Wolf Mountain, Montana, Estados Unidos, época atual.
Era tarde da noite e Grace saiu do bar The Western Montana e se dirigiu à sua caminhonete no estacionamento enquanto mascava tranquilamente um amendoim que havia pegado na vasilha de vidro sobre o balcão.
Estava imensamente satisfeita aquela noite.
Ela havia tomado uma cerveja e curtido uma música tocada por um cara no violão que ficava no pequeno palco e trocado uma ou duas conversas com alguns conhecidos, tentando se entrosar e fazer amizades com os moradores da cidade.
Estava um tanto perdida nos seus pensamentos, porque aquele cowboy descomunal e lindo, que ainda não sabia o nome, esteve sentado numa mesa no canto do bar, e não tirou os olhos dela durante toda a noite.
Pela Virgem Santíssima, o olhar dele queimava, e deixou seu corpo quente e sua mente turva.
Ela suspirou pela lembrança da visão saída de um conto de fadas selvagem com muitos quilos de testosterona e desejou que tivesse tido coragem de sentar na sua mesa e dizer olá, mas não teve e ele não se moveu dali, não falou com ninguém e somente ficou focado nela.
E quando ela se distraiu ao ir ao toalete, ele tinha sumido.
Grace se sentiu vazia e resolveu que sua aventura havia acabado e ia para casa se jogar na sua cama, e somente imaginar uma noite quente nos seus sonhos com aquele cowboy quente como o inferno, que usava uma camiseta negra, justa, que dava a ideia de como era musculoso e perfeito, e debaixo dela, no braço direito, podia ver que havia muitas tatuagens.
Usava uma calça jeans apertada que estava agarrando suas coxas musculosas, que se sobressaía por estar sentado e usava botas de cowboy de bico fino com uma ponteira de prata.
Ela suspirou sonhadora e com sua chave abriu a porta do carro.
— Ei, gatinha, tá indo embora sozinha? — disse uma voz arrastada pela bebida.
Grace se virou e deu de cara com dois trogloditas que tinham enchido seu saco no bar. Eram uma mistura de motoqueiros desleixados, barbas mal feitas e camisas sujas.
E o bafo, Jesus, quase a fez desmaiar.
— Olha, não estou interessada nas suas cantadas, ok? Foi um prazer conhecê-los, mas tenho que ir, pois já está tarde. Boa noite — ela disse calmamente e de forma educada.
— Moças da cidade grande chegam aqui e se acham as deusas, achando que podem esnobar a gente.
— Não passam de grandes prostitutas se passando por virginais.
— Acha que ela sabe fazer um boquete? — disse o outro e Grace se retesou, aquele era um problema e ela cerrou os punhos, se preparando para brigar.
Suas aulas de defesa pessoal deveriam lhe ajudar agora ou deveria gritar?
Ela se preparou para os dois quando um dos homens se aproximou com suas mãos imundas, mas não chegou a tocá-la, porque algo o golpeou antes.
Grace ouviu um rosnado alto e forte retumbar pelo ar e somente viu algo enorme e peludo saltar sobre o homem.
Grace se jogou para trás e encostou-se à caminhonete com um baque, prendendo a respiração pelo susto.
Quando ela olhou, o homem estava caído no chão, a um bom espaço longe dela, ensanguentado e desacordado.
O outro homem, apavorado, até começou a correr para fugir, mas o lobo correu, saltou e tombou contra ele o jogando longe, deixando-o caído, machucado e desmaiado sobre o tonel de lixo.
Com os olhos arregalados, Grace olhou o enorme e magnífico lobo que se virou e lentamente se aproximou dela, como um predador.
Ele a olhava com intensos olhos azuis muito claros, que lhe pareciam familiares, então, ele parou na frente dela e abaixou a cabeça em uma espécie de reverência.
E ela podia jurar que ouviu dentro de sua cabeça:
“Vá para casa agora, Grace, está tudo bem.”
Ela piscou atordoada, sem entender direito o que estava acontecendo, se realmente estava ouvindo uma voz dentro de sua cabeça ou se era sua imaginação, mas Grace sabia que o lobo não a atacaria e aquilo foi incrível, apavorante, confuso.
Com a curiosidade saltitando dentro dela, na mesma medida que o medo, empurrou seu impulso de ficar e questionar, ver o que aconteceria.
Ela não ficou para correr o risco daqueles homens bêbados levantarem e a incomodarem novamente, de outras pessoas ou a polícia chegarem para que ela tivesse que dar explicações ou que o lobo a atacasse.
Grace entrou na caminhonete e foi embora, arfando, com o coração saltando forte no peito como uma britadeira.
Depois daquele dia, ela somente queria descobrir sobre o lobo, que alguns juravam já ter visto, outros que era coisa de sua cabeça, e descobrir sobre o cowboy do bar que tinha tomado seus pensamentos.
Algumas semanas depois...
Ethan gemeu quando entrou na sua caminhonete e bateu a porta com tanta força que poderia jurar que não abriria mais.
Tirou o chapéu e ajeitou os cabelos, um tanto compridos, e o colocou novamente, porque parecia que até seu couro cabeludo pinicava. Ele segurou o volante, apertando-o com brutalidade, a ponto de entortá-lo.
— Droga... Vamos lá, homem, controle-se! — rosnou.
Ver aquela fotógrafa que havia se mudado para a cidade o deixava insano, isso era um fato. Ficava tão excitado que quase não conseguia pensar.
Vê-la saindo da loja de roupas íntimas com uma sacola, o fez pensar em como ela ficaria linda vestindo uma lingerie sensual.
Como um fio dental ficaria deslumbrante naquele traseiro redondo que ele tinha vontade de montar e que, naquele momento, estava rebolando pela rua, num jeans apertado.
Ele tinha flertado com ela no bar, na cafeteria e aqueles olhares incessantes estavam a cada dia mais intensos; e aqueles lindos olhos dela, carregados de desejo, tinham devolvido o flerte, mas ela nunca permitiu que ele se aproximasse muito.
Não a ponto de ele poder fazer o que desejava com ela. Tê-la em sua cama, beijá-la até que o mundo desaparecesse, sentir o cheiro de seu desejo, tocá-la para sentir a suavidade de sua pele, delinear suas curvas com suas mãos, seus lábios e sua língua, sentir seu gosto.
Mas algo estava acontecendo. Tudo estava aflorando.
Todos seus sentidos estavam ficando quase insuportáveis de aguentar e toda sua mente se perdia quando ele a via, quando seu olfato aguçado captava seu cheiro.
Aquilo estava acontecendo há semanas e cada vez que a via, era essa tortura. Especificamente neste dia estava mais intenso, quase estava enxergando estrelas de tão excitado que estava.
Ele nunca tinha ficado dessa maneira com mulher nenhuma e desde a primeira vez que esbarrou nela na loja de ferragens, seu coração havia tombado.
