ele se encontrou em uma longa sala entre duas torres. Ali, um homem estava parado no final da sala, perto da torre mais distante, na qual ele podia ver uma porta. Era um homem alto, vestido com um longo manto, com cabelos escuros que se acinzentavam.
— ...Eu trouxe você aqui para dizer-lhe o que deve falar aos nossos inimigos. — O homem disse. Blaine se reteseu. Lorde Leonard? O McDonnell? O que ele estava fazendo aqui?
— ...E você deve dizer-lhes o quanto ela lutou. O quanto sangrenta é a morte. Nós precisamos alimentar o ódio deles! — O lorde continuava seu discurso. — Blaine enrijeceu.
Ela. Ele queria dizer Chrissie. Subitamente, ele entendeu. Aqueles homens capturaram Chrissie e trouxeram ela até aqui e agora eles planejavam matá-la, como algum tipo de chamariz para atrair Lorde Brien para uma guerra declarada. Ele tremeu. Era uma barbárie! Onde ela estava?
— ...Pedirei a Bruce para fazer isso. — O senhor continuava explicando. — Bruce? — Ele acenou entre o grupo para um homem alto com uma feição resignada e rosto rude.
O homem anuiu.
— Sim, Senhor. Agora? — Ele havia se adiantado, estando agora, Blaine notou, a sua direita. Onde as portas estavam.
— Não, Bruce. — O senhor falou. — Espere até que tenha tudo acabado.
— Senhor? — Bruce parecia confuso. — Mas não deveríamos testemunhar, como...?
— Faça como eu digo. — O comando foi seco, mas o homem parou em seu caminho. Blaine vacilou. — Agora, todos vocês. Fora!
Os homens murmuravam entre eles, mas nada alto o suficiente para que o líder deles ouvisse as palavras. Blaine se encolheu no arco, esperando que a porta estivesse aberta o bastante para que nenhum deles tropeçasse com ele. Eles se misturaram ao passar e, se alguém o notou, parecia estar muito escuro para eles perceberem que não o conheciam. Eles não devem ser soldados por muito tempo. Se fossem, teriam notado um homem a mais.
Enfim, o lorde estava sozinho na sala. Ele andou bruscamente até a porta e a fechou. Blaine parou. Ele não tinha ideia do que fazer agora. Ele olhou para a porta fechada, hesitando.
Ele poderia matá-lo agora, mas ele não queria que todos os homens corressem de volta até ali. Além do mais, onde estaria Chrissie? Ele suspeitava que atrás daquela porta, mas ele tinha que descobrir. O líder esperou até que todos os homens tivessem ido embora. Onde ele estava agora? Teriam ali mais homens? Ou aquele lugar era, como ele pensava, uma cela.
Blaine ficou parado onde estava, tentando planejar o que fazer em seguida. Ele escutou algo vindo do outro lado da porta — um barulho que parecia um choro. Ele deu um passo à frente, se escondendo quando o chão fez um barulho. Ele ficou onde estava, visível por todos os lados. Entretanto, o Senhor estava no quarto da torre e não parecia ter ouvido. Blaine seguiu em frente até a porta. Depois parou congelado.
O homem estava parado com suas costas viradas para Blaine, bloqueando a maior parte da visão do quarto. Seu manto encobria sua visão, mas Blaine pode avistar uma mecha de cabelos loiros contra a parede. Chrissie! Era ela!
— ... Mas é melhor eu fazer isso primeiro. — O homem estava falando. Blaine percebeu, depois, o horror deixando sua mente mais devagar, o que ele quis dizer. Embaixo do manto, ele estava nu, suas calça ao redor dos joelhos. Uma raiva cega o preencheu e ele nem ao menos ouviu o que Chrissie dizia ou fazia, porque sua mão estava em sua espada.
Ele nem ao menos teve que tentar. Ele rosnou e o líder se virou, mas neste momento a espada já o havia atravessado. Blaine sentiu a espada se comprimir e a puxou. Chrissie gritava. Blaine empurrou o corpo para o lado, recuou a lâmina e cortou sua garganta. O sangue espirrou, escuro e quente, mas pelo menos o homem estava morto. Ele havia se assegurado disso.
Blaine se afastou do corpo, espada em mãos e olhou para o chão. Chrissie estava de joelhos, tremendo. Sua mãos cobriam suas faces e ela estava fazendo um barulho que nem eram palavras e nem soluços de choro.
— Não. Não. Não, não, não, não, não...
— Chrissie. — Ele sussurrou, se ajoelhando e a acolhendo entre seus braços. Ela lutou contra ele, batendo nos ombros, se sacudindo, se contorcendo.
— Não. Não, não, não. Vá embora!
— Chrissie. — Ele sussurrou, suavemente, preocupado com o que ela poderia ter ouvido, visto ou sofrido tenha alterado sua mente.—Chrissie, está tudo bem. Sou eu. Estou aqui...
— Não. — Ela murmurou. — Não. Blaine?
O coração dele se apertou ao ouvir a forma que ela dizia o nome dele.
— Sim. — Ele simplesmente falou. Ele olhou dentro dos olhos dela e eles estavam bem novamente, aquele azul profundo estava vivo com um leve brilho que podia ser terror ou alívio. Eles olhavam diretamente para os olhos dele, redondo e brilhantes.
— Blaine. Não. Você não deveria estar aqui. Não. Você viu... você viu...
Ela rompeu em lágrimas, virando o rosto do dele, se enrolando em posição de feto. Ela tinha parado de atacá-lo, mas todo o corpo dela o evitava, enrolando-se em seus próprios medos e raiva.
— Estou aqui. — Ele sussurrou e sentiu lágrimas escorrendo pelo rosto dele. Ela estava salva. Ela estava viva. Ela poderia, se ele conseguisse achar uma saída, ir para casa. Era tudo o que importava. Ele não se importava com o que tinha visto. Tudo o que importava para ele é que ela estava viva. O homem estava morto. Estava acabada.
Ele sentou com ela em seus braços e a embalou gentilmente, o medo e o horror ainda os agarrando com firmeza. Eles choraram e o sal das lágrimas de cada um deles se misturavam, o toque deles era a única realidade que eles podiam acreditar.
Após um instante, ainda a embalando, ele se ergueu um pouco.
— Chrissie. Amor. Você acredita que nós podemos sair daqui?
— Não sei se eu posso andar. — A voz dela era um triste lamento, uma mistura de vergonha e miséria. — Dói. — Ele fungou. — E eu acho que meu tornozelo está quebrado.
Blaine lutou para segurar a raiva que ele sentia, sabendo o que haviam feito com ela. Ele sabia que não era hora, afinal, um estranho instinto dizia que não era lugar para ter raiva. Não aqui diante da humilhação que ela sentia.
— Certo. — Ele disse com gentileza. — Está tudo bem. Eu carregarei você.
— Mas...
— Não. Está bem.
Ele se abaixou e a ergueu em seus braços e, juntos, saram do quarto.
Capítulo Quinze
FUGA
No corredor, Chrissie olhava para todos os lados. Onde estavam os guardas? O que havia acontecido? Tudo o que ela sabia era que o Senhorio estava do outro lado da porta e depois ele veio e depois...
Ela engoliu em seco. Ela não queria pensar sobre aquilo. Não ainda. Não até que ela estivesse bem longe dali. Talvez nem mesmo depois. Ela não queria pensar sobre isso. Não havia acontecido. Não poderia ter acontecido.
Ela estava tremendo, amedrontada e ela odiava todo mundo neste exato momento, até mesmo Blaine que a havia salvado. Ele tinha testemunhado sua humilhação. Provavelmente ele estava tão envergonhado quanto ela. Ela se sentia horrível. Humilhada, barata. Sem valor. Ela desejava poder apenas desaparecer, partir sozinha.
Vou carregar você pelas escadas, querida. — Ele sussurrou. Ela estremeceu ante o tom gentil dele e deve ter visto o rosto dela, pois também estremeceu. — Talvez, possa se fingir de morta?
Chrissie fechou os olhos, feliz pelo momento de escape que ele forneceu a ela. Com os olhos fechados, ela poderia estar em qualquer lugar. Ela poderia estar em casa, segura em seu dormitório, com a porta fechada. Ela poderia...
— O que você tem aí?
Ela ficou tensa e sentiu os braços de Blaine enrijecerem ao redor dela. Eles haviam chegado ao final da escada. Evidentemente, alguém estava de guarda ali. Chrissie tentou ficar flácida, fingindo que estava morta. No entanto, ela estava aterrorizada e podia sentir o começo de um arrepio.
— Um corpo. O que você acha que eu tenho? — Baine respondeu desafiante.
— Mas...— A voz do homem morreu. — Mas quem é você? Vossa Senhoria disse...
— Eu sou o carrasco. — Blaine disse diretamente. — Por que você acha que Vossa Senhoria me trouxe para cortar a garganta dela, hein?
— Mas ele disse que Bruce deveria fazer. — O homem disse com firmeza. — Bruce! Venha aqui!
Chrissie se retesou. Tudo o que eles precisavam era que Bruce viesse e esclarecesse a dúvida. Afinal, Blaine poderia ser morto. Ela junto com ele. Ela não passaria por um corpo morto a menos que eles fossem todos cegos. Ela pensou rápido. Ela nem ao menos podia caminhar, quanto mais correr!
Blaine recuou. Chrissie sentiu ele balançar um pouco e depois correr. Ela viu, apesar dos olhos semicerrados, que o lugar era claro e imaginou que eles fugiam em direção ao pátio. Por que ele estava indo por ali? O que ele achava que eles fariam quando os pegassem? Ele estava sendo tolo....
Eles correram em direção à luz do sol. Chrissie tentou manter o fingimento que estava morta. O homem que os parara estava logo atrás deles, gritando para o resto dos homens se juntarem a ele. Ela podia ouvir os passos batendo no piso de pedra e ela queria abrir os olhos.
— Estou indo para o portão. — Blaine murmurou em voz baixa. — Há uma corda para elevá-lo. quando eu gritar, você acha que pode agarrá-la e...? — As palavras cessaram. Eles estavam, Chrissie percebeu, de olhos abertos, quase no portão. Ela se sentou, ele gritou.
— Aaaah!
Aquele, ela supôs, era o sinal. Ela viu a corda, a agarrou e puxou. Ela deixou todo o peso dela na corda e ele afrouxou o aperto, deixando-a balançar como contrapeso enquanto o portão abria. O coração dela estava acelerado e todos os pensamentos dela haviam desaparecido, exceto o de sair daquele lugar. Mais tarde, ela poderia escapar de Blaine também. Por enquanto, ela tinha que fugir dali.
— Lá!
O portão estava aberto o suficiente para eles passarem. Chrissie esperou até que o ombro dele estivesse quase de fora e em seguida, soltou a corda que ela ainda segurava. Blaine caiu de joelhos no instante em que ela se soltou caindo em seu ombro, derrubando Chrissie em sua queda. Atrás deles, o portão se fechou.
Chrissie ficou deitada onde estava, tentando respirar. Ela olhou para cima ao ouvir gritos.
— Abra o portão! — O homem do outro lado rosnava para os homens que se dirigiam até o portão. Havia pelo menos dez deles.
— Certo! — Blaine gritou. — Obrigado. — Ele sussurrou para Chrissie. Ele se abaixou e ergueu Chrissie, depois seguiu em frente pelos caminhos laterais. Uma flecha passou perto de sua testa, quase o acertando e Chrissie quis gritar, mas ela não tinha mais medo. Parecia loucura, muito insano, muito ridículo... ela teria rido se tivesse energia para tal. Era uma ferida muito profunda para lágrimas.
— Corra! — Blaine gritou, evidentemente, um estímulo para si mesmo, porque Chrissie não conseguia correr se tentasse. Ele correu segurando-a nos braços, usando o muro como abrigo dos ataques de flechas, que só seriam possíveis se eles mirassem em linha reta e para baixo. Aterrorizada pelo pensamento que um deles podia fazer exatamente isso, Chrissie prendeu a respiração e começou a rezar.
Eles não poderiam correr ao redor do forte, então eles foram para a cobertura das árvores. Quando eles chegaram na floresta, flechas ainda os seguiam, os tiros cada vez mais perto. Blaine desmoronou. Eles haviam alcançado a água.
Chrissie olhou ao redor. O que eles estavam fazendo ali? Eles não podiam simplesmente parar ali! Havia homens atrás deles, quase os alcançando, e...
— Assobie! — Blaine gritou desesperado. — Chame os cavalos.
Chrissie olhou para ele como se ele tivesse perdido o juízo. Cavalos? Ele estava louco? Onde haveria cavalos ali, naquela desolada imensidão? De qualquer forma ela fez o que ele pediu, se perguntando se toda aquela loucura havia se infiltrado nele, assim como parecia que se infiltrara nela.
Ela assobiu. Um momento depois, ela ouviu um som milagroso. O som de cascos.
Quando os cavalos se aproximaram, a batida dos cascos transformaram em rosnados, seus perseguidores já estavam chegando, enchendo a floresta com gritos, bramidos e uivos. Chrissie gritou quando os viu. Blaine se agachou e a ergueu, colocando-a na sela. Ela deslizou o pés no estribo, agarrou as rédeas e se abaixou sobre o cavalo.
— Cavalgue! — Ele gritou. — Agora!
Chrissie olhou para ele.
— E você? — Ela gritou.
— Vá!
Ela o fez, cega pelas lágrimas de terror ao ver o primeiro perseguidor se jogar em cima de Blaine. Ela correu diretamente para os dois. Princesa, claramente descansada, os separou, e ela gritou sua própria provocação. Chrissie se alegrou ao ver o terror no rosto deles. Ela queria matar todos eles, ela estava ferozmente. Deixá-los sentir o terror e a dor que ela sentiu. Isso iria expulgar a humilhação dela. Devolver a ela um pouco do que havia perdido.
Ela ouviu o barulho do aço, alto e metálico, cortado pelo barulho de cascos de cavalos. Ela arriscou uma olhada para trás. Blaine estava montado em seu cavalo e estava brandindo sua espada contra o seu agressor. Chrissie prendeu a respiração, rezando que ele abrisse caminho para sua fuga e depois seguisse em frente. Os últimos homens se espalharam na frente deles e ela gritou selvagemente, encantada em ver como eles, repentinamente, eram os que sentiam medo agora. Um arco apareceu sobre os muros, mas o tiro saiu inutilmente curto, e Chrissie se dirigiu para os pântanos, sentindo-se fraca e aliviada. No entanto ela se perguntava onde estava Blaine. Ela se arriscou a virar sua cabeça enquanto galopava e pode ouvir um som. Batidas de de cascos. Galopando, correndo. Chegando por trás dela.
— Blaine! — Ela gritou. Um momento depois ele já estava visível. Ele estava quase emperelhado com ela, cavalgando com um louco. Os cabelos dele agitados pelo vento, seu manto voando em suas costas.
— Chrissie! — Ele gritou a suas costas. — Galope! Nós vamos para Oeste.
— Casa! — Chrissie gritou, o vento levando suas palavras.
Eles cavalgaram como selvagens, o vento atravessando seus cabelos, os pântanos se afastando, o pó se levantado pela passagem deles fazendo Chrissie chorar, entrando em sua garganta e fazendo-a tossir. Seu tornozelo doía e ela tentava não colocar peso nele, mas ela tinha que ficar na sela, para manter-se onde estava, para se segurar...
Ela estava cansada. Ela sabia que os cavalos eventualmente também estavam cansados, mas apenas ela começava a sentir a dor da cavalgada. O pânico cego estava se esvaindo e com o fim dele, repentinamente a deixando cansada. Tão cansada...
Chrissie sentiu seus olhos se fecharem e notou que Princesa estava mais devagar também. Ela podia ouvir Blaine e o cavalo dele, Bert, logo atrás dela. A cabeça dela doía. O pulso queimava no lugar que ela prendia as rédeas. O tornozelo era uma caixa de sofrimento. O corpo dela inteiro estava arranhando e machucado. Ela estava cansada. Ela queria apenas se enrolar e descansar. E dormir. E dormir.
A égua dela diminuiu o galope, depois começou a trotar, depois passou a caminhar.Chrissie podia sentir ela ofegando e ela entendia. Ela, também, queria diminuir, parar e respirar. Não ter que fazer nada. Apenas dormir. E respirar...
— Chrissie! — Blaine estava atrás dela, havia diminuído o ritmo também.Seu rosto bruto estava enrugado de preocupação. De alguma forma, aquela expressão no rosto dele parecia imprópria para ela. Por que ele a olhava tão aflito? Ele tinha vergonha dela? Estaria chocado? O quê?
— Afaste-se, Blaine. — Chrissie esperou, toda dor e terror se juntaram e transformaram-se em fúria. Por que ele estava aqui, fazendo-a se sentir incapaz? Ele pensava que ela não tinha mais valor porque viu Lorde Leonard é o que ele havia feito? Ele achava que era culpa dela? Era essa a razão que ele agia com tanta precaução e reverência?
Blaine a olhava com seus olhos castanhos bem arregalados, uma profunda tristeza era evidente. Parecia quase resignado, como se ele entendesse. Chrissie sentiu uma punhalada de culpa. Se ele entendesse, se de verdade entendesse, talvez pudesse deixá-la sozinha.
— Nós podemos descansar quando alcançarmos a floresta. — Blaine disse suavemente.
— Sim. — Chrissie disse rigidamente. Eles alcançaram as árvores e pararam. Chrissie se mexeu na sela, cada parte de seu corpo doía, agora que ela estava livre para sentir. Ela fechou os olhos.
Ela ouviu Blaine desmontar e andar em direção às árvores, levando seu cavalo. Ela se deixou deslizar na sela, finalmente se sentindo livre para ser vulnerável sem aquele olhar avaliador. Ele retornou depois de alguns minutos.
— Eu não vi nenhum perseguidor. — Ele disse com calma. — Acho que nós estamos a mais ou menos três horas de Lochlann. Se você quiser, nós podemos procurar por algum lugar para parar. Uma estalagem, talvez um dos arrendatários... — Ele interrompeu a fala, caminhando até parar em frente a cabeça da égua dela.
Chrissie riu.
— Acha que eu estou cansada? — Ela perguntou claramente. — Não. Estou bem. Vamos seguir.
Blaine a olhava como se tivesse batido nele.
— Chrissie... — Ele disse gentilmente.
— O quê? — Ela gritou. — Você me acha inútil agora? Acha que nem cavalgar mais eu posso?
Blaine a olhou desesperado. A expressão dele quase a divertiu. Ela sabia que estava sendo cruel, mas não conseguia evitar. Ela estava furiosa com ele, com sua análise minuciosa sobre ela, com sua humilhante solicitude. Ela a salvou da morte, era verdade. Entretanto, naquele contexto, naquele momento, ela preferia a morte. Pelo menos ela teria mantido sua dignidade.
— Chrissie, por favor. — Blaine implorou. Ele a olhava horrorizado. — Por que você está fazendo isso?
Chrissie olhava através dele. Se ele não soubesse, não seria ela quem o diria. Ela trincou os dentes e se virou em cima da sela. Ela estava em agonia, seu pé doía, suas costas estavam machucadas. Mesmo assim, eles cavalgariam. Todo caminho até sua casa.
Levou mais de três horas. Chrissie dormiu na sela parte do caminho, mas acordou, ofendeu, mordeu o lábio, determinada a fazer o melhor.
A maior parte do caminho, poupando os cavalos, assim não importava de verdade se ela dormisse. Era apenas seu orgulho que a forçava a manter os olhos abertos, sentada ereta apesar da agonia que sentia em todo corpo, cabeça erguida e cavalgando. Por todo o caminho.
O meio do dia chegou e se foi e logo depois eles avistaram a fortaleza. Quase uma miragem. A silhueta maciça no horizonte.
Chrissie viu, sentiu seu coração disparar com apunalada de alegria. Casa! Eles chegaram. Eles estavam vivos. Ela tinha pensado que nunca mais veria essa imagem novamente.
Ela virou o rosto para Blaine, sentindo repentinamente o coração doer. Ele estava logo atrás dela, seu rosto cuidadosamente netro, seus olhos escuros profundamente tristes. Eles estavam juntos, era verdade. No entanto, era tão diferente de como havia sido antes.
Ela havia ficado em silêncio por toda manhã, durante toda a agonia excruciante da cavalgada, com os pulsos doendo, tornozelo queimando e uma dor nas costas que parecia que eram queimadas por carvão quente. Agora, olhando para a inocência daquele rosto rude, ela quebrou.
Ela soluçava e soluçava, lágrimas quentes como carvão escorriam por suas bochechas geladas. Blaine montou para poder abraçá-la, mas ela bateu nele o empurrando e ele a olhava desamparado, como se ela tivesse deixado os sentimentos delas fluirem — toda raiva, ódio, horror e humilhação. O luto por sua inocência perdida. Os sentimentos fluíam dela e ela soluçava compulsivamente, incapaz de segurar por muito tempo.
Depois de um momento que pareceu anos, ela se ergueu e fungou suavemente.
— Certo. — Ela falou, no que ela esperava ter sido, um tom claro. — Estou bem. Nós podemos ir.
As palavras dela o atingiram como um pedaço de linho no vento: amargo, gelado e nítido. Pelo canto dos olhos, ela notou que Blaine piscava como se tivesse sido atingido, mas ele virou o rosto para frente rigidamente.
Ótimo, ela pensou. Ele a odiava agora. Ela o empurrara para longe. Ela não necessitava de pena, não mais do que ela precisava da aprovação ou vergonha por parte dele.
Eles seguiram através do pântano, subiram a colina e atravessaram o portão. O cavalariço a segurou assim que ela escorregou da sela, Albert com a cara amarrada, cheirando a farelo e feno. Ela caiu em seus braços semiconsciente, enquanto ele corria pelo pátio, corredor e depois subia as escadas até seus aposentos.
Albert não me julgará. Ele não sabe. Não ainda. Para ele, ainda sou a Chrissie. Mas não para Blaine.
No instante em que chegaram ao quarto dela, chrissie estava quase dormindo. Ela ainda estava desperta o suficiente ao ser colocada na cama antes de se encolher e cair em um sono profundo e sem sonhos, muito exausta para qualquer horror que pudesse alcançá-la.
Capítulo Dezesseis
DESCOBERTAS
A manhã seguinte chegou fria e cheia de névoa, o céu cinza e triste.
Blaine acordou depois de uma noite mal dormida. Lavou o rosto, vestiu-se e foi diretamente para os aposento principais. Ele tinha que vê-la.
Na porta, Ambeal o expulsou. Ela parecia brava com ele também, e ele saiu, cabisbaixo.
Ele passou as próximas horas andando nos corredores. Ele desceu para as práticas de solo até o meio da manhã e, Fergall o derrubou quando ele quebrou o escudo de um dos guardas, batendo com muita força com sua espada de madeira.
Quando retornou ao castelo, retomou sua caminhada pelos corredores e salas. Ele não conseguia se acalmar. Tudo o que ele podia ver era o rosto de Chrissie: comprimida, atormentada e com medo. Ela parecia um animal preso em uma armadilha, aterrorizada e com raiva. Muita raiva. Um ódio nascido da dor, da humilhação e da mágoa. Ele não tinha ideia se ela algum dia pudesse perdoá-lo por testemunhar tudo aquilo. Por ter estado lá.
Desejo poder alcançá-la.
O que aconteceu não importava para ele. Mas sem sombras de dúvida, importava para ela. Ela estava sofrendo por causa disso e ainda mais, por ele ter sido testemunha. Isso ficaria entre eles para sempre se ele não achasse uma forma de chegar até ela. Ela poderia nunca mais confiar nele, nunca mais querer olhar para a cara dele novamente, porque cada vez que fizesse, ela recordaria.
Ele suspirou, cobrindo o rosto com as mãos. Ele queria chorar. Ele tinha a encontrado, mas também a tinha perdido.
— Blaine!
Blaine se virou na direção que veio seu nome. Era o começo da tarde, o salão superior estava cinza e frio, a luz e a névoa baixava junto com os últimos raios de sol
— Theodor. — Ele disse com amargura. — O que você quer?
Theodor piscou.
— Blaine. Pelo jeito que está olhando para mim, parece que eu sou o Diabo, em carne e osso. Só estava me perguntando se você iria comer. Eu guardei um pouco para você, mas os garotos tomaram de mim.
Blaine deu um sorriso desconsolado.
— Eles fariam isso mesmo. Animais sanguinários por comida, é o que eles são.
Ambos riram. Lado a lado no salão, eles contemplavam a visão dos campos através da janela mais alta.
— O que está acontecendo, Blaine? — Theodor perguntou de uma vez. — O que aconteceu mais cedo? Você não está sendo você mesmo.
Blaine ofegou.
— Não. Eu suponho que seja... complicado. Não quero falar sobre o assunto.
