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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O PROFISSIONAL 1 / Kresley Cole
O PROFISSIONAL 1 / Kresley Cole

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Ele faz as regras...

O executor da máfia Aleksander Sevastyan, O siberiano, é leal ao seu chefe sem hesitar até conhecer sua filha perdida. Uma ruiva curvilínea e tentadora que assombra sua mente, e aquece seu sangue como ninguém. Designado para protegê-la, Sevastyan fará qualquer coisa para possuí-la também, em seus próprios termos perversos.

As regras são feitas para serem quebradas...

A estudante de Doutorado Natalie Porter mal se recuperou de sua primeira visão do impressionante e magnífico Sevastyan antes do assassino profissional a levar para a Rússia, empurrando-a em um mundo de extrema riqueza e prazeres sensuais. Cada dia que passa sob sua proteção ela cai mais fundo sob seu poderoso feitiço.

Está pronto para jogar?

No entanto, nem tudo é como parece. Para remover Natalie do alcance dos inimigos, o talentoso Sevastyan a esconde. Desde um opulento palácio na Rússia até os decadentes playgrounds dos mega ricos em Paris, os dois amantes descobrirão que mesmo as suas mais obscuras e mais proibidas fantasias podem se realizar…

 

 

 

 

— Problemas com a figura materna. Traidor em série. Carente de humor. Tem ejaculação precoce.

Para cada cara que entrava no bar do campus, informava as primeiras impressões que eu tinha com irritação às minhas amigas bêbadas.

Eu tinha um talento fora do normal para analisar homens — era uma “homenalista” regular. Meu segredo? Sempre ia no negativo, e os caras, bem, eles sempre correspondiam a esse tipo de expectativa. As garotas à mesa — várias amigas das minhas colegas de quarto e umas duas minhas — me olhavam como se eu estivesse estrelando uma peça cômica, a palhaça da turma. Bebidas sempre vinham de graça. Depois da semana que tive, meu jantar de sal, tequila e limão já começava a fazer efeito.

Minha melhor amiga Jessica murmurou no meu ouvido.

— É melhor ter cuidado, sua puritana exigente, ou vai levar o hímen para a cova. Como um tipo de etiqueta feita de pele.

Somente ela sabia que nunca cedi minha virgindade a ninguém — e o motivo.

— Golpe baixo, Jess. — eu disse sem falar sério. Como ela, era preciso muita coisa para me deixar irritada, e essa era uma das razões de sermos ótimas colegas de quarto.

Fora isso, éramos completamente diferentes. Enquanto ela tinha pernas enormes e bronzeadas com olhos azuis brilhantes e cabelo preto curtinho, eu era baixinha e com peito grande, cabelo vermelho comprido e pele tão branca quanto porcelana.

         Era uma aficionada por trabalho e estudo, perseguindo o meu PhD em história. Depois de anos desperdiçados sem nunca completar nenhum curso, Jess finalmente tinha colocado as pontas dos dedos dos pés nas matérias principais da sua escolha de formação — estudos do lazer — e decidido que faculdade era “uma embromação” para “trepadas terríveis”. Embora estivéssemos no meio do semestre, ela viajaria amanhã para uma temporada nas Ilhas Gregas com a sua família abastada.

Outra rodada de tequila chegou enviada por um trio de garotos de fraternidade sentados a algumas mesas de distância. Nós levantamos os copos e em seguida obedientemente lambemos, engolimos e chupamos. A tequila, não os garotos.

         Enquanto outras mulheres poderiam olhar para aqueles caras superficialmente atraentes e enxergarem possíveis parceiros ou mesmo ficadas divertidas, eu via dores de cabeça iminentes. Outras garotas ficavam super a fim apenas com as frases prontas deles e as suas caminhonetes; eu só ficava irritada.

         Mas nem sempre fui assim.

         — Faça com os garotos da fraternidade, Nat! — gritou a nossa amiga Polly. Ela era uma garota robusta, nem gorda nem magra, de Nebraska — a fazenda de sua família ficava em uma cidadezinha perto de Lincoln, só a algumas milhas de distância da nossa. Bem, não nossa mais, já que mamãe a vendeu no ano passado.

         — Fácil demais. — eu disse, já tendo analisado o trio. O primeiro cara ficava checando constantemente os pontos do jogo na televisão enquanto sua perna mexia. O segundo estava em um estado já passado e seus próprios amigos reviravam os olhos ante a sua embriaguez. O terceiro tinha o cabelo e as roupas perfeitos, e vez por outra checava a aparência no espelho atrás do bar.

         — Da esquerda para a direita, então? — perguntei. — Jogador inveterado, bêbado habitual e — como devo dizer? — o terceiro não é bem dotado.

         Suspirei. É, aqueles caras eram fáceis demais de ler. Onde estava o entusiasmo? Aqui estava eu, no mesmo bar em Lincoln que sempre frequentava, com a mesma galera com quem sempre andava. Tinha um turno cedo amanhã em um restaurante, um tarde em outro e aulas para assistir e dar na segunda-feira. Tinha cerca de cinco horas de sono por noite nos finais de semana. O que estava fazendo ali?

         Supus que poderia dormir quando morresse.

         — Escolhi a minha presa da noite. — disse a bela Jess. — O mal dotado é meu. — Como de costume, ela escolheria outra conquista e o levaria pra casa — para poder ir embora assim que terminasse com ele. — O tipo dele — ela continuou alegremente — normalmente compensa as suas desvantagens com a boca. História verídica.

Eu disse a ela.

— É melhor você ter cuidado, Jezebel, ou vai conseguir outro admirador que gruda que nem um fungo.

         — Não posso evitar disso aqui ser o Triângulo das Bermudas — ela apontou para a virilha — quando os caras se aventuram por aqui, eles costumam ficar.

         Bati o dedo no queixo.

— Oh, eu achei que a chamava assim porque está repleta de seamen[1].

         Entre gargalhadas, ela disse.

— Essa é uma declaração completamente justa!

         Nós podíamos rir do assunto agora, mas eu vivia com o final dos seus affairs: os presentes desesperados, as ligações tarde da noite, as perseguições.

         Qual era a razão de todo o drama? Ou de toda aquela angústia? Namorar, amor e sexo eram supervalorizados — como eu várias vezes tentei explicar a Jess. Ela dava aquele sorrisinho misterioso e dizia:

— Um dia você vai ser pega de surpresa. Só espero estar presente para ver…

         Quando a risada morreu, Polly disse.

— Faça com ele. — com um aceno para a porta.

         — Tudo bem. — Exalando com tédio — faça por merecer as suas doses, palhaça — me voltei para a entrada. E vi o homem com a aparência mais fodástica que já encontrei. Seus olhos eram de um dourado vívido, que contrastavam fortemente em seu cabelo cheio e negro.

         Ele o usava meio longo, as pontas roçando no colarinho. Tinha um nariz romano que provavelmente foi quebrado e uma cicatriz de lâmina fina que cortava seus dois lábios. Um lutador?

         Mas isso não condizia com suas roupas caras: um casaco e camisa feitos sob medida pretos, calça cinza escuro, sapatos e cinto de couro preto. Com Jess, aprendi o suficiente sobre moda para reconhecer roupas finas. O seu traje provavelmente custava mais do que todo o meu guarda-roupa.

         Quando se aproximou do bar e pediu uma bebida, vi que tinha três anéis nos dedos de uma mão, outro anel no outro polegar e uma tatuagem de aparência sinistra que aparecia debaixo do seu colarinho bem engomado. Seu estilo era uma mistura de rua e privilegiado.

         Ele era alto, com um corpo magro e musculoso, e parecia ter talvez vinte e nove ou trinta, mas seu rosto era cansado, como seria o de um homem mais velho. Com aquelas feições mais brutas, ele era belo de um jeito bronco, mas não clássico.

         Havia uma aura de tédio em volta dele, mas também parecia altamente alerta.

         Que diabos? O meu homenalisador interno zuniu em confusão.

         Não computa!

         Podia sentir minhas amigas me olhando, mas eu não sabia o que dizer.

— Eu… eu não tenho nada a dizer. — Ele era um brigão ou um playboy rico, ou os dois? Também pressentia notas fortes de algo europeu — junto com notas mais baixas de perigoso!

         Ele era como um livro de história escrito em um alfabeto que nunca vi. Fascinante.

Jess me beliscou atraindo minha atenção para o seu sorriso convencido.

— Pode fechar a boca agora, vadia. — Em um tom paternalista, ela disse. — Bem-vinda ao meu mundo — onde os primeiros encontros sempre são em câmera lenta e a música “At Last” se repete.

         Não, não, o mundo dela era cheio de angústia e superexcitado. Então por que o meu olhar voltou para o homem?

         — Isso é que é um bom pedaço. Numa mistura entre lutador de MMA/modelo da revista GQ. — Jess não ia deixar aquilo passar. — Provavelmente consegue mais traseiros do que um assento de privada. Mas ele conseguiu que você o olhasse duas vezes, o que o torna uma criatura rara e fantástica, o próprio unicórnio do bar. Necessita de uma investigação mais profunda, você não acha?

         Eu poderia questioná-lo, classificá-lo e depois descartar todos os pensamentos que lhe dissessem respeito. Estava bêbada o suficiente para considerar essa alternativa.

— Devia ir até lá me apresentar?

Ela assentiu.

— A menos que seja idiota. Agora, vá com confiança, porque hoje você está mais que linda.

         O estilo de Jess era SEXY & GLAMUROSO! O meu? Me-olhe-e-me-ame seus filhos da mãe. Mas hoje à noite eu estava vestindo uma saia de couro curta na altura dos quadris e uma blusa vermelha e colada — uma das peças de vanguarda e decotadas de Jess. Pra variar, o meu sutiã não era um redutor.

         Aquela roupa foi usada porque as roupas que eu normalmente usava — calça jeans e blusa de gola rolê — estavam todas apinhadas no enorme cesto de roupa suja. Eu tinha usado as botas de cano alto até o joelho que Jess comprou pra mim para mostrar a ela que tinha apreciado o presente. Eu me levantei, ajeitei o cabelo por cima do ombro e então puxei a saia pra baixo, fazendo com que Jess me desse um tapa bem alto no bumbum como incentivo. Quando passei pela mesa deles, Pinto Pequeno e Bêbado Habitual levantaram os copos pra mim, o que não magoou a minha confiança.

         Assim que cheguei na metade do caminho até o Fodástico, os olhos dele se prenderam aos meus. O olhar ficou mais quente e o espaço imediatamente pareceu menor, mais aconchegante. Reprimi a vontade de me abanar. Pela primeira vez na minha vida fiquei um pouco… eufórica.

         Quando cheguei até ele no bar, ele se virou completamente para mim. De perto era ainda mais ameaçador, ainda mais atraente. Mais alto do que eu tinha pensado.

         Seus olhos encantadores eram de cor âmbar, as íris contidas por anéis negros.

         Quando notei detalhes adicionais — articulações dos dedos cheias de cicatrizes, tatuagens nos dedos debaixo dos anéis, linha da mandíbula bem definida e com a barba bem feita — percebi o calor que exalava do seu corpo.

         Então captei a primeira inalada do seu cheiro entorpecente.

         Vivo, masculino, intoxicante.

         Surpreendente.

         Fale alguma coisa, Nat. Eu tive que levantar a cabeça para encará-lo.

— É, oi, eu sou Natalie. — Ofereci a mão para que apertasse. Ele não a aceitou. Ok… engoli em seco. — Posso te pagar uma bebida? — Aquilo que ele pediu era vodka com gelo? Não parecia do tipo de cara que bebia uísque com soda.

         Ele inclinou a cabeça, estudando o meu rosto — do mesmo jeito que eu estudava as expressões masculinas. Ainda assim ele não disse nada.

         Talvez ele não falasse a minha língua. A UNL tinha uma porção de estudantes estrangeiros.

— Bebida? — Eu apontei para o copo que ele não havia tocado e fiz uma mímica de uma dose.

         A expressão dele dizia tão pouco que era como se eu tivesse falando com uma parede.

         Quando as minhas bochechas coraram, murmurei.

— Entããão, foi legal. Bom papo, meu chapa. — Com um sorriso envergonhado me virei. Uma palma calejada se fechou em volta do meu cotovelo, os anéis dele frios comparados à pele. O contato foi tão elétrico que estremeci.

         — Espere. — ele disse. Ouvi um leve sotaque no “r”?

         Meu coração disparou. Talvez ele fosse… russo. Eu me virei, um sorriso sincero agora no rosto.

— Você é da Rússia? — acrescentei. — Zdrav-stvooi-tee. — Olá.

Ele ainda segurava meu cotovelo. Como a mão dele podia ser tão quente? Reprimi imagens dele segurando outras partes minhas, aquelas mãos espalhando calor pelo caminho…

— Então você fala a minha língua?

Bingo, um russo!

— Um pouco. — eu disse com prazer. Poderia interrogá-lo a respeito do país, aprender mais sobre a terra onde nasci! — Tive uma aula ou duas.

Ou cinco. O meu mestrado exigia fluência em uma segunda língua, e eu tinha escolhido o russo.

Ele olhou em volta, a posição alerta, como se alguém pudesse atacar a qualquer segundo. Depois voltou a encontrar o meu olhar.

— De todos os homens neste bar, você escolhe me abordar? — O inglês dele era muito bom, embora com um sotaque bem forte. — Está querendo problemas?

Com uma confiança que não sentia, disse de um jeito provocador.

— Talvez sim. — Eu soava sem fôlego — ainda não tinha recuperado desde o momento que ele me tocou. — Encontrei algum?

Ele baixou o olhar, aparentando surpresa por ainda estar segurando meu braço. Soltou abruptamente, ficando mais bravo a cada segundo.

— Não, garotinha. Não encontrou. — Com uma expressão de desprezo se virou e foi embora.

Eu fiquei olhando a porta, lutando contra a minha perplexidade. O que aconteceu? Eu vi interesse nos olhos dele, não vi?

Ainda assim ele agiu como um vampiro que tinha acabado de descobrir que eu era a porra de um raio de sol.

 

         “Que diabos, você mordeu ele?” “Ofendeu sua masculinidade?” “Deixa eu cheirar seu hálito.”

         Fiquei no bar tempo bastante para suportar a gozação, porque era merecida e porque eu era muito boa em levar tudo na esportiva. No geral, tentava não me levar tão a sério — afinal, eu me chamava de “homenalista”. O lema da minha vida: Se não vale a pena, faça piada.

         Algumas doses depois, eu me despedi e me dirigia bem embriagada para casa, o apartamento que eu dividia com Jess ficava a umas cinco quadras de distância.

         Milhares de estudantes estavam nas ruas refrescando a cabeça antes das provas do meio do semestre. Era uma noite fria de outono com uma lua cheia no céu. Apertei a minha jaqueta ao corpo. Perto assim da colheita, o cheiro de milho maduro era levado pelo ar — sempre uma época de animação para mim, já que lá no fundo eu era uma garota de fazenda. Mais um casal de mãos dadas passou por mim e eu os olhei com um pouco de melancolia. Mesmo que eu tivesse tolerância zero para homens e seus dramas, não me importaria de ter alguém com quem me aconchegar naquele inverno.

         Alguém que notasse que minhas mãos estavam frias e que as segurasse para que esquentassem.

         Não pense no russo, não pense no…

         Tarde demais. Eu não me via exatamente passeando pelo campus toda lá, rá, rá, com um cara daqueles. Mas havia algo nele...

         Uma sensação repentina de que estava sendo vigiada me atingiu. Passando a palma da mão pela nuca, olhei em volta. Só via estudantes vagando pelas ruas, apinhando-se nas entradas de vários bares.

         Provavelmente era só a tequila fazendo efeito. Ou o estresse da semana insana de trabalho. Era seguro dizer que a única coisa assustadora naquele campus era o tédio mortal.

         Tentando me livrar do desconforto, tirei o telefone do bolso e chequei meu e-mail. Nada de Zironoff. Estava começando a pensar que fui enganada pelo meu detetive. Não seria a primeira vez que um deles tinha passado a mão na minha grana. Eu tinha desperdiçado um ano inteiro de gorjetas com aquele filho da mãe?

         Tinha um e-mail preocupado da minha mãe perguntando por que eu estava trabalhando tanto. Se ela alguma vez descobrisse sobre essa minha busca, levaria para o lado pessoal e nós não precisávamos de mais conflitos.

         Finalmente em casa caminhei pela passagem que atravessava o pátio. O nosso apartamento era um bangalô bonitinho da metade do século de propriedade dos pais da Jess. Ela o chamava de Bangaraco, uma indicação perfeita do seu nível de maturidade.

         Lá dentro, tirei o casaco a caminho da cozinha. Gatorade gelado, o meu remédio preventivo secreto de ressacas, esperava por mim.

         Ouvindo um som da frente da casa, eu chamei da geladeira.

             — Jess, é você? — Eu soava bêbada. — O que você está fazendo aí atrás? — Será que a bebida finalmente fez efeito nela? Eu poderia simpatizar.

         Nenhuma resposta. Encolhi os ombros — o Bangaraco emitia mais batidas e gemidos do que um estúdio de filmes pornô.

         Fechei a geladeira. Metade da porta estava coberta de fotos das revistas de moda preferidas de Jess. Minha metade estava coberta de cartões postais. Ela os mandava de todas as localidades excitantes que visitava a cada recesso. Embora eu tivesse um convite aberto da família dela e ansiasse viajar, sempre estava trabalhando. Nunca nem saí do Meio-Oeste.

         Nunca vi o mar, muito menos a torre Eiffel.

         Se ganhasse um dólar cada vez que olhasse para aqueles cartões enquanto me fazia a promessa de, um dia… bem, eu não precisaria ter três empregos.

         Depois de beber minha dose de Gatorade fui para o meu quarto prendendo o cabelo no topo da cabeça para tomar banho. Minutos depois quando entrei na água quente, outra onda de decepção por ter bebido demais me abateu. Agora que tinha me dado super mal na primeira vez que tentei ganhar alguém, tinha que me perguntar como é que os caras continuavam abordando mulheres sempre arriscando uma rejeição. Pensei em todos os homens que recusei — será que acabei com a noite deles?

         Eu só não conseguia entender por que aquele russo ficou com tanta raiva. E o que diabos era tão perturbador na minha pessoa? Eu não era uma beldade como a Jess, mas fui alvo do interesse masculino desde que meus seios apareceram.

         Curiosa, passei as palmas das mãos nas minhas pernas. Elas eram torneadas de passar horas e horas em pé servindo mesas, bem como os meus braços eram torneados de tanto levantar bandejas.

         Minhas mãos subiram até o quadril. Sinceramente, ele era largo, mas a minha cintura era fina. E meus seios? Eles eram razoavelmente grandes, subindo e descendo na água, mamilos de uma cor coral aparecendo na superfície.

         Meu decote ficou em evidência naquela noite; aquele russo não tinha olhado nem duas vezes para ele.

         Mas e seu eu não o tivesse repelido? Qual seria a sensação daquelas palmas quentes e ásperas dele acariciando o meu peito? Ao pensar, experimentei uma onda de tesão tão forte que me assustou. Meus mamilos enrijeceram ainda mais. Quando a água da banheira bateu neles, minha respiração acelerou.

         Eu falei com ele por menos de dois minutos, vi por menos de dez e o efeito dele em mim era forte desse jeito?

         Para o inferno com isso — ele podia me desdenhar o quanto quisesse, mas não podia me impedir de fantasiar sobre ele. Com um “Vá se foder, russo” mental, coloquei a mão entre as pernas para me acariciar, imaginando os ombros largos dele, a mandíbula quadrada, a boca. Aqueles olhos dourados velados.

         Mesmo na água, pude sentir o quanto a minha boceta tinha ficado escorregadia, meu indicador deslizando pelos meus lábios íntimos, separando-os. Quando alcancei o clitóris o encontrei inchado e hipersensível.

         Suspirando de necessidade, comecei a esfregar o broto em círculos lentos. Minhas pálpebras se fecharam e meus joelhos caíram encostando dos lados da banheira. Com a mão desocupada acariciei os meus seios, usando o polegar nos mamilos até eles enrijecerem…

         Debati com a ideia de pegar um dos meus confiáveis vibradores que ficavam debaixo da cama. Mas então imaginei o russo beijando o meu torso com aquela expressão ardente e percebi que o B.O.B.[2] podia ficar de fora dessa.

         Embora nunca um cara tivesse feito sexo oral em mim, pude praticamente ver a cabeça de cabelos escuros do russo entre as minhas coxas enquanto ele começava a lamber. Outra carícia me fez ondular o corpo dentro d’água, ofegando. Os lábios dele seriam firmes na minha carne molhada enquanto ele me invadia com a língua de um jeito faminto. Ele iria me querer cada vez mais molhada, e eu cederia ao seu desejo.

         Naquela fantasia, meu clitóris dolorido não latejava no meu dedo, mas sim na sua língua ávida.

         Quando o meu corpo ficou tenso com o orgasmo, cada pedacinho meu pareceu se juntar, como uma estrela prestes a explodir. Esfreguei a palma da mão nos meus mamilos duros, outra dose de estímulo. Tão perto, só mais algumas carícias… abri os olhos para me ver me contorcendo em êxtase. No canto da minha visão, vi a coisa mais estranha… pelo vapor do ar, achei ter visto o russo na porta me olhando com olhos em combustão.

         O peito largo subindo e descendo sem parar enquanto ele rangia os dentes.

         Músculos tensos como se estivesse prestes a cair em cima de mim.

         Estreitei os olhos.

         Claro que a minha mente inebriada estava imaginando aquilo? Estava tão bêbada assim? Estava prestes a gozar, meus dedos dos pés já dobrando. Quando encontrei o olhar imaginário dele, meu dedo safado decidiu dar mais uma acariciada de me fazer tremer em meu clitóris.

         Ele exalou com força, as mãos enormes abrindo e fechando. Sua expressão dizia que ele estava a ponto de me agarrar e me devorar, pedacinho por pedacinho. Tão perto… então caiu a ficha de que ele realmente estava de pé parado na porta do meu banheiro.

         O russo tinha invadido a minha casa e estava me espiando que nem um psicopata!

         Eu me levantei de súbito, sorvendo o ar para gritar, mas ele me interrompeu:

— Cubra-se, Natalie. — Sua voz estava rouca, o cenho franzido com força. — Precisamos conversar. — Com um palavrão terrível em russo, ele saiu.

         Me cobrir? Conversar?

         Serial Killers não diziam essas coisas!

         Eu estava tão confusa que não consegui gritar. Minha boca se moveu, mas nenhuma palavra saiu. Eu saí desajeitadamente da banheira, pegando uma toalha e a prendendo em volta do corpo. Mesmo no meio daquele tumulto chiei quando o tecido felpudo esfregou meus mamilos.

         Procurando por uma arma, tirei a tampa da descarga, colocando-a em cima do ombro como se fosse uma marreta ou um bastão. Da segurança do banheiro, eu falei.

— Não sei o que está fazendo na minha casa. Mas precisa ir embora agora. Ou eu vou chamar a polícia!

         — Fui mandado aqui pelo seu pai. — ele respondeu do meu quarto.

         Eu balancei e a minha arma improvisada escorregou. Considerando o sotaque russo dele — e o momento — eu sabia que tinha que estar falando do meu pai biológico. Mesmo assim, disse.

— Meu pai morreu seis anos atrás.

         — Você sabe que não me refiro a esse.

         Às pressas, exigi.

— O que sabe dele? Quem é você? Por que invadiu a minha casa?

         — Invadi? — Um som de zombaria. — A chave estava debaixo de uma pedra de plástico. Para quem quisesse encontrar. — ele acrescentou em um tom repreensivo. — Seu pai é um homem muito importante — e rico. Ele me contratou como o seu novo segurança.

         — Segurança! Por que eu precisaria de um?

         — Qualquer um em uma família na lista das dez mais ricas — ofeguei com isso — precisa de proteção.

         — Está dizendo que ele é… bilionário? — Era uma pegadinha? Talvez a fortuna dele fosse em rublos ou algo parecido.

         — Correto. O nome dele é Pavel Kovalev. Ele soube da sua existência há pouco tempo através de um detetive que você contratou.

         Agora eu sabia o nome do meu pai. Inicialmente queria saber dos meus pais biológicos porque possuía um senso de curiosidade superdesenvolvido. Então me ocorreu que eu podia ter herdado esse senso dos meus pais.

         Depois disso, eu tinha imaginado um homem e uma mulher em seus quarenta anos que viviam pensando na filha que deram a um orfanato há vinte e quatro anos atrás. A ideia tinha me incitado a arrumar outro trabalho para continuar investigando. Eu procurava não só pensando em mim, mas neles.

         Mas ele nunca soube da minha existência?

Então franzi o cenho.

— Meu detetive? Zirinoff? Ele não retornou nem meus e-mails nem telefonemas.

         — Ele ficou sabendo que daquele momento em diante nós lidaríamos internamente com o assunto.

         — Oh. — Obrigada pelo aviso, imbecil. Pelo menos não fui enganada novamente. Não, eu… consegui o que tanto queria.

         Depois de seis anos de busca.

Em cambaleei pelo choque — e pela tequila residual. Devolvi a tampa ao lugar que pertencia antes que ela caísse na minha cabeça como uma bigorna nos desenhos.

— Se você é o meu segurança, então por que estava me espiando tomar banho? — Peguei o meu robe rosa, trocando rapidamente a toalha por ele. — Hein?

Silêncio. Quando não ouvi nada, senti uma leva estranha de pânico de que aquele homem — uma nova fonte de respostas, um apaziguador de curiosidade — tivesse desaparecido tão rapidamente quanto apareceu.

— Está aí?

         Tentando não pensar no quanto o meu robe era curto — e no que ele tinha acabado de me pegar fazendo — coloquei a cabeça para fora do banheiro; nem sinal dele. Então caminhei com cautela para o quarto.

— Não respondeu à minha pergunta. Ei, por que está no meu closet?

Ele saiu pela porta.

— Onde está a sua mala?

         — O que isso tem a ver com o assunto? — Eu não tinha uma mala de verdade. Tinha me mudado com cestas de roupas e caixas.

         Ele passou os olhos por mim em meu robe, demorando-se em certas partes. Parecendo sair de um torpor, ele pegou a minha enorme mochila, derrubando os livros da biblioteca que estavam dentro dela no chão. A História da Sexualidade, Os Limites de Eros, Um Espinho na Carne.

         — Que diabos, russo?! — Se ele tinha notado os títulos — meu campo geral era a história da mulher e do gênero — eles nem o perturbaram.

Quando atirou a mochila vazia para mim, quase não a peguei.

— Só coloque o que vai precisar. Tudo mais será providenciado.

         Olhei de boca aberta para a mochila e depois para ele.

— Não vou fazer nada, não até você me dizer para onde pensa que vou. E por que isso não pode esperar até amanhã? Pelo que sei, você podia ser um traficante de pessoas!

         — E esse seria o meu Modus operandi?

Ele exalou com um tipo de impaciência surpresa, como se ninguém nunca tivesse discutido com ele antes — como se tivesse feito o mesmo com centenas de outras garotas e todas elas tivessem começado a arrumar a mala dizendo um “Sim, senhor”.

— Meu nome é Aleksandr Sevastyan. Me chame de Sevastyan. — Como Sebastian, só que com v. — Trabalho para seu pai há décadas. Kovalev está ansioso para te conhecer. — Ele acrescentou, quase que para si mesmo. — Eu nunca o vi tão ansioso.

— Como ele pode ter certeza que sou filha dele? Zironoff pode ter se enganado.  

— Nyet. — Nyet era um não áspero; net um não suave. — Você ofereceu seu DNA. Kovalev já tinha o dele mapeado. Não houve engano.

— Se ele está tão ansioso para me conhecer, por que não veio pessoalmente? Por que não me ligou?

— Como eu disse, ele é um homem muito importante na Rússia, e no presente momento está envolvido com questões profissionais que não podem ser solucionadas por outra pessoa que não ele. Ele confia implicitamente em mim.

         Sevastyan foi até a janela do meu quarto, olhando pelas frestas da persiana com o mesmo alerta que notei no bar.

— Se arrumar a bolsa e pegar o avião comigo, ele a encontrará em sua mansão na parte externa de Moscou em menos de catorze horas. Esse é o desejo do seu pai — um que irei cumprir.

         O meu homenalisador podia estar com defeito, mas o meu detector de conversa fiada ainda funcionava muito bem; indo contra todas as probabilidades, eu estava começando a acreditar naquele cara.

         A realidade começou a retornar.

— Mas amanhã eu tenho trabalho. — Que eu não precisaria mais ter se a minha busca terminasse. — E as minhas aulas! — Assim que as palavras deixaram meus lábios eu me senti boba.

         O que aquele russo enorme e tatuado entenderia sobre uma formação superior? Do que lhe importaria?

         Surpreendentemente, ele disse.

— Sua educação é importante para você. Nós entendemos isso. Mas seu pai a quer na Rússia agora. Não no próximo mês, nem na próxima semana. Você parte hoje.

         — Ele sempre consegue o que quer?

         — Sem exceção. — Sevastyan checou o relógio de aparência cara no pulso. — Nosso voo parte em uma hora. Explicarei mais a caminho do aeroporto.

         Aeroporto? Voo? Eu nunca entrei em um avião. Mesmo assim poderia estar na Rússia em menos de um dia. Não pense nos cartões postais, não pense…

         Até mesmo Jess nunca esteve na Rússia!

         Então me endireitei.

— Mais uma vez, qual é a pressa? E notícia de última hora — eu não tenho passaporte! Como vou para Moscou sem um?

         — Resolverei isso. Não é um problema. — Sevastyan desligou o abajur ao lado da minha cama, diminuindo a luz no quarto.

         — Como pode não ser um problema? — Eu olhei para as tatuagens nos dedos cheios de cicatrizes dele e tive uma suspeita, mas tentei ignorá-la. Negativo, não era possível…

         — Entendo que é muita coisa para absorver. Mas as coisas para você são diferentes agora, Natalie. Algumas regras… não se aplicam mais.

         Endireitei os ombros.

— Não é bom o bas...

         — Me deixe simplificar para você. — ele interrompeu. — Eu vou sair dessa casa em cinco minutos. Você pode sair comigo, vestida e com a bolsa pronta ou partir nesse pequeno robe — os olhos penetrantes dele me varreram, olharam os meus mamilos que pressionavam a seda — em cima do meu ombro. A escolha é sua.

Meus lábios se abriram. O tom dele não deixava dúvida de que falava muito sério em me sequestrar. Esse segurança do bilionário russo terminaria o seu trabalho — e ponto final.

         Ainda assim, ousei fazer outra pergunta.

         — Por que não disse nada sobre a minha mãe?

         Quando os olhos dele se estreitaram, tive outra vez a impressão de que poucas pessoas desafiavam aquele homem.

         — Quatro minutos.

         Cruzei os braços em cima do peito.

         — Não posso simplesmente aceitar isso, Sevastyan. Não sem mais respostas.

         — O que eu prometo que terá quando estivermos a caminho.

         Pior coisa que poderia acontecer: se eu não gostasse do que ele tinha a dizer poderia fugir dele no aeroporto direto para os braços dos guardas de lá.

         Sevastyan se colocou na minha frente. A luz suave acariciava as suas feições ríspidas. Elas eram quase que masculinas demais. A mandíbula áspera era larga, a ponte do seu nariz aquilino levemente entortada, dando-lhe uma aparência malandra. Mas no todo, ele era devastadoramente atraente com aquela aura perigosa em volta.