E na segunda, no bar, quando seu lobo atacou aqueles imbecis que ousaram machucá-la. Até hoje ele não sabia como não havia matado os bastardos, desde então ele havia sido contagiado por esta febre incessante.
A partir disso, as coisas só pioraram.
Ao mesmo tempo que vislumbrava uma vida colorida novamente, com muita paixão, misturada com um surpreendente acalento no peito, vivia no inferno por tentar evitá-la.
Era como se sua cabeça girasse quando a via, o seu cheiro impregnava em seu nariz e o deixava um tanto desnorteado, sua excitação era rápida e forte, como nunca antes ocorreu por fêmea nenhuma.
Seu sexo implorava para se liberar e doía. Suas presas doíam e até sua magia havia liberado sem que ordenasse em um desses encontros inesperados.
Aquela névoa mágica, com as cores do arco-íris, que envolvia todos os shifters de lobos ficou dançando ao redor dele de forma inebriante, deixando-o tão surpreso que havia ficado como um tolo, com os olhos arregalados e a boca aberta.
Ela mexia com sua cabeça, com seus hormônios, sua libido, sua imaginação e para piorar com seu juízo.
Ele ficava imaginando como seria beijá-la, tê-la debaixo dele, mordendo-a...
Estava agindo como um adolescente com os hormônios desgovernados, mas a questão era que ele não era um adolescente, tinha duzentos e sessenta anos e tinha fios de cabelos brancos nas têmporas, apesar de seu belo físico demonstrar que aparentava ser mais jovem.
Afinal, ele não era um humano comum.
E agora, ele estava menos comum e a ideia disso era nebulosa, não havia processado ainda se isso era bom ou ruim.
Ethan respirou fundo, tentando se acalmar.
Maldita mulher!
Ele tinha que ficar longe dela, pois ela era sinal de problemas, dos grandes.
Ele tinha pesquisado sobre ela, descoberto o que fazia, onde morava, espreitava quando ela cruzava por ele na cidade, se ela tinha namorado.
No início, ele pensou que era somente uma grande atração física, porque ela era linda e estonteante, brilhante como o sol, mas estava errado: era muito mais que isso.
Era época do Samhain, um festejo comemorado desde a antiguidade pelos celtas e seus descendentes, representando o fim do ano velho e o começo do ano novo.
Era originalmente para culto aos mortos, agradecimento pelas colheitas e preparação para o inverno.
Na América do Norte, esta festa foi convertida para o Halloween e ganhou popularidade.
O Halloween era maior em alguns países de língua anglo-saxônica, mas hoje em dia era reverenciada nos Estados Unidos, cujo significado se refere à noite sagrada de trinta e um de outubro, véspera do feriado religioso do Dia de Todos os Santos.
Uma tradição que foi levada pelos irlandeses aos Estados Unidos, que para eles, hoje em dia, era mais um divertimento do que uma data sagrada.
Mas para Ethan, e todos os de sua espécie, era um período onde eles estavam mais conectados com o mundo oculto, o universo estava aberto recebendo os filhos da magia em uma dança de louvor.
Uma grande energia emanava pela terra, conectando todos os seres da natureza e mágicos, pois todo ser vivo possui seu grau de magia.
Os lobos eram regidos pela magia e nesse período, sentiam-se mais livres, intensos, conectados com a natureza e os lobos se regozijavam correndo pelos bosques, acendendo fogueiras e dançando ao redor delas, ao som da música antiga, bebendo e amando seus amigos e familiares.
Os humanos tolos mal sabiam que o mundo oculto trazia muito mais que meninos e meninas fantasiados de monstrinhos, batendo nas portas dos vizinhos pedindo doces.
Muito mais que festas à fantasia animadas, regadas a muita bebida e comida; enfeitar as casas com abóboras e fantasmas, vestir fantasias aterrorizantes ou erotizadas além de planejar uma boa brincadeira de fantasminhas para as crianças.
Isso para os humanos.
No mundo oculto, existia um lado sério e mágico, com criaturas e seres que não eram somente vivos na imaginação dos humanos ou nos livros de lendas e fantasias.
Alguns deles existiam, realmente.
Ele era um deles, de carne e osso, uma lenda personificada.
Mas ninguém poderia saber.
Hoje à noite, ele teria que saciar sua excitação correndo pelo seu bosque, enquanto os humanos brincavam com suas doçuras e travessuras.
Ele queria fazer uma travessura, ele queria raptar sua doce e adorável Grace White e ter sexo com ela até perder a sanidade.
Ele rosnou, sentindo seus caninos alongarem, olhou no retrovisor e confirmou sua suspeita: seus olhos estavam cintilando como se houvesse uma lâmpada acesa dentro deles, fazendo seus olhos azuis, já muito claros, ficarem quase translúcidos.
Ele rosnou novamente e colocou os óculos escuros.
Merda, hora de sair da cidade antes que alguém venha falar comigo! Malditos humanos enxeridos!
Ethan deu uma última olhada para a fotógrafa, que estava rindo no meio da rua, falando com uma senhora e sua criança vestida de bruxa.
Bruxa era ela, uma feiticeira descarada!
Mais cedo ou mais tarde, ele a pegaria. E ele sabia onde aquilo levaria: os dois na cama e tornando-se companheiros acasalados.
Ela, então, se virou e olhou direto para ele, o que quase o fez saltar da caminhonete e correr para ela.
Mas ele não podia, não devia.
Ethan se ajeitou no banco, pois sua ereção dolorida estava apertada dentro da calça jeans, seu corpo todo formigou como se o olhar dela queimasse sua pele.
Pelos deuses, como ela era linda! E aquele olhar, flertando com ele descaradamente, foi tão forte que ele gemeu novamente.
Ele não resistiu à tentação de deixá-la saber que a olhava, ficou parado olhando fixamente, até que lentamente colocou um sorriso safado no canto da boca, cumprimentou com a cabeça, batendo o dedo na aba de seu chapéu Stetson de couro marrom, que combinava com sua jaqueta de couro com gola e forro de pele.
Ele somente ficou esperando para ver a reação dela, linda, magnífica e tão absurdamente sexy e inocente que sua boca salivou.
Ele rosnou e foi embora, antes que seu lobo fosse mais forte que suas forças e fosse até ela e acabasse com aquele sofrimento.
Ethan pôde sentir o olhar dela sobre sua caminhonete até ele virar a rua no final da avenida, onde seguiu o caminho para a sua fazenda, que ficava longe da cidade, nas montanhas.
Mas quando perdeu o contado de seu olhar, ao invés de sentir-se menos oprimido e triste, somente piorou, porque estar longe dela, o deixava mais triste e o lobo solitário tinha mais motivos para uivar à lua e chorar no seu bosque.
O lobo abandonado e sozinho, que somente seguia pelos longos anos de sua vida, preso aos seus segredos, evitando o mundo humano que não o entendia.