— Muito bem. — Theodor inspirou. Ele colocou seus ombros magros na parapeito e juntos eles se inclinaram para fora, olhando para o cenário. O sol se punha lilás nos campos nesse inverno, os últimos raios de sol brilhava como um suave fogo e poças das chuvas do dia anterior.
— Não sei o que aconteceu. — Theodor disse em voz baixa, após um longo momento de silêncio entre eles. — Mas o que eu sei é que não vai ajudar ninguém desse jeito.
— Obrigado pelo esclarecimento. — Blaine disse sarcasticamente. Theodor parecia magoado.
— O que quero dizer é... — ele acrescentou após um momento. — Você pode voltar ao passado o quanto quiser. Ou simplesmente ficar preso a ele. Esqueça o assunto. Este é meu conselho. Viva o presente como se o passado não existisse. Esse tipo de coisa.
Blaine olhou de esguelha para ele.
— Você acha mesmo?
Theodor inspirou.
— Eu acho. Olhe. Eu esqueci de quando Colla me bateu com uma frigideira. Doeu muito, mas provavelmente eu mereci. Nós ainda somos amigos. Apenas agi como se nunca tivesse acontecido, e ela fez o mesmo. Coisas acontecem com casais. Você não deve deixar que o passado o guie. Você não vai a lugar nenhum assim. Você não vai chegar no futuro se estiver preso ao passado.
Blaine ergueu uma sobrancelha, surpreso. O que seu amigo falava, tinha algum sentido.
— Isso... não é assim. — Blaine murmurou. Ele desejava que Chrissie tivesse feito alguma coisa, como bater na cabeça dele. A dor dele seria muito mais fácil de suportar.
— Deixe-a decidir se ela quer que você esqueça. — Theodor falou — Se ela quiser recordar, ouça o que ela tem a dizer. Se ela quiser esquecer, esqueça. Você não tem direito de manter as memórias vivas. Não quando alguma outra pessoa compartilha com você.
Blaine encarou seu amigo.
— Theodor...— Ele começou a falar. — Eu não sei quem você é, de onde veio ou para onde vai quando começa a falar assim. Mas, obrigado. Sério. Muito obrigado.
Theodor enrubesceu, seu rosto comprido ficou com uma espetacular gama de vermelhos.
— Não é nada. — Ele disse, olhado firmemente para fora, através da janela na frente deles. Lá fora, o sol já havia se pondo, deixando o campo pintado de preto, as chamas dos fogos com os últimos raios do dia.
Blaine riu e deu um tapa na cabeça dele.
— Obrigado. Vamos jantar?
— Bravo! — Theodor exclamou alegremente. — Vamos ver o que sobrou. Se Fergal deu as melhores mordidas novamente, nós daremos uns bons tapas na orelha dele, daremos sim! Veja se não faremos. Vamos parar de enrolar...
Blaine riu enquanto juntos, correndo como duas crianças, eles dispararam escada abaixo direto para o salão.
Após o jantar — que havia restado mais comida, do que Blaine esperava — ele foi até a torre e andou ao longo do muro. Ele havia decidido levar a sério as palavras de Theodor. Aquelas memórias eram de Chrissie e não dele. Ele não tinha o direito de mantê-las vivas se ela escolhesse não fazê-lo. Em qualquer caso, o que ele faria no dia seguinte?
Irei aguardar e ver se eu posso avistá-la nos jardins. Depois posso sugerir em acompanhá-la no passeio. Como se nada tivesse acontecido.
Blaine soltou o ar lentamente. Era o que ele faria. Se ele esquecesse, talvez seria mais fácil para ela esquecer também.
Blaine encostou as costas na parede gelada do muro. No horizonte, o dia havia se tornado noite e no céu escuro já apareciam as primeiras estrelas. Ele assistiu o processo enquanto, magicamente, elas apareciam, uma por uma. Quando o céu estava parecendo uma toalha de altar, ele se virou e entrou lentamente. Ele iria descansar, dormir e amanhã seria diferente.
O dia seguinte amanheceu frio, mas ensolarado. Isso era bom. Blaine lavou o rosto no vaso de cerâmica e desceu as escada para tomar o desjejum.
Esperar que Chrissie aparecesse provou ser mais difícil do ele havia pensado. Como chefe de armas, ele não tinha permissão, estritamente falando, para estar no solar, mas ele decidiu que em tempos de desespero, poderia ignorar essa restrição. Ele achou um pedaço de madeira para esculpir e sentou perto do fogo para esperar.
Ele teve que esperar por uma semana. Cada dia, ele seguia o mesmo ritual. Foi apenas uma semana depois que ele ouviu. Um mulher, andando suavemente até o solar.
Passos leves cruzavam o corredor. Blaine assustou-se ao dar-se conta que sua mente estava longe, como costumava acontecer quando ele esculpia. Era Chrissie!
Ela estava vestindo um longo vestido de brocado que ele nunca havia visto antes, amarrado na cintura e uma longa saia que arrastava no chão, laranja e azul. O cabelo dela estava impecavelmente arrumado com pequenos cachos e seu rosto estava tenso. Ela parecia não saber que havia mais alguém ali. Ela entrou rapidamente no centro da sala, procurando algo e depois seguiu para a porta novamente. Blaine se levantou.
— Chrissie?
Ela parou na soleira da porta como se tivesse levado um golpe, fazendo para uma súbita parada. Ela se virou, depois deu a ele um olhar que parecia, parte com medo, parte com raiva. Depois se virou e saiu bruscamente da sala.
— Chrissie! — Ele a chamou, andando atrás dela. — Espere. Por favor! — Ele sabia que era errado seguí-la, sabia que Theodor provavelmente lhe diria isso quando soubesse. Ele não estava seguindo exatamente os conselhos de seu amigo para esquecer. Entretanto, ele não conseguia evitar, Ele tinha que falar com ela.
— O quê? — Ela perguntou, virando o rosto para ele, os olhos azuis em chamas. O laranja do vestido — uma cor que ela nunca vestiu antes — fazia o azul dos olhos dela brilharem ainda mais. Ela parecia frágil e irritada. Ela havia se transformado de uma garota despreocupada que todos conheciam e amavam em uma mulher dura e fria, cheia de raiva e dor.
— Eu só queria perguntar se você quer dar uma volta comigo algum dia. — Blaine disse, dando um sorriso doce. — Foi divertido da outra vez e...
— Você. — Ela sibilou, claramente irritada. Ela pôs as mãos nas têmporas, parecendo estar em um dilema. — Tudo bem. — Ela enfim respondeu. — Verei você em uma hora. Nós podemos passear por uma hora. Não mais que isso. E a qualquer diversão e eu gritarei.
Blaine piscou. Ele se sentiu magoado. Ela não confiava mais nele. Não que ele a censurasse. Na mesma situação dela, ele provavelmente não confiaria em mais ninguém, especialmente em qualquer outro homem.
— Sim. Eu prometo. — Ele disse amargurado.
Chrissie olhou para ele com um sorriso duro.
— Bom. Em uma hora. Nos jardins de erva. Não me faça esperar. — Ele se virou e se afastou dele.
Blaine ficou parado onde estava por um bom tempo. Ele piscou, tentando entender a repentina transformação de uma garota de coração leve e brincalhona em um pilar frio e enfurecido. Ele se espantou, percebendo que tinha apenas uma hora e apressou-se em pedir para seu corpo esperar. Os homens treinariam mais tarde. Ele pediria a Fergall, o ferreiro, para substituí-lo no turno da tarde. Provavelmente ele iria gostar, dado o temperamento anterior de Blaine.
Ele sentou em sua cama, tentando entender. Ele tinha, em parte, compreendido algo.
Quando fui açoitado, fiquei amargo como ela.
Ele recordava da humilhação, a sensação de impotência, a dor e a incapacidade de deter os sentimentos. Ele lembrava sentir-se vulnerável na frente de seus próprios homens e como isso os fez odiar, por terem testemunhado sua vergonha. Ele havia se sentido tolo, como se ele merecesse isso. Durante um mês inteiro, ficou nervoso, rosnando para todos. E era sempre tão cuidadoso! Ele não dava um passo errado, para que ninguém pudesse dizer: Oh, olhe para Blaine! Ele realmente é uma bagunça.
Ele suspirou. Se se lembrasse disso, ele entenderia. Ele sabia como era. Distante, mas presente. Quieto, mas não indiferente. Consistente. Se alguém estivesse estado com ele, deveria ter ajudado. Ele esperava que apenas isso pudesse ajudá-la.
Ele se levantou e saiu, mexendo os ombros no ar gelado do corredor.
O jardim de ervas estava frio e uma leve brisa soprava, levando com ele, um cheiro de rosemary e arrepios de frio. Parado ali, com seu longo manto, protegendo-o do frio, ele esperava.
— Agora você ficará bravo comigo por tê-lo feito esperar. — Uma voz baixa soou. Chrissie. Ela apareceu vestindo o mesmo vestido de brocado laranja, seu rosto fechado e tenso.
— Não. Estava evitando Fergus. — Blaine disse com um sorriso amplo. — O homem está atrás de mim por causa de seis pennies que devo a ele.
Chrissie riu. Era um riso frágil, mas que fez o coração dele bater mais rápido ao ouvir.
— Então vamos. — Ela disse, dando de ombros. — Vamos passear.
Passear com ela parecia uma pequena marcha, Blaine admitia. Ela estava rígida e andava rápido e não queria ficar tão próxima ou se afastar demais nos jardins. Enquanto caminhavam, ela contou a ele como Ambeal havia derrubado cera em um de seus melhores vestidos e como ela tinha ficado furiosa. Blaine acenou.
— Ela não tinha direito de ser tão descuidada com as coisas. — Ele concordou com ela.
— Exatamente!
Baine sabia como essas pequenas infrações, que um dia haviam sido ignoradas, transformavam-se em grandes violações depois de algo como o que ela havia passado. Ele entendia, um pouco. Isso não era estranho, era compreensível.
— ...então nossos convidados irão embora hoje, eu entendi certo? — Chrissie estava falando. — Nós teremos o solar novamente. Eu não sei se já esteve lá.
— Usualmente não. — Blaine admitiu. Ela estreitou os olhos e ele explicou. — Eu gosto do calor. E, bem... é bem mais bonito do que os quartos dos barracões, você concordará comigo.
Ela riu.
— Sim, bem mais bonito.
Blaine sentiu seu coração voar. Era um tipo duro de risada, mas era uma e qualquer coisa além de raiva era maravilhoso. Enquanto eles andavam, o dia escureceu. O vento, que até então era uma brisa, havia se intensificado durante o tempo em que eles estiveram fora. Agora soprava através dele e congelava todas as partes dele que estavam fora do manto. Ele olhou para Chrissie, que não tinha um manto.
— Deixe-me emprestar meu manto. — Ele falou, tirando o manto e enrolando nela. Foi um gesto inconsciente, um que ele teria feito em qualquer outro momento sem pensar sobre como as mãos dele tocavam o corpo dela.
— Como você ousa? — Ela disse com os olhos arregalados com surpresa e horror.
Blaine sentiu seu coração quebrar. Ele tinha se esquecido! Ele era um completo idiota! No que ele estava pensando...?
— Vá embora! — Chrissie disse. Ela o empurrou para longe dela e depois correu, para fora do jardim, cruzando o gramado verde escuro. Naquele momento, um trovão ecoou e as primeiras gotas de chuva, grandes e frias, começaram a cair.
— Chrissie! Espere... — Blaine a chamava, pesaroso. Ele hesitou e depois correu atrás dela.
Chrissie correu em outra direção, apertando o vestido com a mão, indo em direção ao abrigo do caramanchão. A chuva caia forte agora e Blaine balançou a cabeça. Ela estaria ensopada agora. Sem saber o que poderia fazer, ele a seguiu.
— Chrissie! — Ele gritou. — Chrissie. Calma!
Eles colidiram no caramanchão. Ela se afastou. A chuva caía sobre as folhas, mas não os tocava ali. A tormenta encharcavam as folhas, fazendo um barulho ensurdecedor como trovão. Eles se olhavam.
— Chrissie...
Ela voou sobre ele. Ela parecia furiosa e estava. Ela bateu nele com força, seus dedos arranhando e ele devolvendo a ela estabilidade havia quebrado. Sem ter para onde fugir, ela escolheu lutar. Ele permaneceu parado, sem se mover e de olhos fechados, deixando-a atacar. Deixou-a colocar a fúria para fora até ela se agarrar a ele e soluçar e soluçar.
Ele se viu segurando-a pela cintura e depois a abraçando quando ela caiu sobre ele com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Oh, Blaine. — Ele continuava a soluçar. — Oh! Oh!
Ele a segurou e a embalou como havia feito naquele dia no sótão, o corpo dela pressionado contra ele, o coração batendo contra o peito dele.
— Eu... Eu estou sendo horrível. — Ela chorava. — Você pode me perdoar? Estou tão... Sou uma pessoa terrível! Sou uma bagunça. Inútil. Sem qualquer valor. Sinto muito, muito mesmo.
— Oh, lass. — Blaine disse gentilmente. — Lass.
Ele não conseguia pensar em nada mais para falar. Ele não acreditava que ela havia falado tudo aquilo! Como ela podia dizer tais coisas sobre ela mesma? Ela era uma jóia, uma maravilha. Ela era a luz da vida dele.
Ele engoliu em seco, tentando controlar os sentimentos que surgia dentro dele enquanto a segurava. Ela estava chorando e ele a abraçava bem próximo. O que acontecera não foi culpa dela.Ele não se importava se ela era uma virgem ou qualquer coisa assim. Tudo o que importava era ela. Um espírito belo e feliz que capturou a alma dele.
— Chrissie. — Ele disse gentilmente, os braços dele a rodeando, a chuva caindo ao redor deles. — Chrissie, meu amor.
Então ela parou e olhou para ele.
— Você não quis dizer isso. Não é?
— Sim, eu quis. — Ele sussurrou. — Eu quis e muito.
Então eles se beijaram. Os lábios dela nos dele, duros e urgentes e, os dele, apesar do toque, eram gentis, calmos e passivos. Ele deixou que ela o beijasse, a língua dele gentil quando tocou as linhas dos lábios dela, esperando, deixando que fosse ela quem comandasse, sabendo que isso era importante.
O beijo foi afetuoso e apaixonado e, Blaine, sentiu lágrimas em suas bochechas, se misturando com a chuva. O rosto de Chrissie estava molhado com lágrimas e gotas de chuva e elas se misturavam em seus lábios, docemente salgadas.
Quando eles se separaram, Blaine descansou a cabeça dele sobre a dela. Os braços dele ao redor dela e a manteve bem próxima de si e ele sussurrou.
— Eu te amo. Eu te amo, Chrissie, minha querida. Eu te amo!
O silêncio que se estendeu entre eles era quebrado apenas pelos pingos de chuva caindo sobre as folhas em algum lugar. Quando a chuva parou, o caramanchão ficou estranhamente silencioso.
— Oh, Blaine. — Chrissie falou depois de um longo tempo. Você não pode estar dizendo isso.
— Eu posso e eu digo. Chrissie?
— Sim?
Ele parou. Olhando dentro dos olhos dela.
— Você me daria a honra de sua mão em casamento?
— O quê? — Chrissie o encarava. Sua boca se abriu, mas ela fechou. — Você quer mesmo isso? Você quer dizer...
— Eu quero dizer que eu quero que você seja a minha esposa. Meu amor. Para sempre.
Chrissie começou a chorar. Dessa vez, parecia, que ela chorava de alívio.
Ela descansou a cabeça sobre ele chorando e soluçando. Blaine olhava para o pedaço do céu visível entre as folhas das árvores. A água que caía em seu rosto, ele não poderia dizer se era da chuva pesada ou fluído de suas próprias lágrimas. Tudo o que ele sabia, naquele momento, era que sua vida não estaria mais perfeita se ele se encontrasse no paraíso. Ali, agora, com sua amada em seus braços, ele já estava no paraíso.
— Sim. — Ela murmurou. — Sim, me casarei com você.
Blaine fechou os olhos e desta vez, ele soube que eram lágrimas que molhavam seu rosto e ele não se importava. Ele estava, de verdade, no paraíso. Sua vida tinha apenas ficado maravilhosa para sempre.
Capítulo Dezessete
FAZENDO UMA PERGUNTA
— Não.
Blaine estava parado do lado oposto a mesa de madeira maciça de Vossa Senhoria. Ele encontrou seus olhos raivosos. Por dentro, ele tremia com um tipo de fúria silenciosa.
— Eu não aceitarei essa resposta.
Sua Senhoria, Lorde Brien, Conde de Lochlann, estremeceu ao ouvir essas palavras. Voltou a olhar para Blaine, como se esse tivesse dobrado de tamanho. Seus olhos estavam arregalados e parecia que tinha dificuldade de respirar.
Blaine esperou tranquilamente pela enchurrada. E ela veio.
— Você acha que pode me contestar! Eu sou o Conde de Lochlann! Quem diabos é você? Você é um de meus homens! Um mero guarda! — Ele sibilou as palavras para Blaine com voz dura.
Entre os dois homens, o escritório de pedra fria só havia silêncio. Tudo o que Blaine podia ouvir era o uivo do vento que assobiava pelas janelas da torres.
— Sim, eu sou apenas um mero guarda. — Blaine respondeu com calma. — Aquele que trouxe vitórias decisivas para seus homens. Se você preferir, deixarei meu serviço. Mas não irei sair daqui sem Chrissie. — Sua voz era calma, mas firme. A fala atravessou a sala escura e fez Sua Senhoria parar.
— Seu bastardo. — Sua Senhoria falou, uma risada desagradável interrompeu suas palavras. — Você acha que terá o dote dela para viver dele, não acha? Bem. Você não terá. Você não verá um centavo dele. Agora, o que fará?
— Nunca pretendi viver do dote dela. — Blaine disse placidamente. — Encontrarei outros meios. Não vou explorar minha esposa. Aquele dinheiro é dela. Ou seu. Mas não meu.
Lorde Brien olhava para ele e depois riu, lábios abertos como uma navalha.
— Você acha mesmo que pode me convencer, não acha?
Blaine deu de ombros.
— Não, realmente. Eu preciso de seu consentimento por mera formalidade. Farei isso de qualquer maneira. Apenas gostaria de fazer corretamente. Isso é tudo.
Vossa Senhoria o olhava. Seu rosto tinha mudado de vermelho para branco. Seus olhos estavam arregalados. Ele abriu a boca e fechou, lábios formando uma linha.
— Vejo que não me deixa escolhas.
Blaine se perguntava de onde suas próprias palavras estavam vindo. Ele nunca, nem em seus mais loucos sonhos, havia imaginado que ele pudesse falar dessa maneira. Tão confidente, tão determinado. Ele se transformara, pelo menos no presente momento. Ele clareou a garganta.
— Eu lhe dei uma escolha. — Ele disse moderadamente. — Com sua benção ou sem ela, esse casamento ocorrerá. É a sua escolha agora.
Vossa Senhoria riu.
— Bem. — Ele disse claramente. — Mas saiba disso. Você não terá nenhum suporte de minha parte. Você será cortado para sempre. Sem um centavo. Eu não lhe ajudarei.
Blaine estremeceu e ofegou. Como um homem das armas, ele tinha esperado encontrar um padrinho — algo como ele tinha ali — e ganhar sua moradia. Ele poderia tentar alguma coisa na secular ordem dos cavaleiros e rezar que eles o aceitassem,
Com Chrissie ao meu lado, qualquer dificuldade seria quase agradável. E todos gostavam tanto dela, que os cavaleiros os aceitariam apenas para tê-la ao redor.
Ele acenou para Vossa Senhoria.
— Muito bem. Eu aceito essa condição. Agora, posso falar com Chrissie? Acho que ela precisa saber.
— Basta! — Lorde Brien balançou a mão para Blaine. — Vá! Não volte. Eu lavo minhas mãos para vocês dois. Casem-se em alguma igreja pobre se quiser... vocês não terão minha benção, nem se casarão sobre o meu teto.
Blaine piscou. Ele entendia a ira de Vossa Senhoria sobre ele. No entanto, por que ele tratava Chrissie assim? Sua própria sobrinha? A filha do irmão dele, criada desde o nascimento ali, em sua casa? Ele não tinha coração!
— Muito bem. — Blaine disse friamente.
Ele virou de costas e saiu da sala. Qualquer que fosse seu destino, ele estava feliz de não trabalhar mais para Lorde Brien. O tipo de homem que podia ser tão cruel com sua parente não era o tipo de homem que ele desejava servir.
Não mais. Eu seguirei meu próprio caminho.
Enquanto ele andava pelo corredor, indo em direção ao quarto de Chrissie, ele se lembrou de seus amigos — Os irmãos Broderick e Duncan de Dunkeld. Eles o receberiam.
Enquanto pensava sobre o assunto, percebeu como a situação seria ideal. Eles respeitavam seu trabalho como homem de armas e o chefe de armas deles estava envelhecendo. Talvez eles pudessem oferecer um posto similar no castelo deles. Isso iria significar que Chrissie poderia viver com as suas primas. Isso era perfeito!
Sentindo seu coração um pouco mais leve e alegre, ele se apressou pelo corredor e subiu as escadas.
— Chrissie!
Ela o estava esperando no patamar da escada. Ela usava um vestido rosa de um linho suave. Ele a pegou em seus braços e a aproximou dele. Os seios dela pressionaram suavemente contra o peito dele. Os lábios impacientes e suaves encostaram os seus e ela cheirava bem. Ele a abraçava, sentindo-se tonto de desejo. Ele queria carregá-la até a cama dela bem ali e se perder no doçura dela, no intoxicante cheiro de rosas.
Ele inspirou profundamente, lutando para conter seu corpo e sua imaginação e se afastou dela, olhando dentro daqueles olhos claros.
— Ele concordou.
— Blaine! — Chrissie deu um grito alegre e passou os braços dela em torno do peito dele, trazendo-o para ela. — Oh! è maravilhoso!
Blaine a apertou contra ele e depois soltou o ar.
— Oh, Chrissie. Receio que será um casamento muito pobre.
— Qualquer casamento com você será o melhor casamento. — Ela disse com firmeza. Ela ergueu o queixo. Ele sorriu com tristeza olhando para aquelas bolas azuis que eram os olhos dela.
— Sinto muito, minha querida. Seu tio disse que ele não nos ajudará. Ele se recusa a oferecer um casamento aqui para nós.
— Então vamos lá. — Chrissie disse com firmeza. — Eu tenho outras conexões, você sabe. Nós podemos nos casar na propriedade de Connolly. Por que não?
Blaine olhava para ela. Ele não havia pensado nisso! Mas é claro!
Ele a abraçou bem apertado, a envolvendo em seus braços.
— Você é maravilhosa. — Ele disse com franqueza. Ele riu. Ela também.
— Seu grande tolo. — Ela disse com carinho. — Você se esqueceu como a família de meu pai me deu o dote? Eles me deram meu primeiro cavalo e, a cada ano eles enviavam baús de tecidos para meus vestidos.
Ele sorriu, passando a mão nos cabelos dela.
— Você se move em locais elevados. Esqueci o quanto é bem conectada minha futura esposa. — Ele sorria em apreciação para ela e ela enrubesceu, as mãos amassando a saia do vestido, como uma pessoa mais jovem.
— Suponho que tenho minha serventia...
Blaine balançou a cabeça, e falou com a voz cheia de sentimentos.
— Você não é uma coisa para ser usada, — ele disse com a voz bruta. — Você é o ser mais precioso do meu mundo.
Chrissie o beijou, um doce e gentil beijo. Ela despenteou seu cabelo curto e escuro. Ela estava chorando.
— Você é tão afetuoso, Blaine. Muito afetuoso, meu querido.
— É a verdade. — Ele disse simplesmente. O fato de que uma coisa tão simples, uma frase verdadeira pudesse mexer tanto com ela, fazia ele se sentir ao mesmo tempo, com raiva e mais afetuoso do que pensou que ele mesmo pudesse ser capaz de sentir. Ele deslizou a mão pelos cabelos dela e ela se moveu contra ele, suspirando como um bebê dormindo. Ele a abraçava e o corpo dela se pressionou contra ele, os seios dela contra o peito dele, a delicadeza de seu ventre contra sua virilha.
Ela se moveu contra ele e ele se moveu com ela. Seu corpo respondia rapidamente, sua virilha doía quando o corpo dela deslizou contra ele, levando-o para um lugar tão excitante que ele nunca esteve antes. O cheiro de rosas entravam por suas narinas e seu corpo suave se derretia contra ele. Ele se sentiu tremer e seu corpo estocou contra ela enquanto tremia e tremia...
— Chrissie. — Ele disse grosseiramente. — Nós temos que parar com isso. Agora.
Ela ergueu a cabeça para olhar para ele, os olhos repentinamente em chamas.
— Por quê?
Ele suspirou.
— Eu te amo, minha querida. Eu te quero muito. Mais do que qualquer outra coisa na minha vida. Confie em mim. Mas nós não podemos.