         — Você precisa confiar em mim, bichinho. — ele disse quando estendeu a mão para agarrar meu queixo com gentileza.

         Com o seu toque, aquele calor estonteante me encheu mais uma vez. Era só o álcool operando, eu me assegurei, ou a exaustão me invadindo. Ou o meu momento não finalizado na banheira.

         — Sabe que não tenho intenção de te fazer mal. — ele murmurou. — Do contrário, eu poderia ter te levado daquele bar para um lugar que pudéssemos ficar sozinhos. — Minha respiração ficou ofegante quando ele disse isso. — Não teria saído de lá comigo?

         Em. Um. Piscar. De. Olhos.

         Ele se inclinou para dizer no meu ouvido.

— Isso mesmo, Natalya. Você teria me seguido aonde eu fosse.

         — Um… é… — eu ainda estava me recuperando do som do meu nome no sotaque brusco dele quando senti a sua respiração morna. Oh, Deus, os lábios dele roçaram mesmo a minha orelha de leve? Se o cheiro e o calor dele me afetavam, aquele contato efêmero enfraqueceu as minhas pernas.

Ele se afastou, a expressão indecifrável.

— Então por que não para de agir como se já não tivesse decidido vir comigo?

         — Perdão?

         — Você se decidiu assim que ouviu as palavras Rússia, pai e partir. — Os lábios firmes dele se estreitaram, fazendo aquela cicatriz de lâmina embranquecer.

         — Isso não é totalmente verdade...

         — O tempo acabou, bichinho. — Ele se abaixou para enganchar um braço debaixo do meu traseiro me jogando em cima do ombro.

 

— PONHA-ME NO CHÃO! — gritei, contorcendo-me sobre o ombro do Neanderthal que saía pela porta da frente. Ar frio molhava meu roupão, esfriando-me em lugares pouco usuais. — Você não pode fazer isso!

Ele aumentou o aperto na minha bunda.

— Fazendo isso. — o tom dele era casual; não estava sequer ofegando.

Outra inútil rodada de contorções.

— Por favor, ponha-me no chão. Voltaremos para dentro — E eu vou fugir correndo — e poderei arrumar a mala como você tinha falado.

Três transeuntes desciam pela calçada, caras enormes de pescoço curto e jaquetas de couro. Jogadores de futebol casca-grossa! Eles pararam e olharam pasmos.

Pendurada de cabeça para baixo com o sangue correndo para a cabeça, abri a boca para gritar pela ajuda deles — e hesitei. Eu acreditava no que Sevastyan me disse? Estava sendo importunada por um guarda costas arrogante e babaca ou sendo sequestrada? Se gritasse os atletas chutariam a bunda de Sevastyan, que não poderia me ajudar a chegar à Rússia…

Esta decisão, assim como a anterior, foi tirada das minhas mãos. Sevastyan virou-se e encarou-os, balançando a cabeça lentamente. Qualquer que seja o olhar que deu fez com que os três grandes jogadores de futebol saíssem voando.

Enquanto sumiam, esmurrei minha frustração nas costas de Sevastyan e me choquei ao notar um coldre. Ele carregava uma arma! Não tive tempo para registrar meu choque antes que me jogasse no banco do passageiro de um Mercedes luxuoso.

Assim que bateu a porta me arremeti na direção da maçaneta, mas a tranca já havia sido acionada por meio do controle remoto.

Em sua porta, ele me deu um olhar de aviso através da janela. Ele sabia que precisava desativar a tranca para entrar, o que me daria uma chance de escapar. O jogo do destrave. Eu faria dar tempo perfeitamente, meus reflexos feito um raio…

Merda! Ele abriu a porta e apertou o botão da trava antes que pudesse abrir o meu lado! Ele ajeitou o grande corpo dentro do carro.

— Melhor sorte na próxima.

— Isto é sequestro!

— Eu te contei minhas intenções. Te dei um prazo. — ligou o motor e afastou o carro do meio-fio. — Entenda-me, Natalie, eu faço exatamente aquilo que digo que farei. Sempre. — Dirigiu suavemente curva após curva como se conhecesse a cidade tão bem quanto eu. — E nesse momento, estou dizendo que a levarei em segurança para seu pai na Rússia.

— Como acha que vai passar pela segurança do aeroporto comigo assim? — gesticulei, mostrando meu roupão. — Eu nem estou com a minha bolsa!

— Iremos usar um aeroporto particular. E quando pousarmos em Moscou, você terá roupas novas levadas para o jato.

Roupas novas? Jato? Ele falava sério?

O olhar dele pousou em minhas pernas, nas minhas coxas seminuas. E com aquele único olhar obscuro, minha pele corou. Não pude evitar lembrar do modo como ele me olhou de cima abaixo na banheira.

Feito um predador faminto observando a presa tenra.

Como se eu já estivesse capturada para ele aproveitar. Estremeci.

— Está com frio? — perguntou — Você parece… com frio.

Com frio? Oh. Porque meus mamilos ainda estavam intumescidos. Sim, eu estava com frio, mas meu corpo também estava sofrendo os efeitos da minha tentativa frustrada de masturbação. Ter estado tão perto, mergulhada em mim mesma…

De algumas maneiras, eu me sinto da mesma forma agora. Tensa, contraída, minha pele dando comichões cada vez que percebia um olhar dele.

Quando não respondi, Sevastyan ligou o aquecedor e ar quente soprou contra meu peito, sobre as pontas hipersensíveis dos meus seios. Quase uivei quando senti o aquecedor do banco brindar a fenda da minha bunda. No apertado confinamento do carro, fui novamente atingida pelo perfume entorpecedor dele. Tanto estímulo. Ele podia ver meu estremecimento?

Quando estávamos na rodovia principal saindo da cidade, o carro ronronando a cento e trinta quilômetros por hora, ele ordenou:

— Ponha o cinto de segurança.

Não gostei daquele tom nem um pouco. Ouvia-o constantemente no meu emprego de garçonete.

— Ou o quê? — estreitei meus olhos — E você realmente me chamou de bichinho antes?

— Quando te falo para fazer alguma coisa, melhor você fazer, bichinho. — sem aviso, ele esticou-se para colocar meu cinto de segurança no lugar, roçando rudemente o braço em meus seios, enchendo minha cabeça com seu perfume. Eu me remexi no assento quente, sentindo-me atordoada por este homem arrogante.

Lembrei-me de quando fui fichada por embriaguez pública após um jogo de futebol e que fiquei gritando mentalmente comigo mesmo para ficar sóbria, compelindo-me a recuperar a capacidade para poder convencer o policial a esquecer a cara citação. “Pare de rir, Nat, e responda ao bom policial! Não ADULE, boba! NÃO toque o distintivo brilhante, brilhante, não… DROGA, NAT!”

Sinto-me assim mesmo agora: sob influência.

Sevastyan me afetava de uma forma que eu não podia evitar. Estava experimentando uma atração desconcertante por ele, uma conexão inexplicável. E, independente de quão ruim a ideia era, eu continuava querendo — metaforicamente — tocar seu distintivo.

Não, não, não: eu precisava me concentrar em tirar informações dele.

— Você mantém suas promessas, Sevastyan?

— Apenas com você e seu pai.

— Você me prometeu respostas.

As mãos dele apertaram a direção, os anéis sensuais enterrados no couro.

— Só quando estivermos no avião.

— Por que não agora? Preciso saber mais sobre meus pais.

Ele não se dignou a responder, apenas olhou no espelho retrovisor com vigilância preocupada.

Lembrei-me de sua atitude anterior, checando a rua através das cortinas do meu quarto.

— Qual é a dessa paranoia? Estamos em Lincoln, Nebraska; a coisa mais perigosa que já aconteceu por aqui foi quando um babaca russo sequestrou uma aluna resistente, usando seu roupão.

O velocímetro subiu mais dígitos.

— Nós estamos… sendo seguidos?

Outra olhada no retrovisor.

— Não no momento.

— O que significa que talvez estivéssemos sendo antes… ou podemos ser no futuro? — isso era muito bizarro. — Estou em algum tipo de perigo? — perguntas sobre meus pais e meu passado caíram ante o medo sobre o que meu futuro imediato traria à tona.

Relutantemente, ele respondeu.

— Sequestro por resgate é sempre temeroso.

Estreitei os olhos.

— Não acredito. O que você descreveu soa como um problema crônico ou teórico. No entanto, você invadiu minha casa e exigiu que saíssemos em cinco minutos, o que soa como um problema grave. Então o que aconteceu entre o momento em que te vi no bar e quando você entrou na minha casa?

Olhar de soslaio.

— Acho que tem a esperteza do seu pai.

— Responda. O que aconteceu?

— Kovalev ligou e mandou que eu a colocasse no avião. O que foi feito exatamente.

Um pensamento repentino surgiu.

— Há quanto tempo tem sido meu guarda costas, Sevastyan?

— Não há muito tempo. — ele se esquivou.

 — Quanto?

Ele levantou os ombros largos.

— Pouco mais de um mês.

E eu nunca soube.

— Você tem me seguido por aí? Observando esse tempo todo?

Um músculo ficou tenso em sua mandíbula.

— Estive olhando por você.

Então ele me conhecia melhor do que eu imaginava. O que um homem como ele pensava de mim?

Quando ele saiu da rodovia por uma saída escura, clamei:

— Espere! Para onde vamos? Não tem nenhum aeroporto nessa direção. Nem mesmo um executivo.

— Precisei arrumar um ponto de partida alternativa.

Alternativo? Tinha prometido a mim mesma que se não gostasse das respostas dele fugiria para os braços de algum guarda. Consegui algumas respostas, e agora tinha sérias dúvidas sobre se teria um guarda para quem fugir.

Depois de alguns quilômetros, ele virou numa estrada de terra que cortava um milharal. Nós dirigimos e dirigimos até que uma clareira apareceu adiante, parecendo uma pista de pouso para aviões pulverizadores. Numa ponta havia um jato, suas luzes intermitentes piscando e o motor irradiando calor no ar da noite.

Para me levar para a Rússia. Aquilo tudo era… real.

Sevastyan estacionou perto do jato, mas não abriu sua porta.

— Entendo que você tenha perguntas… — falou num tom brando — Responderei todas as que eu puder quando estivermos voando. Mas você precisa acreditar em mim, Natalie, não vai se arrepender de seguir esse caminho. Irá apreciar muito sua nova vida.

— Nova vida? — gaguejei. — Do que está falando? Acontece que eu gosto da minha vida atual.

— Gosta, bichinho? Você procurou por ele. — disse Sevastyan — Incansavelmente. Alguma coisa a estava instigando.

Olhei para longe, impossibilitada de argumentar contra aquilo.

— E agora nunca mais terá que trabalhar novamente e poderá comprar o que quiser. Vai poder viajar pelo mundo, ver todos os lugares naqueles telegramas em sua geladeira.

Meu sonho.

— Isso é muito para digerir e não gosto de tomar grandes decisões sob pressão.

— É o suficiente saber que Kovalev é um bom homem e quer compensar pelos anos que estiveram separados?

— Se nossas posições fossem invertidas, você daria esse passo?

Ele anuiu facilmente.

— Quando comecei a trabalhar na organização de Kovalev confiei que minha vida seria melhor com ele nela. Nunca me arrependi da decisão. — deve ter percebido que ainda não estava convencida. Exalando a frustração, ordenou: — Apenas fique aqui.

Ele saiu do carro e foi até o jato com passadas largas. O piloto — um louro uniformizado alto e musculoso — encontrou-o na base da escada gesticulando e falando com animosidade. Notei a cadencia da língua russa, mas não juntei as palavras sob o barulho dos motores.

Por hábito, analisei o homem e notei que seu cinto gasto estava preso um furo mais apertado que o usual e que seus sapatos foram meticulosamente polidos. Uma doença recente? Falta de descanso? Então vi suas mãos, com os mesmos tipos de tatuagens que marcavam os dedos de Sevastyan.

Com isso, minha pequena suspeita não pode ser reprimida. Estudei todos os aspectos da minha terra natal o suficiente para saber sobre a Russkaya Mafiya — e que gostavam de tatuagem como aquelas.

E, realmente, quais as chances de um bilionário de lá não ter quaisquer laços com o crime organizado? Sem mencionar que Sevastyan me sequestrou com a intenção de me contrabandear — sem passaporte — para dentro daquele país.

Eu teria trabalhado, economizado e procurado apenas para me conectar com um mafioso?

O piloto continuou a desabafar. Meus pensamentos continuavam a correr.

Então, o silêncio, e o ameaçador Sevastyan deu um passo ameaçador adiante; o piloto recuou com as mãos erguidas.

Um único passo acovardou aquele piloto grande. Talvez Sevastyan tivesse levado a melhor sobre aqueles três atletas porque ele era perigoso.

E queria me arrastar para o mundo dele.

Siga a corrente da lógica, Nat. Se Kovalev era da máfia, nenhum bem viria dessa rápida excursão à terra natal.

Eu acreditava estar em algum tipo de perigo? Talvez. Confiava em Sevastyan para me proteger? Não mais do que em mim mesma.

Naquele instante, decidi declinar da “nova vida” que um homem estranho do outro lado do mundo previu para mim. Se Kovalev quisesse falar comigo poderia pegar o telefone! E Sevastyan? Ainda sentia a atração desconcertante por ele, aquela sensação de conexão. Forcei-me a ignorar isso.

Com ele ocupado, empurrei a porta e escapuli para fora. Amarrei apertado meu robe, ganhando caminho para perto do milharal. Naturalmente, na única noite em que eu precisava fugir da máfia, a lua era uma brilhante bola no céu. Pelo menos o milharal proveria uma cobertura. Perto da colheita, os talos eram altos e densos, a folhagem exuberante.

Quase lá. Meu hálito esfumaçava. Quase…

— Natalie. — Sevastyan gritou — Não fuja!

Comecei a fuga, correndo por entre as fileiras do milharal.

 

As folhas de milho batiam no meu rosto, varriam meus cabelos. Meus pés descalços chutavam terra solta. Quantas cabeças de vantagem eu tinha? Ele já estaria correndo em meu encalço?

— Pare com isso, Natalie!

Eu gemi. Meu Deus, ele era rápido! Tinha me sentido como uma presa antes, e agora eu era, literalmente, uma. Este homem estava me caçando, lançado sobre minha captura! Entranhei mais na plantação correndo ainda mais rápido…

Num segundo eu estava fugindo à toda velocidade, no outro estava voando. Ele arremeteu contra mim, pegando-me pela cintura. No último instante, virou e jogou o impacto nas próprias costas, quebrando os caules do milharal sobre nós.

— Seu maldito! Me solte! — eu lutava contra ele. Era como lutar contra um torno de aço.

Antes que eu piscasse, ele me pôs de costas sobre um amontoado de folhas.

— Saia de cima de mim! — eu batia em seu peito com meus punhos.

Grande e furioso acima de mim, ele prendeu seu quadril entre minhas pernas, segurando meus punhos com uma só de suas grandes mãos.

— Nunca mais fuja de mim. — a lua brilhou sobre ele realçando as linhas tensas em seu rosto. Ele parecia lutar contra a própria fúria, arrastando-a para algum tipo de férreo controle interno.

— Deixe-me ir!

Sobre os aromas familiares de terra rica, safra fragrante e da noite fria, eu encontrei o cheiro dele: masculinidade crua e agressão. Sua camisa tinha se aberto e pude ver a pele dele, bem como uma ponta de outra tatuagem visível através do tecido.

— Sevastyan, me liberte. Por favor.

Ao som dessa palavra, o aperto nos meus punhos suavizou um pouco.

— Não quero machucá-la. — disse com a voz grave. — Apenas protegê-la. — atrás da máscara inescrutável acontecia tanta coisa, mas só conseguia ler um pouco.

Sob o luar, seus malares salientes sombreavam as bochechas definidas. Seus cabelos pretos na altura do colarinho brilhavam como as penas de um corvo, as pontas saltando pela linha do maxilar. Oscilando quase hipnoticamente.

— Você tem que permanecer comigo. — ele rangeu, seu olhar sobre meus lábios, as sobrancelhas contraídas. Parecia que ele estava lutando para não me beijar.

Beijar? O que estava acontecendo aqui? A confusão começou a apagar o pânico; eu não tinha nenhum paradigma para aquele dilema, pois nunca estive numa situação assim.

Uma situação sexual fora do meu controle.

Eu me emaranhei em circunstâncias perigosas com um estranho misterioso, mas não sentia medo. Eu sentia… antecipação. E suspeitava que a falta de controle estava sendo alimentada.

Era perigoso me excitar? A tensão entre nós pareceu mudar, tão suavemente quanto um motor trocando de marcha, minha confusão tornou-se um calor nebuloso. Não sabia que tinha isso em mim! Quem eu era??

Quando meu olhar caiu, espiei a saliência sombreada nas calças dele. Ele não era indiferente a mim! Podia até ter me desdenhado no bar, mas não disfarçava a ereção esforçando-se para se libertar.

Ao ver isto, a excitação desnorteou meus pensamentos, como uma névoa em minha mente. Já tinha ouvido a expressão “burro de desejo”. Estava chegando lá.

— Sevastyan? — aquele sentimento de conexão surgiu em mim. Desejo, necessidade e algo mais. — O que quer de mim?

Sem resposta. Tudo o que ouvia eram nossas respirações.

Naquela posição, ele podia abrir a braguilha e estar dentro de mim num piscar de olhos, me cobrindo sobre o chão. Como animais na terra.

Ele. Dentro de mim. Aqui.

O simples pensamento fez meu corpo vibrar com uma necessidade tão forte que suspeitei que o deixaria fazer o que quisesse comigo. Meu assombroso nível de excitação começou a me enervar mais do que a situação toda. Eu não tinha controle com ele, precisava dar o fora!

Balancei a cabeça.

— Você me solta agora. — eu me contorci no aperto dele, afundando meus calcanhares nus na terra para me empurrar para trás. Consegui um centímetro, talvez.

Ele me olhou como se eu fosse louca por desafiá-lo. Então por que não estava aterrorizada com ele? Não, eu estava furiosa: com ele, com o descontrole do meu corpo. Outro empurrão para trás.

Com a mão livre, ele agarrou minha cintura e me puxou de volta contra ele, forçando minhas coxas a se abrirem mais.

Os olhos dele desceram, abrindo-se antes de estreitarem-se atentamente.

Senti o ar frio entre minhas pernas, assim como vi que meu robe estava aberto até a cintura. Tudo abaixo estava exposto. Minha pele pálida brilhava ao luar, em comparação, os cachos ruivos e aparados eram gritantes.

Eu estava muito atônita para reagir, presa pelo olhar dele. Suas pálpebras ficaram pesadas, as narinas dilatadas. O peito largo parecia lutar por fôlego. Eu estava nua da cintura para baixo sem um jeito de me cobrir. Girei os braços para libertar meus punhos até que vi aquele olhar.

Escuro, faminto, fundido. Perigoso. Como antes, eu me senti uma presa capturada, dele para ser aproveitada.

Minha raiva diminuiu. Quando meu corpo se suavizou sob o dele, ele assentiu de leve como se eu o agradasse, e sua mão nua pousou no meu quadril nu. Pele com pele. Ele rosnou com o contato; estremeci com o calor elétrico da palma áspera. Não tinha imaginado aquelas mãos me apertando em todos os lugares?

Tremendo, observei-o esticar o polegar arredondado pelo meu quadril até o monte pubiano. Roçou a ponta do dedo pelas pontas dos meu cachos. Era tão lento e inesperado, tão terno, que não pude segurar um gemido.

Ele me tocava quase com… reverência.

Não via mais sinais daquele controle férreo; ao invés disso, ele parecia perdido.

Como eu também parecia, provavelmente.

Seu pau pulsava dentro das calças, chamando minha atenção. À vista daquele comprimento longo e pesado, minha boceta retesou. Eu murmurei:

— Sevastyan? — meus quadris rolavam — O que está fazendo comigo? — ele havia me encantado de alguma forma, fazendo-me sentir vazia e desesperada.

Pela segunda vez naquele noite, eu estava seguindo direto para um orgasmo.

Ainda cravado no meu sexo, ele rosnou algumas palavras em russo, algo como de que forma se esperaria que ele se negasse em face daquilo. De como ninguém deveria esperar isso dele.

Nunca estive tão confusa na minha vida.

— Você vai… você vai me beijar?

Com o sotaque mais acentuado do que antes, ele esganiçou:

— Você ia querer que um homem como eu tomasse sua boca? — o anel em seu polegar brilhou quando ele deu outro toque lento.

Boa pergunta. Respondi a mim mesma quando as palavras saíram pela minha boca.

— Tente e veja.

— Você pensa que eu me limitaria a um beijo?

— Você acha que eu quero isso?

Minha réplica pareceu tirá-lo de um atordoamento. Como se queimasse, ele afastou a mão, sua expressão passando de luxuriosa para enojado. Novamente ele me disse:

— Cubra-se. — agora ele estava furioso como antes, mas eu não tinha ideia do que fiz para isso.

Desci as bordas do meu robe enquanto ele se levantava.

Quando segurou minha mão me levantando a sanidade retornou, como se a Natalie que sempre conheci tivesse se juntado a nós de novo.

Que tipo de loucura me possuiu? Apertei meu robe com a mão trêmula. Eu tinha acabado de deixar aquele homem me tocar, esse estranho, e tinha requebrado os quadris por mais.

Se ele tivesse feito um movimento para transar comigo no chão, eu acho… acho que teria deixado.

Fechando o punho ao redor do meu braço, ele me arrastou pelo caminho.

— Se fugir de mim de novo, eu vou pegá-la. É o que faço. — ele trancou os olhos nos meus. — E então vou deitá-la sobre meus joelhos e bater na sua bunda roliça até que aprenda.

Com isso tropecei, mas ele me segurou. Seguindo em frente, ele fez uma carranca para o balanço dos meus seios.

Sem sutiã e vestindo seda. Nada restando para a imaginação.

— Não vou correr se você não apertar minha mão! Não quero ir com você. Sei o que é. Você é mafiya. O que significa que meu pai também é. — “Negue isso, negue. Ria da minha cara”.

Sevastyan apertou a mandíbula e me arrastou mais rápido. Nenhuma negação. Meu pai, esse homem, o piloto, eram todos mafiya.

— Não pode me forçar a ir para ele… ai! — uma repentina pontada de dor no meu pé descalço; tinha pisado num arbusto de roseira brava.

Sem sequer diminuir o passo, Sevastyan me pegou no colo como se eu não pesasse nada.

Não tive escolha a não ser envolver seu pescoço com meus braços.

— Apenas espere… não quero me envolver em nada desse tipo! — minha boca estava a centímetros de sua garganta, de seu pomo de Adão. Seu calor se infiltrava em mim e podia sentir as batidas do seu coração; e apesar dele não estar mais correndo, aceleraram-se quando eu disse:

— Sevastyan, por favor.

— Você já está envolvida. — ele falou, as palavras como uma sentença.

Saímos do milharal. Desesperada, sussurrei:

— Pozhaluista, net. — Por favor, não.

— Natalya… — ele rosnou — Não vou deixá-la ir. Não posso. Conforme-se.

Enquanto nos aproximávamos do avião, o piloto ergueu as sobrancelhas para mim. Só podia imaginar o que estava pensando. Eu estava nos braços de Sevastyam, meu cabelo emaranhado, meus mamilos salientes.

Quando o loiro deu uma olhadela maliciosa, Sevastyan ralhou em russo:

— Você olha para a filha dele? Eu deveria dar seus olhos a ele por isso.

O piloto engoliu em seco; fiquei boquiaberta. Com clareza cristalina, entendi que Sevastyan era capaz de tal brutalidade.

E então ele estava me carregando pelos degraus. Merda, merda, merda! Oh, Deus, isso estava acontecendo!

O piloto nos seguiu, apertou o botão para fechar a porta. Quando já tinha se fechado na cabine, a porta foi trancada com um silvo.

Presa.

 

Enquanto Sevastyan me colocava num dos assentos, eu lutava para encontrar palavras, mas descrença atônita e uma raiva turva me deixaram muda. Ele me obrigou a entrar em seu avião contra minha vontade. Estava me sequestrando.

Eu queria dizer “Você não vai escapar dessa”, ou talvez “Você vai pagar por isso”. Mas suspeitava que ambas seriam mentiras.

— Vamos diretamente. — ele me disse, a voz neutra. — Ponha o cinto.

Apesar de o quão puta eu estava, não iria discutir com ele naquela hora. Na minha mente, jato particular era só outro jeito de dizer aviãozinho. E essa fuga num pulverizador no meio de um milharal não parecia curta? Eu não sabia quase nada sobre aviação, mas aquilo certamente não era normal.

Coloquei o cinto com mãos trêmulas e analisei o interior luxuoso da aeronave. Tinha doze assentos, um sofá felpudo, uma TV de tela grande, um console de mídia completo e uma mesa de jantar estendida. Madeira polida acentuava os detalhes.

Nada menos do que o melhor para a máfia.

Sevastyan não se sentou. Observava pelas janelas, ainda vigilante.

Imaginei como ele pareceria relaxado.

— Estou em perigo iminente, não?

Olhando para a noite, ele deu de ombros indiferente. Tão bom quanto um sim. Antes que eu pudesse perguntar mais, os motores ganharam força. Segurei os braços da minha poltrona, as unhas enfiando no couro macio feito manteiga. Quando começamos a ir para frente, eu me vi dizendo para Sevastyan:

— Nunca voei antes.

A velocidade cresceu tão rapidamente que fui arremessada para trás no assento. O jato retumbou pista afora. Do lado de fora da janela, o milharal passava zunindo. Até mesmo Sevastyan sentou-se no sofá à minha frente.

— E-eu já estive num trem.

Ele esticou um braço sobre as costas do sofá.

— É assim mesmo.

— Isso é uma piada?

Com o rosto sombrio, falou:

— Dificilmente, bichinho.

— Você precisa mesmo parar de me chamar de bich…

O nariz do avião estava subindo! Fechei os olhos bem apertados. Mas alçar voo era surpreendentemente suave. Quando a pressão amenizou e notei que estávamos no ar, abri meus olhos e apurei os ouvidos. Gradualmente, liberei meu medo de morrer.

Muitas coisas competiam pela minha atenção. Não podia decidir se queria observar as luzes esmorecidas do Lincoln, o brilho da lua cheia sobre a asa direita ou Sevastyan tentando relaxar.

Meu companheiro misterioso ganhou. Ele esticou as pernas longas para frente e rolou a cabeça sobre o pescoço. Em algum momento tinha abotoado a camisa. Claramente, qualquer insanidade temporária que o houvesse acometido no campo tinha passado.

Quando o avião nivelou, as luzes da cabine diminuíram, lembrando-me que eu estava isolada com um homem do tipo “maior que a vida”; um que havia me prendido no chão e me sentido inteira apenas uns minutos atrás.

Bem quando abri a boca para perguntar o que foi tudo aquilo, ele disse:

— Como prometido, vou responder suas perguntas. Mas precisa se limpar antes.

Segui com os dedos na direção do olhar dele e encontrei uma folha no meu cabelo. Olhei para baixo, para minhas pernas sujas e pés descalços. Não me constranjo fácil, mas naquele momento minhas bochechas coraram.

— As duas suítes têm chuveiros.

Queixo erguido, soltei o cinto, levantei com ar de indiferença e me dirigi para os fundos. Por cima do ombro, falei:

— Quando eu voltar, prepare-se para um interrogatório.

Num tom seco, ele respondeu:

— Não irei a lugar nenhum, Natalie.

 

Quinze minutos depois, retornei para a cabine principal: limpa, sóbria e vestida com uma das camisas de Sevastyan.

Depois de uma chuveirada num banheiro de mármore cheio de artigos de banho top de linha, fui para a cama acolchoada da suíte e encarei meu robe acabado. As costas pareciam arte moderna, uma paleta de verdes, amarelos e pretos. E cheirava a milho, um odor doce e melado. De jeito nenhum poderia usá-lo novamente.

Procurei pela suíte e achei uma bagagem cara. A de Sevastyan. Ele havia me sequestrado, então era justo que eu pegasse emprestado uma camisa. Escorregando um botão engomado estremeci, envolvida por seu aroma nítido, coberta da nuca até quase os joelhos.

Sem nada entre a pele e o tecido, não fiquei surpresa quando a excitação me varreu novamente; no chuveiro minha pele esteve muito sensível…

Agora Sevastyan me varria com seu olhar da cabeça aos pés, dando-me um olhar tipo “está de sacanagem comigo?”.

Franzi o cenho em resposta. Tudo estava coberto.

— Peguei emprestado só até ter minhas prometidas roupas novas, certo? — Quando sentei-me no lado oposto do sofá, ele apertou o nariz.

— Enxaqueca por tensão?

Sem me olhar, ele respondeu:

— Pode-se dizer que sim.

— Não posso imaginar a pressão que está sentindo. — falei com toda honestidade — Faz muito essa coisa de sequestrar?

Cara feia do russo.

— É uma pergunta justa, considerando que você e meu pai estão envolvidos com o crime organizado.

Sem perder um segundo, ele perguntou:

— Porque continua pensando isso?

— Suas tatuagens. As do piloto. Pesquisei o suficiente sobre seu país para saber sobre a Russkaya Mafiya e seu amor pela tinta. Além disso, seria o pior final para minha busca de tantos anos. — tamborilei o dedo no queixo, pensativa. — E ainda totalmente de acordo com minha sorte nas últimas semanas…

— Um final pior do que nunca conhecer Kovalev? — perguntou Sevastyan, a irritação pontuando seu tom. — Você fala sobre coisas que ainda não entende, garotinha. Mas você vai…

 

— Coisas que eu não entendo? Como crimes?

Olhar inflexível.

— Oh, Deus, ele é mafiya. — Eu fiquei enjoada com a ideia. Por que contratei aquele investigador? Meu pai biológico era um assassino. — No que você me meteu?

— Você procurou por ele. — Sevastyan repetiu.

— Você não é realmente um guarda-costas, é? Você é provavelmente seu... o que? Seu assassino profissional? Seu executor? — Dei uma risada nervosa. — É por isso que você tem essas cicatrizes em suas juntas. Por bater nas pessoas até deixá-las sem sentido, certo? E em que negócios exatamente Kovalev ficou “preso”? — Com minha histeria crescendo, disse. — Uma guerra de territórios contra uma gangue rival? — Sim, eu custava a me irritar, mas uma vez que perdia a calma, eu tendia a ir longe.

Sevastyan não respondeu, então... Ding, ding, ding. Uma guerra de territórios? E eu estou indo para lá.

Ele finalmente disse.

— Terminou?

— Diga-me.

— Seu pai é parte da Bratva, a fraternidade. É como uma aristocracia criminosa. Ele é vor v zakone, o cabeça da nossa organização, não respondendo a ninguém.

O orgulho evidente no tom de Sevastyan fez meu mal-estar aumentar.

— Então eu sou uma maldita princesa mafiya? Esta é a verdadeira razão pela qual estou em perigo, não é?

— Seu pai está cercado por inimigos. Adversários que adorariam vê-lo cair. E existe outro vor que poderia machucar você a fim de machucar Kovalev. Ou usar você para coagi-lo.

— Novamente, soa como um problema crônico.

Sevastyan estudou meu rosto, como se debatendo o quanto me dizer.

— Depois que deixei o bar, descobri que dois homens muito perigosos voaram de Moscou algumas horas atrás em direção à América, enviados pelo mais cruel inimigo de Kovalev. Existe uma boa chance que tenham vindo para cá.

Porra. Esta pequena princesa mafiya estava em apuros.

