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Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Capítulo 20
Era hora de saber. Fleur repetia isso para si mesma, no dia seguinte, enquanto supervisionava o embalamento do baú.
— Nós estaremos chegando à cidade na próxima semana — disse Bianca. Ela se sentou na cama, observando os preparativos.
— Eu conto com sua a companhia para o teatro o mais rápido possível.
Fleur apreciou o convite. Não fora a primeira proposta desse tipo, e Fleur desejou ter usado melhor essa visita com Bianca. Se ela não estivesse tão absorta em si mesma, elas poderiam se tornar boas amigas. Então talvez Fleur pudesse perguntar a ela sobre as coisas.
Tais como as outras formas de fazer amor que Dante mencionou. Ela não tinha ideia do que ele queria dizer. A sua imaginação falhou completamente quando ela tentou decifrá-lo. Talvez ela devesse afastá-lo até que ela descobrisse.... Não, já era hora.
— Laclere está muito satisfeito com o seu casamento. Ele me confidenciou que vê uma mudança em Dante e acha que nenhuma mulher seria mais adequada.
— Ele realmente disse isso?
— Só ontem à noite. Você parece surpresa.
— Eu pensei que ele considerou a rapidez deste casamento imprudente.
— Ele pode ter a princípio, mas uma carta de Charlotte ontem lhe deu um entendimento correto. Ela explicou o assunto com o seu padrasto. Vergil não fazia ideia, e nem Dante nem você disseram nada sobre isso.
— Eu suponho que parecia a um mundo de distância. — Essa não foi a única razão. Ela não tinha explicado sobre Gregory porque soaria calculista e egoísta, que ela se casou com Dante para salvar sua própria pele.
— Foi muito nobre de Dante, é claro, mas também dificilmente um grande sacrifício. Não por causa de sua fortuna, mas por causa da sua afeição por você.
A franqueza de Bianca só perturbou Fleur mais. De alguma forma, ela viu o fechamento do baú e Bianca pediu aos lacaios que o levassem para baixo.
Sozinhas no quarto, Bianca deu-lhe um olhar muito direto. — Então, todos concordam que este casamento é bom para Dante, que garantirá tanto sua solvência quanto sua felicidade. Também é bom para você?
A pergunta ousada pegou Fleur de surpresa. Bianca não era uma mulher que dissimulava muita coisa, e isso poderia ser desconcertante em um mundo onde a maioria das pessoas se disfarçava o tempo todo. Deixou para Fleur responder honestamente ou não responder de todo.
— Houve muitas surpresas na minha aliança com ele. De muitas maneiras, esse casamento não foi o que eu esperava. Quanto a se vai ser bom para mim, acho que há uma chance de que isso aconteça.
— Fico feliz em ouvir isso e espero que, se houver essa chance, você a pegue. Eu acredito que uma mulher deve decidir o que ela quer e lutar por isso, não se deve permitir ser meramente fustigada pelos ventos da vida.
Quando Fleur se despediu da casa e atravessou a zona rural de Sussex, pensou no conselho de Bianca. Ela não sabia se os ventos prestes a soprar através da sua vida trariam bem ou mal, mas era hora de decidir o que ela queria. Também era hora de saber se ela poderia experimentar a paixão com um homem sem virar pedra.
Isso só seria possível com Dante. Nenhum outro homem a havia mexido, muito menos o suficiente, para contemplar um experimento tão arriscado. Se ele não tivesse entrado em sua vida novamente, ela nunca teria suspeitado que ela estava errada sobre si mesma todos estes anos. No entanto, pensando na noite toda sobre o que estava por vir, “mais tarde”, ela também pensava em outras coisas.
Quando ela estava deitada em sua cama, tão ansiosa de antecipação que esperava que “mais tarde” não se significa “em Londres”. Os seus pensamentos se voltaram para o que estar realmente casada com Dante significaria.
Prazer, com certeza. Ele já lhe tinha mostrado isso. Amizade, ela esperava. Amizade livre da confusão que havia interferido nisso recentemente. Mas também, talvez, infelicidade. Ele tinha avisado isso em Durham. Ele não seria fiel. Ela aceitou que ele não poderia dar isso a ela, assim como ele aceitou o que ela não podia dar a ele. Ele mesmo não acreditava que ele tivesse nele para ser constante.
No entanto, se seus casos a tivessem ferido enquanto eles não eram realmente casados, quando as suas visitas a outras camas não eram traições para ela, como ela viveria com eles depois de “mais tarde”?
Ela não podia negar Dante por causa disso. Ela não desistiria da chance de saber o que poderiam compartilhar. Mas ela não mentiu para si mesma. Conhecer a paixão a deixaria exposta a um desgosto horrível.
Quando a carruagem entrou nos arredores de Londres e apontou para a cidade, todos os pensamentos de potencial infelicidade desapareceram. A maioria dos outros pensamentos também. Uma imagem invadiu sua mente e ficou lá, banindo todas as emoções, exceto excitação e saudade.
Era a lembrança de Dante no dia do casamento, olhando em seus olhos enquanto ele segurava o rosto dela em suas maravilhosas mãos. O resto do caminho para casa ela experimentou novamente a perfeita e doce unidade que ela conhecera naquele dia, quando ele a beijou, uma vez na testa, e uma vez nos lábios.
Uma mulher deve decidir o que quer e lutar por isso.
Ela experimentou um instante de total honestidade ao vislumbrar o seu futuro em todas as suas possibilidades. Ela sabia qual deles queria com uma segurança que todos os argumentos do mundo não poderiam ter alcançado. Assombrou-a como era fácil tomar sua decisão. Ela não sabia se tinha coragem de lutar por isso, no entanto. Especialmente desde que a pessoa que ela estaria lutando era ela mesma.
Uma casa vazia usa seu abandono de formas invisíveis. Percebe-se o silêncio quando se passa por ela. Ela transpira solidão para a rua. Isso foi o que Fleur pensou quando a carruagem parou na frente da sua casa. Por um momento ela sentiu que havia sido fechada para sempre.
Surpreendeu-a, portanto, quando a porta se abriu e Dante foi até à carruagem.
— A sua reunião com o Sr. Burchard foi bem sucedida? — Ela perguntou quando ele a ajudou.
— Foi interessante. Eu vou falar sobre isso mais tarde.
Luke tirou o baú e Dante ajudou-o a levá-lo para a casa. — O dia está feito, Luke. Tire a tarde para si mesmo depois de ter arrumado os cavalos. Não vamos precisar de uma carruagem hoje.
Encantado com esse presente inesperado, Luke se apressou em continuar com os seus deveres.
Fleur ficou no salão da recepção e escutou ... nada. — Todos eles se foram?
— Sim.
— Eu não acho que eu já estive sozinha aqui antes.
Com um braço em redor de sua cintura, ele caminhou com ela em direção às escadas.
— Você não está sozinha agora. Pense nisso como outra casa de campo, onde você se encontra com ninguém além de mim como companhia.
— Quem vai cozinhar para nós e nos vestir?
— Vamos fazer por nós mesmos, como fizemos lá.
— Eu não fiz nada lá. Você fez tudo.
— Então eu vou fazer aqui também. — Ele pousou-a nas escadas. — Eu não quero mais ninguém aqui hoje. Sem sons, sem serviço, sem interrupções. Vamos ler juntos, ou conversar, ou apenas sentar juntos, sem deveres ou exigências. Não haverá mundo fora desses muros, e o único mundo dentro deles será nós dois juntos.
Ele se separou dela no primeiro andar e entrou na biblioteca. Ela continuou em seus aposentos.
Conforto essencial havia sido fornecido. A água tinha sido deixada no quarto de vestir para que ela pudesse se refrescar. Scones, geleia e ponche esperavam em sua sala de estar. Conhecendo Dante, ele instruiu o cozinheiro a deixar comida suficiente na cozinha para que não morressem de fome. Sozinhos. O adorável silêncio derivou de mais do que a falta de som. A ausência de pessoas trouxe uma paz requintada para a casa. Ela podia sentir a presença de Dante distintamente, mesmo longe, porque absolutamente nada mais se intrometeu.
Conversa e companheirismo. Confidências e amizade. Ela não tinha ideia de como Dante havia seduzido outras mulheres, mas ele a conhecia muito bem.
Ela bebeu um pouco do ponche e olhou para a sua secretária. Dentro estavam todas as peças do seu Grande Projeto. Surpreendeu-a perceber que hoje, agora, ela não se importava com isso. Dante ocupou a sua mente, e a emoção mais comovente encheu o seu coração.
Ela permitiu que a esperança e o anseio seguissem o seu caminho. Ela estava sem medo também. Ela não saberia como conter o que possuía, mesmo que quisesse. A esperança também lhe dava força. Ela precisaria disso. Olhando no espelho, ela tirou o chapéu. Ela olhou em seus próprios olhos e admitiu a triste verdade. Ela não era uma menina, nem uma criança. Ela era uma mulher que permitirá que um medo desconhecido desperdiçasse os melhores anos da sua vida.
Ela também era uma mulher que estava perdidamente apaixonada por um homem, e que queria todo aquele homem que ela pudesse ter. Reunindo coragem, rezando para que ela tivesse o suficiente, ela foi até a biblioteca. Ela o encontrou sentado no divã, esperando por ela.
Ela se aproximou e ficou na frente dele. — Eu não acho que foi sábio esvaziar a casa de servos, Dante.
— O que você precisar, eu cuidarei disso. O que você precisa?
— Eu gostaria de remover este vestido, e não tenho nenhuma empregada para me ajudar.
Ela virou as costas para ele.
Ela esperava que ele dissesse algo inteligente e a ajudasse imediatamente. Em vez disso, uma quietude se formou atrás dela e ele não se moveu. Ela manteve a tempo o suficiente para começar a se sentir tola. Ela olhou por cima do ombro.
O seu olhar encontrou o dela. — Você tem a certeza, Fleur?
Ela o amava muito naquele momento. Sempre foi assim, no entanto. Ele sempre a protegeu, mesmo quando isso era contra seus próprios interesses e desejos.
— Tenho a certeza de que quero remover este vestido, Dante.
As suas mãos começaram a trabalhar no seu fechamento, mas o seu olhar não deixou o seu rosto. A sensação do tecido se abrindo e as mãos dele tocando, fizeram com que a antecipação contida do último dia a inundasse. O olhar em seus olhos a cativou. Ela descera decidida a ser ousada e confiante, mas já estava sob seu poder.
— Você vai precisar de ajuda para vestir outro vestido, Fleur?
Ela não conseguiu encontrar a sua voz. Ela apenas balançou a cabeça.
Ele puxou o nó do último laço do seu espartilho. — Então eu deveria cuidar disto também.
Segurando-a firme com uma mão no quadril, ele desamarrou com a outra. — Você me surpreende, querida.
— Tenho me obrigado a ter coragem durante todo o dia e achei que não deveria me arriscar a fraquejar. Estou sendo muito apressada?
— De modo nenhum. Eu planejara uma sedução lenta, mas só porque esperava que você precisava de uma.
Ela encarou a e fechou os olhos para saborear as sensações que a excitavam. — Você tem me seduzido por semanas, Dante. Nós dois sabemos que tem sido lento o suficiente.
O espartilho abriu. Ela teve que agarrar as suas roupas ao peito para evitar que caíssem no chão.
Ele se levantou atrás dela. Segurando os seus ombros, ele pressionou um beijo no lado do pescoço dela. Um tremor cintilante dançou através dela.
Ela se afastou, fora do alcance dele. — Obrigada. Eu consigo resolver o resto.
Com o coração a bater, ela correu de volta para o seu quarto.
De alguma forma, ela manteve a sua resolução. Mesmo que ela tremesse enquanto tirava o resto das suas roupas.
Mesmo quando ela deslizou a camisola rosa de seda sobre a sua nudez. Mesmo quando ouviu os movimentos do outro lado da parede, que diziam que Dante estava em seus aposentos.
Ela ficou parada, ouvindo, decidindo o que fazer. Iniciando isto tão rapidamente tinha usado muito da sua bravura. Ela convocou mais. Ela precisava que ele acreditasse que ela sabia o que queria. Ela também precisava provar para si mesma. Ela girou o trinco e abriu a porta do quarto ela entrou enquanto Dante estava removendo a sua camisa. Ele se virou surpreso. Ela entrou e fechou a porta atrás dela. Ela descansou as costas contra a porta.
— Você pretende ficar enquanto eu me dispo?
— Eu não deveria?
Ele encolheu os ombros. — Como você desejar. — Ele continuou com a camisa.
Ele tirou as roupas de cima. Nu da cintura para cima, ele se sentou em uma cadeira para remover as suas botas. O seu corpo a fascinou. Ela tinha visto esculturas e pinturas, mas nunca uma forma masculina real sem roupas. Como ele era bonito, magro, mas definido com músculos. Ela pensou que seria embaraçoso vê-lo sem roupa. Em vez disso, nada poderia ser mais natural, e ela não ficou nem um pouco envergonhada. Excitada, mas não envergonhada. Ela reconheceu o ronronar físico dentro dela pelo que era agora.
Ele olhou para ela e ela percebeu que ele sabia o que ela estava pensando e experimentando. Ele se levantou e a encarou, tão confortável com a sua presença física como sempre, no controle desse despir, mesmo que fosse ele quem tirasse a roupa.
— Você pretende continuar assistindo?
— Eu não deveria? Você quer que eu saia?
— Eu não quero que você vá embora, embora eu não consiga lembrar de ter sido observado tão obviamente.
— Eu pensei que, dado que você me viu, era justo para me ver você.
— Eu não estou vendo você agora.
Não, ele não estava. Ela estava vestida, para ganhar coragem. Tampouco planejara ficar de pé e observá-lo. Ela pretendia falar com ele quando abrisse a porta. Ver o seu corpo se tornou uma deliciosa distração. Ele a desafiara, e ela estava determinada a não bancar a tímida virgem hoje. Ela se afastou da porta. — Você quer me ver? Isso tornará isso mais justo?
— Sim.
Ela andou até ele. Isso a trouxe muito perto de seu peito e ombros e pele e dureza e... Ele não tocou nela. Ele olhou para baixo, como se estivesse esperando por algo.
— Você não vai me ajudar, Dante? Eu pensei que era um dos seus direitos.
— Você disse que podia resolver você mesma e certamente está agindo como se pudesse.
— Você preferiria que eu fizesse eu mesma?
— Às vezes.
Desta vez.
Remover a camisa era mais difícil do que ela esperava, por causa da maneira como ele observava. Ela se perguntou se ele tinha encontrado o seu olhar tão desconcertante há alguns minutos atrás. Ela não podia negar, no entanto, que gostava da emoção perversa de deslizar a seda pelos braços e abaixá-la no chão. Ela gostou da forma como a sua expressão se apertou com os sinais sutis de como ela o afetava.
A sua inépcia inicial passou, substituída por uma sensação de poder e orgulho. O seu olhar a fez magnífica, nobre e forte. Parada nua à luz da tarde na frente de Dante, ela se tornou uma deusa. Ele pegou na mão dela e puxou-a para ele, em seus braços. O abraço a surpreendeu. O calor do seu corpo, tocando a pele dela em toda a parte, pressionando os seus seios, envolvendo-a completamente, as novas sensações se acumularam, ameaçando enterrar o seu senso de todo o resto. De alguma forma, ela segurou a sua mente. Ela passara por aquela porta com um objetivo e ele precisava saber o que era.
— Eu preciso dizer algo para você, Dante.
Ele acariciou seu pescoço. — Diga-me mais tarde.
— Deve ser agora. Você vê, eu mudei de ideia sobre isto.
O seu abraço afrouxou até que ele estava apenas segurando a cintura dela. As suas pálpebras baixaram. — Você não tem agido como uma mulher que mudou de ideia.
— Você não entende. Não estou dizendo que quero que você pare. Na verdade, não quero que você pense que precisa parar. Sempre.
— Você está certa. Eu não entendo.
— Se acredito que você não fará nada para me engravidar, tenho a certeza de que o medo não virá. Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Está sempre lá para nós.
Sua expressão ficou séria e perplexa. — Você está dizendo que gostaria de testar outra coisa?
— Sim. Eu acho que mesmo que você não prometa contenção, o medo ainda não virá.
Ela tinha assumido que ele teria mais entusiasmo por sua decisão do que ele agora revelou. Ele olhou profundamente em seus olhos, como se procurasse ver se seu coração apoiava suas palavras.
— Eu não quero mais que esse medo seja o dono da minha vida. Ao nomeá-lo, talvez eu o tenha derrotado. — Ela deitou a sua bochecha no peito dele, de modo que o calor tenso da sua pele tocou a dela. Quero que nos casemos totalmente, Dante. Eu quero ter uma família. Eu quero tanto essas coisas que acredito que meu desejo por elas pode conquistar qualquer medo. — Ela olhou para ele. — Eu quero você também. Completamente. Só isso seria o suficiente para eu tomar essa decisão.
Ele colocou a mão no rosto dela. — Se você está errada ...
— Se eu estiver errada, saberemos muito em breve.
— Eu não quero assustá-la ou machucá-la.
— Eu não deixarei você. Eu não vou tentar enfrentá-lo. Eu sou incapaz de controlar isso se isso acontecer. Você deve me prometer, no entanto, que você não fará a escolha por mim. Só vou saber se sou livre se acreditar que as suas intenções mudaram.
Um pequeno sorriso encantador quebrou. — Eu acho que posso prometer, se você exigir isso.
— Eu exijo isso.
—Então saiba agora que vou te tomar se puder, Fleur. Acredite.
O seu beijo demonstrou a sua determinação. Também revelou a paixão de um homem que estava ouvindo muita conversa, mesmo que ele tenha gostado do que ouviu.
O beijo despertou toda a antecipação que o seu corpo tinha enterrado durante as longas semanas de desejo dele. A sua pele estava maliciosamente alerta enquanto ele acariciava partes dela que nunca haviam sentido o seu toque diretamente antes. As suas costas, quadris e coxas respondiam às palmas e dedos quentes. Novas sensações a assustaram de novo e de novo.
Ele a beijou profundamente, de uma maneira que nunca beijou antes. Ela não podia ignorar a diferença sutil. Veio da sua aura mais que da sua ação. Uma parte primitiva dela poderia dizer que ele não mentiu. O homem que a beijou, que a dominou com o seu corpo e abraço, que a manipulou tão possessivamente que a reivindicação de direitos não podia ser ignorada, este homem pretendia tê-la se pudesse. Ela entendeu isso sem pensar. A sua alma sabia.
O medo sabia. Ele disparou um de seus tentáculos estrangulados. Ela reconheceu pelo que era. Imagens de caras chorando invadiram a sua cabeça. O seu corpo queria recuar defensivamente, para acabar com o ataque. Ela não deixaria.
Ela abraçou Dante desesperadamente e concentrou a sua consciência física na deliciosa sensação de sua pele e músculos, na tensão em seu corpo e na dureza sob as suas mãos. Ela deixou a sua consciência habitar na realidade dele. Ela convocou mais do que prazer para a sua pequena batalha, no entanto. Ela deixou o seu amor por ele livre. No calor e brilho da sua promessa de realização, o medo abruptamente secou, encolheu e deixou de ameaçá-la.
A vitória a deixou eufórica. Libertada. Ela pensou que não poderia controlar esse pavor, mas podia. Com Dante ela podia. Reconhecendo o seu amor deu-lhe uma arma que o medo não poderia enfrentar. Dante sabia o que tinha acontecido. Ela poderia dizer que ele sabia. Ele parou de beijá-la, mas as suas carícias continuaram seguindo as suas curvas e sentindo a sua nudez, atormentando-a. Ele olhou para baixo com os olhos que reconheciam o que acabara de acontecer nos últimos momentos.
Um duro desafio entrou nas profundezas lúcidas olhando para ela. A sua carícia desceu pelo corpo dela. Ousando o medo, explicando as suas intenções, a sua mão alisou o seu traseiro, então desceu lentamente. Os seus dedos deslizaram pela sua fenda e seguiram a linha até onde se encontrava humidade e maciez e uma pulsação enlouquecedora. O toque naquele ponto a chocou. Maravilhosamente. Gloriosamente. O seu corpo inteiro reagiu, mas não com medo. Ela se esticou, procurando o beijo dele com fome, precisando de uma maneira de liberar o pulsar sensual e profundo.
A guerra foi vencida e ambos sabiam disso. Ela anunciou a sua vitória beijando-o tão intimamente quanto ele. Com a língua ela expressou o seu orgulho e excitação. Inebriante com a liberação, orgulhosa da sua ousadia, ela beijou o seu pescoço e seu peito, saboreando-o, fascinado pelo prazer irrestrito. A força total da sua vitalidade sensual se libertou, abrangendo-a mais completamente que os seus braços. Ela acolheu a maneira como a deslumbrou, controlou e ensinou. Ele levantou-a nos braços e levou-a para o seu quarto. Deitou-a na cama e terminou de se despir enquanto olhava para ela.
— Você é muito bonita, Fleur.
Ela não duvidou dele. Agora mesmo, deitada na cama na luz filtrada, eufórica por lutar por seu direito de amar e sentir, ela tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que já havia vivido.
O homem mais bonito do mundo agora estava ao lado da cama, revelando toda a sua magnificência, tão impressionante que o seu coração não sabia se devia correr ou simplesmente parar. Ele era um consorte adequado para a deusa que ela havia se tornado. Seu corpo fascinando-a tanto que ela não conseguia olhar para ele o suficiente. Ele veio até ela.
— Esta é uma ocorrência extraordinariamente singular, senhorita Monley. Encontrando você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele tinha dito isso no chalé, mas o seu tom era diferente desta vez. Ele não estava brincando. Só que ela não era mais Fleur Monley, a santa, o anjo. Ela era uma rainha, uma guerreira, uma serva de Vênus...
— Você está muito orgulhosa de si mesmo, não está? — Ele beijou o nariz dela, o que dificilmente se adequava ao seu novo poder.
— Cheia de orgulho.
— Como você deveria ser.— Ele viu a sua mão acariciar o pescoço dela e em torno dos seus seios. — Tudo na mesma, você deve me deixar saber se eu te assustar.
