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Series & Trilogias Literarias
Alex
Eu tinha lido aquela frase de William Shakespeare em algum texto, mas não me lembrava exatamente em qual e vendo Charlotte se afastar sem olhar para trás, percebi o quanto eu tentava acompanhar o fluxo e o quanto ele me afogava.
Não que fosse amor, claro que não era! Mas era algo que me impulsionava em sua direção, que me fazia insistir, não desistir, e desejar, até mais do que eu poderia.
Ela seguiu e eu corri até meu carro que daquela vez estava um pouco mais distante. Demorei longos minutos prendendo a prancha para evitar surpresas. Quando voltei, Charlotte me aguardava em uma mesa afastada.
- Oi – sentei inseguro sobre como iniciar a conversa.
- Leu o meu material? – droga! Ela falaria sobre o livro.
E o que eu esperava? Charlotte não quis transar comigo, não me atendeu, mal respondeu as minhas mensagens e quando o fez foi bastante sucinta e fria. Eu deveria imaginar. Ela era uma menina, uma garota assustada com a possibilidade de ser reprovada, somente por isso entrou naquele barco comigo, o que não significava que se envolveria, que aceitaria viver um relacionamento com um homem muito mais velho, cheio de problemas e preocupações... Claro que ela buscaria alguém melhor.
- Li. Como sempre, está muito bom. Você evoluiu muito. Está incrível. Como pensa terminar a história? – ela me olhou e por um breve segundo vi em seus olhos um certo medo ou receio.
- Ainda não sei. Acho que eles vão se separar – desviou o olhar e mordeu os lábios. Aquilo não era nada bom.
- É um risco muito grande. As pessoas não gostam de finais tristes. Normalmente o casal termina junto – arrisquei e não sei por que, de repente, achei que falávamos de nós dois.
- Não sei se estes são os planos deles – seus dedos estavam apertados uns nos outros em sua mão entrelaçada sobre a mesa.
- Você criou os personagens.
- Acho que você tem experiência suficiente para saber que personagens possuem vida própria.
Às vezes o autor até tenta dar um rumo diferente, mas no final sai exatamente como eles querem – concordei com a cabeça e dei risada. Ela era mesmo uma escritora, precisava apenas de um empurrão para se encontrar e foi o que eu fiz.
E aí? Acabaria daquela forma? Era o fim? Seria daquele jeito?
- Charlotte, por que não tem atendido minhas ligações?
Ela se encolheu na cadeira, intimidada. Mas eu precisava ser mais incisivo. Precisava encontrar as minhas respostas.
- Estive ocupada. Meus pais... meu pai principalmente, tenta me controlar de todas as formas...
- Você tem vinte e um anos, pare de agir como uma criança.
Perdi a paciência. Charlotte tanto poderia me atender que naquele momento estava ali comigo.
Ela apenas usava a desculpa do pai para justificar sua atitude. O que ela pretendia com isso?
- Alex, eu não quero falar sobre esse assunto nesse momento – Charlotte me encarou como se estivesse me desafiando.
- E quando falaremos?
- Qual é o seu problema?
Ela também perdeu a paciência, suas mãos foram da mesa ao seu colo, mas o garçom se aproximou e com um olhar rápido na direção do rapaz, ela se calou, visivelmente perturbada.
- Vão fazer o pedido? – o garoto parecia estar sem vontade de atender a um casal estressado.
- Uma tequila, por favor. – o quê? Ela pediria tequila? Charlotte não tinha limites.
- Dois sucos de laranja e cancele a tequila – olhei firmemente em seus olhos deixando claro que eu estava no controle da situação.
- Pode trazer o suco de laranja, mas a tequila continua – ela me encarou de volta arqueando uma sobrancelha em desafio. Charlotte era incontrolável.
- Charlotte...
- Com licença – o rapaz saiu apressadamente anotando o pedido como ela determinou. Fiquei com muita raiva.
- Não pode me atender, me encontrar, mas pode beber e voltar bêbada para casa.
- Não vou ficar bêbada por causa de uma tequila. Pare de agir como se fosse o meu pai, eu já estou tensa o suficiente – nos encaramos.
Ela não desistiria.
Eu tive que recuar.
- O que aconteceu?
- Não sei do que está falando – cruzou os braços na frente do peito e encarou o mar.
Minha aluna relaxou ligeiramente apesar de continuar na defensiva. Puxei o ar buscando ter paciência, o que já era quase impossível. Charlotte só podia estar me fazendo de bobo fingindo não entender sobre o que eu falava. O que mais eu poderia cobrar dela?
Definitivamente eu não sabia o se passava na cabeça daquela garota quando ela decidia ser irritante.
- Você não me atendeu, não retornou minhas ligações e nem minhas mensagens. Não compareceu à aula. Estou confuso, Charlotte! Pensei que precisasse de ajuda e que tinha pressa, porém você simplesmente recuou e desapareceu.
- Eu já expliquei... meu pai... – ela fez cara de cansada. A perfeita menina mimada e irritante.
- Por favor! – baixei meu rosto em minhas mãos tentando conter a raiva. – Por favor, Charlotte!
Pare de usar seu pai como desculpa. Você não é mais uma adolescente e sabe muito bem que existem maneiras de retornar uma ligação sem que ele veja e escrever uma mensagem é definitivamente algo muito particular, então não utilize este argumento comigo novamente.
Levantei o rosto para encará-la. Minha aluna estava assustada. Ela pareceu querer falar algo, vacilou várias vezes até desistir e voltar a olhar o mar. Eu estava pronto para atacar novamente quando nossos pedidos chegaram.
O rapaz, ainda ansioso para estar bem longe dali, colocou os dois sucos sobre a mesa e a tequila na frente de Charlotte que o olhou e sorriu. Ela só podia ser louca. Foi a minha vez de recuar, encostando-me a cadeira e cruzando os braços no peito para assisti-la desempenhar o perfeito papel de adolescente inconsequente.
E ela tinha vinte e um anos.
Charlotte pegou a tequila, jogou no suco de laranja e mexeu a mistura com o canudo, sem tornar a me olhar. Ela parecia concentrada, o que me levou a pensar o quanto de coragem ela precisava para fazer o que eu tinha certeza que faria: me dizer que estava desistindo de tudo. Não havia outra explicação para aquela atitude.
Mas a menina a minha frente levantou o olhar, me encarando com aqueles olhos claros como o dia e eu senti que havia algo diferente. Com uma segurança que eu desconhecia nela, segurou o canudinho com jeito e o colocou na boca.
Puta merda! Como ela conseguia ser sensual fazendo algo tão banal?
Depois, utilizando a sua sensualidade nata, desceu o olhar até os meus lábios enquanto sugava o líquido aos poucos. O movimento foi breve e delicado, logo ela já me olhava nos olhos novamente, encontrando os meus presos aos seus lábios, como um garoto apaixonado e inexperiente.
- Onde estávamos mesmo?
Toda a atmosfera mudou. Ela voltou a sorrir e seu rosto ficou um pouco corado. Bem lentamente correu os dedos pelo canudo, sem nunca desviar os olhos do meu rosto. Droga! O que ela estava tentando fazer?
- Você... – não conseguia me concentrar muito bem. – Desapareceu. Vai tomar tequila de canudinho? – engoli seco tentando fazer com que minha voz saísse o mais normal possível.
Ela desviou seus olhos dos meus, corando um pouco mais. Era tão lindo quando aquilo acontecia. Seus lábios formaram um sorriso inocente e ela colocou o canudo na boca novamente, levantando os olhos para encontrar os meus. Puta que pariu! Sua língua, quase que imperceptivelmente percorreu a pontinha do canudo e depois seus lábios se fecharam nele.
- Charlotte... – respirei profundamente tentando reorganizar meus pensamentos.
- Alex, temos duas semanas para que meu projeto seja aprovado. Meus pais irão embora dentro de alguns dias. Você está satisfeito com o meu trabalho e eu só preciso escrever mais um capítulo.
Onde está o problema?
Onde? Merda! Ela estava mesmo disposta a acabar com o nosso... as nossas... Droga! Como definir em que tudo se transformou? E eu? Eu queria mesmo que chegássemos a um final?
Ela estava certa. O projeto dela já deveria ter sido aprovado. Não precisávamos mais das aulas. Não havia mais motivos para encontros, nem para chegarmos aos finalmente. Então por que me sentia tão incomodado com isso? E por que diabos ela estava alisando e roçando aquele canudo com os lábios?
- Seu projeto já está aprovado, Charlotte – parei analisando sua reação.
Ela recuou ligeiramente, surpresa com a minha resposta, mas sem deixar de me encarar. Por um segundo eu me vi segurando a respiração. Aquela informação era a que definiria nosso próximo passo. Com o projeto aprovado e minha aluna sabendo disso, teríamos que definir o que seria de nós dois.
Charlotte pigarreou, endireitou os óculos, piscando algumas vezes com mais força, e endireitou os ombros. Ótimo! Consegui desconcertá-la. Era o que eu precisava.
- Então... – ela passou as mãos espalmadas pela mesa, sem tocar realmente, fingindo ajeitar a toalha.
Naquele instante eu entendi o que Charlotte tentava fazer. No momento em que ela percebeu que não havia mais razão para continuarmos com aquela loucura, seu corpo perdeu toda a postura sexy, a mulher fatal que se mesclava com a menina ingênua simplesmente desapareceu.
Charlotte estava jogando. Puta que pariu! Ela sabia o que conseguia fazer comigo quando me seduzia. Conhecia suas armas, as minhas reações e brincava comigo simplesmente para me manter no jogo.
Incapaz de me controlar senti a raiva me dominando. Charlotte era apenas uma menina e eu me deixava levar e seduzir, apesar de saber que não chegaríamos a lugar algum. Onde eu estava com a cabeça? Aliás, onde ela estava com a cabeça? O que acreditava que eu pretendia com aquilo tudo?
Como podia acreditar que conseguiria me dobrar com sexo?
Charlotte não enxergava nada do que havia dentro de mim e definitivamente, não sabia nada do que eu sentia por ela.
- Pare de jogar comigo! Eu sei muito bem o que está tentando fazer, Charlotte. Não sou mais nenhum menino. Você sabe que mexe comigo e está tentando me confundir. Não. Faça. Isso – inexplicavelmente me senti tão incomodado com a situação que precisei confrontá-la. – Essa atitude não é o que me atrai em você. Não é sexo! Não posso mentir que gosto quando é ousada ou quando tenta me seduzir, mas a mulher que eu conheço... A Charlotte que me encantou... ela fica corada. É
inocente até quando não precisa. É doce, gentil, tem uma boca suja da porra e mesmo assim é encantadora. Esta é a minha Charlotte e não a que você está representando sentada aí procurando desculpas para me expulsar de sua vida. Não precisa fazer isso. Eu não vou insistir no que você não quer. Acho que já te dei provas suficientes na noite em que se recusou a transar comigo. Basta dizer que acabou e eu sigo o meu caminho. Mas diga olhando nos meus olhos. Não fique se escondendo atrás de mentiras, desculpas e subterfúgios. Seja madura.
Charlotte
- Seja madura – ele finalizou e continuou me encarando.
O nó em minha garganta apertava cada vez mais. Que merda! O que eu tinha feito?
Quando encontrei Alex na praia, achei que ele estava seguro demais para quem esteve procurando fazer contato por três dias. Era como se eu não tivesse nenhuma importância em sua vida, apesar de toda sua insistência. Na minha cabeça, Alex queria apenas finalizar o que tínhamos começado e eu não tinha forças suficientes para resistir a ele.
Sabia que me machucaria. Claro! Ele iria me convencer a transar e eu me entregaria àquele homem maravilhoso. Não havia como negar. Mas e depois? Eu voltaria para casa quebrada em diversos pedaços e tentaria reconstruir a minha vida.
Não era este o meu objetivo? Quando o vi não foi este o meu pensamento? Ele não tinha culpa.
Eu provoquei aquela situação. Eu praticamente implorei para que transasse comigo. O envolvi naquela história absurda. Não tinha o direito de dizer não.
Para mim, Alex estava longe de me escolher. Tiffany era linda, inteligente, a sua melhor autora, não havia escolha melhor, nem mais sensata para a sua vida. E tal pensamento me humilhava e me fazia, apesar do absurdo, desejar não desistir. Não perder.
Quando o vi me olhando do jeito que me olhava quando estava excitado, e que aquecia tudo dentro de mim, meu primeiro pensamento foi: e Tiffany? A forma doce e sensual como ela se expressava para ele naquela noite. O jeito gentil e habilidoso com que ele se projetava para ela.
Droga!
Eu queria ser mais para ele. Queria que Alex me desejasse como desejava uma mulher tão experiente quanto Tiffany. Fui muito infantil, confesso. Ele tinha razão. Suas palavras doeram mais do que uma bofetada, porque atingiram o meu coração e me desarmaram completamente.
- Desculpe... eu... – oh, merda! Eu ia chorar. Não devia, não podia.
Alex tirou uma nota de cinquenta reais do bolso e jogou sobre a mesa levantando-se em seguida.
- Venha – levantou a mão em minha direção em um convite que eu não sabia ao certo para o quê.
O que ele queria? Eu não tinha como argumentar ou me negar a segui-lo independentemente do que ele pretendia fazer. Suas palavras martelavam em minha mente me confundindo.
Segurei em sua mão e ele me levou para fora. Caminhamos de mãos dadas pelo calçadão. Ele à frente, com pressa e eu seguindo-o até o seu carro. Alex parou, abriu a mala, tirou de lá uma sacola pegou uma bermuda e uma camisa, puxou a roupa de surfe que estava usando, ficando apenas de sunga, vestiu-se e voltou a me puxar em direção ao banco do carona.
- Para onde vamos?
- Para a minha casa – ele não me olhava, também não estava mais tão bravo. Sua voz saiu até educada, o que me deixou ainda mais confusa. – Não poderíamos continuar nossa conversa em um lugar tão público.
Ah tá! Eu ia chorar e ele não queria uma cena. Que droga! Alex queria apenas se livrar da situação constrangedora e colocar um ponto final naquele momento complicado da sua vida. Quem sabe até se sentir livre, finalmente, para viver tudo o que desejava ao lado da Tiffany. E eu senti vontade de atacá-lo com tapas para extravasar toda a minha tristeza, mas apenas obedeci. Era melhor terminarmos com aquilo logo de uma vez.
Fizemos o curto caminho em silêncio. Alex mantinha os dedos apertados no volante e sua expressão não era nem um pouco amigável. Fiquei com bastante medo do que viria. Ele poderia exigir que fizéssemos sexo? Não. Ele não faria uma coisa dessas. Mas poderia? E eu? Me negaria a atendê-lo? Meu rosto esquentou consideravelmente, fazendo-me encolher no banco de couro.
Nunca antes eu havia me sentido tão vulnerável.
Quando chegamos ele desceu do carro, abriu a porta do carona e novamente segurou em minha mão, levando-me para dentro da sua casa. Entramos sem parar para nada e ele logo me conduziu até um dos bancos altos da cozinha, colocando-me sentada em um deles, igualando nossas alturas.
Pousando as mãos em minhas coxas me encarou seriamente. Primeiro apenas me observou, paralisando-me como sempre fazia quando aqueles olhos exigiam os meus. Suas feições duras foram relaxando à medida que me olhava como se precisasse memorizar cada detalhe. Tive vontade de levar as mãos aos óculos, ele foi mais rápido e os retirou do meu rosto, deixando-o no balcão.
- Agora me responda, Charlotte. O que você realmente quer?
Puta merda! O que eu queria? Nem eu mesma sabia. Aliás, eu sabia, mas poderia dizer a ele?
Como dizer ao meu professor que o queria para mim e apenas para mim? Ele riria de minha cara e me mandaria de volta para o berçário. Tudo bem! Ele não faria isso, afinal de contas tinha até concordado em transar comigo, então não poderia me ver como uma menina.
Mesmo assim, eu não tinha o direito de jogar aquela bomba em seu colo, de contar sobre a minha paixão e fazê-lo se sentir ainda mais culpado. Não era justo. Com nenhum de nós.
- O que... eu quero? – pisquei confusa forçando meus olhos a se acostumarem com a ausência dos óculos.
- Sim. Preciso saber se está desistindo. É o que você quer? Colocar um ponto final?
Ah, droga! Claro que eu não queria. Na verdade eu queria mais do que algumas aulas de sexo.
Muito mais que alguns momentos de sexo com o meu professor. Eu o queria. Como homem, namorado, marido. Para uma vida inteira de sexo e tudo o que vem junto.
- Por que está tão confusa? Está me deixando frustrado.
- Eu... – olhei em seus olhos e ele me aguardava angustiado. – Não quero que acabe – estas palavras poderiam ser suficientes para ele, mas não para mim. Alex relaxou visivelmente.
- Ótimo! Eu também não.
Seus lábios tomaram os meus. Foi um beijo urgente e repleto de saudade.
Para mim foi um beijo doce. Delicioso. Que fez meu corpo inteiro reagir. Era Alex quem estava comigo, não poderia ser diferente. Eu o amava, não importava o depois e sim o que seria enquanto estivéssemos juntos. Era assim que deveria ser.
Ele me manteve firme em seus braços, se encaixando entre as minhas pernas. Suas mãos percorreram minhas costas, com carinho e devoção.
- Ah, Charlotte! Que saudades! – suspirou em meus lábios e recomeçou o beijo.
Alex não sabia o quanto a saudade havia me castigado. Muito menos o quanto estar em seus braços novamente revigorava o meu corpo. Era como morfina para quem sente dor. Aliviava e curava cada ferida de maneira milagrosa.
Suas mãos ficaram mais ousadas. Buscavam por mim, me apertando com desejo. Deixei as minhas sentirem seus cabelos por entre os dedos, me deliciando. Como eu o desejava!
O celular dele começou a tocar fazendo meu professor gemer de descontentamento. Ele não interrompeu o beijo, decidido a ignorar a ligação. Continuamos o que fazíamos e ele me puxou colando nossos corpos, abrindo mais minhas pernas permitindo que eu sentisse a sua ereção roçar meu corpo. Fiquei quente em diversos graus.
O toque recomeçou insistindo e nos desconcentrando. Alex se afastou um pouco, já com o celular na mão, e conferiu o visor. Com um muxoxo resolveu atender, antes me deu um selinho carinhoso e doce.
- João – começou a falar ainda contrariado. – O quê? Mas... – uma pausa rápida. - Droga! – outra pausa - Não, tudo bem – neste instante a campainha da porta tocou. Fiquei tensa. - Ela acabou de chegar. Falo com você depois – desligou e olhou para mim. – É a Lana. João ligou para avisar – fiquei sem graça e ele riu.
O professor João Pedro realmente sabia o que rolava entre nós. Isso me deixava constrangida, afinal de contas, ele também era meu professor e eu estava fazendo somente aulas de sexo com Alex e não tendo um relacionamento.
- Vou ver o que ela quer – caminhou para a porta para receber a irmã.
Me endireitei no banco, orando para que minha pele extremamente branca não estivesse salpicada de pontos vermelhos, que era como eu normalmente ficava quando meu corpo inteiro se acendia ao toque do meu professor.
Lana já havia dado provas do quanto era atenta aos detalhes e aquele, com certeza, não passaria despercebido. Muito menos o fato de me encontrar pela segunda vez na casa do meu professor, o que não era nada normal.
- Oi!
Ela entrou sem se importar com o que ele estava fazendo, mas estancou na sala quando me viu sentada no banco da cozinha. Daquela vez nem tínhamos um computador para disfarçar e minhas mãos não paravam quietas, buscando os óculos, que não estavam em seu devido lugar, ou alisando meus cabelos, ou até mesmo, ajeitando meu vestido.
Eu era uma péssima atriz. Alex estava tranquilo, relaxado, nem um pouco incomodado.
Estranho!
- Lamara – Alex acompanhou a irmã até a cozinha. – Qual o problema desta vez?
- Oi, Charlotte! – seu sorriso foi imenso. – Parece que estou interrompendo novamente. Deixe-me adivinhar: nada de sorvete de chiclete. Que infelicidade a minha – e olhou acusadoramente para o irmão.
- Tudo bem. Eu tenho mesmo que ir – Alex me encarou sem saber o que fazer. – Meus pais estão me esperando. Vamos visitar uma das alas do hospital dele. Eu prometi que voltaria em meia hora – justifiquei-me.
- Posso te convidar para jantar conosco amanhã? Será um momento em família, porém estou abrindo algumas exceções, o que pelo visto não é nenhum problema para o meu irmão, já que ele anda fazendo as suas próprias concessões. – piscou para mim. - Papai e mamãe querem muito passar algum tempo com os filhos. – Alex revirou os olhos e depois sorriu lindamente.
- Tenho um compromisso agendado para amanhã à noite. Desculpe! Meus pais estão na cidade e eu preciso acompanhá-los.
- Oh! É mesmo uma pena. A namorada do nosso irmão também não poderá ir. Ela também tem compromisso.
- Namorada? Desde quando ele namora? – Alex riu interessado.
- Pois é maninho. Seus irmãos estão passando na sua frente – Lana me olhou e sorriu amplamente, como se quisesse dar uma forcinha. Fiquei envergonhada. Muito envergonhada. – Você vai acabar encalhado. Desses quarentões que ficam pulando de uma namorada para a outra. Até ficar velho, feio e ninguém mais te querer.
- Não vou ficar encalhado – ele me olhou com ternura. – As mulheres são complicadas e frustrantes. Quando você pensa que está dando tudo a elas, descobre que não chegou nem perto – sorriu e a irmã o acompanhou.
Não entendi o que ele dizia e fiquei confusa. Ele falava do fato de eu sempre cobrar para que transássemos? Ou do nosso problema em relação a Tiffany e minha imposição sobre novos parceiros?
- Preciso mesmo ir – levantei do banco me concentrando em não cair de tão desconcertada que eu estava.
- Eu vou levar você. Seu carro ficou na praia? – Alex perguntou apreensivo.
- Ah! Sim, não se preocupe é pertinho. Posso voltar andando.
- Com esses sapatos? – Lana se intrometeu. – Hummm! Não vai ser nada legal.
Olhei para os meus pés e lembrei do motivo de nunca gostar do que minha mãe me obrigava a usar. Aqueles sapatos, por exemplo, apesar de não serem altos, com certeza me deixariam incapacitada em menos de dez metros.
- Posso pegar um táxi.
- Não. Eu levo você. Lana me espere só um minuto, vou levar Charlotte até o carro e volto logo.
- Tudo bem! – ela se virou em direção à sala como se estivesse na própria casa.
- E não fique fuçando as minhas coisas – pegou a chave e passou pela porta.
- Deus me livre! Nem quero imaginar o tipo de coisas sórdidas que posso encontrar. Tchau, Charlotte querida! – ri da intimidade. Lana era adorável. – Foi um prazer revê-la. Espero te encontrar mais vezes. – Ok! Ela era indiscreta, mesmo assim adorável.
- Tchau, Lana! Obrigada pelo convite – sorri e acompanhei Alex.
Descemos os degraus com ele segurando minha mão, como se fossemos um casal. Alex abriu a porta para mim, com um sorriso bobo no rosto. Senti minhas pernas tremerem.
- Não ligue para ela – ele disse ao dar partida no carro.
- Eu gostei de sua irmã.
- Ela gostou de você também – quase me abracei. - Quando vou te ver? – Ah, Deus! E como eu poderia saber?
- Não sei. Vou tentar fugir de novo – Alex puxou o ar, reprovando a minha infantilidade. – Meu pai é complicado. Você não entende.
- Não entendo mesmo – afirmou com veemência. – É impossível entender, Charlotte. O que ele pode fazer? Colocar um cinto de castidade eu sei que não é. Nem impedir que você saia por aí em busca de aventuras.
- Alex!
- Eu só queria entender por que tanto medo? Seu pai não quer que você namore, mas você já tem vinte e um anos e é uma mulher. Tem este direito.
- Eu tenho, só que a nossa situação é muito diferente. Não posso dizer ao meu pai que estou fazendo aulas de sexo com o professor responsável pelo meu projeto, muito menos explicar a ele como chegamos à conclusão de que estas aulas eram necessárias.
Alex gargalhou e balançou a cabeça sem acreditar em minhas palavras.
- Isso é muito surreal. Inacreditável! Você sabe em que ano estamos?
- Eu sei, aparentemente, ele não. Quando me casar precisarei estender o lençol branco com manchas de sangue para comprovar a minha pureza – cruzei os braços me sentindo ridícula com aquela conversa.
- Então você vai morrer neste dia, ou matar o seu pai, porque não haverá uma gota de sangue no lençol.
Ele passou uma mão em minha coxa, levantando um pouco o vestido e fazendo com que meu corpo fosse atacado por labaredas de fogo que me consumiam sem piedade. Por que ele tinha que fazer aquelas promessas?
Paramos próximos ao meu carro, ele desligou o motor e se virou para mim.
- Quero te ver amanhã – foi categórico.
- Alex... – ele me puxou e se apossou dos meus lábios. Um beijo ardente. Delicioso!
- Linda, eu quero te ver amanhã. Nem que para isso tenha que bater à sua porta e me apresentar a seu pai – essa possibilidade fez com que meu coração acelerasse.
- Vou dar um jeito. Prometo.
- Tudo bem. Te ligo hoje à noite. Atenda – advertiu com voz autoritária.
- Certo – claro que não atenderia se meu pai estivesse presente. – Preciso ir.
Alex me beijou novamente. Havia desejo em seus lábios, também delicadeza e carinho. Eu queria poder passar o resto do dia daquele jeito. Desta vez eu não me negaria a aceitá-lo.
- Te vejo amanhã – sussurrou em meus lábios.
Minha calcinha ficou incrivelmente molhada. Então me dei conta de que estávamos na rua.
Mesmo dentro do carro, se alguém passasse poderia nos ver. E se esse alguém fosse um aluno da faculdade? Ou o meu pai?
Droga! Não dava para ser mais paranoica.
- Tá. Tchau! – desci do carro trêmula. Alex sorria enquanto aguardava que eu entrasse no meu.
Bati a porta, dei partida e me afastei, desta vez meu coração estava em festa. Eu o tinha de volta e estava feliz!
Capítulo 18
“O amor é cego, por isso os namorados nunca veem as tolices que praticam”.
William Shakespeare
Alex
E era exatamente como eu me sentia, um tolo apaixonado que não conseguia seguir em frente se estivesse longe da sua paixão. Aos trinta e quatro anos estava totalmente inserido naquela frase de Shakespeare, um homem capaz das maiores tolices em nome de um sentimento que o controlava e que não era controlado.
Eu estava mais do que frustrado. Liguei para Charlotte quatro vezes na noite anterior e ela não me atendeu. Sequer enviou uma mensagem avisando que não poderia atender, ou que retornaria quando pudesse. Nada.
O que ela queria? Que eu realmente batesse em sua porta e enfrentasse o seu pai? Caramba!
Uma garota de vinte e um anos que morre de medo do pai? Era só o que me faltava. Aonde eu fui me meter?
O mais lógico seria cair fora. O problema do seu projeto final já estava solucionado e ela não precisava de mim para mais nada. Se eu simplesmente seguisse em frente com minha vida não haveria necessidade de me preocupar com Anita, Tiffany, faculdade, carreira de Charlotte, o diabo a quatro. Tudo voltaria a ser como antes, em seu devido lugar.
Exatamente como antes: vazio e sem cor.
Claro que até então eu nem fazia ideia de que me sentia assim. Estava bastante confortável mantendo distância de qualquer relacionamento. Minha postura em sala de aula não permitia que ninguém se aproximasse, pelo menos não as alunas, que era o certo. Sempre separei o lado profissional do pessoal. Quando estava a fim era só ir à caça e pronto. Sempre havia uma mulher disposta a passar algumas horas em minha cama. Era o suficiente, sem cobranças, nem satisfações.
Agora nada seria como antes. Simplesmente porque eu não conseguia mais ficar longe dela.
Dormir com Charlotte ampliou meus horizontes. Ela era quente, macia. Se encaixava perfeitamente em meus braços. Sem contar que havia algo de errado com aquela garota. Não era normal o tesão que eu tinha por ela. Nunca estava saciado. E olha que nem tínhamos transado de fato.
Andei pelo campus e me vi procurando desesperadamente por minha aluna. Não tínhamos aula, mas talvez cruzássemos pelos corredores, quem sabe no intervalo. E mais uma vez a insegurança e ansiedade me atacaram.
Que merda! Eu não era mais um adolescente, um idiota inexperiente que ficava correndo atrás da garota. Por que não entendia logo de uma vez e ficava na minha? Porém tal atitude era impossível e eu me via percorrendo com os olhos todo o ambiente, à procura dela. Sempre ela.
Como sou uma pessoa de muita sorte, Anita me encontrou primeiro. Não deu para disfarçar a cara de desagrado. Não queria aquele grude em meu pé, muito menos as suas conversas fúteis e o seu jeito oferecido. Será que Anita nunca perceberia que eu não estava afim?
- Alex! Nossa, adoro seu perfume – sorriu sedutoramente. Fiz um esforço imenso para não ser grosseiro.
- Eu também – continuei procurando pela minha aluna.
- Indo para a aula? – não. Estou procurando uma ponte para me atirar. Que saco! Ri com ironia.
- É só o que posso fazer aqui.
- Estou vendo que você hoje não está para conversa. Aconteceu alguma coisa? Problemas com algum aluno? – parei imediatamente. O que Anita estava tentando insinuar com aquela pergunta? O
que ela já sabia?
- Não. Por que está fazendo esta pergunta? – não queria ser rude, mas acabei sendo.
- Calma, Alex! Só perguntei porque estamos no final do semestre e seus alunos estão no último ano. Sempre surgem problemas... – respirei aliviado. Anita nunca poderia saber.
- Desculpe, Anita. Estou com a cabeça cheia hoje. É melhor me apressar ou vou acabar me atrasando. Vejo você depois da aula – não deveria ter dito esta última frase. Anita sorriu e seus olhos brilharam com a promessa. Droga!
Enfiei a cara no trabalho. Pensar em Charlotte, na confusão que ela provocava em minha mente, acrescida de todos os problemas que ela me trouxe, e, terminando com Anita, era demais para esgotar toda a minha paciência. O melhor a fazer era trabalhar e esquecer. Com isso nem senti o tempo passar.
Arrumei todos os papéis, coloquei em minha pasta e saí conversando com uma aluna que se dedicava em uma antologia de contos de terror. A iniciativa era ótima, porém os outros alunos envolvidos não conseguiam se destacar e agora ela se via desesperada para conseguir finalizar seu projeto. Mais uma que precisava de ajuda.
Assim que coloquei os pés para fora da sala de aula, Anita enlaçou meu braço e saiu me puxando.
“Ela nunca desiste?”
- Que tal um vinho hoje à noite para relaxar?
- Tenho compromisso. Um jantar em família – ressaltei antes que ela se convidasse.
- Alex, você nunca vai me dar uma chance? Só quero algumas horas para provar que consigo te fazer esquecer os problemas do final do semestre.
- Anita, eu agradeço sua preocupação, de verdade, mas ando mesmo sem tempo. Você, como professora, sabe o quanto esta época é difícil para nós. Vamos deixar este programa para outro momento – se eu não permitisse que uma porta ficasse aberta, ela me perseguiria até alcançar seu objetivo.
Foi neste instante que a vi. Charlotte cortava o campus em direção ao estacionamento. Ela estava linda! Usava um vestido preto, justo ao corpo e esvoaçante da cintura para baixo. Era curto e sensual. Os cabelos castanhos desciam pelas costas, balançando ao vento, enquanto andava apressadamente em direção ao seu carro.
Ela sorria, na verdade, ria livremente acompanhada de perto por um outro rapaz. Eu não deveria, mas senti ciúmes. Conhecia a figura alta, magra e sem graça que andava ao lado da minha aluna. Era um garoto lá da faculdade que fazia bem o estilo nerd e que eu já tinha visto uma porção de vezes acompanhando Charlotte.
Como era mesmo o nome dele? Pouco importava. Ele seguia a minha garota, carregando seu caderno e alguns livros e ria junto com ela. Olhando de fora era terrível admitir, mas eles pareciam tão adequados. Eram jovens, gostavam das mesmas coisas e ela ficava tranquila ao lado dele, coisa rara quando ela estava ao meu lado.
Droga!
Meu coração acelerou e a garganta ficou seca. Era ele o cara que a estava afastando de mim?
Ele era a escolha dela? Então por que ela disse que não estava desistindo? Apertei e soltei a mão um milhão de vezes tentando conter o suor que a umedecia. Uma enorme vontade de confrontá-la, de afastar aquele rapaz, de gritar para o mundo inteiro que ela era minha, e somente minha.
Infelizmente eu não poderia fazer isso. Não com Anita ao lado e, muito menos no meio da faculdade, onde apenas o pior poderia acontecer. Apesar de todos os medos e receios que gritavam em minha mente, eu não poderia deixá-la partir. Precisava agir antes que Charlotte desaparecesse.
- Com licença, Anita. Preciso resolver uma coisa.
Disparei o mais rápido possível em direção a minha aluna. Tentei evitar olhar para o garoto mais do que o necessário. Falhei vergonhosamente e tenho certeza de que minha cara não era das melhores.
- Charlotte! – gritei. – Charlotte!
Ela olhou para trás e parou hesitante. Olhou para o garoto ao seu lado demonstrando sua apreensão, o que me deixou ainda mais irritado. Ela se importava com ele. Senti toda a sua tensão antes mesmo de me aproximar. Charlotte ajeitou os óculos, os cabelos e o vestido, tudo ao mesmo tempo, como se não soubesse o que fazer.
O rapaz ficou um pouco assustado com a minha aproximação tão eufórica e confesso que gostei de saber que o intimidava. Talvez por este motivo não consegui me impedir de direcionar um olhar mortal a ele a cada segundo, mesmo estando ansioso para admirar a minha aluna.
- Oi! – consegui alcançá-la.
- Oi... Tudo bem? – Charlotte olhava para os lados um pouco apreensiva.
- Professor Frankli – o garoto falou em uma mistura de cumprimento e inquietação. Olhei para ele medindo-o e estreitando os olhos.
- Você é... – ele ficou desconcertado.
- Henrique... – gaguejou e eu sorri diabolicamente. – Henrique Almeida, professor. Da turma de...
- Ah, sim! Claro! Henrique Almeida, do grupo de xadrez, não é isso?
- Equipe. Somos uma equipe.
- Ok! – respondi sem muito interesse e o rapaz ficou incomodado.
Fazer o quê? Eu já detestava o garoto apenas por saber que ele era tão nerd quanto a Charlotte, mas também, e principalmente, por ele poder caminhar ao seu lado carregando os seus livros. Eu o odiava. E o pior de tudo, era que não deveria odiá-lo. Era tão antiético ter aquele sentimento, mas a última coisa que eu conseguia ser naquele momento era profissional.
- Precisamos ajustar alguns detalhes do seu projeto.
Olhei diretamente para a minha aluna, evitando assim despejar mais um pouco da raiva no tal do Henrique. Charlotte ficou vermelha e desconcertada.
- Alguns detalhes? Mas...
- Pensei que seu projeto já estava aprovado, Charlotte – o garoto se intrometeu e eu precisei fechar os olhos antes de continuar.
- Henrique, não é isso? – ele concordou recuando ligeiramente. – Eu preciso realmente resolver este problema com a Srta. Middleton, você poderia nos dar licença?
- Alex! – Charlotte esbravejou baixinho. O garoto olhou para ela, que suspirou afastando-se e depois para mim, que mantive minha postura encarando-o.
- Claro, professor! – ele colocou o material de Charlotte sobre o carro. – Vejo você depois? – e com esta pergunta ele fez com que eu sentisse vontade de matá-lo, sem dó nem piedade.
- Sim, obrigada por me ajudar com os livros.
- Disponha! – ele sorriu e foi embora.
- Qual é o problema, Alex?
- Você sumiu novamente! – estava irritado demais para fingir não me importar com tudo o que estava acontecendo. – Eu liguei...
- Alex... Por favor! Estou mesmo com pressa. Ontem houve um problema e não consegui te atender nem retornar, não posso explicar agora...
- Quando? Quando pretende me explicar? Isso é tão... frustrante! Eu realmente não sei o que esperar de você. E agora tem este... Henrique Almeida, que pode andar livremente com você pela faculdade.
- Qualquer pessoa pode andar livremente comigo – ela respondeu exasperada, olhando para os lados.
- Pelo visto menos eu.
Encaramo-nos por alguns segundos que foram o suficiente para dizer tudo. Charlotte soltou o ar e fez o que sempre fazia, ajustou os óculos e arrumou os cabelos que já estavam mais do que arrumados.
- Por favor! Eu vou resolver isso, prometo! Agora preciso ir – ela parecia angustiada.
- Qual é o problema?
- Tenho uma consulta e preciso correr para não me atrasar.
- Consulta?
- Algum problema? – merda! O que Anita estava fazendo ali?
- Professora Bezerra! – Charlotte ficou tensa imediatamente.
- Charlotte Middleton, nossa! Estou admirada. Fez seu professor correr atrás de você. – que droga! Anita com certeza já estava imaginando que algo estava acontecendo.
- Tenho pendências com a minha aluna, Anita – juro que tentei não parecer irritado, nem impaciente, mas não deu mesmo. Era muita coisa acontecendo para um homem angustiado. - Preciso do último capítulo, Charlotte. O tempo está curto e sem ele não posso finalizar o projeto.
- Eu compreendo, professor.
Charlotte parecia mais do que tensa. Ela começou a trocar o peso do corpo de um pé para o outro. Merda! Eu precisava de respostas, mas não podia expô-la.
- Vou escrever o mais rápido possível. Agora preciso mesmo ir.
Minha vontade era impedi-la, exigir que ela ficasse até que todas as dúvidas fossem esclarecidas. No entanto, segurar Charlotte por mais tempo só complicaria a nossa situação. Ela abriu o carro sem me olhar e eu tive a certeza de que minha aluna tentava a todo custo me evitar.
- Charlotte!
Era só o que me faltava. O que o cão de guarda estava fazendo ali? Deus só podia estar de brincadeira comigo para testar tanto assim a minha paciência.
- Caramba! Aonde você vai toda gostosa desse jeito? – puta que pariu!
- Johnny! – Charlotte o repreendeu meio sorrindo, o que só me deixou ainda mais puto da vida.
– Pensei que não viria hoje.
Por que inferno ela ficava mais relaxada quando aquele garoto estava por perto? Era como se eu fosse um peso, alguém que a perturbava. Era uma merda pensar assim, porque dentro de mim eu já me sentia um nada, vendo-a sorrir para o “amigo” como se ele fosse a sua salvação, só me afundava mais na lama.
- Eu não vinha. A noite foi cansativa, mas sabe como é, estou meio pendurado em uma matéria e... Não dá para resistir aos apelos de uma professora doidinha para me aprovar.
Puta merda um milhão de vezes! O que era aquilo? Charlotte tinha contado ao amigo? Jonathan sabia o que acontecia com a gente. Não tinha como ser diferente. O tom utilizado, a forma cínica como sorriu e, principalmente, a forma absurda como minha aluna corou, denunciava aquela infração gravíssima. Que porra! Olhei para ela com a intenção de repreendê-la, mas ela não me olhava.
- Jonathan! Essa é uma acusação séria – Anita se adiantou. – Sabe que algo assim pode gerar um processo contra o professor, comprometer sua carreira acadêmica e além de tudo isso, prejudicar a imagem da faculdade? – caralho! Que merda de dia era aquele?
- Eu sei. Eu sei, professora Bezerra. Estou só brincando. Ninguém faria uma besteira dessas – se Anita não estivesse presente eu arrancaria a cabeça daquele imbecil ali mesmo. – Então, Charlotte, ontem você estava com tudo, hein? Toda empolgada. Nem acreditei. – ok! Para mim chega.
- Preciso mesmo ir. Johnny, nos falamos depois – Charlotte ficou ainda mais constrangida. Seu rosto pegava fogo e ela não conseguia me olhar nos olhos. – Preciso ir. Com licença! – entrou em seu carro e foi embora.
- Eu também preciso ir. Tenho uma reunião importantíssima e já estou atrasado.
Graças a Deus meu carro estava bem perto, pois não aguentaria ficar nem mais um segundo ali.
Sem conseguir raciocinar direito, evitei qualquer questionamento de Anita e o olhar cheio de acusação do “amiguinho” da minha aluna, partindo na mesma direção que ela. Peguei o celular e liguei apesar de não acreditar que ela atenderia.
Estava enganado. Ela atendeu.
- Alex, você está dirigindo como um louco! – sua voz denunciava o quanto estava aflita.
- Encoste o carro! Preciso falar com você – quase gritei. Estava enfurecido. Com tanta raiva que poderia matá-la.
- Alex! Não posso parar agora, desculpe. Eu disse, tenho uma consulta. Preciso desligar. Não posso me concentrar falando ao celular.
- Então pare o carro – bradei sem me importar com o que poderia acontecer comigo enquanto costurava a pista para alcançá-la.
- Eu não posso! – Charlotte gritou desesperada. – Pare de me seguir, pelo amor de Deus! Assim que eu puder te ligo.
- Charlotte... Não desligue...
Porra! Ela desligou.
Parei o carro bruscamente, encostei a testa no volante e tentei recuperar um pouco do juízo que um dia tive. Que merda do caralho! O que aquela garota estava fazendo comigo?
Era problema demais para um dia só.
Desci do carro e atravessei a rua procurando uma coisa que não fazia há anos. Comprei um cigarro e o acendi imediatamente. A fumaça queimou meus pulmões. Uma distração prazerosa para encobrir o turbilhão dos meus pensamentos. No entanto, a nicotina não era mais tão familiar e logo fui atingido por uma tontura que já sabia que chegaria.
Soltei a fumaça olhando para o trânsito que seguia como se nada de errado estivesse acontecendo. E realmente não estava. O mundo não poderia parar por causa dos meus problemas.
Encostei-me no carro e fiquei observando o mar. Que porra eu estava fazendo? Charlotte seria a minha ruína! Se eu não tentasse colocar minha cabeça no lugar naquele momento não teria mais volta. Terminei o cigarro, mais pelo fato de não aceitar que não o tolerava mais do que pela vontade real e entrei no carro.
Dirigi até a editora. A vida precisava seguir e comigo não poderia ser diferente.
Lana me encontrou no corredor após uma videoconferência com uma editora que assumiria a comercialização dos e-books fora do país. Minha irmã estava agitada, como ela sempre era, então não me surpreendi.
Peguei os recados que Simone, minha secretária, me entregou e entrei na sala. Todo o peso do mundo se resumia a Charlotte Middleton e meus ombros não estavam suportando mais.
- Tudo certo para o jantar de hoje à noite? – soltei o ar me sentindo desanimado.
- Sim. Pode contar com a minha presença – Lamara sorriu.
- O que está te incomodando? Sua cara está péssima – me acomodei na cadeira e apoiei o rosto em minhas mãos.
- Tem alguma resposta para aquele material que te enviei?
Claro! Se Charlotte não fosse dona dos meus pensamentos, com certeza seria das minhas palavras. Tudo parecia girar em torno dela.
- Sim! Adorei por sinal. Esta garota é incrível! – não consegui evitar o sorriso. Eu sentia orgulho dela. – O material é maravilhoso. Só preciso saber como ela vai terminar a história. Alex, que enredo incrível! Original. Bem escrito. Eu apostaria todas as fichas nela. É sucesso garantido.
- Eu concordo.
Era frustrante conversar sobre o destino do trabalho de Charlotte sem que ela pudesse participar. Encostei-me à cadeira e passei as mãos pelos cabelos. Meus olhos se perderam na paisagem ao lado da mesa. O mar ao longe.
- É por isso que está tão pra baixo? Eu pensei que vocês dois estivessem se entendendo.
Minha irmã era incrivelmente perceptiva. Não tinha como fingir para ela. Soltei o ar desistindo de tentar esconder a verdade. Seria bom conversar com alguém que não fosse João Pedro, para tentar encontrar as respostas que eu tanto necessitava.
- Charlotte é complicada! Não quero que meus problemas com ela interfiram na oportunidade de incluirmos seu trabalho em nossas publicações.
- Não. Certamente que não – Lana colocou os papéis de lado e se inclinou em minha direção. – Você está gostando dela tanto assim? – Obviamente ela saberia. Como não saberia, se ninguém me conhecia melhor do que minha irmã caçula?
- Foi um erro me deixar envolver tão profundamente com uma aluna, Lana. Eu devia ter sido mais forte, por outro lado, sinceramente, não acredito que Charlotte cresceria tanto em sua escrita se não tivéssemos passado mais tempo juntos – deixei que Lana absorvesse as informações. Não queria confessar a minha irmã toda a merda que tinha feito até chegar a aquele ponto.
- Meu Deus, Alex! – ela entendeu. – Isso é... complicado – concordei com a cabeça. – E você se apaixonou! – constatou e um sorriso lindo brotou em seu rosto. – Ah, Alex! Você se apaixonou por uma aluna! Uma garotinha colocou você de joelhos – começou a rir descontroladamente.
- Não tem graça nenhuma, Lana – tentei repreendê-la, era inútil.
- Claro que tem. Tirando todos os problemas que vocês poderão enfrentar... Se bem que Charlotte já está se formando e... Eu acredito que vamos contratá-la como autora – ela parou com o rosto franzido, pensando por um tempo. - Acho que não serão tantos assim.
- Não é como você está pensando.
Claro que não! Charlotte estava fugindo de mim como o diabo foge da cruz e eu parecia um adolescente de dezessete anos, correndo atrás da namoradinha.
- Vocês já conversaram a respeito? Já contou a ela como se sente?
- Não – ela fez cara de reprovação. – Mas eu deixo claro, Lana. Todas as minhas atitudes demonstram o quanto eu quero ficar com ela. Apesar disso Charlotte continua insegura, indecisa.
Vocês mulheres são complicadas demais.
- Por quê? – Lana parecia não acreditar nos argumentos que eu utilizava.
- Porque Charlotte Middleton é uma pentelha igualzinha a você e está me deixando completamente louco.
- Alex! – pronto. Consegui irritar minha irmã. – Vocês homens são todos uns idiotas mesmo.
Não sei o que seria de vocês dois se não tivessem a mim como irmã. – dois? Então Patrício também tinha problemas com a namorada? Ri da pequena diante de mim. – Pelo amor de Deus! Quando vão entender que as mulheres precisam ouvir. São apenas três palavras: Eu te amo! Dói dizê-las? Mas não! Vocês machos que pensam apenas com o pênis, acham que assumir que amam suas fêmeas é o mesmo que pular de um precipício...
- É como pular de um precipício...
- Ah, cala a boca, Alex! – comecei a rir. Lana era ótima em me distrair – Vou deixá-lo sozinho, quem sabe consegue colocar algum juízo nesta cabeça e deixa de ser tão infantil.
- Eu sou infantil? – brinquei com ela.
- Ah, sim! Você é infantil para cacete. Tchau, Alex!
Lana saiu ainda irritada, eu sabia que minha irmã não perdia tempo com bobagens. Para ela tudo era muito lógico. Preto no branco. Nem parecia uma mulher. Aliás, ela não se assemelhava a ninguém que já conheci até hoje.
Voltei minha atenção para os dois contratos sobre a minha mesa. O jurídico havia me enviado para revisão. Eu precisava verificar se estava tudo de acordo com as normas e assinar. Depois iria embora. Precisava de um tempo para mim antes de encarar a família.
Uma batida leve em minha porta chamou a minha atenção. Com certeza Simone tinha algum recado ou documento para me entregar, por isso não desviei a meus olhos do que estava fazendo.
- Com licença. Posso entrar?
Levantei os olhos, surpreso.
Charlotte Middleton estava lá.
Charlotte
Calcei as sandálias altas, passei a mão no vestido, conferi o cabelo, os óculos, a maquiagem, o esmalte, a bolsa... Tudo para protelar um pouco mais a minha decisão. Lógico que estava com medo.
Por que não estaria? Alex estava irritado. O que ele queria que eu fizesse? Não podíamos conversar na presença da professora Bezerra e do Johnny.
Johnny! Nós teríamos uma conversa muito séria mais tarde. Ele precisava parar de tentar enlouquecer o Alex.
Olhei mais uma vez para o prédio onde ficava a editora do meu professor. Uma construção de cinco andares, comprida, ocupando uma vasta área para os lados. Sua fachada era toda de ferro e vidro, uma arquitetura nem moderna, nem ultrapassada. Passava um ar de seriedade. Uns poucos degraus davam acesso às portas que me levaram a recepção.
Droga! Eu nem sabia se ele falaria comigo. Que merda! Eu tinha tomado uma injeção! Um dos meus maiores medos e ainda sentia a dor da picada em minha bunda, ele teria que me receber e fazer a dor valer a pena.
Caminhei em direção à entrada com passos vacilantes. Será que eu estava fazendo a coisa certa? Parei na recepção onde um conjunto de sofás marrons que, apesar de bonitos, não me pareciam confortáveis, decoravam a extensa sala. Algumas pessoas entravam e saíam, passando pelas catracas.
Uma divisória de pedra polida me separava da mulher loira e perfeitamente maquiada que me analisou dos pés à cabeça.
Graças a Deus minha mãe insistiu em me fantasiar de boneca para ir à faculdade, se eu estivesse com um dos meus tradicionais jeans, meu tênis velho, uma camiseta básica e um casaco só para não passar aperto, com certeza seria expulsa dali antes mesmo de conseguir falar.
Talvez fosse melhor eu tentar me acostumar com o estilo boneca de louça dali em diante.
- Boa tarde! Posso ajudá-la?
- Vim falar com o professor... Quer dizer... – pigarreei para manter a voz firme. – Alex Frankli, o editor-chefe. Sou Charlotte Middleton. Ele... Bom... Ele sabe quem eu sou.
A mulher sorriu com deboche, ironizando o meu nervosismo. Pelo amor de Deus! Eu tomei uma injeção na bunda, dá para ter mais piedade?
- Tem hora marcada? Certamente o nosso editor-chefe não tem tempo disponível para visitas não agendadas – sorriu triunfante.
Normalmente não sou uma mulher violenta, mas naquele primeiro instante reconsiderei a minha natureza.
- Bom... Acho que...
Eu tomei uma injeção. Uma injeção! Dá para acreditar que esta mulher estava tentando me impedir de encontrar com Alex depois de tomar uma injeção?
- Olha só...
- Charlotte! – a voz do professor João fez com que eu recuasse. – Tive que olhar duas vezes para ter certeza que era você mesma. Olha só! Você está linda! – a forma como ele sorriu não deixava transparecer que havia nada além do elogio. Relaxei. – O que faz aqui?
- Eu queria falar com Alex, mas... – olhei sem disfarçar para a funcionária que estava visivelmente contrariada com a presença do professor João Pedro.
- Fabiana, não precisa anunciar. A Srta. Middleton está comigo. Vamos, Charlotte, eu a levo até ele.
Ok! Então vou aproveitar para dizer que minha natureza podia não ser violenta, mas vingativa com certeza ela era, então, aproveitando que João Pedro estava um passo à frente me guiando na direção dos elevadores, virei para a loira da recepção e sorri sentindo-me a própria Malévola. Ela estreitou os olhos, sem dizer nada, liberando minha passagem na catraca. Um segurança cumprimentou João Pedro que respondeu com um aceno de cabeça.
Entramos no elevador logo em seguida. O professor João cumprimentou algumas pessoas sem se dar ao trabalho de me apresentar a nenhuma. Achei melhor assim. Quanto menos testemunhas, melhor. Paramos no quarto andar.
Era uma sala ampla e tradicional. Uma parede extensa exibia quadros com capas de livros, provavelmente os de maior vendagem e eu imaginei quantos da tal Tiffany estariam ali. Suspirei incomodada. Ela era tão mais adequada para Alex!
Outro conjunto de sofás, mais bonitos e confortáveis do que os da recepção principal. Uma palmeira de ambiente interno, muito bem cuidada por sinal, enfeitava um dos cantos. Alguns móveis em tons variados de marrom e muitas revistas para tornar o local mais agradável. Ao fundo avistei aquela figura singular, Lana, que caminhava em direção ao elevador. Ela abriu um sorriso imenso para o marido, sem me ver de fato.
- Princesa! – o professor João a envolveu em seus braços cobrindo-a de carinhos. – Saudades?
– eles eram tão lindos juntos! Lana se derretia de amor pelo marido.
- Sempre!
- Veja quem eu encontrei perdida por aí – apontou em minha direção. Só então Lana me viu.
Seu sorriso ficou ainda maior.
- Charlotte! Estava agorinha mesmo falando de você. Li o seu material. Incrível! Menina, o que é aquele homem? Nunca li nada parecido. Adorei! É sucesso garantido... O que faz aqui? – ela mudou o tom de voz tão rápido quanto respirava e eu fiquei atordoada e um pouco tonta com tanta variação de intensidade.
Fiquei vermelha até o limite. Lana tinha lido o meu livro. Puta que pariu! Ela leu toda aquela pornografia. Tudo o que o irmão dela tinha me ensinado. Ai, meu Deus! Ela tinha que dizer isso justo no dia em que tomei a porra da injeção?
- Vim falar com Alex. Não agendei...
- Simone, esta é a Srta. Middleton, ela está aqui para falar com Alex. Não precisa anunciá-la.
Olhei para a mulher atrás da longa mesa vermelha, que se destacava de todo o ambiente. Ela era alta, magra, com um corpo incrível, visivelmente moldado por seu vestido colado. Tinha cabelos negros caídos até a cintura.
Aquela era a secretária de Alex? Era melhor eu não continuar olhando. Já tinha tido a minha cota de estresse do dia e precisava continuar acreditando que tomar a injeção valeria a recompensa.
- Entre, Charlotte. Alex está em sua sala. Falo com você depois.
Lana saiu arrastando o professor João. Fiquei parada um tempo, meio indecisa sobre como agir. A mulher, Simone, continuava me observando, como se eu fosse uma figura estranha no mundo errado. Inevitavelmente comecei a me balançar de um lado para o outro, completamente perdida.
Ainda olhei para o lado e vi Lana acenando ao entrar no elevador. Quando voltei a olhar para a secretária do meu professor ela sorriu indicando a porta com a cabeça. Sorri sem graça e fui até lá, batendo de leve. Não ouvi nada do outro lado, por isso não entrei. Imaginei que precisaria de um consentimento ou algo parecido, mas não houve nada, só o silêncio.
Voltei a olhar para Simone que sorriu mais amplamente. A secretária se aproximou, tomando o cuidado para não me assustar mais do que eu já estava e abriu a porta me dando passagem para a sala que era exatamente como eu tinha imaginado.
Entrei cautelosamente. Alex estava lá. Sentado do outro lado da sua mesa. Não se deu ao trabalho de levantar os olhos. Ele lia alguns papéis, aliás, sua mesa estava repleta deles. Na parede atrás dele havia mais quadros com capas de livros em uma harmonia de cores. E me peguei imaginando se a importância deles era apenas pelo fato de combinarem ou se era realmente pelo sucesso.
Uma longa janela ficava ao lado, com persianas brancas, uma boa parte fechada, a que estava aberta permitia ver o mar. Era tão a cara dele! À frente um outro conjunto de sofás, um tapete felpudo e uma pequena mesa com algumas revistas, todas arrumadas. Havia também outra mesa maior, para reuniões, deduzi, e um pequeno bar de sala.
Fiquei parada à porta sem saber o que fazer. Ele não havia me olhado uma única vez, concentrado no que fazia. Meu professor estava usando paletó e gravata, estava incrivelmente sexy com estas roupas. Ainda mais bonito.
Como ele nada fez eu resolvi arriscar.
- Com licença. Posso entrar?
Alex levantou a cabeça e me encarou. Seus olhos cravaram em mim, sua expressão era confusa, não me deixando saber ao certo como se sentia com a minha presença. Meu coração acelerou e minha boca ficou seca. E então, eu não sabia mais se tinha feito a coisa certa.
Capítulo 19
“É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada”.
William Shakespeare
Charlotte
Alex me analisava sem nada dizer nos parcos segundos que se passaram depois de se dar conta da minha presença. Naquele olhar existia um pouco de tudo: mágoa, raiva, confusão, incertezas...
saudades? Será?
Eu não sabia dizer, só sabia que, se eu tinha tomado aquela droga de injeção e estava lá, teria que seguir em frente e alcançar o meu objetivo. Então sorri, ou tentei, apesar da tensão.
- Charlotte? – a voz era baixa e controlada.
Arqueou uma sobrancelha, me observando. Oh, droga! Ele estava com raiva? Estava irritado por eu ter tido a ousadia de aparecer em seu trabalho? O que ele estava pensando?