— Você está me levando diretamente para a fonte do conflito! Volte este jato agora mesmo e deixe-me desaparecer! Eu posso ir para oeste, desaparecer.

Ele olhou para mim, deve ter percebido que eu estava prestes a enlouquecer.

— Fui enviado para manter você segura. Se fizer como eu digo, então não terá nada a temer. E há outra razão para sentirmos ser imperativo que você deixe a cidade esta noite. Quando retornar a Rússia, aqueles homens seguirão você — em vez de interrogar sua família.

— Eles machucariam mamãe? Jess? — Alarme por elas me cortou como navalha.

— Sem vacilação. A menos que sinalizemos que você deixou Lincoln — o que faremos em Moscou.

— Tenho que avisá-las! Por via das dúvidas. — Sevastyan me deixaria ligar?

— Existe um telefone no gabinete ao seu lado.

— Quanto posso dizer a elas?

— Isso depende do quanto você confia nelas para não contar aos outros. Você tem cinco minutos.

Lembrando a última vez que disse isto, não desperdicei tempo discutindo. Com o fono de ouvido se agarrando à minha palma úmida, liguei para minha mãe. O que eu podia dizer a ela? As coisas já estavam tensas entre nós.

Aqueles últimos anos com a doença do papai foram duros com ela, com nós duas, e depois da morte dele nós nos distanciamos. Então no último verão ela se casou novamente, mudando para o norte do Estado com seu novo companheiro. Mas eu tinha muito carinho por ela. Ela e o marido tinham um RV, um veículo a reboque. Aparentemente, RVing é uma escolha de estilo de vida. Eles foram para um encontro com outro RVers.

Caiu na secretária eletrônica. Felizmente, ela estaria na estrada por uma semana. Deixei uma mensagem, tentando soar casual.

— Oi, mãe, só chamando para saber se está bem. Divirta-se no... encontro. — eu disse me sentindo uma caipira diante de Sevastyan. — Amo você.

Jess respondeu no quarto toque, estalando com impaciência:

— Eu estou com o meu “lanche noturno”. É melhor isto ser bom...

— Jess! Só tenho uns minutos para conversar.

— Nat, é você?

— Sim, e preciso que você me ouça. Você não pode ir pra casa hoje à noite.

— Por que não posso voltar para Bangaraco... — Jess parou, então ofegou. — Oh, meu Deus! Você ficou com aquele cara do bar? O gostosão!

Sevastyan arqueou uma sobrancelha. Claro que ele ouviu.

— É um modo de dizer isso. — Sim, eu estava atualmente vestindo nada além de sua camisa — com meu corpo ainda vibrando pelo seu toque — mas não por escolha!

Fazendo voz melosa, Jess sussurrou.

— Owwwwn, nossa pequena Nat vai perder sua etiqueta de pele hoje à noite.

Meus olhos arregalaram, disparando para Sevastyan.

— Cala a boca, Jess! Olha, o negócio é o seguinte. Esse cara foi enviado aqui para me levar à Rússia porque meu pai biológico é algum tipo de todo-poderoso da mafyia.

— Huh. — Completamente imperturbável, ela disse. — Realmente isso explica muito sobre você. — Então, para seu brinquedinho, ela disse. — Eu não lembro de te mandar parar.

— Vai prestar atenção? Estou em um jato a caminho de Moscou...

— Consiga a porra de uma saída!

— ... e alguns capangas rivais poderiam ir para casa. Você pode se ausentar até depois de sua viagem?

— Você quer dizer que serei forçada a comprar um monte de novas roupas e bagagens para a Grécia? Meus pais acreditarão nesta desculpa tanto quanto em todas as outras. — Ficando séria, ela disse. — Você está segura?

Olhei no rosto do Sevastyan, procurando.

— Se eu não te ligar em uma semana... — Parei. Então o que? Notifique a embaixada? Que esperança eles teriam contra a Mafiya Vermelha? — Vou te ligar em uma semana.

— Apenas seja cuidadosa, baby. — Jess disse. — Oh, e diga ao gostosão que se qualquer coisa acontecer a você, vou foder o crânio dele, okay? Como se diz “profanar seu cadáver filho da puta” em Russki[3]?

Sevastyan bateu no relógio.

— Preciso ir, mensagem recebida, e fique segura você também. — Desligando, virei para ele. — É manhã na Rússia. Por que não me dá o número do seu chefe, então posso explicar algumas coisas para ele? — O atendimento ao consumidor em sua organização exige uma inspeção completa. — Partilhar um pouco de meus pensamentos.

— Kovalev está em um congresso. — Diante de meu olhar perplexo, Sevastyan explicou. — É como uma reunião de cúpula para vorys.

— Você não acha que minha ida à Rússia apenas aumentará este problema?

— Temos homens lá, medidas de proteção foram tomadas no lugar. O complexo de seu pai é uma fortaleza.

Um complexo mafiya? Posso até imaginar: algum monólito cinza e sombrio da era Soviética. No interior, a decoração seria uma profusão de bugigangas vistosas, selecionadas com base não no gosto, mas no preço. E Kovalev... eu o imaginava como um bruto grosseirão em uma roupa característica, usando tantas correntes grossas de ouro que seu pescoço pareceria um daqueles arrmessos de anel. Ele provavelmente mantinha tigres brancos e tinha um banheiro cravejado de diamantes.

Ugh. Eu fiz uma careta para Sevastyan.

— Me obrigar a ir não era o plano desde o começo?

Ele sacudiu a cabeça.

— Então se os bandidos não tivessem vindo para os Estados Unidos, você teria permanecido me espionando de longe?

— Eu teria permanecido em posição — protegendo você — até que seu pai pudesse vir conhecê-la.

— Se você foi meu único guarda-costas, quando dormia?

— Enquanto você estava na aula ou no trabalho. Quando sabia que estaria perto de outras pessoas durante um tempo.

Isso significa que conseguiu ainda menos horas do que eu. Ele ajeitou a cabeça.

— Eu posso dormir quando estiver morto, não?

Exatamente o que eu pensava.

— Isto é muito para Kovalev colocar sobre seus ombros. — não posso imaginar uma tarefa assim — ter a vida de outra pessoa nas minhas mãos.

— Faria qualquer coisa que ele me pedisse.

— Devoção assim é comum em sua... Organização?

— Ele tem sido um pai para mim desde que eu era jovem. Devo a ele minha vida. — Sevastyan informou em um tom que me disse que aquele não era um comentário vazio.

— Então de certa forma, você é como se fosse meu irmão muito, muito mais velho.

Outra cara feia do russo. Ele não gostou nada da observação.

— Sou apenas pouco mais de sete anos mais velho que você.

Eu acenei, afastando a informação.

— E minha mãe... ?

— Vou deixar Kovalev explicar isto. A história não é minha pra contar.

— Pelo menos me diga se ela está viva.

Podia ter visto um faiscar de piedade nos olhos de Sevastyan. Assumi o pior, dor batendo como uma punhalada rápida em meu coração. Todos estes anos me perguntando... agora parece que eu nunca a encontraria, nunca falaria com ela.

Evitando as lágrimas, perguntei:

— Tenho algum irmão?

— Nenhum.

— Avós? — Mamãe e papai eram mais velhos quando me adotaram, e minhas avós faleceram antes da minha infância.

Ele sacudiu a cabeça.

— Você vai encontrar apenas seu pai e um primo distante. — Levantou, então caminhou para um balcão de mármore no meio da sala de estar. Pressionando um botão, um painel se retraiu para revelar uma prateleira abastecida com um barzinho variado e taças. Ele despejou bebida em dois copos de cristal. Uma Vodka com gelo para si mesmo — e um Sprite gelado para mim?

— Sem leite morno? — Aceitei o copo e bebi, mal-humorada porque tinha um gosto tão bom.

Retornando à própria poltrona, ele correu um dedo em torno da borda do seu copo, mas não bebeu um gole. Da mesma maneira que sua bebida no bar estivera intacta.

— Não tenho sua tequila preferida.

— Preferida? Eu bebo qualquer coisa que as pessoas me comprem. Vivo com um orçamento apertado.

Meu comentário o divertiu?

— O último orçamento que você teve, eu te garanto.

Porque esperava que eu gastasse o dinheiro de sangue da família. Recordando minha situação, eu disse:

— Estou tendo um momento difícil em acreditar que dois homens estranhos realmente me machucariam.

— Ele tem parentes como alvos. Quando Kovalev começou na Bratva, o código proibia os membros de ter uma família, de ter qualquer coisa com a qual se importassem diferente da fraternidade — porque família é uma fraqueza que inimigos podem usar contra você.

Enquanto tentava imaginar um mundo tão brutal, Sevastyan continuou:

— Foi por isso que Kovalev mandou sua mãe embora. Ele não sabia que ela estava grávida. Não até que você começou esta procura.

— Você disse que meu DNA combinou. Mas por que o DNA dele estava disponível?

— Houve outros antes de você reivindicando terem sido concebidos por ele. Inicialmente, eu vim a Nebraska descobrir se isto era algum tipo de fraude. — Olhando para seu copo, Sevastyan disse. — Kovalev nunca quis que fosse verdade antes de você.

— Por que não?

Sevastyan me enfrentou novamente.

— Os outros eram mentirosos cavadores de ouro, de sangue frio e aparentemtente comprometidos com o desemprego. Você assumiu três empregos enquanto concluía seu mestrado com honras. Até mesmo aprendeu a falar russo. Você quis achá-lo, mas não precisa dele. Pelo menos, não financeiramente. — Sevastyan tinha soado... admirado?

O pensamento me aqueceu. Até que lembrei que meu DNA me amarrava a um mafioso.

— Pode ter sido um erro na combinação. O erro de um técnico ou algo assim.

Sevastyan levantou o copo até os lábios, só para baixá-lo novamente sem tomar um gole.

— Sua semelhança com a mãe de Kovalev é inquietante.

Eu pareço com minha avó. Eu me encontrei abrandando, mas não o suficiente para acalmar meus pressentimentos.

— Então o que meu pai faz? Em um sentido criminoso. Trafica meninas? Armas e drogas?

Sevastyan me deu um olhar como se minha pergunta estivesse à altura do ridículo.

— A maior parte de seus negócios está relacionada a imóveis e construções. Mas também faz mediação de disputas entre quadrilhas e vende proteção a donos de empresas. Ele faz um comércio vivo chantageando políticos. Nada de meninas, nada de armas, nada de drogas. Isto é parte do motivo para estarmos tendo este conflito — porque ele não quer isto em seu território.

— Porque diminuiria o valor dos imóveis?

Sevastyan parecia estar lutando para ter paciência comigo.

— Porque diminuiria a qualidade de vida das pessoas que ele protege.

Isso era surpreendente.

— Certo, então talvez ele não seja um diabólico vilão girador de bigode. Mas ainda não quero me envolver. Só quero terminar meu doutorado, ter uma carreira.

Com meu diploma de história. Entretanto não quero necessariamente ser uma professora ou escritora. E se continuasse com meu PhD porque é o caminho de menor resistência?

— Você acha que seu pai queria arrancar você de sua vida? Culpe Zironoff por isto. Se não fosse por ele, você estaria adormecida em sua cama agora mesmo.

— Meu investigador? O que ele fez?

Novamente a bebida de Sevastyan quase tocou sua boca, mas abaixou antes.

— O pequeno fedelho ganancioso exigiu dinheiro de Kovalev para manter em segredo sua descoberta. Mas nós descobrimos que ele já tinha contado a nossos inimigos sobre sua existência, oferecendo sua localização por um preço. Ele deliberadamente colocou você em risco.

Engoli em seco.

— Você machucou Zironoff?

Com olhos frios, Sevastyan disse:

— Ele tomou sua confiança — e seu dinheiro ganho com tanto suor — então usou seu sangue para chantagear um vor. Ele arriscou a vida que jurei proteger. Diga-me, Natalie, ele não devia ter sido punido pelo estrago que causou — e impedido de fazer mais?

Eu podia ler a escrita na parede. Sevastyan teria matado Zironoff sem piedade. Um verdadeiro executor da máfia. Um assassino profissional.

Nivelando seu olhar em mim, ele disse:

— Entenda-me, menina, eliminarei qualquer ameaça a você, impiedosamente.

Eu me perguntei quantos homens mais Sevastyan tinha matado. Perguntei a mim mesma por que ainda não podia sentir medo deste homem. Em vez disso, eu me encontrei me sentindo... protegida.

— Zironoff planejou seu assassinato, mas mesmo assim você não vai entender. — Ele exalou uma respiração cansada. — Mal posso esperar para ouvir sua ultrajada moral americana.

Eu tentei chamar sua atenção. Mas Zironoff foi para um grupo de assassinos letais planejando lucrar com meu sonho de encontrar meus parentes. Ele vazou as informações confidenciais que confiei a ele, sabendo que eu poderia ser morta.

Então dei de ombros.

— Do svidaniya, Zironoff. — Até logo e adeus.

O olhar de Sevastyan cintilou no meu rosto. Observador, atento. Então um canto de seus lábios sensuais se curvou.

Meu coração martelou ante seu meio sorriso. Se ele realmente sorrisse, provavelmente eu teria um ataque cardíaco. Suprimindo o desejo de me abanar, perguntei:

— Então, você tem um nome na máfia? Como Alex, o Açougueiro ou Al, o Tubarão... Algo assim?

— Eu sou da Sibéria. Eles me chamam de Siberiano. Fim da história.

— Simples, mas elegante, combina com tudo. Você nasceu dentro “desta vida” ou guiou seu curso?

Olhar duro.

— Certo, então qual é o nome da máfia de Kovalev?

— Os mais antigos vor o chamam de Relojoeiro.

— Porque ele limpa relógios? Com os punhos?

— Seu pai também tem um senso de humor distorcido. Vocês têm muito em comum.

— Realmente? — balancei minha cabeça. — Você sabe muito sobre mim, hein?

— Eu sei tudo sobre você, academicamente, financeiramente, socialmente. Sei que tem estabilidade crescente e uma dupla precaução a guiá-la, o que aliviou muito a mente de Kovalev. Eu sei que é determinada e inteligente. Provavelmente demais para seu próprio bem.

Eu me lembrei de me sentir observada mais cedo hoje à noite.

— Você me seguiu do bar até minha casa. — Meras horas atrás.

— Segui.

— Você já esteve na minha casa antes de hoje à noite? — Ele achou a coleção de vibradores debaixo da minha cama ou notou que metade das minhas páginas favoritas na Internet eram pornografia?

— Claro. Sou meticuloso. — Seu comportamento era tão prosaico, mesmo enquanto se sentava aqui admitindo que violou minha privacidade habitual.

Minha vida inteira foi revelada a este homem. Rangendo os dentes, perguntei:

— Algum ponto alto do que descobriu que queira compartilhar?

— Não se preocupe — nenhum detalhe disto vai voltar para Kovalev. — Sorriso. — Como o arsenal que você mantém debaixo do colchão.

Arsenal? Morrendo aqui.

— Ou o que peguei você fazendo a si mesma no banho.

Agora que eu não estava com morrendo de medo de morrer, embaraço me escaldou. Sevastyan me flagrou me tocando, explorando a caverna, discando o telefone rosa.

— Por que abriu a porta do meu banheiro, em primeiro lugar?

— Ouvi um som. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Uma choradeira. Imaginei o pior.

— Você parece ter um talento em me manter em desvantagem. Talvez quando chegarmos a Moscou eu possa investigar seu apartamento? Olhar debaixo de sua cama? Que tal assistir enquanto você se masturba?

Com isto, a tensão disparou por ele como se tivesse sido esmurrado na barriga.

— Controle a língua, querida. — Seus dedos estavam fechados tão firmemente ao redor de seu copo que pensei que o cristal quebraria.

— Ou vai fazer o que? Vai me derrubar em um milharal e me sentir?

Ele apertou a mandíbula, como se lutando para se controlar.

— Isso não devia ter acontecido.

Pare de discutir com ele, Nat. Vá-pra-cama. Eu estava tão intrigada/excitada por esse cara que faria qualquer coisa por ele, até mesmo lutar?

— Se você não fugisse...

— Oh, não se atreva a pôr a culpa em mim. Uma ruiva seminua aberta debaixo de mim rebolando os quadris é bem-vinda. Não tenho gelo nas minhas veias.

Eu arqueei uma sobrancelha.

— Não é?

— Não nessa área da minha vida. — ele emendou. — Embora você esteja longe de ser o meu tipo, fui afetado. — Ele usou seu dedo indicador direito para girar o anel do polegar da mesma mão. Notei que fez isso antes quando parecia desconfortável. Uma informação? Isso podia vir a calhar. — Qualquer homem teria sido, então não leia mais do que isto.

— Longe do seu tipo. — Como pode esse comentário me ferir? — Você não é exatamente o meu também, Siberiano. — Provavelmente não seja a melhor ideia insultar um assassino. Levantei. — Você parece determinado a me humilhar e brigar comigo. Não estou interessada em nenhum dos dois. — Eu me virei e marchei corredor abaixo. — Me acorde quando chegarmos.

Ele me chamou:

— A única coisa que contei a Kovalev sobre sua vida pessoal é que você não tem nenhum amante atual para deixar para trás. Não mencionarei o quão ávida você estava para corrigir essa situação esta noite.

Endureci, girando na porta de uma das suítes.

— Por que você estava tão irritado no bar?

Ele finalmente bebeu toda a vodca de uma vez, o que me deu calafrios por algum motivo.

— Não gostei de ver a filha de um grande homem se jogando pra cima de mim, pedindo por problemas.

— Me jogando? Você está louco? Eu me apresentei e me ofereci para te comprar uma bebida. — Minha ira continuou subindo. — E realmente espero que você não vá tentar me transformar em uma puta envergonhada — porque vou sair como um foguete! — Era horas como esta que minha virgindade me envergonhava.

Ele se levantou, em seguida caminhou até mim. A cada passo mais perto, minha respiração ficava superficial. O que ele faria? Eu não tinha idéia — excitação guerreou com mal-estar.

Ele se elevou sobre de mim, dedão-do-pé-com-dedão-do-pé, ergui minha cabeça para encontrar seu olhar de pálpebras pesadas. Sempre que estava bravo seus olhos pareciam duros e brilhantes, como âmbar frio. Caso contrário, eram ouro derretido, como agora...

— De todos os homens no bar, você me escolheu por uma razão, garotinha. — Sua voz ficou mais rouca, seu sotaque mais áspero; respondi a ele como se Sevastyan me tocasse. — E não era para conversar sobre cursos.

Sacudida interna.

— Eu te escolhi porque você era um mistério. Posso ler os homens com facilidade, mas não você. Isso me deixou curiosa.

Ele descansou sua mão na parede acima da minha cabeça, cercando-me com seu calor.

— Quando uma mulher solteira me escolhe... — debruçou até murmurar na minha orelha — é porque ela quer foder. Ela olha para as cicatrizes e tatuagens e sabe que conseguirá foder duro.

Ofeguei, derretendo para ele.

— Foi isso que você quis de mim, Natalya? — Sua respiração quente soprando acima da minha orelha, endurecendo meus mamilos ainda mais. Troquei meu peso de um pé para o outro, apertando minhas coxas.

— N-não foi por isso que abordei você. — Isso pode ter sido por que o abordei.

— Pequena mentirosa. Acha que não posso dizer quando uma mulher quer que eu me enterre bem fundo nela? — Ele aliviou de volta para estudar meu rosto. — E quando não conseguiu o que procurava, conformou-se com um agradável... banho... quente.

Engoli em seco, começando a arquejar.

Soando rouco, ele disse.

— Estava pensando em mim quando se tocou?

Entrecortadamente eu disse.

— Não vou te dizer isso.

— Você acabou de dizer, querida. — Endireitou-se como se um transe tivesse se rompido entre nós. Com um palavrão sujo, ele se virou para mim. — Apenas vá pra cama.

Observei seus ombros largos quando se afastou a passos largos para despejar outra vodca. Com um palavrão, bati a porta da cabine atrás de mim.

Aquele homem me deixaria louca antes de alcançarmos minha terra natal!

Em um acesso de raiva, puxei a coberta e rastejei na cama suntuosa. Então me deitei ali, olhando fixamente para o teto me sentindo sem sorte, odiando ter sido forçada a usar a roupa desse homem.

Odiando que ele tenha me excitado.

Por que ele? Por que sou tão forte em qualquer outro aspecto da minha vida e tão fraca com ele? Depois de tantos anos esperando pelo Sr. Certo, teria entregado minha virgindade para Sevastyan na sujeira.

No segundo grau, nunca imaginei que seria uma virgem de vinte e quatro anos de idade, porque tenho sido tão curiosa sobre o ato. E, droga, eu tenho jogado.

Mas os rapazes bêbados com quem me diverti eram desajeitados e babões, nunca me inspiraram a ir além. Sexo parecia que não era para mim. Pelo menos, não com os caras que conheci.

O problema de crescer em uma cidade pequena e ir para uma escola minúscula? Não existia uma grande seleção de machos para escolher.

Quando cheguei à faculdade me senti ganhando na loteria — fascinada pelo sortimento de homens. Minha curiosidade não diminuiu, e estava certa que perderia minha virgindade antes de voltar pra casa.

Como preparação, aprendi tudo sobre sexo através de leitura voraz, dividindo o quarto com Jess e minhas próprias pesquisas ofegantes. Oh, e meu interesse cresceu em alta qualidade, Lady Pornô.

Fiquei com um cara atrás do outro, mas inevitavelmente cada um fez algo para me impedir de selar o negócio.

Um me tocou como se estivesse cavando rumo à China.

Outro prematuramente ejaculou no preservativo que estava desenrolando, então estava muito envergonhado para me chamar novamente.

Outro me quis em cima, dominando-o, quando eu tinha certeza de que os meus gostos corriam na direção oposta. (Confirmado pelo meu recente encontro no milharal?)

Era pedir demais por um cara atraente, dominador com habilidade sexual, um que durasse mais de duas estocadas para gozar?

Quando completei vinte pensei, esperei tanto tempo... Imaginei que poderia também esperar até experimentar um em chamas, o ofuscante desejo por um homem que preenchesse todas as minhas qualificações. Mas nenhum homem preencheu.

Até hoje à noite.

Sevastyan cumpria com todos os meus requisitos — ainda que ele tenha zombado que eu não era seu tipo.

Certo, era pedir demais por um cara que me achasse qualificada, que gostasse de mim — e que não fosse um imbecil?

Suspirando, olhei pra fora de uma das janelas, vi a lua e as estrelas mais próximas a mim do que nunca. Porque eu estava em um avião, indo em direção a um grande desconhecido. Para minha “nova vida”.

Caramba, precisava conseguir tirar Sevastyan da minha cabeça e pensar no que o amanhã poderia trazer. Poucas horas atrás eu já tinha perdido as esperanças de encontrar meus pais biológicos. Agora estava prestes a encontrar meu pai. Ele gostaria de mim? Eu gostaria dele — apesar de sua profissão?

Talvez eu devesse ver esta viagem à Rússia como uma mini-férias da minha vida, pouco tempo fora do meu objetivo maior. Como as férias de Jess. Amanhã eu podia ligar para organizar minhas aulas vagas e conseguir que um amigo cobrisse minha aulas. O trabalho de garçonete era tão cansativo e ferrado que eu não desperdiçaria um interurbano pedindo que me cobrissem.

Sim, todo mundo precisa de uma pausa de vez em quando.

O zumbir dos motores começou a me acalmar, e o pior da minha frustração começou a enfraquecer. Eu me senti como se estivesse flutuando no colchão macio, entre lençóis de seda leves como ar. Embora tenha pensado estar muito tensa para dormir, logo desmaiei.

E sonhei com Sevastyan.

Em um devaneio escaldante, ele me levantou do meu banho, embalando meu corpo nu, molhando-se para me levar para a cama. Lá, ele seguiu cada gota de água com a boca antes de se decidir entre as minhas coxas...

— Natalya. — ele gemeu direto na minha carne — a respiração toda quente e alisou com a língua. — Natalya. — Ele levantou o rosto, lambeu os lábios sensuais e perguntou. — Você está sonhando comigo?

Huh? Sonhando? Abri meus olhos — e encontrei o Siberiano olhando fixamente para mim.

        

O luar iluminou seu rosto graciosamente áspero, fazendo meu coração balançar.

— Sevastyan? — Ele estava deitado ao meu lado, a cabeça apoiada na mão, uma posição que desmentia a tensão saindo dele.

Ele não estava vestindo uma camisa. Quase gemi ao ver seu tórax nu, repleto de placas rígidas de músculo. Sua pele lisa ostentava tatuagens de aparência perversa. No alto de ambos seus peitorais tinham grandes estrelas de oito pontas sombreadas de maneira intricada. Duas cúpulas russas adornavam um braço musculoso; no outro uma faixa tribal circulava seu bíceps.

Aquelas marcas e o poder latente em seu corpo me deixaram encantada.

— O que você está fazendo na cama comigo? — E por que não consigo ter medo de você?

Ele respirava rapidamente. Lembrava-me um elástico esticado ao máximo, pronto pra arrebentar.

— Ouvi você gemendo. — disse com voz áspera. — Entrei e vi você balançando os quadris embaixo das cobertas.

Corei, desviando meu olhar — que caiu em seu estômago plano, na linha escura de pelos arrastando embaixo do seu umbigo. Tive o desejo louco de aninhar meu nariz ali.

— Justamente quando penso que você é sem vergonha, suas bochechas esquentam.

Eu me obriguei a encará-lo.

— Você já explicou o que eu estava fazendo. Que diabos você estava fazendo?

— Observando você e ficando mais duro a cada segundo. — Ele pressionou seus quadris mais perto da minha lateral, deixando-me sentir sua ereção considerável contra minha coxa.

Ofeguei, meu corpo ficando suave quando lidava com o calor inflexível dele.

Não, não, este homem era um babaca! Eu me lembrei de suas mudanças de humor ricochetando.

— Pode sair agora. — Eu estava orgulhosa de como soava resoluta. — Tentarei não incomodá-lo novamente.

Como se eu não tivesse falado, ele murmurou rouco.

— Você faz... você faz estes sons. Seu choramingo, seu gemido. Eu os ouço e o pensamento deixa meu cérebro.

— Você andou bebendo.

— Merda. — Ligeiramente. — Tenho visto na minha cabeça repetidamente como vi você no banho se acariciando com estes dedos. — Ele tirou minha mão direita da coberta — que eu tinha agarrada como uma barra de segurança de montanha russa — em seguida apertou as pontas dos meus dedos no seu rosto. — Eu só queria que você tivesse acabado na minha frente.

Eu queria também! Então talvez eu não estivesse tão tomada pela luxúria agora, caindo ainda mais sob seu feitiço.

Seus olhos semicerrados passearam pelo meu rosto, então mais abaixo.

— O que você estava sonhando para deixá-los tão duros?

Segui seu olhar pra baixo. Meus mamilos estavam duros contra o tecido da camisa que eu usava.

— Diga-me bichinho, por que estava à beira de um sonho quente?

Eu não pude resistir a ele antes; agora, nesta cama, ouvindo sua voz retumbante e sedutora, temia que estivesse indefesa. Não! Seja forte, Nat.

— Por que você insiste em me chamar de bichinho?

— Talvez porque você faz um homem querer te colocar uma coleira e te manter.

— Certo. — Eu sabia que ele estava apenas sendo um espertinho, mas a ideia me deu calafrios.

— Conte-me sobre seu sonho.

— Por que eu deveria? Você simplesmente me dará esse olhar de nojo e ficará todo gelado novamente.

— Gelado? Esta é a última coisa que eu sinto agora.

Engoli em seco quando ele começou a desabotoar os botões da camisa, espalhando as lapelas só um pouco para desnudar meus seios.

— O que está fazendo? — Exigi. Mas eu os queria expostos, queria que ele os visse e me desejasse.

Ei, eu estava de férias da minha vida, certo? Então por que este homem não podia ser meu caso nas férias de outono?

Ele pegou a pontinha engomada da camisa e raspou levemente em cima do meu mamilo esquerdo. Oh, Deus, oh, Deus...

— Peguei só um vislumbre dos seus mamilos quando você estava no banho. Sabe que minha boca encheu d’água para chupá-los? — Ele quis pôr sua boca neles.    

Aquele retrato bagunçou meus pensamentos.

Outra raspada.

— V-você precisa parar com isto. — Eu não sabia que as pontas podiam ficar mais duras. Elas enrijeceram quase dolorosamente.

— Sim, diga para eu parar e deixá-la em paz. — Raspada. — Diga que eu te assusto e eu não vou tocar em você. — Raspada.

Engoli um gemido.

— Você não me assusta. E a única razão por que não quero que me toque é porque não vai seguir adiante, e fui sexualmente torturada o suficiente esta noite.

Incluindo agora, estive à beira do orgasmo três vezes — todas por causa deste homem.

Ele deu uma risada baixa e sensual.

— Você acha que te torturei? Talvez eu devesse te mostrar o que é tortura de verdade. — Seu tom era ameaçador; então por que minha vagina estava se contraindo de antecipação? — Então talvez você reclamaria por me encontrar em sua cama.

— É isso que você quer?

— É o que eu teria esperado de você. E se me disser para deixá-la, eu vou.

— Responda-me, Sevastyan. É isso que você quer?

Ele não disse uma palavra; raspada.

— Ahh! — Lambi meu lábio inferior, lutando para achar palavras. — Você me confunde tanto! Já que se recusa a me dizer qualquer coisa, vou te contar tudo. Acho você extremamente atraente. Quando seus olhos estão assim, todo dourado e ardente, você é quase irresistível pra mim. Acho que você estava certo; eu te abordei no bar porque queria fazer sexo com você.

Seus lábios firmes se separaram. Então ele sacudiu sua cabeça com força, como se para desalojar qualquer ideia que tivesse acabado de ter.

— Você não teria feito isso se me conhecesse melhor. Eu sou um executor, um assassino profissional, e tenho pena de você por despertar o desejo de um homem como eu.

Com uma voz suave, eu disse.

— Mas você despertou o meu também. Então o que fazemos agora?

— Se soubesse os pensamentos que estão passando na minha cabeça não seria tão acolhedora. Você não gostaria de estar na minha cama. Tenho interesses específicos e exijo obediência.

— Obediência. — Isso era meu tom excitado? — Como eu fazendo o que quer que você mande?

Ele assentiu, os olhos acesos pela perspectiva.

Por que soou tão insuportavelmente erótico? Nunca gostei de receber ordens em meus empregos. Mas neste contexto — na cama com um homem dominador — a ideia me excitava.

— Por que você exige isto?

— Não gosto de surpresas. Se fizer como eu digo, não haverá nenhuma.

Mordisquei meu lábio, dando a isto algum pensamento.

— Que tipo de interesses?

— Preciso fazer coisas sujas ao seu corpo, Natalya. E sei que jamais vou poder. — Sua voz era quase... desamparada.

Sujas? Isso soou estupidamente quente.

— Por que não pode?

— Você é tabu pra mim. Nenhuma outra mulher é assim.

Porque eu era a filha do chefe? Era por isso que Sevastyan foi de quente a frio comigo?

— Estamos nesta cabine sozinhos. Ninguém precisa saber o que se passa entre nós. Talvez devêssemos tentar tirar isso dos nossos sistemas antes de aterrissarmos.

Parecia que ele estava realmente considerando minha proposta.

— Alguma vez renunciou o controle de seu corpo para um homem?

