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Ela era uma mulher sensível.
Ele era um homem que poderia conduzir uma mulher insensata por meio do desejo
Gareth Fitzallen é célebre por quatro motivos: seu rosto lindo, seu charme notável, suas conexões aristocráticas, e pela habilidade de dar o tipo de prazer que faz as mulheres implorar por mais. Normalmente, ele utiliza seus talentos em mulheres experientes e meretrizes. Mas quando ele vai para Langdon’s End para restaurar uma propriedade que herdou - e investigar um roubo de uma obra de arte monumental - ele bola um plano para seduzir a mulher mais improvável.
Eva Russell vive a vida de uma solteirona com finanças precárias e sonhos limitados, enquanto se agarra ao status do antigo título de nobreza de sua família. Ela se sustenta copiando pinturas, enquanto trama casar sua linda irmã com um homem bem estabelecido. Todos avisam da reputação de Gareth, e aconselham-na a manter sua irmã longe dele. Só que não é sua irmã que Gareth deseja. Um olhar, e ela percebe que ele é um problema. Um beijo, porém, prova que ela não é páreo para este mestre da sedução.
Capítulo 1
Foi bem depois do meio-dia, quando a empregada entregou a bandeja de café da manhã no quarto opulento de Hendrika. Gareth Fitzallen terminava de ler a versão final de um contrato de negócios complicado quando a empregada descerrou as cortinas e abriu as janelas.
Hendrika ronronou, espreguiçou-se e esfregou os olhos. Gareth recolheu as folhas de pergaminho, que ele tinha espalhado sobre o corpo dela, o melhor que pode para mantê-las organizadas. A empregada ajustou uma variedade de travesseiros. Hendrika sentou-se e apoiou as costas contra eles, expondo seu exuberante corpo nu para a empregada, para Gareth e, possivelmente, para a família que possuía a casa alta e estreita em frente ao canal.
– Senhor, precisa de alguma coisa? – Perguntou a empregada. Seu olhar cabisbaixo ainda permitia contemplar o peito nu de Gareth. Ela olhou-o nos olhos por um segundo através de seus cílios. Suas narinas se alargaram. A empregada estava se tornando um problema. Ele não fez nada para encorajá-la, mas, inevitavelmente Hendrika veria um dos sorrisos manhosos, ou olhares quentes, enviados em sua direção.
Hendrika enxotou a mulher e em seguida serviu duas xícaras de café.
– O que são todos estes documentos?
– O envio para a Inglaterra de Honfleur. Nós finalizamos os termos da venda. O agente do Conde e eu somente precisamos assinar. E você, também, é claro.
Embora iguais a muitos dos moradores de Amsterdã, os olhos de Hendrika poderiam ficar muito escuros quando ela ficava pensativa. Eles tornaram-se negros agora.
– Você tem certeza que seu irmão o Duque vai garantir o pagamento? Elbert se virava no túmulo se soubesse que eu tirei essa carga de um porto estrangeiro para outro, apenas em confiança.
Ele colocou seu café na bandeja, gentilmente afastou uma longa mecha de seu cabelo loiro encaracolado de lado e se inclinou para dar um beijo perturbador no globo cheio de seu peito.
– De tudo o que temos partilhado este último mês, eu suspeito que o seu falecido marido acharia a nossa parceria nesta remessa o de menos.
Dedos fortes correram por seu cabelo, em seguida, segurando sua cabeça no lugar, encorajando-o a afligir o fantasma de Elbert ainda mais. Ela se encolheu, quase virando a bandeja, e riu de maneira gutural. Em seguida, ela o empurrou e voltou-se para seu café da manhã, os seios agora pesados e duros e suas pontas protuberantes. Ela espalhou manteiga em um pão.
– Qual geleia você quer?
– Cereja.
Dois jornais tinham vindo com a bandeja. Ela pegou o holandês e deu-lhe o outro, de Paris. Ele mastigava seu pão enquanto lia as notícias sobre a política francesa.
De repente, um punho agarrou seu braço. Hendrika exclamou algo em holandês.
– Gareth, meu amor, – ela sussurrou depois de tomar fôlego. – Olhe para isso aqui. Você pode ler isto? Devo traduzir?
Ele pegou o papel. Ela acariciou seu braço enquanto ele leu a notícia que ela indicou. Cinco palavras em que ele mal notou ela lá.
– Zeus. – Sua própria respiração presa e mantida antes de ele exalar.
Seu meio-irmão Percival, o quarto Duque de Aylesbury, estava morto. Ele tinha morrido há mais de uma semana. De repente. Abruptamente. Inesperadamente.
– Isto é chocante. Ele não era um homem doente. Longe disso. Jovem ainda, também. Apenas trinta e três.
– O que quer dizer, o inquérito está aberto? – Ela perguntou suavemente.
– É apenas uma formalidade. Tenho de voltar, é claro. Imediatamente. Eu preciso ajudar os outros, e...
– Claro. Claro, – ela balbuciou com simpatia.
Ele virou as folhas do papel até encontrar o horário dos navios de Amsterdã a Londres. Talheres e porcelanas tilintavam enquanto Hendrika voltava para a sua refeição. Ele colocou o papel à parte, em cima da pilha dos pergaminhos.
– Vamos precisar assinar estes contratos hoje, agora. – Ele apontou para eles. – Vou enviar uma mensagem para os advogados e marcar um encontro.
Ela examinava seu pão enquanto espalhava geleia nele.
– Com o seu irmão morto, isso é sábio? Seu nome influenciou o Conde a estender o crédito a você. Isso me influenciou também. Isso e outras coisas.
Ele se alongou e serviu-se de um pedaço do pão dela.
– Existe outro meio-irmão que é duque, que me ama ainda mais. Deus não permita que ele caia morto também; existe ainda outro na linha sucessória. Nunca ficaremos sem eles. Nada mudou. – Ele lhe deu um beijo reconfortante.
Ela lhe deu um beijo demorado e depois olhou em seus olhos.
– Mas você vai sair agora e eu não acho que voltará. Então eu tenho que garantir que serei paga de um jeito ou de outro.
Ela mergulhou a faca curta, sem corte em um dos pequenos vasos azuis e brancos, besuntando de geleia vermelha ao redor do seu seio.
– Cereja, eu acho que você disse que é sua preferida esta manhã. – Ela levou o pote em uma mão e a faca na outra, e fez um gesto para que ele removesse a bandeja. Cuidadosamente, vagarosamente, ela desenhou círculos de geleia em torno de seu outro seio, pincelando duas grandes porções em seus mamilos, em seguida, pintou faixas descendo pelo seu corpo.
– Aqui também, eu acho. – Ela abriu as coxas roliças, e pintou mais abaixo ainda. – Oh, sim e aqui. Você deve ser o mais perverso esta manhã, então eu não me preocuparia com o seu crédito hoje.
Ele a deixou terminar como ela queria. Então ele colocou-se por cima dela e começou a lamber a geleia, para que ela não pudesse pensar em nada por muito tempo.
Capítulo 2
Eva segurou seu enorme pacote desajeitado debaixo do braço. Uma brisa ameaçou revelar o objeto envolto em estopa velha. Ela parou para envolver o tecido grosso mais perto do quadro com moldura de gesso excessivamente esculpida. Quando ela tinha escolhido esta pintura, não considerou o quão difícil seria escondê-lo e transportá-lo.
Enquanto ela mexia na sua carga, manteve um olho em uma figura em movimento na estrada. Outro estranho. Com a proximidade do crescimento de Birmingham, e com todas as pessoas dispensadas pelas colheitas fracassadas, estranhos que se deslocavam através do campo dificilmente mereciam nota. No entanto, este levantou um pequeno alarme, por razões que não podia entender. Talvez porque ele se moveu muito lentamente para um homem com algum lugar para ir. Na verdade, parecia que ele realmente tinha diminuído a velocidade para que não passasse das casas, dirigindo para que ela chegasse antes ao fim.
Essa não foi a primeira vez que ela se pegou perguntando sobre um estranho. Na semana passada houve um outro, desta vez na cidade. Só tinha certeza de que também o teria visto mais tarde, na travessa perto de sua casa.
Ela repreendeu-se por inventar fantasmas. Sua missão atual a deixava nervosa, era isso. Ela não deveria ter esta pintura, e a culpa a fazia ser cautelosa.
Ela seguiu em frente. Olhou de volta para a casa de que tinha acabado de sair quando se aproximou do ponto onde o caminho privado encontrou a estrada. Anos atrás, antes de metade das árvores que acompanham a via privada morrerem, provavelmente, não se podia ver muito além das chaminés deste local. Agora, a condição de abandono do edifício era visível a todos. Mais um grande pavilhão de caça do que uma mansão adequada, era formada por pedras em forma de alas ligadas a um núcleo Tudor[1] rústico. Trinta anos atrás, poderia ter sido considerado aleatório em design. Agora, os formadores de opinião poderiam achar que era encantador.
Cada vez que ela a visitava, mais danos podiam ser vistos. Hoje uma seção inteira da parede do jardim tinha desaparecido, as suas pedras, sem dúvida roubadas para construir alguma dependência de um dos bons proprietários de Langdon’s End. Ela esperava virar a curva da estrada um dia e descobrir nada mais do que um amontoado de pedras.
Ela virou-se para a estrada, agitando-se com o quadro estúpido, tentando não ficar olhando para trás para o homem agora caminhando atrás dela. De repente, ela ouviu algo que congelou seus dedos. Um cavalo se aproximou. A partir do som de seus cascos, foi galopando em direção a ela e se aproximando da curva na estrada à frente, que iria deixá-la à vista.
Ela rapidamente examinou seu fardo para garantir que nada estava a mostra, em seguida, avançou a passos largos, esperando parecer ser uma mulher que vai para o trabalho perfeitamente honesto, completamente legal, não um negócio inapropriado. Em segundos um enorme cavalo preto, sua cabeça tensa contra as rédeas e seus dentes arreganhados como um garanhão do inferno, se abateu sobre ela. Cascos protestando, respiração resfolegando, a cabeça do diabo cresceu rápido.
Passou daquele ponto em que o cavaleiro deveria te desacelerado ao ver alguém na estrada. Ele continuou chegando. Alarmada, ela pulou para o lado para dar passagem, amaldiçoando o patife que tinha descuidadamente arriscado sua vida por capricho. O cavalo empinou. Suas patas dianteiras no ar, e a besta soltou um longo e furioso relincho.
Uma fria umidade se reuniu ao redor de seus pés e tornozelos. Ela olhou para baixo para ver que tinha dado um passo a direita em uma poça. Ela amaldiçoou novamente. Seus sapatos provavelmente ficariam arruinados.
– Minhas sinceras desculpas. – A voz veio do alto, enquanto ela levantava um pé para determinar o dano. Encharcado. Arruinado, com certeza.
– É um pouco tarde para cortesia, – ela retrucou. Concentrou-se em colocar os seus pés, de tal maneira a sair da poça sem entrar nela mais uma vez. O fardo que carregava não tornava isso mais fácil. Ela mal podia ver sobre ele. Talvez se ela levantasse acima da cabeça...
– A casa me distraiu. Eu sei que vir sobre você tão rápido foi imperdoável, mas parecia que não havia ninguém.
– Se você estivesse observando a estrada, você saberia que alguém poderia aparecer. – Ela olhou para trás para apontar para a outra pessoa na estrada. Só que ele tinha ido embora. Possivelmente tinha tomado um atalho através das madeiras.
Sua saia se revelou estreita para os passos largos que ela precisava. Ela não tinha escolha a não ser chapinhar pelas bordas da poça.
Uma mão se projetou na frente do seu rosto, agarrando a pintura.
– Permita-me aliviá-la disto para você não o deixar cair.
Ela bateu a mão e fez seu caminho para a grama seca.
O cavalo ofegava e tremia, provavelmente decidindo se daria uma mordida nela. Ela olhou para o seu flanco considerável e para as longas pernas e botas bonitas presas a elas. Ela olhou para cima, subindo do casaco de equitação vermelho para a gravata casualmente amarrada. Finalmente seu olhar subiu até o rosto do homem que a tinha abordado.
Sua fúria a deixou momentaneamente. Não durou mais que uma contagem de três, ela tinha certeza, mas naquela pequena pausa, não só a sua raiva cessou. Sua respiração parou também, e o movimento das folhas na brisa, e talvez até mesmo a revolução da terra.
O cavalheiro era lindo. Nenhuma outra palavra lhe faria jus. Belo seria uma descrição muito vaga. Atraente seria inadequada. Cabelos negros espessos e olhos escuros e sobrancelhas que arqueavam perfeitamente, todas as belas características regulares e precisas. A única falha, uma boca um pouco larga, o que dificilmente poderia ser chamada de uma desvantagem, vendo como ele deu ao homem tanto expressivas possibilidades quanto uma inegável qualidade sensual.
Então, novamente, ele não precisava da boca para isso. Seu ar e modos, a própria maneira como ele se sentava naquele cavalo, anunciava que não seria nada além de problemas para uma mulher. Claro, a maioria das mulheres iria achá-lo muito gostoso para resistir. Ela suspeitava que ele sabia disso. Como ele poderia não suspeitar, quando tolas como ela ficavam boquiabertas ao vê-lo?
Aqueles olhos escuros examinavam-na, tão certo como ela fez com ele, só que com muita mais diversão do que ela experimentou em seu próprio estudo. Ele provavelmente tinha percebido sua contagem de três. Ela receou que ele achasse que tinha sido uma reação romântica a ele.
– Eu arruinei seus sapatos. Eu insisto em pagar por um outro par.
Tinha sido culpa dele e ele deveria pagar, mas ela reagiu mal à oferta. Ela se ressentia dele perceber que ela mal podia arcar com a perda dos sapatos. Ela odiava que ele tentasse submetê-la à sua caridade.
– O único pagamento que eu peço é que você não galope com o cavalo nesta estrada enquanto está admirando a arquitetura. Você é muito facilmente impressionável por esse último fato, se a casa distraiu você.
Ele se virou para olhar a casa.
– Eu acho-a linda.
Ela reorganizou seu pacote em seus braços.
– Do lado de fora, talvez apele para aqueles que favorecem sentimentalismo mais que sofisticação. No entanto, no interior está abandonada. Ninguém viveu lá que eu lembre, e seu proprietário não a mantém. É um refúgio para vagabundos e ladrões, e as pessoas da cidade ficariam felizes se se incendiasse. Talvez um dia aconteça. – Ela esperava que não. Aquela casa tinha sido muito útil para ela nos últimos cinco anos.
Levantando sua pintura outra vez, ela começou a descer a estrada. Ela ouviu o movimento do cavalo. Então ela sentiu sua respiração em seu ombro. Ela se adiantou, e quase pulou para o lado novamente.
– Você me permitiria ajudá-la a carregar isso? Ou melhor ainda, dar-lhe uma carona para onde você está indo? Parece ser um pacote pesado, e os sapatos devem estar desconfortáveis agora.
Ela olhou por cima do ombro, para o rosto deslumbrante, agora marcado por um sorriso vencedor. Não, aquela boca não era uma falha. Masculina e firme, ela o transformava de meramente belo em um sedutor. Ele olhou para ela calorosamente. Talvez um pouco calorosamente demais. Isso deveria tê-la alarmado novamente. Em vez disso sentiu pequenas vibrações dentro dela. Era tudo o que podia fazer para não corar nem miar.
– Não, obrigada. Vou resolver isso.
– Você não tem que ter medo. Eu prometo me comportar. Eu sou totalmente inofensivo.
Sua expressão, mais zombeteira que suas próprias palavras, confirmaram a mentira.
– Venha comigo e eu vou mostrar-lhe os prazeres mais perversos. – Aqueles olhos prometendo brincar.
– Eu não tenho medo de você, senhor. No entanto, seu cavalo me aterroriza. Você poderia chegar para trás um pouco mais?
Ele ficou mais atrás, mas ainda a seguindo. – Você está indo para a cidade? É a uma certa distância. Pelo menos uma milha.
– Eu não aceitaria cavalgar com o senhor, mesmo que eu tivesse que andar cinco milhas. Por favor, siga o seu caminho e eu irei seguir o meu.
Um aceno de concordância. Ele virou a besta negra, trotando pela via abaixo, em seguida, a meio caminho da direção a casa. Então parou ali olhando para a casa. Ele tinha desistido do jogo porque alguma coisa lhe interessou mais que flertar com ela.
Eva olhou em volta uma vez mais antes da curva na estrada levar o cavalheiro fora de suas vistas. Ele parecia magnífico, com a brisa soprando de volta seu cabelo com seu perfil cortando o céu, seu olhar pensativo e absorto. Se ela fosse uma boa artista e não apenas uma copista mediana, ela poderia retratá-lo em uma grande composição cheia de ação. Ao invés disso, ela gravou sua imagem na sua memória.
Seus sapatos arruinados não a incomodaram na meia milha até a casa da família dela. E nem o peso desajeitado da pintura. Ela sorriu por todo o caminho. Quão ruim pode ser o dia de uma pobre solteirona, quando o homem mais bonito que ela já tinha visto em sua vida flerta com ela?
Só Percy para deixar a propriedade ir à ruína. Percy sabia que nunca iria ganhar no Tribunal, por isso, enquanto seus advogados mantiveram o caso enfraquecendo na corte, ele simplesmente deixou o tempo desvalorizar o objeto da disputa.
Gareth enfrentou sua frustração, galopando duro. Passado o tempo, ele entregou o garanhão para o cavalariço na hospedaria, o pior da sua raiva já tinha ido embora.
No dia seguinte, ele cavalgou por Coventry já recuperado. Ele tinha muita prática em absorver frustrações, e tinha aprendido cedo que, se ele permitisse que Percy arruinasse seu humor por dias a fio, ele daria a Percy uma vitória.
Além disso, Percy estava morto. Só esse pensamento fez o dia mais ensolarado.
Ele desmontou em frente a uma elegante casa, maior que a média. Não havia ruína nela, mas Percy nunca tinha sido capaz de encostar no que seu pai tinha dado à Sra. Johnson. Gareth esperava que o último pensamento de Percy tenha sido de fúria como nitidamente seu pai fez isso dar certo.
A Sra. Johnson recebeu-o em sua delicada sala. Ele andou a passos largos, inclinou-se e beijou-a. Seu braço rodeou seus ombros de modo que o beijo se tornou um abraço.
– É tão bom revê-lo, Gareth. Eu presumi que você teria ouvido as notícias.
Ele sentou-se numa cadeira.
– Eu voltei assim que eu li, mãe. Notícias terríveis. Simplesmente terrível.
Sua mãe manteve uma cara sóbria, mas seus olhos brilharam com seu tom irônico.
– Sim, terrível. Ele ainda era tão jovem. Por que, quantos anos, trinta e três? Tão repentino e inesperado também.
– Uma tragédia.
– Você já voltou para Merrywood?
– Eu pensei que poderia ver você primeiro. Eu irei para lá pela manhã.
Ela se esticou e acariciou seu braço afetuosamente. Ele raramente tinha de explicar muito a sua mãe. Eles tinham mentes parecidas, da mesma forma como tinham semblantes parecidos. Seus olhos, seu nariz, mesmo sua boca vieram dela. Allen Hemingford, o terceiro Duque de Aylesbury, se estivesse menos seguro dela, poderia ter ter suspeitado que Gareth não era seu bastardo afinal. Em vez disso, ele tinha aceitado a declaração de sua amante e cumpriu o contrato com ela.
Esse contrato foi acertado quando ela tinha dezoito anos, e não tinha apenas providenciado a casa, uma carruagem, criados e uma renda para a vida. Sendo astuta, ela também insistiu que o Duque providenciasse a segurança de seus filhos, e a autorização para ter o sobrenome Fitzallen[2] na forma antiga - Bastardo de Allen. Percy nunca tinha sido capaz de interferir com os rendimentos que Gareth recebia também. A casa perto de Langdon’s End era um assunto diferente. Aylesbury tinha deixado a casa para ele em seu testamento. Percy contestou o legado antes de seu pai esfriar no túmulo.
Não que sua renda chegasse perto da de sua mãe. Por isso, ele poderia viver como um cavalheiro solteirão com um grau razoável de estilo. Como isso estava, no entanto, quase todo o dinheiro foi para os advogados que defendiam seu caso no Tribunal.
Então, ele tinha encontrado maneiras de aumentá-lo. Felizmente ele herdou a astúcia de sua mãe, e isso não tinha sido muito difícil depois de acabar seus estudos, também previstos no contrato. Um olho para arte tinha ajudado.
Outros senhores podiam não o convidar para suas festas e nunca lhe apresentarem suas irmãs e filhas, mas o seu sangue significava que eles poderiam confiar nele para encontrar um comprador quando tinham uma coleção para vender. Com a economia em frangalhos nos dias de hoje, uma grande quantidade de arte foi mudando de mão. Essa era o tipo de ocupação que não tinha cheiro de comércio, desde que ele fizesse tudo como um favor a todos os envolvidos.
– Você acabou de voltar, você disse. – A Sra. Johnson falou enquanto ela servia o café que um de seus criados tinha trazido. Ela tinha direito a quatro. Tinha havido um Sr. Johnson por pouco tempo. Talvez mais tempo que uma semana, Gareth supôs, antes que o homem tivesse recebido seu generoso pagamento e embarcado para a América.
Quando o Duque conheceu Amanda Albany, ela era solteira. Uma inocente. O que o Duque queria, não era feito com mulheres solteiras. Assim, ele arrumou um casamento para ela, com um Capitão do exército de nome Johnson. Só que não foi para o leito nupcial de Johnson que Amanda Albany foi na noite de núpcias.
– Eu desembarquei há menos de uma semana. Por quê? Isso importa?
– Poderia. Estive me correspondendo com o velho Stuart. Você se lembra, o empregado que mancava. Permanecemos amigos desde que Allan morreu. Ele diz que há algumas questões sobre a morte de Percival. O legista deixou toda a questão aberta, e as investigações estão sendo feitas pelo magistrado.
– Alguém já entregou informações que implicariam que algo desagradável aconteceu?
– Não, mas estão de orelha em pé. A enfermidade digestiva súbita, com dor extrema e morte rápida, bem, estou de orelha em pé também.
– Daí o anúncio no jornal em Amsterdã que as investigações estavam em andamento. – Você está preocupada que eles possam olhar para mim, não é?
– A inimizade entre vocês dois vem de longe, e o negócio sobre o legado pode incentivá-los a se perguntarem.
– Não tenha medo. Eu estava fora do país. Eu posso provar isso.
Sua expressão iluminou-se. De repente ela parecia mais jovem do que seus quarenta e oito anos. Também inteligente e formidável. Ela teria sido uma esplêndida Duquesa para o Duque, se ele já não estivesse casado com a mãe de Percy, e se Amanda Albany não fosse filha de um mordomo.
Sua mudança de humor indicou que ela tinha um pouco de preocupação com seus afazeres recentes. É um inferno quando sua própria mãe acha que você é capaz de matar. Além disso, com as circunstâncias certas, ela provavelmente também seria.
– Eu espero que Lancelot e Ives estejam em Merrywood, – ela disse. – Com a transição do título para Lance e a liquidação dos bens.
– Espero que sim. Eu gostaria de vê-los. – Desde que Lance se tornou Duque agora, provavelmente estaria envolvido em inquéritos. Ives assumiria a liquidação dos bens, sendo advogado.
Ele não mentiu ao dizer que queria ver seus meios-irmãos. Ao contrário do relacionamento que teve com Percy, Gareth tinha um relacionamento bom o bastante com eles ao longo dos anos. E, claro, Lance iria agora decidir sobre esse caso no Tribunal.
– O enterro será na próxima semana. – Sua mãe falou. – O mausoléu foi rapidamente construído, para ser o leito de morte de Percival. Agora que está pronto, eles estão cavando-o para colocá-lo lá. Isso é uma monstruosidade, de acordo com o Sr. Stuart. Eu tenho um desenho aqui em algum lugar. Vou encontrá-lo, então você pode-se preparar. É tão horrível que alguém perguntaria se ele estava determinado a ser lembrado por alguma coisa, mesmo que fosse por ser o Duque que foi enterrado na mais feia sepultura do cemitério da família.
– Ele nunca teve bom gosto. Papai sempre falou isso, o que o deixava louco. – Ele falou distraído, sua mente em outras coisas. Se magistrados estavam farejando ao redor da morte do Duque, o novo Duque não gostaria de ter que direcionar seus pensamentos para assuntos menores, como uma pequena propriedade atada nos tribunais. Maldição, mesmo na morte, Percy era um saco.
– Eu subi até Langdon’s End, – ele disse, – antes de vir aqui.
A expressão de paciência de sua mãe atingiu-o. Ela pensou que ele poderia deixar para lá. Filha de um mordomo e amante de um Duque, ela não tinha senso de propriedade, mesmo se ela tivesse interesse nesta casa.
– Ele vai deixá-la ir a ruína. Não há nenhum zelador. Está abandonada e se transformando em uma concha. Eu duvido que qualquer mobília remanescente valha a pena usar. Ouvi dizer que os ladrões estavam ocupados.
– Você foi lá?
– Estou proibido de ir, lembra? Eu andei no entorno da casa, no entanto, olhei por algumas janelas. Ele sabia que não conseguiria se segurar, então ele fez o certo e finalmente foi embora, a casa estava quase inutilizada.
– Talvez o destino tenha intervindo antes do acontecido. Lance não tem razão para continuar a luta.
– Talvez– ele estancou. – Se não se importa, eu vou subir. Eu estive na estrada por muitos dias.
Ele se despediu, mas a voz dela o deteve na porta.
– Lady Chester me escreveu. Sua sobrinha ainda suspira por você, e pergunta quando você irá retornar a Londres.
A sobrinha de Lady Chester era uma mulher atraente, em um casamento infeliz com um Visconde grosseiro. – Quando eu voltar, vou visitá-la, mas ela vai ficar desapontada se espera algo mais.
– Você ama e deixa muito rapidamente, Gareth. Não admira que a sua reputação não seja a melhor.
– Eu teria ficado mais tempo na cama da senhora se ela não tivesse começado a tentar comprar-me. Um homem não permite que sua amante o mantenha se ele tiver algum orgulho. Eu fiz um favor a nós dois acabando com isso.
– Você não era tão determinado com Lady Dalmouth.
– Eu era muito jovem naquele tempo, e Lady Dalmouth tinha muito a recomendá-la além de seus presentes. – Mais notavelmente, Lady Dalmouth possuía experiência sexual como poucos são honrados a desfrutar. Excitado, ressentido, e pronto para enfrentar o mundo, ele tinha sido um aluno disposto, e mal tinha notado que se tinha tornado o gigolô da Lady até a manhã em que ela lhe pediu para mudar a casaca porque ela não favorecia a sua cor naquele dia.
– As mulheres são mantidas o tempo todo. Eu consegui segurar meu orgulho bem o suficiente. Eu não sei porque deveria ser diferente para os homens, se duas pessoas compartilham afeição.
Ele a tinha machucado. Ele não tinha essa intenção, mas uma hora na presença da sua mãe e ele tinha quinze anos novamente e ela estava tentando planejar sua vida.
– Você não era meramente a mulher que fisgou um Duque. Você era sua verdadeira mulher e que se dane a lei. Escreva para Lady Chester e diga que eu estou encantado por uma viúva em Amsterdã, para que sua sobrinha não espere que eu seja seu parceiro de dança se eu for para a cidade.
Capítulo 3
– Eles parecem secos para mim, – disse Rebecca. Ela cautelosamente tocou a superfície da pintura com os dedos, em seguida olhou para ver se alguma tinta tinha saído neles.
– Este precisa de outra semana, – Eva murmurou, sua atenção, sobretudo, na pintura que ela tinha carregado para casa três dias atrás, ao custo de um par de sapatos.
– Os outros não.
– Eu não posso ir para Birmingham cada vez que uma pintura está pronta. Não podemos nos dar a esse luxo. Vou esperar até que todos aqueles estejam secos e, em seguida, transportá-los de uma só vez.
Rebecca suspirou alto e se jogou no sofá. Eva se sentiu mal por sua irmã. Comparando com a excitação de Birmingham, sua casa na periferia de Langdon’s End e a cidade de Langdon’s End tinham pouco interesse. O lugar onde se nasceu e foi criado, nunca tinha um espírito aventureiro. Rebecca coçava-se por novidades, viagens e os mundos que a leitura lhe revelou.
Há um ano, Rebecca vinha pedindo para ir a Londres. Eva abrandou seu desejo levando-a junto em suas visitas periódicas a Birmingham, quando Eva levava suas pinturas para o Sr. Stevenson, o dono da papelaria que colocava suas pinturas na vitrine para venda.
Sua irmã descansava no divã, uma das poucas peças essenciais do mobiliário que não tinha sido vendida. Ela fez um lindo beicinho, mas tudo na expressão de Rebecca era adorável. Seu cabelo caia pelos ombros, criando uma grossa corrente de cachos brilhantes tão exuberante que ninguém notaria que ela usava um vestido remendado em quatro lugares.
Eva invejava Rebecca algumas vezes, o que não era muito justo. Rebecca não podia evitar ser linda. Apenas parecia injusto que Rebecca tivesse nascido como uma versão melhor em tudo o que tinham em comum. Os olhos azuis de Rebecca possuíam e cor e a profundidade de um mar claro e perfeito, enquanto nos de Eva só podia realmente ser chamada de azul nos dias mais ensolarados. O espelho refletia uma cor indescritível, muito pálida para ser notada, não importando o que fizesse. E o cabelo de Rebecca tinha uma cor rica e profunda de mogno, enquanto o de Eva parecia um marrom monótono de um tronco de árvore. Se isso não fosse ruim o suficiente, Rebecca também era mais esperta. Se ela não demonstrava a boa vontade necessária para sobreviver, isso era somente porque Eva a protegia das experiências que viriam dessa astúcia.
Uma menina tão linda quanto Rebecca merecia mais do que ela conhecera até agora. No entanto, com exceção dos passeios de um dia a Birmingham, Eva não tinha sido capaz de dar a Rebecca oportunidades melhores. Porém, ela tinha um plano, e esta pintura que ela começara agora era parte dela.
Eva voltou sua atenção para sua tarefa pensando se conseguiria remover a moldura pesada de gesso antes de prosseguir. Ela teria que a colocar de volta como antes, mas ela estava preocupada em pintá-la, se não a tirasse. Ela reduziria a decoração da tela a óleo. Ela nunca entendeu como os donos de obras de arte não podiam ver com clareza o quanto uma moldura poderia prejudicar o tesouro que detinham.
Decidindo deixar o quadro, ela colocou uma tela no seu cavalete ao lado de sua cadeira. Sua tela era maior que a pintura por quase três polegadas de altura, mas ela não podia pagar outra. Ela teria apenas que pintar mais em cima, estendendo as árvores e o céu.
– Por que você escolheu essa imagem desta vez? – Rebecca perguntou, sobre seus ombros. – Eu não posso imaginar quem iria comprar essa cópia. O assunto não é grandioso.
A pintura mostrava três rapazes pequenos que jogavam perto de uma fonte. De bochechas rosadas e enfeitados com suas melhores roupas, eles formavam, muito provavelmente, o retrato de um grupo informal, mas poderia ter sido feito apenas para satisfazer o capricho do artista.
– Isto é sobre Gainsborough, Rebecca. Alguém vai comprá-lo só por isso, já que seu estilo ainda é popular. E os meninos vão apelar para as mães e avós como os deuses gregos não fariam.
– Somente se os deuses estiverem vestidos. Pinte-os pelados e mães iriam gostar deles o suficiente.
– Rebecca!
– Por favor, não pareça chocada. Se as irmãs Neville têm livros de gravuras de estátuas nuas em sua biblioteca, eu acho que é seguro dizer que as mulheres não se importam de ver essas coisas.
As irmãs Neville eram duas solteironas de renda considerável que viviam em Langdon’s End. Elas viram em Rebecca uma potencial companheira esperta e disponibilizaram sua biblioteca para ela, inclusive, ao que parecia, gravuras de antigas estátuas de homens nus.
– Tenho certeza que as irmãs têm esses livros somente porque eles são educativos sobre arte dos antigos gregos.
– Oh, sim, eles são educacionais. – Rebecca sorriu maliciosamente. – Eu tenho aprendido muito. Venha comigo algum dia e eu irei mostrar-lhe os melhores.
– Se eu for com você, irei fazer coisas melhores que estas. – Eva abriu sua caixa de pintura e começou a mexer nas tintas que ela tinha misturado antes em sua paleta. – Agora vá embora. Tenho de me concentrar nisto.
Rebecca fez beicinho novamente. – Mas eu queria falar com você sobre uma coisa muito importante. Eu estive pensando sobre nossa vida aqui, e acredito que nós devemos fazer uma mudança. Eu tenho um plano...
Eva parou de ouvir o que Rebecca dizia. As palavras se transformaram em um som no fundo da sua consciência, muito parecido com um riacho fluindo sem ninguém perceber. Ela mal percebeu quando Rebecca se foi.
Quatro horas depois, quando ela limpava seus pincéis e admirava seu progresso, algumas palavras de sua irmã ressurgiram na névoa da sua memória. Eles vinham e voltavam até que ela fixou algumas e tentou reconstruir o conteúdo.
Quando ela terminou, riu. Certamente Rebecca não poderia propor seriamente que elas vendessem a casa, pegassem o dinheiro e fossem para Londres para se tornar cortesãs.
***
Em Merrywood Manor, cinco milhas fora de Cheltenham nas colinas de Gloucester, nada tinha mudado durante o tempo de Percival como Duque. Ele gostava de dizer que estava deixando a renovação da mansão de estilo Palladiano[3] para sua futura Duquesa. Gareth presumiu que Percy era demasiado miserável para qualquer renovação, ou para ter uma esposa, embora esse último provavelmente acabaria por acontecer, dadas as obrigações de ser um Duque. A relutância de Percy em investir nas suas propriedades era óbvia à medida que Gareth cavalgava. Uma casa de inquilino tinha ardido há pelo menos cinco anos e ainda permanecia uma pilha de madeira queimada, e até mesmo Merrywood mostrava evidências de precisar de alguma manutenção.
Gareth se apresentou na frente da mansão do jeito que ele sempre fazia, como um visitante. Um bastardo não tratava a casa familiar como seu lar. A primeira vez que ele veio após o falecimento do seu pai, Percy deixou claro as limitações se recusando a recebê-lo. Seu pai sempre o recebeu, e até mesmo os servos davam entrada a ele, durante a vida do seu pai, mesmo que ele não estivesse em casa.
Ele tinha assistido ao enterro do seu pai da sela do seu cavalo em uma colina. Enquanto a nata da nobreza carregava o caixão até ao túmulo simples, uma carruagem aberta saiu e sua mãe saltou. Cabeça erguida, usando uma expressão que desafiava Percy ou qualquer outro a interferir, ela atravessou as fileiras de nobres para ficar ao lado da sepultura enquanto seu amante era enterrado. A duquesa tinha falecido uma boa dúzia de anos antes, mas Gareth suspeitava que sua mãe teria feito isso mesmo que a duquesa também estivesse lá.
Hoje a porta de Merrywood Manor tinha uma imensa coroa de flores envolta em bombazina negra. Ele se perguntou se Percy, em seus últimos suspiros, tinha ordenado essa coroa gigantesca junto com o mausoléu.
Ele esperou no hall de entrada enquanto o seu cartão era levado e seguiu o mordomo para a biblioteca após sua entrada ter sido liberada. Na biblioteca encontrou Ives, o mais novo dos irmãos legítimos, que tinha trinta, dois anos mais velho que Gareth. Oficialmente chamado Ywain, o que ele odiava, Ives era alto como todos os descendentes do terceiro duque. Ele agora estava junto à janela que mostrava suas características clássicas. Sua luz capturava os fios dourados do seu cabelo castanho. Ao ouvir a porta se abrindo, se virou. Braçadeira negra envolvia a manga do casaco escuro.
Esperaram o mordomo sair. Ives travava uma batalha com um sorriso que queria aparecer no seu rosto. Um deleite diabólico se mostrou em seus olhos verdes. Ele reprimiu a expressão, tossiu, e assumiu uma atitude sombria, apropriada para a reunião.
– Bom que você veio, Gareth. Eu sei que Percy ficaria tocado.
Gareth manteve sua expressão inalterada com dificuldade.
– Eu li sobre isto em Amsterdã e estava num navio pela manhã. Tão inesperado. Tão chocante.
– Sim, sim, Como pode imaginar, estamos fora de nós mesmos.
Oh, ele podia imaginar. No tempo que ele tinha quinze anos, Gareth tinha percebido que Lance e Ives eram seus camaradas de armas contra Percy. Eles sabiam porque ele odiava o herdeiro do duque, mas ele ainda não sabia o que tinha acontecido nesta família para pôr irmão de sangue contra irmão de sangue.
– Amsterdã, você disse? – Ives perguntou.
– Sim.
– Eu estou feliz de ouvir isso. Eu presumo que sua viagem tenha sido ao mesmo tempo prazerosa e rentável.
Qualquer outro se perguntaria se Percy tinha sido morto pelo seu meio-irmão bastardo. Gareth dificilmente se importaria. Ele deve ter ameaçado matar Percy meia dúzia de vezes na frente de Ives.
– Eu estava agenciando a coleção de um Conde francês. Eu encontrei um industrial aqui que tem dinheiro e que deseja uma galeria instantânea para enfeitar sua casa recém construída. As pinturas devem chegar dentro de duas semanas.
Ives apontou para a bandeja com uma garrafa de brandy e ergueu as sobrancelhas interrogativamente. Quando Gareth acenou com a cabeça, Ives serviu.
– Lance irá querer que você ache comprador para algumas pinturas daqui. As que Percy comprou não são do seu gosto.
Gareth pegou o copo e bebeu.
– Eles são para o gosto de alguém? Eu não posso vender o que ninguém comprará.
– Talvez você possa localizar um rico industrial com visão ruim. Ou você pode mentir e afirmar que eles são as melhores pinturas que viu nas últimas duas décadas.
– Só se nós falarmos de trabalhos feitos por freiras espanholas. Todos estes querubins gordos de cor pastel e santos olhando o céu com as palmas das mãos em martírio. – Você acha que Percy era um dissidente secreto?
– Isso exigiria que ele tivesse algum tipo de princípios, não é?
Gareth quase engasgou. Ives sugava as bochechas.
– Oh, inferno, – Ives suspirou. – Não se deve falar mal dos mortos. Agora não. Nós não queremos que os criados nos vejam menos do que adequadamente tristes. Relatos de alegria barulhenta podem ser mal interpretados. Deus me perdoe, Gareth, ele era meu irmão, mas quando recebi a notícia, em Londres, fiz de tudo o que eu podia fazer para não atravessar a janela aberta e dar alguns tiros de pistola para o céu para comemorar.
– Aposto que você não o fez, só porque o som teria assustado sua amiga atriz. Como está ela?
– Cara.
Gareth assumiu que o caso iria acabar em breve.
– Por que os relatos de nosso humor seriam mal interpretados? Parto do princípio de que ninguém acredita que ele foi amado.
Ives virou realmente muito sóbrio.
– Foi, possivelmente, assassinato, Gareth. Você certamente ouviu falar. Mesmo os jornais aludem a isso.
– Você tinha esperanças que eu estivesse na Inglaterra naquele dia e os olhos se voltassem para mim?
Ele deu-lhe um olhar afiado por isso.
– Olhos já se tinham virado. Investigações estão em andamento em Londres para localizar o seu paradeiro. Por isso, é uma coisa danada de boa que você estivesse fora do país. Estou realmente aliviado por ter menos um irmão para proteger com minha eloquência de advogado.
Ficaram ali, copos na mão, bebendo o brandy.
– Onde você estava naquele dia? – Perguntou Gareth.
– Em Londres. No tribunal durante o dia e em um jantar à noite. Não sou de nenhum interesse para o magistrado.
Cada um deles tomou outro gole.
– E Lance?
Ives soltou uma respiração profunda, longa.
– Ele esteve aqui. Ele estava nesta casa maldita.
– Na verdade, eu estava, – disse uma voz.
Gareth olhou por cima do ombro. Lance tinha acabado de entrar na biblioteca, mostrando sua personalidade formidável, pouco convencional. Moreno, de olhos escuros, vestido com arrogância e de inteligência afiada, com casaco e calções pretos e botas, ele deu um sorriso que os homens estúpidos entenderiam como amigável. Ele não tinha feito a barba hoje, e o crescimento áspero em seu rosto enfatizou, em vez de esconder, a longa e fina cicatriz na bochecha direita.
Ele andou a passos largos, e deu boas-vindas batendo no ombro de Gareth, em seguida, serviu-se de um pouco de conhaque. Ele se virou para eles com um copo na mão.
– Pena que eu não tive a coragem de fazê-lo. Penso que estamos todos de acordo, senhores, que Percy era um terrível arremedo de um ser humano que semeava sofrimento onde quer que fosse. Vamos brindar-lhe a morte para os anos de miséria que ele nunca mais vai poder criar.
– Você tem que parar de dizer coisas como essa, – Ives rebateu, batendo sobre a mesa seu próprio copo. – Um pouco de discrição está na ordem do dia.
– Ele está preocupado que eles me enforquem, – disse Lance a Gareth. Seu tom continha indiferença às preocupações de Ives, ou à opinião de alguém.
– Eu não estou preocupado que eles o façam, —droga, você quer que as pessoas pensem que foi você toda a sua vida, se o culpado não for encontrado?
– O inferno se eu me importo. Como Duque de Aylesbury espero que possa sobreviver a alguns cortes.
– Escute-me. Eu não espero que você chore sobre seu túmulo, só não tente dançar sobre ele. Danação, um homem morreu, e cabe aos seus parentes mais próximos pelo menos mostrar alguma seriedade, talvez subir as sobrancelhas.
– Ele está certo, – disse Gareth, trabalhando seu rosto em uma expressão adequadamente triste. – Um homem morreu, como ele disse.
– Claro que estou certo, – Ives entoou.
Lance baixou as pálpebras e tirou o sorriso do rosto. Traço por traço ele criou uma máscara. – Mais assim?
– Sim, muito melhor, – disse Ives.
– Infernalmente desconfortável. Vou precisar de muita concentração para mantê-lo.
– No entanto, deve. Pense em mim a herdar tudo depois de você balançar na forca. Isso deve manter aquele esgar em sua face.
– Eles não têm que provar que houve um assassinato antes de acusar alguém de assassinato? –, Perguntou Gareth.
– O diabo do médico escreveu que ele foi, possivelmente, envenenado, – disse Lance. – Inferno, você não iria pensar que, se o homem que paga a você está morto, você teria que bajular o homem que vai pagar-lhe depois, e não criar o drama, colocando, por escrito, que pode ter havido um assassinato? Este rabisco foi suficiente para agitar o pote, e para apoiar a acusação, tornando outros fatos conhecidos.
– O que não vai acontecer, – disse Ives. – Não há outros fatos. Não houve assassinato. Percy comeu algo que estava contaminado, ou sucumbiu a uma doença inflamatória longa do intestino. Essa é a nossa história, senhores. Os magistrados estão em uma missão de tolos, e o legista está fazendo muito barulho por nada.
Ainda de forma sóbria, Lance se jogou em uma cadeira, descansando com ar entediado, numa pose lânguida que tão claramente comunicava tanto a sua arrogância quanto enfado com a vida. Gareth pensou que ele parecia mais magro, e um pouco abatido. Ele não poderia dizer se os eventos atuais fizeram isso, ou se apenas refletiam um longo período de excesso hedonista antes da morte de Percy. Nenhum deles tinha a reputação de santo, mas Lance também não podia ser incomodado com discrição ou restrição.
Por alguns minutos, Lance divagou, mas então ele chamou a atenção para Gareth.
– Talvez você deva fazer o elogio, Mordred. Você foi o primeiro a ver tudo o que ele poderia ser.
– Não seja perverso, – Ives repreendeu. – E eu confio que você não fará deste um apelido para Gareth.
– Se você quiser, eu façoo, – disse Gareth. – Quanto à forma como ele se dirigiu a mim, Ives, ele está só me lembrando quão eloquente meu elogio poderia ser se eu tivesse mão livre.
Mordred tinha sido o nome que Percy tinha dado para ele. Ressentido que seu pai tinha dado a um bastardo o nome de um dos cavaleiros do Rei Artur, assim como a seus filhos legais, Percy tinha-se decidido por um nome mais apropriado. O conceito desses nomes tinha sido ideia da duquesa. Que o duque o usasse em seu bastardo também, tinha sido um insulto a ela como uma ferida que se mantinha aberta.
– Eu estou brincando, é claro. Você pode ser um carregador de caixão no enterro, se quiser. Se preferir declinar, é compreensível.
– Vou assistir da maneira que eu assisti ao funeral do meu pai, de longe, se vocês não se importam.
Lance jogou para trás o resto do seu brandy.
– Claro que não, eu não me importo. Acho que vou montar. Esperar que algo aconteça está me deixando louco. Gostaria de sugerir que todos nós visitássemos um bordel, mas Ives aqui tem insistido que devemos fingir estar muito tristes para o prazer.
Ele saiu da biblioteca. Ives observou-o ir, em seguida, virou-se e apontou para as portas do jardim.
– Vem andar comigo, Gareth. Eu preciso falar com você sobre outro assunto.
– Ele ri do perigo, mas não é tolo. É improvável que ele vá ser formalmente acusado, ele é agora um duque depois de tudo, mas a sombra pode segui-lo para sempre. – Ives falou entre baforadas de seu charuto. Ives fumava apenas quando estava agitado. Ele ter retomado o hábito dizia que estava preocupado com os recentes acontecimentos e não acreditava que tudo iria acabar bem.
– Suponho que sua reputação não ajuda. – Lance tinha sido um cultivador do inferno quando jovem. Não sendo o primeiro da sucessão, tinha sido mais imprudente do que Ives, ou mesmo Gareth. A escuridão viveu em Lance, também, as suas origens desconhecidas para Gareth. Não uma escuridão criminal, no entanto. A ideia de Lance envenenar alguém, e ainda muito mais o seu próprio irmão, não poderia ser levado a sério.
– O que realmente não ajuda é ele ter enganado um dos magistrados, – disse Ives. – O homem sabe disso e não vai deixar passar esta oportunidade, sendo duque ou não.
Gareth teve que rir.
– Lembre-me, se eu for tentado, de nunca ir para a cama da esposa de um homem que pode me dar problemas legais.
– Como se você fosse ouvir mais do que ele o fez. Devo permanecer aqui com Lance e atuar como o advogado para seu incorrigível cliente. Eu não o quero fazendo, ou dizendo alguma coisa que só piore as coisas, quando ele estiver com os copos, e eu quero manter-me informado do que estão pensando aqueles que estão procurando por problemas.
– Isso soa sábio.
– Sábio, mas inconveniente. Era para eu ir para o norte para investigar uma coisa, e agora eu não posso. Eu pensei que talvez você pudesse ajudar e tomar o meu lugar.
Gareth hesitou. Ives muitas vezes serviu como procurador da Coroa em crimes graves. O algo que ele precisava fazer para o norte poderia envolver confrontar homens perigosos. Enquanto Gareth se saísse bem o suficiente em tais situações, ele não estava disposto a procurá-las, e muito menos para terceiros sem nome.
Além disso, tinha a sua própria missão agora.
– Eu tinha pensado em ficar aqui por alguns dias, pelo menos, após o enterro. Espero falar com Lance.
– Essa propriedade está em sua mente, é claro. Como não poderia ser. Se você fizer isso por mim, eu vou defender o seu caso para você, e convencê-lo a deixar cair a questão inteiramente. Eu não acredito que vá demorar mais do que alguns minutos e algumas palavras, uma vez que eu trouxer a sua atenção para isto.
Ives tinha tentado isso com Percy, sem sucesso. Gareth achava Ives um advogado brilhante, mas propriedades tinham um jeito de trazer à tona o pior dos homens.
– Além disso, – disse Ives. – Esse negócio de que falo é na região do pavilhão. Eu convencerei Lance a concordar que você use a casa enquanto você estiver lá. Você pode começar a se estabelecer.
De repente, a proposta de Ives era apelativa.
– Qual é o problema para que você precisa de mim?
– Uma coleção de arte desapareceu.
Não era só um apelo agora, mas interesse real.
– De quem era a coleção?
– Não era possuído por uma única pessoa. Pelo contrário, é composta por obras pertencentes a diversas pessoas.
– Quais pessoas?
– Ninguém importante. Somente metade dos membros da Câmara dos Lordes.
– Foi durante a guerra, – disse Ives. Ele e Gareth agora se sentavam em um banco debaixo de uma árvore. – Logo por volta de 1800. Todo o mundo preocupado com a invasão. Você provavelmente se lembra como era então, apesar de sermos meninos. Napoleão já tinha a reputação de pilhagem cultural. Ele escolhia a melhor arte e a enviava de volta, através das linhas, para a França. Uma série de senhores muito proeminentes passou a se preocupar com a arte em suas casas senhoriais. Suas esposas e filhas poderiam sofrer o pior, mas, por George, suas pinturas não iriam acabar em algum palácio francês.
– Você diz isso como uma brincadeira, mas um monte de arte foi saqueado pelos franceses.
– Como tem sido com todos os exércitos através do tempo. A pilhagem metódica de Napoleão angustiou estes senhores, no entanto. O Corso trouxe especialistas com ele que sabiam o que queriam. Supunha-se que ele sabia o que as famílias daqui possuíam, e tinha uma lista pronta. Qualquer galeria entre a costa e Londres foi considerada vulnerável. Assim, eles bolaram uma solução para frustrá-lo.
– Mover as peças de arte, – Gareth adivinhou.
Ives assentiu.
– O melhor do melhor foi encaixotado e mudou-se para o norte, para o centro da Inglaterra, para aguardar o fim da guerra. Somente quando esse dia chegou, e aqueles que organizaram isso foram para recuperá-las, viram que ela não estava lá.
– Roubada?
– Não está sendo chamado de roubo ainda.
– Onde foi armazenada?
– Aí é onde a história fica delicada. O repositório foi um imóvel de propriedade do Duque de Devonshire.
– Delicado coloca um excelente ponto para isso. Não admira que não houvesse nenhum rumor ou fofocas. Dizer que foi roubada insultaria um homem muito poderoso.
– Tem havido críticas leves sobre sua vigilância. Nada mais. Ninguém se atreveu a sugerir que ele ou o duque atual, de forma alguma, decidiu desviar qualquer uma das pinturas de sua própria coleção.
– Essa família possui uma das melhores coleções do reino. Eles não precisam da coleção de qualquer outra pessoa.
– No entanto, os quadros enviados para o norte se foram. O governo tem pregado paciência, pois o Regente participou da ideia original, mas os ânimos estão se esgotando. E fui designado para descobrir o que puder.
Descobrir o que pudesse, poderia significar todos os tipos de coisas com Ives.
– Você pretende questionar Devonshire? – Perguntou Gareth.
– Eu pareço louco? Ele está vindo para o enterro, no entanto.
– Eu não imaginava que Percy tivesse feito qualquer favor a Devonshire.
– Ele não o fez. De jeito algum. O último duque uma vez chamou-lhe um pequeno demônio miserável. Na melhor das hipóteses, é uma questão de grau de respeito. Um duque morre e outros duques comparecem ao seu funeral. Na pior das hipóteses, o atual duque de Devonshire está chegando para cravar uma estaca no coração de Percy.
– Talvez Lance vá abordar o tema com você. Eu diria, Devvie, o que você acha que aconteceu com toda arte que o seu pai concordou em armazenar em seus sótãos? Ele faria isso, se você pedisse.
– O perigo é que ele vai fazê-lo mesmo se eu não perguntar. Não o lembre da questão. Ele sabe disso, claro. Todos os senhores sabem. Aqueles que perderam não ficaram silenciosos entre os seus pares. Uma vez que nenhum dos nossos desapareceu, é improvável que nosso irmão pense sobre isso, a menos que seja estimulado.
– Como você vai explicar a minha pequena missão para ele, então?
– Eu não tinha a intenção de explicar nada. Nós nunca esperamos uma contabilidade de suas idas e vindas.
Em outras palavras, o novo duque de Aylesbury não daria a mínima porque Gareth estava indo para o norte.
– Se você organizar para eu usar o pavilhão, nós temos um pacto.
Ives levantou-se.
– Eu prometo ver o legado totalmente resolvido, uma vez que este outro negócio esteja tratado. Até então, Lance vai concordar que é justo você o ter como seu.
Era toda a garantia necessária a Gareth. Lance poderia ser premeditado, mesmo caprichoso, mas ele era justo. Uma escritura limpa seria acessível cedo ao invés de tarde, agora. Aquela pilha abandonada seria sua, e ele poderia começar a fazer melhoramentos. Ele seguiu Ives de volta para a casa, fazendo planos.
Capítulo 4
– A casa da colina está com um morador ou visitante, foi o que ouvi dizerem. – Rebecca mencionou a notícia enquanto ela se sentava em um saco de serapilheira, observando Eva arrancar ervas daninhas. As plantações atrás de sua casa tinham sido dispostas para flores e arbustos, mas Eva tinha começado a plantar legumes em meio às flores há três anos. Poupavam algumas libras por ano em comida, tudo por pouco esforço.
Plantar vegetais havia sido a última de uma longa série de economias, e deixavam a Eva um pouco menos preocupada. Seu pai tinha vendido a maior parte da terra, e o que restou estava alugada a valores mínimos. Os cinco anos de enfermidade de seu falecido irmão significavam que ele não tinha sido capaz de suplementar sua renda com qualquer tipo de emprego, não que Nigel tivesse trabalhado no comércio, mesmo se tivesse tido a saúde para fazê-lo. Ele era filho de um cavalheiro e tinha a intenção de morrer um cavalheiro, mesmo que isso significasse que sua irmã mais velha tivesse que vender os móveis da casa para garantir que todos tinham o suficiente para comer.
– Quem a arrendou? Não consigo imaginar alguém que queira morar lá, – disse Eva.
– Ninguém sabe, mas alguns meninos viram uma luz através das janelas inferiores há duas noites, e há relatos de um cavalo no estábulo.
– Se não fosse o cavalo, eu diria que isso era tudo um absurdo e alguns dos jovens de Langdon’s End ficaram bêbados e decidiram passar por lá uma noite.
– Quem quer que seja, eu espero que eles venham para a cidade em breve. Eles de certeza que são pessoas de posses. Mesmo em seu estado atual, a renda teria que ser muito alta para manter uma casa tão grande e uma vasta propriedade.
Eva esperava que os rumores estivessem errados e que, na pior das hipóteses, o dono da casa tenha enviado um criado para ficar um pouco. Talvez algum viajante tivesse simplesmente feito uso de uma casa vazia e logo estaria em seu caminho. Ela tinha pensado nessa casa como abandonada e queria e contava que ela permanecesse assim.
– Eu acho que você os deveria visitar, – Rebecca disse. – Talvez tenham uma filha que possa vir a ser a minha amiga.
– Eu farei isso se você prometer não se queixar que nossa casa não é apropriada para convidados, por que talvez eles queiram retribuir a visita.
Rebecca ficou vermelha.
– Talvez, se eles tiverem uma filha, vou encontrá-la na cidade.
– Talvez você devesse permitir que ela conheça sua situação atual, quando você a conhecer. Não há vergonha em nossa situação, e se essa nova amiga imaginária for digna do nome, ela não se vai importar.
Rebecca levantou-se abruptamente, com a testa franzida.
– Eu não me importo com a nossa situação, mas eu não tenho que aceitar! Em vez de melhorar, fica pior e agora eu não posso ter amigos, porque não temos cadeiras suficientes desde que você vendeu todas elas.
– Eu as vendi para que você não passasse fome. E, naturalmente, nossa situação está melhorando, mesmo se você não vê os frutos disso ainda. Nosso ano de luto já terminou e podemos voltar a participar da sociedade. Você pode assistir a bailes e conhecer outras garotas na cidade, e se você puder se conter e não falar sobre filosofia nas primeiras conversas, você vai encontrar amigos que vão mudar tudo.
– Não estou falando de assuntos sociais.
– Os financeiros, então? Meus quadros estão vendendo bem o suficiente para que nossas circunstâncias não sejam tão terríveis como eram, mesmo com a colheita ruim e alugueis não pagos. Eu acho que estou fazendo esplendidamente. – Ela sorriu e deu uma piscadela à irmã. – Você é incomum, Rebecca. Não parece seu queixar-se com tanta veemência.
Sua tentativa de aliviar a conversa foi inútil.
– O que acontece se ninguém quiser suas pinturas algum dia? – Rebecca perguntou.
– Eu vou encontrar uma outra maneira de melhorar a nossa vida, se isso acontecer. Você não deve se preocupar.
– Eu me preocupo. Você pode ver melhoras, mas eu vejo mais do mesmo, e isso a anos a fio, nunca melhora. Eu digo que temos que fazer grandes mudanças, não essas suas pequenas mudanças, isso não está ajudando, apenas prorrogando o fim. Somos jovens e de boa família e devemos procurar outras coisas, enquanto nós ainda podemos.
Eva olhou para a irmã. O rosto de Rebecca se ruborizou e sua postura se endureceu, mas ela encontrou o olhar de Eva corajosamente.
– Você se refere à sua proposta imprópria do outro dia, eu temo. – Ela deveria ter prestado mais atenção na época, e puxou aquela erva daninha de uma vez. – Você não pode estar falando sério, Rebecca.
– Por que não? As irmãs Neville dizem que tal vida pode trazer uma segurança para a mulher e até mesmo riquezas.
Eva riu e se levantou.
– Querida, você nem mesmo compreende o que tal vida implica. Eu me pergunto se as irmãs Neville realmente o sabem também. Eu não consigo imaginar por que elas iriam falar de tais coisas para você.
– Eu perguntei a elas, e elas responderam francamente. Nem todo mundo pensa que as mulheres devem permanecer ignorantes.
– Você não é uma mulher. Você é uma criança.
– Oh, que tolices! Olhe para mim, Eva. Realmente olhe para mim. Não deixe que as lembranças obscureçam o que você vê. – As lágrimas brilhavam nos olhos de Rebecca. Sua expressão desafiadora se transformou em uma de infeliz miséria. – Eu não sou uma criança. Vou fazer dezenove anos em breve. Nenhum homem me propôs nada. Nenhum. Eu nem sequer tive um amor trágico, como você teve. E olhe para você mesma. Você costumava ter sonhos de ser uma artista, mas você só faz cópias agora e isso há anos. E eu não consigo me lembrar da última vez que vi você desenhar.
Virando-se, Rebecca correu para a casa.
Eva olhou para o jardim que conhecera durante toda a vida. Uma lembrança veio-lhe, de quando brincava com uma Rebecca muito mais jovem entre os arbustos. Então outras fluíram, de confortar sua irmãzinha quando seu pai faleceu.
Ela caiu de joelhos e continuou puxando ervas daninhas. Enquanto suas mãos enluvadas arrancavam os pequenos intrusos, seu coração acomodou as palavras com as quais Rebecca a golpeou, duramente.
Sua irmã realmente não queria se tornar uma mulher caída. Rebecca só queria saber que ela teria algum tipo de vida além desta. A falta de pretendentes iria pesar sobre a idade de qualquer jovem Rebecca, e causar uma inquietação que a tornava vulnerável.
Seus pensamentos voltaram-se para Charles, o - amor trágico - que Rebecca tinha jogado em seu rosto. Não era realmente trágico. Rebecca tinha sido muito dramática. Afinal, Charles não tinha morrido. Ele não a abandonara. Ele simplesmente tinha ido embora como tinha planejado, apenas sem ela porque ela não podia - não, não iria - casar com ele e ir também. Fazer isso significaria deixar seu irmão sozinho e doente, fraco daquela ferida de pistola que para sempre afetou sua saúde.
Esse dever lhe custara caro. Casamento, sua juventude, sua arte...
Ela evitou pensar em tudo isso, porque quando ela fazia isso o seu coração ficava bravo e assustado.
Ela quase nunca pensava em Charles. Ela raramente ficava melancólica com pensamentos sobre o que poderia ter sido. Ela odiava o que ela tinha que fazer agora.
Ela fechou as memórias e pensou em seus planos para o futuro, planos que ela não tinha confiado a Rebecca, para não lhe dar falsa esperança. Com a infelicidade de sua irmã, talvez fosse hora de embarcar nesse caminho mais cedo do que o esperado.
Voltou para a casa, lavou as mãos e subiu as escadas até o seu quarto. Ela levantou uma tábua solta no canto, e pescou um pequeno saco pendurado em um prego que ela tinha batido em uma viga. Sentou-se na cama e esvaziou o conteúdo no colo. Os xelins tilintavam quando caíam num pequeno montículo.
As moedas entraram neste saco, mas nunca saíram. Ela salvou-os para um propósito que não a segurança, embora elas pudessem oferecer também. Com esse dinheiro, ela pretendia dar a Rebecca o melhor que merecia. Ela tinha planejado ter mais moedas, antes de dar o primeiro passo, mas agora decidiu que tinha mais que ousar.
Certamente, se um homem decente e estabelecido conhecesse Rebecca, ele se apaixonaria e ofereceria matrimônio apesar de sua falta de fortuna. Ela apenas tinha que encontrar um caminho e assim as perspectivas para Rebecca casar bem seriam atendidas. Ela também precisava que Rebecca ficasse muito adorável.
E uma vez que Rebecca estivesse estabelecida, Eva seria livre para fazer seu próprio futuro diferente também.
Gareth examinou as prateleiras segurando rolos de tecido em Duran's Cloths, uma loja de tecidos em Langdon's End. Ele já esperava há meia hora para que o proprietário o atendesse. Pelos vistos seria um pouco mais longo. A mulher que tinha a atenção do Sr. Duran examinava minuciosamente cada pedaço de tecido no lugar e não mostrava nenhuma indicação de saber qual escolheria.
Enquanto ele praticava a paciência, ele mentalmente fez uma lista dos itens que ele precisaria se ele fosse passar mais um dia em Albany Lodge. Esse não era o nome histórico da propriedade. Na verdade, não tinha nenhum que ele conhecesse. Na verdade, só tinha sido chamado de Warwickshire Lodge. Em seu passeio aqui ele tinha procurado através de nomes até que ele encontrou um de que ele gostava. Considerando como ele tinha chegado a possuí-lo, nomeá-lo como sua mãe, parecia adequado.
Como ele antecipou, Albany Lodge tinha sido esvaziado de quase tudo o que poderia ser movido e isso nunca deveria ter acontecido. Mais criticamente, ele precisava de roupas de cama. Ele só tinha tido linho nas últimas noites porque ele tinha parado em Coventry novamente e, já antecipando o que ele iria encontrar, implorou alguns de sua mãe. Ele deveria ter alugado um vagão e enchido com muito mais.
Ele precisava comprar panelas, sabão, pederneiras, utensílios de cozinha, tudo. Ferramentas, também, ele lembrou a si mesmo. Ele contrataria artesãos para fazer o trabalho especializado, mas ele próprio conseguia fazer algumas reparações. Caro, tudo isso. A coleção do conde devia chegar a Honfleur a tempo para estar no navio de Hendrika.
Gareth olhou para ver o Sr. Duran, o proprietário, dobrar um pouco de musselina. Os finos dedos femininos arrancavam moedas de um retículo e as colocavam no balcão. Ele não podia ver o rosto da mulher, mas algo sobre ela estava tomando forma em sua memória. Então reconheceu a peliça[4] e a capa. Era a mulher que tinha forçado a sair da estrada perto de Albany Lodge. Sua mente a viu de novo, seus olhos jogando punhais de fogo enquanto ela o censurava por seu descuido.
Ela usava o mesmo chapéu e a peliça hoje. Ambos tinham sido o estilo de alguns anos atrás. Seus tons marrons provaram ser infelizes nela. Transformaram-na em uma paleta do inverno que implorava pelo vermelho ou o azul brilhante. Havia pássaros cujas penas os ajudavam a se esconder em troncos de árvores, e essas roupas tinham feito o mesmo em uma estrada flanqueada por bosques. Ele duvidava que a camuflagem fosse seu objetivo. Provavelmente ela usava isso porque ela possuía pouco mais que fosse apresentável. Se era assim, ao ter arruinando aqueles sapatos não tinha sido um pequeno assunto para ela. Não era de admirar que ela o tivesse amaldiçoado.
Ainda, mesmo em seus marrons maçantes, ela era agradável de se olhar. Todo aquele espírito, e com um olhar de mulher, não aquele de uma menina jovem. Ele tinha procurado um anel naquele dia, e fez isso agora novamente. Não era uma esposa ou uma viúva, parecia. Uma solteira bonita, então, com um encantador nariz virado para cima e olhos claros e inteligentes.
O Sr. Duran murmurou alguma coisa. A mulher respondeu suavemente. Gareth não podia ouvir nenhum dos dois, mas reconheceu a deferência na expressão do lojista. O homem fez um vago laço enquanto a mulher pegava a musselina e se virava.
Ela se afastou, sua expressão determinada e seu olhar não vendo muito na loja. Definitivamente não o viu relaxado perto da parede. Quando a porta se fechou atrás dela, ele se aproximou do balcão.
Sr. Duran avaliou descaradamente suas roupas. A análise resultou em um sorriso amplo.
– Bom dia senhor. Precisando de algo para sua jornada?
Gareth olhou por cima do ombro. Ele ainda podia ver o chapéu marrom pela janela da loja. Uma pena balançou ao lado. Ela parou para falar com alguém.
– Você tem algo com que eu possa escrever? – Ele perguntou ao Sr. Duran. – Eu devo visitar outras lojas, e posso listar o que eu preciso e vir buscar mais tarde.
Duran lhe deu um pedaço de papel e um lápis. Gareth apressadamente anotou uma lista. Entregou-a a Duran e dirigiu-se para a porta quando o chapéu marrom se afastou.
Eva agradeceu ao Sr. Duran e virou-se para sair da loja. Enquanto o fazia, viu uma capa azul passando pela vitrina. Ela apressou-se para a rua, para que essa capa não fosse muito longe quando ela aparecesse.
– Srta. Neville e Srta. Ophelia Neville, bom dia para vocês. – Ela deixou escapar a saudação assim que a porta se abriu.
As duas mulheres, uma alta e outra pequena, viraram-se e cumprimentaram-na por sua vez. Elas se pareciam muito, com seus rostos muito bonitos, que poderiam ter adornado uma pintura Tudor. Elas também tinham cabelos longos. Ophelia Neville, a irmã mais nova tentava domesticar os cachos e usar o cabelo elegantemente, mesmo que, na melhor das hipóteses, parecesse uma névoa amarela pálida ao redor de sua cabeça.
Jasmine Neville, a mais velha, mais alta, tinha-se rendido ao capricho da natureza. Ela deixou seus cachos voarem livres por seus ombros e costas. Ao adotar um guarda-roupa artístico de envoltórios exóticos, turbantes e capas, sua aparência elegantemente excêntrica, não era nada convencional.
– Foi uma sorte que eu encontrei vocês hoje, – Eva disse. – Há uma questão que eu preciso abordar com vocês.
Jasmine abaixou as pálpebras. – Diga o que deseja, Srta. Russell.
– É sobre a minha irmã.
– Ela está bem, espero.
– Muito bem, obrigado. No entanto, ela as visita muitas vezes, temo.
– Seu medo é infundado – disse Ophelia. – Ficamos muito satisfeitas quando ela nos visita. Foi-lhe dado o uso livre de nossa biblioteca, e nós amamos vê-la absorta nos livros.
– Você não entende. Meu medo é que suas visitas a vocês, a exponha a ideias inadequadas para ela.
Jasmine parecia crescer ainda mais alto. Sua cabeça se inclinou dramaticamente e seus olhos se estreitaram.
– Não há ideias inadequadas para uma pessoa pensante. Se uma ideia for mal considerada ou má, nossa inteligência nos dirá quando temos que rechaçá-las.
– Algumas ideias são melhores absorvidas, quando a pessoa pensante é um adulto, você não concorda?
– Rebecca é uma adulta – disse Ofélia suavemente. – Ela tem quase dezenove anos. Quer que ela seja como tantas mulheres, ignorante do mundo, ou por que ela gosta de filosofia?
Eva apertou a mandíbula.
– Eu não falo de filosofias. Não me oponho a que lhe apresentem tratados feitos por dissidentes e radicais, ao lado dos grandes pensadores clássicos. Ela é sensível o bastante para fazer daquilo o que eles valem.
– Acho que Srta. Russell está-se referindo a coisas mais mundanas, Ophelia – disse Jasmine secamente. – Worldly com um capital W.
– De fato, eu estou. Eu devo objetar quando você encoraja minha irmã a olhar favoravelmente a uma vocação como uma – ela tateou, irritada demais para pensar direito – como uma amante profissional!
Ophelia arregalou os olhos. Jasmine estreitou ainda mais os dela. Jasmine deu um passo mais perto e ficou muito alta.
– Não corrompemos mulheres jovens, Srta. Russell. A insinuação que fazemos não deve ser suportada ou até mesmo pensada por qualquer pessoa.
– Nós realmente não fazemos isso, que insinua, – Ophelia apressou-se a acrescentar. – Rebecca estava lendo uma história em que se fazia uma referência vaga a uma cortesã, e ela buscou conhecer a palavra. A definição surpreendeu-a o bastante que ela nos pedir para explicar. Nós nem acreditamos em mentir, então, é claro, nós explicamos. Muito discretamente e objetivamente, eu lhe asseguro.
– Nós certamente não a encorajamos a olhar favoravelmente essa profissão ou a vida. – A voz de Jasmine levantou-se com cada palavra, até que elas soaram como um sermão falado de um alto púlpito. Um homem passando desacelerou um pouco, para ouvir mais.
– Minha irmã e eu somos as últimas pessoas a querer que uma joia rara como Rebecca venha a se tornar escrava sexual de algum desgraçado, não importa quão grande as compensações, ou como grandes sejam os títulos.
Eva prendeu a respiração. Ela tinha certeza de que aquelas últimas palavras haviam sido ouvidas por um quarto de milha. As pessoas do outro lado da rua realmente pararam e olharam.
– Por favor, abaixe sua voz – ela sibilou. – Eu aplaudo suas opiniões sobre mulheres se tornando es...es – Ela não poderia dizer isso. – De se tornar escravas de qualquer tipo. Nós pensamos igual, mas uma certa circunspecção no discurso é necessária. Se vocês falarem francamente com Rebecca, devo impedi-la de continuar sua amizade com vocês.
– Oh céus. Jasmine, você chocou a bela Srta. Russell. Você deve aprender a controlar suas palavras quando você está em uma conversa indecente.
– Eu não iniciei esta conversa. Eu sou uma oradora eficiente, mesmo se Srta. Russell não é. Quanto a Rebecca, nossa porta está aberta para ela. Se você quer mantê-la longe, encontre algo mais interessante para ela fazer. – Com um bufar satisfeito e que expressou sua visão dessa probabilidade, Srta. Neville se virou e se afastou. Sua irmã se apressou para alcançá-la.
Com o rosto ardendo, Eva se recolheu. Bem, isso tinha terminado tal mal e não como ela pretendia.
Do outro lado da rua, duas mulheres ainda olhavam. As pessoas pobres provavelmente nunca ouviram a palavra escrava sexual falada antes. Eva tinha certeza de que não o tinha feito, e muito menos de ouvi-lo gritar numa estrada principal e sendo ouvida pelos transeuntes. A cidade inteira provavelmente se alimentaria da história por uma semana.
Ela colocou seu corte de musselina contra seu corpo e continuou andando. Ela esperava que Rebecca gostasse do padrão. Esta visita à cidade custou mais do que a moeda paga por ele.
Ela forçou sua mente para assuntos práticos. Deveria fazer para Rebecca o vestido novo, ou contratar uma costureira?
– Nós nos encontramos de novo, – disse uma voz, enquanto as botas caíam ao lado de seus sapatos. – Que simpático destino temos para fazer isso acontecer.
Ela estava tão concentrada, que pulou de lado, igual a quando tinha saltado em uma poça grande duas semanas atrás. O mesmo rosto olhou para ela como naquele dia.
O descuidado cavaleiro tinha voltado, parecendo tão bonito e perigoso como sempre.
Vê-lo de perto não diminuiu a sua atração. Ela tomou os detalhes em uma câmera lenta que o atordoamento criou. A fenda mais leve em seu queixo. Os ossos altos de suas faces que, juntamente com as sobrancelhas bem formadas, chamaram a atenção para seus olhos negros e diabólicos. As ondas de cabelo desalinhado que o lisonjeavam mais que os cabelos cuidadosamente escovados podiam.
Ele usava um casaco azul hoje e uma gravata amarrada displicentemente. Ele ainda parecia caro. Um cavalheiro, isso era óbvio.
– Eu não pretendia assustá-la, – disse ele. – Peço desculpas se a minha saudação a tiver assustado.
Seu sorriso vago comunicava mais do que amizade. Ele podia ver como ela estava impressionada. Claro que podia, quando ela olhava para ele como uma estudante.
– Se estou surpresa, é porque não estou acostumada a ser abordada por homens que não conheço.
– Ah, um perseguidor. – Ele disse que como se fosse uma doença. – Espere aqui, por favor. Prometa que não vai se mexer. —Depois que ela acenou com a cabeça, ele voltou para a loja e logo emergiu com o Sr. Duran, que ouviu palavras murmurando em seu ouvido quando os dois se aproximaram dela.
Duran pigarreou.
– Srta. Russell, posso apresentar-lhe o Sr. Gareth Fitzallen. Ele é novo na região e ansioso para conhecer seus principais cidadãos e famílias.
O Sr. Fitzallen curvou-se. Eva não teve escolha a não ser fazer uma breve reverência. Duran voltou para sua loja.
