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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O REI - P.2 / J.R. Ward
O REI - P.2 / J.R. Ward

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

Ajoelhando-se no pé da cama, Wrath controlava o tempo através das respirações de sua amada, mensurando suas inspirações enquanto elas fracamente empurravam seu braço que estava estendido sobre a cintura dela. Cada vez maiores eram as inspirações, cada vez menores as expirações.

E durante todo esse tempo, seu próprio coração continuava a bater, seus próprios pulmões trabalhavam e seu corpo seguia funcionando.

Parecia tão cruel e ele trocaria seu estado saudável com ela num piscar de olhos. Ele daria a ela qualquer coisa para mantê-la ao seu lado e, como isso não era possível, colocou a sua palma da mão sobre o punho de sua adaga cravejada de joias e posicionou-a no meio dos dois.

Concentrando-se nos lábios entreabertos dela, posicionou a lâmina de modo que estivesse apontada para o centro de seu peito. Os suportes do leito foram construídos a partir de painéis de carvalho maciço, e estavam na altura certa para o que ele precisava. Apoiando a base do punho da arma na borda da madeira, ele mantinha a adaga firme em sua mão e inclinou-se, medindo a distância que ele teria de completar.

Posicionando seu esterno na ponta da lâmina, ele empurrou o suficiente para sentir uma leve pressão.

 

 

 

 

Satisfeito com o ângulo, girou a faca e direcionou sua ponta para a madeira, cavando um círculo nas fibras, criando uma trava para a base. Enquanto entalhava, parecia desrespeitoso desperdiçar a última das respirações de sua Anha em tais esforços, ela deveria ser o centro de sua atenção, somente ela.

Mas alguns preparativos eram necessários.

Se ele a perdesse antes de terminar o que estava fazendo, correria o risco de fazer uma tentativa descuidada, e precisava se certificar de que não haveria nenhuma possibilidade de sobrevivência...

— O que... Você faz?

Wrath virou bruscamente a cabeça. E, inicialmente, não conseguia compreender a visão a sua frente.

Sua Anha havia virado seu rosto pálido para ele e o encarava através de pálpebras pesadas.

A adaga escapou do entalhe que estava criando, afundando no pulso da mão que ele estava apoiando. O corte nem fora notado.

— Anha…?

Ela passou a língua pelo sangue em seus lábios.

— Nosso filho…

Na realidade, ele não ouvira o que ela havia dito. Lágrimas surgiram de seus olhos e com o coração disparado, ele se perguntava pela primeira vez se aquilo não era um sonho... Como resultado de ter seguido com sua própria morte, apunhalando-se no mesmo lugar onde sentia seu amor por ela mais intensamente.

Porém, não... Ela estendeu sua mão para o rosto dele. Tocando-o com admiração, como se ela também não pudesse compreender seu retorno de consciência.

— Anha!

Ele pressionou seus lábios nos dela e depois removeu suas próprias lágrimas das frias bochechas dela.

Abruptamente, se lembrou da recomendação do curandeiro e se apressou para colocar seu pulso sobre a boca dela.

— Beba, meu amor... Não falemos nada ainda. Beba. Em primeiro lugar, você deve beber!

Sua Anha relutou somente por um momento antes de engolir apropriadamente uma vez. E mais uma vez. E uma terceira vez.

Quando ela gemeu e fechou os olhos, não era por desconforto ou medo. Não, era por algo de uma natureza vital, como se ela estivesse alimentando uma dolorosa fome e que esta agonia aos poucos se abrandava.

— Beba…

Ele dizia enquanto tudo ficava ainda mais desfocado.

— Meu amor... Compartilhe de mim e retorne...

Acariciando seu cabelo para trás, ele olhou para sua adaga. E suplicava para que este milagre permanecesse entre eles. Rezava para que ela se mantivesse viva e se recuperasse logo...

— Meu amo?

Com o som de uma profunda voz, Wrath girou sua cabeça sem extrair sua veia dos lábios dela. O Irmão da Adaga Negra Tohrture estava de pé ao lado da porta fechada do quarto, tendo entrado silenciosamente.

Ela está desperta,disse Wrath roucamente.

Louvada seja a Virgem Escriba... Ela está desperta.

— Sim, – o Irmão disse. — E eu necessito lhe falar.

— Isso não pode esperar? – Ele retornara sua atenção para sua amada. — Deixe-nos…

O Irmão chegou mais perto e aproximou seus lábios do ouvido de Wrath, de tal forma que nenhuma palavra escapasse. Ela aparenta estar da mesma forma que seu pai.

Wrath piscou. Olhou para cima. Como disse?

O Irmão tinha os mais incríveis olhos azuis, a cor concorria com as gemas aquáticas que haviam sido adquiridas especialmente para o vestido de primavera de Anha.

Abaixando-se novamente, as palavras foram sussurradas mais uma vez.

Seu pai tinha a mesma aparência na noite em que morreu.

Enquanto o Irmão se erguia, seus olhos nunca vacilaram. Nem sua expressão. Nem o seu corpo.

Um lampejo de raiva fez Wrath fechar sua mão em um punho. A última coisa que ele queria se intrometendo neste espaço sagrado de esperança, era qualquer memória daquela outra noite de perda... Quando ele correu para o castelo em cima de um garanhão negro, através das florestas, arriscando a própria vida para retornar a tempo.

Realmente, por mais que ele desejasse que os capítulos desta história desaparecessem da sua mente, eles retornavam a ele claramente. Ele havia sofrido um ferimento durante o dia, um passo em falso que o fez cair sobre uma ponta de metal. O ferimento tornou impossível para ele se desmaterializar, mas ele estava bem o suficiente para sair do castelo quando chamado para uma reunião com uma das Famílias Originais.

Quando havia partido, no cair da noite, não tinha a intenção de retornar até a manhã seguinte.

A Irmandade veio até ele uma hora depois.

No momento em que conseguira retornar ao castelo, já era tarde demais. Seu pai já havia partido.

E, a respeito da aparência, alguns mortos apresentam a sua linhagem, isso era verdade: o assassinado, o incapacitado, o velho, no caso de seu pai. No entanto, o Rei apenas parecia dormir, seu corpo limpo e vestido em túnicas cerimoniais, seu cabelo bem cuidado, suas luvas e sapatos como se ele pretendesse caminhar até sua sepultura.

— O que você diz? – Wrath sacudiu a cabeça. — Eu não consigo...

Outro sussurro em seu ouvido:

Olhai para as unhas dela.

Quando os olhos de Anha se abriram e se arregalaram diante da visão do Irmão, Wrath se inclinou e beijou sua testa. Não se aflija meu amor.

Instantaneamente, ela se acalmou sob seu toque e sua voz, continuando a se alimentar, enquanto seus olhos se fechavam novamente.

Isso mesmo, ele murmurou. Tome o que eu lhe dou.

Quando estava certo de que ela retornara a beber, ele olhou para mãos dela e franziu a testa. Suas unhas estavam... Azuis.

As mãos de seu pai tinham estado cobertas com luvas.

Volte, – ele disse ao Irmão asperamente. — Eu chamarei por você.

Tohrture acenou com a cabeça e caminhou até a porta. Antes de sair, disse claramente, Não permita que ela beba qualquer coisa que não tenha sido provada previamente.

Veneno? Teria sido... Veneno?

Enquanto o aposento dos dois era fechado e trancado novamente, Wrath sentiu uma estranha calma vir a ele. Força e propósito devolvidos a ele enquanto Anha continuava a sugar sua veia, o sorver cada vez mais forte. E quanto mais ela bebia dele, mais a cor da morte sumia de seus dedos.

Após a morte de seu pai, ele havia estado perdido no mundo, até que ela foi trazida a ele e tornou-se a sua força, não apenas para as respirações em seu peito e as batidas de seu coração, mas também para o seu gorvernar como Rei.

Pensar que seu pai pode ter sido tirado dele? E, em seguida, sua amada fêmea?

Enquanto pensava na expressão de Tohrture... Ele sabia que haviam inimigos em sua côrte. Inimigos, capazes de matar.

Ira fervia em suas veias, transformando-o por dentro... Da mesma forma que aço e ferro eram forjados.

Não se preocupe meu amor, ele disse, apertando-lhe a mão. Eu vou tomar conta de tudo.

E sangue correrá como as lágrimas que você derramou em sua dor.

Ele era o Rei, sim. Mas em primeiro lugar, ele era o hellren desta magnífica fêmea e vingá-la era o que ele faria.

 

— De todas as coisas eles tinham que estar certos sobre...

Enquanto Trez permanecia deitado no chão liso do seu banheiro, posicionou o seu antebraço sobre os olhos. Ele estava perfeitamente ciente de que seu pênis estava retraindo, todo aquele sexo sem sentido que teve se foi velejando com o vento.

Mas era ainda mais claro quem estava ao seu lado, nua sobre o tapete de pele.

Merda, ele tinha que se cobrir com aquela toalha e...

Quem “eles” são?

Agarrando o tecido felpudo, ele não podia nem olhar para Selena. — Meu povo.

Sobre o que eles estavam certos?

— Por que você continua aqui?

Quando percebeu como havia soado, ele se sentou e notou que ela se retraiu.

— Me desculpe... Eu só quero dizer, como você está tão calma com toda essa merda?

Maldição, ela estava completamente comestível sentada ali, aquela túnica que não cobria nada além de seus ombros, seus seios permaneciam intumescidos, suas pernas dispostas de modo que, se ele se movesse um pouco, podia ver a sua...

Selena puxou o tecido sobre ele e, por mais que isso doesse a ele, era a coisa certa, em tantos níveis. Ele havia arruinado o que estava acontecendo entre eles.

Porém, pelas razões certas.

Sinto muito, ele disse, pensando que ele deveria ter aquilo tatuado na testa para que visse no espelho todas as manhãs, todas as noites.

Ele nunca deveria ter levado as coisas tão longe quanto eles tinham ido. De forma alguma.

— Por ter parado?

Não, eu não sinto por isso. Quando ela recuou, ele quis chutar a si mesmo nas bolas. O que eu quero dizer é... Porra. Eu não sei. Eu não sei de nada neste momento.

Houve uma longa pausa. E então ela disse calmamente. — Você precisa saber que não há nada que não possa me dizer.

Tenha cuidado, a caixa de Pandora, depois de aberta, é difícil de fechar.

Nada. Seus olhos estavam totalmente claros enquanto ela olhava para ele. Não tenho nada a temer de você ou por você. Eu realmente acho que você me deve uma explicação, no entanto. Supondo que você não tem intenção de continuar... E apenas para que eu não me sinta culpada por isso.

Uau, tudo bem. Se ele achava que ela era quente antes? Agora, ela estava no território de deusa: Beleza física era uma coisa; ser determinada era ainda mais atraente.

E ela tinha razão.

Tudo bem, ele disse, sentindo-se um completo lixo. Mas ela tinha o direito de saber. Eu fiz sexo com muitas fêmeas humanas nos últimos dez anos e nada disso importava para mim até hoje à noite com você. E eu acho que eu estou prestes a condenar os meus pais a uma torturosa morte. Fora isso, eu estou bem.

Ela ergueu suas sobrancelhas. Mas não recuou, não fugiu. Houve uma série de respirações profundas, no entanto. — Vamos começar por essa última parte. O que no Fade da Virgem Escriba você está dizendo?

— É uma bagunça do caralho... Eu sou uma bagunça.

Ela aguardava, claramente esperando que ele continuasse. E você não está me dizendo nada.

Olhando fixamente em seus olhos, ele sentiu tanto respeito por ela. Deus... Como é possível que você exista?

Ainda não está me dizendo nada. Ela sorriu lentamente. Apesar de gostar do jeito que você está me olhando.

Trez sacudiu a cabeça, sabendo que ela merecia muito mais do que ele poderia lhe oferecer. Você não deveria. Você realmente não deveria.

Isso sou eu quem decide. Agora fale... Se você está tão determinado a me afastar, então use suas palavras para me convencer de sua feiúra.

A vida sexual já não fez isso?

Sou treinada como uma ehros. É minha incumbência, para que os machos espalhem suas sementes por toda parte.

Ele estreitou os olhos: O rosto dela de repente se tornou impassível, o que fez a situação ficar séria. Há outra coisa.

— Que é?

— Eu estou prometido a alguém.

Ela quase conseguiu esconder seu tremor. Quase. — Realmente.

— Sim. Realmente. E se eu não aparecer, meus pais serão massacrados.

— Então, você não está apaixonado?

Eu não a conheço. E não quero conhecer.

Um pouco da tensão deixou a Escolhida. — Você não sabe nada a respeito dela?

Nada. Exceto que ela é filha da rainha.