Ofegante, balancei minha cabeça. Eu me perguntei como seria ser dominada; este homem poderia aliviar minha curiosidade. E isso era a grande coisa sobre caso de férias: você podia enlouquecer, fazer coisas que normalmente nunca faria, e não sofrer consequência nenhuma.

Certo?

Será que tenho coragem de experimentar? Lembrei de quando tinha doze anos, o menino da fazenda vizinha tinha me desafiado a saltar de uma ponte de trem no riacho abaixo. Em cima dos trilhos eu estava apavorada, tremendo como uma novata. Mas me forcei a dar um passo fora daquela borda para o nada.

Em uma queda livre.

Lembrei-me de gritar com medo o caminho todo abaixo. Então me lembrei de dar impulso pra cima através da água e romper a superfície triunfante, lançando para aquele menino um sorriso de “engole isso”.

Todo o terror tinha valido a pena só por aquela recompensa. Será que o mesmo se provaria verdade hoje à noite?

— Poderia me dar obediência absoluta, Natalie?

             Trepada dura. Eu poderia andar fora dos limites mais uma vez? Minha resposta honesta:

— Não saberei até que tentemos. — Estendi a mão para seu tórax, acariciando bem em cima de uma tatuagem. Seus músculos ondularam ao meu toque.

Quando meu polegar roçou seu mamilo achatado, ele respirou fundo de forma aguda.

— Eu te avisei o que vou esperar, avisei sobre que tipo de homem eu sou. E você ainda força a barra? Vou te dar um gostinho que vai te fazer fugir de mim. Isto estará fora de seu sistema — porque você vai ter medo de mim...

 

Temê-lo? Engoli em seco audivelmente. Eu ousei aceitar isto?

— Afaste suas coxas. — ele comandou, pairando sobre mim.

Parece que eu ainda estava sob influência — dele; e timidamente abri minhas pernas.

Sevastyan posicionou-se entre elas. Segurando a gola da camisa em seus punhos, ele agarrou-a e abriu o resto dos botões, puxando a camisa — até que meus seios nus estremeceram ante seu olhar predador.

Meu corpo estava completamente preso e indefeso, e seu comportamento devia ter me deixado nervosa. Ao invés disso, tive que me concentrar para impedir meus quadris de ondularem.

— Se quiser mais, então ponha as mãos atrás do pescoço.

Eu pisquei para ele.

— O que? — Fazer minha posição ainda mais vulnerável?

— Faça isto e não as mova. Sdavaisya. — Renda-se.

— E-eu não sei.

— Eu não perguntei.

Hesitei, entretanto a curiosidade e esta dolorosa excitação exigiram que fizesse como ele disse.

Quando prendi meus dedos na nuca, ele disse:

— Boa menina. — Por longos momentos, ele olhou fixamente para mim com um olhar tão possessivo que era quase palpável. Finalmente suas mãos desceram por mim e agarraram minha cintura. Quando seus dedos quase se tocaram, fui atingida por quão maior do que eu ele era, muito maior do que qualquer outro com o qual já me diverti. Ele pensaria que sou muito pequena?

Sevastyan esfregou as palmas ásperas na lateral do meu corpo, proferindo “ideal'niy”. Quer dizer perfeita, ou mais especificamente, incomparável.

Suspirei com prazer.

— Achei que você não gostava da minha aparência.

Ele levantou seu rosto, completamente consternado.

— Quando sequer dei a você essa impressão, querida?

— Longe do seu tipo? Isso te diz alguma coisa?

— Eu quis dizer isto — literalmente. Você é diferente das mulheres com quem estive. — Mais para si mesmo, ele disse. — Noite e dia.

Eu o imaginei com belezas estonteantes, como estátuas do norte, sentindo-me inferior em comparação. Aquele sentimento teve vida curta — porque ele mudou sua atenção para meus seios.

Pondo as mãos em concha na parte baixa de meus seios ele quase circundou-os com suas grandes mãos. Evitando meus mamilos, massageou-os com um toque praticado que apenas beirava a aspereza. Mas adorei, arqueando para ele.

Novamente, ele apertou, girou os montículos até o resto do meu corpo implorar pelo contato — que ele parecia determinado a reter.

— O que está fazendo comigo?

— Te torturando sexualmente. — Ele aumentou o aperto em meus seios.

Eles começaram a inchar, a pele aquecendo e avermelhando. Meus mamilos endureceram e expandiram, até a visão deles ser pálida, excitando-me ainda mais. Eu olhei deles para seu olhar fixo, então novamente para meus seios. Ele continuou a massageá-los. Minha carne inchou ainda mais.

Quando senti sua respiração pesada nos bicos sensíveis, contorci com uma mistura perfeita de miséria e prazer. Notei os lençóis úmidos embaixo de mim e percebi que eu gozaria desse jeito. Meus olhos arregalaram com a descoberta. Eu podia gozar sem um único toque em minha boceta negligenciada.

Pensei que sabia o que meu corpo podia fazer, mas agora mesmo estava me comportando de modo desconhecido. Sevastyan parecia saber o que podia fazer melhor do que eu.

Nunca diminuindo o aperto, ele se debruçou, deixando a respiração atormentar ainda mais os bicos. Evitando tocá-los, Sevastyan correu a língua para depositar beijos leves ao longo da lateral, ao redor dos bicos.

Se tocasse em meus mamilos, eu gritaria. Se não tocasse em meus mamilos, eu gritaria.

— Sevastyan, beije-os! — Estava arquejando com angústia, contorcendo-me por esta estimulação excruciante. Enrosquei os dedos atrás do meu pescoço, mas não sabia quanto mais poderia aguentar antes de eu mesma me tocar. — Faça alguma coisa.

— Assim? — Com um olhar sinistro, ele soprou um bico, então o outro.

Um grito escapou de meus lábios, minhas costas curvando para me aproximar dessa estimulação frustrante.

— Quieta. — Ele me forçou para baixo, dando aos meus seios um aperto muito mais severo. —Submeta-se a mim.

Apenas a palavra “submeta” me fez tremer, fez meu clitóris pulsar. Até que estivesse impotente por não tocá-lo. Liberando a pressão em meu pescoço, arrastei minha mão para baixo.

— Ah-ah. — Ele segurou meu quadril, empurrando-me de lado, expondo minha bunda para ele.

— O que você...

Com uma de suas mãos calejadas prendendo meu pescoço para me segurar no lugar, ele usou a outra para esbofetear minha bunda. Com força suficiente para me surpreender.

— Se você não me obedecer, será castigada. Entendeu? — Outro tapa severo.

Ele me disse que o temeria; com cada golpe, alarme começou a crescer dentro de mim. Engoli em seco duro contra a mão na minha garganta.

— Entendeu? —Sua palma estalou contra meu traseiro novamente.

— Ai! — Este tampouco foi um tapa de amor. — Sim!

— Diga “eu entendo, Sevastyan.”

— E-eu entendo, Sevastyan. — Mas não entendia. Seus olhos estavam faiscando com excitação, seu tórax levantando. A ponta do seu pênis inchado umedeceu o tecido de sua calça. Ele conseguiu aquela excitação por me surrar?

Eu consegui? Obediência era uma coisa, mas isto era corporal. Ainda assim, eu estava tão molhada como jamais estive, minha bunda formigando tão deliciosamente que ansiei outro tapa.

Isso não podia estar certo. Como podia ansiar algo que devia temer?

Entrecortadamente, ele disse:

— Não gosta de um homem te dando uma punição?

Meu corpo gritava Sim!, mas minha mente resistia. A verdade?

— Estou indecisa.

Isso o fez fechar a cara novamente.

— Mãos, Natalya.

Quando eu as entrelacei atrás de mim, ele me posicionou de costas novamente. Agarrando meus seios mais uma vez, abaixou a cabeça, boca quase no meu mamilo.

Chupe-o. Faça-me gozar.

— Por favor, sua boca. — Eu mal podia articular meus pensamentos. — Sua língua.

— Se você fosse minha, eu iria furá-los. Forçá-los a usar meu ouro.

Perfurar. Minha. Força. Seu ouro.

Cada palavra gotejava dominação. Ele estava falando sobre me perfurar — e só de imaginar me fez ondular até sua virilha coberta em busca de alívio. Mas ele manteve aquela bonita protuberância em suas calças me impedindo de tocar.

Suas mãos quentes continuaram a apertar. Só quando pensei que meus seios não poderiam ficar maiores, mais vermelhos, mais sensíveis, quando estava balançando meus quadris em abandono, ele esfregou seu queixo mal barbeado em um mamilo.

— Sevastyan! — Estava quase levitando com prazer, balbuciando: — Por favor, por favor, por favor.

— O que você me daria para chupar seus peitos?

Fácil.

— Qualquer coisa.

Com voz rouca de luxúria, ele exigiu.

— Você seria minha escrava? Eu gostaria de amarrá-la, torná-la impotente. Eu a usaria de maneiras indescritíveis.

Desde que ele me fizesse sentir assim — com minha bunda em chamas e meus seios tão inchados — eu mal podia pensar sobre qualquer coisa além de minha própria carne inflamada.

— Sim, sim!

— Você sentiria a mordida de couro através de seus seios, sua picada entre as pernas.

Eu arqueei para ele.

— Okay!

Seu aperto aumentou ainda mais.

— Isto deveria punir você, me punir. Mas porra, você ama isto. Você precisa disto, ainda que não saiba o quanto!

Minha cabeça girou, e murmurei repetidas vezes:

— Eu amo, preciso disto.

— Coloque sua mão sobre a boca. Abafe o grito.

Minha o que? Ainda assim, fiz como ele disse.

Em russo, ele murmurou:

— Deus nos ajude. — Então sugou um dos meus mamilos ingurgitados, tomando-os entre seus lábios firmes, no calor desejado de sua boca.

Sua língua molhada chicoteou o cume quando seus dentes roçaram...

Meu orgasmo me atravessou rasgando. Violento, abrasador, surpreendente. Derretendo-me quando ondas de prazer contraíram minha boceta intocada — apertando internamente, apertando tão forte. Remexendo os quadris, apertei minhas mãos em acima da minha boca para amortizar meu grito extasiado.

A culminação foi tão intensa que duas lágrimas rolaram dos meus olhos.

Ele sugou meu outro mamilo e as ondas retornaram, meu núcleo convulsionando.

Êxtase...

Quando estava exausta, ele me soltou e recuou de joelhos. Eu lutei para recuperar meu fôlego e ordenar meus pensamentos — falhei em ambos os resultados — assim dei a ele um sorriso hesitante.

Enquanto seu olhar varria sobre meu corpo e então aos meus lábios curvados, ele pareceu lutar com a raiva — com raiva de verdade. O que não podia estar certo.

Eu levantei até me ajoelhar diante dele, meus seios parecendo tão exuberantes. Meus mamilos estavam úmidos e latejando contra seu torso duro como uma pedra. Eu sussurrei:

— Mais.

Eu podia sentir seu corpo tremer. Então por que não estava me jogando no chão, mergulhando dentro de mim?

Minha mão disparou para baixo em seu corpo. Quando espalmei seu pênis enorme, quente, ele fez um som de rosnado. Quando eu o tracei com meus dedos, encontrei o lugar molhado de seu pré-sêmen e estremeci de desejo.

— Mais.

Entre dentes apertados, ele disse:

— Foda-se.

— Não entendo. O que eu fiz?

Ele agarrou o comprimento do meu cabelo, enrolando-o em seu punho.

— Ty ne dolzhen byl byt’ takym. — Você não deveria ser assim.

Arrastando minha cabeça, ele inclinou sua boca acima da minha. Ele me beijou tão perversamente quanto tudo mais que fez, com movimentos sensuais de sua língua acariciando a minha. Lancei meus braços ao redor do seu pescoço, apertando nossos tórax juntos.

Sua pele parecia queimar com febre, seu coração trovejava. Quando um de meus mamilos deslizou pelos seus, ele gemeu na minha boca, aprofundando o beijo.

Línguas emaranhadas, respirações misturadas. Lento, pecador, destruidor. Até que eu estava esfregando meu corpo contra o seu em abandono.

No entanto, em seguida ele se afastou.

— Você precisa melhorar, mas vou te ensinar. — Eu o ouvi abaixar o zíper. Ele usou o aperto em meu cabelo para me arrastar até minhas mãos e joelhos; com sua outra mão, ele liberou seu pênis. Maior até do que imaginei. Primoroso.

Sob meu fascinado olhar, seu comprimento cheio de veias foi pra cima e pra baixo. Eu o observei pulsar muito mais forte. Uma gota de umidade escorreu pela cabeça, brilhando no luar, e eu estava com fome por isto.

Ele apenas esperou enquanto eu olhava fixamente, com as mãos tremendo em meu cabelo. Se queria me assustar, por que não forçou minha boca sobre seu pênis? Empurrou-se através da minha garganta?

Ele murmurou palavras em russo, sua voz tão rouca que tive dificuldade em compreendê-lo. Algo sobre a necessidade de me afastar enquanto eu estava hesitando.

Eu queria prestar atenção, pedir a ele para explicar, mas aquele gota me provocou. Incapaz de me impedir, inclinei e bati a língua percorrendo a ponta, provando sua excitação, alimentando minha excitação ao extremo novamente.

Um som gutural foi arrancado do seu peito. Olhei para cima, vi sua cabeça jogada para trás, os músculos em seu tórax ondulando com tensão. Os músculos de seu braço se contraíram.

Fiz boquetes antes, mas de modo algum era uma perita. Ainda que sempre achei que entusiasmo vencia a falta de talento. Encorajada por sua reação, eu o chupei, traçando as veias com minha língua.

Ele começou a balançar os quadris em um ritmo sensual, deslizando seu pênis mais profundamente entre meus lábios. Segurando-me no lugar com o aperto em meu cabelo, ele vagarosamente fodeu minha boca.

Com sua mão livre, acariciou os dedos ao longo do meu queixo, então a concha de minha orelha. Como se não pudesse se impedir.

Uma mão agarrou meu cabelo, exigindo obediência; a outra acariciou meu rosto como se me agradecendo por isto.

O contraste foi enlouquecedor. Este homem era enlouquecedor. E tinha um gosto tão sublime, que me vi cuidando dele... amorosamente.

— Bonita pequena Natalya. — ele falou. — Com sua boca ávida. — Golpes mais tenros junto à minha bochecha. — Imaginei você fazendo isto.

Eu puxei de volta para correr meus lábios para baixo em seu pênis.

— Enquanto estava me vigiando?

Ele grunhiu em resposta. Então eu estava andando por aí, cuidando da minha vida e este lindo russo tinha fantasiado comigo o chupando? Isso me excitou como louca!

Quando aumentei minha sucção, provei outro jorro de pré-sêmen e quis mais, mais. Endurecendo minha língua, eu sondei a ponta até o centro da coroa roliça.

— Ahh! — Ele gritou, girando os quadris fortemente, enchendo minha boca com o pênis.

A cabeça bateu nas costas da minha garganta. Eu podia ter sido silenciosa, mas estava muito faminta, tinha apenas aguardado isto. Ele queria que eu me submetesse; minha boca e garganta foram relaxando para ele usar.

— Me leve até o fundo, agora. — Outro empurrar afiado em minha boca. Quando meus lábios encontraram seu zíper e eu gemi por mais, ele repetiu. — Foda-se!

Eu não o entendi, e ele estava longe demais para se importar. Quando chupei em delírio, minha mão roçou pelo meu corpo para o topo da minha umidade, esfregando o clitóris com a palma da minha mão.

— Ah-ah, Natalya. — Ele puxou seu pau, então rasgou abrindo o cinto e a calça, empurrando-os por suas pernas abaixo. Meus olhos se embeberam na visão.

Os cordões de músculo em suas coxas poderosas. A perfeição sombria de seus testículos pesados.

Movi-me para frente para afagar o saco que ele exibia, fazendo-o corcovear incontrolavelmente.

Então, em um movimento ágil, ele estava de costas e eu estava virada escarranchada em sua cabeça, com seu pênis como um bastão na frente do meu rosto.

Ele estava indo lamber... comigo nesta posição... enquanto eu...

Ele murmurou em russo:

— Só um gosto. Para me curar. — Senti sua respiração contra minhas dobras lisas. Seus dedos espalharam meus lábios molhados. Quando ele me abriu, senti seu olhar naquela parte minha mais particular...

— Tão bonita.

Então veio com sua língua má.

Felicidade.

— Oh, Deus. — respirei quando ele lambeu e banhou. Nunca tive alguém embaixo de mim. Ou em cima, por assim dizer. Gemi, perguntando-me como exatamente vivi sem isto?

Ele agarrou seu pênis, curvando-o em minha direção. Entre lambidas, disse:

— Chupa. — Quando o devolvi aos meus lábios, ele agarrou as curvas da minha bunda e me forçou mais perto de sua boca.

Como se festejando, ele me lambia sofregamente, afastando-se apenas para me comandar:

— Mais forte. — A mão dele desceu novamente em minha bunda, fazendo-me arquear como uma gata no cio.

Deixei minhas bochechas encovadas, e em troca senti o leve roçar de seus dentes no meu clitóris — justamente quando seu dedo começou a rodear minha abertura. Oh, Deus, oh, Deus... Aguardando a penetração, afastei minhas coxas mais sobre ele e fiquei quieta, o que me levou a ganhar outro tapa na minha bunda, lembrando-me de continuar trabalhando.

Ele estava me controlando completamente, e eu não podia conseguir o suficiente disto.

Quando seu dedo avançou para dentro de mim, balancei de volta, desenfreadamente esfregando meu clitóris sobre sua boca, contorcendo por mais. Quando ele sondou mais fundo, me enchendo completamente, seu pênis pulsou muito mais duro.

Com sua língua serpenteando e seu dedo bombeando dentro e fora de meu núcleo, ele fez sons de rosnados como se estivesse no céu.

— Porra, mulher, porra. Você não podia estar mais apertada. Mais molhada. —Então ele puxou meu clitóris entre seus lábios e me chupou.

Eu tropecei por cima da borda. Quando comecei a gozar, meu grito foi abafado novamente, desta vez por seu pênis grosso. Quando tive espasmos ao redor de seu dedo ele enlouqueceu, chupando, endurecendo ainda mais, seu grito vibrando contra meu clitóris.

Onda após onda me balançou, prazer muito abrasador para ser verdade. Tão forte que minha visão piscou.

Quando fiquei sensível demais, até mesmo muito sensível para tomar outra lambida, eu o libertei da minha boca e me afastei.

Sua resposta foi um tapa na minha bunda.

— Não, é muito!

— Tome tudo de mim.

Quando ele começou a me lamber novamente, estremeci e me contorci sobre sua língua. Pensei que estava à sua mercê quando ele removeu o dedo — até que começou a lamber diretamente em meu núcleo.

— Sevastyan!

Ele pressionou minha boca de volta ao seu pênis.

— Tome meu gozo de mim. Estou prestes a te encher.

Gemi com suas palavras, desejando-o. Fechando minha boca sobre a cabeça, corri minha palma pra cima e pra baixo, da base até meus lábios.

Seus quadris balançaram em direção à minha mão, seu calcanhar afundando no colchão enquanto seu corpo maciço se precipitava em direção ao seu orgasmo. Suas coxas poderosas balançaram ao redor de minhas orelhas.

— Quero que você me engula. — Seu sotaque estava tão marcado que eu mal podia entender. — Você, Natalya.

— Hmm. — foi tudo que consegui articular, agora acolhendo sua língua, sabendo que ele iria forçar outro orgasmo meu.

Ele tomou minha boceta com um beijo frenético, boquiaberto, rosnando.

— Até a última gota, bichinho.

A ideia de prová-lo me enviou à beira do clímax com uma onda de umidade na sua boca à espera. Ele se deleitou, gemendo abafado. Quando Sevastyan me lambeu mais, seu pênis engrossou entre meus lábios, a semente surgindo de seu pênis.

A pressão que ele devia estar sentindo quando aquele jorro de esperma subiu! Preparando-se para entrar em erupção...

— Imagine que estou gozando dentro de você, exatamente aqui... — Ele me lambeu, quebrando meu núcleo ao mesmo tempo em que começou a ejacular calor líquido cremoso para mim.

Com esse primeiro jorro de sêmen, ele me fodeu com a língua e gritou na minha carne. Quando me lancei novamente na borda, meus olhos reviraram. Delirante de prazer, bebi jatos quentes de seu sêmen, engolindo, engolindo.

Até a última gota...

 

Com uma maldição ferina, Sevastyan jogou-me para o lado e saiu da cama como se a mesma estivesse em chamas, enquanto eu me lançava para a cabeceira. O que tinha acabado de acontecer??

Na medida em que ele levantava as calças, puxei o lençol sobre mim. A não ser que ainda estivesse sonhando, tinha bastante certeza de que estive amassando o rosto daquele homem enquanto lhe fazia uma “garganta profunda”.

Quem diabos eu sou esta noite? Quando Sevastyan silvou ao colocar aquele lindo mastro semiduro dentro das calças, minha mente traiçoeira pensou: Quem quer que seja, mal posso esperar para ser ela novamente.

Preparei-me para uma onda de ansiedade. Ao invés disso, meu corpo ronronou satisfeito.

— Isso não devia ter acontecido. — ele parecia enojado novamente, mas desta vez consigo mesmo.

Havia uma miríade de emoções que ele deveria estar sentindo agora. Confusão, maravilha, choque. Não nojo.

Estava tonta, mas num bom sentido, como se tivesse derrotado uma febre e saído mais forte disso. Eu estava diferente. Sabia tudo sobre sexo, mas nunca senti o poder disso — o poder de saber que um homem, que obviamente idolatrava o controle, não pode controlar as próprias reações comigo. Assim como eu mesma estive incontrolável.

Ele procurou meu rosto, estudando minha expressão. Pelo que? Nojo para combinar com o dele? Arrependimento? O medo que titubeou em provocar?

Quanto pior ele parecia a respeito, mais confortável eu ficava. Imaginei que eu fosse do contra assim mesmo. Brincando como se ele não pudesse dar uma foda.

— Então essa é a parte em que você fica bravo e manda eu me cobrir? — por bons motivos, deixei o lençol cair quando estiquei os braços atrás da cabeça. Para lembrá-lo dos seios que tinha acabado de chupar e dos mamilos que desejou morder.

Ele passou a mão sobre o rosto.

— Isso foi um erro.

— É claro que não foi. O que fizemos foi incrível. — naquela cama, o homem dos meus sonhos tinha abalado meu mundo, fazendo-me gozar mais forte do que nunca — três vezes — e meu sexo oral não foi nada ordinário. Começava a pensar que era uma felatrix de nascença.

De fora da janela, eu tinha uma visão gloriosa. A lua brilhava sobre o oceano. O oceano! Minhas férias tiveram um começo promissor.

Ele sentou-se na beirada da cama, os cotovelos sobre os joelhos.

— Fez você feliz, ser usada por mim?

Talvez não tão promissor. Ergui as sobrancelhas com divertimento.

— Eu gozei três vezes; você só uma. Quem está usando quem, Siberiano?

Os lábios dele se abriram surpresos. Bem, isso o calou.

Naquela noite, eu realizei algo. Sempre pensei que quando perdesse a virgindade, estaria cedendo algo. Agora entendia que com um homem como Sevastyan, estaria ganhando algo.

Prazer para aturdir meu cérebro e lembranças para o resto da vida.

Todo o meu pensamento sobre o feito tinha evoluído. Insight: se um cara que eu tive sexo como nunca tiver feito uma marca na própria cabeceira, vou mandá-lo fazer uma na minha também... e então me preparar a porra de um sanduíche.

Sevastyan disse:

— Isso foi uma indiscrição que não deve se repetir.

— Por que sou um tabu? — franzi o cenho quando o pensamento me atingiu. — Hoje não foi como ser morto por Kovalev ou algo parecido. Certo?

— É claro que não. Ele não é um tirano assassino.

— E o que foi isto?

— Eu me aproveitei da filha dele. Mal consigo acreditar que toquei em você. — Sob a luz da lua, eu podia ver a cor tingindo-lhe as bochechas enquanto ele murmurava. — Bati em você.

— Acabei amando cada segundo do que fizemos. — Eu, Natalie Porter, fiquei enlouquecida enquanto apanhava. E iria jogar com isso.

Sentia-me como um telefone atualizado numa nova plataforma, mas sem ser apagado. Quando gozei com ele, eu pisquei, bipei e agora estava incrementada.

Ele tinha me resetado, ajustado como eu me sentia sobre sexo para o resto da minha vida.

— Sevastyan, não transforme um positivo em negativo. — Sacaneie ele, sacaneie ele...

Ele me olhou com expressão suspeita.

— Você estava apertada. Muito. Certamente não era virgem.

Com um olhar desafiante, dei de ombros.

— Acho que você não descobriu tudo a meu respeito.

Ele soltou um estupefato “Blyad!”. A palavra significava vadia, mas os russos a falavam como se dissessem oh, merda!

— Isso não é uma grande coisa. — não era como se eu ainda tivesse um hímen intacto. Meus atributos tomaram conta disso.

— Então por que raios você está usando um método anticoncepcional?

Então ele notou o dispositivo no meu quadril?

— Por várias razões. Especialmente para regular a menstruação.

Mas ele não estava me ouvindo.

— Já é ruim o suficiente fazer isso com uma mulher experiente. — ele pulou em pé, rondando o quarto de uma parede a outra. — Outra coisa é despojar uma garota que nunca foi tocada antes!

— Despojar? Você não disse essa palavra arcaica! Bem, é a única coisa a se esperar já que não temos um acompanhante e sua masculinidade é tão viril.

Ele fez cara feia.

— Posso não ver isso de um jeito tão “arcaico”, mas não sei como os outros reagirão.

— Outros? Como o meu pai?

Assentimento brusco.

— Pensei que você o conhecesse bem. Bem o bastante para me contar o quão incrível será minha nova vida.

— Eu o conheço bem. Mas ele nunca teve uma filha antes. Não tenho ideia de como vai encarar isso.

— E se eu não fosse filha dele?

— Você é. — ele passou os dedos contra os cabelos grossos.

— Responda-me.

Ele balançou a cabeça, dando-me um olhar tão cru e primitivo que engasguei.      

             — Se não fosse, eu estaria enterrado dentro de você nesse instante. Devstvennitsa ili net. — virgem ou não — O que deveria ter saciado meu apetite só o aguçou.

Fatos: ele tinha fantasiado comigo no último mês. Ele ansiava fazer sexo comigo, mesmo eu sendo virgem. Ele parecia gostar de alguns aspectos da minha personalidade. Ele queria mais de mim; eu, com toda a certeza, queria mais dele…

— Mas isso não pode acontecer de novo. — ele acrescentou, seu tom vibrante com a definição.

Estaria sendo blindada para paus por algum tipo distorcido de lógica mafiosa? Eu me ergui, andando sobre os joelhos até a beira da cama, amando como o olhar sob o desenho das sobrancelhas seguia o balanço dos meus seios.

— Eu quero que aconteça novamente. E geralmente consigo o que quero. Você não é forte o bastante para resistir a mim, então está em suas mãos.

Ele estreitou os olhos em desafio, parecendo não notar que tinha se aproximado de mim. E mais um pouco.

— Se você me tentar, não serei tão gentil.

Isso foi gentil?

Quando estremeci de desejo, ele soltou um som arrogante.

— Você disse que a confundo? Você me confunde. Sou eu quem você pensa que quer ou simplesmente deseja o prazer?

— Quero a oportunidade de descobrir.

— Acredito que você saberia isso, já que tem instintos melhores sobre os homens.

Meus olhos arregalaram.

— Você não disse isso. Meus instintos são intocáveis!

— Você não percebe? Seu pai quer te dar o maldito mundo; mesmo que eu quisesse, um homem como eu jamais estaria no seu futuro. — ele se virou para a porta da suíte.

Olhando além dele, murmurei:

— Que estranho.

Ele parou na soleira da porta sem se virar. Como se não pudesse se impedir, perguntou:

— O que é estranho?

Inclinei a cabeça.

— Você pensar que eu não decidirei quem estará no meu futuro.

Os ombros se juntaram tensos, e ele bateu a porta atrás de si.

 

— Meu alarme! — Sentei na cama em um pulo, sabendo que estava atrasada para o trabalho, perguntando-me por que diabos meu relógio não tocou. — Está tarde!

Esfregando meus olhos, gradualmente compreendi que estava em um avião, que todos os eventos da noite passada não foram um sonho.

O que aconteceu nesta cama não foi um sonho.

Virei em direção à porta, encontrando Sevastyan carregado de sacolas, uma mala aos seus pés.

— Relaxe, Natalie. Você não tem mais essas preocupações.

Considerando que eu estava nua, vestindo nada além de um lençol em cima do meu colo e meu cabelo encaracolado caindo de modo selvagem sobre meus seios, e ele estava vestido com um terno cinza de três peças imaculado e um longo casaco que ajustava-se aos seus ombros largos impecavelmente, eu soltei.

— Você parece incrível. — Como o homem de sonho de um bilhão de dólares que abalou meu mundo. Não, ele o tirou do eixo. Era como se eu pensasse que o prazer só era avaliado em uma escala de um a dez, e então este cara sussurrou sedutoramente. “Você não sabia? O limite é infinito.”

E então este cara, vamos apenas chamá-lo de Sevastyan, demonstrou. Certamente isso merecia um bis, não?

Ao meu elogio, suas maçãs do rosto altas ficaram coradas, mas ele não disse nada.

Deixa correr, Nat.

— Ei, nós aterrissamos? Não posso acreditar que dormi. — Franzi o cenho ao ver que as cortinas estavam fechadas.

Ele voltou aqui depois que eu cai no sono novamente e puxou-as para mim? Ownn.

— Quanto eu perdi? — Dormi como se estivesse morta — Quanto tempo estive fora, afinal? — e agora me senti descansada pela primeira vez em semanas. Um inventário rápido do meu corpo me disse que estava dolorida, mas em todos os lugares certos.

— Está nublado, então você não teria visto muito.

Quando me debrucei para espiar pela janela, ele desviou o olhar nitidamente.

Lá fora o céu estava cinza, o aeroporto nada especial. Uma limusine estava estacionada, fria e indiferente, na pista próxima ao jatinho. Parecia um carro que poderia servir à monarquia britânica.

— Tem roupas aqui pra você. — disse Sevastyan. —Tudo deve servir.

Dei a ele um sorriso açucarado.

— Porque invadiu minha casa e viu meus tamanhos?

Ele estreitou os olhos.

— E então eu pessoalmente confirmei suas medidas. — Com isto, ele me deixou.

Oh, você já fez, pensei enquanto corria pro chuveiro. Minutos mais tarde, retornei para encontrar café fumegante e bolinhos quentes deixados para mim. Eu sorvi o café... carregado com açúcar e leite de soja. Exatamente como eu tomava, o que ele saberia porque invadiu minha privacidade.

Ignorando minha irritação, rasguei as sacolas e abri mala. Jess teria um treco sobre as escolhas. Até eu apreciei os suéteres e calças de grife, as botas de couro macias e suaves.

E a lingerie? Os sutiãs e calcinhas elegantes não eram abertamente sensuais — apesar de suas rendas transparentes e fitas modestas — mas meninas de fazenda em Nebraska simplesmente não usavam uma coisa dessas.

Eu não estava em Nebraska.

Então vasculhei pelas roupas de baixo, vestindo um par combinando em seda pêssego. Vesti um suéter verde jade do mais fino cashmere que já senti e legging preta. Normalmente eu teria rejeitado o material colado no corpo, mas o suéter batia quase no meio da minha coxa, então eu não estaria mostrando nada. Botas na altura do tornozelo moldavam meus pés, completando o traje.

