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O PERGAMINHO OCULTO / Donna Grant
O PERGAMINHO OCULTO / Donna Grant

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Fallon MacLeod possui os dons que qualquer guerreiro desejaria: força, ferocidade e imortalidade. Desgraçadamente, isso põe em perigo todos a quem ama. Somente quando capturam seu irmão Quinn, Fallon abandona sua reclusão para pedir ajuda ao rei. E embora qualquer mulher da corte esteja disposta a atirar-se a seus pés, é o olhar da preciosa e misteriosa Larena Monroe que provoca um desejo incontrolável nele. Larena, como Fallon, busca um meio de derrotar à maligna Deirdre, que quer semear o caos na Terra.
Apesar do medo, ela se rende a uma paixão que atinge a ambos com grande intensidade. Mas Larena guarda um segredo que poderia fazer com que seu apaixonado amor pelo guerreiro o colocasse contra ela para sempre...
A série 'Highlander: A espada negra' arrasta o leitor a um assombroso mundo de druidas e magia negra no qual três irmãos lutam para desfazer uma antiga maldição.. E encontrar às mulheres que marcam seus destinos.

 


 

CAPÍTULO 1

Verão de 1603
Castelo de Edimburgo

Fallon estava de pé no corredor à entrada do grande salão, com os punhos fechados de ambos os lados de seu corpo enquanto lutava para manter a respiração tranquila. Os sons que vinham do interior do salão eram ensurdecedores. Somente estava no castelo de Edimburgo há umas poucas horas, mas a necessidade de sair correndo para refugiar-se em seu castelo na costa oeste da Escócia o consumia.
Tranquilo, tranquilo.
A imagem de seus irmãos atravessou-lhe a mente e então recordou por que tinha deixado o seguro refúgio de seu lar por aquele ninho de serpentes.
Estou aqui por Lucan e sua mulher, Cara. Estou aqui por Quinn. Estou aqui por nosso futuro.
Fallon umedeceu os lábios e se obrigou a abrir as portas e entrar no grande salão. Mal cruzou a soleira, dirigiu-se para um canto, nas sombras, para observar. Seu olhar percorreu todo o salão, o teto com suas trabalhadas vigas e os candelabros espalhados por todo o lugar, cuja luz se somava a do sol que entrava pelas janelas de ambos os lados.
O castelo de Edimburgo era enorme e seu grande salão não era diferente. Ao contrário do salão de Fallon, o castelo de Edimburgo desprendia uma opulência que somente podia vir do próprio rei. Tudo estava resplandecente.
Fallon sentiu o peito apertar, ao ver a grande quantidade de pessoas que havia lá dentro. Estava acostumado a ter seu próprio espaço e inclusive, às vezes, todo o castelo só para ele. Não gostava de multidão, nem como aquela gente circulava ao seu redor, roçando nele como se aquilo fosse natural.
Surpreendia-lhe que não tivessem nem ideia do que era, do que havia em seu interior, do que podia libertar a qualquer momento e fazê-los em migalhas. Para eles, ele era simplesmente um homem. Mas ele sabia da morte e da destruição que era capaz de fazer o deus primitivo que habitava em seu interior.
O coração palpitava com violência no peito. Se não se concentrasse, acabaria fugindo do salão e fazendo com que sua estadia no castelo se prolongasse mais ainda. Com esse horrível pensamento, obrigou-se a respirar profundamente e se apoiou sobre a parede de pedra enquanto observava o salão com o olhar.
O castelo de Edimburgo era uma fortaleza, uma magnífica obra de arte. Sobre sua rochosa localização, dominava a cidade. Muito tempo atrás, uma tribo celta tinha construído uma fortaleza no alto da colina sabendo a vantagem da localização sobre aquela rocha. Os futuros reis da Escócia também souberam apreciar essa vantagem.
—Parece que não está bem, senhor.
Fallon esticou-se e observou o esquálido e pálido homem que estava ao seu lado. Era alto, e tinha um rosto comprido, um nariz aquilino e lábios tão finos que mal podia dizer que existissem.
Quando Fallon respondeu, o homem apoiou na outra perna o peso de seu corpo.
—Sou o barão Iver MacNeil.
—Barão —repetiu Fallon com uma pequena inclinação de cabeça. Não tinha tempo para aqueles idiotas pomposos, especialmente para aquele insignificante ser que estava ao seu lado.
Fallon desenhou um sorriso em seus lábios diante da ideia de poder partir o barão pela metade com seu dedo mindinho. Não era estranho que Fallon não tivesse encontrado nenhum feroz guerreiro das Highlands no castelo; eles preferiam ficar em suas terras e governar seu clã. Eram os homens incultos e toscos, que estavam mais interessados em satisfazer suas próprias ambições, que preferiam estar tão perto do rei quanto possível.
Aquilo incomodou tanto Fallon que sentiu uma enorme vontade de acabar com todos. A raiva nublou-lhe a visão. Sentiu um fortíssimo arrepio na pele, sinal de que estava a ponto de perder o controle e libertar a besta.
—Veio ver o rei? —Perguntou Iver, desconhecedor do torvelinho que tinha provocado no interior de Fallon.
Fallon engoliu em seco e lutou para não revirar os olhos. Somente com o simples desejo de fazê-lo, conseguiu acalmar sua fúria.
—Sim. Há algo que preciso que atenda imediatamente.
—Já sabe que o rei não está no castelo —disse Iver com um sorriso— Quase não visita mais a Escócia.
Aquilo não era o que Fallon queria ouvir.
—Não está aqui?
—Neste momento não, mas ouvi rumores de que está a caminho.
Merda.
—Obrigado pela informação.
Iver soltou uma risadinha maliciosa, suficientemente forte para que chegasse aos ouvidos de Fallon.
—Eu estou muito perto do rei. Se quiser, poderia ajudá-lo. Quem é você, amigo?
—Duvido que possa me ajudar. E me chamo Fallon MacLeod.
Justamente como esperava, Iver arregalou os olhos, surpreso.
—MacLeod?
—Sim, ouviu bem.
Iver passou a língua pelos lábios, nervoso.
—As terras dos MacLeod há tempo que desapareceram. Repartiram-se entre diversos clãs há séculos.
Como se Fallon não soubesse.
—Sei.
—O que quer seu chefe? Acaso acredita que o rei James pode devolver-lhe as terras?
Fallon voltou à cabeça para olhar diretamente nos olhos daquele verme. Não confiava em Iver e sabia que aquele insignificante homenzinho, na realidade, não poderia ajudá-lo. Entretanto, Fallon sentia um perverso prazer ao ver como tentava.
—Eu sou o chefe, e embora nossa família tenha perdido as terras, o castelo continua de pé. E é meu.
—Ah, entendo —observou Iver com um sorriso nervoso. Voltou a passar a língua pelos lábios e olhou ao seu redor— Eu poderia ajudá-lo com sua petição.
Fallon decidiu morder a língua se por acaso Iver pudesse servir de ajuda. Cruzou os braços sobre o peito e pensou em seus irmãos, em seu lar, na paz que queria mais que tudo neste mundo.
Tinha deixado seu irmão, Lucan, e à nova esposa deste, Cara, no castelo dos MacLeod. Ele estava em Edimburgo para assegurar-se de que esse castelo fosse devolvido. O único membro da família que não estava no castelo era Quinn.
Uma onda de dor percorreu o corpo de Fallon ao pensar em seu irmão mais novo. Embora fizesse pouco mais de um mês desde que suas vidas mudaram tão drasticamente, parecia que havia passado toda uma eternidade.
Fallon ainda se lembrava de quando encontrou o fragmento do pergaminho entre as pedras na parede da almena. Soube sem lê-lo quem o tinha escrito. Deirdre.
Sentia um nó na garganta cada vez que pensava naquela depravada bruxa. Deirdre fazia parte dos Drough, uma seita de druidas que tinham feito um ritual de sangue e se entregaram ao mal e à magia negra. Era a magia negra que tinha libertado o deus que Fallon e seus irmãos tinham dentro de si, um deus que proporcionou-lhes a imortalidade e os poderes para massacrar os confiantes mortais.
Ao menos isso era o que Deirdre, a Drough mais poderosa, pretendia com sua luta pela dominação. Os primeiros nos quais libertou o deus foram Fallon e seus irmãos há mais de trezentos anos. Ainda lembrava-se da atroz dor que sentiu quando sua pele começou a queimar e seus ossos saíram de suas articulações, como se o deus de seu interior estivesse esticando-o.
Ele era um guerreiro, descendente dos primeiros guerreiros que aceitaram os deuses primitivos em seu interior para expulsar os romanos da Bretanha. Os druidas, naquele tempo seres com muito poder, dividiram-se em dois grupos: os Drough, que preferiam a magia negra, e os Mie, druidas que utilizavam sua magia só para o bem.
Foi à ameaça de Roma e sua dominação que conseguiu unir de novo as duas seitas de druidas. Tinham combinado sua magia para criar um feitiço que convocaria os deuses antigos enterrados nos infernos, esquecidos durante séculos.
Seu plano funcionou. Os guerreiros escolhidos pelos deuses eram os melhores das tribos e, com o poder que lhes conferiram os deuses, os homens se converteram em guerreiros. Uma força implacável que salvou a Bretanha.
Durante um tempo.
Quando os romanos abandonaram as terras britânicas, os druidas foram incapazes de tirar os deuses dos homens como tinham esperado. O único recurso que restou aos druidas foi adormecer os deuses. De novo, Drough e Mie combinaram sua magia.
Ninguém, ao menos nenhum dos druidas, suspeitou que os deuses passariam de pais para filhos como herança de sangue ao longo das gerações, possuindo o mais forte de cada linhagem até que pudessem ser despertados de novo.
Os MacLeod tinham sido uma dessas famílias.
Fallon havia lutado contra o que era. Foi Deirdre quem os tinha encontrado, Deirdre que destruiu todo seu clã, Deirdre que arruinou sua vida.
Ainda não tinha certeza de como ele, Lucan e Quinn puderam escapar de Deirdre e de sua montanha há tanto tempo, mas uma vez que o fizeram, mantiveram-se escondidos. Durante mais de trezentos anos viveram como fantasmas nas ruínas de seu castelo, escondendo-se do mundo, escondendo-se deles mesmos, mas lutando contra Deirdre em sua tentativa de conseguir a supremacia.
Então Cara apareceu em suas vidas. Nenhum deles podia imaginar o que aconteceria aos irmãos MacLeod no dia em que Lucan entrou no castelo com o corpo inconsciente de Cara em seus braços.
Um pequeno sorriso se desenhou no rosto de Fallon ao pensar em quão protetor era Lucan com sua esposa. Lucan, que tinha sido seu sustento e o de Quinn durante aqueles horríveis anos, merecia o amor e a felicidade que tinha encontrado.
Tinham descoberto muito tarde que Deirdre perseguia Cara por seu sangue de druida. Aconteceu uma grande batalha, mas nenhuma só vez pensaram em abandonar Cara para salvar-se. E de qualquer forma, Lucan nunca teria permitido.
Aquela noite e aquela batalha mudaram Fallon quase tanto como quando seu deus foi libertado. Já não era o homem que sempre tinha uma garrafa de vinho na mão para aplacar a voz do deus que havia em seu interior.
Ele tentou ignorar o deus, negar o que era, assim quando chegou o momento de salvar Cara, não esteve certo de poder fazê-lo. Entretanto, o deus escutou sua chamada e o transformou no guerreiro, no monstro, ao qual temeu durante tanto tempo.
Ao fazê-lo foi capaz de ajudar a salvar Cara. Os MacLeod conseguiram frustrar as intenções de Deirdre novamente. Ou ao menos isso era o que acreditavam.
Até que Fallon encontrou o fragmento do pergaminho.
Tinha memorizado as palavras. Aquelas palavras o perseguiam em seus sonhos e durante suas horas de vigília, como o rosto de Quinn.
Algo lhe deu uma espetada nas palmas das mãos. Desceu os olhos e percebeu que suas mãos se converteram em garras e que estava cravando as unhas em sua própria carne. Olhou para Iver, mas aquele estúpido estava muito ocupado observando os turgentes seios de uma serva e falando sem parar sobre sua fortuna e seu título para perceber. Fallon aspirou o ar profundamente para acalmar seu temperamento e não o deixou sair até ter conseguido fazer desaparecer o deus.
Sempre acontecia o mesmo quando pensava em como Deirdre havia capturado Quinn. Ela o tinha detido em sua fortaleza, a montanha Cairn Toul, esperando Fallon e Lucan. Aquela bruxa sabia que eles não permitiriam que mantivesse preso seu irmão. Ela queria que fossem buscá-lo.
E assim seria.
Fallon estava ansioso para retorcer aquele magro pescoço com suas próprias mãos. Apertaria forte até ouvir como cediam os ossos, até que saltassem os olhos, até que a vida abandonasse seu corpo. Só então estaria satisfeito. Viveria o resto de sua vida em paz como o monstro que era. Tudo o que precisava era saber que aquele mal que tentava dominar o mundo tinha desaparecido.
—Parece querer arrancar a cabeça de alguém — disse Iver com uma risada intranquila.
—Tranquilo, não é você. Ainda.
Iver suspirou e se aproximou mais de Fallon.
—Dependendo do que estiver disposto a me dar em troca, posso conseguir que devolvam parte de suas terras. Se, evidentemente, provar que é um MacLeod. Se quer que eu seja sincero, acreditava que não restava nenhum com vida.
—Suponho que ouviu a lenda sobre meu clã.
Embora Fallon odiasse ter que falar disso, pelo que havia acontecido a seu clã, o medo e a curiosidade podiam ficar a seu favor neste caso.
Os malvados olhos negros de Iver se abriram, cheios de interesse.
—Oh, sim, MacLeod, todo mundo conhece a história. É certo? Foi todo seu clã massacrado?
—Sim, todo homem, mulher e criança foi assassinado.
Ao ver o rosto satisfeito de Iver, Fallon teve que conter-se para não esmurrar sua boca.
—O que aconteceu? — Perguntou Iver — A lenda diz que não sobreviveu ninguém.
—Sobreviveram três. Três irmãos para ser exato. Fallon, Lucan e Quinn.
—Fallon — sussurrou Iver — leva o nome de seu antepassado.
Fallon não o corrigiu. Deixaria que aquele verme pensasse que era um descendente. De qualquer forma, Iver não iria acreditar na verdade.
—Sou o legítimo chefe do clã MacLeod.
—Sim, é. E merece suas terras. — Iver esfregou as mãos, a espera fazia que brilhassem os olhos — Enviarei uma carta ao rei imediatamente.
Mas Fallon não era estúpido.
—Obrigado, mas prefiro ver o rei eu mesmo. Está certo de ter ouvido que estava a caminho de Edimburgo?
— Sim — confirmou Iver — Por isso veio tanta gente ao castelo de Edimburgo. Faz anos que o rei não vem à Escócia.
Fallon arqueou uma sobrancelha. Gostaria de dizer muitas coisas a respeito, mas pensou que seria melhor não falar mal de um rei, quando estava a ponto de pedir a esse mesmo rei que devolvesse seu castelo.
— Muito obrigado pela informação — disse Fallon, e se retirou antes que Iver pudesse dizer qualquer coisa.
Enquanto se dirigia para outro canto do salão e posicionava-se para ver se podia escutar alguma coisa mais sobre a chegada do rei, a multidão ao seu redor se dissipou e pôde ver um brilho de cor. Voltou à cabeça e tirou o chapéu olhando do outro lado do salão para um rosto de incomparável graça e beleza. Um rosto que estava certo de não poder esquecer nunca, mesmo se vivesse toda a eternidade.
Era tão impressionante que afastou-se da parede e se dirigiu para ela sem dar-se conta do que estava a ponto de fazer. A necessidade de estar perto, de possuir aquela beleza, apoderou-se dele como o fazia o deus com sua ira.
Fallon manteve os pés bem cravados, fazendo uso de toda sua vontade, mas não podia afastar o olhar daquele cativante rosto ovalado. Ela se movia com elegância e dignidade, uma nobre de nascimento.
Alguém tropeçou com ela por trás, e de repente pôde ver um sutil brilho de alerta em seu rosto, que só um guerreiro compreenderia, e poderia notar.
Cada vez estava mais intrigado. Apesar de que as mulheres das Highlands eram famosas por sua força e sua coragem, não eram guerreiras.
Logo que a dama se recompôs do pequeno incidente, a perfeição voltou a instalar-se nela.
Fallon deixou que seu olhar percorresse aquela visão. Havia passado tanto tempo desde que havia pousado seus olhos em algo tão... impressionante. Seus lábios eram carnudos; tinha um sorriso fácil e contagioso quando falava com os que a rodeavam.
Tinha a face marcante e um nariz pequeno que se erguia quase imperceptivelmente na ponta.
Seu ouvido extremamente desenvolvido captou uma conversa que o fez deter-se.
—É incrível, não? —Sussurrou um homem — É lady Larena Monroe. Não há homem no castelo que não a queira em sua cama e que não matasse por ela, se assim pedisse.
Fallon compreendeu que deviam estar falando da mulher que não podia deixar de olhar. Queria ouvir mais, mas também queria estar mais perto dela.
Incapaz de conter-se, começou a caminhar entre a multidão pelo perímetro do grande salão. Ficou mais perto de Larena Monroe, admirando a elegância de seu vestido vermelho escuro e o modo que se adaptava às curvas de seus seios antes de afinar-se em sua cintura. Tinha as mãos unidas, pousadas em seu regaço com os longos e finos dedos entrelaçados enquanto escutava uma anciã com um nariz protuberante.
Através do espaço que havia entre dois homens, Fallon observou lady Larena. Sua pele era cor de nata e tinha seu reluzente cabelo loiro preso. Tinha olhos grandes e expressivos que capturavam a atenção de qualquer homem que os olhasse e uma boca que não podia evitar desejar beijar.
Estava fascinado e intrigado por aquela mulher.
O sangue de Fallon ferveu nas veias, seu coração acelerou-se e, que os deuses o ajudassem, seu testículo esticou. O desejo agitava-se em seu interior, pedindo que provasse aquela imaculada pele que desejava e parecia tão doce.
Então Larena voltou-se e o olhou diretamente, com olhos de um azul tão escuro que parecia que estava vendo o que ele era na realidade. Fallon inspirou profundamente para tranquilizar-se. Ela fez um gesto de reconhecimento com a cabeça, seu cabelo dourado era como um farol naquele salão.
Mal afastou o olhar, ele perdeu-se de novo na multidão e refugiou-se nas sombras de um canto. Reconheceu o desejo que brotou em seu interior. Reconheceu-o... e o temeu.
Ele estava ali para assegurar-se de que seu castelo continuasse sendo dele, não para satisfazer seus desejos debaixo das saias de uma mulher. Apesar da formosura daquela mulher.
Os MacLeod haviam perdido suas terras depois do massacre e depois Quinn desapareceu, mas Fallon estava disposto a lutar contra tudo o que fosse necessário para assegurar-se que o castelo fosse seu eternamente. Nem ele, nem seus irmãos voltariam a esconder-se, nem a viver como fantasmas. Era o momento de dar um passo adiante, e se outros descobrissem o que eram e tentassem lhes fazer algum mal, veriam que estavam arriscando a vida.
Fallon passou uma mão pelo queixo diante da repentina sede de vinho, algo que o ajudasse a acalmar a dor do desejo em suas vísceras. Se James VI tivesse sua residência aqui em vez da Inglaterra, Fallon poderia retornar logo a seu castelo. Mas a verdade era que o rei da Escócia preferia viver na Inglaterra e governar ambos os reinos dali.
O rumor de que James estava a caminho da Escócia era simplesmente isso, um rumor, mas Fallon tinha que descobrir se era verdade ou não.
Não havia tempo para viajar até Londres e pedir audiência, apesar de seu poder para viajar centenas de quilômetros em um abrir e fechar de olhos. Fallon só podia utilizar seu poder para aparecer em lugares nos quais já tinha estado. Como nunca havia estado em Londres, corria o risco de acabar aparecendo em um campo e com a metade de seu corpo cravado em uma parede.
Fallon dedicaria o resto do dia a recolher mais informações sobre ser verdadeiro o boato de que o rei estava a caminho de Edimburgo. Se fosse assim, ficaria. Senão, retornaria ao castelo dos MacLeod e falaria com Lucan para que este arrumasse um tempo para viajar até Londres.
Apesar da ausência do rei, o castelo de Edimburgo estava cheio de nobres e gente que procurava trocar favores com senhores poderosos. Pode ser que Iver tivesse razão e as pessoas estivessem indo ao castelo porque o rei estava a caminho.
Fallon recordava claramente o dia em que seu pai, antes do massacre, levou-o a Edimburgo para apresentá-lo ao rei e a nobreza como futuro chefe do clã que seria.
Seu pai havia dito com frequência que era importante para ele conhecer todo mundo, em especial aqueles que tinham alguma influência, fosse do tipo que fosse, sobre o rei. Isso não queria dizer que Fallon desse seu apoio, mas um chefe tinha que conhecer os mistérios da nobreza e da realeza para manter seu clã a salvo.
Seu pai tinha razão. Foi uma pena não saber nada da bela e malvada Drough que destruiria tudo um ano depois.
Furioso consigo mesmo, com seu desejo e com aquele destino que tão vilmente os surpreendera, Fallon voltou-se e saiu do salão. Não podia suportar o movimento das pessoas nem o aroma de suor que sentia no ar. Sentia falta das vistas nas torres de seu castelo: as ondas rompendo contra os escarpados enquanto escutava os pássaros gorjearem e deixarem-se levar com as correntes de ar.
Voltou para seus aposentos, um suor frio empapava seu rosto e se reclinou contra a porta fechada. Tremiam-lhe as mãos, mas na solidão de seu quarto não tinha que escondê-las.
Seu olhar pousou na garrafa de vinho que sempre levava consigo para recordar o que estava ignorando, o que quase perdeu e a guerra que tinha diante de si.
Lucan assumiu todo o peso da responsabilidade enquanto Fallon se perdia no esquecimento que lhe proporcionava o vinho, dia após dia. Foi Lucan que enfrentou os ataques de ira de Quinn, foi Lucan que arrumou e acondicionou o castelo para torná-lo habitável. Como o irmão mais velho, Fallon deveria ter se encarregado de todas aquelas coisas.
Fallon abandonou seus irmãos. Quinn, que perdeu sua mulher e seu filho na matança de seu clã, não foi capaz de controlar sua ira, o que alimentava o deus que levava dentro de si. Era estranho que a parte do guerreiro que era não aparecesse em Quinn. Não podia controlar sua cólera e portanto não podia controlar o deus que habitava em seu interior.
Em vez de ajudar seus irmãos, abandonou-os, concentrado em sua própria dor, em sua própria raiva.
Fallon tropeçou com a mesa e agarrou a garrafa de vinho com uma mão ainda trêmula. Seu pai estaria envergonhado dele. Não foi o líder que seu pai havia dito que era e para o que foi educado. Tinha sido um covarde, temeroso de confrontar a verdade de seu futuro e de aprender a controlar o deus, como fez Lucan.
Mas agora tinha a oportunidade de reparar seu erro.
Depois de lutar contra sua vontade, Fallon deixou o vinho sobre a mesa e afastou-se. Seu castelo estava sendo reconstruído pouco a pouco. Pode ser que não voltasse a brilhar como na glória de antigamente, mas voltaria a ser um lar. Ali havia um futuro que o esperava.
Os irmãos já não estavam sozinhos. Havia Cara e os outros quatro guerreiros que apareceram para darem seu apoio quando Deirdre os atacou. E também havia outra druida, Sonya, a quem as árvores disseram que deveria ajudar Cara a descobrir seus poderes.
O castelo MacLeod estava aberto a qualquer druida ou guerreiro que quisesse enfrentar Deirdre e o mal que ela representava. Mesmo que fosse a última coisa que fizesse, Fallon estava disposto a consegui-lo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 2


O coração pulou no peito de Larena Monroe quando ouviu o nome MacLeod sussurrado no grande salão. Mal foi pronunciado, o nome correu por todo o salão como pólvora. Todos queriam saber que MacLeod estava presente, especialmente ela.
—Desculpe-me, lady Drummond — começou a dizer enquanto se voltava para a mulher que estava atrás dela — Me pareceu ouvir que diziam MacLeod. Certamente foi um engano.
O nome MacLeod era sinônimo de morte, de dor e de sucessos inexplicáveis. Os mitos sobre os irmãos MacLeod não tinham morrido nos trezentos anos que passaram desde que o clã foi destruído. Era uma história que se repetia uma e outra vez, mas que não estava acostumada a ouvir em pleno dia no castelo de Edimburgo. Normalmente, se reservava para as noites de tormenta.
—Ah, querida Larena —disse lady Drummond. Seus olhos cor de avelã rodeados de rugas tinham um brilho de malícia — Ouviu bem. Há um homem no castelo, um homem que diz ser um MacLeod.
Larena fechou a mão em um punho, capturando a malha de seu vestido enquanto a agitação percorria seu corpo. Estava a tanto tempo procurando os MacLeod... Acaso a sorte lhe sorria e colocou-o ao seu alcance depois de tantos anos? Tinha que encontrá-lo, e falar com ele.
Sacudiu a cabeça mentalmente.Com certeza, houve alguma confusão com o nome. Os MacLeod eram perseguidos, não por outros homens das Highlands, nem pela coroa, mas sim por algo muito, muito pior. Eram perseguidos pela personificação do mal, Deirdre.
Larena assustou-se ao perceber que lady Drummond continuava falando.
—Sinto muito. Tinha a cabeça em outra parte.
Lady Drummond inclinou-se para ela, com a papada pendurada.
—Perguntei se viu o MacLeod. Eu pude vê-lo por um momento, querida. — Abanou-se com a mão enrugada — Se fosse mais jovem... É endemoniadamente belo.
—É? — Larena desejava tê-lo visto.
Lady Drummond riu e aproximou-se mais de Larena.
—Tem um toque como os celtas da antiguidade. Um autêntico homem das Highlands — sussurrou, sua voz aguda, com um toque de assombro.
Larena estremeceu quando percebeu que o homem de que falava lady Drummond e que acendeu seu corpo era o mesmo. Tinha visto MacLeod. Só por um instante, mas gostou muito dos olhos verde-escuros mais fascinantes e mais atípicos que havia visto. Eram olhos turbulentos, como um mar em meio a uma tempestade, e também intensos.
Teve que afastar o olhar para não ficar louca. Quando voltou a olhar, ele tinha desaparecido. Em todos aqueles anos, não houve nenhum homem que exercesse tal efeito sobre ela. Aquilo a assustou, ao mesmo tempo em que a cativou.
Depois de agradecer a lady Drummond, Larena desculpou-se e percorreu o salão com a intenção de encontrar aquele curioso homem das Highlands com formosos olhos e um toque de ouro.
Usava um kilt escocês com um estampado que não sabia reconhecer, mas o usava com a desenvoltura de quem nasceu para isso. E entretanto era um homem das Highlands. Com um simples olhar a seus olhos, viu o espírito selvagem e indomável daquelas terras.
Ao ver que não encontrava o homem que dizia ser MacLeod, Larena se dirigiu ao jardim para respirar um pouco de ar fresco. Estava vivendo no castelo há muitos meses, na tentativa de descobrir até onde chegava à magia de Deirdre.
Larena estava arriscando sua vida permanecendo no castelo, mas o que ela escondia valia o risco.
Não estava no castelo só por Deirdre. Sabia o suficiente dos tristes e célebres MacLeod, sendo consciente de que tinha que descobrir tudo o que pudesse sobre eles.
Sentia muita saudades das montanhas das Highlands e da neve em seu rosto, mas não podia partir. Ainda não. Ainda tinha que conseguir mais informações.
Larena passou por uma roseira com brilhantes rosas amarelas e sentou-se em um banco de pedra que oferecia um pouco de privacidade. A fragrância das flores a envolvia, afastando dela o odor dos rançosos fôlegos e dos suados corpos da corte.
Com as mãos apoiadas no banco às suas costas, Larena inclinou-se para trás e ergueu o rosto para o céu onde os raios do sol filtravam-se entre as pesadas nuvens. Não demoraria em começar a chover e teria que entrar no castelo.
Deixou sua mente vagar até que lembrou-se das notícias que chegaram há duas semanas sobre os irmãos MacLeod. Ela confiava em Camdyn MacKenna porque era um guerreiro e não tinha nenhum motivo para mentir.
Havia pouca gente em que ela confiasse. Aprendeu com sua própria dor que a confiança era algo que alguém tinha que ganhar. Camdyn a ganhou, ou ao menos em parte. Havia coisas que ninguém podia saber sobre ela. As consequências seriam muito perigosas para envolver alguém.
De todas as pessoas que conhecia só havia uma pessoa em que realmente confiava, seu primo Malcolm. Malcolm tampouco deveria conhecer seus segredos, mas descobriu um deles quando era apenas um menino de sete primaveras.
Sabia que deveria tentar convencer Malcolm para que voltasse para o clã que a baniu. Cada vez que falava disso, ele respondia que apesar de ser poderosa, ela precisava de alguém ao seu lado que a ajudasse.
E como era uma mulher, aparentemente aquilo era certo.
O rangido de um sapato sobre a grama fez com que Larena voltasse para a realidade. Sorriu ao ver os tranquilos olhos azuis de Malcolm pousarem sobre ela. Era alto e movia-se com a elegância do senhor que era. Como primeiro filho dos Monroe, recebeu a educação que correspondia ao seu status e tinha sangue nobre.
Mas era seu rosto que fazia suspirar às mulheres. Seus traços eram perfeitos. Tinha a mandíbula quadrada e um nariz largo e reto. Sua boca era grande e seus lábios carnudos. Era capaz de fazer com que uma monja largasse o hábito por seus encantos.
—Estava certo que a encontraria aqui. — Sua voz era profunda, suave. Sentou-se a seu lado — Suponho que ouviu o que estão dizendo.
—Sobre o homem que diz ser um MacLeod?
Ele assentiu e passou os dedos por entre os dourados cachos que lhe caíam constantemente nos olhos.
—Tentei vê-lo, mas não pude encontrá-lo. Vi que falava com Iver MacNeil.
Malcolm soltou um grunhido e apertou os lábios.
—Esse imbecil? Tento evitar Iver de todas as formas, mas por você, querida, verei o que posso averiguar.
Ela sorriu quando agarrou sua mão, subiu-a até seus lábios e a beijou. O carinho de seus olhos não era o de um amante, mas o de um homem que era mais que um irmão.
—É muito bom comigo.
—Não, se o fosse, já teríamos saído deste imundo buraco. Sei que deseja partir.
Ela pousou sua outra mão sobre a de Malcolm.
—Tenho uma missão a cumprir, Malcolm. E a levarei até o fim.
—Se for um dos MacLeod, o que fará?
—Falarei com ele.
—E se não acreditar em você?
Ela afastou o olhar, odiando o medo que caiu sobre seu estômago.
—Então mostrarei a ele.
—Está se arriscando muito, Larena. Isto poderia ser um truque de Deirdre.
—Ela não sabe nada sobre mim. Até agora consegui evitá-la. Continuará sendo assim até chegar o momento em que tenha que acabar com ela.
Malcolm desceu suas mãos e as pousou sobre o banco.
—Eu gostaria de estar com você quando falar com MacLeod.
—Não. Tenho que fazê-lo sozinha. Há certas coisas que devo dizer. Se ele for um guerreiro, não confiará em ninguém para falar com a liberdade com a qual necessito que fale.
Malcolm inclinou-se para ela e a beijou no rosto.
—Vá com cuidado.
—Não se preocupe. Logo terei partido e você será livre para se casar com essa preciosa moça de cabelo cor de mogno que vi sorrir para você.
Malcolm jogou para trás a cabeça e riu, seus olhos azuis brilhando.
— Estive tão ocupado com outras coisas que nem sequer me ocorreu que tivesse percebido.
—Percebi. E também vi como o observa quando você não a olha. Fixou-se muito em você. — Larena escondeu seu sorriso — Quero que se case, mas que se case com uma mulher que o faça feliz. Merece, Malcolm. Encontrar uma boa mulher que lhe dê muitos filhos.
Seu sorriso também apagou-se. Levantou-se com um suspiro e ficou diante dela. Larena observou o kilt escocês dos Monroe com seu xadrez vermelho e verde. Sempre havia gostado daquele tartán, embora fizessem muitos, muitos anos que o tinham arrancado de seu corpo.
—Farei o que diz — acessou Malcolm enquanto ajoelhava-se diante dela. Agarrou-lhe as mãos e voltou-se para olhar para ela — Mas somente se me fizer uma promessa.
Larena teve medo de pensar que tipo de promessa seria, mas fazia muito tempo que eram amigos para negar.
—O que quer de mim?
—Não parta sem me dizer adeus.
Ela piscou rápido para afastar as lágrimas que de repente chegaram a seus olhos e segurou-lhe o rosto com a mão.
—Levaria você comigo, se pudesse. É o melhor homem que conheci. Nunca poderei agradecer o suficiente o que tem feito por mim.
Comoveram-no suas palavras, fazendo um gesto com a mão, ficou de pé. Tinha os olhos tristes.
—Já basta. Acabará chorando e sabe o muito que odeio as lágrimas.
—Não estou chorando.
Mas percebeu que seus olhos queimavam ao pensar em deixar Malcolm. Ele era a única família, o único amigo que tinha no mundo. Queria sair de Edimburgo, afastar-se da multidão e voltar para a tranquilidade das Highlands, mas não desejava ficar sozinha. Não de novo.
—Vamos — disse Malcolm e ofereceu o braço. Seu sorriso era um pouco forçado, mas mesmo assim, autêntico — Vamos dar um passeio por estes maravilhosos jardins.
Larena agarrou seu braço, agradecida pela mudança na conversa. Não gostava de pensar no que lhe proporcionava o futuro. Havia muita incerteza, muita morte no destino que tinha escrito. E ela odiava vê-lo preocupado, pois não havia nada que ele pudesse fazer.
—Lembra quando falei com Camdyn há alguns dias?
—Sim —disse Malcolm, assentindo— O que houve?
—Ele falou dos irmãos MacLeod, que foram encontrados. Depois de tanto tempo. E agora parece que um deles está aqui. Qual deles acredita que pode ser? Fallon? Lucan? Quinn?
Malcolm sorriu.
—Não me atreveria a escolher um.
—Rezo para que o que me disse Camdyn seja verdadeiro; que são como eu. Tenho muito a perder para depositar toda confiança em alguém que não seja um autêntico MacLeod.
—Estou de acordo. De qualquer forma, não me disse que Camdyn comentou que Deirdre saiu de seu esconderijo há um mês?
—Sim. Acha que tem alguma relação com o fato de MacLeod estar aqui?
Malcolm encolheu os ombros e a afastou para o lado, para deixar que passasse um casal.
—Poderia ser, Larena. Você mesma disse que Camdyn estava surpreso de que tantos guerreiros abandonassem seus esconderijos. Para onde se dirigem?
—Camdyn não sabia. Os MacLeod são os guerreiros mais antigos e seriam nossa melhor arma para vencer Deirdre, de uma vez por todas. Escaparam de suas garras e conseguiram evitá-la durante trezentos anos. Ninguém pôde conseguir o que eles conseguiram.
—Disse-me que Camdyn raramente sai de seu esconderijo. O fato de que saísse e viesse procurá-la para falar dos MacLeod é muito significativo.
Ela assentiu recordando do guerreiro. Camdyn MacKenna odiava os lugares públicos, tanto quanto odiava Deirdre.
—Algo que o levasse a sair de seu esconderijo seria importante. Pelo que ouvi, as marcas que encontrou eram importantes para que esperasse nos arredores do castelo até que me encontrou.
—O que diziam essas marcas?
—Que um guerreiro que Camdyn chamou de amigo havia abandonado o bosque.
Larena, como todos os guerreiros, podia ler a antiga linguagem celta que utilizavam os guerreiros para comunicar-se entre eles, mediante marcas nas árvores. Desejava ter visto aquelas marcas por si mesma.
—Recorda o nome desse guerreiro?
Franziu o cenho enquanto se detinha para pensar por um momento.
—Shaw? Sim, esse era o nome. Galen Shaw. Já tinha ouvido Camdyn falar de Galen antes. É um guerreiro muito respeitado.
—Mas aonde vão? Camdyn disse alguma coisa a respeito?
Ela sacudiu a cabeça.
—Não. Só que se dirigiam para o norte. Estou convencida de que há outras marcas para ajudar a encontrar o caminho, mas aquelas eram as únicas que tinha visto Camdyn.
—Foi procurar Galen?
—Sim.
Malcolm a deteve junto a um alto sebe[1].
— Reconheceria essas marcas se as visse?
—Já aconteceu, mas há algum tempo que não leio nenhuma, mas poderia decifra-las.
—Então deveríamos sair para procurá-las.
Ela sorriu diante de seu ímpeto. Sempre estava ansioso para ajudar, pôr sua vida em perigo se ajudasse na destruição de Deirdre. Mas Larena não iria permitir que arriscasse assim sua existência. Malcolm já havia desafiado os desejos de seu pai não permanecendo com seu clã no nordeste da Escócia para estar com ela.
—Não saberia onde procurar — disse — Camdyn não me disse em que bosque as viu, assim seria bastante complicado.
—E de qualquer forma, você não me deixaria ir junto.
—Não, você é muito importante para a família.
—Ao inferno com a família —disse entre dentes, com a mandíbula tensa.
Larena agarrou-lhe brandamente o braço.
—Primo...
—Não — advertiu — Não, Larena.
Mas ela devia recordar-lhe. Seu primo estava colocando em perigo seu futuro para reparar o que seu avô e seu bisavô tinham feito a ela. Logo que soube que ela pretendia ir ao castelo de Edimburgo, Malcolm decidiu ir com ela. Para protegê-la, disse. Ela sorria cada vez que o escutava dizer aquilo. Quando chegasse o momento, seria ela que teria que protegê-lo.
Larena olhou para o chão.
—Seja pelo motivo que for, eu sou o que sou. Seu avô e seu bisavô tomaram a decisão de me desterrar[2] do clã dos Monroe. Não quero que aconteça o mesmo a você. O clã já está se distanciando de você pela relação que mantém comigo.
—Meu pai não se atreveria a me desterrar e não me importa o que faça o resto do clã. Respeito meu avô e meu bisavô, simplesmente se encontram ressentidos porque o deus escolheu você, em vez do meu avô.
Ela estremeceu ao recordar o dia em que o deus a escolheu em vez de Naill. Tudo o que tinha conhecido e amado até aquele momento mudou em um abrir e fechar de olhos e nunca voltaria a ser o mesmo.
—Pode. Por isso eu sei, não existem mulheres guerreiras.
—Além de você —sussurrou Malcolm.
Ela umedeceu os lábios e tentou encontrar as palavras que ajudassem a entender.
—Isso me fez perder a minha família e a meu clã, Malcolm. Não sei como me tratarão os outros guerreiros, quando descobrirem que eu sou um deles.
—Não perdeu tudo. Tinha Robena.
Larena sorriu quando Malcolm mencionou à velha druida que havia libertado seu deus.
—Robena foi à única que não se surpreendeu ao descobrir que eu era uma guerreira em vez de seu avô. Ela me acolheu quando o clã me desterrou e começou minha formação imediatamente.
—Eu estava acostumado a observar quando treinavam.
—Lembro-me disso. — Larena sorriu ao recordar os tempos em que ela fingia que não sabia que ele a estava olhando — Tinha somente seis ou sete anos a primeira vez que o vi.
Malcolm encolheu os ombros.
—Fascinava-me ver como se transformava. Invejo-a por isso. E por sua imortalidade.
—Não — alertou ela. Ela era oitenta anos mais velha do que ele, mas diante dos olhos dos mortais, era Malcolm que podia lhe dizer o que fazer— Pode parecer emocionante, mas toda minha vida está no ar.
—Seus segredos estão a salvo comigo. Deveria saber.
E sabia. Malcolm tinha sido sua única conexão com seu clã depois de ter que fugir e da morte de Robena. Embora tivesse sido desterrada do clã dos Monroe, Larena sempre tinha vivido suficientemente perto para poder visitar seu pai, de vez em quando.
Ao longo dos anos, Malcolm sempre foi seu amigo, tinha-lhe informado das novidades do clã e lhe proporcionou tudo o que precisava. Foi ideia dele vir a Edimburgo e fazer-se passar por seu irmão. Malcolm tinha sacrificado muito para ajudá-la e ela teve medo de não poder devolver-lhe nunca.
—Sabe Camdyn o que guarda? —Perguntou Malcolm.
Larena sacudiu a cabeça.
—Não. Já é suficiente que saiba que sou uma guerreira.
—Vá com cuidado, Larena. Pode ser que seja uma guerreira, mas Deirdre acabará descobrindo-a cedo ou tarde.
—Sei —Ela afastou o olhar, enquanto sentia que um gélido calafrio lhe percorria as costas.
Malcolm agarrou sua mão para recuperar sua atenção.
—O que fará quando ela vier atrás de você? Sabe que não se deterá diante de nada para conseguir o que você protege.
—Isso eu sei. Estarei preparada quando chegar o momento.
—Ela domina a magia negra. Não há nada que possa prepará-la para isso.
Era verdade, mas não iria permitir que ele soubesse o quanto temia o momento em que Deirdre a descobrisse. Durante cem anos viveu a sua maneira. No momento em que Deirdre começasse a persegui-la, tudo mudaria. E não para melhor.
Se Deirdre descobrisse o que era, Larena teria que estar sempre fugindo. Não temia que a capturasse, tinha medo do que poderia acontecer quando Deirdre descobrisse que era a guardiã do Pergaminho.
O Pergaminho era uma lista com todos os sobrenomes de cada homem celta que tinha sido habitado por um deus para expulsar os romanos. Era uma lista que Deirdre queria a todo o custo, pois a ajudaria a encontrar facilmente os homens cuja linha de sangue albergava um deus.
Larena nunca perdoaria a si mesma se o Pergaminho caísse nas mãos de Deirdre. Essa era uma das razões pelas quais guardava o segredo para si mesma. E se Malcolm sabia era por ser da família e o seu pai havia contado.
—Por isso quer falar com MacLeod, verdade? — Perguntou Malcolm interrompendo seus pensamentos — Acha que ele e seus irmãos podem protegê-la.
—Se alguém pode me ajudar a manter-me a salvo de Deirdre é MacLeod e seus irmãos.
—E se disser que não?
Ela suspirou profundamente, sem nem sequer pensar nessa possibilidade.
—Então enfrentarei Deirdre sozinha.
Os músculos dos braços de Malcolm se esticaram, enquanto mantinha fortemente agarrada sua mão. Logo voltou-se e começou a caminhar em direção ao castelo.
—Rezo para que não se engane com os MacLeod.
—Eu também —murmurou ela.
Sua vida não significava nada, mas o Pergaminho que protegia era muito valioso para cair em mãos erradas.

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 3


Fallon observava Larena Monroe de sua janela. Surpreendeu-se ao vê-la caminhar pelos jardins sozinha. Por um momento afastou o sorriso de seu rosto e relaxou. Nesse instante podia ver o desespero e a ansiedade na pequena ruga que formou-se em sua fronte.
Mas justamente no momento em que o homem se aproximou, ela voltou a sorrir rapidamente. Era um sorriso relaxado, não o sorriso falso que viu no grande salão. Fosse quem fosse aquele homem, era evidente que ela se preocupava com ele. E isso incomodou Fallon mais do que estava disposto a admitir.
Larena e aquele homem ficaram sentados um longo momento e depois se levantaram e começaram um passeio pelos jardins. Fallon sabia que não devia espiá-la, mas não podia evitar. Tudo o que fazia Larena o fascinava, de uma simples inclinação da cabeça até o erguer de uma mão: todos seus movimentos eram graciosos e elegantes. Os cachos dourados que emolduravam seu rosto o fascinavam e não podia afastar o olhar de seu esbelto pescoço.
Na solidão de seus aposentos, pôde observá-la à vontade e percebeu que gostava muito do que via. Quanto mais olhava, mais desejava descobrir. Não era estranho que todos os homens do castelo a quisessem para si. Não era só sua beleza, era a força e a resolução que havia em seu interior que fazia com que os olhos dos homens se voltassem, atraídos para ela como as mariposas na luz.
O modo que aquele homem a agarrava, como se fosse dele, fez com que Fallon apertasse os punhos. Estava vendo um encontro clandestino? Não se importou em perguntar se era casada. Por mais que Fallon repetisse a si mesmo que isso não importava, a verdade é que importava. Porque ele a queria só para ele.
—Não pode ser — disse a si mesmo.
Entretanto, por mais estúpido que fosse seu desejo, queria ela junto dele.
Fallon voltou-se e se dirigiu para sua cama. Deixou-se cair sobre ela e respirou profundamente para logo virar de costas. Seu olhar se fixou no dossel de veludo vermelho que enfeitava a cama e recordava Larena Monroe e o vestido que usava.
Desejava saber como estavam às coisas em seu castelo. Deirdre teria enviado mais guerreiros para atacá-los? Iria a reconstrução conforme o planejado? Mais amigos de Galen teriam encontrado o caminho do castelo? Cara e Sonya teriam encontrado o feitiço para adormecer os deuses?
Muitas perguntas e nenhuma resposta. Mas aquelas perguntas não eram o que o mantinha acordado pelas noites. Não, era sua preocupação ao pensar que Quinn estava nas masmorras de Deirdre. Não tinha nem ideia do que ela poderia estar fazendo com seu irmão mais novo e aquilo o aterrorizava mais que qualquer outra coisa no mundo.
—Estou a caminho, Quinn. Aguente, irmão. Aguente — sussurrou na quietude de seu quarto.
Ele queria resgatar Quinn imediatamente, mas os outros, com a cabeça mais fria, tinham-no convencido de que não o fizesse. Precisavam poder exercer alguma influência sobre Deirdre de algum modo. Além da mulher de Lucan, Cara, só havia uma coisa que Deirdre quisesse mais: o Pergaminho.
Deirdre tinha suas próprias estratégias para descobrir os homens que podiam ter os deuses em seu interior, mas o Pergaminho lhe daria todos os sobrenomes imediatamente. Isso a ajudaria a triplicar seu exército de guerreiros em questão de semanas em vez de demorar anos. E com esses guerreiros, teria o controle sobre a Escócia, e sobre o mundo, rapidamente.
Fallon queria descobrir tudo o que pudesse sobre o Pergaminho, mas até o momento não tinha averiguado nada e aquilo o levou a pensar que, na realidade, não existia. Com o tempo, foram acrescentando tantas coisas às histórias que chegou a ouvir que a lenda do Pergaminho também era uma invenção.
Sentou-se na cama ao ouvir um suave golpe na porta. Fallon levantou-se e deixou que suas garras se estendessem. Não confiava em ninguém e não permitiria que Deirdre o pegasse despreparado.
—Quem é? —perguntou.
—Uma serva, senhor, enviada pelo barão MacNeil. Trago uma mensagem —disse uma voz feminina.
Fallon dirigiu-se à porta e a abriu para encontrar-se com uma jovem moça de cabelo cor de mogno em pé frente a ele. Tinha na mão uma carta. Tremiam-lhe as mãos e olhava para o chão.
Ele escondeu suas garras e estendeu a mão para agarrar o pergaminho.
—Obrigado.
Ela inclinou-se em uma rápida reverência e começou a voltar-se para partir...
—Espere! —disse Fallon. Abriu a mensagem e a leu. Fallon esticou a mandíbula ao ver que Iver enviou uma carta ao rei apesar de haver pedido que não o fizesse.
—Sim, senhor? —O olhar da moça mal se ergueu.
Fallon enrolou de novo o pergaminho. Já se encarregaria de Iver. Apoiou-se contra a porta com o ombro e fez com que esta se abrisse mais ainda.
—Diga-me, o que sabe de lady Larena Monroe?
A moça brincava, nervosa, com o tecido de seu vestido.
—É muito formosa e amável com todo mundo.
Fallon tirou uma moeda e a mostrou.
—É certo que todos os homens a desejam?
—Sim, senhor. Muitos vão atrás dela. Seu irmão é muito protetor.
Merda. Deu-lhe a moeda e tirou outra.
—Seu irmão? Quem é?
—Lorde Malcolm Monroe. É endemoniadamente bonito. É igualmente desejado, como sua irmã.
Fallon enrugou a fronte enquanto sua mente começava a trabalhar mais depressa.
— Quem tem os favores de lady Larena agora?
—Senhor? —Perguntou a moça, com o cenho franzido.
Mostrou-lhe outra moeda.
—Quem compartilha sua cama?
Os olhos da moça abriram-se por completo.
—Não saberia dizer, senhor. Segundo os rumores, não ouvi que nenhum homem a tenha reclamado como dele.
—Interessante. — Fallon tirou algumas moedas mais e as deu à serva— Obrigado pela informação.
Quando fechou a porta, ele se apoiou nela. Tinha descoberto mais do que esperava. Talvez não houvesse nenhum homem que fanfarroneava-se de haver possuído Larena, mas podia imaginar que muitos tinham compartilhado sua cama. Afinal, ela era uma mulher extremamente bonita, extremamente atraente.
E se encontrava no castelo do rei, onde os favores trocavam-se por outros favores. Tinha sentido que Larena e seu irmão foram ao castelo para conseguir algo, como faziam todos. A razão pela qual os homens não falavam sobre suas aventuras com Larena era um enigma. Faziam-no por respeito? Ou tinham medo de seu irmão?
Tinha passado muito tempo desde que Fallon interagiu com pessoas, mas parecia muito estranho que nenhum homem houvesse dito que havia possuído Larena.
Fallon jogou de lado o fragmento do pergaminho e saiu de seus aposentos. Não conseguiria nada ficando em seu quarto e precisava que o castelo MacLeod fosse devolvido.
Três horas mais tarde, Fallon não havia conseguido encontrar ninguém que o ajudasse, ou seja, o informar se realmente o rei estava a caminho da Escócia. Cada qual opinava diferente.
Tinha pensado que chegaria a Edimburgo e poderia ver o rei. Nunca lhe passou pela cabeça pensar que preferisse governar da Inglaterra. Evidentemente, ainda estava surpreso por que o rei governasse ambos os países.
Como haviam mudado as coisas na Escócia! E não para melhor.
Aquele era outro exemplo porque ele e seus irmãos não deveriam ter estado escondidos no castelo durante trezentos anos. Havia muitas coisas que teriam que ficar a par.
O estômago rugiu de fome, mas só a ideia de sentar-se à mesa com todas aquelas pessoas fez com que começasse a brotar de seu corpo um suor frio. Seu passo diminuiu ao chegar às portas que levavam ao salão.
Já havia averiguado tudo o que podia em Edimburgo. Era a ideia de voltar diante de Lucan com as mãos vazias que fez com que Fallon se detivesse. Seus irmãos contavam com ele. Prometeu a Lucan que conseguiria que devolvessem seu castelo. Como podia voltar fracassando daquele modo?
—Merda —murmurou.
Fallon passou uma mão pelo rosto e suspirou. Procuraria Thomas MacDonald durante o jantar. O nome MacDonald havia sido pronunciado com bastante frequência, referindo-se a alguém que conhecia os planos do rei. Possivelmente Fallon pudesse descobrir de uma vez por todas o que planejava o rei. A ideia de ter que estar uma hora a mais no castelo o deixava doente, mas o faria por seus irmãos.
Desejou que fosse Lucan que estivesse ali em seu lugar. Ele sabia como encantar às pessoas para que fizessem o que queria. Mas Lucan já havia feito muito durante os últimos trezentos anos, enquanto Fallon passava os dias bêbado. Era o mínimo que podia fazer por seus irmãos e o faria. Fosse como fosse.
Um suave aroma de lírios impregnou o ar e deteve seus pensamentos. Fallon voltou-se e descobriu que não era outra senão Larena Monroe que estava ao seu lado. Por um momento pareceu insegura. Logo sorriu e ele percebeu que as mãos, unidas diante dela, tremiam ligeiramente. Estava nervosa? A mulher que todos desejavam?
Fascinante.
Trocou o vestido vermelho por um de azul profundo que combinava com seus olhos. E ele não podia deixar de olhá-la.
Também usava o cabelo com um penteado diferente, mais simples, com mais cachos soltos que lhe emolduravam o rosto. Alguns cachos caíam pelo rosto até quase tocar-lhe a boca. Ele queria estender a mão e agarrá-los para ver se eram tão suaves como pareciam.
—Pode ser que isto pareça extremamente descortês —disse — mas me perguntava se poderia dizer se é o MacLeod de que todo mundo fala.
Sua voz era doce como o mel e cheia de textura como o vinho. Seus profundos olhos azuis procuravam os dele, como se desejasse mais respostas daquela única pergunta que podia lhe oferecer. Ele poderia facilmente inundar-se em seus olhos amendoados e perder-se em seu perfume.
Seu corpo reagiu com alarmante velocidade diante de sua imagem. O calor e o sangue se concentraram em sua virilidade e esta endureceu. O desejo que havia afastado de sua mente anteriormente, retornou com força.
—Sim —respondeu Fallon em um momento, quando esteve certo de que lhe sairia a voz— Sou Fallon MacLeod.
Ela suspirou, com os olhos quase fechados.
—Fallon, um nome pouco habitual.
—Suponho.
—Eu sou...
—Lady Larena Monroe —terminou a frase em seu lugar. Tinha que lutar para afastar o olhar de seus lábios, uns lábios que desejava beijar e saborear— Parece que seu nome é tão famoso como o meu, embora por razões bem diferentes, minha senhora.
Enrugou a fronte um instante.
—Estamos no castelo do rei, meu senhor. Os rumores abundam. Não deveria acreditar em tudo que ouvem seus ouvidos.
Suas palavras eram verdadeiras. Entretanto, havia muitos rumores sobre o quanto ela era desejada. Poderia ser verdade que nenhum dos homens a tivesse possuído?
—Perguntava-me se poderia roubar um momento de seu tempo —aventurou-se.
Fallon estava intrigado. Muito intrigado. O que podia querer dele? Não era nenhum dandi[3] e, por mais atraído que se sentisse por ela, não tinha tempo para aventuras, por mais curtas que fossem. Deveria concentrar-se em sua missão.
—Sinto muito, minha senhora, mas não tenho tempo.
Seu sorriso apagou-se.
—Posso lhe assegurar, meu senhor, que é importante.
Fallon franziu o cenho.
—Então me diga agora.
Ela olhou a seu redor e viu às pessoas no corredor. Então deu um passo para ele.
—O que tenho para dizer não é para ouvidos alheios. Preferia ter um momento a sós. Por favor.
Fallon esteve tentado a aceitar sua oferta só para ver o que tinha para dizer.
—Sinto muito, minha senhora, mas devo recusar. Meus assuntos requerem minha máxima atenção e desejo voltar o quanto antes para meu lar.
Ele voltou-se e entrou no grande salão antes que ela pudesse dizer outra coisa. Foi a decisão adequada, afastar-se dela, embora o perfume de lírios o seguiu, recordando à maravilhosa mulher que o quis ao seu lado, embora somente para falar.
Entretanto, não era falar o que queria fazer Fallon. Sentou-se no canto do primeiro banco que viu e apertou o punho, debaixo da mesa. Foi mais que descortês com Larena, mas não confiava em si mesmo se ficassem a sós.
Só com um olhar ele estava disposto a ajoelhar-se diante dela e implorar que o deixasse tocá-la e beijá-la. O desejo o consumia e era difícil respirar ou pensar em qualquer outra coisa que não fosse ela. Larena Monroe.
Fallon tinha que concentrar-se na razão pela qual viajou até Edimburgo, face à pressão que sentia em seu testículo e o palpitar de seu coração quando aproximava-se daquela mulher. Haveria tempo no futuro para satisfazer sua luxúria.
Mas não com uma mulher tão bela.
Era certo. Fallon inspirou o ar profundamente e voltou-se para o homem sentado ao seu lado.
—Poderia me indicar com o dedo quem é Thomas MacDonald?


Larena olhava fixamente as portas fechadas, o coração palpitava nos ouvidos. Não podia acreditar que Fallon negou-se a falar com ela. Embora não acreditasse que seu rosto fosse mais bonito que o de outras, tinha aprendido, pouco depois de chegar a Edimburgo, que um simples sorriso podia fazer com que os homens fizessem o que ela queria.
Entretanto, Fallon MacLeod estava demonstrando que era diferente. E gostava disso. Ele se mantinha alerta. Talvez porque fosse um guerreiro, ou seu nome tratava-se de uma simples coincidência e a lenda sobre seu clã fazia com que fosse um homem prevenido.
Ela compreendia perfeitamente a necessidade de ser prevenida, mas apostaria o Pergaminho que Fallon era um guerreiro. Logo que Malcolm falasse com Iver MacNeil saberiam o que procurava Fallon em Edimburgo. Não havia muito que as pessoas pudessem esconder no castelo de Edimburgo, e ela asseguraria-se de ser a que lhe desse o que estava procurando.
Então a escutaria.
Ergueu o queixo e entrou no grande salão.