Aqueles olhos incríveis se arregalaram. Você será da realeza, então.

Ele pensou na quantidade de diversão que Wrath estava tendo em seu trono, e todos os chutes e risos que Rehv estava balançando como chefe imperial dos symphaths e, pelo menos, eles podiam sair a noite. Bem, mais ou menos, no caso do Wrath.

Seu futuro estava centrado numa jaula dourada.

Meus pais me venderam quando eu era muito jovem, ele se ouviu dizer. Nunca me fora dada uma escolha... E agora? A não ser que eu volte para o Território, os dois não viverão por muito tempo.

A cabeça de Selena se inclinou para o lado, sua mente trabalhando claramente.

Não há nenhuma chance de negociação?

Nenhuma.

Seus pais não podem devolver o preço pago?

Ele pensou no sorriso cínico de sua mãe naquela noite em que a viu pela última vez. Mesmo que eles pudessem, eu não acho que fariam.

Suas sobrancelhas se ergueram novamente. Você tem certeza?

Seria o coerente com eles.

Você não pediu?

Não, eu não pedi. Mas isso implicaria voltar ao Hisbe, e isso não é possível.

— Não existe alguém que você possa enviar em seu nome?

Ele pensou em iAm indo para o Território. O contrato era especifico para Trez, por isso não era como se o sumo sacerdote, ou mesmo s'Ex, pudessem fazer uma troca casada. Eles poderiam, contudo, usar seu irmão de refém. Ou pior.

E isso faria Trez voltar.

Eu acho que não. Meu irmão é o único, e eu não posso correr esse risco. Não vou arriscá-lo.

E você acha que seus pais serão...

Não, eu sei que eles irão matá-los. Ele massageou a nuca. Sabe, grande parte disso é triste, mas acho que o pior de tudo é o fato de que eu não posso nem fingir ter emoção sobre aqueles dois. É, tipo... Eles fizeram um pacto com o diabo. Se algo ruim acontecer, eles estão apenas colhendo o que plantaram.

Infelizmente, no entanto, independentemente do que acontecesse com sua mãe e seu pai... A dívida ainda seria devida.

Mesmo que s’Ex os picasse em pequenos pedacinhos, Trez permaneceria herdeiro do acordo que eles fizeram.

O que havia sido posto em movimento... Não poderia ser desfeito. E enquanto olhava para Selena, ele lamentou essa verdade mais do que nunca.

 

As mãos de Selena tremiam. Estavam assim desde que Trez tinha dito que ele tinha estado com... Exatamente com quantas muitas mulheres humanas? Ela se perguntou.

Querida Virgem Escriba, ela não queria nem pensar nisso.

No entanto, ela poderia, ao menos, tentar fazer com que suas mão parassem de tremer. Enquanto Trez caía em silêncio, ela esticava e flexionava seus dedos, esperando que isto parasse antes que ele visse através de sua fachada calma: Ela tinha a sensação muito clara de que, se ele perceber que a estava perturbando, ele nunca diria palavra alguma... E este espaço íntimo que havia se aberto entre eles era muito mais sagrado do que a experiência sexual prometia ser.

Eu não tive pais como tal, ela disse calmamente. Mas eu não posso imaginar ter um filho e... Vendê-lo.

Trez assentiu, se erguendo para que pudesse continuar a massagear sua nuca. — E eu não sei? Quero dizer, meus pais me valorizavam. O problema é que eu era uma mercadoria para eles, algo para ser trocado. Isso é algo que você espera de vendedores de carros e mercadores de tapetes, e pessoas que gerenciam supermercados e shoppings centers. E ouça, eu desejaria ter sido um desses filhos da puta bem ajustados para que pudesse ser como, “Eles não me queriam, mas eu ainda tenho valor, blá, blá, blá”... As coisas não funcionaram desse jeito pra mim contudo. Na minha cabeça... – Ele fez um círculo em sua têmpora. — Eu não sou nada. Eu não sou... Nada.

Subitamente, Selena queria chorar. Olhar para este absolutamente magnífico macho... E saber que em seu coração, ele não enxergava nada em si? Era um crime... Um crime perpetrado pelas próprias pessoas que deveriam mais ter se importado com ele.

É por esse motivo que você ficava com as humanas?Ela ouviu-se perguntar.

No silêncio que se seguiu, foi difícil até mesmo respirar: Ela estava com medo de sua resposta. Por uma série de razões.

Sim. Ele amaldiçoou sob sua respiração. Como, você sabe, eu estava com essa mulher... Logo antes de ter a enxaqueca.

Isso foi apenas na outra noite, ela pensou, querendo se encolher...

E ela estava tão vazia quanto eu estava me sentindo. Apenas dois corpos vazios se golpeando. Não significava nada, e isso é o que eu venho fazendo todos esses anos. Exercício físico e só isso.

Selena lutava para dizer a coisa certa, algo equilibrado e que sinalizasse que ela estava confortável com o que ele estava dizendo a ela... Quando na realidade isto estava arrancando o seu coração do peito. Mesmo que não devesse.

Ela passou quanto tempo com ele? Uma hora? Duas, no máximo?

A morte iminente a estava fazendo se descuidar...

— Eu poderia salvá-los, – disse ele, quase para si próprio. — Se eu me sacrificar, posso salvar minha mãe e meu pai.

Ele deslocou bruscamente a cabeça para o lado causando um estalo.

Aqui,ela murmurou, movendo-se atrás dele. Permita-me.

Afastando a mão dele, agarrou firmemente seus ombros duros como ferro e pressionou-os como ele havia feito, tentando provocar algum alívio nas fibras musculares. Enquanto trabalhava nele, sua pele suave resvalava ondas de tensão, mas aquilo parecia ser a única coisa realizada.

Você quis dizer: She'd spent how much time with him? An hour? Two at the very most? Impending death was making her reckless—

Ele suspirou. Isso é incrível.

Eu não acho que esteja fazendo coisa alguma.

As mãos dele rapidamente cobriram as dela. Você está. Mais do que imagina.

Selena continuou a massagem e pensou sobre seu próprio passado. Como eu disse, eu não tive verdadeiros pai e mãe. Fui criada com e pelas minhas irmãs. Eu era necessária para promover as tradições, mas eu não posso dizer que já fui querida por alguém. Reivindicada, por assim dizer. Então, de certa forma, eu posso imaginar como você se sente... Gerado, mas não nascido, pois nascer implica que você foi esperado e desejado.

Ele inclinou a cabeça para trás e olhou para ela. Sim. É exatamente isso.

Ela sorriu para ele e empurrou-o de volta para a posição.

Se meus pais forem mortos, eu sinto como se estivesse indo para o inferno. ele murmurou.

Mas você não pode ser responsabilizado por isso, porque você nunca consentiu.

— Como é?

Você foi prometido quando era incapaz de dar consentimento... De fato, é como se eles nunca tivessem lhe consultado. Portanto, a sua recusa e quaisquer consequências causadas por ela? É responsabilidade de seus pais, não sua. Isto é sobre você, porém não tem nada a ver com você.

— Deus...

Quando ele não terminou, ela franziu a testa. Eu sinto muito. Eu não queria ser presuçosa.

Você não é. Você é... Perfeita.

Dificilmente.

Eu quero fazer uma coisa pra você.

Ela congelou. O quê?

Porque ela tinha algumas ideias.

Algo que valha a pena.

Ela olhou para o tapete de pele onde ela havia sido estendida. Oh, aquilo valeria a pena...

—Mas não consigo pensar em nada.

Selena suspirou. Sua presença é suficiente.

Trez pôs as mãos sobre as dela novamente e puxou-a para a frente, de modo que ela ficou debruçada sobre suas costas. Segurando-a lá, ele posicionou sua cabeça próxima da dela.

Enquanto ele respirava, seu grande torso expandindo, ela era levantada do chão e de volta para baixo. Obrigado,ele disse em uma voz quebrada.

Eu não tenho feito nada.

Você me fez sentir como se eu não fosse ruim. E por esta noite, isso é tudo.

— Oh, você nunca foi isso, – ela sussurrou enquanto dava um beijo em sua bochecha. — Você não, de forma alguma.

Fechando os olhos, ela se agarrou a ele, e sentiu sua alma se conectando com a dele. Ao ponto onde não sabia como deixá-lo. Não somente esta noite, mas... Em qualquer momento em que seu destino a reclamasse.

Você já comeu? – ele perguntou um tempo depois.

Na verdade... Não.Seu estômago roncou. E eu estou com fome.

— Vamos lá para baixo. Meu irmão estava fazendo um pouco de seu molho... Ou, pelo menos, acho que estava. Ele faz aquilo toda vez que tenho uma dor de cabeça.

Selena começou a se soltar e foi se afastando...

Sem aviso, sua coluna se rebelou, as vértebras se travando em suas posições. Trez, por outro lado, ergueu-se rapidamente... E quando estendeu sua mão para ajudá-la a se levantar, ela só conseguia ficar olhando para aquela mão.

Quando confusão surgiu no belo rosto dele, ela percebeu que deveria aceitar a ajuda. A essa altura, ela era incapaz de se levantar do chão sozinha.

Devagar, disse ela com a voz rouca. Por favor?

Trez franziu a testa, mas foi gentil quando a levantou. Você está bem?

Ela tentou ganhar um pouco de tempo amarrando a sua túnica. Enquanto isso, suas articulações gritavam, particularmente seu quadril e suas costas.

Forçando um sorriso para o seu rosto, ela tentou não desvanecer. Mas era como isso havia começado para suas irmãs. Cada uma delas.

—Vamos? – ela disse com determinação.

Os olhos amendoados de Trez se estreitaram ainda mais. Mas então ele encolheu os ombros. Sim, claro. Eu vou apenas vestir alguma roupa.

Vou esperar no corredor.

Por mera força de vontade, ela atravessou o quarto e saiu para o corredor. No momento em que fechava a porta atrás dela, ela já se sufocava...

Instantaneamente, seu corpo experimentava uma mudança interna de poder incrível. De um jeito que só significava uma coisa: Alguém estava em seu período de necessidade.

A rainha? Ela pensou com assombro enquanto olhava para a entrada arqueada dos aposentos privados da Primeira Família.

Isso seria realmente memorável.

Recostando-se contra a parede, ele pensou na massagem nos ombros de Trez e desejou que houvesse um equivalente para o seu próprio corpo. Não havia nenhum. Nenhuma cura, sem desaceleração da doença.

Não havendo como dizer quanto tempo ainda lhe restava.

 

Beth não teve nenhuma escolha senão se entregar as exigências rugidas de seu corpo. E a única pausa que ela tinha? Cada vez que ele gozava dentro dela, havia um breve alivio, antes que a afiada necessidade começasse sua ascensão mais uma vez.

— Tome da minha veia, – Wrath disse roucamente. — Tome…

Ela nem sabia se estava de costas ou de barriga, em que quarto estava, que horas eram. Mas no momento em que o pescoço dele se aproximou de sua boca, ela claramente tinha certeza da mordida: Suas presas saíram e ela as usou firmes, mordendo a carne de Wrath, rompendo a superfície e indo fundo, liberando a outra coisa que precisava dele.

Oh, o poder dele. Quando sua boca estava cheia, ela foi atingida mais uma vez pelo impacto incrível que o sangue dele tinha sobre ela. Com sua força enfraquecendo inclusive quando a necessidade continuava, e seu corpo doía em todos os lugares como se tivesse passado por uma prensa, ela, no entanto, fortaleceu-se desde o primeiro gole, em melhores condições para continuar, embora não fosse como se ela tivesse uma escolha.

Quando ela teve que liberar a veia dele para respirar, não podia acreditar que se ofereceu para isso. Ela devia ser louca, alguma visão romântica idiota de ter um beeeeeeeebê entrando no modo de doze tipos de realidade.

Enlaçada no pescoço de Wrath, ele de alguma maneira conseguiu se manter bombeando-a mesmo com ela em sua veia, sua ereção entrando e saindo, os impulsos profundos e remoções bruscas ressoando por todo o tronco, a cabeça balançando para cima e para baixo, seus quadris absorvendo seu peso. Escorregadios de suor, seus corpos se moviam em conjunto com tal perfeita comunhão, ela não sabia onde o dela terminava e o dele começava.

A súbita mudança de ritmo lhe disse que ele estava se preparando para outro orgasmo, e ela precisava disso...

Wrath empinou a cabeça para trás, e suas presas saíram rasgando o pescoço dele, mas ele não parecia se importar.

Não pareceu nem notar.

Jesus, ele era magnífico: Pela névoa do sexo, ela observava o esforço, seus lábios curvados para trás, suas próprias presas ficando expostas, seu cabelo fluindo afastados do pico da viúva, enquanto seus cegos, pálidos olhos verdes brilhavam amplos e, em seguida, bem fechados.

