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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O PACIFICADOR / Jianne Carlo
O PACIFICADOR / Jianne Carlo

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

É lamentável que Njal O Pacificador encontre sua noiva vestida com calças, exibindo uma espada, e coberta com sangue javali. O que ele precisa é de uma mulher hábil com as palavras, uma mulher com modos refinados, uma mulher inteligente e  capaz de manobrar as intrigas políticas da corte de um rei. Não uma mocinha que caça e cuja habilidade com armas rivaliza com a de qualquer guerreiro.Bettina quer um homem que possa frustrar os planos de seus inimigos. Um guerreiro Viking que atice a ira dos Deuses contra os homens que querem roubar sua herança. Não um homem que valoriza as palavras e a paz acima de tudo.

Nem Njal nem Bettina esperavam a paixão que explode entre eles. O que vai prevalecer, palavras ou ações? Pode um pacificador domar uma noiva guerreira?

 

 

 

 

 — De onde veio este vestido?— Bettina puxou o decote de seu vestido sem sucesso. — Você deveria ter-me deixado amarrar meus seios. Eles são muito grandes.

Não importava como ela arrumava e tornava a arrumar seus seios, eles se recusavam a achatar. Na verdade, os montes gêmeos pareciam ter crescido três vezes desde que ela tinha usado sua última roupa de mulher.

 — Confie em mim, querida. Não existe esta coisa de seios serem excessivamente grandes ou muito rechonchudos. — Mama afofou o laço preto que revestia o decote e Bettina não conseguiu conter uma risadinha.

 — Isso faz cócegas.

 — É uma pena que estivesse coberta de sangue de javali na primeira vez que Lord Njal encontrou você.

 Bettina deu um sorriso meio torto para o reflexo da Mama no vidro que refletia sua imagem. Por alguma razão, a lembrança da carranca horrorizada de seu futuro marido quando descobriu sua identidade a agradou.

 — Sangue de javali, vestindo calças rasgadas de ferreiro e túnica manchada. Sem mencionar a sujeira do chiqueiro em minhas botas.

 — Lord Njal não irá reconhecê-la esta noite. Você o terá e, a todos os homens, salivando por você no grande salão.

 — Eu não me reconheço. — Bettina desejava ter os olhos azuis e os cabelos sedosos da cor de milho da mãe, mas ela havia puxado ao Papa e tinha suas mechas negras e seus olhos escuros. — Isto não importa. Lord Njal só se preocupa com seu amado tratado. Eu prometo a você que ele não irá lançar seus olhos para mim duas vezes.— Ela abanou o rosto. — Por favor, abra as persianas, Petalia, e deixe entrar um pouco de ar fresco.

 — Você está linda, minha senhora. — Petalia subiu no banquinho para abrir as janelas. — Como uma princesa.

 — A cor vermelha combina com você, filha.

 Mama colocou um cinturão de prata em sua cintura.

 Bettina brincou com as delicadas argolas metálicas do cinto, tocando a pomba esculpida no fecho, e arranjou os pendentes para que ficassem um menor que o outro. Ela não gostava de simetria e, saboreou a desordem selvagem, preferia a beleza nas curvas e nos nós do tronco de um carvalho antigo do que flores cuidadosamente arranjadas em um vaso de estanho.

 — É delicado. — Bettina passou o polegar em volta, as mãos entrelaçaram e terminaram no fecho do cinto. — Eu nunca vi essa peça antes.

 — Foi um presente de seu pai.

 — Mama, é seu...

 — É o meu presente para você. — Mama apertou-lhe o ombro— Desejo-lhe nada mais que alegria nessa união. Tente agradar Lord Njal esta noite. Sirva-o de seu prato, ria quando ele for espirituoso, fale baixinho, e tente não demonstrar medo quando ele a tocar. Eu lhe contei tudo.  Não é fácil prever se um homem vai tratá-la gentilmente ou não. Você não pode recusá-lo. E, uma vez que os votos forem ditos nesta noite, você será dele.

 — Mama, você já me disse isso mais de uma vez. — Ela segurou as mãos frias de sua mãe e esfregou-as entre as dela. — Eu sei que você tem medo por mim. Eu não vou desgraçar o nosso nome. Não vou lutar com ele. E ainda vou mentir e deixá-lo montar-me.Ele não poderia machucar-me mais do que ser chifrada por um touro ou levar uma flechada no ombro.

 — Está na hora. Na verdade, esta noite eu cumprirei o meu dever.

Bettina endireitou os ombros e elevou a cabeça. 

— Eu estou pronta.

 Não tinha havido tempo para fazer muita coisa para decorar o salão, mas Luca, o filho do cozinheiro, e todas as crianças da fortaleza, reuniram bagas de pinheiros e azevinho e fizeram guirlandas para a mesa alta. A mulher do estalajadeiro, que tinha um comércio três aldeias ao sul, havia trazido dois barris de cerveja. O javali que ela tinha pegado no dia anterior iria alimentar a pequena multidão.

 Bettina parou no topo da escada e abafou um gemido quando avistou uma dúzia de vizinhos reunidos de cada lado da mesa alta. Ela varreu um olhar em torno do salão, e os músculos de seu pescoço relaxaram um pouco quando viu que tudo parecia estar em ordem. Perfume de flores frescas fluía no salão, chamas suaves azuis e amarelas crepitavam nos troncos carbonizados da lareira principal, e acima do murmúrio de vozes masculinas e femininas, ela ouviu a música melodiosa da flauta de metal.

 Ela não deveria deixar sua mente vagar nesta noite. Esta noite iria unir seu noivo ao seu povo.

 A noite já havia caído e as dezenas de velas acesas e lamparinas espalhadas por todo o grande salão fazia pouco para melhorar a escuridão e as sombras tremeluzentes. Era realmente muita sorte, que as sombras escondessem as manchas desgastadas sobre os velhos tijolos que necessitavam de restauração e uma camada de calcário. Talvez ninguém notasse os cortes de facas nas mesas, ou as fendas e ranhuras nos bancos desgastados. Quando Papa era vivo a fortaleza tinha sido próspera, mas depois, sob o controle de seu tio Mordred, gradualmente, todas as taças de bronze, as joias, e até mesmo as tapeçarias desapareceram para pagar as dívidas.

 Lord Njal, O Pacificador. Pah! Um guerreiro seria de mais utilidade para eles. Prepare-se para o pior, Bettina. Faça o que você deve fazer.

 Enquanto ela lentamente descia os degraus de pedra, Bettina procurou entre os rostos o seu futuro marido. Ela logo achou os irmãos dele. Um deles, o gigante Magnus, que era uma cabeça acima de todos os outros, ela viu imediatamente. Ele descansava um braço prensado contra a parede perto da lareira, seu olhar examinando o salão lotado. Jarvik, o mais bonito, tinha um grupo de criadas servindo-o de cerveja e pastéis, e estava sentado num banco com três homens que ela não conhecia.

 — Minha senhora. — Uma das filhas da criada da leiteria puxou as saias de Bettina. Ela segurava um buquê de sempre-verdes e azevinho amarrado com um pedaço de fita prateada. — Para você, minha senhora.

 — Os meus agradecimentos. — Bettina sorriu para a menina bochechuda que usava um vestido limpo feito de um de seus vestidos velhos. Todos tinham feito tanto em tão pouco tempo.

 Levando o buque ao nariz, ela inalou o aroma limpo de pinho do inverno. Quando tinha ouvido as fofocas das criadas da taberna e pegado Petalia e o filho do sapateiro rolando em cima de um monte de feno, Bettina tinha elaborado um plano para ganhar de Njal, O Pacificador. Não seria difícil anular um homem que evitava a batalha e teve o estômago revirado ao ver o sangue de javali.

 Ela pegou o administrador, Darwent, cobiçando seus seios. Suas narinas dilataram-se, e seus punhos coçavam para esmagar o estúpido sorriso lascivo de seu rosto cheio de marcas. Pelo menos nesta noite ninguém desmereceria suas partes femininas, e ninguém iria condenar suas maneiras ou sua linhagem. Seu bisavô era meio-irmão do Rei Edmund.

 E como Mama tinha dito, não era um destino ruim casar com Njal, O Pacificador, pois ele só permaneceria no Castelo de Arbroath o tempo suficiente para procriar seu herdeiro. Tão logo ela engravidasse, ele partiria para corte do Rei Cnut e tudo voltaria ao normal.

 

 — Você viu sua noiva?— o largo sorriso de Jarvik enviou a barriga de Njal um calafrio.

 — Não— Ele encarou seu irmão no salão lotado. Ele ouviu o suspiro coletivo, então, por um momento, um estranho silêncio reinou, seguido por uma série de murmúrios e sussurros, e adivinhou que sua noiva tinha feito a sua aparição— Ela finalmente se dignou a nos agraciar com sua presença?

 — Ela está ao pé da escada. — Magnus tomou um gole de sua taça. — Você não deveria recebê-la?

 — É uma tarefa bastante difícil amarrar-me a este casamento perfeito com uma moça que se assemelha a um rapaz salvo por suas longas madeixas. — Njal revirou os olhos. — Eu somente oro para que ela tenha os modos de uma dama na mesa. Loki, O Trapaceiro, deve ter confundido a cabeça do Rei Cnut para unir-me a uma mulher tão grosseira como Bettina. Nunca poderia levar uma camponesa tão simples e ignorante como ela para a Corte. Não é a aliança que eu esperava.

 — Se você não vai cumprimentá-la, eu vou. — Jarvik ajeitou a túnica e o dedo penteou o cabelo dourado, escovando-o sobre seus ombros largos. — Você é um tolo, irmão. Ela é uma beleza e eu daria a minha bola esquerda para ter Bettina ao meu lado. — Jarvik enviou-lhe um olhar de desprezo compassivo. Ninguém apreciava a beleza feminina da maneira que Jarvik fazia.

 Njal virou-se, a pressão sobre a taça que segurava afrouxou, e todo o sangue em seu corpo viajou para o seu pau, engrossando-o. Ele não conseguia disfarçar seu choque ou a onda de luxuria que o deixou imóvel à transformação dos seios apertados de Bettina, antes magra, na Bettina, a deusa voluptuosa.

 — Mesmo coberta de sangue sua beleza brilhava, mas com esse vestido... — Magnus assobiou baixinho.

 — E esses peitos são magníficos. Onde ela escondeu-os ontem à noite?— Jarvik ajustou o broche em sua túnica e deu um passo adiante.

 — Pare!— Njal deu uma cotovelada em Jarvik e devorou toda a extensão do grande salão em seis passos. Quando ele ficou na frente de sua noiva, quase engoliu a língua e não podia tirar o olhar de seus seios.

 Njal o eloquente, o homem que encantava tanto as víboras quanto as serpentes, estava tão consumido pela luxúria, tão de queixo caído e sem raciocínio, que não tinha um pensamento racional ou palavras em sua cabeça. Ele não queria qualquer outro homem olhando bestificado para seus peitinhos. 

— Você não tem um xale?

 Bettina enrugou a testa. 

— Eu não preciso de um. Eu estou aquecida. Tem qualquer coisa de errado com meu vestido?— Ela olhou para baixo e alisou o laço preto que enfeitava o decote cavado. — Talvez isto não seja o que as ladies da Corte do Rei Cnut vistam. Receio que Mama pagou caro por este tecido e ela teve as mulheres da fortaleza costurando sem parar para ajustar o corpete.

 Njal não poderia dominar o controle de seu pau que ameaçava uma erupção se os peitos dela balançassem mais uma vez. Era como se o seu pau controlasse a água que enchia sua boca e embaralhasse seus pensamentos. Ele olhou para a seda escarlate cobrindo os seios, na esperança de conseguir espiar seus mamilos.

 Rosa?

 Não, chocolate, como a bebida doce que ele bebeu em Jutland. Os bicos, como pérolas, ele quase se sentia saborear os doces botões.

 — Pah! Estou balbuciando. Eu não vou deixar você me preocupar com o meu vestido. É o melhor que pudemos fazer e deve ser suficiente. Por favor, meu senhor, tenha respeito por nossos convidados e cumprimente o meu rosto, não meus seios. — Ela bateu o pé e estremeceu.

 Foi seu estremecimento que finalmente o fez reunir forças para recompor o que seu pau tinha afastado de seu cérebro. 

— Seu tornozelo ainda dói da lesão de ontem à noite. Vou carregar você.

 Brilhante Njal: um plano digno de dez mil moedas, pois se ele a tinha nos braços, então poderia proteger seus peitinhos somente para os olhos dele.

 — Não se atreva a envergonhar-me. — Do buque nas mãos dela caíram folhas de azeviche pela rapidez com que seus dedos tentaram estrangular a folhagem.

 — Qual é a vergonha em um guerreiro cuidar de sua mulher?— Njal enviou-lhe o sorriso que lhe valera as camas de princesas, condessas, baronesas, e uma abundância de criadas.

 Os olhos dela se estreitaram, seus lábios... Por que ele não tinha percebido como eram carnudos e saborosos quando os olhou antes? Então, as palavras vermelhos e cheios trouxeram à mente outros lábios que ele gostaria de examinar, lamber, e enterrar o nariz. Será que ela tem gosto de mel? Não, seria picante ao paladar o inebriante perfume de seu sexo.

 — Meu senhor?

 Ela limpou a garganta e ele podia jurar que bufou. Vagamente percebeu que ela aguardava sua resposta. O que sua noiva pediu?Confuso, ele a viu começar uma conversa com um dos convidados.

 — O padre está pronto, Njal. — Magnus deu uma cotovelada no seu lado.

 Njal sacudiu a cabeça, o que não limpou seu desejo nebuloso.

 — Levante seu queixo acima dos juncos. — Outro golpe, desta vez em suas costelas.

 — Se eu fosse você, arrumaria a sua espada para esconder sua ereção — Magnus deu o conselho em um meio sussurro.

 — Sim. Ponha algum bom senso nele enquanto eu vou cumprimentar a noiva. — Jarvik voltou-se. — Lady Bettina, É maravilhoso como você trabalhou para preparar um banquete em prazo tão curto.

 Njal disfarçadamente ajustou a sua espada e túnica, enquanto se esforçava para ouvir a conversa de Jarvik com Bettina.

 — Querida irmã, posso lhe dizer como parece radiante esta noite?— Njal assobiou quando Jarvik capturou as mãos de Bettina e trouxe uma aos lábios, depois a outra. — Nunca vi tanta beleza, tanta graça. Você desceu as escadas como uma rainha.

 — Sim, senhora. — Magnus inclinou-se. — Eu não sei dizer as bonitas palavras dos meus irmãos, mas você parece bem nesta noite.

 Com as faces coradas, ela curvou-se em uma reverência aos dois guerreiros, e mostrou um sorriso deslumbrante. 

— Muito obrigado, meus senhores.

 — Nós somos seus irmãos agora, Bettina. Eu sou Jarvik para você.

 — E eu, Magnus.

 — Parem com esta tagarelice. — A irritação transpareceu no tom de Njal, enquanto olhava, estreitando de olhos, aos seus irmãos. Se eles continuassem a olhar desse jeito para os seios dela, iria bater na cara dos dois. — Onde está o padre? Vamos fazer os votos.

 — Posso encontrar sua mãe para você, Bettina? Eu tenho certeza que a deseja ao seu lado.

 — Meus agradecimentos por seu pensamento, Magnus. Eu acredito que ela foi dar instruções de última hora para a cozinheira. — A covinha apareceu na bochecha direita, quando ela lançou a Magnus um sorriso brilhante.

 Njal sufocou um rosnado. Sua noiva aprenderia logo a reservar esses sorrisos para ele e somente para ele.

 — Há uma pequena capela do lado direito do salão. Nós vamos lá para os votos. — Bettina virou-se e o cinto que usava tilintou.

 Que cintura fina ela tinha, quadris flexíveis e longas, longas pernas.

 — Meu senhor?— Uma sobrancelha arqueou-se. — Devemos continuar?

 Os votos. Sim. Uma vez que eles os proferissem, ela seria sua.

 Ele estendeu um braço e ela colocou a mão em cima das suas. A multidão se separou enquanto caminhavam.

 Anos de negociação e pacificação, trabalhando para obter um objetivo em primeiro lugar, depois outro, reorientaram os pensamentos e ações de Njal. 

— Como está seu tornozelo?

 — Melhorou muito. Agradeço o conselho. Embora não tenha sido agradável aplicar panos gelados, o inchaço diminuiu. É uma prática que aprendeu nos campos de batalha?

 — Não. Nas terras orientais. Eles têm muito conhecimento do corpo e da cura em Constantinopla. — Seu cabelo cheirava a água de rosas e mel, e os cachos soltos caiam abaixo de suas empinadas ancas. — Aprendi muito com os escribas e físicos na grande cidade. Eles acreditam no poder do toque para curar os maus humores ocultos com óleos e massagem na carne para dissolver os inchaços.

 Voltando a cabeça para ele, Bettina encontrou o seu olhar, sua feição rapidamente alerta, os olhos arregalados. 

— Verdade? Eu nunca tinha ouvido falar disto. Temos muitos idosos na fortaleza que estão duros e fracos. Talvez esta massagem e lubrificação possam aliviar suas dores. Gostaria de aprender tal habilidade com você, meu senhor, se me ensinar como fazer.

 Ele mal conseguia caminhar, seu saco pendurado tão apertado e cheio. Com cada passo, o pau abrasava a lã fina de suas calças. Sua cabeça cheia de imagens dela nua, deitada de bruços, de suas mãos massageando suas pernas, seus lábios explorando o ponto ideal por trás de seu joelho. Quando ela parou, ele piscou rapidamente para limpar o seu cérebro. Aos poucos, ficou consciente de um altar de madeira centrado sob um arco, e um padre vestido com as cores da Corte do Rei Cnut, carmesim profundo e dourado.

 A cerimônia começou depois de Magnus, Jarvik, e a mãe de Bettina, Lady Gwen, tomaram seus lugares atrás de sua noiva e dele próprio. A concentração de Njal vagava durante os votos cristãos, ele não acreditava nem condenava, tendo chegado à conclusão após passar um tempo em terras orientais que a crença em um Deus sobre o outro importava apenas em negociações.

 Dois dos nobres locais chamaram sua atenção, pois ambos estavam vestidos como se frequentassem a Corte, e não se lembrava de qualquer um deles. O que estava em pé era alto e magro e tinha visto batalhas e muitos verões, a julgar pelas cicatrizes e linhas formadas em sua boca e os olhos. O outro parecia mais jovem, talvez uns vinte anos ou mais, e ele tinha a aparência de um homem bem-cuidado, a pele lisa, seus dedos cheios de anéis, o seu corpo robusto, mas musculoso.

 Após os votos serem ditos e eles terem voltado ao grande salão para a festa, Njal percebeu que os dois nobres disputavam a atenção Lady Gwen. Ele apertou os dedos de Bettina, enquanto caminhavam para chamar a atenção dela, que olhava às muitas crianças dançando e jogando folhas de azevinho para eles. 

— Quem são aqueles dois falando com sua mãe?

 — O mais baixo é Hal, O Arauto , o filho de Earl Mordred. O mais alto é o nosso vizinho mais próximo e um aliado e amigo do meu pai, o conde de Berna Umbria, Leofric, O Leão.

 Seu tom foi de ansioso a esperançoso enquanto ela falava. Pelo que deduziu Bettina não gostava de Hal, mas aprovava o conde. Njal olhou para os dois homens, sentados à mesa alta com Lady Gwen aninhada entre eles e decidiu saber mais sobre ambos.

 No momento em que Njal e Bettina tomaram seus lugares de honra no centro da mesa alta, pratos de comida foram servidos, carregados pelos serviçais, vindos da cozinha. Pajens alimentavam as três lareiras, cerveja fluía livremente, um zumbido da conversa pontuada por risos, gostosas gargalhadas, gritos infantis, e ocasionais urros, bem-humoradas discussões ecoavam pelas vigas de madeira do salão.

 — A Fortaleza vai bem. — Njal ofereceu à Bettina sua taça. — O crédito e seu e de sua mãe, eu as aplaudo.

 O queixo dela caiu, piscou uma vez, duas vezes, seu rosto corou num rosa profundo, e seu olhar foi para o seu colo.

 — Minha senhora, você gostaria de um gole de hidromel?

Njal tocou um dedo na ponta de seu ombro. Ele poderia estar doendo, tão duro quanto tronco de carvalho, o cérebro meio que funcionando na única gota de sangue que não partilhava com sua virilha, mas conhecia muito bem o jogo da sedução. Esta noite, sua atenção não se afastaria de sua noiva, nem por um momento.

 — Eu não gosto do sabor enjoativo do hidromel, meu senhor. — Ela continuou a olhar para os dedos.