Como eu fiquei calada, ele levantou, arrumando os papéis sobre a mesa. Caminhou lentamente em minha direção e parou, mantendo uma distância segura entre nós. Suas mãos estavam nos bolsos das calças e ele apenas me fitava.
- O que faz aqui? Aconteceu alguma coisa? – sua voz era leve e suave. Uma carícia para os meus ouvidos.
- Não – pigarreei para limpar a garganta. Um nó me impedia de engolir direito. - Você disse que precisava conversar comigo... Achei que não haveria problema se eu aparecesse... Podemos deixar para outra hora se preferir...
- Não, tudo bem! Eu só... Achei que você não queria conversar comigo. Quer dizer... – Alex tirou uma das mãos do bolso e gesticulou no ar. – Você fugiu e... Isso é tão... – fechou os olhos, puxou o ar e passou a mão pelos cabelos. – Não consigo compreender você, Charlotte. É tudo confuso demais.
- Alex, eu...
Ele passou por mim e sentou deixando o peso do seu corpo cair sobre o sofá espaçoso. Alex apoiou os cotovelos nos joelhos e enterrou o rosto nas mãos. Devia estar cansado e eu só estava atrapalhando. Tive vontade de ir embora, o que não ajudaria a resolver nossos problemas.
Era melhor facilitar as coisas, então ajoelhei diante dele, colocando minhas mãos sobre seus joelhos e aguardei. Alex levantou o rosto e me encarou. Por breves segundos fiquei perdida naqueles olhos quase azuis, um céu escuro capaz de me absorver completamente.
- O que quer de mim, Charlotte? – sua voz cansada e expressão sofrida me fez temer.
Alex parecia estar no limite, não pelo trabalho, nem pelo dia que poderia ter sido desgastante, mas por mim e isso fez o meu coração afundar. Eu não queria que ele se cansasse de mim, que desistisse por não suportar minha vida complicada. Eu o queria e o amava.
- Alex...
“Como fazer isso?”
- Eu não pude te atender ontem. Aconteceram algumas coisas e eu me vi envolvida numa situação complicada... – ele fechou os olhos novamente e esfregou a mão na testa. Estava impaciente.
Eu teria que ser mais convincente. – Miranda me pediu ajuda para encontrar com o namorado. Ela não é filha do meu pai, mas por causa de uma história muito longa, eles agem como pai e filha... Tudo bem, eles devem agir assim... Então... Miranda precisou de ajuda e, quando combinamos de fazer a visita à ala infantil, para as crianças com câncer do hospital, ela inventou que precisava estudar com uma amiga para as provas finais e conseguiu fugir da vigilância acirrada do meu pai. Só que quando estávamos nos preparando para voltar para casa, ela me enviou uma mensagem dizendo que não conseguiria chegar no horário combinado. Isso deixaria meu pai aborrecido e ela sabe que perderia muito com as birras dele, então precisei inventar um monte de coisas para passar o tempo. Minha sorte foi encontrar um amigo dele, um ex-colega de faculdade, que ele não via há muitos anos.
Aproveitei a deixa para entretê-los ainda mais na conversa, fingindo interesse pelos assuntos do hospital, o que eu sabia que o deixaria empolgado, até Miranda conseguir chegar em casa. Só que minha atitude desviou toda a atenção do meu pai para mim. Cada mensagem que eu recebia ele ficava atento, fazia perguntas... – acabei de falar e ele ficou me encarando. Depois balançou a cabeça, incrédulo.
- Então Miranda consegue arrumar um jeito de enrolar seu pai e você não? – Oh, merda!
- Alex, por favor, seja mais compreensivo! Ontem foi um dia complicado. Eu acabei discutindo com Miranda por causa do que ela fez. Perdi sua ligação, fiquei até tarde tendo que ouvir as desculpas dela e, para piorar, meu pai resolveu incluir o tal amigo em nosso jantar de hoje. Não sei se tenho criatividade ou disposição para inventar mais conversas sobre o hospital.
- E seu “mais que amigo” Jonathan? Onde ele se encaixa em sua noite terrível? – ok! Minha injeção começava a não valer mais a pena.
- Não fique aborrecido com isso. Johnny está só querendo me defender, prometo resolver este problema hoje mesmo. Eu prometo! Por favor! Não fique tão irritado comigo – supliquei. Eu estava ajoelhada e minha bunda doía. Maldita injeção.
Alex fechou os olhos por alguns segundos, mordeu os lábios e balançou a cabeça como se negasse algo a si mesmo. Suspirou com força e me encarou.
- Aquele garoto, o Henrique, o que ele é seu? – sua voz ficou um pouco mais grave e seu corpo mais tenso.
Observei meu professor tentando adivinhar o porquê de ele estar tão incomodado com o Henrique. Quase sorri quando imaginei ser ciúmes, mas me contive rapidamente, pois era ter esperança demais.
- Meu colega – respondi sem confrontá-lo. Era melhor não arriscar.
- Apenas isso?
- Claro! Alex, o Henrique...
- Ele gosta de você.
Alex falou calmamente e me encarou observando a minha reação. Bom, seria mentir não contar que meu rosto ficou vermelho queimando a pele e meus olhos imensos. Tive medo de desviar o olhar e fazê-lo acreditar de havia algo mais na minha relação com o Henrique.
- Mas eu não estou interessada nele – respondi calma e pausadamente, contradizendo o meu corpo que estava mais do que nervoso. Ele me observou por mais um instante e então relaxou. Não o suficiente, mas de maneira perceptível.
- Não?
- Não – e continuei encarando o meu professor.
Será que ele não entendia? Alex era capaz de notar o interesse do Henrique por mim, mas não conseguia perceber que eu estava apaixonada? Nos encaramos por mais alguns segundos, então ele desistiu e mudou de assunto.
- Você fugiu hoje pela manhã.
- Eu tinha uma consulta! Alex, por favor! Eu tomei uma injeção hoje. Tem alguma noção do que significa para mim encarar uma agulha? Estou apavorada até agora – ele me olhou sem acreditar no que ouvia. Depois riu. Foi uma risada gostosa.
- Venha aqui, menina – me puxou para o seu colo. Doeu um pouco, mas o prazer de estar em seus braços foi mais forte e mais importante.
Alex me cercou, segurando minha nuca com uma das mãos, os segundos que anteciparam o beijo me deixaram atordoada. Apesar de poucos, foram o suficiente para que eu assistisse a toda a sua transformação. Ele ficou intenso, seus olhos escureceram e seus lábios se abriram, facilitando a respiração represada.
E então me puxou de encontro a sua boca. Rapidamente me deixei envolver. Minhas mãos correram para seus cabelos e meus lábios se abriram recebendo sua língua quente e aveludada. Foi uma delícia!
O beijo foi doce e sedutor. Alex era um mestre nessa arte, o que já me deixava completamente excitada. Ele saboreava meus lábios e minha língua enquanto suas mãos acariciavam minha pele. Era muito, muito bom. Minha calcinha começou a ficar molhada. Mas ele interrompeu nosso beijo, o que me deixou zonza.
- Tem medo de uma injeção, mas acha que pode encarar perder a virgindade como se tal fato não fosse lhe causar nenhuma dor – sussurrou me observando. Estremeci.
Eu sabia que perder a virgindade não era como nos contos de fadas, muito menos como contavam nos livros. Tinha certeza de que doeria, que era muito provável que não fosse prazeroso e que para a mulher era sempre muito mais complicado atingir o orgasmo. Eu tinha tudo muito bem arquivado em minha mente, no entanto, ouvindo Alex falar, deixando bem claro que seria exatamente assim, foi impossível não estremecer.
- Eu tenho trauma de agulhas – revelei.
- Trauma – ele acariciou meu rosto me analisando com atenção e também diversão.
- Sim. Também não gosto de médicos – sorri sentindo meu rosto corar. Alex arqueou a sobrancelha e sorriu para a ironia. – Não de médicos no geral, mas normalmente aqueles que me atendem – ele ampliou o sorriso.
- Você é muito confusa – disse baixinho.
- Sim, eu sou. Quando era criança tive problemas sérios com alergia. Resumindo, eu tinha alergia a quase tudo – seus dedos desceram para meus braços enquanto ele me escutava atentamente.
– Fiz um longo tratamento, com muitas injeções e médicos chatos que nunca me davam alta – Alex riu e balançou a cabeça incrédulo, depois mordeu o lábio e me encarou.
- E isso te faz a garota mimada que é – afirmou tentando esconder o riso. - Talvez você devesse procurar ajudar para resolver todas as confusões que existem nesta cabecinha. Procurar um psicólogo não seria uma má ideia – a ironia existente em sua voz me fez sorrir.
- Vou pensar nesta possibilidade.
- E injeções não doem – ele acrescentou.
- Minha bunda que o diga – ele estreitou os olhos e deu uma risadinha baixa e breve.
- Que consulta foi essa?
Sua voz rouca lançava choques em meu corpo. Eu adorava saber que Alex também se excitava apenas me beijando. No entanto, ele tinha feito a pergunta errada para o momento e logo eu estava tensa novamente.
- Bom... – me acomodei em seu colo e ele se mexeu fazendo-me sentir sua ereção. Puta merda!
– Alex!
Gemi seu nome sem conseguir conter a saudade de nossos momentos íntimos. Ele riu baixinho juntando nossos lábios brevemente e acariciando minha nuca.
- Você sabe o efeito que causa em mim – sorriu me deixando encantada com tanta beleza e sensualidade. Mordi os lábios. – Vai me contar sobre a consulta?
Ok! Foco, Charlotte! Respire fundo e tome coragem.
- Precisei dirigir até quase fora da cidade para chegar a tempo na consulta.
- Não estou entendendo, Charlotte. Conte logo tudo de uma vez – ele se moveu de novo. Céus!
Alex estava tão duro. E eu o queria, naquele momento, sem perda de tempo.
- Fui a uma ginecologista. Procurei uma que não fosse amiga de meu pai, ou que, pelo menos, não fosse alguém a quem ele tivesse acesso – admiti me sentindo tímida. – Ter um sobrenome como o meu não ajuda muito quando a necessidade é ser discreta.
- Uma ginecologista? – ele piscou sem compreender a profundidade da minha revelação.
- Nós conversamos sobre meios contraceptivos... – um pequeno sorriso torto brotou em seus lábios. Fiquei admirada com a facilidade que Alex tinha em me deslumbrar.
Seus dedos correram meu ombro, subindo e descendo até o meu pescoço, causando-me arrepios. Seus olhos acompanhavam os dedos em minha pele.
- E a injeção?
- Ela me aplicou um anticoncepcional. Disse que não alcançaria o nível máximo de segurança porque o ciclo não estava no início, que o correto seria iniciarmos só depois... Eu disse que começaríamos antes... – meu rosto ficou quente. – Ela recomendou que usássemos camisinha por enquanto até meu próximo ciclo... – Alex me puxou para um beijo me pegando de surpresa.
Este veio mais carregado de desejo. Era urgente, quase sufocante, me apertava em seus braços, explorando meu corpo sem pudor. Senti uma mão em minha coxa. Meu sangue aqueceu, fervendo em minhas veias.
Alex subiu a mão, correndo seus dedos pela minha perna subindo até o limite da minha coxa, onde se prolongou em carícias. A outra mão apertava minhas costas mantendo-me presa a ele e à mercê da sua vontade. Ele me dominava, submetia e enlouquecia. Não havia como fugir ou desistir.
Seus dedos longos me apalpando com vontade enquanto aprofundava nosso beijo. Suas duas mãos se encontraram embaixo do meu vestido, mais precisamente em minha bunda, onde ele fez uma pressão maior, puxando-me para si, forçando-me a sentar em seu colo com as suas pernas entre as minhas. Quando consegui me acomodar, seus dedos invadiram a minha calcinha e alcançaram meu sexo.
- Ah, meu bem! Você está molhadinha!
Alex gemeu acariciando meu sexo espalhando a umidade. Atrevi-me a mexer o corpo um pouco forçando o contato e aumentando minha excitação. Eu estava incrivelmente sensível. Pronta para explodir. Pronta para recebê-lo. Não havia porque esperar.
- Alex! – rebolei com mais vontade.
Ele me apertou com força, e começou a introduzir um pouco do seu dedo em mim. Ah, Deus!
Era tão gostoso! Delicioso. Senti seus dentes em meu pescoço, arranhando e pressionando.
Estávamos presos em uma bolha só nossa. Agarrados em nossa urgência. Uma de suas mãos saiu de mim e foi ao decote do meu vestido, abaixando-o.
No mesmo momento em que seus lábios se fecharam em meu seio, chupando o bico e me deixando louca, o dedo da sua outra mão foi mais fundo. Puta. Que. Pariu! Joguei a cabeça para trás e empinei a bunda implorando por mais. Alex recuou. Céus! O que ele queria? Enlouquecer-me?
Fazer-me implorar?
- Alex, por favor! – seu dedo voltou e outros dois acariciavam os lábios do meu sexo que já pulsava. – Ah, Deus! – gemi com vontade. Alex brincava comigo tirando toda a minha força e equilíbrio. Nada mais importava ou fazia sentido.
- Charlotte, você é tão quente! Gostosa demais!
Suas palavras entraram em meu corpo junto com seus dedos. Dois deles estavam dentro de mim enquanto o outro continuava a carícia. Era pouco, e eu queria mais. Sabia que ele poderia ir ainda mais fundo.
- Por favor, Alex!
Ele continuava chupando meus seios, um de cada vez, brincando com o bico e deixando-me em chamas. Minhas mãos estavam em seus cabelos, prendendo-o e segurando-me para poder me movimentar melhor.
- Eu quero... Eu preciso de você agora... – seus lábios subiram pelo meu pescoço sugando e lambendo. – Tem que ser agora, Alex. Quero você dentro de mim.
Alex me puxou para trás buscando meus olhos. Seus dedos me abandonaram. Oh, droga! Eu nem conseguia me concentrar em nada. Estava a ponto de explodir de tão excitada, prontinha para ser preenchida por ele. Não havia mais nenhuma dúvida.
E eu havia tomado a porcaria da injeção. Pelo amor de Deus!
- Charlotte, você quer mesmo fazer isso aqui? – ele perguntava sério, me encarando.
- Quero. Agora. Por favor! – ele suspirou e colou sua testa na minha.
Droga, Alex! Não desista! Por favor!
- Charlotte! Minha menina – puxou o ar com força. - Não pode ser assim. É a sua primeira vez...
Broxante!
Eu só conseguia pensar nisso. Porra! Eu toda quente por dentro, aliás, por fora também e ele me diz que não pode ser desse jeito? Fiquei tão irritada que comecei a me levantar de seu colo.
- Charlotte! Espere... – me puxou e acabei caindo sentada em seu colo, só que de costas para ele. Alex me abraçou pela cintura mantendo-me junto ao seu corpo. – Charlotte, não seja infantil.
Você sabe tanto quanto eu que o que mais desejo neste momento é estar dentro de você. Mas não assim, não de qualquer jeito.
- Ah, Deus! – deitei em seu peito descansando a cabeça em seu pescoço. Alex riu e beijou o topo da minha cabeça. – Estou em chamas, Alex. Eu tomei uma injeção! – choraminguei. Ele gargalhou com vontade, acariciando meus braços e beijando meu pescoço. Imediatamente meu sangue voltou a correr mais forte.
- Então vamos conter um pouco deste fogo e fazer esta injeção valer a pena.
Ah! A doce e quente promessa! Pelo menos iríamos brincar um pouquinho.
Ele recomeçou a beijar meu pescoço deixando sua língua acariciar minha pele. Suas mãos reiniciaram os movimentos, só que mais afoitas. Alex não desperdiçou tempo, rapidamente uma mão estava em meu seio, apertando, puxando e me enlouquecendo. A outra invadiu a minha calcinha e seus dedos pressionaram meu clitóris. Soltei um gemido alto. Forte.
- Isso, minha menina. Quero o seu desejo, o seu prazer – sua voz rouca atiçava o meu lado animal e insano. Rebolei em seu dedo sem reservas. – Abra as pernas, Charlotte! Abra as pernas para mim! – minhas pernas ganharam vontade própria se abrindo deixando as dele entre as minhas. – Isso mesmo. Ótimo! – mordeu meu pescoço me fazendo arquear o corpo. Seus dedos voltaram a me explorar, acariciando invadindo e me deliciando.
- Hum! Alex!
- Estou aqui e vou gozar em você. Bem aqui...
Apertou o centro das minhas pernas me fazendo gritar de prazer. Sua mão se fechou em meu seio, forçando-me para baixo enquanto seu dedo entrava e saía, com cuidado e precisão.
Merda de virgindade!
Sua mão me abandonou quando comecei a me contorcer, louca para me entregar ao orgasmo que eu sabia que seria maravilhoso. Choraminguei, protestando.
- Calma, linda! Levante só um pouco – Alex me apoiou com uma mão e com a outra abriu as calças e colocou seu pau para fora.
Vi sua ereção sair de dentro das calças, em seguida ele me puxou novamente, sentando-me com cuidado e posicionando seu membro quente, duro e pulsante entre as minhas pernas que continuavam abertas. Respirei fundo. O que iríamos fazer?
Ele recomeçou as carícias. Uma mão trabalhava em meus seios e a outra em meu sexo. Alex passou a língua em meu pescoço e introduziu um dedo, não todo, o suficiente para me fazer delirar.
Passei uma mão para trás do pescoço dele e fechei os dedos em seus cabelos. Com a outra, segurei seu pau com vontade, masturbando-o enquanto sentia seus dedos entrarem e saírem de mim.
- Ah, Charlotte! Venha.
Ele segurou o próprio pau e, afastando a minha calcinha para o lado, colocou-o dentro dela, soltando-a depois, ela bem apertada, comportando o meu sexo e o dele ao mesmo tempo.
– Agora, meu bem. Quero que você mexa, rebole em meu pau enquanto eu me masturbo em você.
Não questionei. Apenas obedeci. Com as pernas abertas. Uma das mãos de Alex segurava minha coxa, mantendo-a afastada e a outra subia e descia em seu próprio pau envolto por minha calcinha. Puta. Que. Pariu! Era muito excitante estar daquela forma com o meu professor.
Imediatamente comecei a me esfregar nele acompanhando o movimento de suas mãos. Era incrivelmente bom. A fricção dos meus lábios úmidos e do meu clitóris inchado e latejante naquele pau duro e quente estava me levando às alturas. Gemi deixando que minha cabeça se apoiasse em seu peito e forçando mais o contato entre os nossos sexos.
- Ah, Charlotte! Você está deliciosamente molhada! Vai me fazer gozar rapidinho.
Eu também gozaria rapidinho se ele continuasse se esfregando em mim, gemendo e mordendo como estava fazendo e ainda falando com aquela voz orgástica. Puta merda! Tudo em Alex era excitação pura.
- Me faça gozar, Alex– implorei. – E goze em mim, por favor!
Sua mão que estava em minha coxa voou para o meu clitóris, pressionando-o com o polegar enquanto os outros dedos se estiravam na junção das minhas coxas com meu sexo, puxando-me para trás. O movimento de sua mão em seu pau foi ficando mais sôfrego.
- Vou gozar, Charlotte! Vou gozar em você! Quero deixá-la lambuzada com meu gozo. Quero melar a sua calcinha para quando você voltar para casa se lembrar que eu estive bem aqui – forçou ainda mais meu clitóris me mostrando do que ele falava. – Bem pertinho de te comer. Gozando nessa bocetinha onde só eu vou poder me enterrar... – Rebolei com mais vontade sentindo o vulcão dentro de mim entrar em erupção. – Agora goze, minha menina!
Explodi sentindo o dedo dele me apertando. Seu pau roçando meu sexo me fez ver estrelas. Eu pensei que o orgasmo seria como sempre, forte como um vulcão e rápido como um raio. No entanto, quando comecei a sentir seu gozo me lambuzando, jorrando em mim, meu sangue se aqueceu novamente e meu orgasmo ficou ainda mais intenso.
Ele continuou acariciando o pau, calma e cuidadosamente enquanto meu corpo se acomodava.
Alex beijou meu ombro, pescoço e cabeça. Uma carícia gostosa e acolhedora. Ficamos assim até nossas respirações se acomodarem.
- Mais tranquila? – ri.
- Ah, sim, professor! Suas aulas sempre me deixam mais calma.
Alex ficou em silêncio durante um tempo. Imaginei ter dito alguma coisa que o desagradou, então ele recomeçou acariciar meus braços com as pontas dos dedos.
- Charlotte, eu queria te dizer uma coisa.
Sua voz ficou séria. Meu coração acelerou. Como a boa covarde que sempre fui, preferi fugir a ouvi-lo me dizer que não precisaríamos mais de aulas. Que apesar de gostar de nossas brincadeiras tínhamos ido longe demais, ou pior que gostaria que nos aprofundássemos em nossas intenções, mas sem expectativas de minha parte. Não poderia me apaixonar Como, se eu já estava apaixonada, rendida e encantada? Completamente entregue. O que fazer?
- Preciso dar um jeito nessa bagunça que você deixou em mim – levantei um pouco e ele beijou minhas costas. Deitou a testa em meu ombro, como se quisesse me impedir, depois desistiu e me liberou.
- O banheiro é ali – apontou para uma porta em sua sala. – Mas não quero que se limpe – olhei para ele, que sorria. – Eu falei sério quando disse que queria que voltasse para casa levando uma lembrancinha minha.
- Vou fazer o possível – beijei seus lábios e levantei.
Entrei no banheiro segurando o vestido, para que não sujasse com o valioso presente do meu professor, e com isso acabaria chamando a atenção da minha mãe para as minhas brincadeiras sexuais.
Enquanto tirava o excesso com papel, ouvi uma voz feminina na sala. Podia ser sua secretária ou qualquer outra pessoa daquela editora. Independentemente de quem fosse, meu coração acelerou.
Eu precisava sair rapidamente, mas composta.
Terminei o serviço, arrumei o vestido, dei uma olhada no espelho para checar. Minhas bochechas estavam rosadas e os olhos brilhantes. Mesmo assim eu precisava sair. Abri a porta, com os olhos baixos. Estava envergonhada.
Fiquei petrificada com o que vi. A loira fatal, a autora que queria Alex de volta, estava lá.
Sentada de frente para ele, usando um vestido incrível com decote generoso.
Alex estava sentado em seu lugar, apoiando o queixo nas mãos, e os cotovelos na mesa.
Quando entrei na sala ele levantou e me chamou para perto. Andei timidamente na direção dos dois.
- Charlotte, deixe-me apresentá-la. Tiffany, esta é Charlotte Middleton, a mais nova promessa da editora. – Oi? Acho que perdi alguma coisa.
Fiquei confusa e ansiosa. Durante um bom tempo Tiffany foi um incentivo em meus sonhos literários. Uma autora de sucesso, que eu acompanhava e admirava, mas ali, vendo-a a minha frente, disposta a roubar o que eu tanto desejava, ela era apenas uma concorrente, e eu já detestava estar ao seu lado.
A mulher me olhou de cima abaixo. Ok! O que acontecia com as mulheres que rodeavam Alex?
Agradeci mentalmente a minha mãe de novo pela sua insistência em me vestir naquela manhã.
- Charlotte... – ela estendeu a mão olhando-me nos olhos. Sua voz era tão doce e educada que me deixou ainda mais constrangida. – Nunca ouvi falar de você. Qual é o seu livro?
Antipática. Era um fato.
- Ah...
- Ela vai lançar o seu primeiro livro com a gente. E já é uma promessa. Você precisa ler o material dela. Vai ficar admirada, assim como Lana. Ela realmente quer apostar em Charlotte – por que Alex estava fazendo aquilo?
- Entendo – ela desviou seu olhar de mim. Percebia-se nitidamente que a “autora” não ficou nada feliz com minha presença, muito menos com a brincadeira do meu professor.
- Preciso ir, Alex. Tenho que me preparar para o jantar de hoje à noite.
Não queria sair e deixá-lo sozinho com aquela cobra pronta para dar o bote, para meu azar eu não poderia ficar lá vigiando os dois. Seria absurdo e ridículo, sem contar que já havia extrapolado meu horário e não precisava de mais problemas com o meu pai.
- Foi um prazer, Charlotte. Eu e Alex temos um assunto para resolver. Vejo você qualquer dia desses.
Quanta coragem!
Senti vontade de sentar e ficar mais um pouco. No entanto não poderia expor Alex. Peguei minha bolsa e caminhei em direção à porta. Ele veio atrás de mim, acompanhando-me como um bom editor-chefe.
- Conversamos mais tarde? – suas palavras prometiam, meu sangue ferveu.
- Farei o possível.
- Preciso do capítulo – sorri maliciosamente. Alex entendeu o motivo do meu sorriso.
- Pode deixar, estou cheia de ideias – ele sorriu e seus olhos brilharam.
Saí com o coração na mão.
Será que Alex iria se comportar?
Alex
Charlotte foi embora. Minha vontade era de festejar o avanço entre nós dois. Ela havia mudado de ideia, o Henrique não significava nada, até mesmo tinha procurado uma ginecologista e já estava tomando anticoncepcional. Se bem que nossa brincadeira nos faria correr um grande risco, eu até ia sugerir que ela ingerisse a pílula do dia seguinte, porém Tiffany apareceu me impedindo de programar qualquer coisa com a minha aluna.
Respirei várias vezes antes de me voltar para Tiffany. Ela nunca escolheu uma hora tão inapropriada para aparecer. Se bem que estávamos em meu escritório, local para trabalhar e não de quase comer uma aluna. Puta que pariu! Se Tiffany chegasse um pouquinho antes eu estaria muito fodido.
Completamente fodido.
Era melhor refrear meus instintos quando estivesse com Charlotte em lugares como o meu escritório, por exemplo. Obviamente isso era tão impossível quanto deixar de respirar e continuar vivendo. Ela tinha um “q” que me tirava do sério. Era uma segurança instável, se é que isso existe. O
que quero dizer é que eu me sentia incrivelmente bem ao seu lado, esquecendo o mundo lá fora, também me sentia perdido quando ela não estava. Principalmente quando fugia e sumia por dias.
- Então, Tiffany... – comecei – Já decidiu sobre o que irá fazer? Nem pedi a renovação do seu contrato – voltei para a minha cadeira. – Preciso da sua decisão o mais rápido possível. Queremos abrir espaço para novos autores e estamos também fazendo contatos com alguns já renomados que estão interessados em fazer parte da nossa família. Claro que você sempre será a nossa prioridade – sorri tentando não jogar tão pesado.
Tiffany não falava, apenas avaliava o que eu dizia, olhando para mim e para a sala, como se procurasse alguma coisa. Percebi quando seus olhos aumentaram um pouco mais e sua boca se abriu, mas rapidamente ela se recompôs.
- Como conheceu esta garota... Charlotte? – putz! Ela estava desconfiada e é óbvio que informaria a Anita sobre suas suspeitas.
- Sou o orientador dela na faculdade. Ela vai se formar em alguns dias e, como gostei muito do trabalho, mostrei-o para Lana que adorou então decidimos publicá-lo.
Tentei me manter impassível. Ela me olhava analisando minha resposta, depois balançou a cabeça e sorriu. Não havia sinceridade em seu sorriso.
- Muito bom. Espero que tenham sorte com este novo projeto. Não é muito fácil encontrar histórias vendáveis, ainda mais com um autor desconhecido... a literatura nacional deixou de ser valorizada.
- Esta realidade está mudando consideravelmente – rebati. – Você é a prova disso.
- Sim, claro! – ela sorriu amavelmente. – Temos bons autores. O que não temos são bons leitores. Pessoas que realmente confiem em uma novata. Não é segredo que os autores estrangeiros vendem mais.
- Mesmo quando escrevem histórias repetitivas e ruins – colaborei. – Charlotte está no caminho certo, nada que um bom marketing não resolva.
Ela piscou meio confusa, me encarando como se quisesse enxergar a verdade através de mim.
Mantive minha postura e sorri docemente, evitando que seu olhar me desestabilizasse.
- Vamos falar de você – apoiei os cotovelos na mesa e me aproximei um pouco mais dela. – O
que você quer exatamente? – Prendi seu olhar ao meu. Tiffany piscou e perdeu o foco. Bom, pelo menos eu ainda tinha este efeito sobre ela.
- Eu... Bem... – ela desviou o olhar e encarou o chão. – Eu não queria deixar a editora, mas você sabe como funciona, Alex. Meus agentes não estão satisfeitos e na verdade eu dependo muito mais deles do que eles de mim. São sete livros no total, todos um enorme sucesso... Não sei se poderei ficar.
Voltou a me olhar. Desta vez havia uma súplica gritante em seus olhos. Ela me pedia para tocá-
la. Droga! Eu queria muito que Tiffany esquecesse este lado do nosso relacionamento.
- Nós temos a melhor proposta para você. Nenhuma outra editora vai oferecer o que colocamos à sua disposição. Seus agentes vão conseguir diminuir os seus ganhos e depois vão acabar te abandonando. Você sabe que é uma escritora incrível e depender de seus agentes não é o correto. Vou deixá-la à vontade para decidir, só tenha em mente que o seu contrato está chegando ao fim. Enquanto decide vamos iniciar os preparativos para o livro da Charlotte – lógico que eu sabia que colocar Charlotte na jogada faria Tiffany repensar.
- Você tem razão, Alex– Tiffany falava com voz doce, educada. Era uma mulher de classe.– Vou conversar com meus agentes e te informo assim que tiver uma resposta. Sabe... Eu gosto de trabalhar com vocês. Adoro a Lana, mas tem sido bem difícil com você...
Ela iria mesmo começar aquela conversa ali? Naquela hora? Eu estava cansado, confuso, com fome e com horário marcado para um jantar em família. Não me restava tempo nem paciência para resolver problemas pessoais com Tiffany.
- Eu pensei que já tivéssemos resolvido este ponto.
- Resolvemos. Claro que resolvemos... só... sinto a sua falta – colocou a mão sobre a minha.
Tive vontade de puxá-la, mas seria muito grosseiro de minha parte e Tiffany estava por um fio, era melhor não forçar muito a barra. – Sei que você gosta da sua liberdade e que não quer nenhum compromisso. Eu pensei se... Se não poderíamos retomar o que vivíamos... Sem compromisso... Só encontros esporádicos...
- Não deu certo antes, por que acredita que daria agora?
- Por que eu não estava preparada para dividi-lo com mais ninguém. Mas reavaliei e pensei que, quem sabe agora, eu estando mais madura, entendendo melhor o seu lado, as coisas possam acontecer – sua mão subiu pelo meu braço. Era hora tomar uma atitude. Levantei e caminhei pela sala.
- Tiffany, acho que você ainda não está preparada para este tipo de relação. E eu, neste momento, estou muito voltado para o trabalho. Não tenho saído com ninguém, estou envolvido com diversas coisas...
- Duvido muito que esteja em abstinência sexual. Se esta é a maneira que encontrou para me dar um fora, isso só prova que não me conhece bem. O cheiro de sexo está impregnado em sua sala e aquela garotinha que acabou de sair, estava com os olhos brilhantes e um rosado no rosto que só uma mulher muito bem comida consegue ostentar – uau! Ela conseguiu mesmo baixar o nível. Ri forçadamente.
- Não seja absurda, Tiffany!
- Não seja absurdo você, Alex!
- Eu não tenho nada com Charlotte. Na verdade, nossa relação é estritamente profissional. Se você deseja acreditar no que disse, vá em frente. Não tenho nada a perder. Agora que já conversamos sobre assuntos pessoais que não deveriam ser discutidos no ambiente de trabalho, me dê licença porque preciso ir embora.
Ela ficou imóvel. Voltei para minha mesa e arrumei os papéis. Sairia da sala mesmo que ela ficasse. Não dava para sustentar uma conversa com Tiffany estando tão perto da verdade. Coloquei tudo em minha pasta, desliguei o computador me preparando para sair. Tiffany se levantou e veio em minha direção. Fui surpreendido com um abraço.
- Desculpe! Desculpe, Alex! Eu não queria... – soluçou. Merda! – Eu não queria brigar com você, muito menos ficar te acusando. Por favor, me perdoe! Vamos esquecer esta história. Diga que me perdoa, por favor!
Não podia ser tão insensível a ponto de ficar indiferente a uma mulher chorando. Piorava muito o fato de esta ser uma ex-amante e complicava ainda mais quando ela era também a minha melhor autora. Abracei Tiffany e confortei-a. Ela ficou em meus braços chorando por alguns instantes.
Ofereci um lenço de papel que estava sobre a minha mesa. Ela aceitou se recompondo e sorrindo para mim amigavelmente.
- Não acredito que fui capaz de fazer esta besteira. Meu Deus, como fui infantil!
- Tudo bem. Todo nós temos direito a ter estes momentos. Você está bem?
- Estou. Obrigada! Você sempre foi muito gentil.
- Preciso mesmo sair agora, Tiffany. Tudo bem para você?
- Claro. Vejo você em outro momento.
Tiffany saiu me deixando confuso. Como ela podia primeiro se oferecer para voltar a frequentar a minha cama, depois me acusar de estar transando com minha aluna, o que estava mais próximo da minha realidade, e em seguida chorar arrependida pelo que disse?
Mulheres! Como entendê-las?
Charlotte
Cheguei em casa com um sorriso imenso no rosto. Alex tinha razão. A lembrancinha dele estava grudada em mim. Claro que meu sangue ficou quente e meu corpo reagiu na mesma hora, só de lembrar.
Eu precisava resolver logo minha situação com meu professor. Não dava mais para ficar só nas brincadeiras. Ele tinha concordado então eu teria que arrumar uma boa desculpa para passar uma tarde inteira com Alex sem chamar a atenção de meu pai.
Será que quando uma garota perde a virgindade dá para as pessoas perceberem? Mudaria alguma coisa em minhas atitudes? Em meu corpo? Nossa, Charlotte Middleton, quanta infantilidade!
Até parece uma freira recém saída do convento.
Confesso que muitas vezes sou absurdamente infantil.
Entrei em casa, beijei meu pai e minha mãe, que estavam na sala. Ele todo arrumado, com paletó e gravata, como sempre falando ao telefone com algum dos seus funcionários, e ela vestida com uma calça clara e uma camisa de seda, com os pés descalços e uma expressão de cansaço.
Cansada até demais, o que me deixou intrigada.
- Tudo bem? – perguntei sem querer me sentar ao seu lado. Sabe Deus o quanto a minha mãe conseguia ser perceptiva.
- Tudo sim – forçou um sorriso. – Como foi sua aula? – pensei imediatamente em Alex e no quão proveitosa foi a nossa aula.
- Muito boa – e sorri amplamente. – Eu só preciso de um banho e...
- Leve o tempo que precisar para ficar linda.
Ela continuou com aquela expressão cansada e o rosto pálido, mas sorria, mesmo que forçadamente. Imaginei que o problema poderia ser com o meu pai, ou com o relacionamento deles, apesar de achar que isso era impossível. Aqueles dois eram insuportavelmente colados e apaixonados.
- Ok! - e corri para o quarto.
Tudo bem que a lembrancinha de Alex era deliciosa, mas era bom não abusar. Vai que meu pai descobre... Não. Um banho resolveria.
Bastou colocar meus pés na água quente para Miranda entrar no quarto gritando. E se fosse diferente não seria Miranda.
- Charlotte! Vou entrando, então, por favor, pare de fazer qualquer sacanagem que esteja fazendo.
Puta que pariu! Ela gritou isso mesmo? E se meu pai ouvisse?
- Preciso de sua ajuda – atirou assim que entrou no banheiro.
- Não!
Neguei antes que ela conseguisse me convencer a fazer o mesmo da noite passada. Entrei no chuveiro evitando molhar os cabelos. Minha mãe me faria secá-los e eu não estava com vontade de perder muito tempo cuidando deste detalhe.
- Você nem sabe do que se trata! – eu sabia muito bem o que Miranda queria. Uma folga para ficar com o namorado.
- Sem essa, Miranda! Não estou com ânimo para inventar desculpas para meu pai. Você vai ao jantar ou então se resolva com a fera sozinha. Não vou encobrir suas escapadas. Já tive problemas demais por causa disso – segurei a esponja e coloquei sabonete líquido nela.
- Problemas com seu professor pervertido? Tenha dó! Vocês não estão transando ainda e sabe Deus se vão transar.
Fiquei nervosa e gesticulei com a mão para que ela não falasse aquelas coisas tão alto. Minha amiga revirou os olhos e cruzou os braços, aborrecida.
- Isso não vem ao caso, Miranda. Seu namorado precisa entender que você sofre a perseguição do meu pai. Não posso fazer nada a respeito. Converse e se entenda com ele. Ponto final – esfreguei a esponja com mais força do que o necessário. Minha pele ficaria vermelha.
- Obrigada por nada! Não se preocupe, eu te ajudarei quando chegar a sua vez.
Que droga! Miranda sabia mesmo fazer chantagem emocional comigo. Enchi a mão de óleo de banho e passei pelo corpo sem muito cuidado.
- Miranda, eu não posso inventar desculpas para hoje à noite. Por favor, seja compreensiva.
Tem sido difícil para mim também.
- Claro! – ironizou. – O jantar será um saco! Eu até aguento se puder arrumar uma desculpa para fugir e ficar com Patrício nem que seja só por uma hora – tirei o excesso do óleo.
- Sinto muito, amiga. Nada posso fazer desta vez.
- Por que você não diz a seu pai que quer sair para dançar com os amigos? Ele não vai impedi-la de sair. Por favor!
- Porque amanhã tenho aula logo cedo. Porque tenho que escrever o último capítulo do meu livro e porque estou muito cansada para tentar enrolar o meu pai que com certeza vai dizer que pode nos acompanhar. Tudo que eu menos quero nesta vida é ir para uma balada com meu pai. Como se já não bastasse ele ser o guardião da minha virgindade agora será o meu cão de guarda. Deus me livre!
- Droga! Eu tinha dito ao Patrício que daria um jeito – desliguei o chuveiro, abri a porta e peguei a toalha.
- Vamos ter uma noite agradável e em família. Comece a trabalhar sua mente nisso. – Miranda ficou aborrecida e saiu do banheiro me deixando sozinha. Ótimo! Um pouco de paz me ajudaria a relaxar.
Escolhi uma roupa casual e elegante ao mesmo tempo. Uma saia preta, cintura alta com um pouco de brilho, nem tão curta nem tão comprida, uma camisa branca justa sem decote, um casaco bege prensado na cintura. Estava ótimo! Para os pés um “Peep Toe” na mesma cor do casaco e uma bolsa pequena, de mão, combinando com tudo. Minha mãe ficaria feliz vendo-me vestida como uma bonequinha sem precisar me ameaçar para isso.
A maquiagem ficou por conta de Miranda, que apesar da má vontade, fez um excelente trabalho. Fiquei satisfeita. Se Alex me visse, será que ficaria animado? Será que me acharia uma garota desengonçada fingindo ser uma mulher atraente?
Droga! Desde quando eu me preocupo tanto com o que as pessoas pensam a meu respeito?
- Charlotte! Vamos, querida! – meu pai chamou da escada.
Apressei-me em descer. Quanto antes começasse mais rápido terminaria. Isso se Miranda não aprontasse alguma e eu tivesse que passar a noite enrolando o meu pai.
Desci correndo as escadas e como sempre acontecia, principalmente por causa das lentes de contato que muitas vezes tiravam o meu foco, e eu nunca aprendia, escorreguei e desci os últimos quatro degraus, de bunda. O que doeu pra cacete e me lembrou da porcaria da injeção. Antes mesmo que eu conseguisse levantar o meu pai já estava com as mãos em mim.
- Meu Deus, Charlotte! – ele me segurou pelo cotovelo me auxiliando. – Você está bem?
- Estou – gemi sentindo minha bunda doer de verdade. – Nenhum dano grave desta vez – ele riu lembrando de todas as vezes que eu quebrei ou machuquei alguma parte do corpo.
- Você nunca vai crescer? – meu pai sorriu de uma maneira linda, típica de todo pai babão apaixonado pela filha.
- Isso não tem nada a ver com meu nível de maturidade e sim com a sua incapacidade de me passar os genes corretos para que eu tivesse coordenação motora – ele riu ainda mais me ajudando a andar. – E você queria que eu fosse médica.
- Talvez administradora fosse mais seguro – ele revelou ainda rindo. – Deixe-me ver – colocou-me de pé me avaliando por alto. Coisa de médicos. - Uau! Como você está bonita! – senti meu rosto corar.
Meu pai era sempre muito gentil quando se tratava da sua única filha. Era só não falarmos sobre namorados ou qualquer coisa do gênero.
- Obrigada! – sorri amavelmente. Apesar da sua marcação cerrada, eu o amava incondicionalmente.
- Você está diferente, Lottie. Não sei... – parou para me observar. Fiquei gelada. O que ele tinha descoberto?
- Eu cresci, pai. Não sou mais uma garotinha – ele sorriu.
Era lindo quando sorria. Seus olhos se fechavam formando ruguinhas nos cantos, mas ele parecia mais jovem sorrindo.
- Você sempre será a minha garotinha! – me puxou para seus braços e beijou o alto da minha cabeça. Senti minhas costelas protestarem, mas jamais revelaria, pois ele me obrigaria a ir ao hospital. Médicos! – Todos esses dias aqui e ainda não conversamos sobre você. Sei do seu projeto, do final do curso, fora isso não sei de mais nada, Lottie.
O que eu poderia dizer a ele? Andei muito ocupada fazendo aulas de sexo com o meu professor delícia e se você não se importar eu adoraria transar com ele sem que para isso ele fosse obrigado a casar comigo. Meu pai, às vezes, era incrível!
- Não há nada sobre mim que você não saiba, Peter – ele não gostava quando eu arriscava chamá-lo pelo nome para tentar igualar nossas posições.
- Você tem... Saído... Conheceu alguém? – comecei a sentir meu rosto vermelho em todos os tons. Oh, merda! Eu ia ter uma conversa sobre garotos com o meu pai? Só se eu tivesse perdido o juízo.
- Tenho vinte e um anos – desviei os olhos.
- Eu sei. Com esta idade sua mãe já estava casada comigo e um pouco acima disso já carregava você nos braços.
A velha e longa conversa de sempre. Eu deveria conhecer um homem bom, que valorizasse a família, que respeitasse os nossos princípios. Deveria me casar em menos de seis meses, virgem, diga-se de passagem, gerar filhos, blá, blá, blá.
- Pai! Não quero me casar. Quero apenas ser a dona da minha vida. Ter o direito de escolher meus namorados, ter as minhas próprias experiências, minhas próprias escolhas... Já conversamos tanto sobre esse assunto. Por favor! – ele me avaliou pensativo.
- Sabe, Lottie... Dr. Adriano tem filhos. Com certeza algum deles deve ser médico como o pai.
Já que você não quis seguir carreira na medicina, e Deus sempre sabe o que faz – sorriu deixando-me irritada. - Escolher um rapaz de boa família que exerça a nossa atividade seria excelente. Pelo menos não perderíamos tudo quando eu não estiver mais por aqui.
Puta que pariu!
- Peter! Nós já conversamos sobre isso – minha mãe me socorreu. Graças a Deus! – Estamos no século XXI. Os casamentos não são mais feitos por conveniência ou arranjados. Devem ser por amor, como aconteceu conosco – meu pai sorriu para as lembranças. Ele amava a minha mãe e os dois eram muito melosos. Chegava a ser insuportável.
- Isso! Eu quero conhecer alguém que me interesse. Alguém que eu ame, e que... De preferência não seja controlador como algumas pessoas que conheço – revirei os olhos mesmo sabendo que o irritaria.
- Eu tenho o direito de opinar. Não vou entregar minha única filha a qualquer um. Não vou mesmo – esbravejou - Mãe! Tá vendo só? Eu vou acabar fugindo de casa – minha mãe riu.
Ela também ficava incomodada com as ideias do meu pai, mas sempre tentava me acalmar dizendo que tudo acabaria quando eu conseguisse ser independente. Só me faltava essa!
- Peter, vamos nos atrasar, querido. Charlotte é a garota mais ajuizada que conhecemos, dê um voto de confiança à sua filha. E vamos, seu velho ultrapassado! – brincou levando meu pai pelo braço. Antes, piscou para mim.
Fiquei tensa durante todo o caminho para o restaurante. Se algum dos filhos do amigo do meu pai fosse realmente médico ele não me deixaria em paz. Implorei mentalmente para que o amigo em questão tivesse uma indisposição e não comparecesse. Miranda ficou trocando mensagens em seu celular e permaneceu com a cara emburrada.
Seria uma noite excelente. Meu pai tentando me casar com o filho do amigo, Miranda no celular e minha mãe me cobrando atitudes mais sociáveis. Ah, Deus! O que eu fiz para merecer tal castigo? Minha única salvação seria meu amigo que prometeu que nos encontraria apesar de eu ainda estar aborrecida pelo que ele tinha feito mais cedo.
Meu pai encostou o carro entregando as chaves para o manobrista e aguardou até que todos estivessem do lado de fora. Johnny nos esperava na porta, o que me deixou extremamente feliz.
Abraçamo-nos e entramos, ele com o braço em minha cintura e eu abraçada à cintura dele.
Parecíamos um casal feliz. Rezei para que fosse o suficiente para espantar qualquer pretendente que meu pai resolvesse me empurrar.
Fomos informados de que éramos aguardados. Caminhamos até a mesa que a recepcionista nos indicou. Assim que avistei os convidados parei chocada. Alex estava lá, junto com Lana, o professor João e o médico, Dr. Adriano amigo de meu pai, que eu tinha passado boa parte da noite anterior tentando enrolar para salvar a pele da minha amiga.
Ele também ficou surpreso ao me ver, mas seus olhos se contraíram e desviaram dos meus para encarar um Johnny possessivo segurando minha cintura.
Puta. Que. Pariu!
Capítulo 20
“Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor”.
William Shakespeare
Charlotte
Claro que este foi o meu primeiro pensamento quando me vi naquela situação e lógico que mais uma vez me vi convencida de que Shakespeare tinha alguma relação espiritual comigo. Não era possível que suas frases sempre coubessem tão perfeitamente bem em minha vida, em todas as situações possíveis. Suspirei resignada.
Estávamos sentados à mesa numa distribuição estranha e desconfortável. Quando Lana percebeu a coincidência rapidamente bolou algum tipo de plano diabólico. Lógico que ela conhecia muito bem o irmão e, com certeza, sabia que ele estava furioso, mas me colocar sentada de frente para ele era realmente o fim do mundo. Para piorar a situação, o coitado do Johnny ficou ao lado do professor João que fazia questão de lhe lançar olhares um tanto quanto ameaçadores. Felizmente a cadeira ao lado estava vazia.
Não entendi muito bem quando Lana indicou uma cadeira depois da que estava desocupada para que Miranda sentasse, mas não questionei sua determinação. Quem pode saber o que se passa na cabeça de uma pessoa como a irmã de Alex?
O fato era que Miranda ficou ao lado da minha mãe, que estava junto do meu pai, seguido pelo Dr. Adriano Frankli e sua linda esposa, Dandara. Os pais do homem que tiraria a minha virgindade dentro de poucos dias. O mesmo que esteve gozando entre as minhas pernas em seu escritório naquela mesma tarde.
Céus! Meu rosto pegou fogo apenas com este pensamento. Era embaraçoso demais.
Sorvi um longo gole da taça de água e naquele momento meus olhos se encontraram novamente com a profundidade azul, que eram os olhos do meu professor. Puta que pariu! Eu queria poder xingar bem alto para aliviar a tensão que percorreu meu corpo diante daquele olhar enfurecido. O que eu havia feito? Ele sabia que Johnny era o meu melhor amigo. Será que esta demonstração gratuita de descontentamento era porque eu era a convidada da noite?
Oh, céus! Será que meu pai falou alguma coisa sobre me casar com um dos filhos do amigo?
Merda! Será que Alex estava aguardando sua “futura noiva” e se decepcionou quando percebeu que era eu? Mas que merda era esta que eu estava pensando? Estamos em pleno século XXI, no Brasil, onde ninguém mais combina casamentos.
Pelo amor de Deus, Charlotte, foco!
Ele desviou o olhar e voltou a fingir interesse na conversa dos nossos pais. Eu estava tão tensa que nem conseguia sorrir direito, que dirá prestar atenção ao que diziam. Minha única vontade era fingir que estava passando mal e sair de lá com urgência, mas até nisso eu estava em desvantagem.
Com um pai médico eu seria atendida no local mesmo e daria a Alex o gostinho de acompanhar a minha desgraça.
- Então, Charlotte, Alex e João são seus professores? Que feliz coincidência! – Dandara, mãe de Alex, me incluía na conversa de maneira gentil. Não sei se devia ficar agradecida ou envergonhada. – De Miranda e Jonathan também.
O simples fato de ela mencionar que Alex era o meu professor fazia a minha mente vagar para nossas atividades extracurriculares dos últimos dias. Nossa Senhora! Minha feminilidade começou a me dar sinais de que estava acordada. Como ele conseguia me excitar tanto, mesmo deixando claro que não estava contente com a minha presença? Como apenas lembranças provocavam esta reação no meu corpo? E tudo isso na frente do meu pai.
Caralho! Eu queria engasgar com a saliva e morrer.
Ok! Fui dramática demais, mas não dava para raciocinar direito.
- Hum! Sim – minha voz praticamente não saiu. Precisei tomar outro gole de água para umedecer as cordas vocais.
- Na verdade, Dana – professor João tomou a frente. – Alex é o orientador da Charlotte. Sua ajuda tem sido de um valor inestimável.
Engasguei cuspindo a água. Puta merda! O que ele estava fazendo? Não tive coragem de buscar pelos olhos do meu orientador. Seria revelador demais. Meu pai tinha uma faca diante dele e facilmente alcançaria Alex.
Droga! Eu devia mesmo estar muito maluca. De onde fui tirar este pensamento? Meu pai nunca faria uma coisa dessas.
Miranda me passou o guardanapo e começou a falar. Por um breve segundo fiquei agradecida, pois com isso ela tirou o foco de mim, sem contar que meu rubor poderia ser disfarçado com o fato de eu ter engasgado. Mas não foi isso o que aconteceu.
- Realmente – Miranda me lançou um olhar mortal – Professor Alex, por que não explica melhor o trabalho que tem realizado com a sua aluna Charlotte? – o olhou de forma assassina.
O que estava acontecendo? Era o dia da “Caça à Charlotte”? Ou quem sabe do “Façam o pai da Charlotte assassinar alguém.”
Alex pigarreou sem perder a compostura, sorriu educadamente para Miranda e desviou a atenção para os meus pais. Sua postura era a imagem perfeita do orientador e editor-chefe. Como ele conseguia?
- No momento tenho trabalhado com Charlotte em seu projeto para conclusão do curso. Posso dizer que ela tem feito muitos progressos – ah, sim! Com certeza eu progredi muito. Corei de maneira absurda.
- Acho que deveríamos acreditar nesta parte – Miranda continuou. Alex ergueu uma sobrancelha sem se intimidar. – Quero apenas saber de que forma um professor experiente e que entende melhor do assunto em questão, pode ajudar a sua aluna. Quais as técnicas que usa?
Ok! Ok! Consegui atingir meu limite máximo de constrangimento. Que porra Miranda estava fazendo?
- Miranda...
Tentei interromper, contudo Alex foi muito mais rápido. Ele segurava as pontas sem perder sua imponência e sem se deixar levar pela emoção descabida da minha amiga.
- Da mesma forma que o seu orientador com certeza trabalhou com você, Miranda. Pelo que fiquei sabendo o seu projeto foi simples, mas suficiente, não por insistência do seu orientador, claro, ele queria deixá-lo melhor. No entanto, até onde ele me revelou, você não queria um projeto maravilhoso e sim um que fosse apenas o suficiente, estou enganado?
Miranda se encolheu e olhou de relance para o meu pai, que estreitou os olhos, sem dizer nada.
Eu não sabia se ria do fato de Alex ter conseguido colocar minha amiga no lugar dela ou se ficava triste e preocupada com o que aconteceria quando aquele jantar terminasse. Meu pai certamente cobraria de Miranda algumas respostas.
- Charlotte está escrevendo um livro – ele continuou sem se abalar. - Você, como amiga, deve saber o quanto ela é brilhante como escritora. Inclusive hoje mesmo conversei com minha aluna sobre sua aprovação. Além de seu professor estou tentando contratá-la. Como todos sabem... – ele olhou para o grupo que acompanhava a conversa com atenção - Sou proprietário e editor-chefe de uma das maiores editoras do país. Eu e Lana conversamos sobre a possibilidade de publicarmos o trabalho de Charlotte tão logo esteja concluído. Claro que teremos que trabalhar nele, ainda há muito que se fazer até tudo esteja perfeitamente encaixado. E...
- Ah! Então, professor, o senhor pretende dar mais algumas aulas extras a minha amiga? – Miranda recuperou o fôlego e sem medo voltou a confrontar Alex. Sua cara cínica chegava a ser absurda. Tive vontade de atirar minha água nela.
- Aulas extras? – meu pai parecia intrigado o que quase me fez ter uma síncope.
- O professor Alex tem me ajudado muito, pai. Como Miranda disse, ele possui muita experiência, e o meu sonho é me tornar uma escritora profissional, tenho aproveitado tudo que tem para me oferecer. Confesso que Miranda foi a minha maior incentivadora nesta escolha. Ela sabia o que o nosso professor poderia fazer por mim e, mesmo com toda a minha resistência inicial, hoje tenho certeza que não poderia ter feito uma escolha diferente. Era ele. Tinha que ser.
Quase engasguei com esta parte sentindo-me emocionada. No entanto, esconder a paixão que existia por detrás das minhas palavras era imprescindível.
Era difícil confessar tantos sentimentos, mesmo sabendo que nem todas as pessoas presentes entenderiam as minhas palavras como deveriam ser entendidas. Independentemente de qualquer coisa, Alex sabia que eu estava falando abertamente sobre nossa relação. Ele sim seria o único capaz de entender além das minhas palavras. Naquele momento senti que estávamos completamente conectados e que não poderia ser de outra forma.
Nossos olhos se encontraram e com eles a corrente elétrica que nos cercava colocando-nos na mesma sintonia. Era quente, tenso e excitante ao mesmo tempo. Assisti deslumbrada, um leve sorriso se formar no canto dos seus lábios. Alex era meu espetáculo particular.
- Como eu ia dizendo – continuou mantendo firme a sua fachada de empresário seguro e bem-sucedido. – Charlotte será a nossa próxima aposta. Se ela concordar, é claro.
- Na verdade... – meu pai estragaria tudo. Droga! – Eu permito que Charlotte se divirta com essa história de ser escritora, porém ela precisa colocar a cabeça no lugar. Temos um patrimônio que não pode se perder após a minha morte...
- Pai! – olhei-o aterrorizada. Aquela noite estava sendo caótica para mim.
- Já conversamos sobre esse assunto, Charlotte. Eu concordei com esta história de livro, desde que você se interessasse mais pelo seu patrimônio – nós íamos começar tudo de novo. Como ele conseguia estragar as coisas daquele jeito?
- Não tenho o menor interesse em administrar hospitais... Quer dizer... Eu entendo a sua preocupação, mas... pai, eu... Droga! Mãe faça alguma coisa.
Todos começaram a rir. Ok, assinei o meu atestado de infantilidade, mas o meu pai é impossível. Só minha mãe para conseguir segurá-lo.
- Johnny está estudando para suprir esta sua carência, pai. É o suficiente.
- Então você terá que casar com ele porque eu não passei anos trabalhando para deixar tudo nas mãos de alguém que não é da nossa família. Sem querer ofender, Johnny.
- Pai! – quase gritei. Que merda!
- O que foi? O que eu disse demais?
- Mãe! – estava prontinha para começar a chorar ou fugir dali. Ou as duas coisas.
- Ah! Tudo bem, Peter. Pra mim, um cargo na administração do hospital já está de ótimo tamanho – Johnny, como sempre, salvaria a minha noite. Era por isso que eu amava o meu amigo. – Além do mais, o professor Alex tem razão, Charlotte é uma grande escritora, e nada melhor nesta vida do que fazer aquilo que nos dá prazer e sua filha, com certeza, tem encontrado muito prazer...
escrevendo – ele, muito discretamente, sufocou o riso. Minha vontade foi de atirar meu copo nele, mas me contive.
Alex voltou a me olhar, aliás, seus olhos me queimavam de tanta raiva. O que ele esperava?
Então o professor João podia saber da nossa história e fazer piada, e o meu melhor amigo não? Tudo bem que Miranda estava pegando pesado, mas não era para tanto. Tudo bem. Meu pai também não estava facilitando em nada.