Eva tentou descobrir como se desembaraçar do belo homem que não tinha tido nenhum problema para se fazer apresentar. Não que uma apresentação por parte de um comerciante realmente o qualificasse como uma introdução adequada. Claramente o Sr. Fitzallen não era do tipo que se preocupava com isso.
– Tenho o prazer de conhecê-lo, senhor, mas não sou uma cidadã de primeira linha. Se você se estabelecer na região, estou certa de que nossos caminhos vão-se cruzar novamente, no entanto, e estou ansiosa para cumprimentá-lo na próxima vez com mais cortesia. – Confiando que ele iria ouvir a sua fala apenas como uma despedida, ela começou a caminhar pela rua novamente.
Essas botas mais uma vez ficaram ao lado dela.
– Você mora aqui na cidade? – Ele perguntou.
– Minha casa fica a menos de meia milha da cidade.
– Que coincidência. Então é perto de minha casa. Estou vivendo na ruína onde nos conhecemos.
Isso não foi uma boa notícia. – Certamente havia melhores casas para ficar no condado do que aquela. Eu não pensava que era até mesmo habitável.
– É apenas habitável. Eu vim para a cidade hoje para comprar alguns itens para ajudar a torná-la mais habitável.
– Acho que um cavalheiro como você exigiria mais do que apenas uma habitabilidade.
– Eu desejo muito mais, mas na verdade exijo muito pouco. Vou me contentar com fazê-la um pouco mais habitável por agora. Espero que você se apiede de mim e me dirija para as lojas e artesãos que podem ser confiáveis. – Ele lançou um sorriso desarmante, um projetado para fazer uma mulher desmaiar. – Veja, havia uma razão pela qual eu abordava você tão rudemente. Não conheço mais ninguém para perguntar.
Este homem sabia como explorar seus dons naturais com pleno efeito. Conhecer seu jogo não a salvou de sucumbir. Seu coração balançou loucamente. Um dançar alegre, impertinente.
– Eu temo que se eu o ajudar, só vai encorajá-lo ainda mais em um mau negócio. Eu avisei que a casa estava abandonada por dentro, mas você me ignorou de qualquer maneira. Se você não confiava em meu julgamento sobre isso, por que deveria fazê-lo quando se trata de lojas e artesãos?
– Eu não a ignorei, como fala. Pertence-me a mim, com paredes desmoronando e tudo. Então, ou deixo isso para os vagabundos ou eu vou tomar posse e tentar salvá-la. Eu escolhi a última.
Ela parou os degraus e se virou para ele.
– Sua?
– Minha.
Ela lembrou o pouco que conhecia daquela casa.
– Anos atrás, pertencia ao duque de Aylesbury, embora se diga que ele a visitou pela última vez há quinze anos. O proprietário atual vendeu, finalmente?
– Foi-me deixada à morte do terceiro duque. Eu não tenho sido capaz de residir lá até agora.
Por que não? Ela recusou a pergunta em favor de uma menos intrusiva.
– Você é parente? Espere ser chamado sem misericórdia por todas as anfitriãs em Langdon's End se você for.
– Talvez você os faça saber que a casa não está adequada para receber os vizinhos por algum tempo. Exceto você, é claro, agora que somos amigos.
Amigos agora. Que bobagem encantadora. Como se alguma vez chamasse um solteiro a sua casa. Ela assumiu que ele era um solteiro, se ele era a única pessoa que comprava cortinas e tal.
Parecia um momento prudente para continuar andando. Caminhou com sua escolta até que chegaram a uma porta vermelha.
– Esta loja é de propriedade da Sra. Fleming. Ela vende artigos diversos e mercadorias em geral. Preciso me despedir agora, preciso comprar fio. – Ela ergueu a musselina por meio de explicação.
– É para um vestido? O padrão favorece você. Faz seus olhos parecerem muito azuis.
Mais lisonja. Ninguém tinha comentado sobre seus olhos.
Olhou através da janela.
– Eu vou juntar-me a você. Eu vejo algumas panelas.
– Vasos – Ela olhou pela janela e viu as panelas. – Eles até roubaram suas panelas? Que terrível, – ela murmurou.
– Eu sou grato, pois eles deixaram os pedaços de uma cama, assim eu não tive que dormir no chão. E uma cadeira e uma mesa pequena.
Uma cadeira.
A Sra. Fleming, uma mulher pequena e frágil com cabelos grisalhos, preferia vestidos simples, aventais grandes e cabelos severamente amarrados. Ela não escondeu sua surpresa ao ver Eva entrar com um homem. Seus olhos se arregalaram quando a aparência frenética do homem se tornou óbvia. Ela ruborizou até à linha do seu cabelo e fingiu observar através dos frascos no balcão na frente dela.
– Bom dia, Sra. Fleming. Preciso de fio branco, por favor.
A Sra. Fleming abriu uma gaveta e produziu o fio.
– Três pence.
Eva entregou-lhe os tostões.
– Permita-me apresentar o Sr. Fitzallen. Ele é dono da velha ruína em Thatchers Road. Ele tomou residência lá e precisa substituir os itens roubados da casa ao longo do tempo. Potes e tal.
Ela deu um olhar significativo para a Sra. Fleming, então lançou um olhar penetrante para os potes que atraíram a atenção de Fitzallen. Eles apareceram à venda na manhã a seguir a ela se ter cruzado com o filho de Mrs. Fleming carregando um saco volumoso no caminho perto da casa arruinada.
Mrs. Fleming mordeu o lábio inferior.
– Eu tenho panelas, senhor, mas só pequenas, e elas são usadas e velhas. Você provavelmente quer o melhor.
– Eu acho que elas vão servir por agora.
Olhando para Eva, a Sra. Fleming as tirou da prateleira e os colocou em seu balcão.
– Para guisados e sopas, você vai querer ver o ferreiro que fica fora da cidade, ele pode fazer alguns potes de ferro. O latoeiro está lá também, se você está querendo latas para armazenar farinha e tal.
– Eu vou com certeza visitá-los. Obrigado. – Ele acrescentou algumas facas e utensílios de comer. Passou para as lâmpadas e velas, depois para as prateleiras do outro lado da loja que segurava louça.
Eva aproveitou a oportunidade para sussurrar.
– Você acabou de vender aquelas peças que já são dele, eu acho.
– O que eu deveria fazer? Várias coisas dessa casa estão por toda a cidade para venda ou em uso. Quem esperava que o dono aparecesse depois de todos esses anos de negligência? – Ela sorriu ao Sr. Fitzallen enquanto ele enchia seus braços. – O que são alguns potes, de qualquer maneira. Não é como se eu fosse ficar rica, agora é? Olhe as cadeiras, quer sentar? – Ela abaixou a cabeça e olhou para Eva.
Eva preferiu não se sentar sobre as cadeiras. Naquela época, parecia-lhe que ficariam melhor do que serem usadas para lenha por vagabundos.
– Devemos espalhar a notícia de que aqueles que pediram emprestados móveis daquela casa devem devolver os itens.
– A menos que eles os vendessem, é claro. Não podem, podem?
Não, não podiam. Ela não poderia devolver as cadeiras. Mas se uma linha de cidadãos devolvesse os itens emprestados, ela poderia ser capaz de devolver o que ela tinha tomado emprestado, também, sem que isso despertasse recriminações.
– Vou espalhar a notícia, como você deve também fazer– ela sussurrou. – Ele pode ser parente de um duque, mas acho que vai fechar os olhos para quem trouxer seus pertences, desde que eles encontrem o caminho de volta.
– Relacionado a um duque! O que ele está querendo com você? Nada de bom, eu garanto.
Eva não tinha ideia do que queria com ela, ou se queria alguma coisa.
Mr. Fitzallen colocou o último de seus itens no balcão.
– Isso será tudo por agora. Estou certo de que, assim que não me distrair com duas senhoras adoráveis, outros itens essenciais me ocorrerão.
Eva quase rolou os olhos para a lisonja. A Sra. Fleming brilhou e, por um instante, ela apareceu vinte anos mais nova.
– Podemos levar tudo isso para a casa, – ela ofereceu. – Meu filho vai carregá-lo.
– Que bom isso vindo de você. Você tem o meu apreço.
A Sra. Fleming riu. – Não é nada, senhor. Nada.
Eva despediu-se enquanto Fitzallen pagava. Ele saiu e caminhou como se tivesse a intenção de passar o dia sendo sua sombra. Para ser educada, ela apontou para a igreja, embora ele mostrasse mais interesse em duas tabernas por onde passaram.
– É uma cidade atraente, – disse ele. – Parece próspera.
– Embora existam famílias bem antigas na área, tem muita gente de fora, muitos que vivem aqui mudaram de Birmingham depois que fizeram suas fortunas. Nas primeiras horas da manhã, você pode ver os homens indo para Birmingham a cavalo ou em carruagens. Existem muitas casas novas se você passear por algumas ruas, geralmente de bom tamanho. Os bailes e festas estão cheias de belas vestes e joias.
– Industriais? Duvido que eu seja bem recebido. Minha experiência tem sido que os recém-prósperos são mais críticos do que a maioria sobre o nascimento de uma pessoa. O meu é uma bênção mista. Estou realmente relacionado com duques. Na verdade, sou filho de um duque. No entanto, minha mãe não era sua esposa.
Ele era um bastardo.
Uma pausa estranha aconteceu enquanto ela procurava alguma resposta.
– Seu nascimento não significará rejeição, eu acredito,– ela disse. – Espero que as pessoas sejam suficientemente esclarecidas para saberem melhor do que julgar uma pessoa por coisas que não controlam.
– Estou contente por saber que há alguns pensadores livres em Langdon, e que são a maioria femininos – disse ele, acrescentando: – Não pude deixar de ouvir a conversa com as outras senhoras que estavam fora da loja do Sr. Duran.
Seu rosto se esquentou quando a conversa com as irmãs Neville se repetiu em sua mente.
– Talvez eu estivesse errada, e você não seja um cavalheiro, afinal, se você espia conversas privadas.
– Dificilmente privada. Ela soou por toda a cidade e para quem quisesse ouvir, mais claramente do que um sino da igreja.
– Tenho certeza que você entendeu mal o que ouviu.
– Possivelmente. No entanto, para que você me saiba ser esclarecido, eu garanto que eu também não acredito que as mulheres devam ser escravas sexuais. A menos que elas gostem do papel, é claro.
– Embora haja infelizes que se encontram nesse papel, estou certo de que nenhuma delas se diverte.
Ele pareceu querer debater o assunto. Ela lançou-lhe um olhar fulminante. Ele recuou do assunto, mas não de sua companhia.
– Minhas desculpas, – ele finalmente disse. – Temo que a tenha chocado.
– Eu suspeito que você se diverte a chocar as pessoas, Sr. Fitzallen. Se assim for, você vai encontrar a minha amizade bastante em falta, já que nada me choca.
– Nada? Você é realmente iluminada.
Ela apressou os passos. Ela ouviu uma risada baixa enquanto seus passos continuavam.
Ela cruzou abruptamente a rua e o levou até a porta do escritório do Sr. Trevor.
– Sr. Trevor é um arquiteto – explicou enquanto apertava o fecho. – Ele pode aconselhá-lo sobre os trabalhadores, e ajudá-lo muito mais do que eu jamais poderia.
O Sr. Trevor, um jovem de cabelos louros, óculos e uma maneira obsequiosa que Eva achou irritante, saltou da cadeira quando a viu. Ela caminhou até sua enorme mesa cheia de desenhos e apontou para seu companheiro.
– Bom dia, Sr. Trevor. Este é o Sr. Fitzallen. Ele é dono da velha ruína e pretende reabilitá-la. Ele vai precisar de muitos conselhos e muitas referências.
Os homens se cumprimentaram. O Sr. Trevor voltou sua atenção para ela.
– Sou grato pela apresentação, Srta. Russell. Confesso, entretanto, que eu tinha esperado que você tivesse vindo por sua propriedade.
– Eu já dei minha resposta sobre isso. Agora, vou deixar os dois juntos e voltar aos meus afazeres. Oh, e Sr. Trevor, você poderia deixar todos saberem que qualquer um que possuir artigos removidos da casa do Sr. Fitzallen deve devolvê-los? Muitos pensavam que era uma casa abandonada. Um erro, me parece.
Com isso, ela se afastou, antes que Fitzallen pudesse encontrar uma maneira de despedir-se também.
O Sr. Trevor observou a senhora partir. A apreciação de um homem se mostrou nos olhos pálidos de Trevor.
– A Srta. Russell é bastante autossuficiente, não é? – disse Gareth. – Tenho sorte em concordar em ajudar-me como recém-chegado.
– Ela também é um adversário formidável, às vezes. Sua fraqueza é que ela permite que o sentimento às vezes a governe, o que é uma tendência natural. – Trevor afundou de volta em sua cadeira. – Eu tenho uma família que quer comprar sua propriedade por uma bela quantia. Ela não vai vender. Ela vai morrer de fome, eu temo.
– Ela é de uma das antigas famílias, não é? Geralmente odeiam vender.
– Oh, é compreensível. Os Russells possuíam quinze acres, uma propriedade não arrendada. Mas os tempos são o que são... Seu pai vendeu grande parte da terra, e a doença de seu irmão enviou sua situação em um declínio acentuado, é claro. – Ele falou como se Gareth soubesse de tudo isso. Gareth não fez nada para indicar que não o fazia. – Ela vai acabar por vender. Ela vai precisar. Será o melhor. Ela vai ficar muito melhor em uma pequena casa aqui na cidade.
– Eu não contaria com isso acontecendo em breve. Uma vez que esse legado se vá, é improvável que seja recuperado. Propriedade não é fácil de ser obtida na Inglaterra, ou barata. É por isso que seu cliente quer a dela.
Trevor assentiu distraidamente, depois concentrou sua atenção.
– Quão ruim é aquela casa que você tem? O buraco nos telhados?
Eles passaram a próxima meia hora discutindo a condição de Albany Lodge. Gareth saiu do escritório com um acordo que Trevor o visitaria em dois dias para avaliar o dano.
Fez uma visita ao ferreiro, voltou para a rua principal e entrou numa das tavernas, o Cavalo Branco.
Sua entrada interrompeu a conversa. Dez homens olharam para ele em silêncio. Nenhum deles era cavalheiro. Esta, então, era a taberna favorecida pelos trabalhadores de longa data e comerciantes de Langdon. Os novos moradores, os industriais construindo novas casas, bebiam em outro lugar.
Ele sentou-se e pediu uma cerveja. O zumbido da conversa retomou. Ele observou a madeira escura, o teto de madeira e as paredes estucadas desiguais enquanto bebia.
Um jovem de cerca de vinte e cinco anos, vestindo um casaco marrom, calças soltas e sapatos antiquados, se aproximou da mesa e sorriu tão amigavelmente que todos os seus dentes se mostraram.
– Você é o sujeito que pegou a velha casa?
– Eu sou. Como você sabia?
– Toda a conversa, é sobre você. Já que um cavalheiro de Londres vai morar lá agora. A Sra. Fleming disse a Harold o que você parecia, então descobrimos que era você. – Ele riu. – Engraçado, você não parece louco.
Gareth pediu outra cerveja para o interrogador. – Devo ser, no entanto, para pegar um monte de pedra, certo?
– Provavelmente. Não que eu seja alguém para julgar. Melhor que alguém se habilitou a morar na casa, é como eu vejo isso.
– E outros não?
O homem encolheu os ombros.
Gareth fez um gesto para que o homem se sentasse quando a cerveja chegou.
– Qual é o seu nome?
– Erasmus. Não ria. Meu pai tinha algumas noções estranhas. Ele me mandou para a escola para aprender minhas cartas e números, outra noção estranha, então eu acho que posso viver com o nome.
– Meu nome é Gareth Fitzallen.
Erasmus tomou um longo sovo de sua cerveja.
– Eu sei. A Sra. Fleming disse a Harold também. Também a Srta. Russell disse que qualquer coisa tirada daquela casa devia ser devolvida.
– Alguém provavelmente vai ouvir isso?
– Poderia ser. As pessoas gostam da senhorita Russell, de um modo respeitoso. Ela é de qualidade, mas não fala de cima para baixo, como alguns fazem. E ela não se preocupa muito com os novos.
– Os novos residentes não são tão queridos por ela?
– Nah. Narizes mais altos que os da rainha, mas seus avôs não eram melhores do que eu. —Ele bebeu de novo, então se inclinou sobre a mesa com um sorriso conspiratório. – Poucos meses atrás, alguns dos novos estavam na loja da Sra. Fleming e foram muito críticos com as mercadorias. Isso não era bom o suficiente e que não era de qualidade. A Srta. Russell estava lá e disselhes que saíssem se fossem tão mal criados que não soubessem quando falar e o que dizer. – Ele riu. – Palavra é que suas bocas caíram abertas até agora você poderia ter visto seus pulmões. – Ele acenou com a cabeça. – Ela é de verdadeira qualidade. Como você. Talvez não tão alto como você, mas é a filha de um cavalheiro.
– Qual é o seu ofício, Erasmus?
Embaraçado, Erasmus mexeu em seu cabelo marrom, rudemente cortado com seus dedos.
– Minha família era de fazendeiros arrendatários. Nosso lugar limitava com o lago. Realmente uma bela terra, mas tivemos que vender. Quatro gerações, viveram assim e agora não há colheitas, mas rosas, e grandes casas novas. Então meu oficio agora é o que vier. – Ele sorriu quando um pensamento veio para ele. – Eu acho que sou um tal e qual negociador.
– Como acontece, eu preciso de alguém para fazer isso e aquilo.
– Você já? Bem, eu sou seu homem. Não há muito isso ou aquilo que eu não possa fazer.
– Venha para a minha casa amanhã. Vamos começar com isso. Gareth se levantou para ir.
Erasmus olhou para a mesa onde seu amigo de cabelos louros ainda estava sentado. – Diga, você precisa de outros? Harold esteve no exército durante a guerra. Serviu com um oficial, ele assim reivindica essa colocação.
– Diga a ele para vir, também, se ele estiver interessado.
Depois de deixar a taberna, Gareth parou na loja da Sra. Fleming para comprar mais um item, depois recuperou seu cavalo no estábulo e foi para casa.
Casa. Ele teve que sorrir para a palavra. De certa forma, ele não tinha tido uma desde que ele tinha sido enviado para a escola quando criança. Ele preferia possuir uma casa agora, mesmo que fosse uma pilha abandonada de pedras.
Erasmus e Harold seriam úteis em muitos aspectos. Eles conheciam bem a cidade e seu povo. Por exemplo, eles saberiam onde a Srta. Russell vivia.
Capítulo 5
Rebecca cuidadosamente costurou uma manga à luz da janela da frente. Eva trabalhou no corpete para que ela pudesse usar hoje.
– Você já recebeu a resposta de Sarah?– Rebecca perguntou sem levantar a cabeça de seu trabalho.
– Eu só escrevi há dois dias. Eu não espero uma resposta imediatamente.
– Você acha que ela vai-nos permitir ficar com ela? Gostaria muito de passar vários dias em Birmingham, e não apenas um dia.
– Eu acho que ela vai aceitar.
Sarah era a filha da irmã de sua mãe, e mais velha do que Eva. Esse lado da família nunca esteve perto, provavelmente porque a família de seu pai não tinha aprovado que ele se casasse com a filha de um comerciante. Um comerciante rico, que poderia ter comprado e vendido papai três vezes, mesmo no melhor dos casos.
Ela manteve uma troca esporádica de cartas com Sarah, para que toda a conexão não fosse perdida. Isso não significava que Sarah olharia gentilmente para suas primas pedindo para impor sua hospitalidade.
Se Sarah não as aceitasse como era esperado, o restante daquela pilha de moedas teria que ser reduzida para pagar uma pousada ou um hotel, e elas só podiam ficar uma noite em vez de dois ou três.
Eva sacudiu o corpete e admirou o tecido. Ela tinha escolhido bem. Parecia fresco, mas não demasiado menininha. Rebecca teria objetado se ela fosse parecer como uma colegial com esse novo vestido.
– Quem é? – Perguntou Rebecca.
Eva olhou para ver a irmã olhando pela janela. Rebecca levantou-se e abriu-a para que ela pudesse ver claramente.
– É outro daqueles estranhos que foram indo e vindo no último mês? – Eva tinha visto outros que atravessavam o campo além de seu jardim já há quatro dias. Ele poderia ter sido amigo de um vizinho, é claro. Ele estava longe o suficiente, talvez ele não fosse um estranho em tudo. No entanto, a inquietação a tinha atrapalhado, assim como fez com algumas das faces e figuras desconhecidas que pontilham seu mundo nestes dias.
– Ele parece ser um cavalheiro, ou um homem muito rico, e ele está montando um cavalo preto grande e é muito arrojado. Meu Deus, ele está vindo direto para a nossa porta, eu acho!
Eva se aproximou e olhou para fora. Ela recuou rapidamente e fechou a janela, depois olhou ao redor da biblioteca.
– Ele é um novo conhecido meu. Eu nunca esperava que ele me visitasse, no entanto. Limpe o tecido do divã. Rapidamente.
Rebecca rapidamente pegou seu trabalho e despejou-o na cesta de costura. Eva tentou fazer a mesa onde ela estava sentada mais apresentável, então virou a cadeira para frente do divã. Ela estava agradecendo a Deus que panos protegiam a sua pintura e seu trabalho em andamento quando o som de batida na porta ecoou pela casa.
Ela apontou para o divã.
– Sente-se. Vamos dar-lhe a cadeira.
– Quem é ele? Como você o conheceu? Por que você não me disse que tinha um novo amigo? – As perguntas saíram em voz baixa.
Eva não teve tempo de explicar. Ela foi até a porta e abriu-a.
O Sr. Fitzallen estava lá em todo o seu convincente esplendor. Ela tinha-se convencido de que exagerava a sua aparência em sua mente, mas não, ela não tinha. Pelo menos ela não se surpreendeu ou se ofendeu desta vez.
– Sr. Fitzallen, bem vindo. Por favor, junte-se a nós, e diga-me o que posso fazer por você.
Entrou e seguiu-a até a biblioteca.
– Eu não vim para lhe impor uma demanda, essa é apenas uma visita de cortesia, Srta. Russell. Eu estava andando a cavalo e pensei em lhe fazer uma visita social. – Ele fez uma reverência para ela, então uma para Rebecca, mas ele não deu a sua irmã qualquer atenção especial.
O mesmo não poderia ser dito de Rebecca. Com os olhos arregalados e o rosto frouxo, Rebecca pareceu muda. Assim como eu fiz em várias ocasiões, Eva lembrou a si mesma.
– Que generosidade, senhor. – Ela olhou para Rebecca, tomou um lugar no divã e convidou o Sr. Fitzallen para usar a cadeira.
– Seus esforços progridem bem na casa?– Ela perguntou.
– Sempre bem, obrigado. Eu contratei dois dos habitantes da cidade. Um está provando ser hábil em reparos. O outro era um soldado no exército, e começou a organizar a casa e a servir como criado.
– Deve ser Harold. Ele é um homem honesto.
– Como muitos dos residentes de Langdon’s End, estou aprendendo. Agora tenho mais três cadeiras e duas mesas. Elas apareceram na porta ontem de manhã, junto com uma cesta de talheres e vários baldes de cobre. Eu tenho que lhe agradecer por isso, eu acredito.
– Estou aliviada ao ouvir que alguns dos itens emprestados foram devolvidos. Acho que mais será. Então você não terá que comprar tudo novo para a casa.
Os grandes olhos de Rebecca se voltaram para ela ao mencionar itens emprestados. Eva a ignorou.
– Congratulo-me com isso. O Sr. Trevor me visitou e elaborou uma lista de grandes reparações. Hoje eu andei pela propriedade, para ver o que havia ali.
– Se você andou por muito tempo, precisa de um refresco. Só posso oferecer água, mas é de uma boa fonte. Ela se levantou. – Eu irei trazer para você.
Ele estava de pé ao mesmo tempo que ela.
– Permita-me. O dia esta lindo. Você tem um jardim?
– Sim, e muito agradável.
Quando ele se virou para andar em volta da mesa, o Sr. Fitzallen viu a caixa de pintura. Seu olhar foi para as paredes, e duas de suas pinturas que os decoraram. Ele caminhou até uma delas, lançando um olhar preocupantemente interessado para a tela encoberta no cavalete. Ele olhou para a paisagem na parede.
– Qual de vocês é a artista?
– Eu sou, – Eva disse. – Eles são apenas uma fantasia de amadora. – Ninguém nunca comprou suas pinturas. E vários de seus quadros estiveram na loja do Sr. Stevenson há anos.
– Uma amadora muito boa, – disse ele.
– Que gentil. Obrigado. – Eva conduziu o caminho para a parte de trás da casa. – Venha, Rebecca.
– Você se importa se eu não for? – Rebecca respondeu. – Eu vou ler o meu livro aqui, se não parecer um pensamento rude.
– Você tem lido por horas, – Eva disse intencionalmente, segurando o olhar em sua irmã. – O dia está quente e o ar fresco te fará bem.
– Muito quente, eu tenho medo,– Rebecca disse, em toda inocência. Seus grandes olhos continuaram mudando sutilmente para Gareth, e ela mal manteve um sorriso. – Esta lã que estou usando será desconfortável, neste calor.
– Pelo bem de sua saúde, devo insistir que você... Eva parou. Rebecca olhara para Gareth com algo parecido com alarme.
Eva olhou para ver os dedos de Gareth alcançando a borda do pano que cobria a pintura emprestada.
– Sr. Fitzallen, vamos sair e desfrutar do jardim, mesmo que a minha irmã não vá, – Eva apressou-se a dizer.
Os dedos pararam o seu caminho. O Sr. Fitzallen a seguiu com prazer até ao fundo da casa.
Ela trouxe seu convidado para o jardim, então voltou para a cozinha para buscar um copo de louça. Quando ela voltou, o Sr. Fitzallen estava carregando um balde de água no caminho de pedras do jardim.
Havia apenas bancos aqui. Ela se sentou em um com ele, e ele mergulhou o copo na água fria. A brisa soprou, mas o sol brilhava calorosamente. Minúsculas folhas salpicavam os galhos de árvores e arbustos, e as pontas das plantas brotavam da terra.
– É um jardim muito agradável. Seu jardineiro o mantém muito bem.''
– Eu sou o jardineiro. Descobri que gosto de fazer crescer coisas, e mover plantas e tal. Um pouco como a pintura, já que é tudo sobre a cor e luz.
– Você foi o jardineiro desde que seu irmão ficou doente?
– Você foi informado sobre ele? Suponho que há pouca privacidade em uma cidade como a nossa. Eu era ignorante das finanças da minha família até que ele veio para casa com a bala de uma pistola alojada no corpo. Sua enfermidade significava que me dei conta de quão terrível nossa situação se tornara. Deixei os empregados ir imediatamente. Então, sim, eu tenho sido o jardineiro desde então.
– No entanto, você descobriu uma nova alegria, então você triunfou sobre a adversidade.
– Sim. Tenho orgulho deste jardim. É a minha criação agora. Eu gosto disso.
Ela também gostava de dizer isso em voz alta. Havia aqueles que se compadeceram dela e de Rebecca, como se tudo o que importava fosse dinheiro. O Sr. Fitzallen não teve essa reação, e isso a impressionou. Ela experimentou uma intimidade companheira com ele.
Ele se sentou a dois compassos de distância dela, tão perto que seu lado sentiu seu calor. Sua presença masculina a afetou e a deixou confusa. Ao mesmo tempo reconfortante e animador, sua aura prometia novidade, fascínio e cuidado.
Talvez fosse bom tê-lo como amigo, afinal. Seria bom ter um.
– É uma propriedade agradável. – Ele ergueu o copo, apontando para a terra dentro das paredes, e além. – Só a primavera o torna mais valioso, e está bem situado. Você poderia vender, e ter um futuro mais fácil do que você tem tido recentemente.
Eles se levantaram e começaram a passear pelo caminho do jardim.
– Esta casa e a terra são tudo o que temos. Quando Rebeca casar, eu darei a minha parte para ela, então ela não ficará desamparada. Mas... —Ela olhou ao redor do jardim, depois de volta para a casa. – É também quem somos. Se eu vender, quem seremos? —Ela riu levemente de suas próprias palavras. – Isso parece estúpido. Claro, seremos as mesmas pessoas, apenas...
– Eu entendo completamente.
Ela podia ver nos olhos dele que ele o fazia.
– Foi uma tragédia que seu irmão adoecesse e morresse, – disse ele. – Eu não acho que você tenha gostado muito da vida nos últimos anos, enquanto tenta manter as coisas juntas, por todo o seu prazer em criar este jardim.
– Sim, uma tragédia, de várias maneiras. – Seu trágico amor. – Mas... Se eu não tivesse sido obrigada a manter tudo junto, temo que teríamos perdido tudo. Ele esperava ter a vida de um cavalheiro que não poderíamos pagar.
Ele parou de andar e se virou para ela. Estavam no pequeno pomar na parte de trás do jardim, sob galhos pontilhados de primeiro crescimento.
– Eu entendo isso completamente também. Nós teremos que ter certeza que você tem algum divertimento agora, no entanto. Eu farei disso a minha missão.
– Vai ser fácil. Tenho a intenção de ter uma boa dose de diversão no futuro. Passei os últimos meses durante o nosso período de luto planejando apenas como fazê-lo acontecer.
Ele riu.
– Langdon's End está preparado para Srta. Russell determinada a se divertir? E o mundo?
– Possivelmente não. O mundo terá de se adaptar. Você ainda é bem-vindo para se juntar a mim, mesmo que não seja sua missão me ajudar.
– Talvez seja eu quem precise de ajuda. Eu sou um estranho aqui, lembra? Infelizmente, temo que você ficará por conta própria, pelo menos até que eu volte de uma viagem que devo fazer.
– Eu acho que você não terá problemas para recuperar o atraso, quando quiser.
Ele sorriu levemente. Sua postura alterou-se nos modos sutis que falavam de alguém se preparando para partir. Alguma coisa o deteve.
– Ah, eu quase esqueci. Eu trouxe isso para você. – Ele enfiou a mão em seu casaco.
O presente era uma fita longa. Ela o reconheceu na loja da Sra. Fleming. Uma faixa elegante de cetim, a cor de lavanda, lembrava a de primavera.
O gesto a tocou.
– Obrigada. É linda.
– Vai ficar bonito com aquela musselina que você comprou. O roxo ficará primoroso junto ao tecido, e fará seu olhos mais azuis, quando você o usar.
Ela cuidadosamente enrolou a fita em torno de sua mão.
– A musselina não é para mim. Estou fazendo um vestido novo para a minha irmã.
– Ah! Bem, você pode usar um pouco da fita também no vestido, mas prometa-me que você vai manter o suficiente para usar em seu cabelo.
Ele a deixou sem fala por uma longa pausa, enquanto ela olhava para a fita.
– Você é muito gentil. Tenho vergonha de o ter julgado mal inicialmente. Você não é perigoso, como parece ser.
– Me chame de Gareth, por favor. Por sua vez, gostaria de me dirigir a você em privado como Eva, se você permitir.
– Gareth,– ela disse humilde, testando a informalidade. – Sim, pode ser Eva quando ninguém estiver por perto.
– Eu estou honrado. Agora, desde que somos amigos, estou obrigado a dizer algo. Devo advertir que seu julgamento é realmente muito bom, Eva. Eu sou realmente perigoso. Especialmente para mulheres lindas e maduras como você.
Surpreendida, ela olhou para ele. Um erro, isso. O olhar que a encontrou pertencia ao homem perigoso que ele advertiu ser. Ela olhou fixamente, cativada por aquele rosto. O vago sorriso dele a fez vibrar.
Ele iria beijá-la? Ele era tão ousado? Pareceu assim. E a expectativa fez seu pulso ficar acelerado.
O que fazer? Ela não devia permitir isso, contudo... não conseguia se afastar nem dizer alguma coisa. Ela apenas esperou, e a espera em si afetou o ar, o jardim e o espaço entre eles. Ela experimentou uma emoção muito chocante.
Parecia um longo tempo em que ficaram ali, com os olhos um no outro, até que a espera virou quase dolorosa. Uma ideia ultrajante entrou em sua mente que ela se aproximasse e o beijasse primeiro.
Ele recuou. Seu olhar se moveu para o jardim, longe dela. Quando ele olhou para ela novamente, ele era novamente o charmoso amigo mais uma vez, embora mais pensativo e com a testa franzida.
Ele curvou-se.
– Preciso me despedir agora. Vou estar de volta em um mês. Talvez em uma quinzena. Vou lhe visitar quando eu voltar.
Então ele se foi, andando pelo jardim para o portal lateral.
Capítulo 6
– Vejo que minha carta o encontrou – disse Ives enquanto Gareth entrava na biblioteca da Langley House em Londres.
– Eu contratei um homem que trabalha em Albany Lodge e que foi capaz de me encaminhar a carta. O que você está fazendo aqui? – A carta chegara naquela manhã, pegando Gareth que já tinha planejado sair da cidade. As pinturas do conde haviam chegado, sua compra terminada e o transporte para sua nova casa arranjada. Os honorários de Hendrika já haviam chegado a Amsterdã, e sua própria bolsa estava feliz com sua comissão.
Se isso não fizesse seu retorno a Langdon mais feliz, a outra razão tinha a ver com Eva Russell. Uma agradável amizade se tornou complicada em um minuto de sua visita a ela.
Quase a beijara. Ele não podia negar, embora não fizesse sentido. Eva Russell não era o tipo de mulher que ele perseguia. Solteira, gentil - ela era o oposto das senhoras com quem tinha negócios. Nem beijou, ou fez qualquer outra coisa com mulheres, impetuosamente. No entanto, naquele jardim, a excitação que ele conhecia tão bem quase derrotou seu melhor senso.
Ele a tinha advertido enquanto a batalha com suas inclinações rabiava, mas não tinha feito nada de bom. Ainda o espantou que ele tivesse conseguido se afastar e quase sem fôlego. Seu próprio espanto com seus próprios impulsos provavelmente salvou o dia.
Ives separou um livro que estava lendo.
—Lance insistiu em vir. Ele estava ficando louco. Não pude detê-lo, então tive que acompanhá-lo para ficar de olho nas coisas.
– Alguma mudança no inquérito?
Ives sacudiu a cabeça.
– Está parado, mas eles não vão desistir por hora. Os magistrados nos visitaram para conversar com Lance. Ninguém se atreveu a acusá-lo, mas as perguntas caminhavam para isso.
– E suas respostas?
– Ele os regalou com explicações de quantas maneiras se podia matar um homem e sem usar veneno. Alguns eram bastante criativos.
Gareth riu. Ives não o fez. Ele dirigiu um olhar curioso para Gareth.
– Albany Lodge?
– Precisava de um nome.
– Eu gostaria que Percy estivesse vivo para ouvir o nome que você colocou.
– Uma vez que a propriedade é minha, sou livre para colocar o nome que eu queira. Vou para o seu túmulo e contar tudo que fiz em sua antiga propriedade.
– Isso vai garantir que ele não descanse pacificamente por um longo tempo.
Gareth andou pela biblioteca. – Eu não tenho estado nesta casa há anos. Nada mudou muito. Estou feliz.
– Espero que as memórias que você está tendo sejam boas, – disse Ives.
– Melhor do que as lembranças ligadas a Albany Lodge. Percy manchou aquelas, deliberadamente, enquanto o tempo nesta biblioteca com o duque não tinha nada a ver com Percy, ou qualquer outra pessoa.
Ele circulou pelo vasto espaço, impressionado com a familiaridade calorosa que produzia. Os duques, por natureza e posição, não eram dados à intimidade fácil, mas houve algumas vezes aqui quando ele se sentiu como um filho.
Deixe-me ouvir você ler isto aqui, então eu sei que a escola não está negligenciando você. Um cavalheiro é conhecido por sua mente e educação, Gareth, bem como seu sangue. Os meninos na escola são duros com você porque você é um bastardo, mas lembre-se por que você está lá, e filho de quem você é.
– Você está livre para ficar aqui enquanto estiver na cidade, – disse Ives. —Lance disse o mesmo. Ou em Merrywood, quando você está perto de lá. Ele disse aos criados que você usaria as propriedades da família como o filho de nosso pai.
Gareth continuou andando e espiando detalhes, principalmente para esconder sua reação a essa surpreendente oferta. Com um pequeno gesto de generosidade, Lance tinha apagado uma vida inteira de sentimento de que ele nunca pertenceu de todo a nenhuma das casas, ou a qualquer lugar. Isso mudou para Gareth, e levaria algum tempo para ele aceitar placidamente essa mudança.
– Você fez algum progresso nessa investigação? – Ives perguntou.
– Um pouco. Segui o caminho provável dos vagões. Segui a mesma rota quando cheguei à cidade, tomando nota dos meus arredores e das propriedades que passei ou cruzei.''
– Aproveitei a oportunidade aqui para reunir algumas informações para você. Nomes de criados e equipes, como podem ser lembrados. Também cartas de apresentação às famílias que vivem perto do local de descanso final das pinturas. Tenho certeza que você pode encontrar uma desculpa para visitá-los.
– Isso será útil. – Inferno se ele soubesse como ele iria encontrar uma desculpa para visitá-los. Ives às vezes se esquecia de que ele e Lance poderiam aparecer na porta de qualquer aristocrata e esperar a fácil hospitalidade que essas famílias compartilhavam sem questionar. Gareth não podia. – Você tem uma lista das pinturas que desapareceram? Sem ela, não sei o que encontrei, se encontrar alguma coisa.
– Isso deve chegar em uma semana. Vou mandar enviar para você. Aqui? Ou... Albany Lodge?
– Eu devo estar de volta Albany Lodge até lá. Na verdade, eu deveria ir embora pela manhã, então eu vou partir agora.
– Eu preferiria que você não o fizesse. – Ives se opôs levemente, com um pouco de desgosto. – Nosso irmão deseja sair esta noite. Eu não posso evitá-lo. No entanto, eu gostaria de ter alguma ajuda com ele, se você não se importa.
Neste momento ele provavelmente se lançaria no caminho de uma bola de mosquete por Lance. Ele imediatamente recalculou seu horário para partir amanhã.
– Eu não me importo. Uma noite na cidade com Lance nunca é chato.
– Sim, bem, eu lamento dizer que nosso objetivo é torná-lo muito chato, de fato.
Tédio significava realizar apostas em salões requintados e com a nobreza mais favorecida, em vez de um dos salões democráticos que Lance preferia. Ives pôs o pé no chão quando chegou a hora de escolher, porque os locais favoritos de Lance quase sempre apresentavam um ou dois ataques de socos e brigas generalizadas entre seus habitantes, que Lance tinha uma fraqueza por se juntar.
À meia-noite, Ives e Gareth viram-se assistindo a um Lance apostando e jogando cada vez mais alto na mesa de faro. Jogadores que tinham perdido ou deixado de jogar assistiam também. Uma multidão grossa se formara.
– Ele está sendo deliberadamente imprudente, – murmurou Ives.
– Ele pode pagar, eu suponho.
– Ninguém pode pagar tudo isso e o tempo todo, a menos que ganhe a maior parte do tempo –, disse Ives.
Lance ganhou desta vez. Ele não notou o zumbido da conversa que criou. Atrás dele, Gareth ouviu um comentário mais claramente.
– Ele parece calmo para um homem que provavelmente é um assassino. É claro que os franceses também estavam calmos indo para a guilhotina. Sangue será mostrado, não importa o de quem, hein?
Algumas risadas masculinas responderam.
Gareth olhou de lado para ver se Ives tinha ouvido. Infelizmente, ele tinha, e sua mandíbula dura significava alguma coisa. Ele olhou para baixo para ver o punho de Ives apertando.
Esse era o problema com Ives. Ele falava como um advogado e pensava como um advogado, e ele parecia eminentemente sensato e calmo - mas quando irritado, ele muitas vezes atirava o primeiro soco.
– Eles estão bêbados. Ignore-os – murmurou Gareth.
– Não posso fazer isso. Não pode deixar tal conversa passar. Mais uma palavra e...
– Veneno, diz-se, – disse a voz do homem. – Uma arma de mulher. Eu sempre disse que ele estava falando sobre isso.
Ives girou e empurrou através dos corpos até chegar ao dono da voz.
Gareth o seguiu. Encontrou-se diante do Lorde Kniveton. Conhecia bem o visconde, embora nunca tivesse sido apresentado.
– Fale mal de meu irmão, e você responderá a mim – disse Ives.
Kniveton achou isso muito engraçado.
– O que você vai fazer? Acertar-me com uma pilha de papéis?
– Estou mais inclinado a conhecê-lo no campo de honra do que em um tribunal de justiça.
Kniveton fez uma pausa o suficiente para mostrar que estava preocupado por ter começado um caminho ruim. Então ele zombou.
– Seria uma vergonha matar você quando é seu irmão que eu gostaria de ver morto.
Ives se moveu tão rápido que Gareth quase não o agarrou a tempo. Agarrou-se ao braço de Ives para que não pudesse seguir com o punho no rosto de Kniveton.
– Não deixe que ele te irrite, Ives. Kniveton está apenas caluniando Lance porque ele pensa erroneamente que Lance fodeu sua esposa. Ele extrai a vingança de um covarde, nada mais.
– Quem diabo é você? – Gritou Kniveton, chamando a atenção do mais próximo da multidão.
– Eu sou o irmão bastardo.
– Ah, sim, eu ouvi sobre você. Bem, bastardo, não acho que ele tenha fodido a minha esposa, eu sei, tenho a certeza disso e serei o primeiro a votar contra ele em um tribunal.
– Seu desejo de prejudicar seu nome e pessoa está fora de lugar. Ele não o enganou.
– Eu sei que ele o fez.
– Você está errado.
– O inferno é que eu estou. Encontrei uma carta que ela escreveu para ele. Hemingford, foi como ela se dirigiu a ele.''
– Esse não seria ele. – Ives, seu temperamento sob controle, voltou para o advogado examinando provas logicamente, metodicamente. Gareth preferiria ficar zangado, mas calado. – Ele nunca é chamado de Hemingford por suas amantes.
Kniveton franziu o cenho.
– Se não foi ele, quem? Não Percival.''
– Percy era avarento demais para ficar emaranhado com uma mulher que espera os presentes que sua esposa tem a fama de exigir.
– O que... Isso só deixa... – Ele olhou para Ives.
– Desculpe, eu não. Insisto que minhas amantes se dirijam a mim de outra maneira. Chamando-me Hemingford não tem o sentimento apropriado.
Gareth olhou-o com curiosidade.
– Você nunca me pareceu ter ou gostar dos nomes fofos que as mulheres usam.
– Eu não posso tolerá-los. Prefiro que se dirijam a mim como meu Senhor e Mestre, na verdade.
– Inferno, se não foi um dos dois, quem foi? Vocês saíram de Hemingfords, então alguém está mentindo.
Um estranho silêncio caiu. Gareth tentou parecer tão perplexo quanto os outros.
Ives lançou-lhe um olhar de esguelha, questionando.
Kniveton olhou fixamente para Lance, que havia vencido de novo, depois suspeitosamente para Ives. Então, curiosamente, em Gareth. Podia-se ouvir o seu cérebro confuso a analisar tudo.
– Você.
– Sob as circunstâncias atuais, para que você não despreze meus irmãos de maneiras que os levem a um duelo, vou admitir. Ela estava mandando a carta para mim. Sou eu com quem ela ainda faz coisas perversas em seus sonhos.
– É mentira o que você diz. Você não é um Hemingford.
– Não oficialmente. Ela gostava de me chamar assim mesmo. Talvez tenha achado mais erótico chupar o pênis do filho de um duque, se ele fingisse ser legítimo.
Kniveton pareceu confuso, como se ele precisasse de um momento para acreditar que tinha ouvido corretamente. Seus dois amigos sorriram atrás dele.
– Como ousa... Ela nunca... eu deveria matá-lo!
– Se você achar que deve, então faça-o. No entanto, prefiro não matá-lo por um prazer há muito tempo apreciado, embora a memória possa ser enganosa.
Kniveton pulou. Gareth se abaixou. O punho de Kniveton pousou na mandíbula de um homem na multidão que se virava para assistir à briga.
Ives agarrou Kniveton, colocou-o de volta, e gesticulou para seus amigos.
– Ele é uma raposa, e será grato amanhã se você o remover agora. Ele não quer duelar com ele. Pode ser um bastardo, mas pode tirar um botão do casaco de um homem sem rasgar a lã que decora.
Os dois reprimiram Kniveton e o afastaram.
A boca e a testa de Ives franziram o cenho, mas seus olhos cintilaram.
– Você tinha que descrever o talento mais fino da senhora.
– Se ela fosse minha esposa, eu gostaria de saber, então eu tenho que ser justo.
A multidão se dispersou. Lance caminhou até eles. – O que Kniveton queria?
– Brigar com você e levá-lo a um duelo, – Ives disse.
– Eu não posso culpá-lo. Eu fodi a esposa dele. Ela realmente gosta de chup...
– Sim, nós sabemos, – disse Ives.
Lance se afastou, em direção à mesa de jogos.
Ives olhou para Gareth.
– Maldição, toda esta conversa sobre as predileções da senhora me tem duro como uma vara de ferro. Você mentiu para puxar o fogo, ou eu sou o único irmão que não recebeu sua parte justa, como você colocou?
Gareth encolheu os ombros e seguiu Lance.
Eva entregou sua cesta de compras ao lacaio, que a deixou de lado. Depois, o seguiu até uma bela sala de estar, decorada nos incongruentes estilos das duas mulheres que moravam naquela bela casa. Tons dourados misturados com tons pastéis, e padrões florais. Lindas paisagens decoravam as paredes, ao lado de imagens um tanto estranhas que lembravam as ilustrações de Blake.
As irmãs Neville a receberam nos seus respectivos lugares. Ophelia sentou-se numa pequena cadeira estofada de rosa. A luz da janela transformou seu cabelo louro em uma névoa, fazendo com que parecesse a cabeça de um dente de leão à espera de uma forte brisa ou respiração. Jasmine descansava em um divã, seus longos cachos seguindo os mesmos montes e vales que seu manto de seda sem forma.
Elas tinham enviado um bilhete no dia anterior, convidando-a a se encontrar com elas. Elas nunca tinham feito isso antes. Ela supôs que elas queriam discutir o mesmo tópico que ela tinha abordado fora da loja do Sr. Duran, apenas na privacidade de sua casa.
Chá foi servido. Eva sorveu lentamente, desfrutando do luxo. Ela nunca bebia chá. Bom chá era muito caro, e chá barato era adulterado.
– Estamos tão felizes que você veio, – disse Ophelia. – Nós teríamos ido visitar você, mas sua irmã disse que você prefere não receber visitas. Como se nos importássemos de quantas cadeiras há – Jasmine entoou. – A vida é o que é. Não há vergonha na pobreza da mulher, especialmente porque quase nunca é culpa daquela mulher.
– Obrigada pela compreensão de você – disse Eva. – Mesmo assim, Rebecca acha que seria desagradável pedir aos convidados para ficar o tempo todo em pé.
– Ela está certa sobre isso, Jasmine. Você deve admitir.''
Jasmine assentiu, a contragosto.
– Quanto ao motivo pelo qual teríamos ido visitá-la – prosseguiu Ofélia. – Uma razão seria conhecê-la melhor. Muitas vezes comentamos que era muito ruim você nunca ter vindo com Rebecca, para que pudéssemos melhorar seu conhecimento. Enquanto seu irmão estava doente, era compreensível, é claro, mas desde então ...
– Você deveria passear e não apenas fazer compras, – Jasmine interrompeu. – Você nunca vai às festas ou bailes ou passear ao longo do lago. Você adquiriu alguns hábitos enquanto você cuidava dele que você se deve esforçar para quebrar agora, que seu ano de luto está acabando.
– Não creio que a senhorita Russell precise de nosso conselho, irmã. —Ofélia revirou sutilmente os olhos na direção de Eva. – Mesmo que ela compreenda, que é somente seu bom coração que faz com que você o ofereça.
Eva apenas sorriu.
– Também queríamos falar com você sobre outra coisa – disse Ophelia.
– Já que você falou tão francamente conosco no outro dia na rua, assumimos que não se importaria de que fizéssemos o mesmo – Jasmine inseriu.
– Eu dificilmente posso objetar, como você tão cuidadosamente assinalou. O que você se sente obrigada a dizer?
– Espero que saiba que falamos e agimos como amigos – disse Ophelia.
– Claro. Com bons corações, como você disse.
Jasmine endireitou-se no divã. Sua túnica exótica a fez parecer um oráculo estrangeiro.
– Temos amigos em Londres. Velhos amigos. Bons amigos. Nós escrevemos a eles, para sabermos mais sobre ele.
– Ele?
– Sr. Fitzallen. Gareth Fitzallen – disse Ophelia. – Você sabia que ele é o bastardo do duque de Aylesbury? O terceiro duque, é claro.
– A mãe dele era a filha do mordomo. Aylesbury a fez sua amante. Manteve-a durante anos. Décadas. Até que ele morreu – disse Jasmine.
– Tais arranjos não são incomuns entre a nobreza, – disse Eva, para que as irmãs não pensassem que ela fosse tão provinciana para ficar chocada com as revelações. – Nem um homem é responsável por seu próprio nascimento, eu acho que você vai concordar.
Jasmine olhou para a irmã de modo significativo. Ophelia pareceu constrangida.
– Eu disse a você, – Jasmine disse. – Veja como ela o defende.
– Só porque eu também me esforço para ter um bom coração, – disse Eva.
Jasmine a olhou com um brilho conhecido.
– Veja aqui. A sua irmã disse que ele a visitou em sua casa. Trouxe um pequeno presente. Erasmus disse que ele perguntou sobre a doença de seu irmão e outras coisas relacionadas à história de sua família.
– Outras coisas, – Ophelia repetiu calmamente.
– Então nós escrevemos para nossos amigos para ver quem ele era.
– E soube que ele era um bastardo. Eu já sabia. Ele me disse logo. Não deve importar a ninguém, mas talvez meu coração seja bom demais, se eu penso assim.
Jasmine ergueu as mãos. – Diga a ela, Ofélia. Talvez ela o ouça melhor se vier de você.
– Dizer-me o quê?
Ofélia parecia dolorida.
– Nós não esperamos que você se preocupasse que ele fosse um bastardo. No entanto, é o seu caráter que nos deu preocupação. Não é o melhor. Ele tem uma reputação que nós pensamos que você deveria saber, para que não... Isto é, então ele não...
– Seduzir e abandonar – Jasmine falou alto. – Diga mentiras, se aproveite e traga vergonha à sua família.
Sua voz soou pelo salão. Eva olhou para ter certeza de que as janelas estavam fechadas.
– Ele tem fama de ser muito libertino – disse Ophelia. – Mais hábil em suas seduções. Esposas, viúvas, mulheres de maturidade como você...
– Principalmente esposas – disse Jasmine. – Mas nossos amigos dizem que ele considera qualquer mulher com mais de vinte e três anos um bom jogo para seduzir, e alguns suspeitam que ele até mesmo deflorou garotas inocentes. —Ela baixou a voz, como se confessando um segredo. – Dizem-nos que ele emprega certas técnicas exóticas que deixam as mulheres encantadas e felizes e incapazes de desistir dele. Algumas das damas mais elevadas, nomes que você reconheceria, procuraram mantê-lo mais próximo do que é sábio. Quando jovem, fora da universidade, teve um longo relacionamento com uma senhora, que tem fama de ser excessivamente romântica. O relacionamento tornou-se notório. Ela o manteve como um animal de estimação e gastou uma pequena fortuna nele.
– Talvez ela o tenha corrompido – ofereceu Ofélia. – Sua personalidade atual não seria culpa dele, então. Não inteiramente.
– Oh, irmã, irmã, irmã. Você sempre procurará desculpas para os ímpios. Não lhe dê crédito.
– Isso não é verdade. Você sempre vê o pior e eu não, isso é tudo.
Eva limpou a garganta para chamar sua atenção, antes que ela testemunhasse uma longa troca de acusações.
– Eu sou grata, naturalmente, que você escolheu compartilhar isto comigo. Preciso te assegurar que o Sr. Fitzallen não tem nenhum interesse em mim. Eu sou a última mulher a virar a cabeça de um homem, mesmo por algumas horas. Acho que todos podemos concordar que, embora ele possa, um dia, ser libertino com uma senhora em Langdon's End, não serei eu.
Ambos olharam para ela de uma maneira peculiar. Então, uma para outra. Então para ela.
– É evidente que não estamos preocupados com você – disse Jasmine.
– É Rebecca quem nós tememos que atrairá para sua maldade.
Claro. Elas ficaram preocupadas com a linda Rebecca. E ele quase me beijou. Ele deu esse pequeno presente para mim. Eu sou aquela que ele pode seduzir e abandonar. Ela chegou perto de dizer isso. Gritando. Só que ela sabia que as irmãs estavam corretas. Ela não estava em perigo. Nenhum mesmo.
Por reflexo - muito reflexo - ela concluiu que estava enganada e que ele quase não a beijara. Por um lado, pelo som das coisas, Gareth quase não beijava mulheres. Longe disso.
– Vocês são tão boas por se preocuparem com minha irmã. Estou realmente tocada. Se lhes dá paz, deixem-me dizer que ele mal olhou para ela quando ele nos visitou.
– Essa é uma estratégia comum de tais homens. A questão é se ela olhou para ele, – Jasmine disse.
– Como podia ela não olhar? Claro que ela ficou impressionada. Ele é muito bonito. No entanto, depois que ele saiu, eu perguntei o que ela pensava dele. Sua resposta vai lhes divertir. Ela disse que ele era bonito, mas velho.
– Não pode ter mais de trinta anos – disse Ophelia. – Talvez até alguns anos mais novo.
– Para uma menina de sua idade, ter trinta é ser ancião. E era assim até quando eu tinha dezoito anos. – Rebecca admitiu que Gareth era velho demais, o que tinha sido uma bênção mista. Embora ela se alegrasse de que Rebecca não formasse uma paixonite por ele, o fato de que ela persistisse em pensar que alguém de trinta anos era velho, então encontrar um marido para a irmã seria muito mais duro.
Ophelia parecia aliviada. Jasmine apareceu meio apaziguada.
– Você deve ficar de olho nela, mesmo assim – disse Jasmine. – Quem sabe que planos astutos ele poderia ter. Ele não tem fortuna, então, se o pior acontecer, ela dificilmente estará melhor se ele fizer a coisa certa, o que sua reputação sugere que ele não fará. Além de uma renda modesta do duque, e aquela pilha de pedra que agora chama Albany Lodge, ele não tem nada. Como um bastardo, nunca o terá.
Eva se levantou.
– Eu vou ser muito cautelosa e certificar-me-ei de Rebecca não ficar encantada ou confusa, eu prometo. Agora, devo voltar para ela. Estive fora por tempo demais.
Ela saiu da casa, sem saber se deveria ficar insultada ou divertida. As irmãs Neville não lhe haviam contado nada que ela não tivesse imaginado sobre Gareth. De muito mais interesse, havia sido a referência a técnicas exóticas. Ela se perguntou o que diabo isso significava, e por que, aparentemente, deixaram as mulheres implorando por mais.
Em seu caminho para casa, ela se lembrou do recado que a tinha enviado para a cidade em primeiro lugar. Ela tirou de sua cesta uma carta que tinha chegado.
Sarah tinha escrito. Ela abriu a carta, esperando que ela pudesse dar boas notícias a Rebecca. Ela deu um pequeno salto de alegria depois de ler a primeira frase.
Sarah as tinha convidado para visitá-las durante alguns dias, quando elas fossem a Birmingham.
Eva bateu com as pontas dos dedos contra o azul cinza da fonte, verificando para ver como pegajosa a tinta a óleo assentava na tela. Se ela os embalasse com cuidado, talvez pudessem levá-lo a Birmingham, juntamente com os outros. No entanto, teria de dizer ao Sr. Stevenson para pendurá-lo imediatamente.
Ela tinha passado os últimos dez dias terminando esta pintura, e o vestido, e tentando criar milagres em outras peças de vestuário. Agora Rebecca costurava à luz da grande janela, anexando alguns recortes novos a uma peliça velha. O objetivo - a esperança - era não parecer tão desatualizada como era.
Ela levantou o quadro que tinha copiado. Envolvido novamente em sua estopa, ela descansou seu peso em seu quadril.
– Eu estou indo agora. Eu devo estar de volta em uma hora ou assim.
Rebecca olhou para cima.
– Não pode esperar até que voltemos de nossa viagem? Eu esperava ter sua ajuda com isso.
– Ele se foi agora e pode já ter voltado por essa altura. Melhor se este quadro estiver em seu sótão quando eu deixar a cidade.
– Eu duvido que ele vá sentir falta se ele nunca for devolvido. Você disse que o sótão é difícil de encontrar. E se ele o descobrir e de alguma forma souber que algo está faltando, ele não é susceptível de pensar que você pegou.
– É uma pintura de valor, Rebecca. Algumas cadeiras que provavelmente acabariam como lenha de vagabundo é uma coisa. Uma pintura de Gainsborough é outra. Tenho rompantes de honestidade, o devolvo.
– Vá então. Vou começar a aquecer a sopa se você não voltar logo.
Eva saiu da casa e caminhou para a rua. Albany Lodge não se situava a mais de quinze minutos ao norte de sua casa. Chegou à estrada que ligava as duas propriedades, e logo passou a encruzilhada com a outra estrada que levava a Langdon's End.
Ela rodeou a curva e Albany Lodge saltou à vista. Não parecia diferente do passado. Nada indicava que alguém agora a habitasse e que os reparos estivessem em andamento.
Ele teria ido embora pelo menos há uma quinzena, Gareth tinha dito. Erasmus e Harold não estavam trabalhando na propriedade durante a ausência de seu patrão. Ela confiava que ninguém estivesse por perto nesta tarde e que a visse completar sua missão.
Objetos para cavalos, um emaranhado de talheres, e uma variedade de jarros e tigelas de louça decorada, estavam no piso do pórtico da casa quando ela chegou. Os cidadãos de Langdon's End tinham feito o que ela fazia agora, e aproveitaram a ausência de Gareth para devolver mais itens emprestados ao longo dos anos. Esse lote talvez tivesse sido atraído para fora de suas casas pelo sermão do vigário no domingo, no qual ele pregava o mandamento de não roubar.
A habitação de Gareth mostrou-se mais óbvia dentro do que fora. Lixo e poeira tinham desaparecido. Alguns itens de mobiliário deram ao salão de recepção uma melhor aparência. Alguém tinha até limpado a lareira e esfregado as pedras. Ela olhou na biblioteca e viu melhorias semelhantes.
A pintura ficou pesada em seus braços. Carregá-la até as escadas provou ser uma tarefa árdua. Ela se encaminhou para os aposentos dos servos e depois para uma pequena porta ao lado do corredor. Ela tinha perdido este acesso aos sótãos superiores nas suas primeiras explorações à casa vazia. Quando finalmente a encontrou e se aventurou acima, o conteúdo a surpreendeu.
Agarrou o quadro firmemente e manobrou as escadas estreitas no espaço poeirento e quente logo abaixo do telhado de uma das alas de pedra para a casa. Pouca luz penetrava porque tinha apenas uma janela, que era pequena e obscurecida pelos profundos beirados do telhado. Seria fácil perder as formas contra as paredes, cobertas por cobertores. Ela quase as perdeu.
Colocou a pintura, colocando-a cuidadosamente de modo que ficasse em frente a uma superfície grande e plana escondida por um cobertor. Ela deslizou o cobertor para cima. Um pouco de luz captou as cores brilhantes de tulipas e vidro na superfície da tela, e tinha tanto realismo que convidavam a tocar as diferentes texturas. A pintura era holandesa, ela tinha certeza, e provavelmente a partir do século XVII. Tentara copiá-la, mas era grande o suficiente para ser impossível leva-la para casa.
Deixou cair a manta de modo que cobriu os três meninos e a fonte, agora voltou para a pilha de pinturas. Ela olhou para a parede em outras telas pequenas que ela não seria capaz de tomar emprestado agora que Gareth se tinha mudado para a casa.
Ele ainda não tinha encontrado este sótão, mas acabaria por fazê-lo. Em seguida, ele provavelmente mudaria as pinturas de volta para as paredes abaixo, de onde elas sem dúvida foram retiradas quando a casa foi fechada após a última vez que o duque a visitou.
Mesmo que ele nunca os encontrasse, ela dificilmente poderia levá-las para fora debaixo do seu nariz, ou devolvê-las da mesma maneira.
Ela poderia?
Ela caminhou até a pilha final de pinturas e levantou o cobertor. Ela tinha pretendido pegar emprestado esses. Sem eles, não tinha certeza de como ela e Rebecca viveriam, assim que o dinheiro do grupo atual fosse gasto. Poderia ser impossível construir novas vidas, também, muito menos ter a diversão que tão orgulhosamente informou a Gareth que ela pretendia ter.
Se Gareth fizesse viagens como esta com algum tipo de frequência, e se ela não lhe falasse sobre o sótão, ela poderia, em algumas ocasiões, fazer seu trabalho e ganhar alguns xelins?
Ela levantou a pintura da frente, uma pequena paisagem com camponeses na frente e um castelo em ruínas no fundo. Pensou que o assunto apelaria a muitos dos patrões de Stevenson.
Sua consciência debatia com sua praticidade sobre a tentação de sair com um pacote como ela tinha chegado. Enquanto ela se concentrava em suas inclinações conflitantes, uma consciência intuitiva entrou em sua mente.
Ela congelou e escutou. Nada. E, no entanto, sentiu que já não estava sozinha em casa.
Talvez Erasmo tivesse chegado, ou Harold. Se eles a vissem sair, ela esperava que ela pudesse encontrar uma desculpa aceitável. De todos os modos, seu coração batia e o alarme aumentava seus sentidos. Ela pousou o quadro, na ponta dos pés até a escada superior do sótão, e escutou novamente. Mais silêncio.
Tentou dizer a si mesma que estava sendo uma tola, mas ainda sentia a presença de alguém. Não no mesmo nível, mas abaixo, em algum lugar. Sentiu mais do que ouviu os passos.
E se não fosse Erasmus ou Harold, ou mesmo alguém da cidade? E se um ladrão que conhecesse a casa tivesse voltado, sem saber que agora estava habitado? E se um daqueles estranhos que pareciam estar sempre por perto tivesse entrado? Ela não queria ficar cara a cara com um homem assim.
Ela também não queria ficar presa neste sótão.
Ouvindo com atenção, com certeza que ela estava errada, mas sabendo que estava certa, ela desceu as escadas o mais silenciosamente possível. Ela puxou a porta fechada atrás dela, e foi para as escadas dos servos e indo para os níveis inferiores.
Quando chegou ao primeiro andar, ela se convenceu de que tinha conjurado fantasmas do nada. Mesmo assim, ela passou rapidamente pelas portas da escada principal, fazendo o menor ruído possível.
A luz derramou-se sobre o limiar da porta mais próxima da escada. Ela tentou lembrar o arranjo da casa. Aquela porta conduzia a um dormitório, como a maioria dos quartos, mas não era grande, nem muito grande, como ela se lembrava. Ele tinha sido esvaziado de tudo anos atrás.
Mesmo assim ela tentou silêncio enquanto ela se aproximava. Ela cautelosamente espiou ao redor do batente da porta.
Sua memória tinha falhado. Este não era um quarto pequeno. Era a entrada de um grande vestiário. Pior ainda, o dono da casa agora o ocupava.
E ele estava nu.
Gareth estava de costas para ela, sem uma peça de roupa. Ele parecia estar se preparando para se vestir. As roupas estavam em uma cadeira próxima, e ele desdobrava uma camisa. Poças de água cintilavam no chão perto do lavatório.
Cada centímetro de seu corpo ficou tenso e exigiu que ela partisse, rápido, e a fizesse escapar. Sua mente se recusou a ouvir. Ela apenas olhava com fascínio ofegante.
Ela tinha visto seu irmão nu, é claro. Mesmo como um adulto, uma vez que ela tinha cuidado dele. Mas então ele estava acabado e magro e nada assim. Este homem estava no auge, com os ombros tensos, largos e a pele firme e músculos duros. Ela achou aquela parte especialmente atraente, embora ela olhasse fixamente o traseiro dele.
Deixou de lado a camisa e pegou as calças. De repente, sua mão congelou alguns centímetros acima das roupas. Ele ficou alerta, seu corpo todo flexionou e força irradiou através dele como uma ondulação. Seu perfil se endureceu em perigosos avisos e sua boca em uma linha intransigente. Sua outra mão se estendeu em direção à penteadeira.
Alarmada, ela se virou e correu pelo caminho por onde tinha vindo, até a escada de serviço. Ela rezou para que a porta do jardim abaixo estivesse desbloqueada.
Condenação. Gareth reconheceu o perigo em seu sangue. Um aviso. Alguém mais estava na casa, e não muito longe.
Ele se aproximou da penteadeira. Ao chegar de volta, ele tinha colocado sua adaga lá quando se despiu. Ele nunca viajava sem ela, depois de ter sido vítima de um salteador de estrada quando estava na universidade.
Sua mão fechou-se sobre ela, e ele se virou. Não viu ninguém na câmara, nem na porta. Alguém tinha estado lá, no entanto. Ele quase sentiu a respiração do ladrão.
Ele jogou a adaga para baixo, puxou as calças, pegou a arma de novo e saiu do vestiário. Ele estaria condenado antes que permitisse que os intrusos fugissem de seu quarto, especialmente enquanto ele estava dentro dele. Um confronto, uma captura e forte advertência, e a palavra se espalharia de que a situação tinha mudado.
Ouviu sons fracos, vindos da parte de trás da casa. Quem quer que tivesse entrado agora, desceu a escada dos servos, e nem sequer furtivamente. Ele não perseguiu nessa direção. Pelo contrário, ele correu pelas escadas principais, para fora, e em torno da casa.
Mais sons aqui, na cozinha do porão. As janelas baixas mostraram-se muito sujas para atravessar. Ele desceu as escadas até a porta submersa e se posicionou ao seu lado. Com sorte, o ladrão não se aproveitou de uma faca de cozinha.
O barulho da porta sendo empurrada para um lado. Seu ladrão empurrou uma porta cujas dobradiças precisavam de óleo. Na terceira tentativa a porta se abriu.
Gareth agarrou a figura voando para fora, girou-a e a bateu contra a parede de pedra. Mesmo assim, ele sabia que tinha cometido um erro.
Capítulo 7
Eva bateu duro contra as pedras. Um grito escapou dela e seus olhos se apertaram contra a dor. Quando ela os abriu de novo, Gareth, estava assombrado e furioso, segurou seu ombro contra a parede. Seu olhar fixo na adaga apontada para seu peito. Seu próprio peito, ainda nu, enquadrou a vista.
– Eva! O que diabos ... – Seu olhar se desviou dela para a adaga. Ele atirou a arma para baixo e diminuiu seu aperto em seu ombro. Ele não a soltou, no entanto. – O que você está fazendo aqui?
Ela pensou rápido.
– Fui dar um passeio e pensei em ver se Erasmus estava aqui. Eu tinha uma pergunta para ele.
Gareth baixou as pálpebras.
– As coisas não melhoraram aqui a ponto de exigir um zelador quando eu sair. Se você esteve na cidade por pelo menos uma vez durante a minha ausência, você saberia que ele não estava vindo aqui enquanto eu tinha ido embora.
Pensar rápido não a tinha ajudado. Nem pensar devagar. Ela não conseguiu encontrar outra boa razão para estar aqui.
– Você veio aqui para ver se eu tinha voltado? – Seu olhar escureceu.
– Claro que não. – Não havia mais nada para isso. – Você disse que estaria fora pelo menos uma quinzena, e eu pensei que talvez enquanto você estava fora, eu poderia ver as melhorias que você tinha feito.
– Você entra frequentemente em outras casas quando seus donos não estão?
Uma pergunta tão infeliz.
– Sinto muito. Eu nunca deveria ter entrado.
– Não se desculpe. Estou feliz que você veio. – Sua mão saiu de seu ombro. Finalmente. – Entre. Vou mostrar-lhe as melhorias. Um sorriso lento se formou, mas ele não parecia mais amigável. – Vários cômodos ainda exigem novos tecidos e outras coisas. Você pode-me aconselhar.
– Eu... Realmente não posso... Ou seja, não seria... Apropriado para mim...
Suas palavras morreram em sua garganta. Ele havia-se aproximado. Isso colocava o nariz no máximo a seis centímetros longe do peito dele.
– Vamos, Eva. Se fosse apropriado para você entrar na casa comigo, é então apropriado você me ver lavar-me...
– Eu não assisti a você se lavar!
– Correção. Me ver vestir. Mesmo assim, depois disso, você dificilmente pode discutir sobre entrar ou não na casa para aconselhar sobre cortinas.
Estava mortificada que ele tivesse percebido que ela o tinha visto antes de vestir-se, mesmo que não tenha visto tudo completamente. Ela deveria fingir que não tinha visto nada, e reagir com raiva. Somente no momento, estava tentando ver como poderia aparentar choque e indignação, encontrou-se em vez disso olhando fixamente em seu peito nu que, lhe parecia pedir um estudo muito próximo certamente.
Ela forçou seu olhar por cima de seu ombro direito, depois do seu esquerdo, depois para o chão - em qualquer lugar exceto no rosto bonito e no meio sorriso que prometia uma diversão privada. No entanto, o peito se aproximava em sua visão, atraindo os seus olhares como um ímã atrai o ferro. Ela notou quão tensa a pele parecia e quão duro, e as linhas apertadas indo em direção às suas calças. Ela se perguntou como seria mais abaixo...
Ela olhou furtivamente para o rosto dele. Ele estava observando ela observando-o. Sua expressão parecia intensa, séria, e tão perversa como as irmãs Neville a tinham advertido.
Ela olhou para baixo, sentindo o calor do seu rosto. – Eu devo ir... Eu preciso ir.
Uma mão em seu queixo girou seu rosto. – Não fique envergonhada. É normal ser curiosa. A única vergonha é se todas as obrigações e deveres abafarem os desejos que ouvimos dentro de nós mesmos.
Ela cheirava o sabonete que ele tinha acabado de usar ao se banhar. Ela imaginou-o de pé no vestiário há não muito tempo. Sua mente se encheu com aquela imagem, e a sensação de sua mão em seu rosto e a maneira chocante com que ela desejava pressionar as pontas dos dedos contra seu corpo, descobrir mais e talvez sentir se seu sangue estava aquecido como o dela estava agora.
Ele inclinou o queixo dela para que ela olhasse em seus olhos. Olhos escuros, infinitamente profundos e cheios de vida e experiência e pensamentos de apenas ela.
Seu polegar acariciou seus lábios. Eles tremiam e pulsavam, e a sensação entrou em seu sangue. Era tão bom. Terrivelmente, maravilhosamente bom.
Ele inclinou a cabeça e beijou sua boca. Gentilmente no início, mas quase imediatamente se tornou um arrebatamento. Era como se uma pequena quebra significasse que toda a parede caiu.
Oh, que beijo foi. Ela se deixou gozar enquanto ela inalava o cheiro dele. Ela permitiu que os seus desejos seguissem o seu caminho, e respondeu aos desejos dele em espécie. Ela não fez nada para acabar com o beijo porque ela não queria que isso terminasse. Cinco anos de deveres desapareceram, e ela era uma menina de novo, redescobrindo o gosto do fruto proibido.
Ela não se opôs quando ele a abraçou. Ela não sentiu nenhum choque ao encontrar seu corpo pressionado contra ele, de modo que ela sentiu sua pele através de suas roupas e seu calor ao seu redor. Ele aprofundou o beijo, provocando admiração caótica e ousadia. Prazeres cascateados através de seu corpo até que ela perdeu todo o senso de decoro.
Ela aventurou-se a dar seu próprio abraço. A sensação de sua pele sob as palmas das mãos a excitava. Ela pressionou as pontas dos dedos contra os músculos duros sob a pele macia. Essa pequena agressão o encorajou. Ele apertou seu abraço em resposta e a seduziu a abrir seus lábios para que seu beijo pudesse se tornar invasivo.
Mais espanto, como ela se deleitava com a forma como seu tamanho e força a dominavam. Sua sensualidade, adormecida por tanto tempo, demasiado tempo, agora se enfurecia, como se esse contato físico abrisse suas portas.
Sua testa pressionou a dela. Ele olhou para a mão enquanto seus dedos passavam por seu pescoço e pelo topo de seu vestido.
– Você me surpreende, Eva.
– Você quer que eu te afaste e saia indignada?
– De jeito nenhum. Não, a menos que você queira que eu morra. Venha aqui. – Ele a puxou para um banco encostado nos tijolos da casa e a puxou para seu colo. Seu dedo esticou sobre seus cabelos para segurar sua cabeça em um beijo febril e exigente. O prazer começou de novo, como se não houvesse uma pausa.
Ele inclinou sua cabeça e beijou o pescoço dela e a pele exposta por seu corpete. Emoções começaram a disparar fundo e baixo até que ela quis se contorcer. Carícias, firmes e conscientes, fizeram pior. Um toque em seu peito, leve como uma pena, a fez ofegar. Outras, menos suaves, faziam a sua cabeça nadar.
Isso parecia bom demais. Perversamente. Muito melhor do que a excitação vaga causada pelos poucos abraços com Charles, quando seus seios apertavam seu peito o suficiente para agitá-la. As carícias de Gareth revelavam-se deliberadamente provocantes. Ela sabia, mesmo quando sucumbiu, que seu objetivo era dominar sua vontade.