— Eu não vou parar você, Dante.
— Você ainda pode me deixar saber o seu prazer, Fleur. Se eu fizer algo que você não quer, pode me dizer isso.
— Não há nada que eu não queira. Eu tenho negado isso por muito tempo. Não tenho intenção de perder uma coisa por causa da covardia.
— Você não entende o que eu estou falando, querida. — Ele a beijou levemente em sua bochecha. — Você vai em breve, então lembre-se do que eu disse. Eu não quero nenhum sacrifício silencioso. Você tem uma vida inteira para experimentar tudo.
Ela esticou os dedos pelos cabelos da cabeça dele. — Eu não seria cauteloso se fosse você, Dante. Eu provavelmente sou mais corajosa agora do que jamais serei novamente. — Ela o pressionou para que ela pudesse beijá-lo.
Ele não permitiu que ela controlasse o beijo por muito tempo. Com um abraço magistral, ele assumiu e deu dezenas de prazeres com nuances em seus lábios, pescoço e orelha. Ele a fez querer com beijos até que a espera a possuísse de novo, e construísse e construísse.
O seu corpo ansiava pelo retorno da sua carícia. Ele demorou a dar a ela, de modo que, quando a mão dele desceu pelo peito, ela quase implorou para que ele a tocasse. Ele provocou como tinha feito no jardim. O mesmo prazer lascivo a escravizou. As pontas dos seus dedos circulando a fizeram cerrar os dentes. Ela estava indefesa com a fome que ele exigia.
A sua cabeça baixou e a sua língua começou os mesmos padrões lentos em seu outro seio. O desejo se aprofundou, foi mais baixo. Encheu seus quadris e fez sua vulva chorar. Ela perdeu a consciência de tudo, menos as sensações, o prazer e o desejo frenético. Os seus dedos tocaram suavemente um mamilo. A sua língua sacudiu o outro. Uma flecha de prazer tremulante derrubou seu corpo.
Então outro e outro. Era tão bom que ela queria continuar para sempre. O seu corpo exigiu, doeu, por alívio, mesmo quando implorava por mais. Ela não podia conter a necessidade caótica. Ela ouviu os sons de seu delírio, mas não se importou. A sua cabeça se moveu e ele a beijou novamente. A sua mão se moveu e ela se rebelou no final do prazer com um grito abafado. Ele quebrou o beijo furioso e olhou para o corpo dela. A sua carícia deslizou para baixo, para seu estômago e coxas. O seu desejo se moveu mais baixo também. A espera ficou muito focada, muito intensa. As suas pernas se separaram para encorajar a carícia que ela queria desesperadamente. A recém-libertada parte primitiva dela compreendia essa paixão de maneiras que sua mente não.
Ele acariciou atentamente até que os seus quadris estavam subindo em direção ao seu toque, implorando por mais. Ela viu a expressão do comando duro quando ele finalmente respondeu às demandas de seu corpo e seus gritos audíveis. Ele olhou para o rosto dela com o primeiro toque e, em seguida, viu os seus movimentos lentos criarem um prazer tão intenso que ela perdeu todo o controle.
Ela não se importava que ela havia abandonado a sanidade e dignidade e implorou por algo que ela não compreendia. Ela não se importava que ele controlasse a sua loucura com as suas mãos e olhos. Ele beijou os seus lábios, depois o seu seio, depois o seu estômago. Ele beijou mais baixo, deixando seus braços, enquanto seu corpo se movia para baixo.
— Estou feliz que você está tão corajosa hoje — ele disse suavemente. — Porque eu tenho vontade de fazer isto há semanas.
Ela assistiu, confusa. O seu corpo entendeu, no entanto. Com cada beijo mais perto, a sua vulva estremeceu. Os seus beijos foram mais baixos ainda. O seu corpo se moveu mais. A sua mente finalmente compreendeu. A noção a chocou. A mão dele a atraiu. Preparou-a. Ela fechou os olhos quando ele moveu o seu corpo entre suas coxas e gentilmente levantou os seus quadris.
A sua língua substituiu os seus dedos, e o seu breve pico de sanidade se despedaçou. Ela se submeteu à combinação excruciante de prazer e desejo devastador. Apenas ficou melhor e melhor e pior e pior, enquanto ele a levava para a beira de uma experiência terrível e maravilhosa. Um pico insuportável a chamava. Ela estendeu a mão porque não havia outro lugar para ir. Sua paixão saltou, tocou um ponto glorioso de puro prazer e inundou sua essência.
Ele estava com ela de repente, de volta em seus braços, deitado entre as pernas, como em Durham. Nenhuma roupa interferiu desta vez. Ela o agarrou, intensamente consciente do seu peso e calor. A sua vulva ainda pulsava, ainda possuía aquela necessidade de desejo. A sensação dele entrando trouxe alívio incrível. Ele pressionou mais fundo e a plenitude surpreendeu as suas emoções.
Dor queria se intrometer em seu torpor. A sua paixão absorveu, ignorou, conquistou. Ele empurrou e eles estavam totalmente unidos e ele a encheu completamente. A intimidade de segurá-lo, de senti-lo ser uma parte dela, comovia-a mais do que o maior prazer que acabara de descobrir. Ela fechou os olhos e saboreou a ligação completa.
A sua paixão guiou o resto. Ela sentiu uma restrição em seu desejo e soube quando ela desapareceu. O seu poder os controlava então, criando um turbilhão de beijos tumultuados e febris e estocadas que a impressionavam. Ela só podia aceitar e absorver e sentir. Nada existia para ela além de amor e intimidade e a realidade dele em seu corpo e braços.
O fim a deixou atordoada e surpresa com suas próprias emoções. Segurando-o na quietude depois, era como se o seu coração e alma tivessem sido deixados sem qualquer proteção. Ela o segurou para ela, tão alerta ao seu cheiro e respiração e pele que parecia que novos sentidos haviam nascido nela. Especiais, que existiam apenas para conhecer esse homem. Ela queria que ele ficasse nela para sempre, amarrado assim, mas eventualmente ele se moveu. Mesmo depois que ele se retirou e tirou o peso dela, ela ainda pulsava como se estivessem conectadas.
— Eu machuquei você?
— Não. — Ela não sabia se ele tinha. Isso não importava.
— Eu choquei você?
— Não... bem, um pouco. Ela se virou de lado para encará-lo. — Isso foi tudo?
— Não.
Ela sorriu. — Pergunta estúpida. Claro que não foi. Afinal, você se esqueceu de me mostrar aquele ponto sensível atrás do meu joelho.
— Pois é.
— E o truque com a base da minha espinha? Sem dúvida você está guardando isso para outro dia também.
Ele riu baixinho. — Prometo fazer melhor da próxima vez, quando não estiver tão impaciente.
Ela desenhou um pequeno padrão no peito dele. — E a descoberta sobre como o corpo de uma mulher pode ser mais sensível depois ...
— Não é tarde demais para isso. — Sua carícia desceu por seu corpo. — Separe suas pernas, então não se mova.
Ela obedeceu. O seu primeiro toque chocou todo o corpo dela. O seu dedo acariciou a carne, incrivelmente sensível do ato de fazer amor. O prazer era quase insuportável.
Abandono reivindicou-a com uma ruptura violenta em seu controle. Quase instantaneamente ela cambaleou no ponto mais alto da excitação, implorando por mais, estremecendo com expectativa desesperada. Foi mais intenso e perigoso que da última vez. O prazer era sobrenatural, excruciante, destruidor. Seu corpo a libertou. Ela chorou quando um poderoso clímax se apoderou dela. Ela flutuou em uma sensação perfeita, com o eco de um grito enchendo sua cabeça. A consciência da cama e do quarto voltou lentamente para ela. Foi algum tempo antes que ela subisse acima do estupor sensual, no entanto. Dante estava esperando por ela quando ela fez. Ela abriu os olhos para encontrá-lo a observá-la. Parecia que o quarto ainda tocava com o grito dela.
— Eu acho que é uma coisa boa que eu mandei os empregados embora — disse ele.
— Oh, sim. — Ela também achava que foi prudente adiar o “mais tarde” até depois que eles saíssem de Laclere Park.
Capítulo 21
? Éxatamente como você disse que seria, Dante. Nenhum mundo existe fora dessas paredes, e só nós dois existimos dentro delas. ? Fleur se aproximou mais. — Quando eles vão voltar?
As suas palavras o tiraram da nuvem de contentamento em que ele estava flutuando enquanto ele a abraçava de perto.
— Entreguei moedas suficientes para mantê-los ocupados em teatros e tavernas a maior parte da noite.
Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão. A beleza dela o impressionou. A sua coragem também. Ele não tinha sido capaz de atraí-la do medo com prazer. Tinha sido a sua própria vontade, a sua própria escolha, para fazer isso. O humilhou que ela tivesse usado tamanha bravura para compartilhar paixão com ele.
Ela tinha sido determinada, magnífica e gloriosa.
Eu quero ter uma família.
A sua pele macia e pálida parecia mais luxuosa do que o tecido mais precioso. Ele acariciou o seu ombro e braço lentamente e as suas pálpebras abaixaram quando eles compartilharam o toque.
Eu quero você. Ele nunca em sua vida ouvira palavras tão lisonjeiras. Elas tinham sido ditas por outras, mas não dessa maneira, ou por esse motivo. Ele a queria também, também de maneiras que nunca desejara antes.
Isso é o quanto eu confio em você. Não há necessidade de testar isso. Ele nunca esqueceria essas palavras surpreendentes.
Eu quero que sejamos completamente casados. Ele olhou para a escrivaninha e pensou na carta na gaveta. Era de Farthingstone e estava esperando por ele quando voltou esta manhã. O homem queria negociar e Dante suspeitava da direção que essas negociações tomariam.
Ele deu um beijo em sua esposa, para deixar os pensamentos de Farthingstone e as suas manobras fora de sua mente. Não era pra ser. Fleur se virou para ele, parecendo tão adorável com o cabelo meio caído e a nudez envolta no lençol.
— O que o Sr. Burchard queria? Você disse que me contaria depois.
A reunião parecia uma vida atrás, não apenas horas. Dante teve que forçar a sua memória de volta para ela.
A antecipação do retorno de Fleur significava que ele só ouviu parcialmente as informações de Adrian, e ele não havia deliberado sobre o seu significado.
— Burchard fez algumas investigações em meu nome.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Não. Ele tem alguma experiência em tais coisas e usou a sua própria iniciativa como meu amigo.
— Assim como St. John e o Sr. Hampton usaram as suas iniciativas e fizeram perguntas sobre mim, você quer dizer. Você tem amigos muito dedicados. Embora se possa também dizer que eles são um pouco presunçosos.
— Alguém pode dizer isso.
— Que tipo de indagações Burchard fez? Mais sobre mim?
— Ele perguntou sobre o Farthingstone. Ele descobriu algo que não poderia ser descoberto por ninguém. Que Farthingstone recebeu um legado quando jovem, o que incluía aquela propriedade em Durham que é sua vizinha. Ele vive simplesmente considerando sua renda e é bem visto.
— Nós já sabemos disso.
— O resto foi mais interessante, no entanto. Farthingstone nem sempre foi tão sóbrio e honesto. Ele foi um jovem mais selvagem e, quando jovem, parecia ser alguém que não se dava bem. A tia de Burchard se lembra dele desde então e relatou como uma transformação milagrosa ocorreu, de repente, quando Farthingstone estava chegando aos trinta anos de idade. A mudança foi tão completa que o seu passado foi praticamente esquecido.
— Eu preferiria que ele ainda jogasse e bebesse e se arruinasse, do que se apresentar tão respeitável enquanto tentava me aprisionar e depois destruir a minha reputação. O mundo é rápido demais em julgar por bem ou por mal nessas coisas. Atrevo-me a dizer que o seu amigo McLean é mais honrado que Gregory, mas McLean é criticado e Gregory é admirado.
Lá estava, o mundo como era visto através dos olhos de Fleur Monley. Ele estava feliz por ela ter tentado perceber o essencial, mesmo que às vezes ela visse mais do que estava ali. Quando ela olhou para Dante Duclairc, o seu otimismo a cegou.
— Se isso era tudo que ele poderia te dizer, não era muito interessante. Havia mais?
— Isso foi a maior parte. — Dante não tinha certeza se queria abordar o resto. Não agora, pelo menos. Ele não queria que isso se intrometesse neste dia e nesta cama.
— Estou curiosa agora, então você deve me contar tudo. — Ele acariciou o seu ombro novamente e desviou o olhar de seu rosto para que ele não visse a reação dela. Ele não tinha certeza do que ele evitou testemunhar. — Ele também descobriu que existe uma conexão entre Farthingstone e Siddel. Uma distante, e provavelmente não significa nada.
Ela não respondeu por um tempo. Ele poderia não ter dito nada.
— Você pediu a ele para fazer perguntas sobre o Sr. Siddel, Dante?
— Eu perguntei se ele tinha motivos para pensar que eles são amigos.
— Eles não são.
— Fleur, o seu padrasto descobriu que você estava naquele chalé. Siddel é um homem que poderia ter contado a ele. Se o fizesse, significava que Siddel sabia que ele estava no condado naquela noite. Pode até ter sido Siddel quem você ouviu falando no aposento ao lado, na noite anterior.
Ela inclinou a cabeça e olhou para ele. Ela não parecia zangada, mas pensativa. Muito pensativa.
— Que conexão descobriu o Sr. Burchard?
— Farthingstone não tem amizade aparente com Siddel. Ele, no entanto, tem uma com o tio de Siddel. Eles compartilhavam o mau comportamento juntos.
— Muito parecido com você e McLean?
— Muito parecido com isso. O próprio conforto de Siddel depende de um legado próprio dele, deste tio.
— Ou dos negócios dele. Eu penso que o sucesso dele tenha aumentado consideravelmente a sua fortuna.
— Não é de todo claro que ele é tão bem sucedido nos negócios. Burchard não encontrou muita evidência de grandes esquemas financeiros, apesar da reputação de Siddel.
— Sem dúvida, ele os mantém em segredo.
— Burchard tem os meios para descobrir segredos quando ele quer. Ele realizou investigações para o governo quando era mais jovem, e há homens dispostos a compartilhar informações com ele que não dariam aos outros.
Ele podia vê-la pesando isso, embora a sua expressão não mudasse. Na noite do baile, ele exigiu que ela não usasse Siddel como conselheiro por mais tempo. Ela não aceitara essa ordem, e ele não estava convencido de que ela obedeceria. Ela podia não o fazer.
Ela olhou bem nos olhos dele. — Você não gosta nada dele, não é?
— Como eu te disse, eu não acho que ele possa ser confiável.
— É mais do que isso. Você fica muito rígido quando fala dele. Mesmo agora, o seu humor escureceu.
— Talvez seja porque me pergunto se o seu relacionamento com ele continua.
Os dedos dela tocaram seu rosto e passaram por sua bochecha e mandíbula.
— O que é esse homem para você?
Ele parou a mão dela e pegou-a. Ele olhou para os dedos delicados e passou o polegar pelas costas da palma da mão.
Ela esperou que ele respondesse, mas ela aceitaria se ele não o fizesse. Se ele a beijasse, a pergunta em si seria esquecida.
— Alguns anos atrás, algumas pessoas chantageavam homens proeminentes. Eles foram parados pelo meu irmão. Eu acho que Hugh Siddel foi um dos chantagistas, mas escapou da detecção.
Sua expressão caiu em surpresa. — Essa é uma acusação séria para fazer, Dante.
— Eu não farei isto publicamente a menos que eu tenha uma prova. É duvidoso que eu vá.
— Se você não tem provas, como...
— Ele sabe coisas que ele deveria, Fleur. Coisas que ele não poderia saber a menos que ele estivesse envolvido. — Ele hesitou, e disse a si mesmo que não adiantaria nada explicá-lo. No entanto, o impulso para continuar era maior do que o de poupar a dor de formar as palavras.
Ela não disse nada. Nenhum estímulo ou insistência. Ela apenas o observou. A sua expressão era tão pensativa. Os seus olhos estavam preocupados, mas sem expectativas.
— Eu, inadvertidamente, os ajudei, Fleur. Uma mulher entre eles, usou o meu desejo por ela, para ter acesso a alguns documentos. Esses documentos foram usados para chantagear dois homens. Ambos os homens se mataram.
Ele nunca contou isso a ninguém. Nunca até disse em voz alta. Soava ainda mais condenável do que ele esperava. O seu peito estava pesado, como se o ar em seus pulmões tivesse engrossado.
Fleur acariciou o seu rosto novamente, mais deliberadamente. — O crime não foi seu, mas deles. Nenhum homem poderia prever o que aconteceria. Você não deve se culpar...
— Um dos homens que se mataram era o meu irmão mais velho. — Um lampejo de choque brilhou em seus olhos. Então ela olhou para ele com a mais calorosa simpatia que ele já tinha visto.
Ela entendeu. Ele não precisava dizer mais nada. Os seus olhos honestos e claros pareciam ver em sua mente e até mesmo em seu coração e perceber a culpa que ele carregava. Ele sabia que ela sabia que nenhuma desculpa ou absolvição poderia fazer a diferença.
E, no entanto, de alguma forma, apenas o olhar dela mudou as coisas. Aquele silêncio de aceitação aliviou o peso dessa memória antiga. Finalmente, compartilhá-lo com esta amiga trouxe um pouco de paz ao canto de sua alma, onde ele manteve essa desgraça escondida. Ela se aproximou e o abraçou, colocando a sua bochecha macia contra o seu peito, segurando-o mais do que ele a segurava.
— Deixamos o mundo exterior se intrometer, afinal — ela disse calmamente. Ela parecia um pouco triste.
Não o mundo exterior. O mundo deles. Aquele em que eles viviam, cheio de pessoas e eventos que afetaram as suas vidas e este casamento. Ele sabia o que ela queria dizer, no entanto.
Ele gentilmente puxou o lençol. Ele deslizou lentamente pelo corpo dela enquanto as dobras suaves recuavam. Ele acariciou-a, a sua mão seguindo o mesmo caminho que o lençol, sobre a suavidade e as curvas. Ele a puxou para mais perto do seu coração.
— Eu sei uma maneira de fazer o mundo ir embora, Fleur. Eu conheço um lugar onde ele não pode nos encontrar.
— Sim — ela sussurrou. — Leve-me lá, Dante.
Na tarde seguinte, Dante esperou no escritório que um visitante chegasse. Ele passara pouco tempo neste aposento, e essa era a primeira vez que ele faria negócios oficiais aqui. Ou em qualquer lugar. Ele sempre evitou os sérios negócios financeiros que se associava aos escritórios. Quando jovem, ele os achara entediantes e incômodos, os tipos de assuntos que deveriam ser deixados para os homens mais velhos e obedientes como o irmão.
Ele estudou as gravuras de Piranesi em uma parede, e a pintura de Canaletto mostrando o Grande Canal de Veneza em outra. Se reuniões como essa se tornassem um hábito, ele manteria as gravuras, mas o Canaletto teria que ir embora. Ele não se importava com a visão do artista na Itália. Eles eram tão aceitáveis. Nenhum risco em tudo. A porta se abriu e Williams trouxe o cartão esperado. Farthingstone era previsivelmente pontual.
— Foi generoso da sua parte me receber — disse Farthingstone quando chegou. — Posso dizer desde o início que espero que você e eu possamos resolver amigavelmente todo o problema que nos aflige e de uma maneira que garanta o bem-estar da filha de Hyacinth.
Eles se sentaram em duas cadeiras. Farthingstone entrou no escritório e sorriu quando notou a pintura. — Ah, o Canaletto. Eu me lembro quando o Sr. Monley comprou. Eu sou a favor da arte dele. Esse é um excelente exemplo, se assim posso dizer.
Dante estudou esse homem chato que preferia Canaletto sem graça e tentou imaginá-lo perseguindo garotas nuas através de um jardim de verão, quando a tia de Burchard descreveu um rumor escandaloso de um bacanal de longa data.
— Você tinha assuntos importantes para discutir, você disse — Dante solicitou.
A expressão de Farthingstone ficou muito séria. — Lamento dizer que suspeito que você não conhece a extensão total da condição de Fleur. O que tenho a dizer pode ser um choque para você.
— Considere-me preparado para o pior. — Farthingstone teve a decência de corar e fingir hesitação antes de dar a má notícia. — Eu descobri que antes da sua aliança com ela, o seu comportamento era ainda mais estranho do que eu sabia. Entre outras coisas, ela visitou bordéis e foi à cidade tão desprotegida que até foi presa durante uma perturbação.
Ele informou Dante dos detalhes de ambos os eventos, enquanto Dante especulou sobre quais dos servos foram persuadidos a revelar isso.
— Parece que ambos os episódios foram há muito tempo.
— Mesmo um breve lapso não é um bom presságio, senhor. No entanto, existem acontecimentos mais recentes de natureza mais séria. Farthingstone inclinou a cabeça e olhou para cima com tristeza. — Ela foi pega roubando. Chá, não menos. Ela não precisa, o que torna tudo ainda pior. Pelo que sabemos, ela percorre a cidade naquelas caminhadas solitárias, agindo como ladrão por motivos que só a sua triste condição explica.
— Eu sei do incidente. Ela não roubou nada. Foi um mal-entendido.
— De fato? Então a sua explicação para estar no quarto dos fundos do The Cigar Divan é válida? É melhor admitir roubo, senhor. A alternativa é ainda pior, a sua crença de que ela viu o seu irmão há muito perdido entrar. Especialmente dado que ela nunca teve um irmão. — Farthingstone balançou a cabeça tristemente. — Temo que parte do tempo ela vive em um mundo de sua própria mente. Propriedades e julgamentos normais não existem para ela por causa disso.
— Farthingstone, não tenho provas de que minha esposa viva em outro mundo que não o nosso. Eu não testemunhei nada que indicasse que ela é outra coisa senão completamente racional.
A pálpebra do olhar de Farthingstone implicava que ele achava o seu anfitrião estúpido na melhor das hipóteses. — Eu acho que você não compreende totalmente a sua mente, senhor. Você me força a um assunto que eu esperava evitar.