- Fico muito feliz em saber que de alguma forma, nossas famílias estarão alinhadas, Peter. Eu entendo sua preocupação, veja só: tenho três filhos e nenhum deles quis seguir a minha profissão. Por isso nunca fiz questão de expandir a minha clínica, por outro lado veja que interessante: Dana teve a ideia da editora quando ainda estávamos namorando. Alex cresceu em meio aos livros e hoje a empresa deles é mais próspera do que a minha. Eu me sinto realmente muito orgulhoso – Dr. Frankli sorria amistosamente tornando tudo mais leve.
- E Charlotte será uma escritora renomada, eu posso prever – Lana completou me dando força.
- E o que mais consegue prever, bruxinha? – todos olharam na direção daquela figura que tinha acabado de se juntar ao grupo. Fiquei surpresa.
Parado diante de mim com os braços apoiados na cadeira do Dr. Frankli, estava Patrício, o namorado da minha melhor amiga. O que ele fazia ali? Voltei meu olhar para Miranda que encarava o namorado e, apesar de absurdamente admirada, também não entendia o motivo da sua presença.
- Patrício? – o silêncio foi cortante.
Todos ficaram surpresos com o tom de voz da Miranda. Seus lindos olhos castanhos piscavam numa perfeita cena de filme romântico. Era tão meloso, tosco e ao mesmo tempo lindo. Ela tocou os cachos, como se não soubesse como reagir e sorriu timidamente, algo raro para minha amiga.
- Miranda? O que faz aqui? – ele demonstrou ter gostado da surpresa. Tão diferente de Alex, que ainda não tinha conseguido relaxar.
- Vocês se conhecem? – Dr. Frankli perguntou intrigado.
- Bom... Era para ser de forma diferente, mas... pai, mãe, esta é minha namorada, Miranda. É
uma surpresa para mim encontrá-la aqui – ele riu de estrondosamente.
- Pai? Mãe?
Falamos, eu, Miranda e Johnny ao mesmo tempo, em seguida começamos a rir com a coincidência que mais parecia uma cena de ficção. Todos nos olharam curiosos.
- Desculpe! – Miranda começou. – É que não esperávamos... Bom... Eu não sabia que você era irmão do Professor Frankli... É tão... Surreal.
Meu Deus! Miranda estava namorando o irmão do Alex. Justamente o irmão do Alex. Eu bem que poderia desaparecer no ar naquele momento. Se Miranda abrisse a boca para falar qualquer coisa eu a excluiria da minha vida. Precisava deixar essa mensagem bem clara para ela.
- Hum! Então você já conhece o meu irmão? - ele se abaixou um pouco para deixar um selinho nos lábios da minha amiga que já estava toda derretida.
Aproveitei o momento para sacar o meu IPhone e mandar uma mensagem via WhatsApp.
“Não se atreva a contar nada ao seu namorado. Eu mato você”.
Ninguém tinha percebido minha atitude. Ela recebeu a mensagem imediatamente e me olhou com receio. Oh, merda! Miranda já tinha contado. Merda! Mil vezes merda!
“Não foi como você está pensando. Juro! Foi só um comentário sobre um professor depravado. Não citei o nome dele. Ai meu Deus!”
Eu, definitivamente, mataria Miranda. Isso se Alex não me matasse primeiro quando descobrisse que seu irmão sabia de toda a sacanagem que andávamos fazendo.
Puta que pariu!
- Charlotte? Você também? – Patrício sorriu maliciosamente. Precisava manter sua bem boca fechada antes que soltasse alguma merda na frente do meu pai.
- Patrício este é o Dr. Peter, meu amigo – o Dr. Frankli fez o imenso favor de esclarecer os fatos. – Esta é a sua esposa, Mary. Pelo visto você já conhece a filha deles Charlotte e a afilhada, Miranda. – No mesmo instante Patrício trocou um olhar estranho com Alex, que apenas balançou a cabeça, negando de maneira quase imperceptível.
- E este é Johnny – Miranda fez as devidas apresentações.
- É. Johnny. O guardião!
Meu amigo brincou, mas eu sabia que ele estava dando um recado. Para os dois. Johnny sempre foi uma versão mais interessante de irmão mais velho.
Foi neste momento que meu celular vibrou em minha mão por baixo da mesa. Olhei discretamente a tela aberta indicando que Alex me chamava no WhatsApp. O quê? Eu nem sabia que ele tinha isso. Aceitei e verifiquei o que escreveu. Estanquei chocada.
“Você tem um pai que quer que case com um cão feroz. Que ótimo! Mande sua amiguinha ficar de boca fechada ou mato vocês duas!”
Caramba! Com essa eu tive que respirar profundamente. Que merda de pressão! Digitei uma mensagem rápida enquanto Lana enrolava meu pai com uma conversa sobre os lucros com venda de livros e tudo o mais que só ela sabia dizer de maneira tão cativante que meu velho sorria enfeitiçado.
Ela era mesmo uma bruxinha.
“Meu pai não quer que eu case com Johnny. Ele é só meu amigo, meu irmão. Posso cuidar de Miranda, porém não posso me sentir segura quanto aos seus instintos assassinos.”
- Então, Miranda e Patrício... Namorado? – meu pai incorporou o seu papel “não encoste em minhas filhas”. – Ela não me falou nada sobre ter um namorado. Miranda?
- Ah! Padrinho, é que Patrício... Nós nos conhecemos há pouco tempo e eu não imaginei... Eu...
Me desculpe! - Abaixou a cabeça resignada. Miranda era bem deste tipo: aprontava todas, mas quando meu pai aparecia e fechava o cerco, ela desempenhava o papel de menina obediente e arrependida derretendo o coração dele.
- Dr. Peter? – Patrício se adiantou para apertar a mão do meu pai, que o cumprimentou com cara de poucos amigos então beijou a mão de minha mãe, que ficou encantada. – Sou Patrício Frankli, filho de Adriano e Dandara. Conheci Miranda há pouco tempo, porém confesso que minha alma já esperava por ela.
Pelo amor de Deus! Este cara sabia como ganhar o respeito da minha mãe e a indulgência do meu pai. Era só o que me faltava. Miranda tinha permissão para trepar todos os dias que nem uma louca, com um cara que acabou de conhecer enquanto eu tinha minha virgindade vigiada a sete chaves e precisava de um marido escolhido a dedo.
Quanta injustiça!
- E no que você trabalha, meu rapaz? Perdão Adriano, Miranda é minha afilhada, eu cuido dela desde que a mãe faleceu, por favor, entenda...
- Tudo bem. Sei como é ser pai de garotas tão bonitas, fique tranquilo, meu filho recebeu a melhor educação possível e eu jamais permitiria que se aproximasse de uma filha sua se não fosse com a melhor das intenções. Afinal de contas estamos colocando o meu emprego em risco – eles riram, amenizando o clima.
- Com certeza. Tenho convicção de que Miranda chegou para ficar. Ela trouxe luz para a minha vida – se ninguém calasse aquele cara eu ia vomitar sobre a mesa.
Que romantismo mais brega!
Johnny revirou os olhos e depois sorriu para mim. Segurei a gargalhada que queria escapar, Miranda percebeu a nossa reação e não gostou nadinha.
- Então, professor Frankli... Não entendi como funciona esta sua oferta para a minha amiga.
Você está ensinado a arte de... escrever – deu um sorriso diabólico. – Tornando o trabalho dela mais real. Real até demais para ser sincera – puta que pariu! Os olhos de Alex pareciam em chamas. – E, após um longo período de aulas exaustivas, onde o senhor se empenhou o máximo para deixar seus textos mais... digamos assim... profissionais, recompensará o desempenho dela oferecendo-lhe um contrato com sua editora. É isso? Algumas aulas e depois uma relação apenas profissional?
Os pratos chegaram no exato momento em que Miranda atacava um pouco mais o meu professor. Ok! Eu ia simular um ataque cardíaco e todos esqueceriam aquele assunto desconfortável.
- As relações profissionais da minha editora, são desenvolvidas por Lana. A ideia de publicarmos não partiu de mim, apesar de precisar do meu aval, minha irmã leu o material e ficou encantada. Realmente será um livro de sucesso – ele se voltou na direção do meu pai enquanto falava, ignorando por completo a minha amiga. – Tenho todos os motivos para acreditar no potencial de Charlotte, Dr. Peter, no entanto acho que esta decisão cabe apenas a ela, afinal de contas, sua filha já tem vinte e um anos e possui maturidade suficiente para decidir o que fazer da própria vida.
- É óbvio que você confia no potencial dela. Como não poderia? – mais veneno vindo de Miranda.
- Vamos respeitar a decisão de nossa filha, Alex – minha mãe impediu que Alex respondesse Miranda da forma como ela merecia.
- Eu também acredito no potencial de Charlotte. Ela é esperta demais. Aprende rápido – Johnny sorriu e piscou para mim. Suas palavras com sentido dúbio me fizeram corar absurdamente.
Meu celular vibrou. Tive medo de verificar a mensagem.
“Tenho motivo suficiente para estar furioso. O que você fez? Saiu contando para todo mundo o nosso acordo?”
Respondi rapidamente “Não. Pelo visto você também não se absteve de se confessar com seu amigo. Que droga, Alex!”
Meu professor se remexeu impaciente na cadeira. Todos começaram a comer em um silêncio constrangedor. Meu apetite havia desaparecido. Meu celular voltou a vibrar.
“Nunca deveríamos ter feito isso. Foi um erro enorme e agora estamos à beira de um desastre. Estou com muita raiva, Charlotte! Você deveria ter mantido a boca fechada.”
Sufoquei a vontade de responder diretamente ao meu professor em alto e bom som. Era uma merda ser atacada de todos os lados, mas era uma merda maior ainda saber que ele se achava no direito de dividir aquele peso com o amigo e não me permitir o mesmo. E doía saber que significava tão pouco para ele que entregava os pontos já no primeiro desafio, voltando a dizer que era um erro.
Puta merda!
“Está muito difícil? Como posso te ajudar?”
Oh, Deus! A mensagem de Johnny quase me levou às lágrimas. Ele nem fazia ideia de como estava complicado. Alex tinha se arrependido. E se ele desistisse? Eu precisava reverter a situação.
Mas como, se Miranda não parava de falar merda?
Respirei profundamente me lembrando de que a única forma de fazer Alex esquecer qualquer assunto era ser ousada e desviar a conversa para nosso lado sexual bastante forte, seria a melhor solução no momento. Se eu conseguisse distraí-lo talvez o fizesse recuar “De boca fechada eu não consigo fazer um monte de coisas que adoro fazer com o senhor, professor.”
Olhei-o discretamente enquanto me obrigava a colocar um pouco de comida na boca. Alex olhou a mensagem por baixo da mesa e suspirou pesadamente. Depois levou uma mão aos cabelos, puxando-os para trás. Logo em seguida nossos olhos se encontraram e eu entendi que tinha atingido meu objetivo. Sorri levemente desviando o olhar.
“Posso começar a falar sobre o meu curso, sobre o meu trabalho, sei lá, qualquer coisa para ver um sorriso neste rosto pálido”
Johnny ainda tentava me ajudar.
“Você consegue fazer Miranda se engasgar ou ficar de boca fechada? Estou com vontade de matá-la.”
Digitei rapidamente e comi mais um pouco. Pelo canto dos olhos vi meu amigo rir, ao voltar a olhar na direção de Alex vi que ele tinha notado minha troca de mensagens com Johnny, e parecia não ter gostado nadinha disso. Seus olhos se estreitaram e meu professor mordeu o lábio inferior me encarando. Era aterrorizante, intimidador e extremamente sexy. Caralho! Minha calcinha estava úmida? Como?
“Muito divertida a sua conversa com o seu futuro... marido?”
Revirei os olhos com esta. Alex estava realmente sendo infantil a este ponto? Ia começar a escrever uma mensagem quando chegou uma de Miranda.
“Desculpe, mas ele precisa saber que você não está sozinha. Por favor, não me mate. Te amo!”
E eu amava a minha amiga, no entanto ela estava destruindo a minha chance de perder a virgindade com o homem que eu mais desejei a minha vida toda. Aliás, o único homem que eu desejei e o único que eu queria.
“Não vou te perdoar se abrir sua boca mais uma vez. Entendeu? Estou falando sério. Obs: Te amo também.”
Enviei e comecei a digitar a que enviaria para Alex quando Dandara me cortou.
- Então, Charlotte, fale-nos um pouco sobre o que está escrevendo. Fiquei bastante curiosa com toda atenção que meus filhos estão dando ao seu material – se antes eu estava em maus lençóis, agora eu estava completamente “fodida”, para meu azar, não literalmente.
Como poderia explicar que escrevia as pornografias que aprendia com o filho dela. Santo Deus! Depois de uma tarde deliciosa com o meu professor, estava sendo detonada por todos. Como sobreviveria?
- É... bom... é um romance... É... – tenho certeza que meu rosto estava mais vermelho do que um tomate maduro.
- Ela escreveu um romance adulto que conta sobre o amor proibido entre um figurão da alta sociedade e a sua amante. A história tem tudo para dar errado, porém Charlotte soube conduzir o relacionamento deles com tamanha graciosidade que torna impossível você não se apaixonar e torcer por eles. Você vai amar o livro, mãe! – Lana conseguiu desviar a atenção de mim. O que me fez ser eternamente grata a ela.
- Romance adulto?
A mãe do meu professor perguntou curiosa. Com uma sobrancelha arqueada, ela me olhou e em seguida desviou sua atenção para o filho que, constrangido, desviou o olhar fingindo não perceber.
Se mais alguma coisa de ruim iria acontecer era melhor que acontecesse logo, pois eu não suportava mais tanta pressão. Aquele era o momento em que um orgasmo seria mais do que bem-vindo. Meu corpo precisava de algo para relaxar ou eu surtaria.
“Tem como piorar?”
Alex enviou a mensagem. Meu coração acelerou. Era demais para ele também. Merda! Meu professor não sobreviveria àquela noite.
“Alex, por favor, já estou tensa o suficiente. Colabore não me fazendo ameaças.”
Depois, com medo de ele pensar que era um basta, rapidamente escrevi outra mensagem.
“Tivemos uma tarde tão deliciosa, merecíamos uma noite melhor!”
Arrisquei buscar por seus olhos e vi um sorriso mínimo em seus lábios. Ok! Eu sabia virar o jogo. Fiquei deliciada.
“Você não está colaborando muito. Estou furioso, Charlotte, só tem um jeito de eu começar a me sentir melhor.”
Como assim? Oh, Droga! Do que Alex estava falando? Minha cabeça estava tão fodida que não conseguia raciocinar coerentemente.
- Não está com fome, Charlotte? – Pedro percebeu o meu desânimo.
- Na verdade, hoje estou sem ânimo para nada, professor João.
- Ah, por favor! Apenas João. Somos praticamente uma família agora – piscou para mim. Não sei por qual motivo todos naquela mesa pareciam querer me sacanear.
Era algo tão absurdo assim uma garota virgem de vinte e um anos acalentar o sonho de ser uma grande escritora e pedir ajuda ao seu professor para alcançar seus objetivos? Droga!
Ok! Era sim absurdo eu praticamente obrigar Alex a transar comigo, mas... Puta que pariu!
Somos adultos, não somos? Podemos perfeitamente escolher entre apenas conversar sobre o assunto ou colocá-lo em prática. Merda! Realmente era foda fazer isso com o professor responsável pelo seu projeto, mas... Mas nada, Charlotte! Concentre-se na comida e esqueça todo o resto.
“O que você quis dizer?”
Não resisti. Era impossível fazer cara de paisagem. Meu pai estava numa conversa animada com o pai de Alex, minha mãe comia enquanto ouvia Dandara falar sobre a editora, Miranda estava entretida com o namorado e Lana atendia uma ligação atrás da outra. Restava apenas Johnny, que fingia não prestar atenção em mim e João Pedro que já tinha desistido de tentar me aborrecer.
“Estou querendo dizer que te comeria de ponta a cabeça, só para fazê-la compreender o significado exato da palavra segredo, Charlotte Middleton. E quando acabasse não sobraria nada dessa sua língua grande!”
Uau! Essa foi mesmo de arrepiar.
“Você me deixou cheia de ideias, professor Frankli. Se o problema é a minha boca grande, ou a minha língua habilidosa, não sei o que restará para nós dois.”
Enviei e comi um belo pedaço do meu filé, saboreando cada mordida de maneira especial.
“Está me desafiando ou tentando me distrair? Porque estou ficando ainda mais furioso.”
Nossa! Ele era rápido no gatilho. Meu corpo inteiro estava duro, retraído, tenso. Merda! Alex não podia deixar para me intimidar amanhã?
- Charlotte?
Puta merda! Se aquilo já era um pesadelo eu poderia acordar naquela parte. Deus com certeza estava me punindo. O que o Henrique fazia ali? Fechei os olhos sem coragem de olhar para o meu professor.
- Miranda, Johnny – ele continuou.
- Henrique – Johnny o cumprimentou com ironia na voz. – Que mundo pequeno.
- Pois é – ele riu sem graça. Foi quando me virei para olhá-lo. – Oi, Charlotte! – falou com ansiedade e olhos brilhantes, cheios de esperança.
- Oi! – respondi sem saber o que dizer. Ele olhou para os componentes da mesa e ficou sem graça.
- Professor, Frankli, Professor Prado – ele disse endireitando o corpo. – Boa noite. Boa noite a todos. Eu sou Henrique Almeida, amigo da Charlotte – e claro, ele não acrescentou que era também da Miranda e do Johnny, simplesmente porque era o dia de “ferrar a Charlotte”.
- Colega da faculdade? – meu pai encarava Henrique com interesse.
- Sim, sim senhor.
- Eu sou o pai dela. Dr. Peter Middleton, muito prazer! – ele estendeu a mão para meu colega que prontamente a apertou. – Esta é a mãe de Charlotte, Mary Middleton – Henrique apertou a mão de minha mãe que apenas sorriu. – Então, meu rapaz, conte-me sobre a sua amizade com a minha filha.
Puta! Que! Pariu!
- Pai! O Henrique com certeza não está aqui para ser interrogado – quase rosnei e ele riu.
- Nós somos amigos. Sua filha é uma garota admirável, Dr. Middleton. Eu vim encontrar o meu pai e minha madrasta, eles estão na cidade, então... – deu de ombros.
- Apareça qualquer dia desses, Henrique – minha mãe falou com educação. Ele olhou para mim e sorriu. Minha única vontade era de enxotá-lo de lá como se fosse um cachorro.
- Certamente – ele disse de maneira polida. – Charlotte, vejo você amanhã? – e depois dessa eu sabia que seria morta por Alex.
- Provavelmente. Estudamos na mesma faculdade – sorri sem graça e sem vontade. Ele se despediu e saiu.
Meu pai me observou com olhos estreitos. Merda! Ele aparentemente acreditou que eu estava interessada no nerd do Henrique e daria o maior trabalho convencê-lo que não era nada daquilo. Ou não! Se meu pai acreditasse que era o Henrique nunca pensaria no Alex. Aquilo era perfeito!
“Pelo que parece seu namoradinho agradou seus pais.”
Alex enviou e meu sangue gelou. Poxa! Eu não conseguia um segundo de paz.
“Por favor, não fique com raiva. Eu não tenho culpa. Estou sendo massacrada esta noite. O
que posso fazer para melhorar o seu humor?”
Johnny começou a falar sobre as suas aulas, seus planos para o futuro e blá, blá, blá. Meu pai esquecia o mundo quando ele começava a agir como um executivo promissor.
O garçom se aproximou retirando os pratos e servindo as taças. Desejei desesperadamente um gole de vinho e, mesmo sabendo que meu pai me censuraria, aceitei que enchesse a minha.
Que se dane. Eu já tenho vinte e um anos.
“O que seria capaz de fazer para ser perdoada, Srta. Middleton? Lembre-se, eu estou realmente furioso.”
Respirei profundamente. Tomei um longo gole bebendo quase todo o conteúdo da minha taça, olhei para os ocupantes da mesa, respirei fundo novamente e criei coragem.
“TUDO.”
E enviei. Virei o restante do vinho e senti minha garganta protestar com a acidez. O garçom rapidamente encheu minha taça novamente, minha mãe me lançou um olhar de reprovação que quase me impediu.
Dane-se! Sou maior de idade. Posso transar com o meu professor se e quando eu quiser. Ok!
Meu pai enfartaria, antes ou depois de atirar em Alex e de me deserdar. Pelo menos eu transaria com o homem que escolhi.
Virei a taça deixando que o vinho descesse. O celular voltou a vibrar avisando a chegada de mais uma mensagem “Ótimo! Vá até o toalete e tire a calcinha. Quero sentir você em meus dedos. E pare de tomar tanto vinho. Preciso desta boquinha bem esperta.”
PUTA! QUE! PARIU!
Parada, a taça de vinho suspensa a caminho dos meus lábios, os olhos vidrados no celular e o rosto pegando fogo, pensei, por um átimo de segundo, se deveria ou não obedecer.
Alex só podia estar maluco mesmo. O que faria? Estávamos com nossos pais sustentando a imagem de aluna e professor. Santo Deus! Mesmo assim, eu estava super, mega, hiper, master excitada. Por que não tirar a calcinha? Ela não serviria para mais nada mesmo!
- Com licença – com o celular nas mãos, levantei para cumprir a minha tarefa.
- Charlotte? – minha mãe me olhou com ar desconfiado.
- Preciso ir ao toalete.
Meu rosto estava completamente vermelho. Eu podia sentir a pele queimando. Só não sabia se era de excitação ou vergonha. Cheguei rapidamente à conclusão de que era a primeira opção.
Caminhei, o mais rápido possível, entrei na primeira cabine, arranquei a calcinha descartando-a na lixeira, o que era realmente uma pena, e saí. Olhei no espelho. Meu Deus! Minha cara me entregava. Meu rosto vermelho e os olhos brilhantes deixavam claro que ali estava uma garota prestes a ser comida, ou não, porém, com certeza, prestes a ter um orgasmo arrebatador, como só Alex podia proporcionar.
- Calma, Charlotte! Você vai voltar para a mesa e obedecer a tudo que ele ordenar. É
importante. Alex está nervoso e parte disso é sua culpa. Tudo bem, não muito, um pouco sim. Tá, tá certo! Alex fica nervosinho sem motivos, mas você quer ir até o fim, não quer? – concordei com a minha imagem no espelho. – Ótimo! Quem sabe não conseguiremos ir um pouco além do fim... Quem sabe?
Molhei o rosto, evitando manchar a maquiagem deixando que a água diminuísse a temperatura em meu pescoço e nuca. Respirei fundo trocentas vezes. Ok! Hora de me entregar aos ensinamentos do meu professor delícia. Dei risada sozinha e fui em direção à porta então Miranda apareceu.
- Miranda! – fiquei sem saber como agir. Será que ela perceberia o que eu estava prestes a fazer?
- O que vocês estão tramando? – minha amiga me encarou com olhos desafiadores e os braços cruzados no peito.
- O quê? Como... Você... Pelo amor de Deus, Miranda! O que você acha que está fazendo?
Acredita mesmo que pode me interrogar? Por um acaso eu te questiono quando você convida o seu namorado para passar a noite lá em casa? – minha amiga recuou, porém seus olhos continuaram duros.
- Ele não é seu namorado, Charlotte. Pense bem no que está fazendo. Sei que vai se magoar.
- E como espera evitar isso? Desafiando Alex? Tornando a nossa noite um inferno?
Francamente, Miranda!
- Sei que passei do limite, Charlotte. Estou com medo por você. Eu te amo como uma irmã. Sua família é a única que eu tenho, não quero ter ver sofrendo quando aquele cretino sumir da sua vida.
- Por acaso sabe quantos anos eu tenho? – gritei em resposta. – Estou cansada de todo mundo tentar resolver a minha vida, tomar as decisões por mim. Estou cansada. Eu já decidi, Miranda, nem você nem ninguém vai conseguir me deter, entendeu? – os olhos de minha amiga se encheram de lágrimas. Ficamos nos encarando sem dizer mais nada. – Com licença, preciso ir.
- Ele foi embora – Miranda não me impediu de passar, mas suas palavras me detiveram. – Disse que tinha um problema sério para resolver e foi embora. Qual vai ser a sua desculpa? – estava em choque.
Alex foi embora? Como pôde? Por quê? Não sabia o que responder nem o que fazer. Minha confusão era visível.
- Sinto muito! – Miranda entendeu o meu abatimento.
- Preciso voltar.
- Charlotte...
- Eu só... Preciso voltar, Miranda – puxei o ar procurando coragem para continuar.
Saímos juntas, sem dizer nada. Foram apenas três passos e fui abordada pela recepcionista do restaurante.
- Charlotte Middleton? – eu e Miranda paramos surpresas olhando para a funcionária.
- Sim.
- Por aqui, por favor – ela indicou uma porta de acesso exclusivo aos funcionários.
- Espere! – Miranda a interrompeu. – Como assim por aqui? O que significa isso?
Olhei para os lados tentando descobrir porque ela queria me tirar do salão principal.
Imediatamente minha mente me levou a Alex.
- Desculpe, senhorita. Recebi ordens para acompanhar a senhorita Middleton.
- Mas não vai mesmo! – Miranda deu um passo à frente.
- Tudo bem, Miranda.
Minha amiga olhou assustada em minha direção. Imediatamente ela também entendeu. Levou alguns segundos para que chegasse à conclusão de que o melhor a fazer era me ajudar.
- E o que eu faço?
- Não sei. Pense em algo. Por favor!
- Tudo bem. Deixe comigo. Mas você vai ficar me devendo uma.
- Você já me deve várias – rebati.
- Mas você não precisou passar pelo que vou passar para te encobrir – ela piscou. Oh, Deus! O
que ela aprontaria? Eu não ficaria para descobrir.
- Obrigada! – abracei minha amiga e em seguida acompanhei a garota que me aguardava ansiosamente.
Só olhei para trás no momento em que ouvi o barulho de pratos caindo e algumas pessoas falando um pouco mais alto. Ainda consegui ver minha amiga Miranda caindo no chão com diversos pratos ao seu redor e as pessoas correndo em sua direção. Nossa Senhora! Miranda era capaz de tudo. Sorri. Tinha certeza que ela não estava machucada. Não de verdade. Seria uma excelente distração.
Capítulo 21
“Pois a coragem cresce com a ocasião.”
William Shakespeare
Charlotte
Quando Miranda saiu para o salão principal e encenou o seu acidente ganhando a atenção de todos, a garota me conduziu pelas portas duplas, levando-me a uma sala imensa, abafada e barulhenta com várias pessoas andando para todos os lados, conferindo pratos, panelas, papéis... Uma verdadeira bagunça organizada.
Ela me conduziu, desviando-nos de um ou outro funcionário, que não paravam seus afazeres para analisar a minha presença, até chegarmos num corredor escuro, demos alguns passos e uma porta se abriu. Um vento frio fez minha pele arrepiar. Estávamos na rua.
- Ele a aguarda no carro – ela disse sem me encarar.
- O quê? Como?
- O Sr. Frankli pediu para avisar que a aguarda dentro do carro.
Olhei para fora sem acreditar que faria aquilo mesmo. E meu pai? E minha mãe? O que eu diria? Um jogo de luz logo me levou à realidade. Alex me esperava e eu ansiava por ele.
Corri em direção ao carro abri a porta e sentei no banco de couro com meu professor ao meu lado. Ele, sem me olhar nem por um segundo, deu partida conduzindo o carro para fora dos domínios do restaurante por uma entrada que definitivamente não foi a que chegamos.
- Conseguiu enrolar o seu pai? – perguntou secamente.
- Com a ajuda de Miranda.
- Ah é? – ele me olhou com desconfiança. – Isso é bom – em silêncio acelerou o carro até que eu começasse a sentir medo.
Não pude deixar de notar a figura imponente, dirigindo como se precisasse chegar com a máxima urgência, mas isso não me incomodou. Eu também compartilhava daquele sentimento.
Quando ele precisou parar em um semáforo, seus olhos se voltaram para mim. Oh, Deus! Ele me olhava com olhos que me queimavam e devoravam ao mesmo tempo. Nunca antes tinha me olhado daquela maneira. Era como se estivesse me despindo.
- Alex, como...
- Shiiiiiiiiii – ele avançou na minha direção me fazendo recuar. Com o dedo indicador calou meus lábios. – Não diga uma palavra, Charlotte. Eu estou com muita raiva e desesperado por você.
Então, por favor, não fale nada, porque eu não sei se te dou umas palmadas ou se te como até não sobrar mais nada da minha aluna.
Alex me beijou com força, desejo, emoção... Incendiei. Suas mãos suspenderam meu cabelo, liberando meu pescoço para o seu prazer. Sua língua invadiu minha boca, me explorando profundamente. Era impossível acompanhar tantas informações.
Ele estava em todos os lugares, me forçando, conduzindo e submetendo completamente a sua vontade. Era como seu eu fosse uma boneca em suas mãos, como se estivesse ali somente para aplacar aquele fogo que o consumia e ao mesmo tempo, como se apenas eu pudesse estar naquela posição. Nenhuma outra mulher poderia ocupá-la.
Mesmo me mantendo de maneira tão vulnerável, Alex sabia como fazer para que eu me sentisse única. Ele me devorava com toques, mordidas e beijos alucinantes gemendo descontroladamente.
Quando suas mãos, finalmente, subiram por dentro de minha saia, tocando o interior de minhas coxas, uma pela frente e a outra por trás, chegando as duas em meu sexo ao mesmo tempo por pontos diferentes, e eu não consegui descobrir como ele conseguiu fazer aquilo estando dentro de um carro, com outros ao lado, pensei que não resistiria. Liberei seus lábios com um gemido inacreditavelmente carnal.
- Ah, Charlotte! Minha menina! Exatamente como eu queria. Sem barreiras, quente e molhada.
- Alex...
- Shiiiiii! Não fale – sua ordem fez meu corpo vibrar.
Ele foi bruto, firme e deliciosamente sexy.
- Calada, Charlotte!
Então uma buzina fez com que ele voltasse a atenção ao volante e ao percurso que precisávamos seguir. Alex permaneceu calado, seus dedos apertando o volante com tanta força que tive medo do que ele seria capaz de fazer comigo. Se bem que aquela amostra segundos antes já indicava qual punição eu receberia.
Ele seguia, correndo, sem se incomodar em cortar os demais carros que se aventuravam a sua frente. Segurei no banco com força. Eu sabia que Alex não nos colocaria em risco, mesmo assim temi.
- Para onde vamos? – me arrisquei a falar.
- Eu mandei você ficar calada, Charlotte – ele respondeu sem raiva, apenas um sussurro.
- Desculpe! – respondi no mesmo tom. Ele suspirou e me olhou rapidamente.
- Eu acho que vamos para a minha casa, só não tenho certeza se consigo esperar até chegarmos – e com isso pegou minha mão e a levou ao seu membro.
Puta que pariu! Quase tive um orgasmo. Alex estava duro, muito duro. Uma promessa de satisfação plena. Sem pensar em qualquer ação, umedeci os lábios relembrando o quanto gostava de tê-lo em minha boca.
- Se você passar esta língua mais uma vez nos lábios não responderei por mim.
Puxei o ar com força e mordi o lábio inferior. Eu estava tão molhada que tive medo que escorresse para o couro do banco. Fechei as pernas apertando-as uma na outra. A sensação era gostosa, ele segurou meus joelhos e me forçou a afastá-los.
- Alex! – engasguei de tanto desejo, pois ele subiu os dedos e acariciou meu sexo. Uma carícia leve, quase inocente. E ficaram por lá, deslizando lentamente, acabando com o meu juízo.
- É assim que você gosta, não é? Gosta que eu te toque, sua safada? Gosta de me irritar só para depois me deixar louco de tesão?
Ele fez uma curva fechada fazendo os pneus cantarem e logo estávamos em frente ao portão do seu condomínio. Aguardou sem muita paciência que se abrisse e, sem cumprimentar o porteiro, avançou até chegar em frente à sua casa. O mesmo padrão, dedos apertados no volante e impaciência, até que conseguiu levar o carro para dentro da garagem, avançando com toda a velocidade. Quase gritei. Quase.
Mal parou o carro e ele já estava em mim, me puxando para um beijo faminto, sôfrego e que me deixou entregue. Eu não entendia como conseguíamos estar tão colados dentro de um espaço projetado para impedir nossa proximidade.
Ele mordeu meu lábio inferior puxando-o com força. Gemi um misto de prazer e protesto, mas Alex me penetrou com um dedo, indo mais fundo do que já tinha ido até aquele momento. Todo o meu interior tremeu, o familiar formigamento e calor que iniciava no centro do meu corpo atingindo rapidamente toda a sua extensão, instantaneamente se manifestou.
Meu professor fez questão de impedir, se afastando o suficiente para que eu me sentisse abandonada. Sua mão segurou em meu queixo, apertando minhas bochechas, mantendo-me calada.
- Agora eu vou dizer o que quero fazer com você, Charlotte. Ou melhor, o que quero que você faça. Talvez assim aprenda a abrir esta boca deliciosa só quando for necessário. Entendeu? – Mal consegui balançar minha cabeça para indicar que tinha entendido.
A pressão que ele exercia em minha mente, ao invés de me intimidar, me deixava ainda mais excitada. Eu queria satisfazer todos os seus desejos e vontades. Ser a garota malcriada, teimosa, mimada, que merecia ser punida por aquele homem autoritário, decidido e seguro de si. Queria que ele me ordenasse simplesmente porque queria cumprir todas as suas ordens, apenas para vê-lo gozar em mim se perdendo de desejo. Eu faria o que fosse preciso para atingir este objetivo.
- Vem cá! – puta merda! Se ele continuasse me dando ordens daquele jeito eu gozaria sem precisar de seus dedos incríveis. – Agora!
Alex me olhava com olhos arrogantes, perversos e quentes. Uma mão agarrou meus cabelos, prendendo-os possessivamente sem me machucar. Seus olhos não abandonavam os meus e seu polegar percorreu meus lábios entreabrindo-os numa carícia sensual.
Ele introduziu o dedo em minha boca, submetendo-me com seu olhar severo e deliciosamente excitante. Imediatamente fechei meus lábios chupando seu dedo como se fosse o seu próprio sexo.
Lentamente, deixei que minha língua o saboreasse. Alex fechou os olhos deleitado com a minha submissão ousada e quando os abriu estavam irreconhecíveis. Adorei sua postura.
Todas as minhas células entraram em combustão, vibrando descontroladas, chocando-se umas contra as outras correndo pelas minhas veias me tirando da realidade.
Ele retirou o dedo mantendo-me firme com a outra mão e paralisada com seu olhar. Ouvi quando sua calça foi aberta, sem me atrever a desviar os olhos. Eu sabia o que ele queria e eu também queria mais do que qualquer outra coisa. Salivei apenas com a ideia. Era brutal demais ou talvez vulgar demais, salivar com o desejo de sentir o pau do meu professor em minha boca? Não.
Era simplesmente no que me transformava quando estava com ele.
- Abra a boca! – ordenou. – Me chupe, Charlotte.
Suas palavras saíram como se ele não conseguisse pensar em outra coisa. Como se receber meus lábios em seu pênis fosse o único jeito de encontrar paz. Obedeci imediatamente. Eu daria o que ele precisava.
Deslizei meus lábios pela sua extensão, sentindo-o em minha língua, lábios... Ele estava absurdamente duro e pulsante. Eu sabia que Alex estava em seu limite e que não demoraríamos muito, mesmo assim não me senti intimidada. Faria o que fosse necessário para tornar aquele momento perfeito. Sem tocá-lo, mantendo minhas mãos sobre suas coxas, suguei-o com vontade, correndo minha língua em uma carícia tão intima que suas pernas estremeceram, mesmo estando ele sentado.
Alex fechou os punhos em meus cabelos. Sua mão livre buscou apoio no volante atrás de mim.
Ele gemeu reverberando em meu íntimo. Quanto mais meu professor gemia mais me sentia estimulada. Como se seus sons conseguissem me tocar, me acariciar. Oh, merda! Eu queria gozar junto com ele. Eu seria capaz de gozar apenas sentindo-o em minha boca. Meu corpo inteiro dava sinais disso.
Ele segurou com força em meu cabelo ditando os movimentos, fodendo minha boca, entrando e saindo em estocadas lentas, cada vez mais profundas. Seus quadris se mexiam, levantando e rebolando em cada investida, minha cabeça ainda imobilizada por sua mão. Meus únicos movimentos eram sugar e massagear com a língua o seu comprimento.
Não consigo descrever a sensação de tê-lo em minha boca enquanto o observava me foder.
Alex estava vestido com a exceção do seu pau. Eu o olhava com aquele terno caro, sua gravata perfeitamente posicionada, sua camisa impecavelmente passada e os cabelos em uma bagunça habitual e, no entanto, nada desalinhado no melhor estilo “eu sou um figurão podre de rico”.
Lindo! Alex era lindo! E ele estava ali, só meu, entrando e saindo da minha boca repetidamente. Eu sou mesmo uma garota de sorte.
Era tão estimulante que involuntariamente comecei a rebolar os quadris lentamente, como se suas estocadas fossem na verdade em meu sexo. O atrito das minhas coxas, pressionando meu sexo molhado e os movimentos que realizava iriam me levar rapidamente ao êxtase. Ele apertou minha nuca, segurando com força meus cabelos.
- Ah não! Não goze sua espertinha – afundou seu pau em mim mantendo-me firme pela nuca e gemendo ao mesmo tempo. – Você não vai encontrar a satisfação com tanta facilidade, Charlotte.
Abra as pernas! – Mesmo contrariada não tive como desobedecer sua ordem tão torturante e deliciosa.
Alex colocou uma mão entre minhas pernas evitando que eu conseguisse juntá-las e reiniciou as estocadas, com mais força e velocidade. Sem muita opção, segurei seu membro pela base, sentindo seu saco se recolher com o toque e o suguei com força.
Éramos nós dois no mesmo trabalho. Ele me conduzindo e eu devorando-o. Seu líquido pré-
ejaculatório lubrificava a minha boca. Logo ele não aguentaria mais. Desviei meus lábios, libertando-me. Ele me olhou sem reagir.
- Ah, professor Frankli, fodendo a boca da sua aluna enquanto o papai dela aguarda pacientemente do lado de fora? Quanta decência!
Sorri maliciosamente para ele pronta para ser repreendida. Alex ficou sério me olhando abismado, em seguida o sorriso mais sacana que ele já me deu brotou de seus lábios. Um calafrio percorreu meu corpo e se alojou entre minhas pernas abertas em meu sexo latejante.
- Exatamente, sua devassa. Agora coloque meu pau de volta nessa boquinha deliciosa e trabalhe.
Foi o que eu fiz. Sem saber como ou de que forma, recebi Alex completamente em minha boca, em minha garganta, me invadindo com a mais pura luxúria. Suguei, lambi, mordisquei, chupei de todas as formas possíveis.
- Ah, Charlotte! – gemeu meu nome com devoção. – Assim! Não pare! Não pare! – toda a sua petulância tinha ido embora.
Eu tinha desarmado o homem punitivo e arrogante. Este tinha ficado para trás, deixando diante de mim apenas um Alex perdido na luxúria e completamente entregue nas mãos da garotinha inexperiente.
Então ele gozou. Forte, abundantemente, pulsando em minha boca e escorrendo por minha garganta. Não parei até que todo o seu líquido fosse consumido, até que tivesse engolido cada gotinha do seu gozo. Nunca antes Alex teve um gosto tão maravilhoso. Era o sabor do desejo, da luxúria e da paixão. Jamais me esqueceria daquele sabor.
Ele, com a cabeça jogada para trás, respirava ofegantemente e mordia os lábios com gemidos engasgados. Quando voltou a me olhar, sorriu. Um brilho extra naqueles olhos perfeitos parcialmente ocultados pela escuridão do local.
- Venha cá!
Meu professor me puxou para cima enquanto eu ainda estava perdida na sensação de seu gozo em minha boca. Levantei atordoada, mal conseguindo me equilibrar, sem entender o que fazia ou o que ele queria.
Sem aguardar minha reação, Alex empurrou o banco para trás e me colocou em seu colo, sentada de costas para ele. Não houve nenhum aviso, nada que pudesse me dizer o que ele faria a seguir. Então seus dedos alcançaram o centro das minhas pernas, pressionando meu ponto de prazer.
Gritei em resposta ao estímulo inesperado.
- Isso, Charlotte. Grite! – seus lábios estavam em minha orelha e seu hálito quente atiçava ainda mais minha libido. Alex deslizou os dentes em meu pescoço me causando arrepios.
No mesmo instante todo o meu corpo e minha mente despertaram. Seus dedos acariciavam meu sexo e pressionavam meu clitóris. Sua outra mão me segurava, colando-me a ele, seus lábios devoravam meus ombros e pescoço. Quando seu dedo do meio me invadiu, sem nenhum aviso ou cuidado, um grito escapou de minha garganta, eu não recuei. Sentindo-o tão dentro de mim, não resisti e comecei a rebolar. A sensação era única e indescritível.
- Quer perder a virgindade, sua doida? – ele retirou o dedo, sem deixar de me acariciar daquela maneira prazerosa e sensacional que somente suas mãos eram capazes de fazer.
- Quero, Alex. Por favor! Por favor! – choraminguei. – Eu quero que você me coma. Aqui.
Agora! – projetei meus quadris na direção da sua mão que massageava meu sexo sem cessar. Ele riu em meu pescoço e este pequeno gesto fez minhas pernas tremerem.
- Eu acabei de gozar, Charlotte. Como posso atender a um pedido tão urgente?
Mordeu meu pescoço e novamente introduziu seu dedo, só que desta vez com mais cautela, alisando minhas paredes enquanto seus outros dedos massageavam meus lábios vaginais. A palma da sua mão roçou meu clitóris. Era uma mistura intensa de estímulos.
- Gosto da sua temperatura. De sentir você molhadinha! – me puxou para si intensificando o contato de sua mão. Gemi intensamente sem o menor pudor. – Rebole em meus dedos! – sussurrou em meu ouvido. Caralho! Era tão... Orgástico! Obedeci sem saber ao certo como fazer. – Assim!
Alex me acompanhava com seus quadris, me fazendo mexer da forma como ele queria. Eu ia e voltava seguindo seus passos e seus dedos se movimentavam no mesmo ritmo, entrando e saindo, apertando, pressionando, acariciando minhas paredes pulsantes. Fechei os olhos e me deixei levar, rebolando até atingir o limite máximo de prazer.
- Assim, Charlotte! Goze, linda! Goze em meus dedos.
Ele me apertou, rebolou junto comigo e me impulsionou para frente, sua mão esfregando meu sexo e seu dedo apertando um botão dentro de mim que me levou à loucura. Gritei seu nome gozando descontroladamente.
Meu corpo não conseguia mais se sustentar, se desfazendo em seus dedos. Alex me manteve firme nos braços dando beijos leves em meu rosto, ombro e cabelos até que finalmente consegui voltar à realidade.
- Caralho! Puta merda! – deixei escapar. Não consegui encontrar outra maneira de expressar o que eu sentia. Alex riu. – Desculpe!
- Tudo bem, Charlotte. Estou começando a me acostumar com essa sua boca absurdamente suja –ele acariciava meus cabelos colocando-os no lugar.
- Você xinga! – abafei o riso encarando-o seriamente.
- É diferente – ele rebateu encostando-se ao banco.
Pensei em muitos argumentos que poderiam desfazer a posição machista do meu professor, mas preferi não entrar em mais uma briga.
- Uma vez você disse que esta era uma boa hora para xingar – olhei para meu professor que ostentava uma expressão relaxada e sorria para mim. – Como estou? – tentei me arrumar ainda em seu colo.
- Como uma mulher que acaba de ter um puta de um orgasmo – ele me tirou do seu colo, me colocando ao lado. Endireitou as próprias roupas, se recompondo.
- Meu pai não vai gostar nem um pouco disso – ele riu se aproximando, acariciando meus cabelos e encostando o rosto no banco. Recuei. Eu conhecia aquela cara.
- Nós precisamos conversar – disse com cautela.
- Alex!
- Precisamos conversar, Charlotte!
- Tudo bem, só não aqui nem agora. Minha família está preocupada comigo e eu ainda preciso pensar numa desculpa perfeita – eu rezava para que Miranda tivesse conseguido tirá-los do restaurante, ou então o meu pai me mataria. – Precisamos voltar. Aliás... como você...
- Sou amigo do dono do restaurante, o Maurício – respondeu sem pestanejar. – Precisamos urgentemente ter esta conversa, Charlotte.
- Eu vou escrever o último capítulo. Não precisa ficar tão preocupado.
- Não é... Droga, Charlotte! O que você está tentando fazer?
- Eu? O que você está tentando fazer, me atraindo para o carro e me trazendo para a sua casa mesmo sabendo que nossas famílias estavam juntas e aguardando por nós. O que é isso, Alex? Você costuma conhecer mulheres naquele restaurante e depois retirá-las de lá pela saída secreta para comê-las em sua casa? – estava mais furiosa do que pensava. Por que aquilo tudo me irritava tanto?
- Charlotte! Não! Você... Quer parar de tentar me confundir?
- Não estou tentando confundi-lo – meu celular estava no chão, não sei como nem porque, muito menos quando, mas ele estava lá e começou a vibrar. A luz da tela chamando a nossa atenção.
Peguei rapidamente o aparelho, quinze ligações perdidas. Como isso foi acontecer?
- Não atenda.
- É o meu pai. Eu tenho que atender.
- Merda, Charlotte! Não atenda.
- Oi, pai! – me encolhi sob o olhar enfurecido do meu professor.
“Charlotte! Onde você está?” – comecei a tremer imediatamente. Puta que pariu! Ele desconfiaria de alguma coisa.
- Estou no restaurante, eu...
“No restaurante? Miranda sofreu um acidente. Estamos todos no hospital” – Graças a Deus!
- Hummm! É grave? O que aconteceu? Eu achei estranho ninguém mais estar aqui, estou ligando e ninguém atende... – era assim que acontecia quando inventava uma mentira, eu simplesmente me perdia nela e ficava falando sem parar.
“Não. Na verdade não foi nada. Achamos que fosse algo sério já que ela ficou gritando que estava doendo. Ela está bem. Logo estaremos em casa”.
- Ótimo! – reprimi o riso. – Vou pegar um táxi e encontro vocês lá. Te amo!
Desliguei rindo do que minha amiga tinha aprontado, Alex me encarava com raiva.
- Ah, acho que preciso ir – seus olhos se estreitaram e ele parecia incrédulo com a minha atitude. Ri. – Miranda é incrível! A barra está limpa! Podemos entrar pela porta da frente e sem chamar atenção – ele passou as mãos pelos cabelos puxando-os de leve.
- Você ainda vai me enlouquecer, Charlotte.
- Não fique com raiva – pedi. – Infelizmente não temos tempo para mais uma brincadeirinha, professor Frankli – sorri debochada. Ele me encarou sem reação. Depois balançou a cabeça e riu.
- Não sei como pude deixar você me envolver nesta loucura.
- Alex! – implorei para que não recomeçasse. Faltava tão pouco. – Preciso ir embora.
- Eu vou levar você.
- Não! – quase gritei. – Quer dizer... E se meu pai estiver chegando.
- Pare com isso, Charlotte! Você já tem vinte e um anos. Qual é o problema de eu te levar para casa. Seu pai já me conhece, aceitou o namoro entre a Miranda e Patrício, que é o cara mais irresponsável que já conheci em toda a minha vida. Sua mãe até convidou aquele idiota do Henrique para uma visita a sua casa – aquilo realmente o irritou.
- Mas você não é meu namorado – me arrependi imediatamente ao dizer isso. Eu era uma idiota! Alex puxou o ar com força me encarando.
- É esse o problema?
Oh, não! Não! Ele iria me deixar se eu confessasse o quanto o queria. Se descobrisse que eu estava tão apaixonada ele...
- Alex... – ele avançou e acariciou meu rosto.
- Charlotte, eu... – meu celular voltou a vibrar. Era uma mensagem de Miranda.
“Acabou o seu tempo. Recebi alta estamos voltando para casa.”
- Merda! Preciso mesmo ir. Falo com você depois, pode ser? – ele ainda me encarava com uma expressão indecifrável. Havia algo a mais naquele olhar.
- Tudo bem. Vou te ligar mais tarde. Por favor, atenda!
- Se eu não puder atender, mando uma mensagem – ele concordou.
- Deixe-me ao menos levá-la a um ponto de táxi – concordei e ele logo estava tirando o carro da garagem.
Assim que encontramos o ponto de táxi, ao lado de uma pizzaria muito arrumadinha, ele parou e me encarou. O silêncio estava pesando sobre nós.
- Não suma, por favor! – seu olhar era tão estranho que eu estremeci.
- Não vou sumir. Prometo – respondi com a voz fraca. Ele me puxou com delicadeza e me beijou. Nossos lábios se tocaram. Foi gostoso e rápido. – Tchau!
Abri a porta, sentindo as pernas ainda trêmulas e praticamente corri para fora do carro dele. Eu estava sufocando. A forma como Alex me olhou foi diferente, linda, romântica, carinhosa, foi...
apaixonada. Eu só podia estar louca. Estava tão apaixonada por ele que imaginei aquele olhar porque desejava mais do que tudo que fosse verdade.
Eu precisava sair dali. Fugir e reerguer as minhas barreiras. Miranda tinha razão. Eu sofreria no final. E o final estava muito próximo.
Capítulo 22
“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém... Posso apenas dar boas razões para
que gostem de mim... E ter paciência para que a vida faça o resto.”
William Shakespeare
Charlotte
Eu não podia esquecer a forma como Alex me olhou e não podia deixar de pensar em como me senti bem nos parcos segundos em que me permiti acreditar que era possível.
Eu o amava. E o queria. Mas não podia sufocá-lo com o meu amor, principalmente porque não era o que ele queria. Então as palavras de Shakespeare faziam todo sentido, eu jamais poderia exigir de Alex mais do que ele poderia me dar.
- Ele sabe como você se sente? – Miranda estava ao meu lado, sentada no alto da escada que ligava os dois andares da nossa casa sussurrando para não chamar a atenção dos meus pais que estavam no andar de baixo.
- Não. Não posso dizer que me apaixonei.
Eu e minha melhor amiga conversávamos tentando acertar as diferenças da noite passada. Ela tinha infernizado nosso jantar na tentativa de fazer com que Alex desistisse. Teria dado tudo errado se ela não tivesse se redimido, se submetendo àquele acidente absurdo para encobrir o meu encontro com o meu professor.
- Charlotte, esse... Relacionamento? Podemos chamá-lo assim?
- Não sei – ri sem entusiasmo.
- Esse acordo de vocês, só deu certo porque confiaram um no outro. Tudo bem que é uma verdadeira loucura o que decidiram fazer, por outro lado, devemos admitir que, se esse acordo não fosse baseado em conversas sinceras e abertas, não teria chegado aonde chegou, não é? - concordei ainda sem saber o que ela pretendia. – Você precisa contar. Precisa deixar claro como se sente. Com o passar do tempo ficará mais complicado.
- Se eu contar que me apaixonei ele vai desistir de tudo e eu vou continuar virgem, aos vinte e um anos – ela riu e revirou os olhos.
- Você não quer continuar apenas porque quer perder a virgindade. Seja honesta consigo mesma – seus olhos não me deixavam recuar.
- Estou sendo honesta comigo. Eu quero que seja com ele, Miranda. Mesmo que seja somente uma única vez, é o que eu desejo – minha amiga me olhou com receio e suspirou concordando.
- Pelo menos será com alguém que você gosta de verdade. Fico mais tranquila, apesar de acreditar que Alex Frankli é um cretino, aproveitador.
- Miranda! – adverti.
- Ok, ok. Só reafirmando a minha posição – rimos e nos empurramos com o ombro, como duas adolescentes. – Ainda assim acho que ele tem o direito de saber. Conte e diga também que, independentemente dos seus sentimentos, continua querendo que as coisas aconteçam como vocês determinaram.
- Isso é loucura!
Apoiei meus cotovelos nos joelhos e meu rosto em minhas mãos. Eu não saberia nem por onde começar. Alex riria da minha cara, não cumpriria o nosso acordo e ainda por cima desistiria de trabalhar com meu livro na sua editora.
- É loucura, Miranda!
- Loucura foi o acordo que fizeram. Infelizmente agora é tarde. Você não pode transar com ele pela primeira vez sem dizer o que está sentindo. Ele precisa saber.
- Por quê?
- Porque é o certo a fazer, Charlotte. Alex precisa saber como você se sente para conduzir tudo da forma correta.
- E se ele desistir?
- Se desistir será porque é o melhor para você. Pense bem, se fosse o contrário, você gostaria de saber?
É claro que sim! Qual relacionamento sobrevive a segredos, a mentiras? Por outro lado, eu e Alex não tínhamos um relacionamento e sim um acordo onde ele se comprometeu a me ensinar a arte do sexo para que eu pudesse aprimorar minha escrita. Simplesmente isso. Nunca conversamos sobre sentimentos. Nunca permitimos que outras emoções pudessem ser inseridas neste contexto. Como explicar que eu tinha sido tola o suficiente para me apaixonar?
- Então, vocês precisam de uma desculpa perfeita para o encontro de hoje? – Miranda mudou de assunto, o que me deixou mais relaxada. Era muito complicado e estranho brigar comigo mesma.
Imediatamente as lembranças da nossa manhã, preencheram minha mente. Eu tinha ido à universidade para mais um encontro com o meu lindo professor.
***
Ele estava perfeito como sempre, recém-saído do banho, cabelos molhados, barba feita, calça jeans e camisa preta. Seus olhos ficavam ainda mais incríveis quando usava cores escuras. Pareciam felinos. Como de hábito ele me deu um chá de cadeira me atendendo por último, no pátio, em uma mesinha que ficava debaixo de uma árvore.
Não conversamos sobre o meu material. Nem poderíamos. Eu precisava de uma desculpa para colocar o meu plano em prática, por isso comecei da forma mais complicada.
- Você disse que ligaria ontem – cobrei.
Pela primeira vez, desde que meus pais tinham chegado à cidade eu decidi que atenderia as ligações do meu professor, independentemente do que aquilo poderia ocasionar em minha vida. E, justamente neste dia, ele resolveu não ligar.
Alex sorriu. Reconheci vergonha e constrangimento em seu olhar, principalmente porque não conseguiu sustentar seus olhos em mim, muito pelo contrário. Meu professor tentava a todo custo se concentrar em qualquer outro ponto.
- Desculpe!
- Ok! – foi só o que consegui dizer. Não entendia o que estava acontecendo.
Por que tanta distância? Por que não me encarava?
Alex se afastou jogando o corpo para trás e puxou o ar com força. Depois, como se estivesse fazendo um esforço imenso, me encarou. Sustentamos o olhar em silêncio, até que ele enfim falou.
- Puta merda, Charlotte! Eu fui terrível com você ontem. Estou me sentindo um canalha.
Essa é uma das coisas que não consigo entender naquele homem incrivelmente sexy e seguro de si. Como podia simplesmente não entender que independentemente de como agisse ou do que fizesse, eu sempre acabaria deslumbrada com a sua capacidade de me satisfazer completamente? Para ser sincera eu não conseguia acreditar que não enxergava como eu me sentia em relação a ele.
Tudo ao meu redor parava e se tornava insignificante quando ele me olhava. Tudo perdia o sentido quando ele me tocava, nada mais me interessava. O resto do mundo deixava de existir quando ele me beijava.
- Charlotte? – foquei seus olhos azulados e percebi que tinha me perdido neles.
- Tudo bem. Eu... – sacudi a cabeça para reorganizar meus pensamentos. Alex sorriu tão tímido e sensual ao mesmo tempo! Tossi para limpar a garganta. – Eu achei aquilo tudo muito... Interessante.
- Interessante? – mordeu o lábio inferior roubando toda a minha atenção outra vez.
- Sim – merda! Eu estava suando frio? Minhas mãos estavam geladas e meu estômago incomodava. O que estava acontecendo comigo?
- Você está estranha – riu com carinho.
- Alex... hum! – me mexi desconfortável. – O que acha de nos encontrarmos mais tarde... Em sua casa? – ele me encarou por um tempo constrangedor.
Puta que pariu! Passei da medida? Estava parecendo uma garota desesperada? Uma mulher oferecida? Merda! Alex não gostava de mulheres oferecidas.
- Em minha casa? – ele bem que poderia parar de me fazer perguntas difíceis. – E o seu pai? O
que vai dizer a ele?
Pensei em voltar atrás, mas, se já tinha chegado a aquele ponto, precisava continuar, ou então pareceria realmente infantil e insegura.
- Posso inventar uma desculpa – Alex se inclinou em minha direção e estreitou os olhos.
- Pode? – engoli em seco. Oh, droga! Confirmei com a cabeça. – Isso significa que das outras vezes você não se empenhou realmente em arrumar uma desculpa?