E logo depois foi a vez dela, seu núcleo agarrando sua excitação, gananciosa para que ele ejaculasse dentro dela, o prazer tão agudo que era uma espécie de agonia.      

Assim quando as contrações estavam começando a diminuir, ela preparou-se para a próxima onda, preparando-se para mais uma próxima rodada de desejo esmagador para assumir...        

Quando não veio imediatamente, ela olhou ao redor, como se a necessidade fosse uma terceira parte que só poderia ter abandonado o...

Oh, uau. Eles ainda estavam no banheiro. No chão.

Wrath desmoronou contra ela, sua cabeça caiu tão afastada, com tanta força que ela o ouviu bater a testa contra o mármore.

Quando o descanso se prolongou, ela provavelmente deveria ter começado a esfriar, mas o inferno em seu corpo mantinha os dois muito quentes...

O som de um zumbido de cima da banheira chamou sua atenção. As venezianas estavam se fechando para o dia, os painéis trancado-se nos peitoris.

Então, isso já durava por... Oito horas? Nove?

Não vinha nenhum som do andar de baixo, entretanto todos os Irmãos provavelmente foram afetados por seus hormônios. As fêmeas também.

Wrath se levantou, seus músculos se esticando, seus braços tremendo. — Como você está?

Beth abriu a boca para responder, mas apenas um som rouco saiu.

— Você vai querer minha veia ainda, – ele disse, afastando uma mecha de cabelo do rosto. — Você precisa disso.

— E quanto a você... – com sua voz rouca, ela pigarreou. — E você?

Ele parecia magro, rosto cavado como se tivesse perdido onze quilos, mas ele balançou a cabeça. — Minha única preocupação é você.

A imagem dele ficou ondulada quando as lágrimas fluíram.

— Eu sinto muito, – ela murmurou. — Oh, Deus… Eu sinto tanto.

— Sobre o quê?

— Essa… Coisa toda.

Ele balançou a cabeça. — Isso teria acontecido mais cedo ou mais tarde.

— Mas eu...

Wrath baixou a boca até a dela e beijou-a suavemente. — Nada mais disso. Vamos em frente a partir de hoje. Aconteça o que acontecer… A gente fodidamente lida, ok?

Não houve tempo para a resposta. Abruptamente, a necessidade se preparou mais uma vez, a maré crescente, o calor desenrolou-se em seu sexo e se dirigiu direto até seu coração.

— Oh, Deus, – ela gemeu, — Eu pensei que tudo tinha acabado.

— Ainda não. – Ele não parecia surpreso. — Nós não terminamos…

 

iAm estava parado no fogão da cozinha quando sentiu a presença do seu irmão. Ele nem precisou se virar da panela de ensopado que estava fazendo: O ar no cômodo mudou, e não no bom sentido.

Trez também não estava sozinho. E ele sabia disso, não porque ele... Sentiu o cheiro de Selena, mas porque sentiu o do irmão.

iAm xingou em voz baixa à medida em que se virava. O filho da puta tinha se vinculado.

Fantástico.

Diabos, iAm tinha alguma esperança de que, com todos os hormônios inundando a casa, seja qual for o sexo que aqueles dois chegaram, diminuiriam com o resultado de outra pessoa em necessidade.

Grande teoria. Exceto que Sombras eram imunes a esse tipo de merda.

— Você não deveria ser a pessoa que o iria atender, – iAm murmurou enquanto colocava mais sal marinho na mistura.

— Cuidado com o tom de voz.

iAm virou e olhou para o idiota. — Eu tenho uma ideia. E quanto a você, por uma vez, tome uma boa decisão sobre uma fêmea. Então eu não vou ter que ficar irritado.

A Escolhida de pé ao lado de Trez ergueu o queixo. — Se você quiser culpar alguém, não se dirija a ele. Eu escolhi ir até ele, embora você tenha pedido outra.

iAm voltou para sua panela. — Ótimo. Parabéns e bem-vinda à família.

Seu irmão se materializou até ele, girou em torno dele e agarrou-o pelo pescoço. — Peça desculpas a ela...

iAm pegou o punho de ferro, mostrando suas presas. — Foda-se, Trez.

— Você quer uma arma? – Seu irmão rosnou. — Você quer uma porra...

— Faça isso. Porra, eu te desafio...

— Não me force...

— Estou tentando salvar seu rabo! Porra...

Quando a dupla foi em direção a uma implosão para rivalizar com a de Wrath na noite anterior, a Escolhida se aproximou e falou calmamente.

— Ele me disse, – ela cortou a conversa. — Tudo. E me parece que vocês dois estão sozinhos nessa situação. Então, talvez a Última Refeição em vez de socos, poderíamos?!

iAm virou a cabeça ao mesmo tempo que Trez.

Quando os dois se defrontaram com a Escolhida totalmente calma e controlada, Trez fez o inédito e deixou cair a mão. Desceu. Cruzou os braços sobre o peito.

Ele ainda estava furioso até a medula, mas o puxão de orelha foi obedecido com tal facilidade, que você tinha que se perguntar se talvez a merda do vínculo não pudesse ser útil a um ponto.

iAm olhou para seu irmão. — Não sei o que dizer a você.

— Selena, você nós dá um segundo?

A Escolhida assentiu. — Talvez eu só retorne para o norte. E dê a você dois bastante espaço.

Trez franziu o cenho. — Você não tem que ir.

Os olhos de Selena iam de um lado para outro. — Na verdade, eu acho que tenho. Você sabe onde eu vou estar, e, por favor, não rasgue um ao outro em pedaços. Só vai tornar tudo isso pior.

iAm se preparou para uma exibição nojenta de despedida, mas a fêmea o impressionou ainda mais, curvando-se ligeiramente e partindo. Nenhuma bagunça, nenhum rebuliço.

Merda, quase podia com ela. Se ele não estivesse tão bravo com seu irmão idiota...

— Eu gostaria de encontrar s'Ex. Hoje.

iAm cruzou os próprios braços e encostou-se no fogão. — Porque você pensa que ele vai ser razoável? Já tenho o bastardo real, e está mais do que pronto para fazer seu trabalho.

— Você pode chegar a ele?

— Sim.

— Diga a ele para me encontrar ao meio-dia em nosso apartamento.

— Esse é o prazo para você se apresentar no s'Hisbe. – Quando seu irmão não respondeu, iAm levantou as sobrancelhas. — Você não está se entregando, não é?

— Marque a reunião.

iAm xingou muito e baixo. Sim, ele queria chutar o traseiro do seu irmão, mas absolutamente, positivamente ninguém mais. — Trez.

— Faça isso.

— Não a menos que me diga onde você está.

— Pensei que você quisesse que eu voltasse.

— Então é isso que você está fazendo? Diga-me uma coisa, você está pensando em trazer a sua Escolhida com você, criar uma pequena família feliz ou algo assim?

— Ela não é minha.

— Você já disse isso aos seus hormônios?

Trez cortou o ar com sua mão. — Não sei sobre o que está falando...

— E esse é seu fodido problema.

— Basta ligar para o executor. Isso é tudo o que tenho a dizer.

Quando Trez girou nos calcanhares, iAm falou bruscamente. — Eu não posso deixar você voltar lá.

Trez parou. Olhou por cima do ombro.

— O que, – iAm reclamou.

— Eu só... Eu não sei. Eu acho que não esperava por isso.

Hora de voltar para o molho. Ensopado. Que diabos ele estava fazendo de novo?

Tirando a tampa, ele pegou sua colher e mexeu lentamente. Ele tinha feito à mão tudo, desde o caldo de galinha até os temperos que estavam flutuando na superfície da mistura perfumada.

— iAm?

— Eu não me importo se eles morrerem. – Ele viu as rodelas de cenouras e pedaços de cebola na superfície espessa da base. — Eu sei que eu deveria, porque eles são meus pais, mas eu já pensei sobre isso e eu sinto muito, se eles podem ser egoístas, então eu posso. Minha família é você e eu, e eu o escolherei acima de qualquer um.

— Deus... Eu acho que precisava que você me dissesse isso.

Ele lançou outro olhar. — Você duvidava? Tipo, alguma vez?

Trez atravessou e sentou em um dos tamboretes do balcão. — Há limites.

iAm teve que rir. — Você não disse.

Indo para os armários na esquerda, ele tirou duas tigelas, em seguida, abriu uma das gavetas e pegou algumas colheres de sopa. Colocando o ensopado, ele serviu seu irmão primeiro.

Trez provou e gemeu. — Isso é incrível.

Quando iAm provou a merda, ele teve que concordar, mas manteve isso para si mesmo. O orgulho era uma característica sem atrativo, mesmo que fosse bem colocado.

— O que vai fazer sobre a Escolhida? – iAm perguntou.

Trez deu de ombros e era apenas um poooooouco também indiferente. — Nada.

— Não sei se vai funcionar assim para você.

Trez olhou para o ensopado. — Ela é apenas mais uma razão para ficar do lado de fora. Não que eu precisasse.

— Ela disse que você contou tudo para ela. É verdade?

Passou um longo tempo antes de Trez balançar a cabeça lentamente. — Sim. Praticamente.

— O que exatamente você manteve para si mesmo.

Aqueles olhos negros se ergueram depois de um tempo. — Segundos?

iAm agarrou a tigela agora vazia e trouxe-a para repetir.

— Eu não lhe disse o quão ruim vai ficar, – disse Trez baixinho quando mais ensopado foi entregue.

— Então você mentiu.

Houve outro longo silêncio. — Sim. Eu fiz.

Porque depois que a rainha eliminasse seus pais? A tribo iria vir atrás de iAm. Ele era o próximo degrau na escada da coerção porque eles não podiam tocar em Trez, afinal. Ele tinha que estar inteiro.

iAm se viu assentindo. — Provavelmente uma boa jogada.

 

Era fácil pensar em Deus enquanto via a saída do sol sobre o Rio Hudson.

Quando Sola sentou-se no terraço vazio da casa de vidro de Assail, ela olhou através da água fria e parada. Pequenos flashes de cor pêssego e amarelo rapidamente apareciam sobre a expansão de gelo onde, do outro lado do caminho, a grande esfera laranja coroava os prédios do centro.

Ela conseguiu sair desta prisão, pensou pela enésima vez. E apesar das cicatrizes que se formaram dentro dela, seu corpo estava intacto, sua mente funcional e tinha segurança, pelo menos por agora.

Pensando em todas as orações que fez, ainda não podia acreditar que foram atendidas. O desespero a fez pronunciar as palavras, mas realmente não esperou que alguém fosse escutá-la.

A pergunta agora era… Manteria sua parte no acordo?

Cara, teria sido muito mais fácil se um anjo com asas tivesse descido e a livrado, magicamente, colocando-a ali. Em vez disso, ela fez o trabalho sujo sozinha e Assail a limpeza. Ah, e um desses primos ferozes dele tinha sido motorista para a viagem de cinco horas de volta à sanidade. Ah, e em seguida havia todas aquelas pessoas naquele prédio.

Simples mortais tocados pela mão de Deus? Ou uma série de eventos aleatórios que só aconteceu para saírem como fizeram? Sua vida foi salva de um caso de intervenção divina… Ou não significava mais do que sorte?

Percebeu um barco de pesca ocioso em sua visão, seu único passageiro dirigindo um motor de popa na parte de trás, controlando a velocidade e a direção.

Puxou a manta pesada ao redor de seu corpo, pensou em todas as coisas que fez, começando quando ela tinha apenas nove ou dez anos. Começou roubando carteiras, treinada por seu pai e depois passou para roubo mais complexo, com sua ajuda. Então, depois que ele foi para a prisão e ela e sua avó mudaram-se para os Estados Unidos, conseguiu um trabalho como caixa em um restaurante tentando sustentar ambas. Quando isso provou ser muito difícil, colocou sua experiência em bom uso e sobreviveu.

Sua avó nunca fez nenhuma pergunta, mas ela sempre foi assim e sua mãe da mesma forma, exceto quando se tratou da participação de Sola em sua vida. Infelizmente, a mulher não viveu o suficiente para causar um grande impacto e depois que ela se foi, o marido e a filha que ela deixou para trás ficaram mais próximos.

Bem.

Mais cedo ou mais tarde, iriam ser pegos. Inferno, seu pai era ainda muito melhor que ela e ele morreu na prisão.

Pensou na última vez que o viu, lembrou-se de seu julgamento, usando um uniforme de prisioneiro, algemado.

Mal olhou para ela, e não porque estivesse envergonhado ou preocupado por mostrar-se sentimental.

Ela já não era útil para ele naquele momento.