Ela não se importava. Todos os deveres estavam alinhados, e seu desejo os expulsou. Ela queria isso, seu corpo fazia o mesmo que sua alma, mas principalmente a parte dela que controlava todos os seus sentidos exigia.
Ele desabotoou a sua peliça e deslizou-a tão magistralmente que ela mal notou. Os fechos no vestido dela se soltaram sob sua carícia nas costas. Essa mesma mão suavemente aliviou o tecido de seus ombros e seus braços, enquanto sua outra mão continuou distraindo-a, acariciando seus seios.
Quando o tecido de sua camisa se moveu, no entanto, ela começou a ficar em choque. A realidade se forçou em sua consciência. O beijo mais gentil em sua bochecha a estimulou a ficar calma.
– Quero ver como você é linda, Eva. E quero que você tenha o melhor prazer. Você vai permitir agora.
Ela não concordou, nem se opôs. Ela permitiu, como ele ordenou. Ficou horrorizada em como a promessa do prazer a balançou, viu-o empurrar a camisa fora de seus ombros até que seus peitos se elevassem e nus acima das roupas ajuntadas em sua cintura.
– Perfeito, – ele murmurou, mergulhando a cabeça para beijar um, depois o outro. – Você é linda, Eva.
A lisonja cutucou seu melhor senso. Uma dor pungente disparou através dela, como ela reconheceu que talvez apenas, talvez, ela estava sendo uma tola. Mas então suas pontas dos dedos começaram a tocar em seus mamilos nus, e ela não pensou em nada.
Celestial. Luxúria. Ela se contorceu agora, para tentar aliviar a pulsante necessidade de torturá-la cada vez mais. Sua cabeça baixou para beijá-la novamente, então ele usou sua língua e dentes para fazer sua excitação insuportável. Ela segurou seu ombro nu enquanto onda após onda de incrível sensação crescendo em seu corpo.
– Você é virgem? – Sua pergunta pendurou em sua orelha enquanto seu toque continuava tentando-a.
Ela mal ouviu. Mal podia ter respondido. Finalmente, ela assentiu.
As pontas dos dedos rolavam sobre seus dois mamilos até que ela estava sem fôlego e imóvel. Sua boca começou a despertar e a devastar novamente, enquanto suas carícias reclamavam tudo dela. Seus quadris e coxas, sua parte inferior e traseira. Toda ela. Um estupor sensual a envolveu. A necessidade pulsava cada vez mais, doendo e querendo. Um desejo frenético entrou em sua euforia. Cresceu até absorver o prazer dentro de si.
Então, inconfundivelmente, ele parou. Suas mãos o fizeram, e todo o seu corpo também. Seu corpo gritou de frustração, mas sob seu silencioso caos ela ouviu o que ele ouviu. Os ruídos vieram através do dia quieto, e ao redor do outro lado da casa.
Horrorizada, olhou para si mesma e para ele. A realidade se forçou em seu estupor. Mais sons agora. Gareth ficou com ela em seus braços, levou-a para a porta da casa, e a deixou em seus pés.
– Venha comigo.
Ele levou-a até a cozinha, depois para o primeiro nível.
– Ninguém entrará, prometo. Vou ver o que está acontecendo. Vá lá para cima e espere por mim.
Ele caminhou em direção à frente da casa. Ela correu até as salas públicas, lutando para obter sua camisa e vestido de volta como ela fez. Ela correu para o quarto da frente e olhou pela janela. Lá em baixo, os sons voltaram. Ela abriu a janela, uma brecha apenas.
– Você voltou, senhor. Isso é uma surpresa. Não esperava você tão cedo. – Erasmo falava. – Pareço ter perturbado o seu repouso. Peço desculpas. Só vim trazer aquela pedra no carro para a parede, e vi estas coisas aqui. Mais pessoas devem ter ouvido as instruções da Srta. Russel de que as coisas levadas deveriam voltar. Pensei em trazê-las para dentro.
– Isso não é necessário. Eu façoo, – disse Gareth. – Basta trazer a pedra para o jardim.
– Levo o carro até o portal do jardim de trás e a descarrego lá. Está em casa por um tempo agora, senhor? Harold e eu temos que voltar amanhã?
– Posso partir novamente para viagens curtas, mas vocês podem vir amanhã de manhã. Eu virei e ajudarei com a pedra.
Eva olhou para o seu vestido desordenado. Ela estava-se sentindo atordoada. E se Gareth não tivesse ouvido Erasmus, e eles tivessem sido descobertos assim, ambos seminus? E se Erasmo não tivesse vindo?
Ela terminou de compor suas roupas. Ela apertou o vestido com dedos trêmulos. Quando o som das rodas do vagão desapareceu, ela saiu da câmara e desceu as escadas.
Gareth tentou se importar com a parede de pedra enquanto Erasmus explicava o que devia ser feito. Ele havia encontrado pedras semelhantes na fazenda de um pedreiro um pouco para o sul, explicou, e tinha tomado sobre si mesmo a tarefa de procurá-lo.
Enquanto isso, Gareth estava naquele banco, com Eva no colo. Seus gritos de prazer formaram uma melodia atrás do zumbido de Erasmus.
Se não tivessem sido interrompidos... O olho de sua mente viu Eva totalmente nua, escarranchada em suas pernas, seus olhos brilhando com seu alegre abandono.
Ele olhou para o banco perto da porta do jardim. Uma mancha marrom chamou sua atenção. A peliça de Eva. A fantasia desapareceu. A voz de Erasmus parecia aumentar. A última hora se apresentou com objetividade implacável.
Em que diabos ele estava pensando? Nada sensato, isso estava claro, se houvesse qualquer pensamento de todo. Ele não conseguia se lembrar. Uma mentira, isto. Ele pensara muito, e a teria tomado, exceto pela interrupção. Mesmo quando ele a enviou para se vestir, ele pretendia juntar-se a ela e desatar o vestido novamente.
Aquela peliça marrom apareceu no banco, visível pelo canto do olho. Se Erasmus a visse, poderia haver um inferno a pagar. Para Eva. Sempre para a mulher. Sua própria reputação se havia tornado famosa por essas coisas, mas ele quase não sofria por isso.
Imaginou-a acima das escadas, preocupada com aquela peliça, talvez observando por uma janela. O modo como ela aceitara o prazer o encantava. Incendiou-o. Ainda assim, ele se orgulhava do controle. Ele não agiu impulsivamente. Ele não colocava as mulheres em tal risco. Ele nem sequer brincava com mulheres como Eva Russell.
– Só deve levar um ou dois dias, – explicou Erasmus, resumindo o que tinha sido uma longa lição de construção de paredes. – Menos tempo com a ajuda de Harold.
Gareth tirou a metade de sua mente de sua virilha.
– Vai ser bom ter o jardim de novo seguro.
Erasmus assentiu.
– Vou levar o carro de volta agora, a menos que você queira que eu ponha todas aquelas coisas do pórtico em maiores distâncias.
– Não precisa fazer isso agora. Pode ir à sua vida.
Erasmus caminhou em direção ao portal traseiro do jardim. Gareth caminhou até a casa, agarrou a peliça e entrou.
Ele pensou e formulou suas desculpas no caminho de cima. Ele foi para o seu quarto e puxou uma camisa, depois foi procurar Eva. Ele estava ansioso para corrigir seu inexplicável erro de julgamento.
Ele não podia encontrá-la. Ele abriu a porta do quarto no final do corredor e a procurou. Ele estava vazio também.
Ele caminhou até a janela. À distância, ele podia ver uma pequena forma marrom movendo-se rapidamente ao longo da estrada para onde ele olhou.
Capítulo 8
Eva olhou em seu espelho. Além de seu rosto, seu reflexo mostrava o caos em seu quarto. A maior parte de suas roupas estava em sua cama, esperando que ela escolhesse as que levaria para Birmingham. Ela tinha estado muito agitada nos últimos dois dias para completar a tarefa, e agora ela estaria acordada metade da noite se preparando.
Abriu a gaveta de sua mesa de vestir uma nesga e olhou a nítida carta dentro. Chegara esta manhã, entregue por Erasmus. Antes de ler, aproveitou a oportunidade para pedir a Erasmus que vigiasse a casa enquanto ela e Rebeca se iam. Não que houvesse algo para roubar. Ela se sentia melhor sabendo que alguém iria verificar a casa, no entanto. Com Erasmus trabalhando para o Sr. Fitzallen, parar aqui não seria inconveniente.
Sr. Fitzallen. Ela se forçara a pensar nele dessa maneira desde que ela fugiu de sua casa. Tinha sido um erro permitir a informalidade dos primeiros nomes. Um dos muitos erros.
Ele também havia recusado as formalidades nessa carta.
Cara Srta. Russell, Negócios me levam de novo por vários dias. Quando eu voltar, vou visitá-la, para conversarmos sobre nosso último encontro.
Seu criado,
Gareth Fitzallen
Ela supôs que ele iria chamá-la para se desculpar. Se essa noção produziu uma pontada de desapontamento, ela não poderia ser culpada. Tinha desnudado mais do que seu corpo. Ele descobriu anseios e necessidades que ela nem sabia que existiam nela. Ela preferia que ele não o fizesse, então ela teria alguma paz novamente.
Bastava pensar nessa hora com ele para se chocar novamente. No entanto, a longa e estridente repreensão que ela deu a si mesma quando ela se apressava para casa, precisava ser repetida uma e outra vez. Deixada às lembranças de sua própria mente, as maravilhas e os prazeres teriam a sua maneira de enviá-la em um mais que impróprio devaneio.
– O que você está olhando? – Rebecca também apareceu na reflexão, também, logo atrás dela.
– Meus olhos. – Suas lisonjas precisavam ser lembradas. Ela devia forçar-se a manter a evidência de que ele era um sedutor mentiroso, muito fresco em seus pensamentos. A humilhação estava enterrada na verdade debaixo dessas mentiras. Era suficiente para ela evitar crer nele, a fim de não ser influenciada?
Rebecca puxou ganchos do cabelo de Eva, de modo que seus cachos caíram livres. Rebecca pegou a escova.
– Eles são incomuns. Mutáveis. Às vezes, verdes, às vezes azuis, outras vezes quase cinza. Acho que depende da iluminação. E de seu humor, é claro. Quando você está com raiva, eles são definitivamente verdes, com faíscas douradas, voando para fora deles. – Ela trabalhou com o cabelo nas costas de Eva. – Sempre invejei seus olhos.
– Isso é ridículo. Você nunca poderia querer trocá-los pelos seus.
– Queria muito. Os meus são azuis de uma maneira normal. Enquanto os seus não são apenas azuis, eles tem a cor de uma joia clara perfeitamente clara. Mas é a maneira que eles mudam que eu invejo.
Eva olhou de novo. Agora, à luz das velas, não conseguia distinguir a cor. Tudo o que viu foram os pequenos reflexos das chamas da vela.
– Você ainda não arrumou a mala,– Rebecca disse, enquanto ainda cuidava de seus cabelos. – Isso significa que você pode abrir espaço para o meu presente.
– Presente? Que presente?
Rebecca pousou a escova.
– Eu volto já.
Poucos minutos depois, os passos de Rebecca soaram nos assoalhos. Ela entrou no quarto de Eva, apenas nada de Rebecca podia ser visto exceto seus pés. O resto dela se escondeu atrás de um vestido que ela segurava pelos ombros.
Uma mulher usaria tal vestido para um jantar ou o teatro. Construído de cetim mais prata do que cinza, ele tinha enfeites de pequenas contas brancas e rendas no decote e mangas. Uma deliciosa faixa de renda decorava a saia inferior.
– Onde você conseguiu isso? – Eva chorou. – Deve ter custado uma fortuna.
– Não custa nada além de tempo. – Rebecca deitou na cama. – Eu usei um dos vestidos velhos da mamãe e o reformei para você.
– Os cordões e tecido naquele porta-malas eram para o seu guarda-roupa, não para o meu. Você deveria...
– Eu não me desprezei, Eva. Eu só usei um pouco do que restou para isso. Se tivermos uma chance de assistir a uma festa ou peça de teatro, você não pode ir de outra forma.
Eva não pretendia participar de tais eventos. Rebecca ficaria melhor com sua prima ao seu lado, de qualquer maneira.
Ela acariciou o cetim. Ela abraçou Rebecca e deu-lhe um beijo.
– É um presente maravilhoso.
– Estou feliz que você goste. – Rebecca sorriu impiedosamente. – Você vai virar todas as cabeças quando você o usar. Por que, provavelmente vamos encontrar um pretendente antes de voltar para casa.
Eva observou sua irmã partir, então se virou para a sua bagagem, balançando a cabeça. Doce Rebecca.
Vá para Chatsworth5. O administrador Montley falará com você.
Essa tinha sido tudo o que continha a carta que Ives tinha enviado. Não precisava de mais explicações. Se tal apresentação pudesse ser obtida, a chance não deveria ser perdida. Assim Gareth tinha montado até Derbyshire, à propriedade principal do duque de Devonshire.
Gareth aproximou-se da mansão de Chatsworth[5] no final da manhã. Ele já havia percorrido extensos terrenos quase tão grandes quanto alguns municípios. Uma das casas mais famosas do mundo agora acenava além do rio. Parou seu cavalo em uma elevação de terra para admirar o edifício e sua colocação, e a evidência das melhorias que estavam sendo realizadas na propriedade pelo duque atual.
Ele não podia adivinhar qual seria a sua recepção. Presumivelmente, este administrador não fingiria ser alguém de fila superior. O homem teria tido alguma experiência em lidar com filhos bastardos de duques, já que o último Duque de Devonshire tinha dois.
Cavalariços levaram seu cavalo para a casa. O mordomo pegou seu cartão. Pouco depois, foi levado a um escritório onde o administrador, o Sr. Montley, estava sentado a uma alta escrivaninha de incalculável valor. Uma mesa de biblioteca ao lado da secretária carregava pilhas de livros de contas.
Saudações concluídas, eles se mudaram para duas cadeiras viradas para o jardim dos fundos.
– Devo explicar que não sou realmente o administrador - disse Montley. - Minha posição pode ser melhor descrita como um secretário especial. Com todas as propriedades, Sua Graça sentiu a necessidade de alguém para assistir e coordenar todos os administradores da propriedade.
– Se você é o homem que sabe alguma coisa sobre esses quadros que desapareceram, então você é o homem com quem eu preciso falar.
Os finos cabelos escuros e os óculos tornavam Montley mais velho do que seus anos, que Gareth estimava ser o final dos trinta anos. Talvez tivesse sido amigo do duque e, portanto, mais digno de confiança do que aqueles administradores. Ele carregava o ar de gentileza e educação. Um filho mais novo de algum par, o mais provável, para quem esta posição teve mais apelo do que a igreja ou o exército.
– Eu sei muito pouco. Lamento que os acontecimentos reais tenham levado ao deslocamento das pinturas, e que ainda permaneçam em lugar desconhecido.
– Deslocamento. Essa é uma palavra não usada antes no assunto.
– É nossa convicção que quando o último duque morreu, nove anos atrás, e a propriedade estava em transição, essas pinturas foram inadvertidamente removidas de seu lugar de origem e enviadas para outro lugar, devido a algum mal-entendido por parte da família que as manteve.
Em outras palavras, não foi culpa nossa.
– Você vai compartilhar comigo o motivo de você acreditar nisso? – Gareth usou todo o charme que ele poderia reunir para dizer isso. Não haveria vantagem em desafiar Montley.
– É a única explicação lógica, é claro. Além disso, o zelador lembra o inventário feito naquele momento, e um bom número de objetos foram removidos. As outras propriedades foram pesquisadas em uma tentativa de ver para onde as pinturas foram enviadas. Nos últimos anos, viajei pessoalmente a cada uma delas, porque não adianta enviar uma lista de pinturas a mordomos que não conhecem ou diferenciam um Raphael de um Rubens.
Gareth pensou nas muitas propriedades de Devonshire, todas recheadas com arte. Ele podia acreditar que tinha levado anos para passar por tudo isso. O duque possuía oito propriedades principais e muitas outras menores.
– Você visitou todas e cada uma? Eu o invejo. Você provavelmente sabe mais sobre as coleções do duque do que ele.
Montley apontou para a mesa.
– Aproveitei a oportunidade para fazer um catálogo completo. O inventário feito na morte do último duque, embora demorado, tinha algumas ambiguidades e omissões. Para que não se pergunte se não foram omissões, mas sim se houve a incorporação inadvertida das pinturas desaparecidas na própria coleção do duque, deixe-me assegurar-lhe que diferencio Raphael de Rubens. Infelizmente, nenhuma das pinturas pertencentes a seus colegas poderia ser localizada nessas casas.
– Você tem uma lista dessas pinturas? Meu irmão procurou obter uma, mas está encontrando alguma resistência.
– Talvez alguém tema que a lista seja publicada, e cause embaraço para os envolvidos, se a lista vier a público. – Com um olhar significativo, ficou claro a todos que Devonshire não queria que a lista circulasse.
– Sem essa lista, eu mal posso ajudar. Você estará só nesta missão.
– Isso pode ser o melhor.
—O Príncipe Regente não concorda. Ele encarregou meu irmão de investigar. Estou aqui em vez dele, devido à morte de meu meio-irmão. Se Devonshire não quiser ninguém além de você, ele deve dizer à Coroa e eu posso voltar para meus outros negócios. – Ele inclinou-se para a frente o olhando nos olhos. – Ninguém pensa que houve negligência da vossa parte. No entanto, após o quê, quatro anos, o mistério permanece. Um novo par de olhos e métodos menos exigentes podem produzir novos fatos e trazer luz a outros.
Montley riu.
– Métodos menos exigentes? O que, você pretende bater nos empregados para obter informações?
Gareth apenas olhou para ele.
Montley franziu o cenho.
– Tenho certeza de que seu irmão não aprovaria.
– Você não conhece bem meu irmão, não é?
Montley ficou vermelho.
– Entendo.
– Essas pinturas não ganharam pernas e saíram do seu armazenamento.
– Não. Claro que não.
– Alguém sabe alguma coisa sobre isso. Essa pessoa não confiou em você. Talvez confie em mim.
Montley olhou pela janela um longo tempo. Finalmente ele se levantou.
– Estou autorizado pelo duque a levá-lo até a casa onde as pinturas foram guardadas. Não é muito longe daqui.
A maioria das famílias ficaria orgulhosa de ter Dunbar Green como sua propriedade principal. Para o duque de Devonshire, no entanto, era uma propriedade não celebrada, muito abaixo na lista de propriedades. Ela ficava muito próxima de Chatsworth a uma hora de distância, sem dúvida, embora Gareth considerasse que provavelmente era um conveniente refúgio secreto da casa grande para os amantes ao longo dos séculos.
Não tão grande, não tão bonita, não tão afortunada em seu desenho, Dunbar Green também mostrava alguns sinais de negligência. Montley observou Gareth olhando para o beiral, enquanto se aproximavam a cavalo.
– Há trabalho a fazer nos sótãos, – ele mencionou. – Vamos chegar a ele em breve. No momento, Sua Graça está distraído com planos para uma nova ala em Chatsworth.
Sua Graça provavelmente não tinha visitado esta propriedade em anos, se alguma vez.
– Alguém mora aqui?
Montley sacudiu a cabeça.
– Ele pode vendê-lo. A propriedade veio-lhe desvinculada. A flexibilidade que lhe deu para alterar os investimentos da família de terras para lucros mais atuais, poderia ser um argumento contra amarrar a terra dessa maneira.
– Se cada herdeiro fosse sábio, esse argumento poderia resistir. Muito embora, eles viessem a perder tudo em uma mesa de jogos. Ou assim me disseram.
– Ou suas esposas o fariam, – Montley disse secamente. Gareth assumiu que ele se referia em parte à primeira duquesa do último duque de Devonshire, cujas dívidas de jogo teriam sido ruinosas para todos, exceto para um punhado de pares.
Como uma casa desabitada, Dunbar Green tinha poucos criados. O homem de cabelos brancos que tomou seus chapéus na entrada parecia velho o suficiente para ter sido criado há muitos anos nessa casa. Curvado e com os olhos velados, dificilmente alerta para a presença deles, ele olhava para o chão, enquanto arrastava os pés nos seus deveres.
– Subiremos para os sótãos – disse Montley ao homem, enquanto ele dirigia o caminho para a escada. – Mantenha os cavalos alimentados e dê-lhe água.
Os sótãos estavam acima dos alojamentos dos criados, com pequenas janelas colocadas sob os beirais. Os remanescentes habituais da longa história de uma casa encheram-na. Montley gesticulou ao redor.
– Como você pode ver, a maioria do mobiliário foi movido para dar espaço para armazenar as pinturas aqui.
Gareth se aproximou e examinou o espaço. Julgou-o grande o bastante para preencher pelo menos com cem pinturas emolduradas se fossem encaixotados e alinhados em pilhas longas de encontro à parede. O centro do espaço, sob a viga do telhado, seria suficientemente alto para acomodar as maiores telas, aquelas de tamanho palaciano.
– Eu imagino que eles ficaram chocados ao encontrá-lo vazio, – disse Gareth.
– Não, tanto. Os arranjos foram feitos há mais de vinte anos, é claro, e com a permissão do último duque. O duque atual nem sequer estava ciente deles, até que ele recebeu uma carta do Príncipe Regente informando-o que os homens estavam vindo para recuperar os bens.
– Algum dos tesouros do Príncipe está envolvido?
– Ele tem uma casa na costa. Disseram-me que algumas obras escolhidas de Brighton foram incluídas.
Eles deixaram a parte superior da casa e saíram.
Gareth olhou ao redor da casa.
– Há algum edifício externo que eu não possa ver? Poderiam ter sido transferidos para algum lugar da propriedade?
Montley sacudiu a cabeça.
– Algumas casas de empregados e uma casa de vigário. Todas foram revistadas. – Ele desceu quando os cavalos foram trazidos.
– Eu acho que vou andar por aí um pouco, mesmo assim, – disse Gareth.
– O que você está procurando?
Maldito se soubesse. Ainda assim, não havia nada mais a saber com Montley.
– Bem, volte quando você terminar com isso. Vamos colocá-lo lá em cima, e você pode passar a noite com a coleção, se quiser. Mas duvido que você consiga até mesmo um décimo do que todos já saibam.
– Eu estarei lá.
Montley trotou o cavalo pela estrada. Gareth começou a montar quando notou o criado que trabalhava à porta olhando pela janela. De repente, o homem não pareceu tão velho e estava com olhos cintilantes. Deixando o cavalo, Gareth voltou para a casa.
O homem segurou a porta e parou de lado, sem fazer perguntas.
– Posso dar uma palavra com você – disse Gareth.
– Eu, senhor? – Ele apertou os olhos, confuso.
– Sim. Você tem servido aqui há muito tempo, eu suponho.
– Quinze anos. Estive em Chiswick House até ficar velho e lento. Aqui é onde nos colocam aqueles de nós que estão ficando velhos. Vou ser aposentado no ano que vem.
Quinze anos. Isso significava que ele veio depois que as pinturas estavam escondidas nos sótãos.
– Quando o último duque morreu, houve alguma grande mudança aqui?
– Mudança?
– Movimento de bens domésticos. Visitantes que desejavam atravessar os sótãos ou espreitar debaixo das tábuas do assoalho.
Ele riu.
– Apanhar o que conseguissem antes de qualquer inventário, você quer dizer.
– Isso é o que eu quero dizer.
– Uma senhora veio. Ela pegou um travesseiro de um dos quartos. Uma relíquia de boas lembranças, ela disse. Talvez tivesse desfrutado de uma festa na casa particularmente agradável.
– Nada mais? Em todo esse tempo durante a transição?
Ele colocou o rosto em uma máscara plácida e sacudiu a cabeça.
– Pode falar agora. Você não vai ser criticado por me dizer. Ninguém vai tirar a sua aposentadoria. Devonshire precisa saber disso. Eu peço em seu nome.
– Um dia chegou a segunda duquesa. Um vagão a acompanhava. Ela explicou que o falecido duque tinha dado sua permissão para levar o que ela queria para sua própria casa, de qualquer de suas propriedades. Acho que ela escolheu esta porque não haveria ninguém para contradizê-la.
– O que ela levou?
– Cadeiras e mesas, eu suponho.
– Você não sabe?
– Eu tive a obrigação de me ocupar em outro lugar durante a maior parte de sua permanência na residência.
Homem sábio. Não era de admirar que tivesse durado tanto tempo ao serviço de um duque. Ele não podia relatar o que não tinha visto, nem responder a perguntas que deveriam ser feitas.
– Houve outras visitas assim durante a sua permanência aqui?
– Algumas dormidas enquanto viajava em outro lugar, por parte de parentes ou nobreza, que não queriam impor-se à propriedade principal. Houve uma festa na casa antes de o duque falecer. O Sr. Clifford trouxe alguns de seus amigos oficiais navais aqui para um longo fim de semana de caça.
Clifford era o bastardo do velho Devonshire, filho da mesma mulher que mais tarde se tornou sua segunda duquesa. A mesma duquesa que invadiu o lugar depois que seu marido morreu.
– Você estava noutro lugar nessa visita também?
– Sim, senhor. Como você sabia? Minha velha tia estava se sentindo mal, e como o sr. Clifford trouxera seus próprios criados, fiz uma curta viagem para visitá-la.
– Houve outras vezes que você descobriu a necessidade de estar em outro lugar?
– Devido à condição de minha tia, aproveitei a oportunidade para visitá-la sempre que os visitantes vinham com seu próprio povo.
Gareth despediu-se, montou em seu cavalo, e partiu para andar sobre a propriedade à procura de quem sabia o quê.
Não gostava que duas das pessoas que agora tinham de ser interrogadas fossem a última duquesa e o filho bastardo. Se Ives suspeitasse onde isso iria dar e o tivesse jogado no fogo, ele pretendia golpeá-lo profundamente.
Capítulo 9
Ir para Birmingham provou ser um assunto complicado. Como ela precisava também de transportar as pinturas, Eva contratou um vagão para levá-los para a cidade. Ela e Rebecca sentaram-se na parte traseira que esperando que não chovesse e arruinasse seus capotes.
A primeira parada ao chegar a Birmingham foi a loja de papelaria do Sr. Stevenson. Um homem baixo e calvo com olhos bulbosos, cumprimentou Eva com um sorriso maior do que o normal. Ela supôs que era porque a bela Rebecca estava ao seu lado dessa vez.
– Trouxe dez pinturas – explicou ela. – Espero que você possa querê-las.
O Sr. Stevenson sorriu de alegria.
– Claro. De fato ... – Fez um gesto para as paredes de sua loja.
Eva olhou ao redor. Apenas três de suas pinturas decoravam as paredes, e eram todas as paisagens que ela havia pintado sem mais inspiração do que seus próprios olhos e talento médio.
– O resto foi comprado no mês passado, – disse Stevenson, desfrutando de sua surpresa. – Um comprador de Londres tomou cada um. Ele expressou interesse em mais. Creio, senhorita Russell, que encontramos um patrono muito lucrativo.
– Por que alguém iria querer tantas pinturas? Estou grata e aliviada, é claro. Eu temia que estivéssemos perto de você não ter mais espaço para novas.
– Eu acho, mas pode estar errado, que este patrono tem sua própria loja de pinturas, e está revendendo—as lá.
– Verdadeiramente? Qual é o nome dele?
– Ele não disse. Eu não pressionei. Fiquei muito feliz para me importar demais.
– Como você vai deixar ele saber que temos mais, então?
– Eu vou achar um jeito. Agora, venha, venha. Eu tenho o seu dinheiro e uma quantia considerável, de fato.
Eva fez um gesto para que o carroceiro trouxesse as pinturas e seguiu o Sr. Stevenson para o escritório, nas traseiras. Lá, com alguma cerimônia, ele abriu uma caixa forte e contou libras.
Ela olhou para as notas enquanto a pilha crescia. Havia dez pinturas aqui. A pilha final continha vinte libras. Ela tinha conseguido duas libras por pintura, muito mais do que no passado, quando dez xelins a fariam dançar.
– Você pode ver, por que estou animado com este desenvolvimento, – disse Stevenson. – Você vai trazer mais, eu confio.
Sua própria excitação rachou-se e desfez-se. Ela não tinha ideia se ela poderia trazer mais. Sua fonte de pinturas para copiar tinha sido fechada.
– Esse comprador não tinha interesse nas paisagens?
– Não, receio que não, Srta. Russell. Ele os admirava, mas eles não eram o que ele procurava.
Ela enfiou as notas em sua bolsa.
– Compreendo. Obrigado, Sr. Stevenson. Parece que nossa aliança finalmente gerou melhores frutos. Vou escrever e alertá-lo para quando eu vier com outro grupo.
– Por favor, faça-o, por favor. – Ele suavizou gentilezas enquanto escoltava Rebecca e ela para a rua.
– Ele estava mentindo – Rebecca disse, assim que a porta da loja se fechou atrás delas. – Ele sabe o nome do patrono, e está escrevendo para ele dizendo que tem mais. Só que você não vai ver o dinheiro até que você lhe traga pinturas adicionais, que você não será capaz de fazer.
– Estou envergonhada de que a astúcia da minha irmãzinha ultrapasse a minha – admitiu Eva. – Eu estava tão hipnotizada por todo esse dinheiro que meu juízo me abandonou.
– O que você vai fazer?
– Sobre o Sr. Stevenson, eu não sei ainda. No entanto, há uma coisa que eu definitivamente tenho a intenção de fazer imediatamente. – Ela gesticulou para o condutor. – Senhor, por favor, vá buscar uma carruagem de aluguel. Uma vez que chegue, você pode começar sua viagem de volta a Langdon´s End.
Com vinte libras em sua retícula, ela seria condenada antes que elas chegassem a casa de sua prima na parte de trás deste vagão.
A prima Sarah, de cabelos ruivos, gorda e vivaz, as recebeu calorosamente e com a melhor hospitalidade. Ela e seu marido, Wesley, moravam em uma bela rua de casas mais novas, todas altas, elegantes e brancas. Os pós das indústrias de Birmingham, não tocavam seu bairro. Cinco criados atendiam às suas necessidades internas, e outros dois cuidavam da carruagem e dos cavalos na parte de trás do amplo jardim.
A família tinha adotado um alto grau de gentileza em seu funcionamento. Rockport poderia deixar a casa todos os dias para se ocupar do comércio, e as noites passadas na cidade poderiam ser uma raridade, mas Eva ficou nostálgica da sua juventude, começando no primeiro dia. Ela tinha sido enviada de volta no tempo, antes das privações e frugalidades. Desde o pequeno-almoço na sala de manhã às noites de jogo de cartas na biblioteca, ela encontrou muito de sua visita dolorosamente familiar.
– Eu tenho todo o dia planejado, – Sarah anunciou na primeira manhã, depois de pedir mais chá. – Temos de ir às compras, é claro, para que eu possa lhe mostrar como não temos nada menos aqui do que teríamos em Londres. Voltaremos cedo e teremos uma ceia leve, porque esta noite assistiremos a uma apresentação musical.
Rebecca bateu palmas de excitação, para alegria de Sarah. Sarah tinha conquistado Rebecca imediatamente, quee já tinha confidenciado a Eva que tal joia não deveria ser deixada para perder seu brilho em Langdon's End. Com uma conversa de cinco minutos na noite anterior, sua prima tornou-se sua conspiradora em encontrar um bom partido para Rebecca.
Normalmente, uma visita às lojas faria Eva ficar ocupada alinhando razões para não comprar, preparando desculpas que não revelavam como a vida se tornara precária. Com vinte libras escondidas, no entanto, ela não se sentia tão pobre e vulnerável. Ela poderia não gastar um centavo, mas também não experimentaria a vergonha imerecida ligada ao empobrecimento.
– Você terá que usar a seda prateada esta noite, – Rebecca disse.
Sarah fez beicinho. – Eu estava tão ansiosa para emprestar alguns dos meus próprios vestidos. Você vai pedir um, não é, Rebecca? Alguns são apropriados para uma menina de sua idade.
– Vamos ver, – disse Eva, antes que Rebecca pudesse bater palmas novamente.
– Pelo menos, espero que aproveitem alguns vestidos do meu guarda-roupa.
Rebecca olhou para cima, implorando com seus olhos.
– Dificilmente podemos recusar tal generosidade, – disse Eva. Sarah queria dizer que elas tinham um guarda-roupa fora de moda, de um jeito delicado, e o desejo de sua prima de não ser vista com primas fora de moda, provavelmente tinha muito pouco a ver com a oferta.
Ela continuou a dizer o mesmo a si própria várias vezes enquanto o dia se desenrolava. Em particular quando passaram na loja de uma costureira e Sarah insistiu em entrar, tendo Rebecca e ela de provar chapéus com as últimas capas.
– Você deve tê-los, – Sarah exclamou. – Eles serão perfeitos para a excursão de amanhã ao parque.
Eva calculou seu custo provável, e a sabedoria de esgotar as vinte libras. Um chapéu, com sua coroa alta e aba profunda, trazia muita atenção para seus olhos. Ela estava começando a gostar dos seus olhos. Eles ficariam impressionantes com esse chapéu.
Rebecca tirou o seu e experimentou alguns e disse.
– Nós não temos recursos para chapéus novos agora, Sarah. Eu não me importo de usar aqueles que eu trouxe, se você não se importa que eu os use.
– Claro! Quer dizer, eu não queria... eu esperava dar um presente para você, Rebecca. E a você também, Eva.
Eva sorriu para Sarah.
– Você pode dar um presente para Rebecca, se quiser. Não vejo nenhum mal nisso. —Ela desamarrou as fitas sob o queixo. – Quanto a este, vou pensar em comprá-lo antes de sair da cidade.
Elas saíram da loja uma meia hora mais tarde, com Rebecca rindo do jeito que uma menina deveria sobre seu nova chapéu. Sarah e Rebecca conversaram sobre as modas que tinham visto nas ruas, nas lojas e nas gravuras de moda. Só falando de coisas elegantes, Rebecca tinha uma expressão viva, brilhante e mais bonita do que nunca.
– Lamento que não tenhamos um camarote, – disse Sarah naquela noite, enquanto sua carruagem os levava ao teatro. – Você está tão linda, Rebecca, que é uma pena que você não seja exibida em um.
Rebecca parecia linda. Adoravél em um dos vestidos de noite de Sarah - de cor branca inocente e com um decote não muito ousado, e decorada com muito cuidado com finos bordados de creme - ela seria a mulher mais linda do teatro, Eva tinha certeza. A beleza de sua irmã não obscureceu sua aprovação de sua própria aparência. Ela usava a seda prateada e um toucado de penas da coleção de Sarah, junto com luvas compridas.
Tomaram assentos no teatro, nas filas dianteiras reservadas para os privilegiados. Os elementos mais turbulentos da sociedade podiam ser ouvidos atrás deles, preparando suas vozes para gritar a aprovação ou não, do entretenimento que viria. Homens jovens de todas as idades vagavam em conjunto, admirando as mulheres nos camarotes e olhando com mais ousadia as que estavam nas cadeiras. Rebecca, sentada entre Sarah e Eva, atraiu muita atenção. Pela sua expressão serena, ela parecia não notar.
Elas compareceram sem o marido de Sarah, que tinha um jantar de negócios naquela noite, e em sua emoção tinham chegado cedo. O assento ao lado de Eva permaneceu não reclamado ao tempo para o desempenho se aproximou. De repente, no entanto, a forma de um homem estava na frente dele. Eva estava conversando com Sarah e simplesmente notou alguém lá pelo canto do olho.
– Sr. Fitzallen! A cabeça de Rebecca ergueu-se da conversa e seu olhar apontou para a esquerda. – Olhe quem está aqui, Eva.
Eva não olhou imediatamente. Primeiro viu Sarah fazê-lo, com os olhos arregalados. Ela também esperou enquanto seu próprio rosto corava tão intensamente que ela temia que fosse visível para todos, apesar da luz do gás no teatro.
Finalmente, voltou sua atenção para o homem que a vira pela última vez meio nua.
– Senhorita Russell. – Ele curvou-se. – Srta. Rebecca Russell. Que surpresa ver você aqui.
– Sim, uma grande surpresa, – Eva conseguiu dizer. – Sua viagem está completa então?
– Cheguei esta manhã e decidi vir à cidade passar a noite. A oportunidade de uma boa música me atraiu.
Eva apresentou Sarah e explicou que ela e Rebecca estavam visitando sua prima por alguns dias.
– Você está com amigos, Sr. Fitzallen? – Sarah perguntou. – Por favor, junte-se a nós, se não estiver.
– Obrigado. Essa é uma oferta generosa. Acho que vou aceitar.
E com isso, Eva o encontrou na cadeira ao lado dela, assim que os músicos saíram para iniciar o espetáculo.
O teatro mal se calou, mas o barulho diminuiu. Gareth conversava com Sarah, seu corpo angulando naquela direção, quase tocando no de Eva. Rebecca olhou para o palco, esperando a apresentação começar. Sarah contou a Gareth sobre os negócios do marido.
Finalmente a música começou, e a cantora saiu para seu ato de ópera. Gareth endireitou-se e olhou para frente. A cabeça de Sarah encontrou Eva na frente do peito de Rebecca.
– Quem é esse cavalheiro?
Eva sabia que Sarah queria dizer quem era esse cavalheiro, qual era sua linhagem e riqueza.
– Ele é o filho bastardo de Aylesbury.
– Não!
– Sim, e com uma pequena fortuna, então não comece a fazer planos sobre minha irmã.
– Estou mais interessado em fazer planos sobre mim mesma. Ele pode ter pouca fortuna, mas tem as melhores conexões, a menos que a família o tenha abandonado inteiramente. Você deve convidá-lo para jantar amanhã, para que ele possa encontrar Wesley. Convidarei outros jovens para conhecerem Rebecca.
– Por amor a Rebecca vou tentar, mas não espero muito sucesso. – Ela realmente não queria ter sucesso. Gareth provavelmente pensaria que ela o perseguia se ela fizesse o convite.
Ela deu a sua atenção para o desempenho no palco, então, pelo menos até que ela ouviu uma baixa voz masculina em seu ouvido.
– Você fugiu, Eva. Você teve medo de ser encontrada em minha casa?
– Sim. – Não, eu olhei para baixo em meu próprio corpo nu e meu comportamento me chocou completamente.
– Eu lhe disse que não permitiria que isso acontecesse.
Encontrou uma espinha.
– Mesmo assim, eu tive que ir. Meu comportamento não tem desculpa. Eu precisava sair para recuperar alguma dignidade.
Essa voz novamente, mais perto. Mais quieta – Você está dizendo que se arrepende?
Se eu me arrependesse, eu não iria revivê-lo todas as noites antes de eu dormir, e tocar meus próprios seios para ter algo desse prazer novamente.
– Sim.
– Você não gostou?
– Não. Sinto muito. Eu não sou uma de suas sofisticadas londrinas, eu temo.
– Estou ciente disso. Sua partida apressada me impediu de me desculpar. A culpa é inteiramente minha. Você estava sobrecarregada, e não conhecia sua própria mente. Eu nunca deveria ter beijado você, ou deixar as coisas chegarem tão longe quanto foram.
Era o pedido de desculpas que ela esperava, e provavelmente merecia. No entanto, ela se rebelou da maneira que descreveu.
– Você é muito gentil em assumir toda a culpa. Eu posso lamentar minha imprudência, mas eu não estava tão sobrecarregada que perdesse toda a capacidade de raciocinar. Acho que talvez você tenha começado a acreditar na fofoca que diz que você é irresistível.
– Convenientes essas fofocas, para servir seus propósitos. Estou impressionado por você não abraçá-las de todo. Embora sua honestidade me deixe confuso.
– Como assim?
– Você não estava sobrecarregada, e você conhecia sua própria mente, mas você me permitiu liberdades de que você agora se arrepende. Poder-se-ia concluir que, embora não seja irresistível, talvez o prazer seja. No entanto, você alega que não gostou.
– Eu estava curiosa. Na minha idade, isso não é incomum.
– Ah! Claro.
Nada. Não mais palavras para o que pareceu um longo período. Ele assistiu à apresentação. Suas mãos caíram para a cadeira ao lado de suas pernas.
Um toque no lado esquerdo da coxa quase a fez pular. O dedo de sua mão oculta subiu em direção a seu quadril, pressionando a seda de prata. Ela olhou para a cantora, perguntando-se o que fazer.
– Você está mentindo, – ele sussurrou. – Mesmo agora você treme. Ou talvez você apenas trema com curiosidade.
Ela tremeu, tanto que Rebecca olhou interrogativamente. A carícia do dedo continuou, levantando pensamentos e desejos escandalosos enquanto ela o imaginava passeando em sua pele nua.
– Eu insisto que você pare com isso, – ela sibilou.
Ele teve misericórdia dela e parou.
O desempenho da cantora terminou, e ela saiu do palco. O barulho no teatro multiplicou-se, já que numerosos punhos batiam aprovação nas costas e nos braços das cadeiras.
– Acho que Eva está gelada – disse Rebecca a Sarah. – Ela tem tremido. Embora eu me arrependa de perder o resto do programa, acho que devemos ir.
– Oh céus. Você está doente, Eva? – Sarah espiou por cima, e chegou a sentir seu pescoço. – Você parece muito quente. Talvez devêssemos fazer o que Rebecca sugere.
– Realmente, estou bem. Nós não...
– Seria uma pena para vocês, senhoras perderem o resto da noite. Ficarei feliz em acompanhá-la de volta a sua casa – disse Gareth.
Sarah apenas hesitou alguns segundos.
– Seria bom ficar, e eu vi alguns amigos que eu gostaria de apresentar a Rebecca.
– Posso ficar – objetou Eva. – Eu não estou frio de todo. Verdadeiramente, estou bem.
Sarah sentiu seu rosto novamente.
– Nós não ousamos arriscar, com todas as febres da primavera. Seu rosto também está muito corado, Eva. Você deve aceitar a escolta do Sr. Fitzallen, ou Rebecca e eu devemos levá-la.
Rebecca tentou parecer disposta a ir, mas a opção de ficar, uma vez apresentada, tinha-a implorando com os olhos para essa escolha.
Eva se levantou.
– Isto é ridículo. Não estou doente.
– Temo que você fique muito doente pela manhã, a menos que você descanse agora, – disse Sarah. – Vá para a cama assim que você chegar a casa. E diga ao cozinheiro que faça um pouco de caldo para o jantar. Ela se inclinou para mais perto. – Não se esqueça do pequeno pedido que fiz a respeito de amanhã, por favor.
Gareth a ajudou chegar ao corredor, seu rosto era uma imagem de preocupação. Poder-se-ia pensar que ela precisava de sais do jeito que ele pairava e a guiou para fora do teatro.
O ar noturno a fez sentir-se maravilhosa. O teatro a tinha feito um pouco quente, admitiu para si mesma. Ou melhor, o homem sentado ao lado dela tinha.
Ela parou e encarou Gareth sob uma lâmpada presa à fachada do teatro.
– Você é um homem perverso, muito perverso.
– Deliciosamente perverso, espero.
– Irritantemente perverso esta noite. Você não vai me levar de volta à casa de Sarah. Você vai contratar uma carruagem para mim, e enviar-me no meu caminho.
Enviou um dos lacaios do teatro para trazer uma carruagem de aluguel. Ela olhou para a noite e tentou ignorar sua presença enquanto esperavam.
Quando a carruagem chegou, ele segurou a porta para ela. Para sua consternação, entretanto, ele subiu atrás dela.
– Eu não vou com você, – disse ela. – Saia.
– Prometi entregar você em segurança na casa de sua prima. Como um cavalheiro, manterei a minha palavra. – Ele se instalou em frente a ela. – Veja, você não tem nada a temer de mim. Eu não importuno mulheres, e menos as que estão doentes.
– Como pensava.
– Sua prima resumiu meu caráter bastante bem e rapidamente. Depois de tudo, ela confiou-me você.
– Minha prima não sabe nada sobre você. Ela simplesmente não queria ir. – A disposição de Sarah de entregá-la a um estranho realmente tinha outra explicação. Muito parecido com as irmãs Neville, Sarah assumiu que alguém como Gareth nunca teria interesse em alguém como ela. Nem mesmo pelas mais baixas razões.
Ela supôs que Sarah também assumiu que ela teria mais sensatez do que permitir que um homem como Gareth se comportasse mal. Aquela explicação alternativa salvou seu orgulho um pouco.
– Você está doente, correto? O calor e os tremores não tinham outra causa específica, não é?
– Não só não estou doente, como tenho certeza de que estou ótima. – Ela lhe deu o endereço de Sarah. Ele abriu a janela e disse ao condutor.
Avançaram através da escuridão. Ela se recusou a olhar para ele. Ela olhou para a janela ao lado dela e esperou que ela parecesse irritada e inatacável.
Ele provavelmente tentaria beijá-la em breve. Quem sabia que coisas escandalosas este homem poderia fazer em uma carruagem escura? Se ela não tivesse cuidado, ela poderia se encontrar seminua novamente. Isso não seria uma coisa boa, chegar à casa de Sarah em tal estado.
Seu corpo inteiro esperou que ele se movesse. Um toque em seu joelho provavelmente viria primeiro. Então ele se sentaria ao lado dela. Outra meia quadra e o malandro iria abraçá-la e forçá-la a beijá-lo. Em minutos, ela estaria lutando por sua virtude.
Ela formigava como ela imaginava cada passo que ele tomaria. A antecipação encheu a carruagem. Sua presença parecia crescer até que invisivelmente a pressionava. Seus seios incharam, traindo sua determinação e sua sensibilidade.
A qualquer momento, tinha certeza. Se ele a tivesse provocado no teatro, ele seria implacável agora que eles estavam sozinhos. Ela quase não podia respirar pelo suspense, e sua mente alinhou as palavras para colocá-lo em seu lugar.
Ela olhou furtivamente para ele. Então ela se virou e olhou para ele através da escuridão. Ela estreitou os olhos, para ter certeza de que ela viu corretamente.
Ele havia adormecido.
Ela queria bater nele com sua bolsa.
A carruagem parou, sacudindo-o e o acordando. Ele estendeu a mão para a trava da porta.
– Minhas desculpas, Eva. Minha única desculpa é que eu estive na sela a maior parte do dia.
– Não há necessidade de pedir desculpas.
Ele saiu e levou-a até a entrada. Ela tinha andado três passos para a porta quando se lembrou do pedido de Sarah. Considerando a generosidade de Sarah, seria ingrato fingir que tinha esquecido seu pedido, quando não tinha.
– Minha prima, pediu para o convidar para jantar conosco amanhã à noite. Será uma pequena reunião, e tenho certeza que você vai achar muito maçante. Também é um longo caminho para vir de Albany Lodge até aqui, apenas para uma refeição. Vou explicar que você está cansado de suas viagens e...
– Eu ficaria feliz em participar.
– Não é necessário.
– Eu vou ficar na cidade esta noite, estarei no Kings Arms. Diga a ela para enviar um recado se houver mudança de horário, ou se for diferente das nove horas.
Ficou ali, impotente, tentando encontrar uma boa razão para que ele mudasse de ideia.
Ele se aproximou e ela saltou para trás. Ela correu até a porta para que ele não pudesse beijá-la, se esse era o plano dele. Sua risada baixa a seguiu. Isso a deixou furiosa. Ele voltou para a carruagem.
– Vá dormir Eva, para que você possa se recuperar da doença que a infectou esta noite.
Ela correu até seu quarto. Ela pediu caldo, e então Sarah não pensaria que suas instruções tinham sido ignoradas. Depois que ela comeu, ela foi para a cama. Ela não dormiu facilmente, no entanto.
Uma imagem ocupava sua mente e não lhe daria paz. Nele estava nua na carruagem, enquanto Gareth chupava seus seios até que ela estava delirando de prazer.
Gareth descansou em sua cama no Kings Arms, debatendo se sua amizade com Eva Russell o estava fazendo um tolo. Ele tomou um gole de vinho do porto. Quanto mais ele bebia, mais confuso ele se sentia.
Tinha a intenção de voltar a Albany Lodge esta noite, mas ali estava ele numa estalagem, sem outro propósito a não ser passar o tempo até que pudesse assistir ao mesmo jantar que ela. Era o tipo de estratégia de adulação na companhia de uma mulher que ele não tinha empregado desde os vinte anos, e depois a dama prometera lições eróticas inimagináveis se ele a encontrasse favorável. O prêmio final tinha valido a pena todos os inconvenientes.
Essa não era a situação agora. O problema pode não ser que ele era um tolo, mas que Eva não era uma.
Talvez essa fosse a sua atração. Era um inferno quando uma mulher era tão interessante para um homem e com tantas qualidades, que isso garantiu que ele nunca poderia tê-la.
Ela estava linda esta noite com aquele cetim prateado. Uma mulher madura, não uma garota como sua irmã, e autossuficiente. Ela trouxe Rebecca para a cidade para tentar encontrar um marido aceitável, e aí ele apareceu. Mais provavelmente Eva seria a única a receber uma proposta rápida.
Ele se levantou, tirou suas roupas e se lavou. Sim, ela estava linda com aquele vestido prateado. Só que ele não tinha visto muito. Ele passou a maior parte do tempo no teatro vendo-a nua, dobrando-se dessa e daquela maneira a seu comando, enquanto a paixão a libertava.
Uma fantasia sem sentido, e ele não a consentiria no futuro. Ele pediu desculpas, e ela havia pronunciado as apropriadas palavras desencorajadoras. Ele não sucumbiria à tentação de provocá-la, ou mesmo de flertar. Ambos recuariam, com dignidade, e todos retornariam a como era há uma semana. Amigos!
Capítulo 10
Sarah manteve a sua palavra sobre o jantar na noite seguinte. Eva ajudou o Sr. Fitzallen com suas conexões aristocráticas, e Sarah encontrou três jovens que poderiam ser adequados para Rebecca. Duas amigas idosas completaram a mesa. As duas últimas realizaram seus deveres sociais em silêncio - educadamente, e discretamente.
Eva tinha aceitado usar um dos vestidos de jantar de Sarah. Eva não resistiu muito tempo, e gostou de escorregar dentro do vestido de seda cor de narciso. Sua decisão de aparecer o melhor que pudesse nada tinha a ver com Gareth Fitzallen aceitar o convite para se juntar a eles. Nada mesmo.
A refeição provou ser muito melhor do que Eva tinha desfrutado em sua própria casa por muitos anos. Sarah não poupou nenhuma despesa, e até mesmo serviu sopa de tartaruga. Os servos serviram vinhos agradáveis. Wesley, o marido de Sarah, mostrou uma graça social impressionante em presidir a tudo.
Os três senhores convidados por causa de Rebecca eram todos jovens membros da indústria de Wesley – a fundição de pequenos objetos em uma variedade de metais. Durante os primeiros vinte minutos, todos pareceram mais empenhados em conversar uns com os outros do que com qualquer uma das damas da mesa. Então Sarah tomou o assunto na mão. Com exceção de tocar na mesa para atenção, ela exerceu a prerrogativa de anfitriã para abordar cada um e fazer perguntas, sempre incluindo Rebecca na conversa que se seguiu.
Eva observou cuidadosamente, para ver as reações a sua irmã. Que todos os três cavalheiros foram impressionados pela beleza dela, carecia de dizer. Só um tolo não reconheceria sua beleza. Rebecca, por outro lado, parecia favorecer o mais silencioso dos três, o Sr. Trenton. Eva esperava que não fosse porque o Sr. Trenton, com seus grandes olhos escuros, seus longos cabelos escuros e sua vestimenta um tanto descuidada, que parecia estar representando um poeta francês.
Concentrar-se na conversa da mesa permitiu que ela ignorasse tanto quanto possível o homem sentado ao lado dela, colocado por Sarah, em sua ignorância. Sentado ao lado de Wesley, Gareth parecia mais do que satisfeito em conversar com seu anfitrião, no entanto. Escusado será dizer que Wesley se mostrou mais do que feliz em conhecer melhor um homem com as ligações de Gareth.
– Você tem um admirador.
O comentário baixo entrou em sua orelha direita. Gareth aproveitara a distração de seu anfitrião, causada pela insistência de sua esposa para dar uma opinião sobre o estado dos bancos.
– Se você fala de si mesmo, agora não é o momento...
– Que presunção. Estou-me referindo ao Sr. Bellows do outro lado da mesa. Ele finge ver sua anfitriã, mas o seu olhar flui para você.
Era? Ela não tinha notado.
– Ele é muito baixo para você – disse Gareth.
– Enquanto que eu sou de uma altura média, ele parece alto o suficiente.
– Você consegue melhor.
– Ele está aqui para conhecer Rebecca, não eu.
– Em qualquer caso, você deve saber que ele é novo em sua posição, e sua renda não pode ser mais de trezentas libras por ano. É claro que aquele sujeito que atraiu o olhar de sua irmã provavelmente tem menos ainda.
– Se Sarah os convidou, tenho certeza que eles têm grandes expectativas, e seu futuro promete.
– Ela os convidou como uma capa para seu verdadeiro candidato. Mr. Mansfield lá em baixo, vale pelo menos dois mil por ano. Ele é dono de sua própria companhia. Ele tem observado sua irmã com grande interesse, um pouco como um homem inspeciona um castrado em um leilão.
Isso não foi uma boa notícia. Dos três, Mansfield era o mais velho. Pelo menos tão velho como Gareth, que Rebecca tinha decretado ser - velho demais -. Também dos três, ele não tinha muito polimento, mesmo se seu casaco e sua gravata parecessem caros, sem dúvida, ele tinha as mãos de um criado. Uma face ossuda, de forma alguma de altura média e as suas maneiras naturalmente intimidantes, ele nunca seria tão apelativo como o poeta Francês, que, felizmente, não tinha notado quão interessante Rebecca o achava.
– Eu chamei você quando eu voltei, como eu prometi. – A voz de Gareth era muito baixa agora. Eva olhou para a frente, fingindo ouvir as conversas cruzando a mesa. – Então Erasmo explicou que você tinha fugido.
– É por isso que você veio para Birmingham? Para pedir desculpa? Poderia ter esperado. Você não precisava se incomodar. A implicação de suas palavras entranhou fundo. – E eu não fugi. Esta visita tinha sido planejada muito antes – há muito tempo.
Uma longa pausa, estendida o suficiente para que ela quase decifrasse o contexto de uma troca entre Rebecca e Mansfield, uma em que Rebecca parecia estar discordando com o cavalheiro sobre alguma coisa. Mr. Mansfield tomou a séria rejeição de Rebecca de seus pontos de vista calmamente e com vaga diversão.
– Você é uma mulher confusa, Eva. Quase irritante, – disse Gareth. – Eu esperava que meus esforços para me comportar como um cavalheiro dessem resultados, e assim você se comportaria com graça se não com alívio, pelo meu comportamento. Em vez disso, você é tão brusca que me pergunto se lamento mais a indiscrição do que você.
Ela sentiu-se ruborizar, furiosamente, principalmente porque ele tocou na verdade embaraçosa de que ela não se tinha arrependido tanto quanto deveria. Pior, ela se ressentia um pouco de que ele tivesse provado ser tão previsível em sua própria reação. Culpa, desculpas, retiro total - não se esperava que um homem com sua reputação fosse tão comum depois de uma indiscrição. Ele deveria se deleitar com essas coisas.
Ela tentou compor uma boa réplica, mas nesse momento Wesley voltou sua atenção para ele, e Gareth próprio se virou para o seu anfitrião.
Logo ao fundo da mesa, ouviu Rebecca dizer: – Duvido que haja qualquer coisa pela qual você e eu tenhamos simpatia comum, Sr.Mansfield.
Do outro lado da mesa, Sarah suspirou.
Wesley Rockport era um homem de negócios. Gareth conhecia bem esses homens. Os bem-sucedidos como Rockport adquiriam o polimento e elegância pouco a pouco. Seu anfitrião fazia isso há alguns anos, então as distinções entre ele e um cavalheiro permaneciam apenas as de nascimento e ocupação. Que eram as duas únicas coisas que os cavalheiros diziam que importavam.
Realmente homens bem-sucedidos como ele, eventualmente, definiam as suas visões sobre os modos e armadilhas da aristocracia. Quando isso acontecia, depois de ter construído ou comprado suas propriedades e casas grandes e tudo decorado por um decorador profissional, eles voltavam sua atenção para a galeria longa e vazia. Gareth estava mais do que feliz em encontrar arte para preencher essas paredes.
Rockport não queria falar sobre arte. Ele queria discutir transporte marítimo e seguros e sondar as conexões de Gareth com empresários e mercados nos continentes. Gareth falou livremente sobre tudo isso. Ele não tinha nada a perder em fazê-lo. Ele quase não tinha segredos. Qualquer um que viajou, prestou atenção, deu boas-vindas a novas amizades, e fez perguntas, saberia tanto quanto ele.
Quando chamado por Rockport, ele deu ao homem a melhor metade de sua atenção. A maior parte do resto permanecia na mulher ao seu lado. No entanto, um pouco de sua mente notou o resto da festa e ouviu suas próprias conversas. Aquela lasca acabou por ouvir o louro Sr. Bellows dirigir-se a Eva.
– Você está muito quieta esta noite, Srta. Russell. Espero que toda a nossa conversa não seja esmagadora.
– Prefiro ouvir a minha irmã, Sr. Bellows. Ela está muito mais informada dos acontecimentos do mundo do que eu.
– Admiravelmente. No entanto, se posso dizer, há muito a ser dito para uma mulher tranquila, Srta. Russell, como você.
– Não acho que alguém me descreva como silenciosa, Sr. Bellows. O papel de observador que eu tomo esta noite não é comum para mim.
– Acho que o Sr. Bellows está dizendo que as mulheres se devem restringir de expressar opiniões tão livremente quanto a sua irmã – Gareth não conseguiu resistir a inserir-se. – Essa é uma maneira um tanto ultrapassada de ver as coisas, senhor. Até o Duque de Ferro[6] tem senhoras com quem discute política.
O Sr. Bellows pareceu confuso por um momento, mas recuperou o equilíbrio logo.
– Bem, sou um homem simples com noções simples, não um duque, então as predileções de um duque não contam muito para mim.
– Mais uma razão para admirar uma mulher que não é simples. Uma jovem com uma opinião forte e inteligente como a do próprio Sr. Mansfield, por exemplo. Com seu sangue e sua inteligência, imagine os filhos que ela dará a um homem. Nem sequer importa que ela seja tão bela como um anjo, esse é o tipo de mulher capaz de fazer homens da mais alta estirpe sentir inveja de seu marido, quem quer que seja.
Eva reorganizou abruptamente sua posição em sua cadeira. Ao fazê-lo, seu cotovelo cutucou Gareth bruscamente em seu lado.
– Minha irmã tem muitas qualidades finas, é claro. Longe de mim listá-las todas, para que eu não me sinta orgulhosa dela. É generoso de sua parte fazê-lo, Sr. Fitzallen. No entanto, estou certo de que o Sr. Bellows não precisa da sua tutoria sobre o assunto. Você tem uma tendência encantadora de pensar que ninguém sabe de si tanto como você poderia saber dele.
– Eu cruzei uma linha? Minhas desculpas, Bellows. Me perdoe.
Bellows mal o ouviu. A lição tinha sido ouvida e engolida. Sr. Bellows voltou sua atenção para Rebecca completa e totalmente, e saltou na brecha uma vez que sua pequena discussão com Mansfield terminou com um fim amigável.
Gareth voltou sua atenção para seu anfitrião. E muito mais para o Sr. Bellows.
– O Sr. Mansfield vale pelo menos dois mil por ano, – Sarah explicou a Rebecca quando ela, Eva e Rebecca ficaram sozinhas depois que os homens se retiraram. Ela conduziu todas elas para a sala de estar dela, enquanto falava.
– Não me importaria se ele valesse dez mil – disse Rebecca.
– Oh, sim, você faria, minha querida. Sim, você faria.
– Ele tem as noções mais antiquadas. Ele acha que as mulheres não deveriam ser educadas.
– E quem o faz, eu lhe pergunto?
– Homens e mulheres que pensam no futuro. Eu.
Eva as seguiu para o salão. As senhoras idosas recuaram para conversar. Sarah se jogou em um divã e deu um tapinha na almofada ao lado dela, acenando para Rebecca.
– Agora, querida, permita que esta velha mulher casada explique. Os homens nunca pensam como deveriam quando os conhecemos. Ninguém ainda os apresentou com melhores vistas. É nosso dever ampliar suas mentes sobre assuntos aos quais eles nunca se aplicaram. É parte do que as esposas fazem, você vê. É a nossa grande missão.
Ela olhou para Eva para concordar.
– A prima Sarah é a voz da experiência, Rebecca. Você seria sábia em ouvi-la.
Rebecca fez beicinho e pegou sua saia distraidamente.
– Pensei que o Sr. Trenton fosse mais atraente.
Sarah suspirou.
– Minha cara, o Sr. Trenton é um funcionário no escritório do meu marido, e é improvável que seja mais que isso. Ele não tem cabeça para os negócios. Só o convidei e ao Sr. Bellows porque seria óbvio se eu só convidasse o Sr. Mansfield.
– Ainda gosto mais do Sr. Trenton. Ele tem alma. Ele escreve poesia. Você sabia disso?
– Oh, bom céu. – Sarah virou-se para Eva, desesperadamente.
– Rebecca, além de suas opiniões sobre a educação das mulheres – e por favor, deixe-me lembrar que nosso pai teve os mesmos pontos de vista, tal como fez nosso irmão, portanto, nenhuma de nós tinha muita escolaridade além da norma dada às mulheres hoje – Por que você não gosta do Sr.Mansfield ?
Rebecca pensou sobre isso.
– Ele é muito grande.
– Demasiado grande? – Sarah exclamou. – Ele é certamente maior do que aquele magro Sr. Trenton, mas ele não é monstruoso.
– Ainda assim – ele é grande e eu suspeito que ele é grosseiro e áspero. Eu sempre teria medo dele. Até mesmo a maneira como ele olha para mim me deixa desconfortável. Até o Sr. Bellows é melhor, embora seja chato.
O olhar de Sarah deslizou de lado para Rebecca. Sua expressão não revelava mais exasperação, mas compreensão. Ela pegou a mão de Rebecca.
– Não há motivo para temer o Sr. Mansfield, minha querida prima. Por trás de toda essa bravata masculina, ele é muito gentil. Se ele a chamar aqui, quero que você concorde em vê-lo. Eu estarei com você, então você não tem razão para objetar. Você não deve descartar um homem no valor de dois mil por ano e provavelmente valerá muito mais no futuro, com base em um argumento sobre a educação das mulheres. Você não concorda, Eva?
– Eu concordo.
Rebecca assentiu, mas suspirou poderosamente enquanto o fazia. Quando os cavalheiros logo se juntaram a elas, Rebecca conseguiu envolver o poético Sr. Trenton em uma conversa particular. Se o Sr. Mansfield se importou, ou mesmo notou, ele não o mostrava. Em vez disso, chamou Eva para conversar sobre sua família.
– Vocês duas estão sozinhas, disseme o Wesley.
– Sim. Perdemos meu irmão há um ano.
– Você não tem outra família por perto, onde você poderia viver próximo a eles? – Assim que ele falou, ele percebeu seu erro. Ele olhou para Sarah e se ruborizou.
– Eu escolhi não me impor ao Sr. e Sra. Rockport. Eu era maior de idade, e capaz de gerenciar as coisas. Nem sequer procurei mudar para cá. Eu gosto de Langdon’s End. É a minha casa.
Gareth se afastou de Wesley e agora se aproximou para sentar-se com eles.
– É uma cidade encantadora, com um lago a leste. Mas se a cidade continuar crescendo, provavelmente será absorvida por Birmingham.
– Eu sei bem. Eu vou lá frequentemente. Alguns amigos meus moram lá. Sr. e Sra. Siddles. Talvez você os conheça, – disse Mansfield.
– Não tive o prazer – disse Eva. – E o Sr. Fitzallen é novo na região.
– Sem dúvida, vocês dois se movem em círculos diferentes dos Siddles – disse Mansfield, como se tivesse cometido outro erro.
– Eu não ando em nenhum círculo há algum tempo. Meu irmão ficou doente por muitos anos antes de morrer, e seus cuidados ocuparam a maior parte do meu tempo.
Mr. Mansfield franziu o cenho com simpatia.
– Tuberculose?
– Bala de pistola.
– Eu confio que houve justiça para a mão que empunhou a pistola.
– Meu irmão se recusou a dar informações, para minha consternação.
– É uma história trágica, – disse Mansfield. – Não só que ele pereceu ainda jovem, mas que deixou duas irmãs para se defenderem, sem proteção. – Seu olhar foi para Rebecca. Sua conversa com seu poeta tinha ficado para trás. Mansfield se desculpou e caminhou em sua direção.
– Então, o que realmente aconteceu com seu irmão? – Perguntou Gareth.
– Como eu disse, ele nunca explicou. Nem mesmo para mim.
– No entanto, você deve ter uma ideia. Se meu irmão voltasse para casa com uma bala de pistola dentro dele, eu pelo menos buscaria o máximo de informação que eu pudesse.
– Você é muito curioso sobre os assuntos de minha família, eu acho.
– Não me venha com isso agora. Eu não sou o Sr. Mansfield, a quem você quer passar uma boa impressão sobre a sua família. Eu sou seu amigo Gareth, que a viu meio nua. Então, foi um duelo, você acha?
Ela realmente desejava que ele não falasse sobre a parte nua tão casualmente, como se não fosse nada para manter um segredo.
– Eu não acho que foi um duelo, embora o médico acredite nisso.
– Isso explicaria a recusa de seu irmão em falar disso. Ele não podia fazer acusações sem implicar-se em um crime.
– Exatamente. Só que eu não vejo Nigel duelando. Me lembro dele saindo em uma noite a cavalo passeando entre tavernas e ficando bêbado com alguns amigos, e isso de alguma forma tomou uma má virada. Naquela época, ele costumava sair de casa à noite.
– A versão do Langdon's End de um jovem em busca de aventura, você quer dizer.
– Sim. Acho que um daqueles amigos perdeu a cabeça e matou Nigel.
– Provavelmente foi por causa de uma mulher.
Ela se virou para ele.
– Nem todo o homem gasta todo o seu tempo perseguindo mulheres. Nem todo infortúnio de homem começa com uma.
– Como é verdade. Eu não deveria ter saltado para essa conclusão. Ele tinha fortes opiniões políticas que poderiam levar a uma discussão mortal? Convicções pelas quais ele arriscaria a vida?
Seu olhar fixo disse que já tinha adivinhado a resposta. Nigel não tinha nenhuma visão particular que ela conhecesse. Seu único objetivo era gozar sua juventude enquanto ele a tinha. A verdade era que Nigel estava mais interessado em conversar com amigos do que em cuidar da propriedade já limitada da família.
Fazia muito tempo que deixara de tentar explicar aquela ferida. Todos em Langdon’s End tinham concluído o mesmo que ela rapidamente, de qualquer maneira – que a recusa do seu irmão de falar nele confirmou somente a probabilidade de que a história não o punha em uma luz boa.
– Você vai permanecer em Birmingham por muito mais tempo?, – Perguntou, para mudar de assunto. Pensar em Nigel não a deixava feliz nem mesmo nostálgica. Uma amargura imperdoável coloriu muitas das memórias e estava expressa em sua hostilidade vocal, nascida da enfermidade dele, e dos ressentimentos silenciosos dela.
– Eu ia ficar mais um dia, mas decidi voltar para Albany Lodge amanhã. E você?
Ela olhou para onde Rebecca, sentada rigidamente na borda de um sofá, tolerava a conversa do Sr. Mansfield que estava sentado em uma cadeira na frente dela.
– Eu ainda não sei. Pelo menos mais um dia. Talvez mais.
Wesley se aproximou deles então. A expressão de Gareth deu as boas-vindas ao anfitrião.
– Vou chamá-la quando você voltar para casa, a menos que você me proíba. Ainda somos amigos, confio – sussurrou Gareth pouco antes de Wesley se sentar na cadeira do outro lado.
– Eu não acho que você deveria, – ela sussurrou de volta. – Você não deve.
Mas ele já se tinha voltado para Wesley, e ela não sabia se ele a ouvira.
Naquela noite, enquanto Eva se preparava para dormir, Sarah entrou no quarto.
– Se Rebecca arruinar essa chance com Mansfield, ficarei muito irritada, Eva. Eu o escolhi com grande pensamento e cuidado.
– Nós somos ambas muito gratas a você que estou certa que nenhuma de nós quer que você se irrite. No entanto, você fala de uma chance quando não há nenhuma indicação de que o homem a favoreça mais do que ela o favorece. Eu não acho que ele vai voltar.
– Absurdo. Ele estará aqui amanhã. Ele sabe que as duas devem ir embora em dois dias. Se ele vier como espero, você deve deixar Rebecca aqui comigo pelo menos uma semana mais. Você pode ficar, também, é claro.
– Eu devo voltar para casa. Há coisas que devo fazer lá. Se Rebecca quiser ficar, no entanto, permitirei.
Contente com seus planos, Sarah virou-se para a porta.
– Eu ainda acho que você está sendo muito otimista sobre o Sr. Mansfield, – disse Eva.
– Ele a deixa desconfortável, Eva. Essas foram as palavras dela. Quando ele olha para ela, ela fica desconfortável. Ela é muito jovem para saber o que ela realmente está sentindo. Oh, você também não sabe, não é? Confie em mim que seu desconforto não é do tipo normal, mas fala bem das perspectivas.
– Eu entendo a que você se refere, Sarah. No entanto, é do interesse do Sr. Mansfield que eu duvido. Entre outras coisas, ele provavelmente vai se importar quando ele perceber que ela não tem quase nenhuma fortuna. Por outro lado, deixou claro hoje à noite que não aprova mulheres inteligentes, e Rebecca é muito inteligente e lida e bastante opinativa.
– Oh, Eva, você é adorável. Ela tem beleza rara, e ela tem sangue de boa família. Ele a desejaria mesmo se ela fosse uma radical confirmada e possuísse só um vestido. Esta noite tudo o que ele está pensando é como ele pode reivindicar o prêmio antes de outros se meterem entre eles. – Ela abriu a porta.
– Se você antecipar as visitas, que horas você acha que será apropriado? Quero comprar algumas telas e pincéis para levar para casa amanhã de manhã.
– Ele terá vontade de vir cedo, mas não muito cedo. Duas horas eu penso que seria apropriado. Por que você quer materiais de pintura? Você pinta?
– É o meu passatempo favorito. Quero começar algumas pinturas muito em breve.
– Pegue a carruagem, então. Eu não terei nenhum uso para ela amanhã.
Depois que Sarah saiu, Eva se deitou na cama e olhou para o dossel. Ela nem sequer tentou pintar uma paisagem por mais de um ano, depois que ficou óbvio que os patrões de Stevenson não tinham interesse nas pinturas dela. Sua última visita a sua loja dificilmente a encorajou a retomar.
Mesmo assim, ela ansiava por pintar uma, mesmo que não tivesse sentido financeiro. Seria sua própria criação, não uma cópia de outra pessoa. Ela experimentava muito mais drama ao fazer seu próprio trabalho. Copiar, produzia melodias agradáveis em seu coração. Suas próprias composições, tocavam como sinfonias. Ela sentia falta disso, e como ela tinha dinheiro suficiente para comprar um pedaço de tela, ela podia se dar ao luxo de se entregar.
A alegria do Sr. Stevenson sobre a recente grande venda entrou em sua mente. E a visão dele contando vinte libras. Ela precisava continuar as cópias, também, é claro. O que significava que ela precisava de uma nova fonte de pinturas, agora que Gareth vivia em Albany Lodge. Ela pensou que sabia onde poderia encontrar outras pinturas para pedir emprestado. Assim que ela voltasse a Langdon’s End, ela tomaria medidas para arranjar isso.
Pensar nos quadros levou-a a pensar sobre os que ela já tinha tomado emprestado, o que, por sua vez, a levou a pensar no dia em que ela havia devolvido o último. Ela amaldiçoou, enquanto seu corpo ganhava vida durante a noite, revivendo bem as sensações que Gareth despertara nela. Não se atrevia a fechar os olhos, porque se o fazia, o via de pé ali, com o peito nu, sem usar nada enquanto olhava em volta de um batente da porta. A sensibilidade de seu corpo cresceu enquanto as mãos de fantasia a acariciavam mais indecentemente.
Ele a tinha insultado com a performance musical depois que ela disse que não tinha gostado de seus beijos. Mesmo enquanto se desculpava, ele se assegurou de que seu corpo admitia a mentira. Maldito fosse ele e sua presunção. Ele não só adivinhou o que ela sofria quando ela permitia que as memórias surgissem. Ele sabia.
Capítulo 11
O Sr. Mansfield realmente voltou a casa de Sarah às duas horas. Eva o recebeu junto com sua prima e Rebecca. O que se seguiu poderia ser descrito como uma meia hora suavemente desajeitada.
Seu interesse em Rebecca não poderia ser confundido. Ele dirigiu a maior parte de sua conversa para ela. Ela não tinha outra alternativa a não ser responder. No final de sua visita, os intercâmbios tornaram-se menos formais e frios. Rebecca até riu de algumas falas inteligentes que ele tentou inserir. Infelizmente, Rebecca preparou-se para o encontro e, quando as coisas começavam a ser amistosas, ela lançou uma palestra sobre o que Voltaire e Rousseau escreveram sobre educação. Durante vinte minutos, todos na sala, exceto Rebecca, ouviram uma análise comparativa filosófica com sorrisos congelados em seus rostos.
Quando Sarah finalmente interrompeu.
– Você deve alimentar-me de tal pensamento elevado em pequenos pedaços, querida, e permita-me digerir este último pedaço agora, – Mr. Mansfield mesmo agradeceu a Rebecca, e prometeu pensar sobre a pergunta. Apesar de sua paciência, pela contabilidade de Rebecca mais tarde, tudo tinha sido uma perda de tempo.