- Eh... bem...
O que eu poderia dizer? Que tinha medo de encontrá-lo depois de descobrir o quanto estava apaixonada? De encarar a minha realidade de perto?
- Ontem eu consegui uma desculpa – dei de ombros.
- Ontem? – ele riu e desviou os olhos encarando o espaço à nossa volta. – Depois de dias fugindo de mim você conseguiu fazer com que Miranda colaborasse e sabe Deus que tipo de promessa teve que fazer para conseguir alguma coisa dela.
- Qual é o seu problema com a Miranda? Ela não é do jeito que você está pensando! – Alex sorriu sarcasticamente.
- Não vou discutir esse assunto com você. Não agora. Por que inferno você levou esses dias todos fugindo de mim se podia arrumar uma forma de me encontrar?
- Eu fiquei insegura – admiti olhando para as minhas mãos. Miranda tinha razão. A verdade era importante em um “relacionamento” como o nosso.
Ele recuou ainda me encarando, mas a atmosfera se modificou. Alex suspirou forte e passou as mãos pelos cabelos. Então tirou uma carteira de cigarros do bolso e colocou-a sobre a mesa.
- Você fuma? – ele riu sem graça.
- Aparentemente sim.
Fiquei espantada com a forma áspera como respondeu. Por que ele estava com raiva? Eu estava sendo sincera. Não era assim que deveria ser? Talvez Miranda não tivesse tanta razão.
- Nunca senti gosto de cigarro em seus lábios.
Falei meio que sem pensar, mais levada pelo impulso das lembranças do gosto bom dos seus beijos. Por isso fiquei incrivelmente constrangida.
- Eu não fumo com frequência. Normalmente não antes de te encontrar – ele também parecia meio constrangido e a situação parecia tão estranha que me perguntei se estava acontecendo realmente.
- Entendi – mordi o lábio inferior ansiando por quebrar aquele clima esquisito. - E então? – ele continuou me olhando. – O encontro...
- Vou estar no campus até às 15h, depois preciso passar na editora. Acredito que só conseguirei chegar em casa por volta das 18h.
- Está tentando me desencorajar?
Cruzei os braços no peito enquanto meu professor retirava um cigarro da carteira e brincava com ele entre os dedos. Alex sorriu largamente.
- Não. Estou dizendo que você vai precisar de uma ótima desculpa, já que eu só estarei em casa no horário em que, provavelmente, o seu pai estará na sua. Será que você realmente vai se empenhar para arranjar uma desculpa para sair? – ele ergueu uma sobrancelha me desafiando.
Se existia uma coisa que me instigava mais do que as mãos do meu professor, era um desafio.
Ergui o queixo e o olhei sem me deixar intimidar.
- Estarei lá, professor.
- Ótimo! Precisamos conversar sobre a publicação do seu livro pela minha editora. Existem alguns pontos a serem discutidos. Normalmente é Lana que faz esta parte, porém eu vou tentar te preparar para a fera. E o capítulo?
Nossa! Como ele conseguia ser tão indiferente? Na noite anterior estava cheio de desejo e irritado por não poder colocar as mãos em mim, hoje todo ansioso para discutir negócios quando eu afirmo que estarei disponível em sua casa e quem sabe em sua cama. Suspirei pesadamente.
- Estou providenciando. Conversaremos mais tarde. Preciso ir – levantei juntando o meu material e tirando minha bolsa do chão.
- Já vai? – me sondou curioso.
- Preciso começar a providenciar uma desculpa.
- Vai precisar de uma – sorriu maliciosamente.
- Vou conseguir. Aguarde-me, professor – coloquei a bolsa sobre os ombros, mas me virei para ele rapidamente. – Ah... não fume!
Ele já estava colocando o cigarro nos lábios, porém parou assim que eu falei, retirando-o.
Sorri largamente. Saí ouvindo seu riso abafado.
***
- Preciso de uma boa desculpa, Miranda – olhei para a minha amiga que sorria. Ela tinha um plano.
- Eu tenho uma excelente: comissão de formatura – seus olhos brilharam.
- Comissão de formatura? – ela confirmou alegremente. – Eu não faço parte. Meus pais sabem.
- Mas eu sim.
- Ok, Miranda! Não tenho a mínima ideia de como vai conseguir me incluir nestes planos.
- Charlotte! – Miranda me encarou como se eu tivesse três olhos. – Eu posso inventar qualquer mentira relacionada à comissão de formatura. Hoje, por exemplo, estarei no ensaio para a entrada dos estudantes.
- Existe um ensaio para a entrada dos estudantes?
- Não. Mas eu estarei lá e você também. Ninguém precisa saber que o ensaio na verdade é de outra coisa – piscou me deixando envergonhada. – Só precisamos combinar os horários.
De repente estava tudo muito bem amarradinho. Miranda tinha inventado a melhor de todas as suas mentiras e meus pais caíram. As quinze para as dezoito, eu estava pronta usando meu vestido branco, curto, leve e solto, com os cabelos perfeitamente arrumados, maquiagem básica, perfume em todas as partes, cortesia da minha amiga, e no carro a caminho da casa do meu professor.
Alex
Minha cabeça estava fervilhando de ideias, nenhuma delas me levava ao objetivo final.
Charlotte estava me escondendo algo, mesmo demonstrando estar disposta a recuar, ela havia, espontaneamente, se oferecido para passarmos um tempo juntos.
Era confuso demais.
A noite anterior me deixou louco de raiva. Acabei ultrapassando os limites com minha aluna e depois fiquei a madrugada inteira me torturando, por acreditar que tinha assustado a garota e que ela nunca mais apareceria. Acredito que ninguém entenderia a angustia que senti só em imaginar que Charlotte nunca mais voltaria.
O que estava acontecendo comigo?
O alívio surgiu quando ela chegou para a aula, o que não era necessário, pois seu projeto já estava aprovado, faltando um capítulo ou não. Ela apareceu! Doce, suave, tranquila, como se nada tivesse acontecido. Porém eu sabia que tinha. Charlotte fugiu de mim aterrorizada com as minhas atitudes. Se eu a amedrontasse mais provavelmente ela partiria de uma vez por todas.
Decidi que não iria mais pressioná-la. A melhor coisa a fazer numa situação crítica quanto esta era recuar. Deixaria Charlotte à vontade para decidir sobre o que queria e aproveitaria meu tempo livre para voltar a fazer o que fazia melhor: Trabalhar!
Mas, quando ela me disse que iria à minha casa, tudo voltou a ficar confuso. Como eu, um homem maduro de trinta e quatro anos seguro de si, responsável, independente e realizado, podia ficar tão perdido, indeciso e inseguro por causa de uma menina de vinte e um anos? Principalmente quando ela implorava para que eu tirasse a sua virgindade, mudava de ideia, voltava atrás e ainda poderia desistir novamente a qualquer momento.
Principalmente quando me encontro tão perdidamente apaixonado e entregue que preciso pensar e repensar cada palavra, gesto ou atitude. Droga! Eu estava mesmo fodido.
Ela só tem vinte e um anos é inexperiente, infantil, confusa, estranha... apesar disso, surpreendentemente, era a mulher que eu queria e precisava. Como poderia fazê-la entender se a garota fugia todas as vezes que estava pronto para falar?
Do que Charlotte Middleton realmente precisava? Apenas sexo? Mais do que sexo? O que fazer para que ela entendesse que eu estava disposto a tudo?
Bom... Conversar com ela sobre sentimentos estava fora de questão. Transar com ela sem ter esta conversa antes, também. O certo seria tentar fazê-la entender e a única maneira de conseguir era lhe dar a segurança necessária para que tomasse suas próprias decisões.
Passei em uma loja de bebidas importadas e comprei um bom vinho. No mercado comprei queijos e torradas, aproveitaria o patê de abacate que havia na geladeira. Enquanto aguardava para pagar, acessei a internet e comprei alguns filmes que estavam disponíveis na locadora virtual.
Também liguei para João convidando ele e minha irmã para aquela noite.
Marquei um horário bem acima do que combinei com Charlotte, afinal de contas precisávamos mesmo conversar. A ideia era fazê-la sentir que o que eu queria não era apenas sexo, então nada melhor do que envolver meu amigo indiscreto e minha irmã cheia de palavras que poderiam dizer por mim tudo o que eu não tinha coragem.
Charlotte teria uma noite tranquila e normal. Daria espaço para que ela conversasse sobre o que tivesse vontade. Teríamos um tempo para nos conhecermos melhor. Assistiríamos a um filme, beberíamos e conversaríamos como um casal normal. Se é que podemos nos considerar assim devido às circunstâncias.
Era disso que eu precisava. Sentir que entraríamos no eixo e que no final tudo ficaria na mais perfeita normalidade.
Depois de organizar as coisas tomei um banho ciente de que ela poderia aparecer a qualquer momento. Coloquei uma bermuda, camisa e fiquei descalço, muito confortável, queria que ela entendesse que poderíamos ser um casal como qualquer outro.
Preparei a sala, conferi cada detalhe. Eu estava nervoso? Merda, eu estava ansioso, nervoso, com medo... Não me reconhecia.
Ela chegou no horário combinado. Pude ouvir o barulho daquele monstro que chamava de carro antes mesmo que virasse a esquina. Como uma menina tímida que vivia se escondendo de todos acreditava que dirigir aquela carroça era o melhor, se cada vez que ligava o motor o mundo inteiro parava para descobrir do que se tratava?
Abri a porta quando ela ainda estacionava “a coisa”. Fiz uma careta assim que desligou o motor e consegui vê-la revirar os olhos fingindo indiferença à minha aversão por aquele monte de ferrugem.
- Se está criticando o meu carro, avise logo para que eu possa ir embora – fez cara de brava.
Ri.
- Longe de mim, Charlotte – abri espaço para que ela pudesse entrar.
Mesmo sem ter encostado um dedo nela, percebi o quanto estava tensa. Imediatamente me senti do mesmo jeito. O que estava acontecendo com Charlotte? Aquela tensão toda era por minha culpa, por culpa do pai dela, ou ambos?
- Então? – tentei fazê-la falar. – Do que exatamente você precisa, Charlotte? – Ela me olhou apreensiva, mas tentou disfarçar.
- Hum! – deu as costas indo em direção à sala. Parou quando viu o vinho e as taças. – Estou atrapalhando alguma coisa? – quando se voltou em minha direção estava pálida. Assustada.
- Não. Por que pensou que estava? – ela apontou para a mesinha. – Ah! É para você – sorri achando graça da confusão que ela já deixava se estabelecer na sua cabecinha oca. – Se você não tem nada de importante ou urgente para tratar comigo, achei que poderíamos beber um vinho e assistir a um filme.
Respirei profundamente. Meu coração estava acelerado. E se eu estivesse indo longe demais?
E se aquela não fosse a intenção dela?
“Droga, Alex! Você é um homem, cara! Dá para parar de agir como um adolescente?”
- Ah! – ela ainda parecia confusa. – Ok! Eu realmente não tinha nada para falar apenas achei que você queria conversar comigo, e... – ela me avaliava, perdida em algum sentimento que eu continuava não conseguindo decifrar. Medo? – Você disse que conversaríamos sobre o livro e a editora...
- Sim, claro! Podemos conversar sobre o que quiser, Charlotte. Quer saber sobre o livro? – caminhei até a mesinha e servi as nossas taças. Eu precisava mesmo de álcool. Entreguei a dela observando que continuava tensa. – Venha, sente-se aqui.
Puxei minha aluna para o sofá. O mesmo da nossa primeira aula. Suspirei com as lembranças.
Ela estava tão linda e corada e... Era melhor voltar à realidade. Sua mão estava gelada. Sentamos de frente um para o outro, mas muito próximos. Charlotte tomou um gole tímido de sua taça e desviou o olhar. Estava estranho!
- Charlotte, você quer me dizer alguma coisa? – ela voltou a me olhar, tensa e assustada demais. – O que está acontecendo? – de repente eu estava em estado de alerta.
- Nada, Alex. Só... – riu um pouco sem graça. – Não sei. Tudo isso é... Estranho – Compartilhávamos a mesma ideia.
- Concordo. Muito estranho – passei a mão em seu rosto acariciando sua pele clara, cheias de pintinhas que a deixava ainda mais linda. Ela era toda linda!
Charlotte se curvou em direção ao meu toque e fechou os olhos. Inclinei-me para ela, passando a mão pelo seu pescoço e segurando sua nuca com delicadeza alcancei seus lábios. Eram macios, doces, delicados. O beijo foi rápido, intenso e cheio de familiaridade como deve ser com todos os casais. A sensação de paz foi imediata. Ela sorriu aceitando o contato.
Aproximei-me ainda mais, tornando tudo mais íntimo. Passei os dedos em seu ombro, acariciando o rosto e o pescoço.
- Você quer saber sobre o livro?
- Quero.
Charlotte parecia mais tranquila. Fiquei feliz ao perceber que o rubor voltava a sua pele e aquele sorriso doce e inocente estava novamente em seus lábios. Eu adorava aquilo nela.
- Lana quer o capítulo para ontem. Estou tentando convencê-la a aguardar que você esteja livre da faculdade, afinal de contas falta muito pouco. Além do mais, precisamos de tempo, nosso catálogo está lotado e incluir o seu livro será uma quebra de protocolo. Ela quer arriscar, eu acho que vale a pena, agora basta você terminar o livro, discutir os termos do contrato com ela, assinar e pronto.
Espero que esteja pronta para o que vem pela frente.
- Por quê?
- Lana está apostando alto em seu livro. Acho que ela deseja quebrar um pouco o monopólio da Tiffany. Por isso vamos investir pesado em você, o que significa viagens, entrevistas e uma chuva de acontecimentos malucos – ri e tomei mais um gole do meu vinho.
- Entendo – ela me encarou com olhos curiosos.
- O que foi? – Charlotte se remexeu no sofá tão desconfortável como quando chegou. – Fale comigo!
- Você... Quer dizer... Nós... Droga!
Tomou um longo gole do vinho e depois brincou com a borda da taça. Levantei seu rosto e beijei seus lábios. Corri a linha do seu maxilar até o pescoço com a ponta do nariz absorvendo o seu perfume tão delicado quanto tudo nela.
- Nós vamos ficar bem. Precisamos apenas separar as coisas – ela engoliu em seco e voltou a beber. Estava indo rápido demais. Era melhor colocar alguma coisa no estômago da garota. – Vou buscar algo para comermos.
Levantei rapidamente. A inconstância no humor de Charlotte estava me deixando atordoado.
Era melhor tornar a conversa um pouco mais leve. Distraí-la. Era realmente estranho agirmos como um casal normal quando a única coisa que estávamos acostumados a fazer bem eram as nossas brincadeiras sexuais. Isso era incontestável. Porém no momento me pareceu necessário agirmos desta maneira.
De volta à sala observei que Charlotte continuava tensa. Seus olhos pareciam perdidos e ela brincava com a taça em sua mão. Peguei um pedaço de queijo e uma torrada com patê. Entreguei o queijo aguardando que mastigasse, assim que engoliu entreguei-lhe a torrada. Charlotte riu, pegando-a a da minha mão.
- O que é isso? Uma tentativa de evitar que eu fique bêbada?
- A ideia é essa – sorri satisfeito com o pouco que ela tinha relaxado.
Peguei o controle e liguei o som. Tinha planejando algumas músicas então deixei que elas preenchessem o ambiente. O barulho de coisas caindo e em choque chamou a atenção de Charlotte, depois o ritmo delicado e antigo ganhou vida, junto com a voz do cantor.
Charlotte sorriu e me encarou.
- O que é isso?
- Chama-se música – falei e ela riu divertida.
- Sim, professor Frankli. Quem está cantando? Eu reconheço a música, mas não da forma que está sendo cantada.
- Dick Brave & the Backbeats, cantando “Just The Way You Are”. Eles gravam músicas atuais no melhor estilo anos 60. Eu gosto. A música ganha uma magia diferente.
- Eu gostei – sorriu calorosamente. Aproximei-me até estar bem próximo dos seus lábios e cantarolei baixinho.
- “Quando eu vejo o seu rosto. Não há nada que eu mudaria. Pois você é incrível. Exatamente como você é. E quando você sorri. O mundo inteiro para e fica olhando por um tempo. Pois, garota, você é incrível. Exatamente como você é.”
Beijei seus lábios, com carinho e desejo. Charlotte Middleton me desconcentrava transportando-me para um mundo até então desconhecido. Sua forma de agir, às vezes tímida, outras ousada, seus sorrisos, suas colocações, a forma direta como tratava assuntos que deveriam ser constrangedores, tudo isso me encantava.
Ela reagiu bem ao beijo deixando-se envolver, permitindo meu acesso com facilidade. Mas eu não queria aprofundar. Não queria que tivéssemos mais um momento de brincadeiras. Não deixaria que chegasse a este ponto, apesar de já estar muito excitado.
Afastei-me com cuidado, acariciando seus cabelos e beijando seu rosto. Deixei que meus dedos descessem pelas suas costas e brincassem um pouco em seu braço. Era um momento único, íntimo, mas sem a intimidade que estávamos acostumados. Mesmo assim era incrivelmente agradável.
- “Os lábios dela, os lábios dela. Eu poderia beijá-los o dia todo se ela me permitisse. A risada dela, a risada dela. Ela odeia, mas eu acho tão sexy. ”
Repeti uma parte da música que eu achava que se encaixava perfeitamente em Charlotte Middleton. Ela riu, deixando-me ainda mais deslumbrado.
- Estive pensando em uma coisa, Charlotte – ela apoiou o braço no encosto do sofá e a cabeça no braço observando-me atentamente. – Dentro de um pouco mais de dois meses estarei na Feira do Livro de Frankfurt. É um grande evento, acredito que você saiba disso – peguei mais um pedaço de queijo colocando diretamente em sua boca. Charlotte recebeu sem contestar. – Eu gostaria muito que fosse comigo. Quer dizer... – Acrescentei rapidamente, devido à forma como seus olhos cresceram. – Lana estará lá também e, com certeza, conseguirá fazer uma excelente divulgação do seu trabalho.
Obviamente será apenas uma parte mínima já que, com certeza, não teremos nem um terço do trabalho pronto, porém poderemos fazer com que as pessoas a conheçam. Então...
- O que eu faria lá? Como você disse, será apenas uma divulgação superficial. Minha presença não é importante, e... por que exatamente você quer que eu vá? – a ruga entre as suas sobrancelhas ficou mais acentuada. Sorri. Charlotte era tão ingênua!
- Porque sei que será bom para você, para o seu livro e para mim – depositei um beijo doce no canto de seus lábios depois mais um em seu pescoço. Ela não recusou minha investida.
- Meu livro é apenas uma hipótese. Pode acontecer ou não. Como poderia ser bom para você?
Digo, em se tratando de um evento tão importante como este.
Ela virou o rosto no exato momento em que eu buscava por seus lábios. Certo. Estava sendo uma tortura me controlar. Dei-lhe um beijo profundo, intenso e rápido, suficiente para fazê-la parar de perguntar tanto.
- Nós poderemos ficar juntos... – murmurei e dei um beijo leve em seus lábios. - Trabalhar um pouco... – beijei seu rosto – Namorar um pouco... – mordi levemente o lóbulo da sua orelha.
Charlotte estremeceu deliciando-me.
Busquei seus lábios e novamente não encontrei resistência. Com a mão espalmada em suas costas puxei-a em minha direção. Segurei em sua nuca e aprofundei nosso beijo. Droga! Eu gostaria de poder ir mais além. Minha aluna gemeu em meus lábios. Eu sabia exatamente como ela estava queimando por dentro. Tal constatação me deixou atordoado. Obriguei-me a me afastar.
- Alex! – ela reivindicou buscando meus lábios. Ri feliz com o nosso entrosamento.
- E então, você irá ou não?
Charlotte abriu os olhos me encarando. Puta que pariu! O que havia de errado?
- Alex, eu... – balançou a cabeça negando alguma coisa, depois me lançou um sorriso inocente e ao mesmo tempo travesso. Lindo! – Em dois meses? Então nós já... Quer dizer... A formatura é daqui a alguns dias. Devo acreditar que terei algumas aulas extras? - ri da forma como ela se referia ao fato de já estarmos transando ou não. Ela ficou séria. – Você não desistiu, não é? – mordi os lábios. – Alex? Minha formatura acontecerá em alguns dias, nós combinamos...
- Não é nada disso, Charlotte – interrompi antes que ela colocasse tudo a perder. – Não existe um prazo definido. Nós vamos transar – enfatizei. – Onde e quando você quiser – acariciei o seu rosto, atento a todas as suas expressões. – Antes eu preciso que você esteja completamente segura quanto a sua decisão.
- Eu...
- Charlotte! Você está com medo. Sei que está. Dá para ver em seus olhos. E posso jurar que seu medo não é do que vai acontecer, é algo mais profundo. Que não quer me contar. Sei que quando estamos juntos... de maneira mais íntima... Você se entrega e deseja muito que aconteça. Mas... existe um antes e um depois. Não quero que se arrependa.
Pela forma como ela me olhava, atenta, com a boca levemente aberta, ficou bem claro que eu tinha ido exatamente ao ponto. Charlotte estava mesmo com medo. Como desfazer aquele sentimento?
- E quanto às aulas extras – sorri quebrando um pouco da seriedade das minhas palavras. – É
bem verdade que quando finalmente começarmos a transar você ficará ”zerada” de conhecimento – ela sorriu levemente. – Não dá para comparar algumas aulas de entrosamento com a prática real dos fatos – acariciei seu rosto e o levantei para mim pelo queixo. - Eu quero que saiba que acontecerá somente quando você quiser. – Ela abriu a boca para falar. Fui mais rápido colocando o indicador em seus lábios para silenciá-la. – E quando estiver pronta para me contar o que realmente está se passando por esta cabecinha linda que não serve apenas para pensar nas obscenidades que escreve.
Charlotte engoliu em seco desviou os olhos e começou a ficar vermelha. Tão vermelha que fiquei confuso com sua reação. Era algo bom ou ruim o que ela queria tanto me dizer? Por que estava evitando?
- Você tem razão – ela começou. – Eu me sinto preparada e tenho a certeza de que quero que seja com você, mas... – mordeu o lábio inferior, perdendo-se em pensamentos.
Quase interferi. Quase. Ela recomeçou a falar quando pensei que não suportaria mais o seu silêncio.
- Alex... – voltou a me olhar nos olhos. Fiquei tenso. – Eu acho... Acredito que... Isso que existe entre nós dois... Não sei se posso chamar de relacionamento – riu um pouco nervosa.
- Por mim, tudo bem. Dê o nome que achar melhor.
- Ok – puxou o ar com força. – Nada entre nós aconteceu da maneira convencional. Na verdade é um acordo mais parecido com um contrato do que com um relacionamento de fato.
- Charlotte...
- Deixe-me continuar – pousou sua mão em meu peito. Meu coração estava disparado. Ela percebeu. – Para que chegássemos até aqui tivemos que nos basear na verdade e na confiança, ou nada seria possível. Eu confio em você e preciso ser sincera e preciso que você me prometa que o que vou dizer agora, não vai interferir em nosso acordo. Preciso que confie em mim. Que acredite quando eu digo que não quero que nada mude.
- Eu confio em você e acredito.
- Prometa que nada vai mudar – sua voz era baixa e sofrida, quase uma súplica. Fiquei com medo do que ela iria me dizer.
- Prometo! Eu prometo, Charlotte! – ela respirou tensa, mas aliviada. – Agora diga!
Segurei em seu queixo exigindo o seu olhar. Ela sustentou por um tempo, se afastou pegando a taça de vinho e virando todo o conteúdo de uma só vez. Puta que pariu! O que ela tinha para me dizer?
- Eu sei que não deveria ser assim. Estou ciente que você me avisou de todos os riscos e que eu insisti para que aceitasse participar desta loucura. Eu... – ela voltou a me encarar. Hesitante. Os olhos cheios de lágrimas.
- Fale, Charlotte – insisti. O coração disparado. A angústia me dominando. Estava difícil respirar.
- Alex, eu... – baixou a cabeça encarando suas mãos. – Eu me apaixonei por você!
“Eu me apaixonei por você.”
As palavras ecoavam dentro de mim com badaladas fortes e intensas. Uma mistura de sentimentos me confundia. O ar ficou suspenso e preso nos pulmões.
“Eu me apaixonei por você.”
Então era isso? Era por este motivo que estava fugindo? Meu Deus! Como Charlotte era inocente. Ela não conseguia ver que meus olhos refletiam o que eu sentia por ela?
- Eu sei que você não esperava por isso. Eu... Desculpe, Alex! Eu não imaginava que... Por favor, não desista! Eu vou saber lidar com este sentimento depois... eu...
- Charlotte! – a encarei sem saber ao certo se tinha conseguido captar tudo o que ela estava dizendo. – Foi por causa disso que você fugiu? – o que estava acontecendo comigo? Por que simplesmente não dizia que também havia me apaixonado?
- Foi. Eu tive medo do que aconteceria depois. Também tive medo de que você descobrisse e me evitasse. Droga, Alex! Eu não quero que seja diferente. Quero que seja com você – lágrimas rolaram de seus olhos escorrendo pelo rosto.
- Charlotte! – suspirei, secando suas lágrimas.
- Você prometeu que nada mudaria – suplicou.
- Não vai – as palavras estavam presas em minha garganta. Por que simplesmente eu não as dizia? – Nada vai mudar. – Puxei seu rosto beijando-a com devoção.
“Eu me apaixonei por você.”
As palavras ainda dançavam no meu interior. Eu estava feliz? Sim. Muito feliz. Estava me sentindo leve, completo, realizado. Sabia exatamente a extensão dos meus sentimentos, apenas não conseguia externá-los.
Charlotte se entregou como nunca. Foi um beijo apaixonado repleto de emoção e sentimentos.
Nós nos buscávamos com as mãos e com os lábios. Sua perna passou por cima da minha, estreitando a distância entre os nossos corpos. Eu a segurei, levantando seu corpo e encaixando-a. Coloquei-a de frente para mim sobre minhas pernas como na primeira vez em que tivemos momentos iguais a aquele.
Deslizei minhas mãos pelas suas costas, passando-as para dentro do seu vestido curto e solto, me apossando da sua bunda puxando-a de encontro a minha ereção. Charlotte gemeu e se mexeu causando um atrito delicioso entre nossos sexos. Nossas línguas dançavam em movimentos lentos, saboreando cada toque como se fossem únicos.
Então a campainha tocou! Lana e João.
Por algum tempo me esqueci que, na minha tentativa de dar a Charlotte um encontro normal acabei convidando minha irmã e meu amigo para assistirem um filme ou apenas beber um vinho. Um encontro entre casais. Em nenhum momento do dia imaginei que me arrependeria daquela decisão.
Puta merda!
Charlotte se afastou com relutância. O rosto afogueado e a respiração pesada. Encaramo-nos reconhecendo o sentimento que nos dominava.
- É Lana. Eu disse que você viria. Convidei João e minha irmã para beberem alguma coisa e assistir a um filme... – o desapontamento era nítido em seus olhos. – Desculpe! Eu pensei que deixaria você mais confortável.
Passei as mãos em seus cabelos e beijei seus lábios com doçura. Charlotte sorriu, saindo de cima de mim e ajeitando seu vestido. Levantei, colocando-me ao seu lado.
- Pelo visto, o mundo inteiro conspira para impedir que eu perca a minha virgindade! – ri balançando a cabeça.
Fui até ela abraçando-a e beijando seus lábios. A campainha soou novamente lembrando-me dos convidados.
- Não precisamos ter pressa – sussurrei em seu ouvido. Ela sorriu e eu fui abrir a porta.
Charlotte
Alex caminhou para a porta e eu quase dei pulinhos de alegria por ter contado tudo sem que ele desistisse de levar nosso plano adiante. Bom... Meu professor pareceu um pouco atordoado, no entanto sua reação foi melhor do que eu poderia imaginar. E o que foi aquele amasso? Toquei meus lábios, ainda sentindo o calor dos dele, surpresa por me sentir tão bem.
- Pelo visto estamos atrapalhando – João entrou fazendo gracinha enquanto Alex abraçava a irmã que segurava uma garrafa de vinho numa das mãos.
- Cale a boca, João! – esbravejou meu professor ao fechar a porta.
- Charlotte! – Lana veio em minha direção e me abraçou com intimidade. – Como anda o nosso livro? Estou ansiosa para começar a trabalhar nele.
- Não sei como ela vai conseguir terminar, amor. Alex está monopolizando o tempo da garota – Alex deu um soco leve no braço do amigo e deu risada. Pareciam duas crianças.
- Na verdade eu trabalhei ontem no capítulo. Consegui escrever bastante, estou pensando em dois finais. Decidi escrever os dois e depois escolher qual ficará melhor.
- Eu sei que não deveria, mas posso te ajudar a escolher? – os olhos da irmã do meu professor brilhavam.
- Você realmente não pode fazer isso, Lana.
Alex passou entre nós duas e colocou a mão em minha cintura. Foi impossível não notar que os olhos de Lana e João acompanharam seu movimento e que os dois sorriram largamente. Fiquei muito sem graça.
- Mas eu posso enviar os dois para você – falei vendo Alex revirar os olhos sorrindo para a irmã.
- E então? O que estavam fazendo – Lana passou os olhos pela sala.
- Pergunta indiscreta, princesa – João riu e beijou o topo da cabeça da esposa.
- Jura? – claro que Lana não estava nem um pouco constrangida.
- Estávamos esperando vocês – Alex me socorreu.
- Vamos assistir a um filme? Conversar? Encher a cara? – João já estava indo em direção à cozinha em busca de taças.
- O que as garotas preferirem – Alex o acompanhou e também sumiu.
Ficamos apenas eu e a irmã do meu professor.
- Quer dizer que você e Alex estão se acertando? – ela me puxou para o sofá, onde antes eu estava quase transando com o irmão dela.
Fiquei envergonhada com a pergunta. O que poderia responder? Não. Eu e Alex temos um acordo e o estendemos um pouco mais para que possamos transar até a exaustão. Claro que não poderia dizer aquilo a Lana.
- Não sei. Estamos em um processo de... reconhecimento – sorri e ela retribuiu.
- Ele gosta de você – revelou sem esperar que eu estivesse preparada.
- Bom... não sei – admiti.
- Mas eu sei – rebateu sem tirar os olhos de mim.
- O que você sabe, bruxinha? – Alex entrou na sala trazendo o vinho e João as taças.
- Que o livro de Charlotte será um enorme sucesso – sorriu tranquilamente sem demonstrar a mentira que estava dizendo.
Como Lana conseguia ser tão dissimulada? Tudo bem. Era melhor mesmo que Alex não soubesse o que ela havia acabado de me dizer. Ele serviu o vinho colocando pouco em minha taça.
Estreitei os olhos, ele nem ligou e continuou conversando.
- Eu já disse a ela. Aliás, Lana, convidei Charlotte para nos acompanhar a Frankfurt. Acho que seria interessante.
- Seria muito mais do que interessante – Lana respondeu animada. – Já estou com a cabeça cheia de planos.
- Seria interessante e... – João olhou inocentemente para Alex – Prazeroso.
Meu professor engasgou, mas deu risada, sem nada acrescentar. Puta merda! Eu devo ter ficado que nem um tomate.
- Você vai gostar, Charlotte. Só não sei como ficará depois de algumas horas ao lado de Lana.
Ela vai fazer você andar e falar com cada pessoa que estiver lá – continuou sem se preocupar com o meu embaraço. – Depois você estará tão acabada que não conseguirá fazer mais nada. – Alex riu, acompanhado de Lana.
- João! Não assuste a garota. Teremos longos dias para planejar. Principalmente agora que vamos passar o feriado juntas – ela falou sem notar o nosso embaraço.
- Vamos?
- Vão?
Eu e Alex falamos praticamente ao mesmo tempo. Lana era louca a ponto de programar até aquilo?
- Ah, vocês ainda não sabem? – ela piscou, parecendo sem graça, pela primeira vez, com o que tinha acabado de revelar.
- Do que exatamente não sabemos? – Alex ficou mais atento.
- Bem... Achei que nosso pai tinha te ligado para contar a novidade.
- Vá direto ao ponto, amor – João interferiu. Naquele instante eu tive dúvidas se seria uma coisa boa.
- Nosso pai convidou Peter e, consequentemente a família, para passar o feriado no rancho, em Petrópolis. E parece que seu pai já confirmou, Charlotte – respirei aliviada. Era somente aquilo?
Miranda estava sob controle e agora me apoiava. Johnny fazia o que eu pedia. Meu único problema seria controlar meu pai, além de evitar que ele percebesse qualquer coisa.
- Não é tudo – João provocou. Lana fez uma careta para ele. Alex olhou rapidamente para mim.
Voltei a ficar tensa.
- Vocês sabem que eu tinha convidado Tiffany para passar o feriado conosco. Eu estava tentando convencê-la a assinar o contrato, então... parece que teremos um feriado cercados de vários... Amigos.
Fiquei lívida. Passaria o meu feriado ao lado de Alex sem poder encostar nele e, ainda por cima, assistindo calada às manobras daquela vaca para botar suas mãos nojentas nele. Merda!
Alex levantou a mão em minha direção, eu a segurei e ele me puxou para si, enlaçando minha cintura e beijando o alto da minha cabeça.
- Vamos assistir a um filme? – sugeriu olhando intensamente para a irmã. Lana mostrou a língua como uma criança birrenta. Alex me soltou e foi ligar a TV.
- Não se preocupe, Charlotte – João se aproximou com cara de compaixão. - Serão três dias de puro prazer. Aliás, acho que no seu caso... – entortou a boca me avaliando – Um dia de nem tanto prazer, mas depois deste...
Ri da forma debochada como ele deixava bem claro que sabia de tudo. Alex estreitou os olhos em minha direção, a boca meio aberta e a cara de pura reprovação e divertimento.
- Você sabe que ele está usando o duplo sentido para te constranger, não é?
- Sei – ri ainda mais. – Mesmo assim não deixa de ser engraçado – Lana riu alto e João a acompanhou.
- Viu só, Alex? Charlotte gosta de mim – piscou para o amigo.
- Só Alex leva a vida tão a sério – Lana falou se aproximando. Meu professor deixou de prestar atenção na gente e voltou para a TV. - Por que você não insiste para que ele termine o livro, Charlotte? Ele abandonou o projeto apesar de estar excelente.
- Eu não... Não sabia que Alex escrevia – era difícil de assimilar tudo sendo bombardeada com tantas informações diferentes. Alex escrevia?
- Sim. Ele é um grande escritor. Seu livro estava incrível – senti mãos largas voltarem para a minha cintura.
- Não diga besteira, Lana – ele repreendeu a irmã.
- Você estava escrevendo um livro? – ele suspirou e sorriu.
- Estava. Vamos assistir um filme? É só escolher – encerrou o assunto.
- Ok, crianças! Vou apagar as luzes. Está terminantemente proibido amassos e mão boba nesse sofá. Quem quebrar a regra veste a roupa e vai embora – comecei a rir quase que instantaneamente.
Alex também riu balançando a cabeça reprovando o amigo.
Sentamos no mesmo sofá em que estávamos. Alex colocou um pé sobre ele e me posicionou no meio de suas pernas, me abraçando pela cintura e me acomodando em seu peito. Uma posição típica de namorados. Meu coração se aqueceu.
Deixamos que Lana e João escolhessem o filme. Eles ficaram sentados no chão, encostados no outro sofá, agarrados como dois adolescentes apaixonados. Assim que João apagou a luz, Alex começou a beijar meu pescoço, discretamente e sem pressa, numa tortura deliciosa.
- Cheiro bom – sussurrou em meu ouvido.
- Chama-se banho – tentei manter a voz baixa. Ele riu acariciando meus braços suavemente me deixando completamente acesa.
Assistimos ao filme, confesso que não estava conseguindo me concentrar muito bem.
Recapitulando o meu dia: ofereci-me para ficar com ele durante a noite, fui recebida como se fossemos um casal de verdade, Alex estava estranhamente carinhoso, confessei que estava apaixonada e nem assim ele recuou, estávamos tendo um encontro entre casais... O que mais faltava acontecer?
- Por que você parou de escrever? – murmurei sem conseguir me manter indiferente a esta revelação. Alex suspirou interrompendo sua carícia em meu braço.
- Porque eu tive o mesmo problema que você. Só que não tive onde procurar ajuda – puta merda! Como assim?
- Você não tinha experiência sexual suficiente para conseguir descrever?
Estava chocada demais para ficar calada. Tentei me virar para encará-lo. Alex me deteve prendendo meu corpo ao seu e colando os lábios em minha orelha.
- Eu conhecia muito bem sobre o sexo, porém desconhecia completamente o amor – suas palavras causaram arrepios em minha pele. Senti meu coração disparar. – Esta semana... Eu voltei a escrever – minha respiração ficou presa. – Agora preste atenção no filme.
Meus olhos ficaram congelados na TV. O que ele quis dizer com aquelas palavras? Ele não acrescentou nada, apenas enterrou o rosto em meus cabelos e beijou minha nuca encerrando o assunto. Eu não sabia o que fazer, nem no que pensar.
Capítulo 23
“As juras mais fortes consomem-se no fogo da paixão como a mais simples palha.”
William Shakespeare
Charlotte
Lana falou lendo uma parte do meu texto, que claro, nunca deixaria de ter citações de Shakespeare. Ela riu e me olhou de soslaio, voltando a sua atenção a tela a sua frente.
Eu estava deitada de barriga para baixo em minha cama assistindo a irmã do Alex brincar com o meu computador. Meu professor tinha razão. Ela era uma força da natureza. Quando soube que eu já tinha terminado o livro correu para a minha casa não me dando a chance de esconder dela.
Como ela conseguiu o meu endereço eu nem queria saber.
Meu pai estranhou a nossa amizade, afinal de contas, Lana é mais velha do que eu. Não muito, mas é. E, ainda por cima, não fazia parte do meu círculo social. Mal sabia ele que eu não tinha um.
Apesar de estranhar, ele adorou a presença da irmã do meu... Hum! Como classificar Alex em minha vida?
- Meu Deus do céu! Esse homem é tudo de bom! Você vai escrever uma continuação, não é? – ela não conseguia ficar parada.
Deitada em minha cama, com os pés dobrados para cima balançando e se mexendo como uma criança impaciente, Lana parecia mais jovem do que eu. Ela realmente estava adorando o livro e a sua empolgação me contagiava.
Por outro lado, minha cabeça não parava de voltar à noite passada quando Alex disse aquelas palavras me deixando mais confusa do que nunca. O que ele quis dizer com aquilo? Ele falou de amor para mim? Não. Claro que não. Se meu professor estivesse gostando de mim teria dito quando confessei estar apaixonada. Mas ele não disse nada.
Merda! Minha cabeça estava uma doideira só.
Pelo menos ele tinha concordado em dar continuidade ao nosso plano. E o melhor, não precisávamos mais esperar pela formatura, bastava apenas que eu não tivesse medo. Como tinha finalmente conseguido dizer o que sentia e não fui punida por isso, não havia mais motivos para esperar. Poderia acontecer inclusive naquele dia mesmo. Como ele disse: onde e quando eu quiser.
Ok. Eu quero. Só bastava definir onde e quando.
- Vamos ouvir a música que estava tocando antes de eu chegar e te atrapalhar.
- Lana, não... – não deu tempo. Ela rapidamente clicou e a música recomeçou “Will you still love me tomorrow”
Senti meu rosto ficar vermelho imediatamente. Lana não deixaria passar batido.
- Hum! Leslie Grace? Eu gosto – ela estreitou os olhos. – Influência de Alex? – fui ficando com o rosto cada vez mais quente.
- Não. Na verdade ele me apresentou uma banda legal ontem, resolvi procurar por cantores mais originais e encontrei a Leslie – desviei o olhar me sentindo completamente envergonhada.
- “Eu gostaria de saber se seu amor é amor mesmo. Que eu possa ter certeza. Então me diga agora que não perguntarei novamente. Você ainda me amará amanhã?” – traduziu me sondando.
Meu rosto pegou fogo.
Puta merda! Eu estava pensando em Alex e em nossa situação quando encontrei esta versão da música. Ela se encaixava tão perfeitamente em nossa história que a repeti várias vezes.
- Então... – Lana começou. – Você e Alex estão bem – afirmou.
- Lana, eu não sei até onde seu irmão contou sobre nós, só posso garantir que não é tão simples quanto você imagina.
Ela me olhava com atenção. Oh, Droga! Lana também sabia. Merda! E Alex se fazendo de “senhor da razão” por eu ter contado a meus amigos.
- Acredito que qualquer que tenha sido o motivo para vocês dois embarcarem nesta loucura já foi superado pelos sentimentos que agora os unem – balancei a cabeça rindo da afirmação dela.
Bom... Eu estava apaixonada, quanto a Alex... não sei.
- É... Complicado.
- Você gosta dele? – revirei os olhos e enterrei a cabeça nas mãos, rindo nervosa. – Oh, céus!
Você está completamente apaixonada! – ela riu e bateu palminhas. Tão infantil! – Não se envergonhe, Charlotte. Isso é maravilhoso! Você gosta dele e ele de você. Perfeito!
- Não é como você está pensando.
- Nunca tinha visto Alex se comportar com alguém do jeito que ele estava com você ontem. Ele sempre foi tão... Frio, impessoal, distante... Sempre foi Alex.
Eu não conseguia imaginar esse Alex. Comigo ele era tão quente, atencioso e preocupado.
Tudo bem que no início ele foi difícil, mas assim que percebeu que eu realmente precisava da sua ajuda começou a trabalhar de maneira a permitir minha presença em sua vida. Aquilo foi tão carinhoso da parte dele.
- Devo confessar que nem sempre foi assim, ultimamente ele anda realmente se importando com a qualidade dos nossos encontros e... – meu telefone apitou avisando a chegada de uma mensagem.
“Pensando em você. Alex.”
Só ele mesmo para assinar seu nome completo numa mensagem tão curta. Ri sozinha.
- Notícia boa? Posso apostar que é uma mensagem do meu irmão certinho.
Certinho? Definitivamente Lana não conhecia Alex. Se eu contasse para ela as coisas que ele fazia comigo tiraria de sua cabeça esta ideia equivocada.
- Sim. Uma mensagem fofa e meiga do meu professor Alex – ela suspirou teatralmente depois riu.
- Pois é. Meu amado irmão derreteu a geleira que tinha no peito e sucumbiu a seus encantos.
Agora me conte menina, que tipo de coisas você anda fazendo para enlouquecê-lo desta maneira? – ela piscou me deixando novamente vermelha demais para o meu gosto.
- Na verdade... Não posso falar sobre isso – ela riu alto.
- Ah! Qual é? Troca de informações entre amigas. Todo mundo faz isso. Eu te conto o que ando fazendo com o meu marido e você me conta o que faz com o seu... namorado.
- Ele não é meu namorado e nós não... – outra mensagem. Desta vez no WhatsApp.
“Está aí?”
Sorri amplamente, esquecendo que estava acompanhada.
- Então? – ela arqueou a sobrancelha aguardando. Suspirei e deixei o celular de lado.
- Lana, eu sou virgem! – falei com mais facilidade do que imaginei ser capaz.
- Puta que pariu! – seus olhos se arregalaram. – Puta merda, Charlotte! – então uma expressão divertida apareceu em seu rosto. – Não acredito que meu irmão, aquele filho da puta, falso moralista, que já comeu metade da cidade está de quatro por uma virgem? Puta que pariu! – começou a rir. – Desculpa! Não dá para ficar indiferente diante desta informação – gargalhou.
- Ok, Lana! Esse é o momento em que eu coloco você para fora do meu quarto – ameacei. Ela levantou as mãos se rendendo ainda rindo.
- Charlotte, não estou te ridicularizando por ser virgem. Eu casei virgem. Claro que não por minha vontade e sim pelo fato de Alex, o mesmo filho da puta que tenta te comer, e Patrício, o filho da puta que come a Miranda como se o mundo fosse acabar amanhã, praticamente obrigarem o João a esperar. Eu deveria tentar convencer você e Miranda a entrarem para um convento, só para me vingar deles – ri. Lana era uma comédia.
- Alex não está tentando me comer, Lana. Na verdade... – outra mensagem.
“Por que não fala comigo? Lana ainda está aí?”
Digitei rapidamente uma resposta “Ah sim. Digamos que ela está se divertindo muito a minha custa.”
- Charlotte, você é muito confusa. Agora entendo porque Alex ultimamente está sempre indeciso sem saber como agir – continuou rindo. – O filho da puta, está apaixonado por sua aluna, que ainda por cima é virgem – falou debochada. – Era tudo o que eu queria ver nesta vida – e recomeçou a rir.
- Lana!
- Pronto. Parei. Não vou mais falar sobre isso – me encarou com olhos imensos. Ficamos alguns segundos assim até que ela explodiu em nova crise de riso.
- Já chega. Rua, Lana, ou então vou mandar seu irmão te pegar.
- Ai que medo! – continuou rindo. – Tenho mesmo que ir. Você pode mandar este capítulo para o meu e-mail?
- Não. Ainda não me decidi quanto ao final.
- Mas está perfeito. Final feliz. Como todo mundo sonha.
- Se formos dar uma continuidade ao livro, acredito que um final triste com esperança de felicidade pode ser mais instigante – ela inclinou a cabeça um pouco, exatamente como Alex fazia e suspirou.
- Acho que você tem razão.
- Eu sempre tenho – sorri amavelmente.
- Escreva o outro final e me envie os dois. Voltaremos a discutir esse assunto após o feriado – Ela levantou, calçou os sapatos, pegou a bolsa enquanto eu ajeitava minhas roupas para acompanhá-
la à porta e se virou rapidamente em minha direção. – Charlotte?
- Sim – olhei curiosa para a irmã do meu professor que me encarava com seriedade. – Acho que precisamos conversar um pouco sobre sexo e virgindade – falou decidida voltando a se sentar na cama.
Revirei os olhos.
Seria uma tragédia.
Alex.
Charlotte não estava respondendo minhas mensagens. Eu queria combinar com ela sobre o feriado. Tinha consciência de que Tiffany não facilitaria em nada. Precisávamos conversar para juntos encontrarmos uma forma de manter a confiança um no outro para conseguirmos sobreviver a três dias de pressão tanto do pai dela quanto da minha melhor autora.
Não me sentia frustrado, como sempre ficava quando não conseguia falar com Charlotte.
Depois do que ouvi na noite passada, tudo tinha mudado dentro de mim. Sentia-me mais seguro, confiante. Entendia melhor a insegurança dela e, se isso era possível, passei a desejá-la ainda mais.
De uma maneira quase insuportável.
Precisava dizer que estava decidido a falar com o pai dela durante o feriado e pedir sua permissão para namorarmos. Só de me imaginar como um adolescente pedindo para namorar a filha de um ex-combatente do exército, minhas mãos já ficavam suadas.
Que merda!
Por que as coisas não podiam ser mais fáceis?
Passei o dia na editora. Precisava adiantar alguns processos para poder encaixar o livro da Charlotte. Havia o problema do livro de Tiffany. Ela ainda não havia se posicionado e precisávamos que ela assinasse. Esta questão eu deixaria aos cuidados de Lana.
Tiffany queria algo que eu não podia dar, então o melhor a fazer era me manter afastado. Sem contar que eu já sabia como Charlotte ficava quando se sentia ameaçada e não queria enfrentar aquela situação novamente.
Eu queria ficar em paz, com Charlotte em meus braços, sem precisarmos nos esconder.
Namorar escondido era um dos pontos que eu não gostava na minha adolescência. Por outro lado, tudo tinha sua hora para acontecer. Com certeza permaneceríamos nesta situação mais algum tempo já que ela precisava se formar, se desvincular de mim, pelo menos como professor e aluna, e se acertar com a editora.
Ainda havia um longo caminho a percorrer.
Não sei quanto tempo fiquei imerso em meu trabalho, de repente Lana entrou na sala intempestivamente, como só ela sabia fazer e parou diante de mim me encarando com olhos severos.
- Posso usar o seu computador? – parei o que fazia sem entender o que ela queria.
- Estou trabalhando, Lana – censurei a minha irmã.
- É por menos de cinco minutos. Preciso te mostrar uma coisa.
Afastei-me ligeiramente, para que ela pudesse virar o aparelho em sua direção e observei minha irmã abrir uma página do Youtube e digitar o nome de uma música: “Will you still love me tomorrow.” Fiquei aguardando curioso.
Era uma versão que eu gostava muito, que mesclava inglês e espanhol de forma harmoniosa.
Sem contar que a cantora estava em minha atual playlist.
- O que existe de tão importante nesta música?
- Nada, se eu não tivesse surpreendido Charlotte ouvindo esta música pela bilionésima vez – cruzou os braços no peito e estreitou os olhos.
- Ah, Charlotte! Entendi. Esqueci que você esteve importunando a minha namorada enquanto deveria estar trabalhando – ela ficou lívida.
- Segundo informação da própria Charlotte, vocês não são namorados, são... alguma coisa complicada de explicar.
Uau! Como responder a uma rebatida tão forte quanto aquela? Fiquei confuso e envergonhado.
Passei as mãos nos cabelos me concentrando na letra da música “Se você me amará amanhã”, o refrão repetia em minha mente. Puta que pariu! Charlotte estava insegura em relação ao que eu queria.
- Charlotte é minha namorada, Lana. Nós só precisamos resolver alguns detalhes – tentei me explicar sem me aprofundar no assunto.
- Você deveria dizer isso a ela. A garota está apaixonada por você – Não consegui evitar o sorriso de satisfação que se abriu em meus lábios.
- Eu sei – respondi visivelmente relaxado.
- Sabe? – minha irmã estava sendo irônica. Por quê? – Então você sabe que ela está apaixonada, mas não alivia o sofrimento da garota dizendo como se sente em relação a ela? Meu Deus! Será que meus irmãos nunca vão aprender?
Abri a boca para me explicar, sem conseguir dizer nada. Merda!
- Se você gosta dela... Se for um sentimento verdadeiro... Deve dizer. Ou deixe que ela siga o caminho dela, Alex.
- Eu disse. Eu... O que está acontecendo, Lana? Você virou guardiã do coração dos outros? Não vou discutir meu relacionamento com a minha irmã mais nova.
- Mais nova e mais inteligente. Será que a única coisa que você conseguiu herdar de nossos pais foi a beleza? Francamente, Alex! Eu esperava bem mais de você.
- Vá à merda, Lana! Eu tenho mais o que fazer. E estou oficialmente te proibindo de encher a cabeça de Charlotte com bobagens.
- Você deveria era estar me agradecendo.
- Pelo que exatamente?
- Por eu aliviar a sua barra com a “sua namorada” – ela abriu aspas com os dedos suspensos. – Eu contei a Charlotte que você estava apaixonado.
- Você o quê? Pelo amor de Deus! Eu não sou um adolescente para mandar recadinhos. O que você está fazendo é um absurdo...
- Então pare de agir como um. Deixe de ser infantil e diga a Charlotte que também está apaixonado.
- Eu disse.
- Não disse – ela bateu o pé no chão me encarando com fúria.
- Puta que pariu! – levantei e comecei a caminhar pela sala. – Tudo bem. Eu não disse. Não diretamente, mas de uma forma sutil... E faço sempre questão de demonstrar. Ela com certeza sabe como eu me sinto – fiquei bastante irritado com aquela conversa. Se Charlotte estava confusa por que não falava comigo?
- Quantas vezes vou precisar repetir: mulheres precisam ouvir! Diga Alex, com todas as palavras.
- Eu não consigo! – gritei. – Eu não consigo, Lana. Eu juro que tentei, mas simplesmente travo.
Não sei como fazer. Tenho medo de estar me precipitando e estragar tudo – confessei. – Charlotte ainda precisa de tempo. Ela tem que se formar, convencer o pai e assinar o contrato. Não quero que faça nada apenas porque eu correspondo ao seu amor. Não tem que ser por mim e sim por ela.
- Quanta baboseira! – rebateu me deixando furioso. – Charlotte já é uma mulher, Alex. Bem forte e capaz de tomar suas próprias decisões. A única incerteza que tem é sobre o seu amor. E essa merda existe! – explodiu. – Se você a quer, tem que dizer, ou então se prepare para perder a única mulher que você já amou nesta vida – prendi a respiração encarando a minha irmã.
- Ela não é a única mulher que eu já amei nesta vida – sentei no sofá, me sentindo derrotado.
- Não?
- Não. Eu amo você e a mamãe também – ficamos em silêncio, depois ela riu e veio sentar em meu colo me abraçando com força.
- Eu amo você também, seu cretino. Tá pensando que vai me desarmar? Está muito enganado.
- Eu conheço muito bem a bruxinha da minha irmã – ela riu levantando a cabeça para me encarar.
- É sério. Você precisa dizer a ela. Principalmente porque Charlotte é... – Lana fez uma careta como se estivesse se desculpando. – Virgem – oh, merda!
- Ela te contou? – o que mais Charlotte havia dito?
- Hum, hum! – piscou inocentemente. – Nós conversamos sobre... virgindade... sexo... primeira vez – encolheu os ombros esperando minha reação.
- Puta merda, Lana! - retirei minha irmã do meu colo e levantei apreensivo. – Por que você fez isso?
- Porque alguém tem que conversar com ela sobre esse assunto.
- Eu converso – respondi irritado.
- Alex! Você não tem a menor ideia de como é. Charlotte precisa conversar com uma mulher.
- Ela conversa com a amiga dela. Miranda.
- Então por que não sabia dos principais detalhes?
- Como assim? – aquela conversa estava me deixado cada vez mais confuso.
- Detalhes, Alex! Gozar na primeira vez... Essas coisas – deu de ombros.
Lana fez um gesto vago com a mão como se nem ela soubesse do que estava falando. Então parou e arqueou uma sobrancelha me desafiando. Encarei minha irmã com um misto de vergonha e deboche. Ela não falava das inseguranças da Charlotte, mas sim da sua própria história.
- Lana, não quero discutir sobre a incompetência do João – ela fez uma cara engraçada.
- Escuta aqui, meu marido não é nenhum incompetente. Ele só estava ansioso e tenso, e...
Merda, Alex! Vocês infernizaram a nossa vida. Nem uns amassos eu conseguia dele. É óbvio que na nossa primeira vez ele não conseguiria se controlar – minha irmã estava tão constrangida que não me olhava nos olhos.
- Tudo bem, Lana. Não quero mesmo saber da sua vida sexual com João e, por favor, fique longe da minha com Charlotte. Isso é constrangedor. Não quero ter que pensar em João Pedro, mesmo sendo seu marido... Não. Não quero pensar sobre isso – ela riu voltando ao seu normal.
- Você já fez isso alguma vez?
- O quê? Não podemos simplesmente encerrar esse assunto?
- Não. Você já tirou a virgindade de alguém? – que droga! Por que ela continuava insistindo?
- Lana...
- Se você não me responder eu não vou embora.
- Não! Agora pode ir – voltei para a minha mesa e fingi interesse em meu trabalho.
- Você nem sabe como tirar a virgindade de alguém? – soltei o ar com força, sentindo-me muito incomodado.
- Não deve ser muito diferente de comer alguém. Então... Neste ponto... Eu tenho bastante experiência. Pode ficar tranquila, a primeira vez de Charlotte não será traumática como a sua. Agora vá embora, por favor!
- A minha primeira vez não foi traumática! Eu apenas não tive um orgasmo... Quer dizer... Não no ato em si, mas...
- LANA! – impedi que a minha irmã continuasse. – Eu não quero e nem preciso saber!
- Ok! Mas devo te dizer que eu contei a Charlotte sobre a dor – enterrei o rosto em minhas mãos.
- Lana, você está destruindo a confiança dela. Pelo amor de Deus! Não se meta mais nesse assunto. Deixe comigo eu vou resolver os problemas da Charlotte. Vou conversar com ela e esclarecer todas as dúvidas. Por favor! Não diga mais nada a ela ou serei obrigado a enterrá-la viva em uma parede e só voltar para retirá-la depois de mil anos.
- Nossa! Você vai demorar este tempo todo para tirar a virgindade de uma mulher?
- Saia da minha sala. Agora!
Ela riu e foi embora saltitando como se tivesse acabado de ganhar na loteria. Merda! Eu precisava consertar as merdas que Lana enfiou na cabeça de Charlotte.
Charlotte
Ainda estava um pouco desnorteada com as informações fornecidas generosamente por Lana.
Fiquei um bom tempo olhando a tela do computador sem conseguir digitar uma letra. Miranda entrou no quarto com um sorriso do tamanho do mundo e sentou na cama. Seu sorriso se desfez rapidamente quando viu a minha cara.
- O que aconteceu?