Era quase fim da tarde quando ele se escorou na cadeira posicionada no meio do trapiche, enquanto observava a boia da linha de pescar ficar imóvel sobre a superfície da água tranquila do seu lago, que ficava nas terras adquiridas há alguns anos.
Ele suspirou e tomou a cerveja gelada que estava sobre a banqueta ao seu lado.
Ethan olhou para Greg, sentado ao seu lado, que jogava o amendoim para cima e pegava com a boca, tão confortável com a situação, como se não houvesse preocupação nenhuma no mundo.
— Greg, se você fica tão entediado em pescar, por que vem? — Ethan perguntou, tranquilamente.
— Que tipo de amigo eu seria, se não acompanhasse você na sua pescaria?
Ethan sorriu e bebeu outro gole da cerveja.
— Podia estar com seus amigos, que são mais jovens do que eu.
— Não me importo, gosto da sua companhia, até mesmo porque, depois você me dará os peixes e minha recompensa estará ganha.
— Eu poderia querer comer os peixes hoje.
— Você não irá, porque prefere o bife — disse rindo, zombeteiro.
— Isso é certo. Sou da opinião de que lobos não comem peixes.
— Ainda me pergunto: Por que os pesca?
— Para relaxar, ora essa. Pescar é uma arte. Fique quieto que vai espantar meus peixes.
— Certo — disse, rindo, e jogando mais um amendoim para cima e o pegando com a boca, desviando um pouco a cabeça para o lado. — Ouvi alguns mexericos na cidade. Quer dizer, mais um deles que envolvem você.
Ethan olhou para o seu amigo e suspirou cansado.
— Sei...
— Você soube que houve um ataque na cidade há alguns dias? Dois homens foram atacados por um lobo... enorme.
— Nossa, que triste! Eles foram muito desafortunados, tão inocentes, coitados. Há muitos lobos vagando nessa região, eles devem tomar cuidado para não serem imbecis de novo. Nunca se sabe quando se terá uma segunda chance de sobreviver a um ataque de lobo. Lobos são conhecidos por não terem misericórdia.
— Sei... — Greg ficou calado por um longo minuto. — Quer saber sobre o mexerico?
— Pensei que não iria contar.
— Gigi estava na sorveteria e estava falando que você tinha sido perverso em tê-la enganado.
— Eu não enganei ninguém. Gigi fala demais e gosta de um drama.
— Sabe, eu não entendo esse negócio de lobo e companheiras e tals. Gigi é uma gata com aqueles peitões e seus shorts jeans tão curtos, e você dispensa a mulher?
— Gigi não é mulher para ser companheira de um lobo.
— Por que não?
— Lobos são possessivos, Greg. Cada vez que fosse à cidade com Gigi, eu mataria um humano estúpido por dar em cima de minha companheira e, pior, ela retribuir.
— Mas se vocês estivessem num relacionamento sério ou casados, acasalados ou sei lá como você chama, ela não sairia com mais ninguém ou aceitaria flertes de outros caras... Quer dizer, eu acho.
— Isso é algo que não acredito que faria. Ela poderia achar algo melhor, que aceitaria pagar suas extravagâncias ou não me aceitar como eu realmente sou ou se transformar no que sou.
— Ela é apaixonada por você.
— Ela é apaixonada pela conta bancária que ela pensa que eu tenho.
— Conta bancária que você tem?!
— Ela não serve pra mim. É só para diversão.
— Diversão?
— Sexo, Greg, aquilo que você deveria estar fazendo agora em vez de estar aqui com um velhote.
— Você não é velhote, quer dizer... — disse rindo. — Duzentos e sessenta anos são muita coisa, mas eu só tenho dezessete, tenho muito tempo para ter sexo e Marylin é moça para casar e não ter sexo antes do casamento.
— Quer casar? — perguntou espantado.
— Quando chegar aos vinte, meu pai disse que vai me dar a gerência da loja de ferragens e serei um homem. Então, posso pedi-la em casamento.
Ethan sorriu para o humano. Gostava dele.
Na cidade, Greg era o único que sabia que ele era um shifter de lobo.
Confiava nele e era um bom menino e, às vezes, o tirava do tédio, pois gostava de sua companhia, de ouvir suas conversas descabidas e alegria jovial.
— Eu li que os lobos vivem em alcateias. Um grupo muito unido que tem um alfa e um beta que governam. Com shifters é a mesma coisa? — Greg perguntou.
— Sim.
Ethan deslizou na sua cadeira, empurrou o chapéu para baixo, sobre os olhos, e esticou as pernas, cruzando os tornozelos, um sobre o outro, batendo as botas de couro de crocodilo e de bico fino no piso de madeira.
— Com você é diferente por quê? Quer dizer, você mora aqui sozinho... — Greg insistiu na conversa.
— Eu vivia em uma alcateia, mas ela desapareceu na Irlanda enquanto eu estive fora em uma viagem de negócios e eu não achei que queria outra para viver, então resolvi viver por mim mesmo.
— Isso é permitido?
— Por regra, os lobos vivem assim, mas não é uma obrigação. Podemos viver por nós mesmos, nos espalhar pelo mundo.
— Também não tem sua proteção.
— Posso cuidar de mim mesmo.
— Sei, por isso seu apelido é Lobo Solitário.
— Sim, este sou eu.
Ele não tinha contado ao garoto o motivo de não ter uma alcateia e não seguir nenhum alfa. Na verdade, ele tinha perdido todos e tudo o que possuía, sem ao menos saber o que realmente havia acontecido.
Isso ocorrera há treze anos e ele não havia curado essa cicatriz profunda em seu coração.
Se não fossem suas economias numa conta secreta, ele estaria perdido.
Quando voltou para casa, após um longo período nos Estados Unidos para estudar sobre criação de gado, constatou que seu patrimônio e sua alcateia pertenciam às outras pessoas: humanos que haviam se apoderado de tudo.
E, consequentemente, todos os rastros de sua alcateia haviam evaporado no ar.
Ele nunca havia se sentido tão perdido e deslocado no mundo, sem saber o que fazer com a situação.
Mesmo com tantos anos de experiência de vida, onde mal tinham meios de se ocultar dos humanos, nunca tinha se sentido tão desafortunado.
Quando sua alcateia desapareceu, sua única solução foi ir embora, voltar para os Estados Unidos e começar uma vida nova.
Com a dúvida cravada em seu peito, de que seu alfa, Noah, teria feito tal coisa, ficou imaginando qual seria o motivo de ter sido traído de forma tão brutal, ter sido expulso de sua alcateia e despojado de seus bens, pois ao seu ver não havia nenhum.
Ele nunca saberia a verdade, e isso doía.
Ele se sentia um lobo jogado de lado, despojado, humilhado e sozinho. Não que ele não fosse forte por viver por si mesmo, sim ele era e provaria a qualquer lobo que o desafiasse, não que outra alcateia não tivesse oferecido refúgio.
Mas ele escolheu ser só. Ele era forte.