— Se você se sentir forçado, não me culpe. Esta conversa não foi a meu pedido.
— Me ouça. É do seu interesse fazê-lo. — Ele conseguiu parecer chocado, austero e triste ao mesmo tempo. — Lamento dizer que tenho motivos para acreditar que ela formou uma aliança com um homem além de si próprio. — Ele espiou por cima, esperando pela reação.
Dante deixou o silêncio ultrapassar o ponto do drama. Pelo menos agora ele sabia quem tinha contratado para que aquele homem seguisse Fleur.
— Você parece notavelmente indiferente, senhor — disse desdenhosamente Farthingstone. — Se você não se importa com o bem-estar dela, eu pelo menos esperava que você tivesse interesse em sua própria reputação.
— Eu me importo muito com os dois. Estou apenas imaginando o que você espera de mim e por que veio aqui para colocar todas essas informações para o meu conhecimento.
— Como as coisas estão, você é responsável por ela. Eu não aprovei este casamento. Ainda posso avançar na questão de saber se ela tinha a presença de espírito para fazer tal contrato. Acredito que, se o fizer com o que acabei de lhe dizer, além do que eu sabia antes, terei sucesso.
— Eu duvido disso.
— Com essa nova evidência, estou muito confiante. É o bem-estar de Fleur que me preocupa, no entanto. Se eu estivesse convencido de que ela estava em boas mãos, que o seu marido entendia a necessidade de que ela fosse controlada e que a sua fortuna fosse preservada, eu poderia estar disposto a desistir e evitar a longa batalha legal que se aproxima. Afinal, ela não pode se mover de forma alguma sem a sua aprovação. Você deve assinar quaisquer contratos ou ações. A lei lhe dá autoridade total, não importa a independência que ela possa ter sob a ilusão que ainda tem.
Dante manteve a expressão sem graça, mas Farthingstone finalmente disse algo interessante. Farthingstone sabia sobre o acordo privado quanto à disposição da herança de Fleur. O que significava que Fleur contara a alguém. Dante imaginou quem era esse alguém. O seu conselheiro precisaria ter certeza de que ela ainda tinha controle sobre sua fortuna; caso contrário, qualquer conselho seria sem sentido. Ela contara a Siddel e agora Farthingstone sabia.
— Senhor, com certeza você entende as implicações do que estou dizendo? Eu sei que você tem pouco interesse em assuntos financeiros ou negócios, mas...
— Eu entendo as implicações para mim. Eu estou querendo saber o que você acha que elas são para você.
A porta se abriu, Farthingstone entrou correndo. — As suas frequentes vendas de propriedades devem ser interrompidas. A terra ainda é o melhor investimento. Ela falou por algum tempo sobre a venda da terra em Durham. Eu acho que isso seria imprudente.
— O bem-estar dela é sua única preocupação com relação a isso? — O Farthingstone reagiu com insulto. A meio do caminho para a indignação, ele pensou melhor. Um pouco timidamente, ele balançou a cabeça. — Você é afiado, senhor. Muito afiado. Eu sempre disse que você estava subestimado. Você força uma confissão de mim.
— Não sinta qualquer obrigação de explicar nada para mim.
— Não, não, pode ser o melhor. Devo confessar que tenho um interesse ulterior. Não é apenas a precipitação de vender aquela terra que eu deploro. Eu também não me importo com o uso para o qual uma parte será colocada.
— A escola.
— A minha terra fica ao lado da dela. Esta não será uma escola para filhos de cavalheiros. Ela não está planejando outro Eton, está? Será cheio da turba do mundo, rapazes mal-educados que não têm disciplina nem inteligência. Não é apenas uma tarefa tola, mas é algo que afetará significativamente a satisfação da minha propriedade.
Dante gostava de Farthingstone ainda menos do que antes. Ele também queria rir. Se Farthingstone fosse honesto, se todas as suas maquinações fossem por esse motivo, significava que Fleur se casara porque o vizinho não queria uma escola de meninos arruinando a sua visão enquanto passeava por suas fazendas.
— Eu confio que nenhuma venda tenha ocorrido ainda. Que nenhum ato foi assinado — Farthingstone se aventurou.
— Não, ainda não.
O Farthingstone não podia esconder inteiramente seu alívio. — Estou disposto a fazer valer o seu tempo para impedi-la de vender aquela terra e construir aquela escola — disse ele. — Vamos dizer, oh, duzentos por ano para garantir que a terra permaneça como fazendas. Calculo que o produto de uma venda, se colocado nos fundos, daria esse valor. Me acomode nisso, e você pode ter o dinheiro e ainda manter as rendas.
Foi um suborno total, mas interessante. Duzentas libras por ano não sustentariam uma escola, mas se Fleur vendesse essas fazendas e colocasse o dinheiro em custódia, parecia que toda a renda seria. O nariz bulboso de Farthingstone ficou vermelho enquanto ele aguardava uma resposta. Esse brilho rosado anunciava a excitação do homem como nenhuma agitação física poderia.
— Vou precisar de algum tempo para considerar isso — disse Dante.
— Não há tempo para uma longa consideração, senhor. Ela está tendo os desenhos para aquele edifício sendo feitos agora mesmo. — Ele inclinou a cabeça com curiosidade e assumiu uma expressão muito presunçosa. — Ou você não sabia disso?
Dante de repente sabia por que ele não gostava de negócios. Não eram os assuntos em si que ele achava entediantes e desagradáveis, mas os tipos de homens que muitas vezes eram atraídos por eles. Homens como Gregory Farthingstone.
— A sua oferta é interessante. Eu vou deixar você saber a minha decisão — ele disse, levantando-se.
— Logo, eu espero. Como eu disse, prefiro não apresentar o que sei a um tribunal, já que isso é tão público. Isso envergonharia ela e você. Espero que todos nós queiramos evitar isso.
Um suborno e agora uma ameaça.
— Eu vou decidir em breve, garanto-lhe.
Farthingstone despediu-se e Dante sentou-se à escrivaninha. Algum dia Fleur iria estabelecer contratos para ele assinar sobre a escola nesta superfície. Ele pensara que seria um ano pelo menos antes de fazê-lo, mas não parecia. Era hora de saber o quanto a sua esposa o havia desobedecido enquanto eles não eram realmente casados. Ele também precisava saber o que ela estava realmente fazendo com essa propriedade.
Capítulo 22
Fleur sentou-se na sua escrivaninha trabalhando em uma carta. As revelações de Dante sobre o Sr. Siddel pesavam em sua mente desde que as ouvira. Ela não podia negar que as evidências estavam aumentando contra ele. Isso não abonava a favor do seu julgamento, de permitir que Siddel tivesse um papel no Grande Projeto.
Era hora de exigir uma contabilidade, e se ele não desse uma, era hora de liberar o Sr. Siddel das suas obrigações para com ela. A inesperada chegada de Dante a assustou. A sua cabeça se virou ao ouvir o som de seus passos se aproximando. Ela largou a caneta e, quando se virou para ele, fechou a escrivaninha.
Ela tentou fazê-lo casualmente, para não parecer furtiva. Não funcionou. Ela viu o olhar dele acompanhar a ação.
Ele continuou a olhar para ela, com uma expressão séria e alerta. Com uma mão ele abriu a escrivaninha novamente. — Você não precisa parar porque eu estou aqui, minha querida.
A escrivaninha aberta revelou a correspondência recentemente recebida e folhas de papéis. Também mostrava a carta que ela acabara de escrever. Ele realmente não olhou para nada disso, mas ela se preocupou se ele vira a saudação ao Sr. Siddel que escreveu no topo da nova carta. Ele acariciou o seu rosto, assim como ele fez quando eles fizeram amor, com concentração pensativa. Ela sentiu algo além do desejo nele quando ele olhou para ela.
— O que é isso, Dante?
— Eu estou querendo saber se você está verdadeiramente disposta a ser completamente casada, Fleur.
— Eu acho que depois de ontem é óbvio que eu estou.
— Eu não estou falando apenas de sexo. Nem você, no quarto de vestir. Há mais no casamento do que compartilhar uma cama.
O seu olhar a deixou desconfortável. O seu segredo aberto também. O seu coração pulou quando ele apontou para os papéis. — Você está muito ocupada com algo que você não quer que eu saiba.
Ela trocou os papéis, fingindo descartá-los como insignificantes. Isso deu a ela a chance de passar a carta para o Sr. Siddel abaixo de alguns outros. — Eu me envolvo na correspondência habitual de uma mulher. Não seria de interesse para você.
— Eu acharia a correspondência habitual muito chata. No entanto, eu acho que há uma parte da sua vida que eu acho muito interessante. Não apenas por razões práticas, ou relacionadas às minhas responsabilidades como marido, mas porque é algo muito importante para você. Eu não posso te conhecer totalmente a menos que eu saiba.
Ele estava acusando-a de se esconder dele. De dar-lhe o corpo dela, mas não as partes mais profundas. Ela não podia dizer que ele estava errado. Nos últimos dois dias ela se sentiu culpada toda vez que considerou o Grande Projeto. Ser realmente casada o havia transformado no Grande Engano. A sua mão se moveu para a superfície da mesa. Com uma precisão alarmante, ele deslizou a carta para o Sr. Siddel até que fosse visível.
— Eu lhe disse para não se comunicar mais com ele, Fleur.
Ela fechou os olhos, mortificada. Desobedecer-lhe antes não parecera tão terrível, já que eles não eram realmente casados e ela tinha reservado os direitos de sua própria vida em seus arranjos. Tudo isso mudara agora e a carta era uma traição. Ela sabia que era. Tinha sido impossível escrever. Depois de meia hora, apenas duas linhas tinham sido escritas por causa de como ela se sentia culpada.
— Você me disse uma vez que tem um propósito na vida, Fleur. Um que fez você se sentir viva e jovem e isso não poderia ser negado. Eu gostaria de saber mais sobre isso, como o seu marido e amante, porque é importante para você. Se Siddel estiver envolvido nisso, quero saber como.
— Você está exigindo saber?
— Sim. No entanto, é minha esperança que você gostaria de compartilhar isso comigo. Se você esteve disposta a confiar em mim com o seu medo, eu gostaria de acreditar que você pode confiar em mim relativamente a isso.
Ela olhou para ele. Ela havia prometido não contar a ele, mas ela fez promessas maiores desde então. Com o corpo dela e com o coração dela. Ela fizera promessas que até Dante não conhecia, ao escolher o tipo de casamento que queria. Por isso era tão difícil escrever esta carta. Ela não queria enganar esse marido. Ela não queria comprometer o que este casamento poderia ser.
Ela se levantou e foi até um cofre no canto. — Eu pretendia te dizer, quando tudo estivesse organizado. Eu teria que fazer. Não havia como você ter assinado os documentos sem ouvir tudo.
— Temia que eu não cumprisse minha promessa?
— Eu acho que você sempre a mantém. É por isso que eu extraí uma de você. No entanto, se você soubesse disso antes que tudo estivesse organizado, esperava que você se preocupasse com o fato dos meus planos serem imprudentes e tentar me impedir. Ela abriu o cofre. — Não apenas imprudente. Um pouco confuso. O tipo de coisa que uma mulher que não era totalmente inteligente sonharia.
— Não há nada confuso sobre uma escola, Fleur. Eu lhe disse para atrasar, mas nunca disse que não deveria ser construída.
Ela levantou alguns longos rolos de papel do cofre. — Não é apenas sobre uma escola, Dante.
Ele a seguiu até o quarto dela. Ela jogou os rolos na cama. Escolhendo o maior, ela abriu completamente. Mostrou planos para um grande edifício de quatro níveis. As divisões tinham destinado vários usos. O endereço do arquiteto, na parte inferior, era em Piccadilly. Devia ter sido onde o lacaio seguiu Fleur.
— A escola — disse ele. Era muito maior do que ele esperava.
— É apenas preliminar. Há mudanças a serem feitas e muito trabalho a ser feito.
— Você fez isso recentemente, não foi? Mesmo que eu tenha dito para você atrasar isso.
— Eu queria ver como o prédio ficaria. Eu também precisava estimar os custos.
— Você também não tinha intenção de atrasar nada. — Ele não estava realmente zangado, mas também não estava com disposição para uma leve dissimulação.
— Não. Eu não tinha intenção de atrasar.
Ela pretendia ir em frente e organizar a venda de qualquer terra que precisasse para financiar esta escola. Ela iria apresentá-lo com documentos para assinar que ele achava que não deveriam ser assinados para a sua própria proteção. Na prisão, Hampton previu exatamente tal desenvolvimento e expôs o conflito entre honra e responsabilidades que poderia resultar.
— Eu não podia atrasar — disse ela. — O resto do projeto vai acontecer em breve ou não acontece. Uma vez que ficasse conhecido, a escola teria sido um mero adendo. A escola era apenas a minha razão pessoal para o resto.
— O resto?
— Está tudo aqui. — Ela desenrolou uma folha menor. Ela tinha um mapa do Condado de Durham.
Ele inclinou-se. — Quais são esses pequenos quadrados com números, seguindo estas linhas?
— Parcelas de terra. Os números referem-se a uma chave que criei que indica a propriedade. Veja, aqui é minha propriedade, e eu sou o número um. Lá em cima está a de Gregory, e ele é o número dois e assim por diante.
Ele notou o número um em algumas pequenas parcelas, em alguns casos a uma certa distância de sua grande propriedade.
— Você tem comprado alguma desta terra, não é?
— Foi assim que usei o dinheiro das terras que vendi.
Ela vendeu terras e comprou outras terras. Não seria notável, exceto que o seu plano era vender as terras de Durham também. Por que se preocupar, a menos que ela achasse que seria mais fácil fazer uma grande venda do que muitas quando a hora chegasse?
— A primeira coisa que você deve saber é que percebo que meu plano é arriscado —disse ela. — Eu esperava alguma resistência de você. Foi por isso que quis esperar até que todas as peças estivessem no lugar, o que achei que seria muito rápido.
Ele levantou o mapa para examiná-lo mais de perto. Essas pequenas parcelas ladeavam linhas no mapa. Duas linhas longas e sinuosas se moveram do centro, juntaram-se, depois serpentearam até a costa para formar um longo — Y . O ponto de junção estava no meio das terras de Fleur.
— O que é arriscado nisso? Você está vendendo terras para dotar uma escola. Parece muito simples.
— Não é apenas a renda da terra que vai dotar a escola. Não haveria o suficiente. Custa muito dinheiro para apoiar todos aqueles garotos.
Ele viu outra linha, muito parecida com o Y, que se estendia de Darlington até à cidade de Stockton.
— Vou usar os recursos da venda de terras para fazer outro investimento. Essa é a parte arriscada.
Ele apenas a ouviu pela metade. A sua concentração no mapa foi aguçada. De repente, ele percebeu o que estava olhando.
Essas linhas não estavam lá para ajudar Fleur a distinguir os pedaços de terra que comprara. Tampouco essas linhas eram estradas. As marcações tinham outro significado.
— O que é esse investimento arriscado? — Ele perguntou, já adivinhando a resposta.
Ela se aproximou e passou o dedo ao longo do “ Y “. — Isto vai ser uma ferrovia, Dante.
Uma estrada de ferro.
A sua esposa, a santa Fleur Monley, que se colocara na prateleira e se dedicava a ajudar os oprimidos, planejava construir uma ferrovia.
Ele olhou para ela. A sua expressão era uma combinação de orgulho e preocupação.
— É mais do que arriscado, Fleur. É quase inexperiente.
— Não completamente assim.
— Siddel te atraiu para isso?
— É tudo ideia minha. Olhe. — Ela olhou por cima do braço dele e apontou. — Há carvão aqui no centro de Durham.
Todo mundo sabe disso há um século. Só é difícil transportá-lo para a costa e a terra não é adequada para canais. Com uma ferrovia, no entanto, ela pode ser movida e esses campos de carvão podem ser abertos.
— Você tem o carvão indo para Hartlepool, não para Newcastle.
— O inspetor disse que seria mais fácil assim, e também não terá que atravessar terras pertencentes a membros da Grande Aliança. Eu não acho que eles permitiriam isso.
Ele deixou o mapa cair de volta na cama. Ele olhou para ela, mais atordoado do que queria admitir. Ela tinha criado isso sozinha. Ela tinha visto as possibilidades e pagara pelo levantamento da rota dessa ferrovia.
Não só para que ela pudesse dotar a sua escola. Ele imaginou que mais a havia impulsionado do que isso. Ganância também não. Finalidade. Realização. A satisfação de fazer isso primeiro e fazer bem. É tudo ideia minha.
— Espero que você não desaprove. Muitas pessoas não favorecem as ferrovias e pensam que são cruéis. Eles não vão embora, no entanto, é
— Há quanto tempo você está nisso?
— Dois anos. Eu tinha pensado sobre isso, e quando a terra veio para mim depois que minha mãe morreu, comecei a planejar. Foi um jogo no início, só para ver se a ideia tinha mérito.
— Sozinha? Nenhuma ajuda em nada?
— Eu tive alguns conselhos no começo.
— Siddel?
— Não o Sr. Siddel. O Sr. Guerney dos Amigos respondeu algumas perguntas para mim. Ele é irmão da senhora Frye?
— Quaker Guerney? O financista? Ele é seu conselheiro secreto? Ele está por trás disso?
— Ele me deu alguns conselhos logo no início. Ele não está por trás disso. Uma ferrovia é suficiente para ele. Ele foi capaz de me dizer os tipos de lucros que poderiam ser feitos, no entanto.
Lucros enormes, quando funcionava. Grandes perdas quando isso não acontecia. Dante não conhecia os detalhes, mas sabia que a linha Stockton-to-Darlington em que Guerney investira custara mais de cem mil libras. E o “Y” de Fleur era muito, muito mais longo.
— Você estava certa, Fleur. Quando você trouxe isso para mim, eu teria exigido muita explicação. Eu não vou poder assinar nada a menos que eu perceba.
Ela se sentou na cama e olhou desolada para o mapa. — Vou explicar tudo, Dante, mas acho improvável agora que vou pedir sua assinatura. Eu cometi um grande erro.
— Siddel.
— Sim.
— Como ele se envolveu?
— Eu conhecia a sua reputação em formar parcerias de investimento. Então, quando ele veio a mim, oferecendo-se para comprar qualquer terra que eu quisesse vender, ele tinha ouvido falar de minhas recentes disposições. Eu fiz uso da renovação do nosso conhecimento para eventualmente propor o plano. Agora eu me pergunto se ele já sabia de outros que tinham planos semelhantes e queriam comprar a minha terra por esse mesmo motivo.
— Acho mais provável que ele tenha falado primeiro com você em nome do Farthingstone. Se Farthingstone tem os seus próprios planos para uma ferrovia ou simplesmente não quer uma escola lá, não posso dizer.
Ela começou a enrolar os desenhos. — Eu tenho me perguntado se ele se aproximou de mim por causa de Gregory também e se tem me atrasado a pedido de Gregory. Eu gostaria de saber com certeza se ele e Gregory têm uma parceria.
— Eu tenho certeza que eles têm, Fleur. Acabei de me encontrar com Farthingstone. Ele sabe sobre o nosso acordo. Ele sabe que você acredita que pode fazer planos como este sem a minha aprovação e que eu concordei em dar minha assinatura.
Ela não se mexeu. Não olhou para ele.
— Você teria que deixar que Siddel soubesse disso depois de nos casarmos. Caso contrário, os seus esforços nessa ferrovia eram uma perda de tempo.
— Nós tivemos vidas separadas, Dante. Você não teve que deixar a sua antiga vida por causa de nosso casamento. — Ela olhou para ele. — Eu sinto muito mesmo. Era difícil manter isso escondido de você, mesmo que fosse o meu direito, e ainda que o sigilo fosse vital. Eu queria muito compartilhar com você, como meu amigo, porque era muito importante para mim.
Ele entendeu, mais do que ele queria. Ela queria compartilhar com ele, mas em vez disso ela compartilhou com Hugh Siddel. O envolvimento de Siddel com este projeto, e o envolvimento de Fleur com Siddel, datavam muito antes daqueles dias naquela casa de campo.
Isso o enfureceu de qualquer maneira. O ciúme não era racional, nem justo. Ele sabia disso. Ele controlou isso. Por agora. Isso deu a ele mais uma razão para não gostar de Siddel, no entanto.
— Eu quero que você remova Siddel deste projeto, Fleur. Você pode fazer isso?
— Ele me colocou em um dilema impossível. Quando lhe pedi para encontrar os investidores, enfatizei a necessidade de sigilo. No entanto, nunca esperei que ele guardasse segredos de mim. Ele se recusa a me dizer o nome dos investidores, mesmo afirmando estar perto de encontrar os suficientes. Eu comecei a me preocupar que ele está me atrasando enquanto ele trabalha com outros para buscar uma rota alternativa. Se assim for, perderei a vantagem e não haverá nada que eu possa fazer a respeito.
Dante passou os dedos pela faixa norte do mapa. — Ele está empatando, é possível que ele esteja apenas impedindo que qualquer ferrovia seja construída. Para Gregory ou outra pessoa. Novos poços produzirão carvão que competirão com aquele no Norte. Se o porto de Hartlepool crescer por causa das remessas de carvão, competirá com o de Newcastle. Se ligarmos os campos ocidentais de carvão à costa, haverá homens poderosos que não ficarão satisfeitos.
— Você acha que Siddel disse a eles?
— Eu sei que ele tem um relacionamento com um homem que é empregado de uma família da Grande Aliança. No entanto, o quer que tenha feito, não importa. Siddel está fora disso agora. Você entende?
— Sim. Eu acho que de um jeito ou de outro, ele me traiu. O que significa que falhei. Eu não acho que possa seguir em frente na escola. Eu posso me dar ao luxo de construí-la, mas não para criar a dotação que garantirá o seu sucesso.
A sua voz era firme, mas a sua expressão era muito triste. Ela parecia desolada quando anunciou a morte do seu sonho.
— Vamos encontrar uma maneira de construir a escola, Fleur. Você cumprirá seu grande propósito. Se for preciso encontrar um caminho diferente, encontraremos um.