- Nada. Eu só... Miranda posso te fazer uma pergunta muito íntima?
- Charlotte, você sabe até o tamanho do pênis do meu namorado, então pode tudo. – sorriu preocupada.
Fiquei incrivelmente envergonhada ao me lembrar do dia em que Miranda insistiu em encontrar alguma coisa que demonstrasse com perfeição o tamanho do... do membro do irmão do meu professor que seria, muito provavelmente, o primeiro homem da minha vida.
- Ok. Então tá – mordi os lábios sentindo o fogo alastrar em meu rosto. – Quanto tempo levou para que você tivesse o seu primeiro orgasmo? – ela voltou a sorrir.
- Você teve a sua primeira vez? Não acredito que não me contou. Quando foi?
- Não é nada disso. É só que... Só estou curiosa. Eu sei que o ato em si é diferente de tudo o que conheço como sexo. Então queria saber quanto tempo demora até que tudo passe a ser... Normal?
- Bom... Você sabe que a minha primeira vez foi uma porcaria. Deus! Nem acredito que permiti que aquele idiota fosse o meu primeiro homem – ela balançou a cabeça expulsando os pensamentos.
– As seguintes também, já que o mesmo imbecil participou delas – rimos. – Quando finalmente me livrei dele, sem me sentir derrotada pelo sexo ruim, encontrei uma pessoa que me apresentou o outro lado. Ele era mais maduro e mais experiente e conseguiu me mostrar como podia ser bom – minha amiga piscou para mim e sorriu largamente. – Acredito que Alex não vai te decepcionar. Apesar de não me sentir muito feliz dizendo isso, o cara é um profissional, tenho certeza. Fique tranquila. Se não conseguir na primeira com certeza na segunda.
Fiquei um pouco mais relaxada. Não que Lana tenha me traumatizado nem nada do tipo. Ela até que foi bem natural ao falar sobre o assunto e revelou que o sexo não precisa ser apenas a penetração. Muitas vezes as brincadeiras que eu e Alex fazíamos eram perfeitamente adequadas para o momento. Ela tinha dito: bastava eu me entregar, relaxar e aproveitar. O resto Alex tiraria de letra.
- Obrigada, Miranda!
- De nada! E você sabe que sempre poderá contar comigo – minha mãe bateu na porta.
- Interrompo alguma coisa? – ela estava linda em seu vestido verde claro, afivelado na cintura e com um decote mínimo, muito elegante. Até a palidez da sua pele havia sumido, dando lugar para um rosto corado e cheio de vida. – Preciso participar do bingo beneficente das esposas solidárias – revirou os olhos – Mas gostaria de me encontrar com vocês mais tarde. Vamos escolher os vestidos para a formatura.
- É a fantasia, mãe! – revirei os olhos e me joguei de costas na cama. – E eu vou de burca. – Miranda riu e minha mãe entrou no quarto me encarando com seriedade.
- Neste caso acho que deveríamos comprar um vestido apropriado para um jantar de comemoração.
- Perfeito! – Miranda praticamente pulou da cama. Olhei para ela imaginando o motivo de tanta euforia.
- Não vamos ter um jantar de formatura – rebati. – Concordamos, por muita insistência de Miranda e Johnny, em participar da festa. E a senhora e o papai concordaram que iriam nos deixar curtir a noite.
- Podemos ter um jantar comemorativo um dia após a formatura. Nunca é tarde para comemorar – ela sentou ao meu lado e segurou em minha mão. Minha mãe estava estranha e ao mesmo tempo ela continuava sendo apenas a minha mãe. Fiquei confusa.
- Mãe, eu tenho um milhão de vestidos novos. Não preciso de mais nenhum.
- Um milhão de vestidos novos que não correspondem à importância da sua formatura – ela disse sorrindo. – Além do mais, precisamos estar deslumbrantemente vestidas, afinal de contas, não é todo dia que alguém se forma já tendo o emprego dos seus sonhos garantido.
- Do que você está falando? – Miranda questionou curiosa.
- Do contrato que Charlotte assinará com a editora para lançar o seu primeiro livro. Não é maravilhoso!
- Ah, sim! Verdade. Precisamos comemorar.
- Não precisamos. Só vou assinar o contrato quando terminar a faculdade. Até lá tudo pode acontecer.
- Não seja dramática – minha mãe me repreendeu.
- Não sou. Apenas estou seriamente preocupada com a economia mundial. Não preciso gastar uma fortuna em um vestido novo se tenho muitos outros que nunca usei.
- Você tem vestidos simples, Charlotte – Miranda se intrometeu para me convencer.
- Eu sou uma pessoa simples, Miranda.
- Bom... Se está querendo impressionar o seu professor, é melhor começar a se comportar como uma mulher que se preocupa com o visual.
Minha mãe me encarou séria. Eu e Miranda nos olhamos atônitas sem conseguir reagir.
Puta. Que. Pariu! Como ela tinha percebido a minha situação?
- Não me olhe com esta cara de espanto, Charlotte. Eu sou sua mãe. Apesar de estar longe na maioria do tempo continuo sendo a sua mãe e você é o melhor livro que já li.
- Mãe... Eu...
- Tudo bem. Ele é mais velho, no entanto sabe valorizar você como profissional o que já é um grande passo para o relacionamento de vocês. E eu sei que está apaixonada. Basta olhar para você quando ele está por perto. Resta agora saber: ele corresponde aos seus sentimentos? – respirei profundamente. O que poderia dizer?
- Eu... não sei, mãe. Nós não conversamos sobre isso. Desde que você e papai chegaram não tivemos muito tempo.
- Entendo – deu um tapinha leve em minha mão e endireitou a coluna. - Para o bem dele é bom que corresponda, querida. Ninguém vai desprezar a minha filhinha. Ou eu mesma vou pedir ao seu pai para utilizar a arma dele.
- Mãe! – riu.
- Estou brincando, mas pense muito sobre isso, Charlotte. Se você gosta dele, precisa saber se vale a pena. Outra coisa, não deixe seu pai saber antes de ter certeza dos sentimentos do seu professor. Estamos entendidas?
- Sim – minha cabeça girou uma centena de vezes. O que foi aquilo tudo?
- Ótimo! Encontro você às sete?
- Claro! – ainda estava tonta.
Minha mãe saiu do quarto e Miranda me olhou sem entender. Dei de ombros. Como explicar a sabedoria de Mary Middleton? Impossível.
- Por que você ficou tão animada? – questionei a minha amiga.
- Porque vou ganhar algumas horinhas com Patrício – Miranda piscou e saiu alegremente do meu quarto. Que ótimo!
Meu celular indicou uma mensagem, ganhando toda a minha atenção.
“Will you still love me tomorrow?”
Bom... Era tudo o que eu não precisava. Lana passando informações para Alex.
“Gosto da música. O que dizer? Acabei assimilando um pouco do seu gosto peculiar.”
Enviei e deitei na cama encarando o teto.
“Gosto peculiar? Hum! Gostaria de entender o verdadeiro significado dessas palavras. O
que a música significa para você?”
Estávamos entrando em um território delicado.
“Para mim as músicas possuem significados. Esta fala por si só.”
Será que estava errada indo diretamente ao assunto? Ele não respondeu.
Muitos minutos depois recebi um arquivo encaminhado pelo meu professor “Teenage in love – Adolescente apaixonado.” Uau! Que dia estranho! Imediatamente coloquei a música para tocar prestando atenção na letra.
“Cada noite eu pergunto às estrelas acima. Por que eu tenho que ser um adolescente apaixonado?”
Ri sozinha. O que Alex queria dizer com aquilo? Será que ele se considerava mesmo um adolescente apaixonado? Apaixonado? A palavra brincou em meu coração. Ah, Alex! Como eu gostaria que fosse verdade!
“Qual o significado?”
Enviei rezando para que fosse uma resposta boa.
“A música fala por si.”
Foi o que ele respondeu. Fiquei pensativa. Alex estava tentando me dizer que eu não precisava ter medo? Que ele também estava apaixonado? Por que não dizia diretamente, como eu havia feito?
Fucei meus arquivos e encontrei a música perfeita. Imediatamente enviei.
Aguardei enquanto ele ouvia e digeria a minha resposta. Claro que escolhi uma versão peculiar da música original. Não perderia a batalha em busca de músicas diferenciadas. Depois de incontáveis minutos ele enfim me respondeu com uma frase da música que eu tinha enviado.
“Eu te farei feliz, garota. Apenas espere e veja.”
Uau mil vezes! Estava ficando interessante. Muito interessante.
“O senhor está me deixando encabulada, professor. Quanta demonstração de sentimentos!”
Na verdade eu estava mesmo me sentindo assim. Alex era surpreendente e me deixava confusa sem saber ao certo como deveria andar ao seu lado. O que afinal de contas ele queria com aquela história de músicas com significados? Quase que imediatamente a sua resposta chegou tirando-me do devaneio.
“Muito amor leva um homem a loucura... Me beije, garotinha, uuu, me senti bem... Me segure, garotinha, quero amar você como um amante... Eu quero contar para o mundo que você é minha.”
E mais um arquivo contendo a música. Puta merda! Aquele homem me fazia queimar por dentro.
O que dizer a um homem como Alex? Bondosas, graciosas e grandes bolas de fogo, como dizia a música, me atingiam fazendo tudo vibrar por dentro à medida que a ouvia. A batida acendia meu corpo e a minha única vontade era estar com ele e ser a sua garotinha.
Enquanto eu pensava na música, outra mensagem apitou.
“Não tenha medo!”
Uma súplica? Nossa! Alex me confundia. O que eu poderia responder? Pensei e rapidamente a resposta apareceu em minha mente em forma de música “Stand By Me.” Era a resposta que eu precisava.
Aguardei repassando a letra.
“Não, eu não terei medo. Não, eu não terei medo. Desde que você fique. Fique comigo.”
Bom... Meu recado estava dado. Será que ele entenderia?
A resposta não veio da forma como imaginei. Ao invés de me escrever uma mensagem ou enviar uma música, Alex simplesmente me ligou. Levantei, tranquei minha porta e atendi a ligação.
- Gosto peculiar e duvidoso – riu.
- Eu gosto da música – voltei a deitar em minha cama sem precisar esconder o sorriso imenso em meu rosto.
- Sim, eu também. Mas esta versão... – deixou que eu entendesse o final.
- Alguma coisa contra os ritmos latinos, Professor Frankli? - ele riu.
- Estou começando a acreditar que ao invés do sangue azul que os ingleses dizem ter, o que corre em suas veias é latino – brincou.
- Seria ótimo já que o comentário geral é que as mulheres latinas possuem sangue quente e são sexys. – meu rosto ficou vermelho e quente e eu me escondi no travesseiro me sentindo ridícula.
- Com certeza! Você é sexy – a atmosfera começou a mudar, eu podia sentir.
- Professor Frankli, é muita falta de consideração. Não é justo ficar atiçando suas alunas quando não pode fazer nada por elas – ele deu uma risada rouca e cheia de promessas.
- Não estou provocando minhas alunas, estou provocando “minha aluna deliciosamente sexy”.
E sim, Srta. Middleton, eu posso fazer muito por você. Basta me dizer onde e quando.
- Nunca imaginei que o senhor seria um homem fácil – provoquei sentindo minha calcinha umedecer.
- Bom... eu te disse: muito amor leva qualquer homem à loucura – quase gritei com estas palavras. Mas precisava ser cautelosa.
- Eu pensei que o senhor tinha dito: me segure, garotinha, quero amar você como um amante.
- Sim, eu disse isso também. Eu tenho dito muitas coisas, Charlotte, e você não tem prestando muita atenção.
- Você tira toda a minha atenção, Alex.
- Tiro é? – sua voz rouca mostrava o quanto ele também estava excitado. Oh, merda! Eu daria tudo por alguns minutos com ele. – Estou começando a acreditar que seu único interesse é sexo, Charlotte tarada e viciante.
Ele falou sério, mas eu sabia que estava brincando. Não tinha como não ter levado a sério o que eu tinha dito. Eu estava irrevogavelmente apaixonada.
- Hum! Acho que o senhor me pegou, professor.
- Não. Eu ainda não te peguei, Charlotte. Mas vou. E de jeito! – eu podia sentir aquele sorriso torto, quente e provocante, em seus lábios.
- É uma promessa, Prof. Frankli?
- Um juramento, aluna – meu sangue borbulhou. Eu estava tão excitada! – Adoro quando te deixo desse jeito. – sim, claro! Ele sempre sabia como me deixar maluca.
- Volto a dizer: isso não é justo! – ele riu. O som carregado de desejo.
- Posso resolver sua situação. Basta você pedir.
- Por favor, Alex! – gemi seu nome.
- Posso te encontrar em minha casa dentro de uma hora.
O que? Como assim? Hoje? Quer dizer... Puta merda! O que eu poderia dizer?
- Continua com medo?
- Na verdade... Não.
- Então te encontro em minha casa.
Ele desligou o telefone sem me dar chance de responder. Eu não podia ir. Quer dizer... Tinha minha mãe, Miranda, e... Merda! Eu queria tanto transar com ele. Queria muito! Mas assim? Droga!
Pulei da cama. Precisava de um banho, depilação... Hum! Uma lingerie decente para a minha primeira vez e... Um vestido? Sim. Um vestido seria interessante.
E o cabelo? Solto seria melhor? Acho que sim. Alex gostava do meu cabelo. Precisava escolher um perfume que não fosse muito doce, nem muito forte... Ai meu Deus! Eu não sabia por onde começar.
Capítulo 24
“Nos teus mais doces lábios ficam os meus livres do pecado.”
William Shakespeare
Alex
E era assim que eu me sentia. Não havia mais a culpa ou o medo. Poderia ainda existir o cuidado, ou a necessidade de protegê-la, porém essas coisas ocupavam um espaço tão ínfimo que ganhavam bem pouco dos meus pensamentos. Eu a amava e só o fato de estar amando, já valia a pena.
Meu telefone tocou minutos antes de eu ir embora. Era Patrício.
- Encontro de garotos – revirei os olhos.
- Eu tenho trinta e quatro anos!
- Um dia para trinta e cinco – ele brincou e eu suspirei.
- Grande diferença!
- O que foi? Está com medo de envelhecer?
Pensei no assunto. Eu estava? Claro que não! Ou estava? Droga! Era lógico que estar apaixonado por uma pirralha de vinte e um anos me deixava inseguro. Como não ficar? Ela era linda, inteligente, interessante, sensual, gostosa, cheia de fogo... E eu estava na metade da minha vida, levando-se em consideração as estatísticas.
Merda! Quantos pensamentos deprimentes e infantis.
- Só não estava pensando no assunto – respondi tarde demais. Ele riu.
- Então não está nadinha preocupado com o que Lana será capaz de fazer amanhã? – puxei o ar como se estivesse acordando de um sonho.
- O que ela vai aprontar?
- Não sei, por isso mesmo vamos sair hoje. Com certeza Lana vai nos prender em um encontro de família e eu não estou nem um pouco a fim de comemorar seu aniversário preso em uma sala com os nossos pais.
- Paty, você não está namorando? Eu ouvi errado ou você disse que encontrou a mulher da sua vida e todas aquelas baboseiras que só você é capaz de dizer – ele riu alto.
- É só uma noite entre amigos. Não vai acontecer nada além de beber um pouco e assistir algumas gostosas tirarem a roupa.
- Tô fora!
- Alex, sei que você é um lobo solitário, isso não significa que não possa perder um tempo com seu irmão. João Pedro vai tentar fugir de Lana – ri pensando sobre o que Lana tinha me dito sobre sua primeira vez.
- Ah é? João vai? – ri ainda mais – Então não teremos mesmo umas gostosas tirando a roupa.
João morre de medo da nossa irmãzinha.
- Ele é um idiota, mas é meu amigo, fazer o quê? E aí, vamos?
- Não sei. Tenho um encontro muito importante hoje.
- Olha só, Alex. Você pode comer sua namorada durante todos os outros dias, hoje você vai encontrar seu irmão e seu amigo, comemorar o seu aniversário, ou eu vou te caçar. Vou até a sua casa e o arranco de lá pelado mesmo. Quero esta sua bunda branca sentada no bar as nove em ponto. Ok?
- Essa eu quero só ver.
- Maninho, há muito tempo você deixou de ser o mais forte. Quero saber o que Charlotte vai pensar quando eu invadir o quarto e te arrancar de lá – droga! Por que todo mundo estava viajando em Charlotte?
- Você não vai saber onde estarei – rebati incomodado.
- Basta pedir para Miranda encontrar Charlotte. Simples assim – suspirei. Era tudo uma grande merda!
- Miranda não é uma boa companhia. Repense com quem anda saindo.
- Pelo menos não estou comendo minha aluna. Você é quem deveria ter cuidado antes de ficar olhando para ela com olhos brilhantes e apaixonados – ele deu uma risada estrondosa.
- Merda, Patrício! Eu não... Dá para parar de falar da Charlotte?
- Depende. Se você aparecer hoje eu prometo não fazer nenhuma piada sugestiva na frente do pai dela...
- Vá se foder, Paty! – ele continuou rindo.
- Paty é a puta que te pariu! É só um encontro entre amigos, Alex. Você precisa relaxar um pouco, nós vamos curtir a noite e tudo ficará bem. Eu mando o endereço por mensagem. Beijos, irmão.
Ele desligou.
Que droga!
Olhei para o relógio e... Puta que pariu! Eu tinha demorado tanto assim? Pretendia passar na loja de bebidas importadas para comprar um vinho, mas... Merda! Eu ia me atrasar. E se Patrício resolvesse ser mesmo um mala e aparecesse lá em casa querendo me arrastar com ele? Droga!
Eu precisava de um tempo para conversar e não simplesmente chegar, dar uns amassos em Charlotte e sair correndo para atender a um pedido infantil do meu irmão.
Ela não ficaria nada feliz.
Charlotte
Vinte minutos depois do combinado eu estava batendo na porta do meu professor. Atrasada.
Saco! Por que perdi tanto tempo escolhendo uma calcinha adequada se nem a usaria por muito tempo? E o que foi aquele vestido? Vermelho? Merda!
“Tomara que Alex não perceba minha ansiedade”.
Alex não atendeu. Olhei pelas janelas e não havia nenhum tipo de movimento na casa, ou ele estava tomando banho ou não tinha chegado ainda. Voltei para o carro e aguardei.
Aguardei.
Aguardei.
Mais quinze minutos e nada de Alex. Onde ele estaria?
Resolvi ligar, afinal de contas não seria nada demais. O telefone só dava caixa postal. Comecei a ficar irritada. Onde diabos ele poderia estar? Custava avisar que não poderia comparecer? E eu estava com uma minúscula calcinha de renda pura, toda enfiada na bunda que começava a me incomodar.
Merda!
Esperei mais vinte minutos que pareceram uma eternidade sentada dentro do carro com aquela calcinha idiota me fazendo lembrar da sua existência a cada segundo. Resolvi tirá-la. Que se dane!
Ninguém merece uma tortura dessas. Se Alex aparecesse eu daria um jeito de colocá-la no devido lugar.
Mais dez minutos e desisti de esperar. Liguei o carro e então percebi uma luz se aproximando, logo depois ele buzinou me pedindo para esperar. Respirei três vezes para manter a calma. Eu perderia a minha virgindade e faltavam apenas vinte minutos para o encontro com a minha mãe.
Desliguei o carro, arrumei meu cabelo, dei uma última olhada no espelho e sai para encontrá-
lo. Alex parou alguns minutos para me observar, desfrutando da imagem enquanto eu caminhava em sua direção. Ele passou a mão nos cabelos e sorriu lindamente.
- O Senhor está atrasado, Prof. Frankli! Não é de bom tom deixar uma aluna aflita esperando por tanto tempo – o vento do litoral começou a fazer efeito. Merda! Eu estava de vestido e sem calcinha. Era melhor apressar a nossa entrada.
- Desculpe! Quando estava quase saindo um autor chegou querendo conversar sobre um problema que aconteceu com o livro dele. Tive que voltar para tentar resolver. Fiquei preso no trânsito e, para piorar, meu celular descarregou justo hoje que não havia carregador no carro. Tudo deu errado – ele respirou fundo e me encarou. – Você está bem?
- Sim. Podemos entrar? Está esfriando – sorri inocentemente, louca para rir. Eu bem sabia onde estava esfriando.
- Claro! – pareceu confuso, porém caminhou ao meu lado em direção à porta. – Está de lentes?
– comentou ao abri-la.
- Sim – instintivamente levei a mão ao rosto sem encontrar a armação. – Por que? – fiquei tensa. O que estava errado em mim?
- Nada, só que você está o tempo todo com os óculos, então senti falta.
- Ah! – respondi sem muito ânimo.
- Mas você fica linda de qualquer forma – ele disse todo derretido, o que me deixou ainda mais embaraçada.
- Ah! – voltei a dizer me sentindo ridícula por estar tão monossilábica.
- Você está estranha – disse ainda segurando a porta para mim.
- Bom, fiquei bastante tempo aguardando dentro do carro – dei de ombros. Ele fechou a porta e eu caminhei em direção à cozinha.
- Não tive culpa, Charlotte. Eu queria muito estar aqui. As coisas foram acontecendo não pude evitá-las – sorri e sentei em um dos bancos altos encarando meu professor. Ele parecia cansado.
- Tudo bem. Não posso demorar. Minha mãe quer me obrigar a comprar um vestido novo para um jantar de formatura – revirei os olhos. Alex sorriu se aproximando de mim com intimidade.
- Um vestido novo, é? Para uma ocasião especial ou só para a formatura mesmo? –seus lábios exibiam um sorriso safado e os olhos estavam estreitos, aguardando um sinal meu.
- Será uma festa à fantasia – lembrei ao meu professor que sorriu largamente. – E eu pensei que seria quando e onde eu quisesse – desafiei.
- E será.
- Agora!
Alex parou surpreso. Seus olhos ficaram imensos e ele avaliou a minha expressão. Eu não estava brincando. Já tinha sofrido demais com a calcinha e a expectativa. Se fosse para enfrentar a minha mãe, então que fosse.
- Agora? – repetiu sem acreditar.
- Sim. Por quê?
- Por quê? – Alex estava mesmo parecendo um adolescente apaixonado. Eu ri.
- Agora é você que está estranho!
- Puta merda, Charlotte! Você joga uma bomba dessas em minhas mãos e acha engraçado? – ele abriu minhas pernas se encaixou entre elas enterrando o rosto em meu pescoço.
- Uma bomba? Caramba!
Meu professor riu ainda com o rosto escondido em meus cabelos. Envolvi seu corpo com meus braços. Graças a Deus que na posição em que estávamos Alex não perceberia que eu estava sem calcinha.
- Estou exausto! Patrício prometeu que arrombaria a porta e me tiraria daqui na marra para passar um tempo com ele e eu só tenho meia hora para me aprontar. Juro que meu único desejo neste momento é levá-la para minha cama, fazer amor da maneira como merece e passar o resto da noite com você em meus braços, mas... – suspirou derrotado.
- Uau! – ri das suas palavras. Ok! Eu não estava decepcionada. Não tínhamos tempo mesmo.
- Não faça assim. Você também está sem tempo. Não quero que a sua primeira vez seja uma “rapidinha” – levantou minha cabeça e alcançou meus olhos. – Preparada para o feriado?
- Não. Podemos conversar sobre isso depois?
Ele riu se afastando um pouco. No entanto, deixou que suas mãos brincassem em minhas coxas e mordeu os lábios com uma expressão zombeteira. Rapidamente senti um calafrio na espinha.
Merda! Eu estava sem calcinha. Que ideia idiota!
- Bom... – fiquei inquieta na cadeira. Suas mãos estavam em mim e eu estava começando a esquentar. – Já que não teremos nossa tão almejada primeira vez... – sorri docemente. – E corremos o risco de sermos arrastados por uma força da natureza como Patrício... Vou embora.
Alex não deixou que eu descesse do banco. Ele manteve as mãos em minhas coxas e me segurou com força. Espalmei minhas mãos em seu peitoral fingindo surpresa.
- Não – pediu manhoso. – Ainda temos um tempinho – aproximou-se avançando com as mãos em minhas pernas. – Ainda nem ganhei um beijo! – protestou com voz mansa e sensual.
- Você está cansado – brinquei.
- Não seja malvada.
Alex mexia com meus neurônios até mesmo quando estava cansado e apelativo. Suas palavras murmuradas em minha pele pareciam um formigueiro inteiro caminhando em meu corpo. Passei as mãos por suas costas largas e musculosas oferecendo meus lábios, me rendendo à luxuria.
Nosso beijo foi quente, lento e muito bem executado. Aprendido em aulas exaustivas ou ensaiado para que nossos lábios se movimentassem simultaneamente e nossas línguas tocassem os lugares exatos, na velocidade ideal, tornando-o muito mais quente e sensual.
Não me dei ao trabalho de impedir que Alex adentrasse o meu vestido com as mãos em busca de mais proximidade entre nós. Percebi que seus dedos, longos e ágeis procuravam algo que não estava lá. Ele vagou pela parte externa dos meus quadris com toques leves e nada respeitosos. Quem estava se importando? Eu, com certeza, não. A última coisa que desejava naquele momento era respeito.
Ele apalpou minha bunda e, quando percebeu que não encontraria o que estava faltando, gemeu eroticamente em meus lábios. Foi um som selvagem, arrancado bem de dentro, do seu lado mais animal e instintivo carregado de desejo carnal que reverberou em meu sexo sem nenhum pudor.
- Puta que pariu! Sem calcinha, Charlotte?
Parecia sofrer ao constatar. Como se o fato da minha calcinha não estar no seu devido lugar fosse uma tentação tão absurda que chegava a ser dolorosa.
Alex gemeu fazendo meu corpo vibrar. Suas mãos ficaram mais ousadas, seu corpo ganhou movimentos e seus lábios ficaram mais urgentes. Imediatamente comecei a queimar de dentro para fora mais rápido do que o normal.
Seus dedos vagaram pela minha bunda. Sem pensar um só segundo sobre o que estávamos fazendo, comecei a me movimentar de encontro a sua ereção. Ele estava no modo “mais excitado possível” e eu simplesmente correspondia. Quando menos esperava, ele, com a mão espalmada em meu quadril, deixou que o polegar acariciasse meu sexo.
Alex mordeu meu pescoço em resposta fazendo-me ficar ainda mais preparada. Meu corpo implorava por alívio.
De volta aos meus lábios, com a língua explorando cada pedacinho da boca e seguindo o ritmo do seu corpo, uma combinação mais do que perfeita, ele introduziu um dedo em mim lentamente.
A sensação era única. Gemi despudoradamente. No mesmo instante mais um dedo se juntou ao outro entrando e saindo, devagar, sem se aprofundar muito. Alex os girou, afastando-os e juntando-os.
Quando se aventurou mais profundamente, senti uma pontada de dor angustiante e ao mesmo tempo deliciosa. Então ele os recolheu. Gemi em protesto.
Novamente avançou, recomeçando a tortura lenta, rodando e afastando os dedos. De novo e de novo. Não dava para me segurar.
- Céus, tão pronta! Quente e molhadinha!
Gemeu em meus lábios sem aparentar estar falando comigo, como se estivesse em seu próprio mundo, delirando com os acontecimentos.
E aquelas pequenas palavras “céus, tão pronta”, acompanhadas do habitual “quente e molhadinha”, somadas aos movimentos de seus dedos, fez meu corpo se fragmentar seus pedaços levitando e se dissolvendo em cascatas de luzes.
Não consegui me segurar e gozei. Alex permaneceu com a mão onde estava, movendo-se lentamente enquanto minha respiração se normalizava. Quando abri os olhos ele me encarava apaixonadamente.
- Uau! O que foi isso? – a voz grave e baixa deixava clara a sua aprovação. Respirei com mais intensidade na ânsia de levar mais oxigênio a meu cérebro.
- Desculpe! Chegou sem me avisar e me dominou rapidamente – tinha consciência de que estava muito vermelha pelo orgasmo e pela vergonha.
- Pelo amor de Deus, não se desculpe! – me segurou contra ele revelando sua enorme ereção.
- Foi mais forte do que eu – ri sem graça. Ele me abraçou com mais força e me beijou.
- Intenso. Muito intenso. Eu também já estava perdendo a cabeça – abrindo minhas pernas um pouco mais ele encostou sua ereção em meu sexo molhado e ainda quente.
- Gosto quando você perde a cabeça – sussurrei colando meus lábios aos dele. Alex gemeu e recomeçamos.
Entre as minhas pernas ele roçou seu sexo no meu, ainda dentro da calça. A fricção era gostosa, principalmente porque eu continuava sensível. Segurei em suas costas e forcei meu corpo em sua ereção. Alex correu as mãos pelas minhas costas e bunda, levantando meu vestido, se esfregando descaradamente em mim.
Em segundos ele encontrou o seu prazer. Gozando entre minhas pernas apenas com a fricção entre nossos sexos. Foi intenso! Muito intenso! Continuamos nosso beijo enquanto ele ainda gemia e gozava. Suas mãos me puxavam contra seu corpo como garras me segurando firmemente. Após alguns minutos nós nos olhamos. Alex parecia envergonhado.
- Uau! – foi a minha vez de falar.
- É. Uau! – passou as mãos pelos cabelos e me deu um selinho, ainda sem graça pelo ocorrido.
Depois olhou para suas próprias pernas, verificando o resultado. – A senhorita fez um grande estrago aqui. Agora sim posso realmente dizer que sou um adolescente apaixonado. Céus!
- Hum! – puxei-o para mim e beijei seus lábios. – Gosto mais deste adolescente apaixonado do que daquele professor todo certinho que se recusava a me ensinar a arte do amor – ele me encarou com olhos confusos, piscando várias vezes. A boca levemente aberta e a testa um pouco enrugada.
- Eu te ensinei apenas as técnicas do sexo. Sou completamente leigo em tudo relacionado a sentimentos. Podemos dizer que nessa matéria você é que tem me ensinado.
Não soube como reagir. Uma parte de mim gritava animada como uma líder de torcida com seus pompons vibrantes, por entender que ele admitia estar tão apaixonado quanto eu. A outra, no entanto, um pouco menos otimista, esmaecia. Alex poderia também estar afirmando não saber ao certo o que estava sentindo e por causa disso se deixava conduzir por mim, o que não era nada bom.
Resolvi mudar de assunto antes que todos os meus conflitos me invadissem. Eu nada poderia cobrar dele e também não daria uma de menina mimada. Sempre soube no que estava me metendo e qual poderia ser o resultado. Corria o risco de flutuar nas nuvens em algum momento para depois ser derrubada de uma altura imensurável e me espatifar no chão.
- O que foi aquilo? – ele parou me encarando sem entender aonde eu queria chegar. – Com os dedos... Você... Hum! – como explicar? – Introduziu dois dedos em mim e...
- Ah! – ele me interrompeu entendendo do que eu falava. – Eu estava... Não sei – riu um pouco nervoso. – Acho que tentei testar a sua elasticidade para quando for me recebe – analisou os meus olhos para verificar se eu aprovava ou não a sua atitude.
Mantive-me imparcial. Qualquer que fosse a decisão de Alex sobre tornar nossa primeira vez menos dolorosa e mais agradável para mim seria bem-vinda, mesmo que significasse testar minha capacidade de recebê-lo, como ele tinha acabado de dizer.
- Parece ter surtido efeito – completou por fim, com um sorriso torto de tirar o fôlego.
- Ah, sim! – afirmei correspondendo ao seu sorriso.
- Vamos nos dar muito bem neste quesito, Charlotte – seus olhos escureceram e sua voz assumiu um tom mais grave que incendiou tudo abaixo da minha cintura.
Ah, sim, professor Frankli! Com certeza nos daríamos muito bem.
- Só precisamos resolver onde e quando – provoquei. Alex segurou meu rosto com as duas mãos capturando meus olhos.
- Quando você quiser – reafirmou.
- Eu quis hoje – estreitei os olhos como uma menina mimada. Ele riu.
- Amanhã – meu corpo inteiro estremeceu.
- Amanhã? – minha boca ficou seca.
- Sim. Charlotte você é tão confusa! Está sempre me cobrando uma posição e quando decido, fica pálida como um fantasma.
- É que... – pensei no assunto tentando encontrar uma saída. – Prometi ao meu pai que o acompanharia a São Paulo, para uma visita às novas instalações. Haverá uma comemoração – ele pareceu desanimado e eu não entendi o motivo. Coloquei uma mão em seu rosto deixando que seus olhos me levassem para o oceano profundo. – Desculpe, eu não sabia...
- Tudo bem. Podemos deixar para depois de amanhã – apesar do sorriso não senti felicidade em seus olhos.
- Depois de amanhã estaremos em Petrópolis, com meus pais, seus pais, seus irmãos e sua “autora favorita” – desdenhei esta última parte.
- Você é a minha autora favorita – Alex pareceu relaxar um pouco mais. - E sim. Estaremos com todas estas pessoas, só que nenhuma delas vai dormir em meu quarto, o que deixa a madrugada todinha só para nós dois, teremos tempo de sobra.
- Durante a madrugada? – minha voz subiu uma oitava. – E se doer e eu gritar, o que você vai fazer quando meu pai bater na sua porta? – Alex riu como se eu tivesse falado um absurdo. Ok! Eu estava falando um absurdo.
- Primeiro: não dói tanto assim – fez uma careta lembrando de alguma coisa. – Bom... Pelo menos eu acho que não, mas... De qualquer forma não será uma dor tão grande a ponto de você gritar acordando a casa toda. Não me diga que Lana colocou esta baboseira em sua cabeça – ele mudou de humor repentinamente, ficando irritado.
- Não – apressei-me a desfazer a minha idiotice. - Só fiquei imaginando se não ficarei muito tensa e com isso acabar estragando tudo. Não sei se conseguirei relaxar sabendo que meu pai estará em algum lugar da casa, pronto para atirar em quem cruzar o meu caminho.
Alex parou, inclinando a para o lado. Seus olhos perderam um pouco do foco e ele mordeu o lábio interior.
- Temos uma cabana um pouco afastada da casa principal. Fica depois do rio que corta a propriedade. Se conseguirmos a desculpa certa podemos passar uma tarde ou quem sabe uma noite lá. Seria perfeito.
Ok! Tenho que confessar que seria mesmo perfeito. Uma casinha, esquecida no meio do nada, arrumada e preparada só para nós dois. Era um sonho! Passei a desejar ainda mais aquele momento desde que encontrei Alex pela primeira vez.
- Tudo bem. Será realmente mais fácil sem meus pais por perto – sorri confiante.
- E sem os meus – ele completou sorrindo.
- E sem o João Pedro com suas gracinhas – brinquei. Alex confirmou com a cabeça.
- E Lana e todas as suas teorias conspiratórias – ele piscou confidente.
- E Miranda e sua vontade de me proteger contra tudo e todos.
- Ah sim! Realmente será muito melhor sem Miranda por perto.
- Alex! Ela é como uma irmã para mim – repreendi meu professor.
- Eu sei. Tenho que me acostumar com aquela garota, afinal de contas ela está saindo com o meu irmão.
- O mesmo que deve estar chegando a qualquer momento – ele abriu os olhos assustado demonstrando que tinha esquecido completamente do seu compromisso.
- Droga! Acho que preciso de um banho – sorriu largamente. Foi mesmo muito intenso. Muito!
- Só quero acrescentar que para mim será muito mais fácil sem Tiffany perambulando pela casa e se oferecendo para você a cada segundo.
- Não precisa se preocupar com Tiffany – falou impaciente. – Não existe nenhuma chance de ela estragar nossos planos.
- Acho ótimo! – pulei da cadeira para me afastar. Alex segurou meu braço fazendo-me olhar para ele.
- Charlotte, Tiffany não significa nada para mim. Nem ela, nem ninguém vai me impedir de ficar com você. Nem mesmo o seu pai e a arma dele.
Fez biquinho para evitar o riso. Ficava lindo quando fazia aquilo. Meu telefone tocou desviando-me do charme do meu professor.
- Oi, Miranda! – olhei para ele deixando clara a minha empolgação por falar com a minha melhor amiga. – O que aconteceu?
“Preciso de carona. Patrício vai buscar Alex e vai me deixar aí. Você pode me esperar?” – olhei confusa para o meu professor, mas não demorei a responder.
- Sim. Tudo bem. Como sabe que estou aqui? – eu não tinha dito a Miranda que estaria na casa de Alex. Quando saí ela não estava em casa.
“Patrício me disse” – respondeu naturalmente.
Ok! Patrício era mais um que sabia da minha vida quase sexual com Alex. Droga! Já estava ficando chato.
- Certo. Fico aguardando.
“Em dez minutos” – e desligou.
- Você disse a Patrício que eu estaria aqui? – Alex ficou confuso tentando recapitular alguma coisa.
- Não, acho que ele deduziu – fez uma careta aborrecida. – Meu irmão é um pouco...
inconveniente. Acho melhor tomar logo um banho – olhou para as calças que exibiam uma mancha que se destacava com muita facilidade. – Nossa! Não sei onde vamos parar se continuarmos desse jeito.
- Eu sei.
- Por falar nisso. O que te deu na cabeça para sair sem calcinha?
- Não saí, simplesmente a tirei porque estava me incomodando. Sabe como é: calcinha pequena e de renda incomoda em alguns lugares – ele abriu a boca me encarando, puxando o ar com mais força, os olhos escurecidos pelo desejo.
- Acho que entendo – falou por fim, deixando seus olhos percorrerem meu corpo como um lança-chamas. Caralho! Eu estava começando a ficar excitada de novo. – Gostaria de te ver com esta calcinha – se aproximou um pouco mais murmurando as palavras para mim. – Apesar de preferi-la sem.
- Pelo menos nisso concordamos. Tenho apenas uma ressalva: eu prefiro estar sem calcinha quando você está sem as calças e de preferência entrando e saindo de mim.
Fui ousada. Muito ousada. Mas como não ser? Alex me excitava de maneira inexplicável.
Ele me puxou para si com força e determinação. No mesmo instante senti sua ereção. Oh, céus!
Ele nunca se cansava?
- Vamos deixar Miranda e Patrício do lado de fora – no mesmo instante ele me carregou, cruzando minhas pernas em sua cintura e alojando suas mãos em minha bunda.
- Alex, eles chegarão logo! – alertei com a voz expectante e entregue.
- Que se dane! Eu preciso comer a minha namorada – mordeu meu pescoço e chupou o local.
Gemi manhosa sentindo seus dedos quase em meu sexo.
- Que se dane! – ecoei suas palavras.
Alex me pressionou contra a parede se esfregando em mim sem nenhuma decência, passando os lábios até encontrar o decote do meu vestido, onde despejou vários beijos e mordidas. Agarrei seus cabelos no mesmo momento em que ele conseguiu afastar o tecido e envolver o bico intumescido com os lábios. Gemi alto. Ele me manteve suspensa apenas por seus braços e caminhou comigo na direção das escadas de acesso aos quartos.
Paramos depois de alguns degraus e ele me imprensou contra a parede outra vez. Suas mãos subiram agarrando minhas coxas. Aproveitei o equilíbrio para arrancar sua camisa. Literalmente arrancar, já que alguns botões se perderam pelo caminho. Ele não se importou, apenas se livrou dela como se precisasse daquilo para viver. Nosso beijo era selvagem e urgente.
Ele segurou meus cabelos com uma das mãos, flexionando os quadris para manter-me presa à parede e com a outra tocou minha intimidade me invadindo com seus dois dedos. Foi breve e profundo. Alex já sabia que eu o receberia sem muita dificuldade. Pelo menos nós acreditávamos que sim.
Gemi e rebolei quando o senti dentro de mim, mesmo que fossem apenas os dedos. Alex grunhiu abocanhando meus seios, ora beijando, ora chupando e, por vezes, mordendo. Eu estava no limite mais uma vez.
- Charlotte! – gemeu meu nome com reverência. – Você sempre fica tão entregue – sua barba por fazer arranhava meu pescoço lançando arrepios de prazer por todo o meu corpo. – Eu te quero tanto, minha menina – percebi de imediato quando ele refreou seus movimentos.
Passamos rapidamente de uma situação de urgência para algo mais romântico. Alex queria me dar uma primeira vez perfeita, mesmo que para isso tivesse que domar seus instintos. Fiquei emocionada. Nada nem ninguém poderia ser melhor do que ele para mim.
- E eu quero você. Muito! – ele mordeu meu lábio inferior.
- Vamos para a minha cama – sugeriu sem me deixar colocar os pés no chão.
Não chegamos a dar nem um passo em direção ao quarto e a campainha tocou. Miranda e Patrício estavam lá.
Que saco!
- Vá embora, Paty! – ele resmungou em meus lábios.
Considerei a hipótese de abrir a porta e mandar os dois à merda. Depois poderia voltar aos braços do meu amor e continuaríamos de onde paramos. Infelizmente eu sabia que só o fato de eles estarem do lado de fora já quebrava o encanto do momento.
- Merda! Vamos ter que esperar.
Alex já desistira. Ele estava com as mãos paradas em minhas coxas, respirando com dificuldade tentando voltar ao normal.
- Acho que necessito mesmo daquele banho.
- Certo. Vá para o banho que eu vou descer e levar Miranda embora – consegui me desfazer do seu abraço e comecei a arrumar minha roupa.
- Não te vejo manhã então? – e novamente achei que havia um pouco de tristeza em seu olhar, mas a campainha tocou insistentemente.
- Provavelmente não. Eu te ligo – ele sorriu sem graça.
- Tudo bem. Então depois de amanhã, nem um dia a mais.
A promessa fez com meu sangue acelerar. Mesmo com o escuro do início da noite eu podia ver o brilho dos seus olhos.
- Depois de amanhã! – ele beijou meus lábios selando o nosso compromisso.
Desci as escadas, conferi meu visual e abri a porta. Patrício estava com o dedo na campainha, tocando sem parar e um sorriso diabólico nos lábios. Seus olhos me sondavam.
- O que vocês estavam fazendo? Não é possível uma demora tão grande para abrir uma porta – eu podia sentir a ironia em suas palavras.
- Vá à merda, Paty!
A resposta saiu sem que eu conseguisse segurá-la. Estava muito contrariada por ter que parar no meio do caminho novamente. E ele parecia se divertir com isso. O namorado da minha amiga deu uma risada estrondosa, daquelas de fazer as paredes tremerem.
- Caralho! Alex deve cortar um dobrado com você, diabinha – passou por mim sem se preocupar em pedir licença. – Onde está aquela bicha?
- Divirta-se com a “caça ao rato” – peguei minha amiga pela mão e saí puxando-a sem aguardar pela sua resposta, mas consegui ouvir sua gargalhada alta e debochada.
Capítulo 25
“Os amantes não veem as mais belas loucuras que cometem”
William Shakespeare
Alex
- Vai ficar calado a noite toda? – olhei de soslaio para o meu irmão.
Não estava com raiva e sim terrivelmente frustrado. Naquela hora e exato momento eu deveria estar na cama com Charlotte Middleton, a mulher da minha vida. Estaríamos recuperando todo nosso tempo gasto sentindo medo ou culpa. Como sou uma pessoa de muita sorte, Patrício e João Pedro escolheram justamente aquela noite, para um encontro entre amigos.
Era realmente uma merda!
Tomei mais um gole da minha cerveja e resolvi ignorar o fato de eles estarem, há uma hora, fazendo piadas sobre meu relacionamento com a minha aluna. Já tinham tentado de tudo. Confesso ter perdido a maior parte do que diziam. Estava tão imerso em pensamentos e lembranças que não conseguia me concentrar em mais nada. Eu só conseguia pensar naquela boca, corpo e sorriso.
- Qual é, Alex? Você nem está comendo a menina. Vai ficar aí choramingando porque perdeu a brincadeira da noite? – João Pedro apelava. Patrício riu alto, o filho da puta responsável pela minha frustração.
Apoiei os braços no balcão do bar e me concentrei em decorar os nomes das bebidas. Nem mesmo as garotas que desfilavam com seus lindos corpos despertavam meu interesse.
- Charlotte está enlouquecendo o cara. Taí uma coisa que eu nunca pensei que veria: meu irmão, o garanhão do pedaço, caidinho por uma garotinha.
- E ainda por cima virgem – João completou.
- Isso, virgem – Patrício colaborou. – Ou será que não mais? – eles se voltaram para mim, rindo e começaram a me imprensar com os ombros.
- Dá para parar?
- Ela ainda é virgem? – meu cunhado não pareceu se importar.
- Isso não é da sua conta, João Pedro. Por que não se concentra em satisfazer a sua mulher?
- Lana está bastante satisfeita. Se você quiser posso dar uma consultoria sobre como convencer uma mulher a ceder – eles riam sem parar.
- Falou o cara que levou anos para conseguir comer a minha irmã – bom, ele pediu por aquilo.
- Vocês me obrigaram a esperar – imediatamente João modificou o tom, deixando a brincadeira de lado.
- Eu não. Por mim você teria comido Lana muito antes, quem sabe assim não a teria frustrado na lua de mel – falei sério, sem vontade de encará-lo. Com certeza meu irmão nunca mais esqueceria aquela revelação. – Coitada da Lana! – Desviei o olhar e bebi a minha cerveja.
- Ei! Como você... Lana te contou? – Patrício explodiu em uma gargalhada estrondosa. Foi impossível segurar o riso.
- O grande garanhão não conseguiu fazer sua mulher gozar. Talvez eu devesse dar uma consultoria – falei e entornei o copo, encontrando o olhar de João pelo espelho do bar.
- Eu consigo fazer a minha mulher gozar, tá legal? Foi só na primeira vez. Vocês me aterrorizavam, foram anos de tensão. Não tive como me segurar na primeira... Vá se foder, Alex! – João perdeu toda a vontade de brincar.
- Puta que pariu! Só tem amadores aqui – Patrício arqueou a coluna e assumiu uma postura séria. – Vocês precisam aprender comigo.
- Poupe-me, Paty! – ri da cara do meu irmão. – Nós não precisamos de consultoria.
- Bom, meu irmão – ele jogou os braços em meus ombros. – Tenho certeza que você precisa.
Charlotte não é propriamente um anjinho – sorri largamente. Eu bem sabia que a minha Charlotte estava mais para uma diaba do que para um anjo.
- O que acontecerá amanhã? Vocês vão assumir? Vai encarar o pai dela? – João tentava se recuperar do baque anterior e estava visivelmente sem jeito.
- Charlotte vai viajar amanhã. O pai dela vai para São Paulo inaugurar uma nova instalação, ou qualquer coisa do tipo – revelei saboreando a amargura que a informação levava a minha boca.
- Mesmo? – João pareceu preocupado. – Ela sabe que é seu aniversário?
- Não! – respondi meio que desfazendo da situação. Não entendia o motivo, mas a data do meu aniversário estava me incomodando mais do que deveria. – Eu esqueci de contar. Com tantos acontecimentos acabei esquecendo do meu próprio aniversário, quando ela me falou o que tinha que fazer eu preferi não revelar. Não é nada demais fazer aniversário, acontece todos os anos.
- Ou... – Patrício começou. – Você tem alguma coisa em mente e como Charlotte é jogo duro, resolveu convidar outra garota – dei risada do absurdo que ele falava.
- Claro que não – sinalizei para o garçom trazer mais três chopes. – Lana vai aprontar alguma coisa, com certeza – olhei para João que deu de ombros.
- Acho que este ano ela vai apenas exigir a sua presença na casa dos seus pais. Um jantar íntimo – tentei encontrar algo mais nos olhos do meu amigo, ele se esquivou e ficou quieto.
- Tudo bem! Que seja um jantar então – olhei em volta do bar percebendo que ele estava ficando cada vez mais cheio.
- Eu disse que uma boate com gostosas tirando a roupa seria mais interessante – Patrício recomeçou. Eu e João nos olhamos e rimos.
- Miranda não é do tipo que deixa tudo barato – meu cunhado falou. Patrício fez uma careta e depois riu.
- Miranda... – ele suspirou. – Eu só pretendia olhar as gostosas, nada que pudesse colocar em risco o nosso relacionamento.
Encarei minha bebida sem saber como deveria levar o relacionamento do meu irmão com a melhor amiga de Charlotte. Aquilo era tão complicado que chegava a ser sufocante. Optei por ficar calado. Seria melhor assim.
- Lana me mataria. Vocês acreditam que eu não posso nem olhar uma revista de mulher pelada?
– Patrício gargalhou com a conversa de João pedro. – Isso é sério. Outro dia eu comprei uma, só para olhar mesmo, tinha tanto tempo que não abria uma revista dessas que me deu vontade. Passei em frente a uma banca e comprei a primeira que vi. Levei para casa e comecei a folhear sem nenhuma intenção de esconder, sei lá, achei que Lana encararia como algo para incrementar as coisas, porém quando ela me viu olhando a foto da modelo... – ele passou a mão no cabelo e suspirou. – Eu pensei que fosse o fim do mundo. E ela ainda fez greve de sexo por uma semana.
- Quem? Lana? Não acredito – brinquei.
- Nem eu acreditei que ela seria capaz. Mas ela foi. Deus me livre. Quando me falaram que as mais baixinhas são as piores eu não acreditei – ri alto.
- Charlotte também é baixinha – Patrício provocou.
- E fogosa – João acrescentou.
- Dá para parar de falar da Charlotte? – pedi pela milésima vez naquela noite.
- Quase meia noite. Diz aí, qual delas você quer beijar? – Patrício apontou para um grupo de garotas que estava em uma mesa próxima a nossa. Elas me olharam e riram baixinho.
- Deixa de ser idiota, Paty! – impliquei.
- Se você me chamar de Paty na frente de qualquer uma delas eu arrebento os seus dentes.
- Tenta para ver – ameacei.
- Meninas, se comportem – João entrou na brincadeira. – Alex, é só um beijo. Um de presente de aniversário. Ninguém vai contar a Charlotte.
- Vendo você falar assim eu entendo o motivo de Lana fazer greve de sexo – falei desviando minha atenção das garotas que aguardavam ansiosas.
- Eu sou casado, mas você ainda não – imediatamente meu pensamento foi para a minha aluna.
- Nem eu – Patrício virou e sorriu para as garotas.
- Que cretino! – provoquei bebendo o meu chope. – Depois vai falar de amor.
- E você, vai falar de amor? – ele me encarou por alguns segundos e acabou rindo. – Porra, Alex! Você está apaixonado pela garota. Puta que pariu!
- Sim, estou. Ao contrário de você, eu sei quando um sentimento é verdadeiro. Não preciso de diversão, garotas tirando a roupa, nem de beijar uma mulher que eu nem conheço para comemorar meu aniversário. Eu sei o que quero – ele ficou sério, depois balançou a cabeça concordando.
- Eu gosto da Miranda. Gosto mesmo! Só não sei se estou preparado para algo tão sério.
- Então você deveria deixar isso bem claro para ela – João disse levando a sério a conversa. – Lembre que Peter não é mole e brincar com os sentimentos da menina vai trazer muitos problemas para a nossa família.
- Não estou brincando com os sentimentos dela – ele se mexeu na cadeira incomodado e completamente esquecido das garotas da mesa ao lado. – Miranda não está tão envolvida quanto aparenta. Ela é o tipo de garota que gosta de curtir, de viver o momento. Nós estamos nos curtindo e ela não parece tão a fim de levar a diante.
- Ela está apaixonada – João falou como se quilo fosse o mais óbvio. Mas eu conhecia a Miranda que Paty descrevia e sabia do que ele estava falando.
- Você está com medo de se envolver? – perguntei tentando desviar os meus pensamentos.
- Estou. Porra, eu estou cara! Ela é incrível! Tem tudo para ser a minha garota, mas faz tanto jogo duro que muitas vezes tenho vontade de desistir.
- E por que não desiste? – eu ainda tinha esperança. Ele me encarou com olhos brilhantes. Oh, merda! Patrício estava apaixonado.
- Você desistiria da Charlotte? – não precisei pensar duas vezes.
- Não.
- Mesmo sabendo que ela possui vários empecilhos, que é mimada, infantil, é muito rica e além disso tem um pai que pega mesmo no pé? – concordei sem nada acrescentar. – Viu? É disso que eu estou falando.
- E eu estou fodido com vocês – João se intrometeu. – Acabaram os meus dias de paz.
Bebemos por um tempo em silêncio até que meu amigo resolveu mudar de assunto.
- E em Petrópolis, como vai ser para vocês, Alex?
- Vai ser como deve. Meu único problema é Tiffany, mas não posso ficar me prendendo a detalhes.
- Ela assinou hoje – Patrício avisou. – Lana estava tão feliz que pensei que ela não deixaria João sair de casa – riu satisfeito. – Renovou o contrato apenas com os livros que nós temos e não para novos livros.
- Ótima notícia! Pelo menos é um começo.
Fiquei incrivelmente mais aliviado. Tiffany poderia ser um problema, mas com o contrato assinado, eu precisava apenas convencê-la a separar as coisas.
- Falando sério, Alex. Você está ciente que este relacionamento poderá ser considerado tanto a coisa mais fofa do universo, como poderá simplesmente acabar com a carreira de vocês dois, não está? Ninguém sabe como o público reagirá a esse romance, aliás cara, acho que tudo está contra vocês. Ela é sua aluna, você é proprietário e editor-chefe da maior e mais importante editora do país e está aceitando o primeiro trabalho dela, que ainda nem se formou e, para piorar tudo, você é o orientador do trabalho final dela. Não sei como a mídia encarará toda essa informação. – Patrício tinha razão. Respirei fundo sem saber ao certo como responder.
- Alex, por que você não transfere o trabalho dela para mim? Ainda temos tempo. Eu posso aceitar a sua avaliação sem me preocupar em recomeçar nada – João tinha uma solução interessante, no entanto eu queria ir até o fim com o trabalho da Charlotte.
- João, quando esta merda estourar, o fato de você ter sido o último a avaliar não vai modificar nada. Além do mais eu já enviei a avaliação dela para a secretaria. Esta seria uma saída somente se eu deixasse de trabalhar para a universidade.
- É mano, você está mesmo fodido e o pior de tudo é que a Lottie nem está – ele e João riram alto, desta vez os acompanhei. Era um fato.
Charlotte
Johnny pulou em minha cama, pela manhã ainda muito cedo. Tive ímpeto de jogá-lo pela janela, mas meu amigo estava agarrado a mim e ele era muito mais pesado do que eu. E quando digo muito, estou sendo generosa. Jonathan era um touro, alto e forte.
- Sai, Johnny! – gritei quando ele começou a me fazer cosquinhas.
- Hora de acordar, preguiçosa! – ri até a minha barriga doer, com ele me fazendo cócegas sem parar. – Hora de fingir ser a linda princesa que seus pais acreditam.
- Vá à merda, seu imbecil! – e continuei rindo.
- Crianças, sem atrasos – meu pai apareceu na porta. – Se estivéssemos no exército vocês dois estariam em apuros. Lottie, você tem meia hora, não podemos esperar mais do que isso.
Era engraçado como Johnny podia tudo. Meu pai nem achou estranho eu estar em minha cama, de calcinha e camiseta, com o meu melhor amigo sentado em cima de mim e com as mãos em meu corpo. Tenha dó! Se fosse o Alex teria sido um escândalo.
- Para com isso, seu idiota! – bati em Johnny até que ele me libertasse.
- Tenho que aproveitar enquanto ainda posso – olhei para a porta para me certificar de que meu pai não estava mais lá.
- Nada vai mudar seu bobo.
Nem Alex nem Jonathan pareciam entender muito bem a relação que eu tinha com cada um deles. Alex tinha ciúmes de Jonathan e meu amigo não admitia, mas tinha medo de que eu deixasse de ser tão próxima dele. Dois bobalhões. Eu andaria na corda bamba com esses dois.
- Claro que vai. O cara parece querer te esconder do mundo e você fica toda estranha quando está com ele.
- Estranha como? – Minha mãe tinha notado e agora Johnny também, será que meu pai... Merda!
- Estranha tipo: oh, Alex! Você é tão lindo! Oh, Alex! Meus olhos brilham por você e eu fico parecendo uma cachorrinha no cio – soquei o braço do meu amigo. – Ai!
- Se você não calar a boca vou arrancar seus dentes.
- Uau! Charlotte feroz! O professor babaca deve adorar ser um submisso.
- Para, Johnny!
- Você, Charlotte Middleton, nunca será a “sub” e sim a “dom”, com toda a certeza.
- Quer parar?
- O quê? Quer que eu acredite que você só vai deitar a abrir as pernas? – peguei o travesseiro e comecei uma guerra com o meu amigo.
Johnny não se fez de rogado e rapidamente me atacou com outro. Rimos e batemos um no outro até meu pai voltar e estragar tudo.
- Pelo amor de Deus! Onde pensam que estão, no jardim de infância? Em meia hora quero todo mundo pronto. Não admito atrasos.