Ela inspirou. Ela escondeu o rosto no peito dele, seus braços o apertavam ao redor da cintura. Com o rosto cheio de lágrimas, ela falou:
— Eu sei. Mas eu... Eu quero você... Eu quero esquecer. — Ela olhou além dele, os olhos nas pedras, o corpo tremendo, como se revivesse as lembranças do que ela tinha passado.
— Eu sei, meu amor. Eu também te desejo. Eu realmente desejo. E nós nos casaremos em breve. Amanhã, se você quiser. Nós faremos isso acontecer.
— Amanhã? — Ele riu. — Realmente?
Blaine sorriu, o alívio correndo dentro dele ao ver como ela sorria para ele.
— Sim. Amanhã? Se você quiser.
Chrissie ria. O que quer que ela pensasse, parecia uma ideia divertida, pois ela não parava de sorrir. Finalmente ela parou.
— Meu amor, também tenho pressa. Mas talvez pudesse esperar até terça-feira? Eu preciso costurar um vestido.
Blaine gargalhou, principalmente por causa da expressão de seriedade dela. Eles se abraçaram, riram e riram. A risada era de libertação e alívio. E no fim, ambos acabaram com o maxilar doendo.
— Bem, então. — Chrissie acrescentou ainda com vestígios da risada. — Terei que achar Ambeal. Assim parece, se eu quiser um vestido pronto. E eu devo escrever para Tio Sean em Glencurrie. Ele fará com que tenhamos um casamento perfeito para a filha de seu irmão.
Blaine sorriu para ela e bagunçou seu cabelo.
— Eu estou muito feliz. — Ele disse. — Você merece o casamento mais bonito do mundo. Você é adorável.
Chrissie sorria.
— Lisonjas! — Ela o acusou levemente, mas seus olhos estavam felizes. — Então eu devo fazer planos e você deve se aprontar também. Você também precisa de uma roupa própria. Oh! Estou tão feliz... — Ela o apertou, beijou seus lábios e depois saiu apressada pelas escadas, ainda sorrindo. Blaine pensou que seu coração poderia se quebrar.
Ele tinha conseguido tudo o que ele havia desejado. E cada pedaço era doce como ele imaginara
Agora ele precisava de um trabalho. Aquilo seria, ele pensava, o presente de casamento perfeito.
Capítulo Dezoito
PREPARANDO UM CASAMENTO
Chrissie andou rapidamente pelo corredor superior, seu coração disparando de amor. Ela havia enviado um emissário, cavalgando o mais rápido que pudesse, até Glencurrie e para a família dela. Ela tinha orientado ao homem que ele trocasse de montaria quantas vezes fosse possível, pensando que a viagem levava três dias, e que ela teria a resposta em breve, antes da próxima semana.
— O meu tio concordará com meu pedido.
Ela sabia que ele faria. Tio Sean e seu avô Ulrich a mimavam. Ela não ia querer nada. Ele poderia fazer as provisões para que as primas delas se hospedassem em lá também. Amabel e Alina poderiam ir ao casamento dela!
Ela se apressou até o seu dormitório para pedir conselhos de Ambeal. Elas tinham pouco tempo, mas elas tinham um baú com tecidos — presentes de tio Sean que ainda não haviam sido usados.Elas encontrariam algum tecido para o vestido de casamento.
Ambeal ficou perplexa. Ela guinchou e pôs as mãos na boca. Depois a encarou.
— Minha querida Lady! Mas possivelmente nós não estaremos prontas tão rápido...
— Sim. — Chrissie disse com firmeza. — Nós estaremos. Nós temos uma semana. Nós podemos fazer isso acontecer.
Elas foram para o sótão, onde Morne, a velha governanta, mantinha as coisas de casa. Tossindo só em levantar o cobertores cobertos de pó, Ambeal e Chrissie exclamaram de alegria quando acharam os baús de seda e damasco, rendas, cetins e linhos que vieram a luz pela primeira vez em anos.
No fim, elas encontraram uma seda amarela. Levaria um pouco de tempo, para o rico tecido pudesse mostrar seu valor. Elas escolheram um modelo plano, com cintura alta e uma saia levemente franzida que recordava a moda mais antiga. Ela poderia usar um longo véu de seda.
— Oh! Isso é tão excitante!
Chrissie não pode esconder a alegria em sua voz enquanto Morne cortava o tecido e depois levava escadas abaixo, mostrando seus tesouros. Elas não costurariam um tesouro, mas o que fosse feito teria que ser o suficiente, elas decidiram. Elas focariam no vestido e teriam ele pronto pelo sábado, quando elas deveriam partir para a casa do tio dela. Isso lhes daria três dias.
— Nós podemos sentar no quarto da torre. — Chrissie ofereceu. — Há mais luz lá, além de ser mais quente.
— Sim, milady. — Ambeal acenou, os cabelos cacheados da cor vermelhos morango, balançavam a medida em que ela passava as mãos neles distraidamente.
Chrissie a abraçou impulsivamente.
— Me desculpe por ter sido tão selvagem, Ambeal.
— Oh, milady! — Ambeal piscou rapidamente para não derrubar as lágrimas. — Não foi nada. Nada demais.
Elas se abraçaram e depois Ambeal esticou o tecido e começaram a cortar o vestido.
Enquanto Chrissie estava parada em um raio de sol, Ambeal cortava os painéis e enrolava os tecidos nela, ela desejava que Blaine estivesse ali para ver. Ele gostaria da escolha que elas fizeram, ela pensava. Pelo menos, ela esperava que sim...
Pare de besteiras, Chrissie. Blaine gostará. Amarelo combina com você. É essa seda é mais do que bem-vinda.
Ela sorriu para si mesma no espelho levemente curvado do outro lado da sala. Ele lhe mostrava um rosto de anjo, rodeado por uma nuvem de ondas loiras, suas bochechas rosadas e boca delicadamente rosa. Ela sorriu, arrumando suas feições angelicais.
Talvez eu seja bonita afinal.
Mais tarde, ela é Ambeal sentaram no quarto da torre e costuraram. Ambeal convidou uma outra costureira, chamada Stella para vir e se juntar a elas. Elas se sentaram juntas e costuraram. As duas mulheres conversavam, enquanto Chrissie trabalhava, contente em ouvi-las.
— ...e eu ouvi que os McDonnell estão todos em uma confusão. Alguma coisa sobre o Laird deles.
— Cale-se! — Ambeal disse, lançado rápidos olhares entre a mulher e Chrissie, que continuava costurando, fingindo estar inconsciente da conversa delas. Ela tinha adivinhado algo daquele encontro, afinal. Chrissie estava feliz por ela procurar defendê-la e ao mesmo tempo chateada. Ela poderia encarar as notícias sobre ele, apesar do que ele havia feito a ela.
Ele está morto e, eles estão perdidos sem sua liderança.
Chrissie estava surpresa pela onda de prazer que sentiu em saber que o Laird dos McDonnell estava morto. Ela nunca sentiu isso sobre nenhum ser vivo antes. No entanto, agora ela sentia.
— Acalme-se, Bell. Todos nós devemos saber. Isso significa que a ameaça de guerra acabou. — Stella disse.
Chrissie acenou quietamente. Era isso. A família dela estava a salvo, assim estavam também Amabel e Alina. Pelo menos por aquele período. Quem saberia o que aconteceria, pela natureza sempre tão volátil dos clãs e, as terras de Lochlann eram tão extensas, tão bem estabelecidas que sempre haveriam disputas sobre elas.
Eu não preciso mais me preocupar, Chrissie pensou, sentindo a estranha sensação de indiferença à medida que ouvia a conversa das criadas. Ela costurava a seda, se admirando em ver como a agulha se deslizava facilmente pelo tecido, tão diferente dos trabalhos com linho ou veludo e sabendo que assim se manteria afastada das notícias de Lochlann.
Para onde iriam, ela e seu marido, ela ainda não sabia. Blaine havia sugerido Dunkeld, e particularmente, ela achava essa ideia maravilhosa. A família dela, Alina e Amabel, moravam lá. As crianças estavam lá. Poderia ser o céu, o lugar que ela desejaria morar.
— ...então, agora não há mais ameaças vinda do Norte e vocês vão atravessar o país, não é?
— Aye. — Ambeal respondeu rapidamente, não olhando para seu trabalho. — Nós vamos para o Sul, para o casamento.
— É o lar do pai dela?
— Aye.
Chrissie sorriu para si mesma. Ela imaginava o casamento. Seria um casamento no inverno, com um vestido de mangas longas e azevinho e hera para dar boa sorte. A noite seguinte...
Ela sorriu mais. Ela estava surpresa do quanto se sentia ansiosa. Ela tinha esperado ter medo, ficar revoltada. Odiar a ideia de ter um homem a tocando daquela forma... de um jeito... mas era Blaine. Blaine era o amor da vida dela. O homem que ela tinha, agora ela percebia, que sempre a amou. Ela não tinha medo dele. Ela sabia que seria maravilhoso... com ele.
Sentada com sua costura, ouvindo as criadas conversarem, a imaginação cheia de pensamentos sobre Blaine, sobre a noite do casamento, ela estava feliz.
Capítulo Dezenove
UM CASAMENTO NO INVERNO
O casamento foi breve. Foi realizado em uma pequena capela de pedra em Glencurrie. Uma luz azul escura de inverno atravessava as janelas altas em um dia tão escuro, que pareceria que era noite, se não fossem as luzes.
As chamas das velas tremulavam no altar, o cheiro de pinho e azevinho enchiam a igreja enquanto, um cheiro de rosas vinha da noiva.
Quando o padre terminou sua interminável fala em latim, Blaine se virou para sua noiva. Chrissie. Ele ergueu a renda transparente do véu dela e a beijou.
A língua dele deslizou entre os doces lábios e ele soube que aquele momento de sua vida era realmente abençoado.
Os convidados que os cumprimentara eram intimidantes: parentes de Chrissie que ele não conhecia, um estranho, rígido e solene homem e um outro muito mais velho, com um cabelo claro e olhos selvagens que parecia quase cego. Amabel estava ali, com seu longo cabelo vermelho arrumado artisticamente, e Broderick. Alina e Duncan também estavam. Alina parecia espantosa — magra e pálida. Chrissie ficou assustada e Blaine estava certo de que ela estava muito doente. Ele pretendia perguntar a Duncan quando ele o visse sozinho.
Neste momento eles saíam pelo corredor, ele na frente. Ele jogava as moedas para os camponeses reunidos, sentindo-se estranho. Eu não sou um lorde. Este não é meu lugar. Entretanto, ele estava se casando com uma dama. Ele tinha que agir propriamente como um.
Eles seguiram para o grande salão onde seria o banquete. Estava escuro e cheirava a fumaça, mas a refeição estava excelente. Blaine estava exausto e tudo o que fazia era remexer em seu prato. Tudo o que ele conseguia pensar era em Chrissie.
Ela tomava conta de seus pensamentos, cada aspecto dela preenchia os seus sentidos, dirigia seu corpo para um ponto de gritar de urgência, que estava perto de não suportar mais.
Ele a observava beber a cerveja, o líquido deixando seus lábios úmidos a ponto dele ter que segura suas mãos para impedir que ele se inclinasse e lambesse os lábios dela. A mão dela, suave e cheirando a flores, roçou com a dele quando ela foi pegar um marzipã e ele rosnou, sentindo a suavidade que parecia seda tocando sua pele. Ele não conseguia evitar e imaginava como seria quando eles subissem as escadas, sozinhos, e ele poderia deslizar aquele vestido pelo corpo doce, e beijar a pele dela e...
— Um brinde! — O homem com ar triste exclamou. — Aos noivos!
— Viva!
— Slainte! Saúde!
O salão se encheu de aplausos, congratulações e pelo som de pés batendo no piso de pedras ou homens batendo nas tábuas. Blaine sentiu seu coração se encher de orgulho, mas também sentiu um pouco enjoado. Eles tinham que terminar esse jantar logo! O último prato já havia sido servido. Ele tinha que alcançar as escadas e....
— Bem, meus amigos! Chegou a hora de colocar o casal de noivos na cama. O que vocês dizem?
— Aye!
— Viva!
— Sim!
Blaine estremeceu. Chrissie ficou branca como nata, sua palidez contrastava com o amarelo manteiga de seu vestido. Ele sabia que a ofensividade dos comentários, o pensamento de testemunhas, mesmo que do outro lado da porta, era opressivo demais para ela. Era a última coisa que ela precisava.
— Proponho que vocês nos deem uma vantagem! — Ele disse, parecendo instável. Eles provavelmente pensaram que ele era fraco para bebidas; assim era melhor. Eles poderiam zombar dele.
Todos convidados riram, como ele esperava. Chrissie o encarou, como se ele fingisse para ela também, depois pareceu perceber o que ele fazia e ela se inclinou sobre ele.
— Nós vamos frustra-los. — Ele sussurrou para ela. Ele trocou um olhar com Sua Senhoria, o tio dela, mas ele parecia desatento.
Os convidados deram a ele a vantagem solicitada, como ele pediu. Ao invés de subir para o quarto perfumado que havia sido preparado para eles, que as criadas passaram horas espalhando ervas aromáticas pelo chão, eles seguiram para o quarto que Blaine havia ocupado desde sua chegada.
Era pequeno, mas o fogo o mantinha quente. Também era privado. Eles estavam sozinhos.
Eles atravessaram a porta com pressa e a fecharam. Blaine se virou para Chrissie. Ele olhou dentro dos olhos dela, a testa dele descansando sobre a dela por um momento.Depois eles se beijaram. Ele estremeceu quando saboreou a boca dela, doce como uma sobremesa, os lábios dela o agarraram, ansiosos no momento em que a língua dele os separava.
— Oh, Chrissie. — Ele murmurou. Ele beijou os cabelos, a sobrancelha e o rosto dela. O corpo dela estava vibrando, doendo, desesperado. Ele se contorcia para manter o controle, esperando erguê-la e jogá-la sobre a cama, tirar as roupas dela e beijar a pele cheirosa da cabeça aos pés.
— Chrissie. — Ao invés de fazer, ele falou. Ele a beijou novamente, lentamente. Os lábios dela se abriram e ela deu um pequeno suspiro. Ele ia devagar, as mãos dele acariciava os cabelos e o pescoço dela. Ele deixou sua boca mover-se para baixo, sugando em seu queixo e depois o pescoço.
A pele dela tinha cheiro de lavanda e ele enterrou seu rosto nela, se aninhando naquela pele sedosa. Ela gemeu, mas não fez nenhum movimento para pará-lo. Ele foi descendo.
O vestido dela, ele notou, tinha botões nas costas. Ele a abraçou e, muito lentamente, assim não a alarmava, ele abriu o primeiro. O corpete do vestido estava amarrado com um laço tão apertado cruzando os seios redondos dela, cedeu ligeiramente, revelando uma visão do decote.
— Oh!— Ela suspirou. Os seios dela eram tão redondos e firmes e pareciam tão suaves...
Ele se inclinou mais para baixo, os dedos desajeitados enquanto abria os próximos três botões. O decote do vestido se alargou e, ele percebeu que poderia seguir suavemente.
Ele abaixou a camisa de baixo e se ajoelhou diante dela. Os seios dela eram hemisférios perfeitos, pontuados por duas granadas7. Ele a olhava, sentindo que suas virilhas vibravam de necessidade. Seu corpo estava duro, tenso. Pronto. No entanto ele não se apressaria. Ele não queria. Essa era a noite de seus sonhos. A noite que ele ansiava há muito tempo. Ele tinha paciência e seria lento. Seria algo que eles teriam que se lembrar com prazer.
— Chrissie. — Ele murmurou. Ele ergueu e deixou a mão trilhar por aqueles seios perfeitos. A pele era como uma seda sob seus dedos e ele a acariciava, deixando seus dedos beliscarem seus mamilos gentilmente. Ele sentiu osmamilos se enrijecerem ao puxá-los, sentindo a firmeza deles em seus dedos.
Ele se levantou e o pôs em sua boca. Sugando gentilmente, lambendo a medida que eles se entumeciam, deixando a língua trabalhar gentilmente, provocando mais sensações. Ele ouviu ela arfar e o som o fez querer mais.
Ele recuou e pegou o outro seio em sua boca. Enquanto sugava, sua mão acariciava gentilmente com o polegar o primeiro e rígido mamilo.
Ela estava soluçando e ele olhou para cima, com medo de que ele a tivesse assustado. No entanto, os olhos dela estavam fechados e os lábios abertos e sorrindo. A visão do prazer dela o incitou a aumentar seus esforços.
Ele a levantou em seus braços e com delicadeza a deitou na cama. Os olhos dela estavam fechados e ela ainda sorria. Ele se sentiu abençoado. Ele inalou profundamente.
— Posso? — Ele perguntou com as mãos no decote do vestido dela. Ele queria removê-lo totalmente.
— Sim.
Ele se engasgou e tossiu. Isso estava muito além de seus mais loucos sonhos.
Ele a ergueu, assim poderia soltar os últimos botões, depois, bem devagar, com amabilidade, tirou o vestido dela.
Ele se pegou olhando para um corpo de pele clara, suave, cheios de curvas, doce... adorável.
O cheiro de sua feminilidade era forte e ele olhava, perdido na visão e cheiro dela.
Imediatamente ele soube o que queria fazer. Ele abaixou a cabeça e, gradualmente, mordiscou o ventre dela. Ela arfou e rapidamente abriu os olhos.
— Está confortável? — Ele perguntou.
— Sim. — Ela sussurrou, o som o tranquilizou, além do que ele já havia visto. — Sim.
— Bom.
Ele a lambia, criando pequenas trilhas em direção à sua abertura. Ela se enrijeceu e depois relaxou, e ele continuou o que estava fazendo, o cheiro dela levando-o a loucura. Ela arfou e se moveu de um jeito que ele pode alcançá-la. Ele lambeu, sua língua trabalhando em todos os pontos que ele sabia serem sensíveis.
Ela estava gemendo, confiando, se movendo embaixo dele, seu corpo pressionando contra ele. Ele se sentiu duro e cada vez mais pronto, seu desejo pronto para explodir.
No fim, ela emitiu um som selvagem. Ele nunca havia escutado algo tão maravilhoso, tão livre. Ele se alegrou em ouvir. O corpo dela se enrijeceu e depois ela tremeu, como em um espasmo. Ele sorriu, sabendo como ele se sentiria logo depois.
Ele se sentou e olhou para ela. Ela mantinha os olhos fechados, mas sorria.
— Marido. — Ela murmurou.
Ele sorriu. Ele a pegou em seus braços e beijou sua boca.
Ele teria tempo para tirar suas próprias roupas, tempo para encontrar seu alívio... mas essa era a noite dela e ele não iria apressar nada.
Capítulo Vinte
NOITE DE CASAMENTO
Deitar ali com Blaine era uma experiência que ela nunca imaginou.
O corpo dela ardia de prazer, mole de saciedade. Inclusive no momento em que ele se moveu para o lado dela, ela queria mais.
— Blaine?
— Sim?
— Você está... você faz...?
Blaine sorriu.
— Só se me quiser, lass.
Chrissie piscou e olhou para ele, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas. Ele era tão diferente de qualquer homem que ela conheceu ou que imaginou existir. Atencioso, gentil, cuidadoso com ela de um jeito que a convidava a chorar.
— Sim. — Ela sussurrou. — Sim, sim.
Blaine riu. Ela nunca havia percebido até agora como ele era bonito. Ele se levantou e, bem devagar, começou a se despir. Ele ergueu a túnica e a tirou pela cabeça, depois se sentou para tirar suas botas. Sua calça foi tirada por último.
Chrissie olhou para ele. Ele era duro, com músculos, brilhando com a transpiração pela luz do fogo, peito brilhando à luz do fogo devido a transpiração, definido e esculpido.
— Blaine. — Ela murmurou. Ver o corpo dele nu, trouxe alguns medos à tona. Ele era tão grande. Ele poderia machucá-la. Ela sabia que ele iria machucá-la.
— Sim, lass. — Ele respondeu com gentileza. — Estou aqui.
Ele deitou ao lado dela na cama. Ela sentiu o corpo dele contra o dela, sua masculinidade, suave e ligeiramente úmida. Ela ficou deitada ali, tremendo, os braços dele ao redor dela.
— Você está gelada, lass.
— Uh. — Ela disse, balançando a cabeça em negação.
— Venha para baixo dos lençóis. — Ele sussurrou e sentou-se lentamente, erguendo o cobertor. Ele a moveu gentilmente, a deitando no lençol e jogando o cobertor sobre ela. Depois ele se juntou a ela, a envolvendo com seus braços. Ele a puxou contra o peito dele e se deitou.
— Blaine? — Ela sussurrou depois de um longo momento.
— Hum?
— Estou prestes a dormir. — Ela confidenciou quase adormecida. Ela se sentia tão sonolenta depois do que ele a havia feito sentir. Ela realmente dormiria. — Então se você...
— Não colocarei uma mão em você, exceto se você quiser.
Ela suspirou, um suave e estremecido.
— Vou querer.
Ele se apoiou nos cotovelos. Olhou dentro dos olhos dela.
— Você tem certeza disso?
Ela ofegou um pouco impaciente.
— Sim, eu tenho certeza.
Ele mordeu o lábio e fechou os olhos.
— Obrigado.
— Obrigado?
— Por confiar em mim.
Ela piscou surpresa. Sua breve experiência a havia ensinado que os homens eram impacientes. Egoístas. Desinteressados. E aqui estava ele, esperando que ela confiasse nele? Ela considerou isso confusamente e até um pouco irritante. Era também profundamente enternecedor.
Ela sorriu para ele, sentindo-se mais velha que ele. Ele se estendeu sobre ela e ficou ali. Os quadris deles pressionados contra a barriga dela e ela sentiu uma umidade lá embaixo. Ela passou os braços em torno dele, fechando os olhos.
— Certo, então. — Ela murmurou, mordendo o lábio. Ela se preparou para a dor no momento em que ele forçasse dentro dela, da sensação de ser rasgada e queimada.
Isso nunca aconteceu. Os joelhos dele se moveram entre os dela, o ventre dele deitado sobre o dela por um instante e depois ela sentiu uma doce e agradável liberação quando ele a preencheu.
Ele era grande, seu membro rígido, pressionando profundamente dentro dela. Entretanto, não a machucava. Ele saiu e depois voltou a penetrá-la com gentileza. Os olhos dele presos nos dela.
— Sim?
— Sim.
Ele a beijou e isso foi demais. As lágrimas dela caíam e ele ainda a beijava quando a penetrou novamente.
— Sim. — Ela murmurou. — Sim. E sim. E sim.
O corpo dele se movia sem que ela notasse, ela o acompanhava. A simultaneidade do impulso de ambos ocorria de uma forma que ela não sabia ser possível, exceto que o corpo dela conhecia o corpo dele e de algum modo, eles combinavam perfeitamente, movendo-se em uma onda de prazer em que os instintos dele encontravam o dela. Ele empurrava profundamente dentro dela, descobrindo um lugar onde a sensação era maravilhosa, onde o corpo dela precisava sentí-lo se movendo, mais e mais...
Ela gritou pela segunda vez e ele ficou tenso, trincando os dentes e depois estava se movendo dentro dela, seu corpo estremecendo quando ele gritou também, um grande rugido e desmoronou sobre ela.
Eles ficaram deitados juntos, enquanto as lágrimas dela caiam e brisa da noite esfriava seus corpos e eles dormiram até o outro dia.
Na manhã seguinte, ele a beijou.
— Minha querida. — Ele sussurrou.
— Meu tesouro.
Eles se abraçaram e Chrissie sentiu seu coração se encher de alegria.
Capítulo Vinte E Um
CHEGADA FELIZ
Os dias seguintes ao casamento passaram em uma neblina de felicidade. Chrissie brilhava em uma alegria silenciosa e Blaine estava sempre sorrindo. Eles caíram em uma rotina tranquila: fazer amor, se vestir, desjejum. Ele ia ao pátio treinar e ela tocava espineta.8
Depois eles jantavam e faziam amor, e ela poderia escrever, ler ou praticar a viola de Gamba9, enquanto ele cavalgava. Eles poderiam beber alguma coisa, e fazer amor, e dormir e repetir tudo de novo no dia seguinte.
Um tarde, aproximadamente uma semana depois do casamento deles, Chrissie olhou para ele por cima de sua partitura.
— Tesouro?
— Sim? — Blaine sorriu. Ele amava o jeito que ela falava, tão suave, a voz o instigava e o provocava com apenas uma palavra.
— Vamos partir em breve? Gostaria de ir até Dunkeld. Se for sua intenção, querido.
Blaine sorriu com gentileza.
— É sim.
Os convidados de Dunkeld haviam partido um dia após a cerimônia de casamento, o que parecia estranho, se ele tivesse pensado sobre isso. Porém Blaine havia estado perdido em seu próprio prazer que não prestou atenção nisso. E ele deveria ter feito.