 — Cerveja, então?— Ele pegou outra taça e a jarra de cerveja.

 Ela olhou para cima, em seguida, e lançou-lhe um sorriso torto.

— Eu admito saborear uma cerveja gelada depois de uma viagem longa e difícil.

 Novamente uma incomum irritação o fez apertar seus lábios. Ele não gostou da ideia dela cavalgar sozinha e duramente, a menos que... Ela o montasse. E pelos dedos de Odin, seu pau espetava com a ideia, raspando a lã de suas calças.

 Segurou a taça nos lábios dela. Bettina tomou um gole, seus olhos se encontraram, e ele decidiu abrir mão do resto das festividades o mais breve possível. Girando a taça, ele bebeu no mesmo lugar em que ela havia bebido.

 Bettina espetou um pedaço de porco assado do prato que compartilhavam e ofereceu a ele, colocando uma mão sob o pedaço que pingava. Ele sugou a carne e prendeu seu olhar rapidamente no dela. A cor em suas bochechas aprofundou-se, os seios subiam e desciam mais rápido, e com cada elevação, seu pau latejava, enquanto o saco estava tão tenso como uma crossbow preparada para disparar.

 Eles comeram assim. Ele tentava manter a lucidez o suficiente para encontrar elogios para ela entre cada gole de vinho ou comida, e conseguiu tocá-la tão frequentemente que Bettina deixou de vacilar ou se assustar. Não foi nenhuma obrigação falar com sua nova esposa, pois ela se mostrou conhecedora de um vasto leque de temas, mesmo aqueles normalmente relegados exclusivamente aos homens.

 Quando os pajens começaram a tirar os pratos das mesas, Njal inclinou-se para Bettina e disse, permitindo que seus lábios tocassem seu lóbulo carnudo.

— Poderíamos evitar o ritual das bodas. O que acha, minha senhora?

 Ele ouviu-a respirar com dificuldade, e Bettina parou de limpar sua faca com o guardanapo. 

— Eu estaria em dívida com você, meu senhor. Mas como?

 — Falei com Lady Gwen antes. Ela virá chamar você com algum assunto da cozinha. Pode chegar ao nosso quarto através do acesso dos serviçais. Vou deixá-la se arrumar e a encontro pouco tempo depois.

 

 Bettina não podia decidir.

 Vestida ou nua?

 Bêbada ou sóbria?

 Trançados ou soltos?

 Sob as peles da cama ou sentada na cadeira?

 Apesar de um fogo ardente aquecendo o quarto, um arrepio gelado tomou os dedos das mãos e pés. Por um momento, as paredes vacilaram e pareciam fechar-se, depois ela se encontrou ofegante e percebeu que estava um pouco confusa.

 Respire, respire fundo e deixe o ar sair lentamente.

 Não, decida e se apresse.

 Eu desejava que isto fosse feito rapidamente. Desejava que não fosse minha primeira vez.

 Ela tirou seu vestido de seda, os dedos acariciando o tecido, apesar de que tremia incontrolavelmente. Agradecendo a mãe e ao Senhor pelo vestido amarrado na frente, ela encolheu os ombros e o material escorregou, deixando cair o tecido escarlate no chão. A camisa foi à próxima, em seguida, as ligas, chinelos, meias, e empilhou tudo num banco no canto perto da janela.

 Seu coração rugiu em seus ouvidos quando ouviu a voz profunda de Njal rugindo uma série de maldições nórdicas. Palavras que ela não deveria saber ou compreender, mas entendeu.

 As pernas ficaram vacilantes como as de um potro recém-nascido na tentativa de ficar em pé pela primeira vez. Ela esbarrou na cama, topando com o pé da mesma, mas ignorou a dor e mergulhou sob as peles e roupas de cama e puxou-as até o nariz.

 As dobradiças antigas da porta maciça rangeram abrindo-se. Bettina apertou os olhos quando percebeu que todas as velas e lamparinas de parede ainda queimavam brilhantemente. Ela havia planejado ter o quarto tão escuro que ele não seria capaz de ver suas reações.

 Njal deslizou pela abertura estreita, olhou para ela, e seu ventre agitou-se como se tivesse um enxame de borboletas. Ele tinha uma expressão sombria, seus olhos se estreitaram e os lábios estavam apertados.

 O que ela tinha feito para transformá-lo de um pacificador charmoso e sedutor para um carrasco prestes pronto a saltar pelas tábuas do chão até ela? Ou talvez o desgosto que viu em seu rosto no dia anterior tinha voltado?

 A raiva ameaçou testar a sua determinação para agradá-lo. Se apenas Petalia não tivesse repetido as palavras que ela ouviu Njal dizer a seus irmãos. Ela odiava as palavras, odiava que a mesma palavra poderia significar uma coisa diferente em circunstâncias diferentes.

 Que seja. Ela iria ignorar as palavras e fazer o seu dever. Ele teria que engolir suas palavras e a amargura, consumar o casamento, e selar os votos.

 Ela fechou os olhos e viu-o terminando de trancar a porta, girar, e andar três passos largos até a cadeira. Ele sentou-se e desamarrou suas botas de cano alto. Inevitavelmente, no desconfortável silêncio ela segurou a respiração e as batidas do coração chegaram aos ouvidos dele. Bettina lutou contra o impulso de enterrar a cabeça debaixo da roupa da cama como um tímido coelho. Em vez disso, deixou as pálpebras inclinadas e cerrou a mandíbula.

 Ela podia fazer isso.

 — Você sabe o que vai acontecer hoje à noite, Bettina?

 Ele moveu-se como um corcel do demônio.

 Bettina tinha encontrado seus olhos por um instante. Como ele conseguiu chegar a seu lado, sem túnica, nem botas e nem perneiras? Desde que Papa tinha morrido e Bettina tinha assumido, cada vez mais, seus deveres sobre aquela terra, tinha visto peitos nus de muitos homens, mas nenhum com a pele bronzeada e músculos ondulados que deixavam a pele esticada. Uma estranha tontura atingiu-a quando o colchão de palha afundou e ele sentou- se.

 — Você sabe?

 O ar fugiu de seus pulmões. Ela nivelou o queixo e encontrou seu olhar intenso. 

— Nós vamos cruzar...

 Ele fechou os olhos e seus lábios quase desapareceram, apertados.

 Talvez ele não tivesse gostado da palavra, mas era o termo usado por pessoas simples, e era o que eles fariam. O aborrecimento dele abasteceu sua ira.

 — Copular?— Sugeriu.

 Suas sobrancelhas se juntaram como nuvens escuras de trovões prontas para soltarem raios.

 — Fornicar? Acasalar? Socar? Cama?— com o rosto vermelho, Njal opôs-se a todos os termos que ela conhecia para o ato. 

— Trepar...

 A mão dele tapou sua boca. Seus olhos já não tinham o azul profundo que havia admirado durante a refeição, e seu hálito quente veio em ôfegos. 

— Fique quieta. Aonde você ouviu tantas vulgaridades?

 — Em todos os lugares. —Mas a explicação foi abafada pelo pressionar duro de sua mão.

 Ela tocou seus dedos e olhou-o.

 Balançando a cabeça, ele disse, com o polegar acariciando seu lábio inferior:

— Você nunca ouviu se referir a isso como fazer amor?

 Distraída pela forma como o lábio formigava e como a penugem no queixo dele prendia sua atenção, ela capturou seu dedo errante.

— Eu não posso pensar quando você faz isso.

 O sorriso que curvou seus lábios apertados deslumbrou-a.

 — Bom...— ele sussurrou, sua boca reivindicando a dela, e todos os pensamentos fugiram de seu cérebro.

 Jesus.

 O choque que a língua dele gerou quando tocou nos lábios dela, como se memorizando o gosto, toque e forma, fez a cabeça de Bettina girar.

 Ele a cobriu com seu corpo.

 Jesus.

 Daquilo ela gostou, a sensação dele deitado em cima dela, o peso de seu corpo, a pressão de seus quadris, a dureza esfregando suas partes inferiores. Espontaneamente arqueou-se contra o duro aço de sua masculinidade, perto de desmaiar com a fricção deliciosa do corpo a corpo.

 — Abra— ele murmurou, a palavra retumbou sobre sua boca, e seu hálito perfumado de mel coçou suas narinas. Ela obedeceu-o instantaneamente, e caiu para trás contra a almofada de cama quando a ponta da língua dele tocou seus dentes. As mãos dele deslizaram sob suas costas, ele se virou e então Bettina sentou-se em seu colo, segurando-se em seus ombros. Era como se ele pretendesse saborear cada toque da sua língua, para reivindicar todas as fendas.

 Ela flutuava, pairava, queimava em toda a parte. Era uma loucura mágica, o milagre da sua acariciante boca e língua. Seu coração bateu querendo fugir do peito quando ele pegou seu lábio inferior entre os dentes e mordeu delicadamente. Seu centro se contraiu e fechou-se e tornou-se desconfortável e úmido. Apertando as coxas, bem juntas, fez seu latejante botão pulsar, formigando e coçando como uma picada de abelha.

 Ele levantou a cabeça e os dedos dela afrouxaram seu domínio sobre o ombro dele. Bettina estava ofegante como se tivesse corrido todo o comprimento do prado que cercavam as muralhas do castelo. Seus lábios estavam em chamas, inchados e molhados, e o rosto dele flutuava por sua visão vacilante.

 — Sim. É sábio começar quando nós pretendemos ir em frente.

 Bettina piscou e as feições de seu noivo voltaram ao foco de seu olhar.

 — Assim começa sua domesticação, minha noiva de guerreiro.

 Ele tinha um sorriso de satisfação que fez as palmas de suas mãos suarem. Com a necessidade crescendo em suas dobras, ela esforçou-se para registrar suas palavras, até conseguir.

 — Terá que ser mais do que um beijo para domar esta noiva de guerreiro.

 Inclinando a cabeça para trás, ela encontrou seu olhar totalmente feroz, e apesar de seus dedos tremerem, disse, com cuidado para manter a voz baixa.

— Eu me lembro do termo correto, meu senhor. Acredito que o que fazemos agora é foder.

 Ele recuou e só então Bettina percebeu que estava sentada em seu colo, os lençóis enrolados em volta da cintura, os seios nus escondidos por seu longo cabelo.

 Estremeceu quando ele jogou a cabeça para trás e riu.

 — Eu o divirto, meu senhor?

 — É melhor eu rir do que mostrar-lhe a diferença entre foder e amar.— Seus olhos nunca deixavam os dela. — Por que quer provocar a minha raiva?

 — Esta inculta, simples, grossa moça do campo não procura nada de você. — Era a sua vez de sorrir quando o rosto dele avermelhou-se ao ouvir suas próprias palavras, arremessadas de volta em seu rosto. A raiva tomou conta de suas ações quando Bettina arremessou os lençóis, rolou, deitou-se na cama, e abriu as pernas. — Faça isso.

 — Bruxa— Ele pulou da cama. — Se é foder que você quer, é foder que você vai conseguir.

 Ele deixou cair suas calças e um verdadeiro pavor ergueu-se em seu interior à visão de sua enorme e raivosa masculinidade, roxa e grossa balançando-se. Ela sufocou um gemido, respirou fundo, fechou os olhos e apertou as mãos nas cobertas, rezando como nunca tinha feito antes.

 Longos momentos se passaram e nada aconteceu. Ela tentou escutar algo, mas não conseguiu ouvir nada, somente o crepitar do fogo. Levantando uma pálpebra, Bettina olhou, mas não conseguiu encontrá-lo. Mordeu o lábio, o medo tragando sua respiração. Movendo-se lentamente e o mais silenciosa possível, ela se levantou nos cotovelos e notou que seu noivo estava sentado na cadeira, de costas para ela, uma perna esticada para o fogo.

 — Na mesa alta nesta noite você pareceu acolher minhas atenções. — Sua voz profunda não tinha nenhum traço de raiva.

 Seu maldito temperamento! Ela não poderia falhar com sua Mama e com seu povo.

 Apoiando-se nas mãos, sentou-se. 

— Eu não sabia sobre sua verdadeira opinião sobre mim então.

 — Ah.

 

 Njal não podia acreditar o quão próximo esteve de tomar Bettina com raiva. Se os nobres da corte pudessem ver o Pacificador agora, os gracejos se chocariam e trovejariam mais rápido que as ondas do Mar do Norte numa tempestade agitada pela fúria de Thor. E o erro era dele e só dele.

 Reprimindo um longo suspiro, ele se levantou, foi até a mesa, e serviu duas taças de vinho. Segurando-as, ele caminhou para o lado na cama e ofereceu-lhe uma delas.

 — É vinho. Sei que não é o que mais gosta, mas estou relutante em pedir uma jarra de cerveja a esta hora.

 — Os meus agradecimentos. — Sua mão se fecharam em torno da haste de latão, e ela manteve seu olhar fixo na taça. — É somente de hidromel que eu não gosto. É muito doce.

 Ele estudou seu rosto.

 — Vista-se, Bettina.

 Sua cabeça voltou-se e ele leu o sofrimento em seus olhos arregalados.

 — Eu gostaria de conversar um pouco.

 Ela inclinou a cabeça e seus cílios escuros flutuaram sobre seus olhos como asas de uma borboleta. Indesejado e desnecessário, seu pênis, que minutos antes tinha ficado flácido, se mexeu.

 — Eu não deveria ter irritado você. Eu imploro seu perdão.

 — E eu não deveria ter insultado você ou julgado sem conhecer antes.

 — Meu senhor?— Ela levantou o rosto e seu peito doía, confuso, linhas de ansiedade marcando sua testa, segurando lágrimas não derramadas nos cantos dos olhos.

 Ela era uma virgem, embora com um temperamento feroz.

 — Você está me deixando?

 Ela tem muita coragem. E espírito.

 — Não. Eu nunca faria isso, Bettina. Mas eu acredito que é aconselhável para nós começarmos a nossa noite de núpcias de novo. O que você acha?

 Seu queixo caiu e seus olhos ficaram tão arregalados que dominaram todo o seu rosto.

 — De verdade?

 — Sim. Vista-se e vamos conversar.

 — Você tem o direito de bater-me por minha transgressão.

 — Esse não é o jeito certo. — A honestidade obrigou-o a acrescentar: — Não meu jeito normal.

 Enquanto ela desapareceu por trás do biombo no extremo oeste da sala, Njal vestiu suas calças. Ele, então, lembrou-se do popular jogo de Northumbria, Raposa e Ganso, um dos muitos que ele utilizou para tirar vantagens nas negociações.

 Ele sentiu-a aproximando-se dele, embora seus pés descalços fizessem poucos ruídos sobre o chão de pedra. 

— Você conhece o jogo Raposas e Gansos?

 — Sim. Papa e eu o jogamos muitas vezes.

 Sentado na cadeira, ele capturou suas mãos, e quando seu olhar encontrou o dela, sorriu. 

— O que você acha de um jogo?

 Ela não resistiu quando ele a puxou para seu colo, mas olhou para a mesa com o tabuleiro de madeira pintado e as peças, sua testa franziu.

 — Você deseja jogar Raposa e Ganso?

 — Sim. O que vamos apostar?

 — Eu não tenho nenhuma moeda.

 Sorrindo pela confusão que causou um pequeno franzir na ponta de seu nariz, ele disse:

— Então vamos jogar beijos.

 Seu suspiro fez o seu sorriso aumentar. 

— Sua escolha, Bettina... Raposa ou gansos?

 Deslizou sobre ele um olhar astuto pelo canto dos olhos, estes se estreitaram, e ela perguntou:

— Você me dá a escolha?

 — Sim.

 — Raposa— Suas narinas dilataram-se e seus lábios tremiam quando Bettina lhe lançou um sorriso triunfante. — Quem começa?

 — Um guerreiro sempre cede a uma senhora.

 Em dois movimentos, ela tinha capturado um de seus gansos. Seus olhos brilharam, e toda a tensão entre eles desapareceu quando ela virou-se em seu colo e declarou:

— O primeiro de muitos.

 — Veremos. — Ele deu-lhe o ganso pintado de amarel0. — Creio que lhe devo um beijo.

 — Oh— A animação no rosto turvou-se.

 — Com sede?

 — Sim.

 Ele pegou sua taça, tomou um gole de vinho, abraçou-a por trás e deslizou-a em seu colo. Bettina abriu a boca e ele alimentou-a com o vinho. Sua noiva enrijeceu-se, Njal lambeu o contorno de sua boca, e ela engoliu. Ele a beijou em seguida, provocando, mordiscando os cantos, chupando seus lábios carnudos.

 Quando roçou o contorno de sua boca novamente, ela se rendeu, e o som de sua respiração parou. Njal conteve um sorriso quando seus olhos se arregalaram. 

— Tem alguma coisa errada?

 — Sim! Não!— Seu queixo ergueu-se para ele. — Eu teria feito isto logo. Eu saberia o que fazer.

 — Não, docinho, É melhor fazer isso devagar. É puro deleite desenhar sua boca. — Ele roçou sua boca e enfiou o dedo entre os lábios. — Não. Pense no que você quer fazer agora.

 Suas narinas ardiam, ela sugou sua pele calejada, os dentes mordiscavam as pontas de seu dedo. Suas sementes acumularam-se quentes e pesadas em seu saco. Retirando o dedo, ele capturou os lábios, premiando a sua confiança com lambidas longas, mordidas leves, celebrando, uma preguiçosa exploração do calor e umidade de sua boca. A excitação deixou seu pau latejando e seu sangue correu para suas bolas. Incapaz de resistir, ele roçava os longos cabelos de sua noiva, saboreando o caminho dos cachos sedosos perdidos em seu peito.

 Quando as mãos delas entrelaçaram-se atrás de sua cabeça, ele recuou, beijando-a suavemente até o ouvido, e sussurrou:

— Minha senhora está satisfeita com o seu prêmio?

 Por Odin! Ela sugou o ar dos pulmões, os olhos escuros vidrados, os lábios avermelhados fazendo beicinho. Bettina piscou e ele ajudou-a a sentar-se, mas manteve o braço em volta da cintura dela.  Njal capturou os dados e jogou-o, em seguida, mudou um ganso de uma posição de tal forma que sua raposa poderia saltar e capturar duas peças.

 Os lábios dela se contraíram. Ela virou-se para enfrentá-lo, e então descansou as palmas das mãos em seus ombros. Seu pau endureceu como uma bigorna quando ela deslumbrou-o com um sorriso borbulhante e uma suave risada. 

— Eu acredito, meu senhor, que descobri uma nova forma de jogar Raposa e Ganso.

 Trazendo uma de suas mãos aos lábios, ele abriu sua boca e beijou a palma de sua mão, lambendo um pequeno círculo em sua carne, o tempo todo olhando para seu rosto. Bettina mordeu um lado do lábio e seus seios empinaram.

 — E como seria, minha linda?

 — Da maneira como você joga, nós dois iremos vencer.

 — Eu espero que sim, minha senhora. É a sua vez. — Ele colocou os dados no centro da palma da mão dela, fechou a pequena mão, e, em seguida, beijou e lambeu cada dedo, antes de erguer os olhos para ela. — Para dar sorte.

 No momento em que ela capturou o sétimo ganso, o cérebro de Njal estava prestes a perder a batalha para a luxúria de seu grosso pau, e suas bolas ameaçavam unir-se e queimavam.

 Quando ele foi inclinar as costas dela para o seu beijo, ela levantou-se de seu colo antes que ele pudesse impedir o movimento, e sorriu amplamente para ele com a cabeça inclinando-se atrevidamente. Ele quase a agarrou e jogou-a na cama naquele momento. Então, Bettina levantou uma perna e montou-o, seu monte tocando seu pau, a bunda em suas coxas.

 — A raposa vai devolver dois gansos para o jogo, se ela for a única a reclamar o prêmio. — Embora o olhar dela fosse ousado, sua voz vacilou no final.

Os olhos dele se arregalaram. Envolvendo sua bunda firmemente, uma nádega em cada mão, ele apertou-lhe a carne, e rosnou.

— Feito!

 Era a mais doce tortura, a mais angustiante tortura que ele já havia sofrido deixá-la assumir a liderança, seu pau se contraindo com suas lambidas suaves. Os dentes minúsculos beliscando sua carne mandaram para sua ardente e flamejante ereção, o céu e o inferno juntos. Ele gemeu quando ela sugou sua língua. Suas mãos apertaram sua bunda, enquanto Bettina roçava, subindo e descendo, o comprimento de sua ereção que parecia uma pedra.

 Ela mordeu o lábio inferior dele e Njal quase caiu da cadeira. Suas mãos em concha em seu queixo, sua língua no interior de sua boca, acariciando-a e ela entrelaçou as pernas em volta da cintura de seu noivo.