- Deixe as crianças, Peter! – minha mãe apareceu para nos salvar. – Hora de comer – avisou fechando a porta.
Eu já disse o quanto amo a minha mãe? Pois bem. Amo tanto a minha mãe! Ela sempre sabe a hora certa de me salvar e exatamente quando preciso da sua sensatez incontestável. Amo minha mãe!
- Então... Vocês... – ele sorriu como uma criança curiosa.
- Não. Seu idiota. Pare de rir! – quase gritei. Johnny era terrível!
- Caralho! Que demora filha de uma puta para transar com alguém. Eu já teria resolvido o seu problema.
- Jura? – arqueei uma sobrancelha brincando com o meu amigo.
- Ah, não! Nada disso, Charlotte. Essa é uma missão para o super professor almofadinha.
- Você é um idiota!
- Obrigado! – ele exibiu um grande sorriso. – O que estão esperando? – tenho certeza de que meus olhos brilharam. Johnny rapidamente entendeu que eu o envolveria em algum plano difícil.
- De jeito nenhum!
- Jonathan!
- Pode parar. Resolva sua vida sem precisar de minha ajuda. Se Peter descobrir que participei ele simplesmente corta a minha mesada, e desiste de me fazer seu herdeiro – estreitei os olhos sem acreditar naquelas palavras.
- Que absurdo!
- Tá certo. Do que você precisa? Só não me peça para vigiar a porta – começou a rir e precisei acertar mais uma vez o seu braço. Minha mão doeu.
- Eu e Alex queremos algumas horas – ele revirou os olhos. – Só preciso que você faça meu pai esquecer que eu existo. De preferência no final da tarde início da noite, assim poderei demorar mais a voltar.
- Vocês vão sair?
- Vamos para um chalé escondido no meio da propriedade – Johnny ficou sério me observando.
Eu sabia o que viria.
- Você tem certeza?
- Tenho. Eu... Estou... Apaixonada.
- E ele?
- Parece estar também – fiz uma careta. – Não quero pensar muito sobre isso. Vou concentrar toda a minha energia em não gritar – Johnny riu e me segurou, sentando-me em seu colo.
- Charlotte, acho que precisamos ter uma conversa sobre sexo e primeira vez.
Puta merda! De novo?
Alex
Meu telefone tocou ainda muito cedo. Tive esperança de ser ela, já que no sonho estávamos juntos de uma forma deliciosa. Merda! Acordar com uma puta de uma ereção e não ter Charlotte para aliviar a minha tensão e tornar o meu dia muito mais agradável era definitivamente algo ruim.
- Alô – minha disposição arrefeceu consideravelmente quando identifiquei no visor o nome da minha irmã.
- Feliz trinta e cinco aninhos! – ela explodiu em uma animação que me fez olhar o relógio para conferir as horas.
- Não dá para acreditar que você acorda com todo este entusiasmo.
- Em dias especiais, sim – ela não se deixou abater.
- E é um dia especial? – eu podia jurar que ela fez uma careta, pois era assim que Lana sempre reagia.
- Vai depender de você, mas minha mãe vai ter um jantar maravilhoso, ao lado do filho mais velho dela, nem que para isso eu tenha que ligar para a Charlotte e convencê-la de que você é gay.
Pois é. Acordar com o corpo ainda cansado da noite anterior, com a cabeça martelando pelo excesso de conversa que só contribuiu para me deixar mais tenso, saber que está completando trinta e cinco anos e que escolheu uma garota de apenas vinte e um para dividir a vida e que, esta mesma garota sequer sabia que era o seu aniversário e não compareceria nem para um “parabéns” não era nada estimulante.
- Você vai levá-la?
- Hum, não! Charlotte vai para São Paulo com o pai.
- Mas é o seu aniversário! – ela parecia tão indignada que me fez rir.
- O que não significa que o mundo deva parar de girar. Cresça, Lana! Eu tenho trinta e cinco anos e não dezoito.
- Muito velho para se apaixonar pela primeira vez – revirei os olhos.
- E o assunto é...
- O jantar de hoje. Na casa dos nossos pais. Não finja que bateu a cabeça e esqueceu.
- Tenho certeza de que você não vai deixar isso acontecer.
- Não vou mesmo. Vejo você mais tarde.
Levantei e fui ao banheiro. Enquanto estava escovando os dentes recebi diversas mensagens pelo WhatsApp, demorei alguns minutos respondendo. Nada de Charlotte.
Tomei café, escolhi a roupa, atendi alguns telefonemas, respondi a algumas mensagens e a todo o momento meus pensamentos me levavam a ela. Será que eu deveria contar?
“Não, Alex! Deixa de ser idiota. Ninguém sai por aí dizendo que é o seu aniversário. Pelo menos ninguém que não seja carente. É só um dia como outro qualquer e sempre foi assim. Qual a diferença agora?”
Porra! Aquilo estava me incomodando. Talvez Patrício tivesse a brilhante ideia de convidar Miranda para o jantar e assim Charlotte ficaria sabendo. Isso eu poderia sondar.
Fui para a editora. Não daria aulas então dedicaria todo o meu tempo a minha empresa. Fui recebido por diversos funcionários que fizeram questão de me desejar saúde, paz, e tudo o que as pessoas deixam para desejar no dia do aniversário. Que irônico!
- Charlotte ficou de escrever o último capítulo, mas até agora nada – Lana entrou em minha sala sem se importar com o que eu estava fazendo. – A propósito, feliz aniversário! – e colocou uma caixa vermelha com uma fita preta sobre a minha mesa. Eu conhecia a marca e com certeza era um perfume que eu adorava. Sorri para a minha irmã.
- Obrigado! – me ocupei em abrir o meu presente. – Eu pensei que ela tivesse escrito alguma coisa. Não foi o que você foi fazer lá ontem?
- Sim, mas pelo que entendi ela quer escrever outro final e depois decidir qual dos dois é o melhor – olhei minha irmã e percebi que ela estava incomodada com algo.
- Tiffany assinou. Parabéns! – ela entortou a boca. – Não está feliz?
- Estou. Não achava certo perdermos uma escritora como a Tiffany, só não gosto dessa ideia.
Não da forma como foi feita. Tiffany é uma ótima escritora, mas não é a única. Barganhar como ela fez me deixou realmente incomodada.
- Tiffany não queria mais destaque, e você sabe disso. Ela queria apenas uma forma de me fazer repensar – falei colocando o frasco do perfume sobre a mesa.
- E Charlotte não somente ocupará o lugar dela em importância dentro desta editora, como também em sua cama – ela disse me sondando.
- Charlotte está ocupando um lugar nunca antes ocupado, que fique bem claro. Tiffany era uma boa amiga, nada mais.
- Sei – fez alguns desenhos com o dedo em minha mesa enquanto fingia não se importar. – E
como foi ontem? – quase ri. Lana tentava descobrir o que o marido aprontou em nossa saída.
- Um bar, uns chopes e alguns amigos. Conversa fiada, muita bobagem e bebedeira. Nada demais – dei de ombros.
- E um monte de garotas doidas para uma rodada.
- Também – encarei Lana enquanto ela se agitava na cadeira. – Para sua felicidade nós somos um bando de idiotas apaixonados, então... – mais uma vez ela entortou a boca, depois sorriu amplamente.
- Quem diria, você e Paty se apaixonaram ao mesmo tempo! – e de repente ela parecia uma adolescente empolgada com o mais novo segredo da amiga.
- Eu só posso falar por mim.
- Ele está de quatro pela Miranda – ela revelou.
- Perda de tempo.
- O que você tem contra ela. A garota não é a melhor amiga de Charlotte?
- Vocês estão falando da Miranda? – Patrício entrou e Lana sorriu para ele.
- Estamos comentando que meu irmão idiota está apaixonado – ela disse ainda sorrindo.
- Ah, então estão falando do Alex – ri sem me importar.
- Você convidou a Miranda para hoje à noite? – perguntei sem deixar transparecer a minha real intenção.
- Não. Ela ligou hoje cedo avisando que também iria para São Paulo, então nem me arrisquei – acho que minha cara de decepção ficou nítida. – O que foi? Eu deveria insistir?
- Não – tentei aparentar tranquilidade. – Só para saber o que esperar.
- Certo. Eu queria conversar sobre a data de lançamento de dois autores. Pode ser?
- Claro!
E assim passei o meu dia. Trabalhei exaustivamente tentando fechar o quadro para nossa a participação na Bienal de São Paulo, estudei os layouts, reuni o pessoal de marketing e publicidade para escolhermos o mais adequado, fechamos as ações que realizaríamos antes dos eventos, participei de uma videoconferência e no final da tarde estava tão cansado que quase desisti de participar do meu jantar de aniversário.
Charlotte
Meus pés estavam doloridos. Minha mãe tinha me obrigado a calçar um par de sapatos estilo boneca, que pela manhã pareciam adequados, mas que no final do dia eram tão incômodos que me fizeram sentir dor de cabeça.
Caminhamos durante todo o dia, visitamos as alas, participamos de um almoço com alguns empresários, ouvi várias horas de conversas sobre investimentos, novos equipamentos, estudos sobre todos os mais diversos assuntos relacionados à medicina. Mas meu pensamento estava em um único assunto.
Alex, nossa viagem e a cabana prometida.
Olhei para Johnny que continuava acompanhando meu pai, conversando com todo mundo e se inteirando de tudo o que acontecia naquele universo que meu pai criou para mim e que eu transferia para o meu melhor amigo, sem nenhum receio.
Miranda continuava quieta, presa ao celular, conversando e roendo as unhas como se estivesse com um problema sem tamanho. Minha mãe me acompanhava e diversas vezes precisou sentar, alegando estar com os pés doendo. Eu a entendia e era solidária.
- Animada para amanhã? – ela me disse em uma dessas nossas paradas.
- Sim, mas confesso que não sei o que esperar – além de conseguir finalmente perder a minha virgindade com o homem que eu amava.
Minha mãe me analisou com olhos carinhosos e segurou minha mão com ternura. Ela sorriu daquela forma única, cheia de amor e compreensão.
- Vocês já se acertaram? – olhei para os lados verificando se era seguro conversar sobre Alex.
- Eu acho que sim. Conversamos sobre a situação. Só tem sido complicado com toda esta pressão exercida pelo papai – ela sorriu mais amplamente.
- Compreendo. Seu pai não faz por mal. Ele passa muito tempo longe, sem conseguir se desconectar realmente de vocês. Esta preocupação é exagerada, eu sei, sem contar que chega a ser fora de moda. No entanto, é a única forma que ele tem para protegê-los.
- Proteger de quê? – minha voz subiu um tom, demonstrando o quanto o assunto me incomodava.
- Não sei, Charlotte! – ela olhou na direção em que meu pai estava. – Eu acho que do mundo.
- Então é meu papel alertá-lo de que não vai conseguir. Ninguém consegue, até porque as experiências são necessárias para o amadurecimento.
- Peter jamais seria Peter se não morresse tentando – ela deu dois tapinhas em minha mão e voltou a olhar com orgulho para onde meu pai estava.
- Eu tenho que aprender a andar com minhas próprias pernas, mãe. Tenho que ter direito às minhas próprias escolhas e experiências. Não pode ser como ele quer.
- Eu sei meu amor. Eu sei – seu tom de voz era apaziguador. Como se estivesse falando com uma criança. – Não é o que está acontecendo? Contra tudo e contra todos, não é o que você vem fazendo? Conseguiu ser uma escritora, está saindo com o homem que escolheu... – meu rosto corou consideravelmente.
- Mais ou menos – ela riu baixinho.
- O mundo não é feito apenas de problemas, Charlotte, e a sua vida definitivamente não lhe traz situações complicadas demais para que você viva nesta tensão constante.
- Ah, sim, claro! Ter o meu pai como guardião da minha virgindade não é problema suficiente para me enlouquecer.
- Você enlouqueceria de qualquer jeito – Johnny se aproximou se intrometendo na conversa.
Minha mãe riu e eu fiquei incomodada. – Ninguém espera nada diferente de você, Charlotte Middleton.
- Por que você não vai à merda, Jonathan?
- Charlotte! – minha mãe me censurou fazendo-me recuar.
- Eu não disse, madrinha? Ela está enlouquecendo – e ele continuou com aquele sorriso debochado de quem não se abala por nada.
Filho da puta!
- Não tem nenhum saco para puxar? – perguntei irritada demais para ser madura.
- O padrinho quer te apresentar a algumas pessoas, princesa – fez uma reverência exagerada.
Eu tive que rir.
- Mais pretendentes? – levantei arrumando minhas roupas e já incomodada com o que meu pai estava aprontando.
- Espero que não. Se você casar com algum médico ou alguém envolvido com os hospitais eu perco a minha chance – Johnny piscou e minha mãe riu. Ela sempre ria com as bobagens que o meu amigo falava.
- Podem ir eu vou ficar mais um tempinho aqui – minha mãe falou se acomodando melhor no sofá.
- Eu volto logo – e saí acompanhando Jonathan. Não havíamos nos afastado muito quando fomos interceptados por minha amiga.
- Charlotte! – Miranda se aproximou com uma careta estranha.
- Meu pai está me chamando. Terminou sua DR pelo WhatsApp?
- Teria sido menos complicado se você tivesse me avisado que era aniversário do Alex – levei alguns segundos até entender o que ela dizia. – Charlotte?
- Vamos, boneca – Johnny colocou uma mão em minha cintura, mas eu travei.
- O que você disse? – Miranda revirou os olhos.
- Vai me dizer que não sabe que hoje é aniversário do Alex. Está rolando um jantar na casa dos pais dele e eu não estou lá porque você me pediu para te acompanhar. Se não queria participar era só me dizer. Não é justo!
Minha cabeça girou inúmeras vezes. Era aniversário do Alex? Mas por que ele não me disse?
Estivemos juntos um dia antes, combinamos o nosso encontro na cabana e ele, em momento algum, mencionou que era seu aniversário. Por qual motivo?
E então eu entendi. Alex não me queria em sua vida. Era apenas como deveria ser e não como eu imaginava que estava sendo. Não haveria envolvimento, não teríamos um relacionamento. Eu não seria inserida em sua família como a namorada, sequer fazia parte dos planos para festejar o seu aniversário.
Com certeza tinha planos melhores, com alguém mais adequado do seu lado para comemorar a data.
Puta merda!
- Vamos, Charlotte? – Johnny tentou me levar em direção ao grupo em que meu pai estava. Me deixei levar porque eu não conseguia pensar em mais nada.
Capítulo 26
“Como posso ir mais longe se meu coração aqui permanece?”
William Shakespeare
Alex
- Obrigado, Lana! Foi um ótimo jantar – eu disse ao me despedir da minha irmã.
Naquela noite eu estava cansado, não apenas pelo desgaste físico que um dia inteiro de trabalho tenha me causado, mas também pelo desgaste mental.
Não havia falado com Charlotte durante o dia inteiro. Eu me sentia incomodado por precisar procurá-la quando deveria ser ela a me procurar. Era infantil, eu sei, só não conseguia evitar a sensação de frustração por não ter recebido sequer uma mensagem quando até Anita enviara e Tiffany havia me mandado flores.
- Mesmo assim você não deixou de ficar com esta cara de desânimo e o Paty não largou o celular – olhei para a sala da cobertura onde meus pais moravam e vi Patrício enviando e recebendo mensagens.
- Eu só estou cansado. Hoje o dia foi longo – ela sorriu sem muita vontade.
- E Charlotte não apareceu – acrescentou como se fosse capaz de ler meus pensamentos.
- Ela tinha compromisso. Nem sei se já chegou de São Paulo – tentei disfarçar meu abatimento.
- Ela não escreveu? Não ligou? – tive medo de que minha cara entregasse a realidade.
- Na verdade meu celular descarregou no final do dia e como eu estava muito ocupado não tive tempo de carregá-lo.
- Que grande droga – ela disse olhando também para Patrício.
- Eu tenho mesmo que ir. Amanhã cedo pego a estrada. Vocês vão mesmo hoje?
Minha irmã tinha cismado que deveria chegar primeiro que todo mundo em Petrópolis e eu nem queria imaginar o que ela estava aprontando.
- Vamos sim. Vai ser divertido – e sorriu como uma criança traquina.
- Vai mesmo tão cedo? – perguntei a minha mãe que se aproximou de nós dois e me envolveu em um abraço carinhoso.
- Vamos viajar cedo amanhã, então preciso descansar – ela alisou meu braço me observando com atenção.
- Boa noite, mãe! – beijei sua testa pegando todos os presentes que havia ganhado. – Vejo vocês amanhã.
- Tchau, Alex! – Lana se afastou, mas João Pedro me acompanhou até a porta.
- Ela não ligou? – suspirei. Estava tão cansado de ver todo mundo pensando que eu estava abatido por causa da Charlotte.
Tudo bem. Eu estava mesmo abatido por causa dela, o que não significava que me sentia feliz por todos saberem disso, e o pior, que me tratassem como se eu fosse um adolescente inexperiente com dificuldades para conduzir a situação.
- Eu estou apenas cansado.
- E incomodado por Charlotte não ter ligado – ele rebateu com cara de deboche.
- Quem disse que ela não ligou? Por que vocês resolveram se meter tanto em minha vida com a Charlotte?
- Porque nós sabemos o quanto ela é especial para você, então todo mundo está torcendo para que dê certo – encarei João, depois daquela declaração não deu para ser muito áspero.
- Eu já tenho trinta e cinco anos, João Pedro. Sei conduzir a minha vida amorosa.
- Nós sabemos disso – deu um tapinha de leve em meu ombro. Não gostei nada da forma como ele me olhou.
Não havia motivo para que todo mundo ficasse tão preocupado com a minha vida amorosa e perceber que isso estava acontecendo me deixava cada vez mais aborrecido.
- Vejo você amanhã – entrei no elevador deixando o apartamento o mais rápido possível.
Assim que ganhei a rua senti a chuva fina que caía. Olhei para o céu percebendo que havia uma promessa de chuva forte, o que poderia complicar um pouco nossos planos para o feriado.
Pensar no feriado me levava a Charlotte, ao meu aniversário e a forma chata como todos estavam conduzindo a situação. Imediatamente fiquei ainda mais irritado.
Não demorei a chegar ao meu condomínio. Apesar de não ser tarde as ruas estavam desertas, com isso a noite ganhava um tom mais sinistro. O portão abriu me dando passagem e Antônio, o porteiro daquela noite, correu em direção ao meu carro com um guarda-chuva.
- Sr. Frankli – ele disse apressadamente. – Tem uma moça aguardando pelo senhor – e apontou para o estacionamento de visitantes próximo a guarita.
A chuva engrossou, fazendo com que eu procurasse proteção debaixo do guarda-chuva dele.
Por um segundo meu coração acelerou pensando ser Charlotte, mas como eu já havia liberado a placa dela para acesso livre, rapidamente me convenci de que não era a minha aluna, o que me deixou visivelmente desanimado.
- Não existe a placa dela nos seus registros de visitas, como ela insistiu que já frequentou o condomínio e que apenas havia trocado de carro achei melhor permitir que aguardasse pelo senhor do lado de dentro. Sabe como é, as ruas do Rio de Janeiro estão cada vez mais perigosas.
- Você fez bem, Antônio.
Caminhamos até o carro e vi Tiffany sair de dentro dele com um enorme guarda-chuva preto.
Ela estava muito arrumada, com meias finas escuras e saltos altos. A roupa estava escondida embaixo de um sobretudo grafite que moldava o seu corpo perfeito.
- Tiffany? – vi Antônio se afastar tão logo encontrei minha visitante. – O que faz aqui nesta chuva?
- Recebeu minhas flores? – passei a mão nos cabelos imaginando o que ela tinha em mente.
- Sim. Lindas! Obrigado! – ela sorriu com doçura e me abraçou.
- Parabéns, Alex! - sussurrou em meu ouvido e beijou de leve bem próximo a minha orelha.
Segurei em sua cintura e me afastei discretamente.
- Lana me contou sobre o contrato. Fiquei muito feliz!
- Eu também – ela olhou para a chuva como se estivesse incomodada.
- O que faz aqui? – repeti a pergunta sem saber como agir.
- Visita de aniversário. Não vai me convidar para entrar? – pensei no que deveria fazer. Seria muito rude se eu a mandasse embora?
Porra seria sim!
- Vou sim, mas aviso que estou bastante cansado e não devo ser de muita utilidade hoje – sorri sem graça. Ela me avaliou, parecendo decepcionada com a minha atitude. – E amanhã cedo pego a estrada.
- Sim, Petrópolis – enlaçou meu braço e começou a caminhar em direção a casa. – Vai ser interessante.
Charlotte
Nunca uma viagem pareceu tão longa em toda a minha vida. Sentada no jatinho, sob o olhar atento do meu pai, incomodada com o sorrisinho cínico do meu melhor amigo, eu me sentia impotente.
- Você está muito agitada, Charlotte – meu pai me alertou pela quinta vez. – Qual é o problema?
- Nenhum! – fui enfática, mas eu quicava na poltrona como se esta estivesse cheia de formigas.
– Só estou cansada.
- Deve ser a chuva – minha mãe disse segurando a mão do meu pai. – Charlotte nunca gostou de viajar com chuva – nossos olhos se encontraram e eu entendi que ela tentava me ajudar.
- Isso é bobagem – meu pai retrucou. – Nada vai acontecer – e voltou sua atenção para a revista sobre a pequena mesa a sua frente. Johnny me olhou sorrindo como o idiota que ele era.
- Quanto tempo falta? – meu pai levantou os olhos para mim, porém desistiu e voltou a olhar para a revista.
- Falta pouco – Miranda falou e me lançou aquele olhar que eu tentava evitar a todo custo. O
mesmo que dizia que não foi por falta de aviso.
Eu tinha tentado ligar, enviado mensagem, mas nada. O celular dele estava desligado e ele não respondia nem visualizava as mensagens. Não que eu me sentisse em dívida com o meu professor, nem imaginasse que estava errada por não ter ligado nem enviado um presente, era só meu lado rebelde e infantil me impelindo a mostrar a ele que eu sabia.
Como Alex reagiria quando descobrisse que eu já sabia de tudo? Com que cara ele me encararia quando eu lhe desse os parabéns? Quando eu aparecesse do nada para deixar claro que eu não ficaria calada, no canto, enquanto ele se divertia como bem entendesse.
Minha raiva era tanta que meus olhos ficavam marejados com frequência. Eu me sentia humilhada, mesmo sabendo que não tinha o direito de cobrar nada dele. Além do mais, quando revelei o que sentia e, com certeza este era o motivo para ele me manter longe de qualquer coisa que assumisse que éramos um casal, como o seu aniversário, por exemplo, pedi para que nada mudasse.
E nada mudou. Ele continuava sendo o cara que me ensinava o que era sexo e eu era simplesmente a nova escritora da sua editora. Uma nova Tiffany em sua vida.
Merda!
Precisei levantar para ir ao banheiro pela quarta vez e o meu pai já estava intrigado. Eu saía para respirar até que as lágrimas voltassem para seus devidos lugares, longe do meu rosto, ou que eu conseguisse me convencer de que não era aquela garota insegura e infantil, o que durava poucos minutos.
Aterrissamos sob uma forte chuva, e eu estava tão incomodada que me sentia sufocar. Eu necessitava desesperadamente de estar com ele, de confrontá-lo, de ouvir da sua própria boca que seria assim mesmo e que eu precisava me conformar com meu lugar em sua vida.
- Vamos deixar Johnny em casa primeiro – meu pai avisou me olhando com desconfiança.
Desviei o olhar e encarei a rua molhada.
- Para mim está ótimo – meu amigo disse. – Ainda é cedo – e piscou como se já tivesse compromisso para aquela noite.
Suspirei.
Eu não era o compromisso de ninguém. Mesmo sendo uma data especial.
Segui ouvindo meu pai e meu amigo conversarem sobre as oportunidades, minha mãe e Miranda sobre o vestido que viram em uma nova coleção, enquanto dentro de mim o turbilhão continuava. Senti falta de ar, mas preferi ficar quieta. Meu pai já estava muito desconfiado.
Após quase uma hora estávamos em casa. Miranda estava com cara de poucos amigos, pois havia perdido um tempo precioso ao lado do seu namorado. Minha mãe estava tão cansada que rapidamente foi se deitar e meu pai ficou meio agitado com o estado dela, depois a acompanhou sem questionar.
Eu sentei em minha cama e fiquei sem ação por algum tempo. Meus pés doíam e o corpo parecia mais cansado do que deveria, em compensação a mente estava desperta e não me deixava em paz.
Passei longos minutos me perguntando o que Alex estava fazendo naquele momento, onde ele poderia estar e com quem. Diversas imagens desfilavam a minha frente fazendo-me ficar enjoada.
Respirei com dificuldade.
Então era assim que funcionava um coração despedaçado? Aquela sensação de angústia, impotência, raiva e muitos outros sentimentos misturados, não me permitia pensar direito. Eu precisava ter certeza. Ver como os meus próprios olhos. Quem sabe assim me convenceria de que era isso mesmo.
Levantei sem saber ao certo o que faria, fui até a porta e, com exceção da luz no quarto de Miranda, a casa estava em silêncio e no escuro. Saí cautelosamente descendo para a sala. A chuva estava mais grossa. Olhei para as escadas, me certificando de que ninguém me observava.
Meio insegura fui até a porta e quando dei por mim estava no elevador. O que faria ao chegar na casa dele, eu não fazia a menor ideia, só tinha a certeza de que precisava ir e foi o que fiz.
Precisava de um plano. Não poderia simplesmente sair. Não poderia pegar o carro, pois chamaria a atenção do Vítor que, com certeza, me delataria para meu pai.
Então como faria? O elevador parou abrindo suas portas revelando um saguão vazio. Dei os primeiros passos insegura e quase voltei quando Vítor apareceu me encarando surpreso. Respirei fundo e caminhei em direção à saída.
- Srta. Charlotte? – ele disse ainda sem entender a minha presença. – Quer que eu peça para tirarem o seu carro?
Eu não podia. Demoraria muito. Tempo suficiente para ele alertar o meu pai.
- Não. Johnny está me aguardando no final da rua – ele estreitou os olhos me avaliando.
- Mas está chovendo!
- Pois é. Ele não quer que meu pai saiba que perdeu as chaves de casa – dei de ombros. – Vou levar as chaves reserva, fazer uma cópia em um chaveiro 24 horas e voltar – tentei parecer o mais normal possível.
- Mas está tarde – ele disse ainda me observando com atenção.
- Se eu sair agora consigo chegar o mais rápido possível. E ele, com certeza, deve estar entrando aqui na rua. Vejo você na volta – arrisquei todas as minhas chances e saí para a chuva sem aguardar por mais protestos.
Corri sentindo minha roupa ensopar rapidamente. Por sorte, assim que cheguei a rua principal, encontrei um táxi. Dei sinal e entrei sem esperar por nada, passando o endereço para o motorista que me olhava com curiosidade. Preferi alertar o meu amigo sobre a minha fuga.
- O que houve? – ele atendeu alarmado.
- Preciso de sua ajuda – ouvi Johnny puxar o ar.
- Outra vez? Com o padrinho em casa? Não acha que está arriscando demais por uma pessoa que nem quer estar com você? – essa doeu. Precisei fechar os olhos e respirar profundamente para não chorar.
- Eu estou em um táxi.
- O que? – sua voz alta me assustou um pouco. – Ficou maluca, Charlotte?
- Johnny, eu preciso ir até lá – mantive a voz baixa.
- Puta que pariu!
- Eu disse ao Vítor que você perdeu a chave de casa e eu estava levando a reserva.
- Merda, Charlotte!
- Só estou pedindo que confirme, caso meu pai descubra – ele hesitou.
- Vou ficar acordado até você me ligar. Vá, quebre a cara e me ligue para que eu possa te buscar.
- Não vai ser necessário...
- Ligue para me dizer que chegou em casa. Pelo menos isso – ele estava furioso, mas estava me ajudando, então não contestei.
- Tá. Eu ligo para você. Obrigada!
- E não me envolva em mais nenhuma merda.
- Ok! – ele ficou em silêncio por um tempo. Uma lágrima rolou em meu rosto, que eu tratei de limpar imediatamente.
- Tome cuidado. Qualquer coisa me ligue que eu vou lá e acerto uns socos naquele professor escroto – ri sem vontade.
- Combinado. Amo você!
- Eu também, Charlotte! Vou ficar acordado. Tchau!
- Tchau.
Passar pelo porteiro foi um pouco mais complicado. Primeiro eu estava molhada, segundo, estava sem documentos e não queria que ele alertasse Alex da minha presença. Precisei de toda a minha lábia para conseguir convencê-lo. Dei a placa do meu carro, apesar de estar sem ele. Tentei fazê-lo lembrar de mim, de todas as vezes que estive lá e assim acabei conseguindo minha liberação.
- Mas eu tenho que avisar que aquela outra moça está aí – ele disse ainda inseguro sobre a sua decisão. Meu sangue gelou. Quase congelei no lugar ou desisti de seguir em frente. – Ela chegou ainda cedo e o encontrou quando ele entrou no condomínio – me deu um olhar de soslaio.
- Tudo bem. Eu não vou demorar – minha voz soou fraca e meu corpo tremia de frio e de medo do que eu encontraria.
- Sei não, moça – ele repetiu pela milésima vez. – O Sr. Frankli pode não gostar.
- Eu prometo que assumo toda a responsabilidade. O professor Frankli está aguardando pelo meu material e o meu prazo termina hoje. Se eu não encontrá-lo vou acabar tendo o meu projeto cancelado – ele se mexeu olhando para os lados.
- Tudo bem, vou dizer que te liberei porque a senhorita estava na lista de visitas permitidas.
- Ótimo! Vai dar tudo certo – sorri me sentindo destroçada por dentro.
Não corri na chuva. Eu caminhei sentindo o medo se infiltrar em cada célula do meu corpo. O
que eu estava fazendo ali? O que queria provar? Alex com certeza ficaria aborrecido e acabaria colocando um ponto final na nossa história. Que droga! E eu por um acaso queria continuar naquela merda de jogo? Eu daria continuidade mesmo sabendo que ele preferiu passar a noite do seu aniversário com outra pessoa?
Merda!
Senti minhas lágrimas escorrerem se misturando com a chuva. Pelo menos assim eu teria mais dignidade. No entanto eu me sentia destruída. Nada que todo mundo não tenha tentado me alertar, inclusive o próprio Alex.
Mesmo assim, ainda era melhor por um ponto final do que terminar sem saber como poderia ser. E movida por este pensamento me deixei guiar até a frente da casa dele. A luz da sala estava acesa, mas não me atrevi a entrar, a tocar a campainha. Fiquei do lado de fora, na chuva, o coração aos pulos e os olhos presos naquela porta.
Não sei quanto tempo depois ela abriu. Eu estava do outro lado, escondida embaixo de uma árvore que cobria a luz do poste que iluminava à frente da casa. Vi quando Alex deu passagem para um corpo delicado e feminino. Um guarda-chuva grande se abriu. Ela se deteve na porta, o objeto impedindo-me de ver o que acontecia, depois de uma risada ela se afastou.
Ele ainda a observou caminhar para a chuva, chegar ao portão e virar em direção à guarita.
Quando ela virou eu pude constatar quem era e naquele momento eu me senti ainda mais derrotada.
Usando um sobretudo escuro, Tiffany exibia um sorriso largo tentando se proteger da chuva forte.
Pensei que não suportaria.
Voltei a olhar a porta. Alex ainda a olhava partir, logo se voltou entrando e fechando a porta.
Pisquei diversas vezes sentindo as lágrimas se avolumarem, então ele abriu a porta de novo e olhou diretamente para mim. Fiquei parada, sem saber se ele realmente estava me vendo ou se procurava por alguma coisa. Senti vontade de sumir.
- Charlotte? – ele falou alto dando um passo para a chuva.
Merda!
O que eu poderia fazer? Sair correndo? Xingá-lo? Dizer que tinha visto tudo e que ele era um canalha? Não. Eu não poderia jamais fazer aquilo. Por isso dei um passo à frente permitindo que a luz fraca me revelasse.
Alex
Tiffany ficou mais tempo do que eu esperava. Para não ser descortês, abri um vinho e ficamos diante da lareira elétrica evitando o frio da noite. Não me atrevi a trocar de roupas, tive medo do que ela poderia fazer, então comecei uma conversa casual mantendo a maior distância possível.
- Você está diferente – ela disse com os olhos fixos em mim.
- Estou mais velho – sorri tentando formular alguma coisa. – E mais cansado.
- Não é apenas isso, Alex – ela se aproximou deixando-me em alerta. – Eu não sei dizer ao certo, é como se você estivesse sempre tenso, disperso e ao mesmo tempo como se existisse um brilho diferente, algo que eu não saberia explicar, mas que está presente – encarei Tiffany pensando no que ela me dizia. – O que tem feito, além de trabalhar, é lógico – ela levantou olhando para fora, observando a chuva.
- Surfado – ela voltou a me olhar e sorriu amplamente.
- Nada de novas namoradas? – e eu sabia que era aquela a pergunta que nos colocaria no ponto crítico.
- Sem novas namoradas – respondi com cautela e vi quando Tiffany assimilou a minha resposta. Ela bebeu um gole do vinho e umedeceu os lábios.
- Alguém especial? – levantei também sentindo o clima ficar tenso.
- Tiffany...
- Por que não me conta? Acha que eu me partiria se soubesse que você está se divertindo com alguém?
- A forma como você fala faz tudo parecer sujo – fiquei incomodado, pois pensei imediatamente em Charlotte. Eu não me divertia com ela. Eu a amava.
- Desculpe, não foi o que quis fazer parecer. Apenas falei o que é óbvio: Alex Frankli não se apega a ninguém.
- Isso não é verdade – mais uma vez ela ficou tensa e me encarou tentando descobrir o que havia de diferente de mim.
- Então existe mesmo alguém?
- Não acho que seja uma boa ideia falarmos da minha vida pessoal – coloquei minha taça sobre a mesa como se estivesse encerrando o assunto.
- Alguém que o impediria de ganhar um presente de aniversário especial? Que esteja roubando a sua energia sexual a ponto de fazê-lo recusar uma oferta?
Ela se aproximou sedutoramente, abrindo o sobretudo e revelando o que vestia por baixo. Uma calcinha preta minúscula e um sutiã que deixava seus seios mais volumosos. Tiffany era linda e seu corpo era perfeito. Em qualquer outro momento da minha vida eu dispensaria uma oferta tão generosa, no entanto, naquele momento, meus pensamentos, todos, se dirigiram a Charlotte, e no quanto eu queria que fosse ela ali.
- Uma oferta? – dei um passo para trás mantendo minhas mãos firmes nela. Tiffany sorriu forçando a aproximação dos nossos corpos.
- Nossas noites eram incríveis – desceu os olhos até meus lábios demonstrando o seu desejo. – Não sente saudades?
- Tiffany... – tentei me afastar outra vez, mas ela me impediu.
- Não estou te pedindo em casamento, Alex. É só uma noite, por diversão – tentou alcançar minha boca, desviei a tempo e ela beijou meu rosto.
- Não acho que seja uma boa ideia – peguei seu braço retirando-o do meu pescoço. – Vamos manter as coisas como estão.
- Por quê? Por que existe mesmo alguém ou por que você não sabe o que fazer comigo no dia seguinte?
- Pelos dois motivos – encarei minha ex-amante tentando descobrir como ela encararia a minha resposta, Tiffany apenas sorriu e abaixou os olhos.
- Então ainda há esperança – disse me distraindo com a sua tentativa de me beijar, mas descendo a mão pelo meu peitoral, por cima da camisa, até alcançar meu pau. Arfei! Ela o acariciou com delicadeza, mas eu não reagi. Não fiquei excitado nem nada do tipo. Então segurei sua mão impedindo-a de continuar.
- E eu sei o meu papel em sua vida, Alex. Somos adultos, responsáveis... Não precisa ter medo do dia seguinte.
- Digamos que a primeira opção pese mais do que a segunda – mais uma vez tive medo de como ela reagiria e novamente Tiffany apenas sorriu.
- Como eu disse: ainda há esperança – ela se afastou e colocou a taça ao lado da minha. – Como você não quer festejar – pegou a pequena bolsa que estava sobre o sofá e fechou o sobretudo.
– Eu vou embora. Amanhã nos encontramos, não?
- Com certeza – tentei sorrir, mas estava tenso demais com a ideia de tê-la me perseguindo durante todo o feriado e como Charlotte reagiria a sua presença. – Obrigado por ter vindo.
- Eu não poderia deixar passar em branco – fomos até a porta e eu a abri desejando que ela não demorasse mais nem um minuto. – Foi uma ótima noite – ela se virou e beijou meu rosto, bem no cantinho próximo a boca.
- Vejo você amanhã.
Tiffany saiu protegida pelo seu guarda-chuva. Ainda a observei partir, ansioso para entrar e acabar com aquele dia. Assim que ela desceu as escadas, corri os olhos pela rua vendo o quanto estava escura. Uma sensação estranha me invadiu. Por um breve segundo eu a vi, como meu cérebro já havia enviado a mensagem para fechar a porta, foi o que eu fiz enquanto processava a imagem.
Segundos depois abri a porta de novo encarando aquele vulto escuro embaixo da árvore. Era ela.
- Charlotte? – meu coração acelerou com a possibilidade.
No momento eu não pensei em Tiffany nem em nada ligado ao mundo exterior. Eu apenas encarava aquela sombra, sentindo o meu corpo formigar. Quando dei por mim já estava na chuva fria, andando em sua direção. Ela ficou imóvel no primeiro instante, fazendo-me acreditar que eu estava imaginando coisas, mas logo em seguida deu um passo e se permitiu ser revelada.
- Charlotte! – andei mais rápido em sua direção. Paralisei assim que a vi completamente molhada, me encarando com frieza. – O que faz aqui? – eu tentava não me concentrar na sua expressão e buscava o que quer que fosse para quebrar o gelo do seu olhar.
- Eu... – ela hesitou, para em seguida tomar coragem. – Miranda me contou que era o seu aniversário – me avaliou enquanto a chuva nos ensopava ainda mais. – Eu só queria lhe dar os parabéns. Hoje. Não amanhã... porque vamos nos ver amanhã, certo? Eu queria que fosse hoje, já que é a data do seu aniversário.
Charlotte estava confusa demais e acabou me deixando da mesma forma. Observei enquanto ela se perdia nas palavras e justificava a sua presença como se fosse algo de errado.
- Então... Parabéns! – e me encarou. A chuva molhava seu rosto delicado, pingando pesadamente dos seus cabelos. – É isso. Eu... – olhou em direção à rua e colocou as mãos nos bolsos.
- Charlotte! – suspirei sentindo a paz que a sua presença me fazia sentir e a tomei nos braços.
Quando a senti colada a mim tive medo de estar imaginando coisas e que ela fosse desaparecer. Mas Charlotte não reagiu, ela se deixou ser abraçada sem retribuir o abraço. Pensei ter sentido um soluço, um movimentar abafado do seu peito.
- Senti a sua falta – revelei sem conseguir deixá-la.
- Eu preciso ir, Alex. Saí escondido, meu pai com certeza vai perceber a minha ausência, preciso voltar.
- Você fugiu só para me ver? – me afastei buscando pelos seus olhos.
Sorri deliciado com a atitude dela. Durante dias Charlotte fugiu de mim, inventando um monte de desculpas, mas ela estava ali, enfrentando a chuva, o pai, tudo, apenas para estar comigo no meu aniversário.
- É o seu aniversário. Achei que era importante vir até aqui e...
Ela se afastou ligeiramente. Meu coração acelerou ao notar o seu tom e a mágoa em sua voz.
Merda! Tiffany. Charlotte tinha visto Tiffany sair da minha casa. Que idiota eu era.
- Desejar feliz aniversário.
- Vamos entrar – falei mais cauteloso. Eu sabia que ela explodiria a qualquer momento.
- Não! – ela se afastou ainda mais. – Eu tenho que voltar – e continuou se afastando.
- Espere, Charlotte! – segurei em seu braço forçando-a a ficar. – Está chovendo muito e você está encharcada – ela olhou para o corpo como se só naquele segundo tivesse percebido o quanto estava molhada. – Vamos entrar e conversar.
- Não, eu vou para casa – disse aumentando a voz.
- Charlotte, não aconteceu nada – falei logo de uma vez demonstrando entender a sua dor. – Tiffany apareceu quando eu chegava da casa dos meus pais, estava chovendo e por educação a convidei para entrar enquanto aguardava a chuva passar. Não aconteceu nada – ela ainda me encarava com mágoa.
- Você não me deve satisfações. Eu só vim...
- Eu sei o motivo da sua vinda. Já me disse isso diversas vezes – afirmei impaciente. – E não quero ter esta conversa aqui na chuva – ela piscou deixando que a chuva escorresse livremente pelo seu rosto, ou eram lágrimas? Puta que pariu!
- Vejo você amanhã – tentou se soltar, eu não deixei.
- Não vou permitir que vá desta forma. Não enquanto não me ouvir – ela parou e aguardou.
Vamos entrar.
- Não quero entrar, mas podemos conversar fora desta chuva.
Ela se soltou, passou pelo portão que estava aberto, parando próximo à garagem, onde uma soleira nos protegeria da chuva. Abraçou o próprio corpo, tremendo e me encarou.
- Eu sei que você viu Tiffany sair daqui de casa, mas eu juro que não é nada do que está imaginando.
- Eu não estou imaginando nada – falou irritada tremendo um pouco mais.
- Merda, Charlotte! Você vai ficar doente, por que não entra? Eu posso colocar sua roupa para secar enquanto você se aquece.
- É só você me deixar ir embora. Em minha casa poderei me cuidar melhor.
- É isso o que quer fazer? Quer ir embora aborrecida comigo? Vai ser infantil a este ponto?
- Adeus, Alex! – rebateu com um rosnado e tentou passar novamente. Eu não seria idiota para deixá-la ir, então a puxei para mim e a abracei com força.
- Não aconteceu nada. Por que você é tão cabeça dura? – ela escondeu o rosto em meu peito impedindo-me de alcançar seus lábios. – Charlotte, não faça isso – implorei me sentindo um imbecil.
Um boneco nas mãos dela.
- Por que não me contou que era seu aniversário? – ela levantou o rosto me encarando.
Observei-a indeciso sobre o que responder. Por que eu não contei? Porque era um cretino, idiota e orgulhoso.
- Não sei. Você disse que tinha compromisso – revelei preocupado, escolhendo cautelosamente as palavras. – Não quis fazê-la mudar de ideia. Também não tem nada demais em fazer aniversário, não é uma coisa que eu faça questão de contar.
- Mas sua autora preferida sabia? – sua voz continha tanta mágoa e acusação que eu senti medo.
- Tiffany convive comigo há tempo suficiente para saber. Olha, eu sei o que você está pensando, mas não foi nada disso. Eu jantei com os meus pais, Lana pediu para te convidar, mas você me disse que tinha compromisso então deixei pra lá, não era nada importante, eu te contaria amanhã, ou você acabaria descobrindo mesmo – passei a mão nos cabelos tirando o excesso de água. – Vim para casa decidido a dormir cedo já que amanhã tenho que pegar a estrada, aí Tiffany apareceu e o resto eu já falei. Nós ficamos conversando enquanto aguardávamos a chuva passar.
- E tomaram vinho – ela acusou. Que droga! Claro que ela sentiria em meu hálito.
- Tomamos algumas taças – admiti.
- E as marcas de batom em seu rosto – e pela sua voz eu percebi que existiam mesmo lágrimas e não apenas chuva em seu rosto.
- Charlotte... – suspirei sem conseguir encontrar uma justificativa que a fizesse entender. – Tiffany tentou, mas eu não permiti – ela mordeu o lábio inferior e se abraçou um pouco mais. – Não aconteceu nada, Charlotte!
- Olha, Alex... – ela puxou o ar com força. – Nós não temos nada além do nosso acordo.
- Não é bem assim...
- O fato de eu ter revelado que me apaixonei não significa que temos que mudar alguma coisa – merda! O que ela estava dizendo?
- Não vai mudar – corroborei o que ela dizia. – Só que as coisas não são como você está falando.
- Eu realmente preciso ir – ela me interrompeu.
- Não vá embora – pedi engolindo todo o meu orgulho. – Droga, Charlotte, eu senti tanto a sua falta! – me arrisquei a acariciar seus braços. Vi quando ela fechou os olhos e engoliu com dificuldade. – Acredite em mim! – ela abriu os olhos e me olhou com mágoa. Tentei beijá-la, ela desviou o rosto. – Não posso mais te beijar? – acariciei seus cabelos sentindo a amargura daquelas palavras.
- Não enquanto estiver com os lábios dela estampados em seu rosto.
Acusou com a voz rouca de quem tentava prender o choro, falhando totalmente. Passei a mão pelo meu rosto para limpar as marcas do batom. Minha vontade era matar Tiffany.
- Você me beijaria se soubesse que eu tinha acabado de beijar alguém? – ela disparou. – O
Henrique, por exemplo. Se eu o beijasse, você me beijaria em seguida? – senti a raiva que aquelas palavras me causavam.
- Não – revelei engolindo em seco. – Só tem um detalhe: eu não beijei a Tiffany – fui firme e ela manteve os olhos nos meus captando a verdade das minhas palavras.
- O nosso acordo era: você não arranja ninguém e eu não arranjo ninguém. Se você quebra a regra eu também quebro.
- Porra, Charlotte! Eu não beijei a Tiffany – e a raiva estava contida em minhas palavras. Ela empinou o queixo me encarando com mais firmeza. A ameaça muito nítida. – E não quero que você beije o Henrique ou qualquer outro garoto.
- Ótimo! – disse rispidamente. – Porque é o que vou fazer da próxima vez que eu vir qualquer outra mulher sair da sua casa, independentemente de qual seja a desculpa que você inventará.
- Eu não... – fechei os olhos controlando a raiva. – Tudo bem – soltei o ar com força. – Tudo bem, Charlotte – e eu me sentia um babaca filho da mãe, dominado por aquela fedelha que me amarrava deixando-me sem reação.
- Vejo você amanhã – tratei de limpar mais uma vez o meu rosto enquanto ela passava por mim, e consegui segurá-la.
- Não sem me dar meu beijo de aniversário – e a beijei sem esperar pela sua autorização.
Charlotte tentou me deter, mas meus lábios já estavam nos dela, forçando passagem com a língua e com isso todo o seu corpo amoleceu. Ela podia ser a dona dos meus pensamentos, mas eu era o dono do seu corpo e sabia a forma certa de domar aquela diabinha, quebrando um pouco da sua pose.
Nossos lábios de movimentaram em um beijo apaixonado, cheio de saudade e desejo. Seus dedos se fecharam em meus cabelos molhados, e uma mão segurou com força em minha camisa, puxando-me para mais perto. Fiquei excitado na mesma hora.
Imprensei minha aluna na parede, colando meu corpo ao dela e minhas mãos rapidamente exploravam suas curvas. Ela gemeu em meus lábios, mas desfez o beijo.
- Passe a noite aqui comigo – sussurrei minha súplica. – Fique!
- Não – ela disse com a voz fraca, a respiração pesada.
- Por que não pode ou por que não quer? – me forcei a me afastar, caso contrário seria impossível se continuássemos por mais um minuto colados daquele jeito. Ela me encarou ainda com ressentimento.
- Pelos dois motivos – revelou me respondendo como fiz com Tiffany um pouco antes, e eu me perguntei se ela fazia aquilo pelo mesmo motivo que eu.
Senti meu coração acelerar, mas concordei me afastando, deixando-a livre para partir.
- E amanhã? – minha pergunta era mais uma tentativa de apaziguar o redemoinho dentro de mim do que combinar algo.
- Vamos manter o planejado.
No entanto, sua voz estava fria e sem emoção, como se a nossa primeira noite juntos fosse apenas mais uma parte do que ela pretendia para conseguir a aprovação do seu projeto. Era como um banho de água fria.
- Certo.
Ela virou e partiu na chuva e a noite se tornou mais fria do que aparentava.
Capítulo 27
“Fortes razões, fazem fortes ações.”
William Shakespeare
Alex
Estacionei o carro em minha vaga na garagem da casa principal do rancho da família. Era incrível como aquele lugar conseguia renovar minhas energias. Com a noite que tive, os medos que senti e os planos para os próximos dias, precisava realmente me renovar.
Antes de entrar parei observando a fachada da casa. Era imensa e toda branca. Com janelas de madeira e canteiros de flores. Dandara soube mesmo fazer com que aquele se tornasse o meu lugar predileto.
Eu podia até mesmo ouvir os gritos de Lana correndo de mim e Patrício em nossa infância. Se forçasse bem a memória poderia, a qualquer momento, vislumbrar três crianças correndo e atirando coisas umas nas outras. Fomos felizes. Éramos felizes. E ainda podíamos ter a chance de ver tudo se repetir através dos nossos filhos, já que a casa continuava a mesma e todos estavam arrumando seus devidos parceiros.
Será?
Tal pensamento me fez imaginar em como seria ser pai. A primeira imagem que veio à minha mente foi de uma menininha magra, cabelos compridos, castanhos. Ela poderia ter os meus olhos, mas a pele teria que ser como a da mãe, cheia de sardas e bem branquinha. Só então me dei conta de que aquela criança que eu idealizava e já conseguia sentir a emoção de tê-la, era ou seria minha filha e o mais importante de tudo: seria filha de Charlotte também. Ri sozinho.
Lembrei-me do rosto de Charlotte na noite passada, no entanto me forcei a acreditar que aquela situação já estava superada. Ela podia estar com um pé atrás, mas dissera que continuaríamos com o planejado. Mesmo sabendo que ela também estava apaixonada, minha aluna fazia parecer que queria apenas perder a virgindade e pronto. Como se não significasse nada.
Mas eu a amava e iria até o fim por ela. A convenceria de que não precisava temer nem duvidar. Faria com que Charlotte entendesse que só havia ela e mais ninguém e não importava se Anita ou Tiffany, ou qualquer outra pessoa, estava interessada, eu não estava e isso deveria ser o suficiente.
- É, Alex, você arrumou um problema!
- Falando sozinho? – acabei me assustando com a presença da minha irmã.
- Não sabia que você estava aqui – ela pulou em meus braços como se estivesse há anos sem me ver.
- Eu não estava. Ouvi o barulho do seu carro e vim te receber.
- Todo mundo já chegou?
- Por um acaso Charlotte Middleton já chegou – ela riu. – Está cercada pelo pai, a mãe, o cão de guarda e a amiga.
- E você deixou sua mais nova amiga para me receber exatamente por qual motivo? – eu conhecia minha irmã o suficiente para saber que ela deveria ter um motivo especial para me encontrar antes dos outros.
- Bom... Tiffany chegou...
- Ela assinou o contrato. Não tenho com o que me preocupar – abri o porta-malas e retirei minha bagagem, lembrando do problema que Tiffany havia me causado na noite anterior.
- Sim. Graças a Deus! Tem mais uma novidade – olhei desconfiado para Lana. – Ela trouxe a prima, mais precisamente, Anita, sua colega de trabalho que nutre uma obsessão por você – suspirei pesadamente e não consegui impedir a minha cara de desagrado.
- Sério? Pensei que meu feriado seria incrível.
- E vai ser. Vou te ajudar de todas as formas possíveis. Você e Charlotte vão ter esta primeira vez ou eu não me chamo Lana Frankli.
Era embaraçoso precisar da minha irmã mais nova para conseguir transar com a minha namorada, porém devido às circunstâncias, toda a ajuda seria bem-vinda.
- Anita não pode nem sonhar, Lana. Tiffany é um problema resolvido, por outro lado Anita não é uma boa pessoa e tenho certeza que se ela descobrir o que está acontecendo entre Charlotte e eu, vai arranjar um jeito de nos prejudicar.
- Eu sei. Deixe comigo.
- Tá! – joguei a sacola de viagem nas costas e abracei minha irmã pelos ombros. – Obrigado, bruxinha!
- O que eu não faço por você? – ela me abraçou também e depois olhou para o céu que prometia mais chuva.
- Ah! Posso te pedir mais um favor?
- Só se eu puder cobrar depois.
- Combinado.
- Manda.
Passei para a minha irmã todas as instruções sobre meus planos de passar uma noite com Charlotte na cabana da floresta. Lana era o tipo de pessoa que ficava mais do que animada em preparar surpresas deste tipo, eu sabia que poderia contar com ela para que tudo fosse perfeito como Charlotte merecia.
Nós teríamos a nossa noite, nem que para isso eu tivesse que amarrar e trancar na sauna, Tiffany, Anita, Peter ou qualquer outra pessoa que tentasse nos impedir.
Charlotte
Lana saiu correndo da sala. Ela parecia estranhamente ansiosa, olhando pela janela sem parar e sorrindo quando era solicitada em alguma conversa, no entanto era perceptível que não prestava atenção ao que falavam.
- Parece que teremos uma tempestade hoje. Vamos ligar o rádio e ouvir as últimas notícias – o Dr. Frankli falou para o meu pai que concordou e o acompanhou.
Graças a Deus, meu pai não estava muito focado em mim. Ele se sentia feliz por poder passar um tempo de qualidade com um amigo tão querido. Minha mãe estava conhecendo a casa com Dandara, que fez questão de apresentar cada pedacinho da propriedade. João e Patrício conversavam com Johnny sobre pescaria e pareciam bem entrosados. Se não fosse pela mão de Miranda o tempo inteiro na de Patrício e pelo olhar apaixonado que eles trocavam eu podia até dizer que ninguém separaria aqueles três.
Tudo estava em sua mais perfeita ordem, a não ser pela presença das duas mulheres que insistiam em conversar comigo. A Professora Anita, a mesma que teve o despautério de aparecer na casa de Alex se oferecendo, e Tiffany, a sua escritora favorita, a mesma que ameaçou quebrar o contrato caso ele não aceitasse voltar para sua cama e que havia passado um bom tempo em sua casa na noite anterior, deixando marcas de batom no rosto do homem que deveria ser meu e apenas meu.
Merda! E eu ainda tinha que sorrir e fingir ser educada com as duas.
Onde estava Alex? Será que desistiu?
- Por que não vamos lá fora? Na área da piscina temos mesas grandes. Podemos jogar, beber e conversar – João Pedro falou mais alto incluindo no convite todos que estavam na sala. Vi quando Lana se adiantou e correu para fora da casa.
Estranho!
- Claro! Vai ser interessante conversar com as crianças – Anita concordou sorrindo inocentemente, deixando claro que para ela, Johnny. Miranda e eu não passávamos de crianças.
Que idiota!
Minha vontade era dizer em alto e bom som que a criança aqui passaria a noite nos braços do homem que ela tanto desejava.
Apesar da minha irritação não daria esse gostinho a aquela... Melhor deixar para lá. Anita era uma mal-amada. Ela queria Alex e ele me queria. Abri o maior sorriso com este pensamento. Tenho certeza que ela entendeu errado o motivo, mas quem estava preocupada em explicar?
- Está frio lá fora – Miranda protestou. Estava mesmo. E com a promessa de muita chuva – Não podemos ficar aqui?
- Podemos fazer o que você quiser, linda! – Patrício agarrou minha amiga pela cintura, puxando-a para um beijo. Meu pai pigarreou logo atrás deles.
Foi engraçado ver aquele homem imenso, quase um urso, se encolher envergonhado com a presença do meu pai. Eles se afastaram rapidamente fingindo naturalidade. Era tão ridículo aquele cuidado todo apenas porque meu pai pertencia ao século XVIII.
- Estamos pensando em acender a lareira. Logo estará bem mais frio. Essa noite promete! – o Dr. Frankli quebrou o silêncio e sua última frase fez com que muitas mentes flutuassem. Pelo menos eu vi a troca de olhares entre Patrício e Miranda.
- Ele chegou! – Lana abriu a porta puxando Alex pela mão como se fosse uma criança pequena.
Alex entrou daquele seu jeito único. Com uma sacola de viagem jogada sobre os ombros, vestindo calça jeans clara, tênis e um casaco de frio. Completando o visual havia um boné azul de um time de beisebol.
Perfeito como sempre!
Posso dizer com toda a certeza que meu corpo quase incendiou quando nossos olhos se encontraram. Ele lançou um sorriso torto, preguiçoso, daqueles que me fazia parar de respirar. Seus olhos estavam cheios de promessas.
Rapidamente desviei o meu olhar. Não deveria ficar tão rendida depois do que ele havia feito na noite anterior. Eu ainda estava magoada.
- Alex! – Tiffany passou por mim como um furacão puxando Anita com ela. – Olha só quem eu trouxe comigo! – ela estava muito feliz por entregar de bandeja para a prima, o homem que tanto queria.