Fallon inclinou a cabeça diante do homem frente a ele. Depois de descobrir que esperava a chegada de Thomas MacDonald a Edimburgo aquela noite, uniu-se ao jantar, escutando as conversas. Somente o que conseguiu foi favorecer menos seus irmãos e seu castelo.
Falaria com MacDonald o quanto antes e abandonaria Edimburgo. Utilizaria seu poder para chegar o mais rápido possível ao seu castelo. Só estando ali conseguiria acalmar o ardor de seu sangue, embora não por muito tempo. Com Quinn cativo na mãos de Deirdre, Fallon voltava a sentir o mesmo ardor.
Fallon agarrou seu copo, desejando que o que havia em seu interior fosse vinho, em lugar de água. Justamente no momento em que aproximou o copo de seus lábios, seus olhos se encontraram com olhos de um azul profundo. Por um instante, ficou preso no olhar de Larena. Finalmente, afastou seus olhos dos dela.
Ela sentou-se a sua direita na mesa e estava rodeada de homens, todos fascinados por cada palavra que dizia. Mas seus olhos estavam cravados nele.
Fallon achou perversamente divertido ver os olhares que os outros lhe lançavam.
Apesar do desejo de abandonar o salão, não podia deixar de olhá-la. Cada vez que ela provava um pedaço de comida ou bebia de seu copo, seus olhos não podiam evitar fixar-se em sua boca, uma boca que queria saborear desesperadamente.
Fallon amaldiçoou e ficou de pé. Tinha que sair dali ou arriscava a atirar-se sobre Larena e beijá-la diante de todo mundo. Era verdade que esteve afastado das pessoas durante trezentos anos, mas até ele sabia que aquilo não seria visto com bons olhos.
Começou a caminhar para a porta quando viu que ela adiantava-se a ele. Muito intrigado para poder controlar seu desejo, Fallon a seguiu. Ao atravessar as portas do grande salão a viu afastar-se pelo corredor. Sozinha.
Incapaz de evitar, seguiu-a. Andava com passos largos e seguros enquanto percorria o castelo. Fallon a seguiu nas sombras, sem querer que o descobrisse. Queria conhecer mais coisas sobre ela. Tentou convencer-se de que era para averiguar por que queria falar com ele, mas Fallon sabia que aquilo não era verdade.
Simplesmente queria saber mais.
Assim, escondeu-se nas sombras e escutou que um homem bloqueava o caminho de Larena. O homem não usava kilt escocês, mas umas horríveis e extravagantes meias de veludo, com umas calças folgadas até o joelho. Em conjunto, era ridículo.
O homem dirigiu um sorriso malicioso a Larena, suas intenções eram claras. Larena esquivou suas mãos e arqueou uma sobrancelha, quando tentou beijá-la.
—Não poderia dizer quantas vezes vi os homens tentarem algo com ela.
Fallon voltou-se e encontrou o homem que estava no jardim com Larena. Amaldiçoou-se por ter estado tão concentrado na mulher que não ouviu que alguém se aproximava.
O homem ofereceu-lhe um amável sorriso.
—Sou Malcolm Monroe.
—O irmão da dama. Não deveria ajudá-la?
Malcolm cruzou os braços sobre seu peito.
—Ela pode arrumar-se sozinha e se não fosse assim, me encarregaria de que o cavalheiro nunca pudesse ter filhos.
Fallon observou o alto e loiro homem das Highlands. Havia algo muito agradável nele. Fosse por seus olhos azuis que pareciam honrados e sinceros, muito parecidos com os que tinha Quinn quando era jovem. O tempo e Deirdre se encarregaram de mudá-lo.
—Há muitas coisas que não sabe, Fallon MacLeod.
Fallon arqueou uma sobrancelha olhando para Malcolm.
—Conhece-me?
—Sabe como é o castelo de Edimburgo. Todo mundo o conhece.
—Também sabem por que estou aqui?
Malcolm encolheu os ombros com indiferença.
—Os rumores espalham-se como pólvora.
—E o que é que eu não sei? —Perguntou Fallon. Voltou-se para olhar Malcolm frente a frente. Seu primeiro instinto a respeito daquele homem era que gostava dele, mas as aparências podiam ser enganosas.
O irmão de Larena era uns poucos centímetros mais baixo que Fallon, mas seus largos ombros e seu corpulento peito diziam que não era um dandi, mas um homem das Highlands, acostumado ao trabalho duro.
O sorriso apagou-se do rosto de Malcolm.
—Larena não é a mulher que as pessoas pensam que é. No castelo todos murmuram. Os homens estão famintos de coisas que não podem ter. As mulheres, rancorosas, começam rumores que não são verdadeiros.
—O que diz é certo.
—Precisa falar com você. Ela não anda por aí procurando os homens, MacLeod, são eles que vão a ela. Se ela disse que tem algo para falar com você, eu em seu lugar escutaria o que tem a dizer.
—Sabe o que quer falar comigo?
Malcolm voltou a encolher os ombros.
—Não sou eu que devo dizer. Tudo o que peço é que não a julgue. Todos temos que manter as aparências.
Fez uma reverência e começou a partir quando de repente disse:
—Ouvi que Iver enviou uma carta ao rei. Se tiver colocado suas esperanças em que Iver o ajude, escolheu o nobre menos adequado. O rei James está acostumado a ignorar o que ele diz, como a maioria de nós. Entretanto, sei de alguém a quem o rei escutaria.
Fallon ficou, por um momento, sem palavras.
—Disse a Iver que não enviasse nenhuma carta, mas aparentemente esse verme tem problemas de ouvido. Diga-me, por que iria escutar-lhe o rei?
—Uma boa pergunta —disse Malcolm com um sorriso— Minha família, os Monroe, tem prestígio com o rei. Viajei duas vezes a Londres para visitá-lo. Me escutará.
Fallon continuava sem gostar da ideia de ter que depender de alguém, mas não queria voltar a falhar com seus irmãos. Ele era o encarregado de devolver-lhes o castelo. Podia aceitar a ajuda de Malcolm ou viajar ele mesmo a Londres e esperar muito mais para poder libertar Quinn.
Na realidade, não havia muito que escolher. Mesmo assim, era complicado para Fallon.
—E o que quer em troca?
—Diria-lhe que faço isto porque quero, mas não acreditaria. Assim o que peço é que escute Larena. Isso é tudo o que têm que fazer. Só escutá-la.
Fallon observou como partia. As pessoas não eram amáveis sem nenhum motivo no castelo do rei. Todos estavam ali por algum interesse. Faziam-lhe um favor se pudessem conseguir outro em troca. Por que era tão importante escutar Larena?
Quando voltou-se, Larena também partiu. Fallon passou a mão pelo rosto. Estava muito cansado e sedento de vinho. Ergueu uma mão até a altura de seu rosto e amaldiçoou ao ver que estava tremendo.
Deu meia volta e dirigiu-se com passos rápidos a seus aposentos. Estava inquieto, nervoso. Queria sentar-se no alto de seu castelo e libertar o deus que tinha dentro de si. Queria olhar o mar e ver as ondas nas escuras águas. Queria a comodidade de seu lar. Queria seus irmãos.
Fallon fechou, com cuidado, a porta de seu quarto atrás de si. Não havia nenhuma vela acesa. Ele preferia assim. Recordava o que tinha deixado para trás.
Fechou a porta com o ferrolho e ficou gelado ao perceber que havia alguém com ele. Estendeu o braço e sua mão fechou-se sobre um magro pulso.
Fallon puxou o intruso das sombras para colocá-lo sob a luz da lua que entrava por sua janela. Deixou que uma de suas garras se estendesse, enquanto segurava o pulso com a outra e a empurrava contra a porta. Abriu os olhos surpreso ao descobrir que era Larena Monroe que havia apanhado.
O perfume de lírios impregnou-o. Percebeu, muito tarde, que a tinha contra a porta, com seu corpo contra o dele. Seu olhar perdeu-se em seus seios, que se erguiam e desciam rapidamente, ao ritmo do pulsar de seu coração.
Sua cólera se desvaneceu e deu lugar a um instinto mais primário, mais urgente. O sangue lhe corria pelas veias enquanto o desejo se apoderava dele. Podia sentir cada milímetro de seu suave corpo e, que Deus o ajudasse, queria mais. Lutou para manter o controle, lutou para soltá-la e afastar-se dela.
De repente, ouviu algo através da porta. Um som distante e fugaz, mas com sua audição tão desenvolvida pode captá-lo. Apoiou o rosto contra a porta e percebeu que sua cabeça estava junto à de Larena.
Esqueceu-se do som que tinha ouvido ao sentir a suave face roçar a dele. Voltou a cabeça e aspirou profundamente o aroma de seu cabelo. Uma mecha de seda roçou-lhe o rosto e antes que pudesse perceber o que estava fazendo, inclinou-se e lambeu seu pescoço. Seus lábios deslizaram pela linha de sua mandíbula e pôde ouvir o ar zumbir ao passar por entre os lábios de Larena.
Seu testículo esticou-se, e o sangue se concentrou em seu membro. Tinha que afastar-se dela, esquecer o desejo de saborear seus lábios e provar aquela pele tão suave. Tinha que esquecer o que sentia ao sentir suas curvas contra seu corpo e o perfeitamente que se ajustava a ele. Tinha que esquecer o sabor dela em sua língua e o aroma que impregnou seu nariz.
Mas Fallon cometeu um terrível engano, olhou-a nos olhos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 4

Montanha Cairn Toul
Ao norte das Highlands

Quinn puxou as correntes que seguravam seus braços e seus tornozelos na escuridão de sua prisão. Quanto tempo estava na montanha? Um dia? Um mês? Um ano?
Cada momento que passava cativo nas mãos de Deirdre podia sentir como sucumbia ao controle do deus de seu interior. Seu deus, Apodatoo, o deus da vingança, queria todo o poder.
Umas poucas semanas antes que Deirdre capturasse Quinn, ele esteve tentado a ceder à vontade do deus. Conseguiu resistir. Mas então tinha seus irmãos para ajudá-lo, embora não soubessem o que estava passando por sua cabeça.
Seus irmãos.
Como sentia falta deles! Sentia falta do sincero sorriso de Lucan, que conseguia relaxá-lo; e o olhar intenso de Fallon, que lhe infundia força.
Lucan e Fallon sempre tinham estado ali quando precisava, inclusive quando não os queria ali. Agora, Quinn estaria disposto a cortar um braço só para estar de novo com eles. Para sentar-se nas ruínas de seu castelo e compartilhar com eles a comida.
Quinn queria fugir dali. Essa era a razão pela qual o tinham capturado, mas olhando o passado percebeu que não estava fugindo de seus irmãos, estava fugindo dele mesmo.
Que idiota tinha sido. Que idiota ainda era. Apodatoo se fez mais forte cada vez que foi incapaz de controlar sua ira. Não levaria muito tempo até que o deus o tivesse sob seu controle. E então começaria o autêntico inferno. Pois uma vez sob o controle do deus, Deirdre o dominaria.
Quinn não tinha nenhuma dúvida de que seus irmãos iriam resgatá-lo, mas rezava para que isso acontecesse antes que Apodatoo e Deirdre tomassem o controle. Se ele caísse, sabia no mais profundo de seu coração, que seus irmãos acabariam seguindo-o. E não podia permitir que isso acontecesse.
Lucan acabara de encontrar Cara, e embora ela fosse mortal, compartilhavam um amor com o qual Quinn só podia sonhar. E depois havia Fallon. Tinha deixado de beber e libertado o deus para salvar a recém chegada.
O único que não havia mudado era ele. Tampouco merecia uma segunda oportunidade. Não estava ali para salvar nem seu filho, nem a sua esposa, e havia abandonado seus irmãos muitas vezes.
Então lutava contra seu deus!
Era muito mais fácil dizer que fazer. Entretanto Quinn sabia que toda sua vida dependia disso.
As correntes que o prendiam haviam sido reforçadas com magia, o que evitava que pudesse libertar-se como aconteceu da primeira vez que Deirdre o acorrentou. Como não podia libertar-se, a única coisa que podia fazer era lutar contra seu deus.
Quinn respirou profundamente e lutou para controlar a ira que crescia em seu interior. Com cada pulsar de seu coração concentrou-se em aplacar o deus. Depois de alguns momentos de agonia, sentiu como o deus se retirava. No momento.
Piscou na escuridão. Deirdre nem sequer havia deixado uma vela, mas não importava, ele podia ver bem na escuridão e não precisava de nenhuma. Não precisava de luz para saber que sua pele já não era negra, que suas garras e suas presas tinham desaparecido e que seus olhos voltavam para seu estado normal.
Desta vez tinha vencido Apodatoo, mas cada vez seria mais difícil. E em sua forma humana era completamente vulnerável aos ataques que sabia que eram iminentes.

***

Larena conteve a respiração esperando que Fallon se inclinasse sobre ela e pousasse seus lábios sobre os dela. Seu corpo estremeceu diante da expectativa enquanto inundava-se em seus profundos olhos verdes. Viu solidão, mas também desejo em seu interior.
E para sua surpresa, sentiu seu próprio desejo crescendo. Queria desesperadamente que Fallon a beijasse, queria conhecer o sabor de seus beijos.
Seu sangue fervia nas veias e sentia o coração acelerado com o contato do corpo de Fallon contra o seu.
Esqueceu de esconder-se de Deirdre, esqueceu do Pergaminho que guardava em segredo. Tudo o que importava era o homem que a tinha contra seu corpo, duro como uma rocha, e a porta.
Justamente no momento em que acreditou que ia beija-la, separou-a dele e abriu a porta como um raio.
Larena piscou diante do espaço vazio que Fallon havia ocupado pouco antes. Não podia acreditar que havia partido. Estava certa de ter sentido a paixão que havia entre ambos.
Logo gritos chegaram aos seus ouvidos. Correu para a porta. Algo havia causado o pânico em todo o castelo.
Recolheu as saias com as mãos e correu para os alaridos[4]. A metade do caminho para o grande salão o ouviu, o inconfundível uivo dos wyrran.
—Não —sussurrou, e correu mais depressa.
Por que havia um wyrran no castelo? Deirdre a tinha descoberto? Ou estava ali por Fallon? Nada daquilo importava naquele momento. A única coisa que importava era matar aquela horrenda criatura.
Quando chegou ao corredor que levava ao grande salão teve que avançar a empurrões entre a multidão que fugia do salão. Viu que alguém gritava seu nome e voltou-se para ver Malcolm. Seus olhos azuis, cheios de preocupação, disseram-lhe sem palavras que seus piores pesadelos tornaram-se realidade. Deirdre a encontrou.
Fazendo uso da força que normalmente escondia, Larena abriu passagem entre a multidão que bloqueava o caminho para o grande salão, que tinha ficado vazio. Deteve-se e descobriu que Fallon já estava ali enfrentando o wyrran de pele amarelada que estava pendurado na parede perto do teto.
Ela observou como se estendiam as garras de Fallon de cor negra obsidiana[5], que brilhavam sob a luz dos candelabros. Esperou para ver como modificava-se por completo. Queria saber o aspecto que tinha em sua forma de guerreiro, queria ver todo seu corpo, tão escuro como suas garras.
De repente o wyrran ergueu o olhar para ela e soltou outro alarido ensurdecedor. Saltou sobre ela, mas exatamente no momento em que Larena ia libertar a sua deusa, Fallon agarrou à criatura por uma perna.
—Sai daqui! —gritou.
Ela assentiu rapidamente e saiu do salão. Mas Fallon estava equivocado se pensava que se retiraria sem lutar.
Fallon não podia acreditar que houvesse um wyrran no castelo do rei. Mas ainda lhe preocupava mais o fato de que Larena o tivesse seguido. A maioria das mulheres sairiam fugindo ao ouvir os gritos. Mas ela não.
Não estava muito certo se gostava de sua valentia ou se queria repreendê-la por ter colocado sua vida em perigo.
Decidiu que ambos.
Primeiro, entretanto, tinha que acabar com o wyrran, e não podia permitir o luxo de transformar-se em um guerreiro. Os habitantes do castelo já tinham visto muito com a aparição do wyrran. Não haveria maneira de explicar sua pele negra, suas garras e suas presas.
Os wyrran eram muito pequenos, mas as longas garras que saíam de suas mãos e de seus pés podiam partir uma pessoa em duas. Odiava ter que olhá-los, com essa pele tão fina e amarelada. Tinham uma aparência horrorosa e uma boca cheia de afiados dentes que seus lábios mal podiam ocultar. E aqueles grandes e redondos olhos amarelos lhe provocavam calafrios.
—Vieram atrás de mim? —perguntou à criatura.
O wyrran abriu a boca e lançou um longo chiado.
Fallon sentiu os ouvidos doerem com aquele som ensurdecedor.
—Odeio-os com todo meu coração, criaturas abomináveis —murmurou — Venha e lute comigo.
O wyrran saltou da parede para o chão. Esses pequenos insetos podiam subir por qualquer coisa e em qualquer direção. Pela primeira vez desde que tinha libertado seu deus para salvar Cara, Fallon desejava transformar-se. Queria soltar sua adaga e usar suas garras para partir a criatura pela metade.
Os lábios do wyrran se esticaram no que pretendia ser um sorriso, como se soubesse o que estava pensando Fallon.
—Agora podem ler as mentes? —Perguntou-lhe Fallon enquanto saltava para ele. Sua adaga aterrissou no braço da criatura. O guerreiro cravou com força a lâmina, abrindo um corte em sua fina pele.
As garras do wyrran atacaram o peito de Fallon enquanto lutava para libertar-se. Fallon ignorou a dor e tentou continuar lutando, mas a pequena criatura corria em direção oposta e era difícil de seguir. De algum modo pôde libertar-se de Fallon e da adaga e subir pela parede.
Deu outro chiado antes de saltar fora do grande salão e sair pela porta que Larena tinha deixado aberta. A única coisa que passou pela cabeça de Fallon foi Larena. Estaria indefesa contra o wyrran.
Fallon saiu correndo do salão para o corredor vazio. Quando esteve certo de que nem o wyrran, nem Larena estavam ali, continuou correndo pelo castelo. As poucas pessoas que viu se esconderam rapidamente em seus aposentos e fecharam as portas com um golpe. Mas não pôde encontrar à horrenda criatura.
Amaldiçoando, Fallon deu meia volta e voltou para grande salão. Os wyrran eram rápidos, mas não podiam ganhar de um guerreiro.

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 5


Larena sabia que o wyrran sairia do salão, assim sentou-se e esperou. Desejava poder ver Fallon lutar contra aquela horrenda criatura, mas não podia arriscar-se. O wyrran tinha que morrer.
Contra quantas dessas malévolas criaturas tinha lutado e a quantas havia matado ao longo de todas aquelas décadas? Muitas. E o que estava fazendo essa criatura agora no castelo de Edimburgo?
Aquilo a deixava confusa. Só podia imaginar que estivesse ali por Fallon, mas se não considerasse a possibilidade de que o wyrran estivesse ali por ela, então seria uma estúpida.
Ao ouvir os alaridos de raiva daquele horrível ser, pensou que Fallon estava fazendo um bom trabalho com aquela besta. Larena sorriu. Fallon teria se transformado em um guerreiro? Não ouvia nenhum grunhido, mas desejava enormemente vê-lo transformado.
Havia muita gente no castelo para que Fallon se arriscasse a fazê-lo e não passaria muito tempo antes que alguém reunisse a coragem suficiente para ir ver o que acontecia no salão.
Seus devaneios chegaram ao fim quando o wyrran apareceu com um salto do grande salão no corredor, antes de pular pela janela atrás dela. Tinha sido uma boa ideia tirar o vestido e ter se transformado porque um instante depois Fallon saiu do salão e olhou diretamente para ela. Mas não podia vê-la. Ninguém podia.
Esperou até que ele partiu para seguir o wyrran, saltando pela janela e descendo pela rochosa parede do castelo. O wyrran corria rápido, mas não tão rápido, como se soubesse que o perseguiam.
Deirdre fez aquelas criaturas velozes, mas não o suficiente para ganhar de um guerreiro.
Larena saltou diante da criatura e ficou visível quando alcançaram o chão. O wyrran abriu aquela boca cheia de dentes e uivou. Larena simplesmente sorriu e preparou-se para a matança.
O wyrran ergueu as mãos e mostrou suas longas e afiadas garras. Não estava impressionada. Larena flexionou as pernas e esperou o ataque da criatura. Habitualmente não gostava de utilizar o poder que havia em seu interior, mas agora estava desfrutando. Sua deusa nunca tinha falhado.
Já haviam passado vários meses desde que Larena libertou sua deusa pela última vez. A deusa sorriu em seu interior, tão ansiosa pela batalha quanto Larena.
O wyrran balançava-se para frente e para trás, sobre seus pés como se tentasse decidir quando atacar. De repente, saltou sobre ela e utilizou suas letais garras para atacar seus braços.
Larena soltou um uivo de dor e cravou suas garras no peito da criatura. Os olhos do inseto saíram das órbitas quando fechou os dedos sobre seu coração.
—Você não pertence a este lugar —disse justamente antes de arrancar seu coração.
Larena lançou para o lado o pequeno órgão, enquanto o wyrran caía morto no chão, com os olhos sem vida observando as estrelas. Por mais que desejasse deixar ali à criatura, não podia arriscar-se que alguém se aproximasse e a visse.
Agarrou o wyrran por um dos tornozelos e o arrastou até o bosque, onde o escondeu. Larena voltaria depois para atear fogo junto com seu coração. Estava coberta de sangue e tremia sob o fresco ar da noite, sozinha.
Estava tão cansada de estar sozinha... Malcolm era um maravilhoso confidente e um verdadeiro amigo, mas não podia entender por completo o que era ter uma deusa em seu interior. Malcolm não poderia entender o poder selvagem que a invadia quando a deusa era libertada. E Larena temia que se chegasse a descobrir o poder que evocava, nunca voltasse a aproximar-se dela.
Já tinha perdido sua família e seu clã quando a deusa escolheu a ela em vez de um homem. Não poderia suportar perder Malcolm também.
Entretanto, sabia que se aproximava o momento em que ela teria que afastar-se dele para sempre. Ele nunca confrontaria seu próprio futuro enquanto ela estivesse ao seu lado. Malcolm se sentia responsável pelo que sua família, que também era a dela, tinha-lhe feito e estava decidido a restaurar o mal cometido.
Ela respirou profundamente e se dirigiu ao castelo. Como era habitual, quando chegasse a seus aposentos, Malcolm estaria esperando com água para lavar-se e um vestido. Ele nunca fazia perguntas, nem sequer quando via suas feridas.
Embora ele soubesse que ela era imortal, na realidade o impressionava ver como seu corpo se curava diante dele e perceber que não poderia morrer a não ser que alguém lhe cortasse a cabeça.
O coração encolhia-se de dor ao pensar em ter que despedir-se de Malcolm. Ele era uma das poucas pessoas em quem confiava. Ele havia estado ali quando todos os outros a tinham abandonado. Mas Larena sabia que se Fallon fosse realmente o MacLeod que estava procurando, teria que aprender a confiar nele, porque os MacLeod eram os únicos que podiam mantê-la a salvo de Deirdre.
Larena suspirou e afastou a mecha de cabelo que havia caído sobre o rosto ao atacar o wyrran. Teria que dizer a Fallon que ela era uma guerreira, mas a única coisa que nem ele nem os outros poderiam saber jamais, era que ela guardava o Pergaminho.
Fez um juramento quando a deusa foi libertada. Aquele juramento era tudo para ela, especialmente quando viu o orgulho nos olhos de seu pai. Ela tinha muito medo do que o futuro pudesse proporcionar, mas seu pai acreditou que ela era a pessoa mais adequada para guardar o Pergaminho. Rezava para que ele tivesse razão.
Se por algum motivo, Fallon MacLeod decidisse ajudá-la, iria ter que deixar Malcolm para trás. Inclusive porque, por Larena ele estava arriscando-se muito. Ele sabia muito. Se algum dia Deirdre chegasse a descobrir o muito que sabia Malcolm sobre os guerreiros, iria atrás dele com toda sua fúria.
Larena sabia que foi uma egoísta ao compartilhar sua carga com Malcolm, mas precisava ter um amigo. Nunca lhe tinha falhado. Entretanto, isso mudaria se Deirdre chegasse a capturá-lo, em algum momento. Malcolm tentaria não dizer nada, mas no final acabaria confessando tudo a Deirdre.
E assim que isso acontecesse, não haveria lugar no mundo onde Larena pudesse esconder-se de Deirdre.
Larena tinha tudo complicando-se ao seu redor! Deveria ter sido mais forte, não deveria ter contado a Malcolm mais do que já sabia ou podia ter adivinhado, e o mais importante, nunca deveria tê-lo envolvido em seus planos para encontrar os MacLeod.
Tocou no ponto de seu pescoço onde Fallon provou. Estremeceu ao pensar o que sentiu ao notar sua suave e úmida língua lambendo o pescoço. Larena fechou os olhos enquanto recordava cada milímetro de seu corpo contra ela, como sua cálida respiração havia lhe acariciado o rosto e como seu longo e escuro cabelo roçou-lhe o rosto.
Endureceram-lhe os mamilos e enviou espirais de desejo que faziam com que estremecesse entre as coxas, ao recordar o forte corpo de Fallon apertado contra o seu, esmagando seus seios. Já não lhe importava o ar frio da noite, pois seu corpo tinha subido de temperatura e estremecia com um desejo que não podia ignorar.
Larena abriu os olhos e respirou profundamente. Precisava recuperar o controle de si mesma. Fallon não podia saber como desestabilizava-lhe sua proximidade. Aquilo outorgaria-lhe uma vantagem que não podia permitir.
Depois de ter visto suas garras aquela noite, ela soube que se tratava do MacLeod da lenda. Tinha chegado o momento de falar com ele. Se Fallon não pudesse ajudá-la, então teria que esconder-se. Estivesse o wyrran ali por ela ou por Fallon, o certo é que havia ido ao castelo.
E aquilo não era bom sinal.
Larena se fez invisível antes de empreender o caminho de volta a seus aposentos no castelo. Tal e como esperava, Malcolm estava ali esperando-a. Ela agarrou uma manta da cama para cobrir-se, antes de voltar a tornar-se visível.
Malcolm soltou um suspiro de alívio ao vê-la.
—Estava preocupado.
Ela se obrigou a sorrir para que ele não pudesse descobrir a agitação em seu interior.
—Posso cuidar de mim mesma.
—Nenhum wyrran tinha vindo antes ao castelo, Larena.
Ela se aproximou da banheira, sem se preocupar que a água não estivesse quente. Esperou até que Malcolm virasse de costas para ela antes, de afundar na água.
—Não sei por que estava aqui essa maldita criatura. Era por mim ou era por Fallon?
—Pode ter sido por ambos.
O estômago revolveu-se ao ouvir suas palavras.
—Sei. Tenho que falar com Fallon esta noite. Não posso esperar mais. Tenho que saber se pode me ajudar ou não.
Malcolm suspirou, mas se manteve de costas para ela enquanto colocava uma cadeira perto da lareira e sentava.
—Vi Fallon procurando o wyrran pelo castelo. É prudente, Larena, o que pode ser uma vantagem se decidir ajudá-la a se esconder.
—Ele está escondendo-se há trezentos anos, claro que é prudente. Mas tenho curiosidade para saber por que está aqui. Averiguou alguma coisa?
—Sim. Quer que seu castelo volte para as mãos dos MacLeod. Veio pedir audiência com o rei.
Ela assentiu enquanto continuava lavando o sangue do corpo.
—O wyrran está morto, assim não temos que nos preocupar com ele, no momento. Terei que voltar para o bosque e atear fogo no corpo. Surpreendeu-se ao ver-me, acredito que estava aqui por Fallon, o que não entendo é por que apareceu no meio do grande salão.
—Eu me ocuparei do wyrran. Onde está?
—Não deveria se arriscar.
Malcolm murmurou algo para si mesmo.
—Larena, embora seja uma guerreira, um homem pode tratar com coisas neste castelo que uma mulher não pode. E agora me diga onde está essa maldita besta.
Às vezes odiava ser uma mulher.
—Está no bosque, perto de um carvalho com duplo tronco. Escondi-o bem.
—Ocuparei-me disso esta noite. Suponho que não teve tempo de falar com Fallon antes que aparecesse o wyrran, certo?
—Não. —Recordou a cálida respiração de Fallon que tinha lhe produzido uma comichão na pele, o toque de sua língua ao tocar seu pescoço e o aroma de laranjeira ao sentir seu musculoso corpo contra o dela— Nos interromperam.
Malcolm voltou-se de lado para que ela pudesse ver seu perfil.
—Vai agora falar com ele.
Não era uma pergunta.
—Sim. Não posso esperar mais.
Malcolm ficou em pé e se dirigiu à porta.
—Estarei em meu quarto uma vez que tenha acabado com o wyrran, se por acaso precisar de alguma coisa.
—Obrigado, meu queridíssimo amigo.
Ele parou com a mão no ferrolho.
—Agradeça-me quando MacLeod a tiver levado para o seu castelo.
Larena esperou até que a porta fechou-se atrás de Malcolm, antes de soltar um longo suspiro. Voltou a agarrar o sabão e ensaboou o corpo pela segunda vez. Não podia suportar o sangue do wyrran sobre seu corpo.


Fallon saltou sobre sua cama. Tinha esperado voltar para seus aposentos e encontrar Larena esperando-o. Para sua decepção, não havia encontrado ninguém.
Não gostava daquele sentimento de frustração ou do nervosismo que havia sentido quando a viu no grande salão. Tudo bem encontrar o wyrran para poder descarregar parte da raiva que tinha acumulado sobre a criatura, em vez de retornar a seu quarto e suas lembranças de Larena em seus braços.
Ainda podia senti-la. O pequeno roçar de seu rosto contra o rosto dele. Havia apertado-a contra ele, havia sentido seu flexível corpo e suas femininas curvas. Queria afundar o rosto em seu cabelo e inalar aquele aroma que só pertencia a ela.
E, que deus o ajudasse, queria lamber cada centímetro de seu corpo.
Fallon levantou-se, tirou as botas, o tartán e a camisa. Não que não gostasse de usar o kilt escocês, só que era muito diferente do que tinha vestido nos últimos trezentos anos. Mas poderia acostumar-se a ele. Gostava de usar as cores dos MacLeod para que todo mundo pudesse vê-los.
Com um suspiro meteu-se entre os lençóis. O sono não viria, não sabendo que havia um wyrran nos arredores e que tinha que encontrar Thomas MacDonald pela manhã antes de partir para o castelo MacLeod. Fechou os olhos, mas só podia pensar em Larena. Ainda podia sentir seu gosto em sua língua, com o pequeno contato que teve sobre seu pescoço. Era o sabor mais doce que podia ter imaginado.
Como desejava provar mais dela! Uma lástima que nunca mais fosse ter a oportunidade.


Larena entrou pela janela do quarto de Fallon. Foi com cuidado para não fazer nenhum ruído que o despertasse. Uma vez dentro, dirigiu-se ao canto perto da lareira e agarrou a túnica que tinha deixado sobre a arca.
Era uma das coisas que odiava ao usar seu poder de invisibilidade, ela podia fazer-se invisível, mas a roupa que vestia não. Somente o que podia levar e que tampouco podia ver era o anel de seu dedo anelar porque era mágico. Nunca tirava aquele anel. Por nenhuma razão.
A deusa desapareceu enquanto ela passava os braços pelas mangas da túnica. Havia deixado ali a túnica quando Fallon a encontrou em seus aposentos. Naquele momento não imaginava encontrar-se com ele. Não, seu plano era simplesmente o que estava acontecendo agora. Só havia um modo de falar com um homem como Fallon e esse modo era chamar sua atenção.
Chegar nua a seu quarto chamaria sua atenção, mas não estava preparada para mostrar-lhe tudo, ao menos por enquanto. Utilizaria seu corpo se tivesse que fazê-lo. Não gostava da ideia, mas havia muito em jogo. Primeiro tentaria falar com ele.
Diante de seu desespero, seu sangue ferveu, só de pensar que era possível que tivesse que beijar Fallon.
Aproximou-se da cama sob os raios da lua que entravam pelas janelas. O quarto não era tão grande como o seu, mas continuava sendo bonito. As roupas de veludo escarlate da cama eram o melhor que o dinheiro podia pagar. As velas estavam aromatizadas e havia muita madeira empilhada perto da lareira para poder fazer fogo.
Larena passou um dedo sobre uma garrafa de vinho sem abrir. Estava no meio de uma pequena mesa, quase como se fosse um presente. Só que ela tinha a sensação de que Fallon colocou-a ali, como se não fosse um presente, mas um castigo.
Recordou o momento do jantar. Ele não tinha provado nem o vinho nem o hidromel. Só bebeu água. Estranho para um homem como ele.
Voltou a cabeça para a cama. Estava evitando olhá-lo, mas já não podia mais. Seus pés começaram a mover-se e a levaram até a cama. Ele dormia com o rosto voltado para as janelas e a luz da lua iluminava seus traços e sua força.
Era incrível. Tinha um rosto angular com covinhas sob as bochechas que lhe davam uma aparência mais forte e ameaçadora. O queixo era quadrado e a linha da mandíbula marcada. Como um autêntico homem das Highlands.
O nariz era longo, reto e fino. Quando pousou o olhar sobre seus lábios estremeceu ao recordar como tinham roçado sua face.
Seus olhos, embora agora estivessem fechados, eram do verde mais lindo que ela já tinha visto. Sobrancelhas marrons os emolduravam. Tinha uma pequena cicatriz junto ao olho esquerdo que deveria ter sido feita antes que seu deus fosse libertado.
Queria roçar aquela cicatriz e perguntar como a tinha feito e como conseguiu não perder o olho, nem a visão.
A palidez dos lençóis contrastava com sua pele bronzeada pelo sol. Sob a luz da lua, seu cabelo parecia quase negro, embora ela soubesse que era marrom escuro, com reflexos dourados, como se tivesse passado muito tempo ao ar livre.
Desceu o olhar até seu peito nu, que se erguia e descia ritmicamente. O abdômen estava ondulado pelos marcados músculos. Como os braços e os ombros, e mesmo suas mãos que descansavam de ambos os lados de seu corpo.
Larena aproximou-se um pouco mais para observar atentamente o grosso torques[6] de ouro que usava no pescoço. Duas cabeças de javali com as bocas abertas e os dentes à vista a observavam.
Ela ficou tensa, incapaz de acreditar que encontrou um dos MacLeod. Estava a tanto tempo mantendo distância de todo mundo que a necessidade de saber tudo de Fallon MacLeod a assustava. Os enganos de seu passado não deixariam que esquecesse que mesmo assim deveria manter-se alerta com Fallon.
Passou seus dedos entre um dos cachos de seu escuro cabelo que chegava até abaixo dos ombros e sentiu-o agradável ao toque. Queria acariciar seu cabelo uma e outra vez. Queria agarrá-lo em seus braços e balançá-lo em seu colo, até que ficasse dormido com o suave contato das pontas de seus dedos sobre seu cabelo.
Larena afastou a mão, temerosa de tocar mais do que devia se não parasse nesse momento. Nunca antes havia sentido algo assim por um homem e, para ser sincera, aquilo a assustava.
Voltou de novo o olhar para seus lábios. Que boca mais bela! Ampla, com lábios firmes, nem muito finos, nem muito carnudos. Lábios feitos para rir e para beijar.
Ela estremeceu ao pensar no contato de suas bocas. Ergueu a mão para acariciar-lhe o rosto que tinha roçado seu rosto com a barba. Inclusive na semi-escuridão podia ver os grossos cabelos que cresciam em sua mandíbula. Dava-lhe um aspecto maligno e perigoso. O aspecto do proibido.
Fallon revolveu-se em sonhos, com a boca entreaberta. Parecia tão diferente enquanto dormia. As preocupações que marcavam seus olhos e sua boca desapareceram. A ruga na fronte tinha desaparecido. Agora parecia mais jovem, inclusive travesso.
Larena sorriu tentando imaginar o jovem que deveria ter sido. Imaginou as preocupações que teria causado a sua mãe. Como o primogênito, tinha que ser forte por seus irmãos. O tipo de chefe que um clã como o dos MacLeod precisava. Era uma tragédia que Deirdre tivesse acabado com todos.
Ao pensar em Deirdre, Larena lembrou por que estava no quarto de Fallon. Afastou-se e ficou de pé junto à janela. Tinha que esquecer da tentação que era o corpo de Fallon.
Por que? Por que não usar isso? Sentiu sua atração.
Era verdade, sabia que ele sentia-se atraído por ela. Mas podia permitir-se voltar a ter intimidades com um homem? Atreveria-se depois do que aconteceu na última vez?
Fallon é um guerreiro. Ele não quer usá-la.
Larena considerou aquela ideia. Que mal poderia haver em abandonar-se ao desejo que sentia por Fallon? Não perderia o controle. E só por uma vez saberia o que se sentia nos braços de um homem como Fallon MacLeod.

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 6


Fallon não tinha certeza do que o tinha despertado. Estava profundamente adormecido, submerso em um sonho dos tempos de antes do massacre de seu clã. Havia levado flores a sua mãe, como desculpa por ter tornado a roubar pão da cozinha.
Sua mãe sempre havia dito que sabia como conseguir a desculpa de uma mulher. Ele havia rido, agradecido de que ela não pudesse estar muito tempo zangada com ele.
Justo no momento em que o sonho tomou a sinistra direção para a morte de seu clã, podia jurar que havia sentido um perfume de lírios.
Larena.
De repente o sonho mudou. Tinha Larena entre seus braços contra a porta. Olhava-o com uns preciosos olhos azuis turvo com grandes pálpebras e uns lábios famintos de seus beijos. Cobriu-lhe a boca para voltar a beijá-la, um gemido escapou dele quando ela acoplou seus quadris contra sua virilidade.
Por todos os deuses, desejava-a com tal desespero que roçava a loucura. Faria algo, diria fazia falta com tal poder de reclamá-la como sua.
Então, com um sorriso, ela se afastou de seus braços e lhe fez um gesto com o dedo para que o seguisse. Seu perfume, esse maravilhoso perfume de lírios, foi atrás dela.
Fallon despertou com um desejo que fazia que lhe doesse o peito. Continuou com os olhos fechados tentando retornar ao sonho para seguir Larena. Pode que não pudesse tê-la na vida real, mas a teria em seus sonhos. Em seus sonhos poderia ter algo.
Um som como um suave suspiro chegou a seus ouvidos. Fallon entreabriu um olho e se encontrou com uma mulher de pé junto à janela. A luz da janela a iluminava e fazia que seus dourados cachos brilhassem no caminho que percorriam descendo por suas costas.
Larena.
Não podia mover-se, não podia respirar. Não tinha certeza se era real ou se era um sonho, mas não lhe importava. Ela estava em seu quarto.
Ele a observava, fascinado, enquanto ela passava os dedos por entre os cabelos úmidos. As impressionantes mechas loiras caíam em suaves ondas sobre seus ombros e seus seios. Ela agarrou uma mecha de cabelo e começou a trançar-lhe distraidamente.
Foi então quando Fallon se deu conta de que ela estava sumida em seus pensamentos, com o olhar perdido no horizonte. Deixou que seus olhos percorressem seu corpo, surpreso ao vê-la vestida só com uma fina túnica rosa. Ele podia ver cada curva, cada ponto onde seu corpo se alargava através daquele tecido quase transparente.
Já tinha uma ereção causada por seu sonho, mas agora estava duro como uma pedra.
De repente as mãos de Larena se detiveram e seu olhar voltou para ele. Lhe secou a boca. Estava aliviado de não haver-se afastado os lençóis de cima como estava acostumado a fazer.
Não podia ser que ela estivesse em seus aposentos. Não podia perder o tempo com uma mulher, com nenhuma mulher, mas especialmente não com uma que deu tomado conta de seus sonhos. Tinha uma missão que levar a cabo e a levaria a cabo custasse o que custasse.
—O que esta fazendo aqui? — Perguntou-lhe ao dar-se conta de que ela não falaria.
Ela umedeceu os lábios com a língua fazendo que Fallon fixasse seus olhos em sua grossa boca.
—Havia-lhe dito que precisava falar com você.
—É certo. Esta já é a segunda vez que entra em meus aposentos. O que têm que dizer deve ser realmente importante.
—É.
Havia um suave tremor em sua voz. Tinha medo dele? De algum modo aquilo não lhe fez graça se tivesse feito em qualquer outro momento. Mostro-lhe uma grande força no pouco tempo que observou-a. Não podia imaginar que alguém pudesse lhe dar medo.
Sentou-se e deixou cair as pernas por um lado da cama, com cuidado de manter os lençóis sobre sua palpitante virilidade.
—Adiante, minha senhora. Diga o que é tão importante para que tenha irrompido meu quarto em plena noite.
Ela abriu a boca, logo a fechou e voltou a olhar pela janela.
—Em minha mente era muito mais fácil.
Antes de dar-se conta do que estava fazendo, ele se levantou da cama e se dirigiu para ela, sem se preocupar com o fato de estar nu. Era uma estupidez, mas, não importava o muito que o tentasse, não podia evitar querer aproximar-se dela. Ela virou para olhá-lo de frente, com aqueles grandes olhos muito abertos e espectadores. Mas esperando o que?
—Não deveria estar aqui —disse. Estava custando um grande esforço manter o controle para não empurrá-la para ele e cobrir sua boca em um beijo com uma fúria que arrebatasse aos dois.
Ela tragou saliva e deixou ambas as mãos soltas aos lados.
—Tinha que vir.
—Parte.
—Não posso.
Agarrou-a pela parte superior dos braços e lhe deu uma pequena sacudida.
—Parte — disse entre os dentes. Tocá-la tinha sido um engano, mas precisava fazê-la compreender que não podia controlar a fome que o corroia.
—Não posso —repetiu ela.
Ele inalou o perfume dos lírios e esteve a ponto de soltar um gemido. Sua virilidade erguida entre ambos, palpitante de dor por sentir seu úmido calor.
—Larena, têm que partir. Agora.
Ela o olhou aos olhos e levantou o rosto para ele.
—Não.
Então soube que estava perdido. Não podia fazer que partisse e o que era ainda pior, estava condenadamente contente de que não o fizesse.
—Então condene aos dois.
Larena sabia que ia beija-la. Tinha-o visto em seus olhos no momento que levantou da cama. Esperava um beijo brusco, nascido da raiva e da luxúria. Mas nunca imaginou o suave tato de seus lábios e o desejo que a possuiu quando sua língua introduziu em sua boca.
Estava transtornada por seu sabor e, OH Deus, que bem sabia. Suas mãos soltaram seus braços e subiram até o pescoço onde acariciou cada milímetro de seu rosto. Inclinou sua cabeça para um lado e a beijou com mais força.
Larena não pôde deter o gemido de prazer que escapou de sua alma. O beijo era embriagador, e lhe produzia uma calma interior comparável a que produzia o vinho doce. Aquilo provocou que desejasse mais. Muito mais.
O beijo durou uma eternidade enquanto o calor aumentava em seu corpo e seu coração palpitava em seu peito. Fallon moveu um braço para a parte baixa de suas costas e a apertou contra ele, sua masculinidade pressionada contra seu estômago o fazia difícil poder manter-se em pé. Lhe rodeou o pescoço com os braços, encantada ao sentir os músculos de suas costas movendo-se sob suas mãos.
Sua força a fascinou, sua ternura a surpreendeu. Sentiu-se atraída por Fallon do primeiro momento em que o tinha visto, mas agora, com cada carícia e cada beijo, estava caindo cada vez mais profundamente no feitiço da paixão que ele despertava nela.
Em sua cabeça começaram a soar sinos de alarme, mas seu corpo fazia tempo que não respondia a sua cabeça. Não havia nenhuma possibilidade de que ela pudesse afastar-se dele agora. Era mais forte do que foi a primeira vez e se asseguraria de que ninguém voltasse a aproveitar-se dela. Inclusive aquele homem não podia criar aquele feitiço de paixão como o fazia Fallon.
—Meu deus, Larena — murmurou ele entre beijos.
Ela não podia estar mais de acordo, mas aquele não era o momento de falar. Era momento de tocar, de sentir e de amar.
As mãos de Fallon estavam por toda parte, acariciando cada parte de seu corpo e mesmo assim aquilo não lhe bastava. Ela estremeceu quando suas mãos lhe abriram a túnica e passaram por cima de seus seios até sua cintura. Sua boca voltou a equilibrar-se sobre a sua, suas línguas se enredaram em uma frenética e inegável luxúria. Ela perdeu toda noção do tempo e do espaço. Tudo o que importava era Fallon e o que estava fazendo com seu corpo.
Ela ofegava ante o contato de sua pele. acabava de dar conta de que lhe tinha tirado a túnica. Larena estremeceu ante o calor de seus corpos. Estava tão duro, tão excitado! Seus mamilos ficaram eretos ao contato de seu peito contra seus seios.
O calor a alagou e se concentrou entre suas pernas, lhe produzindo uma aguda palpitação. Queria tocar Fallon como ele a estava tocando, mas cada vez que o tentava, ele a detinha.
—Agora não —disse Fallon antes de voltar a beijá-la.
Larena desistiu. No momento. Estava decidida a possuir Fallon aquela noite e então teria a ocasião de tocar seu corpo. Por agora, bastava-lhe que ele a desejasse.
Escapou-lhe uma gargalhada quando ele a lançou contra a cama e ficou rapidamente sobre ela. Ela olhou seus apaixonados olhos verdes. Viu desejo e preocupação naqueles dois poços profundos.
—Deveria ter sabido que não poderia ignorar a fome que acorda em mim —disse.
Larena se levantou e acariciou seu rosto.
—Faz que me corte a respiração — confessou. Sabia bem que não devia dizer a um homem tais coisas, mas escapou dos seus lábios antes de dar-se conta. Sabia que era certo e isso a aterrorizava, mas havia algo em Fallon que atirava de seu coração.
Ele se inclinou e começou a lhe beijar o pescoço e todo o peito e logo entre o vale que desenhavam seus seios. Seu corpo, grande e musculoso, acomodou-se entre suas coxas e sua ereção palpitava contra seu ofegante sexo.
Ela estremeceu com a necessidade de tê-lo em seu interior. Havia passado décadas da última vez que esteve com um homem. Aquela outra vez tinha sido um engano, um engano que pagou muito caro. Após cuidou para que não voltasse a acontecer o mesmo. Mas de algum modo, isso era impossível com Fallon.
Uma de suas grandes mãos calejadas cobriu um seio enquanto passava o polegar por cima do mamilo. Ela gemeu e arqueou as costas, desejosa de mais, de muito mais. O prazer que aquela simples ação lhe provocava era indescritível.
Seus seios incharam e seus mamilos se endureceram com o prazer que a alagava. Enquanto brincava com um mamilo entre seus dedos, cobria o outro com sua boca e o chupava.
Larena soltou um gemido e inundou suas mãos entre seus cabelos. O desejo e a paixão formavam redemoinhos em seu interior, fazendo que se esquecesse de respirar enquanto pensava no homem que tinha entre seus braços.
A paixão transbordou em seu interior produzindo ferroadas de prazer e fazendo que se estremecesse. A boca e a língua de Fallon estavam fazendo que se voltasse louca enquanto alternava entre chupar e sorver um mamilo e seus dedos beliscavam e acariciavam o outro.
A tortura era deliciosa, o prazer interminável. Larena gemeu quando ele meteu um mamilo na boca e sorveu com força. A força de seus lábios lhe produziu uma onda de desejo. Estava a ponto de chegar ao clímax só com o que estava fazendo com seus seios. Parecia impossível, mas quanto mais Fallon a tocava, mais lhe oferecia seu corpo.
Empurrou seus quadris contra ele, procurando um pouco de alivio ao enlouquecedor desejo que formava redemoinhos em seu interior. Ele se colocou a um lado e deslizou a mão desde seus seios, por seu corpo, até os cachos que escondiam seu sexo.
Larena gemeu quando seus dedos separaram os seus lábios íntimos. Ele habilmente passou seus destros dedos por aquelas sensíveis dobras. O tato de seus dedos fazia que incrementasse sua consciência sobre ele e as ferroadas em seu interior. Então, por fim, introduziu um dedo em seu interior e afundou em sua intimidade.
Seus dedos se fecharam agarrando fortemente os lençóis enquanto gemia e pedia mais. Deveria estar envergonhada de si mesmo, mas com Fallon tocando todo seu corpo, nada importava.
Seus hábeis dedos se moviam para dentro e para fora ao ritmo de seu corpo, levando-a cada vez mais perto do orgasmo. Quando pousou os dedos sobre seu clitóris, ela gritou seu nome, com todo seu corpo estremecendo de prazer.
Logo voltou a introduzir os dedos em seu interior, desta vez dois. Movia-os lentamente e logo pouco a pouco cada vez mais depressa até que ela estremeceu ante a necessidade de libertar seu orgasmo.
—Que os deuses me acompanhem —disse Fallon com um gemido— Aconteceu há tanto tempo, Larena. Não posso esperar.
Ela não queria esperar. Nem um momento mais.
—Pois não espere mais.
Ele ficou sobre ela e guiou sua virilidade para suas escorregadias dobras. Ela soltou um grito quando a ponta de seu membro roçou sua parte mais sensível enviando ondas de prazer por todo o corpo.
E logo com um firme movimento dos quadris se introduziu em seu interior.
Larena arqueou as costas ao sentir como a satisfazia, como a saciava. Ela levantou as pernas e as entrelaçou ao redor de sua cintura e ele empurrou mais dentro, até introduzir toda sua envergadura.
Por um momento ambos ficaram quietos, suas fortes respirações alagavam o aposento. Fallon desceu os olhos para olhá-la e em seu rosto se desenhou um sorriso.
—Senti falta de tudo isto —disse.
Larena levantou os quadris e sorriu de orelha a orelha quando Fallon suspirou profundamente.
—Não pare, por favor. Não pare agora.
—Nunca —prometeu ele.
Saiu de seu interior só para voltar a arremeter com mais força. Larena gemeu e se entregou às deliciosas sensações que percorreram seu corpo. Rodeou-lhe a cintura com as pernas de novo e entrelaçou os tornozelos. Ele sussurrou seu nome e seus quadris começaram a mover-se a maior velocidade.
Larena não podia acreditar o que sentia com Fallon em seu interior. Era formoso e gostou tanto que desejou que aquele momento não terminasse nunca. O clímax chegou rapidamente e a cegou com toda sua intensidade enquanto a consumia. Larena sucumbiu à necessidade de seu corpo, a necessidade que se esteve negando durante tanto tempo. Enquanto se recuperava do momento do êxtase, abriu os olhos e encontrou Fallon olhando-a.
—Meu deus —sussurrou ele.
Com seu corpo ainda convulsionando do tão poderoso orgasmo, levantou os quadris para encontrar-se com os dele. Fallon levantou a cabeça enquanto voltava a arremeter em seu interior, com seu corpo tenso e sacudindo-se. Larena o apertou contra si enquanto ele chegava ao orgasmo. Quando o último de seus tremores o abandonou, deixou-se cair sobre ela.
Larena o rodeou com seus braços, abraçando-o com força, acariciando-o. Ainda podia senti-lo no mais profundo de seu interior. Desejava que pudessem ficar tal e como estavam por toda a eternidade, mas aquilo era um sonho.
Depois ele saiu dela e ficou de lado. Larena resistia perder o contato, assim, se virou para olhá-lo. Seus olhares se encontraram. Ele levantou a mão e a acariciou no rosto com os nódulos.
—Por que? —Perguntou ele.
Como poderia explicar.
— Disse que sentia o desejo em mim. Soube no primeiro momento em que o vi que era especial.
—Especial? —Ele franziu o cenho— Não.
—Sim —disse ela, e passou a mão pela testa para afastar aquele gesto — Sei que não deveria ter vindo a seu quarto, mas o que tenho que te dizer tem que ser em particular.
Ele tomou-lhe uma mão entre as suas.
—Me diga.
Agora que já tinha sua atenção, estava aterrorizada. Como reagiria? Aceitaria-a? Acreditaria? Desprezaria-a?
Ela não acreditava que pudesse suportar seu desdém.
—Larena —urgiu amavelmente— Me Diga.
Ela virou para deitar de costas e ficou observando o dossel cor bordô da cama, que pendurava sobre ela.
—É difícil saber por onde começar.
—Não vou a nenhuma parte, por que não começa pelo princípio?
O princípio. Fazia tanto tempo daquilo e havia tantas coisas que queria esquecer... Mas Fallon tinha razão. Teria que começar a contar-lhe por onde tudo começou.

***
—Meu clã, os Monroe, não é um grande clã, mas somos poderosos. Desde os remotos tempos dos celtas, e já então, nosso clã era forte. Perduramos no tempo.
Larena não podia suportar a ansiedade que se apoderou de seu corpo e ficou em pé para aproximar-se da janela. Aquela era a parte mais complicada e precisava criar espaço entre os dois para deixar sair tudo.
—Sei o que é, Fallon. Sei o que há em seu interior. Minha família foi passando de geração em geração a historia sobre os antigos celtas e os romanos. Histórias que contam por que os romanos abandonaram nossas costas.
Ela parou e esperou ver se Fallon dizia alguma coisa. Só o silêncio chegou até ela. Virou a olhar pela janela como as árvores se balançavam com o vento.
—A essas histórias se acrescentaram algumas novas. Historia sobre os MacLeod e uma malvada druida chamada Deirdre.
Ela ouviu um rangido na cama e soube que ele se pôs em pé.
—O chefe, meu tio, sabia que nosso tempo estava chegando a seu fim. Logo Deirdre encontraria o modo de chegar até nosso clã e capturar o homem mais forte para convertê-lo em um guerreiro.
—O sangue dos deuses —murmurou Fallon detrás dela.
—Mas nós contávamos com uma vantagem. —Larena se obrigou a olhá-lo — Tínhamos uma druida em nosso clã. Ela e sua família estavam cuidando de nós, mantendo vivas todas aquelas histórias. Ela conhecia o feitiço para libertar o deus.
Fallon franziu o cenho e entrecerrou os olhos.
—A família se reuniu no grande salão. Meu tio e seu filho, Naill, o qual todos pensavam que se converteria no futuro guerreiro, estavam em pé no centro do salão. A druida Robena começou a pronunciar o feitiço. Só que não foi Naill a quem o deus escolheu.
—A quem? —perguntou Fallon.
Ela tentou tragar o pânico.
—Eu estava junto a meu pai quando começou a dor. Tentei silenciar meus gritos, mas logo essa dor foi muito grande para poder esconder. Caí de joelhos, a pele me ardia, os ossos estavam fazendo-se em pedaços. Devo ter desmaiado, porque quando voltei a recuperar a consciência, Robena estava em pé junto a mim com um grande sorriso iluminando seu enrugado rosto.
—Meu pai me ajudou a me levantar enquanto Robena anunciava que o deus já tinha um escolhido. Tinha me escolhido e não ao Naill. Meu tio e meu primo estavam tão furiosos comigo que me desterraram do clã. Com tempo só para poder abraçar meu pai, Robena e eu nos escondemos no bosque.
Fallon a olhava emocionado.
—O deus escolheu você?
—Na realidade é uma deusa.
Tinha esperado muitas coisas, mas não aquela evidente desconfiança. Ele não acreditaria até que o mostrasse.
—Minha deusa é Lelomai, deusa da defesa.
Abriu os braços e deixou que sua deusa a transformasse. Primeiro as garras, longas e afiadas, logo as presas e logo todo seu corpo. Ela estava em pé ante Fallon, esperando, rogando, que ele fosse a salvação que ela procurava.


CAPÍTULO 7

Fallon só podia observar atemorizado Larena. Nunca em sua vida tinha visto algo tão formoso. Já era uma mulher incrivelmente bela, mas quando se transformou era... impressionante.
Ficou de pé e se dirigiu para ela. Brilhava com todas as cores do arco íris embora com um tom mais apagado. Tocou-lhe um cacho, surpreso ao ver o tom da cor de seus cabelos. De todos os guerreiros que ele já havia visto, nenhum tinha um cabelo que mudasse de cor.
Seu olhar se perdeu naquela escultural figura resplandecente. Agarrou uma mão entre as suas e observou suas longas garras da mesma cor de sua pele. Eram menores que as suas, mas igualmente mortíferas. Um olhar a seus lábios entreabertos mostrou as presas.
Definitivamente ela era uma guerreira. Uma guerreira mulher. Quem imaginaria que existissem?
—É formosa —sussurrou.
Seu preocupado olhar se encontrou com o dele enquanto afastava a mão de entre as suas.
—Sou a única guerreira que eu saiba que existe, Fallon. Deirdre não sabe nada de mim. Ainda. Mas só é questão de tempo.
Então ele compreendeu por que estava buscando-o.
—Quer meu amparo.
—Sim.
Como poderia virar as costas a ela? Ele estava ali por seus irmãos, mas encontrar Larena também poderia ajudá-lo em sua causa contra Deirdre. Outro guerreiro só melhoraria sua situação frente a ela.
—Tem-na. Quanto tempo faz que é uma guerreira?
—Uma centena de anos.
Tinha estado sozinha muito tempo. Ele sentiu pena por ela.
—E por que veio ao castelo do rei?
—Malcolm aceitou me ajudar a descobrir tudo o que tivesse haver com Deirdre.
—Onde esteve antes de chegar aqui?
Ela encolheu os ombros e lhe deu as costas.
—Embora desterrada de meu clã, sempre me mantive perto deles por meu pai. No bosque, Robena me ajudou a treinar nas coisas que precisaria saber para me converter em uma autêntica guerreira.
—E por que veio a Edimburgo?
O olhar dela se encontrou com o seu e pôde ver desafio e determinação no mais profundo.
—É meu dever me manter afastada das garras de Deirdre. No bosque não estava descobrindo nada nem de Deirdre nem dos outros guerreiros.
—Certo, mas ali estava escondida.
—Não exatamente. Vivo lutando contra os wyrran desde que se liberou a minha deusa. Como a maioria dos guerreiros são seres solitários e vivem escondidos, imaginei que seria uma boa oportunidade saber até onde tinha chegado o poder de Deirdre no castelo do rei.
—Crê que Deirdre tem controle sobre o rei?
—Não —disse negando com a cabeça— Pelo menos ainda não. Mas quando estava aqui descobri que os MacLeod tinham sido encontrados.
—E pelo que me buscava —terminou ele.
—Pode ser tenha estado sozinha, mas sei defender a mim mesma.
Ele deu uma olhada a suas garras e sorriu.
—Não tenho nenhuma dúvida disso.
—Por ser uma mulher não significa que não possa cuidar de mim mesma. Já matei um homem. Dei-lhe meu corpo porque era ingênua e acreditei que ele se preocupasse comigo. Me traiu e matou meu pai.
—Deus santo —murmurou Fallon incapaz de acreditar que alguém pudesse fazer algo assim.
—Estava muito furiosa. Uma vez que a ira se apoderou de mim, deixei de ser eu mesma. A próxima coisa que me lembro é que estava olhando a seu corpo sem vida.
Fallon assentiu.
—Traíram-na, Larena, e o fez alguém em quem você acreditava. Sua deusa se defendeu e no processo matou aquele homem. Não permita que o assassinato de seu pai e aquela traição continuem perseguindo você.
Ela respondeu com um tímido sorriso. Quanto mais sabia de Larena, mais impressionado estava por sua valentia e sua coragem.
—Que outros poderes tem?
Justo diante de seus olhos, ela desapareceu. Fallon virou de um lado e a outro procurando-a.
—Larena? Onde se colocou?
—Estou aqui no mesmo lugar —respondeu.
Ele ouviu sua voz, mas não podia vê-la. O poder que tinha era enorme e poderia ser de grande ajuda na eminente batalha.
—Impressionante.
Ela se materializou frente a ele e sua deusa desapareceu deixando diante dele à beleza com a que acabava de deitar-se.
—Como já lhe disse, posso me proteger e posso ajuda-lo.
—Levarei-a ao castelo de todos os modos, Larena. É uma guerreira, Deirdre não se deterá ante nada para que esteja sob seu poder.
—Sempre tive cuidado, mas temo que não tarde em me encontrar.
—Nos asseguraremos que isso não aconteça.
Viu o alívio que se desenhava em seus olhos e a agarrou entre seus braços. Pela primeira vez em muito tempo se sentia necessitado, como se ele pudesse mudar as coisas. Não cometeria os mesmos enganos que tinha cometido com seus irmãos. Protegeria Larena, com sua vida, se fosse necessário. Pode ser que tivesse decepcionado seus irmãos durante todos estes séculos, mas não falharia com Larena.
—Obrigado —disse ela, com a voz tremente.
—Já não voltará a estar sozinha, Larena. Tem a mim. Uma vez que cheguemos ao castelo, conhecerá meus irmãos e os outros guerreiros e druidas que estão ali. Estará protegida.
Ela assentiu.
—Pensei que me rechaçaria.
—Que a rechaçaria? —Separou-a de seus braços e levantou o rosto dela para que o olhasse, a urgência por beijá-la apareceu de novo— Você não tinha escolha ante a deusa. A deusa a escolheu. Arrasta os mesmos sofrimentos que todos nós, sem importar se for um homem ou uma mulher.
Havia algo em seus olhos. Havia mais coisas para contar, um segredo que não estava certa de poder confiar a ele ainda. Ele a entendia. Se ele fosse ela, tampouco confiaria, mas conseguiria ganhar sua confiança. Aquilo não mudaria todo o mal que tinha feito a seus irmãos, mas ajudaria. Converteria-se no homem que seu pai queria que fosse.
—Sabe Malcolm? —perguntou.
—Sim. Sabe tudo. Queria que não soubesse e agora temo que Deirdre descubra que esteve me ajudando.
Fallon amaldiçoou para si mesmo.
—Malcolm se pôs em uma situação muito perigosa. Deirdre irá atrás dele se descobrir algo.
—Sei —disse Larena— Eu já utilizei esse argumento antes, mas Malcolm me disse que queria reparar o que nossa família me tinha feito. Ele será o próximo chefe e não quero que lhe aconteça nada. Nem sequer deveria estar aqui comigo.
—Então deve voltar imediatamente para seu clã.
Ela assentiu.
—Estou de acordo. Uma vez que assegurou que me protegerá, o enviarei para casa.
Fallon sentiu um sentimento de intranquilidade. Como tinha conseguido Larena manter-se oculta de Deirdre durante todo este tempo?
—O wyrran?
—Matei-o —admitiu— Esperei até que saísse do grande salão.
—Alguém a viu matá-lo?
—Não. Logo escondi o corpo no bosque. Malcolm está ali agora queimando-o.
Passou uma mão pelo rosto.
—E retornou ao castelo?
—Sim, sem que me vissem.
Era um grande castelo, cheio de gente intrometida. Teriam tanta sorte que Larena tivesse passado despercebida?
—Pergunto-me se o wyrran estava aqui por mim ou por você.
—Acredito que por você —respondeu ela— No final, Deirdre não sabe nada de mim. Estou aqui há mais de um ano, Fallon, e nunca tinha aparecido nenhum wyrran no castelo. Não até que você veio.
—Bem. Acredito que deveríamos partir amanhã pela manhã, o mais cedo possível.
—Perfeito—disse, e se dirigiu à cama. Meteu-se nela, despreocupada por sua nudez e o efeito que isso exercia sobre ele—Direi a Malcolm logo que o veja.
Fallon sentiu como voltava a despertar sua virilidade. Não se surpreendeu ao ver que a desejava de novo. Estar com Larena tinha sido... fascinante. Mesmo tendo passado trezentos anos sem ter estado com uma mulher, sabia que nenhuma tinha chegado até ele do modo em que ela o fez.
Ela sorriu e desceu o olhar.
—Tem tanto tempo que procuro os MacLeod que agora acho estranho te ter encontrado.
Ele se aproximou, ficou em pé frente a ela e agarrou o rosto dela com as mãos. Inundou-se na profundidade de seus turbulentos olhos azuis. Só de imaginá-la sendo banida por seu próprio clã, trouxe-lhe à memória todas as vezes que havia falhado com a sua família.
—Dou-lhe minha palavra, Larena. Nunca a abandonarei.
Incapaz de conter-se, inclinou-se e pousou seus lábios sobre os dela. Ela o rodeou com seus braços e o beijou com mais paixão. A chama do desejo reacendeu-se. Fallon não podia evitar sentir como a paixão percorria suas veias nem podia evitar que cortasse sua respiração.
Cuidadosamente empurrou Larena sobre a cama e cobriu o corpo dela com o seu. Suas suaves curvas, tão femininas e sedutoras, davam voltas em sua cabeça. Surpreendeu-se ao pensar em todo o tempo que tinha passado sem sentir o contato de uma mulher. Havia muito que não sentia o tato de uma mão feminina, os suaves olhares e as doces carícias.
O simples feito de saber que era uma guerreira, que ela sabia o que ele era e o que havia em seu interior, liberou algo primitivo nele. Queria reclamar Larena como dele. O só pensamento de outro homem, outro guerreiro tocando-a, deixava-o louco.
Fallon passou a mão por seu lado até chegar a sua cintura e por cima de seus quadris aos cachos que albergava entre suas pernas. Já estava sedenta dele. Queria inundar-se em seu interior e penetrar uma e outra vez em seu corpo.
Ele gemeu ao ver quão úmida estava.
—Já está pronta para me acolher.
Ela assentiu, com os olhos cheios de desejo.
—Não sei o que faz com meu corpo, Fallon, mas não pare de fazê-lo. Por favor, não pare.
Não o faria. Nem agora nem nunca. Por que era incapaz de controlar seu corpo quando estava junto a ela? Era ver Larena, cheirar sua essência e sentia a imperiosa necessidade de possuí-la.
Fallon levantou uma perna dela e a penetrou. Ela gritou de prazer, cravando suas unhas nas costas. Sua paixão só conseguiu acender mais a de Fallon. Saiu dela até que só a ponta de seu membro estava dentro e logo voltou a penetrá-la profundamente até tocar seu útero.
Ela gritou seu nome, movendo seu corpo ao compasso do dele. Ele sentiu como se aproximava seu clímax, mas não queria chegar sem ela. Fallon colocou a mão entre ambos e encontrou seu clitóris. Acariciou a pequena protuberância em círculos até que se inchou e Larena estremeceu de puro prazer.
Adorava a maneira em que ela respondia a seu tato. Houve um tempo em que acreditava que tinha esquecido como dar prazer a uma mulher, mas de repente ao tocar o delicioso corpo de Larena tudo tinha voltado para sua cabeça.
—Fallon! —Gritou, levantando seus quadris para encontrar com os dele.
Ele sabia que estava a ponto de chegar ao orgasmo. Aproximou a boca a um de seus mamilos e sorveu com força. Seu corpo se arqueou sob o seu enquanto chegava o orgasmo.
Fallon levantou a cabeça e observou seu rosto de completo abandono ao prazer. Era formoso. Esqueceu-se de tudo quando sentiu como seu sexo se contraía ao redor de seu membro. Não poderia atrasar mais seu orgasmo. Arremeteu de novo com seus quadris uma, duas vezes e então chegou o clímax. Fechou os olhos e seu corpo tremeu enquanto sua semente se derramava em seu interior.
O suor cobria seus corpos e tremiam os braços por manter-se sobre eles. Abriu os olhos e a viu olhando-o.
—O que é o que tem feito comigo, Fallon MacLeod? —Sussurrou.
Ele não tinha a mais remota ideia, mas queria continuar fazendo-o.

