Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O JAPONES GAY / Carlos Cunha
O JAPONES GAY / Carlos Cunha

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

O JAPONES GAY

 

 

Minha mulher, toda sem jeito e envergonhada, achava ruim comigo por causa do estardalhaço que eu fazia com as minhas gargalhadas. Toda raiva que eu sentira ainda a pouco passara e eu não conseguia mais parar de rir.
Era um dia de semana de tarde e eu tinha ido com ela em um supermercado passear. Sim passear, pois para nós que éramos brasileiros e havíamos chegado no Japão há poucos dias tudo era novidade e passeio.
Achávamos estranhos os produtos que lá tinha e as pessoas que se encontravam nele. Senhoras elegantes, e muito bem produzidas, usavam aventais em cima das roupas caras que trajavam, jovens vestidas com calça comprida vestiam minissaias sobre elas e usavam sandálias com quinze centímetros de altura que deixava o seu andares tortos e desengonçados.

Era normal ver dois senhores, cheios de distinção conversando, cada um segurando a sua pasta de executivo. Enquanto um vestia um terno de fino corte e tinha os sapatos muitos bem engraxados o outro usava um pijama florido e se comportava como se fosse a coisa mais natural do mundo estar ali vestido daquela maneira naquela hora. Eu nunca tinha visto tanto mau gosto na maneira de se vestir e excentricidade no comportamento como no povo japonês.
Assim que entramos no supermercado uma voz feminina falou algo pelos alto falantes e tudo o que eu entendi foi à palavra "gaijim" que eu sabia significar estrangeiro. Caminhando pelos corredores formados pelas mercadorias expostas notei que em todos eles sempre tinha algum funcionário uniformizado olhando para nós e comentei:

- Que saco amor. Esses japoneses ficam olhando pra gente com se fossemos algum bicho raro.

- Não liga não. Você não ouviu o que a moça falou nos alto falantes quando a gente entrou? Aqui é assim mesmo, eles são muito desconfiados.

- Ouvi uma voz de galinha choca falar alguma coisa, mas não entendi nada.

- Ela disse que tinha entrado estrangeiros na loja e que era para os funcionários ficarem alertas.

- Puta que pariu, eu falei indignado e cheio de raiva. Esses putos estão pensando o que? Só por que somos de uma outra raça eles já pensam que somos ladrões?

Extrapolava a minha raiva quando vi um casal vindo em direção a nós no mesmo corredor em que estávamos. Fiquei de boca aberta.
A moça era uma japonesa linda, vestida com muita elegância, cheia de classe na maneira que andava e no modo de se comportar. O rapaz ao lado dela foi que me deixou abismado.
Ele era muito alto e magro, seu nariz era aquilino e nele tinha pendurada uma enorme argola de prata. Seu topete alto e cheio de brilhantina. Usava vários brincos escandalosos nas orelhas e vestia uma camisa de seda branca com abotoaduras que como o relógio Rolex e as grossas pulseiras que usava no pulso eram de ouro. Para completar sua elegância irrepreensível vestia também um paletó creme que lhe caia muito bem.
Contrastando sua calça era de jeans desbotada e ensebada com vários rasgos nas pernas e tinha as bainhas desfiadas arrastando no chão que imitava a mármore branco. Ele a amarrava na cintura com um pedaço de corda e estava descalço.
Reparei em seu modo de mexer o pescoço, os braços, de andar e percebi que era uma "bicha" das mais escandalosas que já tinha visto.
Eles iam passando nessa hora do nosso lado, sorriram para nós e eu perguntei em português, como se ele entendesse o que eu falava:

- O meu você é "viado" não é?

- Nani. Akaranai. (Como? Não entendo.)

- Perguntei se você é puto cara? É o "viado" mais esquisito que já vi na minha vida, falei gargalhando e alugando o coitado que nada entendia e devia estar me achando completamente maluco.

Minha mulher me empurrou pra fora do supermercado, puta da vida comigo, e quanto mais ela me xingava mais eu gargalhava. Arcava o corpo e segurava a barriga que chegava a doer tamanha era a minha hilaridade, enquanto dizia:

- O povinho estranho esse aqui mulher, é esquisito demais.

 

Carlos Cunha  Texto & Produção Visual