Biblio VT
Series & Trilogias Literarias
Tinha vinte e quatro anos, e era a primeira vez que visitava um bordel. Nick Gentry se amaldiçoou pelo suor gelado que tinha imergido em seu rosto. Queimava-se com desejo, frio e pavor. Tinha evitado isto durante anos, até que finalmente o tinha conduzido a desesperada necessidade carnal. O impulso de ter um par finalmente tinha chegado a ser mais forte que o medo.
Forçando-se a seguir movendo-se, Nick subiu os degraus do estabelecimento de tijolo vermelho da senhora Bradshaw, o negócio exclusivo que satisfazia a clientes enriquecidos. Era de conhecimento geral que uma noite com uma das garotas da senhora Bradshaw custaria uma fortuna, pois eram as prostitutas melhor treinadas em Londres.
Nick poderia facilmente pagar qualquer preço que fora requerido. Fazia muito dinheiro como detetive privado, e, além disso, amassou uma fortuna de suas transações na vadiagem. E tinha ganhado muita notoriedade no processo. Embora fosse popular entre a maioria do público, a vadiagem o temia e era detestado pelos agentes de Bow Street, que o consideravam como a um rival sem princípios. Nesse ponto os detetives tinham razão — de fato não tinha princípios. Os escrúpulos tinham uma maneira de interferir no negócio, e, portanto Nick não tinha utilidade para eles.
A música vagava sem rumo das janelas, onde Nick podia ver homens e mulheres elegantemente vestidos mesclando-se como se estivessem em uma recepção com a flor e nata da sociedade. Em realidade, eram prostitutas administrando transações de negócios com seus clientes. Isto tinha muito pouco que ver com sua casa de jogo clandestino perto do Fleet Ditch, onde as putas com os traseiros em fila atendiam aos homens nos becos por alguns xelins.
Quadrando seus ombros, Nick utilizou a aldrava de cobre com cabeça de leão para golpear bruscamente sobre a porta. Esta se abriu para revelar a um mordomo de rosto petrificado, que perguntou que assunto o trazia ali.
— Não é óbvio? -Nick perguntou com irritação — Quero conhecer uma das garotas.
— Temo-me que a senhora Bradshaw não aceita novos clientes neste momento, senhor.
— Lhe diga que Nick Gentry está aqui -colocou suas mãos nos bolsos do casaco e dedicou ao mordomo um sombrio olhar.
Os olhos do homem se alargaram, traindo seu reconhecimento do infame nome. Abriu a porta e inclinou sua cabeça cortesmente.
— Sim, senhor. Espere no vestíbulo, informarei a senhora Bradshaw de sua presença.
O ar estava ligeiramente perfumado com o aroma e a fumaça do tabaco. Respirando profundamente, Nick jogou uma olhada ao redor do vestíbulo com chão de mármore, o qual estava bordejado de altas pilastras brancas. O único adorno era uma pintura de uma mulher nua olhando-se em um espelho oval, uma mão delicada se reclinava ligeiramente no alto de sua própria coxa. Fascinado, Nick olhou fixamente o quadro emoldurado em ouro. A imagem feminina no espelho estava levemente esfumada, o triângulo entre suas pernas pintado com vagas pinceladas. O estômago de Nick se sentia como se estivesse cheio de frio chumbo.
Um criado que usava calção negro cruzou o corredor com uma bandeja de taças, e o olhar de Nick se desviou rapidamente da pintura.
Era extremamente consciente da porta detrás dele, do fato de que poderia dar a volta e partir agora mesmo. Mas tinha sido um covarde muito tempo. O que seja que acontecesse essa noite sairia do apuro.
Apertando seus punhos nos bolsos, olhou fixamente o piso reluzente, os redemoinhos do mármore branco e cinza que refletiam o resplendor no alto.
Repentinamente uma voz de mulher irrompeu preguiçosamente pelo ar — É uma honra receber ao famoso senhor Gentry. Bem-vindo.
Seu olhar vagou na prega do vestido azul de veludo a um par de sorridentes olhos cor xerez.
A senhora Bradshaw era uma mulher alta, maravilhosamente proporcionada. Sua pálida pele estava ligeiramente dedilhada de sardas ambarinas, e seu cabelo castanho estava recolhido no alto em cachos soltos.
Ela não era formosa de uma maneira convencional, seu rosto era muito anguloso, e seu nariz era grande.
Entretanto, tinha estilo e estava impecavelmente arrumada, e havia algo tão atraente nela que a beleza parecia inteiramente supérflua.
Ela sorriu de uma maneira que fez com que Nick se relaxasse apesar de si mesmo. Mais adiante aprenderia que ele não era o único que reagia assim. Todos os homens se relaxavam na agradável presença de Gemma Bradshaw. Só olhando-a poderia dizer que não a incomodava as palavras grosseiras ou que ficasse os pés sobre a mesa, adorava uma boa brincadeira e nunca era tímida ou desdenhosa. Os homens adoravam a Gemma porque ela os adorava tão claramente. Ela ofereceu a Nick um sorriso de cumplicidade e se inclinou o bastante para exibir seu magnífico decote.
— Realmente diz que veio aqui por prazer, antes que por negócios.
Ante seu breve assentimento, ela sorriu uma vez mais.
— Encantador. Deve dar uma volta pelo salão comigo, e discutiremos de que maneira pode ser mais bem atendido. — Ela avançou para deslizar o braço no dele. Nick se sacudiu levemente, contendo o impulso instintivo de apartar rapidamente sua mão.
A senhora logo que podia notar a rigidez de seu braço. Ela desprendeu sua mão, e continuou conversando tranquilamente, como se não tivesse ocorrido nada inconveniente.
— Assim, se tiver a amabilidade. A meus convidados frequentemente gostam de jogar às cartas ou ao bilhar, ou relaxar-se no quarto de fumar. Pode conversar com tantas garotas como desejar antes de decidir-se por uma. Então lhe levará a um dos quartos de cima. Cobrará-lhe um preço por hora por sua companhia.
Treinei a todas as garotas pessoalmente, e encontrará que cada uma tem seu próprio talento especial. É obvio, você e eu discutiremos suas preferências, já que algumas das garotas estão mais dispostas que outras a dedicar-se ao jogo violento.
Quando entraram no salão, algumas das mulheres jogaram olhadas coquetes a Nick. Todas elas pareciam bem dispostas, totalmente diferentes das putas que ele tinha visto no Fleet Ditch e Newgate. Paquerando, conversado, negociando, todas com a mesma maneira relaxada que a senhora Bradshaw possuía.
— Para mim seria um prazer lhe apresentar algumas delas - a aprazível voz da senhora Bradshaw chegou a seu ouvido - alguma lhe chama a atenção?
Nick sacudiu a cabeça. Conheciam-no geralmente por sua vivaz arrogância, por ter a melosa, brincadeira fácil de um estelionatário crédulo. Entretanto, nesta situação estranha, as palavras o tinham abandonado.
— Posso lhe fazer algumas sugestões? Essa moça de cabelo escuro com o vestido verde excessivamente popular. Seu nome é Lorena. É encantadora e animada, e possui um engenho rápido. A que está perto dela, a loira... Essa é Mercia. De um tipo mais reservado, com uma maneira aprazível que atrai a muitos de nossos clientes. Agora, Nettie, a pequena ao lado das cristaleiras, está treinada nas artes mais exóticas. — A senhora Bradshaw fez uma pausa enquanto observava a rigidez na mandíbula de Nick — Prefere você a ilusão da inocência? - sugeriu brandamente. - posso lhe prover de uma garota de povo que faz a virgem mais convincente Que Nick se condenasse se sabia de suas preferências. Jogou uma olhada a todas elas, morenas, loiras, magras, voluptuosas, cada forma, tamanho, e matiz imaginável, e a absoluta variedade o afligiu repentinamente. Tentou imaginar-se deitando-se com qualquer delas, e um suor frio aflorou em sua fronte.
Seu olhar voltou para a senhora Bradshaw. Seus olhos eram de um quente marrom claro, coroados com umas sobrancelhas um pouco mais escuras que seu cabelo. Seu alto corpo era um pátio de recreio, e sua boca parecia aveludada e suave. Mas eram as sardas as que lhe decidiram. As manchas ambarinas adornavam sua pálida pele em um festivo rocio que fez que ele desejasse sorrir.
— Você é a única aqui que tem valor — Nick se ouviu dizer. Os avermelhados cilíos da madame descenderam rapidamente, encobrindo seus pensamentos, mas ele detectou que a tinha surpreendido. Um sorriso curvou seus lábios.
— Meu prezado senhor Gentry, que ato tão encantador. Entretanto, não me deito com os clientes de meu estabelecimento. Esses dias passaram. Deve me permitir que o presente a uma das garotas, e...
— Desejo você - insistiu.
Quando a senhora Bradshaw viu a honradez crua em seus olhos, uma linha rosada se estendeu por suas bochechas.
— Por Deus! - disse, e riu repentinamente. - isto é um truque para fazer que uma mulher de trinta e oito anos se ruborize. Pensei que tinha esquecido como.
Nick não devolveu o sorriso.
— Pago qualquer preço.
A senhora Bradshaw sacudiu a cabeça maravilhada, ainda sorrindo, depois olhou fixamente o peitilho de sua camisa com concentração, como se lutasse com algum assunto importante.
— Nunca faço nada por impulso. É uma regra pessoal.
Lentamente Nick alcançou sua mão, tocando-a com grande cuidado, moveu os seus dedos de um lado a outro em sua palma em um movimento cauteloso, íntimo. Embora ela tivesse mãos largas que convinham a uma mulher de sua altura, seus dedos eram duas vezes mais grossos que os magros dela. Ele acariciou as pequenas dobras úmidas no interior de seus dedos.
— Toda regra deveria ser posta de lado de vez em quando - disse.
A senhora levantou seu olhar, parecia fascinada por algo que viu em sua cara enfastiada do mundo.
Precipitadamente pareceu tomar uma decisão.
— Venha comigo.
Nick a seguiu do salão, sem prestar atenção de quão olhadas os perseguiram. Conduziu-lhe através do vestíbulo e subiu uma escada curvada que conduzia a uma suíte privada com habitações. Os apartamentos da senhora Bradshaw eram refinados, mas cômodos, os móveis profundamente almofadados, as paredes cobertas de papel francês, a lareira que brilhava intensamente com um fogo abundantemente abastecido. O
aparador do saguão estava carregado com uma coleção de brilhantes licoreiras de cristal e taças. A senhora Bradshaw tomou uma taça de conhaque de uma bandeja de prata e jogou-lhe uma olhada espectadora.
— Brandy? — Nick assentiu imediatamente.
Ela verteu o líquido dourado-avermelhado na taça. Diligentemente pegou um fósforo e acendeu uma vela sobre o aparador. Sustentando a taça pela haste, girou a taça sobre a chama da vela. Quando brandy esteve esquentado a sua satisfação, o deu. Nunca antes tinha havido uma mulher que fizesse isso por ele. O brandy era rico e com sabor de noz, uma especiaria que lhe dilatou as janelas da narina enquanto bebia. Jogando uma olhada pelo saguão, Nick viu que uma parede estava organizada com estantes, cada polegada de espaço disponível ocupada com volumes encadernados em couro e livros tamanho fólio. Ele se aproximou mais às prateleiras, investigando. Embora ele não pudesse ler bem, ele distinguiu que a maioria dos livros tratavam sobre sexo e anatomia humana.
— Meu hobby - disse a senhora Bradshaw, seus olhos brilhavam com desafio amistoso. — Coleciono livros a respeito de técnicas e costumes sexuais de diversas culturas. Alguns dos livros são bastante estranhos.
Durante os últimos dez anos, acumulei uma riqueza enorme de conhecimento sobre meu tema preferido.
— Suponho que é mais interessante que colecionar caixas de rapé. - disse ele, e ela riu.
— Fique aqui. Será só um momento. Enquanto não estou, é bem-vindo a olhar minha biblioteca.
Ela foi do saguão ao quarto contíguo, onde era visível o extremo de uma cama com dossel. A sensação de chumbo voltou para o estômago de Nick. Acabando sua bebida em um gole do meloso fogo, deixou a taça a um lado e foi até as prateleiras.
Um volume grande encadernado em couro vermelho captou sua atenção. O couro antigo rangeu levemente enquanto abria o livro, o qual estava cheio de ilustrações pintadas à mão.
Suas emoções buliam em seu interior, enredando-se em um nó enorme enquanto via desenhos de corpos que se retorciam nas posições sexuais mais peculiares que tivesse podido imaginar. Seu coração martelava contra suas costelas, enquanto seu membro se inchava com exasperado desejo. Fechou precipitadamente o livro e o empurrou detrás sobre a prateleira. Voltando para o aparador, tomou outro brandy e o tragou sem saboreá-lo.
Como a senhora Bradshaw tinha prometido, voltou logo, indo colocar-se na soleira. Pôs-se uma fina bata ajustada com um cordão, as mangas largas caíam formando dobras ao estilo medieval. A roupa de seda branca revelava os cumes acentuados de seus seios cheios, e inclusive a sombra do cabelo entre suas coxas. A senhora tem um corpo magnífico, e sabia. Estava parada com um joelho frouxamente adiantado, sobressaindo-se pela abertura da bata para exibir a linha larga e lisa de sua perna. Seu cabelo ardente se ondulava sobre os ombros e descia pelas costas, fazendo seu olhar mais jovem, mais suave.
Um tremor ofegante desceu pela coluna de Nick, e sentiu o peito subindo e descendo a um ritmo fatigante.
— Farei-lhe saber que sou seletiva com meus amantes. — A senhora lhe indicou com a mão que fosse para ela. — Um talento como o meu nunca deveria ser esbanjado.
— Porque eu? — Perguntou Nick, sua voz soou áspera. Aproximou-se mais, o bastante perto para dar-se conta que ela não usava perfume. Ela cheirava a sabão e a pele limpa, uma fragrância muito mais excitante que o jasmim ou as rosas.
— Foi a maneira em que me tocou. Encontrou por instinto os lugares mais suscetíveis em minha mão... O
centro da palma e os interiores dos nódulos. Poucos homens têm tal sensibilidade.
Mais que sentir-se adulado, Nick experimentou uma labareda de pânico. A senhora tinha esperanças nele, esperanças que ele tinha a garantia de decepcionar. Manteve sua cara inexpressiva, mas seu coração cedia a uma repugnante descida enquanto ela o arrastava dentro do esquentado dormitório iluminado pelo fogo.
— Senhora Bradshaw - disse torpemente enquanto se aproximavam da cama - deveria lhe contar...
— Gemma. - murmurou ela.
— Gemma - repetiu ele, cada pensamento coerente se dispersou enquanto ela empurrava o casaco de seus ombros e ajudou a tirar-lhe. Desatando o nó de seu lenço umedecido pelo suor, a senhora sorriu a ver seu rosto ruborizado.
— Estas tremendo como um moço de treze anos. Estará o célebre senhor Gentry tão intimidado pelo pensamento de deitar-se com a famosa senhora Bradshaw? Não o teria esperado de um homem tão mundano.
Certamente não é virgem a sua idade. Um homem de... Vinte e três?
— Vinte e quatro. — Ele estava morrendo por dentro, sabendo que não havia forma em que pudesse lhe fazer acreditar que era um homem de experiência. Tragando dificilmente, disse com voz rouca - nunca fiz isto antes.
Os arcos avermelhados de suas sobrancelhas se moveram pouco a pouco para cima.
— Alguma vez visitou um bordel?
De algum modo ele fez subir as palavras a sua dolorida garganta.
-Nunca fiz amor com uma mulher.
A expressão de Gemma não mudou, mas ele sentiu seu assombro. Depois de uma longa pausa diplomática, ela perguntou discretamente — Então intimaste com outros homens?
Nick sacudiu sua cabeça, olhando fixamente o estampado papel. O pesado silêncio foi quebrado somente pelo retumbar em seus ouvidos. A curiosidade da madame era quase evidente. Ela ascendeu o degrau móvel de madeira que tinha sido colocado ao lado da alta cama, e subiu sobre o colchão. Lentamente se recostou a seu lado, relaxada como um gato.
E em sua compreensão infinita do sexo masculino, permaneceu calada e esperou pacientemente. Nick tratou de parecer normal, mas um tremor abriu caminho em sua voz.
— Quando era um moço de quatorze anos, fui condenado há dez meses em um navio-prisão.
Ele viu na expressão de Gemma que entendia imediatamente. As condições desgraçadas nos navios-prisão, o fato de que os homens fossem encadeados junto com moços em uma cela grande, era apenas um segredo.
— Os homens da nave tentaram te forçar, é obvio - disse ela. Seu tom era neutro quando perguntou. — Algum deles teve êxito?
— Não. Mas após... — Nick fez uma pausa por um longo momento. Nunca tinha contado a ninguém sobre o passado que o tinha atormentado, não era fácil expressar seus medos com palavras — Não posso suportar ser tocado. - disse lentamente. — Não por qualquer, modo. Desejei... - deteve-se por um momento, vacilando. - de vez em quando, desejo a uma mulher tão intensamente, que quase me volto louco com isso.
Mas não posso obter... - caiu desamparadamente em silêncio. Parecia-lhe impossível explicar que para ele, o sexo, a dor e a culpa foram entrelaçados, que o simples ato de fazer amor com alguém lhe parecia tão impossível como lhe fazer saltar de um escarpado. O tato de outra pessoa, não importa como de inofensivo fora, provocava uma necessidade perigosa de defender-se.
Se Gemma tivesse mostrado uma reação dramática de horror ou compaixão, Nick teria ido. Entretanto, ela o considerou pensativamente. Com um movimento cheio de graça, balançou suas largas pernas sobre a cama e se deslizou ao chão. De pé diante dele, começou a desabotoar seu colete. Nick ficou rígido, mas não se afastou.
— Deve ter fantasias - disse Gemma. — Imagens e pensamentos que lhe excitem.
A respiração de Nick se tornou superficial e rápida enquanto se encolheu de ombros fora de seu colete. Os remanescentes sonhos voláteis formaram redemoinhos por seus pensamentos... Pensamentos obscenos que tinham deixado seu corpo carregado de dor na escuridão vazia. Sim, ele tinha tido fantasias, visões de mulheres atadas e gemendo debaixo dele, suas pernas se separavam de par em par enquanto ele se introduzia entre elas. Possivelmente não poderia confessar tais coisas vergonhosas. Mas os olhos marrons de Gemma Bradshaw continham um convite que era quase irresistível.
— Contarei-te os meus primeiro – ofereceu — Você gostaria disso? — Ele assentiu cautelosamente, o calor estendendo-se por sua virilha. — Fantasio estando nua ante uma audiência de homens — A voz de Gemma era baixa como lava liquida à medida que ela continuava. - escolho um que apanha minha imaginação.
Ele se une a mim no cenário, e leva a cabo qualquer ato sexual que desejo. Depois disso, seleciono outro, e outro, até que estou completamente satisfeita.
Ela tirou a prega de sua camisa e de suas calças. Nick a levantou sobre sua cabeça e deixou cair à roupa úmida ao chão. Seu membro palpitava dolorosamente enquanto Gemma olhava fixamente seu torso desnudo.
Ela tocou a pele de seu peito coberta de abundante cabelo, muito mais escuro que o cabelo castanho de sua cabeça. Um som apreciativo saiu da garganta de Gemma.
— É bastante musculoso. Eu adoro isso.
Seus dedos se aventuraram pelos cachos emaranhados e acariciaram a pele quente debaixo destes, e Nick instintivamente deu um passo atrás. Preguiçosamente Gemma lhe fez gestos para que voltasse.
— Se quer fazer o amor, carinho, temo-me que não pode evitar que te toque. Fique quieto. — Ela alcançou o botão superior de suas calças. — Agora me conte sua fantasia.
Nick olhou fixamente o teto, a parede, as janelas cobertas de veludo, algo para evitar a vista das mãos dela em sua virilha.
— Eu... Quero ter o controle - disse roucamente. — Imagino atando uma mulher à cama. Ela não pode mover-se nem me tocar... Não pode me deter de fazer algo que desejo.
— Muitos homens têm essa fantasia.
O dorso dos dedos de Gemma acariciou a parte inferior de seu duro membro enquanto se ocupava dos últimos botões. Nick se esqueceu repentinamente de respirar. A senhora se inclinou mais perto, sua respiração se sacudia através dos cachos de seu peito.
— E que lhe faz à mulher, depois de que está atada - sussurrou ela.
Seu rosto obscurecido com um rubor mesclado de excitação e vergonha.
— A monto por toda parte. Utilizo minha boca e os dedos e faço que me suplique que a tome. Faço-a gritar — Ele apertou sua mandíbula e gemeu em sua garganta enquanto seus compridos e frios dedos rodearam seu membro e o liberaram das calças. — Deus!
— Bem - ronronou ela, seus hábeis dedos remontando-se até o punho e subindo de volta até a cabeça firmemente torcida. — É um jovem mais que generosamente dotado Nick fechou os olhos, que lhe davam voltas pela violenta sensação.
— Isso agrada a uma mulher? — Perguntou inseguro. Gemma continuou esfregando-o ligeiramente enquanto respondia.
— Não a todas as mulheres. Algumas não podem acomodar comodamente a um homem de seu tamanho.
Mas isso se pode conseguir. — Ela o liberou brandamente e foi até uma caixa grande de mogno na mesa de noite, levantando a tampa e rebuscando entre o conteúdo. - te tire o resto da roupa - disse sem olhá-lo.
O medo e a luxúria se chocaram violentamente dentro dele. Finalmente a luxúria ganhou. Despojou-se de suas roupas, sentindo-se vulnerável e dolorosamente apaixonado. Gemma localizou o que procurava, deu a volta, e lhe lançou ligeiramente algo. Reflexivamente Nick agarrou o objeto em seu punho. Era uma corda feita de veludo cor bordô. Perplexo, olhou como Gemma desatava sua bata e a deixava cair a seus pés. Cada polegada de seu forte e flexível corpo foi exposto, incluindo a abundância do forte cabelo em sua virilha.
Com um sorriso provocador, subiu sobre a cama, revelando sua generosamente a arredondada parte posterior no processo. Inclinando-se para trás sobre seus cotovelos, ela assinalou com a cabeça a aveludada longitude apertada em seu punho.
— Acredito que sabe que tem que fazer a seguir. - disse ela.
Nick estava surpreso e desconcertado de que ela se deixasse tão totalmente indefesa ante um desconhecido.
— Confia em mim o suficiente para me deixar fazer isto?
Sua voz era muito suave.
— Isto requererá confiança por ambas as partes, verdade?
Nick se uniu a ela na cama, suas mãos tremendo enquanto atava seus punhos juntos e as ancorava a cabeceira. Seu corpo elegante estava totalmente a sua mercê. Subindo sobre ela, inclinou sua cabeça e a beijou na boca.
— Como posso te agradar? — Sussurrou ele.
— Agrade a ti mesmo esta vez. — Sua língua tocou seu lábio inferior com um movimento ligeiro como a seda. — Pode atender minhas necessidades, mas adiante.
Nick a explorou lentamente, seus temores dissolvendo-se em uma inundação de calor. A luxúria rugiu através dele enquanto encontrava os lugares que a fizeram retorcer-se. O oco de sua garganta, os interiores de seus cotovelos, a sensível parte inferior de seus seios. Ele acariciava, provava, mordiscava sua pele, embebedando-se em sua suavidade e sua fragrância feminina. Finalmente, quando sua paixão cresceu a uma altura insuportável, baixou entre suas coxas e empurrou nas úmidas e cálidas profundidades que ansiava desesperadamente. Para sua eterna humilhação, culminou com uma só investida, antes que a tivesse satisfeito.
Seu corpo se sacudiu com insuportável prazer, e enterrou seu rosto em seu cabelo chamejante enquanto gemia asperamente.
Ofegando no momento posterior, procurou a provas os punhos atados de Gemma. Quando a liberou, ele rodou sobre seu flanco, afastando-se dela, e olhou fixamente às cegas as sombras na parede. Ele estava enjoado de alívio. Por alguma razão insondável, as extremidades de seus olhos lhe ardiam, e fechou os olhos firmemente contra a horrível ameaça das lágrimas. Gemma se moveu detrás dele, colocando sua mão ligeiramente em seu quadril nu. Nick estremeceu por seu tato, mas não se separou. Sua boca pressionou contra o alto de sua coluna, uma sensação se disparou em sua virilha.
— Promete. - sussurrou ela. — Seria uma vergonha que suas capacidades não se desenvolvessem. Vou estender um convite para ti pouco frequente Nick. Vêm me visitar de vez em quando, e compartilharei meus conhecimentos contigo. Tenho muito que ensinar. Não será necessário que me pague... Somente traga-me um presente de vez em quando. — Como ele não se moveu, lhe mordeu brandamente a nuca. — Para quando tiver acabado contigo, nenhuma mulher no mundo te poderá resistir. O que diz a isso?
Nick rodou sobre ela e a sujeitou ao colchão, olhando fixamente seu rosto sorridente.
— Estou preparado para a primeira lição - disse ele, e lhe cobriu a boca com a sua própria.
Capítulo 1
Três anos depois
Como era seu hábito de muitos anos, Nick entrou na habitação privada de Gemma sem chamar. Era uma tarde de domingo, o momento em que se encontravam quase cada semana. Por agora o aroma familiar do lugar - couro, licor, um pingo de flores frescas era tudo o que necessitava para que seu corpo começasse a despertar com um zumbido grave. Seu desejo era hoje invulgarmente forte, pois seu trabalho o tinha mantido longe de Gemma por quinze dias. Desde a primeira noite que se encontraram, Nick tinha seguido as regras de Gemma sem pestanejar. Não tinha havido outra opção, se desejava continuar vendo-a. Eram uma espécie de amigos, mas suas relações eram estritamente físicas. Gemma não tinha mostrado nenhum interesse no que havia em seu coração, ou inclusive que tivesse um. Ela era uma mulher boa, mas nas estranhas ocasiões quando Nick tinha falado tentativamente de assuntos com exceção dos superficiais, tinha sido dispensado brandamente. Menos mal que se deu conta. Não tinha nenhum desejo de expor à fealdade de seu passado ou ao complexo enredo de emoções que mantinha encerrado em seu interior.
E assim uma vez por semana se uniam na cama, com seus segredos com toda segurança intactos... A professora e seu ardente estudante. No luxuoso casulo da habitação empapelada em dourado de Gemma, Nick tinha aprendido mais sobre fazer o amor do que jamais tinha acreditado possível. Tinha conseguido uma compreensão da sexualidade feminina que poucos homens adquiriam. A complexidade do prazer de uma mulher, as maneiras de excitar sua mente assim como seu corpo. Aprendeu a empregar seus dedos, sua língua, os dentes, os lábios, e o membro tanto com delicadeza como com força. Sobretudo aprendeu disciplina, e como paciência e criatividades podiam fazer inclusive que a experimentada senhora Bradshaw gritasse até que ficasse rouca. Sabia maneiras de manter a uma mulher balançando-se a borda do êxtase durante horas inteiras.
Também sabia como fazer com que uma mulher alcançasse o orgasmo tão somente com sua boca em seu mamilo, ou com a carícia mais ligeira com seus dedos. A última vez que se encontraram, Gemma o tinha desafiado a levá-la ao orgasmo sem tocá-la absolutamente. Ele tinha sussurrado em seu ouvido durante dez minutos, pintando imagens sexuais que se fizeram inclusive mais exquisitamente horripilantes até que ela ruborizou e estremeceu ao lado dele.
Pensando em seu corpo viçoso, Nick ficou quente com a antecipação, e entrou a pernadas em sua sala.
Parou em seco quando viu um homem jovem e loiro sentado na cadeira estofada de veludo, vestido somente com uma bata de seda. Ele, notou Nick aturdido, usava a mesma bata, que ele usava sempre que ia visitar Gemma.
Não lhe tinha feito nenhuma promessa de fidelidade, e ele não tinha nenhuma ilusão de que tinha sido seu único amante durante os últimos três anos. Não obstante, Nick estava surpreso pela vista de outro homem no saguão dela e o inequívoco aroma de sexo no ar.
Vendo ele, o estranho avermelhou e se incorporou de sua relaxada posição. Ele era robusto, de pele clara, tinha uma inocência suficiente para envergonhar-se pela situação.
Gemma saiu de seu dormitório, levando uma insignificante, transparente verde que logo que cobria os picos de seus mamilos marrons rosados. Sorriu quando viu Nick, não parecia perturbada absolutamente por sua inesperada chegada.
— Ah, olá, querido. - murmurou ela, tão relaxada e amistosa como sempre. Possivelmente ela não tinha planejado que ele descobrira a seu “novo amigo" exatamente desta maneira, mas tampouco se causou pena por isso. Girando-se para o homem loiro, falou-lhe brandamente. — Me espere no dormitório. Lançou-lhe um olhar de acalorada adulação enquanto ele obedecia.
Quando observou o homem desaparecer no quarto seguinte, recordou a si mesmo como tinha sido três anos antes, inexperiente e ardente e deslumbrado pelas artes sensuais de Gemma. Gemma levantou uma agraciada mão para acariciar o escuro cabelo de Nick.
— Não esperava que voltasse de sua investigação tão rapidamente. - disse ela sem um rastro de desgosto.
— Como pode ver estava entretendo a meu novo protegido.
— E meu substituto — Nick disse mais que perguntou, enquanto que uma sensação fria de abandono se deslizava sobre ele.
— Sim - disse Gemma brandamente — Você já não tem mais necessidade de minha instrução. Agora que aprendeste tudo o que pude te ensinar, é somente questão de tempo antes de que nossa amizade se faça antiga. Preferiria terminá-la enquanto ainda segue sendo agradável.
Era surpreendentemente difícil para ele falar.
— Ainda te desejo.
— Só porque sou segura, e familiar. — Sorrindo carinhosamente, Gemma se inclinou para beijar sua bochecha. — Não seja um covarde, querido. É hora de que encontre outra.
— Ninguém poderia te seguir - disse ele bruscamente.
Isso mereceu uma risada carinhosa e outro beijo.
— Isso demonstra que ainda tenho muito que aprender. — Um sorriso travesso cintilou em seus olhos marrons claros. — Vai-te e encontre uma mulher que mereça seus talentos. Leve-lhe a cama. Faz com que se apaixone por ti. Uma aventura amorosa é algo que todos deveríamos experimentar ao menos uma vez.
Nick a olhou mal-humorado
— Essa é a ultima condenada coisa que necessito. - informou-lhe, fazendo-a rir Retrocedendo, Gemma desatou seu cabelo com indiferença e o sacudiu livremente.
— Sem adeus. - disse ela, depositando as forquilhas sobre a mesa ao lado da cadeira. — Prefiro mais, até logo. Agora se me desculpa, meu tutelado está esperando. Tome um gole antes de partir, se quiser.
Atordoado, Nick permaneceu de pé imóvel enquanto ela entrava no dormitório e fechava com um firme estalo. “Jesus" resmungou ele. Uma risada incrédula lhe escapou ao ter sido despachado tão logo, após tudo o que tinham feito juntos. Com tudo ele não podia reunir cólera alguma. Gemma tinha sido muito generosa, muito boa, para que ele sentisse tudo menos gratidão.
Vai-te e busca outra mulher, ele pensou consternado. Parecia uma tarefa impossível. OH, havia mulheres por toda parte, cultivadas, comuns, rechonchudas, fracas, moréias, loiras, altas, baixas, e ele encontrava algo que valoriza em todas elas. Mas Gemma tinha sido a única com quem jamais se atreveu a dar rédea solta a sua sexualidade. Não podia imaginar como seria com alguma outra.
Fazer que alguém o amasse? Nick sorriu amargamente, pensando que pela primeira vez, Gemma não sabia que demônio estava falando. Nenhuma mulher poderia lhe amar... E se alguma o fizesse alguma vez, seria a maior tola viva.
Capítulo 2
Ela estava aqui. Ele estava seguro disso.
Nick inspecionou aos convidados da festa atentamente enquanto eles se apanhavam nos jardins detrás de Stony Cross Park. Sua mão deslizou no bolso de seu casaco, encontrando a caixa em miniatura que continha o retrato de Charlotte Howard. Devagar seu polegar acariciou o rosto brilhante esmaltado da caixa enquanto seguia olhando a multidão.
Sua busca de dois meses por Charlotte o tinha conduzido a Hampshire, um lugar de colinas atapetadas de urze, de antigos bosques de caça, e de perigosos pântanos no vale. O condado ocidental era próspero, suas cidades com vinte negociados abundantemente cheias de lã, madeira, produtos lácteos, mel, e toucinho. Entre as renomadas fazendas de Hampshire, Stony Cross Park, era considerada a melhor. A casa senhorial e o lago privado estavam situados no fértil vale do rio Itchen. Não era um mau lugar para ocultar-se, pensou Nick ironicamente. Se suas suspeitas demonstravam ser corretas, Charlotte tinha encontrado emprego na casa do conde de Westcliff, servindo como dama de companhia a sua mãe.
Em sua busca por Charlotte, Nick tinha aprendido tudo que pôde sobre ela, tentando compreender como pensava e sentia, como os outros a viam. Por estranho que parecesse, as informações que tinha de Charlotte tinham sido tão contraditórias que Nick se perguntou se suas amigas e família estavam descrevendo a mesma moça.
Para seus pais, Charlotte tinha sido uma filha obediente, desejosa de agradar, temerosa da desaprovação.
Seu desaparecimento tinha sido uma surpresa assombrosa, pois tinham acreditado que estava resignada ao destino de converter-se na noiva de lorde Radnor. Charlotte sabia desde sua infância que o bem-estar de sua família dependia dele. Os Howard fazia um negócio com o diabo, trocando o futuro de sua filha pelos benefícios econômicos que Radnor poderia proporcionar. Tinham gozado de sua proteção durante uma década. Mas justo quando tinha chegado o momento de pagar ao diabo sua dívida, Charlotte tinha fugido. Os Howard tinham deixado claro a Nick que desejavam que Charlotte fosse encontrada e dada a Radnor sem demora. Não entendiam o que a tinha incitado a fugir, quando acreditavam que seria bem atendida como Lady Radnor.
Ao parecer Charlotte não tinha compartilhado suas opiniões. Suas amigas em Maidstone, o internato de classe alta que Charlotte tinha assistido, a maior parte delas agora casadas, a contra gosto haviam descrito a uma moça que se tornou cada vez mais ressentida pela maneira em que Radnor fiscalizava cada aspecto de sua existência... Ao parecer o pessoal da escola, desejoso das abundantes dotações financeiras que Radnor proporcionava, tinham sido felizes de fazer cumprir seus desejos. O plano de estudos de Charlotte se diferenciou das outras; Radnor tinha eleito os temas que ela estudava. Tinha dado instruções de que ela devia retirar-se à cama uma hora antes que as outras estudantes. Inclusive tinha determinado quanto alimento devia lhe ser distribuído, depois de observar durante uma de suas visitas a casa que ela tinha ganho peso e precisava emagrecer.
Embora Nick entendesse a rebelião de Charlotte, ele não sentia nenhuma compaixão. Não tinha compaixão por ninguém. Fazia muito que tinha aceito a injustiça da vida, os cruéis giros do destino que ninguém podia evitar para sempre. As tribulações de uma colegial não eram nada comparado com a fealdade que ele tinha visto e experimrntado. Não teria nenhum remorso em levar Charlotte até Radnor, recolhendo o resto de seus honorários, para depois pôr tudo o que pensava da desafortunada futura noiva totalmente fora de sua mente.
Seu olhar percorria agitadamente por toda a cena, mas até agora, ali não tinha havido nenhum sinal de Charlotte. A grande casa se encheu com ao menos três dúzias de famílias, todos aqueles que assistiam ao que devia ser a uma festa de um mês de duração na casa. O acontecimento anual estava organizado por lorde Westcliff. As horas do dia estavam dedicadas à caça, a disparar, e aos esportes do campo. Cada tarde havia entreterimentos, tais como veladas musicais, e dança.
Embora fosse quase impossível conseguir um dos solicitados convites ao Stony Cross Park, Nick o tinha conseguido com a ajuda de seu cunhado, Sr Ross Cannon. Nick tinha decidido fazer-se passar por um aristocrata aborrecido que precisava refrescar-se com algumas semanas no campo. A pedido de Sr Ross, o conde de Westcliff tinha estendido um convite, sem ter idéia de que Nick era um detetive de Bow Street à caça de uma noiva fugitiva. A miríade de luzes penduradas nos ramos de um carvalho faziam com que as jóias das mulheres brilhassem intensamente. Um sorriso sardônico atirava em um lado da boca de Nick enquanto refletia como fácil seria despojar a estas pombas de seus ornamentos. Não fazia muito, ele teria feito exatamente isso. Era inclusive melhor ladrão que detetive. Mas agora era um detetive, e se supunha que era honorável.
— Lorde Sydney.
Uma voz de homem interrompeu seus pensamentos, e Nick ficou contra o terraço para confrontar com Marcus, Lorde Westcliff. O conde possuía uma presença formidável. Embora fosse de estatura média somente, sua forma era ampla e extremamente musculoso quase impetuoso e profundamente desenvolvido em poder. Seus traços eram valentes e decididamente formados, seus perspicazes olhos negros profundamente marcados em seu rosto.
Westcliff não se parecia em nada aos magros e pálidos nobres que ocupavam os primeiros círculos da sociedade. Não vestia elegantes roupas de tarde, a gente supunha que era um trabalhador portuário ou um jornaleiro. Entretanto, o sangue de Westcliff era inquestionavelmente azul. Tinha herdado um dos condados mais antigos da nobreza, uma coroa que tinha sido ganha por seus antepassados as finais dos 1300.
Ironicamente se rumorejavam que o conde não era um ardente partidário da Monarquia, nem sequer dos títulos hereditários, porque acreditava que nenhum homem deveria estar isolado dos interesses da vida ordinária Westcliff continuou com sua inconfundível voz profunda e marcada.
— Bem-vindo a Stony Cross, Sydney Nick executou uma reverência superficial — Obrigado milord, O conde o olhou com um olhar abertamente cético.
— Seu padrinho Sr Ross, mencionou em sua carta que você sofre de aborrecimento.
— Seu tom deixava claro que tinha pouca tolerância pelas queixas de um homem rico de um aborrecimento excessivo.
Tampouco Nick. Irritava-se por dentro pela necessidade de atuar como se sofresse de aborrecimento, mas era parte de seu ardil.
— Sim - disse ele com um sorriso enfastiado do mundo. — Uma condição me debilita. Tornei-me decididamente melancólico. Aconselharam-me que uma mudança de ares poderia ajudar.
Um grunhido áspero saiu da garganta do conde.
— Posso recomendar uma ajuda excelente para o aborrecimento, simplesmente dedique-se a alguma atividade útil.
— Sugere você que trabalhe? — Nick convocou uma expressão da aversão. — Possivelmente isso serviria para outro. Minha classe de aborrecimento, entretanto, requer um equilíbrio cuidadoso de descanso e diversão.
O desprezo oscilou nos olhos negros do Westcliff.
— Procuraremos prover você das quantidades satisfatórias de ambos.
— Estou desejando. - murmurou Nick, pondo cuidado para manter seu acento bem definido. Embora ele tivesse nascido filho de um visconde, os muitos anos passados em vadiagem em Londres lhe tinham dado uma cadência de classe baixa e consonante tristemente suave. — Westcliff, neste momento o que mais me agradaria séria tomar uma taça, e encontrar companhia com alguma deliciosa tentadora.
— Tenho um excepcional Longueville Armagnac - murmurou o conde, claramente impaciente por escapar da companhia de Nick.
— Seria a melhor bem-vinda.
— Bem, enviarei um criado que lhe traga a taça. — Westcliff deu a volta e começou a afastar-se às pressas.
— E a tentadora? — Insistiu Nick, sufocando a risada pela maneira em que as costas do homem se esticou.
— Isso, Sydney, é algo que terá que obter por você mesmo.
Até agora ele desempenhava o papel do jovem nobre estragado com muito êxito. Tinha conseguido incomodar o conde além do suportável. Em realidade, gostava bastante Westcliff, reconhecendo a mesma vontade impetuosa e cinismo que ele mesmo possuía.
Pensativamente Nick abandonou a terraço e vagou até os jardins que tinham sido desenhados tanto com espaços abertos como cercados, proporcionando incontáveis cavidades de intimidade. O ar estava denso com os aromas do urze e do mirto do pântano. Pássaros ornamentais apanhados em um aviário que gorjeavam desordenadamente ao aproximar-se. Para a maioria era certamente, um clamor alegre, mas para Nick os gorjeios incessantes, criavam um som desesperado. Tentava-lhe abrir a porta e pôr as malditas coisas em liberdade, mas isso teria pouco efeito, porque suas asas tinham sido cortadas. Detendo-se na borda do rio, inspecionou o escuro e brilhante fluxo do Rio Itchen, a luz da lua beijava os filamentos que se balançavam do salgueiro e os cachos de haja e carvalho.
A hora era tardia. Possivelmente Charlotte estava dentro da casa. Explorando despreocupadamente seus arredores, Nick desviou ao lado da casa senhorial, uma residência construída de pedra cor mel e delimitado com quatro torres que alcançavam seis pisos de altura. Estava encabeçada com um pátio particularmente grande que estava alinhado com a cavalariça, uma lavanderia, e edifícios baixos para alojar aos criados. A frente das cavalariças tinha sido desenhada para refletir a capela no outro lado do pátio.
Nick estava fascinado pela magnificência dos estábulos, distintos de algo que tinha visto antes. Entrou por uma das arcadas da planta baixa e encontrou um pátio coberto pendurado com reluzente arnês. Uma mescla agradável de aromas enchia o ar; cavalos, feno, couro, e polimento. Havia uma fonte de mármore para os cavalos na parte posterior do pátio, alinhada pelas entradas separadas dos compartimentos dos cavalos. Nick caminhou através do piso de pedra lajeada com o ligeiro e quase silencioso passo que era habitual em todos os detetives de Bow Street. Apesar de seu silêncio, os cavalos se moveram e sopraram com cautela por sua aproximação. Jogando uma olhada pela arcada, Nick descobriu as filas de compartimentos cheios por ao menos cinco dúzias de cavalos.
Parecia que os estábulos estavam vazios exceto pelos animais, e Nick partiu pela entrada oriental.
Imediatamente se encontrou de frente com uma antiga parede de pedra de mineral de ferro de quase dois metros de altura. Não havia dúvida que tinha sido construída para proteger aos visitantes imprudentes de cair sobre o penhasco escarpado que tinha vistas para o rio abaixo. Nick parou em seu caminho pela inesperada vista de uma pequena e magra figura serena em cima da parede. Era uma mulher, de pé tão quieta que a primeira vista pensou que era uma estátua. Mas uma brisa revolveu a prega de suas saias e provocou uma mecha do pálido cabelo loiro se liberasse de seu laço frouxo.
Fascinado, aproximou-se mais, seu olhar cravado nela. Somente um parvo imprudente se manteria em equilíbrio nessa parede irregular, com certeza a morte a aguardava se ela perdesse o equilíbrio. Ela não parecia reconhecer o desnível mortal que se vislumbrava ante ela. A inclinação de sua cabeça indicava que olhava claramente adiante, no horizonte escurecido da noite. Em nome de Deus o que estava fazendo ela? Dois anos antes, Nick tinha visto um homem de pé com aquela calma peculiar justo antes que tivesse saltado a sua morte de uma ponte sobre o Támesis.
Enquanto o olhar de Nick a registrava, viu que a prega de sua saia larga estava apanhada sob seu pé. A vista lhe esporeou a entrar em ação. Avançando em umas poucas pernadas cautelosas, elevou-se fácil e silenciosamente sobre a parede.
Ela não o viu vir até que quase a tinha alcançado. Deu a volta, e Nick viu o brilho de seus olhos escuros justo quando ela perdeu o equilíbrio. Agarrando-a antes que pudesse cair, Nick a arrastou contra seu peito.
Seu antebraço bem fechado justo sob seus peitos. A simples ação de atrair seu corpo contra o seu, lhe satisfez intensamente, como uma peça de quebra-cabeças que encaixava cuidadosamente em seu lugar. Ela deu um grito baixo, agarrando-se automaticamente a seu braço. A mecha solta do fino cabelo loiro golpeou de um lado a outro do rosto de Nick, a fresca e logo salgada fragrância da pele feminina se elevou às janelas de sua narina. O aroma lhe encheu a boca de água. Nick se assustou por sua reação imediata a ela — nunca tinha experimentado tal resposta visceral por uma mulher. Queria saltar da parede e levar-lhe como um dos lobos que uma vez tinham vagado pelos bosques medievais, e encontrar algum lugar para devorar sua presa em privado.
Ela estava rígida em seu abraço, sua respiração chegando em ofegos.
— Afaste-se de mim. - disse ela, alavancando em seus braços. — Porque demônios você fez isso?
— Ia cair.
— Eu não! Estava perfeitamente bem até que você se equilibrou sobre mim e quase me atira.
— Eu te segurei pelas pregas de suas saias.
Movendo-se cautelosamente, ela levantou seu pé e se deu conta que ele tinha razão.
— Assim é - disse ela bruscamente.
Tendo resgatado gente de toda situação imaginável, Nick estava acostumado a receber pelo menos uma demonstração superficial de gratidão.
— Não vai me dar obrigado por salvá-la?
— Tenho excelentes reflexos. Poderia ter me salvado eu mesma.
Nick soltou uma risada incrédula, tão modesta como fascinado por sua obstinação.
— Se não fora por mim, teria quebrado seu pequeno pescoço.
— Asseguro-lhe, senhor, que este suposto resgate era completamente desnecessário. Entretanto, posto que seja óbvio que vá persistir... Obrigado. Agora por favor, afarte suas mãos de mim. — Seu tom deixou as palavras desprovidas de gratidão.
Nick sorriu abertamente, apreciando a audácia de seu comportamento, apesar do fato de que seu coração palpitava violentamente contra o interior de seu punho. Afrouxou cuidadosamente seu braço e lhe ajudou a dar a volta pouco a pouco. Ela cambaleou um pouco e cravou seus dedos nas mangas de seu casaco em um ataque de ansiedade.
— Tenho-te - disse ele firmemente.
Fez-lhe frente, e ambos se congelaram quando seus olhares se encontraram. Nick se esqueceu da parede debaixo de seus pés. Parecia como se estivessem em equilíbrio no ar, em uma esteira azul de luz da lua que fazia parecer tudo irreal. Um disparo de reconhecimento lhe atravessou como um relâmpago. Incrivelmente, encontrou-se olhando fixamente os traços que quase se fez mais familiar para ele que os seus próprios.
Charlotte.
— Tenho-te. - repetiu ele com um vago sorriso.
Capítulo 3
— Sente-se.
Disse o estranho a Lottie, suas enormes mãos fechando-se ao redor de seus ombros e empurrando-a para baixo. Ela obedeceu cuidadosamente, baixando-se à parede com suas pernas penduradas. O homem balançou-se ao chão, aterrissando ligeiramente da queda de dois metros. Ele sustentou seus braços no alto para ela. Lottie vacilou enquanto um punho frio parecia espremê-la ao redor de seu coração. Cada instinto lhe advertia que não saltasse em seus braços. Ele parecia um predador esperando para sequestrá-la.
— Venha. - murmurou ele. A lua acesa sacudindo os brilhos azuis em seus olhos.
A contra gosto Lottie se inclinou adiante com os braços estendidos. Quando comprovou a resistência da superfície de pedra, suas mãos se posaram em seus ombros, e ele a pegou por sua cintura. Ele atenuou a descida com uma facilidade que revelou sua imensa força física. Suas mãos se entrelaçaram em sua cintura, assegurando seu equilíbrio antes que a liberasse.
De pé com ele sobre a terra, Lottie foi impressionada por seu tamanho. O forasteiro era excepcionalmente alto, com largos ombros, e grandes pés e mãos. Embora ele estivesse bem vestido, levando um novo corte de casaco com lapelas largas, e calças de corte folgada, seu cabelo negro tinha sido cortado curto fora de moda, e seu rosto estava barbeado por completo. Isso era insólito entre as pessoas elegantes em Stony Cross Park. Os cavalheiros elegantes deixavam crescer o cabelo sobre seus pescoços, costeletas dos lados e bigodes. Este homem nem sequer tinha um fino cavanhaque para suavizar a linha obstinada de sua mandíbula.
Ele indicou a parede com uma sacudida de sua cabeça.
— Porque estava de pé ali em cima?
Durante um momento Lottie não pôde falar quando cravou a vista em seu formoso rosto. A natureza tinha sido generosa com este homem, lhe concedendo valentes e magníficos traços e olhos tão azuis e intensos como o coração da meia-noite. O cinismo naqueles olhos era um contraste fascinante com o toque de humor que estava à espreita nas comissuras de sua larga boca. Parecia ter aproximadamente trinta — o momento na vida de um homem em que rendia os últimos vestígios de inexperiência e entrava totalmente em sua maturidade. Sem dúvida as mulheres de todas as idades ficavam imediatamente cativadas por ele.
Acalmando-se, ela conseguiu lhe responder.
— Desfruto da vista.
— Poderia obter a mesma vista da segurança de uma janela.
Um sorriso débil tocou seus lábios.
— A vista é muito mais gratificante quando há certo risco comprometido.
De repente ele sorriu abertamente, como se entendesse exatamente o que ela queria dizer. Sua risada era deslumbrante, quase fazendo que seu coração se detivesse. Lottie não podia deixar de cravar seu olhar nele.
Parecia haver algo importante e implícito no ar, como se se conhecessem em outro tempo, mas ela houvesse esquecido a ocasião.
-Quem é você, senhor? — Perguntou ela. — Não lhe tinha visto por aqui antes.
— Possivelmente sou seu anjo da guarda.
— Não me parece muito angélico. - respondeu cética, lhe fazendo rir.
Ele fez uma reverência e se apresentou.
— Lorde Sydney, a seu serviço.
Lottie respondeu com uma reverência — Senhorita Miller. Estou empregada como dama de companhia da condessa viúva. - jogou uma olhada abertamente especulativa. — A lista de convidados às festas na casa de Lorde Westcliff é absolutamente exclusiva. Como conseguiu um convite?
— O conde foi bastante amável para oferecer sua hospitalidade por recomendação de um amigo comum.
— Veio pela caça? — Perguntou ela. — É por isso que esta está aqui?
— Sim. - disse ele com um estranho fio irônico em seu tom.
Uma explosão de música chegou à direção da festa ao ar livre, e ambos jogaram uma olhada para os jardins traseiros.
— Vim olhar aos cavalos - disse Sydney. - me perdoe por me entrometer em sua intimidade.
— Tem a intenção de voltar para a festa agora?
Suas escuras sobrancelhas levantadas em zombador desafio.
— Voltará a subir a essa parede?
Por Deus! Era ridículo para um homem possuir tanto encanto! Seus lábios se curvaram com um sorriso irreprimível — Esta noite não, Milord.
— Então me permita lhe acompanhar de volta à casa.
Lottie não protestou quando ele deu um passo ao lado dela.
Era apenas insólito encontrar seu tipo em Stony Cross Park. A maioria dos dias, não se podia lançar uma moeda sem golpear a algum varão musculoso em busca de esporte. Nos dois anos passados muitos deles se aproximaram de Lottie. Mas havia algo diferente neste. Não dava a sensação de desafogo, a falta de objetivos de outros aristocratas que frequentavam este lugar. Ela sentia a crueldade que espreitava justo sob sua fachada. Ela não se sentia bastante segura dele. E ainda ao mesmo tempo, sentia-se estranhamente obrigada a lhe atrair mais perto, lhe fazer rir outra vez.
— Não parece ter medo de alturas, senhorita Miller. - comentou ele.
— Não tenho medo a nada. - disse ela com segurança.
— Todos temos medo de algo.
— Ah? — Lhe lançou um olhar provocador. — A que poderia temer um homem como você?
Para sua surpresa, ele respondeu seriamente.
— Não sou aficcionado aos lugares fechados.
A gravidade em seu tom fez que seu coração pulsasse fortemente. Miúda voz o tinha, profunda com uma tentadora aspereza, como se acabara de despertar de um sonho pesado. O som parecia acumular-se no alto de sua coluna e deslizar-se para baixo como mel ardente.
— Tampouco eu. - admitiu ela.
Pararam na porta da torre sul, onde muitos criados de alta fila, incluindo ela mesma, estavam alojados. A luz se derramava das janelas brilhantes e se reunia nos caminhos de cascalho. Agora Lottie viu que seu cabelo não era negro, a não ser castanho. Um rico e escuro matiz de castanho, os brilhantes fios de cabelo curto contendo cada matiz entre o arce e o negro. Ela desejava tocar seu cabelo e sentir como se deslizariam por seus dedos. A urgência do impulso a confundiu.
Dando um passo para trás, lhe deu de presente um sorriso arrependido.
— Adeus, milord. E obrigado por ser a escolta mais agradável.
— Espere. - disse ele, com uma nota urgente em sua voz. — Verei-a de novo, senhorita Miller?
— Não, milord. Temo que meu tempo esteja totalmente ocupado pela condessa viúva.
As palavras não o dissuadiram, ela o viu em seus olhos.
— Senhorita Miller.
— Adeus. - repetiu calorosamente. — Desejo-lhe uma estadia muito agradável, milord.
Ela partiu rapidamente, consciente de sua desconcertante consideração.
Assim que Lottie alcançou seu quarto, fechou a porta e suspirou. Desde que tinha vindo a Stony Cross Park, os convidados masculinos que frequentemente se aproximavam, lhe tinham feito insinuações. Até esta noite nenhum deles a tinha tentado, não importando quão formoso ou educado fora. Depois de sua experiência com Lorde Radnor, não desejava ter nada que ver com homens.
Se Radnor tivesse sido amável em vez de calculador, doce em vez de dominador, Lottie teria sido capaz de reconciliar-se com a perspectiva de casar-se com ele. Entretanto, as intenções de Radnor tinham sido claras desde o começo. Ele queria controlar cada aspecto de sua existência. Planejava destruir cada aspecto de sua pessoa e substituí-la por um ser de sua própria criação. O matrimônio com ele literalmente teria sido pior que a morte.
Seus pais tinham rechaçado reconhecer o óbvio, porque necessitavam desesperadamente o patrocínio financeiro de Radnor. E a Lottie causava pena abandoná-los, porque era bem consciente das repercussões que eles enfrentariam. Frequentemente era atormentada pela culpa, sabendo que deveria ter se sacrificado a Radnor em benefício deles. Entretanto, o instinto de conservação tinha sido muito forte. Ao final, não pôde evitar fugir, e de algum modo a providência a tinha conduzido a Hampshire.
Como Lottie tinha esperado, sua liberdade tinha chegado com um preço. Frequentemente despertava empapada em suor, e o frio dos pesadelos de ser levada a rastros a Radnor. Era impossível esquecer — nem sequer durante um momento — que ele tinha enviado alguém para procurá-la. Qualquer percepção de segurança era ilusória. Embora sua vida em Stony Cross Park fora agradável, estava apanhada aqui tão certamente como os pássaros nos áviarios, suas asas cortadas para fazê-los animais nem da terra, nem do ar.
Ela não podia ir a nenhuma parte, ou fazer algo, sem saber que seria encontrada algum dia. E isto a tinha feito condenada e rebelde, e incapaz de confiar em alguém. Inclusive em um formoso jovem com atormentados olhos azuis.
Em lugar de voltar para a festa ao ar livre, Nick foi a seu próprio quarto. Seu baú e a mala de viagem já tinham sido desempacotados pelos criados. Sua roupa estava muito bem empilhada na arca de cavalheiro de mogno e pendurada no armário, que estava perfumado com o aroma de pregos.
Com impaciência Nick se desfez de seu casaco, colete, e sua gravata de seda cinza. Despojando-se de sua camisa, fez uma bola em sua mão e a usou para secar o brilho de suor sobre seu rosto pescoço, e peito.
Depois da queda da bola de linho ao chão, sentou-se sobre a cama, que tinha sido instalada em frente à porta. Tirou os seus sapatos e meias, e se tombou vestido com apenas sua calça negra, seu olhar dirigido para o teto de madeira artesanal.
Finalmente entendeu a obsessão de Radnor.
Charlotte Howard era a mulher mais fascinante que jamais tinha conhecido. Irradiava uma força de vontade notável que de algum modo transmitia a impressão de movimento, incluso quando não se movia. Seu corpo, seu rosto, cada parte dela era um amálgama perfeita de delicadeza e força. Desejava afundar-se dentro daquele calor vibrante, montá-la até a quietude, e enterrar seu rosto entre as curvas sedosas de seus seios. A imaginou relaxada e sorridente, sua pele ruborizada por suas carícias enquanto se deitavam juntos na cama.
Não era estranho que Radnor a desejasse. E ainda em suas tentativas de possuí-la, o conde logo extinguiria tudo o que a fazia tão desejável.
Nick sabia que seria relativamente fácil levar rapidamente Charlotte para longe de Londres antes que Westcliff ficasse totalmente consciente do que acontecia. Supunha que deveria fazê-lo pela manhã, usando o elemento surpresa em seu proveito. Profundamente preocupado, entrelaçou seus dedos detrás de sua cabeça.
“Não tenho medo de nada", havia lhe dito Charlotte. Embora ele não acreditasse nisso, admirava-a por dizê-
lo. Certamente Charlotte tinha medo - sabia o que Radnor lhe faria quando voltasse. Entretanto, isso não era assunto de Nick. Sua única responsabilidade era fazer o que lhe tinha pago.
Por outra parte...
Não havia necessidade de dar-se pressa. Por que não ficar em Stony Cross Park durante uns dias? Não estava obrigado a informar a Bow Street durante outras duas semanas, e os bosques de Hampshire estavam preferivelmente longe da saturada e fedorenta desordem de Londres. Se permanecesse aqui durante um dia ou dois mais, seria capaz de aprender mais sobre Charlotte. Tinha que averiguar se ela era tudo o que parecia ser.
Rodando de lado, Nick considerou a idéia. Nunca antes tinha quebrado suas próprias regras, uma delas era que nunca se permitia desenvolver familiaridade pessoal com sua presa. Entretanto, nunca tinha respeitado as regras, inclusive as próprias.
O pensamento de Charlotte lhe pôs quente e irritável e totalmente excitado. Gemma tinha terminado seu acerto fazia seis meses, e tinha sido celibatário após. Não que carecesse de desejo... de fato, queimava-se com a paixão não gasta. E tinha encontrado muitas mulheres dispostas. Mas não estava interessado nas corretas ou nas mundanas. Desejava uma mulher que pudesse proporcionar a intensidade sexual que ele necessitava. Tal mulher ou teria extraordinária experiência no dormitório... ou não teria experiência absolutamente.
Estendendo a mão pelo lado da cama, Nick procurou no montão descartado de sua roupa e encontrou a miniatura. Com uma perícia nascida de hábito, pressionou o fecho da caixa esmaltada e a abriu de um puxão.
estendendo-se de costas, olhou fixamente o pequeno rosto delicioso de Charlotte.
É você? Pensou ele, riscando a linha de sua bochecha com a ponta do dedo. O desejo encheu seu membro e fez que ficasse implacavelmente rígido. Seus cilíos baixaram ligeiramente enquanto seguia olhando o diminuto rosto grafite, e sua mão se deslizou para o saliente doloroso de sua excitação.
Como era seu hábito diário, Lottie tomou um passeio cedo de amanhã através da paisagem de Stony Cross, sobre as escarpadas colinas cobertas de urze ou o bosque, além dos pântanos e os charcos e quão claros transbordavam de vida. A maior parte dos convidados na fazenda, incluindo à Senhora Westcliff, dormiam até tarde e tomavam o café da manhã às dez. Entretanto, Lottie nunca tinha podido adaptar-se a semelhante horário. Ela necessitava alguma forma de exercício para livrar-se de um excesso de energia nervosa. Durante os dias que fazia muito frio ou estavam tormentosos para andar, movia-se inquietamente dentro, até que a Senhora Westcliff estalava em exasperação.
Lottie tinha inventado três ou quatro passeios diferentes, cada um durava aproximadamente uma hora.
Esta manhã escolheu o que começava com o passar do Caminho da Colina, cruzado por um carvalho medieval e o bosque de aveleiras, passava a fonte de um manancial local chamado o Poço dos Desejos.
Era uma manhã fresca e úmida típica de princípios de Maio, e Lottie respirou profundas baforadas do ar da terra perfumado. Vestida com um vestido com saias folgadas até o tornozelo, seus pés calçados com botas até meia panturrilha, Lottie se afastou caminhando com energia do Senhorio de Westcliff. Seguiu uma pista arenosa que conduzia ao bosque, enquanto sapos natterjack saltavam do caminho de suas botas que se aproximavam. As árvores rangiam no alto, o vento levando os gritos dos pássaros nuthatches e os pardais de garganta branca. Uma águia enorme e desajeitada se dirigiu batendo as asas para o próximo pântano em busca do café da manhã.
De repente Lottie chamou à atenção a vista de uma forma escura diante. Era um homem, que vagava pelo bosque, seu contorno parcialmente obscurecido na névoa. Um caçador furtivo, possivelmente. Embora Lottie parasse a certa distância, ele tinha um ouvido excepcionalmente agudo. Sua cabeça girou quando uma raminho se rompeu sob sua bota.
Lottie se manteve em seu terreno enquanto ele se aproximava. Reconheceu-lhe imediatamente, a natural e quase felina graça de seus movimentos. Vestia de maneira informal em mangas de camisa e um colete negro, com botas e calções decididamente velhos. Lorde Sydney... parecia indecente e indecorosamente formoso.
Ela estava surpreendida de vê-lo ali, quando todos os outros convidados na fazenda Westcliff estavam ainda na cama. Inclusive mais surpreendente era sua própria reação ante ele, uma quebra de onda de entusiasmo e alegria.
— Bons dias, - disse Lorde Sydney, um sorriso débil brincando em seus lábios. Seu cabelo negro estava despenteado, e sua gravata tinha sido atada sem a devida atenção.
— Não teria esperado que estivesse fora a esta hora. - disse ela alegremente.
— Nunca durmo passada a saída do sol.
Lottie cabeceou para o caminho que ele tinha estado contemplando.
— Planejava tomar esse caminho? Eu não o aconselharia.
— Por que não?
— Esse caminho conduz aos charcos pantanosos e aos profundos pântanos. Um passo desafortunado, e poderia encontrar-se afogando na lama, quer dizer, se não lhe matar um montão de aranhas ou serpentes. — Ela sacudiu sua cabeça em fingido pesar. - perdemos a alguns convidados muito agradáveis assim.
Ele riu preguiçosamente.
— Suponho que não lhe importaria me recomendar uma rota alternativa?
— Se for pelo outro caminho, chegará a um caminho de ferradura que conduz a uma vereda funda. Siga-o até o jardim da casa do guarda, examine a abertura e encontrará um caminho que lhe leva ao topo de uma colina. Dali pode ver lagos, povos, bosques, toda a extensão dos povos, bosques, tudo desdobrado diante de você... a vista é impressionante.
— É aonde você se dirige?
Ela sacudiu sua cabeça e respondeu impudentemente.
— Não, vou à direção oposta.
— Mas quem me salvará dos pântanos?
Ela riu.
— Você não pode me acompanhar, milord. Não seria nem correto, nem prudente. Se fossemos vistos juntos, provocaria uma fofoca. E certamente desgostaria mais a Senhora Westcliff, que me tinha advertido que não aceitasse nunca "a um admirador", como cortesmente o chamaram.
— Deseja estar sozinha? — Perguntou Lorde Sydney. Uma nova expressão cruzou seu rosto, tão rápida e sutil que quase ninguém o teria notado. - me perdoe. Outra vez violei sua solidão.
Lottie perguntou-se se viu em seus olhos naquele fragmento de segundo... uma desolação tão enorme e impenetrável que a impressionou. O que poderia havê-lo causado? Ele tinha tudo o que uma pessoa necessita para estar satisfeito... liberdade, riqueza, beleza, posição social. Não havia nenhuma razão para que ele estivesse a não ser eufórico com sua sorte na vida. Mas era infeliz, e tudo em sua natureza a obrigava a lhe oferecer consolo.
— Mas bem estou muito acostumada à solidão, - disse ela brandamente. — Possivelmente um pouco de companhia seria uma mudança agradável.
— Se estiver segura.
— Sim, vamos. — Ela deu uma olhada deliberadamente provocadora a sua forma atlética. — Só espero que seja capaz de me seguir.
— Tentarei - assegurou-a ironicamente, caminhando a seu lado quando ela seguiu seu passeio.
Aproximaram-se do tronco de um enorme carvalho que tinha caido atravessado no caminho. Os insetos zumbiam preguiçosamente através dos raios de luz do sol revigorantes que entravam em torrentes acima.
— Olhe. - disse Lottie, assinalando uma libélula enquanto voava e baixava ante eles. — Há mais de uma dúzia de variedades de libélula neste bosque, e ao menos cem traças diferentes. Se vier ao entardecer, pode ver mariposas púrpuras com raias transversais que se reúne justo ali nos topos do caminho.
— Senhorita Miller - interrompeu ele, - sou um londrino. Não nos preocupamos com os insetos, exceto para considerar como podem ser exterminados melhor.
Lottie lançou um suspiro teatral, como se estivesse irritada por sua carência de interesse na matéria.
— Bem, então. Abster-me-ei de descrever as muitas variedades de escaravelho aquático que temos aqui.
— Obrigado. - foi sua resposta fervente. — Aqui, me permita lhe ajudar sobre aquele carvalho.
— Não há necessidade.
Lottie saltou ao tronco caido e andou ao longo da superfície nodosa, luzindo sua coordenação física sem rastro de modéstia. Como seus esforços foram acolhidos pelo silêncio, ela jogou uma olhada sobre seu ombro e descobriu que Sydney andava diretamente detrás dela, seu equilíbrio tão seguro e fácil como o de um gato.
Uma risada assustada a escapou quando completou seu caminho ao final do tronco.
— Você é bastante ágil para um cavalheiro de seu tamanho.
Lorde Sydney deixou passar o comentário, torcendo sua boca para indicar que sua agilidade não era de importância.
— Por que se fez dama de companhia? — Perguntou ele enquanto Lottie saltava ao chão, seus pés rangeram pela frágil capa de folhas. Ele a seguiu, aterrissando no mesmo ponto que ela. Curiosamente, ele não fez muito menos ruído como ela, apesar do fato de que tinha facilmente duas vezes seu peso.
Lottie escolheu suas palavras com muito cuidado. Tinha aversão a falar de seu passado não só era perigoso, mas também o tema a enchia de melancolia.
— Minha família é pobre. Não havia nenhuma outra opção para mim.
— Poderia haver-se casado.
— Nunca encontrei a ninguém com quem queria me casar.
-Nem sequer Lorde Westcliff?
— Lorde Westcliff? - repetiu ela surpreendida. - por que poria eu os olhos nele?
— É rico e com título, e você residiu sob seu teto durante dois anos. - foi a resposta sardônica de Sydney. -
por que não o faria?
— Naturalmente um homem da posição de Westcliff nunca teria esse tipo de interesse em uma dama de companhia. - disse ela em resposta à pergunta de Sydney. — Mas inclusive se nós estivéssemos no mesmo nível social, estou segura que o conde nunca me consideraria desse modo, nem eu tampouco. Nossa relação — se pudesse chamá-la assim — não possui essa particular... — Ela fez uma pausa, procurando uma palavra apropriada. - química.
A palavra revoou com cuidado no ar, dissipada só pelo som da voz tranquila de Sydney.
— Certamente a química empalidece em comparação com a segurança que ele poderia lhe oferecer.
Segurança. A coisa que ela mais desejava, e nunca poderia ter. Lottie parou e olhou fixamente seu rosto escuro.
— O que lhe faz pensar que necessito de segurança?
— Você está sozinha. Uma mulher necessita de alguém para protegê-la.
— Ah, não tenho necessidade de amparo. Tenho uma vida muito agradável em Stony Cross Park. A senhora Westcliff é bastante amável, e não a quero para nada.
— A senhora Westcliff não viverá sempre - advertiu Sydney. Embora suas palavras fossem desafiadas, sua expressão de uma maneira estranha entendida. -O que fará você depois que ela morrer?
A pergunta agarrou Lottie de improviso. Ninguém a perguntava nunca semelhantes coisas. Perturbada, tomou seu tempo para responder.
— Não sei. - disse ela francamente. — Suponho que nunca me permito pensar no futuro.
O olhar de Sydney estava cravado sobre ela, seus olhos com uma sombra de azul quase antinatural.
— Eu tampouco.
Lottie não sabia o que fazer com seu companheiro. Tinha sido fácil a princípio pensar nele como um jovem aristocrata mimado, com sua roupa maravilhosa e seus traços perfeitos. Mas em uma inspeção mais próxima, havia indícios que transmitiam o contrário. As profundas sombras sobrecarregadas sob seus olhos traíam incontáveis noites em claro. Os severos sulcos a ambos os lados de sua boca lhe davam uma aparência cínica que era estranha para um homem tão jovem. E em momentos de descuido como este, ela via em seus olhos que ele não era alheio à dor.
Sua expressão mudou como o mercúrio. Outra vez ele era uma uva sem semente preguiçosa com olhos zombadores.
— O futuro é muito aborrecido de prever - disse ele ligeiramente. — Seguimos senhorita Miller?
Desconcertada por sua rápida mudança de humor, Lottie lhe conduziu fora do bosque até um caminho mais abaixo. O sol da manhã se elevou mais alto, perseguindo a lavanda do céu e esquentando os prados. O
campo que passaram estava cheio de urze e musgo esmeralda pálido, pontilhado com diminutas rosa com tons vermelhos de drósera.
— Não têm vistas como esta em Londres, verdade? — Comentou Lottie.
— Não — Lorde Sydney esteve de acordo, embora parecesse claramente desencantado pela beleza tranquila rural ao redor deles.
— Deduzo que prefere a vida urbana. - disse Lottie com um sorriso. — Moradias, ruas pavimentadas, fábricas, fumaça de carvão, e todo esse ruído. Como poderia alguém preferir isso sobre isto?
A luz do sol tocou os reflexos mogno e dourados em seu cabelo castanho.
— Guarde seus escaravelhos e pântanos, senhorita Miller. Ficaria com Londres em qualquer momento.
— Mostrarei-lhe algo que Londres não tem. — Triunfalmente Lottie o conduziu através do caminho fundo. Eles viram uma profunda concha lamacenta cheia de água que se derramava da colina frente a ela.
— O que é isto? — Perguntou Lorde Sydney, vendo o buraco que se agitava com receio.
— Um poço dos desejos. Todos no povo o visitam. — Lottie procurou nos bolsos de suas saias ambulantes. — Ah, maldição, não tenho nenhum alfinete.
— Para que necessita alfinetes?
— Para lançá-los ao poço. — Lhe deu de presente um sorriso rabugento. — Pensava que todos sabiam que não se pode formular um desejo sem um alfinete.
— Para que quer você desejar? - perguntou ele com voz rouca.
— Ah, não é para mim. Formulei dúzias de desejos aqui. Queria que você tivesse um. — Deixando sua busca do alfinete, Lottie lhe jogou uma olhada.