 

 

CAPÍTULO 8


Com o corpo satisfeito, Larena começou a adormecer. Ele cobriu ambos os corpos com os lençóis para não passar frio e a beijou na testa.
Fallon murmurou algo, mas ela não pôde decifrar. Queria perguntar o ele que havia dito, mas o hábil modo em que seus dedos acariciavam seu braço e as costas a levou a recordar o prazer que acabaram de experimentar. Ela queria passar meses, anos com ele.
—É um bom homem, Fallon MacLeod. —Ela virou a cabeça para olhá-lo. Não conhecia nenhum outro guerreiro que estivesse disposto a lutar contra Deirdre com tanta convicção.
Ele franziu o cenho e pôs um olhar distante, como se suas palavras houvessem trazido a sua mente lembranças longamente enterradas.
—Não, Larena, não o sou. Ainda não. Meus irmãos são bons homens e eu tento ser.
—Me fale de seus irmãos. Antes que seu deus fosse liberado, como era sua vida?
Um débil sorriso tocou seus lábios.
—Levávamos uma boa vida. O matrimônio de nossos pais tinha sido arrumado, mas eles se apaixonaram. Aquele amor era evidente em tudo o que faziam. Meu pai era um homem severo, mas também inteligente e bem amado por todo seu clã e respeitado pelos outros clãs. Minha mãe era a que tinha o toque da ternura. Sua voz podia acalmar a qualquer um; nos olhava de um modo que podia conseguir que lhe disséssemos tudo o que queria saber.
Larena riu. Não lhe custou nenhum trabalho imaginar a sua família e como podia ter sido sua vida.
—Seus pais pareciam encantadores.
—Eram os melhores. Eu era consciente de como eram os pais de alguns de meus amigos, sabia que meus pais eram especiais.
—Meus pais não se queriam, não desse modo. Mas mesmo assim, preocupavam-se um com o outro.
—Você foi mais afortunada que muitos outros.
—Sim.
—Teve irmãos?
Ela suspirou.
—Eu era sozinha. Sempre quis ter uma irmã.
—Eu não poderia imaginar a vida sem meus irmãos. Fazíamos tudo juntos. Poucas vezes andava cada um para um lado. Lembro quando Quinn se casou. Era muito estranho pensar que já não andaria por aí brincando de correr com Lucan e comigo.
—Como são seus irmãos?
—Fortes. Inteligentes. Ardilosos. Honoráveis. São os melhores homens que conheço. Lucan sempre era o que nos unia. Quinn e a mim. Lucan herdou a habilidade para tranquilizar os outros de minha mãe e a utilizava com julgamento. Enquanto que eu costumava pensar muito nas coisas, Quinn era impulsivo e sempre se lançava a fazer as coisas sem pensar nas consequências. Mas, sempre que Quinn se metia em alguma confusão, era bastante inteligente para saber sair dela.
—Acredito que gostarei de seus irmãos — ela disse com um sorriso. Fechou os olhos lentamente enquanto os preguiçosos dedos de Fallon percorriam de novo suas costas.
—Estou convencido. E gostarão de você também.
—E depois que Deirdre libertou o deus com sua magia, o que aconteceu?
Ele soltou um longo e profundo suspiro.
—Foi o inferno. Enquanto vivemos nas montanhas comemos o que pudemos encontrar. Estávamos nos convertendo em animais selvagens e embora soubesse que tinha que me transformar no líder que meu pai me preparou para ser, não podia me acostumar ao deus que levava dentro.
—Não seja tão duro consigo mesmo, Fallon. Para poder ajudar a seus irmãos, tinha que ajudar primeiro a si mesmo.
Fallon grunhiu. Bem que ajudou a si mesmo. Tentou bloquear as lembranças de todos aqueles anos que vieram depois de Deirdre, mas gostava de falar com Larena. E por alguma razão, queria que ela soubesse quem era, que o conhecesse de verdade em lugar de deixá-la só ver o homem que ela pensava que fosse.
Porque tinha medo de falhar com ela como falhou com Lucan e com Quinn.
Aquela era a única verdade, por muito doloroso que fosse admiti-lo.
—Não estou muito certo de onde Lucan encontrou o vinho —disse Fallon lentamente— Tinha saído a procurar comida, e quando retornou a nossa cova levava uma jarra de vinho. Comecei a beber. Não custou muito me dar conta de que quanto mais bebia menos ouvia e sentia ao deus.
—Assim continuou bebendo —disse ela com voz sincera.
Ele parou. Deveria dizer a verdade a ele; deu-se conta que ela teria uma opinião muito diferente dele assim que soubesse. Também podia acabar com tudo o que estava se formando entre eles, poderia ser melhor. Destruir toda esperança agora, antes de perdê-la depois. Além disso, ela descobriria assim que chegasse ao castelo. Era melhor que soubesse o tipo de homem que era agora.
Era melhor para ambos.
—Sim —respondeu— Continuei bebendo. Quando Lucan não me trazia vinho, saía eu mesmo para buscá-lo.
—OH, Fallon! —Murmurou.
Agarrou-lhe o braço, com medo que fosse afastar-se dele e não poderia terminar de contar sua história e tinha que olhá-la nos olhos.
—Em lugar de me converter no líder que tinha que ser, deixei que Lucan se encarregasse com toda a responsabilidade. Sabia que precisava de mim para ajudar a controlar Quinn, mas eu me inundei na bebida de todos os modos. Cada manhã me levantava e via os evidentes rastros da ira de Quinn nas paredes da cova onde aparecia suas garras. A perda de sua mulher e seu filho o transtornaram. Em todo este tempo não foi capaz de recuperar-se. Eu deveria ter estado ali a seu lado. Ao lado de meus dois irmãos.
—O que poderia fazer? —Perguntou Larena— As pessoas tem modos diferentes de confrontar a dor.
—Dei as costas a meus dois irmãos. Lucan me suplicou que parasse de beber. Escondia o vinho, mas com aquilo só conseguia que nos encerrássemos em terríveis brigas. Dou graças a Deus que não pudéssemos nos matar, mas temo que tivéssemos acabado fazendo-o. Só para conseguir vinho.
Os dedos de Larena tremeram sobre seu peito e ele pôde sentir o peso de suas pálpebras enquanto o observava. Sua impressão de que era um bom homem tinha sido destruída e, embora ele odiasse a ideia, era para o bem dos dois. Ele não foi o homem que deveria ter sido, e não queria falhar com ela como falhou com seus irmãos.
—Não sei em que momento Lucan se deu conta que não poderia me deter. Só sei que sempre se assegurou de que eu tivesse vinho. Quando nos pediu que voltássemos para castelo, eu queria negar. Estar perto do lugar que naquele tempo só albergava morte e destruição não era o modo que queria passar meus dias. Mas depois de tudo o que Lucan tinha feito por mim, não pude lhe dizer não. Embora queria estar em qualquer outra parte do que entre aquelas paredes de pedra.
—Ele pensou que seria para o bem de todos.
Fallon encolheu os ombros.
—Suponho. De algum modo fez bem ao Quinn e aquilo fez que Lucan reafirmasse sua ideia. Ele ajudou Quinn e a mim o melhor que soube, e não há nada que possa fazer nesta vida para agradecer a Lucan. Durante quase trezentos anos eu afoguei meu deus no vinho. Durante trezentos anos, deixei sozinhos meus irmãos. Quando um wyrran se aproximava do castelo, lutava contra ele, mas só com minha espada.
—Alguma vez deixou livre seu deus?
—Não, nunca me atrevi. Nem sequer quando Lucan trouxe Cara ao castelo e os guerreiros de Deirdre nos atacaram pela primeira vez. Como eu não me converti em guerreiro quase conseguiram partir com Cara. Nunca esquecerei a expressão de terror nos olhos de Lucan quando viu aquele guerreiro com Cara.
—O que aconteceu?
—Nos três tínhamos sido sempre bons lutadores. Ninguém podia nos vencer e quando enfrentávamos uns contra outros, sempre acabávamos em empate. Fomos bons lutando sozinhos, mas implacáveis se lutávamos os três juntos. Suponho que por isso, Apodatoo, o deus da vingança, escolheu instalar-se nos três.
Ela assentiu, uma mecha de cabelo lhe roçou o nariz.
—Era justo o que me perguntava.
—Tínhamos o guerreiro encurralado e atacamos. Lucan levou Cara, e Quinn e eu matamos o guerreiro. Mas sabíamos que Deirdre atacaria de novo. Queria ajudar a meus irmãos, mas aquilo significaria deixar livre o deus.
—Não podia fazê-lo, verdade?
A vergonha cobriu o rosto dele.
—Passei muito tempo ignorando o que havia dentro de mim, inclusive os poderes que este de fato levava consigo. Tinha medo de prejudicar Lucan mais que o ajudar. Sabia que podia exercer muita pressão lutando com minhas espadas e isso é o que pensei fazer.
Voltou a recordar a batalha e como Cara lutou ferozmente contra o wyrran. Lucan se manteve sempre perto dela, mas aconteceu o impensável. Um guerreiro a capturou e saiu correndo antes que Lucan pudesse segui-lo.
—Havia muitos wyrran. Nunca tinha visto tantos. Matava a um e apareciam cinco em seu lugar. Invadiram o castelo junto com quatro guerreiros. O que não sabia Deirdre é que do nosso lado tínhamos quatro guerreiros a mais.
Larena sorriu para si.
—Lutavam com vantagem numérica.
—Ou isso é o que acreditávamos. Mas de algum modo um guerreiro conseguiu capturar Cara. Eu fui o único que viu e sabia que tinha que ser capaz de ajudá-la. Se Quinn quase tornou-se louco com a perda de sua mulher e seu filho, eu sabia que Lucan nunca se recuperaria. Cara é sua vida inteira. Assim persegui o guerreiro e Cara, tratando de mantê-los dentro do castelo até que Lucan fosse capaz de nos encontrar.
A maior parte do castelo está em ruínas e o guerreiro subiu em uma torre que dava justo ao mar. Obrigou Cara a se agarrar em suas costas e começou a descer pela torre do lado do mar. Um movimento em falso e Cara iria direta a uma morte irremediável.
Larena se reclinou sobre o cotovelo e olhou a Fallon.
—Por todos os deuses! Deirdre devia querer capturar Cara desesperadamente.
—Sim. A mãe de Cara era uma Drough e Cara leva consigo o sangue de sua mãe.
—Ah, o Beijo do Demônio. Robena me falou disso.
—Exatamente. Esse sangue, junto com o de Cara, daria ainda mais poder a Deirdre. Não podíamos permitir.
Larena assentiu e mordeu o lábio.
—Como conseguiu deter o guerreiro?
—Umas semanas antes, comecei a deixar de beber e bebia muito menos do que o habitual. No momento em que ocorreu a batalha só bebia vinho em ocasiões muito contadas. Estava suficientemente lúcido para me dar conta de que Lucan estava a ponto de perder Cara naquela mesma noite. Cara e Lucan compartilham um amor como o de meus pais, e depois de tudo o que fiz Lucam passar, não podia permitir que perdesse a única coisa pela qual lutou em sua vida. Assim liberei meu deus.
—Salvou Cara?
Fallon assentiu e afastou o olhar.
—Pude atrasar a fuga do guerreiro e isso deu tempo a Lucan, a Quinn e aos outros de nos alcançar. No final, conseguimos libertar Cara.
Uns suaves dedos acariciaram seu rosto, as unhas o arranhavam na barba de três dias.
—Não falhou para seus irmãos nem com Cara, Fallon.
—Depois daquela noite, nunca mais voltei a provar o vinho.
—É por isso que há uma garrafa em seu quarto?
—Sim, para me recordar do que estive a ponto de perder. Se Cara tivesse morrido, teria perdido Lucan. Quinn já estava mais à frente, mas sem Lucan não teria havido nada que conseguisse nos manter unidos.
Suas mãos não deixaram de o acariciar em nenhum momento. Ele fechou a mão em um punho para fazer com que deixasse de tremer. Falar das torturas que lhe açoitaram durante tanto tempo o fazia bem, mas estava envergonhado de ver o homem no qual se converteu.
Ela passou o dedo por uma sobrancelha e logo pela curva de seus lábios.
—E agora? Como estão seus irmãos?
—Na manhã depois da batalha encontrei um fragmento de pergaminho metido entre duas pedras das muralhas de nosso castelo. Tinha saído a procurar Quinn, mas assim que vi aquela parte de pergaminho soube.
—Deirdre.
Ele assentiu.
—Tinha capturado o Quinn. Ela quer aos três e sabia que tudo o que tinha que fazer era agarrar a um de nós e os outros dois iriam até ela para o buscar.
Larena agarrou ar e se sentou sobre suas pernas.
—Puderam libertar Quinn?
—Ainda não.
—Então o que é que faz aqui tentando recuperar seu castelo?
Fallon por fim se atreveu a olhá-la.
—É minha contribuição enquanto os outros tentam averiguar tudo o que seja possível sobre o Pergaminho.
—O Pergaminho?
Não lhe passou despercebido o modo em que sua voz se fez mais aguda e seu corpo se esticou. Ela sabia algo, mas o que sabia exatamente?
—Sabe algo dele?
—É a lista com os nomes de cada família que leva em seu sangue a um guerreiro?
—Sim.
—Ouvi falar disso. —Mas ela afastou o olhar enquanto o dizia.
Estava mentindo. Fallon não podia culpá-la por fazê-lo. Ela não sabia. Para poder libertar Quinn tudo dependia do Pergaminho.
—Para que querem o Pergaminho? —Perguntou Larena.
—Para libertar Quinn da montanha de Deirdre. Isso se realmente existir. Pelo que sei, é possível que seja simplesmente uma lenda.
Os profundos olhos azuis de Larena cruzaram com os seus e pôde ver a ira ardendo em seu interior.
—Quer dar a Deirdre os nomes dos outros guerreiros para poder salvar seu irmão?
Fallon não explicou a ela o resto do plano. Não havia nenhuma necessidade, e menos tendo visto o ódio com que ela tinha reagido. Ou não o entenderia ou não acreditaria.
—Você não faria o mesmo por Malcolm ou por seu pai?
A tensão se liberou em seu interior.
—Faria tudo o que estivesse em minhas mãos para os libertar desse monstruoso demônio.
—Então entende por que é tão importante?
—Entendo —sussurrou— Mas é possível que Deirdre tenha uma armadilha preparada a você e a Lucan.
Fallon empurrou suas costas contra seu peito e percorreu seus longos e dourados cachos com os dedos.
—Pode ser que sim e pode ser que não. Não tenho nenhuma intenção de voltar a ser seu prisioneiro. Mas o simples fato de saber que meu irmão menor está naquela montanha há mais de um mês faz com que me revolte o estômago.
—Posso imaginar.
Fallon não disse nada mais. Provavelmente já havia dito muito. Pelo menos Larena continuava entre seus braços e não se afastou dele nem tampouco o olhava com compaixão. Não tinha havido nenhuma acusação. Só compreensão naqueles preciosos olhos.
A esperança brotou em seu peito pela primeira vez em trezentos anos.

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 9


Larena nunca tinha compartilhado tantas coisas com ninguém antes. O fato de que Fallon se mostrasse tão aberto com ela fez com que confiasse mais nele. Mas ainda havia muitas coisas que queria saber.
—As histórias sobre o que Deirdre fez com seu clã se contam por todas as Highlands.
—Sei —respondeu ele com uma voz neutra.
—Quer me contar o que aconteceu aquele dia?
Este parou um momento, como se estivesse pesando suas palavras.
—Às vezes ainda posso sentir o aroma de sangue e morte daquele dia. Todas as lembranças felizes que tinha de meu clã, de minha família e de meu lar desapareceram em um abrir e fechar de olhos. Estava destinado a ser o próximo chefe, mas não pude fazer nada para ajudar a minha gente.
—Não podia fazer nada contra Deirdre.
—Sei —admitiu— Mas naquela época não tinha nem ideia de que foi uma druida que me fez aquilo, que fez aquilo a meus irmãos. Nossas vidas se acabaram naquele justo instante. E então ela nos levou ao inferno.
Larena o acariciou no peito, com a esperança de poder aliviar parte da dor que o consumia.
—Sei a dor que se sente quando se libera pela primeira vez ao deus e, embora não pensasse que iria ser eu, sabia o que estava acontecendo. Mas vocês não sabiam nada, verdade?
—Não. Deirdre nos aprisionou assim que nos meteu na montanha. Lucan resistia de tal modo às cadeias que cortou os pulsos. Havia muito sangue e nada do que dissesse podia acalmá-lo. E logo foi com Quinn. Não podia deixar de amaldiçoá-la. Não sei sequer se sabia o que dizia, a dor de ter perdido sua esposa e seu filho quase acabava com ele. Tudo aquilo parecia um pesadelo. Eu era o mais velho, tinha que mostrar a meus irmãos que podia manter a calma ante uma situação como aquela.
Ela tragou o nó que tinha formado na garganta.
—Fallon...
—Mas no momento em que ela começou a dizer o feitiço, todas minhas boas intenções se derrubaram. Estava possuído pela dor, cegado pela raiva pelo que estava acontecendo. Sabia que algo havia mudado e que não iria ser para melhor. Queria matá-la, me vingar pelo que tinha feito à minha gente. Lutei contra minhas cadeias sabendo que igual a Lucan não chegaria a nenhuma parte, e então se romperam. Meus irmãos fizeram o mesmo. Por muito que quisesse matar Deirdre e tivesse a oportunidade de fazê-lo, sabia que tínhamos que sair dali. Ela ficou surpreendida ao descobrir que tínhamos conseguido fugir. Eu tirei meus irmãos da montanha e corremos, corremos, corremos sem descanso.
—Não posso acreditar que puderam escapar.
—A pegamos de surpresa. Ela não esperava que fôssemos fugir. Matamos os wyrran que saíram para nos perseguir. Escondemo-nos nas montanhas durante anos, trocando constantemente de lugar. Finalmente, retornamos ao castelo.
Ele parou e ela sentiu sua dor como se fosse sua própria. Acariciou-lhe o peito com a mão desejando poder cicatrizar as feridas que tinha em seu interior.
—Nossas terras tinham desaparecido, nosso castelo estava em ruínas, mas ficamos. Escondíamo-nos na escuridão nos mantendo afastados de todos e de tudo.
Durante um bom momento, ambos permaneceram sentados em silêncio. Larena não sabia o que dizer em resposta ao que Fallon acabava de confessar. Sua história era parecida com a que tinha ouvido quando era uma menina, mas nunca soube o que havia acontecido com ele estando nas mãos de Deirdre.
E de algum modo, ouvir de sua própria boca o tornava inclusive pior. Como alguém tão malvado e vil como Deirdre tinha alcançado tanto poder era algo inexplicável.
—Vai enfrentá-la, verdade?
—Sim —respondeu ele, e passou os dedos pelo cabelo— Nosso castelo dará proteção a qualquer que procure esconder-se dela ou lutar contra ela.
—Quero lutar contigo.
Ele sorriu contra sua testa.
—Me alegro.
—Logo amanhecerá. Estivemos falando toda a noite.
Fallon soltou uma gargalhada.
—Não acredito que nunca antes tenha passado tanto tempo falando com uma mulher. E pensar que em lugar disso poderia ter estado fazendo amor...
Larena ficou escarranchada sobre seu peito e olhou diretamente àqueles preciosos olhos verdes.
—Bom... gostei de nosso bate-papo.
—Isso parece, embora basicamente falei sozinho. Já te disse tudo o que terá que saber sobre minha vida.
Agarrou-a pelos quadris e pousou seu corpo sobre sua ereção.
—Ainda há tempo para outra ronda.
Não havia nada neste mundo que ela desejasse mais, mas também desejava abandonar Edimburgo o quanto antes possível. Desde que tinha visto aquele wyrran se sentia inquieta.
—Temos tempo? —Perguntou ela.
Fallon olhou para a janela.
—Merda. Quando pode estar preparada?
—Me dê ao menos até a madrugada.
—Por que não envia uma nota a Malcolm?
Ela moveu o nariz.
—Depois de tudo o que tem feito por mim, não seria justo. Andarei depressa em preparar tudo e se então não vier a meu quarto irei buscá-lo.
—Bem. Nos encontraremos nos jardins. Há um banco rodeado de roseiras amarelas.
—Conheço-o —respondeu ela e reticente se separou dele e saiu da cama. Ficou em pé frente a ele e se inclinou para lhe dar um beijo— Nos vemos logo.
Ele sentou enquanto ela se dirigia para a janela.
—Não demore — rogou justo no momento em que se fazia invisível.
—Não demorarei — prometeu.

***

Larena não podia deixar de sorrir. Desde que retornou do quarto de Fallon, esteve flutuando nas nuvens. Fallon não só havia devolvido a ela o desejo, mas iria levá-la a seu castelo. E iria protegê-la.
Sabia que deveria ser mais prudente. Por fim, a primeira vez que tinha se entregado a um homem tinha terminado com o assassinato de seu pai.
Mas Fallon é diferente.
Era? Estava confiando cegamente sua vida, estava confiando em um homem ao que mal que conhecia. E ainda tinha seu grande segredo, o Pergaminho. Fallon queria-o para entregar a Deirdre. Isso era algo que ela não poderia permitir.
Mas havia submerso nos olhos de Fallon. Seu instinto dizia que Fallon não mentiu quando havia dito que a protegeria, mas Larena sabia que também deveria proteger a si mesma. Já estava pensando em entregar-se de novo em seus braços. Não poderia surgir nada bom de seu inextinguível desejo por Fallon.
Tinha passado tanto tempo sozinha, escondendo-se e fugindo... Seria formoso ter um lugar onde saber que estava a salvo, onde todo mundo soubesse seu segredo sem importar a ninguém. Sentiria falta de Malcolm, mas sabia que esse dia tinha que chegar cedo ou tarde. Malcolm merecia uma vida e ela se asseguraria que a tivesse.
Saiu da banheira e se secou. Estava intumescida por ter estado fazendo amor com Fallon, mas era uma dor deliciosa, uma dor que queria experimentar uma e outra vez.
Entretanto, já tinha aprendido a lição. Não confiava em ninguém além de Malcolm e dos outros guerreiros. O homem que pela primeira vez tomou seu corpo a cortejou com bonitas palavras e promessas. Deu-se conta muito tarde das intenções que realmente tinha e foi incapaz de salvar seu pai com seus poderes.
Inclusive agora, tantas décadas depois, ainda podia recordar quando encontrou seu amante sobre o corpo de seu pai, com a adaga ainda cravada em seu peito. Uma ira incontrolável a consumiu, e quando voltou em si, seu amante estava morto. Ela o tinha matado.
Era a primeira vez que tirava uma vida humana, e mesmo que ele tenha assassinado seu pai, ainda sentia sobre suas costas o peso de ter tirado essa vida.
Foi uma amarga lição, mas uma lição que a tinha ajudado a manter-se com vida durante todos aqueles longos e solitários anos.
Larena colocou um vestido cor nata. Odiava aquele pescoço com bordados decorativos e também odiava os aros que levava sob o vestido. Era ridículo para uma mulher levar aqueles vestidos. Não podia mover-se com liberdade nem entrar em batalha se um wyrran viesse atrás dela, e custava muito tempo para tirá-lo.
Ajustou-se os laços das mangas e sentiu falta dos singelos vestidos que tinha usado enquanto vivia com seu clã. Ela preferia a vida nas Highlands; com os homens com seus kilts e os bufões lisos com laços e renda perambulando pelo castelo com suas apertadas meias e suas calças bombachas.[7]

Sua donzela a penteava e prendia o cabelo, bateram na porta, seu coração acelerou ao pensar que pudesse ser Fallon, mas se deu conta imediatamente de que Fallon não se atreveria a ir vê-la.
— Entre —respondeu.
Sorriu ao ver Malcolm pelo espelho da penteadeira.
—Alguma novidade?
—Estava a ponto de te perguntar o mesmo —respondeu ele enquanto se reclinava contra a porta— Já está preparada?
—Isso é tudo —disse Larena à donzela para que partisse.
Uma vez que estiveram sozinhos, Malcolm se aproximou da cadeira. sentou-se e cruzou os braços sobre o peito.
—Me diga que tem boas notícias.
—As melhores. —Não podia afastar o sorriso de seu rosto— Fallon aceitou me levar ao castelo. Quer que partamos imediatamente.
Malcolm sorriu de orelha a orelha.
—Me alegro de ouvir. Acredito que quanto antes se afastem daqui melhor.
Ele ainda não estava preparado para dizer adeus nem tampouco estava ela, para ser sincera. Mas Malcolm tinha sacrificado muito.
—Deve me prometer que se esquecerá de mim e que continuará com sua vida.
Ele soltou uma gargalhada.
—Nunca. Proporcionou-me aventuras que nunca mais voltarei a viver.
—Encontra uma mulher e faça muitos filhos com ela. Tem um clã que dirigir, Malcolm, e não tenho nenhuma dúvida que será o melhor dos chefes dos Monroe.
Ele coçou o queixo com o cenho franzido.
—Tem certeza sobre o MacLeod?
—Sabe de meu problema em confiar em gente melhor que ninguém. Fallon me deu sua palavra que me protegerá. E eu acredito.
—Isso é tudo o que preciso saber.
Ela se levantou e ofereceu sua mão.
—Obrigado. Por tudo.
—Sentirei sua falta.
Ela se inclinou e o beijou no rosto.
—Sim, eu também.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 10


Todo o corpo de Quinn doía. Estava cheio de cortes, machucados e golpes, mas apesar disso não sucumbiu a seu deus como Deirdre desejava. Sorriu e imediatamente seu gesto se torceu de dor quando o lábio que tinha partido voltou a abrir-se e começou a sangrar de novo.
Deirdre tinha vindo até sua cela. Ficou em pé na entrada observado como seus guerreiros o golpearem. Depois de um tempo, tinha ordenado que parassem e havia dito a Quinn que cedesse, que se convertesse deixando livre o seu deus.
Ele a olhou através do olho que não tinha fechado pelo inchaço e riu dela. Os golpes recomeçaram e desta vez os guerreiros utilizaram suas garras. Repetiram o ciclo várias vezes até que Deirdre abandonou a prisão.
Ele soube o momento em que partiu porque os guerreiros começaram a golpeá-lo de tal maneira que parecia que iriam matá-lo. E quase o fizeram. Acabaria curando-se, mas levaria tempo.
Doíam os ombros por estar pendurado nas correntes, mas era melhor isso que andar arrastando-se pelo chão com os ratos. Deus, como odiava os ratos. Sempre estavam ali, com aqueles chiados que alagavam as masmorras. Quinn os tinha notado correr por cima de seus pés muitas vezes.
Não podia abrir os olhos de quão inchados estavam por causa dos golpes e não podia ver nada, mas pôde ouvir como um rato se aproximava dele. Sabia pelo som de suas pequenas patas sobre as rochas que estava quase em cima dele.
Pare.
O rato parou, mas logo continuou adiante.
Pare! Maldito seja, pare!
E para sua surpresa, o rato parou.
Quinn sentiu algo em sua mente. Não estava certo do que era, mas faria o que fosse necessário para manter os ratos afastados dele.
Não se aproxime de mim. Mantenha os outros também afastados.
O coração fechou em um punho quando o rato deu meia volta e se afastou. Quinn não estava certo do que tinha acontecido e estava muito cansado para pensar nisso. Doía a cabeça como se alguém tivesse estado tentando esmagar seu crânio. Só o que queria fazer era dormir e sonhar com seu lar e com seus irmãos.
Queria dizer a seus irmãos que tinha conseguido separar de si a ira que o tinha consumido durante trezentos anos. Aquela raiva tinha feito que o deus o dominasse e quando descobriu que aquilo era o que queria Deirdre, tinha lutado contra seu deus com todas as suas forças. Estava disposto a morrer a ter que libertar o deus.

***

Fallon andava acima e abaixo em seu quarto enquanto observava como rompia a alvorada no horizonte. Tinha a mente ocupada com pensamentos sobre Larena. Não teria querido que se separasse de seu lado, mas se fossem deixar o castelo, tinha que deixar suas coisas em ordem.
Ainda não podia acreditar que ela fosse uma guerreira. Nunca na vida imaginou que houvesse guerreiro mulher. Mas não entendia por que estava tão surpreso. Era bem sabido que alguns dos guerreiros celtas mais ferozes tinham sido mulheres.
Um calafrio percorreu seu corpo quando pensou no que aconteceria se Deirdre descobrisse Larena. Fallon tinha experimentado em sua própria carne a ira de Deirdre e não queria que Larena estivesse perto daquela malvada bruxa.
A necessidade de voltar para castelo MacLeod era enorme. Se tivesse dependido dele, já estariam ali, mas Larena tinha insistido em falar antes com Malcolm. Ele compreendia, Malcolm fez muito por ela, mas Fallon não podia evitar pensar que quanto mais tempo permanecessem no castelo do rei, mais Larena ficava em perigo.
Tinham que encontrar-se nos jardins em menos de uma hora. Larena não tinha a mais remota ideia de que estariam no castelo dos MacLeod em um abrir e fechar de olhos. Não via o momento de retornar a casa, embora desgraçadamente não levasse notícias sobre o Pergaminho que poderia ajudar a libertar Quinn das mãos de Deirdre.
Fallon suspirou profundamente. Não conseguiu falar com o rei. Entretanto perguntaria a Larena se sabia algo sobre o Pergaminho. Tinha que haver alguém, guerreiro ou druida que soubesse se aquele escrito era real ou não.
Fallon se deu conta de que estava olhando atentamente uma roseira de rosas vermelhas. A sua mãe adorava as rosas. Um ano seu pai levou uma roseira de uma viagem que realizou a Glasgow. Fallon sorriu ao recordar o cuidado com o que sua mãe tinha plantado aquela roseira e o cuidado dia a dia. Fallon não acreditava que pudesse sobreviver naquele chão rochoso, mas com o cuidado que lhe deu, a planta cresceu e floresceu com rosas de um branco virginal.
Deveria ter cuidado das rosas, mas igual a tudo, tinha deixado murchar e morrer.
Bateram na porta e Fallon saiu de repente de seus pensamentos. Abriu e se encontrou com Malcolm. Fallon olhou o jovem nobre com novos olhos. Malcolm tinha arriscado sua própria vida por ajudar a Larena.
—Devo-lhe todo meu agradecimento —disse Malcolm. Afastou uma mecha de cabelo loiro que lhe caía continuamente sobre os olhos.
Este assentiu e fez um gesto para que entrasse no quarto.
—Contou-me tudo o que tem feito por ela. Não sei se está consciente do perigo ao que tem se exposto.
Malcolm encolheu os ombros.
—Minha família se equivocou com ela. Só estou tentando ressarci-la.
—Já está preparada?
—Venho dizer que já está nos jardins. Está desejosa de abandonar Edimburgo.
—Graças a Deus —disse Fallon.
Malcolm rompeu a rir. Logo seu sorriso se apagou e se aproximou de Fallon baixando a voz.
—Larena esteve sozinha durante a maior parte de sua vida. Está acostumada a cuidar de si mesmo e custa muito confiar nas pessoas. Dê tempo a ela.
—Não a obrigarei a nada —prometeu Fallon— Simplesmente a levo a um lugar onde estará a salvo de Deirdre. Meu castelo está sendo reconstruído neste momento. Há quatro guerreiros mais no castelo, e dois druidas.
—Dois? —Repetiu Malcolm com os olhos abertos de surpresa— Como encontrou dois druidas?
—Uma delas é a esposa de meu irmão. A segunda nos encontrou .
—Encontrou-os? Como?
—As árvores disseram —disse Fallon com um sorriso.
Malcolm fez um gesto com a cabeça.
—Surpreendente.
Fallon assentiu.
—Sim, é. Sabe muito sobre nós, Monroe. Se alguma vez Deirdre chegar a pôr a mão sobre você...
—Nunca poria Larena em perigo. Nunca —prometeu. Tinha os olhos entrecerrados e seu rosto ardiam de raiva— Não há nada que Deidre possa fazer que consiga que eu diga uma só palavra.
Fallon tinha suas dúvidas, mas assentiu a Malcolm com a cabeça.
—Espero que tenha razão.
—Tem minha palavra, MacLeod.
—Isso parece.
Malcolm fez uma reverência com a cabeça.
—Cuida dela.
—Farei isso. E Malcolm, se alguma vez necessitar algo, será bem-vindo a meu castelo seja quando for.
—Obrigado.
Fallon o observou partir. Malcolm era um autêntico homem das Highlands. Seu clã deveria estar orgulhoso dele por pôr em risco sua vida para ajudar a Larena. Fallon prometeu a si mesmo que se Malcolm ou o clã dos Monroe alguma vez necessitavam sua ajuda, ele faria o que fosse para ajudá-los.
Sem olhar atrás, Fallon saiu do quarto. Estava preparado para abandonar Edimburgo, ansioso por mostrar seus poderes a Larena.
Tinha descoberto seu poder por pura casualidade. Lucan o chamava leum, a palavra gaélica para «salto». O término enraizou-se e agora todos no castelo o utilizavam.
Fallon ainda não acreditava que pudesse fazer tais coisas. Durante séculos tinha tido uma poderosa ferramenta em suas mãos, mas estava submerso no vinho em lugar de aprender a controlar seu poder. Tinha medo de que chegasse um momento em que precisasse usá-lo e não soubesse como.
Seguiu o atalho que havia nos jardins até chegar ao banco onde estava sentada Larena. Era um lugar isolado, ideal para a partida.
Fallon recordou a primeira vez que tinha saltado. Foi por acidente. Deixou livre ao deus para aprender a não temê-lo tanto. Estava no grande salão e de repente desejou estar abaixo na praia. O que se lembrava depois era estar de pé com os pés metidos na água.
Depois daquilo, tinha dedicado tempo a aprender como controlar o poder a seu desejo. Odiava ter que libertar seu deus para utilizar o poder, mas estava disposto a aprender a utilizá-lo sem ter que converter-se. Convencido que era possível tinha se preparado para consegui-lo.
—Dirá agora por que tínhamos que nos encontrar nos jardins? —Perguntou Larena com um sorriso de boas vindas no rosto.
Dar-se conta que alguém mais dependia dele fez com que Fallon estremecesse. Era próprio nele falhar a todos os que queria? Rogou a Deus que não fosse assim, porque não poderia suportar que Larena o olhasse com decepção.
—Vamos partir daqui. Com meu poder.
Ela arqueou as sobrancelhas.
—Ah, sim? Estou desejando ver esse poder. Do que se trata?
—Meu irmão o chama leum.
—Salto? —Perguntou ela com o cenho franzido.
Ele riu e agarrou a mão dela.
—Não há nada que queira levar contigo?
—Absolutamente nada.
—Então deixa que te mostre o que é leum.
Justo no momento em que Fallon começou a transformar-se para utilizar seu poder, ouviram um wyrran. Ele sacudiu e olhou ao redor para procurar à criatura.
—Outro? —Perguntou Larena.
Fallon apertou a mandíbula.
—Você não pode lutar com esse vestido. Fique aqui. Eu o encontrarei.

***

Larena não gostou que a deixassem atrás, mas sabia que Fallon tinha razão. Voltou-se a sentar no banco e escutou atentamente o wyrran.
Fallon havia dito que ficasse ali, mas ela queria ajudar se podia.
Enquanto estava ali sentada recapitulou tudo o que descobriu sobre Fallon. Nunca havia se sentido tão formosa, tão feliz como quando estava entre seus braços. O contato com suas mãos a fazia sentir como se fosse o centro de seu mundo.
Nem sequer quando admitiu que fosse um alcoólatra produziu nenhuma mudança em seus sentimentos e seu desejo por ele. Estava tentando mudar o que foi e, quem era ela para julgá-lo por tudo o que aconteceu? Descobriu ao estar ao seu lado que já não bebia. Ela podia entender as razões pelas quais tinha começado a fazê-lo, e estava feliz de saber que o tinha deixado.
O amor que sentia por seus irmãos era evidente. Percebia só ao escutar sua voz quando falava deles. Seus irmãos eram o mais importante para ele.
Larena se perguntou se algum dia alguém chegaria a se importar tanto com ela como os irmãos de Fallon para ele. Sabia que havia algo que uniam ela e Fallon, mas duraria? Não tinha resposta para aquela pergunta.
Só o que a preocupava era o que havia dito Fallon a respeito do Pergaminho não tinha nem ideia do perto que estava dele e se perguntava se tiraria o anel dela se soubesse o que havia dentro. Ela não acreditava, mas sabia que o pediria.
E poderia o culpar por fazê-lo?
Não é que ela não compreendesse por que o queria, mas era uma loucura entregar um documento tão importante a Deirdre. Não gostava da ideia que alguém estivesse sob suas mãos, mas não havia nada que merecesse arriscar a que Deirdre conseguisse o Pergaminho.
Tinha que haver outro modo de libertar Quinn e ela o ajudaria a encontrá-lo. O Pergaminho não era uma opção válida e ela tinha que guardá-lo se por acaso Fallon a traía pelo Pergaminho.
Fallon já ganhou seu respeito e não passaria muito tempo mais antes que ela o considerasse imprescindível. Uma vez que isso acontecesse, já não poderia continuar escondendo o Pergaminho dele.
Iria ter que manter-se a distância com ele. Como iria poder suportar vê-lo dia após dia no castelo e não o beijar, e não querer acomodar-se entre seus braços? Iria ser o mais difícil que teria que fazer em sua vida, mas não havia outra opção.
Larena estava preparada para uma nova aventura inclusive se essa aventura significasse abandonar Malcolm e estiver ao lado de um homem que chegou a ter mais importância do que nunca pudesse imaginar. A conexão que havia entre ela e Fallon a assustava porque foi instantânea e muito atrativa para poder resistir.
E ela não podia permitir-se outro engano como o que levou ao assassinato de seu pai.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 11

Castelo MacLeod

Lucan estava em pé junto a sua esposa no pátio enquanto inspecionavam o castelo. Cara pendurava pelas costas o cabelo castanho em uma trança e seus olhos cor mogno o observavam com um sentimento de amor que ele nunca imaginou experimentar.
—Fallon ficará muito contente —disse Cara— Não posso esperar o momento em que veja tudo o que melhorou no castelo.
Lucan observou a nova porta e logo uma das torres recentemente reconstruídas.
—Sim, acredito que ficará satisfeito. Espero que retorne logo.
—Fará —declarou Cara— Não queria partir, assim não acredito que fique em Edimburgo mais tempo que o necessário.
Lucan sorriu. Lembrava-se do momento em que Fallon se ofereceu voluntariamente para ir. Era evidente, pelo modo em que tinha o rosto torcido, que preferia enfrentar todo um exército de Deirdre antes de ir ao castelo do rei, mas Fallon havia dito que era seu dever.
Era fácil adivinhar que Fallon se sentia um inútil no castelo. Enquanto todos eles trabalhavam na reconstrução do que antigamente foi uma esplendorosa estrutura, progrediu muito pouco nas averiguações sobre o Pergaminho ou qualquer detalhe que tivesse a ver com ele.
Lucan ainda custava a acreditar que Fallon tivesse deixado de beber. Não sabia quanto tempo duraria, mas estava feliz de ter de volta a seu irmão.
Agora só tinham que resgatar Quinn.
—Resgataremos —assegurou Cara.
Ele olhou sua esposa e a beijou na testa. Seus poderes como druida tinham crescido desde que Sonya chegou.
—Lendo outra vez a mente?
—Não, meu querido marido —disse com um sorriso— Sei o que está pensando pelo modo em que aperta os lábios. Não trabalhe muito.
Lucan observou como Cara voltava para castelo para continuar trabalhando com Sonya nos feitiços que poderiam ajudar a fazer a dormir aos deuses. Tinha muitas coisas que fazer, mas sua mente estava centrada em seus irmãos. Não podia deixar de preocupar-se com eles.
Quinn era forte, mas era suficientemente duro para lutar com Deirdre? E Fallon... Não saiu do castelo em mais de duzentos anos. Acabava de deixar de beber e ainda estava aprendendo a controlar ao deus que tinha dentro.
Lucan rezava para que seus irmãos pudessem enfrentar com êxito o destino que houvesse em seus caminhos. Os três juntos eram mais fortes pois os três compartilhavam ao mesmo deus. Não gostava de estar separado deles.
Aspirou profundamente o vento do mar.
—Depressa Fallon, por favor, depressa.


Larena se reclinou no banco sobre suas mãos e ficou observando o castelo. Fallon estava fora mais tempo do que ela imaginava. Estaria tendo problemas em encontrar o wyrran?
Justo naquele momento divisou uma daquelas criaturas amarelas perto de seu balcão e a outra no telhado do castelo. Não tinha nem ideia de quais eram suas intenções, mas não podia ficar ali quieta olhando enquanto esperava Fallon.
Larena ficou em pé de um salto e saiu correndo em direção ao castelo para seu quarto. Mas quando abriu a porta não havia nenhum wyrran à vista. Escutou atentamente os sons do castelo, esperando ouvir os gritos de terror que ouviu a noite passada, mas não ouviu nada.
Onde se tinham metido os wyrran?
Um som em seu balcão chamou sua atenção. Ao ver os dois guerreiros, seu coração parou no peito.
Olhou o guerreiro de um azul tão escuro que parecia quase negro. Tinha asas recolhidas contra as costas que sobressaíam por cima da cabeça. Mantinha seu olhar quieto sobre ela enquanto entrava no quarto como se tivesse todo o direito a estar ali. Nenhum guerreiro usava túnica nem sapatos, só umas largas calças que penduravam de seus quadris.
—Fora daqui. — Estava orgulhosa de ouvir sua voz que foi tão firme e imponente como se não se importasse em ver os guerreiros. Não sabia por que estavam ali, mas não libertaria a sua deusa até que não tivesse mais remédio que fazê-lo.
—Isso é algo que não podemos fazer —repôs o segundo guerreiro, com uma pele verde pálido e um cabelo negro e curto— Afinal, viemos por você.
Larena sabia que a porta para a liberdade estava a uns quinze passos às suas costas. Não poderia chegar antes que os guerreiros se equilibrassem sobre ela, assim que o fato de escapar não era uma possibilidade.
Em lugar disso decidiu fazer como quem não entendia nada.
—Acaso são estes os novos disfarces para um baile de máscaras que tenha ordenado o rei? Têm um aspecto realmente aterrador. Meu irmão não aprovaria que houvesse um homem em meu quarto e muito menos dois.
Os pálidos lábios do guerreiro verde se voltaram quase negros sobre suas presas quando começou a gritar:
—Não se faça de tola conosco, Larena Monroe. Sabe exatamente o que somos.
—Bem. —Ela deixou de fingir— Por que vieram?
—Como já disse, estamos aqui por você. Deirdre está desejando te conhecer.
—Deirdre nunca soube que minha existência. Por que está agora tão interessada em mim?
O guerreiro verde pálido jogou atrás a cabeça e começou a rir enquanto o guerreiro azul inclinava a cabeça a um lado, com o cabelo loiro e longo caindo sobre o rosto. Seu olhar enquanto a examinava era intenso. Larena não sabia a qual temer mais, se ao tranquilo com asas ou ao exasperado.
Foi o guerreiro verde pálido que respondeu.
—Está interessada em você porque é uma guerreira. Já viu, o wyrran que matou outro dia não era o único que havia no castelo.
Larena sentiu um nó no estômago ao escutar aquilo. O suor começou a brotar por todos os poros de sua pele e as palmas das mãos gelaram. Se tivesse ficado com Fallon, não estaria metida nesta confusão.
Cedo ou tarde a encontrariam.
—Por que Deirdre enviou os wyrran aqui? —Perguntou.
—Um espião disse que Fallon tinha vindo —respondeu o guerreiro alado.
Respirou profundamente para tentar tranquilizar-se e arqueou uma sobrancelha.
—Não tenho o mínimo interesse em partir com nenhum de vocês dois. Agradeça a Deirdre pelo convite, mas vou ter que recusar.
Larena jurou ter visto uma espécie de sorriso no rosto do guerreiro com asas, mas desapareceu tão rapidamente que não podia estar segura. Tal e como esperava, o guerreiro verde foi o que atacou.
Ela esperou até que esteve quase sobre ela antes de libertar sua deusa. Permitiu-se sorrir abertamente quando viu a expressão de desconcerto no rosto do guerreiro antes que se lançasse sobre ele.
Robena fez bem seu trabalho. Larena sabia como proteger-se, mas parte daquela defesa consistia em esconder-se. Agora que Deirdre descobriu que existia, Larena teria que lutar contra um guerreiro atrás de outro.
Se conseguisse escapar.
Queria gritar e chamar Fallon, mas embora o fizesse, ele nunca a ouviria. Malcolm estava no quarto do lado, mas não podia arriscar-se a que chegasse ao quarto e acabasse ferido ou, ainda pior, morto.
Larena cravou suas garras nas costas do guerreiro verde e fez uma ferida nele até a cintura. O guerreiro uivou de dor e lançou um murro que foi direto no rosto dela antes inclusive que ela pudesse fazer-se invisível.
Ela retrocedeu cambaleando, pontos negros apareceram ante seus olhos. Algo rasgou primeiro um braço e logo o outro. Não precisava olhar para saber que o guerreiro tinha utilizado suas garras para atacá-la. O sangue começou a brotar de suas feridas, deslizando por seus braços e caindo ao chão.
Não importava as vezes que tentava clarear a vista, não conseguia. O golpe a tinha deixado aturdida. Não podia pensar claramente, e se não conseguia pensar com claridade, não poderia sair daquela situação.
Larena podia sentir que o guerreiro estava perto. Fechou os olhos para fazer que o cômodo deixasse de dar voltas e lançou um chute no ar. Pôde ouvir um golpe seco e um alarido que a fizeram saber que o golpe fez que o guerreiro perdesse o equilíbrio.
—Não complique mais as coisas — disse alguém ao seu ouvido.
O guerreiro azul escuro. Tinha deixado que o outro enfrentasse a ela. Por que?
—Não irei a nenhuma parte.
—Não tem outra opção — replicou.
Ela sacudiu a cabeça e se separou de seus braços. Abriu os olhos e viu que o quarto inteiro dava voltas. Tropeçou com seus próprios pés enquanto tentava dirigir-se ao balcão. Saltaria dali se fosse necessário, tudo para escapar.
Antes de poder chegar ao balcão, o guerreiro verde pálido deu um grito e a agarrou por um tornozelo. Larena pôde recuperar o equilíbrio bem a tempo. Levantou a perna e deu um chute na cara. De repente, ele estava em pé, com os lábios abertos em um sorriso que deixava à vista suas presas.
—Pagará por isso —grunhiu.
Viu como suas garras se dirigiam para ela, e embora tentasse afastar-se, não foi o suficientemente rápida. Larena soltou um alarido de dor quando aquelas garras se cravaram no seu lado direito.
Como guerreira, logo cicatrizaria, mas sempre doía quando se feria. Tinha os braços intumescidos pelos arranhões, mas nada comparável ao fogo que sentia no lado. Ela cobriu a ferida com as mãos; sentia o sangue brotar espessa e rapidamente entre seus dedos.
—Que demônios tem feito? —Repreendeu o guerreiro alado ao outro.
O guerreiro verde pálido encolheu de ombros e olhou a garra esquerda.
—Não deveria ter me golpeado na cara.
—Como se atreveste? —Falava entre dentes, as presas o cortavam nos lábios— Deirdre arrancará sua cabeça.
O outro riu e partiu para o balcão. Sem olhar atrás saltou pelo corrimão.
Larena cambaleou e caiu enquanto centenas de luzes de cores nublavam sua vista. Aproximou-se das pernas da cama para reclinar-se e voltar a ficar em pé. O sangramento já deveria estar menos abundante, e a dor deveria haver quase desparecido. Olhou o lado ferido e viu que o sangue brotava com tanta força que deixou escapar um gemido.
—Sinto muito.
Levantou a cabeça para observar o guerreiro alado.
—O que me fez?
—Banhou suas garras em sangue de drough. Suas feridas não cicatrizarão, Larena. Tem que encontrar ajuda, encontrar Fallon. Deve deter o sangrado antes que seja muito tarde.
Quanto mais tempo se mantinha em pé, mais fraca se sentia. Deixou-se cair no banco que havia aos pés de sua cama.
—Por que me ajuda?
—Deirdre a quer viva. Não estou disposto a deixar que me arranquem a cabeça do corpo por culpa de um completo estúpido.
Antes de poder fazer qualquer outra pergunta, partiu. Ela se concentrou em continuar respirando. Chamou varias vezes ao Malcolm, mas o som de sua voz não era o suficientemente forte para chegar ao quarto do lado.
Não estava certa de quanto tempo passou quando começou a escutar os golpes em sua porta. Estava tombada sobre o banco toda coberta de sangue. A dor da ferida pulverizou-se por todo o corpo e cada pulsado de seu coração era como se lançassem fogo pelas veias.
A porta se abriu de par em par e de repente Malcolm estava de joelhos ante ela.
—Meu deus, Larena! O que aconteceu? Por que não está cicatrizando?
Ela passou a língua pelos lábios.
—Não... Não há tempo. Fallon.
—Irei a ele. —Malcolm a beijou na testa e saiu correndo do quarto.
Larena tentava manter-se consciente para explicar a Fallon o que acontecia na sua ferida, mas o destino jogava contra. Perdeu a consciência imediatamente.

***

Fallon virou depois de ter matado um wyrran para encontrar-se com três mais o esperando. Quando começou a correr atrás destes, viu mais subindo pela parede do castelo.
—O que está acontecendo? —Sussurrou para si mesmo.
Conseguiu alcançar dois dos três wyrran que estava perseguindo sem problemas, agarrou-lhes as cabeças e as estampou uma contra a outra. Com a força que tinha, aquilo os matou imediatamente. Por muito que queria ir ao terceiro, tinha que desfazer-se dos três que já havia matado.
Fallon agarrou ambos os wyrran pelos pés e foi atrás do outro que matou primeiro. Foi enquanto retornava do bosque que viu Malcolm correndo para ele.
Malcolm o agarrou pelos braços, com os olhos azuis muito abertos, e o olhou com desespero:
—Graças a Deus, por fim te encontro. Estive procurando-o por toda parte.
Foi então quando Fallon se deu conta das manchas de sangue sobre seu colete.
—O que aconteceu?
—É Larena. Tem que vir comigo imediatamente. Está ferida, Fallon.
Fallon não disse nada mais e seguiu Malcolm. Mantinham um passo mais lento do que queria Fallon, mas ao ver que Malcolm não deixava de olhar a seu redor, Fallon compreendeu que algo horrível aconteceu.
Enquanto subiam as escadas para o quarto de Larena, uma faxineira passou por seu lado correndo com lágrimas nos olhos. Um instante depois, duas damas desceram as escadas cobrindo a boca com as mãos enquanto murmuravam.
O peito de Fallon se esticou. Larena era uma guerreira, o que significava que seu corpo podia cicatrizar muito rapidamente. Não havia nada que pudesse matá-la, exceto lhe cortar a cabeça.
—Malcolm?
—Ainda não —respondeu o jovem.
Chegaram ao piso superior e giraram pelo corredor para dirigir-se ao quarto de Larena e então Fallon viu a multidão. Gente, senhores, senhoras e serventes se amontoavam diante da porta do quarto de Larena.
—Nos deixem passar! —A voz de Malcolm se elevou por cima dos murmúrios.
A multidão se abriu. Fallon olhou a um par de pessoas enquanto seguia Malcolm e entrava no quarto. E de repente parou em seco.
Larena estava sobre o banco que havia aos pés de sua cama, deitada e coberta de sangue. Havia um homem ajoelhado junto a ela que lhe pôs um dedo diante do nariz. Fallon não podia respirar. Sua vista nublou e as vozes a seu redor desapareceram como se estivesse em um túnel. Foi o contato de uma mão sobre seu braço que o fez voltar a si.
Os trementes dedos de Malcolm agarraram seu braço.
—Um homem a atacou —informou Malcolm ao médico que se levantava do lado de Larena.
—Puderam vê-lo, meu senhor?
Malcolm tragou saliva e olhou a Larena.
—Tinha o cabelo negro. Saiu me dando um empurrão quando eu entrava. Não pude lhe ver bem o rosto.
—Informarei da morte. Meus mais sentidos pêsames, meu senhor. A senhora Larena era uma mulher formosa. Querem que leve o corpo?
—Não —respondeu Malcolm um pouco hostil.
Fallon desceu a cabeça mas não podia afastar os olhos de Larena. Ficou a um lado enquanto as pessoas saiam do quarto. Malcolm fechou a porta passando o fecho antes de girar-se para o Fallon.
—Tem que ajudá-la —disse Malcolm.
Fallon deteve Malcolm pelo braço e passou por seu lado para aproximar-se de Larena.
—O que aconteceu?
—Atacaram-na. Não sei nem quem, nem o que, mas todo esse sangue é dela.
Fallon sentiu uma pontada no estômago. Correu para Larena e levantou a cabeça dela. Pôs o rosto junto a seu nariz e esperou ver se respirava. Era apenas perceptível, tão fraco que parecia que não respirava.
—Não está morta, pelo menos ainda não —disse a Malcolm— Conte-me tudo.
Malcolm se apoiou contra a cama e esclareceu voz.
—Entrei e a encontrei tal e como está. O sangue não parava de brotar entre os dedos enquanto mantinha a mão apertada contra a ferida. Perguntei o que tinha acontecido e me disse que não havia tempo. Logo disse seu nome. E eu saí imediatamente para te buscar.
—Disse a alguém? —Fallon deixou que uma de suas garras se estendesse e abriu o vestido. Tirou-lhe toda a roupa menos a combinação. Tudo estava empapado em sangue. Encontrou a ferida e rompeu o último objeto para poder vê-la melhor.
—Não, a ninguém —respondeu Malcolm— Uma faxineira deve ter vindo e a terá encontrado.
Fallon viu que tinha cinco cortes no lado e soltou uma maldição.
Malcolm se aproximou para observar.
—O que é isso?
—Não foi nenhum homem, Malcolm. Um guerreiro esteve aqui. Isso é o que a atacou.
—Meu deus! —Malcolm se aproximou de novo à cama e se deixou cair— Como? Por que?
—Espero que Larena nos possa dizer isso. Um suor frio cobriu a pele de Fallon. Não podia recordar estar tão assustado. Tinha sido um estúpido ao pensar que não teria que preocupar-se com a morte de Larena, que não teria que preocupar como Lucan preocupava a cada dia. Que idiota tinha sido! Nesse mesmo instante estava morrendo em seus braços.
Queria gritar de dor, mas mais que isso, queria encontrar ao guerreiro que se atreveu a lhe fazer aquilo e lhe cortar o pescoço de lado a lado. Agarrou o vestido de Larena e arrancou uma parte de tecido para colocar na ferida e fazer que cessasse de sangrar.
Com a ajuda de Malcolm, tiraram os aros da parte de debaixo das saias para que fosse mais fácil transportá-la.
Fallon passou um braço por debaixo dos ombros de Larena e a estreitou contra ele.
—Larena? Pode me ouvir?
Havia tornado a falhar a alguém tão rápido? Estava tentando converter-se no homem que seu pai queria que fosse, mas tudo saía rápido.
Ao ver que Larena não respondia, Fallon a sacudiu ligeiramente. Não podia suportar não saber o que tinha acontecido ou por que o guerreiro a atacou em lugar de atacá-lo. Tinham sido os wyrran uma distração para assim poderem capturar Larena? Aquilo tinha sentido e o enfureceu como nunca se enfureceu.
—Alguma vez esteve ferida como agora? —perguntou, e levantou o olhar para ver Malcolm com os olhos cobertos em lágrimas.
—Sim —declarou Malcolm ao cabo de um momento— Sempre chega ferida.
—Têm que ter feito algo. É a única razão pela qual não tenha cicatrizado já. Não posso ajudá-la, não aqui, mas as druidas de meu castelo sim podem.
Malcolm ficou em pé.
—Leve-a agora mesmo. Já me ocuparei de tudo aqui.
—Necessito algo para cobri-la.
Malcolm se levantou e retornou ao cabo de um instante com uma capa nas mãos. Entre ambos cobriram Larena com ela e logo Fallon a agarrou em seus braços. A cabeça caiu sobre os ombros e tentou abrir as pálpebras.
—Larena —disse— Pode me ouvir?
—Fallon —murmurou.
—Sim, estou aqui. O que passou?
—Um... Guerreiro.
Fallon apertou a mandíbula.
—Queria te matar?
Ela moveu a cabeça.
—De... De...
—Deirdre? —terminou de dizer ele.
Ela abriu os olhos e assentiu uma só vez.
—Por Deus! —Amaldiçoou Malcolm— Como? Como o soube?
Fallon sacudiu a cabeça.
—Deirdre é muito poderosa. Pode ter descoberto Larena de mil maneiras.
—Saiam daqui agora mesmo —ordenou Malcolm— Eu vigiarei o corredor.
—Não é preciso. —Fallon se dirigiu ao balcão— Tenho outro modo.
Fallon havia transportado a si mesmo muitas vezes desde que descobriu que podia fazê-lo, mas nunca o tentou com outra pessoa. Olhou aos jardins e encontrou um lugar isolado entre os arbustos. Um instante depois já tinha libertado seu deus e estavam nos jardins. Larena havia tornado a desvanecer e ele temia que esta vez já não voltasse a despertar.
Não podia perder tempo fazendo pequenos saltos. Tinha que chegar ao castelo imediatamente. Abraçou com força Larena e se concentrou em seu castelo e no pátio. Custaria um grande esforço, mas iria conseguir chegar até seu castelo. Não tinha nenhuma outra opção.
Todos seus poderes formaram redemoinhos a seu redor fazendo que a terra sob seus pés tremesse. O braço de Larena deslizou morto e a cabeça caiu para trás, deixando seu pescoço a descoberto.
—Não! —Gritou Fallon então.

 

 

CAPÍTULO 12


Lucan escutou o grito do grande salão. Conhecia a voz de seu irmão tão bem como a sua própria. Lucan ficou em pé imediatamente e correu para o pátio, onde encontrou Fallon ajoelhado com uma mulher entre os braços.
—Por todos os deuses! —Exclamou Cara quando se uniu a Lucan na porta— Está coberta de sangue.
Lucan desceu as escadas de um salto e correu para seu irmão. Fallon não deixava de sussurrar algo à mulher.
—Fallon —disse Lucan lentamente. Nunca tinha visto seu irmão tão... Perdido. Lucan levantou a cabeça e encontrou com Galen e Ramsey a seu lado. Acontecesse o que acontecesse com aquela mulher, tinham que tirá-la dos braços de Fallon para poderem ajudá-la — Fallon, me olhe. Fallon!
Ao fim, seu irmão levantou o olhar, seus escuros olhos verdes estavam cobertos por uma profunda dor.
—Não pude salvá-la, Lucan.
—Se afaste daí —disse Sonya enquanto abria passo entre os homens. Aproximou-se para tocar à mulher, mas Fallon a afastou a um lado.
—Deixe-me ver se posso ajudá-la, Fallon. Não farei nenhum dano.
Seu rosto era uma careta de dor quando deixou que Sonya pusesse suas mãos sobre Larena.
—Chama-se Larena Monroe. É uma guerreira. Outro guerreiro a atacou, mas não sei por que não pode cicatrizar suas feridas.
Lucan deu um passo atrás ao ouvir as palavras de seu irmão. Uma guerreira? Seu olhar se voltou para Galen, interrogante. Galen encolheu os ombros como resposta. Lucan pensava que só os homens eram guerreiros. Mas fosse quem fosse essa Larena, seu irmão se preocupava com ela muitíssimo. Só por isso, Lucan se asseguraria de fazer o que fosse necessário para salvá-la.
Sonya tirou uma adaga que levava na bota e cortou a parte de tecido que cobria a ferida de Larena. Inclinou-se e observou o tecido antes de se levantar novamente.
—Sangue de drough.
—O que? —Perguntou Fallon antes que alguém mais pudesse fazê-lo.
Sonya suspirou e tocou na testa de Larena.
—O guerreiro deve ter molhado suas garras em sangue de drough. O sangue de drough é veneno para os guerreiros.
—OH, meu deus! —O rosto de Fallon perdeu toda a cor— Está...?
—Ainda não —disse Sonya— mas temos que ter pressa. Perdeu muito sangue e se não fizermos algo rápido, nos deixará para sempre.
Fallon não soltou à mulher em nenhum momento enquanto se levantava. Lucan tentou ajudá-lo, mas seu irmão sacudiu negativamente a cabeça.
—Não. Vou levá-la a meu quarto. Faça com que Sonya vá ali.
E de repente Fallon tinha desaparecido utilizando seu poder para saltar a seu quarto.
Durante um momento ninguém disse nada. Lucan tragou saliva e se dirigiu ao castelo. O olhar perdido nos olhos de seu irmão mais velho era algo que nunca tinha visto antes e o deixou profundamente preocupado.
—Uma mulher guerreira —murmurou Cara.
Lucan olhou a sua mulher.
—Não tinha nem ideia de que isso fosse possível.
—Deirdre a quererá entre os seus —opinou Galen.
Ramsey assentiu.
—Deirdre não se deterá ante nada por tê-la sob seu poder. O que não entendo é por que um guerreiro tentaria matar Larena. Todos sabemos que Deirdre mandaria o guerreiro atrás de Larena, mas não para fazer dano.
—Isso é verdade —declarou Lucan — Nunca teremos as respostas a não ser que Sonya consiga um milagre e salve à mulher.
Cara se inclinou e o beijou no rosto.
—Vou ajudar. Tenho o pressentimento de que Sonya vai necessitar. E Fallon necessitará de você a seu lado.
Lucan esperou até que Cara esteve dentro do castelo antes de girar-se para os outros dois guerreiros, Galen e Ramsey.
—Vão procurar aos outros. Expliquem sobre Larena. Têm que estar preparados para caso de ocorrer um ataque muito em breve.
—Eu irei os buscar —disse Galen, e partiu.
Ramsey cruzou os braços sobre seu peito, com os olhos cinzas passando do castelo à porta de entrada.
—O que acontece? —Perguntou Lucan.
—Tenho um sentimento estranho —foi tudo o que disse Ramsey— Vá com seu irmão, Lucan. Eu vigiarei a zona.
—Não vá sozinho. —Esperou até que Ramsey levantasse uma mão em resposta antes de tomar as escadas e subir de três em três degraus para o quarto de Fallon.
Seu lar tinha estado vazio sem seus irmãos, inclusive com os outros guerreiros e a outra druida. Gostava de saber que Fallon tinha voltado. Logo se lembrou do olhar de Fallon quando entrou no pátio.
Fallon tinha o mesmo aspecto que Lucan imaginava que teria se estivesse agarrando ao corpo sem vida de Cara entre os braços. Um calafrio percorreu seu corpo. Fallon estava superando ainda sua afeição ao vinho. O que lhe aconteceria agora se aquela mulher morresse?