Naquela noite, Sarah apresentou sua ideia de que Rebeca ficaria como convidada. Rebecca rapidamente aceitou, mas apenas, Eva suspeitou, porque esperava que o poeta também a visitasse, e porque qualquer coisa seria melhor do que voltar ao tédio de Langdon's End.
– Deixe-a comigo, Eva, – Sarah disse calmamente, enquanto elas se despediam na manhã seguinte. – Talvez não tenhamos uma proposta quando eu a enviar de volta para você, mas nós estaremos muito próximo, eu acho.
Rebecca permaneceu na soleira da porta, observando-a partir. Eva acenou pela janela da carruagem. Seu pequeno baú, rolos de tela e novas caixas de pigmentos e pincéis cavalgavam sobre o veículo.
Ela contratara essa carruagem para que Sarah pudesse usar a dela para levar Rebecca pela cidade para mostrá-la. Eva suspeitava que Sarah pretendesse arriscar com Mr. Mansfield.
A quatro quadras da casa de Sarah, dirigiu a carruagem para a estalagem mais próxima. Lá ela teve todos os seus bens removidos e transferidos para um vagão levado por bois que ela soube que estava fazendo uma entrega em Langdon's End. Ela saiu de Birmingham como entrou, instalada na parte de trás daquele vagão, economizando assim três quartos do custo do aluguel de carruagens.
Quando o vagão subiu pela rua até a casa dela, era crepúsculo. O condutor rapidamente descarregou seus pertences, despejando-os sem cerimônia em sua porta. Ele foi embora apenas segundos depois que ela pagou.
Atirando-se para a porta, ela se inclinou e empurrou as caixas e as telas sobre o limiar. Ela ficou de pé, enquanto seus olhos se ajustavam às sombras que se aprofundavam na casa.
Uma feia emoção de alarme disparou de volta para sua cabeça. Franzindo os olhos, ela avançou na escada e sentiu uma grande sombra. Sua mão continuou. O sexto passo tinha desaparecido, revelando o espaço sob as escadas como uma boca aberta.
Seu olhar se lançou em torno da biblioteca à sua esquerda. O que ela viu a deixou tremendo. Ela abriu caminho para uma lâmpada e tentou acendê-la. Suas mãos tremeram tanto que ela mal conseguiu.
A luz se espalhou pela câmara, revelando uma destruição horrível. O divã tinha sido virado para cima e seu estofo cortado. As paredes foram descascadas. Até mesmo uma secção do chão foi destruída, as tábuas jogadas ao acaso.
Então ela viu as pinturas.
Duas das suas pinturas decoravam este cômodo. Só que agora elas estavam deitados no chão. Ela correu até elas e olhou com horror. Alguém tirou a terebintina de sua caixa de pintura e manchou tudo sobre eles, arruinando-os para sempre. Como se isso não fosse suficientemente cruel, os restos de tintas misturadas haviam sido manchadas em um deles, como se os criminosos que haviam feito isso achassem isso divertido.
Temia o que encontraria nos outros cômodos. Lutando contra um choque que ameaçava paralisá-la, ela se atreveu a percorrer o resto deles.
O mesmo caos a cumprimentava em todos os lugares. Sua mente saltou para seu próprio quarto de dormir, e o prego na viga abaixo das tábuas do chão, segurando sua bolsa de dinheiro. Ela correu de volta para as escadas para ir e ver se ela tinha sido vítima de roubo, bem como vandalismo.
Ela ficou gelada, paralisada com um pé no primeiro passo. Uma tábua de chão rangia acima. O terror fez sua pele arrepiar. Ela não conseguia respirar. Ela escutava com dificuldade, esperando. Então ela ouviu novamente. Uma pisada, como se alguém tivesse deslocado seu peso.
Ela girou sobre o calcanhar e fugiu da casa e correu o mais rápido que pôde pela estrada.
Com a saia recolhida para o alto, Eva correu tão rápido que seu lado machucou e sua respiração veio em suspiros. Seu casaco caiu, perdido na noite. Não se atrevia a olhar para trás para ver se alguém a seguia, mas pensou ter ouvido alguém na estrada.
Na encruzilhada com a estrada para o final de Langdon's End, ela fez uma pausa, respirando fundo para recuperar o fôlego. Ela olhou para a estrada, flanqueada por árvores e bosques. Quão rápido ela poderia correr essa milha? Será que ela conseguiria mesmo sem desmaiar ou morrer?
A estrada à frente acenou. Mais um minuto estaria na curva e Albany Lodge estaria à vista.
Um cavalo relinchou na distância atrás dela, aterrorizando-a. Não debatendo sua escolha, sem pensar, ela correu de novo.
Ao fazer a curva, teve esperança de que iria conseguir. Albany Lodge podia ser vista na noite, e ela viu alguma luz em uma janela. Ninguém iria ouvir ou ver se ela fosse abordada tão longe, mas ela encontrou conforto nessa luz e correu mais forte, não mais com medo e sem graça.
Ela não se preocupou em subir pela rua. Em vez disso, ela correu através da trilha se sentindo segura a cada passo. Finalmente, a casa surgiu à sua frente. Só então ela parou, suas respirações ardendo tão forte que ela temia que ela desmaiasse.
Um cavalo passou na estrada. Instintivamente esquivou-se atrás de uma das árvores. Era o intruso em sua casa, seguindo-a? Não havia como saber. Ele ainda podia estar em sua casa.
Ela se acalmou lentamente e se pressionou a árvore para que ela a apoiasse e não caísse no chão. Quando o sentido voltou, ela percebeu sua situação. Se Gareth permanecesse apenas um amigo, não hesitaria em bater na porta dele e derramar seu medo. Só que ele tinha-se tornado algo mais e isso a fez hesitar, e temeu se intrometer.
Ela só precisava estar perto dele para estar segura, ela raciocinou. Ela poderia ficar perto desta árvore, embora a umidade da primavera se tornasse desagradável durante a noite. Se ela ficasse muito quieta, ela poderia sentar-se nos degraus de pedra, no entanto. O alvorecer a acordaria, e ela poderia então caminhar até o final de Langdon's End e encontrar ajuda.
Movendo-se silenciosamente, ela caminhou até os degraus e sentou-se no topo. Ela descansou suas costas contra a parede, e puxou sua peliça perto para aquecer. Agora que o pânico havia recuado, o frio da noite entrou em seus ossos.
De repente, a luz a inundou. Ela olhou para cima. Gareth estava no umbral, com o candelabro na mão, a camisa brilhando dos reflexos das chamas.
– Quem está ai fora?– A luz das velas fez um arco lento, finalmente encontrando-a. – Eva? Que diabos você está fazendo aqui sentada?
Eva apenas olhou para ele. Seus olhos pareciam extremamente grandes, e seu rosto pálido. Ela se amontoou com os joelhos presos ao peito. Ela parecia pequena, jovem e aterrorizada.
Ele se virou e colocou o candelabro sobre uma mesa perto da porta, depois voltou. Ele se abaixou e a levantou.
– O que está errado?
Ela se inclinou para ele como se suas pernas não tivessem forças. Ele a abraçou. Os tremores em seu corpo não tinham nada a ver com ele.
– Você está tremendo. – Não estava tanto frio hoje à noite. – Onde está Rebecca?
Com uma profunda inspiração, ela se recolheu. Ela deu um passo atrás, fora de seus braços.
– Ela ainda está em Birmingham. Voltei hoje, e... alguém esteve em minha casa enquanto estávamos fora. Eu vi a evidência disso, e... – ela cobriu as bochechas com as mãos – Eu perdi a cabeça. Não há outras palavras para isso.
Ele abraçou seus ombros com um braço e a encorajou a se mover.
– Claro que você fez. Entre.
Ela deixou que ele a guiasse até uma cadeira na biblioteca. Desde que ela ainda tremia, ele acendeu um fogo baixo. Então ele derramou um dedo de brandy e entregou-lhe o copo.
– Eu não bebo.
– Você bebe esta noite. Beba.
Ele se levantou sobre ela até que ela o fez.
Ela fez uma careta depois que bebeu, mas alguma cor voltou à sua pele. Ela olhou ao redor das prateleiras nuas da biblioteca e poucas cadeiras e uma mesa.
– Eu pensei que ele ainda estava na casa, – disse ela. – Quem quer que tenha entrado, ainda estava lá. Pensei que o ouvi acima, então eu corri e – ela gesticulou impotente para si mesma – você era o mais próximo. Pensei que ele me seguia. Eu posso ter imaginado essa parte. Eu não sei.
Ela era mais ela agora. Muito mais, se ela se sentia obrigada a se desculpar por sua chegada no meio da noite. Ela tinha escolhido sentar-se em pedras frias a noite toda para que ele não visse.
– Como você sabia que houve uma invasão na casa? Faltava alguma coisa? —Não podia imaginar o que os ladrões iriam querer. Tão pouco restava naquela casa.
– Ele... eles, destruíram as coisas. Atiraram itens ao redor e derramaram terebintina em minhas pinturas. Eles rasgaram tábuas de chão e puxaram painéis. Eles devem ter ficado muito zangados por não haver nada de valor para tomar. Eu acho que eles riram e pensavam que era muito divertido arruinar a casa de outra pessoa.
– Provavelmente eram homens que costumavam vir para esta casa, e quando viram que não podiam mais, foram procurar outra. Como o seu estava perto e vazia, era vulnerável.
– Talvez. – Ela franziu o cenho sobre a possibilidade. – A região está mudando. A cidade cresce mais para perto o tempo todo. Vejo estranhos movendo-se pelo país, pelas estradas, pelas ruas e pelos campos. Fui tola em pensar que minha vida permaneceria a mesma. Acho que nunca mais me sentirei tão segura quanto antes.
O pensamento a fez encolher-se novamente. Sua sobrancelha franziu sobre os olhos tristes. Deixada sozinha, ela ponderaria a invasão durante toda a noite e emergiria ao amanhecer com medo de sua própria sombra.
– Você está muito segura agora, Eva. Amanhã iremos a sua casa e veremos como é ruim à luz do dia. Até lá você não deve pensar nisso. – Ele estendeu a mão. – Venha comigo. Eu estava prestes a encontrar um jantar. Você pode ajudar.
Ela deixou que ele a conduzisse até a cozinha. Acendeu algumas lâmpadas e olhou para as prateleiras. O calor pairou perto de seu ombro. Ela ficou de pé e olhou para cima também. Sua proximidade começou a fazer seu sangue a ferver. Não agora, sua boba.
– Um pouco de presunto seria bom – disse ela. – Eu não comi o dia inteiro, e aceitaria algo se você oferecer.
Ele trouxe para baixo o presunto, queijo, e algum pão que não era demasiado velho. Ele encheu copos grossos com cerveja do pequeno barril contra a parede.
– Harold tomou providências para termos os provisões básicas aqui.
Ela encontrou pratos e facas.
– Espero que ele e Erasmo esperem trabalhar aqui o tempo todo, um dia. Quando você tiver que cuidar da sua família, eles vão ser os primeiros na fila.
– Isso não acontecerá até que algumas legalidades sobre a propriedade sejam resolvidas. Eu expliquei isso a eles, assim que não devem deixar passar outras oportunidades de trabalho.
Ela sentou-se na mesa de trabalho rugosa. Ele se sentou em frente a ela para que ele não fosse tentado a tocá-la.
Ela partiu o presunto.
– Estou surpresa que você já não tenha quaisquer criados, você pode precisar. Você parece o tipo de homem que necessita de um.
Quando ele pensou em distraí-la com uma refeição, ele não esperava acabar falando sobre si mesmo.
– Eu nunca senti a necessidade deles. Estou sozinho e me movo muito.
Ela fez uma demonstração de concentração, no modo que ela cortou seu presunto. A curiosidade era tanta quanto o medo tinha sido, menos de uma meia hora atrás.
– Pergunte o você quer saber, – ele disse.
Sua faca foi trabalhar cortando seu queijo em bocados de tamanho da boca.
– Isso seria rude.
– Você está se perguntando como o filho bastardo de um duque vive, se ele não tem vida óbvia.
Fatia. Fatia. Fatia.
– Meu pai me deixou um rendimento respeitável. Eu também sirvo como intermediário em alguns negócios, Eva. Sou um corretor. Normalmente um lado está na Inglaterra, e outro lado está no continente. Eu viajo lá muitas vezes.
– É por isso que você nunca se casou? Porque você se move tanto?
Assim, inevitavelmente, a curiosidade de uma mulher levou a melhor.
Ele riu.
– A questão pressupõe que o casamento é uma boa ideia, e um estado para o qual aspirar.
– Você não acha que é?
– Suponho que como um arranjo financeiro tem muito a recomendá-lo, com a pessoa certa. Uma vez que não sou uma pessoa assim, nunca surgiu uma mulher que poderia, por sua vez, ser a pessoa certa para mim. A verdade é que nunca pensei em me casar.
– Nunca? Não pensou nenhuma vez? Mesmo que fosse impossível, nem sequer um pensamento de passagem enquanto você estava com alguém que você amava?
Seu tom sincero o encantou. Como explicar? Ela só precisava pensar nisso a partir de uma direção diferente para entender. Significava deixar para trás suas velhas noções de como o mundo espera que alguém veja essas coisas.
– Não, nem uma vez, Eva. Quanto ao amor – O amor é realmente desejado, usado para justificar necessidades físicas. Alguns chamam de amor, porque chamá-lo do que é realmente, soa muito básico, e porque promete longevidade após o desejo, que inevitavelmente desaparece.
Um rubor subiu de seu pescoço para colorir seu rosto. Não de embaraço com o assunto, como seria com a maioria das mulheres. A raiva iluminou seus olhos. – Você é muito cínico.
– Eu sou honesto, quando tão poucas pessoas são sobre essas coisas.
– E quanto a sua mãe e seu pai? Era apenas desejo?
– Era definitivamente o desejo, e pouco mais. O duque mal a conhecia quando ele fez esse arranjo.
– Mas ele ficou, você disse. Ele permaneceu depois que deveria ter acabado o desejo, pelo que disse.
– Ele ficou porque ela se tornou uma amiga, e uma confidente, e a única pessoa em quem ele confiava sem questionar. Ele ficou porque ela fez tudo muito fácil para ele ficar. Ficou também para desprezar a sua duquesa, a quem detestava. Se ele amava minha mãe no final, era como qualquer tipo de amor familiar, não especial e diferente, da maneira como a poesia e os romances levam a pensar.
Levantou-se e começou a limpar a mesa com bruscos movimentos. Pratos jogados na pia.
– Eu acho que você está errado. – Ela empurrou o prato de presunto de volta em sua prateleira. – Acho que suas experiências afetaram sua maneira de olhar para essas coisas.
– Minha experiência foi melhor do que a maioria. Eu vi um melhor relacionamento entre o duque e minha mãe do que meus irmãos viram entre ele e sua mãe.
– Não estou falando sobre essa experiência. – Ela puxou o balde. – Se você conseguir um pouco de água eu vou lavar esses pratos.
Ele se levantou e pegou o balde. Ele colocou-o para baixo.
– A que experiências você se refere?
Ela se inclinou para trás, encostada na pia. – Eu acho que você tenha tido muitas experiências que podem tê-lo afetado mal. Isso é tudo o que eu quis dizer.
– Parece que falou de detalhes.
Com uma demonstração de aborrecimento, ela pegou o balde e tentou passar. Ele não permitiu.
– Eu só digo isto, já que eu nunca iria insultar meu anfitrião depois que eu procurei o santuário em sua casa. Sua reputação o seguiu até Langdon's End. Isso é tudo.
– Que reputação é essa?
– Foi dito que você deixa as mulheres tão fascinadas pelo prazer que elas perdem todo o sentido e farão qualquer coisa para mantê-lo perto. —Ela corou, mas também o olhou bem nos olhos.
– As fofocas me lisonjeiam e me insultam, – disse ele. – Eu não sei se fico com raiva ou fico maravilhado. Não há muitos homens com reputação de fazer uma mulher perder todos os sentidos devido ao prazer, afinal.
– Eu não sei como você pode brincar sobre isso. As reputações são importantes neste mundo.
– O meu é perverso, isso é verdade, mas do melhor jeito. Eu preferiria ser conhecido por isso do que como alguém que é cruel, ou implacável, ou sem princípios.
Sua sobrancelha franziu-se.
– Sim, eu entendo o que você quer dizer. À medida que as falhas de caráter vão, a sua envolve o mínimo dos pecados. Ainda assim, satisfazer os meros desejos sem restrições, para atrair os outros a fazerem o mesmo...
– Não há nada mero sobre isso às vezes. Pode ser uma força enlouquecedora. Uma tempestade interna. Uma necessidade convincente. – Ele se inclinou até que seus olhos estavam a centímetros dos dela. – Mas você já sabe disso, Eva. – Ele tocou seus lábios com a ponta dos dedos. – Não é?
Capítulo 12
Ela deveria virar a cabeça, então ele não poderia tocá-la assim. Só que a carícia minúscula em seus lábios quase a hipnotizou, e sua proximidade criou uma provocação horrível para seu corpo. Não era perigoso, no entanto. Seu corpo se sentiu maravilhosamente normal. Quase reconfortante, depois do início da noite. Os resquícios do medo que a enviou correndo pela estrada desapareceram, enquanto ela provava de sua atenção e fascínio.
– Eu não vim aqui para isso. – Ela respirou as palavras mais do que falou.
– Eu sei.
Ele não parecia sincero, ou mesmo muito interessado. Talvez ele não acreditasse nela. Talvez ele supusesse que ela realmente tinha ido lá para isso, depois perdeu a coragem e sentou-se nos degraus para decidir o que fazer.
– Minha casa realmente foi invadida. Verdadeiramente.
– Eu não duvido disso.
– Então por que...
Seus lábios roçaram os dela.
– Não tenho a certeza. Talvez porque você é curiosa e estou muito tentado a iluminá-la, em algumas coisas. Ela sentiu um sorriso fraco contra sua bochecha enquanto sua respiração em sua pele fazia arrepios felizes descerem por sua espinha. – Talvez porque uma mulher que fala o que tem em sua mente sem hesitação me desafia. Talvez porque o seu espírito sugira todos os tipos de paixões.
Procurou refúgio nas regras da sociedade, mas sem entusiasmo.
– Seria ignóbil de você me seduzir, depois que eu vim aqui para pedir ajuda.
Com sua cabeça inclinada, então ele falou em seu ouvido. Nenhum deles realmente a tocava mais. Não um local. No entanto, ele poderia estar abraçando seu corpo nu pela falta de ar que a possuía.
– Não vou seduzi-la.
– Você não está fazendo isso já?
Ele balançou a cabeça ligeiramente. Seu cabelo macio acariciando seu rosto, e isso porque ele tinha mergulhado a cabeça para que seus beijos aquecessem o seu pescoço. Ela lutou contra a vontade de se contorcer em reação a suas provocações sensuais.
– Eu vou desfrutar da doce tortura de querer você, no entanto. A tentação tem seu próprio prazer. – Mais uma vez sua respiração em seu ouvido e pescoço e ela estremeceu. – Você sente o que eu quero dizer. Agora, você tem que entender.
Ela certamente o fez. Ele a tinha excitado mais do que quando se abraçaram no jardim. Tão pouco espaço os separava que ela só precisava exalar para que seus seios tocassem a sua camisa.
– Eu esperaria que um homem como você pressionasse para ter vantagem, – ela murmurou. – Não se contentaria com a doce tortura.
Ele olhou para as pontas dos dedos. Eles lentamente desenharam uma linha no decote de seu vestido. A proximidade de suas mãos em seus seios parecia projetada para deixá-la louca. Ela travou uma batalha perdida contra suas inclinações, porque ela tinha sido acariciada por aquela mão antes, e ela estava nua, e tinha sido maravilhoso.
– Como eu disse, eu posso ser chamado de ímpio, mas eu não sou sem princípios. Há muitas razões pelas quais eu não posso ter você, esta noite dentre todas as noites. Uma longa lista. Você é uma inocente. Você veio aqui por segurança. Sendo você uma inocente, você esperaria que eu fizesse a coisa certa depois. Eu não seduzo as mulheres que não conhecem seus desejos e vão acordar com arrependimentos, Eva, mesmo quando eu realmente as quero.
Aquela linha de rastreamento conectou-se com sua pele brevemente, em uma pequena carícia. A sensação fluía através de seu corpo.
Certamente ele se afastaria agora, depois daquele bom discurso. Ela não aguentaria mais isso. Seu corpo doía de antecipação. Ela entendeu o que ele queria dizer quando falou do prazer da tentação. No jardim ela tinha experimentado brevemente o cumprimento dessa promessa, e agora a tentação exigia cautela e reserva e o pouco que restava de sobriedade.
– E se... e se não houvesse arrependimentos? – Ela perguntou. – E se eu estiver cansada de ser ignorante e mais que curiosa?
Ele apenas olhou para baixo em seu rosto virado para cima.
– E se eu conhecer minha própria mente muito bem, e não houver nenhuma expectativa em tudo?
– Eva...
– E se ser segurada por você soa muito seguro para mim esta noite, e muito bem, de maneiras que mais nada poderia?
Sua expressão endureceu. Suas pálpebras baixaram. A sensualidade tornou-se uma energia palpável entre eles. Sua expectativa cantou em uma nota mais alta. Não achava possível que um homem a abraçasse mais do que agora.
Só que ele não a abraçou. Olhando em seus olhos, perdida neles, ela sabia, apenas sabia, o instante em que a tentação perdeu a guerra.
Ela não podia acreditar. Ela tinha acabado de oferecer-se e ele estava indo para transformá-la em uma perdida. Ele era suposto ser malvado, droga.
Para piorar, ele sorriu como se ela fosse uma criança doce e beijou-a na testa.
Furiosa, ela jogou os braços ao redor de seu pescoço para segurar sua cabeça para baixo e beijou-o na boca. Seus seios pressionados contra seu peito e todo o seu corpo aclamado com alívio.
Surpresa. A menor hesitação. Então sua decência inconveniente explodiu nos ventos do desejo furioso. Seu abraço a cercou tão fortemente que seu corpo se fundiu contra o dele. Os dedos fortes seguraram sua cabeça de modo que seus beijos pudessem arrebatar sua boca, seu pescoço, seu peito. Suas próprias mãos e braços apertavam e agarravam, prendiam e sabiam. Sim, ela pensou, Sim, sim, enquanto suas mãos se moviam sobre ela e a força de sua necessidade a dominava. Um som baixo em seu ouvido.
– Não aqui. – Aqui, em qualquer lugar, ela não se importava. Eles se mudaram, ela não sabia como. Ainda entrelaçados, ainda compartilhando abraços febris e beijos duros e profundos, como um redemoinho, eles subiram as escadas, bateram contra as paredes, tentaram brincar com roupas, cegos de impaciência.
Alegria quando seu vestido se soltou e descaiu no meio do segundo lance de escadas. Euforia quando ele a pressionou para a parede da escada e puxou para baixo o vestido, a camisa, e permaneceu até que sua mão quente poderia tocar seus seios novamente. Sim, como ela sabia que o prazer uma vez mais viria, muito melhor do que em sua memória. Sim, quando sua cabeça baixou e sua língua sacudiu.
Ela não podia mais andar com o vestido descido. Ele a ergueu nos braços e levou-a pelo resto do caminho, para um quarto branco e marrom sobressalente.
Sentou-se na borda da cama e colocou-a em seus pés na frente dele. Ela se viu olhando para os olhos escuros e um rosto transformado pela paixão. Difícil. Quente. Uma espiral de necessidade girou através dela, até sua vulva.
Ele empurrou suas roupas para baixo seus quadris e fez o trabalho rápido em seus laços. Seu vestido e camisa caíam por suas pernas, e as peças de roupa interior voavam pelo ar, deixando-a nua na frente dele.
Suas mãos e seu olhar se moveram para baixo de seu corpo, de seus ombros a seus joelhos.
– Você é linda, Eva. – Ele a puxou para mais perto, entre suas coxas, uma mão em seu fundo e o outro em suas costas, e beijou-a tão apaixonadamente que seus joelhos quase dobraram. Então sua boca se moveu para seus seios. A língua e os dentes começaram despertares devastadores, enquanto suas carícias reivindicavam seus quadris e coxas, seu traseiro e suas costas. Toda ela. Um estupor sensual a envolveu. A necessidade pulsava cada vez mais, doendo e querendo. Um desejo frenético entrou em sua euforia. Cresceu até absorver o prazer dentro de si.
Sua mão deslizou entre suas coxas. Ele a tocou no centro de seu desejo, onde todas as sensações se acumulavam e pulsavam. Ela gritou pela intensidade, e quase se afastou. Ele segurou-a para que ela não pudesse fazê-lo, enquanto ele a tocava novamente com uma lenta exploração.
Uma convincente união de prazer e terrível necessidade a enlouqueceu. Ele a ergueu e colocou-a de joelhos de frente para ele, suas pernas escarranchando as dele. Ela olhou para baixo enquanto sua mão a acariciava, só que agora ela estava aberta para ele. Chocantemente. Antes de fechar os olhos para conter o delírio, viu que ele estava olhando para lá também.
Ela quase chorou. Ela implorou com uma série de súplicas, por misericórdia, por alguma coisa.
– Em breve. Muito em breve, – disse ele.
Sua mão se moveu novamente. Uma carícia a fez cair.
– Você vai saber disso agora, porque eu não posso ter certeza de me conter e quero que você tenha tudo e mais ainda quando eu lhe tomar.
Ele a pressionou contra seu peito. Ele a abraçou lá enquanto ele deliberadamente fez sua loucura cada vez pior, até que ela pensou que ela iria gritar.
Então ela gritou, bem em seu ombro, como toda a necessidade explodiu e sensações requintadas fluíram por ela. Ela perdeu todo o sentido naquele momento, e se recuperou lentamente enquanto ela se afundava, nua e atônita, em seus braços.
Ela não sabia quanto tempo eles ficaram sentados assim, tremente em seus braços enquanto aquela glória ecoava nela. Finalmente, ele se levantou, virou-se e colocou-a na cama.
Gareth tirou suas roupas e se juntou a Eva na cama. Ela ainda permanecia em um estupor, mas não tanto que ela não tivesse visto ele se despir.
– Venha aqui. – Ele estendeu a mão para ela. – Aqui, assim. – Ele a posicionou sobre suas costas, em cima dele, sua cabeça contra seu ombro e seu corpo exposto ao ar, a seu olhar e a suas mãos.
Ela balançou um pouco, surpresa por estar apoiada assim. Ele acariciou a cabeça dela e acariciou seus lados até que ela se permitiu afundar contra ele. Isso fez com que seu traseiro pressionasse sua ereção. Seus quadris levantaram-se abruptamente. Voltaram a baixar, testando cuidadosamente, enquanto choque deu lugar à curiosidade. Ela se mexeu, então ela o aconchegou entre suas coxas. Ele moveu-a ligeiramente novamente para que a ponta de seu pênis pressionasse sua vagina.
Ela se contorceu o suficiente para fazer um pico de desejo feroz se enraizar em seus pensamentos.
– Você realmente é perverso, – disse ela. Ela se arqueou sensualmente contra ele.
Ele beijou seu ombro e seu rosto. Seus seios aumentaram, redondos e firmes, suas pontas escuras apertadas novamente. Ele ligeiramente os acariciando com os polegares, e ela se sentia levitar. Ele fazia carícias nas pontas novamente. Ela agarrou o lençol de cada lado de seus quadris e torceu o tecido em seus punhos.
Ele continuou provocando-a enquanto o desejo a inflamava. Ela balançou contra ele, suas coxas acariciando seu pênis e seu montículo pressionando sua cabeça. Ele endureceu e inchou ainda mais. Sua fome tomou uma borda feroz.
Ele encontrou o controle suficiente para evitar tomá-la com rapidez e entrar dela imediatamente. Cuidadosamente. Lentamente. Alguns fios de cordura cantaram suas melhores intenções, mas imagens eróticas entraram em sua cabeça, provocando-o.
Ele a girou, na cama, de barriga para baixo. Ele se levantou em um braço para poder olhá-la enquanto ele acariciava suas costas e traseiro. Imaginou-a colocada de quatro...
Sua cabeça se ergueu, como se ela visse em sua mente. Ele a beijou, tranquilizando-a e alisou sua mão sobre suas curvas.
– Permita-se aceitar o prazer, Eva. Não pense em mais nada.
Ela voltou para abraçar o colchão. Lentos beijos por sua espinha abaixo levaram sua respiração a acelerar novamente. Um gemido pequeno de prazer soou quando sua carícia rastreou a sua vagina, então mais abaixo e mais profundo entre suas pernas. Ele acariciou suas dobras ainda inchadas, suaves e ela gemia de novo e de novo, caindo mais uma vez em abandono.
Seu próprio prazer aumentou, tomando o poder de como ele a controlava agora. Ele a tocou muito especificamente e ela gritou. Sua mão instantaneamente cobriu sua boca. Ele a tocou de novo, deliberadamente, e aquela mão mal acalmou seu próximo grito.
– Ninguém pode ouvir você exceto eu, Eva. Não tente negar o que você está experimentando.
Com os olhos fechados e o rosto suavizado pelo comando da paixão, ela sacudiu a cabeça.
– É tão maravilhoso que é assustador. Chocante. Estranho que você me olhe enquanto uma vez mais eu... enquanto eu...
Ele acariciou profundamente e seus quadris se levantaram para permitir que ele tivesse melhor acesso.
– Enquanto você se entrega ao prazer, e a mim?
Ela assentiu com a cabeça.
– Você quer que eu pare?
Ela mordeu o lábio inferior e sacudiu a cabeça.
– Então mova sua mão de sua boca e dê-se totalmente ao prazer. Quero que você aceite o quão chocantemente maravilhoso pode ser.
Sua mão caiu. Ele a acariciou lentamente, observando como a paixão a fazia mais bonita e radiante. Sua respiração se tornou ofegante quando ele acariciou sua vulva. Ele inseriu um dedo, depois dois, em sua aveludada passagem apertada. Seus lábios se abriram para duas entradas de ar. Ele acariciou mais fundo. Ela agarrou o lençol que ela abraçava e gemeu.
– Oh, – ela respirou. – Oh, sim.
Ela estava molhada e aberta e mais do que pronta. Ele estava indo muito longe, sendo empurrado para os limites de sua contenção. Sua cabeça e seu corpo pediam a conclusão.
Ele a girou. Eles compartilharam um beijo longo, profundo, insuportavelmente erótico enquanto ele tentava lutar contra a tempestade. Somente o beijo fez o oposto, e sua mente escureceu para tudo, exceto empurrar para dentro dela. Ele lambeu e chupou seus seios até que seus suaves gritos cresceram mais alto, mais insistentes. Ela agarrou seus ombros freneticamente, impotente. Quando ele acrescentou carícias à sua vulva novamente, seus gritos se tornaram uma longa série de exclamações de afirmação e frustração.
Já era tempo. Agora. Exceto...
Ele não perguntou. Ele não pensou. Ele moveu seus beijos para baixo, para baixo de seu corpo, sem se importar se a chocava, sem considerar nada exceto o impulso primordial dirigindo-o. Abaixou-se mais ainda, até que ele beijou seu montículo. Abaixando ainda mais, enquanto ele afastava as pernas.
Ela gritou. Não felizmente. Ele olhou seu corpo para onde ela o olhava, olhos arregalados.
Ele manteve sua mão sobre ela, deixando o prazer fazer o seu argumento para ele.
– Eu nunca – eu não sabia que ... – Ela mal podia falar em seu frenesi. – Isso parece verdadeiramente perverso, não em uma maneira média.
Ele se acomodou entre suas coxas.
– Vou esperar até me pedir. Só vou acariciá-la até pedir mais.
– Eu não acho que vou – eu nunca – Oh. – O queixume veio quando ele cuidadosamente pressionou seu clitóris.
Ele sabia como manter uma mulher à beira. Ele a deixou na beirada até que ela se contorceu em gloriosa agonia. Ele mesmo experimentou mais do que a tortura usual, e manteve o controle somente porque se focalizou em suas reações.
– Eu... Eu... Por favor, eu... – Suas palavras emergiram como respirações curtas e ofegantes.
– Você quer mais, Eva?
Ela olhou para baixo através de olhos pesadamente fechados. Uma loucura especial mostrou neles. Ela assentiu com a cabeça, mas bastava.
Ele a beijou na coxa enquanto ele lançava sua mente para o que restava de sua sanidade e restrição física. Então ele virou a cabeça e deu-lhe o mais íntimo dos beijos.
Oh.
As sensações eram insuportáveis. Chocantes. Incríveis.
Ela ficou tensa, enquanto seu corpo recuava de tal intimidade. O prazer derrotou rapidamente o retiro. Ela morava em um lugar que não era deste mundo, e todo seu corpo e mente imploravam mais, por alívio, ou por uma eternidade de tal excitação fora deste mundo?
Olhou para ele, para o que estava fazendo, para o que devia estar vendo. Chocante. Escandaloso. Dentro da intensa necessidade em que todo o seu ser focado, pensamentos estranhos e disparados flutuavam. O que sua mãe diria se soubesse. Como Charles nunca a quisera assim. Como ficaria surpreso o povo de Langdon's End.
Baixando os gritos, dominando qualquer outra voz, foi o que a trouxe para esta cama. Saiba tudo. Pegue tudo. Pode ser que dure uma vida inteira.
Alguma coisa mudou. Sutilmente, mas inegavelmente, Gareth tornou-se mais exigente, como se ele ouvisse essas vozes e tentasse silenciá-las. O prazer tornou-se exigente, também, como a última vez, só que muitas vezes pior. Afastou todos os pensamentos de sua cabeça, e perdeu todo o controle.
Ela não era mais dona de si mesma. Ele fez isso acontecer, com o que ele fez com ela. Ele a empurrou cada vez mais para dentro de uma insanidade de necessidade até que nada mais existisse. Ele a enviou ainda mais profundo. Gemidos e choros soaram em sua cabeça. Então tudo se contraiu e sua consciência gritou e implorou e alcançou outro final maravilhoso.
Não veio. Em vez disso, Gareth subiu para cima dela, em seus braços, seu corpo cobrindo o dela, dominando-a. Ele pressionou dentro dela lentamente. Ela agarrou-o com um novo temor e um novo choque tomou conta dela. Ela não podia resistir-lhe mesmo se quisesse. Ela não controlava seu corpo o suficiente para fazê-lo ainda.
Ele pressionou mais fundo. Ela o sentiu distintamente contra a carne ainda sensível e inchada de seus beijos, e dentro dela, enquanto seu corpo se esticava para acomodá-lo. Ela olhou furtivamente para ele. Seus olhos ardentes e sua expressão tensa a aturdiram. Ela percebeu, apenas sabia, que normalmente não era assim para ele, e que ele estava forçando uma contenção por ela.
Ela fechou os olhos e não deu voz ao desconforto que ele agora causava. Ela se permitiu sentir plenamente, como ela fez com o resto.
Ele parou finalmente, enchendo-a. Ele não se mexeu. Ela olhou novamente. Seus olhos estavam fechados e ele parecia menos áspero. Ela envolveu seus braços ao redor de seu pescoço e o levou para baixo para que ela pudesse beijar seu ombro, então seus lábios.
– Você sobreviverá a isso? – Ele perguntou calmamente.
Ela assentiu e abriu os olhos. Ela olhou diretamente para ele. Um erro, talvez. Nesse instante ela compreendeu os perigos reais do que ela fez. A maldade não poderia assombrar sua vida, mas a intimidade o faria. Deixá-lo tirá-la da reserva a deixou vulnerável e exposta de outras maneiras. Ela sabia o poder disso agora.
Ele se moveu, cuidadosamente. Uma tensão renovada se espalhou por ele. Ela compreendeu, apesar de sua ignorância. Depois de um tempo ela mudou também, encorajando-o a encontrar seu próprio prazer sem muito cuidado. Ele respondeu com mais força. A necessidade masculina a envolveu. Mesmo assim, até ao fim quando ela viu e sentiu sua própria quebra de prazer, ela poderia dizer que ele se segurou de algum modo, para não machucá-la muito. Ela o sentiu se afastar um instante antes que a tensão se quebrasse.
Desceu sobre ela então, cobrindo-a, seu rosto pressionado contra o dela e seu cabelo sobre seu rosto. Ela não se importava com seu peso. Ela segurou-o em seu corpo, absorvendo seu calor. As pontas de seus dedos deslizaram em sua pele enquanto ela marcava sua mente com a sensação de tocar seu corpo. Ela saboreou a intimidade que ela descobrira esta noite – invasiva, até assustadora, mas maravilhosa também.
Seus dedos acariciaram suas costas. Tentador. Cuidadoso, como se temesse perturbá-lo. Deixou-a, e apreciou o toque macio, quando seu abraço apertado causou a felicidade esticar mais e por muito mais tempo do que o normal.
Sua mente lentamente se encontrou, e viu as cores novas em seu contentamento. Surpresa e alívio. O último por que que ele tinha evitado brutalizar ela. Surpresa que ele tinha chegado tão perto de fazê-lo. Poucas mulheres no passado tinham inspirado essa fome possessiva, e nenhuma delas tinha sido o mínimo como Eva Russell.
Ele levantou-se para que seu peso descansasse em seus antebraços, não sobre ela, e ele não continuasse a esmagá-la. Ele olhou para os olhos que brilharam com... o quê? Lágrimas?
Inferno, ele a tinha magoado mais do que pensava. Ela era virgem, afinal. Uma virgem. O que ele estava pensando? Ele deveria ser chicoteado.
A verdade era, por mais que tentasse, não podia invocar vergonha ou arrependimento. A única preocupação era se ela iria. Ela havia dito que não, mas o que ela sabia?
Ele acariciou seu rosto e beijou-a. Sua expressão se iluminou, depois ficou triste.
– Depois do que aconteceu, o que se faz depois? – Perguntou.
– Normalmente eu gosto de correr pelo jardim nu e jogar de sátiro perseguindo a ninfa.
Por um instante, ela acreditou nele, então ela riu.
– Mais jogos malvados, quer dizer.
– Sim, mas não nos jardins. No entanto, eu não acho que você iria querer mais esta noite, não importa o quão levemente perverso eu possa ser. – Ele rolou para longe dela e ficou em sobre as costas. – Não só por ter sido violentada pela primeira vez. Você viajou o dia inteiro. Está cansada. Dormir é uma ordem.
Ele pegou o lençol. Ao fazê-lo, ele viu aquele em que estavam deitados. Nenhum sangue demais pela aparência das coisas, ainda mesmo que ele tivesse sentido o hímen ceder. Ele puxou-a em um abraço, cobriu-os com o lençol, e ficou confortável com a cabeça dela no ombro e a mão no peito.
– Isso vai ser muito chato se você normalmente gostar de jogar jogos malvados a noite toda, – disse ela.
– Você está dizendo que está desapontada por não me impor a você de novo?
– Não. Você tem razão sobre isso. Estou um pouco cansada e... Dolorida. Acho que você deve me achar muito chata em comparação com as mulheres que conheceu. Isso é tudo o que eu quis dizer.
Ele olhou para baixo em sua cabeça, dobrada sob seu queixo. As garantias estavam em ordem, mas as últimas era o último que ele esperava que ela precisasse. Do que você está falando? Caralho, foder você foi incrível. Não, isso nunca resultaria. Ele formou uma resposta cuidadosamente. Levou algum tempo para pegar as ramificações possíveis de cada palavra.
– Eu não sou seu décimo amante, mas seu primeiro, Eva. É um privilégio ser honrado com isso, especialmente por uma mulher que poderia ter uma escolha entre muitos homens.
Nenhuma reação dela. Nada mesmo. Ele percebeu que ela tinha parado totalmente. Ela adormecera.
Ele dormiu também. Quando estava à beira do sono, sentiu seu movimento. Ele abriu os olhos para encontrá-la olhando para ele com uma expressão de alma que contemplava o que via. Então ela plantou um beijo em seu peito, e se aconchegou mais perto para a noite.
Capítulo 13
Gareth olhou para o rosto de Eva e seus cabelos emaranhados. Sua expressão parecia etérea na suave luz. A madrugada havia surgido há duas horas, e ele se levantara para lavar-se e vestir-se. A água fresca esperava por ela no quarto. Ele não teria se importado em permanecer com ela até que ela saiu de seus sonhos, mas ele assumiu que ela estaria mais confortável ficar sozinha na luz brilhante do dia.
Ele saiu do quarto e desceu as escadas, listando os vários assuntos que ele pretendia abordar hoje. Um deles era viajar de volta para Chatsworth, e visitar duas propriedades próximas da propriedade de Devonshire o suficiente para perguntar se alguém sabia da história das pinturas que tinham ficado uma vez armazenados lá. Na melhor das hipóteses, ele poderia partir em dois dias. Podia levar tanto tempo para ajudar Eva a colocar sua casa em ordem de novo e procurar informações sobre a intrusão na casa.
A carta para Ives teria que esperar também, mas precisava ser enviada em breve. A própria carta de Ives havia chegado no dia anterior, e suas perguntas indicavam que alguém, ou melhor ''Alguém'', o pressionara por sua vez para obter informações. Ives nunca havia dito que o Príncipe Regente tivesse solicitado esta investigação, mas Gareth assumiu que era o ''Alguém'' atrás de tudo. Irritantemente ausente daquela carta era qualquer notícia a respeito de Lance, da investigação e do estado do inquérito sobre a morte de Percy.
Sua concentração em deveres não sendo cumpridos manteve os pensamentos da noite afastados até que ele entrou na cozinha e encontrou o café já feito. Ele caminhou até a porta do jardim e olhou para fora. Harold tinha vindo, sozinho e sem Erasmo, espontaneamente. Trabalhou na parede, levantando pedras no lugar, terminando o trabalho que Gareth tinha começado anteriormente.
A mente de Gareth estalou para a mulher dormindo acima.
Droga.
Ele andou pela cozinha, pensando rápido. Claro, ele deveria ter pensado nisso à noite, rápido ou lento, contanto que ele pensasse em tudo. Ele se amaldiçoou profundamente, mas mesmo assim, estava furioso por ter ignorado as regras.
Os cavalheiros não seduziam senhoras inocentes, mesmo que aquelas inocentes se lançassem aos ditos cavalheiros - supostamente. Que ele poderia nomear cavalheiros importantes que não se tinham importado. Que ele tivesse sido ensinado por seu próprio pai, que se havia deitado com uma virgem com quem ele não poderia e nunca iria casar, fez a lição ainda mais cômica. Sem mencionar que ele não era, oficialmente, um cavalheiro. Ele era um bastardo, e se houvesse qualquer benefício por ser um era que deveria que ele não teria que obedecer a nenhuma das malditas regras de cavalheiros.
Mas ali estava ele, com uma senhora na cama e a sua reputação nas mãos.
Ele observou Harold. Grande, musculoso e loiro, Harold se moveu metodicamente com as pedras. Ele provavelmente terminaria ao meio-dia. Harold deveria estar servindo dentro de casa, quando ele já tinha servido como empregado de casa, como criado de quarto e servo, não fazendo trabalho duro. Mas lá estava ele, provando seu valor num momento inconveniente.
Melhor Harold do que Erasmo. Com Erasmo, o nome de Eva estaria nos lábios de cada harpia até amanhã. A tendência de Erasmo para fofocar tinha sido útil, mas havia momentos em que a discrição era requerida e estimada. Como agora mesmo.
Passou os dedos pelos cabelos e abriu a porta do jardim. Ele subiu as escadas até o jardim e caminhou até onde Harold trabalhava.
Harold interrompeu-se e aproveitou a oportunidade para limpar o rosto e as mãos com um trapo enfiado na camisa.
– Eu não esperava você hoje, – disse Gareth.
Harold assentiu com a cabeça.
– Você disse que começou a reconstruir isso sozinho. Mencionou isto enquanto eu servi o jantar ontem. Pensei que seria melhor se eu cuidasse disso. Nenhuma razão para nós dois termos as mãos maltratadas.
Gareth quase alisou a palma da mão sobre o rosto, para ver quão ruim suas mãos se haviam tornado que Harold se sentiu obrigado a interceder. Eva tinha notado?
– Que bom que tenho sua ajuda – disse Gareth. – Estou contente que esteja aqui. Houve um pequeno desastre, e preciso de sua ajuda.
Harold franziu o cenho e pousou a pedra que acabara de erguer.
– Isso exige discrição absoluta – continuou Gareth. – Tenho certeza de que quando você estava no exército, houve momentos em que você foi chamado a manter silêncio sobre assuntos importantes.
– Muitas vezes. Não só assuntos militares. Meu oficial tinha coisas privadas e que eu aprendi sobre ficar calado, vendo como eu poderia servi-lo melhor. Eu sei como manter a boca fechada, senhor, se é isso que você está pedindo.
– É isso. Eu sei que você espera ser um criado particular um dia, meu, ou de outro homem. Isso é muito parecido com o que você fazia para o oficial. Se não se pode confiar no critério de um criado particular, ele não vale nada.
– Ninguém saberá desse desastre, senhor. Nem mesmo Erasmo, que tem uma língua solta, se me ouvir. Ele é um bom amigo, mas gosta de conversar demais.
Gareth só podia esperar que Harold fosse bom em sua palavra.
– Na noite passada, perto do crepúsculo, Srta. Russell voltou para casa e descobriu que alguém havia invadido sua casa, destruindo grande parte dela. O intruso ainda pode estar lá. Ela pensou que sim. Ela correu aqui para se proteger.
Os olhos de Harold se arregalaram.
– A Srta. Russell? Ela foi prejudicada? Se um cabelo na cabeça dela foi tocado, matarei o homem se eu o encontrar. O mundo foi para o inferno, se posso dizer, senhor, se uma mulher não se pode sentir segura em sua própria casa. Eu estou desfeito, senhor, desfeito por esta notícia. Não é um pequeno desastre, mas um grande e chocante.
– Sim, bem, sendo noite, e não havendo alternativa, ela ficou aqui para que ela estivesse segura. Ela está lá em cima no quarto que tem a nova cama que eu acabei de comprar. Você pode ver o problema que enfrentamos, tenho a certeza.
É claro que Harold podia vê-lo. Fora um olhar afiado e suspeito, passou os próximos minutos ruminando, coçando a cabeça e olhando para a parede.
– Eu não sou um estrategista, senhor. Afinal, ninguém me fez oficial. Mas acho melhor que, quando ela falar com o magistrado, não se mencione que ela ficou aqui. Meu silêncio não valerá nada se o magistrado começar a falar, e se o fizer, ela pode ser arruinada por nada mais do que se recusar a arriscar-se aos criminosos entre nós hoje em dia.
– Esses são meus pensamentos exatamente. Ela tomou o curso sensato, mas ela terá que fingir que não veio aqui à noite e que só me informou sobre isso esta manhã.
– Posso ir e alertar o magistrado. Ele provavelmente não chegará à sua casa por um par de horas, já que ele vive do outro lado da cidade. Se acompanhar a senhorita Russell de volta ...
– Essa é uma boa estratégia. Talvez você devesse começar agora, e Srta. Russell vai esperar o magistrado em sua casa.
A expressão de Harold assumiu uma solidez militar.
– Só uma coisa que poderia complicar o plano, senhor. Srta. Russell – ela vai mentir? Ela pode-se recusar a fazer isso, sendo o tipo de mulher que ela é.
– Vou tentar convencê-la desta necessidade.
Harold dirigiu-se para o portal do jardim. Gareth voltou para a casa. Seria melhor que Srta. Russell não se recusasse a mentir. Certamente ela veria o sentido disso.
Voltou para o quarto. Eva se levantou e a ouviu andar pelo quarto. Ele saiu e atravessou a casa até o único outro quarto com uma cama real. Ele puxou para trás o cobertor, amassou os lençóis, e até mesmo deu no colchão alguns golpes para fazê-la parecer que ela dormiu aqui. Amassou uma toalha, então jogou-a no assoalho para dar um melhor efeito. Decidido que suas ações realizadas no quarto convenceriam Harold de que a boa Srta. Russell passara todo o tempo ali, foi procurar a dama em questão.
Encontrou-a vestida e arrumada no quarto. Ela se sentou em uma cadeira, parecendo calma, mas talvez um pouco confusa. Mesmo assim, pensou que ela parecia adorável. Bonita e sedutora apesar de si mesma. Ela parecia completamente capaz de decidir que queria um homem e lhe dizer isso, o que não era a Eva Russell que o mundo conhecia. Provavelmente não era a Eva Russell que ela conhecia.
Para que a estranheza não crescesse, ele se aproximou, levantou-a em seus braços e deu-lhe um beijo. Ela corou.
– Espero que não seja de constrangimento – disse ele, acariciando a bochecha cor de rosa. – Se sim, eu não vou gostar.
– Claro que não. Nenhum embaraço e nenhum remorso, apenas como eu prometi. Eu me sinto um pouco estranha, como se eu estivesse despertando lentamente de um sonho vívido. – Ela olhou para o tapete. – Estávamos mais do que um pouco loucos na noite passada, não é?
Insanamente assim.
– Absolutamente loucos.
– Sim.
Seus braços se curvaram em um gesto desafortunado.
– Acho que todos deveriam se deixar ficar loucos pelo menos uma vez, não é?
– Absolutamente.
Ela o sentiu em seu cabelo. Ela endireitou as mangas.
– Eu deveria voltar para casa. Pareço uma assombração. Eu nem sequer tenho uma escova comigo.
Ele não tinha percebido. Ele não achava que ela parecia um susto. A luz da manhã fez sua pele parecer impecável, e seus olhos mutáveis se mostraram tão azuis agora. Quanto aos cabelos, não podia vê-la sem pensar no quão sedoso se sentia contra sua pele.
– Eu deveria voltar para casa, – ela disse novamente. – Preciso... fazer muitas coisas.
– Eu vou levar você. Mandei Harold para buscar o magistrado. Você precisa deixá-lo ver o que aconteceu, para que ele possa alertar outros proprietários para ser cauteloso e tentar encontrar o culpado.
– Harold ... – Seu olhar se dirigiu para a cama.
– É bom que ele estivesse aqui. Eu não quero que você espere o magistrado sozinha enquanto eu o ia buscar. Não tenha medo de que Harold a tenha visto. Ele não entrou na casa. Ele sabe que você ficou aqui, no entanto, mas acredito que ele será discreto.
Isso a acalmou, principalmente. No entanto, seu crescente reconhecimento de seu perigo podia ser visto em seus olhos.
– Se ele não for discreto, não vai importar se eu fiquei em uma câmara trancada a noite toda ou se eu fugisse da minha casa com um assassino atrás de mim. Posso suportar o escândalo, mas temo que arruinará as chances da minha irmã.
– Não haverá escândalo.
Ele a conduziu pelas escadas e a deixou enquanto saía para montar e trazer o cavalo. Ela esperou na porta da frente por ele, retorcendo as mãos. Ele conduziu o cavalo enquanto juntos caminhavam para a estrada.
Como o dia parecia estranho. Como era estranho estar andando ao lado de Gareth ao sol, com seu cavalo correndo atrás.
Ela olhou para ele de vez em quando. Seu coração ainda dançava ao vê-lo. Talvez sempre o fizesse. Se ela tivesse pensado que a intimidade da noite passada apagaria aquela excitação de menina, ela estava errada.
Ao acordar, e vendo onde ela estava, e lembrando-se da noite, houve um momento de pânico. Passou, no entanto, como as memórias se tornaram mais claras e seu corpo fantasma pressionou o dela. A pequena dor ainda estava latejando profundamente dentro dela e provocou um sorriso, não consternação. Enquanto ela se lavava, ela se perguntava se ela se tornara tão perversa quanto ele, para participar de prazer tão casualmente com um homem que ela não amava, e sem nenhuma culpa depois.
Perverso. Uma palavra interessante. Não o mesmo que o mal. Muito mais condenável do que impertinente, no entanto. Não se podia negar que os ímpios muitas vezes carregavam implicações de serem desonestos sensuais. Ela supôs que ela também era uma agora.
Ele havia dito ontem à noite que poderia ter escolhido muitos homens se quisesse. Tinha sido uma bondade gentil que a tocou. Uma mentira generosa e pensativa. Ele, por outro lado, certamente poderia ter tido sua escolha de muitas mulheres.
– Estou com fome, – disse ela quando eles rodearam a curva que deixou Albany Lodge fora da vista.
– Eu deveria ter-lhe dado algo.
– Eu vou encontrar um pouco de queijo quando eu chegar em casa, assumindo que os intrusos não o destruíram. Nem poderíamos nos permitir um café da manhã esta manhã. Isso faria que o magistrado chegasse em minha casa apenas para não me encontrar.
Gareth abriu a porta, que ela tinha certeza de que ela não tinha fechado quando ela correu. Ele entrou.
– É pior do que você disse, Eva.
Ela seguiu, e olhou ao redor da sala olhando para a destruição que cumprimentou seu retorno ontem. Gareth se aproximou e pegou uma de suas pinturas. Ele olhou fixamente para ela com olhos irritados, então colocou-o para baixo. Ele voltou para ela e tomou suas mãos.
– Vamos ver como é ruim no resto da casa. Antes disso, você precisa considerar o que você vai dizer ao juiz sobre a noite passada. Eu acho que você deveria dizer que passou a noite aqui e veio em busca de ajuda no início da manhã. Eu sei que você não quer mentir, mas...
– É uma mentira, mas que pode ser dispensada. Se a verdade nunca se tornar conhecida, será óbvio por que eu não disse a verdade, e eu não acho que alguém vai me culpar.
Ele tomou seu rosto em suas mãos.
– Já que não acho que terei a chance de fazer isso mais tarde... – Toda a noite passada viveu no beijo que ele deu a ela. Então ele a levou até o salão de recepção e a dirigiu pelas escadas.
Ela foi até o quarto e olhou para as tábuas do canto. Nada. Ninguém achou seu dinheiro. Suas moedas ainda permaneciam. Ainda mais pesava sua bolsa. Ela sobreviveria a essa destruição porque tinha algum dinheiro. Ela estremeceu ao pensar em como teria conseguido se não o fizesse.
As tábuas estavam bem, mas nada mais. Todas as camas aqui haviam sido derrubadas. Armários tinham sido esvaziados, seus conteúdos espalhados pelo espaço. Uma área de armazenamento atrás de uma porta baixa na câmara de Rebecca abriu-se com a porta aberta e os troncos saqueados.
– Parece que eles procuraram por dinheiro ou objetos de valor, – disse Gareth.
– Basta entrar para saber que não haverá. Nem sequer temos móveis decentes.
Mais do mesmo esperado no próximo nível. Não havia móveis aqui, mas alguns troncos que seguravam as roupas e as memórias de sua mãe moravam em um quarto. Aqueles também tinham sido violados, e ao ver este assalto final, ela perdeu a compostura.
Chorando, ela caiu de joelhos e começou a juntar as velhas sedas e sapatos que ainda mantinham os aromas de sua infância de há muito tempo. Até mesmo a destruição de suas pinturas não doeu tanto quanto isso. Uma raiva assassina a dominou. Ela segurou os vestidos em seu rosto e gritou sua raiva e frustração.
Gareth se ajoelhou ao lado dela. Ele tirou as roupas de suas mãos, dobrou-as cuidadosamente e as colocou de volta no porta-malas. – Eu não gosto da ideia de você ficar sozinha.
– É a minha casa. – Ela enxugou os olhos com a mão. – Eu vou ser condenada, se eu vou ser expulsa daqui.
– Ainda...
– Não terei medo de morar na única casa que conheço, seja lá quem fez isso. Eu não vou.
Ele não disse nada mais. Ele se levantou e ofereceu a mão para ajudá-la.
Eles voltaram para a biblioteca e esperaram o magistrado.
Sir Thomas Pickford parecia ser um magistrado competente. Alto, delgado, e ainda tinha muito do oficial que ele tinha sido uma vez no exército, ele percorreu a casa, observando a destruição. Ele retornou à biblioteca e colocou a sua cadeira perto do divã onde Eva esperou.
– Você não os viu? – Ele perguntou.
Ela balançou a cabeça.
– Eu nem sei se foi um ou mais.
– Provavelmente mais. Dois pelo menos. As câmaras acima mostram um método cuidadoso. Isto aqui ... Ele gesticulou ao redor. – Uma mente diferente fez isso.
– Está claro que ela não tem nada para roubar, – disse Gareth.
– É verdade, mas eles procuraram exatamente a mesma coisa, enquanto eles se divertiram. – Ele ignorou Gareth e olhou para Eva. – Há alguém que você tenha irritado? Alguém que talvez queira fazer isso apesar de tudo?
– É uma pergunta estranha, Sir Thomas – disse Gareth. A ideia de que alguém quisesse magoar Eva era absurda.
– Não é tão estranho, senhor. Olhe em volta. Nós não vemos isso neste condado, eu posso dizer-lhe. Oh, há ladrões o suficiente, mas isso... Ele balançou a cabeça.
– Bem, você já viu isso agora. Espero que você encontre os responsáveis.
– Vou tentar, mas não há como dizer quem são ou onde estão, não é? Vou fazer perguntas, para descobrir se alguém viu alguma coisa, talvez ao passar na estrada à noite. Faremos o que pudermos. – Ele voltou sua atenção de volta para Eva. – Não foi sábio esperar até a manhã para procurar ajuda, senhorita Russell. Você vai ficar sozinha aqui por muito mais tempo?
– Minha irmã voltará dentro de alguns dias.
– Bem, tranquem suas portas. Eu não acho que eles vão estar de volta, mas é melhor ter cuidado.
Sir Thomas despediu-se. Gareth começou a colocar o resto do mobiliário em ordem na casa. Quando desceu dos quartos, encontrou Eva limpando a pintura das paisagens.
Ele sentira uma raiva sangrenta ao ver o modo como aquelas duas pinturas haviam sido arruinadas. Não poderia haver nenhum ponto nele além da crueldade. Talvez Sir Thomas estivesse correto e alguém tivesse feito isso por despeito.
Eva percebeu que ele a observava.
– Eu posso usar as telas novamente, – ela explicou.
– Eles eram adoráveis, e benfeitos.
– Na verdade não. Eu sei que tenho um talento médio. Eu gosto de pintar, no entanto. Eu pretendo trabalhar nisso e melhorar, também.
Aproximou-se e tirou a tela de suas mãos e olhou para ela. Os restos da paisagem ainda poderiam ser discernidos.
– Talentos médios para pintura é como todo mundo pinta, Eva. Isto teve um olhar distintivo, o que com a maneira que você usou luz no chão e árvores. Você não se dá crédito suficiente.
– Perdoe-me, mas ... você sabe do que está falando?
– Na verdade sim. Eu faço. Arte é a única coisa que eu sei muito bem.
Ela sorriu para seu elogio, depois riu. – Não é a única coisa, eu acho que é seguro dizer.
Sua aludida alusão o encorajou. Ela parecia estar se recuperando do choque renovado de ver sua casa assim.
Ela colocou a pintura de lado e pegou seu retículo.
– Eu gostaria que você fizesse algo por mim, se você fosse gentil o suficiente.
– Pode falar.
Ela arrancou algumas notas de libra da bolsa e empurrou-as para ele. Com determinação que brilhou em seus olhos.
– Por favor, compre-me uma pistola, e me ensine a usá-la.
Capítulo 14
Depois de comprar para Eva uma pistola, Gareth fez uma pequena turnê por Langdon's End. Ele parou no Cavalo Branco. Erasmo estava lá, como esperado, e cumprimentou-o com um sorriso largo. Gareth apontou para uma mesa, pediu duas cervejas e informou-o da situação com Eva.
Erasmo exibiu o mesmo choque que Harold tinha mostrado. Parecia genuíno, o que significava que Harold tinha sido bom com sua palavra, mesmo quando se tratava de seu amigo. Melhor, na verdade. Não só Harold não revelou a presença de Eva em sua casa esta manhã, ele não tinha sequer falado sobre o por que a enviou para lá.
– Isso deve ter acontecido ontem – disse Erasmo. – Não fui esta manhã porque Harold disse que ela estava de volta quando eu passei por ele na cidade.
– Como você pode imaginar, ela está com muito medo. – Gareth acariciou o pacote embrulhado que tinha colocado sobre a mesa. – Ela me pediu para comprar uma pistola. Se isso a faz sentir mais segura, só isso é uma boa razão para fazê-lo.
– Ela já usou uma? – Erasmus parecia incrédulo.
– Ela saberá o quanto antes, como usar. Quero que mantenha seus ouvidos abertos. Deixe-me saber se você encontrar qualquer indicação de quem fez isso. Tais tipos levam frequentemente à vanglória, especialmente quando estão cheios de copos.
Erasmo assentiu.
– Vou contar também a Sir Thomas.
– Diga-me primeiro. O magistrado pode ter o que sobrar do desgraçado depois que eu termine com ele.
Ele colocou uma moeda para a cerveja na mesa e saiu da taberna. Considerando como Erasmo gostava de falar, em poucas horas todos saberiam que Srta. Russell agora mantinha uma pistola em sua casa, uma que ela sabia usar. Ele também assumiu que a palavra iria se espalhar que o Sr. Fitzallen estava protegendo a senhora e não iria esperar por um tribunal para fazer a justiça.
Ambas as informações poderiam ajudar se esse arrombador de casa fosse apenas um homem aleatório agarrando a oportunidade de roubar. Outra possibilidade tinha entrado na mente de Gareth quando ele viu a destruição deliberada das pinturas de Eva, no entanto. Antes de deixar a cidade, fez mais uma parada.
Trevor se levantou para cumprimentá-lo quando entrou no escritório do arquiteto. Um pouco de brandy foi oferecido, e eles se instalaram em cadeiras perto da janela.
– Os materiais para o telhado devem estar aqui esta semana, – disse Trevor. – Uma vez que o trabalho começar, não vai demorar.
Gareth permitiu mais alguns minutos de conversa sobre as melhorias de Albany Lodge antes de mudar para sua verdadeira razão para visitar.
– A casa da senhorita Russell foi arrombada enquanto ela estava fora. Você vai ouvir falar sobre isso logo, se você não estiver sabendo.
– Por que essa casa? Ela não tem nada de valor.
– Ninguém vendo aquela casa assumiria que não continha nada de valor. É uma casa grande e bonita. Esta não é mais uma aldeia isolada, mas uma cidade em crescimento, e todos os tipos passam, eu espero.
– Isso é terrível. Assustador. Este não é um lugar onde as pessoas fecham suas portas, ou veem suspeitas em cada rosto. Pelo menos não foi um lugar assim no passado. Temo que isso mude.
– Sem dúvida, se os detalhes forem conhecidos. Depois de não encontrar nada, os intrusos tiraram sua raiva destruindo metodicamente o pouco que havia ali. Assoalhos, paredes, mobília, louças, indo da sala para os quartos, seus bens foram transformados em detritos.
– Graças a Deus ela não estava lá, nem sua irmã. Não é seguro, duas mulheres viverem sozinhas, vivendo na sombra de uma cidade como Birmingham... Ela deve estar apavorada.
– Não tão aterrorizada, quanto está furiosa. Embora, tendo visto a destruição, eu não posso evitar o pensamento que aterrorizá-la pôde ter sido a meta. Alguns detalhes pareciam desnecessariamente cruéis e pessoais.
Trevor ficou de pé, corado por seu alarme com a ideia de que ele teve algo com o que aconteceu.
– Certamente não. Quem poderia querer prejudicá-la? Ela não tem inimigos. Os habitantes da cidade a amam e a respeitam.
– Os velhos o fazem. Os novos apenas a conhecem. – Gareth estudou Trevor, que agora olhava pela janela enquanto acomodava essa nova noção. – O quanto seu cliente quer aquela casa e terra?
Trevor virou-se para ele, atordoado.
– O que você está insinuando?
Gareth apenas olhou para ele.
– Meu cliente é um respeitável empresário, Fitzallen. Ele tem renda em torno de sete mil por ano devido ao trabalho árduo e às suas astutas negociações nos últimos dez anos. O que você sugere é um insulto para ele, e desnecessário.
Gareth se levantou e encarou Trevor.
– Aposto que você não sabe quase nada sobre esse homem, a não ser o rosto que ele escolhe mostrar e o tamanho de sua renda. Ele é rico do comércio, o que dificilmente é condenável, mas dez anos é muito rápido para todo esse sucesso em qualquer negócio, então ele pode ser o tipo de eliminar qualquer coisa ou alguém que fica em seu caminho. Ela não vai vendê-la e é isso o que ele quer, então talvez ele tentasse convencê-la fazendo-a se sentir insegura em sua própria casa.
– Sua acusação é ultrajante. Você não tem nenhuma evidência disto, mas você é um homem maligno...
– Quem é ele? Diga-me e vou descobrir em breve se eu estou correto.
– Eu serei maldito primeiro. Você não é mais um cavalheiro do que ele. Você, também, pode ser do tipo que tenta derrubar alguém em seu caminho, por tudo que eu sei. Não vou acusar meu cliente quando este foi provavelmente um crime aleatório.
Gareth colocou seu copo de brandy sobre uma mesa.
– Se isso foi um crime aleatório, não haverá nada mais. Se houver qualquer outra tentativa de assustar Srta. Russell, no entanto, eu estarei de volta. Se você não me der seu nome então, eu saberei isso de outra maneira, para que ele e eu possamos conversar.
Ele caminhou até a porta.
– Você está fora de razão, Fitzallen. Ele tem advogados, o melhor que o dinheiro pode comprar. Eles irão arruinar você financeiramente se você o perturbar.
– Eu tenho um melhor, e como ele é da família, ele não vai me custar um xelim. Ele também é o tipo que não gosta de homens que ameaçam as mulheres. Diga ao seu cliente para ficar feliz, que apenas eu suspeito dele, e não meu irmão.
A pistola parecia menos pesada em suas mãos agora. Não tão de chumbo como quando ela a pegou e seguiu desajeitadamente as instruções de Gareth sobre como carregar a bala e o pó. Nem achava difícil manter-se firme, como nas duas primeiras vezes que atirou.
Ela apontou para a grossa tábua de madeira que Gareth trouxe e colocou contra a parede do jardim.
– Agora?
– Quando você estiver pronta.
Ela disparou. A rachadura assaltou suas orelhas. A fumaça subiu da ponta do barril. Ela não se assustou desta vez, embora ela não achasse que se acostumaria com o barulho.
Ela olhou para a prancha, procurando o destino da bala. Gareth afastou a pistola de seu aperto.
– Muito melhor, Eva.
– Mesmo? Eu não vejo onde ela bateu.
– Você não bateu na placa.
Seu olhar se moveu para a parede. Um terceiro ponto preto agora o decorava, perto de dois outros. A parede podia ser de pedra, mas as balas de chumbo não saltaram. Em vez disso, elas incorporaram-se, lembranças eternas de sua má pontaria.
– Como você pode dizer que fui muito melhor, quando eu ainda não cheguei nem perto de acertar algo tão grande como uma porta de celeiro?
Estava mais perto desta vez.
– Por uma polegada! – Ela pegou a pistola de volta, sentou-se, e levantou a bolsa de pó. – Você é um bom atirador?
– Você não encontrará muitos melhores.
Ele não disse isso com orgulho ou presunção. Ele apenas respondeu a uma pergunta. Ela bateu pó na pistola.
– Demorou muito para se tornar tão bom?
Sentou-se ao lado dela e observou-a carregar.
– Todos os verões eu passava algumas semanas com meu pai. Foram as únicas vezes que passei tanto tempo com ele para falar a verdade. No verão que eu tinha doze anos, ele me ensinou a atirar. Ele me fazia praticar todos os dias, por horas. Eu vim a odiar aquela pistola. Aqui estava eu gastando um tempo precioso, e eu estava sozinho naquele jardim, disparando uma e outra vez.
– Ele sabia que odiava isso?
– Ele sabia. Finalmente, quando alcancei o objetivo, e eu poderia recarregar rápido, ele me disse que com o meu nascimento, um dia viria quando os homens me desafiariam, ou me insultariam e eu teria que desafiá-los, mas se soubessem que eu era um bom atirador, menos homens iriam dar esse passo. Um homem conhecido por sempre atingir seu objetivo não é um homem com quem outros homens querem duelar.
Ela terminou de carregar, então embalou a pistola em suas mãos.
– Ele estava correto? Saber atirar bem o poupou desses desafios?
Ele pegou a pistola dela.
– Na maioria das vezes. Não sempre da maneira que eu esperava. – Ele levantou a arma e visou a tábua, depois baixou-a novamente. – Entretanto, provavelmente evitou que meu irmão me matasse.
Ela olhou para ele com surpresa. Ele olhou para a pistola.
– Em um daqueles verões, meu irmão mais velho veio visitá-lo. Acho que nosso pai tinha começado a suspeitar quem era o Percy, mas ele nunca adivinhou tudo, e eu acho que ele estava satisfeito de ver Percy fazer um gesto de aceitação por mim. Um dia meu pai se foi, para andar pela propriedade, e Percy ofereceu-se para me ensinar como os duelos eram feitos. Ele explicou tudo, e nós fomos para fora, realizamos tudo como se ocorresse um duelo verdadeiro. E de repente eu estava enfrentando-o e nós dois carregávamos pistolas em nossas mãos. – Ele olhou para ela. – Eu olhei para ele, e eu sabia, eu sabia, que ele pretendia que houvesse um acidente infeliz.
– Você tem certeza? – A ideia a atordoou. – Seu próprio irmão?
– Eu tinha certeza. Ele estava parado bem abaixo dos ramos externos de uma árvore, e um desses ramos quase tocava sua cabeça. Então eu apontei para o ramo, para acertá-lo, e ele estalou e caiu sobre ele. Assustou-o o suficiente para que eu tivesse tempo de recarregar. Percy olhou para aquele ramo, depois para mim, e decidiu que a lição de duelo havia terminado.
Ele se levantou e lhe entregou a pistola.
– Eu tinha quinze anos. Ele tinha vinte anos. Agora, só mais um. A luz está diminuindo rapidamente. Você nunca vai aprender a atirar no escuro.
Ela desejou que houvesse mais tempo hoje. Ela precisava aprender isso imediatamente. Ela odiava o quão vulnerável ela se sentia agora em sua própria casa. Enquanto Gareth tinha ido para a cidade hoje, ela passou o tempo limpando a destruição, mas durante todo o tempo ela estava atenta a qualquer um subindo a rua ou passando perto do jardim.
Ela perdeu de novo. Gareth afastou a pistola de seu aperto, então pegou o saco de pó também.
– Você não precisa ser capaz de mirar ou atingir alguém, Eva, porque é muito improvável que você realmente dispare. Basta empunhar uma pistola para fazer fugir aos intrusos. Estou tentado a tomar o pó comigo, para que você não faça algo errado ou machuque alguém por engano.
– Não se atreva a tirar o pó. Eu prometo não usá-lo sozinha, até que eu seja perita com esta pistola. No entanto, eu não vou ser tratada como uma criança que não tem sentido, ou uma mulher muito estúpida para evitar atirar no próprio pé.
– Eu não disse nada sobre atirar em seu próprio pé. – Ele acariciou seu ombro em um esfregar calmante. Ele tinha feito isso muito hoje, desde que chegou com a pistola e aquela enorme placa para praticar tiro ao alvo. Era o tipo de toque reconfortante usado em pessoas que se afligiam, ou que se haviam desfeito pela emoção.
Lado a lado, caminhavam pelo jardim até a casa.
Limpar a casa e praticar com a pistola a distraíra de sua atração, mas, ao caminhar ao lado dele, a atração que ele exercia a tentava novamente. As cordas invisíveis entre ele e seu corpo se apertaram até deixá-la tensa. Ela não tinha ideia se ele fazia isso deliberadamente, ou se apenas acontecia como resultado de sua mera existência.
– Você escreveu para a sua irmã sobre o que aconteceu? – Ele perguntou.
– Eu tenho uma carta para por no correio amanhã, mas não contém esta notícia. Eu não quero que ela se preocupe, ou encurte sua visita com Sarah.
Entraram pela cozinha no porão. Gareth acendeu uma lâmpada enquanto seguia seu nariz até a lareira. Uma panela com cozido. Harold deve tê-lo trazido, como se traz comida para inválidos.
– Guisado, – ela disse. Guisado de carne, pelo cheiro. O que foi um prazer. Seu estômago fazia barulhos felizes. – Você vai querer? Parece que também há pão fresco.''
Ele respondeu tirando dois pratos da prateleira alta. Uma boa quantidade de louça quebrada tinha sido atirada no chão há algumas horas, mas nem tudo tinha sido destruído.
Ele saiu para a fonte, para beber água, e então eles se sentaram para comer. Ela notou como ele observava o que ela comia.
– Você aprova? – Ela perguntou. – Eu comi o suficiente para manter minha força e não ficar doente ou ter uma crise nervosa?
– Não me repreenda por me preocupar com você. Você não foi ferida fisicamente, mas ainda assim, você foi agredida. É preciso dar algum tempo a um corpo para se recuperar disso.
– Eu estou bem. Eu desmaiei? Não. Eu chorei como uma louca? Não. Bem, eu chorei, mas não histericamente, e com raiva, não tristeza. Nem perdi o apetite. Ela levou mais guisado a sua boca.
Seus olhos se estreitaram sobre ela. – Tem certeza de que está bem?
– Completamente.
– Absolutamente bem?
– Totalmente.
– Estou feliz em ouvir isso. Doravante não vou preocupar-me com isso o mínimo.
– Isso me convém.
Ela pegou os pratos e levou-os para a pia para lavar. Quando terminou, subiram as escadas.
– Vamos praticar com a pistola de novo amanhã?
– Se você quiser, mas não muito cedo.
Ela o levou até o salão de recepção e a porta.