Ela olhou para cima com um sorriso trêmulo. Não ficou claro que ela acreditasse nele, mas o calor em seus olhos dizia que ela apreciava sua decisão.
— Eu devo escrever minha carta para o Sr. Siddel.
Ela caminhou em direção à sua sala de estar, e ele apontou para seus próprios aposentos. Ele também tinha uma carta para escrever.
— Dante — disse ela, parando-o — Quando eu te falei sobre a escola ser meu propósito, depois que nos encontramos com o Sr. Hampton, você disse que entendia
E ele entendia.
— Você disse que você poderia compreender o que significava viver sem um e depois encontrá-lo.
Ele poderia.
— Talvez um dia você me conte sobre o seu propósito, Dante. Eu gostaria de ouvir sobre isso e compartilhar com você.
Ele a observou desaparecer na sala de estar.
Você meu amor. O propósito que encontrei é você.
Capítulo 23
Hugh Siddel olhou em choque a carta que segurava. Continha apenas uma frase, escrita pela mão segura de Fleur. Sem cerimônias ou explicações, ela o dispensou de continuar com seu papel no projeto ferroviário. Os seus dedos esmagaram o papel até que eles se fecharam num punho. Aquele desgraçado Duclairc a forçou a escrever isso.
A mulher estúpida havia confiado nele depois de tudo, e ele estava usando essa oportunidade para exigir uma pequena vingança pelo jogo de cartas. Forçando um pouco de calma, ele calculou o que isso significava. Não havia como Cavanaugh descobrir que essa carta chegara. Se Fleur estivesse desistindo do seu projeto, Cavanaugh continuaria ignorante sobre isso também. Os pagamentos feitos por Cavanaugh para garantir que o projeto fosse adiado poderiam continuar por um longo tempo.
Ele sorriu para si mesmo. Na verdade, a decisão de Fleur concluía as coisas de forma muito clara. Empatar o processo tinha-se tornado difícil. Ele se preocupava por quanto tempo poderia continuar a afastá-la. Se Duclairc tivesse descoberto a sua associação e a proibido de continuar, ele não poderia ter escolhido um momento melhor para interferir. Então, novamente, talvez Duclairc ainda fosse ignorante. Outro capricho capturou a sua atenção, talvez.
Algum outro projeto. Talvez a sua rotina social estivesse preenchida tão completamente de festas e diversões que os esforços caridosos agora a entediavam. Contente que a carta oferecia a oportunidade de pendurar Cavanaugh indefinidamente, Siddel deixou os seus aposentos para sair. Ele encontrou o seu mordomo nas escadas, chegando com uma salva na mão. Siddel leu o cartão. — Em plena luz do dia? Surpreendente. Onde você o colocou?
— Ele está na sala da manhã, senhor.
Siddel desviava para a sala da manhã, onde Gregory Farthingstone, muito agitado, andava de um lado para o outro.
— Estou surpreso em ver você aqui, Farthingstone. Você acabou de entrar pela porta da frente, onde todo o mundo podia ver você?
— Isso não podia esperar pelo amanhecer, senhor. Eu enfrento tanta ruína que pode não importar o que o mundo vê em qualquer caso.
O rosto de Farthingstone ficara muito vermelho. Ele parou e respirou fundo para se recompor.
— Sente-se, meu amigo, e acalme-se.
Farthingstone obedeceu. Mantinha uma expressão de extrema desolação. Recuperou-se, mas não falou, apenas estendeu um pedaço de papel. Siddel pegou. Era uma carta de Dante Duclairc. Breve como a de Fleur, também continha apenas uma frase: Minha esposa terá sua escola, mesmo que eu tenha que cortar e carregar cada pedra sozinho.
— Ele é louco — murmurou Farthingstone. — Ambos têm o bom senso de recém-nascidos. Ela achou um homem tão impraticável quanto ela é. Uma parceria inexplicável e eu estou destruído por causa disso.
— Por que ele escreveu isso?
— Eu me encontrei com ele. Eu expus as minhas provas, que são muito fortes, senhor, muito fortes. Novos fatos chegaram ao meu conhecimento, você vê. Eu acreditava que tinha um entendimento correto com Duclairc sobre o escândalo que resultaria se nós fossemos a tribunal. Ofereci-lhe uma soma considerável para deixar essa propriedade como fazendas.
— Essa foi a sua solução? Subornar o homem?
— Eu dispenso o seu desprezo. Foi um inferno para meu orgulho que me aproximasse dele como um cavalheiro.
— Com a fortuna que ele tem agora, duvido que a quantia que você poderia oferecer o dissuadisse.
— Você não precisa me lembrar de quão pouco está à minha disposição para as negociações. Tampouco devo lembrar como essas negociações também serão benéficas para você. Um homem na sua posição pode até decidir que metade de um pão é melhor que nenhum e me ajudar a sair da minha situação.
Siddel deixou essa sugestão passar. A coisa sobre pães era, se você desse metade, você passava fome.
Farthingstone aceitava com dificuldade que o plano não tivesse corrido bem. — Duclairc teria ficado melhor com duzentos do que se ela vendesse. O homem é um imbecil se não compreende isso. Eu pensei que ele compreendia, mas... — Ele gesticulou para a carta e o seu rosto avermelhou novamente. — É muito chato ter o futuro ao sabor de tolos, eu lhe digo.
Siddel olhou novamente para a carta de Duclairc. Ele compreendeu as suas implicações mais do que Farthingstone jamais poderia. Duclairc sabia de tudo. Mesmo as partes que Farthingstone não. Pior, Fleur não estava desistindo. Ela planejava continuar o seu Grande Projeto, assim como construir aquela escola, e o seu inútil marido havia concordado em permitir isso.
Se ela conseguisse, não apenas os pagamentos de Cavanaugh parariam. Toda a renda que o sustentava e os seus prazeres cessariam. O legado do seu tio se tornaria inútil. Ele entregou a carta de volta a Farthingstone. — Você não pode permitir que isso aconteça, é claro.
— Danação, eu sei disso. No entanto, eu estou perdido para discernir como pará-lo. O advogado de Duclairc afogou a Chancelaria em petições e o meu próprio não consegue progredir com rapidez suficiente. Pode levar meses até que a minha posição seja aceita, e até lá... — Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. — Eu soube que ela já está tendo a escola projetada. Ela pretende começar em breve.
— Não muito rápido, se você se mover mais rapidamente. — Esses projetos devem ter sido encomendados quando ela pensou que a maioria dos investidores foram coletados. Começar de novo levará algum tempo. Ainda assim, não parecia bom.
Farthingstone exalou a sua miséria e o seu corpo se encolheu em si mesmo. — Duclairc provavelmente fará com que o seu irmão compre o resto da terra para que ela tenha os fundos para construir. Ou seu amigo St. John. Ou seu amigo Burchard. A terra é sempre desejada. Quando os fundos estiverem em suas mãos, ela começará na escola.
— Você deve impedi-los de vender. Você definitivamente deve impedi-los de construir. É tão simples assim.
— Fácil para você exigir. Não há jeito de detê-los, eu lhe digo.
— Claro que existe.
Farthingstone ficou imóvel. Ele olhou para as tábuas do chão.
Siddel caminhou até à janela e olhou para fora. Ele imaginou Fleur naquela capa com capuz na primeira vez que eles se encontraram na igreja, seus olhos azuis brilhando de excitação enquanto ela explicava o seu plano insano.
Ela parecia tanto com a garota que ele amara.
Bem, nada de bom viria de tal sentimento agora. Ela não era mais uma garota, mas uma mulher casada que estava determinada a tomar atitudes que o incomodariam mais severamente.
— Diga-me, Farthingstone, estou curioso. O que acontece com essa propriedade em Durham se o atual dono morrer sem filhos?
A resposta demorou a chegar. — É legado a uma instituição de caridade dedicada à reforma das prisões.
Siddel se virou para ele. — Eu sempre achei que a reforma da prisão é uma causa digna, merecendo apoio. Você não acha?
Farthingstone desviou o olhar. Ele não disse nada. O rubor em seu rosto drenou, deixando-o muito pálido.
Fleur reuniu todas as cartas e documentos relacionados com Grande Projeto. Ela os tirou da mesa e os colocou no cofre junto com os desenhos da escola. Quando ela fechou a tampa do cofre, ela admitiu que sentiria falta da emoção de planejar a sua ferrovia. Foi emocionante. Até mesmo o segredo tinha sido apelativo para ela. Ela tinha sido tola em pensar que poderia fazê-lo, no entanto. Tais planos podiam afundar com um passo em falso, e ela tinha dado um grande. O seu nome era Hugh Siddel.
Eventualmente ela iria construir sua escola. Bem o Grande Projeto derivaria disso. Nenhum grande dote garantiria a sua sobrevivência. Ela iria encontrar uma maneira de apoiá-la, no entanto. Dante iria ajudá-la.
Dante. Ela se arrependeu de não ter o Grande Projeto para distraí-la hoje à noite. Ela comparecera ao teatro com Laclere e Bianca, mas Dante não se juntara a eles. Ele tinha ido a outro lugar, e ela estava se esforçando para não especular onde aquele lugar poderia ser.
Um novo tipo de ciúme queria criar raízes em seu coração. Ela lutou para impedir isso. Ela suspeitava quão desoladora seria. Ela decidiu não pensar sobre a vida que ele levava quando deixava esta casa, mas apenas sobre o que eles compartilhavam quando ele estava aqui. Quando ela escolheu o tipo de casamento que queria, ela sabia que, provavelmente, não o teria exatamente do jeito que esperava.
A noite ainda era jovem, mas ela se preparou para dormir. Ela continuaria esse hábito, ela decidiu. Ela não mentiria para si mesma, nem o imaginaria com outras mulheres, mas garantiria que nunca soubesse se ele não voltasse uma noite. Ela foi para a cama, mas o sono não veio pacificamente. O seu cochilo estava intermitente, cheio de imagens de Dante, e o seu coração se encheu de medo de desgosto.
De repente ela estava muito acordada. Alerta instantaneamente. Ela virou a cabeça e viu velas no quarto, perto da porta do seu quarto de vestir.
— Dante?
Ele veio até ela. — Eu pensei que você estava dormindo.
— Ainda não.
Ele colocou o candelabro numa mesa e sentou-se na cama. — Você gostou do teatro?
— Muito. O camarote do seu irmão estava muito animado, com todo mundo os visitando para lhes dar as boas-vindas. Eu gostaria que você tivesse vindo.
Ela instantaneamente se arrependeu de dizer isso. Ela deslizou ao redor e sentou ao lado dele na beira da cama. — Sinto muito. Eu sei que mesmo sendo realmente casados não significa que passemos todas as noites juntos. Estou sem prática sendo sofisticada, isso é tudo.
Ele desamarrou sua gravata e a puxou. — Não se desculpe. Eu não quero que você se torne sofisticada. Eu sei muito bem que isso também significa ficar indiferente.
Ele tirou o colarinho e o colete em silêncio. Ela podia sentir a sua mente trabalhando. Ele parou por um bom tempo antes de se virar para a camisa e outras roupas.
— Você não me perguntou sobre a minha noite, Fleur.
Ela não sabia o que dizer.
— Eu sei porque você não perguntou. Você tem praticado essa parte de ser sofisticada há algum tempo, não é?
— Sim. E não dominando a habilidade.
— Fui aos meus clubes. Foi bastante chato. As cartas não me interessam como costumavam fazer.
— Você ganhou?
— Sim, mas ainda ficou aborrecido depois de um tempo. Eu me vi pensando que a sua companhia seria muito mais interessante.
— Estou feliz que você pense isso.
— McLean acha que a minha sobriedade é sua culpa. Ele diz que os jogos de casamento me arruinaram para todos os outros.
— Eu gostaria de acreditar nisso, Dante. No entanto, você tem sido um homem da cidade há muitos anos e eu acho que você conhece mais jogos do que eu imagino. Estou em desvantagem.
— Não há competição acontecendo. Você não está em desvantagem.
Isso não era verdade. A santa Fleur Monley tinha pouco a oferecer a um homem com suas experiências mundanas. Até mesmo a deusa Fleur Duclairc estava em desvantagem.
Ele se virou para ela e começou a desabotoar o topo da sua camisola. — Você está tentando dizer que você quer aprender outros jogos, Fleur?
— Eu sou tão ignorante do que eles poderiam ser que eu não sei se eu quero aprendê-los.
— Eu já mostrei a você um.
Ela sabia o que ele queria dizer.
— Essas outras formas parecem garantir o prazer da mulher, não do homem.
— Eu tenho grande prazer em fazer você gritar por mim. — Ele deslizou sua camisola para que ela se sentasse nua ao lado dele. — No entanto, para ser preciso, eu só mostrei metade de um.
Ele a beijou, abraçando-a contra sua pele, ainda sentando lado a lado tão educadamente como se a cama fosse um banco de jardim. Sua mente trabalhou no que ele acabara de dizer. Uma noção muito chocante do que a outra metade poderia ser surgiu. Ele sentiu seu espanto. Quando ele a beijou, ela sentiu o seu pequeno sorriso se formar.
Virando-a em seus braços, ele a deitou de costas em seu colo, com a cabeça e os ombros de um lado das coxas e os quadris do outro, e seu corpo esparramado, arqueado e vulnerável. Ela não conseguia nem o abraçar assim, e seus braços caíram fracamente em ambos os lados da cabeça.
O seu olhar se moveu lentamente sobre ela. A sua mão arrastando seguiu o mesmo caminho. Ambos fizeram o seu corpo muito sensível, todo. A mais deliciosa antecipação ronronou através dela.
A sua leve carícia a excitou impiedosamente. Antecipação de toques mais intencionais a deixou meio louca. Os seus dedos continuavam tateando perto dos seus mamilos e coxas, mas nunca tocaram os lugares que ela realmente queria. Isso a excitava na mesma, lentamente, implacavelmente, incrivelmente.
— Não há concorrência, Fleur. — Suas pálpebras baixaram e a sua mão roçou o seu mamilo, fazendo-a ofegar e arquear. — É muito bom com você.
A sua palma suavemente circulou sobre o seu peito, provocando a ponta apertada. Estando assim, a observá-lo, observando a sua excitação, incapaz de abraçá-lo ou esconder a sua crescente loucura, era incrivelmente erótico.
O seu falo pressionou contra o seio direito dela e ela inclinou o braço para que pudesse tocá-lo. O seu olhar se moveu para seu rosto enquanto a sua mão continuava os seus padrões de tirar o fôlego. Ela tocou-o levemente, enquanto ele a tocava, então a tortura erótica seria mútua.
Ele levantou os ombros dela e ela esperava que ele a beijasse. Em vez disso, ele gentilmente a virou, então o seu rosto e seios pressionaram o lençol e os seus quadris cruzaram o seu colo. Uma carícia longa e firme do pescoço até as costas dela ordenou que ela ficasse assim. Cega agora, ela só podia sentir.
— Você é tão adorável, Fleur. De dia ou de noite. — A sua mão alisou o seu traseiro. Ela não podia conter como era excitante se deitar nessa posição submissa. Um elemento perverso e perigoso coloria o seu desejo de escalada, a embora a sua carícia fosse gentil.
A sua mão desceu para a carne interna das suas coxas. A sua excitação se concentrou imediatamente perto da sua mão, e a sua mente confusa começou a implorar silenciosamente.
— Eu nunca vi nada mais bonito do que você em sua paixão, querida.
As carícias lentas nas costas, no traseiro, nas coxas empurraram o seu controle. Ela ouviu as notas de admiração e apelo na sua respiração ofegante. A espera tornou-se maravilhosa e insuportável. A sua outra mão levantou o seu ombro. — Ajoelhe.
Ela não entendeu. Ele mostrou a ela. Mãos de um lado das coxas e joelhos do outro, ela se apoiou. Ele chegou abaixo para acariciar os seus seios, e a sensação era tão intensa que todo o seu corpo estremeceu. Os seus quadris se contorciam impacientes enquanto a outra mão se aproximava mais perto.
— Afaste mais os seus joelhos.
Ela o fez, meio louca com uma necessidade furiosa.
O toque a fez gritar. Ela ouviu o som nas bordas da sua consciência. A maneira como ele tocou os seus mamilos só intensificou a sensação. Ele continuou criando mais fome, mesmo quando parcialmente a aliviou.
Ele acariciou as costas dela e foi para baixo novamente. Os seus dedos arrastaram-se ao longo da sua fenda para tocá-la por trás. O seu corpo se arqueou, quadris subindo e ombros abaixando, exigindo mais, ansiosos por alívio e conclusão. O movimento fez o seu braço pressionar o seu falo. Em seu estupor, ela virou a cabeça e beijou-o. Ele, instantaneamente, ficou completamente parado. Uma perversa sensação de poder tingiu o seu abandono. Ela beijou novamente, bem na ponta. — Não?
Os seus dedos se torceram no cabelo da cabeça dela. — Sim— Sua voz soou um pouco selvagem.
Ela se rearranjou um pouco e beijou novamente. Uma excitação diferente e loucura a possuíam agora. Ela sacudiu a língua, muito satisfeita com a sua própria ousadia. Não era tão escandaloso fazê-lo como pensa-lo. Ela usou a boca mais agressivamente.
Os dedos, no cabelo dela, ficaram tensos e ergueram a sua cabeça. Ele a reivindicou em um beijo furioso e arrebatador que deixou a sua mente e os seus lábios dormentes. Ele a deitou e dobrou os joelhos até ao peito e entrou nela profundamente, tão profundamente que ela o sentiu tocar o seu útero. Levantando-se em seus braços, retirou-se inteiramente e entrou de novo, lenta e completamente. A sua vulva latejava com a plenitude dele e com expectativa quando ele saiu.
O seu rosto permaneceu duro com controle e paixão determinada. Os lentos e intensos impulsos continuaram exigindo que a sua paixão aumentasse com a dele. O seu próprio corpo estava grato por aceitar e se submeter e seguir mais uma vez. O final dificilmente era gentil, mas ela não se importava. A sua própria paixão acolheu a sua intensidade selvagem e dominação implacável. Ela amava sentir e ver a sua conclusão. Ela se deliciava com os impulsos duros e profundos que os uniam em uma linda loucura.
Acima de tudo, no entanto, ela amava o jeito que ele dormia ao lado dela depois, em um abraço que os mantinha coração para coração.
— Minha esposa já desceu, Hornby?
— Não é para eu notar essas coisas, senhor.
— Certamente. No entanto, ela já desceu?
— Como o senhor exige isso de mim, a Sra. Duclairc deixou os seus aposentos há um tempo atrás.
Dante se virou para sair também.
— No entanto, acho que não a encontrará lá embaixo, senhor, se essa é a razão da sua pergunta. — Hornby foi até a janela aberta e respirou profundamente. — Uma manhã tão linda como essa. São manhãs como esta que acenam a um longo passeio no meio da grama e flores.
Dante não conseguiu demonstrar qualquer aborrecimento com a indicação de que Fleur ainda saía sozinha pela manhã.
Depois da noite passada, ele seria incapaz de se irritar com qualquer coisa que ela quisesse fazer.
— Acho que vou dar uma volta no parque, Hornby. Existe algum lugar em particular que seja singularmente agradável no período da manhã?
— Eu ouvi o lacaio Christopher dizer que passear ao redor do reservatório é muito lindo nesta hora do dia.
Dante saiu da casa e caminhou os poucos quarteirões até Stanhope Gate e entrou no Hyde Park. A essa hora, nenhuma carruagem rolava pelas ruas e apenas algumas pessoas passeavam. Mulheres pontilhavam o verde, acompanhadas de criadas ou amigas. Vários homens mais velhos caminhavam apressadamente, fazendo exercícios deliberados. A maior parte do barulho vinha das canções dos pássaros.
Ele caminhou lentamente, aproveitando a calma e a estranha experiência de visitar esse parque apenas para apreciar a sua beleza. Ele raramente vinha aqui, exceto pelas razões que a maioria das pessoas fazia, para ver e ser visto. O parque servia apenas como palco para os dramas sociais da moda. Ele decidiu que gostava mais agora. Ele entendeu por que Fleur andava aqui quase todas as manhãs. Ele estava ansioso para compartilhar isso com ela hoje.
Ele se aproximou do reservatório e examinou a paisagem, procurando por Fleur. Ele não conseguia ver nenhuma mulher, apenas um homem afastando-se de Grosvenor Gate. Ele parou e olhou ao redor.
Ele se virou e varreu o olhar sobre o resto do parque, procurando por uma figura com um manto de capuz. Todas as mulheres que ele podia ver estavam mais elegantemente vestidas.
Ele devia ter se desencontrado com ela. Ela provavelmente estava saindo por um portão quando ele entrou através de outro. Decidindo dar uma volta no reservatório de qualquer maneira, ele se aproximou. Ele caminhou ao redor, olhando mais para o chão do que o parque ou a água, pensando na noite passada e nos últimos dias. Sua mente voltou-se para a escola de Fleur e o seu Grande Projeto e a probabilidade de que ou se concretizasse.
Ele riu para si mesmo. Farthingstone alegou que ela estava viciada. Longe disso, embora houvesse muitos homens que pensariam que qualquer mulher que ousasse inventar tal esquema era totalmente louca.
Ela não era louca. Audaciosa e inteligente, mas não louca. Ele ainda estava se acomodando com o que ele vivia com ela. Ele passou por uma seção do reservatório onde alguns juncos haviam criado raízes. Com o canto do olho, ele viu as linhas verticais e o modo como a água se acumulava ao redor deles.
Algo mais chamou a sua atenção e o tirou dos seus pensamentos. Ele se virou e olhou para a água. Cinco segundos se passaram antes que ele aceitasse o que estava vendo.
Um grito rugiu através dele, ao mesmo tempo sem som e ensurdecedor. Horrorizado demais para pensar, ele se deitou sobre a parede do reservatório e alcançou as sombras escuras que flutuavam logo abaixo da superfície.
Ele agarrou uma ponta e seu coração parou. Ele sabia o que era. Apenas soube. Puxando, ele arrastou o pano e pôde sentir como um peso o segurava na água. Ele puxou mais forte e um corpo balançou na superfície.