Eu me chequei no espelho, surpresa pela cor nas minhas bochechas. Meus olhos pareciam claros, o verde mais vívido. Eu parecia... bem amada.

Quase parecia ingênua.

Se uma sessão com Sevastyan me afetava assim, não podia imaginar o que o sexo com ele faria comigo. Só tinha uma maneira de descobrir.

Arrumei as roupas restantes, então desajeitadamente rolei/carreguei a mala da suíte. Se eu tinha esperado que Sevastyan me elogiasse pela minha roupa, estava enganada.

— Você não carrega bolsas. — ele estalou. Assim que soltei a mala como se estivesse quente, ele me encaminhou para a saída.

À frente da escada do avião, parei dar uma inalada bem funda, querendo sentir o cheiro do país; tudo que cheirei foi combustível de avião, e estava congelando aqui.

Antecipando minhas necessidades, Sevastyan disse.

— Aqui, tenho um casaco pra você.

Um casaco de pele de corpo inteiro. Zibelina decadente.

— Oh, eu não uso pele. —disse firmemente, inclusive enquanto acariciava a extensão sedosa.

— Na Rússia você usa. — Eu estava abrindo minha boca para discutir quando ele disse. — Era da sua avó. Foi ajustada pra você.

Minha avó vestiu isto? Argumento anulado. Eu o enfiei, nem um pouco surpresa que se ajustou perfeitamente. Enquanto descíamos os degraus, o calor me envolveu.

— Por que Kovalev me daria algo assim? — Ele sequer me conhecia.

— Pra quem mais devia ir este casaco, senão para a única neta da dona?

Quando ele colocava assim...

Lá embaixo, um motorista de aparência comum abriu uma porta para mim, mas foi Sevastyan quem me ajudou a entrar no banco de trás.

Do lado de dentro, uma tela de isolamento nos separava da frente. Os vidros escuros eram tão grossos que percebi que tinham que ser à prova de balas. Sevastyan se sentou na minha frente — o mais longe possível. Quando saímos do aeroporto ele se recusou a olhar para mim, só mantendo seu olhar focado fora da janela.

— Então onde fica a casa do Kovalev?

— Fora da cidade, no Rio Moskva. Cerca de uma hora de distância.

Nós ficaríamos presos neste carro juntos por uma hora? Com ele naquele terno todo estiloso de dar água na boca?

Quando entramos em uma estrada maior, eu o inquiri com meu olhar, desejando experimentar este novo país. Colei minha testa na janela para ver a vista, mas tudo pelo que passamos foram armazéns que podiam facilmente ter estado na América. Somente o letreiro Cirílico os diferenciava.

— Vamos passar por Moscou?

— Não hoje.

— Não vou ver a cidade?

— Nyet, Natalie. — Um duro não.

Em um tom derrotado, eu disse.

— Nem uma única cúpula de cebola? — Sempre amei ver quadros dessas cúpulas russas emblemáticas, tão brilhantemente coloridas e arrojadas — mesmo antes de ver as duas tatuadas no bíceps dele.

— Talvez você vá. — ele disse em um tom enigmático.

Silêncio reinou; parques industriais dominavam quilômetro após quilômetro. O passeio foi um tipo especial de inferno.

— Está quente. Posso abrir um pouco a janela?

— Fora de cogitação. — ele estalou.

Cruzei meus braços em cima do peito. Se eu tivesse uma flor na mão, teria arrancado suas pétalas: ele me quer; ele não me quer. Ontem à noite estive convencida que ele desejava mais comigo. Hoje, nem tanto.

— Quero conversar com você sobre o que aconteceu no avião.

Com um olhar para a divisória, ele abaixou sua voz para dizer.

— Nós concordamos em deixar aquilo pra trás. — Ele soava como se estivesse tentando se convencer.

— Não, não concordamos. Você sugeriu e eu vetei. Além disso, você ainda está pensando nisso também.

— Por que você acredita nisso? — Ele perguntou, sua voz rouca.

— Porque você está se remexendo no seu assento e manteve seu casaco abotoado neste carro aquecido. Aposto que você está duro atrás desse material.

Ele não negou.

— Você tem que estar pensando a respeito disso porque eu não posso parar.

— Tente. — ele disse com desdém, afastando-se mais uma vez.

— É difícil quando cada movimento me lembra do que nós fizemos. — Por causa desta nova e deliciosa dor secreta. Eu admiti. — Minha bunda parece como se eu tivesse andado a cavalo pelos últimos dois dias. — E não trocaria a experiência, ou as pontadas, para o mundo.

Olhando pra fora da janela, ele languidamente curvou seus lábios, sua expressão a epítome da satisfação masculina.

Oh, aquele sorriso de tirar o fôlego. Coração. Batida. Salteou. Isso era orgulho masculino em exibição porque eu ainda estava sentindo suas correções? Seu rosto era sempre tão ilegível; ele realmente deve apreciar o que fez comigo.

Se ele sentisse uma fração da atração que eu sentia por ele, então como estava se negando a repetir? Talvez ele de forma rotineira experimentasse esse tipo de prazer com outras. A ideia me fez ferver.

— Imagino que você faz coisas assim o tempo todo com toneladas de mulheres diferentes. Suponho que sou uma de muitas.

— Você não é como as mulheres com quem eu estive.

Ele disse tanto isso pra mim ontem à noite. Dia e noite.

— Como assim?

Nada.

— Diga-me.

Ele deu de ombros. Fim da discussão.

Muito bem.

— Preciso falar com você sobre logística. Agora que já resolvemos minha seleção de roupas...

— Não está resolvido. Isso foi somente pra você passar o dia. Um extenso novo guarda-roupa será fornecido a você.

Quando ele dizia coisas assim queria que eu estivesse mais interessada na moda. E, bem, no dinheiro.

— Vou receber um telefone? Preciso ligar para os meus professores.

— Passei um e-mail para todos eles explicando que você teve uma emergência familiar e teve que viajar. Duração desconhecida.

— Você não faria isso!

Ele ergueu suas sobrancelhas negras. Não faria?

Ele basicamente cancelou minha matrícula. Apesar de já ter planejado me organizar para não concluir, esta prepotência irritava.

— Você sempre foi responsável com seu departamento. — ele assinalou. — Seria incomum pra você desaparecer sem uma palavra.

— Eles não vão engolir isto.

— Eles vão quando o e-mail vier de seu endereço.

— É isso que você estava fazendo enquanto eu estava no banho! Ouvi você entrar mais cedo ontem à noite.

Nenhuma negação.

Então ele esteve no meu computador guiando minha vida inteira quando ouviu meus choramingos decidindo verificar aquilo também? Ele não tinha limite?

Deus, tanta coisa aconteceu desde então. Parecia como semanas atrás estive naquele bar com meus amigos, provavelmente porque minha vida mudou mais drasticamente em 24 horas do que nos últimos seis anos — desde que meu pai morreu e percebi o quanto a vida era curta e preciosa. Desde que comecei minha busca.

Meu nervosismo sobre esta situação inteira retornou com força total.

— Okay, e os arranjos pra minha vida? Onde vou ficar? Por quanto tempo vamos procurar?

Sevastyan me lançou um olhar perplexo.

— Você vai viver com Kovalev na casa dele. Assim é mais seguro, você vai entrar e sair como quiser.

— Eu deveria viver com alguém que não conheço? — Ainda nem tive uma oportunidade de ir ao Google saber de Kovalev.

— Não é como se vocês pisassem nos pés um do outro ali. — disse Sevastyan. — Você ficará acampada em sua propriedade até que a ameaça seja eliminada. A menos que decida fazer seu lar ali assim que o perigo passar.

Voluntariamente morar com um estranho? Na suj complexo soviético?

— Mas quanto tempo levará para o perigo passar? Algumas semanas? Uns meses?

— Esta é sua vida em um futuro próximo.

Meus lábios se abriram. Minhas férias acabaram de ser estendidas — tudo por causa de um pai que eu nunca conheci.

— Diga-me do que Kovalev realmente gosta.

Um canto dos lábios de Sevastyan podem ter se erguido.

— Ele não é nada como você está esperando que seja. — Um pouco de descongelamento do Siberiano?

— Você gosta dele de verdade. É mais do que somente, hmm, lealdade organizacional.

Ele assentiu.

— Kovalev é o melhor homem que eu já conheci. Eu o respeito mais do que a qualquer um.

— Como você o conheceu?

— Em São Petersburgo. Por acaso. — disse Sevastyan, torcendo seu anel do polegar.

— Ah, isso explica tudo. — Russo de Boca Fechada.

— Pergunte a história a Kovalev, se quiser.

Talvez eu perguntasse.

— Então o que se espera que eu faça o dia todo, agora que você trancou minha matrícula e me deixou desempregada? — Já tive muito mais energia do que eu estava acostumada. — Vai ser difícil ir de trabalho duro a lazer duro.

— Você vai conhecer seu pai. Vai apreciar as comodidades em Berezka.

— Pequena bétula? Este é o nome de seu complexo?

— Da.

Nós caímos em silêncio. A paisagem ficou mais selvagem, com mais árvores e grandes propriedades. Passamos por portão após portão, cada um mais elaborado que o último.

Meus nervos estavam recebendo o melhor de mim. Mexi no meu novo casaco. Aquele de pele. Da minha avó.

E se dissesse algo estúpido ou ofendesse Kovalev? Eu não metia os pés pelas mãos muitas vezes, mas quando o fazia, tendia a ser grande nesse departamento também.

E se o homem ainda não estava convencido que eu era sua filha e isto era algum tipo de teste? Eu só tinha a palavra do Sevastyan, afinal. Merda. Quanto eu podia realmente confiar nele...

— Natalie, relaxe. — Ele se debruçou adiante e segurou minhas mãos. — Ele é um bom homem.

Bem quando eu tinha decidido que Sevastyan era um idiota, ele tinha que ir e ser todo compreensivo. Um momento cru de insegurança minha. Um momento cru de simpatia dele.

Então ele franziu o cenho.

— Suas mãos estão frias. — Conforme eu olhava fixamente pra baixo, ele tomou ambas entre as suas. Para esquentá-las.

Assim como eu imaginava meu futuro, o cara sem rosto faria.

Eu pisquei para ele. Isso foi apenas na noite passada?

— Não havia luvas pra você?

— Não tive oportunidade de examinar tudo.

— Não fique nervosa. — Com absoluta confiança ele disse: — Você vai tirar isso tudo de letra.

— Como você sabe?

— Porque você tem tudo o mais. — O carro desacelerou; ele soltou minhas mãos, pigarreando para dizer. — Chegamos.

 

Cães de guarda e metralhadoras. Por que eu estava surpresa?

No começo da calçada, duas torres de pedra branca de dois andares formavam um arco acima dos portões de ferro ornamentados. Homens uniformizados estavam posicionados na frente da estrutura, armas a postos, cães rosnando.

Nosso motorista abriu a janela e falou com um guarda, que parecia estar tentando dar uma olhada em mim. Suponho que eles devem estar curiosos sobre a filha há muito tempo perdida do Kovalev.

Um motor zumbiu quando o portão abriu. Quando fecharam atrás de nós, Sevastyan relaxou um nível, assim como fez quando levantamos voo. Sua expressão tornou-se um pouco menos sinistra.

— Bem. — Exalei um fôlego surpreso. — Isso foi diferente.

— A segurança foi aumentada pela sua presença. Kovalev não dará nenhuma chance. Mas não deve ficar assustada. Nós não deixaremos nada acontecer a você.

— Não estou assustada, só que eu nunca saí do Cinturão do Milho antes. E agora isso...

— Eu sei, bichinho. — Peguei seu olhar no meu colo onde estava entrelaçando meus dedos, e pensei que ele teve o impulso de segurar minhas mãos novamente. Mas não fez.

O caminho serpenteava pelo que parecia um parque, com uma colina após a outra de campo de golfe — gramado de qualidade. O sol começava a atravessar descendo pelas nuvens.

Eu queria prestar atenção a tudo, memorizar minha primeira experiência aqui, mas mais uma vez fui distraída por Sevastyan.

À medida que cruzávamos uma encantadora ponte de madeira, notei que ele estava me analisando. Determinando minha reação a este lugar?

As árvores ficaram mais numerosas, densas florestas alterando as cores com o outono. As folhas das bétulas e outras árvores eram uma profusão reluzente de laranja, castanho avermelhado e dourado — dourado como os olhos do Sevastyan.

Quando nos aproximamos de uma estrutura colossal ao lado de um lago, eu gritei.

— É isto? — As paredes e colunas eram de marfim, o telhado de telha coberto com três cúpulas de cobre e verde com pátina. — Cúpulas! Oh, é magnífico! — Nenhum monólito sujo da era soviética aqui. O lago era tão vítreo que o edifício lançava um reflexo surreal. Eu estava apaixonada, pronta pra me declarar para a casa...

— Este lago é um disparate. — Ao ver minhas sobrancelhas levantadas, Sevastyan acrescentou. — Um lugar pitoresco para os hóspedes tomarem chá.

— Oh. — Nós nos dirigimos adiante.

Passamos por um estábulo que deveria ter cinquenta baias.

— Quantos cavalos existem?

— Dúzias. Kovalev adora animais.

Nenhum tigre branco? Talvez ele tenha ursos russos em jaulas.

Quando dobramos uma curva, uma mansão surgiu. Não, não uma mansão — um palácio.

O queixo caiu.

— É isto. — disse Sevastyan.

De um prédio principal de três andares, duas alas se estendiam além da minha linha de visão. Era do tamanho da porra de um prédio do governo, mas com muito mais charme. Percebi que o disparate na beira do lago era uma miniatura da mansão. O sol do entardecer reluzia ainda mais as cúpulas de cobre.

— Eu... isso...

— É a antiga residência do czar. — Sevastyan disse. — Vinte anos atrás, estava em péssimo estado, prestes a ser restaurada como museu e um marco russo. Kovalev a comprou ao invés disso e a restaurou cuidadosamente.

— Então isso é histórico. — Meu coração estava disparado. — Você não me disse que eu estaria ficando em... na história.

A limusine estacionou na frente, próxima a uma linha de carros de luxo de todos os tipos e modelos. Antes do motorista poder alcançar minha porta, eu me embaralhei para fora com Sevastyan me seguindo. Estiquei minha cabeça.

— Espetacular. — finalmente consegui dizer.

Ele me deu um aceno com a cabeça satisfeito.

— Horosho, to. — Bom, então. — Fico contente.

— Esta deve ser Natalie Kovaleva! — Um jovem da minha idade saiu pelas grandiosas portas de cobre. Quando o sol bateu no seu rosto, meus lábios se abriram. Ele era... deslumbrante. Seu cabelo loiro escuro tinha um corte displicente, suas feições um estudo em simetria. Seus olhos cinzas vívidos eram diabólicos e acesos com intelecto.

Eu tinha acabado de recuperar a fala depois da visão desta propriedade. Agora meu cérebro estava sobrecarregado novamente.

— Este é Filip Liukin. — Sevastyan disse em um tom repleto de desaprovação.

Se Sevastyan era rudemente quente e sexo ambulante, este Filip era ofuscantemente bonito. Enquanto estava tentando formar palavras, Sevastyan disse áspero.

— Ele é seu primo.

Tosco.

Filip foi rápido em assinalar:

— Distante, muito distante, e tudo isso. — Seu sotaque soava britânico. Ele me lançou um sorriso fácil, todas as covinhas e dentes impecáveis.

Filip se estendeu como se fosse dar uma palmadinha no ombro de Sevastyan.

—Bem-vindo de volta, bratan!

O olhar no rosto de Sevastyan dissuadiu Filip de tocá-lo.

— Nunca me chame de irmão.

Uau. Sevastyan agiu como se Filip tivesse acabado de cortar um nervo exposto.

— Você conseguiu. — Filip disse facilmente, impassível. — Seja como for, bem-vindo de volta. Sei que está contente por ser aliviado deste trabalho demorado.

Será que todo mundo pensava que fui meramente trabalho para Sevastyan? Uma tarefa pesada que o levou de casa por um mês? Eu não fui, certo? Talvez eu estivesse entendendo errado sua resposta a mim. Pelo modo gelado que ele esteve entrando e saindo hoje, eu tinha que imaginar...

Filip abriu seus braços.

— Venha, prima, me dá um abraço.

Ainda doída por pensar em mim mesma como uma tarefa, deixei Filip me abraçar. Quando recuei, dei uma olhada para Sevastyan e vi que sua mandíbula estava apertada, aquele músculo fazendo um tique. Ele não estava gostando nada disso, como se estivesse com ciúmes.

Com a atenção totalmente em Filip — não uma obrigação — perguntei.

— Você vive aqui?

— Eu bem que podia. — ele disse, acrescentando em um tom coquete. — E com você aqui em Berezka, pretendo ficar. Ninguém me disse que você era linda.

Meu senso analítico começou a formigar, mas eu não podia ler isto, para bem ou para mal. Se senti um toque de mal estar, minha opinião provavelmente foi estragada pela reação do Sevastyan a ele. Mudei de assunto.

— Seu inglês é tão perfeito. — o do Sevastyan era impecável também, mas ao contrário de Filip, ele manteve seu sotaque. — Você foi criado fora da Rússia?

— Fui educado em Oxford, consegui meu MBA lá. Agora retornei. — Em um tom afetuoso, ele disse. — Estou tentando atualizar a operação do seu velho, arrastando-o para este século. — Na porta da frente, ele ofereceu seu braço. — Podemos?

Eu estava sendo passada adiante, justamente como o que? De Sevastyan pra Filip? Estava tão animada antes. Agora eu estava de mau humor. Mesmo assim, ampliei um sorriso.

— Imagino que sim.

— Eu vou levá-la pra dentro. — As mãos do Sevastyan cobriram meu ombro num aperto possessivo, enviando prazer através de mim. Eu quis me encostar nele.

O sorriso do Filip mal desbotou.

— Estou aqui. Tenho certeza que você está cansado de tomar conta dela.

Sevastyan não disse mais nada, não precisou. Um olhar sombrio e Filip recuou.

— Rápido no gatilho, Siberiano. — Ele riu entre dentes, bem humorado. — Eu tenho umas coisas para cuidar de qualquer maneira. Veja você hoje à noite, prima. — Ele andou a passos largos em direção a linha de carros estacionados.

Sevastyan chamou.

— Onde está seu próprio carro?

Sem diminuir a velocidade, Filip gritou de volta.

— Na loja.

Olhei fixamente para as costas do sujeito, porque era difícil tirar meus olhos dele. Como assistir um cometa se retirando.

Quando virei pra trás, Sevastyan parecia que estava rangendo os dentes.

— Tenha cuidado com ele. As aparências podem enganar.

— Se eu não o conhecesse melhor, pensaria que está com ciúmes.

— Isto não está em jogo. — ele disse, torcendo o anel no polegar. — Venha. — Ele acenou pra mim além do limiar da porta.

Do lado de dentro, engasguei com a opulência. Uma grandiosa escadaria se curvava graciosamente acima de um foyer imenso. Mármore reluzia debaixo de nossos pés. Alcovas alojavam estátuas delicadas, e paisagens a óleo adornavam as paredes. Em vez da confusão extravagante que tinha previsto, tudo era refinado e de bom gosto.

Quando tiramos nossos casacos entregando-os para um empregado uniformizado, senti como se tivesse perdido uma camada de conforto. Passado o foyer, Sevastyan me guiou em uma longa galeria. No fim tinham duas portas de madeira maciça. Fizemos uma parada bem do lado de fora delas.

— Aqui é o escritório dele.

Encarei as portas, cheia de apreensão. Até este momento, a ideia de encontrar meus pais biológicos foi um sonho distante, uma esperança improvável. Alisei meu cabelo, então ajustei meu suéter.

— Venha. Você realmente gostará dele, Natalie. — A força de Sevastyan pareceu penetrar em mim.

Com uma voz baixinha, eu perguntei.

— Ele gostará de mim?

Ele estendeu as mãos para as portas. Olhando fixamente para frente, ele murmurou.

— On tebya polyubit.

Ele amará você.

 

Todas as minhas expectativas a respeito do meu Padrinho fúnebre, painéis de madeira escura e nuvens de fumaça de charuto desapareceram; o escritório de Kovalev era iluminado e arejado. Numerosas janelas panorâmicas davam as boas-vindas ao pôr do sol.

Ao longo da maior parte das paredes, um montão de relógios antigos tiquetaqueava junto alegremente. Outros em várias fases de conserto cobriam uma bancada de trabalho.

Kovalev era literalmente um relojoeiro? Eu me senti tola pelos meus comentários no avião, esperava que Sevastyan não se recordasse deles.

Olhei para a direita, achando o homem no telefone. Pavel Kovalev não era muito o que eu estava esperando. Ele tinha cabelo preto com grisalho nos lados, bochechas coradas e uma constituição esbelta. Nenhum moletom — ele vestia um blazer da marinha com botão azul que destacava seus olhos cintilantes. Nenhuma corrente de ouro.

Kovalev, o mafioso russo, parecia menos com um Padrinho e mais com... um magro e elegante Papai Noel. Ele não podia estar mais longe da minha imaginação.

— Natalie! — Ele desligou o telefone na mesma hora. Com seus olhos azuis acesos, levantou para correr pra mim. Ele tinha cerca de 1,76m de altura, talvez sessenta anos de idade. Seus braços estavam bem abertos — como seu sorriso contagioso.

Mas com todo o DNA que nós compartilhávamos, ele era um estranho pra mim. Como eu deveria chamá-lo? Sr. Kovalev? Pai? Papi? Eu me embaralhei na incerteza, arremessando um olhar para Sevastyan, que deu um aceno vigoroso com a cabeça. Era seu modo de encorajar? No fim, eu só disse.

— Oi. — Desarticulada.

Kovalev apertou meus ombros, inclinando para me dar um beijo em cada bochecha.

— Você é cuspida a imagem da minha mãe. — Ele acenou em direção a um retrato de uma mulher sorridente orgulhosamente pendurada no painel da parede.

Eu parecia com ela. Minha avó.

— Como foi sua viagem?

Atordoante, reveladora, com alguns momentos ruins.

— Inesperada?

Ele me deu um olhar embaraçado.

— Peço desculpas, minha querida. — Seu inglês era excelente — e com sotaque — como o do Sevastyan. — Espero que Aleksei tenha te atualizado com nossas circunstâncias atuais. — Direcionando um olhar orgulhoso para Sevastyan, Kovalev acrescentou. — Aleksei fala por mim.

Eu me lembrei dessa frase. Era um simples modo de dizer que Kovalev confiava tanto nele que sabia que Sevastyan diria exatamente o que ele mesmo diria em qualquer situação.

— Ele fala então? — Sevastyan estava com o rosto um pouco corado? Pensando sobre sua “indiscrição”?

— Absolutamente. Ele é um filho para mim, o único que eu confiaria para me trazer minha... filha. Não acho que jamais poderei dizer isto o suficiente. — Quando seus olhos ficaram um pouco turvos, temi que eu pudesse ser um caso perdido para este Papai Noel da mafiya.

— Sevastyan me manteve segura. — assegurei a Kovalev. — E o voo foi agradavelmente calmo. — Queime, siberiano.

— Bom, bom. Você está com fome? Podemos tomar chá?

— Chá soa ótimo.

— Vou deixar vocês dois. — Sevastyan disse, todo duro e formal. — Nós precisamos nos falar mais tarde, Paxán.

As sobrancelhas grisalhas do Kovalev se juntaram e um olhar passou entre eles. Mas não pude lê-lo.

— Claro, filho.

Sevastyan virou e saiu a passos largos de volta pelo caminho que viemos.

— Ele pensa o mundo de você. — eu disse a Kovalev. — Ele disse que esteve com você desde jovem.

— Sim, eu o achei quando ele tinha apenas treze anos.

— Achou? — Como Sevastyan tivesse se perdido?

Kovalev fez um som de assentimento, mas não explicou.

— Um menino tão brilhante, e leal acima de tudo.

— Do que ele te chamou quando saiu?

— Paxán? É uma gíria para nós, parte Padrinho, parte velho. Acredite ou não, é um termo afetuoso. Talvez você pudesse me chamar assim também até que cheguemos a conhecer um ao outro. Só por enquanto?

Até que eu o chamasse de Bátja? Papai? O tom cheio de esperança se arrastou em meu coração. Eu sorri.

— Certo, Paxán, só por enquanto.

Ele gesticulou para mim em direção a um par de poltronas elegantes, sentando na que estava diante de mim. A seguir mais empregados uniformizados serviram o chá em uma bandeja de prata de vários níveis. Os sanduíches de salmão e pepino e o chá foram dispostos no mais alto nível. O caviar e o blini encheram o segundo; queijo, peras e uvas no terceiro. Bolinhos e doces foram artisticamente organizados no nível inferior.

Conforme ele servia o chá, eu enchi meu prato. O chá era uma mistura potente e fumegante. Em vez de açúcar, ele adoçou sua xícara com geleia de laranja, então eu o acompanhei. A combinação era deliciosa.

Nós batemos papo sobre o tempo em Nebraska e na Rússia, e suas visitas passadas para os Estados Unidos (viagens de trabalho para destinos como Brighton Beach e Las Vegas). Ele era surpreendentemente fácil de conversar.

Então a conversa ficou séria.

— Você deve estar se perguntando sobre sua mãe.

Eu assenti.

— Sevastyan não disse muito, preferindo que você me contasse.

— Seu nome era Elena Andropov. — O comportamento de Kovalev mudou. Ele pareceu anos mais velho, como se pesado pelo remorso. — Pelo que eu pude saber, ela morreu logo depois que você nasceu.

— Complicações do parto? — Ela morreu por minha causa?

Kovalev disse depressa.

— Você não pode se culpar. O cuidado com a saúde não era o que devia ter sido. O país inteiro estava tumultuado naqueles anos.

Ela chegou a me segurar?

— Eu sempre pensei que ela desistiu de mim.

— Nunca. Nem eu teria. Eu não sabia de nada disso. Nós estávamos... separados.

— Por causa do código Bratva? — perguntei.

— Da. Eu não fazia ideia. Eu teria desafiado o código, procurado em tudo quanto era canto por uma filha como você!

Embora pensasse que eu era a porra de uma estilosa, como ele podia sentir tão fortemente? Só porque eu era sua biologicamente? Ou por causa de relatórios de campo de seu executor?

— Você diz isso com tanta... segurança. Eu sei que laços de sangue podem ser importantes para algumas pessoas, mas você pode entender por que eu acho que outras conexões são importantes também.

— Claro! Mesmo assim, sinto como se já conhecesse você desde que Aleksei falou tão bem de você. É muito raro para ele dar sua aprovação, e nunca tão sinceramente.

Tão bem? E sinceramente?

— O que Sevastyan disse a você? — Eu estaria à altura do exagero?

— Ele me disse que você é uma aluna de honra, com numerosos prêmios e bolsas de estudo acadêmicas. Ele me mandou cópias de documentos que você escreveu para artigos; nós lemos todos eles.

Eu de repente desejei que pusesse ter me esforçado um pouco mais neles. E não podia evitar me perguntar o que dois gângsteres pensariam sobre meus temas de discussão: descrições de mulheres, gênero e homossexualidade ao longo da história. Tempo suficiente para perguntar a eles, suponho.

— Também consegui ver fotos suas em feiras de condado quando mais nova e vídeos mais recentes de você cantando karaokê com amigos.

Esqueci que Jess upou aquele vídeo, de volta a minha era de saltar de entusiasmo, mas sem talento. Você disse justamente isso a si mesma na noite passada, vadia. Minhas bochechas esquentaram e sorvi chá para disfarçar minha consternação.

Em um tom meio torto, Kovalev disse.

— Você canta com habilidade natural.

A sátira me fez rir dentro da minha xícara. Estava aprendendo que ele tinha o senso de humor malicioso que eu gostava.

— Sevastyan me contou como você foi para a escola de tempo integral enquanto mantinha três empregos. — Com a expressão ficando séria, Kovalev disse. — Eu sei que você frequentemente trabalhava tão duro que ia tropeçando para casa de exaustão.

Corei desconfortavelmente. Ele me fez soar como um tipo de Pollyanna Filhinha do Papai. Eu tinha uma meta, então ralei minha bunda para alcançar. Simples.

— Para ser justa, eu poderia ter estado apenas bêbada. Porque isto é completamente possível.

Kovalev ficou quieto. Tudo que eu ouvia era o tique-taque dos milhares de relógios. Então ele lançou a cabeça pra trás e riu.

Ele tinha uma bela risada, entregava-se nela. Eu me vi me juntando a ele.

Assim que nos acalmamos, ele enxugou seus olhos dizendo.

— Que tesouro você é, Natalie.

Conforme sorria em resposta, eu disse a ele.

— Sobre os empregos, Paxán, não quero que você pense que meus pais não me sustentaram. Eles sempre o fizeram, mas eu não queria que minha mãe soubesse a respeito disso.

— Então poupou a dor de seu pai adotivo e me trouxe grande alegria, você trabalhou quase até o esgotamento. E me ensinou uma lição importante.

Ergui minhas sobrancelhas.

— Poder vem de formas diferentes, não? Um sindicato como o meu tem poder. Mas também uma garota de vinte e quatro anos com fogo por dentro e espinha de aço. Você me achou. — ele acrescentou, repetindo o que Sevastyan disse ontem à noite.

Imagino que meus esforços podiam ser considerados uma grande coisa, mas eu simplesmente olhava para os últimos seis anos como... vida.

— Por falar em seu sindicato — respirei fundo — como você conseguiu, hmm, começar? — Nós poderíamos também tirar isto do caminho.

— Não por escolha, isto com certeza! Eu queria ser um mestre relojoeiro. — Ele fez um gesto para indicar sua coleção. — Como meu pai antes de mim, e seu pai antes dele.

Eu vim de uma linha de relojoeiros? Legal!

— Quando eu era menino, minha família tinha uma loja em Moscou, mantendo-nos confortavelmente. E então estes coronéis — uns capangas de vor’s — caíram em cima da gente, exigindo dinheiro para proteção das gangues que corriam desenfreadas. O preço era exorbitante para nós. Quando não tivemos nenhuma escolha a não ser recusar, eles nos fizeram pagar de outros modos.

— O que aconteceu?

Seus olhos ficaram distantes.

— Meu pai morreu aquela noite. Minha mãe sobreviveu por alguns anos antes de eventualmente sucumbir ao... dano feito a ela.

Meu estômago revolveu e eu quase vomitei o chá. Então um sentimento desconhecido me tomou, um sentimento de proteção por estas pessoas — e uma raiva silenciosa sobre o que foi feito a eles. Eu sabia o fim da história do Kovalev — ele obviamente derrotara aquele vor e teve sucesso — mas queria ouvir como ele fez isto. Não poupando nenhum detalhe.

Eu queria reviver seu troco. Uma ideia surpreendente. Talvez eu estivesse exatamente onde era meu lugar — no meio de uma guerra urbana.

— O que você fez?

— Eu era apenas um adolescente quando eles nos atingiram. — Kovalev disse. — Mas guiado pela minha mãe, uma feroz e orgulhosa mulher, nós vingamos meu pai e burlamos aquela quadrilha para eliminá-los.

Sim, mas...

— Como?

Ele soltou um suspiro, dando-me um sorriso triste.

— Não vamos falar de coisas desagradáveis. Só saiba que nós ganhamos o dia. Não muito tempo depois, uma nova quadrilha chegou a exigir dinheiro da gente e de todos os nossos vizinhos e amigos. Meu caminho se tornou claro. Eu podia permitir que uma série de chacais caíssem em cima da gente como abutres ou podia contratar meus próprios coronéis para proteger a mim mesmo e nossos amigos. Os comerciantes me pagaram o que podiam, e expandi cada vez mais.