– Eu prometo esperar por você, para praticar com a pistola.
Ela percebeu que ele não caminhava mais com ela. Ela se virou para vê-lo encostado na parede, braços cruzados, observando-a.
– Você não terá que esperar na minha chegada, Eva, porque eu não vou sair esta noite.
Ele queria dizer isso mesmo e isso a encantou, mas ela não queria que ele estivesse pairando como um anjo.
– Eu não preciso que você esteja aqui. Eu prometo que não vou ficar acordada a noite toda, encolhida de medo.
– Mesmo assim, esta noite você não estará sozinha nesta casa. Não discuta comigo. Não vou me incomodar com isso.
– Você pretende ficar de guarda? Dormir no divã com sua própria pistola pronta?
– Essa era a minha intenção. No entanto, como você está completamente, absolutamente, e totalmente recuperada, eu decidi que sua cama seria mais confortável.
Ela não achava que ele acreditava que deveria dormir no divã. As implicações imediatamente a fizeram imaginar as sensações, lembrando-se do êxtase. Sua tentativa ficar indignada por seu anúncio presunçoso teve pouco sucesso. O desejo tornou-se uma força viva no espaço que os separava.
Aproximou-se dela, beijou-a e levou-a para a escada. Eles subiram.
– Eu tinha a intenção de pensar um pouco antes de fazer isso novamente, – disse ela. – Eu realmente deveria.
– Pense no que quiser. Só deixe para fazer isso amanhã.
– Eu não posso ter um caso com você. Você deve saber disso.
– Tudo que eu sei é que eu quero você e você me quer.
– Ainda assim, devemos...
Ele parou e a puxou para seus braços. Seu beijo arrebatou sua boca e não mostrou nada da contenção da noite passada.
– Não coloque empecilhos. Não agora, ou vou fazer você esperar, até você pedir novamente para fazermos amor. Eu farei você suplicar até que você esteja gritando.
– Eu não me importo se você me fizer isso de qualquer maneira. – Ela apenas deixou escapar.
O olhar que ele lhe deu fez com que as pernas dela cambaleassem. Com uma rápida expressão em seus olhos, ele a levantou em seus braços e subiu as escadas.
Esta vez foi diferente. Sem desespero. Sem choques. O prazer não se transformou em seu corpo. Ao invés disso, ele passava por ela em ondas, controlado pelas carícias e pelos beijos magistrais de Gareth.
Nada especialmente perverso aconteceu. Ele a tomou cuidadosamente, quase docemente, e eles se entrelaçaram num abraço que permitiu que ela o abraçasse. Ela teve um prazer incrível, mas pouco delírio. Em vez disso, ela o sentia ao redor dela e nela, numa intimidade impressionante. Mesmo a força no final não obscureceu isso, mas intensificou-o. E quando ela descansou em seu abraço depois, ela sabia que esta era a paixão mais perigosa das duas que ela tinha experimentado, porque era a que tocou seu coração.
Eva acordou primeiro. Ela ficou nos braços de Gareth por um tempo, saboreando a calma e a paz. Então ela se afastou de seu abraço e saiu da cama.
Ela vestiu um vestido e desceu escada abaixo. Ela rapidamente andou pelo caminho do jardim, balde na mão, para obter um pouco de água. Ao abrir a porta da cabana, ela congelou.
Alguém estivera aqui desde a última vez que usou a bomba de água, e não apenas para obter água. Uma caixa grande que segurava suas ferramentas de jardinagem já não tinha a enxada e a pá no topo. Elas foram transferidas para o chão. Olhando para dentro da caixa, ela viu que seu conteúdo tinha sido rearranjado ao acaso. Ela olhou ao redor da pequena cabana. Nada tinha sido quebrado ou destruído, mas ela suspeitava que seus invasores tinham vindo aqui também.
Gareth devia ter visto isso quando ele veio pegar água ontem. Ele provavelmente não tinha percebido que algo não estava normal. Um arrepio em sua espinha deu a resposta. Se esta cabana tinha sido procurada, alguém estava procurando algo específico, não apenas tirando proveito de uma casa vazia para ver o que poderia ser feito.
Levou o balde para a cozinha e o aqueceu junto à lareira. Depois levou-o para o vestiário, lavou-se e vestiu-se. De volta à cozinha, preparou uma panela para cozinhar alguns dos ovos que Gareth trouxera da cidade ontem. Ela colocou a mesa. Desde que ela começou a fazer isso para apenas uma pessoa, usar a sala de jantar fazia pouco sentido.
Com tudo preparado para o pequeno almoço na cozinha, ela foi até a biblioteca. Suas novas telas e tintas ainda estavam no chão em um canto. Ela tirou um pequeno martelo de uma gaveta e começou a erguer uma das pinturas arruinadas de seu quadro simples.
Ela planejava usar a nova tela para cópias e reutilizar essas telas arruinadas para seu próprio trabalho. A ideia de criar uma composição de sua escolha, de permitir que a sinfonia tocasse, a excitava. Ela fazia alguns esboços no lago e, talvez, pintasse uma longa paisagem que tomava toda a costa ocidental do lago - uma vista do pôr do sol, com púrpuras e laranjas riscando o céu e árvores lançando longas sombras sobre a água. O resultado seria muito melhor na pintura que tinha sido destruída. Ela só sabia disso.
Ela olhou para baixo no rolo de lona fresca. Quanto a isso, ela precisava encontrar pinturas para copiar. Boas, então o novo patrão do Sr. Stevenson iria querer.
Ela começou a limpar ainda mais terebintina na pintura, terminando o que os intrusos tinham começado. Ela conseguiu reduzir a paisagem para um fantasma de sua antiga imagem, no entanto. A nova tinta deveria obscurecer o suficiente.
Sons acima disseram que Gareth se tinha levantado. Ela enxugou as mãos e colocou a tela no pequeno cavalete para secar. Novamente os novos materiais prendiam sua atenção. Se ela lhe falasse sobre aquelas pinturas armazenadas, ele a deixaria usar alguma?
Ela recuou-se a abordar o assunto. A não ser por mentir para ele, ela não poderia evitar uma confissão se ela levantasse o assunto. Seu comportamento só poderia fazê-lo pensar menos dela. Assumiu que era uma senhora, uma mulher boa e honesta. Não um ladrão que levou cadeiras para vender e pinturas para copiar. Não era o tipo de pessoa que se negava a lhe contar sobre aquelas pinturas naquele sótão, porque esperava encontrar uma maneira de levar mais algumas no futuro.
Mesmo admitindo as cópias isso a constrangeria. Ele tinha elogiado suas paisagens. Ela não queria dizer a ele que ela tinha usado seus pequenos talentos nos últimos dois anos, principalmente na reprodução servil da arte de outros pintores. Isso seria como descobrir que uma grande inteligência apenas repetiu observações inteligentes que outras pessoas verdadeiramente interessantes disseram primeiro.
– Você piorou as coisas.
Ela olhou para ver Gareth a cinco metros de distância. Ele usava um colete sobre sua camisa e sem gravata. Ele olhou para a paisagem fantasmagórica em seu cavalete.
– Estava arruinado, e agora eu posso reutilizar a tela. Eu tenho planos para isso. – Ela colocou a garrafa de terebintina de volta em sua caixa de pintura e fechou a tampa.
– Grandes planos...
Ele queria dizer os novos suprimentos. Essas telas são para outras coisas, como copiar as pinturas em sua coleção.
– Quando você espera que sua irmã volte para casa? – Ele disse.
– Se você perguntar porque você se preocupa por que estou só...
– Eu preferiria que você estivesse sozinha. Eu poderia ficar todas as noites então. Se você permitir.
Será que ela permitiria? A pergunta não dita permanecia ali, à espera de uma resposta. Não a do seu coração. Aquele gritou sua alegre afirmação. O resto dela se conteve, tentando não ser influenciada pelo poder sensual de sua presença. Pense. Você deve pensar, mesmo se você não quiser.
– Eu não espero que ela volte antes do próximo sábado, a menos que algo mude.
Ele apontou para suas novas telas.
– Preciso ir a Derbyshire amanhã, mas depois vou para Londres. Você poderia vir comigo. Você poderia ver a arte lá, e os outros lugares. As pessoas terão começado a chegar para a temporada, então os parques devem estar animados.
Ela nunca estivera em Londres, mas sua imaginação a tinha construído em sua cabeça muitas vezes. Maior do que Birmingham, e melhor em todos os sentidos. Grandes parques cheios de carruagens e pessoas na moda. Milhares de lojas. Edifícios magníficos. E, sim, arte em todos os lugares. A melhor arte feita pelos melhores artistas.
– Eu não tenho um guarda-roupa para ir a Londres, – ela apontou.
– Vamos encontrar uma maneira de você poder ir.
Seu cabelo bagunçado emoldurou seu rosto incrível, deixando algumas mechas atraentes sobre sua sobrancelha. Os olhos sob aquela testa capturaram sua atenção. Eles refletiam charme e diversão, mas também sua intensidade sensual. Eram os olhos de um trapaceiro, mas ainda conservavam as alegres e diabólicas luzes que se veem nos olhos de meninos malcriados.
Pense. Você deve pensar antes que já não importa se você o fizer.
—Espero que não esteja oferecendo-me um guarda-roupa. Eu nunca poderia aceitar isso. – Ela se levantou e se virou para as escadas. – Nem eu poderia visitar Londres sem Rebecca. Ela sonhou em ir por tanto tempo, você vê. – Isso a matou por ter que dizer isso. A comida mais deliciosa tinha acabado de passar sob seu nariz, mas ela não podia comer.
– Ela pode vir também. Escreva para ela hoje. Convide sua prima também. Ela será sua acompanhante. Então ninguém levantará uma palavra ruim sobre isso.
Ele a assombrou.
– Sarah realmente será uma acompanhante se ela vier. Ela não tomaria seu dever levemente.
– Não é minha intenção seduzi-la em Londres, se é isso que você pensa, Eva. Estou apenas planejando a diversão que prometi quando nos conhecemos.
– Você concorda, então, que quando formos para Londres este caso vai acabar?
– Se é isso que você quer, claro. Se você não tem expectativas de mim, eu dificilmente posso exigir isso de você.
Muito verdadeiro. Muito sensível. Ela se perguntou se outra pessoa no mundo teria uma visão desapaixonada dos negócios entre homens e mulheres como Gareth.
– Vou escrever e perguntar a ela, mas não sei se seu marido...
– Ele pode vir também. Diga-lhe que vou apresentá-lo a algumas pessoas com quem ele vai apreciar se reunir. Tranquilize seu primo que não haverá necessidade de encontrar quartos em um hotel. Vocês vão ficar na Langley House.
– Langley House?
– A casa do meu pai em Londres. Agora do meu irmão. Residência do duque de Aylesbury.
Ela olhou para ele.
– Então, está resolvido. – Ele sorriu com contentamento beatífico, e vagueou para fora.
Capítulo 15
Gareth montou de volta para Albany Lodge depois do café e começou a escrever uma carta para Ives, informando-o da próxima conversa que ele pretendia realizar em Derbyshire. Ele também mencionou que tinha tomado a decisão presunçosa de convidar alguns amigos a Londres para ficar na casa da família por uma quinzena. Não uma semana, como Eva assumiu.
No jardim, Erasmo e Harold trabalhavam na parede. Ele se juntou a eles e arregaçou as mangas da camisa.
–Qualquer palavra do magistrado, senhor? –Perguntou Erasmo.
–Ainda não, mas ainda é cedo. –Ele levantou uma das grandes pedras.
–Ele não encontrou nada para ajudar?
–Não na casa. Quem quer que fosse, não deixou nada para trás para apontar para ele.
–A aldeia está toda alvoroçada sobre isso. Foi tudo o que se ouvia esta manhã.
–Não fale mais sobre isso, –disse Harold. –Nós não queremos que cada tolo em cinquenta milhas saiba que há mulheres que vivem lá por conta própria, não é?
Erasmo fez uma pausa com uma pedra no meio do caminho levantada.
–Eu nunca tinha pensado nisso.
–Você nunca pensa muito em tudo antes de ir abanando seus lábios, esse é o problema –disse Harold.
–Se alguém voltar, não se esqueça de me avisar –disse Gareth. –Essa é a única chance do magistrado de encontrar os culpados. Se alguém que sabe algo falar.
Após uma tarde terminando a parede com Erasmo e Harold, mandou-os para fora que trouxeram água para um banho. Passou meia hora na água, definindo o plano dos quartos de Langley House, decidindo qual deles iria proporcionar privacidade e discrição.
Ele andava de volta para a casa de Eva no final da tarde. Ao se aproximar da propriedade, o crack inconfundível de uma pistola dividiu o ar. Ele chutou seu cavalo a galope e voou para baixo da pista e até sua porta.
Nenhum outro cavalo estava amarrado fora. Silêncio derramava para fora da casa. Amaldiçoando a si mesmo, ele chutou a porta e chamou por ela. Mais silêncio.
Ele caminhou até a parte de trás da casa e olhou para fora da janela e xingou novamente, desta vez a ela. Eva estava sentada num banco de pedra, carregando a pistola. Mesmo a partir da janela, ele poderia dizer que ela tinha perdido a placa grande novamente com aquele último tiro.
Merda. Ele tinha dito para ela não fazer isso sozinha, sem sua supervisão.
Ela se levantou e fez pontaria. Orgulhosa. Direta. Determinada. Ele viu seu rosto. Corada. Olhos brilhantes.
Ele conhecia aquele olhar. Aparentemente, usar uma pistola excitava Srta. Russel.
Ela não tinha nenhum desejo de ferir ninguém. A própria ideia a aterrorizava. No entanto, enquanto ela segurava a pistola e apontava, ela não podia negar a satisfação visceral que ela pegou do seu potencial mortal. O contraste com o que ela experimentou naquela noite enquanto corria pela estrada, era inebriante.
Ela apontou o melhor possível, em seguida, puxou o gatilho. O som, familiar agora, assaltou seus ouvidos. Ela imediatamente olhou para os grandes pontos pretos, onde suas tentativas anteriores tinham batido. Nenhum novo ponto pode ser visto. Só então ela olha para o quadro e ver o buraco na mesma.
Exultante com seu progresso, ela se sentou e começou a carregar novamente.
Uma sombra caiu sobre seu colo. Uma mão se aproximou dela, detendo-a. Ela olhou para Gareth. Ele não parecia feliz. Sua expressão severa fazia seu interior apertar em antecipação à noite. Gareth com raiva parecia-se muito com Gareth à luz das velas, enquanto ele se movia dentro dela.
–Eu acertei. –Ela apontou para ele, muito satisfeita consigo mesma.
–Eu lhe disse para não usar a pistola, a menos que eu estivesse aqui.
–Sim, mas você estava fora e a pistola estava aqui, então eu...
–Você poderia ter-se machucado.
–Só que eu não o fiz. Lembrei-me apenas como fazê-lo, do jeito que você me ensinou.
–Você me desobedeceu e você quebrou sua promessa. –Ele apenas ficou lá, de braços cruzados, olhando-a severamente.
–Eu esqueci a promessa. Eu nem me lembro de fazê-la. E, olhe, eu acertei.
Ele olhou para ela.
–Então você fez. Isso não é desculpa para você, mas acho que não posso colocá-la sobre o meu joelho do jeito que eu pretendia.
Virou-a –Que noção! Só a sugestão era –Ela fez um esgar. Deus, ela nunca esperara que tal ameaça causasse aquela reação.
Ele se sentou ao seu lado no banco, como se quisesse fazê-lo. Ele pegou a pistola dela.
–Você parecia muito confiante com ela.
–Muito mais do que ontem. Isso me assustou, então.
–E agora?
–No começo sim, mas quando eu segurei, eu gostei mais do que pode ser sábio. –Ele se sentou perto dela, mas não perto o suficiente. Ela sentiu o cheiro de sabão. Ele olhou para o horizonte, e ela olhou para o seu perfil. Ela desejou que ele se virasse para que ela pudesse beijá-lo.
–Como você gostou disto? O que você quer dizer?
Ela tentou articular a emoção que tinha experimentado, mas atualmente a antecipação do que esperava em seu quarto não permitia muitos pensamentos.
–Tornei-me mais forte.
–Você se sentia poderosa.
–Sim, de uma forma muito emocionante. Viva e forte e poderosa.
Ele olhou para ela.
–Será que isso dá prazer?
Outra noção surpreendente, no entanto, algo parecido com prazer tinha colorido sua reação. Sensações muito parecidas com as sexuais acompanhavam o poder.
Elas voltaram agora, e fundiram-se com a excitação ronronando que Gareth incitava. Olhando em seus olhos, ela poderia dizer que ele também estava excitado. Ele tinha ficado quando ele entrou no jardim.
Seus olhares se encontraram em um longo, emocionante e silencioso acordo. Ela olhou para a casa, em seguida, olhou para ele.
–Não há ninguém perto, –disse ele. –Você pode estar vivo e forte e poderoso aqui mesmo.
Ela assentiu com a cabeça. Ela não queria esperar. Ela já nadava no prazer. Ela jogou os braços em volta do pescoço e beijou-o com força. Ela pressionou os seios contra ele, em seu peito. O beijo tornou-se duro e faminto entre eles.
Ele se levantou e tomou seu braço.
–De joelhos, Eva.
Ela não entendia, mas ela deslizou para fora do banco de joelhos na frente dele.
–Levante sua saia.
Ela obedeceu, mas levou algum tempo. Ela levantou-a acima dos joelhos, em seguida, mais ainda.
–Agora, a camisa também.
Ela puxou-a para cima do monte de pano agora em sua cintura. O ar frio da tarde fluiu em torno de seus quadris e coxas. Ela se divertia com o quão ruim ela estava sendo.
Ele deu um passo para trás. Ele olhou para a sua nudez. No seu monte e coxas. O calor em seu olhar, a firmeza de sua mandíbula dizia que o desejo o torturava tanto como a ela.
–Sua sensualidade é poder, também, Eva. Ter prazer é parte disso. Agora eu faria qualquer coisa para ter você. Qualquer coisa. –Ele olhou nos olhos dela. –Você entende?
Ela entendia, pensou. Na maioria. Ela sabia que ele queria dizer sobre o poder, pelo menos. Ela se emocionou, por ele a querer tanto. Isso também despertou seu desejo insuportavelmente.
–Você não precisa fazer nada para me ter, apenas me levar Gareth.
Ele deu um passo em torno dela. Ela olhou para trás para vê-lo ajoelhado atrás dela. Ele se inclinou para a frente até que ela descansou nos braços e joelhos, e ele empurrou sua saia e camisa mais ainda, até seu traseiro estar totalmente descoberto.
Uma pausa então. Ela pensou que ela iria gritar com impaciência. Esperar aumentava a sua própria tortura erótica. Finalmente, ele acariciou–a duas vezes, não mais. Entrou nela em um impulso lento que a encheu completamente. Um gemido quase inaudível de prazer acompanhou o impulso.
Outra pausa, com ele dentro dela, enchendo-a como nunca antes. Carícias alisando sua parte inferior. Ele ajustou a posição de suas pernas, em seguida, delicadamente apertou suas costas para que ela se abaixasse na grama.
–Você deve-me deixar saber se eu te machucar.
Ela logo entendeu o que ele quis dizer. Isso foi diferente, feral, primitivo. Ele empurrou de novo e de novo, profundamente e duro, até que parecia seu próprio útero se tornara vivo. Ela sabia que o prazer era de forma diferente também. Mais poderoso. Mais confiante. Sim, pensou cada vez que ele acariciou dentro dela. Sim, quando o prazer se acelerou em torno deles, com uma profundidade que a atormentou a querer mais e mais. Sim, até a violência febril do fim, quando as ondas de libertação feitas de êxtase brilharam através de seu corpo inteiro.
Eva estava amarrando seu chapéu. Ela calçou as luvas. Ela levantou o caderno de esboços com capa de couro e colocou-o debaixo do braço. Decidida de que ela parecia tão apresentável quanto possível, ela deixou sua casa para fazer sua primeira visita social nos últimos anos.
Ela parou em Langdon’s End para enviar suas cartas a Rebecca e Sarah. Ela deveria receber uma resposta até ao dia seguinte, o mais tardar. Ela confiava que Sarah iria encontrar uma maneira de convencer Wesley a deixá-la acompanhar suas primas a Londres. Não era o tipo de tratamento que uma mulher como Sarah levaria bem se fosse negado.
Gareth tinha deixado sua cama antes do amanhecer de hoje. Ele estaria na estrada agora, em seu caminho para o norte para a reunião que ele teria. Um dia, provavelmente. Dois no máximo, ele tinha dito, enquanto ele fez um muito doce adeus deixando-a louca três vezes em rápida sucessão, primeiro com a mão, em seguida, sua boca, então com a sua vara. Ela mal tinha encontrado forças para vê-lo sair. Nostalgia tinha tingido sua separação real. Quando ele voltasse fariam a viagem a Londres. Esta manhã, no escuro antes do amanhecer, seu caso tinha terminado.
Inevitável, isso. Continuar teria sido arriscado. Tristeza tocou seu coração quando pensava nisso, aliviado somente pelo conhecimento que eles iriam continuar como amigos. Amigos especiais, que tinham compartilhado uma intimidade que alguns amigos já tinham.
Ela sorriu para si mesma agora, enquanto ela andava pelas ruas, cumprimentando as pessoas que tinha conhecido toda a sua vida. Eles podiam agora ver como ela tinha mudado? Sentia-se tão diferente que ela se perguntou se iria reconhecer-se como a mesma de um mês atrás, se ela se visse de passagem.
Ela apresentou-se na casa das irmãs Neville. Sua criada tomou o seu cartão, um dos cinco que ela tinha (ter novos cartões feitos imediatamente, para que eles estivessem prontos para Londres, ela observou em sua lista mental de coisas a fazer). A mulher voltou e a escoltou de volta para a biblioteca.
Jasmine e Ophelia esperavam por ela, sentadas nos exatos mesmos pontos como a última vez que ela tinha vindo. Ophelia pareceu ter prazer em vê-la. Jasmine olhou-a com curiosidade.
–Estou impressionada de vê-la fora de casa, –Jasmine disse após breves cumprimentos que tinham sido dispensados. –Nós ouvimos sobre o seu calvário. A maioria das mulheres teria ficado em suas camas por uma semana.
Eva engoliu a tentação de fazer uma piada sobre o quanto ela tinha desfrutado da sua cama nas últimas duas noites.
–Foi um choque, é claro, mas eu não fui magoada, então está tudo bem.
–Diz-se que Mr. Fitzallen enviou o caso para o juiz.
–Ele é meu vizinho mais próximo, e teve a gentileza de me ajudar. Ele provou ser um bom amigo.
–Que sorte para você. –O tom de Jasmine e as sobrancelhas levantadas implicavam algo, mesmo que seu rosto nada apresentasse.
–De fato, –Ophelia concordou. –Que sorte, também, que Rebecca não voltasse com você. Eu odeio pensar o que uma cena assim teria feito a ela. Os jovens são tão facilmente impressionáveis. Ela poderia ter-se tornado temerosa de cada rangido de uma tábua de chão.
–Rebecca é muito corajosa para se transformar em um rato de repente, –disse Jasmine. –Não assuma que toda a gente tem a sua personalidade, irmã. Eu continuo dizendo que, em relação ao bem, assim como as falhas.
–Estou muito consciente disso. Você, por exemplo, não tem muito de mim em tudo, e nós somos irmãs.
–Eu certamente não tenho a sua tendência para fraquezas femininas, eu estou feliz em dizer.
–Eu não acho que ser mulher seja uma falha. Se o fizer, que é uma maneira em que as nossas personalidades não se alinham.
–Eu estou esperando que Rebecca não vá ficar muito alarmada quando ela ouvir o que aconteceu –disse Eva, lembrando-lhes de sua presença. Ela gostava de uma boa discussão, tanto quanto qualquer um, mas a visita de hoje tinha uma outra finalidade.
Chá, por exemplo. A criada trouxe-o e todos os complementos. Eva considerou se ela poderia usar parte do dinheiro do Sr. Stevenson para comprar um pouco para ela própria, se tudo corresse bem hoje.
–O que você tem aí? –Os olhos de Jasmine estreitaram-se no caderno de esboços de couro que Eva tinha pousado a seus pés.
Eva não podia acreditar na sua sorte, que Jasmine tinha virado o tema para arte.
–É o meu velho caderno de esboços. Eu estou indo passear ao longo do lago e escolher um uma vista para uma pintura, e em seguida, fazer alguns primeiros esboços.
–Rebecca nos disse que você desenha. Você é boa?
–Eu admito que tenho um talento medíocre, mas eu gosto.
–Estou certa de que você está sendo modesta –Ophelia disse suavemente.
Jasmine estendeu a mão.
–Aqui. Deixe-nos ver.
Deixar Jasmine ver o caderno de esboços não fazia parte do plano. Não só os desenhos revelavam sua vida desde quando ela esboçou frequentemente, também documentavam o quão pouco ela tinha feito durante os dois últimos anos.
–Ele não é destinado para visualização, –disse ela. –Um caderno de esboços é muito parecido com um diário, e cheio de pensamentos privados.
–Ele é cheio de imagens, não palavras. Se você não pode suportar o pensamento de qualquer um que vê seu trabalho, você nunca será bem-sucedida como artista, –disse Jasmine.
–Srta. Russell não quer que você olhe em seu caderno de esboços, Jasmine –Ophelia disse com exasperação. –Nem disse que ela procura sucesso como artista. Ela desenha porque ela gosta do que faz.
–Ela diz que não quer o sucesso, porque dizem a todas as mulheres que elas não querem isso. É produzido em nós não ter nenhuma ambição. Ela pode ser um talento brilhante, não um medíocre, e nem mesmo estar ciente disso. Como ela poderia saber?
Ao invés de abrir uma nova discussão, Ophelia aceitou a opinião de Jasmine. Ela olhou para Eva.
–Não mostre se você não quer. No entanto, minha irmã está muito bem informada sobre a arte. Ela tem muitos amigos artistas, alguns deles famosos. Se você tem um talento brilhante, ela poderia identificá-lo.
Vendo uma abertura, Eva incisivamente olhou em volta paredes da biblioteca.
–Você escolheu as fotos aqui, senhorita Neville?
–Eu fiz. Algumas. Meu pai e seu pai compraram muitas delas.
–Eu ouvi dizer que os estudantes de arte são encorajados a copiar os seus superiores. Pergunto-me se isso iria ajudar-me a melhorar.
–Isso depende se você ainda pode melhorar. Não há nenhum ponto em copiar a grande arte, se você não pode até mesmo desenhar decentemente, por exemplo.
Eva olhou para baixo em seu caderno de esboços. Ela esperava que as irmãs Neville fossem abrir sua casa e arte para ela tanto quanto tinham aberto sua biblioteca para Rebecca. Ela não esperava ter que provar-se digna, como se ela estivesse concorrendo para uma posição como pintora de retratos.
Ela levantou o caderno de esboços.
–Eu acho que desenho muito bem. Você pode decidir por si mesmo. –Ela entregou a Jasmine.
Jasmine abriu o livro no colo. Ophelia foi sentar-se ao lado dela. De sua cadeira, Eva podia ver as páginas que elas viram.
Jasmine rapidamente passou as páginas dos primeiros esboços, os infantis feitos há muitos anos. Ela parou exatamente onde ela devia, no entanto; no primeiro esboço feito quando Eva estava mais madura e confiante.
Lentamente, as folhas foram viradas. Os pontos de vista, as flores, a enxurrada de cavalos a partir dos dois anos, quando eles a encantaram. Tinha sido um longo tempo desde que ela tinha tomado a tempo para os rever ela mesma, então ela olhou-os quase tão objetiva quanto as irmãs fizeram.
Outra pausa. Uma longa. Jasmim e Ophelia olharam com grande interesse, um retrato feito a lápis. O coração de Eva caiu. Era um desenho que havia feito de Charles em uma despreocupada tarde de verão no jardim.
Ele parecia mais jovial em sua imagem do que em suas memórias. Ele nunca usava a gravata frouxamente amarrada assim. Seu cabelo loiro quase nunca se desalinhou na brisa.
–Eu não o reconheço, –disse Jasmine.
–Ele deixou Langdon’s End antes de vocês chegarem. Mais de cinco anos atrás.
–Para onde ele foi? –Perguntou Ophelia.
–América.
–Só depois que a guerra estúpida terminou. A idiotice pura, –Jasmine murmurou. –Lutar contra os franceses e os americanos, ao mesmo tempo. Se eu pudesse votar, eu nunca votaria Tory novamente.
Ophelia olhou para cima, diretamente nos olhos de Eva. Seu olhar comunicou uma compreensão especial, e simpatia. A irmã mais nova tinha visto mais no desenho do que Eva percebeu que estava lá.
Jasmine folheou o caderno até ao fim - os desenhos se tornaram menos ambiciosos e limitados a pequenos pontos de vista da sua própria propriedade, durante os anos que esteve cuidando de seu irmão. Também menos frequentes, até que, um dia, o caderno de esboços tinha ficado na gaveta por um ano inteiro sem ser tocado.
–Meu Deus, quem são estes?
Uma dispersão de edifícios cobriam as duas páginas abertas no colo de Jasmine.
Nostalgia agarrou o coração de Eva.
–Esses não são meus. Meu irmão, enquanto doente, distraiu-se por alguns dias. Esses pontos de vista peculiares foram o resultado. Ele logo perdeu o interesse.
–Talvez ele assumisse que, se você poderia fazê-lo, é claro que ele poderia também. O talento não foi executado na família, no entanto. –Ela rapidamente mudou-se.
–Médio, como você diz. –Jasmine fechou o livro quando nada além de páginas brancas mostrou. –Não irremediavelmente assim. Bons, no entanto. Se você viveu aqui toda a sua vida, você teve poucas oportunidades de ver realmente boa arte, assim, como você poderia aprender? Acho que devemos convidar Srta. Russell para fazer uso das nossas pinturas, irmã, para que ela possa tentar sua mão em alguns exemplares e aprender. Há tomos com gravuras, também, Srta. Russel. Eles reproduzem os melhores exemplos de arte. Não as cores, é claro, mas você vai aprender muito ao estudar as composições.
–Você é muito generosa. Minha irmã e eu vamos estar fazendo uma visita a Londres muito em breve, e eu vou ter a oportunidade de ver os mestres lá, mas isso não é o mesmo que ser autorizada a tomar o tempo para realmente estudá-los.
–Londres! Você está dando a Rebecca uma temporada? –Perguntou Ophelia.
–Isso está além dos nossos meios. No entanto, vamos fazer uma viagem com minha prima e seu marido. Eles vivem em Birmingham. É aí que Rebecca está.
–Melhor esperar até o outono, –disse Jasmine. –Em breve a cidade estará cheio de jovens, e uma vez que virem Rebecca, você vai-se arrepender de a ter levado. Ora, todo o grupo de vocês vai ser um pouco melhor do que os ratos que dão uma volta através de um campo cheio de gatos selvagens.
Ophelia olhou para sua irmã, em seguida, chamou a atenção de Eva.
–Estou certo de que minha irmã vai dar-lhe algumas cartas de apresentação para os artistas. Não vai, Jasmine?
–Acho que eu vou, por isso a minha irmã não está de mau humor, –disse Jasmine.
–Eu invejo você, Srta. Russell–disse Ophelia. –Eu sempre gostei da cidade durante a temporada.
–Você certamente o fez. –A voz de Jasmine pingava com insinuações.
Eva bebeu seu chá.
Capítulo 16
Muitas das investigações de Gareth a Derbyshire haviam ocorrido através do correio. Durante o jantar em Chatsworth durante a visita de Gareth, o secretário especial do duque, o Sr. Montley, forneceu alguns detalhes até então desconhecidos. A informação mais interessante tinha sido o nome da empresa de transporte contratada para trazer todas essas pinturas ao norte, Underhill Ramsgate.
Uma consulta do termo Underhill produziu os nomes dos carroceiros que dirigiam os carros. Registros guardados de Underhill, à boa maneira Inglesa, e ainda teve as cidades e paróquias dos homens. Alguma pesquisa a mais e Gareth tinha os locais de dois deles.
Ele entrou na aldeia de Bellestream para responder a uma chamada de Mr. Ogden, que se tinha mudado para o norte para viver em uma antiga propriedade da família, após um pontapé de um boi ter quebrado uma de suas pernas dois anos antes, terminando seus dias de condutor para sempre. A propriedade consistia em uma pequena casa de campo em um pedaço de terra, na borda da aldeia. O solo que bordejava o caminho mostrava o renascimento do jardim.
Sr. Ogden veio até a porta e olhou para Gareth com curiosidade e desconfiança. Completamente careca, mas com sobrancelhas grossas sobre olhos pequenos, Ogden parecia um homem saudável de grossura considerável que o colete lutava para conter. O boi que o levou deve ter sido muito valente.
Gareth entregou o cartão e Ogden passou um longo tempo olhando para ele antes de o convidar a entrar. Ogden mancou até uma sala próxima e se instalou em uma cadeira em uma sala de estar cheia de padrões e babados. Ogden olhou ao redor como se ele nunca tivesse visto o local antes e de repente percebeu o quão fora de lugar ele parecia.
–Minha tia viveu aqui até que ela morreu –disse ele com um sorriso. Dois de seus dentes estavam faltando. –Meus dias com as rédeas se foram, então eu mudei para cá.
–É dos seus dias nas rédeas que eu quero falar. Fui enviado por um agente do Parlamento para ajudar um inquérito pelos Senhores.
–A Casa dos Lordes o enviou? Bem, agora, isso explica a estranheza de um cavalheiro aparecendo na minha casa. Estão os senhores olhando para o estado lastimável das estradas? Eu posso dobrar sua orelha um bom tempo nisso.
–Eu vou informá-los sobre a sua vontade e capacidade para dar informações sobre as estradas. Neste momento, no entanto, o pedido diz respeito ao transporte de um grande número de caixas pela empresa Underhill cerca de vinte anos atrás. Eles me informaram que você era um dos carroceiros. Esta jornada começou perto Ramsgate na propriedade de um dos senhores, e terminou em Derbyshire na propriedade de outro. Havia cinco vagões.
Uma mão de Ogden desceu duro em seu joelho.
–Lembro-me bem. Engradados inábeis, todos os tamanhos diferentes. Fomos avisados que seríamos arrastados e esquartejados se abríssemos qualquer um, como se depois de se sentar em uma tábua todo o dia eu fosse querer intrometer-me com a carga. Lotes de ameaças não eram comuns, e advertências para não flertar, ou desviar, ou deixar os vagões. Tivemos que dormir ali com as caixas, e nos revezar para ir mijar.
–Será que alguém perguntou sobre a carga, quer antes de sair ou ao longo do caminho?
–Levantou algum interesse, sim. Obrigatório quando cinco grandes vagões iam estrada abaixo em uma linha. Uma vez que não sabíamos de nada, não tínhamos nada para falar e fomos embora.
–Será que você não adivinhou? O tamanho e a forma dessas caixas deve ter inspirado algumas especulações para um homem experiente como você.
Ogden sorriu.
–Se é o meu pensamento que você quer... Eles me fizeram lembrar do tempo que transportei um enorme espelho da costa até Londres. O tipo especial, como reis têm em seus palácios, e não algum metal polido ou coisa pequena curva. Grande e plano, e tão alto quanto um salão de baile, e em caixotes muito parecidos com o que eu dirigi nessa viagem. Então eu disse a mim mesmo, talvez esta seja uma carga de espelhos, todos os tamanhos diferentes, que o Senhor quer para a sua mansão. –Ele levantou as sobrancelhas com expectativa, esperando para saber se ele estava correto.
–Você foi muito inteligente, e muito próximo. –Parecia puro, e quase plausível, a não ser que não fazia sentido. Quem iria transportar cinco vagões de madeira olhando espelhos sob sigilo? Ele saiu-se com muita facilidade, também, como se Ogden tivesse preparado a resposta, em antecipação, ao ser perguntado sobre isso um dia.
–Devo fazer algumas perguntas pontiagudas agora. Seria bom se você respondesse diretamente e simplesmente. Você não vai estar em qualquer problema se a resposta não é o que pode ser considerado o correto. Você entende?
Ogden assentiu.
–Você, de fato, ficou com os vagões todo o caminho? Você não foi a qualquer parte momento, longe dos outros?
–Como eu disse, quando eu tive que mijar.
–Mais do que isso.
Ogden riu.
–Bem, às vezes eu tinha que fazer mais do que mijo, senhor.
–Claro. Mais ainda. Tempo suficiente para alguém ter, de alguma forma, feito algum esquema em relação a esta carga.
Ele balançou sua cabeça.
–Não é possível. –Sua mão esfregou o joelho.
Gareth esperou. Ogden contorceu.
–Bem, a não ser uma noite... –Ele murmurou. –Eu não saí do meu posto, você entende. Um dos outros foi para uma taberna para um pouco de cerveja e voltou com um agradável barril, e eu gostei da minha parte, por assim dizer. Eu rastejei debaixo da minha carroça para dormir. Morto para o mundo, eu estava. Todos nós estávamos, eu suponho, até bem depois do amanhecer.
E lá estava ele, o elo quebrado na cadeia de sigilo, subterfúgios e planos cuidadosos. Um barril de cerveja tinha desfeito tudo, e agora não havia nenhuma maneira de saber se as caixas que chegaram em Derbyshire ainda tinham as pinturas em si.
Um desses senhores deveria ter ido junto com os vagões, ou enviado um homem de confiança com estes carroceiros. Provavelmente todos os dias nas estradas poeirentas juntamente com bois não ocorreria a qualquer um dos senhores, para que todos eles se convenceram de que era desnecessário, e proporcionar ameaças era suficiente.
Este pequeno inquérito de Ives acabara de se tornar mais difícil.
–Os outros carroceiros, Sr. Ogden, eram eles seus amigos?
–Nós nos demos muito bem depois de um dia ou assim, mas eu era o homem de fora. Underhill empregava todos os outros. Eu fui trazido de Margate porque ele precisava de um homem extra. Ele me manteve, então ele deve ter gostado de mim.
Gareth não tinha mais nada para perguntar. Levantou-se para se despedir, e Ogden mancando ao longo de costas para a porta.
–O que era naqueles engradados, se posso perguntar, senhor?
–Pinturas.
O rosto de Ogden caiu em surpresa.
–Você não diz. Eu vou ser condenado. Tudo o que o problema para um monte de pinturas.
–Incrível, não é?
Ogden sacudiu a cabeça com espanto. Gareth voltou para o seu cavalo, não acreditando por um segundo que Ogden tivesse sido ignorante do conteúdo das caixas.
–Isso é uma surpresa, –disse Gareth quando ele entrou em sua biblioteca em Albany Lodge e encontrou Ives sentado lá.
–Eu tinha a esperança de chegar antes que você fosse para o norte para ver o carroceiro, para que eu pudesse acompanhá-lo. Quando eu descobri que você já tinha saído, eu decidi esperar aqui.
Gareth colocou brandy para ambos, em seguida, sentou-se e disse a Ives sobre seu encontro com Ogden. Ives não ficou satisfeito ao ouvir sobre esse barril de cerveja.
–Inferno.
–Sim.
Ives contemplado por um momento, a testa sem sulcos, mas seus olhos encapuzados.
–A mudança não pode ser descartada, mas seria um esquema mais elaborado, planejado com antecedência por alguém que sabia tudo. E dependente desses homens ficarem tão bêbados que dormissem todo o tempo. Eu não gosto dessa possibilidade estar lá, mas eu acho que é improvável.
–Eu estou supondo que um ou mais deles eram parte do plano, e que o barril não foi um acidente. Se Underhill os empregava, eles podem ter ouvido algo muito antes de eles pegaram essas rédeas. Não é tão improvável, então.
–Quando você vier para a cidade, vamos montar para fora para Ramsgate e falar com Underhill. Agora que você abriu esta nova frente na guerra, temos de ver o onde nos leva. Quando você vai estar na cidade?
–Eu pretendo começar a sair depois de amanhã.
Ives olhou para seu conhaque.
–E quando seus convidados chegam?
–No dia seguinte, eu espero.
Ives olhou com um sorriso pequeno, sabendo.
–Qual deles é você está a fim? A casada? Por favor, não me diga que é a jovem inocente. Mesmo nós temos os nossos padrões, e você sempre disse que as meninas o aborrecem.
–Não tenha medo, não tenho a intenção de lançar um escândalo em Langley House.
–Então, não é a jovem. Então?
Gareth fez uma careta para ele, irritado.
–A verdade é que eu estou perseguindo o marido. Wesley Rockport tem um negócio que está crescendo rapidamente. Ele está no ponto onde os homens começam a comprar cultura.
–Então você pretende longos passeios pela galeria em Langley House, para inculcar-lhe a necessidade de uma coleção.
–Não tenho a intenção de dizer uma palavra sobre isso. A galeria vai falar por si.
–Esteja ciente de que Lance e eu poderíamos estar na residência em algum do tempo que estão lá. Lance irrita-se com a rusticidade e pode insistir em vir para a cidade de novo.
–Vou mantê-los todos fora do seu caminho.
–Eu insisto em conhecê-los, especialmente se as senhoras são bonitas.
–De forma nenhuma, –Gareth disse friamente. –Elas são ambas bonitas o suficiente, mas não são seu estilo. Nem quero que o marido o desafie. Esses empresários não são como nós. Eles realmente amam suas esposas e reagem mal quando alguém tenta seduzi-las.
Ives levou a advertência a passo, mas a curiosidade baixou as pálpebras novamente.
–Devonshire deve estar chegando à cidade para a estação, eu espero, –disse Ives, mudando de assunto. –Certamente sua mãe vai estar lá, e seu irmão bastardo. Vou pedir a Prinny[7] para suavizar o caminho para nós para falar com os dois últimos.
–Se você está lá para fazê-lo, você não precisa de mim.
–Eu gostaria que você estivesse lá. Então podemos comparar nossas reações e percepções mais tarde. Eu gostaria de estar muito certo de novas investigações nesse sentido eram acordadas antes de começar com elas. –Ives levantou-se e espreguiçou-se. Ele olhou ao redor do quarto escassamente mobiliado. –Você tem uma cama extra aqui, não é?
–É sua, se você quiser.
–Porém, não há criados. Droga, eu deveria ter trazido um de Merrywood.
–Um criado vem uma vez por dia. Você terá que meter-se na cama só, mas ele irá atendê-lo na parte da manhã. Deve ter água suficiente lá em cima agora. Ele sempre traz água extra antes de sair.
Ives esfregou a mão no rosto, sentindo o crescimento áspero sombreando sua mandíbula.
–Ele pode-me barbear sem me cortar?
–Sim. Ao contrário de Percy, ele não procura tirar sangue sempre que tem uma arma afiada na mão.
Ives se acalmou. Sua mão caiu de seu rosto.
–Será que Lance lhe disse sobre isso?
–A satisfação presunçosa de Percy me disse.
Ives pegou sua mala e caminhou até a porta.
–Eu vou descobrir a cama extra agora. –Ele olhou para trás, por cima do ombro. –Você não perdeu muito para alguém que só víamos algumas vezes por ano, Gareth.
Londres Eva mal conteve sua excitação quando a carruagem passou a portagem final. Para fora da janela podia-se ver o último campo dando lugar à periferia da cidade.
Rebecca abraçou a porta do carro, com a cabeça pela janela para que ela não perdesse nada disso. Wesley e Sarah sentavam-se em frente no espaço apertado.
–Você acha que o duque vai estar lá? Residindo na casa, quero dizer. –Perguntou Sarah.
–Eu não sei.
–Eu acho que é seguro dizer que ele não vai estar lá quando nós estivermos. –Wesley falou o assunto com naturalidade, sem o menor ressentimento. Ele podia vestir-se como um cavalheiro e ter uma renda que excedia a de muitos deles, mas sua voz disse que ele sabia que duques não socializavam com ele, ou mesmo reconheciam um conhecido.
Tanto ele como Sarah pareciam esplêndidos. Sarah usava um elegante conjunto creme com guarnição azul da Prússia. O casaco de Wesley era impecável. Eles chegaram a Langdon’s End há dois dias para levar Rebecca e Eva a Londres em sua carruagem fina. Baús amarrados no teto continham uma boa quantidade do guarda-roupa de Sarah.
–Para todas nós, –Sarah tinha explicado. A criada de Sarah ia lá em cima, também, juntamente com o criado de Wesley.
Eles entraram em Londres em grande estilo. O carro abrandou e desceu ruas ladeadas por casas altas e lojas movimentadas. Os bairros eram cada vez mais finos e ricos, até que viraram para um com casas independentes de tamanho espantoso em frente a um grande parque. Mais uma vez, e eles pararam em uma casa de esquina que enchia a maioria de seu bloco.
–Oh, Eva, olhe. –Rebecca tinha-se movido da janela para Eva e Sarah poderem se espantar. Escadas exteriores curvas levavam até a porta principal, e quatro níveis acima daquele.
Wesley baixou a cabeça para olhar também.
–Você vai ficar estragada quando isto acabar, Sarah. Eu não serei capaz de mantê-la no estilo a que você se vai acostumar.
Sarah riu e deu um beijo em sua bochecha.
–Bem, agora, Wes, meu amor, você vai fazer isso por mim de outras maneiras.
O olhar que passou entre eles insinuava o que ocorria entre eles a portas fechadas. Eva se perguntou se ela teria notado isso há um mês...
Um pequeno exército de funcionários marchou para fora da porta. Lacaios ajudaram-nos a sair da carruagem, enquanto outros levavam as malas. Homens levaram as rédeas do cocheiro. Todos eles usavam libré[8].
Eva absorveu a atividade como uma série de imagens fascinantes. Ela inclinou a cabeça para trás para estudar a casa, em seguida, os entes próximos dela.
–Bem-vindo, Rockport. Vejo que você sobreviveu à viagem em um carro com três senhoras.
Sua cabeça se endireitou de súbito. Gareth estava a cinco pés de distância, saudando Wesley. Ele curvou-se para Sarah e Rebecca, e finalmente para ela. Quando todos eles caminharam para a casa, ele conseguiu ir a passo ao lado dela.
–Eu temo que nós possamos perder-nos aqui–ela disse com uma risada enquanto subiam os degraus de pedra.
–Você pode perder-se, mas a certeza, eu não vou.
Mais criados. Mais atividade. Um lacaio levou Wesley, afastando-se com seu criado arrastando atrás. A governanta, chamada Sra Summers, conduziu o resto deles até à longa escadaria, em seguida, novamente para o próximo nível para além desse.
Eles se aproximaram de um conjunto duplo de portas. Vozes masculinas podiam ser ouvidas nas proximidades. A Sra. Summers abriu as portas para revelar um apartamento de tamanho impressionante. Sarah mordeu o lábio inferior e tentou parecer indiferente, mas seus olhos se tornaram grandes e redondos.
–O Sr. Rockport está ao seu lado, –disse a Sra. Summers, inclinando a cabeça em direção a essas vozes. Ela atravessou a sala de estar ao lado, e uma porta na parede mais longe. –Este, senhorita, é para você, –ela disse para Rebecca, abrindo a porta para revelar um dormitório preparado para uma princesa.
Sarah e Rebecca estavam fora de si, com alegria mal controlada. Elas sussurravam uma para a outra enquanto apontavam para as cortinas, os estofos de seda, a magnífica secretária da sala de estar, e as vistas do jardim através da janela de trás.
–Sua empregada terá um quarto acima, –disse a Sra. Summers a Sarah. –Alguém virá buscá-la, depois que ela tiver tempo para a ajudar a instalar. –Ela virou-se para Eva. –Se você vier comigo agora, Srta. Russel.
Eva deixou o lindo apartamento na esteira da Sra. Summers. Após as escadas elas andaram. Desceram um corredor. Através de outro patamar para mais escadas. Para uma porta escondida em um canto. Não uma daquelas grandes portas duplas, também. Uma mais pequena e simples.
A Sra. Summers conduziu–a para dentro. Eva tinha um apartamento como Sarah. Talvez não fosse tão grande, mas tinha bela luz e um grupo de três grandes janelas em uma parede de onde se podia ver o parque.
–Me disseram que você gosta de desenhar, –Sra. Summers disse: –Eu pensei que a luz do Norte na sala de estar iria servir.
–Isso vai servir esplendidamente. Obrigada.
–Vou mandar uma mulher para ajudá-la. –Com isso, a Sra. Summers saiu.
Eva não esperou a criada. Ela desempacotou a sua valise, em seguida, serpenteava seu caminho de volta para os quartos de Sarah. Ela encontrou todos os seus companheiros de viagem apoiando-se no luxo em seus alojamentos.
–Onde você foi? –Perguntou Rebecca. –Você deve tentar minha cama. Basta deitar sobre ela. Você não vai acreditar a qualidade. Será como dormir em nuvens.
–Minhas próprias câmaras estão na outra extremidade deste andares. Você pode vir vê-las, mas vamos precisar de um novelo de lã para desenrolar, para que você possa encontrar o seu caminho de volta.
–Oh, –disse Sarah, seu entusiasmo diminuindo. –Espero que elas sejam tão boas como estas. Se não são, não vou ser capaz de me divertir tanto.
–Elas são perfeitamente encantadoras. Arejados e cheios de luz fria.
–Vamos usar esta sala de estar para reunir, –disse Sarah. –Vai pertencer a todos nós.
–Obrigado. Isso irá revelar-se conveniente. Caso contrário, eu nunca poderia vê-las. Meu apartamento é bastante fora do caminho.
Tão simpático de Gareth ter pedido à Sra. Summers que pusesse Eva em uma sala com tanta luz linda.
Tão simpático, e tão conveniente.
Capítulo 17
Por sugestão de Gareth, todos eles planejaram um passeio no parque durante a hora de moda. Sarah e Rebecca levaram mais de uma hora para se prepararem.
Eva esperou na sala de estar enquanto conversas e risos femininos se derramavam da câmara de Rebecca. Para além de ter a criada atribuída a arrumar o cabelo e vestir-lhe o seu melhor casaco de lã azul-claro, ela não tinha feito nenhum esforço especial. Quando sua irmã e prima saíram do quarto de dormir, a olharam criticamente, então partilharam um olhar significativamente compreensivo.
–Ah, eu esqueci alguma coisa, –disse Sarah, batendo a mão na testa. –Deixe-me pegar isso na minha câmara. –Ela correu para a porta do outro lado da sala de estar, abaixou-se, e voltou segurando um chapéu. Era o único que Eva tinha gostado na modista naquele dia, em Birmingham.
–Eu gostei tanto que eu comprei, –explicou Sarah. –No entanto, parece muito melhor em você, Eva. Por que não usá-lo hoje? A fita azul escura vai mesmo combinar bem com o seu casaco.
–Sim, Eva. Por que você não tomá-lo emprestado? –Rebecca incentivou.
Eva desatou seu próprio chapéu, e aceitou o que Sarah segurava. Isto era tudo um monte de preocupações para nada. Rebecca era a única a ser colocada em exposição para atrair um bom marido. Seus próprios planos visavam um caminho diferente dedicada à sua arte, não o matrimônio. Na verdade, a trabalhar a sério como artista requeria independência.
Quando ela verificou o chapéu no espelho, ela tinha que admitir que ficou muito bom. No reflexo ela também espionou o alívio de Rebecca ter sido comunicada a Sarah com outro olhar significativo...
A porta para a sala de estar abriu e Gareth e Wesley entraram.
–A França ou a Holanda? –Wesley estava perguntando. –A economia francesa ainda sofre com a guerra.
–Não há dinheiro suficiente lá, mas as indústrias se recuperaram, por isso pode realmente ser a melhor escolha. No entanto você mesmo deve ir e ver como as coisas se encontram.
Wesley voltou sua atenção para a sua esposa.
–Você está pronta Sarah?
–Não pareço pronta? –Sarah fez uma voltinha na ponta dos pés.
–Linda e encantadora, eu diria.
Eva concordava com o elogio. O conjunto de verdes e amarelos de Sarah combinava com seu cabelo vermelho. Ela usava um chapéu encantador inclinado por diante dos cachos cuidadosamente agrupados. O vestido de musselina de Rebecca com narcisos havia sido transformado por um casaco de amarelo narciso. O chapéu adequado à sua inocência e chamava a atenção para seu rosto adorável.
–Eu vou ser a inveja de cada homem no parque, –disse Wesley, oferecendo um braço à sua mulher e outro para Rebecca.
Um braço diferente apresentou-se a Eva.
–Não, eu vou ser –disse Gareth em seu ouvido.
–Eles são todos tão bonitos, –disse Eva. Ela movia a cabeça de um lado para o outro para ver as senhoras nas carruagens e ao longo do caminho.
Gareth mantinha o ritmo ao seu lado, na sequência de Wesley e dos outros. –Eles são mais ricos do que bonitos, –disse ele. –Um pouco de seda, um pouco de tinta, um vestido lisonjeiro, não vão muito longe para criar uma ilusão.
–Talvez, mas algumas dessas mulheres são inegavelmente bonitas por direito próprio, e você sabe disso.
–Cada mulher é, à sua maneira, Eva.
Ela sorriu com tristeza e balançou a cabeça.
–Você é um sedutor, Sr. Fitzallen. Não há como negar isso.
–Eu sou muito vaidoso para negá-lo. Vem naturalmente para mim. Quem dera que mais pessoas se esforçassem para ser encantadoras. Charme é o óleo na máquina da sociedade.
–Isso soa filosófico. Tome cuidado, ou vou chamar Rebecca para se juntar a nós e ela pode explicar o que cada sábio desde Platão disse sobre o assunto.
Mais à frente, a jovem senhora em questão estava virando um monte de cabeças no parque.
–Ela gasta tempo bastante com o Sr. Mansfield, quando está em Birmingham, para entorpecer seu interesse com seus discursos?
–Sarah teme-o. Minha irmã não é normalmente chata, então eu acho que é deliberado. Eu suspeito que quando encontra o poético Sr. Trenton ela não menciona Platão ou Rousseau de todo.
–Você vai casá-la dentro de um ano, tenho a certeza, a menos que ela tome uma aversão ao assunto.
–Espero que sim. Eu não gostaria que ela e eu nos tornássemos como as irmãs Neville. –Ela regalou–o com uma descrição das disputas das irmãs, imitando a voz retumbante da irmã mais velha e a minúscula da irmã mais nova, até que ambos riram com força suficiente para fazer mais discursos impossíveis.
–Quando Rebecca casar com o homem que você e Sarah escolherem, o que você vai fazer? –Ele perguntou, quando podia falar novamente.
–Tenho a intenção de melhorar a minha arte. Você disse que eu tinha talento, e Jasmine Neville concorda, mas eu tenho um monte de trabalho a fazer, e um monte de atraso para recuperar. Jasmine ainda me deu uma carta de apresentação a Maria Moser. Dá para acreditar? Escrevi para ela quando eu era uma menina, e ela ainda respondeu, então eu acho que ela é uma pessoa amável, mas eu ainda vou ficar nervosa.
–Uma de suas pinturas está pendurada na galeria em Langley House. Você pode estudá-lo e perguntar-lhe sobre isso.
–Você acha que eu posso estudar os outros também?
–Gaste tanto tempo lá como você queira. Esboce, se quiser. Vou dizer à governanta para destravar as portas se você pedir. Não é como se você estiver indo para roubar qualquer um deles.
Ela lhe deu um olhar peculiar, depois riu.
–Oh, meu Deus, claro que não.
–Desde que você prometa ser boa, vou ver sobre a obtenção de entrada para algumas outras coleções particulares.
Outro olhar estranho.
De repente, lá na frente, Rebecca congelou nos seus passos. Ela girou e correu de volta para Eva.
–Me esconda.
Eva pegou a mão de sua irmã.
–O que aconteceu?
–Ele está aqui. De toda a má sorte.
Gareth viu a origem do sofrimento de Rebecca. Ele cutucou Eva, e chamou sua atenção para Sarah e Wesley. Um homem tinha acabado de os cumprimentar, e eles agora conversavam com ele. Sr. Mansfield. Gareth duvidava que a chegada de Mansfield, em Londres tivesse sido uma coincidência.
–Você não pode ser rude –disse Eva. –Tenho a certeza que ele vai estar no seu caminho em um minuto.
Os seus passos levaram-nos para Sarah, que sorriu.
–Olha quem está na cidade, também, Rebecca.
Olhos baixos, Rebecca cumprimentou-o e fez uma pequena reverência.
–Foi muito ruim de Sarah fazê-lo vir, –Eva sussurrou. –Rebecca está bastante irritada, e eu não a culpo.
–Sua prima é tenaz, isto é certo.
Não só tenaz. Sarah começou a provar que ela podia ser como a maioria das mães da Sociedade quando era para juntar uma menina e um homem. De alguma forma, e Gareth viu como Sarah e seu marido andavam alguns passos à frente de Rebecca e Mansfield, e Eva e ele por sua vez, seguindo alguns passos atrás. O que deixou Rebecca sozinha para conversar com Mansfield.
Que, no seu ressentimento, ela não fez.
–Oh Deus, ela está muito, muito irritada, –Eva sussurrou.
–O parque é um prazer rústico na cidade, não é? –Disse Mansfield.
–Para aqueles que vivem na cidade eu suponho que é um prazer, –disse Rebecca. –Desde que eu vivo no campo, eu não aprecio tanto o descanso.
–Certamente, a natureza é sempre uma experiência refrescante e bem-vinda, –disse Mansfield. –Disseram-me que há poetas e filósofos que acreditam que sua contemplação pode levar a uma experiência transcendente.
Eva agarrou o braço de Gareth. Transcendente?
–Ele andou lendo –ele murmurou.
–Há, na verdade, –disse Rebecca, soando como uma professora. –É uma ideia antiga renascida recentemente. Ela teve vários períodos de popularidade, e deriva de filósofos neoplatônicos que primeiro escreveram logo após a queda de Roma. Um dos seus proponentes foi Dionísio, o Areopagita, cujas obras sobreviveram para acender um revivalismo durante o século XII...
Eva revirou os olhos. Gareth imitou-a deslizando um nó em seu pescoço e puxando a corda. Eva reprimiu uma risada até que seus olhos se encheram de lágrimas. Ela então fez os movimentos de carregar uma pistola com uma bola e pó e transformá-lo em si mesma.
Desfrutando do parque muito mais do que o pobre Sr. Mansfield, que se arrastou na esteira de Rebecca enquanto ela falava, dando a Mansfield uma lição mais detalhada sobre neoplatonismo ao longo dos séculos.
Eva lia um livro depois que ela se preparou para dormir. Ela antecipou apreciar o sono dos justos. Ela merecia algum benefício de ser boa hoje.
Caminhando com Gareth no parque tinha sido muito mais difícil do que ela esperava que fosse. Ela tinha sabido que o seu caso só poderia ser temporário, que a cada dia que continuasse aumentaria incalculáveis riscos para ela. Ela não sabia, no entanto, que o fim seria tão difícil. Quanto mais eles riam e brincavam como amigos hoje, menos ela o viu como um amigo.
Se ele tivesse tomado sua mão arrastando-a para longe, ela não tinha certeza se teria encontrado forças para resistir.
Não que ele tivesse feito algo próximo a isso, ou mesmo mostrado muita inclinação para fazê-lo. Oh, houve alguns sorrisos e olhares levemente coquetes, e algumas insinuações sobre sua paixão, mas, no geral, Gareth parecia ter engolido sua promessa e sua renovada “amizade” sem qualquer indigestão de todo.
Apesar de estar cansada, ela tentou se concentrar em seus pensamentos sobre seu livro. Ela temia que, quando ela escorregasse para a cama, um fantasma Gareth estaria lá também. Que o fantasma poderia invadir a sua mente e despertar seu corpo, e seduzi-la em pensar que qualquer risco valia a pena para abraçar o homem real novamente.
Uma batida tranquila em sua porta fê-la sobressaltar. Ela olhou para ela, e toda a expectativa que ela tinha conhecido com Gareth ficara no passado. Ela devia criticá-lo, é claro, por quebrar sua promessa. Ela devia mandá-lo embora. No entanto, o coração dela pedia para abrir a porta, e para ele vir e a puxar em seus braços e destruir seus argumentos e boas intenções com um beijo.
A porta se abriu uma polegada. Em seguida, outro, até que estava entreaberta. Ela agarrou o livro com tanta força que machucou sua mão.
Uma cabeça espreitou e olhou em volta.
–Eva?
Seu coração se afundou. Não era Gareth. Rebecca havia chegado.
Rebecca viu-a sentada na cadeira e entrou.
–Eu quase me perdi, mas lembrei-me do caminho depois de tudo. Eu queria vê-la só, sem Sarah.
Eva deu um tapinha na cama ao lado de sua cadeira. Rebecca sentou-se, e empurrou seu longo cabelo para trás sobre os ombros. Ela usava uma camisola, mas não bata ou xaile. Ela parecia ágil e inocente.
–Eu espero que você não esteja vindo para reclamar sobre o Sr. Mansfield, Rebecca. Sarah insiste que ela não providenciou para ele estar em Londres, ao mesmo tempo que nós.
Rebecca levantou a cabeça dela. Sua testa franzida.
–Eu nunca pensei que Sarah tinha organizado, ou que ele veio para Londres me seguindo. Para fazer isso significaria que ele era pelo menos um pouco romântico, e eu não acho que ele tenha uma pitada de romantismo nele.
Eva quase defendeu Sr. Mansfield, mas deixou passar. Ela surpreendeu-se que Rebecca realmente pensava que o encontro da tarde era uma coincidência total. Sua irmã poderia ser muito estúpida para alguém com um cérebro tão inteligente.
–O que você tem aí? –Perguntou Eva. Rebecca tinha transportado em uma bolsa pequena parecida com a que pendura de um prego em casa, sob o piso.
Rebecca abriu a bolsa e derramou uma pilha de xelins. –Há sessenta. Ele deve-lhe mais. O Sr. Stevenson, quero dizer. Visitei sua loja no dia antes de partirmos, e suas pinturas não estavam lá. Ele disse que algumas foram vendidas, mas outras estavam nas casas dos clientes habituais, sendo consideradas para aquisição. Eu acho que ele mentiu, e que esperava dar-me isso para você lhe permitir esperar um longo tempo antes de dar-lhe o resto.
Eva se aproximou e empilhou as moedas.
–Você contou a Sarah sobre as pinturas?
Rebecca balançou a cabeça.
–Fomos visitar uma loja naquela rua, e eu disse que precisava de um pouco de ar. Aproveitei a oportunidade para correr para o Sr. Stevenson.
–A quem ele vendeu as que ele admite que foram vendidas? –Três, se tencionava pagar-lhe o mesmo que antes. Ela tinham-lhe levado nove.
–Eles foram levados por esse vendedor de Londres. É por isso que eu acho que o Sr. Stevenson mentiu. Ele disse que o homem levaria tudo o que você pudesse fazer. Mr. Stevenson deve ter-lhe escrito logo para dizer que ele tinha mais disponíveis.
Elas admiravam os xelins. Eva sentiu-se quase rica.
–Essa é boa fortuna, Rebecca.
–É uma pena que não possa continuar. Talvez você deve dizer ao Sr. Fitzallen que você pediu emprestadas essas pinturas e copiou-as. Vocês são amigos agora, e ele pode não se importar muito e permitir-lhe emprestar mais.
–Eu não os pedi emprestados. Isso requer a permissão do proprietário. Roubei–os. Que os devolvi é metade do pecado, talvez, mas ainda assim era roubo. E eu confesso das cadeiras também? Isso foi roubo imediato, apesar de todas as desculpas que eu encontrei para chamá-lo de alguma outra coisa.
–Você provavelmente deve deixar de fora as cadeiras.
–É tudo uma soma, no que diz respeito ao meu caráter. Se eu digo que eu tirei algumas pinturas, por que ele deveria acreditar que devolvi todos eles, quando tantas outras coisas desapareceram daquela casa? Eu não podia culpá-lo por querer saber. Uma pessoa que se serve daquilo que não é dela, ainda que temporariamente, não pode ser confiável para não se esquecer de devolver o que ela leva.
Rebecca cutucou os xelins.
–Suponho que se formos frugais, o que você tem agora vai durar muitos meses. Eventualmente, tudo vai ser gasto, no entanto. Então o quê?
Eva esperava que, em seguida, Rebecca se teria casado bem e teria o apoio de um marido. Presumivelmente o marido não permitiria que a irmã de sua mulher vivesse na pobreza, embora Eva não gostasse da ideia de se tornar a irmã dependente. Nem ela pretendia, desde que o Sr. Stevenson lhe tinha encontrado agora uma forma de se sustentar tão bem.
–Você não se preocupe. Eu posso ter encontrado uma alternativa, –disse ela. –A Senhorita Neville disse que posso copiar algumas de suas pinturas. Várias parecem muito boas. Eu acho que o comprador de Londres do Sr. Stevenson gostaria delas.
A expressão de Rebecca iluminou-se.
–Isso é maravilhoso. Estou tão feliz que você está a tornar-se amiga das irmãs também. Eu sabia que você gostaria delas uma vez que você as conhecesse melhor. –Ela se levantou e foi até a porta. –Eu vou espionar em todas as lojas de pintura que passarmos enquanto estamos aqui. Acho que o Sr. Stevenson está conseguindo muito mais do que ele finge por aquelas pinturas. Você também, se você pudesse oferecê-las para o homem diretamente.
Eva achou que ela faria bem, razão pela qual o Sr. Stevenson nunca permitiria que ela soubesse o nome desse vendedor. Quanto a Rebecca encontrá-lo durante a sua visita... Londres era muito grande, com muitas ruas e becos e muitos vendedores de pintura. Elas provavelmente voltariam a Langdon’s End tão ignorantes do nome do comprador como quando elas saíram.
Gareth levou seus convidados para o Museu Britânico no dia seguinte. A excursão provou ser tanto educacional e cansativa para todos. Apenas Rebecca permaneceu encantada até ao fim, e ele suspeitava que ela teria pedido para permanecer mais tempo se Sarah não se tivesse queixado sobre seus pés doloridos.
Eva deu a maior parte de sua atenção para a arte, especialmente os mármores gregos. Sarah brincou muito sutilmente sobre como muito educacionais essas figuras esculpidas de nus masculinos deviam ser para inocentes como suas primas. Eva sorriu serenamente por ser a fonte de diversão de Sarah, e estudou os relevos e estátuas mais de perto, apenas uma vez deslizando um olhar para Gareth que comunicava sua razão particular para encontrar insinuações de Sarah muito engraçadas.
O mordomo chamou Gareth ao lado assim que ele e seus convidados voltaram para a casa.
–Seria melhor se eu levar seus convidados para a sala de estar ou sala de manhã, senhor, –disse ele. –O duque e o Senhor Ywain chegaram enquanto você estava fora e agora estão na biblioteca. O conde de Whitmere está com eles.
–A sala de estar, então. Por favor, leveos para cima e veja uns refrescos. Vou juntar a eles depois que eu vir meus irmãos.
Encontrou Lance e Ives descansando em divãs na biblioteca, ainda vestindo casacos de equitação. O Senhor Whitmere, um dos velhos amigos de Lance, também parecia vestido de equitação.
–Imagine minha surpresa para encontrar estes dois na estrada, –Whitmere disse, segundo as suas saudações. –Um pouco estranho do destino.
Louro, robusto e atlético, Whitmere inicialmente parecia ser a folha de luz para a presença escura de Lance. Infelizmente, ele não era. Ele e Lance normalmente encontravam-se um ao outro durante os períodos de imprudência. Se o destino os tinha reunido, não era um bom presságio.
–Eu disse que ele provavelmente iria descer, Gareth. –Ives floreou um gesto em direção Lance. –Aqui está ele, em toda a sua magnificência ducal.
–Na verdade eu estou, –Lance disse preguiçosamente. –Explique a Ives como eu devo participar da Temporada, Gareth, para não ser dito que eu me escondo em Merrywood devido à culpa.
–Ele tem um bom ponto, Ives.
–Estamos de luto. Luto profundo. Eu sou o único que se lembra disso?
–Vou usar uma braçadeira, e não dançar muito, –disse Lance.
Ives sacudiu a cabeça.
–Eu me sentiria melhor sobre isso se na última vez que ele foi para fora da cidade nós não tivemos que meter dentro uma polegada num duelo, para proteger seu bom nome, Gareth.
Lance deu de ombros.
–Se isso acontecer novamente, dirija o homem para mim. Eu não vou ter qualquer um de vocês lutando por mim, quando eu alegremente faço isso sozinho.
–Muito feliz, –disse Ives para Gareth, incisivamente.
Gareth não precisava de ser alertado. A verdade era que Lance parecia o inferno. Se eles montaram até aqui, ele não tinha trazido seus criados, e a menos que o seu criado não o barbeasse, Lance não se incomodava em barbear-se de todo. Um crescimento áspero sombreava a parte inferior do rosto, fazendo a cicatriz parecer um rio fina que serpenteava através de uma floresta. Suas pálpebras pesadas podiam ser devido ao consumo de álcool, ou pior.
A preocupação de Ives disse que votava a favor da –ou pior. –Lance às vezes sofria de períodos de incubação. Melancolias, seu pai as tinha chamado, embora a palavra fosse imprecisa em muitos aspectos. Lance não se voltava triste ou ansioso durante suas crises. Ao contrário, ele tornava-se alegremente indiferente a quase tudo e todos ao seu redor. Ele também transpirava uma indiferença sem medo à própria vida. Ele ficaria feliz em duelar quando em tal estado.
Whitmere observou Lance, formando suas próprias conclusões. Sem dúvida, ele antecipou algumas semanas de maravilhosa habitação no inferno com seu velho amigo.
–Ives disse que ele lhe disse sobre os convidados que impus a família –disse Gareth.
Lance mal assentiu.
–Um comerciante de Birmingham e sua esposa, juntamente com duas primas da esposa, ele disse.
–Não se preocupe que eles não vão ser um incômodo. Você quase nunca os vê ou sabe que eles estão aqui. Eles estão ficando no terceiro andar, longe das salas públicas e dos seus apartamentos.
–Eu não me importo se eu os vir. Na verdade, se eles estão aqui, eu deveria recebê-los. Esta é a minha casa. –Ele sentou-se. –Onde eles estão?
–Isso pode esperar até que você esteja apresentável, –disse Ives. –Você parece um salteador.
–Eu escolho fazê-lo agora. –Ele se levantou e olhou para Gareth na expectativa.
–Eles estão na sala de estar, –disse Gareth.
Eles subiram, com Whitmere a reboque. Lance ganhava vida com cada etapa. Isso foi infeliz. Gareth tinha estado preparado para explicar mais tarde que ele estava doente.
Não se podia inesperadamente apresentar um duque, um conde, e um senhor a ninguém, exceto outros colegas, sem que ganhasse fortes reações. Apresentação de Gareth ao despenteado, barba por fazer Aylesbury caiu nas orelhas de três pessoas que enfrentaram Lance. Wesley resmungou algo incoerente. Sarah e Rebecca atrapalharam vagas reverências. Apenas Eva o recebeu bem.
Para piorar, Lance decidiu brincar ao anfitrião, por razões que só ele podia saber. Ele convidou as mulheres para se sentarem, então ele fez o mesmo. Wesley empoleirou sua bunda também. Gareth permaneceu de pé, como fez Ives. Ives mantendo o envio de olhares afiados a Gareth que diziam que ninguém encontrou mais estranha esta situação do que o próprio irmão de sangue completo de Lance.
Diferente de induzir a partir de Wesley a natureza geral da sua empresa, Lance levou-os através de dez minutos de conversa fiada. Então ele se levantou, pediu licença e saiu. Quando ele passava, pediu a Gareth para acompanhá-lo novamente na biblioteca.
Lá em baixo, Lance procurou os decantadores[9] e derramou três uísques. Ele entregou um cada para Gareth e Whitmere e engoliu o terceiro.
–A jovem é muito linda. Uma joia perfeita, mas também dolorosamente inocente e muito jovem. Ela nunca o vai fazer.
–Não. Nunca, –Whitmere concordou.
–Fazer o quê? –Perguntou Ives, vindo em sua direção da porta.
Lance deu de ombros. Ele voltou para o seu divã, largou-se para baixo e esticou as pernas.
Gareth olhou para ele.
–Fazer o quê?
Lance bocejou.
–Seria melhor se eu escoltasse uma senhora ao baile De Vere próxima semana, para eu deixar claro o quão indiferente estou às histórias sobre mim. Eu pensei que uma das suas convidadas serviria, desde que eu não estou com vontade de sofrer a companhia das mulheres que normalmente usaria. Mas como eu disse, a menina é muito jovem. Os rumores iriam começar, e eu poderia encontrar-me sob obrigações eu não tinha a intenção.
–Permita-me repetir, mais uma vez. Você não está indo para o baile, –disse Ives. –Você está em luto profundo.
–E se você for de qualquer maneira, você não está acompanhando qualquer uma dessas mulheres lá em cima, –Gareth disse com firmeza. –Nenhuma delas o vai fazer. Elas não são para você.
–Que bom amigo você é, Fitzallen, –disse Whitmere. –Negar àquelas simpáticas senhoras um baile. Elas não lhe vão agradecer por isso.
Lance pareceu perder o interesse. Ele fechou os olhos.
Ives fez um gesto para Gareth.
–Deixe-o dormir. Iremos para o jardim para definir os tempos de nossas reuniões.
–Há a outra, é claro. –A voz de Lance, baixa, prendeu a atenção de Gareth.
–Quer dizer a senhora Rockport? –Perguntou.
–Não, a outra irmã. Eliza... Edith...
–Eva. Srta. Russell para você.
–Nome adorável. Ela é bonita, também, à sua maneira. Preparada. Olhos agradáveis. –Ele sentou-se. –Eu digo, Whitmere, por que você não acompanha a menina, e eu vou acompanhar a irmã.