***

Ramsey foi andando do castelo até a aldeia arrasada com os olhos fixos no céu. Tinha estado esperando que uma mensagem ou, inclusive melhor, um mensageiro tivessem chegado já a esta altura.
Queria saber qual era o próximo plano de Deirdre e não podia sabê-lo sem o espião que tinha dentro da montanha.
Com cada dia que passava, Ramsey se preocupava mais ainda de que seu amigo tivesse sido descoberto. Enquanto estavam encadeados juntos na montanha de Deirdre, fizeram o pacto de que um dos dois partiria e o outro ficaria de espião.
O plano estava funcionando durante mais de cem anos, mas quanto tempo mais poderiam continuar enganando Deirdre antes que os descobrisse?
E pior ainda, Ramsey sabia que seu amigo não sobreviveria quando Deirdre conhecesse sua traição. E seu amigo era um bom homem.
Soltou uma maldição. Deveria ter sido ele que ficasse naquela montanha. Tinha sabido então e sabia agora. Parecia que cada vez eram mais escassas as vezes que via seu amigo e sempre existia a dúvida em sua mente de que ele teria mudado de lado e agora o estava espionando.
—Não —sussurrou Ramsey para si Não podia imaginar o homem que chegou a ser mais um irmão que em um amigo lhe fazendo isso.
Esperou meia hora para ver se seu amigo aparecia antes de dar meia volta e apressar-se a chegar ao castelo para ver como ia progredindo Larena.
Fallon tombou Larena em sua cama no quarto principal. Lucan decidiu que fosse de Fallon no momento em que tinham retornado ao castelo, mas este o recusou. O cômodo o recordava muito a seus pais. Entretanto, Lucan insistiu dizendo que, afinal, Fallon era o chefe.
Fallon tratou de tragar saliva enquanto observava a palidez de Larena na cama. Só umas horas antes, ele a tinha estreitado entre seus braços e revelado coisas que nunca antes tinha contado nem a seus irmãos. Tinha feito amor a seu doce corpo e beijado e acariciado sua suave pele. Escutou seus gemidos de prazer quando a encheu com sua semente.
Não pode ter morrido. Por favor, Senhor, não a separe de mim. Não me diga que tornei a falhar.
Observou a ferida e se deu conta que o sangramento se converteu em uma simples destilação, mas, com todo o sangue que havia em sua roupa e em seu quarto do castelo de Edimburgo, surpreendia-se que ainda ficasse algo no corpo.
Abriu-se a porta e entraram Sonya e Cara. Cara ficou em pé a seu lado enquanto Sonya ficou no outro lado da cama.
—Por favor, ajudem —disse Fallon. Estava disposto a suplicar se fosse necessário.
Sonya o olhou nos olhos e assentiu.
—Farei tudo o que esteja em minhas mãos.
Ele rezou para que aquilo fosse o suficiente.
Cara tentou fazer com que se sentasse, mas ao ver que se negava, tomou as mãos dele entre as suas. Fallon queria afastá-la, deveria tê-la afastado, mas necessitava a força que Cara lhe infundia.
Esperou no silêncio do quarto enquanto Sonya examinava as feridas de Larena. A maior parte do tempo Sonya manteve uma expressão passiva, mas Fallon pôde adivinhar algumas caretas. O estômago se revolvia a cada vez. Podia sentir como seu mundo estava voltando a quebrar em pedaços e ele sabia que desta vez não poderia superá-lo.
Com Larena tentou ser o homem que sempre quis ser, tinha deixado o passado de lado e começado a olhar o futuro.
Agora, tudo aquilo estava desvanecendo, como tinha acontecido no dia em que seu clã foi destruído.
A necessidade de beber era tão grande que sacudiu seu corpo inteiro. Mas não deixaria Larena sozinha.
Sonya pôs suas mãos sobre as feridas e fechou os olhos. Um momento depois Cara se uniu a ela. Fallon apoiava em um pé e logo em outro enquanto as duas druidas vertiam sua magia sobre Larena.
Uma eternidade mais tarde, Sonya abriu os olhos e olhou a Fallon. Seu rosto estava marcado pela preocupação e o cansaço de ter utilizado tanta magia. Sonya tirou o suor da testa com o antebraço e suspirou.
—Perdeu muito sangue para que suas feridas possam começar a cicatrizar. Nem toda a magia do mundo poderia ajudá-la agora.
—Então o que poderia ajudá-la? —Perguntou Fallon.
Sonya franziu o cenho.
—Precisa de sangue.
Fallon deu um passo para a cama e levantou a manga da túnica.
—Utiliza o meu.
—E o meu se precisar —ofereceu Lucan às suas costas.
Fallon esquadrinhou por cima do ombro e viu Lucan de pé junto à porta. Seu irmão fez um gesto com a cabeça em sinal de apoio. Fallon devolveu o gesto e logo olhou a Sonya.
—O que está esperando?
—Pode ser que necessitemos de muito.
—Não me importa —disse Fallon— Faça. Cada momento que perdemos discutindo a aproxima um pouco mais à morte. Não posso perdê-la, Sonya.
A druida respirou profundamente e se inclinou para agarrar a adaga que levava na bota quando Lucan deu um passo adiante.
—Deixe que eu faça —disse Lucan enquanto estendia sua garra e a posava sobre o braço de seu irmão.
Fallon olhou seu irmão nos olhos um instante antes que este fizesse um corte no seu braço. O corte foi rápido e profundo. Fallon apertou os dentes e manteve o olhar sobre o rosto de Larena. Aquela pequena dor que estava padecendo valia a pena. O sangue que brotava de sua ferida era escuro e fluía rapidamente. Sonya agarrou o braço para que o sangue fluísse pelas feridas da mulher guerreira.
Não passou muito tempo antes que sua ferida começasse a cicatrizar. Lucan voltou a cortar a carne uma e outra e outra vez. Sonya imobilizou o braço para não perder nenhuma gota do sangue.
O quarto começou a dar voltas e Fallon se balançou sobre seus pés. Lucan estava ali para ajudá-lo a manter-se em pé lhe passando um braço pelas costas.
—Não será suficiente —disse Sonya— Lucan pode ser que necessitemos também do seu.
—Não —disse Fallon. Tentou tragar saliva, mas tinha a boca seca— Meu sangue, só meu sangue.
—Vai acabar te matando— disse Lucan ao ouvido— Seja razoável, Fallon.
Mas Fallon sacudiu a cabeça. Não tinha a força de seu irmão, mas queria que Larena tivesse toda a força que havia em seu sangue por ter deixado que quase a matassem.
—É meu dever protegê-la, Lucan. Só terá meu sangue.
Os joelhos de Fallon cederam antes que pudesse terminar a frase. Lucan o sustentou no ar enquanto Cara ia pegar uma cadeira. Uma vez situada à cadeira debaixo dele, Lucan sentou nela. Fallon se inclinou para a cama e tomou a mão de Larena com a mão que tinha livre.
Olhou a Sonya e viu que ela pegou seu outro braço. Só o que queria fazer era fechar os olhos e dormir, mas aquele era um luxo que teria que esperar ainda.
—Está fechando a ferida —disse a Sonya.
Ela observou as feridas de Larena antes de falar.
—Vejamos se com isto é suficiente antes que volte a te fazer algum corte.
Fallon estava feliz por que Lucan estava ali. Sentiu a falta de seu irmão enquanto esteve fora e tinha muitas coisas que contar. Odiava ter que reconhecer que não completou com seus objetivos enquanto estava em Edimburgo. Entretanto, tinha encontrado Larena.
Ou melhor dizendo, ela o tinha encontrado.
Tentou apertar a mão de Larena, mas as forças o tinham abandonado. Levantou o olhar para seu rosto e viu que estava recuperando a cor, mas mais lentamente do que ele desejava.
—Fallon.
Sentiu a mão de Lucan sobre seu ombro. Sempre era o forte, que se mantinha imperturbável. Deveria ter sido Lucan o primeiro a nascer. Ele saberia que decisões tomar e não teria deixado abandonados a seus irmãos por uma garrafa de vinho.
—Está a ponto de desfalecer você também —disse Lucan enquanto se ajoelhava frente à Fallon— Não vai fazer nenhum bem a Larena se morrer também.
Fallon estava de acordo nesse ponto. Embora quisesse ser o que salvasse Larena, sabia que era egoísta não deixar que Lucan ajudasse.
—Se necessitar mais...?
—Ajudarei em tudo o que posso —prometeu Lucan antes que Fallon pudesse terminar— Sabe, irmão. Nem sequer teria que perguntar.
Mas Fallon tinha que perguntar. Tinha que demonstrar a todo mundo, incluído ele mesmo, mas especialmente a seus irmãos, que era o homem que seu pai queria que fosse. Um líder. Um homem que considerava todas as possibilidades e tomava decisões.
—Estão fechando sua feridas —observou Sonya na quietude do quarto.
Cara agarrou as mãos com força.
—Graças a Deus.
Fallon dobrou o braço ferido sobre seu peito assim que Sonya o soltou. Tudo o que ficava do último corte era uma fina linha rosada que desapareceria em um instante.
Sonya pôs as mãos na testa de Larena e logo moveu os dedos para seu pescoço.
—Baixou a febre e seu coração pulsa com mais força. Acredito que ira se salvar, Fallon.
—Obrigado —disse a druida— Não sei como poderei pagar o que tem feito.
Sonya sorriu e afastou uma mecha de cabelo avermelhado para trás da orelha.
—Deu-me um lar. Isto é o mínimo posso fazer. Cara e eu utilizamos nossa magia para acelerar o processo de cicatrização. Com o sangue que agora há nela devera estar melhor em algumas horas. —Fez uma pausa. Posso fazer algo por você?
Ele moveu a cabeça negativamente. Sonya não podia sarar a ferida que havia em seu interior, a ferida que quase o parte em dois ao ver Larena quase morta. Só o tempo poderia ajudá-lo com isso. O tempo e voltar a ter Larena entre seus braços.
—Como quiser. —Ela agarrou uma parte de tecido e o inundou na água. Escorreu-o e começou a limpar os braços e o rosto de Larena.
Cara se dirigiu para a porta.
—Vou ver se encontro algo que possa pôr nossa nova convidada.
Fallon passou a mão pelo queixo. Embora soubesse que as feridas de Larena estavam sarando, não podia deixar de segurar a mão dela. Estaria a seu lado até que despertasse, até poder ver com seus próprios olhos que iria sobreviver.
—Por todos os deuses! —exclamou Sonya.
Fallon virou a cabeça para olhar a druida.
—O que acontece?
—Seu anel. —Sonya assinalou a mão de Larena.
—O que acontece seu anel? —Perguntou Lucan enquanto ficava em pé— Tem algo especial?
A mão de Sonya tremia ao passar os dedos sobre a branca pedra ovalada.
—Não sabe o que é? —perguntou a Fallon.
Fallon negou com a cabeça.
—Sei que nunca o tira. Leva-o a todas as partes consigo.
—Se foi procurar informação sobre o Pergaminho em Edimburgo. E ela o teve consigo todo o tempo. Deve ser a guardiã.
Fallon passou o olhar de Sonya ao anel. Levantou-se com as pernas trementes e ficou olhando-o fixamente. Viu algo dentro da pedra, como antes.
O coração começou a pulsar com força no peito ao recordar haver dito a Larena que queria o Pergaminho para ajudar a libertar Quinn. Ela soube todo o tempo onde estava e que era real. Fallon se abriu por completo, sua alma, e ela escondeu o que necessitava para salvar seu irmão.
—Como? —Gritou.
—Magia —disse Lucan.
Sonya assentiu.
—Ninguém o buscaria aí.
Fallon sentiu como a traição pesava na alma. Dar-se conta de tudo fez com que lhe desse voltas à cabeça. Precisava sair do quarto e afastar-se dela. Tentou dar volta e levantar-se da cadeira. Teria caído no chão se não tivesse sido por Lucan e seus firmes braços.
—O que acontece? —Perguntou seu irmão.
Fallon não podia explicar o estúpido que tinha sido.
—Me tire daqui. Agora.
Lucan o arrastou e o ajudou a caminhar fora do quarto até o corredor.
—Precisa descansar.
—Sim. —E também necessitava de vinho.
Deus, como necessitava de vinho agora. Sabia que haveria dias que a necessidade o ultrapassaria, mas ao saber o que Larena ocultou, fez que aquela necessidade fosse insuportável. Tragou saliva, tinha a boca mais seca que nunca. O vinho o arrumaria.
Sim, encontra um pouco de vinho. Isso aplacará toda a dor, como antes.
Fallon odiava a si mesmo por sua debilidade. Estava feliz de não encontrar-se sozinho. Se Lucan não estivesse com ele, não poderia manter-se em pé e sabia que teria tentado percorrer todo o castelo em busca de vinho.
—O que aconteceu em Edimburgo? —Perguntou Lucan enquanto abria com o ombro um quarto e entrava.
Fallon caiu na cama e ficou olhando ao teto.
—Muito e não o suficiente.
Apesar de sua traição, deu-se conta a contra gosto de que Larena só estava protegendo o Pergaminho. Não tinha explicado todo seu plano e se tivesse estado no lugar dela, ele tampouco diria sobre o Pergaminho.
Tinha sido um estúpido, um autêntico estúpido. Larena nunca seria dele, não importava o muito que ele a desejasse. E certamente aquilo era para o bem de todos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 13

Deirdre deu golpezinhos com as unhas nas paredes de pedra de sua montanha. Tinha estado esperando impacientemente que James e Broc trouxessem a guerreira.
Sorriu. Uma mulher... Quem podia imaginar que os deuses tivessem escolhido uma mulher? Deirdre certamente não. Perguntava-se se haveria mais guerreiras. Enviaria mensagens a seus espiões imediatamente e faria que começassem a procurar.
Deirdre olhou a sua direita e observou uma das druidas que selecionou para deixá-la com vida. Isla estava em pé, imóvel no canto, tão quieta que podia confundir-se com uma estátua.
A moça e sua irmã eram tão inocentes quando Deirdre as capturou... Isla tinha uns olhos que podiam atravessar uma pessoa, e sua cor, um azul tão pálido que pareciam não ser de nenhuma cor, deixava aos homens sem fala.
Tinha utilizado Isla muitas vezes para fazer que os homens se dobrassem. E para matar a outros. Por outro lado, a irmã de Isla tinha resultado ser muito útil como vidente. Deirdre pensou em enviar Isla a Quinn, mas pensou melhor. Quinn era dela. Não queria nenhuma outra mulher perto dele.
Só o fato de pensar nele fez que o desejo ardesse em seu interior e se umedecesse o sexo entre as pernas. No primeiro instante em que Deirdre tinha visto Quinn, tinha desejado-o. Vislumbrou o ilimitado poder que existia no interior de Quinn, viu a ira que o consumia. Ele era o companheiro perfeito para governar a seu lado e cumprir a profecia.
E ela o convenceria disso.
Deirdre pousou seu rosto sobre as rochas e fechou os olhos.
—Me falem —pediu às pedras.
—Somos tuas. Estamos sob suas ordens.
Relaxou os ombros, não se deu conta de quão tensos estavam. As pedras tinham a capacidade de acalmá-la como nada mais podia fazê-lo.
Essa era uma das razões pela qual nunca abandonava sua montanha. Por que o faria se tinha todo seu reino a seu redor?
—Vêm os guerreiros com as mãos vazias.
Deirdre se separou das pedras e ficou olhando fixamente à entrada. Esta era a segunda vez que seus guerreiros retornavam sem sua presa. Primeiro foi Cara, e agora Larena Monroe.
O alto e esbelto corpo de James apareceu na porta. Deteve-se e lhe fez uma reverência com a cabeça antes de ficar sob a luz. As velas do abajur de aranha que pendurava do teto derramavam sua luz dourada sobre a pálida pele verde do guerreiro.
—Onde está? —perguntou Deirdre.
—Pergunte ao James —sugeriu Broc entrando no cômodo.
Deirdre desviou o olhar para o guerreiro de pele azulada. Desejava acariciar suas asas enquanto seu membro a penetrava. Pode ser que essa mesma noite o tivesse em sua cama.
—Me diga —pediu a James.
—Ela se defendeu.
Deirdre arqueou uma sobrancelha.
—Acreditava que não o faria? Eu disse que era uma guerreira. Acaso não se transformou diante de vocês?
James encolheu os ombros indiferente.
—É rápida.
Deirdre soltou um sonoro suspiro e virou para Broc.
—Me diga o que aconteceu.
—James a feriu com suas garras que tinha molhado em sangue de drough.
A ira a consumia. Como podia ter sido tão estúpido James? Deirdre levantou a mão, a magia crepitava a seu redor, e lançou James contra as rochas com toda a força de seu poder. Ninguém sabia exatamente que tipo de magia negra possuía. E pode ser que aquele fosse o momento de descobrir.
—Amarre-o! —ordenou à montanha
James começou a gritar enquanto as rochas se moviam para encadear os braços, as pernas e a cabeça. Quando já estava imóvel, Deirdre se aproximou dele. Estava pendurando a uns centímetros do chão e seguia tentando se libertar do abraço das rochas.
—Só poderá se libertar se Larena viver. Se morrer, James, a tortura que o espera durará séculos.
O guerreiro tragou saliva e baixou os olhos ao chão. Deirdre deu meia volta e tratou de acalmar sua ira. Os guerreiros eram dela porque não podiam controlar a ira que havia em seu interior e essa raiva às vezes fazia que não pudessem conseguir o que queria.
—Broc, onde está Larena agora?
O guerreiro alado encolheu os ombros e cruzou os braços sobre o peito.
—Sabemos que Larena e Fallon estiveram um tempo juntos. Existe a possibilidade de que a levasse a seu castelo.
—Averigue —requereu— Preciso saber se Larena está viva. Necessito dela em meu exército, Broc. Entendeu?
Ele fez uma reverência com a cabeça.
—Sim, minha senhora. Partirei imediatamente.
Broc deixou Deirdre, mas em lugar de tomar as escadas da direita, virou à esquerda e seguiu adiante pelo longo corredor antes de encontrar-se com outras escadas que desciam para a escuridão. Uma vez tentou contar os degraus, mas o deixou ao chegar aos quatrocentos. Broc não tinha certeza até que profundidade desciam as escadas, mas sabia que eram vários quilômetros clandestinamente.
Deteve-se quando chegou ao final e escutou. Havia uma multidão de pequenas celas separadas por barrotes[8]. Aquela era uma das masmorras de Deirdre. Aquele era o lugar onde encerrava aos homens para que se dobrassem. Nenhum dos que entrava naquela escuridão saía do mesmo jeito.
Broc ouviu os lúgubres gritos de uma mulher e moveu os ombros, suas asas se abriram de par em par. Druidas, supôs. Nunca tinha entendido como Deirdre continuava encontrando-os, mas assim era. Era sua magia negra e sua relação com o diabo, com certeza. Entretanto, parte dele perguntava a si mesmo se os rumores sobre Deirdre ser uma vidente eram certos.
Todos os druidas lutavam contra ela, mas no final, Deirdre sempre ganhava. Igual com Isla. Aquela diminuta druida de cabelos negros era simplesmente outra das marionetes de Deirdre. Mas afinal, todos eles eram.
Os homens nas celas eram ou druidas ou homens que ela pensava que podiam converter-se em guerreiros. Só havia um que já era um guerreiro.
Broc virou à direita e continuou caminhando pelo passadiço. Nenhum dos prisioneiros se aproximou dos barrotes. Mantinham-se na escuridão, mas Broc podia sentir seus olhos posados sobre ele, podia sentir seu ódio para ele ser o que era.
Ele sabia muito bem o que era sentir ódio e repugnância.
Quase na metade do caminho encontrou o que estava procurando. Quinn MacLeod. O guerreiro se negava a transformar-se para Deirdre. Ela o tinha golpeado uma e outra vez e o encadeou contra a parede. As cadeias o mantinham no ar, e se Quinn não podia tocar o chão, era mais que certo que seus braços e seus ombros o queimaria de dor.
—O que quer? —Perguntou uma voz apagada da escuridão.
O penetrante olhar de Broc se encontrou com os olhos de Quinn na escuridão. O guerreiro tinha sangue lhe gotejando pelo rosto, caía-lhe de um corte que tinha na testa. Parecia como se tivesse um dos braços desencaixados e uma perna quebrada.
—Fizeram um bom trabalho contigo —comentou Broc.
Quinn soltou uma gargalhada.
—Veio para continuar com o trabalho?
—Esta vez não, embora esteja convencido de que Deirdre logo me enviará de volta.
—Então, o que quer? —A voz de Quinn gotejava ressentimento.
Broc se perguntou o perto que estaria Quinn de transformar-se. Todos sabiam que a ira de Quinn podia com ele durante trezentos anos até tal ponto que não foi capaz de controlar a seu deus. Entretanto, agora, no cárcere de Deirdre, mantinha esse ódio sob controle, para o desespero de sua carcereira.
—Acredita que vai poder continuar resistindo a ela?
Quinn abriu as aletas[9] do nariz enquanto observava Broc.
—Posso e farei.
Broc ficou observando ao guerreiro um instante mais.
—É possível que possa, MacLeod, é possível.


CAPÍTULO 14

Fallon despertou com uma dor no peito como nunca havia sentido antes, e não era por nenhuma ferida. Era pela traição. Nem sequer podia alegrar-se por estar de novo em casa. De algum modo tinha conseguido dormir sobrepondo-se à necessidade de vinho que sentia em seu interior.
Sentou-se e deixou cair às pernas ao lado da cama, segurava a cabeça com as mãos. Sentia uma dor aguda na cabeça que não tinha nada haver com o vinho, embora desejasse que assim fosse.
A escuridão do quarto revelou que era de noite, mas não sabia quanto tempo tinha estado dormindo. Seu extremo cansaço e a perda de sangue o tinham conduzido a um profundo sono apesar do fato de que sua mente não pudesse deixar de pensar em Larena e o que tinha escondido.
Esfregou o peito perguntando-se por que doía tanto. Quanto mais pensava em Larena, mais forte era a dor.
Não é que ele não entendesse a razão pela qual não havia dito nada. O que lhe doía era que ela não acreditou o suficiente nele, nem sequer para lhe dizer que o tinha. Acaso pensaria que iria tirá-lo dela. Deveria conhecê-lo o melhor que isso.
Só estivemos juntos algumas horas.
Fallon suspirou. Parecia como se conhecesse Larena fazia séculos em lugar de horas. Ela havia acreditado nele o bastante para mostrar que era uma guerreira, mas aparentemente não o suficiente para falar do Pergaminho.
Assim era tudo em sua vida. Nunca nada era suficiente.
Levantou-se. Estava cansado de sentir pena de si mesmo. Sua auto compaixão o tinha mantido em pé durante trezentos anos. Já não permitiria nunca mais que seguisse governando sua vida.
Escutou como batiam na porta brandamente antes que Cara a abrisse e aparecesse a cabeça. Ela sorriu ao vê-lo em pé.
—Lucan estava preocupado com você —revelou enquanto terminava de abrir a porta.
—Quanto tempo estive dormindo?
—Algumas horas. Consegui deixar à parte um prato com comida para você apesar de Galen tentar devorá-lo.
Fallon se deu conta que estava tentando sorrir.
—Imagino que Galen está acabando com todas as provisões do castelo.
—Quase —disse Cara em uma gargalhada— Seu apetite parece não ter fim. Faço duas barras de pão extra ao dia só para ele. Ao meio dia, já desapareceram.
Fallon observou a sua cunhada.
—Como foram as coisas?
—Tudo foi muito bem. Lucan esta muito cansado, mais do que está disposto a reconhecer, mas eu o noto. Durante um par de dias esteve completamente perdido sem você e nem Quinn a seu lado, mas soube continuar adiante.
—Com sua ajuda.
Cara encolheu os ombros.
—Eu faço tudo o que posso, mas Lucam é muito orgulhoso. Todos nos alegramos de que tenha voltado.
—Não consegui nada. O rei não estava em Edimburgo. Prefere governar a Escócia de seu palácio em Londres. No que se converteu nosso país?
Ela se aproximou dele e lhe pôs uma mão sobre o braço.
—O mundo muda constantemente, Fallon. Você e seus irmãos não o viram como eu vi. Custara tempo acostumar a tudo isto.
—Temo que algum dia a Escócia se abandone por completo às mãos da Inglaterra.
—Não enquanto haja homens como você e como Lucan.
Fallon rodeou Cara com os braços e a abraçou.
—Obrigado por tudo, mas especialmente, obrigado por amar a meu irmão.
—Ela levantou a cabeça e o beijou no rosto.
—Amar a Lucan é a parte fácil. —Ela se separou de seus braços e se dirigiu para a porta— Vai descer?
—Sim.
—Por certo, ela está muito melhor, mas ainda não despertou.
Fallon assentiu antes que Cara saísse do quarto. Queria saber como ia a recuperação de Larena, mas não se atreveu a perguntar. Como era habitual, sua cunhada tinha sido capaz de ler sua mente.
Não se surpreendeu ao encontrar sua túnica e suas calças em cima da cama. Lucan o conhecia muito bem. Fallon trocou o kilt escocês e se dirigiu para o salão.
Deteve-se ante as escadas que levavam ao salão e deu uma olhada geral. Lucan tinha feito uma mesa maior. A outra ainda estava no salão e um guerreiro loiro estava ali sentado. Hayden estava sentado com ambas às pernas estiradas ante ele ocupando todo o banco.
—Fallon —disse Logan, enquanto saía da cozinha e se sentava no banco justo em frente de Hayden.
Fallon saudou o guerreiro mais jovem do grupo. O cabelo castanho de Logan estava úmido, como se acabasse de tomar um banho.
—Por fim —disse Lucan, enquanto fazia um gesto a Fallon— Cara pôde afastar um pouco a comida do insaciável estômago de Galen.
Fallon desceu os degraus enquanto os homens brincavam sobre Galen. Deteve-se na cabeceira da mesa, onde havia uma cadeira vazia. Sua cadeira. A sua esquerda havia outro lugar vazio onde deveria estar Quinn. Olhou a sua direita onde estava sentado Lucan.
Ao lado de Lucan estava Cara. Do outro lado de Cara estava Galen Shaw. Seus escuros olhos azuis se encontraram com os de Fallon enquanto fazia um gesto com a cabeça. Diante de Galen estava Ramsey MacDonald. Ramsey era homem de poucas palavras, mas sua aguda perspicácia era útil.
Ramsey ofereceu a Fallon um amável sorriso de boas vindas, entreabrindo seus olhos cinzas. Ao lado de Ramsey estava Sonya, a druida de cabelo vermelho que chegou ao castelo fazia só umas semanas. Logo Fallon saudou com a cabeça Hayden e ao Logan, que estavam sentados na outra mesa, antes de sentar-se.
—Já vejo que tem feito uma mesa maior —comentou Fallon a seu irmão. Fez muitas coisas enquanto ele tinha estado fora e estava ansioso por ver todos os avanços que se realizaram no castelo.
Lucan riu e observou Hayden e ao Logan.
—Há suficiente espaço na mesa para esses dois também, mas preferem comer sozinhos.
—Não poderia deixar Hayden comer sozinho —respondeu Logan— Além disso, passaria mais tempo protegendo minha comida das garras de Galen que come demais.
Todos romperam a rir. Fallon observou Hayden. O grande guerreiro loiro sentia tal ódio pelos drough que inclusive ameaçou matar Cara apesar de que ela nunca se submeteu ao ritual de sangue que a converteria em drough. Hayden e Cara se mantinham afastados um do outro, mas todos sabiam que chegaria um dia em que aconteceria algo.
Fallon esperou até que finalizaram as brincadeiras antes de falar.
—Suponho que a esta altura já sabem todos sobre Larena.
—Eu o disse —respondeu Galen.
Hayden apoiou um cotovelo sobre a mesa.
—É realmente uma guerreira? Viu-a transformar-se?
—Vi-a —respondeu Fallon— Tem uma deusa em seu interior, não a um deus, que é pelo que suponho que a deusa escolheu a uma mulher em lugar de um homem.
—Sabe o nome da deusa? —perguntou Ramsey.
Fallon assentiu.
—Lelomai, a deusa da defesa.
—Vá... —suspirou Galen— Que tipo de poderes possui?
Fallon recordou a primeira vez que a viu desaparecer. Ficou estupefato ao ver o que podia fazer com seus poderes. Definitivamente seria muito útil na batalha.
—Tem os poderes habituais da vista e o ouvido, mas além disso pode fazer que ninguém a veja.
—Quer dizer que pode ficar invisível? —Perguntou Lucan.
—Sim. Não sei muito sobre sua deusa, mas aparentemente há algumas diferenças. Pode ser porque Larena é uma mulher, ou porque tem uma deusa em seu interior. Quando se transforma, não muda simplesmente sua pele e seus olhos. Larena muda até o cabelo.
—Como? —Perguntou Logan.
—Brilha. —Foi o melhor modo que Fallon encontrou para explicá-lo— Pode ver qualquer cor imaginável em seu corpo, mas são cores apagadas.
Cara sorriu e pousou a mão sobre a de Lucan na mesa.
—Parece ser muito formoso.
—É —As palavras tinham saído da boca de Fallon antes que ele pudesse detê-las.
—O que aconteceu em Edimburgo? —Quis saber Ramsey.
Fallon se removeu em sua cadeira.
—O rei não estava no castelo. Aparentemente governa de Londres, assim não pude falar com ele. Entretanto, o primo de Larena goza da simpatia do rei e lhe enviou uma carta. Espero ter notícias logo. Se não for assim, terei que fazer uma viagem a Londres.
Hayden golpeou com o dedo sobre a mesa para chamar a atenção de Fallon.
—E o Pergaminho? Averiguou se é real ou não?
Apesar de ele e Lucan não ter tirado o anel de Larena do dedo, não estava disposto a arriscar que os outros descobrissem seu segredo. Ao menos ainda não.
—Não averiguei nada em especial.
Pela extremidade do olho Fallon viu como Lucan franzia o cenho. Virou-se para observar seu irmão e sustentou seu olhar.
—Conseguiremos libertar Quinn.
—Não tenho nenhuma dúvida —expôs Lucan.
Mas Fallon sabia que sim, tinha. Tinha escrito no rosto.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 15


Fallon caminhava entre as muralhas. O vento constante levantava seu cabelo. Olhou para o mar que se agitava na escuridão, enquanto a água refletia o brilho da lua.
Era uma noite bela, uma noite que teria gostado de compartilhar com Larena. Fallon sabia que não devia sentir-se traído, mas sim, se sentia traído. Entendia muito bem a necessidade de guardar segredos. Entretanto, ele imaginou que entre ele e Larena as coisas seriam diferentes já que ambos eram guerreiros. Como podia ter sido tão estúpido?
Foram seus beijos.
Era tudo o que tinha haver com Larena, desde sua ardilosa mente e o elegante modo em que se movia até o sentimento de ter suas pernas ao redor de sua cintura enquanto ele a penetrava.
Pode ser que tinha sido por ter visto Lucan e Cara apaixonar-se ante seus olhos, mas Fallon havia sentido sentimentos profundos por Larena e um pouco realmente forte, especial. Ele pensou que ela também havia sentido.
—Sabia que iria encontrá-lo aqui —disse Lucan enquanto se aproximava dele.
—Queria ver a água e sentir o sal no vento.
Embora Fallon gostasse de seu irmão, não estava de humor para uma conversa naquele instante. Mas, se conhecia bem a Lucan, Fallon não poderia evitar nenhuma de suas perguntas.
Lucan ficou em silencio durante um instante como se estivesse pondo em ordem seus pensamentos.
—Foi difícil sua estadia em Edimburgo?
Fallon assentiu recordando.
—Odiei cada momento que passei ali. Não se pode confiar em ninguém e os falatórios são constantes. Todos estão ali para conseguir algo para eles mesmos.
—Mas conseguiu sobreviver.
Fallon soltou um profundo suspiro e apoiou as mãos na parede de pedra que havia ante ele.
—Apenas. Não estive lá por muito tempo.
—Larena o ajudou, não é assim?
—Sim. —Não tinha nenhum sentido mentir a seu irmão.
Lucan virou de costas à parede e se apoiou contra ela enquanto sua cabeça inclinava para Fallon.
—Disse-te o que era. Deve confiar muito em você para fazê-lo.
—Disse-me isso porque queria que a trouxesse aqui para ajudá-la a proteger-se de Deirdre. Eu gostaria de acreditar que confiou em mim, mas acredito que o medo pôde mais que qualquer outra coisa. —Inclusive enquanto dizia, Fallon sabia que estava mentindo a si mesmo. Larena teve que ter muita coragem para lhe mostrar o que realmente era.
—O que aconteceu lá, Fallon? Tornou-se um homem novo.
Fallon olhou a Lucan e sorriu ironicamente.
—Pior?
—Melhor. Acredito que foi a influência de Larena.
—Pode ser—admitiu Fallon— A vi e a quis para mim. Nunca havia sentido um desejo igual antes. Todos os homens de Edimburgo a desejavam.
—O que estava fazendo lá?
Fallon sorriu de orelha a orelha.
—Ela e seu primo, Malcolm, tinham ido solicitar informação sobre Deirdre. Ela era tenaz e enfrentou a mim em meu próprio quarto quando soube quem eu era.
Então Lucan pôs-se a rir.
—A formosa mulher que não acreditava poder ter se meteu em seu quarto. Imagino que não pôde resistir a ela.
—Tentei-o, mas na realidade tampouco queria.
—Mãe sempre nos dizia que tudo neste mundo acontece por uma razão.
Fallon voltou a olhar ao mar. Podia ouvir as ondas rompendo contra os escarpados. Quantas vezes tinha estado em pé naquele mesmo lugar observando o mar? Muitas vezes, e sempre tinha sentido uma sensação indescritível. Mas aquela noite era diferente.
—Quantos anos tem Larena? —perguntou Lucan.
—Uma centena mais ou menos.
—Pergunto-me como Deirdre não soube que sua existência até agora —Disse Lucan no silêncio.
Fallon contou a Lucan a história de Larena e quando terminou, Lucan ficou assobiando um bom momento.
—Esteve sozinha a maior parte do tempo —referiu Fallon— sobreviveu graças a sua força e valentia e por desconfiar de todo o mundo. Só nos últimos anos a acompanhou Malcolm.
—Malcolm se pôs em um grande perigo.
—É um bom homem. Você gostaria dele. É uma lástima que não seja um guerreiro. Teria gostado de vê-lo lutar conosco.
Lucan cruzou os braços sobre seu peito.
—Estou convencido de que eu gostarei. Onde está?
Fallon também o perguntava.
—Não tenho nem ideia. Não tinha nenhuma razão para permanecer em Edimburgo, assim suponho que terá retornado com seu clã. Disse-lhe que aqui seria sempre bem-vindo.
—Ainda não entendo por que os guerreiros tentaram matar Larena em lugar de leva-la a Deirdre. Deirdre teria utilizado Larena a seu favor, e não vê-la morta.
Fallon passou uma mão pelo cabelo.
—Estou de acordo. Suponho que saberemos o que aconteceu quando Larena despertar.
—Estou impaciente para saber.
Também estava Fallon.
—Não vai perguntar a ela pelo anel, não é? —perguntou Lucan.
—Disse a ela que estávamos procurando o Pergaminho e a razão pela qual o estávamos procurando. Ela escolheu me esconder informação.
—Pergunte, Fallon, conte o nosso plano. Salvou a vida dela, deve-lhe isso.
Ele sacudiu a cabeça.
—Não me deve nada. Como posso lhe pedir que ponha em perigo tantas vidas só por Quinn? Não nos conhece, Lucan, assim não pode confiar em que o que digamos seja verdade. Encontraremos outro modo. Utilizar o Pergaminho como troca sempre foi um plano bastante perigoso.
Lucan o olhou durante um longo momento antes de dar a volta e afastar-se da parede.
—A resposta de tudo está justo diante de nossos olhos. Acredito que deveríamos falar com Larena, explicar nosso plano e pedir que confie em nós. Por todos os deuses! Não posso dormir pensando no que pode estar fazendo Deirdre a Quinn.
Fallon contemplou as colinas e as montanhas sob a escuridão. Tinha sido um egoísta durante muito tempo e agora estava voltando a sê-lo.
Quinn necessitava dele e ele prometeu a si mesmo e a Lucan que tirariam seu irmão pequeno das garras de Deirdre. Já tinha passado muito tempo.
—Sei —disse Fallon— Tiraremos o Quinn da prisão de Deirdre. Posso falar com Larena, mas é decisão dela. Se disser que não, é não.
Lucan bateu com uma mão no ombro.
—De acordo. É possível que te contasse sobre o Pergaminho mais adiante.
—Pode ser. Isso já não importa agora.
Lucan começou a partir. Os saltos de suas botas golpeavam as rochas. De repente parou e virou sobre seu ombro.
—Se te importar, Fallon, lute por ela.
Fallon ficou pensando nas palavras de Lucan momentos depois que este partiu. Não merecia uma mulher como Larena e ela não deveria estar com um homem que não fosse capaz de proteger nem a sua família, nem seus amigos.
Ele continuou passeando entre as almenas, feliz de estar sozinho. Os outros devem ter notado também, pois não disseram nada quando passou por diante deles enquanto faziam guarda.
Só o que não podia negar era que Larena o importava. Queria-a de volta em sua cama. Queria beijar seus suaves lábios e sentir sua sedosa pele sob suas mãos. Queria ouvi-la gritar seu nome enquanto ele a levava até o êxtase e queria penetrá-la uma e outra vez.
Se estivesse em suas mãos, encerraria-se com ela em um quarto durante dias e faria amor interminavelmente, só parando para comer. Queria que sua cabeça estivesse tão cheia dele como ela tinha consumido a sua.
Sim, queria-a. E lutaria por ela.

***

Larena tentou manter-se nos limites do sono. Não queria sentir de novo a dor ou ver a profunda preocupação no rosto de Fallon.
Fallon.
Só pensar nele fez que lhe acelerasse o coração. Despertou lentamente, mas não abriu as pálpebras. Respirava pausadamente esperando sentir a terrível dor que tinha consumido seu corpo. Mas não sentiu nada.
Abriu os olhos e encontrou a si mesmo deitada do lado esquerdo. A luz que entrava pela janela chegava até a cama, uma cama que ela não reconheceu.
—Como está?
Seu olhar se desviou para a cadeira que havia a seu lado e para o homem grande e de cabelos escuros recolhidos em duas tranças que lhe caíam pelos ombros que estava sentado nela. Ofereceu-lhe um amplo sorriso que iluminou seus profundos olhos verdes como o mar.
Um olhar a seu pescoço e o torques de ouro confirmou o que imaginou. Tinha adiante um dos irmãos de Fallon.
—Você deve ser Lucan.
Ele inclinou a cabeça.
—Esse sou eu. Estivemos muito preocupados, especialmente Fallon.
Larena sentou lentamente esperando ver Fallon, mas no quarto só estavam ela e Lucan. A dor já não queimava seu corpo. Ela umedeceu os lábios com a língua e observou ao redor.
Justo diante da cama havia uma grande lareira. Entre a chaminé e a janela havia uma mesa com duas cadeiras. Ao lado da cama havia uma mesa pequena sobre a que pôde ver um cântaro e um tigela. Havia dois móveis com gavetas a ambos os lados da cama e um antigo escudo redondo com duas espadas cruzadas pendurava da parede que havia junto à porta.
—Está no quarto de Fallon, o quarto principal —afirmou Lucan — Quer um pouco de água?
Ela assentiu e o observou verter o líquido na tigela. Bebeu três copos antes de reclinar-se para trás e respirar profundamente. A decepção por não ter encontrado Fallon era grande. Perguntava-se onde estaria. Era estúpido, mas tinha acreditado que ele estaria a seu lado quando despertasse.
—Ainda sente dor?
A voz de Lucam tirou Larena de seus profundos pensamentos.
—Não. A quem devo agradecer por ter me salvo?
—Quer dizer além de Fallon? — Lucan sorriu ante o que acabava de dizer, mas ela pôde ver a dureza em seus olhos verdes, olhos muito parecidos com os de Fallon.
Ela tragou saliva e assentiu.
—Sim, além de Fallon.
Antes que ele pudesse responder, a porta se abriu e uma preciosa mulher com o cabelo castanho e olhos escuros entrou e ficou ao lado de Lucan. Ela rodeou ao homem das Highlands com seus braços e sorriu a Larena.
—Espero que meu marido não tenha sido muito mal educado —disse a mulher.
Lucan entrelaçou seus dedos com os da mulher.
—Nunca me atreveria.
A mulher riu e centrou seu olhar em Larena.
—Sou Cara. Ouvimos muitas coisas sobre você. Não posso acreditar que seja uma guerreira.
—Obrigado por me ajudar a me recuperar —disse Larena. A simples e aberta simpatia de Cara sentiu saudades, mas gostava da honestidade que havia em seus olhos obscuros— Fallon me disse que é uma druida.
Cara olhou a seu marido com o cenho franzido antes de voltar-se de novo para Larena.
—Sim, sou uma druida. Tem fome? Posso te trazer um pouco de sopa que preparei.
—Isso seria maravilhoso.
Não passou despercebido a ela o olhar entre Lucan e Cara. O que estavam escondendo? E por que?
Lucan beijou Cara e sussurrou algo ao ouvido antes de partir. Larena se estirou sob os lençóis. Usava uma combinação diferente, uma combinação limpa e sem nenhuma marca de sangue nem de arranhões. Larena agarrou o pescoço enquanto seus pensamentos retornaram de novo a Fallon.
—Sua combinação estava destroçada —disse Cara enquanto se sentava onde antes tinha estado Lucan — Encontrei outra. Não é tão bonita como a que usava.
—É perfeita —sorriu Larena— O que usava em Edimburgo era simplesmente para ser vista.
Cara esfregou as mãos nervosa.
—Fallon nos contou por que tinham ido a Edimburgo, você e seu primo. Parece perigoso.
—Era algo que tinha que fazer e Malcolm não me deixou ir sozinha.
—Virá também aqui?
Larena encolheu os ombros.
—Não sei. Nem sequer sei onde está agora.
—Queria te perguntar o que aconteceu durante o ataque, mas Lucan me fez prometer que não o faria. Ele e Fallon estiveram esperando que despertasse para saber o que aconteceu.
—Ond...? —deteve-se e se esclareceu voz— Onde está Fallon?
Odiava-se a por tê-lo perguntado, mas precisava saber. Tinha parecido o tipo de homem que ficaria a seu lado todo o tempo sem mover-se.
Cara riu.
—Esteve passeando pelo castelo desde ontem de noite observando todas as melhoras que se fez. Sei que estava ansioso para voltar para o trabalho depois do café da manhã. Estou certa que virá logo.
Ouviu-se um pequeno golpe na porta antes que voltasse a abrir-se. Desta vez, uma mulher alta e esbelta com o cabelo encaracolado entrou no quarto levando uma terrina com sopa e um pouco de pão. Pôs a bandeja ao lado de Larena e ofereceu um grande sorriso.
—Olá, Larena. Sou Sonya.
O nome combinava com ela e a Larena caiu-lhe bem imediatamente. Devolveu o sorriso.
—A outra druida. Muito obrigado por me ajudar a me recuperar e pela comida. Não me dei conta da fome que tinha até que a cheirei.
—Come, não o faça por nós —exortou Cara— Somos as duas únicas mulheres no castelo, assim estamos acostumados a formar nosso bando contra os homens.
Sonya riu com uma risada alegre e ligeira. Era evidente que havia uma boa relação entre ela e Cara.
—É certo —concluiu, e agarrou outra cadeira e a pôs ao lado de Cara.
Larena escutou às duas mulheres enquanto comia. Mantinham uma conversa animada, falando de nada em particular e a Larena resultou óbvio que pretendiam mantê-la entretida.
Terminou a sopa e colocou o último pedaço de pão na boca. Estava pronta para sair da cama e vestir um pouco de roupa.
—Quer mais? —perguntou-lhe Cara.
—Obrigado, mas não —respondeu.
Sonya se levantou e saiu do quarto. Larena observou a druida partir perguntando-se o que teria feito que partisse tão rapidamente. Não passou muito momento até que Sonya retornou empurrando uma banheira de madeira dentro do quarto.
Levantou-se e sacudiu as mãos.
—Pensamos que possivelmente gostasse de um banho.
Larena quase solta um grito de alegria ante a ideia de inundar-se na água quente.
— Seria maravilhoso.
—Agora mesmo lhe traremos a água —disse Cara.
Uma vez que partiram, Larena levantou da cama e se dirigiu para a janela. Olhou para os escarpados de rocha que se inundavam nas profundas águas do fundo. As ondas golpeavam contra as rochas e pulverizavam gotas de água no céu que brilhavam sob a luz do sol. Larena imaginou que quase podia sentir as gotas de água sobre sua pele. O aroma de sal alagava o vento e a brisa do mar lhe refrescou o rosto.
Não podia esperar para ver o resto do castelo e as terras dos arredores. Seus pés descalços se encolheram sobre as frias pedras. Virou-se e olhou sua cama. A cama de Fallon, pensou.
Compartilharia aquela cama com ele? Era por isso pelo que a tinha posto em seu quarto? Ela poderia se permitir estar mais ligada a ele do que já estava?
Quando tinha falado de Quinn e de seu plano para salvá-lo, sua mão se foi para o anel, disposta a dar a ele ou a qualquer que o necessitasse para escapar das garras de Deirdre. Logo recordou a promessa que fez a seu clã e a Robena. Não podia trair essa promessa, embora quisesse ajudar Fallon, não podia pôr a todos outros em perigo se o plano falhasse.
Ela tocou o lado onde tinha estado à ferida, mas já não havia nenhuma dor. Quando levantou a combinação, tampouco encontrou nenhuma cicatriz. Era como se recuperasse como sempre. Entretanto, ela sabia que o sangue de drough tinha que tê-la matado. Tão poderosos eram os druidas do castelo dos MacLeod?
A porta se abriu e Cara e Sonya entraram com uns baldes seguidos de Lucan e outro homem com o cabelo castanho claro e sorridentes olhos. Fez um gesto com a cabeça a Larena antes de soltar os baldes e partir.
—Esse era Logan — disse Cara— Sempre está sorrindo e brincando. Não acredito que haja nada que possa deixa-lo de mau humor.
Tiveram que fazer umas poucas viagens mais para encher a banheira e então as três mulheres ficaram sozinhas.
Larena olhou a Sonya.
—Não tenho nenhuma cicatriz. Não deveria o veneno me haver deixado ao menos uma cicatriz?
Sonya pensou um instante e lançou um olhar a Cara.
—Estava virtualmente morta quando Fallon chegou contigo em braços. Utilizei minha magia, sim, mas não foi suficiente.
—Necessitava sangue —disse Cara— Muito sangue.
—Sangue... —repetiu Larena confusa— Então isso é o que me salvou?
Sonya assentiu.
—Quem me deu o sangue?
Cara ofereceu uma pastilha de sabão e esclareceu a garganta.
—Necessita ajuda?
Larena negou com a cabeça e permitiu evadir a pergunta. Queria estar um momento a sós para pensar. E queria inundar-se na água tanto quanto fosse possível. O vapor da água quente subia pelo quarto fazendo que se sentisse melhor.
—Bem vinda ao castelo MacLeod —disse Sonya antes de partir.
Cara saiu detrás da druida.
—Tenho uns vestidos que deixei aqui fora para o caso de algum te servir.
—Eu não gostaria de pegar seus vestidos.
—Não se preocupe. Temos muitos vestidos que trouxemos da aldeia quando Deirdre a arrasou. Vamos arrumando à medida que Sonya e eu os necessitamos. Trarei um assim que possa.
Então a porta se fechou detrás de Cara e Larena se despiu. Colocou o pé na água para ver se estava muito quente e logo se meteu inteira na banheira com um suspiro.
Sua mão pousou de lado. Tinha necessitado sangue. Mas o sangue de quem corria agora por seu corpo?
Pensou no ataque dos dois guerreiros e na dor que a devorou. Logo tinha perdido a consciência, mas recordava ter aberto os olhos e ver que estava entre os braços de Fallon. Seus formosos olhos verdes ficaram fixos nela enquanto repetia seu nome uma e outra vez.
Larena cobriu o rosto com as mãos. Deveria contar para Fallon do anel e o que havia dentro dele. Ele procurava informação sobre o Pergaminho. Era fácil contar-lhe mas e se o pedisse? Explicaria que, por muito que quisesse, não podia dar-lhe. Ele o compreenderia, não?
Mais perturbador que esse pensamento era perguntar-se se ele a quereria de novo em sua cama uma vez que confessasse que tinha o Pergaminho.

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 16


Fallon olhou a extensão de terras diante do castelo da torre e sorriu. Não esperava que se adiantasse tanto os trabalhos enquanto tinha estado fora. Mas todas, exceto duas das torres, tinham sido reconstruídas, incluído a em que ele se encontrava agora.
O coração apertou-se ao pensar em devolver ao castelo sua antiga glória. Podia imaginar seu pai de pé no pátio com os braços cruzados sobre seu forte peito e seu cabelo escuro debruado de prata assentindo cheio de satisfação.
Ao menos isso era algo que Fallon fazia bem.
O som de uns passos nas escadas anunciaram a chegada de seu irmão inclusive antes que Lucan aparecesse pela porta.
—Estive procurando-o por toda parte —grunhiu Lucan com o cenho franzido.
Imediatamente Fallon pensou em Larena.
—Aconteceu algo a Larena?
—Não. Despertou.
Fallon deixou sair um suspiro que não se deu conta que estava reprimindo.
—Cara está cuidando dela?
—E Sonya também. Logan e eu as ajudamos a subir um pouco de água para que se banhasse.
Fallon tragou saliva e virou a cabeça para que seu irmão não pudesse ver a chama de desejo que despertou nele ao pensar em Larena na água.
—Encontra-se bem?
—Isso parece.
Queria saber se tinha perguntado por ele, mas ao final Fallon decidiu não abrir a boca.
—Tem que dizer o que fez por ela —disse Lucan.
Fallon assentiu.
—Direi.
—Vai lutar por ela?
Então olhou de frente a seu irmão.
—É meu dever protegê-la.
Lucan sorriu e assentiu.
—Bem, eu gosto. Agora tem que ir vê-la. Está em um lugar desconhecido e o único que conhece é você.
—Irei vê-la depois da comida. Ainda está descansando e quero que outros a ponham ao dia.
Era mentira. Não estava preparado para enfrentar Larena ainda. Mas enquanto Fallon descia as escadas da torre, deu-se conta de que queria ir procurá-la e sacudi-la por não ter acreditado nele. Logo a beijaria até que ela se derretesse em seus braços.
Tinha passado tanto tempo desde que esteve entre mulheres pela última vez que tinha que lembrar-se que deveria tratá-la como uma dama e não como um objeto que podia reclamar como próprio. Mesmo assim, o deus de seu interior lhe pedia que a reclamasse como dele, que a marcasse como dele para que nenhum outro homem se atrevesse a tocá-la.
Tal e como esperava, quando ele e Lucan chegaram ao grande salão, os outros já estavam na mesa servindo a comida que Sonya e Cara tinham preparado.
Fallon sentou em seu lugar à cabeceira da mesa e encheu o prato enquanto escutava Hayden falar de sair a caçar aquela mesma tarde.
—Eu irei à praia pescar —anunciou Lucan.
—Boa ideia —advertiu Galen— Cara, poderia me preparar outra barra de pão?
Fallon rompeu a rir enquanto os outros se queixavam ante a petição de Galen.
Logan lançou sua taça vazia a Galen, mas este pôde esquivá-la.
—É alguma vez tem suficiente?
—Nunca —disse Galen com um sorriso antes de meter um pedaço de pão na boca.
Todos começaram a rir e inclusive Fallon tirou o chapéu desfrutando daquele momento. Houve tal ausência de sons no castelo que estava feliz de voltar a ouvi-los. Os homens, e as mulheres, que estavam sentados ao redor de sua mesa não eram uma autêntica família, mas eram sua família.
Os MacLeod tinham prometido lutar contra Deirdre e proteger a qualquer que necessitasse ajuda.
Agora era seu dever tomar as decisões adequadas. Fallon sempre acreditou cegamente em seus irmãos para fazê-lo e isso não iria mudar. Os homens sentados àquela mesa tinham demonstrado suas habilidades como guerreiros e ele valorizava suas ideias.
Fallon esperou até que todos terminassem de falar antes de esclarecer a voz para chamar sua atenção.
—Tínhamos um plano para libertar Quinn das garras de Deirdre. Para que esse plano funcionasse, necessitávamos do Pergaminho e do feitiço que adormeceria aos deuses.
Deteve-se e respirou profundamente.
—Não temos o Pergaminho e não parece que vamos consegui-lo. —Logan abriu a boca, mas Fallon levantou uma mão pedindo silêncio— Tenho uma ideia, mas antes de falar sobre isso quero terminar de dizer o que tenho que falar.
Logan assentiu e esperou.
—Sonya foi de grande ajuda para ensinar Cara a controlar seus poderes, mas nenhuma das duas sabe como enterrar nossos deuses. Sem o feitiço para enterrar aos deuses dos guerreiros de Deirdre, não temos nenhuma possibilidade de ganhar em uma batalha.
—Eu sempre estou ansioso por matar wyrran —disse Hayden.
Galen arranhou o queixo e olhou ao redor da mesa.
—Eu não gosto de jogar com desvantagem, mas se nos organizamos bem, podemos surpreendê-los e utilizá-lo em nosso favor.
Fallon assentiu.
—Eu também acredito que isso poderia jogar a nosso favor.
Lucan pôs os cotovelos sobre a mesa e cruzou os dedos.
—O que propõe?
—Viu alguém o Pergaminho?
Todos agitaram as cabeças negando como ele esperava.
—E conforme imagino, tampouco o viu Deirdre.
Ramsey riu captando a atenção de todos.
—Sei o que está pensando, Fallon, e eu adoro.
—Sim—disse Fallon— Proponho que façamos nosso próprio Pergaminho.
Hayden suspirou e levantou de seu assento para caminhar um pouco. Galen passou uma mão pelo rosto enquanto Lucan olhava Fallon com um olhar firme.
—De verdade crê que podemos fazê-lo? —Perguntou Lucan — Se Deirdre suspeitar que é falso nunca poderemos libertar Quinn.
—Temos alguma outra opção? Não posso suportar pensar em Quinn metido naquelas masmorras nem um minuto a mais —resmungou Fallon— esperei, tal e como me pediram, e estou de acordo em que foi para bem. Ela nos esperava imediatamente e nos tomamos nosso tempo para descobrir coisas que nos podiam ajudar. Mas a verdade é que não sabemos mais do que sabíamos quando Quinn foi capturado. Já não posso esperar mais, Lucan.
Ramsey inclinou para diante sobre a mesa.
—Entendo-o, Fallon. Ele é seu irmão. Faria tudo por ele, mas e se já conseguiu dobrá-lo?
—Então o reabilitarei.
Houve um momento de pesado silêncio e de repente se fez o caos quando todos começaram a falar de uma vez.
Fallon contou até dez antes de golpear a mesa com a palma da mão.
—Já basta!
Olhou a todos os homens e mulheres sentados à mesa e respirou profundamente.
—Só o que me importa agora é trazer Quinn de volta para casa.
—E o que passa se ficou do lado de Deirdre? —Perguntou Galen— A distância não fará que sua influência sobre ele seja menor.
Fallon fechou a mão em um punho e olhou Lucan nos olhos.
—Conheço Quinn. Lutará contra Deirdre com todas as suas forças. Se ela tiver feito que agora esteja de seu lado, foi utilizando a magia. Temos druidas que podem desfazer essa magia.
Sonya sacudiu a cabeça.
—A pergunta é com que garantia de êxito. A magia negra de Deirdre é muito poderosa.
—Não deixarei Quinn com Deirdre, dá-me igual o que tenha acontecido.
—Estou de acordo com Fallon —conveio Lucan — Quinn tem que voltar conosco.
Hayden amaldiçoou e afastou seu prato.
—Quinn poderia ser um espião.
—Qualquer um de nós poderia ser um espião —sentenciou Fallon— E até sabendo disso abri as portas de meu lar. Por que ia tratar meu irmão de outra maneira?
Ramsey levantou a mão para pedir silêncio quando Hayden retomou a discussão.
—Fallon tem exposto uns bons argumentos, e embora eu tenho minhas dúvidas de que Quinn volte a ser o mesmo homem que era antes que Deirdre o capturasse, só o que podemos fazer é trazê-lo para casa.
Fallon fez um gesto com a cabeça a Ramsey. Um a um os outros aceitaram. Agora, Fallon só tinha que se preocupar em libertar Quinn das garras de Deirdre e de todos os horrores que pudesse trazer com ele.

***

Larena observava entre as sombras do piso superior enquanto Fallon falava com os outros. Sua intenção era ficar desfrutando do banho, mas a necessidade de descobrir mais coisas de tudo o que a rodeava era muito urgente. E, se tinha que ser honesta consigo mesma, queria encontrar Fallon.
Colocou o singelo vestido azul que Cara levou ao quarto. Para sua surpresa, ficou perfeito. Cara também levou meias de lã e vários pares de sapatos. Larena encontrou um par que ficava bem e depois de passar os dedos pelo cabelo deixou o quarto de Fallon.
Foram às vozes que provinham do grande salão o que a atraiu até ali por todo o corredor até as escadas. Como não queria ser vista, manteve-se oculta nas sombras e observou às pessoas.
Não se surpreendeu ao ver Fallon sentado à cabeceira da mesa. Tinha um dom inato para a liderança que o resto reconhecia. Ela pensou que embora não tivesse nascido para ser o chefe de seu clã, continuaria sendo o líder do grupo.
Seu olhar ficou parado nele e o observava enquanto comia e falava com Lucan, que estava sentado a sua direita. Havia um lugar vazio a sua esquerda e ela soube que estava reservado a Quinn. O fato que Fallon olhasse sem cessar o assento vazio revelou a Larena o desesperadamente que queria seu irmão de volta.
Ela imaginou o que seria se tirassem um irmão de seu lado. Como filha única, era difícil. Teve amigos, mas o único membro da família com que cresceu foi Naill. Ele era uns tantos anos mais velho que ela e não queria que uma menina o incomodasse.
Era uma nova experiência ver como Fallon e Lucan eram ligados. Tinham muitos gestos em comum e imaginou que Quinn também teria muitas coisas em comum com eles. Era uma autêntica tragédia Quinn ter sido capturado. Teria gostado de ver os três irmãos juntos.
Larena dirigiu agora seu olhar para as únicas mulheres do grupo. Cara estava sentada ao lado de Lucan enquanto que Sonya estava em frente dela. Mantinham suas próprias conversas, mas ambas escutaram atentamente quando os homens começaram a discussão.
Reconheceu Logan, que estava sentado em uma mesa à parte. O homem alto e loiro que estava sentado com ele tinha um aspecto sinistro, com o cenho franzido e um olhar duro. Não tiraria o olho de cima. Os homens com aquele aspecto sempre estavam acostumados a procurar problemas e não queria ter nada haver com essa possibilidade.
Voltou sua atenção à mesa de Fallon e observou aos outros dois homens que havia ali sentados. O do cabelo negro estava sentado de costas a ela, mas, depois de estar observando-o um momento, deu-se conta de que não falava tanto como os outros.
O outro, com o cabelo loiro escuro, tinha um aspecto agradável, mas havia algo também em seu olhar que falava dos incontáveis horrores que tinha vivido.
Todos eram guerreiros. Larena nunca viu tantos juntos. Em realidade, o único guerreiro que conhecia em pessoa era Camdyn MacKenna.
Os homens provavelmente já deviam saber que ela era uma mulher guerreira. Como reagiriam ante ela? Fallon era a única pessoa que conhecia ali abaixo e na realidade não fazia mais que umas horas que se conheciam. Tomado a decisão adequada ao pedir que a trouxesse até ali?
Logo recordou o ataque em Edimburgo. Deirdre a tinha descoberto. O poder de Deirdre parecia ilimitado e se Larena sabia algo sobre Deirdre, era que a drough nunca abandonava quando se fixava um objetivo. E agora seu objetivo era Larena.
Fallon chegou em Edimburgo no momento apropriado. Agora mesmo estaria morta se ele não se se encontra ali. Devia-lhe a vida.
Tocou-se o anel com a mão esquerda. Poderia devolver a Fallon o que tinha feito por ela lhe dando o Pergaminho, mas cada vez que pensava nisso, sentia um nó no estômago.
Robena tinha repetido umas mil vezes quão importante era que o Pergaminho nunca acabasse nas mãos de Deirdre. Tudo pelo que Larena tinha lutado nestes últimos cem anos acabaria em nada se o Pergaminho acabasse em poder de Deirdre.
A mudança de tom que produziu-se abaixo tirou Larena de seus pensamentos. Apoiou-se nas paredes de pedra e escutou Fallon falar. Estava calmo e sereno,em seu castelo encontrava-se plenamente em seu elemento. Adorava observá-lo. Era fascinante.
Ansiava chegar até ele e beijá-lo.
Começou a aproximar-se quando ouviu Fallon mencionar o Pergaminho. O coração saltou no peito quando escutou que nunca pretendeu dar a Deirdre o autêntico Pergaminho, a não ser unicamente uma cópia.
Seus dedos apertaram com força o anel, disposta a tirar e mostrar a todos o Pergaminho para que pudessem copiar os símbolos celtas que fariam Deirdre pensar que se tratava do autêntico.
Mas então parou. Fallon saberia por que não havia dito em Edimburgo.
Larena odiava ter mentido. Fallon contou-lhe coisas que sabia que nunca compartilhou com ninguém mais, mas ela não era capaz de fazer o mesmo. Havia algumas coisas, como o Pergaminho, que quanto menos pessoas soubessem, melhor.
Respirou profundamente e passou o olhar pela mesa até que descobriu Cara olhando-a. Larena sacudiu a testa com a esperança de que a mulher não dissesse nada. Esta fez um gesto de assentimento com a cabeça.
Larena sabia que devia descer ao salão e apresentar-se, mas não podia mover-se. Afastou-se a um lado e se apoiou contra a parede de pedra.
Tinha passado alguns anos no castelo do rei, mas sempre se manteve afastada de outros. Por sua incapacidade para confiar em alguém, dizia Malcolm. Malcolm tinha sido seu único laço com o mundo e inclusive nem assim se permitiu tomar muito carinho porque sabia que um dia teria que deixá-lo.
Agora, ali abaixo havia seis guerreiros imortais. O que tinham feito os MacLeod abrindo as portas de seu castelo era criar uma família. A última vez que Larena tinha formado parte de uma família, tinham-na repudiado e a jogado de sua casa.
Mas tinha que ficar junto a Fallon. Se Deirdre a capturasse, só seria questão de tempo antes que descobrisse o que era aquele anel.
Larena suspirou. Continuaria fazendo o que sempre fazia, manteria a distância de todos. Era o único modo que tinha de sobreviver.
Virou-se para descer as escadas e se encontrou com Fallon frente a ela. Abriram os lábios ao ver aquele rosto tão formoso. Sempre conseguia fazer que cortasse sua respiração, e a necessidade de tocá-lo, de sentir seus braços rodeando-a, de beijá-lo, fez-se insuportável.
Não se deu conta que tirou o kilt escocês e agora usava uma túnica vermelha escuro e calças de pele, gastos pelo tempo e o uso, metidos em botas negras. O via mais natural com esse traje, mas ela não podia decidir qual gostava mais, se o Fallon com o kilt escocês tradicional ou o Fallon informal que agora tinha diante.
—Como soube que estava aqui?
Ele encolheu os ombros.
—Cheirei sua essência.
Um calafrio percorreu seu corpo ao ouvir suas palavras e teve que recordar a si mesmo que tinha que manter distância, embora tudo em seu interior gritasse que se lançasse a seus braços.
—Como está? —Fez a pergunta em um tom calmo, mas o modo em que seus olhos verdes queimavam-lhe o corpo fez que acelerasse seu pulso.
—Como se nunca me tivessem atacado.
—Bem. —Fallon lhe ofereceu a mão— Todos estão desejando te conhecer e eu estou desejando saber o que aconteceu no ataque.
Ela pousou sua mão sobre a sua e de repente, quando ele virou para descer as escadas, deteve-se.
—Espere. Eu... Necessito um momento.
—Para que?
—Aí abaixo há guerreiros aos que não conheço.
Ele a olhou nos olhos um momento.
—Meu irmão nunca te faria mal. A protegerá com sua vida se for necessário. Os outros demonstraram sua lealdade. Estão aqui para acabar com Deirdre.
—Sei —Como poderia explicar se nem ela mesma era capaz de entender?
—Vamos — ordenou pegando brandamente sua mão— Tudo irá bem. Confie em mim.
Confiança. Era uma palavra simples, mas era algo que não permitia a si mesmo. Com Fallon, entretanto, as coisas eram diferentes.
Deixou que a levasse às escadas. A conversa no salão parou enquanto ambos desciam. Tragou saliva, odiava que todas as olhadas estivessem fixas nela. Tinha sido simples passar despercebida no castelo do rei, mas aqui não teria tanta sorte.
—Obrigada —sussurrou a Fallon.
—Por que?
—Por me salvar a vida.
Encolheu os ombros como se aquilo não significasse nada para ele. Algo em Fallon havia mudado. Não estava disposta a pôr a mão no fogo, mas não era o mesmo homem com que compartilhou a cama em Edimburgo.