— Gostaria de partir em breve. — Ela concordou.
— Quando estiver pronta.
— Assim?— Chrissie perguntou. — Podemos partir depois de amanhã? Alina me preocupa.
Blaine anuiu. Ele também percebeu a palidez na pele dela, o modo que ela parecia tão cansada, tão desprovida de vida. Ele havia se preocupado também e tinha planejado perguntar sobre ela. Ele se esquecera e agora se sentia mal por isso.
— Nós podemos partir assim você quiser. — Ele prometeu.
Eles partiram no dia seguinte. Eles cavalgaram. Eles levariam três dias cruzando o país, parando nas estalagens. Blaine estava preocupado com Chrissie, mas ela insistiu que poderia fazer. A viagem foi surpreendentemente breve, as estalagens confortáveis, com camas largas o suficiente para os dois, mesmo para dois tão insaciáveis como eles.
Quando chegaram em Dunkeld, o mês havia se tornado realmente invernal. Eles chegaram tremendo. Chrissie estava cinza de frio.
— Meu amor? — Blaine perguntou, muito preocupado.
— Estou bem. — Ele murmurou, apesar de Blaine sentir a preocupação o corroendo.
— Nós precisamos de alguma comida. — Ele acrescentou rapidamente. — E cama.
— Sim. — Chrissie sussurrou, com aquela voz que fazia o membro dele doer. Ele sorriu.
— Apenas se você estiver pronta, minha querida.
Chrissie dirigiu a ele um olhar glacial.
— E eu não estou pronta?
Ele gargalhou.
— Estou certo que sim.
— Exatamente.
A insinuação aqueceu o sangue dele de tal modo que foi difícil saudar seus anfitriões com alguma decência, mas ele conseguiu. Era maravilhoso poder ver Broderick e seu alto e loiro irmão mais uma vez.
— Blaine McNeil. — O mais novo provocou. — Nunca pensei em te ver aqui! Bem-vindo.
Blaine arquejou.
— Eu estive aqui há um mês atrás, se você se lembrar.
Duncan riu.
— Era mais uma competência oficial. Embora, espero mudar isso.
— Oh?
Broderick sorriu.
— Você sabe que Dougal está velho.
— Sim...
— Bem, então...— Duncan gritou alegremente. — Considere-se chefe de armas!
Eles celebraram depois disso! Chrissie recuperou-se um pouco e exclamou em deleite. Ela abraçou Blaine tão forte que ele teve que morder os lábios para não tomá-la ali, bem em frente a todos. Ele se esticou todo para se controlar e ela riu.
Eles se sentaram à mesa e Amabel fez que todos rissem com seus contos coloridos de sua prole, Joanna e Brodgar. Joanna era vivaz, quase três anos de idade e se metia em tudo. Brodgar estava apenas começando a ter interesse ao seu ambiente e aparentemente começou a falar: Woogh!
Todos eles riram.
— Nós queremos uma demonstração de seu poder de fala! — Chrissie riu. — Adoraria ouvir isso! Deve ser tão querido.
Amabel riu.
— Talvez você possa busca-lo após o jantar? — Ela perguntou a Alina.
Alina acenou afirmativamente. Sua testa estava molhada de suor, Blaine notou. Ele viu os olhos de Chrissie se voltarem para o rosto dela e se retesar de preocupação. Ele esticou a mão para pegar a de Chrissie, mas ela já estava se virando para Amabel, erguendo um copo.
— Não, querida. — Ela sorriu. — Tudo bem em deixar seu pobre bebê dormir! Posso vê-lo amanhã quando ele estiver fresco e bem acordado. Depois os “wooghs” serão mais acessíveis.
Todos riram. Alina sorriu, mas o sorriso era distorcido e claramente ela estava sofrendo. Chrissie tinha notado também, pela mordida de lábio. Blaine olhou para Broderick e Duncan, mas Duncan estava olhando para sua esposa, sua mão no ombro dela.
Ele sussurrou algo no ouvido dela, e Alina balançou a cabeça vigorosamente. Blaine viu e fez uma nota mental para conversar com Duncan amanhã. O que quer que estivesse errado, Alina era uma mulher forte e poderosa e, tratá-la como se ela fosse um bebê não ajudaria. Ele apenas tinha que encontrar uma forma de abordar com muito tato, esse assunto com seu amigo. Ele olhou para Chrissie. Ela saberia o que poderia ajudar.
A noite passou com alegria e muitas exclamações de boa saúde e desejos por um futuro brilhante. Amabel abraçou Chrissie com carinho, beijando sua testa. Broderick bagunçou o cabelo dela.
— É bom ter você aqui conosco, Chrissie! — Amabel disse calorosamente, apertando a mão dela. — Que tempos alegres nós teremos! Será como quando éramos crianças novamente. Um pouco melhor, é claro!
Eles riram. Blaine se sentiu orgulhoso em estar casado com Chrissie, de quem todos gostavam. Ele sentiu muito orgulho por ela e uma emoção tão profunda que ele realmente pensava que seu coração explodiria.
O resto do jantar passou em um borrão de cerveja, calor e alegria. Depois o pudim veio redondo, picante e delicioso e Blaine e Chrissie se retiraram para a cama em uma névoa feliz. Ele estava sonolento, mas notou, que não tão sonolento para não ficar excitado no instante em que ela se deitou na cama e os braços dele a rodearam.
— Blaine?
— Humm? — Ele murmurou, sua boca já beijando sua cabeça.
— Estou com muito sono.
— Oh.
Ela se deitou rígida por um momento e depois começou a rir.
— Não estou tão sonolenta, afinal.
— Oh.
Ele exalou, aliviado e ela riu e depois mostrou a ele o quanto ela estava acordada, o guiando para ela com mãos habilidosas que o fizeram ofegar e gritar enquanto ela sorria e beijava seu nariz.
Mais tarde, quando estavam flutuando em um mar de uma saciedade maravilhosa, ela murmurou.
— Nós precisamos falar com Alina.
— Sim. — Ele anuiu, sonolento, bagunçando o cabelo dela. — Também estou preocupado.
Ela caiu no sono nos braços dele e ele dormiu logo em seguida, os corpos pressionados, aquecidos e confortáveis pela proximidade trazida.
Amanhã era um novo dia. Blaine também queria começar a trabalhar. Chefe de armas de Dunkeld: soava bem. Chrissie era feliz ali. O que era tudo o que ele sempre quis.
Capítulo Vinte E Dois
NOVIDADES SÃO COMPARTILHADAS
— Chrissie?
Alina estava no quarto da torre, um que parecia milhas acima da paisagem. Ela tinha sua costura a seu lado, mas quando Chrissie a viu da porta, ela não estava costurando. Ela estava encostada no poltrona e com os olhos fixos na vista da janela e sua pele mortalmente pálida.
— Alina!
Chrissie andou suavemente, instantaneamente escondendo sua preocupação e mostrando uma despreocupação que ela não sentia. Havia algo gravemente errado com sua prima... ela não era curandeira, não como Alina era. Porém ela podia isso ver imediatamente.
— Chrissie. — Alina suspirou, com a voz tão leve quanto uma brisa. Parecia cansada. — É bom vê-la. E ter você aqui, conosco. Éum deleite.
Chrissie sorriu e pegou a mão de sua prima. Estava gelada. Ela estremeceu, mas continuou brilhantemente.
— É maravilhoso estar aqui! De todas as coisas que eu pensei que poderiam acontecer em meu futuro... essa é a mais inesperada. E a mais maravilhosa.
Alina deu um sorriso um pouco melancólico e apertou a mão dela. Ela fez uma careta, como se mesmo aquele esforço fosse demais para ela. Ela suspirou.
— Você pensou em Heath alguma vez? Eu vi o carinho que você tinha por ele.
— Eu amo Heath.— Chrissie disse carinhosamente. — Mas não era para sermos um casal. Não acho que eu o amava assim.— Ela acrescentou, balançando uma mão enquanto explicava. — Eu acho que nunca foi. Ele é meu irmão e eu sempre vou amá-lo como tal. Mas isso... é diferente. — Ela inalou. Ela estava se esforçando para explicar algo que ela não tinha palavras para fazer.
Alina sorriu docemente.
— Eu sei o que quer dizer, querida. Eu sei o que é amar um homem tão profundamente.
Chrissie acenou com firmeza.
— Eu sei. Você e Duncan são...— Ela parou. — Um par especial.
— Obrigada. — Alina disse. Ela tossiu, um som frágil. Quando ela parou, parecia exausta.
— Alina. — Chrissie disse alarmada. — Posso chamar alguém? Pelo menos, deixe-me enviar Blaire preparar um posset.10 Você não parece bem... — Ela interrompeu a fala no instante que Alina balançava a cabeça vigorosamente.
— Não. Chrissie. Está tudo bem. Venha e sente-se aqui. Preciso conversar com você.
Chrissie baixou a cabeça, sentindo-se culpada em ter deixado sua prima nervosa. Ela foi uma autoridade em cura na juventude dela e ela não tinha o direito de falar assim, como ela acabara de fazer.
— Alina...
Alina suspirou.
— Você pode ver que algo não está bem comigo. E eu não estou desprezando isso. Eu sei. Eu também sei, querida, que não há possets e nenhum cura simples para o meu mal. Eu... Eu perdi o bebê.
Chrissie cobriu a boca com as mãos, a surpresa se misturnado com horror que a atravessava.
— Alina! Não!
Alina sorriu, embora um sorriso tivesse um pouco de tristeza.
— Aye. Eu perdi. Foi doloroso. Eu lamento a morte dele. Mas aos três meses, nós não saberíamos dizer se ele teria sobrevivido.
Chrissie engoliu em seco, anuindo. De todas as dores, perder um filho, o primeiro, era uma muito cruel. Especialmente sabendo o quanto Alina tinha esperado por um, por Duncan, mais do que por ela mesmo, como resultado da felicidade de ambos.
— Sinto muito. — Ela sussurrou.
— Não fique assim. — Alina disse com aquela mesma ironia em sua voz que fez Chrissie sorrir imediatamente, por lembrança dela e, estremeceu, pela amargura que ela carregava dentro dela. — Eu o perdi, como eu disse. E isso me deixou... mudada. Como você pode ver. Eu perdi muito sangue.
Chrissie engoliu em seco. Ela piscou rapidamente, tentando entender o que Alina estava dizendo daquele jeito estranho, desapegada e sem paixão.
— Você não está... você não vai... você não está morrendo? Por favor, Alina. Por favor! Não morra! Você não pode.
Alina sorriu, aquele sorriso gentil que ela sempre dava e a fazia parecer um anjo, e o que Chrissie imaginava que um anjo daria. Ela tragou saliva, lembrando como Alina havia estado para ela quando tinha quatro anos, sentindo falta de sua mão que repentinamente havia desaparecido. Ela parecia um anjo, seus cabelos pretos soltos ao redor de seus magros ombros de adolescente, seu rosto com esta mesma solenidade.
— Eu tentarei não morrer. — Ela disse, a ironia de volta a sua voz. — Mas...— Ela gesticulou, apontando ao próprio corpo, suas formas irregulares, a pele pálida e as mãos frias.
— Você ficará bem! — Chrissie disse brava. — Eu cuidarei de você. Farei o meu melhor. Eu farei! Eu vou tentar!
Alina sorriu para ela, um sorriso delicado e doce.
— Minha pequena garota. Você sempre será como uma criança para mim. Bem, agora, parece, você vai cuidar de mim. — Ela deu uma risadinha, parecendo que seu espírito antigo tivesse voltado a seu rosto. — Acredito que se esforçará.
Chrissie franziu as sobrancelhas, sentindo-se frustrada.
— Eu vou ter êxito também. — Ela disse ardentemente.— E depois o que vai me dizer?
Alina riu, a cabeça inclinada para trás, seu longo pescoço esticado, mostrando um pouco da pele suave de marfim. Chrissie sentiu o coração derreter um pouco, vendo como ela parecia, naquele instante, como a velha Alina, a mulher que tinha feito todas rirem sem parar com seus comentários sobre o Tio Brien, no quarto que elas dividiam quando crianças.
— Estou feliz que esteja aqui. — Ela disse.
— Eu estou feliz em estar aqui.
Elas sentaram em silêncio por um momento. Chrissie se inclinou para trás, apreciando a proximidade, o senso de confiança. Ela não havia, percebeu, se sentido segura por um bom tempo. Blaine a fazia se sentir segura, assim como Alina. O resto do mundo não importava.
— Seus segredos te prendem. — Alina disse, surpreendendo Chrissie que se virou e a olhou em absoluto espanto.
— O quê? Eu quero dizer, desculpe, Alina...
— Um dia, você achou que eles poderiam envenená-la, por aquelas palavras não ditas. Entretanto, como uma ferida que se cura de maneira limpa, o veneno se foi. Você está inteira e ainda se pergunta isso.
Chrissie exalou, um arrepio percorreu seu corpo. Ela não disse nada. Não havia nada a dizer. Era exatamente como ela se sentia. Ela poderia não ter usado essas palavras, mas Alina acabara de colocá-las para ela. Ela estava esperando por uma cura que já acontecera. Ela estava completa; ela apenas não pensava que estava. Ela simplesmente havia esquecido. Aquilo realmente havia deixado a sua vida.
— Obrigada. — Ela disse simplesmente.
Alina sorriu. Ela mudou a posição de sua mão, assim ela cobriria a mão de sua prima. Ela ficaram ali sentadas em silêncio, cada uma com seus segredos, porém mais leves por terem compartilhados, em pensamentos se não em palavras.
Elas foram surpreendidas por uma voz no corredor.
— Aqui estão vocês! Suas trapaceiras! O que vocês tem feito? Heim?
Amabel. Elas olharam uma para a outra e sorriram. Um instante mais tarde, sua amada prima e irmã apareceu com um bebê no colo.
— Alina! Aqui está você! Acho que Joanna está te procurando! Ela normalmente não sai do berçário, ao menos até escutar alguém que ela goste. — Ela sorriu abertamente para sua irmã, abaixando o bebê e ficou ali em pé um pouco hesitante até se sentar na cadeira em frente com um alto suspiro.
— Oh, é tão gostoso estar aqui, todas as três juntas!
Alina e Chrissie sorriram para ela. Chrissie ficou onde estava, na poltrona ao lado de Alina, relutante em quebrar o vínculo de força que elas pareciam compartilhar.
— Acabei de falar com Broderick. — Amabel continuou. — Acho ele e os garotos poderiam sair para uma longa caçada. Dias, de preferência. Deixar nós, as garotas, conversarmos por um longo tempo. Preenchendo as noites com xadrez e música. E quando eles voltarem, nós teremos uma festa!— Ela sorriu para sua irmã e sua prima com os olhos verdes brilhando.
Chrissie e Alina sorriram.
— Uma ideia inteligente. — Ela disse ironicamente.
Todas riram.
— Inteligente? Provavelmente não. Divertida? Sim! — Amabel disse vibrando. Joanna, evidentemente satisfeita com o humor de sua mãe, veio caminhando com suas pernas grossas e olhou para cima com seus olhos cinzas.
— Mama. — Ela disse alegremente. — Dança?
Todas riram novamente. Amabel suspirou.
— Bem, então! Se alguém se propuser a tocar a espineta, acho que poderemos ter uma festa aqui e agora!
Chrissie prontamente concordou e enquanto ela tocava, a espineta na mesa perto da janela, algumas teclas precisando de afinação, ela via como Amabel girava pela sala com a criança em seus braços. Alina as observava com um sorriso sereno em seus rosto.
Depois de alguns minutos, Chrissie terminou de tocar a música — The Bonnys Lasses of Tyree— e Amabel caiu sem ar na cadeira, a criança fazendo barulhos de deleite em seus joelhos.
— Bem. — Amabel sorriu para elas. — É isso! Eu não posso dançar muito mais que isso em um dia... ela já me cansou.
Elas riram. Chrissie saiu de seu lugar e foi falar com Joanna, que olhou diretamente nos olhos dela e disse:
— Lago.
Todas falaram com excitação, convencidas que os olhos azuis de Chrissie foram a inspiração para esta fala: Ela vivia em uma casa sem nenhuma pessoa de olhos azuis.
— Eu sou a única pessoa da família com olhos azuis. — Chrissie meditou.
— Bem, sim. Exceto tia Aili, é claro. — Alina recordou gentilmente.
— Oh! Sim! — Chrissie disse, colocando as mãos na boca em surpresa. Ela havia se esquecido. Imediatamente ela recordou de sua tia distante, uma poderosa vidente.
Se alguém pode ajudar Alina, esse alguém é ela.
Enquanto elas conversavam e Amabel pediu por bolos apimentados e cerveja quente — que estava esperando, Chrissie adivinhou,— ela pensava sobre o plano dela a respeito de Alina. Quanto mais ela pensava, mas fazia sentido. Ela pediria a Blaine para ela viajar até Lochlann para consultá-la. Se houvesse uma cura para Alina, sua sábia tia saberia qual era.
Quando o dia se estendeu e se transformou em noite e Broderick apareceu, se perguntando onde sua esposa havia ido e as convidando para jantar, ela já estava decidida.
— Ladies! — Broderick disse, seu rosto rudemente lindo apareceu no vão da porta, preenchido com um sorriso. — Aqui estão vocês! Estava começando a pensar que todas haviam fugido. — Ela alisou sua túnica verde, cujo capuz caia sobre seus ombros.
Amabel riu.
— Não tem tanta sorte, querido!
Broderick inclinou sua cabeça para trás em uma gargalhada.
— Minha querida, eu lhe asseguro, eu ficaria desolado! Estava prestes a enviar um guarda para descobrir onde você estava. — Ele sorriu calorosamente para ela.
— Seu bajulador! — Amabel zombou. — Você estava prestes a transformar o castelo em uma grande festa de caça. Não minta para mim...
Chrissie sorriu, vendo-os brincar entre eles. Isso fazia o coração dela se aquecer ao testemunhar o casamento feliz de suas primas. Ela se sentia orgulhosa de estar no mesmo patamar e confiante que qualquer diferença poderia ser resolvida, não importasse o que fosse.
Depois ela franziu o cenho, se perguntando sobre o plano para ajudar Alina. Ela esperava pedir para Blaine ajudá-la. Ela esperou até depois do jantar, quando eles ficaram sozinhos no quarto deles, quente e escuro, com apenas uma lamparina de óleo queimando sobre a mesa.
— Querido?
— Sim? — Ele respondeu rapidamente. Ele parecia distante e Chrissie supôs que ele discordava de Duncan em algum assunto, pois ele estava distraído no instante em que entraram no quarto.
— Eu estava... Eu falei com Alina hoje e...
— Ela lhe contou sobre o que aconteceu? O que a aflige? O que é?
— Sim, ela me contou. É um assunto que não tenho certeza que ela queira discutir... um assunto delicado. — Chrissie objetou, repentinamente percebendo que ela não sabia se mais alguém sabia ou não desse assunto privado. Ela decidiu que era melhor manter em segredo, pelo menos até que ela descobrisse.
— Oh? — Ele pareceu adivinhar que era algum assunto feminino, pela mudança em suas feições. — Espero que ela esteja bem para o banquete que Amabel planejou.
Chrissie mordeu o lábio.
— Eu acho que Amabel espera tentar alimentá-la um pouco mais. — Ela confidenciou. — Blaine...
— Sim?— Ele respondeu, já deitado com uma almofada embaixo de seu pescoço.
Chrissie soltou o ar. Ela não tinha certeza porquê ele soava tão impaciente. Isso fazia ela ficar relutante em contar a ele sobre seu plano para ajudar Alina, pois ela teria que explicar o que estava errado com ela e ele não parecia estar de humor para isso.
— Estava me perguntando se... Se eu poderia ir em uma peregrinação. — Ela disse pensando rápido. Uma pequena mentira não machucaria ninguém agora e ela sempre poderia contar a verdade amanhã.
Blaine ergueu as sobrancelhas.
— Para onde?
Chrissie engoliu em seco. Ele não era assim, tão desconfiado e tão nervoso!
— Para... Para o Santuário de Saint Tredwell, perto de Inveruglas.
— Oh. — Blaine disse, parecendo perplexo. O santo era conhecido renomadamente pela cura e talvez ele supusesse que era por Alina, seu humor se aliviou.
— Bem, então. — Ele disse gentilmente. — Fico feliz por isso. Estou preocupado, afinal. Eu queria poder ir com você, mas...
Chrissie tragou saliva. Ela entendia que Blaine havia acabado de assumir suas tarefas ali. Broderick e Duncan esperariam que ele provasse seu valor, cuidando de suas responsabilidades com os homens. Ela estava certa que ele tinha muito o que assumir em tão pouco tempo.
— Eu posso ir sozinha. — Ela disse decidida. Aquilo pelo menos seria mais fácil para manter a história sem questionamentos. O local sagrado que ela pretendia visitar — pelo menos não versão que ele imaginava— era distante. O que queria dizer que ela teria um dia com tia Aili, muito melhor que apenas poucas horas que ela esperava que fossem concedidas.
— Como se eu fosse deixá-la ir sozinha. — Blaine disse com frieza. Chrissie estremeceu.
— Eu não preciso que você medeixe, como disse, fazer qualquer coisa. — Ela disse rigidamente. — Sim, eu sou sua esposa. Eu lhe devo fidelidade. Mas você nunca clamou isso antes. — Ela ficou magoada. Ele sabia o quanto era difícil para ela confiar, o quanto foi difícil para ela sentir como se não estivesse à mercê de alguém.
Blaine soltou o ar lentamente. Ela ouviu. Ela sentia muito, mas não queria perdoar prontamente. Ele sabia melhor do que ninguém que não deveria pressionar sua posição de posse sobre ela. Ela tomou uma decisão.
— Boa noite. — Ela disse em voz baixa. Ela se virou, amassando a almofada embaixo de sua cabeça.
Ela ficou lá deitada, tensa, esperando que ele fizesse alguma coisa, pois eles nunca foram dormir sem pelo menos um abraço. Ele não fez nada. No fim, ela ouviu ele se virando, tentando ficar confortável.
Quando ela estava adormecendo, percebeu que sentia falta dos braços dele ao redor dela, mas não havia nada que ela pudesse fazer para remediar aquilo: ele teria que pedir desculpas primeiro, pois ela não teria nenhum homem mandando nela. Não novamente. Nunca mais.
O sono dela foi intermitente, assaltado por imagens de Alina morrendo e tia Aili em sua mais formidável forma, fazendo profecias complicadas que Chrissie não entendia. Tudo o que ela se recordava dos sonhos quando acordou era um alerta de Aili: saiba o que você quer.
Capítulo Vinte E Três
RESOLVENDO DIFERENÇAS
A manhã estava fria, o chão duro pela geada, o céu cor de chumbo. Os campos estavam vazios e Blaine cavalgava como se os cavaleiros do apocalipse — a morte, a fome, a peste e a guerra— estivessem atrás dele. Ele se sentia quase tão mal como se estivesse realmente sendo seguido.
— O que eu fiz de errado?
Ele soltou o ar. Chrissie o ignorou aquela noite e isso o tinha machucado profundamente. Assim como a discussão. Eles nunca haviam brigado antes.
A pior parte do dia que começou errado logo após ele se levantar. Primeiro, ele teve uma discussão com Duncan— algo sobre fornecimento de armas ser mais importante do que suprimentos de grãos, uma visão que ele mantinha. Mas na realidade, ele suspeitava que Duncan se ressentia sobre o seu questionamento sobre a saúde de Alina. Sua única resposta foi que ela estava bem.
Blaine enfureceu-se quando recordou a resposta. Ele não precisava ser um cirurgião para saber que ela estava longe de estar bem.
Bem, Duncan. Agora eu também estou em um dilema. Está satisfeito?
Ele não podia culpar Duncan por ele ter brigado com sua própria esposa. Ele respirou fundo, sabendo que era ridículo. Ele simplesmente não conseguia deixar a ideia descansar. Ele nunca havia brigado com sua esposa e agora tinha acontecido.
Ele voltou a soltar o ar. Ficar bravo com Duncan não ia resolver seu caso. Ele tinha causado isso. Ele deveria ter ficado na cama naquela manhã. Ele deveria ter conversado com Chrissie e descoberto o que estava errado. Ele tinha sido um idiota, e havia saído antes que eles pudessem conversar propriamente, priorizando seu trabalho com os homens e o treinamento— cavalgar, era o que ele fazia agora, — ao invés de resolver suas diferenças.
Era covardia, ele sabia. Era uma desculpa. Ele não precisava ter pressa. Ele poderia cavalgar mais tarde, não agora de manhã antes que ele estivesse quebrado seu jejum. Entretanto, ele não conseguiria encará-la.
Nós já discordamos antes... não como isso. Eu não sei o que fazer, como consertar as coisas entre nós.
Blaine não tinha experiência em casais — foi criado pelo seu avô, um velho duro por todos relatos— ele não tinha visto pessoas discutindo e o que elas faziam para resolver isso. Tudo o que ele sabia é que era impossível. De todos que ele conhecia, apenas ele que brigava com sua esposa assim. Talvez ele fosse um homem mal.