A Irlanda era apenas um mundo distante dele agora. Sua vida havia sido arrancada, mas estava ali, no interior dos Estados Unidos, vivendo como um lobo solitário e guiando a si mesmo.
Greg nunca saberia sua verdadeira identidade, se não fosse um enxerido e tivesse bisbilhotado demais suas terras e tivesse sido atacado no seu bosque.
Ele teve vontade de matar o garoto estúpido e acabar com tudo, mas por algum motivo obscuro, se compadeceu dele.
Para salvar o menino de um de seus lobos, teve que revelar seu lobo. Tinha sido estúpido, mas não poderia deixar que o garoto fosse morto. Porém, tinham se tornado amigos e estava tudo bem.
Greg era fascinado por ele e o protegeria, guardando seu segredo.
Depois da pescaria, e de dar todos os peixes para o garoto, Ethan se despediu de Greg, que foi embora.
Em seguida, ele montou em seu cavalo, um magnifico garanhão negro, e com a companhia de Celeste, sua cadela labradora, inteiramente da cor caramelo, foi ao pasto, que ainda estava verde, para juntar suas vacas e colocá-las novamente no cercado para passarem a noite.
Ele finalmente havia conseguido ter sua fazenda da maneira que queria e uma quantidade generosa de gado para cuidar.
Após guardar o gado, aproveitou para cavalgar livremente pelo seu pasto. E quando voltou para sua casa, ele olhou ao redor e para as montanhas, a sensação que tinha era de que estava sendo observado, mas não viu nada e seu ouvido aguçado não percebeu nada.
Era estranho, mas nem seu nariz aguçado conseguia um cheiro que o alertasse de algo ruim se aproximando.
Ele cumpriu sua tarefa diária de alimentar os animais e levou seu cavalo para sua baia e desencilhou-o.
Ficou na varanda admirando o pôr do sol, tomando uma dose de uísque; depois prepararia seu jantar com uma boa taça de vinho e assistiria um pouco de TV; daria uma olhada na sua contabilidade e, antes de ir para a cama, iria correr no seu bosque como lobo.
Porque, nesta noite, havia muita energia para gastar correndo.
E muita energia para receber do universo.
Sua casa era bonita, feita de toras e tinha uma linda vista para a montanha, um bonito lago e um generoso campo para suas vacas ruminarem o capim verde no pasto e um bosque fechado onde gostava de correr como lobo.
E onde ele possuía uma pequena matilha de lobos que guardavam suas terras de intrusos.
Lobos de verdade, inteiramente animais que o obedeciam.
Isso era fascinante para ele.
O sol estava se pondo atrás do morro e o frio estava se intensificando pela noite.
O céu avermelhado, mesclado de laranja e amarelo, em contraste com o verde dos campos e das montanhas, lhe trazia uma espécie de paz, mesmo sentindo falta da sua vida na Irlanda.
Não havia em lugar nenhum do mundo uma magia como a de lá.
A vida estava boa, na medida do possível.
Pelo menos, depois de um tempo tão tortuoso pelo qual havia passado anos atrás, agora tinha encontrado um pouco de paz.
Na verdade era apenas uma calmaria e ele era grato por isso.
Talvez houvesse só uma coisa que o perturbava: a moça da cidade que estava consumindo seus pensamentos, deixando-o excitado, por dias a fio.
Estava se sentindo solitário. Ele realmente fazia jus ao seu apelido, mas preferia assim, até as moças para sexo estavam aborrecidas.
Preferia ficar só no seu rancho e cuidar de suas vacas.
Ele levantou para entrar em casa, mas antes de fechar a porta, seu ouvido aguçado captou alguma coisa.
Ele cerrou os olhos e aguçou ainda mais o ouvido: havia alguém nas suas terras. Seu lobo se atiçou e ouviu um grito de uma mulher, que parecia estar em perigo.
— Droga! De novo não.
Ele se transformou em lobo e correu o mais rápido que pôde para seu bosque. Ninguém deveria entrar ali, no seu refúgio.
Os humanos imbecis não sabiam o que significavam uma cerca e uma placa de propriedade privada com letras garrafais dizendo “Não Entre”?
Quando ele chegou a uma distância de onde os gritos e os rosnados vinham, parou e uivou, advertindo os lobos que não atacassem.
Então, ele correu novamente. Precisava advertir antes, pois senão seria tarde demais para salvar o intruso da morte.
Quando chegou à cena, parou de correr e observou. Todo seu corpo levou um choque e sua pele formigou. Seu instinto de proteção aflorou de forma absurda com o que via.
Sua pequena bruxa enxerida estava sentada no chão, encostada na árvore e havia três lobos que a rodeavam. E, para seu espanto, ela estava vestida de bruxa, o que quase o fez rir, mas a moça estava apavorada.
E quando ele sentiu o medo dela chegando até ele como se fosse uma onda dolorosa, seu lobo reagiu de forma vigorosa.
Ele deu um rosnado alto e forte e os três lobos olharam para ele e saíram correndo.
Ethan seguiu os lobos com o olhar até desaparecerem entre as árvores e então ele a olhou.
Grace olhava com os olhos arregalados. Não conseguia acreditar que estava vendo um lobo na sua frente, que a protegeu.
Ele era igual ao lobo do estacionamento! Na verdade, era o mesmo lobo.
Então Ethan sentiu outra onda de energia atingi-lo, uma diferente, aquela onda que o consumia, um reconhecimento natural de lobos.
Grace olhou para ele com a fascinação estampada no rosto, pois ela não entendeu o que se passava dentro dela, mas achou que ele era enorme, divino e que não precisava ter medo dele.
A sensação era arrebatadora e estranha. O medo havia ido embora, pois os lobos anteriores lhe causaram medo, mas aquele lobo, agora na sua frente, não lhe transmitia medo e, sim, todos os outros sentimentos juntos.
Ela ficou ali, paralisada, o olhando, com a respiração difícil, ainda caída no chão, escorada no grande carvalho.
Ethan aproximou-se dela, lentamente.
Grande e predador, ele rosnou, o que a assustou. Então, para acalmá-la, ele chegou mais perto, colocando as duas patas dianteiras nas laterais de seu quadril.
Grace mal respirava quando ele encostou o focinho no seu rosto.
Ela gemeu e fechou os olhos pensando que ele a morderia, mas o lobo negro, mesclado de marrom e alguns fios caramelo em algumas partes de seu corpo, com magníficos olhos azuis muito claros, enfiou o focinho no seu pescoço e depois esfregou a cara na sua face, fazendo um carinho, que estranhamente a acalmou e a deixou elétrica, ao mesmo tempo.
Estranho e desconcertante, fascinante!
Então, ele se afastou um pouco. Grace soltou a respiração num bufo e, tremendo, observou o lobo se transformar em humano: Ethan.
Olhando-a intensamente, com um desejo puro e cru, com seu cabelo comprido e repicado lhe caindo sobre o rosto, ele tornou-se lindo e selvagem.