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 17


Larena esperou até que ela e Fallon se detivessem ante sua cadeira para afastar sua mão dentre as suas. Obrigou-se a olhar à mesa em lugar do chão como desejava. Com as mãos agarradas diante dela para tentar ocultar o muito que tremiam, escutou como Fallon a apresentava.
— Já conhece Lucan, Cara e Sonya —relatou Fallon— Ao lado de Cara senta-se Galen Shaw.
Larena sorriu a Galen e se deu conta que usava o kilt escocês como se fosse sua segunda pele. Seus escuros olhos azuis a olharam atentamente antes de devolver-lhe o sorriso.
—Ouvi seu nome, Galen Shaw.
Galen arqueou as sobrancelhas.
—Ah, sim? E em boca de quem?
—Camdyn MacKenna.
—Falou com Camdyn? —perguntou Galen enquanto se estirava no banco.
Ela abriu a boca para responder quando Fallon perguntou:
—Quem é Camdyn?
—Um guerreiro —respondeu Galen— Prefere manter-se escondido, mas deixei-lhe marcas para fazê-lo saber onde fui.
Larena assentiu.
—Encontrou-as. Passou pelo castelo de Edimburgo faz algumas semanas e me disse isso.
Galen riu e golpeou a mesa com as mãos, claramente contente pelas notícias.
—Camdyn é um bom guerreiro, Fallon. Será um bom aliado para nós.
—E onde está? —perguntou Lucan.
—Virá. Camdyn nunca descumpre sua palavra —disse Galen.
Fallon assinalou ao homem que havia diante de Galen.
—Este é Ramsey MacDonald. É o mais tranquilo de nós.
—Minha senhora. —Ramsey fez uma reverência com a cabeça para mostrar seu respeito.
Larena gostou imediatamente do guerreiro de cabelo negro como o azeviche. Não usava kilt escocês, mas havia um fogo em seus olhos cinzas que só tinham os homens das Highlands.
—Ramsey.
—Já conhece o Logan —disse Fallon enquanto Logan piscava os olhos— Esse corpulento que há diante dele é Hayden Campbell.
Larena olhou uns olhos tão escuros que quase pareciam negros. Faziam um assombroso contraste com seu cabelo loiro, mas os olhos do Hayden pareciam transmitir sinais de ameaça igualmente a seu porte.
—Hayden.
—Larena —correspondeu Hayden com uma voz fria e profunda.
Fallon afastou sua cadeira e fez um gesto para que se sentasse.
—Sente-se, por favor. Quer comer algo?
—Não. —Larena sentou-se na cadeira de Fallon. Odiava ser o centro de atenção. Fallon sentou a seu lado, no lugar vazio de Quinn. Tentou ler suas emoções em seus olhos, mas ele se fechou a ela.
Deveria estar aliviada. Na realidade, ela queria distanciar-se dele, não? Então, por que doía tanto?
Perguntava-se se as coisas mudariam uma vez que estivessem em seu castelo. Agora já sabe.
Sim. Agora sabia.
—Poderia nos contar como atacaram você? —perguntou Lucan.
Larena inspirou ar profundamente para agarrar forças. Não queria reviver o ataque, mas havia coisas que Fallon e os outros precisavam saber.
—Haviam dois. Um dos guerreiros tinha a pele verde pálida e uma atitude desagradável. O outro tinha a pele azul escura e asas.
—Asas? —Repetiu Lucan com o cenho franzido— Tem certeza?
Larena assentiu.
—Vi como as pregava a suas costas. Tinha asas.
—Poderia ser o mesmo? —Perguntou Cara.
Fallon levantou um ombro.
—Suponho que sim. Atacaram os dois? —perguntou a Larena.
—Não, somente o verde pálido. Disseram-me que Deirdre queria me conhecer. Quando perguntei como soube de minha existência, disseram-me que foi um wyrran. O que entrou no castelo. Matei-o, mas aparentemente havia outro vigiando e viu como me transformava —informou a Fallon.
—Um wyrran? Em Edimburgo? —Perguntou Galen.
Fallon assentiu.
—Sim, apresentou-se ante uma multidão no grande salão. Fui atrás dele, mas o perdi no labirinto de corredores.
—Então foi quando eu o encontrei —continuou Larena— O persegui até que saiu do castelo e o matei.
Logan soltou uma gargalhada.
—Impressionante. Estão acostumado a ver muitos wyrran no castelo?
—Esse foi o primeiro que descobri em Edimburgo —disse Larena, incapaz de ocultar o sorriso de seu rosto. A atitude afável de Logan a ajudava a relaxar a tensão que tinha acumulada.
Sonya se inclinou para frente.
—Sabia que tinham envenenado-a com sangue de drough?
—Sim. Foi o guerreiro alado que me disse sobre o veneno. Disse que Deirdre me queria com vida, assim me sugeriu que procurasse Fallon para que me trouxesse aqui.
—Por que? —Perguntou Hayden— Tal atitude parece-me imprópria dos guerreiros que servem Deirdre, com os que eu topei.
Larena se removeu incômoda em sua cadeira e encolheu os ombros.
—Não saberia te dizer.
—Suponho que também sabiam que estava ali pelo wyrran — disse Lucan ao Fallon.
Fallon passou uma mão pelo rosto antes de deixar a palma sobre a mesa.
—Isso parece. Contavam com que encontrassem Larena e a trouxesse aqui para salvá-la.
—Se isso for certo, virão atrás de Larena —disse Ramsey — Significa outro ataque e desta vez Deirdre enviará mais guerreiros.
Hayden levantou e soltou uma maldição.
—Ganhamos a última vez, mas agora sabem quantos guerreiros somos. Deirdre não cometerá o mesmo engano outra vez. E agora temos um guerreiro a menos.
—Não, não é assim —rebateu Larena enquanto ficava em pé— Eu posso lutar.
Os lábios de Hayden torceram em um sorriso zombador.
—Fallon disse que viu como se transformava.
—Crê que mentiu?
O silêncio seguiu à pergunta de Larena. Hayden se moveu para ela e Logan e Galen ficaram em pé.
—Acredito em Fallon, igual a todos os que estamos aqui —respondeu Hayden— Mas quero vê-lo com meus próprios olhos.
Larena arqueou uma sobrancelha e o olhou atentamente.
—Eu também quero ver como você se transforma. Afinal, dizer que é um guerreiro não o converte em um, não é assim?
Logan soltou uma gargalhada e sacudiu a cabeça. Passou uma mão pelo cabelo castanho claro e voltou a sentar-se.
—Aí o pilhou, Hayden.
Descobriu Hayden observando-a com aqueles olhos negros com um brilho de algo que poderia chamar respeito.
—É justo —disse um instante antes que sua pele se tornasse vermelho escuro. Pequenos chifres vermelhos se sobressaíram por entre seu cabelo loiro. Tinha garras vermelhas e brilhantes e os lábios estirados em um sorriso aberto que lhe mostrava as impressionantes presas.
Larena olhou Hayden de cima abaixo antes de deter-se em seus olhos vermelhos.
—Chifres?
—Levo o deus do massacre em meu interior. O que quer que te diga?
—Obrigada —respondeu ela. Olhou para Fallon e o descobriu observando-a. Seu olhar a tranquilizou e recordou que ele estava ali com ela.
Normalmente Larena se transformava sem roupa já que utilizava seu poder para fazer-se invisível, mas naquele momento aquela não era uma opção possível.
Uma vez que Hayden retornou a sua forma humana, Larena liberou à deusa que albergava em seu interior e se transformou. Vários calafrios lhe percorreram a pele enquanto a deusa despertava. Larena moveu os dedos enquanto se formavam suas garras. As presas encheram-lhe a boca e tomou cuidado em não morder-se com eles, nem a língua, nem os lábios.
—Merda —murmurou Galen.
Logan esclareceu a garganta um par de vezes antes de poder falar.
—Bem pode dizê-lo.
Ramsey soltou um assobio de admiração enquanto Hayden o fazia uma reverência com a cabeça.
Larena olhou seu braço para ver que sua pele estava brilhando como sempre que se transformava.
Cara tinha os olhos abertos de surpresa.
—Inclusive seu cabelo. Justo como nos disse Fallon. É impressionante.
Com todos os olhos postos sobre ela, Larena teve que lutar contra o desejo de fazer-se invisível. Então Fallon ficou em pé a seu lado. Sua mão roçou a sua e ela teve a absurda necessidade de entrelaçar seus dedos com os seus.
—Vai mostrar-lhes o resto? —perguntou.
Como resposta, ela se fez invisível enquanto escutava as sonoras exclamações de surpresa de Sonya e Cara. O efeito não era o mesmo quando o fez ante Fallon a primeira vez, pois então estava nua. Agora mesmo parecia como se não houvesse nada mantendo em pé seu vestido.
—Sem a roupa ninguém podem vê-la, não? —perguntou Ramsey.
—Não —respondeu— Posso me mover por toda parte sem ser vista.
Um lado dos lábios de Galen se elevou em um sorriso.
—Larena será uma grande vantagem contra Deirdre.
Larena voltou a encerrar a sua deusa e voltou para sua forma normal. Sentou-se na cadeira esperando que a conversa se afastasse dela por fim.
Mas então Galen dirigiu-se para ela e se transformou. Ficou tão surpreendida que durante um momento só pôde olhar aqueles brilhantes olhos verdes. Sempre se perguntou por que os olhos, inclusive o branco dos olhos, voltavam-se da cor da pele do guerreiro.
—Eu contenho Ycewold, o deus enganador —revelou Galen.
Ela olhou sua pele verde escuro, mas antes de poder dizer nada, Ramsey ocupou seu lugar. A pele de Ramsey era da cor do bronze, um bonito contraste com seu cabelo negro.
Ramsey lhe ofereceu uma pequena reverência.
—Eu levo a Ethexia, o deus dos ladrões, dentro de mim.
Larena cruzou as mãos sobre seu regaço. Tinha esperado ter que ganhar seu lugar naquele mundo de homens, mas ao mostrarem seu deus, estavam-lhe dizendo que ela era um deles.
Logan afastou Ramsey a um lado e sorriu de orelha a orelha.
—Eu levo o deus da traição, Athleatus, em meu interior.
Enquanto falava sua pele se voltou chapeada. Com uma piscada de seus olhos cor prata, voltou para seu lugar.
Então Lucan ficou em pé. Já havia se transformado e a olhava com uns olhos negros obsidiana.
—Eu sou um dos três. Em meu interior levo parte de Apodatoo, o deus da vingança.
Larena quis pedir que esperasse antes de voltar a transformar-se para poder ver mais, mas Fallon estava em pé a sua esquerda e sua atenção se centrou nele.
Olhou-a fixamente um segundo, dois, e logo se transformou ante seus olhos. Sua pele, dourada pelo sol, voltou-se negra como o carvão. Umas garras escuras saíram de seus dedos e umas bicudas presas brancas brilharam entre seus lábios.
Seus formosos olhos verde escuro desapareceram e em seu lugar pôde ver uns olhos tão negros como o céu noturno. Ela ficou em pé e levantou a mão para lhe tocar o braço. Perguntou-se que aspecto teria quando deixasse livre a seu deus e agora estava sobressaltada.
—Eu sou um de três. — A voz de Fallon encheu o grande salão, suave e imponente— O deus da vingança também está em meu interior.
Os dedos de Larena tocaram a cabeça de javali de ouro do torques que Fallon usava ao redor do pescoço. Ela tinha enfrentado a muitos wyrran durante todos aqueles anos, mas só tinha visto uns poucos guerreiros até então. Entretanto, admitiu que Fallon era o guerreiro mais formoso, mais imponente que nunca havia visto.
—Obrigada —sussurrou, e baixou a mão.
Logo, em voz mais alta, mas com os olhos ainda fixos em Fallon disse:
—Graças a todos.
Fallon sustentou seu olhar.
—Agora é uma de nós. Aqui tem um lar.
Um lar? Não tinha um lar desde que teve que deixar seu pai. Atreveria-se a permitir-se esperar ter algo que levava anos sonhando? A resposta era que sim porque a ideia de deixar a todos para trás era algo que não podia nem imaginar.
Os olhos começaram a queimar com lágrimas não derramadas. Não tinha chorado desde que enterrou seu pai, então, por que lhe provocava Fallon aquelas lágrimas?
Piscou rapidamente e Fallon já tinha voltado para sua forma normal. De novo, uns escuros olhos verdes a estavam olhando. Larena não pôde evitar pensar que se produziu uma grande mudança em sua vida em um abrir e fechar de olhos.
Fallon e os outros estavam oferecendo-lhe um lar junto a eles. Eles seriam sua família. Mas poderia permitir-se ela aproximar-se deles? Atreveria-se?

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 18


Fallon desejava envolver Larena entre seus braços. Viu em seus olhos azuis o vulnerável que se sentia e aquilo lhe produziu uma dor no coração que nunca imaginou sentir por causa de uma mulher.
Estava preocupado em como os outros reagiriam ao ter uma mulher guerreira entre eles, mas os homens mostraram sua aprovação. Não tinha certeza do que faria se tivessem atuado de um modo diferente. Certamente o que tivesse sido necessário.
Agora o que ficava era a própria Larena. Fallon sabia que temia a Deirdre. Não porque Larena encontrou-se alguma vez com a drough, mas sim pelas histórias de traições de Deirdre. Mas bastavam aquelas histórias para manter Larena no castelo?
Fallon fez um gesto a Larena para que ficasse em sua cadeira. Queria que conhecesse os outros para que se sentisse segura. Então Fallon se deu conta de que não confiava em si mesmo tendo-a tão perto.
As lembranças de quando tinham estado fazendo amor seguiam ainda vivos em sua mente e seu corpo desejava voltar a possuí-la. Entretanto, sabia que ela necessitava de tempo. Quanto tempo, era uma incógnita.
Virou-se e começou a andar para a porta do castelo quando a voz de Lucan o deteve.
—Aonde vai? —Perguntou seu irmão.
Fallon parou com a mão no fecho da porta.
—Vou dar uma olhada.
Abriu a porta e saiu à luz do sol antes que Lucan pudesse fazer mais perguntas. Fallon sentia como o deus em seu interior atirava dele, essa sensação tinha sido cada vez mais habitual desde que deixou de beber.
Correu e saltou às almenas com um sorriso no rosto ao fazer por fim o que seu irmão levava séculos fazendo e olhou o horizonte. Tinha negado os poderes de seu deus durante muito tempo e agora descobria que desfrutava fazendo coisas que os homens normais não podiam fazer.
Ninguém dos MacClure retornaram a reclamar o castelo ou a aldeia destruída desde que Fallon e os outros se transformaram e os tinham advertido que não retornassem jamais.
De algum modo, Fallon queria que os MacClure retornassem. Eles haviam se apropriado de suas terras enquanto ele estava lutando contra o mal. Precisava lutar, e quem melhor que o clã que lhe havia arrebatado suas terras e seu castelo?
A maioria das cabanas da aldeia ou tinham sido queimadas ou destroçadas pelos wyrran e os guerreiros de Deirdre. Lucan havia dito que ele e os outros recolheram tudo o que podiam da aldeia e levaram ao castelo.
Havia ainda alguns quartos livres no castelo, mas Fallon tinha o inconfundível pressentimento de que não seriam suficientes para todos. Poderia alojar mais gente no castelo se os guerreiros compartilhassem os quartos.
Entretanto, ali estava a aldeia. Não estava tão perto do castelo como gostaria Fallon, mas estava o suficientemente perto. Podiam reconstruir as cabanas e os guerreiros poderiam viver ali se surgisse à necessidade.
Estava profundamente concentrado pensando na aldeia quando de repente sentiu uma presença atrás dele. Fallon virou a cabeça e encontrou Ramsey. O guerreiro silencioso olhava para a aldeia enquanto apoiava as mãos contra as pedras da almena e apoiava um pé na parede.
—Fez o correto trazendo aqui a Larena —opinou Ramsey— Necessitaremos dela.
Fallon soltou um suspiro.
—Preferiria que não lutasse conosco. Sei que é uma guerreira e que matou a muitos wyrrans, mas só enfrentou outros guerreiros uma vez e isso quase acabou matando-a.
—Não jogaram limpo. —Ramsey voltou seus olhos cinzas para Fallon— E além disso, não permitirá que cuidemos dela.
—Sei —admitiu Fallon. E sabia. Tinha que reconhecer que ela podia cuidar de si mesmo e permitir que o fizesse ou acabaria perdendo-a para sempre.
—Importa-se com ela.
Não era uma pergunta. Fallon olhou fixamente aos imperturbáveis olhos cinzas de Ramsey um momento antes de assentir.
—Sim.
—O que quer fazer com a aldeia?
Fallon se surpreendeu pela súbita mudança de tema.
—Eu gostaria de reconstruir as cabanas e as fazer nossas. Pode que necessitemos mais espaço. No momento não vieram mais guerreiros, e ainda temos alguns quartos livres no castelo.
—Mas crê que isso nos beneficiaria?
—Sim.
Ramsey observou a aldeia durante um momento em silêncio.
—E se retornarem os MacClure?
—Já nos ocuparemos disso se acontecer. No momento temos outras preocupações mais urgentes. Pode ser que ninguém venha enfrentar-se conosco, mas devemos estar preparados.
—Estou de acordo. —Ramsey o olhou— Boa ideia, Fallon. Quando quer que comecemos?
Fallon se virou e ficou olhando o castelo. Ainda havia muito por fazer.
—Primeiro terminaremos com o castelo.
—A terceira torre está quase terminada e Hayden e Logan começaram a reconstruir a quarta.
Fallon escutou Ramsey enquanto apontava mentalmente o que já se fez e o que ficava por fazer.
—Bem.
Baixou o olhar ao ver que os homens saíam do castelo. Fallon saltou ao pátio aterrissando suave como um gato. Ramsey o seguiu.
—Cara e Sonya estão mostrando o castelo a Larena —disse Lucan.
Fallon fez um gesto assentindo a seu irmão e logo olhou aos guerreiros um por um.
—Necessito que todos pensem nas histórias que ouviram do Pergaminho. Quero começar a fazer uma réplica imediatamente.
—Todos queremos sair em busca de Quinn assim que soubemos que havia desaparecido —disse Galen— Mas tem feito o correto.
Fazia o correto? Era mais importante assegurar o castelo que libertar a seu irmão?
—Deirdre não lhe fará mal —aventurou Hayden.
Logan trocou seu peso de um pé a outro e cruzou os braços sobre o peito.
—Também quer a ti e a Lucan. Não se atreveria a fazer nenhum mal a Quinn, necessita o poder dos três.
—Nada disso importa —afirmou Fallon, mais laconicamente do que pretendia. Fechou os olhos e respirou fundo. Sabia que outros só tentavam ajudar, mas não podiam entender o desespero e a culpa que carregava como um peso sobre os ombros.
Quando abriu os olhos descobriu a Lucan com os olhos cravados no chão. Fallon suspirou e disse:
—Todos estivemos na montanha de Deirdre. Alguns mais tempo que outros, mas todos sabemos o que acontece ali dentro. Pode ser que não mate ao Quinn, mas só Deus sabe o que pôde lhe fazer a estas alturas. Não deveria ter ido a Edimburgo.
—Então não teria encontrado Larena —acrescentou Lucan levantando o olhar para Fallon— Com a habilidade que tem Larena de fazer-se invisível, pode chegar ao Quinn mais facilmente que qualquer um de nós. Pode ser que não necessitemos do Pergaminho.
—E então o que? —Perguntou Fallon— Pode ser que ninguém veja Larena, mas a Quinn poderão vê-lo. Acaso acredita que Deirdre não terá Quinn bem perto dela?
Ramsey, que tinha permanecido em silencio durante a conversa, virou-se para Fallon.
—Encontrar Quinn na montanha é importante. Uma vez que saibamos onde está, poderemos planejar nossa estratégia, inclusive se isso inclui ter que utilizar o Pergaminho falso. Se pudermos nos organizar para que você possa chegar até onde esteja Quinn, poderá trazê-lo de volta antes que Deirdre tenha tempo de compreender o que aconteceu.
—E o resto de vós? Supõe que deixarei em suas mãos? —Fallon sacudiu a cabeça— Não digo que a ideia não seja boa. Poderia funcionar, mas o último que quero é deixar alguém pra trás. Depois disto, nem sequer eu quero voltar para a montanha de Deirdre.
Logan, que normalmente sempre sorria, olhou para Fallon com uns sombrios olhos cor avelã.
—Eu tampouco quero ir ali absolutamente, Fallon, mas sei que Quinn o faria por mim. Assim enfrentarei de novo a essa malvada bruxa se isso trouxer a liberdade de Quinn.
Fallon fechou as mãos em um punho tentando controlar a emoção que se apoderava dele. Enquanto a ira pelo que Deirdre tinha feito a todos e cada um deles corria por seu sangue, suas garras se estenderam. Queria sair imediatamente a resgatar ao Quinn, mas seria precipitado e arriscado. Seu pai o havia ensinado a atuar muito melhor.
—Virão mais guerreiros —anunciou Galen— Larena disse que Camdyn estava a caminho.
—Esperemos que chegue antes que partamos —desejou Fallon.
—Tenho boa mão para desenhar —disse Ramsey rompendo o silêncio— Me contaram que o Pergaminho tinha símbolos celtas nas bordas.
—Sim —assentiu Hayden— me disseram o mesmo.
Fallon assentiu aos dois homens, agradecido de que Larena não tivesse que falar do Pergaminho que ela protegia.
—Bem, trabalharemos nisso. Qualquer que saiba algo mais sobre o Pergaminho, que diga a Ramsey e a Hayden ou que vá com eles. O resto terminaremos de reconstruir as torres.
Precisava fazer algo com as mãos, o que fosse para manter sua mente ocupada. Quinn estava preso e Larena estava cada vez mais longe de seu alcance. Podia vê-lo em seus olhos. Fosse o que fosse que tivesse havido entre eles em Edimburgo estava extinguindo, e se queria mantê-la a seu lado, teria que pensar rápido.

***

Quinn obrigou a suas pernas a que o mantivessem em pé apesar de seu corpo estava sumido em uma horrível agonia. Mal tinha começado a cicatrizar suas feridas quando os guerreiros de Deirdre haviam tornado a lhe torturar.
Foi despojado de suas botas e de sua túnica. Suas calças destroçadas até tal ponto que mal o cobriam. Só não haviam tirado seu torques, e não porque não tivessem tentado.
Quinn sorriu e logo fez uma careta de dor quando o lábio que tinha partido voltou a abrir-se. Os guerreiros não podiam compreender por que não podiam tirar seus torques, nem sequer fazendo uso de sua força extrema. Não se davam conta de que o torques parecia para que não se tirasse e, ao parecer, utilizou-se um pouco de magia para consegui-lo. Ao menos, essa era a explicação que Deirdre deu a seus guerreiros.
Quinn não se importava, sempre e quando aquilo fizesse que deixassem de tentar tirá-los. Estava exausto e dolorido. Ignorava quantas horas ou dias tinham passado desde que o transladaram à montanha.
Tudo o que conhecia era aquela escuridão, a fome atroz que o consumia o estômago e a constante agonia de seu corpo.
Os guerreiros tinham começado a fazer guarda diante de sua porta para golpeá-lo enquanto dormia. Assim que cedia ao sono, abriam a porta e começavam de novo a golpeá-lo. Quinn não tinha certeza de que Deirdre soubesse o que estavam fazendo seus esbirros[10].
Os olhos de Quinn se fecharam e o sono o reclamou imediatamente. Sentiu que seus joelhos cediam e despertou de um salto. Desejou gritar de frustração e ira, mas não se atreveu: isso proporcionaria a Deirdre o que queria.
Soltou uma gargalhada ao precaver-se que Deirdre conseguiu que fizesse o que seus irmãos não puderam obter em trezentos anos. Estava controlando a seu deus. Embora não sabia quanto tempo poderia aguentar assim. Cada fibra de seu corpo queria pôr suas mãos sobre os guerreiros que o estavam torturando e despedaçá-los. Quando pensou em matar, sua ira se multiplicou e o deus ameaçou liberando-se. Quinn lutou contra a crescente força de sua fúria e se concentrou em sua respiração e em manter-se acordado.
Os guerreiros que estavam à porta de sua cela ficaram em pé de repente. Quinn os observou com curiosidade, porque a única pessoa que podia fazer que os guerreiros reagissem assim era Deirdre. Embora ela não tinha ido vê-lo em... Bom, em muito tempo, havia lhe dito que não retornaria até que não liberasse a seu deus.
Obrigou a sua perna, recentemente torcida, a manter parte do peso de seu corpo, pois a outra estava intumescida. Deirdre apareceu sem mal olhar aos guerreiros. A porta se abriu e ela entrou na cela.
Deu-lhe uma olhada e virou de repente para seus guerreiros.
—Quem tem feito isto? —Perguntou.
Os três guerreiros olharam ao chão como se fossem três meninos pequenos aos que tinham surpreso mentindo.
—Acaso ordenei que voltassem a golpeá-lo?
Um dos guerreiros respondeu com uma voz quase inaudível.
—Não.
Quinn tentou manter os olhos abertos, mas a perna torcida enviava onda de dor por todo o corpo. Não poderia manter-se em pé muito mais e acabaria pendurando nas cadeias e forçando o ombro que já tinha deslocado. Seu corpo podia cicatrizar com rapidez, mas resultava complicado fazê-lo por causa da tortura a que o submetiam.
Ouviu gritar Deirdre, mas não pôde compreender o que disse. Mãos o agarraram e ele gritou quando moveram seu ombro deslocado. Então algo pousou sobre sua perna rota, a agonia foi atroz.
Quinn agradeceu a escuridão em que se inundou e o levou longe daquele inferno em vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 19

Larena desfrutava do tempo que passava com Cara e Sonya. Ambas as mulheres a tinham acolhido com sorrisos amáveis e muitas gargalhadas. Cara explicou como conheceu Lucan e contou suas lutas contra Deirdre.
Inclusive tinha visto como Cara fazia crescer uma planta. Larena sabia dos poderes dos druidas graças a Robena, mas não sabia que os druidas pudessem fazer crescer as plantas. Era incrível, e quanto mais tempo passava Larena com as druidas, mais conta se dava de quão importantes eram para os guerreiros e para a humanidade.
Ao parecer Sonya era uma druida muito poderosa. Não havia contado a Larena tudo o que podia fazer, mas Larena tinha ouvido que a magia da Sonya a ajudou na cura de suas feridas.
Entretanto, quando Larena perguntou de quem era o sangue que tinham utilizado para ajudá-la, nenhuma das duas mulheres respondeu, e Cara trocou rapidamente de conversa.
Larena se rendeu. Por alguma razão, elas não queriam que soubesse de quem era o sangue que corria por suas veias. Era estúpido, mas ela desejava que fosse de Fallon. Pode que não o fosse e por isso as mulheres preferiam não dizer-lhe.
A tarde transcorreu mais rápido do que Larena imaginou. Viu Ramsey e ao Hayden no grande salão trabalhando sobre uma parte de pergaminho, falando em voz baixa. Sabia que estavam trabalhando no Pergaminho e uma parte em seu interior desejava colaborar com eles. Mas era melhor não fazê-lo.
Em lugar disso, dirigiu-se à cozinha para ajudar Cara e a Sonya preparar o jantar. Os homens caçavam e traziam tudo que podiam, desde pescado e aves de curral a javalis e carne de veado.
—Nunca é suficiente —disse Cara rindo enquanto amassava a massa— Galen come como se tivesse dois estômagos.
—Três estômagos —acrescentou Sonya com um movimento de cabeça— Nunca tem o estômago cheio. Tivemos que começar a esconder parte da comida porque não parava de passar pela cozinha durante todo o dia.
Larena se uniu a seu júbilo. Aprendeu muito sobre cada um dos guerreiros com as mulheres. Logan tinha o costume de brincar com todo mundo, o que ajudava que seus espíritos não acabassem mais fundos. Ramsey estava acostumado a ser quieto, ficava só ou andava pelo perímetro do castelo sumido em seus pensamentos.
Hayden mantinha a distância com Cara por seu profundo ódio para os drough. A mãe de Cara era uma drough e Hayden suspeitava que Cara também acabaria convertendo-se em uma.
Lucan tinha ocupado o lugar de Fallon sem problemas assim que este partiu a Edimburgo e era um homem calmo e firme tal e como havia dito Fallon. Galen era o que parecia ter uma resposta para tudo.
Tinha passado tanto tempo desde que Larena estivesse entre mulheres ante as quais pudesse mostrar-se tal como era, que a princípio não sabia como atuar com Cara e Sonya. Mas as duas tinham obtido que relaxasse com suas brincadeiras, assim Larena se deixou arrastar dentro de seu pequeno círculo.
Chegou a hora do jantar. Larena não tinha visto Fallon em toda a tarde mais que de longe. Trabalhava mais e mais duro que os outros e foi o último a ir jantar. Ela tentou afastar o olhar de seu cabelo úmido, mas só pensava em passar os dedos pelos cachos castanhos que tinham começado a mostrar mechas douradas por causa do sol.
Todos tinham seu lugar na mesa. Larena não sabia onde sentar-se, e duvidou um momento. Esteve a ponto de unir-se a Logan e Hayden na outra mesa quando Galen lhe tocou o ombro.
—Há muito lugar entre Cara e eu.
Olhou aqueles olhos azuis perguntando-se se de algum modo tinha lido seu pensamento. Levantou uma sobrancelha loira enquanto esperava que ela respondesse.
Larena olhou à mesa e descobriu Fallon observando-a.
—Obrigada —respondeu.
Galen a seguiu à mesa um passo atrás e ela se sentou à direita de Cara. Esta virou para olhá-la com um sorriso alegre e o pequeno aperto que deu a Larena na mão estava carregado de autêntica cordialidade.
—Queria haver dito antes que se sentasse a meu lado —disse Cara.
Larena fez um gesto com a mão.
—Não se preocupe.
Enquanto comiam, cada um explicou o que tinha feito durante o dia. Larena surpreendeu ao ouvir que Fallon, Lucan e Galen tinham terminado a reconstrução da terceira torre e começado com a quarta.
—Deverá estar terminada em um dia ou dois —assegurou Lucan — Tenho que fazer algumas mesas e cadeiras mais para os quartos.
Fallon assentiu.
—Ramsey, como foi para você e ao Hayden hoje?
—Tal e como tínhamos previsto —disse Ramsey depois de engolir a comida que tinha na boca— Os símbolos são complicados de fazer.
—Estão muito bem —considerou Hayden— Ramsey não brincava quando disse que sabia desenhar.
—Perfeito. —Fallon arranhou o queixo enquanto franzia o cenho— Quanto tempo acredita que irá demorar para terminar?
Ramsey encolheu os ombros.
—Hoje não pude fazer tudo o que queria, mas agora que os primeiros símbolos já parecem, devera ir mais rápido. —Olhou Hayden— O que acha?
—Uma semana —estimou Hayden— Pode ser que duas.
Fallon suspirou.
—Esperava que fosse antes, mas entendo que não é uma tarefa fácil.
—E logo tem que curti-lo —acrescentou Lucan.
Hayden assentiu, com seus loiros cachos caindo sobre os ombros.
—Eu posso me encarregar disso. O processo pode durar um dia ou dois. Quanto mais o trabalhemos, melhor aspecto terá.
—Então o deixo encarregado disso e às hábeis mãos de Ramsey —concedeu Fallon. Deteve-se um momento e afastou o prato para pôr os cotovelos sobre a mesa. Seu olhar se encontrou com o de Larena e parou ali um momento— Sei que fui ao castelo de Edimburgo para pedir ao rei que nos devolvesse o castelo e só o castelo. Entretanto, não sei quantas pessoas virão ou se virá alguém mais.
—Virão mais —assegurou Logan— Sei que virão.
—Suspeito que tem razão, Logan, mas no castelo só dispomos de um número limitado de acomodações. Poderíamos começar a compartilhar os quartos se fosse necessário, mas tive outra ideia.
Lucan soltou uma gargalhada e assentiu.
—A aldeia.
—Sim —disse Fallon— A aldeia. Os MacClure não retornaram e não acredito que o façam. Ao menos não durante anos. Para então, pode ser que já não necessitemos da aldeia. Muitas das casas foram queimadas ou destroçadas no ataque de Deirdre. Só ficam seis em pé e tampouco estão em muito boas condições.
—Irei amanhã dar uma olhada e farei uma lista do que faz falta —disse Lucan.
Galen deixou seu copo em cima da mesa.
—Boa ideia, Fallon. Eu gosto de como pensa.
—Sim —secundou Hayden— Está suficientemente perto do castelo para trabalhar.
Ramsey voltou a olhar Fallon com seus intensos olhos cinzas.
—Já te disse antes que estava de acordo com sua decisão.
—Eu também —disse Logan.
Então Fallon olhou a Larena. Duvidou um momento e então virou e voltou o olhar para Cara e Sonya.
—O que pensam vocês?
—Eu gosto da ideia —assegurou Cara— Também poderíamos construir novas cabanas mais perto do castelo.
Lucan agarrou a mão de sua esposa e a beijou.
Larena sentiu inveja pelo amor que compartilhavam. Tinham passado por muito e se mereciam a felicidade que haviam encontrado. Perguntava-se se alguma vez encontraria uma felicidade assim e se o fazia, se seus problema de confiar nas pessoas a permitiriam amar desse modo.
—Sonya? —A voz de Fallon a tirou de seus pensamentos.
A druida de cabelo avermelhado umedeceu os lábios com a língua e encolheu de ombros.
—Preocupa-me pensar quem vai viver nas cabanas. O que acontecerá se acontecer outro ataque?
—Haverá outro ataque —assegurou Fallon— Não duvide. É só uma questão de tempo.
—E quem viverá nas cabanas? Guerreiros? O que acontecerá se vêm mais druidas? Quem permanecerá no castelo e quem na aldeia?
Hayden esclareceu a garganta.
—Eu estou disposto a ceder minha acomodação a um druida. Afinal, vamos necessitar dele e os druidas não podem proteger-se como os guerreiros.
—Estou de acordo —conveio Fallon— Tem algum guerreiro com problema com esta decisão?
—Não —responderam todos em uníssono.
Larena poderia ficar observando-os todo o dia. Adorava contemplar Fallon. Queria escutar as opiniões dos outros sobre suas propostas e não duvidava em mudar de ideia se fosse necessário.
Antes que pudesse dar-se conta, estavam levantando-se de suas cadeiras. Ajudou Cara e a Sonya a levar os pratos à cozinha.
—Impressionante, verdade? —Perguntou Cara, quando já estavam sozinhas.
Sonya soltou uma gargalhada.
—A mudança em Fallon é extraordinário, asseguro-lhe isso. Obviamente foi educado para ser o chefe de seu clã.
—Mesmo assim—disse Cara encolhendo os ombros— Eu gosto do modo em que inclui todo mundo. Não tinha por que perguntar o que opinávamos. De todas as maneiras, gostaria que tivesse consultado também Larena.
Larena sacudiu a cabeça.
—Por que iria fazê-lo? Eu acabo de chegar. Dei uma volta pelo castelo hoje, mas não vi a aldeia, nem estive aqui durante os ataques.
Cara pôs as mãos sobre os quadris, uma escura trança lhe caía pelo ombro.
—É uma guerreira. Deveria ter te perguntado.
—Fará uma vez que Larena tenha visto tudo —conveio Sonya.
—Não podia lhe dar nenhuma opinião —se apressou a dizer Larena a Cara— Ele sabe.
—Provavelmente —respondeu à pequena druida, e continuou esfregando os pratos enquanto Sonya secava os outros.
Com as três ajudando na cozinha, não custou muito limpar tudo do jantar. Larena escapuliu e saiu para as almenas. Queria uns momentos de solidão para poder pensar em tudo o que tinha acontecido desde que tinha conhecido Fallon. Nunca antes havia se sentido tão confusa por causa de um homem, mas também era certo que nunca antes tinha conhecido um homem como Fallon MacLeod.
Ele ocupava constantemente toda sua mente, e seu corpo ardia ante a necessidade de que a tocasse. Tinham transcorrido décadas sem ele, mas naquele momento, a cada hora sentia que o precisava. O que estava acontecendo com ela?
Olhou por volta das terras banhadas pela luz da lua e as gigantes rochas que formavam os escarpados que se uniam com o mar lá abaixo. Além da aldeia, Cara contou que se estendia um bosque onde se encontrou com Galen.
Não era de estranhar que Fallon desejasse retornar com todas suas forças. Aquele lugar era maravilhoso, justo o tipo de paragem selvagem como um homem das Highlands, como Fallon procuraria refúgio.
Respirou profundamente e o aroma a laranjeira embargou seu corpo.
Fallon.
Ela virou a cabeça e o viu aparecer entre as sombras. Seu coração acelerou, seu sangue aumentou de temperatura... E seu corpo sentiu ânsia. Desejava que ele levasse a mão e a tocasse, que a agarrasse entre seus braços e lhe oferecesse segurança, como tinha feito em Edimburgo.
Em lugar disso, parou a uns passos dela e ficou olhando-a.
—Como vai tudo?
—Bem, muito bem —respondeu ela— Todos foram muito amáveis, especialmente Cara e Sonya.
Ele assentiu.
—Me alegro de ouvir.
Produziu-se um silêncio entre ambos. Larena ficou nervosa sem saber o que dizer, nem o que queria ele. Ela sabia perfeitamente o que queria, mas havia dito a si mesmo que não poderia voltar a ter.
Se ele tentasse beijá-la, afastaria-se? Não acreditava que tivesse a força necessária para lhe dizer que não e tampouco queria fazê-lo.
—Sinto-me bem aqui —observou para romper o silêncio— Nasceu para ser líder.
—Meu pai estaria feliz de te ouvir dizer isso. Às vezes eu não estou tão certo.
Ela percebeu um ponto de dor em sua voz ao falar de seu pai. Apoiou os quadris contra as pedras.
—Seu pai estaria muito orgulhoso de você. Não tenha a menor dúvida, Fallon.
Ele entrecerrou os olhos e a olhou atentamente.
—Por que diz isso?
—Porque vejo o modo em que olha Lucan. Há orgulho em seu olhar, e amor. Seja o que for que aconteceu no passado, converteu-se no homem que supunha que tinha que ser.
—Se isso fosse verdade, você não teria estado a ponto de morrer.
Tinha falado com uma voz tão baixa que mal pôde ouvir suas palavras; mas mesmo assim, aquelas palavras a golpearam forte no peito.
—Não foi sua culpa.
—Disse que a protegeria. — Ele virou de lado oferecendo-lhe o perfil. A luz da lua banhava um lado de seu rosto.
Larena o olhou atentamente durante um minuto enquanto lutava contra a necessidade de tocá-lo.
—Eu saí pelo wyrran, Fallon. Sempre existiu a possibilidade de que Deirdre me descobrisse. E não esqueça nunca, sou uma guerreira.
Ele voltou à cabeça e a olhou.
—Sei o que é, Larena. Não tenho nenhuma dúvida de que pode lutar, mas poderia ter lutado contra dois guerreiros?
—Não sei —respondeu ela sinceramente— Era a primeira vez que enfrentava um. Antes só tinham sido os wyrran, os que cruzaram em meu caminho.
—Os wyrran são muito diferentes dos guerreiros.
—Pude comprová-lo com meu próprio sangue —murmurou, e voltou o olhar para a chapeada lua que pendurava do céu.
Ele suspirou e a olhou atentamente.
—Lucan treinou Cara para que pudesse lutar contra os wyrran. Possivelmente possamos te ajudar a treinar para lutar contra os guerreiros.
—Se tivesse podido utilizar meus poderes...
—Não conte com seus poderes —a interrompeu. Deu um passo para ela e baixou a voz— O que aconteceu deveria ter ensinado a lição. Sim, seu poder para se fazer invisível é uma grande vantagem, mas haverá vezes que não poderá utilizá-lo. Não preferiria estar preparada?
Ela sabia que o que ele estava dizendo era certo, mas custava reconhecer que tinha razão. Entretanto, o que outra coisa podia fazer?
—Sim.
O calor de seu olhar fez que estremecesse. Fechou as mãos em um punho para evitar jogar-se sobre ele.
Por que não abandonar-se ao desejo?
Porque temia que a influência de Fallon pudesse exercer sobre ela se seus sentimentos por ele continuassem crescendo. E ela sabia que continuariam crescendo. Se pudesse controlar suas emoções como controlava a sua deusa, não teria nenhum medo de apaixonar-se por ele.
E se já o tem feito? E se já estivesse apaixonada por Fallon?
Ela suplicou não estar. Não havia lugar em sua vida para o amor. Ou para o futuro.
Mentirosa.
Larena virou e se afastou de Fallon e seus suplicantes olhos. Ele podia ver muito e não queria que despisse sua alma naquele momento. Se o fazia, podia chegar a descobrir que ela escondia informação de grande importância.
Como odiava não lhe contar que ocultava o Pergaminho! Queria compartilhá-lo com ele, ajudar a ele e aos outros a criar uma falsificação que fizesse enlouquecer Deirdre. Sua promessa, entretanto, não permitia revelar.
Quando repetiu as palavras que disse a Robena, Larena nunca teria imaginado que chegaria a encontrar-se em uma situação como aquela. Tinha achado fácil fazer a promessa e manter o segredo contra todos, inclusive com seu marido se ela escolhesse casar-se.
Nunca pensou no matrimônio, nem muito menos em encontrar um homem que lhe fizesse pensar no futuro. Mas, ao parecer, o destino havia preparado outro caminho, gostasse ela ou não.
Larena piscou várias vezes para afastar as lágrimas que enchiam seus olhos. Odiava a debilidade que aquelas lágrimas traziam consigo. Ela era uma guerreira. Tinha que recordar.
Deteve-se e se apoiou contra a parede da almena, seus dedos acariciavam as frias pedras. Não sabia se Fallon a seguiu ou não, mas esperava que não o tivesse feito. Sua presença nublava sua mente e convertia em caos todos seus sentimentos.
Fallon não estava disposto a deixá-la partir tão facilmente. Larena era dele e era hora que soubesse. Alongou seus passos e a alcançou.
Suas mãos desejavam estreitá-la entre seus braços para poder sentir todas suas curvas e provar o néctar de sua boca. Em lugar disso, pôs suas mãos sobre as suas e apertou contra suas costas.
Ele inspirou seu particular aroma e o seu coração acelerou. Os cachos de sua cabeleira roçaram sua pele quando o vento os levantou de suas costas. Deixou a cabeleira solta e ele só desejava passar os dedos entre aqueles longos e suaves cabelos.
Fallon cedeu e lhe deu um beijo no pescoço. Foi um beijo rápido, mas ele pôde ouvir como suspirava. Um sorriso desenhou em seus lábios. Ela podia fingir que seu toque não a afetava, mas seu corpo dizia o contrário.
Era um estúpido por deixar-se tentar daquele modo, mas quando se tratava de Larena, não podia pensar com claridade.
—Sabe o muito que acende meu desejo? —Sussurrou ao ouvido dela.
Um calafrio fez que o corpo dela se sacudisse. Logo, virou-se para olhá-lo nos olhos. Fallon não afastou suas mãos das pedras. Sabia que se o fizesse, acabaria abraçando-a e não poderia deter-se, ao menos por esta noite.
Seu olhar percorreu todo seu rosto, desde suas arqueadas sobrancelhas a seu queixo, que se estirava quando ela ficava teimosa.
—Pode ser que seja sua boca —continuou dizendo Fallon em voz baixa— O sabor de seus beijos é mais embriagador que qualquer dos vinhos. Ou pode ser que sejam suas mãos, senti-las sobre meu membro faz que me ferva o sangue. Pode ser que sejam suas pernas e o modo em que as cruzou ao redor de minha cintura quando te penetrei. Pode ser que seja seu corpo e o modo em que meu membro o enche.
Ele parou e inclinou-se sobre ela. Deixou que seus lábios percorressem a pele de seu pescoço. A ela acelerou-lhe o pulso e o peito subia e descia agitadamente, ao ritmo de sua respiração.
—Pensei que você também sentisse o que há entre nós. —Soprou-lhe o pescoço antes de afastar a cabeça— Foi trazê-la aqui o que mudou as coisas? Se soubesse que converteria-se em uma pessoa diferente, teríamos ficado em Edimburgo.
Os lábios da mulher se entreabriram quando seu olhar baixou até sua boca. Fallon sabia que queria beijá-lo e, que os deuses o ajudassem, ele quase se deixa levar. Queria que Larena sentisse o desejo que ele sentia com a mesma intensidade que o afogava.
Não entendia o que havia acontecido, mas ela se distanciou dele. Era por culpa do anel e o Pergaminho que guardava? Tinha medo do que ele pudesse fazer se soubesse?
A ira substituiu o desejo que queimava seu corpo. Ela acreditou nele o suficiente para deixar que a levasse até ali, mas acaso não merecia nada mais?
Evidentemente, ele estava disposto a demonstrar-lhe o contrário.
Fallon deu um passo atrás e afastou as mãos.
—Desfrute da noite —desejou, e partiu. Foi o mais difícil que tinha feito em sua vida, mas se pretendia reclamar Larena como dele, ela teria que aceitar a paixão que existia entre ambos.
E a aceitaria, embora isso o matasse.

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 20

Larena sentiu tremer as pernas ao ver que Fallon se afastava dela. Deslizou pela parede e apoiou o rosto contra as pedras para tentar refrescar sua ardente pele, que desejava o tato de suas mãos, de seus beijos.
Fallon conseguia acender nela a paixão com muita facilidade. Só umas poucas palavras e o delicioso timbre de sua voz, e já estava desejando estar entre seus braços. Seu sexo palpitava ao pensar no alívio que ela sabia que só Fallon podia lhe dar, mas o que a provocava ia mais à frente do prazer físico. Estar a seu lado gerava algo em seu interior. Sentia-se mais perto da mulher que sempre imaginou que chegaria a ser.
Queria dizer a Fallon que não se enganava, que ela também havia sentido essa intensa paixão entre ambos. OH, como não tê-la sentido?
Seu corpo estremeceu ante a necessidade do tê-lo contra ela, sobre ela... Dentro dela. Pode ser que pensasse que poderia afastá-lo de sua vida, mas seu corpo não permitiria.
E seu coração... Queria desesperadamente mantê-lo a salvo, embora temesse que acabaria entregando-o ao chefe dos MacLeod.
Larena ficou em pé sobre suas instáveis pernas, o calor de suas bochechas a fazia desejar estar com Fallon. Respirou profunda e pausadamente e tratou de acalmar seu acelerado coração. A brisa acariciou sua pele recordando o calor do fôlego de Fallon. Só pensar nisso fez que sentisse como se tivesse mariposas no estômago.
Negar a necessidade que sentia por ele era absurdo. Tinham encontrado uma paixão juntos que ela nem sequer se atreveu a sonhar. Por que não tomar a felicidade que encontrara entre seus braços? Especialmente porque tampouco sabiam o que o futuro proporcionaria agora que Deirdre sabia de sua existência e Fallon havia dito que o próximo ataque estava por vir.
Larena deu meia volta e se apressou para seu quarto. Tinha pedido a Cara que lhe desse outro quarto, já que não podia permanecer no de Fallon. Agora desejava não tê-lo feito.
Já de volta em seu novo quarto, tirou o vestido que tinham tomado emprestado e se aproximou de uma terrina com água.


Fallon não deveria ter ficado surpreso ao saber que Larena tinha pedido que lhe dessem outro quarto. Mas se surpreendeu. Doeu mais do que estava disposto a admitir quando entrou e não viu o menor rastro dela. Era certo que ele raramente utilizava aqueles aposentos, mas tinha estado desejando todo o dia entrar no quarto e pensar que o compartilharia com ela.
Equivocou-se sobre o desejo que havia entre os dois? Tinham passado séculos desde que tomou pela última vez uma mulher, mas pensou que havia sentido algo diferente em Larena, algo que antes sempre tinha sido inalcançável, impossível.
Amaldiçoou Lucan e Cara. Lucan deu a Fallon a esperança de poder descobrir a felicidade em uma vida que até então tinha sido uma condenação.
Fallon deixou de olhar fixamente à porta esperando que apareceria Larena em sua busca e deixou-se cair na cama com um suspiro. Tinha que enfrentar o fato que ela já não o desejava. Não estava certo do que havia acontecido, mas imaginava que tinha algo a ver com seu anel e o Pergaminho.
Se fosse isso, ela nunca diria a ele, mas Fallon não estava disposto a abandonar seu plano. Não iria tirar o Pergaminho dela e nem permitiria que ninguém mais o tomasse. E embora ela decidisse contar a ele nunca poderia demonstrar o que pensava a respeito. Tudo era questão de confiança.
Nunca antes ninguém questionou sua lealdade. Em seu clã, acreditava-se, é obvio que era um homem honrado simplesmente por ser quem era. Entretanto, Larena passou a maior parte de seu tempo como uma guerreira sozinha. Aprendeu bem cedo a não confiar em ninguém. Assim não era de se estranhar que não houvesse dito nada a ele sobre o Pergaminho.
Fallon não tinha certeza de como conseguiria ganhar sua confiança, mas faria todo o necessário para conquistá-la. Era seu dever protegê-la, soubesse ela ou não.
Não deveria desejá-la com a intensidade que a desejava, sabia que não podia sair nada bom disso. Por muito que tentasse ser o homem que seu pai queria que fosse, Fallon havia fracassado de todas as formas possíveis. Tudo o que fazia agora, o fazia para reparar suas faltas do passado, mas não havia nada que pudesse emendar o mal que fez a seus irmãos.
E Larena? Atreveria-se a se aproximar tanto dela para que existisse a possibilidade de falhar com ela também? Não deveria desejar que o quisesse do modo que a desejava. Seria melhor para a Larena encontrar outro. Mas a simples ideia de que outro homem pudesse tocá-la provocava uma ira que Fallon nunca antes havia sentido.
Colocou um braço sobre os olhos com a intenção de encontrar o sono que sabia que não viria. Tinha a mente ocupada com Larena, Quinn, o Pergaminho e o próximo ataque de Deirdre. Pensou na aldeia e se perguntou se chegariam outros guerreiros e outros druidas ao castelo. Preocupava-se em pensar como poderia alimentar a todos e, o mais importante, como poderia proteger a todos de Deirdre.
Começou a sentir dor de cabeça. Havia muitas decisões a tomar, muitas vidas que tomar conta. Essa era uma das razões pelas quais olhava Lucan com tanta frequência. Mesmo que Fallon fosse o líder daquele pequeno grupo, queria escutar o que os outros tinham a dizer e assim considerar todas as possibilidades.
Não sabia quanto tempo passou olhando o dossel de sua cama. Soube, antes de cheirar os lírios, que Larena estava em seu quarto. Seu corpo a reconheceu imediatamente e o desejo que nunca o abandonava voltou a crescer em seu interior.
Fallon sentou e a viu em pé ao lado da cama, olhando-o fixamente. Seu cabelo dourado, solto e desordenado, caía pelo corpo nu ocultando seus preciosos seios à vista de Fallon. Queria agarrar sua mão e atraí-la para ele. Mas era ela quem tinha que ir até ele. Ela era a que tinha que reconhecer a inegável paixão que havia entre os dois.
—Não imaginou —sussurrou— Havia algo entre nós em Edimburgo. Ainda há algo entre nós, Fallon.
—Mas você não quer que haja nada, não é assim? Do que tem medo?
Ela sacudiu a cabeça e umedeceu os lábios com a língua.
—Não quero te querer, mas não posso deter os sentimentos que há em meu interior. Não posso pensar quando está perto de mim, mas quando não está, não posso pensar em outra coisa que não seja em você.
Fallon estava contente por haver tirado a roupa. Não queria perder nem um momento mais sem sentir sua pele contra o corpo nu de Larena. Agarrou os lençóis com os dois punhos e lutou contra o desejo descontrolado.
—Veio a mim —murmurou.
Ela sorriu ironicamente.
—Meu corpo está submetido a suas ordens.
—Igual ao meu às suas.
—Ah, sim?
Ela inclinou-se para frente e passou um dedo pela perna dele.
Ele tentou tragar saliva, mas tinha a boca seca. Quando sua mão se aproximou de sua virilha, seu membro endureceu, desejoso de sentir aquelas mãos sobre ele.
—Sabe que sim. Fui seu desde o primeiro momento em que a vi.
Agarrou os testículos dele entre os dedos e os acariciou brandamente.
—Não estou certa se devo acreditar.
Fallon estava ardendo. Não podia formar nem um pensamento coerente enquanto suas mãos o acariciavam, alimentando as chamas que já ameaçavam queimá-lo vivo. Deitou-se na cama, oferecendo-se por completo a ela.
—Esta noite sou todo teu.
—Bem — Sem deixar de acariciar os testículo dele, ela subiu à cama e ficou escarranchada sobre ele. Com a outra mão agarrou sua virilidade rodeando com os dedos toda sua envergadura. Acariciou-o de cima abaixo antes de passar os dedos sobre o sensível glande.
—Desde o primeiro momento em que o vi desejei tocá-lo assim.
Fallon não queria que parasse nunca. Seu membro saltou quando ela passou um dedo ao longo de sua ereção. Estava a ponto de explodir, mas não se importava. Larena estava com ele e estava tocando-o. Aquilo era suficiente.
Por agora, pelo menos.
Suas mãos sabiam onde tocar, quanta pressão aplicar para dar a ele o máximo prazer. O suor começou a aparecer em sua pele e apertou com força os lençóis em um esforço por não agarrá-la e lançá-la sobre a cama para penetrá-la.
Fallon gemeu e fechou os olhos ao sentir que o cabelo roçava suas pernas. O quente fôlego dele pousou sobre sua ereção, que ela tinha nas mãos e que se fez maior.
E então sentiu sua boca dela sobre ele.
Fallon gemeu e levantou a cabeça para poder ver. Os suaves lábios de Larena se acoplavam a seu membro enquanto o introduzia em sua boca e brincava com a língua. Nunca havia sentido nada parecido, nada tão fantástico nem tão excitante, em sua longa vida.
—OH, por todos os céus, Larena, está me matado! —Murmurou com os olhos fixos nos lábios dela, que pressionavam seu membro. Moveu as mãos para a cabeça dela para agarrar o cabelo, não tinha certeza se a pegava para deter aquele delicioso prazer ou para assegurar-se que nunca parasse.
Mas aquilo era muito. Podia sentir sua semente a ponto de transbordar e, embora o pensamento de ejacular em sua boca o voltou louco, queria sentir seu úmido sexo pressionando seu membro.
Fallon a levantou e a tombou de costas na cama com um só movimento. Inclinou-se sobre ela, com as mãos a ambos os lados de sua cabeça. Seus olhares se encontraram e ficaram quietos observando-se.
—Não tem nem ideia do que está fazendo comigo — disse ele. Tinha que fazê-la compreender quão importante ela era para ele.
Sorriu com picardia.
—Eu gosto de seu sabor. Quero mais.
Ele gemeu e apertou os dentes. Estava matando-o.
Fallon decidiu que ela necessitava também que ele fizesse algo, assim voltou a virá-la e se inclinou para agarrar um mamilo entre os lábios. Pousou os lábios sobre o pequeno mamilo. Riu ao notar que ficava duro.
—Fallon —disse ela em um grito afogado.
Não a fez esperar mais. Cobriu o mamilo com os lábios e deixou que sua língua brincasse com ele antes de mordê-lo brandamente.
Larena arqueou as costas e arranhou as costas dele. Ele esfregou sua virilidade contra seu sexo e sentiu a umidade que delatava que estava preparada e que ansiava seu tato.
—Posso provar seu corpo como você provou o meu? —Perguntou entre seus seios enquanto beijava um mamilo depois o outro.
Ela moveu a cabeça adiante e atrás.
—Por favor, não. Necessito-o. Agora.
Justo no momento que ele dirigia sua ereção para a entrada dela, ela o empurrou pelos ombros até que ele caiu de costas. Levantou o olhar para ela com um sorriso enquanto uma vez mais ficava em cima dele escarranchado sobre seu membro.
Ele estremeceu com a dolorosa necessidade de possuí-la, de inundar-se em seu calor e penetrá-la. Mas esperou. Ela o torturou mantendo sua ereção entre suas mãos, seu sexo em cima dele, oferecendo só de vez em quando um pouco de sua umidade.
Fallon gemeu e tentou pensar em outra coisa que não fosse a mulher que tinha sobre ele para tentar não ejacular. Mas exigia toda sua atenção e ele não podia lhe negar nada.
Milímetro a milímetro, ela foi descendo por seu duro membro. Fallon elevou os quadris para penetrá-la mais profundamente, mas Larena tinha o controle. Estava tornando-o louco de desejo.
E o encantava esse sentimento.
Uma vez que ela o teve por completo em seu interior, ele agarrou seus seios e começou a brincar com os mamilos enquanto ela começava a balançar sobre ele. Com a boca entreaberta e a cabeça para trás enquanto cavalgava sobre ele. Aquela era a imagem mais formosa que Fallon já tinha visto.
Fallon não queria esquecer nunca esse momento, não queria esquecer nunca os sentimentos que Larena provocava nele.
Beliscou-lhe os mamilos e brincou com eles entre seus dedos. Ela lançou um gemido agitando os quadris cada vez mais depressa. Ele estava a ponto de chegar ao orgasmo, mas não queria que aquilo terminasse. Nunca estava preparado para terminar com aquela sensação quando ela estava entre seus braços.
As unhas de Larena se cravaram em seu peito. Inclinou-se para frente e o beijou, roçando seus mamilos contra seu peito. Fallon a agarrou pelos quadris e empurrou contra ela tentando penetrá-la mais profundamente, com mais força. Ela sussurrou seu nome e ficou com as costas reta enquanto seus quadris voltavam a cavalgar sobre ele.
Fallon situou sua mão entre ambos os corpos e encontrou seus clitóris com o polegar. Esfregou o inchado ponto cada vez mais forte com cada gemido que saía de sua boca até que ela começou a agitar-se de puro prazer.
Ela gritou seu nome e se sacudiu. A primeira sacudida de seu orgasmo sobre seu pênis fez com que ele também chegasse ao clímax. Fallon se aferrou forte a Larena enquanto se rendia ante ela.
Seus braços a embalaram quando ela se desabou sobre ele. Os corpos já estavam cobertos do suor de ter feito amor. Ele podia sentir os batimentos de seu coração fortes no peito e se deu conta de que eram compassados com os dela.
Quando por fim ele foi capaz de abrir os olhos, ficou olhando o rosto que queria ver a seu lado cada dia do resto de sua vida. Dar-se conta disso deveria tê-lo surpreso, mas não o fez. Seu corpo tinha sabido que era Larena desde o primeiro momento, só que seu cérebro havia levado um pouco mais para chegar à mesma conclusão.
—Meu deus —murmurou ela sonolenta.
—Dorme. Eu estou aqui. —Aproximou-a dele e a beijou na testa.
Por uma vez, tudo era como devia ser.