–Isso parece esplêndido. Somente você deve-me permitir o meu tempo com a mais velha. Ela parece ser uma moça atrevida, e eu vou estar querendo companheirismo nesta temporada.
Uma inflexão insinuante em companheirismo levou Gareth a pensar em assassinato. Ele caminhou até onde Whitmere se sentava e pairou sobre ele.
–Se aquelas senhoras não são para o meu irmão, eles não são certamente para você. O caminho para a sua empresa é através de mim, e eu o proíbo. Eu não bato em um conde em vários anos, mas estou preparado para fazê-lo, por isso não duvide da minha decisão sobre este assunto. –Ele olhou por cima do ombro. –Ives, quem foi o último conde a quem bati? Seu nome escapa da minha memória.
Ives coçou a cabeça e ponderou dramaticamente.
–Deixe-me ver. Não o visconde ou o barão, mas o último conde... Ah, eu tenho isso. Foi o Conde de Whitmere, não foi? No início da manhã de um verão ao lado da Serpentine.
Whitmere reorganizou os seus membros na cadeira, sugou em suas bochechas, e olhou em qualquer lugar exceto em Gareth.
–Não deixe que ele te ameaçar, Whitmere, –disse Lance. –Ele só fez isso porque você tentou tomar liberdades com a amante. Estas senhoras são apenas amigas de um amigo. Ele nunca vai passar com ele.
Whitmere olhou para Lance tristemente.
–Quanto a você, –disse Gareth a Lance. –Se você está determinado a desafiar as línguas, comparecendo ao baile, pode dançar uma vez com cada dama, mas apenas se estiver barbeado e sóbrio.
Lance riu gostosamente.
–Você parece um tutor. Será que ele não soa como um tutor, Whitmere?
–Ou um vigário. Você vai levar isso? Por Zeus, eu tenho metade de uma mente.
–Eu não vou lutar com ele sobre as mulheres do campo que mal conheço e que ele escolheu proteger, por um impulso inexplicável. Você e eu vamos encontrar coisas melhores para fazer do que ir para ao baile, de qualquer maneira.
Whitmere piscou.
–Como foi que passei de ir escoltando uma joia rara e sua irmã mais velha ao baile, para o agora não comparecer de todo?
Lance começou a refletir em voz alta as coisas melhores para fazer. Ives chamou a atenção de Gareth, virou-se e caminhou até as portas para o terraço. Gareth seguiu-o, fingindo que não ouviu Lance especulando sobre uma brincadeira que envolvia a carruagem de outro duque e uma grande quantidade de esterco de cavalo.
–O que foi aquilo? –Ives perguntou uma vez que estavam no jardim. –Enquanto você não soava muito parecido com um tutor, você muito se tornou afiado muito rapidamente.
Gareth não tinha ideia do que estava a ponto de fazer. Ele só sabia que ouvir Lance e Whitmere discutir Eva o fez ver vermelho. Mesmo agora era tudo o que podia fazer para não perfurar alguma coisa.
–Eu não gostava das implicações de toda a palestra sobre o que ela vai fazer. Você sabe aqueles dois quando eles se reúnem e Lance está em um de seus humores. Eu tenho alguma responsabilidade para com as senhoras, afinal de contas. – –Claro.
–Além disso, não precisam de Lance e Whitmere para comparecer ao baile. Lady De Vere está enviando um convite diretamente à senhorita Russell, por exemplo.
–Você arranjou isso, não foi? Isso vai ser um deleite, embora o pensamento de chegar por si só pode colocá-la fora da ideia.
–Eu vou acompanhá-la. Ao contrário de você e Lance, eu não tenho que fingir que estou em luto.
–Whitmere ainda pode ir, para todos Lance está esperando que eles vão brincar de ser estudantes impertinentes outra vez. Eu confio em você não vai fazer uma cena, se ele pedir à senhorita Russell para dançar. Ela chamou sua atenção, é claro.
–Eu posso avisá-la de que suas intenções não são honradas, mas não vou fazer uma cena.
Ives riu.
–Inferno, você soou como um vigário. De onde está vindo toda essa conversa de boas intenções? –Seu sorriso permaneceu amplo, mas seu olhar se voltou perfurante. –O que é esta mulher para você? Ela é sua amante?
Era um inferno de uma pergunta, e inesperada.
–Não. –A verdade honesta, no tempo presente, não que seu corpo tinha aceitado bem a nova ordem.
–Então talvez você deva deixar a senhora tirar suas próprias conclusões sobre Whitmere. Ela parecia sensata e madura. É pouco provável que ela não vá perceber a verdade de suas intenções, sejam elas quais forem.
Ainda com raiva, mas não tão inexplicavelmente sombrio, Gareth forçou seus pensamentos para outras coisas.
–Conte-me sobre essas reuniões, para que eu possa tomar as providências para meus queridos convidados ficarem ocupados sem mim durante esse tempo.
Capítulo 18
Eva deixou cair a carta de apresentação em sua bolsa, em seguida, fez seu caminho para a sala de estar de Sarah. Eles estariam por conta própria hoje. Gareth tinha negócios com o Senhor Ywain, ele não iria acompanhá-los em torno da cidade.
A decisão foi tomada para ter a oportunidade de perseguir seus próprios interesses. Wesley tinha planejado visitar alguns homens de negócios que ele conhecia. Sarah queria para fazer compras e levaria a sua criada como companhia. Rebecca tinha escolhido ir junto com Eva enquanto ela fazia uma visita a Mary Moser, a pintora que ela há muito admirava.
–Você deve tomar uma carruagem –Sarah disse, quando Eva chegou.
–Você é a única susceptível de ter pacotes. Rebecca e eu vamos pedir a um criado para trazer uma carruagem de aluguer.
–Eu concordo, se você prometer ter cuidado e lutar contra quaisquer homens jovens que comecem a seguir a nossa joia perfeita. –Ela sorriu na direção de Rebecca. –Claro que todos eles vão notá-la, e alguns vão olhar para ela muito descaradamente, ao meu modo de pensar.
–Eu vou lutar com eles eu mesmo, Sarah –disse Rebecca. –Eu não vejo muitos jovens itinerantes pelas ruas que seriam atraentes para qualquer garota.
–Eles certamente não parecem ter a substância do Sr. Mansfield, –Sarah disse enquanto ela amarrava seu chapéu.
–Nem a alma artística do Sr. Trenton, –disse Rebecca.
Sarah sacudiu a cabeça, exasperado, em seguida, olhou em torno de sua bolsa.
–Onde é que eu...
Uma batida na porta interrompeu. Sua empregada correu para ver quem havia chegado. Uma carta branca passou da luva branca de um lacaio. Com uma expressão de surpresa, a empregada trouxe para Eva.
Eva examinou a carta. Ela nunca tinha visto nada assim. O papel devia ser o mais fino jamais feito. Grosso, pesado e rico, a sua superfície finamente tratada poderia ter sido de veludo sob seus dedos. Um elaborado escudo gravado decorava o seu exterior. Com Rebecca e Sarah pairando perto de seus ombros, ela abriu.
A melhor mão tinha escrito um convite pessoal para Srta. Russell para participar de um baile que ia sendo dado pelo conde e a condessa De Vere na próxima semana.
–Bem, eu vou... –Sarah murmurou em uma voz cheia de admiração. –Você acha que um erro foi cometido e que se destina a Rebecca?
–É claro que nenhum erro foi cometido, –disse Rebecca. –Eu acho que uma condessa sabe que se alguém envia uma carta a Srta. Russell, ela irá para a irmã mais velha.
Eva não tinha tanta certeza. Um erro cometido fazia mais sentido do que esta ser para ela.
–Você deve ir, –disse Rebecca.
–Eu não tenho certeza se devo, ou se eu quero. Não faz sentido que eu tenha recebido isso. Eu não conheço essas pessoas, nem eles me conhecem.
–Alguém arranjou, então, –disse Sara. –O Sr. Fitzallen talvez.
–Se assim for, você realmente deve ir, Eva, –disse Rebecca. –Seria rude recusar, depois de toda a sua hospitalidade. E é um baile de um conde.
–Mas não vamos mesmo estar ainda aqui na próxima terça-feira.
–Vamos estar agora, –disse Sarah. –Não tenho a menor ideia do que você vai usar. Eu trouxe um vestido de baile, apenas no caso de que ele fosse necessário. Dificilmente vai servir para um evento como este, no entanto, não importa quão duro nós tentemos melhorá-lo.
Um pouco de irritação penetrou no espanto de Eva. Certamente Gareth sabia que ela iria estar mal equipada para tal convite. Ela não podia participar vestindo seu casaco azul.
Ela se levantou, mexeu na borda de seu chapéu e calçou as luvas. –Eu vou decidir depois o que fazer. Eu não posso pensar agora. Vamos, Rebecca. – –Vou ver se quaisquer costureiras fazem encomendas rápidas, –Sarah disse atrás delas enquanto caminhavam para as escadas. –E eu vou olhar nos armazéns para rendas e tal.
–O problema e absurdo, –Eva murmurou.
A casa na Rua Upper Thornhaugh apareceu bonita embora modesta. Eva entregou seu cartão e a carta de apresentação de Srta. Neville à criada que veio à porta. Ela e Rebecca esperaram um bom tempo antes de a mulher voltar.
–Minha senhora vai vê-la, mas não pode ser por muito tempo.
A excitação de Eva crescia com cada passo até as escadas. Elas não foram levadas para uma sala de estar ou biblioteca. Em vez disso, a criada abriu uma porta de um quarto. Uma mulher idosa sentava-se em uma grande cadeira ao lado da cama, coberta por um cobertor. Qualquer pessoa que a visse saberia que ela estava doente, mesmo sem o odor de uma enfermaria que desafiava a brisa de primavera que passava pela janela, que tinha sido entreaberta algumas polegadas.
A criada moveu duas cadeiras para mais próximo. A mulher idosa levantou o olhar da carta de Srta. Neville. Com um sorriso irônico.
–Bem-vinda, Srta. Russel. Quem é a sua companheira?
Eva sentou-se em sua cadeira e apresentou Rebecca a Maria Moser, uma das duas únicas mulheres que tinham sido feitas membros da Royal Academy of Arts, até agora, e uma dos seus fundadores. Embora tivesse casado anos depois de que ela havia estabelecido sua reputação, todo mundo se referia a ela por seu nome de solteira.
Os olhos de Mary se estreitaram quando ela examinou Rebecca.
–Adorável. Você veio para a cidade para a estação, criança, para que assim os homens morram de desgosto com os corações partidos por você?
Rebecca balançou a cabeça.
–Nós viemos para ver a arte e pontos turísticos. Eu não quero ninguém a morrer de desgosto, em qualquer caso, e eu espero que a minha mente e o caráter fossem pelo menos tão interessantes como o meu rosto para um homem.
Mary riu e acenou a carta.
–Eu acho que Jasmine tem influenciado você. Como ela está se saindo lá em cima em sua residência rústica? Aterrorizando os moradores com suas opiniões fortes?
–Ela é completamente original ainda, –disse Eva. –Nós duas estamos gratas pela sua generosidade.
–Ela diz que você é uma artista. Com quem você estudou? – –Apenas uma governanta talentosa, mas eu trabalho sozinha. Eu acho que tenho melhorado. Eu fiz cópias de belas imagens, e Srta. Neville me ofereceu outras de sua própria coleção para um estudo mais aprofundado.
Um sorriso muito educado cresceu no rosto de Mary, enquanto Eva falou. Era o tipo dado quando a conversa tinha tomado um rumo chato.
–Você não vai se lembrar de mim, –ela acrescentou rapidamente. –Eu escrevi para você uma vez. Oito anos atrás.
–Será que eu escrevi de volta?
–Sim. Você me deu conselhos. Você me avisou como era difícil para uma mulher ser uma pintora. Como o casamento iria comprometer qualquer carreira. Como a melhor formação não estaria disponível.
–Eu escrevi tudo isso, não é? A última parte é verdade. Estudos ao vivo, por exemplo, não estão disponíveis. Somos todas muito modestas para desenhar a forma nua da vida, especialmente o corpo masculino, pensa-se. Lixo, é claro. No entanto, sem o rigor de tais exercícios, as figuras sempre parecem um pouco como bonecas de algodão. Quanto à primeira parte, você não achou o conselho estranho, considerando que eu me tinha casado?
–Confesso que não estava ciente disso, no momento.
Sua cabeça cinza descansou de volta na cadeira. Seus olhos se fecharam. –Nós dois sabíamos dentro de algumas semanas que tinha sido um erro. Pegamos amantes e sobrevivemos. No entanto, eu dei esse passo mais tarde na vida. Eu já tinha me tornado tudo o que eu jamais seria como uma artista, então. –Sua cabeça endireitou-se e olhou para Eva. –Você não é casada. Será que quis renunciar por causa do que eu escrevi para você? Eu não acho que eu quero uma decisão tão permanente de sua parte na minha consciência durante meus últimos dias.
–Tenha a certeza de que meu estado civil não tem nada a ver com você. Na verdade, eu quase casei. Mas como eu não casei, no entanto, suas palavras me influenciaram para ver seus benefícios na minha situação. Eu não busco a fama como a sua. Eu só espero que possa melhorar, para que eu possa criar sobre tela ou placa o que eu vejo na minha cabeça.
Ela recebeu um longo olhar por isso. Em seguida, Mary começou a tossir. A tosse se tornou violenta, afetando todo o seu corpo. A criada da mulher veio para acalmá-la, e derramou uma poção de uma pequena garrafa em um copo que ela segurava aos lábios da sua senhora.
O medicamento trabalhou rapidamente. O corpo sob o cobertor relaxou. A cabeça pendeu cinza. A criada chamou a atenção de Eva.
–Vamos deixá-la agora, –disse Eva, de pé. –Você foi muito gentil em concordar em receber-nos.
Os olhos de Maria abriram-se.
–Você vai estar na cidade quando a exposição abrir? –Sua voz chegou sem fôlego e arrastada.
–Já teremos ido até lá, eu sinto muito dizer.
–Pena. Faça suas cópias da coleção de Jasmine, e desenhe muito. Contrate um homem como modelo para você, se você puder encontrar um disposto a posar sem roupa. Com o tempo você vai melhorar, se você tem talento como Jasmine pensa. É um objetivo digno.
–Obrigado. Nós saímos sozinhas.
De volta à rua, ela e Rebecca fizeram uma pausa.
–Eu acho que ela está morrendo, –disse Rebecca.
–Eu também acho.
Elas caminharam pela rua, subjugadas. Lentamente, o sol e a brisa tiraram-nas de seus devaneios tristes.
–Eva, –Rebecca disse com um sorriso travesso. –Qual dos homens em Landgon’s End você acha que vai posar nu para você?
Assim que Gareth entrou na presença da Duquesa de Devonshire, ele decidiu que não se importava de todo que Ives caminhasse ao lado dele. Ele se perguntou se Ives sentia a mesma maneira sobre ele.
Com dificuldade, forçou-se a sair de seus pensamentos e do assunto que o tinha ocupado durante toda a manhã e a maior parte da noite passada. Ele precisava de encantar a duquesa para obter as respostas, não se dirigir a ela com a rudeza que coloria seu humor. Ter deixado a casa sem ver Eva não tinha ajudado. Ele não estava acostumado ao ciúme e os seus efeitos assentavam mal nele.
Dizer que a segunda esposa do último duque sabia que seu status era elevado seria um eufemismo. Ela sentou-se majestosamente em uma cadeira estofada de azul projetada para complementar o seu tamanho e forma. Seus olhos olharam-nos da mesma forma que as rainhas medievais devem ter olhado para os criados. Considerando-se que Ives era filho legítimo de um duque, e um senhor por seu próprio direito, era uma boa dose de ousadia da parte dela. Mas então, esta mulher tinha feito seu caminho para aquela cadeira por jogar um jogo muito longo, calculado.
Os modos de Ives quando ele a cumprimentou atingiram apenas a nota certa de respeito sem cair na deferência. Seu sorriso fino sugeriu que ela gostaria da última.
–Viemos por uma questão de interesse pessoal para o Príncipe Regente, –disse Ives. –É possível que você nos possa ajudar com um inquérito realizado a seu pedido.
–Se você está a usar um preâmbulo como esse, eu acho que tenho que ajudar se eu puder.
–Trata-se de alguns itens armazenados em uma das propriedades do seu falecido marido. A casa ao norte de Chatsworth. No decorrer de algumas indagações aos funcionários de lá, meu irmão soube que você pode ter algum conhecimento desses itens. –Ives virou-se para ele, alertando-o para entrar na conversa.
Antes que ele pudesse, a duquesa cortou seu corpo de cima a baixo com um olhar agudo. –Você deve ser o bastardo.
–Eu sou.
–Seu pai e meu marido tiveram uma amizade de pares, em grande parte com base no que eles tinham em comum a esse respeito. Já conheceu meu primeiro filho? Ele escolheu uma carreira no Serviço Naval. Como eu ouvi, sua vida tomou voltas diferentes. –Seu sorriso sabedor insinuou muito nas últimas palavras cuidadosamente enunciados.
–De vez em quando eu me ocupo com atividades menos prazerosas. Tal como este inquérito.
–Informe-se, então.
Ele repetiu o que havia sabido sobre sua visita à casa após a morte do último duque. Apesar de seu esforço para sugerir nada de inconveniente, ela tomou-o como um insulto. –Eu confio que você não é tão corajoso, ou tão estúpido, como para me acusar de remover esses itens que você procura.
–Nós só perguntamos se os homens que serviram você tinham qualquer motivo para ir até aos sótãos, e, em caso afirmativo, se eles comentaram sobre o seu conteúdo.
–Eles subiram. Havia uma encantadora mesa italiana, que não pôde ser encontrada em seu quarto, então eu mandei dois homens para procurá-la lá. Não me lembro de qualquer conversa depois. O que eles poderiam ter dito?
–Nada alarmante, –disse Ives. –Talvez eles diziam que era difícil de pesquisar, por causa de um grande número de caixas lá? Ou alternativamente, notaram que era peculiar que um sótão continha muito pouco de tudo.
–Se eles tivessem que mover caixas, os comentários referentes ao seu peso, se seriam muito pesadas ou estranhamente leves –Gareth solícito.
Ela pareceu para dar-lhe o pensamento honesto.
–Eles levaram muito tempo para descer, e eles nunca encontraram essa mesa. Um não estava feliz porque ele raspou a mão. Eu o ouvi reclamar com os outros sobre todas aquelas malditas caixas. Ele poderia referir-se às caixas de que você fala?
–Possivelmente, –disse Ives.
–Entre dos móveis que aqueles homens carregaram para você, qualquer deles era pintura? –Isso tinha de ser perguntado, e Gareth decidiu lançar-se para o fogo.
–Somente um Angélica Kauffmann que eu tinha admirado por muito tempo. O duque não gostava dele, então tinha-o banido para lá. Ele me disse que era meu, se eu o queria.
Ives concedeu seu sorriso mais amável.
–Você foi mais que generosa com o seu tempo. Vamos deixá-la aos seus outros visitantes.
Lá fora, Ives bateu a mão no ombro de Gareth.
–Você fez isso muito bem. Eu estava tentando encontrar uma maneira de perguntar quais as imagens que ela tinha tomado, sem usar uma palavra tomar.
–Havia um Kauffmann na lista? Deve ter uma em suas mãos agora, não é? Seria um inferno de uma coisa, se algumas dessas pinturas estão pendurados à vista de todos naquela casa e nós não sabemos.
–Eu finalmente recebi uma lista. Sem Kauffmann. Vamos pegar algo para beber no Black Horse. Vou dá-la a você, e também prepará-lo para a sua próxima reunião.
A próxima reunião, na manhã seguinte, foi com o Sr. Clifford, o primeiro filho da senhora que tinham acabado de ver. Parecia que Ives tinha decidido não participar.
Eles sentaram-se com cervejas na taverna. Ives passou uma folha de papel velino[10] sobre a mesa. Ambos os lados mostraram três colunas. A primeira tinha nomes dos artistas. A segunda, títulos ou descrições das pinturas realizadas. A última coluna mostrava os proprietários.
–Impressionante, –disse Gareth.
–Os artistas?
–Os donos. Eu vejo que o Príncipe Regente não está na lista. Eu pensei que você disse que era, em parte, a sua ideia.
–Ele estava convencido de que ele ficaria mal se soubesse que ele tinha despojado as paredes de Brighton por medo de uma invasão. Já que nunca houve uma, alguns de seus amigos o veem agora como um astuto desconfiado.
–Os homens podem ser tão burros. –Gareth murmurou esta verdade eterna, enquanto sua atenção se voltou para a porta. –Aqui vem Lance. Disse-lhe para nos encontrar aqui, não é?
–Ele estava à solta, esta manhã, o que nunca é bom sinal.
–Ele, de todos os homens não precisa de uma babá. Pare de ser uma.
Ives acenou para chamar a atenção de Lance. –Eu também pensei que as coisas terminaram mal ontem. Você tem estado irritado durante todo o dia também.
–E você concluiu que eu queria beber cerveja com ele? Tanta coisa para ser o advogado inteligente. –Ele mal teve tempo de acabar antes de Lance deslizar em uma cadeira em sua mesa.
–Pelo menos você se preocupou em fazer a barba hoje, –disse Gareth. –Desde que você não parece ser um rústico apenas saído de um vagão do Midlands, você pode se sentar com a gente.
Ives tentou um olhar sufocante, mas Gareth não estava com vontade nem de humor para qualquer um deles.
Lance tocou seu rosto.
–Eu odeio estar barbeado. Pensei em não me incomodar novamente, e deixar a barba crescer. Talvez fosse tornar-se moda. Não uma longa, encaracolada. Uma cortada curta, como os espanhóis costumavam ter.
–Você não é, nem nunca foi, um líder de moda, para que ninguém mais iria deixar crescer uma e você ficaria excêntrico, na melhor das hipóteses. Mesmo Ives aqui não iria querer ser visto com você.
Lance olhou para Ives. –Ele está certo?
–Não deixe a barba crescer, –disse Ives. –Por favor.
Lance fez uma careta. –Se um duque não pode deixar crescer uma barba e outros, em seguida, também deixam crescer, qual é o ponto em ser um?
–Devo listar os pontos de ser um? –Disse Gareth. –Podemos começar com a renda obscena você poderá desfrutar de agora em diante.
Lance sorriu com tristeza.
–Eu esqueço às vezes que você é um irmão bastardo, Gareth, e tudo isso tem significado para a sua vida.
A raiva crescente ao escutar a petulância de Lance, aliviou-se com essa nota de carinho fraternal. Não que Gareth quisesse.
Lance pegou a folha de papel vegetal e lê-lo.
–Alguém está planejando uma exposição maciça?
Ives lembrou-lhe sobre as pinturas desaparecidas.
–Gareth e eu estamos envolvidos em uma investigação sobre eles.
–Ah, isso. –Lance estreitou os olhos na lista dos senhores. –Que covardes.
–Eles só procuraram proteger seus bens mais valiosos, –disse Ives.
–Então, os franceses poderiam ter seus cavalos, suas esposas e filhas e criados, mas não suas pinturas?
–Presumivelmente, as esposas, as filhas, criados e cavalos seriam enviados para fora assim que os franceses desembarcassem, –disse Gareth. –Perdoe-me por alterar a ordem. Tenho certeza que você colocaria os cavalos primeiro, sem ter em conta a importância relativa, correto?
–Para o inferno com a ordem. Foi ignóbil fazerem isso, quando os agricultores e pescadores ficaram nos campos, preparando-se para sacrificar suas vidas. Aqueles homens não seriam capazes de enviar qualquer coisa ao norte, muito menos suas pinturas.
Ives empurrou o copo de Lance para mais perto dele, encorajando-o a beber. A mente de Gareth mastigava sobre a explosão de Lance.
–Eu quero saber, –disse Gareth. –Nós assumimos que as pinturas foram roubadas para vender. Ladrões, ou, na melhor das hipóteses, um colecionador louco fez o trabalho. E se, em vez disso, foram tomadas como punição? Talvez alguém que sabia do plano sentia como Lance aqui, e procurou garantir que estes senhores lamentavam este movimento, de uma forma ou de outra.
–Considerando o clima no país naquela época, é possível, –disse Ives. –Suponho que seria primeiro olhar para os senhores que têm propriedades perto da costa e que não estão nesta lista.
–Eu vou deixar você falar com eles, se você não se importa, –disse Gareth. –Eu não posso pensar em nenhuma forma de levantar o assunto sem ser insultuoso, e eu serei amaldiçoado se eu vou morrer em seu lugar.
Lance bateu no pergaminho.
–Vocês dois são tão graves. Primeiro o roubo é a razão, agora o patriotismo. Está faltando o motivo mais provável.
Ives ergueu as sobrancelhas e esperou.
–Foi uma brincadeira, –explicou Lance. –Você não vê como cômico é isso? Toda essa preocupação e cuidado e sigilo sobre um grupo de malditas pinturas. Havia uma guerra acontecendo, e os senhores passaram-se das suas faculdades mentais sobre este assunto? Eu posso imaginar um bando de desocupados de decidir que seria engraçado como o inferno fazer essas pinturas desaparecer. –Ele riu e bateu a palma da mão sobre o pergaminho. –Pense em suas expressões quando souberam que tudo se acabou. Hum, não, Napoleão não levou a sua arte, mas alguém o fez. Desculpem, Milords.
Ives olhou para Gareth. Então, para Lance, que permanecia perdido em sua alegria.
Gareth sabia o que estava pensando Ives. Lance tinha sido sempre um pouco um ladino.
–Lance, –Ives disse cuidadosamente. –Por favor me diga que você não viu as possibilidades cômicas dez anos atrás, e. . .
–Se eu fiz, eu estaria rindo agora, vendo o dois de vocês correrem por toda a Inglaterra tentar a encontrar essas pinturas. Oh, esperem... eu estou rindo agora. –E ele o fez, cordialmente.
As pálpebras de Ives reduziram. –Isto tornou-se não de todo engraçado. Peço-lhe novamente...
–O que você acha? –Os olhos de Lance ganharam vida com humor diabólico.
Gareth poderia dizer que Ives estava perdendo a paciência.
–Condenação. Se você sabe alguma coisa, diga agora Ives. Pare de ser um idiota.
Lance não gostava disso. Que duque o faria? Para essa matéria, que bad boy o faria? Ele parou a provocação, no entanto.
Ele pegou o pergaminho novamente, em seguida, deixou–o cair com desdém. –Nunca me passou pela mente ensinar a esses colegas uma boa lição. É uma pena.
–Você jura? –Perguntou Ives.
–Eu tenho que jurar o quê? Isso é um insulto.
–Seu humor tem estado estranho ultimamente.
Lance apenas o olhou. Então, ele deu de ombros. –Bem. Eu juro que eu não tinha nada a ver com isso, e não sei nada sobre isso.
Ives soltou um suspiro sólido. Ele virou-se para Gareth. –Agora, sobre amanhã, quando se reunir com Clifford. Abordar o assunto diretamente. Ele estava no serviço, e não terá muita paciência com dissimulação. As perguntas devem ser colocadas a ele, eventualmente, por isso não há razão para atrasar.
–Por que ele está questionando Clifford? –Perguntou Lance.
–Ele é muito bom em falar de homem para homem, e que é o que é necessário.
–Bastardo para bastardo, eu acho que você quer dizer, –disse Lance. –Você conhece-o?
–Encontrei-o várias vezes, de passagem, –disse Gareth.
–Sua situação é primorosamente infernal. Imagine que a propriedade Aylesbury era pelo menos três vezes maior do que é. Então, imagine que, apesar de ser um bastardo, você tinha os mesmos pais exatamente como Percy e eu, e que a única razão dessas propriedades não serem suas após a morte de seu pai foi porque você teve a infelicidade de ter nascido antes de sua mãe se tornar sua esposa. Como o segundo filho, eu provei uma pequena gota do que bebia Clifford cada dia, e é uma bebida amarga.
–Tenho certeza que ele se adaptou, –disse Ives. –Gareth aqui teria feito também.
Gareth esperava que ele parecesse agradado com essa crença. A verdade era que ele sabia algo dessa amargura. Cada bastardo de um senhor sabia. Normalmente um não se debruçava sobre de um destino, mas às vezes a bile o que houvesse sido engolido azedava a boca de um.
–A Srta. Russell concorda em comparecer ao baile? –Lance perguntou casualmente. –Ives aqui disse que você conseguiu um convite para ela, e pretende acompanhá-la você mesmo.
Gareth olhou para Ives, que fez questão de não notar.
–Eu não estava lá quando ela recebeu o convite, então eu ainda não sei se ficou agradada.
–Ela não vai aceitar, –disse Lance. –Ela vai querer. Qualquer mulher queria. Mas ela não vai.
–Você sabe disso, não é?
Lance assentiu.
–Pareceu-me ontem à noite. Não importa quem a escolta, ou mesmo se não houver nenhum, ela não vai. Ela não tem um vestido e toucado adequado. Vou lançar apostar todas as probabilidades nisso.
Gareth apenas olhou para ele. Lance estava certo. Ela não iria. Seria importante para ela. Para qualquer mulher.
Uma das sobrancelhas de Lance levantou-se.
–Claro, você poderia oferecer-se para lhe comprar um. Ainda há tempo. Permitir isso, no entanto, traz certas implicações. Duvido que ela seja ignorante do que isso implica. Então ela não vai aceitar o presente.
Não, ela não iria. Ela já não tinha aceitado, quando ele lançou a ideia da visita a Londres.
Lance mostrou prazer presumido na forma como ele havia conquistado toda a questão, mas também alguma curiosidade.
–Então, o que é que o vigário vai fazer?
–Ele não se vai oferecer para lhe comprar um vestido, isso é óbvio, –disse Ives. –No entanto, em um gesto impulsivo você vai.
Capítulo 19
–Eu estou gostando tanto. –Rebecca disse, enquanto ela e Eva passeavam por uma pequena rua na cidade. Nessa zona, havia todo o tipo de lojas de impressão, juntamente com algumas livrarias. –É agradável passar uma tarde, só as duas, seguindo pelo caminho que queremos.
–Muito agradável, embora eu tenha uma confissão a fazer sobre o caminho que tomamos. Nós não estamos seguindo o caminho que queremos. Nós estamos perdidas.
Rebecca deu uma risadinha, e logo elas começaram a dar umas ruidosas gargalhadas. –Estamos completamente perdidas ou só um pouco perdidas? –Rebecca perguntou depois de ter recuperado a respiração.
–Como estou perplexa quanto à resposta a essa pergunta, acho que a resposta deve ser minuciosa. O plano era visitar a casa de leilões do Sr. Christie. Ele costuma fazer leilões frequentemente e, muitas vezes, a sua galeria está cheia de obras para serem vendidas.
Rebecca olhou para o céu.
–A tarde está avançando. Nós devemos encontrá-la agora se queremos fazer uma visita.
Eva apalpou a sua bolsinha. Um peso satisfatório no fundo agitou-se, fazendo pequenos barulhos. A coisa maravilhosa sobre ter dinheiro era poder resolver problemas como este. –Eu vi carruagens no último bloco. Nós tomaremos uma. O cocheiro deve saber o caminho, apesar de nós não sabermos como chegar lá.
Meia hora depois, entraram na casa de leilões. Uma sala grande, quadrada, o teto subido. No centro do teto, uma grande secção quadrada rosa ainda mais alta, com janelas que permitiam a luz fluir para baixo nos quadros pendurados nas paredes.
–Olhe para todas as cores, –exclamou Rebecca. Ela olhou para os quadros perto da porta. –Nem todos são grandes mestres, não é? Este aqui não é melhor que as suas paisagens. Nem é tão bom, na minha opinião.
Eva concordou, embora nem ela nem a Rebecca fossem grandes conhecedoras de arte. Ela ficou contente porque as suas tentativas de pintar, apesar de nunca poderem competir com o que havia de melhor nestas paredes, elas também não seriam risíveis e ridículas.
Outros patronos andavam junto às paredes, passeando junto à abundância de quadros. Ela e Rebecca pararam, de vez em quando, quando gostaram especialmente de um quadro. Eva examinou alguns, para ver como alguns dos efeitos foram conseguidos com o pincel. Ela estava vendo isso, quando Rebecca agarrou o seu braço.
–Eva. Ali. Não é...
Eva endireitou-se e olhou para onde apontou a sua irmã. Na parede de frente para a porta, bem no centro, uma natureza morta pendurada ao nível dos olhos. Ninguém deixaria de reparar nesse quadro. Seu olhar varreu o cálice de vidro retratado, o prato de porcelana azul e a fruta madura.
O coração dela batia tão forte que a cabeça dela também tinha palpitações. Ela conhecia essa composição... muito, muito bem. Ela a tinha pintado há quatro meses em sua biblioteca.
–Não pode ser, –ela sussurrou.
Elas correram para junto do quadro para olhar mais de perto. Muito parecido com uma assinatura –um artista conhece a sua própria mão no trabalho. Este era, de fato, dela.
Eva sentiu-se mal.
–Eu não entendo.
–Não? –Franzindo a testa, Rebecca olhou ao redor da sala, então marchou para um homem parado em um canto. Ela falou com ele e apontou para a natureza morta. O homem, por sua vez, abriu um panfleto e apontou para uma página.
Rebecca voltou com o panfleto.
–Não ficará surpresa em saber que o seu nome não está listado. De acordo com a casa de leilões, este é um trabalho do artista holandês Cuyp, que viveu há duzentos anos.
Eva examinou a página no panfleto.
–Devo ser uma copista melhor do que eu pensava.
–É tudo o que você pode pensar? Eva, o Senhor Stevenson está traindo você. Achei que ele agiu de forma mais suspeita quando ele te deu todo aquele dinheiro. Ele está dando-lhe dez xelins e, em seguida, envia os quadros para aqui para serem vendidos por muito mais que essa quantia. Este homem disse que esperam que este quadro seja derrubado –acho que isso significa ser vendido –pelo menos, por trezentos.
Trezentos? Eva tinha dificuldade em aceitar esta ideia. Quando ela conseguiu, o estômago dela virou-se novamente.
–Rebecca, ele vai ser vendido por esse preço porque vai ser vendido como um retrato feito por Cuyp. Eu não...
–Mas você o pintou. Você deveria receber mais do que dez xelins por isso.
Rebecca não estava vendo toda a questão. Não estava vendo a parte moral, ética deste problema. Se elas se fossem embora sem dizer uma palavra, alguém iria ser enganado no leilão.
–Há outros seus? –Ela se virou para olhar para a parede, para os quadros que ainda não tinham visto.
–Nada que eu possa ver.
–Talvez isto tenha sido um erro.
–Ha.
Aquele “ha” ecoou nos seus próprios pensamentos. Querida Mary Moser, escrevo para agradecer por sua recepção gentil e conselhos. Infelizmente, agora encontro-me em Newgate enquanto aguardo julgamento por roubo através de fraude, após ter sido implicada em um esquema para vender quadros falsificados de grandes mestres...
Ela andou até ao homem no canto. Ele cumprimentou-a muito bem, mas o seu olhar desviou-se para Rebecca, quando ela apareceu ao lado.
–Eu preciso explicar que um erro foi feito. –Eva apontou para o quadro e, em seguida, para o panfleto. –Não é por Cuyp.
–Temos bastante certeza de que é. Um bom exemplo de sua arte também.
–Não, não é. Estou mais certa que não é do que você tem certeza que é, porque pintei esse quadro.
Ele fez um sorriso cortês. Diversão brilhou nos olhos dele. –Tenho certeza que você pintou, senhorita.
Foi só isso. Nada mais. Ele não acreditou nela, mas ele não quis insultá-la discordando, então ele só sorriu e sorriu. Ela foi deixada ali como uma tola triste, exatamente como ele pensava que ela era.
Ela pegou o braço da Rebecca e foi para o meio da sala. O que fazer?
–Ele acha que você não podia pintá-lo porque você é uma mulher –disse Rebecca.
–Não, ele acha que eu não poderia, porque ele acredita que Cuyp o fez. –Ela enfrentou a pintura. –Realmente parece muito bom, nesta luz. Muito melhor do que na nossa biblioteca. –Um brilho inapropriado de orgulho dela coloriu o seu rosto.
–Talvez se você informasse o Sr. Fitzallen, ele poderia convencê-los.
–O que eu diria a ele? Que ocorreu a coisa mais incrível que se pode imaginar? Que eu tirei uma pintura fora de sua propriedade sem permissão, a copiei, vendi a cópia em Birmingham, e agora, vejam só, eis que estava à venda em um leilão de Londres como o original? Por que deveria ele acreditar que eu não fui cúmplice e fiz as cópias com essa finalidade, em primeiro lugar?
–Porque você é amiga dele? E porque está dizendo a verdade?
–O magistrado que for chamado não será meu amigo. Não vê como isto parece? Fiz essas cópias em segredo. Não se sabe sobre elas, exceto você. Mesmo isso, agora parecerá suspeito.
–Você acha que os outros que vieram de Londres também estão sendo vendidos como originais, em outro lugar? –Rebecca perguntou.
Esse pensamento fez com que o estômago de Eva ficasse perigosamente nauseado.
Rebecca deu-lhe um pequeno abraço e acariciou o seu ombro.
–Apenas temos certeza da existência desta pintura. Quem compra isto, provavelmente tem uma enorme coleção que inclui outras falsificações e nunca vai saber. Especialmente, se o original ficar no sótão. Todavia, você, provavelmente, nunca deve dizer nada ao Sr. Fitzallen sobre as pinturas lá em cima.
Elas foram para a porta. Eva olhou para a pintura. Ela brilhava na luz, lançando o seu próprio brilho. O cálice de fogo pareceu tão real que podia se quebrar.
Apesar da sua preocupação com o uso indevido da pintura, orgulho inundou o seu coração. Talvez a Jasmine Neville estivesse correta...as mulheres não foram ensinadas a ter ambição suficiente. Talvez ela, Eva Russell, possuísse mais talento do que ela pensava e devesse ter como objetivo não só melhorar, mas também para se superar, para brilhar.
No mínimo, uma coisa poderia ser dita agora. Se Christie colocou o seu quadro na lista como uma pintura de Cuyp, ela não era apenas uma copista mediana. Ela era muito boa.
Gareth dirigiu-se para fora de Londres e, em seguida, chutou o seu cavalo a galope. A velocidade permitiu-lhe um alívio para a frustração que estava crescendo nele. Ele tinha passado outra noite inquieta, tentando, além da razão, conseguir encontrar uma razão que lhe permitisse entrar na zona onde ficava o quarto de Eva.
Ele não esperava se importar tanto como as coisas tinham ficado entre eles. Ela tinha idade para ser curiosa, de forma muito agressiva, e ele tinha escolhido mostrar-lhe as coisas e ensiná-la. Por ela ter virado as costas ao prazer mais cedo do que ele esperava - ou queria, ele admitiu - isso não devia incomodá-lo da maneira que o incomodava agora.
A verdade era, arrependeu-se de ter arranjado a Eva o convite para o baile De Vere. Quando ele conseguiu o convite, ele antecipou o prazer dela com o seu presente e antecipou uma agradável noite assistindo à sua beleza ofuscante. Nunca lhe ocorreu que outros homens podiam competir por sua atenção. Não, porque ela não merecesse tanta atenção, mas, porque ele teve que admitir agora, na cabeça dele ela ainda lhe pertencia. Com ele.
A admiração ousada do Whitmere deixou claro quão fascinante ela podia se tornar. Esse baile estaria cheio de senhores e herdeiros. Senhores, com forte linhagem e extensas propriedades e títulos. Ah, sim, não se podia esquecer dos títulos. Um título era o mais importante, não era?
Ele visualizou os filhos da nobreza se alinhando, pedindo a Eva danças, procurando agradá-la. Naquele salão de festas, entre essas pessoas, ser um bastardo lhe importaria, como raramente ocorria em sua vida. Nem ele poderia avisá-los a todos, como ele tinha feito com Whitmere.
Ele nunca tinha invejado os seus irmãos antes. Pelo menos, não muito. Não com a má disposição e irritação... que ele tinha agora, quando ficou perto de amaldiçoar o seu nascimento. A culpa que isso provocou, por sua vez, só alimentou o seu mau humor. Toda a sua vida, ele tinha esperança que ele pudesse um dia reclamar os seus meios-irmãos como verdadeira família em espírito, se não mesmo na lei. Hoje, Lance, sem pensar duas vezes, tomou um grande passo em direção a isso. Eu às vezes esqueço que você é um bastardo. Lembrar essas palavras agora, levava-o para o momento em que deveria colocar uma rédea na sua boca e ficar sozinho com os seus pensamentos.
Droga, às vezes, ele conseguia ser um idiota. Só um tolo desperdiçava a vida com raiva sobre o que poderia ter sido. Nem as suas circunstâncias o deixaram empobrecido ou obscuro. Ele podia ser um bastardo, mas ele era reconhecido. Com a partida de Percy, os seus irmãos já estavam mais próximos. Ele virou o seu cavalo e cavalgou até à cidade a um ritmo mais lento. Ele desmontou e entrou na Mansão de Langley. Quando ele perguntou se Srta. Russell tinha retornado, o mordomo disse que ela tinha e estava atualmente no jardim.
Nos fundos da casa, ele olhou pela janela. Eva sentara-se num banco de terraço virado para a parte de trás do jardim. Parecia que ela estava desenhando.
Sua mente a viu em seu próprio jardim. Forçada a fazer o trabalho de uma criada por necessidade, o artista nela encontrou alegria nisso, não a humilhação. Ele achava que a mulher da nobreza também tinha encontrado alegria. Ao preservar esse jardim, ela também tinha preservado a mulher que ela tinha nascido para ser.
Ele abriu a porta e saiu para ficar com ela.
Eva virou-se ao som de passos se aproximando. Quando ela o viu, alívio suavizou a sua expressão.
–Oh, é você.
–Esperava outra pessoa? –Ele sentou-se ao lado dela, e inclinou a cabeça para ver o que ela desenhou.
–O Sr. Geraldson. Ele enviou uma mensagem pedindo para falar comigo aqui, antes do jantar.
–O secretário do Lance?
–Eu sei que parece estranho, mas –ela pousou o seu caderno no banco entre eles. –Esta manhã, veio um convite para Srta. Russell. Há um baile na próxima terça. Acho que era para minha irmã, mas..
–Não era. Era para ti.
–Você conseguiu isso? Então, eu teria uma grande noite?
–Eu fiz isso. Assim, eu também passaria um bom momento. Eu a acompanho, se você estiver de acordo. Espero que aceite.
–Eu ainda não aceitei. Eu, realmente, não vim para a cidade preparada para tal coisa. Mesmo a roupa de Sarah não conseguirá deixar-me apropriadamente vestida para isto. Enfim, quando voltei para casa hoje, o Sr. Geraldson enviou um aviso pedindo para me encontrar aqui em relação ao baile De Vere. O Duque também vai?
–Nenhum dos meus irmãos vai participar, devido ao luto. Acredito que o Sr. Geraldson vai dar-lhe um presente, um novo vestido de baile. Meu irmão mencionou que você pode declinar porque não trouxe o guarda-roupa necessário.
–É extremamente generoso da parte dele, considerando que eu só o vi uma vez na minha vida e apenas por alguns minutos.
–Ele tem um coração generoso. Eu não ficaria surpreso se o Sr. Geraldson for propor que você mande fazer um vestido e lhe mande a conta.
–Eu não sei se isso é aceitável.
–Sendo picuinhas de novo, não é?
Ela riu, então assentiu com a cabeça.
–Aylesbury não vai estar presente na noite do baile. Ele não vai dançar com você, e ele, de certeza, não vai agir como se você lhe devesse algo em troca do vestido. De qualquer maneira, não é mesmo um presente dele, Eva. Pense nisso como um presente da casa de Aylesbury.
Ela pensou quando ele terminou, que estava metade convencida.
–Você sabe como seduzir uma mulher, Gareth.
–Espero que sim. No entanto, é sua escolha. Eu vou ter orgulho de ter você no meu braço, não importa o que você veste. –Uma parte dele, a parte que ainda estava um pouco irritada e que o levou a galopar, esperava que ela recusasse o vestido. Se ela aparecesse fora de moda, isso devia demover metade dos homens da linha que ele imaginou.
–Vou pensar isso. –Ela olhou para fora, para o jardim. –Gareth, todos os duques têm homens como o Sr. Geraldson, que aborda assuntos como este para eles, para que os duques não tenham que o fazer por si próprios? Assuntos que podem ser vistos como um tanto inadequados, ou mesmo muito?
–Espero que sim. No entanto, este vestido é uma coisa pequena, e considerando as circunstâncias, isso não irá comprometê-la. Agora, se um homem lhe oferecer uma carruagem, uma casa e carta-branca em gastos com joias, então você poderia muito bem suspeitar que ele está tentando comprar você. –Ele fez uma piada sobre isso. Eva riu, mas o olhar dela virou sério.
–Foi assim com a sua mãe? Um Sr. Geraldson apresentou uma proposta.
–Foi. Teria sido melhor o meu pai ter ido pessoalmente. O homem do meu pai não era páreo para minha mãe. Ela sabia o seu valor e conseguiu fazer uma barganha. –Ele imaginou Eva tratando essas informações na cabeça dela. Sempre curiosa, ela achou o protocolo fascinante, quase de certeza.
–Teve um bom dia? –Ela perguntou, mudando o assunto. –Eu tive. Bem, parte dele. Eu visitei Mary Moser, a famosa pintora. Srta. Neville deu-me uma carta de apresentação. Acredita que ela me recebeu?
–Eu não estava ciente de que ela ainda morava em Londres.
–Lamento dizer que está muito doente. No entanto, ainda foi capaz de manter uma conversa. Nós conversamos sobre arte. Ela deu-me alguns conselhos, novamente. Ela já me tinha dado alguns, alguns anos atrás, quando escrevi para ela. Conselhos sensatos, percebo agora.
–Que tipo? Trabalhe duro, desenhe diariamente, limpe seus pincéis?
Ela deu-lhe uma cotovelada brincalhona com o seu cotovelo.
–Nem de perto tão chato. Ela disseme que eu precisava desenhar ao vivo. Você sabe o que isso significa? –Seus olhos brilhavam com humor travesso.
–Sim. Talvez você possa subornar a sua irmã...
–Oh, isso não serve. Devo desenhar a forma masculina ao vivo. Posso nunca cumprir o meu potencial, se não o fizer. –Ela cruzou os braços e tocou o seu queixo pensativamente. –Gostaria de saber quem e como eu poderia convencê-lo? Erasmo? Um punhado de moedas deve conquistá-lo.
–Ou o Sr. Trevor, o arquiteto. Eu acho que ele ficaria feliz em fazê-lo e ganhar o seu favor.
–Por causa da propriedade, quer dizer.
–Por causa das possibilidades escandalosas.
–O Sr. Trevor? Que absurdo. Também não há nada de escandaloso nisso. Seria como olhar para uma estátua. Ou uma fonte. Ou um vaso. Um artista só estuda a forma e não se envolve em especulações sensuais quando está trabalhando ao vivo.
–Como você sabe se nunca fez isso? –Ele não acreditou, nem por um minuto, que os artistas nunca eram despertados por seus modelos. Que certas partes do artista desapareciam quando ele pegava em um pincel.
–Eu apenas sei. Eu tive a experiência de desenhar outras coisas e de ver como a mente funciona quando está focada.
–Que outros conselhos Mary Moser deu?
–Ela lembrou-me que casamento e arte não combinam bem. Ela tinha escrito isso para mim quando eu era uma menina, e eu não acreditei nela. Eu tinha certeza que ia ser diferente para mim. Então, quando eu tive que cuidar de meu irmão, cada vez menos trabalhei na minha arte e finalmente parei. Eu estava muito ocupada. Não tive tempo para mim. É o mesmo quando se casa. Multidões de deveres afastam todas as outras ambições. –Ela não pareceu nada triste. –Acha que o meu estado de solteira seria vantajoso para os meus planos.
A maneira como ela aceitou o decreto de Moser não lhe agradou, por razões que ele não poderia nomear.
–Certamente poderia ser diferente, poderia ser como você pensou quando uma garota. Com o homem certo poderia ser.
–Espero que você não vai sugerir o Sr. Trevor novamente.
–Deus me livre. Ele, provavelmente, iria dar-lhe dez filhos e não criados, e ter inveja de seu talento. Teria de ser um homem que conhecesse o seu plano e aceitou.
–Você parece quase sério, Gareth e muito sentimental para um homem tão cínico sobre o casamento e o seu propósito.
Ele pareceu sentimental.
–Há poucos homens, como você descreve. Além disso, se eu, por acaso, encontrar um, ele teria que ser muito rico para aliviar-me dos deveres que sei que a maioria das esposas tem, exceto as ricas. –Ela levantou o seu rosto para o sol baixo. –Mesmo assim –se você pensar sobre isso, as mulheres com mais liberdade para a arte são mulheres como a sua mãe. Ela não tinha nenhum dever exceto fazer o seu pai feliz e, mesmo esse, não era o tempo todo.
Mulher inteligente. Ela estava correta, claro. Para uma mulher à procura de segurança e independência, ser a amante de um homem rico era uma situação ideal. Não que ele pretendesse concordar com ela. Não depois do maldito Conde de Whitmere falar da necessidade de companheirismo após conhecê-la.
–Eu não acho que você ficaria feliz em uma vida assim, –ele disse. –Você é muito perfeccionista e com muito medo dos riscos, que, com certeza, você se lembra, incluem acidentes tais como eu.
Ela deu um apertão na mão dele.
–Eu acho que qualquer pai não se arrependeria de um acidente como você.
Uma tosse tranquila, por trás, os interrompeu. Ele largou a mão de Eva, depois virou e viu o Sr. Geraldson em pé. Perto da casa, discretamente posicionado para não ouvir a conversa.
Eva virou-se também.
–Você acha que ele vai falar comigo sobre este vestido de forma desdenhosa ou vai tratar-me como um caso de caridade?
–Nenhum dos dois. Ele vai ser correto em todos os sentidos, muita formalidade e respeito irá fluir para fora com cada uma das suas palavras. –Gareth levantou-se.
–Eu ainda estou muito dividida. Eu não sei o que fazer.
Se ela decidisse sozinha, o seu orgulho a faria recusar. Isso iria poupá-lo, mas deixaria a noite mais pobre para ela.
–Vou decidir por você, –ele disse. –Aceite o vestido e vá ao baile com estilo, Eva.
Capítulo 20
A semana passou num turbilhão. Eva mal teve tempo de desenhar, com excursões para a cidade e visitas à costureira.
Madame Tissot, a famosa modista recomendada pelo Sr. Geraldson, normalmente demorava várias semanas para concluir um vestido de baile. Para um Duque, no entanto, ela fez exceções. Três de suas costureiras foram destacadas para fazer o vestido assim que Eva escolheu o estilo e o tecido. Nas provas diárias, ela viu como o vestido estava a ficar.
Sarah e Rebecca insistiram em acompanhá-la cada vez que ia lá. A excitação delas era maior que a sua. Ela percebeu que todas elas estavam indo a esse baile, ela em pessoa, as outras duas em suas imaginações.
Ela não viu muito o Gareth. Ele acompanhou-as ao teatro numa noite, e o irmão dele, o senhor Ywain juntou-se a eles. Organizou uma visita a uma magnífica biblioteca de um Marquês que ele conhecia e a uma coleção de arte de um Conde. Uma noite, eles todos foram aos Vauxhall Gardens e sentaram-se num reservado comendo presunto antes de passearem no jardim e verem o entretenimento e fogos de artifício. Alguns dias, porém, só se viam no jantar.
Finalmente, no dia antes do baile, ela encontrou algum tempo para si mesma. Após retornar da Madame Tissot e da inspeção final do vestido, ela implorou para não ir às compras com Sarah e Rebecca e voltou para a casa. Acima, em seus aposentos, ela afastou as cortinas tão longe quanto possível para que as luzes do Norte enchessem a sua sala.
Colocou alguns objetos em uma natureza morta que ela colocou em uma mesa perto de uma das janelas... assim, a luz iluminou a composição a partir do lado esquerdo. Sentando-se, ela começou a desenhar.
Logo as suas observações a absorveram, e os movimentos suaves do seu lápis a acalmaram e a hipnotizaram.
–Já chegou?
Ela olhou para cima. Gareth estava em pé, perto de seu ombro.
–O vestido? Está aqui? Eu tinha esperança de vê-lo.
–Ele será entregue amanhã de manhã.
–Terei que esperar até amanhã à noite então. –Ele chegou mais perto e moveu a cabeça para ver o desenho.
–É só uma composição de natureza morta. Não é complicada, mas a forma é forma, e não há nada como praticar para melhorar.
–Creio que isso é verdade.
Ele pairou no ombro dela, olhando para ela. Ela sentiu-o ali, bem atrás da cadeira dela. Seu calor, sua energia - enquanto ele a acompanhou em torno da cidade, havia outros com eles, diluindo um pouco o seu efeito, a sua energia, distraindo-a. Agora, no silêncio, ela sentiu o ar ficando pesado com palavras não ditas e desejo não reconhecido. Ela se perguntava se ele também sentia isso.
Talvez tenha sido diferente para ele aqui em Londres, onde ele estava no seu elemento. Ele tinha muitos amigos aqui. Eles o cumprimentaram no parque e na cidade. Homens pararam para conversar e mulheres sorriram à distância. Seu charme abriu muitas portas, até mesmo para ela. Ela duvidou que cada visitante de Londres visitasse a coleção de arte do Conde, ou mexesse nos manuscritos iluminados impagáveis de um Marquês.
Ela esforçou-se para se concentrar em seu desenho, mas a proximidade dele a atormentava.
–Eu acho que eu não lhe agradeci pelo vestido.
–Não fui eu que o dei.
–Eu só aceitei por sua causa. Foi muito emocionante, ter um vestido feito e não me preocupar com o seu custo. Você foi gentil em ter tratado disso para mim.
–Vou adorar vê-la nele, Eva, e apenas lamentar que o presente não seja meu.
Porque isso levaria a que as pessoas assumissem certas coisas, apesar de ambos saberem que não havia nada. O que as regras da sociedade faziam, só causavam confusão e constrangimentos.
Ela pousou o lápis e fechou o seu caderno. Ela não suportava estarem sentados assim, com ele tão perto.
Ele, de fato, afastou-se dela.
–Ainda há tempo para uma volta no parque, eu acho. –Ele foi até a porta da sala. –Você gostaria de juntar-se a mim?
–Não. –As palavras surgiram do nada. –Por favor, não vá.
Ele olhou para baixo em sua mão, segurando a trava da porta.
–Você tem-me em desvantagem, Eva.
–Eu sei. Mas não quero que saia. Então vou ficar aqui sozinha, pensando, lembrando... –Ela levantou-se e colocou o seu livro e giz de cera na cadeira dela.
–O que você quer de mim? –Ele parecia irritado.
–Não tenho a certeza. Mas, eu não quero caminhar com você, com todas aquelas pessoas em volta. Estou sempre a compartilhá-lo agora. Tivemos pouco tempo juntos, como tínhamos em Langdon´s End.
Ele a encarou.
–Nós éramos amantes. Isto é como é, quando nós somos amigos. Que se veem uns aos outros na companhia de outros amigos.
Ela aproximou-se dele.
–Tem que ser assim? Não podemos ter um tempo como tivemos no jardim na semana passada? Meu tempo é mais triste quando você está fora e só metade alegre quando há outros conosco.
–Mais triste? Mais triste? –Ele entrou na sala. –Eva, você exigiu-me uma promessa, e eu a mantive. No entanto, eu sou um louco quando estou com você. Pode imaginar que inferno tem sido? Eu não sinto só falta da sua companhia, droga. Tenho fome de você. Ando louco de tesão enquanto eu faço de guia do visitante e do bom vizinho. Então, não me peça para a ver em particular e proporcionar diversão para que seu tempo não seja triste.
–Não preciso de diversões. Eu não. Preciso de... –ela estendeu a mão e colocou a palma da mão no peito dele. Calor. Ela precisava de calor. Ela fechou os olhos e saboreou a conexão sob a mão dela.
–Eva, você está em grave perigo de ser violada, e a honra que se dane. Retire a sua mão e dê passo para trás.
Ela abriu os olhos e olhou para a mão dela.
–Eu não posso removê-la. Está presa. –Ela a moveu pelo seu peito, debaixo do casaco. –Oh, olhe. Pode mover-se. Não está totalmente presa. Demasiado pesada para a levantar, eu suponho. –Ela o acariciou, por cima do ombro, sentindo todos os ossos e músculos que lhe davam uma forma atraente.
Ele sofreu mas se aguentou, mostrando mais estoicismo do que ela queria. O que aconteceu com a honra que se dane? Ela chegou mais perto, para que o seu perfume enchesse a cabeça dela. Os lábios dela pairaram a uns centímetros de seu queixo, tentando-o. Ela alisou a mão para baixo. Seu estômago tenso quando ela passou por cima. Sua ereção roçou a palma da sua mão. Ela fechou os dedos em torno dela através de suas calças.
–Maldição, Eva. –Dedos esticados através do cabelo dela, segurando a cabeça dela contra o seu peito. Ele virou a cabeça dela para ele. Ele a reclamou com um beijo cheio de fome. Ele palpitava na mão dela, ficando maior e mais duro. Ela abraçou-o com o outro braço e deslizou a ponta dos seus dedos para baixo, até que eles rastrearam a ondulação dura do seu traseiro.
A excitação dele passou através dela calorosamente, colorida com o contentamento de retornar a um lugar conhecido. Mais uma vez. Isso não pode ser mau.
Seus corpos entrelaçados, unidos por uma paixão imprudente e desesperados beijos e abraços apertados. Ela queria mais. Maior intimidade. Ela abaixou o casaco e ele tirou-o. Seu próprio vestuário a irritava. Ela queria que ele a tocasse totalmente, a sua pele na dela e seu corpo a dominando. Ela soltou um braço para desapertar o vestido dela.
–Não há tempo. –Ele empurrou-a para que ela caísse na cama. Ele se ajoelhou ao lado dela e levantou a saia e camisa. –Venha aqui. Mais perto.
Ela sabia o que ele pretendia.
–Não.
–Sim.
–Eu vou gritar.
–Cubra a sua boca. –Ele moveu-a, levantando as ancas dela e deslocando-os para a borda da cama.
Ela não resistiu. Ela não queria. Ela separou os seus joelhos e esperou ofegante pelo primeiro beijo. Toda ela estava esperando - exortando, ansiando, latejante. Quando chegou, ela gemeu com alívio, então, com espanto em como as sensações destruíram todo o sentido. Mais uma vez, ela gemeu. O gemido transformou-se em um grito de mendicância. Com a última parte da sanidade, ela pressionou a palma da sua mão contra a boca dela.
Ela ficou silenciosa depois disso. Os gemidos ficaram dentro dela. Fazendo-a frenética. O prazer cresceu e cresceu, e os olhos dela rasgaram da intensidade. O grito da libertação dela também se manteve dentro dela, multiplicando o seu efeito, aumentando o tom requintado de delírio.
Ela voltou ao mundo e abriu os olhos. Gareth ficou na frente dela, com os olhos quentes, excitado, sobrecarregando-a com o poder do seu sexo. Ela se levantou e liberou a sua roupa da parte inferior. Quando ela ficou sem a roupa, ela acariciou o seu pau.
–Beije-me. Compreende o que quero dizer?
Por um momento, ela não o entendeu. Então, ela olhou para ele.
Ele a virou.
–Estou muito muito excitado, de qualquer maneira. –Ele não fez mais pedidos. Ele não deu instruções. Ele a moveu como quis, até que ela se ajoelhou com a cabeça baixa e os quadris para cima. Ele empurrou as suas roupas novamente, até que ele expôs o traseiro e as pernas dela.
Ele a fez esperar. Ele acariciou a sua bunda. –É o inferno que eu lhe quero tanto. –Ele pressionou a ereção entre as coxas, mas não dentro dela. Ele tocou e pressionou o ponto mais sensível. Ela cerrou os dentes para tentar controlar o estremecimento da necessidade que gritava através dela. –Quando você estiver dançando no baile, lembre-se de como se sente agora, Eva. Lembre-se do bastardo que pode fazer você chorar com desejo.
Ele entrou nela, provocando-a com a sua lentidão. Uma e outra vez, ele a atormentou até que ela chorou, silenciando os sons com a roupa de cama. Então, a mansidão desapareceu e ele levou-a mais duro do que ele alguma vez já tinha feito, até que outra onda passou através dela em um cataclismo de sensações uivantes.
Ela desmaiou na cama. Ele não. Sons penetraram o seu estupor. Ela olhou e o viu a fechar a porta. Ele voltou e sentou na cama.
–Botas malditas, –ele murmurou. Ele as tirou. Ele tirou a sua camisa e calças e, em seguida, virou-se e desabotoou o vestido dela.
Quando eles estavam nus e deitados lado a lado, ele começou a paixão novamente.
Gareth rolou sobre suas costas após o prazer convulsivo ter diminuído. Ele respirou fundo e abriu os olhos. Longas sombras dançaram na parede mais próxima. A luz do lado de fora da janela mostrou o crepúsculo, deslocando-se para o leste, mas inflamando listras laranja do céu do Oeste. A janela emoldurou tudo como um quadro.
Atrás dele, de costas, a cabeça virada para fora, Eva via isso também, como se ela estivesse decorando essa imagem.
Ele virou-se, ficando em seu estômago, e jogou o braço por cima dela. Ela virou a cabeça para ele. Seus narizes quase tocaram.
–Você fez-me lhe seduzir novamente, –ela disse. –Não parece justo. É suposto você seduzir-me.
–Eu não quebro as minhas promessas, a menos que seja obrigado, como hoje.
–Mas você é suposto ser o mau, não eu. Você é aquele com a reputação.
–Não como um devasso. Não como um canalha.
–Não. Como irresistível. Suponho que eu, mais uma vez, provei isso ser verdade.
–Não me culpe se você sabe que não deve ter o que quer, e você decide tomar o que quer, de qualquer maneira.
Ela virou a cabeça, olhou para a janela novamente.
–É bom mentir assim. Suponho que não podemos mais.
Ele estava muito confortável para se mover.
–O jantar é daqui a umas horas.
Ele começou a adormecer e resistiu quando ela falou novamente.
–Temo um pouco sobre a noite de amanhã. Torno-me mais inquieta com cada hora que passa. Mesmo com esse vestido, eu posso não ser adequada para tal reunião elegante.
Ela se preocupava que ela não fosse. Isso lembrou-o de avaliação de Whitmere que, na verdade, ela seria.
–Quando você olha em um espelho, não sei o que você vê, Eva. Não vê o que eu vejo desde que quase derrubei você com meu cavalo naquele dia, isso é óbvio.
–O que você viu naquele dia, além de uma solteirona com raiva e o pé em uma poça de água?
–Eu vi uma mulher que se conhecia a si mesma, e que tinha o autocontrole para ralhar com um estranho. Uma linda mulher com olhos vivazes. Uma corajosa mulher, que não mentiu para ela sobre as noções do adequado comportamento feminino entrando em sua cabeça durante esse argumento.
–Não deveria notar a última parte. Eu pensei que eu era muito boa em esconder isso.
–Se os seus próprios pensamentos não seguissem o mesmo caminho, você podia ter sucesso. Mas quando duas pessoas compartilham uma atração sexual tão poderosa e tão rapidamente, é impossível esconder.
Ela pressionou os seus lábios nele.
–Também é impossível negar isso, pelos vistos. É muito injusto que o deva fazer.
Em sua mente, ele começou a juntar a reafirmação de que ele não esperaria que ela tivesse uma recaída novamente, mas deliciosamente o seduzisse em silêncio. Isso e o fato de que ele estaria mentindo.
A luz do norte, cinza agora e desaparecendo rápido, mostrou o perfil de Gareth com maior clareza. Sutis sombras formadas, mal visíveis, que exigia o mais leve toque com seu giz para imitar.
Ela sentou-se na cadeira que ela tinha mudado para o lado da cama, perto do pé dele, assim ela poderia desafiar-se com uma perspectiva mais profunda. Em seu estômago, o seu corpo descoberto, o braço que a tinha abraçado estendido no espaço onde ela tinha estado deitada com Gareth. A página no caderno mostrou o seu contorno, e agora ela tentou fazer a figura real.
Ela estudou o rosto longo e duro, e, a cada momento, ela tornou-se menos a artista e mais a mulher. Ela viu aquele rosto em cima do dela em seu frenesi de prazer, grave e sensual, não calmo e quase suave como agora. Ela viu a sua bondade, com humor íntimo nos olhos dele quando ele brincava com ela.
Ela olhou para baixo e percebeu que ela não tinha feito marcas no papel há algum tempo. A luz iria desaparecer em breve, e ela devia acordá-lo para sair. Ela terminou a cabeça, mas sem pormenores. Ela desenhou eficientemente para que ela tivesse o suficiente para evocar uma lembrança de como ele estava lindo agora. Em seguida, mudou-se para os ombros, tentando capturar a complexidade da anatomia lá através de realces e sombras.
Ela tinha terminado seus ombros e muito das costas dele quando a luz se tornou inútil. Ela colocou o seu caderno e giz na mesa que tinha a natureza morta e foi para a cama. Ela tocou seu ombro.
–Você deve ir agora. Jantar é em menos de uma hora.
Ele sentou-se, limpou os olhos e alcançou as suas vestes. Dez minutos mais tarde, ele pareceu o mesmo que tinha entrado nesta câmara. Elegante. Confiante. Devastador.
Ele iria ficar igual na noite de amanhã, só que melhor. Ela entraria naquele baile pelo braço dele. Seu presente para ela era uma noite para recordar para sempre e que poucas mulheres tiveram.
Apenas a memória que nunca morreria era a deste momento, enquanto ela o via a consertar os punhos da camisa nas sombras da câmara. Ela nunca iria esquecer a emoção de ter o seu caminho com ela.
Desejo, ele o chamou assim. Tempestuoso e convincente, mas ainda mero desejo. Transitório. Não amor do jeito que os poetas descreviam. Isso era uma ilusão, inventada para embelezar a luxúria.
Talvez sim. Faltava-lhe a experiência para discutir, ou para conter e controlá-lo.
Era uma coisa amaldiçoada, o coração humano. Ele não conhecia a razão, a disciplina. Levava-o a amar o que poderia destruí-lo e não sabia a diferença entre alegria e dor.
Ele, na manhã seguinte, depois de não ter sabido nada de interessante em sua conversa com Clifford, montou para fora de Ramsgate com Ives, para falar com o dono da empresa de transporte que tinha levado os quadros ao norte. O homem pareceu bastante honesto e Ives e ele concordaram que, se algo estava errado no trânsito, ele provavelmente não estava envolvido.
Ao retornar para casa no meio da tarde, tudo estava quieto. Os preparativos para o baile, sem dúvida, estavam em curso. Ele duvidou que Eva pudesse surgir das câmaras de Sarah até que fosse tempo para a carruagem.
Seus próprios preparativos tiveram de esperar. Lance tinha deixado uma intimação para ele com o mordomo. Foi acima e encontrou Lance sendo preparado para o dia. Outro homem sentava-se no camarim, bebendo vinho e parecendo impaciente. Gareth o conhecia. O Visconde de Demmiwood tinha sido amigo de Lance até que ele tinha casado e desistido de seus hábitos mais imprudentes e despreocupados.
Os anos não tinham sido gentis com o Visconde. Enquanto Lance parecia manter o seu ar fresco, Demmiwood parecia ter envelhecido bastante. Uma pança de contentamento alargava o seu colete. Os caracóis justos deitados para a frente sobre a testa não escondiam uma linha fina de falta de cabelo.
Agora, aquela testa mostrava a tonalidade rosa e brilho de suor que indicava que o Visconde tinha experimentado angústia. Ele manteve-se cruzando e descruzando as pernas.
Lance interrompeu a odiada raspagem da sua barba para cumprimentar Gareth.
–Você conhece Demmiwood. Ele veio para mim com um conto extraordinário. Eu disse-lhe que você e Ives devem ouvi-lo, mas o lacaio enviado ao apartamento de Ives veio de volta dizendo que ele não estava em casa.
–Nós dois saímos da cidade. Ele deve estar lá agora. Envie o lacaio lá outra vez.
–Não tenho tempo para isso, –disse Demmiwood. –Eu tenho que me preparar para o baile DeVere.
–Como tem o Gareth, –disse Lance. –Não há tempo a perder, então. Diga-lhe, Demmiwood.
O Visconde pousou o seu vinho. Gareth deu-lhe atenção.
–Há dois dias, um vendedor de quadros que tem sido conhecido, às vezes, por pôr as mãos em quadros excelentes, escreveu e pediu para me visitar. Ele tinha algo de muito especial, ele disse. Muito importante. Reservado, ele foi, como se ele não ousasse ser específico porque outros podiam ficar com o quadro antes de mim, se os detalhes fossem revelados. Pela sua excitação, imaginei que seria um Gainsborough. Eu, como meu pai antes de mim, sou conhecido como um colecionador de seu trabalho. Encontrar aqueles que não são retratos é difícil, claro.
–Então, estava interessado.
–Certamente. Posso não ter o olho do meu pai, mas sou conhecido como um conhecedor.
Na verdade, Demmiwood era conhecido como um alvo fácil. Sua vontade de pagar um bom dinheiro por trabalho fraco era infame. Ele tinha acumulado uma das melhores coleções de arte de segunda na Inglaterra. Gareth tinha sido tentado a descarregar os remanescentes menos satisfatórios de uma de suas coleções intermediadas nele, mas não o fez por respeito pela amizade de Lance com o Demmiwood.
–Então, encontrei-me com este homem. Ele me presenteou com isto. –Demmiwood chegou para baixo ao lado do divã, em que ele estava sentado e levantou uma pequena imagem com uma moldura de gesso dourado. –'Gainsborough,' ele disse. Normalmente, eu teria ficado feliz. No entanto, com um olhar, eu sabia que aquilo não era verdadeiro.
–É falsificação, isso é certo. Muito bom, mas ainda uma falsificação.– –Eu te disse que Gareth era bom, –disse Lance. –Ele vê um problema a 3 metros.
–Não é apenas uma falsificação, –disse Demmiwood, sua agitação crescente. –É uma cópia. O original costumava estar pendurado na Galeria da minha propriedade. Esse é meu pai. –Ele apontou para uma das figuras. –Este é um retrato dele e seus irmãos quando eles eram meninos.
Gareth andou, levou a pintura e retirou-se para uma janela para examiná-la à luz.
–Que coisa, –disse Demmiwood. –Ser oferecida uma cópia forjada de sua própria pintura!
–Você acusou o vendedor de quadros de tentativa de fraude?
–Eu não o fiz. Engoli a minha indignação e pedi-lhe para deixá-lo comigo por uns dias enquanto eu decidia. Eu não queria alertá-lo que eu sabia o seu jogo e ele desaparecesse.
–Estou grato que você não o alertou. Você disse que esta imagem estava pendurada em sua Galeria.
–A sede do Condado de Demmiwood está em Sussex, claro –Lance disse, significativamente. –Gareth sabe tudo sobre as imagens desaparecidas, Demmiwood.
–Então, ele não pode ficar surpreendido que o original estava entre eles. Embalado e enviado para a segurança, ou todos pensávamos isso. Agora, isto. –A mão dele apontou para o quadro nas mãos de Gareth.
Gareth esfregou o polegar ao longo do canto de baixo. Ainda úmida. A pintura não tinha sido feita há muito tempo. Mais, provavelmente, apenas alguns meses se passaram.
O que significava que quem pintou isto teve, muito recentemente, o original disponível. Foi o primeiro erro de quem roubou as imagens. Com sorte, seria tudo o que era necessário.
–Quando é que este vendedor de imagens espera esta de volta?
–A pintura ou o meu dinheiro é esperado amanhã. Eu pensei que, talvez, eu pudesse forçá-lo a me dizer o paradeiro do original, mas depois de pensar sobre isso, duvido que ele mesmo admita o crime, quanto mais me dar informação que pode ser prejudicial.
Gareth colocou a imagem para baixo, ao lado do divã, de novo.
–Dê-me o seu nome, por favor. E deixe isto aqui, por agora, caso seja necessário.
Com as informações na mão, Gareth foi para seu quarto e escreveu uma nota para Ives informando-o da necessidade de chamar um vendedor de imagens pela manhã. Depois ele leu por duas horas, até que o criado que ele estava usando na casa de Langley chegou para ajudá-lo a vestir. Às 22:00, ele deixou a sua câmara, andou para baixo, e bebeu um pouco de vinho em uma sala que ladeava o salão de recepção.
Ele não teve que esperar muito tempo. Em breve, uma comoção gentil cantarolava e ecoou na escada. Risadas femininas, sussurros e um –Cabeça erguida, agora.
–Ele foi para o salão de recepção e olhou para cima da escada. Ele apanhou um relance de seda pálida e tecido cintilante, do cabelo vermelho da Sarah e do rosto jovem da Rebecca.
Elas viraram no alto da escada e desceram. Eva parecia resplandecente em um vestido de seda com pequenas pérolas e laço lindíssimo. Um toucado correspondente com duas penas decorava o seu cabelo castanho ondulado e um xale felpudo drapeado estava nos braços dela. Elas flutuaram para baixo para encontrá-lo.
Linda. Aprumada. Real. Ela sabia disso. Ela brilhava.
Ele pegou o braço dela.
–Você está incrivelmente linda, Eva.