O rugido em sua cabeça tornou-se um uivo. Um grito vicioso, selvagem e aterrorizado. Ele agarrou o seu corpo e puxou-a para cima. O manto encharcado lutou contra ele. Ele pegou o rosto dela acima da água e arrastou-a para a borda do reservatório e para cima, no chão.
Meio cego, o olhar dele disparou ao redor. Pequenos pontos se moviam à distância, longe demais para responder a um pedido de ajuda. Ele gritou um de qualquer maneira quando ele virou Fleur ao lado dela e começou a forçar a água para fora dela.
O tempo passou. O seu sangue correu. Ela parecia morta. Ele virou-a de barriga para baixo e a pressionou de volta. A água deixou sua boca em um fluxo constante.
Então ele viu o sangue. Escorria pelos cabelos, misturando-se com os cabelos úmidos, aumentando a humidade. Ele se inclinou, mesmo enquanto continuava pressionando-a para trás e viu a ferida na parte de trás de sua cabeça.
Por um instante, a fúria primitiva rachou através dele. No momento seguinte ela desapareceu, substituída por uma resolução gelada.
Ele mataria quem fizera isso, mesmo que ela vivesse. Se ela morresse, ele mataria o homem lentamente.
Um som rompeu o seu horror. Uma ligeira tosse sacudiu o corpo de Fleur. Ele virou-a de lado novamente e forçou, outra vez, a água para fora dela. A água jorrou de sua boca quando uma convulsão a atingiu.
Ele colocou a palma da mão contra o rosto dela e sentiu um pouco de calor sob o frio. — Volte, querida. Olhe para mim.
Os seus cílios tremularam. O seu corpo flexionou. As suas pálpebras se levantaram. Os seus olhos pareciam cegos por alguns horríveis batimentos cardíacos, em seguida, focados nele.
— Dante.
— Não fale. Não se mova. — Ele soltou o manto para que ele se soltasse de seu corpo. Ele tirou a sobrecasaca e colocou-a ao redor dela. Ele queria chorar de alívio. Apenas cuidar dela o mantinha composto. A realização total do que ele quase a perdera começou a penetrar em seu choque, aterrorizando-o.
Um cabriolé se aproximava no caminho mais próximo. Ajoelhando-se, ele levantou Fleur em seus braços. Quando ele se levantou, o seu corpo reagiu ao peso, mas ele ignorou. Ele poderia a ter carregado uma milha se precisasse. Ele a carregou ao redor do reservatório, gritando para a carruagem parar.
— Você deve se acalmar antes de ir até ela — disse Laclere. Eles andavam juntos na sala de estar de Fleur enquanto um médico a atendia no quarto. — Ela não deveria ver você assim.
— Assim, como?
— Com o assassinato em seus olhos.
Dante caminhou até a lareira e examinou as figuras de porcelana que segurava. O seu irmão estava errado. Ele não precisava se acalmar. Ele nunca esteve tão calmo em sua vida.
— Não será assassinato. Burchard retornará em breve e me dirá onde encontrá-lo.
— Acusar um homem como Farthingstone é tão mal quanto um assassinato. Você nem sabe ao certo que foi ele?
— Eu não preciso de sermões de você, principalmente hoje. Eu sei que ele organizou isso. Se fosse a sua esposa deitada ali, você não seria tão indignamente desapaixonado. Se você está aqui para me dissuadir, saia.
Vergil sentou-se na cadeira perto do quarto de Fleur. — Me desculpe. É claro que você deve lidar com o homem como quiser. Ele fez uma pausa. — Eu não sou desapegado, Dante. Eu estive onde você está, quando a mulher que eu amava estava em perigo. Eu posso ter desafiado um homem em nome de uma pessoa diferente e uma honra diferente, mas o meu coração não era puro.
Dante cruzou os braços e olhou para a lareira fria. Vergil estava falando daquele duelo, no qual lutou para proteger a honra do seu irmão mais velho morto. Era um assunto que eles nunca haviam discutido. Vergil exigira enfrentar aquele homem, mas agora admitia que algo mais o tinha motivado além do seu direito de precedência ou o medo de que Dante falhasse. Era uma confissão generosa, de um jeito que Vergil provavelmente não sabia. Isso diminuiu a raiva de Dante com as tentativas do seu irmão para acalmá-lo.
— O Farthingstone tinha um homem seguindo-a— ele disse, para tranquilizar o seu irmão. — Ele sabia que ela entrava no parque todas as manhãs. Eu vi o homem uma vez, e Farthingstone me contou o suficiente dos seus movimentos para indicar que este homem a seguiu por algum tempo.
— Você sabe por que ele a seguiu?
— Para acumular evidências de que a sua mente não estava certa e o seu julgamento prejudicado — Ele balançou a cabeça.
— Melhor para ela se ele tivesse conseguido me matar em vez disso. Quando penso em quão perto ... mais alguns minutos...
— Não pense nisso. Ela está segura e isso é o mais importante. — Vergil levantou-se e aproximou-se da lareira. — No entanto, o que é isso sobre ter sucesso em matar você? —
Antes que Dante pudesse responder, a porta do corredor se abriu e Adrian Burchard entrou.
— Onde está o bastardo? — Dante perguntou.
— Não em Londres. O seu criado disse que ele foi para a casa dele em Essex.
— Parece que você terá que esperar para enfrentá-lo — disse Vergil.
— Eu quero saber quando ele voltar para Londres. Eu quero ter a certeza de que ele não está nem perto de Fleur até que eu possa lidar com ele.
— Eu conheço um bom homem que vai vigiar a casa de Essex se você quiser — disse Adrian. — Assim que o Farthingstone colocar um pé fora dessa propriedade, ele nos informará.
— Você conhece outro para vigiar Siddel?
— Isso pode ser arranjado.
— Siddel? O que ele tem a ver com isso? — Perguntou Vergil. — E o que era esse negócio sobre alguém tentando te matar? Quando isso aconteceu e por que não fui informado disso?
— Peça a St. John — disse Dante. O médico acabara de abrir a porta do quarto de Fleur e fez sinal.
Vergil dirigiu-se ao corredor com uma expressão que dizia que St. John seria alvo de um interrogatório severo.
— Eu não estou doente, Dante.
— Você teve um choque e vai descansar.
Fleur afundou nos travesseiros e sentiu sua atenção enquanto ele colocava a roupa de cama em volta dela.
Ela não teve coragem de discutir com ele. Ele salvou a vida dela, afinal de contas. A preocupação ocultou a sua expressão desde que ele entrou no quarto de dormir, baniu Charlotte e o médico e assumiu o cuidado dela mesma.
Ele também não mencionou que não teria que salvá-la se ela tivesse tomado uma escolta quando entrou no parque. Principalmente, porém, ela não argumentou porque a experiência a havia deixado dócil e assustada. O espectro da morte continuava a respirar em seu pescoço, como se recusando a afastar-se insatisfeito.
— Eu vou descansar se você disser que devo, mas não acho que vou dormir. Você poderia pedir a Charlotte para voltar?
— Eu vou ficar com você, se você não quiser ficar sozinha, Fleur.
— Eu preferiria não ficar. Ainda não.
Ele puxou uma cadeira perto da cama e sentou-se nela, apoiando a bota na beira da cama. — Acho que vamos passar o tempo com um pequeno jogo, já que você está indisposta e não pode ser seduzida.
Ela riu. O seu coração brilhava com a evidência de que ele se lembrava daquelas horas na cabana assim como ela.
— Que tipo de jogo?
— Não desse tipo. Isso terá que esperar até você se recuperar. Isto é simples. Farei perguntas e você as responderá.
— Se eu jogar este jogo, você promete jogar o outro tipo quando eu estiver recuperada?
— Certamente.
— Outro novo? Ainda tenho muita coisa para aprender.
— Querida, eu estou tentando ser bom apesar de você estar adorável nessa cama. Até a bandagem lhe fica bem. Você poderia ajudar um pouco e não me tentar...
— Me desculpe. Faça a sua primeira pergunta.
— Você poderia reconhecer o homem que passou por você quando você deu uma volta no reservatório?
— Não com certeza. Eu não estava olhando para ele. Eu estava andando, ele se aproximou, nós passamos e depois...
E então ela não se lembrava de nada até que ela abriu os olhos e viu Dante olhando para ela com olhos selvagens de preocupação.
Ela sentiu a bandagem envolvendo sua cabeça. — Eu suponho que ele me bateu com alguma coisa.
O humor havia deixado os olhos de Dante. Conversas sobre o ataque os transformaram em cristais frios e brilhantes.
— Há mais perguntas?
— Existe alguma razão pela qual o Farthingstone iria querer impedir você de construir aquela escola?
— Eu duvido que ele aprova a educação de meninos de condição inferior.
— Isso não é razão suficiente para tentar matar você.
— Nós não sabemos que Gregory estava por trás disso, Dante.
— Não consigo pensar em mais ninguém. Ele quer impedi-la de construí-la, Fleur. Muito. Eu acho que tudo que ele fez, tudo isso, foi para evitar isso. Ele veio e se ofereceu para me pagar para te impedir.
— Ele tentou suborná-lo? Isso é muito insultante.
A sua expressão mostrava, que ele não perdera o insulto de que Gregory supunha que escolheria dinheiro, em vez de lealdade da sua própria esposa. — Eu acho que não é uma coincidência que isso aconteceu com você logo depois que eu recusei.
— Não há nada de especial nesse pedaço de terra, Dante. É apenas uma casa de campo e um jardim e alguns campos. Não é nem a melhor terra lá. O solo tem muito barro, que é uma das razões pelas quais eu iria usá-lo para a escola para começar.
— Poderia haver algo subterrâneo? Carvão ou minerais? Algo que ele espera ter algum dia?
— Se houvesse, ele poderia ter lucrado enquanto estava casado com a minha mãe. Ele controlou as fazendas então. Ele não podia vendê-los, mas podia explorá-los.
Dante pensou profundamente. — A sua tenacidade em relação a você é estranha, Fleur. Existe uma razão para isso. Um bom motivo. Este ataque a você fala de um homem ficando desesperado.
— Eu não posso imaginar qual é o motivo. Se você tivesse concordado em aceitar o pagamento, a propriedade não se tornaria sua. Teria ficado como está agora e como tem sido por anos.
— Então ele deve querer que fique como está. Precisamos saber o porquê e a resposta está em Durham.
Capítulo 24
Fleur raramente visitava a sua propriedade em Durham. A sua chegada com Dante, tão logo após sua última visita, pôs o casal que a cuidava em grande agitação. O Sr. Hill partiu imediatamente para a aldeia, para contratar mulheres para trazer de volta antes que escurecesse. A sra. Hill se apressou ao redor da casa, acendendo fogos e removendo coberturas da mobília.
Ela interrompeu o seu trabalho para ajudar Fleur a se acomodar em seu quarto. Enquanto sacudia vestidos, fofocava sobre os inquilinos e os acontecimentos locais.
— A família Johnson deixou o seu lugar, é claro— concluiu ela. — Mas eles estão felizes com sua nova casa de campo e gratos que os campos ainda são deles para os cultivarem.
A família Johnson estava morando na cabana de tia Peg enquanto os planos para a escola se desenrolavam.
— Eles ficaram infelizes no início, mesmo com a oferta da outra casa de campo, uma vez que não é perto dos campos, mas agora que eles fizeram a mudança eles estão contentes.
— Não havia necessidade de serem incomodados. Eu não preciso dessa propriedade ainda.
— Deve ter havido alguma confusão, então. O seu padrasto escreveu em seu nome e disse que você precisava. Os Johnson sabiam como ele ainda resolve as questões aqui para você.
Claro que eles assumiram isso. Eles pensaram que a propriedade era controlada por ele porque durante anos, enquanto sua mãe possuía a propriedade, lhe pagaram os aluguéis.
— Ele mudou outras famílias?
— Não que eu possa lembrar. Ele sempre manteve um olho nas coisas para você, no entanto. Os inquilinos entendem como é.
— Para onde a família Johnson se mudou?
— Uma nova casa de campo, mesmo à beira da terra do Sr. Farthingstone. Não muito longe dos campos.
Não muito longe de modo a evitar que o Sr. Johnson fosse reclamar junto dela, porque perderia as plantações de uma estação ou porque tinha que andar quilômetros para chegar aos campos.
Ela deixou a Sra. Hill para completar a arrumação das suas roupas e foi para fora. Em pé na frente da casa, ela olhou para o oeste. Podia-se ver a velha cabana daqui. Era uma mancha cinzenta contra o céu nublado, no topo de uma elevação baixa na terra, perto o suficiente para que Peg pudesse ver a casa de sua irmã. Ela subiu as escadas em busca de Dante. Ele estava em seu quarto, lavando-se. Ele tomara as rédeas a maior parte do caminho desde Londres porque a sua habilidade na condução de carruagens com quatro cavalos ultrapassava em muito a de Luke e ele não tinha nenhum interesse numa viagem em ritmo de passeio.
— Eu acredito que você estava certo, Dante. A resposta pode estar aqui em Durham. Ou, pelo menos, a resposta para alguma coisa pode estar aqui.
Ela contou a ele o que havia acontecido com a cabana.
— Como você pretende construir a escola, isso pode estar ligado ao nosso mistério de alguma forma.
Ele havia tirado os casacos e agora os colocava de volta. — Vai demorar um pouco antes do anoitecer. Vamos visitar essa casa. Eu fiquei muito curioso sobre essa propriedade.
Ele pegou a mão dela enquanto andavam. O dia não estava alegre e brilhante como da última vez que eles caminharam juntos ao longo deste caminho. Nuvens cinzentas ameaçavam a chuva e bloqueavam o sol poente, e o ar mantinha a humidade pendente. Fleur sentiu-se tão despreocupada quanto naquele dia, no entanto. Até mesmo o encontro dela com a morte não diminuíra o brilho que o seu amor dava ao mundo. A casa crescia lentamente em tamanho a cada passo.
— Quanto tempo esta casa de campo esteve vaga? — Dante perguntou, olhando para ela. — Enquanto Tia Ophelia estava viva. Ela esperava que a sua irmã fosse encontrada no começo, mas mesmo depois que o corpo foi descoberto, ela não colocou um inquilino lá.
Dante andou mais alguns metros. — Quando sua tia Peg desapareceu?
— Anos atrás, Dante. Eu era apenas uma garota. A Tia Peg e eu costumávamos brincar juntas naquela época. Eu a visitava e brincávamos com as nossas bonecas.
— Quantos anos você tinha quando desapareceu?
Ela tinha que calcular isso trabalhando nos marcos de sua vida. — Eu acho que tinha oito ou nove anos. A minha mãe e eu a fomos visitar como fazíamos a maior parte dos verões. Lembro-me de brincar com a tia Peg e depois a grande confusão quando ela desapareceu. Foi uma época muito triste e não me lembro daqueles dias. No entanto, tia Ophelia morreu onze anos atrás, e foi logo depois que o corpo de tia Peg foi encontrado e ela estava desaparecida há pelo menos dez anos.
Ficou desconfortável falar disso. A humidade a penetrava mais e as nuvens pesadas pareciam mais escuras. O mesmo aconteceu com a expressão de Dante. Uma carranca marcou a sua testa e ele observou a casa de campo que eles se aproximaram com especulação pensativa.
— A mulher que cuidou da sua tia. O que aconteceu com ela?
— Ela se foi. Ela tomou uma posição em outro lugar. Hill provavelmente sabe onde. Eu gostaria que você não insistisse nisso, Dante. É tão desagradável quanto a nossa conversa no lago do Laclere Park.
De certa forma, era mais desagradável. As suas perguntas evocavam lembranças daqueles dias depois que a tia Peg desapareceu. Sensações penetraram nela de perda e choque e andando por uma casa cheia de pavor.
Outra reação a mordiscou também. Culpa. Se ela estivesse brincando com tia Peg naquele dia, ela não poderia ter se afastado e se perdido.
A cabana estava perto o suficiente agora para as ver suas persianas e pedras e o pequeno jardim que os Johnson tinham plantado. Lembrou-se de correr ao longo desta rua, carregando a sua boneca, para brincar com a tia Peg na sala de estar, enquanto a acompanhante de sua tia, lia um livro no canto.
Ela não tinha percebido na época como era estranho ter uma tal companheira de brincadeira. Tia Peg tinha ido embora há anos antes de entender por que essa mulher adulta gostava de jogos de criança. Na época, ela simplesmente achava que a tia Peg era mais gentil do que a maioria dos adultos e muito mais divertida também.
Eles se aproximaram da cabana ao lado. Dante subiu e espiou pela janela. — É muito escuro por dentro para ver, e esta janela muito suja em qualquer caso.
Ela se conteve. Aquela janela...
— A caminhada foi demais para você, Fleur? Você está pálida.
— Eu estou bem. — Só que ela realmente não estava. Uma sensação muito desagradável se agitou em seu estômago. Ela continuou olhando para a janela. Ela conhecia bem o quarto lá dentro. Ela podia ver tia Peg sentada no chão, dançando a sua boneca pelo tapete em direção a ela.
Era uma lembrança feliz, mas ela não estava se sentindo feliz. Ela estava se sentindo muito doente. A intenção de olhar naquela janela com Dante a fez se encolher. Ela procurou em sua memória, tentando fazer as coisas se encaixarem corretamente.
Dante voltou para ela. — O que é, Fleur? Você não parece bem.
— Estou pensando que talvez a tia Ofélia tivesse inquilinos aqui, afinal. Eu devo ter esquecido disso. Nós viemos com menos frequência quando a tia Peg se foi. Sim, isso explicaria isso.
— Explicar o quê?
— A janela, Dante. Você se lembra de como eu disse que pensei que uma vez vi uma mulher em agonia enquanto dava à luz? Eu vejo o seu rosto e corpo através de uma janela. Aquela janela.
— Então eu sinto muito por ter te trazido aqui.
— Não sinta. Isso explica parte do medo. Ela encolheu os ombros. A sensação desconfortável recuara. — Eu acho que gostaria de entrar. Eu amava a tia Peg de maneiras que eu nunca poderia amar a maioria dos adultos então. Ela era uma companheira de brincadeiras todo verão. Sinto-me mal por não pensar mais nela e não o faço há anos.
Eles andaram pela casa. Dante abriu a porta e ela passou por cima do limiar. E congelou.
— Dante, olhe.
Ele entrou atrás dela.
Havia pouca luz, exceto da porta, mas era óbvio que a cabana não tinha chão. Todas as tábuas tinham sido removidas e empilhadas ordenadamente ao longo de uma parede. A terra embebida embaixo estava completamente exposta.
Dante chutou o chão com o calcanhar. — Seca e dura como rocha. Difícil de cavar com uma pá.
— Você acha que é essa a intenção?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo para remover o chão.
— Escavar para o quê?
Ele não respondeu a princípio. Ele andou pelas paredes, estudando o chão. — Algo valioso o suficiente para não querer que os outros o encontrasse quando começassem a cavar para construir uma escola.
A sua expressão parecia muito forte na luz fraca. Ele cruzou os braços e olhou para a sujeira. Ela sentiu raiva nele, mas não direcionada a ela.
— Então Gregory organizou isso — disse ela.
O baixo estrondo de um trovão distante entrou pela porta. — Uma tempestade se aproxima. Eu voltarei amanhã e verei se estou certo.
— Certo? O que você acha que está aqui, Dante?
Ele encolheu os ombros. — Quem sabe. Talvez Farthingstone tenha descoberto que há um grande tesouro escondido. O trovão ressoou novamente. — Venha comigo. Precisamos voltar antes que a chuva chegue.
A tempestade estava se movendo rapidamente. Um raio cortou o céu distante. Não era a chuva que Dante queria evitar, no entanto. Era o crepúsculo.
Em um canto da cabana, quase escondido pelas tábuas do assoalho e pelas sombras, ele vira duas lamparinas a óleo.
Ele ajudou Fleur a descer a soleira até a cabana. Enquanto caminhavam de volta para o caminho, ele ouviu um som além do trovão flutuar no ar pesado.
Ele virou. Dois cavalos atravessavam o campo, pouco visíveis no mundo cinzento. Ao mesmo tempo em que viu os cavaleiros, eles o notaram. Um gesticulou e os cavalos começaram a galopar.
Os olhos de Fleur se arregalaram quando viu os cavalos. Ele começou a puxá-la de volta para a cabana. — Sem dúvida, eles são apenas viajantes que buscam a estrada do correio, tentando superar a tempestade— disse ele. — Mesmo assim, vamos voltar aqui e ver se eles passam.
Ele não acreditava que eles iriam. Na verdade, eles estavam mirando nessa cabana. Mas ele e Fleur não podiam fugir deles e ele teria uma chance melhor de proteger Fleur se ela não estivesse em campo aberto.
Não muito melhor, se aquele homem mais baixo fosse quem ele pensava. Ainda menor chance, se o que ele suspeitava sobre esta casa estivesse correto.
Amaldiçoando-se por não antecipar isso, o sangue já corria com a excitação repugnante da caça, ele jogou o ferrolho por cima da porta assim que teve Fleur dentro. Ele checou para ver se a cozinha estava segura também. Ele foi para todas as janelas no primeiro nível e fechou suas persianas, encobrindo a cabana na escuridão.
Voltando a Fleur, ele examinou o refúgio deles. As paredes de pedra e a porta grossa tornavam difícil entrar, mas não era um forte inexpugnável.
— O cavaleiro à esquerda ... mal podia vê-lo, mas achei que fosse Gregory — disse Fleur. — Eu pensei que ele estava em Essex.
Ele ouviu o tremor em sua voz. Ele a puxou em seus braços. — Assim o seu servo disse. Mesmo que seja o Farthingstone, não há motivo para ter medo.
— Você acha que ele está vindo para cavar?
— Ele pode ter apenas andado e não nos reconhecido. Ele pode estar vindo para ver quem está invadindo. Ele ainda observa essas fazendas por você.
Ela procurou no escuro por seu rosto. — Você não acredita nisso. Você não teria trancado as portas se o fizesse.