Havia um estranho olhar no rosto de Lorde Sydney...branca, com dolorosa surpresa... como se acabasse de lhe dar um soco no estômago. Não se movia nem piscava, somente a olhava como se não pudesse compreender totalmente suas palavras. O silêncio entre eles se voltou denso e Lottie esperava com fascinação impotente que ele o rompesse.
Arrancando sua expressão, Lorde Sydney olhou fixamente o campo de urze com intensidade estranha, como se sua mente se esforçasse em envolver-se ao redor de algo que não tinha sentido — Peça um desejo - disse Lottie impulsivamente. — Lançarei um alfinete no poço para você a próxima vez que venha.
Lorde Sydney sacudiu sua cabeça. Quando falou, sua voz era estranhamente rouca.
— Não saberia o que desejar.
Eles seguiram em silêncio, finalizando seu caminho sobre um pedaço lamacento, e seguiram o caminho fundo até uma ponte que cobria um pequeno riacho. Do outro lado do riacho, um prado úmido, resplandecia com arbustos até a cintura de rosas amarelas.
— Este caminho, - disse Lottie, levantando suas saias até seus joelhos enquanto atravessavam a erva e a urze se aproximava de uma barreira de sebes e cercas. — Mais à frente da sebe, o atalho conduzia á um retorno através do bosque até a Stony Cross Park. — Ela indicou a alta porta arqueada, tão estreita que só permitiria a uma pessoa passar de cada vez. Jogando uma olhada a lorde Sydney, ela se repôs para ver se ele tinha recuperado sua calma. — O único caminho é aquela porta dos beijos.
— Por que a chamam assim?
— Não sei. — Lottie considerou a porta pensativamente. — Suponho que porque um beijo seria a consequência inevitável de duas pessoas que tratam de passar por ela ao mesmo tempo.
— Uma teoria interessante. Sydney fez uma pausa dentro da porta estreita. Apoiando-se contra um lado, lhe enviou um sorriso provocador, sabendo perfeitamente que ela não podia atravessá-la sem roçar contra ele.
Lottie levantou suas sobrancelhas.
— Por alguma casualidade espera que eu o prove?
Lorde Sydney levantou um ombro em um encolhimento depravado, olhando-a com um encanto de vagabundo que era quase irresistível.
— Não lhe pararei, se você se sentir tão predisposta.
Era óbvio que não esperava que ela aceitasse o desafio. Lottie sabia que ela só tinha que fazer rodar seus olhos e lhe repreender e ele se apartaria. Entretanto, enquanto ela considerava sua resposta se deu conta de um doloroso vazio em seu interior. Não tinha sido tocada por ninguém em dois anos. Nem abraços impulsivos de menina de suas amigas em Maidstone... nem carícias da mão de sua mãe, nem beijos docemente infantis de seus irmãos mais jovens. Perguntava-se o que acontecia a este homem que a tinha feito consciente da privação. Ele a fez querer lhe contar seus segredos - o qual era, certamente, inconcebível.
Impossível. Ela nunca poderia confiar em ninguém, quando sua vida estava em jogo.
Deu-se conta de que o sorriso de Lorde Sydney tinha desaparecido. Sem ser consciente disso, lhe tinha atraído mais perto e agora estava de pé dentro da longitude de um braço. Seu olhar piscou a sua boca, tão ampla, masculina e cheia. Seu pulso se intensificou a um ritmo selvagem quando a tentação exerceu uma força mais potente que algo que ela tivesse conhecido antes... tão forte como o medo, tão profunda como a fome.
— Esta quieto. - ouviu dizer ela. Com cuidado ela pôs uma mão sobre o centro de seu peito.
No instante em que Lottie lhe tocou, o peito de lorde Sydney se movia sob sua palma em uma forte e rápida respiração.
O batimento violento de seu coração contra seus dedos encheu Lottie de uma estranha ternura. Ele parecia estar congelado, como se temesse que qualquer movimento pudesse espantá-la. Brandamente ela tocou seu lábio inferior com as pontas de seus dedos e sentiu que seu fôlego quente se avivava contra eles.
Uma mariposa abandonou seu lugar de descanso sobre a porta e se afastou voando, uma mancha tremente de cor no ar.
— Como te chama? - sussurrou Lottie. — Seu nome de batismo.
Incompreensivelmente lhe levou um grande momento para responder. O espesso leque de seus cilíos baixou para ocultar seus pensamentos.
— John.
Ele era tão alto que Lottie teve que ficar nas pontas dos pés para alcançar sua boca, e nem sequer então podia alcançá-lo o suficiente.
Agarrando sua cintura em suas mãos, ele a apertou com cuidado contra seu corpo. De repente havia um estranho olhar perdido em seus olhos, como se ele se afogasse. Com vacilação Lottie deslizou sua mão ao redor de sua nuca, onde os músculos entrelaçados se haviam posto rígidos.
Ele deixou atirar sua cabeça mais abaixo, mais abaixo, até que seu fôlego se misturou e seus lábios se tocaram em um beijo doce e flexível. Sua boca permanecia quente e imóvel contra a sua, e logo seus lábios começaram a mover-se em suaves carícias. Desorientada, Lottie balançou em seu abraço, e seu braço se deslizou ao redor de suas costas para sustentá-la bem. Instintivamente ela deu um suave empurrão para cima, estirando-se sobre os dedos de seus pés enquanto ela procurava aprofundar a delicada pressão. Mas ele procurava manter sua paixão firmemente controlada, rechaçando tomar mais.
Brandamente se afastou com cuidado. Atreveu-se a tocar sua bochecha, deleitou-se com o calor de sua pele contra sua palma.
— Paguei o pedágio. - sussurrou ela. — Posso passar pela porta agora?
Ele assentiu seriamente e se afastou da soleira.
Lottie o cruzou e ele passou afastando, surpreendida de descobrir que seus joelhos estavam tremendo. Seu companheiro seguia no silêncio, enquanto ela andava com o passar do atalho que conduzia a Stony Cross Park. Quando quase tinham alcançado a grande casa, fizeram uma pausa no refúgio de um carvalho.
— Devo lhe deixar aqui. - disse Lottie, seu rosto salpicado pelos ramos elevados. - não seria bom que nos vissem juntos.
— Certamente.
Uma triste dor se acumulou dentro de seu peito quando lhe olhou fixamente — Quando deixas Stony Cross Park, milord?
— Logo.
— Não antes de depois de amanhã pela tarde, espero. O povo tem uma maravilhosa celebração de primeiro de Maio. Todos os da fazenda baixam para olhar.
— Iraás você?
Lottie sacudiu sua cabeça imediatamente.
— Não, vi-o antes. Provavelmente ficarei em meu quarto com um livro. Mas para um recém-chegado, as festividades seriam divertidas.
— Vou pensar. - murmurou ele. — Obrigado pelo passeio, senhorita Miller. — E com uma reverência, ele a deixou.
Depois do café da manhã, Charlotte empurrou a cadeira de rodas da Senhora Westcliff ao longo dos passeios pavimentados dos jardins. Nick observava de uma janela aberta do primeiro andar, capaz de ouvir a régia anciã enquanto ela estimulava a Charlotte.
— Não há substituto para a inspeção diária. - dizia a Senhora Westcliff, gesticulando com uma mão. — As Erva daninhas se devem tirar assim que aparecem. Nunca se deve permitir que cresçam fora de seus lugares apropriados, ou arruinarão as proporções do jardim...
Charlotte parecia escutar com respeito enquanto dirigia a cadeira com o passar do caminho. A facilidade com que ela manobrava, desdizia o peso óbvio do veículo. Seus braços magros eram surpreendentemente fortes, e ela não mostrava sinais de fadiga enquanto circulavam com o passar do sebe.
Nick a olhava atentamente enquanto tratava de revisar a anarquia de seus pensamentos. Seu apetite habitual tinha desaparecido depois de seu passeio dessa manhã. Não tinha tomado o café da manhã... Não tinha feito nada, realmente, exceto vagar ao redor da casa em uma espécie de atordoamento que o horrorizava. Sabia que era um homem insensível, sem honra, e nenhum meio de reprimir seus próprios bestiais instintos. A maioria de sua vida tinha sido ocupada pela sobrevivência básica pelo que nunca tinha sido livre de seguir metas mais altas. Tinha pouco conhecimento de literatura ou história, e suas capacidades matemática estavam limitadas aos assuntos de dinheiro e apostas ocasionais.
A filosofia, para ele, era um punhado de princípios cínicos e cultos aprendidos pela experiência com o pior da humanidade. Por agora, nada podia surpreendê-lo ou intimidá-lo. Não temia a perda, a dor, ou inclusive a morte.
Mas com umas palavras e um beijo delicado e inocente, Charlotte Howard o tinha devastado.
Estava claro que Charlotte tinha mudado da moça que seus pais, amigas, e Radnor conheciam.
Acostumou-se a viver o momento, sem pensar no futuro. O conhecimento de que a perseguiam, que seus dias de preciosa liberdade estavam limitados, deveria havê-la feito amarga e desiludida. E ainda lançava alfinetes no poço dos desejos. Um desejo. A piscada de esperança que implicava... isso tinha golpeado em sua alma, quando ele tinha acreditado que não ficava alma alguma.
Não poderia entregá-la ao Radnor. Tinha que tomá-la para ele.
Sua mão fechada ao redor do marco pintado de madeira, agarrando com força para assegurar seu equilíbrio. De outra maneira, teria cambaleado ante a violenta surpresa de seu descobrimento.
— Sydney.
O som da voz de Lorde Westcliff o assustou. Nick não estava contente de compreender que tinha estado tão absorto no olhar de Charlotte que sua acostumada vigilância tinha desaparecido. Mantendo seu rosto em branco, deu-se volta para o conde.
Os traços de Westcliff pareciam ainda mais severamente cortados e inflexíveis que de costume. Seus olhos escuros continham um brilho duro e frio.
— Vejo que tem feito caso da dama de companhia de minha mãe. - comentou ele brandamente. — Uma moça atrativa, e não digamos vulnerável. No passado, às vezes encontrava necessário desalentar o interesse de um convidado pela senhorita Miller, porque eu nunca permitiria que se aproveitasse de algum de meus criados Nick devolveu o olhar fixo de Westcliff, consciente de que lhe estava advertindo que se afastasse de Charlotte.
— Estou caçando furtivamente em sua reserva, milord?
Os olhos do conde se estreitaram pela pergunta insolente.
— Antecipei-lhe minha hospitalidade com muito poucas condições, Sydney. Entretanto, uma delas é que deixe à senhorita Miller em paz. Não está aberta a negociação.
— Já vejo.
A suspeita se acendeu dentro dele. Tinha confiado Charlotte em seu patrão? Não tinha pensado que ela confiaria em alguém, inclusive em um homem tão honorável como Westcliff. Entretanto, se ela tinha tomado aquela possibilidade, então o conde indubitavelmente ofereceria forte oposição para levá-la de Stony Cross Park. Era também possível que Charlotte teria ganhado seu amparo deitando-se com ele.
O pensamento de Charlotte nua nos braços de outro homem trouxe um gosto ácido à boca de Nick, e estava de repente cheio pela sede de sangue. Deve ser ciúmes, pensou ele com incredulidade. Cristo!
— Deixarei a eleição à senhorita Miller. - disse Nick. — Se ela desejar minha presença, ou a ausência, eu cumprirei com sua preferência. Não com as suas.
Nick viu pelo brilho de advertência nos olhos de Westcliff que o conde não confiava nele.
O homem tinha bons instintos.
Capítulo 4
A celebração inglesa de primeiro de Maio variava de povo a povo. Tinha sido tirada de um festival antigo romano honrando a deusa da primavera, e com o tempo cada região tinha acrescentado seu próprio costume além da clássica dança e as canções de Maio. Nick tinha vagas lembranças de infância das celebrações de maio em Worcestershire, sobre tudo o homem vestido como “o verde Jack”, que saltava pelo povo completamente adornado com vegetação fresca. Quando era um menino pequeno, Nick tinha sido aterrorizado pela vista do homem adornado por plantas e se ocultava detrás das saias de sua irmã maior Sophia, até que partia.
Fazia muito tempo já, que Nick tinha visto uma celebração de primeiro de Maio de qualquer classe. Agora, desde sua perspectiva adulta, as conotações sexuais da festa eram mais que óbvias... aldeões dançando com fortificações fálicas, o Rei e a Rainha de Maio que vão de porta em porta e orvalhando "água selvagem" sobre as casas... As ruas adornadas por grinaldas em forma de aro que destacam os pares de arranjos de malmequer pendurando nos centros.
Nick estava de pé sobre uma colina perto da casa com uma multidão de outros convidados, olhando o baile desenfreado no centro do povo. Centenas de abajures e tochas ardentes iluminavam as ruas com um brilho de ouro. Uma cacofonia de risada, música, e canto enchia o ar, enquanto as mulheres foram por turno até o mais alto Maio. As rajadas de chifres de caça com frequência interrompiam o alvoroço. Os jovens dançavam com cordas tecidas com o cabelo da cauda do gado, que mais tarde arrastariam pelo rocio da noite para assegurar um bom fornecimento de leite para o próximo ano.
— Espero uma boa caça esta noite. - chegou uma próxima voz masculina.
O orador era o Visconde Stepney, um jovem musculoso com uma bem conhecida inclinação a perseguir saias. Seus companheiros, lorde Woodsome e lorde Kendal, estalaram em forte risada. Vendo o olhar interrogativo de Nick, Stepney explicou com uma risada alegre.
— As moças do povoado irão à festa de maio até a manhã. Apanhe uma delas nos bosques, e lhe deixará fazer tudo o que queira. Inclusive as casadas o fazem, lhes permitem tirar suas alianças por esta a noite.
— E seus maridos não se opõem? -Perguntou Nick.
Essa pergunta fez que os todos sorrissem ao uníssono — Porque não? - explicou Stepney. - estão muito ocupados perseguindo jovens frescas para lhes importar com nada. Uma festa agradável, não é assim?
Nick sorriu ligeiramente, sem dar nenhuma resposta. Claramente Stepney e seus companheiros consideravam um grande esporte onde gastar dez minutos emparelhando-se com moças camponesas nos bosques. "Empurrar e menear", como Gemma Bradshaw secamente havia descrito o estilo de fazer amor da maior parte dos homens que frequentavam seu estabelecimento. Não tinham nenhuma concepção da verdadeira sexualidade, nenhuma exigência de uma mulher salvo que separasse as pernas. Obviamente um acoplamento rápido entre estranhos permitia certa classe de liberação. Mas isso era muito simples e muito fácil para satisfazer a Nick. Graças à mentora de Gemma, tinha desenvolvido um paladar complexo.
A imagem do rosto de Charlotte, seus olhos escuros e sua acentuada boca doce, abateu-se em sua mente.
Deixou Stepney e seus amigos ir em busca de ágeis saias com que divertir-se. Nick tinha perspectivas muito mais interessantes.
— Venha, Sydney, - insistiu o visconde. — As moças do povo estarão disponíveis imediatamente depois de que o prometido de maio seja escolhido. — Vendo que Nick não estava familiarizado com a frase, ele explicou. — Um guri de idade de se casar convexo sobre o verde e fingindo dormir. As outras moças que estão dispostas a casar-se com ele jogam uma corrida para serem as primeiras em despertá-lo. A primeira em beijá-lo será capaz de reclamá-lo como seu prometido. — Ele riu e esfregou suas mãos. — E as outras moças, todas necessitadas de consolo, dispersam-se no bosque, esperando ser apanhadas por moços empreendedores como eu. Deveria ter visto a que capturei o ano passado, cabelo negro e lábios vermelhos, Ah que pequena, arreios tão fina que era. Venha, Sydney. Se for veloz, tinha apanhado uma para você.
Nick estava a ponto de negar-se quando seu olhar foi apanhado por um novo cacho de moças que agarram as fitas de maio. Uma delas atraiu toda sua atenção. Como as demais, levava um vestido de camponesa branco, seu cabelo coberto por um pano vermelho. A esta distância suas roupas eram difíceis de distinguir, mas Nick a reconheceu imediatamente. Um sorriso pesaroso curvou seus lábios quando recordou a Charlotte dizendo que tinha a intenção de ficar em seu quarto com um livro essa noite. Sem dúvida Westcliff desaprovaria sua assistência ao festival do povo, e por isso tinha decidido ir disfarçada. A fascinação e o desejo formaram redemoinhos dentro dele enquanto seu olhar seguia a figura magra de Charlotte.
Ela serpenteava dentro e fora do círculo de maio, lançava euforicamente suas mãos altas sobre sua cabeça.
— Acredito que me unirei a vós. - murmurou Nick, acompanhando aos impacientes libertinos colinas abaixo.
Rindo imprudentemente, Lottie se uniu à massa das donzelas que esperavam em tensa disposição para pôr-se a correr ao povo verde. Por isso tinha sido capaz de deduzir, o prometido de maio era uma excepcional presa este ano - o filho do açougueiro, um formoso moço loiro com olhos azuis e um bom físico, e uma garantia de herdar um negócio familiar proveitoso. Certamente Lottie não tinha nenhuma intenção de alcançá-lo. Entretanto, era divertido participar do jogo, e estava entretida pelo entusiasmo das moças ao redor dela.
Deram o sinal, e Lottie foi levada com as moças do povo em uma pressa frenética. O desenfreio e o ruído eram tal contraste para sua existência tranquila em Stony Cross Park que sentiu uma sacudida de regozijo.
Tinha passado tantos anos aprendendo a conduta apropriada na festa de maio, e esforçando-se por permanecer discreta como dama de companhia de lady Westcliff, que não podia recordar a última vez que tinha elevado sua voz. Alcançado o momento, uivou com a risada e gritou tão forte como as resolvidas futuras noivas ao redor dela enquanto o grupo ia sobre o verde. Em algum lugar diante, um grito jubiloso soou por cima da multidão. A vencedora, uma robusta moça ruiva, subiu aos amplos ombros de seu novo noivo, agitando triunfantemente um buquê de flores selvagens.
— Consegui! - gritava ela.— Tenho-lhe, é meu!
Aclamando, os aldeões rodearam ao casal recém comprometido, enquanto as donzelas decepcionadas se dispersavam e corriam para o bosque. Uma multidão de homens impaciente as seguia, preparados para começar a noite de Maio.
Rindo, Lottie seguiu em um passo depravado, sem ter nenhum desejo de ser o foco da atenção amorosa de algum moço super excitado. Em uns minutos, os farristas se emparelhariam, e ela escapuliria até Stony Cross Park. Parando na borda do bosque, apoiou-se contra um pesado sicómoro coroado e suspirou com satisfação.
Seus joelhos estavam agradavelmente fracos pelo baile e o vinho. Este era o primeiro ano que em realidade tinha participado de primeiro de maio, mais que simplesmente observando, e tinha sido ainda mais agradável do que tinha esperado. Uma melodia jogada insistentemente em sua cabeça, e a cantou em um sussurro, seus olhos fechados enquanto descansava contra a casca suave e salpicada.
Não se apressem, damas de maio, não se apressem, damas, rogo, não se apressem, ou se ruborizassem ...
Embora tudo estivesse quieto e tranquilo ao redor dela, algum instinto lhe advertiu que já não estava sozinha. Fazendo uma pausa, Lottie levantou seus olhos e retrocedeu quando viu uma forma escura diretamente ao lado dela.
— Por Deus! — Ela tropeçou, e um par de mãos que a agarrou pelos ombros, estabilizando-a.
Balbuciando com surpresa, Lottie se agitou violentamente contra seu captor com o propósito de liberar-se.
— Tranquila, - chegou uma voz masculina, cálida com a risada. — Tranquila. Sou eu.
Ela ofegou e permaneceu quieta, olhando seu rosto no escuro.
— Lorde S-Sydney?
— Sim.
— Quase me assustou até a morte!
— Sinto muito. — Ele sorriu abertamente, seus dentes brancos brilhando na escuridão. — Não quis te interromper.
Lottie riu e lhe empurrou, mortificada por ser pega cantando para si mesma como uma boba.
— Como me encontrou?
— Parece ser meu talento. — Sydney a liberou e apoiou um ombro contra o sicómoro, seu sorriso descuidado em discrepância com seu olhar atento.
Lottie se compadecia por seu lenço, que lhe tinha fatigado no frenesi.
— Cobri o cabelo, não posso acreditar que me reconhecesse.
— Conheço a maneira como te move.
Ela não respondeu, experimentando uma mescla de prazer e incerteza. Havia um elogio implícito na declaração. Mas ele era um desconhecido... Não a conhecia o suficiente, nem o bastante bem, para distinguir algo tão sutil.
— Desfrutou das festividades de maio, milord? — Perguntou enquanto atava o lenço de volta em seu lugar.
— Desfrutei te olhando.
Seus olhos se estreitaram em fingida ameaça.
— Tem a intenção de dizer a alguém que me viu aqui?
Lorde Sydney se inclinou mais perto, como se transmitisse algumas notícias extremamente confidenciais.
— Não se minha vida dependesse disso.
Rindo, Lottie apoiou seu ombro contra o tronco de árvore, refletindo sua postura.
— Vai ao primeiro de maio, como os outros jovens?
— Isso depende. — Um brilho coquete se introduziu em seus olhos. - vais atravessar o bosque com a esperança de ser capturada?
— Decididamente não.
— Então me permita te escoltar de volta pra casa. Eu não gostaria que fosse abordada por algum aldeão jovem e apaixonado.
— OH, deixaria atrás a alguns deles. - disse Lottie confidencialmente. — Conheço estes bosques bastante bem, e sou bastante miúda para correr como uma flecha entre as árvores. Ninguém poderia me apanhar.
— Eu poderia.
— Um homem tão grande como você? Não acredito. Nestes bosques, com todos estes arbustos, seria tão ruidoso como um elefante desbocado.
Seu corpo se esticou sutilmente, sua apreciação de desafio impudente quase evidente.
— Poderia te surpreender - começou, e fez uma pausa quando foi distraído por uma voz feminina em algum lugar à esquerda deles, enquanto uma moça do povo era "apanhada" por um jovem brincalhão. Um momento de silêncio, e logo um ruidoso gemido de prazer se filtrou através das árvores.
Quando Sydney se voltou para Lottie, ela tinha ido.
Rindo por dentro, se embrenhou pelos bosques como uma aparição, levantando as saias até os joelhos para impedir de enganchar-se com os ramos. Manobrou facilmente pelo labirinto de troncos e flexíveis árvores jovens, até que finalmente tudo estava tranquilo e não havia nenhum sinal de ninguém detrás dela.
Fazendo uma pausa para tomar fôlego, Lottie jogou uma olhada sobre seu ombro. Nenhum movimento, nada exceto os sons distantes da farra de primeiro de maio.
Ou Lorde Sydney tinha decidido não lhe dar caça, ou tinha perdido a metade da busca. Uma risada triunfante curvou seus lábios - tinha demonstrado seu propósito. Girando, seguiu para Stony Cross Park - e ficou alarmada quando andou diretamente até um duro corpo masculino.
Estava apanhada contra um largo peito, um par de poderosos braços tranquilizando-a com facilidade. Era Lorde Sydney, sua risada grave fazendo cócegas em seu ouvido. Atordoada, apoiou-se contra ele, necessitando de apoio temporário enquanto se esforçava por recuperar seu equilíbrio.
— Como chegou até mim? — Perguntou ela ofegando.
-Velocidade de flanco. — Seus suaves dedos procuraram devolver seu lenço, mas este se deslizou de seu formoso cabelo escorregadio, revelando o coque prezo em sua nuca. Ele deixou que o lenço caísse ao chão.
Um sorriso se teceu em sua voz. — Não pode escapar de mim, sabia?
As palavras pareciam conter uma indireta de advertência.
Lottie estava de pé no refúgio de seu corpo, absorvendo seu calor, seu picante aroma masculino. Como tinha chegado a estar sozinha na escuridão com ele? Não acreditava na casualidade.
Isto só poderia ser resultado de sua implacável atração por ele... Uma atração que parecia ser devolvida na mesma medida. Como ambos se calaram, Lottie se deu conta de um casal próximo, suas figuras entrelaçadas apenas visíveis pelas árvores. Os sons surdos de farra sexual trouxeram uma ascensão de calor ao rosto de Lottie.
— Me leve de volta pra casa, por favor. - disse ela.
Lorde Sydney a liberou. Lottie se afastou um passo, quase chocando contra a árvore grande atrás dela.
Seguindo-a, ele a pressionou contra o amplo tronco, usando seus braços para protege-la da áspera casca. Seu fôlego se acendeu bruscamente. Suas mãos se deslizaram até seus antebraços, onde a elevação brutal do músculo se manifestava através de seu casaco. Sabia que ele ia beijá-la, que ele a desejava. E que o céu lhe ajudasse.
Ele acariciou a curva de sua bochecha com a ponta de um só dedo, tão cuidadosamente, como se ela fosse uma criatura selvagem que fugiria ante a mais leve pressiptação. Seu fôlego se acelerou enquanto ele tocava seu queixo e inclinava a cabeça para trás em um ângulo de rendição.
Sua boca suave desceu até a sua, moldado, enrolando, até que ela separou seus lábios com um ofego de prazer. A ponta de sua língua acariciou a borda de seus dentes, aventurando-se mais longe, roçou o interior de sua bochecha em uma ardente e delicada exploração. O beijo a enjoava, e ela envolveu seus braços ao redor de seu pescoço em um desesperado jeito de manter o equilíbrio. Ele a deixou ter mais de seu peso, sujeitando-a bem entre seu corpo e o carvalho inflexível a suas costas. Ela se retorceu e se atirou a ele, até que ele fez um ruído calmante e suas mãos desceram por suas costas. A carícia lenta só afiou sua necessidade, fazendo-a arquear-se contra ele em uma busca cega, instintiva. Ela sentiu algo contra o tecido áspero de sua saia... o íntimo vulto de seu sexo.
A rígida longitude dele coincidia perfeitamente no entalhe entre suas coxas. Sua dureza pressionava sua suavidade, sua boca possuía a sua com perversa habilidade, enquanto seus braços a rodeavam. Deslizando suas mãos em seu cabelo, ela curvou seus dedos ao redor de sua cabeleira, sob as espessas mechas que brilhavam como a seda à fragmentada luz da lua. Um fôlego áspero escapou dele, e seus lábios se deslizaram ao longo de sua garganta. Inclusive em sua inocência, ela sentiu a abundância de experiência em seu cuidadoso toque, a fome que ele guardava tão firmemente, aflorava.
Sua blusa de camponesa escorregou por cima de um ombro, revelando o brilho branco de sua pele. Seus dedos se aproximaram sigilosamente de seu decote franzido e atiraram habilmente, fazendo que o linho enrugado se deslizasse para baixo. Gradualmente sua mão se relaxou sob sua camisa. Seu frio e suave mamilo apertado contra as pontas calosas de seus dedos, voltando-se mais duro e mais quente com cada carícia circular.
Lottie pressionou seu rosto em seu pescoço. Tinha que pará-lo agora, antes que sua vontade estivesse completamente demolida.
— Não. Por favor, para. Sinto muito.
Sua mão escorregou de sua blusa, e tocou seus lábios úmidos com seus dedos.
— Assustei-te? - sussurrou.
Lottie sacudiu sua cabeça, de algum modo, resistindo ao impulso de enroscar-se em seu abraço como um gato esquentado pelo sol.
— Não... assustei-me eu mesma.
Por alguma razão sua confissão o fez sorrir. Seus dedos se moveram a sua garganta, riscando a frágil linha com uma sensibilidade que a fez conter o fôlego. Devolvendo de um puxão a blusa de camponesa a seu ombro, atou de novo a cinta desfiada que assegurava o decote.
— Então pararei, - disse ele. — Venha, levarei-te para casa.
Ficou perto dela enquanto continuavam atravessando o bosque, de vez em quando movendo-se para empurrar um ramo do caminho, ou tomando sua mão para dirigi-la por cima de um lugar acidentado no caminho. Tão familiarizada como estava com os bosques de Stony Cross Park, Lottie não tinha necessidade de sua ajuda. Mas aceitou a ajuda com vacilação. E não protestou quando ele fez uma pausa de novo, seus lábios encontrando os seus facilmente na escuridão.
Sua boca estava quente e doce enquanto a beijava compulsivamente...Beijos rápidos, lânguidos, beijos que oscilavam na necessidade intensa ao da paquera. Drogada com o prazer, Lottie deixou vagar suas mãos ao espesso matagal de seu cabelo em sua nuca e seu pescoço. Quando o calor abrasador se elevou a um grau insustentável, Lorde Sydney gemeu brandamente — Charlotte...
— Lottie - disse ela sem fôlego Ele pressionou seus lábios em sua têmpora e a abraçou contra seu corpo poderoso como se fora imensamente frágil.
— Nunca pensei que encontraria a alguém como você. - sussurrou ele. – Estive te procurado tanto tempo... Necessitando-te...
Lottie tremeu e deixou cair sua cabeça em seu ombro.
— Isto não é real. - disse ela fracamente.
Seus lábios tocaram seu pescoço, encontrando um lugar que a fez arquear-se involuntariamente.
— O que é real, então?
Ela assinalou ao disco que confinava ao jardim da casa.
— Tudo ali atrás.
Seus braços se apertaram, e ele falou com voz apagada — Deixa-me ir a seu quarto. Somente um pouco.
Lottie respondeu com uma risada tremendo, sabendo exatamente que aconteceria se ela permitisse isso.
— Absolutamente não.
Beijos suaves e quentes foram se amontoando sobre sua pele.
— Estas a salvo comigo. Eu nunca te pediria mais do que esteja disposta a dar.
Lottie fechou seus olhos, a cabeça lhe dava voltas.
— O problema é, - disse ela com arrependimento, - que estou disposta a te dar absolutamente tudo.
Ela sentiu a curva de seu sorriso contra sua bochecha.
— Isso é um problema?
— Ah, sim. — Separando-se dele, Lottie sustentou suas mãos em seu rosto quente e suspirou irregularmente. — Devemos por aqui. Não confio em mim mesma contigo.
— Não deveria. - concordou com voz rouca.
Os sons de suas respirações se mesclaram na escuridão. Ele era tão quente e forte que Lottie logo não poderia impedir de jogar-se sobre ele. Em troca se forçou a pensar racionalmente. Lorde Sydney se iria logo, e a lembrança desta noite se desvaneceria com o tempo. Ela não era tão indecisa, ou tola, que pudesse ser tão facilmente seduzida.
— Ao menos me deixe caminhar contigo até a casa. - insistiu Lorde Sydney. — Se nos virem juntos, pode explicá-lo como uma reunião casual.
Lottie vacilou, logo assentiu.
— E nos separaremos atrás do terraço?
— Sim.
Oferecendo-lhe seu braço, Lorde Sydney a acompanhou à escada de pedra na parte de trás da casa. Ambos estavam silenciosos enquanto subiram a terraço que tinha vista aos jardins principais. A luz abundante do grande vestíbulo brilhava através das reluzentes janelas com multidão de cristais e as porta-janelas. O terraço, frequentemente era lugar para que os convidados fumassem e bebessem tranquilos, estava desocupado, porque quase todos no povo estavam jogando cartas e bilhar dentro.
Uma figura solitária se relaxava em uma cadeira ao lado da grade. Dava baforadas preguiçosamente e, exalando uma corrente de fumaça que vagava pelo ar como uma aparição que se desvanecia. O aroma do tabaco caro fez cócegas no nariz de Lottie enquanto alcançava o degrau superior.
Seu estômago deu a volta inquietamente quando compreendeu quem era o homem.
— Lorde Westcliff. - murmurou ela, fazendo uma reverência automaticamente. Com inquietação perguntou que pensaria do fato de que ela estivesse acompanhada por Lorde Sydney.
O conde permaneceu sentado enquanto inspecionava aos dois. A luz refratada das janelas brilhava sobre seu cabelo negro como o carvão e projetava sombras angulares através de seus rudes e fortes musculos.
— Senhorita Miller, - disse ele com sua voz grave, e cabeceou com serenidade a seu companheiro. — Sydney. Que oportuno. Há um assunto que desejo falar com você.
Certo que seu patrão estava aborrecido com ela, Lottie baixou seu olhar ao pavilhão de pedra do terraço.
— Milord, me perdoe. Fui olhar o festival no povo, e...
— Você fez mais que olhar, parece. - observou Lorde Westcliff brandamente, seu olhar penetrante percorrendo sobre seu adorno rústico.
— Sim, participei do baile de Maio. E Lorde Sydney se ofereceu de me escoltar até em casa.
— Certamente que o fez. - disse o conde sardonicamente. A fumaça azul cinzenta deu voltas e formou redemoinhos por cima. — Não há necessidade de parecer causar pena, senhorita Miller. Por isso se refere, não a proibi de procurar diversão no povo, embora indubitavelmente fosse prudente não mencionar tais atividades à condessa viúva. - fez um gesto com seu charuto. — Pode ir-se agora, enquanto falo algumas coisas a Lorde Sydney.
Lottie assentiu com cauteloso alívio.
— Sim, senhor.
Quando começava a partir, ficou atônita ao sentir a ligeira pressão da mão de lorde Sydney em seu braço.
— Espere.
Lottie se congelou em completa confusão, seu rosto envermelhou. Não podia acreditar que se atreveu a tocá-la diante do conde.
— Milord. - murmurou ela em protesto.
Sydney não devolveu seu olhar; seu olhar estava cravado atentamente sobre os olhares duros do conde.
— Antes que senhorita a Miller se retire, melhor que me conte do que se trata.
— Isto é sobre sua suposta família. - disse Lorde Westcliff brandamente. — E seu suposto passado.
As palavras tranquilas soaram como uma condenação. Lottie compreendeu pela expressão do conde que algo estava muito mal. Se algo quente tivesse perdurado a partir dos momentos encantados no bosque, desapareceu bruscamente.
Desconcertada, olhou fixamente lorde Sydney. Seu rosto tinha mudado de algum modo, já não era tranquilo nem formoso, a não ser de repente, duro e frio. Ao contemplá-lo agora, se acreditaria que este homem fosse capaz de algo. De repente, não podia acreditar que fazia uns minutos tinha beijado aquela boca dura, que suas mãos a tivessem acariciado com intimidade. Quando ele falou, até sua voz parecia diferente, seu acento um pouco tosco. A aparência de respeitabilidade aristocrática tinha sido extirpado, revelando as capas glaciais debaixo.
— Preferiria falar disto em um lugar mais privado. - disse-lhe o conde.
Westcliff inclinou sua cabeça com gelada cortesia.
— Há um estúdio na sala de família. Servirá?
— Sim. — Sydney fez uma pausa deliberadamente antes de adicionar, - a senhorita Miller nos acompanhará.
Lottie lhe olhou inexpressiva. Sua petição não tinha sentido. De repente ela sentiu frio por toda parte, e um tremor lhe percorreu a coluna.
— Por quê? — Perguntou com os lábios secos.
— Ela não tem nada a ver com isto, - disse Lorde Westcliff de maneira cortante, levantando-se de sua cadeira.
O rosto de lorde Sydney estava escuro e imóvel.
— Ela tem tudo a ver com isso.
Lottie sentia como ficava branca. A superfície inteira de seu corpo parecia lhe arder e lhe queimar, como se tivesse em um charco congelado. Encontrava difícil falar ou mover-se enquanto uma suspeita lhe paralisava e se arrastava sobre ela.
O conde deixou cair seu charuto no terraço e o esmagou com seu pé. Um pouco de desacostumada impaciência em seu tom.
— Senhorita Miller, será tão amável de unir-se a nós? Parece que temos um pequeno mistério a resolver.
Sentindo-se como uma marionete, Lottie seguiu o conde até a casa, enquanto seus instintos lhe gritavam que escapasse. Tinha pouca opção, se salvar ou levar até o fim a cena, em que pese a tudo. Forçando-se a comportar-se com calma, foi com os dois homens ao estúdio privado, seu revestimento de madeira de Jacarandá brilhava com uma cor avermelhada à luz do abajur. O quarto era compacto e inflexível, e ângulos agudos, e nenhuma ornamentação com uma fila antiga de vidraças de cores.
Quando Lorde Westcliff fechou a porta, Lottie tomou cuidado de manter tanta distância entre ela e Sydney como o fora possível. Um pressentimento quase a fez adoecer. Não podia reunir valor suficiente para olhar diretamente a Lorde Sydney, mas era extremamente consciente dele.
Lorde Westcliff falou.
-Sente-se, senhorita Miller?
Lottie sacudiu sua cabeça silenciosamente, temendo que se movesse mais, poderia derrubar-se.
— Muito bem. — A atenção do conde se deslocou a Lorde Sydney. — Comecemos com a informação que recebi hoje. Imediatamente depois de sua chegada a Stony Cross Park, comecei a fazer certas perguntas sobre você. Suspeitei que não fosse completamente sincero em algum aspecto, embora exatamente não pudesse pôr meu dedo em qual era.
Lorde Sydney parecia depravado, mas vigilante, seus olhos azuis duros enquanto devolvia o olhar ao conde.
— E os resultados de suas perguntas, milord?
— Não há nenhum Visconde Sydney. - disse Westcliff sem rodeios, sem fazer caso do ofego de Lottie enquanto continuava. — A linha da família terminou faz aproximadamente vinte anos, quando ao verdadeiro Lorde Sydney morreu sem sobreviver descendência masculina para estabelecer uma reclamação legítima do título. O qual pede a pergunta... quem demônios é você? E qual é seu objetivo aqui?
— Sou Nick Gentry.
Embora Lottie nunca tivesse ouvido o nome, Lorde Westcliff pareceu reconhecê-lo.
— Já vejo. - disse ele brandamente. — Isto explica a participação do Sr Ross. Está em alguma missão para o Bow Street, então.
Lottie ofegou assombrada quando compreendeu que o forasteiro era um detetive de Bow Street. Inteirou-se da pequena força de elite de oficiais que faziam algo por solucionar casos de assassinato ou serviam como guarda-costas para a realeza. Conhecia-lhes por sua desumana eficiência e coragem, e até tinham alcançado um célebre status nos círculos sociais mais altos. Não lhe assombrava que este homem tivesse parecido tão diferente de outros convidados aqui. “Mentiras”, havia-lhe dito, omitindo convenientemente o fato de que sua presa era uma espécie de duas pernas.
— Nem sempre, - disse Gentry em resposta à pergunta do Westcliff. - Às vezes aceito missões privadas. — Seu olhar se moveu até o rosto tenso de Lottie. — Faz dois meses fui contratado por Lorde Radnor para encontrar a sua noiva fugitiva, Charlotte Howard, que esteve desaparecida durante dois anos.
Lottie estava completamente imóvel, enquanto uma dor cruel estalava dentro de seu peito e gotejava por toda ela. Sua boca se sacudiu com a violenta negação, mas não lhe saíram as palavras. Em troca ouviu um gemido, incoerente, só depois se deu conta que saia dela.
Não era consciente de mover-se, mas de repente cruzou a sala, agarrando o rosto escuro de Gentry, enquanto a raiva e o terror desceram ao redor dela como o ataque das águias.
Uma maldição selvagem soou em seus ouvidos, e seus punhos foram esmagados e varrido em gemidos, mas ela não o faria, não podia deixar de lutar. Suor e lágrimas corriam por seu rosto, e respirava entre soluços, e lutando por sua vida, pela liberdade que lhe estava sendo arrebatada. Em algum lugar em sua mente sabia que atuava como uma louca, que isto resultaria negativo, mas parecia não poder parar.
— Para, Lottie. - falou Gentry, dando-a uma sacudida dura — Te acalme... Pelo amor de Deus.
— Não voltarei! - falou, ofegando com fúria. — Matarei-te primeiro, ah Deus, odeio-te, odeio-te.
— Lottie. — A voz fria e sensata cortou cuidadosamente sua tortura que se retorcia de dor. Era a voz de Lorde Westcliff. Um de seus poderosos braços se deslizou ao redor, e a arrastou para longe de Gentry. Ela retrocedeu contra ele como um animal aterrorizado.
— É suficiente. - disse Westcliff contra seu ouvido, seu braço apertando-se em um anel inflexível.
— Ele não a levará, Lottie. Juro. Sabe que sempre mantenho minha palavra. Agora respire fundo. Outra vez.
De algum modo a voz severa, tranquila do conde a alcançou como nada mais poderia fazer, e ela se encontrou obedecendo. Ele a guiou até uma cadeira e a forçou a sentar-se. Baixando seus quadris e coxas, sujeitou-a com um olhar negro.
— Fique quieta. E siga respirando.
Lottie assentiu bruscamente, as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto.
— Não deixe que se aproxime de mim, - sussurrou ela.
De pé, Westcliff lançou um olhar de gelado ao agente de Bow Street.
— Mantenha a distância, Gentry. Importa-me um nada quem lhe pagou para fazer isso. Está em minha casa, e não fará nada sem meu consentimento.
— Não tem direito legal sobre ela. — Disse Gentry brandamente. — Não pode retê-la aqui.
Westcliff respondeu com uma voz arrogante. Indo para o aparador, verteu uma pequena quantidade de líquido em uma taça. Levando o licor a Lottie, ele obrigou a seus dedos tremendo a rodear o recipiente.
— Bebe isto - disse de maneira cortante.
— Eu não... - começou, mas ele interrompeu em um tom de autoridade absoluta.
— Agora. Cada gota.
Fazendo caretas, ela bebeu o líquido em uns poucos goles e tossiu quando seus pulmões e garganta estiveram cheios de fogo aveludado. Sua cabeça lhe dava voltas, e olhou o conde com olhos chorosos. Ele extraiu um lenço do interior de seu casaco e o deu. O linho estava quente pelo calor de seu corpo. Secando seu rosto com ele, suspirou com voz tremente.
— Obrigado, - disse com voz rouca.
Manteve seu olhar a ele, incapaz de olhar a Gentry. Nunca tinha sonhado que tal devastação fora possível... Que sua ruína tivesse vindo na forma de um formoso homem com olhos cruéis e encantadores...
O primeiro homem que tinha beijado. A dor da traição, a humilhação lhe esmagava, era muito grande de suportar.
— Agora. - disse Westcliff serenamente, tomando uma cadeira ao lado de Lottie. - sua reação à revelação do Sr. Gentry pareceria confirmar que é de verdade Charlotte Howard. — Ele esperava seu breve assentimento de cabeça antes de continuar. — É também verdade que esta prometida a Lorde Radnor?
Lottie foi tranquilizada pela presença poderosa do conde, sabendo que ele era a única coisa que a mantinha a salvo do predador que estava à espreita. Olhando os olhos de Westcliff, lutava pelas palavras exatas para lhe fazer entender sua situação. Quando o conde viu sua agitação, surpreendeu-a estendendo a mão tomando a sua. Seu apertão, tão forte e seguro, pareciam afastar o medo que a incapacitava. Lottie estava assombrada por sua bondade. Nunca tinha mostrado esta classe de consideração... Nunca parecia dar-se conta, da realidade.
— Nunca foi minha eleição. - disse-lhe. — Arrumaram-no quando eu era uma menina. Meus pais prometeram a Lorde Radnor minha mão em troca de seu patrocinio financeiro. Tratei duramente a aceitar a situação, mas Radnor não é racional, está louco, em minha opinião. Não tem feito nenhum segredo de seus projetos, considera-me como uma espécie de animal para ser treinada a sua satisfação. Baste dizer que eu estaria melhor morta. Deve acreditar, eu nunca teria recorrido a isto de outra maneira.
— Acredito.
Ainda conservava a posse de sua mão, Westcliff jogou uma olhada a Nick Gentry.
— Tendo conhecido à senhorita Miller por algum tempo, só posso assumir que suas objeções ao casamento com Radnor são válidas.
— São. - chegou à resposta apagada do agente. Ele vadiava perto da laleira com enganosa preguiça, descansando um braço sobre a chaminé de mármore. As chamas jogavam línguas de luz vermelha sobre seu rosto escuro. — Radnor é um porco. É inútil. Seus pais estiveram de acordo com o matrimônio. O dinheiro, muito, de trocou mãos. E se não a recupera, Radnor enviará uma dúzia a mais como eu para fazer o trabalho.
— Não me encontrarão. - disse Lottie, finalmente conseguindo encontrar seu olhar. — Irei ao estrangeiro.
Desaparecerei.
— Pequena boba, - interrompeu Gentry em voz baixa. — Planeja passar o resto de sua vida fugindo? Ele enviará outro homem atrás de ti, e outro. Nunca terá um momento de paz. Não poderá ir o bastante rápido, ou o bastante longe.
— É suficiente. - disse Westcliff de maneira cortante, sentindo o tremor que transpassou o corpo de Lottie. — Não, Lottie não irá ao estrangeiro, tampouco seguirá fugindo de Lorde Radnor. Encontraremos um modo de resolver o assunto de modo que ela possa levar uma vida normal.
— Ah? — Uma das escuras sobrancelhas de Gentry se levantou em um ar zombador. — Isto deveria ser interessante. O que propõe fazer, Westcliff?
O conde estava silencioso enquanto considerava o assunto.
Enquanto Lottie seguia olhando fixamente Nick Gentry, tratava de pensar passando da mescla confusa de emoções. Encontraria alguma saída. Estaria condenada se fosse levada a Radnor como um cordeiro à matança. Seus pensamentos deviam ter sido óbvios, já que de repente o olhar inflexível de Gentry estava comovido com séria admiração enquanto a olhava fixamente.
— A meu ver, tem só duas opções. - disse ele brandamente.
Sua voz tremeu só um pouco enquanto ela respondia.
— Quais são?
— Com o estímulo correto, posso ser persuadido de deixar ir, em cujo caso seguiria te ocultando de Radnor até que seja apanhada outra vez. Ou... Pode te tirar de seu alcance permanentemente.
— O que quer dizer?
Lorde Westcliff interveio no silêncio tenso.
— Ele quer dizer matrimônio. Uma vez que esteja casada e legalmente sob o amparo de outro homem, Radnor cessará sua busca.
O olhar de Lottie caiu até a mão forte que cobria a sua.
— Mas é impossível. Não conheço nenhum homem que estivesse... Disposto. — Ela parou, sentindo-se doente e amargurada.
— É possível. - respondeu o conde com calma.
Enquanto Lottie olhava a Westcliff com olhos interrogantes, a brincadeira tranquila de Nick Gentry cortou o ar.
— Planejando fazê-la sua condessa, milord?
O rosto do conde era inexpressivo.
— Se fosse necessário.
Atordoada, Lottie se aferrou a sua mão forte antes de retirá-la. Era inconcebível que Westcliff estivesse disposto a fazer semelhante sacrifício.
Possivelmente poderia reconciliar-se com a perspectiva de um casamento sem amor. Depois de tudo, algo era preferível a converter-se em lady Radnor. Entretanto, o conde era um homem bom, honorável, e ela não se aproveitaria assim dele.
— Você é notavelmente amável, milord. - disse-lhe. — Mas eu nunca me casaria com você, porque merece algo muito melhor que um matrimônio de conveniência. É um sacrifício muito grande para que o faça.
— Logo que seria um sacrifício, - respondeu ele secamente. — E é uma solução lógica a seu dilema.
Lottie sacudiu sua cabeça, suas sobrancelhas se franziram quando um novo pensamento lhe ocorreu.
— Há uma terceira opção.
— Qual é?
Uma grande calma fria se colocou sobre Lottie, e de repente se sentiu fora de cena, como se fora um espectador imparcial mais que um participante.
— Eu preferiria não dizê-lo ainda. Se não lhe importasse, milord, eu gostaria de ter uns minutos a sós com o senhor Gentry.
Capítulo 5
Nick sabia que Lottie não reagiria passivamente às notícias de que ele a tinha açoitado da parte de Lorde Radnor. Mas a fúria apaixonada de sua resposta quando o abandonou o tinha assustado. Agora que tinha recuperado seu autodomínio, olhava-lhe fixamente com um cálculo desesperado que ele entendia muito bem.
Ele acreditava magnificamente.
Embora Lorde Westcliff claramente não estivesse de acordo com a petição de Lottie, acessou com o semblante franzido.
— Esperarei na seguinte sala. - disse como se esperasse que Nick caísse sobre ela como um animal devorador assim que a porta estivesse fechada.
— Chame se necessitar ajuda.
— Obrigado, milord. - murmurou Lottie, dando ao conde um sorriso agradecido que fez com que Nick fervesse de ciúmes. Teria necessitado pouca provocação para levar seu punho ao rosto do aristocrático Westcliff, sobre tudo neste momento quando ele tinha tomado a mão de Lottie para consolá-la. Nick nunca tinha sido possessivo com alguém em sua vida, mas logo que podia tolerar a vista de Lottie aceitando o tato de outro homem. Algo lhe passava, tinha perdido o controle da situação, e não estava seguro de como recuperá-lo. Tudo o que sabia por certo era que Lottie era necessária para ele... que se não pudesse tê-la, esse sentimento infinito de estar faminto, insatisfeito, frio, nunca o abandonaria.
Ela virou para ele, seu rosto pálido, seus olhos avermelhados de lágrimas. Sua expressão era composta, entretanto lhe olhou com inquietante intensidade, como se tratasse de ver dentro de sua mente. Seu olhar inquisitivo lhe fez sentir estranhamente ameaçado.
— Era tudo um número? - perguntou silenciosamente.
Nick piscou. Ele, que tinha aguentado horas incontáveis de interrogatório e inclusive tortura, estava completamente desconcertado pela pergunta.
— Sei que um pouco disso era. - disse Lottie. — Era parte de seu trabalho para ganhar minha confiança.
Mas foi bastante longe do necessário. — Ela se aproximou dele com lentidão hipnótica. - por que me disse essas coisas esta noite?
Deus lhe ajude, não podia responder. Pior, não podia apartar o olhar dela, e ela parecia olhar em sua alma através de seus olhos.
— A verdade, Sr. Gentry. - insistiu. — Se posso conseguir perguntar, certamente você pode conseguir responder. Pensava algo disso?
Nick sentiu que um suor ligeiro estalava sobre seu rosto. Tratou de encerrá-lo longe, negá-lo, mas era impossível.
— Sim. - ele disse com voz rouca e sujeitou sua boca fechada. Que o diabo a leve se quisesse disser algo mais que isso.
Por alguma razão, a admissão pareceu fazer que Lottie se relaxasse. Nick não podia começar a imaginar por que.
Finalmente conseguindo apartar rapidamente seu olhar da seu, ele olhou fixamente às cegas na luz do fogo que dançava.
— Agora, - resmungou ele. - possivelmente me possa explicar qual é a terceira opção.
— Necessito amparo de Lorde Radnor, - disse ela sem rodeios. — Poucos homens seriam capazes de manter-se firmes contra ele. Acredito que você poderia.
A declaração era prática... não havia nada de elogioso em seu tom. Entretanto, Nick sentia uma piscada de orgulho masculino de que ela reconhecesse suas capacidades.
— Sim, poderia. - disse inflexivelmente.
— Então em troca de seu amparo e apoio financeiro, eu estaria disposta a ser sua amante. Assinaria um contrato legalmente obrigatório a esse efeito. Penso que seria suficiente para manter Lorde Radnor fora, e então não teria que permanecer escondida.
Sua amante. Nick nunca tinha esperado que estivesse disposta a rebaixar-se assim. Entretanto, parecia que Lottie era em última instância pragmática, reconhecendo quando não podia permitir-se manter seus princípios.
— Deixaria me deitar contigo em troca de meu dinheiro e amparo, - disse, como se a palavra amante necessitasse definição. Lançou-lhe um olhar cauteloso. — Viverá comigo, e me acompanhará em público, independentemente da vergonha que isto te cause. É isso o que estás dizendo?
Suas bochechas ficaram vermelho brilhante, mas não tirou o olhar dele.
— Sim.
O desejo alagou cada parte de seu corpo com o calor primitivo. Dar-se conta de que ia ter que se entregar a ele de bom grado, aturdiu-lhe. Sua amante... mas isso não era o bastante. Necessitava mais dela. Tudo dela.
Deliberadamente foi ao sofá, um tanto perplexo com um pedaço de utilitário estofado em rígido couro Borgonha, e sentou com suas pernas estendidas. Deixou que seu olhar a percorresse com pura apreciação sexual.
— Antes de dizer algo, quero uma amostra do que me oferece.
Ela ficou rígida.
— Penso que já provaste o bastante.
— Refere a nosso interlúdio nos bosques esta tarde? — Ele fez sua voz muito suave, enquanto seu coração palpitava violentamente em seu peito. — Não foi nada, Lottie. Quero mais que uns beijos inocentes de ti.
Manter uma amante pode ser um negócio caro - terá que demonstrar o que vale.
Foi a ele devagar, sua forma magra se perfilava na luz. Claramente sabia que ele jogava uma espécie de jogo com ela, mas ainda não tinha compreendido quais eram os interesses.
— O que quer de mim? - perguntou brandamente.
O que tinha tido de Gemma. Não, mais do que Gemma jamais lhe tinha dado. Desejava que alguém lhe pertencesse. Que se preocupasse com ele. Que lhe necessitasse de algum modo. Não sabia se era possível...
mas estava disposto a arriscar tudo por Lottie. Ela era sua única possibilidade.
— Demonstrarei-lhe isso.
Nick estendeu a mão e agarrou seu punho, atirando até que ela se sentou, meio derrubada ao lado dele.
Deslizando uma mão detrás da nuca, inclinou-se sobre ela, encontrando seu pulso com a ponta de sua língua.
Ao mesmo tempo, levou a mão dela a sua virília, cavando seus dedos magros ao redor da forma tensa de sua ereção. Ela ficou rígida e ofegou de repente se apoiou contra seu peito como se sua força a tivesse abandonado. Com cuidado ele atraiu sua mão em cima da longitude de seu membro, à cabeça redonda que empurrava com impaciência contra o tecido tenso.
Um som irregular escapou dele, e tirou sua blusa, cheio de gratidão por quem quer que tivesse desenhado uma roupa que fazia o corpo de uma mulher tão felizmente acessível. Seus seios expostos brilharam na luz, suas pontas suaves e de um pálido rosado.
Lottie voltou seu rosto de lado, seus olhos bem fechados. Arrastando-a para diante sobre seu colo, Nick a abraçou com um braço, enquanto seu traseiro descansava sobre o rígido montículo de sua ereção. Seus dedos calosos escorregaram para um seio nu, levantando o peso da seda situando-o para a descida de sua boca. Um tremor atravessou enquanto ele abria seus lábios sobre o sensível mamilo, acariciando-o até que se esticou contra sua língua. As mãos de Lottie meio levantadas para apartá-lo à força, mas de repente seus dedos se aferraram ao redor de seu casaco, e soltou um gemido de prazer. O som o eletrizou. Ele usava sua língua para riscar círculos ao redor do mamilo que ficou rígido, fazendo-a retorcer como um gato em seus braços.
Enquanto seguia chupando e atormentando seus seios, deslizou sua mão sob suas saias, encontrando a prega simples de sua calcinha e a grossa liga de algodão que sujeitava suas meias. Dando-se conta da mão que se meteu sob suas saias, Lottie apertou suas pernas juntas, e um rubor carmesim se estendeu sobre seu rosto e seus seios. Ele a acariciou sobre o linho enrugado, deslizando a palma de sua mão sobre seu quadril e estômago, logo se movendo para os suaves cachos mais abaixo.
— Não o faça - disse ela, seus olhos ainda fechados.
Nick beijou a curva rosada de sua garganta e a fina borda de sua mandíbula. Sua pele era tão fina e acetinada que era quase translúcida. Desejava beijá-la da cabeça aos pés.
— Assim não é como fala uma amante. - sussurrou. — Falta a sua palavra, Lottie?
Ela sacudiu sua cabeça, incapaz de falar enquanto sua palma pressionava seu montículo.
— Então abre suas pernas.
Ela obedeceu bruscamente, separando as coxas, sua cabeça caindo para trás contra seu braço de apoio. Ele a acariciou sobre o delicado tecido, esfregando com cuidado o sulco quente até que o linho ficou úmido sob seus dedos. Estava excitado por seus esforços por permanecer tranquilo e imóvel, seu rosto se voltou escarlate, suas pernas ficaram rígidas enquanto a acariciava intimamente. Finalmente ela gemeu e lhe agarrou o braço em tom de súplica.
— É suficiente. - ofegou ela.
Seu membro palpitava violentamente — É? - sussurrou ele, deslizando seus dedos na fatia aberta de suas calças. — Acredito que desejas mais.
Seu corpo sacudiu quando ele encontrou brandamente o emaranhado curto... a torcida carne sedosa... a úmida entrada de seda de seu corpo. Beijando o arco de sua garganta, Nick jogou com a aveludada espessura.
— Doces risinhos. - respirou perto do ouvido de Lottie. -Pergunto-me de que cor são? Loiros, como o cabelo de sua cabeça? Ou mais escuros?
Sobressaltada pela pergunta, Lottie lhe olhou fixamente com um olhar desfocado.
— Está bem. - disse, abrindo a suave fenda. - averiguarei por mais tarde.
Ela se arqueou quando ele encontrou o ponto sensível que estava oculto pelas dobras protetoras.
— OH... OH, Deus
— Shhhh. — Ele beliscou sua orelha. — Não quererá que Westcliff te ouça, não?
— Para isto. - disse ela com voz tremendo.
Mas nada lhe deteria agora. Acariciou-a habilmente, fazendo círculos sobre o ponto de fogo delicado. Suas nádegas se elevaram afastando-se da dura longitude de sua ereção enquanto seus quadris pressionavam sua mão. Ele acariciou o inchado casulo com a ponta calosa de seu polegar e deslizou a metade de seu dedo dentro dela, até que esteve completamente submerso no delicioso canal.
O fôlego de Lottie se cortou, e suas coxas se sujeitaram fortemente ao redor de sua mão enquanto ele empurrava e retirava seu dedo em um ritmo tranquilo. Ele sentia esticar os músculos interiores dela enquanto se contraía e se retorcia, lutando instintivamente pela liberação da insuportável tensão. Nick baixou a cabeça até seus seios mais uma vez. As pontas estavam tensas e rosadas agora, e ele soprou um deles brandamente antes de meter-lhe em sua boca. Com seu dedo fundo dentro dela, e seu mamilo palpitando contra sua língua, experimentou um triunfo que nunca antes tinha conhecido.
Lottie lutava em vão, enquanto o orgasmo permanecia esquivo, um gemido de frustração escapou dela.
Retirando seu dedo das profundidades doces de seu corpo, Nick colocou sua mão úmida no estômago tenso, esfregando em círculos calmantes.
— Atenderei-te mais tarde. - murmurou ele. — Prometo.
Lottie gemeu outra vez, arqueando-se desesperadamente contra sua mão. Sabia o que ela queria, e tinha muita vontade de dar-lhe. As janelas de seu e nariz flamejaram quando descobriu o perfume embriagador do desejo feminino. O calor bombeava através dele, e quase perdeu todo o autocontrole enquanto pensava em enterrar seu rosto entre suas coxas, inundando sua língua dentro dela...
Estremeceu enquanto se forçava a lhe baixar as saias, cobrindo a doce carne que ansiava. Westcliff esperava perto, e agora não era nem o momento nem o lugar para sentir prazer mais. Mais tarde teria tempo para fazer o amor com Lottie em seu tempo livre. Paciência, consolou a si mesmo, respirando regularmente.
Lottie avançou lentamente dos braços dele e se aconchegou no outro extremo do sofá. Estava magnificamente despenteada, suas bochechas úmidas e profundamente rosadas à luz que lhe banhava.
Lutando torpemente com seu sutiã, cobriu seus seios.
Seus olhares se encontraram, o dela brilhando com vergonha, o dele francamente calculados. E então Nick se ocupou de sossegá-la.
— Realmente te desejo. - disse ele. — De fato, não me deteria ante nada para te conseguir. Mas não te quero como amante. Quero a propriedade completa, irrevogável. Tudo o que lhe teria dado a Radnor, ou Westcliff.
Compreendendo o que queria dizer, Lottie o olhou como se fosse um louco. Levou um minuto inteiro recuperar-se bastante para falar.
— Quer dizer matrimônio? Que diferença haveria entre me casar contigo ou com Lorde Radnor?
— A diferença é que eu te deixo escolher.
— Por que estaria disposto a te pôr os grilhões comigo por toda vida?
A verdade era algo que Nick nunca podia admitir ante ela.
— Porque quero a conveniência de uma esposa. - mentiu. — E você o fará tão bem como qualquer outra mulher. — Ela respirou ultrajada. — Escolhe. - aconselhou Nick. — Pode seguir fugindo, ou pode ser a esposa de alguém. De Radnor ou minha.
Deu-lhe outra daquelas largas e inquisitivas olhadas o que fez que lhe arrepiasse o cabelo da nuca. Maldita seja, odiava-a quando fazia isso. Outra vez mais não podia piscar ou deixar de olhá-la, e ela parecia ler seus pensamentos apesar de sua vontade para ocultá-los.
— Tua. - disse rigidamente. — Serei Tua.
E soltou um lento e quase imperceptível suspiro de alívio.
Lottie levantou-se com dificuldade de seu colo e endireitou sua roupa. Ela foi tomar um pouco de brandy da licoreira de cristal no aparador de mogno. Estava enjoada, e sentia seus joelhos como de gelatina, os quais eram bons indícios. Além disso, tecnicamente ela era ainda criada de Lorde Westcliff, e jamais ninguém em tal posição pensaria em servir-se um pouco de licor do amo. Por outro lado, tais distinções se esfumaçaram depois das assombrosas revelações da tarde. Estava desconcertada pela compreensão de que tinha recebido duas propostas de matrimônio em uma noite, de homens imensamente diferentes.
E as coisas que Nick Gentry acabava de lhe fazer... Não, ela não pensaria nisto agora, enquanto seu corpo ainda palpitava com os ecos do prazer vergonhoso. Enchendo a taça generosamente, Lottie fez uma careta e engoliu um excelente cole.
Gentry foi para ela, tomando a taça depois de que ela tinha tragado rapidamente a metade de seu conteúdo.
— Em um minuto vais estar tão bêbada como um carrinho de mão.
— Importa isso? — Perguntou com voz rouca, olhando como ele terminava o brandy por ela.
— Suponho que não. — Como ela se cambaleava diante dele, deixou a um lado a taça vazia e agarrou sua cintura em suas mãos. Uma risada tocou seus lábios. — Deus sabe que qualquer mulher teria que fortalecer-se depois de consentir converter-se em minha esposa.
Um golpe exigente golpeou a porta, e Lorde Westcliff entrou na sala. Seu agudo olhar se posou neles que permaneciam tão perto juntos.
As mãos de Gentry apertadas sobre a cintura de Lottie enquanto ela tratava de afastar-se dele.
— Pode ser o primeiro em nos felicitar. - disse-lhe ao conde, em uma grosseira paródia de um anúncio cavalheiresco. — A senhorita Howard tem feito a honra de me conceder sua mão.
Os olhos de Lorde Westcliff se estreitaram enquanto jogava uma olhada em Lottie.
Essa é a terceira opção?
— Ao parecer. - disse ela sem firmeza. — Sim Lottie sabia que o conde não entendia por que estaria disposta a fazer negócios com o diabo. Devolvendo seu olhar, suplicou silenciosamente que não pedisse uma explicação, porque seria incapaz de explicar seus motivos. Estava farta de ocultar-se, preocupar-se, e ter medo. Nick Gentry lhe tinha devotado seu refúgio. Ele não tinha princípios, era insensível, exatamente a classe de homem que poderia protege-la de Radnor. Mas tudo isso não teria sido suficiente para obrigá-la a casar-se com ele. Outro fator tinha marcado a diferença -
sua consciência de que Gentry sentia algo por ela. Ele não foi capaz de ocultá-lo apesar de seus esforços pelo contrário. E contra todo o melhor julgamento, ela o desejava. Ou ao menos, desejava ao homem que ele tinha fingido ser... o que a tinha cuidado fixamente com tal intensidade se desesperava quando tinham estado ao lado do poço dos desejos... o único que a tinha beijado no bosque e tinha sussurrado que a necessitava.
Franzindo a testa, o conde avançou e chegou até ela.
— Quero umas palavras com você, Lottie.
Ela assentiu obedientemente, pelo hábito de muitos anos.
— Sim, senhor. — Como Gentry não a liberava, lhe lançou um olhar provocador. — Não me casei contigo ainda. - disse ela sob seu fôlego. — Deixe-me ir.
Suas mãos deslizaram de sua cintura. Lottie foi até o conde, que tomou seu cotovelo em um ligeiro apertão e a levou com ele à esquina. Seu toque respeitoso era surpreendentemente diferente da possecividade desenfreada de Gentry.
Lorde Westcliff baixou o olhar para ela, uma mecha de cabelo negro caiu sobre sua ampla frente.
— Lottie, - disse silenciosamente, - não pode tomar tal decisão sem entender mais sobre o homem a quem vai se entregar. Não se engane pelo fato de que Gentry é um agente de Bow Street. Sem dúvida você pensa que sua profissão outorga certo sentido de honra, inclusive heroísmo. No caso do Nick Gentry, o contrário é verdadeiro. Ele é, e sempre foi uma figura de pública polêmica.
— Em que sentido? — Perguntou Lottie, jogando uma olhada à figura escura do outro lado da habitação.
Gentry bebia outro brandy, fingindo inspecionar uma fila de livros. A curva mal-humorada de sua boca lhe deixou claro que sabia perfeitamente bem o que Westcliff lhe dizia.
— Gentry só foi detetive durante os dois ou três anos passados. Antes disso, era um senhor do crime mascarando-o como detetive privado. Controlava uma infame corporação de ladrões e fora detido numerosas vezes por fraude, roubo, comércio de artigos roubados, e fabricação de provas. Posso garantir que conhece cada criminoso de renome na Inglaterra. Apesar de sua evidente reforma, há muitos que acreditam que ainda tem transações ilícitas com muitos de seus antigos cosortes na vadiagem. Não terá que lhe ter confiança, Lottie.
Ela tratou de não mostrar reação ante a informação, mas por dentro estava aniquilada.
Jogando uma olhada ao redor dos largos ombros de Westcliff, viu a forma ameaçadora em que o agente de Bow Street vadiava na esquina mais escura do estudio. Parecia mais cômodo nas sombras, seus olhos brilhavam como um gato. Como poderia um homem só ao final da vintena ter tido uma carreira tão variada?
Senhor do crime, detetive...? Quem era ele, em nome de Deus?
— Senhorita Howard... Lottie... - o conde reconquistou sua atenção com um sussurro silencioso. — Deve considerar minha oferta uma vez mais. Acredito que o acerto beneficiaria a ambos. Dou-lhe minha palavra de que seria um marido amável, e que você não queria para nada...
— Milord, - interrompeu ela com seriedade, - espero que não considere meu rechaço como sinal de outra coisa que meu grande respeito para você. Você é o homem mais honorável que jamais conheci, e é por isso que nunca relegaria a um matrimônio sem amor. Não pode negar milord, que eu não seria sua primeira opção, se estivesse procurando esposa. E se lhe fizesse a injustiça de aceitar sua oferta, ambos o lamentaríamos algum dia. O Sr. Gentry e eu estamos muito mais satisfeitos um com o outro, porque nenhum de nós o considerará como um matrimônio verdadeiro, mas sim mais como uma transação de negócios na qual... — Suas bochechas ardiam quando se forçou a terminar. — No qual um serviço é em troca de outro.
A cara de Westcliff era sombria.
— Você não é bastante cínica ou dura para tolerar tal acerto.
— Infelizmente, milord, estou realmente endurecida. Por causa de Lorde Radnor, nunca tive as esperanças e sonhos que muitas outras mulheres têm. Nunca esperei ser feliz no matrimônio.
— Ainda merece algo melhor que isto. - insistiu ele.
Ela riu sem humor.
— Isso crê? Não estou tão segura. — Separando-se dele, Lottie cruzou de uma pernada ao centro de estudio e olhou ao Gentry com espera. De um modo enérgico. -Quando partiremos?
Gentry surgiu na esquina. Ela viu pela piscada em seus olhos que havia esperado que ela mudasse de opinião depois da oratória com Westcliff. Agora que sua eleição tinha sido reafirmada, não havia volta atrás.
— Agora. - disse ele brandamente.
Seus lábios se separaram no começo de uma objeção. Gentry tinha a intenção de arrastá-la sem permitir qualquer oportunidade de dizer adeus! A alguém na casa, nem sequer à Senhora Westcliff. Por outro lado, seria mais fácil para ela simplesmente desaparecer sem necessidade de explicar algo a alguém.
— Não é bastante perigoso viajar de noite? — Perguntou ela, então rapidamente respondeu sua própria pergunta. — Não importa. Se nos encontrássemos com um salteador no caminho, provavelmente estaria mais salvo com ele que com você.
De repente Gentry sorriu abertamente.
— Poderia ter razão.
Sua momentânea diversão se apagou pelo anúncio frio de Lorde Westcliff.
— Se não puder trocar a opinião da senhorita Howard, ao menos requererei a prova de que a cerimônia é legal. Também exigirei provas que ela está satisfatoriamente provida.
Lottie compreendeu que em todas suas considerações, ela em realidade não pensava em que classe de vida teria com Gentry. Por Deus! Como ganhava a vida um agente de Bow Street? Sem dúvida seu salário era mínimo, mas certamente com comissões privadas, ele teria para viver de uma forma decente. Ela não necessitava muito— uma habitação ou duas em uma área segura de Londres seria suficiente.
— Que me condenem se tiver que explicar minha capacidade para prover a minha própria esposa. - disse Gentry. — Tudo o que você tem que saber é que ela não passará fome, e terá um teto sobre sua cabeça.
A viagem a Londres duraria aproximadamente doze horas, o qual significava que viajariam durante a noite e chegariam à tarde. Lottie descansava contra a luxuosa tapeçaria de veludo marrom do veículo bem equipado de Gentry. Uma vez que eles estiveram em caminho, Gentry se moveu para extinguir o pequeno abajur da carruagem que iluminava o interior.
— Quer dormir? — Perguntou. — Fica muito tempo até a manhã.
Lottie sacudiu sua cabeça. Apesar de seu cansaço, ela estava muito agitada para relaxar.
Virou-se de ombros, Gentry deixou que o abajur ardesse. Ele descansou uma de suas pernas sobre a tapeçaria, fazendo caretas ligeiramente. Claramente era incômodo para um homem de seu tamanho estar limitado em um espaço relativamente pequeno.
— Isto é teu? — Perguntou Lottie. — Ou aluga como parte de seu engano?
Compreendendo que ela se referia à carruagem, dedicou-lhe uma risada zombadora.
— É meu.
— Não teria pensado que um homem profissional poderia permitir-se semelhante veículo.
O detetive jogou a borda com franjas na pequena cortina da janela próxima.
— Meu trabalho requer viagens frequentes. Prefiro fazê-lo com comodidade.
— Usa frequentemente um nome fictício quando empreende suas investigações?
Ele sacudiu sua cabeça.
— A maior parte do tempo não é necessário.
— Pergunto-me porque não escolheu um disfarce melhor. - disse ela. — Um que não pudesse ser refutado tão facilmente. Não levou muito tempo a Lorde Westcliff descobrir que não há nenhum Visconde Sydney.
Uma expressão estranha cruzou em seu rosto, diversão entrelaçado com desconforto, e parecia entretido em um debate silencioso sobre se realmente lhe diria algo. Finalmente torceu sua boca, e soltou um breve suspiro.