— Chrissie?
Ele desejava poder raciocinar com ela, mas ele nem ao menos sabia por onde começar. Por que ele foi tão estúpido na noite passada? Ele nunca agiu com tanta frieza com ela antes, nunca impôs seus direitos de marido daquela maneira como ele tinha feito na noite passada.
— Eu deveria saber mais.
Ele não sabia. Ele pensou sobre o que havia ocorrido antes e se fixou na conversa dela sobre peregrinação.
— Por que ela vai?
De início, ele pensou ser por Alina. Ela sabia o quanto Chrissie amava a prima. Ele não era cego. Ele sabia o quanto a prima dela estava doente.
Seu cavalo estava galopando, indo diretamente em direção a um monte de carvalhos. Ele girou bruscamente para a esquerda, assobiando de alívio quando eles erraram por pouco. Ele balançou a cabeça para si mesmo. No que estava pensando? Ele provavelmente se mataria fazendo isso com a cabeça cheia de preocupações. Ele exalou. Sua testa estava suada, apesar da manhã fria, e seu cavalo estava se esforçando, quase sem fôlego.
— Sou um idiota.
Ele sacudiu a cabeça novamente, sentindo-se triste. Ele diminui a velocidade de seu cavalo para uma caminhada. Não era Bert, mas um novo garanhão treinado para batalhas chamado Grey Cloud — Nuvem Cinzenta— que ele ganhou quando chegou.
Ele suspirou. Ele deu um tapinha no lado do cavalo, sentindo-se mal. Entre todos, o cavalo não lhe fizera mal algum. Ele sussurrou para ele.
— Sinto muito. Quando voltarmos, vou me certificar de que Seamus lhe dê farelo. Você gosta de farelo amassado, não é?
O cavalo mexeu suas orelhas, claramente ouvindo-o, e Blaine se sentiu melhor. Pelo menos alguém gostava dele!
Ele chegou ao estábulo duas horas antes da refeição do meio-dia. Deixando seu cavalo para uma refeição de farelo, ele entrou na casa.
Ele encontrou Duncan no corredor superior, saindo do solar, um pedaço de madeira entalhada em suas mãos.
— Duncan! — Ele o saudou. — Eu queria falar com você.
— Blaine. — Duncan respondeu em voz baixa. Ele não parecia muito alegre, mas ficou de pé perto do parapeito que tinha vista para o campo de treinamento abaixo, onde dois dedicados guardas ainda praticavam suas habilidades com as espadas juntos e batiam de leve nas laterais de seus corpos.
Blaine se juntou a ele e ambos se inclinaram para assistir.
— Alec deve praticar mais balanços. — Disse Duncan pausadamente. Blaine assentiu.
— Direi a ele.
Ele fez uma pausa, mordendo os lábios pensativo. Ele não veio aqui para discutir espadas ou treinos com Duncan. Ele estava bastante certo de que Duncan sabia disso. O silêncio se estendeu.
— Duncan?
— Sim? — Os olhos castanhos estavam frios. Blaine engoliu em seco.
— Eu... Eu sinto muito por ter lhe ofendido. — Ele disse baixinho. — Chrissie é minha vida, e ela ama sua prima e...— Ele parou, encolhendo os ombros. — Eu não estava interferindo. Bem eu estava. Peço desculpas.
Duncan fez um barulho estranho. Quando Blaine olhou para ele, ele viu que ele sorria e percebeu que era riso.
— O quê?
— Blaine, meu irmão de armas. Esse foi o pedido de desculpas mais desajeitado que já ouvi. No entanto, eu te amo por isso. Obrigado. — Ele sorriu, apertando a mão do amigo.
Blaine engoliu em seco.
— Obrigado por entender.
— Bem, não foi fácil, eu lhe garanto. Não quando você gagueja e vacila assim. Mas eu agradeço, de verdade.
— Obrigado. — Blaine disse, um sorriso no rosto. — E você veja a quem chama de desajeitado.
Duncan rugiu de rir. Ele deu um tapinha no ombro dele.
— Vamos tentar isso no campo lá embaixo? — Ele perguntou. — Vamos ver quem tem os melhores reflexos?
— Desafio aceito.
Eles ficaram quietos por um tempo. Blaine ainda estava preocupado, então ele clareou a garganta, tentando pensar em como perguntar a Duncan o que ele desejava.
— Você está pensando, não é? — Duncan disse, divertido.
— Por quê?
— Homem, eu quase posso sentir o cheiro de fumaça de lenha! Você está usando seu cérebro, então faça! — Ele riu, dando um tapa na orelha de seu amigo. Blaine estremeceu, e depois bateu nas costas dele, fazendo-o tossir. Eles lutaram por um momento, então ambos acabaram desmoronando na parede com vista para o pátio, os ombros tremendo de rir, apoiando-se uns nos outros.
— Você está preocupado com alguma coisa. — Duncan fez a observação depois de um tempo. — Conte-me. Eu farei o que puder para ajudar.
— É minha esposa. Chrissie.
— Sim? — Duncan perguntou, com a sobrancelha franzida.
— Ela é ... ela não é ela mesma no momento. E ela está brava comigo. Eu sinto isso. E ela quer sair sozinha para algum lugar. Para uma peregrinação, como ela diz. Eu não sei ... — Ele balançou a cabeça. Ele não gostava disso. Ele tinha certeza de que Duncan o entendia. Ele teve a prova de que estava certo um momento depois, quando ele assentiu.
— Ela está doente? — Duncan perguntou lentamente.
Blaine mordeu o lábio.
— Não que eu saiba. — Ele murmurou.— Eu não sei se a peregrinação é para ela, ou para outra pessoa, ou... — Ele suspirou, não querendo dizer mais nada, não queria deixar que Duncan adivinhasse o que ele estava sugerindo e ficasse zangado novamente.
— Você poderia perguntar a ela. — Disse Duncan gentilmente. — Confie. — Ele acrescentou.
— Perdão?— Blaine perguntou.
— Confiança. Se vocês não confiarem um no outro, não irão chegar longe.
Blaine mordeu o lábio, sabendo que era verdade.
— Verdade. — Ele disse.
— De fato. Então. — Duncan inalou o ar. — O que eu proponho é que tenha uma manhã de folga, após aprender sobre a fabricação rudimentar de arco e flecha, e encontre sua mulher. Leve-a em um passeio na floresta. Pegue o que você precisa da cozinha para fazê-la se sentir mimada. Pergunte a ela o que está acontecendo. Você certamente ficará surpreso com o que descobrir.
— Obrigado, irmão. — Blaine suspirou. Muitas vezes ele sentia como se Duncan fosse um irmão, um sábio irmão mais velho, do tipo que poderia contar em muitas ocasiões em sua vida, ele percebeu.
— Claro. — Duncan sorriu. — E obrigado.
— Obrigado?— Blaine ficou surpreso.
— Por sua preocupação com Alina. Eu agradeço. De verdade. Eu só... — Ele inalou, uma respiração áspera que deixou claro o quão atormentado ele realmente estava. — É tão difícil, Blaine. Ela está tão doente e eu ... não sei o que fazer. Nada que eu faça pode ajudá-la e... e parece que é minha culpa. Eu não sei por que, apenas sinto. — Ele cobriu o rosto, os cotovelos plantados no muro sobre a colunata.
Blaine suspirou. Ele não sabia o que afligia Alina, mas tinha certeza de que Duncan não era a causa. Ele deu um tapinha no ombro dele.
— Ouça, Duncan. Não é sua culpa. — Ele exalou. — Culpar-se tornará impossível enxergar o que realmente está acontecendo. Eu sei. Confie em mim.
Duncan piscou. Eles ficaram em silêncio por algum tempo. No pátio, os homens se revezaram em treinar em um saco de palha num poste. Blaine estremeceu ao ouvir boas lâminas rangerem a madeira e decidiu que tinha que dizer-lhes algumas coisas sobre como cuidar de suas espadas.
— Blaine?
— Humm?
— Você sabe, às vezes eu me pergunto de onde você veio. Isso foi perspicaz. Verdadeiramente. Você está certo.
Blaine piscou para ele e então sorriu.
— Não sei. — Ele disse carinhosamente. — É apenas a minha inteligência inata, senhor.
Duncan piscou para ele, um sorriso enorme dividindo seu rosto.
— Escute aqui, seu canalha! Não vou deixar você se vangloriar... — Ele ainda sorria, balançando a cabeça, rindo. Blaine riu também.
— Então, nós iremos lá embaixo para verificar se você pode me pegar com espadas. Melhor de três ataques.
— Desafio aceito.
— E analisaremos se sua inteligência inata pode mantê-lo em pé contra Silversteel. — Disse ele, batendo na lâmina presa na bainha a suas costas.
— Silversteel, hein? — Blaine disse, a sobrancelha erguida.
— O que?
— Um nome bobo para uma espada,é isso que eu acho.
— Vamos testar isso! — Duncan disse calorosamente. — O nome pode ser bobo, mas sua mordida é tão desagradável quanto a da sua espada, seja qual for o nome tolo que você deu.
Blaine sorriu.
— Regra número um: nunca lute com raiva. Não foi isso que você disse para seus homens ontem. Esqueceu?
Duncan gemeu e cerrou os dentes, depois passou a mão na cabeça de Blaine.
Blaine se abaixou.
— Eu vou pegar você no campo de prática. — Ele gritou, correndo em direção às escadas.
Duncan riu e correu atrás dele, os dois como garotos enquanto se atiravam no campo de treinamento, correndo para ser o primeiro nas linhas, onde podiam escolher sua posição: de frente para o sol ou de costas para ele, o último era uma posição de grande vantagem.
Eles lutaram, primeiro com espadas. Blaine ganhou, mas por pouco. Então eles partiram para a luta corporal. Duncan ganhou, provando, como ele dissera, a vantagem de alguns anos de idade e de ser alto. Eles correram para os estábulos, para a surpresa de seus guardas, que estavam esperando pelo começo dos treinos.
Blaine aproveitou a manhã, mas, ele descobriu tristemente, que foi pouco para derreter o gelo em seu coração. Chrissie estava zangada com ele e estava indo embora sem uma razão clara, e não havia nada que ele pudesse fazer.
Fazendo uma careta, girando o ombro de onde Duncan bateu com força com sua espada e, novamente, mais tarde, durante a luta corporal, ele mancou em direção à cozinha para seguir o conselho de seu amigo.
Talvez tudo o que Chrissie precisava fosse tempo para si mesma, para pensar. Pense e confie. Confiar nele e saber que ele confiava nela. Valia a tentativa.
Eles foram passear. Chrissie era friamente cortês.
— As colinas parecem bonitas, não é?— Blaine perguntou, procurando por algum assunto — qualquer coisa — para quebrar o silêncio gelado que havia crescido entre eles.
— Muito bonita. — Chrissie concordou em voz baixa.
Eles estavam andando lado a lado, ele em seu novo cavalo de batalha e ela em seu cavalo. Ela usava um vestido de brocado amarelo e seu cabelo estava enfeitado com fitas azuis, o perfume de rosas chegando até ele que andava ao lado dela. Ele inalou, sentindo-se como um homem que estava do lado errado dos portões de algum lugar encantado.
— Chrissie?
— Sim?
Ela se virou para ele, olhos azuis sinceros. Ela era tão bonita, ele pensou melancolicamente, como uma escultura, ou uma estatueta de porcelana em uma igreja em algum lugar. Ele queria abraçá-la e beijá-la em todos os lugares.
— Sinto muito. — Ele suspirou.
— Não sinta. — Ela disse baixinho. — Você estava no seu direito de dizer isso.— Sua voz era firme.
— Nos meus direitos..? Chrissie! — Ele protestou. — Você sabe que não somos assim. Você sabe que eu nunca pensaria em você assim.
— Você fez. — Ela disse em uma voz quase inaudível. — Veja! Aquela não é Joanna e sua serva?— Ela apontou para onde uma mulher e uma criança caminhavam na encosta gramada. Blaine mordeu o lábio enquanto ela cavalgava em direção ao par. Ela estava deliberadamente evitando-o, ainda com raiva.
Ele esperou enquanto Chrissie desmontava, compartilhando palavras gentis com a babá e levantando a criança, rindo alegremente no ar. Ela parecia tão bem assim, ele pensou. Chrissie seria uma mãe adorável.
— Oh, aí está você. — Ela disse. Ela voltou para o cavalo alguns minutos depois. Blaine desmontou e segurou os dois freios, esperando que ela voltasse. Ele tinha invadido as cozinhas para pegar presunto frio e todas as coisas que ele sabia que ela mais gostava e as embalou em uma bolsa amarrada à sua sela.
— Chrissie. — Disse ele com urgência. — Poderíamos...
— Acho que talvez devêssemos voltar agora. — Disse ela, sua voz casual. — Eu disse a Gylas que passaria algum tempo com as criança antes de ir dormir. E eu estou um pouco cansada, agora que penso nisso.
Blaine engoliu em seco.
— Mas, Chrissie! Você disse que poderíamos passear!— Ele disse frustrado. — Agora você está mudando de ideia de novo...
Chrissie olhou duro para ele.
— Como você é meu marido, suponho que eu deveria obedecer-lhe. — Ela disse calmamente. Ela olhou para o chão e depois para ele. Seus olhos eram safiras, frios e duros. Ele sentiu algo em seu peito murchar.
— Devemos voltar para a casa. — Disse ele, sua voz amarga.
— Muito bem. — Chrissie concordou.
Eles voltaram em silêncio e com nada resolvido, e quando eles estavam em seus aposentos, ela o ignorou também.
Naquela noite, quando ele veio para a cama mais tarde do que ela, encontrou-a já debaixo das cobertas.
— Eu acho que vou sair para a minha viagem pela manhã. — Disse ela em voz baixa.
Blaine sentiu seu coração afundar.
— Como quiser, querida. — Disse ele.
A cama era muito larga, ele descobriu, quando ela estava de costas para ele. Ele poderia ocupar todo o espaço que quisesse. Ele rolou de lado, o coração doendo, e tentou, valentemente, encontrar algum descanso.
Naquela manhã, ela acordou cedo e ele também, esperando poder reconciliar-se. Ela convocou Ambeal e se vestiu, depois empacotou alguns vestidos. Ele vestiu-se e, desgraçadamente, esperou para ver se ela diria alguma coisa, qualquer coisa, para lhes trazer consolo.
— Adeus, querido. — Ela disse já na porta. Seus olhos encontraram os dele brevemente, depois se afastaram rapidamente.
— Adeus. — Ele sussurrou.
Ela virou-se muito rapidamente e saiu correndo do quarto, deixando-o de pé atrás dela, desolado, as mãos na soleira da porta. Ele pensou que nunca havia se sentido tão perdido antes.
Capítulo Vinte E Quatro
NOVIDADES NÃO CONTADAS
— Lady Chrissie?
Chrissie gemeu. Abriu os olhos cansados do sono e tentou se recordar onde estava. A memória foi voltando lentamente. Ela estava na carruagem, indo para Lochlann. Ela deve ter adormecido em algum momento durante a viagem, pois ela havia dormido mal na noite anterior.
— Milady?
— Sim? — Ela perguntou a Ambeal, sua criada, que estava sentada na frente da carruagem.
— Milady, estamos quase chegando.
— Oh! — Chrissie piscou surpresa. Ela não sabia que tinha dormido por tanto tempo. Ela suspirou. Esticando-se olhou pela janela e viu que Ambeal estava certa. Elas estavam seguindo para a encosta nua e coberta pelo vento, na qual o edifício cinza de Lochlann se localizava.
— Sinto muito ter que acordar você, milady.
Chrissie sorriu. Ela estava distraída e melancólica, era verdade. No entanto, ela não brigou com Ambeal.
— Está bem. Eu deveria estar acordada. Eu precisarei sair logo e deveria estar apresentável.
Ambeal sorriu.
— Você está linda, milady.
Chrissie revirou os olhos ironicamente. Ela se sentia péssima e tinha certeza de que ela se mostrava assim: a cabeça e a barriga doíam e sentia-se miserável.
— Temos cerca de dois minutos antes de chegarmos. Se você pudesse me passar ...
Ela não emitiu o resto das palavras. Eles passaram por cima de algo e a carruagem balançou e seu estômago se embrulhou dolorosamente, fazendo-a vomitar.
— Milady! — Sua criada parecia horrorizada e Chrissie engoliu em seco, tentando não ficar pior. Seu estômago não queria cooperar, assim, ela bateu na divisória para pedir a Sam, o cocheiro, que parasse. Ela saiu mal e em silêncio pela porta. Então se recostou na cadeira, ofegante e exausta pelos esforços.
— Milady! — Ambeal disse novamente, estendendo a mão e acariciando sua mão. — Você está bem?
— Sim. — Chrissie gemeu. — Pelo menos, eu acho que sim ...
Ela se inclinou para trás, fechando os olhos. Seu corpo inteiro estava dolorido e ela sentia náuseas. Teria sido o que ela comeu? Todos eles dividiram a mesma refeição na noite anterior em White Gate Inn, então não era possível, ou eles também estaria doente. Foi simplesmente falta de sono?
— Milady, você deveria estar na cama. — disse Ambeal, acariciando sua mão.
— Espero estar em breve. — Chrissie concordou, sorrindo fracamente. Ela desejava poder fazer mais — afinal, ela estava aqui para tentar ajudar Alina. No entanto, ela estava claramente doente.
Eles alcançaram os portões, e Ambeal desceu primeiro e depois ajudou Chrissie a entrar. No momento em que ela cruzou o limiar até o grande salão, sentiu as pernas cederem.
— Adair! — Sua criada se atirou em um dos guardas, um homem de aparência séria que Chrissie recordou vagamente. — Precisamos de ajuda para levar lady Chrissie para o andar de cima.
Chrissie suspirou e aceitou a ajuda deles. Logo ela estava no andar de cima no quarto de dormir que ela compartilhara com Alina.
Casa. Foi um sentimento estranho. Ela e Blaine estavam ausentes por talvez uns quinze dias, talvez menos. No entanto, agora parecia que o lugar era estranho para ela, um país estrangeiro no qual ela nunca havia pisado. Ele mudara enquanto ela se fora, tornara-se mais frio e remoto? Ela não podia acreditar que um dia seus passos haviam ecoado nas escadas, sua risada uma vez preencheu esta câmara fria e sepulcral.
— Milady?
— Sim? — Chrissie perguntou fracamente. Ela estava deitada na cama, apoiada nos travesseiros. Ambeal entrou trazendo uma bandeja.
— Milady, Cook enviou um mingau para você. Você deveria tentar comer. Para manter sua força.
— Sim. — Chrissie disse em voz baixa. Deixou que Ambeal colocasse o mingau em uma mesa ao seu lado e levantou a colher para mostrar-se disposta, embora até mesmo o cheiro dela lhe puxava o estômago, fazendo a náusea subir novamente. O que havia de errado com ela? Ela se sentia tão fraca quanto um recém-nascido. Isso era frustrante!
Mais tarde, Chrissie fechou os olhos, tentando dormir. Ambeal estava em algum lugar no castelo, sem dúvida conversando com as velhas amigas, que deixou para trás quando seguiu sua dama até Dunkeld. No andar de baixo, mais distante, Chrissie ouvia o barulho de armas no quintal e, em algum lugar, alguém tirando água no poço. Os sons eram familiares e reconfortantes, os sons de casa.
É bom estar de volta.
Estar ali fazia com que ela notasse como as coisas ficaram tensas entre ela e Blaine. A mudança para Dunkeld e as responsabilidades adicionais o mudaram. Ele não era o homem atrevido e amante da vida com quem se casara, nem ela era a garota despreocupada e feliz.
Eu vivi muitas coisas.
O pensamento trouxe consigo um arrepio.
Eu fui violada por aquele homem. Estou me sentindo mal agora. É possível que...
Era possível que ela tivesse o filho dele?
Sua mente parou, recusando-se a considerar isso. Não era possível. Não poderia ser! Mas... mas foi há um mês, e ela deveria ter suas regras.
Não era possível. Ela não deixaria isso ser possível. Ela não podia estar grávida. Não dele. Não. Isso era impensável. Ela não podia deixar sua mente aceitar esse pensamento. Não poderia ser.
— Pode ser Blaine. — Ela disse para si mesma. Por que não? Eles só tinham se casado há pouco mais de uma semana, mas ninguém disse que era impossível conceber na primeira semana de um casamento. Parecia improvável, mas talvez pudesse ser. Ela precisava saber. Havia apenas uma pessoa que poderia dizer a ela com certeza. Essa pessoa era a sua tia Aili.
Sentando-se na cama, rígida de determinação, Chrissie decidiu que tinha que ir ver sua tia agora. Antes que ela estivesse nervosa demais para ouvir a verdade, qualquer que fosse ela. Ela estava ali por Alina, mas também descobriria sobre ela mesma. No entanto, ela precisava saber a resposta, por si mesma.
Chrissie saiu da cama e pegou um vestido de linho creme do baú. Ela se atrapalhou com os botões, lutando sozinha e sem ajuda. Em seguida, lavou o rosto, verificou o cabelo no espelho maltratado sobre a mesa de cabeceira e saiu correndo do quarto.
A ala leste ainda era o domínio da tia Aili. Chrissie odiava ir ali. Ela havia ido ali apenas uma vez, quando Alina a persuadiu a fazê-lo, pegando uma cesta de groselhas frescas como uma surpresa.
— Tia Aili? — Ela chamou, alcançando a porta. Ela hesitou em bater, por alguma estranha razão sempre sentindo que algo terrível aconteceria. Um vento gelado assobiou pelo corredor, farfalhando suas saias. O lugar era como um túmulo. Chrissie estremeceu.
— Entre.
Ela deu um pulo quando a voz dominante encheu o corredor. Mordendo o lábio, ela alcançou a maçaneta da porta. A porta se abriu quando ela a tocou. Para fechar-se novamente atrás dela. Ela estava dentro.
— Chrissie! Bem! Que surpresa. O que traz minha querida sobrinha em visita?
O tom doce da voz de sua tia Aili não se parecia com a sentença de morte ouvida do lado de fora. Chrissie estremeceu, recordando seus temores anteriores. Ela esperou um momento, deixando os olhos se ajustarem à mudança repentina no lugar.
Dentro, era como ela se lembrava de sua última visita, nada demais. Ali, o lugar era quente, banhado pela luz de tochas em candeeiros, velas e um grande fogo. As paredes eram cobertas de tapeçarias e o chão estava coberto de preciosos tapetes orientais — só Deus sabia onde Aili os encontrara, mas ela sabia onde obtê-los. O lugar era quente, alegre e resplandecente de vida.
— Tia! — Ela sorriu. A mulher que atravessou a sala era, como sempre, mais baixa do que Chrissie se lembrava — ela tinha tal poder e autoridade que ninguém notava seu real tamanho.
— Chrissie. — Aili disse gentilmente. Ela beijou sua bochecha, acariciou sua mão. — Você está congelando! Venha, sente-se perto do fogo, que é onde está quente. Stella!
— Sim? — O rosto sorridente da serva que trabalhava ali desde que alguém se lembrava apareceu na porta. Ela piscou para Chrissie como se sua aparência não fosse nada incomum. Chrissie estremeceu, imaginando se a mulher compartilhava um pouco dos poderes misteriosos de Aili.
— O que uma pessoa precisa fazer para tomar um pouco de caldo quente por aqui? Somos bárbaros, que recebemos nossos hóspedes sem cortesia? — Ela opinou.
Stella sorriu e desapareceu na parte de baixo dos cômodos. Chrissie sorriu e seguiu Aili até a mesa.
— Agora, lass. — disse Aili, de frente para ela. — Você parece preocupada. Você veio aqui com uma dúvida. Uma sobre você e uma sobre ela. Não é?
Chrissie engoliu em seco. A melhor parte e também a mais desconcertante, em se consultar com Aili era que ela sempre sabia o que queria perguntar, antes mesmo da pergunta. Ela engoliu e começou.
— Eu queria perguntar-lhe sobre...
— Aqui estamos nós!
Stella apareceu com o caldo e um prato de pão que cheirava gostosamente a especiarias. Chrissie sentiu a água na boca e notou, surpresa, que se sentia bem. A náusea de antes desaparecera. Ela agradeceu a sua tia e procurou ansiosamente por uma fatia.
— Bem, então. — Disse Aili, engolindo um pouco de caldo.— Agora que estamos abastecidos com alguns refrescos, me diga o que está lhe preocupando.
— Eu vim aqui por Alina. — Chrissie confidenciou. — Ela está doente.
— Aquilo! — Aili disse, com carinho exasperado. — Eu sei.— Seu rosto mostrava gravidade.— Diga-lhe que ela não vai ficar bem se ela mantiver toda aquela raiva por dentro. Toda a dor. E diga a ela para beber caldo preto. Duas vezes ao dia. E coma o que é verde. Ela está precisando de comidas frescas.