— Eu só estou sendo cauteloso como se espera dos maridos, Fleur. — Ele a beijou. — Não se preocupe. Acho que posso dar uma surra nele se for preciso.
Ela riu. Ele a segurou mais perto enquanto ouvia com atenção os sons dos cavalos que se aproximavam.
Eles chegaram com a tempestade. Gotas gordas começaram a bater nas janelas enquanto os cascos batiam na terra.
O céu quebrou quando uma mão mexeu na trava e encontrou a resistência do parafuso.
Um homem amaldiçoando. Dante reconheceu a voz.
O mesmo aconteceu com Fleur. — Parece que ele não foi para Essex —, ela sussurrou.
— Veja aqui, abra esta porta e mostre-se — ordenou Farthingstone. — Nós sabemos que você está aí, por Zeus, já que a maldita porta está trancada.
— Parece pouco importante fingir que não estamos aqui disse Fleur em voz baixa.
Dante não concordou. Farthingstone sabia que um casal havia entrado nessa cabana, mas ele não tinha reconhecido quem eram. Havia uma chance de que a chuva o desencorajasse e seu companheiro e eles partiriam e voltariam mais tarde.
De qualquer forma, ele não facilitaria isso para eles.
Murmuras soaram do outro lado da porta, então o silêncio caiu. Dante sentiu o coração de Fleur acelerar e a tensão apertar o seu corpo. Ele segurou-a e ouviu os sons dos cavalos saindo.
Uma rachadura explodiu o silêncio quando um enorme peso caiu contra a porta. Um ponto de metal perfurou uma tábua e desapareceu. Eles vieram hoje à noite para cavar depois de tudo. E tinham uma picareta com eles. A picareta bateu novamente. A prancha lascou.
Fleur se encolheu ainda mais. — Dante. . .
— Ele ficará envergonhado quando passar por tais problemas apenas para descobrir que é o dono desta terra que está dentro desta casa de campo.
Ela enfiou a cabeça no pescoço dele. — Você não tem que fingir por mim. Eu sei que podemos estar em um lugar muito perigoso.
A picareta continuava batendo. Um buraco apareceu na porta. A sombra de um rosto apareceu. — Não consigo ver nada com tudo fechado — disse Farthingstone.
— Fique de lado — respondeu outra voz. Uma voz que Dante não reconheceu.
A picareta fizera rapidamente o seu trabalho na porta, ampliando o buraco. Um braço alcançou e levantou o ferrolho. A porta se abriu.
Dois homens se aproximaram da chuva torrencial. — Quem está aí? Quem é você? — perguntou Farthingstone, olhando para o canto onde Dante segurava Fleur.
— Só eu, Farthingstone — disse Dante. — O que você está fazendo, destruindo propriedades como essa? Eu fui pego pela tempestade e me refugiei aqui. Eu não esperava que um intruso viesse e quebrasse a porta.
O outro homem pegou uma das lâmpadas de óleo e a acendeu. Um brilho amarelo se espalhou, mostrando Farthingstone espreitando com a boca aberta por baixo de um chapéu encharcado.
Quando viu Fleur, os seus olhos se arregalaram em choque, como se tivesse visto um fantasma. Ele olhou para o seu companheiro com um olhar horrorizado e furioso.
— Você tem uma explicação para essa invasão, eu confio — disse Dante, aproveitando ao máximo o espanto de Farthingstone ao ver Fleur viva.
O outro homem acendeu outra lâmpada. Isso deu luz suficiente para Dante examinar esse estranho. Ele tinha cabelos escuros e olhos estreitos e desagradáveis. Não era inteiramente estranho. Ele já o vira antes, seguindo Fleur de St. Martin até Strand. Se ele estava surpreendido por ver Fleur viva, pelo menos não demonstrou.
— Eu pensei que vocês fossem invasores — disse Farthingstone, enrolando as palavras enquanto tentava se recompor. — Fechando as venezianas, barricando a porta? Por que você fez isso?
— Eu estava pensando que a tempestade e esta casa de campo proporcionavam uma oportunidade esplêndida de fazer amor com minha esposa, e as persianas e ferrolhos a assegurariam de privacidade. Eu vejo que eu errei.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho. Ele parecia tão envergonhado e confuso quanto Dante esperava.
— Eu gostaria de convidar os senhores para ficarem e se manterem secos, mas tenho certeza de que você quer seguir seu caminho.
— Sim, bem, talvez iremos.
— Ele sabe. — A declaração veio do outro lado da câmara, onde o outro homem estava perto das tábuas empilhadas. — Não há nenhuma outra razão para se barricar a si mesmo e à sua dama. Não era para brincar por prazer, eu penso.
Farthingstone girou em alarme. O seu olhar disparou para o seu companheiro, depois de volta para Dante. Não mais envergonhado, ele examinou o casal abraçando com desconfiança.
— Quem você é? — Perguntou Dante.
— Este é o Sr. Smith, um conhecido meu — disse Farthingstone.
— Ele sabe — repetiu Smith. — Ele não é idiota, e está fazendo-o de idiota com a sua conversa e atitude. Ele viu essas tábuas aqui e as lâmpadas. Acho que ele sabe o que está acontecendo aqui e talvez porquê.
Farthingstone quase explodiu de agitação nessas alusões à cabana. — Eu preferiria que você não falasse...
— Eu acho que ele sabe sobre os assuntos em Londres também. Se assim for, eu não gosto que eu tenha sido visto com você. — Ele estava segurando a picareta, mas a deixou cair. Alcançando sob o casaco, ele retirou uma pistola.
Farthingstone quase pulou de sua pele. — Bom Deus, homem, o que
Smith acalmou-o com uma carranca. Ele andou e olhou pela porta. — Está ficando escuro, e ninguém vai estar fora nessa chuva de qualquer maneira. É melhor levá-los de volta conosco, enquanto consideramos como lidar com esta complicação.
Dante olhou para a pistola, tentando julgar se poderia atacar o homem antes que ele disparasse. Como se esperasse tal movimento, Smith apontara mais para Fleur do que para ele.
— Não somos complicação, então não há necessidade de lidar conosco. Nós nem sabemos do que você está falando, nem nos importamos. — disse Dante.
Smith riu e gesticulou para Farthingstone. — Ele pode não saber julgar um homem, mas você poderia dizer que minha vida depende disso. Eu quero pensar um pouco antes de te deixar fora da minha vista. Você vai com ele. A dama vem comigo. Dessa forma, sei que você vai se comportar.
Capítulo 25
? Vamos tirar você dessas roupas molhadas para que você possa se envolver nisto e se aquecer. — Dante tirou um cobertor da cama estreita e entregou a ela.
O caminho até a casa de Farthingstone na chuva encharcara todo mundo até aos ossos. O conjunto de Fleur estava encharcado e a água ainda pingava da aba do chapéu.
O fogo que Dante tinha começado na minúscula câmara do sótão ajudou um pouco, mas tirar as roupas molhadas ajudaria mais.
Fleur olhou para o cobertor com ceticismo. — E se um deles aparecer aqui?
Dante trancou a porta. — Agora estamos trancados, mas eles também estão trancados.
— Eles poderiam usar um machado novamente.
— Foi deixado na cabana. Seque-se, Fleur. Não quero que você pegue um resfriado.
Ela tirou o chapéu e o jogou em um canto. Ela virou as costas para que ele pudesse ajudar a desabotoar o vestido.
— Não é como da última vez — ela disse tristemente enquanto seus dedos trabalhavam no fechamento. — Aquele homem. Foi ele quem me machucou, não é? Ele fez isso por Gregory. O olhar no rosto de Gregory quando ele me viu ...
— Nós não sabemos disso com certeza. — Ele tentou o seu melhor para mentir, porque ele não queria que ela se assustasse. Queria poupá-la tanto quanto pudesse.
Deveria ter visto a tenacidade de Farthingstone pelo que era, a teimosia desesperada de um homem encurralado. Deveria ter compreendido semanas atrás o que aquele lugar da terra significava para ele.
Se estivesse certo, ele e Fleur corriam perigo de vida. Agora, no piso debaixo, Smith provavelmente estava explicando isso para Farthingstone. Quanto tempo demoraria para convencê-lo a fazer o que deveria ser feito.
Quanto tempo levaria a planejar um plano para escapar à detecção? Dante calculou que eles tinham a noite e talvez um dia, na melhor das hipóteses.
O vestido caiu. Fleur tirou o resto das roupas e se enrolou no cobertor. Enquanto Dante se despia, ela deitou as suas roupas sobre os móveis, depois fez o mesmo com as dele enquanto ele as descartava.
No fim, as cadeiras, o lavatório, a cómoda e os ganchos da parede estavam cobertos com as suas roupas. Embrulhados em seus cobertores, sentaram-se na frente da lareira.
— Isto seria muito acolhedor — disse Fleur. — Se não fosse...
— Não seremos incomodados hoje à noite.
— Você parece muito confiante.
— Eu estou.
Ela pareceu aceitar isso. O medo diminuiu dos seus olhos. — Você não acha que Gregory pretendia cavar um tesouro enterrado naquela casa, não é?
— Quem sabe o que ele pode estar procurando.
— Dante, eu disse que você não tem que fingir por mim. Eu sei que há apenas uma coisa para explicar o que ele fez. A sua tentativa de me prender ou me afastar. As suas manobras legais para revogar a minha independência. Finalmente, a tentativa da minha vida. Há algo nesta casa que ele não quer que encontrem, porque isso o colocará em risco. Ele teme a exposição de um crime.
— Sim, isso é provável.
— Teria que ser sério, para ele ir tão longe. Eu acho que há um corpo naquela cabana.
— Pode ser outra coisa.
— Eu acho que é isso, ou algo tão perigoso.
Dante não tinha a certeza se queria que ela soubesse disso. Tinha a certeza de que não queria que ela soubesse o resto.
— Porquê, Dante? Ele poderia ter enterrado um corpo em qualquer lugar em sua terra.
— Se algo acontecesse nessa casa ou perto dela, seria mais fácil lidar com isso no local do que carregar um corpo para outro lugar. As tábuas do soalho esconderiam a sepultura e o lugar estava vazio.
Um pequeno tremor sacudiu através dela. Ela puxou o cobertor para mais perto. — Você está muito certo de que temos a noite?
— Acho que temos muito mais que a noite. Hill vai se perguntar o que aconteceu com a gente quando a chuva parar. Ele vai começar uma busca quando não voltarmos.
— A chuva parece não parar nunca.
— Vamos acordar para encontrar o sol, querida.
Ela apertou os joelhos com os braços e pressionou o queixo neles. Ela parecia muito jovem, encolhida naquele cobertor e olhando para o fogo.
— Eu não acho que Gregory poderia nos machucar por conta própria. Mesmo que ele já tenha feito uma coisa dessas, acho que ele não poderia agora. Uma coisa é pagar alguém para fazer isso quando você nem está na cidade e outra ...
Dante queria acreditar que o Farthingstone não possuía esse instinto. O problema era que, uma vez que um homem desse o passo, ele provavelmente achava fácil voltar a pisar. Especialmente se ele fosse enforcado se não o fizesse.
E se ele não pudesse fazer isso sozinho, Smith poderia.
— Eles provavelmente são espertos o suficiente para saber que a sua melhor chance é fugir, Fleur. Eles perceberão que muitas pessoas sabem que estamos aqui e estarão nos procurando.
Pareceu ajudar. Os braços circulando os seus joelhos relaxaram e caíram. Ela se reassentou e deixou o cobertor cair livremente, como se ela não precisasse mais do conforto dele.
Ele se levantou e foi até a pequena janela. — Vamos esquecer a chuva e compartilhar esse fogo e amanhã eu vou lidar com Gregory e Smith. Você não deve se preocupar, Fleur.
Quando ele abriu a janela para puxar as persianas, ele notou uma sombra escura se movendo abaixo, indo para os estábulos. Do tamanho, ele adivinhou que era Smith, indo para um cavalo.
Indo para cavar, adivinhou Dante. Ele duvidava que Smith pretendesse desenterrar ossos velhos também. Mais provavelmente ele pretendia fazer mais duas sepulturas. Ele se virou e observou Fleur, com o cabelo emaranhado e nada além de um cobertor envolvendo sua nudez.
O fogo lançou um brilho suave nela. Ela parecia tão bonita. Uma emoção inchou nele que era tão pungente, tão primorosa que ele não conseguia se mexer. Ela era mais preciosa para ele do que qualquer coisa que ele já tivesse conhecido. O próprio pensamento da vida sem ela era tão vazio, tão assustador, que a sua mente se encolheu de tal contemplação. Ele não tinha sido nada antes que ela tropeçasse em sua vida. Cuidar dela tornou-se a sua primeira responsabilidade bem-vinda. Ela era o seu propósito para viver.
Ele não tinha cumprido muito bem o seu dever por ela. Ele não havia compreendido como Farthingstone poderia ser desonroso. Ela tinha, no entanto. Ela sabia com todo o seu coração que Farthingstone estava construindo uma mentira para os seus próprios fins. Eles deveriam ter procurado o motivo o tempo todo, não apenas trabalhado para frustrar o homem.
Ele empurrou um baú pesado para a porta, não se importando que os seus arranhões no chão fossem ouvidos abaixo. Ele a posicionou para bloquear a entrada, mesmo que um machado cortasse a porta. Isso não impediria alguém, mas os atrasaria.
Foi até Fleur e se sentou de frente para ela, para que pudesse ver o seu rosto e os seus olhos e todas as partes dela. Ela seria linda para sempre. O medo deixou o seu olhar quando ela olhou para ele, e o calor mais generoso tomou o seu lugar. Ele pegou o rosto dela em suas mãos, dolorosamente alerta para a suavidade de sua pele. Ele beijou a sua testa e os seus lábios, e cada instante continha uma vida de perfeição.
Não se importando onde eles estavam, indiferente ao tempo e lugar, ele puxou o cobertor e a levantou. Ele moveu as pernas até que elas circulavam seus quadris e ela se sentou em suas coxas. O seu próprio cobertor caiu com o abraço.
Ela olhou para sua posição. — O novo jogo que você me prometeu?
— Uma nova proximidade, para que eu possa ver você nessa luz adorável. Nunca houve jogos com você. Não desde a primeira vez que te toquei.
Ela olhou para baixo e gentilmente acariciou a sua excitação, fazendo os seus dentes apertarem. — Eu não sei se devo ficar com ciúmes ou feliz, Dante. Este último, suponho. Eu não gosto de pensar em você a compartilhar as coisas que você não faz comigo, com outras mulheres, mas eu gosto que seja diferente comigo de alguma forma.
Ele viu os seus próprios dedos passarem pela curva do seu seio. — É muito diferente, em todos os sentidos. Até o prazer é diferente. Não compartilho nada com outras mulheres, Fleur. Nem mesmo jogos. Não desde aqueles dias no chalé do Laclere Park. Mesmo quando nós dois acreditávamos que nunca poderíamos ter isso, eu não queria mais ninguém. Eu te amava muito.
A sua carícia parou. O jeito que ela olhou para ele atordoou sua alma.
— Eu não acho que poderia ser amada por um homem melhor, Dante. Nem eu poderia amar alguém mais do que amo você.
Ele a envolveu em um abraço carinhoso, saboreando a sua pele, sentindo o batimento cardíaco dela. Foi muito diferente desta vez. Ele não podia controlar como isso afetava todos os seus sentidos, o seu prazer, o seu corpo e o seu coração. Ele tinha consciência da necessidade dela por ele, assim como ele estava sentindo a dela.
Levantou os quadris dela e uniu-se a ela. O mais profundo contentamento deslizou através dele, quente e sereno. Ele queria segurá-la assim para sempre, conectado e expectante, vendo o seu rosto quando os tremores de prazer a animavam. Eles se tocaram lentamente, observando um ao outro, deixando a paixão crescer gradualmente para que durasse. Os seus beijos, quentes e aveludados, cobriram lentamente o seu pescoço e peito. Os seus dedos macios acariciaram os seus braços e costas, seus ombros e torso, enquanto os dele circulavam os seus mamilos.
Ele sentiu a sua excitação subir com a sua, em perfeita união. O abandono a reivindicou no mesmo instante que precisava enlouquecê-lo. Os seus beijos se tornaram febris e as suas carícias se agarraram enquanto se puxavam para um pico feroz de desejo.
Eles pularam juntos, agarrados um ao outro. Ele não a perdeu, mesmo naquele clímax físico. Ela estava completamente lá, totalmente dele, estremecendo com ele enquanto a intensidade dividia o mundo com o seu poder. O seu pulso, o seu amor e a sua essência o encheram e substituíram os dele.
A manhã não trouxe o sol. Quando Fleur acordou na pilha de cobertores, em que ela e Dante dormiam no chão, o barulho da chuva ainda podia ser ouvido no telhado.
O seu braço a circundou e, mesmo em seu sono, os seus dedos fortes a seguraram. Ela fechou a sua mente para a chuva e para o quarto e bebeu em seu abraço e calor.
Enquanto eles ficassem aqui, assim, ele estaria seguro. Se ele nunca acordasse, nunca faria algo nobre, corajoso e perigoso. Se eles permanecessem neste feliz casulo, o mundo iria embora.
Ele se mexeu. Ela ficou muito quieta, esperando que ele dormisse. Então ela poderia segurar a beleza de estar nos braços de um homem que ela amava totalmente.
Que a amava também. Ouvir isso foi maravilhoso. Vendo isso em seus olhos tinha sido de tirar o fôlego. Sentir isso em seu ato de amor novamente, sabendo disso pelo que era, dando-lhe um nome, a deixou completamente à sua mercê. Isso ecoaria para sempre, falando ao coração dela. Mesmo depois que ambos fossem embora, ela não duvidava que o amor seria uma parte dela.
Dante mudou de posição. Ele levantou-se em seu braço e gentilmente beijou o seu ombro.
— Ainda está chovendo — disse ela. — Vamos manter as persianas fechadas e fingir que ainda é noite.
Deitou-a de costas e beijou-a nos lábios. Foi um beijo longo, doce e arrependido. — Eu devo me vestir, e você também deveria. Quando isto acabar, vamos encontrar uma cama e ficar nela por uma semana.
Ele se levantou e foi até à janela. Ele abriu as persianas para revelar um céu ainda carregado de chuva. A luz cinzenta entrava.
O mesmo fez o som de um cavalo galopando para longe.
Dante se inclinou pela janela. Ele ficou assim, com o torso nu meio fora da pequena abertura. Enquanto se vestia, Fleur pôde vê-lo observando o ambiente.
— Não há caminho para baixo e longe demais para pular — disse ele. Ele olhou para os cobertores pensativamente. — Estamos muito alto para permitir que você desça esses. Ainda seria uma queda perigosa.
— De quem era esse cavalo?
— Um cavaleiro do correio expresso, eu acho.
— Gregory recebeu um correio expresso?
— Ou ele enviou um.
Ele vestiu as suas roupas e pescou por seu relógio de bolso. — São dez horas. Mais tarde do que eu esperava.
Mais tarde do que ele esperava que eles fossem deixados sozinhos, era o que ele queria dizer.
— Talvez ninguém esteja aqui além de nós.
— Eu duvido disso, querida. Alguém está lá embaixo.
— Se nós gritássemos, talvez um servo viesse e pudéssemos explicar que estamos sendo mantidos?
Não vi servos quando chegamos e não ouvimos nenhum deles nestes quartos do sótão. O Farthingstone deve tê-los mandado embora quando soube que Smith viria. Ele não gostaria que soubesse que ele se associava ao homem.
Ela olhou pela janela. Enfrentou a parte de trás da casa e olhou para os estábulos. Se ao menos houvesse uma maneira de Dante sair? Um movimento abaixo em alguns arbustos chamou a sua atenção. Ela apertou os olhos pela chuva.
Os arbustos se moveram novamente. Um pouco de marrom e um vislumbre de palha mostrou, então desapareceu.
— Tem alguém aqui além de Gregory e o Sr. Smith, Dante. Nos arbustos pelo caminho dos estábulos. Ela esperou, e a palha de palha subiu e mergulhou novamente. — Eu acho que ... eu acho que pode ser o Luke.
Dante enfiou a cabeça além da dela. A coroa de palha subiu e os olhos apareceram, dando uma espiada na casa. — Consiga-me algo para jogar, para que eu possa chamar a atenção dele quando ele aparecer assim.
Ela olhou ao redor da câmara enquanto tentava conter a excitada esperança que começou a guinchar através dela. O seu olhar se iluminou em um velho candelabro de madeira que usava anos de cera com crosta.
— Será que isto serve? — Ela entregou a ele.
Dante inclinou o ombro e o braço e saiu pela janela e atirou.
Ele ficou assim, esperando. Fleur viu o dedo dele nos lábios e depois um gesto largo.
Olhando para fora e para baixo, viu Luke escorregar dos arbustos e ficar de pé sob a janela.
Dante fez gestos que Luke entendeu melhor que Fleur. O seu cabelo encharcado de palha moveu-se ao longo da parte de trás da casa sub-repticiamente enquanto ele espiava nas janelas.
Ele voltou mais depressa. — Nenhum desses aposentos aqui atrás que eu possa ver.— Ele falou apenas alto o suficiente para ser mal ouvido. — O que você está fazendo lá em cima, senhor? Quando você não voltou, achei estranho, mas Hill disse que você provavelmente foi pego pela tempestade e encontrou abrigo, mas eu...
— O que quer que você tenha pensado, estamos agradecidos por você estar aqui. A Sra. Duclairc está comigo e o Farthingstone não serve para nada de bom. Vá e procure ajuda, Luke. Tem que ser alguém que possa enfrentar Farthingstone e que ouça o que você diz com interesse.
— Eu não conheço pessoas nestas partes e elas não me conhecem. Quem vai...
— Encontre a justiça de paz ou outro homem de posição. Use o nome do meu irmão. Vá agora.
Luke não esperou por outro comando. Ele correu pela chuva até aos arbustos, depois se afastou da casa.
Fleur jogou os seus braços ao redor de Dante assim que ele estava de volta ao quarto. — Graças a Deus por Luke. Se tivéssemos esperado que Hill esperasse a tempestade passar ...