— Westcliff se equivocou. Há um Visconde Sydney. Ao menos, há um sucessor legítimo ao título.
Lottie o considerou com ceticismo.
— Quem é ele? E se o que diz é certo, por que não chegou a reclamar seu título e propriedades?
— Nem todo mundo quer ser um par.
— Certamente que sim! Além disso, a um par não lhe dá a opção. É, ou não é. Ele não pode negar seus direitos de nascimento mais do que pode trocar a cor de seus olhos.
— Que me condenem se não puder. - chegou sua resposta franzindo a testa.
— Não há necessidade de zangar-se. - disse Lottie. — E ainda não me há dito quem é e onde está este visconde misterioso, o que me leva a acreditar que você o inventa.
Gentry trocou de posição, movendo-se incomodamente, seu olhar cuidadosamente afastado da seu.
— Sou eu.
— O que? Trata de me enganar a pensar que é algum par perdido faz muito? Você, um senhor do crime e detetive, é um visconde secreto? — Lottie sacudiu sua cabeça com decisão. — Não acredito.
— Importa-me um nada se o crê ou não. - disse Gentry com calma. — Especialmente quando isto não tem a ver com o futuro, porque nunca reclamarei o título.
Lottie olhou fixamente seu duro perfil assombrada. Certamente parecia acreditar no que dizia. Mas como poderia ser possível? Se houvesse algo de verdade em sua afirmação, como um filho da aristocracia tinha chegado a isto? As pessoas não começavam a vida como um membro da nobreza e terminava como... o que seja que ele fora. Ela não podia seguir crivada de perguntas.
— Você é John, Lorde Sydney? O filho do Visconde Sydney que morreu faz vinte anos, supostamente sem um herdeiro? Tem alguma prova disto? Há alguém que o cobraria?
— Minha irmã, Sophia. E seu marido, sir Ross Cannon.
— O magistrado? O antigo chefe de Bow Street é seu cunhado?
Gentry respondeu com uma só cabeçada. Confundindo completamente a Lottie. Supôs que não tinha outra opção exceto lhe acreditar, já que a história facilmente poderia ser desacreditada se fosse falsa. Mas era tão fantástica, tão absurda, que não podia começar a entendê-lo.
— Eu tinha sete anos, possivelmente oito, quando meus pais morreram. - explicou bruscamente Gentry. -
além de mim, não havia mais parentes masculinos que pudessem pôr a reclamação legítima do título ou as terras. Não é que houvesse muito que herdar, porque meu pai estava endividado, e a fazenda estava em más condições. Minha irmã maior, Sophia e eu vagabundamos pelo povoado por um tempo, até que ela finalmente foi recolhida por uma prima longínqua. Mas eu tinha me feito um rebelde, e os primos estavam naturalmente, pouco dispostos a me recolher sob seu teto. Então escapei para Londres, e me fiz ladrão guia de ruas, até que fui encarcerado por meus crimes. Quando outro moço morreu na prisão, tomei seu nome de modo que eu pudesse conseguir liberação antecipada.
— Ele deve ter sido o verdadeiro Nick Gentry, então. - disse Lottie.
— Sim.
— E você tomou sua identidade e deixou acreditar a todos que tinha morrido?
Um brilho desafiante entrou em seus olhos.
— Ele não podia usar mais o nome.
— Mas certamente mais tarde deve ter pensado reclamar seu verdadeiro nome... sua legítima posição na sociedade...
— Tenho exatamente a posição na sociedade que quero. E Nick Gentry foi meu nome mais do que jamais foi dele. Tenho a intenção de deixar que Sydney descanse em paz. - riu sardonicamente. — Lamento a perda de prestígio, mas vais ser conhecida como a Sra. de Nick Gentry, e ninguém salvo minha irmã e seu marido será consciente da verdade. Entende?
Lottie assentiu com ar perplexo.
— Não me preocupa a perda de prestígio. Se o fizesse, me teria casado com Lorde Radnor.
— Não te importa ser a esposa de um plebeu, então, - disse Gentry, olhando-a atentamente.
— Estou acostumada à vida em circunstâncias humildes. Minha família é de bom sangue, mas como mencionei uma vez antes, somos pobres. — Nick estudou as polidas pontas de suas botas. — Lorde Radnor era um benfeitor condenadamente miserável, se a condição de Howard House é algo pelo que julgar. — Lottie inalou rapidamente. - estiveste na casa de minha família?
Ele deu uma olhada em seus grandes olhos.
— Sim, visitei seus pais para fazer perguntas. Eles sabiam que eu estava lhe procurando.
— Ah. - disse Lottie com consternação. Certamente seus pais teriam cooperado com a investigação. Eles tinham sido conscientes que Lorde Radnor queria encontrá-la, e como sempre, tinham aceito seus desejos. As notícias não deveriam ter chegado como surpresa. E ela não podia ao menos sentir-se traída. Tomaram-se um momento para considerar seus interesses, em lugar de Radnor? Sua garganta se apertou, e pareceu não poder tragar corretamente.
— Eles responderam cada pergunta detalhadamente. — Gentry seguiu. — Vi os braços com que alguma vez jogou, o livro de contos no que desenhava... sei inclusive o detalhe de seus sapatos.
Cheia de terrível vulnerabilidade, Lottie se envolveu em seus braços.
— Parece estranho que tenha visto minha família, quando estive longe deles durante dois anos. Como estão minhas irmãs e meus irmãos? Como esta Ellie?
— A que tem dezesseis anos? Calada. Bonita. Com boa saúde, parece.
— Dezesseis. - murmurou Lottie, alterada pela compreensão de que seus irmãos tinham crescido igual a ela. Todos eles tinham mudado durante o tempo que tinham estado separados. Sua cabeça lhe doía de repente, e esfregou sua fronte. — Quando meus pais falaram de mim, pareciam...
— O que?
— Odeiam-me? — Perguntou distraidamente. — Tão frequentemente me pergunto...
— Não, eles não lhe odeiam. — Sua voz se fez estranhamente suave. — Estão preocupados com suas próprias peles, certamente, e parecem sustentar uma crença sincera de que te beneficiaria um matrimônio com Radnor.
— Eles nunca entenderam como é ele realmente.
— Não querem. Ganharam muito mais se enganando.
Lottie estava tentada de lhe repreender mesmo que tivesse pensado a mesma coisa mil vezes antes.
— Necessitavam do dinheiro de Lorde Radnor. - disse de maneira aborrecida. — Têm gostos caros.
— É assim que perdeu seu pai a fortuna da família? Vivendo por cima de seus meios?
— Não acredito que houvesse uma fortuna verdadeira para começar. Mas meus pais certamente gastaram o que estava disponível. Lembro que quando eu era uma menina, tínhamos o melhor de tudo. E logo quando o dinheiro se foi, quase passamos fome. Até que Lorde Radnor interveio. — Ela seguia esfregando a frente, deixando que seus dedos vagassem por suas doloridas têmporas. — Facilmente se poderia alegar que me beneficiei que seu interesse. Por causa de Radnor, fui enviada à escola de moças mais exclusiva em Londres, e ele pagou por meu alimento, minha roupa, e inclusive contratou uma donzela para me assistir. Pensava que ele queria fazer uma senhora de mim. Ao princípio eu estava até agradecida que tomasse semelhante cuidado em me preparar para ser sua esposa.
— Mas se fez mais complicado que isto. - murmurou Gentry.
Ela assentiu.
— Fui tratada como uma mascote com uma correia. Radnor decidia o que podia ler, o que me permitia comer... ordenou aos professores que meus banhos deviam ser gelados, porque ele acreditava que era mais favorável para a boa saúde que a água quente. Minha dieta foi limitada a caldo e fruta quando decidiu que precisava emagrecer. Tinha que lhe escrever uma carta a cada dia, descrever meu progresso com as matérias que ele desejava que estudasse. Havia regras para tudo... Nunca devia falar a não ser que meus pensamentos estivessem bem formados e fossem expressos com graça. Nunca devia oferecer uma opinião sobre algo. Se me movia, minhas mãos eram atadas ao assento de minha cadeira. Se me bronzeava pelo sol, me mantinham dentro. — Soltou um suspiro tenso. — Lorde Radnor queria me converter completamente em outra pessoa.
Eu não podia compreender o que seria viver com ele como sua esposa, ou que passaria quando ele finalmente compreendesse que nunca podia alcançar as normas de perfeição que ele estabelecia. — Perdida nas escuras lembranças, Lottie retorceu seus dedos e falava sem ser completamente consciente do que revelava. — Como temia vir para casa durante as férias. Ele estava sempre ali, me esperando. Apenas me permitia tempo para ver meus irmãos e irmãs antes que tivesse que ir com ele e...
Parou-se de repente, compreendendo que tinha estado a ponto de confiar o segredo que tinha feito que seus pais estalassem de fúria quando tinha tratado de contar-lhes. Isto tinha bulido no fundo de sua alma durante anos. Eles de algum modo a tinham esclarecido sem palavras que a sobrevivência da família, e a sua, dependiam completamente de seu silêncio. Afogando as palavras proibidas, Lottie fechou os olhos.
— Tinha quer ir com ele e... — Apontou Gentry.
Ela sacudiu sua cabeça.
— Agora já não importa.
— Contínua. — Sua voz era suave. — Asseguro-te que nada do diga poderia me impressionar.
Lottie o considerou cautelosamente, compreendendo que era certo. Com tudo o que Gentry tinha visto, ouvido e feito, nada lhe repugnaria.
— Contínua. - murmurou.
E Lottie encontrou-se lhe dizendo o que ninguém tinha querido ouvir jamais.
— Sempre que ia a casa, tinha que entrar em um quarto privado com Radnor, e lhe dar conta de meu comportamento na escola, e responder suas perguntas sobre meus estudos e minhas amigas, e... — Ela olhou o rosto inescrutável de Gentry, encontrando que sua carência de reação lhe facilitava seguir. — Me fazia sentar sobre seu colo enquanto falávamos. Tocava-me, os seios, sob minhas saias. Era repulsivo, lhe permitindo... Mas não podia pará-lo, e meus pais... — Ela se encolheu com um gesto de impotência. — Eles não escutaram quando tratei de lhes contar. Isto continuou durante anos. Minha mãe me pegou com a mão uma vez, e me disse que pertencia a Lorde Radnor, e que ele ia casar comigo de todos os modos. Ela dizia que devia lhe deixar fazer o que quisesse. A segurança da família dependia de seu prazer e boa vontade.
— A vergonha infundiu sua voz quando acrescentou. - e logo fugi dele de todos os modos, e por fazê-lo assim os lancei todos aos lobos.
Gentry falou com cuidado, como se ela fora ainda uma menina inocente mais que uma mulher de vinte anos.
— Chegou isto além dos toques, Lottie? — Ela olhou sem compreender. Sua cabeça escura se inclinou ligeiramente, sua voz permanecia suave enquanto persistia. — Chegou ele a completar, enquanto estava sentada sobre seu colo?
Seu rosto ficou quente quando entendeu ao que se referia com... O misterioso e eufórico complemento que algumas moças haviam descrito com risadas travessas. Um prazer físico que ela certamente nunca podia ter sentido com Radnor — Acredito que não.
— Acredite, saberia se qualquer dos dois o tivesse feito. - disse ele sardonicamente.
Lottie pensou na forma em que Gentry a havia posto meio doida na luz, a sensação em espiral que tinha sentido em seus peitos custados e estômago, a frustração doce e dolorosa que a tinha atormentado tanto.
Tinha sido isso o ponto culminante, ou havia mais que experimentar? Estava profundamente tentada a perguntar a seu acompanhante, mas guardou silêncio temerosa que ele a rechassasse em sua ignorância.
O balanço da carruagem com boa suspensão a acalmou, e bocejou forte detrás de sua mão.
— Deveria descansar. - disse Gentry silenciosamente.
Lottie sacudiu sua cabeça, pouco disposta a abandonar-se ao sono enquanto ele a olhava. Que bobo temer essa pequena intimidade com Gentry depois de tudo que tinha passado entre eles. Procurou um novo tema de conversação.
— Por que te fez detetive de Bow Street? Não posso acreditar que escolhesse semelhante profissão de bom grado.
Uma risada rangeu em sua garganta.
— Ah, eu estava bastante disposto, considerando a alternativa. Fiz um trato com meu cunhado, Sr Ross, faz três anos. No tempo que era o magistrado principal de Bow Street, e ele tinha provas em sua posse que me teriam tido dançando no vento, se alguma vez se apresentasse um julgamento.
— Dançando no vento. - repetiu Lottie, perplexa pela expressão desconhecida.
— Pendurando. Pendurando ao final de uma corda. Acredite-me, eu deveria ter sido levado e esquartejado por algumas coisas que fiz em minha carreira na vadiagem. — Fazendo uma pausa para observar o efeito de suas palavras, Gentry riu ligeiramente por sua óbvia inquietação. — Em um esforço por evitar a incômoda posição da necessidade de executar ao irmão de sua esposa, - seguiu ele — Sr Ross se ofereceu a ocultar as provas indiscutíveis contra mim, se eu traía a meus sócios da vadiagem e me fazia detetive.
— Por quanto tempo?
— Indefinidamente. Naturalmente estive de acordo, porque não tinha nenhuma lealdade a meus antigos companheiros, e não imaginava tendo meu pescoço estirado.
Lottie franziu o cenho.
— Por que queria sir Ross que te fizesse detetive?
— Acredito que ele tinha a impressão equivocada de que uns anos de serviço público me reformariam. — Gentry sorriu abertamente repentinamente. — Ainda não o obtiveram.
— Não é bastante arriscado para ti caçar criminosos em semelhantes lugares, depois de que os traíste?
— Há mais de um que gostaria de minha cabeça sobre uma bandeja de prata. - admitiu com confiança imprudente. — De fato, não deveria ter que me aguentar por muito tempo. Todos os que me conhecem testemunhão o fato de que vou morrer jovem.
— Provavelmente não serei tão afortunada. - disse sardonicamente. — Mas pode esperar.
Imediatamente depois de que Lottie disse as palavras, foi alagada pela vergonha. Não era próprio dela inclinar-se a tal maldade.
— Sinto muito. - disse imediatamente. — Não deveria ter dito isso.
— Está bem. - disse ele facilmente. - inspirei às pessoas a dizer coisas muito piores, com menos motivo.
— Posso acreditar nisso. - respondeu, e ele riu.
— Vou apagar a luz. - disse. — Tenho que descansar quando e onde posso. E amanhã promete ser muito ocupado.
O silêncio que seguiu era surpreendentemente cômodo. Lottie na esquina, esgotada e aturdida pela direção imprevista que tinha tomado sua vida. Tinha esperado que o sono fosse dificil, com todos os pensamentos que zumbiam por sua mente. Entretanto, um sono profundo logo a alcançou, e se afundou contra as almofadas do assento. Movendo-se agitadamente, procurou uma posição mais cômoda. Sentiu que era recolhida e abraçada como um menino, e o sono eram tão calmantes que não podia menos que render-se ao prazer insidioso. Algo suave roçou sua frente, e os poucos últimos alfinetes que sujeitavam seu penteado, cuidadosamente foram retirados de seu cabelo. Ela inalou um maravilhoso aroma, a frescura da lã e o sabão de barbear que cobria a essência da pele limpa masculina.
Dando-se conta de que estava nos braços de Gentry, se aconchegou-se em seu colo, revolveu-se insegura.
— Que...
— Dorme. - sussurrou. Não te farei mal. — Seus dedos largos se moviam pelas mechas soltas de seu cabelo.
A parte da mente de Lottie que protestava tal circunstância lutava com o resto de seu cérebro, que indicava que estava esgotada, e neste ponto logo que importava que liberdades lhe permitisse. Entretanto, atirou para liberar-se dele e se separou do atrativo calor de seu corpo. Ele a liberou facilmente, seus olhos com um brilho escuro nas sombras.
— Não sou seu inimigo, Lottie.
-É meu amigo? - ela trocou de tema. — Não te comportaste como tal até agora.
— Não te forcei a fazer algo que não queria fazer.
— Se não me tivesse encontrado, eu ainda viveria felizmente em Stony Cross Park.
— Não foi feliz ali. Arrumado que não foste feliz nem um dia em sua vida desde que conheceu lorde Radnor.
Ah, como gostaria de contradizê-lo! Mas era bobagem mentir, quando a verdade era óbvia.
— Encontrará a vida muitíssimo mais agradável como minha esposa. — Gentry continuou. — Não será a faxineira de ninguém. Poderá fazer o que te dê a vontade, dentro de uns limites razoáveis. E não terá que temer mais a Lorde Radnor.
— Tudo pelo preço de me deitar contigo. - resmungou ela.
Ele riu, todo arrogante quando respondeu.
— Pode chegar a desfrutar dessa parte sobre tudo o resto.
Capítulo 6
Quando Lottie emergiu de seu sono, a luz do dia escapava pelos buracos nas cortinas da janela. Com olhos turvos, despenteada, jogou uma olhada a seu futuro marido, cuja roupa estava enrugada, mas que estava incrivelmente acordado.
— Não preciso dormir muito. - disse como se lesse seus pensamentos. Alcançando sua mão, ele depositou as forquilhas em sua palma. Seus dedos se curvaram ao redor dos pedaços de ferro, que tinham conservado o calor de sua pele. Mecanicamente ela procedeu a trançar e enrolar seu cabelo com uma eficácia nascida de hábito de muitos anos.
Apartando a cortina, Gentry deu uma olhada à cidade aglomerada fora da janela da carruagem. Um vago raio de luz de sol agarrou seus olhos, convertendo-os em uma sombra de azul que parecia quase artificial.
Inclusive sentando em uma carruagem fechada, Lottie podia sentir sua familiaridade com a cidade, a intrepidez que fazia que nenhuma esquina ou bairro baixo fora muito perigoso para que ele se aventurasse neles.
Nenhum aristocrata que ela tivesse conhecido em Stony Cross Park havia possuído um olhar guia de ruas tão experimentado, e comportamento endurecido que sugeria que ele estaria disposto a fazer algo, não importa como de detestável, para obter seus objetivos. Os homens bem educados eram capazes de riscar a linha ante certos assuntos... Tinham princípios e valores... coisas que Gentry até agora não tinha mostrado.
Se ele fosse de verdade, Lottie pensou que era prudente que rechaçasse sua herança e "deixasse que Sydney descansasse em paz", como lhe tinha colocado. Ela estava segura de que se houvesse decidido de outra maneira, o teria encontrado difícil, inclusive impossível, fazer um lugar por sua conta na refeita alta sociedade de Londres.
— Lorde Westcliff me disse que foi o chefe de uma corporação de ladrões. - comentou. — Ele também disse que você...
— Lamento dizer que eu não era uma figura quase tão capitalista como todos pretendem que eu seja. -
interrompeu Gentry. — As histórias são mais exageradas cada vez que as contam. Uns poucos escritores de panfletos têm feito todo o possível por me fazer tão ameaçador como Atila o Huno. Não é que eu esteja alegando inocência, certamente. Controlava boas operações de mercadorias de contrabando. E embora admita que meus métodos fossem questionáveis, era melhor detetive que qualquer um dos agentes de Cannon.
— Não entendo como podia dirigir a ladrões e contrabandistas e ser detetive ao mesmo tempo.
— Plantei espiões e informantes por toda parte de Londres, e mais à frente. Tinha provas de todo o mundo desde Gim Alley até o Dead Man’s Lane. Sempre que alguém ficava no caminho do que eu queria, lhe delatava e recolhia a recompensa. Como detetive, encontro o negócio de caça recompensa um pouco mais difícil, porque o magistrado principal insiste em que faça as coisas a sua maneira. Mas ainda sou o melhor homem que tem.
— E não é tímido de dizê-lo. - disse Lottie secamente.
— Não tenho falsa modéstia. E resulta que é verdade.
— Não duvido disso. Conseguiu me encontrar quando os homens de Lorde Radnor falharam depois de dois anos de tentá-lo.
Ele a inspecionava com desconcertante intensidade.
— Quanto mais aprendia sobre ti, mais curioso me voltava. Queria ver que tipo de moça tinha a coragem de criar uma nova vida para ela, sem a ajuda de ninguém.
— Coragem. - repetiu com receio. — Estranho que o chamasse assim, quando eu sempre o considerava covardia.
Ele estava a ponto de responder quando a carruagem fez um giro brusco e percorreu uma rua bem pavimentada. Estava cheia de uma paisagem verde com árvores e passeios de jardins. As casas ajardinadas de tijolo suavemente ordenadas e veredas isoladas, que destacava uma atmosfera surpreendentemente bucólica em meio da cidade completa.
— Betterton. - disse Gentry, identificando a rua. — O escritório de Bow Street está localizado ao nosso sul, e Covent Garden.
— Este é o mercado à distância de um passeio? - perguntou Lottie, esperando a perspectiva de explorar seu novo entorno. Embora Maidstone estivesse estabelecido ao oeste de Londres, nunca tinham permitido aos estudantes ir a qualquer parte.
— Sim, mas não passeie por nenhuma parte sem mim.
— Estou habituada a sair a cada manhã. - disse ela, perguntando se o pequeno mas necessário prazer lhe seria negado.
— Então passeio contigo. Ou um lacaio te acompanhará. Mas não terei a minha esposa vagando fora desprotegida.
Minha esposa. A frase despreocupada pareceu golpear o fôlego dos pulmões de Lottie. De repente a idéia de casar-se com ele... aceitar sua autoridade, render-se a seus desejos... parecia completamente verdadeira, enquanto que isto só tinha sido uma noção abstrata antes.
Parecia que Gentry se surpreendeu também, já que ele manteve sua boca fechada e olhou para fora da janela com o cenho franzido. Lottie se perguntou se a perspectiva do matrimônio também acabava de fazer-se verdadeira para ele... Deus lhe ajudasse, se ele tinha outros pensamentos.
A carruagem parou diante de uma casa desenhada no cedo uso simétrico georgiano, com colunas brancas Dóricas e portas dobradiças de cristal que se abriam a um vestíbulo abobadado. A residência pequena, mas elegante ia até agora além das expectativas de Lottie que o olhava com assombro mudo.
Saindo primeiro da carruagem, Gentry lhe ajudou a descender, enquanto um lacaio se apressava a subir os degraus dianteiros para alertar aos criados da chegada do amo.
Fazendo caretas pelos incômodos músculos de suas pernas, Lottie contava com o apoio do braço de Gentry enquanto se aproximavam da porta. Um ama de chaves de meia idade os saudou. Era uma mulher rechonchuda com olhos quentes e o cabelo liso prateado.
— Sra. Trench. - disse Gentry com a travessura repentina dançando em seus olhos, - como pode ver, trouxe uma convidada comigo. Seu nome é senhorita Howard. Aconselharia-lhe tratá-la bem, porque acaba de me convencer que me case com ela.
Captando a implicação de que ela era quão única tinha exigido o matrimônio, Lottie lhe deu uma olhada eloquente, e ele sorriu abertamente.
A Sra. Trench não podia ocultar seu assombro. Claramente era difícil mudar a opinião de alguém sobre o conceito de que um homem como Nick Gentry se casasse.
— Sim, senhor. — Ela fez uma reverência a Lottie. — Bem-vinda senhorita Howard. Felicidades, e muita alegria para você.
— Obrigado. — Lottie se voltou com um sorriso, logo olhou cautelosamente a Gentry. Não tinha mencionado nada de como ele esperava que se comportassem diante dos criados. Por amor do céu, ela nem sequer sabia que tinha criados. Supunha que a casa saberia bastante logo que o seu era um matrimônio de conveniência, assim tinha pouco sentido fingir qualquer classe de afeto por ele.
— Prepare um quarto, e diga ao cozinheiro que prepare algo para a senhorita Howard. - disse à Sra.
Trench.
— Necessita de um prato também, senhor?
Gentry sacudiu sua cabeça.
— Tenho a intenção de partir logo para fazer algumas disposições.
— Sim, senhor. - a ama de chaves se apressou a seguir seus desejos.
Jogando uma olhada a Lottie, Gentry colocou um cabelo solto atrás de seu ouvido.
— Estarei fora só um momento. Estás a salvo aqui, e os criados farão exatamente como você lhes diga.
Pensava que ela poderia causar pena por sua ausência? Surpreendida por sua preocupação, Lottie assentiu.
— Certamente.
— Diga a Sra. Trench que te mostre a casa em minha ausência. - vacilou brevemente. — Naturalmente não terei nenhuma objeção se desejas mudar algo que não esteja a seu gosto.
— Estou segura que o encontrarei aceitável. — Seu ambiente tinha bom gosto e elegância, a entrada com um piso de mármore decorado em desenhos geométricos, a pequena escada além da entrada, e um jogo de portas com painéis de mogno abrindo-se para revelar um salão de teto baixo. As paredes estavam pintadas com um pálido tom de verde e penduravam uns singelos agrupamentos de quadros, enquanto que os móveis claramente tinham sido escolhidos para a comodidade em lugar da formalidade. Era uma casa formosa, elegante, muito superior a que ela tinha crescido.
— Quem decorou a casa? Você não, certamente.
Ele riu disto.
— Minha irmã Sophia. Disse-lhe que não era necessário, mas ela parecia ser da opinião de que careço de julgamento em tais assuntos.
— Não lhe provocou rumores por visitar sua casa?
— Sempre trazia Sr Ross com ela. — A curva de sua boca expressava o pouco que tinha desfrutado daquelas visitas. — Os dois também se comprometeram a escolher os empregados da casa para mim, sobre tudo porque não eram aficionadas as minhas mercenárias de botequim. Em particular não gostavam de Blueskin ou a masturbadora Bess.
— Masturbadora? O que significa isso?
Ele olhava tão divertido como perturbado por sua ignorância da palavra.
— Isso significa Merda. Foder. — Como ela seguia perplexa, ele sacudiu sua cabeça com arrependimento.
— Ter relações sexuais.
Sua confusão rapidamente se transformou em desaprovação.
— Para que em nome do céu as teria empregado nesta casa? Não, não me diga isso, estou segura que lamentaria saber. - ela franziu a testa ante sua diversão — Quantos criados têm?
— Oito, incluindo a Sra. Trench.
— Levou-me a acreditar que foi um homem de recursos limitados.
— Sou, comparado a Lorde Westcliff. Mas posso te manter com comodidade.
— Vivem outros detetives desta maneira?
Isto lhe fez rir.
— Alguns. Além dos trabalhos de Bow Street, a maior parte de nós aceitamos trabalhos privados. Seria impossível viver exclusivamente com o salário que o governo atribui.
— Trabalhos como o de Lorde Radnor? — Pensar nele fez que o estômago de Lottie se retorcesse pela ansiedade. Agora que estava em Londres, facilmente dentro do alcance de Radnor, parecia um coelho que tinham tirado de sua toca. — Já te pagou por me encontrar? O que fará com o dinheiro?
— O devolverei.
— Quanto a minha família? - sussurrou desculpando-se. - poderia fazer algo por eles? Lorde Radnor retirará sua proteção...
Gentry assentiu.
— Eu já tinha considerado isto. Certamente cuidarei deles.
Lottie apenas se atrevia a acreditar em seus ouvidos. Era pedir muito de qualquer homem que apoiasse a toda a família de sua esposa, e ainda Gentry parecia aceitar a carga sem ressentimento evidente.
— Obrigado. - disse, quase sem fôlego pelo alívio repentino. — É muito amável de sua parte.
— Posso ser muito amável, - respondeu ele brandamente, - dado o incentivo correto.
Lottie não se moveu quando ele tocou sua orelha e acariciou detrás dela. A toda pressa o calor se estendeu sobre seu rosto... como uma pequena e quase inofensiva carícia, e ele já tinha encontrado um lugar tão suscetível que ela ofegou pelo roçar da ponta de seu dedo. Inclinou sua cabeça para beijá-la, mas ela voltou o rosto. Poderia ter tudo o que queria dela, menos isso. Para ela, um beijo tinha um significado além do físico, e não queria lhe dar aquela parte dela.
Seus lábios tocaram sua bochecha em troca, e ela sentiu a curva quente de seu sorriso. Outra vez, ele mostrou uma capacidade misteriosa de ler seus pensamentos.
— O que posso fazer para ganhar teu beijo?
— Nada.
Sua boca se deslizou ligeiramente sobre a borda da maçã de seu rosto.
— Pensaremos nisso.
À maioria da gente, pensava que o escritório público de Bow Street, cheirando a suor, a cobre gentil, e a livros de cargos, não era um lugar atrativo. Mas durante os três anos passados, Nick tinha se familiarizado tanto com cada polegada do escritório, que este lhe parecia seu lar. A um visitante de fora seria difícil lhe forçar a acreditar que os pequenos e modestos edifícios - números 3 e 4 do Bow Street - eram o centro de investigação criminal na Inglaterra. Aqui era onde sir Grant Morgan mantinha o tribunal e dirigia à força de oito agentes sob seu comando.
Levando um sorriso relaxado, Nick devolveu as saudações dos empregados e guardas enquanto percorria seu caminho pelo Numero 3 de Bow Street. Não tinha levado muito tempo à força de Bow Street apreciar suas excelentes qualidades, mais em particular sua boa vontade para ir aos bairros baixos e as casas de jogo clandestino de má sorte nas quais ninguém mais se atrevia a aventurar-se. Não lhe importava tomar os trabalhos mais perigosos, como não tinha nenhuma família própria em que pensar, e não era exigente em qualquer caso. De fato, por algum capricho de seu caráter que inclusive Nick não entendia, necessitava uma quantidade frequente de risco, como se o perigo fora uma droga aditiva a que não tinha nenhuma esperança de renunciar. Os dois meses passados de trabalho dócil de investigação o tinham enchido de uma energia selvagem que logo podia conter.
Alcançando o escritório de Morgan, Nick olhou com receio ao empregado do tribunal principal, Vickery, que lhe deu uma cabeçada alentadora.
— O senhor Grant ainda não se foi às sessões da manhã, Sr. Gentry. Estou seguro que ele desejará lhe ver.
Nick bateu na porta e ouviu a voz estrondosa de Morgan.
— Entre.
Tão sólido como era o maltratado escritório de mogno, parecia como uma peça de mobília de meninos comparado com o tamanho do homem que se sentava detrás dele. Sr Grant Morgan era um homem espetacularmente grande, ao menos cinco centímetros mais alto que a própria altura de um metro e oitenta de Nick. Embora Morgan rapidamente se aproximasse da idade de quarenta, nenhuma indício de prata tinha aparecido ainda em seu curto cabelo negro, e sua vitalidade distintiva não se debilitou dos dias em que ele mesmo tinha servido como detetive de Bow Street. Também porque tinha sido o detetive mais dotado em seus dias, Morgan era facilmente o mais popular, porque uma vez tinha sido o sujeito de uma série de novelas do meio, de grande êxito de vendas. Antes de Morgan, o governo e o público tinham considerado a toda a força de Bow Street com a suspeita inata britânica para qualquer forma de aplicação da lei organizada.
Nick tinha sido relevado pela decisão de Sr Ross de designar a Morgan como seu sucessor. Um homem inteligente e educado, se por acaso mesmo, Morgan tinha aberto passo através das filas, começando na patrulha de pé e abrindo-se caminho até a eminente posição de magistrado principal. Nick respeitava isto.
Também gostava da honestidade franca característica de Morgan e o fato de que ele poucas vezes se incomodava com a terrível divisão ética quando um trabalho tinha que ser feito.
Morgan dirigia aos agentes com mão de ferro, e eles o respeitavam por sua dureza. Sua única vulnerabilidade evidente era sua esposa, uma mulher pequena, mas encantadora cuja mera presença poderia fazer que seu marido começasse a ronronar como um gato. A gente sempre podia dizer quando a senhora de Morgan tinha visitado os escritórios de Bow Street, deixando um rastro fascinante de perfume no ar e uma expressão felizmente perplexa sobre o rosto de seu marido. Nick estava se divertindo pela debilidade óbvia do senhor Grant no que se referia a sua esposa, e ele estava decidido a evitar tal armadilha. Nenhuma mulher jamais ia mandar em seu nariz. Deixa que Morgan e senhor Ross façam de tolos por suas mulheres - ele era muito mais inteligente que eles.
— Bem-vindo de novo - disse o magistrado, apoiando-se para trás em sua cadeira para olhá-lo com agudos olhos verdes. — Toma assento. Assumo que sua volta significa que concluíste seu assunto com Lorde Radnor?
Nick tomou a cadeira através do escritório.
— Sim. Encontrei à senhorita Howard em Hampshire, trabalhando como dama de companhia da condessa viúva de Westcliff.
— Sou conhecido de Lorde Westcliff. - comentou Morgan. — Um homem de honra e bom em julgamento, e possivelmente o único par na Inglaterra que não compara a modernidade com a aspereza.
Para Morgan, os comentários eram semelhantes ao louvor muito efusivo. Nick fez um grunhido evasivo, tendo pouco desejo de falar das muitas virtudes de Westcliff.
— Depois de amanhã, estarei preparado para novos trabalhos. - disse. — Somente tenho um último assunto que esclarecer.
Embora Nick tivesse esperado que Morgan estivesse contente pela informação depois de tudo, ele tinha estado ausente durante dois meses, o magistrado recebeu suas palavras em uma maneira surpreendentemente distante.
— Já verei se posso encontrar algo para que faça. Enquanto isso...
— O que? — Nick o olhou com aberta suspeita. O magistrado nunca tinha mostrado tal acanhamento antes. Ali sempre havia algo que fazer... a menos que a vadiagem inteira de Londres tivesse decidido agarrar permissão ao mesmo tempo a Nick.
Olhando-o enquanto pensava que ele queria falar de algum assunto volátil, mas sem ter permissão de fazê-
lo assim, Morgan franziu a testa.
— Tem que visitar Sr Ross. - disse bruscamente. — Há algo que quer te comunicar.
Nick não gostou do tom dito absolutamente. Seu olhar suspeito se encontrou com o de Morgan.
— Que diabos quer?
Como uma das poucas pessoas que sabiam do segredo do passado de Nick, Morgan era bem consciente do acordo que Nick fizera três anos antes e as dificuldades entre ele e seu cunhado.
— Terá que inteirar-se disto por Sr Ross. - respondeu Morgan. — E até que o faça, não receberá nenhum trabalho de mim.
— O que tenho feito agora?
Perguntou Nick, suspeitando que uma espécie de castigo estivesse lhe sendo infligido. Rapidamente meditou sobre suas ações dos poucos meses passados. Houve habituais infrações menores, mas nada fora do normal. Encontrava que sir Ross, apesar de seu suposto retiro, ainda tinha a capacidade de manipulá-lo. E
Morgan, maldito com seus olhos, nunca iria contra os desejos de Sr Ross.
A diversão piscava nos olhos de Morgan.
— A meu conhecimento, não tem feito nada mau, Gentry. Suspeito que Sr Ross deseja falar de suas ações no incêndio da casa de Barthas.
Nick franziu o cenho. Dois meses antes, justo antes de tomar o trabalho de Lorde Radnor, tinha recebido uma chamada de serviço de correr o bairro de moda perto de Covent Garden. Um fogo tinha começado em uma casa privada que pertencia a Nathaniel Barthas, um rico comerciante de vinho. Sendo o primeiro guarda a chegar à cena, Nick tinha sido informado pelos espectadores que ninguém da família tinha sido visto sair do edifício em chamas.
Sem parar de pensar, Nick tinha entrado dentro do inferno. Tinha encontrado Barthas e sua esposa no segundo piso, vencidos pela fumaça, e seus três filhos que gritavam em outra sala. Depois de arrumar-lhe para despertar o casal, Nick os tinha acompanhado à porta da casa enquanto levava as três fantasias de diabo gritando sob seus braços e sobre suas costas. No que pareceu uma questão de segundos depois, a casa tinha explodido em chamas, e o terraço se derrubou.
Para desgosto de Nick, o Teme tinha publicado um extravagante relato do incidente, distinguindo-o por ser uma figura magnífica, heróica. Não tinha havido final amistoso pela perseguição verbal dos outros detetives, que tinham adotado expressões de adoração fingida e tinham exclamado com adoração sempre que ele tinha entrado no escritório público. Para evitar a situação, Nick tinha solicitado uma permissão temporária de Bow Street, e Morgan o tinha dado sem vacilação. Felizmente, o público possuía uma memória curta.
Durante as oito semanas passadas da ausência de Nick, a história tinha desaparecido, e as coisas finalmente tinham voltado para a normalidade.
— O maldito fogo é irrelevante agora. - disse com brutalidade.
— Sir Ross não é dessa opinião.
Nick sacudiu sua cabeça irritado.
— Deveria ter tido o sentido comum de me manter fora do lugar.
— Mas não o fez. - voltou Morgan. — Entrou dentro, com grande perigo para ti mesmo. E devido a seus esforços, cinco vidas foram salvas. Diga-me, Gentry, teria reagido do mesmo modo a três anos?
Nick manteve seu rosto tranquilo, embora a pergunta o assustasse. Sabia a resposta de uma vez... não. Ele não teria visto o valor de tomar semelhante risco, quando não teria havido nenhuma vantagem material na salvação das vidas de pessoas correntes que eram inúteis para ele. Teria lhes deixado morrer, e embora isto pudesse havê-lo incomodado temporariamente, teria encontrado a maneira de tirá-lo de sua mente. Tinha mudado de algum modo inexplicável. Dar-se conta o fazia sentir-se incomodo.
— Quem sabe. - resmungou com um encolhimento despreocupado. — E por que deveria isto importar a Sr Ross? Se estiver sendo convocado de modo que ele possa me dar um tapinha na cabeça por um trabalho bem feito — É mais que isso.
Nick franziu a testa.
— Se não me explicar ou me dar algum trabalho, não vou gastar meu tempo sentando aqui.
— Não te reterei então. - disse o magistrado serenamente. — Bom dia, Gentry.
Nick se dirigiu à porta, fez uma pausa enquanto recordava algo, e voltou para Morgan.
— Antes que vá, preciso pedir um favor. Use sua influência com o secretário para conseguir uma licença civil para amanhã?
— Uma licença de matrimônio? — O único sinal da perplexidade Dr. Morgan era o estreitamento sutil de seus olhos. — Fazendo diligências para Lorde Radnor, verdade? Por que deseja casar-se com a moça com tanta pressa? E por que casar-se no escritório do secretário, em lugar de ter uma cerimônia na igreja? Além disso...
— A licença não é para o Radnor. - interrompeu Nick. As palavras de repente se pegaram em sua garganta como um punhado de espinhos. — É para mim.
Um silêncio interminável seguiu enquanto o magistrado entendia as coisas por si mesmo. Finalmente repondo-se de um ataque de assombro que fez cair sua mandíbula, Morgan conteve sua intenção de olhar o rosto avermelhado de Nick.
— Com quem se casa Gentry?
— A senhorita Howard. - resmungou Nick.
Uma incrédula risada escapou do magistrado principal.
— A noiva de Lorde Radnor? — Observava Nick com uma mescla de diversão e assombro. - meu Deus.
Ela deve ser uma jovem pouco comum.
Nick se encolheu de ombros.
— Não realmente. Acabo de decidir que ter uma esposa será conveniente.
— De alguma forma, sim, - disse Morgan secamente. — De outras formas, não. Poderia ter feito melhor entregando-lhe a Radnor e encontrar alguma outra mulher para ti. Fez um inimigo considerável, Gentry.
— Posso dirigir a Radnor.
Morgan riu com divertida resignação que incomodou a Nick profundamente.
— Bem, me permita oferecer minhas felicitações sinceras. Avisarei ao secretário-superintendente, e a licença esperará em seu escritório amanhã pela manhã. E insisto que vá falar com Sr Ross pouco tempo depois, porque seus projetos serão ainda mais relevantes à luz de seu matrimônio.
— Não posso esperar para ouvi-los. - disse Nick sarcasticamente, fazendo um sorriso zombador ao magistrado.
Perguntando-se com gravidade que classe de caça estava planejando seu manipulador cunhado, Nick tomou sua permissão de Bow Street. O ensolarado dia de abril rapidamente se nublou, o ar se voltou fresco e úmido. Manobrando agilmente pela massa de carruagens, carros, carretas, e animais que obstruíam as ruas, Nick se afastou a cavalo do rio, para o oeste. Bruscamente Knightsbridge rapidamente tomou o caminho a campo aberto, e enormes mansões de pedra sobre grandes extensões de terra substituiram as filas de casas com terraço construídas em cuidadas praças.
Quando os contornos agressivos da importante mansão Jacobina de Lorde Radnor surgiram diante dele, Nick esporeou seu cavalo a um passo mais urgente. Os sapatos castanhos de ferro rangiam regularmente sobre o comprido passeio de cascalho que conduzia a casa.
A última e única vez que Nick tinha vindo aqui foi para aceitar o trabalho de Radnor. Todos os negócios a partir de então se levaram pelos agentes do conde, que lhe tinham enviado os relatórios irregulares de Nick.
Quando sentiu o pequeno peso da minúscula caixa esmaltada no bolso de seu casaco, Nick lamentou brevemente o fato de que teria que devolver-lhe ao Radnor. Tinha levado-a cuidadosamente durante dois meses, e se tinha convertido em uma espécie de talismã. As linhas do rosto de Lottie, a sombra de seu cabelo, a doce curva de sua boca, gravou-se em seu cérebro muito antes que a tivesse encontrado. E ainda parecido com um rosto bonito mas bem estável, não captava nada do que a fazia tão desejável. O que havia nela que lhe comovia assim? Possivelmente era sua mescla de fragilidade e valentia... a intensidade que fervia a fogo lento sob seu tranquilo exterior... as eletrizantes insinuações de que possuía uma sensualidade que rivalizava com a sua própria.
Nick se incomodou ao reconhecer que seu desejo por Lottie não era menos agudo que o de Radnor.
Embora cada um deles a queria por motivos completamente diferentes.
“Nenhum custo é muito grande em minha busca para criar à mulher perfeita.” Havia-lhe dito Radnor, como se Lottie estivesse destinada a atuar de Galatea para seu Pigmalião. A idéia de Radnor a perfeição feminina era algo completamente diferente de Lottie. Por que tinha fixado ele seus cuidados a ela, em lugar de alguém que fora muito mais manejável? Teria sido imensamente mais fácil dominar a uma mulher que fora total por natureza... mas possivelmente Radnor fora irresistivelmente atraído pelo desafio que essa Lottie lhe apresentou.
Chegando à frente do caminho da entrada, Nick entregou as rédeas de seu cavalo a um criado e devagar percorreu o caminho subindo o lance de estreitos degraus de pedra. Um mordomo o saudou, perguntou por seus assuntos ali, e pareceu comovido pela resposta de Nick.
— Diga a Lorde Radnor que tenho notícias sobre Charlotte Howard.
— Sim, senhor. - o mordomo partiu com pressa e voltou em um minuto. Estava ligeiramente sem fôlego, como se houvesse voltado correndo a sala de espera. — Lorde Radnor lhe verá imediatamente, Sr. Gentry.
Siga-me, por favor.
Enquanto o mordomo o conduzia através da entrada e por uma sala estreita, a mansão parecia tragar a Nick em seu interior carmesim escuro. Era cansativo e estava mal iluminada, embora luxuosamente desenhada. Nick recordou que Radnor era sensível à luz. Em sua primeira reunião, ele tinha mencionado que a iluminação forte fazia mal aos olhos. Agora, como então, as janelas estavam cobertas de pesado veludo que obscurecia cada raio de luz do dia, e os grossos tapetes amorteciam todo som enquanto um criado o conduzia mais profundo dentro do labirinto de pequenas salas separadas.
Levara Nick à biblioteca. O conde estava sentado em uma mesa de mogno, seu estreito e severamente plaino rosto iluminado pela chama apanhada em um abajur próximo.
— Gentry. — O olhar ávido de Radnor se fechou nele. Não convidou Nick a sentar-se, só lhe indicou com a mão que se aproximasse, enquanto o mordomo se retirava e fechava a porta com um estalo inefável. — Que notícias têm para mim? Localizou-a? Advirto-lhe que minha paciência está acabando.
Retirando uma letra bancária de seu bolso, Nick a colocou sobre a mesa, deixando-a ao lado do abajur.
— Devolvo-lhe seu dinheiro, milord. Infelizmente não serei capaz de lhe ajudar no que afete à senhorita Howard.
Os dedos do conde se curvaram, enviando sombras parecidas com uma garra através da brilhante mesa.
— Não a encontrou, então. Provou-se ser um idiota amador, justo como o resto. Como pode uma moça insolente ter evitado a cada homem que enviei para recuperá-la?
Nick riu despreocupadamente.
— Não disse que me tinha evitado milord. Em realidade, trouxe-a para Londres comigo.
Radnor saiu disparado de sua cadeira.
-Onde está?
— Já não lhe interessa mais. - de repente Nick estava divertindo-se. — O fato é que a senhorita Howard decidiu casar-se com outro homem. Parece que neste caso, a ausência não tem feito que o coração cresça em carinho.
— Quem? - era tudo o que Radnor parecia ser capaz de conseguir perguntar.
— Eu.
O ar ao redor deles parecia saturado de veneno. Nick poucas vezes vira tal fúria no rosto de outro homem.
Não tinha dúvida de que Radnor o teria assassinado se tivesse os meios ao seu dispor. Em troca, o conde olhou com a brilhante compreensão de que Lottie tinha sido permanentemente afastada de seu alcance.
— Não pode tê-la. — Radnor finalmente sussurrou seu rosto com cólera cruel.
A resposta de Nick foi suave.
— Você não pode me deter.
Os músculos do rosto do conde se contraíam em espasmos frenéticos.
— Quanto quer? Obviamente isto é um meio de obter dinheiro de mim... bem, pode o ter e condenar-se.
Diga-me seu preço.
— Não vim para lhe subornar. - assegurou-lhe Nick. — O fato é que a desejo. E ela parece preferir minha oferta à sua. - tomou a miniatura de Lottie de seu bolso e a enviou roçando através da mesa, até que girou para descansar ao lado do braço rígido do conde. — Parece que isto é tudo o que terá. Jamais Charlotte Howard, milord.
Era óbvio que Radnor encontrava a situação incompreensível, que era difícil para ele falar com um ataque de raiva que lhe agarrou a garganta.
— Ambos sofrerão por isso Nick sustentou seu olhar.
— Não, você sofrerá milord, se abordar Lottie de qualquer modo. Não haverá nenhuma comunicação com ela, e nenhuma represália contra sua família. Ela está sob meu amparo agora. - fez uma pausa, e sentiu necessidade de acrescentar, — Se entender algo de minha história, tomará minha advertência.
— Cachorrinho ignorante. Atreve-se a me advertir que dela me afaste? Eu a criei. Sem minha influência, Charlotte seria uma vaca no campo com meia dúzia de meninos em suas saias... ou abrindo as pernas para cada homem que deixasse cair uma moeda entre seus seios. Gastei uma fortuna para convertê-la em algo muito melhor do que jamais pensou ser -Por que não me envia a fatura?
— Converteria-lhe em mendigo. - assegurou-lhe Radnor com um desprezo cru.
— Envie-a de todos os modos. - convidou Nick cuidadosamente. — Estarei interessado em aprender o custo da criação de alguém.
Deixou Radnor sentado na escura habitação como um réptil na horrível necessidade de tomar sol.
Capítulo 7
Enquanto Lottie comia um prato de guisado de cordeiro salgado, desfrutava da atmosfera serena do pequeno salão, os pisos de madeira brilhante, fragrâncias com a cera de abelhas, o aparador carregado de boa porcelana branca.
A Sra. Trench apareceu na entrada, uma presença confortável com um físico robusto, sua expressão agradável temperada por um pouco de cautela. Lottie sentiu as perguntas na mente da mulher... A ama perguntava se realmente ia casar-se com Nick Gentry, se lhe estavam fazendo uma brincadeira, se o matrimônio tivesse sido realizado por amor, conveniência, ou necessidade... se Lottie eram um personagem para ser compadecido ou uma força com quem contar.
Seu jantar é satisfatório, senhorita Howard?
— Sim, obrigada. — Lottie lhe deu de presente um sorriso amistoso. — Quanto tempo trabalha para o Sr.
Gentry, Sra. Trench?
— Durante três anos. - chegou a rápida resposta. - depois de que começasse a trabalhar no Bow Street. O
próprio Sr Ross me entrevistou para o posto, porque desejava ajudar ao amo a estabelecer uma casa apropriada. O Sr. Gentry é um protegido do Sr Ross, poderia dizer.
— Por que teria Sr Ross tal interesse nele, pergunto-me? — Perguntou Lottie, tratando de distinguir se a dona-de-casa sabia do parentesco secreto entre eles.
A Sra. Trench sacudiu sua cabeça, parecendo sinceramente perplexa.
— Isso é um grande mistério, sobre tudo porque eles foram uma vez inimigos. Muitas pessoas criticaram Sr Ross por trazer o Sr. Gentry a Bow Street. Mas o julgamento de Sr Ross após, se demonstrou correto. O
Sr. Gentry é o único que chamam quando há maior perigo. Não teme a nada. Cabeça fria e pés rápidos, isto é o que sir Grant diz dele. A ninguém importa encontrar-se como objeto da perseguição do Sr. Gentry.
— Em efeito. - disse Lottie secamente, mas a nota sardônica de sua voz passou inadvertida à dona-de-casa.
— O Sr. Gentry é um homem valente e audaz, - continuou a Sra. Trench. - e ninguém discutiria isso agora, depois do fogo dos Barthas.
— Que fogo?
— Não se inteirou disso? Recentemente, o amo salvou a um comerciante de vinho e sua família inteira em um incêndio em sua casa. Eles haveriam falecido certamente, se o Sr. Gentry não tivesse entrado precipitadamente para encontrá-los. O Teme fez um relatório da história, e o amo era o homem mais famoso em Londres. Por que, até a rainha o elogiou e solicitou que ele protejesse ao príncipe consorte no jantar Literário anual de arrecadação de fundos.
— O Sr. Gentry não mencionou uma palavra sobre isso. - disse Lottie, encontrando um jeito de reconciliar a informação com o que já sabia dele.
Parecia que a Sra. Trench desejava dizer mais, mas guardou silêncio sobre o assunto.
— Se me desculpa senhorita Howard, assegurar-me-ei que o quarto de hóspedes foi corretamente arejado e que suas coisas foram guardadas em seus lugares.
— Sim, certamente.
Depois de acabar seu guisado, Lottie bebeu um copo de vinho aguado. Nick Gentry, arriscando sua vida por outro... era difícil de imaginar. Quanto mais fácil teria sido pensar em Gentry como um bandido. Por Deus! A gente poderia refletir sobre ele durante semanas e não chegar a uma conclusão definida, era um homem bom que atua como um mau, ou um homem mau que atua como um bom?
O vinho a pôs sonolenta. Com os olhos entre abertos, Lottie se inclinou para trás em sua cadeira quando um criado apareceu para tirar a mesa. Um sorriso sem humor roçou as comissuras de seus lábios enquanto ela refletia sobre a singularidade de casar-se com um homem para evitar casar-se com outro. A perspectiva de ser a Sra. de Nick Gentry era muito mais atrativa que continuar ocultando-se de Lorde Radnor e seus cúmplices.
Além disso, como Gentry tinha manifestado o acerto não precisaria de seus prazeres.
Quando pensava em suas mãos sobre seu corpo, um calor formigava através de seu rosto e profundamente em seu estômago. Não podia evitar recordar o roçar de sua boca sobre seu seio. A carícia sedosa de seu cabelo contra o interior de seus braços. O comprimento de seus dedos ásperos deslizando-se brandamente sobre...
— Senhorita Howard.
Ficando rígida, girou-se para a porta.
— Sim, Sra. Trench?
— O quarto de hóspedes está preparado. Se tiver terminado com sua comida, uma criada lhe ajudará a trocar sua roupa de viagem.
Lottie assentiu agradecendo.
— Eu gostaria de um banho, se possível. — Embora não desejasse preocupar às criadas com a tarefa de carregar acima e abaixo da escada com os vasos de água quente, estava poeirenta e dolorida da viagem, e tinha muitas vontades de banhar-se.
— Certamente. Desejará tomar uma ducha, senhorita? O Sr. Gentry instalou uma no quarto de banho acima, com canos de água quente e fria.
— Tem-na? — Lottie estava intrigada porque se inteirou de que muitas casas abastadas tinham duchas, mas em realidade nunca tinha visto uma. Inclusive em Stony Cross Park, com todos seus serviços, ainda não tinha sido instalado o cano de água quente. — Sim, gostaria muito de prová-la!
A ama riu ante seu entusiasmo.
— Harriet lhe assistirá.
Harriet era uma moça com óculos, jovem com uma touca branca que cobria seu cabelo negro. Eram curtos, mas amistoso enquanto lhe mostrava os quartos acima ao de Lottie. O banho que se ramificava no dormitório maior, que claramente pertencia ao amo da casa. Este continha uma cama com um exposto marco de madeira gentil e colunas que sujeitavam a armação de seda âmbar de cima. Embora a cama fosse grande, a base era mais baixa que de costume, sem necessidade de nenhum degrau para subir ao colchão. Roubando uma olhada ao abundante acerto de travesseiros, Lottie sentiu uma cãibra de nervosismo em seu estômago.
Sua atenção se desviou às paredes, que estavam cobertas de papel pintado à mão que destacava os pássaros chineses e flores. Um lavabo de porcelana em um pé de tripé estava colocado ao lado de um alto guarda-roupa de mogno, encabeçado com um espelho pequeno e quadrado. Era um quarto formoso e muito masculino Uma fragrância sutil vagava pelo ar, atraindo-a a investigar. Descobriu que a fonte do aroma era seu sabão de barbear, contido em uma caixa de mármore sobre o lavabo. Quando colocou a tampa sobre a caixa, um pouco de resíduo de sabão entou em contato com seus dedos, deixando-os aromáticos. Tinha inalado esse aroma antes, na quente e ligeiramente espinosa pele da mandíbula de Nick Gentry.
Bom Deus, em menos de uma semana, tinha sido arrancada de seu esconderijo e levada a Londres...
Estava de pé no dormitório de um estranho, já familiarizada com o aroma de seu corpo. De repente já não podia estar segura de quem era ela, ou a quem pertencia. Sua bússola interior tinha sido danificada de algum modo, e era incapaz de distinguir entre o que estava mau e o que estava bem.
A voz da criada se abriu caminho por refletir inquietação.
— Senhorita Howard, pus a água. Ajudo-a na ducha? O calor não dura muito tempo.
Obedecendo a incitação, Lottie se aventurou no ladrilhado banheiro azul e branco, notando a tina de porcelana com seus canos expostos, um cabide e uma cadeira, e a ducha muito bem embutida no espaço de um armário alto, mas estreito. Os estreitos limites do quarto explicavam por que o lavabo permanecia no dormitório.
Com a ajuda de Harriet, Lottie se despiu rapidamente e soltou seu cabelo. Coberta somente por um rubor, atravessou a elevada a soleira da ducha. Vendo a água fumegante que fluía com generosidade da protuberância perfurada justo no alto, ela vacilou. Uma corrente fria serpenteou ao redor dela, levantando arrepios sobre sua pele.
— Adiante, senhorita. - animou a criada, vendo sua indecisão.
Respirando, Lottie andou diretamente até a queda da água, enquanto a porta se fechava com cuidado detrás dela. Uma difusão alarmante de calor, um momento de cegueira da água, até que manobrou o bastante longe para que seu rosto não estivesse mais diretamente sob o pulverizador. Limpando os pingos em seus olhos com suas mãos, Lottie riu com repentino prazer.
— É como estar de pé sob a chuva. - exclamou.
O ruidoso salpicar da água sobre o azulejo fazia a resposta da criada inaudível. Permanecendo imóvel, Lottie absorveu a sensação estimulante, o calor agudo sobre suas costas, o vapor que saturava seus pulmões.
A porta se abriu uma fresta, e uma pastilha de sabão e uma esponja foi estendida. Ensaboou seus cabelos e corpo em círculos lentos, seu rosto levantado, olhos e boca bem fechados.
A água quente se deslizava por toda parte, sobre seus seios e estômago, abaixo de suas coxas, entre os dedos do pé. Essa era uma experiência surpreendentemente sensual, fazendo que seu sentido se enervasse e relaxasse ao mesmo tempo. Desejava estar ali de pé durante horas. Entretanto, muito logo a água começou a esfriar-se. Com um suspiro arrependido, Lottie se afastou um passo da corrente da ducha antes que se esfriasse completamente.
— Agora esta fria. - chamou Harriet, que torceu a válvula para fora da porta antes de lhe dar uma toalha que tinha sido aquecida sobre o tubos da água quente.
Tremendo pelo ar frio, Lottie secou seu rosto e cabelo, e se envolveu com a toalha.
— Se só pudesse ter durado um pouco mais. - disse melancolicamente, fazendo sorrir Harriet.
— Em três horas, haverá bastante água quente para outro, senhorita.
Lottie seguiu à criada ao próximo guarda roupas, onde seu vestido azul escuro de fresco linho tinha sido disposto para ela sobre um estreito divã.
— Quase valeria a pena casar-se com o Sr. Gentry somente por sua ducha. - disse.
A observação ganhou uma olhada cautelosamente inquisidora de Harriet.
— É certo então, senhorita? Vai casar se com o amo?
— Isso é o que parece.
Era óbvio que a criada estava devorada completamente pela curiosidade, mas de algum modo a arrumava para permanecer respeitosamente silenciosa. Lottie deixou cair sua toalha molhada e pegou sua calcinha e camisa com recatada pressa. Quando esteve decentemente coberta, sentou-se sobre o divã coberto por veludo e começou a atirar de suas grosas meias de algodão sobre suas panturrilhas. Não podia menos que perguntar-se quantas mulheres se banharam e se vestiram e tinham dormido aqui. A cama de Gentry deve estar tão ocupada como um bordel.
— Suponho que assististe a muitas convidadas femininas na casa do Sr. Gentry. - comentou, alcançando uma liga.
Harriet a surpreendeu dizendo.
— Não, senhorita Howard.
Lottie quase deixou cair à liga pela surpresa.
— O que?— Levantou suas sobrancelhas quando olhou à moça. — Certamente não sou a primeira mulher que trouxe aqui.
— É, pelo que sei senhorita.
— Mas não pode ser certo. — Ela fez uma pausa e acrescentou com deliberada franqueza. - estou segura que o Sr. Gentry entreteve a não menos de um harém em seu dormitório.
A garçonete sacudiu sua cabeça.
— Nunca vi a nenhuma dama visitar a casa... não dessa maneira. Ende logo, depois do fogo do Barthas, muitas admiradoras chamaram e enviaram cartas. — Um sorriso ardiloso tocou os lábios de Harriet. — Toda a rua estava cheia de carruagens, o pobre Sr. Gentry não podia cruzar sua própria porta da rua, porque uma multidão lhe esperava a cada manhã.
— Hmmph. — Lottie sujeitou a liga cuidadosamente sobre sua meia e estendeu a mão até a outra. — Mas ele alguma vez trouxe uma amante aqui?
— Ah, não, senhorita.
Gentry era claramente mais escrupuloso do que ela tinha esperado, ou ao menos, desejava manter sua casa completamente privada. Deve ser que satisfazia suas necessidades sexuais em um bordel, ou um pensamento desagradável, possivelmente seus apetites eram bastante baixos para que procurasse os serviços de prostitutas guias de ruas. Mas parecia mais entendido que isso. A maneira em que ele a tocava feita à medida da apreciação de um perito mais que de um simples bruto. Seu rosto ardeu, e tentou, enquanto se vestia, cobriu seu desconcerto por fazer mais perguntas à criada.
Lottie rapidamente descobriu que Harriet era muito mais loquaz sobre os assuntos de Gentry do que a Sra.
Trench tinha sido. Segundo ela, Gentry era algo misterioso inclusive para seus próprios criados, porque a gente nunca sabia o que esperar dele.
Comportava-se como um cavalheiro em privado, mas não retrocedia ante a violência de sua profissão.
Podia ser amargo ou amável, brutal ou aprazível, seus caprichos imensamente volúveis. Como outros detetives de Bow Street, Gentry mantinha estranhos horários e poderia ser convocado em qualquer momento para ajudar em algum desastre, ou investigar um assassinato, ou deter um perigoso fugitivo em particular.
Havia pouco planejamento ou rotina em seus dias, e não gostava de fazer projetos. E curiosamente, não dormia bem, e de vez em quando era atormentado por pesadelos.
— Pesadelos sobre o que? — Perguntou Lottie fascinada.
— Ele não contará, nem sequer a seu ropeiro, Dudley. Mas às vezes faz os ruídos mais temíveis em seus sonhos, e logo acorda, e não volta para a cama pelo resto da noite. Dudley diz que deve ser de coisas que o Sr.
Gentry recorda... - fazendo uma pausa, Harriet deu uma olhada para Lottie com cautela.
— Seus dias na vadiagem?— Perguntou Lottie com calma. — Sim, sou consciente do passado seletivo do Sr. Gentry.
— Ele não era um criminoso, senhorita. Não exatamente. Era um detetive. Mas possuía uma casa de jogo clandestino perto do Fleet Ditch, e foi preso uma ou duas vezes.
— Encarcerado quer dizer?
Harriet assentiu, acrescentando com uma nota presumida de sua voz.
— Escapou duas vezes, o Sr. Gentry o fez. Eles dizem que não há uma prisão que possa lhe reter. A segunda vez, com cadeias de trezentas libras de peso, justo no armário do Diabo no centro de Newgate. Uma vez se deslizou por umas janelas fechadas com portinhas tão fácil como quis.
Lottie não estava surpreendida pela informação, sabendo o que sabia da insólita agilidade de Gentry, a força física, e a natureza ardilosa. Possivelmente a imagem de seu logo futuro marido como um criminoso endurecido deveria havê-la alarmado, mas em troca estranhamente a tranquilizava. Estava mais convencida que nunca de que não seria intimidado ou facilmente burlado por Lorde Radnor. Era muito possivelmente o melhor amparo que poderia ter recrutado.
Bocejando, foi com Harriet ao quarto de hóspedes, uma habitação com paredes de um suave azul, uma cama rodeada de cortinas azul-cinzentas, e um armário grande com uma fila de pequenas e preciosas gavetas para luvas, meias, e outras pequenas coisas necessárias. Encontrou seu pente em uma das gavetas, e se aproximou da lareira enquanto a criada acendia o fogo.
— Obrigado, isso é encantador. - disse ela. — Será tudo por agora, Harriet.
— Sim, senhorita. A tranca está ali, se necessitar de algo.
Sentando-se, Lottie penteou seu formoso cabelo liso até que as loiras e largas mechas estiveram quentes pelo calor do fogo. Em algum lugar na casa, um relógio repicou quatro vezes. Jogou uma olhada ao céu cinza para fora da janela e as gotas de água que se dispersavam contra os painéis de vidro, tremeram. Tão só por um momento, apartaria suas preocupações sobre o futuro. Deixando de lado o pente, avançou lentamente até a cama, e descansou contra os travesseiros.
Dormiu rapidamente, nadando por uma neblina de imagens... passeando pelo bosque em Hampshire...
balançando seus pés em um lago fresco de águas em um caloroso dia, enquanto o aroma dos arbustos de flores brancas esquentadas pelo sol se elevava densamente às suas narinas. Fechou seus olhos e inclinou seu queixo para cima, saboreando os sufocantes raios, enquanto as asas de uma mariposa acariciavam ligeiramente sua bochecha. Encantada pelo delicado comichão manteve-se muito quieta. As carícias de seda se moveram sobre a ponta de seu nariz, a sensível periferia de seu lábio superior, as suaves comissuras de sua boca.
Procurando às cegas, elevou-se para as carícias do calor e foi recompensada por uma suave pressão que abriu seus lábios e tirou um gemido da parte superior de seus pulmões. Lorde Sydney estava de pé com ela na porta do beijo, seus braços a apanhavam contra as costelas. Sua boca procurava a sua tão brandamente, seu corpo firme contra o seu, e ela se retorcia em uma súplica muda para que ele a abraçasse mais forte.
Parecendo saber exatamente o que ela queria, ele empurrou seu joelho dentro de suas saias, diretamente contra o lugar que sentia inchado e ofegante. Ofegando, ela curvou seus dedos em seu cabelo brilhante, e ele sussurrou para que se relaxasse, que a cuidaria, satisfaria-a...
— OH. - piscando com força, despertou do sonho sensual quando se deu conta que não estava sozinha.
As cortinas da cama tinham sido abertas, e o corpo comprido de Nick Gentry estava enredado com o seu.
Uma mão grande estava cavada sob seus quadris, enquanto sua perna apertava mais intimamente entre as suas. Seu fôlego se agitava contra seu ouvido, enchendo a estrutura com o calor úmido, e logo seus lábios vagaram até os seus em um ardente caminho. Ele absorveu seu protesto enquanto a beijava, sua língua procurando sua boca, seu corpo elevando-se sobre o seu. Ela sentiu a dura longitude de sua ereção, empurrando brandamente contra a fenda entre suas coxas até que pôde senti-lo claramente através das capas de seu vestido... um empurrão contido... outro... outro... cada rítmica insinuação era tão boa que ela não podia reunir o valor para pará-lo. Ela estava cheia de uma agitação física que penetrava sua alma, e cada parte dela exigia que atirasse com força dele, mais perto, mais apertado.
Em troca Lottie lhe empurrou, liberando de um puxão sua boca com um soluço.
— Não.
Ele a liberou, e ela rodou sobre seu estômago, apoiando-se sobre seus punhos apertados. Enquanto seus pulmões se moviam em violentas inalações, era consciente de ele ir diretamente detrás dela, a longitude poderosa de seu corpo que se apertava contra ela do pescoço até os calcanhares.
— Aproveitou-te de mim enquanto dormia. - disse ofegando. — Isso não é justo.
A mão de Gentry se movia sobre seu quadril em um círculo lento.
— Poucas vezes jogo limpo. Pelo geral é mais fácil fazer armadilhas.
Uma risada repentina borbulhou na garganta de Lottie.
— É o homem mais desavergonhado que jamais me encontrei.
— Provavelmente. - concedeu ele, apartando seu cabelo e baixando sua boca sorridente pela parte de atrás de seu pescoço. Ela inalou bruscamente quando o sentiu acariciar com o nariz as delicadas mechas de cabelo de sua nuca. — Que suave é. — Respirou ele. — Como a seda. Como a pele de um gatinho.
O roce de seus lábios enviou uma onda através do centro superaquecido de seu corpo.
— Nick, eu...
— A Sra. Trench me disse que provou a ducha. — Sua mão se deslizou em seu quadril à fenda de sua cintura. — Você gostou?
— Foi muito refrescante. - conseguiu dizer Lottie.
— Vou olhar-te a próxima vez.
— Ah, não o fará!
Ele riu silenciosamente e ofereceu.
— Então deixarei que você me olhe.
Antes que ela pudesse parar-se, Lottie o imaginou de pé na ducha, a água fluindo e deslizando-se sobre sua pele, obscurecendo seu cabelo, o vapor cobrindo seus olhos safira. A imagem era imprecisa, porque nunca tinha visto um homem nu, só as imagens gravadas em um livro de anatomia que tinha encontrado na biblioteca de Lorde Westcliff. Ela tinha estudado minuciosamente os desenhos com fascinação, desejando que certos detalhes tivessem sido expressos mais totalmente.
Logo não teria que perguntar-se.
Ele pareceu ler seus pensamentos.
— Não é mau que você goste. - disse ele, acariciando seu estomago com a mão. - o que lhe beneficiará se nega a ti mesma o prazer? Estás pagando o preço por meu amparo e pode conseguir algum prazer disso.
— Mas é um estranho. - disse com arrependimento.
— Que marido não é um estranho para sua esposa? O noivado consiste em um baile em uma festa, um passeio com dama de companhia pelo parque, e uma conversação ou duas no jardim. Então se os pais estão de acordo sobre o matrimônio, a cerimônia se realiza, e a moça se encontra na cama com um homem que logo conhece. Não há muita diferença entre esse argumento e o nosso, há?
Lottie franziu a testa e virou para confrontá-lo, sabendo que havia um defeito em seu raciocínio, mas era incapaz de identificá-lo. Gentry se reclinou apoiado sobre um cotovelo, o amplo contorno de seus ombros obscurecia a maior parte da ligeira luz derramada pelo abajur de cabeceira. Seu corpo era tão grande e protetor, a segurança em si mesmo tão sólida, que parecia como se ela pudesse envolver-lhe ao redor de si mesma como uma manta e permanecer segura para sempre.
Habilmente, ele compreendeu seu calcanhar de Aquiles — essa necessidade terrível de refúgio— e não vacilou em aproveitar-se disso. Deslizou seu braço sobre sua cintura, sua mão descansava no meio de suas costas, seu polegar acariciando com o passar do arco rígido de sua coluna.
— Cuidarei de ti, Lottie. Manterei-te segura e te proporcionarei todas as comodidades que necessite. Tudo o que quero em troca é desfrutar de ti comigo. Não é tão terrível, verdade?
Ele tinha a habilidade de Lúcifer de fazer que o que queria soasse absolutamente razoável. Percebendo sua debilidade, inclinou-se até que o peso sólido de seu corpo esteve equilibrado em cima dela e sua coxa pressionou o colchão entre suas pernas.
— Me beije. - sussurrou ele. A doce e especial droga de seu fôlego e pele fez que seus pensamentos se dispersassem como folhas secas no vento.
Ela sacudiu sua cabeça, mesmo as partes mais sensíveis de seu corpo começando a palpitar com agudo desejo.
-Por que não? — Perguntou, as pontas de seus dedos atormentaram a borda de seu cabelo.
— Porque um beijo é algo que uma mulher dá a um amor... algo que você não é.
Ele arrastou ligeiramente o dorso de seus dedos sobre sua garganta, entre seus seios, para baixo sobre seu estômago.
— Beijou-me em Stony Cross Park.
Um rubor feroz a envolveu.
— Então, não sabia quem era.
Sua mão situada perigosamente baixa sobre seu estômago. Se não estivesse vestida, então seus dedos teriam estado descansando no alto do triângulo entre suas coxas.
— Sou o mesmo homem, Lottie. — Sua mão começou a apartar-se ainda mais abaixo, até que lhe agarrou pelo punho e o empurrou para afastá-lo.
Gentry riu entre dentes, e logo ficou sério enquanto se movia para trás para olhá-la.
— Hoje vi lorde Radnor.
Embora Lottie o tivesse esperado, ainda sentiu uma frieza e alarme.
— O que aconteceu? O que te disse?
— Devolvi seu dinheiro, informei-lhe de sua decisão de casar comigo, e lhe adverti que não incomodasse a ti ou a sua família no futuro.
— Ele estava zangado?
Ele sustentou seu polegar e índice um simples milímetro de separação.
— Estava assim perto de um derrame.
O pensamento de cólera de Radnor a encheu de satisfação, mas ao mesmo tempo, não podia reprimir um repentino tremor.
— Não se renderá. Causará-nos problemas, de cada maneira possível.
— Tratei com piores personagens que Radnor. - disse serenamente.
— Não o conhece tão bem como acredita.
Seus lábios se separaram se dispondo a discutir. Mas como viu o tremor de seu queixo, o brilho agressivo se apagou de seus olhos.