Em um tom que podia administrar, eu disse.

— Fico feliz que você os derrotou, Paxán. Fico feliz que você vingou seus pais.

Parecendo acordar, ele disse.

— Estive preocupado que você não pudesse aceitar o que eu sou.

— Quer saber uma coisa estranha? Estou mais chateada que eu não ouvi como você os derrotou do que com o que você faz para viver.

Ele me olhou, dizendo em um tom mais suave.

— Que tesouro... — Então ele se endireitou se animando todo. — Vamos falar de coisas menos aborrecidas, do futuro. Esta noite planejei um banquete em sua honra. Você encontrará todo mundo em nossa organização, todos os nossos coronéis. E seu primo Filip também.

— Esbarrei com ele na entrada.

Kovalev pareceu surpreso.

— A maior parte das jovens damas se encontra mais fascinada depois do primeiro encontro com ele.

Talvez se eu já não tivesse olhos para Sevastyan.

— Filip é o filho do meu primo distante e melhor amigo que morreu recentemente. O pobre menino sofreu um duro golpe. Você estando aqui é justamente o que o rapaz precisa...

Depois disso, a tarde passou socialmente. Kovalev e eu apresentamos coisas que tínhamos em comum: antipatia por comédia pastelão, amor por animais e filme de roubos.

— Porém normalmente eles não são precisos. — ele comentou, lembrando-me que eu estava conversando com um chefe do crime.

Ele me contou histórias sobre a minha mãe — que ela amava jardim, amava plantas; ela ficaria contente em saber que eu cresci em uma fazenda. Ele me desafiou para um jogo de xadrez de manhã e prometeu me ensinar sobre relógios.

Quando todos eles atingiram as cinco horas, Kovalev disse.

— Apesar de estar apreciando isto, terei que deixá-la partir para que possa ter algum tempo para se adaptar antes do banquete.

— Oh. — Banquete, recepção, eu estava ansiosa para mais tempo com meu pai.

Num tom de confidência, ele disse.

— Lamento ter programado isto, queria que nós pudéssemos ter um jantar mais tranquilo e continuar esta conversa. — Ele estava tão relutante quanto eu para partir. — Aleksei podia se juntar a nós.

Soou uma batida na porta. Falando do diabo.

 

— Timing perfeito, filho. — Kovalev disse a ele. — Vai mostrar a Natalie o quarto dela?

— Pensei que você fosse querer fazer isto.

— Não, não, os dois continuem. Verei você hoje à noite, querida. — Ele pressionou um beijo no topo da minha cabeça, e isto pareceu natural.

Quando Sevastyan e eu deixamos o escritório, não podia parar de sorrir. O Siberiano estava certo — eu não sabia o que estava falando; Kovalev era maravilhoso.

No caminho pela escadaria principal, Sevastyan finalmente falou.

— Você se divertiu.

— Exatamente como você disse, Paxán é demais. — Meu pré-julgamento sobre Kovalev foi desproporcional a um grau risível, e estava totalmente errada sobre Sevastyan. Talvez estivesse na hora de fazer uma pausa em minha homeanálise — que deve ser geograficamente limitada.

Sevastyan levantou as sobrancelhas.

— Você chamou Kovalev de um termo afetuoso?

— Ele me pediu. — Disse defensivamente.

— E você o fez apesar da ocupação dele?

Suspirei.

— Criticando-me? Terá que fazer melhor que isto. Além disso, assim como disse antes, agora entendo melhor as coisas. — Prendi seu olhar. — E estou tão contente que me forçou naquele avião. — Por mais de uma razão...

Achei ter visto os olhos dele aquecerem, mas ele desviou o olhar, guiando-me ao longo de um corredor forrado de artes. Devíamos estar descendo para outra ala.

Quando paramos na frente de um conjunto de portas brancas duplas, ele disse.

— Esta é sua suíte. — Ele abriu-as para revelar uma enorme sala de estar, do mesmo jeito que o luxuoso escritório de Paxán, mas mais feminino.

A decoração era definitivamente destinada a uma garota. Uma garota russa realmente rica.

— É tão adorável. Mas, hã, onde eu durmo?

Com um suspiro pesado, ele atravessou a área espaçosa, deixando-me para segui-lo. Passamos por um escritório adjunto com um novo Mac da moda, em seguida um quarto de mídia com uma TV na parede, antes de alcançarmos o quarto.

Andando para o lado de dentro, eu murmurei.

— Isto-é-uma-doidera.

— Como?

— Você deve estar me zoando. — Girei no lugar, observando a enorme cama de dossel, o armário pintado à mão tão grande quanto um elevador, as cortinas de seda ornamentadas com franjas do tamanho de meu antebraço. Aos pés dela, tapetes orientais aquecendo o mais brilhante dos mármores. Acima, complicadas molduras esculpidas eram adornadas com ouro. O verde jade — minha favorita — era a cor de destaque.

— Paxán não decorou isto para mim, não é?

— Claro. Você é filha dele. Ele teve grande prazer tentando imaginar do que você gostaria.

— E você sabia que verde é minha cor favorita.

Ele inclinou a cabeça.

Este lembrete de sua intromissão na minha vida não me irritou tanto quanto antes.

— Pelo menos algo de bom veio de sua espionagem, né?

Ignorando isto, ele disse.

— Há artigos de vestuário para você nos armários.

— Armários, plural?

— Naturalmente.

— Oh. Quem escolheu as roupas?

— Uma estilista. Ela está aos seus serviços, se precisar de qualquer outra coisa.

Próxima a uma exibição de flores extravagantes de boas-vindas, vi uma carteira de couro e várias caixas de presente. Dentro da carteira estava uma seleção de cartões de crédito e uma lista de números de telefone de Kovalev, do gerente da propriedade, dos estábulos, da minha estilista, da governanta, da cozinha.

— Devo esperar para abrir estes presentes com Paxán?

Com uma sobrancelha levantada, Sevastyan disse.

— Algo me diz que haverá mais a seguir.

Dentro da primeira caixa estava um smartphone que parecia com se tivesse sido transportado de volta do futuro. Poderei chamar Jess com minha prova de vida uma semana mais cedo — e eventualmente minha mãe também. Entretanto o que direi a ela sobre tudo isso, ainda não sei.

As outras caixas — de lojas como Cartier, Harry Winston, Mikimoto e Buccellati — estavam todas cheias de joias deslumbrantes: uma gargantilha tripla de pérolas retorcidas, brincos de safira, um colar de esmeralda com as bordas em gotas com uma pulseira combinando. Aquela pulseira era tão pesada e substancial que eu poderia desviar balas com isto, como a Mulher Maravilha.

Virando-se para Sevastyan, eu brinquei.

— Deve haver um milhão de dólares em joias aqui.

Quando ele levantou as mãos em um gesto de “o que você vai fazer?”, eu gritei.

— Oh, meu Deus. Tem! — Inalei uma respiração trêmula. Esta situação era muito selvagem — e opressiva. Agora vivo em um palácio. Não estaria realmente voltando para a escola amanhã; ao invés disso, estaria jogando xadrez com meu pai bilionário.

Esta era minha “nova vida” para um “futuro previsível”.

Cruzei um conjunto de portas na sacada, abrindo-as para tomar um ar fresco. Bebi a vista quando uma névoa começou a cair pelos jardins bem cuidados e as luzes paisagísticas ganhando vida em toda a propriedade.

Quando Sevastyan juntou-se a mim na grade da sacada, aquele sentimento de conexão me varreu novamente. Mas ele estava todo gélido comigo.

— O que é aquela construção? — Perguntei-lhe, indicando uma mansão de dois andares em posição diagonal a esta ala. Assim como a insensatez do lago, as cores e a arquitetura complementavam este palácio. Havia um elegante Mercedes preto na entrada, igual ao que ele tinha alugado em Lincoln.

— Minha casa. — Ele disse secamente.

— Você vive na propriedade?

— Da. Entretanto tenho um apartamento em Moscou. — Disse em um tom afiado, sem dúvida se referindo ao meu comentário sobre procurar seu lugar — e fazer outras coisas. Tal como vê-lo se masturbar.

Engoli em seco, perscrutando-o, cheia de perguntas sobre o homem. O que ele estava pensando neste momento? Como conseguiu aquela cicatriz sensual sob seus lábios? Quem quebrou seu nariz?

Se alguém já beijou aquele calombo ligeiramente torto nele?

— Você deve ter sentido falta deste lugar enquanto andava pelas favelas de Lincoln.

Deu de ombros.

— Vou voltar lá pra baixo agora.

Eu o segui para dentro.

— O que você precisa conversar com Paxán com tanta urgência?

Por sobre os ombros, ele disse.

— Tenho interesses particulares com ele, Natalie.

Estreitei meus olhos.

— Você vai contar sobre nós, não é?

Ele balançou a cabeça para mim.

— Não existe nós. — Ele disse com tal veemência que quase vacilei.

— Você sabe o que quero dizer.

— Vou admitir que me comportei inadequadamente com você. Devo isto a ele.

Tive uma grande sensação sobre Kovalev, mas a verdade era que não o conhecia bem. Que tipo de punição traria uma infração como esta?

— Quão bravo ele ficará? — Não podia imaginar Kovalev perdendo a calma, entretanto, também não podia imaginá-lo chantageando políticos.

— Com você? Nem um pouco. Quanto a mim, ele não pode ficar mais irritado do que estou comigo mesmo.

Sevastyan estava começando a me emputecer. Caminhei até ele.

— Olhe, acabei de chegar aqui e está tudo maravilhoso com Paxán. Por que balançar o barco quando você e eu mal fizemos qualquer coisa? Eu evitei despojá-lo. Você está relativamente a salvo das minhas garras.

Um olhar de pedra.

— Por favor, estou pedindo para que não faça uma grande coisa de algo tão trivial.

— Trivial? — Ele fechou a distância entre nós até que estávamos frente a frente. — Talvez para dois adultos experientes. Mas você dificilmente é experiente, não é? — Sua respiração acelerada juntou-se à minha. A tensão faiscando no ar ao nosso redor. Oh Deus, seu perfume inebriante me pegou exatamente como me recordava de sua feroz promessa de virgem ou não e sua admissão: o que se supunha fosse para saciar meu apetite apenas o aguçou.

Com o queixo erguido, curvei-me para ele até que uma folha de papel não caberia entre nós.

— Só porque não fiz sexo não significa que fosse uma freira.

Ele inclinou a cabeça para o lado, o olhar passando rapidamente pelo meu rosto, como se estivesse tentando me ler e encontrando o vazio. Conhecia este sentimento.

— E se minha virgindade é um ponto de atrito para você — eu disse —, isto é fácil de resolver.

Os punhos cerraram.

— Você quer dizer com outro homem?

Aquela demonstração de ciúme me emocionou, então eu o lembrei.

— Você podia ter feito isto. — Quando estava molhada e pronta para ele. A curiosidade sobre como ele me aliviaria de minha virgindade se apoderou de mim; podia apenas imaginar quais tipos de truques este homem tinha na mala. Uma exalação longa escapou de meus lábios e encontrei-me dizendo. — Você ainda pode.

Ele deu um passo atrás, como se eu tivesse algo contagioso.

— Talvez queira dizer a Paxán que isto não acontecerá novamente.

— Tem certeza de que não quer isto também?

— Sim. — Ele disse, mas começou a virar aquele anel no dedo polegar. Talvez isto também indicasse quando estava mentindo?

— Fui apenas um serviço para você, Sevastyan?

Ele olhou para a minha direita enquanto respondia.

— Isto é tudo que você pode ser.

— Desejaria nunca ter sido enviado a América por mim?

Ele me enfrentou completamente.

— A cada segundo do dia. — Disse, sem mais rodar seu anel.

 

Triiiimmmmmmmm.

Meu apartamento tinha uma campainha? Enquanto me apressava para as portas, as quais estavam a uma distância e tanto do meu quarto, perguntei-me se Sevastyan veio para me buscar. Apesar de ficar magoada a princípio pelas palavras de despedida dele, assegurei-me que ele estava tentando ser um bom executor, afastando-se da mulher tabu.

Impulsionada pela animação, investiguei minha suíte, preparando-me para hoje à noite. Depois de tomar banho em uma banheira maior do que a maioria das familiares, corajosamente explorei todas as roupas, sapatos, bolsas e cosméticos.

Apesar da lingerie do avião não ter sido o top de linha das sexuais, a seleção em meu novo guarda-roupa era de grande escala. Fui ousada — meias 7/8, uma tanga de seda preta e combinando um sutiã meia taça — no caso de Sevastyan se desculpar por ser um idiota e admitir que tabu fosse uma de suas habilidades (uma garota pode sonhar!).

Para o banquete, decidi pender para o lado vistoso, selecionando um vestido transpassado colado ao corpo em seda azul royal. A cor fazia meus olhos parecerem mais verde água.

Prendi meus cabelos pra cima, para melhor exibir minha gargantilha de ouro e os brincos pendurados. Apesar de não ser fã de maquiagem, optei por rímel e gloss.

Na porta, alisei meu vestido, então abri.

— Filip?

— Pensei em escoltá-la ao banquete. — Ele estava vestido na última moda, calça skinny e uma jaqueta de corte reto. Com sua gravata um pouco solta, seu olhar dizia: Ivy Leaguer começou a festa mais cedo. — Você parece encantadora, prima. — Ele tomou minha mão e beijou-a.

Se Sevastyan fizesse o mesmo, eu teria saltado como se o cara tivesse fios desencapados presos à sua pele. Mas com Filip não havia nenhuma faísca.

— Obrigado, Filip.

Do lado de fora no corredor, ele ofereceu-me o braço.

— Você ficou desapontada por me ver na porta?

— O que? Não. — Menti.

— Receio que nosso sinistro amigo Sevastyan recusou-se a vir levá-la.

— Ele recusou-se então? — Merda.

Fazia sentido, porém. O cara desejava nunca ter me encontrado; por que não me evitaria? Ele foi bem rápido em me dizer isto.

— Não há nenhum nós.

Filip franziu o cenho para mim.

— Nunca o vi rejeitar uma garota bonita antes. Mas considerando tudo, suponho que não devíamos culpá-lo.

— Considerando tudo? O que quer dizer? — Os saltos dos meus sapatos pretos afundavam no tapete felpudo, enquanto seguíamos pelo corredor abaixo a caminho da escadaria.

— Ele era o principal herdeiro do chefe antes de você chegar.

Dei de ombros evasivamente, porém sabia que isto não era a causa da frieza de Sevastyan. Homenalizando novamente, Nat?

A verdade era que não sabia nada sobre ele.

Filip continuou.

— Agora Kovalev está totalmente encantado com você, pediu hoje para seus advogados mudarem seu testamento. Desde uma hora atrás, você é oficialmente a herdeira de um bilionário.

— Como sabe disso? — Alcançamos os degraus e descemos.

Ele sorriu ironicamente.

— Tenho meus meios, prima.

Por que a pressa para mudar seu testamento?

— Nunca pedi isso. Não quero dinheiro nenhum de Kovalev. — Só de pensar em ter que lidar com este tipo de riqueza, e a responsabilidade que o acompanhava, me fez sentir meu colar parecer apertado ao redor da minha garganta.

— Gosto da vida simples; pessoas com este tipo de dinheiro não levam vidas simples. — E não tenho nenhuma intenção de meter os cornos na herança de Sevastyan.

— Natalie, não quis implicar isto. — Ele parecia mortificado, como se eu tivesse arrancado suas calças. — Sinto muito se a ofendi.

— Oh, Filip, estou apenas sendo sensível demais. — Confiava nele. — O dinheiro realmente me apavora.

— Isto é um bom problema para se ter, não? Não se irrite, você resolverá tudo com Kovalev. Ele é um homem atencioso, um grande coração mole. Fará o que for preciso para deixá-la confortável aqui.

— Tenho certeza de que tem razão. — Querendo mudar de assunto, eu disse. — Você e Sevastyan não parecem se dar bem.

Filip mostrou-me uma expressão de “você não tem nem ideia”.

— Ele é como um cão de guarda feroz ao redor de tio Kov, não é surpresa já que o homem arrancou Sevastyan das ruas.

Isto foi onde Kovalev o encontrou? A ideia de Sevastyan vivendo nas ruas quando menino partiu meu coração. Não admira não poder entendê-lo. Sevastyan era uma mistura das ruas e privilégio.

— Ele não gosta de ninguém próximo a Kovalev, a não ser a si mesmo. — Com um truque encantador de sobrancelha, Filip disse. — Provavelmente admiraria mais esta característica se não usasse isto contra mim. — Quando alcançamos o andar principal, Filip me guiou por um vestíbulo arejado.

— E por que Sevastyan não gosta de você?

— Ele se ressente de minha educação. Nunca teve instrução formal, sabe. Odeia qualquer lembrança disto. O peso em seu ombro é do tamanho da Sibéria.

O que Sevastyan deveria pensar sobre minha graduação avançada? Será que sentiu uma pontada de culpa quando encerrou a matrícula dela?

— Apenas tenha cuidado perto dele, prima.

O mesmo conselho que Sevastyan me deu sobre Filip.

— Por quê?

Ele desviou o olhar.

— O homem tem... sérios problemas.

— Conte-me.

Em uma voz mais baixa, Filip disse.

— Ele esteve na prisão e parece orgulhoso disso. Fez aquelas duas tatuagens da cúpula em seu braço, que é o código da máfia para duas contagens de tempo. Uma destas vezes foi no sanguinário campo de prisioneiros siberiano. Isto faz coisas com um homem.

Fiquei muda. Vi aquelas marcas no braço dele e não tinha nenhuma ideia do que significavam.

No entanto, saber mais sobre o passado duvidoso de Sevastyan não diminuiu minha atração por ele. De fato, a revelação de Filip acabou dando a Sevastyan mais camadas, fazendo-me querer descascá-las uma a uma. Quando retornar à minha suíte esta noite, atacarei aquele Mac e descobrirei mais sobre as tatuagens. Inferno, sobre todo este mundo novo.

— E nem me fale sobre seu estranho relacionamento com o álcool.

— O que quer dizer? — Perguntei, entretanto já tinha visto evidência disto. Ontem à noite, Sevastyan consumiu uma bebida, mas apenas depois de se abastecer disto de novo e de novo.

— Apenas observe-o hoje à noite. Você verá. Apenas o bastante sobre ele. Olhe, se precisar de qualquer coisa, venha a mim. — Filip bateu levemente em minha mão no braço dele. — Você é filha de Kovalev, e devo a minha vida àquele homem.

— Você deve.

Ele assentiu.

— Eu estava em um lugar ruim seis meses atrás quando meu pai morreu de repente. Tio Kov me deu uma tábua de salvação.

— Sinto muito por sua perda, e realmente aprecio sua oferta.

Ouvi risos e vozes vindos da sala no final do vestíbulo. Estava ávida para me juntar aos outros, mas do lado de fora das portas Filip me deteve.

— Estou tão contente que esteja aqui, Natalie. É bom ter outra pessoa por perto que seja ocidentalizada. E que não usa isto contra mim por eu nunca ter estado na prisão! — Ele colocou as mãos nos meus ombros e sorriu para mim, um movimento que faria a maioria das mulheres oferecerem suas calcinhas. — Kovalev tem que ir pra cidade amanhã à tarde. Deixe-me mostrar-lhe o lugar.

Antes que pudesse me afastar, as portas se abriram revelando o Siberiano do outro lado. Meu coração saltou — ele estava vindo me procurar?

Ele parou no meio do caminho, a expressão ficando letal. O que faço agora? Então percebi que parecia que Filip e eu estávamos prestes a... nos beijar. Virei a cabeça ao redor para observar a imensa sala de jantar e os outros convidados, já do lado de dentro. Mais ou menos trinta oficiais militares.

E todos os olhos estavam em Filip e eu, todas as conversas paralisaram.

Imaginei que era bem ruim quando dezenas de gângsteres russos estavam escandalizados com seu comportamento. Mas eu não fiz nada.

Pelo menos, não com Filip.

Quando os punhos de Sevastyan se fecharam, afastei-me de ambos os homens. Endireitando meus ombros, com o queixo erguido caminhei até Kovalev, meus saltos soando anormalmente alto no corredor silencioso.

Ele estava de pé na cabeceira de uma longa mesa que estava coberta com velas deslumbrantes, porcelanas e prataria. Olhou desconfiado de mim para Filip, então dei-lhe um pronto sorriso.

— Isto é incrível, Paxán. Obrigado. — Meu comportamento inocente pareceu desanuviar a situação; as conversas retomaram.

Quando Kovalev puxou a cadeira à sua direita para mim, disse baixinho.

— Alguma coisa errada?

Murmurei de volta.

— Absolutamente.

Filip continuou, sentando-se ao meu lado. Com um risada, murmurou.

— Isto foi estranho, não é?

Quando Sevastyan retornou a mesa e tomou a cadeira oposta a minha, seu rosto era a máscara ilegível habitual, mas aquele músculo em sua mandíbula estava pulsando.

Kovalev me apresentou ao resto de nossos companheiros de jantar, mais de duas dezenas de homens entre vinte e trinta anos — Yuri, Boris, Kirill, Gleb, então comecei a perder o controle. Tinham um aspecto muito rude, mas todos pareciam adorar Kovalev como um herói. Apenas duas outras mulheres estavam sentadas, Olga e Inya, namoradas de longo prazo de um par de brigadeiros.

Depois das introduções, o que pareceu um exército de serviçais apareceu carregando bandejas, enquanto outros despejavam vodca em brilhantes taças de cristal. Entretanto, como não estava acostumada a estar neste tipo de serviço, forcei-me a relaxar.

— Um brinde. — Kovalev falou com a bebida na mão. — A minha adorável filha. Que me encontrou contra todas as probabilidades, que trabalhou e lutou para conseguir o que estava procurando.

Filip falou.

— A maçã não cai longe da árvore.

Quando os convidados do jantar levantaram suas taças de vodca, fiz o mesmo, em seguida a trouxe aos meus lábios para dar um gole...

Todos levantaram as suas, em seguida, viraram-se para mim. Lembrei-me que era considerado rude colocar uma taça com álcool de volta na mesa. Com um dar de ombros virei a minha também e brindes eclodiram. Consegui apenas sorrir, encarando Sevastyan, que simplesmente olhava fixamente para mim.

Podia jurar que estava com ciúmes de Filip antes, mas se dava a mínima, então por que não se incomodou de ir me buscar em meu quarto em primeiro lugar?

Em todo caso, recusei-me a deixá-lo arruinar isto para mim. Aqui estava eu em um autêntico banquete russo, bebendo vodca com o extenso clã... do meu pai. Estava na minha terra natal, abrigada na casa de um antigo czar.

Olhei para cima, maravilhada pelos afrescos sobre nós. Isto parecia absolutamente como a sala de jantar de um czar. Percebi que nunca sentiria a história deste jeito. O que tinha tirado um pouco da angústia de ser retirada involuntariamente da escola.

Esta noite meu bom humor era à prova de balas.

Outro brinde seguiu.

— Za vas, Natalya Kovaleva! — Para você. Desta vez consegui me acertar a tempo com a mesa. Saboreando a calorosa queimação agradável.

Enquanto a zakuska — uma propagação de aperitivos misturados — foi servido e Filip se inclinou.

— Isto é chamado de za-kus-ka.

Sevastyan disse.

— Natalie estudou russo — tenho certeza de que ela sabe o que significa isto.

Lancei-lhe um rápido olhar de apreciação. Com se eu já tivesse experimentado cada prato.

O semblante afável de Filip não desvaneceu, até enquanto dizia.

— É meramente a etiqueta, Sevastyan. Dar boas-vindas a um convidado — escoltá-la de seu quarto e coisa e tal.

Obrigado por me lembrar.

Os dois homens olhavam fixamente um para o outro. O momento tenso foi quebrado por outro serviçal: ostras cobertas com abundante caviar do Delta Volga. Em seguida um prato de peixe.

Dei uma mordida no divino linguado assado, fazendo um som de felicidade; os olhos de Sevastyan sobre mim.

Dei outro gole na taça de vodca; os olhos dele estavam em mim.

Ouvindo uma história que Filip parecia determinado a sussurrar para mim; Sevastyan apertou um punho ao lado do seu prato. Ele podia assegurar que não havia nós o quanto quisesse, mas...

As ações falam mais alto do que palavras, Siberiano. E seu foco em mim estava me aquecendo tanto quanto a vodca.

Enquanto os serviçais traziam mais outro prato, Kovalev anunciou.

— Em honra da casa de Natalie em Nebraska.

Era suflê de milho! Eu sorri para ele.

— Eu amo isto. — Estava começando a soar de pileque.

Então senti o olhar escuro de Sevastyan em mim mais uma vez. Estava se lembrando do milharal? Prendendo-me no chão? Encontrando os olhos dele, dei outro gole.

Kovalev virou-se para Sevastyan.

— Você não está comendo, Aleksei?

Ele se endireitou.

— Talvez esteja sentindo a viagem.

Filip brincou.

— Ou a idade.

Com sua intensa calma, Sevastyan disse.

— Mantenho a minha.

Em um tom alegre, Kovalev disse.

— Vamos lá rapazes. — Ele virou-se para mim. — Acho que nosso inteligente Filip às vezes se esquece de que Aleksei foi um boxeador sem luvas por muitos anos.

Ergui as sobrancelhas. Quando vi Sevastyan pela primeira vez, achei que ele era um lutador. Isso explica as cicatrizes em seus dedos, seu nariz quebrado. Lembrei-me das muitas vezes que vi Sevastyan enrolar os punhos. Para um lutador, isso deveria ser definição de fábrica.

Enquanto pensava sobre todos os homens que golpearam aquele nobre rosto, querendo tocá-lo, alisar meus dedos sobre sua pele. Estava tentando imaginá-lo no ringue, lidando com a dor, quando outro prato apareceu.

Sobremesa. Tinha maçãs assadas, pastéis de frutas — uma espécie russa de gelatina turca — e sirniki, uma panqueca de queijo com mel ao lado para mergulhar. Assim que meu primeiro pastel tocou em minha língua, rolei os olhos de felicidade.

Depois da sobremesa e reinados de bebidas, os risos ficaram tumultuados. Não era de bom tom não terminar uma garrafa aberta de vodca, então todos educadamente davam goles após goles — bem, todos com exceção de Sevastyan. Depois dos brindes, sua taça estava intacta.

Paxán contou contos hilários de suas tentativas de lazer. Navegação? O barco estava agora em um recife artificial. Criação de cavalos? Ele encontraria aquele astuto garanhão fugitivo um dia desses.

Eu ri até meus olhos lacrimejarem, admitindo que pensava que ele tivesse tigres brancos e um urso — e um diamante incrustado no banheiro, o que fez Kovalev se dobrar de rir.

Um cara chamado Gleb me ensinou um trava-língua russo. Todos riam de minha interpretação embriagada, mas tinha um bom maldito espírito esportivo, então fingi uma rápida reverência. Vi que até mesmo o habitual cenho franzido de Sevastyan tinha mudado para um olhar de algo como fascinação, como se eu fosse uma criatura que nunca tivesse visto antes na natureza.

Todas as vezes que estava convencida de que não poderia romper sua gélida reserva novamente, ele mostrava indícios do homem por baixo da fachada do executor...

Desejava poder congelar o tempo — não conseguia me lembrar quando passei uma noite tão divertida — mas antes que percebesse, um relógio de pêndulo badalou meia-noite.

Paxán ficou de pé.

— Bem, meus amigos e família... — Ele sorriu para mim e Sevastyan... — vocês terão que me desculpar.

Um coro de “mais uma bebida”! ecoou.

Ele balançou a cabeça.

— Tenham pena de um homem velho! E continuem — isto é uma ordem. — Sevastyan e eu levantamos ao mesmo tempo, ambos pretendendo sair com Paxán.

— Sentem-se, sentem-se, você dois. Divirtam-se. Verei vocês amanhã.

Enquanto observava Paxán se afastar, não queria deixá-lo fora das minhas vistas. Tinha uma sensação de que poderia desaparecer. Entretanto Sevastyan me deu um olhar tranquilizador, como se entendesse o que eu estava sentindo. Ajudou.

Depois disto, as bebidas continuaram a fluir. A hora passou, mas não me importei porque não tinha que trabalhar amanhã, não tinha que lidar com os alunos do primeiro ano inventando histórias de por que seus trabalhos estavam atrasados.

Minha única reclamação? Queria que Sevastyan conversasse comigo, flertasse comigo. Tocasse-me. Desejava mais do que ele me mostrou na noite anterior.

Queria fazer sexo com ele.

Ansiava isto.

Lembrando-me do quão incansável poderia ser; talvez devesse persegui-lo implacavelmente?

À minha direita, Filip e alguns militares entraram em um debate acalorado sobre o carro esportivo mais rápido — o que me deu a oportunidade de ser maliciosa. Estava bêbada o suficiente para que a ideia de provocar Sevastyan parecesse brilhante.

Embora ele tivesse me advertido de que não gostava de surpresas, tirei um sapato, em seguida estiquei meu pé em direção às pernas dele. Fiz contato com a parte interna de sua coxa, diretamente acima de seu joelho. Ele ficou tenso, mas não me afastou, apenas lançou-me aquele olhar ameaçador.

Era uma boa ideia brincar com um executor como ele? A vodca disse, inferno sim, toque a insígnia dele! Alcancei mais no alto. A cada centímetro que chegava mais perto do pau dele, sua respiração ficava mais rápida. Ele chacoalhou forte a cabeça.

Com um sorriso lânguido, mergulhei meu dedo indicador em um pote de mel, em seguida chupei-o entre meus lábios, minha expressão de satisfação comigo mesma dizia, o que vai fazer Siberiano?

Os próprios lábios dele se separaram. Recordando-se de eu o chupando na noite passada?

Mais alto, mais alto...

Contato.

Deus, ele estava pegando fogo, duro como ferro. Ele inclinou a cabeça bruscamente, sua narinas dilatando. E por um longo momento, seu peito não se moveu.

Com minhas pálpebras ficando pesadas, esfreguei a calcanhar ao longo do comprimento dele, encantada quando seu pau pulsou em reação. Fiquei úmida em resposta, molhando a tanga preta de seda que tinha vestido para ele. Meus mamilos brotaram no meu sutiã meia taça.

Quando o acariciei da base até a cabeça, ele me lançou outro olhar de advertência — mesmo enquanto seu olhar cintilava com luxúria. Agora ele estava em uma batalha de vontades, um jogo de poder. Ponto. Ele estava se recusando a reagir; eu me recusando a ceder. Outro ponto. Quem piscaria primeiro?

Perguntando-me se conseguiria tirá-lo do sério assim, esfreguei-o com mais pressão. Os músculos dos ombros e dos braços dele começaram a inchar. O lutador deveria estar cerrando os punhos debaixo da mesa.

Os olhos dele prometiam um castigo sensual e completo.

Os meus deveriam estar implorando por isto.

Se eu me retirasse para meu quarto, ele me seguiria? Aparentemente, seria a primeira a piscar. Abaixei meu pé e coloquei meu sapato. À medida que o debate do carro esporte diminuía, fingi um bocejo e levantei-me.

— Estou cansada da viagem também. — Evitando o rosto de Sevastyan, eu disse. — Boa noite a todos. Foi muito bom conhecer a todos.