Chrissie assentiu, sentindo sua náusea recorrer o pensamento de caldo preto, um guisado feito principalmente de sangue do matadouro. Ainda bem que não estava em sua dieta, e Chrissie fez uma anotação mental para transmiti-lo. Então ela sentou em sua cadeira, sentindo-se subitamente nervosa. Agora era a vez dela.
— Você quer agora esclarece suas próprias dúvidas? — Aili perguntou, tomando um gole de caldo da tigela.
— Sim. — Chrissie assentiu, engolindo a boca cheia de pão temperado.
— Bem então. Pergunte.
— Tia, eu estava me sentindo muito doente hoje, e ultimamente eu tenho estado distante, e eu acho... eu me pergunto... se... — Ela não conseguia nem mesmo dizer isso. Era tão horrível, tão vergonhoso. Ela não podia expressar isso. Aqui não. Ainda não.
— Você sabe o que é, não é? — Aili disse suavemente.
— Sim. — Chrissie olhou para as mãos, sentindo-se miserável.
— O que você quer fazer sobre isso?
— Eu não sei! — Chrissie disse, subitamente sentindo as lágrimas começarem a descer. Ela odiava a ideia de uma criança... daquilo. Ela desejou poder se livrar. Mas e se fosse o filho de Blaine? Além disso, ela deveria receber uma nova vida, de onde quer que ela viesse? Ela sabia que as mulheres se livravam das crianças— um processo que às vezes matava mãe e filho,— mas estremecia só em pensar nisso. Certamente tirar a vida era um erro grave. O que ela poderia fazer?
— Acalme-se. — Disse tia Aili gentilmente, pegando sua mão em sua própria mão cheia de nós e veias. Ela se sentou com ela enquanto chorava, murmurando palavras de carinhos delicados enquanto Chrissie soluçava e soluçava.
— Agora. — Disse Aili quando ela sentou-se, soluçando após as lágrimas. — O que é que você quer fazer?
— Eu... — Chrissie engoliu, sentindo-se doente novamente, embora desta vez, ela sabia, era puramente os nervos. — Eu não sei, tia. Eu simplesmente não sei o que fazer.
— Eu acho que o melhor seria se você ficasse aqui comigo por um tempo. Mande sua serva de volta para contar que você está doente, isso é verdade, afinal. Então fique aqui e podemos conversar e descobrir o que podemos fazer. Você tem pela frente uma escolha difícil, minha querida sobrinha. Você precisa saber tudo o que puder antes de fazê-lo.
— Eu... — Chrissie engoliu em seco. — Obrigada, tia.
Sua tia acariciou sua mão.
— Agora, então. Se você quiser ficar aqui comigo, podemos pedir a Stella para arrumar um quarto ao lado do principal, aqui... — Ela apontou para uma porta, protegida por uma tapeçaria, que Chrissie não havia notado.
— Eu penso que posso ficar em meu antigo quarto, tia.— Chrissie decidiu. Essa sala poderia ser calorosa e acolhedora, mas toda a ala leste parecia assombrada, já que parte dela desmoronara quase um século antes, e ela não queria testar a verdade sobre isso.
Aili sorriu mostrando dentes muito brancos.
— Claro que você pode. — Disse ela. — Mas você deve vir e me visitar todos os dias. Você pode mandar Ambeal de volta com a notícia para Alina, se estiver preocupada.
— Sim. — Chrissie assentiu, pensando rápido. Ela odiava a ideia de enviar Ambeal de volta sem ela, pois sabia que Blaine se preocuparia. Blaine, de quem ela se lembrava, só conhecia metade da história. Ela mordeu o lábio. Ela só teria que dizer ao Ambeal para ser o mais vaga possível. Ela estava doente. Ela iria ficar onde estava. Ela estava sendo cuidada. Lá. Isso era tudo que Blaine tinha que saber.
Apertando a mão da tia e terminando o seu caldo, Chrissie sorriu corajosamente e seguiu para o seu próprio quarto. Para enviar Ambeal de volta para casa com as notícias.
Capítulo Vinte E Cinco
DESCOBRINDO COISAS NOVAS
— Ela disse o quê?
Blaine estava na muralha do castelo quando Ambeal veio encontrá-lo. Ele estava supervisionando os pedreiros enquanto eles consertavam a brecha na parede leste. Ele olhou para a criada de sua esposa sem entender.
— Senhor. — Ambeal estava claramente nervosa. Ela lambeu os lábios, os olhos, antes de responder novamente. — Senhor, sua esposa está doente. Ela me mandou de volta para lhe dizer que... ela vai ficar onde está. Ela disse para não se preocupar; ela é bem cuidada onde está.
Blaine passou a mão pelo cabelo dele, o coração batendo forte.
— Onde ela está?
— Ela... — Ambeal torceu a saia. Ela parecia desesperada para estar em outro lugar naquele momento. — Ela está segura. Foi tudo o que ela disse para lhe dizer...
— Você está escondendo a verdade de mim, não é? — Blaine disse, estreitando os olhos.
— Sim. — Ambeal assentiu com os olhos fechados. — Eu quero dizer não. Eu não sei senhor. O que posso dizer? Prometi não contar...
De repente, ela estava chorando. Blaine se sentiu infeliz. Como se não bastasse que ele mandasse sua esposa para uma viagem que só Deus sabia onde era, sem sequer um beijo de despedida, agora ele estava fazendo sua serva chorar com seu questionamento implacável. Ele engoliu e pegou o lenço.
— Aqui está... me desculpe. Ambeal?— Ele era o mestre de armas, afinal de contas, sua própria posição servindo a família aqui. Que direito ele tinha para gritar com Ambeal, que estava fazendo apenas o que Chrissie lhe pedira?
— O... Obrigado, mestre Blaine. — Disse ela, fungando. Ela assoou o nariz ruidosamente e depois soluçou. — Senhor, sua esposa está segura. Eu não a teria deixado, se ela não estivesse.
Blaine deu um suspiro irregular. Seu coração disparou. Ele sabia que Ambeal estava dizendo a verdade: ela era dedicada a Chrissie e ela não a teria deixado em perigo.
— Eu sei. — Ele disse gentilmente. — Obrigado por me dizer. Eu sugiro que você fale com Lady Amabel ou Lady Alina. Talvez você possa contar detalhes que não pode me dizer.
— Sim, quero dizer, não senhor.— Disse Ambeal, parecendo ligeiramente aliviada. Ela fez uma reverência uma vez, duas vezes, e correu de volta pelamuralha.
Quando ela saiu, Blaine olhou por cima do parapeito, pensando muito. O que estava acontecendo com Chrissie? Ele pensara que eles eram mais próximos. Achara que eles compartilhavam todas as suas preocupações e novidades. No entanto, ultimamente ela tinha sido tão sigilosa. Onde ela estava agora? Por que ela de repente decidiu ficar lá, sem sequer contar onde ela tinha ido, ou por quanto tempo ela ficaria?
Ele franziu a testa. Abaixo dele, os pedreiros estavam puxando grandes blocos de pedra, usando um engenhoso sistema de alavanca que o teria fascinado apenas alguns dias atrás. No entanto, Chrissie e sua estranha mudança de humor povoavam sua mente, ocupando todos os seus pensamentos. Ele não conseguia encontrar um simples prazer em nada. Ele tinha que descobrir o que estava errado com ela.
— Muito bem! — Ele gritou para os trabalhadores, que o encararam surpreso. — É hora da refeição do meio-dia. Eu vou me juntar a você em uma hora. Certo?
— Sim, senhor! — Gritou o chefe pedreiro, um homem de rosto e ombros tão amistosos como um ogro.
— Certo. — Blaine gritou de volta, sentindo-se um pouco satisfeito pelo "senhor". Pelo menos alguém o tratava com respeito. Por mais que gostasse de Broderick e Duncan, trabalhar para eles estava se mostrando mais difícil do que ele imaginava. Porém, tudo isso era secundário agora. Neste instante, tudo o que importava era Chrissie.
O almoço no solar foi um evento alegre como sempre. Blaine se irritou com a atmosfera gentil, as piadas silenciosas e os pedidos para passar o presunto frio. Por fim, quando Broderick e Duncan foram verificar a muralha, ele aproveitou um momento para falar com as duas senhoras.
— Amabel, Alina?
— Sim?— Perguntou Amabel. Alina, sentada à sua esquerda, inclinou-se, os olhos arregalados. Ela estava suando, como se isso fosse um grande esforço, e ele hesitou em preocupá-la.
— Senhoras. — Começou ele, cauteloso. — Acho que Ambeal já conversou com vocês.
— Ela veio me ver, sim. — Disse Amabel gravemente. Seu rosto era firme, sua expressão tensa, protetora. Blaine suspirou.
— Ela não me disse nada sobre onde Chrissie está. Por fim, ouvi que ela estava perto de Inveruglas, visitando o santuário do santo. Agora, Ambeal não vai dizer onde ela está. Por favor... você sabe alguma coisa sobre isso?
Blaine percebeu que Amabel e Alina compartilhavam um rápido olhar. Alina sacudiu a cabeça e Amabel arregalou os olhos. Ele adivinhou que havia algum tipo de conspiração em andamento, algum tipo de debate sobre se ele deveria ou não saber. Ele sentiu arrepios na espinha. O que estava acontecendo? O que era tão terrível, tão secreto, que eles não contariam a ele, seu próprio marido?
Pouco antes delas falarem, ele adivinhou. Era a única coisa que ela não contaria a ele. Isso explicava tudo — sua distância dele, sua inquietação, seus segredos.
— Blaine. — Amabel disse gentilmente — Há algo que você deveria saber.
— Ela está esperando uma criança, não é?— Ele sibilou. É...o filho daquele homem. Ele sabia disso. Isso explicava tudo!
Amabel piscou.
— Sim! Você adivinhou. Você não está satisfeito? — Ela sorriu.
Blaine olhou para ela.
— Satisfeito? — Ele deu uma risada dura. — Eu deveria estar satisfeito?
Amabel olhou para ele de maneira estranha, como se tivesse acabado de dançar um jig11 na antessala do arcebispo. Ele balançou a cabeça amargamente.
— Esta notícia não é agradável para mim. — Disse ele, a voz fria como pedra.
Houve um silêncio repentino na sala, e Amabel e Alina olharam para ele.
— Blaine! — Amabel disse, seu rosto bonito de repente sombrio de raiva. — Isso é ...
— Eu sei, eu deveria ser amoroso, solidário e tudo isso. Mas eu não consigo! Eu não posso fazer isso! — Ele se levantou e, sabendo que estava sendo um tolo, mas incapaz de evitar, marchou para fora dasala. Chegou à janela arqueada que dava para o pátio, onde estivera com Duncan no dia anterior, e segurou o arco de pedra, sentindo-se tremer de raiva e tristeza.
— Blaine.
A voz parecia de um fantasma, a palavra um sussurro no vento. Era Alina. Ele virou-se. Ela estava de pé ao lado dele, apoiada no corrimão, o rosto oval tranquilo, mas estranhamente triste.
— Alina. — Ele disse entrecortado. — Eu sinto muito. Eu... eu não posso...
— Você está sendo precipitado. — disse Alina baixinho, e em seu tom calmo era uma profunda reprovação. — Não faça isso.
— O que mais eu devo fazer? — Blaine disse quebrado. Ele se virou para ela. Ele supunha que aparentava estar tão abatido quanto se sentia, quando viu os olhos dela se arregalarem e ela se inclinar levemente, se afastando dele.
Ele exalou. Esfregou a mão em seus lábios e puxou o ar profundamente. Ele não tinha ideia porque ele ficou assim. Ele apenas sabia que as notícias o machucaram, apertavam seu coração. A descoberta parecia zombar da pequena força que ele tinha para manter Chrissie segura. O desmoralizava.
— Você está pensando apenas em si mesmo. — Alina disse, realista. Blaine se virou para olhar para ela. O rosto branco como mármore, grandes olhos pretos, como um anjo esculpido. Ela descarregava nela uma quieta reprovação de anjo.
Ele desviou o olhar daqueles olhos em direção ao pátio, respirando com dificuldade. Ele olhou para suas mãos, os nós dos dedos machucados pelas lutas com os homens.
— Eu sei disso. — Ele concordou em voz baixa, depois de um momento. Isso era egoísmo, a necessidade de sempre ser capaz de proteger, ser o mais forte, de manter a segurança de Chrissie e mostrar isso a ela. — Mas eu... você não entenderia.
— Você se cobra em demasia em protegê-la. Você é o marido dela e acha que está certo. — Alina disse com delicadeza. — Você esquece que cada pessoa vive o seu próprio caminho e desrespeitar essa regra apenas trará perigo a ambos.
Blaine piscou. Ele sentiu o cabelo se arrepiar na nuca. Ele se lembrou, repentinamente, das conversas sobre Alina, de que ela era uma vidente com uma assustadora reputação. Ele engoliu em seco. O vento aumentou e isso abaixou os cabelos de sua nuca. Parecia ser o sopro gelado do destino, sussurrando na sua coluna, dividindo seus segredos.
— Não desejaria trazer perigo para ninguém. — Ele respondeu apressadamente. Não tinha ideia do que ela esperava que ele dissesse. Tudo o que ele sabia, era que queria estar bem longe dali, daquela varanda fria com uma mulher fantasmagoricamente pálida e das vozes do destino rindo entre eles, enquanto moviam as folhas mortas ao longo do corredor atrás dele.
Alina elevou o olhar até ele. Ele olhou de volta.
— Eu preciso ir. — Ele disse apressadamente. — Preciso voltar para a muralha. Os homens estão esperando...— Ele se apressou a sair, andando bruscamente pelo corredor em direção às escadas.
Quando ele olhou para trás, ela ainda estava lá, olhando para ele, encostada no corrimão, com os olhos focados em algum lugar bem distante.
Blaine se arrepiou. Às vezes ele achava que seria melhor ele estar a centenas de milhas dali, em uma pedreira em algum lugar nas montanhas, cavando pedras com os pedreiros e homens condenados. Qualquer coisa seria melhor do que essa confusão.
Ele foi até o outro lado do muro, onde Broderick e Duncan já estavam inspecionando os trabalhos, rindo e fazendo piadas entre eles. Ele sentiu inveja da maneira fácil deles, da falta de preocupações.
— Blaine! — Broderick o saudou, sorrindo e acenando para que ele se juntasse a eles. — Bom trabalho! Este lugar parece maravilhoso!
— Nós estamos preparados para uma guerra de um modo que nunca estivemos antes. — Duncan concordou, seu sorriso preguiçoso alcançou Blaine, o atraindo para a companhia deles.
— Parece que está indo tudo bem. — Ele concordou.
Ele começou a caminhar com eles, mas a conversa deles o irritava, arranhando seu espírito inquieto como areia sobre bolhas nos pés. Quando finalmente se foram, ainda conversando e rindo entre eles, ele desceu para conversar com os pedreiros.
Considerando o trabalho que ele havia feito hoje, decidiu sair para cavalgar. Ele precisava clarear seus pensamentos.
Lá fora, as nuvens pareciam mais baixas, o topo do morro gelado, o vento soprando e mordendo as partes do corpo expostas como se tivessem dentes. Blaine, com o manto jogado para trás, não percebia a dor.
— Iááa! — Ele gritou, movendo as rédeas para fazer com que Bert, seu cavalo Clydesdale, corresse ao longo do caminho para o topo.
A cavalgada não parecia fazê-lo se sentir melhor. Quanto mais ele ficava fora, o suor escorrendo por sua testa, apesar do vento congelante, mais sua raiva aumentava. Ele estava correndo com Bert pela encosta, as pedras se escorregavam atrás deles, enquanto eles corriam. Quando o cavalo tropeçou ele foi jogado por sobre a cabeça do cavalo e se encontrou caindo na encosta. Não havia nada quebrado — eles estavam cavalgando devagar demais para aquilo, — mas as pedras haviam arranhado a pele dele e a queda abalou seus ossos. De repente, a frustração, a dor e... sim, a tristeza, a profundidade, o luto não reconhecido pela alegria que ele havia perdido, brotou nele.
Blaine rolou de lado e chorou. Ele soluçava tanto que as lágrimas escorriam por seu rosto, misturando-se ao suor, sangue e molhavam seu queixo. Ele gritou.
— Por quê? — Ele rugiu, escutando seu berro ecoar pelo vale vazio. Não haveriam respostas. Ele sabia que não. Mas ele tinha que perguntar de qualquer forma.
Depois de um longo tempo, com os ombros arfando, ele parou. Bert, seu cavalo, bufou para ele, seus olhos profundos pareciam entendê-lo. Blaine deu uma risada curta.
— Você sabe, não é, garoto?— Ele perguntou. O cavalo o acariciou no ombro e Blaine deu um tapinha no nariz dele. Eles ficaram assim até que o sol começou a se pôr e as nuvens ficaram vermelhas no horizonte. Depois, quando o vento assoprou sobre sua pele, Blaine se levantou.
— Hora de ir para casa?
O cavalo bufou novamente e Blaine sorriu com tristeza. Pelo menos, alguém ainda parecia gostar dele! Ele se levantou, estremecendo ao notar como a sua perna havia se enrijecido no frio, após a queda. Ele deveria parecer uma visão e tanto, ele pensou. O sangue havia escorrido pelo seu queixo de um pequeno corte em sua testa e uma perna de sua calça estava com um buraco e arruinada, sua perna pegajosa com sangue e terra.
— Bem, nós devemos voltar alguma hora, não? — Ele comentou com Bert, que não diria nada, mas parecia pensar que era uma boa ideia, pois ele acelerou o passo. Blaine exalou profundamente. Ele contemplou como seria se ele não voltasse. Simplesmente ficasse ali fora com seu cavalo, sua sela e sua faca, comendo cerejas e preparando armadilhas, vivendo como um eremita na colina.
Talvez fosse mais fácil do que retornar para casa.
Ele riu. Era bravura, ele pensou, encarar a verdade. Por que ele estava fazendo isso, de qualquer maneira? Seria o filho de Chrissie. Aquilo deveria ser tudo o que importava.
— Alina disse que um homem não pode tentar regular o destino de outro. — Ele suspirou. — Se for o destino de Chrissie ter o filho daquele homem, o que eu poderia dizer que fosse importante? Não estava em posição para opor-se. Não havia sido escolha dela.
De repente, ele se sentiu um idiota. Ele entendia agora porquê que Alina e Amabel tinham olhado para ele tão chocadas. Ela era sua esposa. E aquela seria sua criança.
Ele nem ao menos havia perguntado a Amabel onde ela estava.
— Como eu pude ser tão estúpido? — Ele perguntou a si mesmo com amargura. O vento assoprava sobre ele, drenando suas forças, mas não respondeu. Ele balançou sua cabeça. Ele era um idiota. Duncan estava certo. Ele era um bastardo arrogante!
Ele respirou fundo. Ele subiria as escadas, tomaria um banho e depois procuraria Amabel no jantar e perguntaria a ela onde Chrissie estava. Ele deveria ir até lá. Se ela estivesse indisposta, se ela estivesse triste — e se ela estivesse chateada com a notícia, ela provavelmente estaria duplamente triste — seu lugar seria ao lado dela.
Ele esperou até que eles alcançassem a base da colina e depois montou novamente, se dirigindo para a inclinação oposta, onde Lochlann ficava, uma presença marcante e cinzenta no topo.
Descobriria onde Chrissie estava e se juntaria a ela, se ele pudesse.
Capítulo Vinte E Seis
DISCUSSÕES E PLANOS
Na manhã seguinte, Blaine estava sentado sozinho com Alina.
— Broderick e Duncan estão fora, cavalgando e Amabel está na cama com dor de cabeça. — Alina o informou quando ele entrou. Ela o olhou tranquilamente do lugar que ocupava na mesa, um raio de sol iluminando o seu cabelo escuro.
— Você sabe quando eles estarão de volta? — Blaine perguntou, tentando manter uma conversa e se sentando ao lado dela. Ele ainda estava se sentindo desconfortável depois do último encontro deles, no dia anterior e ele tentava falar um tom suave.
— Amanhã. — Alina respondeu inexpressivamente. Ela levou uma colher até seus lábios e Blaine percebeu que ela erguia um líquido vermelho fluido que manchava seus lábios, deixando uma pequena marca em seu queixo. Ele estremeceu. Parecia exatamente sangue.
— Eles tinham negócios nas redondezas? — Ele perguntou em voz baixa.— Duncan e Broderick, eu quis dizer. — Tentando ignorar o desconcertante fato de que ele dividia a mesa com uma vidente que parecia beber sangue, ele pegou um pedaço de pão com crosta e um pedaço de presunto.
— Eles estão patrulhando para encontrar o melhor lugar para pastoreio de ovelhas. — Alina disse sucintamente. — Eles passarão a noite na cabana e voltaram amanhã de manhã.
— Oh. — Blaine disse.
Aquilo encerrou todas as possibilidades de conversa por um momento e o silêncio prolongado era desconfortável entre eles, quebrado apenas pelo barulho da colher. Ele engoliu, seus dedos doendo como se considerasse se aquilo era ou não sangue.
— Você quer me perguntar alguma coisa? — Alina perguntou depois de um momento. Ela esfregou os lábios e Blaine olhou para a parede.
— Eu...— ele parou. Ele tinha uma pergunta. — Eu queria perguntar... se alguém lhe contou onde está minha esposa agora. Por favor. Eu... Eu sei que fui um idiota ontem. Mas eu quero saber a verdade. Por favor?
Alina suspirou. Ela pôs o tecido quadrado de linho de lado e Blaine notou, de fato, tinha uma mancha de sangue na borda. Ele se afastou com dificuldade e ela riu.
— Blaine. — Ela disse com gentileza, perdendo um pouco de sua reserva de vidente e assumindo um ar conspirador. — Chrissie foi para Lochlann. Ela foi por mim. Ela queria a minha melhora. Enquanto ela estava lá, deve ter ficado doente e nossa tia está cuidando dela. Ela está tão segura quanto poderia. Provavelmente mais segura, em alguns aspectos, do que ela estaria aqui e mais confortável. — Ela adicionou, dando a ele um olhar neutro que estava, de alguma forma, cheio de acusações.
Blaine respirou fundo.
— Eu fui um idiota. — Ele admitiu. — Tenho sido desde eu entendi seu conselho. Eu... — Ele passou a mão a mão pelo rosto, tentando explicar como se sentia.— Eu não estou com raiva de minha esposa. — Ele disse com firmeza. — Nada disso é culpa dela. — Alina anuiu e ele continuou.— Eu sei que ela está... mais feliz... longe daqui. De mim.— Ele sentiu-se sufocar. — Mas eu quero vê-la. Eu tenho que me assegurar que ela está bem.
Alina sorriu. Ela levantou sua mão por sobre a mesa e pôs em cima da dele. Blaine percebeu que o toque dela estava ligeiramente menos frio do que tinha estado, o que o tranquilizou. Ela riu.
— Blaine, não sou uma canibal. Eu me importo com Chrissie como se fosse minha filha. Você sabe disso. E ela te ama. Confie nela.
— Tentarei. — Blaine respondeu.
— Você deve confiar em si mesmo enquanto estiver a caminho.— Alina acrescentou, um pouco de sua natureza amarga retornando a sua voz quando ela removeu a mão que estava sobre a dele e pegando uma fatia de pão. — Você será capaz de dar suporte a ela quando o fizer.
Ela mergulhou o pão no sangue, com o rosto inexpressivo e Blaine sentiu seu próprio desjejum mover-se enjoativamente em seu estômago no instante em que ela o levou a boca. Ele acenou olhando para a parede.
— Acho que devo ir checar os trabalhos de construção. — Ele falou, engolindo com dificuldade.— Com licença, Lady Alina.
A risada dela o acompanhou por todo o corredor.
Lá fora, no ar fresco, Blaine organizava seus pensamentos. Ele sabia onde sua esposa estava! Ele deveria ir vê-la.
Ele olhou ao redor. Ele não poderia simplesmente se levantar e ir enquanto Duncan e seu irmão estivessem fora, nos campos. Ele tinha que ficar para supervisionar o trabalho dos pedreiros, pelo menos até eles retornarem. Ele decidiu que partiria para Lochlann no dia seguinte.
Ele tinha que vê-la.
Blaine levantou-se bem cedo na manhã seguinte. Ele considerou deixar uma nota para Duncan, mas decidiu não fazer. Ele foi até o solar e encontrou Alina lá, fazendo seu desjejum. Ela abriu um grande sorriso.
— Eu devo dizer a eles quando você retornará?
Blaine estremeceu. Às vezes ele não sabia se ela o impressionava ou lhe dava medo. Em todo caso, conhecer o futuro tornava as coisas mais simples.
— Diga a eles que voltarei em uma semana. — Ele respondeu.