 Ele tropeçou para a cama, segurando-a com um braço, e desamarrando o vestido com o outro. Caíram na cama, ele puxou a sua camisa, rasgando o tecido fino, e os seios, aquelas maravilhas, cheios e redondos, surgiram diante de seus olhos.

 — Cacau— ele murmurou antes de arrebatar o mamilo empinado e duro. Njal adorava o bico, lavando com sua língua e boca, encontrando o outro monte, descobrindo a forma e o contorno de sua suavidade, e puxando o mamilo, antes de voltar sua atenção para o outro.

 Bettina gemeu seu nome, fechou a mão atrás da cabeça e desejando-o. Ele sugou mais forte, puxando o mamilo entre os dentes mais e mais até que ela se arqueou embaixo dele, uma perna roçando sua coxa. Mordendo o bico esticado, ele olhou para a moça quando ela se enrijeceu e estremeceu.

 Sabendo que seu controle estava por um fio, ele empurrou as calças, juntou suas saias até a cintura, e se acomodou entre as suas pernas. Ele estendeu a mão para seu monte. Seus dedos encontraram-na lisa e melada, macia e aberta, e guiou o pau para sua boceta, observando-a atentamente. Seus olhos se abriram lentamente. Ele esfregou a ponta para cima e para baixo em suas dobras. Ela lhe deu um descuidado sorriso de lado e parou de respirar quando ele começou a entrar dentro dela. Sua cabeça caiu para trás sobre a almofada de cama e levantou as sobrancelhas quando ele empurrou, e sua boceta prendeu a carne palpitante.

 Ele retirou-se e empurrou mais forte, ganhando um precioso terreno, aos pouco. Ela era tão apertada, tão quente. A mandíbula cerrou-se, e gotas de suor brotaram nas têmporas quando suas paredes se contraíram uma vez, duas vezes, e ela gemeu seu nome.

 Suas bolas incharam, apertando-se tensas. Ela arqueou-se no colchão, puxando-o mais fundo, e seu saco bateu em suas dobras meladas, a sensação deixando o sêmen dele perto de estourar como uma erupção.  Ele bombeou mais forte, os quadris se dirigindo para dentro do escorregadio canal. Njal empurrou para seu útero, rasgando a membrana de sua virgindade, e enrijecendo cada músculo do seu corpo, esforçando-se para se segurar um pouco, sabendo que ela precisava de tempo para ajustar-se a sua circunferência.

 Cachos do cabelo dela coçaram seu queixo e ele enterrou o nariz na fresca fragrância de avelã. Sua virilha inflamou-se e suas coxas ondulavam com o esforço para não se mover, para não socar em seu doce calor.

 Ela se contorceu debaixo dele e ele grunhiu, implorando a misericórdia de Freya, mas cerrou os dentes e segurou-se.

 A mão acariciou seu ombro, ela se curvou e lambeu-o, e depois o mordeu com força.

 Seu pau declarou vitória e começou batendo, segurando seus quadris, moldando seu monte a sua virilha, entrando e saindo, saboreando o ruído suave que surgiu quando a sua carne se recusou a deixá-lo retirar-se.

As unhas dela rasparam suas costas, a dor mal sendo registrada em sua mente, e o orgasmo começou em sua virilha fluindo através de seu pau.

 — Valhalla!— rugiu, quando ele estremeceu e sua semente disparou para fora de seu pau, um jorro após o outro até que ele desmoronou acabado. Não querendo esmagá-la, rolou de costas, e a abraçou, apertado, contra seu peito.

 

 Passou algum tempo antes de Bettina recuperar seus sentidos. O corpo dela subia e descia com a áspera respiração de Njal, o ritmo levando-a a uma profunda letargia. Seus membros estavam moles. Suas pernas se recusaram a se mover. O sexo dela guardava a deliciosa sensação de sua masculinidade, grossa, dentro de suas trêmulas paredes.

 Ele se mexeu debaixo dela, um balanço rápido, e depois as peles da cama cobriram seus ombros nus. Seus braços escorregaram sob o calor das peles, uma mão em concha em sua bunda, e a outra acariciando suas costas.

 De repente, ela entendeu por que os gatos malhados ronronavam e se esticavam quando acariciados. A sensação calmante deixou-a em um estado de sonho. Não era desesperador ter um ganso capturado por uma raposa, não depois de tal felicidade.

 — Como me sai, mulher?

 Sua pergunta justificava uma resposta com palavras que levariam a brigas e insultos, e ela queria manter a magia de sua união em seu coração por mais alguns minutos. Para acalmar sua necessidade de dar sua resposta, ela virou a cabeça e beijou seu peito, um beijo como aquele que ele deu em sua palma, e sorriu quando seu pau se contorceu dentro dela. Nunca se sentiu tão contente, tão quente e segura, tão feminina.

 — Bettina?

 Franzindo a testa, quando ele segurou seu queixo, forçando sua bochecha a sair do acolhedor ninho da penugem de seu peito, ela piscou e conseguiu dizer uma palavra.

 — Sonolenta.

 As linhas duras do seu rosto tinham se suavizado. Quando ele sorriu à luz das velas refletiram o dourado em seus olhos azuis, a chama dançando, cintilando como se risse de alguma brincadeira. 

— Parece que eu casei com uma mulher que não tem a necessidade de discursos depois do amor.

 Tentada a perguntar o que fez disto um amor em vez de uma trepada ou uma foda, ela mordeu a língua, cruzou os braços sobre o peito, e descansou o queixo sobre as mãos em concha.

— É obrigatório fazer isso?

 — Não— Ele tocou a ponta do nariz. — É a sua primeira vez. Eu queria saber se tinha alguma pergunta.

 Muitas, mas não ousou fazer nenhuma. Ele era a raposa e ela o ganso? Será que ele iria comê-la e cuspiria seus ossos?

 — Este jeito de jogar Raposa e Galinha é feito na Corte do rei?— Ela cerrou os olhos, mas observava-o cuidadosamente.

 — Não, É jogado por moeda, não beijos. — Ele enrolou seus cabelos entre os dedos.

 — Você teve a intenção de perder— ela acusou, pegando a mão que acariciava seu ombro.

 — Você acha que eu perdi, docinho? É uma perda que eu gostaria de repetir mais e mais, somente pela glória de ver você encontrar o seu prazer.

 Suas palavras golpearam o muro de frieza que havia erguido depois que Papa morreu, fechando todos os sentimentos femininos, suaves e vulneráveis, e forçando seus pensamentos para o que precisava ser feito para proteger Mama e o castelo. Que ele a tinha analisado quando ela não usava nenhuma armadura emocional fez crescer seu medo e sua raiva.

As mãos de Njal esquadrinharam seu rosto, então os rolou para que eles ficassem lado a lado. Seu pênis escorregou para fora dela e a perda desta conexão deixou-a vazia. Uma corrente de ar frio navegou sobre um braço descoberto e ela estremeceu.

 — Vamos falar claramente, Bettina. Somos marido e mulher agora. Eu gostaria de fazer uma troca.

 Ela não conhecia nenhum homem, salvo seu Papa, que mantivesse sua palavra.

 — Eu queria confiança e lealdade entre nós.

 Concorde com ele. Não diga nada. Ele partirá para a corte do rei em breve.

 — Você daria a sua confiança a uma grosseira, inculta e simples moça do campo?— Ela empurrou-se para fora de seu abraço. — Não, meu senhor. Eu não confio em suas palavras, e eu tenho razões para não isto.

 Seus lábios se apertaram. 

— Eu já disse que me arrependo dessas palavras e que estava errado. O que mais você quer de mim? Sangue?

 Nenhum homem que ela conhecia, admitiu estar errado, mas ela queria segurar a sua petulância.

 Respirando profundamente, encontrou seu olhar e disse:

— Eu honro a minha palavra, meu senhor. Você irá sempre me falar a verdade?

 — Sempre, Bettina, e eu gostaria que você me chamasse de Njal. Ele tocou as mechas que cobriam um dos seios e enrolou os cachos em seus dedos.

 Uma onda de calor percorreu-a da cabeça aos pés; chamas lamberam suas dobras, e deixaram seus mamilos rijos e duros.

 — Vamos começar concordando em sermos sinceros um com o outro?

Sua mão segurou seu seio e ele brincou com o mamilo; seu corpo rebelde reagiu, e o bico endureceu ao toque.

 Como poderia uma simples carícia afetar tanto? Ela achou difícil tragar o ar e só poderia lembrar-se vagamente do que ele lhe pedira. Borboletas pareciam voar em seu estomago, pois estava totalmente excitada.

 Quando a cabeça dele baixou e Njal sugou sua carne, pondo o bico latejante em sua boca e acariciando o ponto dolorido com a língua, um arrepio delicioso rastejou por sua espinha, traçando um caminho até sua cabeça. Sua boca se afastou. Ela gemeu sua frustração, e se retraiu para não implorar por mais.

 — Eu sou um homem guloso. — Ele beijou o vão entre seus seios. — E você está sonolenta e macia. Venha, esposa.

 Envolvendo-a, ele se sentou, batendo nas almofadas da cama, abraçou-a, e gentilmente apertou-lhe a cabeça contra o peito. 

— Você é minha mulher e é meu dever cuidar de você e mantê-la segura. Eu faço um juramento de que serei fiel a você. Nenhuma outra mulher vai partilhar a minha cama. Você concorda em fazer o mesmo por mim?

 Quando ele disse isso dessa forma, Bettina sentiu-se tola e irracional por sua recusa anterior em confiar nele. Descansando a palma da mão sobre o peito, ela virou-se para olhar para seu homem. 

— Eu nunca irei desonrar você, meu senhor. Você tem a minha palavra. Nenhum outro homem jamais me conhecerá desta forma. — Seu olhar baixou.

 — Pergunte. Posso ver por sua expressão que você tem uma pergunta. — Ele enrolou uma mecha de seu cabelo em torno de sua mão.

 — Não é conveniente. — Ela mordeu os lábios.

 — Pergunte-me. Diga... Njal... — Um dedo traçou o arco de sua sobrancelha. — Chame-me pelo nome, Bettina, e pergunte o que você quiser.

 Olhando para a penugem no peito dele, fascinada pela maneira como os cachos giravam em direção a um pequeno mamilo escuro e ereto, ela disse.

— Você vai ser sempre sincero, tanto na corte do rei como aqui?

 — Em ambos. — Ele levantou o queixo dela. — Você acredita em mim?

 Ela encontrou seus olhos e não viu qualquer hesitação neles. Assentiu com a cabeça.

 — Estamos de acordo então, esposa... Lealdade e confiança?

 — Você tem minha lealdade. — Ela respirou fundo e acrescentou: — Njal.

 O sorriso com que ele presenteou-a agitou o formigamento e as borboletas esvoaçantes em seu interior. 

— E a confiança?

 — Eu vou trabalhar nisso.

 — Isto é mais do que eu esperava, Bettina. — Ele trouxe-lhe a mão à boca e beijou cada dedo por sua vez. — Você tem um grande fardo sobre seus ombros desde que seu pai morreu. Agora,não mais. Eu marquei uma reunião com seu administrador, amanhã.

 — Darwent?— Ela sentou-se, sacudindo a mão para fora do seu alcance. — Luca tem mais talento para administrar nosso dinheiro do que este tolo.

 — Por que ele é seu administrador então?

 — Earl Mordred nomeou-o depois que Papa morreu. Mordred é o meu tio por afinidade e meu guardião.

 — Era, esposa. Ele era. Mas não mais.

 Ela deixou cair o olhar para as peles dispersas sobre a cama, não querendo que ele visse a alegria em seus olhos. Finalmente, finalmente, ela veria Mordred pela última vez. Ela não teria mais que esquematizar planos para manter Mama segura de suas atenções.

 Porque agora ela pertencia a Njal.

 — Vou me encontrar com Darwent amanhã. Depois disso, você e eu vamos decidir como proceder. É assim que você prefere Bettina?

 Os dois? Decidir como proceder juntos? E ele queria saber se esta era sua preferência?

 Ela mal conteve a vontade de jogar os braços em volta de seu pescoço e beijar seu nariz, seu queixo, as faces, e balbuciar seu agradecimento, mordendo os lábios até sentir o gosto de sangue. Encontrando seu olhar, ela repetiu as palavras que ele havia dito anteriormente. 

— Isto é mais do que eu esperava, Njal.

 

 Njal deixou sua noiva dormindo com ordens para que ninguém perturbasse seu descanso. Ele tinha sido incapaz de resistir a tomá-la novamente e essa era sua maneira de minimizar sua culpa por usá-la tão dura e frequentemente. Não que ela não tivesse entusiasmo para o sexo. Não, Odin tinha abençoado-o com uma companheira mais apaixonada do que as famosas odaliscas dos haréns pertencentes ao Califa de Constantinopla.

 Talvez ele devesse descartar a ideia de domar Bettina.

 Assobiando uma melodia espirituosa, ele foi para os estábulos, pretendendo chamar seus irmãos e visitar suas novas terras.

 A manhã estava gelada e sem nuvens. A luz do sol fluía através das persianas do castelo e ele parou ao pé da escada, preso pela sordidez que os raios luminosos revelavam. Rachaduras e entalhes em volta da lareira do que antes deveria ter sido um magnífico ponto de reunião no salão. Da dúzia de quartos, pelo menos, a metade das lareiras tinham bordas muito desintegradas e desiguais para apoiar um castiçal pesado, muito menos um pernil de veado. Um rápido levantamento do telhado mostrou manchas de vazamentos.

 A mobília e a decoração do salão não possuíam as riquezas que ele esperava de uma propriedade tão grande e renomada como o Castelo de Arbroath. Cada bancada ou mesa, por onde ele passou necessitava de reparos. A limpeza do castelo não podia ser criticada, mas não era a propriedade rica que ele tinha sido levado a acreditar. Njal examinou as paredes e franziu o cenho quando notou os retângulos coloridos mais claros onde tapeçarias deveriam estar penduradas. Salvo pelas flores que sobraram da festa de casamento, sobre as mesas, uma completa dilapidação pairava sobre o salão.

 Percebendo seus irmãos sentados com um grupo de homens em uma mesa do outro lado da lareira, ele mudou de direção e foi até eles.

 — Saudações, irmão. — Magnus limpou a espuma de cerveja dos cantos dos lábios. — Como você está nesta bela manhã?

 O cheiro de pão fresco precedeu uma criada da cozinha carregando uma cesta fumegante. O estômago de Njal rosnou. Ele sentou-se num banco e pegou um quente e crocante pão. Olhando para os três homens que estavam sentados à sua frente, ele inclinou a cabeça e partiu o pão em dois. 

— Bom dia, cavalheiros.

 — Saudações, irmão. — Jarvik recarregava o chifre meio vazio de Magnus e colocou o jarro de cerveja sobre a mesa. — Eu imagino que você passou uma noite sossegada.

 Magnus revirou os olhos e apontou para os homens sentados no banco oposto.

 — Conheça Fordor, um agricultor de trigo e cevada que os providencia para o Castelo Arbroath. À sua direita está o ferreiro da aldeia, Brock. Ao lado de Brock, o seu administrador, Darwent.

 Então, este era o tal que Bettina mantinha contra a sua vontade? Pela expressão do homem, ele tinha bebido ou vinagre ou urina com sabor de cerveja. Njal balançou a cabeça para todos e pegou um pote de manteiga. 

— O que você planta Fordor?

 Era sua intenção acalmar o administrador se concentrando nos outros homens.

 — Trigo e a cevada— Fordor tinha um rosto redondo e brilhante, olhos de esmeralda rasgados, e três papadas no queixo flácido. — É a farinha de meus campos que o cozinheiro usa.

 A manteiga cheirava a rançosa, então Njal passou o creme amarelo com moderação em seu pão. Ele mordeu uma ponta e piscou. Era suave e aromatizada com canela. Sua boca encheu-se de água e ele mastigou rapidamente, seus olhos fechando-se em arrebatamento.

 — Bom grão de fato, Fordor. Eu não tinha provado um pão melhor, mesmo na corte do rei.

 O fazendeiro corou e pareceu explodir em chamas, sua tez cada vez mais avermelhada. 

— Foi uma boa colheita este ano, meu senhor, uma das nossas melhores. Nem o castelo nem a vila ficarão sem grãos.

 — Meus agradecimentos pelo seu trabalho duro, Fordor. — Njal pegou outro pão. — Meus homens vão chegar em breve, ferreiro Brock. Haverá muitos garanhões e éguas que necessitam de ferraduras.

 — Será uma honra servir seu exército, meu senhor. — Brock dobrou seus maciços braços musculosos e recostou-se, com os olhos semicerrados,o cabelo castanho raspado apontando para cima em ângulos estranhos. Ele enviou a Darwent uma piscadela através dos olhos estreitados.

 — Se tiver necessidade, eu sei de muitos haras bem cuidados por Highlanders. Eles são homens selvagens, mas ansiosos para negociar e criam boas manadas. O chefe, Valan, está ansioso para forjar uma trégua entre Cnut, o grande Rei e os escoceses.

 — É bom saber. Tenho ouvido falar dos haras do norte. Muitos nobres da corte pagariam caro pelos garanhões premiados para suas éguas. Njal acenou para o homem. — Rei Cnut dá as boas-vindas às alianças com os escoceses. Eu não conheço este chefe, mas vou encontrar com ele em sua presença.

 Darwent se mexeu no banco. 

— O conde não negocia com Highlanders e o chefe Valan, A Víbora, se não houver nenhum benefício para eles. O último corcel que o ferreiro calçou para Conde Mordred ficou manco.

 — Não foi culpa do meu trabalho. — Brock ergueu-se e colocou as palmas das mãos sobre a mesa.

 — Ferreiro, sente-se. — Fordor puxou antebraço do homem. — Perdão, meu senhor. O conde é novo nestas terras e cauteloso em suas relações com a aldeia.

 E o ferreiro também, Njal supôs. Ele sabia que Earl Mordred tinha herdado recentemente as propriedades de seu pai. Ele também sabia que a reputação do homem em maltratar os seus animais e pessoas era conhecida. Mas, não era a maneira de Njal agitar o ninho de vespas, até que ele soubesse quem chamaria de inimigo ou de amigo.

 — Teria outro pedaço do bom pão do cozinheiro, ferreiro Brock? Njal piscou quando percebeu que a cesta de pão estava vazia. — Parece que me adiantei. Devemos esperar uma nova fornada.

— É a terceira cesta de pães da cozinha. — Magnus se recostou na cadeira e cruzou os braços sobre a barriga. — Mesmo a corte de Cnut, O Grande, nunca produziu uns tão saborosos.

 — E você bem pode atestar isso, irmão. — Quando Njal levantou uma sobrancelha, Jarvik completou — Magnus consumiu a primeira cesta sozinho.  

— Você deveria ter acordado mais cedo. — Magnus deu de ombros. 

— Tenho falado frequentemente com a cozinheira. É desperdício a quantidade de tempero que ela coloca em um simples pão. — Darwent escolheu um prato coberto com pedaços de maçãs, cebola, e javali assado. 

— É seu terceiro prato, administrador. — Jarvik pegou seu chifre de cerveja e esvaziou-o. 

— É um desperdício não consumir o que já está preparado.  

— Há quanto tempo administra esta propriedade?— Njal arrancou uma maçã de uma bacia em cima da mesa e poliu a casca rubi em sua manga. 

— Earl Mordred me indicou em Novembro.  

Notando o tom mal-humorado e defensivo de Darwent, Njal deu uma mordida na fruta, e olhou em cheio nos olhos do homem, mas não disse uma palavra. Ele achava que o silêncio gerava murmúrios e murmúrios geravam uma infinidade de confissões. 

— Tenho tentado instituir práticas econômicas sem sucesso. Nem a dona do castelo irá aderir a tais práticas. — O administrador aglomerou uma enorme porção de frutas cozidas e carne em um prato quadrado de madeira. 

— Diga-me suas sugestões. — Njal esperou até Darwent engolir a comida antes de emitir sua ordem. 

— Havia muitas dívidas acumuladas pelo último senhor. — O pomo de adão de Darwent balançou umas mil vezes, durante cada palavra que ele pronunciava. — Com a aprovação do Conde Mordred vendi o gado e as ovelhas, mas não foi o suficiente para providenciar o dinheiro devido.  

Njal agarrou à borda da mesa com tanta força que uma lasca ficou sob sua unha. A dor não diminuiu a vontade de bater na cara feia do homem.

—Quem vendeu o gado e as ovelhas com a chegada do inverno? 

— Deixe-o falar. — As palavras sussurradas por Jarvik eram audíveis apenas para Njal. 

Njal teve de cerrar a mandíbula para segurar sua ira crescente. Ele partiu um pedaço de pão, molhou a casca na manteiga e provou o bocado. Não era rançosa, mas definitivamente não era manteiga fresca. O administrador havia de fato vendido todo o gado do castelo.