Deirdre queria matar aos três guerreiros que se atreveram a torturar Quinn repetidamente, mas necessitava deles. Entretanto, podia e daria uma lição a outros pondo-os como exemplo.
Tinha chamado aos wyrran e a outros guerreiros à caverna que servia de grande salão. A montanha tinha feito um grande trabalho ao abrir aquele magnífico espaço para ela, mas também era certo que as pedras não podiam negar-se às suas exigências. Estavam conectadas, ela e as pedras, de um modo que o resto não podia entender.
Deirdre observou os guerreiros que estavam detrás dela. Estavam presos por correntes mágicas que saíam do chão e do teto, com os braços e as pernas separados. Também tinha arrancado toda a roupa deles.
Um dos guerreiros virou a cabeça para olhá-la por cima do ombro. Ela pôde ver o medo em seus olhos, tal como desejava. Eles não sabiam o que ia fazer com eles, e tinha chegado o momento de descobrirem.
—Estes três decidiram levar as coisas a sua maneira com um dos prisioneiros. —Sua voz enchia todos os cantos da caverna.
Virou-se para o grupo ali reunido.
—Não vou tolerar este tipo de ações. Obedecerão em tudo e em todo momento ou acabarão sendo vítimas de minha ira.
Deirdre soltou um longo suspiro e escutou os murmúrios dos ali reunidos enquanto algumas mechas de seu cabelo branco, que chegavam até o chão, começavam a flutuar a seu redor e se estendiam mais ainda. Ela olhou aquelas mechas que uma vez tinham sido dourados. À medida que seu poder tinha ido crescendo, a cor tinha ido desaparecendo.
Seu cabelo e seus olhos tinham algo especial que provocavam o medo nas pessoas. Ela sorriu e olhou de frente aos três guerreiros.
—Nunca mais voltarão a me desobedecer. Se o fizerem, os matarei. Compreenderam?
—Sim, senhora —responderam os três.
Deirdre deixou voar seu cabelo. Seu cabelo era uma arma que podia utilizar de muitas formas diferentes. Desta vez, utilizaria-o como um látego, embora já tinha matado com aquelas mechas e voltaria a fazer.
Uma e outra vez seu cabelo açoitou as costas dos guerreiros até que sua pele se abriu e o sangue começou a cair por suas pernas até o chão. Só então se acalmou sua ira.
Seu cabelo caiu sem vida até os tornozelos, já não era uma arma. Virou-se para um grupo de wyrran.
—Deixem aí até que suas feridas tenham cicatrizado. Logo, os lancem no fosso durante uma semana.
O fosso era o lugar onde ela colocava as pessoas que queria abater rapidamente ou as quais desejava uma morte truculenta. Só os mais fortes sobreviviam no fosso, mas inclusive esses, não duravam muito tempo ali dentro. A maioria se dava conta de que era inútil lutar contra ela e acabava morrendo ou unindo-se a ela.
Sem mais palavras, saiu do grande salão para as escadas que se perdiam nas vísceras da montanha. Fizera que levassem ao Quinn a seu quarto para que o banhassem e, com um simples gesto, encarregou-se de que ele estivesse dormido todo o tempo.
A porta de seu quarto se abriu quando ela se aproximou. Como sempre, os wyrran haviam sentido sua presença. Jogou um olhar a James, que ainda continuava preso apanhado pelas rochas como castigo, enquanto ela entrava no quarto. Dirigiu-se para a cama e olhou ao Quinn. A sujeira e a imundície das masmorras já não cobriam seu corpo nem seu cabelo.
O tecido que em algum momento tinham sido suas calças tinha sido arrancado e uma manta cobria a parte inferior de seu corpo. Deirdre afastou a manta e observou o homem que compartilharia sua cama, o guerreiro que lhe daria o filho que ela desejava e que faria que se cumprisse a profecia que tinham lhe contado muitos anos atrás.
Nunca tinha querido algo com tanto desespero como queria a Quinn, nem sequer o poder pelo que tinha matado. Havia algo nele que a atraía. Nunca nada antes lhe tinha sido negado, e Quinn não seria a exceção. Agora ele não compreendia, mas ela podia lhe oferecer o mundo inteiro e muito mais.
Deirdre acariciou seu rosto recém barbeado, logo seu peito marcado pelos músculos e desceu por seu estômago até posar em seus quadris. Depois agarrou seu flácido membro entre os dedos.
Podia utilizar sua magia para fazer com que ele a desejasse, mas não ia ter a necessidade de fazê-lo. Uma vez que tivesse mostrado a Quinn os prazeres que o esperavam em sua cama, ele iria a ela desejoso e por seus próprios pés. Além disso, se utilizasse sua magia, ele não poderia deixá-la grávida daquele menino e não podia arriscar-se a isso, não agora que voltava a tê-lo sob seu poder.
—Dorme, meu rei —sussurrou e o beijou no rosto—. Seu corpo precisa curar-se das feridas e não o fará se despertar e descobrir que está em minha cama.
Deirdre continuou acariciando seu membro até que este se endureceu. Ela sorriu. Aquilo era só o começo e embora ela quisesse saltar sobre ele e introduzir sua ereção em seu corpo, queria que ele estivesse acordado quando estivessem juntos. Acordado e desejoso.
—Você gosta de meu tato? Sei o que te provoca prazer, Quinn. Em minha cama, experimentará prazeres que vão além de sua imaginação.
O beijou no peito e começou a mover o punho acima e abaixo ao longo de sua ereção. Quinn elevou seus quadris para encontrar-se com ela e entreabriu a boca ao soltar um longo e profundo gemido cheio de prazer e desejo.
Os irmãos MacLeod se mantiveram afastados dos outros humanos e ao fazê-lo, negaram-se a si mesmos o abandono físico que seus corpos necessitavam e o insaciável apetite que sentiam como guerreiros.
Seu membro se fez mais grosso, mais largo. Ela se inclinou sobre ele e o pôs na boca. Quinn levantou os quadris da cama, penetrando-a com mais ímpeto. Ela introduziu todo o membro na boca e começou a gemer quando ele começou a empurrar com mais força. Tinha um sabor maravilhoso; utilizou sua língua para lhe dar mais prazer e sorveu com força. De repente o corpo de Quinn se sacudiu e encheu a boca dela com sua semente.
Deirdre moveu seus quadris para sua ereção e beijou o membro. Era espetacular e não podia esperar para senti-lo em seu interior. Era uma lástima que estivesse dormido.
Sua paixão reacendeu ao olhar seu pênis, que agora descansava sobre seu estômago, ainda meio ereto por causa de suas carícias. Ela poderia agradar a si mesmo, mas necessitava de mais.
Deirdre se levantou da cama.
—Procure William —ordenou a um wyrran—. Envie-o ao banho, eu estarei esperando no meu quarto.
O wyrran correu para cumprir suas ordens. Deirdre se despiu e se deitou junto a Quinn. Seu corpo tremia de desejo para tê-lo, por ter seu membro em seu interior. Mas tinha que ser forte. Se o possuísse agora, tudo o que tinha feito, todo o poder que tinha acumulado, não teria servido para nada.
Enfureceu-a que ela, a druida mais poderosa que já tinha existido, não pudesse fazer com que o único homem que ela desejava a desejasse também. Aquele era o único aspecto no qual sua magia era inútil.
Para engendrar o filho que tinha sido predito, não podia utilizar nenhuma magia sobre o Quinn ou o menino nunca seria concebido.
Deirdre tinha imaginado que vencer a vontade de Quinn seria fácil. Deveria ter sabido que ele lutaria contra ela. Mas essa era uma das razões pelas quais ela o tinha escolhido para ser seu rei.
A ira que havia no interior de Quinn não poderia continuar sendo reprimida durante muito tempo. Não teria que esperar muito para que ela saísse dele. Lucam e Fallon podiam tentar tudo o que quisessem para o libertar, mas não conseguiriam.
Então, os três MacLeod estariam em seu poder.

 

 

 


CAPÍTULO 21
Ainda faltavam algumas horas para o amanhecer quando Fallon despertou e descobriu que Larena ainda estava entre seus braços. Observou-a enquanto dormia durante um momento antes de permitir que suas mãos acariciassem seu suave corpo. Seu corpo era flexível e tinha os músculos tonificados, mas com as curvas de uma mulher que podiam fazer que um homem tivesse uma ereção só de pensar nelas.
Ele sustentou um seio em sua mão e passou o polegar por cima do mamilo. O pequeno mamilo se endureceu e ficou tenso olhando para ele, como se procurasse mais do prazer que ele queria lhe proporcionar.
Para sua surpresa, seus lábios se moveram contra seu pescoço, lambendo-o. A sensação de sua boca contra seu corpo enviou uma onda de desejo justo a seu membro. Ficou duro, desejando estar dentro dela uma vez mais.
Larena gemeu e levou as mãos para alcançar sua ereção.
—É a isto ao que acha que vim?
Fallon afogou uma gargalhada.
—Por favor, me diga que sim. Antes de você, passei trezentos anos sem tocar uma mulher. Não posso imaginar passar um momento mais sem te possuir.
—OH, Meu deus. —Ela o olhou de frente—. Trezentos anos? E eu que pensava que meus oitenta anos tinham sido uma eternidade.
—Se não veio para se aproveitar de mim, então, para que vieste? Nua e em meio à noite?
O brilho em seus profundos olhos azuis fez com que se encolhesse seu estômago. Desfrutava olhando-a, adorava ver cada pequeno gesto que cruzava seu rosto. Era tão expressiva e fascinante que desejava reclamá-la como dele.
—Sim, estou nua, meu formoso chefe. Deveria me cobrir?
—Nem se atreva — disse ele, e a reteve quando ela tentou afastar-se de seus braços—. Eu adoraria que não usasse nenhuma peça de roupa o resto da vida.
A formosa risada de Larena alagou o quarto.
—O resto de minha vida? Isso pode ser muito, muito tempo, deveria sabê-lo. O que te parece se não ponho nada durante o resto da noite?
—Bom, na realidade vai levar um pouco mais.
—De verdade? —Perguntou arqueando as sobrancelhas—. E o que é isso?
—A mim.
Pôs sua boca sobre a dela e introduziu a língua entre seus lábios. Adorava o modo em que ela o beijava e se aferrava a ele.
Ela terminou o beijo e pôs um dedo sobre os lábios.
—Desfrutei te agradando antes. Quer que volte a fazê-lo? Quero explorar seu corpo, Fallon. Quero aprender o que você gosta e o que te dá prazer.
—A resposta é você. Você me dá prazer.
Nenhuma das mulheres que tinha levado antes à sua cama havia dito aquelas palavras. Gostavam de como ele dava prazer a elas, mas nenhuma antes tinha perguntado como satisfazê-lo.
As mãos de Larena correram por seus ombros até seu pescoço antes que seus dedos se entrelaçassem com seu cabelo. Puxou brandamente pelo cabelo e o acariciou no cabelo com as unhas. Aquilo o fez sentir calafrios por toda a pele, mas também o recordou que usava o cabelo mais longo do que agora estava de moda.
—Acredito que terei que cortar o cabelo.
—Nem se atreva — sussurrou—. Eu adoro tal e como o usa. E eu adoro isto.
Fallon pôs uma mão sobre a sua que estava sobre a cabeça de javali de seu torques.
—De verdade?
—É de um tempo passado, mas um tempo ao que pertence. É a essência das Highlands, Fallon. Tudo o que há em ti faz que a gente saiba que é um autêntico homem destas terras.
Seus dedos capturaram forte os dela. Ele não sabia se ela entendia o significado do que havia dito, mas ele sim. Aquela mulher o tinha ajudado a recuperar uma parte dele mesmo que se perdeu quando Deirdre desatou o seu deus. Ela o tinha ajudado a recordar quem era na realidade.
Um homem das Highlands.
Fallon a deitou enquanto a beijava ardorosamente, mostrando sem palavras o muito que a queria a seu lado. Seus lábios se separaram dos dela e deslizaram por seu pescoço e seus seios. Fez círculos com sua língua ao redor de um mamilo antes de mordiscá-lo.
Ela lançou um grito de prazer, mas Fallon só acabava de começar. Trocou ao outro seio e passou a língua por cima do mamilo, já duro antes de fechar a boca sobre ele e sugar.
Desejava estar dentro dela, mas ainda tinha que lhe dar mais prazer. Fallon desceu até seu estômago, parando durante o caminho para beijar o umbigo e mordiscar os quadris. Pôs seus braços sob seus quadris para mantê-la quieta antes de inclinar-se e lamber o sexo dela.
Larena não havia sentido nunca antes nada tão maravilhoso. Tinha um gemido apanhado na garganta, seu corpo era incapaz de mover-se enquanto Fallon seguia movendo sua língua sobre sua parte mais sensível. Com as mãos segurando firmemente os quadris, ela não podia fazer outra coisa que rezar para que aquele incrível prazer não terminasse nunca.
Ela gritou de prazer quando sua língua começou a brincar com seus clitóris. Podia sentir como se inchava à medida que seu desejo ia crescendo. Ela agarrou seus antebraços com as mãos e balançou seus quadris para ele.
Como se ele soubesse que estava a ponto de chegar ao clímax, Fallon agarrou o clitóris entre os lábios e aspirou. Seu corpo se acelerou enquanto gritava seu nome entre as convulsões do orgasmo, deixando-a ofegando e com o corpo ainda tremendo.
Ele continuou acariciando-a com a língua até que os últimos espasmos desapareceram. Então se levantou e a virou de cara contra a cama. Levantou os quadris dela no ar e de um empurrão, entrou nela.
—Fallon —sussurrou ela enquanto seus dedos se agarravam aos lençóis.
Fallon sabia perfeitamente como se sentia. Ele queria prolongar aquele momento, mas não podia aguentar muito mais. Fallon começou a mover-se com força contra seus quadris, primeiro lentamente, logo mais rapidamente à medida que seus gemidos aumentavam.
Adorava ver como Larena chegava ao êxtase. E saber que ele tinha dado tanto prazer o enchia de orgulho. Saiu dela deixando só a ponta em seu interior. Logo voltou a penetrá-la com ímpeto.
Seu desejo crescia rapidamente como sempre que estava com a Larena. Mas era capaz de mantê-lo controlado enquanto lhe dava prazer. Não foi até que não sentiu mais seu corpo contrair sobre seu pênis em outro orgasmo quando ele perdeu o controle.
—Larena! —Gritou quando sua semente se derramou com um orgasmo que o deixou um pouco enjoado.
O orgasmo o deixou débil e satisfeito. Enquanto se deitava de lado, ainda dentro dela, soube que nunca se cansaria do corpo de Larena e da satisfação que proporcionava.


Larena despertou nos quentes braços de Fallon, suas pernas se encontravam entrelaçadas e seus rostos colados. Amanhecia e pela janela entreaberta do quarto entrava uma tênue luz que a permitia ver seu rosto claramente. Não podia recordar da última vez que tinha dormido tão placidamente ou tinha sido tão feliz. Tudo era pelo Fallon, ela sabia.
Fallon, que tinha demonstrado o muito que a desejava. Tinha sentido em seus beijos, tinha visto em seus olhos. Não tinha ocultado nada.
E aquela última noite, ela tampouco.
Por só uma vez, queria ser a moça que tinha encontrado um homem que a agradava e a fazia se sentir como a mulher que era. Fallon tinha dado tudo aquilo e muito mais.
Uma lágrima correu pela extremidade do olho e deslizou por seu rosto para aterrissar sobre o braço de Fallon, que lhe acariciava o cabelo. Desejava poder ficar com ele, tal como estavam, para sempre. Mas sabia melhor que ninguém que nunca nada durava para sempre.
Larena se separou de seus braços lentamente e se levantou da cama. Mais lágrimas ameaçavam transbordar de seus olhos e não queria que ele despertasse e a encontrasse chorando por um futuro que nunca poderia ser.
O que o tornava tudo mais complicado é que ela temia que já tinha se apaixonado por Fallon. Se ele despertasse naquele preciso instante e pedisse o Pergaminho, ela o daria e rezaria para que não a odiasse por tê-lo escondido dele.
Aproximou-se para lhe acariciar o rosto, mas parou antes de fazê-lo. Ele podia despertar e a atraíra para seus braços de novo. Então ela não poderia resistir. Nunca tinha sido capaz de opor-se.
Aceita-o. Aceita o futuro que te oferece.
E se ele descobria alguma vez o que era o anel que ela usava no dedo? Odiaria-a, e teria toda a razão para fazê-lo, apesar de todos os juramentos que ela tinha feito. Fallon valorava a família e a honestidade. Ela não podia lhe dar nenhuma das duas coisas.
Tudo o que podiam compartilhar era a paixão que nenhum dos dois podia negar. Ela esperava que aquilo fosse suficiente porque era tudo o que podia permitir-se dar.
Larena se afastou uns passos dele e se dirigiu à janela pela qual tinha entrado a noite anterior. Convocou à deusa de seu interior e ficou invisível. Durante um longo momento ficou olhando-o, quase desejando que despertasse.
Quando já não pôde resistir mais, Larena saltou pela janela. Voltou para seu quarto e se transformou antes de acomodar em sua cama e deixar brotar as lágrimas que tinha estado aguentando.
Ao despertar sua deusa, ela tinha ficado surpresa, tinha tido medo e de uma vez havia sentido um pouco de excitação. Não tinha compreendido então o perigo que a aguardava. Ou a solidão seria sua eterna companheira.
Foi depois da morte de Robena e do assassinato de seu pai que Larena compreendeu o futuro que a esperava. Não podia confiar em ninguém.
Robena não tinha importado que Larena fosse uma guerreira. Os druidas sabiam que podia haver outras guerreiras. Não, o que Robena se preocupava era com o Pergaminho. Tinha inculcado aquela preocupação em Larena até que se converteu em uma obsessão, só no que podia pensar.
Larena queria tirar o anel e lançá-lo longe para esquecer que existia. Lançaria-o ao mar se soubesse que Deirdre nunca o encontraria. Mas Deirdre tinha muitos modos de averiguar as coisas. Larena não podia arriscar-se, não importava o que lhe dissesse seu coração.


Fallon fingiu dormir até que já não pôde cheirar o perfume de Larena. Só então abriu os olhos. Tinha desejado que ficasse com ele até pela manhã para poder voltar a fazer amor.
Algo estava acontecendo. Larena não havia dito nada, mas ele havia sentido seus olhos cravados sobre ele quando se levantou da cama, tinha podido sentir seu desejo. No que tinha estado pensando?
Ela estava acostumada a estar sozinha e a fazer o que queria. Não a reprovava isso, mas desejava poder despertar e encontrá-la ainda entre seus braços.
Fallon se sentou e esfregou o rosto com as mãos. Queria pensar que a noite anterior tinha feito algum progresso com ela, mas não tinha certeza disso. Aquela mulher gostava de seu tato, sabia. Mas era isso suficiente para mantê-la junto a ele? Atreveria-se a tentar?
Por muito que quisesse uma resposta, não a tinha. Soltou um longo suspiro antes de levantar-se da cama e se preparar para começar o dia. Depois de vestir-se, abriu a porta e encontrou Lucam de pé frente a ele com a mão levantada para bater na porta.
—Vai tudo bem? —Perguntou Fallon a seu irmão.
Lucam lançou um olhar furtivo ao corredor.
—Posso falar contigo um momento?
Fallon se pôs a um lado para deixá-lo passar. Fechou a porta atrás de Lucam e se apoiou contra ela esperando que seu irmão falasse.
Lucam parou no meio do quarto e se virou para olhá-lo.
—Cara está preocupada com Larena.
—Por que?
—Oxalá soubesse —lamentou Lucam com a mandíbula apertada pela frustração—. Era só o que podia falar ontem à noite. Não deixa de dizer que Larena parecia preocupada.
—Com certeza que está. Atacaram-na e quase perde a vida. Despertou em um lugar estranho com gente que não conhece. Preocupava-se em ver como a aceitariam os guerreiros. Larena passou a maior parte de seus cem anos como guerreira sozinha. E não confia em ninguém.
Lucam entreabriu os olhos.
—Isso é o que disse a Cara, mas já conhece minha esposa. Gosta de arrumar as coisas.
Fallon sorriu.
—Arrumou você.
—Disse a Cara que Larena necessitará de um pouco de tempo. Sei o difícil que foi para nós viver com o deus, mas não posso nem imaginar o que terá sido para Larena sendo uma mulher.
Lucam assentiu e olhou para a cama.
—Já disse a ela que sabe o que é o anel que ela guarda?
—Não, nem tampouco pretendo fazer. Deixe-a, Lucam. —Fallon ficou tenso contra a porta—. Se não quer me dizer, que assim seja. Terá suas razões.
—O que acontecerá se ela esconder algo mais?
Fallon fechou os olhos e respirou profundamente.
—Pode ser que assim seja. Não confia em mim.
Lucam franziu o cenho e olhou atentamente a Fallon.
—Importa-se muito com ela, não é mesmo?
—Meus sentimentos por ela são fortes, tenho que admitir. Quero-a em minha vida. Não posso explicar o que me acontece quando ela está a meu lado.
Lucam se aproximou dele.
—Me alegro que tenha encontrado sua mulher, irmão. Você esteve ao lado de Cara quando ela necessitou, eu estarei ao lado de Larena se me necessitar.
A Fallon não passou despercebida a dúvida nos olhos de Lucam.
—Sei que não fui um bom irmão estes últimos trezentos anos. Deixei que te encarregasse de muitas coisas e por isso nunca poderei pedir suficientes desculpas.
—Não —disse Lucam—. Todos tínhamos que enfrentar o que nos tinha acontecido.
—Se não tivesse estado bêbado, possivelmente tivéssemos podido ajudar o Quinn. Sempre me amaldiçoarei por isso.
Lucam pôs a mão sobre o ombro de Fallon e deu um apertão.
—É um bom homem e um bom líder. Afastou-se da bebida e se encarregou de fazer o que é necessário. Confio em seu julgamento, Fallon.
—Então confie também em mim sobre Larena. Necessito dela, Lucam.
Lucam sustentou o olhar um momento e logo deixou cair a mão a um lado e assentiu.
—Farei o que me pede, irmão.
—Obrigado.
—Vamos. É hora de comer algo —sugeriu Lucam, e se dirigiu para a porta.
Fallon olhou para a cama com os lençóis revoltos. A imagem de Larena em cima dele com a cabeça para trás atravessou sua mente. Estava decidido a tê-la em sua cama todas as noite, embora tivesse que seduzi-la cada vez.
Sonya já tinha posto a comida sobre a mesa quando ele e Lucam entraram no grande salão. Cara saiu da cozinha com três pães nas mãos, um sorriso no rosto e os olhos brilhantes ao olhar seu marido.
Galen entrou no salão do pátio esfregando as mãos. Sentou-se à mesa e cheirou o ar.
—Pão quente e leite. Levo toda a noite faminto.
Cara riu e pôs um pão inteiro diante de Galen.
—Raciona-o e assim não terá que atacar a cozinha à noite.
Ele olhou Cara e sorriu.
—Não posso evitar quando tenho fome.
Lucam e Sonya riram abertamente quando Galen partiu o pão e o soltou imediatamente ao queimar os dedos. Fios de fumaça saíam das duas partes de pão e desapareciam sobre sua cabeça.
Hayden e Logan apareceram da cozinha e serviram seus pratos antes de sentar-se. As conversas encheram o salão trazendo à memória de Fallon muitas lembranças.
Ele observava tudo com interesse. Quando ele e seus irmãos retornaram ao castelo e o encontraram em ruínas, nunca tinha imaginado que voltaria a ouvir as risadas enchendo-o.
Havia passado quase trezentos anos e uma guerra que estava a ponto de chegar com Deirdre, mas as pedras estavam sendo posta de volta a seu lugar e de novo o castelo se enchia de pessoas. Eles eram agora sua família, sua responsabilidade.
Fallon soube qual era seu papel no momento em que deixou o vinho e começou a tomar decisões. Ainda o aterrava o pensar que pudesse tomar uma má decisão. Entretanto, outros o seguiam sem se importar com nada.
Cara pôs duas fatias de pão no prato e o beijou no rosto.
—Estou tão contente que tenha voltado. Isto não era o mesmo sem você aqui.
Deu uns golpezinhos na mão de sua cunhada e lhe ofereceu um amplo sorriso. Cara tinha um bom coração. O abria a qualquer um que necessitasse seu amor e sua atenção. Havia pouca gente como ela no mundo.
—Obrigado.
Seu sorriso se desvaneceu e seus olhos escuros pousaram sobre os de Fallon.
—Confia em você e em seu julgamento, Fallon. Conseguiremos trazer Quinn de volta.
Ele forçou um sorriso. Ela sempre tinha tido a habilidade de ler sua mente e a de seus irmãos com precisão, às vezes com muita precisão.
—Claro que conseguiremos.
—Agora come. Tem um longo dia pela frente.
Fallon esperou até que Cara se afastou para levantar os olhos para Lucam. Os olhos verde mar de seu irmão estavam apagados, mas cheios de determinação. Lucam sempre tinha sido forte e isso não tinha mudado.
—Iremos à aldeia hoje —disse Fallon—. Sei que disse que tínhamos que terminar a quarta torre, mas não posso esperar. Galen, você e Logan virão conosco.
Galen assentiu e colocou outro pedaço de pão na boca.
—Espera problemas?
—Não, mas é melhor que estejamos preparados.
Ramsey desceu as escadas e ocupou seu lugar.
—Quer que Hayden e eu vamos também?
—Não quero deixar Cara e Sonya sozinhas.
Sonya entreabriu os olhos e soprou.
—Não estarão longe.
—Eu vou com vocês.
O coração de Fallon parou ao escutar aquela voz tão familiar. Virou-se para as escadas e viu Larena. Usava o cabelo recolhido na base do pescoço com um laço anil que fazia jogo com seu vestido. Gostava de vê-la com aqueles singelos vestidos. Usava-os com muita mais normalidade e confiança que os modernos vestidos da corte.
Larena tinha aprendido a adaptar-se de um modo que nem ele nem seus irmãos tinham feito. Podiam aprender a lição com ela.
—Se lhe parecer bem —matizou Larena ante o repentino silêncio.
Fallon umedeceu os lábios e se obrigou a manter-se calma em lugar de sair correndo para ela e agarrá-la entre seus braços para beijá-la.
—Perfeito.
Larena desceu o lance de escadas que faltava para chegar ao salão e se dirigiu à mesa. Voltou a sentar-se entre Cara e Galen. Fallon queria que estivesse a seu lado, no lugar reservado para Quinn.
Tinha todo o tempo do mundo para cortejá-la enquanto se convertia no homem que queria ser. Fallon não gostava que aquilo pudesse durar vários anos, mas estava decidido a que finalmente fosse sua sem se importar o muito que custasse.
Fallon se incomodou que ela não o olhasse enquanto comia. Mantinha sua atenção fixa em Cara e Sonya, de vez em quando olhava Galen ou Ramsey e falava com eles.
Fallon fazia um momento que tinha terminado de comer e estava falando com Lucam sobre a reconstrução de algumas das cabanas mais próximas ao castelo quando Larena levantou o olhar. Fallon se encontrou com seus maravilhosos olhos azuis e viu a incerteza que havia neles.
Mas sobre o que tinha dúvidas, não sabia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 22

Fallon caminhava para a aldeia com Lucam à sua direita e Larena à sua esquerda. Atrás dele iam Galen e Logan. Ficou observando toda aquela destruição que tinha diante e jurou estar ouvindo ressonar na brisa ainda os gritos de todos os inocentes que tinham morrido na aldeia.
Não fazia muito tempo, a aldeia tinha estado transbordante de vida, mas Deirdre a tinha arrasado em seus esforços para encontrar Cara. Agora, Só os fantasmas perambulavam pelas ruas vazias e as cabanas queimadas.
No final da aldeia, um pouco afastado e rodeado por um pequeno bosque de carvalhos, estava o convento no qual Cara tinha crescido. Órfã e repudiada por todos, tinha encontrado um lar ali com as monjas.
Com frequência Fallon tinha subido às torres para ver as pessoas caminhando pela aldeia, com uma alegria que chegava inclusive até o castelo. Não havia nada como o som da risada de um menino. Era pura, singela e contagiosa. Chegava às pessoas diretamente ao coração.
Agora a aldeia estava inquietantemente silenciosa, e aquilo perturbava a Fallon mais que os sinais do fogo nas muralhas do castelo.
—Deirdre fez isto?—perguntou Larena quando chegou à primeira cabana incendiada. Pousou a mão sobre a porta que pendurava de uma única dobradiça.
Fallon assentiu.
—Mataram todo mundo.
—Igual o que fizeram com seu clã —murmurou ela, e voltou o olhar para ele.
Fallon a olhou e viu quão profundos eram seus sentimentos. Ela não tinha conhecido os habitantes da aldeia, mas podia sentir a dor de sua perda. As lembranças da massacre de seu próprio clã já não lhe doíam tanto como antes.
Ele não podia trocar o que lhe tinha acontecido a sua família e a seu clã, mas podia assegurar-se que Deirdre não matasse mais inocentes.
Galen deu uma patada aos restos de uma porta que estava no meio do atalho.
—Oxalá tivesse estado aqui durante o primeiro ataque. Ao ver isto, tenho vontades de encontrar os guerreiros e os wyrran responsáveis por esta massacre e cortar suas cabeças.
Lucam suspirou.
—Se tivéssemos sabido que Deirdre ia enviar seu exército, teríamos podido salvar alguns. Tal e como aconteceu, Só pudemos proteger Cara.
—Não —disse Logan. Sua voz, que habitualmente soava alegre e amistosa, agora era fria e dura como o gelo—. Não importa o muito que tentemos. Não podemos salvá-los. Não se Deirdre estiver no meio.
Fallon e os outros se viraram para observar o guerreiro. O sorriso habitual de Logan e seus brilhantes olhos se esfumaram. Olhava atentamente para a aldeia vazia como se estivesse vendo uma imagem de seu passado, um passado cheio de morte e traição.
Fallon sabia que todos os guerreiros de seu castelo tinham um passado. Alguns falavam disso, outros não. Logan era um dos que guardavam seu passado para ele sozinho, mas o que Fallon estava vendo agora em seus olhos o preocupou mais que o ódio que mostrava Hayden para os drough.
—Logan? —Disse Fallon com cuidado.
O jovem guerreiro se sacudiu como se tivessem lhe dado um bofetão. Seus lábios se alargaram em um grande sorriso que mal chegou a mostrar-se em seus olhos.
—Acredito que quero a primeira cabana. A ideia de compartilhar um quarto com o Hayden me dá náuseas.
Todos riram a gargalhadas ante o comentário, mas Fallon sabia que algo escuro e perigoso rondava no interior do Logan. Fallon se deu conta do que estava fazendo Logan. Em lugar de esconder-se atrás do vinho como tinha feito ele, Logan brincava com todos para conseguir passar os dias. Era o modo de escapar de seu passado.
Fallon estava decidido a prestar mais atenção no jovem guerreiro. Não tinha perguntado o que tinha acontecido com sua família, e mesmo que fizesse, não tinha certeza se Logan diria a verdade. Pode ser que Hayden ou Ramsey soubessem algo. Fallon tomou nota mentalmente de que tinha que falar com os dois guerreiros logo que fosse possível.
Lucam deu uns golpezinhos com o cotovelo em Fallon enquanto Logan os adiantava e entrava na aldeia.
—Sei —disse Fallon respondendo à pergunta que seu irmão nem sequer tinha formulado com palavras—. Temos que estar atentos.
Galen ficou diante de Fallon, com seus olhos cravados em Logan enquanto se afastava.
—Todos temos um passado que temos que superar. É como um espírito que nunca nos abandona. Seja o que for que tortura o Logan, é ele que tem que aguentar.
—É possível —aventurou Fallon—. Mas quero que saiba que estamos aqui a seu lado.
Galen virou a cabeça para Fallon.
—Logan sabe. Não teria vindo se não soubesse disso. Agora só quer o que também queremos todos nós. Quer enfrentar Deirdre.
Logan grunhiu.
—Sei que poderá fazer realidade seu desejo muito em breve.
—Sim —confirmou Fallon, e olhou Larena—. Deirdre não se esquecerá de Larena tão facilmente.
—Não depois de ter perdido Cara —matizou Lucam—. Embora tampouco acredito que tenha se esquecido de Cara.
Galen sacudiu a cabeça.
—Deirdre não cede perante nada. Se quiser algo, tentará uma e outra vez até que consiga.
—Então temos que nos assegurar que não capture nem a mim nem a Cara —disse Larena antes de seguir Logan para a aldeia.
Fallon esboçou um sorriso de orelha a orelha ante tanta confiança.
Galen soltou uma gargalhada.
—Não acredito que Deirdre soubesse o que fazer com Larena uma vez a tivesse capturado.
—Não tenho nenhuma vontade de averiguar —continuou Fallon—. Comecemos a trabalhar.
Moveram-se de cabana em cabana inspecionando os danos e analisando o que teriam que reconstruir e o que teriam que substituir. Larena, Logan e Galen começaram a recolher escombros e empilhá-los no centro da aldeia para queimá-los.
Das vinte cabanas, só cinco podiam ser consertadas, as outras tinham de ser reconstruídas totalmente, como o convento. Fallon calculou a distância da aldeia ao castelo.
Teria que dar uma boa carreira até alcançar as portas do castelo, e isso sendo guerreiros. Os habitantes da aldeia tinham tido medo do castelo dos MacLeod e por isso a comunidade se instalou tão longe.
—Deveria estar mais perto —murmurou Fallon para si mesmo.
Lucam se aproximou e ficou a seu lado enquanto tirava o pó das mãos negras por ter estado revolvendo a madeira queimada.
—Estou de acordo. As cinco cabanas que podemos restaurar são as que se encontram mais longe do convento e isso nos virá bem.
—Sim—confirmou Fallon—. Quantas você acha que deveríamos construir?
Lucam olhou por cima de seu ombro para as cabanas que restavam.
—Duas, talvez três. Sempre podemos construir mais se necessitarmos.
Fallon não queria perder tempo nem recursos construindo cabanas que poderiam nem mesmo utilizar, mas por outro lado queria as ter prontas se por acaso necessitassem.
Logan, Galen e Larena se aproximaram deles com um odre de água. Seus rostos e suas roupas estavam negros pelo carvão e Larena tinham soltados umas mechas de cabelo que penduravam pelos lados do rosto.
—O que decidiu? —Perguntou Galen.
Fallon assinalou por volta das cinco cabanas.
—Essas cinco são as únicas que podem ser reconstruídas. Começaremos primeiro com elas enquanto limpamos a aldeia dos escombros.
—E depois? —perguntou Logan.
—Lucam sugeriu que construamos duas ou três cabanas mais.
Logan afastou as mechas que pegaram em seu suarento e brilhante rosto e os observou.
—Três seriam suficientes, mas eu acredito que construiria quatro. Enquanto as construímos deveríamos pensar também em um modo de as proteger.
Fallon arqueou uma sobrancelha.
—Protegê-las?
—Sim. —Logan percorreu o espaço com o olhar—. Estou de acordo em que os guerreiros vivam nas cabanas. Todos sabemos que Deirdre gosta de atacar rapidamente e já comprovamos que as armadilhas que pusemos no castelo atrasaram o ataque dos wyrran e isso nos deu tempo para nos preparar.
—É uma boa ideia —conveio Lucam—. Não me tinha ocorrido proteger as cabanas.
Fallon assentiu.
—Logan, te ocorre alguma coisa para protegê-las?
Logan assentiu.
—Pensarei nisso.
—Bem. Agora queimemos os escombros.
Lucam deu uma palmada com as mãos.
—Eu começarei a recolher a madeira que necessito para fazer os móveis.
—E eu posso começar com a reconstrução das cinco cabanas —propôs Galen, enquanto aceitava a água que oferecia Larena.
Fallon exalou e assentiu. Tudo estava começando a funcionar. Pelo menos teria algo no que manter a mente ocupada enquanto esperava que o Pergaminho falso estivesse terminado e pudessem libertar Quinn.
Virou a cabeça para olhar Larena. Ela secou o suor da testa com as costas da mão e riu de algo que disse Lucam.
Depois de tê-la visto na corte, não teria imaginado nunca que estivesse disposta a sujar-se. De novo, era certo que era uma mulher das Highlands. Ele sorria de orelha a orelha, não podia evitar. Gostava de tê-la em sua vida. Ela trazia o sol à sua vida. E havia algo em sua presença que o fazia ser um homem melhor, um homem do qual seu pai estaria orgulhoso.
De repente, seu sorriso se desvaneceu e abriu os olhos atenta. Fallon se virou e encontrou o guerreiro alado aterrissando a uns passos deles.
Em um instante, Galen e Logan se transformaram em sua forma de guerreiro. Fallon levantou a mão para detê-los. Queria saber o que queria aquele guerreiro antes que atacassem.
O guerreiro azul escuro olhou a ambos antes de centrar seu olhar em Fallon.
—Fallon MacLeod, vim com uma mensagem de Deirdre.
—Quem é?—Perguntou Fallon. Quanto mais pudesse averiguar do guerreiro, melhor. Seu pai sempre havia dito que tinha que conhecer seus inimigos melhor que a seus amigos.
O guerreiro pregou as asas contra suas costas. As pontas ainda podiam ver-se sobre sua cabeça e pelos lados de suas pernas e parecia que fossem feitas de algo parecido ao couro. Eram do mesmo azul escuro que sua pele.
—Sou Broc.
Fallon observou as asas.
—Qual é sua mensagem?
Broc levantou uma sobrancelha mas não respondeu nada. Ao cabo de um momento, disse:
—Quinn está bem.
—Por que íamos acreditar em você? —Perguntou Lucam.
Broc os observou atentamente.
—Ah, Lucam MacLeod. O irmão do meio. Sei que Quinn está bem porque o vi antes de vir aqui.
—O que é que quer Deirdre? —Repetiu Fallon—. Com certeza não te enviou aqui só para nos dar uma mensagem quando sabe que podemos te matar.
Broc sorriu mostrando suas longas e afiadas presas.
—Podem tentar me matar. Muitos tentaram. Nenhum conseguiu.
—Eu conseguirei —assegurou Galen enquanto se dirigia para ele.
Fallon saltou diante de Galen e o obrigou a retroceder. Fez caso omisso do rugido de ódio que saiu de Galen enquanto escondia suas garras.
—Deixe-o por agora — sussurrou Fallon.
Uma vez que Galen retrocedeu, Fallon se voltou para Broc.
—A mensagem diz algo mais?
—Sim —respondeu Broc—. Ela sabe que vão atrás de Quinn. Por isso que o capturou. Ela quer que saibam que é seu desejo ter os três irmãos MacLeod sob seu controle de novo.
—Nunca —grunhiu Lucam entre dentes.
Fallon fechou as mãos em um punho enquanto a ira se apoderava dele. Podia sentir o comichão em sua pele ao saber que estava se transformando, mas não se importava.
—Iremos atrás de Quinn. Libertaremos Quinn. E no processo mataremos Deirdre.
Broc encolheu os ombros.
—Passou muito tempo desde que estiveram em sua montanha. Esqueceram o controle que tem sobre as pedras? Não há nenhuma possibilidade de que possam entrar nessa montanha e libertar seu irmão.
—Que tal um trato? —Perguntou Larena.
Quando o olhar de Broc se voltou para ela, Fallon mostrou as presas e grunhiu. O sorriso de Broc fez com que a raiva de Fallon crescesse ainda mais. A necessidade de matá-lo e defender Larena fez que Fallon desse um passo para Broc.
—Alegra-me ver que te recuperaste de suas feridas —disse Broc.
Larena pôs uma mão sobre o braço de Fallon para o deter.
—Não foi graças a seu amigo.
Fallon não queria que ela falasse com Broc. Não queria vê-la perto do guerreiro, mas Fallon não era tão estúpido para dizer que partisse. Larena era uma guerreira e Fallon não devia esquecer que ela tinha poderes e que podia cuidar de si mesmo.
Mesmo assim, não podia evitar seus instintos de amparo.
—Larena — ele grunhiu como advertência. Não estava disposto a continuar escutando muito mais antes de atacar Broc.
Ela o olhou, seus olhos azuis suplicavam em silêncio que confiasse nela.
Esteve a ponto de dizer que ele confiaria nela no momento em que ela começasse a confiar nele. Mas não disse nada.
Broc grunhiu ante suas palavras, com o que voltou a chamar a atenção de Fallon.
—James não é meu amigo. Deirdre está muito zangada pelo que ele te fez. Se não necessitasse de seus guerreiros tão desesperadamente, estou convencido que o teria matado.
Larena estava agradecida que Fallon a tivesse deixado falar com Broc. Estava convencida, pelo tenso corpo de Fallon e o modo em que sua pele tinha mudado de normal ao mais escuro dos negros, que ele estava lutando para não libertar seu deus e atacar o guerreiro alado.
Antes de poder fazer mais pergunta ao Broc, o guerreiro voltou sua atenção para Fallon.
—Os ataques começarão logo.
Fallon observou Broc.
—Como posso saber que diz a verdade?
—Não pode, mas logo descobrirá. Os wyrran estão a caminho. Deirdre pretende mantê-los ocupados aqui e assim evitar que planejem algo para libertar seu irmão.
O estômago de Larena se fechou em um punho de medo e observou Lucam e Fallon. Lucam já se transformou, igual a todos os outros, e estava ao lado de Fallon esperando que desse a ordem de atacar.
Fallon soprou e sacudiu a cabeça.
—Se esse for o plano de Deirdre, é que necessita tempo com Quinn.
—Tem toda a razão. Tem planos para seu irmão —disse Broc.
—De que lado você está?
Broc sorriu.
—Uma boa pergunta, não te parece?
Então o sorriso de Broc esfumou e levantou a cabeça para farejar a brisa. Em um abrir e fechar de olhos, elevou-se no ar com as asas completamente estendidas. Deu um pulo para trás e aterrissou no telhado de uma das cabanas com as presas à vista.
Larena viu a garra afiada que cortava o ar e aterrissava justo no lugar em que tinha estado Broc um instante antes. Ela se agachou e sentiu os braços que a rodeavam e a apertavam contra um corpo duro antes de cair no chão.
Fallon.
Quando levantou a cabeça encontrou um homem com o cabelo longo e escuro, com a pele, as garras e os olhos do marrom mais escuro.
—Merda—resmungou Fallon enquanto recuperava o equilíbrio—. Quem diabos é você? —Perguntou ao recém-chegado.
O recém-chegado dirigiu seu olhar de Broc a Fallon.
—Sou Camdyn MacKenna.

 

 

CAPÍTULO 23

Larena recuperou o equilíbrio, o sangue a golpeava nos ouvidos. Estava sobressaltada ao ver que suas garras se estenderam sem que ela se desse conta. Suas emoções eram um torvelinho e se não conseguisse controlar-se logo, não seria de nenhuma ajuda para os outros quando os wyrran atacassem.
Ao contrário de Fallon, Larena acreditava em Broc. Por que o guerreiro alado iria dar a informação não sabia e não se importava. Aquilo dava certa vantagem a eles, e necessitavam de toda a vantagem que pudessem conseguir.
Broc não se moveu do telhado. Tinha o olhar fixo em Camdyn, seu rugido de ira retumbava no vento. Fallon e os outros também tinham toda sua atenção posta em Camdyn. Era o momento perfeito para perguntar ao Broc algumas coisas para as quais queria uma resposta.
Larena deu um passo atrás afastando-se dos homens. Quando esteve suficiente distante, correu e saltou sobre o telhado. Broc se virou para ficar frente a ela, com as presas à vista.
—O que quer? —Perguntou ele.
—Quero saber por que não me atacou em Edimburgo.
Ele encolheu os ombros.
—E o que importa isso?
—Eram dois. Poderiam ter me vencido sem nenhum problema.
—Minha obrigação era levar James ao castelo para que ele se encarregasse de você. Depois, eu devia te levar ante Deirdre. Minhas ordens não incluíam te atacar.
Larena observou Broc atentamente. Sua pele azul marinho era tão escura que parecia virtualmente negra. Havia algo no modo em que falava que fez com que se desse conta que ele pensava cuidadosamente cada palavra antes de pronunciá-la.
—Sabia que James tinha banhado suas garras no sangue de drough antes de chegar a Edimburgo?
Os olhos azul marinho de Broc brilharam de aborrecimento.
—Não. Embora não me surpreendesse. James pensava que a possibilidade de que existisse uma guerreira era algo absurdo. Pensava que seria fraca e que não poderia lutar. Quando viu que o superava, não pôde suportar.
Aquela era a reação que Larena sempre tinha esperado dos guerreiros.
—E o sangue de drough? Como sabia a reação que produz sobre os guerreiros?
—Vê-se que nunca esteve no cárcere de Deirdre ou não me perguntaria isso. Deirdre utiliza métodos de tortura que você nunca poderia chegar a imaginar. Pode te prolongar a dor durante meses e inclusive anos, até que acabe por suplicar a morte.
Larena tragou saliva ante o ódio que se desprendia de sua voz. Ela, igual a Fallon, perguntava-se de que lado estava Broc realmente. Era evidente que odiava a Deirdre, mas então, por que não fugia de seu lado como tinham feito outros?
—E uma vez James me teve submetido, por que não me levou para Deirdre?
Broc suspirou profundamente. Ele mantinha toda sua atenção nos homens que havia abaixo, mas voltou a olhá-la.
—Soube, pela quantidade de sangue que saía da ferida e a dor que te consumia, que necessitava de ajuda imediatamente. Eu posso voar rápido, mas não tão rápido para te levar para Deirdre antes que tivesse morrido.
—E você sabia que Fallon que podia?
—Sim.
Não disse nada mais e Larena teve que tragar o rugido de ira que ameaçava sair de sua boca. Estava a ponto de fazer outra pergunta quando o primeiro wyrran apareceu de um nada e aterrissou ante ela no telhado.
Larena não duvidou nem um momento em transformar-se. Estava acostumada a lutar nua enquanto era invisível, mas não havia tempo para isso. E as saias entorpeciam todos seus movimentos.
Fallon gritou seu nome, mas não pôde lhe responder, pois o segundo wyrran se uniu ao primeiro. Larena deu um salto atrás para evitar as garras enquanto o recém-chegado mordia sua perna.
Larena soltou um grito furiosa, cravou suas garras no peito do wyrran que a tinha mordido e arrancou o coração dele. O primeiro wyrran soltou um guincho, mas antes que ela pudesse matá-lo, Broc lhe arrancou a cabeça.
—Mantenha-se alerta —advertiu ele antes de sair voando.
Larena não pôde observar como partia, pois apareceram mais wyrran na aldeia. Ela deu um passo para saltar do telhado ao chão quando ouviu o inconfundível som da madeira cedendo. De repente, estava caindo pelo telhado e aterrissou com um golpe seco sobre o chão.
Sacudiu a cabeça com força quando a porta se abriu com um golpe e apareceu Fallon. O pó se levantava atrás de seu corpo negro e fazia que brilhassem suas presas.
—Está bem? —perguntou-lhe enquanto a ajudava a levantar-se.
Ela assentiu.
—Um pouco aturdida, mas tranquilo, posso enfrentar os wyrran.
Ele pensou um instante e ela pôde ver como estava lutando consigo mesmo entre deixar que lutasse ou lhe ordenar que partisse para casa. Não estaria disposta a partir ao castelo, e menos ainda se pudesse ser de ajuda. E não tinham tempo para discutir.
Quando Fallon agarrou a mão dela e se dirigiu para a porta, Larena soltou um suspiro de alívio. Sabia que era inata em Fallon a necessidade de proteger às mulheres, mas ela não era qualquer mulher. Era uma guerreira. E demonstraria.
Larena viu o wyrran que se aproximava de Fallon antes que ele. Ela deu um salto e ficou frente à criatura de pele amarela. A seu redor, os sons da batalha alagavam o ambiente. Os alaridos de frustração e dor dos wyrran se mesclavam com os gritos e rugidos de ira dos guerreiros. Era um som tão ensurdecedor que não podia nem ouvir seus próprios pensamentos.
Suas garras se afundaram no pescoço de um wyrran. O desagradável som da carne cedendo em suas garras e o sangue que lhe salpicou as mãos e os braços a recordou quão fácil era tirar uma vida.
Entretanto, Larena não parou ante esse pensamento. Tirou suas garras do corpo sem vida do wyrran e deu meia volta para enfrentar o seguinte. Seus olhos escrutinaram a aldeia e encontrou Galen e Logan lutando com os dois últimos wyrran. Os guerreiros tinham feito um bom trabalho com aquelas demoníacas criaturas amareladas.
—Onde estão os outros? —Perguntou Logan antes de jogar a cabeça para trás e soltar um profundo rugido com o sangue brilhando sobre sua pele chapeada.
Galen e Lucam riam como se fossem dois meninos que acabaram de caçar seu primeiro cervo. Camdyn estava em pé só e já tinha voltado para sua forma humana, mas ainda havia um brilho de satisfação em seus olhos escuros.
Só Fallon olhava em silencio aos wyrrans mortos. Sua pele negra, suas garras, suas presas desapareceram como se nunca tivessem existido.
Larena se dirigiu para ele enquanto fazia desaparecer a sua deusa. Ele levantou a cabeça enquanto ela se aproximava, e um lado de sua boca se elevou em um sorriso.
Ela gostava daquele sorriso torcido.
—O que acontece?
Fallon encolheu os ombros.
—Não posso evitar pensar nas palavras de Broc. Duvidava em acreditá-lo a respeito dos wyrran. Por que nos diria isso? O que você acha?
—Não estou certa. Quando estava no telhado com ele, matou um wyrran que estava a ponto de me atacar.
—Interessante —murmurou Fallon—. Estaria bem ter um espião na montanha de Deirdre, mas não sei nada de Broc.
—E não pode se arriscar a confiar nele.
Fallon assentiu.
—Apesar de tudo, o ataque me está fazendo reconsiderar tudo o que nos disse. Acredito que precisamos pensar em suas palavras, ou pelo menos estar preparados para algo.
Larena o agarrou pela mandíbula e sorriu. Olharam-se nos olhos, perdidos neles mesmos durante um instante. O momento se rompeu com a chegada de Ramsey e Hayden.
—Por todos os deuses, que demônios aconteceu aqui? —Perguntou Hayden.
Logan lhe deu um tapinha nas costas e sorriu.
—Os wyrran nos atacaram. Mas antes tivemos visita de um guerreiro de Deirdre chamado Broc. Então, Camdyn chegou e tentou matar Broc. Foi muito interessante.
Larena soltou uma sonora gargalhada quando Hayden lançou um olhar assassino a Logan.
Hayden amaldiçoou em voz alta:
—Eu perdi uma oportunidade de matar um wyrran?
—Não se preocupe —o tranquilizou Fallon—. Pressinto que muito em breve terá uma nova oportunidade.
A brincadeira terminou quando Galen se dirigiu para Camdyn e ofereceu a mão. Então ambos se abraçaram e intercambiaram algumas palavras sussurradas.
Galen se virou para eles, com os lábios estirados em um amplo sorriso.
—Quero apresentar Camdyn MacKenna.
Larena permaneceu ao lado de Fallon enquanto Galen os apresentava ao novo guerreiro. Camdyn era alto e de ombros largos. Usava um blusão cor açafrão sob o kilt escocês e apesar de ser um guerreiro, levava em cima diversas facas enganchadas à cintura e enganchados à parte superior de cada uma de suas botas. Ela supôs que levaria alguns mais escondidos.
Quando Camdyn voltou seu escuro olhar para ela sorriu.
—Camdyn —disse Fallon—, Larena nos transmitiu sua mensagem.
Camdyn assentiu.
—Sim.
—Disso já faz algum tempo. Onde estiveste?
—Por aí —foi tudo o que disse Camdyn. Virou-se para Larena—. Me alegro de voltar a ver você.
—Eu também —respondeu ela.
Fallon apertou a mandíbula. Era evidente, pelo modo em que Galen tinha saudado Camdyn, que eram amigos. Galen confiava nele e Fallon também o faria. Mas antes, queria algumas respostas.
—Por aí? Por aí onde?
Camdyn encolheu os ombros.
—Queria me assegurar de que o que Galen havia dito sobre vocês, os MacLeod, era certo.
—Esteve nos espiando —suspeitou Lucam.
—Assim é —admitiu Camdyn—. Galen não teria saído do bosque se não fosse verdade que tinha encontrado os MacLeod, mas a perfídia de Deirdre não conhece limites. Tinha que estar certo que eram os autênticos —disse a Fallon.
—E já está? —Perguntou Fallon.
Camdyn assentiu com um simples golpe de cabeça.
—Estou. Queria me dar a conhecer hoje mesmo, mas então senti uma presença. Mantive-me oculto para ver do que se tratava.
—Broc —afirmou Galen.
—Sim, o guerreiro alado —continuou Camdyn.
Então Ramsey deu um passo adiante com o olhar perdido no céu.
—Onde está Broc?
—Não sei —disse Fallon. Devia ser o modo em que Ramsey olhou o céu, ou o modo em que perguntou por Broc, mas Fallon teve a sensação de que Ramsey conhecia guerreiro.
—Retornemos ao castelo—propôs Lucam—. Se não retornar logo para dizer a Cara que estou bem, cortará minha cabeça.
Fallon assentiu e todos começaram a andar para o castelo exceto ele. Larena esperou um instante, mas ele fez um gesto a ela com a mão para que os seguisse. Queria estar a sós quando falasse com Ramsey.
—Ramsey —chamou—. Podemos falar um momento?
O guerreiro parou e virou seu rosto para ele lentamente.
—Suponho que quer saber quem é Broc.
Fallon observou ao redor para assegurar-se de que os outros estavam o bastante longe.
—Sim. Conhece-o?
—Sim. Conheci-o nas masmorras de Deirdre.
Não se surpreendeu que Ramsey respondesse tão honestamente, mas o que lhe contaria Fallon ainda não podia saber.
—Quanto tempo faz que o conhece?
Ramsey encolheu os ombros e afastou o olhar.
—Passei com ele os cinquenta anos que ela me deixou preso. Ele já estava ali quando eu cheguei. A gente perde a noção do tempo quando está nessa montanha.
—Sei. Por que não escapou contigo?
—Escapar não é no que se pensa uma vez que se passou um tempo ali.
Os olhos cinzas de Ramsey se voltaram para Fallon. Seus olhos se endureceram e tinha os lábios apertados por causa das lembranças.
—Só se pensa em sobreviver a seguinte rodada de torturas e se pergunta se desta vez por fim acabará se rompendo e se unindo a ela.
—É o que aconteceu com Broc?
—Ignoro-o.
Fallon considerou as palavras de Ramsey durante um momento. Havia certa conexão entre os dois homens. Não tinha certeza de quão forte era, mas continuaria investigando. Ramsey poderia ser um espião de Deirdre. Deus sabe que tinha muitos.
—Me aconselhou muitas vezes desde que chegou, Ramsey. Sua mente é rápida e suas sugestões boas. Entretanto, pergunto-me, confiei em você muito rápido? É um espião de Deirdre?
A pele de Ramsey trocou de normal à cor do bronze em um instante.
—Deveria te matar só por sugerir que sou leal a essa maldita bruxa.
Respirou profundamente e conseguiu controlar a ira que surgiu nele de improviso, tal e como Fallon tinha pretendido.
—É seu trabalho se assegurar que somos de confiança —continuou Ramsey—. Se eu estivesse em seu lugar, faria as mesmas perguntas. Mas aqui mesmo te digo que a resposta é não. Não sou um espião de Deirdre. Quero vê-la morta.
Não havia nem a mínima fresta de engano nos olhos cinzas de Ramsey. Dizia a verdade e Fallon acreditava.
—Tinha que perguntar.
—Sei. Isso é o que te converte em um grande líder.
Fallon não esperava nenhum elogio. Gostava de Ramsey e o fato de pensar que pudesse ser um espião gelava seu sangue.
—As coisas que Broc disse me têm feito perguntar de que lado ele está. Ajudou-nos em um par de ocasiões. Hoje mesmo matou um wyrran para salvar Larena e nos informou dos ataques.
—Disse que os wyrran atacariam? Por que?
—Não tenho a menor ideia. Logo nos explicou que Deirdre o faz para nos manter ocupados e que não possamos fazer planos para libertar Quinn. Lucam acredita que é para ter mais tempo com Quinn.
Ramsey passou uma mão pelo cabelo.
—Duvido que ela quisesse que você tivessem essa informação. Seja qual for a razão pela qual Broc nos disse isso, temos que confiar nele.
—Já pensei nisso. Crê que poderíamos convencê-lo para que se unisse a nós?
Passou um bom momento até que Ramsey respondeu.
—Não contaria com isso.
Não era a resposta que queria Fallon, mas até que falasse com Broc e perguntasse isso, não poderia estar seguro. Evidentemente, Fallon não podia garantir que Broc retornaria para lhe dar a oportunidade de perguntar, mas tinha o pressentimento de que voltaria; fosse o que fosse os motivos do guerreiro alado para os ajudar, certamente fariam que retornasse.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 24

Depois da emocionante manhã com Broc, Camdyn e o wyrran, Larena tinha vontades de passar uma tarde tranquila. Tinham apresentado Camdyn à Sonya e à Cara e agora ele estava dando uma mão nas cabanas enquanto as três mulheres permaneciam sentadas no grande salão.
—Não posso acreditar que os wyrran atacaram. —Cara cravou a agulha com força no vestido que estava arrumando e a puxou pelo outro lado do tecido. Negou com a cabeça e suspirou—. Deveria ter estado ali.
Sonya sorriu e alisou o tecido da túnica que estava costurando.
—Acredito que teria gostado de ver os homens lutar. E você também, Larena.
Com um bufo, Larena ficou cômoda em sua cadeira.
—Não o fiz muito bem. Não estou acostumada a lutar com saia.
Cara deixou de costurar, tinha o cenho franzido.
—E o que usa?
—Normalmente uso meus poderes para ficar invisível e luto nua.
—Com certeza que os homens gostaria de ver isso —disse Sonya com uma risadinha. Seus olhos cor âmbar brilhavam de júbilo, e logo Cara se uniu a suas risadas.
Larena também riu, embora não quisesse.
—Fallon me advertiu de que nem sempre terei tempo para usar meus poderes, e tem razão. Sobre tudo quando lutar contra outros guerreiros. Dependi muito tempo de meus poderes.
—O que vai fazer? —Perguntou Cara—. Poderia aprender a lutar com saia, como faço eu.
—Poderia, mas as guerreiras também saltam e saltamos enquanto lutamos, a saia me dificultaria os movimentos.
Sonya descansou sua agulha.
—Bom, não pode usar calças.
Larena ficou rígida de repente, tinha pensado em algo.
—Por que não? Os celtas o fizeram. Suas mulheres usavam calças e lutavam ao lado dos homens.
—Não estamos nos tempos antigos —recordou Cara—. Não sei se os homens permitiriam.
—Não me importa que não o façam —disse Larena enquanto ficava em pé—. Preciso poder lutar, e não posso fazê-lo com esse vestido. —Tragou saliva e olhou cada uma das mulheres. Normalmente nunca pedia ajuda a ninguém, mas necessitava de Cara e Sonya—. Ajudarão?
Cara e Sonya trocaram um olhar antes que leves sorrisos se desenhassem em seus rostos.
—Sim —disseram em uníssono.
—Bem —disse Larena enquanto a percorria uma sensação de alívio—. Comecemos. Não sabemos quando será o próximo ataque.
Sonya lançou sua túnica a um lado enquanto Cara acabava o último ponto e afastava cuidadosamente seu vestido.
—Que vontade tenho que Fallon te veja com calças —expressou Cara com uma risadinha—. Ficará boquiaberto.
Larena esperava que assim fosse. Mas tampouco queria fazer nada para chamar sua atenção.
Ou ao menos ela tentava convencer a si mesmo que não queria.


Deirdre comprovou as feridas de Quinn como fazia várias vezes ao dia. Estava se curando bem. Seu corpo precisava descansar e gostava de tê-lo em sua cama. Pelas noites, se aconchegava contra ele e dormia.
Era a primeira vez que deixava que um homem passasse toda a noite em sua cama. E além disso, Quinn também seria o último.
Suas longas unhas, limadas até acabar em ponta, riscavam a perna nua de Quinn até o quadril. Sempre que estava no quarto com ele, Deirdre afastava o lençol para poder contemplar seu corpo perfeitamente esculpido.
Ele tinha perdido peso em suas masmorras, como faziam todos. Mas logo veria como recuperava a musculatura. Por agora lhe bastava estar com ele.
Um de seus mascotes arranhou a porta antes de abri-la. O wyrran soltou um vaio, a fazendo saber que tinha visita. Deirdre se levantou e esfregou o wyrran na parte de trás das orelhas.
—Obrigado — disse—. Vamos ver o que nos trouxe Dunmore desta vez.
Deirdre saiu de suas salas privadas e subiu as escadas que conduziam ao longo corredor até o salão do trono. Abriu a porta e se encontrou com a grande e alta figura de Dunmore. Quando ele chegou até ela, era um jovem ansioso de poder e com o passar dos anos lhe tinha ido dando cada vez mais autoridade.
—Minha senhora. —inclinou-se ante ela, e seus escuros cachos se precipitaram por cima de sua alta testa—. Cada dia está mais bela.
—Que tolice. —Mas Deirdre sorriu.
Sempre tinha gostado de Dunmore. Agora tinha rugas nos olhos, mas seu corpo ainda era firme e não tinha nenhuma gordura visível. Sabia cuidar-se e, como homem que tinha compartilhado a cama com ela, sabia como agradar a uma mulher.
Tampouco se importava que uma mulher estivesse no comando, nem duvidava na hora de obedecer suas ordens. Era justo o tipo de homem que necessitava para cuidar dos druidas.
Dunmore afastou a capa vermelha e pôs as mãos em seus quadris, com as pernas abertas.
—Encontrei-os. Estavam vivendo em cavernas e morriam de fome.
—Quantos me trouxeste?
Ele olhou ao chão, com os olhos negros cheios de preocupação.
—Doze no total. Duas das anciãs morreram pelo caminho.
—É duro com eles —o acusou Deirdre.
—Como você me disse.
Ela sorriu.
—Continue.
—Um dos jovens, um moço de uns sete verões, escapou. Perseguimos, e quando estávamos a ponto de apanhá-lo, saltou pelo escarpado de uma montanha.
—Parece que minha reputação me precede. —Deirdre se dirigiu para um cofre prateado que havia sobre uma mesa perto de seu trono. O cofre não tinha adornos, exceto pelo precioso desenho de intrincados nós celtas que o cobria por completo. Os nós estavam dotados de feitiços que evitavam que alguém exceto ela, pudesse tocá-lo já que continha moedas e joias.
Deirdre abriu a tampa e levantou uma bolsinha de veludo. Comprovou o peso das moedas que havia dentro antes de lançá-la a Dunmore.
—Uma vez mais, tem-no feito bem.
Ele meteu a bolsa no cinturão e fez uma reverência.
—É um prazer a servir.
—Meu vidente me falou que outro grupo de druidas que acreditam que podem esconder-se de mim. —Um de seus grandes achados tinha sido a vidente, e Deirdre a utilizava sempre que podia.
—Me diga onde encontrá-los, minha senhora, e os trarei.
Deirdre se aproximou de Dunmore e o tocou na fenda do queixo.
—Esses druidas não serão tão fáceis de encontrar. Utilizam magia para esconder-se. Há uma delas, a que quero sobre todos os outros. É uma jovem de olhos cor turquesa. É inconfundível. Tem... Certa informação que necessito.
—Não falhei antes e não o farei agora. —Seus olhos brilhavam cheios de determinação e sua mandíbula estava rígida.
Ela estudou o homem que tinha diante de si. Nem Dunmore nem sua família tinham sangue druida nem deuses em seu interior. Mas ele tinha demonstrado ter um talento magnífico. Ela tinha querido matá-lo por atrever-se a procurá-la, mas tinha sentido nele um fio de maldade que utilizava a seu favor.
—Não, Dunmore, não me falhará porque sabe quanto quero esses druidas. E porque você gosta do poder que te dou. Volte com a garota e te recompensarei com riquezas que não pode imaginar. Traga mais druidas com ela e farei que o esforço realmente tenha valido a pena.
Quando Deirdre disse onde se escondiam os druidas, ele fez outra reverência e partiu. Ela o observou enquanto se afastava. Se Dunmore fracassasse, esfolaria-o vivo e utilizaria seus intestinos para asfixiá-lo. Necessitava daquela druida chamada Marcail.