Em completo choque, ela pôde ver o lindo homem nu à sua frente, com os cabelos longos e negros, com os olhos de um azul cristalino, hipnotizantes, que a observavam.
O homem que ela havia paquerado, admirado e desejado por tanto tempo. O homem solteirão que vagava pela cidade com seu ar misterioso, quase sem falar com as pessoas, com sua altura excepcional e sua beleza estonteante, que despertava muitos bochichos e suspiros, que a tinha paquerado descaradamente pela cidade.
Mas ele não era exatamente ele.
Ethan rosnou e suas presas longas a assustaram e, então, ele sorriu maliciosamente antes de ela desmaiar.
Ele estava assustado consigo mesmo, porque seu corpo estava gritando, excitado como um louco pela mulher pequena caída no seu bosque.
Merda!
Ele nunca tinha sentido uma atração tão desenfreada por uma fêmea antes e não sabia o que tinha dado na sua cabeça para se revelar para ela daquela maneira precipitada.
O que ele sabia, é que tinha esperado por ela a sua vida inteira e ela era longa, longa demais para viver sozinho. Ele sabia mais: ela era sua companheira. Uma mulher de cabelo cor de fogo e olhos azuis, que viria para ele: uma humana.
Os deuses tinham feito uma companheira especial para ele e ela tinha demorado a chegar, mas tinha chegado, e quase tinha batido na sua porta.
E agora, ninguém a tiraria dele.
Ethan a pegou no colo e a levou para casa, desacordada nos seus braços. A chuva estava começando e para ela não se molhar, ele correu.
Ela não pesava nada para seus fortes braços.
Ele a deitou na sua cama e se afastou para observá-la melhor. Ela pertencia à sua casa, sua cama.
Sua boca salivou de vontade de prová-la; ele, então, retirou sua roupa molhada, deixando-a nua, secou seus cabelos e olhou seus leves ferimentos, arranhões que ela deve ter infligido quando correu entre os galhos, pois seus lobos não haviam encostado nela.
Ele os limpou, passou medicamento e colocou curativos, cobriu-a com o cobertor, acendeu a lareira na sala e se secou com a toalha.
Para ele, era natural estar nu dentro de casa, mas ela se assustaria se o visse, então, colocou a toalha em volta da sua cintura.
Foi para a cozinha e fez uma caneca de chá, porém, quando chegou ao quarto, ela estava sentada na cama, com os olhos arregalados.
Por todos os deuses, ele quase gemeu e arrebentou a caneca na sua mão.
Ele havia desejado muito vê-la em sua cama e ela estava ali agora, e seu lobo interior quase uivou de êxtase.
— Oi — ele disse calmamente e ela piscou algumas vezes, aturdida, ao vê-lo como também pelo som de sua voz.
— Oi — sussurrou.
— Você acordou, finalmente, eu trouxe um chá quente.
— Você tirou minha roupa.
— Estava molhada e suja e eu precisava ver se estava ferida, mas somente teve alguns arranhões e eu cuidei de você. E por falar em roupa, eu gostei de sua fantasia, não deveria estar numa festinha de Halloween ao invés de estar invadindo minhas terras?
— Eu fui, mas estava chata, queria algo mais interessante para fazer.
— Algo como invadir fazendas alheias? — disse zombeteiro.
— Você me viu nua! — disse evitando sua pergunta.
— Sim, querida, eu vi e confesso que adorei o que vi — disse dando a xícara a ela.
— Você...
— Não a toquei de forma errada, se é isso que pensa. Não sou um pervertido sem caráter, por mais que queira te tocar.
Grace ficou boquiaberta com seu descaramento. Não sabia se a visão dele era real, mas gostou do que ouviu.
Sabia, em seu íntimo, que por mais estranho que ele fosse e dos fuxicos incansáveis e infinitos sobre ele na cidade, ele era um bom homem.
Parecia bom demais para ser verdade.
Claro que havia algo errado, ele era um metamorfo, um lobisomem ou sabia-se lá o que diabo ele era.
Seu cérebro não conseguia se decidir se devia gritar, correr ou falar com ele. Mas ela estava fascinada.
— Eu vi... o lobo... e você...
— O que viu é certo. O lobo sou eu.
— Não, pode ser uma brincadeira. Deve ter sido uma alucinação.
— Beba o chá.
— Você é o cara... Você vira lobo de verdade?
— Sim, querida, eu sou um shifter.
— Você... é o lobo que me salvou daqueles homens bêbados?
— Sim.
Ela ficou em choque e os dois ficaram assim por longos minutos se olhando, se encarando, sem saber como agir ou o que falar.
O mundo sempre poderia surpreender.
— Eu quero saber o que você estava fazendo no meu bosque — ele disse calmamente.
— Eu... somente queria tirar umas fotos.
— Fotos no terreno particular dos outros?
— Tem lobos ali naquele bosque, sabia?
— Sim, sabia. São meus guardiões e meus amigos e impedem que intrusos entrem nas minhas terras. Sabe ler uma placa?
— Não sou... bem... talvez eu tenha dado uma invadidazinha, mas era por uma boa causa.
Ele se aproximou da cama sedutoramente, fazendo-a perder a respiração e pegou a xícara. Ela estava tremendo e acabaria derramando sobre si e colocou sobre o criado-mudo.
— Estava me espionando, moça?
— Não! Quer dizer... Talvez. Eu te vi na cidade hoje de manhã.
— E?
Ele a pegou no colo a fazendo gritar, juntamente com o cobertor que a cobria.
— O que está fazendo? Ponha-me no chão!
— Vou levá-la para a sala.
Ele foi para a sala e a sentou no chão, sobre o tapete macio de pele, em frente à lareira. Depois pegou vários almofadões e jogou no chão.
Grace estava tão aturdida e segurando o cobertor para cobrir sua nudez que ficou muda, e o observou ir para a cozinha que era conjugada com a sala, mas com cômodos imensos e decorados de forma rústica e acolhedora.
Ele voltou com duas taças e uma garrafa de vinho, colocou no chão e foi até o aparelho de som, uma música suave começou a tocar e ele a olhou sobre o ombro e viu como o olhava intensamente.
— Que música gosta?
— Sou bem eclética, esta está boa. Você deveria estar assim?
— Assim como?
— Você está de toalha.
— Posso tirá-la, se ela te incomoda.
— Não!
Ele riu, foi até ela e sentou no chão.
— Bem, ainda não me explicou o que estava fazendo nas minhas terras. Por que me espionava?
— Bem... Por nada. Uma fotógrafa sempre procura fotos belas e inusitadas.
— Concordo com isso, mas eu acho que foi mais porque ficou caidinha por mim quando me viu na cidade e somente podia pensar em me ter na sua cama.
Ela abriu a boca de espanto.
— Oh, que ultraje! Não foi nada disso, que pretensão.
— Beba um gole.
Ele serviu as taças de vinho e deu uma a ela.
— Como pode se transformar em lobo? Como...