 — Darwent, eu gostaria de ter uma prestação de contas da sua administração. — Njal limpou as palmas das mãos, levantou-se e agarrou a borda da mesa. — Devo cumprimentar meus convidados da noite passada e, em seguida, quero encontrá-lo na sala da administração.

 Não se preocupando em verificar a reação do homem, Njal virou-se para seus irmãos.

 — Minha esposa me informou que a biblioteca do senhor foi liberada para o meu uso. Vamos ir para lá?

 Os lábios de Magnus contraíram-se, mas ele disse com toda a solenidade.

— Nós seguiremos suas ordens.

 Uma vez que eles estavam todos instalados nas cadeiras em frente da lareira recém-construída, no lugar que sua mulher chamava de biblioteca, embora nenhum livro ocupasse as prateleiras que revestiam as paredes da sala, Njal ordenou:

— Fale. Conte-me tudo o que descobriu.

 Jarvik colocou os pés em cima de uma mesa baixa. 

— O que você pensa do seu novo administrador?

 — Bettina teria mandado ele embora imediatamente.

 — Darwent é apenas uma vespa em um ninho de serpentes. —Magnus inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados sobre os joelhos dobrados. —O Conde Mordred comanda todos nesta região.

 — E me foi ordenado negociar um tratado com ele. — Njal não gostou da expressão de um de seus irmãos. — Um ladrão,mas eu posso lidar com ele. Não é novidade.

 — A venda do gado e das ovelhas, não dando nenhum retorno em dinheiro para o castelo é apenas um pequeno roubo. — Magnus descansou suas botas de couro gasto na ponta da lareira. — Mas fazê-lo quando existem bocas famintas para alimentar e perto de três luas da chegada do inverno é uma estupidez.

 — Eu não posso negociar um tratado e acusar o conde de roubo. — Njal se recostou na cadeira. — Fica claro agora por que minha esposa caça javalis, e pelos dedos dos pés de Odin vou punir os que a colocaram em perigo.

 — Talvez esta não seja a única punição que você precisa considerar. — Jarvik endireitou-se — Porque eu temo que a mãe de sua esposa foi abusada pelo conde.

 O sangue Njal ferveu. Ele firmou o olhar em Jarvik e disse, sua voz suave como uma brisa sussurrando sobre a grama do prado:

— Você acha que o Conde Mordred tocou a minha esposa?

 

 — Apresse-se, Luca. — Bettina obstinadamente seguiu o caminho tortuoso até a colina, concentrando-se em colocar uma bota na frente da outra. As atenções do marido na noite passada e esta manhã tinham-na deixado eufórica, mas exausta. Pontadas em partes do corpo até então não utilizadas, além de seu tornozelo dolorido, diminuíram um pouco o seu ritmo normal.

 Talvez não tenha sido uma brilhante ideia caçar na manhã seguinte ao seu casamento, mas o pensamento da humilhação do Conde Mordred durante a visita do rei foi um grande apelo para ela não ficar na cama.

 Petalia tinham ordens estritas para não perturbar seu descanso.

 Njal estava reunido com Darwent.

 Ninguém notaria sua ausência, e quem iria imaginar uma noiva caçando?

 Ela se apertou entre dois grandes blocos de pedra no topo da encosta. Talvez não tivesse sido sábio incluir Brock no plano, mas ela não poderia apanhar três gordos leitões sozinha.

 — O que vamos caçar hoje, minha senhora?— Luca se mexia atrás dela, escalando a fenda natural, criada por um tronco de carvalho podre e uma pedra irregular.

 — Esta manhã nós pegaremos três porcos machos castrados do Conde Mordred. Ele tem engordado estes porcos desde a Primavera e o cozinheiro me disse que ele planeja matá-los quando o rei Máel Coluim chegar amanhã para a assinatura do tratado.

Bettina arrancou uma flecha de sua aljava e carregou sua besta.

— Queria fazer muito mais, Luca, eu poderia achar um jeito de ver o rosto dele quando descobrir que não tem mais os leitões.

 Luca sorriu para ela, mas não disse uma palavra. Ele voltou-se na direção em que viera, e protegeu os olhos. 

— Brock está na crista do morro. É uma escolha sábia usar sua carroça, minha senhora. Acho que a carroça do castelo não poderia suportar essa carga.

 — Sim. Um destes leitões é o dobro do tamanho do javali que pegamos duas manhãs atrás. — Bettina curvou-se e fez pontaria.

 As carroças desceram sem nenhuma luta, mas os porcos castrados não eram nada perto da ameaça de um javali. Bettina tinha aprendido muito nas últimas três estações.

 Brock chegou antes que os animais dessem seu último suspiro.

 Ela desarmou sua besta e cumprimentou o homem robusto, um amigo de infância e um inimigo declarado do conde.

 — Tenha cuidado, minha senhora. O Conde Mordred está de volta à residência.— Brock passou a manga sobre o suor pingando do queixo. Era um árduo trabalho carregar os bichos enormes na carroça.

 — Não— O estômago de Bettina apertou-se porque era traição roubar de um nobre. — Ninguém mencionou seu retorno. Ele não compareceu à cerimônia na noite passada.

 A bile subiu até sua garganta.

 — É realmente sorte seus homens não estarem em patrulha esta manhã. O destino favoreceu você, minha senhora. — Brock sorriu. — O conde ficará com raiva. Meu único arrependimento é não ficar para ver seu rosto quando ele descobrir o roubo.

 Ela sorriu embora o medo deixasse amarga sua língua. 

— É o que eu acabei de falar para Luca. É um pecado levar esta carne para longe, mas o conde vai revirar a aldeia procurando o caçador. Eu não queria sobrecarregá-lo com este fardo, Brock. Você deve se apressar. — Bettina esfregou um ombro dolorido. — Envie uma mensagem quando você voltar.

 — Não se preocupe, senhora. Todos sabem que eu negocio muitas vezes com os escandinavos que percorrem a costa. Vou voltar logo e envio uma mensagem pela lavadeira.

 — Deus esteja com você, Brock.

 — E com você, minha senhora.

 — Senhora, o sol está alto no céu. — Luca puxou sua manga — Nós não podemos ficar aqui.

 Lançou um olhar para o horizonte azul sem nuvens, o globo brilhante surgindo e desfazendo a aridez da paisagem. Bettina tinha que se apressar para retornar imediatamente ao castelo.

 Ela e Luca escaparam através das cozinhas e separaram-se ao pé das escadas dos criados. Sua respiração não voltou ao normal até que ela chegou ao quarto, no terceiro andar. Era a sala onde Bettina escondia as calças masculinas e túnicas que ela usava quando caçava ou roubava o aluguel dos coletores do Conde Mordred.

 Depois de se lavar às pressas, ela vestiu um dos vestidos novos que Mama havia encomendado, trançou o cabelo, e amarrou as pontas com uma fita azul para combinar com seu vestido. Levaria pouco tempo para entrar no salão principal. Ela deixou a porta aberta e recuperou seus chinelos na pilha de roupas no canto.

 — Onde você esteve?

 Bettina pulou e voltou-se para a porta.

 Embora o fogo na lareira estivesse muito reduzido, a não pelas cinzas, o calor escaldou as bochechas de Bettina.

 — Responda-me, criança. Onde você esteve?

 Mamãe só a chamava de — criança— quando estava furiosa.

 — Eu estou esperando. — Mama colocou uma mão em seu quadril e seu pé bateu no chão, como um tambor de guerra Highlander.

 Inclinando a cabeça para recompor-se, Bettina enfiou os pés nos sapatos de pano e forçou um sorriso que morreu no momento em que ela notou a carranca zangada de sua mãe. 

— Eu não gosto quando você se levanta tão cedo.

 — Você evita a minha pergunta, Bettina. — Mama parecia pálida e abatida, e tinha olheiras sob os olhos. Na última semana, sua saúde parecia ter melhorado, e na noite passada ela estava positivamente radiante.

 Bettina apertou sua mandíbula. 

— O Conde está nos visitando?

 — Ele está com Lord Njal e seus irmãos. — A boca de Mama franziu-se. — Eu não disse uma palavra todas essas vezes. Eu nunca perguntei sobre o javali assado ou a carne de veado, nem mesmo os faisões e perdizes. Mas não pode continuar, Bettina. Você deve parar de uma vez. Pense em seu novo marido. Quer vê-lo cair?

 O quarto girava. Seus joelhos se dobraram. Bettina agarrou o encosto da cadeira e se endireitou. Ela não se atreveu a encontrar o olhar de sua mãe.

 Ajude-me, Senhor! Mama sabia sobre a caça. Talvez ela não soubesse dos aluguéis roubados...

 — Há quanto tempo você sabe?

 — O conde não vai me tocar de novo. Não agora, que Lord Njal está em nossa residência. Você deve parar com esta vingança.

 Bettina engasgou-se com um soluço. As lágrimas em seus cílios ofuscavam sua visão.

 — Quanto tempo, Mama? Há quanto tempo, desde que Papa morreu o Conde Mordred vem abusando de você?

 — Isto não tem nenhuma importância agora. — Mama capturou suas mãos e apertou os dedos. — Acabou, Bettina. Fiz os arranjos necessários para retirar-me para o mosteiro em Shelbourne dentro de sete noites.

 — Não— Bettina abraçou a figura frágil de sua mãe. — Não posso deixar você ir. Por favor, Mama, não agora.

 — Lady Gwen, Bettina. — A voz profunda de Lord Njal fez as duas recuarem.

 Com os membros tremendo, Bettina olhou para a porta para encontrar seu marido de pé na entrada da sala.

 Virando as costas para ele, Bettina limpou a umidade do rosto antes de se virar. 

— Meu senhor. Bom dia!

 — Tem alguma coisa errada?— Seus olhos estudaram-na atentamente antes de passar para sua mãe.

 — Não, meu senhor. — Bettina tentou colocar um sorriso no rosto, mas seus lábios não conseguiram. — São assuntos do castelo que estávamos discutindo.

 Uma sobrancelha ergueu-se. 

— Gostaria de lembrá-la de nosso pacto, esposa.

 O que fazer? Confessar a traição? Contar a Njal sobre os dissabores de Mama?Que Mordred poderia ter estuprado Mama? A verdade não venceu.

 — Mamãe não está bem esta manhã, meu senhor. Ela insiste em cumprimentar nossos visitantes e eu tento convencê-la a descansar.

 O olhar de Njal se voltou. 

— Você está realmente pálida esta manhã, Lady Gwen. Por favor, siga os conselhos da sua filha. Minha esposa e eu iremos cumprimentar o Conde Mordred e transmitir seus votos de boas-vindas.

 — Se você esperar um momento, meu senhor, eu vou encontrar Petalia para cuidar de Mama, e depois me juntarei a você no salão. — Bettina puxou a mãe pela mão. — Venha. Deixe-me levá-la para seu quarto.

 Embora geralmente fosse audaciosa, Bettina não podia olhar Njal nos olhos. Seu ombro roçou o braço dele enquanto ela e Mama passaram pela porta. O ligeiro contacto a esquentou, ela respirou fundo, e o cheiro dele, de couro e tão masculino, envolveu-a.

 A mente de Bettina correu então ela disparou pelo corredor depois de instalar Mama em seu quarto. Mais e mais as suas palavras repetiam-se em sua mente: lealdade e confiança, confiança, lealdade. Sua cabeça doía a ponto de explodir. Ela desejava lançar-se ao chão, bater os pés, e gritar a sua raiva e frustração.

 Seguindo com o olhar as rachaduras e fendas no chão de pedra, ela colidiu com o que parecia uma parede dura, mas quando piscou, a parede transformou-se no peito de pedra de Njal. O cabelo macio ondulado no peito que suas mãos tinham acariciado esta noite e pela manhã e por último, a carne tensa que sua boca havia apreciado e saboreado.

 Ele inclinou o queixo para que seus olhos se encontrassem. 

— Eu vou saber a verdade mais tarde, a esposa. Não apenas sobre as suas lágrimas e as de Lady Gwen, mas também sobre sua ausência do castelo esta manhã.

 Seus joelhos cederam e ela agarrou seus braços como apoio.

 — Pelos dedões Odin!— Ele puxou-a alto contra seu peito. — O que tem você que está tão pálida como o fantasma de Thor?— Balançando a cabeça, ele declarou: — Mordred pode tratar com os meus irmãos. Vamos resolver isso agora.

 Ela batia no peito dele. 

— Não. Não. Njal, eu lhe imploro. Devo cumprimentar o Conde Mordred. Eu dou minha palavra Vou contar tudo depois que ele partir.

 Vou pensar em algo. Eu sempre faço.

 

 Parado, ele recuou. Seus olhares se encontraram e Bettina desejou que ele acreditasse em suas palavras.

 — Eu tenho o seu juramento? Toda a verdade?

 Talvez Mama e eu pudéssemos nos retirar para a abadia. Porque ele irá deixar-me de lado imediatamente quando descobrir a verdade.

 

 — Sim. Toda. — Ela abafou um suspiro.

 Ele deslizou-a para baixo de seu corpo.

 Arrependimento e uma sensação de perda maior do que teve pelos três machos que matou anteriormente, pesaram sobre seus ombros ante a ideia de que Njal poderia querer se separar dela. Nunca sentiria sua masculinidade pulsando dentro dela outra vez, nunca mais o prazer do cheiro dele, nunca mais a emoção do seu gosto... Os pensamentos melancólicos deixaram seus lábios trêmulos e lágrimas tolas nublaram seus olhos.

 O suspiro alto dele passou através de seu cabelo fazendo cócegas em sua nuca, e ela olhou para seu marido.

 — Você é um quebra-cabeça confuso, esposa. Por que tem seus ombros caídos, as sobrancelhas franzidas, e está fazendo este beicinho?— O polegar dele acariciou sua boca.

 Ela proferiu o primeiro pensamento que veio à sua mente.

 — Eu temo que não tenha sido feita para um convento.

 

 Se ela não parecesse tão abatida, Njal teria caído na gargalhada, pois Bettina nunca tinha dito algo tão verdadeiro. Ele não entendia a maneira como a mente de sua esposa funcionava. O que levou seus devaneios a conventos?

 — Apesar de minha curiosidade transbordar, não é o tempo nem o lugar de ceder a ela. — Njal passou os dedos ao longo de suas bochechas, maravilhando-se uma vez mais com sua pele macia. As sedas e tecidos do Oriente não podiam se comparar a carne macia de Bettina. — Darwent está com o conde.

 Ela bufou e revirou os olhos.

 — Não deixe nossos planos transparecerem em seu rosto, Bettina. Aja como uma boa anfitriã.

 — Claro, meu senhor. — Ela brincava com sua fita de cabelo e mantinha os olhos baixos.

 — É sábio não deixar nenhum deles conhecer seus pontos fracos, ainda mais um inimigo. Confie em mim sobre isso, esposa.

 Bettina franziu os lábios, desanimada, e isso o preocupou, pois não queria que se sentisse desamparada. Por isso suas lágrimas lhe causaram preocupação.

 — Acha que eu desafiaria o Conde Mordred para jogar Raposa e ganso?—Ela jogou a trança sobre um ombro. — Não. Vou rir afetadamente e sorrir com falsidade, como faz uma donzela de cabeça oca.

 Njal reprimiu um sorriso vendo a volta de sua rebeldia. 

— Você comeria todos os seus gansos em duas jogadas de dados.

 — Jogaremos Raposa e Ganso novamente esta noite, meu senhor?

 — Njal. — Incapaz de resistir, ele inclinou-se perto o suficiente para traçar sua orelha com a língua e quando ela engasgou, roçou seu lóbulo, sugando a carne macia. — Diga meu nome.

 — Njal. — Seu sussurro deixou-a sem fôlego e o rubor tomou conta de seu rosto.

 Pelo dedão de Odin! O rubor de seu rosto engrossou seu pau e deixou seu saco apertado. Ele pegou-a pelo cotovelo e a conduziu para as escadas. Em voz baixa, perguntou:

— Como está suas partes femininas esta manhã, docinho?

 Bettina olhou para cima sob as pálpebras semicerradas e o sorriso atrevido no canto da boca da moça lançaram raios de luxúria para seu agitado pau. 

— Todas as minhas partes femininas estão latejando. Njal.

 E pelo martelo de Thor, ela olhou direto para a protuberância em suas calças e passou a língua ao longo do contorno de sua boca enquanto falava. Ele tropeçou no primeiro degrau.

 Vozes alteradas chegaram aos ouvidos de Njal antes que ele chegasse ao meio da escada. Examinou o salão e descobriu um grupo de mensageiros que estavam com o Conde Mordred, Darwent, e seus irmãos.

 — Vasculhe cada cabana, cada chalé, cada fazenda. — Comandou aos gritos o Conde Mordred, que tinha seus homens pulando por causa dos gritos e concordando em voz alta.

 — O nosso conde parece perturbado. — Njal cheirou o cabelo macio da esposa e sorriu quando a agora familiar fragrância de avelã e água de rosas encheu seus pulmões. Era estranhamente rica e quente, e lembrou-lhe o aroma do cacau polvilhado com avelãs tostadas que serviam na corte dinamarquesa.

 — Acho que ele pode ter perdido algum tesouro...

 Seu tom de zombaria chamou sua atenção e Njal franziu a testa para o cálido sorriso que ela ostentava. Bettina o percebeu olhando para ela, se endireitou, e apertou os lábios. Um mal-estar subiu por sua espinha como uma aranha tecendo sua teia. Qual era o jogo de Bettina? Porque ela tinha aquele ar de satisfação, evidenciado no arco agudo de suas sobrancelhas?

 Eles chegaram ao pé da escada para encontrar o conde, seus guerreiros, e os irmãos de Njal.

 — Lord Njal.— O Conde Mordred tinha os olhos de um rato, oblíquos, o nariz um pouco grande demais separando as órbitas, de uma cor escura como o leito de um rio... Não era castanho, não era cor de avelã, mais parecia da cor de lodo.

 — Mordred—Njal inclinou a cabeça. —Você parece perturbado. Tem alguma coisa errada?

 — Sim— Mordred rosnou — Ladrões roubaram meus preciosos leitões.

 — É algo de valor?— Njal não tinha a menor noção do que um leitão pudesse ser.

 — É um porco premiado, irmão. Castrado para engordar rapidamente. — Magnus conseguiu aclarar sua mente com a explicação. — Carne muito saborosa quando assada ou cozida.

 — Assim como javali. — O sorriso de Jarvik não chegou a refletir-se em seus olhos azuis. — Não é assim, irmã?

 — Carne de javali é realmente doce, irmão Jarvik, mas eu prefiro porco assado. — Bettina bateu seus cílios — Talvez tenha perdido seus animais, Conde Mordred? Suas novas terras são vastas, de fato. Talvez as pequeninas bestas tenham vagado para uma colina?

 Njal tentou não olhar para sua esposa. Ele não acreditava que ela pudesse, realmente, sorrir afetadamente, mas imitou uma mulher fútil com perfeição.

 Os olhos de bolas do conde se estreitaram. 

—Meus homens estão procurando em cada habitação da aldeia. Qualquer camponês pego com a carne dos porcos será enforcado no dia seguinte.

 — Você irá se juntar a nós para a refeição do meio-dia, meu senhor? É uma refeição simples, aves, pão e queijo. — Bettina sinalizou para uma ajudante de cozinha. — Posso oferecer-lhe um chifre de cerveja, meu senhor?

 Magnus e Jarvik olharam Bettina como se ela tivesse crescido seis metros, e assim também Njal a olharia, se ele não tivesse se fixado no súbito arregalar de olhos redondos do Conde. O que sua esposa disse que tanto prendeu a atenção do conde?

 — Eu agradeço a sua oferta, mas preciso descobrir quem foi que caçou meus porcos. Onde está sua mãe? Eu preciso consultá-la sobre um determinado assunto. — O Conde Mordred olhou para o arco amplo que levava à cozinha.

 Ao lado dele, Bettina ficou rígida e as mãos fecharam-se em punhos apertados.

 — Lady Gwen está muito exausta por causa dos preparativos para os nossos votos ontem à noite. — Njal puxou a mão Bettina sobre a dele e passou o polegar sobre os nós de seus dedos. — É uma pena que não pôde comparecer, Mordred, entretanto ficamos bem satisfeitos em termos Hal, O Arauto, como testemunha.

 — O rei precisava de mim. — o Conde Mordred fixou seus olhos gulosos sobre Bettina. — É a terceira vez em algumas semanas que Lady Gwen está de cama. Quando eu voltar para o meu castelo vou instruir ao meu médico para atender sua Senhoria.