Esfregando os olhos, ela pensou que era estúpido continuar sofrendo por isto. Mas depois de passar tanto tempo tentando deixá-lo orgulhoso, ter sua aprovação, encontrar qualquer tipo de conexão, ela percebeu que para ele, não era mais que uma ferramenta em seu local de trabalho no mercado negro.

Ela deixou a sala do tribunal antes de saber se ele foi declarado culpado ou não, e foi diretamente para seu apartamento. Entrando em casa, foi direto buscar o dinheiro que guardava em um espaço pequeno na parede atrás do banheiro e usou esta merda para libertar a ela e sua avó deste legado.

Os documentos para entrar nos Estados Unidos foram falsificados. As notícias que receberam mais ou menos três semanas depois foram bem reais: seu pai foi condenado.

E então foi assassinado na prisão.

Com sua avó sendo viúva e sem filhos, Sola ocupou o papel de provedora da única maneira que conhecia, da única maneira que funcionava.

E agora ela estava ali, sentada no terraço da casa de um traficante, enfrentando o tipo de dilema moral que ela nunca esperou enfrentar...

Observou o pescador desligar o motor e lançar o anzol.

Apesar dele ter desligado o motor, não estava parado. A correnteza do rio o fazia balançar e se afastar de sua visão, uma arte humilde contra os edifícios distantes.

— Você quer tomar o café da manhã?

Sola deu a volta. — Bom dia.

Sua avó tinha o cabelo solto em cachos ao redor de seu rosto, seu avental amarrado na cintura, e um pouco de batom em sua boca. Seu vestido de algodão simples foi feito à mão por ela, claro e seus robustos sapatos marrons eram de algum modo apropriado.

— Sim, por favor.

Quando ela foi se levantar, sua avó fez um gesto com ambas as mãos. — Sente-se ao sol. Você precisa de sol, está muito pálida. Você vive como um vampiro.

Normalmente ela teria respondido, mas não esta manhã. Estava muito grata por estar viva para fazer qualquer coisa diferente de concordar.

Virando-se novamente, viu que o pescador estava desaparecendo à direita, afastando-se.

Se ela não houvesse orado, teria saído daquele lugar de qualquer maneira. Era uma sobrevivente, sempre foi e esteve em uma espécie de piloto automático, ocultando suas emoções e sensações físicas para fazer o necessário.

Agora olhava para seu futuro, as correntezas de sua vida a levavam para longe por assim dizer… Aproveitar era a coisa mais certa a se fazer.

Independentemente de qualquer “acordo” que tivesse com Deus.

Ela iria acabar na prisão ou morta, já que tinha um pé no frio glacial de uma situação sem saída. Não onde ela queria terminar.

Por causa da luz, desistiu de ficar olhando para longe, fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás. O calor em seu rosto a fez pensar em Assail.

Estar com ele era como tocar o sol e não se queimar e seu corpo queria mais, inferno, apenas a ideia de tocá-lo era suficiente para levá-la de volta aos momentos que passaram na cama, a noite tranquila, a respiração forte.

Como seus peitos se tocando, ela o sentiu entra as coxas.

— Sola, está pronto. –— Sua avó disse atrás dela.

Levantando-se, ela se inclinou na sacada de vidro, tentando encontrar o pescador. Não conseguiu. Ele foi embora.

Brr, estava frio ali fora.

— Sola? – Chegou um toque gentil.

Estranho. Geralmente, a voz de sua avó era como suas mãos, nunca suave. De fato, ela falava como cozinhava; franca e sem nenhum tabu.

Mas agora o tom era o mais gentil que Sola já ouviu.

— Sola, vamos comer agora.

Sola tentou mais uma vez ver o pescador. Então deu a volta e enfrentou sua avó.

— Eu amo você, vovó.

Sua avó apenas movimentou a cabeça com aqueles olhos maduros. — Venha, você pegará um resfriado.

— O sol está quente.

— Não quente o suficiente. – Sua avó deu um passo atrás e fez sinais. — Você deve comer.

Quando Sola entrou na casa, congelou.

Sem olhar, sabia que Assail havia descido as escadas e estava olhando-a. Merda, não tinha certeza de que poderia evitar.

 

Depois de ser sequestrado e ficar em seu quarto pelos últimos dias, Trez achava que o mundo era uma extensão de seus sentidos, como ter uma luz estroboscópica em seu rosto e um fone de ouvido, ao chegar a Northway no centro de Caldwell, encontrou-se colocando os óculos de sol e desligando o rádio.

Do nada, algum estúpido saiu da pista dele e o ultrapassou, porra.

— Olha por onde vai! – Ele gritou para o para-brisa, tocando a buzina.

Por uma fração de segundo, esperou que o homem atrás do volante do Dodger fosse atrás dele. Queria golpear algo. Merda provavelmente seria bom praticar e se reunir com o Sr. Dodger, no entanto, já tinha sua sobrecarga de testosterona e seu pau do tamanho de um lápis na seguinte saída, passando na frente de uma caminhonete e um caminhão no processo.

— Idiota.

Com um pouco de sorte, o bastardo sairia do carro sem o cinto de segurança.

Mais ou menos dez minutos mais tarde, Trez passou a andar a sessenta quilômetros por hora e entrou em um labirinto de um único sentido. Confrontado por todos os semáforos e os sinais de parada, seu cérebro perdeu o caminho para o condomínio.

Quando uma buzina soou atrás dele, fechou os vidros e pisou no acelerador. Por fim, se viu obrigado a dirigir ao redor de um estacionamento com vinte andares, tendo que reduzir quase a zero a medida que entrava pela rampa. Enquanto descia, conseguiu pegar seu cartão na viseira, passar pelo leitor e entrar em sua vaga reservada.

O passeio de elevador levou cinquenta anos e então estava pisando no tapete do corredor. Seu apartamento era pequeno, então ele usou a porta principal, não a de serviço, usando sua chave de cobre.

Quando entrou na cozinha, viu duas xícaras de café no balcão, um saco de batatas fritas Cape Cod aberto e uma cafeteira quase cheia.

Ele fez uma pausa na GQ aberta. Já esperava por isso. — Belo casaco. – Murmurou enquanto fechava a revista.

Não havia razão para acender nenhuma lâmpada. O dia estava ensolarado e o vidro da janela deixava entrar muita luz.

A forma negra imponente que chegou do terraço era um presságio de destruição, se ele alguma vez já viu um.

Andando a passos largos, Trez abriu a porta com a mão e saiu, fechando-a a suas costas.

A voz de s’Ex seja sob o capuz de executor estava levemente divertida. — Seu irmão me convidou.

— Eu não sou meu irmão.

— Sim. Nós notamos. – Quando o homem da rainha cruzou seus braços acima do peito, seus antebraços volumosos se contraíram sob o tecido. — A que se deve a honra de minha presença?

O fato de que fazia muito frio lá parecia apropriado. — Eu não quero que foda com meus pais.

— Então você precisa voltar. Isto é tudo. – O executor inclinou-se. — Não diga que você me chamou com esperança de negociar. Fez isto? Com certeza você não é tão estúpido.

Trez mostrou suas presas, mas logo as retraiu. — Há algo que queira. Todo mundo tem um preço.

O executor levantou a mão e lentamente tirou o capuz. O rosto atrás das dobras de pano preto era bonito como o pecado… E tinhas os olhos com o calor de granito no inverno.

— Por que iria arriscar minha própria vida pela de seus pais? Se eu desobedecer uma ordem, haverá consequências e nenhum de vocês valem isto.

— Você pode conversar com a rainha. Ela o escuta.

— Suponha que isto seja certo e não estou dizendo que é, por que eu faria?

— Porque há algo que você quer.

— Desde que você parece saber tudo, o que exatamente acha que é? – O executor disse em um tom entediado.

— Você está preso ali como qualquer um deles. Eu me lembro de como é e posso garantir, a vida deste lado dos muros é bem melhor.

— É por isso que você se vê como uma merda, então?

— Pense sobre isto. Eu posso conseguir para você qualquer coisa do lado de fora. Qualquer coisa.

Os olhos do executor se estreitaram. — Lutar por eles não te salvará.

— Matá-los não vai me trazer de volta. E é por isso que o faria isto, certo? Então vá até a rainha, diga a ela que conversou comigo diretamente e eu não me importo se matá-los. Então sugira que ela tire deles tudo que lhes foi dado, casas, joias que adquiriram com a recompensa que receberam, a comida em seus armários. Tudo. Isso fará com que seja rainha novamente. Ela não perderá nada.

— Besteira. Ela não tem um meio para chegar a sua filha. Toda esta “restituição” não resolve o fato de que a princesa não tem um companheiro.

— Não vou ser eu. Estou dizendo a você agora. Vocês podem foder meu pai e minha mãe, podem me ameaçar fisicamente, podem destruir minha casa.

— E se apenas o levo agora?

Trez buscou a arma que tinha colocado na cintura da calça na parte baixa das costas. Não apontou para s’Ex. Colocou sob seu próprio queixo.

— Se você tentar, puxarei este gatilho. Então terá um corpo morto e a menos que a filha dela seja uma cadela doente, ela não irá me querer.

s’Ex ainda estava imóvel. — Você está fora de sua maldita mente.

— Tudo o que quer é o exterior s’Ex. Você cuida disto para mim e eu cuidarei de você.

Quando o executor da rainha considerou o acordo, Trez suavemente respirou, e pensou nas únicas duas pessoas que realmente importava. Selena… Jesus Cristo, ele a desejava, mas não era bom para as predileções das Escolhidas. Inferno, ainda que este acordo funcionasse, ele ainda seria um cafetão e nada teria mudado o seu passado.

E então havia iAm.

A ideia de perder seu irmão era… Nem sequer podia pensar. Mas o homem estaria melhor sem ele se não pudesse solucionar este problema.

— Fico surpreso por querer salvar seus pais deste mal. – s’Ex disse de repente.

— Você está brincando? Se perderem seu posto, será pior que a morte para eles. O que fizeram comigo arruinou minha vida e a do meu irmão. Esta merda é vingança. Além disso, como eu disse, não importa o que façam com eles, eu não vou voltar lá.

O executor parou bruscamente e passeou pelo terraço, sua capa rodando ao seu redor com uma promessa de violência, sua respiração como fogo de dragão.

Depois de um longo momento, ele apertou as mãos atrás das costas, e voltou.

Passou um minuto antes de finalmente falar, e quando o fez, não estava olhando para Trez. Estava olhando fixamente para a porta de vidro do apartamento.

— Eu gosto deste lugar.

Trez manteve a arma de fogo em seu queixo, mas sentiu uma punhalada de… Esperança? Bem, não aquela alegre, uma emoção, certamente. Mas talvez houvesse uma solução afinal.

s’Ex ergueu uma sobrancelha. — Três quartos, dois banheiros e uma cozinha agradável. Bastante luz. Mas as camas são as melhores, grandes.

— Se quiser, é seu.

Quando os olhos de s’Ex deslizaram de volta para ele, Trez ouviu a frase sobre fazer um acordo com o diabo repetidas vezes em sua cabeça.

— Está faltando algo.

— O que?

— Mulheres. Eu quero mulheres. Eu direi a você quando. E quero três ou quatro de cada vez.

— Conseguirei isto. Diga a data e a hora e as terei aqui para você.

— Tão seguro de si mesmo.

— Que merda você acha que faço para viver?

Os olhos de s’Ex chamejaram. — Eu pensei que fosse o dono de um clube.

— Eu não vendo apenas álcool. – Ele murmurou.

— Hmm, que trabalho. — O executor franziu o cenho. — Apenas para que fique claro, ela pode ordenar que vá atrás de seu irmão.

— Então eu terei que matá-lo.

s’Ex lançou a cabeça para trás e riu. — Muito convencido.

— Quero deixar tudo perfeitamente claro. Você toca iAm e eu acharei você. Sua última respiração será minha e seu coração ainda estará morno quando tirá-lo de seu peito para comê-lo.

— Sabe, é uma maravilha nós nos darmos tão bem.

Trez estendeu a mão livre. — Chegamos a um acordo?

— Temos que considerar a rainha. Posso não ser capaz de influenciá-la. E apenas para que saiba, se ela não quiser seu prazo estará acabado.

— Então os mate. – Ele segurou o olhar s’Ex sem oscilar. — Eu falo sério.

O executor balançou a cabeça, como se considerando todos os ângulos. — Sim, evidentemente que sim. Encontre-me aqui ao meio-dia amanhã com uma amostra e eu verei o que eu posso fazer no Território.

Antes de s’Ex desaparecer, o macho apertou brevemente a mão estendida. E então se foi, como um pesadelo banido ao se despertar.

Infelizmente… Trez sabia que o homem voltaria.

A pergunta era, com que notícias. E que tipo de apetite.