— Beba e relaxe, não vou comê-la como o lobo mau no bosque da Chapeuzinho Vermelho, mas posso pensar em algo mais atraente.
Ela tomou a taça e bebeu a metade em goles rápidos e isso quase o fez rir.
Ela estava tão nervosa e olhando para ele com desejo, que não conseguia disfarçar.
Com medo de ele ser o que era, ela estava sentindo a mesma atração que ele e não sabia o que fazer.
Que delícia.
— Eu sei que tem feito perguntas de mim por aí. Por quê?
— Eu... eu o achei diferente, quer dizer, o que um homem como você, com sua aparência, está fazendo aqui no meio das montanhas, de Montana, criando vacas?
— São vacas de corte e rendem dinheiro. O que minha aparência te diz? Que devo ser um motoqueiro selvagem?
Ela olhou seu peito musculoso, seus ombros largos, a tatuagem tribal que parecia aquelas celtas, que torneava seu braço esquerdo e as outras que cobriam o braço direito todo seguindo até seu pescoço e se estendendo com algo escrito que ela não entendeu sobre seu tórax.
Eram lindas e exóticas, parecia que tinha uma aura de poder ao redor dele que a deixava tonta.
O homem tinha um corpo de fazer salivar e seu rosto... era o mais belo que já tinha visto na vida, com os olhos azuis mais lindos e excepcionais.
Mesmo não parecendo ser um rapaz jovem, pois era um homem maduro, era deslumbrante, másculo e incrivelmente atraente.
Ele tinha uma aura mágica, tão maravilhosa, que não conseguia colocar em palavras.
Ela parecia uma boba babando pelo homem bonito, nem estava dando bola para sua situação delicada ou pelo fato de ele se transformar em lobo.
— Não, só que achei que era meio contraditório, mas eu gostei. Isso o deixa mais misterioso, porque parece que elas dizem muito. Ainda mal posso acreditar que vi você se transformar daquele jeito, parecia que estava alucinando. Quer dizer... você é feroz, mas não me parece mau — ela sussurrou, imaginando como seria beijar aqueles lábios perfeitos.
— Não, meu bem, eu viro lobo de verdade, mas não sou mau, sou justo, e nunca machucaria você. Contudo, não posso dizer que deixarei inteiro quem tenta machucar minha companheira.
— Como funciona? Nasceu assim?
— Magia. Fomos criados há mais de dois mil anos e existimos como vocês, há muitos de nós espalhados pelo mundo.
— Mas...
— Você veio aqui porque me quer?
— Sim, eu quis saber mais sobre você.
Ele engatinhou para perto dela, fazendo-a agarrar a taça com força, com as duas mãos.
— Eu também desejo você.
— Eu disse que queria saber sobre você e não que desejava você.
— Me deseja, é um fato, está excitada.
— Oh, por Deus, não pode dizer algo assim!
— Sou um lobo, querida, meu olfato é aguçado, está tão excitada que se eu tocar seu sexo, molharei meus dedos.
Ela arfou pela forma descarada como ele falava, tão natural, que não parecia ver pudor no sexo ou na nudez ou estivesse com medo de ofendê-la.
Parecia que para ele isso era um elogio.
Fascinante, depravado, sexy.
Ela quase desmanchou pelo desejo descontrolado que a arrebatou.
— Tenho que te confessar, eu estou excitado também e te desejo desde que te vi pela primeira vez, o que parece tempo demais, como pode ver.
Ela baixou os olhos e pôde ver sua enorme ereção a postos debaixo da toalha e engoliu em seco. Oh, miséria! Ela ergueu os olhos para ele novamente e sentiu que suas bochechas queimaram como fogo, além de seu sexo e todo seu corpo.
— Mas você só me viu por alguns minutos esta manhã... quer dizer e outras vezes, mas nunca nos falamos exatamente...
— E parece que a conheço minha vida toda, mas não te vi só por uns minutos, amor.
— O quê?
— Já tenho te visto algumas vezes na cidade, aliás muitas vezes, e tenho observado seus movimentos.
— Me acusa de te espiar e me espia?
— Culpado.
Ele sorriu tão lindamente que ela se derreteu.
— Você morde como os lobos?
— Eu vou te morder, moça, porque agora que te encontrei não deixarei que se vá.
— O quê? O que quer dizer com isso? Não pode fazer isso.
— Oh, eu posso. Quem sabe assim, você me fala a verdade do porquê de estar aqui, Grace.
— Você sabe meu nome?
— Como disse, eu a tenho observado. Diga-me, é você que me espia sobre a montanha? Não a vejo, mas sempre sinto que me observam. Como hoje.
— Desculpe, sim, eu o observo de binóculo, mas estava muito longe e me aborrecia.
Ele sorriu.
— Então resolveu entrar nas minhas terras.
— Bem, não tinha visto os lobos do bosque.
— Quando te vi na cidade, há tempos eu soube no mesmo instante, só estava adiando este momento.
— Soube o quê?
— Que é minha companheira.
— Como sou sua companheira? — perguntou, nervosa.
— Sabe... companheiras de lobos são sagradas, os lobos cuidam delas com muito esmero e as respeitam acima de tudo. Especialmente as que os deuses fizeram para nós. Uma que é para a vida toda.
— Me quer como sua companheira? — perguntou espantada.
— Você já é. E é o que deseja.
Ela empinou o nariz bonito para desafiá-lo, e ele sorriu pensando o que faria, que o negaria, mas ela sorriu para ele tão lindamente que ele se sentiu agraciado.
— Não vai negar, minha doce Grace?
Como poderia, ela estava tão fascinada que ele podia se transformar num elefante, que ainda o desejaria.
— Não vou negar, pois estaria mentindo. Podemos pensar em um namoro.
Namoro? Ela teria muito mais, mas ele explicaria melhor depois, estava muito inebriado somente pelo fato de ela não o temer, não o repudiar.
— Não tem medo de mim?
— Por que teria? Salvou-me dos lobos no bosque, salvou-me de homens bandidos, minha cabeça ainda está sobre o pescoço e não vejo nenhum sangue. Se quisesse me machucar, já o teria feito e eu... não posso negar que o desejo há muito tempo e o acho fascinante...
Ethan não resistiu a tal confissão e a puxou, trazendo-a para sua boca. Segurando os cabelos de sua nuca firmemente, dominando-a, deu-lhe um beijo longo e cheio de luxúria, que ela devolveu no mesmo nível.
Quando soltou de seus lábios, seu coração estava aquecido, seu corpo quente e implorando por mais.
Ela o aceitava, não tinha medo dele e o desejava.
Quão perfeito era isso?
— Agora eu vou te ensinar, fotógrafa, o que acontece quando você entra na toca do lobo solitário.
— O que acontece? — disse sem fôlego e apreensiva, enquanto ele tirava a taça de sua mão.
— Ele vai amá-la.
Antes que ela protestasse, ele a beijou, empurrando-a sobre as almofadas, e cobriu seu corpo com o dele, fazendo sua respiração sumir.