 — Mamãe está cansada, Conde Mordred, e você sabe que ela tem horror a curandeiros. Por favor, não o envie, pois ele não será recebido. Todo o bom humor evaporou-se do rosto de Bettina.

 — Como seu senhor e guardião, eu decido o tratamento de sua mãe. — O rosto de Mordred avermelhou-se e suas bochechas gordas incharam.

 — Você não é mais responsável por Lady Bettina ou por sua mãe, — Njal disse, sua voz baixa e uniforme. — Apesar de apreciar sua preocupação com a saúde de Lady Gwen, não é mais o seu dever cuidar de seu bem-estar.

As narinas largas de Mordred inflaram como foles que ventilam uma chama. Ele inclinou a cabeça.

 — Perdoe-me, Senhor Njal. Bettina e Gwen têm sido a minha preocupação por muitas estações. Gwen ficou muito abalada com a morte súbita do Senhor Arbroath. Na verdade, se não fosse pela supervisão do meu administrador, Darwent, o castelo e tudo nele poderia ter tido um terrível destino com as sombras trazidas pela pilhagem dos nórdicos.

As mãos de Magnus e Jarvik foram para o cabo de suas espadas na provocação deliberada. Njal enviou-lhes um olhar penetrante e moveu a cabeça quase imperceptivelmente.

 — Darwent me informou que você tem uma habilidade notável com a besta, Lady Bettina. — O olhar astuto de Mordred caiu na espada sobre o ombro de Njal que sentiu como se teias de aranha corressem através de sua nuca. Quando o rosto de Bettina perdeu toda a cor e ela estremeceu, ele passou um braço em volta de sua cintura e puxou-a firmemente ao seu lado.

 — Minha esposa é realmente habilidosa, mas sua arma é uma agulha, não uma besta. —Njal colocou um sorriso no rosto. —O administrador tem sido realmente de grande valia para o Castelo de Arbroath, mas seus serviços não são mais necessários. Aliás, é uma sorte a sua visita, pois ele pode voltar para seu castelo com você e seus homens.

 Um pesado silêncio abateu-se sobre o grande salão. Os gatos malhados que andavam por ali pararam de miar, os murmúrios da cozinha foram interrompidos, e até mesmo a respiração dos homens pareceu fazer uma pausa.

 — Magnus, Jarvik, por favor, protejam o conde e seus homens, na sua jornada para fora de minhas terras. Jarvik faça com que o administrador do conde receba uma quantia generosa por sua devoção as minhas senhoras.

 — O Rei Máel Coluim chegará ao meu castelo amanhã. Ele solicitou a presença de sua família, incluindo Lady Gwen— Mordred balançou-se em suas botas, um polegar enganchado no cinto caído em seus quadris. — Acredito que a notícia que o rei traz é muito importante para Lady Gwen.

 

 — Eu vou matá-lo. — Bettina bateu o pé com tanta força que os dedos ameaçaram cair. — Vou cortar suas orelhas, tirar a língua para fora de sua boca.

 — Nem mais uma palavra, Bettina. — A aspereza rosnada na voz de Njal silenciou-a imediatamente. Antes que ela pudesse esconder seus pensamentos, ele segurou seu cotovelo e guiou-a até as escadas para o seu quarto.

 Uma vez que ele trancou a porta, Njal se virou para ela. 

— Diga-me que não tem nada a ver com o roubo dos suínos premiados de Mordred.

 Ela tropeçou em seus próprios pés e sentou-se pesadamente no chão, suas saias esvoaçando como folhas.

 Como ele sabia?

 Ela decidiu atacar e não se defender. 

— Mordred persuadiu o Rei Máel Coluim a dar-lhe Mama.

 O rubor manchou o rosto bronzeado de Njal.

— Para mim, esposa. Olhe-me direto nos olhos. Gostaria de lembrá-la de seu voto na noite passada.

 Senhor! Ele vai me bater.

 Ele beliscou a ponte do nariz.

 — Onde está sua besta? Onde estão os porcos?

 Sua garganta seca engoliu sua voz. Ela lambeu os lábios secos.

— Eles não serão encontrados.

 — Quem mais, além de você, está envolvido nesta traição?— Bettina teve de se esforçar para ouvir suas palavras, ele falava tão baixinho. — Fale agora. Tudo. Não deixe minha raiva transformar-se em fúria.

 Ela, que nunca teve uma gota de transpiração, mesmo depois de uma dura cavalgada, sentiu-se encharcada em uma pátina de suor. Bettina contou-lhe dos porcos, da carroça, de Brock, Luca, os aluguéis roubados.

 — Eu preciso saber, desde o início, tudo o que você tem feito. Tire seu vestido e conte-me todos os crimes que cometeu.

 Não se atrevendo a se mover, Bettina observou fascinada como ele colocou as armas sobre a mesa e puxou a túnica sobre sua cabeça, parando para desamarrar as botas, um pé apoiado na cama, ele arqueou uma sobrancelha.

 — Terá seu castigo, por não obedecer minhas ordens. Dispa-se, esposa.

Castigo?

 Despir?

 Um arrepio delicioso correu até sua coluna e Bettina imediatamente quis bater com a cabeça na mesa para tentar ordenar seus pensamentos.

Como podiam suas partes femininas esquentar e pulsar agora? Ela deveria se concentrar em Mama!!

 Decidindo que era melhor agradar o marido, mesmo que suas ações e palavras não fizessem o menor sentido, ela desamarrou seus laços, encolheu os ombros e o vestido caiu, formando um amontoado de tecido azul no chão.

 — No terceiro andar há um quarto onde guardo o meu arco e flechas. E as calças. Os leitões foram levados para um matadouro em um vilarejo perto da costa. — Ela soltou a fita ao redor do pescoço de sua camisa e um arrepio gelado agrediu a parte de trás dos joelhos, então o material transparente caiu no chão de pedra. — O dinheiro que eu roubei dos coletores de Mordred foi deixado em um nicho na igreja da abadia perto de Shelbourne.

 Ele segurou seu queixo.

 Bettina encontrou seu olhar. Estava de pé diante dele somente com suas meias, chinelos, ligas, e nada mais.

 — Meu vestido se foi. — Suas unhas enfiaram-se nas palmas das mãos.

 — Me tira o fôlego olhar para você, esposa, usando nada mais que uma mulher deve usar diante de seu marido. — Ela estremeceu quando ele tomou um pedaço de corda e viu quando Njal se aproximou por trás dela.

 — Njal. — Ela gritou quando ele suavemente puxou-a para a cama. O colchão cedeu e ela estremeceu, pois o fogo da lareira tinha se reduzido a cinzas e fuligem. — Está frio.

 — Vou alimentar o fogo, mas antes de sair vou presenteá-la com um tijolo para aquecer os dedos dos pés. — Ele montou em sua cintura e amarrou os braços em cada lado da cabeceira da cama.

 — Njal.. Eu não sei o que você pretende...

 — Eu tenho uma esposa que é uma caçadora. Uma esposa que rouba de um conde. Uma esposa que pode ser enforcada por traição. Uma esposa que colocou em perigo a vida do ferreiro da aldeia e de um menino inocente. Uma esposa que não vai ficar parada. O que devo fazer para mudá-la? — Ele respirou perto de seu rosto, sua ira tão ardente que ela tremeu e ficou quieta. Esperava que ele acreditasse que a qualquer momento daria seu ultimo suspiro. — Se você se mover, um fio de cabelo somente, eu prometo que a sua penitência será longa e não vou mostrar nenhuma piedade.

 — Você está misericórdia agora?— Bettina olhou para um pulso, depois o outro.

 Pegando o queixo entre os dedos, ele beijou seu nariz, o arco da sobrancelha. 

— Quando tiver terminado, enviarei sua mãe. É decisão dela mantê-la amarrada ou libertar você. Mas, entenda bem, suas ações pesam sobre este castelo. Desobedeça, ponha um dedo do pé para fora das muralhas, e todos serão punidos.

 Bettina não conseguia respirar. Ela sentia sua fúria pelo modo como suas narinas se dilatavam. Mordred e Darwent esbravejavam e se enfureciam quando provocados. O conde frequentemente jogava tudo o que tinha nas mãos quando se zangava.  Seu marido, Njal o Pacificador, parecia ainda mais controlado, quando seu temperamento se inflamava.

 Njal rolou para o lado e tirou as calças. Seu pau ficou ereto, roxo e grosso, todas as veias parecendo estourar debaixo de sua carne. Ela franziu a testa e olhou para ele, seus olhos semicerrados. Será que ele pretendia forçá-la?

 Pegando seu queixo, Njal se arrastou entre as suas pernas abertas. 

— Você acha que depois da noite passada e desta manhã eu pretendo estuprá-la?

 Suas bochechas pegaram fogo e Bettina baixou o queixo, deixando-o fora de seu alcance. 

— Não. Sei que está zangado, mas acredito que valoriza a sua honra acima de tudo. Foi apenas um medo momentâneo, sei que não faria isso.

 O azul de seus olhos cerrou-se, em uma linha fina, e ele balançou a cabeça. 

— Você tem toda a diplomacia de um mensageiro do rei. Estou orgulhoso de ter você ao meu lado. — Ele lambeu o contorno de sua boca.  — Mas me convencer do que devo fazer, você não vai, esposa. Mordred deixou claro suas suspeitas, momentos atrás, E eu nada poderia ter feito para impedi-lo, se colocasse a espada sobre você na minha própria casa.

 — Njal.

 — Não— Ele levou dois dedos à sua boca. — Lembre-se do que eu disse depois que nós fizemos amor pela primeira vez?

 — Confiarmos um no outro?— Sua voz soava fraca e débil.

 — Sim. Quando eu sair, pense sobre isso. — Sua boca inclinou-se sobre a dela e beijou-a sem piedade, sua língua trabalhando magicamente lançando fogo e faíscas, dos lábios aos seios e mamilos em chamas, contraindo os músculos tensos em sua boceta. Mas ele se recusou a permitir que ela devolvesse suas carícias. Sugou seu queixo, seu carnudo e inchado lábio inferior sem trégua.

 Ela se excitou além dos limites, se debatendo e arqueando seus quadris para encontrar sua masculinidade rígida, para sentir a deliciosa fricção, para aliviar o nó latejante escondido em suas dobras. Quando ele voltou as suas atenções para seus seios, sugando e mordendo, tocando com os dentes o mamilo, primeiro um, depois o outro, deixando os bicos molhados e latejantes, um soluço irrompeu de sua boca.

 — Imploro— ela sussurrou. — Por favor, Njal. Não me torture assim.

 Ele cobriu a pélvis dela com a sua e o peso de seus músculos a esmagou com força, fazendo-a se contorcer furiosamente. Sua boca deslizou para sua barriga. Ele lambeu seu umbigo, beijou a carne úmida. De repente, ele ficou de pé. O peito arfando como se tivesse lutado com um inimigo feroz, e olhou para ela. 

— Na última noite descobri que quando minha mulher encontra o seu prazer, traz o meu também. É hora de você perceber que suas ações têm consequências. Eu nunca teria acreditado que você arriscaria sua vida, a de sua mãe, de Brock, e de Luca por um pequeno momento de satisfação. Pense sobre isso, Bettina.

 Atordoada demais para dizer uma palavra, Bettina viu através pálpebras veladas como Njal estava armado, a espada embainhada, punhais no forro de suas botas, e duas facas sinistras, de um tipo que nunca tinha visto antes, amarradas em diagonal nas costas. Apenas a promessa de uma batalha feroz faria um homem conhecido como o pacificador estar armado até os dentes. Foi doloroso vê-lo partir, ver seus movimentos estudados, olhar em seus olhos quando ele fechou a porta tão silenciosamente, que ninguém saberia que ele havia deixado o quarto principal.

 Gotas de suor escorriam pelo seu rosto.

 Como reparar o erro? Não havia nada a fazer.. Ela teria que ir ao rei e confessar tudo. Mas primeiro, deveria levar Mama à abadia.

 — Bettina?— A porta se abriu e sua mãe entrou no quarto superaquecido, porque Njal realmente tinha alimentado a lareira e a cobriu com peles da cama.

 — Mama—Ela chutou as roupas de cama. — Depressa. Desamarre-me!

 Mama ficou ali balançando a cabeça.

 — Temos de nos apressar. — Bettina rolou para um lado. — O que você está fazendo? Liberte-me.

 — Não. Você permanecerá assim até que o Lord Njal retorne.

 — O Rei Máel Coluim pretende casá-la com Mordred. Devemos ir para a abadia imediatamente.

 — Você é tão teimosa, Bettina. Deve aprender a pensar antes de agir. Você acha que eu sou uma tola? Que eu não tenho armas contra Mordred?

 — Mordred bateu em você. E talvez, pior que isso. Eu não vou deixar o rei forçar...

 — Eu cometi um erro grave com você. Eu me envolvi na minha tristeza com a morte súbita de seu pai e permiti total liberdade a minha filha. — Mama olhou para ela e sentou-se sobre o colchão. — Quantas vezes já lhe disse para deixar Mordred comigo?

 — Ele bateu em você. Eu vi os hematomas.

 — Sim. Mordred me bateu. Uma vez. De certa forma, foi uma coisa boa, pois aquele tapa me acordou. Era como se eu vivesse em uma névoa de tristeza, sem nenhum pensamento sobre o seu futuro ou o meu. — Mama acariciou a bochecha de Bettina. — Foi uma vez, somente uma vez.

 — E quanto a Darwent? Por que você deixou Mordred nomeá-lo?

 Mamãe deu de ombros.

 —Foi um mal menor. Tudo o que Darwent fez foi roubar dinheiro.

 — Ele vendeu o nosso gado, o nosso ouro se foi, como foram todas as tapeçarias. —Bettina continuou, enquanto Mama desatava a primeira corda, depois a outra. — Ele deixou os moradores da vila morrerem de fome. Se não fosse pela minha caça...

 — Admito que comemos bem, mas não há necessidade de você correr estes riscos. Leofric teria nos ajudado e você sabe bem disso.

 — E, sendo mulheres fracas, temos de confiar nos homens para alimentar-nos e vestir-nos? Sim. Este é o caminho se você nasceu mulher. Papa me ensinou a caçar, a pescar. Por que eu deveria renegar minhas habilidades quando o meu povo passa necessidades? — Bettina esfregou os pulsos. Embora Njal tivesse amarrado as cordas suavemente, a carne ainda ardia.

 — Se vista, criança. E, enquanto você o faz, pense bastante. Vai sacrificar tudo por um orgulho tolo? Você quer um bebê? Um filho?  Um marido?  Ou você vai procurar um convento? São estas as únicas escolhas que temos como mulher.

 As perguntas de sua mãe perfuraram e queimaram como veneno em seu cérebro. Bettina amarrou seu vestido, mas via apenas crianças de todas as formas e rostos, crianças sorridentes, bebês rechonchudos. Uma vida em um convento, ou as brincadeiras de cama e uma família? O que ela queria?

 

***

 — Você o encontrou?— Njal levantou-se, ficando de pé na banheira de madeira. A água escorria por sua pele, e ele sentiu o calor do fogo na laeira, depois do líquido frio. — Amanhã começaremos a esboçar planos para um balneário. Eu juro não vou passar um inverno inteiro nessa coisa.

 Magnus olhou para o barril oval mais adequado para uma criança do que um guerreiro adulto.

 — Por isso eu escolhi o rio. Sim. Brock está de volta na forja. Os leitões foram abatidos e vendidos no litoral. Não há nada que possa fazer sobre isso.

 — E você, Jarvik?—Jogando a toalha sobre as costas, Njal olhou para o irmão mais novo. — Cnut concordou?

 — Sim— As chamas ardentes atrás de Jarvik reluziram em seu cabelo molhado como ouro polido. — Eu tenho o pergaminho selado para amanhã. E você?

 Njal sorriu e olhou em volta para as calças e túnica. 

— Tudo está correndo conforme o plano. O Pacificador vence mais uma vez.

 — Cnut, o Grande está bem satisfeito com o seu plano. Ele não confia em Mordred. — Jarvik arrancou dois troncos pesados de uma pilha ao lado da lareira. — E Lady Gwen?

 Amarrando a corda das calças displicentemente, Njal respondeu:

— Ela vê a sabedoria de minha proposta e pediu esta noite para decidir.

 — Mais alguma coisa?— Jarvik jogou o tronco no fogo e a lenha pareceu sibilar, em protesto.

 — Quantos nós levaremos amanhã?— Magnus, sempre o guardião, não iria para o castelo de um inimigo sem meios para abater todos, se fosse necessário, e nesta ocasião Njal acatou a sabedoria de sua precaução.

 — Todos que chegarem amanhã irão conosco, completamente armados— Njal destroncou cada junta de sua mão esquerda. — Deixe Mordred saber que temos apenas um terço de nossas forças. Ele parece-me um covarde, mas não é estúpido.

 — Jarvik e eu vamos procurar locais para nos escondermos com a tropa. Nós estaremos preparados. — Magnus respondeu — Acho que se a fofoca das cozinha for correta, você deve ir ver a sua senhora.

 — Todos sabem o que você fez. — Jarvik usou uma barra de ferro para alimentar as chamas. — Jamais pensei que Njal, O Pacificador, seria capaz de amarrar sua mulher nua em uma cama.

 A raiva varreu a mente de Njal. 

— Desista. Minha noiva é problema meu. Deixe todos saberem que o senhor não vai tolerar nenhuma fofoca sobre sua esposa. Faça com que todos do castelo saibam bem disso. — Quando Jarvik abriu a boca, Njal ganiu. — Não. Nem mais uma palavra.

 Seu mau humor estava tão intenso que ele estava tentado a quebrar o barril de carvalho em pedacinhos, Njal caminhou pelo quarto sem calçar as botas. Subiu às escadas, os pés bateram descalços na pedra fria, seus pensamentos se concentravam em Bettina. Durante o longo dia, ou cavalgando ou persuadindo os outros sobre seu plano, sua esposa havia permanecido em todos os seus pensamentos.

 Nenhuma outra mulher jamais confundiu sua lógica, mas ela tinha feito isto desde o início.

 Nunca seu temperamento triunfou sobre sua racionalidade, salvo com sua esposa.

 Desde o momento que avistou Bettina e o javali, a sua mente tinha embotado. Trezentos quilos de uma besta enfurecida correndo para ela, ajoelhada no chão da floresta, haviam feito isto. Seu peito quase explodiu de puro terror, e depois de vê-la olhar obliquamente, fixando seus olhos sobre o animal, rugir como um guerreiro, se jogar para cima, e enterrar sua lança no peito da criatura, seus pensamentos pareceram sumir, um desespero tão absoluto que não teria acreditado capaz de sentir.

 Seu coração estava inteiramente em suas mãos nesse momento.

 Nunca tinha considerado uma esposa guerreira como uma companheira adequada. Todas as mulheres com as quais ele havia trepado, e houve incontáveis durante as estações passadas em diferentes cortes, tinham sido do mesmo tipo: belezas requintadas, bem versadas nas artes da sedução e diplomacia. Todas o tinham caçado, e ele não tinha demorado seu olhar sobre um rosto bonito ou sorrido mais do que uma vez para tê-las em sua cama.

 Nunca teve uma mulher que expelisse fogo e chispas, e procurasse evitar suas atenções. Nenhuma o tinha desafiado. Nenhuma única mulher jamais penetrou o muro que ele havia construído em torno de seus sentimentos. Mas de alguma forma, desde aquele primeiro momento, quando imaginou vê-la ferida, em pedaços, Bettina conseguiu isso.

 Por tantas estações, ele repetiu os poemas de amor, sobre uma única flecha do Cupido derrubando um homem, e nunca tinha acreditado numa palavra do que pronunciou. Era simplesmente um meio para seduzir, nada mais. Pego em sua própria armadilha, Njal o Pacificador, estava pronto e disposto a matar, se precipitando para a guerra para manter sua esposa segura.

 Quando ele parou na frente da porta do quarto principal, Njal hesitou, pois não tinha nenhum plano, nenhuma estratégia a seguir. As dobradiças rangeram.

 — Como você sabia que eu estava aqui?

 A pele impecável e cremosa de Bettina ruborizou-se. Os cantos de seus lábios curvaram-se quando ela ergueu o queixo e encontrou o seu olhar sem vacilar ou mover-se.

 — Deixei a porta aberta um pouquinho e esperei. Senti o cheiro de seu sabão.

 Ela mostrou a porta e deu um passo atrás, os dedos debaixo da bainha do vestido cor de esmeralda que caia até os tornozelos. 

— Eu ofereço minhas boas-vindas, meu senhor.

 Seus olhos, escuros e insondáveis, tão grandes que pareciam saltar de seu rosto, o encararam. 

— Você se machucou, meu senhor?