— Mas ainda há mais garrafas para terminar. — Filip disse com uma piscada irreprimível. Oh querida, e se ele tentar me seguir?

Para dissuadi-lo, eu disse.

— Fique e divirta-se. Verei você amanhã.

Ele se iluminou.

— Amanhã à tarde então. É um encontro.

Encontro? Não foi isso o que quis dizer, e não queria lhe dar esperanças. Mas todos os olhares estavam sobre nós, então decidi deixar isto passar no momento.

Com um último aceno para todos, fiz minha saída da sala de jantar. Levei um tempo andando de volta para minha suíte, parando para examinar a coleção de pinturas no corredor de cima, desejando que Sevastyan viesse atrás de mim.

E então ele o fez. Andando a passos largos pelo corredor abaixo, parecendo em cada centímetro um executor da mafiya. A expressão assassina.

O que ele poderia ser literalmente.

 

À medida em que Sevastyan se aproximava, eu dava um passo para trás.

Ele agarrou meu braço, arrastando-me pelo corredor. Numa voz enganosamente suave, perguntou:

— Gostou de brincar comigo? — ele abriu uma porta lateral, jogou-me para dentro e a fechou atrás de nós. Senti o cheiro de roupa lavada e latão polido.

Uma despensa?

E na casa de um czar? Eu só podia imaginar quantos encontros secretos tiveram lugar entre aquelas quatro paredes ao longo dos anos.

Ele acendeu uma luz branda me empurrando mais para dentro.

— Você me deixa duro e dolorido, e depois marca um encontro com Filip na minha frente? — quando minha bunda encontrou uma prateleira com roupas de cama, ele colocou uma mão de cada lado do meu quadril, prendendo-me entre elas, enchendo minha cabeça com seu cheiro sedutor. — Somos tão intercambiáveis? Filip e eu?

— Não gosto dele dessa forma.

— Não? — a voz de Sevastyan estava cheia de raiva. — Parecia gostar no começo do jantar. Quando ele quase te beijou.

— Por que isso te importa? Você me deu o fora, lembra?

— Importa quando você decide acariciar meu pau por debaixo da mesa até eu quase me estrangular de vontade. Importa quando você esteve bebendo de mim há menos de 24 horas. — sem aviso, ele puxou meu vestido pra cima.

Eu respirei fundo.

Ele encarou minha tanga, as meias pretas, tocando a borda rendada.

— Para quem você vestiu isso?

Ergui o queixo.

— Pra você.

— Então planejou estarmos juntos? Depois de eu ter dito não? Esta noite você se divertiu brincando com fogo. Mas vai aceitar a queimadura que merece?

— Descul…

A palavra ficou presa num arquejo quando ele me colocou sobre a prateleira.

— Vou te mostrar o que eu senti. — ele se colocou entre as minhas coxas.

— O que isso significa?

Ele não respondeu, só abriu a braguilha e tirou o pesado comprimento de seu pau pra fora. A cabeça estava molhada de excitação. Meu corpo ficou elétrico quando seu eixo tensionou na direção da minha boceta, como se a caçasse por conta própria.

Tinha amado o pau dele na minha boca, sentir seu sêmen com minha língua e queria de novo.

— Deixe-me beijá-lo como ontem à noite. — tentei balançar o corpo fora da prateleira, mas ele me segurou ali, pressionando a prateleira diretamente contra a seda da minha calcinha. Bem contra meu clitóris intumescido. Gemi quando percebi o calor dele, mesmo através do tecido molhado.

— Sinta isso. — ele rosnou. — Provocar-me te deixa molhada? Gosta de me incitar até que eu perca o controle?

— Sim. — choraminguei.

Ele esfregou minhas coxas com as mãos calejadas, cada vez mais para cima. Com os polegares, alcançou por debaixo da calcinha e abriu meus lábios até suas bordas. — Isso foi o que eu senti. — ele empurrou, quase me fodendo de roupa, apenas com a seda entre seu pau e meu clitóris.

Eu gemi baixo, minha cabeça caindo para trás.

— Não, não vai. — ele disparou, atraindo meu olhar. — Você vai me olhar como fez quando me provocou, Natalya. Como se fosse morrer se eu não a fodesse naquele instante. — ele empurrou outra vez, fazendo meu corpo vibrar. — Seus olhos estavam implorando para eu deitá-la sobre aquela mesa e mergulhar na sua boceta. — outro empurrão — Era isso que queria me dizer?

— Sim! — eu ia gozar daquele jeito, já estava prestes a isso. — Quero isso agora.

— Cristo, mulher. — ele balançou os quadris de novo, deslizando sua haste sobre mim. Mais líquido seminal na cabeça; ele passou um pouco disso contra a seda, e então se posicionou mais uma vez.

A fricção e o calor me faziam ir à loucura.

— Por favor, não pare!

— Eu deveria parar, deixar você como você me deixou. — ele se inclinou para frente, retumbando as palavras no meu ouvido. — Sentindo como se eu fosse explodir, à beira de gozar nas calças. Tão perto que eu quis... danem-se as consequências, eu quis tirar meu pau pra fora numa sala cheia de gente.

Quando estremeci, os polegares investigaram mais profundamente.

— Abra o vestido.

Eu desamarrei a faixa, então abaixei as laterais, expondo meu sutiã.

— Muito bom. — ele disse com outro empurrão. — Agora tire isso.

Eu os arranquei, querendo que ele visse meus seios encorpados.

Quando eles balançaram com o próximo empurrão, ele grunhiu a ordem:

— Brinque.

Minhas mãos voaram para os seios, segurando-os.

— Adorável Natalya. — ele remexeu os quadris de novo. A seda agora encharcada. — Você vai me molhar através da calcinha? — ele correu dois dedos ao longo da base úmida de seu eixo antes de voltá-los contra mim.

Gemi.

— Por que não transa comigo?

— Não se esqueça de que isso é uma punição. — um empurrão duro, mais brutal. — E você não é para mim. Agora me mostre o quanto esses mamilos podem ficar duros.

Eu os puxei.

— Mais forte.

Eu o fiz, gemendo quando senti os polegares na minha fenda me abrindo, tão perto de me romper com eles.

— Dentro, Sevastyan. Ponha os dedos dentro de mim.

— Você já usou um desses vibradores para se penetrar?

Meu rosto ruborizou, uma reação ridícula considerando o que estávamos fazendo. Mas respondi sinceramente.

— Sim. Eu gosto disso.

Ele rosnou, replicando rápido.

— Então por que é virgem?

Entre arquejos, respondi:

— Não encontrei… o cara certo.

— E acha que encontrou agora? — ele começou uma série de rápidas bombeadas, sarrando seu eixo pra cima e pra baixo sobre meu clitóris molhado.

— Sevastyan! — eu quase podia fingir que ele estava me fodendo, sua vara dura saqueando meu íntimo. Ele fodia e fodia até eu ser obrigada a gozar em torno do seu pau. Até ele me obrigar a ordenhar aquele comprimento grosso… — Oh, Deus, vou…

Ele cobriu minha boca com uma das mãos, abafando meus gritos. Escorregou dois dedos entre meus lábios, dando-me do meu próprio suco.

— Chupe. — ele ordenou.

Minha cabeça caiu para trás e chupei deliciada, imaginando que aqueles dois dedos eram seu pau. Sob seus empurrões afiados, comecei a gozar. Eu gritei, chupei, não queria que acabasse nunca.

Retesando-me, contraindo e tendo espasmos, cada onda trazendo prazer insuportável — e uma fome frenética de ser preenchida…

Quando estava muito sensível para aguentar mais, ele se afastou e pressionou meus joelhos na direção de meus seios nus. Comigo balançando contra a parede, tornozelos em cima dos ombros dele, ele puxou minha calcinha até as coxas, deixando-me nua. O olhar focado na minha carne inchada, ele segurou e começou a masturbar seu grande pau.

Com o pescoço estirado, os músculos dos braços salientes, ele ralhou:

— Olhe eu gozar em você. — Ele mirava entre minhas pernas. A ideia dele ejaculando ali me fez derreter novamente, minha boceta tremendo e contraindo enquanto ele observava…

— Porra, mulher, estou vendo você! — sufocando um grito, ele começou a esguichar jorros pesados de sêmen.

Quando o sêmen escaldante lambeu meus lábios sensíveis, eu gemi abrindo minhas pernas em boas-vindas.

Ele sibilou entre o ranger de dentes:

— Minha garota gananciosa quer mais? — ele apertou o pau e outro jato chicoteou meu monte. Uma e outra vez, ele bombeou a si mesmo, até consumir sua haste pulsante, porém vazia…

Tonta, desejando beijá-lo, fui na direção dele.

Mas ele afastou minhas mãos.

— Ah-ah. — ele apalpou entre as minhas coxas e começou a espalhar sua semente em minha carne.

Por que? O que? Como isso podia ser tão sexy? Como sempre, eu não fazia ideia do que ele faria a seguir. Apesar de minha excitação ter se renovado numa onda, eu estava dócil, deixando que ele me besuntasse.

Depois de colocar minha calcinha no lugar, ele usou a mão inteira para dar um belo tapa na genitália ensopada; o que me fez contrair por mais um. Com aquela mesma aparência de satisfação masculina, ele disse:

— Você vai me sentir amanhã.

Homem perverso, sexy, dominador. Não podia imaginar outro macho que me excitasse tanto quanto ele. Eu precisava envolver meus braços em torno dele, sussurrar em seu ouvido o quanto ele me deixava louca.

Mas simplesmente fechou o zíper e se virou para sair.

— Melhor focar sua atenção em alguém que realmente possa manipular. Falando nisso, divirta-se com Filip amanhã.

Quando ele alcançou a porta, balancei minha cabeça, desanuviando.

— Isso é tudo o que tem a dizer?

Sem se virar, ele falou:

— Nunca mais me provoque de novo. Eu só jogo quando faço as regras.

— Regras, Siberiano? — agora que eu não estava boba de tesão, não amava seu lado dominador. — Você pode fazê-las apenas para me ver quebrá-las.

— Se me provocar novamente, bichinho, não vai gostar das consequências. — ele me deixou, batendo a porta atrás de si.

Nota para si mesma: provocar Sevastyan na primeira oportunidade, investigar “consequências”.

Naquela despensa, ainda aquecida — e molhada — pelas atenções dele, eu decidi duas coisas: Aleksandr Sevastyan tinha que ser meu primeiro amante.

E eu teria que deixá-lo pensar que fez as regras.

 

— Você é Sevastyan, certo? — Eu disse cheia de sarcasmo quando me choquei com ele no andar de baixo uma semana mais tarde. — Eu não vi você no armário no outro dia?

Desde então, não fiz progresso nenhum com meu plano de perder a virgindade com Sevastyan, um plano que desde então teve que ser aposentado. O que era de se esperar já que se recusou a falar comigo, fora as saudações superficiais.

Ele levantou uma sobrancelha ante meu comentário, caminhando num ritmo constante ao meu lado enquanto eu ia para o escritório do Paxán.

Franzi o cenho pra ele. Pelos últimos sete dias, nunca estivemos sozinhos. Ele sempre estava por perto — ainda que dolorosamente distante.

Na manhã seguinte ao armário de empregada, acordei sorrindo de novo, ansiosa para vê-lo. Liguei pra Jess e contei a ela tudo sobre ele, a respeito de tudo. Ela focou em um detalhe:

— Nat, você ainda tem sua pelinha? — Assegurei que não por muito tempo, minha amiga.

Com um enorme sorriso no rosto cheguei para o café da manhã só para descobrir que Sevastyan estava de volta ao seu modo indiferente, mal me reconhecendo. Enquanto meu corpo ainda estava sentindo os efeitos posteriores do que fizemos, sua mente tinha desligado.

Suponha que se ele pensou que o que fizemos no avião era ruim, então me empurrar em um armário para fazer o que quisesse comigo deve ter sido algo terrível na sua cabeça. Tentei ficar com ele sozinha, fazer com que conversasse comigo. Nada.

A decepção se instalou em mim. Durante este período de calmaria, minha decepção começou a parecer com raiva.

Vivi sem Sevastyan por sete noites. Admiti a derrota. Minha paixão tinha desaparecido.

Tinha!

— Você precisa de algo? — Perguntei a ele com uma voz fria. Agora ele prestaria atenção em mim?

Apesar dele estar vestido como um sonho — calça cinza escuro e um suéter de cashmere preto colado no corpo — parecia que não dormia há dias.

— Você e Kovalev estão se dando bem. — ele observou num tom neutro.

— Ele é fácil de conviver. — Paxán e eu éramos como duas ervilhas em uma vagem, apreciando as mesmas piadas, gostando dos mesmos livros e comida.

Ficando mais próximos a cada dia.

Às vezes falávamos inglês, às vezes russo. Em ambas as línguas ele era astuto e inteligente, e muitas vezes ríamos até chorar. Estar com ele era quase oposto a como foi com meu pai. Embora eu nunca tenha duvidado que ele amou a mim e a minha mãe, Bill Porter foi um homem quieto. Ele e eu costumávamos trabalhar em seus tratores, passando o tempo em um silêncio amigável.

Era tão confortável quanto com Kovalev, só que diferente.

Toda manhã jogávamos xadrez em um pavilhão que a lateral dava para o Rio Moskva. Sevastyan permanecia em segundo plano, normalmente ao telefone conduzindo negócios, o corpo tenso e o olhar alerta para o perigo.

A ameaça à segurança — a qual ninguém falava comigo a respeito — obviamente não tinha diminuído.

Agora Sevastyan me disse.

— Você é fácil de se conviver também.

Ele era de verdade?

— E como você saberia?

Ele endireitou os ombros.

— Eu vejo você com ele.

Algumas vezes quando Paxán e eu ríamos de alguma coisa, eu notava Sevastyan nos avaliando. A princípio, ele pareceu surpreso. Agora olhava pra nós com um olhar satisfeito no rosto.

No entanto, em outras vezes eu o pegava me examinando com uma expressão longe de estar satisfeita — e intensificava mais a cada dia. Sentia como se ele estivesse esperando alguma coisa. De mim.

Como um caçador preparando pra atacar.

Até Filip tinha comentado sobre isto.

— Quando você não está olhando, ele te observa como um perseguidor.

Eu ridicularizei.

— Um perseguidor na verdade me responderia que horas são se eu perguntasse.

No entanto, algo estava se construindo em Sevastyan, como uma bomba-relógio em contagem regressiva. Mas contagem regressiva para o que?

— Você se adaptou? — Ele perguntou.

Ele estava indo me perguntar sobre o tempo a seguir? Permaneci de pé com uma mão em seu braço.

— Onde você quer chegar com essa conversa fiada, Siberiano? — Quase tive a impressão que ele estava tentando — em seu modo carrancudo de executor — falar comigo. Quando ele deu uma espiada pra baixo em minha mão, eu o soltei.

— Você gosta daqui? — Ele perguntou, sua voz caindo um tom. — O bastante pra ficar?

Nós paramos diante de uma janela banhada pela chuva. Lá fora, chuviscava. O tempo não fez uma pausa desde que cheguei a Berezka. Sombras das gotas corriam pelo rosto de Sevastyan, enchendo-me com o desejo louco de beijar cada uma.

Sacudida interna.

— Por que você, Paxán e Filip podem sair, mas eu não?

Ele esfregou a mão no queixo.

— Porque se qualquer coisa acontecesse com você... nós simplesmente não podemos arriscar. Você está tão ansiosa para sair?

— Bem, tenho que admitir que estava ficando louca sempre que Paxán tinha que trabalhar — não estou acostumada a todo esse tempo livre. — Ou a tanta energia. Tive uma necessidade desesperada de sair quando Filip sugeriu voltas na piscina olímpica coberta. Todos os dias nós íamos juntos. — Mas Filip está fazendo o melhor que pode para me manter ocupada.

Aqueles músculos aos lados do maxilar do Sevastyan incharam. Ele deu um passo mais perto. Como sempre, a tensão se produziu entre nós. Perscrutei em seus olhos, só para achar seu olhar em meus lábios.

— Eu te disse para ter cuidado com ele.

— Mas não o porquê. — Uma vez que desliguei meu analisador de macho, fiquei confortável com Filip. Infelizmente, não sentia nada mais por ele que amizade.

Por que eu não podia me apaixonar por um cara como ele? Ele dizia o que quer que estivesse na sua cabeça, era calmo e agia como se eu estivesse no céu.

O oposto de Sevastyan.

Se eu estivesse por Filip, não teria sentido por via das dúvidas necessidade de retocar os pontos bons de BDSM, estudando tudo de castigo corporal até negação de orgasmo para rituais de dom/sub.

Sevastyan tinha falado sobre obediência e disciplina; estava interessado no estilo de vida, no equipamento, na parafernália?

Barras de punição e floggers, algemas e varas, braçadeiras de mamilo e mordaças de bola.

Recordando o modo como Sevastyan bateu na minha bunda, assisti vídeos on-line apresentando mulheres adultas esticadas em cima do colo dos homens, espancadas como se fossem criaturas rebeldes precisando de correção.

Fiquei indignada e revoltada!

Tinha imaginado Sevastyan me forçando no seu colo para um castigo semelhante; ele uma vez ameaçou fazer exatamente isto. E assim que terminei de me masturbar, fiquei indignada e revoltada mais uma vez!

Até que me masturbei uma segunda vez. Mas isso foi antes de admitir a derrota.

— No que você está pensando? — Ele me perguntou, seu olhar fixo no meu rosto.

Percebi que minha respiração estava superficial, esquentando minhas bochechas.

Ele pôs sua mão no meu pulso me tocando com aquele aperto, tanto mental quanto físico. Suas sobrancelhas se juntaram, até que eu quase podia imaginar que ele estava prestes a me beijar.

Apesar de tudo, eu queria que ele...

Yuri saiu do escritório do Paxán.

Eu abruptamente dei um passo atrás, enfiando meu cabelo atrás da orelha, resistindo à vontade de assobiar. Quando o homem passou, tentei não notar o AK-47 preso às suas costas. Mesmo depois de uma semana aqui, eu ainda ficava inquieta vendo metralhadoras em toda parte. Quando os soldados faziam uma parada para o chá, eles casualmente deitavam suas armas ao lado de suas xícaras.

Eu continuava dizendo a mim mesma, deixa rolar, deixa rolar.

Sevastyan fez um cumprimento com o queixo para Yuri. Siga em frente. Embora os soldados e coronéis venerassem Paxán, eles pareciam temer a Sevastyan de maneira uniforme. Eu os escutei conversando sobre “O Siberiano “em voz baixa.

Uma vez que Sevastyan e eu estávamos sozinhos novamente, a sanidade retomou. Eu não precisava estar beijando um homem que cruelmente me cortou de sua vida. Não precisava recompensar seu tratamento de merda pra mim.

Jess tinha um Modus operandis de lidar com machos mal comportados — ela chamava isto de SSML: Sempre Seja Mais Louca. Eu estava pensando que meu Modus operandis podia ser matá-los com bondade.

Quando Sevastyan abriu sua boca pra falar, dei um rápido tapinha no seu braço.

— Ótima conversa, amigo! Nós deveríamos fazer isso na outra semana mais ou menos. — Eu me afastei a passos largos, deixando-o parecendo confuso.

       

 

Quinze minutos depois, Paxán e eu estávamos sentados no pavilhão em uma mesa repleta de chá, iguarias e nosso tabuleiro de xadrez. Um fogo na lareira do pavilhão crepitava perto. Como sempre, Sevastyan trabalhava há alguma distância atendendo telefonemas, seus olhos atentos esquadrinhando à procura de ameaça.

Nós dois bebericamos e beliscamos, vadeando ainda mais em nosso jogo.

— Você sabe quem é um jogador mestre? — Paxán olhou para nossas peças. — Aleksei.

— Ele é? — Fiz meu tom o mais desinteressado possível, mesmo quando meu olhar desviou para Sevastyan.

Ele tinha se envolvido numa conversa acalorada e começou a andar a passos largos lá pra fora na garoa. Foi até a casa de barcos próxima — a qual realmente deveria ser chamada de “casa de iate”, considerando a beleza de 18 metros alojada no interior.

Eu não sabia nada sobre barcos, mas tinha quase certeza que este aqui foi o iate do vilão em Cassino Royale. Paxán prometeu me levar assim que o tempo — e o perigo — dessem um tempo, disse que podíamos ir até o Golfo da Finlândia.

— Você devia jogar com Aleksei algum dia.

Eu dei de ombros. Passo. Eu estava tentando superar minha fascinação por ele, não alimentá-la.

Contudo, quando as palavras do Sevastyan flutuaram, vagamente ecoando da casa de barcos, eu franzi o cenho.

— Ele está falando... italiano?

— Ah, sim. — Paxán disse orgulhosamente. — Ele fala quatro idiomas fluentemente. Ele é um... como se diz? Um autodidata?

Eu assenti. O pugilista brutamontes, o temido executor, o assassino profissional, era um autodidata. A fascinação me impulsionou mais uma vez. Merda.

— Se eu apenas pudesse fazer com que ele se interessasse no funcionamento dos relógios. — Paxán começou a me ensinar e eu achei mais do que estimulante, achei viciante. — Então você pensou em fazer dessa, a sua casa em tempo integral? — Ele ainda exercia alguma pressão em mim, embora eu pudesse dizer o quanto ele queria que eu ficasse.

Em um tom seco, eu disse.

— Nossa. Talvez se me desse alguns presentes, você sabe, me mimar um pouco. — Recebi inúmeras joias de valor inestimável, outro armário cheio de roupas, um Aston Martin Vanquish vermelho que tinha deixado Filip babando em cima dele e até meu próprio puro-sangue, uma requintada égua cinzenta chamada Alizay. Eu só estava esperando um dia ensolarado para sair com ela.

Em um tom parecido, ele disse.

— A próxima coisa que você vai dizer é que o ovo de Fabergé foi demais.

Com uma risada, levantei meu polegar contra meu dedo indicador.

— Só um pouquinho.

Ele riu comigo.

— Não posso evitar. Tenho todo esse dinheiro e anos pra compensar. Os presentes de aniversário sozinhos... — Ele balançou a cabeça. — Às vezes queria que você estivesse mais interessada em ser rica.

O presente que eu mais adorei acima de todo o resto foi o menos caro: um retrato emoldurado de minha mãe Elena. Como eu gostaria que pudesse ser capaz de conhecê-la!

Ela tinha o cabelo loiro acobreado, olhos verdes cintilantes e um sorriso tímido. Eu posso me parecer com minha avó, mas vi semelhanças com Elena também.

Quando refleti sobre o presente, Paxán me informou que a ideia tinha sido do Sevastyan, o que me surpreendeu.

— Não é que eu não aprecie tudo, mas no fundo sou uma menina de fazenda. Gosto da vida simples. Além disso, você é a principal atração aqui — não os presentes. — Não cheguei perto de dizer que eu queria que ele mudasse de ideia. O assunto era mórbido, e tive a sensação que isso esmagaria seus sentimentos.

— Mas Berezka é agradável, não?

Eu olhei pra fora para a paisagem surreal. Um gramado verde se esparramava pela beira do rio. As gotas leves da chuva espirravam na superfície como notas musicais. Lontras brincavam na correnteza. A cada dia Paxán me apontava espécies locais de animais.

— Olha! É um arminho. — ele dizia. Ou um musaranho, ou um cão-guaxinim, ou um grande mergulhão de crista.

Eu admiti.

— Aqui é mágico.

— O que eu posso fazer para convencê-la a ficar?

Pelo tão pouco que vi minha mãe, eu podia visitá-la duas vezes por ano em sua nova casa. Ela estava atualmente em um cruzeiro ao redor do mundo que ela ganhou.

— Só uma precaução, cortesia do sindicato de Kovaleva.

Quando eu liguei para checar não disse nada a ela, imaginando que uma revelação dessa importância deveria ser feita pessoalmente.

Eventualmente mamãe ficaria bem onde quer que eu vivesse, mas como eu podia deixar Jess... e a escola?

— Viver aqui seria desafiador, com a escola e tudo. — Eu podia deixar meu mestrado como meu diploma final; não tinha que prosseguir com o doutorado. Ainda que de alguma forma parecia como se estivesse desistindo.

— Estamos a uma curta distância de várias universidades renomadas.

Deus, a esperança em sua voz estava me matando. Eu sabia que ele estava acostumado a ter as coisas do seu modo, assim como Sevastyan claramente estava, mas Paxán estava fazendo o esforço de me convencer a permanecer — o que me fazia respeitá-lo ainda mais.

— Começar em uma nova universidade é algo para investigar, pelo menos. — eu disse, não me comprometendo.

Estava começando a suspeitar que eu tinha fobia a compromisso. Apesar de sempre me considerar decisiva, podia ver agora que minhas árvores de decisão eram normalmente aleijadas.

Se concluísse um mestrado e não quisesse tomar uma decisão sobre seu futuro... bem, conseguiria um doutorado! Manter a mesma conduta. Começar as aulas uma semana depois que a última terminasse.

Talvez fosse por isso que o dinheiro me incomodava tanto; de certa forma, isso representava infinitas escolhas.

Inferno, eu nem sequer escolhi vir para a Rússia.

— É seu movimento, dorogaya moya. — Minha querida.

Eu fiz uma jogada desanimada.

— E a respeito do perigo, Paxán? O que está acontecendo com essa outra organização?

— Estes são tempos difíceis o que nós vivemos. Costumava existir, bem, honra entre ladrões. Agora as áreas que eu controlo estão sendo inundadas com um elemento que assusta minha gente.

— O que está acontecendo?

— Vou te dar um exemplo plausível. Meu rival, Ivan Travkin, montou um estacionamento no meio do meu território. Ninguém usava — não havia necessidade — então os homens de Travkin começaram a quebrar os pára-brisas dos carros fora do estacionamento, forçando as pessoas a pagar pelo estacionamento todos os dias. Eles vieram a mim para conseguir que isto parasse, então enviei Sevastyan, que detonou aquela operação. Vigorosamente.

Eu só podia imaginar o que o lendário Siberiano fez.

— Durante anos, Travkin tem procurado por pequenas incursões como esta, planejando a morte do meu sindicato de mil maneiras. Mas ele quando soube da sua existência e enviou dois dos seus executores mais mortais para a América — meu pai com aparência de Papai Noel ficou com olhos frios como aço — foi uma declaração de guerra.

Guerra. Era de se admirar que eu me preocupasse com Paxán constantemente? E Sevastyan, seu general da linha de frente?

— Assim que prevalecermos, as coisas serão diferentes pra você. Nós poderemos nos mover livremente. — A expressão do Paxán suavizou novamente. — Vou te mostrar seu país de nascimento, a cidade natal da sua mãe. Podemos encontrar alguns primos seus!

— Eu adoraria. Fora esta viagem, nunca viajei.

Ele me deu um olhar estranho, um de culpa, como se isso fosse uma falha de sua parte.

— Um fato que deve ser remediado o mais breve possível. Mas enquanto isso, não é tão ruim em Berezka, é?

Como se magnetizado, meu olhar procurou Sevastyan. Apesar de não estar mais no telefone, ele permanecia na doca esquadrinhando o perímetro. Ergui minha xícara de chá para tomar um gole, e por um momento para reunir meus pensamentos.

— Então o interesse corre de ambos os lados? — Paxán disse astutamente.

Eu quase sufoquei com o chá.

— Aleksei me contou sobre você dois.

Pousei minha xícara, porque ela sacudia.

— O que ele disse?

— Depois que vocês dois chegaram, ele veio a mim confessando que as coisas com você passaram além do que era... esperado.

Eu meti Sevastyan em apuros?

— Isto é tudo minha culpa. — eu disse depressa. — Antes de saber quem ele era, eu tentei dar em cima dele em um bar — algo que nunca fiz antes. E então mais tarde forcei a barra. Ele disse não, que eu era sua filha, mas eu empurrei.

— Eu não estou zangado, querida! Amo Aleksei como meu filho e quero apenas o que for melhor para ele. Ele tem trinta e um anos e me desesperei que ele nunca se acomodasse. Ele nunca sequer encontrou a mesma mulher duas vezes.

— A-acomodar? Hmm, por que você está falando sobre isto? — Sevastyan mencionou querer isso? Comigo? Eu não podia dizer se estava perversamente emocionada — ou prestes a me arremessar do pavilhão. — O que ele disse?

Kovalev juntou seus dedos.

— Quando começamos a suspeitar que você realmente poderia ser minha filha, Aleksei ficou excitado com a perspectiva de ter uma irmã. Mas aí... — Ele parou com uma expressão perplexa.

— Mas aí?

— Ele viu você pessoalmente. Ele não estava na América por mais de uma semana quando recebi um telefonema dele. Em seu modo reservado, me pediu para enviar um substituto porque notou que você não era o que devia ser.

— O que isso quer dizer? — perguntei com toda calma possível — mesmo quando meu coração tropeçava uma batida. Junto com minha surpresa com este desenvolvimento, uma sensação misteriosa de poder surgiu dentro de mim. Sevastyan mal conseguia se controlar comigo! Ele quis abrir mão de seu trabalho, sabendo que desapontaria o homem que ele obviamente idolatrava.

— Aleksei confessou que seu interesse em você era... obscuro.

— Obscuro? — Sevastyan tinha me visto e me queria — de forma obscura.

Paxán franziu o cenho.

— E, bem, glubokiy.

Aquilo era ainda mais surpreendente. Profundo?

Obscuro e profundo soava como... perseguidor. Provavelmente porque Sevastyan esteve me seguindo na época (embora ele tivesse sido mandado a fazer isso). Ainda assim, isso me fez parar e pensar.

— Então ele não está em apuros?

— Honestamente, esta situação não é ideal. Se você e Aleksei entrassem de mãos dadas no meu escritório querendo se casar, eu te lançaria em um casamento como a Rússia nunca viu. Mas se eu souber que meu executor de mais confiança esteve — qual é a palavra? — brincando com você, isso não seria bom.

Eu nervosamente engoli em seco, não tendo nenhuma dúvida que ele consideraria o que Sevastyan e eu fizemos banal.

— Você ficaria com raiva?

— Só se você estivesse em risco. Se isto continuasse, outros descobririam. Eu perderia o respeito por não manter meus homens em ordem, e Aleksei perderia o respeito por sua deslealdade a mim. Infelizmente, nossos negócios — e nossa segurança — dependem do respeito. Com Travkin agredindo, nós já estamos vulneráveis. Ele usaria isso para enfraquecer minha autoridade com esta organização.

— Eu não acho que Sevastyan e eu estamos em perigo de mais, hmm, coisas banais. — Embora eu pudesse sentir alguma conexão inexplicável por ele, qualquer que seja o interesse que sentiu por mim enfraqueceu. Não sabia por que. A única coisa que mudou foi que ele chegou a me conhecer melhor, então ui.

— Eu nem sequer teria abordado você com isso se não tivesse visto seu próprio interesse nele. — Paxán pareceu perturbado conforme dizia. — Mas assim como quero o que é melhor para ele, devo assegurar isso pra você também. E não estou convencido que ele é o que você precisa.

— Por que não?

— Aleksei vive uma vida de extremos. — Ele exalou cansadamente, olhando para Sevastyan com um olhar ao mesmo tempo orgulhoso e um pouco intrigado. — Lealdade extrema, violência, vigilância. Eu o conheço há quase vinte anos e o vi com dezenas de mulheres bonitas — o ciúme levantou sua cabeça feia! —, mas nunca o vi responder a ninguém do modo que ele faz com você. Seu interesse é obscuro, e isto não é necessariamente uma boa coisa.

Paxán não respondeu exatamente a pergunta.