 

Passava da hora do um último pôr do sol quando Abalone deixou sua casa, desmaterializando-se fora de seu gramado lateral. A noite estava extremamente fria, e quando ele se materializou na propriedade de uma das famílias mais ricas da glymera, levou um momento aspirando até que seus seios nasais ficaram entorpecidos.

Outros estavam se reunindo, os machos e as fêmeas apareceram na escuridão, endireitando suas peles, roupas finas e joias antes de andarem a passos largos em direção à luz.

Com o coração pesado, ele seguiu.

As grandes portas esculpidas da mansão estavam abertas pelo doggen, a equipe imóvel em seus librés, nada além de tinindo.

A dona da casa, do modo que deveria, estava de pé debaixo de um lustre no foyer, o vestido dela de alta costura vermelho claro, caía até o chão em seda drapejada. Suas joias eram rubis, os intervalos em sua garganta, suas orelhas e seus pulsos eram uma exibição de ostentação.

Por nenhuma razão particular pensou que as pedras preciosas vermelhas da verdadeira rainha da raça eram muito melhores, maiores, mais claras. Ele viu uma pintura a óleo da majestosa fêmea no passado, no Velho Continente, e mesmo destilada através da pintura e da idade, o Rubi Saturnino e suas contrapartes tinham um brilho que destruiria a pretensão antes dele.

O companheiro da anfitriã não estava em nenhum lugar à vista. Entretanto novamente, aquele macho tinha dificuldade de ficar de pé longos períodos de tempo.

Ele não permaneceria no mundo muito tempo.

A linha de recepção que se formou rapidamente prosseguiu, e logo Abalone estava beijando a bochecha com pó compacto da fêmea.

— Que bom que você pode vir, – ela disse grandiosamente, mostrando atrás dela. — A sala de jantar, se você quiser.

Enquanto seus rubis relampejavam, ele imaginou sua filha como tal, uma grande dama em uma grande casa com olhos vítreos.

Talvez o castigo por não aceitar esta afronta ao trono tenha valido a pena. Ele encontrou o amor com sua shellan pelos anos em que ela tinha estado na Terra, mas isso tinha sido sorte, viria a perceber. A maior parte de seus contemporâneos, agora sacrificados nos ataques, viveram sem amor, em relações assexuadas que revolviam em torno do circuito de festa em vez da mesa de jantar da família.

Ele não queria aquilo para sua filha.

No entanto, se o amor aconteceu para ele, seguramente haveria uma chance para ela até mesmo na glymera?

Certo?

Caminhando para a sala de jantar, ele achou que estava da mesma maneira que tinha estado quando o Rei recebeu a todos bem recentemente: A fina mesa longa foi retirada e vinte ou mais cadeiras foram instaladas em filas. Desta vez, porém, os sobreviventes da aristocracia estavam estabelecendo-se em conjunto com suas companheiras.

Normalmente as shellans não eram incluídas em reuniões do Conselho, mas não havia nada habitual sobre este encontro. Ou no último.

E realmente, o encontro deveria ter sido mais sombrio, ele pensou enquanto escolhia uma cadeira recoberta de seda na parte de trás: Em oposição para exibir qualquer respeito pelo significado histórico, o perigo, a natureza sem precedente de tudo isso, eles estavam conversando entre si, os cavalheiros vociferando, as damas lançando suas mãos com maneirismos, de forma que suas joias brilhassem.

De fato, Abalone estava sozinho na fileira de trás, e em vez de saudar àqueles que conhecia, livrou o botão de seu paletó e cruzou a perna na altura do joelho. Quando alguém acendeu um charuto, ele tirou um charuto e fez o mesmo, apenas para dar a si mesmo algo para fazer. E quando um doggen apareceu imediatamente em seu cotovelo com um cinzeiro em um suporte de bronze, ele movimentou a cabeça agradecendo e focando-se em bater a cinza.

Era peixe pequeno para todos eles, porque há muito tempo decidiu que, debaixo do radar era melhor. Seu sangue viu de primeira mão as crueldades da corte e da sociedade, e aprendeu aquela lição lendo os diários que tinham sido passados a ele. A verdade era que tinha recursos financeiros que todos juntos nesta sala, mal podiam reunir.

Obrigado, computador da Apple.

O melhor investimento que alguém nos anos oitenta poderia ter feito. E então houve um grande laboratório farmacêutico nos anos noventa. E antes disto? As corporações de aço e companhias de via férrea em torno da virada do século.

Ele sempre teve um talento para onde os humanos iriam querer ir tanto com seus entusiasmos quanto com suas necessidades.

Se a glymera soubesse disso, sua filha seria um artigo de grande valor.

O que era a outra razão pela qual não conversava sobre seu patrimônio líquido.

Incrível a que distância sua linhagem chegou ao longo dos séculos. E pensar que eles deviam tudo isso ao pai deste Rei.

Dez minutos mais tarde, a sala estava cheia... E isto, mais do que uma festa... Uma festa simulada, era o sinal de que a glymera tinha pelo menos alguma apreciação de magnitude do que eles estavam fazendo. Elegantemente atrasado não se aplicava esta noite; as portas iriam ser bloqueadas exatamente…

Ele verificou seu relógio.

…Agora.

Com certeza, houve um som reverberando como madeira pesada deslizando pela casa.

Tudo e todos se sentaram e ficaram mudos, e foi quando pode contar as cabeças e descobrir quem estava faltando. Rehvenge, o leahdyre, é claro... Ele se aliou com Wrath e ninguém iria abalar esta ligação. Marissa também estava faltando, embora seu irmão, Havers, estivesse aqui... Entretanto ela era emparelhada com aquele Irmão que ninguém realmente sabia quem era, supostamente da linhagem de Wrath.

Naturalmente, ela estaria ausente também...

As portas com painéis à direita da lateral da lareira se abriram e seis machos entraram. Imediatamente, os reunidos se endireitaram em suas cadeiras. Ele reconheceu dois deles imediatamente... O aristocrático bloqueando a frente… E o feio com lábios leporinos atrás, que tinham lhe visitado com Ichan e Tyhm. Os quatro entre as sombras eram da mesma cor escura: grandes e encorpados, olhos afiados de lutadores que estavam em alerta, mas não inquietos, prontos, mas não sacando as armas.

O controle deles era a coisa mais assustadora sobre eles.

Apenas alguém destemido poderia estar relaxado nesta situação...

A dona da casa levou seu hellren, o macho curvando-se assim como a cabeça da bengala que usava com a mão livre, seu cabelo branco, seu rosto enrugado como cortinas pregueadas.

Ela o sentou como se ele fosse uma criança, organizando seu paletó, alisando sua gravata vermelho claro.

Em seguida, ela se dirigiu aos reunidos, as mãos apertadas como uma soprano soltando a voz em uma melodia para uma casa lotada. Seu brilho chamando a atenção sobre ela era completamente inapropriado, Abalone pensou.

De fato, esta coisa toda era um pesadelo, pensou enquanto batia suas cinzas novamente.

Enquanto sua boca trabalhava, expelindo agradecimentos e reconhecimentos, ele perguntou-se como as coisas iriam ficar para ela depois que seu “amado” fosse para o Fade. Indubitavelmente, aquilo dependia do testamento, se era um segundo emparelhamento, e se havia um jovem de linhagem de sangue precedendo-a na corrida das posses.

Ichan foi o próximo a subir no palco. — …Encruzilhadas... Medidas necessárias... Trabalho de Tyhm para expor a fraqueza definidas antes da raça... Companheira mestiça… Herdeiros com um quarto de raça…

Era a retórica que foi dita a ele, o recapitular simplesmente fazendo pose para fingir que isto era a primeira vez que alguém ouvia falar disto. Mas tudo tinha sido preparado, as expectativas atingidas antecipadamente, as repercussões declaradas tão necessárias.

Abalone olhou para o canto mais distante da sala. Tyhm, o requerente, estava de pé com toda a predisposição de um cabide, seu corpo longo e magro mantido firmemente na vertical. Ele estava nervoso, seus olhos um tanto extasiados e piscando muito.

— …Voto de não confiança deve ser unânime para esta suprema maioria do Conselho. Alem disso, suas assinaturas serão anexadas com selos neste documento preparado por Tyhm. – Ichan levantou um pergaminho com seus símbolos no Antigo Idioma, desenhados com cuidado em tinta azul... E então apontou para uma linha de fitas multicoloridas, uma tigela de prata esterlina de velas vermelhas, e uma pilha de guardanapos de linho branco. — Todas as suas cores estão presentes aqui.

Abalone olhou para o anel de sinete de ouro volumoso que assentava fortemente em sua mão. Era o que seu pai usava, a crista esculpida tão profundamente no metal que até depois da passagem dos séculos, o contorno, os redemoinhos, os ícones eram óbvios.

Na verdade, o ouro do anel tinha sido sem duvida brilhante, quando foi lançado, mas agora era fosco de uma patina desgastada, conquistado pelos machos de sua família. Honradamente conquistado.

Isto estava errado, pensou uma vez mais. Toda esta construção contra Wrath era falsa, tamborilando apenas para servir as ambições de aristocratas que não eram merecedores do trono: Eles não se importavam com a pureza do sangue dos herdeiros. Era apenas o vocabulário designado para justificar a meta deles.

— Nós podemos ter um voto? – Ichan olhou para a multidão. — Agora.

Isto estava errado.

A mão de Abalone começou a agitar de tal forma que ele soltou o charuto no chão... E não conseguia se mover para pegá-lo.

Não diga não para isto, ele disse a si mesmo. Levante-se para que isto...

— Todos a favor, digam, “Aye”.

Ele não falou. Embora não porque tivesse coragem para ser o único a “negar” quando a dissidência foi solicitada.

Ele não abriu a boca em seguida, também.

Abalone abaixou a cabeça como o martelo do juiz batendo na madeira.

— O movimento está feito. O voto de não confiança passou. Vamos todos agora juntar-nos como um para enviar esta mensagem de mudanças para nossa raça.

Abalone abaixou-se e recuperou seu charuto. O fato de que queimou um pequeno buraco no chão envernizado pareceu apropriado.

Ele estava deixando uma mancha no legado de seus antepassados esta noite.

Em vez de ir adiante até o pergaminho, ficou onde estava como cada representante das famílias e todas as fêmeas erguendo-se e se posicionando para Ichan, desempenhando seu papel enquanto selos e fitas eram anexados. Era como assistir atores em um palco, cada um deles apreciando seu momento na luz, o foco neles.

Eles sabiam o que estavam fazendo? Ele pensou. Passando as rédeas para quem... Ichan? Como uma fachada para aqueles lutadores? Isto seria desastroso...

— Abalone?

Agitando-se ao som de seu nome, ele olhou para cima. A sala inteira estava olhando fixamente para ele.

Ichan sorria adiante.

— Você é o último, Abalone.

Agora era a oportunidade para estar à altura do nome de seu avô. Agora era seu momento para expressar sua opinião de que isto era um crime, isto era...

— Abalone. – Ichan estava ainda sorridente, mas havia uma forte demanda em seu tom. — Sua vez. Para seu sangue.

Quando derrubou o charuto no cinzeiro, sua mão estava novamente tremendo, sua palma suada. Limpando sua garganta, ele ergueu-se, pensando sobre a coragem de sua linhagem, o modo como seu antepassado fez o que era certo apesar do risco.

A imagem de sua filha transpassou por sua fonte de emoção.

E ele sentiu os olhos dos outros como mil miras a laser apontada para ele.

Com intento de matar.

 

Quando Wrath ouviu uma batida na porta abobadada de seu aposento de aparelhamento, amaldiçoou baixinho e ignorou.

— Wrath, você deve receber quem quer que seja.

Ele tomou outra colherada da rica sopa que tinha sido preparada com os legumes que ele buscou e cavou a terra ele mesmo. O gosto era sutil, o caldo cheiroso, os pedaços de carne da pata de uma vaca recém-abatida de seus estábulos.

Que ele próprio matou.

A batida veio novamente.

— Wrath, – Anha repreendeu quando se ergueu mais alto sobre os travesseiros. — Você é necessário para os outros.

Ele não tinha nenhuma noção do tempo, se estava claro ou escuro, quantas horas ou noites haviam se passado desde que ela voltou para ele. E não se importava. Da mesma maneira que não se importava com os caprichos do tribunal ou as preocupações dos cortesãos...

Mais batida.

— Wrath, dê-me a colher e pode responder a esta porta, – sua fêmea comandou.

Oh, isso o fez sorrir. Ela estava realmente de volta.

— Seu desejo é meu comando, – ele disse, colocando a tigela larga no colo dela e dando-lhe o utensílio que usou.