— Bem. — Ela falou de maneira enigmática. Ele a deixou sorrindo, um sorriso cheio de segredos e bebendo a dose diária dela de sangue.
A viagem até Lochlann levava um dia inteiro, assim, Blaine se levantou cedo e pegou provisões. No momento em que os últimos raios de sol de inverno pintavam o céu de vermelho, ele avistou o edifício atarracado de Lochlann posicionado no topo da colina.
Apenas mais algumas centenas de jardas antes que eu esteja ao lado dela uma vez mais.
No momento em que ele incentivou Bert a subir a colina, ele não pode evitar se sentir subidamente nervoso. Como ela estaria? Ela estaria disposta a vê-lo? Ou ela ainda estaria com raiva? Ele inalou.
Eu tenho que tentar.
Apenas ao pensar em Chrissie, um fogo queimava seus quadris de um jeito que ele não imaginava. Entretanto, isso trouxe tristeza e melancolia. Haveria ele a afastado? Eles poderiam algum dia ter de volta aquela proximidade tão fácil que eles dividiam antes? A simples alegria em passear um ao lado do outro e beijos ao amanhecer.
— Chrissie. — Ele sussurrou em voz baixa. — Eu quero aquilo novamente. Eu quero você.
Ele balançou a cabeça para clarear a mente. Ele estava no portão agora. Ele parou, sentindo uma estranha excitação. Eu costumava comandar aqui.
Ele parou do lado de fora do portão, piscando para os dois sentinelas em função. Um deles, ele não recordava, porém reconheceu o outro. Kenneth.
— Declare seu assunto. — Ele disse para Blaine, parecendo desconfortável.
— Oh, por Deus... Kenneth! Estou aqui para ver minha esposa. Você pode dar permissão para isso?
— Aguarde um momento. — Kenneth disse. Ele olhava como se estivesse extremamente desconfortável, o que ele duvidava. Ele deixou Blaine esperando do lado de fora do portão, cansado e tremendo de frio. Bert claramente reconheceu o lugar, pois descansou a cabeça sobre o ombro de Blaine que estava parado e bufou em seu ouvido, parecendo impaciente.
Depois de umlongo tempo, eles ouviram o barulho dos passos de Kenneth sobre o chão de pedras.
— A Senhora disse que você pode entrar. Se puder ir até o grande salão.
A Senhora? Blaine piscou. Quem deveria ser? Provavelmente, não Chrissie. Ainda surpreso, ele seguiu Kenneth através do familiar corredor, tornando-se subitamente estranho entrar no grande salão.
— Aí está você. — Uma voz árida disse. Blaine olhou ao redor e depois piscou quando seus olhos encontraram a dona da voz. Uma pequena e velha senhora estava parada ali, a luz das velas iluminavam seu cabelo branco, dando a ela uma suave aura dourada. Os olhos dela eram brilhantes e afiados e, ela olhava para ele com um sorriso conhecedor.
Blaine sentiu um arrepio. Apesar dela parecer amigável, algo descompromissado sobre ela, gelou o seu sangue.
— Você é...
— Aili Brodway. Você me conhece.
Blaine engoliu em seco.
— S... Sim.
A velha senhora riu, mostrando dentes brancos.
— Vejo que sim. Agora. Você veio ver sua esposa.
— Sim. — Blaine disse. Considerar conversar com tia Aili, com sua temível reputação o assustava. — Ela está aqui? Por favor. Eu preciso...
— Espere. — Aili disse. Ele parou de falar imediatamente e ela sorriu, parecendo contente em saber que o poder dela o assustava. — Você ainda não está pronto para encontrá-la. É o que penso.
Blaine a encarou. O coração dele disparado, seu corpo alerta com o nervosismo. Ele tinha que ver Chrissie novamente! O pensamento era tudo o que o mantinha em pé no momento.
— O quê? Mas por quê? Como? Por favor...
— Oh, cale-se! — A velha senhora falou. Ele parecia um pouco irritada. — Você pode dormir em um dos quartos de convidados esta noite. É muito tarde e sua esposa está muito cansada para receber visitas. Você poderá vê-la pela manhã.
Blaine se sentiu fraco e aliviado. Era isso, afinal? Ele queria rir.
— Obrigado. — Ele disse. — Virei diretamente para cá pela manhã.
— Se ela estiver pronta para vê-lo. — A velha senhora disse com firmeza.
Blaine soltou o ar lentamente. Por que ela não estaria? Ele passou a sentir medo novamente. O que estava acontecendo? Por que ela não estaria pronta para me ver?
— Por favor... Estou preocupado com ela.
Aili sorriu, afinal. Ela apertou a mão dele o surpreendendo ao notar o quanto os dedos eram quentes e fortes; o toque dela parecia revitalizar seus ossos cansados.
— Seu coração está no lugar certo. — Ela disse bondosamente. — Agora, vá e descanse. Nós nos veremos pela manhã.
— Eu... sim. Obrigado, minha lady. — Blaine fez uma reverência. — Obrigado.
Ela sorriu e pareceu achar a atitude dele vagamente divertida. Blaine saiu sentindo o olhar aborrecido dela em suas costas à medida que ele descia as escadas. Ele pensou ter ouvido a risada dela e se perguntou o que estava acontecendo.
Tudo o que ele sabia era que, em poucas horas, seria capaz de rever sua esposa.
Ele dormiu aquela noite com seus braços enrolados na almofada, sonhando com Chrissie.
Capítulo Vinte E Sete
UM NOVO DIA
Chrissie acordou aquela manhã sentindo-se estranhamente energizada.
Ela se sentou no lugar dela à mesa redonda esperando que Aili se juntasse a ela para o desjejum, sentindo uma inquieta felicidade preenchê-la, alguma estranha excitação que ela não compreendia. Ela usava um vestido de linho branco e pediu a Stella para prender o cabelo dela com fitas. Ela se sentia bonita e viva, pronta para tudo.
— Tia!— Ela disse com as bochechas coradas, enquanto Aili se reunia a ela. A velha mulher estava vestindo preto e seu rosto era suavizado por um gentil sorriso. Ela parecia como se estivesse feliz por alguma coisa, e Chrissie não conseguia adivinhar o que era.
— Ah, aí está Stella. — Sua tia exclamou, quando sua criada apareceu, trazendo uma vasta travessa com pão e pedaços de presunto curado, um pouco de manteiga e queijo colocado em um prato de um lado.
Chrissie viu os olhos observadores de sua tia sobre ela, brilhando, enquanto ela se serviade um generoso pedaço de pão e presunto. Ela estava faminta! A náusea havia se abrandado — pelo menos hoje— e ela tinha o apetite duas vezes maior que o normal.
— Tia?
Tia Aili riu.
— Você é adorável, espero que saiba disso. Ele combina muito com você.
— Tia...?— Chrissie perguntou, com a boca cheia de pão e presunto, se forçando a engolir. Ela queria dizer que...? Seria aquilo...?
Aili abrandou o riso.
— Bem, isso me diz tudo o que precisava saber. Ele está aqui. Seu homem. Agora, pelo menos eu sei que você o ama, assim como ele ama você. Ele está lá embaixo.
— O quê? — Chrissie a encarou, sentindo como se o coração voasse como uma cotovia, batendo as asas em grande alegria. — Mas como? Quando..?— Ela começou a se levantar, depois se sentou novamente, as pernas tremendo, inquietas, a impedindo. Ela tinha que descer agora! Ela tinha que vê-lo.
— Ontem, tarde da noite. — Aili confessou, respondendo à pergunta dela e dando uma mordida em seu pão. Chrissie a encarou.
— E você não mecontou? Mas por quê? Quando...?
Aili riu, balançando a mão.
— Vocês combinam, sabia? Oh, sim, ele é ignorante sobre muitas coisas. Pés no chão, prático. Entretanto, eu acho que seu espírito brilhante é ar suficiente para ambos. Vocês farão isso dar muito certo.
— Tia! — Chrissie exclamou. Ela pulou do assento e deu um beijo nos cabelos suaves de sua tia. Quando ela se virou para olhar para ela, já havia cruzado metade da sala, ela viu os olhos de sua tia brilharem como se ela chorasse. — Tia Aili?
— Apresse-se! — sua tia disse rudemente, balançando a mão na direção dela. — Você pode ir e se preparar se você quiser... ele deve estar esperando lá embaixo. Mas você não quer terminar seu desjejum antes?
— Oh, eu não poderia, tia!— Chrissie disse, girando em um pequeno círculo onde estava, sentindo como se uma bolha de alegria se enchesse com ela. — Estou tão excitada. Mal posso esperar para vê-lo...— Ela se calou, quase chegando na porta. — Ele sabe, não é? — Ela perguntou repentinamente preocupada.
Sua preocupação deve ter ficado evidente em seu rosto, pois sua tia se levantou. Ela olhou dentro de seus olhos, seu olhar amenizou os temores dela.
— Aye, lass. Sim. Ele sabe.
— E ele não está bravo? Ele está...— Chrissie parou de falar, estava ficando nervosa.
Aili apertou a mão dela. Está manhã, as mãos dela não estavam tão frias, ao contrário, pareciam irradiar um gentil calor, forçando Chrissie a se decidir. Ela sorriu.
— Ele sabe, lass. E ele está preocupado com você. Ele ficará feliz em lhe ver. E amará a criança que você carrega.
Chrissie sentiu algo dentro dela se derreter. Uma pedra de gelo de tristeza, de horror, que a havia congelado naqueles últimos dias, desde a primeira vez que ela suspeitou sobre a criança que ela carregava. Ela soluçou. Ela envolveu seus braços ao redor de sua diminuta tia e os ombros dela sacudiam de tristeza.
— Calma, calma.— Sua tia disse, a balançou gentilmente, dando tapinhas nas costas delas. — Calma, calma.
Quando elas se separaram e Chrissie havia chorado toda sua melancolia, ela fungou e sua tia se levantou. Ela olhou, como se estivesse levemente envergonhada em ter mostrado tanto cuidado e deixado sua reputação de vidente assustadora derrapar. Ela se ergueu, voltando a ser distante.
— Obrigada, tia Aili.
— isso não foi nada.— A tia dela disse rudemente. — Agora vá e encontre seu homem. Ele está lhe esperando lá embaixo.— Ela já estava retornando para a mesa, endireitando um vaso e o candelabro.— E está suscetível aos nervos, se eu o li claramente.— Elaadicionou com diversão.
Chrissie riu. Ela tinha, realmente, lido corretamente.
— Obrigada, tia! Eu irei.
Mantendo a alegria dentro de seu peito, ela correu da sala.
Lá embaixo, a luz pálida do sol atravessava as altas janelas, criando uma Bruna que era difícil para enxergar.
Chrissie esfregando os olhos desceu as escadas lentamente em direção ao grande salão.Ele era aquele homem que ela viu no fim da sala, com as costas rígidas pela tensão, com a capa se arrastado no chão atrás dele?
— Blaine? — Ela sussurrou.
Ela viu as costas dele se retesarem. Viu ele se enrijecer e se virar. O viu caminhando diretamente até ela, aquele mesmo modo de andar, aquela cadência que ela reconheceria em qualquer local, e vinha com amor.
— Blaine! — Ela chorou. Ela correu até ele e então ele a pegou pelos braços a aproximando dele.
— Chrissie! — Ele fungou. —Oh, Chrissie! — Ela abriu um sorriso, com um rosto radiante e cobriu o rosto dela com beijos.Ela deu uma risadinha quando os braços dele a envolveram, a mantendo em um abraço esmagador.
— Blaine! — Ela riu. Quando os lábios dele desceram por seu pescoço, ela o empurrou. — Blaine, pare! Você está me apertando.
Ele se afastou imediatamente, seu rosto cheio de consternação e Chrissie se sentiu culpada. Ela riu, pegando as mãos dele e dando um pequeno aperto.
— Oh, meu querido. Você não tem que ser tão cuidadoso. Não realmente... não por alguns meses ainda.
Seu rosto se suavizoue então Chrissie sentiu seu coração ser preenchido de felicidade.
— Então você está... realmente...
— Sim, Blaine. — Ela disse gentilmente. — Sim, é verdade. Estou grávida.
Ele a olhava com o rosto alegre e Chrissie sentiu seu coração soar com alegria e dissolver-se em ternura de uma vez. Ela jogou os braços ao redor dela.
— Blaine. — Ela murmurou. — Eu te amo. Eu te amo muito, muito.
Blaine ficou rígido. Ela poderia sentir o peito dele se elevar a medida que ele engolia e supunha que ele estava tentando não chorar. Ela olhou dentro dos olhos dele e notou que eles também estavam úmidos. Ela se ergueu nos pés e o beijou, seu próprio rosto ensopado pelas lágrimas.
— Eu estou tão orgulhoso de tê-la como esposa, Chrissie.— Ele sussurrou perto do cabelo dela.— Tão, tão orgulhoso.
Chrissie assoou o nariz. Os braços dele a abraçaram bem apertado e eles ficaram ali, parados na sala fantasmagoricamente branca, o som dela fungando ecoando enquanto a luz entrava no lugar, espancando a escuridão.
Mais tarde, enquanto eles subiam as escadas juntos, eles se encontraram cheios de perguntas.
— Como você...?
— Quando você...?
Eles falaram ao mesmo tempo e depois sorriram timidamente um para o outro.
— Você pode falar primeiro. — Blaine disse sorrindo.
Chrissie amassou sua saia, sentindo-se tão tímida como se ela acabasse de encontrá-lo.
— Queria perguntar como... quando você descobriu que eu estava aqui?
Blaine suspirou.
— Alina. — Ele disse brevemente.
— Ela lhe contou? Oh! — Chrissie cobriu sua boca com a mão e depois olhou para ele, os olhos arregalados.— Como aconteceu? Ela está bem?
Blaine se recordou seu estranho encontro com a prima de sua esposa durante o desjejum.
— Eu acho que ela está. — Ele falou devagar. — Na realidade, ela já parece ter mais vida dentro dela. Mas...
— O quê? — Chrissie perguntou, subidamente preocupada.
— Por alguma razão estranha, acho que ela está... bem, esqueça. — Ele disse, parecendo desconfortável.
— Esquecer o quê? — Chrissie perguntou, ficando curiosa.
— Ela está bebendo sangue.
Chrissie gargalhou. Eles estavam no topo da escada do grande salão agora, ali uma leve escuridão do corredor se aproximando. Ela se inclinou no batente e riu muito.
Blaine a olhava, divertido.
— O quê? — Ele perguntou, um pouco desamparado quando ela parou de gargalhar.
Chrissie suspirou, se recompondo.
— Oh! — Ela disse, sorrindo.— Estou feliz em ouvir isso, realmente estou. Foi apenas seu rosto!
Blaine riu hesitante e depois caiu na gargalhada com ela. Em seguida, de braços dados, ele a trouxe para um beijo gentil. Chrissie suspirou quando a boca dele tomou os lábios dela, apaixonado, devorando.
Depois a porta foi aberta e eles entraram no quarto de convidados, o fogo ainda queimando na lareira, a cama coberta com um tecido de linho branco, quente e cheirando às ervas espalhadas sobre ela.
Blaine tirou a roupa dela com gentileza, deixando um pequeno rastro de beijos pelas suas costas que incendiava todo o seu corpo, a medida que ele abria os botões nas costas do vestido. Chrissie sentiu-se como se fosse enlouquecer se ele não parasse logo. Ele se levantou e colocou os braços ao redor dela, trazendo-a até ele.
— Lass. — Ele sussurrou nos cabelos dela.
— Sua vez. — Ela disse com firmeza. Ele riu, um pouco sem ar e ela se virou para olhar para ele e depois, lentamente, tirou a túnica dele. Ela ouviu o ar dele ficar preso na garganta quando ela pressionou sua pele nua contra o peito dele e sorriu, se deliciando com o seu desejo por ela. Ele combinava com ela.
Ele a trouxe para ele, um carinho em seu abraço. Ele sentiu isso e seu coração se derreteu. Ela soltou o cinto dele, deixando a calça escorregar pelos quadris. Ele pressionou o quadril contra ela, seu membro rígido e firme. Ela sorriu, pressionando seu corpo contra ele.
Eles caíram de costa na cama. Ele a segurou com delicadeza, assegurando de que ela não se machucasse. Ele a beijou, sua língua suave e gentil enquanto explorava seus lábios. Depois ele se sentou, descartando as calças, um sorriso no rosto.
— Eu te quero, lass. — Ele disse, suas mãos movendo sobre o corpo dela, deslizando a suave pele de seu seio, descendo até sua barriga. — Mas isso é... Eu quero dizer, nós podemos...?
Ela riu e com a risada algumas lágrimas.
— Sim, querido. — Ela disse firmemente. — Sim, nós podemos. Nós não temos que ser tão cuidadosos. Não por meses.
Ele riu, o alívio evidente em seu grande sorriso. Ela devolveu o sorriso.
Ainda rindo, ele abaixou seu corpo contra ela e a penetrou. Eles se moveram juntos, um amor que a tocou profundamente, o possuiu também, a medida em que ele se retirava e a penetrava, se retirava e penetrava. Cada investida era um pouco mais profunda, um pouco mais rápida e Chrissie sentiu seu corpo responder, seus dedos formigando enquanto ele aumentava o impulso, movendo-se cada vez mais rápido.
— Oh... Oh! — Ela gritou, antes do que ela imaginou ser possível, ela sentiu aumentar e aumentar e depois atingir o pico e em seguida cair a medida que ela alcançava a liberação.
Blaine ainda estava dentro dela, ainda se movendo e ela sentiu seu corpo retesar e tremer no momento em que ele também atingiu o clímax.
— Oh. — Ele gemeu e depois, grunhiu de satisfação e êxtase pelo clímax.
Mais tarde, enquanto o sol irradiava calor, raios de começo de tarde atravessavam a janela do quarto, eles ainda estavam deitados, lado a lado na cama, ambos se recuperando do reencontro deles. Chrissie aninhou-se a ele. Ele a beijou no lado da cabeça e ela beijou o nariz dele.
— Eu te amo, Blaine. — Ela sussurrou no ouvido dele.— Nunca nada ficará entre nós dois.
Blaine ficou parado por um momento e Chrissie se perguntou se ele estava dormindo. Depois ele soltou o ar lentamente e ela percebeu que ele estava lutando para engolir suas emoções.
— Eu também te amo, Chrissie. — Ele falou sobre seus cabelos. Ele beijou o topo da cabeça dela e, em seguida, passou seus braços ao redor dela, depois a trouxe para o lado dele, assim eles ficaram deitados lado a lado, corpos entrelaçados.
Eles dormiram.
Capítulo Vinte E Oito
ALEGRE VOLTA PARA CASA
A cavalgada de volta, saindo de Lochlann, era lenta. Blaine insistiu que eles apenas viajariam metade do dia e, assim, eles parariam a viagem e ficariam em uma estalagem chamada Babbling Stream. A cama era fria e dura, mas não o decepcionou, pois assim, eles passariam a noite um nos braços do outro.
Na próxima manhã, por volta do meio dia, eles se encontram perto de Dunkeld. Chrissie sentiu seu ânimo se reerguer. Em breve, ela poderia rever as primas!
A recepção deles foi realmente calorosa. Amabel, sempre feliz em ter uma desculpa para uma festa, convidou seus vizinhos e organizou uma festa que Chrissie — cansada e levemente enjoada novamente — tinha certeza de que não aproveitaria tanto como desejava. Entretanto, ela se encontrou face a face com um rosto familiar.
— Alina! — Ela sorriu. Ela apenas a havia visto brevemente quando eles chegaram, a mulher alta e de cabelos escuros em um vestido branco sorrindo serenamente nas escadas. Aqui, agora, ela se encontrava de frente com uma mulher que, apesar de ainda estar pálida, já tinha um pouco de cor em suas bochechas e seus olhos brilhavam.
— Estou feliz em te ver com boa saúde. E obrigada por sua ajuda.— Alina adicionou maliciosamente. Chrissie mostrou as covinhas e depois ficou um pouco envergonhada, olhando para o próprio prato.
— Eu não... oh, Alina! É tão maravilhoso estar em casa novamente.
— E eu estou feliz por você ter voltado. — Alina concordou.— Agora. Você vai experimentar algum desses assados? Acredito que Broderick os caçou mais cedo, esse é o motivo que eu tenho alguma dúvida. Porém, aparentemente é bom para a minha saúde, assim...
— Você está sendo rude sobre minhas habilidades de caça, novamente? — Broderick, que estava sentado aolado de Alina, perguntou. Ela ria e Chrissie supôs que está era uma disputa antiga.
— Não. — Alina respondeu tranquilamente. — Só estava me perguntando se você não é muito apressado ao checar no que está atirando.— Ela disse. — Estou suspeitando que isso é realmente uma das cabras de Seamus, lá das colinas.
Todos eles riram. Duncan ergueu seu copo para Alina e seus olhos escuros brilharam. Amabel riu.
— Ela o pegou, esposo.
Broderick riu.
— Eu apressado?— Ele concordou. —Sim, sou muito apressado.
— Não tão apressando, afinal, irmão. — Duncan provocou, piscando o olho. — Você continua errando o último tiro.
Broderick olhou para ele, olhos arregalados.
— Seu patife! — Ele ria. — E você tinha que contar para todo mundo?
Duncan jogou a cabeça para trás e sua divertida risada tomou toda a sala.
— De qualquer forma, você me superou, irmão.
— Bom.
Chrissie, olhando de um por um, sentiu o coração se encher de alegria. Ela olhou para sua direita onde seu marido estava sentado, sorrindo, seus olhos escuros brilhando e divertidos. Ela apertou o joelho dele e se sentiu feliz como nunca antes.
Era bom estar de volta.
Mais tarde naquelemesmo dia, ela estava deitada na cama, com o estômago doendo, desejando não ter comido tanto como havia feito. Ela sentia como se fosse morrer. Ela ouviu uma batida na porta. Alina entrou com seus longos cabelos pretos recentemente escovados e brilhando. Ela veio e se sentou na cama.
— Chrissie. Como está se sentindo? Nada bem, eu acho.
Chrissie virou o rosto para ela e ambas riram.
— Me sinto horrível, Alina. — Ela confessou. — É... como deveria ser?
Alina sorriu.
— Eu acho que sim. Pelo menos, Amabel se sentiu muito mal. Eu me senti terrível também.
— Oh. — Chrissie olhou para as mãos, incerta se a gravidez era um assunto que Alina desejava falar. Ele ergueu o rosto novamente e notou que sua prima tinha um estranho e secreto sorriso. Quis perguntar o que era, mas sabia que ela contaria quando chegasse o momento.
— Seu bebê será forte. — Alina disse, apesar de Chrissie não ter perguntado. Ela se sentou perfeitamente ereta, ciente que o talento de Alina para profecias não era frequente e se ela quisesse saber, deveria ficar quieta e prestar atenção. Alina sorriu. — Ele é... ele a surpreenderá. — Ela disse.
Quando ela ergueu a vista, os olhos escuros, com formato de azeitonas, com grandes cílios estavam sorrindo. Chrissie não entendeu muito bem o que ela quis dizer, mas as palavras lhe deram paz. Ela sorriu de volta.
Naquele momento, ela riu como se ela e Alina tivessem cruzado algum tipo de ponte. Elas sempre foram próximas, mas agora ela sentia como se elas tivessem entrado em um novo nível de proximidade. Era um sentimento bom. Ela apertou a mão de Alina e ela devolveu o aperto.
Mais tarde, quando a prima dela tinha ido dormir, Chrissie deitou-se de costas e esperou que Blaise viesse. Ele havia ficado para conversar com Duncan que parecia que se divertira quando ela subiu a escada passando mal. Ela escutou a porta se abrindo e Blaine entrando nas pontas dos pés.
Ela se sentou, observando enquanto eletirava as botas e se sentava pesadamente na cama. Elese virou para olhar para ela, os olhos amorosos.
— Estou acordada. — Ela disse baixinho.
— Bom.
Ele tirou a roupa e se deitaram, seus corpos se explorando, quase como por vontade própria. Mais tarde, quase adormecida, Chrissie sabia que ela nunca havia sentido tanta felicidade na vida.
Os dias viraram meses. O inverno veio e a estrada para o castelo ficou coberta de neve. Confinada praticamente nas salas superiores, Chrissie passou a maior parte do tempo dela enrolada em capas de pelos, sentada perto do fogo, costurando as roupas do bebê.
Alina era sua companhia constante e, ela parecia trabalhar em uma peça de costura bem complicada, que ela não havia contato a Chrissie o que era e ela não quis perguntar. Amabel, às vezes, se juntava a elas no espaço mais aconchegante da sala da torre— o solar estava muito frio nesta época do ano. Às vezes, ela trazia Joanna para se juntar a elas e Chrissie sentia uma fachada de melancolia, vendo a pequena garota se enroscar ao lado de Amabel na cadeira e dormir.
Em breve terei um bebê em meus próprios braços.