 — Não, Bettina. — Njal entrou na sala e fechou a porta antes de virar-se para sua esposa. Foi como se um punho gigante machucassem suas costelas, porque ela parecia tão perdida, torcendo as mãos, olhando para o chão, traçando um sulco na pedra com um dedo do pé cor-de-rosa, os lábios franzidos como se procurasse, mas não conseguisse encontrar palavras. Ele não gostava de vê-la incerta e cautelosa, então enquadrou seu rosto com as mãos, beijou a ponta do seu nariz, e passou o dedo sobre a boca trêmula. 

— Eu tenho...

 Bettina colocou as mãos sobre os lábios dele. 

— Eu tenho muito a dizer. Tenho minhas calças, a besta, aljava, e flechas prontas para você queimar, Njal.

 Sentiu um aperto no peito, quando sua voz vacilou. Ele tentou falar e a pressão dos dedos delicados sobre sua boca aumentou.

 — Eu fiz como você mandou e pensei muito. Foi muito errado me pôr em perigo e a Mama, Brock, Luca, e todos no castelo. Foi particularmente errado matar os leitões na manhã seguinte ao casamento. Eu desonrei você. Você é um viking e eu sei bem que um viking saudará Valhalla alegremente para proteger o que é seu...

 Njal esmagou-a contra seu peito. Ele cheirou a essência de avelã de seus cabelos, e enterrou o nariz na seda dos seus cachos.

 — Ah, Bettina, me agrada tanto. Eu realmente sou afortunado por ter recebido uma esposa como você.

 Njal queimou com a necessidade de estar dentro dela, ligar-se a ela mais e mais. Levantando-a do chão, ele a levou para a cama. Despiram um ao outro e, quando ele teve a moça deitada na cama, nua em toda sua glória, os cabelos negros espalhando-se amplamente sobre as almofadas e lençóis brancos, a visão produziu uma onda de ternura imensa.

 — Eu gostaria de ter você entregue a mim nesta noite, esposa, e todas as noites pelo resto de nossas vidas, aqui em nossa cama. — Ele rolou então, e deitou-a em cima dele— Eu gostaria que você me desse o devido respeito em público, mas aqui, em nosso quarto, e quando estamos a sós, não quero nada além da minha apaixonada esposa guerreira. A mulher que solta fogo pelos olhos, porque seu marido, tolo guerreiro que é, chamou-a de uma simples moça do campo. A mulher que quando ganha na Raposa e Ganso oferece voltar dois gansos em troca de sua recompensa de beijos e muito mais.

 Por Odin! Ele adorava a maneira como todos os seus pensamentos transpareciam em seu rosto. O aumento ligeiro dos seus olhos e a elevação acentuada de suas sobrancelhas quando ouviu as palavras esposa guerreira. Sua boca se curvou quando ele a descreveu soltando fogo pelos olhos, de modo que Bettina não conseguiu conter o sorriso aberto e o olhar malicioso quando Njal falou do jogo da Raposa e Gansos.

 Ela piscou, a sombra escura de seus cílios tocando levemente a pele cremosa. Levantando a cabeça, Bettina olhou para ele pelo canto dos olhos. 

— E você vai queimar minhas calças, meu arco e as armas?

 Ele soube, então, que iria ganhar poucas discussões com sua esposa. A certeza disto o fez sorrir.  Esta seria sua estratégia naquele casamento: ganhar apenas as batalhas cruciais para manter a segurança de Bettina.

 — Não, docinho. Não, se você me prometer caçar só na minha presença.

 O lindo sorriso dela deslumbrou seus sentidos, seu pau duplicou de tamanho, mais do que pronto e duro, e suas bolas se crisparam na expectativa do explosivo alívio.

 

 — Agora, esposa, vou terminar tudo o que deixei de fazer.

 Será que um dia Bettina iria se acostumar a tê-lo assim, sua mandíbula, lábios, nariz quase tocando-a? Seu hálito quente respirando em sua boca e formigando a sua pele, até que tudo o que queria era a língua duelando com a dela?

 — Bettina, mostre-me este olhar de sereia mais um momento e meu controle vai se evaporar e vou ter que tomá-la dura e rapidamente. — Suas narinas queimavam e ela ouviu o ranger de seus dentes. — Eu tinha planejado fazer amor por um longo tempo.

 Ela sentia-se como uma tocha pronta para entrar em combustão e mal conseguiu puxar o ar para seus pulmões. 

— Eu imploro por ambos, Njal, minhas partes intimas têm queimado e latejado desde que você me deixou amarrada.

 Ele jogou a cabeça para trás. Suas ondas negras caíram em torno dos tendões de seu grande pescoço. Seus lábios se abriram para mostrar uma fileira branca de dentes. Em sua mente, ela viu um selvagem gato montês, monstruoso, agachado e tenso, à espera.

 — Estou perdido, mulher. — O rugido feroz retumbou e rompeu o silêncio do quarto.

 Suas grandes e quentes mãos agarraram seus quadris e seu grosso pau sondou sua entrada. Ela estava inchada de tão úmida e escorregadia e o som de seus sexos se encontrando foi alto para seus ouvidos. Cravando os calcanhares na palha, ela arqueou-se e enterrou as unhas em seus ombros no primeiro doce momento da penetração, a pressão deliciosa quando suas paredes saudavam a invasão, que agora reconhecia como uma doce tortura.

— Njal.

 — Venha para mim.

 Ele entrou dentro dela e Bettina explodiu como uma estrela cadente, rendendo-se a fricção de seu sexo. Sua boca fechou-se sobre seu seio e Njal sugou longamente, enquanto se chocava contra ela, seus golpes ferozes e selvagens, seu saco batendo em sua carne macia. Ela mordeu a curva do seu pescoço, os dentes afundando sobre a sua pele, sua língua lambendo o sal de seu suor.

 De novo e de novo suas paredes fechavam-se sobre sua grossa ereção, o calor, o martelar duro, e Bettina não sabia mais onde ele começava e onde ela acabava. Levantando uma perna, ele descansou o calcanhar dela em suas costas, enquanto socava em sua boceta, e a fricção tocou num lugar que enviou seu corpo a um frenesi de contrações. Ela gritou o seu nome e desabou.

 Njal continuou a empurrar dentro dela, suas paredes continuavam a tremer e contrair-se em torno de seu pau até as costas dele arquearem-se. Ele rugiu, e, então, enterrou o rosto na curva do seu pescoço.

 Seus urros soaram como um trovão estremecendo o quarto silencioso, e seu peso pressionando as coxas dela profundamente no colchão, o cheiro pungente da união deles, de sua almiscarada virilidade enchendo o seu nariz. Sob as palmas das mãos, ela sentiu os músculos das costas e os tremores em suas nádegas sob seu calcanhar, e deslizou sobre sua coxa grossa.

 Ela ficou à deriva, em uma névoa, preguiçosos pensamentos formando-se e se dissolvendo, não querendo pronunciar palavras no encantamento que tomava conta de sua mente, mantendo à distância tudo o que deveria acontecer. Quando ele tentou levantar a cabeça, ela enroscou os dedos em seus cabelos e acariciou-os.

 — Bettina. — Seus lábios tocaram seu rosto e sua voz profunda vibrou, arrepiando sua nuca.

 Dando um longo suspiro, ela afrouxou o abraço e colocou as mãos em cima de seus largos ombros, incapaz de resistir, alisando o brilho do suor que cobria sua pele.

 — Njal.

 Apoiando o queixo quadrado em seu peito, ele olhou para ela.

— Que tem você, esposa, contra as palavras?

 — Eu não gosto do jeito como você lê meus pensamentos. — Ela franziu o nariz e traçou um pequeno círculo em seu pescoço, maravilhada com a força de seus músculos tensos.

 — Não posso ler seus pensamentos?— Ele rolou, levando-a com ele, fazendo-a ficar deitada sobre o peito, as pernas abertas em torno de seus quadris para manter-se dentro dela, para prolongar a união deles.

 — Não— Ela descansou a bochecha na solidez de seu marido pacificador e girou a ponta de um dedo em torno de alguns fios da penugem castanha que emoldurava seus mamilos.

 — Mas você sabe que eu valorizo a honra acima de tudo. — Ele passava a mão para cima e para baixo em suas costas. — Você sabia que eu não tomaria você à força

 Cobrindo uma mão com a outra, ela balançou o queixo sobre os nós dos dedos e encontrou seu olhar. 

— Quando você tirou aquele javali de cima de mim, naquele momento, quando eu olhei em seus olhos, eu pensei que o conhecesse por toda a minha vida. Será O Pacificador um mágico?

 Irritada por ele ter lido seus pensamentos, Bettina tirou seu olhar do dele.

 Os dedos de Njal emolduraram seu rosto. 

— Pensa que é a única que sente isso? Não. Foi mágico. É mágico entre nós. Você acredita? Realmente acredita em mim?

 Certamente um duende invisível tinha apertado sua garganta, pois ela só conseguia balançar a cabeça e piscar, tentando afastar as frágeis lágrimas que ameaçavam sair.

 — Agora, esposa, nós precisamos trabalhar a confiança. Você está comigo?

 Ele começou a deslizar para fora dela, e Bettina agarrou seus quadris, temendo perder a conexão física, deixar a discussão arruinar a trégua palpável entre eles.

 — Fique à vontade, docinho. — Seu sorriso mal intencionado fez seu ventre latejar novamente. — É só um momento de descanso, meu vigoroso companheiro tem muitas escaramuças planejadas para hoje.

 Ela olhou para o membro molhado e seu queixo caiu, porque seu pau cresceu e se contorceu. Um sorriso curvou a boca de seu marido e ele piscou, malicioso. Naquele momento, ela se perdeu. Quando Njal ficava assim, as sobrancelhas arqueadas numa sugestão lasciva, a safira dos seus olhos brilhando, suas covinhas suavizando as linhas agressivas de seu rosto, ele poderia proclamar a vitória, dominá-la, e ela se renderia sem a mínima vacilação.

 — Parece-me que você prefere perder para ganhar— ela acusou depois de fazerem amor várias vezes novamente.

 A luz do alvorecer brincava com as persianas.

 Njal arrancou um ganso amarelo do tabuleiro de jogo e apoiou-o na palma da mão.

 — Eu desafio você a encontrar um dos meus gansos perdidos nesta noite. Foi você quem pediu misericórdia, momentos antes.

 Ela golpeou seu ombro.

 — Eu me referia a Raposa e Ganso. Você perdeu todos os jogos.

 — E ganhei seu prazer muitas vezes. — Ele beliscou o nariz dela.

 Era verdadeiramente mágico, nunca ela teria descrito assim. Eles estavam deitados nus na cama, o tabuleiro de jogo entre eles, conversando e brincando, amando um ao outro quando um olhar tornava-se ardente. Timidez ainda acontecia em momentos inesperados e suas bochechas ainda ardiam quando ele descrevia, com a voz rouca e profunda, como pretendia saborear, lamber ou sugar uma parte do seu corpo tão íntima, e ela chegava a engasgar-se com as sugestões.

 — Nós não falamos sobre as consequências da minha caça. — Ela arrastou-se para sentar e um frio cobriu seus ombros. Bettina puxou uma pele da cama.

 — Não— Njal rolou e arrastou-a em seu colo, o tabuleiro e as peças de jogo caindo no chão. — Sou eu que você deve usar como coberta em nossa cama, esposa.

 Se aconchegando na curva de seu pescoço, ela beijou-lhe a mandíbula, incapaz de resistir à vontade de correr a língua sobre a penugem que tinha crescido durante a noite. A mão dele segurou seu ombro, e ele cutucou o queixo dela com seu. 

— Olhe para mim, esposa.

 Sua voz tinha lhe mostrado muitos homens durante a noite - amante, marido, guerreiro, mestre, companheiro, mas agora o tom mudava e ele tornou-se o pacificador.

 Engoliu em seco e encontrou seu olhar.

 Parecia que uma eternidade se passou, antes que ele falasse. Em cada crepitar e estalar do fogo, seu coração batia cada vez mais forte.

 — Tudo está bem. Eu já resolvi a questão. Vamos partir amanhã para o castelo de Mordred.

 — Mama?— Bettina apertou seu peito, convencida de que se não fizesse isto, seu coração iria escapar de seu corpo. — Njal...

 A decepção tremeluziu no movimento leve de suas narinas, a dissimulação do seu olhar, mas ele não disse nem uma palavra, simplesmente ficou olhando para ela.

 Bettina engoliu o ar em seco. 

— Não. Eu o conheço bem. Você é um viking e ninguém estará desprotejido, enquanto você respirar.

 Suas pálpebras tremeram e seus lindos olhos brilharam. 

— Eu não quero mais ninguém, só você, mulher de guerreiro. Eu não tomaria outra companheira, não treparia com nenhuma outra, não amaria nenhuma outra exceto você.

 Embora ela cerrasse os dentes e piscasse rápido, uma lágrima escapou, depois outra e mais outra, correndo pelo seu rosto. Ela limpou-as. Njal riu e abraçou-a apertado, puxando-a para ele, apertando tão forte que ela estremeceu.

 Ele recuou.

 — Agora eu devo testar a confiança com a qual você acabou de me presentear, Bettina. Nós vamos para Laufsblað Fjllóttr esta tarde. Eu preciso testar suas reações quando Mordred der o banquete ao rei, e eu temo que você não saiba disfarçar seus sentimentos. Assim peço-lhe que acredite que você e tudo que ama não sofrerá nenhum mal... Não peço mais nada de você.

 Ela não hesitou.

 — Será assim.

 

 — O Highlander será um aliado formidável. — Magnus sentou à esquerda de Njal, Bettina à sua direita, Lady Gwen ao lado dela, e Leofric a seguir. — Foi uma escolha sábia.

 — Sim—Njal inspecionou o salão de Laufsblað Fjllóttr, satisfeito com os preparativos.

 Sessenta de seus homens misturavam-se com os de Mordred e os do Rei Máel Coluim. Mais quarenta guerreiros enviados por seu irmão, Ruard, encontravam-se a caminho das terras de Mordred.

 Laufsblað Fjllóttr ostentava uma grande quantidade de ouro, taças e travessas de bronze, e dezenas de tapeçarias trabalhadas. Os bancos esculpidos e mesas mostravam sua riqueza. Luminosas lareiras, três ou mais, aqueciam o salão, mas as chaminés estavam obstruídas e o cheiro de corpos sujos sobrepunha-se sobre o fraco aroma de pinho dos juncos e misturavam-se com o aroma das aves sendo assadas. Os lábios de Njal tremeram: aves e perdizes não eram as carnes que um senhor feudal deveria servir em uma festa para impressionar o rei.

 — Os homens de Mordred eram pagos em moedas, e eles não recebiam desde o início do inverno. — Jarvik inclinou-se sobre Magnus para garantir que a sua voz não fosse ouvida. — Brock e Fordor relataram que muitos estão dispostos a trocar sua lealdade por um senhor que pague no prazo prometido.

 — Início do inverno. Quando Mordred enviou Darwent à Arbroath. É como eu esperava. — Njal espiou o Rei Máel Coluim espreitar pelas portas de carvalho abertas do castelo. Seu olhar encontrou com o do monarca e ele inclinou a cabeça. O rei falou ao guerreiro ao seu lado.

 Os murmúrios no salão silenciaram-se.

 Mordred aguardava o rei ao pé do tablado, sua forma corpulenta vestida com um manto carmesim adornado com joias.

 Uma procissão de nobres acompanhados de suas esposas seguia atrás do rei. A esposa de Mordred levantou-se, assim como todas as mulheres na mesa alta. Todos os homens levantaram-se e esperaram pacientemente que as mulheres descessem as escadas.

 — Vai sair agora?— A mão de Magnus tocou seu braço e ele amaldiçoou. Era lei que apenas os homens do rei trouxessem armas em banquetes.

 — Sim. Mantenha Mordred distraído. Não o deixe ao lado da minha esposa. — Njal proferiu a ordem por trás de uma taça, seu olhar seguindo Bettina. As senhoras ficaram em frente umas das outras, fizeram reverências, e depois a sala ecoou com saudações femininas, murmúrios de reconhecimento, e conversas. Enquanto isso, Njal deslizou atrás do estrado, silenciosamente através dos corredores vazios, e cortou seu caminho através de uma enorme cozinha onde a confusão reinava.

 Njal camuflava-se com o véu de obscuridade que ele passou anos adquirindo durante as suas estadias em cortes hostis. Ninguém reparou nele cruzando o caminho através dos cantos sombrios, depois passou pela porta aberta da cozinha. Njal parou nas sombras, esperando sua visão se ajustar à escuridão absoluta. Nenhuma estrela brilhava no céu. O cheiro de umidade dominava o lugar, e ele inalou a doçura do ar fresco.

 Hordas se aglomeravam no pátio do castelo Homens, mulheres, guerreiros, cozinheiros, todas as pessoas necessárias para as necessidades da viagem de um monarca. O homem a quem o rei tinha falado momentos antes estava junto com vinte outros guerreiros, perto de uma tenda recém-construída, dando os arremates finais no chão lamacento em meio a muito xingamento e berros.

 — Ele espera por você— o homem murmurou quando Njal deteve-se na porta da tenda.

 Njal curvou-se sob a lona pesada.

 — Pacificador— o Rei Máel Coluim, filho de Cináed do clã Máel Coluim, o homem conhecido como o Rei Kenneth II da Escócia, estava esfregando as mãos no vapor aquecido sobre de um braseiro de latão — Nós nos encontramos de novo.

 — Sua Majestade— Njal curvou-se em um dos joelhos e beijou o anel de ouro no dedo médio do rei. Ele esperou até que o rei tocasse seu ombro antes de se levantar.

 — Seja rápido, Pacificador.

 — Majestade, o Rei Cnut, O Grande, me ordenou entregar esta mensagem. — Njal puxou o pergaminho do bolso no forro de sua capa, inclinando a cabeça, e ofereceu-o ao monarca.

 Ao contrário de muitos reis escoceses, Máel Coluim lia e escrevia e não tinha necessidade de escribas para traduzir. O rei lançou-lhe um olhar analisando-o, mas Njal manteve as pálpebras baixas, e estudou os pés do homem. No principio de seus dias como negociador, ele havia descoberto o truque de olhar pelo canto dos olhos, e estudou as sombras sobre a tenda, enquanto o monarca lia a mensagem do Rei Cnut.

 Apesar de Magnus ter dito que Cnut concordava com os planos de Njal, ele tinha aprendido a não confiar nas traduções do que era falado preferindo as palavras. Prendeu a respiração, sabendo que uma má interpretação tinha frequentemente acabado com as boas intenções de forma muito veloz.

 A sombra do perfil do rei inclinou-se na direção de Njal, e ele manteve seu rosto rígido e sem expressão, não mexendo um dedo, nenhum músculo.

 — Eu vejo a sua mão nesta missiva, pacificador.

 — Mordred viajou por duas vezes para Moray no meio da primavera e no festival de Samhain, no inicio do inverno. Seus cofres, muito reabastecidos diante do esgotamento das riquezas de Arbroath, ficaram vazios naquele momento. Seus homens não viram uma única moeda desde então. — Njal manteve respeitosamente seus olhos baixos, nunca ultrapassando o peito do monarca. Ele soube o momento em que Máel Coluim aceitou sua sutil sugestão de uma aliança entre Mordred e Coemgáin Gillie, o governante do reino de Moray, rival mais perigoso de Máel Coluim ao trono.

 — Olhe para mim, Pacificador.

 Foi só então que Njal encontrou o olhar do monarca.

 —Concordamos com a aliança com uma condição. Descontinuidade da linhagem que agora detém Laufsblað Fjllóttr. Quando tudo estiver feito, nós vamos considerar sua orientação quanto a tirar o castelo e as terras de Mordred.

 O rei queria Mordred e seus parentes mortos. Njal reprimiu um suspiro aliviado; Era o resultado que ele desejava.

— Obrigado, Sua Majestade.

 Njal conseguiu voltar para o salão principal antes que as mulheres retomassem seus assentos na mesa alta. Bettina e Lady Gwen e várias mulheres de nobres e suas filhas, guardadas por Leofric, Magnus, Jarvik, e vários de seus homens, estavam conversando no canto leste do salão.

 Magnus encontrou seu olhar e arqueou uma sobrancelha.

 Njal inclinou a cabeça.

 Bettina presenteou-lhe com um sorriso deslumbrante quando ele a ajudou a subir os degraus da mesa alta. O vestido de gola alta que ela usava ondulava em torno de suas pernas. Era uma repetição de sua festa de casamento. Ele saboreou cada toque furtivo, repousando a mão sobre sua coxa, provocando os lábios com pedaços suculentos de carne, e sussurrando seus planos para o seu regresso no dia seguinte.