Fallon limpou o suor do rosto com a manga da túnica. As nuvens tinham começado a aparecer justo depois do meio-dia, tampando quase todo o sol. Estava a ponto de chover, e Fallon queria arrumar o telhado pelo qual tinha passado Larena antes que começasse.
—Já está quase pronto! —Gritou Logan de cima.
Enquanto trabalhava, Fallon tinha repassado a visita de Broc e tudo o que ele havia dito. Esperava que Broc não tivesse mentido quando havia dito que Quinn estava bem. Pensar que seu irmão pequeno poderia estar sofrendo era como uma corda que lhe apertava o pescoço.
Rogou para que Quinn se mantivesse forte enquanto estava na montanha de Deirdre. Quinn tinha estado perigosamente perto de dar-se por vencido antes que Cara chegasse ao castelo. E ver o amor entre Lucam e Cara não tinha feito mais que piorar as coisas para ele.
Desde o falecimento de sua mulher e seu filho, Quinn não tinha falado deles nem em uma só ocasião. Fallon e Lucam tinham aceito os desejos de Quinn e não lhe tinham perguntado nada. Assim quando Quinn confessou que nunca tinha amado a sua esposa, Fallon ficou completamente atônito.
Ele acreditava que sua união tinha nascido do amor. Quinn tinha enganado a todo mundo, incluído a ele mesmo. Fallon queria o melhor para seus irmãos e cada um deles merecia o tipo de casamento que tinham tido seus pais. Não queria que Quinn voltasse a ver-se apanhado.
Fallon esfregou o pescoço quando sentiu a dor que o açoitava na base do crânio cada vez que pensava em Quinn. Quinn era forte. Saberia que iriam buscá-lo.
—Aguenta, irmãozinho —sussurrou Fallon.
—Pronto!
Fallon olhou para cima. Logan tinha arrumado tão bem o telhado que era difícil saber por onde tinha passado Larena. Saiu da cabana e fez um gesto com a cabeça a Logan enquanto este saltava ao chão.
—Bem feito.
Logan encolheu os ombros e sacudiu o pó das mãos.
—Foi fácil. Sempre me tocava arrumar o teto de minha casa.
Fallon esperou para ver se Logan falava mais sobre seu passado. Era pouco frequente que algum deles falasse de quando ainda não tinham se transformaram em guerreiros.
Como Logan não disse nada mais, Fallon lançou mais partes de camas, cadeiras e mesas quebradas ao fogo. Já tinham queimado quase tudo e no final do dia seguinte não ficaria nada.
—A coisa vai bem —disse Lucam enquanto chegava com Galen e Camdyn—. A aldeia já tem melhor aspecto.
Fallon estendeu um odre de água a seu irmão e levantou o olhar para as escuras nuvens que se aproximavam.
—Temos que derrubar e queimar seis cabanas mais. A chuva poderia atrasar as coisas.
Lucam bebeu abundantemente antes de oferecer a água a Camdyn.
—A chuva não impedirá meu trabalho e, se for o caso, posso trabalhar contigo sob a chuva derrubando o resto das cabanas.
—Não, você trabalha na construção dos móveis —replicou Fallon—. Logan e eu podemos nos encarregar disto.
—E eu posso ajudar —acrescentou Camdyn.
Fallon assentiu para o recém-chegado. Com um olhar a seu irmão, Fallon soube que Lucam gostava de Camdyn, o que era bom. Quantos mais guerreiros tivessem para lutar contra Deirdre, melhor.
—Parece que Broc está voltando —disse Galen.
Fallon se virou e viu Broc voando para ele com algo nos braços. A maneira em que voava, como se estivesse ferido, deu o que pensar a Fallon. Sem dizer uma palavra aos outros, Fallon começou a correr para Broc.
O guerreiro alado voava baixo, tocando inclusive nas copas das árvores. Aterrissou pesadamente ao mesmo tempo em que Fallon se detinha diante dele.
—Está ferido gravemente, mas não está morto —disse Broc, e deixou Malcolm no chão, entre os dois.
Fallon viu os cortes e o sangue que tinha Broc enquanto os outros se abriam em volta dele.
—O que aconteceu?
—Vi como o atacavam.
—Quais?
Broc esfregou os olhos com uma mão enquanto flexionava o outro ombro.
—Isso não importa.
Mas sim, importava. Fallon esperou enquanto Lucam se ajoelhava junto a Malcolm e logo assentia, indicando que o homem ainda vivia.
—Por que o ajudou? —Perguntou Fallon.
O olhar de Broc se encontrou com a seu.
—Malcolm é inocente. Não é nem um druida nem um guerreiro. Não tinham por que machucá-lo.
Fallon se surpreendeu com o ódio que havia na voz de Broc. Logo viu as feridas em seu corpo. Nem tudo o sangue que tinha em cima era de Malcolm.
—Ajudou a Larena. Na mente de algumas pessoas, isso é suficiente para o condenar.
—Não na minha.
Fallon soltou um suspiro.
—Obrigado.
Broc não disse nada, saltou para o ar e voltou a partir voando.
—Não sei muito bem o que pensar sobre ele —disse Lucam sobre Broc.
Fallon negou com a cabeça.
—Eu tampouco. Levemos Malcolm ao castelo. Larena irá querer ver.
Mas quando Fallon se agachou para levantar Malcolm, deu-se conta do alcance de suas feridas, incluído o osso que se sobressaía de seu braço. Fallon encontrou o olhar de Lucam e suspirou. O braço de Malcolm pendurava em um ângulo impossível. Fallon tinha medo de tentar usar seus poderes para transladá-lo ao castelo pelo dano que poderia causar ao braço.
—Logan, necessito que procure Sonya e que a traga aqui. Diga que temos um homem ferido que tem que ver imediatamente. Lucam, vá procurar Larena.
Lucam ficou em pé, com o rosto sério.
—O que vai fazer?
—Levarei Malcolm a uma cabana. Não podemos tratá-lo aqui fora.
Camdyn se colocou aos pés de Malcolm.
—Ajudarei a levá-lo. Quantos mais o seguremos, melhor.
—É verdade —disse Galen.
—Então, que Logan fique —propôs Lucam eu irei procurar Sonya e Larena.
—Se apresse —disse Fallon a seu irmão.
Lucam se virou e correu para o castelo. Fallon passou uma mão pelo rosto e olhou Malcolm. Mal reconhecia suas feições.
—Está bem —disse Fallon ao fim de um momento—. Quero levá-lo a cabana que acabamos de arrumar, Logan. A cama estava intacta, verdade?
Logan assentiu.
—Sim. E também há um par de cadeiras em bom estado.
—Bem. Quero que o levantemos e o movamos com cuidado. Está inconsciente e eu gostaria que, no momento, continuasse assim.
—Sonya poderá arrumar o braço? —Perguntou Camdyn—. Tem muito mau aspecto.
Fallon tragou a bílis que subia pela garganta.
—A verdade é que não sei.
Os quatro levantaram Malcolm com o cuidado com que teriam sustentado a um menino. Moviam-se com passos lentos e medidos em direção à cabana. Por sorte, era a mais próxima.
Malcolm grunhiu de dor quando Fallon tropeçou com uma pedra e se sacudiu. Fallon queria deixá-lo na cama e limpar parte do sangue antes que Larena o visse.
—A porta é muito estreita —advertiu Logan—. Camdyn, você entrará primeiro, mas tome cuidado com a soleira. Quando ele já tiver entrado, entrará você, Galen.
Camdyn atravessou a porta com os pés de Malcolm. Galen teve problemas para passar, mas depois de inclinar o corpo de Malcolm, conseguiu entrar na cabana. O seguinte foi Logan, que atravessou a porta sem dar nenhum golpe em Malcolm.
Fallon sustentava os ombros de Malcolm e atravessou a porta com facilidade. Logo se virou para deixá-lo na cama, mas viram que em cima dela havia partes do teto, de quando Larena tinha caído por ele.
—Aguentem aí. —Logan se moveu a toda velocidade enquanto limpava a cama e afastava as mantas.
Então todos deixaram Malcolm na cama sem nenhum incidente. Fallon ficou tenso e virou a cabeça para a porta quando ouviu um grito afogado e viu Larena agarrada ao marco da porta com tanta força que seus nódulos ficaram brancos.
O rosto de Larena se enrugou, mas não chorou, embora Fallon não tivesse culpado se tivesse visto lágrimas em seus olhos.
—O que aconteceu? —Perguntou com voz afogada.
Em Fallon doeu o coração pela angústia que parecia invadi-la.
—Broc Trouxe-o. Diz que o estavam atacando.
Os olhos de Larena se elevaram para os dele e Fallon viu a grande preocupação que havia nas profundidades de seus olhos azul cinzento.
—Quem poderia ter querido fazer algo assim?
—Broc não disse, mas acredito que foram guerreiros.
—Pôde tê-lo feito Broc mesmo?
Fallon negou com a cabeça
—Foi o primeiro que pensei. Até que vi as feridas que ele também tinha em seu corpo. Não, Larena, ele lutou para salvar a seu primo.
—OH, deuses —choramingou ela, e apoiou a testa no marco da porta—. O braço, Fallon.
—Sei. Sonya tem muita magia. Fará tudo o que puder. —Rezou por que fosse suficiente.
Larena respirou fundo e se apoiou na porta. Então foi quando Fallon se deu conta que não usava um vestido, e sim calça e uma túnica. O suave couro marrom cobria suas magras pernas como uma segunda pele. Fallon deu água na boca.
Tinham remodelado uma túnica azul para que servisse bem, e marcava os seios. Embora a túnica tampasse a cintura e os quadris quase por completo, Fallon pôde admirar a turgidez de suas nádegas.
Este lambeu os lábios e conteve um gemido. Nunca tinha imaginado que se veria reduzido àquele estado pela imagem de uma mulher. Mas, claro, nunca tinha imaginado uma mulher como Larena.
Esta o desafiou com o olhar a que desaprovasse seu novo traje. Não gostava da ideia de que andasse por aí em calças, sobre tudo ao comprovar que Camdyn e Logan se mostravam tão estupefatos como ele.
—Disse que não podia depender de meus poderes —recordou ela—. Disse que tinha que aprender a lutar sem eles.
—Isso mesmo —murmurou Fallon. Tinha tomado seu argumento e o tinha usado contra ele—. Não estou acostumado a ver uma mulher com calças.
Ela olhou a si mesmo e cravou a ponta da bota no chão.
—Sinto-me estranha, mas posso me mover muito melhor quando estou lutando.
Malcolm gemeu e todos esqueceram o traje de Larena e se centraram nele.
—Eu sabia que isto podia acontecer —disse Larena enquanto caminhava até Malcolm e punha uma mão na testa dele—. Sempre dizia que lutaria e morreria a meu lado, embora não tivesse meus poderes.
—É um bom homem —admitiu Fallon.
Larena assentiu.
—Se morrer, nunca me perdoarei isso.
—Não morrerá —prometeu Logan—. Sonya está a caminho e o ajudará.
Fallon rezou para que Logan tivesse razão. Malcolm tinha um aspecto horrível, mas Fallon sabia por experiência própria que a magia curadora da Sonya era extraordinária.
Ao cabo de um momento, Sonya, Cara e Lucam entraram na cabana. Sonya não disse uma palavra quando se aproximou de Malcolm e começou a inspecionar as feridas.
Fallon foi até a porta, onde tinham se congregado outros homens. Cruzou os braços sobre o peito e observou como as três mulheres inclinavam suas cabeças sobre Malcolm.
Os minutos se converteram em horas enquanto limpavam o sangue uma e outra vez. Fallon e Lucam fizeram turnos para trazer mais água às mulheres para que pudessem lavar os panos empapados em sangue.
Uma eternidade mais tarde, Sonya ficou em pé, com uma mão na parte baixa das costas.
—Tem o braço quebrado e deslocado. Se não o pôr em seu lugar e ajustar bem o osso, não poderá usar o braço, por mais magia que utilize. Quando tiver o braço arrumado olharei as outras feridas.
Um homem das Highlands necessitava dos dois braços. Um clã procurava em seu chefe força, valor e sabedoria. Sem essas três coisas, não o seguiriam. E embora Malcolm tivesse suficiente coragem para superar a perda de um braço, a seu clã isso não importaria.
Fallon se aproximou da Sonya.
—O que quer que faça?
Tinha o cabelo vermelho pego em um lado do rosto, e seus olhos cor âmbar mostravam um grande sofrimento.
—Segurem-no. Terão que segurá-lo entre todos.
Fallon fez um gesto aos outros guerreiros, e todos levaram suas mãos para o Malcolm, para segurá-lo.
—Primeiro recolocarei o ombro —anunciou Sonya.
Umedeceu os lábios com a língua e com um giro e um puxão pôs o ombro no lugar. Malcolm gritou e arqueou as costas pela dor.
Sonya olhou a Fallon.
—Se preparem —avisou a todos—. O osso atravessou a carne e Malcolm lutará.
—Não pode usar sua magia? —perguntou Logan.
Sonya o olhou e negou com a cabeça.
—Oxalá fosse tão fácil, Logan. A magia não é a resposta a tudo, menos ainda a mortais que não têm magia em seu interior.
Assim que Larena tocou o braço perto da fratura, os olhos de Malcolm se abriram de repente. Começou a mover-se e tentar soltar-se e seus gritos de dor alagaram a cabana. Fallon e os outros usaram toda sua força para mantê-lo quieto para que Sonya pudesse colocar o osso em seu lugar.
Cara agarrou a mão ferida de Malcolm. Larena o acariciou na testa e sussurrou coisas ao ouvido que Fallon não pôde entender.
Malcolm tinha os olhos como enlouquecidos e sua respiração era entrecortada. Suas feridas tinham começado a sangrar de novo.
—Segurem —gritou Sonya quando Malcolm sacudiu com força.
—Esqueçam as outras feridas —disse Fallon aos outros—. Segurem. Sonya se encarregará de tudo quando tiver arrumado o braço.
Os guerreiros seguraram Malcolm com força até que mal pôde mover-se. Ele gritou de agonia quando Sonya puxou o braço para poder pôr o osso no lugar.
O suor cobriu a testa de Fallon ao imaginar a dor que estaria sentindo Malcolm. Ninguém soltou Malcolm até que Sonya terminou de arrumar o braço.
—Desmaiou —informou Larena.
Fallon desceu o olhar e viu que, efetivamente, Malcolm havia tornado a perder a consciência. Soltou-o e se afastou. Os outros fizeram o mesmo, mas Camdyn saiu da cabana.
Quando viu quão pálida estava Larena, Fallon trouxe uma cadeira e a fez sentar-se. Logo um pano úmido e o deu para que ela pudesse limpar a testa de seu primo.
Sonya fez um gesto de assentimento a Fallon, fazendo-o saber que tinha tudo sob controle. Fallon abandonou a cabana para tomar um pouco de ar. O aroma de sangue flutuava no ambiente, recordando a matança de seu clã.
—Ficará bem?
Fallon virou a cabeça e encontrou Camdyn apoiado contra a parede exterior da cabana. As mãos de Camdyn tremiam enquanto as levava ao rosto para afastar uma mecha de cabelo.
—Acredito que sim —respondeu Fallon—. Não saberemos como ficará seu braço até que tenha soldado a fratura. Sonya utilizará toda a magia que possa para curá-lo.
Camdyn mudou de postura.
—Meu tio, um homem enorme, como um urso, quebrou o braço quando caiu uma árvore em cima dele. Até que aconteceu aquele acidente, tinha sido um homem respeitado e reverenciado no clã. Depois, as pessoas não o olhava nos olhos. Mas ele não se rendeu. Aprendeu a usar a espada com a mão esquerda mas, apesar disso, quando chegava o momento da batalha, não o deixavam lutar.
—O que fez ele?
—Ficou atrás, como lhe haviam dito. Mas as ações de seu clã fizeram mais dano que a perda de seu braço. Minha tia era uma boa mulher e o quis apesar de só ter um braço.
Fallon olhou para seu castelo e franziu o cenho.
—Malcolm teria que ser o chefe de seu clã.
—Então, que Deus o ajude —resmungou Camdyn.
Fallon se beliscou na cana do nariz com o polegar e o índice. Camdyn tinha razão. Se Malcolm não pudesse usar o braço, seu clã não o aceitaria. Não teria aonde ir.
Depois de tudo o que Malcolm fez por Larena, Fallon não podia permitir que acabasse perambulando pela Escócia. Dariam-lhe um lugar no castelo.
—Ajudaremos ele —disse Fallon—. Ficará aqui conosco.
A cabeça do Camdyn se voltou para ele.
—É o homem que todo mundo diz que é. Sinto que não pudesse ser o chefe de seu clã, Fallon, mas me alegro de te ter como líder.
Fallon não sabia como responder a Camdyn. Então, assentiu e partiu. Havia trabalho a fazer e ficando ali quieto não faria nenhum bem a ninguém.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 25

Quando Larena saiu da cabana, já tinha caído a noite. As mulheres tinham resolvido fazer turnos para cuidar de Malcolm. Larena havia ficado com o primeiro turno e Sonya tinha ido substituí-la. Malcolm dormia profundamente, seu peito subia e descia com regularidade, mas Larena ainda estava preocupada.
Não estava certa do que tinha feito Sonya nem do tipo de magia que tinha usado, mas fosse o que fosse, estava curando o Malcolm.
Sonya tinha prometido que a avisaria se Malcolm despertasse, mas Larena esperava que dormisse toda a noite. E isso esperava também Sonya enquanto se preparava para fazer a guarda.
Uma sombra se moveu perto da cabana, e Larena sentiu um perfume de laranjeira.
Fallon.
Foi direto para ela e quando ele abriu os braços, ela não duvidou em aceitá-los. Larena descansou a cabeça em seu ombro e fechou os olhos.
—Se Broc não o tivesse encontrado...
—Não diga isso —sussurrou Fallon—. Broc o encontrou e Sonya o curou o melhor que pôde.
Larena assentiu.
—Ficarão muitas cicatrizes das marcas das garras.
—Viu suas mãos? Defendeu-se, Larena. Embora fossem guerreiros, ele se defendeu.
Ela pestanejou ante a repentina rajada de lágrimas.
—Eu acreditei que quando saí de Edimburgo ele estaria bem.
—Não acredito que estivesse em Edimburgo. Acredito que vinha para o castelo para ver você. —Suas fortes mãos a agarraram pelos ombros e a separaram dele—. Há algo mais.
Ela não podia ver seus olhos porque a lua estava atrás dele, mas ouviu a preocupação em sua voz e viu que tinha a testa enrugada.
—O que é?
—Se por alguma razão Malcolm não for capaz de usar o braço como deveria, pode ficar aqui. Sabe que seu clã não o aceitará como chefe se não estiver completamente bem.
—Abriria sua casa para ele?
—Sim.
Ela estava atônita ante aquele gesto. Fallon a assombrava constantemente.
—Porquê?
—Porque esteve a seu lado quando o resto de sua família não o fez. Porque pôs sua vida em perigo para te ajudar. Porque era seu irmão e porque confiou em mim para que cuidasse de você.
—Fallon —sussurrou ela, com a garganta feito um nó pela emoção.
A boca de Fallon desceu até a dela, cortando algo que ela tivesse querido dizer. Quando seus lábios se moveram contra os de Larena expertamente, provocando-a e incitando-a, ela tocou sua língua com a dela. Ele gemeu e a apertou contra seu duro peito.
Larena não queria abandonar seus braços. Em seu abraço se sentia como se nada pudesse lhe fazer dano jamais, como se estivesse protegida e... Fosse amada.
Amor.
Era uma palavra que nunca dizia e que nunca considerava. A não ser que pensasse em Fallon.
A última pessoa que a tinha amado tinha sido seu pai, e o tinham arrebatado. Robena tinha se preocupado com ela e tinha estado orgulhosa que a deusa a tivesse escolhido, mas Robena não a tinha amado. Não, Robena tinha um trabalho a fazer e isso era tudo o que tinha importado à velha druida.
O amor não era uma emoção que Larena pudesse permitir sentir. Expô-la a uma dor que não queria voltar a experimentar jamais. Era melhor fechar-se e manter as distâncias.
Está tão certa disso agora que conheceu Fallon? Ele poderia te oferecer muito mais.
Larena afastou aqueles pensamentos de sua cabeça enquanto Fallon intensificava o beijo. Suas mãos desceram até suas nádegas e a seguraram enquanto colocava sua ereção contra ela.
Larena ficou sem ar. Agarrou-se aos grandes ombros de Fallon e se rendeu à paixão que se desdobrava na parte baixa de seu ventre.
—Meu deus, Larena —sussurrou Fallon. Foi beijando o pescoço para baixo e a inclinou para trás—. Te desejo. Necessito de você.
Ela estremeceu ante suas palavras e logo gritou quando seus dentes roçaram seu mamilo através da túnica. O prazer a percorreu como um raio. Levantou uma perna e a colocou ao redor da cintura dele.
O ar da noite, com o aroma do mar, formava redemoinhos ao redor deles. A lua e as estrelas cintilavam no céu enquanto a água se chocava contra os escarpados. A seu redor preponderava a morte e a destruição, mas nos braços um do outro podiam encontrar serenidade.
—Eu também necessito de você, Fallon —confessou ela—. Necessito desesperadamente.
Sem dizer uma palavra, ele a levantou até que suas pernas abraçaram sua cintura e então a levou atrás de uma das cabanas. Apertou-a contra uma das paredes e esfregou seu pênis contra ela.
Larena gemeu e moveu os quadris. Estava encantada com aquela privacidade, pois sabia que outros guerreiros estavam montando guarda e não queria que vissem a paixão que só tinham ela e Fallon.
—Seria muito mais fácil se usasse um vestido —grunhiu ele.
Larena riu.
—Também seria mais fácil se você usasse um kilt escocês.
—Terei-o em conta a próxima vez —murmurou ele contra seu pescoço enquanto lhe acariciava a pele—. Não tem nem ideia do que sinto quando te vejo com as calças.
Ela colocou a mão entre eles, levantou a túnica até o peito e logo a tirou.
—Explique-me isso - e contra seu membro deu um golpe. Ela tentou mover as pernas, pois eram muito firme.
—Faz que queira te marcar como minha.
Ela tremeu com suas palavras. Ela queria que a marcasse e que a marcasse como dele.
Suas mãos estavam desesperadas para tirar a roupa que separava seus corpos. Antes que o último objeto de roupa tocasse o chão, já estavam abraçados de novo.
Larena colocou os dedos entre os escuros cabelos de Fallon enquanto ele a levantava uma vez mais. Ela envolveu as pernas ao redor de sua cintura e gemeu quando seu membro esfregou seu sensível sexo.
—Por favor, Fallon — suplicou. Precisava tê-lo dentro dela. Só ele podia fazer esquecer o mundo que os rodeava e fazê-la sentir que eram as únicas duas pessoas que ficavam no mundo.
As mãos de Fallon agarraram os quadris dela, aguentando-a por cima de seu pênis. Ela não afastou a vista quando o olhar dele se encontrou com a dela. Larena se perdeu no verde delicioso de seus olhos.
Ele a desceu contra seu membro de um golpe. Ela tentou mover os quadris, mas ele a manteve firme. Ele a encheu por completo até que a ponta de seu pênis tocou seu útero. Só então a permitiu mover-se.
Larena entrelaçou os pés e afundou o rosto no pescoço de Fallon enquanto seus quadris começaram a mover-se. Com ele empurrando se aproximava mais a ela, afundava-se mais em seu interior... E tocava o coração.
Ela não sabia se era por ver Malcolm morrendo ante seus olhos, mas se sentia selvagem, exposta, e necessitava de Fallon de uma maneira que não seria capaz de explicar com palavras.
Ele não tinha feito pergunta. Simplesmente tinha devotado, como se soubesse que o necessitava.
Larena o beijou no pescoço à medida que sua necessidade aumentava com a aceleração de seus quadris.
—OH, Deus, Larena —gemeu ele.
Ela voltou a beijá-lo, percorrendo a pele com a língua. Ele gemeu nas profundidades de sua garganta enquanto seus dedos se cravavam nos quadris dela.
As mãos de Larena passaram aos ombros de Fallon enquanto lutava por agarrar-se a ele enquanto chegava ao orgasmo. Ela deu um grito afogado e se enterrou em seu pescoço quando o orgasmo a envolveu.
Larena ficou atônita ante a intensidade do orgasmo. Seu corpo se convulsionava com aquelas deliciosas ondas de prazer. Fallon seguiu inundando-se dentro dela, alargando seu clímax.
—É minha, Larena. Minha.
Ela se sacudiu, abriu a boca em um grito de gozo silencioso enquanto as presas de Fallon se afundavam em seu pescoço e a levava a outro orgasmo.
Quando pôde abrir os olhos, Fallon a estava beijando no lugar onde a tinha mordido. Ela soube sem olhar-se que a tinha marcado. Deveria estar zangada, mas não estava. Estava eufórica.
—Minha —sussurrou ele justo antes de os transportar de um salto a seu quarto do castelo.


Fallon não podia acreditar que tivesse cedido a seus desejos de marcar Larena. Sentir seu corpo agarrado ao redor do dele, saber a angústia que tinha sentido ela ao encontrar Malcolm, e a excitação que ele tinha experimentado quando ela tinha ido até ele tinham sido muito.
Na escuridão da noite, ela era dele. Se ela iria permanecer em sua cama quando saísse o sol era outra coisa. Ele havia dito que ela era dele, mas em seu coração sabia que não a tinha. Nunca a teria a não ser que ela lhe desse seu coração.
Fallon chegou de um salto a seu quarto e a deixou na cama antes de deitar-se a seu lado. Ela se virou para ele e apoiou a cabeça em seu ombro. A cabeça de Fallon estava cheia dela. Inclusive o batimento de seu coração o devia a ela.
Lucam tinha perguntado se ele se importava com Larena. Fallon não sabia que emoção havia em seu interior, mas seus sentimentos por Larena cresciam cada dia. Ela não tinha nem ideia que o tinha na palma da mão e provavelmente seria melhor que não soubesse.
Nem sequer saber que ela escondia a verdade sobre o anel e seu conhecimento do Pergaminho podia apagar seus sentimentos. Ela tinha suas razões para manter seu segredo e, embora doía saber que ela não confiava nele, tentava entender.
Desceu os dedos por suas costas, acariciando-a. Queria agarrá-la contra si e não soltá-la nunca, mas teria que fazê-lo. Encadeá-la a ele só faria com que ela quisesse partir.
Fallon sabia que no final teria que fazer o impossível. Teria que deixar que Larena partisse.
Fechou os olhos enquanto uma onda de dor o atravessava. A ideia de não ver seus olhos azul cinzento todos os dias, de não ver como seus lábios formavam aquele incrível sorriso ou de não sentir as mãos dela sobre ele provocava um suor frio.
—Deus, me dê força —sussurrou.


Broc voou para o sudoeste quando deixou os MacLeod. Tinha demorado muito. Deirdre estaria furiosa quando voltasse, mas tinha que fazer uma parada a mais.
O vento o empurrou para seu destino. Viu o grande grupo de árvores muito antes de chegar até ele. Naquele enorme bosque viviam muitas criaturas e também druidas.
Aterrissou perto do lago e se transformou no homem que era. Era a única vez que deixava de lado seu deus, a única vez em que se permitia recordar ao homem que tinha sido. Trazia muitos lembranças, mas tinha que fazer que aquilo acabasse.
Broc passou os dedos pelo cabelo, que usava muito longo, e utilizou o lago para lavar sangue do corpo. O sangue de Malcolm e o seu próprio. Suas feridas se curaram, mas provavelmente, o primo de Larena não teria tanta sorte. Ficou em pé e desejou ter pego uma túnica.
—Broc?
Sua doce voz chegou até ele das árvores. Ela apareceu com uma cesta em uma mão e a saia na outra. As pálidas mechas marrons de seu cabelo caíam livres ao redor de seu rosto.
—É você —sussurrou—. Acreditei que nunca voltaria.
Não tinha querido voltar. Prometeu a si mesmo, em sua última visita, há quase seis meses, que aquela seria a última. Era muito perigoso para os druidas. Mas não tinha sido capaz de manter-se afastado.
—Não posso ficar muito tempo, Anice. Há gente malvada te buscando e aos outros druidas. Devem ficar escondidos como planejamos.
O sorriso de Anice não titubeou enquanto andou para ele. Deixou a cesta e levou suas mãos à cara de Broc.
—Quanto falta senti de você. Sofro por você constantemente.
—Estarei bem —assegurou ele, e tentou não afastar as mãos dela de um golpe. Era uma garota doce, mas nem sempre escutava quando era importante—. Me ouviu? Você e outros druidas têm que ficar escondidos.
—Usamos a magia. Inclusive minha irmã incorporou sua magia antes de partir. Broc ficou paralisado quando a mencionou. Ela era a autêntica razão pela que ele estava ali, a razão pela que não podia manter-se afastado daquele lugar. Seu coração retumbava em seus ouvidos como um tambor.
—Sonya partiu?
Anice inclinou a cabeça e franziu o cenho enquanto o olhava.
—Disse que era importante, que a necessitavam em outro lugar. Disse que era para ajudar os que lutavam contra Deirdre.
Broc se virou e passou a mão pelo rosto. Seu coração retumbava em seus ouvidos enquanto sua cabeça pensava em todas as possibilidades.
Recordava o momento em que havia trazido as duas meninas para ficar junto os druidas. Tinha cuidado deles durante anos. Nenhuma delas sabia o papel que tinha tido Broc em sua fuga de Deirdre, e queria garantir que nunca soubessem. Teria que responder a muitas perguntas sobre o que tinha acontecido a seus pais.
Sonya não sabia de sua existência. Teria gostado que Anice tampouco soubesse, mas ela o tinha surpreendido espiando sua irmã. Broc estava desesperado por sentir o tato da Sonya. Deveria ter se afastado de Anice. Mas em lugar disso, tinha feito dela sua amante, apesar de seu olhar sempre estar posto sobre Sonya.
Voltou a olhar Anice e tentou ignorar a dor de seus olhos.
—Quando partiu Sonya?
Anice encolheu os ombros.
—O que importa isso? Estará bem, como sempre esteve.
—Quando, Anice? —Voltou a perguntar.
Ela se separou dele. Pela primeira vez havia um olhar de receio em seus olhos marrons. Ela não tinha nem ideia do tipo de monstro que ele era na realidade ou da quantidade de gente que tinha matado. Se soubesse, nunca teria entregue seu corpo a ele.
—Faz quase três meses.
Broc lutou para respirar. Três meses? Sonya poderia estar em qualquer lugar. Poderia precisar dele. Será que não sabia que para os druidas não era seguro vagar pela Escócia?
—Aonde?
—Disse que ia para os MacLeod.
Broc apertou os punhos. Não tinha certeza de ter ouvido bem a Anice. Sonya tinha estado com os MacLeod todo o tempo e ele não tinha sabido? Precisava ver com seus próprios olhos que tinha chegado ao castelo e que os guerreiros a tinham deixado entrar. Se havia um lugar onde acreditava que Sonya podia estar segura, era com os MacLeod. No momento.
—Anice, me escute. A magia de Deirdre aumentou. Está encontrando os druidas que estiveram escondidos durante anos. A magia que você e outros usam pode não ser suficiente. —Queria contar-lhe tudo, dos guerreiros, o que perseguia Deirdre, mas não tinha tempo.
Ela engoliu saliva e assentiu.
—Não voltará, verdade?
—Não posso me arriscar a fazê-lo. É muito perigoso. Para os dois.
—Acreditei que tínhamos um futuro juntos.
Broc desceu o olhar para o chão. Arrependia-se de ter utilizado Anice, mas não podia deixar que pensasse que compartilhavam algo.
—Não há nenhum futuro comigo.
As lágrimas escorregaram descontroladas por seu rosto e caíram sobre seu peito.
—Que Deus te acompanhe, Broc.
Ele esperou até que o bosque a tragou de novo antes de deixar cair a cabeça em suas mãos. Nunca tinha sido sua intenção fazer mal a Anice. Um momento de debilidade tinha feito que ele a recebesse em seus braços e pagaria por isso durante o resto de sua vida.
Quanto a Sonya, também era sua responsabilidade. Broc tinha se assegurado que Anice nunca falasse dele, assim não se preocupava que Sonya tivesse contado algo aos MacLeod.
Broc se virou e se afastou correndo do bosque antes de libertar seu deus e voar. Faria o que fosse possível para manter às duas irmãs druidas afastadas de Deirdre. O que fosse possível.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 26

Fallon esperou que a porta se fechasse atrás de Larena para abrir os olhos. Acreditava que o que tinham compartilhado a noite anterior a manteria a seu lado pela manhã, mas tinha se enganado.
Embora desejava de todo coração, não a tinha detido. Com um suspiro, levantou-se e se vestiu, mas em vez de ir-se ao grande salão, Fallon foi procurar Sonya.
Ele tinha visto a maneira em que ela havia se posto tensa quando disseram o nome de Broc. Havia algo na aparição de Broc e no resgate de Malcolm que inquietava Fallon.
—Bom dia, irmão —o saudou Lucam.
Fallon parou no corredor.
—Bom dia. Como está Malcolm?
—Bem. Larena está com ele. Levei Cara à cama. Está esgotada.
—Bem —disse Fallon—. Me alegra saber que está se recuperando. Viu Sonya?
—Sim. Está nas almenas. Ocorre algo?
Fallon duvidou. Viu a pergunta nos olhos verde mar de seu irmão.
—Ainda não sei. Reagiu de uma maneira estranha quando disse o nome de Broc.
—E quer ver se há alguma relação —acabou Lucam—. Sim, eu também o faria. Crê que o conhece?
—Poderia ser. Tudo é possível. Não sabemos nada de Broc, além do que nos contou Ramsey.
Lucam apoiou um ombro contra a parede e cruzou os braços sobre seu peito com o olhar pensativo.
—Broc é um mistério. Eu gostaria de falar com ele.
—Fique na fila, irmão.
Lucam riu antes de separar os braços e afastar-se da parede.
—Logo me contará tudo.
Fallon assentiu enquanto seu irmão partia. A escuridão que Lucam tinha tido em seus olhos durante tantos anos tinha desaparecido. Voltava a ser o homem que Fallon tinha conhecido antes do assassinato de seu clã. Oxalá tudo pudesse voltar a ser como era antes.
Quando Fallon chegou às almenas encontrou Sonya, como havia dito Lucam. Estava em pé de costas para o mar. Tinha as mãos fortemente agarradas às pedras. Parecia muito concentrada.
—Está escutando às árvores?
Ela virou a cabeça para olhá-lo.
—Mal os ouço. Estou muito longe. De vez em quando ouço alguma palavra, mas não o suficientes para que tenham sentido.
—Sempre viveu no bosque?
—Desde que tenho memória.
Fallon continuou olhando-a enquanto apoiava um cotovelo nas pedras.
—O que aconteceu com sua família?
—Meus pais estão mortos há muitos anos. Tudo o que resta é uma irmã mais velha quem gosta de passar os dias colhendo flores silvestres.
—Nasceu com os druidas?
Ela negou com a cabeça.
—Não. O pouco que me contaram os druidas quando perguntei foi que nos levaram para eles quando eu mal caminhava.
—Que interessante. O que sabe sobre Broc?
Por fim, ela se virou para o olhar. Seu olhar cor âmbar era firme quando encontrou os olhos dele.
—O que te faz pensar que sei algo dele?
—Ontem quando saiu seu nome, estremeceu.
Sonya suspirou e olhou as mãos, mas antes ele viu um estremecimento de emoção.
—Minha irmã falava de um tal Broc, um homem que a visitava de vez em quando. Muitas vezes falava de seu futuro juntos, mas quando eu perguntava sobre ele, ela não me contava nada mais. No fim de um tempo, deixou de falar dele.
—Acha que é o mesmo Broc?
Ela encolheu os ombros e o olhou.
—Fallon, minha irmã tem um grande coração. É uma boa pessoa, mas o mal que há no mundo não a preocupa. Anice acredita que pode ficar no bosque protegida pela magia e estar a salvo de Deirdre e de qualquer perversidade que possa ameaçá-la.
—E você não?
—Não —admitiu ela em voz baixa—. Eu não acredito. Tentei convencer os outros druidas para que partissem, mas o bosque foi seu lar muito tempo. Ali se sentem seguros.
Fallon soltou um suspiro. Preocupava-se com o que acabava de descobrir.
—Pode convencer os druidas para que venham para cá?
—Duvido. Falei das advertências que me tinham feito as árvores, mas eles continuaram empenhados em ficar no bosque. Tentei fazer com que Anice viesse comigo, mas me disse que não podia partir. Que eu saiba, Broc é alguém que ela inventou. Ela sempre saía ao bosque sozinha. Via falando sozinha ou conversando com pessoas que não estavam ali.
—Sinto muito, Sonya.
Ela fez um gesto ante suas palavras.
—Não há nada que sentir. Eu os adverti.
—Mas com certeza não quer que Deirdre capture sua irmã.
O olhar da Sonya o abrasou.
—É obvio que não. Mas não posso obrigar aos druidas a partirem. Disse-lhes onde estava e roguei que viessem aqui se ocorresse algo.
—Deixe que envie guerreiros para os buscar.
—Nunca os encontrarão.
Fallon ficou reto e refreou sua crescente ira.
—Então pode levar um par de guerreiros e os encontrar.
—Oxalá pudesse, Fallon, mas não posso partir. E não é só porque Malcolm me necessite. As árvores me disseram que tinha que vir aqui e ficar, que se abandonasse o castelo MacLeod, Deirdre me encontraria. E antes que pense que sou uma covarde, tem que saber que se acabar nas mãos de Deirdre, ela descobrirá onde se escondem os druidas que até agora a evitaram.
—Nunca pensaria que é uma covarde, Sonya. Esquece que estive na montanha de Deirdre. Vi o que pode fazer. É normal que queira se manter afastada dela, mas temos que fazer com que esses druidas venham aqui antes que ela os encontre. E no final o fará.
Ela suspirou e assentiu.
—Tentarei mandar uma mensagem através das árvores, se puder.
Fallon a tocou na mão que ainda agarrava as pedras com força.
—Fez tudo o que pôde. Deixe que eu e outros a ajudemos uma vez.
—Obrigado. —Seus lábios tremeram enquanto sorria.
Fallon a deixou nas almenas e foi ao salão. Deu uma olhada em Ramsey e Hayden, que estavam sentados à outra mesa revisando o pergaminho falso. Fallon deslizou em sua cadeira ao lado de seu irmão e soltou um suspiro.
—Tão mal é? —Perguntou Lucam com a boca cheia de comida.
Fallon se alegrou que outros guerreiros não estivessem no salão. Ainda estava assimilando tudo o que Sonya tinha contado.
—O grupo de druidas com os que vivia Sonya corre perigo. —Agarrou um pouco de comida e começou a contar a Lucam tudo o que tinha averiguado.
Quando acabou, Lucam deu um assobio longo e baixo.
—Espero que possa mandar a mensagem. Não posso acreditar que os druidas pensassem que estavam seguros no bosque. Ninguém está a salvo de Deirdre, nem sequer aqui, mas conosco pelo menos têm uma oportunidade.
Eles conhecem o bosque. É compreensível que não queriam abandonar um lugar mágico e protegido.
—E Broc? —Perguntou Lucam.
Fallon partiu outro pedaço de pão e descansou os antebraços na mesa.
—Sonya não sabe se é real ou não.
—Sua irmã tem algum tipo de problema mental?
—Sonya não me disse isso, mas eu acredito que poderia ser.
Lucam esvaziou sua taça e a deixou sobre a mesa.
—Então suponho que teremos que esperar para ver o que acontece com Broc.
—Suponho que sim. Esperava poder averiguar algo sobre ele, mas sei menos que ontem.
—Por certo —acrescentou Lucam, e se aproximou de Fallon—, esta manhã encontrei sua roupa e a de Larena na aldeia. Dobrei-a e a deixei em seu quarto.
Fallon amaldiçoou-se por sua pressa. Esqueceu das roupas.
—Agradeço.
—Esclareceram algo?
Fallon negou com a cabeça.
—Não sei se alguma vez faremos isso, Lucam. Eu daria tudo o que ela quisesse, mas cada manhã, quando sai o sol ela abandona minha cama.
—Dê um tempo a ela. Vejo a forma em que o olhe, aí há algo, Fallon.

Larena acariciou a sobrancelha de Malcolm e desejou em silêncio que seu primo despertasse. Sofria por seu braço e em como afetaria seu futuro, mas em seu interior sabia que na realidade estava fugindo das lembranças de sua noite com Fallon. Aquela manhã olhou o pescoço no espelho durante um bom momento, ainda surpreendida ao ver a marca de Fallon sobre seu corpo.
Levou a mão ao pescoço, à mordida que agora tinha coberto com a túnica. Perguntava-se se Fallon teria se zangado ao ver que tornou a partir aquela manhã. Como podia explicar a ele que ficar para ver como despertava era um passo que não podia dar? Ainda não.
Ela sabia que seu tempo com Fallon estava se esgotando. Se não se entregasse a ele, perderia-o para sempre. Ele tinha devotado tudo, e o que tinha feito ela? Tinha mantido uma parte dela longe dele, mas além disso, não tinha confiado nele e não tinha contado a verdade sobre o Pergaminho.
Larena apoiou a cabeça em suas mãos quando voltou a sentir a ameaça das lágrimas. Como odiava chorar. Desde que tinha conhecido Fallon as lágrimas tinham sido virtualmente incontroláveis.
Merecia saber a verdade. Toda. Se a odiasse por isso, que assim fosse. Como homem das Highlands e chefe de um clã, ele deveria entender o peso de uma promessa.
Uma vez tomada a decisão de contar a verdade a ele, levantou a cabeça e secou os olhos. Tinha que encontrar com Fallon antes que mudasse de opinião. Podia ajudar Ramsey e Hayden com o pergaminho para que pudessem enganar perfeitamente a Deirdre.
Mas quando se virava para partir, ouviu que alguém sussurrava seu nome.
Larena se voltou e encontrou Malcolm olhando-a com seu único olho bom. Ela sorriu e agarrou a mão dele.
—Olá.
—Olá —murmurou ele, e passou a língua pelos lábios rachados.
Ela agarrou a taça de água e levantou a cabeça dele para ajudá-lo a beber. Quando acabado lhe limpou a água do queixo e lhe afastou uma mecha de cabelo loiro dos olhos.
—Como está?
Ele grunhiu.
—Pois... Mal.
—Sei, mas te ficará bem. Está no lar de Fallon.
Malcolm franziu o cenho, e ela viu como se formavam as perguntas em sua cabeça.
—Ainda não, primo —disse ela—. Tem que descansar. Terá muito tempo para fazer perguntas.
—Está bem.
—Sente dor?
Ele assentiu enquanto fechava os olhos.
Larena apertou a mão dele.
—Trarei algo. Descanse.
Quando se virou, Sonya estava na entrada. A druida tinha uma expressão de preocupação em seus olhos âmbar, mas, rapidamente, dominou seus rasgos e sorriu.
—Despertou? —Perguntou Sonya.
—Sim, e sente dor.
Sonya foi até a cama.
—Mesclarei-lhe umas ervas na água. Acalmarão a dor e o permitirão descansar.
—Obrigado.
A druida a olhou.
—Não tem que me agradecer. Isto é o que eu faço, o dom que me foi concedido. Continuarei utilizando minha magia para acelerar sua cura.
Larena olhou para Malcolm uma vez mais.
—Obrigado de todas as formas. Se alguma vez necessitar do que for, Sonya, eu te ajudarei.
—É bom que tenha vindo aqui. Este é seu lugar —disse Sonya.
Larena deixou que Sonya tratasse de seu primo e abandonou a cabana, estranhamente contente pelas palavras da druida. Olhou para o castelo, com o fundo azul do céu. Imaginou que em seu antigo esplendor devia ser magnífico, com as torres chegando até as nuvens e o ar cheio do grito de guerra dos MacLeod.
A única evidência que ficava do massacre era a pedra cinza danificada pelo fogo e a torre que ainda estava por reconstruir. O castelo já não albergava o clã MacLeod, mas se Fallon conseguisse, aquela terra voltaria a estar cheia de gente.
Os druidas e os guerreiros que se atreviam a desafiar um ser tão maligno como Deirdre se reuniriam naquela terra e a enfrentariam na maior batalha de suas vidas.
—Larena!
Virou-se e encontrou Galen, Logan e Camdyn sustentando em pé um grande poste.
—Precisamos de você —gritou Galen.
Larena olhou para o castelo. Sua confissão a Fallon teria que esperar.


Broc se armou de valor, como sempre fazia, antes de deixar-se engolir por essa montanha. Unicamente tinha entrado nela dez passos e já podia ouvir os chiados que se elevavam das masmorras nas vísceras da terra. Aqueles gritos o perseguiriam em seus sonhos durante toda a eternidade.
Embora quisesse chegar logo a seu próprio quarto, Broc sabia que primeiro tinha que ver Deirdre. Haveria um castigo para ele, com certeza. Deirdre não gostava que a fizessem esperar.
Tomou as estreitas escadas que serpenteavam pela montanha. Quando chegou acima de tudo, virou à esquerda e percorreu o corredor.
Havia vezes que juraria que as pedras estavam vivas, que podiam ler seus pensamentos e sentir seu ódio. Formava parte do exército de Deirdre fazia tanto tempo que já teria que estar acostumado, mas sabia que nunca poderia acostumar-se àquilo. A montanha era um lugar infame, um lugar onde a maldade crescia com força e aumentava com cada dia que passava.
Fez um gesto de assentimento aos dois guerreiros que guardavam a porta de Deirdre. Eles chamaram e anunciaram sua presença. Broc ouviu como ela gritava algo através da grossa rocha de sua porta.
Enquanto as portas se abriam, Broc separou de sua mente tudo o que não fossem os MacLeod. Era um truque que tinha aprendido fazia tempo, e que tinha salvado sua vida em inumeráveis ocasiões.
O primeiro que fez foi olhar o lugar onde Deirdre ainda mantinha James preso. O guerreiro levantou para o Broc os olhos cheios de ódio e ira.
—Onde esteve? —perguntou Deirdre enquanto entrava no quarto.
Broc olhou para a porta pela qual ela acabava de entrar. Conseguiu ver sua cama e os pés de um homem. Sabia sem dúvida nenhuma que se tratava de Quinn. Estava ele ali porque queria estar ou Deirdre o tinha preso à sua cama? Broc suspirou para si mesmo. Agora não poderia voltar a falar com Quinn.
As brancas sobrancelhas de Deirdre se levantaram.
—E bem?
—Depois do ataque fiquei para trás para ver o que faziam Fallon e os outros —mentiu.
As pontas do cabelo branco de Deirdre se moveram e se levantaram do chão. Ele já havia sentido a ardência de seu cabelo antes e tinha visto como ela estrangulava bastante gente para saber que quando decidia utilizá-lo não era um bom sinal.
—Disse a Fallon tudo o que te disse?
Broc inclinou a cabeça para diante.
—É obvio, minha senhora. Cada palavra. —E alguma mais, mas isso ela não precisava saber.
—E Larena? Viu-a?
—Sim. Está viva.
Deirdre deixou que seu olhar o percorresse lentamente.
—Foste leal durante muito tempo, Broc. Nunca questionei sua lealdade, mas não volte a chegar tarde ou será castigado.
Com a bílis que subia pela garganta, continuou com seu farsa.
—Minhas desculpas, minha senhora. Pensei que queria saber que estão reconstruindo a aldeia.
Os olhos sem cor de Deirdre se estreitaram.
—Ah sim? Interessante, Broc. Muito interessante. —Começou a voltar para o quarto, o despedindo, mas então parou—. Dunmore trouxe um grupo de druidas. Ajude os outros com o interrogatório.
O coração de Broc retumbou em seu peito e o suor empapou sua testa. Mais druidas? Como os encontrou? E quanto demorará para descobrir Anice e seus druidas?
—Como desejar.
Ela parou e, sem dizer uma palavra, as pedras que retinham James o soltaram. O guerreiro verde pálido caiu ao chão e esfregou os braços e as pernas onde o tinham preso as cadeias de pedra. Fez uma reverência a Deirdre e logo saiu de seus aposentos.
Quando Deirdre desapareceu em seu quarto, Broc se virou e saiu da estadia com um rosto inexpressivo. O último que queria ver era como torturavam e matavam os druidas, mas não tinha escolha.
Broc saiu pela esquina da porta e se encontrou com Isla. A druida era pequena, mal lhe chegava ao peito, tinha o cabelo negro como azeviche e olhos cor azul gelo que pareciam ver o interior de um homem.
Ele não entendia por que Deirdre não tinha matado Isla, igual aos outros druidas. Isla não falava quase nunca e em seu rosto nunca se via nenhuma emoção. Seus olhos estavam tão mortos como o coração de Broc.
—Isla —murmurou Broc quando começou a passar a seu lado.
—Viu-os? —foi sua única resposta.
Ele parou enquanto suas suaves palavras enchiam o corredor.
—A quem?
—Aos MacLeod.
—Sim. Deirdre tinha uma mensagem para eles.
—Virão por seu irmão guerreiro e a batalha será sangrenta. Muitos morrerão.
Suas palavras sussurradas ressonaram em sua cabeça muito depois que ela partisse.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 27

Até a tarde Larena não pôde escapulir para falar com Fallon. Tinha estado todo o dia pensando no que lhe diria e em como o faria.
Não queria ver a ira e a dor em seus olhos, mas já não podia esconder a verdade durante mais tempo. O que tinha com Fallon era especial, tão especial que estava disposta a romper sua promessa.
Tinha demorado muito em dar-se conta do muito que necessitava dele, ou possivelmente tenha sabido sempre, mas tinha estado muito assustada para admitir. Apesar de tudo, ela consertaria o dano que tinha feito e rezaria para que ele ainda se importasse o suficiente para escutá-la. Confiaria seu maior segredo. Seria a coisa mais difícil que faria, mas sentia que era o que tinha que fazer.
Não se surpreendeu encontrar ao Fallon na praia. Estava de pé sobre um afloramento de rochas olhando para o mar. As ondas rompiam a seu redor, salpicando-o ligeiramente, mas ele não se movia.
Parecia uma estátua, ali apoiado nas rochas, um bonito e perigoso homem das Highlands a quem ela amava com todo seu coração.
Aquele amor era como se alguém a tivesse elevado até as nuvens e estivesse voando. De repente, se apresentavam algumas possibilidades com as quais jamais havia sequer sonhado. E tudo graças a Fallon e ao amor que tinha dado a ela.
Ficou observando-o um bom momento, cativada por sua imagem. Nem em seus melhores sonhos tinha imaginado que poderia encontrar um homem tão honesto, sensato e bom como Fallon. Era um homem que merecia uma grande mulher. Larena não era essa mulher, mas tampouco podia deixá-lo partir.
Se ele a queria, seria dele.
De repente, ele virou a cabeça e a olhou por cima do ombro. Seus olhos verdes ardiam nos dela.
Larena saiu do caminho e andou para ele. Deslocou-se facilmente pelas rochas com suas calças e suas botas, e quando levantou o olhar, Fallon estava a seu lado, com seus longos e escuros cabelos ondeando na brisa.
Estendeu a mão e ela não duvidou em segurá-la. Seus quentes e fortes dedos se fecharam ao redor da mão de Larena e a conduziram para o escarpado, longe do mar.
—Surpreende-me ver você aqui —reconheceu ele.
Larena soltou um suspiro tremente. Nunca tinha estado tão assustada como estava naquele momento.
—Preciso falar contigo. —calou-se, agora que o tinha diante não estava tão segura—. O que faz aqui?
—Venho aqui pensar —confessou ele enquanto seu olhar voltava a dirigir-se de volta do mar—. Meu pai estava acostumado a nos trazer meus irmãos e a mim aqui para pescar. Falávamos de tolices e de coisas importantes. O mar sempre me deu muita paz.
Ela admirou seu perfil e tragou saliva.
—Já vejo. Este é seu lugar, Fallon.
Ele voltou o olhar para ela.
—E o teu, Larena? Onde está seu lugar?
—Em nenhuma parte. E em todas as partes. Não tenho um lar.
—Poderia ter um. Aqui. Comigo.
O coração dela se agitou com aquelas palavras. Incapaz de olhá-lo nos olhos, desceu o olhar ao chão e soltou a mão dele.
—Tenho que te dizer algo. Não vai gostar.
—Diga-me assim mesmo.
Ela fechou os olhos com força e tirou o anel do dedo.
—Este anel me deram no dia em que a deusa foi desatada em mim. Esteve em minha família desde que apareceram os primeiros guerreiros.
Ele não disse nada e Larena levantou o olhar. O rosto de Fallon estava impassível e tinha o olhar fixo em seu rosto.
—Aquela noite prometi que sob nenhum motivo falaria do anel, nem do por que o usava. Durante dezenas de anos nunca tirei ele. Até agora.
Ela estendeu o anel e esperou que ele o pegasse. Fallon o agarrou entre os dedos e o aproximou do rosto para inspecioná-lo.
—Vê o ponto negro que há dentro da pedra?
Fallon assentiu.
—Sim.
As mãos de Larena tremiam enquanto as levantava por cima do anel. Sussurrou as palavras que Robena tinha ensinado, palavras que acreditou que jamais utilizaria. Houve um brilho de luz e então o Pergaminho estava em suas mãos.
Ela limpou uma lágrima que tinha caído até o rosto e estendeu o Pergaminho a Fallon.
—Eu deveria ter dito isso a você. Confiou em mim.
Ele não pegou o Pergaminho como ela esperava. Em lugar disso, estendeu-lhe o anel.
—Guarde o Pergaminho, Larena.
—Não quer vê-lo? —Era o que ele tinha estado procurando para libertar seu irmão. Não entendia por que não queria olhá-lo. Necessitará dele para libertar Quinn.
—Sabia o que era o anel, e o que havia em seu interior, desde dia em que te trouxe aqui.
Larena cambaleou para trás, aquelas palavras foram como um murro no estômago. Suas mãos apertaram o anel e o Pergaminho.
—O que?
—Sonya reconheceu o anel. Disse-me isso naquele mesmo dia.
Larena devolveu o Pergaminho à pedra antes de colocar o dedo dentro da dourada joia. Não sabia o que dizer, sua mente ainda estava se recuperando. Ele sabia. Sabia!
—Nunca me perguntou.
—A decisão de contar-me era isso sua. Não podia te forçar a fazer, igual a não posso fazer que fique em minha cama ao nascer do sol.
—Isso não é justo, Fallon. —Tinha ido entregar-lhe seu coração e se inteirou de que sabia o que escondia. Igualmente tinha aberto seus braços, igual a tinha marcado como dele. Deveria tê-la odiado.
Ele soprou e passou a mão pelo cabelo.
—A vida não é justa. Eu vivi sozinho trezentos anos e a maioria desses anos estão imprecisos por culpa do vinho. Não tinha vivido de verdade até que você chegou. Pode entender quanto te quero?
—Entendo-o. Por isso vim te contar do anel. Eu também quero estar contigo, Fallon.
—Não, não quer.
Disse as palavras tão baixo que, durante um momento, ela não tinha certeza se tinha ouvido direito.
—Sim, eu que quero.
Ele negou com a cabeça. Seus olhos estavam tão cheios de tristeza que fizeram que doesse o peito.
—Quer-me quando me necessita, mas o resto do tempo não valho a pena. Não te culpo. Não valho a pena. Ainda não. Esteve tanto tempo só que mantém todo mundo a distância e eu... Bom, eu sou um bêbado que ainda está lutando contra a chamada do vinho. E tenho muitas coisas que arrumar em minha vida.
Suas palavras arderam mais do que ela poderia admitir.
—Acha que me conhece, mas não é assim.
—Conheço-te melhor do que acha. Diz que me quer, mas quanto, Larena? Quanto desejas estar comigo? Será minha esposa para que possamos passar o resto de nossas vidas juntos? Ou basta a você que compartilhe minha cama contigo todas as noites?
Toda a vida com Fallon. A ideia fez que um estremecimento a percorresse o corpo todo, mas uma vez desapareceu o prazer, não pôde evitar sentir medo por que algum dia pudesse ficar outra vez sozinha.
—Por que o que temos agora não pode ser suficiente?
Ele deu um passo para ela, seu rosto estava cheia de dor.
—Porque eu quero mais. Necessito de mais.
Seus sonhos de passar tempo com Fallon se derrubaram a seu redor.
—Sinto muito. Não posso te dar o que necessita. —Ela começou a voltar para o castelo desejando poder estar um momento a sós para chorar pelo amor que tinha encontrado... E perdido.
—Sim, você pode —gritou ele atrás dela—. Só está assustada!
Ela se virou para ele.
—Você não sabe nada.
—OH, sim que sei, Larena Monroe. —Ele correu para ela. Tinha os lábios fechados formando uma linha reta e apertava a mandíbula. A ira substituiu à dor e fez que seu rosto adotasse uma expressão dura—. Tem medo de estar sozinha, teme que possa ter alguém em quem possa confiar. Tem pânico de pôr seu coração e sua alma em minhas mãos por medo de que te abandone.
As pernas de Larena ameaçaram derrubá-la. Cada palavra foi como uma bofetada e o pior era que eram verdade. Virou-se e pôs-se a correr, ignorando Fallon, que gritava seu nome. Larena não parou até que viu que estava em uma torre. Se agachou no chão do pequeno quarto e deixou que caíssem as lágrimas.
Já não queria conter a miséria e a solidão que tinha ignorado durante todo aquele tempo. Fallon tinha libertado seu desespero de um golpe só e esse desespero a olhava fixamente, exigindo que a admitisse.
Mas não podia.


Fallon se amaldiçoou por ser tão idiota. Não teria que ter dito essas coisas a Larena. Sabia que tinha que tratá-la com cuidado, mas seu temperamento o tinha traído quando ela havia dito que não podia lhe dar o que ele necessitava.
Observou como se afastava correndo, e o coração se rompeu em mil pedaços. Sabia que a tinha perdido para sempre. A dor que sentia era pior que o que sentiu quando perdeu a sua família e a seu clã.
Fallon caiu de joelhos pelo peso daquela dor. Jogou a cabeça para trás e abriu os braços enquanto deixava brotar toda sua angústia com um grito.
Mas nem sequer isso o ajudou.
Deixou cair a cabeça contra seu peito e tampou o rosto com as mãos. Tudo o que tentava arrumar acabava piorando sempre. Olhe o que aconteceu com Quinn. E agora Larena. Não poderia liderar-se a si mesmo, e muito menos a um exército de guerreiros, se não era capaz de ganhar a confiança de Larena. A ira o invadiu com velocidade. Sua pele cintilou com a mudança, mas não tentou detê-lo. Agora não havia maneira de pará-lo.
E pode ser que nunca mais.
—Fallon?
Ficou de joelhos de um salto quando ouviu que Lucam dizia seu nome, mas não olhou seu irmão.
—Me deixe.
—Nem pensar. —Lucam continuou aproximando-se dele—. O que aconteceu? Vi como Larena corria para o castelo.
Fallon jogou a cabeça para trás e riu. Aquela risada soou totalmente vazia inclusive a seus próprios ouvidos.
—Perdi Larena, se é que alguma vez a cheguei a ter.
—Conte-me - pediu Lucam enquanto se colocava diante dele.
Fallon negou com a cabeça.
—Agora preciso ficar sozinho.
—Necessitamos de você.
—Não —bramou Fallon. Deu as costas a seu irmão—. Não necessitam. Você pode liderar esses homens, Lucam.
—Não, Fallon. Por favor, não parta. Já perdi Quinn. Não posso te perder também.
Fallon olhou para os escarpados que tinha diante. Já tinha falhado muitas vezes com Lucam. Não voltaria a fazer, embora cada fibra de seu corpo desejasse desaparecer e não voltar jamais.
—Voltarei, Lucam.
Começou a subir os escarpados, não queria ouvir a resposta de seu irmão. Seu coração pulsava com força enquanto saltava de escarpado em escarpado e logo corria pelas onduladas colinas. Não descansou nem parou até que os pés não puderam levá-lo mais longe.
Fallon caiu ao chão e rodou ficando de barriga para cima. A rápida respiração lhe queimava os pulmões. Utilizou o braço para proteger os olhos do sol, que estava se pondo, e observou o azul intenso do céu.
Oxalá soubesse o que tinha feito mal com a Larena. Queria voltar a tê-la entre seus braços, queria sustentar seu corpo suado e cheirar seu delicioso aroma a lírios.
Mas a tinha perdido.
Apertou a base das mãos contra os olhos, tentando apagar de sua cabeça a imagem do precioso rosto de Larena. Mas Fallon sabia que nem sequer a morte poderia eliminá-la.
Ela era uma parte dele, igual era seu deus. Agora e sempre.