Ele envolveu-a entre os braços fortes e tomou seu tempo para beijá-la de maneira lenta e profunda. Ethan devorou sua boca, quente e úmida, perfeitamente encaixada na dele, numa união ardente, tomando tudo dela.
Grace perdeu a noção de onde estava e do que os rodeava. Nada mais existia a não ser Ethan, ela, o beijo e o desejo percorrendo seu corpo.
Nunca conhecera nada parecido com isso. Sentia-se invencível. Que loucura era essa?
Estava totalmente nua, nos braços de um shifter de lobo, tão excitada como se estivesse caindo em um buraco cheio de luxúria, no entanto, estava com a sensação de que nada de ruim poderia tocá-la.
Nunca!
Ela sentia que ali era o seu lugar.
Piscando os olhos, entorpecidos pelo desejo, ainda em cima de Grace, Ethan a fitou.
Seu lobo saltava dentro dele, implorando que a reivindicasse, que a fizesse dele de uma vez. Era tão forte e poderoso que quase não conseguia controlar sua magia ou seu lobo.
— Vou te dar somente uma chance de dizer não, Grace. Depois disso, eu vou amar você e marcá-la como minha para sempre. Diga não agora, se quiser fugir.
Ele pousou sua mão enorme e forte sobre seu ventre, marcando ali, tão quente quanto fogo, que a fez arfar.
Sua mente estava enevoada, seu corpo exigindo mais dele. Ela não sabia o que estava acontecendo.
O não até chegou aos seus lábios, mas não saiu dali.
Ele rosnou, beijou seu pescoço e arrancou o cobertor e jogou a toalha para longe e ela gemeu quando seu corpo quente cobriu o dela, empurrando-a contra o chão.
Pele contra pele. Fogo puro.
Sua ereção estava forte e pulsante, ele esfregou em sua pélvis, fazendo-a ofegar e ao mesmo tempo tomou o mamilo na boca, sugando com força. Foi como se um raio atravessasse o corpo de Grace.
— Ethan... — ofegou.
— Ah, está vendo? Sabe meu nome, descarada. Não vai dizer não, Grace?
— Você... não está sendo justo, lobo.
— Estou sendo muito justo, estou te dando uma escolha.
Ela arfou quando ele acariciou seu clitóris com o dedo e entrou nela com o outro.
— Sinta isso, Grace... — Ele torturou-a com os dedos e deleitou-se em seu seio, mordendo sem feri-la, sugando para atiçá-la e enlouquecê-la, fazendo-a gemer e se contorcer sob ele. — Última chance para me negar, minha preciosa...
Ele desceu dando beijos pela sua barriga e antes que ela se desse conta, ele lambeu seu sexo, uma lambida longa e lenta e, quando chegou ao clitóris, ele o rodeou com a língua e chupou com força.
Grace gritou novamente, seu ventre contraiu e foi como se o fogo tomasse conta de seu corpo, queimando, sem dó e nem piedade.
Ele saboreou-a com gosto, como se fosse um manjar dos deuses. Perfeita e doce.
— Deliciosa e pronta pra mim... Venha pra mim, companheira. Quero sentir seu gozo.
Ele se deleitou nela novamente e a fez explodir com o êxtase, a atacando como se fosse uma tempestade descontrolada.
— Oh, meu Deus! — ela gemeu, se contorcendo.
Ele rosnou pelo prazer, alto e forte, que retumbou pela sala quieta, que somente continha o barulho do fogo que crepitava e dos seus gemidos.
Ele pairou sobre ela com seus músculos torneados e seu tamanho descomunal de 1,98m de altura, poderoso como um deus, com seus olhos brilhantes e possessivos olhando para ela.
Ele esfregou sua ereção em sua vagina, sentindo-a escorregadia pela sua excitação, sondando, provocando e prolongando aquele momento de carícias deliciosas, sensuais, preparando-a para ele.
— Minha, minha companheira, eu te tomo, e a ti, juro lealdade e lhe darei todo o amor de meu coração. Hoje e sempre, nesta vida e na outra. Onde quer que nossas almas estejam.
Ele ainda pensou que ela mandaria que parasse, mas não o fez, então não seria tolo de esperar mais.
Grace arfou e jogou a cabeça para trás e soltou o ar num bufo, misturado com um gemido enquanto ele entrava nela profundamente, de uma só vez.
Então, rosnou quando seu sexo quente e que ainda pulsava pelo orgasmo o agarrou, apertado, quase o matando de tanto prazer.
Então, ele parou para sentir a sensação, para que ela se acostumasse com ele, com seu tamanho, pois não queria feri-la.
Ele agarrou seus pulsos e levou seus braços sobre a cabeça, prendendo suas mãos.
Olhou para ela fixamente e lambeu seus lábios, de forma depravada.
— Agora eu vou amar você, te darei tudo o que sou, e estarei marcado na sua pele e na sua alma, companheira, para sempre.
— Ethan... eu quero você.
— E me tem.
Ele beijou seus lábios, num beijo intenso, impedindo seu grito quando ele empurrou novamente até o fundo, e assim fez diversas vezes: lento no começo, depois mais rápido, arrancando cada vez mais gemidos desesperados dela, que se misturavam com os seus.
Oh, isso era o céu divino e ele queria tudo.
Em um minuto e sem protestos, ele a virou, deixando-a de bruços nas almofadas e erguendo seu quadril, penetrou-a novamente, fazendo-a arfar.
Depois ele beijou suas costas, seu ombro enquanto se movia.
Ela gritou quando pensou que estaria enlouquecendo, quando pensou que o prazer fosse demais.
Então, sentiu a dor em seu ombro e soube que sua vida estava mudando para sempre, porque Ethan, o lobo, a mordeu.
— Ahhh... Ethan... — disse ofegante, com um gemido desesperado, com um tanto de medo misturado ao prazer.
A mordida que somente dava uma dor no inicio, logo alagava todo o corpo com um intenso prazer, e isso impulsionou os dois ao orgasmo.
Grace gritou, sentindo seu corpo explodir fortemente, que sua visão escureceu.
Ele ergueu a cabeça, soltando seu ombro, com seus olhos cintilantes, suas presas alongadas e o sangue banhando sua boca.
Rosnou forte e alto, com muita dificuldade de respirar.
Ethan fechou os olhos por um minuto longo demais, enquanto sua semente quente a preenchia.
Aquilo tudo foi forte demais e fritou seu cérebro.
Nunca tinha sentido algo assim na vida.
Ele buscou na sua mente as palavras mágicas que deveria dizer e recitou em uma língua antiga e sagrada de seu povo, que a transformariam em loba, olhando para os olhos dela, nublados de prazer e um pouco de medo.
Sua magia foi liberada e dançou ao redor deles, sobre eles, dentro deles, e a sensação era de que o mundo estava girando, que suas almas estavam se cruzando e Grace não teve medo do que estava acontecendo, porque sua alma queria aquilo.