Teria preferido muito mais continuar a alimentá-la ele mesmo. Mas vê-la capaz de administrar o esforço sem derramar, e efetuar o processo de obter mais alimento em sua barriga? Isto o aliviou internamente.

E ainda infelizmente, uma mortalha ainda pairava sobre ambos: Nem ele nem ela falavam sobre o jovem... Sobre se o que aconteceu a Anha roubou-lhes ou não o maior desejos deles.

Era muito doloroso para falar disso... Especialmente levando em conta a revelação feita por Tohrture...

— Wrath. A porta.

— Sim, meu amor.

Caminhando através dos tapetes soltos, ele estava pronto para decapitar quem ousou intrometer-se na cura.

Exceto que quando abriu os painéis pesados, ele congelou.

Fora no corredor, a Irmandade da Adaga Negra estava amontoada, seus corpos de lutadores sufocando mais do que era de outra forma o espaço amplo.

Instinto de proteger sua shellan o fez desejar um punhal em sua mão quando saiu e fechou a porta atrás dele.

Realmente, aquele desejo de defender seu território o fez enrolar os punhos para cima, embora nunca tivesse sido treinado para lutar. Mas ele morreria para salvá-la...

Sem uma palavra, suas lâminas pretas surgiram, a luz das tochas capturando e piscando através daquelas superfícies mortais.

Com o coração batendo, ele se preparou para um ataque.

Exceto que não era: Cada um deles afundou de joelho, inclinando suas cabeças, e atingiram o chão, suas adagas clicando na pedra do chão.

Tohrture ergueu aqueles incríveis olhos azuis primeiros.

— Comprometemo-nós a vós e somente a vós.

E então todos eles olharam para ele, o respeito deles claro em seus rostos, aqueles corpos incríveis se prepararam para serem chamados a serviço dele, por ele... E apenas daquela maneira.

Wrath colocou a mão sobre seu coração e não conseguiu falar. Não percebeu até este momento o quão sozinho ele tinha estado, apenas sua shellan e ele contra o mundo... O que pareceu suficiente. Até agora.

E isto era tão oposto da glymera. Os gestos dos cortesãos eram sempre feitos em público, e não tinha mais profundidade do que qualquer desempenho... Uma vez executado, era passado.

Mas estes machos…

Por tradição e costume, o Rei não se curvava para ninguém.

E ainda assim ele se curvou agora. Profundamente e reverentemente.

Lembrando-se das palavras que ouviu seu pai falar, ele pronunciou.

— O voto de vós é aceito com gratidão por seu Rei.

Então ele pronunciou algo que era só dele: — E isto é devolvido. Prometo a vós, a cada e todos, que devo fornecer-lhes a fidelidade que ofereceram e eu aceitei.

Ele encontrou cada um dos Irmãos nos olhos.

Seu pai usou estes machos especialmente criados pela força muscular deles, mas sua aliança tinha sido com a glymera principalmente.

O instinto disse ao filho que o futuro era mais seguro se o oposto fosse verdade: Com estes machos atrás dele, ele e sua amada e quaisquer jovens que poderiam ter, teriam uma chance melhor de sobrevivência.

— Há alguém que deseja se encontrar com vós, – Tohrture disse de sua posição no chão. — Estaríamos honrados de permanecer de guarda aqui em sua porta, enquanto atende a esta necessidade na recepção de seu aposento.

— Não devo deixar Anha.

— Se vós desejar, meu senhor, por favor, vá até o outro aposento. Este é aquele com quem vós preciseis falar.

Wrath estreitou o olhar. O Irmão estava inabalável. Todos eles estavam inabaláveis.

— Dois de vós vêm comigo, – ele ouviu-se dizendo. — O resto permanecerá aqui para ficar guardando-a.

Com um ruidoso grito de guerra, a Irmandade ergueu-se massivamente, seus rostos duros congelados no pior comentário sobre o estado das coisas. Mas quando eles se organizaram diante de sua porta acasalada, Wrath soube em seu coração que dariam suas vidas por ele ou por sua shellan.

Sim, ele pensou. Sua guarda privada.

Quando partiu, Tohrture entrou na frente dele, e Ahgony ficou atrás, e enquanto os três prosseguiam adiante, Wrath sentiu a proteção encobri-lo como uma cota de malha.

— Quem está nos aguardando, – Wrath suavemente disse.

— Nós o esgueiramos para dentro, – veio à resposta quieta. — Ninguém pode saber a identidade dele ou ele não durará uma quinzena.

Tohrture foi à pessoa que abriu a porta, e por causa de seu peso, não havia como ver quem era...

No canto mais afastado, uma figura encapuzada e coberta se levantou, mas não estava quieto: quem quer que fosse, estava tremendo, o drapejar do tecido sobre ele agitado pelo medo que continham dentro de seu corpo.

A porta foi fechada por Ahgony, e os Irmãos não deixaram seu lado.

Respirando, Wrath reconheceu o odor.

— Abalone?

Mãos pálidas como um fantasma tremeram seu caminho até o capuz e removeu-o.

Os olhos do jovem macho estavam arregalados, seu rosto destituído de cor.

— Meu senhor, – ele disse, caindo ao chão, curvando a cabeça.

Era o jovem, da família de cortesão de grau inferior, o último da formação de almofadinhas, a pessoa que estava lá pela graça do sangue em suas veias e nada mais.

— O que diz vós? – Wrath perguntou, inalando pelo nariz.

Ele pegou o odor de medo, sim... Mas havia algo mais. E quando definiu isto por si mesmo, ficou… Impressionado.

Nobreza não era ordinariamente uma emoção para ser cheirada. Isso era mais como a intenção do medo, tristeza, alegria, estimulação… Mas este rebento de um macho, apenas um ano depois de uma transição que tinha feito muito pouco para aumentar seu peso corporal ou sua altura, tinha um propósito debaixo de seu medo, uma motivação de direção que podia ser somente… Nobre.

— Meu senhor, – ele engasgou, — Perdoe minha covardia.

— Com respeito ao quê?

— Soube que… Eu soube o que eles fariam e não fiz… – Um soluço escapou. — Perdoe-me, meu senhor…

Quando o macho desabou, havia duas abordagens. Uma agressiva. E outra conciliatória.

Ele sabia que ficaria mais com a última.

Caminhando até o macho, ele estendeu a mão.

—Erga-se.

Abalone pareceu confuso ao comando. Entretanto aceitou a mão estendida e na direção que o levou a uma das cadeiras de carvalho esculpidas junto à lareira.

— Hidromel? – Wrath perguntou.

— N-n-n-não obrigado.

Wrath se sentou de frete ao macho, sua cadeira gemendo debaixo sob o peso que de um modo Abalone não tinha.

— Respire fundo.

Quando o comando foi obedecido, Wrath inclinou-se.

— Diga-me a verdade e devo poupá-lo do que quer que vós tema. Ninguém poderá tocá-lo... Desde que não mantenha nenhuma falsidade.

O macho colocou o rosto em suas mãos. Então respirou fundo novamente.

— Perdi meu pai antes de minha transição. Minha mãe, também, morta na cama de parto. Com estas perdas, sou como você é.

— É terrível ser deixado sem os pais.

Abalone soltou as mãos, revelando que seus olhos estavam fixos.

— Não deveria descobrir o que encontrei. Mas três madrugadas atrás, eu descia aos porões do castelo. Não conseguia dormir, e minha melancolia causou-me entrar no subterrâneo. Estava sem uma vela, e meus pés estavam mantidos dentro de suaves calçados de couro... Então, quando ouvi vozes, eles não perceberam minha aproximação.

— O que você viu, – Wrath perguntou suavemente.

— Há um quarto escondido. Debaixo das cozinhas. Nunca vi isto antes, porque a porta tem uma fachada para combinar com as paredes abaixo... E não teria notado isto… Exceto que o painel falso falhou em fechar corretamente. Travada sobre uma pedra, havia uma rachadura pelo qual meus olhos puderam focar. Do lado de dentro, haviam três figuras, e eles estavam circulados sobre um caldeirão sobre uma chama. Suas vozes estavam silenciosas, quando um deles adicionou folhas de algum tipo no que quer que estivessem aquecendo. O fedor era horrível... E eu estava para regressar e prosseguir sobre minhas preocupações… Quando ouvi seu nome.

Os olhos de Abalone fixaram em uma distância mediana, como se estivesse vendo e ouvindo novamente o que estava contando. — Exceto que ele não era vós. Era seu pai. Eles estavam discutindo como ele adoeceu e morreu... E tentando determinar a quantia adequada para alguém de estatura pequena. – O macho balançou a cabeça. — Eu recuei. Então corri. Minha mente estava revirada pelo que testemunhei, e assegurei a mim mesmo… Que deveria ter imaginado aquilo. Seguramente eles poderiam não terem estado conversando sobre seu pai, sua companheira. Foi apenas que tinham... Prometido a vós e seu sangue. Então como podiam ter tais coisas passando por seus lábios até os ouvidos de outros? – Claros olhos sinceros encontraram os de Wrath. — Como puderam fazer tais coisas?

Acalmando uma fúria interna, Wrath estendeu a mão e colocou-a no ombro do jovem. Embora suas idades não estivessem muito distantes, ele sentiu como se estivesse falando com um de uma geração imensamente diferente de sua própria.

— Não se preocupe com a motivação deles, filho. Os impuros estão confundidos com os íntegros.

Os olhos de Abalone pareceram bem.

— Convenci a mim mesmo de que estava enganado. Até a rainha… – Ele escondeu o rosto em suas mãos. — …Querida Virgem Escriba do Fade, quando a rainha caiu no chão, soube que falhei com vós. Soube que não era diferente daqueles que causaram dano, porque não parei o que deveria ter entendido...

Para evitar um completo desmoronamento, Wrath apertou aquele ombro sobressaltado.

— Abalone... Abalone, contenha-se.

Quando um mínimo de compostura retornou, Wrath manteve seu nível de voz, embora em seu interior, estivesse fervendo.

— Você não é responsável pelas ações dos nefastos.

— Eu devia ter vindo até você... Eles mataram a rainha.

— Minha companheira está viva e bem. – Não há razão para insistir na próxima perda. — Asseguro-lhe, que ela está muito bem realmente.

Abalone cedeu.

— Graças a Virgem Escriba.

— E está perdoado por mim e por ela. Você entendeu? Eu o perdoo.

— Meu senhor, – o macho disse, caindo novamente para o chão e pondo sua fronte no anel de diamante preto que Wrath usava. — Não mereço isto.

— Você o faz. Porque veio até mim, você pode fazer as reparações que procura. Pode levar um dos Irmãos para baixo até este lugar escondido?

— Sim, – o macho disse sem vacilar. Pulando de pé, ele colocou seu capuz. — Agora devo mostrar-lhes.

Wrath assentiu com a cabeça para Ahgony.

— Vá com ele?

— Meu senhor, – o Irmão disse, aceitando o comando.

— Há apenas uma coisa antes de você ir, – Wrath disse em um grunhido. — Pode me dizer quem eram eles.

Os olhos de Abalone encontraram os seus.

— Sim. Cada um dos três.

Wrath sentiu seus lábios erguerem-se em um sorriso, embora não sentisse nenhuma alegria ou felicidade em seu coração.

— Bom. Isto é muito bom, filho.

 

Havia uma vantagem em morar sozinho e ser renegado pelo único pai que ainda tinha: Quando você não voltava para casa durante um dia inteiro, ninguém estava se descabelando por causa de sua possível morte.

Certamente reduz os telefonemas, Saxton pensou enquanto se sentava em frente às portas duplas do escritório de Wrath.

Sentado num banco ornamentado, ele examinou o corrimão folheado a ouro. Silêncio. Nem mesmo os doggen limpando. Ou seja, algo estava acontecendo na casa, algo grande, ele podia sentir isto no ar, e embora ele não tivesse muita experiência com fêmeas, ele soube o que era.

Alguém estava em sua necessidade.

Não era a escolhida Layla novamente, claro. Mas ele ouviu que, quando uma fêmea entrava em sua necessidade, podia transmiti-la para outras, e foi certamente o que aconteceu.

Deus, tomara que não fosse Beth, ele pensou enquanto esfregava seus olhos cansados.

As coisas precisavam ser arrumadas antes dela.

— Você sabe onde ele está?

Saxton examinou o corrimão novamente. Rehvenge, o leahdyre do Conselho, conseguiu subir meio caminho pela escadaria principal sem que sua presença fosse sequer registrada.

E aparentemente, algo mais estava definitivamente acontecendo: Como sempre, o macho se mostrava uma figura imponente com seu casaco de visom e sua bengala vermelha, mas sua expressão ameaçadora o colocava em um território completamente fatal.