— Não tenha medo. - assustou-a colocando a palma de sua mão sobre seu peito, sobre o alcance suave entre sua garganta e seus seios. Ela respirou profundamente, seu seio elevando-se sob o peso calmante de sua mão. — A isso me referia quando te disse que cuidaria de ti e sua família, - disse. - dá a Radnor mais importância da que merece.
— Possivelmente não poderia entender o modo em que ele escureceu minha vida inteira. Ele...
— Realmente entendo. — Seus dedos vagaram até sua garganta, acariciando o sensível lugar onde ele podia sentir quando tragava. Uma mão tão capitalista, ele poderia esmagá-la tão facilmente, e ainda a tocava com incrível suavidade. — E sei que nunca tiveste ninguém para te defender dele. Mas de agora em diante eu o farei. Então deixa de te pôr pálida sempre que mencione seu nome. Jamais ninguém vai lhe dominar outra vez, menos ainda Radnor.
— Ninguém exceto você, quer dizer.
Ele se sorriu ante a acusação, brincando com uma mecha de seu cabelo.
— Não tenho nenhum desejo de te dominar.
Inclinando-se sobre ela, beijou o diminuto pulso e o acariciou com sua língua. Lottie se manteve muito quieta, os dedos de seus pés curvando-se dentro de suas meias. Desejava por seus braços ao redor dele, tocar seu cabelo, pressionar seus seios. O esforço para conter-se fez que seu corpo inteiro ficasse rígido.
— Depois de que nos casarmos amanhã, levar-te-ei a conhecer minha irmã Sophia. - disse contra seu pescoço. — Será isso agradável?
— Sim, eu gostaria. Estará sr Ross ali também?
Gentry levantou a cabeça.
— Provavelmente. — Ele soava claramente menos que emocionado pela perspectiva. — Recebi um aviso hoje de que meu cunhado está tramando algum plano, como sempre, e quer me ver.
— Não há absolutamente nenhuma simpatia entre vós?
— Deus, não. Sr Ross é um bastardo manipulador que me incomodou durante anos. Por que Sophia teve que casar-se com ele está ainda além de qualquer esperança de entendimento.
— Ama ela?
— Suponho. - disse a contra gosto.
-Têm filhos?
— Uma filha, até agora..
— E Sr Ross é fiel a sua irmã?
— Ah, ele é um santo. — Gentry a assegurou severamente. — Quando se conheceram, ele era um viúvo que tinha sido celibatário depois da morte de sua esposa. Muito honorável para deitar-se com uma mulher fora de matrimônio.
— Parece bastante cavalheiresco.
— Sim. Sem mencionar honesto e ético. Insiste em que todos ao se redor sigam as regras... suas regras. E
como seu cunhado, recebo uma quantidade ímpia de sua atenção.
Tendo uma idéia justa de quão bem Gentry recebia as tentativas de Sr Ross de lhe reformar, Lottie mordeu o lábio inferior para conter um sorriso repentino.
Vendo a contração de seus lábios, Gentry lhe dedicou uma olhada de advertência fingida.
— Isto te diverte verdade?
— Sim. - admitiu, e gritou com surpresa quando lhe deu uma cotovelada em um ponto sensível sob suas costelas. — Ah, não o faça! Tenho cócegas aí. Por favor.
Ele se moveu em cima dela com singela graça, suas coxas escarranchada sobre seus quadris, suas mãos agarrando seus punhos para as estirar sobre sua cabeça. A diversão de Lottie desapareceu imediatamente. Ela sentiu uma pontada de medo, assim como uma pressa confusa de entusiasmo, enquanto olhava o homem grande em cima dela. Estava estirada debaixo dele em uma posição primária de submissão, impotente para lhe impedir de fazer o que ele desejasse. Apesar de sua ansiedade, entretanto, não lhe pediu que a liberasse, só esperava tensamente com seu olhar imobilizado em seu rosto.
Seu apertão sobre seus punhos se afrouxou, e seus polegares baixaram com cuidado nas taças úmidas de suas Palmas.
— Volto para ti esta noite?- sussurrou.
Lottie teve que lamber seus lábios secos antes que pudesse responder.
— Me estás expondo a pergunta ou a ti? — Uma risada em seus olhos.
— A ti, certamente. Eu já sei o que quero.
— Então eu preferiria que te mantivesses longe.
— Por que prolongar o inevitável? Uma noite a mais não vai trocá-lo.
— Eu preferiria esperar até que estejamos casados.
— Por princípios? - seus polegares remontando-se devagar com o passar do interior de seus braços.
— Praticamente. - respondeu Lottie, incapaz de evitar um ofego enquanto ele acariciava as dobras delicadas dentro de seus cotovelos. Como era que ele podia provocar sensações de tais partes correntes de seu corpo?
— Se pensar que poderia mudar de idéia sobre me casar contigo depois de uma noite de fazer amor, equivoca-se. Meu apetite não se satisfaz tão facilmente. De fato, te possuir uma vez só vai fazer-me te desejar mais. É uma pena que seja virgem. Isso limita o número de coisas que posso fazer contigo... Por um tempo, ao menos.
Lottie franziu a testa.
— Sinto muito pela modéstia.
Gentry sorriu abertamente por sua irritação.
— Está bem. Faremos o melhor que possamos, à luz das circunstâncias. Possivelmente será menos que um estorvo espero. Nunca tive uma virgem antes, não saberei até que prove uma.
— Bem, terá que esperar até manhã de noite. — Disse firmemente, mexendo-se em baixo dele em um esforço por liberar-se.
Por alguma razão ficou gelado e conteve a respiração pelo movimento de seus quadris debaixo dele.
Lottie franziu a testa.
— O que aconteceu? Fiz-te mal?
Sacudindo sua cabeça, Gentry se separou dela. Passou lentamente uma mão por seu brilhante cabelo castanho enquanto se incorporava.
— Não. - resmungou, soando um pouco tenso. — Embora pudesse estar permanentemente debilitado se não conseguisse algum alívio logo.
— Alívio do que? — Perguntou, enquanto ele abandonava a cama e dirigia torpemente à frente de sua calça.
— Averigua-o. - jogou uma olhada sobre seu ombro, seus olhos azuis contendo de uma vez tanta ameaça como uma promessa deliciosa. — Te arrume e jantemos lá abaixo. Se não puder satisfazer um apetite, poderia atender o outro.
Capítulo 8
Como as bodas de Lorde Radnor tinham figurado destacadamente nos pesadelos de Lottie durante anos, indevidamente tinha chegado a pensar em tal cerimônia com suspeita e temor. Estava satisfeita, portanto, de maneira que o ritual no escritório do secretário-superintendente resultasse ser rápido e eficiente, consistindo em assinar seu nome, trocar votos obrigatórios, e pagar os honorários. Não houve beijos, largos olhares, nenhuma insinuação de emoção para colorir a séria atmosfera, e estava agradecida por isso. Entretanto, não se sentiu mais casada ao abandonar o escritório do secretário do que sentia ao entrar.
Acabava de converter-se na esposa de um homem que não a amava e era provavelmente incapaz de semelhante emoção. E casando-se com ele, acabava de suprimir toda possibilidade de encontrar alguma vez o amor para ela mesma.
Entretanto, haveria consolo nessa união, o maior ser sua fuga de Lorde Radnor. E a verdade seja dita, Nick Gentry era uma companhia fascinante. Não se incomodava em ocultar suas faltas como todos os outros faziam, em lugar disso alardeava sobre elas, como se houvesse algum mérito em ser um sem moral e um mercenário. Ele era um estranho para ela, vindo de um mundo sobre o qual ela só tinha ouvido em sussurros... Um mundo povoado de ladrões e trapos, gente despejada que tinha recorrido à violência e a prostituição. Os cavalheiros e damas se acreditavam fingir que vadiagem não existia. Mas Nick Gentry respondia às perguntas de Lottie com franqueza atordoante, explicando exatamente que ocorria nos bairros mais baixos de Londres, e as dificuldades que os detetives de Bow Street encontravam na tentativa de levar ante os tribunais aos criminosos.
— Alguns becos são tão estreitos, - disse-lhe enquanto sua carruagem viajava à casa de Sr Ross. - que um homem tem que ir de lado para meter-se entre os edifícios. Muitas vezes perdi um fugitivo simplesmente porque ele era mais magro que eu. E logo há massas de edifícios que estão unidos, pelos telhados, pátios, e porões, que um ladrão pode deslizar por eles como um coelho em um labirinto. Pelo geral acompanho aos novos guardas que não têm muita experiência, porque podem perder-se em menos de um minuto. E uma vez que um agente se perde, pode tropeçar diretamente em uma armadilha.
— Que tipo de armadilha?
— Ah, um grupo de ladrões ou malfeitores esperando para dedicar-se a golpear o crânio de um oficial, ou apunhalá-lo. Ou cobrirão um poço negro com uma passarela putrefata, que quando ele colocar um pé sobre ela afogará-se em uma tina de águas residuais. Essa classe de coisas.
Seus olhos se alargaram.
— Que terrível!
— Não é perigoso quando se aprende o que esperar. — Assegurou-a. - estive em cada esquina de cada colônia de morte de Londres, e conheço cada truque e armadilha que há.
— Quase parece desfrutar de seu trabalho... Mas possivelmente não poderia.
— Não desfruto disso. - vacilou antes de adicionar. - embora o necessite.
Lottie sacudiu sua cabeça em confusão.
— Refere-te ao esforço físico?
— Isso é parte disso. Saltar sobre paredes, subir por coberturas, o sentimento de apanhar a um fugitivo e lhe levar a chão...
— E a luta? - perguntou Lottie. — Desfruta dessa parte? — Embora esperasse que o negasse, ele assentiu brevemente.
— É aditivo. - disse. — O desafio e a emoção... Inclui o perigo.
Lottie entrelaçou os dedos em seu colo refletindo que alguém tinha que domesticá-lo o suficiente de modo que pudesse viver de uma maneira pacífica algum dia - ou sua predição de ser ter uma vida curta se cumpriria bem rapidamente.
A carruagem viajava ao longo de um passeio com pés de bananas, suas folhas lobuladas de um modo intrincado proporcionando uma coberta densa para plantar campainhas de inverno e caules verdes cobertos de puas em forma de chifres. Parou diante de uma casa grande, formosa em sua majestosa simplicidade, a entrada guardada por gradeados de ferro forjado e abajures em postes arqueados. Um par de empregados atentos, Daniel e George, ajudaram a Lottie a desembarcar da carruagem e foram alertar à casa de sua chegada. Notando que a letra C tinha sido trabalhada com um desenho de ferro trabalhado, Lottie fez uma pausa para riscá-la com seus dedos.
Gentry sorriu sardonicamente.
— Os Cannon não são membros com título de nobreza, mas não saberia ao olhá-los.
— Sr Ross é um tipo muito tradicional de cavalheiro?
— Com respeito a alguns, sim. Mas politicamente falando, é um progressista. Luta pelos direitos das mulheres e crianças, e apóia cada causa reformista que possa nomear. — Com um suspiro curto, Gentry a guiou para os degraus dianteiros. — Você gostará. Todas as mulheres gostam.
Enquanto subiam a escada de pedra, Gentry surpreendeu Lottie colocando seu braço detrás de suas costas.
— Toma minha mão. Esse degrau é irregular. — Ele a conduziu com cuidado sobre a superfície irregular, liberando-a unicamente quando esteve seguro que seu equilíbrio era perfeito.
Andaram por uma grande sala de entrada pintada em um tom amarelo pálido, com reluzentes ornamentos de bronze dourado que ia se elevado até ao teto. Meia dúzia de entradas que conectavam ao corredor com as seis salas principais, enquanto uma escada em forma de ferradura conduzia aos apartamentos privados de cima. Lottie logo que teve tempo de apreciar o desenho cheio de graça do interior da casa antes que uma mulher encantadora se aproximasse deles.
O cabelo loiro da mulher era muito mais escuro que o seu próprio, da cor do mel antigo. Tinha que ser Lady Cannon, cujo rosto era uma cópia delicada e profundamente formando os traços de Gentry. Seu nariz era menos valente, seu queixo definido, mas não exatamente tão decidida como a de seu irmão, sua pele branca em vez de bronzeada. Os olhos, entretanto, eram do mesmo e inconfundível azul; vivo escuro e insondável. A senhora Cannon era tão jovem de aspecto que nunca teria adivinhado que era quatro anos mais velha que seu irmão.
— Nick. - exclamou com um exuberante sorriso, avançando e ficando nas pontas dos pés para receber seu beijo.
Ele a encerrou em um breve abraço descansou seu queixo sobre o auto de sua cabeça, logo retrocedeu para olhá-la apreciativamente. Nesse único instante, Lottie viu a extraordinária profundidade dos sentimentos entre os dois, que de algum modo tinham sobrevivido aos anos de separação, perda, e engano.
— Estas esperando outro. - disse Gentry depois de um momento, e sua irmã riu.
— Como sabe? Sr Grant te disse.
— Não. Mas sua cintura está mais grosa, ou as cordas de seu espartilho se afrouxaram.
Separando-se, lady Cannon riu e se esmagou contra seu peito.
— Miserável indiscreto. Sim, minha cintura está mais grosa, e seguirá aumentando até janeiro, momento no qual terá uma nova sobrinha ou sobrinho para balançar sobre seu joelho.
— Que Deus me ajude. - disse com sentimento.
Lady Cannon girou para Lottie, suavizando seu rosto.
— Bem-vinda Charlotte. Nick me mandou um recado sobre ti ontem, estive terrivelmente impaciente por te conhecer.
Ela cheirava a chá e rosas, uma fragrância que era tão calmante como atraente. Deslizando um braço magro ao redor dos ombros de Lottie, deu a volta para dirigir-se a Gentry.
— Que irmã tão encantadora me trouxe. - comentou. — Preocupa-se por tratá-la bem, Nick, ou a convidarei a viver aqui comigo. Ela parece muito bem educada para andar com uma companhia como você.
— Até agora, não tenho nenhuma queixa sobre o trato do Sr. Gentry para comigo. Respondeu Lottie com um sorriso. — Certamente, só estamos casados a uma hora.
Lady Cannon olhou com o rosto franzido a seu irmão.
— Com tantos lugares, te casaste com esta pobre moça no escritório do secretário! Desejo pelo céu que tivesse esperado e me tivesse permitido arrumar algo aqui. Por que, nem sequer lhe deste um anel!
Francamente, Nick...
— Não queria esperar. - interrompeu ele com brutalidade.
Antes que Lady Cannon pudesse responder, uma menina pequena caminhava sem segurança pela sala, seguida de uma babá com avental. A menina de cabelos morenos, com olhos azuis e covinhas nas bochechas, não podia ter muito mais de dois anos.
— Tio Nick! - falou, lançando-se sobre ele precipitadamente, seus cachos voando em uma massa selvagem, enredada.
Gentry a agarrou e a balançou no ar, sorrindo abertamente por seus gritos de prazer. Enquanto a abraçava com força, o afeto pela menina era mais que óbvio, desdizendo sua primeira descrição dela como “uma menininha suportável".
Envolvendo seus gordinhos braços ao redor de seu pescoço, a menina grunhia divertidamente, beijando-o e afagando seu cabelo.
— Deus, que selvagem. - disse Gentry, rindo. Dando-lhe voltas por acima e por abaixo, fazendo que a menina chiasse entusiasmada.
— Nick, - repreendeu-lhe sua irmã, embora ela ria também. — Não o faça, vai deixá-lá cair de cabeça.
— Não o farei. - disse preguiçosamente, endireitando à menina e sustentando-a contra seu peito.
— Caramelo. - pediu a menina, inundando-se dentro de seu casaco tão afanosamente como um furão.
Encontrando o que tinha estado procurando, extraiu um pequeno pacote de papel e gritou com entusiasmo enquanto seu tio abria para ela.
— O que está dando esta vez a ela? — Perguntou Lady Cannon com resignação.
— Caramelo de cinza. - disse alegremente, enquanto sua sobrinha metia um pedaço grande açucarado em sua bochecha. Seus olhos seguiam brilhando quando jogou uma olhada a Lottie. — Quer?
Ela sacudiu sua cabeça, enquanto seu coração dava um estranho batimento no peito. Justo agora, quando ele a tinha cuidado assim, seu rosto doce, sua risada rápida e fácil, tinha estado tão devastadoramente bonito que Lottie havia sentido uma espetada de prazer na nuca até os dedos do pé.
— Amélia. - murmurou Gentry, levando-a para Lottie. - diga olá a sua tia Charlotte. Casei-me com ela esta manhã.
De repente tímida, a menina apoiou sua cabeça sobre o ombro de Gentry e sorriu a Lottie. Lottie lhe devolveu o sorriso, sem saber o que dizer. Tinha pouca experiência com crianças, porque tinha vivido afastada do lar durante tantos anos.
Lady Cannon foi recuperar sua filha com o rosto todo melado, alisando seus cachos emaranhados.
— Carinho, - murmurou. — Não vais deixar que a babá te escove o cabelo?
O pequeno queixo redondo se sobressaiu obstinadamente.
— Não. - disse ao redor do bocado de caramelo de cinza, acentuando seu rechaço com um sorriso babado.
— Se não deixar que te penteie, se farão tão impossíveis que teremos que cortá-los.
Gentry acrescentou em um tom lisonjeador.
— Deixa que a babá te escove o cabelo, carinho. E a próxima vez que venha de visita, trarei-te uma bonita cinta azul.
— E uma boneca? — Perguntou Amelia esperançada.
— Uma boneca tão grande como você. - prometeu.
Retorcendo-se dos braços de sua mãe, a menina se cambaleou para a babá que esperava.
— É uma menina preciosa. - comentou Lottie.
Lady Cannon sacudiu sua cabeça com um sorriso pesaroso, seus olhos cheios de orgulho maternal.
— E consentida além de toda razão. — Retornando a Lottie, tomou sua mão. — Deve me chamar Sophia.
- disse calorosamente. — Não percamos o tempo com termos formais de tratamento.
— Sim, Sim, Sophia.
— Meu marido se unirá a nós dentro em pouco no salão — Ah, esplêndido. - chegou à voz áspera de Gentry até elas.
Sophia seguiu como se não o tivesse ouvido.
— E eu enviarei a vocês alguns refrescos. Acabo de adquirir um serviço de chocolate delicioso. - você gosta de chocolate, Charlotte?
Lottie acompanhou sua cunhada recém descoberta a uma suntuosa sala, um lado da qual estava revestida com painéis de vidros que proporcionavam uma vista de uma exuberante estufa com planta no interior.
— Nunca tomei antes. - respondeu. A bebida nunca tinha sido servida em Maidstone, inclusive se o tivesse sido, Lorde Radnor nunca lhe teria permitido tomá-la. E certamente os criados de Stony Cross Park poucas vezes desfrutavam de tais luxos. A manteiga e os ovos poucas vezes eram distribuídos aos criados, muito menos uma bebida tão cara como o chocolate.
— Alguma vez? Bem, então, provará um pouco hoje. — O sorriso de Sophia tinha uma qualidade travessa quando acrescentou, — Resulto ser uma grande autoridade na matéria.
A sala estava decorada em quentes tons Borgonha, ouro, e verde, pesados móveis de mogno estofados em brocado e veludo. Pequenas mesas com superfícies de couro estavam dispersas por toda parte da sala, suportando as tentadoras cargas de panfletos, novelas, e jornais. Na direção de Sophia, Lottie se sentou sobre um sofá, contra uma fila de travesseiros bordados com motivos de animais e flores. Nick se sentou a seu lado depois de que Sophia tomou uma cadeira próxima.
Uma criada se aproximou de Sophia, recebeu umas instruções sussurradas, e abandonou discretamente a sala.
— Meu marido estará aqui em um momento. - informou-lhes serenamente Sophia. — Agora, Charlotte, me conte como se conheceram. Você e Nick. Sua nota era bastante breve, e estou impaciente pelos detalhes.
Lottie abriu e fechou a boca como um peixe em terra, incapaz de formar uma resposta. Não queria mentir a Sophia, mas a verdade, que seu matrimônio era um acerto frio, prático, era muito embaraçoso de admitir.
Gentry respondeu por ela, sua mão grande cobrindo a sua.
— Conhecemo-nos em Hampshire durante uma investigação, - disse a sua irmã, jogando com os dedos de Lottie enquanto falava. — Lottie estava prometida a Lorde Radnor, e se ocultava para evitá-lo. Ele me contratou para encontrá-la, e quando o fiz... — Ele se encolheu de ombros e deixou a Sophia tirar sua própria conclusão.
— Mas Lorde Radnor é ao menos três décadas mais velho que Charlotte. - disse Sophia, enrugando seu nariz. Ela jogou uma olhada a Lottie com gesto de compaixão. — E havendo o encontrado em uma ou duas ocasiões, encontro que é bastante estranho. Nenhuma maravilha que te conviesse. - jogou uma olhada a Gentry. — Foi imediatamente cativado por Charlotte, quando a conheceu?
— Quem não o estaria? - esquivou Gentry com um sorriso suave. Ele riscou um círculo lento sobre a palma de Lottie, acariciou o interior de seus dedos, acariciou com seu polegar sobre as veias delicadas de seu pulso. A sutil exploração a fez sentir quente e sem fôlego, seu ser inteiro enfocou a atenção na ponta do dedo que se movia como uma pluma ao longo da carne sensível da parte superior de sua palma. O mais desconcertante de tudo foi dar-se conta de que Gentry nem sequer sabia o que fazia. Ele brincava prazerosamente com sua mão e falava com Sophia, enquanto o serviço de chocolate era levado à sala e posto sobre a mesa.
— Não é encantador? — Perguntou Sophia, indicando o serviço de porcelana com flores com um gesto.
Ela levantou o bule alto e estreito e verteu um líquido escuro e fragrante em uma das pequenas taças, enchendo o terço inferior. — A maioria da gente emprega pó de cacau, mas os melhores resultados se obtêm mesclando leite com licor de chocolate. — Expertamente revolveu uma colherada generosa de açúcar no fumegante líquido. — Não licor como no vinho ou no álcool. O licor de chocolate se espreme do grão antes que sejam torrados e lhes tirem as cascas.
— Cheira delicioso. - comentou Lottie, sustentou a respiração quando a ponta do dedo de Gentry investigou a suavidade na base de seu polegar.
Sophia voltou sua atenção à preparação das outras taças.
— Sim, e o sabor é divino. Prefiro mais o chocolate ao café pela manhã. Sim, de alguma classe. -
respondeu Sophia, vertendo uma quantidade generosa de leite no licor de chocolate açucarado. Ela revolveu as taças com uma diminuta colher de prata. — Embora não exatamente tão estimulante como o café, o chocolate levanta o animo a seu próprio modo. — Lhe fez um piscar de olhos a Lottie. — Alguns inclusive proclamam que o chocolate acordada os instintos amorosos.
— Que interessante. - disse Lottie, fazendo todo o possível por ignorar a Gentry enquanto aceitava sua taça. Inalando os ricos vapores apreciativamente, tomou um gole do líquido brilhante. A forte doçura se deslizou ao longo de sua língua e fez cócegas a parte de atrás de sua garganta. Sophia riu agradada pela expressão de Lottie.
— Você gosta, já o vejo. Bom, agora encontrei um incentivo para fazer que me visite frequentemente.
Lottie assentiu enquanto seguia bebendo.
Quando alcançou o fundo da taça, sua cabeça nadava, e seus nervos zumbiam pela mescla de calor e açúcar Gentry deixou sua taça de lado depois de um gole ou dois. — Muito pesado para meu gosto, Sophia, embora elogio sua habilidade em prepará-lo. Além disso, meus instintos amorosos não necessitam nenhum estímulo. — Ele sorriu porque a declaração motivou que Lottie se engasgasse com as últimas gotas de chocolate.
— Quer um pouco mais, Charlotte? — Ofereceu Sophia.
— Ah, sim, por favor.
Antes que Sophia vertesse mais do líquido mágico, entretanto, um homem alto, de cabelo negro entrou na habitação. Ele falou com uma voz extraordinária, profunda e ligeiramente áspera, seu acento requintadamente cultivado.
— Me perdoe por levar tanto tempo a me unir a vós. Era necessário concluir alguns negócios com meu agente da fazenda.
De algum modo Lottie tinha esperado que Sr Ross fosse ordenado e sério e pomposamente de meia idade.
Estava, depois de tudo, ao começo dos quarenta anos. Entretanto, Sr Ross parecia estar mais em forma e ser mais viril que a maior parte dos homens com a metade de sua idade. Era bonito de uma maneira distante, sua autoridade natural uma força tão potente que Lottie instintivamente se afundou para trás nas almofadas. Era alto e magro, possuindo uma combinação de confiança em si mesmo e vitalidade que fazia que a juventude inexperiente parecesse completamente feita de graça. Sua elegância inata teria sido evidente, inclusive se tivesse estado vestido com rústicas roupas de camponês. Como fora, levava um casaco negro decididamente confeccionado e fazendo jogo com a calça, com uma gravata de seda cinza escuro atada habilmente ao redor de seu pescoço. Seu olhar percorreu a cena, tocando brevemente sobre Lottie, ficando um pouco mais sobre o Gentry, logo decidindo-se por sua esposa. Que estranhos olhos tinha... um cinza tão penetrante e brilhante que a fez pensar em um relâmpago apanhado em uma garrafa.
Incrivelmente, Sophia falou com a extraordinária criatura como se fora um homem qualquer, seu tom decididamente com enfeite.
— Agora que estas aqui suponho que teremos que falar um pouco de coisas que aborrecem, como a política ou a reforma judicial.
Sir Ross riu enquanto se dobrava para beijar sua bochecha. Isso teria sido o gesto normal de um marido, exceto, o modo em que terminou o beijo com uma suave, quase imperceptível carícia com o nariz. Os olhos de Sophia se fecharam brevemente, como se o tato de sua boca sobre sua pele evocasse tentadoras lembranças.
— Tratarei de ser divertido. - murmurou ele com um sorriso agradável. Quando se endireitou, a luz jogou com a escuridão do ébano de seu cabelo e distinguiu as nervuras de prata em suas têmporas.
Gentry tinha o rosto pétreo enquanto permanecia de pé para estreitar a mão de seu cunhado.
— Sir Grant me disse que desejava falar comigo. - disse sem preâmbulos. — O que estas tramando, Cannon?
— Falaremos disso mais tarde. Primeiro desejo conhecer sua intrépida e jovem noiva.
Lottie riu com a implicação de sr Ross — que qualquer mulher teria que ser intrépida para casar-se com um homem com tão má fama como Nick Gentry.
Ela fez uma reverência quando o antigo magistrado rodeou a mesa. Tomando suas mãos nas suas grandes e cálidas, Sr Ross falou com encantadora amabilidade.
— Bem-vinda à família, Sra. Gentry. Esteje segura de que se alguma vez necessitar ajuda de qualquer classe, só tem que pedi-la. Estou ao seu dispor.
Quando seus olhares se encontraram, Lottie sabia instintivamente que ele pensava o que dizia.
— Obrigado, Sr Ross. Lamento a necessidade de manter nosso parentesco em segredo, porque eu estaria bastante orgulhosa de proclamar a você e a Sra. Cannon como parentes.
— Possivelmente possamos fazer algo sobre isso. - respondeu enigmaticamente.
De repente Lottie sentiu as mãos de Gentry fechando ao redor de sua cintura, e a separou de Sr Ross.
— Duvido. - disse Gentry a seu cunhado. — Já que não há nenhuma condenada maneira que eu permita que semelhante informação se fizesse pública.
Sophia intercedeu rapidamente.
— Já que é, muito tarde para ter o tradicional café da manhã, proponho que desfrutemos de um almoço nupcial. O cozinheiro preparará costeletas de cordeiro, os primeiros aspargos da temporada, e várias variedades de salada. E nata de abacaxi para sobremesa.
— Que maravilhoso! - disse Lottie, unindo-se no esforço para manter a atmosfera tranquila. Sentou-se uma vez mais sobre a poltrona e com cuidado arrumou suas saias. — Nunca provei aspargos, e sempre quis prová-los.
— Nunca tomaste aspargos?— Sophia perguntou com incredulidade.
Enquanto Lottie procurava um modo de explicar seu desconhecimento de tais delicadezas, Gentry se sentou a seu lado e tomou sua mão outra vez.
— Temo-me que minha esposa teve uma dieta, bem severa na escola. - disse a sua irmã. — Assistiu a Maidstone durante vários anos.
Sr Ross ocupou uma cadeira ao lado de Sophia e olhou a Lottie atentamente.
— Uma instituição muito conhecida pela reputação de produzir senhoritas muito dotadas. — Seu tom se fez amavelmente alentador. - me diga, desfrutou de seus anos ali?
— Por favor, me chame Lottie. - falou com um tímido sorriso. Enquanto procedia a descrever suas experiências no colégio, Sr Ross escutou atentamente, apesar de que não tinha idéia de porque a questão teria semelhante interesse.
Logo o almoço foi servido na estufa, em uma mesa carregada de brilhantes vidros e porcelana florida, enquanto dois empregados lhes assistiam. Lottie estava encantada pelas árvores do interior e os abundantes pedaços de delicadas rosas de chá que perfumavam o ar. Inclusive o humor de Gentry pareceu aliviar-se na atmosfera cordial. Relaxando-se para trás em sua cadeira, entreteve-lhes com histórias sobre o escritório de Bow Street, incluindo um relato de como os agentes tinham sido atribuídos a inspecionar a roupa interior suja e as camisas de prisioneiros sendo mantidos em um sólido quarto. Ao parecer os prisioneiros frequentemente escreviam mensagens secretas em sua roupa, as quais eram dadas aos parentes, que traziam roupas novas para que levassem quando vissem o magistrado. A condição da roupa dos prisioneiros era frequentemente tão asquerosa que os agentes tinham recorrido ao sorteio de palhas para decidir a quem deveria dar a asquerosa tarefa. Quando Gentry tinha terminado de descrever a fúria de um agente em particular que sempre parecia tirar a palha curta, até Sr Ross estava rindo sonoramente.
Finalmente Sr Ross e Gentry se lançaram a uma conversação sobre os problemas a respeito da "Nova Polícia", que tinha sido criada aproximadamente dez anos antes. Após, Bow Street ter permanecido separada da Nova Polícia, porque a força de guardas e agentes de Sr Grant estava muito melhor treinada e era mais eficaz que "as lagostas cruas".
— Por que chamam lagostas cruas à Nova Polícia? — Lottie não podia resistir a perguntar.
Sr Ross respondeu com um sorriso débil.
— Como lagostas cruas são azuis - a cor dos novos uniformes - e lagostas também beliscam.
O comentário fez rir Gentry.
Como a discussão de polícia seguiu, Sophia se deslocou mais perto de Lottie.
— Pensa que meu irmão desejará seguir para Bow Street agora que estão casados?
— Ele me deu a impressão de que não tem nenhuma opção. - respondeu Lottie com cuidado. O trato com Sr Ross — Sim, mas aquele acerto nunca se pensou que durasse sempre. E agora que Nick se casou possivelmente Sr Ross o libere do acordo.
— Por que teria nosso matrimônio algum efeito sobre a posição de Sr. Gentry em Bow Street?
Sophia jogou uma olhada cautelosamente aos homens através da mesa.
— A resposta a isso é muito privada e complicada para falar agora. Posso lhe visitar logo, Lottie? Nós poderíamos ter um agradável e largo bate-papo, e possivelmente continuaremos com uma excursão para fazer compras.
Lottie sorriu. Nunca tinha esperado que a irmã de Gentry fosse tão afável. E parecia que Sophia estava bastante disposta a trazer alguma luz sobre o passado misterioso de Gentry, que ajudaria Lottie a entendê-lo muito melhor.
— Sim, isso eu gostaria muitíssimo.
— Encantador. Espero que tenhamos grande diversão Ouvindo por acaso a última observação de sua irmã, Gentry arqueou uma escura sobrancelha.
— O que planeja Sophia?
— Ah, um simples passeio ao longo de Oxford Street. - respondeu alegremente.
Gentry soprou.
— Há ao menos cento e cinquenta lojas em Oxford. Suspeito que fará mais que simplesmente passear.
Sophia riu.
— Deve abrir contas para Charlotte nas tapeçarias, e no Wedgwood, e naturalmente nas joalherias, assim como a livraria e...
— Ah, minha lady..., Sophia, - interrompeu Lottie incomodamente, perguntando-se por que ela não pareceu compreender que seus recursos eram bastante pobres, comparados à riqueza dos Cannon. — Estou segura de que não será necessário abrir contas em meu nome.
Gentry falou com Sophia com um sorriso leve.
— Lottie pode ter crédito em qualquer parte onde goste. Mas primeiro leva-a a sua costureira. A meu conhecimento, não tem nenhum enxoval de bodas.
— Não necessito nenhum vestido novo. - protestou Lottie. — Possivelmente um vestido bom, mas isto é tudo. — A última coisa que desejava era que Gentry gastasse muito dinheiro em roupa para ela. Suas lembranças dos hábitos de gastos extravagantes de seus pais, e sua consequência de passar à pobreza, estavam ainda muito claras em sua mente. Ela tinha um medo instintivo de gastar grandes quantidades de dinheiro, e sabia melhor que ninguém como inclusive se podia esbanjar uma desafogada fortuna em pouco tempo. — Por favor, devo insistir em que não o faça — Esta bem. — Interrompeu Gentry, tocando seu ombro. Seu olhar expressava a mensagem de que agora não era o momento para discutir a questão.
Ruborizando-se, Lottie se calou. Colocou sua mão em seu ombro, depois se deslizou até seu cotovelo, apertando ligeiramente.
Com agradecimento, o silêncio na mesa foi relevado pela aparição de um empregado, que retirava os pratos enquanto outro colocava pratos de sobremesa e vinho doce. Colocaram os pratos de sobremesa com bolachas delicados e nata de abacaxi servida em pequenos e bonitos potes de vidros.
Sir Ross introduziu um novo tema de conversação a respeito de umas emendas recentemente propostas pela Lei de assistência pública, que tanto ele como Gentry apoiavam. Surpreendentemente, Sophia ofereceu suas próprias opiniões sobre o assunto, e os homens escutaram com atenção. Lottie tratou de ocultar seu assombro, já que lhe tinham ensinado durante anos que uma mulher apropriada nunca deveria expressar suas opiniões em companhia mista. Certamente ela não deveria dizer nada sobre política, um assunto incendiário que só os homens estavam qualificados para discutir.
E ainda aqui estava um homem tão distinto como Sr Ross parecia não encontrar nada mau em que sua esposa falasse sem rodeios. Tampouco Gentry parecia aborrecido por que sua irmã falasse abertamente.
Possivelmente Gentry lhe permitiria a mesma liberdade. Com aquele pensamento agradável em sua mente, Lottie consumiu sua nata de abacaxi, uma nata rica, sedosa com um sabor forte. Ao alcançar o fundo do pote, pensou com ânsia que agradável deveria ser tomar outra. Entretanto, as boas maneiras e o medo de parecer gulosa faziam inconcebível pedir uma segunda vez.
Notando a olhada melancólica que Lottie deu a seu prato vazio, Gentry riu brandamente e deslizou sua própria sobremesa intacta a seu prato.
— Tem inclusive mais gosto por doces do que a pequena Amelia. - murmurou ele em seu ouvido. Seu fôlego quente provocou arrepio em sua nuca.
— Não tínhamos sobremesas na escola. - disse com um sorriso vergonhoso.
Ele tomou seu guardanapo e o aplicou com cuidado na comissura de sua boca.
— Posso ver que terei um tempo de mil demônios tratando de compensar todas as coisas das que foi privada. Suponho que agora quererá doces com cada comida.
Fazendo uma pausa no ato de levantar sua colher, Lottie olhou fixamente os quentes olhos azuis tão perto dos seus, e de repente se sentiu envolta em calor. Ridículo, que tudo o que ele tinha que fazer era falar com aquela nota de acaricia em sua voz, e ela podia estar totalmente perdida.
Sr Ross os estudou com uma olhada envolvente.
— Gentry, há um assunto que tratar contigo. Indubitavelmente há melhores modos de revelar meus pensamentos a respeito de seu futuro, mas confesso que não posso pensar neles. Suas circunstâncias são insólitas. — Fez uma pausa e sorriu com arrependimento. — Isso é ficar curto, certamente. Os giros e as voltas de sua vida não foram nada se não estranhas.
Gentry se sentou de novo com graça lânguida, parecendo depravado, mas Lottie sentia a apreensão que se enroscava dentro dele.
— Não te pedi que pensasse em meu futuro.
— Tenho que fazê-lo, entretanto. Durante os três últimos anos segui sua carreira — Seguiu?— Interrompeu Gentry secamente. — Mas bem manipulado, intrometido, e interferido.
Habituado depois de tantos anos na Magistratura, Sr Ross deu de ombros.
— Fiz o que acreditei melhor. Tenha em conta que em minhas relações contigo, também tive que considerar os interesses de Sophia. Ela é a única razão pela que te tirei da forca. Ela acreditava que havia potencial para a bondade em ti. E embora não o vi então, estou disposto a admitir agora que ela tinha razão.
Não é o autentico bandido que acreditava que fora.
Gentry sorriu com serenidade, consciente de que estava sendo condenado com total louvor.
— Em troca, me deixe dizer que não é completamente o peixe hipócrita que pensei que fosse.
— Nick! — Sophia, pôs sua magra mão de Sr Ross. — Meu marido nunca teve um pensamento hipócrita em sua vida. E quanto a ser uma pessoa fria, posso te assegurar mais que definitivamente que não o é. Além disso...
— Sophia. - interrompeu Sr Ross brandamente. - não tem que me defender meu amor.
— Bem, não o fiz. - insistiu ela.
Sua mão girou a palma até agarrar a dela, e durante somente um momento o casal olhou seus dedos entrelaçados com um prazer compartilhado que parecia inexpresavelmente íntimo. Lottie sentiu uma dor peculiar em seu seio. O que deve ser amar dessa maneira? Ambos pareciam tomar tal enorme prazer um ao outro.
— Bem. - disse Gentry com impaciência. — Vê, Cannon. Não tenho nenhum desejo de passar todo o dia de minhas bodas contigo.
Isto provocou um sorriso do antigo magistrado.
— Muito bem, tratarei de ser breve. Depois que te unisse à força em Bow Street, Sr Grant me manteve informado de seus lucros; as operações policiais, o trabalho com as patrulhas de pé, as buscas que empreendeste a risco de sua vida. Mas não foi até o fogo na casa de Barthas que compreendi quanto mudaste.
— Não mudei. - disse Gentry com cautela.
— Aprendeste a valorizar as vistas de outros tanto como a tua própria. - seguiu Sr Ross. - encontraste o desafio que te apresentei faz três anos, e contribuíste enormemente à assistência social. E agora até tomaste uma esposa. De maneira bastante interessante, é a classe de jovem com a que poderia te haver casado se as circunstâncias não lhe tivessem privado de seu título e posição faz muito.
Os olhos de Gentry se estreitaram.
— Nunca me importou nada o título. E Deus sabe que agora não tenho utilidade para ele.
O homem maior jogava com sua colher, levando uma expressão que convém a um jogador de xadrez em meio de um jogo longo.
— Há algo que nunca entendeste o bastante sobre seu título. É teu, se o quer como não. Um título não desaparece simplesmente porque a gente decide não fazer caso dele.
— Faz-o se a gente decide converter-se em outro.
— Mas não é outro - voltou a replicar Sr Ross. — O verdadeiro Nick Gentry morreu faz quatorze anos.
Você é Lorde Sydney.
— Ninguém sabe disso.
— Isso, - disse Sr Ross com calma. - está a ponto de mudar.
Gentry ficou imóvel enquanto assimilava a declaração.
— Que diabos significa isso?
— Depois de muito deliberar, decidi começar o processo de dignificação em seu nome. Recentemente expliquei os detalhes de sua situação nos escritórios da Coroa e a Lorde Chanciller. Não só o fiz e lhes assegurei que é na verdade o Lorde Sydney perdido faz muito, também confirmei que estás economicamente dotado para administrar o título. Em aproximadamente quinze dias, o empregado da Coroa publicará uma citação judicial, te chamando à Câmara dos Lordes. Em cujo momento te apresentarei publicamente como Lorde Sydney, em um baile que se dará em sua honra.
Gentry saiu disparado da mesa, sua cadeira caiu para trás e fez ruído no chão.
— Vai-te ao inferno, Cannon!
Lottie se assustou ante a explosão de hostilidade. Gentry reagiu como se sua vida estivesse sendo ameaçada. Entretanto, o perigo que confrontava não era o perigo físico ao que estava acostumado... era intangível, insidioso... a única prisão da qual não podia escapar. Lottie sentia os pensamentos que se retorciam detrás de sua expressão inflexível, o modo em que sua mente inteligente analisava o repentino apuro e considerou vários modos de evadi-lo.
— Negarei tudo. - disse Gentry.
Sr Ross fez um templo de suas mãos, olhando-o sem pestanejar.
— Se o fizer, responderei com declarações por mim mesmo, Sr Grant, sua irmã, e até sua esposa, declarando o fato de que confessaste em privado ser Lorde Sydney. Estas, combinadas com as estranhas circunstancias, tais como o registro desaparecido de seu enterro e os relatórios incoerentes de sua morte, formam o que se conhece na lei inglesa. Um estranho, mas não impossível acontecimento.
Gentry olhava como se quisesse assassinar ao antigo magistrado de Bow Street.
— Apresentarei uma solicitação à Câmara dos Lores para que me permita renunciar ao título. Deus sabe que se alegrariam em livrar-se de mim.
— Não seja idiota. Realmente crê que alguma vez lhe permitiriam negar seu título? Em suas mentes, semelhante renuncia desafiaria a instituição do título de nobreza. Temeriam que as distinções entre as classes, a não ser, a mesma monarquia, fossem ameaçadas.
— Não crê no privilégio apoiado com o nascimento. - lançou-se para trás. - por que obriga-me a um maldito titulo? Não o quero.
— Isto não tem nada que ver com minhas crenças políticas. É uma questão de um simples feito. É Sydney, não importa como chama a ti mesmo. Não vais ser capaz de derrubar setecentos anos de princípio hereditário, tampouco será capaz de evitar suas obrigações como Lorde Sydney já.
— Que obrigações? — Perguntou Gentry. — A uma fazenda que foi mantida em desuso durante quatorze anos?
— Tem uma responsabilidade com os arrendatários que tratam com muita dificuldade de ganhar a vida em umas terras desvencilhadas administradas pelo governo. Com a Câmara dos Lores, onde seu assento esteve vago durante duas décadas. Com sua irmã, que esta obrigada a manter sua relação com seu próprio irmão em segredo. Com sua esposa que gozaria de muito mais respeito e posição social como lady Sydney do que jamais o faria como Sra. Gentry. Com a memória de seus pais. E contigo mesmo. Durante a metade de sua vida se estiveste ocultando detrás de um nome falso. É o momento de que admita quem é.
As mãos de Gentry estavam apertadas.
— Isso não decide você.
— Se não forçar uma decisão, passará o resto de sua vida evitando-o.
— É meu direito!
— Possivelmente. Mas apesar de tudo, encontrará impossível continuar como detetive. Sr Grant está de acordo com minha opinião, e, portanto ele não requererá mais seus serviços em Bow Street.
Uma esteira de cor se estendeu sobre o rosto de Gentry. Sua garganta funcionou violentamente quando compreendeu que seus dias como agente acabavam de chegar a um fim.
— Então passarei meu tempo levando serviços privados.
— Seria uma novidade, verdade? — Perguntou Senhor Ross sardonicamente. — O visconde que resolve crimes.
— Nick. — Sophia entrou pela força brandamente. - sabe o que Papai e Mamãe teriam querido.
Ele parecia amargurado e miserável, e sobre tudo, ultrajado.
— Fui Nick Gentry muito tempo para mudar.
Sophia respondeu com muito cuidado, parecendo entender por que ele o consideraria impossível.
— Será difícil. Ninguém negaria isso. Mas tem Lottie para te ajudar.
Nick não dedicou um olhar a Lottie, mas fez um som desdenhoso.
— Lottie, querida, - disse Sophia com uma inflexibilidade doce que traía a forte vontade sob sua fachada delicada. — Quantos anos assistiu em Maidstone?
— Seis. - disse Lottie, jogando uma olhada cautelosa ao perfil duro de seu marido.
— Se a reputação de Maidstone resulta certa, esses seis anos estiveram cheios de uma educação que incluía um treinamento rigoroso de conduta, graça, a arte da recepção cortês, as habilidades para planejar, o que pressupunha dirigir uma casa, os elementos de estilo e bom gosto, os rituais das visitas da manhã e as reuniões antes do jantar... As milhares de pequenas questões sobre a etiqueta que separam o primeiro nível das outras capas da sociedade. Suspeito que facilmente poderia controlar uma casa de qualquer tamanho, não importa como fosse grande. Sem dúvida também lhe ensinaram como dançar, montar a cavalo, tocar um instrumento musical, falar francês e possivelmente noções de alemão... estou equivocada?
— Estas certa. - disse Lottie brevemente, odiando o sentimento repentino de que ela era parte da armadilha que se fechava ao redor de Gentry. Forçavam-no a converter-se em algo que não tinha nenhum desejo de ser, e ela entendia todos seus sentimentos muito bem.
Assentindo com satisfação, Sophia virou-se para seu irmão que franzia o rosto.
— Lottie é uma grande vantagem para você. Resultará inestimável ajudando a te ajustar a sua nova vida — Não vou adaptar-me a nenhuma maldita nova vida. - grunhiu e lançou um olhar autoritário a Lottie. — Venha, partimos. Agora.
Ela se levantou automaticamente, e Sr Ross ficou de pé também. Preocupada, Lottie jogou uma olhada a seu cunhado. Não havia nenhum brilho de vitória em seus olhos.
Não acreditou que seus motivos tivessem algo a ver com vingança ou má vontade. Estava segura de que Sr Ross e Sophia pensavam que era bastante necessário que Gentry reclamasse sua antiga identidade. Ela tinha muita vontade de falar do assunto com eles, mas estava claro que Gentry logo que mantinha seu autocontrole.
Qualquer outro homem teria estado satisfeito de recuperar seu título, suas terras, e os bens de sua família.
Entretanto, era óbvio que para Gentry isso era um pesadelo.
Lottie se manteve em silêncio durante o passeio de volta em carruagem para casa. Seu marido estava completamente imóvel, tratando de conter seu explosivo ultraje, e mais provavelmente lutando por compreender a brutalidade com a que sua vida tinha mudado. Não muito diferente de seu próprio humor ao abandonar Stony Cross Park, pensou ironicamente.
No momento que chegaram à casa da Rua Betterton, Gentry virtualmente saltou da carruagem, deixando Lottie aceitar a ajuda do empregado para descer do veículo.
Quando alcançou a porta da rua, ele não estava em nenhum lugar à vista.
A ama estava no vestíbulo, sua expressão perplexa acabava de ver a tormenta de Gentry dentro da casa.
— Sra. Trench, - disse Lottie com calma, — Chegou a ver aonde foi o Sr. Gentry?
— Acredito que está na biblioteca, senhorita. Isto é... Mrs. Gentry.
Por Deus! Que estranho era ser chamada assim. E ainda era estranho contemplar a forte possibilidade de que dentro em pouco seria chamada Lady Sydney. Franzindo a testa, Lottie jogou uma olhada na escada até o corredor que conduzia para a biblioteca. Parte dela queria retirar-se à segurança e isolamento de sua habitação.
Entretanto, outra parte foi irresistivelmente arrastada a encontrar com Gentry.
Depois de que a Sra. Trench tomasse seu chapéu e luvas, Lottie se encontrou andando para a biblioteca.
Bateu na porta fechada antes de entrar. A biblioteca estava revestida com escura madeira de cerejeira, e coberta com tapetes tecidos com medalhões de ouro sobre um fundo marrom. Multidões de janelas de vidros se estendiam até o alto do teto, que tinha ao menos dez metros de altura.
A forma larga dos ombros de Gentry estava em uma das janelas, suas costas se esticou visivelmente quando a ouviu aproximar-se. Uma taça de brandy estava apertada em sua mão, a delicada taça parecia como se pudesse romper-se em seus dedos largos.
Lottie vacilou ao lado de uma das estantes muito altas de madeira de cerejeira, notando que a biblioteca estava estranhamente desprovida de volumes.
— Sua biblioteca esta quase vazia. - comentou.
Gentry permanecia na janela, seu olhar melancólico e vazio. Ele bebeu um gole de brandy com um rígido movimento do pulso.
— Compra alguns livros, então. Enche-a do piso ao teto se quiser.
— Obrigado. — Animada pelo fato de que ainda não lhe havia dito que queria, Lottie se aventurou mais perto. — Sr. Gentry...
— Não me chame assim. - disse em uma explosão de irritação.
— Sinto muito. Nick. - aproximou-se mais. — Desejo corrigir algo que Sr Ross disse, não tem nenhuma responsabilidade de me converter em Lady Sydney. Como te disse antes, não me preocupa se for nobre ou plebéia.
Ele esteve tranquilo durante longo tempo, então soltou um suspiro tenso. Cruzando de uma pernada até o aparador, tomou outro brandy.
— Há algum modo de deter Sr Ross de levar a cabo seus planos? — Perguntou Lottie. — Possivelmente poderíamos procurar algum conselho legal...
— É muito tarde. Conheço Sr Ross, ele pensou em cada contra movimento possível. E sua influência se estende por toda parte; a magistratura, a aplicação da lei, o Parlamento, o escritório da Coroa... Essa citação judicial vai chegar, não importa que demônio faça para evitá-lo. - pronunciou uma palavra desconhecida que parecia bastante grosseira. — Eu gostaria de romper cada osso do corpo de Cannon, — O que posso fazer? -Perguntou silenciosamente.
— Ouviu minha irmã, verdade? Vais atuar como à senhora e me ajudar a simular ser um visconde.
— Arrumou-lhe isso bastante bem em Stony Cross Park. - indicou. - dava uma convincente aparência de nobreza.
— Foi só durante uns dias. - disse amargamente. — Mas agora parece que terei que desempenhar o papel pelo resto de minha vida. - sacudiu sua cabeça com furiosa incredulidade. — Deus! Não quero isto. Vou matar a alguém pouco depois.
Lottie inclinou a cabeça enquanto o observava especulativamente. Sem dúvida deveria temê-lo quando estava com este humor. De fato parecia como se estivesse preparado para cometer um assassinato, seus olhos brilhando pela sede de sangue. Mas curiosamente ela estava cheia de compaixão, e inclusive mais que isso, um sentimento de companheirismo. Ambos estavam lutando, ambos frente a uma vida que não tinham planejado, nem tinham pedido.
— Como se sentiu em Stony Cross Park, quando te apresentou como Lorde Sydney? — Perguntou.
— Ao princípio foi divertido. A ironia de me fazer passar por mim mesmo. Mas depois do primeiro dia, converteu-se em um peso sobre meus ombros. A mera menção do nome me irrita terrivelmente.
Lottie se perguntava por que estava tão vexado com o nome que tinha nascido. Tinha que haver alguma outra razão que as que tinham dado até agora.
— Nick, o que queria dizer Sr Ross quando disse que economicamente estava dotado para administrar o título?
Sua boca se torceu.
— Queria dizer que poderia me permitir o custo de manter um estado grande e a classe de estilo de vida.
— Como poderia saber tal coisa?
— Ele não sabe de certo.
— Equivoca-se, certamente.
— Não, — Nick resmungou. - ele não se equivoca. Antes que chegasse a Bow Street, fiz uns investimentos, e tenho algumas propriedades aqui e ali. Em geral, tenho aproximadamente duzentos economizados.
Silenciosamente Lottie pensava que duzentas libras em economias não estavam mal, mas não oferecia a classe de segurança que alguém poderia ter desejado. Só esperava que seus investimentos não descessem de valor.
— Bem, parece bastante satisfatório, - disse, não desejando ferir seus sentimentos. — Penso que arrumaremos isso bastante bem se economizarmos. Mas não penso que as circunstâncias permitam um enxoval de bodas. Não neste momento. Possivelmente no futuro — Lottie, - interrompeu. - não temos que economizar.
— Duzentas libras são uma boa soma, mas será difícil manter uma casa com...
— Lottie. - jogou-lhe um olhar com uma estranha expressão. — Eu referia a milhares. Duzentas mil libras.
— Mas... Mas... — Lottie estava assombrada. Isso era uma soma imensa, uma fortuna do ponto de vista de qualquer um.
— E aproximadamente cinco mil ao ano, por investimentos e comissões privadas. - acrescentou, atordoando-a mais. Seu rosto obscureceu. — Embora pareça que meus dias de comissões privadas terminaram.
— Por que, deve ser tão rico como Lorde Radnor? — Disse aturdida.
Ele fez um gesto agitado com a mão, como se a consideração do dinheiro fora completamente irrelevante, comparada a seu maior problema. "Provavelmente".
— Poderia permitir uma dúzia de casas. Poderia ter qualquer...
— Não necessito uma dúzia de casas. Só posso dormir sob um teto de uma vez. Só posso comer três comidas por dia. E não me importa impressionar ninguém.
Lottie estava surpreendida ao compreender que não estava motivado por adquirir riqueza. Sua fortuna tinha vindo como uma consequência de sua necessidade de enganar às pessoas da vadiagem em Bow Street.
E agora que a profissão de executar a lei lhe tinha sido retirada, teria a urgente necessidade de fazer algo.
Ele era um homem tremendamente ativo, nada satisfeito pela indolência culta da vida aristocrática. Como no nome do céu ia adaptar-se à vida de um par?
Seus pensamentos deveriam haver se refletido nos seus, já que ele deu um gemido de cólera se desesperou e passou sua mão por seu cabelo. Uma vaga mecha caiu sobre sua fronte, e Lottie estava assustada por seu impulso repentino de jogar com o espesso cabelo cor chocolate, alisá-los para trás, deslizar seus dedos na cálida seda.
— Lottie, - disse bruscamente. - sairei por um tempo. Provavelmente não voltarei até amanhã. Tem um indulto para esta noite.
— O que vais fazer?
— Ainda não sei. - distanciou-se dela com uma agitação que continha um fio de pânico, como se uma rede pesada tivesse caído sobre ele.
Lottie sabia que não deveria preocupar-se se saía e bebia, ou começava uma briga com alguém, ou fizesse qualquer das numerosas coisas tolas que os homens fazem em busca de diversão. Não deveria querer acalmar sua fúria logo que contida. Mas o fazia.
Sem permitir tempo para considerar suas ações, Lottie se aproximou dele, tocando o fino pano de seu casaco com a palma da mão. Sua mão deixou de lado o tecido e se meteu dentro com cuidado. Seu colete era o mesmo negro profundo do casaco dele, mas o material era de seda, escorregando um pouco sobre a delineação dura dos músculos do peito. Pensou o quente que devia ser sua pele, para transmitir tal calor através da roupa grossa.
Nick estava de repente imóvel, sua respiração mudou a um ritmo lento, mais profundo. Lottie não olhou seu rosto, mas se concentrou em troca, no nó de sua gravata cinza enquanto seus dedos exploravam as dobras níveas e fragrantes de sua camisa.
— Não quero um indulto. - disse finalmente e tirou o nó até que se escorregou frouxo.
Quando a gravata se desenredou, pareceu que seu autocontrole se desfez de modo similar. Ele respirava mais pesadamente, e suas mãos apertadas aos lados. Inesperadamente desatou o nó do pescoço rígido de sua camisa e o desdobrou amplamente para revelar o brilho do âmbar de sua garganta. Ela deu uma olhada no seu rosto e viu com um tremor de nervosismo repentino que sua fúria se transformava rapidamente em pura necessidade sexual. A cor se deslizou através de suas maçãs do rosto e a ponte de seu nariz, um brilho brunido que fez que seus olhos parecessem fogo azul.
Sua cabeça baixou muito devagar, como se lhe desse cada oportunidade de escapar. Ela ficou onde estava seus olhos se fecharam quando sentiu o roçar apenas perceptível de sua boca sobre o lado de seu pescoço.
Seus lábios acariciaram a pele sensível, separada, e a ponta de sua língua a acariciou em um círculo delicado, quente. Com um débil suspiro, Lottie se inclinou para diante em seu corpo quando suas pernas tremeram. Ele não a tocou com suas mãos, só seguiu explorando seu pescoço com deliciosa tranquilidade. Ela se sustentou nele, seus braços fechando-se ao redor de sua magra cintura.
Suas mãos foram até seus ombros, agarrando brandamente. Ele parecia indeciso quanto queria atraí-la mais perto ou apartá-la. Sua voz era rouca quando perguntou, — O que estás fazendo, Lottie?
Seu coração pulsava tão desordenadamente que ela logo poderia convocar o fôlego para falar.
— Suponho que estou te respirando e terminando o que começou na biblioteca de Lorde Westcliff.
— Esta segura? - disse bruscamente. — Não tive uma mulher em seis meses. Se de repente decide parar, não me vou tomar isso bem.
— Não te direi que pares.
Olhou-a fixamente, seu olhar brilhante de febre, seu rosto duro.
— Por que agora quando não quis ontem à noite?
Isso estava fora de sua capacidade para explicar. Depois dos acontecimentos dessa tarde, de repente lhe parecia vulnerável.
Começava a ver as maneiras em que as necessidades foram mais à frente do desejo sexual. E o desafio de lhe domar, igualando sua poderosa vontade com a sua própria, era muito tentador para resistir.
— Agora estamos casados. - disse, aproveitando a primeira desculpa em que pôde pensar.
— E eu preferiria há... Ter feito isto, de maneira que não te trouxesse medo.
Ela viu a piscada predadora em seus olhos. Ele a desejava. Não perdeu tempo fazendo perguntas, só estendeu sua mão.
— Então vêem acima.
Com cuidado Lottie colocou a mão na sua.
— Nick, só há uma coisa...
— O que?
— Ainda não está escuro
— E?
— É apropriado fazer isto pela tarde?
A pergunta tirou uma risada vacilante dele.
— Não sei. E maldita seja não me importo. — Mantendo sua mão na sua, guiou-a da biblioteca ao quarto, e acima da magnífica escada.
Capítulo 9
Lottie foi pra cima com ele, sua mão agarrada firme nas suas, suas pernas pareciam de borracha quando finalmente alcançaram seu dormitório. As cortinas estavam separadas, admitindo a luz cinza clara através das janelas. Ela teria preferido muito mais a escuridão. O pensamento de estar nua na implacável luz do dia a fazia tremer por toda parte.
— Tranquila. — Murmurou Nick, de pé atrás dela. Suas mãos se fecharam com cuidado ao redor de seus braços. Sua voz era mais grave e marcada que de costume. — Tomarei cuidado. Posso fazer ser agradável para ti, se...
— Se?
— Se confiar em mim.
Estavam imóveis e silenciosos. Lottie umedeceu seus lábios, refletindo que não tinha acreditado em ninguém durante anos. E pôr sua fé em Nick Gentry... O homem mais inescrupuloso que jamais tinha conhecido... Não era um disparate, isso era loucura.
— Sim. - disse, surpreendendo-se. — Sim, confiarei em ti.
Ele fez um som suave, como se as palavras o tivessem pego nas partes baixa.
Gradualmente sua mão deslizava através da parte superior de seu peito, exercendo uma pressão delicada que fez com que ela se apoiasse contra ele. Ela sentia sua boca no dorso de seu pescoço, seus lábios jogando com as mechas sensíveis em sua nuca. Ele provou sua suave pele, logo pressionou a borda de seus dentes em um ponto sensível que fez com que se retorcesse contra ele de prazer. Dirigiu-se ao lado de seu pescoço, mordiscou a distância até a ponta do lóbulo de sua orelha, enquanto suas mãos se moviam sobre a parte dianteira de seu vestido. O sutiã se abriu, para revelar a armação do leve espartilho debaixo. As pontas de seus dedos vagaram por sua garganta, acariciou a curva vulnerável, logo percorreram o extremo de sua clavícula.
— É formosa, Lottie. - sussurrou. — O modo que sente e sabe... Sua pele, seu cabelo.... — Ele tirou as presilhas de seu cabelo, enviou-as voando ao tapete, e afundou seus dedos nas pálidas mechas de seda que caíam até seu ombro.
Levando o cabelo para seu rosto, esfregou-o contra sua bochecha e queixo. O calor jogava em seu corpo, aumentando, intensificando-se, e ela se apoiou contra a sólida forma detrás dela.
Tirou o vestido até a cintura, lhe ajudando a tirar os braços das mangas, as pontas de seus dedos correndo ligeiramente dos cotovelos às axilas. Girando o rosto, Nick habilmente desenganchou o espartilho, liberando-a do envoltório e cordões. Seus seios, tinham sido sustentados artificialmente em alto nos apoios de osso, foram liberados, as pontas se endureceram contra a magra e enrugada musselina de sua camisa. Sua mão levantada, e ele a tocou através do fino tecido. Deslizando seus dedos sob a plenitude de seu peito, deslocando seu polegar sobre a forma de seu mamilo. Seu toque era muito ligeiro, atrasando-se na ponta até que esta queimasse.
Ofegando, Lottie se agarrou a seus ombros para manter o equilíbrio. Ele deslizou um sólido braço detrás de suas costas enquanto seguia brincando brandamente com seu corpo, tomando o pico em seus dedos, acariciando brandamente. Uma dor de prazer se formou profundamente em seu estômago quando ele cavou seu seio em sua mão, contendo a redondeza na palma de sua mão. De repente ela desejava que a tocasse no outro seio.
Desejava beijá-lo, por toda parte, e deslizar seus próprios lábios pelo calor de sua pele, e sentir seu corpo nu contra o seu. Frustrada e impaciente, ela atirou seu casaco, sua risada entrecortada se agitou por seu cabelo.
— Devagar. - sussurrou. — Não há nenhuma necessidade de apressar-se.
Tirou-se o Casaco... O Colete... Sapatos... Calças... Camisa... e finalmente as roupas que tinham obscurecido a alarmante vista de sua ereção.
De repente Lottie não sabia onde olhar. Ele deveria ter parecido vulnerável em sua nudez, mas parecia mais poderoso agora que quando tinha tido a roupa posta. Seu corpo estava esculpido com graça brutal, grande e musculoso e magnificamente em forma. Seu bronzeado apagando-se na pele mais pálida de seus quadris. Uma abundância de cabelo negro espesso cobria seu peito, e havia outra densa zona em sua virilha, ao redor da escura e possante longitude de sua ereção.
A ponta do dedo de Nick riscou a sua bochecha escarlate.
— Sabe o que vai acontecer?
Lottie assentiu bruscamente.
— Sim, acredito que sim.
Ele acariciou a parte inferior de seu queixo, a ponta de seu dedo deixando um rastro de fogo.
— Quem te contou sobre isso? Sua mãe?
— Ah, não. Ela me ia explicar isso toda a noite antes de meu casamento com Lorde Radnor. Mas certamente que nunca ocorreria. — Lottie fechou seus olhos enquanto ele acariciava o lado de seu pescoço, sua mão quente e um pouco áspera pelas durezas. — Embora ouvisse a intriga na escola, algumas das moças tinham... Feito Coisas... E contaram isso para nós.
— Feito que coisas?
— Encontrar-se em privado com amigos cavalheiros, ou primos, e lhes permitia liberdades. — Lottie abriu seus olhos e encontrou seu olhar sorridente, com o olhar mais abaixo da altura de sua clavícula.
— Como de longe foram as liberdades? Tão longe como fomos à outra noite?
— Sim. — Forçou-se a admitir.
— Desfrutou do modo em que te toquei? — Perguntou brandamente.
A cor ardeu em seu rosto, e ela assentiu bruscamente.
— Desfrutará do resto também. - prometeu, alcançando a prega de sua camisa.
Obedecendo seu impulso mudo, ela levantou seus braços e deixou que lhe tirasse a roupa. Ela tirou de uma só vez suas sapatilhas e tirou dele os calções largos e meias, com os braços cruzados sobre seus peitos nus.
Ele se colocou sobre ela, sua mão arrastando-se sobre suas costas, arrepiando cada polegada de sua pele.
— Me rodeie com os braços, Lottie.
Ela obedeceu torpemente, levando seu corpo totalmente contra o seu. Seus mamilos se afundaram no denso arbusto de cachos de seu peito. Seu corpo estava incrivelmente quente, sua ereção ardendo através dos calções de musselina. Empurrando contra seu estômago, até que ele deslizou sua mão sob suas nádegas e atirou dela para cima. Sua mão se deslizou entre suas nádegas para sustentá-la apertada e firmemente contra ele, e ela o sentiu pressionar contra seu sexo. Um choque de sensação a percorreu, seguido de uma quebra de onda de luxúria tão aguda que dificilmente a suportava. Agarrando seu pescoço, ela empurrou seu rosto contra o denso músculo de seu ombro. Seus dedos se deslizaram mais longe entre suas coxas. O linho sob seus dedos se umedeceu quando acariciou o suave sulco com um ritmo preguiçoso. Durante um minuto comprido e maravilhoso ele a sustentou assim, esquentando-a com seu próprio corpo até que ela começasse a pressionar contra a sua ereção.
Estendendo a mão entre seus corpos, ele atirou as cintas de seus calções. Deixou cair à roupa ao chão e a levantou, levando-a para a cama com assombrosa facilidade. Quando Lottie se reclinou sobre a colcha bordada, o olhar de Nick se deslizou sobre ela. Um sorriso atirou de seus lábios.
— Nunca vi ninguém ruborizar-se da cabeça aos pés.
— Bem, nunca estive nua diante de um homem. - disse Lottie, envergonhada.
Era inconcebível que ela pudesse conversar com alguém enquanto não levava um ponto de roupa, exceto suas meias.
Sua mão se fechou com cuidado ao redor de seu tornozelo.
— É adorável. - sussurrou, e subiu sobre ela.
Ele tirou uma de suas ligas com seus dentes, afrouxando a cinta que a sujeitava. Ela ofegou enquanto ele beijava os sinais vermelhos deixados pelo laço, e as acalmava com sua língua. Desenrolando as meias de suas pernas, ele a separou amplamente as coxas. Cada vez mais incômoda Lottie usou sua mão para ocultar-se de sua vista. Sua cabeça se movia sobre ela, seu fôlego quente estendendo-se sobre sua pele. Seus polegares se arrastavam sobre o pulso na delicada dobra entre sua coxa e virilha.
— Não te cubra. - pediu ele.
— Não posso evitar. - disse, retorcendo-se para fugir das rápidas e diminutas passadas de sua língua, que se aventurava em lugares nos que ela nunca tinha imaginado que um homem quereria pôr sua boca. De algum modo conseguiu tirar a roupa da cama o suficiente para mergulhar-se baixo em busca do refúgio. Tremeu ante a escorregadia dos linhos contra seu corpo nu.
Seguindo-a com uma risada grave, Nick se deslizou sob a roupa de cama, até que eles fizeram uma carpa sobre o amplo contorno de seus ombros. Sua cabeça desapareceu, e ela sentiu suas mãos sobre seus joelhos, as apartando uma vez mais.
Lottie olhou às cegas o cortinado escuro no alto.
— Nick. - perguntou severamente. - é esta a forma habitual em que a gente tem relações?
Sua voz era amortecida.
— Qual é a forma habitual?
Ela inalou bruscamente quando a beliscou na curva interior de sua coxa.
— Não estou completamente segura. Mas não penso que seja esta.
Sua voz marcada pela diversão.
— Sei o que faço Lottie.
— Eu não insinuava que seu não... OH, por favor, não me beije ai!
Então ela o sentiu tremer pela risada suprimida.
— Para alguém que nunca tem feito isto antes, é bastante obstinada. Deixe-me te fazer o amor da maneira que quero hmmn? A primeira vez, ao menos. — Ele agarrou os punhos e os sujeitou aos lados. — Fica imóvel.
— Nick... — Começou quando sua boca desceu até o ninho de cachos loiros. — Nick...
Mas ele não escutava, completamente absorto em sua carne feminina perfumada. Seu fôlego encheu a úmida fenda de calor vaporoso. Um gemido se elevou em sua garganta, e seus punhos se retorceram em seu afeto. Sua língua procurou através dos cachos elásticos até que alcançou os rosados lábios ocultos debaixo.
Lambeu um lado de seu sexo, depois o outro, a ponta de sua língua brincando com delicadeza.
Sua boca a extasiava tão brandamente, sua língua escorregando sobre sua carne fundida até encontrar a entrada secreta de seu corpo, enchendo-a de calor sedoso... Retirando-se... Enchendo-a. Lottie estava fraca por toda parte, seu sexo pulsando com urgência. Enquanto ele a acariciava com o nariz e jogava com ela, ela tentou inclinar seu corpo de modo que ele tocasse o ponto gélido que palpitava desesperadamente. Ele parecia não entender o que ela queria, lambendo tudo ao redor do ponto sensível, mas nunca alcançando o suficiente.
— Nick. - sussurrou incapaz de encontrar palavras para o que desejava. — Por favor. Por favor.
Mas ele seguiu negando-a, até que compreendesse que o fazia deliberadamente. Frustrada além do suportável, ela baixou até sua cabeça, e sentiu o sopro de sua breve risada contra ela. Imediatamente sua boca se deslizou mais longe e indo para baixo, provando as dobras úmidas de seus joelhos, movendo-se até os ocos de seus tornozelos. Ao tempo que voltava até suas virilhas, seu corpo inteiro estava sufocado. Sua cabeça se abateu sobre o lugar entre suas pernas outra vez. Lottie conteve a respiração, consciente de um fio quente de umidade de seu corpo.
Sua língua acariciou o topo de seu sexo em um regaço provisório. Lottie não pôde conter um grito selvagem enquanto se arqueava em sua boca.
— Não. - murmurou contra sua carne úmida. — Ainda não, Lottie. Espera só um pouco mais.
— Não posso, não posso, ah, não pares... — Ela atirou de sua cabeça desesperadamente, gemendo enquanto ele movia sua língua como uma pluma sobre ela uma vez mais.
Agarrando seus punhos, Nick os levantou sobre sua cabeça e colocou seu corpo entre suas coxas, tomando cuidado para não esmagá-la. Seu membro estava embalado no vale quente entre suas pernas. Seus escuros olhos azuis olhavam diretamente nos seus quando liberou suas mãos.
— Os deixe aí. - disse, e ela obedeceu com um soluço.
Ele beijava seus peitos, movendo-se de um a outro. Com cada redemoinho incendiário de sua língua, ela quase se elevava do lençol. Seu sexo se deslizou contra o dela em impulsos disciplinados que atormentavam, esfregavam e torturavam, enquanto sua boca acariciava avidamente seus mamilos. Ela se arqueou para cima com gemidos suplicantes. Um assombroso prazer se instalou dentro dela, ganhando intensidade... Se abateu sobre o abismo, esperando, esperando...OH, por favor...até que a culminação esteve finalmente sobre ela.
Gritou com tímido assombro enquanto intensos espasmos se propagavam do centro de seu corpo.
— Sim. - sussurrou ele contra sua tensa garganta, seus quadris movendo-se delicadamente sobre os seus. A sensação diminuía em compridos tremores enquanto ele apartava seu cabelo para trás de sua frente úmida.
— Nick. - disse entre profundas baforadas de ar. - a...algo passou...
— Sim, sei. Chegou ao orgasmo. — Sua voz era sensível e vagamente divertida. — Faço-o outra vez?