Então, ele a acalmou, sussurrando palavras doces em seu ouvido, com aquela voz maravilhosa que lhe causava arrepios e ela entendeu as novas palavras carinhosas que disse na sua língua:
— Você é minha loba agora, Grace. Minha para amar e cuidar para todo o sempre. Antes que o Samhain acabe, o ritual estará finalizado e você será como eu: minha loba.
Ele saiu dela e a virou nos seus braços, fazendo-a olhar para ele, que voltou à sua fisionomia normal.
Grace não questionou, não sentia medo, porque o achou lindo, forte e maravilhoso. De uma forma totalmente incrível, ela sabia que aquilo ali era o seu destino.
Quando tinha dezesseis anos, uma cartomante que leu as cartas para ela uma vez, no parque de diversões, havia lhe dito que um homem tão bonito quanto um deus, forte quanto uma rocha, místico e poderoso como um lobo, chegaria. Um homem e um animal.
Um homem que lhe mostraria o outro lado do mundo, um homem que a amaria e a cuidaria para a eternidade.
E juntos conheceriam o verdadeiro amor.
Um amor forte, poderoso, que não desapareceria. Capaz de suportar qualquer adversidade, um amor que traria paz, aconchego, uma excelência e poder de tocar a magia que poucas pessoas no mundo poderiam tocar e estaria tudo bem.
Ela tinha suspirado e ido para casa como uma tola, encantada com o sonho do homem poderoso que um dia a tomaria e ela o amaria e o aceitaria, sem ressalvas.
E agora sabia que Ethan era esse homem, e estava grata por tê-lo encontrado, que não era apenas um sonho ou um desejo.
Somente pôde amá-lo e aceitá-lo, porque naquele momento, estava presa pela magia que rodeava como um vento místico na sala, e seus corações e suas almas estavam unidos.
Sua alma e seu coração estavam preenchidos de Ethan.
— Onde estava todo este tempo que demorou a chegar? — ele sussurrou, beijando seus cabelos.
— Fiz a mesma pergunta.
Ethan abriu os olhos e pensou por um momento. Algo nas suas palavras despertou uma curiosidade.
— Grace?
— Sim?
— Fale-me o que estava fazendo aqui, realmente. Deixou que te amasse, que te mordesse, sabe que vai ser transformada em loba, você entendeu isso?
Ela suspirou, se virou e escorou em seu peito e o olhou, acariciando docemente sua mandíbula.
Após um minuto somente se olhando, eles perceberam a conexão nova que existia entre eles, rodeada de um carinho, de uma paz; ela estava ali e era tão fácil, tão natural.
— Sim, eu entendi e aceito isso. Estou preparada. Sou sua e você é meu e eu o amarei, porque estava esperando por você.
— Como estava preparada para isso?
— Uma pessoa mística me disse que um dia eu o encontraria. Isso foi há dez anos. E quando vim morar aqui e ouvi os rumores sobre o cowboy misterioso e sexy que vivia aqui, que suspeitavam que suas terras fossem infestadas de lobos... eu comecei a bisbilhotar e hoje soube que tudo que fiz na minha vida me trouxe até você.
— Não tem medo de se tornar uma de minha espécie?
— Se for para estar com você, então não, porque sei que é bom.
— Como pode saber?
Ela sorriu, ergueu o seu braço e virou o pulso.
— Como eu disse, eu o esperei e eu o procurei.
Ethan olhou seu pulso e ali havia uma bonita e bem feita tatuagem da cara de um lobo e embaixo um nome: Ethan.
— Sabia meu nome? — perguntou espantado.
— Quando eu tinha dezesseis anos, eu conheci uma pessoa que lidava com magia. Todos pareciam não dar nada pela sua sabedoria, mas eu acreditei nela. Ela disse que eu tinha alma de uma loba e que eu encontraria você. Era meu destino. Um ano depois, eu fiz a tatuagem. Transformei-me em fotógrafa por amar a arte e com isso tinha a desculpa de ir de um lugar a outro. Eu estava tentando te encontrar. Então, eu soube que era você. Eu somente soube.
— Os deuses te guiaram até mim.
— Sim. E aqui estou e acho que nossa situação faz jus à música.
Tocava Now That I Found You, de Michael Bolton, e era como se estivesse cantando para eles, pois a letra refletia seus sentimentos.
“Now that I've found you
(Agora que te encontrei)
I don't know how I lived without you
(Não sei como viver sem ti!)
I don't know how I survived without your love
(Não sei como sobreviver sem o teu amor)
Now that I've found you
(Agora que te encontrei)
I only know I'd be lost without you
(Apenas sei, que sem ti, estou perdido)
I found the love
(Encontrei o amor)
That I'll never find again
(Que não voltarei a encontrar)
'Cause all I ever needed
(Porque tudo o que necessito)
And all I ever wanted
(E tudo o que alguma vez desejei)
Has come true
(Tornou-se uma realidade)
I found it all now that I've found you
(Encontrei tudo, agora que te encontrei!)”
— Sim, nossa situação faz jus à música.
— Bem, as coisas não foram assim tão simples e tem mais coisas para contar e descobrir um do outro, mas precisamos fazer isso agora?
— Não, temos todo tempo do mundo e acho que poderíamos repetir o que estávamos fazendo.
— Com isso concordo plenamente.
Ele sorriu emocionado e a beijou.
Ethan sentiu seu peito se expandir, com uma nova emoção, pois ela havia acreditado na magia e tinha vindo por ele.
Ela tinha vindo salvar seu coração.
— Ah, a senhora vidente me disse mais uma coisa, mas eu não sei se vai fazer sentido para você. Ela me disse para dar esta mensagem quando eu o encontrasse.
— O que ela disse?
— “Que você não foi deixado para trás.”
Ethan arregalou os olhos e olhou para ela, espantado.
Não havia?
O que tinha acontecido, então?
Sua alcateia ainda o queria?
Onde estariam?
A chama da esperança perdida brilhou em seu coração e Ethan pensou que eram muitas emoções para suportar em um único dia.
Ele buscaria a verdade sobre sua alcateia e o que havia realmente acontecido, mas isso seria no dia seguinte, porque agora, somente queria desfrutar de sua linda e maravilhosa companheira.
Ele beijou seu pulso sobre a tatuagem e, em seguida, beijou-a nos lábios, com o sentimento crescendo, renovando a cada segundo que ela passava em seus braços.
E eles fizeram amor novamente.
A noite apenas tinha começado, porque a paixão entre os lobos era muito mais intensa do que os humanos poderiam imaginar.
Ethan cumpriu a promessa. Ao fim do Samhain, ele teve sua loba, inteira para ele, e agora ele tinha sua companheira para correr com ele pelo bosque.
Juntos, começariam sua aventura como companheiros de alma.
O Lobo Solitário já não fazia mais jus ao apelido, porque não estava mais sozinho.
Janice Ghisleri
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