Saxton deu de ombros. — Eu também estou esperando por ele.

Rehv adiantou-se durante a segunda história e passou pela entrada do escritório como se fosse para ver por ele mesmo que ninguém estava lá. Então ele fez uma carranca, girou no salto dos sapatos LV, e olhou o teto, enquanto discretamente se reorganizava em suas calças.

E naquele ponto, ele empalideceu. — É Beth?

Não havia nenhuma razão para definir o que “isso” era. — Eu acho.

— Oh, caralho. – O leahdyre sentou no banco oposto e foi então que Saxton notou o tubo de papelão longo e fino que ele estava levando. — Só continua ficando pior.

— Eles conseguiram, — Saxton sussurrou. — Não é?

A cabeça de Rehv girou bruscamente e seus olhos de ametista estreitaram. — Como você sabe?

Você me odeia?

Sim, eu odeio.

Saxton desviou o olhar. — Eu tentei advertir o Rei. Mas… Ele estava indo cuidar de sua shellan.

— Você não respondeu a pergunta.

— Eu fui para a casa do meu pai para uma atuação de autoridade. E quando eu estava lá, eu compreendi a coisa inteira. – Ele agarrou seu telefone e rolou pelas fotografias, mostrando-as a Rehv. — Eu tirei estas escondido. São livros da Antiga Lei, todos abertos em referências de herdeiros e sangue. Como eu disse, eu esperava alcança-lo ontem à noite.

— Não teria importado. – Rehv varreu sua mão no seu curto Moicano. — Eles já tinham a faca e o queijo na mão.

Do outro lado, no começo do corredor de estátuas, a porta que levava para o ultimo andar se abriu. O que surgiu era…

— Puta merda. – Rehv sacudiu a cabeça e murmurou, — Agora nós sabemos como se parece o apocalipse zumbi.

O pesadelo de andar arrastado, pálpebras pesadas e membros moles tinha apenas uma chata semelhança com o Rei, o cabelo longo, úmido do banho, ainda tinha a famosa mecha em forma de V na testa, e os óculos de sol escuros estavam certos, e sim, a camiseta negra e couros eram seu uniforme. Mas todo o resto estava errado. Ele perdeu tanto peso que suas calças estavam frouxas como bandeiras ao redor de suas pernas, o cós caindo em suas coxas, até a camisa supostamente colada no corpo ondulava fora de seu tórax. E seu rosto estava tão ruim quanto o resto. A pele estava enrugada ao redor de suas maçãs do rosto e da mandíbula dura, e sua garganta... Querida Virgem Escriba, sua garganta.

Suas veias em ambos os lados tinham sido tomadas com tanta frequência e com tal força, que ele parecia com um extra no Texas Chain Saw Massacre.

E mesmo assim o macho estava flutuando em uma nuvem. O ar que o precedeu era suave como uma brisa de verão, seu ar de satisfação e felicidade era como uma bolha que o cercava.

Que vergonha arruinar isto.

Wrath os reconheceu imediatamente, e quando ele se deteve, sua cabeça se inclinou para o lado como se ele estivesse avaliando seus rostos. Porém, Saxton estava certo que eram suas auras.

— O quê?

Deus, aquela voz era rouca, apenas um sussurro. Existia força atrás disso, entretanto.

— Nós temos que conversar. – Rehv bateu com o tubo em sua palma como se fosse um taco de beisebol. — Agora.

Wrath respondeu com uma série de maldições. E então soltou, — Porra, vocês podem me dar uma hora para alimentar minha shellan depois de sua necessidade?

— Não. Nós não podemos. E nós precisamos dos Irmãos. Todos eles. – Rehv se levantou com a ajuda de sua bengala. — A glymera votou na sua saída, meu amigo. E nós precisamos pensar numa resposta.

Wrath não se moveu por um longo momento. — Com que fundamento?

— Sua Rainha.

O já pálido rosto ficou certamente cinzento.

— Fritz! – O Rei berrou com toda a força de seus pulmões.

O mordomo materializou-se da sala de estar do segundo andar, como se ele estivesse esperando para ser chamado por horas.

— Sim, amo?

Foi com esgotamento absoluto que o Rei murmurou, — Beth precisa de comida. Traga para ela tudo que poderia querer. Eu a coloquei no banho, seria melhor você verifica-la agora. Ela estava fraca e eu não a quero desmaiando e se afogando.

Fritz curvou-se tanto, que era uma maravilha que seu rosto de pele frouxa não encostou no tapete. — Imediatamente.

Quando o doggen apressou-se para sair, Wrath chamou atrás dele, — E você pode levar meu cachorro lá fora? E então traga-o para meu escritório.

— Claro, amo. Com prazer.

Wrath girou e enfrentou as portas abertas de seu escritório como se estivesse indo para a forca. — Rehv, chame a Irmandade.

— Entendido. E Saxton precisa estar na reunião. Alguém precisa dar uma opinião na legalidade de tudo isso.

Wrath não respondeu. Ele apenas entrou na sala azul pálido, uma sombra viva no centro de toda a detalhista mobília francesa.

Naquele momento, Saxton podia ver o peso sobrecarregando o macho, sentir o calor do fogo que queimava aos pés dele, sentir o “perder ou perder” que se apresentou na encruzilhada. Wrath era a âncora do navio que era a raça, e como tal… Ele seria o primeiro a bater nas geleiras.

Tudo isso era tão ingrato. As horas que o macho passou acorrentado à escrivaninha do seu pai, a papelada passando na frente dele, um borrão de páginas que tinha sido preparada por outros, apresentado por Saxton, regido por Wrath, e devolvido mundo afora.

Uma série infinita de necessidade sugadora.

Levantando-se, Saxton endireitou as roupas que ele estava vestindo desde que ele foi para a casa do seu pai e descobriu a verdade quando era muito tarde.

Qualquer coisa que viesse adiante? Ele estava do lado de Wrath, e não só porque seu pai e ele eram estranhos um ao outro.

Ele sabia muitíssimo bem o que era ser forçado em um molde no qual você não cabia, e então demonizado por não ser convencional.

Ele e Wrath eram farinha do mesmo saco.

Tragicamente.

 

Em silêncio e com um coração pesado, Sola caminhou pela casa que compartilhava com sua avó, indo de cômodo em cômodo, vendo tudo e ainda assim nada.

— Eu posso contratar alguém para fazer isto, – Assail disse calmamente.

Parando na cozinha, ela pairou sobre a pequena mesa redonda e olhou pela janela. Embora não havia nenhuma luz externa, ela via a varanda da parte de trás, coberta com neve. Vendo-o de pé lá no frio.

Meio frustrante. Ela tinha vindo aqui com caixas de transporte desmontadas para empacotar suas coisas pessoais, não relembrar o passado com este homem. Mas enquanto ela abria armários e fazia estimativas sobre quantos maços de jornal ela iria precisar, ele era tudo que realmente estava em sua mente: Não a casa que ela estava deixando pra trás, nem as coisas que ela iria ter que deixar, nem os anos que passaram desde o dia do outono em que ela e a avó vieram para cá e decidiram que sim, esta casa daria certo para as duas.

Muito tempo passou.

E ainda a única coisa em sua cabeça era o homem de pé atrás dela.

— Marisol?

Ela olhou por cima de seu ombro. — Desculpe?

— Eu perguntei por onde você gostaria de começar?

— Ah… No andar de cima, eu acho.

Liderando o caminho pela sala de estar, ela pegou algumas das caixas desmontadas, deslizou alguns rolos de fita em seu pulso, e começou a subir as escadas. Chegando lá, ela decidiu… Seu quarto.

Foi uma questão de minutos para montar uma das caixas de tamanho médio, esticar a fita barulhenta como um tecido rasgando, ter seus dentes fazendo o trabalho da tesoura nas tiras de fita, até os quatro lados ficarem firmes e capazes de segurar coisas.

Sua avó tinha lavado a roupa de Sola por tanto tempo que a mulher sabia quais roupas eram suas favoritas e já as tinha levado para a casa de Assail. O que tinha sobrado na cômoda eram as segundas opções, e ela as jogou sem se importar em dobra-las: As calças de ioga que tinham sido lavadas tantas vezes que estavam cinza escuro, não pretas; blusas de gola alta de estavam com o elástico arregaçado ao redor do pescoço, mas que ainda davam pra usar; sutiãs que estavam um pouco desfiados nos bojos; lãs com fios soltos; calças jeans do ensino médio que ela usava como uma escala para julgar seu peso.

— Aqui, – Assail suavemente disse.

— O que… – Quando ela olhou para lenço dele, percebeu que estava chorando. — Desculpe.

Sem perceber, ela se sentou em sua cama de solteiro. E depois de enxugar seus olhos, ela olhou fixamente para o lenço, correndo o tecido bom de um lado para outro debaixo de suas pontas do dedo.

— O que te aflige? – Ele perguntou seus joelhos batendo enquanto se ajoelhava ao lado dela.

Olhando pra cima, ela estudou seu rosto. Deus, ela não podia acreditar que ela alguma vez pensou que era um rosto duro. Era… Bonito.

E seus extraordinários olhos da cor do céu noturno eram poços de compaixão.

Mas ela teve um pressentimento de que isso iria mudar.

— Eu tenho que partir, – ela disse bruscamente.

— Esta casa? Sim, claro. E nós devemos coloca-la no mercado, e você...

— Caldwell.

A quietude que tomou conta dele era tão nítida quanto uma explosão de movimento, tudo mudou, mesmo que ele tenha permanecido na mesma posição.

— Por quê?

Ela respirou fundo. — Eu não posso… Eu não posso simplesmente ficar com você para sempre.

— Claro que você pode.

— Não, eu não posso. – Ela focou a atenção em seu lenço. — Eu vou partir pela manhã e levar minha avó comigo.

Assail irrompeu numa caminhada em torno do quarto estreito. — Mas você esta segura comigo.

— Eu não posso ser uma parte da vida que você está vivendo. Eu só… Não posso.

— Minha vida? Que vida?

— Eu sei o que vem depois. Com Benloise morto, você vai precisar conseguir seu produto em algum lugar, e você vai resolver este problema de um modo que põe você no comando não só do abastecimento dos muitos distribuidores de Caldwell, mas de toda a costa leste.

— Você não sabe quais são os meus planos.

— Eu conheço você, entretanto. Domínio é o que você faz, e isto não é uma coisa ruim. A menos que você seja alguém tentando fugir de tudo. – Ela moveu sua mão de um lado para outro, — Isso.

— Você não precisa ser uma parte de meu trabalho.

— Não do jeito que está indo e você sabe disto. – Ela o encarou. — Poderia ser verdade se você fosse um advogado, mas você não é.

— E ainda assim você considera me deixar uma opção melhor?

Engraçado, uma parte dela se animou que ele estava falando como se eles fossem um casal. Mas a realidade afugentou aquela pequena cintilada de alegria. — Você pensa em começar uma outra carreira?

O silêncio que se seguiu foi a resposta que ela esperava.

Sua voz era irritada. — Eu não consigo entender essa reviravolta.

— Eu fui sequestrada da minha casa, mantida contra minha vontade, e quase estuprada. – Quando ele recuou como se ela o tivesse estapeado, ela xingou. — É só… Está na hora de eu trabalhar legalmente e ficar desse jeito. Eu tenho dinheiro suficiente para que eu não precise trabalhar logo, e eu tenho outro lugar.

— Onde.

Ela abaixou os olhos. — Não aqui.

— Você não vai me dizer nem mesmo onde você está indo.

— Eu acho que você viria atrás de mim. E eu estou muito fraca agora pra dizer não.

De repente um aroma preencheu o ar e ela olhou em volta, pensando sobre aqueles anúncios de colônias masculinas das revistas. Mas nada tinha mudado. Estavam apenas os dois na casa, nenhum Glade plugins a vista.

Ele andou pelo tapete barato e elevou-se acima dela. — Eu não quero que você vá.

— Talvez isso me faça uma demente, mas isso me deixa feliz. – Ela passou o lenço dele em sua boca e esfregou os lábios de um lado para outro. — Eu não quero sentir isso sozinha.

— Eu posso deixar você separada dos negócios. Você não terá que saber qualquer coisa sobre as operações, distribuição, pagamentos.

— Exceto que, seja por quanto tempo eu for sua namorada, ou o que for, eu sou um alvo. E se minha avó viver com você, ela é um alvo também. Benloise tem família, não aqui nos Estados Unidos, mas na América do Sul. Mais cedo ou mais tarde o corpo dele vai aparecer, ou sua ausência vai ser notada, e talvez eles não achem você. Mas talvez eles achem.

— Você acha que eu não posso proteger você? – Ele exigiu altivamente.