— Não. - disse imediatamente, fazendo-o rir.
— Então é meu turno. - deslizou um braço sob seu pescoço de modo que sua cabeça descansasse na dobra de seu cotovelo. Ele a montou outra vez, o peso musculoso de suas coxas empurrando entre as suas, e ela sentiu a ampla cabeça de seu membro contra o vulnerável vale entre suas pernas. Ele o roçou através da umidade em círculos deliberados, logo empurrou brandamente contra ela até que Lottie sentiu um leve ardor.
Instintivamente retrocedeu ante a pressão. Mantendo-se imóvel, Nick a olhou, seu rosto de repente tenso e concentrado. Ele dobrou sua cabeça e tocou com sua boca o delicado espaço entre suas sobrancelhas.
— Sinto muito. - disse silenciosamente.
— Por quê? - ela começou, e ofegou quando ele a invadiu em uma única e enérgica investida. Ela retrocedeu pela dor, suas pernas fechando-se instintivamente, mas não podia fazer nada para lhe impedir de deslizar-se mais profundo. Estava apanhada sob seu corpo, empalada com a dureza e o calor.
Com cuidado ele empurrou mais longe.
— Sinto muito. - disse outra vez. — Pensei que poderia ser mais fácil para ti se o fazia rapidamente.
Doía mais do que Lottie tinha esperado. Era uma sensação curiosa, tendo parte do corpo de alguém dentro do seu próprio. Era tão extraordinário que quase esqueceu a dor. Sentia o esforço que lhe custava manter-se imóvel. Tratava de esperar até que se acostumasse a ele, deu-se conta. Mas o desconforto persistia, e ela sabia que não importava quanto tempo lhe desse, isso não ia melhorar.
— Nick. - disse vacilante. — Seria-te possível terminar esta parte em seguida?
— Deus. - resmungou com arrependimento. — Sim, posso fazer isso.
Cautelosamente ele apertou seus quadris, e Lottie compreendeu consternada que avançava ainda mais profundo. Enquanto o topo de seu membro pressionava contra sua vagina, ela se estremeceu angustiada.
Imediatamente ele retrocedeu um pouco, sua mão acariciava do seu seio até seu quadril.
— A próxima vez será melhor. - disse, mantendo suas investidas pouco profundas. — Estas tão quentes, Lottie, é tão doce... — Ele ficou sem fôlego, seus olhos se fecharam forte, suas mãos se apertaram contra o colchão.
Apesar da dor que provocavam seus movimentos, Lottie experimentou um curioso sentimento protetor...
De ternura, inclusive. Suas mãos se deslizaram sobre suas costas, depois do arco profundo de sua coluna. Ela apertou seus joelhos sobre seus quadris enquanto continha seu corpo grande, abraçando-o a ela, escutando a maneira que seu fôlego subia. De repente enterrou sua longitude inteira dentro dela e se manteve imóvel. Ela o sentiu sacudir-se violentamente enquanto liberava sua paixão com um áspero gemido. Acariciando suas costas, ela deixou seus dedos inquisitivos vagarem mais abaixo, mais abaixo, até que encontrou os firmes músculos de suas nádegas, mais duros do que tivesse pensado que podia ser a carne humana.
Finalmente Nick suspirou e abriu seus olhos, um resplendor sobrenatural azul em seu rosto ruborizado pela paixão. A forma em que murmurou seu nome enviou tremores abaixo de suas costas. Nick se levantou sobre um cotovelo para olhá-la. Um pequeno franzido dobrando o espaço entre suas espessas sobrancelhas.
— Estás bem?
— Sim. — Um sorriso sonolento curvou seus lábios. — Não esteve mal absolutamente. Até o final, pensei era ainda melhor que uma ducha.
Ele fez um som de diversão.
— Sim, mas estava tão bom como o chocolate?
Lottie alcançou a acariciar o alto plano de sua maçã do rosto. Ela não podia resistir a brincar com ele.
— Não exatamente.
Outro sorriso lhe escapou.
— Meu Deus, é difícil de agradar. — Ele pôs sua boca em sua mão, beijando. — Enquanto que eu, estou mais contente que um marinheiro em fiddler’s Green.
Lottie seguiu explorando os enérgicos contornos de seu rosto com as gemas de seus dedos. Com um rubor atrasando-se no alto de suas bochechas, e os parêntese ao redor de sua boca suavizados, parecia mais jovem que o normal.
— Que é fiddler’s green? — Perguntou — Um lugar para marinheiros. Nada mais vão que, mulheres, e cantam todo o dia e toda a noite.
— Qual é sua idéia do céu?
— Não acredito no céu.
Os olhos de Lottie se alargaram.
— Estou casada com um pagão? — Perguntou, e ele sorriu abertamente.
— Ainda pode lamentar não te casar com o Radnor.
— Não brinque com isso. - disse, dando volta longe dele. — Não é uma questão de humor.
— Sinto muito. - interrompeu, seu braço deslizou ao redor de sua cintura. Arrastou-a até o refúgio de seu corpo, suas costas ajustando-se contra seu peito peludo. — Não pensava te incomodar. Aqui, descansa contra mim. — Ele acariciou com o nariz as pálidas ondas de seu cabelo. — Que mocinha tão ardente você é.
— Não sou ardente. - protestou Lottie, já que essa qualidade era apenas algo que correspondia a uma elegante graduada de Maidstone.
— Sim. — Sua mão se curvou possesivamente sobre seu quadril. — Eu soube do momento que nos conhecemos. É um dos motivos pelos que te desejava.
— Disse que me desejava simplesmente por conveniência.
— Bem, há isso. - disse com um sorriso, e reagiu rapidamente quando ela tratou de lhe dar uma cotovelada. — Mas de verdade, a conveniência não teve nada a ver com isso. Desejava-te mais que a qualquer mulher que jamais conheci.
— Por que insistiu no matrimônio, quando ofereci de ser sua amante?
— Porque ser uma amante não era suficientemente bom para ti. — Fez uma pausa antes de adicionar silenciosamente. — Merece tudo que possa te dar, incluindo meu nome.
Um duro pensamento obscureceu o prazer de Lottie pelo elogio.
— Depois de que todos saibam que é Lorde Sydney, estará bastante solicitado. - disse. — Um homem com sua beleza, fortuna, e título era uma combinação irresistível. Indubitavelmente receberia muita atenção de mulheres que quereriam tentá-lo para ter uma aventura.
— Não me separarei de ti. - disse Nick, surpreendendo-a com sua perspicácia.
— Não pode estar seguro. Um homem com sua história pessoal...
— O que sabe de minha história pessoal? - pressionou sua palma sobre suas costas e surgiu sobre ela uma perna larga que se deslizou entre a sua.
— É óbvio que tem muita experiência no dormitório.
— Tenho-a. - admitiu. — Mas isso não significa que eu tenha tido critério. De fato...
— De fato? — Lottie incitou.
Ele olhou longe.
— Nada.
— Foste dizer-me que não tiveste muitíssimas mulheres, suponho. — Seu tom estava carregado de ceticismo. — Embora o conceito seja obviamente subjetivo. O que é 'muitas' para ti, pergunto-me? Cem?
Cinquenta? Dez?
— Isso não importa. - disse carrancudo.
— Não te acreditaria se afirmasse algo menos de vinte.
— Estaria equivocada, então.
— Como de longe estaria, então?
— Estive só com duas mulheres. - disse de maneira cortante. - te incluindo.
— Não acredito. - exclamou ela com uma risada incrédula.
— Acredite no que queira. - resmungou, afastando-se dela.
Estava claramente molesto, como se lamentasse o que acabava de lhe contar. Enquanto deixava a cama e cruzava a pernadas até o guarda-roupa, Lottie o observou com a boca aberta de assombro. Não podia aceitar sua afirmação, e, entretanto não havia nenhuma razão para que mentisse.
— Quem era a outra? - não podia resistir a perguntar.
Suas amplas e bem musculosas costas se contrairam enquanto colocava os ombros em uma bata de veludo Borgonha.
— Uma madame.
— Era francesa, quer dizer?
— Não, a classe de madame que possui um bordel. - respondeu sem rodeios.
Lottie quase caiu da beira da cama. Conseguiu manter seu rosto relativamente tranquilo quando ele deu volta para ela.
— Foi uma longa... Amizade?
— Três anos.
Lottie absorveu a informação silenciosamente. Compreendeu com consternação que o peso em seu peito era causado pelo ciúme.
— Estava apaixonado por ela? - atreveu-se a perguntar.
— Não. - disse sem vacilação. — Mas eu gostava. Ainda gosto.
Um cenho apareceu através de sua frente.
— Por que já não a vê?
Nick sacudiu sua cabeça.
— Ao cabo de um tempo, Gemma acreditou que não havia nada mais a ganhar por ambas as partes continuando com o acerto. Após me dei conta que tinha razão. E não me deitei com ninguém mais, até ti.
Então já vê, não tenho problemas em manter minha calça fechada.
Uma maré de alívio a percorreu. Somente por que estava tão contente com a idéia de que poderia ser capaz de guardá-lo todo para ela não era algo sobre o que desejasse refletir muito estreitamente.
Abandonando a cama, apressou-se a recolher seu vestido descartado do chão, e o sustentou diante de si.
— Admito que esteja surpreendida. - disse, tratando de parecer despreocupada por sua nudez. — Sem dúvida alguma não é previsível em nenhum aspecto.
Aproximou-se dela e fechou suas mãos sobre seus ombros nus.
— Tampouco você. - respondeu. — Nunca esperei receber tal prazer de uma completa principiante. — Tirando o vestido de suas mãos, Nick o deixou cair ao chão e pressionou seu corpo contra o veludo da parte dianteira de sua bata. Sua pele formigava pela suavidade felpuda que acariciava dos os seios aos joelhos. — Talvez seja porque é minha. - refletiu, sua mão cobrindo seu seio pálido e redondo. — Ninguém me pertenceu nunca antes.
Lottie riu ironicamente.
— Faz-me soar como um cavalo que acaba de comprar.
— Um cavalo teria sido mais barato. - respondeu, e sorriu abertamente quando ela o atacou com fingida força.
Ela golpeou seu peito, e ele torceu seus punhos por detrás de suas costas com cuidado, fazendo que seus seios empurrassem para frente.
— Guarda sua força. - aconselhou, sorrindo contra seu cabelo. Liberando seus punhos, roçou as pequenas costas com uma mão. — Deve estar dolorida. Prepararei um banho quente para ti. Quando terminar, procuraremos algo para comer.
Um banho quente seria maravilhoso. Entretanto, o pensamento de meter-se em um espartilho e vestir-se para o jantar era pouco atraente.
— Terei que fazer que nos enviem uma bandeja com o jantar aqui? — Perguntou Nick.
— Sim. — Disse Lottie imediatamente e lhe jogou uma olhada zombadora. — Como faz isso? Sempre parece saber o que penso.
— Seu rosto mostra tudo. – Tirando a coberta, colocou-a ao redor dela, o veludo pesado a esquentou com o calor persistente de seu corpo.
— Só comi em meu dormitório uma vez, quando estava doente - disse-lhe enquanto ele atava a coberta ao redor dela. — E faz anos.
Nick se inclinou para lhe sussurrar ao ouvido.
— Minha apaixonada noiva... Mais tarde te mostrarei que o dormitório é o melhor lugar possível para jantar.
Banhou-a ele mesmo, ajoelhando-se ao lado da tina com as mangas de seu traje enroladas, mostrando o molhado e belo de seus antebraços. Com os olhos entreabertos, Lottie deixou que seu olhar vagasse da coluna bronzeada de sua garganta ao cabelo negro que enchia o "v" aberto de sua cobertura. Era uma criatura tão solidamente masculina, e, entretanto a tocava com suavidade incongruente. Os véus de vapor se elevavam da água, fazendo o ar quente e iridescente. Ela se sentia drogada com o calor e a sensualidade enquanto suas mãos fortes, previsíveis se deslizaram nos lugares íntimos de seu corpo.
— Dói-te aqui? — Perguntou, seus dedos se escorregaram sobre a entrada torcida de seu sexo.
— Um pouco. - apoiou-se contra seu braço, sua cabeça recostada sobre a borda gentil de madeira da enorme banheira de porcelana.
Nick amassou ligeiramente com as pontas de seus dedos, como se pudesse curá-la com seu tato.
— Fui delicado?
— Foi. - conseguiu dizer, suas coxas flutuando separadas.
Os espessos cilíos de Nick baixaram quando olhou o reluzente contorno de seu corpo sob a água. Suas formosas feições estavam esculpidas com tal intensidade que seu rosto poderia ter estado modelado em bronze.
A borda de sua manga enrolada se arrastou pela água, o veludo ficou quente e encharcado.
— Jamais lhe farei isso outra vez. - disse. — Isto é uma promessa.
Lottie conteve a respiração enquanto ele separava as dobras sensíveis entre suas coxas e investigava a frágil gordura que tinham oculto.
Seus quadris levantados, enquanto suas mãos lutavam por agarrar-se sobre a superfície escorregadia da tina. Ele deslizou um braço de apoio detrás de suas costas, sustentando-a bem.
— Te encoste. - murmurou ele. - me deixe te agradar.
Não, pensou com ceticismo, não em uma banheira, com uma grosa parede de porcelana entre eles. Mas se relaxou em seu abraço e se abriu para ele enquanto seu braço livre se movia por seu corpo. Ela agarrou seu punho ligeiramente, sentindo o movimento de tendões e músculos enquanto ele levava seu polegar sobre cada lado de sua vulva. Esfregava os rebordos de seda de seus lábios interiores de uma vez, seu tato delicado e ligeiro. Brandamente a separou, acariciando com a ponta de seu dedo do meio ao longo da sensível junta, acariciando o rosado botão de seu sexo cada vez. Sorriu ligeiramente quando viu brilhantes manchas de cor aparecerem sobre seu rosto e seio.
— Os chineses chamam a isto de terraço da jóia. - sussurrou. Com cuidado seu dedo escorregou dentro dela, avançando só uma polegada, dando voltas brandamente. — E aqui, as cordas do alaúde... E aqui... — Ele alcançou as partes mais secretas de seu corpo. — O coração da flor. Dói-te quando te toco assim?
— Não. - ofegou.
Seus lábios acariciaram seu ouvido.
— A próxima vez que nos deitarmos juntos, te mostrarei uma posição chamada Tigres andantes. Entrarei em ti por trás e irei profundamente dentro... E esfregarei contra o coração da flor uma e outra vez... — Ele sugou sua orelha, agarrando-a ligeiramente entre seus dentes. Um murmúrio de prazer subiu do seio de Lottie a sua garganta. Estava flutuando, firmemente com os braço em suas costas e a mão entre suas coxas.
— Como sabe semelhantes coisas? — Perguntou vacilante.
— Gemma colecionava livros sobre técnicas eróticas. Um de seus favoritos é uma tradução de um texto escrito durante a dinastia Tang. O livro aconselha aos homens aumentarem sua resistência atrasando seu próprio prazer tanto como seja possível. — Seu dedo se retirou, e acariciarou o interior suas coxas com a ligeireza das asas de uma mariposa. — E dá receitas para beneficiar a saúde... Para reforçar os ossos...
enriquecer o sangue... Assegurar uma longa vida.
— Me diga algumas delas. - disse Lottie, tragando com força enquanto sua mão se cavava sobre ela, a base de sua palma empurrando ritmicamente no lugar onde ela estava mais sensível.
Ele acariciou sua bochecha com o nariz.
— Esta é de Fênix voadora, que se diz fazer desaparecer cem enfermidades. Como Grous com os pescoços entrelaçados, conforme se diz muito boa para promover a cura.
— Quantas provaste?
— Só aproximadamente quarenta. Os professores antigos me considerariam um principiante.
Lottie retrocedeu para lhe olhar assombrada, seu movimento provocando que uma onda salpicasse perto da borda da tina.
— Quantos há por amor ao céu?
— Quinze movimentos coital aplicados a trinta e seis posições básicas... as quais proporcionam aproximadamente quatrocentas variações.
— P-parece bastante excessivo. - conseguiu dizer.
A diversão se enroscava através de sua voz.
— Manteria-nos ocupados, verdade?
Lottie estremeceu quando compreendeu que ele tratava de deslizar dois dedos dentro dela.
— Nick, não posso...
— Respira fundo e exala devagar. - sussurrou. — Serei delicado. — E quando obedeceu, ele facilitou que seus dedos centrais transpassassem a apertada entrada. Seu polegar brincou com seu sexo e girou a um ritmo regular.
Gemendo, Lottie enterrou seu rosto contra seu braço coberto por veludo enquanto seus músculos interiores agarravam em vão ante a suave invasão. Depois de que a pontada inicial se desvanecesse, começou a retorcer-se e ofegar com cada penetrante deslize.
— Abraça-me tão docemente aqui. - disse Nick com voz rouca. — Quero ir mais e mais profundo...
Perder-me em ti...
Suas palavras foram afogadas pelo trovejar de seu próprio batimento do coração, e foi atormentada com estremecimentos de êxtase, seus sentidos acesos como fogo candente.
Muito tempo mais tarde, depois que o banho se esfriou, Lottie se vestiu com uma fresca camisola branca e se aproximou da mesa do dormitório, onde Nick estava de pé. Ela se sentiu ruborizar quando ele a olhou com um meio sorriso.
— Eu gosto do modo em que te vejo nisto. - disse, acariciando seus dedos sobre o sutiã e a gola alta do vestido. — Muito inocente.
— Já não. - disse Lottie com um sorriso envergonhado.
Ele a levantou contra seu corpo, seu rosto roçando-se com a fresca umidade de seu cabelo. Sua sedutora boca encontrou seu pescoço.
— OH, sim, é. - disse. - vai requerer muito tempo e esforço te perverter completamente.
— Tenho toda a confiança em que o obterá. - disse, e sentou diante de um prato carregado de presunto, pudim de verduras, batatas, e bolos com a frente sem cobertura.
— Por nosso matrimônio. - disse Nick, servindo uma taça de vinho para ela. — Poderia seguir com melhor rumo de que começou.
Levantaram suas taças e chocaram o cristal com cuidado. Lottie bebeu os goles cautelosamente, descobrindo um sabor rico, picante que equilibrou a salinidade do presunto.
Deixando sua taça de lado, Nick tomou sua mão na sua e observou seus dedos nus pensativamente.
— Não tem anel. Remediarei isso amanhã.
Lottie experimentou uma faísca vergonhosa pelo interesse ante a idéia. Ela nunca havia possuído uma peça de joalheria. Entretanto, lhe tinham ensinado em Maidstone que uma senhora deveria evitar parecer ambiciosa. Arrumou para adotar uma expressão imperturbável.
— Não é necessário. - disse. — Muitas mulheres casadas não levam anéis.
— Quero que qualquer um que te olhe saiba que és minha.
Lottie lhe deu de presente um luminoso sorriso.
— Se insiste, suponho que não posso te deter.
Ele sorriu abertamente ante seu óbvio entusiasmo. Seu polegar acariciava os magros pontos de seus nódulos.
— Que tipo de pedra você gostaria?
— Uma safira?— Sugeriu esperançada.
— Que seja uma safira. - reteve sua mão enquanto falavam, brincando distraidamente com as pontas de seus dedos e as bem cuidadas unhas em forma de lua crescente. — Suspeito que queira ver sua família logo.
A atenção de Lottie imediatamente se desviou do assunto do anel.
— Sim, por favor. Temo que Lorde Radnor já possa haver dito a meus pais o que tenho feito. E não quero que se preocupem de ser abandonados na indigência agora que me casei com outro.
— Não há nenhuma necessidade de parecer tão preocupada. - disse Nick, remontando as veias finas no interior de seu punho. — Não tinha nenhum papel na negociação, não é culpa tua que não desejasse mantê-
lo.
— Mas me beneficiei disso. - indicou Lottie a contra gosto. — Todos aqueles anos em Maidstone... minha educação custou muito dinheiro. E agora Lorde Radnor não tem nada em troca.
Ele arqueou uma escura sobrancelha.
— Se seu propósito for que Radnor foi usado — Não, não é isso, precisamente. É sozinho que... bom, não fui honorável.
— Sim, sem dúvida deveria te haver caído sobre a espada pelo resto da família. - disse sardonicamente. — Mas seus pais seriam servidos menos mal assim. Eu possivelmente não poderia ser pior genro que Radnor.
— Certamente que é preferível como marido. - disse.
Ele riu disso, levantando seus dedos até sua boca.
— Preferiria a qualquer antes que ao Radnor como um marido, o deixaste bastante claro.
Lottie sorriu, pensando em privado que no matrimônio com Nick, tinha terminado com um marido de longe diferente de que tinha esperado.
— O que fará amanhã? - perguntou, recordando seu enfrentamento mais cedo com sir Ross. Estava segura de que Nick não renunciaria a sua posição em Bow Street.
Liberando sua mão, Nick franziu o cenho.
— Irei visitar o Morgan.
— Crê que ficará de seu lado contra sir Ross?
— Não há uma maldita possibilidade. Mas ao menos terei a satisfação de dizer a Morgan que maldito traidor podre é.
Lottie se inclinou adiante para tocar a lapela de seu traje.
— Consideraste a possibilidade de que ambos pensam que é o melhor para ti? Que pudesse ser em seu próprio benefício reclamar o título?
— Como poderia ser? Meu Deus! Viverei em uma jaula dourada.
— Estarei ali contigo.
Olhou-a fixamente, aparentemente detido pelas palavras. Olhou-a tão intensamente, portanto tempo, que Lottie finalmente se convenceu a perguntar, — O que? O que estas pensando?
Nick riu sem humor.
— Somente pensava que melhor está preparada para minha vida.
Embora Lottie o houvesse convidado timidamente a ficar a noite com ela, Nick partiu depois do jantar, retirando-se ao quarto de hóspedes umas portas mais à frente.
Estarei ali contigo. Suas palavras curiosamente tinham afetado a Nick, justo como o fez seu casual comentário no poço dos desejos. Possuía um terrível dom para lhe desenredar com uma simples frase...
Palavras tão comuns, e ainda assim envoltas de significado.
Não sabia o que fazer com Lottie. Apesar da forma em que a tinha enganado ao princípio, parecia totalmente disposta a atuar como sua companheira. Respondeu-lhe com paixão e generosidade, e em seus braços tinha sido capaz de esquecer segredos que o tinham atormentado durante quatorze anos. Ansiava mais daquele doce esquecimento. As poucas horas passadas tinham sido extraordinariamente diferentes do que tinha experimentado com Gemma. Quando fez amor com Lottie, sua luxúria estava enredada com uma profunda ternura que fez suas respostas físicas insuportavelmente intensas.
Ela seguia alcançando sua defesa sem nem sequer parecer saber o que fazia, e não podia permitir a ninguém essa classe de intimidade. A esse ritmo, só era questão de tempo antes que Lottie descobrisse os demônios que estavam à espreita dentro dele. E se isso passava, separaria-se dele com horror. Tinha que manter certa distância entre eles, de outra maneira finalmente chegaria a olhá-lo com repugnância. Ou compaixão. O pensamento lhe deu calafrios.
Tinha que manter sua indiferença, embora agora tivesse muita vontade de voltar para ela. Em seus vinte e oito anos, nunca havia sentido essa dolorosa necessidade por alguém. Somente estar no mesmo quarto com ela.
Meu Deus, pensou com surdo horror, indo até a janela e olhando fixamente às cegas na noite. O que me passa?
Sr Grant Morgan elevou a vista de sua mesa quando Nick irrompeu em seu escritório antes das sessões da manhã. Não havia nenhum rastro de desculpa em seus duros olhos verdes.
— Já vejo que falaste com Sr Ross. - disse.
Nick ficou a desafogar seu ultraje com as palavras mais grosseiras jamais concebidas na história da língua inglesa, atirando acusações que teriam provocado que qualquer outro homem se encolhesse de terror ou estendesse a mão até a pistola mais próxima. Morgan, entretanto, escutou com tanta calma como se Nick lhe oferecesse uma descrição do tempo.
Depois de um extenso discurso enfático especulando sobre a probabilidade de que Morgan era nada mais que uma marionete enquanto que Sr Ross atirava das cordas, o magistrado principal suspirou e interrompeu.
— Suficiente. - disse brevemente. — Começa a te repetir. A não ser que tenha algo novo a acrescentar, também pode economizar o fôlego. Quanto a sua última acusação, que esta situação é toda obra do Sr Ross, posso te assegurar que a decisão de te tirar a força foi tanto minha como dele.
Até aquele momento, Nick nunca tinha se dado conta de quanto a opinião de Morgan era importante para ele. Mas experimentou uma autentica punhalada de dor, uma sensação de traição e fracasso.
— Por quê? - ouviu-se perguntar com voz rouca. — Meu rendimento era tão insatisfatório? Que mais poderia ter feito? Solucionei cada caso e apanhei quase a cada homem atrás do que me enviou, e o fiz segundo as regras, do modo que queria. Fiz tudo que me pediu. Inclusive mais.
— Nunca houve problema com seu rendimento. - disse Morgan silenciosamente. - cumpriu seus deveres tão habilmente como qualquer um. Nunca vi a nenhum homem que te igualasse em valor ou engenho.
— Então me apóie contra sir Ross. - disse Nick bruscamente. - lhe diga que tire essa citação judicial que me necessita em Bow Street.
Seus olhares se chocaram e se sustentaram, e logo algo no rosto de Morgan mudou. Maldito se não parecia quase paternal, Nick pensava com sombria fúria, apesar do fato de que Morgan era só aproximadamente dez anos mais velho que ele.
— Sente-se. - disse Morgan.
— Não, não o farei
— Por favor. — O convite foi pronunciado com inflexível cortesia.
Por favor? Nick ocupou a cadeira mais próxima, virtualmente recuperando-se da comoção. Morgan nunca tinha usado aquela palavra antes, Nick não teria pensado que era parte de seu vocabulário. Agarrando aos braços da cadeira de couro com marcas, Nick lhe olhou com cautela.
O magistrado começou a falar. Em sua amizade de três anos, Morgan nunca se dirigiu a ele assim, com uma preocupação amistosa, bastante paternal.
— Não te quero em Bow Street, Gentry, Deus sabe que isto não tem nada que ver com sua eficácia. É o melhor agente que jamais vi. Desde que veio aqui, tratei de oferecer uma mínima guia que pensei que aceitaria, e te vi mudar de um bastardo egoísta em um homem que considero que é de uma vez sério e responsável. Mas há uma coisa que lamento dizer não mudou. Desde o começo, tomaste riscos suicidas no curso de seu trabalho porque te importa ser um nada ou mesmo ninguém. E em minha opinião, seguirá assim se permanecer aqui, a custa de sua própria vida.
— Por que demônios te importa?
— Eu fui detetive durante dez anos, e vi muitos homens morrerem no curso de seus deveres. Eu mesmo estive perto mais de uma vez. Chega um momento quando um homem belisca o nariz do diabo muito frequentemente, e se for muito obstinado ou torpe para compreendê-lo, pagará com seu próprio sangue. Eu saberia quando parar. E você também.
— Por causa de seus famosos instintos? — Nick ficou com ira. — Maldita seja, Morgan, ficou como detetive até que teve trinta e cinco anos! Por essa conta, ainda ficam sete anos para partir.
— Tentaste ao destino muitas mais vezes nos três anos passados do que eu o fiz em dez. - respondeu o magistrado.— E a diferença de ti, não usei o trabalho como meio de exorcizar demônios.
Nick permaneceu inexpressivo, enquanto a desesperada pergunta O que sabe ele? Zumbido feria em sua cabeça. Sophia era a única que sabia da completa fealdade de seu passado. Ela provavelmente o tinha contado a Cannon, que a sua vez poderia ter contado algo a Morgan — Não, não sei que demônios são esses. - disse Morgan brandamente, seus olhos esquentando-se com uma piscada de compaixão ou de bondade. — Embora possa fazer uma hipótese aceitável. Infelizmente não tenho nenhum conselho para oferecer sobre como reconciliar-se com o passado. Tudo o que sei é que este caminho não funciona, e estaria condenado a deixar te matar em minha guarda.
— Não sei de que demônios falas.
Morgan seguiu como se não lhe tivesse ouvido.
— Mas bem me inclino a estar de acordo com a opinião de Sr Ross de que nunca encontrará a paz até que deixe de viver atrás do escudo de um nome fictício. Tão difícil como pode ser confrontar o mundo como Lorde Sydney, penso que é o melhor...
— O que se supõe que devo fazer como visconde? — Perguntou Nick com uma inquietante risada. — Colecionar tabaco e gravatas? Ler jornais no clube? Aconselhar aos arrendatários? Cristo sei tanto sobre agricultura como você!
— Há milhares de modos em que um homem pode ser útil no mundo. - disse Morgan francamente. — Acredite ninguém espera ou deseja que leve uma vida incapaz. - fez uma pausa e tomou um papel e tinta em sua enorme mão, olhando-o pensativamente. — Os detetives serão dissolvidos logo, em qualquer caso. Com o tempo teria que encontrar outra coisa que fazer. Simplesmente precipito o assunto uns meses antes.
Nick sentiu que a cor corria de seu rosto.
— O que?
Morgan sorriu abertamente de repente por sua expressão.
— Ora, não deveria ser nenhuma surpresa para ti, inclusive em vista de seu desinteresse pela política.
Quando Cannon deixou a magistratura, era só questão de tempo até que os detetives fossem despedidos. Ele era o coração e o espírito deste lugar, lhe dedicou cada momento em que estava acordado durante anos, até...
- fez uma pausa discretamente, deixando que Nick enchesse o silêncio.
— Até que encontrou a minha irmã. - disse Nick acidamente. — E se casou com ela.
— Sim. — Morgan não parecia de tudo arrependido sobre a saída de Cannon do escritório público. De fato, seus duros e afiados traços se abrandaram, e seu sorriso se atrasou enquanto prosseguia. — A melhor coisa que lhe passou. Entretanto, foi apenas um favor para Bow Street. Agora que Cannon se retirou, há um movimento no Parlamento para reforçar a ação da polícia londrina. E muitos políticos acreditam que a Nova Polícia se faria mais popular entre o público se os agentes não estivessem aqui para competir com eles.
— Têm a intenção de deixar toda Londres a esse tolos? — Perguntou Nick com incredulidade. — Bom lhes diga! A metade da Nova Polícia não são nada do outro mundo, e outra metade são ovelhas negras ou idiotas.
— Seja como for, o público nunca apoiará totalmente a Nova Polícia enquanto os detetives permanecerem. Não se podem instalar velhos instrumentos numa nova máquina.
Atordoado pelo caráter definitivo da voz do magistrado principal, Nick cravou um olhar acusador.
— Não vais lutar por este lugar? Tem uma obrigação — Não. — Disse simplesmente o magistrado principal. — Minha única obrigação é com minha esposa.
Ela e meus filhos são mais importantes para mim que qualquer outra coisa. Deixei claro a Cannon que nunca renderia minha alma por Bow Street da maneira que ele o fez, portanto tempo. E o entendeu.
— Mas o que passará com os detetives? — Perguntou Nick, pensando em seus camaradas... Sayer, Flagstad, Gee, Ruthven... Homens com talento que tinham servido ao público com coragem e a dedicação, tudo por uma mera miséria.
— Imagino que um ou dois se unirão à Nova Polícia, onde são muito necessários. Os outros passarão completamente a outras profissões. Posso abrir um escritório privado de investigação e empregar a dois ou três por um tempo.
Morgan se encolheu. Fazendo uma fortuna relativa em seus anos em Bow Street, não tinha nenhuma necessidade de trabalhar, por outro motivo que seu próprio capricho.
— Meu Deus, parti para me ocupar de um caso privado, e retornei para encontrar todo o maldito escritório público desfazendo-se!
O magistrado riu brandamente.
— Vai-te a casa com sua esposa, Sydney. Começa a fazer planos. Sua vida mudará, não importa como trata de evitá-la.
— Não serei Lorde Sydney. - grunhiu Nick.
Os olhos verdes brilharam com amistosa irreverência.
— Há piores destinos, milord. Um título, terra, uma esposa... Se não puder fazer algo sobre isso, realmente não há esperança para ti.
Capítulo 10
— Algo em amarelo pálido, acredito. - disse Sophia com decisão, sentando em meio de tantos tecidos que parecia como se um arco íris tivesse explodido na habitação.
— Amarelo. — Repetiu Lottie, mastigando o lado de seu lábio inferior. — Não acredito que apague minha tez.
Como esta era ao menos a décima sugestão que Lottie tinha rechaçado, Sophia suspirou e sacudiu sua cabeça com um sorriso. Teve que requisitar o quarto traseiro na loja de sua costureira na rua Oxford expressamente com o objetivo de ordenar um enxoval para Lottie.
— Sinto muito. - disse Lottie sinceramente. — Não tinha intenção de ser difícil. Está claro que tenho pouca experiência com este tipo de coisas.
Nunca lhe tinham permitido escolher os estilos ou as cores de seus vestidos. Segundo os ditados de Lorde Radnor, ela sempre levava desenhos castos em cores escuras. Infelizmente era agora difícil imaginar-se em azul vivo, ou amarelo, ou, que o céu lhe ajude, rosa. E a idéia de expor a maior parte superior de seu peito em público era tão embaraçosa que morreu de vergonha ante as atrevidas ilustrações do livro de amostras que Sophia lhe tinha mostrado.
A irmã maior de Nick, em sua honra, era notavelmente paciente. Enfocou a Lottie com um uniforme olhar azul e um sorriso persuasivo que tinha uma semelhança pouco comum com seu irmão.
— Lottie, querida, não é difícil no mais mínimo, mas...
— Mentirosa. — Respondeu Lottie imediatamente, e ambas riram.
— Está bem. - disse Sophia com um sorriso. - é condenadamente difícil, embora esteja segura que é involuntário. Portanto vou fazer-te duas petições. Primeiro, por favor, tenha em conta que isto não é um assunto de vida ou de morte. Escolher um vestido não é muito difícil, especialmente quando está sendo aconselhada por uma amiga ardilosa e muito elegante, que seria eu.
Lottie sorriu.
— E a segunda petição?
— A segunda é... Por favor, confia em mim. — Enquanto Sophia lhe sustentava seu olhar, estava claro que o magnetismo da família de Sydney não estava limitado aos homens. Ela irradiava uma mescla de cordialidade e segurança em si mesma que era impossível resistir. — Não deixarei que pareça suja ou vulgar. -
prometeu. — Tenho um gosto excelente, e estive fora, na sociedade de Londres durante algum tempo, enquanto que você esteve...
— Enterrada em Hampshire? — Lottie satisfez amavelmente.
— Sim, exatamente. E insistir em se vestir no estilo monótono que é apropriado para uma mulher com o dobro de sua idade, sentir-se-á fora do lugar entre sua própria gente. Além disso, indubitavelmente prejudicaria imperfeitamente a meu irmão, porque as intrigas sussurrarão que deve ser miserável contigo, se se vestir com simplicidade — Não. — Disse Lottie automaticamente. — Seria injusto para ele, quando me deu permissão para comprar algo que deseje.
— Então me deixe escolher alguma coisa para ti. - enrolou Sophia.
Lottie assentiu, refletindo que estava provavelmente muito longe da moderação. Teria que aprender a confiar em outra pessoa.
— Estou em suas mãos. - disse com resignação. — Levarei tudo o que sugira.
Sophia se movia com satisfação.
— Excelente! - levantou um livro e começou inserir partes de papel entre as páginas que gostava particularmente. A luz jogada sobre seu cabelo dourado escuro, realçando sombras de trigo e mel nos brilhantes filamentos. Era uma mulher extraordinariamente bonita, suas delicadas características um eco feminino do enérgico rosto de Nick. De tanto em tanto fazia uma pausa para dar a Lottie um olhar avaliativo, seguido por um assentimento ou uma rápida sacudida de cabeça.
Lottie se sentou calmamente e bebeu um pouco de chá que o ajudante da costureira havia trazido. Chovia pesadamente fora e a tarde era cinza e fresca, mas o quarto era acolhedor e tranquilo. As complexas coisas femininas cobriam ou estavam amontoados por toda parte... Cordões derramados, longitudes de cinta de seda e veludo, bonitas flores artificiais, suas pétalas adornadas com contas de cristal para simular gotas de rocio.
De vez em quando a costureira aparecia, consultava com a Sophia e tomava apontamentos, logo discretamente desaparecia. Alguns clientes, havia dito Sophia a Lottie, necessitam que a costureira tirasse as medidas a cada minuto. Outros eram muito mais decididos em suas preferências e gostavam de tomar decisões sem interferência.
Tranquilamente distraída, Lottie quase se assustou quando Sophia falou.
— Não pode imaginar quão emocionada estava quando Nick escreveu que tinha tomado a uma noiva. — Sophia sujeitou dois tecidos unidos e os examinou criticamente, os girando para ver como afetava a luz da malha. — Diga-me, o que foi que te atraiu em meu irmão primeiro?
— É um homem bonito. - disse Lottie cautelosamente. — Eu não podia menos que notar seus olhos, e o cabelo negro, e... Era também muito encantador, e... — Fez uma pausa, sua mente voltou para aqueles tranquilos momentos esquentados pelo sol ante a porta perto do bosque... Que enfastiado do mundo parecia, quanto necessitava de consolo. — Desolado. - disse, quase sem fôlego. — Perguntava-me como um homem tão extraordinário podia ser a pessoa mais triste que tinha conhecido.
— OH, Lottie. - disse Sophia brandamente. — Pergunto-me por que pôde ver isso nele, quando todos outros consideram que ele seja invulnerável. — Inclinando-se adiante, sustentou uma parte da pálida seda âmbar sob o queixo de Lottie, provando-o contra sua tez, logo o baixou. — Durante a maior parte de sua vida, Nick teve que lutar pela sobrevivência. Era tão jovem quando nossos pais morreram... E se fez tão rebelde depois... - deu uma pequena sacudida rápida de cabeça, como se escapasse de uma repentina multidão de dolorosas lembranças. — E logo escapou a Londres, e não ouvi nada dele, até que um dia me inteirei que tinha sido condenado por algum pequeno crime e condenado a um navio prisão. Uns meses depois disso, disseram-me que tinha morrido por enfermidade a borda do navio. Chorei durante anos.
— Por que não foi a ti? Ao menos poderia ter enviado uma carta de alguma forma, para te economizar semelhante angustia desnecessária.
— Acredito que estava muito envergonhado, depois do que lhe tinha passado. Tratou de esquecer que John, Lorde Sydney, alguma vez tinha existido. Era mais fácil deixar tudo longe e criar uma nova vida para ele como Nick Gentry.
— Depois do que tinha passado? — Perguntou Lottie, perplexa. — Refere a seu encarceramento?
Os olhos azuis escuros de Sophia procuraram os seus. Parecendo compreender que não tinha falado a Lottie sobre algo importante, voltou-se reservada.
— Sim, seu encarceramento. - disse vagamente, e Lottie sabia que Sophia protegia a seu irmão de algum misterioso segredo.
— Como se inteirou de que ainda estava vivo?
— Vim a Londres. - respondeu Sophia, - para me vingar do magistrado que o tinha condenado ao navio prisão. Culpava-lhe pela morte de meu irmão. Mas para minha consternação, logo me encontrei apaixonada por ele.
— Sr Ross? — Lottie a olhou fixamente com assombro. — Não sente saudades que Nick não... — Dando-se conta do tinha estado a ponto de dizer, deteve-se bruscamente.
— Tenha-lhe tanta aversão? - terminou Sophia para ela com uma risada pesarosa. — Sim, os dois não têm nenhum carinho um ao outro. Entretanto, isso não impediu a meu marido de fazer tudo o que pode para ajudar a Nick. Já vê, inclusive depois de que Nick se unisse aos detetives, ele era... Bastante imprudente.
— Sim, — Reconheceu Lottie cautelosamente. - tem uma constituição bastante vigorosa.
Sophia riu sem humor.
— Temo-me que foi mais que isso, querida. Durante três anos Nick correu riscos descabelados, sem parecer preocupar-se se viveria ou morreria.
— Mas por quê?
— Certos acontecimentos no passado de Nick o têm feito, mas bem amargurado e indiferente. Meu marido e Sr Grant procuraram lhe ajudar a mudar para seu bem. Eu nem sempre estava de acordo com seus métodos. Posso te assegurar que Sr Ross e eu cercamos combate em alguns animados debates sobre o assunto. Entretanto, enquanto o tempo passou, parece que meu irmão melhorou em muitos aspectos. E
Lottie, estou muito animada pelo fato de que se casou contigo. — Tomou a mão de Lottie e a espremeu calorosamente.
— Sophia... — Lottie apartou seu olhar enquanto falava a contra gosto. — Não acredito que o matrimônio realmente poderia caracterizar-se como um matrimônio por amor.
— Não. - aceitou a outra mulher brandamente. — Temo-me que a experiência de amar e ser amado seja bastante estranha para Nick. Sem dúvida lhe levará algum tempo reconhecer o sentimento pelo que é.
Lottie estava segura de que Sophia tinha a intenção de tranquilizá-la. Entretanto, a idéia de que Nick Gentry se apaixonasse por ela não só era improvável, mas também alarmante. Ele nunca baixaria a guarda até esse ponto, nunca permitiria a alguém semelhante poder sobre ele, e se o fizesse, muito bem poderia fazer-se tão obsessivo e dominante como Lorde Radnor. Não queria que ninguém a amasse. Embora estivesse claro que algumas pessoas encontravam uma grande alegria no amor, como Sophia e Sr Ross, Lottie não podia evitar considerá-lo como uma armadilha. O acerto que ela e Nick tinham elaborado era muito mais seguro.
Nick se encontrou estranhamente à deriva depois que abandonou o escritório público. Tinha começado a chover, e as nuvens que floresciam prometiam um dilúvio mais pesado ainda por vir. Ao, cruzar pelo pavimento liso, sentia o frio, e os grossos pingos de água afundando-se por seu cabelo e apedrejando a malha do tecido de seu casaco. Deveria procurar refúgio em algum lugar... O Urso pardo, um botequim situado em frente ao Nº 3 do Bow Street... Ou possivelmente A Casa de Café do Tom, onde o médico preferido dos agentes, o Doutor Linley, estava acostumado a aparecer. Ou seu próprio lar... Mas tirou esse pensamento imediatamente.
A chuva caía mais pesada, o que levou a vendedores de ruas e aos pedestres a agrupar-se sob os toldos das lojas. Moços entravam como flechas na rua para ir procurar táxis para os cavalheiros que tinham sido pegos despreparados pela chuva. Guarda-chuvas quebrados abertos, suas armações torcidas pelas fortes rajadas de vento, enquanto o céu era dividido pelos relâmpagos. O ar perdeu seu característico aroma de pátio de quadra e tomou a frescura da chuva de primavera. Correntes marrons transpassavam as bocas-de-lobo, liberando as substâncias que os limpadores noturnos tinham falhado em tirar durante as rondas da tarde.
Nick andou sem direção, enquanto a chuva deslizava descendo por seu rosto e gotejava em seu queixo. Em geral em seu tempo livre, ia a algum lugar com Sayer ou Ruthven a trocar histórias ante uma cerveja e um bife, ou assistiriam a um combate de boxe ou uma comédia ascensão de tom no Drury Lane. Às vezes patrulhavam as ruas em um pequeno grupo, inspecionando tranquilamente as estradas e becos ante qualquer sinal de alteração.
Pensando em outros detetives, Nick sabia que logo perderia seu companheirismo. Era uma loucura esperar que fosse de outra maneira. Já não podia mover-se em seu mundo mais, sir Ross o tinha feito impossível. Mas por quê? Por que o bastardo intrometido não podia lhe haver deixado em paz? A mente de Nick perseguia em círculos, falhando em apreender a resposta. Possivelmente tinha algo a ver com a busca indefectível de Sr Ross ao correto, a ordem. Nick tinha nascido visconde e, portanto devia ser restituído a sua posição, não importava o pouco apto que fosse para isso.
Nick pensou no que sabia da nobreza, de seus hábitos e rituais, as incontáveis normas de conduta, o inevitável retiro dos aristocratas fazendeiros da realidade da vida comum. Tratava de imaginar-se passando a maioria de seu tempo vadiando em salas e salões, ou fazendo ranger seu jornal recém engomado no clube.
Dando discursos diante dos Lordes para demonstrar sua consciência social. Assistindo a soirées, e conversando sobre arte e literatura, e trocando fofocas sobre outros cavalheiros com meias de seda.
Uma sensação de pânico o encheu. Não havia se sentido assim antes nesse esgotamento, desde que lhe baixaram à escura e pestilenta adega do navio prisão e encadearam junto aos mais envilecidos seres imagináveis. Mas então ele sabia que a liberdade jazia justo fora dos cascos do navio ancorado. E agora não havia nenhum lugar para escapar.
Como um animal em uma jaula, sua mente procurava com movimentos zangados, procurando uma espécie de refúgio.
— Gentry! — A exclamação amistosa interrompeu seus pensamentos.
Eddie Sayer se aproximou de Nick com seu acostumado simpático sorriso. Grande, arrumado e simpático por natureza, todos os agentes gostavam de Sayer, e era o único em que Nick mais confiava em uma situação difícil.
— Finalmente retornaste. - exclamou Sayer, trocando um caloroso aperto de mãos. Seus olhos negros cintilaram sob seu chapéu encharcado. — Vejo que acaba de vir do escritório. Sem dúvida Sr Grant te deu uma endemoninhada missão para compensar sua larga ausência.
Nick encontrou que seu arsenal habitual de agudas piadas estava esgotado. Sacudiu sua cabeça, encontrando dificuldade de explicar como sua vida se tornou péssima em curto espaço de uma semana.
— Nenhuma missão. - disse com voz rouca. - fui despedido.
-O que? — Sayer lhe olhava sem compreender. – E por quê? É o melhor homem que tem Morgan. Por que demônios faria isso?
— Porque vou ser visconde.
De repente a perplexidade de Sayer desapareceu, e riu.
— E eu vou ser o duque de Devonshire.
Nick não forçou um sorriso, só olhou Sayer com sombria resignação que provocou que a diversão do outro homem se desvanecesse ligeiramente.
— Gentry, - perguntou Sayer. - não é um pouco cedo para que esteja bêbado?
— Não estive bebendo.
Ignorando a declaração, Sayer assinalou com um gesto A Casa de Café do Tom.
— Venha, tentaremos te pôr sóbrio com um pouco de café. Possivelmente Linley esteja ali, ele pode dar uma mão para compreender o que te aturdiu tanto.
Depois de numerosos copos de café que tinham sido generosamente adoçados com torrões de açúcar moreno, Nick se sentia como um relógio de bolso que tinha sido dado corda muito forte. Encontrava pouco consolo na companhia de Sayer e Linley, que claramente não sabiam o que fazer de sua inverossímil afirmação. Eles o pressionaram por detalhes que era incapaz de dar, porque não podia reunir o valor para falar de um passado que tinha levado uma década e meia tratando de esquecer. Finalmente os deixou em A Casa de Café e voltou a passear sob a chuva. Amargamente pensou que o único período de sua vida na qual tinha sido capaz de tomar decisões por si mesmo, tinham sido seus anos como senhor do crime. Seria condenado facilmente por passar por cima da violenta miséria daqueles anos e pensar só no prazer selvagem que tinha obtido em burlar a Sr Ross Cannon a todo momento. Se alguém tivesse dito naquele tempo que um dia estaria trabalhando para Bow Street, casado, e obrigado a levar o maldito titulo familiar...Santo Inferno.
Teria tomado todas e cada uma das medidas para evitar semelhante destino.
Mas não podia pensar no que poderia ter feito de maneira diferente. O trato com Sr Ross tinha sido inevitável. E a partir do momento em que tinha visto Lottie de pé sobre aquele muro sobre o escarpado do rio Hampshire, tinha a desejado.
Sabia também que nunca deixaria de desejá-la, e provavelmente deveria abandonar todas as tentativas de conseguir entender por que. Às vezes não havia nenhum motivo, a coisa era simplesmente assim.
Pensando no aroma docemente erótico de sua esposa e seus eloquentes olhos castanhos, de repente se encontrou diante de uma joalheria. O lugar estava desprovido de clientes, exceto um que se dispunha a sair disparado para o aguaceiro sob a questionável coberta de um amolgado guarda-chuva.
Nick entrou justo quando o outro homem saiu para fora. Retirando o cabelo que gotejava de seus olhos, deu uma olhada pela loja, notando as mesas cobertas de feltro e a porta que conduzia a segura sala de trás.
— Senhor? — Um joalheiro se aproximou dele, de seu pescoço pendurava uma lupa de grande aumento.
Olhou de relance a Nick com agradável interrogação. — Posso lhe ajudar?
— Quero uma safira. — Disse-lhe Nick. — Para um anel de senhora.
O homem sorriu.
— Então tem feito bem em vir aqui, porque recentemente importei uma seleção magnífica de safiras de Ceilan. Há um peso particular que tenha em mente?
— Ao menos cinco quilates, sem defeitos. Algo maior, se o tiver.
Os olhos do joalheiro brilharam com evidente impaciência.
— Uma senhora afortunada por receber um presente tão generoso.
— É para a esposa de um visconde. - disse Nick sardonicamente, desatando seu casaco encharcado pela chuva.
Era pela tarde quando Nick voltou para a Rua Betterton. Chegando à entrada de sua casa, deu as rédeas ao empregado, que se tinha arrojado para fora com um guarda-chuva.
Rechaçando o guarda-chuva, que lhe serviria de pouco neste momento, Nick subiu chapinhando os degraus dianteiros. A Sra. Trench fechou a porta, seus olhos se alargaram ante a vista dele. Então Lottie apareceu, asseada e seca com seu vestido cinza escuro, seu cabelo prateado à luz do abajur.
— Por Deus, está encharcado. - exclamou Lottie, apressando-se a ajudá-lo. Recrutou uma criada para ajudar a retirar o casaco encharcado de seus ombros e lhe oferecendo tirar suas botas lamacentas ali mesmo na sala. Nick logo que ouviu o que ela disse aos criados, toda sua consciência enfocada na pequena silhueta de Lottie enquanto a seguia acima.
— Deve estar com frio. - disse com preocupação, dando uma olhada sobre seu ombro. — Porei em marcha a ducha para lhe esquentar, e logo pode sentar-se diante do fogo. Saí antes com sua irmã, ela veio de visita, e fomos à Rua Oxford e passamos uma manhã encantadora na costureira. Prometo que lamentará me dar carta branca com seu crédito, porque permiti a Sophia me persuadir para encarregar um escandaloso número de vestidos. Uns eram positivamente escandalosos. Temo que nunca terei coragem para levá-los fora de casa. E logo fizemos uma excursão à livraria, e foi ali onde realmente perdi a cabeça. Sem dúvida nos empobreci agora...
Uma descrição extensa de várias de suas compras seguiu, enquanto lhe empurrava brandamente dentro do vestidor e lhe mandava tirar sua roupa molhada. Nick se movia com um cuidado fora do normal, sua intensa consciência o fazia torpe. Lottie atribuiu sua lentidão à frieza tomada fora, dizendo algo sobre os perigos para a saúde de passear em uma tempestade, e que devia beber uma taça de chá com brandy depois da ducha. Ele não tinha frio absolutamente. Estava ardendo por dentro, recordando detalhes da noite anterior... Seus seios, suas coxas abertas, os lugares onde a sedosa suavidade desembocava nos claros e íntimos cachos.
Simplesmente não podia cair sobre ela no momento que entrou em casa, como se não tivesse um mínimo de autocontrole. Mas ah, como o desejou, pensou com um sorriso sardônico, dirigindo torpemente os broches de sua roupa. As roupas molhadas caíram com dificuldade. Apesar de seu calor interior, deu-se conta de que na verdade se esfriou. Ouviu o estalo continuado dos tubos enquanto Lottie punha em marcha a ducha, e logo seu vacilante toque na porta.
— Trouxe sua toalha. - chegou sua voz surda. Sua mão apareceu ao redor da porta com o veludo Borgonha agarrado entre seus dedos.
Nick olhou sua pequena mão, o sensível interior de seu punho com um pequeno esboço nas veias. Ontem à noite tinha sido fácil encontrar cada batimento do coração de seu pulso, cada lugar vulnerável de seu corpo.
Encontrou-se estendendo a mão, ignorando a toalha preferindo envolver seus dedos ao redor de seu delicado punho. Empurrou a porta para abri-la totalmente e a arrastou diante dele, olhando seu rosto ruborizado. Não lhe era difícil de ver o que ele desejava.
— Não necessito da toalha. - disse bruscamente, tirando-a de sua mão e deixando-a cair ao chão.
— A ducha... — Murmurou Lottie, discretamente quando ele alcançou os botões da abertura dianteira de seu vestido. Seus dedos se voltaram rápidos e seguros, tirando o sutiã para revelar a obra de linho e o espartilho que moldava sua carne. Ele empurrou para baixo as mangas, levando os suspensórios da camisa, e pôs sua boca na curva nua de seu ombro.
Milagrosamente ela se relaxou em seu abraço com uma boa vontade que ele não tinha esperado.
Inflamado, provou a fina pele de seu ombro, beijou e lambeu o atalho até sua boca, enquanto ele acariciava suas mãos livres do vestido e o empurrava até seus quadris A ducha começou a esquentar-se, saturando o ar de vapor. Nick desenganchou a parte dianteira do espartilho, comprimindo brevemente a rígida borda da roupa, liberando-os depois completamente. Lottie agarrou a seus ombros enquanto se movia para lhe ajudar a tirar o resto de sua roupa interior. Seus olhos estavam fechados, suas pálpebras translúcidas tremendo ligeiramente quando começou a respirar com compridos suspiros.
Avidamente, Nick a arrastou com ele dentro da chuva quente da ducha. Girando seu rosto para apartar da corrente da água, Lottie descansou sua cabeça sobre seu ombro, permanecendo de pé passivamente enquanto suas mãos se deslizavam sobre seu corpo. Seus seios eram pequenos, mas enchiam suas mãos, os mamilos se endureceram pelo apertão de seus dedos. Ele modelou suas mãos sobre sua cintura sem limite, a elevação de seus quadris, seu redondo traseiro... Acariciando-a por toda parte, movendo-a contra a longitude de seu sexo.
Gemendo, ela separou suas coxas em submissão a sua mão exploradora, pressionando sua delicada carne contra seu polegar para lhe acariciar. Quando entrou nela com seus dedos, ela ofegou e instintivamente se relaxou à delicada penetração. Ele a acariciou, passando a mão sobre os profundos e secretos lugares que a levaram a beira do orgasmo. Quando esteve pronta para correr-se, levantou-a contra a parede ladrilhada, um braço sob seus quadris, o outro detrás de suas costas. Ela fez um som de surpresa e se aferrou a ele, seus olhos se arregalaram quando ele empurrou seu membro dentro dela. Sua carne se fechou apertadamente ao redor, tragando cada polegada de seu membro enquanto a deixou que se acomodasse contra ele.
— Tenho-te. - murmurou seu corpo escorregadio fechado firmemente em seus braços. — Não tenha medo.
Respirando rápido, ela apoiou a parte de atrás de sua cabeça contra seu braço. Com a água quente caindo por suas costas, e o viçoso corpo feminino nele, seus pensamentos lúcidos se evaporaram rapidamente. Ele a enchia com intensas quebras de onda ascendentes, uma e outra vez, até que ela gritou e se agarrou com força ao redor dele em sensuais contrações. Nick se manteve imóvel, sentindo-a tremer ao redor dele, as profundidades de seu corpo se fizeram quase insuportavelmente rodeadas. Seus espasmos pareciam arrastá-lo mais fundo, provocando ondas de prazer de sua virilha, e estremeceu enquanto se consumia dentro dela.
Liberando-a devagar, deixou-a deslizar para baixo de seu corpo até que seus pés tocaram o chão. Ele cavou uma mão ao redor de sua cabeça molhada e esfregou sua boca sobre seu cabelo encharcado, seu cilíos encharcados, a ponta redonda de seu nariz. Justo quando alcançou seus lábios, ela apartou seu rosto, e ele grunhiu de frustração, morrendo por seu sabor. Nunca tinha desejado nada tão desesperadamente. Por uma fração de segundo esteve tentado a sustentar sua cabeça com suas mãos e esmagar sua boca na sua. Mas isso não lhe satisfaria... Não podia conseguir o que desejava dela pela força.
Tirando Lottie da ducha, secou a ambos diante do quarto e penteou o comprido cabelo de Lottie. Os finos fios eram de cor âmbar escuro quando se molhavam, voltando-se de um tom pálido de champanha quando estavam secos. Admirando o contraste dos brilhantes cabelos contra sua bata de veludo, alisou-os com seus dedos.
— O que lhe disse Sr Grant? - perguntou Lottie, inclinando-se atrás contra seu peito quando se sentaram sobre os grossos tapetes. Ela levava outra de suas roupas, que era ao menos três vezes seu tamanho.
— Ele apoiou a decisão de Sr Ross, naturalmente. - disse Nick, surpreso por dentro por compreender que seu amargo desespero da manhã se apagou grandemente. Parecia que sua mente se reconciliava ante a perspectiva do que se apresentava no futuro, embora a contra gosto. Contou-lhe que Morgan havia dito que os detetives se dissolveriam logo, e Lottie se retorceu para olhá-lo com pensativo rosto franzido.
— Londres sem os detetives de Bow Street?
— As coisas mudam. - disse rotundamente. — Estou aprendendo.
Lottie se sentou para confrontá-lo, irreflexivamente curvando seu braço ao redor de seu joelho levantado de apoio.
— Nick. - disse cautelosamente. - quando Sophia e eu falávamos hoje, ela mencionou algo que acredito que desejasse saber, mesmo que se supõe que é uma surpresa.
— Eu não gosto de surpresas. - resmungou. — Já tive muitas ultimamente.
— Sim, isso é o que pensei.
Seus olhos eram de um limpo castanho escuro, como reluzentes taças de chá de caravana. Nick olhou fixamente seu rosto docemente curvado, o queixo muito bicudo, o nariz muito curto. As poucas imperfeições faziam sua beleza única e eternamente interessante, enquanto que as coisas mais classicamente formadas lhe teriam aborrecido rapidamente. Seu corpo reagiu agradado ante a pressão do braço magro enganchado ao redor de sua perna e o lado de seu seio que roçava seu joelho.
— O que te contou minha irmã? -perguntou.
Lottie alisou as dobras soltas de sua roupa de seda.
— Concerne à casa de sua família em Worcestershire. Sophia e Sr Ross a restauraram, como um presente para ti. Estão reparando-o e ajardinando as terras. Sophia teve grande cuidado em selecionar tecidos e pinturas e móveis que se parecessem estreitamente aos que recordava. Diz que se parece, mas bem a uma viagem no tempo... Que quando transpassa-se a entrada dianteira, espera ouvir a voz de sua mãe chamando-a, e encontrar a seu pai fumando na biblioteca — Meu Deus. - disse Nick entre dentes, ficando de pé.
Lottie permaneceu diante do fogo, estendendo suas mãos para o calor.
— Querem nos levar ali depois que a citação judicial chegue. Pensei que é melhor te advertir adiantado, para te dar tempo de te preparar.
— Obrigado. — Nick conseguiu dizer tensamente. — Embora nenhuma quantidade de tempo seria suficiente para isso.
A casa familiar... Worcestershire... Não havia retornado ali desde que ele e Sophia ficaram órfãos. Não havia um maldito jeito de escapar dali? Sentiu como se estivesse indo miserável para uma fossa sem fundo. O
nome de Sydney, o título, a fazenda, as lembranças... Não queria nada disso, e o empurravam a isso apesar de tudo.
Uma suspeita repentina se estendeu por ele.
— Que mais te contou minha irmã?
— Nada de importância.
Nick teria sido capaz de ver se sua irmã tivesse dito a ela. Mas parecia que Sophia não o tinha traído desse modo. E se não tinha contado a Lottie agora, provavelmente seguiria mantendo seu silêncio. Ligeiramente relaxando, esfregou seus dedos por seu cabelo despenteado.
— Malditos todos e tudo. - disse com voz baixa. Mas quando viu a expressão indignada sobre o rosto de Lottie, acrescentou. — Exceto você.
— Faltaria mais. - replicou. — Estou de seu lado.
— Estás?- perguntou, acariciando a idéia dele.
— Sua vida não é a única que está desordenada. - informou-o. — E pensar que estava preocupada com os problemas que minha família causaria!
Nick estava tentado a rir em meio de sua irritação. Foi até ela se sentou e baixou uma mão para ela.
— Se deixar de chover. - disse, atirando para cima. - visitaremos seus pais amanhã.
O rosto expressivo de Lottie traiu tanto consternação como impaciência.
— Se não for conveniente... se tiver outros planos... Estou disposta a esperar.
— Não tenho planos. - disse Nick, pensando brevemente em seu rechaço. — Amanhã será tão conveniente como qualquer outro dia.
— Obrigado. Realmente quero vê-los. Só espero — Lottie se calou, suas sobrancelhas se juntaram. A prega de sua roupa se arrastou em uma larga cauda enquanto Lottie ia para o fogo. Nick a seguiu imediatamente, desejando muitíssimo abraçá-la e tranquilizá-la, beijar seus lábios até que se abrandassem sob os seus.
— Tenta não pensar nisso. - aconselhou-a. - angustiar a si mesma não adiantará nada.
— Não será uma visita agradável. Não posso pensar em uma situação na qual as duas partes poderiam sentir-se mais traídas mutuamente. Embora esteja segura de que a maioria das pessoas me culparia.
Nick acariciou os lados de seus braços sobre as mangas de seda.
— Se tivesse que voltar a fazê-lo outra vez, teria ficado para casar-se com o Radnor?
— Certamente não.
Girando Lottie para enfrentá-lo, alisou seu cabelo atrás de sua fronte.
— Então lhe proíbo que se sinta culpada por isso.
— Proíbes? - repetiu, arqueando suas sobrancelhas.
Nick sorriu abertamente.
— Prometeu me obedecer, verdade? Bem, faz como digo, ou confronta as consequências.
— Quais são?
Ele desatou seu robe, deixou-o cair ao chão, e ficou a demonstrar exatamente o que queria dizer.
A Família Howard vivia em uma aldeia duas milhas ao oeste de Londres moderno, um ramo residencial rodeado por terra de cultivo. Nick recordava a casa bem estruturada, mas desvencilhada de sua visita anterior, ao princípio de sua busca por Lottie. A ironia de voltar para eles como seu novo e muitíssimo menos desejado genro o teria feito rir, porque a situação continha fortes elementos de farsa. Entretanto, sua diversão privada estava calcada pelo silêncio impenetrável de Lottie. Desejava poder economizar-lhe a dificuldade de ver sua família. Por outra parte, era necessário para Lottie lhes fazer frente e ao menos tentar fazer as pazes.
A pequena casa de estilo Tudor estava em uma fileira de casas arquitetonicamente similares. Encabeçadas por pequenos jardins, muito crescidos, o vermelho tijolo exterior tristemente desmoronado. A porta da rua estava levantada quatro passos da terra, a estreita entrada conduzia a duas salas na planta baixa. Ao lado da entrada, outro jogo de degraus de pedra conduzia ao porão abaixo, que continha uma cozinha e um tanque de armazenagem de água que se enchia pelo encanamento principal no caminho.
Três meninos jogavam nos terrenos de jardim, pequenos paus e correndo em círculos. Como Lottie, eram muito loiros, tinham a pele branca, e eram de constituição magra. Tinha visto os meninos antes, haviam dito a Nick seus nomes, mas não podia recordá-los. A carruagem ficou na pavimentação no caminho para carruagens, e os pequenos rostos apareceram na porta dianteira, olhando fixamente pelas tabuletas descascadas enquanto Nick ajudava Lottie a descender da carruagem.
O rosto de Lottie estava com aparência tranquila, mas Nick viu como apertava fortemente seus dedos enluvados, e experimentou algo que ele nunca tinha conhecido antes, preocupação pelos sentimentos de outro. Não gostou.
Lottie parou ante a porta, seu rosto pálido.
— Olá. - murmurou. — Você é Charles? OH, logo posso te reconhecer. E Elisa, e... Por amor de Deus!
Aquele é o bebê Albert?
— Não sou um bebê! - chiou o menino com indignação.
Lottie ruborizou, a beira das lágrimas e da risada.
— Por que, não de verdade. Devem ter três anos agora.
— É nossa irmã Charlotte. - disse Elisa. Seu pequeno rosto sério tinha duas tranças largas nos lados. — A que fugiu.
— Sim. - a boca de Lottie estava mudada com repentina melancolia. — Já não desejo estar longe, Elisa.
— Teria que te casar com Lorde Radnor. - disse Charles, olhando-a com redondos olhos azuis. — Zangou-se muito de que não o fizesse, e agora ele vai a...
— Charles! — A voz inquieta de uma mulher chegou da entrada. - te cale e te separe da porta imediatamente.
— Mas é Charlotte. - protestou o moço.
— Sim, sou consciente disso. Estou vendo, meninos. Digam à cozinheira que lhes faça torradas com geléia.
Quem falava era a mãe de Lottie, uma mulher fragilmente magra a de quarenta anos, com um rosto excepcionalmente estreito e o cabelo loiro claro. Nick recordou que seu marido era de constituição fornida com bochechas cheias. Nenhum casal era particularmente formoso, mas por algum truque da natureza Lottie tinha herdado as melhores característica de cada um.
— Mamãe. — Disse Lottie brandamente, agarrando-a. Os meninos escaparam rapidamente, impacientes pelo convite prometido.
A Sra. Howard olhava a sua filha com um olhar sem brilho, as linhas ásperas marcadas entre seu nariz e boca, e através de sua testa.
— Lorde Radnor veio não faz nem dois dias. - disse ela. A singela frase continha tanto acusação como crítica.
Privada de palavras, Lottie olhou sobre seu ombro a Nick. Ele entrou em ação imediatamente, unindo-se a ela na porta.
— Podemos entrar Sra. Howard? - perguntou. Ele introduziu Lottie na casa sem esperar permissão. Algum diabo o incitou a acrescentar. - ou a chamo Mamãe? — Pôs uma ênfase zombadora sobre a última sílaba da palavra, como Lottie fazia.
Por seu descaramento, Lottie às escondidas lhe deu uma cotovelada nas costelas enquanto entravam na casa, e ele sorriu abertamente.
O interior da casa cheirava a umidade. As cortinas das janelas tinham sido dadas a volta muitas vezes, até que ambos os lados estiveram desigualmente descoloridos pelo sol, enquanto que os velhos tapetes tinham se posto tão finos que não se distinguia nenhum modelo regular. Toda a figura de porcelana lascada sobre a chaminé até o papel imundo sobre as paredes contribuía à imagem de decadente refinamento. A Sra. Howard dava a mesma impressão, movendo-se com a graça cansada e a autoconsciência de alguém que uma vez tinha estado acostumada a melhor vida.
— Onde está Papai? — Perguntou Lottie, permanecendo de pé no centro da sala, que era apenas maior que um armário.
— Visitando seu tio, na cidade.
Os três de pé no centro da sala, enquanto um silêncio torpe espessava no ar.
— Por que veio, Charlotte? — Perguntou sua mãe finalmente.
— Sentiu falta de mim? — Lottie fez uma pausa ante o decidido vazio que viu no rosto de sua mãe. Nick sentiu a luta de sua esposa entre o orgulho obstinado e o remorso, seguia com cuidado. — Queria te dizer que sinto o que fiz.
— Desejaria poder acreditar isso. - respondeu a Sra. Howard resolutamente. — Entretanto, não acredito.
Não te arrepende de abandonar suas responsabilidades, tampouco lamenta colocar suas próprias necessidades por cima dos outros.
Nick descobriu que não lhe era fácil escutar a alguém criticando a sua esposa, incluso se essa pessoa resultava ser sua própria mãe. Pelo bem de Lottie, entretanto, concentrou-se em manter a boca fechada.
Agarrando suas mãos detrás de suas costas, centrou-se no desenho impreciso do tapete antigo.
— Lamento te causar tanta dor e preocupação, mamãe. - disse Lottie. — Sinto também os dois anos de silêncio que passaram entre nós.
Finalmente a Sra. Howard mostrou alguma emoção, sua voz afiada com a cólera.
— Foi culpa tua, não nossa.
— É obvio. - reconheceu humildemente sua filha. — Não me atrevo a te pedir que me perdoe, mas — O fato, feito está. - interrompeu Nick, incapaz de tolerar o tom submisso de Lottie. Que lhe condenassem a permanecer de pé enquanto ela ficava de joelhos arrependida. Colocou cuidadosamente uma mão na cintura do espartilho de Lottie em um gesto possessivo. Seu olhar frio e seguro olhou à Sra. Howard.
— Não ganha nada falando do passado. Viemos para falar do futuro.
— Você não tem nenhuma participação em nosso futuro, Sr. Gentry. — Os olhos azuis da mulher estavam gelados de desprezo. — Culpo-lhe totalmente por nossa situação tanto como a minha filha. Nunca teria falado com você nem respondido suas perguntas se soubesse que seu propósito final era ficar como ela para você.
— Esse não era meu plano. — Nick deixou seus dedos acomodarem-se na curva da cintura de Lottie, recordando a suavidade deliciosa sob o fechado espartilho. — Não tinha idéia de que ia querer me casar com Lottie até que a conheci. Mas era óbvio então como o é agora que Lottie estará melhor atendida casando-se comigo que com o Radnor.
— Esta muito errado. - espetou a Sra. Howard zangada. — Descarado arrogante! Como se atreve a comparar-se a um par do reino?
O sentimento de Lottie se fortaleceu a seu lado, Nick a apertou sutilmente em uma mensagem silenciosa para que não corrigisse a sua mãe nesse assunto. Que lhe condenassem se usasse seu próprio título para comparar-se de qualquer modo com Radnor.
— Lorde Radnor é um homem de grande riqueza e refinamento. - seguiu a Sra. Howard. — Ele é extremamente educado e honorável e de grande consideração. E se não fora pelo egoísmo de minha filha e sua interferência, Charlotte agora seria sua esposa.
— Você omitiu alguns pontos. - disse Nick. — Incluindo o fato de que Radnor é trinta anos mais velho que Lottie e resulta que está tão louco como a perfuratriz de um sapateiro.
A cor da cara da Sra. Howard se condensou em duas manchas brilhantes sobre suas altas maçãs do rosto.
— Não está louco!
Pelo bem de Lottie, Nick lutou por controlar sua fúria repentina. Imaginou como uma menina pequena, indefesa, sendo encerrada sozinha em uma casa com um depredador como Radnor. E esta mulher o tinha permitido. Fez-se silenciosamente a promessa de que Lottie jamais estaria desprotegida. Dedicou um duro olhar a Sra. Howard.
— Não viu nada mau nos cuidados obsessivos de Radnor por volta de uma moça de oito anos? -
perguntou brandamente.
- À nobreza lhe permitem suas debilidades, Sr. Gentry. Seu sangue superior contém algumas excentricidades. Mas certamente, você não saberia nada sobre isso.