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 28

Quando Larena despertou, o céu estava cinza. Esfregou-se os olhos, irritados e inchados pelas lágrimas, mas não se importava. Já nada importava.
Ficou em pé e se aproximou da janela. Não tinha chorado tanto desde que assassinaram seu pai e ficou realmente só pela primeira vez na vida.
As horas tinham passado enquanto ela tinha estado afundada em sua miséria. Tinha que ter substituído Cara para cuidar de Malcolm, mas tinha esquecido sua promessa com os lamentos de seu coração.
Só pensando em Fallon, uma nova onda de dor alagou seu peito. Não sabia como poderia continuar com aquela angústia dia após dia. Não sabia se poderia fazê-lo. A pena que tinha sentido com o assassinato de seu pai não era nada comparado com a dor que tinha agora em seu interior. Essa dor nunca poderia acalmar e nunca a abandonaria. O tempo poderia atenuá-lo, mas tudo o que teria que fazer seria olhar a Fallon para ver o que teria poderia ter sido.
Não posso ficar aqui. Mas não posso partir. O que vou fazer?
Larena piscou, voltava a ter a vista imprecisa por causa das lágrimas. Teria que enfrentar a cada assunto em seu tempo. Agora se concentraria em Malcolm. Ele a necessitava. Saiu correndo da torre. Esteve tentada a usar seus poderes para que ninguém a visse, mas já tinha sido uma covarde durante muito tempo. Deu-se conta graças a Fallon.
Quando desceu as escadas até o grande salão, viu Ramsey e Hayden ainda inclinados sobre a parte de pergaminho falso. Sem pensar duas vezes, Larena extraiu o Pergaminho do anel e se aproximou dos homens.
—Tome. —Estendeu o Pergaminho ao Ramsey—. Isto os ajudará.
Os olhos cinzas de Ramsey se entrecerraram enquanto passava o olhar da mão de Larena a seu rosto.
—O que é isso?
—O Pergaminho. Eu sou sua guardiã. Confio que o protegerá com sua vida.
Hayden jurou entre dentes e Larena voltou a sentir a ameaça das lágrimas.
—Sinto muito, devia ter lhes contado isso, mas prometi que nunca falaria disso a ninguém.
Ramsey agarrou o Pergaminho e o sustentou entre as mãos com reverência.
—Não tem que se desculpar, Larena. Pode confiar em nós.
—Se assegure que nosso pergaminho falso seja o bastante autêntico para enganar a Deirdre. Necessitamos que volte Quinn. Fallon necessita disso.
—Não o perderemos de vista —prometeu Hayden—. Tem nossa palavra.
Ela piscou para deter as constantes lágrimas e se apressou a sair do castelo. Todos os seus instintos diziam que não devia confiar em Ramsey nem em Hayden, mas tinha que aprender a fazê-lo.
Quando chegou à cabana em que estava Malcolm, já tinha secado as lágrimas e tinha controlado suas emoções.
Larena abriu a porta e encontrou Cara sentada ao lado da cama de Malcolm com o trabalho no colo. A druida levantou o olhar e sorriu. Seu sorriso desapareceu quando contemplou o sombrio semblante que mostrava Larena.
—Vai tudo bem? —Perguntou Cara enquanto ficava em pé.
Larena forçou um sorriso que não sentia. Cara sempre tinha sido muito amável e ela não pretendia carregá-la com problemas que não eram dela.
—Tudo está como tem que estar. Agora ficarei com meu primo.
Cara a olhou durante um momento tenso antes de recolher seu trabalho. Quando abriu a porta parou.
—Se alguma vez precisar falar com alguém, Larena, estarei aqui.
As odiosas lágrimas faziam que lhe picassem os olhos. Larena não queria falar, mas de repente as palavras saíram de sua boca.
—Faz muito tempo que não tenho uma amiga. Obrigado, Cara.
—Sou eu quem deve te agradecer. Ajudou Fallon de uma maneira que Lucam e eu não podíamos nem sonhar. Não sei o que aconteceu a você e Fallon em Edimburgo, mas quando voltou era um homem diferente. Lucam diz que é o homem que era antes que desatasse seu deus.
Larena se afundou na cadeira, com o fôlego apanhado na garganta. Tinha ajudado o Fallon? Não acreditava. Fallon teria tornado a ser esse homem sem ela.
—Oxalá pudesse aceitar esse mérito, mas Fallon sempre foi esse homem. Só precisava ver que podia fazê-lo. É um líder natural.
—Importa-se muito com ele, estou certa?
—Temo que é muito mais que isso.
Cara fechou a porta e foi até ela. Ajoelhou-se e agarrou as mãos de Larena.
—Ama-o?
—Sim, e acredito que o perdi.
Cara sorriu com doçura, seus olhos marrom escuro se encheram de autêntico calor.
—Os irmãos MacLeod são pouco comuns, de acordo, mas são homens bons. Fallon se importa com você, isso é óbvio. Não viu seu olhar quando chegou aqui contigo nos braços. Acreditava que tinha morrido. Estava enlouquecido, Larena. Nunca tinha visto tal desolação.
—De verdade?
—Ficou contigo durante todo o tempo enquanto Sonya te curava. Sua mão não soltou a sua.
Larena olhou o teto, desejando que Cara estivesse dizendo a verdade.
—Não estava ali quando despertei. Acreditei...
—Vou dizer algo, uma coisa que Fallon não quer que saiba. Se Lucam souber que te disse isso dito se zangará muito comigo.
—O que é? —Larena tinha que saber já. - não direi.
Cara ficou em pé e soltou um suspiro.
—Recorda que dissemos que necessitava de sangue?
—Sim.
—Fallon foi quem lhe deu. Não permitiu que Lucam nem nenhum dos outros guerreiros dessem do sangue deles você. Queria que em suas veias só corresse o dele.
A compostura de Larena desmoronou. A imagem de Cara nadava com as lágrimas que enchiam seus olhos e a agonia pelo que tinha perdido.
—Fui uma idiota. Por que não me disse isso?
Cara levou uma mão e passou um dedo pela branca pedra da mão de Larena.
—Por isso. Feriu-o muito que não confiasse nele.
—Contei hoje. Não tinha nem ideia que ele já sabia, mas tinha feito uma promessa, Cara.
—Ele entendeu.
Larena expirou.
—Não posso perdê-lo agora que acabo de encontrar.
—Conheço os MacLeod e sei que sempre repensam. Dê um pouco de tempo a ele.
Larena ficou em pé e envolveu Cara em seus braços.
—Obrigado. Muito obrigado. Não sabia como estava sozinha até que Fallon me trouxe para este castelo e me deu uma família.
—Aqui nunca estará sozinha, Larena. —Cara deu um passo atrás e limpou de Larena as lágrimas das bochechas—. Aconteça o que acontecer, eu sempre serei sua amiga e irmã.
Larena sorriu enquanto Cara partia, mas ainda se sentia como se tivessem arrancado seu coração do peito. Levou o braço e agarrou a mão de Malcolm, necessitava de sua força. Desejava poder curá-lo como tinha feito Sonya, mas só o que podia fazer era ficar ali sentada e rezar.
Observou o braço que tinha quebrado e tinha desencaixado. Malcolm a tinha feito acreditar que era tão forte como ela, mas devia ter percebido que não era. Nunca devia ter permitido que se relacionasse com ela.
—Não o faça.
O olhar de Larena se dirigiu à cara de Malcolm e encontrou seus olhos azuis olhando-a.
—Já pode abrir os dois olhos —concedeu ela com um sorriso.
—Não o faça.
—Que não faça o que?
—Não pense que isto me aconteceu por sua culpa.
Ela suspirou e deixou de fingir. Malcolm sempre chegava ao coração de tudo. Era o que o fazia ser o homem que era.
—Esteve a ponto de morrer porque o viram me ajudando.
—Porque queria fazer.
Ela afastou o cabelo dele da testa, agradecida que não tivesse febre.
—Estou ansiosa por contar isso tudo. Aqui há druidas, Malcolm. Uma delas te curou. É incrível e maravilhosa.
A sombra de um sorriso levantou os extremos de seus lábios.
—Com certeza que é.
—E guerreiros. Além de Fallon e seu irmão Lucam, há outros cinco guerreiros mais, incluído Camdyn.
—Então conseguiu.
Ela assentiu.
—Sim. Todos vieram ver você. Ainda dói?
—Somente um pouco. Mas é suportável. Me diga, está apaixonada por Fallon?
—Então estava acordado.
—Sim.
Ela se apoiou contra o respaldo da cadeira e deixou as mãos sobre seu colo.
—Não quero estar, mas parece que Fallon capturou meu coração.
—É perfeito para você, Larena.
Ela sorriu apesar da dor que ainda sentia no peito.
—Ah sim?
—Não poderia ter um homem melhor a seu lado.
Larena estava completamente de acordo. Estava a ponto de perguntar sobre o ataque que tinha sofrido quando ele fechou os olhos. Com um sorriso, deixou que voltasse a dormir. Já teriam tempo de sobra para falar; no momento, ele precisava ficar bem.
Não teria que estar tão surpreendida pela rapidez com que se recuperou. O que Sonya e Cara tinham feito era, certamente, mágico. Não havia outra explicação.
Quanto ao braço de Malcolm, Larena só podia esperar o melhor.
Acomodou-se na cadeira e jogou a cabeça para trás. Seus olhos se fecharam enquanto deixava que sua mente vagasse até Fallon e o afeto que ele tinha dado a ela livremente. Pensou no futuro, pensou de verdade nele, e imaginou Fallon a seu lado.
Com ele haveria felicidade e um amor com o que não podia nem sonhar. Mas primeiro, antes de ter esse futuro, teriam que encarregar-se de Deirdre.
Entretanto, Lucam e Cara o estavam fazendo. Não havia nenhuma razão pela qual ela e Fallon não pudessem.


Fallon despertou sobressaltado. Algo tinha se movido perto dele, algo que não formava parte da natureza. Ficou completamente quieto na escuridão e escutou. Não tinha nem ideia de onde estava, e estava tão furioso que não se fixou no entorno que o rodeava enquanto se dedicou a perambular.
Seu pai estaria envergonhado dele. Mas tinha tido que fazer algo para controlar sua fúria, se não tivesse feito, o teria levado por um caminho do qual possivelmente nunca tivesse podido retornar. Inclusive agora, quando pensava em Larena e em como a tinha perdido, a ira corria por seu peito e ameaçava voltando a sair.
Abriu um olho e a sua direita viu os ramos de uma árvore balançando. Tentou recordar a direção para a qual tinha se deslocado. Tinha se deslocado para o norte, longe do castelo. Mas quão longe?
Esticou-se quando ouviu que um ramo se rompia no silêncio. Os sons habituais da noite não estavam ali, só uma quietude misteriosa e pouco natural.
E então soube.
Wyrran.
Fallon abriu mais os olhos para poder ver melhor. Seu magnífico ouvido pôde captar um som muito leve que o advertiu que os wyrran estavam perto. Muito perto.
Fallon rodou sobre seu lado e ficou de pé de um salto em um movimento muito suave. Saltou atrás da árvore mais próxima justa quando viu o primeiro wyrran correndo pelo bosque. Começou a ouvir os estalos e os pequenos chiados típicos das criaturas. Havia dúzias deles, além de guerreiros. Fallon tinha que avisar os outros, pois sabia que iam atacar o castelo.
A pele formigou quando desatou seu deus. Passou a língua pelas presas e afundou as garras na casca da árvore. De maneira nenhuma permitiria que os wyrran capturassem Larena ou fizessem mal a ninguém do castelo.
Um guerreiro andava enquanto os outros corriam ao lado dos wyrran. Fallon manteve o olhar no guerreiro alado quando ele parou a seu lado. Fallon ficou em guarda, esperando que o atacasse.
Broc virou a cabeça e seus olhos se encontraram com os de Fallon. Fallon esperava que o guerreiro alertasse os outros. Mas Broc não fez nada. Ao cabo de um momento, saltou para cima e bateu suas asas.
Merda!
Fallon já não sabia o que pensar. Não entendia por que Broc não tinha alertado de sua presença aos outros guerreiros. Deirdre teria outro irmão MacLeod e Lucam teria ficado sozinho. Mas Fallon não tinha tempo para pensar sobre aquilo.
Centrou todos seus pensamentos no grande salão, reunindo todo seu poder. Quando voltou a respirar já estava no castelo, de pé ao lado de uma das mesas.
—Caramba, Fallon! —Exclamou Hayden enquanto dava um salto sobre sua cadeira—. O que ocorre?
—Aproximam-se muitos wyrran. Reúne aos outros e se prepare. Onde está Lucam?
—Aqui—interveio seu irmão enquanto saltava do piso de acima até o grande salão—. Quantos?
—Muitos. Agarre às mulheres e vão às masmorras. Proteja às druidas, irmão.
Lucam assentiu ligeiramente.
—E você?
—Eu tentarei ganhar um pouco de tempo para que possam se esconder.
Hayden se colocou a seu lado.
—Irei contigo.
Cara desceu as escadas correndo, com o rosto branco do medo.
—Sonya e Larena estão na aldeia cuidando de Malcolm.
Fallon soltou uma maldição, duvidando entre ir por Larena ou segurar o ataque.
—Vá —disse Ramsey enquanto entrava correndo pela porta do castelo com a pele voltando-se de cor bronze enquanto ia se transformando.
—Eu me encarregarei de que Sonya e Malcolm estejam a salvo.
Com um último olhar a seu irmão, Fallon pôs sua mão sobre Hayden e os transportou a uma parte de terra longe do castelo e da aldeia, mas o bastante perto para poder voltar se era necessário.
Fallon saltou a uma rocha que sobressaía da terra como o punho de um deus antigo. Ardia de ira pelo ataque de Deirdre e por não ter levado Malcolm ao castelo antes. Malcolm e Sonya não podiam lutar contra a avalanche do mal que ia para eles.
E Larena.
Fechou os olhos e desejou estar a seu lado. Ela era uma guerreira, mas estava acostumado a proteger às mulheres. Ela era sua mulher. Ele era um homem das Highlands, e os homens das Highlands sempre protegiam suas mulheres.
—Larena —sussurrou Fallon.
—Estará bem —disse Hayden.
Fallon olhou o guerreiro de pele-vermelha que se colocou em um afloramento de rochas a sua esquerda. Das pontas dos chifres de Hayden e de seus dedos saía fumaça.
Fallon não fingiu não ter entendido a Hayden.
—Rezo para que tenha razão.
—Ramsey e os outros levarão Malcolm e Sonya ao castelo. Nós passaremos um bom momento. —As presas de Hayden brilharam à luz da lua quando sorriu a Fallon.
Fallon assentiu. Desejava cravar as presas em um wyrran, arrancar o coração de um guerreiro. Seu deus queria sangue e aquela noite ele o daria.
—Já vêm —murmurou.
Hayden se agachou, com os braços estendidos para os lados e as garras preparadas para esfaquear. Fallon olhou para o céu e viu Broc planando sobre eles. O guerreiro alado se dirigia para o castelo para tentar capturar Larena?
Fallon não teve tempo para preocupar-se com isso, já que apareceram os wyrran e os guerreiros. Jogou a cabeça para trás e liberou um grito de guerra do que qualquer MacLeod teria estado orgulhoso. O alarido de raiva de Hayden aumentou para unir-se ao dele.
O primeiro wyrran saltou ao lado de Fallon, que o levantou por cima de sua cabeça e lançou o pequeno corpo amarelo contra as pedras. A cabeça do wyrran estatelou contra uma rocha e se abriu em duas.
Fallon mal teve tempo de afastá-lo de um chute, já que dois wyrran mais e um guerreiro caíram sobre ele. Olhou Hayden e viu que lançava fogo pelas mãos. Fallon não tinha nem ideia que o guerreiro vermelho tivesse o poder de lançar fogo.
O maior dos MacLeod grunhiu quando um murro aterrissou em sua barriga. Estrelou seu cotovelo contra um guerreiro e logo rasgou o braço dele com a garra. Fallon sorriu antes de dar um chute na cara de um wyrran.
Um chiado estridente alagou tudo quando o wyrran saiu voando da rocha até o chão e foi pisoteado pelas outras criaturas.
Fallon conteve um grito quando o segundo wyrran arranhou suas costas com as garras. Enquanto lutava contra a dor, um guerreiro ficou de pé diante dele e agarrou seus dois braços para imobilizá-lo contra o corpo. Fallon reconheceu o guerreiro de pele azul de seus ataques prévios ao castelo.
—Não pode nos vencer —disse William—. Lutar contra o inevitável é inútil.
Fallon sorriu antes de afundar as presas no pescoço do guerreiro. O sangue fluiu por sua boca e seu queixo. Sentiu náuseas por seu sabor metálico, mas não o soltou, apesar de o guerreiro se sacudir contra ele.
Quando teve os braços livres, Fallon cravou suas garras nos lados de William. Ignorou a dor que lhe causava o wyrran, que continuava arranhando suas costas e as pernas. Estava concentrado no guerreiro e em matá-lo.
De repente, o guerreiro de pele azul deu um puxão para trás, com o sangue lhe saindo em fervuras da ferida do pescoço e dos cinco cortes que tinha a cada lado.
Fallon cuspiu o sangue e se virou para o wyrran que tinha às costas. Agarrou-o pela cabeça e, com um movimento rápido, partiu-lhe o pescoço. Fallon rugiu na noite. Seu deus, Apodatoo, queria mais sangue, mais morte.
Quando olhou a seu redor, Fallon viu que os outros guerreiros e os wyrran os estavam ignorando e se dirigiam para o castelo.
—Fallon, chegaram ao castelo —gritou Hayden.
Larena!
Fallon saltou à rocha de Hayden e agarrou seu braço enquanto saltavam até a aldeia.

 

 

 


CAPÍTULO 29

Larena saltou da cadeira quando Ramsey entrou na cabana. Um só olhar à sua pele cor bronze, suas garras e suas presas e soube que algo andava mal.
—O que aconteceu? —perguntou Sonya da cozinha.
Ramsey dirigiu o olhar a Malcolm, que estava deitado na cama, a Sonya.
—Um ataque. Temos que levar você e Malcolm ao castelo. Agora.
—Se o movermos, arriscamos a deixar o braço inútil para sempre —arguiu Sonya enquanto se apressava a ficar junto à cama.
Ramsey deu uns passos para Malcolm e se inclinou para agarrá-lo.
—E se não o movermos estará morto.
—Onde está Fallon? —Perguntou Larena—. Ele pode transportar Malcolm e Sonya de um salto.
Os olhos cor bronze de guerreiro de Ramsey mantiveram seu olhar durante um instante, o silêncio alagou a cabana.
—Fallon e Hayden saíram para tentar frear o ataque.
—Eles dois sozinhos? —O coração caiu aos pés.
Malcolm gemeu quando Ramsey o levantou em seus braços. Larena olhou o rosto de seu primo e descobriu que a estava observando. Fez um gesto de assentimento com a cabeça e Larena soube o que tinha que fazer.
—Vá com ele, Sonya — insistiu Larena.
Ramsey se virou para ela.
—O que está planejando?
—Eu me assegurarei que consiga levar Malcolm e Sonya ao castelo. Não há tempo para discutir, Ramsey, vai!
Ao ver que ele não se movia, ela convocou sua deusa e suspirou enquanto o comichão que sentia cada vez que a liberava percorria seu corpo antes de mudar seu aspecto.
Passou apressadamente ao lado de Ramsey e saiu correndo à aldeia. Os agudos gritos dos wyrran já podiam ser ouvidos, mas foi um atroz rugido que fez com que se detivesse. Sabia, sem tê-lo visto, que tinha sido Fallon o que tinha emitido aquele rugido.
Um calafrio de terror e ansiedade percorreu seu corpo. O que se aproximava para eles não era um grupo isolado de wyrrans contra o que podia lutar e ao que podia matar. Tratava-se de hordas de wyrrans e guerreiros que vinham capturá-la para levá-la para Deirdre.
—Nunca — jurou Larena a si mesmo enquanto preparava suas garras.
Mordeu o lábio inferior com as presas enquanto se afastava da aldeia para situar-se entre ela e o castelo. Sentiu um movimento às suas costas, virou-se e descobriu Galen, Logan e Camdyn, todos transformados em seus deuses, a seu lado.
—Se assegure que Ramsey chegue ao castelo com Malcolm e Sonya —pediu a Logan.
Logan jogou uma olhada para onde se aproximava o ataque.
—Voltarei —prometeu antes de sair correndo atrás de Ramsey.
O coração de Larena pulsava com força no peito e o sangue palpitava nos ouvidos. Perguntava-se onde estariam Fallon e Hayden e se estariam bem.
Por favor, Senhor, mantenha Fallon a salvo.
Deirdre queria o Fallon, assim existia a possibilidade que tivesse sido capturado. A O sangue de Larena gelou o sangue ao pensar nisso. Se Deirdre conseguisse de algum modo encarcerar Fallon, Larena estava disposta a fazer o que fosse necessário para libertá-lo. O que fosse necessário.
—Está preparada para isto? —perguntou Galen à sua direita.
Larena encolheu os ombros.
—Preparada ou não, aí está.
—Estou desejando lutar —expressou Camdyn—. Deixemos que se aproximem.
—Sim—assentiu ela—. Deixemos que se aproximem e que tentem o pior.
Galen sorriu de orelha a orelha e encolheu os ombros.
—Esta será uma noite sangrenta.
Não houve mais palavras, pois os wyrran apareceram ante eles.
Larena nunca tinha visto tantos wyrran juntos. Por um instante pensou em sair correndo. Logo recordou quem era, o que era, e ficou ali de pé enquanto sua deusa cobrava vida em seu interior.
De uma simples olhada, pôde ver que Ramsey e os outros tinham conseguido cruzar as portas do castelo. Soltou um suspiro e se virou para enfrentar às hordas que tinha diante.
Uniu-se a Camdyn e a Galen enquanto eles lançavam um rugido. Com um movimento de suas garras, decapitou o primeiro wyrran que se aproximou.
Larena virou e se esquivou de um carnudo punho que viu aproximando-se dela. Quando se levantou, lançou um golpe à perna do guerreiro e o acertou na virilha.
O guerreiro se encolheu de dor e levou as mãos a virilha enquanto caía de joelhos. Larena não desperdiçou a oportunidade e lhe deu um chute na cara. Fez retroceder suas garras para impulsionar-se, mas antes de poder decapitá-lo, o braço de Galen surgiu do nada e o fez por ela.
—Atrás de você! —Gritou.
Larena se virou bem a tempo de descobrir o wyrran que se equilibrava sobre ela. Caiu de costas e golpeou a cabeça contra o chão. O golpe a deixou aturdida durante um momento, mas foi o suficiente para que outro wyrran se unisse ao primeiro e ambos começassem a descarregar suas garras contra ela.
A dor atravessava seu corpo enquanto os wyrran tentavam fazer migalhas de seu peito e estômago. Ela flexionou um joelho e atirou um forte golpe na cabeça de um dos wyrran. Ao segundo ela o agarrou pelos braços e estirou até que os deslocou com um forte som que os deixou inúteis. Virou, ficou sobre ele e partiu o pescoço dele.
Justo no momento em que ficava em pé, o primeiro wyrran voltou a tentar atacá-la. Desta vez, Larena tirou suas garras e a criatura se empalou nelas.
Arrancou-lhe a cabeça e se virou. Então descobriu que Fallon e Hayden se uniram à luta com eles. Fallon virou a cabeça, seu olhar se encontrou com o de Larena. O tempo virtualmente parou ao notar seu olhar fixo no dele. Com Fallon a seu lado, ela poderia enfrentar tudo.
Para sua surpresa, viu Hayden utilizar fogo. Esse impacto durou só até que sentiu a terra tremer sob seus pés. Jogou uma olhada a seu redor e descobriu Camdyn convocando à terra a seu redor e utilizando-a como arma.
Os wyrrans e os guerreiros que Deirdre enviou detiveram seu ataque e ficaram olhando a parede de terra que os separava de Larena e dos outros.
—Não poderei manter isto muito tempo —gritou Camdyn—. Estão utilizando seus poderes para romper a parede.
Fallon sentiu como se tivesse os pulmões ardendo. Olhou os guerreiros que tinha a seu redor e viu suas feridas e o sangue que os cobria. Finalmente seu olhar parou em Larena. Tinha a túnica amassada e mal se sustentava sobre os ombros. Sua pele brilhava como um farol na escuridão e tudo o que desejava era rodeá-la com seus braços e assegurar-se que estava bem.
—Não podemos ganhar esta batalha —lamentou—. São muitos.
—Malcolm está no castelo com Sonya —adicionou Galen.
Fallon assentiu.
—Bem. Os manteremos aqui todo o tempo que pudermos.
—Para que não possam chegar até as druidas. —Larena terminou a frase.
Houve um zumbido no ar e ouviram o bater de umas asas. Fallon levantou o olhar e encontrou Broc suspenso sobre eles.
—Este ataque não é para matar, é para capturar tantos de vós quanto pudermos. Especialmente às druidas.
—Por que nos dá essa informação? —perguntou Fallon.
Broc deu um olhar ao castelo.
—Tenho minhas razões, MacLeod. Não posso te dizer mais.
A mente de Fallon começou a pensar a toda velocidade enquanto Galen amaldiçoava. Esperou até que Broc partiu e passou uma mão pelo cabelo. Superavam-nos em número e só era questão de tempo que algum fosse capturado.
—Temos que nos esconder —disse Fallon—. Camdyn, pode manter a parede um momento mais?
O guerreiro assentiu centrado na parede de terra que tinha levantado frente a ele com as mãos levantadas diante de seu rosto.
—Garantirei que resista.
—Qual é seu plano? —perguntou Galen.
—Temos que nos esconder, mas não no castelo. Em algum lugar que não possam imaginar, para que não nos encontrem—respondeu Fallon.
Hayden se moveu e ficou ao lado de Camdyn.
—Faça o que tenha que fazer, Fallon. Eu ficarei com Camdyn e me assegurarei que cada wyrran ou cada guerreiro que tente atravessar a parede, fracasse.
Fallon se virou para Larena com a intenção de levar ela primeiro, mas ela sacudiu a cabeça com os incandescentes cachos compassando o movimento.
—Não. Tenho meu próprio poder, Fallon. Ficarei invisível se tiver que fazê-lo. Leve os outros.
Fallon amaldiçoou. Ela tinha razão, claro, mas isso não significava que gostasse de deixá-la para trás. Agarrou-a e lhe deu um rápido beijo nos lábios.
—Fique a salvo.
—Ficarei — prometeu ela.
Com um suspiro, Fallon se virou para Galen.
—Você primeiro, Shaw.
—Merda —murmurou Galen com a mandíbula apertada.
Fallon não lhe deu nem um instante. Transportou a ele mesmo e a Galen a uma cova nos escarpados. Mal chegaram, Fallon se transportou às masmorras do castelo.
—O que aconteceu? —perguntou Lucam com o cenho franzido.
Fallon sacudiu a cabeça.
—Não há tempo. Explicarei isso depois. Partamos.
Tinha que transportar mais de um de uma vez, mas tinha medo de falhar no intento. Entretanto, não havia outra opção. Agarrou Malcolm em braços e fez um gesto a Sonya com a cabeça.
—Me agarre com seus braços.
Assim que ela o fez, ele os transportou à cova. Galen estava ali para agarrar Malcolm e, de repente, Fallon já havia tornado a desaparecer. Em um momento, já estavam Lucam, Cara, Ramsey e Logan na cova, mas lhe pareceu uma eternidade.
Quando Fallon retornou para levar Camdyn e Hayden, não pôde ver Larena. Rezou para que se encontrasse em um lugar seguro. A parede de terra de Camdyn estava desmoronando ante eles.
—Larena —gritou—. Aos escarpados. Encontrarei você ali.
Não esperou para ouvir nenhuma resposta, pôs suas mãos sobre Hayden e Camdyn e os transportou à cova.
Fallon desabou contra a parede da cova, com o corpo exausto dos constantes saltos transportando os outros. Ficou em pé contra as pedras disposto a sair justo quando Lucam se dirigiu para ele.
—Precisa descansar.
Fallon assentiu.
—Tenho que encontrar Larena. Ela não conhece os escarpados.
—Utilizou seu poder? —perguntou Lucam.
—Sim. Disse-lhe que nos encontraríamos nos escarpados. Tenho que ir procurá-la.
—Então vá.
Fallon fechou os olhos e suspirou profundamente antes de saltar de novo. Logo que chegou à rocha que havia de frente ao castelo, tocou o chão e permaneceu observando como os wyrran e os guerreiros corriam para apoderar-se da aldeia e do castelo. Destruiriam tudo o que tinham reconstruído, mas poderiam voltar a arrumá-lo. Só o que importava era que todos estavam a salvo.
Surpreendeu-se ao não descobrir nenhuma evidência de que Camdyn tivesse levantado a terra e tivesse feito um muro. Era como se nunca tivesse acontecido.
—Larena —gritou Fallon.
Não houve resposta. Não sabia onde estava ou se o tinha escutado quando tinha gritado que se encontrariam nos escarpados.
—Larena!
Com os wyrran chiando e os guerreiros bramando com toda sua fúria, nenhum podia ouvi-lo, embora naquele momento, não teria importado que o fizessem.
—Larena.
—Aqui, Fallon. Estou aqui. ,
Fallon olhou a seu redor e sentiu uma mão pousar em seu braço antes que ela voltasse a ser visível.
—Graças a Deus —disse, e a envolveu entre seus braços—. Está ferida gravemente?
—Estou bem. Agora.
Ele tirou sua túnica e ofereceu a ela para que não chegasse nua à cova. Assim que a vestiu pela cabeça, ele os transportou.
—Graças ao céu —disse Cara quando os viu aparecer.
Fallon não estava preparado para deixar Larena ir, mas havia coisas que tinha que atender. Fez seu deus dormir e observou como o negro se desvanecia de sua pele. O resto já havia tornado também a sua forma humana.
—Estamos todos? —perguntou.
—Sim —disse Ramsey—. Estamos todos aqui.
—Galen me informou de tudo— disse Lucam a Fallon—. O que têm feito assim que caiu a parede de terra?
Fallon passou uma mão pelo rosto e se deixou cair sobre uma pedra.
—Isso só os deteve um momento. Agora estão na aldeia e no castelo.
Logan lançou um grunhido.
—Esses malditos insetos vão destruir tudo o que construímos.
—Podemos voltar a construí-lo —disse Fallon—. Continuaremos reconstruindo-o para demonstrar a Deirdre que não pode nos deter.
Larena se ajoelhou frente a Ramsey, com os olhos muito abertos e a pele pálida.
—O Pergaminho? Onde está?
O coração de Fallon parou um instante ao ouvir suas palavras.
—Deste-lhe o Pergaminho?
Larena virou seu aflito rosto para ele.
—Queria ajudar.
—Tenho-os —disse Ramsey a Larena, e o tirou da túnica—. Não podia deixá-los ali, nem este nem o falso, para que os encontrassem.
—Obrigado.
Ramsey parou um momento antes de dar o Pergaminho a Larena.
—Tem lido alguma vez os nomes?
Ela sacudiu a cabeça.
—Não. Por que?
Ramsey olhou Fallon, seu olhar estava cheio de significado.
—Por nada.
Mas Fallon sabia que estava acontecendo alguma coisa. Ramsey tinha visto algo e Fallon queria saber o que era.
Uma vez que o Pergaminho voltou para anel de Larena, Fallon soltou um suspiro de alívio.
—Escapamos desta vez, mas pode que ser que não volte a funcionar. Em algum momento acabarão descobrindo estas covas.
—Então temos que encontrar algum outro lugar —repôs Sonya.
Hayden grunhiu.
—Sou um guerreiro, Fallon. Eu não gosto de me esconder.
—A mim tampouco —disse Fallon, e ficou em pé. Suas próximas palavras tinham que ser escolhidas com sabedoria ou podia acabar perdendo o grupo de homens, e de mulheres, que tinham vindo confiando nele—. Acaso acha que eu gosto de fugir de Deirdre? Prefiro lutar até a morte, mas não estavam aqui para matar, Hayden. Tinham vindo nos capturar. Prefere sair fugindo ou voltar para a montanha de Deirdre?
Hayden virou a cabeça e se negou a responder, o que era resposta suficiente.
—Que demônios vamos fazer? —Perguntou Lucam—. Deirdre tem mais wyrran dos que podemos matar e, embora conseguíssemos matar a todos, simplesmente criaria mais.
Fallon observou enquanto Lucam agarrava à tremente Cara entre seus braços. Sonya estava sentada ao lado de Malcolm, que estava deitado no chão. Os outros guerreiros esperavam que Fallon respondesse, mas o único que ele procurava eram os azuis olhos de Larena.
Ela fez um pequeno gesto de ânimo. Fallon tragou saliva e cruzou os braços sobre o peito. A força e a fé que ela tinha nele lhe deram a valentia que necessitava.
—Todos prometemos lutar contra Deirdre. Não é que hoje tenha mudado de ideia. Lutarei contra ela até que não fique fôlego em meu corpo.
Os outros murmuraram com assentimento.
—Não sei que planos tem Deirdre agora, mas sem lugar a dúvidas, meu próximo passo será libertar Quinn de suas garras. Não vou esperar mais. Sairei pela manhã. Para libertar Quinn e minha luta. Não lhes peço que venham comigo.
—Que maneira de nos falar é essa? —Interpelou Galen com uma voz tão fria como o vento do norte—. Vim a você, vim a vocês para derrotar Deirdre. Assim irei com vocês me queiram ali ou não.
Um a um, os guerreiros deram um passo adiante e ratificaram sua palavra. Fallon estava transbordando de emoção. Fechou forte as mãos em um punho, tinha medo de falar.
—Sempre lhe disse isso, irmão —disse Lucam—, mas você nunca me escutou. Seguiria-te até o mesmo ao inferno.
—Temo que aí é onde nos dirigimos, Lucam —murmurou Fallon.
Larena ficou em pé e se situou diante dele.
—Salvou-me a vida com seu sangue. Trouxe-me aqui para me proteger de Deirdre. Deu-me... Esperança. Acha que há outro lugar no mundo onde queira estar que não seja a seu lado?
Ele não sabia como Larena tinha descoberto que era seu sangue que agora corria por suas veias, mas não importava.
—Não posso te levar perto de Deirdre. Morreria se ela te capturasse.
—Mas não o fará. Se esquece que posso ficar invisível? Sou sua melhor arma para entrar na montanha e encontrar Quinn e lhe dizer que viemos resgatá-lo.
—Tem razão —disse Cara—. Por muito que odeie admitir, tem razão.
Sonya lançou um suspiro e umedeceu os lábios.
—A verdade, Fallon, é que vai necessitar de todos nós. Se alguém cair ferido, necessitará de mim para sará-lo.
—Não —gritou Lucam – Você e Cara não vão se aproximar dessa maldita montanha. Se algum de nós cair ferido, Fallon pode trazê-lo aqui. Além disso, não podemos deixar sozinho ao Malcolm.
—Lucam tem razão —assegurou Fallon antes que Sonya e Cara pudessem discutir. Já estou arriscando muito levando Larena e os outros guerreiros até Deirdre. Mas com cada gota de sangue druida, especialmente com o Beijo do Demônio que leva Cara ao pescoço —disse fazendo um gesto ao frasco que continha o sangue de drough da mãe de Cara—, o poder de Deirdre cresce.
—Eu posso ajudar —ofereceu Cara.
Fallon assentiu.
—E o fará, mas do castelo. Acabaremos feridos e necessitaremos que você e Sonya nos ajudem.
Cara cedeu depois que Lucam sussurrasse algo ao ouvido dela. Fallon dirigiu o olhar para Sonya e descobriu sua expressão derrotada, mas assentiu.
—Bem.
Deixou-se cair sobre a rocha e se apoiou contra a parede que tinha atrás. Nunca se havia sentido tão cansado e exausto em sua vida.
Uma pequena e tenra mão lhe acariciou o rosto. Fallon se virou para ela, precisava sentir a pele de Larena sobre a sua.
—Como estão suas feridas? —Perguntou.
Ela encolheu os ombros.
—Já cicatrizaram.
—Desta vez conseguimos escapar, mas pode ser que não tenhamos outra oportunidade.
—Já nos ocuparemos disso quando tivermos que fazê-lo, Fallon. Não duvide. Foi rápido ao pensar em nos afastar do ataque e nos levar a um lugar onde não pudessem nos encontrar.
Ele grunhiu, pouco seguro de merecer aqueles louvores.
—Pensei que o coração me ia sair do peito quando te vi lutando. Esteve incrível.
—Igual a você.
Abriu a boca para dizer que sentia o mesmo de antes, mas ela se afastou e se retirou sozinha a outro rincão.
Pode ser que fosse o melhor, pensou Fallon a si mesmo. Havia muitos ouvidos escutando e as coisas que ele queria dizer, as coisas que tinha que dizer, eram só para Larena.
Fallon se levantou e se dirigiu para Sonya, que não se afastou do lado de Malcolm. Ajoelhou-se ao lado da druida e fez um gesto de assentimento a Malcolm.
—Como vai ele?
—Estava melhor antes que o movêssemos. —Ela pôs a mão sobre seu braço quebrado e fez um gesto—. Tive que fazê-lo dormir por causa da dor, Fallon. Queria os ajudar na batalha e acredito que teria feito se eu não o tivesse impedido.
—Fez o que devia. Larena nos arrancaria a cabeça aos dois se acontecesse algo a seu primo.
Sonya encolheu os ombros e afastou uma mecha rebelde que lhe caía sobre o rosto.
—Temo pelo dano que possamos ter causado esta noite no braço. Tinha começado a cicatrizar bem. Minha magia não pode fazer mais.
—Faz o que puder. É tudo o que podemos te pedir.
Ela umedeceu os lábios e voltou seus olhos cor âmbar para ele.
—É suficiente? Minhas habilidades curadoras sempre foram excepcionais e superaram às da maioria dos druidas com esta capacidade, mas temo que chegará um dia em que realmente necessite minha magia e esta não me responda.
Uma pontada de terror atravessou o coração de Fallon.
—Teve alguma visão sobre isso?
—Não, é só um pressentimento do que está por vir.
O que significava uma visão, mas Fallon não ia discutir com a druida.
—Uniste a magia de Cara com a sua para sarar o Malcolm?
—Estávamos a ponto de fazê-lo de novo quando retornou. Faremos agora.
Fallon se afastou enquanto Sonya fazia um gesto a Cara para que se aproximasse. Ficou de pé a um lado e observou como trabalhavam as druidas. Embora não podia ver a magia passar de suas mãos ao corpo de Malcolm, podia senti-la.
Era uma mudança no ar particular, quase como um rangido, que alertava um guerreiro que havia magia perto. Em uma druida tão poderosa como Sonya, um guerreiro podia sentir o que era antes que ela falasse.
Cara tinha sido diferente porque não sabia que era uma druida e não tinha desenvolvido sua magia. Agora que Sonya tinha começado a adestrá-la, Fallon podia sentir a magia crescendo no interior da esposa de seu irmão dia a dia.
Eram afortunados de ter as duas druidas com eles e todos os guerreiros fariam o que fosse necessário para protegê-las de Deirdre.
Fallon suspirou e ficou o mais cômodo que pôde. Ainda passariam algumas horas antes que os wyrran e os guerreiros deixassem de buscá-los. Enquanto isso, ele planejaria seu ataque a Deirdre.

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 30

Deirdre precisava destroçar algo com todas as suas forças, despedaçar seu exército membro a membro e pendurar suas cabeças no alto de sua montanha. Como era possível que nem seus guerreiros nem seus wyrrans tivessem sido capazes de capturar nem sequer um do castelo dos MacLeod?
—Deveria ter visto o que pode fazer Fallon —disse William—. Um momento está em pé diante de ti e de repente desaparece e está a quilômetros de distância.
Deirdre dava batidas com uma de suas unhas sobre a perna.
—Assim finalmente aprendeu a utilizar seus poderes. Perguntava-me quando o faria.
Não podia evitar especular sobre quais seriam os poderes de Lucam e Quinn. Teria dado seu deus o mesmo poder ou cada um teria um diferente? Deveria estar alerta com Quinn, não fosse que de repente se esfumasse da montanha.
—Broc —disse enquanto se girava para seu único guerreiro alado—, o que tem a dizer sobre tudo isto?
Ele encolheu seus ombros azul escuro. As asas alcançavam os dois guerreiros que tinha aos lados.
—Subestimaste-os, senhora. Agora se uniu outro à suas filas. Camdyn MacKenna.
Deirdre soltou um bufar.
—Tinha tantas esperanças postas em Camdyn... É uma lástima que se aliou com eles contra mim. Só o que salva este horroroso dia é o grupo de guerreiros que interceptamos quando se dirigiam ao castelo dos MacLeod.
—Quantos? —Perguntou Broc.
Havia algo no tom de Broc. Ele tinha sido o que tinha interceptado o grupo e tinha comunicado a ela, mas não podia afastar a inquietante sensação de dúvida de sua cabeça.
—Só quatro. Um morreu ao aplicar muita sangue de drough em suas feridas.
Ela se aproximou de Broc, os outros guerreiros se separaram dele. Sua larga unha deslizou por seu corpulento torso até o liso estômago e parou na cintura de suas calças.
—Sua ideia de utilizar uma pequena quantidade de sangue de drough para incapacitá-los foi brilhante, Broc.
Olhou-a com aqueles olhos azul meia-noite e encolheu os ombros.
—Estou aqui para servir.
—Assim é.
Não tinha levado Broc nunca à sua cama e se Quinn não estivesse jazendo nela agora, teria estado tentada a provar por fim o guerreiro alado. Tal e como estavam as coisas, teria que esperar.
—Continue vigiando os MacLeod —ordenou a Broc, e se separou dele não sem antes passar sua mão por seu membro para descobrir quão rápido podia fazer que tivesse uma ereção—. Volte amanhã e me traga notícias.
—Como desejar, senhora.
Poderia ser que a dúvida que sentia não fosse por Broc mas sim por outro guerreiro. Teria que manter-se alerta com seus homens. No final, se Broc tivesse decidido afastar-se dela, não lhe teria dado a localização dos guerreiros que se dirigiam ao castelo MacLeod.
Não, Broc era dela. Só dela.


Os minutos se converteram em horas. A chuva tinha aparecido e desaparecido com um rápido toró. As ondas afogavam qualquer som que pudesse vir do castelo, mas Fallon já tinha esperado tudo o que podia. O alvorada chegaria logo e queria que todos estivessem de retorno ao castelo então.
Fez um gesto com a cabeça para a entrada da cova indicando que Lucam devia o seguir. Fallon se dirigiu à entrada da cova e encontrou Larena ali de pé, com os braços cruzados sobre o peito.
A túnica que tinha emprestado a ela caía até a metade das coxas e a brisa levantava a prega e moldava o tecido contra suas curvas. A visão de suas pernas nuas fez que todo o sangue se acumulasse em seu membro com tal rapidez que o mundo começou a dar voltas como um peão.
Ela tinha soltado o cabelo da trança que caía pelos ombros em douradas ondas. Desejava afundar suas mãos em suas sedosas profundidades e enterrar seu rosto entre aquelas mechas de cabelo para poder inalar sua fragrância natural de lírios.
Fallon, incapaz de manter-se longe, aproximou-se dela, que não afastou os olhos das águas. Observava-as enquanto se formavam redemoinhos nas profundidades como se estivesse fascinada.
—O que acontece? —Perguntou Lucam.
Fallon afastou sua atenção de Larena e se virou para o outro lado, onde estava Lucam de pé.
—Vou dar uma olhada, e ver quantos ficaram no castelo.
—Deixe que vá contigo.
—Não. Não demorarei muito. Só quero dar uma olhada rápida. Todos estão cansados e quero que possam retornar às suas casas logo que seja possível.
Lucam suspirou.
—Vá com cuidado.
Fallon esperou que seu irmão partisse antes de voltar a olhar Larena.
—Está bem?
—Isto é precioso —murmurou ela—. Tudo o que posso ouvir é o mar e o vento. Não tinha nem ideia de que estivéssemos tão acima nos escarpados.
—Estava acostumado a ver esta abertura quando nadava no mar. Sempre me tinha perguntado o que haveria na cova. Quando retornamos do castelo da montanha de Deirdre, este foi o primeiro lugar que vim. Passava muito tempo aqui tentando acalmar minha mente e me preparar para ser o homem que meus irmãos necessitavam que fosse. Não funcionou.
Então ela voltou seu rosto para ele. O reflexo da lua na água se via também em seus olhos azuis.
—Já entendo por que vinha aqui. Não posso imaginar o que teria sido de você sem esta cova.
—É verdade, imagino.
—Volte logo — sussurrou ela.
Fallon queria agarrá-la entre seus braços e beijá-la. Queria entregar-se a seu tato. Tê-la assim tão perto era a tortura mais doce que um homem podia suportar.
Não tinha certeza de que em situação se encontravam. Depois da discussão, tinha tido lugar o ataque e não tinham tido tempo para conversar. Ele sabia que ela ainda o desejava, mas aquilo não significava que não fosse afastar-se de seu lado. E foi aquele pensamento o que o impediu de aproximar-se dela.
Liberou eu deus e saltou ao castelo antes de poder mudar de opinião e tentar beijá-la.
Fallon amaldiçoou ao ver um punhado de guerreiros e vários wyrrans rondando pelos arredores do castelo e da aldeia. Havia um grande fogo aceso na aldeia e suspeitou que se trataria de uma cabana.
Embora deveria ter retornado imediatamente à cova, havia algo em seu quarto que queria recolher. Transportou-se ali de um salto e a encontrou vazia, intacta. Ou os wyrrans não tinham chegado ainda a seus aposentos ou não haviam sentido a necessidade de destroçá-los.
—Pouco provável —disse.
Fallon se aproximou da arca maior e o abriu. Afastou suas túnicas até encontrar um pequeno cofre adornado. Levantou a pequena caixa e a manteve entre suas mãos observando-a durante um bom momento.
A última vez que tinha olhado dentro tinha sido há mais de trezentos anos. Nunca tinha imaginado que voltaria a abrí-la, mas depois que tinha conhecido Larena, tinha querido retornar ao castelo e encontrar o cofre.
Fallon abriu lentamente a tampa e observou a joia que havia em seu interior. Seu estômago fez um nó ao pensar em Larena usando aquela joia. Soube naquele preciso momento quão profundos eram seus sentimentos por ela.
Tomou a peça de ouro de seu lugar e a meteu na cintura das calças. Foi só um momento para deixar tudo como estava antes e logo saltar de novo à cova.


Larena desejava estar a sós com o Fallon. Precisava lhe dizer que tinha razão, que ela tinha medo. Mas que não teria mais. Não enquanto pudesse estar com ele.
Não estava certa de qual momento tinha deixado de estar assustada, simplesmente o sentimento que a tinha acompanhado durante tantos anos tinha desaparecido de repente.
Antes que Fallon partisse, ela tinha pensado que ia beijá-la. Tinha podido contemplar o desejo em seus olhos, mas não o tinha feito. Sua decepção tinha sido quase insuportável. Esperava não ter arruinado as coisas entre eles para sempre. Estava disposta a ficar de joelhos ante ele e suplicar se fosse necessário. Faria o que fosse para poder tê-lo em seus braços para sempre.
Com a mão tocou a marca que ele tinha feito. Sua marca.
—Cara me contou sua conversa —disse Lucam enquanto se aproximava dela.
Larena esperava que Lucam falasse com ela de um momento a outro. Ela não o olhou, simplesmente manteve o olhar no mar que havia abaixo.
—Perdi Fallon?
Houve um longo silencio durante o qual Larena pensou que ele não responderia. Logo Lucam suspirou.
—Quando éramos jovens estava acostumado a observar meu irmão com as mulheres. Elas formavam redemoinhos a seu redor por quem era ele e pelo poder que teria por algum dia ser o chefe de nosso clã. Sempre foi bom com as mulheres, mas nunca o vi olhar a nenhuma como olhe a você. Há desejo e necessidade e algo muito mais profundo em seu olhar. Só por você.
Larena sentiu que acelerou seu coração e suas esperanças cresceram. Virou-se para olhar a Lucam e o encontrou observando-a.
—Não pode perder Fallon porque o ama muito. Se quiser o que ele tem para te oferecer, diga, ele precisa de você.
—E eu preciso dele —confessou ela—. Preciso dele mais do que tenha imaginado que fosse possível.
Lucam pousou a mão sobre seu ombro e deu um apertão de irmão.
—Ambos são indivíduos fortes. Juntos poderão fazer grandes coisas.
—Igual a você e Cara?
—Mais inclusive, pelo tipo de homem que é Fallon. É um líder, Larena. Necessita de uma mulher forte a seu lado em que possa apoiar-se.
Larena pôs sua mão sobre a de Lucam e sorriu.
—Serei essa mulher se ele me aceitar.
Justo quando Lucam retornava ao interior, Fallon reapareceu na cova. Larena escutou enquanto explicava aos outros que ainda havia guerreiros e wyrrans rondando pelo castelo e a aldeia. Ela voltou a olhar ao mar e às ondas que formavam redemoinhos contra as rochas.
Não queria esperar para falar com Fallon, mas deixar a cova era arriscado. Entretanto, era um risco que estava desejando assumir.
Sua pele aumentou de temperatura como fazia sempre que sentia o olhar de Fallon sobre ela. Ela sorriu de maneira fugaz e escapuliu fora da cova.


Fallon correu para a saída da cova e viu como Larena se perdia entre as rochas para a praia com uns movimentos muito suaves, próprios de um felino.
—Por todos os deuses —murmurou Hayden.
Alguém assobiou e foi então quando Fallon se deu conta que todos se reuniram a seu redor. Seu sangue se esquentou e seu membro ficou ereto quando viu que Larena se dirigia direto à água tirando a túnica enquanto andava.
—Isso é uma mulher como deve ser —proclamou Logan.
Galen, que estava de pé junto a Fallon, deu-lhe um tapinha no ombro.
—É um maldito bode afortunado, MacLeod.
Fallon soltou uma gargalhada. Logo se encontrou com o olhar de seu irmão.
—Sim, sou.
Saltou da cova e apareceu não muito longe de onde se encontrava Larena. Ela já estava na água quando Fallon tirou as botas e as calças. Deixou com cuidado a joia sobre as calças antes de meter-se no mar.
Larena estava em pé olhando-o, as ondas se agitavam a seu redor, levantando-a antes de deixá-la cair de novo. Fallon não afastou seus olhos dela enquanto avançava na água. Lutava contra a maré que tentava levá-lo de novo à praia.
Não foi até que esteve em pé frente a Larena que se permitiu respirar. Tinha tantas coisas que lhe dizer, tanto que falar que não sabia por onde começar.
—Tinha razão.
As palavras de Larena o surpreenderam.
—Sobre o que?
—Estava assustada. Todo mundo que me importou na vida me deixou. Teria sido pior contigo porque você é imortal.
Fallon agarrou as mãos dela e a atraiu para ele. Pousou seu rosto sobre a testa de Larena e ficou ali quieto abraçando-a.
—Não compreende? Tem meu coração e minha alma, Larena. São teus para fazer com eles o que quiser. Nunca poderia te abandonar.
Ela o rodeou com seus braços, abraçando-o como se não houvesse um manhã. Tremeu, se era pela água fria ou por suas palavras, ele não podia saber.
Ele a separou de seu abraço e olhou diretamente àqueles preciosos olhos azuis e soube que o sentimento que o invadia era amor.
—Não posso te prometer que não brigaremos, que não haverá dias nos quais queira me esmagar a cabeça; mas posso te prometer que te amarei sempre e que farei tudo o que estiver em minhas mãos para te fazer rir, ao menos, uma vez ao dia. Prometo que serei fiel toda minha vida e que farei tudo o que estiver em minhas mãos para te fazer feliz.
—Só quero uma coisa.
—Me diga. É tua.
Uma lágrima escapou de seus olhos e caiu rodando por seu rosto.
—Você, Fallon MacLeod. Quero só você.
Fez na garganta de Fallon tal nó de emoção que era difícil continuar falando.
—Amo você —sussurrou ele antes de pôr seus lábios sobre os dela.
Ele bebeu de sua embriagadora essência, afogando-se em todo seu ser. As mãos de Larena se perderam em seu cabelo e ele soltou um gemido como resposta.
As ondas a empurravam para ele, fazendo que seu corpo se roçasse contra o seu de um modo que fez que ardesse com mais força o fogo que tinha em seu interior. Ele a agarrou pelos quadris e a pôs escarranchado sobre seu ereto membro.
—Tome-me , Fallon. Sou sua. Sempre serei sua —murmurou ela.
Ele a desceu até que ela esteve sentada sobre seu membro. Ela tombou para trás contra a água com o cabelo flutuando a seu redor como se de muito ouro se tratasse.
Fallon gemeu seu nome enquanto ela movia os quadris. O prazer o alagou convertendo suas veias em lava fundida. A vista de seus deliciosos seios úmidos pela água que os rodeava e aqueles mamilos erguidos era muito para ele.
Abaixou-se e tomou um daqueles deliciosos mamilos na boca. Ela cravou as unhas nas costas dele quando lhe mordiscou com suavidade o mamilo e começou a brincar com sua língua.
—Fallon! —Gritou ela com as costas arqueada.
Ele a desejava muito para poder aguentar o fluxo de seu desejo. Quanto mais pensava em lamber cada parte de seu corpo, mais difícil se fazia controlar o ímpeto do dele.
Fallon saiu dela só para poder penetrá-la com mais força e profundidade. Uma e outra vez, saía de seu corpo e voltava a penetrá-la cada vez mais forte, mais rápido. Ela se compassava a seu ritmo à perfeição. Tinham os olhares presos um sobre o outra.
A boca de Larena se abriu em um afogado grito enquanto todo seu sexo se contraiu ao redor do dele. Fallon continuou penetrando-a, tratando de prolongar ao máximo seu orgasmo enquanto ele jogava as costas para trás e enchia seu corpo com sua semente.
O corpo de Fallon convulsionou com a intensidade de seu orgasmo, mas Larena estava ali, rodeando seu pescoço com os braços enquanto acariciava o cabelo que caía pelo rosto dele.
—Nunca deixa de me surpreender — sussurrou ela ao ouvido de Fallon antes de lhe morder o lóbulo da orelha.
Fallon tremeu e empurrou seus quadris contra os dela. Ainda enterrado em suas profundidades.
—É você. Você que me faz isto.
—Amo você.
Ele se separou de seu abraço para poder olhá-la nos olhos. Sabia que ela se importava com ele, era óbvio pelas palavras que acabava de dizer, mas não tinha esperado escutar tal declaração de amor.
—Larena...
Ela pôs um dedo nos lábios dele.
—Eu tentei negar isso, mas o sentimento continuou crescendo. Amo você mais que a minha própria vida, Fallon MacLeod. Aceito as brigas e as risadas e o que nos proporcione os anos que passemos juntos, sempre que tiver seu amor.
—Meu deus, Larena. Sempre terá meu amor.
Ele a levou à borda e se sentaram sobre uma rocha.
—Sei que não deveria ter abandonado a cova, mas precisava falar contigo.
Fallon encolheu os ombros e entrelaçou seus dedos com os dela.
—Se algum wyrran nos vir, eu me encarregarei dele.
—Pus em perigo os outros.
—A maioria deles são guerreiros ainda famintos de batalhas. Não passa nada.
Ela virou a cabeça para ele e sorriu.
—Acredito que vou tomar banhos noturnos com frequência.
—Estou de acordo. —Fallon olhou às estrelas que havia sobre eles em um céu que passava do negro à cinza claro. Tudo era quase como tinha que ser—. Sinto falta de Quinn.
—O resgataremos — disse Larena e o beijou no ombro—. Quinn voltará contigo e com Lucam ao lugar a que pertence.
Fallon soltou um suspiro.
—Espero que tenha razão.
Ante sua surpresa, Larena ficou em pé e o segurou pelo braço.
—Perdi todos os amanhecer contigo. Não vou perder nenhum mais.
Fallon saltou da rocha.
—Fique aí.
Ele se apressou a pôr a calça e as botas. Escondeu a joia sob a túnica que ela tirou antes do banho.
Caminhou para ela e ofereceu a túnica. Larena franziu o cenho ao notar o objeto que havia entre o tecido.
Fallon esperou com o coração em um punho que ela encontrasse a joia. Quando tirou o torques de ouro de entre as dobras da túnica e permaneceu olhando-o fixamente, ele pensou que ia morrer de angústia.
Larena elevou seu olhar até encontrar o de Fallon.
—Um torques com a cabeça de um javali.
—É como o meu. Fiz antes que Deirdre destruísse meu clã; com a esperança de dar à mulher com a que passaria o resto de minha vida.
Larena acariciou com doçura o torques.
—Quer que eu o tenha?
—Quero que se case comigo.
—Fallon, tem certeza?
Ele riu.
—Você é a única coisa da qual estou seguro. Me diga que será minha esposa, Larena.
—OH, sim, Fallon! —Clamou ela com um amplo sorriso—. Se me quiser, pode me ter.
Ele a levantou da rocha e a rodeou com seus braços.
—Quero que nos casemos imediatamente. Quero que todos vejam o torques.
—Sua marca não é suficiente? —Perguntou com uma gargalhada.
—Preciso te atar a mim de todos os modos possíveis.
Ela se inclinou e o beijou.
—Já o tem feito, com o mais poderoso dos laços. Com seu amor.

 

 

 

 

 

 

EPÍLOGO

Larena soltou um suspiro nervoso e deslizou seus dedos pelo torques que agora levava ao redor do pescoço. Gostava de sentir seu peso sobre sua pele, como se tivesse que ter estado ali há muito tempo. No pátio do castelo estavam todos os guerreiros e as druidas que ela agora chamava de família.
—Tem certeza? —Perguntou Fallon.
Larena arqueou uma sobrancelha.
—Se voltar a me perguntar isso juro que te chutarei o traseiro.
Ele sorriu, mas ela pôde notar a preocupação em seus escuros olhos verdes.
—Não vou fazer nada insensato, Fallon. Acabamos de nos casar. Agora, deixe que faça o que tenho que fazer para encontrar Quinn.
Fallon passou uma mão pelos cabelos e fechou levemente os olhos.
—Espero estar fazendo o correto. Nunca poderia me perdoar se alguém cair preso ou ferido.
—Nossas feridas cicatrizarão —assegurou Lucam—. Agora, vamos antes que Cara apareça com uma boa razão para vir conosco.
Larena olhou sua nova cunhada, que estava em pé nas escadas do castelo ao lado de Sonya. Cara tinha os olhos obscurecidos pelo temor e as mãos nos quadris. Larena não podia imaginar que a deixassem para trás, assim entendia perfeitamente os sentimentos de Cara.
Ao lado de Cara estava Malcolm. Ainda não podia acreditar o que Ramsey havia dito a ela e a Fallon a noite anterior. Nem sequer ver o nome dos Monroe no Pergaminho a ajudou.
Ela tinha pensado erroneamente que era o guerreiro dos Monroe, mas ao parecer, a deusa vinha da família de sua mãe. Teve que ver o nome de solteira de sua mãe e o nome dos Monroe na lista para poder acreditar. Malcolm fez um gesto com a cabeça a Camdyn, que havia ficado para trás para proteger a ele a as druidas. Pelo menos conhecia Camdyn.
Foi sugestão de Fallon guardar o segredo no momento, especialmente ante Malcolm. Ramsey esteve de acordo imediatamente, mas Larena não podia evitar preocupar-se com ele; temia que Deirdre o capturasse para convertê-lo em um guerreiro.
—Vamos, Fallon —disse a seu marido—. Tragamos Quinn para casa.
—Sim —fizeram coro os outros guerreiros.
Fallon entrecerrou os olhos e olhou na distância para onde estava a montanha de Deirdre.
—Aguente, Quinn. Estamos a caminho.
Malcolm estava de pé nos degraus do castelo e observou o pequeno grupo partir. O braço doía constantemente e não importava a magia que utilizassem Sonya e Cara, não servia de nada. Deu-se conta, depois de despertar na cova, que tinha o braço inútil.
Tinha prometido a Larena que esperaria que retornassem antes de partir para as terras dos Monroe, mas não era verdade. Nunca retornaria a seu clã porque nunca o aceitariam. Não agora que só era meio homem.
Malcolm fez um gesto com a cabeça a Camdyn, que tinha ficado para trás para proteger às druidas. Pelo menos conhecia Camdyn.
Malcolm gostava dos outros guerreiros, mas ele não pertencia àquele lugar. Não era nem um guerreiro nem um druida. Não era mais que um mortal que não servia para nada na guerra que estava por chegar.
Entretanto, Fallon tinha devotado um lar no castelo dos MacLeod. Malcolm não esperava por isso, mas aquilo reforçou sua opinião de que Fallon era o homem apropriado para sua prima.
Agarrou o ombro com a mão sã e tentou acalmar a dor. Não é que fosse totalmente inútil. Tinha aprendido a brandir a espada com ambos os braços e era tão bom com a direita como com a esquerda.
O inteligente olhar âmbar de Sonya estava fixo sobre ele. Supunha que ela sabia que ele mentia sobre a dor. A druida não havia dito nada, provavelmente para não ferir seu orgulho, mas não gostou quando ele se levantou da cama aquela manhã.
Soltou um bufo ao dar a volta para entrar no castelo. As cicatrizes que agora mostrava no rosto, pescoço, braços e peito bastavam para ferir o orgulho de qualquer homem. Se além de tudo isso, se acrescentasse a perda do braço, aquilo podia destruir qualquer um.
—Há coisas que posso te dar para acalmar a dor —disse Sonya—. Também poderia te ajudar com algo mais de magia. Ainda está se curando, Malcolm. Só passaram uns dias desde que o trouxeram aqui.
Ele parou e se virou para ela, sua ira lutava por sair à superfície.
—Sabe tão bem como eu que perdi o braço. Admita. Nem sequer sua magia poderia curá-lo.
—Não vou admitir tal coisa. Não saberemos o alcance de suas feridas até que o osso esteja completamente curado. Com minha magia poderia demorar só uns dias. O melhor que pode fazer é manter o braço quieto. Larena já passou por suficientes coisas. Não te faça mal sentindo pena de si mesmo, porque isso só fará mais dano a ela.
Malcolm soltou um suspiro e assentiu. Suas palavras eram verdadeiras, embora ele quisesse causar dor a si mesmo por não ter sido suficientemente forte para enfrentar os guerreiros o tinham atacado.
—Não necessito de suas ervas, druida. Poderei eu sozinho com a dor.
Sonya o observou subir lentamente as escadas para seu novo quarto. Estava preocupada com aquele homem das Highlands, mas não havia nada que ela pudesse fazer por ele. Sua magia era poderosa, mas não podia curá-lo totalmente. O que tinha acontecido ao braço dele era muito mais grave do que havia dito aos outros. Era muito mais que uma simples fratura.
Os guerreiros de Deirdre tinham esmagado os ossos da mão e do braço. Era por isso que tinha uma dor constante enquanto os ossos seguiam soldando-se. Por muito que odiasse reconhecer, as possibilidades que ele pudesse recuperar o uso do braço por completo eram poucas, por mais magia que ela utilizasse.
Ela sabia que havia um futuro para ele no castelo dos MacLeod, mas até que ponto, não podia vê-lo. Era uma das poucas vezes que desejou que sua irmã pequena, Anice, estivesse perto dela para poder ver o futuro.
Mas podia ser que fosse melhor assim.
Sonya respirou profundamente e retornou a seu quarto para preparar a poção que evitaria que Cara e Larena ficassem grávidas. Todos duvidavam que existisse alguma possibilidade que uma druida tivesse um filho de um guerreiro, mas Sonya sabia que era possível. De todas as formas, agora não era o momento de nenhuma das duas conceber um filho.


Quinn abriu os olhos, não na escuridão de sua prisão, a não ser em um quarto cheio de luz proveniente de diversas velas. Soube imediatamente onde se encontrava, no quarto de Deirdre.
Sentou-se lentamente, irritado ao ver que estava nu debaixo daquele fino lençol de linho. Quando viu sua roupa pendurada sobre uma cadeira, saltou da cama e pôs rapidamente as calças, a túnica e as botas.
Depois de dar uma rápida olhada a seu corpo, deu-se conta que todas suas feridas tinham cicatrizado por completo. Não tinha nem ideia de quanto tempo tinha estado na cama de Deirdre ou o que ela tinha feito com ele enquanto isso, mas queria sair dali, imediatamente.
—Por fim despertou.
Deu um salto ao ouvir aquela voz que tanto odiava. Quinn se virou e encontrou com Deirdre na porta. Mal podia suportar olhá-la enquanto ela se recostava contra o marco da porta no que pretendia ser uma pose para o seduzir.
—O que me tem feito? —perguntou ele.
Ela arqueou as sobrancelhas.
—Fazer? Bom, curei suas feridas. Depois, evidentemente, castiguei os guerreiros por te golpear como o fizeram.
—Não é isso o que queria?
Ela se separou da porta e andou para a cama. Recostou-se nela e tocou o travesseiro onde tinha estado a cabeça de Quinn.
—Quero que seja meu, Quinn. Sempre soube disso. Pensei que poderia fazer que se derrubasse. Quando te capturei, seu deus tinha quase o controle sobre você.
—Quase.
Ela encolheu os ombros.
—Farei o que tenha que fazer para me assegurar que seja meu. Tenho grandes planos para nós, Quinn.
—E o que acontece se eu não quero formar parte deles?
—OH, irá querer!
Ele fechou as mãos em um punho e lutou por manter sua ira sob controle. Não faria nenhum bem perder o controle nesse momento.
—Antes prefiro morrer.
De repente, o cabelo de Deirdre cobrou vida, envolveu o pescoço de Quinn e começou a estrangulá-lo. Quinn queria cravar suas garras naquelas mechas, mas ficou quieto, com o olhar fixo no de Deirdre.
Como odiava olhá-la, falar com ela. O envoltório de seu corpo até podia ser formoso, mas sua alma estava tão empapada de maldade que lhe provocava náuseas.
—Ofereço-te mais poder do que nunca tenha podido imaginar.
— Não estou interessado. – disse Quinn
Seu cabelo se fechou com mais força sobre a garganta do guerreiro.
—Pensei que te ensinando como poderiam ser as coisas estando a meu lado, poderia te fazer mudar de ideia, mas já vejo que estava enganada. Pode ser que uma temporada no fosso seja o que necessite.
Quinn sorriu de orelha a orelha. Já não havia nada que ela fizesse que pudesse assustá-lo. Nem sequer o enviar ao fosso, o que, segundo ele sabia, poucos saíam com vida. Já estava no inferno, já estava morto pelo que dizia respeito a ele.
—Já pode se empenhar a fundo, asquerosa bruxa.

 

 

                                                   Donna Grant         

 

 

 

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