- Anita, que surpresa! – Alex se inclinou para beijar o rosto das duas mulheres. – Parece que teremos uma tempestade – deu um passo em direção ao irmão e ao cunhado.
- Sim, noite fria, com lareira... – João exibia um sorriso descarado no rosto. Alex apenas riu apertando a mão de todos, inclusive de Johnny.
- Charlotte, Miranda – me cumprimentou como se não fôssemos próximos.
- Oi, Alex! – Miranda foi fria e distante.
Não consegui falar nada. Detestava ser obrigada a fingir que não tínhamos intimidade.
Detestava ser tão fria depois da noite anterior, quando ele me pediu para ficar e eu me forcei a ir embora, por raiva, pirraça e decepção. Eu ainda podia sentir a tristeza por ter visto Tiffany saindo da casa dele.
Alex se aproximou com cautela, analisando minha reação. Fiquei visivelmente agitada. Ele acabava comigo apenas com um olhar.
- Trouxe o notebook, Charlotte? – meu professor parou diante de mim. Seus olhos incrivelmente azuis me aqueceram.
- Sim, professor! – sorri timidamente, tentando quebrar o gelo entre nós dois. Ele tinha uma expressão divertida no rosto.
- Ótimo! Vamos passar algum tempo analisando o último capítulo. Quero trabalhar bastante nele durante o tempo que passaremos aqui. Lana gostou muito. Quando voltarmos, poderemos cuidar do processo de contratação – oh, céus! Ele estava mesmo falando sobre nossos planos na frente de todos?
- Por mim tudo bem! – senti que meu rosto estava tão vermelho que tive medo das pessoas desconfiarem.
- Eu adoraria ler este livro – Tiffany apareceu ao lado dele e segurou em seu braço com muita intimidade. – Alex não fala noutra coisa. Lana também. Sou ótima em leitura crítica, o que acham de me deixar ajudar?
- Alex! – Dandara entrou na sala, junto com minha mãe tratando de abraçar o filho. – Você demorou? – colocou a mão na barriga dele e fez uma careta. - Você está magro demais. Ontem mesmo eu disse a Lana que essa ideia de morar sozinho não lhe faria bem. Graças a Deus, Patrício não inventou de sair de casa ainda – Alex olhava para a mãe com carinho e ao mesmo tempo envergonhado por ela tratá-lo como uma criança.
- Não estou magro, mãe!
- Concordo. Ele não está magro, Dana. Está gostoso – João Pedro fez voz de gay, abraçou a sogra e beijou o seu rosto. Ela riu com a brincadeira do genro.
- Vou colocar as minhas coisas no quarto. Meu quarto continua sendo só meu, não é? – ele me lançou um olhar rápido, quase imperceptível, que fez com que todos meus neurônios quisessem derreter. Puxei o ar com força e Miranda me lançou um olhar de alerta.
- Claro! – Dandara franziu o cenho. – A não ser que queira companhia – Vi o enorme sorriso de Anita e Tiffany.
- Sozinho, mãe! Preciso trabalhar – ele pegou a sacola de viagem e subiu as escadas que davam acesso aos quartos sem olhar para trás.
- Você trabalha demais. Desça para conversar com os convidados. Não me envergonhe, Alex.
- Ok, dona Dandara! – sorriu de maneira perfeita e sumiu de vista.
Eu queria muito poder segui-lo, conversar sobre as nossas diferenças, esquecê-las e me atirar em sua cama. Depois me dei conta de que mais duas pessoas naquele ambiente tinham o mesmo desejo.
Lana ficou ao meu lado, como se quisesse me defender a qualquer custo. Sorri pensando em como nos tornamos amigas em tão pouco tempo. Tudo por causa de Alex e do trabalho que ele vinha fazendo com meu livro. Principalmente pela chance que ele me oferecia. Se no final tudo desse errado, muitas coisas boas permaneceriam comigo. Lana era uma delas.
- Vamos ou não passar um tempo ao ar livre? – João Pedro perguntou e eu notei Anita que olhava para a escada demonstrando certa ansiedade.
- Vamos. Ficar trancado em casa, em grupo, não é muito a minha praia.
Patrício piscou para Miranda. Aqueles dois eram incríveis. Corei sentindo o meu rosto esquentar de maneira absurda, só com o sorriso que ela deu ao namorado. Naquele momento Alex surgiu na escada. Não pude deixar de olhá-lo. Ele estava incrivelmente lindo.
- Vamos beber alguma coisa, jogar conversa fora e sacanear os amigos, tá dentro? – Patrício se afastou de Miranda e do meu pai e foi ao encontro do irmão. Quase ri da sua fuga.
- Vamos. Vai ser legal sacanear os amigos – ele sorriu como nunca antes.
Havia uma energia diferente em torno do meu professor. A forma como ele falava com o irmão demonstrava um Alex que eu ainda não conhecia, mas que já gostava muito.
Lana me arrastou para fora. Ela não pedia permissão para fazer as coisas. Ela simplesmente fazia. Anita e Tiffany estavam cercando Alex, que tentava sacanear Patrício de alguma forma e não se importava com as duas. E eu me sentia de volta ao colegial, onde o carinha gato e mais popular era disputado pelas demais mortais, líderes de torcida e nerds, que era o meu caso.
Fomos para a área da piscina. Apesar de frio era muito bom estarmos ao ar livre. Dava para fazer coisas como trocar olhares com o meu “namorado” sem chamar a atenção de todos. Eu alternava entre “estou perdidamente apaixonada” e “ainda estou magoada com você” e ele fazia carinhas lindas que derretiam ainda mais o meu coração.
João chegou alguns minutos depois com balde cheio de bebidas. Lana tratou de pegar duas garrafas, uma de cerveja e outra de vodca com limão, estendendo-as para que eu escolhesse.
- Todos vão beber? - Anita falava como se estivéssemos cometendo um crime. Tive medo de olhar para ela e acabar fuzilando a coitada.
- Charlotte tem vinte e um anos. Não é nenhuma criança – me espantei com a intromissão de Alex. Não esperava. Ele tirou a garrafa de vodca da mão de Lana e a estendeu para mim. Nem sei como consegui pegar.
- Alex! Você como professor não deveria...
- Anita, estamos nos divertindo, Charlotte é adulta, madura... Não é como se estivéssemos cometendo um crime. Relaxe! – encostou-se ao meu lado, bateu sua garrafa na minha e bebeu um longo gole. – Não abuse – sussurrou.
- Alex é o típico cara que adora criar polêmica, chamar a atenção para si e assumir causas suicidas – Tiffany sorriu docilmente. Suas palavras poderiam não significar nada, mas eu percebi a ameaça nelas.
- Todos aqui são adultos – Patrick falou defendendo Miranda que também segurava uma garrafa de cerveja. Johnny concordou dando um longo gole na dele.
- Até parece que nós só bebemos quando atingimos a maioridade.
João brincou, Alex e Patrício riram como se estivessem lembrando das suas travessuras de adolescentes.
- Eu me lembro... – João falou mais alto chamando a atenção de todos. Ele abraçou a esposa pelas costas, beijou seu pescoço e sorriu. – Que durante muitos anos eu fui o maior vencedor de esconde-esconde desta família. – Lana riu e concordou com o marido.
- Claro. Você e Lana inventavam esta brincadeira para se esconderem da gente e dar uns amassos. Enquanto Patrício, que era o único que não entendia a finalidade da brincadeira, ficava rodando pela casa à procura de vocês dois – Alex entrou na conversa, assumindo uma postura mais relaxada.
- Ei! Eu nem imaginava que esses dois estavam juntos. Você que sempre foi um idiota que deixava o João se aproveitar da nossa irmã. Não sei o que seria dela se eu não tivesse descoberto este namoro.
- Que absurdo! – Miranda o repreendeu, dando risada. – Já pensou se Johnny resolvesse agir assim comigo?
- Johnny não é seu irmão – Patrício beijou rapidamente a namorada, se divertindo com a conversa.
- Mas é como se fosse. Sou o guardião das duas – meu amigo cruzou os braços no peito.
Patrício não recuou, afinal era muito mais forte, porém aceitou a condição com certo respeito.
- Graças a Deus ele não é como você – Miranda riu empurrando o namorado com o ombro.
- É. Graças a Deus! – Alex falou tão baixo que apenas eu consegui ouvir. Sorri como uma boba.
- Oh, guardião! – Anita provocou. – Então comece a levantar este muro. Sua vigília está muito limitada – foi constrangedor.
Alex respirou profundamente e deu um passo para o lado se afastando de mim. Tive muita vontade de matar Anita. Qual era o problema dela? Ah, tá! Alex era o problema dela. Ou a falta dele em sua cama.
- E o que você fazia, Alex? – Tiffany, toda sorridente tentava chamar para si a atenção do meu “namorado”. – Quando tentava encobrir as escapulidas da Lana? – Alex passou a mão nos cabelos.
Vi os olhos de Tiffany brilharem. Ela também gostava desse gesto nele. Merda!
- Normalmente me trancava em algum lugar e ficava lendo um livro. Paty ficava procurando feito um maluco. Depois de um tempo eu aparecia. Às vezes deixava ele me pegar, outras não dava este gostinho a ele.
- Paty o caralho! – Patrício esbravejou. – Alguém vai acabar se fodendo se continuar falando besteiras por aqui – Alex e João Pedro riram, mas trocaram um olhar cheio de significados. - Você sempre foi magro e veloz – Patrício completou no maior clima “amo a minha vida ao lado da minha família”.
- Ele sempre foi gostoso! – João piscou e mandou um beijo para Alex, que riu e mostrou o dedo do meio ao amigo.
- Eu sempre desconfiei que era de mim que você gostava, João – meu professor brincou.
- Completamente apaixonado! – João agarrou Lana fazendo-a soltar um gritinho.
Apesar da presença de Anita e Tiffany, o clima estava gostoso e descontraído. Todo mundo conversava e ria. Meu pai e o Dr. Frankli estavam bastante entrosados e minha mãe e Dandara pareciam amigas de infância. Alex evitava olhar em minha direção, mas muitas vezes falhava e eu precisava fingir não notar, apesar de adorar. Depois do que Anita falou era melhor não abusar muito.
- Tive uma ideia – Patrício começou. – O que acham de brincarmos agora?
- Não! Você está falando sério? – Lana pulou como uma criancinha. – Eu vou amar.
- Ninguém cresceu nesta família? – Tiffany ria já entusiasmada.
- Pelo amor de Deus! Vocês vão mesmo correr e se esconder como crianças? – Anita não estava tão empolgada. Aliás, ela era uma chata de galocha.
- Tô dentro! – Alex colocou a garrafa sobre a mesa, decidido a começar a brincadeira. – Para não perdermos o costume, Patrício começa contando.
- Não vale. Isso é injusto!
Patrício tentou protestar, mas todo mundo imediatamente saiu correndo, rindo feito crianças.
Ainda tive tempo de ver o namorado da minha amiga, virar de costas e iniciar a contagem.
Ai, meu Deus! Para onde eu iria se não conhecia a casa? Miranda correu na frente e Johnny sumiu no primeiro minuto. Fiquei algum tempo parada, de frente para um corredor, sem saber o que fazer. Foi quando aquelas mãos... as mesmas que me faziam entrar em combustão espontânea, me seguraram com força pela cintura me puxando para um local entre as flores.
Não tive tempo de questionar. Alex segurou em minha mão e me puxou para outro corredor, passando por várias portas, parando na frente de uma delas. Rapidamente me puxou para dentro. O
quarto escuro era pequeno e abafado. A única iluminação era a que entrava por baixo da porta.
Não consegui nem pensar em tentar descobrir onde estávamos. Ele me imprensou contra a parede ao lado da porta, colando seu corpo ao meu. Suas mãos passeavam por minha pele e seus lábios famintos exigiam os meus.
Alex vagou suas mãos explorando-me sem o menor pudor. Puta merda! Eu fiquei completamente acesa. Era o poder dele sobre mim. Não precisava falar, nem pedir nada, bastava que me tocasse, me tomasse para si com força, desejo e paixão então eu estava totalmente entregue.
- Charlotte! – reverenciou meu nome quando liberou meus lábios. – Quanta saudade!
Meu coração disparado não conseguia encontrar o compasso adequado. Era bom demais ouvi-lo me chamando daquela forma apaixonada, principalmente depois da noite anterior, depois de eu ter pensado que meu coração seria esmagado. Era absurdamente encantador quando ele expressava seus sentimentos. Eu também estava louca de saudades.
- Alex! – reagi puxando-o para mim. – Oh, Deus!
Ele atacava meu pescoço enquanto me mostrava o quanto havia sentido a minha falta. Claro que não perderia a chance de demonstrar sua excitação, roçando descaradamente sua ereção em mim.
- Pare com isso!
Eu pedi, confesso que não muito convicta. Minhas mãos não abandonaram seu corpo e meus quadris... Bom, não se absteve de continuar rebolando de encontro à ereção do meu professor. Alex gemeu fazendo com que todo meu interior começasse a pulsar.
- Eu precisava te beijar. Estava enlouquecendo.
- Ainda estou com raiva de você – até tentei ser firme, no entanto minha voz cheia de desejo me entregou. Ele riu baixinho.
- Não tenha – sussurrou. – Só existe você em minha vida.
Porra! Por que ele dizia aquelas palavras justamente quando meu corpo não queria outra coisa que não fosse o meu professor. Eu fiquei mole imediatamente.
- Você não presta, Alex! Fala assim porque sabe que com isso consegue me enganar – ele roçou a ponta do nariz até a minha orelha, onde depositou um beijo delicioso.
- Eu falo porque é a mais pura verdade – sussurrou passando uma mão por dentro da minha camisa. Oh, droga! – Sinto a sua falta – revelou voltando para os meus lábios, beijando-me com doçura e paixão.
- Como pode sentir minha falta se esteve comigo ontem? – e a imagem de Tiffany saindo da sua casa preencheu minha mente fazendo tudo girar.
- Não da forma como eu queria.
- Porque você preferiu ser um idiota – ele riu baixinho e fez a minha pele se arrepiar.
Então Alex se afastou. Quase protestei. Quase. Era arriscado demais continuarmos.
- Anita e Tiffany estão me deixando louca!
Continuei me afastando ainda mais. Começava a aceitar que ficar com ele em um espaço tão reduzido e escuro era muito mais perigoso do que ser surpreendida pelas outras pessoas.
- Elas só estão tentando chamar a minha atenção.
Alex me cercou com seus braços me puxando de volta. Senti meu sangue ferver. Uma sensação estranha que esquentava e pinicava, começou a se instalar em meu ventre.
- E você está adorando – dei um tapa em seu ombro insinuando que me livraria de seus braços.
Alex riu e me puxou para um beijo delicioso.
- Estou adorando contar os segundos para ter você só para mim.
Era o que me bastava para sentir cada célula do meu corpo queimar. Naquele dia eu seria dele.
Da maneira mais completa e prazerosa possível. Pelo menos era o que eu esperava.
- Como faremos? – não havia mais nenhuma resistência da minha parte. Eu estava completamente entregue.
- Lana vai nos ajudar, agora fique caladinha porque assim ganharemos mais tempo escondidos – e ele me beijou da maneira Alex Frankli.
Foi quando a porta se abriu e a claridade preencheu o ambiente. Não sei como, nem de que forma, rapidamente eu estava sentada em uma ponta do banco de concreto enquanto Alex estava paralisado na outra. Não olhamos um para o outro, havia uma tensão tão grande no ar que quase podíamos tocá-la.
Tiffany entrou cautelosamente. Primeiro viu Alex e sorriu então ela se deu conta da minha presença. Eu podia ouvir as engrenagens do seu cérebro contando um mais um e encontrando rapidamente a resposta: Eu e Alex.
Sou covarde. Sempre fui. Naquele instante minha única reação foi olhar para o meu professor, tentando encontrar uma saída. Então o vi com uma perna estendida e a outra dobrada, bem relaxado, a mão passava lentamente na lateral do cabelo. Ele sorria, magnificamente, não para mim e sim para ela. Ele sorria daquela sua forma lasciva para Tiffany.
Puta que pariu!
As lembranças me invadiram sem dó nem piedade e eu me vi outra vez observando o momento em que o guarda-chuva não me deixou ver o que eles faziam, lembrando-me claramente do sorriso de vitória da minha rival quando deixou a casa do meu professor.
Então vi a expressão da mulher se modificando enquanto percebia o que ele fazia. Tremi. De raiva e de medo. Que grandessíssimo filho da puta!
- Patrício está por aí? – perguntou sem desviar os olhos dela.
- Não. Ele conseguiu pegar Anita, que tinha ido pelo outro lado – ela sussurrou.
- Podemos sair? Teremos que ser rápidos – ainda sorria sedutoramente, como se suas palavras não expressassem o que realmente queria dizer.
Que ódio!
- Acho que sim – ela sorriu como uma menina travessa. – Seremos rápidos.
- Ótimo! – Alex levantou e passou por Tiffany da maneira mais cafajeste possível. – Charlotte, você vem?
Queria poder gritar “Vá à merda!”, infelizmente minha covardia não me deixava ir tão longe.
Apenas levantei e passei por eles.
Andamos pelo corredor estreito. Eles como se quisessem continuar escondidos, eu como se tivesse perdido o gosto pela brincadeira. Tiffany olhou para a área da piscina, voltou-se para Alex e fez um sinal de positivo, depois avançou e correu. Alex se preparou, mas antes de correr atrás de Tiffany me segurou com força, enquadrando meu rosto com as mãos selou meus lábios com um beijo.
- Vejo você mais tarde – e correu.
Puta merda! O que foi aquilo?
Alex
Corri atrás de Tiffany decidido a resolver aquele problema de uma vez por todas. Não poderia mais ficar brincando de gato e rato, escondendo de todos o que eu sentia. Porra! Eu tinha trinta e cinco anos. Era um homem independente, decidido e apaixonado. Não precisava esconder meus sentimentos de ninguém.
O único problema era Charlotte. Como assumir sem prejudicá-la? A resposta estava formada antes mesmo que eu me desse conta. Começaria por Tiffany, terminaria em Peter, passando antes por Anita.
Chegamos ao ponto de partida quando Patrício voltava correndo para a área. Ele nos viu e levantou as mãos se rendendo. Rimos. Tiffany segurou em meu braço se apoiando em mim. Ela queria mais intimidade.
- Tiffany, podemos conversar um instante? – vi seus olhos brilharem.
- Claro, Alex! – sorriu com a educação clássica que sustentava.
Olhei para o lado e vi que Charlotte ainda não tinha voltado. Era a minha chance. Indiquei o caminho, apoiando minha mão nas costas de Tiffany e saímos juntos em direção ao escritório do meu pai. Era um território neutro e eu poderia conversar com ela sem maiores problemas.
Charlotte
Quando consegui voltar ao normal depois do quase flagrante, resolvi aparecer. Para mim a brincadeira já tinha acabado. Estava muito confusa com as atitudes do Alex. O melhor a fazer era sumir por um tempo. Talvez o quarto fosse um bom lugar para me esconder e aguardar o que ele faria.
Quando me virei para área da piscina vi o que acreditava ser impossível. Alex saía do local com Tiffany, tocando em suas costas e conduzindo-a para algum lugar daquela imensa propriedade.
O que estava acontecendo com aquele cara?
Tive vontade de segui-los e descobrir o que Alex estava aprontando, porém meu orgulho falou mais alto do que minha raiva. Se era ela quem ele queria, era com ela que deveria ficar. Virei para o lado e saí em direção ao quarto.
Assim que cheguei, peguei o computador e comecei a escrever. Prometi a Lana um final em que os dois se separavam, então por que não começar a escrever o fim daquela história?
Capítulo 28
“Os sentimentos verdadeiros se manifestam mais por atos que por palavras.”
William Shakespeare
Alex
Tiffany me olhava com olhos marejados, mantendo a compostura, mas eu sabia que estava destruída por dentro. Meu plano inicial, quando ela entrou na sauna, era fingir que ainda tinha interesse nela, assim tiraria seu foco da minha namorada. Mudei de ideia em seguida, quando percebi que Charlotte tinha ficado magoada e com toda a razão. Eu odiaria se ela fingisse interesse no Johnny, ou no Henrique, por exemplo, só para salvar a minha pele.
Então decidi que era hora de Tiffany saber de tudo. Lana estava pronta para minha decisão.
Havia dito a ela que se tudo desse errado eu deixaria o cargo de editor-chefe e ela assumiria. Assim conseguiríamos manter a integridade da carreira de Charlotte.
Minha irmã não foi contra o meu plano. Ela entendia meus motivos e sabia que há muito eu almejava ter mais tempo para cuidar dos meus próprios interesses. O cargo era perfeito para ela, eu o exercia apenas porque era o acionista majoritário.
- Você sabe que pode estar jogando o seu nome na lama, não sabe? – Tiffany me alertou.
- Não. Eu e Lana estamos organizando as coisas para que nada de errado aconteça.
- Alex, ela é uma menina e é sua aluna, você é o orientador dela neste projeto! Você ofereceu a primeira oportunidade a uma novata, uma desconhecida que o mercado nem tem ideia de quem é. Já imaginou o que a mídia fará com estas informações? O sonho dela poderá ser destruído.
- Eu sei muito bem disso, Tiffany. Vamos trabalhar para controlar os danos.
- Pense bem. Não estou te pedindo para não ficar com a menina, apenas que pense primeiro nela e não em você. A crítica vai destruir a garota. Não seja tão irresponsável!
Naquele momento eu perdi o foco da conversa. Tiffany estava coberta de razão. Se as pessoas descobrissem que Charlotte e eu estávamos juntos enquanto ela escrevia seu material, minha namorada ficaria desacreditada. Não seria reconhecida por seu potencial e capacidade e sim pelo seu relacionamento com o proprietário da editora.
Droga! Eu estava sendo extremamente egoísta embora não pudesse voltar atrás. Não mais.
Nunca conseguiria me afastar. Mesmo que significasse me anular para que ela pudesse brilhar. Eu estava apaixonado! Não! Muito além disso. Estava amando. E amava tanto que não conseguia mais ver a minha vida sem aquela garota.
Tiffany podia ver Charlotte como uma menina, uma garota inexperiente que “virou” a cabeça do seu professor, mas eu não. Charlotte era uma linda mulher! A mais forte e decidida de todas. Ela sabia o que queria, não hesitou nem se acovardou, correu atrás do seu sonho e conseguiu. Não importava os meios que utilizou, eu me orgulhava muito dela.
- Tiffany, eu... Eu amo a Charlotte. Queria que tudo tivesse acontecido de outra maneira, infelizmente não posso modificar nada. Aconteceu – ela fechou os olhos retendo as lágrimas. – Eu sei o quanto é difícil para você, mas não conseguiria continuar escondendo. De uma maneira ou de outra, você acabaria sabendo. Então que fosse por mim.
- Obrigada, Alex! – limpou uma lágrima que escorreu pelo canto do olho.
- Eu preciso te pedir uma coisa. Sei que não é justo, mesmo assim tenho que pedir.
- O que quiser.
- É necessário que mantenha esse segredo com você. Eu ainda tenho coisas a fazer e soluções a dar, preciso que me ajude a não deixar esta história vazar. Sei que os repórteres vão procurá-la em busca de alguma declaração sobre a autora desconhecida. Por favor, não diga nada a eles. Eu pretendo esperar até que Charlotte esteja formada para tornar nosso romance público.
Tiffany mordeu os lábios, mantendo o olhar baixo. Eu jamais pediria aquilo a ela se não conhecesse a sua integridade. Apesar de ser uma mulher apaixonada, era sensata. Sua classe nunca lhe permitiria entrar num jogo de intrigas.
- Tudo bem, Alex. Eu não direi nada. Também não negarei. Este é um problema que você está causando, apenas você poderá resolvê-lo. Quanto a mim, fique tranquilo. Não deixarei que ninguém saiba o que aconteceu.
- Obrigado!
Saímos do escritório e Tiffany tratou de sumir rapidamente. Imaginei que ela não suportaria ficar ao meu lado sabendo que eu nutria por outra pessoa o amor que ela tanto desejava. Não quis perder muito tempo pensando no assunto. Precisava encontrar João e resolver mais um ponto desta história.
Charlotte
Escrever sempre foi uma forma de fugir da realidade. Eu me entregava tanto aos personagens que durante horas esquecia completamente de mim e da minha própria vida. Consequentemente de Alex, Tiffany... Digitei deixando que toda a minha raiva esvaísse em palavras.
Gostaria de poder matar as personagens, ou a idiota da mocinha apaixonada pelo crápula.
Como sabia que não poderia satisfazer minha vontade, separei os dois e dei-lhes muito sofrimento.
Ok! Estava completamente pirada me vingando em minhas pobres personagens. Talvez quando a raiva passasse e Lana aparecesse para me buscar para a tão fatídica noite, sim, porque eu teria aquela noite, Alex sendo um idiota ou não, eu perderia a minha virgindade, eu estivesse mais calma e conseguisse pensar com mais maturidade.
Olhei pela janela e vi que o céu estava negro. Era dia ainda, mas a chuva que prometia cair deixava tudo na maior escuridão. Ouvi uma batida em minha porta. Era minha mãe.
- Todo mundo está te procurando para o almoço.
- Estou sem fome, mãe - desviei meu olhar para tela. Não queria que ela descobrisse o que me afligia.
- Você precisa comer. Como vai escrever se começar a desmaiar na frente do computador – sorri. Minha mãe era incrível!
- Ok, Dona Mary, eu vou almoçar!
Acompanhei minha mãe até a mesa enorme onde estavam todos. Anita e Johnny já comiam, enquanto Miranda e Patrício brincavam de colocar comida um no prato do outro. Meu pai e o Dr.
Frankli conversavam sem parar. Alex, Lana e João pareciam tensos. Tiffany, cabisbaixa, mexia no prato sem muito interesse.
Estava tudo muito estranho!
- Qual delas você quer que eu mande seu pai matar primeiro? – minha mãe sussurrou ao meu lado.
Alex me olhou e sorriu com doçura. Aquele Alex, apaixonado, meigo e doce, não se parecia em nada com o que tinha sumido com Tiffany, algumas horas atrás. Merda! Ele me deixava confusa.
Sorri para a minha mãe disfarçando o meu nervosismo.
- Ah, mãe! O que é a vida sem um pouco de concorrência, não? – ela sorriu orgulhosa e me acompanhou para fiscalizar de perto minha alimentação.
Ela nunca deixaria de ser a mãe protetora, mesmo sendo mais amiga e sensata, ainda era a minha mãe. Por isso tratou de colocar em meu prato todas as verduras possíveis. Alex acompanhou a nossa disputa de perto. Rindo e incentivando-a. Minha vingança veio quando ela resolveu que Dandara tinha razão, Alex estava magro, então deveria se alimentar melhor também.
Sentamos um ao lado do outro. Alex comeu tudo o que minha mãe colocou em seu prato e aceitou uma parte da minha comida, mesmo que escondido. Não estava com apetite para o tanto de comida que minha mãe gostaria que eu comesse.
Mesmo com ele ao meu lado, e com toda a atenção que fazia questão de me dar, eu sabia que alguma coisa estava errada. Anita estava muito quieta, Tiffany comeu e desapareceu com cara de quem não gostou. Lana conversava baixinho com João Pedro. Também parecia inconformada com algo.
- Podemos trabalhar no seu livro hoje? – Alex me pegou de surpresa com a pergunta. Todos estavam muito próximos, então não era propriamente confidencial.
- Claro! – meu rosto ficou vermelho, o calor se espalhando por todo ele, ao perceber meu pai me olhando com interesse. – Deixei o computador em meu quarto.
- Então me encontre no escritório do meu pai. O meu está lá. Vamos terminar esta etapa, certo?
– ele falava como meu professor e orientador. Não havia nada de errado ou dúbio em suas palavras.
Anita levantou e saiu da sala. João e Alex trocaram um olhar cúmplice e Lana parecia não concordar com nada do que estava acontecendo. Eu continuava confusa e irritada, por outro lado, ficar algum tempo sozinha com Alex poderia ser esclarecedor. Então levantei decidida a buscar o meu computador e acabar logo de uma vez por todas com aquelas dúvidas.
Não demorou mais do que dois minutos para Lana aparecer no quarto. Ela parecia desconfiada e seu olhar deixava claro que havia um problema. Meu coração acelerou só de imaginar o que ela iria me dizer.
- O que aconteceu? – minha voz ficou miúda. De alguma forma eu sabia que estava relacionado a mim e a Alex, e que não seria nada bom.
- Não sei. Talvez você possa me ajudar a descobrir – ela passou por mim em direção ao meu computador. – O que você fez? – me encarou como se estivesse me acusando.
- Não estou entendendo, Lana. Se você está perguntando sobre o livro, escrevi o capítulo alternativo, inclusive enviei para você antes do almoço.
- Eu recebi, mas, com certeza, não pode ser isso – ela olhou pela janela, pensativa.
- Lana, eu não estou entendendo. O que...
- Alex entregou a orientação do seu trabalho ao João.
- O quê? – fiquei tão assustada que não consegui me concentrar no que ela dizia. – Como assim entregou a orientação do meu trabalho?
- Ele pediu ao João para assumir a orientação do seu trabalho. Eu só queria saber o motivo para ele fazer isso. O que você fez?
- Eu não estou entendendo – repeti como se fosse um mantra. – Não estou entendendo, Lana.
Alex acabou de me pedir para levar o computador para trabalharmos no livro. Eu não entendo.
- Alex está estranho, ele...
- Lana! – falei mais alto tentando fazê-la parar. – Eu preciso de um tempo, por favor! Tenho que encontrar Alex para conversarmos. Prometo que, quando tudo estiver esclarecido, contarei a você.
- Tudo bem, Charlotte! Desculpe, eu não quis te aterrorizar, estou apenas preocupada, não quero que o elo entre vocês se desfaça. Se Alex...
- Por favor! Não quero conversar sobre nada enquanto ele não me explicar o que está acontecendo. Por favor!
- Tudo bem! Tudo bem!
Lana saiu do quarto. Eu não estava em condições de decidir nada. Andei de um lado ao outro buscando respostas e a única que conseguia encontrar era a mais óbvia de todas: Alex estava jogando comigo. Eu o vi saindo com Tiffany, flertando com a sua “escritora favorita” e, logo depois, vem a notícia de que tinha entregado meu trabalho, o mesmo que nos uniu, o mesmo pelo qual tínhamos feito tantas loucuras e que nos levou até aquele ponto.
Ele simplesmente abriu mão de seguir comigo até o final do projeto?
Eu precisava colocar para fora todas as mágoas. Precisava cobrar dele as respostas. Não poderíamos dar mais nenhum passo sem antes esclarecer tudo.
Sair do quarto foi o mais difícil. Eu queria confrontá-lo embora temesse a forma como tudo acabaria. Sabia o que sentia por ele, seria doloroso demais descobrir que tudo não havia passado de uma farsa, uma brincadeira de mau gosto. Estava com muito medo de descobrir a verdade, infelizmente não tinha outra alternativa.
Abri a porta e dei de cara com a pessoa mais improvável. Tiffany, parada diante de mim.
- Tiffany?
- Charlotte, podemos conversar?
Avaliei seu semblante. Ela não parecia estar com raiva nem disposta a criar qualquer tipo de confusão, mesmo assim eu não tinha a mínima vontade de perder o meu tempo conversando com ela.
- Desculpe, mas preciso resolver um problema.
- Um problema chamado Alex? Eu já sei de tudo – meu rosto deve ter demonstrado minha surpresa. – Não se preocupe. Ele mesmo me contou e é por isso que estou aqui – sorriu.
- Alex... O quê? – pelo amor de Deus! Não poderia ser mais confuso.
- Vamos dar uma volta, assim poderemos conversar melhor.
Caminhamos pelos jardins da casa, nos afastando um pouco. Tiffany parou próximo a uma cerca, onde alguns cavalos corriam. Um celeiro encobria a nossa imagem nos dando maior liberdade.
- Alex me contou o que está acontecendo entre vocês. Não sei porque ele decidiu me contar, o fato é que contou – fiquei calada aguardando o que diria, Tiffany não parecia querer atacar. – Vamos ser colegas de editora e é importante que tenhamos uma convivência no mínimo cordial. Não se preocupe da minha parte não será diferente.
- O que você quer de mim? Nós estamos aqui para definir os limites da nossa relação? – ela riu e passou a língua pelos lábios.
- Você está certa, Charlotte. Então vamos direto ao ponto. Você sabe que eu e Alex tivemos um relacionamento - ela esperava que eu confirmasse, mas eu não o fiz. Apenas me esforcei para não demonstrar a dor que me causava aquela afirmação. – Eu não vou falar disso. Sempre soube o que Alex... ele sempre deixou bem claro o que queria. Com certeza tem sido assim com você também.
Nosso editor não perde tempo sustentando algo que não quer ou não pode dar – continuei encarando-a fixamente, com os braços cruzados no peito. – O que talvez não saiba, e é exatamente sobre o que eu quero falar, é que Alex joga muito bem. Ele sabe o que deve ser feito quando o assunto é a editora.
É por isso que eles se mantêm em primeiro lugar há tanto tempo. Alex é o perfeito investidor.
- Vamos direto ao ponto, Tiffany!
- Tudo bem. Alex está usando você – ri com ironia. – Eu não estou dizendo que ele não goste de você. Até acredito que goste, mas ele vai fazer o que for necessário para manter o nome dele longe de toda essa sujeira que é o relacionamento de vocês.
Certo! Enfim ela me atingiu. Simplesmente porque era assim que eu nos via nos últimos momentos. Alex agindo para encobrir a realidade e entregando o meu projeto a João Pedro. Alex flertando com Tiffany para desviar a atenção de mim. Ele realmente faria de tudo para resguardar sua imagem.
- Deus! Você já descobriu a verdade, não é? Charlotte, eu não estou te contando isso por despeito. Juro que não! Tudo bem que eu realmente queria que ele ficasse comigo. Quem não iria querer? Alex é tudo o que uma mulher quer e sabe o por quê? Porque ele sabe exatamente o que cada mulher precisa.
- Do que você está falando?
- Seu livro. Ele acredita mesmo nele. Lana está super entusiasmada. Lógico que ele não poderia perder você para outra editora. Foi o meu caso. Ficamos juntos até que o meu nome estivesse estabilizado e dependente do meu contrato com eles. Ele está fazendo o mesmo com você – não havia nada de apelativo em seu rosto. Nada que indicasse não dizer a verdade.
- Que absurdo! – mas eu já estava convencida.
- Não é um absurdo, Charlotte. Eu já disse: acredito que ele sinta algo por você, mas Alex é um homem capaz de passar por cima de qualquer coisa para manter o negócio da família.
- Não quero ouvir mais nada, Tiffany.
- Então me explique porque ele mantém Anita em “banho Maria”? Por que simplesmente não diz a ela que está com você? Porque sabe que minha prima destruiria a carreira dele. Sabe que se ela descobrir e resolver abrir a boca ele tem muito a perder. Seu trabalho ficará desacreditado e o dele também. Você não será mais tão lucrativa.
- Chega!
- Estou te avisando porque o mundo não precisa de mais uma Tiffany – parei chocada com a sua revelação. – Ninguém precisa de mais uma escritora sofrendo pelo seu editor, sonhando com o dia em que ele voltará a enxergá-la. Dê continuidade aos seus planos. Faça como quiser. Mas faça sabendo onde está se metendo.
- Considero-me avisada. Agora me dê licença.
Dei as costas e saí sem olhar para trás. Meu dia estava se tornando um inferno. Somente Alex teria o poder de me tirar dele ou de me jogar, de uma vez por todas, em suas chamas. Caminhei pela casa sem me importar com os olhares curiosos. Miranda me chamou, mas eu estendi a mão demonstrando que não queria ser detida naquele momento. Nada me impediria de esclarecer tudo como o meu professor.
Minha mãe me olhou curiosa, não dei atenção ao que ela fazia, apenas andei com passos firmes e seguros em direção ao escritório do Dr. Frankli para encontrar o seu tão querido filho. Um idiota, cretino, filho da puta de último calibre. Parei assim que me aproximei da porta. Ouvi a voz de Anita, rindo e a de Alex acompanhando a alegria dela. Congelei.
- Sério que você pensa isso mesmo de mim?
- Claro! – a voz dele estava incrivelmente sedutora.
- E o que você faz com Charlotte Middleton? – Alex ficou calado por um tempo, logo depois riu.
- Charlotte é um caso complicado de explicar, Anita.
- Ah é?
- Sim. Muito diferente de você, que eu sei exatamente como resolver.
- Mesmo? Como?
- Bom... Podemos discutir isso em algum lugar afastado daqui. O que acha?
- Alex! Você sempre me surpreende.
Não esperei para ouvir o que ele diria. Para mim estava tudo muito claro. Alex era um canalha.
Um imbecil sedutor. Manipulador. Tiffany tinha razão, ele não media esforços para atingir o seu objetivo.
Corri para o quarto sem saber ao certo o que fazer. Minha vontade era fugir. Ir embora sem falar com ninguém infelizmente não poderia. Meu pai estava lá e permitir que ele descobrisse só tornaria tudo muito mais difícil. Se bem que Alex merecia ter a arma do Peter apontada em sua direção.
Olhei para o meu computador e tive vontade de atirá-lo na parede. Ouvi uma batida leve na porta, o que freou meus impulsos destruidores.
- Entre!
Respirei fundo tentando manter a calma para não acabar alertando alguém sobre que aconteceu.
Não acreditei quando vi quem abria a porta e entrava no quarto.
- Oi! – seus olhos demonstravam constrangimento e seu semblante parecia cansado. Mesmo assim ele tentou sorrir.
- O que você quer, Alex? – minha raiva o pegou de surpresa.
- Charlotte? – rapidamente ele estreitou os olhos e passou a mão pelo cabelo, demonstrando entender o que acontecia – Eu sei que você deve estar pensando um monte de coisas...
- Estou. Você realmente me deu muitas coisas para pensar.
- Charlotte, por favor...
- Não.
Apontei um dedo em sua direção para silenciá-lo. Fiquei incrivelmente surpresa com a minha calma. Não alterei a voz, não gritei, nem chorei. Comecei a falar claramente para que não restassem dúvidas.
- Eu já entendi. Não precisa explicar. Vou facilitar as coisas para você. É o livro que quer? Ele é seu. Não precisa mais fingir, nem tentar me enganar, muito menos andar na corda bamba para manter a sua adorada carreira à salvo. Você está livre, Alex. Tem a minha palavra de que nunca falarei nada sobre o que aconteceu entre nós dois. Apenas me deixe em paz!
- Charlotte, o que você está dizendo? – ele parecia indignado.
- Você entendeu muito bem. Acabou!
- Acabou? – me olhou assustado.
- É. Acabou.
Alex abriu e fechou a boca várias vezes, sem saber o que dizer. Caminhou pelo quarto, passando as mãos pelos cabelos os olhos fechados como se buscasse pelo próprio equilíbrio.
- Você é muito infantil! – disse finalmente.
- Eu o quê? – não conseguia acreditar no que ele estava me dizendo.
- Isso mesmo, Charlotte Middleton. Você é infantil e irritante. Entende tudo errado. Tira as suas próprias conclusões. Não dá para ser madura pelo menos uma vez? Eu estou exausto. Esgotado de tanto procurar um jeito de salvar as nossas peles e você procurando tornar tudo mais difícil – eu via a raiva contida em suas palavras mesmo assim não recuei.
- Ótimo! Chegamos a uma conclusão. Somos incompatíveis. Eu sou infantil e você é um canalha – disparei.
- Meu Deus! Será que você...
Ele ia falar, mas o celular vibrou em seu bolso. Alex parou na hora, praguejando, deixando claro que já sabia do que se tratava. Olhou para a tela e depois para mim. O rosto cheio de culpa.
- Charlotte, eu preciso ir – ri indignada. Eu sabia muito bem para onde.
- Você vai mesmo sair com Anita?
Eu deveria xingá-lo, bater nele e expulsá-lo do quarto, porém o fato de saber que ele me deixaria sozinha para se encontrar com aquela mulher, fazia com que eu me sentisse tão rejeitada que doía. Era impossível controlar a minha raiva.
- Vou. Eu preciso levá-la daqui até conseguir resolver...
- Vá para a merda! – explodi.
- Puta que pariu! Será que você não ouve nada do que eu falo?
- Quero você longe de mim. Agora!
- Tudo bem. Eu vou. Esfrie a cabeça. Conversaremos quando eu voltar.
- Fique longe de mim – sibilei.
- Tenho que ir, Charlotte. Não dá para conversar com você nesse estado – ele me olhou com amargura, deu as costas e foi embora.
Tive vontade de morrer. Queria sumir, ir para bem longe, ser esquecida, não queria estar presente quando ele voltasse do encontro com Anita. Seria insuportável. Olhei pela janela. A chuva se aproximava com rapidez. Queria que ela me afogasse.
A decisão chegou com tanta força que só me dei conta quando corria em direção ao celeiro.
Um rapaz jovem e magro cuidava de um lindo cavalo negro. Era exatamente do que eu precisava.
Alex
A chuva forte quase não me deixava dirigir de volta para o rancho. Anita tinha ficado furiosa comigo. Não a culpo. Eu fingi, enganei e manipulei muitas pessoas para conseguir limpar a barra da Charlotte. E a maluca ainda teve um ataque de ciúmes me acusando de ser um canalha. Puta que pariu! Eu queria um pouco de sossego, um dia dedicado exclusivamente para mim, bem longe desse bando de mulheres loucas e inconstantes.
Se João tivesse conseguido fazer o que eu pedi, tudo daria certo. Anita com certeza aprontaria alguma, a julgar pela sua reação explosiva, mas se João conseguisse, eu não precisaria mais me preocupar com ela. Queria poder me concentrar apenas em Charlotte e esquecer o restante.
A chuva caía com tanta força que me forçava a dirigir lentamente. Eu queria chegar logo para esclarecer tudo. Ainda precisava conversar com Peter. Antes seria melhor contar a Charlotte e torcer para que acreditasse em mim.
- Você sabe que sua carreira já era?
- Não. Não vejo motivo para destruir a minha carreira só porque me apaixonei.
- Por uma aluna, Alex! Você não consegue compreender a gravidade? O mundo inteiro vai cair em cima de vocês.
- Nós somos adultos e responsáveis pelas nossas atitudes. Não queira tornar tudo como se ela fosse uma garotinha e eu um aliciador de menores.
- Não importa. Charlotte é sua aluna, sua orientanda. O que você fez? Tiffany me contou do interesse em lançar o livro da garota. É uma troca? Um jogo de marketing? O que é? Porque eu definitivamente não entendo.
- Que criatividade! – resmunguei incomodado. No fundo eu sabia que aquilo aconteceria.
- O que ela tem? Sério, Alex! O que Charlotte tem de tão interessante? – tive vontade de responder que exatamente tudo o que ela não tinha, no entanto preferi ficar calado. – É por que ela é rica, é isso?
- Pelo amor de Deus, Anita – rosnei sentindo minha paciência escoando junto com a chuva.
- É o que então? Um homem como você não pode me convencer que gosta mesmo de uma garota tão... Sem sal, sem nenhum atrativo.
- Charlotte tem todos os atrativos necessários para me fazer querê-la. Ela é esplêndida, inteligente, determinada... Ele é quem eu quero.
- Então é fetiche? Uma menina novinha que caiu em seu colo como um presente. Eu entendo, Alex. Entendo mesmo, mas daí você fazer tudo o que está fazendo não é um pouco demais? Uma coisa é diversão e outra é compromisso.
- Ela não é uma diversão. Qual é o seu problema? – fui um pouco mais rude, visivelmente incomodado com tudo o que ela dizia. - Anita, eu sei de todos os riscos. Charlotte também e nós dois decidimos que queremos ficar juntos.
Não aguentava mais aquela conversa. Não suportava mais as ameaças, as tentativas de me fazer enxergar a situação. Ninguém era capaz de entender que eu não conseguia mais viver longe dela?
Podia ser egoísmo, suicídio profissional, o diabo a quatro. Para que serviria tudo se eu não pudesse ter Charlotte ao meu lado?
- O professor Carvalho não vai aceitar. Ele não aceitará o trabalho dela. Não quando existem fortes indícios de que houve a sua intromissão no desenvolvimento. Você favoreceu uma aluna porque existia uma relação entre vocês dois. Está dormindo com a sua orientanda, não vai conseguir convencer ninguém de que a reprovaria se fosse necessário.
- Vamos deixar que cada um tome sua própria decisão, certo? No momento, eu decido me casar com Charlotte – entrei na propriedade da minha família. A chuva castigava o chão fazendo tudo se transformar em lama.
- Casar? – ela ofegou.
Olhei para Anita sem acreditar em sua reação. Ela não era nem apaixonada por mim para tentar com tanto empenho me impedir de fazer o que pretendia.
- Anita! Você é linda! É inteligente. Por que não se permite ser feliz também? Eu não sou, nunca fui e nunca serei o cara certo para você.
- Não seja ridículo! Você nunca sequer me deu uma chance de descobrir isso.
- Vá por mim, foi melhor assim – estacionei agradecendo por poder ficar longe dela.
- Vamos fazer diferente – parei olhando-a sem entender que tipo de proposta ela poderia me fazer. – Você me dá uma chance. Uma única noite. Ninguém precisa ficar sabendo, e depois disso poderemos decidir o que fazer. Charlotte é uma menina, Alex – sua voz mudou de tom, tornando-se mais baixa, mais sensual. – Eu... – se aproximou sedutoramente. – Sou uma mulher e só preciso de uma noite para te provar isso – não dava mais para conversar. Anita que ficasse sozinha com suas loucuras.
- Anita, eu amo a Charlotte. Jamais trairia a confiança dela para comprar o seu silêncio.
Ela se afastou me olhando como se estivesse indignada. Como se fosse um absurdo eu negar a sua oferta, e eu sabia que aquele foi o ponto em que ela decidiu que se vingaria. Anita não deixaria barato.
- Vamos. Tenho muitas coisas para resolver – abri a porta do carro e corri na chuva. Ela veio correndo atrás de mim, gritando e praguejando contra a água que descia forte, nos encharcando.
Assim que entrei vi que alguma coisa estava errada. Todos estavam na sala. A expressão de Mary era de sofrimento. Droga! Imediatamente soube que era algo relacionado a Charlotte. Lana e minha mãe vieram em minha direção.
- Onde você estava? – Lana me censurou.
- Charlotte está desaparecida – minha mãe não estava preocupada com o que eu estava fazendo e sim com o fato de a minha aluna ter sumido. – Pensamos que ela estivesse com você. Seu telefone só dava caixa.
- O quê? Como? – perguntei angustiado. Anita riu cinicamente atrás de mim e minha mãe estreitou os olhos imaginando que estávamos juntos. Mulheres! – O que aconteceu?
- Tentamos encontrá-la, mas a chuva apagou o rastro – meu pai apareceu na sala com a roupa molhada e o celular na mão. – A polícia não tem como chegar aqui. Também informaram que devido à chuva, ela pode ter se abrigado em algum lugar seguro. Precisam de 24 horas para começar as buscas.
- Eu vou atrás da minha filha. Ela não pode estar muito longe – Peter já estava se aprontando para sair quando João, Johnny e Patrício entraram completamente molhados.
- E então? – Mary avançou para eles esperançosa.
- O rio transbordou. Não tem como passarmos para o outro lado, onde ela provavelmente deve estar – João olhou para mim, preocupado.
- O que deu nela? – Mary choramingou e Lana me acusou com os olhos.
- Eu vou encontrar aquela destrambelhada – Peter estava decidido.
- O que podemos fazer? Acreditam que dá para atravessar com o jipe? – perguntei aos rapazes tentando traçar uma estratégia de busca.
- Duvido muito. O jipe não é 4X4, teremos que encontrar outra maneira – Patrício respondeu pensativo. Notei quando Miranda se aproximou segurando na mão dele e o meu irmão a apertou transmitindo confiança. Bom... Pelo menos os dois estavam dando certo.
- Se é impossível ir a cavalo ela não conseguirá voltar também – Johnny tentava colaborar. – E
já está anoitecendo.
- Com toda essa chuva é bem provável que o cavalo tenha se assustado e fugido – João me olhou cúmplice. – Temos que pensar em todas as possibilidades – admitiu sem se deixar abater pelo choro das mulheres.
- Tem alguma estrada para o outro lado do rio? Mesmo que distante, é melhor do que ficarmos aguardando – Peter se juntou ao grupo. Ele era decidido e forte. Poderia ser útil.
- Nenhuma. Pelo menos nenhuma perto o suficiente e nem sabemos como estão as estradas. Só pelo rio mesmo – João informou. – E não dá para passar.
- João, eu vou tentar. Não sei como, mas vou. – afirmei decidido.
Todos pararam me encarando. Peter levantou uma sobrancelha, porém preferiu não dizer nada.
Johnny sorriu, João e Patrício concordaram.
- Podemos tentar com o triciclo – eu e João nos animamos com a alternativa que meu irmão havia encontrado. – Ele é resistente e 4X4, só não sei se funciona. Não é usado há muito tempo.
- Vale a pena tentar. Onde está? – Peter assumiu o comando.
- Na garagem. Atrás de um monte de coisas velhas – João informou. – Mas só cabe uma pessoa – ele me olhou rapidamente.
- Primeiro precisamos fazê-lo funcionar. Depois decidiremos quem vai – Patrício desfez o clima pesado que começava a se instalar.
- Certo! – Peter concordou.
Conseguimos remover o triciclo. Johnny tratou de fazê-lo funcionar e Patrício abasteceu o tanque. A chuva era torrencial o que tornava tudo ainda mais difícil.
- Acho que Alex deveria ir. É mais leve e conhece muito bem a região, vai saber aonde procurar – João gritou contra o barulho da chuva.
- Como saberemos se ele conseguiu? – Peter argumentou sabiamente. De nada adiantaria deixar todos preocupados comigo também.
- João, o seu casaco é impermeável. Eu vou com ele e coloco o celular dentro. Se conseguir um sinal, ligo assim que tiver alguma novidade.
- E se não conseguir? Se alguma coisa acontecer? – Peter parecia preocupado.
- Eu vou atrás dele, caso alguma coisa aconteça – Johnny tranquilizou Peter. – Posso tentar arrumar uma das motos enquanto aguardamos. Assim teremos como passar, caso Alex não volte. – Peter assentiu.
João foi buscar o casaco e Patrício entrou para informar as novidades. Johnny ficou arrumando algumas coisas no triciclo enquanto esperávamos.
- Traga a minha menina de volta, Alex. Ela é o meu maior tesouro.
Peter estava com a voz embargada. Olhei em seus olhos e vi neles um imenso sofrimento.
Imediatamente compreendi o seu excesso de cuidado. Ele amava Charlotte e não suportaria perdê-la.
- O meu também, Peter – admiti sem receio. – Charlotte é toda a minha vida.
Ele me olhou surpreso, mas não reagiu contra a minha confissão. Estávamos ligados pela mesma causa e objetivo. Se era assim que deveria ser, assim seria, então ele assentiu concordando.
João voltou e Johnny apertou minha mão se despedindo. Peter também fez o mesmo. Seu aperto foi forte, seguro e confiante, como se fossemos parceiros. Em seguida ele foi embora, voltando para a chuva. Montei no triciclo rezando para me lembrar de como manter aquela máquina sob controle.
Liguei e quando estava de partida ouvi Mary chamando por mim. Virei em sua direção. Ela se aproximou e me abraçou. Um pouco sem graça envolvi aquela mulher em meus braços. Foi quando ela sussurrou em meu ouvido: - Charlotte te ama. Ela confia em você, então eu também confio.
Meu coração ficou em festa com aquelas palavras. Charlotte me amava, assim como eu a amava e não importava nossa briga, nem as besteiras que aquela cabecinha louca pensava e dizia. Eu a encontraria, porque seria guiado pelo meu coração e este estava ligado diretamente ao dela.
Capítulo 29
"(...) E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir
muito mais longe, depois de pensar que não se pode mais. (...)"
William Shakespeare
Alex
Como se não bastasse o pavor que eu estava sentindo e que não poderia deixar que os outros percebessem, a chuva decidiu tornar tudo ainda mais difícil.
Além da cortina de água que se fechava me impedindo de enxergar um palmo diante do meu próprio nariz, o barulho dos trovões tirava qualquer possibilidade de ouvir caso Charlotte gritasse, sem contar os raios que me faziam estremecer.
Se eu não morresse afogado na chuva, o triciclo não capotasse, o rio não me levasse ou um raio me eletrocutasse, talvez eu conseguisse encontrar a minha namorada no meio daquele dilúvio.
Por sorte eu conhecia a propriedade como a palma da minha mão, o que tornava o caminho mais fácil, porém, não menos perigoso. Por outro lado a velocidade que eu podia utilizar era muito pequena, havia o risco de encontrar um tronco caído, então seriam dois desaparecidos.
Passei pelo celeiro, pelo cercado dos cavalos, que estava vazio, peguei uma trilha por entre as árvores e entrei na floresta densa. Se Charlotte tinha fugido a cavalo com certeza o melhor lugar para se refugiar seria a cabana. Eu tinha explicado a ela com chegar lá. Era melhor eliminar logo esta possibilidade.
Como os rapazes tinham dito, o rio estava intransponível. Parei antes da borda e o nível estava muito acima do normal, fiquei com medo de continuar. A correnteza era muito forte, as águas me levariam, com toda certeza. Merda! No mesmo instante um raio caiu no meio das águas revoltas clareando à noite, para logo em seguida tudo escurecer outra vez.
- Tem como me ajudar? – gritei para o céu.
Eu estava mesmo desesperado. Como não ficar? Charlotte estava desaparecida, quem sabe até... Não. Recusei-me a pensar nessa possibilidade. Ela saiu antes da chuva. Não seria tão irresponsável, com certeza parou em algum lugar para se abrigar.
Meu coração afundava no peito enquanto eu tentava encontrar outra saída. Não havia. Era atravessar o rio ou esperar por notícias. Puta que pariu! Aquela deveria ser a nossa noite. O nosso momento especial.
Mas que porra!
- Não me parece muito justo! – reclamei com Deus. – Eu nunca amei ninguém antes e, quando finalmente descubro que estou amando, tudo termina assim? – abri os braços em busca de repostas do céu. – Se tem alguém aí em cima a favor deste romance, poderia, por favor, me dar uma forcinha? Era para ser tudo lindo, perfeito. Eu seria o seu príncipe encantado – limpei a água que escorria por meu rosto enquanto argumentava com Deus. – Concordo que todo grande romance precisa de um certo drama. Eu até compreendo. No entanto eu estou aqui. Não em um cavalo, mas em meu triciclo branco, não tenho uma espada, mas armado com o meu amor e pronto para salvar a donzela em perigo. Então por que as coisas não podem acontecer como nos contos de fadas?
Um raio rasgou o céu derrubando uma árvore do outro lado do rio. Ela era enorme e caiu cortando as águas formando uma barreira. Apesar do tamanho, chegou apenas até um pouco antes da metade. Se eu conseguisse alcançá-la, mesmo que caísse, poderia usá-la para atravessar. Por mais difícil que fosse, aquela era a minha resposta.
- Obrigado, Senhor! – imediatamente voltei ao triciclo, acelerei e entrei na água, sentindo a adrenalina circular em meu corpo.
A princípio a velocidade e a tração das rodas me ajudaram a avançar, infelizmente a força das águas era muito maior do que o veículo podia suportar. Senti as rodas afundarem e derraparem na tentativa de avançar, consegui fazer algum progresso diminuindo a distância. Eu conseguiria se a profundidade e a correnteza não me impedissem.
- Agora não. Agora não! – o triciclo afundava à medida que eu avançava e a água batia em meu corpo com muita força tentando me arrastar. – Merda! – a pressão das águas em minhas pernas era muito forte.
Se eu não pulasse corria o risco de virar junto com o triciclo e ficar preso debaixo dele.
Morreria afogado sem sequer saber o que aconteceu a Charlotte.
Charlotte! Merda! Ela estava em algum lugar e precisando de mim.
- Droga! – senti um dos lados ceder emborcando para o outro. – Príncipe Encantado... – acelerei com mais força. Faltava tão pouco. - Cavalo branco! Merda, vamos! – o triciclo deu um solavanco para frente e afundou mais. Quanto mais fundo, mais fortemente a água me castigava. -
Donzela em perigo... – rangi forçando a máquina e segurando com o máximo de força possível. – Charlotte em perigo. Merda! Tem que dar certo – gritei para a chuva.