— Poderia surpreender-se. - disse Nick sardonicamente. — Apesar de tudo, Lorde Radnor é apenas um modelo para o comportamento racional. Os dispositivos sociais dos que uma vez desfrutou se murcharam devido a suas supostas debilidades. Retirou-se da sociedade e passa a maior parte de seu tempo em sua mansão, ocultando-se da luz do sol. Sua vida se centra ao redor do intento de moldar a uma moça vulnerável em sua versão da mulher ideal, a que não lhe permite sequer respirar sem sua permissão. Antes que culpe Lottie por fugir disso, responda esta pergunta com honestidade, Iria querer casar-se com semelhante homem?
A Sra. Howard evitou ter que responder pela chegada repentina de Ellie a irmã menor de Lottie, uma bonita moça de dezesseis anos com um rosto bochechudo e olhos azuis com densos cilíos. Seu cabelo era muito mais escuro que o de Lottie, marrom claro em vez de loiro, e sua figura estava muito mais generosamente dotada. Detendo-se sem fôlego na entrada, Ellie contemplou a sua irmã pródiga com um grito de entusiasmo.
— Lottie! - precipitou-se e agarrou a sua irmã maior em um forte abraço. — OH, Lottie, retornaste! Senti falta de você a cada dia, e pensava em ti, e temia por ti.
— Ellie, senti falta de você também - disse Lottie com uma risada afogada. — Não me atrevi a te escrever, mas ah, como quis fazê-lo. Se poderia empapelar as paredes com as cartas que desejei enviar — Ellie. - interrompeu sua mãe. — Volta para seu quarto.
Ou não a ouviu ou não fez de conta, enquanto Ellie retrocedia para olhar a Lottie.
— Que bonita estás! - exclamou ela. — Sabia que o estaria. Sabia que... — Sua voz se acalmou quando captou uma vista de Nick de pé perto. — Realmente te casou com ele? — Sussurrou com prazer escandalizado que fez sorrir a Nick.
Lottie lhe jogou uma olhada com uma expressão curiosa. Nick perguntou se ela tinha aversão a reconhecê-
lo como seu marido. Não parecia desgostada, mas tampouco parecia muito entusiasmada.
— Sr. Gentry, - disse Lottie. - acredito que conheceste a minha irmã?
— Senhorita Ellie. - murmurou com uma leve inclinação. — Um prazer vê-la outra vez.
A moça avermelhou e fez uma reverência, e olhou para Lottie.
— Viverá em Londres? - perguntou. — Leve-me ali de visita? Tanto tempo eu...
— Ellie. - disse a Sra. Howard significativamente. — Vá-te a seu quarto agora. E chega de tolices — Sim, Mama. — A moça lançou seus braços ao redor de Lottie para um último abraço. Sussurrou algo no ouvido de sua irmã maior, uma pergunta que Lottie respondeu com um murmúrio consolador e um assentimento. Adivinhando que tinha sido outra petição para ser convidada a uma visita, Nick reprimiu um sorriso. Parecia que Lottie não era a única filha voluntariosa na Família Howard.
Com uma olhada tímida a Nick, Ellie abandonou a sala e deu um suspiro enquanto se afastava da sala.
Animada pelo óbvio prazer de sua irmã ao vê-la outra vez, Lottie lançou à Sra. Howard um olhada de suplica.
— Mamãe, há tantas coisas que devo te dizer — Temo-me que não haja nenhuma razão para uma remota discussão. - disse sua mãe com frágil dignidade. — Fez sua eleição, e também seu pai e eu. Nossa conexão com Lorde Radnor esta muito afiançada para romper-se. Cumpriremos nossas obrigações com ele, Charlotte, Incluso se não está disposta.
Lottie a olhou com confusão.
— Como obtém isso, Mamãe?
— Isso já não te concerne.
— Mas não vejo — Lottie começou, e Nick interrompeu, seu olhar se fechou na Sra. Howard.
Durante anos tinha negociado satisfatoriamente com criminosos endurecidos, tinha trabalhado muito com magistrados, culpados, inocentes, e todos os do meio. Que lhe condenassem se não pudesse chegar a algum tipo do compromisso com sua própria sogra.
— Sra. Howard, entendo que não sou sua primeira opção como marido para Lottie. - dedicou-lhe um sorriso sardônico e encantador que lhe funcionava bem com a maior parte das mulheres. — O diabo sabe que não seria da preferência de todos. Mas como estão as coisas, mostrarei-me um benfeitor muito mais generoso que Radnor. – Deu uma olhada deliberadamente a seu redor e devolveu seu olhar à ela. — Não há nenhuma razão por que não fazer melhoras na casa e restaurá-la a sua satisfação. Também pagarei pela educação dos meninos e procurarei que Ellie tenha uma saída apropriada. Se quiser, você pode viajar ao estrangeiro e passar os meses de verão na costa. Diga-me tudo o que quer e o terá.
A expressão da mulher era francamente incrédula.
— E por que faria você tudo isso?
— Para o prazer de minha esposa. - respondeu sem a vacilação.
Lottie se voltou para ele com os olhos redondos maravilhada. Com ar despreocupado tocou a alça de seu sutiã, pensando que era um pequeno preço a pagar pelo que lhe dava.
Infelizmente o gesto íntimo pareceu endurecer a Sra. Howard contra ele.
— Não queremos nada de você, Sr. Gentry.
— Entendo que está em dívida com o Radnor. - persistiu Nick, sentindo que não havia nenhum modo de dirigir a questão mais que com franqueza. — Ocuparei-me disso. Já me ofereci a reembolsá-lo pelos anos de Lottie na escola, e assumirei suas outras obrigações financeiras também.
— Você não pode permitir-se a manter semelhantes promessas. - disse a Sra. Howard. — E inclusive se pudesse a resposta ainda seria não. Gentry, porque não falarei mais do assunto.
Nick lhe deu um olhar inquisitivo, descobrindo desespero... Inquietação... Culpabilidade. Todo seu instinto lhe advertia que ocultava algo.
— Visitarei-lhe outra vez, - disse com cuidado. - quando o Sr. Howard esteja em casa.
— Sua resposta não será diferente da minha.
Nick não indicou que tinha ouvido o rechaço.
— Bom dia, Sra. Howard. Vamos com Deus com todo desejo para sua saúde e sua felicidade.
Os dedos de Lottie se apertaram fortes pela manga do casaco de Nick enquanto lutava para dominar suas emoções.
— Adeus, mamãe. - disse com voz rouca e saiu com ele.
Nick a colocou com cuidado na carruagem e jogou um olhar para trás ao quadro do jardim vazio. Todas as janelas da casa estavam livres, exceto uma no primeiro andar, onde o rosto redondo de Ellie apareceu. Ela agitou desesperadamente a mão e descansou seu queixo sobre suas mãos quando a porta da carruagem se fechou.
O veículo arrancou com uma sacudida antes que os cavalos se adaptassem a seu ritmo. Lottie apoiou sua cabeça contra a tapeçaria aveludada, seus olhos fechados, sua boca tremendo. O brilho das lágrimas não derramadas apareceu sob seus abundantes cilíos dourados.
— Bobamente tinha esperado uma recepção mais cálida. - disse, tentando um tom irônico e falhando completamente quando meio soluço escapou de sua garganta.
Nick se sentou ali desconcertado e terrivelmente impotente, seu corpo esticando-se por toda parte. A vista de sua esposa chorando lhe enchia de alarme. Para seu alívio, ela se arrumou para conseguir controle sobre suas emoções, e apertou as palmas de suas mãos enluvadas em seus olhos.
— Eles não podiam permitir-se rechaçar minha oferta, - disse Nick, - a não ser que ainda estejam recebendo dinheiro de Radnor.
Lottie sacudiu sua cabeça confundida.
— Mas não tem sentido que seguisse apoiando a minha família agora que me casei contigo.
— Têm alguma outra fonte de ganhos?
— Não posso pensar em nenhuma. Possivelmente meu tio pode lhes dar um pouco. Não o suficiente para mantê-los indefinidamente, em que pese a tudo.
— Hmmm. - considerando várias possibilidades, Nick se inclinou atrás na esquina de seu assento, seu olhar se fixou na paisagem que empurrava por diante da janela.
— Nick... realmente disse a Lorde Radnor que lhe reembolsaria minha matrícula da escola durante todos esses anos?
— Sim.
Estranhamente, Lottie não perguntou por que, só se ocupou arrumando suas saias e atirando de suas mangas para cobrir seus braços. Tirando-se suas luvas, dobrou-as e as pôs a seu lado sobre o assento da carruagem. Nick a olhou através dos olhos entreabertos. Quando ela não pôde encontrar nada mais que ajustar ou endireitar, sentiu valor suficiente para olhá-lo.
— E agora? — Perguntou como se preparasse para uma nova ronda de dificuldades.
Nick considerou a pergunta, sentindo um puxão no centro de seu peito quando viu a resolução em sua expressão. Ela tinha aguentado os poucos dias passados com uma serenidade, que era extraordinária para uma moça de sua idade. Sem dúvida qualquer outra jovem já teria ficado reduzida a um montão de soluços.
Desejava eliminar o olhar cansado de seus olhos e por uma vez vê-la despreocupada e relaxada.
— Bem, Sra. Gentry, - disse, movendo-se ao espaço ao lado dela. - durante os próximos dois dias, proponho que nos divirtamos.
— Diversão. - repetiu, como se a palavra o fora desconhecida. - me perdoe, mas minha capacidade para o prazer está bem diminuída atualmente.
Nick sorriu e colocou sua mão sobre o contorno de sua coxa.
— Estás na cidade mais apaixonante do mundo - murmurou - na companhia de um marido viril e jovem e seus lucros mal adquiridos. - beijou sua orelha, fazendo-a tremer. — Acredite Lottie, há muita diversão pra você obter.
Lottie não teria pensado que algo poderia sacudi-la de seu desalento depois da fria acolhida de sua mãe.
Entretanto, Nick a entreteve tão a fundo durante os poucos dias seguintes que fora difícil pensar em nada mais que nele.
Essa noite Nick a levou a um botequim teatral onde a música e os atos cômicos estavam organizados para atrair aos clientes. Localizado no Covent Garden, O Vestris - chamado pelo popular bailarino italiano de ópera - era um campo de encontro para gente do teatro, aristocratas miseráveis, e toda classe de vistosos personagens. O lugar estava sujo e cheirava a vinho e fumaça, o chão tão pegajoso que Lottie estava com medo de sair diretamente fora de seus sapatos. Ela cruzou a soleira a contra-gosto, porque as jovens de qualidade nunca eram vistas em semelhantes lugares a não ser na companhia de seus maridos, e inclusive era extremamente questionável. Nick imediatamente foi aclamado pelos ocupantes do botequim, muitos deles pareciam ser completos rufiões. Depois de um breve intervalo de palmadas nas costas e intercâmbio de insultos amistosos, Nick levou Lottie a uma mesa. Serviu-lhes um jantar com bife e batatas, uma garrafa do porto, e duas taças de um pouco chamado "heavy wet".
Embora Lottie nunca tivesse comido em público antes e havia se sentido de maneira absurdamente acanhada, com o melhor dos ânimos atacou o bife que facilmente poderia ter servido para uma família de quatro.
— O que é isto? — Perguntou, com cautela tomando sua taça e olhando atentamente nas marrons profundidades espumosas.
— Cerveja. — Respondeu Nick, descansando seu braço detrás de sua cadeira. — Prova um pouco.
Obedientemente tomou um gole da bebida espessa com sabor a grão, e seu rosto inteiro se enrugou com aversão. Rindo por sua expressão, Nick disse a uma garçonete próxima que lhe trouxesse um pouco de ponche de genebra. Mais clientes chegavam ao lugar, às taças se faziam soar pesadamente sobre as mesas de madeira, e as garçonetes se moviam afanosamente entre a multidão com grandes jarras.
Na parte dianteira do botequim, uma divertida canção musical era cantada por uma mulher magra que usava roupa de homem e um corpulento cavalheiro com um abundante bigode que estava vestido como uma camponesa, com um enorme peito falso que se balançava de um lado a outro quando se movia. Quando "o guri" perseguiu "à camponesa" ao redor do botequim, cantando uma comovente canção de amor que elogiava sua beleza, o lugar estalou em um bramido de risada. A absoluta estupidez da atuação era impossível de resistir. Posta contra o ombro de seu marido, com uma taça de ponche de genebra em suas mãos, Lottie tratava sem êxito de sufocar um ataque de risadas tolas.
Mais atuações seguiram... Canções verdes e dança, divertidas poesias, inclusive uma demonstração de acrobacias e jogos de malabarismo.
Fez-se tarde, as esquinas do botequim se obscureceram, e na atmosfera relaxada, mais de uns poucos casais começaram a sentir prazer com algumas carícias indiscretas e beijos. Lottie sabia que deveria ter estado impressionada, mas o ponche de genebra a havia posto sonolenta e aturdida. Descobriu que estava sentada ao lado de Nick, suas pernas colocadas entre as suas, e a única razão pela qual era capaz de sentar-se direita era o fato de que seus braços estavam ao redor dela.
— OH, querido. - disse ela, olhando fixamente sua taça quase vazia. — Bebi tudo isso?
Nick tomou a taça dela e a pôs sobre a mesa.
— Tome o quanto quiser.
— Só você poderia desfazer meus anos de educação em Maidstone em uma tarde. - disse, lhe fazendo sorrir abertamente.
Seu olhar baixou até sua boca, e riscou a borda de sua mandíbula com a ponta de seu dedo.
— Está completamente pervertida agora? Não? Então vamos pra casa, e terminarei o trabalho.
Sentindo-se insegura e muito quente, Lottie riu bobamente enquanto ele a guiava pelo botequim.
— O chão está cheio de buracos. - disse-lhe, apoiando com força contra seu ombro.
— Não é o chão, carinho, são seus pés.
Considerando isto, Lottie deu uma olhada no seu rosto divertido a seus próprios pés.
— Realmente se sentem como se os tivessem colocado nas pernas equivocadas.
Nick sacudiu sua cabeça, seus olhos azuis brilhando pela risada.
— Não tem tolerância para genebra, verdade? Aqui, me deixe te levar.
— Não, não desejo ser um espetáculo. - protestou quando a levantou contra seu peito e a levou a rua.
Parando a vista em um empregado que esperava se apressou ao final da rua, onde sua carruagem esperava em uma fila larga.
— Será mais que um espetáculo se te cair de cara. — Replicou Nick.
— Não estou tão longe disso. - protestou Lottie.
Entretanto, seus braços eram tão sólidos e seu ombro tão acolhedor que se abaixou contra ele com um suspiro. O aroma ligeiramente almiscarado de sua pele misturado com o fresco aroma de amido de sua gravata, uma mescla tão atraente que se aproximou mais pouco a pouco para inalar profundamente.
Nick parou junto à rua. Sua cabeça girou sua bochecha barbeada acariciando a sua e fazendo com que sua pele se estremecesse.
— O que estas fazendo?
— Seu cheiro... — Disse ela distraídamente. — É maravilhoso. Notei-o a primeira vez que nos encontramos, quando quase me fez cair do muro.
Uma risada se avivou em sua garganta.
— Salvei-te da queda, quer dizer.
Cativada pela textura picante de sua pele, Lottie pressionou seus lábios sob sua mandíbula. Sentiu-o tragar com força, o movimento ondulando contra sua boca. Era a primeira vez que lhe tinha insinuado, e o pequeno gesto foi surpreendentemente eficaz. Parado ali de pé sujeitando-a com força, seu peito subia e descia com sua cada vez mais fatigante respiração. Cativada pela idéia de que podia lhe excitar tão facilmente, Lottie tirou o nó de sua gravata e beijou seu pescoço.
— Não, Lottie.
Ela acariciou com a ponta de sua unha sobre a pele áspera pelo cabelo, arranhando com delicadeza.
— Lottie... — Tentou outra vez. O que fora que tinha tido a intenção de dizer foi esquecido quando ela beijou sua orelha e tomou o lóbulo entre seus dentes em uma suave dentada.
A carruagem parou diante deles, e o empregado se ocupou de ajustar o degrau de estorva. Formando seus traços em uma máscara vazia, Nick colocou Lottie dentro da carruagem e subiu depois dela.
Assim que a porta se fechou, arrastou-a até seu encontro e tirou violentamente a parte da frente de seu vestido. Ela estendeu a mão para jogar com seu cabelo, enredando seus dedos nas espessas mechas negras.
Desatando a parte superior de seu espartilho, moveu brandamente um seio para fora e fechou sua boca sobre o suave mamilo.
A provocadora sucção fez com que se arqueasse contra ele com um gemido de prazer. Suas mãos investigaram desesperadamente sob suas saias, deslizando o último pano de linho para encontrar a úmida abertura de suas calças. Sua mão era muito grande para deslizar-se dentro da roupa interior, e a rasgou com uma facilidade que a fez ofegar. Suas coxas se abriram em impotente bem-vinda, e sua visão se velou quando um dedo comprido se moveu com cuidado dentro dela. Embalando-a em seu colo, com sua mão movendo-se com cuidado entre suas pernas, sentiu que seus músculos interiores começavam a apertar-se ritmicamente.
Um gemido escapou dele, e arrastou seus quadris sobre os seus, manipulando violentamente a parte da frente de sua calça.
— Está tão molhada... Não posso esperar Lottie, me deixe... Sente-se em meu colo, e coloque suas pernas... OH, Deus, sim, justo aí...
Ela se sentou sobre ele por própria vontade, aspirando seu fôlego enquanto a penetrava, suas mãos impulsionando seus quadris para baixo até que se enterrou até o fundo. Ele estava deliciosamente duro e grosso dentro dela, mantendo-se imóvel enquanto o movimento da carruagem empurrava seus corpos unidos. Às escondidas Lottie esfregava o dolorido ponto de seu sexo contra ele, sentindo as ondas de calor que se elevavam no lugar por onde estavam unidos. Uma de suas mãos passou delicadamente sobre a parte alta de suas costas.
Lottie ofegou quando uma sacudida vigorosa das rodas da carruagem lhe impulsionou mais fundo dentro dela.
— Não temos muito tempo. - conseguiu dizer ela contra sua garganta. — O botequim está muito perto da casa.
Nick respondeu com um gemido torturado.
— As próximas vezes farei que o condutor nos leve por toda Londres... Duas vezes. — Ele deslizou seu polegar até o topo de seu sexo molhado e lhe deu golpes suaves e rápidos, incrementando seu prazer rapidamente até que ela se abaixava contra ele com um soluço, afligida pela explosiva sensação. Enganchando seus quadris para cima com desesperados impulsos, grunhiu e enterrou seu rosto na curva de seu pescoço, sua paixão alcançado uma culminação segadora.
Ambos respiraram em compridos ofegos, enquanto sua carne nua estava encerrada junta sob as capas de roupa desalinhada.
— Nunca é suficiente. - disse Nick bruscamente, sua mão cavada sobre suas suaves nádegas, sustentando-a firmemente contra ele. - sente-se muito bem para parar.
Lottie entendeu o que tentava expressar. A necessidade inextinguível entre eles era mais que mera ânsia física. Encontrou uma satisfação em estar juntos que estava muito além da conexão de seus corpos. Até esse momento, entretanto, não tinha sabido que ele o sentia também... E se perguntou se ele tinha tanto medo de reconhecer o sentimento como ela.
Capítulo 11
Londres era tão imensamente diferente da serenidade de Hampshire que Lottie logo que poderia acreditar que estava no mesmo país. Era um mundo de alta moda e diversões infinitas, com uma justaposição aguda de pobreza e riqueza, e becos percorridos pela delinquência colocados detrás das ruas dos prósperos mercados e lojas. Havia uma zona passada Têmpera Bar chamada a Cidade, e o West side, mencionado como "o povo", e uma abundância de jardins, passeios, salas de concertos, e lojas que ofereciam luxos que nunca podia haver imaginado.
Quando a segunda semana de seu matrimônio começou, Nick pareceu encontrar jeitos divertidos de agradar Lottie como se fora uma menina que estivesse empenhado em consentir. Levou-a a uma confeitaria em Berkeley Square e comprou um sorvete feito de purê de castanhas mescladas generosamente com cerejas em calda de açúcar. Depois seguiram até Bow Street, onde a comprou uma seleção de pós franceses e águas perfumadas, e uma dúzia de pares de meias de seda bordadas.
Lottie tratou de lhe impedir de gastar o valor de uma fortuna em luvas brancas e lenços, e se opôs fortemente a um par de sapatos de seda rosa com borlas de ouro que valeria a matrícula de um mês inteiro em Maidstone. Entretanto, Nick não fez caso de seus protestos enquanto seguia comprando independentemente tudo o que lhe atraía. Sua parada final foi em uma loja de chá, onde ordenou meia dúzia de chás exóticos em formosos potes, levando nomes intrigantes como "a pólvora", "regaço", ou "souchong".
Imaginando a montanha de pacotes que seriam entregues mais tarde esse dia na casa de Betterton, Lottie lhe rogou que desistisse.
— Não necessito nada mais. - disse com firmeza. - e me nego a pôr os pés em outra loja. Não há razão para semelhante falta de moderação.
— Sim, há. - respondeu Nick, escoltando-a até sua carruagem que esperava, amontoou-se no altos pacotes e caixas.
— OH? Qual é?
Ele respondeu com um sorriso. Certamente não pensava que estava comprando seus favores sexuais, porque ela havia mais que se resignado naquele respeito. Possivelmente simplesmente queria que sentisse obrigação para com ele? Mas por quê?
A vida com Nick Gentry resultava ser bastante curiosa, consistindo nos momentos de ardente cercania, salpicados por pequenas lembranças de que eram ainda completos estranhos na maior parte dos aspectos.
Não entendia por que Nick abandonava sua cama a cada noite depois de fazer o amor com ela, sem permitir-se nunca deixar-se dormir a seu lado. Depois de que todo o resto que tinham compartilhado, isso parecia bastante inofensivo. Mas negava seus convites para ficar, declarando que preferia dormir sozinho, e que ambos estariam mais cômodos assim.
Lottie rapidamente descobriu que certos temas faziam estalar o caráter de Nick como uma chama a capacidade com a pólvora. Aprendeu a não lhe fazer nenhuma pergunta sobre qualquer parte de sua infância, e que qualquer referência aos dias anteriores a que tomasse o nome de Nick Gentry lhe valeriam sua ira segura. Quando se zangava, não gritava ou lançava coisas, mas em troca ficava friamente tranquilo e abandonava a casa, e não voltava até muito depois de que ela tivesse se deitado. Aprendeu também que Nick nunca permitia ser vulnerável em qualquer forma. Ele preferia seguir em completo controle de si mesmo e os seus em sua volta. Acreditava pouco masculino para não ser capaz de suportar o álcool, tinha ainda que vê-lo beber até o excesso. Inclusive o sono parecia ser um luxo dos que não gostava de sentir prazer muito frequentemente, como se não pudesse permitir-se relaxar em um sono indefeso. De fato, segundo Sophia, Nick jamais permitiu que as feridas físicas lhe entorpecessem, rechaçava ceder à dor ou a debilidade.
— Por quê? - tinha perguntado Lottie a Sophia com autentica confusão, enquanto foram às provas dos vestidos e esperavam que tirassem os trajes. — O que é que teme, que não pode permitir-se ficar indefeso por um momento?
Durante um momento, a irmã mais velha de Nick a tinha cuidadosa com desejo óbvio de responder. Seus olhos azuis profundo estavam cheios de tristeza.
— Espero que algum dia confie em ti. - disse brandamente. — É uma grande carga para levar sozinho.
Estou segura que teme a sua reação, uma vez que lhe tenha contado isso.
— Contado o que? — Persistiu Lottie, mas para sua frustração, Sophia não responderia.
Algum terrível grande segredo. Lottie não podia compreender qual poderia ser. Só poderia supor que tinha matado a alguém, possivelmente estando furioso, que era a pior coisa em que poderia pensar. Ela sabia que tinha cometido crimes em seu passado, que tinha feito coisas que provavelmente a horrorizariam. Era tão cauteloso e sereno que parecia que nunca chegaria a conhecê-lo totalmente.
De outro modo, entretanto, Nick era um marido inesperadamente sensível e generoso. Enrolava-a para que lhe contasse todas as regras que tinham sido semeadas nela na escola, e logo ficou a fazer que rompesse cada uma delas. Havia noites quando lançava um delicado assalto sobre sua modéstia, despindo-a a luz do abajur e fazendo que observasse enquanto a beijava da cabeça aos pés...
E outras quando o fazia o amor de maneiras exóticas que a envergonhavam e excitavam além do suportável. Podia excitá-la com um único olhar, uma breve carícia, uma palavra suave sussurrada em seu ouvido. A Lottie parecia que dias inteiros passavam em uma neblina de desejo sexual, sua consciência de que estava a ponto de estalar debaixo de tudo o que fazia.
Depois que as caixas de livros que ela tinha comprado chegaram, lia para Nick pelas tardes, enquanto se sentava na cama e ele vadiava a seu lado. Às vezes enquanto a escutava, Nick atirava suas pernas até seu colo e massageava seus pés, passando seus polegares ao longo de sua impigem e jogando com cuidado com os dedos do pé. Quando Lottie fazia uma pausa em sua leitura, sempre encontrava seu olhar firmemente fechado sobre ela. Nunca parecia cansar-se de olhá-la... Como se tratasse de desentupir algum mistério que estivesse oculto em seus olhos.
Uma tarde a ensinou a jogar cartas, reclamando direitos sexuais como multas, cada vez que perdia.
Terminaram sobrea mesa atapetada em um enredo de membros e roupa, enquanto Lottie ofegando lhe acusava de fazer armadilhas. Somente sorriu abertamente em resposta, colocando sua cabeça sob suas saias até que a questão foi completamente esquecida.
Nick era um companheiro apaixonante, um fascinante contista, um bailarino magnífico, um amante perfeito. Era brincalhão, mas nada infantil, nunca perdendo totalmente o olhar experimentado que proclamava que tinha visto e feito o suficiente para durar várias vidas. Escoltava Lottie por Londres com uma energia que de longe eclipsava a sua própria, parecendo conhecer e ser conhecido virtualmente por todos.
Mais de uma vez, em um baile por assinatura, ou uma festa privada, ou inclusive andando pelo parque, Lottie não podia evitar ser consciente da atenção que atraía. Nick era considerado um herói ou um diabo, dependendo da opinião de cada um, e apesar de tudo, todos queriam ser vistos com ele. Inumeráveis homens vinham apertar sua mão, e procurar suas opiniões sobre vários assuntos. As mulheres, por outra parte, tremiam e riam bobamente e paqueravam descaradamente com ele, inclusive em presença de Lottie. Lottie via tais insinuações contrariadamente surpreendida, compreendendo que se parecia muito a uma esposa ciumenta.
Ante o convite de alguns amigos, Nick e Lottie assistiram a uma obra no Drury Lane que punha em cena batalhas navais usando maquinaria complicada e claras demonstrações de resultado emocionante. Os atores vestidos como marinheiros se lançavam dos flancos "do navio" em perfeita conjunção com as explosões de fogo de canhão, suas camisas avermelharam com a pintura vermelha para parecer sangue. Os resultados eram tão realistas que Lottie aplaudiu com as mãos em alto e ocultou seu rosto contra o peito de Nick, desatendendo seus risonhos esforços para fazer que observasse a ação.
Possivelmente foi a violência da demonstração, ou os efeitos secundários do vinho que tinha bebido com o jantar, mas Lottie se sentia inquieta quando abandonaram seus assentos no camarote durante o primeiro ato.
Os aficionados ao teatro se mesclavam no salão de baixo, tomando refrescos e conversando com excitação sobre as gráficas batalhas teatrais que acabavam de ver. Quando a atmosfera no espaço lotado se fez sufocar-se, Nick deixou Lottie na companhia de amigos enquanto ia trazê-la um copo de limonada. Lottie forçou um sorriso em seus lábios enquanto ouvia pela metade a conversação a seu redor, esperando que voltasse logo.
Que rapidamente se acostumou à tranquilizadora presença de Nick junto a ela pensou.
Era irônico. Depois de tantos anos de haverem lhe dito que pertencia a Lorde Radnor, nunca tinha sido capaz de aceitá-lo. E já se sentia completamente normal pertencer a um verdadeiro estranho. Recordou a advertência de Lorde Westcliff sobre o Nick Gentry. Não se deve confiar nele, havia dito Westcliff. Mas o conde se equivocou. Independentemente do misterioso passado de Nick, tinha sido doce e considerado com ela, e mais que digno de sua confiança.
Enquanto Lottie dava uma olhada ao redor da reunião, esperando captar uma vista dele, chamou-lhe a atenção uma figura que estava a vários metros de distância dela.
Radnor pensou, enquanto uma ducha de agulhas geladas parecia cair sobre ela. Cada músculo imobilizado... Estava congelada com o mesmo medo que tinha sentido durante dois anos de perseguição.
Seu rosto estava parcialmente separado de seu olhar horrorizado, mas via seu cabelo cinza aço, a inclinação arrogante de sua cabeça, as navalhadas negras de suas sobrancelhas. E logo se deu volta em sua direção, como se sentisse sua presença no atestado vestíbulo.
Imediatamente seu terror silencioso se voltou em confusão... Não, não era Radnor, só um homem que se parecia com ele. O cavalheiro assentiu e lhe sorriu como às vezes faziam os estranhos quando seus olhares resultavam encontrar-se. Ele se voltou para seus companheiros, enquanto Lottie baixou o olhar até suas mãos apertadas em suas luvas rosa pálida e tentou acalmar a surra de seu coração. Os efeitos secundários do choque a golpeavam... Uma ameaça de náusea, empapada de suor frio, um tremor que se negava a diminuir. Que ridícula é, disse-se, indignada pelo fato de que a mera olhada de um homem que se parecia com Radnor poderia ter obtido semelhante reação exagerada.
— Sra. Gentry. - chegava uma voz próxima. Era a Sra. Howsham, uma mulher agradável e de voz doce a quem Lottie tinha conhecido recentemente. - sente-se doente, querida? Parece bastante entediada.
Examinou o rosto da Sra. Howsham.
— Mas bem faz um calor cansativo aqui. - sussurrou. — E penso que me atei os cordões muito fortes esta tarde.
— Ah, sim, - disse a mulher em um entendimento sardônico, familiarizada com as queixas que as cordas do espartilho frequentemente induziam. — Os perigos da moda que devemos sofrer...
Para o alívio de Lottie, Nick apareceu a seu lado, um copo de limonada na mão. Imediatamente percebendo que algo estava mau, deslizou um braço de apoio atrás dela.
— O que é? - perguntou, olhando atentamente seu rosto pálido.
A Sra. Howsham levou a si mesma a responder.
— O cordão apertado, Sr. Gentry... Sugiro-lhe que a leve a algum lugar um pouco mais afastado que isto.
Um sopro de ar fresco frequentemente ajuda.
Mantendo seu braço ao redor de Lottie, Nick a guiou pelo corredor. O ar da noite fez com que Lottie tremesse quando suas roupas encharcadas em suor se umedeceram. Com cuidado Nick a levou ao casco de uma enorme coluna que bloqueava a luz e o ruído que vinha de dentro do edifício.
— Não foi nada, - disse Lottie com vergonha. — Nada absolutamente. Pareço com uma idiota, fazendo um escândalo sem razão. — Aceitando a limonada dele, bebeu com avidez, sem parar até que o copo esteve vazio.
Nick se inclinou para pôr o copo vazio sobre a terra e se levantou para confrontar Lottie uma vez mais.
Seu rosto estava tenso enquanto tomava um lenço de seu casaco e limpava o suor que gotejava por suas bochechas.
— Me diga o que aconteceu. - disse silenciosamente.
Lottie avermelhou de vergonha.
— Pensei que vi lorde Radnor ali. Mas foi só um homem que lhe parecia. - suspirou tensamente. — Agora demonstrei ser uma completa covarde. Sinto muito.
— Radnor poucas vezes sai em público. - murmurou Nick. — Não é provável que lhe encontrasse em um acontecimento como este.
— Sei. - disse com arrependimento. — Infelizmente não deixo de pensar nisso.
— Não é uma covarde. — Havia preocupação em seus olhos azul escuro... Preocupação que cobria alguma emoção mais intensa, mais misteriosa debaixo.
— Reagi como uma menina que tem medo da escuridão.
Seus dedos se deslizaram sob seu queixo, forçando-a a encontrar seu olhar.
— É imaginável que encontre ao Radnor algum dia. - disse brandamente. — Mas estarei contigo quando ou se isto passar, Lottie. Não tem que temê-lo mais. Manterei-te segura.
Ela sentiu um apuro de assombro pela sensível gravidade de sua expressão.
— Obrigado. - respondeu, tomando uma completa baforada de ar pela primeira vez desde que tinham abandonado o vestíbulo.
Seguiu olhando o pálido e úmido rosto, Nick sacudiu sua cabeça com leve cenho, como se a vista de sua angústia fora dolorosa para ele. Parecendo incapaz de evitá-lo, estendeu a mão e a apertou contra ele, seus braços se envolveram ao redor dela enquanto tratava de consolá-la com seu corpo. Não havia nada sexual no abraço, mas de algum modo era mais íntimo que algo que jamais tinham feito juntos. Seus braços eram fortes e possessivos, sustentando-a firme enquanto seu fôlego caía em úmidas e quentes quebras de onda contra seu pescoço.
— Levo-te pra casa? - sussurrou.
Lottie assentiu devagar, enquanto uma vida de solidão se transformava em um sentimento de inconcebível comodidade. Um lar... Um marido... Coisas que nunca se permitiu ter esperança. Certamente esta ilusão não podia durar, de algum modo, algum dia, seria afastado dela. Mas até que isto passasse, acariciaria cada momento.
— Sim. - disse sua voz apagada contra seu casaco. — Vamos pra casa.
Emergindo brandamente de um sono profundo, Lottie se deu conta de estranhos ruídos na casa. Pensando que possivelmente os sons eram um remanescente de um sonho, piscou e se incorporou devagar na cama.
Era meia noite, e o dormitório estava escuro como a boca de um lobo. Ali estava outra vez... Um grunhido, uma frase confusa... como se alguém estivesse em meio de uma discussão. Recordando que Nick de vez em quando era agitado por pesadelos, Lottie saltou da cama. Com cuidado acendeu um abajur, voltou a colocar o cristal, e o levou com ela abaixo ao quarto.
As sombras fugiram diante dela quando se aproximou do quarto de hóspede onde Nick dormia. Fazendo uma pausa ante a porta fechada, deu um toque cautelosamente. Não houve resposta. Depois de um momento, ouviu um rangido violento dentro. Lottie girou a maçaneta e entrou no dormitório.
— Nick?
Estava estirado sobre a cama, estendido sobre seu estômago com a camisa retorcida sobre seus quadris.
Respirando rapidamente, apertou seus punhos e resmungou incoerentemente, seu rosto no escuro brilhando de suor. Olhando-lhe com desconcertante preocupação, Lottie se perguntava que monstros invisíveis podiam provocar que seu comprido corpo se movesse nervosamente com o que era de uma vez raiva contida, ou medo, ou ambos. Pôs o abajur na mesa de noite e se aproximou dele.
— Nick, acorda. Só é um sonho. — Estendendo uma mão até ele, pôs uma delicada mão sobre a curva brutal de seu ombro.
Nick de repente foi apanhado em uma explosão de violência. Um grito assustado lhe escapou quando foi agarrada e jogada em metade de caminho através da cama. Nick estava sobre ela em um instante, sentando-se escarranchado sobre ela com suas coxas poderosas. Ouvindo um grunhido cruel, Lottie elevou a vista à dura e sombria máscara de seu rosto e viu uma enorme mão retroceder em um punho.
— Não! - ofegou, protegendo seu rosto com seus braços.
O golpe nunca chegou. Tudo se acalmou. Tremendo, Lottie baixou seus braços e olhou para cima para ver a mudança do rosto de Nick, a queda da máscara de pesadelos, o julgamento e a consciência arrastando-se de volta em sua expressão. Ele baixou seu punho e o olhou inexpresivamente. Então seu olhar caiu à forma magra de Lottie, e a fúria e o terror em seus olhos a fez encolher-se.
— Poderia te haver matado. - grunhiram, seus dentes brancos brilhando como os de um animal. — O que faz aqui? Não volte a me tocar enquanto durmo maldita seja!
— Eu não sabia, Eu... em nome do céu, que sonhava?
Afastou-se dela com um movimento ágil e abandonou a cama, ofegando.
— Nada. Nada absolutamente.
— Pensei que necessitava algo — Tudo o que preciso é que lhe mantenha longe de mim, demônios. - disse bruscamente. Encontrando sua roupa desprezada sobre uma cadeira, colocou sua calça a puxões.
Lottie sentiu como se tivesse sido golpeada. Odiava que suas palavras tivessem o poder de lhe fazer mal.
Inclusive mais que isso, estava angustiada por ele, desejando que não tivesse que suportar semelhante tortura sozinho.
— Sai daqui. - disse ele, colocando sua camisa, sem incomodar-se com o colete ou a gravata.
— Vai sair? — Perguntou Lottie. — Não há necessidade. Voltarei para a cama, e...
— Sim, Vou sair.
— Aonde vai?
— Não sei. — Não olhou pra ela recolheu suas meias e sapatos. — E não pergunte quando voltarei. Não sei isso tampouco.
— Mas por quê? — Lottie deu um passo vacilante para ele. — Nick, por favor fique e me conte Lançou-lhe um olhar de advertência, seus olhos brilhantes com a ferocidade de um animal ferido.
— Disse. Vai embora.
Sentindo o sangue se esquentar em seu rosto, Lottie assentiu e foi até a porta. Fazendo uma pausa na soleira, falou sem olhar para trás.
— Sinto muito.
Ele não deu nenhuma resposta.
Lottie mordeu o interior de seus lábios, amaldiçoando-se enquanto sentia a ardência das lágrimas nas comissuras de seus olhos. Partiu rapidamente, retirando-se a seu quarto com os fragmentos de sua dignidade.
Nick não voltou no dia seguinte. Preocupada e desconcertada, Lottie tratou de encontrar modos de manter-se ocupada. Entretanto, nenhuma distração se demonstrou suficiente para evitá-la da preocupação.
Deu um comprido passeio seguida de um criado, ocupou-se de ler, e de ajudar à Sra. Trench a fazer velas de sebo.
A ama e os criados eram silenciosamente respeitosos com Lottie. Como era de esperar, não se mencionara nenhuma palavra sobre a noite anterior, embora todos eles fossem certamente conscientes de que algum alvoroço tinha ocorrido. Os criados sabiam tudo, mas nenhum deles admitiria jamais conhecer os detalhes íntimos da vida de seu amo.
Perguntando-se onde tinha ido seu marido, Lottie temia que possivelmente tivesse feito algo imprudente.
Consolou-se que ia cuidar de si mesmo, mas isso não aliviou sua angústia. Tinha estado tão alterado, e suspeitava que sua cólera se perdesse de medo do que poderia havê-la feito mal.
Entretanto, era sua esposa, e merecia algo melhor que ser abandonada sem explicação. O dia era sem piedade largo, e Lottie estava aliviada quando à tarde finalmente se aproximou. Depois de comer sozinha, tomou um comprido banho, colocou uma fresca camisola branca, e leu um montão de revistas até que finalmente se sentiu capaz de dormir. Esgotada pelo rodeio infinito de seus pensamentos e o aborrecimento das horas passadas, afundou-se em um sono profundo.
Muito antes da manhã, despertou com espessa névoa grosa do sono ao dar-se conta de que o peso das mantas tinha sido retirado dela. Comovida, deu-se conta de uma sólida presença atrás dela, o colchão baixou ligeiramente. Nick pensou com alívio sonolento, bocejando enquanto se dava a volta. O quarto estava tão escuro que não podia distingui-lo exatamente. O calor familiar de suas mãos pressionou suas costas na cama, uma palma grande descansava com cuidado sobre o centro de seu peito... E então levou seus braços por cima de sua cabeça.
Lottie murmurou com surpresa, despertando totalmente quando lhe sentiu enlaçar algo ao redor de cada braço. Antes que compreendesse o que acontecia, os laços foram assegurados à cabeceira, estirando-a tensamente a ele. Sua respiração parou pelo assombro. Nick se moveu sobre ela, escondendo-se como um gato, seu fôlego chegava em ondas irregulares. Ele tocava seu corpo sobre o véu de algodão de sua camisola, seus dedos escorregando sob a curva de seu seio, sua cintura, a elevação de seu quadril e coxa. Seu peso trocou, e sua boca procurou seu seio, umedecendo a camisola, lambendo o crescente o bico de seu mamilo.
Ele estava nu, o aroma e o calor quente de masculina pele rodeando-a.
Aturdida Lottie compreendeu que queria tomá-la assim, com suas mãos sujeitas sobre sua cabeça. A idéia a fez ter medo. Não gostava de estar impedida de nenhuma forma. Mas ao mesmo tempo entendia o que desejava... Sua impotência, sua absoluta confiança... O conhecimento de que podia fazer algo sem restrições.
Fez rodar seu inchado mamilo contra sua língua excitou a apertada cúpula comprimindo-os, lentamente, os chupou com força através do algodão molhado até que ela ofegou. Retorcia-se em uma súplica muda para que lhe tirasse sua camisola, mas ele só se deslizava mais abaixo de seu corpo, seus musculosos braços tensos em ambos os lados dela.
Curvando seu polegar e índice sobre um dos laços que sujeitavam seus braços. Lottie descobriu que Nick tinha usado suas meias de seda. A ligeira tensão em seus braços pareceu intensificar sua resposta a ele, a sensação correndo por ela em cargas elétricas.
Sua boca estava em seu estômago, seu fôlego queimando através do delicado vestido. Ele mordiscou seu corpo, suas carícias lânguidas, enquanto o passo de sua respiração traía sua excitação. Fez um espaço entre suas coxas, apartando-as com suas mãos. Sua boca arraigada com cuidado entre suas pernas, contra o tecido de algodão. Lottie se esticava, seus dedos se abriam e fechavam sem poder evitá-lo, seus pés fincando-se com força no colchão. Jogava com ela sem pressa, logo se elevava outra vez para encontrar seus seios, beijando e acariciando-a através da apertada camisola até que ela pensou que se voltaria louca se ele não a tirasse. Cada polegada de sua pele estava quente e hipersensível, o fino tecido parecia roçá-la insuportavelmente.
— Nick, - disse ela desesperadamente. - minha camisola, tire-me isso, por favor, tira...
Ele a calou com seus dedos, descansando dois deles ligeiramente contra seus lábios. Quando se acalmou, seu polegar acariciou sobre a curva de sua bochecha em uma carícia de suave sussurro. Alcançando a prega da camisola, atirou para cima, e ela soluçou de gratidão. Suas pernas se crisparam quando foram expostas ao ar fresco, e em seu braço desatou as ataduras de seda enquanto se retorcia para lhe ajudar. O algodão foi levantado sobre seu seio, enganchando-se ligeiramente nas eretas pontas de seus mamilos.
A mão de Nick deslizou com cuidado sobre seu estômago, indo até a sensível carne no interior de suas coxas. A ponta de seu dedo passou através do cabelo encaracolado, encontrando a torcida umidade, e acariciou brandamente a latente e delicada carne. Suas pernas se abriram, seu corpo palpitando com a antecipação. Ela deu um soluço suplicante quando sua mão a abandonou. A ponta de seu dedo do meio riscou a borda sensível de seu lábio superior. Seu dedo estava úmido com o elixir salgado de seu próprio corpo, deixando a fragrância em qualquer parte onde ele tocava. De repente seu nariz esteve cheio do aroma de sua própria excitação, enchendo seus pulmões com cada respiração.
Devagar Nick a pôs de lado, sua mão passando sobre seus braços para comprovar sua tensão. Seu corpo colocado atrás do dele, sua boca acariciando sua nuca. Lottie se estirou para trás, seu traseiro pressionando em seu inchado membro. Ela queria lhe tocar, retorcer-se ao redor e acariciar o áspero e espesso cabelo de seu peito, e logo agarrar o membro duro de seu sexo e deixar que o comprido cilindro de seda se abrisse passando pelo círculo de seus dedos. Mas sua posição fazia o movimento impossível, e sua única opção era esperar seu prazer sem poder fazer nada.
Ele enganchou um braço sob a parte superior de sua perna, levantando-a ligeiramente, e ela sentiu a ponta torcida de seu sexo dentro dela. Entrou nela só uma polegada, provocando-a, postergando a completa, enquanto que ela ansiava. Lottie tremia violentamente, suplicando com ofegos mudos enquanto ele beijava sua nuca. Com a cabeça de seu membro alojada justo dentro de sua entrada, sua mão vagou sobre ela... Um delicioso puxão em seu mamilo, uma carícia rodeando seu umbigo. Gradualmente suas carícias se fizeram mais decididas, seus suaves e hábeis dedos pinçaram dentro da espessura de cachos.
Suando, gemendo, Lottie se ondulava docemente com provocadoras pontas de seus dedos. Sentia seu membro deslizando-se totalmente dentro dela, enchendo-a completamente, e gritou bruscamente, seu corpo sacudindo-se com tremores de prazer.
Nick esperou até que se acalmasse. Começou a bombear dentro dela, seus movimentos firmes e lentos, alagando-a com prazer. Ela respirava em suspiros com a boca aberta, seus punhos atirando com força dos laços de seda quando alcançou o clímax outra vez com um comprido e estremecedor gemido. Então ele investiu mais forte, suas virilhas encontrando-se em deliciosos impactos, seu fôlego precipitou através de seus dentes apertados. A cama se sacudia por seus movimentos.
Lottie se sentia de uma vez vulnerável e forte, possuindo-o tão certamente como ele a possuía, com seu coração pulsando contra sua mão, e sua carne rodeando a sua. Esticou-se dentro dela, seu órgão sacudindo-se e palpitando, seus lábios separando-se enquanto ofegava contra seu pescoço.
Durante muito tempo ela descansou contra seu grande e duro corpo, dando um suave gemido quando ele liberou seus pulsos. Ele os esfregou com cuidado, e logo sua mão baixou para cavá-la em seu sexo molhado.
Sua respiração se fez mais lenta, e ante o pensamento de que ele ia deixar-se levar para dormir ao lado dela, Lottie tremeu de desejo. De repente nada era mais desejável no mundo que ficar em sua cama durante uma noite inteira. Mas ele se levantou finalmente, inclinando-se para beijar seu seio, sua língua girando ao redor do sensível bico.
Quando Nick abandonou a cama, Lottie mordeu seu lábio para impedir de lhe pedir que ficasse sabendo que só negaria como sempre. A porta se fechou, deixando-a em solidão. E embora seu corpo estivesse satisfeito e cansado, sua carne formigava agradavelmente, sentia lágrimas brotando detrás de suas pálpebras.
Sentia pena... Não por ela, mas sim por ele. E desejava... A perigosa necessidade de consolá-lo, embora ele amargamente se ofendesse por fazê-lo assim. E o último de tudo, uma profunda ternura por um homem que logo conhecera, um homem que precisava ser resgatado muito mais do que ela jamais foi.
A manhã seguinte chegou um pacote do Sr Ross, contendo um feixe de documentos que tinham complicados selos e um convite a um baile que se celebraria em uma semana. Quando Lottie entrou na sala de jantar, viu Nick sentado sozinho na mesa, um prato de café da manhã meio terminado diante dele. Seu olhar se levantou da grosa folha de pergaminho em sua mão, seus olhos se obscureceram quando a viu.
Levantou-se, olhando-a sem piscar.
Lottie sentiu que uma maré brilhante de vermelho se estendia sobre seu rosto. Durante as manhãs depois de uma noite excepcionalmente apaixonada, Nick sorria quando fazia alguma observação banal para aliviar seu desconforto. Hoje, entretanto, seu rosto estava tenso e seus olhos eram tristes. Algo tinha mudado entre eles, a soltura de suas antigas interações se foi.
Torpemente ela fez gestos com o papel em sua mão.
— Isto chegou?
Não havia nenhuma necessidade de clarificar "que" era.
Nick assentiu brevemente, seu olhar se voltou para a citação.
Esforçando-se por manter um aspecto de normalidade, Lottie foi ao aparador e se servir dos pratos expostos. Nick lhe ajudou com a cadeira ao lado da sua e voltou a sentar-se em seu assento. Ele contemplou os restos de seu café da manhã com insólita concentração, enquanto uma criada veio por uma taça de chá fumegante diante de Lottie.
Ambos estiveram em silêncio até que a criada abandonar a sala.
— Darão um baile no próximo sábado. - disse Nick com brutalidade, sem olhá-la. — Terá um vestido apropriado para ir?
— Sim. Já provei um vestido de baile, e havia só umas poucas alterações que fazer.
— Bom.
— Estás zangado? — Perguntou Lottie.
Ele recolheu sua faca e a contemplou mal humoradamente, raspando a ponta da lâmina contra a ponta calosa de seu polegar.
— Começo a me sentir estranhamente resignado à situação. Agora as notícias escapam dos escritórios da Coroa e do Lorde Chanceler. Tudo foi posto em movimento, e não há nada que alguém pudesse fazer para pará-lo agora. Sr Ross nos apresentará no baile como Lorde e lady Sydney... E daqui em diante, Nick Gentry estará morto.
Lottie lhe olhou atentamente, golpeado por seu estranho modo de falar.
— Quer dizer que o nome não será usado mais. - disse ela. — Você, como Lorde Sydney, estará muitíssimo mais vivo. Começo a lhe chamar John em privado?
Com o rosto franzido, deixou a faca.
— Não. Serei Sydney para o resto do mundo, mas em minha própria casa responderei no nome que escolhi.
— Muito bem... Nick. — Lottie colocou um generoso torrão de açúcar em seu chá e bebeu a goles o líquido quente doce. — O nome te serviu bem por muitos anos, verdade? Atrevo-me a dizer que lhe deste muito mais renome do que o Gentry original jamais teria.
Seu livre comentário ganhou um peculiar olhar dele, de algum modo reprovando e suplicando ao mesmo tempo. Uma compreensão repentina brilhou por sua mente, o verdadeiro Nick Gentry, o moço que tinha morrido de cólera a bordo do navio prisão, guardava no coração um segredo que atormentava seu marido.
Lottie olhou distraídamente seu chá, esforçando-se em manter seu tom informal enquanto perguntava, — Como era ele? Ainda não me disse isso.
— Era um órfão, cuja mãe foi enforcada por roubo. Viveu nas ruas a maior parte de sua vida, começando como um falso comediante de pudim e finalmente adquirindo sua própria equipe de dez.
— Falso comerciante de pudim repetiu Lottie perplexa.
— Roubando comida para sobreviver. Isto é do mais baixo, exceto para os mendigos. Mas Gentry aprendeu rápido, e se fez um ladrão competente. Finalmente foi pego roubando uma casa, e foi condenado ao navio prisão.
— E depois se fizeram amigos. - incitou Lottie.
A expressão de Nick se fez distante quando as lembranças muito tempo enterradas lhe recordaram ao passado.
— Era forte, ardiloso... Com agudos instintos por viver muito tempo nas ruas. Contou-me coisas que tinha que saber para sobreviver na prisão... Protegendo-me às vezes...
— Te protegendo do que? — Sussurrou Lottie. — Dos guardas?
Nick sacudindo-se de seu transe, piscando a lonjura de seus olhos. Jogou uma olhada a sua mão, que agarrava aponta da faca muito forte. Com cuidado pôs o objeto brilhante sobre a mesa e retirou-se de sua cadeira.
— Saio um momento. - disse sua voz despojada de todo matiz. — Espero que te vejas no jantar esta noite.
Lottie respondeu com o mesmo cuidadoso tom neutro.
— Muito bem. Que tenha um dia agradável.
Durante a semana que seguiu, os dias e noites eram vertiginosas em seu contraste. As horas diurnas de Lottie estavam ocupadas com diligências e pequenos assuntos práticos. Nunca estava completamente segura de quando veria Nick, já que ele vinha e ia a vontade. No jantar falavam de reuniões que ele tinha tido com companheiros de investimento e banqueiros, ou suas visitas ocasionais a Bow Street, porque Sr Grant de vez em quando consultava com ele assuntos que pertenciam a casos passados. Durante o dia, as interações de Lottie com Nick eram cordiais, a conversação agradável e ainda ligeiramente impessoais.
As noites, entretanto, eram uma história muito diferente. Nick fazia amor com uma intensidade quase que desesperada. Fazia coisas que a impressionavam, não deixando nenhuma parte de seu corpo intacto em sua paixão. De vez em quando sua maneira de fazer o amor era urgente e primitiva, enquanto outras vezes era lânguida e lenta, com ambos pouco dispostos a deixar terminar-se. Estavam também os inesperados momentos de humor, quando Nick jogava com ela, tirava um sarro, e a enrolava para tentar posições tão pouco decorosas que se dissolvia em vergonhosas risadas tolas.
Não importava que prazer aguardasse as noites, entretanto, cada dia lhes aproximava mais o momento em que Sr Ross faria o anúncio que mudaria o curso de suas vidas. Lottie sabia que seu marido temia o baile, e que os meses posteriores seriam bastante difíceis enquanto ele tratava de adaptar-se a suas novas circunstâncias. Estava segura, entretanto, que poderia lhe ser de alguma ajuda. Quando tinha entrado no matrimônio, nunca tinha suspeitado que ele pudesse necessitá-la de algum jeito, tampouco tinha pensado que teria alguma satisfação lhe ajudando. E ainda, sentia muito parecida com uma ajudante...Uma companheira...E às vezes, durante somente um instante ou dois, uma esposa.
Quando a noite do baile finalmente chegou, Lottie estava agradecida de ter aceito o conselho da costureira de Sophia. Sophia lhe tinha ajudado a escolher os estilos que eram jovens, mas elegantes, as cores suaves que a favoreciam enormemente. O vestido que Lottie tinha decidido levar essa noite era um cetim azul pálido coberto com branco, com um atrevido decote que deixava descoberto o alto de seus ombros. Lottie estava no centro da sala enquanto a Sra. Trench e Harriet suspendiam o ondeante vestido sobre sua cabeça e ajudava a guiar os braços pelos cetins engomados. Era um vestido tão formoso como nenhum que tivesse visto durante as festas em Hampshire. Pensando no baile que estava a ponto de assistir, e a reação de Nick quando a visse, Lottie estava quase enjoada pelo entusiasmo.
Seu ligeiro enjôo sem dúvida, animada pelo fato de que seu espartilho estava engrenado com insólita estreiteza, para permitir à Sra. Trench fechar o ajustado vestido. Estremecendo-se no confinamento do espartilho e laços, Lottie olhou no espelho como as duas mulheres ajustavam o traje de baile. O sobre vestido transparente de tul branco estava bordado com ramos de rosas brancas de seda. Os sapatos de cetim brancos, largas luvas de pelica, e um lenço de gaze bordada eram os últimos toques, fazendo Lottie parecer uma princesa. O único defeito era seu cabelo liso, negava-se a aguentar um cacho, não importava como estivessem de quente as pinças. Depois de várias tentativas infrutíferas de criar uma massa de cachos sujeitos com alfinetes, Lottie optou por um simples coque trançado em cima de sua cabeça, rodeado de rosas brancas.
Quando Harriet e a Sra. Trench se apartaram para ver os resultados finais de seus trabalhos, Lottie riu e deu uma volta rápida, fazendo girar as saias azuis sob o flutuante tule branco.
— Vê-se muito formosa, milady. - comentou a Sra. Trench com óbvio agradar.
Fazendo uma pausa a metade do giro, Lottie se olhou com um sorriso maravilhado. Como Nick não tinha tido suficiente valor para fazer nenhum tipo de anúncio aos criados sobre a reclamação de seu sobrenome e título, tinha deixado a Lottie que lhes contasse as origens nobres de seu amo. Depois que seu assombro inicial se esfumou, os criados tinham parecido mais que contentes pelo giro dos acontecimentos. Convertiam-se em criados da casa de um par, seu próprio estado no mundo seria enormemente realçado.
— Obrigado, Sra. Trench. - respondeu Lottie. - como sempre, foi inestimável esta tarde. Não podíamos nos arrumar sem você, sobre tudo nos dias por chegar.
— Sim, milady. — A ama levava uma expressão de franca antecipação. Como tinham falado antes, teria-se que estabelecer uma nova casa em Worcestershire, com ao menos trinta criados para começar. A Sra. Trench seria em grande parte responsável por selecionar e contratar o novo pessoal.
Lottie abandonou o dormitório, seu vestido sussurrando e rangendo quando se movia. Quando baixou a magnífica escada, viu Nick esperando no vestíbulo, seu corpo tão tenso como o de uma pantera aponto de atacar. A forma larga de seus ombros estava vestida à perfeição no esquema formal de um casaco escuro, colete prateado, e uma gravata de seda negra. Com seu cabelo negro muito bem penteado e seu rosto brilhante por um barbeado recente, era tão viril como elegante. Sua cabeça girou para ela, e derepente seus olhos estreitados pela impaciência foram substituídos por uma expressão detida.
Lottie sentiu um avanço de alegria em seus olhos. Deliberadamente se tomou seu tempo para lhe alcançar.
— Pareço-me com uma viscondessa? — Perguntou.
Seus lábios peculiarmente irônicos.
— Nenhuma viscondessa que jamais tenha visto se parece com ti, Lottie.
Ela sorriu.
-É um elogio?
— OH, sim. De fato... — Nick tomou sua mão enluvada e lhe ajudou a baixar o último degrau. Sustentou seu olhar obsessivamente, seus dedos se apertaram ao redor dos seus, e respondeu sua pergunta ligeira com uma gravidade que a atordoou.
— É a mulher mais formosa do mundo. - disse com voz rouca.
— Do mundo? - repetiu ela com uma risada.
— Quando digo que é formosa, - murmurou ele. — Nego-me a matizar a declaração de qualquer modo.
Exceto acrescentar que a única maneira em que poderia está-lo mais, é se estivesse nua.
Ela riu por sua audácia.
— Temo-me que te conscientize com o fato de que vou permanecer totalmente vestida esta noite.
— Até depois do baile. - respondeu ele. Atirou das gemas dos dedos de sua luva esquerda, afrouxando-os um por um.
— O que estás fazendo? — Perguntou Lottie, de repente sem fôlego.
Seus olhos azuis olhando nos dela.
— Tirarando sua luva.
-Com que objetivo?
— Para admirar sua mão. - tirando completamente a luva de um puxão, acomodou-se sobre o corrimão próximo da escada e levantou seus magros dedos até sua boca. Lottie olhou como beijava cada um por turnos, seus lábios quentes sobre sua pele. Quando terminou com um beijo suave no centro de sua palma, seu braço inteiro formigava. Baixando sua mão, Nick a contemplou pensativamente.
— Falta-lhe algo. - colocando a mão em seu bolso, murmurou. — Fecha os olhos.
Lottie obedeceu com um leve sorriso. Sentiu algo frio e pesado deslizar-se sobre seu quarto dedo, encaixando perfeitamente na base. Compreendendo o que era, abriu seus olhos e conteve o fôlego.
O anel era uma enorme safira, em forma de cúpula, um azul que quase se aproximava da profundidade e brilhante escuridão dos olhos de seu marido. A gema estava montada no ouro, com um anel de diamantes menores que o rodeava. O que fazia a safira tão extraordinária, entretanto, era a estrela que dançava sobre a superfície sedosa da ponta, que parecia deslizar-se através dela com luz. Assombrada, Lottie elevou a vista ao rosto de Nick.
— Você gosta? - perguntou.
As palavras fugiram. Apertou seus dedos sobre os seus, abrindo e fechando a boca antes que pudesse conseguir falar.
— Nunca vi nada tão encantador. Não esperava nada como isto. OH, que generoso de sua parte! — Impulsivamente lançou seus braços ao redor de seu pescoço e beijou sua bochecha.
Os braços de Nick se fecharam ao redor dela. Sentiu seu fôlego quente sobre o seu pescoço, enquanto sua mão acariciava cuidadosamente sobre o cordão que cobria suas costas.
— Não sabe que te daria tudo o que desejas? - disse brandamente. — Tudo absolutamente.
Temerosa de lhe permitir ver sua expressão, Lottie permaneceu perto dele. Ele tinha falado sem pensar.
Isso, ou as palavras possivelmente não podiam revelar o que ela pensava que faziam. Nick ficou rígido, como se compreendesse o que acabava de dizer, e se distanciou dela rapidamente. Arriscando um olhar para ele, Lottie viu o cuidadoso vazio de seu rosto, e permaneceu calada, lhe dando o controle do momento.
Nick sacudiu sua cabeça enquanto minuciosamente voltou a juntar seu autodomínio. Quando seu olhar voltou para a seu, seus olhos estavam brilhantes.
— Partimo-nos, lady Sydney?
— Sim, Nick. - sussurrou, e alcançou o braço estendido.
Sir Ross tinha convencido a um amigo de primeiro nível na sociedade, o duque de Newcastle, para que celebrasse o baile no qual lorde Sydney seria apresentado. O duque e a duquesa eram um casal distinguido, um casal muito respeitado que tinham estado casados durante quarenta anos. Suas irrepreensíveis reputações seriam bastante úteis nesta situação, para um homem tão infame como Nick que certamente necessitaria patrocinadores que fossem irrepreensíveis.
A fazenda londrina do duque tinha o que foi discretamente chamado uma casa “importante” uma de tão imensa magnitude que os visitantes com frequência perdiam o caminho de volta de uma sala a outra. Havia inumeráveis saídas, sala para tomar o café da manhã, beber, ou tomar café, uma biblioteca, uma sala de refeições, e uma sala de caça, quartos para estudar, fumar, e para música.
O salão estava assoalhado com o que parecia ser acre extremamente gentil, refletindo a luz de meia dúzia de lustres de luzes celestes penduradas dois pisos mais acima. Bordeadas com galerias, balcões em acima e debaixo, a habitação estava provida de muitos receptáculos para mexericar e intrigar.
Ao baile assistiriam ao menos quinhentos convidados, muitos deles escolhidos por seu brilhante status social. Como Sophia tinha comentado secamente a Nick, os convites a este acontecimento em particular se converteram em tal sinal de distinção que ninguém se atrevia a assistir, em caso de que se notasse que não tinham sido convidados.
Nick assumiu uma expressão corretamente agradecida quando foi apresentado ao duque e a duquesa, ambos conheceram seus pais.
— Tem uma semelhança assombrosa a seu defunto pai. - comentou a duquesa enquanto Nick se inclinava sobre sua mão enluvada. Era uma mulher pequena, mas elegante, sua cabeça chapeada, adornada por uma tiara de diamantes, seu pescoço carregado com o peso de fileiras de pérolas tão enormes que ameaçavam derrubá-la sem equilíbrio. — Se não me tivessem contado seu parentesco, - seguiu a duquesa. - o teria sabido imediatamente, somente te olhando. Esses olhos... se, é de verdade Sydney. Miúda tragédia para ti perder a ambos os pais de uma vez. Um acidente de navio, não?
— Sim, sua Graça. — Como lhe tinham contado a Nick, sua mãe se afogou quando um barco a tinha derrubado em uma festa no navio. Seu pai tinha morrido tentando salvá-la.
— Uma grande pena. - disse a duquesa. — Eram um casal tão unido, segundo lembrança. Mas em vista disso, pode ter sido uma bênção para eles morrerem juntos.
— Em efeito. - disse Nick brandamente, ocultando uma labareda de irritação. Nos dias justo depois da morte de seus pais, o mesmo sentimento tinha sido expresso incontáveis vezes, que amável tinha sido o destino nesse respeito, deixar morrer juntos. Infelizmente nenhum dos filhos de Sydney tinha compartilhado aquele sentimento romântico, desejando em troca que ao menos um de seus pais tivera sobrevivido. O olhar de Nick para sua irmã, que estava de pé perto com Sr Ross. Ouvindo por acaso o comentário da duquesa, os olhos de Sophia se estreitaram ligeiramente, e intercambiou um sorriso suave e forçado para Nick.
— Sua Graça, - murmurou Lottie, deixando de lado o momento, - que amável de sua parte nos oferecer sua hospitalidade. Lorde Sydney e eu sempre manteremos a lembrança de sua generosidade por esta ocasião especial.
Obviamente adulada, a duquesa fez uma pausa para falar com Lottie durante uns momentos, enquanto o duque favoreceu a Nick com um sorriso de parabéns.
— Uma eleição excepcional para esposa, Sydney. - comentou o homem ancião. — Serena, natural, e bastante encantadora. É bastante afortunado.
Ninguém teria discordado com isso, ainda menos Nick. Lottie era uma revelação essa noite, seu vestido elegante, mas não muito sofisticado, seu sorriso fácil, sua postura tão régia como a de uma jovem rainha.
Nem o esplendor de seu entorno nem centenas de olhares curiosos parecia incomodar sua calma. Estava tão elegante e impecavelmente bonita que ninguém suspeitava a capa de aço sob seu exterior. Ninguém adivinharia jamais que era a classe de jovem que teria desafiado a seus pais e vivido por seus próprios meios durante dois anos... A classe de mulher que poderia manter-se firme contra um desumano detetive de Bow Street.
Enquanto o duque seguia recebendo aos convidados, a duquesa seguiu falando com Lottie, a cabeça cinza inclinada.
Sophia se aproximou mais de Nick, empregando seu leque para mascarar o movimento de seus lábios quando lhe murmurou, — Disse-lhe isso.
Nick sorriu ironicamente, recordando a afirmação de sua irmã de que Lottie demonstraria ser uma grande vantagem para ele.
— Essas são sem dúvida as quatro palavras mais irritantes na língua inglesa, Sophia.
— Ela é uma criatura carinhosa, e muito mais do que te merece. - avisou-lhe sua irmã com diversão dançando em seus olhos.
— Nunca afirmei o contrário.
— E parece que te quer bastante, - seguiu Sophia, - assim se eu fosse você, não daria minha boa fortuna por sentado.
— Querer. - repetiu Nick com cautela, consciente de um aumento repentino de seu pulso. - por que diz isso?
— Bem, o outro dia ela — Sophia se interrompeu quando captou sua atenção e viu um casal recém chegado. — Ah, aqui esta Lorde Farrington! Perdoe-me, querido, porque a Senhora Farrington esteve doente o mês passado, e eu quero perguntar por sua saúde.
— Espera. — Persistiu Nick. - termina o que foste dizer!
Mas Sophia se afastou acompanhada de sir Ross, deixando Nick furioso de frustração.
Quando Lottie foi liberada dos cuidados da duquesa, tomou o braço de Nick e o acompanhou enquanto se mesclavam com vários grupos. Era perita na ligeira conversação social, falando amavelmente sem provocar uma discussão larga, movendo-se com graça entre os convidados e recordando às pessoas que se encontraram em ocasiões anteriores. Estava claro que Nick tinha desejado abandoná-la enquanto se unia a seus amigos na sala de fumar e de bilhar, Lottie teria estado absolutamente cômoda. Entretanto, quando Nick viu o número de olhares ambiciosos depois de cada movimento de sua esposa, permaneceu a seu lado, de vez em quando descansando sua mão na parte baixa de suas costas em um gesto territorial que era bem entendido por cada homem que o via.
Uma animada melodia enchia o ar, brindada por uma orquestra que estava cuidadosamente oculta por um bosque de plantas em vaso de barro em um dos balcões superiores. Enquanto se dirigiam pelo abarrotado salão de baile, Lottie paquerou Nick discretamente, pondo sua mão sobre seu peito em pequenos toques provocadores, elevando-se para sussurrar em seu ouvido até que seus lábios roçavam sua pele. Semi-excitado e totalmente fascinado, Nick aspirou o aroma das rosas brancas de seu cabelo e permaneceu o suficientemente perto para ver o tênue e limpo pó perfumado que se reuniu no suave vale entre seus seios.
De repente a atenção de Lottie foi apanhada por um pequeno grupo de mulheres, dois das quais a olhavam fixamente com óbvio entusiasmo.
— Nick, vejo algumas amigas que não tinha posto os olhos desde que estava em Maidstone. Devo falar com elas, por que não se une a seus amigos cavalheiros? Certamente não quer nos escutar mexericar sobre nossos dias de colégio.
O claro desejo de sua esposa de livrar-se dele desgostou a Nick.
— Vai. - disse de maneira cortante. — Irei ao quarto de bilhar.
Lottie lhe lançou um olhar provocador desde debaixo de seus cilíos.
— Promete que me encontrará para a primeira valsa?
Compreendendo que estava sendo dirigido com destreza, Nick assentiu com um gemido e olhou a Lottie deslizar-se para o grupo de mulheres que esperavam. Para seu assombro, manteve-se ali se sentindo completamente privado de algo. Estava tão hipnotizado por uma pequena mulher que logo que podia pensar em ordem. Ele, que estava sempre tão seguro de si mesmo, estava em perigo de ser conduzido do nariz por sua própria esposa. Dando-lhe voltas ao alarmante descobrimento, Nick ouviu a voz profunda de seu cunhado ao lado dele.
— Acontece com os melhores, Sydney.
Nick deu a volta para confrontar a Sr Ross. Incrivelmente, Sr Ross parecia entender exatamente o que ele sentia. Seus olhos cinza brilhavam divertidos enquanto seguia em um tom que não era pouco pormenorizado.
— Não importa o forte de nossa resolução, finalmente nos encontramos escravos pela compulsiva preferência de uma mulher em particular. Foi apanhado, meu amigo. Você também poderia te reconciliar com isso.
Nick não se incomodou em tratar de negá-lo.
— Teria sido muito mais simpático contigo. - resmungou ele.
Sr Ross sorriu abertamente.
— Prefiro pensar que a inteligência não tenha nada que ver com isso. Já que o intelecto de um homem se mede por sua capacidade de permanecer intacto pelo amor, eu seria o maior idiota vivo.
A palavra amor fez Nick estremecer.
— O que me custaria te fazer fechar o bico, Cannon?
— Uma taça de Cossart-Gordon de 1805 provavelmente o faria. - chegou a amável resposta. — E se não me equivoco, acabam de tirar uma caixa na sala de bilhar.
— Vamos, então. - disse Nick, e cruzaram juntos andando pelo salão de baile.
— Lottie Howard! — Duas jovens se precipitaram para ela, e agarraram forte as mãos, compartilhando os sorrisos de alegria logo que contidas. Não foi por sua educação estrita no Maidstone que as três teriam chiado da maneira mais imprópria.
— Samantha. - disse Lottie calorosamente, olhando a alta e atrativa que sempre parecia uma amável irmã mais velha para ela. — E Arabela! — Arabela Markenfield parecia exatamente quão mesma no colégio...
Bonita e um pouco redonda, com os cachos loiros avermelhados que estavam perfeitamente arrumados sobre sua testa.
— Sou lady Lexington agora. - informou-a Samantha com considerável orgulho. — Apanhei um conde, nada menos, com uma fortuna boa e sólida. - deslizando um braço ao redor da cintura de Lottie, girou-a ligeiramente. — Está justo ali, perto das portas da estufa. O alto e calvo. Vê-o?
Lottie assentiu quando captou a vista de um cavalheiro de olhar melancólico que parecia estar a começo dos quarenta anos, com os olhos grandes que pareciam ligeiramente desproporcionais para seu rosto largo e estreito.
— Parece ser um cavalheiro muito agradável. - comentou Lottie, e Samantha riu.
— Muito discreto querida. Serei a primeira em admitir que o conde não seja muito de considerar, e não tem sentido de humor. Entretanto, os homens com senso de humor frequentemente tendem a lhe pôr a os nervos de ponta. E ele é um cavalheiro impecável.