Ele segurou-a, grato por ela ter encontrado razão para não ter medo. Ele queria que ela ficasse desse jeito e não estivesse muito consciente do tempo passar. Ele a levou até à cama e a puxou para se sentar ao lado dele sobre ela.
— Nós temos algum tempo até que Luke retorne. Conte-me tudo sobre a sua escola e a sua ferrovia, desde o dia em que você concebeu o esquema maluco.
Ela se aninhou contra ele e contou a sua história. Ele pediu detalhes para prolongar o conto, de modo que as horas se passaram antes que terminasse.
— É um plano impressionante que você concebeu e seguiu, Fleur. Eu não acho que qualquer homem poderia ter feito melhor.
— Você acha mesmo? Você acha que poderia ter funcionado se eu não tivesse sido traída pelo Sr. Siddel?
— Eu acho que sim.
— Fico muito orgulhosa de você dizer isso, Dante. A sua boa opinião vale mais do que realmente ter sucesso com o plano em si.
Ele pensou que era uma coisa muito lisonjeante para ela dizer, mas também um pouco estranha. Como ele não era famoso pelo julgamento financeiro, a sua opinião sobre essas coisas não valia muito. A sua convicção o tocou, como toda a confiança dela o tocava. Era mais um exemplo do otimismo injustificado que ela tinha sobre ele. Ele a puxou para mais perto e a beijou, para que ela soubesse que ele estava agradecido por ela ter ficado surpresa o suficiente, para pensar que Dante Duclairc era digno da sua confiança e amor.
Um som interrompeu o abraço deles. Sons de botas soaram fora do quarto. Os dois olharam para a porta. Uma chave virou a fechadura.
Capítulo 26
A voz exigindo a entrada entre sibilos e tosses era de Farthingstone.
— Eu tenho um pouco de comida aqui, Duclairc. Você não quer isso?
— Se eu puder convencê-lo a me levar lá embaixo, não se oponha — sussurrou Dante para Fleur. — Assim que saímos, bloqueie a porta com o que você puder mover.
Ela não gostou do plano, mas ajudou-o a afastar o baú da porta e correu para o canto mais distante.
Dante jogou o ferrolho. Ele abriu a porta para um Gregory Farthingstone muito vermelho e sem fôlego.
Que carregava uma pistola. A outra mão, que segurava o peito, apontou para uma bandeja de presunto e pão no chão.
— Pegue e traga. Só um pouco de presunto. Não há ninguém para fazer isso por mim, agora.
Dante levantou a bandeja e colocou-a na cama. — Claro que não. Você não poderia hospedar um homem como Smith com servos. Nem ele iria querer. Claro que duvido que o nome dele seja Smith, não é?
Farthingstone ficou mais vermelho. Ele continuou a recuperar o fôlego e fingiu examinar o quarto para esconder seu desconforto físico.
— Ele não vai voltar — disse Dante. — Se ele não voltou agora, ele não vai mais.
Farthingstone fez uma careta. — Ele estará aqui em breve.
— Ele concluiu, com razão, que as suas chances eram melhores se ele fugisse. Ele desaparecerá no mundo do qual emergiu. — Dante deu um passo em direção a Farthingstone. — Tenho a certeza de que há uma saída para você também. Vamos descer e pensar sobre isso.
Farthingstone recuou e apontou a pistola mais diretamente. — Afaste-se, senhor. Não estou sem aliados, mesmo que ele tenha fugido.
— Desde que você é o único com uma pistola, você está seguro comigo. Permita-me descer para que a minha esposa possa ter alguma privacidade sem a minha perturbação. Ela está fraca por causa desta provação, bem como pelo acidente que sofreu na semana passada, e estes quartos próximos se tornaram um fardo para suas delicadas sensibilidades.
Fleur conseguiu parecer fraca na hora.
— Alguns minutos, Farthingstone, pelo menos — sussurrou Dante. — Então ela pode ter privacidade para assuntos pessoais.
Farthingstone ficou vermelho, por vergonha desta vez. Ele olhou Dante com ceticismo. — Você fica a uma boa distância de mim ou eu vou atirar. Sou bem versado em armas de fogo e não vou hesitar.
— Certamente. Eu não sou um homem famoso por coragem, nem saúdo uma morte que venha mais cedo do que o necessário.
Descer as escadas, deixou Farthingstone tão sem fôlego quanto subi-las. Ele afundou em uma cadeira na sala de estar e fez um gesto para Dante se sentar noutra, a uns seis metros de distância.
— Você parece estar muito doente, Farthingstone. Talvez você deva ter um médico para cuidar de você.
— Vai passar. Sempre faz.
Dante deixou o tempo passar. Apesar da sua aflição, Farthingstone manteve uma mão surpreendentemente firme naquela pistola.
— Um homem que traz comida para o condenado não é um homem capaz de bancar o carrasco — disse Dante por fim. — Se eu estiver correto, e Smith tiver fugido, o que você vai fazer?
— Ele estará aqui em breve.
— Ele estava disposto a me atacar e a Fleur em troca de dinheiro, mas o resultado disso não é seguro e o seu silêncio, se você for pego, não é garantido.
— Ele nunca causou mal a você. Eu tenho amaldiçoado a mim mesmo porque não lidei com as coisas dessa maneira, asseguro-lhe.
Dante estava inclinado a acreditar nele. Isso significava que alguém havia colocado esses homens em cima dele no Union Club. Ou foi apenas uma tentativa de roubo depois de tudo.
— O que você pretende fazer com a gente?
— Você vai saber em breve.
— Você está esperando um de seus aliados? É por isso que você disse a Smith para lhe enviar uma mensagem? Da janela acima, eu vi um cavaleiro partindo. Foi generoso de Smith arranjá-lo antes de desaparecer.
— A lealdade de um criminoso não é muita, mas isso conta como algo — A expressão de Farthingstone caiu.
Dante se inclinou para a frente e apoiou os antebraços nos joelhos. — Se você o enviou para Siddel, eu não acho que ele virá. Esse é seu aliado, não é? Ele é o homem que você acha que pode fazer o que lhe falta no estômago ou no coração para completar.
— Eu não sei o que você se refere. Eu mal conheço Siddel.
— Ele não deve nada a você nisso e não arriscaria o pescoço dele por você. A menos que o que você está pagando a ele seja tão alto que ele não possa viver sem isso.
Os olhos de Farthingstone se arregalaram. — Você não sabe?
— Eu sei que ele pode ser um chantagista. Eu acho que ele tem chantageado você.
— O que você quer dizer, você sabe que ele é um chantagista? Se alguém soubesse tal coisa, ele não poderia fazê-lo. A menos que? — Seus olhos se arregalaram de espanto. — Ele chantageou você também?
— A mim não. Outros que eu conhecia. Foi um esquema inteligente, desenterrado há dez anos. As pessoas responsáveis foram paradas, ou assim foi pensado. Siddel sabe o que eles fizeram. Eu acho que ele era um deles. Quanto a você, acho que ele manteve você para si mesmo e não o compartilhou com eles. Quando ele escapou da detecção, você continuou pagando.
A inquietação de Farthingstone era visível e agora não tinha nada a ver com subir escadas. Os seus olhos estavam embaçados. Ele apareceu no limite de sua compostura.
— Tem sido um inferno, senhor. Inferno, eu te digo. Estar à mercê de outro ...
— O que ele sabe de você? O segredo enterrado naquela cabana?
Farthingstone deu uma olhada rápida e desconfiada. — Não foi minha culpa.
— Como ele soube disso?
— O seu tio. Meu amigo. Ele disse a ele enquanto estava em seu leito de morte. Esse é o legado que ele deixou para o sobrinho e o único de valor. Os meios para me sangrar do meu legado.
— Quanto você pagou?
— Tudo isso. — Ele gesticulou furiosamente em torno da sala de estar. — Os aluguéis desta propriedade. Cada tostão, por treze anos agora.
Isso não era uma boa notícia. Se Siddel estava recebendo muito enquanto o segredo permanecia enterrado, ele tinha bons motivos para querer que permanecesse sem ser detectado. Ele podia vir depois de tudo. E ele poderia fazer o que Farthingstone precisava fazer. Dante não duvidou que Siddel tinha nele o necessário para matar a sangue frio.
— É uma coisa infernal — Farthingstone disse tristemente. — Se eu não resolver este dilema, vou balançar. Se eu o fizer, continuarei pagando.
E o homem que o estava a chantagear, era a sua única esperança de não balançar.
O dia ainda estava cinzento e a sala de estar ainda mais cinzenta. O corpo de Farthingstone caiu e seu rosto ficou estático. Os seus olhos se arregalaram em contemplação da sua situação.
Dante observou o cano da pistola, esperando que ele se movesse para poder atacar. O tempo passou. Farthingstone parecia bastante confuso. Ainda assim a pistola não vacilou.
— Se ele não vier, eu vou levá-lo para baixo comigo — Farthingstone disse quebrando o silêncio. — Ele vai se arrepender de me deixar sozinho neste precipício — Ele bateu no peito novamente, mas não por causa de qualquer esforço desta vez.
Dante deixou que Farthingstone voltasse ao seu estado de torpor. Com alguma sorte, o homem podia adormecer ou baixar a guarda. Ele provavelmente ficara acordado a noite inteira e as horas estavam cobrando o seu preço.
Meia hora depois, um som se intrometeu em seu triste silêncio, meio afogado pelo implacável tamborilar de chuva. Distante e vago, lembrou Dante de nada que ele já tivesse ouvido antes.
Ficou mais alto, pouco a pouco, soando fora das colinas e do chão do lado de fora, finalmente derrotando o ritmo da chuva. Começou a soar como o barulho de um festival.
Farthingstone finalmente percebeu. Isso o tirou de seus pensamentos. Ele inclinou a cabeça e franziu a testa em perplexidade.
Mantendo um olho em Dante, ele foi até uma janela e abriu-a para a chuva. O barulho entrou, não muito longe agora.
Farthingstone apertou os olhos. O seu corpo se endireitou em alarme. Ele bateu a janela com força. — Ciganos! O que em nome de Zeus?
Dante foi até à janela. A cena lá fora o surpreendeu tanto quanto o Farthingstone.
— Não são ciganos, Farthingstone. Ciganos não chegam em uma carruagem de quatro.
A carruagem subiu o caminho a uma boa velocidade. Luke segurou as rédeas. Ao seu lado estava uma mulher substancial de meia-idade com o rosto apertado e o cabelo de palha, envolto em um simples xale de lã que também protegia a sua cabeça. A sua semelhança com o jovem ao lado dela era inconfundível. Outras mulheres espiavam as janelas da carruagem. Mais quatro estavam sentadas no telhado, agarrados à madeira. Mais duas tomaram o lugar dos lacaios.
Todas carregavam panelas que batiam e batiam com colheres e conchas, fazendo um barulho que ecoava pelo campo.
A mãe de Luke desceu assim que a carruagem parou. Ela falou com uma jovem matrona, que correu para os fundos da casa. Farthingstone apenas olhou pela janela, sem palavras e confuso.
A jovem voltou e assentiu. Do lugar onde ele ainda segurava os cavalos, Luke chamou Dante.
Alarmado, Farthingstone se afastou da janela e apontou a pistola para o peito de Dante.
— Não responda. Eles irão embora?
— Eles sabem que ainda estou aqui, Farthingstone. Aquela mulher acabou de chamar Fleur na janela do nosso quarto e sabe que está lá em cima.
O rosto de Farthingstone ficou vermelho de novo. O vermelho continuou chegando. Ele olhou freneticamente para a janela.
Uma voz de mulher chamou da entrada. — Meu filho diz que você tem a senhorita Monley lá. Nós não saímos até que ela saia. — Panelas soaram em cacofonia para pontuar o anúncio.
— Bom Deus — Farthingstone murmurou. — Era o que faltava! Ter tal plebe me invadindo.
— Eu enviei Luke para pedir ajuda. Ele deve ter ido para a sua aldeia de mineiros a norte.
— Mineiros! O que eles têm a ver comigo?
— A caridade de Fleur impediu que os filhos dessas mulheres morressem de fome quando os seus homens ficaram sem trabalho, no ano passado. Espero que elas matem por ela. Dante olhou pela janela. — Elas certamente parecem preparados para tal, se necessário.
A mãe de Luke falou novamente. — Todos os agricultores pelos quais passamos nos viram chegando. Não há como esconder que estamos aqui. E há os da aldeia que sabem que viemos e porquê. Nossos homens saberão disso assim que saírem das minas.
As outras mulheres também gritavam pela senhorita Monley. Os potes e panelas soaram mais alto.
— Diga-lhes para parar com esse barulho horrível — gemeu Farthingstone, movendo-se mais para dentro da sala.
— Soa como as harpas dos anjos para mim.
— Eu vou atirar em todos elas. Eu vou.
— Você terá que atirar em mim primeiro, e quando você recarregar, eles vão ter você no chão.
— Bom Deus. Isto é um ultraje! Ser sitiado em minha própria casa por uma horda de mulheres loucas! Eu vou! Eu vou!
Dante examinou a pequena tropa. A mãe de Luke se colocara à frente de um grupo de esposas de mineiros. Orgulhosa e corajosa, ela enfrentou a casa com as mãos nos quadris largos, cheios da força determinada que a vida difícil criava em tais mulheres. Ela não se parecia com alguém que um homem sensato gostaria de enfrentar.
— Bom Deus. — O murmúrio veio mais baixo desta vez, e com um tom muito diferente. Um baque pesado pontuou a última palavra.
Dante se virou. A pistola caíra no chão. O rosto de Farthingstone se tornou anormalmente pálido. Segurando o seu peito, ele olhou para o tapete com os olhos sem ver. Ele olhou para Dante com uma expressão de compreensão horrível. Suas pernas se dobraram.
O seu corpo caiu.
— Abrigue todos elas. Encontre comida para elas — Fleur instruiu Hill enquanto as mulheres saíam da carruagem e entravam na casa. — Acenda o fogo na sala de estar e...
— Não precisa de um fogo tão fino — disse a mãe de Luke ao passar. — A cozinha estará bem para nós.
— Sinta-se confortável, onde quer que seja — disse Dante. Ele ficou ao lado de Fleur na porta, recebendo as suas convidadas incomuns.
A viagem desde a casa de Gregory tinha sido um grande evento. Fleur imaginou como seria estranho para qualquer um que os visse, com as mulheres penduradas na carruagem e aquelas panelas ressoando, agora com a empolgação e vitória inebriante.
O júbilo quando Dante a libertou do quarto do sótão caiu em choque quando ela viu o corpo de Gregory. Ainda estava naquela casa, coberto com um cobertor, aguardando a remoção.
Luke sentou-se nas rédeas enquanto as mulheres desciam da carruagem. Fleur passou por elas e foi até ele. Ele estava abaixado e aborrecido, olhando para a carruagem com uma carranca profunda.
— Você tem a minha gratidão, Luke — disse ela.
— Por favor, não culpe a minha mãe e as outras porque a carruagem está muito arranhada. Eu fiz alguns arranhões nas casas da aldeia. As ruas são estreitas e não servem para uma carruagem como esta, e meu manejo dos cavalos...
— Luke, você pode ter salvado as nossas vidas. Não acho que alguns arranhões na carruagem signifiquem muito, não é?
Ele corou. — Eu não sabia para onde ir ao sair daqui. Então eu percebi que se eu pegasse a estrada do correio para o norte, mesmo na chuva eu chegaria lá em uma hora ou mais. Eu sabia que haveria aqueles que acreditariam em mim e saberiam o que fazer.
— O seu plano foi incomum, mas eficaz. Você trouxe um exército de volta.
— Foi ideia da minha mãe. Ela disse que seria um pecado permitir que o mal acontecesse depois que você as ajudou.
— Ela também tem a minha gratidão. Todas essas mulheres a têm.
Dante saiu para se juntar a eles quando a última saia de algodão entrou na casa. — Luke, amanhã de manhã, pegue dois dos cavalos na carroça de Hill, ele e eu vamos pegar o Sr. Farthingstone.
Luke sacudiu as rédeas e dirigiu a carruagem de volta para os estábulos. Fleur aproveitou o momento de privacidade para abraçar Dante.
— Eu quase desmaiei de preocupação naquele quarto. Eu continuei escutando sons, do Sr. Smith retornando ou Gregory machucando você ou fazendo algo imprudente. Eu não conseguia me mexer, estava ouvindo e orando muito. Fiquei esperando ouvir uma carruagem vindo, trazendo ajuda.
O seu beijo acalmou a sua tagarelice. — Uma veio e tudo está bem agora.
Ela riu. — A cidade vai falar sobre isto por semanas.
— Vamos dar uma história para satisfazer a curiosidade. Não há razão para a verdade ser conhecida. Ele se foi e nada será ganho deixando a verdade ser contada.
A imagem de Gregory esparramado no chão da sala de visitas brilhou na frente dela. Ela só teve um vislumbre antes de Dante espalhar o cobertor, mas havia uma expressão de total surpresa no rosto de Gregory.
Ela se aconchegou mais profundamente contra o seu corpo e dentro do seu abraço. Ela fechou os olhos e saboreou tudo sobre ele, até mesmo o cheiro do seu casaco de lã húmido. Ela permitiu que o seu calor conquistasse todo o arrepio e medo e saturasse a sua mente, até que todas as imagens tristes a deixassem.
— Ele explicou para você? Ele disse quem era? — Ela perguntou.
— Ele disse que não era culpa dele, isso era tudo. Você estava correta, eu acho. Ele não tinha nele para matar. O que quer que tenha acontecido naquela cabana, não foi por iniciativa dele.
— Exceto que ele tinha em si para pagar o Sr. Smith para tentar me matar.
— Sim. Só por isso, estou feliz que ele esteja morto. — Ele ergueu o queixo e beijou os lábios dela novamente. Lentamente. Docemente.
— Quando voltar daquela casa de manhã, posso não voltar com a carroça. Há algo que devo tratar primeiro.
— O quê?
— Um pequeno problema — Ele virou-se com ela cercado por seu braço. — Agora, vamos encontrar um quarto onde possamos ficar sozinhos. Eu quero segurar você em meus braços e esquecer o Farthingstone até de manhã.
Capítulo 27
Amar uma boa mulher provoca mudanças até mesmo nos homens menos angelicais.
Dante estava contemplando aquela verdade surpreendente no dia seguinte, quando ouviu o cavalo do lado de fora da casa de Farthingstone. Fechou o livro de contabilidade do mordomo, que estava folheando na biblioteca, e colocou a pistola de Farthingstone em cima da mesa, ao lado do divã onde estava sentado. Ao lado da pistola, ele colocou a carta que encontrara no casaco de Farthingstone.
Na casa silenciosa ecoaram os passos de botas, primeiro apressados, depois muito lentos. As pausas indicaram que as divisões estavam sendo verificadas.
A porta da biblioteca se abriu. Uma cabeça escura surgiu.
— Farthingstone?
— Ele não está aqui, Siddel.
A cabeça se virou. A porta se abriu. O olhar de Siddel deu uma olhada para garantir que eles estivam sozinhos.
— Onde ele está?
— Ele morreu. O destino foi gentil com ele.
Siddel exalou com grande alívio. — Gentil com você também, estou feliz em ver.
— Você estava preocupado com a minha segurança?
Siddel se sentou e fez uma demonstração de calma. — Ele me enviou uma mensagem expresso, da natureza mais alarmante, divagando sobre a sua ameaça a ele. Eu temia que ele fizesse algo muito imprudente.
— Eu não achei que vocês tivessem confiança suficiente um com o outro para inspirar tal carta.
— Eu o aconselhei de vez em quando. Não sei por que ele escreveria para mim, mas tendo percebido seu estado de espírito, eu mal consegui....
— Você não viajou até aqui para salvar a mim e minha esposa, Siddel. Muito pelo contrário.
— Siddel se endireitou com indignação.
— Isso é uma coisa condenável de dizer. Claro que eu...
— Você não podia arriscar que ele fosse ao banco dos réus se o corpo da casa fosse descoberto. Ele falaria de você e do dinheiro que ele tem lhe pago todos esses anos pelo seu silêncio. Você iria ser enforcado logo depois dele.
O rosto de Siddel ficou branco. Não revelou nenhuma consternação ao saber que a história era conhecida. O seu olhar deslizou de Dante para o livro de contas, a pistola e o papel dobrado.
— Ele deixou uma explicação, — disse Dante, apontando para o papel. — Acho que acabou de escrever, provavelmente, ontem de manhã. Eu suspeito que se você não tivesse vindo, ele teria tirado a própria vida e garantido que você o seguia para o inferno.
O olhar de Siddel se fixou no papel.
— Não há provas.
— A confissão de um moribundo é considerada uma evidência muito forte. Ele também admitiu a maior parte disso para mim. Não a parte sobre você encorajando-o a matar minha esposa, é claro. Isso está apenas na carta.
Siddel riu.
— As suas palavras são a menor das minhas preocupações.
— Por todos os meus pecados, não sou conhecido como mentiroso. O tribunal acreditará em mim, já que eu não ganho nada de nenhuma maneira.
Siddel pensou nisso e depois baixou as pálpebras. — Eu suponho que, se você ganhar alguma coisa, vai fazer a diferença.
Dante não respondeu.
— O que você quer?
— Eu quero saber o que aconteceu há dez anos.
Siddel se acomodou em sua cadeira, a imagem de um homem de volta ao controle das questões. — Na verdade, foram treze. O meu tio estava morrendo. Eu era herdeiro dele e estava ansioso para que a sua doença o levasse. Imagine o meu aborrecimento quando ele me chamou para junto do seu leito de morte e me disse que quase não havia mais nada. O homem herdara uma fortuna considerável, mas desperdiçara isso.
— Isso deve ter sido decepcionante.
— Infernal. No entanto, ele me fez uma confissão no leito de morte. Ele me contou uma história de um evento de anos atrás. De quando ele e Farthingstone eram parceiros no pecado.
— Ele contou sobre a cabana. Quem está enterrado lá?