Quando ela entrou na carruagem, ele viu algo inesperado. Entrelaçados no meio dos seus cachos, quase escondidos pelo toucado, uma mancha de cor compensava todos os brancos e cremes tal como algumas violetas faziam um jardim de noite branco parecer muito mais rico. A artista tinha enfiado uma simples fita no cabelo, para variar a paleta apenas o suficiente para evitar que fosse previsível. Uma fita de lavanda.
Capítulo 21
Eva conseguiu não ficar de boca aberta e arrulhar como uma empregada, mas o baile De Vere provou ser tudo o que qualquer mulher sonhava que um baile fosse. As velas, os vestidos, os músicos, a sala de jantar. Ela memorizou tudo o que viu, para que ela pudesse dizer mais tarde a Sarah e Rebecca.
Gareth reivindicou a primeira dança com ela, como seu acompanhante. Ela gostou tanto que não conseguia parar de sorrir. Em seguida, Gareth apresentou-a a outras pessoas. Um grande número de pessoas. Alguns dos senhores também a convidaram para dançar. Depois do quarto, ela procurou Gareth, mas não conseguia vê-lo.
Ela decidiu encontrar uma cadeira perto da parede. Estava a acabar de sentar-se quando se aproximou outro cavalheiro. Ela já o conhecia. Era o Conde de Whitmere, a quem ela tinha sido apresentada no seu primeiro dia em Londres.
–Srta. Russell! Eu pensei que poderia ser você. –Ele curvou-se e, em seguida, olhou ao redor. –Não creio que Aylesbury veio afinal.
–Não. O Sr. Fitzallen me acompanhou.
–Só para abandoná-la? Bem, o que se pode esperar. Ele tem muitos amigos para entreter, se você sabe o que quero dizer. –Ele sorriu confidencialmente. Intensamente. –Aylesbury, pensou que eu deveria diverti-lo esta noite, mas eu escolhi me divertir. Estou tão feliz que eu fiz isso. –Outro sorriso, cheio de elogios significativos.
Este Conde estava flertando com ela.
Para o Conde de Whitmere, flertar incluía falar muito sobre ele mesmo. Ela o deixou falar, questionando-se sobre se havia alguma etiqueta especial envolvida em evitar a companhia de uma pessoa do mesmo nível.
–Você descansou? Vamos dançar? –Ele finalmente perguntou. –Eu ficaria honrado.
–O Sr. Fitzallen...
–Fitzallen deve ter cinquenta ex-amantes aqui, cara senhora. Por razões desconhecidas, todas elas permanecem amigas dele. Ouso dizer que você não o verá novamente até que a noite acabe. –Ele ofereceu a mão. Ela aceitou e juntaram-se à próxima dança.
Ela sentiu alguma obrigação de ser mais vocal. Como a dança campestre os aproximou, ela encontrou algumas perguntas sobre sua propriedade que podia fazer. Ele encontrou algumas questões para perguntar sobre a família dela. Quando terminou, ele não a aborrecia tanto.
Para sua surpresa, um dos outros homens com uma apresentação pediu para dançar. Lord Whitmere baixou-se, parecendo arrependido. –Talvez a veja mais tarde, Srta. Russell.
Desta vez, enquanto ela dançava, ela percebeu que Gareth também estava a dançar. A sua parceira nunca tirou os olhos dele. A senhora era uma mulher muito loira, de incrível beleza; o olhar dela falava demais para um lugar público. Ela parece como eu me sinto às vezes. Isso a lembrou do comentário do Lord Whitmere sobre as amantes de Gareth e de Jasmine Neville descrever como as bem-nascidas senhoras nunca queriam desistir dele.
De repente, ela não sentiu magnífica e bela, mas muito comum. Tola também. O que ela tinha conhecido com Gareth não era nada especial para ele. Ela era apenas um caso de uma longa linha deles, apreciada por um homem que antecipou gostar ainda muito mais de outras mulheres. Quão estúpido dela perder de vista isto.
Um jovem simpático, perto dela em idade e parecendo muito jovem, ela pensou, pediu para acompanhá-la para jantar. Então, ela sentou-se com ele, enquanto ele a distraía com conversa sobre os seus cavalos.
Depois, enquanto ela se sentou em um banco perto dos músicos, ouvindo-os tocar, o Lord Whitmere novamente pediu para dançar.
Desta vez, foi diferente. Ela não poderia citar porquê ou como, mas a atenção dele parecia mais focada nela. Sua conversa permaneceu leve, mas ela não poderia evitar a sensação de que alguma avaliação estava em curso, como se ele fosse determinar se ela era adequada e merecia o incômodo. Seu olhar fê-la desconfortável, apesar dele ser tão simpático e gracioso como antes.
Quando você estiver dançando no baile, lembre-se de como você se sente agora, Eva. Lembre-se do irmão bastardo que pode fazê-la chorar com desejo.
Ela lembrou, e um nostálgico estremecimento aqueceu o seu sangue. Cada vez que ela viu Gareth, ele conversava com outra mulher, deixando claro que o seu sangue aquecia por muitas, não só por ela.
–Você permanecerá em Londres mais tempo? –Lord Whitmere perguntou, quando ele a levou embora depois da dança.
–Não muito mais tempo.
–É uma pena. Com um pouco mais de tempo, eu acredito em você e eu poderíamos nos tornarmos grandes amigos, Srta. Russell. –Seu sorriso, confiante e arrogante, disse muito mais.
Ele quis dizer amigos como ela e Gareth eram amigos. O Conde tinha intenções desonrosas.
Ela quase riu com essa frase. E com o seu choque. Quem era ela para se sentir insultada? Ela corajosamente já tinha abandonado a sua virtude e não se sentia culpada por isso. Ele tinha adivinhado isso? Ele considerou as solteironas de uma certa idade de jogo justo?
–Certamente a vida naquela vila que você descreveu não se compara com a excitação da cidade durante a temporada, –ele disse. –Reze para considerar ficar, pelo menos, mais uma semana.
–Eu não gostaria de exagerar as minhas boas-vindas como convidada.
–Ah. Sim, eu vejo. Um pequeno problema, no entanto, para os quais há sempre uma solução. Vou pensar nisso. –Ele curvou-se, beijou a mão dela e foi embora.
Whitmere ficava perto dos músicos, olhando para a Eva.
Gareth olhou Whitmere.
Ele andou até ele. O Conde estava com a atenção tão completamente focada que ele não notou Gareth até que falou.
–Eu te disse que ia bater-lhe, Whitmere. Ela não é para você.
–Ela é para quem? Você? Vá dançar com ela três vezes e se declarar se é para ser assim.
Gareth olhou para Eva. Um jovem a quem Gareth a apresentou, estava sentado ao seu lado agora, falando seriamente.
–Ela tem planos que não envolvem qualquer um de nós.
–Eu, pelo menos, não me oporia aos seus planos. Eu ficaria feliz em ajudá-la com eles, na verdade.
Lá estava, claro. A verdadeira tentação que os homens como Whitmere apresentam. Dinheiro suficiente para aliviar a uma mulher, esposa ou amante, de todos os deveres, então ela poderia perseguir seus próprios interesses. Eva tinha já entendido essa parte.
–Você está perdendo seu tempo, –disse ele, de qualquer maneira. –Ela é gentil e nobre. Se você fizer uma insinuação, isso irá insultá-la. Que é por isso que vou bater-lhe.
Whitmere riu.
–Então, bata. Diga-me onde e quando. Porque apesar da abertura ainda não ter sido tocada, as sequências de instrumentos de cordas já aqueceram, e ela não apareceu insultada de todo. Surpresa e curiosa, mas não ofendida.
Ele foi embora, muito satisfeito consigo mesmo. Gareth foi até Eva. Ele queria brigar com ela. Avisá-la. Mas, certamente, ela tinha visto o verdadeiro interesse do Whitmere.
–Você me concede a honra de uma dança, Srta. Russell? –Ele perguntou, interrompendo o sério jovem Sr. Pierpont. Pierpont ofendeu-se e franziu a testa. Gareth o olhou. Eva pegou sua mão, e ele levou-a para os músicos.
–Isso foi um pouco rude, –ela disse.
–Ele estava a aborrecê-la. Fiz a coisa da cavalaria.
–Que bom que notou. Que ele estava a aborrecer-me, isto é. Sua chegada assustou-nos a ambos, no entanto. Quase me esquecia que estava aqui.
–Toda a vez que eu olhei para você, estava bem ocupada.
Ela usava um sorriso falso, enquanto dançavam. Quando a música parou, ela se escondeu atrás de sua mão enluvada um bocejo.
–Sei que este baile pode continuar até de manhã, às vezes, mas estou pronta para ir embora quando você estiver.
–Então, nós iremos agora, se você quiser.
Ele não lamentava ter de partir. Ele acompanhou-a para o salão de recepção e, em seguida, saiu para dizer a um criado para chamar a carruagem. Quando ele voltou, ele não conseguia ver Eva. Então, ele notou um pouco de seu vestido aparecendo por trás de um pedestal que segurava uma estátua antiga.
Pisando para um lado, ele viu a conversa profunda de Eva com o Conde de Whitmere.
Eva olhou para o Conde. A esquina atrás da estátua não era inteiramente privada. Ela duvidou que o estar ali não seria considerado escandaloso.
As implicações de suas palavras seriam, no entanto.
–Se você estiver de acordo, escreva-me, e vou colocar o meu secretário a tratar disso.
Ela não sabia o que dizer. Se a etiqueta existe para tal situação, ninguém lhe contara. Nem ele tinha sido explícito. Ele ia deixar isso para o seu secretário, ela achava.
Ela sorriu inocentemente e andou em torno do pedestal. A 2 metros de distância, Gareth estava assistindo.
O Lord Whitmere agiu como se nada fosse de todo desagradável. Curvou-se na sua direção. Ele assentiu com a cabeça a Gareth. Ele voltou para o baile.
Gareth dobrou o braço dela em torno do dele e a escoltou para fora.
–Eu confio que ele não estava a importunar-te atrás daquela estátua.
–Eu não sei se importunar é a palavra certa.
–Como assim?
Instalaram-se na carruagem e ela avançou pela rua.
–Ele persuadiu-me a ficar na cidade pelo menos mais uma semana, ou quinzena. Ou mais tempo.
–A fim de desfrutar do prazer da sua companhia, eu suponho?
–Principalmente para aumentar ainda mais os meus estudos artísticos e conhecer artistas importantes e outras conexões. Ao ouvi-lo falar sobre isso, não há nenhum outro lugar para ser um artista.
–Há uma vantagem, isso é verdade. Não uma intransponível. Nem os homens procuram que as mulheres fiquem na cidade apenas por razões altruístas. Acho que você sabe disso.
–Sim. –A não ser um tom frio na sua voz, ele não soou com raiva ou ciúmes.
Claro que não. Se ela pudesse não ter expectativas dele, ele não teria nenhuma dela. Gareth, seria muito justo sobre isso.
Então por que ela queria acertá-lo?
–Atrás da estátua, ele estava propondo uma solução para não exceder a minha visita na casa do seu irmão. Uma alternativa, então posso ficar se eu escolher isso. Uma de suas propriedades está vaga. Uma casa ao norte de Cavandish Square. Ele está preparado para deixar uma renda muito boa para mim.
–Como boa?
–Um xelim por mês. Devo escrever para o seu secretário, um Sr. Hoburn, sobre isso.
Silêncio. Sem raiva. Sem maldições. Só Gareth sentado ali, como se eles estivessem a discutir o tempo.
Depois de um momento, Gareth disse, ainda, em tom frio, evasivo.
–Um acordo vantajoso.
A respiração se quebrou. O coração dela se sentiu doente e irritado e terrivelmente desapontado. A carruagem parou em frente à casa de Langley. Combatendo as emoções dela, ela encontrou o equilíbrio para entrar na casa com ele. No Hall de recepção, Gareth fez um gesto para o lacaio de noite sair.
–Você estava entre as mais belas mulheres lá hoje à noite, Eva. –Moveu-se para beijá-la.
Ela recuou.
–Você sabia que ele estava a pensar em mim, não é? Você brincou sobre um homem tentando-me comprar com uma carruagem e criados e joias, mas isso não era realmente uma piada.
Ela sentiu-se cheia de lágrimas. Por todos os elogios, ela sentiu-se insultada, mas por Gareth, não Whitmere.
–Os dois de vocês sentaram e combinaram as coisas? Contou sobre nós, então ele sabia que eu não era nenhuma inocente? Estava agindo como seu procurador?
A raiva que inflamou os seus olhos a fez encolher.
–É isso que você acha?
–Não sei o que pensar.
A expressão dele caiu. Ele chegou para ela. Ela desviou-se para fora do seu alcance e tropeçou, cega pelas lágrimas.
–Não me toque. Não faça isso.
Ela subiu a escada. Na parte superior do terceiro set, ela compôs-se e limpou os olhos dela. Então ela entrou a sala de estar da Sarah.
Sarah estava a dormir em uma cadeira. Rebecca tinha adormecido sobre um livro na outra. Com sua entrada, as duas acordaram.
–Foi maravilhoso? –Rebecca pediu. –Você manteve a pose? Você conheceu outros duques? Havia o Príncipe da Coroa?
Sarah se mudou para um divã e acariciou a almofada ao lado dela.
–Você deve compartilhar cada detalhe, cada momento e cada palavra.
Eva sentou-se e removeu o seu toucado. Então, ela contou a elas sobre isso. Ela compartilhou sua noite com elas, mas não cada detalhe, cada momento e cada palavra.
–Diz uma coisa, –Ives disse, enquanto ele e Gareth amarravam os seus cavalos nos postes na The Strand. –Alguém foi descuidado. Ou impaciente.
–Vamos ver se nós podemos tirar a informação dele.
–E se nós não podermos?
–Então, você pode ameaçá-lo à sua maneira, enquanto eu faço o mesmo de forma ilegal.
Ives sorriu.
–Estou chocado que você poderia insinuar violência para obter informações.
–Belas palavras vindas de você. Pelo menos, apenas insinuo.
–Ou então é isso que diz.
Hoje, ele só disse. Se este homem lhes desse o menor problema, ele provavelmente teria golpeado o tolo com prazer. Ele queria alguém para golpear, por qualquer motivo, no momento. A conversa com Eva e sua dor e acusações, ainda estavam na cabeça dele.
Ele pensou que ele tinha sido muito nobre. Ele tinha tentado não ficar no seu caminho, e pelo seu sacrifício, ela se virou contra ele e acusou-o a todos de vendê-la para Whitmere.
Eles entraram na Galeria de pinturas pequenas de Sr. Longinus Parala. Uma versão em miniatura de uma galeria de casa ou leilão de imóveis, a transbordar com arte. Quadros apinhados em suas paredes e impressões de escaninhos realizadas e aquarelas. Gareth fingia estudar o anterior, mas, na verdade, seu olhar rapidamente pulou de uma imagem para a próxima.
Ives estava ao seu lado.
–Não vejo nenhum dos outros aqui. Não é?
–É difícil dizer. Isto pode ser uma cópia de um Constable aqui. Havia um na lista. Quando um inventário diz apenas uma paisagem, no entanto, é difícil saber qual deles é.
Um cavalheiro sentado em uma escrivaninha madeira incrustada, bem no canto, ignorou–os por muito tempo. Então, como se de repente, percebesse que ele tinha companhia, ele virou-se e levantou os óculos do nariz beligerante e os colocou no topo da sua cabeça, no seu cabelo escuro. Depois que ele olhou criticamente as suas pessoas e vestuários muito tempo, um sorriso quebrou no rosto fino.
–Meus prezados senhores. Posso ajudar? –Ele levantou e aproximou-se deles. Vestido de cinza dos ombros até ao chão, ele quebrou esse hábito nos seus pés, onde umas botas escarlates formaram surpreendentes pontos brilhantes.
–Você é o proprietário? Sr. Parala? –Ives perguntou.
–Eu sou.
–Isso é italiano? Parala? Seu sotaque sugere isso, como faz o seu nome.
–É. Eu nasci em Gênova.
Ives sorriu. Gareth conseguia ler seus pensamentos. Este particular Parala podia ter antepassados de Gênova, mas, sob o sotaque exagerado, ele ouviu a melodia inconfundível da Escócia. Talvez o vendedor de imagens acreditasse que o Demmiwoods gostaria de assumir que um negociante italiano sabia da sua arte, um pouco como empregadas domésticas francesas das senhoras eram supostas fazer penteados mais bonitos que as empregadas inglesas das senhoras.
Ives caminhou até à porta e a trancou.
–Espero que não se importe. Gostaríamos ter uma conversa particular com você. –Para isso, ele fechou as cortinas sobre a janela. Ele voltou-se e entregou a Parala seu cartão.
Parala olhou para o cartão no crepúsculo súbito da galeria. Ele olhou agudamente para Ives. Depois para Gareth.
–Ele é irmão do Duque de Aylesbury e um advogado que jurou defender a lei, –disse Gareth, apontando para Ives. –Eu sou o irmão bastardo, nascido fora da lei. Ele é o senhor. Eu não sou. Ele vai fazer perguntas educadas. Se não gostamos de suas respostas, então vou fazer as perguntas à minha maneira.
–Sutil, –murmurou Ives.
Os olhos do Longinus Parala abaularam com alarme.
–Tenho certeza de que não sei –isto é, eu acho isso muito irregular.
–Muito irregular, –Ives sussurrou. –Meu irmão pode ser muito impaciente e áspero. Bem, o que se pode esperar? Por que não se senta. Isto não vai demorar muito.
Parala cometeu o erro de se sentar em sua cadeira novamente. Isso deixou ele olhando para cima, enquanto Gareth e Ives pairaram acima dele.
Ives perguntou-lhe sobre a oferta de Gainsborough a Demmiwood.
–Uma bela peça, –Parala disse. –Eu pensei logo nele. Acho Gainsborough sentimental demais, mas há aqueles que ainda favorecem o estilo dele.
–Onde você conseguiu isso?
–Não estou autorizado a dizer.
Ives olhou para Gareth.
–Ele não tem a liberdade para dizer.
–Maldito inconveniente.
Ives pairou o seu tamanho sobre o vendedor de imagens.
–Liberdade. Uma palavra interessante. Se você não nos diz onde obteve essa pintura, a sua própria liberdade cessará por muitos anos. Você mesmo pode balançar na corda. Demmiwood está preparado para jurar informações contra você que lhe ofereceu uma falsificação.
–Falsificação! Como se atreve ele me acusar disso?
–Porque é uma falsificação, –Gareth disse.
Olhar de louco do Parala deslocou-se de Ives e de volta novamente para ele. –Você parece muito seguro.
–Estamos completamente certos.
–A pintura não está ainda totalmente seca, –disse Gareth.
–Oh, Deus. Oh, meu. –Parala cruzou os braços, colocou os sapatos escarlates debaixo da cadeira e se agarrou. –Eu não sabia. Você deve acreditar em mim. Não houve nenhuma assinatura, mas isso é comum. O estilo fala por si.
–Onde você conseguiu isso? –Ives perguntou novamente.
O rosto do Parala torceu com fúria. Ele virou-se para a sua mesa. Ele pegou a caneta e anotou.
–O patife. O falso. Colocar-me em tal risco –espero que ele se estrepe. Aqui está o seu nome e o local de trabalho. Horace Zwilliger é o nome dele. Diga que seu velho amigo Longinus enviou você.
–Devemos ir ao mesmo tempo, –Ives disse, assim que deixaram a galeria do Parala. –Não podemos arriscar este companheiro Zwilliger fechar.
Gareth não queria ir já. Ele queria voltar para casa de Langley, encontrar Eva e dizer todas as coisas que ele teria dito ontem à noite.
Ives foi-se embora. Gareth a contragosto o seguiu. Eles montaram a cavalo, galopando para o endereço fornecido pelo Parala. Era uma pequena casa escondida ao lado de um bordel em St. Giles.
–Não parece que ele tem lucrado muito com seu crime, –disse Gareth.
–Não deixe isto lhe enganar. Eu processei senhores de crime que valiam centenas de milhares que se esconderam em meio a esta miséria. Faz uma excelente camuflagem. Você tem uma pistola? –Ele baixou-se para sua sela e levantou uma pequena de uma bolsa lá.
–Ao contrário de você, eu não passeio armado pela cidade. Mas, também eu não atraio a atenção que você atrai –Gareth incisivamente olhou ao redor. Vários homens pararam na rua e agora encararam Ives. –Eles conhecem você.
Ives desmontou e não fez nenhum esforço para esconder a pistola.
–Não tenha medo. O sujeito do outro lado da pista foi poupado do laço da forca devido aos meus esforços. Quando a causa é justa, eu nem sempre processo. Desde que ele me deve a vida dele, eu acho que ele irá certificar-se que os cavalos não saem daqui.
Gareth liderou o caminho até à porta da casa. Ives ainda carregava a pistola. Quando a porta se abriu, Ives entregou seu cartão com uma mão, enquanto ele apontou a arma com a outra. Foi sem dizer que eles ganharam entrada.
O Sr. Zwilliger parecia estar no fim da meia idade. Com seus olhos estreitos, grande compleição saudável e cabeça de cabelos escuros, parecia-se com um bom dono de taverna. Ele escutava suas apresentações com suficiente calma, mas ele viu aquela pistola pelo canto do olho.
Finalmente, ele apontou para ela.
–É necessário, senhores? Sou um homem pacífico. Eu sei que o bairro não é o melhor, mas...
–Há evidências que cometeram um crime capital, –disse Ives. –Estou sempre com cuidado quando me encontro com tais homens.
–Não cometi nenhum crime.
Gareth lhe contou sobre o Gainsborough forjado.
–Supomos que existem outros.
Zwilliger respondeu com choque.
–Isso é terrível. Estou desfeito. É verdade que lidar com arte às vezes é difícil. Não sou grande especialista, mas o meu julgamento é bom. Como a maioria dos negócios, depende da honestidade de quem vende para mim. Eu fui enganado e defraudado e implicado neste negócio, –ele disse, afobado e quase chorou.
–Mantém-no aqui. –Gareth empurrou-o e entrou em uma sala de estar. Não havia arte, nem mesmo nas paredes. Ele verificou o nível da sala e depois subiu. Pilhas de pinturas alinhadas na parede de uma das câmaras.
Ele chamou por Ives.
Quando Ives e Zwilliger chegaram, Gareth tinha pegado algumas das pinturas. Ives, deu uma olhada e nivelou a pistola dele novamente.
–São aqueles?
–Não. Falsificações. Todos eles. Mas, como o Gainsborough, acho que estas são cópias do que procuramos. –Ele olhou para Zwilliger. –Onde estão os originais?
–Juro que não sei o que você está falando. Eu comprei aqueles e o Gainsborough, e várias outras obras, de um respeitado homem de negócios. Se eles são falsificações, eu fui roubado.
–Quantos?
–Vinte ao todo foram vendidos para mim, –disse Zwilliger.
Não é suficiente. Danação.
–Estas e o Gainsborough são doze. Onde estão os outros? –Ele começou a folhear uma outra pilha.
–Não estão aqui. Cinco foram vendidos para um vendedor de pinturas em Greenwich. Dois para um cavalheiro. O último eu coloquei no leilão.
Ives fez um gesto com a pistola.
–Não vai vender ou mover estas. Vou enviar homens por eles em poucas horas, e só espero que estejam aqui. É melhor você estar aqui também. Será para o magistrado decidir se você é tão inocente quanto você diz.
–Eu juro.
–Você terá tempo suficiente para jurar. Por agora, diga-nos quem lhe vendeu essas pinturas.
–Uma papelaria em Birmingham. Eu estava lá visitando minha irmã e, por acaso, vi em sua loja todas essas pinturas. Outros, também, mas não tão bons, ou por nomes tão ilustres. Comprei-os todos, claro. Londres é um mercado melhor para essas coisas.
–Birmingham. Que conveniente, –Ives disse. –Você não terá nem que ficar em uma pousada para terminar isso, Gareth.
Suas missões para o dia estavam terminadas, Ives insistiu em comprar bebidas e um jantar. Gareth comeu rapidamente e falou pouco. Se Ives o notou, ele não mencionou isso. Eles se separaram às 09:00, com Ives insistindo para se reunirem cedo para rastrear as falsificações em geral.
Gareth voltou para casa de Langley. Sua intenção de falar com Eva foi frustrada. Quando ele perguntou por ela, ele soube que as senhoras se retiraram cedo a fim de fazer as malas para sua viagem pela manhã.
Ele consolou-se com um pouco de uísque na biblioteca. Assim era melhor, ele deveria saber. A maioria do que ele tinha a intenção de dizer a ela não devia ser dito. O pouco que restava para dizer seria melhor ouvido em Langdon´s End.
Capítulo 22
Eva abriu a porta para a casa dela lentamente. Ela espiou dentro, meio que esperando vê-la novamente saqueada. Rebecca empurrou a porta e passou por ela.
–Vamos desempacotar rapidamente e ir para a aldeia. Eu quero ver se algum correio veio enquanto estávamos fora.
Rebecca foi acima, mas Eva passeava pela casa, deixando escoar sua familiaridade em sua alma. Elas não tinham saído há muito tempo, mas sentia os espaços um pouco estranhos de qualquer maneira. Não era a casa. Nada mudara aqui. Ela mudara, no entanto, e não só por causa do baile e outras experiências. Seu coração tinha mudado.
Ela olhou pela janela, para o local onde ela e Gareth tinham saciado seu desejo no jardim. Que deveria ter sido a última vez.
Quando ela embarcou neste caso, achava que seria breve. Ela pensou que ele iria fazê-lo assim, sendo quem ele era e quem ela era; um flerte para ele e uma oportunidade de conhecer a carnalidade de uma mulher para ela. Isso era tudo o que era para ser. Simples. Tão simples que ela surpreendeu-se com a própria sofisticação.
Agora, não era simples de todo. Ela nunca imaginou que o risco para sua reputação seria o de menos. Ela nunca esperava amá-lo, e sentir a dor real, porque ele nunca iria amá-la. Que mulher sensata?
Ela foi até a cozinha para ver que mantimentos eram necessários para comprar. Ela podia ouvir Gareth dizendo que o amor romântico não existia, que era algo feito para criar uma desculpa, para ceder ao desejo sensual. Ele não usou essas palavras exatamente, mas tinha dado o aviso justo. Ela o tinha entendido bem o suficiente.
Talvez para ele já tivesse passado, ou estava passando. Ele não a tinha seduzido. Não tinha havido nenhuma honra em ser condenado. Ela teve de seduzi-lo em seu quarto. E ele estava disposto a ficar de lado e permitir que outro homem se oferecesse para mantê-la como uma amante. Amigos não se referem a aspectos práticos, deve tal oportunidade surgir?
Rebecca esperou no andar de cima, impaciente para caminhar para a cidade.
Elas partiram.
–Eu me pergunto se o Sr. Fitzallen já está de volta, –disse Rebecca. –Você acha que ele está?
–Como eu saberia? Ele pode ter viajado para outro lugar. Nós não podemos vê-lo durante semanas. Que nos importa se ele está de volta ou não?
–Eu estava apenas estabelecendo diálogo, Eva. Você não tem que me morder por isso. –Ela apontou para o braço de Eva. –Você está com seu caderno de esboços. Está planejando parar no caminho para desenhar? Não no caminho até lá, espero.
–Eu pensei que depois de visitar a estação de correios, e antes de nós fazermos as compras, podemos visitar as imãs Neville. Você pode ler, e eu posso desenhar. Elas têm algumas boas estatuetas, bem feitas, que vão me manter ocupada por uma hora ou assim.
–Isso vai ser divertido. Acho que vou aproveitar mais meu tempo, se você está comigo.
Que coisa doce de dizer. Tocou-lhe que Rebecca quisesse compartilhar mais tempo com ela.
–Jasmine pode às vezes ser muito maternal, –Rebecca continuou. –Se você estiver lá, acho que ela não vai dar conselhos que não foram solicitados.
–Ela faz isso muitas vezes, não é? E eu que sempre você achava tão tímida sobre suas opiniões.
–Não se pode antecipar o que seu parecer será. Ela sempre pode surpreender, e pode ser irritante.
–Qual foi o parecer surpreendente que ela lhe deu, que considerou irritante?
Rebecca corou.
–Eu não sou inteligente, sou? Não, se você adivinhou tinha havido tal opinião recentemente. Escrevi para elas, e ela escreveu de volta dois dias atrás.
–O que ela disse? Esperemos que você nunca deva se tornar uma cortesã, não importa o quanto Londres tenha deslumbrado você.
–Eu escrevi para Ophelia, enquanto estava na cidade, e, junto dizendo-lhe os pontos turísticos que tinha visto, também mencionei conhecer o Sr. Mansfield e o Sr. Trenton, enquanto estive na casa de Sarah, e como o Sr. Mansfield, em seguida, voltou para Londres. Eu mencionei como o Sr. Trenton me agradava muito mais, mas a prima Sarah continuava me jogando para o Sr. Mansfield. Jasmine escreveu de volta com uma longa palestra sobre o assunto. Eu achei corajoso, já que não tinha confiado nela.
–Eu espero que ela não palestre que você não deve se casar de todo.
–Ela não se posicionou sobre o casamento, mas exigiu uma postura sobre o Sr. Trenton e o Sr. Mansfield. Para minha surpresa, ela favoreceu o último decididamente. Ela me avisou sobre envolvimentos com escritores e poetas em particular. Suas advertências foram muito... vigorosas.
–Acho que a senhorita Neville olhou com bons olhos escritores.
–Você não? Sua veemência sobre o assunto me leva a perguntar sobre a solidez de todos os conselhos dela agora.
Eva seria feliz de ver Rebecca menos influenciada pelas irmãs Neville, mas não uma rebelião contra conselhos sensatos.
Nenhuma carta esperava por Rebecca na estação de correios. Seu espírito se afundou. Ela permaneceu em silêncio, enquanto caminhavam para a casa das irmãs Neville.
As senhoras em questão as receberam. Eva descobriu que elas não fizeram cerimônia com Rebecca. Elas não se sentaram para a obrigatoriedade de bate-papo de quinze minutos. Em vez disso, Ophelia acenou para a biblioteca depois das saudações superficiais, e elas foram para seus próprios afazeres.
Durante duas horas Rebecca leu e Eva desenhou uma das figuras, um pequeno bronze retratando Hércules lutando contra Hydra. Embora em pequena escala, o escultor tinha modelado as formas profissionalmente como se tivesse dez pés de altura. O exercício a desafiou, uma vez que ambas as figuras estavam torcidas em ação.
Uma criada trouxe limonada e bolinhos, colocou a bandeja sobre uma mesa, e as convidou a participar. Eva deixou de lado seu caderno de esboços e juntou-se Rebecca na mesa.
–Elas têm os melhores bolos, –disse Rebecca, pegando um. –Mesmo que não ame sua biblioteca, provavelmente iria visitar apenas por estes.
Enquanto se atualizavam, Rebecca disse a Eva sobre o livro sobre a mitologia que estava lendo. Ao fazê-lo, senhorita Neville entrou na biblioteca. Ela não veio para se juntar a elas. Em vez disso, caminhou até a estante na frente da mesa que segurava o bronze de Hercules.
–Eu, particularmente, achei a história de Júpiter e Danae peculiar, –disse Rebecca. –Ele visitava frequentemente suas amantes em diferentes formas, para escapar à detecção de sua esposa Juno. Com Leda, por exemplo, tornou-se um cisne.
–Isso não suporta contemplar demais, –disse Eva. Na estante, a senhorita Neville tirou um livro, o percorreu, e devolveu.
–Não, mas pelo menos faz algum sentido anatômico, embora possa ser escandaloso.
–É melhor se não faz, tudo a mesma coisa. –Eva se perguntou o quanto sua irmã sabia sobre o sentido anatômico de amantes. Parecia mais do que se poderia esperar de uma inocente com dezenove anos de idade.
A Senhorita Neville tinha encontrado o seu livro. Ela virou-se para ir. Então parou, inclinou a cabeça com curiosidade, e aproximou-se do Hércules.
–Sim. Bem, com Danae, Júpiter tomou a forma de uma chuva de ouro. Como poderia uma chuva de ouro engravidar uma mulher?
Eva mal a ouviu. Sua atenção por vez voltada em Jasmine Neville, que tinha dobrado para a cadeira que Eva tinha usado para desenhar. Em seguida, se endireitou, segurando o caderno de esboços de Eva em sua mão.
–Espero que uma vez que ele era um deus, iria mandar o ouro fazer o que ele escolheu para fazer, –Rebecca pensou depois de um gole de limonada.
Senhorita Neville começou virando as páginas do caderno de desenho da mesma forma como ela tinha feito quando Eva a visitou pela última vez. Eva confiava que ela iria aprovar os desenhos mais recentes, aqueles feitos em Londres.
Os feitos em Londres.
Eva se levantou e correu para Jasmine, quase tropeçando em um tamborete em seu caminho. Ela correu até sua anfitriã, a mão estendida, pronto para agarrar o caderno de esboços antes de Jasmine atingir um desenho particular.
Muito tarde. Ela viu a virada de página para revelar o desenho de um homem nu, dormindo. Ela notou a reação de Jasmine. Sobrancelhas para cima, estreitando os olhos, a cabeça inclinada.
Em seguida, voltou os olhos para ela. Bem para ela. Através dela.
–Eu vejo que você estava ocupada com seus estudos enquanto esteve na cidade, Srta. Russel.
–Sim. Eu fiz bastantes desenhos. De esculturas e semelhantes. –Ela pegou o bloco de desenho, fechou e o colocou debaixo do braço.
–Oh e semelhantes parecem ter inspirado os seus melhores esforços.
Tinha Jasmine reconhecido o semelhante? Eva não tinha terminado a cabeça e o rosto em qualquer detalhe, e o ângulo de que o rosto pode torná-lo irreconhecível em qualquer caso. Ela esperava que sim, mas a expressão franca nos olhos de Jasmine sugeriu que uma pessoa em Langdon’s End agora sabia a verdade.
–Eu também chamei Mary Moser. Obrigada pela sua carta de apresentação. Ela nos recebeu, e perguntou por você. Ela me disse para encontrar uma maneira de extrair a vida. –Ela esperava que Jasmine iria tomar isso como uma explicação completa do desenho.
Um pequeno sorriso fugaz sugeriu que Jasmine achou a desculpa divertida.
–Como se encontra a saúde de Mary?
–Não muito bem, sinto muito dizer. Acho que ela espera o fim em breve.
–Obrigado por me dizer isso. Vou escrever para ela imediatamente. –Mais um olhar de olhos abertos, direto, e outro sobre o caderno de esboços, e Srta. Neville partiu.
Eva voltou para a mesa.
–Você já comeu todos os bolos? Vamos para terminar as nossas tarefas.
Durante a hora seguinte, enquanto faziam compras de alimentos e artigos diversos, Eva tentou acomodar a ideia de que sua reputação agora estava nas mãos de uma mulher conhecida por opiniões francas, ideias radicais, e da indiferença à forma como a sociedade exige altos custos das condutas proibidas.
Gareth retornou ao norte, em uma das carruagens de Lance. Ele carregava uma carga que nunca poderia ser transportada em um cavalo.
Ele não voltou para Albany Lodge imediatamente, tanto quanto queria. Ele pretendia chamar Eva, logo que possível. Ele não tinha estado presente quando ela deixou Langley House há três dias. Ele e Ives passaram aquele dia rastreando as pinturas que Zwilliger tinha colocado à venda. Em seguida, eles dedicaram uma boa parte do tempo formando uma estratégia que pudesse trazer esta investigação a um fim rapidamente e com sucesso.
Seria bom para ser concluído com isto. Tornou-se uma intrusão e distração. Ele preferia ficar perto Langdon’s End e passar seus dias com Eva. Não na paixão necessariamente. Que talvez tinha chegado cedo demais. Ele queria explicar sua praticidade cruel com ela. Também queria perguntar a ela sobre sua arte, e seus planos, e se ela pode querer viajar para terras distantes. Se ela não queria que ele continuasse como um amante, ele ainda podia ser um verdadeiro amigo. Ela não parecia ter muitos. Nem ele.
A carruagem feria seu caminho através da cidade, passando por casas e lojas, e para o centro onde as empresas e os bancos preenchiam as ruas. Na borda daquele distrito, as lojas se tornaram mais escassas e os edifícios maiores e menos distintos. Chaminés abundavam. Ali estavam as fábricas onde a indústria de Birmingham prosperava.
O cocheiro o levou para uma daquelas estruturas. Gareth tinha duas visitas hoje. Esta prometia ser a mais agradável.
Entrando na fábrica era muito parecido com ganhar a entrada para um bom lar. Um homem na porta perguntou seu propósito para visita. Gareth entregou um cartão e disse que Rockport esperava por ele.
Tanto quanto com uma chamada de manhã, ele foi escoltado para o dono da casa. Wesley Rockport cumprimentou-o em seu escritório. Decorado em uma imitação do estúdio de um cavalheiro, o escritório tinha estantes que continham fileiras de livros perfeitamente encadernados, e, Gareth podia ver com um olhar, um pequeno número de grandes volumes a respeito da lei. O que lhe chamou atenção foi uma longa mesa, devidamente ajustada sob uma grande janela para que a luz pudesse inundar dentro. Fileiras de pequenos objetos de metal forravam a superfície da mesa, exibindo os produtos que pagaram para moldes da sala e móveis.
Rockport viu seu interesse e acenou-lhe para olhar mais de perto. Juntos, eles viram e tocou a tela.
–Estas fivelas são o meu orgulho e alegria. Aço, elas são. Caro para fazer. Eu tenho vinte homens que podem forjá-los mais rapidamente do que a maioria, e quatro que trabalham os projetos para sua fantasia. É uma indulgência da mina. O latão sairia por muito menos, é claro, mas o volume é enorme e a margem impressionante.
As fivelas de aço, produção temperada de volta para uma geração atrás, quando artesãos criavam quase tudo feito e comprado na Inglaterra. Com os moinhos substituindo os tecelões de casa, no entanto, os métodos modernos mudaram a indústria de Rockport, alterando design, qualidade, e até mesmo a necessidade de habilidades. Custo mais baixo, o volume enorme, e as margens impressionantes eram as marcas de fabricação bem sucedida agora.
Gareth escutou o resto da turnê, como Rockport apontou os bits e freios, as dobradiças e fechaduras, os acessórios, facas, e maçanetas. Pequenos objetos de metal, todos eles, cada um com uma finalidade amplamente estabelecido que cumpria uma necessidade.
Rockport o convidou para sentar em uma cadeira confortável. Ele ofereceu café e conhaque, e enviou para o primeiro. Ele apareceu satisfeitos que Gareth havia demonstrado interesse em seu negócio.
Gareth gostava Wesley Rockport. Eles tinham chegado escoltando as senhoras em torno de Londres. Quando Wesley lhe pediu para parar por esta fábrica assim que retornou ao norte, ele havia concordado. Ele assumiu que havia uma razão. Ele esperava saber o que era depois que o café veio.
Com certeza, depois de beber o seu copo, Wesley enviou toda a sua atenção na direção de Gareth.
–Sarah não falou nada, mas a generosidade é da sua família. Temo que visitas a Londres se vão tornar uma expectativa dela agora.
–Minhas desculpas, mas você parecia encontrar muito para ocupá-lo também.
–Eu o fiz, de fato. Liguei com muitos de nossos clientes. Eu aprendi algumas coisas interessantes, em relação às suas necessidades futuras e problemas presentes. Aprendi, por exemplo, que nossos pedidos dos fabricantes de carro diminuíram porque o homem que contratei para chamá-los não se preocupou em fazê-lo muito, e estava bêbado na maioria das vezes que o fez.
–Pelo menos agora você pode corrigir a situação.
–Já está feito. Mencionei isso para explicar que a parte mais difícil disso é ter que depender dos outros. Isso é sempre uma aposta. Referências e tal só ir tão longe.
Gareth assentiu com a cabeça. Ele gostaria de poder ver um relógio. Ele tinha essa outra parada para fazer, e ele queria voltar para Albany Lodge ao anoitecer.
–Eu espero que você saiba por que queria vê-lo, –disse Rockport. –Estou esperando que a sua vinda significa que não é avesso à ideia e eu tenha pelo menos uma pequena chance de convencê-lo.
Gareth não tinha ideia do que o homem estava falando. –Não avesso. Tal palavra é forte. Eu não sou avesso a muito, ou quase tudo, na verdade.
–Eu vou ser simples então. Eu preciso de alguém para representar esses, –ele apontou para a mesa –e eu, no Continente. Não para transportar cerca de fivelas para vender, como é feito aqui. Eu posso enviar amostras para aquelas empresas que eu conheço. Nem lojas e tal, mas homens que distribuem lá.
–Se você pode enviar amostras e identificar distribuidor.
–Um fato é o que eu preciso; de homem para ver com os contratos de lá, e organizar o recebimento de remessas. Um homem para intermediar o acordo em meu nome. Não posso fazer isso sozinho. Sou necessário aqui, e eu não sei as línguas. Há aqueles que posso contratar, que se apresentam para o serviço como este, mas por tudo o que eu sei deles, podem também, chamar o bêbado patrono, se você vir o que quero dizer. Você tem um conhecimento das coisas. Você me deu bastante instrução naquele primeiro jantar. Eu estou pensando que você é o homem para fazê-lo, se você pode ser persuadido.
Gareth não sabia se devia se sentir lisonjeado ou insultado. Apesar dos elogios sobre seu vasto conhecimento do negócio e transporte, Rockport acabara de pedir-lhe para ir para o comércio.
–Eu acho que não se importaria de viver no continente.
–Nem você tem. Estes contratos não são assinados todos os dias ou até mesmo a cada mês. Quando um está pronto para ir, você pode pegar um pacote, lidar com isso, e voltar. Pelo menos me ouça antes de declinar.
Gareth concordou em ouvi-lo. Rockport embarcou em uma descrição mais completa do que esta situação implicava. Quanto mais ele falava, mais Gareth não podia evitar pensar que ele, de fato, soava muito parecido com a maneira como intermediava coleções de arte. Seu conhecimento de empresas de navegação e de transporte, de contratos e conhecimentos de embarque, de pagamentos internacionais e créditos, derivava dessa vocação, é claro. Sem essas experiências, ele poderia nunca ter discutido assuntos de negócios de Rockport com ele, muito menos lhe dar uma instrução.
–Agora, eu tenho certeza que você está curioso sobre a compensação, –disse Rockport.
–Não há necessidade. Lamento mas não gostaria de ser um funcionário, mesmo de uma empresa tão boa quanto a sua. Não estou acostumado a isso, e não gostaria de fazer algum mal.
Rockport sorriu.
–Bem, agora, isso é bom para mim se é bom com você. Eu estava preparado para pagar generosamente, se necessário. Se preferir a independência, para que possa representar outros, além disso, sei de vários homens que gostariam de falar a respeito, em outras indústrias, é claro. Eu não iria querer alguém que compete comigo. Podemos organizar que seja para um percentual e despesas. Digamos que dois por cento do preço de venda?
Assim como as coleções de arte.
Rockport se levantou e caminhou até sua mesa. Depois de remexer papéis, ele voltou com uma carta.
–Deixe-me ver. Este companheiro francês quer cinquenta. –Ele fechou os olhos e pensou. –Dois por cento em cinquenta, seria.
–Dificilmente vale a pena a viagem, ou o seu tempo, eu acho.
Rockport olhou para ele, surpreso. Então começou a rir.
–Você é um cavalheiro, não é? Você acha que faço tudo isso por causa de cinquenta fivelas de latão ou cinquenta dobradiças de ferro? –Ele inclinou para a frente e levantou a carta. –Este Frenchie quer cinquenta bruto. Aos dez shillings por peça. Isso é mais barato do que ele pode obtê-los feito por lá. Ele vai entregá-las rápido por onze, e as lojas que, por sua vez os venderem, vão fazê-lo ao valor de treze e serem felizes.
Gareth fez as contas em sua cabeça. A comissão de corretagem com esta venda em particular seria mais de oitocentas libras. Mais dinheiro, e menos problemas do que algumas dessas coleções de arte que levava meses para negociar.
E havia outros como Rockport que precisavam de um desses fatores.
Um cavalheiro não iria ser influenciado, não importa qual fosse o lucro, é claro.
–Eu vou pensar sobre isso, e deixá-lo saber dentro de uma semana.
Rockport ergueu a taça de conhaque.
–Estarei aqui esperando enquanto você pensa, com razão.
A loja de papelaria era um lugar estranho. Estreito e profundo, ele realizou uma boa posição no centro da cidade. O proprietário decidiu tirar o máximo partido dessa vantagem, aumentando seus papéis com uma variedade diversificada de outros itens. Gareth caminhou passando por livros e padrões, pinos e fios, gravuras e pentes. Uma prateleira até mesmo continha brinquedos de madeira, tais como escultores do país fazem.
No fundo da loja, avistou o Sr. Stevenson ajudar uma mulher a escolher artigos de papelaria. Gareth esperou até que a cliente tinha sido servida. Depois que ela saiu, o Sr. Stevenson virou os olhos zombadores sobre o único outro cidadão potencial na loja.
Gareth pediu para ver algumas canetas.
–Vai querer penas ou as novas? Eu gosto do último, mas alguns dos homens preferem instrumentos de escrita tradicionais. –Stevenson deslizou uma caixa com uma série de novas canetas em seu balcão.
Gareth brincou com eles. –Sr. Zwilliger me enviou. Ele disse que tem excelentes artigos em sua loja. Pediu para perguntar se você tem mais daquelas pinturas. Boas, como os que ele comprou.
–Tão cedo? Bondade, ele visitou em meras duas semanas. O mercado em Londres deve ser florescente.
–É a época. Toda a sociedade está na cidade com dinheiro de sobra, e os espíritos são elevados. Esse é o melhor momento para vender arte.
Stevenson olhou para Gareth com cautela.
–Se tivesse vindo um pouco mais cedo, você estaria comprando para ele?
–Eu faria, se fossem mesmo da mesma qualidade.
–Posso garantir a qualidade. O que eu não posso garantir é se mais estão disponíveis ainda.
–Quando você vai saber?
–Difícil de dizer. Posso enviar palavra e veja, se quiser.
Gareth debatia se desejava continuar com o plano que ele e Ives tinham colocado no lugar. Se este homem disse a verdade, e soou como fez, desde que ele falou sem dissimulação, ele não era a mente por trás dessa fraude. A pessoa que trouxe as imagens era.
Gareth removeu uma placa e a colocou sobre o balcão. Ele também colocou um dos cartões de Ives ao lado dele.
–Stevenson, estava-o enganando. Não sou um agente para o comprador de Londres. Nem ele estará comprando mais de você. Ele está em Newgate aguardando seu destino pela venda de falsificações. Falsificações que ele diz que comprou de você.
–Falsificações! Não, você deve estar enganado. Eu vendi simples pinturas bonitas.
–Você vendeu-lhe cópias de peritos de obras de grandes artistas e mestres antigos.
–Grandes artistas e mestres antigos - você está errado, senhor, e não serei contestado dessa forma.
Gareth esperou até que Stevenson se tinha acalmado.
–Talvez você tenha sido enganado por aquele que lhe deu as imagens, bem como por quem os comprou.
–De fato! Eu acho que sim! Se o que você diz é verdade, isto é mais chocante. –Ele virou-se e estendeu a mão para uma prateleira atrás do balcão e pegou um leque de papel.
–Dá-me o nome do homem que lhe forneceu as pinturas, e eu vou descobrir a verdade, garanto.
Stevenson abriu o leque e bateu o ar perto de seu rosto vermelho. Isso tirou a atenção de Gareth longe do rosto, e do leque. E para a parede atrás do leque, o contador, e o Sr. Stevenson.
Seu olhar se desviou para a prateleira, então superior.
–Não é um homem, –disse Stevenson, lutando para falar normalmente. –Uma mulher. Quem acha que uma mulher faria uma coisa dessas? Onde o mundo vai parar, eu lhe pergunto? E se ela disser que não tinha conhecimento e é tudo culpa minha? Quem é que acreditará que eu simplesmente coloquei algumas pinturas em minha loja para ganhar alguns xelins? O magistrado? Não é provável. Isto é.
Gareth mal ouviu. Seu olhar tinha focado em uma pequena pintura pendurada na parede com uma reflexão tardia. Ela mostrou uma vista de um campo, com uma grande árvore para um lado e uma ruína para o outro. Ele estreitou os olhos sobre ele.
As exclamações de Stevenson se transformou em um zumbido que mal penetrou os ouvidos. Gareth pensou ter reconhecido a paisagem, ou melhor, a mão que a havia pintado. Seus olhos estavam quase certos, mas seus instintos eram positivos. Ele tinha visto o fantasma de algo semelhante no chão de uma casa saqueada.
Certamente não. E se assim fosse, devia ser uma coisa além dessas falsificações.
–O nome dela, –ele rosnou, interrompendo Stevenson. –Dê-me seu nome, ou se juntará a seu cúmplice em Newgate.
–Newgate! Eu sou um cidadão de Birmingham!
–Dê-me o nome, maldito seja, ou você será um homem morto em breve.– Stevenson parecia pronto para desmaiar. Gareth chegou ao balcão e agarrou seus casacos para que ele não fosse para baixo antes de responder.
–O nome dela.
–M... Srta. Russel.
Danação! Ele mal engoliu o impulso para perfurar o papeleiro no nariz por se atrever a pronunciar esse nome de todos os outros no mundo.
O homem viu. Seus olhos se arregalaram com alarme.
–Eva, acho que é o nome dela. –Ele falou rápido entre as respirações ofegantes curtas. –Acredito que ela viva em... ou seja, estou certo ela, –todo aquele vermelho drenado de seu rosto. Ele desmaiou e tornou-se um peso morto. Ele deslizou para fora do aperto de Gareth e caiu no chão atrás do balcão.
Gareth caminhou até a parte de trás da loja, encontrou um pouco de água, e voltou. Ele jogou no rosto de Stevenson, depois à esquerda para os sons de ofegante e gemendo enquanto Stevenson voltou a si.
Capítulo 23
Sim. Bem aqui. Isso faria muito bem.
Eva jogou um cobertor pequeno na pequena colina. Ela se sentou e se fez confortável. O lago esticava-se na frente dela, e o sol tinha começado a descer formando sombras à esquerda, que fundia e quebrava as formas quando a superfície da água se movia. Uma linha de casas marcava a costa do lago perto dela, onde a aldeia tinha começado a derramar no campo, mas que ela iria deixar de fora.
Ela abriu o caderno de esboços e folheou para encontrar uma folha limpa. Ela precisaria de um novo livro em breve.
A mão dela parou quando uma virada de página revelou o desenho de Gareth. Como ela pretendia, suas poucas linhas que indicavam seu rosto foram suficientes para reavivar a memória ao olhar para ele naquela bela luz. Nostalgia apertou seu coração enquanto ela se lembrava daquele dia. Emoções tristes a machucavam quando seus pensamentos se voltaram para a noite do baile.
Se ele tivesse retornado para Albany Lodge? Ela não tinha visto Erasmo ou Harold na aldeia quando entrou lá, então talvez ele tenha. Ainda assim, ele não a tinha chamado. Depois do que ela disse a última vez que se viram um ao outro, ela não poderia culpá-lo.
Foi o melhor. Eles nunca poderiam ser apenas amigos. Não quando seu estômago se retorcia na visão dele. Não quando ela ansiava pela intimidade e prazer mais do que se preocupava com sua reputação e futuro. Se ele ainda a quisesse, ela iria sucumbir, de bom grado, talvez até mesmo incentivá-lo como fez a última vez. Em seguida, com o tempo se tornaria conhecido que eles eram amantes, e ela iria ser desprezada, e Rebecca nunca iria encontrar um marido, e...
Ela encontrou uma página limpa. Ela começou a desenhar a vista, com um olho para usar suas linhas e notas para ajudá-la a planejar uma pintura.
O tempo passou depressa. Apenas o sol de repente brilhando em seus olhos a alertou quanto tempo ela tinha estado lá. Ela saiu de seu devaneio e olhou a página. O desenho capturou bem a perspectiva, e a forma e nuances desse grupo de árvores na margem esquerda. Uma árvore mais perto, até de onde estava sentada, ela havia descrito com mais detalhes, especialmente a forma como os seus ramos enquadravam parte de sua vista.
–Impressionante. Será que vai ser uma pintura?
Ela olhou por cima do ombro. Gareth estava atrás dela, perto o suficiente para ver o desenho. Seu estômago virou e capotou. Seu coração cheio de tanta emoção que a fez brevemente muda.
–Sim, –disse ela. –É por isso que não está muito acabado.
–Notas e lembretes, você quer dizer. Não uma versão final.
–Isso é o que eu quero dizer. –Ela se levantou. Ele estendeu a mão para ajudar. Ela tentou não permitir que o breve toque a afetasse, mas ele o fez. –O que você está fazendo aqui?
–Eu chamei em sua casa. Sua irmã disse que tinha vindo aqui. Eu decidi que precisaria de uma carona para casa.
–Não acho que seja sábio andar pela aldeia a cavalo com você.
–Não é um cavalo. Venha comigo. Eu vou lhe mostrar.
Ele a trouxe para a pista que corria ao longo deste lado do lago. Uma carruagem bem com um par combinado de cavalos estava lá.
–Eu tinha alguns negócios que exigia uma carruagem, –explicou. –Lance tem pelo menos quatro agora, então eu pedi uma emprestada.
Ele parou de andar e olhou para ela.
–Antes de dar mais um passo, eu quero explicar algo, Eva. Minha mãe era filha de um mordomo, e ela mesma teria ido para o serviço se meu pai não a tivesse favorecido. Não é uma vida ruim, mas respeitável. Ela nem sequer o conhecia. Ele era o duque que ela vislumbrava às vezes. Mas ela tomou o que ele ofereceu porque fornecia uma melhor garantia para ela e seus filhos do que qualquer coisa que ela poderia saber. Então eu não vejo todos esses arranjos como escandalosos.
–Sim, você explicou isso. Eu entendo.
Ele desviou o olhar, as mãos nos quadris, exasperado com ela. –Eu não gosto disso, se é isso que você pensa. Eu não incentivei Whitmere. Muito pelo contrário. Você tinha exigido uma promessa de mim, no entanto, eu não tinha o direito de interferir em sua própria decisão.
–Claro. Você não tem que explicar. Eu não devia ter acusado você como o fiz, ou me comportado tão emocionalmente. Eu estava cansada e embaraçada. Não vamos nos debruçar sobre ele.
Ele a levou para a carruagem e a auxiliou. Ela olhou pela janela enquanto rolavam através das ruas de Langdon’s End. A aldeia parecia diferente a partir do assento de uma carruagem cara.
Quando chegaram à estrada que ligava as suas propriedades, o carro não virou à esquerda na direção da dela. Pelo contrário, voltou para a dele.
–Não se preocupe. Não tenho intenções desonrosas. Eu quero–te mostrar algo.
Apesar da situação, a alegria cantarolava dentro dela, ela acreditava sobre as intenções dele. Gareth não poderia ser chamado de frio hoje, mas ele permaneceu distante de forma sutil, mas inconfundível.
–Você fez alguma melhoria surpreendente? O telhado está pronto?
–Eu não iria raptá-la por isso. Isto é muito mais interessante. Enquanto eu estava em Londres, eu comprei um pouco de arte. As paredes do Lodge são muito vazias, você não concorda? Eu decidi comprar algumas artes que são ajustadas à herança e à linhagem que é executada através de mim. Você vai gostar deles, e pode vir estudá-los se você escolher. Se você for muito boa para mim, talvez deixe você copiá-los da forma como os alunos da academia copiam velhos mestres.
Uma brisa de inquietação fez sua nuca formigar.
–Isso significaria gastar um monte de tempo em Albany Lodge.
–É uma casa grande. Você não me vai incomodar. Se está preocupada que não haja conversa, você pode trazer sua irmã ou uma amiga.
Ela não tinha pensado sobre a existência de conversa. Ela tinha a esperança de ver algumas luzes más em seus olhos, o indício que ele calculou tê-la em sua casa, vulnerável a seus poderes.
Na casa, ele a auxiliou a sair.
–As pinturas estão na biblioteca. Vou acompanhá-la em um minuto. –Ele caminhou para o cocheiro.
Ela entrou na casa e voltou para a biblioteca. E congelou.
De frente para ela, apoiadas em cadeiras, lareira e contra a parede, eram as pinturas que Gareth tinha trazido de volta de Londres.
Suas pinturas.
Ela caminhou de uma para a outra, esperando que estivesse errada, sabendo que não. Ela ficou no meio delas, incapaz de pensar. Ele sabia. Ele devia saber. Isso não poderia ser alguma coincidência. A menos que ele se deparou com o homem que os tinha comprado a partir de Mr. Stevenson.
–Elas são ótimas, não acha?
Ela virou. Gareth parou à porta, inclinando o ombro contra o batente, a observando. Atentamente. Sobriamente.
Ela nunca teve medo dele antes, mas por um momento agora ela tinha.
–A maioria veio de um Mr. Zwilliger em Londres. Ele disse que eles eram de mestres como Gainsborough e Cuyp. –Ele apontou para os três rapazes na fonte, e ainda a natureza morta que ela tinha visto pela última vez na Christie. –Ou Carracci aqui. Ele deu um bom nome para cada uma delas. Foi bastante oportuno.
–Você quis pagar os preços desses artistas por estas pinturas?
–Isso teria sido estúpido. Afinal, elas são todas falsas. –Ele andou em direção a ela. –Elas não são, Eva?
Ela queria morrer. Sim, ele sabia. Ele tinha adivinhado a verdade, e suspeitava o pior.
–Elas não se destinavam a ser falsificações. Eu nunca esperei que alguém se deixaria enganar. Eu não sou tão boa.
–Você é muito boa. A maioria das pessoas seria enganada.
–Eram exercícios, e uma maneira de ganhar alguns xelins. Eu iria pintar uma cópia e dá-la a um homem em Birmingham, e ele iria tentar vendê-la e me dar metade do dinheiro se ele o fizesse. Eu nunca disse que elas estavam feitas por todos os mestres. Eu não acho que ele o fez também. Eu disse que elas eram minhas, e as vendeu como ao estilo de um mestre, mas não pela sua mão. Eu vejo como fica, no entanto. Se você acha que eu estava aliada com este Sr. Zwilliger, não estou certa de que possa provar que não.
Ele tirou seu sobretudo, lançou-o em uma cadeira, e sentou-se no divã.
–Sente-se aqui comigo, Eva. Eu quero ter certeza de que ouvi um ao outro de forma clara, e não há mal-entendidos.
Ela obedeceu, doente nas profundezas do seu ser.
–Eva, você está dizendo que não tinha ideia de que as cópias estavam sendo vendidas como originais? Nenhuma mesmo? Será que você nunca considerou que elas poderiam ser?
–Elas não eram boas o suficiente. Eu sempre as vi com os originais, e o que lhes faltava era óbvio. –Ela hesitou, mas se obrigou a seguir. –Eu vi uma na casa de leilões, atribuída a Cuyp. Eu lhes disse que a tinha pintado, mas o homem me ignorou como se eu fosse alguma tola. E, sim, eu vou admitir que quando isso aconteceu, me ocorreu que talvez, depois de terem sido vendidas, tinha havido um mal-entendido sobre elas.
–Essa é a palavra errada. Isto foi deliberado. No caminho entre a sua entrega das pinturas, e o meu de encontrá-las, alguém escolheu apresentá-las como originais, sabendo muito bem que elas não eram.
Ela olhou para seu colo, com vergonha de olhar para ele. Ela não queria ver seus pensamentos em seus olhos. A melhor desculpa que ela tinha era estupidez e ignorância. Tanto para o bem de sua personagem. E isso não iria ficar melhor. Mais perguntas viriam a mostrá-la mesmo a uma luz pior.
Perguntou-se se Sarah levaria Rebecca se ela fosse presa. Provavelmente sim. Falsificação era um crime grave. Eles podiam levá-la. Perguntou-se se forjar pinturas se encontrava incluída na frase como: falsificação de documentos e semelhante. Homens tinham sido enforcados por isso. O pensamento enviou um arrepio pelas suas costas.
–Eva, o como estas vieram a ser vendidas em Londres como originais pode esperar para ser resolvido. Agora eu preciso de você para me dizer onde os originais estão.
Ela olhou para ele, surpresa.
–Você não sabe? Achei que sim. Por que mais você teria comprado essas obras exatas?
–Porque eu tenho procurado os originais, e essas cópias podem ser uma maneira de encontrá-los.
Ela queria rir. Sua expressão sombria, totalmente sem humor, a deteve.
–Como você conseguiu copiar estas obras em particular, Eva?
–Porque elas eram todas as que estavam disponíveis para mim. As originais estão todas bem aqui, Gareth. Elas estão em seu sótão.
Merda.
As imagens estavam bem debaixo do seu nariz todo esse tempo. Sentia-se como um idiota.
E por que não colocá-los aqui? Era uma mansão abandonada, não utilizada. Quem saberia?
Gareth seguiu Eva até as escadas para o nível superior que abrigava os quartos dos empregados. Ele só tinha vindo aqui algumas vezes, para inspecionar os danos causados pelo mau estado do telhado. As alas mais recentes tinham telhados mais recentes, de modo que ninguém tinha procurado para encontrar seus sótãos.
Ela o levou para o fim da passagem. De um lado, em um canto escondido ao lado da parede do quarto final, ela lhe mostrou uma porta estreita. Ela virou o trinco. Atrás dessa porta havia um lance de escadas que levavam até um sótão que se estendia sobre uma das adições que ladeavam a parte principal da casa.
Pilhas de pinturas cobriam as paredes, as da frente envoltas em véus de lona ou de estopa. Eva foi até uma pilha e levantou o pano. Os meninos Cavorted em torno de uma fonte de Gainsborough.
–Estas são as que eu copiei. –Ela apontou para as pequenas obras alinhadas atrás do primeiro, em seguida, em um grupo similar de pequenas imagens ao lado.
Ele se curvou e os folheou. As cópias abaixo tinham seus originais aqui. Algumas outros tinham sido feitas, no entanto, não compradas por Zwilliger.
–Eu só fiz pequenas.
–Eu acho que um juiz não se vai importar quão grandes eles eram.
Cabeça baixa. –Eu só estava indo para explicar os tinha escolhido porque os maiores eram muito desajeitados para se mover.
Ele pegou a tela fora de uma pilha de obras maiores. Ele aliviou cada um para a frente para que ele pudesse ver os assuntos. Le Nain, Claude, Poussin, Vasari, o tema pré-definido de cada um lhe permitiu vê-los mentalmente na lista da arte que faltava, que ele tinha memorizado.
Ele não olhou para o resto. Ele contou, assumindo que tudo estaria na lista. Trinta e um. Insuficiente.
Eva ainda ficou em silêncio, com os braços amontoando seu corpo, sua cabeça pendurada.
–Por que você não me disse que estavam aqui, Eva?
–Os levei, não foi? Eu os removi sem permissão. Estava carregando um para casa no dia em que nos conhecemos. –Ela apontou para o Gainsborough.
–No entanto, você os devolveu.
–Se eu admiti isso, por que você não vai assumir que sou capaz de roubo? Por que você deve pensar que devolvi todos eles? Muitas coisas desapareceram desta casa.
Ele percebeu que não era o que ele pensava, mas o que ela pensava, que pesava sobre ela. Sua própria mente ela associava o uso das pinturas com o roubo.
–Você tomou alguma outra coisa? Você manteve um, por exemplo, ou... – –Cadeiras. Eu levei cadeiras. Eu as vendi, da mesma forma que eu vendi a nossa própria mobília. –Ela parecia infeliz. –Elas estavam boas também. Pesadas. Levei uma hora para chegar com cada uma para casa, eu tive que parar muitas vezes para descansar. Madeira e bem trabalhada. Alguns tinham gravur...
–Eu lhe perdoo pelas cadeiras, Eva. Caso haja dúvidas sobre essas pinturas, não vamos mencioná-las a ninguém.
Ela não olhou para ele.
–Obrigada. Mas você sempre vai saber agora que eu sou uma ladra, não vai?
Ele puxou a lona para trás sobre as pinturas.
–Não é o que eu estou procurando, pelo menos. Estas não são minhas, Eva. Elas foram levadas anos atrás, e eu e meu irmão estamos investigando o roubo nestas últimas semanas. Eu preciso escrever para Ives e dizer-lhe que um terço delas apareceu.
Ela finalmente levantou a cabeça. Olhou para as pinturas em volta.
–Será que ninguém vai achar estranho que as pinturas deste roubo foram encontradas em sua própria casa, Gareth?
Estranho dificilmente faria justiça às possíveis reações, ele percebeu. Todos os tipos de especulações poderiam ser feitas sobre esta peculiar reviravolta dos fatos, e nenhuma delas se iria refletir bem sobre ele.
Ele se lembrava de como todos estavam aliviados que pudesse provar que estava fora do país quando Percy morreu. Ele não podia provar o mesmo quanto a estas imagens desaparecidas.
As potenciais ramificações desta descoberta lotou seus pensamentos.
Bem, inferno e condenação. Ele estava prestes a descobrir o quanto um irmão Ives realmente pensava que ele fosse.
–Você acredita em mim? Que eu copiei sem a intenção de vender falsificações?
Eva fez a pergunta depois que voltou para a biblioteca.
–Claro.
–Não há “é claro” nisto, Gareth. Eu não posso provar isso.
Ela ainda parecia constrangida, e muito infeliz. Ele colocou suas próprias preocupações de lado, e dirigiu-se a ela.
–Nem todas as cópias foram para Zwilliger. O que aconteceu com os outros?
–Sr. Stevenson vendeu alguns, para pessoas em Birmingham.
–Se necessário, vamos falar a essas pessoas e saber o que eles acham que eles compraram. No entanto, é óbvio para mim que você e Stevenson lidaram com isso honestamente. Foi Zwilliger que tropeçou em uma oportunidade, quando ele abriu a porta da loja de Stevenson.
–Óbvio?
–O sofrimento dele é sincero, como é o seu. Zwilliger desempenhou um papel em um palco.
Algumas faíscas de humor brilharam em seus olhos.
–Talvez eu desempenhei um papel também.
O que, uma coisa encantadoramente ignorante para dizer.
–Eva, depois do que temos compartilhado, não há nada que você possa esconder de mim.
Ela sorriu ironicamente. Quase com tristeza.
–Há muitas coisas que eu escondo de você muito bem, Gareth. –Ela deu-lhe cópias de um olhar longo, em seguida, afastou-se dele. –Eu vou embora agora. Rebecca provavelmente está se perguntando o que aconteceu comigo.
–A carruagem a espera. Eu disse ao homem para mantê-la pronta.
Ela não falou na curta viagem até a casa dela. Sua postura e seu silêncio o desencorajaram a abraçá-la e oferecer conforto.
Ela não permitiu que ele a ajudasse na volta, mas fez por conta própria, desajeitadamente.
–Eu agradeço por ouvir-me, Gareth, e não apenas pensar o pior de mim.
–Eu nunca poderia pensar o pior de você, Eva.
–Você não pode, mas você não estava certo. Também não pode nunca estar novamente, não é?
Ela se virou e foi para sua casa.
Ele não disse ao cocheiro para seguir em frente imediatamente. Ele debateu se deveria segui-la, e para o inferno com a compostura. Ele havia deixado Londres com coisas para dizer para ela. Coisas importantes. Após as revelações do dia, podia ser um longo tempo agora, antes que ele pudesse falar deles. Ele ainda podia oferecer segurança, apesar de tudo. Melhor do que ele teve até hoje.
Ele virou o trinco e abriu a porta. Ele não tinha experiência em realmente cuidar de uma mulher. Isso o fez desajeitado. Ela merecia melhor dele hoje do que ele lhe dera.
De repente, sua voz quebrou o ar, gritando seu nome. Ela apareceu em sua porta, não de todo composta. Ela chamou o seu nome de novo, desesperadamente, e depois desapareceu.
Ele saiu correndo da carruagem e correu para ela.
Capítulo 24
Ele entrou dentro da casa. E ao vê-lo ali, sentiu um pouco de sua sanidade voltar.
Ela o chamou de dentro da biblioteca. Estava perto da janela, segurando o pedaço de papel. Suas mãos tremiam tanto que o papel caiu como uma asa de pardal. Quando ouviu seus passos, voltou-se assustada e furiosa.
–O que devo fazer? Eu não sei o que isso significa. Não sei o que eles querem de mim. –Tentou soar calma, mas ao invés disso ela estava gritando.
–Ela?
–Rebecca. Ela se foi. E deixou isso para mim, mas não consigo entender. –Ela começou a chorar, e em seguida bateu o pé no chão, fechando os olhos e parando as lágrimas através de pura força de vontade.
Ele pegou o papel caído no chão e a abraçou. Com ela pressionada contra seu corpo, ele leu a carta por cima do ombro. Seus braços eram fortes ao redor dela. Seu calor a banhava de conforto. Ela permitiu-se relaxar contra ele, como resultado sentiu-se mais forte, menos propensa a sucumbir ao caos, que ameaçava sua mente.
–Ela diz que eles a forçaram a escrever esta carta, e que eles querem o tesouro que seu irmão roubou de volta. O que isso significa Eva?
–Eu não sei. –Ela respirou fundo. –Meu irmão não tinha nada. Nenhum tesouro. Por acaso parece que estamos vivendo como se tivéssemos um? Isso é um absurdo. Esses tolos devem ter ouvido algum rumor absurdo e agora...–Ela olhou para cima quando uma ideia interrompeu sua preocupação. –Você acha que foram os mesmos homens que destruíram a casa quando estávamos fora?
–Acho que são. Parecia que estavam procurando algo. Talvez tenha sido o tesouro ao qual esses homens de referem. –Ele pensou sobre isso. –Esta é uma palavra estranha. Tesouro. Não dinheiro, ou qualquer outra palavra. Tesouro algo sugere algo valioso. –Ela olhou novamente para carta e a leu em voz alta.
Minha querida irmã, Eles dizem que eu preciso lhe escrever rapidamente. Falo dos homens que no momento estão ao redor de mim, e que dirigem minha caneta. Eles chegaram esta tarde, dizendo que vieram buscar o que nosso irmão tinha deixado para eles. Quando expressei ignorância, eles insistiram em entrar.
Eles têm certeza de que você sabe o paradeiro do que eles procuram. Espero que sim, porque terei de ficar com eles até que você traga o tesouro para seu local seguro. Quando você estiver pronta, tem que deixar uma carta com o proprietário do Quatro Cisnes em Henley.
Aquele que eu creio que seja o líder, disseme para escrever que você tem sua palavra que não serei molestada. Nem serei prejudicada se você concluir o negócio que nosso irmão começou com ele. Ainda promete que você ficará com a parte de Nigel, assim como foi combinado. Entretanto, se você procurar o magistrado, não ficará com nada, inclusive eu. Expliquei que você é uma mulher sozinha no mundo, e não é dada a bravuras, e que fará o que puder, especialmente se puder obter uma cota.
Não se preocupe muito comigo, Eva. O líder parece ser um homem inteligente e bastante educado. Quando a minha segurança e virtude, tenho minhas próprias maneiras de proteger-me.
De sua amorosa irmã,
–O que ela quis dizer com suas próprias maneiras de se proteger? –Gareth perguntou.
–Pelo que conhece de Rebecca, ela provavelmente acha que sua lógica e argumentos morais irá detê-los. –Mal ela terminou de falar outra possibilidade saltou em sua mente. Não. Claro que não.
Ela saiu do abraço de Gareth e correu até as escadas subindo até seu quarto.
A porta de seu guarda-roupa estava aberta. Ela caiu de joelhou e apalpou cegamente por ela, esperando que estivesse errada. Gareth a seguiu.
–Não está aqui, –ela disse. –A pistola. Eles devem tê-la deixado pegar algumas roupas, e ela furtivamente pegou isso também. A pólvora, as balas, ela pegou tudo.
–Talvez os sequestradores tenham feito isso, não ela.
Talvez, mas Eva não acreditou nisso.
–Espero que ela não seja tão estúpida ao ponto de tentar usá-la. Ela nunca atirou antes, Gareth. Provavelmente irá carregar a arma de forma errada e se matar no processo.
Mãos fortes e suaves a ergueram até pô-la de pé.
–Ela não é estúpida, então não fará nada mais que colocá-la sob o colchão. Se isso faz com que ela se sinta menos vulnerável, é bom que ela a tenha. Agora, venha comigo. Vamos voltar para Albany Lodge. Depois iremos comer algo e colocar nossas cabeças para resolver o mistério do tesouro.
Eva lhe permitiu guiá-la até a carruagem. Quando chegaram em cada, ela até mesmo deixou que ele arrumasse comida para os dois. Se fosse por ela, não teria comido, ou se incomodado com a conversa fiada que ele usou para distraí-la durante a refeição. Ao invés disso, ela ter-se-ia sentado sozinha na biblioteca, olhando para a carta de Rebecca enquanto se sentia impotente.
Depois do jantar, Gareth acendeu algumas velas na biblioteca. E a sentou no divã, não havia outro modo de descrever como ela a pegou, e a pressionou no lugar. Para em seguida recolher todas as pinturas e as colocar em outro lugar.
Finalmente, ele serviu uma dose de uma garrafa qualquer, e levou o copo para ela.
Ela pegou enquanto ele se sentava ao seu lado.
–Brandy de novo?
–Você parece precisar. Seu rosto está cinza, e seus olhos parecem vidrados.
–A última vez que me colocou sob sua proteção e bebi seu conhaque, acordei em sua cama. Estou em perigo de que isso aconteça de novo?
Ele ergueu a mão para o copo que ela segurava e o apertou contra seus lábios. –Sim. Não agora, não esta noite, mas sim.
Ela tomou um gole.
–Devo ser justa com você, Gareth. Você sempre dá um aviso antes de agir.
–Qualquer outra atitude seria uma desonra.