— Estou tão contente. - disse Lottie sinceramente, conhecendo por conversações passadas com a Samantha que tal matrimônio era muito que ela tinha desejado. — E você, Arabela?
— Casei-me com Seaforths o ano passado. - confiou Arabela com uma risada tola. — Ouviste deles, estou segura... te lembra, uma das filhas estava na classe diante de nós...
— Sim. - disse Lottie, recordando que os Seaforths eram uma grande família sem título com uma quantidade considerável de rica terra de cultivo. — Não me diga que te casou com seu irmão Harry?
— Justo! — Os cachos da moça dançavam alegremente sobre sua testa enquanto seguia com grande animação. — Harry é bastante bonito, embora se tenha posto tão redondo como uma panela desde nossas bodas. E é sempre tão encantador. Certamente nunca terei um título, mas há compensações... Minha própria carruagem... Uma verdadeira donzela francesa, não uma dessas criadas Cockney que lançam um jogador de vez em quando! - riu bobamente de seu próprio engenho, e ficando bastante séria para observar a Lottie com redondos e curiosos olhos. — Querida Lottie, é verdade que agora é lady Sydney?
— Sim. — Lottie jogou uma olhada na direção de seu marido, que saía do salão de baile na companhia de Sr Ross, suas pernas largas emparelhadas em um passo igual. Sentiu uma inesperada carga de orgulho ao lhe ver, tão viril e cheio de graça, sua descarada beleza se exibia para seu melhor benefício com a elegante roupa de noite.
— Formoso como o diabo. - comentou Samantha, depois de seu olhar. — É tão terrível como dizem, Lottie?
— Absolutamente. - mentiu Lottie. — Lorde Sydney tem um caráter tão suave e é um cavalheiro tão amável como se poderia encontrar em todas as partes.
O caso foi que nesse desafortunado momento, deu a casualidade de que Nick jogasse uma olhada em sua direção. Seu olhar a abrangeu em um provocador percurso que ameaçou queimando sua roupa em cinzas.
Sabendo o que significava aquele olhar, e o que passaria nas horas da noite depois do baile, Lottie sentiu uma emoção profundamente dentro, e lutou por manter sua calma.
Samantha e Arabela, enquanto isso tinham aberto sem aviso seus leques e os empregavam energicamente.
— Meu deus! - exclamou Samantha com uma voz baixa, - a maneira em que lhe olha é positivamente indecente, Lottie.
— Não sei o que quer dizer. - disse Lottie com recato, embora sentisse suas próprias bochechas esquentando-se.
Arabela riu bobamente detrás de seu próprio leque pintado de seda.
— O único momento em que alguma vez vi essa expressão no rosto de meu Harry é quando um prato de pudim do Yorkshire é colocado diante dele.
Os olhos escuros de Samantha estavam grandes com o interesse.
— Eu tinha a impressão que Lorde Radnor te possuía, Lottie. Como lhe evitou? E onde estiveste estes dois anos passados? E sobre tudo, como no nome do céu conseguiu apanhar um homem como Nick Gentry.
— E é este assunto do lorde perdido faz muito, alguma parte de engano?
— Não, - disse Lottie imediatamente, - ele realmente é Lorde Sydney.
— Sabia que era um visconde quando se casou?
— Bom, não. — Lottie se esforçou por oferecer a explicação mais simples possível. — Para começar, sabeis que abandonei o colégio para evitar me casar com Lorde Radnor — O escândalo definitivo de Maidstone. - interrompeu Arabela. — Ainda falam disso, dizem-me.
Nenhum dos professores ou o pessoal podia conceber que aquela Charlotte Howard doce, obediente simplesmente desaparecesse assim.
Lottie fez uma pausa momentaneamente envergonhada. Estava longe de estar orgulhosa de suas ações, era simplesmente que não tinha tido nenhuma outra opção.
— Para evitar ser encontrada, troquei de nome e fui trabalhar como dama de companhia de lady Westcliff em Hampshire — Trabalhou? - repetiu Arabella com assombro. — Caramba, o que deve ter sofrido.
— Não excessivamente. - respondeu Lottie com um sorriso sardônico. — Os Westcliffs eram amáveis, e eu gostava bastante da condessa viúva. Foi enquanto estava empregada que conheci Sr. Gentry, Lorde Sydney.
Propôs-me matrimônio bem logo depois de que nos conhecemos, e... - fez uma pausa, uma imagem cintilando em sua mente daquela tarde na biblioteca de Lorde Westcliff, a luz do fogo jogando sobre o rosto de Nick enquanto inclinou até seu peito... — E aceitei. - disse a toda pressa, sentindo que seu rosto ficava vermelho ardente.
— Hmmm. — Samantha rindo pelo desconcerto de Lottie, parecendo adivinhar a razão detrás disso. — Ao que parece foi uma oferta memorável.
— Estavam seus pais terrivelmente molestos contigo? — Perguntou Arabela.
Lottie assentiu, refletindo com triste ironia que "modestos" era particularmente inadequado para descrever a reação de sua família.
O rosto de Samantha era de sério entendimento.
— Não estarão zangados sempre, querida. - disse ela com um pragmatismo que era muito mais consolador do que a compaixão o teria sido. — Se seu marido tiver à metade da riqueza que os rumores indicam, os Howard com o tempo se mostrarão mais que felizes de lhe reivindicar como genro.
As três conversaram um pouco, mas com impaciência se conhecendo de novo e fazendo projetos de visitá-
las umas às outras logo. Lottie não era consciente do tempo passando até que ouviu a orquestra começar a tocar uma recente valsa popular chamada “Floresça na Primavera”, uma melodia que imediatamente inspirou a uma multidão de casais impacientes a começarem a dar voltas pelo salão. Perguntando-se se Nick se lembraria de dançar a primeira valsa com ela, Lottie decidiu buscá-lo no salão do lado. Desculpando-se da companhia de suas amigas, andou ao longo de um dos salões do primeiro andar, que estava separado da pista de baile por trilhos esculpidos de madeira e arcos de vegetação e rosas. Uns poucos casais estavam absortos em conversações privadas, meio ocultos pelos enormes acertos florais, e Lottie apartou seu olhar com um sorriso leve enquanto os passava.
Assustou-se por um repentino toque em seu braço, e parou com uma sacudida de antecipação, esperando que Nick a tivesse encontrado. Mas quando baixou a vista para a crescente pressão em seu braço enluvado, não viu a mão larga e quadrada de Nick. Um jogo de dedos quase esqueléticos envoltos ao redor de seu braço, e com uma sacudida de horror frio, ouviu a voz que a tinha atormentado em seus pesadelos durante anos.
— Pensava que poderia me evitar sempre, Charlotte?
Capítulo 12
Esticando-se, Lottie elevou a vista o rosto de Arthur, Lorde Radnor. O tempo tinha posto uma diferença assombrosa nele, como se tivessem acontecido dez anos a mais. Estava estranhamente pálido, sua pele da cor de osso branqueado ao sol, suas escuras sobrancelhas e olhos destacando-se em contraste discordante.
Ásperos sulcos de amargura dividiam seu rosto em seções angulares.
Lottie sabia que era inevitável ver lorde Radnor algum dia. No fundo de sua mente, tinha assumido que ele a olharia com ódio. Mas o que viu em seus olhos era muito mais alarmante. Fome. Uma voracidade que não tinha nada que ver com o desejo sexual, a não ser algo muito mais avassalador. Instintivamente entendeu que seu desejo de possuí-la só se intensificou durante sua ausência, e que sua traição para com ele tivesse dado a resolução mortal de um verdugo.
— Milord. - reconheceu ela, sua voz firme inclusive quando seus lábios tremeram. — É você importuno.
Libere meu braço, por favor.
Ignorando sua petição, Radnor a arrastou ao oculto de uma coluna carregada de vegetação, seus dedos apertando dolorosamente. Lottie foi com ele tranquilamente, determinou que esta fealdade de seu passado não causaria uma cena que estragasse uma noite tão importante para seu marido. Era ridículo que tivesse tanto medo em um salão cheio de gente. Radnor certamente não poderia, não, não a faria mal aqui. Se estivessem sozinhos, entretanto, acreditava que se sentiria absolutamente justificado de envolver esses dedos largos ao redor de sua garganta e afogar seu último fôlego.
Seu olhar sobre ela.
— Meu deus, no que te converteu? Posso cheirar a luxúria em ti. Só a mais fina aparência te separava das províncias mal educadas das que provém, e agora isso desapareceu completamente.
— Nesse caso, - respondeu Lottie, sua mão encarcerada fechando-se em um punho intumescido. - você se desligará de mim imediatamente, porque estou segura de que não desejará ser poluído por minha presença.
— Moça estúpida, - sussurrou Radnor, seus olhos morados acesos com um fogo frio, - não pode começar a entender o que perdeste. Sabe o que seria sem mim? Nada. Eu te fiz. Elevei-te das vísceras da sociedade. Ia converter-te em uma criatura de graça e perfeição. E em troca me traiu e deu as costas a sua família.
— Não pedi seu patrocínio.
— Ainda mais razão para que devesse te haver ajoelhado ante mim em gratidão. Deve-me tudo, Charlotte.
Sua mesma vida.
Lottie viu que seria insubstancial discutir sua certeza insana.
— Seja como for. - disse ela brandamente. - agora pertenço a lorde Sydney. Você não tem direito sobre mim.
Sua boca se torceu em malévolo desprezo.
— Meu direito sobre ti vai muito além de uns insignificantes votos de matrimônio. - enganou-se pensando que poderia me comprar como um pedaço de mercadoria em uma cristaleira? - perguntou com desdém. — Possuo sua alma. - sussurrou Radnor, apertando seu pulso até que sentiu os delicados ossos dobrar-se, e as lágrimas de dor foram a seus olhos. — Comprei-a para mim, investi mais de dez anos de minha vida em ti, e serei reembolsado.
— Como? Sou a esposa de outro homem. E não sinto nada por você agora, nem temor, nem ódio, unicamente indiferença. O que poderia pensar que recuperará de mim?
Tal como Lottie pensou que seu braço se romperia, ouviu um suave grunhido detrás dela. Era Nick, ficando rapidamente entre eles. Seu braço baixado como um borrão, e o que fora que fez, que Lorde Radnor a soltasse com um grunhido de dor. A brusca liberação enviou a Lottie tropeçando para trás, e Nick a agarrou firme contra seu peito. Automaticamente ficou na dobra de seu cotovelo, e ouviu o profundo retumbar de sua voz quando falou com Lorde Radnor.
— Não se aproxime dela outra vez, ou lhe matarei. — Isso era uma tranquila declaração de um fato.
— Porco insolente. - disse Radnor com voz rouca.
Arriscando uma olhada a Radnor da segurança dos braços de seu marido, Lottie viu que uma maré de púrpura cinzenta se estendia sobre seu rosto pálido. Estava claro que as mãos de Nick sobre ela eram mais do que ele poderia suportar. Nick tocou sua nuca e deslizou seus dedos ao longo da superfície de sua coluna, mexendo com o conde deliberadamente.
— Muito bem. - sussurrou Radnor. — Deixo a sua degradação, Charlotte.
— Parta. - disse Nick. — Agora.
Radnor se afastou, seu corpo rígido com a justa fúria de um monarca deposto.
Abraçando seu palpitante braço com sua mão livre, Lottie viu que tinham atraído mais que umas quantas olhadas curiosas das pessoas que passavam pela galeria. De fato, alguns convidados no salão de baile tinham chegado a ser agudamente conscientes da cena.
— Nick - sussurrou ela, mas ele entrou em ação antes que tivesse que dizer outra palavra.
Mantendo um braço de apoio ao redor dela, Nick fez gestos a um criado que levava uma bandeja de taças vazias.
— Você. - disse concisamente. — Venha aqui.
O criado de cabelos morenos obedeceu com pressa.
— Sim, milord?
— Me diga onde posso encontrar uma sala privada.
O criado pensou rapidamente.
— Se vai ao longo daquele corredor, milord, chegará a um quarto de música que acredito está desocupado atualmente.
— Bem. Leve um pouco de brandy ali. Rapidamente.
— Sim, milord!
Aturdida Lottie foi com Nick enquanto ele a dirigia pelo corredor. Os pensamentos caóticos enchiam sua mente, enquanto o alvoroço elegante do salão de baile diminuía atrás deles. Seu corpo estava carregado com uma peculiar boa disposição para a batalha. A confrontação muito tempo temida com Lorde Radnor a tinha deixado mal, eufórica, furiosa, e aliviada. Como era possível sentir tantas coisas de uma vez?
O quarto de música estava brandamente com sistema de iluminação, os contornos de um piano, uma harpa, e um sortido de suportes de música variados projetando profundas sombras sobre a parede. Nick fechou a porta e se virou para Lottie, seus largos ombros surgiram sobre ela. Ela nunca tinha visto seu rosto tão sério.
— Estou bem. - disse Lottie, o alto tom de sua própria voz finalmente arrancou uma risada tola de sua garganta. — Realmente, não há necessidade de parecer tão... - fez uma pausa com outra risada vendo que Nick claramente pensava que não estava em seus melhores sentidos. Nunca seria capaz de explicar o selvagem sentimento de liberdade que a alagava depois de ter confrontado seu maior medo. — Sinto muito. - disse enjoada, inclusive enquanto as lágrimas de alívio umedeciam seus olhos. — É sozinho que... Tive tanto medo de Lorde Radnor durante toda minha vida... Mas quando o vi nesse momento, compreendi que seu poder sobre mim tinha desaparecido. Não pode me fazer nada. Não sinto nenhuma obrigação acabou... e nem sequer me sinto culpada por isso. A carga se foi, assim como o medo, e me senti um tanto estranha.
Como tremia e ria e secava seus olhos com seus dedos enluvados, Nick tomou em seus braços e tratou de acalmá-la.
— Tranquila...Tranquila...- sussurrou, enquanto suas mãos se moviam brandamente sobre seus ombros e costas. — Respira fundo. Shh, assim, está bem? — A marca quente de sua boca pressionou contra sua fronte, seus molhados cilíos, suas bochechas. — Estás a salvo, Lottie. É minha, minha esposa, e vou cuidar de ti. Estás a salvo.
Quando Lottie tratou de explicar que não tinha medo, ele murmurou que estivesse tranquila, que descansasse. Ela começou a respirar profundamente, como se acabasse de correr milhas sem parar, e pôs sua cabeça no seu peito. Nick arrancou suas luvas e colocou suas mãos quentes sobre sua pele gelada, seus dedos fortes amassando os músculos rígidos de seu pescoço e a parte superior de seus ombros.
Alguém bateu na porta.
— Brandy. - disse Nick silenciosamente e guiou Lottie a uma poltrona.
Lottie se afundou na cadeira, escutando a exclamação apreciativa do criado quando Nick lhe deu uma moeda em troca pelo serviço. Voltando com uma bandeja que levava uma garrafa e uma taça, Nick o pôs sobre uma mesa próxima.
— Não necessito disso. - disse Lottie com um pálido sorriso.
Ignorando-a, Nick verteu um dedo de brandy na taça e sustentou a taça de cristal entre sua palmas. Depois de esquentar o álcool com suas mãos, o deu.
— Bebe.
Obedientemente Lottie tomou a taça. Para sua surpresa, suas mãos tremeram tão desesperadamente que logo que podia sustentá-la. O rosto de Nick se obscureceu quando viu sua dificuldade. Afundou-se de joelhos diante dela, suas musculosas coxas estendidas a ambos os lados de suas pernas. Cobrindo seus dedos com os seus, Nick estabilizou suas mãos e a ajudou a dirigir a borda da taça a seus lábios. Ela tomou um gole, fazendo caretas quando o brandy escaldou sua garganta.
— Mais. - murmurou Nick, forçando-a a tomar outro gole, e outro, até que seus olhos choraram pelo fogo aveludado.
— Acredito que está mau. - disse ela improvisadamente.
Os olhos de Nick piscaram com repentina diversão.
— Não esta mau. É um Fim Bois de 98.
— Deve ter sido um mau ano.
Ele sorriu abertamente, seus polegares acariciando o dorso de suas mãos.
— Alguém deveria dizer-lhe aos comerciantes de vinho, então, porque cobram cinquenta libras a garrafa.
— Cinquenta libras? - repetiu Lottie, horrorizada. Fechando seus olhos, terminou o brandy em uns goles decididos e tossiu enquanto lhe dava a taça vazia.
— Boa garota. - murmurou Nick, deslizando uma mão ao redor de sua nuca e apertando com cuidado.
Ela não podia evitar refletir que embora a mão de Nick fora muito maior e imensamente mais capitalista que a de Radnor, nunca lhe tinha causado um só momento de dor. O contato de Nick lhe tinha dado seu único prazer.
Ela estremeceu quando apoiou seu braço dolorido no braço da cadeira. Sutil como era o movimento, Nick o descobriu imediatamente. Ele jurou baixo enquanto tomava seu braço e começava a tirar a comprida luva.
— Não é nada. - disse Lottie. — Realmente, preferiria me deixar a luva posta... Lorde Radnor realmente agarrou meu braço, mas não foi tudo o que... - se interrompeu com um ofego de desconforto quando Nick afrouxou a luva de sua mão.
Nick se congelou quando viu as negras marcas de dedos que tinham sido deixadas pelo apertão vicioso de Lorde Radnor. A fúria cruel que banhou seu rosto fez que Lottie começasse a alarmar-se.
— Machuco-me bastante . - disse ela. — Não deve olhar assim. se irão em um dia ou dois, e logo...
— Vou matá-lo. — Nick descobriu seus dentes com uma raiva selvagem. — Quando acabar com ele, tudo o que ficará é uma mancha sobre a terra, condená-lo ao inferno eterno — Por favor. — Lottie pôs uma suave mão sobre sua fria bochecha. — Lorde Radnor tinha a intenção de arruinar esta noite aos dois, e me nego a lhe deixar ter êxito. Quero que sujeite meu braço com um lenço, e me ajude a pôr minha luva de novo. Devemos nos apressar antes que sintam nossa falta . Sir Ross dará seu discurso, e nós...
— Não Importa-me isso.
— A mim sim. — Recuperando sua calma, Lottie acariciou sua bochecha com as pontas de seus suaves dedos. — Quero sair e dançar a valsa contigo. E logo estar a seu lado enquanto Sr Ross contar a todos quem é realmente. — Seus cilíos baixaram enquanto olhava sua boca. — E logo quero que me leve pra casa e me leve pra cama.
Como Lottie tinha querido, Nick estava momentaneamente distraído. Seu olhar selvagem começou a suavizar-se.
— E logo o que?
Antes que ela pudesse responder, a porta vibrou com um golpe exigente.
— Sydney. - veio uma voz surda do outro lado.
— Sim. - disse Nick, levantando-se.
A alta forma de Sr Ross encheu a entrada. Seu rosto estava inexpressivo enquanto olhava os dois.
— Acabam-me de contar da presença de Lorde Radnor. — Foi diretamente a Lottie, agachando-se diante dela. Vendo seu braço machucado, Sr Ross o assinalou com cuidado. — Posso? — Sua voz era a mais doce que ela jamais tinha ouvido.
— Sim. - murmurou Lottie, permitindo tomar sua mão na sua. Sr Ross examinou o braço obscurecido com a testa franzida. Seu rosto estava muito perto, e seus olhos cinza eram tão amáveis e estavam tão preocupados que Lottie se perguntava como podia havê-lo considerado distante alguma vez. Recordou sua renomada compaixão pelas mulheres e meninos, o centro de atenção de sua carreira de magistrado, tinha-lhe contado Sophia. A boca de Sr Ross se dobrou um pouco em um tranquilizador sorriso quando liberou sua mão. — Não voltará a acontecer, posso prometer isso — Maravilhosa festa. - disse Nick sarcasticamente. — Possivelmente possa nos dizer por que demônios incluiu lorde Radnor na lista de convidados?
— Nick, - intercedeu Lottie, - está bem, estou segura de que Sr Ross não...
— Não está bem. - respondeu Sr Ross silenciosamente. — Considero-me responsável por isto, e humildemente te peço perdão, Charlotte. Lorde Radnor com toda certeza não estava incluído na lista de convidados que passei, mas averiguarei como conseguiu obter um convite. – Sua testa se enrugou enquanto seguia. — O comportamento de Lorde Radnor esta noite foi irracional assim como censurável... dirige uma obsessão com Charlotte que provavelmente não terminará com este incidente.
— OH, vai terminar. - disse Nick misteriosamente. — Tenho vários métodos em mente que curarão a obsessão de Radnor. Para começar, se ele não abandonou o edifício quando voltar a...
— Foi-se. - interrompeu Sr Ross. — Dois dos agentes estão aqui, lhes mandei que lhe tirassem de uma maneira tão discreta como fora possível. Acalme-te, Sydney, não seria bom para ti alvoroçar como um touro enfurecido.
Os olhos de Nick se estreitaram.
— Me diga como te acalmaria, se alguém tivesse deixado essas contusões sobre Sophia.
Sir Ross assentiu com um suspiro curto.
— Irei ao grão. — Suas escuras sobrancelhas se uniram. Obviamente estás em seu direito de tratar com Radnor como lhe dê vontade Sydney, e não me atreveria a te deter ou a interferir. Mas deveria ser consciente de que tenho a intenção de aproximar dele eu mesmo e esclarecer que Charlotte está sob meu amparo assim como o teu. O fato de que Radnor se atrevesse a abordar a um membro de minha família é um ultraje insustentável.
Sua preocupação comoveu a Lottie. Nunca tinha imaginado que teria dois homens poderosos assim para defende-la de Lorde Radnor, não só seu marido, mas também seu cunhado.
— Obrigado, Sr Ross.
— Ninguém te culparia se desejasse ir pra casa agora. - disse-lhe. — Porque a pesar do discurso que tinha planejado dar esta noite, podem-se fazer outras disposições — Não vou a nenhuma parte. - disse Lottie com firmeza. — E se não dar seu discurso esta noite, Sr Ross, prometo que o farei em seu lugar.
Ele sorriu repentinamente.
— Bem, então. Lamentaria contradizer seus desejos. — Ele enviou um olhar interrogativo a Nick. — Voltará para salão de baile logo?
A boca de Nick se torceu.
— Se Lottie assim desejar.
— Sim. - disse ela com decisão. A pesar da dor em seu braço, sentia-se bem para enfrentar ao próprio diabo, se fosse necessário. Viu as olhadas que os dois homens intercambiavam enquanto silenciosamente acordavam em falar do problema com Radnor em um momento mais apropriado.
Sr Ross os deixou em privado uma vez mais, e Lottie se manteve firme. Nick esteve a seu lado imediatamente, suas mãos emoldurando sua cintura porque temia que ela perdesse o equilíbrio. Lottie sorriu por sua superproteção.
— Agora estou bem. - disse-lhe. — De verdade.
Ela esperou a que o familiar raio de humor sardônico aparecesse nos olhos de Nick, para que voltasse para sua habitual despreocupação, mas permanecia tenso, seu olhar procurando sua cara com estranha gravidade.
Olhava-a como se quizesse envolvê-la em algodão e levá-la longe dali.
— Fica a meu lado pelo resto da noite. - disse-lhe.
Lottie inclinou sua cabeça atrás para rir dele.
— Poderia ser prudente, porque o brandy parece haver subido à cabeça.
O calor acendeu seus olhos, e uma de suas mãos escorregou para cima para embalar a forma de seu peito.
— Sente-se enjoada?
Ela relaxou na pressão cavada de seus dedos, seu rosto liberando um brilho de sensualidade de sua sensível carne. A dor em seu braço quase foi esquecida, seus nervos formigando grosseiramente enquanto seu polegar atormentou seu mamilo em uma ponta que empurrava.
— Só quando me toca assim.
Terminando a sedutora carícia com uma delicada rotação de sua palma, Nick devolveu sua mão a território mais seguro.
— Quero que esta maldita noite termine. - disse. — Vamos, quanto antes saiamos, antes dará Cannon sua merda de discurso.
Estendendo sua mão nua, Lottie se animou para não estremecer-se enquanto ele aliviava a luva ajustada sobre seu braço torcido. Quando terminou, Lottie tinha o rosto branco, e Nick suava profusamente, como se a dor tivesse sido dele, tanto como dela.
— Maldito Radnor. - disse asperamente, indo tomar outro brandy. - vou arrancar sua garganta.
— Sei algo que lhe faria muito mais mal que isso. — Com cuidado Lottie levantou um lenço dobrado para secar sua frente úmida.
— OH?— Suas sobrancelhas arqueadas em pergunta sardônica.
Seus dedos se fecharam ao redor do lenço, comprimindo-o em uma bola. Fez uma pausa durante um comprido momento antes de responder, enquanto uma onda de esperança se elevava em sua garganta e quase ameaçava afogando-a. Tomando o brandy dele, tomou um gole para lhe vigorizar.
— Poderíamos tratar de ser felizes juntos. - disse ela. — É algo que ele nunca poderia entender... Algo que ele nunca terá.
Não pôde reunir o valor para lhe olhar, temia que pudesse ver brincadeira ou rechaço em seus olhos. Mas seu coração golpeava fortemente em seu peito quando sentiu sua boca vagar pelo topo de sua cabeça, seus lábios jogando com as pétalas das rosas brancas enquanto revoavam contra a seda fixada no alto de sua trança.
— Poderíamos tentá-lo. - conveio brandamente.
Depois dos dois copos de brandy, a cabeça de Lottie dava voltas agradavelmente, e estava agradecida pela constante guia de Nick quando voltaram para o salão de baile. A dureza e a força de seu braço a fascinava.
Não importava como pesadamente se apoiava nele, ele levava seu peso facilmente. Era um homem forte...
Mas até essa noite, não tinha suspeitado que fosse capaz de oferecê-la tal sensível consolo. De algum modo não acreditava que ele o tivesse suspeitado de si mesmo tampouco. As reações deles tinham sido irrefletidas, a sua, lhe transformar, e a dele, inundá-la em consolo.
Entraram no salão de baile e se aproximou de Sr Ross. Ascendendo um degrau móvel para fazer-se facilmente visível a enorme multidão no salão de baile, Sr Ross assinalou aos músicos que deixassem de tocar, e pediu a atenção coletiva dos convidados. Possuía a classe de elegante e naturalmente autoritária voz que qualquer político teria invejado. Um silêncio espectador caiu sobre o salão de baile, quanto mais convidados fluíam das pistas exteriores, e um exército virtual de criados se moviam rapidamente pelo salão com bandejas de champanha.
Sr Ross começou o discurso com uma referência a sua carreira de magistrado e a satisfação que sempre lhe dava ver que certas injustiças eram corrigidas. Seguiu com uma série de comentários sobre as tradições invioláveis e as obrigações do título de nobreza hereditário. Os comentários obviamente satisfaziam à reunião, que era generosamente enfeitada com viscondes, condes, marqueses, e duques.
— Tinha a impressão de que Sr Ross não era um grande partidário de princípios hereditários. — Sussurrou Lottie a Nick.
Ele sorriu com gravidade.
— Meu cunhado pode ser um todo um espetáculo quando quer. E sabe que lhes recordar sua adesão estrita à tradição ajudará a tragar a idéia de me aceitar como um par.
Sr Ross continuou descrevendo a um cavalheiro sem nome que tinha sido privado por muito tempo de um título que era por justiça dele. Um homem que estava na linha direta de descendência de uma família distinguida, e que nos poucos anos passados se dedicou completamente ao serviço público.
— Portanto, - concluiu Sr Ross, - estou agradecido pelo estranho privilégio de anunciar a lorde Sydney com um comprido atraso a recuperação de seu título, e o assento nos Lores que o acompanha. E todas as esperanças de que seguirá servindo ao país e à rainha no papel que é seu por nascimento. - elevando a taça no ar, disse. — Brindemos O Sr. Nick Gentry, o homem que será conhecido de agora em diante como John, Visconde de Sydney.
Um murmúrio de assombro passou pela multidão. Embora a maior parte deles já soubessem o que Sr Ross anunciaria, era inesperado as palavras em voz alta.
— Por Lorde Sydney. - chegaram centenas de ecos obedientes, seguidos de tantos aplausos.
— E por lady Sydney. - incitou Sr Ross, provocando outra resposta entusiástica ante a qual Lottie fez uma reverência com gracioso reconhecimento.
Elevando-se, Lottie tocou o braço de Nick.
— Possivelmente deveria oferecer um brinde por Sr Ross. - sugeriu ela.
Deu-lhe uma olhada eloquente, mas condescendeu, levantando sua taça para seu cunhado.
— Por Sr Ross, - disse ele com uma voz ressonante, - sem cujos esforços eu não estaria aqui esta noite.
A multidão respondeu com uma ronda de hurras, enquanto Sr Ross sorriu abertamente derepente, consciente de que o brinde expressava cuidadosamente que Nick não incluía a mais mínima insinuação de gratidão.
Os brinde pela rainha, o país, e o mesmo título de nobreza seguiram, e logo a orquestra encheu o espaço com uma melodia flutuante. Sr Ross veio para reclamar a Lottie uma valsa, enquanto Nick foi dançar com Sophia, que levava um sorriso irreprimível enquanto se arrebatava em seus braços.
Contemplando o casal, uma tão branca, o outro tão escuro, e, entretanto ambos tão similares em seu imponente atrativo, Lottie sorriu. Deu-se a volta para Sr Ross e com cuidado descansou sua mão dolorida sobre seu ombro quando começaram a valsa. Como poderia haver-se esperado, era um bailarino excelente, seguro de si mesmo e fácil de seguir.
Sentindo uma mescla de avaliação e gratidão, Lottie estudou com severidade seu formoso rosto.
— Fez isto para salvá-lo, verdade? — Perguntou.
— Não sei o que fará. - disse Sr Ross silenciosamente.
As palavras enviaram uma pontada temerosa através dela. Queria dizer que ele ainda acreditava que Nick estava em uma espécie de perigo? Mas Nick já não era detetive de Bow Street, tinha sido afastado dos perigos que sua profissão tinha comprometido. Ele estava seguro agora... A menos que Sr Ross estivesse insinuando que o maior perigo para Nick vinha de em algum lugar dentro dele.
Nos dias depois da revelação pública da identidade de Nick, a casa de Betterton estava sitiada pelas visitas.
A Sra. Trench falava com todos, das velhas cortes da vadiagem de Nick até os representantes da rainha. Os cartões e convites chegavam à porta da rua até que a bandeja de prata sobre a mesa da sala esteve carregada por uma montanha de papel. As revistas o apelidavam "o visconde reticente", relatando seu heroísmo como um antigo detetive de Bow Street. Como os repórteres seguiram a pista que Sr Ross tinha estabelecido, Nick geralmente era representado como um desinteressado defensor da gente que modestamente teria preferido servir ao homem comum muito mais que aceitar seu título longamente inativo. Para a diversão do Lottie, Nick estava ultrajado por sua nova imagem pública, já que ninguém parecia considerá-lo perigoso agora. Os estranhos se aproximavam dele com impaciência, não intimidados mais por seu ar de sutil ameaça. Para um homem que era tão extremamente privado, era quase intolerável.
— Dentro de pouco, seu interesse por ti se esfumassará. - disse Lottie consolando-o depois de que Nick teve que abrir passagem através de uma multidão cheia de admiração para alcançar sua própria porta da rua.
Acossado e franzindo a testa, Nick desfez de seu casaco e se jogou no sofá da sala, suas largas pernas estendidas descuidadamente.
— Não será o bastante. - olhou airadamente o teto. — Este lugar é muito condenadamente acessível.
Necessitamos uma casa com um caminho de entrada privado e uma alta perto.
— Recebemos mais que uns poucos convites para visitar amigos no campo. — Lottie foi até seu lado e se afundou não estando acostumada ao atapetado, a sobre saia de suas saias estampadas de musselina ondeando a seu redor. Seu rosto estivera quase à altura quando Nick se reclinou no braço do sofá sob o respaldo. — Inclusive uma de Westcliff, perguntando se ficaríamos quinze dias ou assim em Stony Cross Prark.
O rosto de Nick se obscureceu.
— Sem dúvida o conde quer assegurar-se de que seu marido não lhe maltrata, demônios.
Lottie não pôde evitar rir.
— Deve admitir que não foste o mais encantador então.
Nick agarrou seus dedos quando ela estendeu a mão para afrouxar sua gravata.
— Desejava-te tão desesperadamente para me incomodar com o encanto.
A ponta de seu polegar acariciava sobre as suaves pontas de suas unhas.
— Dizia que eu era trocável com qualquer outra mulher. - provocouou ela.
— No passado aprendi que o melhor modo de conseguir algo que desejava era fingir que não o desejava.
Lottie sacudiu sua cabeça, perplexa.
— Isso não tem sentido absolutamente.
Rindo, Nick liberou sua mão e jogou com o cordão em cima de seu decote plano.
— Funciona. - advertiu ele.
Com seus rostos juntos e seus vivos olhos azuis olhando fixamente os seus, Lottie sentiu um rubor subindo em seu rosto.
— Foi muito mau essa noite. — A ponta de seu dedo se movia com cuidado no vale superficial entre seus seios.
— Nem muito menos tão mau como desejava ser...
O som da porta da rua sendo profundamente golpeada ecoou pelo vestíbulo e vagou até a sala. Retirando sua mão, Nick escutou como a Sra. Trench foi abrir a porta, dizendo ao visitante que, nem Lorde Sydney nem sua esposa recebiam visitas.
O aviso de sua assediada intimidade fez que Nick franzisse o cenho.
— Isso se fará. Quero sair de Londres.
— A quem visitaremos? Lorde Westcliff seria perfeitamente...
— Não.
— Muito bem, então. - continuou Lottie serena. — Os Cannon na residência de Silverhill...
— Deus, não. Não passarei quinze dias sob o mesmo teto que meu cunhado.
— Poderíamos ir a Worcestershire. - sugeriu Lottie.— Sophia diz que a restauração da fazenda dos Sydney está quase completa. Não manteve em segredo o fato de que quer que veja os resultados de seus esforços.
Ele sacudiu sua cabeça imediatamente.
— Não tenho desejos de ver esse maldito lugar.
— Sua irmã tem feito um grande esforço, não quererá ferir seus sentimentos, verdade?
— Ninguém lhe pediu que fizesse tudo isto. Sophia assumiu, e que me condenem se tiver que lhe mostrar gratidão por isso.
— Ouvi que Worcestershire é bastante formoso. — Lottie deixou que uma nota melancólica entrasse em sua voz. — O ar seria muito mais agradável ali que em Londres, que no verão é terrível. E algum dia eu gostaria de ver o lugar onde nasceu. Se não desejar ir agora, entendo-o, mas...
— Não creio. - advertiu ele triunfalmente.
— Poderíamos viajar com um pessoal mínimo. Não seria agradável ficar no campo em nossa própria casa, mais que visitar outros? Só quinze dias?
Nick estava silencioso, seus olhos estreitando-se. Lottie sentia o conflito nele, o desejo de agradá-la lutando com sua feroz relutância a voltar para o lugar que tinha abandonado fazia todos esses anos. Fazer frente essas lembranças e recordar a dor de ficar órfão tão repentinamente não seriam agradáveis para ele.
Lottie baixou seu olhar antes que ele pudesse ver a compaixão que certamente interpretaria mal.
— Direi a Sophia que aceitaremos seu convite em algum outro momento. Ela entenderá — Irei. - disse ele com brutalidade.
Lottie o olhou com surpresa. Ele estava visivelmente tenso, vestido da armadura invisível.
— Não é necessário. - disse ela. — Iremos à outra parte, se o preferir.
Ele sacudiu sua cabeça, sua boca se torceu sardonicamente.
— Primeiro quer ficar em Worcestershire, logo não? Maldição, mas as mulheres são perversas.
— Não sou perversa. - protestou ela. — É sozinho que não quero que vá e logo esteja irritado comigo durante toda a estadia.
— Não estou irritado. Os homens não se irritam.
— Mal-humorado? Exasperado? Vexado? — Lhe ofereceu um tenro sorriso, desejando poder protegê-lo dos pesadelos e as lembranças e dos demônios dentro dele.
Nick começou a responder, mas quando a olhou, pareceu esquecer que palavra teria escolhido. Indo até ela, de repente conteve o movimento. Quando Lottie lhe olhou, levantou-se da poltrona e abandonou o salão com alarmante rapidez.
A viagem a Worcestershire normalmente duraria um dia inteiro, o suficiente comprido para que a maioria dos viajantes de maneira razoável, escolhessem viajar parte de um dia, passar a noite em uma estalagem, e chegar mais tarde pela manhã. Entretanto, Nick insistiu em que fizessem a viagem virtualmente sem parar, exceto para trocar os cavalos e conseguir algum refrigério.
Embora Lottie tratou de levar os planos com calma, encontrava difícil manter uma fachada alegre. O
trajeto da carruagem era árdua, os caminhos eram de irregular qualidade, e a agitação constante e o balanço do veículo a fez ligeiramente sentir náusea. Quando Nick viu seu desconforto, sua expressão se voltou séria e resolvida, e a atmosfera se desintegrou no silêncio.
Um pessoal mínimo tinha sido enviado o dia antes de sua chegada, para abastecer a cozinha e preparar os quartos. Conforme tinham conversado antes, os Cannon visitariam a fazenda a manhã seguinte.
Convenientemente, a fazenda de Sr Ross em Silverhill estava só uma hora de distância.
O último débil resplendor do sol poente se retirava do céu quando a carruagem alcançou Worcestershire.
Por isso Lottie podia ver, o condado era fértil e próspero. Ricos prados verdes e granjas ordenadamente cuidadas cobriam a terra plaina, de vez em quando dando passo a verdes colinas cobertas de gordas ovelhas brancas. Os canais que se estendiam dos rios adornavam a área com cômodas rotas para a exploração e o comércio. Qualquer visitante no meio de Worcestershire certamente reagiria à paisagem com prazer.
Entretanto, Nick se voltou cada vez mais taciturno, emanando áspera reticência por cada poro com cada volta das rodas que lhes levavam mais perto das terras de Sydney.
Por fim giraram por um comprido e estreito passeio que se estendia uma milha antes que uma majestosa casa entrasse na vista. A luz dos abajures exteriores projetava um brilho quente sobre o caminho da entrada e fazia com que as janelas dianteiras brilhassem como diamantes negros. Com impaciência Lottie apartou as cortinas das janelas da carruagem para obter uma melhor vista.
— É encantador. - disse ela, seu coração pulsando rápido com excitação. — Justo como Sophia descreveu.
A grande casa de uso Palladian era formosa, embora nada extraordinária, a combinação de tijolo vermelho, brancas colunas, e minuciosos frontones desenhados com cuidadosa simetria. Lottie gostou a primeira vista.
A carruagem parou diante do caminho de entrada. Nick estava inexpressivo enquanto descia do veículo e ajudava Lottie a baixar. Subiram os degraus até as portas duplas, e a Sra. Trench lhes deu a bem-vinda em uma grande sala oval com o piso de brilhante mármore rosa.
— Sra. Trench. - disse Lottie calorosamente. — Como vai?
— Muito bem, minha lady. E você?
— Cansada, mas aliviada de estar aqui por fim. Encontrou alguma dificuldade com a casa até agora?
— Não, minha lady, mas há muito que fazer. Um só dia logo que foi suficiente para preparar as coisas...
— Está bem. - disse Lottie com um sorriso. — Depois da comprida viagem, Lorde Sydney e eu não necessitaremos de nada mais que um lugar limpo para dormir.
— Os dormitórios estão em ordem, minha lady vou mostrar-lhe a parte de cima imediatamente, ou vão querer um pouco de jantar... — A voz da ama de chaves se foi apagando enquanto ela olhava Nick.
Seguindo seu olhar, Lottie viu que seu marido olhava fixamente o quarto principal da casa como paralisado. Parecia olhar uma obra que ninguém mais podia ver, seu olhar seguia aos atores invisíveis enquanto eles cruzavam o cenário para dizer suas linhas. Seu rosto estava avermelhado, como se estivesse com febre. Silenciosamente vagou pelo quarto como se estivesse sozinho, explorando com a vacilação de um jovem moço perdido.
Lottie não sabia como lhe ajudar. Uma das coisas mais difíceis que jamais teve que fazer foi conseguir um tom despreocupado quando respondeu à ama, mas de algum modo arrumou.
— Não, obrigado, Sra. Trench. Não acredito que precisemos jantar. Possivelmente teria um pouco de água e uma garrafa de vinho para enviar ao nosso quarto? E faça que as criadas tirem sozinhas umas poucas coisas para esta noite. Podem desempacotar o resto amanhã. Enquanto isso, Lorde Sydney e eu daremos uma olhada.
— Sim, minha lady. Verei que suas coisas pessoais sejam dispostas imediatamente. — A dona-de-casa se afastou a pernadas, gritando instruções a um par de criadas, que se precipitaram rapidamente pelo corredor.
Como a aranha de luzes elevada se deixou sem iluminar, a atmosfera vaga descendia por só dois abajures.
Seguindo a seu marido, Lottie se aproximou da arcada final do vestíbulo que se abria a uma galeria de retratos.
O ar estava orvalhado com os aromas frescos do novo atapetado de lã e a pintura fresca.
Lottie estudou o perfil de Nick enquanto ele olhava as paredes visivelmente nuas da galeria. Adivinhou que recordava as pinturas que uma vez tinham ocupado os espaços vazios.
— Parece que teremos que adquirir algumas ilustrações. - comentou ela.
— Foram vendidos todos para pagar as dívidas de meu pai.
Aproximando-se, Lottie pressionou sua bochecha contra o pano de seu casaco, onde a beirada de seu ombro subia na dura elevação de seu musculoso braço.
— Mostrar-me a casa?
Nick esteve silencioso durante um momento. Quando ele olhou seu rosto voltado para cima, seus olhos estavam desolados pelo conhecimento de que não ficava nada do moço que uma vez tinha vivido alí.
— Esta noite não. Preciso vê-la sozinho.
— Entendo. - disse Lottie, escorregando sua mão na sua. — Estou bastante cansada. Certamente preferiria percorrer a casa amanhã pela manhã, à luz do dia.
Seus dedos devolveram a pressão com um apenas perceptível apertão, e logo a deixou ir.
— Levarei-te acima.
Ela pressionou seus lábios em forma de sorriso.
— Não há necessidade. Terei a Sra. Trench ou a um dos criados para que me acompanhem.
Um relógio em algum lugar da casa, bateu às doze e meia quando Nick finalmente entrou no quarto.
Incapaz de dormir apesar de seu esgotamento, Lottie tinha recuperado uma novela de uma de suas malas e ficou acordada lendo até que terminou a metade do livro. O dormitório era um refúgio acolhedor, a cama luxuosamente embelezada com uma colcha bordada de seda e os correspondentes pendentes, as paredes pintadas em um tom suave de verde. Absorta na história, Lottie leu até que ouviu o rangido do piso de madeira.
Vendo Nick na entrada, Lottie pôs a novela sobre a mesa de noite. Pacientemente esperou que falasse, perguntando-se quantas lembranças tinham sido removidas em seu passeio pela casa, quantos fantasmas silenciosos se cruzaram em seu caminho.
— Deveria dormir. - disse ele finalmente.
— Também você. — Lottie voltou às cobertas. Depois de uma ampliada pausa, perguntou. - virá pra cama comigo?
Seu olhar se deslizou sobre ela, atrasando-se sobre a desalinhada parte dianteira de sua camisola, a classe de vestido escrupuloso, com gola alta que nunca conseguia lhe excitar. Ele sozinho o olhou tão, tão desencantado... Muito ao modo em que ele tinha parecido quando se conheceram pela primeira vez.
— Esta noite não. - disse ele pela segunda vez essa tarde.
Seus olhares se encontraram e sustentaram. Lottie sabia que seria prudente para ela manter uma fachada de indiferença relaxada. Ser paciente com ele. Suas demandas, suas frustrações, só o afugentariam.
Mas para seu horror, ouviu-se dizer sem rodeios — Fique.
Ambos sabiam que ela não pedia uns poucos minutos, ou umas horas. Ela queria a noite inteira.
— Sabe que não posso fazer isso. - chegou sua suave resposta.
— Não me fará mal. Não tenho medo de seus pesadelos. — Lottie se incorporou, olhando ainda seu rosto. De repente ela não podia conter uma corrente de palavras imprudentes, sua voz se voltou crua com a emoção. — Quero que fique comigo. Quero estar perto de ti. Diga-me o que deveria fazer ou dizer para que aconteça. Diga-me isso, por favor, porque parece que não posso deixar de querer mais do que está disposto a dar.
— Não sabe o que estás pedindo.
— Prometo-te que nunca...
— Não peço consolo ou promessas. - disse ele severamente. — Exponho um fato. Há uma parte de mim que não quer conhecer.
— No passado me pediste que confiasse em ti. Em troca te peço que confie em mim agora. Conte-me o que te provoca semelhantes pesadelos. Conte-me o que te persegue assim.
— Não, Lottie. — Mas em vez de sair, Nick permaneceu no quarto, como se seus pés não obedeciam aos ditados de seu cérebro.
De repente Lottie entendeu o alcance de seu desejo, torturado desejo de confiar nela, e ao mesmo tempo de sua poderosa crença de que lhe rechaçaria uma vez que o fizesse. Ele tinha começado a suar em excesso, sua pele brilhava como bronze molhado. Uns poucos fios de cabelo negro se pegaram à úmida superfície de sua frente. Seu desejo de lhe tocar era insustentável, mas de algum jeito ficou onde estava.
— Não me afastarei de ti. - disse ela firmemente. — Não importa o que seja. Ocorreu no navio prisão, verdade? Tem a ver com o verdadeiro Nick Gentry. Matou-o de modo que pudesse tomar seu lugar? É isso o que te atormenta?
Ela viu pelo modo em que Nick estremeceu, que se aproximou da verdade. A greta em suas defesas se alargaram, e ele sacudiu sua cabeça, tratando de conduzir-se por diante da brecha. Falhando, ele jogou uma olhada cheia de partes iguais de recriminação e desespero.
— Não passou assim.
Lottie rechaçou apartar o olhar dele.
— Então como?
As linhas de seu corpo mudaram, relaxando-se em uma espécie de desventurada resignação. Ele apoiou um ombro contra a parede, de frente, parcialmente afastando dela, seu olhar se moveu como uma flecha a algum ponto distante no chão.
— Fui enviado ao navio porque fui responsável pela morte de um homem. Eu tinha quatorze anos então.
Tinha-me unido a um grupo de salteadores, e um ancião morreu quando roubamos sua carruagem. Pouco depois todos fomos julgados e condenados. Envergonhava-me também dizer a alguém quem era eu, simplesmente dava meu nome como John Sydney. Outros quatro da equipe foram enforcados com uma seca ordem, mas devido a minha idade, o magistrado me deu uma sentença menor. Dez meses no Scarborough.
— Sr Ross era o magistrado que te condenou. - murmurou Lottie, recordando o que Sophia lhe tinha contado.
Um amargo sorriso torceu a boca de Nick.
— Pouco sabíamos qualquer de nós que um dia seríamos cunhados. - sentou-se com os ombros cansados muito forte contra a parede. — Assim que pus o pé sobre o navio, soube que não ia durar um mês ali. Um rápido enforcamento teria sido muito mais misericordioso. A Academia do Duncombe chamavam o navio, Duncombe era o oficial ao mando. A metade de seus prisioneiros acabava de ter sido liquidado por uma ronda de febre do cárcere. Eles foram afortunados. O navio era menor que outros ancorados sozinhos a certa distância da costa. Estava adaptado para cem prisioneiros, mas colocaram de novo a metade dessa quantidade em uma área grande sob a coberta. O teto era tão baixo que não podia estar de pé totalmente erguido. Os prisioneiros dormiam sobre o piso nu ou sobre uma plataforma construída a ambos os lados da coberta.
Permitia-se a cada homem ter um espaço para dormir que tinha seis pés de comprimento, vinte polegadas de largura. Estávamos duplamente algemados a maior parte do tempo, e a agitação constante de cadeias era quase mais do que eu podia suportar. O aroma era o pior disso, embora poucas vezes nos permitiam nos lavar, sempre havia escassez de sabão, e tínhamos que nos limpar com águas do mar. E sem ventilação direta, somente uma fila de porteiras deixadas abertas no lado que dava ao mar. Por conseguinte, o vapor era tão forte que venceria aos guardas que primeiro abrissem as escotilhas pelas manhãs, uma vez inclusive vi um deles desacordado por isso. Durante o tempo que estávamos encerrados abaixo do começo da noite até que as escotilhas eram abertas ao amanhecer, os prisioneiros ficavam completamente sozinhos, sem guardas ou oficiais que os vigiassem.
— O que faziam os prisioneiros então? — Lottie perguntou.
Seus lábios se separaram em um sorriso selvagem que a fez tremer.
— Jogavam, lutavam, faziam planos de fuga, corromper uns aos outros.
— O que significa essa palavra?
Nick lhe disparou uma olhada rápida, parecendo assustado pela pergunta.
— Isto significa violação.
Lottie sacudiu sua cabeça aturdida.
— Mas um homem não pode ser violado.
— Asseguro-te, - disse Nick sardonicamente, - que pode. E era algo que eu tinha um desejo bastante forte de evitar. Infelizmente os moços de minha idade, quatorze, quinze, eram as vítimas mais prováveis. A razão pela qual permaneci seguro durante um tempo foi porque tinha travado amizade com outro moço que era um pouco maior e extraordinariamente mais tenaz que eu.
— Nick Gentry?
— Sim. Ele cuidava de mim quando dormia, ensinou-me as maneiras de me defender por mim mesmo...Me fez comer para sobreviver, inclusive quando o alimento era tão asqueroso que logo que poderia tragá-lo. Falar com ele manteve minha mente ocupada durante os dias quando pensava que me voltaria louco por não ter nada que fazer. Não teria vivido sem ele, e sabia. Aterrorizava-me o dia em que ele deixasse o casco. Seis meses depois que embarquei no Scarborough, Gentry me disse que seria liberado no prazo de uma semana. — Ao olhar em seu rosto fez com que o interior de Lottie se apertasse em nós frios. — Só ficava uma semana, depois de sobreviver dois anos naquele horrível lugar. Deveria haver me alegrado por ele. Não o fiz. Tudo no que podia pensar era em minha própria segurança, que não iam durar cinco minutos depois de que ele partisse.
Ele parou, deslizando-se mais profundo nas lembranças.
— O que aconteceu? — Perguntou Lottie silenciosamente. - me conte.
Seu rosto ficou branco. Sua alma se fechou com força ao redor dos segredos, rechaçando liberá-los. Um estranho e frio sorriso piscado sobre seus lábios enquanto falava com total desprezo.
— Não posso.
Lottie contraiu suas pernas para se impedir de saltar da cama e precipitar-se para ele. O calor das lágrimas não derramadas enchia seus olhos quando olhou sua forma escura, sombreada.
— Como morreu Gentry? — Perguntou.
Sua garganta tragou, e ele sacudiu sua cabeça.
Confrontando sua luta silenciosa, Lottie procurou algum caminho para inclinar o equilíbrio.
— Não tenha medo. - sussurrou ela. — Ficarei contigo não importa o que seja.
Apartando seu rosto, entrecerrou os olhos com ferocidade, como se acabasse de ter sido exposto à luz brilhante depois de passar muito tempo na escuridão.
— Uma noite fui atacado por um dos prisioneiros. Seu nome era Styles. Arrastou-me da plataforma enquanto eu dormia e me fixou no piso. Lutei endemoniadamente com ele, mas era duas vezes meu tamanho, e ninguém ia interferir. Todos lhe tinham medo. Chamei o Gentry, para que apartasse ao bastardo de mim antes que ele pudesse...— Se interrompeu, fez um som estranho, uma risada tremente que não continha nenhum rastro de humor.
— E te ajudou? - perguntou Lottie.
— Sim... o estúpido bastardo. — Sustentando a respiração em um soluço baixo. — Ele sabia que não tinha sentido fazer uma maldita coisa por mim. Se não tivesse sido sodomizado justo então, seria-o depois de que ele fora liberado. Não deveria ter pedido sua ajuda, e ele não deveria havê-la dado. Mas afugentou Styles, e...
Outro silencio comprido passou.
— Morreu Nick durante a luta? — Lottie se obrigou a perguntar.
— Mais tarde essa noite. Ele tinha feito um inimigo, Styles, me ajudando, e a vingança não demorou para chegar. Justo antes da manhã, Styles estrangulou Nick enquanto dormia. Quando compreendi o que tinha passado, era muito tarde. Fui até o Nick... Tratei de despertar, de lhe fazer respirar. Ele não se movia. Ficou frio em meus braços. — Sua mandíbula tremeu, e pigarreou com sua garganta bruscamente.
Lottie não podia deixá-lo terminar aí, sem conhecer a história completa.
— Como trocou os lugares com Gentry?
— Cada manhã o ajudante do oficial médico e um dos guardas baixava para recolher os corpos dos homens que tinham morrido durante a noite, de enfermidade, ou de fome, ou de algo que eles chamavam a depressão dos espíritos. Os que não tinham terminado de morrer eram subidos ao castelo de proa. Fingi estar doente, o que não era difícil naquele ponto. Levaram-nos a ambos até a cobertura, e perguntaram quem era eu, e se conhecia o nome do morto. Os guardas logo que conheciam alguns dos prisioneiros, foram todos iguais. Eu tinha trocado minha roupa com a do... do cadáver, assim que eles tinham pouca razão para duvidar de mim quando disse que eu era Nick Gentry, e o moço morto era John Sydney. Durante os poucos dias seguintes fiquei no castelo de proa, fingindo enfermidade para não ser enviado de volta à prisão. Outros homens que tinham sido levados ali estavam muito doentes ou débeis para lhes importar um nada como me chamasse.
— E logo foi liberado, - disse Lottie silenciosamente, - no lugar de Gentry.
— Ele foi enterrado em uma fossa comum perto do porto, enquanto eu era liberado. E agora seu nome é mais real para mim que o meu próprio.
Lottie estava afligida. Não sentia saudades que tivesse querido manter o nome do Nick Gentry. De algum modo devia haver sentido que poderia manter uma parte dele vivo conservando-o. O nome tinha sido um talismã, um novo princípio. Ela não podia começar a entender a quantidade de vergonha que ele tinha agregado a sua identidade verdadeira, acreditando que era responsável pela morte de seu amigo. Não era culpa dele, certamente. Mas inclusive se ela poderia fazê-lo admitir os defeitos em seu raciocínio, nunca poderia apagar sua culpa.
Lottie se deslizou da cama, o atapetado de lã grossa e aglomerado formigava sob seu pé nu. Quando se aproximou dele, estava com um sentimento de total incapacidade. Se o tratava com bondade, receberia-o como compaixão. Se não dizia nada, tomaria como um sinal de desprezo ou repugnância.
— Nick. - disse brandamente, mas ele não olhara para ela. Ficou de pé diante dele, escutando a pauta quebrada de sua respiração. — Não fez nada mau em pedir ajuda. E ele quis te ajudar, como qualquer verdadeiro amigo.
Ele arrastou sua manga sobre seus olhos e provocou um fôlego estremecido.
— Roubei sua vida.
— Não. - disse urgentemente. — Ele não teria querido que ficasse ali, a que lhe teria servido isso? — Uma destilação quente tocou as comissuras de seus lábios, condimentando-os com sal. Que bem entendia a culpa, que provocava, sobre tudo em ausência do perdão. E a pessoa da qual Nick necessitava do perdão estava morta. — Ele não pode estar aqui para te absolver. - disse ela. — Mas vou falar por ele. Se ele pudesse, diria-te, estás perdoado. Agora tudo esta bem. Está em paz, e você deveria está-lo também. E aconteceu muito tempo para que perdoe a ti mesmo.
— Como sabe que diria isso?
— Porque alguém que se preocupava com ti o diria. E ele realmente se preocupou com tigo, ou não teria arriscado sua vida para te proteger. — Dando um passo para diante, Lottie pôs seus braços ao redor de seu pescoço rígido. — Eu também me preocupo com ti. — Ela teve que usar seu peso completo para fazê-lo inclinar-se para ela. — Amo-te. - sussurrou. — Por favor não te aparte. - e ela levou sua boca até a sua.
Levou muito tempo para responder a suave pressão de seus lábios. Emitiu um som débil em sua garganta, e devagar suas mãos tremendo foram até seu rosto, sustentando-a imóvel enquanto sua boca se amoldava sobre a sua. Suas bochechas estavam molhadas pelo suor e lágrimas, e seu beijo machucava por seu ardor.
— Ajuda-te ouvir essas palavras? - sussurrou Lottie quando levantou sua boca.
— Sim. - disse ele com voz rouca.
— Então as direi sempre que necessitar as ouvir, até que comece a acreditar. — Ela deslizou sua mão detrás de seu pescoço e atirou de sua cabeça para baixo para outro beijo.
Nick a assustou com seu repentino desenfreio. Recolhendo-a com aterradora facilidade, levou-a a cama e a deixou cair no colchão. Arrancou sua própria roupa, rasgando as aberturas dos botões em lugar de tomar-se tempo para desabotoá-los. Subindo sobre ela rapidamente, sentou-se sobre ela e rasgou a frente de sua camisola com suas mãos. Fracamente se deu conta de que a necessidade de Nick de estar dentro dela era tão violenta que tinha perdido todo o autocontrole. Ficando de joelhos abriu amplamente suas pernas, ele empurrou a cabeça de seu sexo contra ela, exigindo a entrada. Seu corpo não estava preparado, sua carne estava seca e apertada apesar de sua boa vontade de recebê-lo.
Deslizando-se para baixo de seu corpo, Nick tomou com sua boca, suas mãos grandes agarrando seus quadris e as apertando firmemente à cama quando ela se arqueou para cima pela surpresa. Sua língua inundada nela, umedecendo e abrandando a carne sensível. Encontrando o delicado ponto justo em cima da abertura vulnerável, acariciou a superfície plaina de sua língua contra ele, uma e outra vez, até que captou o íntimo aroma de seu desejo.
Levantando seu corpo para cima, ele a montou outra vez, e conduziu seu duro membro dentro dela.
Assim que Nick entrou em seu corpo quente, sua cega ferocidade pareceu consumir-se. Suspenso sobre ela, seus musculosos braços tensos a ambos os lados de sua cabeça, seu peito movendo-se em profundas e irregulares respirações. Lottie estava cravada embaixo dele, sua carne palpitando ao redor do grosso membro que a empalava.
Sua boca foi outra vez até a dela, esta vez delicada enquanto a possuía com compridos e atormentadores beijos, a ponta de sua língua acariciando o interior de sua boca. Ela em segredo tinha conservado a lembrança de seus outros beijos, as docemente ferventes carícias dos lábios de um estranho, mas isto era tão diferente, escuro e embriagador e poderoso. Desejava seu contato, ofegando de alivio com os suaves puxões de seus dedos sobre seus mamilos. Ele usava toda sua habilidade para excitá-la, atormentando-a com as superficiais carícias que a tentavam em lugar de satisfazê-la. Desejando mais, Lottie tratava de aproximá-lo mais. Ele resistiu, mantendo o ritmo lânguido, calando-a com beijos quando protestava. De repente se afundou dentro dela com uma só investida. Desconcertada, Lottie cravou o olhar em seu rosto concentrada.
— Que estás fazendo? — Perguntou fracamente.
Sua boca acariciou a sua com beijos de suave fogo. E enquanto a possuía, ela brandamente chegou a entender a pauta em que ele se movia dentro dela... oito investidas pouco profundas, duas profundas... sete pouco profundas três profundas... progressivamente até que finalmente lhe deu dez fortes e penetrantes mergulhos. Lottie gritava de prazer, seus quadris levantando-se contra seu peso liso enquanto ela se enchia de uma sensação volátil. Quando o prazer ardente tinha começado a desvanecer-se, Nick trocou suas posições sutilmente, introduzindo-se muito mais nela, abrindo mais seus joelhos com um suave empurrão, ajustando o ângulo de seu sexo. Investiu profundamente, selando seus corpos unidos, e moveu seus quadris em círculos a um ritmo lento, regular.
— Não posso. - disse Lottie ofegando, compreendendo o que ele queria, sabendo que era impossível.
— Me deixe. - sussurrou Nick, incansável e terrivelmente hábil enquanto seguia o riscando suaves círculos, usando seu corpo para agradá-lo.
Ela estava assombrada, como rapidamente o calor aumentava outra vez, seus sentidos dando a bem-vinda ao estímulo paciente, seu sexo se voltou escorregadio e se inchou enquanto ele se movia dentro dela, sobre ela, contra ela.
— OH... OH... - os sons foram arrancados de sua garganta quando alcançou outra cúpula, seu membro sacudindo-se, sua vagina pressionando com força contra seu membro.
E então ele começou o ciclo inteiro outra vez. Nove pouco profundos, uma profunda...
Lottie perdeu a conta de quantas vezes a levou ao êxtase, ou quanto tempo passou enquanto fazia o amor.
Ele sussurrou em seu ouvido... palavras carinhosas... íntimos elogios... dizendo como doce a sentia ao redor dele... quanto desejava satisfazê-la. Quis mais agradar de que parecia possível suportar, até que finalmente suplicou que parasse seu corpo tremendo pelo esgotamento.
Nick obedeceu com relutância, empurrando profundamente dentro uma última vez, liberando seu desejo encerrado com um gemido estremecedor. Obsessivamente a beijou outra vez, enquanto se retirava de seu corpo satisfeito. Lottie logo que tinha força para levantar sua mão, mas ela se agarrou por seu braço e murmurou densamente.
— Ficará?
— Sim. - ouviu-o dizer. — Sim.
Aliviada e cansada, afundou-se rapidamente em um sonho incompreensível.
Capítulo 13
A luz do sol se derramava através das janelas, que Lottie tinha deixado abertas a noite anterior para deixar entrar o ar fresco. Ela bocejou e se estirou, estremecendo-se incomodamente pelos músculos crispados de suas coxas e a dor insólita que ela sentia de repente recordando a noite anterior, Lottie deu a volta. Um calafrio de prazer a percorreu quando viu Nick dormir sobre seu estômago a seu lado, suas largas e musculosas costas brilhando com a luz crescente. Sua cabeça estava meio torta no travesseiro, seus lábios ligeiramente separados enquanto dormia. O crescimento da espessa barba da noite sombreava sua mandíbula, dotando de um vergonhoso molde a seu formoso rosto. Lottie nunca tinha experimentado esta classe de interesse apaixonado por alguém ou algo... Este penetrante desejo de conhecer cada detalhe de sua mente, corpo, e alma... O puro prazer de estar em sua presença.
Apoiando-se sobre um cotovelo, Lottie se deu conta de que nunca tinha tido a oportunidade de vê-lo tranquilamente. As linhas de seu corpo eram lisas e fortes, suas largas costas estreitando-se em uma magra cintura e quadris, sua carne densamente coberta de músculos, entretanto suave. Admirou a curva sólida de suas nádegas, cobertas pelo lençol que estava colocado embaixo de seus quadris.
E desejava ver mais dele. Jogando uma olhada cautelosamente a seu rosto tranquilo, estendeu a mão até a borda do linho branco e começou a afastá-la com cuidado de seu traseiro. Mais abaixo e mais abaixo...
Com uma rapidez que a fez ofegar, Nick estendeu a mão e agarrou seu braço. Seus olhos se abriram para estudá-la sonolentamente, e um sorriso acendeu as profundidades de quente azul. Quando falou, sua voz estava áspera pelo sono.
— Não é justo comer com os olhos a um homem enquanto está dormido.
— Eu não te estava comendo com os olhos. - disse Lottie travessamente. — As mulheres não comem com os olhos. - deu-lhe com descaramento uma olhada apreciativa. — Mas eu gosto de seu aspecto pela manhã.
Liberando-a, Nick sacudiu sua cabeça com um bufar de incredulidade, passando seus dedos por seu despenteado cabelo. O rodou sobre a cama, deixando ver um peito coberto de espessos cachos negros.
Tentada além de sua capacidade de resistir, Lottie se aproximou mais a ele, até que seus seios pressionaram a abundância de pele quente.
— Alguma vez passou a noite com sua amiga? — Perguntou, entrelaçando suas pernas com as suas.
— Quer dizer com a Gemma? Deus, não.
— Então sou a primeira mulher com a que você dormiste? — Disse ela, contente.
Ele a tocou brandamente, as pontas de seus dedos que esboçaram a curva de seda de seu ombro.
— Sim.
Lottie não protestou quando a fez virar sobre suas costas, baixando sua cabeça até seus seios. Estavam doloridos e sensíveis por seus cuidados, e ofegou quando sentiu sua língua quente e suave formando redemoinhos sobre o rosado mamilo. Relaxando-se baixou a ele, deleitou-se com o enredo da luz do sol e o linho branco, seus braços se curvaram ao redor de sua cabeça escura...
— Nick, não podemos. - disse ela derepente. Seu olhar disparou até o relógio sobre a chaminé. — Por Deus, chegamos tarde!
— Tarde para que? — Perguntou com uma voz apagada, resistindo enquanto ela tentava apartar seu pesado corpo.
— Sophia e sir Ross prometeram estarem aqui as dez em ponto. Há apenas tempo para nos banhar e nos vestir. OH, me solte, devo ter pressa!
Com um ar mal-humorado, Nick a permitiu sair retorcendo-se de debaixo dele.
— Quero ficar na cama.
— Não podemos. Vamos fazer um percurso pela casa com Sophia e Sr Ross, e vais ser agradável e elogiará a sua irmã pelo esplêndido trabalho que têm feito, e agradecerá a ambos por sua generosidade. E logo os entreteremos com um jantar mais cedo, depois do qual voltarão para Silverhill.
Nick vadiava sobre seu membro enquanto a olhava descender da cama.
— Isso vai ser ao menos doze horas a partir de agora. Não vou ser capaz de manter minhas mãos longe de ti durante tanto tempo.
— Então terá que inventar algum meio de... — Lottie se interrompeu e inalou bruscamente enquanto ficava totalmente de pé.
— O que acontece? - perguntou ele atentamente.
Lottie ruborizou da cabeça aos pés.
— Estou dolorida. Em lugares que pelo geral não me doem.
Nick entendeu imediatamente. Um sorriso envergonhado tocou seus lábios, e colocou sua cabeça em um esforço pouco convincente de penitência.
— Sinto muito. Um efeito secundário das relações sexuais tântricas.
— Isso é o que foi? — Lottie andou com dificuldade até uma cadeira, onde tinha deixado sua bata. A toda pressa se envolveu com ela.
— Uma antiga forma hindu de arte. - explicou. — Métodos ritualizados desenhados para prolongar as relações sexuais.
A elevada cor de Lottie persistiu quando recordou as coisas que tinha feito de noite.
— Bem, certamente foi prolongado.
— Não realmente. Os peritos tántricos frequentemente têm relações sexuais durante nove ou dez horas sempre.
Jogou-lhe uma olhada horrorizada.
— Poderia fazer isso se o desejasse?
Levantando-se da cama, Nick lhe atropelou, completamente inconsciente de sua nudez. Tomou-a em seus braços e acariciando com o nariz seu suave cabelo loiro, jogando a trança frouxa que pendurava por suas costas.
— Contigo, não me importaria tentá-lo. - disse ele, rindo contra sua têmpora.
— Não, obrigado. Logo que posso andar assim. - procurou o cabelo sedutor sobre seu peito, encontrando o lugar de seu mamilo. — Temo-me que não vou experimentar qualquer de suas práticas Tântricas.
— Isso está bem. - respondeu amavelmente. — Há outras coisas que podemos fazer. — Sua voz baixou sedutoramente. — Não comecei a te ensinar as coisas que se...
— Tenho medo disso. - disse ela e riu.
Sua mão grande cavou ao redor da parte de atrás de sua cabeça, inclinando-a até que seu rosto esteve levantado até o seu. Lottie estava assombrada pela expressão de seus olhos, o calor que ardia em chama nos indecifráveis poços azuis. Sua boca baixou até a sua devagar, como se pensasse que poderia afastar-se dele.
Ela compreendeu que temia que a vontade de lhe beijar pudesse haver-se evaporado com a luz da manhã.
Mantendo-a imóvel para ele, ela deixou que seus olhos se aproximassem enquanto sentia o calor aveludado de sua boca cobrindo a sua.
Nick apenas se reconhecia nos dias que seguiram. Sua confissão a Lottie, e sua assombrosa reação a isso tinha mudado tudo. Ela deveria ter sentido repulsão pelas coisas que lhe tinha contado, e em troca ela o tinha abraçado, tinha-o aceito sem vacilar. Não entendia por que. Observava-a com cuidado pelos sinais de pesar, pensando que ela voltaria para a prudência. Mas o rechaço esperado não chegou. Lottie se abriu a ele de todas as maneiras, sexualmente e emocionalmente. Sua confiança o aterrorizava. Sua própria necessidade dela lhe aterrorizava. Deus dar-se conta da extensão pela qual sua independência tinha sido comprometida...
Entretanto, ele não podia conseguir deter que acontecesse.
Enfrentado com esta inevitabilidade, Nick não tinha outra opção a não ser render-se a isso. E dia atrás dia, deixava-o deslocar-se mais fundo dentro dele, este calor precário e vertiginoso que só ele podia identificar como felicidade. Já não estava necessitado, nem faminto por coisas que não podia ter. Pela primeira vez em sua vida, estava em paz. Inclusive seus pesadelos pareciam haver-se retirado. Dormia mais profundamente do que jamais o tinha feito em sua vida, e se seus sonhos começavam a lhe preocupar, despertava para encontrar o pequeno corpo de Lottie agachado contra o seu, seu cabelo sedoso perdido sobre seu braço. Nunca tinha sido tão preguiçoso... folgadão na cama, fazendo amor com sua esposa, dando largos passeios a cavalo ou caminhando com ela, inclusive indo a um maldito picnic e desfrutando dele apesar de sentir que deveria estar em Londres com Morgan e os detetives, fazendo algo útil.
Começava a incomodá-lo, entretanto... O velho e familiar impulso de rondar pelos bairros mais baixos, o entusiasmo aditivo de procurar e capturar. Não sabia como ser visconde, e se sentia ligeiramente desconjuntado aqui, no próprio lar de sua infância. Nenhuma mudança mágica tinha ocorrido com a chegada da citação judicial. Sangue azul ou não, ele era um produto das ruas.
— Estive pensando no que necessita - disse-lhe Lottie uma manhã enquanto se afastavam andando da casa a um longo passeio de rosas pavimentado que dava a um comprido e tradicional lago adornado por nenúfares. Mais à frente do lago, uma ampla grama em curva conduzia a uma cadeia de lagos artificiais que confinavam com um bosque de cedros e olmos. Nick a tinha levado por um acesso rápido que tinha usado frequentemente quando era um moço, mexendo na grama saltando sobre uma curta parede de pedra e dirigindo-se diretamente dentro do bosque.
Rindo da declaração de Lottie, Nick levantou seus braços para lhe ajudar a descer da parede. Embora facilmente pudesse ter saltado sozinha, aceitou sua ajuda, descansando suas mãos sobre seus ombros quando ele a tirou de sua cintura.
— O que é o que necessito? — Perguntou, deixando ela deslizar para baixo sua parte dianteira até que seus pés tocaram a terra.
— Uma causa.