 Quando a refeição terminou, o rubor dançava em suas bochechas e ele estava tão distraído pela inclinação maliciosa da boca de sua esposa, que quando o padre apareceu no pé da mesa não percebeu sua presença.

 — Tem alguma coisa errada?— Bettina tocou seu ombro.

 — Não, minha senhora. — Debaixo da mesa, ele apertou a mão dela na sua.

 Mordred ergueu-se, uma mão sobre a mesa, o olhar fixo no monarca.

 O Rei Máel Coluim estava de pé.

 O silêncio varreu o grande salão até que os únicos sons que se ouviam eram das chamas que crepitavam nas lareiras, faíscas explodiam e o fluxo e rugido das chamas imitou o ritmo das ondas quebrando na areia.

 — Nesta noite, dois grandes reis se tornaram aliados e duas grandes linhagens se unem. Daremos a mão de Lady Gwen de Arbroath para Leofric, o Leão, conde de Berna Umbria.

 Njal sorriu com o suspiro de Bettina.

 Sussurros e murmúrios frenéticos correram o salão e Mordred emitiu um rugido engasgado.

 Lady Gwen segurou o ombro de sua filha e sussurrou em seu ouvido.

 Leofric, O Leão se lançou a seus pés e ofereceu a Lady Gwen seu braço.

 Bettina voltou-se para encará-la.

 — Mama?— Ela não expressou a verdadeira pergunta, mas Njal soube que ela precisava da certeza da concordância de sua mãe.

 — Não é surpresa para a senhora sua mãe. Era a minha sugestão e a de Leofric, mas a escolha é dela. — Njal apertou os dedos dela.

 Os lábios de rubi de Bettina se separaram para revelar os dentes brancos, mas Njal sentiu-se ofuscado pelo brilho de seus olhos, o brilho de lágrimas cintilando à luz de tochas tremeluzentes da sala.

 — Njal.

 Ela parou de falar quando ele apertou a mão dela novamente.

 Njal sinalizou a Luca, que correu para a parte de trás do palanque e puxou a manga de Bettina.

 — Luca?— Ela franziu a testa quando ele colocou um buquê em seu colo. — Para Lady Gwen dos homens de fortaleza.

 Uma lágrima escapou-lhe dos olhos e rolou pelo seu rosto. Bettina beijou a bochecha de Luca.

 — Dê a ela. Irá agradá-la muito.

 A cerimônia e os discursos seguiram a passos lentos, Njal, consciente do pouco sucesso de Bettina na tentativa de sufocar os soluços e um pigarrear freqüente da garganta, parecendo saborear a derrota Mordred. Enquanto esperavam o rei e sua comitiva saírem, voltou-se e se inclinou para o lado. Indiferente a tudo que via, ele a puxou apertado contra ele, e colocou o braço sobre seu ombro. Se não fosse por estar em território inimigo, ele a teria levado para a cama no minuto em que Lady Gwen e Leofric saissem do salão.

 Ela não manifestou um único protesto, jamais hesitou um único passo, quando ele a levou pela entrada principal do castelo. Nenhuma vez sua esposa questionou o seu destino durante a curta viagem sobre a ponte levadiça. Foi só depois que ele segurou a porta da tenda que seus homens haviam erguido sobre uma colina sem árvores, que Bettina falou.

 — Eu te dou meu coração, Njal. E toda a minha confiança. Eu jamais poderei agradecer o suficiente pelo que fez esta noite.

Tendo o cuidado de esconder seu desapontamento porque ela ainda não podia dizer as três palavras que ele ansiava, Njal procurou persuadi-la com sua língua, seus lábios, suas mãos, e um gentil e terno amor. Sua resposta apaixonada disparou sua excitação mais rápido do que ele planejava.

 Njal tinha ordenado que se colocassem peles extras sobre a cama, tendo em mente a terra fria, mas descobriu que preferia aquecer o corpo dela com o seu, em vez de deixar sua carne sentir qualquer frio. Parecia exausta. Mas ele ainda estava preocupado, muito tempo depois que ela tinha sucumbido ao sono. Por que ela não tinha respondido com uma pergunta atrás da outra como era seu costume?

 Sua mente se recusava à ceder ao sono. Ele enterrou o nariz em seu cabelo e absorveu a fragrância de avelã profundamente em seus pulmões, saboreando o calor e a seda da sua pele. Bettina nunca tinha se separado de sua mãe e ele sabia como ela se sentia protetora em relação a Lady Gwen. Ele achava que Bettina ficaria muito feliz sabendo que lady Gwen residiria perto, a apenas meio dia de viagem.

 O que havia de errado? O que mais preocupava a sua esposa?

 

 A semana tinha passado e Bettina havia se encarregado do Castelo de Arbroath. Concentrou-se em restaurar o castelo e recuperar sua antiga glória. Njal proveu o dinheiro para todos os reparos necessários e um zumbido constante de comerciantes e trabalhadores se aglomeravam no castelo.

 Carpinteiros vieram e se foram, levando mesas e bancos desgastados, e retornando com móveis brilhantes sem sulcos ou manchas. Homens e mulheres lavaram, espalhando o cheiro da soda cáustica usada para limpar a fuligem dos pisos de pedra. Cada dia mais um novo pedaço da parede do grande salão estava rebocada e caiada. O barulho de martelos, com um tamborilar constante, e logo o telhado e vazamentos dos caibros desapareceram.

 Njal saia de manhã e voltava bem depois do sol desaparecer, a tempo de comparecer a refeição da noite. Bettina já não caçava. A carne, de todos os tipos de javali, veado, até mesmo um ocasional leitão chegavam a intervalos regulares. Como se aproximava o inverno, as mulheres entraram em um turbilhão de atividades, salgando carnes, fazendo legumes em conservas, e frasco após frasco de geleias e compotas.

 As brincadeiras da cama enchiam as suas noites.

 Frequentemente eles só paravam de se amar quando o amanhecer dominava o céu.

 Com os dias passando, Njal parecia preocupado, pois suas trepadas diminuíram até limitar-se a uma vez por noite. É verdade que o excesso de trabalho no castelo cansava-a mais do que o normal, mas Bettina sabia que parte de sua exaustão era porque não mais podia passar o tempo nas florestas, sentindo o vento e o sol no rosto. Nao tinha mais tempo para passear e refletir sobre si mesma.

 Njal proibiu-a de deixar o castelo sem uma considerável guarda em seu encalço, e ela preferiu não se aventurar para não ter que lidar com os guerreiros, que lhe ordenavam onde andar, onde pular, onde deveria pisar perto do rio, ou sugeriam que não caminhasse muito perto do precipício. Em suas conversas na cama, Bettina sabia que Njal trabalhava de sol a sol para melhorar as fazendas, a aldeia, e suas defesas. Ela sentiu que aquilo era bem mais do que faria um senhor por suas terras, mas recusou-se a crivá-lo de perguntas. Era hora de aceitar o seu destino na vida como uma mulher, por isso, cada dia que passava, sua frustração crescia cada vez mais.

 E ela sentia falta de Mama.

 Algumas manhãs, ia para o terceiro andar e vestia-se com as calças, túnica e botas, e caminhava até a janela, olhando na direção das terras de Berna Umbria. Tentação, seu pior inimigo, tornou-se uma enorme cobra, crescendo dentro de sua cabeça. Seria uma viagem de meia manhã, se não menos, a cavalo até Berna Umbria, veria sua Mama, e em tudo ficaria bem. Se não fosse pelo fato de Njal sempre deixar um de seus irmãos no castelo, ela teria visitado Mama no primeiro dia.

 Njal visitava Leofric pelo menos uma vez por semana, retornando com uma missiva de Mama. Bettina escrevia também, respeitosamente dava os pergaminhos ao seu marido para que os entregasse, mas se irritava com essas restrições.

 — Tenho uma boa notícia, esposa—. Njal se virou para ela na mesa alta à medida que terminava seu jejum.

 Bettina, mastigando um pedaço de pão, arqueou as sobrancelhas.

 Ele riu. 

— E pensar que, na noite em que nos casamos, eu rezei para que você tivesse boas maneiras à mesa. Agora, descubro que os seus delicados hábitos alimentares poderiam fazer a Rainha Emma parecer um bárbaro. Esta manhã Magnus e eu cavalgaremos para a costa. Temos agora um rebanho de gado, quarenta carneiros, e nós temos negociado com Valan, o chefe Highlander, para adquirir um Haras.

 — É uma notícia maravilhosa, Njal. — Bettina estendeu a mão para uma taça, a mente agitada. — Eu tenho ouvido falar dos cavalos malhados dos Highlanders. Que teremos quarenta deles aqui em Arbroath para reprodução. É realmente uma proeza. Você já cavalgou num animal destes? Disseram que eles são mais rápidos que um veado, e ainda pode carregar um cavaleiro com uma armadura como se fosse uma criança.

 — Minha esposa guerreira renasceu. — Ele sorriu, piscou, e torceu seu nariz, quase derramando o liquido da taça que estava em sua mão.— Uma mulher comum pensaria na manteiga, doces frescos, leite batido ou creme de leite, ou talvez nas peças de vestuário a serem tecidas com a lã de ovelha. Mas não, não minha esposa. Ela pensa na caça.

 Se a taça fosse de vidro, ao invés de bronze, a base teria quebrado, o temperamento de Bettina explodiu em um turbilhão.

 — Talvez você devesse ter tomado uma esposa da corte, então, meu senhor.

 — Bettina, doce irmã...

 Ela levantou-se. 

— Por favor, desculpe-me, Lord Jarvik, Lord Magnus, senhor meu marido, porque hoje eu tenho muitos deveres de mulher para executar.

 Praticamente jogou a taça sobre a mesa, indiferente à cerveja derramando-se quando esta caiu. Bettina virou-se e disparou para a cozinha. As criadas, cozinheiras, e os meninos da cozinha deram-lhe um amplo espaço enquanto ela jogava sua raiva sobre a sujeira incrustada na panela de ferro fundido. O trovejar de cascos afogou a voz dela antes que ela pudesse terminar o planejamento da refeição da noite com a cozinheira do castelo.

 Bettina saiu para o pátio, e surpreendeu-se pelo calor do dia de primavera. Levantou o rosto para o sol e desejou estar montada em um cavalo, galopando através da floresta, escutando o canto dos pássaros, inalando o cheiro dos pinheiros e da terra, das folhas esmagadas quando ela galopava através das árvores.

 Seu caminhar levou-a para os estábulos e ela parou na porta, surpresa. Mesmo tendo um bom número de cavalos nas baias, os três garanhões pertencentes à Njal e seus irmãos não estavam ali.

 A irresistível tentação estava acenando para ela. 

Uma rápida visita a Mama? Quem sabe?

 Afastando as intermináveis advertências de Njal sobre não deixar o castelo sozinha, ela voou para o seu quarto no terceiro andar. Minutos depois, armada e vestida para montar, ela entrou nos estábulos, selou sua montaria, e galopou por todo o campo até alcançar a cobertura da floresta.

 Era um dia glorioso, o vento agitado, o calor do sol penetrando no ar gelado. Ela se inclinou para frente e incitou seu cavalo ao galope veloz. Em menos de uma hora, chegou ao limite dos campos entre Berna Umbria e Arbroath. Seu coração batia acelerado, sua excitação para ver sua mãe quase incontrolável, mas ela puxou as rédeas e retardou o galope, saboreando a vista diante dela.

 Cotovias do campo planavam acima de um bosque cor de esmeralda, cheio de pinheiros exuberantes. Ramos de trigo maduro baixava à grama e balançavam, uma brisa fresca varrendo o campo. À distância, viu os troncos retorcidos dos carvalhos demarcando a fronteira entre as duas propriedades.

Mama é feliz com Leofric?

 Bettina lembrou o que a mãe tinha sussurrado em seu ouvido na noite do banquete que Mordred deu ao rei. 

É a minha escolha, criança.

 Ela devia estar feliz.

 O sol brilhava, cheio e cintilante. Ramos da colheita tardia refletiam, cintilavam, subiam e desciam em uma dança furiosa quando o vento forte os agitou. O cavalo de Bettina hesitou, pulou, sacudiu a cabeça e relinchou num protesto por sua parada momentânea.

 Por uma semana ela tentou ser a esposa que Njal merecia, mas sua natureza rebelde prevaleceu. Perdida em seus pensamentos, ela não percebeu um bando de pardais levantando voo do abrigo das árvores, nem as cotovias subitamente grasnando no prado.

 — Bem nos encontramos, Bettina.

 Seu estômago pareceu saltar para sua garganta. Bettina apertou os joelhos no cavalo para fazê-lo voltar-se. O medo serpenteou por sua espinha, provocando arrepios em seus ombros quando seu olhar caiu sobre o mensageiro: Hal, O Arauto, vestindo cota de malha, e armado com espada, punhais, e a besta.

 Por que Hal está aqui?

 Ela não sabia de quem gostava menos, se de seu tio postiço Mordred, ou seu filho, Hal.

 Ciente de conselhos de Njal para agir como uma esposa gentil, ela colocou um sorriso no rosto. 

— Bom dia, Lord Hal. O que faz aqui?

 — Eu pergunto o mesmo, Bettina.

 Suas mãos coçaram para golpear a expressão presunçosa de seu rosto. Antes que ela pudesse pronunciar uma resposta educada, mas contundente, o som de cascos trovejantes capturou sua atenção. Bettina torceu-se para ver por cima do corpanzil de Hal, e sentiu um frio no estômago quando vislumbrou uma dúzia ou mais de homens armados galopando em sua direção. Apertou as rédeas em suas mãos.

 — Você deveria ser minha, minha para domar, Bettina. — Hal olhou para seus seios. — Deveria ter sido o meu pau rompendo sua virgindade. Você irá se arrepender por me tirar este prazer.

 Seu coração parecia bater mais e mais alto em seus ouvidos. Bettina examinou a extensão da campina. Sua mão pegou a besta amarrada à sela, mas ela hesitou por um momento muito longo.

 Os guerreiros formaram um círculo em torno dela e Hal, seus cavalos ofegantes e bufando, cascos batendo como se os cavalos protestassem contra a parada repentina. Ela arriscou um olhar rápido, mas não reconheceu um único rosto.

 Mercenários.

 Nada mais havia a fazer senão tentar uma bravata. 

— Você irá me escoltar até a propriedade de Lord Leofric? Como é charmoso e galante, Lord Hal.

 — Desça-a, amarre-a e jogue-a sobre o cavalo— Hal descobriu seus dentes manchados e lascados em um sorriso sinistro. — Seu Pacificador não existe mais. Hoje, meu pai e eu, e uma legião de homens de Moray, prenderemos você e Lady Gwen. Ambas ficarão viúvas em um dia. E ambas se casarão no próximo.

 Ela tinha uma faca em sua bota e preferia afundar a lâmina afiada em seu coração do que ter as mãos de Hal sobre ela. Bettina manteve sua expressão rígida e não lutou quando os homens arrastaram-na do cavalo.

 Njal não pode estar morto.

 Ela fechou os olhos e implorou ao Senhor para levá-la no lugar dele.

 

 — Como assim? Você não a viu?— Njal rugiu.

 —Foi você quem disse que a promessa dela a manteria no castelo. — Jarvik passou a mão pelos cabelos. — Eu estive fora apenas por um momento. Você queria que abandonasse Luca?

 Njal balançou a cabeça, tentando dissipar seu pânico crescente, e montou seu corcel de batalha.

 —Não. Você tinha que libertar o rapaz da roda. Sua perna?

 — Quebrada, mas ficará boa. — Jarvik montou em seu cavalo, sacudindo as rédeas, enquanto esperava Magnus ficar pronto. — Um menino do estábulo a viu indo para a floresta ao leste. Ela viajou para Berna Umbria.

 — Para Lady Gwen. Sim.  Não foi coincidência nós não acharmos Hal O Arauto, em Laufsblað Fjllóttr. — Njal cavou os calcanhares nos flancos do cavalo no momento em que Magnus enfiou as botas nos estribos. — Ele vai morrer hoje.

 — Petalia traiu Bettina. —Magnus andava ao lado de Njal. — É a mesma coisa no campo ou na corte. Criadas são enganadas por jovens nobres para trair suas senhoras. Nunca vou entender como uma mulher poder ser tão tola em pensar que um senhor se casaria com uma criada. Os homens se casam pelas terras, e que terras uma criada possui?

 — Esqueça, Magnus. Eu quero a minha mulher segura e bem.— Njal não acrescentou mas pensou: nua e amarrada a uma cama, nunca se aventuraria sem ele novamente em sua vida. Orou para Odin que ela não tivesse sido estuprada ou ferida. Hal, O Arauto, se assemelharia a Hal o ganso castrado, antes de dar o seu último suspiro. Njal cerrou o maxilar.

 Eles pararam a marcha no limite do campo. Era óbvio que Hal e os seus homens tinham encontrado Bettina alí. Um exame rápido das pegadas, da grama pisoteada, e descobriram o destino do sequestrador.

 —Eles estão indo para o litoral. Você acha que ele tem um navio?

 Njal encarou Jarvik.

 — Eles fizeram uma aliança com Moray. Sim.

 Sem mais palavras, os irmãos voltaram-se para o leste e instigaram seus cavalos num galope furioso. Uma névoa densa lutava com as nuvens negras que bloqueavam o sol, enquanto eles cavalgavam por florestas sombrias.

 O bosque de pinheiros estreitou-se para revelar um amplo campo gramado. Momentos antes de o céu desabar, tudo ficou silencioso. A tempestade explodiu com uma cacofonia de trovões, relâmpagos, e rugiu despejando a chuva pesada e grossa, as gotas castigando sua pele.

 Incapazes de manter o ritmo acelerado, eles conduziram as montarias num trote mais lento. A cortina de chuva permitia apenas a visão a uma distancia curta, e a torrente do dilúvio que caia abafava todos os outros sons.

 Incapaz de fazer qualquer outra coisa, ele pensava em como Hal encontraria sua morte. Njal não percebeu quando Magnus freou seu corcel e proferiu uma maldição por cima dos ombros. Foi o grito de seu irmão que afastou Njal de suas divagações sombrias. Ele olhou para cima e esquadrinhou o horizonte.

 Jarvik ficou ao lado de Njal e apontou para a esquerda.

— É um chalé?

 — Sim. E uma dúzia de cavalos ou mais amarrados no abrigo.

 — Estamos há apenas um quilômetro da aldeia na costa. — Magnus estudou a cabana. — Se eu fosse Hal, teria seguido com Bettina. Seus homens são mercenários. Eles podem ter se recusado a continuar. Talvez, fosse melhor nos separarmos ?

 — Magnus, conhece algum capitão de navio que se lançaria ao mar nesta tempestade? Independente de quantas moedas se ofereça, eu não acredito que exista— Njal inspecionou a cobertura de palha da cabana, os galhos das árvores penduradas acima dela. —Ela está aqui. Eles acenderam uma fogueira. Sinto o cheiro de turfa queimando.

 — Sim. Njal está certo, irmão. Eu posso ver o brilho das toras através dos buracos na palha. — Jarvik protegeu os olhos da chuva constante.

 — Eles estarão reunidos ao redor do fogo, e se estivermos com sorte, quase bêbados. — Njal gesticulou. — Vocês dois, guardem uma janela e a porta. Vou tomar o telhado. Para a porta e a janela, eles vão se preparar, mas não o teto.

 — Queremos alguém vivo?— Jarvik apontou sua espada.

 — Não. Eles são mercenários. — Njal puxou as rédeas e virando seu garanhão anunciou— Hal é meu.

 Mesmo com a chuva constante, Njal viu claramente os seus dois irmãos revirando os olhos e balançando a cabeça. Ele aguardava com expectativa o dia em que cada um reivindicasse uma mulher, só então eles iriam entender sua necessidade de vingança.

 A emboscada ocorreu como o planejado. Todos os homens, salvo Hal, morreram com um único golpe de espada. Njal descobriu uma ferida e irritada Bettina, amarrada e amordaçada em um banco baixo. Ele mandou Magnus libertá-la e cobri-la, antes de cutucar um Hal ferido. Embora ele quisesse matar o homem de uma vez, esperou Hal confessar que ainda não tinha contratado um capitão de navio e que não tinha outros guerreiros seguindo-o. Njal estripou-o, e deixou-o para morrer.

 O cobertor disponível fedia, mas estava seco e iria manter a chuva longe da pele de sua esposa. Ele envolveu-a na lã mofada, instalou-a em seu colo, e cavalgou para Arbroath.

 Njal tinha ficado bem satisfeito quando eles terminaram o balneário há três dias, e ele e seus irmãos tinham gasto cada noite testando-o, e fazendo pequenas alterações. O agricultor Fordor tinha localizado as pedras lisas necessárias para o aquecimento do lugar e Jarvik havia negociado na costa os óleos perfumados utilizados para as massagens.