— Você está me advertindo para ficar longe dele?

— Estou em uma posição difícil. Atrapalho a felicidade dele para assegurar a sua? Ou me atrevo a esperar que vocês dois possam fazer um ao outro feliz? Combinações como essas não eram incomuns na minha época. Faria sentido, não? Um braço direito de confiança e uma filha preciosa?

Combinações? Assegurando felicidade? Isto tudo soava tão ameaçador — e permanente. Minha fobia por autocompromisso estava em alerta total.

— Isto é realmente pesado. Eu mal o conheço.

— Aleksei te contou como nos conhecemos?

— Ele disse que eu devia te perguntar.

Paxán levantou as sobrancelhas.

— Isso é surpreendente. Ele é um homem muito reservado.

— Ele me contou que você o levou quando era um menino. Vai me contar como você o achou?

Paxán assentiu.

— Eu estava dirigindo nas favelas de São Petersburgo à procura de um ponto de apoio na cidade. E vi este homem nos fundos de um beco batendo em um menino de não mais de treze anos, batendo nele até sangrar. Isto não era algo único. Foi depois da queda do comunismo. Existiam milhares de crianças de rua, e muitas eram severamente abusadas.

Sevastyan foi abusado? A ideia deixou uma dor oca no meu peito. Olhei para ele, agora um homem crescido, tão alto e robusto.

— Mas este menino — Paxán continuou — continuou lutando de pé, enfrentando o homem com seus ombros retos. Por que o menino não ficou na sarjeta? Por que continuou levantando? Eu nunca vi alguém apanhar tanto. Eventualmente, o homem se cansou! Quando o menino aterrissou seu golpe exclusivo, o grandalhão foi abaixo, e então o menino desapareceu. Eu tinha que saber por que ele continuou levantando. Então segui sua trilha de sangue para perguntar. Sabe qual foi a resposta do Aleksei?

Fascinada, sacudi minha cabeça.

— Em um tom entorpecido, ele me disse “Styd bolnee udarov.” A vergonha é mais dolorosa que os golpes.

Engoli em seco. Ele foi assim — aos treze anos?

— Extremo, não? É esperado que cada vor seja mentor de um protegido, trazer alguém que se mostre promissor para o redil. Nunca estive interessado em fazer isso até que conheci Aleksei.

— De onde ele veio? Era órfão? — Como eu fui brevemente.

Paxán entreabriu os lábios, então pareceu pensar melhor no que estava para me dizer.

— Talvez ele confie em você, se vocês dois passarem algum tempo juntos e conheçam um ao outro melhor.

E aí estava o problema. Toda vez que estávamos sozinhos, estávamos em perigo de brincarmos sexualmente. O que poderia explicar por que Sevastyan tinha me evitado.

— Paxán, preciso que você nivele comigo. — disse, meu rosto novamente aquecendo. — O que aconteceria se existisse mais... brincadeiras?

O garboso cavalheiro relojoeiro puxou seu colarinho totalmente desconfortável com isso, lembrando-me que ele era novo em ter uma filha.

— Você se importa se eu trocar do inglês? — Ele perguntou e acenei concordando.

Em russo, usando o que tinha que ser um número recorde de eufemismos, Paxán basicamente me disse que se Sevastyan e eu consumarmos uma relação, o homem seria obrigado a se comprometer comigo — um modo de dizer amarrado, mais como para sempre — mesmo sem o casamento.

Tudo ficou claro. Não é à toa que Sevastyan se distanciou de mim — ele temia o que poderia acontecer. Atração por mim era uma coisa, ser comprometido era outra completamente diferente.

Não que eu quisesse tal arranjo com ele, mas ainda ardia que ele faria qualquer coisa para evitar se amarrar comigo.

Os primeiros dois dias depois do incidente no armário, eu havia arrumado desculpas pela sua distância. Ele estava muito ocupado, tinha coisas demais na sua cabeça. Natalie estúpida.

Não é o cara para segurar minhas mãos e esquentá-las quando estiverem frias.

— Acredito que estou atrapalhando as coisas. — Paxán esfregou a testa. — Você é tão jovem. Jovem demais para ser entregue a outro?

— Entregue? — Eu disse, a voz subindo uma oitava. Assim era o mundo aqui, um mundo que eu agora estava submersa.

Com o olhar ficando distante, Paxán disse.

— Ainda assim, considerando todo o perigo nestes dias, talvez você precise de um homem que dê sua vida por você.

— Você vai me contar mais sobre Travkin e a ameaça atual contra nós? — Paxán mantinha os detalhes no cofre, por assim dizer, não querendo me sobrecarregar. — Todos nós estamos com alvo nas costas?

Paxán parecia não ter me ouvido.

— Esta é uma situação difícil, e talvez não seja destinado você e Aleksei estarem juntos. Existem sombras nele.

— Sombras?

Paxán focou em mim mais uma vez.

— Eu sei que Filip também está interessado em você. Vocês estão mais próximos em idade e tem muito mais em comum.

— Não estou atraída por ele assim. Quase queria que eu pudesse estar, mas não estou.

— Nenhuma atração mesmo? Por Filip?

Sacudi minha cabeça.

— Nenhuma.

— Isso é... inesperado. Talvez você só precise dar a tudo isso algum tempo. Vamos deixar as coisas se revolverem?

Sevastyan avançou pelo pavilhão então, os ombros avolumados com tensão. Um olhar passou entre os dois homens e Paxán imediatamente ficou de pé.

— Agora, minha querida, parece que tenho negócios urgentes.

Deixei minha expressão neutra.

— Algo que eu deveria saber? — Sempre que Sevastyan esquadrinhava por perigo, era porque ele era extremamente vigilante ou porque o perigo era iminente?

Paxán beijou distraidamente minha cabeça.

— Nada que não possamos lidar...

Atrás dele, o comportamento inquieto do Sevastyan lembrava uma bomba relógio marcando. Seus olhos dourados escureceram no meu rosto — como uma advertência indecifrável, destinada só para mim.

Mais cedo ou mais tarde, a contagem regressiva do relógio iria zerar.

E então o que aconteceria?

 

— Preciso de respostas, Filip. — Ele e eu estávamos nos estábulos aguardando o cavalariço. O tempo finalmente deu uma trégua depois de outra semana de chuva, e convidei Filip a se juntar a mim para um passeio. — Preciso saber mais sobre a ameaça a Kovalev.

As coisas em torno de Berezka continuaram a esquentar e ninguém explicava pra mim o que estava acontecendo. Nem mesmo quando um fotógrafo chegou ontem para tirar uma foto minha — para meu novo passaporte russo falso.

— Só uma precaução. — Paxán me assegurou. — Nunca se sabe quando se precisa viajar pra fora de nosso território.

Viajar? Ou fugir?

Desde minha conversa com Paxán, eu me abstive de Sevastyan, trabalhando para manter minha mente fora dele. Às vezes pegava seu olhar penetrante em mim — o relógio tiquetaqueando — mas ele nunca dizia nada além de bom dia.

Ainda que a tensão chiasse entre nós, refletindo a tensão dos negócios penetrando a propriedade. Ambos continuaram a crescer, sem término à vista.

— Não se preocupe com isto, Nat. — Filip parecia um modelo elegante em suas botas, calças castanhas de montaria e uma jaqueta xadrez. Somente um homem de sua perfeição física podia ostentar essa roupa, uma mistura entre vanguardista e ostentação. Mas ele também parecia esgotado. — Seu pai é um homem inteligente. Ele está sempre um passo à frente dos caras ruins, até mesmo de uma pessoa impiedosa como Travkin.

Ajustei meu casaco sob medida com minhas luvas quentes. Embora o sol estivesse de fora, o ar estava frio. O outono na Rússia tinha uma pegada definida.

— Gostaria que existisse algo que pudesse fazer para ajudar. — Eu editei a entrada esparsa de Kovalev no Wikipedia, adicionando “supostamente” em todos os lugares e implementando uma seção de “Contribuições para Caridade”.

Como o sindicato viveu sem mim todo esse tempo?

Estranhamente, não existia nenhuma menção a Aleksander Sevastyan em qualquer lugar on-line. Havia uma família proeminente na Rússia com o mesmo sobrenome, mas eles estavam no comércio legítimo e até mesmo na política.

— Você está ajudando. — Filip deu uma apertadinha debaixo do meu queixo. — Você faz o velho feliz. A cada dia vocês dois estão mais próximos. É óbvio para todo mundo. Deixe os homens da família cuidarem disso.

Enrijeci, então percebi que ele estava brincando. Era o cara de espírito mais moderno aqui, e ele adorava me tirar do sério.

— Você fica arrebatadora quando está toda feminina e irritada. — Ele inclinou sua cabeça. — Sabe, você seria uma isca incrível. Seria uma maneira para juntar os negócios de família, prima.

— Você está tentando me distrair?

Com seu sorriso angelical, ele perguntou.

— Está funcionando? — Ele estendeu a mão para pegar meu rabo de cavalo, girando a ponta ao redor do seu dedo indicador. Só quando eu estava prestes a me afastar, ele abruptamente deixou sua mão cair. Ele tinha um jeito especial para sentir o quanto ele podia empurrar com a paquera.

Ele tem recuado cada vez mais — porque estava sempre paquerando. O comportamento de Filip às vezes me fazia pensar se ele estava ciente daquelas regras de comprometimento. Eu podia jurar que havia uma sensação quase desesperada nas suas atenções — o que não encaixava, bem, tudo sobre ele.

— Não há nada que você possa me dizer?

— Ei, eu só trabalho nos livros. Sevastyan não me permite entrar no círculo interno.

— Nem eu. — Nós estávamos do lado de fora olhando para dentro.

Quando Filip passou sua mão por seu rosto cansado, notei que seu relógio se foi. Como Paxán e Sevastyan, ele tinha um relógio de pulso caro, mas não o vi há alguns dias. Estreitei meu olhar.

— Alguma coisa está acontecendo com você. — Olhei dentro daqueles ingênuos olhos cinzentos. Ingênuos demais?

— Nada está acontecendo, prima.

— Então onde está seu relógio? — Exigi antes de poder morder minha língua. Eu não decidi contar até oitenta e seis para analisar? Prejulgar os homens? Sim, mas caramba, estava recebendo algumas fortes vibrações de jogador dele. Seu carro ainda estava realmente na loja depois de duas semanas?

Ele desviou o olhar enquanto dizia.

— Fui nadar com ele no outro dia.

— Deixe-me adivinhar. Está na loja também? — Nenhum relógio: penhorou? Nenhum carro: penhorou?

Lá no fundo meu primo era um jogador?

— Na loja. É isso aí.

Eu o perscrutei. Ele não parecia estar preocupado com nada, então acho que eu já tinha o suficiente no meu prato sem me preocupar com as fraquezas do meu primo.

— Você me avisaria se eu pudesse fazer alguma coisa?

— Claro. Você é uma boa pessoa, prima. Você sabe disso, né?

O cavalariço trouxe nossas montarias então. Eu me apaixonei pela minha égua de novo. Com seu pelo cinza brilhante e a metade das patas negras, Alizay era impressionante. O porte elegante só destacava suas linhas. Apesar da equitação ocidental ser a preferida em Nebraska, tomei lições de equitação inglesa, e era grata por isto agora.

Olhei dentro de seus olhos lustrosos vendo meu próprio reflexo adorando. Okay, talvez eu gostasse de dinheiro, mas apenas pelos cavalos que podia comprar.

Quando o cavalariço trouxe uma terceira montaria, perguntei a Filip:

— Você está esperando alguém? — Franzi a testa ao ver um rifle alojado em um coldre na sela.

Filip fez uma careta murmurando.

— A porra do Siberiano.

Como se tivesse sido convocado, Sevastyan entrou nos estábulos, seu corpo fez uma sombra brevemente conforme andava a passos largos no corredor. Ele vestia calças de montar pretas de um corte moderno e uma jaqueta térmica atlética que ele podia ter facilmente vestido para jogar rúgbi.

Estilo do Filip: Alta costura da Barneys. Do Sevastyan? Sob medida — e caro.

Suas luvas e roupas cobriam quaisquer tatuagens, mas aquela cicatriz fina que descia por seus lábios e a dureza de suas feições desmentiam qualquer aparência cavalheiresca.

Enquanto se proximava, ele se movia como um atleta; eu podia ver os músculos poderosos em suas pernas dobrando a cada passo, lembrando-me quando suas coxas tremeram ao redor das minhas orelhas à medida que eu o engolia...

Foco, Natalie.

— Você vai conosco? — Perguntei a ele, corando pelo modo gutural que minha voz soou.

Sevastyan disse a Filip.

— Kovalev quer ver você.

— Estou levando Natalie para um passeio. — ele disse suavemente. — Eu o pegarei mais tarde desse...

— Agora.

Os lábios do Filip afinaram.

— Nat, vamos voltar pra casa. Podemos voltar para nosso passeio quando eu acabar.

E se o tempo não continuar bom? Não escondi minha decepção.

Sevastyan disse.

— Vou levá-la.

Por que ele se ofereceria para estar a sós comigo? Talvez tenha dominado sua atração por mim e agora não estava em perigo de jogar. Mas por que estava renunciando ao trabalho? As dificuldades foram resolvidas?

Curiosidade, minha kryptonita, fazia com que eu ansiasse desesperadamente por respostas.

A tensão entre os dois homens ferveu.

— Você? Levando a irmãzinha para um passeio? Que fraternal. Mas ela não está interessada. — Para mim, Filip disse. — Venha, Natalie.

Enrijeci, não gostando nem um pouco do seu tom. Estranho, já que amei quando Sevastyan mandava em mim na cama. Ou no armário da empregada.

Mesmo depois de tudo, eu... senti falta do homem. Que dano podia vir de um pequeno passeio? Eu disse a Filip.

— Tenho esperado por isso há duas semanas.

Ele olhou de Sevastyan pra mim e de volta. Em um tom de descrédito, ele disse.

— Você quer ir — com ele?

Sevastyan mordeu as palavras.

— Ona so mnoi. — Ela está comigo.

A compreensão pareceu descer na expressão do Filip. Então um flash perturbador de raiva surgiu em seu rosto, avermelhando suas bochechas. Ele girou aquele olhar de raiva para mim.

— Você está? Com ele?

Suas palavras estavam repletas de subcorrentes que achei difícil de aceitar. Porque neste exato momento, parecia como se o cara que me ignorou por semanas e o cara cujo rosto podia fazer anjos lamentarem estavam competindo para me deixar puta.

Por cima de mim.

— Eu só quero ir cavalgar, Filip.

Ele pareceu estar rangendo seus molares até virar pó. Finalmente me disse:

— Estarei esperando por você atrás da casa. — Com um olhar sinistro para Sevastyan, ele se afastou a passos largos.

Inquieta, levantei o olhar para Sevastyan, mas seu treinado olhar penetrante estava nas costas de Filip. Eu disse.

— Quer me dizer o que está acontecendo entre vocês?

— Nyet. — Aquela palavra — quando falada por ele e endereçada a mim — poderia também ser traduzida: Ponto final, Natalie.

— Por que está me levando na sua folga? O problema com Travkin foi resolvido?

Ele sacudiu a cabeça, repetindo.

— Nyet.

Ponto final. Ele não me diria nada mais — porque eu não era membro do círculo interno.

Ele passou sua mão enluvada pelo pescoço abaixo de sua montaria.

— Você queria ir cavalgar, então eu vou levá-la.

O garanhão parecia altamente irritável, e Sevastyan não me atingiu como um cavaleiro natural. Receita para o desastre?

— Você cavalgou muito?

— Infelizmente o trabalho impede isto.

— Nós não temos que ir.

Em resposta, ele se moveu atrás de mim para me ajudar a subir na sela de Alizay.

— Oh. Okay. — Ele deixou suas mãos demorarem na minha cintura?

Então assisti, encantada, como Sevastyan içava sua constituição musculosa em sua própria sela e dava meia volta ao cavalo.

Meus medos foram infundados. Apesar dele ter sido arrancado das ruas em sua adolescência, ele montava como se fosse criado na sela, com uma arrogância que só vinha da excelência.

Mais uma vez, as contradições neste homem eram fascinantes. Enquanto partíamos, olhei fixamente para ele tão absorta que mal registrei que passada suave Alizay tinha.

Mas como eu não podia olhar fixamente? Ele era cativante, com o sol caindo brilhante fazendo seu cabelo preto retinto brilhar. Seu físico quando cavalgava era uma visão.

Um corpo assim servia para duas coisas que começavam com F[4]. E lutar era a outra.

Arrastando meu olhar de Sevastyan, inspecionei a propriedade de tirar o fôlego. Uma brisa fria esquivou-se entre as folhas perdidas das bétulas cercando os estábulos.

Em um silêncio confortável nós montamos, e à medida que ganhávamos distância dos jardins cuidados e a quadra de tênis, a casa principal e a garagem, vimos mais vida selvagem. Uma raposa, duas martas e numerosos esquilos-do-Ártico.

Quando cruzamos um riacho murmurante, Alizay soltou um bufo inquieto. Embora nunca tivesse montado um cavalo tão bom, podia dizer que ela não estava satisfeita com esta leve caminhada. Bati levemente no pescoço dela.

— Essa aqui está com fome de algo mais. — Mordi a parte interna da minha bochecha; isso podia ter soado mais sugestivo? Uau, eu poderia muito bem ter apontado para minha virilha quando disse isto.

— Então vamos dar mais a ela. — Sevastyan atiçou ligeiramente a anca de Alizay, fazendo-a ganhar velocidade adiante.

Ele depressa pegou o ritmo e galopamos pelo que pareceu milhas, o ar tonificante enchendo meus pulmões, revigorando-me. Eu era incapaz de conter meu riso, e até os lábios de Sevastyan se curvaram quase num sorriso. Oh, sim, se ele algum dia me atingisse com um sorriso de verdade, eu cairia das costas deste cavalo.

Eu me peguei perguntando a mim mesma como seria se ele fosse meu. Em alguns momentos loucos, podia nos ver juntos. Nunca seria chato.

Não, seria obscuro. E profundo. Engoli em seco. Em todo caso, a bola não estava mais no meu campo. Não podia deixar claro como eu me sentia e ele não fazer nenhum movimento.

Até agora? Ou isto era uma excursão platônica? Ele disse a Filip que eu estava com ele. Durante este passeio? Ou mais tempo?

Nossas montarias combinavam os passos, trazendo-nos muito mais perto conforme íamos em direção a uma floresta de bétulas distante. Assim que alcançamos aquele bosque espesso, diminuímos a velocidade para um passeio. Adorei observar as folhas flutuarem ao nosso redor, captadas pela brisa como pequenas pipas.

— Este lugar é incrível.

— Eu costumava explorar aqui quando era menino.

— Deve ter sido um lugar incrível para uma criança. — Especialmente comparado ao que ele conheceu antes disso. Ele se recuperou daquela surra aqui? Foi da pobreza miserável até este país das maravilhas da abundância?

De não ter ninguém a ter um pai em Kovalev?

— Paxán queria que eu sentisse que esta era minha casa, então me fez ler sobre tudo isto. — Luz diáfana passou através dos galhos, batendo no rosto do Sevastyan, em seus olhos. O dourado era tão vívido que era como se o sol se rendesse a eles incandescendo de dentro. Fascinante...

Quando encontrei minha voz novamente, eu disse.

— Diga-me algumas das coisas que você aprendeu.

Em seu modo áspero, Sevastyan começou a descrever a construção e renovação de Berezka. Mas conforme falava sobre as pessoas e as terras, ele ficava mais animado, sua paixão para este lugar clara.

Ele me pegou olhando fixamente para ele.

— O que? — A cor tingiu aquelas maçãs do rosto.

Desde que soube que ele foi um pugilista eu queria tocar em seu rosto. Desde que Paxán me contou sobre sua surra quando era um menino, ansiava beijar este lutador da testa até o queixo.

— Você adora isto aqui.

Ele deu de ombros, mas eu podia dizer o quanto ele estava orgulhoso.

— Você não? — Quando acenei com a cabeça tranquila, ele disse. — Então por que você não decidiu ficar?

— É uma grande decisão. Viver em um país estranho, mudar de faculdade. — Eu sabia que nada faria Paxán mais feliz e queria fazer isso por ele. Mas não às custas de minha própria felicidade. — Embora você possa pensar que eu não gostava de minha antiga vida, eu gostava. Gostava até de trabalhar, assim como você claramente faz. Não quero dizer que sou uma caipira ou qualquer outra coisa, mas aprecio uma vida simples. — Nós diminuímos a velocidade até parar. — Chega de falar sobre mim. Por que não me diz como você veio parar aqui? — Paxán disse que Sevastyan poderia confiar em mim.

Ele estudou meu rosto.

— Seu pai te contou minha história.

— Somente como ele te conheceu. Você podia me contar mais. — Se Sevastyan e eu pudéssemos continuar conversando assim, chegando a conhecer um ao outro, eu me apaixonaria por ele?

Ele poderia se apaixonar por mim?

— Eu sou uma boa ouvinte. — eu disse.

Nossos olhares se encontraram. Ele abriu seus lábios para falar. Então a raiva ardeu em sua expressão.

— Por que convidou Filip pra cavalgar com você?

Eu fiquei surpresa.

— Por que não deveria?

— Você podia ter me pedido. — Seu olhar passou por mim enquanto dizia. — A menos que você quisesse especificamente passar um tempo com ele longe de todo mundo.

Revirei meus olhos.

— Se eu fizesse, então isso não seria da sua conta. Você me disse que não havia nós, lembra? Quem sabe levei suas palavras a sério?

— Você levou minha advertência a sério também? Eu disse para ter cuidado com ele.

A raiva do Sevastyan estava provocando a minha.

— E ele disse a mesma coisa — sobre você.

— Filip tem muito sucesso com as mulheres. Isso não significa que é digno disto.

— Eu me entendo com ele. Ele não me ignora, e me faz rir. — assinalei. — Não dói que ele tem um rosto que pode fazer anjos chorarem.

Os punhos do Sevastyan se fecharam em suas rédeas. Seu cavalo relinchou nervosamente.

— Não quero mais você sozinha com ele.

Este ciúme era tão delicioso que decidi cutucar.

— Por que? Está com medo que eu dê em cima dele?

Algo primitivo faiscou nos olhos do Sevastyan.

— Isso nunca acontecerá.

— É por isso que você está montando comigo? Para ser empata-foda?

Ele respondeu simplesmente.

— Sim.

Meus dedões do pé enrolaram nas minhas botas.

— Por que?

— Sei o que Filip tinha planejado para você hoje. — Ante minhas sobrancelhas levantadas, ele disse. — Pretendia seduzi-la.

— Como você sabe disso?

— Porque qualquer homem em seu juízo perfeito estaria planejando o mesmo. — Ele captou meu olhar e o prendeu. Sevastyan estava me dizendo que ele estava também?

Eu voltava a estar apaixonada novamente?

Alisei um cacho do meu rosto corado.

— Você está em seu juízo perfeito? — Diga sim, diga sim...

Trovão retumbou.

Como se despertando de um torpor, nós dois empurramos nossas cabeças pra cima. Neste bosque, nós não podíamos ver a tempestade se aproximar.

— Vamos voltar.

Não, não, não queria jamais que este passeio terminasse! Sevastyan estava agindo todo possessivo e ciumento e tinha realmente paquerado comigo — no seu modo conciso de executor. Eu não tive o suficiente. Que mal faria mais alguns minutos?

— Se chover nós não derreteremos.

Assim que as palavras saíram da minha boca, uma nuvens envolveram o topo da copa das árvores como um cobertor sufocante. Uma gota bateu no meu rosto, então outra. O céu continuava a escurecer.

Quando um vento frio começou a soprar fazendo as folhas baterem em nós, Sevastyan me ordenou.

— Fique perto. — Ele começou a correr e eu o segui à medida que ganhava velocidade, esquivando-se das árvores.

Um raio bifurcou acima de nós, uma garoa fria alfinetando meu rosto. Mas este passeio estava revigorante, fez com que eu me sentisse tão viva. Não podia lembrar da última vez que meu coração bateu assim.

Oh, sim. No armário de empregada quatorze dias atrás.

Quando um raio atingiu uma árvore não muito distante, Alizay deu um arranco na rédea, andando de lado.

— Ô, menina, calma... — A exultação se tornou apreensão.

Galhos agarraram meu rabo de cavalo, puxando-o do prendedor. Entre as folhas e meu cabelo chicoteando, eu mal podia enxergar. Cada rodada do trovão ficava mais próximo. Parecia muito mais forte do que em Nebraska.

Sevastyan freou e correu de volta pra mim. Agarrou minhas rédeas, forçando Alizay a trotar ao lado dele.

Mais relâmpagos faiscaram lá em cima, e outro raio atingiu muito mais perto. A garoa se tornou um aguaceiro enregelante com gotas tão grandes que golpeavam minha cabeça. A temperatura parecia que estava caindo a cada minuto. Logo minha respiração saiu em fumaça através da cortina de chuva.

Sevastyan estreitou os olhos na direção dos estábulos. Então, como se tomando uma decisão, ele nos virou em outra direção.

Acima do estrondo, eu disse.

— Os estábulos são do outro lado!

— Estou tirando você dos relâmpagos. — ele gritou de volta, esporeando seu cavalo.

Cavalgamos adiante. Nos filmes, ser pega na chuva com um cara gostoso era sempre sexy. Eu estava congelando, certa que eu parecia com um gato encharcado, e apavorada de ser eletrocutada. Pra piorar, minhas calças de equitação estavam rastejando pra cima da minha bunda a níveis desconfortáveis.

Assim que saímos da orla do bosque, a chuva era tão espessa que mal podia distinguir uma casa à distância. Quando nos aproximamos vi que era quase tão grande quanto o bangalô que eu compartilhei com Jess. O estilo rústico — paredes com vigas expostas e um telhado de madeira — era completamente diferente de qualquer outra estrutura que eu tinha visto em Berezka.

Ao lado tinha um beiral para os cavalos. No momento em que desmontamos debaixo do telhado, minhas pernas estavam tão duras que Sevastyan teve que me pegar. Firmando-me em meus pés, ele vociferou.

— Pra dentro.

Deixando-o cuidar dos cavalos, entrei no interior sem janelas. Removi minhas luvas encharcadas, esfregando minhas mãos para esquentá-las enquanto espiava ao meu redor. A luz nublada vindo da entrada iluminava curiosamente o aposento rústico.

A ficha caiu. Isto era um banya. Uma casa de sauna. Eu li tudo sobre elas!

Os russos levavam suas saunas muito a sério. Havia rituais e etiqueta social envolvendo o banya. Criar a melhor névoa — com as melhores gotículas de vapor — era considerado uma arte.

O primeiro quarto, o pré-banho, tinha suportes para pendurar roupas e uma provisão de toalhas, lençóis e unguentos. Lá no fundo tinha o quarto do vapor. Bancos de madeira polidos se estendiam pelas paredes. Em um lado do quarto tinha uma pequena piscina azul. No lado oposto tinha uma fornalha e uma câmara de pedra.

Um balde de água e uma concha permaneciam ao lado das pedras. Veniks — um amarrado de galhos secos e folhas — pendiam de uma prateleira perto, como mini-vassouras. Molhadas embaixo, eram usadas para golpear a pele para melhorar a circulação.

Por alguma razão, a fornalha já estava acesa, derramando luz em toda a área. As pedras irradiavam calor, tornando o ar quente e úmido. Cheirava a cedro e vagamente a veniks de bétulas — como gualtéria, floresta e couro misturados.

A ficha caiu mais uma vez. Eu ficaria presa em um banya com o homem mais desejável que jamais imaginei. Um homem com quem eu não podia fazer sexo — sem o risco de permanência. Um homem com quem não devia estar me divertindo por aí.

Apesar de gelada, rodopiei em direção à saída, pronta para desafiar a tempestade.

Sevastyan passou pela entrada com o rifle na mão.

— Onde você pensa que vai? — Assim que fechou a porta atrás dele, eu mal podia ouvir o trovão do lado de fora da sauna isolada, mesmo quando ressoava no chão e nas paredes.

Era como se estivéssemos dentro de um casulo úmido iluminado pelo fogo, separados do mundo.

Enquanto ele sacudia seu cabelo preto, escorou sua arma contra a parede, em seguida colocou uma barra acima da porta.

Por que ele a trancaria? Entre dentes chacoalhando, eu disse.

— Nós p-precisamos montar de volta. Ou pedir a alguém p-para nos pegar.

Ele descartou suas luvas enquanto se dirigia a um armário de parede. Ouvi o tilintar de vidro, e então ele voltou para mim segurando uma dose de vodca.

— Beba.

Aceitei o copo, mas hesitei. Embora estivesse ansiosa para me aquecer, sabia que não deveria estar em uma sauna com este homem — enquanto bebia vodca.

— Natalie, beba. Você nem sequer percebe o quanto está fria.

Naquele momento, meus dentes decidiram tiritar como vingança. Com um olhar teimoso, bebi o líquido queimando. Quando depositei o copo na beirada da primeira estante, ele me deu um aceno satisfeito e tomou minha mão, levando-me de volta em direção ao fogo. Enquanto eu observava, ele o remexeu até que estivesse muito mais quente, então despejou água em cima das pedras.

Vapor silvou, flutuando pelo ar. Isso nos cercou, acariciando meu rosto.

— Se ficarmos a-aqui, algo poderia acontecer. — Algo pecaminoso.

Como nós dois nos despirmos até não ter nada para que pudéssemos lamber as gotas da pele um do outro.

— Acontecer? — Ele andou a passos largos em minha direção, removendo seu casaco no caminho.

Recuei um passo.

— Você sabe, entre nós. — Ele se foi a tanto tempo — por que explodiria seu controle impecável agora?

Ele levantou suas sobrancelhas, os olhos diabólicos na luz do fogo e na névoa.

— Não pode se controlar no que me diz respeito? — Sua voz era uma profundamente áspera.

Resista a ele, Nat.

— Talvez eu possa. Não significa que tenho que provar isto ficando na porra de uma sauna com você. — Quando ele espreitou mais perto, exigi. — O que você está fazendo, Sevastyan?

— Tirando você fora dessas roupas molhadas. — ele disse em um tom que não admitia resistência.

Mas que porra é essa? A contagem regressiva do relógio finalmente zerou? Minha respiração era superficial enquanto eu recordava sua inquietude, seus olhares penetrantes e a tensão crescente, como se ele estivesse prestes a atacar.

Porque ele estava?

Mas por que agora? Por que hoje? E dessa... maneira?

Imaginei aquelas advertências indecifráveis que ele lançou no meu caminho. Eu era corajosa o suficiente para encarar seja lá o que fosse que ele estivesse me avisando?

— E se eu me recusar a tirar minhas roupas, hein?

— Bichinho... — Agora toda vez que ele me chamava disso me lembrava de suas palavras: coleira e manter você. Ele estendeu a mão para minha jaqueta, seu olhar derretido.

— Tem uma coisa que você devia saber.

Como pode um único olhar aquecido fazer arrepios dançar sobre meu corpo inteiro?

— O que é?

— Eu não estava pedindo.

 

 

 

                                                                                                    Kresley Cole

 

 

 

[1] Em inglês, seamen significa marinheiros, a palavra foi usada em trocadilho pela semelhança com outra, sêmen.

[2] Sigla para Batery Operator Boyfriend, ou Namorado que Funciona à Bateria.

[3] Russki é russo em russo.. hehehe

[4] Nota: resolvemos deixar F de Fight que é luta, mas a autora se refere a lutar e foder.

 

 

 

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