— Uma o que?
— Algo que valha a pena que persiga. Algo não relacionado com a direção da fazenda.
Nick deixou vagar seu olhar descaradamente sobre a forma pequena e esbelta de Lottie, vestida com um vestido de passeio de cor pêssego adornado com marrom chocolate.
— Já tenho isso. - disse e cravou sua boca na sua. Ele sentiu seu sorriso antes que ela alojasse a cálida pressão de sua boca, abrindo-se à delicada exploração de sua língua.
— Quero dizer algo que te manteria ocupado em seu tempo livre. - disse ofegando quando ele terminou o beijo.
Ele deslizou sua mão em sua cintura sem espartilho.
— Também eu.
Lottie arrancou dele uma risada, por seus planos. Botas de cano longo até o tornozelo caminhavam pesada e ruidosamente sobre o tapete de folhas enquanto cruzava andando pelo bosque. Os magros raios de luz do sol se filtravam pela antiga abóbada de ramos carregados com folhagem no alto, refletindo o brilho pálido de seu cabelo recolhido no alto e fazendo-o brilhar como a prata.
— Sr Ross tem seu interesse na reforma judicial, - indicou-a. - assim como suas preocupações pelos direitos das mulheres e dos meninos. Se estivesse ocupado em alguma busca que beneficiasse às pessoas de algum jeito, poderia pôr seu assento nos Lores em algum bom uso...
— Espera. - disse com cautela, seguindo-a pelo labirinto de árvores. — Se for começar a me comparar ao santo de meu cunhado...
— Simplesmente o usei como um exemplo, não como uma base de comparação. — Parando-se ao lado de um enorme olmo, deixou correr sua mão ao longo de um profundo sulco de casca cinza salpicada. — O
propósito é que acontece que os últimos anos de sua vida serviu ao público e ajudou às pessoas, e para ti deixá-lo tão repentinamente...
— Não estive ajudando às pessoas. - interrompeu Nick, ofendido. - estive me acotovelando com criminais e putas, e perseguindo fugitivos desde o Tyburn até o East Wapping.
Lottie lhe deu um sardônico olhar, seus olhos marrons escuro cheios de uma ternura inexplicável.
— E fazendo-o assim, fez Londres mais seguro, e levaste a justiça aos que a mereciam. Pelo amor do céu, por que estás ofendido pela implicação de que em realidade pode ter feito algo bom de vez em quando?
— Não quero ser retratado como algo que não sou. - disse Nick de maneira cortante.
— Compreendo exatamente o que é. - informou-lhe ela. - e seria a última em te chamar santo.
— Bem.
— Por outra parte... Seu trabalho como detetive serviu para beneficiar a outras pessoas, tanto se decide admiti-lo como se não. Portanto, agora terá que encontrar alguma atividade significativa para ocupar seu tempo. — Despreocupadamente Lottie seguiu caminhando, atravessando um ramo.
— Quer que me converta em um reformista? — Perguntou repugnado, seguindo-a.
Ignorando deliberadamente seu repentino mau humor, Lottie seguiu pelas árvores até o bosque aberto para revelar um pequeno e brilhante lago.
— Deve haver algum assunto que se preocupe. Algo pelo que queira lutar. Que tem que uma melhora da horrível condição do Támesis... Ou os reformatórios nos quais os meninos maiores, e os loucos são mesclados todos juntos sem ninguém para ocupar-se deles...
— Depois quererá que dê discursos no Parlamento e dê bailes de caridade. — Ele franziu a testa pelo pensamento.
Lottie seguiu catalogando os problemas que tinha que ser tratados.
— A insuficiente educação pública, a crueldade dos esportes de sangue, a grave situação dos órfãos, ou os prisioneiros liberados — Fez sua proposta. - interrompeu Nick, indo ficar de pé ao lado dela.
— Quanto à reforma da prisão? Um assunto que pode tratar com alguma convicção.
Nick se congelou incapaz de acreditar que Lottie se atreveu a dizer-lhe. Guardava aquela parte de seu passado encerrado em alguma parte distante de sua mente. Que ela o mencionasse de uma maneira tão relaxada parecia um ataque. Uma traição. Mas quando olhou seu rosto voltado para cima e lutou por responder, viu a suavidade absoluta em sua expressão. Está incomodado comigo, suplicava a suave luz em seus olhos. Deixe-me compartilhar um pouco de sua carga.
Ele arrancou seu olhar, a labareda de raiva defensiva se dissolvia com alarme. Santo inferno desejava acreditar nela. Para lhe dar a última parte de sua alma que o mundo ainda não tinha manchado e despedaçado e arruinado. Mas como poderia permitir-se ser assim tão vulnerável?
— Pensarei nisso. - ouviu-se dizer asperamente.
Lottie sorriu, estendendo uma mão para acariciar seu peito.
— Temo-me que se não dedicar a uma causa digna, voltará-te louco pela inatividade. Não é um homem para passar todo seu tempo perseguindo entretenimentos ociosos. E agora que já não trabalha em Bow Street... — Ela fez uma pausa, parecendo preocupada por algo que ela viu em seus olhos. — Sente falta, de verdade?
— Não. - disse ele ligeiramente.
— A verdade. - insistiu com o cenho franzido.
Agarrando a mão na sua, Nick a levou com o passar do caminho ao lado do lago.
— Realmente sinto falta. - admitiu ele. - fui detetive privado durante muito tempo. Eu gosto do desafio que há nisso. Eu gosto do sentimento que meche com esses bastardos nas ruas. Sei como pensam. Cada vez que persigo um assassino fugido, ou algum asqueroso violador e o jogo na câmara couraçada de Bow Street dão-me uma satisfação como nada mais... — Fez uma pausa, procurando as palavras exatas. — Ganhei o jogo.
— Jogo? - repetiu Lottie com cuidado. — É assim como pensa nisso?
— Todos os detetives o fazem. Tem que fazê-lo, se for enganar com astúcia a seu opositor. Tem que te manter afastado, de outra maneira será distraído.
— Deve ter sido bastante difícil de vez em quando te manter afastado.
— Nunca. - assegurou. — Sempre foi fácil para mim encerrar meus sentimentos.
— Já vejo.
Mas enquanto Lottie parecia entender o que lhe dizia, havia apenas um perceptível fio de ceticismo em seu tom. Como se ela duvidasse de que ainda tivesse a capacidade de permanecer completamente impassível.
Preocupado, Nick se calou enquanto seguiram rodeando o lago. E disse que estava impaciente por deixar a paisagem idília de Worcestershire e voltar para Londres.
Capítulo 14
— Vai a Bow Street hoje, verdade? — Perguntou Lottie, embalando uma taça de chá em suas mãos enquanto observava Nick devorar um prato grande de ovos, fruta, e pão de passas.
Nick deu uma olhada com um sorriso deliberadamente suave.
— Por que o pergunta? — Já que eles haviam retornado de Worcestershire três dias antes, encontrou-se com banqueiros, tinha contratado a um agente para a fazenda, tinham visitado seu alfaiate, e tinha passado uma tarde em La Casa do Café do Tom com os amigos. Por tudo o que Lottie sabia hoje se desenvolveria da mesma maneira, mas de algum modo sua intuição a tinha conduzido a suspeitar outra coisa.
— Porque tem certo olhar em seus olhos sempre que vais encontrar-te com Sr Grant ou outro em Bow Street.
Nick não pôde evitar de sorrir abertamente pela expressão suspeita de sua esposa. Ela tinha os instintos e a tenacidade de um terrier, e ele considerava isso um elogio, embora ela provavelmente não.
— Mas ocorre que não vou a Bow Street. - disse ele brandamente. Isso era verdade, embora só no sentido mais técnico. — Somente vou visitar um amigo. Eddie Sayer. Falei-te sobre ele antes, recorda?
— Sim, ele é um dos detetives. — Os olhos de Lottie se estreitaram por cima de sua taça de chá. — O que estão planejando os dois? Não vais fazer algo perigoso, verdade?
Sua voz continha um fio de apreensão, e seu olhar lhe percorreu com uma preocupação possessiva que fez que seu coração golpeasse com força em seu peito. Nick lutava por entender o que aqueles sinais significavam. Quase parecia como se estivesse preocupada com ele, que sua segurança lhe importava. Nunca lhe tinha cuidadosa assim antes, e não estava seguro de como reagir.
Com cuidado estendeu a mão e a tirou da cadeira, colocando-a sobre seu colo.
— Nada perigoso absolutamente. - disse ele contra a suavidade de sua bochecha. Embriagado pelo gosto de sua pele dirigiu-se até seu ouvido e roçou o lóbulo delicado com a ponta de sua língua. — Logo arriscaria voltar para casa, a ti, a não ser por uma completa ordem de trabalho.
Lottie se retorceu, e o movimento desenhou uma quebra de onda de calor a suas virilhas.
— Onde encontrá com o Sr. Sayer? — Persistiu.
Ignorando a pergunta, Nick passou a mão pelo sutiã de seu vestido, feito de um suave tecido branco estampado com diminutas flores e folhas. O decote em forma de colher revelava a linha sensível de sua garganta, apresentando uma tentação muito potente para resistir. Baixando sua boca até seu pescoço, beijou sua pele doce e suave, enquanto sua mão escapulia sob as capas sussurrantes de suas saias.
— Não vais distrair-me assim. - disse-lhe Lottie, mas ele ouviu a dificuldade de sua respiração quando encontrou o suave limite de sua coxa. Fez um descobrimento que enviou um redemoinho de interesse sexual por seu corpo, seu membro levantando-se energicamente contra a forma de seu traseiro.
— Não usa calcinha? — Murmurou ele, sua mão vagando com avidez sobre seus membros nus.
— Faz muito calor hoje. - disse ela ofegando, balançando-se para lhe evitar, empurrando inutilmente no montículo de sua mão sob seu vestido. — Certamente não me hei despresado delas para seu benefício, e...Nick, para isso. A criada vai entrar a qualquer momento.
— Então terei que ser rápido.
— Nunca é rápido. Nick... OH...
Seu corpo se frisou contra o seu quando ele alcançou a zona de cabelo entre suas coxas, a doce fenda já cálida com a umidade enquanto seu corpo bem instruído respondia a seu tato.
— Vou fazer-te isto na próxima semana no baile dos Markenfield. - disse brandamente, passando seu polegar ao longo da costura úmida de seu sexo. - vou levar-te a algum canto privado... e te arrancar a parte dianteira de seu vestido, e te acariciar e te atormentar até que corra.
— Não. - protestou apenas, seus olhos fechando-se quando sentiu seu comprido dedo médio dentro dela.
— OH, sim. — Nick retirou seu dedo molhado e sem piedade fez cócegas a cúpula brandamente tensa até que ele sentiu seu corpo ficando tenso ritmicamente. — Manterei-te calada com minha boca. - sussurrou ele.
— E te beijarei quando chegar ao orgasmo com meus dedos dentro de ti... Assim... — Empurrou seus dois dedos médios dentro do quente e palpitante canal e cobriu seus lábios enquanto ela gemia e estremecia violentamente.
Quando ele dissipou os últimos tremores de prazer de seu corpo, Nick levantou sua boca e sorriu com ar de suficiência por sua cara ruborizada.
— Foi bastante rápido para ti?
O breve interlúdio na mesa de café da manhã deixou os sentidos de Nick em tom agradável, acordados, e sua mente cheia de pensamentos agradáveis sobre o que passaria quando voltasse para casa mais tarde. De bom humor, alugou um cavalo com cadeira para lhe levar a seu lugar de encontro com Eddie Sayer. Não teria sido prudente levar um cavalo bom ou uma carruagem privada ao Botequim "Tigela de Sangue", um lugar favorito para criminais, ou o "refúgio dos bastardos".
Nick tinha estado com o tempo familiarizado com a Tigela de Sangue, porque era parte da área ao redor da Fleet Ditch onde uma vez havia possuído uma casa de jogo clandestino. Fleet Ditch, a boca-de-lobo principal de Londres, cortava por uma região de maciça atividade criminal. Era possivelmente o coração da vadiagem, situada entre quatro prisões incluindo Newgate, a Fleet, e Bridewell.
Durante anos Nick não conheceu nenhuma outra casa. Na cúpula de sua carreira como um senhor do crime, Nick tinha alugado um elegante escritório na cidade para encontrar-se com clientes de classe superior e aos representantes de banca que estavam naturalmente pouco dispostos a ir ao Fleet Ditch. Entretanto, tinha passado a maioria de seu tempo em uma casa de jogo clandestino não longe de Ditch, gradualmente habituando-se ao perpétuo fedor. Ali tinha conspirado, preparado armadilhas, e habilmente acumulado uma rede de contrabandistas e informantes. Ele sempre tinha esperado morrer rico e jovem, tendo estado de acordo com as palavras de um criminoso que tinha visto uma vez enforcado no Tyburn: “Uma vida foi bem gasta se for curta, mas alegre".
Mas antes que Nick tivesse estado a ponto de receber seu bem merecido castigo, Sr Ross Cannon tinha intervido com seu trato infame. Por mais que Nick lamentasse admiti-lo, os anos que tinha passado como agente tinha sido os melhores de sua vida. Embora sempre sofra as manipulações de Sr Ross, não se podia negar que seu cunhado tinha mudado sua vida para melhor.
Nick deu uma olhada curiosamente às escuras e lotadas ruas, aonde os enxames de pessoas se moviam e os edifícios desvencilhados aparentemente estavam amontoados um em cima do outro. Chegar aqui depois de que acabava de deixar a sua inocente e bonita esposa na serena casa da Rua Betterton era discordante.
E estranhamente, a antecipação de continuar a caça não era nem a metade tão forte como estava acostumado a ser. Nick tinha esperado sentir a emoção selvagem de rondar pela área mais perigosa em Londres, e em troca...
Que lhe condenassem se não estava meio arrependido de que tinha acordado a vir ajudar Sayer hoje.
Mas por quê? Ele não era nenhum covarde, nenhuma aristocrata mimado. Era sozinho que... tinha tido o complicado sentimento de que já não pertencia aqui. Tinha algo a perder, e não queria arriscá-lo.
Sacudindo sua cabeça confusa, Nick entrou na Tigela de Sangue e encontrou Sayer esperando em uma mesa em uma esquina escura. O botequim estava tão fedorento e asqueroso e lotado como sempre, cheirando a lixo, genebra e aromas corporais.
Sayer o saudou com um sorriso amistoso. Jovem, arrumado, e com um corpo grande, Sayer era indubitavelmente o melhor detetive que Sr Grant tinha agora que Nick tinha abandonado a força. Embora Nick se alegrasse de ver seu amigo, teve um estranho desgosto quando viu o brilho de entusiasmo imprudente nos olhos de Sayer e compreendeu que ele não o compartilhava. Nick não duvidava que suas capacidades e instintos estivessem ainda ali, mas já não possuía a fome para caçar. Desejava estar em casa com sua esposa.
Maldita seja, pensou com crescente agitação.
— Morgan me estripará como um bacalhau se averiguar que te pedi para fazer isto. - disse Sayer com arrependimento.
— Não o averiguará. — Nick se uniu a ele na mesa, sacudindo sua cabeça em rechaço quando uma garçonete se aproximou deles com um jarro de cerveja. A moça de rosto vulgar fingiu pôr má cara, logo piscou os olhos enquanto se afastava furtivamente.
— Poderia fazê-lo eu mesmo, acredito. - disse Sayer brandamente, atento à possibilidade de ser ouvido por acaso. — Mas não conheço todos os pormenores de Fleet Ditch tão bem como você. Ninguém faz. E você é o único que poderia identificar facilmente o moço que quero agarrar, porque tiveste experiência prévia com ele.
— Quem é? — Nick pôs seus antebraços sobre a mesa e os tirou imediatamente quando sentiu que suas mangas se pegavam à superfície de madeira.
— Dick Follard.
O nome surpreendeu a Nick. A diferença dos criminosos em Londres, a maior parte dos quais eram oportunistas, Follard era dessa categoria considerada por ser a elite criminal, tão peritos como desalmados.
Nick tinha detido Follard fazia dois anos, depois de que o bastardo tinha roubado na casa de um próspero advogado e tinha matado o homem e tinha violado sua esposa quando tinham devotado resistência.
Entretanto, Follard tinha sido perdoado de ir à forca e em troca tinha sido deportado, em troca do oferecimento de provas contra seus cúmplices.
— Follard foi enviado à Austrália. - disse Nick.
— Retornou. - respondeu Sayer com uma risada séria. — Como um cão a seu vômito.
— Como sabe isso?
— Não posso demonstrá-lo, infelizmente. Mas houve rumores de observações ultimamente, e não digamos uma série de roubos violentos que se parecem exatamente ao trabalho de Follard. Ontem perguntei a uma pobre mulher que foi violada por um ladrão que entrou em sua casa e tinha matado seu marido. O
mesmo método de entrar a força, o mesmo trabalho de faca sobre o corpo, e a descrição da mulher de seu atacante correspondia justo com a cicatriz de Follard sobre o lado direito do pescoço.
— Jesus. — Franzindo a testa, Nick beliscou a ponta do seu nariz enquanto meditava a informação. — Não posso acreditar que Morgan te enviasse para agarrar Follard sozinho.
— Não o fez. - disse Sayer alegremente. — Ele quer que pergunte a algumas velhas cortes de Follard e dê um relatório. Eu preferiria justo deter Follard diretamente.
Nick não pôde evitar sorrir abertamente por isso, sabendo exatamente qual seria a reação de Morgan a isso.
— Se tiver êxito, Morgan te esfolará a pele por semelhante maldita estúpida teatralidade.
— Sim... E depois beijará minha bunda por capturar um deportado que retornou. E estarei na primeira página do Teme, com montões de mulheres suplicando minha atenção.
A risada de Nick se voltou sardônica.
— Isso não é tão agradável como poderia pensar. - informou a seu amigo.
— Não? Bem, eu gostaria de tentá-lo, entretanto. — Sayer levantou sua sobrancelha com espera. — Está preparado?
Nick cabeceou com um suspiro.
— Onde quer começar a olhar?
— Os Informes dizem que Follard foi visto nos bairros baixos entre Hanging Ax Alley e Dead Man’s Lane. Parece-se com um formigueiro com todos os buracos nas paredes, e túneis entre os porões — Sim, conheço o lugar. — Nick manteve seu rosto inexpressivo, embora fosse consciente de que uma fria aversão enrolava em seu ventre. Ele tinha entrado naqueles bairros baixos antes, e até com sua alta tolerância pelos horrores da vadiagem, era uma experiência desagradável. A última vez que tinha visitado Hanging Ax Alley tinha visto uma mãe prostituindo seus filhos por genebra, enquanto mendigos e putas se empelotavam nos estreitos becos como sardinhas.
— Teremos que procurar rapidamente. - disse Nick. — Uma vez que se dão conta de que estamos na área, a notícia se estenderá rápido, e Follard escapará antes que alguma vez cravemos os olhos sobre ele.
Sayer sorriu abertamente com o entusiasmo logo que reprimido.
— Vamos então. Você me ensina o caminho.
Abandonaram o botequim e se dirigiram por ruas divididas com canais abertos, o fedor de animais mortos e lixo podre flutuando espessos no ar. Os edifícios ruinosos apoiaram uns contra os outros como se estivessem esgotados, rangendo com cada vento forte que soprava contra eles. Não havia letreiros para identificar as ruas, tampouco havia números sobre as casas ou os edifícios. Um forasteiro na área facilmente poderia perder-se e rapidamente encontrar-se atracado, trinchado e deixado morto em algum escuro pátio ou beco. A pobreza dos habitantes do bairro baixo era inimaginável, e seu único escape era o provisório refúgio que se achava em uma loja de genebra. De fato, havia uma loja de genebra em quase cada rua.
A Nick incomodava ver a miséria da gente ao redor dele, os meninos esqueléticos, as mulheres degradadas e homens desesperados. As únicas criaturas sãs que se encontrava eram os ratos que brincavam de correr pela rua. Até agora, Nick tinha aceitado tudo isto como uma parte inevitável da vida. Pela primeira vez, perguntou-se o que poderia fazer-se por esta gente. Bom Deus, eles necessitavam tanto, que isto quase o afligiu.
Recordou o que Lottie lhe havia dito só uns dias antes...
— Deve haver algum assunto que se preocupe. - havia dito ela. — Algo pelo que queira lutar... — Agora que tinha tido tempo para considerá-lo, teve que admitir que ela tinha razão. Como Lorde Sydney, poderia obter muito mais do que jamais obteria como Nick Gentry.
Colocando suas mãos nos bolsos, Nick jogou uma olhada cautelosamente a Sayer, que claramente não pensava em nada mais que encontrar a Dick Follard. Tal como ele deveria ser. Sem distrações, advertiu-se Nick, inclusive quando outra voz se filtrou por sua mente.
— Chega um tempo quando um homem beliscou o nariz do diabo antes, muito frequentemente. - havia lhe dito Morgan. — E se for muito obstinado ou torpe para compreendê-lo, pagará com seu próprio sangue.
Eu sabia quando me deter. E você também deve...
De fato era tempo de deter-se, embora Nick não soube até este momento. Depois de ajudar a Sayer com esta tarefa, Nick finalmente deixaria desaparecer sua identidade como detetive e se inventaria de novo uma vez mais. Esta vez Lorde Sydney... um homem com uma esposa, uma casa, possivelmente inclusive filhos algum dia.
A idéia de ver Lottie grávida de seu filho causou uma doce pontada em seu peito. Finalmente começava a entender por que Sr Ross tinha encontrado tão fácil sair da magistratura quando se casou, e por que Morgan valorava a sua família por cima de todo o resto.
— Gentry. - murmurou Sayer. — Gentry?
Perdido em seus pensamentos, Nick nem sequer notou que Sayer falou uma vez mais.
— Sydney!
Nick lhe deu uma olhada inquiridora.
— Sim?
Sayer franziu o cenho.
— Mantém seus engenhos em ti. Parece um pouco distraído.
— Estou bem. - disse Nick de maneira cortante, compreendendo que de verdade tinha estado distraído.
Neste lugar, isso poderia ser um engano fatal.
Aventuraram-se no distrito do bairro baixo, e Nick avaliou a área com olhar crítico, tratando de recordar o que sabia do labirinto de becos, túneis, e cruzes do caminhos entre os edifícios. Passou uma mão ligeiramente sobre seu peito, comprovando o tranquilizador peso de um porrete de ferro coberto de couro em seu bolso de casaco.
— Comecemos com os edifícios no lado norte da rua. - disse Nick. — Abriremo-nos passo até a esquina.
Sayer assentiu, seu corpo se esticou visivelmente, mentalmente se preparava para a ação.
Procuraram os edifícios metodicamente, fazendo uma pausa brevemente para fazer perguntas a aqueles que pareciam prováveis saber algo. Os quartos e tocas estavam mal iluminados, e não digamos lotados e fétidos. Nick e Sayer não encontraram resistência, embora fossem o foco de muitas suspeitas e hostis olhares.
Em uma oficina perto do final da rua, na aparência a loja de um fabricante de fivelas, mas em realidade um porto para cunha e falsificadores de moedas, Nick viu a piscada traiçoeira nos olhos de um ancião fracote quando ouviu a menção de Follard. Enquanto Sayer revisava pela loja, Nick se aproximou do homem com um olhar inquisitivo.
— Sabe algo sobre Follard? — Nick perguntou com cuidado, tocando a borda de sua própria manga esquerda com a mão contrária, em um sinal bem conhecido nos bairros baixos de Londres. O gesto sutil era uma promessa de pagamento pela informação válida.
As pálpebras do homem magro como o papel baixaram sobre seus olhos amarelados enquanto considerava a oferta.
— Eu poderia.
Nick cruzou sua palma com umas moedas, e os dedos enrugados do ancião se fecharam sobre o dinheiro.
— Você pode me dizer onde posso encontrá-lo?
— Você poderia ir a loja de genebra no Melancholy Lane.
Assentindo agradecido, Nick jogou uma olhada a Sayer e lhe indicou com um virar de seu olhar que era hora de partir.
Uma vez fora, dirigiram-se rapidamente ao Melancholy Lane, justo duas ruas além de Hanging Ax Alley.
Como a maior parte das lojas de genebra perto da Fleet Ditch, o lugar estava lotado em excesso muito antes do meio-dia, com clientes bêbados que se sentavam sobre a terra com estupor. Depois de consultar brevemente, Nick foi à entrada da loja, enquanto Sayer dava a volta ao edifício ruinoso para encontrar a saída na parte de atrás.
Assim que Nick entrou na loja, uns inquietantes murmúrios chegavam e o examinaram através da multidão de dentro. Era um fato desafortunado que a altura de um agente e o tamanho lhe fizessem quase impossível harmonizar com a multidão. Era inclusive mais desafortunado que Nick fizesse incontáveis inimigos na vadiagem uma vez que tinha declarado como testemunha contra seus sócios criminais e foi servir na Bow Street. Isso não tinha aumentado exatamente sua popularidade no Fleet Ditch. Ignorando os murmúrios ameaçadores, Nick jogou uma olhada sobre a multidão com os olhos entrecerrados.
De repente viu o rosto que tinha estado procurando. Através de suas viagens de um continente ao outro, Dick Follard não tinha mudado um pingo, seu rosto parecia com o de um rato coroado com o mesmo arbusto de oleoso cabelo negro, seus dentes afiados dando a sua boca um aspecto serrilhado. Seus olhares se encontraram em um momento de solvente e elétrico desafio.
Follard se foi em um instante, escorregando-se pela multidão com a facilidade de um roedor enquanto se dirigia à parte traseira da loja. Nick se abriu passo a empurrões por diante da massa de corpos em seu caminho, abrindo-se caminho através deles com cega determinação. Quando alcançou o beco, Follard tinha desaparecido em uma complexa rede de cercas, paredes, e ruas transversais. A Sayer não lhe via por nenhuma parte.
— Sayer! - gritou Nick. — Onde estás demônios?
— Aqui. - chegou o grito rouco do agente, e Nick deu a volta para vê-lo escalar perto de trê metros de altura na perseguição de Follard.
Seguindo rapidamente, Nick subiu perto, deixou-se cair ao chão, e baixou correndo a toda velocidade um beco escuro sombreado pelo beiral que se sobressaía dos edifícios a ambos os lados. O beco chegou a um final abrupto, e Nick patinou e parou quando viu que Sayer olhava fixamente para cima. Follard escalava a ruinosa parede exterior de um depósito antigo de três andares, parecendo um inseto enquanto procurava apoios para seus dedos na superfície dos tijolos. Depois de ascender dois pisos, finalmente conseguiu alcançar um buraco grande para pôr-se a correr. Seu corpo ossudo desapareceu dentro do depósito.
Sayer soltou um juramento indignado.
— Perdemo-lo. - disse. — Não há caminho no inferno que tentasse.
Inspecionando a parede apreciativamente, Nick se aproximou dela com poucos passos contínuos, lançando-se para cima. Tomou o mesmo caminho que Follard, fincando suas mãos e as ponteiras de suas botas nos buracos desmoronados da parede, usando-os para conseguir garra. Ofegando com o esforço, subiu atrás do fugitivo desaparecido.
— Maldição, Gentry! — Sayer ouviu exclamar com aprovação. — Encontrarei algum outro modo de entrar.
Nick seguiu escalando a parede até que se arrastou dentro da profunda abertura do segundo andar. Uma vez dentro, ficou imóvel e escutou atentamente. Ouviu o som de passos acima. Lançou um olhar a uma escala que conduzia ao último andar do edifício, no lugar de uma série de escadas que se derrubou. Nick se dirigiu a elas com rápidos e sigilosos passos. A escala estava relativamente nova, indicando que o depósito estava sendo usado apesar de sua deterioração. Mais provavelmente o edifício servia para armazenar bens passados de contrabando ou roubados, assim para proporcionar um refúgio excelente para fugitivos. Nenhum oficial na aplicação de lei com qualquer engenho teria atrevido a pôr o pé no ruinoso lugar.
A escada rangeu pelo peso de Nick. Uma vez que alcançou o terceiro andar, viu que as tábuas de piso e as vigas em sua maioria estavam podres, deixando só uma fila das madeiras de apoio que se pareciam com as costelas de um enorme esqueleto em decomposição. Embora as margens do lugar ainda aguentavam, havia algumas tábuas débeis no centro. Subiu e tinha desaparecido, já que estava assim o segundo piso, deixando uma queda potencialmente mortal de trinta metros diretamente através do centro do edifício.
Assim que Dick Follard viu Nick, deu-se a volta e começou a abrir-se passo por uma das madeiras de apoio. Imediatamente Nick compreendeu suas intenções. O edifício ao lado estava tão perto que requereria um salto de três metros como máximo. Tudo o que Follard tinha que fazer era lançar a ele mesmo desde um dos profundos buracos de janela, e poderia escapar pelo telhado.
Animosamente Nick o seguiu, dando-se animo para ignorar o enorme vazio sob a madeira. Colocando seus pés com cuidado, ele perseguiu a forma de Follard que se retirava, conseguindo a confiança enquanto cruzava o sinal da metade do caminho sobre a viga. Entretanto, justo quando estava a ponto de alcançar o final, um sinistro estalo perfurou o silêncio, e sentiu a viga ceder debaixo dele. Seu peso tinha sido muito para a madeira corroída.
Com uma maldição, Nick se lançou para a seguinte madeira, e de algum modo o apanhou em sua descida.
Às cegas se agarrou à viga e envolvendo seus braços ao redor dela. Uma chuvarada de madeira quebrada e tábuas frágeis caíram com um som ensurdecedor, enquanto uma chuva picante de pó e a madeira pulverizada fez com que os olhos de Nick se turvassem.
Ofegando, lutou por levantar-se em cima da madeira, mas um repentino golpe lhe paralisou, golpeou suas costas quase provocando uma queda. Nick grunhiu com uma mescla de surpresa e dor, e examinou o rosto triunfante de Follard em cima dele.
Um diabólico sorriso rasgou o rosto estreito do bastardo.
— Enviarei-te ao inferno, Gentry. - disse ele, aventurando-se mais longe na viga. Pisando com força na mão de Nick com seu pé embotado. Os ossos dos dedos de Nick quebraram, provocando um grunhido de agonia de sua garganta.
Follard riu com um sorriso maníaco.
— Um. - gritou. — Dois. - pisou muito forte outra vez, a força que esmagou seu pé lhe provocou uma terminante explosão de dor crescesse no braço de Nick. A bota de Follard se levantara uma vez mais enquanto se preparava para o golpe da graça.
— Três. — Nick ofegou e agarrou o tornozelo de Follard, que sacudiu-se desequilibrando.
Soltando um grito, Follard caiu da viga, seu corpo caindo dois andares para cair no térreo com força mortal.
Nick não se atreveu a olhar pra abaixo. Desesperadamente concentrou sua atenção em arrastar ele mesmo na viga. Infelizmente sua força tinha sido diminuída, e sua mão esquerda estava mutilada. Retorcendo-se como um verme sobre um gancho, arqueou-se desamparadamente sobre a mortal queda.
Com incredulidade, compreendeu que ele ia morrer.
Lottie, Por favor, me ajude. Mamãe diz que Lorde Radnor vem para levar-me. Não quero ir a nenhum lugar com ele, mas ela e Papai dizem que devo. Eles me fecharam em meu quarto até que ele venha. Reza para que não deixe que isto aconteça, Lottie, porque é minha única esperança.
Sua irmã te quer. Ellie Um moço do povo havia trazido a carta manchada de lágrimas não muito depois de que Nick tinha ido pelo dia. O moço exigiu o que Ellie lhe tinha devotado por vir à janela de sua antecâmara e lhe dar a mensagem.
— Ela disse que se lhes trazia isso, conseguiria meia coroa. - disse ele, trocando seu peso inquietamente, como se suspeitasse que a promessa não fosse cumprida.
Lottie tinha satisfeito o moço lhe dando meio soberano em seu lugar, e logo lhe tinha enviado à cozinha com a Sra. Trench por uma comida quente. Passeando-se de um lado a outro ao redor da casa, roia freneticamente seu nódulo enquanto se perguntava o que fazer. Não tinha nenhum modo de saber quando voltaria Nick para casa. Mas se ela esperava muito tempo, Radnor já poderia haver levado Ellie.
O pensamento a encheu de tal angústia que Lottie apertou seus punhos e soltou um grito de ultraje. Seus pais, permitindo que Radnor fora para levar-se a pobre e inocente Ellie... como se ela fora um animal com que comercializar.
— Só tem dezesseis. - disse em voz alta, seu rosto quente com sangue de cólera. — Como pode? Como lhes seria possível viver com eles mesmos?
E não havia menção de matrimônio na nota, o que só podia conduzir a Lottie a acreditar que seus pais estavam virtualmente prostituindo a Ellie para seu próprio benefício. Dar-se conta a colocava doente.
Não, ela não podia esperar Nick. Iria e recolheria Ellie ela mesma, antes de que Radnor chegasse. De fato, Lottie estava furiosa com ela mesma por não havê-lo feito assim já. Mas quem poderia haver predito que Radnor teria desejado a Ellie, ou que seus pais a teriam dado assim?
— Harriet. - chamou bruscamente, cruzando a passos até a entrada mais próxima e atirando desesperadamente. — Harriet!
A criada de cabelos morenos apareceu imediatamente, havendo corrido tão rápido que seus óculos estavam um pouco torcidos.
— Milady?
— Traga meu casaco e chapéu de viagem. - fazendo uma pausa, Lottie pensou nos criados ao serviço de Nick, e decidiu que Daniel era o homem maior e capaz de ajudar em sua ausência. — Diga ao Daniel que deve me acompanhar a uma diligência. Quero que a carruagem seja posta a ponto imediatamente.
— Sim, lady Sydney! — Harriet se precipitou para obedecer, parecendo contagiada pela urgência de Lottie.
Em menos de um minuto, Daniel apareceu, sua alta forma vestida com a librea negra. Era um jovem bondoso, robusto com o cabelo negro e olhos cor xerez.
— Milady. - disse ele, fazendo uma impecável reverencia e esperando suas instruções.
Recebendo seu chapéu de Harriet, Lottie o atou habilmente sob seu queixo.
— Daniel, vamos à casa de meus pais a trazer minha irmã menor. Não tenho dúvida de que minha família oferecerá fortes objeções. Há inclusive uma possibilidade de briga... E embora não quero que ninguém seja ferido, devemos trazer de volta a minha irmã aqui conosco. Confio em que posso depender de você?
Ele entendeu o que ela perguntava.
— Naturalmente, minha lady.
Ela riu ligeiramente, seu rosto pálido.
— Obrigado.
A carruagem esteve preparada em um tempo recorde, e Lottie agarrou a nota feito uma bola em seu punho enquanto o veículo punha-se a rodar rapidamente longe da Rua Betterton. Tratou de fazer-se pensar claramente, entender o que estava passando.
O que queria Radnor de sua irmã? Nos anos em que Lottie o conhecia, logo que tinha parecido notar a existência de Ellie, exceto para fazer comentários de menosprezo, que Ellie era rechonchuda, cabeça oca, nada refinada. Por que escolhê-la, de todas as mulheres, para fazê-la sua amante? Possivelmente porque Radnor sabia que essa era a pior maneira de fazer mal a Lottie. Sabia que nunca podia estar contente em seu matrimônio com Nick sabendo que sua felicidade tinha sido comprada com o preço de sua irmã.
Bulindo de medo e cólera, Lottie retorceu suas mãos em suas saias.
Levou-lhe um quarto de hora chegar à casa de seus pais, mas para Lottie a espera era insuportável.
Quando chegaram à rua de casas Tudor e a carruagem de Lorde Radnor não estava em nenhuma parte a vista, Lottie permitiu sentir uma luz tênue de esperança. Possivelmente não era muito tarde.
O veículo parou, e Daniel lhe ajudou a baixar. Seu rosto tranquilo ajudou a estabilizar seus nervos crispados enquanto andava pelo pavimento e lhe permitia acompanhá-la até a casa. A pátio dianteiro estava livre, seus irmãos e irmãs estranhamente ausentes.
Ante o assentimento de Lottie, Daniel usou seu punho para abrir firmemente à porta, alertando aos inquilinos da casa de sua chegada. Logo a porta foi aberta por uma criada.
— Senhorita Howard. - disse a criada inquietamente, seus olhos abertos em seu rosto sardento.
— Agora sou lady Sydney. - respondeu Lottie e jogou uma olhada ao criado. — Pode esperar aqui fora, Daniel. Pedirei sua ajuda se necessário.
— Sim, milady.
Entrando na casa, Lottie viu seus pais de pé na entrada de um das salas... Sua mãe, parecia cansada e decidida, seu pai apenas capaz de levantar seu olhar do chão. Os sinais de sua culpa avivaram sobre seu ultraje em silenciosa fúria.
— Onde está Ellie? — Perguntou.
Sua mãe a olhou sem a emoção.
— Não te concerne, Charlotte. Como esclareci durante sua última visita, não é bem-vinda aqui. Você mesma lavrou a ruína da família com suas ações egoístas.
Uma resposta amarga se elevou aos lábios de Lottie, mas antes de que pudesse pronunciar uma palavra, ouviu um enorme som decidido da parte de trás da casa.
— Lottie! - chegou a voz surda de sua irmã. — Lottie, estou aqui! Não me abandone!
— Já vou. — Lottie chamou e lançou a seus pais um olhar incrédulo. — Que vergonha. - disse brandamente, cada palavra uma acusação. — Planejavam dar-lhe ao Radnor, sabendo que arruinaria qualquer possibilidade para ela de ter uma vida decente. Como podem viver com vós mesmos?
Ignorando o veemente protesto de sua mãe, Lottie cruzou a passos o quarto de Ellie e girou a chave que tinha sido deixada na fechadura.
Ellie irrompeu fora do quarto com uma rajada de soluços agradecidos, lançando-se sobre Lottie. Seu cabelo castanho estava emaranhado e enredado.
— Sabia que me ajudaria. - ofegou ela, secando suas bochechas molhadas sobre os ombros de Lottie. — Sabia. Lottie, me leve imediatamente. Ele vem. Estará aqui á qualquer minuto.
Abraçando à moça que soluçava, Lottie esfregou suas costas e murmurou silenciosamente.
— Sempre virei quando me necessitar, Ellie. Vá recolher suas coisas, vou te levar pra minha casa.
A moça sacudiu sua cabeça veementemente.
— Não há tempo, devemos ir agora.
— Bem. — Mantendo seu braço ao redor de Ellie, Lottie caminhou com ela de retorno à frente da casa.
— Pode me contar tudo uma vez que estejamos em caminho.
— Lottie, — Ellie seguiu soluçando. - foi tão terrível, tão...
A moça se parou com um meio grito quando se aproximaram da entrada e viram a forma magra e austera de Arthur, Lorde Radnor, que estava de pé com seus pais. Ele devia ter chegado um momento depois que ela.
Lottie não mostrou nenhuma emoção, mas seu coração trovejou em seu peito quando olhou fixamente seus calculados olhos escuros. Ela apertou seu braço ao redor dos ombros de Ellie e falou com uma frieza que estava longe de sentir.
— Não lhe deixarei tê-la, Lorde Radnor.
— Sydney! — Nick ouviu o grito ruidoso de Sayer em algum lugar debaixo. — Não te deixe ir!
— Não... O planejava. - resmungou Nick, inclusive enquanto seus dedos empapados de sangue escorregaram sobre a madeira podre.
Houve um rugido surdo em seus ouvidos. Seus braços se sentiam intumescidos, e seu corpo estava atormentado com a insuportável dor. Estranhamente, seus pensamentos se voltaram tranquilos e claros quando compreendeu que Sayer não ia alcançá-lo a tempo.
Não queria morrer. Era irônico, ter estado nesta situação fazia alguns meses, ele não poderia haver se preocupado. Uma vida curta, mas alegre... Era tudo o que alguma vez tinha esperado. Não teria pensado pedir mais.
Mas isso foi antes que tivesse encontrado Lottie. Desejava ficar muito tempo com ela. Desejava abraçá-la outra vez. Desejava lhe dizer quanto a amava, quando ele nunca tinha pensado sentir amor por alguém. E
desejava cuidar dela. Pensar que já não seria capaz de cuidar dela mais... Que estaria desprotegida, vulnerável... Seus dedos escorregaram um pouco mais, e ofegou. Fechando seus olhos, agarrou-se com força à viga, sabendo que cada segundo que aguentasse era outra possibilidade de vê-la de novo. Rasgando a carne e o músculo, distinguindo a pequena explosão de suor sobre seu rosto e que gotejava até seu pescoço em salgados arroios.
Lottie, ele pensou no medo e na agonia. Havia tanto que finalmente entendia, agora que era muito tarde. O
pensamento dela seria o último de sua vida, seu nome o som final que seus lábios fariam. Lottie...
De repente havia uma pressão brutal e apertada sobre seu braço, como se uma braçadeira de ferro se sujeitasse ao redor dele.
— Tenho-te. — A voz firme de Sayer atravessou o clamor de seus pensamentos. Sayer estava sobre a viga com ele, apesar dos gemidos de advertência da madeira podre. Nick queria lhe dizer que lhe deixasse, que a estrutura não aguentaria seu peso, mas ele não podia convocar o fôlego. — Terá que confiar em mim, Sydney.
- seguiu Sayer. — Solta sua outra mão, e te levanta.
Cada instinto de Nick se rebelava com a sugestão. Liberar seu apertão, e pendurar suspenso, dependendo completamente da força do outro...
— Não há opção. - disse Sayer entre os dentes apertados. - te solte, maldita seja, e me deixe te ajudar.
Agora.
Nick se obrigou a liberar seu apertão sobre a madeira. Balançou-se livre durante um momento aterrador.
Sentiu o apertão de Sayer estreitar-se e um puxão poderoso para cima quando o agente o arrastou justo o bastante longe para equilibrar seu peso sobre o topo da madeira gretada.
— Balança. - resmungou Sayer, conservando seu agarre sobre o braço de Nick, e juntos manobraram longe da perigosa queda. Quando ambos se retiraram da viga e tinham encontrado a segurança de uma relativamente firme tábua, derrubaram-se costas com costas, ofegando violentamente.
— Maldito, — Sayer disse com voz áspera quando teve o fôlego suficiente para falar. - é um bastardo pesado, Sydney.
Desorientado, seu corpo atormentado com a dor, Nick tratou de fazer-se compreender que estava ainda vivo. Ele passou sua manga sobre sua frente empapada de suor e encontrou que seu braço com cãibras e tremendo, maltratados, os músculos voltando-se enlouquecidos.
Sayer se incorporou e o observou com clara ansiedade.
— Parece que estiraste alguns músculos. E sua mão parece que foi passada por uma peneira.
Mas estava vivo. Era muito milagre acreditar. Nick tinha um indulto que não merecia, e por tudo o que era sagrado, ia aproveitar. Quando pensou em Lottie, ele foi agarrado com o desejo escuro.
— Sayer, - conseguiu dizer com voz rouca, - acabo de decidir algo.
— Ah?
— De agora em diante, terá que encontrar seu próprio caminho no Fleet Ditch Sayer sorriu abertamente derepente, parecendo entender os motivos detrás de sua veemência.
— Suponho que pensa que é muito bom para este lugar, agora que é um visconde. Sabia que era somente uma questão de tempo antes que começasse a presumir.
Lorde Radnor estava claramente assombrado de ver Lottie na casa de sua família. Seu duro e negro olhar se moveu de seu rosto ao de Ellie, comparando as duas, catalogando as diferenças. Quando voltou a olhar para Lottie, seu rosto estava tenso com uma mescla de ódio e desejo.
— Não tem direito a interferir. - disse ele.
— Minha irmã é uma moça inocente e jovem que não lhe tem feito nada, - falou Lottie. — Ela não merece sofrer devido a minhas ações. Deixe-a em paz!
— Investi doze anos de minha vida em ti, - disse Radnor entre dentes apertados, dando um passo adiante.
— E serei retribuído por esses anos de uma ou outra maneira.
Lottie jogou uma olhada com incredulidade a seus pais.
— Não podem realmente ter a intenção de dar-lhe. Como podem ter ido além da decência? Meu marido disse que cuidaria e assumiria as dívidas.
— Ellie terá uma melhor vida desta maneira. - resmungou seu pai. — Lorde Radnor a manterá bem.
— Não lhes preocupa o fato de que ele tem a intenção de fazê-la sua amante? — Lottie olhou airadamente a todos, enquanto Ellie se encolhia de medo detrás dela e soluçava contra suas costas. — Bem, não a terá!
Parto-me agora, e levo Ellie comigo, e se alguém se atrever a pôr um dedo sobre nós, responderá ante Lorde Sydney.
A menção de Nick pareceu enfurecer Lorde Radnor.
— Como te atreve? Enganaste-me, traído e insultado além de todo o suportável, e agora pensa me privar da única recompensa que peço.
— Você não quer Ellie. - disse Lottie, lhe olhando firmemente. — Quer me devolver o golpe. Castigar-me por casar-me com outro.
— Sim. - explodiu Radnor com ferocidade, parecendo perder todo o autocontrole. — Sim, quero te castigar. Levantei-te da lama, e te deixaste cair outra vez. Corrompeste-te, e ao fazê-lo assim, privaste-me da única coisa que mais desejei. - chegou até ela em poucos passos agressivos. — Cada noite estou em minha cama imaginando-a com esse porco. - gritou-lhe na cara. — Como pôde escolher esse asqueroso animal, do que a mim? O homem mais repugnante e libertino sobre...
Lottie retirou sua mão e o golpeou com força, sua palma golpeando o lado de seu rosto com uma força entumecedora.
— Você não é apto para pronunciar seu nome!
Seus olhares se fecharam, e Lottie viu os últimos remanescentes de prudência desaparecerem dos olhos de Radnor. Ele estendeu a mão para ela, suas mãos fechando-se ao redor dela como as garras de um falcão, e a sacudiu sobre seus pés até que ela caiu contra ele. Detrás dela, Ellie pronunciou um grito de medo.
Os pais de Lottie pareciam muito atordoados para mover-se enquanto Lorde Radnor a arrastava fora da casa. Agarrando-a rápido em seu apertão, Lottie tropeçou e baixou tropeçando os degraus dianteiros. Radnor gritou algo a seus criados, enquanto ela lutava e se retorcia nos braços de Radnor, até que ele esbofeteou sua cabeça, atirando um doloroso golpe sobre seu ouvido. Lottie levantou e sacudiu sua cabeça para limpar uma chuva de faíscas brilhantes. Seu olhar encontrou Daniel, que tinha sido acossado pelos criados de Radnor.
Apesar do tamanho de Daniel, não era rival para eles dois.
— Milady. - gritou Daniel, e se cambaleou para trás quando um pesado punho rompeu em seu rosto.
Radnor afundou sua mão no cabelo de Lottie e enredou seus dedos fortes nas mechas fixadas no alto.
Fechando seu outro braço ao redor de seu pescoço, forçou-a a ir com ele até sua carruagem.
— Olhe aqui, Radnor - chegou a voz angustiada de seu pai. — Havíamos dito que pode ter Ellie. Libere Lottie, e vamos a...
— Esta é a que quero. - falou Lorde Radnor, arrastando a Lottie com seu antebraço afiançado ao redor de sua garganta, afogando-a e fazendo-a calar porque estava privada de ar. — Não mais regateio. Nem substituo.
Terei Charlotte e que condenem a todos vocês!
Lottie agarrou desesperadamente em torno de seu braço, seus pulmões se sentiam como se arrebentassem.
Ela não podia respirar... Necessitava ar... Raios vermelhos e negros turvavam sua visão, e se sentia que foram as forças no abraço exaustivo de Radnor.
Capítulo 15
Lottie não recuperou totalmente seus sentidos até que se sentiu sendo arrastada, levada a casa de Lorde Radnor em Londres. Sua cabeça esmurrada brutalmente, e sua garganta lhe doía enquanto lutava contra seu implacável apertão. Em algum lugar sob seu medo e sua fúria, era consciente de um profundo alívio de que Ellie tinha sido liberada. Sua irmã estava segura, e agora tudo se reduziu à confrontação que Lottie sempre tinha sabido que aconteceria, entre ela e o homem que a tinha dominado a maior parte de sua vida.
Embora Lottie fora consciente de poucas exclamações dos criados próximos, nenhum deles se atrevia a interferir. Todos tinham medo de Radnor, e não levantariam um dedo para lhe impedir de fazer o que desejasse. Ela se perguntava qual era seu objetivo ao levá-la aqui. Sua residência de Londres era o primeiro lugar que seria investigado quando tirasse o chapéu que falhava. Teria esperado que ele a levasse a um lugar remoto onde não pudessem ser facilmente encontrados.
Radnor a arrastou à biblioteca, bloqueou a porta fechada, e empurrou a Lottie em uma cadeira. Mantendo uma mão em sua garganta machucada, desmoronou-se no assento. Uns momentos mais tarde sentiram algo duro e frio golpear contra sua têmpora, enquanto uma de suas mãos apertava sua cabeça ao respaldo da cadeira.
O coração de Lottie deixou de pulsar quando compreendeu a razão pela que Lorde Radnor havia lhe trazido aqui. Já que ele não podia tê-la, tinha a intenção de destrui-la.
— Amava-te. - disse Radnor silenciosamente, parecendo absolutamente cordato, inclusive quando o final da pistola tremeu contra sua cabeça. — Te teria dado tudo.
Estranhamente, Lottie descobriu que era capaz de responder em um tom verdadeiramente racional, como se tivessem uma conversação e sua vida não fora a terminar-se com o puxão de seu dedo sobre o gatilho.
— Você nunca me amou. - falar machucava sua garganta, mas ela se forçou a seguir. — Não conhece o significado da palavra.
A pistola se agitou mais forte.
— Como pode dizer isso depois de tudo que sacrifiquei por ti? É realmente tão ignorante?
— Em todos os anos que me fiz conhecer um ao outro, você demonstrou dominação, obsessão, e desejo...Mas essas coisas não são amor.
— Então me diga o que é o amor. — Sua voz era espessa com desprezo.
— Respeito. Aceitação. Desinteresse. Todas as coisas que meu marido me mostrou somente em umas poucas semanas. Meus defeitos não lhe importam. Ele me ama sem condições. E o amo do mesmo modo.
— Deve-me seu amor. - disse ele severamente.
— Possivelmente poderia haver sentido algo por você se alguma vez tivesse tratado de ser amável. — Lottie fez uma pausa, fechando seus olhos quando ela sentiu a cotovelada da pistola mais forte em sua têmpora. — É estranho, mas nunca pensei que lhe importasse se me preocupava com você ou não.
— O fazia. - disse Radnor com fúria. — Mereço muito mais de ti, ao menos!
— Que irônico. — Uma risada sem senso de humor atirou de seus lábios secos. — Você exigiu a perfeição de mim, algo que eu nunca pude obter. E embora a única coisa que podia lhe dar, afeto, nunca pareceu desejá-
lo.
— Quero-o agora. — Radnor atordoou a Lottie ao dizê-lo. Mantendo a pistola apertada a sua cabeça, ele se moveu diante dela e se ajoelhou até que suas caras estiveram ao mesmo nível. Sua cara estava corada pela cor que queimava não sobre a superfície de sua pele, a não ser a profundidade por debaixo. Seus olhos estavam negros com a raiva, ou possivelmente desespero, e sua boca magra estava retorcida por alguma emoção poderosa. Lottie nunca o tinha visto assim. Ela não entendia que o movia, por que pareceria tão devastado pela perda, quando ela conhecia no fundo de sua alma que ele não era capaz de amar.
Sua mão parecida com uma garra tomou a sua, levou seus dedos que resistiam até sua bochecha que transpirava. Ela compreendeu com assombro, que ele tratava de fazer carinho...Aqui, assim, com uma arma sustentada em sua cabeça.
— Me toque. - resmungou ele febrilmente. - me diga que me ama.
Lottie manteve seus dedos imóveis e sem vida nos seus.
— Amo a meu marido.
Radnor avermelhou com cólera confundida.
— Não pode!
Ela quase se compadeceu dele quando olhou fixamente seus olhos perplexos.
— Sinto-o por você. - disse ela. — Não pode conceber amar a qualquer que seja menos que perfeito. Que solitário destino deve ser.
— Amava-te. - gritou ele, sua voz estriada com a raiva. — O fazia, maldita você seja, alma trapaceira!
— Então você amou a alguém que nunca existiu. Amou um ideal impossível. Não a mim. — Ela lambeu as gotas de suor sobre seu lábio superior. — Você não sabe nada sobre mim, milord.
— Conheço-te melhor que ninguém. - disse ele veementemente. — Não seria nada sem mim. Pertence-me.
— Não. Sou a esposa de Lorde Sydney. — Ela vacilou antes de dar voz ao pensamento que lhe tinha ocorrido mais de uma vez nos últimos dias passados. — E estou bastante segura de que por agora levo a seu filho.
Os olhos de Lorde Radnor se fizeram dois poços de escuridão completa em um rosto que estava branco como uma caveira. Ela percebeu que o tinha impressionado profundamente, que o pensamento de que estava grávida com o filho de outro homem nem sequer lhe tinha ocorrido.
Com delicadeza os dedos de Radnor se retiraram dos seus, e ficou de pé. O frio cilindro da arma nunca abandonou a têmpora de Lottie enquanto se moveu detrás dela uma vez mais. Ela sentiu a suada e plaina palma tomando ligeiramente seu cabelo como se o acariciasse.
— Arruinaste tudo. - disse ele com um tom curiosamente plano. A pistola martelada, o forte click retumbou contra sua pele. — Não fica nada. Você nunca será o que desejava.
— Não. — Lottie conveio brandamente. — Foi sempre inútil. — O suor frio gotejava abaixo seu rosto enquanto esperava que ele atirasse do gatilho.
Ante semelhante derrota absoluta, Radnor certamente a mataria. Mas ela não ia passar os últimos momentos de sua vida encolhendo-se de medo. Fechou os olhos e pensou em Nick... Seus beijos, seus sorrisos, o calor de seus braços ao redor dela. As lágrimas de pesar e alegria lhe ardiam detrás de suas pálpebras. Se só pudesse ter tido um pouco mais tempo com ele... Se só pudesse lhe haver feito entender o que ele significava para ela. Um suspiro lento lhe escapou, e esperou quase placidamente que Radnor atuasse.
Ao som de sua respiração, o cilindro da pistola se levantou em sua cabeça. No silêncio pesado que seguiu, Lottie abriu seus olhos, perplexos pela calma absoluta. Se ela não tivesse ouvido o débil chiado da respiração de Radnor, teria pensado que ele tinha abandonado a casa. Quando começou a dar-se volta, de repente foi assaltada com um som explosivo que fez zumbir seus ouvidos. Ela caiu para trás, suas costas golpeou o piso, enquanto um curioso e quente salpicão aterrissou sobre suas saias e braços.
Aturdida, tratou de tomar fôlego, e limpou entumecidamente as gotas vermelhas sobre seus braços até que estas se fizeram largas manchas de cor vermelha. Sangue, pensou assombrada, e olhou a forma desabada de Radnor. Ele estava no chão a uns pés longe dela, seu corpo contraindo-se com as convulsões da morte.
Convindo a contra gosto que teriam que fazer um relatório para Morgan, Nick e Sayer foram a Bow Street.
Nick estava sob uma considerável dor, nos músculos tensos sobre seus dedos quebrados, inchando-se sob o lenço com que os tinha enrolado. Estava cansado e dolorido, e logo que podia esperar para ir para casa com Lottie.
Assim que entraram no cômodo desvencilhado do edifício de Bow Street, dirigiram-se diretamente ao escritório de Sr Grant com a esperança de que tivesse voltado da sessão do tribunal da tarde. O empregado do tribunal, Vickery, levantou-se de um salto de seu escritório quando Nick e Sayer se aproximaram. Seu rosto com óculos registrou o assombro de seu aspecto imundo.
— Sr. Sayer, e Sr Lorde Sydney...
— Tivemos uma pequena briga perto de Fleet Ditch. - disse Sayer. — Está Morgan disponível para nos ver, Vickery?
Por alguma razão, o empregado lançou um estranho olhar a Nick.
— Está interrogando a alguém neste momento. - respondeu ele.
— Quanto tempo leva isso? — Perguntou Nick aborrecido.
— Não tenho nem idéia, Lorde Sydney. O assunto aparece ser de bastante urgência. Em realidade o visitante é seu criado, meu lorde.
Nick sacudiu sua cabeça como se não se inteirasse corretamente.
— O que?
— O Sr. Daniel Finchley. - esclareceu Vickery.
— Que diabos faz ele aqui? — Imediatamente preocupado, Nick foi ao escritório de Morgan e abriu a porta sem chamar.
O rosto de Morgan estava sério quando olhou a Nick.
— Entra Sydney. Sua chegada é oportuna. Que passou a sua mão?
— Não se preocupe por isso. - disse Nick com impaciência. Ele viu que o visitante era de verdade Daniel, seu rosto machucado e um olho enegrecido, sua librea rasgada. — Quem te fez isto? - perguntou com um cenho de preocupação. - por que estás aqui, Daniel?
— Eu não pude lhe encontrar em casa, meu lorde. - respondeu o criado com agitação. — Não sabia o que fazer, então vim para contar a Sr Grant. Algo passou a lady Sydney.
Uma sacudida de alarme percorreu a Nick, e sentiu que seu rosto ficava branco.
— O que?
— Lady Sydney foi visitar sua família esta manhã, a trazer a sua irmã. Ela me mandou que a acompanhasse, e me advertiu que poderia haver uma espécie de luta, porque os Howard não quereriam deixar à moça. - buscou em seu bolso e tirou uma nota enrugada, dando-a a Nick. — Lady Sydney deixou isto na carruagem.
Rapidamente Nick explorou a nota, seu olhar se atrasou sobre a primeira linha.
Por favor, me ajude. Mamãe diz que Lorde Radnor vem para me levar...
Amaldiçoando, Nick levantou seu olhar ao rosto pálido do criado.
— Continua. - grunhiu.
— Somente uns momentos depois de que lady Sydney e eu chegamos à casa dos Howard, Lorde Radnor apareceu. Ele entrou na casa, e quando saiu, parecia haver-se despedido de seus sentidos. Tinha seu braço ao redor da garganta de lady Sydney, e a forçou a entrar em sua carruagem. Tratei de lhe parar, mas seus criados me dominaram.
Uma onda de horror gelado se enroscou em Nick. Ele conhecia a profundidade da obsessão escura do conde. Sua esposa estava à mercê do homem que mais temia... E ele não esteve ali para ajudá-la.
Compreendendo voltou louco.
— Onde a levou? - grunhiu Nick, agarrando o casaco do criado com sua mão ilesa. — Onde estão eles, Daniel?
— Não sei. - respondeu o criado, tremendo.
— Matarei ele. - falou Nick, cruzando a porta a pernadas. ia destroçar Londres, começando com a casa da cidade do Radnor. Só lamentava que um homem não podia matar-se mais que uma vez, porque ele queria mandar mil mortes sobre o bastardo.
— Sydney. — Morgan interrompeu severamente, movendo-se tão rapidamente que alcançou a porta ao mesmo tempo que Nick. — Não vais sair precipitadamente daqui como um louco de atar. Se sua esposa estiver em perigo, necessita que mantenha a cabeça fria.
Nick soltou um grunhido parecido a um animal.
— Fora de meu caminho!
— Vou organizar uma busca. Posso enviar a quatro agentes e ao menos trinta guardas em aproximadamente cinco minutos. Diga-me os lugares mais prováveis aos que Radnor poderia ter levado a sua esposa, porque lhe conhece mais que eu. — O olhar tranquilo de Morgan encontrou Nick, e pareceu entender seu terror sem fundo, por sua voz suavizada enquanto acrescentava. — Não estás só nisto, Sydney.
Encontraremo-la, juro-o.
Nesse mesmo momento, uma breve batida na porta.
— Sr Grant, - chegou a voz surda de Vickery. - tem outro visitante.
— Agora não. - disse Morgan de maneira cortante. - lhe diga que volte amanhã.
Houve uma breve pausa.
— Sir Grant?
— Que demônios é, Vickery? — Morgan lançou uma olhada incrédula à porta fechada.
— Não acredito que queira se despedir deste.
— Importa-me uma merda quem é só lhe diga... - a voz de Morgan se acalmou quando a porta se abriu balançando-se com cuidado.
O olhar angustiado de Nick se disparou ao visitante, e quase caiu de joelhos pela visão.
— Lottie.
Molhada e manchada de sangue, Lottie obteve um pálido sorriso quando viu o rosto duro e branco de seu marido.
— Estive bastante ocupada hoje. - disse ela.
O som de sua voz pareceu soltar uma inundação de emoção selvagem. Gemendo seu nome, Nick a alcançou com grande rapidez. Arrastou-a contra ele em um abraço brutal que ameaçou sufocando.
— O sangue - disse incoerentemente, sua mão grande movendo-se sobre ela em uma busca frenética.
— Não é meu. — Lottie interrompeu, seus olhos se alargaram quando viu a mão enfaixada que sustentava o seu pulso. — Nick, foste ferido!
— Não é nada. — Nick atirou sua cabeça para trás, seu olhar atormentado varreu seu rosto. As trementes pontas de seus dedos riscaram a linha de sua bochecha e mandíbula. - meu Deus. Lottie... — Enquanto sua exploração infundida pelo pânico seguia, descobriu as contusões sobre sua garganta, e pronunciou um grito de fúria. — Inferno santo! Seu pescoço. Atreveu-se a... sou eu que vou dar uma surra a esse bastardo Lottie colocou seus dedos sobre sua boca.
— Estou bem. - disse ela com cuidado. Sentindo a maneira em que seu corpo grande tremia, ela estendeu a mão até seu peito em uma carícia calmante. Depois dos acontecimentos traumáticos das horas passadas, era tão maravilhoso estar com ele que seus lábios se curvaram em um sorriso tremendo. Ela olhou seu rosto poeirento, raiado por suor com preocupação. — De fato, acredito que posso estar em melhores condições que você, carinho.
Um gemido primitivo chegou de sua garganta, e a agarrou por seu braço direito, inclinando-se sobre ela avidamente.
— Amo-te. - disse ele com voz grave e agitado. — Amo-te tanto, Lottie. — Seus lábios cobriram os seu em um beijo com ardente ferocidade.
Claramente estava muito agitado para recordar que havia outros na sala. Lottie apartou seu rosto com um sorriso apagado.
— Eu também te amo. - sussurrou ela. — Aqui não, querido. Mais tarde, com mais intimidade, podemos... - lhe fez calar quando Nick agarrou sua boca uma vez mais.
De repente ela se encontrou elevada contra a parede por um homem agitado e excitado de um metro e oitenta de altura. Compreendendo que não havia nenhuma esperança de lhe submeter, Lottie acariciou suas amplas costas em um esforço para acalmá-lo. Ele a possuiu com beijos profundos e ferventes, enquanto seus pulmões trabalhavam tão violentamente que ela poderia sentir sua caixa torácica expandindo-se com cada fôlego. Ela tratou de consolá-lo, com cuidado esfregando a parte de atrás de seu pescoço enquanto sua boca trabalhou de forma violenta sobre a sua. Sua respiração chegava em tremores irregulares, e em meio dos beijos ele exalou seu nome como se fora um rogo.
— Lottie... Lottie... — Cada vez ela tratou de responder, ele se mergulhou em sua boca outra vez.
— Sydney. - disse Sr Grant depois de pigarrear prolongadamente falhando em chamar sua atenção! — Sydney...
Depois de muito tempo, Nick finalmente levantou sua cabeça.
Lottie empurrou seu peito, lhe fazendo afrouxar seu apertão sobre ela. Com o rosto vermelho em confusão e sem fôlego, ela viu que Sayer tinha desenvolvido um agudo e apaixonado interesse pelo tempo no exterior da janela, enquanto Daniel se desculpou para esperar fora.
— Sinto interromper sua reunião com lady Sydney milord. - disse Sr Grant arrependido. — Entretanto, devo insistir em ouvir o que passou com Radnor, e onde está neste momento, especialmente em vista das condições das roupas de lady Sydney.
Compreendendo que ele se referia às manchas de sangue sobre seu vestido, Lottie assentiu. Nick seguiu sustentando-a enquanto ela explicava.
— Lorde Radnor morreu por sua própria mão. - disse-lhe ao magistrado. — Ele me levou a sua casa, e depois de que falamos durante uns minutos, tomou sua própria vida.
— De que maneira? - perguntou Sr Grant com calma.
— Ele usou uma pistola. — Lottie sentiu o tremor que percorreu o corpo de Nick ante as palavras. — Estou perdida para explicar suas ações, exceto dizer que ele parecia totalmente louco. Disse a seus criados que deixassem seu corpo exatamente como estava e que não tocassem nada, porque você poderia desejar enviar a um agente para investigar a cena.
— Bem feito, milady. - disse Sr Grant. — Posso convencê-la para responder somente umas poucas perguntas mais?
— Amanhã. — Nick disse bruscamente. - passou por suficiente hoje. Tem que descansar.
— Eu estaria mais que feliz de lhe contar cada detalhe, - respondeu Lottie a Sr Grant, - se você enviar um doutor para assistir a mão de Lorde Sydney, e também jogar um olhar a nosso criado.
Os olhos verdes do magistrado se enrugaram encantadoramente em suas comissuras.
— Enviemos o doutor Linley de uma vez — Eu irei lhe buscar. - ofereceu-se Sayer e abandonou o escritório rapidamente.
— Excelente. - comentou Morgan, seu olhar voltando para Nick. — E enquanto esperamos Linley, meu lorde, possivelmente possa me explicar como adquiriu suas feridas, e por que parece e cheira como se houvesse estado vadiando pelo Fleet Ditch.
Muito mais tarde, quando estavam em casa na cama e tinham falado pelo que pareceram ser horas, Nick contou a Lottie os pensamentos que tinha tido nos momentos perigosos quando tinha pensado que morreria no depósito. Enquanto Lottie escutava, deitada na dobra de seu braço, riscando círculos brandamente com as pontas de seus dedos através do cabelo sobre seu peito. Sua voz era profunda e sonolenta pelos efeitos da medicação para a dor que o Doutor Linley tinha insistido em lhe dar antes de colocar e entalar seus dedos.
Nick o tinha tomado só porque a alternativa era a perspectiva pouco digna de ser sujeito no chão pelo Sayer e Morgan enquanto o doutor colocava o remédio por sua garganta.
— Nunca desejei tanto viver como agora, pendurando nessa madeira podre. - disse Nick. — Não podia suportar pensar em não ver-te mais. Tudo o que desejava era tempo contigo. Passar o resto de minha vida contigo. Não me importa nada mais.
Murmurando seu amor a ele, Lottie beijou a sedosa pele dura de seu ombro.
— Recorda quando te disse uma vez que tinha que ser detetive? — Perguntou.
Lottie assentiu.
— Disse que estava entregue ao desafio e o perigo.
— Agora não. - disse ele veementemente.
— Agradeço a Deus por isso. - disse Lottie com um sorriso, incorporando-se sobre um cotovelo. — Porque me tenho feito bastante viciada em ti.
Nick riscou a curva iluminada pela lua de suas costas com seus dedos.
— E finalmente sei o que desejar.
Perplexa, ela baixou o olhar até ele enquanto as largas mechas de seu cabelo se arrastaram sobre seu peito e ombros.
— O que?
— O poço dos desejos.- recordou-a.
— Ah, sim... — Lottie baixou sua cara até seu peito e acariciou com o nariz a pele suave, recordando essa manhã no bosque. — Não pediu um desejo.
— Porque não sabia o que queria. E agora sim.
— Que desejas? - perguntou meigamente ela.
Sua mão escorregou detrás de sua cabeça, arrastando sua boca até a sua.
— Te amar sempre. - sussurrou ele justo antes de que seus lábios se encontrassem.
Epílogo
Uma hora depois de que o Master John Robert Cannon nascesse, Sr Ross levou seu filho bebê à sala, onde os amigos e a família esperavam. Um coro de exclamações suaves e encantadas saudou a vista do bebê adormecido abrigado em uma manta ajustada por um cordão. Rendendo o vulto a sua radiante mãe, Catherine, Sr Ross se dirigiu a uma cadeira e se deixando cair nela com um comprido suspiro.
Estudando a seu cunhado, Nick refletiu que ele nunca o tinha visto parecer tão esgotado e acovardado. Sr Ross tinha desafiado a convenção ficando com sua esposa enquanto ela estava de parto, porque era incapaz de esperar fora enquanto ela sofria o trauma do parto. Com seu cabelo negro despenteado e sua suprema confiança em si mesmo temporalmente desaparecida, Sr Ross parecia muito mais jovem do normal... Um homem normal que necessitava desesperadamente uma bebida.
Nick verteu um brandy no aparador e o trouxe.
— Como está Sophia? — Perguntou.
— Melhor do que eu. — Sr Ross admitiu e recebeu a taça com gratidão. — Obrigado. — Fechando seus olhos, tomou um profundo gole de brandy, lhe deixando acalmar seus nervos forçados. — Bom Deus, não sei como as mulheres o fazem. - resmungou ele.
Sendo completamente ignorante no campo feminino do parto, Nick se sentou em uma cadeira próxima e o observou perplexo.
— Teve dificuldades Sophia?
— Não. Mas até o mais fácil dos partos me parece um esforço Hercúleo. — Parecendo relaxar-se ligeiramente, Sr Ross bebeu mais um gole de brandy. Surpreendeu ao Nick por sua ingenuidade insólita. — Isto faz que um marido tema retornar alguma vez à cama de sua esposa, sabendo a que conduzirá tudo finalmente. Enquanto ela estava no parto, custava-me acreditar que eu era responsável por fazê-la passar por isso. - sorriu ironicamente. — Mas logo, é obvio a baixa natureza de um homem ao final ganha.
Nick deu uma olhada em Lottie com repentina consternação. Como as outras mulheres, ela olhava o bebê, seu rosto suave e radiante. Uma de suas mãos descansava brandamente sobre a curva de seu próprio estômago, onde seu filho crescia. Sentindo seu olhar, Lottie elevou a vista com um sorriso e enrugando seu nariz travessamente.
— Maldita seja. - murmurou Nick, compreendendo que ele não ia estar em melhor condição que Sr Ross, quando seu próprio filho nascesse.
— Sobreviverá. - assegurou-lhe sir Ross com um sorriso repentino, lendo seus pensamentos. — E estarei ali para beber brandy com você depois.
Eles trocaram um amistoso olhar, e Nick sentiu um brilho inesperado de aprecioação pelo homem que tinha sido seu adversário durante tantos anos. Sacudindo sua cabeça com um sorriso pesaroso, estendeu sua mão a Sr Ross.
— Obrigado.
Sr Ross sacudiu sua mão em um breve e forte apertão, parecendo entender por que Nick lhe agradecia.
— Então tudo valeu a pena? — Perguntou silenciosamente.
Recostando em sua cadeira, Nick olhou uma vez mais a sua esposa, amando-a com uma intensidade da qual nunca se teria acreditado capaz. Pela primeira vez em sua vida estava em paz com ele e com o mundo, não mais atormentado pelas sombras do passado.
— Sim. - disse simplesmente, sua alma se iluminou de felicidade enquanto Lottie voltava a lhe olhar uma vez mais.
Lisa Kleypas
O melhor da literatura para todos os gostos e idades