 Ele levou sua esposa para lá, depois de pedir a Jarvik que enviasse roupas para ambos, alimentos e bebidas. Njal não tinha intenção de deixar a estrutura de pedra, que foi erguida a um quilômetro de Arbroath, até que tivessem conversado e feito amor até a exaustão.

 — O que é isso?— Bettina jogou longe o cobertor com cheiro azedo e olhou em volta. — É o balneário do qual Jarvik falou?

 — Seu nariz está azul e você está tremendo como um galho em uma tempestade. — Njal desamarrou sua túnica.

 — Você está com raiva, eu sei, e com razão. — Ela levantou os braços para que ele pudesse puxar a túnica sobre sua cabeça. Quando ele ajoelhou-se para ajudá-la a tirar as botas, Bettina descansou as palmas das mãos em seus ombros.

 — Não. Não estou bravo. Estou furioso.— Ele jogou as botas para um canto, desamarrou a corda da calça, e pegou Bettina no colo enquanto ela tentava afastar as calças de seus pés. — Você está ferida?

 — Não. Njal— Ela tremeu e parou de falar quando ele entrou na piscina fumegante — Oh. É tão divinamente quente.

 Quando ela se empurrou para longe dele, os braços dele automaticamente apertaram-na, mas Bettina escorregou e mergulhou. Ele sabia que ela nadava como um peixe, mas prendeu a respiração e não moveu um músculo, não deixou seu olhar vacilar, até que ela emergiu, braços estendidos e respingos de água em toda parte.

 — Prometo que nunca mais vou usar aquela banheira apertada novamente. — Ela jogou os braços ao redor de sua cintura. — Vocês devem ensinar Leofric como construir isso. Eu juro que Mama irá desmaiar de felicidade.

 Sua guerreira estava de volta.

 Confuso, ele sorriu, e certamente parecia um idiota de pé, vestido com armadura e botas.

 — Njal. — Ela golpeou seu ombro.— Sua cota de malha ficará arruinada. Temos que tirá-la. Vou ajudá-lo. Mas você é muito alto.

 E ela parecia tão pequena e tão preciosa.

 — Ali— Ela apontou para uma pedra baixa cuja superfície subia acima da água. — Sente-se.

 Ele obedeceu a sua ordem e Bettina ajoelhou-se para desamarrar as botas.

 — Eu tentei. Verdadeiramente. Mais de uma semana se passou e eu não fiz uma única pergunta. Eu esperei e esperei. E esperei mais—Puxando a bota, ela olhou para ele. — Eu não posso ser assim. — Ela jogou a bota na terra batida e começou a trabalhar na outra. — Sou apenas a garota do campo que você não pode levar a corte. Porque não tenho paciência quando quero saber uma coisa e não posso perguntar.

 A boca dele curvou-se quando ela jogou a outra bota e seus lindos lábios se contraíram.

 — Não quero viver em um mosteiro ou convento. — Ela deslizou entre suas coxas e tocou em sua cota. Seu cabelo cheirava a avelã misturada com um aroma azedo — Eu quero um bebê, talvez não uma menina. Um filho ou alguns filhos.

 Ele não aguentou mais, e arrastou-a em seu colo e segurou seu queixo. 

— Você vai ser sempre do contra, esposa? Pois eu acho que anseio por uma bebê guerreira. Aquela que vai me fazer arrancar os cabelos, me preocupar até levar-me a uma morte prematura, e ser tão espirituosa, inteligente e tão ferozmente adorável como sua mãe.

 Seu estômago contraiu-se quando as lágrimas de sua esposa começaram a correr pelo rosto, formando linhas sobre a lama que ainda cobria sua pele.

— Eu acredito que o amei desde o início. Não é fácil dizer as palavras.

 — É mais fácil a cada palavra. Eu te amo, esposa guerreira, e quero você exatamente como é.  Me encha de perguntas, se enfureça comigo, me desafie. — Ele beijou seu nariz. — Agora, esposa, eu preciso estar dentro de você. —ela tirou o resto de suas roupas e em um momento, eles nadavam nus e limpos na pequena piscina aquecida.

 — Venha— Ele apontou com o dedo para a rocha onde tinha se sentado. — Sente-se.

 — Mas eu não tenho roupas para tirar— protestou ela, mas continuou subindo na pedra.

 — Ah, mas eu não pretendo despi-la, mas satisfazer a minha fome. — Ele ajudou-a a deitar sobre a superfície plana e cutucou as coxas separando-as. Sentiu a respiração presa quando observou seu malicioso meio sorriso que falava de prazer. Acariciando sua barriga, passando as pontas dos dedos suavemente sobre a sua carne macia e molhada, ele observou a mudança em sua expressão.

 Então, Njal caiu de joelhos e banqueteou o seu olhar sobre suas dobras, inalado o cheiro de seu sexo, antes de tocar seu clitóris. Ela suspirou e gritou seu nome quando sua boca fechou-se sobre ele. Ela tinha gosto de mel, creme e especiarias, e encontrou o prazer no momento em que seu marido enfiou a língua em seu centro, fechando as coxas em torno de sua cabeça.

 Por Odin! Ele não podia ter o suficiente de sua boceta, enterrando o nariz em suas dobras, lambendo seu suco, inalando seu cheiro de mulher, e ficando bêbado com o gosto dela. Ela gozou de novo e de novo, e começou a suplicar. 

— Njal, por favor, eu imploro. Preencha-me.

 Puxando seu cabelo, ela tentou atraí-lo até o seu corpo. Quando ele resistiu, ela bateu os calcanhares nas costas dele e resmungou:

— Ponha o seu pau dentro de mim, marido.

 Seu controle esvaiu-se, ele caiu de joelhos, cobrindo sua pélvis e foi para dentro dela.

 Sua boceta apoderou-se dele como um torno, sugando a sua carne, pinçando e liberando enquanto ela encontrava o prazer mais uma vez. Sua semente estava ardendo, suas bolas batendo nas dobras, quando ele explodiu dentro dela. O sangue correu para sua virilha. Seu conrole desapareceu, incapaz de conter a explosão crescente, e ele gritou o nome dela quando seu clímax explodiu. Sua semente jorrou e jorrou dentro dela, quentes e contínuas, enquanto sua vagina o ordenhava, apertando e contraindo, mantendo seu pau duro como aço de uma espada.

 Ele mergulhou na água rasa ao lado da rocha, segurando-a para que ela montasse nele, e assim puderam desfrutar melhor os tremores persistentes. Nunca Njal tinha se sentido tão feliz, de tal modo completo, saboreando a maneira como ela o rodeava incapaz de parar de acariciar suas costas, beijar seus ombros, a ponta de sua orelha, mordiscar sua têmpora.

 — Njal. —Ela arrastou um dedo sobre o seu bíceps. — Eu te amo.

 Cada músculo em seu corpo ficou tenso.

 — Eu amo especialmente sua parte masculina.

 — Você disse pau antes. — Seu pau tinha latejado quando a ouviu dizer a palavra antes.

 — Não é uma palavra que uma senhora devesse usar. — Seus dedos deslizaram para baixo e a barriga dele arqueou-se quando a ponta do dedo dela circulou seu umbigo

 — É uma das palavras que uma mulher de guerreiro deveria dizer muitas vezes. — Ele mordeu o ombro dela, depois lambeu.

 Ela afastou-se de seu peito e encontrou seu olhar. 

— Eu acredito, Pacificador, que seu pau ainda não está satisfeito. Por favor, me diga: uma mulher de guerreiro pode chupar o pau de seu marido? Parece-me um justo retorno.

 Tinha amanhecido antes que eles adormecessem, exaustos, a pele muito enrugada por ficar na água, mas Njal tinha cobertores empilhados perto das pedras. Isolados no tecido quente, Bettina deitada sobre a barriga dele, seu pau meio duro dentro dela, ele a beijou na testa e disse:

— Pergunte-me porque eu estava furioso.

 — Porque eu desobedeci você?— Ela franziu o nariz e olhou para ele. — É óbvio.

 — Não. Porque eu exigi o impossível. — Ele sentiu-a tensa e acariciou suas costas até Bettina relaxar —É natural estar ansiosa por sua mãe. Eu deveria ter levado você para vê-la e aplacado a sua preocupação. Em vez de proibir-lhe sair de Arbroath, eu deveria ter explicado que até que Mordred fosse contido, você estaria em perigo. E o mais condenável em minhas ações, eu nunca deveria ter permitido que você não fizesse perguntas.

 Ela descansou o queixo no peito dele. 

— O que está dizendo, Njal?

 — Eu digo que errei. — Ele traçou sua sobrancelha. — Eu digo que nada é proibido entre nós. Eu digo que nós falaremos claramente, e quando brigarmos, conversaremos sobre isso.

 —Se eu soubesse que seria tão agradável me casar com um pacificador, eu teria conversado com mais frequência.

 — Você precisa saber tudo o que aconteceu. — Njal contou-lhe de seu acordo com o Rei Máel Coluim.

 — Foi o que você fez ontem.

 — Sim, mas não sabíamos que Petalia avisou Hal. Não será um erro que repetirei. Você e eu vamos falar com cada um, todos os que vivem no castelo. Se preciso, vamos realizar um juramento formal e uma festa.

 — O que acontecerá com castelo de Mordred?

 — Me Parece que Máel Coluim já decidiu a quem quer presentear com Laufsblað Fjllóttr. — Ele encolheu os ombros — Mas ele pediu minha sugestão.

 — O que você irá dizer?

 

 — Você não manca mais, Luca. — Bettina queria abraçar o menino, mas ele tinha crescido, agora tinha penugem no queixo, e ela evitava qualquer afeto, ou abraços.

 — Sim, minha senhora. — Ele esticou a perna sã para o fogo. — É a sua vez.

 Bettina suspirou. Raposa e Ganso havia se tornado a paixão em Arbroath durante o longo inverno e o castelo agora ostentava mais de uma dezena de tabuleiros do jogo. Ela olhou para as portas quando o som de cascos trovejando sobre as rochas atingiram seus ouvidos.

 Luca balançou seus pés. 

— Devem ser o senhor e seus irmãos.

 Mas foi a mãe dela e Leofric que entraram na sala antes que tivessem terminado o jogo. Bettina jogou os quatro gansos em um balde e correu através do salão para abraçar sua mãe. 

— Mama. Como está?

 Ela recuou para estudar as bochechas coradas de sua mãe. 

— Tudo está bem?

 — Sim—Lady Gwen colocou as duas mãos sobre sua barriga arredondada — O bebê cresce e eu estou sadia.

 Leofric passou os braços em volta da cintura de sua expandida esposa e puxou-a de volta para seu peito.

 — E como você está, filha?

 Gwen tinha quase perdido o bebê por duas vezes e Leofric não tinha deixado-a viajar antes.

 — Estou bem. O que aconteceu? Por que você está aqui?

 Leofric beijou o topo da cabeça de Gwen. 

— Minha mulher insistiu em uma última visita antes de seu repouso. Você acredita que ela queria cavalgar? Ela quer me deixar louco de preocupação.

 — Pah, marido. Pare com isso. Está me deixando louca. — Gwen revirou os olhos. — Viajamos de carreta. Ele dirigiu tão devagar que eu quis gritar. Saímos de madrugada. É meio-dia!

 Suprimindo um sorriso ao perceber que a viagem durou três vezes mais que o tempo normal, Bettina disse:

— Seu velho quarto está preparado. Por favor, passem pelo menos esta noite conosco. Njal irá querer falar com você sobre os tratados, quando retornar, e eu não a vejo há muito tempo, Mama.

 Leofric balançou a cabeça. 

— Ficaremos três dias em Arbroath, não mais.

 — Quem chegou a cavalo, se veio de carreta?— Bettina olhou para a porta.

 — Seu marido e seus irmãos galoparam para os estábulos antes entramos no castelo. — Mama apertou a parte baixa de suas costas.

 Leofric grunhiu, pegou-a nos braços, e caminhou até uma cadeira em frente ao fogo.

 — Pelo amor do Senhor, Leofric, estou carregando uma criança. Eu não perdi o uso de minhas pernas.

 — Suas costas doem. Você vai descansar. Você tem um cobertor quente? — Leofric rosnou, olhando para Bettina por cima do ombro.

 — Luca, por favor, vá buscar um cobertor.

 — Imediatamente, minha senhora. — Luca trouxe um cobertor de lã de uma alcova e deu a Leofric, que cobriu sua esposa, prendendo o pano debaixo dos seus pés e ombros.

 Bettina viu os lábios de Mama se crispar quando golpeou o marido. Como Mama reagiria à notícia de nosso bebê? Embora ela soubesse que muitos franziriam a testa, por mãe e filha carregarem bebês ao mesmo tempo, ela gostou da ideia dos filhos delas brincando juntos.

 Ela ainda não tinha percebido o atraso em suas regras até Njal ter partido para encontrar o rei, cinco semanas antes. Se não tivesse pegado a cozinheira e sua nova criada discutindo o assunto, poderia não ter percebido sua condição delicada. Na verdade, ela não sentia a menor diferença, salvo seu apetite que aumentou três vezes ou mais, sua barriga rosnava e resmungava no momento em que ela cheirava os alimentos cozinhando.

 A porta do salão abriu-se e um Njal sorridente entrou no grande salão. Ele jogou o elmo para um escudeiro que pulava para acompanhar o passo rápido de seu senhor. Atrás de Njal, Bettina avistou Jarvik e Magnus. Ela franziu a testa e estudou os dois irmãos, perguntando-se por que Jarvik exibia um largo sorriso, enquanto Magnus tinha uma carranca que poderia fazer desfalecer de medo um guerreiro feroz, quanto mais um pajem ou uma criada.

 Embora ela tentasse esperar pacientemente por Njal alcançá-la, Bettina rendeu-se e correu para ele.

 Ele abriu os braços e ela caiu contra seu peito. Ele cheirava tão bem, couro, cavalo, e... Njal.

 — Eu senti tanto sua falta, mulher de guerreiro.

 — E eu de você. — Ela recuou para satisfazer seu olhar.

 — Em breve. Logo, Magnus, você estará desfrutando de tal felicidade conjugal— o vozeirão de Jarvik rompeu o silêncio do salão.

 Bettina piscou. 

— Magnus?

 — Sim— os lábios de Njal se contraíram. — O destino de Laufsblað Fjllóttr foi decidido.

 —O Rei Mael Coluim presenteou Magnus com uma princesa das Highlands. — Jarvik sorriu, como uma raposa avistando um bando de gansos. — Laufsblað Fjllóttr é dele uma vez que se case.

 — Você está satisfeito, marido, sabendo que seu irmão será o nosso vizinho?

Passou muito tempo, bem depois que a refeição da noite havia terminado que Bettina e Njal retiraram-se para o quarto. Ela não queria gritar a notícia, mas queria dizer-lhe do bebê que viria, como uma mulher da corte o faria.

 — Sim. Apesar de Magnus ter declarado muitas vezes sua intenção de não se casar, e temo que ele não esteja satisfeito com a ordem do rei.

Njal sentou-se na cama e desamarrou uma bota.

— Sua mãe brilha enquanto o bebê cresce. Leofric está fora de si de preocupação. É divertido observar a maneira como ele fica pairando em volta dela.

 Bettina tirou seu vestido e jogou a roupa em uma cesta.

 — Não— Os braços de Njal envolveram-na por trás, e ele colocou os dedos nas fitas da camisa. — Durante cinco longas semanas eu esperei pelo prazer de despir minha esposa. Acha que vai me privar disso agora?

 Ela se virou, fechou os braços em volta de seu pescoço, e esfregou seu peito nu.

 — Eu não deixei as criadas lavarem a sua túnica... Dormi com meu nariz enterrado nela. Eu não sei que parte de você que eu mais amo. O seu cheiro. — Cheirando seu pescoço, ela continuou, — O toque de suas mãos sobre meus seios.— Entusiasmada com o calor que irradiava de seus músculos fortes, Bettina levou as mãos em concha ao peito, e fechou os olhos quando seus polegares roçaram os mamilos. — É incrível que quando você me toca, minhas partes femininas pegam fogo.

 Quando ela levantou as pálpebras pesadas e sentiu o desejo que rugia no escurecimento de seus olhos azuis, ficou na ponta dos pés, apoiando as palmas das mãos em seus ombros.

 — Ou é o seu sabor que eu mais amo?

 Ele rosnou quando ela lambeu o contorno de sua boca, e agarrou suas nádegas enquanto ela sugava e mordiscava seu lábio inferior. Seus braços apertaram-na e a esmagaram contra seu peito, achatando os seios, aprofundando o beijo, enroscando a língua com a dela.

 — Não— Ela afastou-se — Espere. Njal.

 — Bettina...

 Apertando a mão sobre sua boca, ela sorriu. 

— Não. Tenho uma surpresa planejada para você. Irá agradá-lo, eu juro.

 — Eu não sei quanto tempo posso esperar. Minhas bolas estão estourando...

 — Estou grávida— ela sussurrou.

 Seu rosto perdeu toda a cor. Seus braços afrouxaram-se, em seguida, a apertaram, o azul de seus olhos desapareceu, e gotículas de suor apareceram em suas têmporas. 

— Você está grávida?

 — Sim.

 — Por Odin! Por que você está de pé?— Ele puxou-a contra o peito. — Você correu pelo salão para me cumprimentar esta noite. Você não tem cuidado com você ou com o bebê?

 Bettina ficou tonta enquanto ele andava em círculos, furiosamente, na frente da lareira.

 — Sem cavalgar. Temos de encontrar um provador de alimentos. Você não pode ingerir carne estragada. A Rainha Emma vai emprestar-nos a sua parteira. Ela sabe muito— Ele parou, colocando-a sobre o colchão de palha com tanto cuidado que ela não pôde deixar de sorrir. — Seu rosto está com uma boa cor. Você está comendo? Você tem enjoos pela manhã? Precisa de vestidos de lã, talvez de uma dúzia de xales pesados, mais peles de cama...

 Colocando dois dedos nos lábios dele, ela disse:

— É você o mesmo homem que achou divertido ver Leofric ao redor da minha mãe?

 — Não. O homem está claramente fora de si. Você acha que eu lhe permitiria viajar? Neste estado, em uma frágil carreta?— Njal balançou a cabeça. — Não. Nos meus braços, é a única maneira que você irá viajar daqui para frente.

          Ela conhecia apenas uma forma de distraí-lo.

 — Você não quer saber da minha outra surpresa?

 Sua pele assumiu uma coloração estranhamente esverdeada. 

— Mais?

 — Sim— Ela virou a cabeça para o jarro de barro sobre uma mesa há apenas alguns centímetros de sua cabeça. — Leofric comprou para mim chocolate da corte da Dinamarca que você tanto ama. Eu tinha pensado em mergulhar seu pau no chocolate quente e depois lambê-lo.

 O olhar de Njal voltou-se para o jarro, para sua virilha, em seguida, para os seios dela. 

— Não. Não. Eu não vou deixar você me distrair... devo mantê-la seguro e saudável.

 Bettina mergulhou os dedos no chocolate quente, pintando os mamilos com o líquido pegajoso, e olhou para cima para encontrar o olhar dele enquanto Njal gemia. Uma languidez quente correu por em suas veias, e o botão entre suas dobras latejou. Um formigamento delicioso percorreu-a da cabeça aos pés, deslizou por suas pernas, e deixou seus seios latejando e pulsando.

 Ela lançou-lhe um olhar semicerrado, passou o chocolate com os dedos até o centro de seu sexo, e revestiu suas dobras com o liquido.

 Njal perdeu a respiração, suas narinas dilataram-se, mas seus olhos nunca se afastaram de suas pernas entreabertas, as pregas lisas manchadas com o escuro chocolate.

 — Você não precisa de um doce antes de dormir, meu senhor?

 — Esposa de guerreiro— Njal arrancou suas roupas, jogou sua túnica de lado, calças de outro. — Saiba você, é a última vez que permitirei que seja do seu jeito.

 Ah, mal sabia ele que Leofric havia conseguido não só o chocolate, mas um óleo afrodisíaco que podia manter um homem duro e ereto por horas, e era uma poção que diziam, atraiam um homem à sua companheira como as sereias atraiam os navios para as rochas.

 Quando Njal colocou um joelho no colchão, Bettina agarrou seu pau pulsante entre suas mãos cobertas de chocolate. Ela traçou a cabeça púrpura, enviou-lhe um olhar de soslaio, e antes de sua boca cobrir o pau, murmurou.

— Eu te amo, marido pacificador.

 

 

                                                                                                    Jianne Carlo

 

 

 

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