Ele esperou que ela terminasse o conhaque, para em seguida pegar o copo e deixar sobre a mesa ao lado. Ele a puxou para um abraço quente e segurou-a enquanto o álcool relaxava lentamente seu corpo.
–Me conte sobre seu irmão.
–Ele era bonito. Assim como minha irmã, ele era parecido com nossa mãe. Ele sempre foi muito mimado, eu acho. Parece que ele nunca tinha o suficiente. Ele discutia com meu pai sobre suas dívidas. E quando ele herdou, as coisas pioraram, como lhe falei antes.
–Ele tinha amigos aqui perto?
Ela percebeu que ele fazia essas perguntas com um propósito. –Sim, no clube e entre vizinhos. Outros jovens de famílias como a nossa. Eles vinham a nossa casa, às vezes, mas na maioria das vezes se encontravam em outro lugar. Ele se vestia, e saía com um cavalo que havia custado uma fortuna, apenas para parecer bem. Imagino que eles passavam o tempo fazendo o que os homens costumam fazer quando estão sós.
–Até o dia em que ele voltou para casa com uma bala de pistola nele, e não resistiu. Algum desses amigos era leal?
Ela vasculhou sua memória levando para o início da doença de seu irmão. –Antes ele tinha, mas depois não. Ele mudou muito. Ele odiava como a ferida o tinha afetado. A bala tinha rasgado coisas nele, e o cirurgião rasgou ainda mais. Ele só conseguia ficar inclinado depois disso, e não conseguia andar direito. Sua vitalidade se esvaiu como areia. Até o momento que ele sequer se conseguia mexer, então a febre veio e ele não tinha forças para lutar conta isso.
Ela se aconchegou a ele enquanto falava. Pensando no irmão, entristecida. No final, havia pouco amor entre eles. Seus ressentimentos mútuos colidiam silenciosamente na atmosfera gelada de seu leito de morte.
Ela deveria ter sido mais gentil, e feito mais por ele. Ela deveria ter feito mais por Rebecca também. Rebecca...
–O que vou fazer, Gareth?
–Agora você irá dormir, para que amanhã possa pensar com mais clareza. –Ele se levantou e a puxou para cima levando-a para escada.
Ele a levou para seu quarto.
–Pensei que você havia dito que nada iria acontecer essa noite.
–E não irá. Você dormirá melhor aqui do que em uma cama estranha. Não irei acordá-la quando voltar.
Ele deu-lhe um beijo doce antes de sair.
Gareth serviu-se de mais brandy. Ele não tinha intenção de dormir muito aquela noite.
Ele leu a carta de Rebecca novamente. Sem magistrados. Isso lhe convinha. Ele não queria nenhum magistrado atrapalhando com leis e direitos quando ele encontrasse estes homens.
Eles pareciam ansiosos, descuidados. Este tesouro tinha grande valor para eles. Sequestro ela um crime punido com enforcamento. E o sequestro de uma nobre, e uma que era inocente, todos no país exigiriam que eles fossem esquartejados.
Ele não tinha nenhum plano, mas sabia que iria precisar de ajuda. Ele se sentou e escreveu uma carta para Ives, dizendo que tinha encontrado algumas das pinturas. O encorajou a vir para o norte, por este e outros problemas. E terminou dizendo a Ives para deixar seus livros de direito para trás.
Atirando-se no divã, fechou os olhos, e contou os dias. Se este tesouro e sua localização não pudessem ser encontrados em três dias, um resgate bruto e perigoso teria que ser orquestrado. Se tivessem uma isca, seria mais fácil encontrá-los. E algo lhe dizia que se eles pudessem evitariam ao máximo situações em que houvesse violência.
Sua mente vagava meio adormecida. Os eventos e imagens dos últimos dias se misturavam em sua mente de forma aleatória. Até que uma frase da carta de Rebecca se destacou. Expliquei que você é uma mulher sozinha no mundo, e não é dada a atos de bravura, e que fará o que puder, especialmente se puder obter uma cota. Menina inteligente, insinuando uma possível aliança, entre eles. Ela sabia que Eva era mais que corajosa, e que não iria enfrentar isso sozinha.
Ele imaginou Rebecca falando sobre filosofia e política radical até que os homens pagassem a Eva para poderem devolvê-la. Embora a ideia o fizesse sorrir, era óbvio que não seria assim tão simples.
Logo o sono veio, mas em seguida, ele acordou com um sobressalto. Se sentou e esfregou os olhos. Ideias diferentes surgiram em sua cabeça, finalmente alinhando-se de forma que ele não podia ignorá-las.
Um jovem ressentido que estava ponto de perder toda a sua fortuna. Um grupo de amigos andando pelo campo. Um tesouro pelo qual valia a pena arriscar ser morto. Feridas de pistola, uma que foi feita com o objetivo de matar. Uma pintura lavada com terebintina, de modo que mostrasse as pinceladas por baixos. Paredes sendo arranhadas, tábuas do piso erguidas, passos...
Ele olhou para o teto.
E um esconderijo de quadros preciosos, logo ao fim da rua que dava para a entrada casa do jovem.
No dia seguinte, Eve acordou antes do amanhecer sentindo o peso e o calor de Gareth atrás dela. Com o braço cobrindo seu corpo. Ela não o viu voltar na noite anterior, de modo que sua presença a surpreendeu.
Ela virou-se com cuidado, para não acordá-lo. Até que ficou de frente, com o nariz contra seu peito, sentindo sua respiração contra o cabelo. Lentamente colocou a mão sobre seu quadril.
Esta intimidade a colocou relaxada. Nas duas últimas noites seu sono havia sido irregular, mas naquele momento ele veio como uma nuvem macia. Quando acordou novamente, havia luz pelas frestas das cortinas. Ela ficou imóvel, sem ousar perturbar a paz. E quanto mais tempo ela ficou ali, mais o dia trazia de volta a preocupação doentia que a vinha atormentando.
Ele acariciou sua cabeça, fazendo arrepios percorrerem seu corpo. E perguntou-se se ele iria fazer mais do que isso. Ela não se importaria.
–Meu irmão vai chegar hoje, eu acho, –ele disse por fim.
–Acho que devo voltar para casa.
–Não quero que fique sozinha. Ives poderá ficar numa pousada na vila.
–Se ele sabe que estou aqui, não parece haver motivos para ele ficar lá. –Além de Ives, apenas Harold sabia deste fato. Gareth havia dado ordens para Erasmo cumprir em outro lugar, então, ele também não estaria na propriedade.
–Ele ficará mais confortável na vila. Está casa é muito grande para ele. –Ele esfregou sua cabeça novamente. –Eve, acho que sei onde está o tesouro.
Ela olhou para cima e ele inclinou a cabeça para que ela pudesse ver seu rosto.
–Você acha? –Ela jogou os braços ao seu redor e apertou com força em sua excitação. –Onde? Acha que podemos buscar rapidamente?
–Você não vai gostar, Eve. Eu tive essa ideia ontem, mas estou convencido de que estou certo.
O tom extremamente gentil que ele usou, fez sua alegria desaparecer.
–Diga-me. Posso não gostar, mas rezo para que esteja certo.
Ele lhe contou uma estranha história sobre lordes que enviavam pinturas para o norte, para que pudessem recuperá-las depois da guerra.
As pinturas escondias em seu sótão são algumas delas.
–São estas pinturas que você estava procurando?
–Sim. Mas a questão é como elas chegaram lá em cima. Por enquanto devemos nos focar nisso, mas também precisamos saber onde está o resto.
–Não tem medo que eles achem que você pegou as pinturas, e as trocou pelas que estão aqui?
–Este é um perigo. E eu não fiz isso, é claro. Mas acho que sei quem fez. –Ele a virou de costas, e se apoiou no cotovelo para poder olhar para ela. –Um tesouro, Eve. Essas imagens estão avaliadas em milhares. Quando sua casa foi invadida eles tiraram quase todas as tábuas do piso. Em seguida verificaram o teto, para ver se havia alguma coisa lá. Aqueles homens não estavam procurando por algo pequeno, como joias. Ou dinheiro.
–Eles foram para o sótão, o seu sótão, mas eles não foram para o da minha casa.
Ela pensou nisso.
–Você acha que o tesouro que pode salvar minha irmã está sobre nossas cabeças. As pinturas.
–Sim.
–Queria que você estivesse certo, mas creio que não está. Se estivesse correto, isso significa que meu irmão as colocou lá. Ele não era um ladrão.
Ele lhe acariciou o rosto.
–Pode ter sido apenas uma brincadeira que deu errado. Ele pode ter tentado impedir, e foi baleado no processo. Então ele poderia arrumar um modo de devolvê-los sem implicar a si mesmo.
Ela olhou para ele.
–Você gastou toda a noite de ontem trabalhando nestas desculpas, não é? Acho que não acredita em nada disso. Talvez devesse compartilhar o que acredita.
Ele caiu de costas ao lado dela. E ela agradeceu silenciosamente, não queria olhar para ele agora.
–Acho que seu irmão e alguns de seus amigos descobriram onde as pinturas estavam guardadas. Eles encontraram um modo de colocá-las em outro lugar, e esperarem que a guerra terminasse para poderem vendê-las no exterior. Acho que seu irmão ficou impaciente devido ao seu estado financeiro e pegou algumas pinturas do sótão e as colocou aqui, porque ninguém morava aqui. Ele levou mais do que a sua parte. Ou então, quando descobriram, ele foi baleado, pode ter sido por um guarda, ou algum cumplice. Provavelmente o último.
E devido a sua ferida, ele não pôde vender nada. As pinturas apenas ficaram lá, a meia milha de distância.
–Você contará essa história para o seu irmão?
–Sim.
Ela se sentou e virou as costas para ele, procurando por sua roupa.
–Você irá manchar o bom nome de meu irmão, sem qualquer prova de que o tesouro que eles procuram sejam essas pinturas. Você irá arriscar a vida da minha irmã por causa de uma teoria bizarra.
Ela se ergueu na cama para se ir vestir em outro lugar, mas um aperto em seu braço a deteve.
–Se lembra de como essas pinturas foram arruinadas, Eve? As imagens que você tinha feito anos atrás? Como tinham sido limpas como aguarrás? Era alguém verificando se você não havia pintado sobre alguma dessas telas escondendo-as à vista de todos.
–Isso foi apenas aqueles criminosos tentando destruí-los.
–Foi trabalho demais apenas para destruir algo. Uma faca teria sido muito mais rápida e satisfatória.
–Nigel morreu sem ter nada, além de seu bom nome. Você está errado sobre ele. Rezo para que seu irmão explique seu erro de raciocínio já que não me irá ouvir. –Ela puxou o braço até o soltar. Agarrando suas roupas, saiu para encontrar outro quarto e poder ficar longe dele.
Assim que Gareth ouviu os cavalos, soube que Ives não tinha vindo sozinho. Abriu a porta para ver os garanhões galopando até a entrada. Os cavaleiros os frearam e desmontaram.
–Lance insistiu em vir, –Ives disse. –Ele decidiu que tinha uma aventura em mãos, e a cidade já estava ficando chata.
Pela aparência das coisas Lance esperava por uma aventura violenta. Três pistolas e uma espingarda estavam amarradas à sela. Após um aceno de saudação, ele começou a removê-las. Ele jogou as pistolas para Gareth uma por uma, e em seguida pegou a espingarda indo até à porta.
–Você disse a ele para deixar seus livros de direito para trás. Eu sei o que isso significa, mesmo que ele finja que não. –Então ele entrou na casa.
Harold pegou as pistolas das mãos de Gareth.
–Vou limpá-las, senhor. Mas primeiro irei para a vila informar que agora serão necessários dois quartos para os novos hóspedes.
–Bom homem. –Ele confiava que Harold cuidasse do básico, a reação dele ao sequestro havia sido feroz e indignada. Coisas como estas não aconteciam em pacíficas vilas inglesas.
–A senhora passará mais esta noite aqui, senhor?
–Ela ficará até o retorno de sua irmã.
Gareth foi para a biblioteca. Ives já descansava no divã. Lance percorria o primeiro andar, olhando através das portas e fazendo um balanço da propriedade.
–É melhor do que eu lembrava. Quando era criança achava esse lugar velho e mofado, mas agora parece suficientemente confortável, –ele disse ao se juntar a eles.
–Você deveria ter visto esse lugar há dois meses, –Gareth disse, –Nem o telhado estava bom.
–Está confortável apenas porque Gareth fez as melhorias, das quais eu lhe falei. –Ives disse.
–Melhor gastar seu dinheiro com isso, do que com advogados sanguessugas, –Lance disse. –Nada pessoal, Ives.
–Desculpas aceites.
Lance se jogou em uma das cadeiras e olhou para as molduras do teto.
–Bem, essa casa não favorecia essas terras. Caso contrário, com um bom terreno de caça ao lado, eu poderia ter tentado...
–Mas isso não aconteceu, eu como advogado, aconselho a mudarmos de assunto, –Ives disse.
Era a primeira vez que Gareth tinha ouvido falar disso. Em qualquer outro momento ele teria celebrado. Mas hoje, com Eve escondida em algum lugar da casa, e Rebecca em perigo, ele só permitiu que uma parte de sua alma reconhecesse o contentamento de ser um homem que possuía terras.
Gareth levou porto e conhaque e lhe disse para se servirem.
–Antes que você pergunte, tenho apenas um criado, e ele está cuidando de suas armas e seus cavalos.
–Não disse que eu não poderia fazer isso por mim mesmo. –Lance se serviu de uma boa quantidade de porto. –Então, quem nós vamos matar?
Ives fechou os olhos e sacudiu a cabeça.
–Ninguém, tenho certeza.
–Felizmente, ninguém, –Gareth corrigiu. Fazendo com que os outros dois olhassem para ele.
Primeiro, ele explicou como descobriu as pinturas, e o envolvimento involuntário de Eve na produção de falsificações. Um longo silêncio se seguiu ao término da metade da história.
–Se Stevenson vendeu alguns desses quadros para as famílias em Birmingham, devemos procurar os nomes e contatá-los, para obtermos informações sobre essas vendas, –Ives disse. –Isso irá provar que nem ele, nem a senhorita Russel tentaram fazer esses trabalhos de passarem por originais.
–Exatamente o que eu pensei, –Gareth disse.
–Sei que ninguém pediu minha opinião, –Lance começou. –Entretanto...
–Nós sabemos que podemos contar com você para dar de qualquer maneira, –Ives disse.
–Farei isso. Não que qualquer um de vocês precise que eu saliente que é essencial encontrar o restante das obras roubadas agora. Caso contrário, Gareth se tornará um alvo conveniente para acusações. Já teremos o suficiente em nossas costas, quando vier a público que ele tem em sua posse um terço das obras, ao mesmo tempo em que os lordes celebram o retorno de todas elas.
–Não que tenhamos quaisquer dúvidas sobre você, é claro, –Ives disse para Gareth.
–Absolutamente nenhuma, –Lance disse. –Claro.
–Mas a Lady, entretanto... –As sobrancelhas de Ives coraram.
–Ela está dizendo a verdade. Eu sei que ela foi ignorante do começo ao fim, –Gareth disse.
–Mais uma vez, se encontrarmos as pinturas todas essas perguntas serão respondidas, –Lance disse.
–Já estão respondidas. Estou falando sério. Entretanto, seu falecido irmão, pode não ter sido tão ignorante. –Ele descreveu a invasão de sua casa, e a carta de Rebecca.
–Como podem ver, –concluiu. –Nós agora temos uma pista dos homens que realizaram o roubo. Nós os encontramos, e junto estará o resto das pinturas.
A sala ficou em silêncio. Lance e Ives tomaram suas bebidas.
–Meu plano é simples. Primeiro, precisamos resgatar a garota. Vou deixar uma carta no Quatro Cisnes dizendo que levarei as pinturas. Vocês dois ficarão de tocaia na pousada, e seguirão a pessoa que pegou a carta até o cativeiro. Assim que a senhorita estiver segura, vamos atacá-los e recuperar o resto da coleção.
Ives colocou o copo sobre a mesa, antes de levantar-se e caminhar até a janela imerso em pensamento.
–Onde está a senhorita agora?
–Está aqui. No jardim, eu acho.
–É melhor sabermos com certeza onde ela está no momento. Foi inteligente trancá-la aqui.
–Eu não a tranquei. Eu a trouxe aqui para protegê-la.
–Quaisquer que sejam suas razões, o movimento foi prudente.
Gareth ignorou a expressão de Ives. Uma carranca que ele geralmente usava por baixo de uma peruca branca enquanto servia como procurador da coroa.
–Ele acha que você pode ter interpretado as provas de maneira errada, Gareth, –Lance disse, com o olhar fixo em Ives. –Confesso, que também tenho minhas dúvidas. A senhorita pode não ser tão inocente quanto pensa. Ela está no centro de tudo o que nos contou. Não finja que não pensou nesta hipótese.
–Pode parecer assim à primeira vista, mas sua atuação tem sido não intencional em todos os pontos. Confiem em meu julgamento sobre isso, ou então vocês podem retornar para Londres. Não quero perder meu tempo protegendo-a de vocês dois, assim como dos outros.
–Se o restante das pinturas não aparecer...
–Então você irá manter o nome dela fora disso, Ives. Deixe que as suspeitas recaiam sobre mim, se for o caso.
Ives e Lance se entreolharam.
Ives resolveu não pressionar mais.
–Digamos que nós encontremos o resto das pinturas escondidas. O que acha que irá acontecer, você vai até a porta e pedirá por elas?
–Por que não?
–Nós devemos ignorar o que disse a carta e procurar o magistrado.
–Se nós o informarmos, ele vai querer trazer cinquenta homens com ele. A notícia pode-se espalhar e isso vai dar em nada.
Ives esfregou a testa.
–Não queremos cinquenta homens. Mas pode ser sábio ter mais do que três. –Ele olhou para Lance para ver se ele concordava.
Lance deu de ombros.
–Tenho cinco pistolas comigo. Estou esperando uma rendição imediata, se estivermos bem armados.
Ives suspirou.
–Peça à senhorita que se junte a nós para que ela possa escrever a carta.
Gareth encontrou Eve no jardim. Ela estava sentando em um velho banco perto de um muro que havia sido reconstruído. Seu caderno de esboços aberto em seu colo, sem abrir.
–Eles já chegaram? –Ela perguntou, sem desviar o olhar do pequeno pomar que tomava a parte traseira do jardim. Flores haviam-se espalhado pela copas das árvores, prontas para darem frutos. Só mais alguns dias, e haveria um tapete rosa e branco espalhado pelo chão.
–Eles estão aguardando na biblioteca. Precisamos que você escreva uma carta para deixarmos na pousada.
Ela não respondeu, e nem sequer olhou para ele. Ele esperou.
–E nenhum deles questionou essas cópias que eu fiz? –Ela perguntou.
–Não. Eles sabem qual foi seu papel, assim como eu.
–Você está mentindo. Está tentando me proteger e jogando meu irmão aos lobos em meu lugar.
Ele se sentou ao seu lado no banco.
–Você quer eu incrimine você, Eve? Quer tanto poupar o nome de seu irmão que faria isso? –Ele tomou sua mão entre as duas. –Farei o que puder para manter o nome dele limpo. Mas ele foi cúmplice desse crime. Não irei fingir que não, só porque isso é mais conveniente para você. Então, por favor, acabe com essa frieza em relação a mim.
Suas pernas se agitaram, e ela baixou o olhar às flores, e em seguida, seu olhar ficou perdido.
–Estou com raiva de você, por forçar a verdade sobre mim.
–Eu tentei alternativas. Eu tinha boas desculpas para oferecer na noite passada.
–Parece que nos conhecemos bem demais para que eu acreditasse naquilo. Estou tão envergonhada, Gareth. Por ele, e por mim. Como irei encarar o duque agora, o Senhor Ywain...
–Eles não sentem nada além de simpatia e preocupação por você, Eve. E alívio, por podermos resolver isso rapidamente e trazer sua irmã de volta. –Ela se levantou, ainda segurando a mão dela. –Venha escrever a carta. –Ele pegou seu caderno de esboços e o enfiou de baixo do braço.
Ela finalmente olhou em sua direção. E enquanto caminhavam para cada, lhe brincou com um sorrisinho triste. –Quem teria imaginado, que na busca por alguns perversos momentos de prazer, eu teria encontrado um grande amigo.
Ele deu-lhe um beijo reconfortante na mão. Quem teria imaginado.
Capítulo 25
Eve estava sentada na biblioteca, tentando ler. Havia apenas três velas acesas, de modo que qualquer um que olhasse poderia ver que ela estava sozinha. Também poderia ver dez quadros apoiados contra as paredes, suas cores brilhando como joias derretidas.
O plano era muito simples, e esperava, que também não fosse perigoso. Ela tinha ido sozinha à taverna levar a carta, e a deixou com o proprietário, sem que nada de ruim ocorresse. Nele, ela reconhecia que tinha o tesouro, e expressou seu alívio de que alguém finalmente tivesse chegado até ele, e declarou que iria, é claro, trocar por sua irmã. Eles deveriam vir hoje buscar as pinturas que foram roubadas por seu irmão. Se não trouxessem Rebecca com eles, ela os havia ameaçado de começar a chorar.
Ela tentou segurar a ansiedade, mas com o passar do tempo ele conseguiu se sobrepor a sua confiança. Não importava quantas vezes lembra-se a si mesma de que não estava em perigo, de que havia três homens armados do lado de fora cuidando de tudo, ainda não conseguia permanecer calma. Se Rebecca não estivesse no meio disso, poderia ter sido diferente. Se ela não tivesse levado a pistola, tê-la por perto também teria ajudado.
Não havia como saber quanto tempo ainda teria que esperar. Tentou voltar a ler.
Tinha chegado a página dez quando ouviu um barulho suave no lado de fora. Vozes baixas e passos abafados se aproximaram da casa. Ela se inclinou para frente para que pudesse ver a sala de estar. A porta abriu, e o vestido amarelo de Rebecca apareceu, junto a três pares de botas.
Ela se levantou, e Rebecca correu para ela. Enquanto elas se abraçavam, Rebecca sussurrou.
–Eu estou com a pistola escondida no meu xale. Eles não sabem que eu a tenho.
Eve olhou por cima do ombro de sua irmã para os três homens. Um deles podia se passar por um cavalheiro em um bom dia, mas a bebida havia avermelhado sua pele e deixado seus olhos vidrados, o rosto envelhecido, mesmo que tivesse não mais que trinta anos de idade. Os outros dois homens eram capangas. Ela reconheceu o mais deles como um dos estranhos que ela havia notado rondando a área nos últimos dois meses. O outro, menos a chocou com sua presença.
–Erasmo? Como você pode se envolver nisso? –Ela perguntou.
Ele lhe deu um de seus sorrisos.
–Estou aqui para ter certeza que ninguém se machuque, senhorita Russel, muito menos você, ou a senhorita Rebecca. Às vezes esses tipos podem esquecer suas boas maneiras.
–Você não poderia imaginar a minha surpresa ao vê-lo dentro do carro em que me levaram daqui. –Rebecca disse. –Estou decepcionada com você, Erasmo.
–A vida tem um modo de fazer isso, Srta. Sempre nos desapontando. –Ele disse.
O cavalheiro ignorou tudo isso enquanto olhava para as pinturas.
–Eles o chamam de Crawley, –Rebecca sussurrou. –Apropriado, desde que sinto arrepios sempre que ele olha para mim.
Agora o Sr. Crawley examinava as pinturas como alguém que sabia o que estava fazendo. Estes eram os originais, não as cópias, no caso dos ladrões terem bons olhos para artes.
–Onde estão os outros? –Perguntou. –Deve haver mais. Vinte, ou algo do tipo.
–Os outros são a parte do meu irmão. Foi-me dito que poderia mantê-los.
–Não é uma questão de número, e sim de valor, estão o resto não poderá ser todo seu. Vou precisar dos outros também.
–Meu irmão insistiu que o resto eram nossos. Ele foi muito claro quando me falou, ainda em seu leito de morte, onde as pinturas estavam escondidas. Por tanto, eu arrumei para serem vendidos.
A expressão de Crawley endureceu.
–Você os vendeu? Isso foi muito imprudente.
–Eu disse que arranjei a sua venda. Isso foi recente, eles ainda não foram vendidos.
–Então eu pergunto novamente, Srta. Russel. Onde eles estão?
–Espero que ainda estejam em posse do agente que irá facilitar a venda. O Sr. Gareth Fitzallen.
Os olhos incolores de Crawley refletiram espanto, e então humor.
–Fitzallen. –O vira-lata de Aylesvury? Agora, isso sim será delicioso. Espero que ele tenha voltado para a cidade para que eu possa falar com ele. Lamento, mas sua irmã deve acompanhar-me até que a parte que nos cabe seja realmente justa.
Ele apontou para o homem grande, e rústico que havia permanecido em silêncio durante toda a conversa, e depois para Erasmo.
–Melhor você vir conosco, Senhorita Rebecca, –Erasmo disse.
–Acho melhor não. Vou ficar aqui.
Crawley suspirou, exasperado, e fez um gesto em direção a ela enquanto olhava para o homem grande. Suas botas pesadas deram dois passos.
Eve procurou no xale da irmã e retirou a pistola.
–Nem minha irmã, nem eu seremos mantidas como reféns por causa de um mal entendido. Vá e fale com o Sr. Fitzallen se for preciso. Você não irá precisar viajar para Londres, pois ele vive à direita na estrada. O restante da participação do meu irmão, está lá, aguardando ser transportado para a costa.
A pistola fez o grandalhão parar, ele parecia confuso ao olhar a arma, e fez uma careta para Crawley, como se as regras do jogo nunca tivessem mudado em aviso antes. Crawley olhou para Eve, em seguida para pistola. –Sempre tive curiosidade de ver a pontaria de uma mulher usando um desses. Inferno, mulheres nem sabem como carregar uma dessas.
–Eu pratiquei até conseguir, depois que seus homens vandalizaram minha propriedade. Eu posso ignorar isso, se nosso negócio for fechado em termos justos, senhor, mas não irei permitir que minha irmã fique à mercê de um estranho, especialmente quando a honra deste estranho é mais que duvidosa.
Uma aura feia parecia escorrer de Crawley. Uma malévola e perigosa. Eve empurrou Rebecca atrás de si, e segurou a pistola tão firme quanto podia.
–Fitzallen tem um comprador no continente? –Crawley perguntou.
–Sim, ele tem. Demorou algum tempo para organizar, mas ele me disse que tudo está resolvido.
Ele pareceu relaxar. Era difícil dizer. Seu rosto flácido e os olhos vagos tornavam difícil ler sua expressão.
–No final da estrada, a direita, você disse.
–Está a apenas meia milha. Você não se irá perder. Erasmo irá levá-lo até lá. Ele conhece bem a casa.
–É melhor não estar mentindo para mim. Se eu não encontrar as pinturas naquela casa, não irei me preocupar com a honra de ninguém, muito menos a minha.
–Você me decepcionou, Sr. Crawley, –Rebecca disse. –Depois de todas as nossas conversas como a filosofia da moral, lhe ver fazendo uma ameaça tão cruel é desanimador.
Crawley revirou os olhos e depois apontou para Eve.
–Você vem comigo, e deixei sua irmã aqui. Preciso que diga a Fitzallen que concorda com o que eu quero. –Ele se virou para o grande homem. –Você fica aqui com ela, Wiggins.
–O inferno que eu fico, eu não quero ouvi-la falar de novo!
–Então, não ouça. Só não deixe que ela ou essas pinturas saiam desta casa.
Eve entregou a pistola a Rebecca. Rebecca sorriu para o grandalhão, e sentou-se. Ele também se sentou, quase esmagando a cadeira. Não parecia muito feliz.
Quando Eve saiu, ela ouviu Rebecca começar a falar. –Bem e mal, tudo se resume a saber se temos ou não almas, Sr. Wiggins. A menos que façamos, a questão da nossa bondade não tem qualquer significado. Quando perguntei a sua opinião ontem, você não me respondeu. Permita-me explicar o que os filósofos argumentam sobre este ponto...
Ela mudou os planos, –Ives disse a Gareth enquanto montaram seus cavalos.
Eles ouviram sua conversa com Crawley, enquanto estavam escondidos debaixo de uma janela no lado de fora da casa.
–Ela fez o melhor, –Gareth disse. –Foi brilhante. Ele virá direto para nós agora. Se eu jogar bem minhas cartas, vamos descobrir onde as outras pinturas estão. Ele vai querer incluí-las na venda estrangeira se puder.
Ives estendeu a mão e agarrou as rédeas parando o irmão.
–Vamos planejar isso direito. Crawley vai querer ver o restante das pinturas. Lance será de grande ajuda, mas não confio que esteja em seus planos deixar qualquer um desses caras sair daqui hoje à noite.
Gareth concordou, embora isso limitasse suas opções. Ele teria que ser rápido, afim de obter a informação de onde estavam as outras pinturas. Entretanto, Ives temia que Crawley não iria dar essa informação tão facilmente. Ele pensava que seria dar um – incentivo - maior para que Crawley começasse a falar.
Mas ele tinha certeza que Erasmo poderia ser convencido.
Agradeceu aos próprios instintos de ter mantido Erasmo ignorante deste negócio, e longe de Albany Lodge durante os últimos quinze dias.
Eles atravessaram a estrada a galope, sabendo que a carruagem vinha logo atrás. Crawley desceu da carruagem no final da estrada e fez o restante do caminho a pé. Enquanto cavalgava, Gareth observou o modo como Eve andava até a carruagem. Ele e Ives viraram numa curva no exato momento em que a carruagem começou a se mover.
–Vou levar os cavalos para o estábulo, –Ives disse quando eles pararam em frente a Lodge. –Você entrar pelo jardim e irei para biblioteca. Deixe a porta aberta para que eu possa ouvir.
Gareth entrou a biblioteca, acendeu as velas, e pegou um livro antes de se livrar de seu casaco. Colocou a pistola na gaveta de uma mesa próxima. Tinha acabado de se estabelecer para ler quando ouviu a carruagem se aproximando.
Passos apressados soaram escada abaixo. Era Ives. Harold apareceu, puxando seu casaco e penteando os cabelos com o dedo. Ele enfiou a cabeça na biblioteca.
–São seus irmãos, senhor? Ou outros visitantes?
Gareth amaldiçoou. Ele tinha esquecido que Harold havia ficado essa noite, para melhor servir ao duque e a Ives quando eles viessem durante o dia.
–São visitantes, eu creio. –Ele tinha que decidir rapidamente se poderia confiar em Harold, ou se o mandava para baixo, para ser trancado no porão por Ives. –Preciso que você não demonstre nenhuma surpresa quando abrir a porta. Basta trazê-los aqui, então vá para baixo. O senhor Ywain estará lá. Faça tudo o que ele mandar.
Como bom soldado que era, Harold nem sequer pestanejou ante a estranha ordem. Ele se endireitou e desapareceu.
A porta se abriu, houve sons abafados de conversa. Erasmo riu. Passos se seguiram e Eve entrou na biblioteca, seguida por Erasmo e por outro homem.
Eve apresentou o estranho como Sr. Crawley.
–Crawley, –repetiu Gareth. –Você não é primo do visconde Demmiwood?
–Eu sou. Também sei quem você é. A senhorita diz que você está em posse das pinturas dela. Por um lamentável mal entendido, algumas das minhas próprias pinturas se misturaram com elas.
–Não me diga isso. –Ele fez uma careta para Eve. –Isso foi muito irresponsável, Srta. Russel. Se o Sr. Crawley tivesse vindo aqui apenas 15 dias depois, teria sido difícil e muito caro recuperar sua propriedade.
–Não o culpo por estar contrariado, Sr. Fitzallen. Também estou aliviado que isso foi descoberto a tempo.
Gareth sorriu para Crawley.
–As pinturas estão todas encaixotadas para transporte, mas se me disser quais são as suas irei procurá-las.
–Bem, não precisa ser tão rápido. Ao que parece você tem um comprador para todas elas. Não há necessidade de mudar os planos. Apenas, quando receber o pagamento, me passe o que é meu por direito.
–Isso certamente irá simplificar as coisas. –Gareth convidou Eve e Crawley para se sentar, e depois voltou para a própria cadeira. –Agora, quais são as suas?
O olhar de Crawley se dirigiu para os decantadores em sua estante. Rapidamente ele voltou sua atenção.
–O Annibale Carracci é um deles. Depois, A paisagem de Claude, e o Danaë de Titian.
Gareth engoliu a vontade de estrangular o homem. Ele havia simplesmente citado os três mais valiosos. Junto com os dez que sobraram, ele estava deixando para Eve apenas uma parte insignificante.
–Tem certeza que concorda com isso, Senhorita Russel? –Perguntou.
–Claro, Sr. Crawley está mais familiarizado com a forma como a coleção foi dividida. –Ela olhou para cima. Seus olhos diziam: Não importa. Lembra? Mas mesmo assim ele sentia que importava.
–Então é assim que vai ser.
Crawley mordeu o lábio superior por um momento.
–Será que este colecionador não estaria interessado em outros? Eu tenho mais, se você quiser. Obras muito importantes.
–Tenho certeza de que ele estaria. Entretanto, se você tiver obras desta qualidade, seria melhor negócio vendê-los aqui, na Inglaterra. Foi apenas a necessidade de uma conclusão rápida que me levou a procurar compradores estrangeiros para as obras de Srta. Russel.
–Eu também prefiro uma venda rápida, e tudo de uma vez.
Gareth fingiu refletir sobre isso.
–Eu tinha a intenção de transportá-los em breve. Não haverá tempo para escrever e confirmar se também irá querer suas obras. Eu acho que ele vai, mas...
–Se você for viajar com eles, também irei enviar minha parte, e irei junto na viagem. Se este comprador não os quiser, outros poderão querer.
–Oh, certamente. Se eles são tudo o que você diz, certamente outro iria.
–Sr. Fitzallen é nada, se não o melhor corretor, –disse Eve. –Ele me foi altamente recomendado. Ora, ele sequer falou em preço antes de ver as pinturas pessoalmente.
–O que a senhorita Russel diz é verdade. Eu teria que ver o que você tem. Sua coleção se encontra por perto? –Gareth esperava que Ives estivesse ouvindo com atenção e apreciando o quão perto eles estavam de conseguir o paradeiro das outras pinturas.
–Está a menos de um dia. Talvez dois. –Os olhos de Crawley se viraram com ansiedade para o decantadores uma segunda vez. –Seria melhor que trouxessem as obras aqui.
Mas não perto o suficiente. Droga.
–Todas elas estão livres? Há alguma com ônus imobiliário, por exemplo? Uma vez eu perdi quase um ano de trabalho devido a uma coleção que precisaria da morte do pai do homem para ser vendida.
–Caso isso acontecer, todas as mortes exigidas serão feitas imediatamente. –Crawley disse parecendo muito divertido.
Eve olhou para ele estreitando os olhos.
–Você está falando do meu irmão?
A diversão de Crawley morreu.
–Não, minha senhora, não estou.
Eve não acreditou nele. Nem Gareth. Crawley se remexeu desconfortavelmente.
–Entrarei em contato, Fitzallen. Espero que você também. Assim que essas pinturas forem vendidas, podemos descansar. Se tudo correr bem, podemos ver com os outros.
–Eu confio que minha casa será poupada de mais invasões.
Crawley a encarou e fez uma reverência.
–Você tem minha palavra. –Ele se virou para ir, e depois congelou. A saída estava bloqueada, Ives estava ali com a pistola em punho.
Crawley girou, seu olhar procurando outra saída desesperadamente. Gareth sacudiu a cabeça, e ergueu a outra pistola.
Ives se aproximou, colocou uma mão firme no ombro de Crawley e o pressionou para baixo na cadeira.
–Tenho outras perguntas sobre estas pinturas antes de deixá-lo ir a qualquer lugar.
Através da porta, eles podiam ver Harold marchando para a entrada com sua própria pistola e um olhar inflexível no rosto.
–Gareth, –Eva disse. –Erasmo ficou na carruagem.
Gareth foi até a porta, no momento em que Harold erguia a pistola e apontava para uma silhueta se perdendo na escuridão.
–Não o mate, Harold.
–Como desejar, senhor.
O som de um tiro soou na noite, em seguida, um grito de choque e dor. Gareth e Harold andaram a curta distância até onde Erasmo se contorcia no chão, segurando uma perna.
–Você, maldito, quebrou minha perna! –Ele gritou.
–Fique contente por ainda ter uma vida para poder reclamar, –Harold disse. –No exército, temos vira casacas mais honrados. Porque o Sr. Fitzallen aqui pediu para lhe poupar, está além do meu entendimento.
Gareth estendeu a mão e arrastou Erasmo pelo braço.
–Eu o quero vivo, por que ele gosta de falar. Não é verdade, Erasmo?
Capítulo 26
Erasmo falou sem parar. O tempo todo que Harold limpou, mexeu e tratou da sua perna na cozinha, ele disse tudo o que ele sabia a Eva e Gareth.
Ele tinha chegado tarde ao esquema, infelizmente, e não sabia os nomes de todos os envolvidos. Eva assumiu que Lorde Ywain estava lá em cima persuadindo o Sr. Crawley a preencher todos os detalhes.
Em vez disso, ela estava a ouvir como Nigel tinha recrutado Erasmo para ajudar a recuperar alguns bens armazenados a alguma distância, e como eles tinham utilizado um vagão por quase três dias e colocado nele muitas caixas planas. Ela ouviu que outro homem chegou quando eles estavam partindo, e trocaram tiros de pistola, tendo Nigel ficado com uma bala alojada no seu corpo.
–Ele estava xingando –Erasmo disse, enquanto ele via Harold lidar com ele não muito suavemente. Suor embebia o seu cabelo, o resultado de terror e dor. –Amaldiçoou aqueles que esperavam que ele esperasse para sempre para transformar os bens em dinheiro, então mentiram a ele e disseram que tudo tinha sido queimado, então não haveria nada para vender depois de tudo o que se passou. Ele adivinhou que era mentira, ele disse, e ele precisava de dinheiro.
Eva queria acusá-lo de mentir, só que agora Erasmo estava com demasiado medo para mentir. O coração dela estava agoniado e apertado. Nigel ajudou no roubo das pinturas, assim como o Sr. Crawley tinha insinuado.
–Ajudou-o a armazenar as caixas, quando você voltou para Langdon’s End? –Gareth perguntou. Erasmo abanou a cabeça. –Ele deixou-me do outro lado da cidade. Eu disse-lhe que deveria ajudar, que com essa ferida só se mataria arrastando as caixas grandes fora do carrinho. Ele não me ouviu.
Arrastar os caixotes para aquele sótão provavelmente tinha piorado a ferida, Eva pensou. Isso possivelmente iria matá-lo, eventualmente.
–Como é que estava hoje à noite com este homem?–Gareth perguntou.
Erasmo ficou vermelho. –Encontrei-os a primeira vez que eles entraram em casa de Srta. Russell. Ela me pediu para checar as coisas todas as manhãs, e naquela manhã, estes dois homens estavam lá. Wiggins, aquele grande e outro. Destruindo as coisas, eles estavam. Eles me deram cinco xelins e continuaram. Não sabia que tinha a ver com aquelas caixas daquela noite. Falei que não havia nada para roubar, mas eles não ouviram, e eu não podia impedi-los. Então, no outro dia, o Sr. Crawley estava na aldeia com Wiggins, que me apontou, e havia outros cinco xelins em minha mão.
–Reconheceu Crawley daquela noite que você ajudou a Nigel Russell? –Gareth perguntou.
–Não o vi lá. Ele pode ter estado lá, no entanto. Eu estava em uma carroça com o gado sob o chicote do Sr. Russell, não estava?
Justamente então Harold puxou a corda para amarrar a tala no lugar. Erasmo gritava de dor.
–Diabos, não precisa me matar! Somos amigos, por piedade.
–Amigos? Por anos você está rindo e falando sobre um grande segredo, e eu vou e descubro que é isto. Você não é nenhum amigo meu se lidar com aquele patife que está lá em cima. –Harold deu um bom puxão na corda. –Isso deve aguentar muito bem até que o cirurgião tire a bala. Você vai ser afinado como um violino para a forca.
–Forca!
–O que você acha que acontece àqueles que sequestram meninas de suas casas, seu tolo?
–Eu não fiz isso. Insisti que eu devia ir com ela, para ela não ficar assustada. Eu pensei que o companheiro Wiggins podia ter ideias, e eu podia mantê-la segura.
–Diga isso para o tribunal, e talvez eles acreditem mais em você do que eu. –Harold saiu, triste e abatido.
Gareth ofereceu a Erasmo o braço dele. –Você terá que ficar de pé agora e ir lá fora. Haverá outras questões.
Eva também ajudou Erasmo. Juntos, ela e Gareth, saíram com ele para o jardim. O Sr. Crawley já estava lá sentado, queixo firme e resoluto. Harold ficou nas proximidades, arma em riste. O Lorde Ywain sentou-se a vinte passos de distância, sua pistola no banco ao lado dele. Quando ele os viu surgir, ele andou.
–Ele não está falando. Nem uma palavra, nada. Além disso, ele acha que isto é muito divertido.
–Não lhe adianta cooperar, –disse Gareth. –Dar-te a localização das outras pinturas só provaria que ele as havia levado, depois de tudo.
–Precisamos de informação, mesmo assim.
Gareth examinou a expressão calma e contente de Crawley.
–Ele espera ouvir que vai deixá-lo ir, quando as pinturas forem recuperadas. A sua localização é seu único trunfo, mas é um ás.
O rosto do Lorde Ywain transformou-se em pedra.
–Você está sugerindo que eu...
–Não finja que você nunca antes fez isso, se essa fosse a única maneira de saber o que precisava.
Lorde Ywain olhou para Eva.
–Peço desculpas que estão nos ouvindo negociar com a justiça, especialmente porque é a justiça da sua família que será negada se fizermos isso. Diga a palavra e nós aceitaremos um saque parcial sobre aqueles quadros ausentes.
Eva olhou para Crawley. Ele tinha decidido que seria um jogo até o fim. Ela se perguntava se tinha sido uma bala da pistola dele que a condenou a cinco anos de trabalho árduo e miserável com um amargo e melancólico Nigel.
Importava? Ela queria isto terminado. Acabado. Ela queria que Crawley e as pinturas se fossem embora. Ela queria sua vida de volta, então ela poderia olhar para o futuro, não para o passado.
–Se você pode fazê-lo deixar a Inglaterra, não me importo o que negociar com ele. Mas se ele ficar livre, Erasmo e os outros também devem ficar livres.
–Veja se você pode descobrir quem eram os outros senhores, –Gareth adicionou. –Duvido que ele vá lhe dizer, mas tente.
Lorde Ywain andou até o Sr. Crawley.
–Você não precisa concordar com isso, –disse-lhe Gareth. –Nós poderíamos tentar saber isso da pior forma.
–Seu irmão nunca aceitaria isso.
–Você não conhece muito bem o meu irmão.
Ela tinha que sorrir.
–Minha generosidade não é pura, tenho vergonha de dizer. Esperava que se o Sr. Crawley mostrasse misericórdia, eu também. Estou confiante que à luz de um roubo tão ousado, seu irmão não se importará muito por eu ter copiado as pinturas com intenções inocentes ou se deliberadamente as forjei.
–Eu acho que ele se esqueceu disso completamente.
–Por enquanto, talvez. Mas ele vai lembrar-se disso em breve.
–Ele não vai saber disso. Não é parte desta Srta.ão. –Gareth pegou a mão dela e afastou-a dos outros. –Eles vão sair em breve. Quando o fizerem, fique aqui.
–Minha irmã...
–Eles devem levá-la para as irmãs de Neville. Ela deve fazer coisas normais hoje, não transformar as horas restantes em um monumento à sua provação, ao seu tormento. –Ele levantou sua mão e a beijou. –Fique aqui comigo.
Ela fechou os olhos para que nada a distraísse daquele beijo que a tocava como uma escova de veludo. Um prazer feliz tomou conta dela, lembrando-lhe que seu próprio normal recente, a sua normalidade, tinha sido maravilhosa.
–Temo que se concordo, estarei em perigo novamente, –ela disse.
–Fique.
Seu sorriso e olhar quente prometeram o melhor perigo.
–Eu vou agora, –ela disse. –Apresente as minhas desculpas a eles.
–Que raio de coisa, –disse Ives. Ele não parecia feliz com a sua conversa com Crawley. –Ele só acha que ele sabe onde estão o resto das pinturas e, mesmo assim, de um modo geral. Segundo ele, depois que as pinturas foram roubadas e armazenadas, o líder informou-os que um incêndio destruiu tudo isso. Crawley ficou com dúvidas, mas na verdade o local estava reduzido a cinzas quando foi verificar.
–Como ele sabia que Nigel tinha algumas pinturas?
–Ele só descobriu que algumas das pinturas sobreviveram quando ele também se deparou com uma das cópias de Srta. Russell, há três meses, em uma casa de Birmingham que visitou e percebeu que Nigel devia tê-las tomado antes do incêndio. Ou depois, se o incêndio foi um ardil. No que toca à localização onde ele suspeita que o resto das pinturas agora estão armazenadas, ele não dará isso para mim. A menos que receba uma bela soma junto com a liberdade.
–Isso não serve.
–Não. Nem ele dará os nomes dos outros envolvidos, cavalheiros... embora ele diga que o líder está morto agora. Ele vai com prazer entregar o Wiggins e isso, claro. Isto começou como uma brincadeira, aliás. Ele soube sobre o movimento da arte ao ouvir uma conversa de Demmiwood sobre isso. Ele e alguns amigos daqui, alguns anos depois da morte do último duque de Devonshire, mandaram o mordomo embora com um ardil e trataram de tudo.
–Creio que, eventualmente, isto deixou de ser uma piada. Provavelmente quando um deles soube do valor de certas pinturas antigas.
–Eles quiseram sair. Alguns, como Russell e Crawley, desesperadamente queriam vender. Ambos eram jovens e tinham dívidas, nessa altura. Outros, incluindo um cavalheiro sem nome que exerceu influência considerável sobre os outros, este líder que Crawley fala, não queriam. É por isso que Crawley pensa que o fogo era uma farsa. Aquele outro senhor garantiu que ele se safava, dizendo-lhes que não havia nada para vender devido ao fogo, mas Nigel o acusou de mentir. Quando Crawley, recentemente, por acaso, viu uma das cópias de Srta. Russell, o que provou que as pinturas ainda existiam em algum lugar, ele supôs que a cópia significava que ela sabia onde elas estavam.
Aquele cavalheiro sem nome, provavelmente, sabia que uma grande venda de arte era difícil de realizar, Gareth adivinhou. Crawley teria sabido disso rápido o suficiente. Se a Ives não tivesse sido dada esta missão e atraído o seu irmão bastardo para ela, teria um dia Crawley abordado o Sr. Fitzallen para obter ajuda com essa venda?
–Porque sorris? –Ives perguntou.
–Um pouco de ironia. Então, tudo está como é suposto, parece....
–Em troca de sua liberdade, ele vai me levar para onde as pinturas estavam armazenadas antes do incêndio. A mera noção de fazer isto o fez rir por algum motivo.
–Por que não ver se aquele grandalhão Wiggins também sabe alguma coisa? Assim, você não tem que negociar. Lance pode ter apavorado Wiggins o suficiente para ele contar tudo o que sabe.
–Isso é uma boa ideia. Vamos descobrir. Erasmo pode ir em cima da carruagem, a senhora dentro, Crawley pode andar, e você e eu vamos com os nossos cavalos.
Ives começou a afastar-se.
–Acho que vou deixar o resto para você, –disse Gareth, parando-o. –E a senhora está a descansar, eu acredito. Ela está cansada, sendo de natureza delicada.
Ives, virou-se e caminhou de volta.
–Sentindo-se fraca, hein?
–Completamente desfeita pelo drama.
–E você pretende ficar para trás e vigiar a saúde dela?
–Alguém tem que fazer isso.
–Ela tem uma irmã. O que vamos fazer com ela?
–Levá-la para os seus amigos na vila. As irmãs de Neville. Ela vai gostar disso.
Ives riu levemente.
–Para bem das senhoras e suas reputações, minha intenção é que a vila não saiba nada do sequestro. Espero que elas também serão discretas?
–Srta. Russell é muito discreta, mesmo muito. Tenho certeza que a irmã dela vai ver a justiça disso também.
Mais uma vez, Ives foi-se embora.
–Eu virei quando tudo estiver acabado e direi onde encontramos e que pinturas puderam ser recuperadas, se encontrarmos algumas delas.
–Melhor ainda, escreve-me uma carta.
Capítulo 27
A brisa da primavera soprou sobre Eva, agitando a sua antecipação. Ela estava deitada imóvel e ouvindo os sons que também entravam pela janela que ela tinha posto entreaberta.
Vozes e botas moviam-se ao redor da casa e para a frente dela. Cavalos relinchavam e batiam com as patas no chão, e ouviu-se uma porta de uma carruagem de transporte abrir-se. Erasmo, exclamou em dor, e Harold o amaldiçoou. Então rolou a carruagem, seus sons diminuindo a cada momento.
Ela ouvia, esperando. Finalmente, passos de botas soaram nas placas abaixo lentamente dirigindo-se para a biblioteca. Uma pausa e, em seguida, mais passos dirigindo-se para as escadas. Ela imaginou Gareth percebendo a sua capa caída na cadeira no hall da recepção.
As botas vinham subindo as escadas. O som de cada movimento despertou-a mais. Ela afastou para o lado o lençol que a cobria, para ele saber, logo que a visse, que ela queria todo o perigo que ele poderia dar-lhe.
Ele não entrou no quarto de dormir. Em vez disso, ele foi para o vestidor. Ela ouviu-o lá dentro, movendo-se lá dentro. Ele a fez esperar por muito tempo. Com o tempo passando, o seu desejo cresceu até que ela estava quente o suficiente para que a brisa atormentasse o seu corpo com suas carícias frias e suaves.
Finalmente, ele entrou no quarto, seu cabelo úmido da lavagem, os olhos cheios de profundidades da paixão. Ele estava nu, também, assim como ela. Nua e linda e excitada.
Ele veio e ficou ao lado da cama.
–Você está impaciente.
–Sim.
–Eu acho que eu vou fazer você esperar, de qualquer maneira. –Ele acariciou com dois dedos o lado do rosto dela. O traçado lento continuou ao longo de sua mandíbula, depois seguiu para o pescoço dela. A respiração acelerou-se quando ele tocou mais baixo ainda, roçando o início da sua mama. Quando ele raspou seu mamilo tenso, as suas costas arquearam em reação à sensação requintada. Ele continuou lá até que ela se contorcia e gemia e desistia de tentar conter o prazer.
–Não há mais exigências que não posso tocar você, Eva, ou que nos retiremos para a amizade. Não mais sendo bom e cuidadoso.
Ela estava além de discutir. Ela concordaria com qualquer coisa. Não foi só o corpo dela que aceitou o comando. O seu coração assentiu também, seguro de que o amor a deixou sem alternativa. Não há mais negação do que agora centrava o seu mundo.
As pontas dos dedos serpentearam novamente, descendo o seu corpo. Apesar de toda a consciência dela estar lambendo os lábios com o prazer, ela também queria que ele conhecesse tão doce tortura. Ela estendeu a mão e roçou-a levemente ao longo da sua ereção, correndo os dedos por toda ela. Ela tinha imaginado fazer amor com ele, muitas vezes, desde o seu último encontro em Londres. Via-se fazê-lo corretamente, com grande sofisticação. Ela não o imaginou assim, tão passiva, quase lânguida. Ela tinha sido uma deusa de Vênus nesses sonhos.
Ela balançou as pernas e sentou-se ao lado da cama. Ela o levou mais apertado nas mãos dela. Ela circulou o eixo com uma mão e a outra usou para acariciar a ponta.
–Assim?
–Sim. –Sua voz soou baixa e irregular. –Porra, sim.
Ela gostava desse tom em sua voz. Adorava que ele tivesse ficado na frente dela, pés colocados amplamente. Adorou como ele a deixou aprender sozinha o que fazia os seus dentes ranger e as suas frases saírem como xingamentos murmurados, suaves. Ele andou para mais perto ainda e chegou abaixo de seus braços para provocar as mamas dela. O poder e a impaciência dominaram-na novamente. Controle tremeu para fora dela. Ela beijou seu estômago enquanto ela o acariciava. O beijou, sentindo gratidão pelo prazer e muito mais. E parecia muito natural mover os beijos para a ponta da sua ereção.
A reação dele disse-lhe quanto ele queria isso. Seus gemidos tranquilos guiaram as suas explorações. Tensão o dominou e foi aumentando, até que ela, de repente, se encontrou a cair na cama. Ele espalhou as suas coxas bem para os lados, e levantou os quadris dela até que eles estavam para fora da cama. Ele entrou nela três vezes. Cada vez, a cabeça dele inclinou-se e os olhos fecharam-se como se ele sentisse o mesmo que ela, que essa união aliviava uma fome insuportável. Então, ele colocou as suas pernas em torno de seus quadris e levou-a, observando enquanto ela gritava e implorava por mais.
–Eu deveria ir para casa. Rebecca vai ficar sozinha.
–Ela está visitando as irmãs. Harold vai trazê-la de volta e esperar. Não há nenhuma necessidade de ir embora.
–Você tratou de tudo muito bem.
–Acho que sim.
Ela sentou-se e chegou-se para a borda da cama.
–Estou com fome, finalmente. Irei procurar comida. –Ela puxou a sua camisa e a colocou.
–Eu vou. O dia está chegando ao fim. Vamos jantar ao sol. –Ele foi para o vestiário e pegou algumas roupas.
Quando ele voltou, ela olhou para baixo para seu próprio corpo meio nu, então para ele, que apenas estava de calças novamente.
–Não haverá ninguém que nos veja ao sol, mas ainda assim parece uma coisa má.
–Gosta de perverso, então isso deve agradá-la.
Descendo as escadas, eles saíram. Ele espiou a capota e o caderno no hall da recepção e os pegou no caminho. Pôs o chapéu na cabeça dela.
–Isto vai poupar sua pele.
Ela sentiu o chapéu e riu.
Na cozinha, Eva resolveu fazer uma bandeja para levar para fora. Gareth folheava preguiçosamente através do caderno dela de esboços, para a frente e para trás. Ele encontrou um desenho que ela fez dele, enquanto ele dormia. Ela deve ter feito isso naquela tarde em Londres. Era muito bom. Como as cópias dela, mostrou um olho afiado e mão firme. Se lhe fosse dada a oportunidade, ela provavelmente se tornaria numa artista muito boa.
Ele continuou andando pelo caderno, e abriu as páginas em um desenho mais peculiar.
–O que é isto?
Eva olhou.
–Ah, isso. Nigel fez isso. Existem alguns outros lá. Enquanto se recuperava, mostrou-se muito inquieto para manipular. Ele não dormia bem, mas ele não podia andar muito ou descansar o suficiente para ler. Sugeri que ele tentasse esboçar alguma coisa. Isso foi o resultado triste do meu pedido. Ainda assim, isso o ocupou durante vários dias, pelo menos. –Ela pegou uns pratos.
Gareth dobrou o caderno debaixo do braço, pegou a bandeja e seguiu Eva para fora do jardim. Eles tomaram o seu almoço numa mesa rústica debaixo de uma árvore. Ele decifrava os desenhos ímpares de Nigel enquanto ele mastigava presunto e ovo.
–Eu acho que é uma paisagem, –ele disse. –Uma primitiva. Mapas antigos eram assim.
Ela esticou-se para olhar.
–Talvez. Ele não teve nenhum treinamento. Isso é como uma criança que desenha, misturando perspetivas dessa forma. No entanto, agora que fala nisso, acho que essa é a visão da nossa janela traseira. Isso seriam as paredes do jardim, e estas devem ser as árvores.
Ele virou a página para ver mais do mesmo, só que muito mais elaborado. Essa visão tinha edifícios. Uma memória, talvez.
Ele continuou olhando as páginas, virando para os trabalhos mais recentes de Eva. Ela tinha estado ocupada. Enquanto estudava os desenhos, no entanto, algo a respeito de Nigel se manteve cutucando-o. De repente, ele sabia o que era. Ele voltou para o segundo desenho.
Ele conhecia este lugar. Ele identificou a casa e as paredes, e as lagoas e os morros. As dependências estavam alinhadas exatamente como deveriam estar. Cavalos mal desenhados estavam colocados em sua pastagem correta perto da borda da página.
–Eva, seu irmão conhecia alguém ligado à família do meu pai?
–Acho que não. –Ela veio e olhou por cima do ombro. –Por que você acha isso?
–Porque isto parece Merrywood. Até mesmo o desenho da casa é uma visão infantil dela, com o telhado pontiagudo e cave rústica.
–Se você o diz. Eu sempre achei que ele estava tentando replicar meus pontos de vista, com resultados pobres.
Não era a casa principal que tinha atraído a melhor atenção de Nigel. Na verdade, o desenho infantil das dependências mostrou grande cuidado nos detalhes e colocação. Ele tinha incluído alguns chalés de inquilino para o leste também e até tinha desenhado as estradas que levavam a eles. Ele tinha mapeado a propriedade razoavelmente bem. Uma das casas não tinha carroças ou galinhas perto dela. Vaga, então. Nigel tinha agraciado esta casa de campo com uma linha grossa e escura por baixo. À esquerda da mesma estrada outra casinha apareceu, só com metade de um telhado e paredes escurecidas, como se um fogo a tivesse destruído.
Ele olhou para aquela casa.
Um dos cavalheiros envolvidos no roubo tinha morrido recentemente. O que tinha grande influência sobre os outros. O que provavelmente tinha fingido um incêndio para convencer os seus companheiros que as pinturas tinham desaparecido e não estavam disponíveis para venda.
Aquele que tinha um chalé de inquilino queimado perto da casa principal, que ele havia negligenciado em reconstruir ou reparar há cinco anos? Gareth não se lembrava de ver algo tão desagradável quando ele se aproximou de Merrywood.
Percy, seu ladrão patife.
Não admira que Crawley parecesse tão divertido por ele e Ives serem aqueles a rastrear essas imagens. Como ele iria rir quando, depois de comprar tudo o que pôde com a promessa de dar mais informações, ele finalmente levasse Ives à casa da família do próprio Ives por ser o lugar mais provável de encontrar o resto da coleção.
Eva levantou-se e passeou ao longo de alguns arbustos. Bolbos ainda verdes tinham enviado flores para a frente da vegetação. Ela inclinou-se para arrancar algumas. A camisa dela levantou-se atrás quando se inclinou, revelando as ondas inferiores do seu traseiro. Gareth fechou o caderno, agora muito mais interessado no erotismo encantador de sua amante.
Ele escreveria para Ives e iria dizer-lhe para procurar em Merrywood e em suas casas por imagens que a família não devia ter. Ele não teria que dizer a Ives nada. Com algumas perguntas, ele iria provavelmente saber que Nigel e Crawley, às vezes, iam beber nas tabernas existentes no campo com Percy, Duque de Aylesbury, um homem conhecido por causar dor e sofrimento aos outros por nenhuma outra razão do que a própria diversão perversa.
Capítulo 28
–Você está muito quieta, Eva. Esta viagem é suposta ser divertida para você, mas você tem estado perdida em seus pensamentos por longos trechos, tal como está agora.
Eva deixou os seus pensamentos para trás. Ela apertou a mão do homem que ia ao seu lado no coche.
–Me desculpe. Recebi uma carta de Sarah mesmo antes de você vir buscar-me.
–Más notícias?
–Não muito ruins, embora Sarah esteja fora de si. Parece que Sr. Trenton tem aparecido frequentemente agora que Rebecca está hospedada em Birmingham novamente.
–O poeta.
–Sim. O pior, no entanto, é que o senhor Mansfield não apareceu. Sarah tem a certeza que Rebecca arruinou as suas chances com ele.
–Se ela não gosta do homem, você não gostaria que ela se casasse com ele, não é? A vida é muito longa para estar em um casamento que não se quer.
Muito verdadeiro. Eva não podia afastar essa resposta. Além disso, ela nunca iria querer que Rebecca fosse uma daquelas garotas que apenas tolerava o leito conjugal. Não quando ela sabia quão maravilhoso ele poderia ser.
–Mas o senhor Trenton? –Ela suspirou. –Sou demasiado horrível por esperar que a minha irmã se case com um homem com pelo menos uma modesta fortuna e perspectivas decentes?
–Ela é jovem ainda. Eventualmente, ela vai falar de filosofia com o Sr. Trenton, também, e isso deve acabar esse flerte.
Ela riu. O Duque disse a Gareth que após sua chegada em sua casa, ele tinha encontrado Wiggins à beira das lágrimas, segurando a cabeça dele, enquanto Rebecca lhe dava palestras. Wiggins disse a Lance que preferia ser enviado para a prisão do que passar mais um minuto, a ouvi-la.
–Estamos entrando na cidade, –disse Gareth, apontando para fora da janela.
–Vai me dizer qual cidade é agora? Seu segredo tem sido peculiar.
–É em Coventry. Quando passarmos a seção mais antiga, você pode imaginar Lady Godiva lentamente cavalgando em seu cavalo. Por respeito, todo mundo entrou e fechou as janelas, assim o seu gesto não carregaria a humilhação que o seu marido pretendia.
A carruagem levou-os para as planícies e, em seguida, desviou-se para uma casa bonita. Ele parou em frente a uma que parecia ser do tipo que poderia abrigar um próspero comerciante. Da altura de três pisos construídos de pedra clara, tinha um pequeno jardim na frente, rodeado por uma cerca de ferro e portão.
Gareth, abriu a porta do carro e saiu.
–Quero que conheça alguém.
Ela aceitou a mão dele e se juntou a ele na calçada.
–Quem?
–Minha mãe.
Instintivamente, ela cavou em seus calcanhares.
–Você poderia ter-me avisado.
–Eu poderia, mas eu não fiz isso.
Ela apalpou o seu cabelo, para certificar-se de que não tinha ficado muito arruinado por uma indiscrição que teve lugar na carruagem há uma hora.
–Dadas as circunstâncias, você não devia ter sido má. Tenho a certeza que ela vai saber só de olhar para nós. –Ela deu-lhe um exame e não encontrou nenhuma prova. –Bem. Ela terá, olhando para mim.
–Não se preocupe. Uma mãe conhece o filho dela. Se ela adivinhar, ela me vai culpar, não pensar mal de você. –Ele pegou a mão dela. –Venha agora. Você vai gostar dela.
Eles entraram na casa por uma porta segura por um criado. Um lacaio escoltou-os para uma sala de estar. Com a sua chegada, uma mulher olhou para cima. Ninguém precisava dizer que era a mãe de Gareth. Eram muito iguais. Ela não era uma mulher bonita. Talvez não fosse mesmo linda de forma convencional, como era o costume. Mas, os seus olhos e cabelo escuros, e a boca larga e o rosto cinzelado, criavam um rosto memorável, marcante, que faziam a beleza convencional parecer superficial e chata.
As sobrancelhas dela subiram quando ela viu Eva. Esta visita foi igualmente uma surpresa para ela, parecia.
–Mãe, eu gostaria que conhecesse Srta. Russell, uma vizinha minha. Srta. Russell, essa é minha mãe, a Sra. Johnson.
–Ela não é apenas uma vizinha. –Sua mãe declarou, assim que Eva saiu da sala de estar. Ao ouvir que a casa tinha um jardim bom, ela pediu para vê-lo, depois de sofrer durante uma entrevista tensa, em que a mãe dele perguntou sobre sua família, sua vida, sua educação e uma série de outras perguntas maternais.
–Não.
–Você nunca trouxe uma das suas amantes para me conhecer antes.
–Não.
A mãe dele tomou um gole no resto do seu chá. Ele esperou.
–Ela não tem quase nenhuma fortuna. As terras de sua família são muito pequenas, e o que existe deve ser compartilhado com a irmã. Está na prateleira há já alguns anos, e apesar de ela ser atraente, ela não é uma grande beleza, como algumas das mulheres que tem conhecido.
Se a lista de deficiências tivesse vindo de outra pessoa, ele teria respondido duramente. Ela estava apenas sendo uma mãe, no entanto. Ele teve apenas sorte que Eva não tinha uma que poderia apontar o que lhe faltava a ele.
–Ela combina comigo.
Ela riu.
–Elas todas combinam, por um tempo.
–Eu acho que ela irá combinar por um bom tempo. Muito tempo mesmo.
Ela apareceu um pouco desanimada.
–Eu vim para te dizer que a propriedade é minha agora. Lance retirou a petição. A casa é minha e a propriedade, como meu pai queria.
Seu rosto ficou iluminado com alegria.
–Eu nunca pensei que veria este dia. Estou feliz por você, e feliz porque os desejos de Allen foram respeitados.
–Deve estar habitável no final do verão. Eu gostaria que você visitasse Albany Lodge no outono e ver o que eu fiz disso.
Ela calou-se. A expressão tornou-se incompreensível.
–Albany Lodge?
–Suponho que nunca lhe disse. Esse é o nome que eu dei.
–Seus irmãos não se importaram?
–Não é assunto deles. No entanto, nenhum deles pareceu chocado ou triste com isso.
A expressão orgulhosa dela tremia. Os olhos dela estavam molhados. Ele chegou perto e sentou-se ao lado dela e tomou as mãos nas suas.
Ela fungou e limpou seus olhos com seu lenço delicado.
–Obrigado. Sinto-me honrada, Gareth. –Ela compôs-se e agarrou as mãos dele. –Aquela mulher jovem. Se você a deixar com criança, você deve fazer a coisa certa.
–Sim, mãe.
–Você não terá nenhuma desculpa, e não vai fazer para ter uma linha inteira de bastardos na família.
Ele riu-se.
–Sim, mãe.
Ela bateu em seu ombro.
–Oh, pare com isso. Fico feliz que você se importe com ela. Você nunca a traria aqui, caso contrário. Vá até ela agora e partam.
Ele erguer-se, inclinou-se e beijou a cabeça dela.
–Vejo você em breve.
Ele estava quase à porta quando ela falou novamente.
–Gareth, você acha que há alguma chance de que você poderá, de fato, um dia deixá-la com uma criança? Que eu possa um dia ter um neto?
Ele sorriu e saiu para o jardim.
–Acho que devíamos casar, Eva.
Eva piscou os olhos e olhou para baixo de seu corpo, para onde a cabeça escura de Gareth estava aninhada entre as coxas dela. Ele fez algo que a fez gemer alto no seu jardim.
–Eu –isto é...–ela tentou falar através de seu espanto e loucura.
Ele fez de novo. Ela quase desmaiou. Quando a sua cabeça clareou, ela estava segurando na grama, ofegante.
–Pare com isso! Precisamos conversar.
–Um momento. Seria rude deixá-la desse jeito.
Não, claro. Ele nunca a deixou. Com uma alarmante eficiência, ele a enviou em um clímax alucinante e, em seguida, moveu-se para se deitar ao lado dela.
Ela levou vários minutos para recompor-se e, em seguida, segurou a cabeça dele e o olhou nos olhos.
–Isso pode ser a proposta mais incomum que uma mulher alguma vez recebeu.
–Obrigado. Achei criativo.
–Será difícil descrever quando os amigos perguntarem como aconteceu, no entanto. Ele ajoelhou, Eva? Ele esperou por um glorioso pôr do sol? Na verdade, não, Sarah. Ele propôs enquanto a língua dele estava fazendo explorações chocantes nas minhas partes íntimas.
Ele bicou um beijo na bochecha dela.
–Pelo menos, nunca esquecerá isto.
Não. Nunca.
–Eu pensei que você não acreditava em casamento, exceto da forma mais prática. Não há nada sobre este casamento que irá melhorar a sua fortuna, então isto não faz sentido.
Ele correu o lado do seu dedo ao longo de sua mandíbula.
–Eu descobri que a minha opinião sobre o assunto foi mal considerada. Sobre o casamento e sobre o amor.
–Ela era? Sobre o amor também?
–Definitivamente sobre o amor. Como você pode imaginar, estou surpreso de saber como eu estava errado.
–Quão errado você estava?
Ele riu-se.
–Não vai tornar isto fácil, não é?
–Depois de toda a sua conversa sobre isso no passado, quero ouvir uma retratação completa.
–Não uma retratação. Um acrescento. Uma adição.
Ela esperou.
–Tudo o que eu disse naquele dia ainda é verdade, no geral. No entanto, se uma pessoa tiver muita sorte, é possível para um homem sentir um amor muito especial por uma mulher. Aquele que afeta o prazer da melhor maneira e é maior do que isso, ou algo mais centrado em si mesmo.
A garganta dela queimou. Ela pressionou um beijo nos lábios dele.
–E se o homem for realmente sortudo, –disse ele. –Aquela mulher tem o mesmo amor por ele. Você tem, Eva?
Ela assentiu com a cabeça.
–Oh, sim. Sim, sim.
–Então, eu quero saber que você será minha para sempre. Eu quero casar.
Ela não sabia o que dizer. Ela não tinha preparado uma resposta, já que ela nunca esperou ouvir a pergunta.
–Se isto fosse apenas sobre o amor, concordo com todo o meu coração, Gareth. Caí desesperadamente no amor por você, apesar do meu bom senso e mesmo esperando que ele me causasse dor de cabeça.
–Não haverá nenhuma dor de cabeça. Eu lhe garanto. Eu não lhe culpo se não acreditar em mim, mas eu nunca vou lhe machucar de qualquer maneira.
–Depois de ter sido ruim por tanto tempo, você acha mesmo que pode parar?
–Eu juro que vou. Ainda terei de ser perverso com você, claro. Você não gostaria de mim se eu fosse muito bom.
–Se estivermos casados, o que fazemos não será verdadeiramente mais perverso.
Ele riu e bateu no nariz com o dedo.
–Você é adorável e ainda, pelo menos, metade ignorante. Há muito que faremos e que você ainda vai achar muito malvado, mesmo se estivermos casados.
–Há?
–Mal começamos a explorar a variedade dos prazeres que você vai conhecer.
Ela riu e o beijou.
–Eu acho que você está tentando me subornar.
–Pense nisso como negociando o acordo.
Ela subiu em cima dele, então ela poderia abraçá-lo de perto, com a orelha dela em seu peito e o seu corpo moldado no dele.
–Estamos de acordo, então? –Ele segurou-a intimamente. –Eu quero que saiba que eu encontrei uma maneira de permitir que você consiga concretizar os seus próprios planos.
Ela tinha estado feliz demais para pensar em seus planos e como o casamento não os abrangia –Creio que vou ter que alterá-los um pouco.
–Não muito. Rockport propôs que eu intermediasse as vendas por ele no continente, tanto quanto às vezes intermediei coleções de arte. Se, mesmo metade do que ele disse, vier a acontecer, teremos todos os criados que você precisa. Podemos passar algum tempo em Londres a cada ano, para que você possa estudar sua arte também. Ou você pode ter uma casa em Birmingham e estudar com um mestre lá.
Ela levantou-se, e então ela olhou para baixo nele.
–Vai tomar o emprego com Wesley?
–Não realmente. Eu vou estar fazendo o que sempre fiz por anos, no entanto.
–Você sabe que você não precisa casar comigo para me ter, não é?
Ele estendeu a mão e agarrou o seu rosto com as mãos.
–Você já se esqueceu do mais importante? Eu lhe amo, Eva. Não quero você como uma amante. Eu quero que vivamos juntos para eu ter você sempre que eu quiser e assim termos um lugar no mundo e estar juntos.–Ele pressionou a cabeça para baixo e a beijou. –Diga que você vai casar comigo, Eva. Você ainda não disse. Não corretamente.
Ela limpou as lágrimas de seus olhos.
–Sim, eu vou. Sim.
Ele abriu os botões das calças.
–Então, abra-se para mim agora, antes que eu morra de por querer você.
Ela ajudou a libertá-lo de seu vestuário e, em seguida, levantou-se e abaixou-se, levando-o dentro dela. Eles nem se moveram por um tempo, mantendo-se quietos na primeira união da sua vida juntos. Ela saboreou cada instante, assim ela se lembraria para sempre como se sentia.
Então, Gareth acariciou o seu traseiro e os seus dedos exploraram a sua parte traseira de uma forma mais chocante. Seus olhos piscaram maliciosos com a reação dela.
Ela chegou-se para trás e bateu na sua mão e, em seguida, montou-o com alegre prazer.
NOTAS
[1] Tudor: O estilo Tudor, em arquitetura
[2] Fitz é um prefixo usado associado ao nome para distinguir os filhos bastardos de um nobre. Assin, Fitzallen significa bastardo de Allen.
[3] O Estilo Palladiano, ou arquitetura palladiana é um estilo arquitetônico
[4] Pelissa: Uma capa longa ou casaco de peles, ou forrado ou debruado com peles.
[5] Chatsworth house derbyshire: A principal propriedade dos Duques de Devonshire. Aparece no filme Orgulho e Preconceito, como a casa de Mr. Darcy. Para obter imagens e mais informações, consultar https://pt.wikipedia.org/wiki/Chatsworth_House
[6] Duque de Ferro, apelido dado ao Duque de Wellington.
[7] Prinny, o Príncipe Regente.
[8] Libré: farda usada pelos funcionários de uma casa nobre rica. Era fornecida pelos patrões, por isso era também um sinal da importância.
[9] Decantadores: frascos, normalmente de cristal trabalhado, onse se serviam as bebidas.
[10] Papel de velino: O velino era um termo usado para se referir a um papel feito de couro, mas o velino moderno é feito da polpa do algodão e da madeira. O velino Bristol é usado para impressão e outras mídias mais pesadas, enquanto o de desenho, que é translúcido, é popular nos projetos de artes, artesanatos e arquitetura.
Madeline Hunter
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