Ela se perguntava como Alina se sentia, vendo sua irmã com os bebês dela. Entretanto, Alina sempre parecia feliz com as crianças, nunca ressentida, e Chrissie estava feliz que isso não causasse dor nela. Os meses pareciam ter ajudado na saúde de Alina, pois suas bochechas estavam vermelhas e sua pele pareciam inundadas com um brilho perolado que dava a existente beleza etérea dela uma beleza de tirar o fôlego.
— Alina? — Chrissie perguntou em uma tarde, um pouco antes do dia de Apresentação do Senhor, a parte mais escura do ano. Ela estava sentada do lado oposto de Alina, cujo cabelos escuros brilhavam na chama da luz, o fogo brincando com as luzes em suas bochechas. O vestido dela era de decote baixo e a luz brilhava sobre o início de seus seios, sua pele com traços de veias azuis claras.
Chrissie a encarava. Subidamente, sem precisar ser dito, ela adivinhou. Ela elevou o rosto para encarar os olhos pretos de Alina. Os lábios damasco sorriam para ela.
— O quê? — A voz de Alina zombava dela.
— Alina. — Chrissie disse em voz baixa. — Você está... você está...
— Estou esperando uma filha. — Alina disse. — Você está certa.
— Mas o quê? Quando? Como... oh, Alina! — Chrissie exclamou em voz alta. Ela pulou do seu assento e correu até sua prima, beijando as bochechas coradas de pérola. — Oh, que maravilha!
— Aproximadamente algumas semanas depois de você, eu acho. — Alina disse cuidadosamente.— Eu não queria dizer, não até que eu tivesse certeza. No entanto, já tem três meses agora e nada mudou. Então eu...— Ela parou de falar e Chrissie viu seus olhos brilharem e sua boca se fechou, como se ela tentasse não dar chances às lágrimas.
Chrissie engoliu em seco.
— Alina. — Ela disse docemente. Ela ficou sem palavras. Isso era maravilhoso! Sua prima esperava uma criança e ela também!
— Eu sei! — Alina sorriu.
Elas não disseram nada, apenas ficaram olhando uma para a outra. Tantas coisas se passaram entre elas naquele momento, tanto entendimento.
— Amabel. — Chrissie disse.
— Ela suspeita, sim. — Alina disse. — Eu acho que ela sabe que eu não quero especular... mas ela sabe sim.
— Oh! — Chrissie cobriu a boca com as mãos, uma risada alegre escapando antes que ela pudesse impedir. — Oh, isso é tão maravilhoso! Nossos partos serão quase ao mesmo tempo, eu acho...O quanto a casa vai ficar cheia depois deles!
Alina olhou para ela, os olhos em branco. Ela deu um sorriso irônico.
— Sim. Realmente. Será... quase uma experiência, eu suspeito.
Ambas riram e a tarde passou alegre, com costuras e pensamentos excitantes.
Capítulo Vinte E Nove
DUPLA ALEGRIA
Chrissie e Alina entraram em trabalho de parto no mesmo dia. Isso aconteceu de repente, em uma manhã de Junho. Os dias eram longos, o ar com uma certa fluidez nele, carregando o cheiro de flores.
Chrissie levantou-se para colocar sua costura na mesa, tendo passado as últimas semanas confinadas no quarto dela, acima das escadas.
Na hora em que ela se inclinou para colocar a costura na superfície de madeira, ela sentiu.
Um líquido, escorrendo pelas coxas dela. Subitamente, sentiu seu ventre se apertar e, ela arfou, apertando as mãos ali quando a dor a apunhalou.
— Blaine? — Ela gritou. — Alina?
Ambeal a encontrou, levando a mão à boca.
— Oh, milady! — Ela disse, ao mesmo tempo aterrorizada e feliz. — Está chegando. Rápido, vamos para a cama e chamar a Sra. Tavish.
— Não — Chrissie disse, arfando quando outra onda de dor a chicoteou. — Alina... traga minha prima.
Ambeal acenou e saiu correndo, retornando um momento depois com um olhar estranho.
— Sua prima foi levada com dores do parto. — Ela disse.
Chrissie a encarou.
— O bebê dela está nascendo também?
— Sim. — Ambeal respondeu. — No mesmo dia. Aliás! Nós ficaremos aqui por um dia.
E elas ficaram. Chrissie não apreciou muito, no entanto. Uma outra contração e ela arfava, esta última ainda mais dolorosa que todas as dores que vieram antes. Sibilando, ela se sentou na cama e agarrou-se na cadeira ao lado.
— Apareceu alguém?
Ambeal acenou e saiu do quarto.
Amabel se apresentou como parteira, auxiliando a Sra. Tavish e a cozinheira, ambas que tinham habilidades como parteira. Ambeal passou a tarde e a noite, a medida que o dia acabava e a noite caia sobre o castelo, correndo da torre para o quarto, indo entre Chrissie e Alina, carregando panos, água e sal de um quarto para o outro, seu rosto vermelho e os olhos brilhando. Um conforto para Chrissie.
— Como... está... Alina? — Ela questionou, assobiando, quando outra contração surgiu e ela arfou, pressionando e sendo agarrada e erguida pela cozinheira e por Ambeal.
— Oh, Alina está bem. — Amabel disse com um sorriso, tirando um fio do cabelo que caia na testa, com sua mão livre. — Quem me preocupa é Blaine.
— Blaine? — Chrissie se sentiu alarmada. Ela apertou a mão de Ambeal com tanta força que a moça se retesou e Chrissie, sentindo-se mal, tentou relaxar seu aperto. — Ambeal? O que há de errado com ele? Por favor...
Amabel riu.
— Oh, Chrissie! Eu não quis lhe preocupar. Ele está um inferno. Ele está dando um pouco de trabalho para ficar afastado. Ele teria vindo aqui, gritando, para checar se nós estávamos cuidando de você corretamente. Duncan está lá embaixo fazendo companhia a ele. Os dois estão mais nervosos do que se o castelo estivesse sendo sitiado. Você deveria vê-los. — Ela riu, cobrindo a boca com a mão.
Chrissie queria rir, mas a dor a pegou e por um momento ela não ficou consciente. Tudo o que ela podia ver era a pressão,aperto, batidas, uma grande urgência como se o filho dela, grande e forte, lutasse para vir ao mundo.
Quando ela sentiu o corpo dela quase se partindo ao meio, as contrações pareceram abrir seu ventre, ela gritou e viu ou imaginou ter visto, um pequeno garoto, um nariz que parecia um botão, cabelos escuros, olhos espertos que rapidamente conquistou a alma dela.
Gritando, arfando, segurada pelas mãos de Ambeal e da Sra. Hollis, a cozinheira, seu filho havia nascido.
Ela deitou-se de costas, muito fraca para rir, os olhos, quando Amabel se aproximou, radiante de felicidade.
— Você tem um menino.— A voz de Amabel disse para ela, a tirando da semi-inconsciência que ela havia caído. Ela soava muito contente.
Eu sei, Chrissie quis suspirar.
— Posso vê-lo?— Ela perguntou, sentando-se nas almofadas.
Ao lado dela, a Sra. Hollis coletava os cobertores e panos da cama para serem lavados e Ambeal estava ocupada em um canto, lavando algo.
— Sim. — Amabel disse com delicadeza. — Mas é claro. Aqui está ele.
Chrissie abaixou o rosto para o bebê em seus braços. Ela olhava para ele, o rosto enrugado e vermelho devido a água quente em que ele acabara de ser lavado. Os olhos dele estavam fechados, uma mão descansando para fora dos tecidos que ele fora enrolado. Ela o olhava, sentindo o peito derreter com emoções tão complexas que ela nunca havia pensado ser capaz de sentir.
Ela suspirou. A cabeça dele era coberta com cabelos escuros e seu pequeno rosto enrugado e perfeito, seu nariz de botão, assim como ela havia visto. Sua testa era grande e tinha algo de Blaine nisso. Ela sentiu seu coração disparar e, quando ela o desenrolou, contando seus dedinhos, ela soube.
O seu segundo dedo do pé era arqueado, uma estranha deformidade que ela havia visto antes em um lugar. Blaine. Ele era filho de seu marido, afinal.
Ele irá surpreendê-lo.
Chrissie, sentindo como se o coração tivesse acabado de entrar no céu, sabendo que certamente tinha sido isso.
— O nome dele é Conn — Ela falou. — Conn Francis McNeil.
Depois, fechando os olhos, ela caiu em um sono profundo e sem sonhos.
Mais tarde, a escuridão entrou no quarto, interrompida apenas pela luz dourada das velas em algum lugar. Chrissie acordou, sentindo as pálpebras cansadas. Ela então se lembrou do porquê ela estar tão exaustas, cada músculo doendo.
Conn.
— Conn...— Ela sussurrou.
— Chrissie.
Ela piscou e se virou para a direita. Blaine estava ali. Blaine, encurvado e cinza pela falta de sono, seu rosto duro e envelhecido por causa da preocupação. Blaine, que alcançou e tocou as mãos dela, segurando-a entre suas mãos. Blaine que beijou os dedos dela.
— Minha querida. Você está bem?
Chrissie sorriu.
— Sim. Você já viu nosso filho?
— Eu vi. — Blaine falou comcautela. — Ele estava dormindo e eu não quis despertá-lo. Ou você. Então eu não... não realmente.
— Nós devemos ver. — Chrissie disse. Blaine ergueu uma mão, sinalizando ou tentando, para que ela ficasse na cama, mas ela se sentou e deslizou o pé nos chinelos que ela sempre deixava ao lado esquerdo da cama. Blaine se levantou e a manteve estável enquanto ela os calçava, o rosto e a postura rígidos com o cuidado. Ela deu um tapinha na mão dele.
O corpo inteiro dela doía e se sentia como se tivesse caído de todas as escadas do castelo. Ela foi lentamente, braços dados com Blaine e juntos ele fizeram a aparentemente, longa caminhada para ir desde a cama até o berço que estava perto do fogo.
— Aqui está nosso filho. — Chrissie murmurou.
Blaine abaixou o olhar para ele. Chrissie viu tantas emoções cruzar o rosto dele: gentileza, alegria, remorso. Quando o rosto fixou em uma aparência de melancolia que partiu o coração dela, ele sussurrou:
— Ele é maravilhoso!
Chrissie engoliu em seco.
— Ele é nosso filho, Blaine. — Ela se inclinou e, com muito cuidado, não querendo acordar a criança que dormia, ela tirou o cobertor dele.— Olhe. — Ela disse, apontando para o pé dele.
Blaine olhou, franzindo o cenho em confusão. Ele olhou para os seus dedos, depois de novo para ela. Ele os contou. Voltou a olhar para Chrissie, as dúvidas escritas em seus olhos. Ele olhou novamente para os pés do bebê. Então ele finalmente entendeu. Ele deu um passo para trás e sentou na cadeira, pesadamente. Ele a encarou. Depois, ele cobriu o rosto com as mãos.
— Oh, Chrissie.— Ele falou em voz baixa.— Eles são como os meus, não são? Eles são. Eu pensei... Eu pensei...— Eleengoliu com dificuldade e Chrissie viu como ele ficou aliviado e então quebrou em um pranto. Ele soluçava.— Eu o teria amado de qualquer forma, Chrissie. — Ele disse para ela com sinceridade quando ela se aproximou e se sentou na ponta da cama, de frente para ele, pegando suas mãos.— Eu teria! Eu juro. Ele é seu filho e isso já seria suficiente para mim. Mas ver... saber...— Ele parou para respirar profundamente. — Eu... Eu não acredito.
Ele deu a ela um sorriso instável e Chrissie sentiu o coração derreter. Ela se inclinou para frente e beijou os lábios dele e o sal das lágrimas deles se misturaram na boca, quente, limpo e claro.
Mais tarde, quando ele deitou ao lado dela na cama, suas mãos e a cabeça dela descansandono peito dele, ele sussurrou por sobre os cabelos dela.
— Alina está bem, também. Ela estava muito fraca. Acho que ela ainda está dormindo. Mas ela está se recuperando rápido.
— Como ela está? — Chrissie perguntou rapidamente, virando sobre o corpo, quase se sentando, colocando o peso sobre um cotovelo enquanto olhava seriamente para os olhos dele. Ela se sentiu mal! Em seu próprio parto e fatiga, ela havia momentaneamente esquecido de Alina e seus riscos.
— Ela está bem? O bebê está bem? Como eles estão?
— Ela está bem. — Blaine riu. Ele beijou os cabelos dela. — Assim como a bebê. Você quer ir vê-la agora? Estou certo de que ela não se importará.
— Oh, sim! — Chrissie acenou e juntos eles desceram da cama, jogando um leve manto sobre os ombros dela para aquecê-la.
Então Alina teve uma filha. Aquilo a agradaria, Chrissie pensou. Talvez a bebê crescesse para ser uma vidente, como a própria Alina. Isso parecia acontecer na família dela.
Fora da cama estava frio. Eles caminharam pelo corredor juntos, estremecendo com o ar frio, seguindo direto para o quarto da torre, onde Alina havia dado a luz, algumas horas antes.
Eles atravessaram a porta aberta, se arrepiando quando esta fez um barulho. Dentro estava silencioso. Alina estava na cama, aparentemente dormindo, seus cabelos pretos soltos sobre os ombros, seu rosto pálido quase descansado em seu sono profundo. Amabel estava sentada com ela, dormindo em uma cadeira ao lado da cama, a cabeça pendurada para trás. Duncan também estava, sentado no fim da cama em uma cadeira de madeira, a cabeça pendurada para frente, a respiração no ritmo de descanso.
Chrissie e Blaine sorriram ao ver os três e seguiramnas pontas dos pés para o canto onde estava o berço, perto dalareira. Juntos, eles olharam para dentro.
Um rosto pequeno deitado sobre uma almofada, tinha os olhos fechados. O cabelo era uma leve indicação do castanho dourado, como Duncan. O rosto em si era delicado, frágil e o formado como o de Alina.
— Ela temuma filha. — Chrissie disse, mais uma afirmação do que uma pergunta. Blaine havia mencionado antes uma “ela”. A criança parecia muito feminina já com características graciosas.
— Sim. — Blaine murmurou às suas costas.
— Eles já lhe deram nome? — Chrissie sorriu, olhando para o rosto delicado e percebendo o quanto era diferente de Conn. Ele tinha uma sobrancelha pesada e um rosto compacto, onde este bebê tinha os traços delicados de Alina, com um beicinho que dava a ela um ar determinado.
— Não ainda. — Blaine sussurrou.— Pelo menos eu acho que não. Duncan não me disse. Eu estava muito ocupado tentando derrubar a porta para chegar onde você estava.
Chrissie o encarou, rindo. Ambos riram e depois se retesaram, com receio que eles tivessem acordado alguém no quarto. Duncan se esticou em seu sono, depois suspirou e se inclinou para trás. Chrissie e Blaine saíram do quarto silenciosamente.
De volta a cama deles, eles se aninharam um no outro. Chrissie suspirou, sentindo-se sonolenta, contente e mais feliz do que ela se lembrava.
— Eu tive tanto medo. — Blaine confessou ao pegar a mão dela.
— Oh? — Chrissie disse quase dormindo, sua voz quase não saindo naquele estado de letargia que estava.
— Eu acho que...— Blaine engoliu em seco. — Eu acho que nós não devemos fazer isso de novo.
Um pequeno silêncio cresceu enquanto Chrissie se esforçava para entender o que ele queria dizer.
— Fazer o quê?
—Ter outro bebê. — Blaine disse lentamente. — Acho que não posso passar por isso novamente.
Chrissie sentiu o riso crescer dentro dela. Borbulhava em seus lábios, uma onda de risada que ela pôs as mãos na boca com medo de que pudesse acordar Conn que dormia em seu berço perto da parede.
— Blaine. — Ela disse, soluçando enquanto a risada diminuía devagar.
— O quê? — Ele perguntou, desamparado, seu rosto esticadoem um leve sorriso confuso.
— Acho que nós teremos que ver o que acontece. Mas eu amo o jeito que você se preocupa comigo.— Ela se ergueu e tocou as bochechas dele com carinho.
— É claro que eu estava. — Ele disse, afrontado. Ele beijou o cabelo dela e Chrissie beijou os lábios dele e sentiu-se agarrada em um maravilhoso estupor.
Eu não posso, —ela pensou quase fechando os olhos, mas ainda sorrindo,—me recordar de ter sido tão feliz.
Eles dormiram.
Na manhã seguinte, Chrissie foi ver Alina. Ela estava mortalmente pálida, mas seu rosto estava banhado com uma luz que tocou o coração de Chrissie. Ela parecia tão, mas tão feliz.
— Então? — Alina perguntou, sobrancelha erguida. — Sua surpresa veio ao mundo?
Chrissie riu, sentindo-se leve, aliviada e feliz.
— Sim. Obrigada, Alina. Muito obrigada por saber, antes mesmo de que eu descobrisse.
Alina sorriu.
— Estou alegre por você. Você está tão feliz!
— Eu estou! — Chrissie disse, sentindo como se ela brilhasse de felicidade. — Não é maravilhoso?
— Bem. — Alina disse, sorrindo acidamente.— Eu me sinto como se todos os habitantes do Inferno tivessem passando duas semanas me cortando ao meio. Minha cabeça dói e estou exausta. Mas, sim, é maravilhoso.
Chrissie riu, caindo na cama ao lado dela. Essa era uma descrição honesta, ela pensou comum sorriso. Era exatamente assim que ela se sentia. Entretanto, sim, era maravilhoso.
— Eu tenho algo para você. — Alina falou carinhosamente. — Eu penso que você achará muito útil.
Ela se inclinou, pegando algo guardado ao lado da mesa e Chrissie se retesou, preocupada que ela pudesse se machucar ao tentar pegar. Ela pegou e caiu de costas sobre as almofadas, exausta até mesmo com aquele pequeno esforço.
— Eu fiz isso enquanto nós estávamos confinadas. — Alina disse, entregando o presente. Era um linho branco, costurado com linhas de seda branca e, aqui e ali, passava uma fita branca, na bainha, uma única pérola.
Chrissie prendeu o ar, maravilhada. Era um robe de batizado. Lindo, trabalhado com requintados detalhes de pontos de bordado Francês, decorado com fita branca e uma única pérola na borda do vestido.
— Oh, Alina! — Ela suspirou, com lágrimas derramando de seus olhos. — É lindo! O velho robe de batismo foi...
— Foi perdido no fogo. Eu sei. — Alina sorriu. Chrissie havia sido batizada com o robe dos Connolly, que foi queimado quando uma parte da torre pegou fogo, muitos anos antes. Chrissie, piscando para segurar as lágrimas, engoliu em seco. Agradecida a Alina por pensar nisso.
— É perfeito! — Ela fungou já imaginando seu filho vestindo em algo tão bonito.
— Ele precisa de um bom nome. — Alina disse em voz baixa. — Há um grande futuro para aquele jovem homem.
Chrissie engasgou. Ela estava meio tentada para perguntar mais para Alina, mas por outro lado, ela não tinha certeza se realmente desejava saber. Tudo seria revelado quando tivesse que ser, ela sabia e, talvez fosse melhor se ela não soubesse o destino de seu filho. Ela não desejava influncia-lo.
— Eu decidi chamá-lo Conn Francis. — Chrissie disse suavemente.
Alina sorriu.
— Sua mãe estaria orgulhosa de você.
Chrissie sentiu sua garganta se apertar e lágrimas encher seus olhos e Alina segurou a mão dela.
— Assim como a sua agora.
Alina piscou rapidamente.
— Assim eu espero.
As duas ficaram sentadas, quietas, na sala, o fraco raio de sol de inverno criava umlongo caminho de luz no chão, diante delas. Elas estavam felizes.
Epílogo
— Venha, Joanna. — A voz de Amabel encheu o solar, onde a luz do verão, dourada e brilhante, iluminava o piso de pedras como gema oucomo o suco de limão, quente, saboroso e suave.
Chrissie, inclinou-se cansada para trás no assento, sorrindo ao ouvir a voz dela.
— Venha. — Amabel repetiu. — Veja sua prima Leona.
Chrissie sorriu. Alina escolheu um nome francês para sua filha, o que provavelmente se provaria apropriado para ela, quando crescesse: ela já se parecia com Alina, que, por sua vez, parecia com o pai francês dela, o Conde de Annecy.
Agora, Chrissie sentiu seu coração brilhar com ternura enquanto observava Joanna, agora com seis anos e crescendo rapidamente, se inclinando sobre o berço e olhar para Leona. Já haviam passado três meses desde o nascimento, mas Joanna ainda não havia se acostumado com a nova vida na casa. Brodgar, que estava com dez meses agora e caminhando cominsegurança, parecendo mais do que feliz com o aumento da atividade no berçário e murmurava de contentamento sempre que os bebês erammencionados.
Blaine havia acabado de voltar de uma cavalgada exploratória ao redor do castelo e se sentou, corado e cansado, no assento perto da lareira, sorrindo para Chrissie. Juntos, eles observavam as crianças olhando umas para as outras.
— Ela será tão alta quanto eu? — Joanna perguntou. Todos riram.
— Provavelmente. — Alina fez uma careta e Amabel sorriu para a filha.
— Você e Leona serão boas amigas, eu acho.
Joanna piscou para a mãe, parecendo insegura sobre isso e Chrissie sorriu. Se a experiência própria fosse algo para contar, as quatros crianças criadas juntas seriam como irmãos e irmãs quando eles estivessem mais velhos. Ela era tão feliz que seu filhote tinha a chance de crescer junto com potenciais bons amigos.
Ela sentiu o olhar de Blaine sobre ela e se virou na direção dele. Ele estava sorrindo para ela, o rosto corado e, ela sentiu seu próprio coração bater mais rápido no peito.
— Estava pensando. — Ele falou quando ela se levantou e se aproximou dele, Alina e Amabel ocupadas com as filhas, não os notando. — Se nós poderíamos, talvez, sair pelo campo, para uma caminhada curta ou...
Chrissie sorriu para ele, sentindo o seu coração dançar com o crescente desejo.
— Nós podemos arrumar algo assim.— Ela disse, sentindo-se as bochechas começarem a brilhar. — Eu gostaria de sair no sol.
— Bom. — Ele concordou, segurando a mão dela. Ela sorriu para ele.
Silenciosamente eles saíram, deixando Alina e Amabel com as crianças, as risadas alegres preenchendo com amor a ensolarada sala.
Subindo ao quarto, as roupas deles foram rapidamente descartadas. Parecia como se a ideia de caminhar fosse algo secundário para eles, a necessidade deles superando até mesmo o desejo por algum ar fresco.
Quando eles caíram juntos em seguida, uma brisa gentil flutuou sobre a pele úmida pela janela, Blaine beijou o cabelo Chrissie.
— Chrissie?
— Humm? — Chrissie perguntou, aninhando-se junto a ele. Ela amava a maneira que ela sentia os braços dele, tão quente e cuidadoso.
— Eu estava falando com Duncan e...
— Humm? — Chrissie perguntou.
— Ele estava se perguntando se nós poderíamos fazer algum tipo de aliança entre nós e eles. Eu quero dizer...
— Você quer dizer, sobre Conn?
— Sim. — Blaine disse cuidadosamente. — Conn e Leona...
Chrissie parou para pensar.
— Isso pode ser uma boa ideia. — Ela disse com cautela. — Eles crescerão como irmãos, afinal. — Ela alertou. — Então, um noivado pode não servir para eles.
— Nós não os prenderemos com isso. — Blaine disse claramente. — Eu quero dizer, se eles crescerem e encontrarem uma outra pessoa, como nós poderemos ficar no caminho deles?
Chrissie sorriu olhando para dentro dos olhos dele.
— Como nós poderíamos, de fato?
Blaine sorriu, um sorriso que se espalhou com calma pelo belo rosto dele.
— Sim. — Ele anuiu. — Nós tivemos sorte, não tivemos? Como poderíamos negar a eles o que temos?
Notas
[1] Lass - moça
[2] bannocks - tipo de pão escocês
[3] Sirrah é um termo arcaico usado para se dirigir à inferiores ou crianças.
[4] Myosotis Alpentris
[5] Levant - Levant é um termo geográfico impreciso que se refere, historicamente, a uma grande área do Oriente Médio ao sul dos Montes Tauro, limitada a oeste pelo Mediterrâneo e a leste pelo Deserto da Arábia setentrional e pela Mesopotâmia. O Levante não inclui a Península Arábica, o Cáucaso ou a Anatólia
[6] Sim, moça.
[7] Granada: Pedra preciosa de cor vermelha ou romã fruta.
[8] Espineta é um instrumento musical, dotado de telcas, como um orgão, piano.
[9] Viola de Gamba é um intrumento de corda, parecido um violoncelo.
[10] Posset - bebida ou creme feito de leite ou cerveja quente, acrescentada de limão, açúcar ou vinho.
[11] Jig – é uma dança Irlandesa.
Emilia Ferguson
O melhor da literatura para todos os gostos e idades