Foi neste instante que um tronco grosso desceu pelas águas chocando-se comigo. A dor não foi nada perto do pânico. O triciclo vacilou rodopiou duas, três vezes. A água estava em minha cintura, me jogava para os lados e puxava para baixo. O tronco, ao se chocar, atirou o triciclo para a ponta da árvore que tinha caído. Fomos jogados em seus galhos que me seguraram impedindo que o rio me levasse.
Agarrei-me com força, soltei as pernas e senti o triciclo passar por elas ficando preso um pouco mais à frente e então ser rapidamente engolido pelas águas. Não sei de onde tirei forças, meus braços estavam agarrados aos galhos, então consegui me colocar um pouco acima no nível do rio.
Nem tentei enxergar nada. Era a minha chance. Provavelmente a única que teria. Travei as pernas ao redor do tronco e fui me arrastando contra a correnteza até alcançar o outro lado.
Finalmente, com os pés no chão firme, senti o efeito da descarga de adrenalina.
Minhas pernas vacilaram, fazendo-me cair de joelhos na terra tremendo violentamente. O ar ficou pesado e senti uma vertigem. Deitei de costas na lama deixando a chuva bater com força em meu rosto. Fiquei assim até que, aos poucos, minha mente foi se reorganizando, me fazendo lembrar do motivo para eu lutar contra todos aqueles obstáculos.
- Charlotte! – gemi. Meu corpo inteiro doía. – Estou indo, amor!
Levantei. Meus ossos protestaram, mas me obriguei a ficar de pé. Olhei ao redor, tentando me situar. Estava na floresta, eu a conhecia muito bem, apesar do caos ao redor. Mais adiante havia uma velha árvore, imensa, com tronco largo aonde um dia Lana, Patrício e eu, gravamos nossos nomes.
Era o caminho para a cabana. Se Deus, os santos, as fadas, os duendes, os criadores e os contadores de história estivessem do nosso lado, Charlotte estaria segura. E eu chegaria para salvá-
la.
Com a chuva caindo sem cessar, os trovões tornando tudo mais assustador e os raios ameaçando a cada instante, segui em frente. Aliás, corri, ignorando completamente a dor em meu ombro. Ouvi um barulho e me virei a tempo de sair da frente do enorme cavalo negro que passou por mim em disparada. No escuro ele estava quase invisível. Se não fosse o barulho do galope e o raio que caiu bem próximo eu seria pisoteado.
Reconheci meu cavalo. Como ele foi parar ali? Sem pensar levei os dedos à boca e assoviei o mais alto possível. Ele parou mais à frente e empinou. Oh, meu Deus! Se Escuridão estava daquele lado do rio, só podia significar uma coisa: Charlotte também estava. Só isso justificava o fato de ele estar solto e assustado no meio daquela chuva.
Senti medo e alívio. Alívio por saber que ela estava em algum lugar próximo. Escuridão era muito bem adestrado. Era meu cavalo há muitos anos, nunca faria mal a uma pessoa.
Medo, porque eu sabia que, com aquela tempestade e tantas coisas para assustá-lo, Charlotte poderia estar ferida e perdida no meio daquela floresta.
- Escuridão! – gritei tentando fazer minha voz sobressair ao barulho. – Escuridão! – levei os dedos aos lábios novamente e assoviei o mais alto possível. – Venha, garoto!
Meu cavalo pareceu indeciso ao ouvir o assovio, então correu de volta em minha direção. Seu trote agitado estava mais calmo apesar da confusão ao nosso redor.
- Oi, garoto! – acariciei seu pelo molhado. – Charlotte estava com você? Estava? Pode me levar até ela?
Ele tremia. Tive pena do animal, no entanto, precisava dele para cobrir toda a propriedade a tempo de ajudar Charlotte, caso fosse necessário. Além do mais, naquele momento, voltar estava fora de cogitação. Eu nem tinha condições físicas para isso, teríamos que nos virar por lá mesmo.
Encontrar a cabana e nos abrigar nela.
- Calma, amigão! Precisamos fazer isso juntos – continuei acariciando seu pelo, acalmando-o para poder montá-lo.
Segurei na sela e montei. Meu ombro protestou. Apesar de machucado, não podia perder tempo tentando descobrir o que tinha acontecido com o meu corpo. Charlotte era a minha prioridade.
Precisava encontrá-la. Puxei as rédeas e cavalguei em direção à cabana.
Mesmo no escuro e com a chuva torrencial, eu consegui sentir a mudança do solo através do casco do cavalo. Uma pequena trilha de pedrinhas levava à casa e as árvores ficavam cada vez mais afastadas umas das outras, abrindo caminho para a parede de pedra que brilhava cada vez que um raio rasgava a noite.
Era a cabana.
Puxei as rédeas fazendo Escuridão parar. Ele empinou relinchando alto, assustado com o raio que caiu muito próximo. Fui surpreendido por sua reação. Com as mãos molhadas e escorregadias não consegui me segurar e acabei caindo com muita força no chão de pedrinhas. Minha cabeça rodou e a noite ficou ainda mais escura.
Escuridão relinchou e empinou mais duas vezes, como se quisesse chamar a atenção. Minhas costas doíam tanto que estava difícil respirar e eu não conseguia abrir os olhos. Ouvi passos correndo na chuva e se aproximando.
- Ai, meu Deus, Alex! – aquela voz me trouxe de volta à vida. Sorri feliz ainda de olhos fechados. – Alex! – ela gritou desesperada.
- Charlotte? – abri os olhos e encarei seu rosto aflito logo acima do meu.
Não resisti. Ela estava ali, na chuva, os cabelos molhados caindo pelo rosto e alcançando o meu. Seu olhar vivo, atento e cheio de medo. Puxei-a para mim e a beijei, sem pensar na situação, nos meus ferimentos, no cavalo agitado ou nos raios, trovões... Nada. Queria apenas beijá-la e me certificar de que ficaríamos bem.
A princípio seus lábios doces não corresponderam, eu havia pegado a garota de surpresa, ela continuava assustada, logo em seguida sua boca se abriu aceitando a minha e correspondendo. Ela me interrompeu, colando sua testa na minha respirando com dificuldade.
- Você está bem? – seus olhos indicavam uma única coisa: tristeza. Droga!
- Levando-se em consideração que quase morri afogado, eletrocutado e, para finalizar, caí do cavalo... Sim. Muito melhor agora que te encontrei.
- Droga, Alex! O que você faz debaixo dessa tempestade?
- Vim te resgatar! Todos estavam desesperados... Aliás, o que você estava pensando quando fugiu sem dizer nada? Não sabia da previsão de tempestade?
- Me resgatar? Eu não fugi. Saí a cavalo para dar uma volta e espairecer, então fui surpreendida pela chuva. Como estava aqui perto decidi me abrigar na cabana.
- O quê? Eu pensei que...
- Dá para a gente sair da chuva? Era só o que me faltava, sair neste dilúvio para me resgatar, como se eu fosse realmente idiota o suficiente para me colocar em risco... – e foi em direção a casa batendo o pé nas pedras molhadas.
Levantei, contra a minha vontade, já que tinha quase morrido de pavor só de pensar que ela poderia estar em perigo.
Que porcaria de romance era aquele onde o príncipe tem um cavalo preto, a donzela não corre perigo e ainda por cima reclama porque tentaram salvá-la? Era muito imperfeito para ser verdade.
Meu ombro doeu e minha perna protestou. Tentei forçá-la no chão. Ardeu um pouco, nada que pudesse me derrubar. Ergui a coluna... Doeu, porém eu não daria esse gostinho a Charlotte. Levantei a cabeça... Aí! Doeu de verdade, engoli a dor sem gemer. Segurei a rédea de Escuridão... Pelo menos isso não doeu nada. Graças a Deus, minhas mãos estavam incólumes... Então segui uma Charlotte determinada a se manter longe de mim.
Amarrei meu cavalo perto da casa num local apropriado onde estaria protegido. Encontrei Charlotte na varanda tremendo de frio e abraçando o próprio corpo. Seus lábios também tremiam e ela evitava me olhar. Seu queixo estava projetado para cima em desafio e ela encarava a porta.
- Não vai entrar? Lá dentro com certeza está bem melhor do que aqui fora – ela deu um passo pra atrás impedindo que eu a tocasse. Suspirei.
- Está trancada – revirou os olhos. Merda!
Eu não tinha dito que a chave ficava embaixo do batente da porta que era solto. Abaixei, peguei a chave e abri a porta dando espaço para que ela entrasse.
- Não podemos voltar? O cavalo se assustou quando chegamos aqui e fugiu, agora que você o trouxe de volta não poderíamos voltar para casa?
- O rio transbordou. É impossível atravessar. Além disso, Escuridão está apavorado e cansado demais para aguentar nós dois – ela me olhou sem entender. – Meu cavalo... Escuridão.
Ela assentiu e passou por mim entrando na casa. Estava escuro e frio. Alcancei o interruptor, mas claro, não havia energia. Mais uma cortesia da tempestade.
- Estamos sem luz – fechei a porta impedindo o frio de entrar. – A boa notícia é que temos madeira suficiente. Vou acender a lareira.
Charlotte permaneceu calada e muito quieta. Ela tremia visivelmente, mesmo assim se afastou quando tentei abraçá-la, indo na direção da lareira.
- Charlotte?
- Acenda logo, Alex, pelo amor de Deus!
Revirei os olhos e fui ao armário da cozinha, pegar a madeira que eu tinha pedido a Lana para armazenar. Eu sabia que minha irmã tinha aproveitado a brincadeira da tarde para deixar tudo preparado e que João tinha ajudado. Estávamos sem energia, mas com nosso conforto assegurado.
Peguei o necessário e voltei. Charlotte estava sentada, abraçando seus joelhos e apertando o corpo. Eu precisava ser rápido. Coloquei a madeira, joguei o gel e acendi com o acendedor de mão.
Logo o fogo crepitou. Minha namorada se aproximou mais, estendendo as mãos na direção do calor.
- Você precisa se livrar dessas roupas molhadas. Tem alguns cobertores bem quentes no quarto.
Eu vou buscar, voltarei logo.
Saí em direção ao quarto, que apesar de escuro não me assustava nem me impedia de me mover, peguei três cobertores grossos, uma toalha e voltei. Charlotte ainda estava vestida, sentada no chão, encarando o fogo.
- Charlotte, tire essas roupas e enrole-se nisso – entreguei o cobertor. – Você vai ficar doente se continuar com elas.
- Vai secar.
- Não seja teimosa, Charlotte! Pela sua saúde. Por favor!
- Não vou me despir – afirmou determinada, se abraçando ainda mais.
- Por quê? – encaramo-nos e eu entendi. Ela não queria intimidades entre nós dois. – Charlotte... – me ajoelhei diante dela que se encolheu ainda mais. Parecia tão jovem e delicada. Aos vinte e um anos era uma menina ainda. – Esqueça aquilo. Eu... – desviei os olhos e encarei o cobertor em minhas mãos. – Eu fiquei tão assustado quando soube do seu sumiço...
- Você apenas se sentiu culpado, Alex. – pegou o cobertor de minha mão, levantou e entrou um pouco na escuridão, se afastando.
- Não tenho motivos para me sentir culpado – observei seus movimentos.
Charlotte parou na penumbra, virou de costas e tirou a camisa, em seguida seu sutiã caiu no chão. Droga! Com apenas estes gestos ela conseguiu me deixar sem palavras. Fiquei paralisado, vidrado no seu corpo. Charlotte olhou rapidamente em minha direção, verificando se eu a observava e começou a tirar a calça jeans.
- Pode ficar tranquilo, eu estou bem.
Retirou o tênis e sua calça molhada que parecia colada ao corpo jogando-a junto ao restante das roupas. Levantei ciente de que não resistiria por muito tempo. Ela enrolou a calcinha nos dedos e a abaixou, escorregando-a vagarosamente pelas coxas roliças, deixando-a cair a seus pés.
Rapidamente pegou o cobertor e colocou sobre os ombros cobrindo sua nudez. Impedindo-me de admirá-la.
- Não fugi, não tentei nenhuma besteira e não...
- Cala a boca, Charlotte! – murmurei com firmeza, ela pareceu surpresa com a minha reação e ficou me encarando com olhos chocados. – Será que você não entende?
- Entendo...
- Eu mandei calar a boca! – repreendi. Ela fez biquinho, lindo por sinal, e levantou o queixo em desafio.
Levantei, tirei o casaco. Era impermeável por isso meus braços e tronco ficaram protegidos, em compensação a calça jeans estava me incomodando, bem como os sapatos encharcados. Retirei a camisa e larguei num canto sob o olhar atento dela.
- Você é muito mimada... – abri a calça percebendo que ela me encarava com os lábios entreabertos. Charlotte fechou ainda mais o cobertor em volta de si. – É uma garotinha infantil que leva tudo nos peitos, sem se preocupar em descobrir o que realmente está acontecendo... – retirei os sapatos e arranquei as meias. – É inconsequente. Louca. Exasperadora... – abaixei as calças, me livrando do seu peso levando junto a cueca. Eu estava absurdamente excitado e ela obviamente percebeu. – Revirou a minha vida de cabeça para baixo deixando tudo fora do seu lugar...
Fui na direção dela. Charlotte parecia petrificada no mesmo lugar. Estava assustada e tão excitada quanto eu.
- Bagunçou tudo...
Puxei-a para mim prendendo-a em meus braços. Corri uma mão por seus cabelos, segurando-os na nuca e forçando o seu olhar. Seus lábios muito próximos dos meus.
- Olha bem o que você fez? Tornou tudo mais bonito, mais alegre, mais claro. Me fez enxergar que tudo que eu achava correto e exatamente como deveria ser, na verdade era nada, somente um ponto perdido no universo vazio. Antes de você eu era apenas um homem. Depois de você eu sou um homem que ama desesperadamente uma garotinha decidida, mimada e completamente maluca.
- O quê? – vi as lágrimas despencarem de seus olhos.
- Eu amo você! Nada tem sentido se não for com você, Charlotte! Não quero minha carreira, meu dinheiro, meus empregos... Nada!
- Alex...
- E foi o que eu fiz hoje. Abri mão de tudo, porque te amo e não posso, nem quero fugir disso!
Porque nunca me senti tão feliz e completo. Minha vida ganhou sentido. Eu não posso mais viver sem você!
- Alex...
- Foi por esse motivo que eu vim. Ninguém além de mim poderia estar aqui nesse momento.
Essa é a nossa noite...
- Alex...
- Oi!
- Cala a boca e me beija – exigiu com um soluço emocionado.
Beijei seus lábios deixando que nossos sentimentos preenchessem todos os espaços. Não foi nada parecido com nossos outros beijos. Foi muito além. Muito mais intenso. Repleto de entrega, desejo... Amor.
Charlotte
Ele falava, falava, falava, e eu só conseguia assimilar uma única frase: eu amo você!
Alex estava diante de mim, completamente nu, me prendendo a ele e dizendo que me amava. Se antes dessas palavras já era difícil resistir a seus apelos, depois delas então... Uma emoção forte demais dominou meu corpo fazendo-o agir por conta própria.
Dentro de mim tudo estava quente, intenso, forte e decidido. Não havia dúvidas nem receios.
Nenhum resquício de insegurança. Apenas aquelas palavras. Palavras que faziam toda a diferença.
Porque eu amava aquele homem como nunca imaginei ser possível. Eu o amava com todo meu ser.
Deixei o cobertor escorregar para o chão, colando meu corpo ao dele. Já nos conhecíamos e tudo deveria ser familiar, mas não foi. Nada do que já tínhamos feito se comparava ao que eu sentia somente com o contato de nossas peles. Faíscas percorriam minhas veias incendiando tudo.
Suas mãos se fecharam em minha cintura, os dedos fortes, longos e certeiros, acariciando, ora com vontade, força, ora com cuidado simplesmente roçando. Elas estavam em todos os lugares, em cada parte do meu corpo, explorando, sentindo, provando.
Nossas bocas não se desgrudavam e as línguas traçavam o balé clássico e perfeitamente ensaiado que só elas eram capazes de executar. Eu amava o sabor daqueles lábios, a maciez daquela língua e a segurança de cada movimento que ele fazia. Alex sabia muito bem como e o que fazer.
Lentamente me levou até a lareira. Uma das mãos segurava minha cabeça, mantendo meu rosto firme para que pudesse devorar minha boca, a outra, me apertava, puxava, exigia... Quando tocou o bico do meu seio intumescido pelo prazer, um gemido manhoso escapou dos meus lábios. Eu conhecia aquele contato e amava a maneira como ele me conduzia.
Alex abandonou meus lábios descendo os dele por meu pescoço enquanto forçava meu corpo para baixo. Obedeci. Ele me deixou para cobrir rapidamente o chão com uma colcha levando a outra para onde tinha me deixado ajoelhada. Sem dizer nada continuou a me beijar e foi me guiando até que eu estivesse deitada.
Nenhum desconforto poderia me impedir de continuar.
Ele deitou o corpo sobre o meu, apoiando seu peso no braço esquerdo. Com a mão direita acariciou meu rosto, afastou meus cabelos molhados e aqueceu a minha pele.
Seus olhos estavam cravados nos meus e neles eu via amor e admiração. Ele me reverenciava com um simples olhar que me fazia sentir perfeita e dona do seu coração.
Sim. Aquele homem incrível, que lutou contra mim com todas as armas disponíveis, me olhava rendido, como se não houvesse mais ninguém no mundo. Como se eu fosse realmente o centro do seu universo, a única pessoa capaz de fazê-lo respirar, de lhe dar paz e felicidade.
Oh, Alex! Mal sabe você que meu mundo não existe sem a sua presença. Que sou incapaz de ver, ouvir e sentir se não tiver suas mãos me guiando. Que respirar é uma ação impossível se não tiver você, minha única fonte de energia, meu ar, meu mundo... Meu universo. Minha vida.
Seus dedos desceram do meu rosto para o pescoço. Uma carícia leve e ao mesmo tempo carregada de potência que acendia o rastilho de pólvora em todas as minhas terminações nervosas interligadas se concentrando em um único lugar. O mesmo que explodiria a qualquer momento. O meu centro de prazer.
- Você é linda, Charlotte! – a voz murmurada reverenciava meu corpo. Era um louvor ao objeto de sua adoração: eu.
Fechei os olhos e absorvi suas palavras, enquanto me concentrava em não me contorcer sob seus dedos avassaladores. Ele continuou a carícia, chegando aos meus ombros, os olhos atentos a minha pele, os lábios entreabertos e ansiosos. Desceu mais um pouco, alcançando minha clavícula, no mesmo instante em que, perdido pelo desejo de sentir o meu gosto, seus olhos se fecharam e os lábios encontraram os montes avolumados e macios dos meus seios.
Arfei!
O que era Alex naquele momento além de dedos e lábios e língua e desejo e... tudo? Sim. Ele era tudo. Sentir suas mãos me tocarem com ternura, seus lábios me sugarem com desejo, sua língua me experimentar com fome era a realização completa dos meus sonhos, era tudo o que eu poderia almejar.
E como eu me sentia?
Não existe uma maneira de descrever corretamente.
Porque um fogo inimaginável e imensurável me lambia por dentro, não deixando nenhuma célula de fora, ao mesmo tempo uma ansiedade que fazia arder todos os meus músculos, encobrindo minha capacidade de raciocinar, se espalhava por todos os meus poros.
Era isso? Não. Era muito mais.
Porque no instante em que consegui chegar a esta conclusão, tudo se perdeu dentro de minha mente, derretendo meus neurônios transformando-se em faíscas que formigavam meu ventre. Foi naquele instante que os lábios de Alex se fecharam no bico do meu seio, já completamente duro e seus dedos, mansos e obstinados escorregaram pela minha barriga se projetando em direção ao meu sexo.
Puta merda!
Eu queria gritar, chorar, implorar, me mexer e contorcer até que aquele vendaval de emoções encontrasse um rumo coerente, mas a única coisa que saiu de meus lábios foi um gemido gutural. Não um qualquer. Um real. Aquele que parte do âmago e de todos os lugares ao mesmo tempo. Que começou a partir da pontinha do meu dedão e saiu acelerado, devastando tudo, subindo vertiginosamente até alcançar meus lábios, deixando no seu rastro, uma sensação indescritível.
Mas não parou por aí.
Os lábios de Alex, que antes brincavam libidinosamente com meus seios, me envolvendo com a maravilha que era a sua língua, desceram arrastando-se pela minha pele. Eu sentia as fagulhas todas as vezes que seus lábios se fechavam num beijo faminto e lento, como se me marcassem a fogo com sua paixão arrebatadora.
Então eles chegaram ao meu umbigo. Não resisti e deixei que meus dedos entrassem em seu cabelo. A maciez, a textura, o volume, tudo tão familiar e meu, única e exclusivamente meu, minhas mãos se fecharam possessivamente mantendo-o junto de mim.
Alex acariciou meu sexo cuidadosamente, envolvendo-o com a mão. Testando, sentindo, provocando, me deixando úmida como nunca antes. Seu gemido reverberou em minha pele. Um espasmo se espalhou esquentando tudo. Respirei longamente. Era cedo demais.
Ele parecia não se importar com o tsunami que ameaçava varrer meu equilíbrio. Enfiou a língua em meu umbigo ao mesmo tempo que dois de seus dedos se afundaram em mim, chegando ao meu limite. Aquela barreira quase imperceptível era o que me tornaria sua mulher.
Com toda a maestria ele recolheu os dedos, avançou novamente, recolheu, avançou, recolheu...
Ah! Céus! Era bom demais, torturante demais, insanamente gostoso... Era... Puta que pariu!
- Alex! – gemi um pedido que dizia tudo o que eu precisava.
- Eu sei – sussurrou abandonando meu umbigo, descendo um pouco mais até chegar lá.
Aquele ponto tão prazeroso. Aquele pequeno botão com o qual tínhamos estabelecido uma relação tão completa e harmoniosa... Ah!... Sua língua avançou com certa pressão. Seus dedos se expandiram, não apenas invadindo o meu íntimo, mas explorando, roçando suas paredes internas, massageando-as e... Ah, Deus! Tão fodidamente bom!
- Oh, meu Deus! Alex! – minhas mãos apertaram ainda mais seu cabelo enquanto eu sentia que aquele fogo devastador logo me consumiria por completo.
Sua única resposta foi fechar os lábios em meu pontinho de prazer, sugando-o. Ah!... Minhas pernas se abriram instantaneamente sem nenhum comando, meu corpo se contorceu ganhando vontade própria então... Ele parou? Tudo! Os dedos, os lábios... tudo.
Ah, não! Não! Eu quero mais, quero muito mais.
- Shiiiiii! Calma! – eu nem havia percebido que protestara em voz alta. Tudo soava incoerente.
Alex beijou meus lábios novamente, suas mãos em meu rosto.
Mantendo seu peso firme sobre o braço ele se encaixou entre minhas pernas. Seus olhos fixos nos meus, observando atentamente minha reação. Oh, Deus! Ele queria se certificar se era mesmo o que eu queria. Havia dúvidas? Eu tinha escolha?
Não.
Eu não me pertencia mais. Eu era dele, assim como ele era meu. Perder ou não a virgindade...
ser ou não a hora certa, tornou-se uma questão secundária. Eu ansiava por me sentir completa. Por ser totalmente dele, apenas dele. Por nos fundirmos um ao outro e nos tornarmos uma só pessoa. Era isso o amor, não era?
O não reconhecimento de si mesmo. As vontades individuais tornando-se a necessidade de ambos. A ânsia de entregas reais, de viver sem limites. As certezas que fortalecem, unem, impedem de dividir e permitem apenas somar. Eu me via naquele olhar cheio de promessas. Sim, era o que eu queria.
- Eu amo você! – sussurrei entregue.
Lágrimas desceram dos meus olhos e escorreram pela lateral do meu rosto. Alex fechou seus olhos por um instante e eu percebi uma lágrima solitária escorrer em sua face. Não podia culpá-lo. O
amor tinha as suas propriedades e o seu cunho de reações. Levei meus dedos até aquela lágrima impedindo-a de se perder no nada.
Ele segurou minha mão, pressionando-a nos lábios em um beijo de aceitação. Era o nosso destino sendo concretizado, selado.
- E eu amo você. Nunca vou deixar de amar – colou seus lábios nos meus.
Um beijo cálido.
E então, calmamente se movimentou em mim.
Segurei em seu torso absorvendo cada investida. Eram lentas, apenas testavam, sondavam, verificavam. Sua mão ajustou nossos corpos e eu pude sentir seu membro em minha entrada.
Ele abriu passagem em uma estocada sutil. Doeu. Desfiz nosso beijo e gemi baixinho, não queria que ele desistisse pensando estar me machucando. Alex era o mestre, o professor, sabia identificar muito bem quando eu agia por desejo ou defesa.
Acredito que foi por este motivo que ele, ainda quase minimamente dentro de mim, fez com que sua boca e sua mão desviassem meus sentidos, tirando a minha concentração do que acontecia entre as minhas pernas para as reações do resto do meu corpo.
Acariciou meus seios com mais desejo e seus lábios beijaram meu pescoço, roçando seu queixo com a barba por fazer em minha pele sensível. Outro gemido escapou, esse de prazer puro e carnal. Sua boca assumiu o comando em meus seios, beijando e sugando ora um ora outro. Sua mão desceu até minha coxa, massageando-a, então investiu um pouco mais forte.
Meu corpo protestou, seus dentes morderam um dos bicos puxando-o para cima, enquanto a ponta da língua acariciava a parte do meu peito que estava dentro de sua boca. Puta merda! Aquilo era tão bom! Bom não, maravilhoso!
Alex puxou minha coxa em direção a sua cintura e ganhou um pouco mais de espaço. Hum!
Estava começando a me acostumar. Corri minhas mãos em suas costas e ele gemeu, mordiscando meus montes macios. Ah! Eu amava quando ele brincava com meus seios. Involuntariamente ergui o torso, oferecendo-lhe mais de mim o que ele tomou para si com prazer.
Estava tão perdida em sensações que não tinha mais ideia do que estava acontecendo lá embaixo.
Foi quando várias coisas aconteceram ao mesmo tempo: Alex avançou, saiu um pouco, girou o quadril... Hum! Bom! Sensacional! Levantou o corpo, reivindicou meus lábios e entrou com tudo o que tinha para oferecer.
- Puta que pariu!
Protestei em seus lábios que permaneciam colados aos meus. A dor se instalou e fluiu por minhas pernas. Cada centímetro dele estava dentro de mim.
Congelamos.
Ele, de olhos fechados, ofegante e lábios travados, tentando controlar a sua ânsia. Eu, de olhos arregalados, me segurando para não contrair as pernas que tentavam se fechar para amenizar a dor.
Buscando desesperadamente uma forma de absorvê-la e abstraí-la para voltar a sentir apenas o prazer.
- Calma! – ele respirava com dificuldade. Suas mãos em meu quadril, forçando-me a permanecer estática.
Alex levantou o tronco e olhou em meus olhos. Bastou encarar aqueles olhos profundos, de um azul escuro penetrante, cheios de desejo, ansiedade, paixão, devoção, amor, para eu esquecer todo o resto.
Meu coração foi se estabilizando, minhas pernas pararam de protestar e a dor latente passou a ser bem vinda, pois esta, enquanto fazia meu sexo pulsar, deixava bem claro o que eu tinha dentro de mim: Alex. O homem que eu sonhei e desejei. Por quem lutei... e que agora, era todo meu.
- Amo você – sussurrou colando sua testa a minha. – Amo você, Charlotte Middleton – lentamente ele se movimentou. Puxou um pouco e voltou, me prendendo novamente com os olhos. -
Minha menina... – continuei atenta a seus olhos, confiando neles, bebendo cada palavra dita por seus lábios. – Minha mulher... – um sorriso torto, escandalosamente sexy se projetou em seus lábios. Ele se movimentou um pouco mais. Hum! Eu podia suportar. – Minha! Só minha!
O calor familiar começou a surgir. A princípio tímido e indeciso. Alex sabia o que fazer e o fazia muito bem. Voltamos a nos beijar. Não um beijo recatado, um escandalosamente quente, que transbordava de desejo e luxuria.
Ah! Eu podia suportar aquilo.
Ele saiu com cuidado até estar quase totalmente fora e então estocou com força, fazendo meu corpo inteiro se contrair. Houve dor e também alguma coisa não identificável. Repetiu o movimento.
Ah, sim! Minhas paredes incharam, comprimindo seu sexo. Ardeu, mas foi muito gostoso.
Alex abocanhou um seio e depois o outro. Um processo lascivo, longo, e repetitivo. Seu braço passou por baixo de mim, levantando-me um pouco e sua outra mão forçou minha coxa, abrindo-me mais para recebê-lo e conseguiu penetrar mais fundo. Gemi incapaz de identificar o que estava sentindo. Havia formiguinhas andando pelo meu ventre. Longe ainda, mas já caminhando para o êxtase.
- Isso, meu amor! – seus lábios se fechavam em meus seios, ombros, pescoço... - Ah, Charlotte!
– gemeu se contorcendo, segurando seu prazer. Sua mão esquerda, segurando minha nuca, com o braço em minhas costas, apoiando o ângulo que meu corpo se encontrava. Mas a direita...
- Ah, Alex!
Ela avançou entre minhas pernas e se encaixou entre nós roçando e pressionando meu clitóris.
Toda dor desapareceu deixando em seu lugar sensações mais do que prazerosas.
Ousei me mexer. Uau! Eu podia e queria aguentar. Alex gemeu saudando minha ousadia.
Resolvi ignorar qualquer resquício de dor. Era a minha noite e eu não seria apenas uma coadjuvante.
Assumiria o papel principal naquela história.
Avancei meu quadril em sua direção, fazendo com que ele, surpreso pela investida, entrasse mais profundamente. Uma dorzinha quase incômoda surgiu em algum ponto distante, mas não me deixei abater. Cerrei minhas mãos em suas costas e avancei novamente. Alex vacilou, deixando seu corpo cair parcialmente sobre o meu gemendo palavras desconexas.
Ok! Eu estava fazendo a coisa certa.
Mordisquei seu pescoço incentivando-o a continuar. E foi o que ele fez. Seus movimentos ficaram mais intensos e em harmonia com os meus. Ele estocava, eu recebia, avançava, rebolava, mesmo timidamente e recuava no momento em que ele investia.
Cada vez que ele se afundava dentro de mim e mexia o quadril daquela maneira enlouquecedora, eu sentia meu sangue ferver, percorrer meu corpo e incendiar cada célula.
Nossas respirações aceleraram. A cada estocada o caminho ficava mais fácil e acessível. Alex se perdeu em mim, trabalhando com precisão, seus movimentos me fazendo perder o juízo. Era o que estava acontecendo. Ele estocava ao mesmo tempo em que sua boca beijava cada parte exposta, que sua língua saboreava a minha pele e suas mãos me estimulavam de diversas formas e intensidades.
- Alex! – gemi me contorcendo em milhares de sensações.
Meu corpo sinalizava uma explosão. Era tudo ao mesmo tempo: chamas lambiam meu corpo se espalhando velozmente, formiguinhas aceleravam o passo em sua marcha na direção do meu ponto de prazer, as borboletas levantavam voo fazendo acrobacias...
- Alex... Ah, Alex!
O jeito como ele se movimentava, entrando, saindo, rebolando, se enroscando em mim, me invadindo, alcançando todos os espaços. E então... O orgasmo!
Oh, céus! Alguém anotou a placa?
Um orgasmo tão forte que por alguns segundos acreditei que tivesse me desintegrado. Gritei, mas a voz ficou ao fundo, cada partícula do meu corpo se espalhava no ar, expandindo, rodopiando, dançando, para em seguida o repuxo me trazer de volta, enquanto as sensações iam ficando mais brandas, mornas e eu voltava a ganhar forma, me solidificando.
Voltei a tempo para assistir de camarote o orgasmo do meu professor... meu homem... Alex, que me olhava atentamente, fechou os olhos, me apertando com mais força, contraiu o quadril forçando ainda mais sua entrada. Ele gemeu alto e um líquido quente me preencheu ao mesmo tempo em que suas investidas ficavam mais lentas, curtas até parar completamente.
Ele enterrou o rosto em meus cabelos, arfando e gemendo, sem sair de dentro de mim. Seus braços não conseguiam mais sustentar seu peso. Ele estava todo e completamente dentro de mim.
Sorri. Foi exatamente como eu sonhei e imaginei.
Ri baixinho. Como Lana reagiria se eu contasse a ela que consegui atingir um orgasmo fulminante logo na minha primeira vez?
Recuperado, Alex levantou ligeiramente o corpo, aliviando o peso e buscou meus olhos. Ele estava tão lindo! Rosto suado, cabelos desgrenhados, olhos brilhantes, apaixonados o sorriso encantador e abobalhado de alguém que havia acabado de fazer amor.
Era lindo e meu.
Somente meu.
Capítulo 30
"Amar é encontrar nas divergências outrora o que há de mais belo para ser observado e
apreciado."
William Shakespeare
Charlotte
Oh, Deus! Finalmente nós tínhamos feito amor e foi maravilhoso!
Alex me olhava com tanta admiração que me comovia. E eu sentia meu coração martelando no peito em uma alegria eufórica fazendo-me entender que o amor era o sentimento mais completo e precioso que uma pessoa poderia ter por outra.
Correspondi ao seu sorriso me deixando levar pela sensação de dever cumprido. Ele beijou meus lábios, meu rosto, meu queixo, meu pescoço... Ah! Hummm! O Alex pós foda era tão... Sexy!
- Como está se sentindo?
Sua voz rouca e sensual fez com que meu corpo inteiro reagisse. Levantei o quadril, testando minhas pernas. Tudo em seu devido lugar, quer dizer... Quase tudo. Sorri descaradamente.
- Perfeita!
Ele apoiou todo o peso no braço esquerdo e com a mão direita acariciou meu rosto. Era tão...
Alex! Droga! Me senti meio zonza ao me dar conta de que meu mundo girava em outra órbita agora.
Desde o momento em que ele havia dito aquelas três palavras: eu amo você! Tudo mudou e se tornou ele. Apenas ele! Dali em diante Alex seria o meu sol.
- Por que está chorando?
Sua testa enrugou me fazendo perceber o que estava acontecendo. Passei minha mão no rosto capturando as lágrimas.
- Você! – admiti sem receio.
- Eu? – ele me encarava preocupado.
- Por que tem que ser tão perfeito? Não consigo mais pensar em minha vida se não for ao seu lado, tudo é tão estranho e ao mesmo tempo tão certo que estou tonta. Sinto-me como se fios invisíveis e impossíveis de serem quebrados me ligassem a você e... droga, Alex! Eu nunca vou conseguir ir embora e você... você... você arrumou um problema dos grandes, porque eu não posso mesmo deixar...
- Shiiii... – ele me calou com beijos leves e carinhosos. Seus olhos eram ternos e brilhantes.
Seus lábios sorriam satisfeitos. – E quem disse que eu quero que você vá embora? Não ouviu nada do que eu disse na última hora? Eu. Amo. Você. Charlotte Middleton! E quer saber? Você também arrumou um grande problema, porque eu não vou a lugar algum. Minha vida está total e completamente interligada a sua. E eu também sinto esses tais fios invisíveis. O que não conseguiu entender ainda é que o controle deles está em suas mãos.
Sorri deixando minha mente assimilar aquelas palavras. Era eu quem estava no comando dos fios? Não seria tão ruim assim. Aliás, nem seria ruim. Nem se o controle estivesse com ele. Alex sabia me conduzir da melhor maneira possível.
- Como você está? – acariciei seu rosto com meus dedos.
- Melhor impossível! – beijou minha mão e levantou saindo de dentro de mim. O espaço vazio protestou. Gemi!
- O que foi?
Ele sabia exatamente o que, mesmo assim fez a pergunta, com um sorriso debochado. Revirei os olhos. Ele me beijou com gosto. Meu corpo inteiro correspondeu. De repente acabou.
- Fico feliz que tenha gostado, Charlotte – roçou o nariz no meu.
- Ótimo! Podemos continuar? – ele enrugou a testa, depois soltou um risinho balançando levemente a cabeça.
- Olha só o que eu fiz...
- Nada de piadas como “criei um monstro” ou “minha namorada é insaciável”. Se a primeira vez foi boa desse jeito, estou ansiosa para saber como serão as outras – corri meus dedos pelo seu peito. Alex riu, segurando minha mão. Fiz um beicinho, que ele desfez com os dentes.
- Acabei de gozar, sua tarada. Preciso de alguns minutos e... – olhou para a porta da cabana. -
Preciso fazer uma ligação ou então daqui a pouco todos vão entrar por aquela porta. Não sei como, só tenho certeza que seu pai conseguiria.
Meu pai.
Puta que pariu!
- Ele deve estar louco.
Puxei a manta e me cobri, Alex olhou e sorriu sem dizer nada. Caminhou até suas roupas, retirou o celular do casaco e verificou o aparelho.
- O sinal está péssimo, espero conseguir – caminhou pela sala, nu. Deslumbrante! Ah, como eu gostava daquele corpo! Agora mais do que nunca. – Pai? Sim. Estou bem – fez uma pausa e me olhou sorrindo. – Estou ótimo! Encontrei. Ela estava na cabana. Sim. Tinha saído com Escuridão e quando a chuva começou parou para se abrigar. Não. Estamos bem. Na verdade sem luz, alguém parece ter preparado a cabana, encontrei lenha e comida – piscou cúmplice e sorriu. Tão lindo! – Não podemos voltar. Vamos passar a noite aqui e... – fez uma careta, desviando o olhar. – Oi, Peter! Sim, Charlotte está. Sim, está bem. Não... Ela... Ok – colocou o celular no viva-voz e se aproximou de mim.
- Charlotte? – ouvi a voz abafada do meu pai do outro lado da linha.
- Oi, pai!
- Graças a Deus! – senti o alívio em sua voz. – Charlotte? – minha mãe interrompeu com voz chorosa.
- Oi, mãe. Está tudo bem. Na verdade estou ótima – coloquei entusiasmo em minha voz, sem querer alertar meus pais sobre que tinha acabado de acontecer. – Não estou machucada. Foi o Alex quem caiu e se machucou, eu estou bem.
- Alex caiu? – Dandara perguntou já com a voz embargada.
- Estou bem, mãe – ele respondeu voltando a se deitar ao meu lado. Suas mãos puxaram a manta e percorreram meu corpo.
Filho da mãe!
- Voltem para casa eu...
- O rio transbordou, o triciclo foi levado pelas águas, está chovendo canivete e Escuridão está muito cansado. Estamos bem. Vamos aguardar até que a chuva pare e o volume da água diminua.
- Mas vocês... – meu pai começou a falar e se deteve. – Tudo bem. Melhor vocês aí a salvo do que correndo riscos para retornar. De qualquer forma vamos continuar procurando um meio de resgatá-los, caso a chuva não pare e o rio não volte ao normal até amanhã... pela manhã – enfatizou.
- Vocês vão ficar bem? – a voz do Dr. Frankli era tranquila.
- Sim. Temos tudo o que precisamos e a casa está bem aquecida, então... – Alex respondeu enquanto seus lábios roçavam a pele do meu pescoço. Segurei um gemido que teimava em escapar.
- Tudo bem. Assim que a chuva diminuir ligaremos, fiquem atentos e voltem em segurança – o pai do meu professor finalizou me deixando aliviada.
- Tchau, pai – Alex desligou o telefone e se posicionou em cima de mim.
- E então? – beijou o canto da minha boca, colocando-se entre minhas pernas. – Onde paramos?
***
Abri os olhos e me senti perdida.
Onde estava?
Pássaros cantavam ao longe, um cheiro gostoso de mata molhada, o fogo crepitando, já bem mais baixo, o braço de Alex me envolvendo. Sorri.
Deus! Nós tínhamos transado. Finalmente! E foi tão maravilhoso!
Puxei o ar deleitando-me com as lembranças. Uau! Alex era incrível! Depois que desligamos o telefone ele foi implacável, me levando às nuvens como se não houvesse o amanhã. E tinha sido melhor do que a primeira. Se a tendência era melhorar, eu estava perdida. Não havia nada em minha vida que eu desejasse mais do que estar tão intimamente com ele.
Espreguicei o corpo e sorri satisfeita quando, mesmo dormindo, seus braços procuraram por mim. Ele estava abraçado comigo, sua cabeça enterrada em meu pescoço, respirando serenamente, mas assim que me movimentei, seus lábios roçaram minha pele. Alex dormia, porém seu corpo já dava sinais de que estava acordando... Completamente.
Com beijos leves ele foi despertando, seus dedos tocando minha cintura, me puxando para mais perto. Eu poderia passar o resto da vida assim. Vaguei as mãos em suas costas, permitindo que nossos corpos trocassem o calor agradável daquele início de manhã sem chuva.
- Hummm! – ele gemeu manhosamente ao perceber minha umidade. – Gosto muito disso – seus dedos percorreram meu sexo, levemente, cheios de preguiça.
- Eu também – ri carinhosamente enquanto me abria e lhe dava livre acesso.
Alex girou, ficando sobre mim e me olhou nos olhos. Seu rosto marcado, os cabelos desalinhados, acentuavam ainda mais sua beleza. Com muito, mas muito carinho mesmo, teceu uma linha de beijos em meu pescoço, ombros e seios. Me desmanchei em suas carícias.
E então ele estava dentro de mim, dessa vez sem a mesma urgência de antes, mas sim lento e delicioso, cheio de amor.
Seus lábios não saíam da minha pele, suas mãos não me abandonavam e ele se movimentava carinhosamente, me preenchendo, me possuindo, cheio de ternura, amor, gratidão... Sim, Alex estava grato por estarmos juntos, por eu ser somente dele e de mais ninguém.
Não sei se foi a grandeza do momento, as lembranças da noite, ou até mesmo a manhã cheia de promessas. Só sei que o orgasmo me atingiu como uma descarga elétrica, fazendo meu corpo se estirar preguiçosamente. Ele gozou em seguida, sem descolar os lábios dos meus.
Como dois gatinhos manhosos, permanecemos trocando carícias enquanto o calor do corpo cedia. Alex estava muito atencioso, carinhoso, um perfeito cavalheiro apaixonado. O meu príncipe encantado.
Só meu!
Infelizmente coisas tinham acontecido e elas nos puxavam para fora da nossa bolha. Anita e Tiffany continuavam existindo. Eu só não sabia se queria voltar ao mundo real naquele momento.
- O que foi?
Sussurrou com a ponta do nariz roçando minha clavícula. Insegura, me encolhi em seus braços e beijei seus cabelos. Suas mãos aqueceram minhas costas.
Estávamos deitados no sofá da sala. Preferimos assim, pois a lareira nos manteria quentes. Eu me sentia tão completa em seus braços, tão protegida de tudo e de todos. Não queria quebrar o encanto conversando sobre os problemas do dia anterior. No entanto, depois de momentos tão nossos, encarar os fatos era um gesto de confiança, precisávamos exorcizar todos os demônios antes de voltarmos para a nossa família.
- Charlotte? Eu conheço essa expressão. O que está preocupando você? – sua voz calma e suave me desarmou. Suspirei.
- Você saiu com Anita. Eu ouvi a conversa e... – Alex colocou um dedo em meus lábios. O
assunto também o desestabilizava.
- Contei a verdade a ela.
- Mas...
- Não dava para continuar escondendo de todo mundo. Uma hora ou outra a bomba explodiria.
Não podia mais ficar esperando acontecer para depois tentar consertar as merdas.
- Eu ouvi o que você disse. Estava flertando com ela – tentei ficar brava, era impossível.
- Realmente. Fiz isso para conseguir tirá-la de lá. Não podia me arriscar que Anita tivesse um ataque de fúria antes que eu tivesse conversado com Peter.
- Você o quê? Alex, meu pai...
- Eu entreguei o cargo de editor-chefe para Lana – parei chocada. Como assim? – Não adianta falar nada porque já defini tudo com a minha irmã.
- Como...
- E passei o seu material para João Pedro. Ele só vai assinar a aprovação, com isso acredito que consigo livrar você de uma retaliação pública.
- Alex...
- Sem contestação, Charlotte. Está tudo resolvido.
- Como assim? Eu...
- Charlotte! – levantou me encarando com severidade. – Eu decidi assim. Também me demiti da universidade. João passou um e-mail com a imagem da minha carta de demissão para o reitor.
Agora ninguém poderá questionar sua aprovação.
- Pare! – falei exaltada. – Pare agora, Alex Frankli! O que pensa que está fazendo?
- Cuidando de você.
Respondeu calmamente deitando-se de costas e colocando um braço atrás da cabeça. Era como se aquela merda toda não o atingisse mais.
- Claro! E quem cuidará de você? – ele sorriu. Um sorriso perfeito, cheio de amor e promessas. – Não faça isso. Não tente desviar o rumo da nossa conversa.
- Eu não estou fazendo nada – no entanto suas mãos afoitas me puxavam queimando minha pele.
Puta merda! Como eu ainda sentia desejo? Eu deveria estar dolorida, saciada, mas não. Era como se tivesse passado toda a minha vida transando com ele. Provavelmente suas aulas me fizeram avançar e pular o processo de adaptação. Não. Eu não podia deixar que ele me enrolasse com sexo.
- Pare, Alex! – tentei levantar e ele me manteve firme no lugar.
- Mal começamos nossa vida sexual e você já vem com desculpas para se desvencilhar? – sorriu debochado.
- Não é justo! – gemi derrotada. Toda aquela situação me angustiava.
- É justo e, sinceramente, era o único jeito de ficarmos juntos. Não podia arriscar o nosso relacionamento.
- E pode arriscar a sua vida profissional? Droga!
- Não é tão ruim quanto parece.
- E agora? O que você vai fazer? Do que vai viver? – ele riu. Foi um riso carinhoso.
Despreocupado.
- Em primeiro lugar: eu sou o dono da editora, então continuo tendo meios de me sustentar – riu novamente. – Em segundo: não vou me afastar, só não vou ficar à frente. E em terceiro... – beijou meus lábios e mordeu meu queixo. – Tenho planos.
- Planos?
- Sim.
- E eu posso saber quais são? – Alex me olhou, inclinando a cabeça para o lado, seu humor nitidamente modificado.
- Vou me casar com você. Cuidar da sua carreira. Criar nossos filhos e voltar a escrever.
O ar ficou preso em meus pulmões. Minha mente processava todas as informações e eu apenas flutuava no ar sem saber ao certo como recuperar o controle do meu corpo.
- Charlotte?
- Você... – pisquei muitas vezes tentando voltar ao planeta terra.
- Vou casar com você. Amanhã mesmo se quiser, só acho que Peter não vai ficar muito contente.
Peter. Ah, Droga! Então era por isso.
- Não precisa reparar os danos, Alex. Não vou me casar só porque decidi perder a virgindade.
Isso é... – ele colou sua boca na minha, calando-me. Droga! Me calar estava virando hábito.
- Eu quero que todas as nossas manhãs sejam como essa – sussurrou com os lábios ainda nos meus. – Quero você em meus braços todas as noites. Quero andar de mãos dadas sem medo. Quero o brilho do seu olhar sem me sentir culpado. Quero ser o seu marido. O pai dos seus filhos. O homem que te inspira. Eu quero tudo, Charlotte! E quero somente com você. Casa comigo, por favor!
Havia realmente uma súplica naqueles olhos da cor do mar, tão intensos e firmes, repletos de amor. Senti toda aquela intensidade me invadir e de repente fiquei presa. E me vi nele.
Visualizei todos os sonhos, planos, a nossa vida. Uma casa de frente para o mar, eu sentada lendo um livro enquanto ele surfava. Uma criança de cabelos negros, linda, com olhos de um azul escuro tão profundo que conquistava qualquer pessoa, correndo e jogando areia em mim. Eu queria aquilo. Queria desesperadamente.
- Caso. Eu me caso com você.
O beijo refez nossas energias e em minutos estávamos entregues um ao outro. Fazendo amor e deixando o amor nos moldar. Eu amava Alex. Alex me amava. E nada mais tinha importância.
Então eu entendi que valeu a pena todos os meus esforços, toda espera, a ansiedade, porque eu não poderia estar mais feliz, mais completa, mais realizada. Porque Alex era tudo o que eu sempre desejei até mesmo quando eu não sabia que seria ele, quando eu apenas idealizava e descrevia o homem ideal.
Naquele momento eu percebi que contos de fadas existiam, e que eu escrevia o meu próprio romance, onde a felicidade era possível e o amor uma realidade. Onde o bem sempre venceria o mal.
Sorri deixando-me ser sugada por aqueles olhos azuis tão cheios de devoção e pensei em como a vida era incrivelmente perfeita e maravilhosa.
Agradecimentos Sempre, sempre, sempre à minha família, por todo carinho, amor, compreensão... Por me suportar nos momentos em que nem eu mesma consigo conviver comigo. Por compreender que nem sempre estarei lá, que minha escolha me realiza, mas muitas vezes me limita também. Por lutar ao meu lado, por nunca permitir que eu desistisse, por jamais passar a mão na minha cabeça esquecendo os meus erros, mas, principalmente, por todas as vezes que permitiu que eu aprendesse com os meus erros.
Aos meus leitores, amigos, companheiros, que estiveram comigo durante longos dois anos até que finalmente o livro estivesse pronto. Por viverem comigo cada momento angustiante, cada falha e cada acerto. Por cada lágrima, cada risada e cada raiva que passaram com Charlotte e as suas infantilidades. Por amarem tanto Alex tornando possível a construção de um homem perfeito. Para vocês eu dedico cada letra, cada sentimento, cada realização e vitória. Obrigada, hoje e sempre!
À minha velha e nova guarda. Minhas amigas eternas, irmãs de alma que estão ao meu lado todos os dias. Que seguram virtualmente a minha mão. Que entendem a minha distância sem nunca cobrar uma posição diferente, pois sabem que eu sempre volto e sempre voltarei. Por me amarem incondicionalmente e enxergarem em mim mais do que eu sou capaz de enxergar. Amo vocês!
Aos meus filhos. É sempre tudo por vocês. Ontem, hoje e amanhã.
As duas guerreiras que me ajudam a colocar meus livros em ordem. Que sofrem a minha pressão, que aguentam todos os meus medos e inseguranças, que me guiam, auxiliam e tornam tudo muito mais bonito. Janaina Rico e Mariza Miranda, eu não sei o que seria de mim sem vocês.
A minha gerente na Amazon Brasil, Natalia Montuori, por todo apoio, paciência, carinho e incentivo. Obrigada por suportar toda a minha ansiedade e, principalmente, por acreditar em meu trabalho.
Aos meus pais, pela infância fantástica, pela criação impecável, pelos erros e acertos, e por tudo que me permitiu ser esta pessoa criativa, cheia de sonhos e que acredita em príncipes encantados e princesas românticas. E por isso eu sou o que sou: uma escritora.
Obrigada!
O professor Livro 2
Ainda estava atordoado quando Charlotte entrou no jipe e partiu. Johnny hesitou, mas Peter o dispensou apenas com um olhar. O clima ficou tenso imediatamente. Eu nem sabia como começar a conversa. Porém não demonstrei fraqueza nem fiquei intimidado. Sabia o que queria e não abriria mão. Não voltaria atrás.
Peter não montou como achei que faria. Apenas segurou as rédeas e começou a caminhar.
Como fez com Johnny, apenas me olhou indicando que deveria acompanhá-lo. Caminhei ao seu lado, em silêncio e cada vez mais tenso. Ele permanecia calado. Só olhava para frente e caminhava a passos lentos. Foram os dez minutos mais longos de toda a minha vida.
- Eu a amo, Peter – falei de uma vez só. Não dava para manter aquele silêncio nem ficar aguardando a iniciativa dele. Se era para fazer então que começasse logo.
Para minha surpresa, ele não explodiu, não se fez de ofendido, nem mesmo parecia que estava tendo uma sincope. Apenas sorriu e parou para me olhar.
- Disso eu já sei.
Por que ele estava tão relaxado? Eu não me aguentava de nervoso. Preparado para uma batalha.
Armado. Pronto. E ele simplesmente reagiu naturalmente.
- Ótimo! – olhei para frente sem saber como enfrentar sua atitude.
- Espero que você me compreenda, Alex. Charlotte é minha única filha. Eu sonhei para ela um futuro brilhante. Sacrifiquei a minha vida para que tivesse tudo o que sonhava. Pode não parecer, mas eu, mesmo contrariado, fiz e continuo fazendo tudo para que ela se realize. Não vou me opor à escolha da minha filha. Apesar de tudo, nunca fiz isso. Ela é como a mãe: sonhadora, porém decidida. Vira o mundo de cabeça para baixo se preciso, para conseguir o que quer.
Sorri. Aquela era realmente a Charlotte que eu conhecia. A garota determinada que me cercou totalmente e não me deixou a menor chance de escapar. A mulher da minha vida.
- Você deve conhecer muito bem o gênio dela. É impossível e determinada. Colocou na cabeça que queria ser escritora. Pode até não parecer, mas eu nunca fui contra. Queria que ela fosse médica, ou administradora, você sabe... Os hospitais... Mas Johnny vai cuidar de tudo e isso me deixa mais feliz. Eu quero que ela realize todos os seus sonhos.
- Eu te entendo.
- Por causa disso quero que ela tenha o namorado da sua escolha, o que não significa que vou facilitar. Minha filha pode se apaixonar quantas vezes quiser, no entanto o homem que ficar com ela terá que merecê-la. Deverá provar ser capaz de cuidar dela quando eu não estiver mais presente.
Espero que entenda. Um dia você será pai e não poderá colocar sua cabeça no travesseiro e dormir sossegado à noite sabendo que sua filha pode sofrer, ser magoada e ferida. Eu não consigo conviver com esse pensamento.
- Entendo perfeitamente – afirmei apreensivo. Como eu poderia prometer tudo aquilo? Como poderia saber o que a vida reservava para nós dois?
- Vocês passaram a noite juntos – engolir passou a ficar mais complicado. Eu nem conseguia mais fixar meus olhos nele.
- Foi necessário, não havia outra alternativa...
- Sim. Eu sei. De qualquer forma...
- Nós vamos nos casar... Quer dizer... Eu quero me casar com ela... Eu a pedi em casamento... – Puta que pariu! Estava ficando cada vez mais difícil. – Com o seu consentimento, é claro! – Ele parou, respirou profundamente e continuou andando. Novamente em silêncio. Mais intermináveis cinco minutos.
- Você é bem mais velho do que ela – disse por fim, como se estivesse falando sobre o tempo.
- E desde quando idade é um problema? – Estava tão tenso que não impedi a rouquidão da voz.
E se ele recusasse? Eu diria que ela já era minha mulher?
- Ela é muito mais rica do que você – revirei os olhos. Nunca tinha parado para pensar sobre este ponto. Aliás, nunca parei para pensar em nós dois de uma maneira diferente de eu ser o dono da editora e ela a escritora.
- Para nós não é um problema. A não ser que seja para você – ele negou com a cabeça, olhando sempre para frente.
- Ela é virgem.
Ferrou! Quase me encolhi. Engoli com muita dificuldade. Puta merda! Puta merda!
- Isto é algo importante, Alex. Você é homem. Experiente. Vivido. Homens têm necessidades...
– não dava para encará-lo. Definitivamente não dava. - Quero que permaneça assim. Se você pensa em casamento... Se esta for realmente a sua vontade. Vai ter que esperar até que seja realmente sua esposa.
O que eu poderia dizer? “Ah, não, Peter! Eu comi sua filha, várias vezes, ontem e hoje. Sinto muito!” Puta que pariu! O que eu poderia dizer?
- Claro, Peter! – Me ouvi concordando. Era aceitar ou me arriscar a perdê-la. Porra! Como vou sair dessa? – Eu quero casar o mais rápido possível. Não tenho dúvidas sobre meus sentimentos por Charlotte.
- Por que a pressa? – Ele me olhou em dúvida. Merda!
- Porque amo a sua filha e quero passar a minha vida ao lado dela. Estou com trinta e cinco anos e não tenho mais tempo a perder. Tenho uma vida confortável, um emprego seguro. Quero e vou me envolver com a carreira dela, além disso me preocupo com os sentimentos que a envolve e segurança dela, tanto quanto você. Não vejo porque esperar – e claro, eu já transei com ela e não posso deixar você descobrir este detalhe.
Peter não me disse nada. Estávamos próximos da casa. Eu precisava extravasar toda a tensão.
Merecia “uma bela trepada” para aliviar o meu corpo, embora, pelo visto, isso estivesse fora de questão. Pelo menos enquanto estivéssemos sob o olhar atento do pai da mulher da minha vida. A verdade era que depois de daquela conversa, eu precisava dela em meus braços para ter certeza de que tudo ficaria bem.
- Certo. Ela aceitou?
- Sim.
- Certo.
Ele não disse mais nada. Entregou-me as rédeas do cavalo e andou em direção a casa.
Tatiana Amaral
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