— Já que você sabe que é alguém... Meu tio frequentemente visitava Farthingstone quando eles eram muito mais jovens. Havia deboches escandalosos nesta casa. Além disso, eles formaram uma ligação casual com uma mulher na área que entrava em seus jogos. Ela morava naquela casa de campo, onde cuidava da irmã simplória da mulher que possuía a propriedade vizinha.
— Eles iam aproveitar os favores dessa mulher tarde da noite, quando a idiota, da qual cuidava estava dormindo. Mas, um dia eles ficaram muito bêbados e decidiram fazer uma visita à noite, mais cedo do que o normal. A mulher colocou a outra mulher no andar de cima, e as coisas estavam bem encaminhadas quando essa meia-inteligência desceu, procurando por sua boneca.
— Dificilmente valia a pena matar por isso. Ninguém teria compreendido se ela contasse, supondo que ela entendesse o que via.
— Oh, não foi isso. O meu tio estava muito bêbado. A simplória pareceu-lhe bastante bonita. Ele aproximou-se dela.
Dante descobriu que Siddel estava contando essa história sem repugnância. O homem estava completamente desapaixonado ao descrever o crime sórdido.
— Como ela morreu?
Siddel deu de ombros. — Ela estava confusa e dócil com o meu tio, mas quando ele terminou e Farthingstone estava prestes a tomar sua vez, ela enlouqueceu. Gritando, lutando. O meu tio procurou silenciá-la. Ele o conseguiu muito bem.
Era o que Fleur tinha visto através daquela janela quando ela correu para brincar com a amiga naquela noite. O sangue não tinha sido do parto, mas o sangue de uma virgem nas coxas de uma mulher, e talvez outro sangue também. A sua tia Peg tinha desaparecido.
Choque confundiu os episódios em sua mente rapidamente e obscureceu o significado de tudo. Se ela tivesse falado disso imediatamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas a sua culpa de criança não permitiria isso, e o choque fizera seu trabalho para protegê-la.
— Anos depois, ossos foram encontrados e todos aceitaram que eram os restos daquela mulher. Sem dúvida, o Farthingstone havia encorajado essa suposição — disse Dante.
— Ele ficou aliviado. E foi o que aconteceu treze anos atrás — disse Siddel — Eu herdei um legado.
— Seus meios para chantagear, você quer dizer.
— Era do interesse da criada e do Farthingstone manter o silêncio, é claro. O crime também era deles. Farthingstone sabia disso. Quando contei a ele o que meu tio havia revelado, ele realmente ofereceu o dinheiro.
— Quando parecia que Fleur teria que arrancar a casa e fundações para uma escola, era do seu interesse certificar-se de que isso não acontecesse. Os pagamentos do Farthingstone parariam se ele fosse exposto. Assim como os de Cavanaugh, se essa parceria ferroviária tivesse sucesso.
O rosto de Siddel caiu. — Cavanaugh? Eu não tenho ideia do que está falando?
— Eu sei tudo sobre o Grande Projeto da minha esposa. Os patronos de Cavanaugh não gostariam que fosse bem sucedido. — Dante disse. — A sua situação não é boa, Siddel. Espero que você esteja deixando de lado algum dinheiro, porque ambos os seus rendimentos cessaram abruptamente. Uma vez que esta carta seja entregue ao magistrado, a sua posição se torna terrível.
Siddel sorriu. Deu ao rosto um aspeto desagradável, porque o sorriso em si era meio desdém. — Eu penso que não. Quando eu estava viajando para aqui, ocorreu-me que você provavelmente desejaria continuar com os pagamentos do Farthingstone. Você definitivamente não quer que essa carta me apresente no banco dos réus.
— Não há nada que você tem que eu pagaria.
— Eu acho que existe. O bom nome do seu irmão morto, por exemplo. A sua própria honra, por outro.
Dante estudou a expressão maliciosamente satisfeita do homem. Manchas de calor branco começaram a se romper nele. Ele lutou para controlá-lo. Pelo bem de Fleur, ele decidiu não abordar essa parte, como ele queria. A sua responsabilidade por ela superava qualquer dos mortos.
— Você não parece surpreso — disse Siddel, com admiração.
— Não.
— Você é mais esperto do que eu pensava.
— Você deve pegar seu cavalo e fugir. Ouvi dizer que a Rússia é agradável no verão, mesmo que os invernos sejam o inferno.
— Rússia? Você é esperto. Você já descobriu tudo. Foi o meu deslize indiscreto sobre o duelo que te alertou, não foi? Eu pensei que vi algo em seus olhos além do insulto.
— Sim.
— Eu não sou a favor de viver no exterior. Também suspeito que Nancy não esteja tão linda quanto ela era quando você, eu e muitos outros faziam fila até ela. Eu não acho que ela será muito útil para conseguir que jovens cavalheiros revelem os seus segredos de família. —
Essa referência à mulher que o esperava na Rússia fez o calor se espalhar. A provocação de Siddel sobre homens jovens tinha sido direta e cruel. A fúria queria consumi-lo. O frio gelado que tudo congelava, fazia com que até o bom senso se aproximasse do limite.
— Se eu escolher não fugir, o que você pode fazer? Dar a carta de Farthingstone em prova contra mim? Me ver em julgamento? Quem sabe o que vou confessar então? Ou talvez você conte a Laclere sobre minhas outras ações e faça com que ele me desafie. — Siddel começou a rir. — Eu posso ver isso. Laclere e eu nos encontrando, e o mundo assumindo que ele fez isso para proteger a sua honra. Vou deixar que se saiba como a sua esposa se encontrou secretamente comigo.
O calor queimou toda a racionalidade, exigindo furiosamente que ele lidasse com esse homem de uma vez por todas.
— Ou talvez eu conte a história desse ataque e diga que Laclere concluiu que eu era responsável.
— Se você sabe sobre isso, você foi.
— As suas perguntas a Cavanaugh estavam deixando-o preocupado. Você estava se tornando um incômodo. No entanto, o mundo só vai saber que o seu irmão está lutando um duelo porque você é muito covarde para fazê-lo. — Ele sorriu. — Nada de novo lá.
O frio explodiu sobre o fogo, matando-o e a sua fúria substituindo-o por uma calma perigosa. Ele gostaria de matar este homem. Ele estava se preparando para fazer isso há uma década.
A expressão expectante de Siddel era de um homem que supunha que sobreviveria. — A carta do Farthingstone deve ser minha se eu ganhar, ele disse.
Dante enfiou a carta dentro do casaco. Ele pegou a pistola. — Claro. Deixe-nos encontrar uma arma para você.
Siddel alcançou debaixo do casaco dele. — Pelo que parece, eu tenho uma aqui.
— Então vamos lá para fora.
Lado a lado, pistolas na mão, eles saíram para o salão de recepção. O gelo cristalizou dentro de Dante enquanto eles se moviam. A satisfação que ele logo conheceria o deixava eufórico. Não só Siddel iria morrer. Memórias e ressentimentos também. Uma velha culpa seria expiada.
Siddel abriu a porta. O sol estava escorrendo pelas nuvens e a chuva tornara a terra impregnada de cheiros encantadores. Como se carregada pela brisa fresca, uma imagem chegou a Dante, quebrando o gelo com seu calor.
Era uma imagem de Fleur propondo na prisão de devedores, confiando em todas as evidências de que ele iria protegê-la e honrar a sua palavra com ela. Era Fleur em seus braços, abrindo com um amor que fazia a vida valer a pena, que lhe dava um propósito. Era Fleur carregando o seu filho, precisando da sua força enquanto seus piores medos se aproximavam.
Siddel fez uma pausa e Dante percebeu que ele também.
— Temos visitantes — disse Siddel.
Isso tirou Dante dos seus pensamentos. Ele descobriu que fogo e gelo o haviam deixado. Assim como a justiça deste duelo. Se ele fizesse isto, seria por todos os motivos errados. Ele olhou para a alameda. Dois cavaleiros, a quatrocentos metros de distância, aproximavam-se a bom ritmo.
— Testemunhas seriam úteis — disse Siddel. — Não interessa quem são, eles servirão.
Dante saiu de casa. Ele apontou para o cavalo de Siddel. — Pegue e fuja. Vou me certificar que você não é seguido.
— Eu não vou a lado nenhum.
— Então você vai ser enforcado. Eu não vou ser o seu carrasco, apesar do quanto eu o quero.
— Tudo se vai saber. Não pense que não.
— Então deixe que saibam. Eu não vou te matar. Não mudará nada se eu o fizer.
— Você é um covarde.
— Se nos voltarmos a encontrar, você é um homem morto. Agora vá.
A arrogância de Siddel o deixou. Ele olhou freneticamente para os cavaleiros e depois para o cavalo.
— Eu devo exigir essa carta primeiro.
Dante observou os cavaleiros se aproximarem. — Vá enquanto você pode ou...
O crack o silenciou. Um impacto no ombro esquerdo o fez cambalear. A dor ardente cortou o seu peito.
Atônito, ele desviou para ver Siddel jogar de lado a sua pistola fumegante e caminhar em sua direção com assassinato em seus olhos. O olhar de Siddel estava fixo na pistola do próprio Dante. Dante levantou a arma e disparou.
Dante olhou para o corpo de Siddel. As suas próprias pernas o seguravam, mas ele não tinha noção do porquê, já que mal conseguia senti-las ali. No limite da sua consciência, ele ouviu vagamente cavalos se aproximando a um galope rígido.
— Maldição — uma voz familiar rugiu.
Um cavalo parou nas proximidades e, de repente, Vergil estava ao lado dele, pegando seu peso em seus braços.
— Bom dia, Verg.
— Inferno. Não fale. — Vergil baixou-o para se sentar no chão. — Quando o homem de Burchard informou que Siddel havia deixado Londres na estrada do norte, St. John e eu decidimos segui-lo, mas nunca pensei que Siddel tivesse assassinato em sua mente.
Dante não se importava muito com o que trouxera Vergil para cá. Ele não se importava com nada, na verdade. A dor estava piorando e a neblina entrara em sua cabeça.
St. John se juntou a eles, passando por cima do corpo de Siddel para se ajoelhar e examinar a ferida. — Foi tão perto que a bala saiu do outro lado, mas precisamos estancar o sangramento.
Ele começou a tirar o casaco de Dante. — Eu pedi a você para cuidar das suas costas, Duclairc.
Antes de St. John conseguir tirar o casaco, Dante retirou a carta de Farthingstone e entregou-a ao irmão. O nevoeiro se fechou e ficou preto.
Capítulo 28
Dante aparece em boa saúde — disse Diane St. John. — Seu cuidado com ele fez com que a recuperação fosse rápida.
— Eu não acho que o meu cuidado fez uma grande diferença, mas gostei de o fazer — disse Fleur.
Ela tinha apreciado cada minuto de cuidar dele. Sentada com ele, mudando as bandagens, compartilhando o seu alívio quando ficou claro que a ferida não deixaria seu ombro ou braço enfermo, uma intimidade suave se desenvolveu entre eles nas últimas duas semanas. Surpreendia-se como o amor continuava a ficar cada vez maior.
Ela tinha se ressentido das intrusões frequentes dos seus amigos e familiares, porque eles roubaram-lhe alguns momentos de felicidade. Laclere, em particular, tinha sido um tormento, porque tinha visitado o irmão por pelo menos uma hora, todos os dias. E ela fora banida do quarto do doente enquanto os irmãos conversavam.
Suspeitava que o ataque inesperado de visitantes de hoje indicava que o idílio da privacidade acabara de vez. Diane sentou-se com Fleur na sala de visitas, apreciando a doce brisa da tarde do começo de junho. Diane chegara com o marido, que agora conversava com Dante na biblioteca.
Não só os St. Johns os tinham visitado hoje. Três outras mulheres completavam o seu círculo na sala de visitas. Charlotte chegara primeiro, depois Bianca e Laclere e, finalmente, a duquesa de Everdon e o seu marido.
Os homens saíram juntos e outros homens, que Fleur não conhecia, foram levados diretamente para a biblioteca à chegada. Fleur estava tentando não se preocupar com o negócio que estava sendo conduzido naquela outra sala.
— Eu penso que eles estejam resolvendo questões — disse ela para suas amigas. — Esclarecendo o que aconteceu no Norte e explicando como Dante foi baleado.
— Por que você acha isso? — Bianca perguntou.
— Sr. Hampton usava o rosto de seu advogado, por um lado. Então aquele último homem que veio pareceu muito oficial e sóbrio. Dante me disse que ele teria que explicar como era e até mesmo ser julgado. As mortes de dois homens não podem ser ignoradas.
— Você não deve se preocupar — disse Charlotte. — Havia testemunhas, e a ferida no ombro do meu irmão é uma evidência de que ele se defendeu. O julgamento será apenas uma formalidade.
— Está demorando muito para que todos resolvam isso. Eles estão lá há uma hora.
— Tenho a certeza de que o que está acontecendo nessa biblioteca é apenas uma boa notícia para você, — disse a duquesa.
Williams apareceu na porta da sala de estar. Ele se aproximou e se inclinou para o ouvido de Fleur.
— Madame, a sua presença é solicitada na biblioteca.
Fleur engoliu em seco. Ela não duvidava que Dante seria completamente exonerado. A questão era se eles conseguiriam lidar com isso sem contar toda a história de Gregory e do chalé e da chantagem de Siddel e o Grande Projeto.
Ela se levantou. Para sua surpresa, a duquesa e Bianca também o fizeram.
— Vamos acompanhá-la — disse a duquesa. — Uma vez eu enfrentei uma mão inteira de homens numa biblioteca, e não é algo que uma mulher deveria ter que suportar sem algumas tropas ao seu lado.
— Eu dificilmente vou ao encontro do inimigo — disse Fleur enquanto caminhavam para a biblioteca. Mesmo assim, ela estava agradecida pelas tropas.
— Todos esses casacos podem ser intimidantes se não houver vestidos presentes. Quando os homens estão sozinhos, eles tendem a agir como se as mulheres fossem crianças, mesmo que, como indivíduos, eles saibam melhor. Você não concorda, Bianca?
— É uma batalha contínua que nós lutamos, Sophia. Felizmente, pode ser prazeroso.
As duas senhoras riram. Fleur deixou-se desfrutar de algumas lembranças preciosas dos vários compromissos e prazeres que o seu próprio casamento havia produzido. As portas da biblioteca balançaram e eles entraram. Adrian Burchard não pareceu surpreso ao ver sua esposa, mas Laclere levantou uma sobrancelha para Bianca.
Que ela alegremente ignorou.
A duquesa estava certa. Enfrentar uma biblioteca cheia de casos era assustador. Todos eles voltaram a sua atenção para ela. Todos exceto Dante. Ele se sentou numa cadeira de um lado, lendo algum documento.
O Sr. Hampton se dirigiu a ela. — Madame, precisamos que você leia esses documentos e dê a sua assinatura se concordar que eles estão em ordem.
Ela olhou para Dante. Ele cuidou de tudo isso. Ela não teria que responder a perguntas e dissimular os detalhes. Ela só tinha que assinar uma declaração aceitando os eventos como definidos no papel.
Aliviada, ela caminhou até a mesa. — Claro. — Ela mergulhou uma caneta e começou a assinar.
— Eu aconselho que você leia com muito cuidado, para ter certeza de que aceita seu conteúdo — interrompeu Hampton.
Engolindo um pequeno suspiro, ela pousou a caneta. Ela tinha a certeza de que Dante havia produzido uma história que acharia aceitável. Mesmo assim, ela deu uma olhada na folha de papel que estava em cima.
O primeiro parágrafo a surpreendeu. Não era uma declaração sobre os eventos em Durham.
Era um acordo de parceria sobre uma ferrovia em Durham. Dez dos homens da biblioteca, incluindo Laclere, Burchard e St. John, estavam nomeados como parceiros principais. Ela também, com a maioria das suas ações destinadas a criar um fundo para erguer a sua escola. Ações adicionais seriam vendidas para outras pessoas posteriormente.
Ela olhou para Dante, sentando ao lado, folheando as páginas da sua cópia. Ele tinha feito isso. Ele tinha feito isso acontecer.
— Burchard e eu vamos apresentar o projeto ao Parlamento para que obtenha aprovação para avançar, — disse Laclere.
Ela se sentou em uma cadeira e leu todo o texto maravilhoso. Apresentava os riscos e os benefícios. Quando chegou àquela parte, onde os sócios se comprometiam com as dívidas incorridas, ela olhou para Bianca e a duquesa.
Era com a fortuna delas, também, que seus maridos se comprometiam. Elas a acompanharam até aqui para anunciar que elas aprovavam.
— Sr. Tenet será sócio-gerente enquanto o projeto avança, — explicou Hampton, apontando para um homem oficial e sóbrio. — Ele tem experiência em tais assuntos.
O Sr. Tenet fez uma reverência. — Estou honrado em conhecê-la, madame. Posso dizer que os preparativos que você fez em relação à terra e ao levantamento aumentarão o nosso sucesso e a nossa velocidade de construção.
— Sim, bem feito — disse St. John.
Eles sabiam. Dante lhes dissera que fora ideia dela. Ela aceitou os acenos e sorrisos de aprovação. Somente os da duquesa de Everdon e da viscondessa Laclere não tinham um toque de espanto.
— Falando em terra, essas ações também terão que ser assinadas por você e pelo Sr. Duclairc — disse Hampton, batendo em outra pilha de papéis. — Por favor, diga agora a essas testemunhas que o seu marido de forma alguma a coage a vender essas propriedades em seu nome.
Ela de bom grado declarou isso. Com a mão trêmula, ela assinou tudo. Dante permaneceu na periferia, sua expressão muito branda, permitindo que ela completasse o ritual sozinha. Quando a última assinatura foi concluída, ele se levantou e se aproximou para assinar também.
Ela estava ao lado dele, tão excitada que mal conseguia se conter. Ela queria se livrar de todas essas pessoas para poder abraçá-lo do jeito que queria desesperadamente.
A duquesa veio em seu socorro. — Senhores, vamos nos juntar às senhoras na sala de estar. O Sr. Duclairc instruiu que alguns refrescos apropriados fossem trazidos para uma pequena comemoração.
As sobrecasacas saíram, parabenizando uma a outra. Na porta, Laclere olhou para trás. Deu-lhe um sorriso cheio da familiaridade dos seus anos de amizade.
O olhar que ele deu a Dante foi de um tipo diferente. Não era de aprovação, mas de admiração.
Ela jogou os braços em volta de Dante assim que a porta se fechou sobre eles. — Obrigada. ? Ela não sabia se devia rir ou chorar, então ela apenas o segurou com força e apertou-se contra o seu peito forte e deixou a alegria inebriante dominá-la.
Ele a envolveu com os braços. — Eu disse que você teria a sua escola, Fleur. Não fará falta a doação que você tinha planejado.
— Eles acreditam no Grande Projeto, não acreditam? Laclere e os outros não só fizeram isso para ser gentis, pois não? Eu não gostaria...
— Nenhum dos homens nesta sala foi governado pelo sentimento. Expliquei o seu plano para o meu irmão e mostrei-lhe o seu mapa. Ele ficou suficientemente impressionado que trouxe para St John, que fez algumas perguntas para confirmar os seus julgamentos. Depois disso, encontrar os outros foi fácil. Eles se consideram afortunados por fazer parte disto.
— Então, planejar isso é o que estava ocupando você enquanto você estava deitado.
— Isso, e contando os dias até que eu pudesse fazer amor com você de novo.
Ela olhou nos olhos dele. Eles continham o calor mais excitante. Ela podia olhar neles para sempre e ser uma mulher satisfeita. Sempre houve honestidade e verdade naquelas profundezas lúcidas, desde os primeiros dias na casa de campo. O seu coração tinha compreendido, desde o início, que este era um homem a quem seria uma honra amar.
— Sou muito grata por ter aceitado minha proposta, Dante. Eu menti para mim e disse que era uma troca justa, meu dinheiro pela sua proteção. Eu realmente sabia que não era.
— Soou muito justa para mim.
Ela balançou a cabeça. — Eu não acho que realmente fiz isso só para escapar de Gregory. Eu não queria te perder. Eu já te amava, só não podia chamar assim, nem mesmo no meu coração, porque não podia ter esse tipo de amor.
— É tão bom que você não o chamou de amor. Se você admitisse que se casava comigo por amor teria tido entrada direta em Bedlam4.
— Se isso é loucura, deixe-me nunca ser sã. — Ela deslizou a mão atrás do pescoço e pressionou-o para que ela pudesse beijá-lo. — Estou tão feliz que estamos verdadeiramente casados e eu posso te amar completamente.
Eles compartilharam um longo beijo, cheio da emoção da surpresa do dia e da antecipação dos prazeres particulares que esperavam quando seus convidados saíam. A aura de Dante a saturava, mas não havia mais perigo, porque o amor a inundava. Os seus olhos humedecidos com o melhor tipo de lágrimas. Ela desejou que não houvesse convidados na sala de estar e que eles pudessem ficar assim por horas, abraçados, aproveitando o triunfo do dia e o seu amor, não se separando de forma alguma.
Dante tomou o seu rosto em suas duas mãos. — Eu quero que você saiba de algo. Eu sempre fiquei feliz por nos casarmos, Fleur. Se você nunca tivesse sido capaz de se entregar a mim, eu ainda teria apreciado você e o amor que tenho por você. Eu nunca me arrependi de ter me tornado no seu marido.
Querido. Sim, essa era a palavra de como ela o amava. Essa era a palavra certa para a doce união que ela experimentava com a sua afeição, amizade e paixão.
Ele olhou para baixo com aqueles maravilhosos olhos hipnotizantes. Ninguém mais no mundo existia, a não ser os dois. Segurando o seu rosto gentilmente entre as suas duas mãos, beijou-a duas vezes, uma vez na testa e depois nos lábios.
Notas
[1] Os vândalos eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África.
[2] O Grupo dos Filhos Mais Novos
[3] Estrutura oca na base da pena
[4] O hospicio de Bedlam foi o primeiro de Londres, lá eram internadas as pessoas consideradas loucas ou com problemas psiquiátricos.
Madeline Hunter
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