— Eu pensei que eu podia cuidar de mim mesma. E a sua casa? Eu dei uma conferida nela, como você sabe, e é uma fortaleza, eu concordo contigo. Mas coisas acontecem. Pessoas conseguem entrar. Pessoas são… Machucadas.

— Eu não quero que você vá.

Ela ergueu seus olhos até os dele, e soube que ela nunca, nunca iria esquecer como ele se parecia de pé no centro de seu pequeno quarto, com as mãos nos quadris, uma carranca em seu rosto e um ar de confusão o cercando.

Era como se ele estivesse tão acostumado a conseguir tudo do seu jeito em todos os aspectos da vida que ele não podia compreender o que estava acontecendo.

— Eu vou sentir sua falta, – ela disse com uma voz rachada. — Todo dia, toda noite.

Mas ela precisava ser esperta. A atração tinha estado lá desde o início... E ele vindo salvá-la adicionou uma outra dimensão para tudo aquilo, uma conexão sentimental forjada num forno de seu terror e dor. O problema? Nada disso era a base para uma relação sólida.

Inferno, ela o encontrou enquanto o espiava para um importador de droga. Ele a caçou pela invasão. Ambos seguiram um ao outro pela noite, até que ela o assistiu transando com outra mulher, porcaria. Então veio sua quase tragédia e um pouco de sexo alucinante que foi como uma faca de dois gumes em sua recuperação.

Sola clareou a garganta. — Eu só preciso sair. E tanto quanto isto machuca… É o que eu vou fazer.

 

Aqui embaixo é o melhor para o anúncio, Wrath pensou enquanto entrava na sala de jantar, com George a seu lado.

Tomando seu lugar na cabeceira da mesa de dez metros, esperou que todos chegassem. De nenhuma maneira teria este tipo de reunião enquanto seu traseiro estava no trono de seu pai. Isto não iria acontecer. E não havia nenhuma razão para excluir ninguém na casa. E isto afetava a todos.

E nenhuma reunião previa, também. Não precisava de nenhum conclave privado com Rehv e Saxton para descobrir os detalhes e logo sentar-se ao redor enquanto vomitava tudo sobre os demais. Não tinha nada a esconder de sua família e nada faria isso ser mais fácil de ouvir.

Tirou os óculos, esfregou os olhos e pensou em outra razão de estar agradecido por não estar no andar de cima... Muito perto de Beth. Fritz lhe garantiu que ela estava na cama e que comeu, mas havia algo que sabia sobre sua shellan? Ela era completamente capaz, até mesmo depois dos rigores de sua necessidade, de ir até ele e se conectar com o mundo exterior.

E se fosse sobre ela? Ela não precisava ouvir isto agora mesmo. E merda sabia que teria muito tempo para lhe contar.

— Sentem-se. – Wrath murmurou enquanto colocava os óculos de sol novamente. — Você também, Z.

Podia sentir Phury hesitante na porta com seu irmão gêmeo, e no ritmo incômodo que se seguiu. Wrath balançou a cabeça. — Sem beijo no anel, certo? Apenas me deem um pouco de espaço.

— Justo. – Phury murmurou. — O que precisar.

Então foram alertados. Ou isso, ou Wrath parecia tão mal como se sentia.

Quando os outros chegaram um por um em grupos pequenos, podia-se dizer pelo cheiro quem chegou e em que ordem. Ninguém disse nada e ele imaginou que Phury estivesse fazendo sinais com as mãos para as pessoas, dizendo para ficarem de boca fechada e permanecerem quietos.

— Estou a sua direita. – Rehv anunciou. — Saxton está perto de mim.

Wrath balançou a cabeça.

Depois de um momento, Tohr disse. — Nós estamos todos aqui.

Wrath tamborilou os dedos na mesa, seu cérebro subjugado pelos aromas, ansiosos e tristes em seu nariz, assim como também o silêncio. — Diga-nos, Rehv. – Ele exigiu.

Ouviu-se o som suave de uma cadeira sendo empurrada pelo tapete e então o Rei symphath e leahdyre do Conselho da glymera começou a lutar com algo. Houve um estalar… Seguido por algo desembainhado.

Então um pergaminho, um pedaço grande… Apareceu. Uma grande quantidade caindo pela mesa.

As linhas familiares, pensou Wrath.

— Eu não vou ler esta merda. – Rehv grunhiu. — Não vale meu tempo. Resultado final, todos colocaram seus selos nele. Em suas mentes, Wrath não é mais o Rei.

Uma onda de raiva saiu da garganta de seus familiares, muitas vozes misturadas e altas, os sentimentos todos iguais.

E de fato, a shellan de Butch, Marissa, que era, sem dúvida, a mulher mais refinada da casa, foi quem resumiu tudo.

— Aqueles malditos filhos da puta.

Wrath teria rido em qualquer outra circunstância. Inferno, ele nunca a ouviu xingar antes. Não sabia que ela era capaz de passar essa merda através de seus perfeitos lábios.

— Quais são os motivos? – Alguém perguntou.

Wrath cortou todos com duas palavras. — Minha companheira.

Resultou em um silêncio absoluto.

— O emparelhamento foi completamente legal. – Tohr assinalou.

— Mas ela não é completamente vampira. – Wrath esfregou sua testa e pensou no que ele e Beth fizeram nas últimas dezoito horas. — E isso significa que se tivermos filhos, também não serão.

Jesus Cristo, isto era um desastre. Uma merda de desastre total. Ele poderia ter uma chance se não houvesse nenhuma criança, então o trono poderia passar para sua relação mais próxima. Butch, por exemplo. Ou qualquer criança que este Irmão e sua companheira tivessem.

Agora, no entanto... As apostas eram diferentes, não eram?

— Ninguém é uma raça pura...

— ...Não estamos na Idade Média...

—Temos que fazê-los voltar atrás...

— Isto é ridículo...

— Por que estão perdendo tempo com...

Wrath teria que acabar com o caos, assim ele fechou o punho e golpeou a mesa. — O que está feito está feito. – Deus, isto doía. — A pergunta é: e agora? Qual é a nossa resposta, e quem, no inferno, eles pensam que irá governar?

Rehv falou. — Deixarei Saxton abordar os aspectos legais da primeira parte, mas posso responder o segundo. É um sujeito chamado Ichan, filho de Enoch. Diz aqui... – Farfalhando o papel. — ...Que é um primo seu?

— Que porra quem sabe? – Wrath moveu-se em sua cadeira. — Eu nunca o encontrei. A pergunta é, onde estão os Bastardos. Eles devem estar envolvidos nisto.

— Eu não sei. – Rehv disse enquanto enrolava a proclamação. — Parece um pouco sofisticado para os gostos de Xcor. Uma bala no cérebro é mais seu estilo.

— Ele está por trás disto. – Wrath balançou a cabeça. — Minha suposição é que ele deixará o pó se assentar, matará este Ichan filho da puta e se auto nomeará.

Tohr falou. — Você não pode apenas modificar as Leis Antigas? Como Rei, você pode fazer qualquer coisa que quiser, certo?

Quando Wrath movimentou a cabeça em direção a Saxton, o advogado levantou-se, sua cadeira rangendo. — O que diz a moção de censura, do ponto de vista legal, é que deve ser removido do Rei todos os poderes de Comando e Estado. Qualquer tentativa agora de mudar uma lei seria sem efeito. Você continua sendo o Rei, no sentido em que ocupa o trono e tem o anel, mas na prática, não tem nenhum poder.

— Então eles podem designar outra pessoa? – Wrath perguntou. — Apenas assim?

— Temo que sim. Eu encontrei uma nota processual oculta que diz que, na ausência de um Rei, o Conselho pode designar um regente de fato com a maioria dos votos e foi isso o que eles fizeram. A passagem estava destinada a acontecer em tempos de guerra, no caso de toda a Primeira Família ser eliminada junto com quaisquer herdeiros imediatos.

Estive ali, fiz isso, Wrath pensou.

Saxton continuou. — Eles desencadearam esta sucessão e infelizmente do ponto de vista legal é válido, embora esteja sendo feito de uma maneira que não foi contemplada pelos redatores originais destas leis.

— Como nós não vimos isto vir? – Alguém disse.

— É minha culpa. – Saxton disse. — E consequentemente, frente a todos vocês, eu ofereço minha renuncia ou remoção da linha de advogados. É imperdoável que eu não tenha visto isto...

— Ao diabo com isto. – Wrath disse cansado. — Eu não aceito sua...

— Meu próprio pai fez isto. Da mesma maneira foi ruim, deveria ter investigado. Eu deveria ter...

— Chega! – Wrath estalou. — Se você quer seguir com este argumento, deveria saber que desde o princípio, que foram meus antepassados quem fizeram esta merda. Não aceito sua renúncia, então feche essa porra de boca sobre demissão e sente-se de uma puta vez. Vou precisar de você.

Homem, ele tinha grandes habilidades interpessoais.

Wrath xingou um pouco mais, e então murmurou. — Então, se ouvi direito, não há nada que eu possa fazer.

— De um ponto de vista legal. – Saxton respondeu. — Isto é correto.

Na longa pausa que se seguiu, ele surpreendeu a si mesmo. Depois de ter se sentido tão mal, não apenas nos séculos anteriores à sua decisão de seguir o legado de seu pai, mas, atualmente também nas noites de trabalho, você poderia pensar que ele se sentira aliviado. Toda aquela papelada era um peso, as demandas da aristocracia, o modo antiquado de tudo... Ah, e depois vinha o ter que ficar confinado em casa, o conflito interno com Payne, e para acabar de completar, a atrofia da mão da adaga, consequência disso tudo.

Ao ponto de se sentir como uma estatueta de Hummel.

Então sim, ele deveria se sentir aliviado por estar livre da mentira.

Ao invés, ele não sentia nada, a não ser desespero.

Era como se estivesse perdendo seus pais novamente.

 

No fim, Wrath teve que esconder suas emoções. Encobrir sua forma em uma humilde túnica para que ninguém soubesse quem ele era, andando pelo castelo com Ahgony, Tohrture, e Abalone, que usavam disfarces também.

Moviam-se pelos corredores de pedra, passando por membros da casa, doggen, cortesãos, soldados. Sem a carga de todas as inclinações e saudações rituais que teria sida devido como Rei; era um excelente momento, andar pelo castelo e se afastar entre os empregados.

Os cheiros eram diferentes ali. Não havia flores frescas ou pacotes de especiarias ou mulheres de doces aromas. Nestes alojamentos extensos era escuro e úmido, e o fogo não mudava com uma regularidade rígida, assim que ainda se sentia um leve cheiro de fuligem ao inalar. Porém, quando se aproximaram da cozinha, o cheiro dos pães assados e cebola cobriu tudo isso.

Eles não entraram na cozinha diretamente. Ao invés, tomaram um conjunto estreito de escadas de pedra descendo em direção ao subterrâneo. Na parte inferior, um dos Irmãos pegou uma tocha acesa e chamejante, iluminando a sua frente.

Sombras os seguiam, espalhadas pelo chão de terra como ratos, enredando-se em seus pés.

Wrath nunca havia ido ali. Como Rei, nunca andou muito pela propriedade.

Este era um lugar apropriado para fazer o mal, pensou quando Abalone parou na frente de uma parede que não parecia diferente de nenhuma outra.

— Aqui. – O homem sussurrou. — Mas não sei como eles entraram. – Ahgony e Tohrture começaram a sentir ao redor, utilizando a luz para procurar.

— E isto? – Ahgony disse. — Existe uma fenda.

A “parede” era na verdade uma mentira, a cor a deixava parecida com a pedra da construção. E do lado de dentro…

— Não, meu senhor. – Ahgony disse antes de Wrath avançar. — Eu devo ir primeiro.

Com a tocha alta, o Irmão entrou na escuridão, as chamas revelando o que parecia ser um espaço apertado: de um lado havia jarros de cristais fechados com metal pesado, um morteiro e varias facas. No centro do lugar embaixo havia um caldeirão sob um fogo.

Wrath aproximou-se do ferro fundido. — Traga luz.

Ahgony dirigiu a iluminação para a coisa.

Um guisado vil, frio agora, mas claramente deve ter sido cozinhado, se estendia como os restos de uma inundação.

Wrath molhou o dedo e pegou um pouco do lodo marrom. Cheirou-o, encontrando que apesar de sua consistência e a profundidade da cor, tinha pouca fragrância.

— Não prove, meu senhor. – Tohrture interrompeu. — Se precisar disto, permita-me.

Wrath enxugou sua mão na capa e examinou cuidadosamente os jarros de vidro. Não reconheceu as diversas raízes retorcidas, nem os flocos de folhas, nem os pós-pretos. Não havia nenhuma receita, nenhum pedaço de pergaminho com notas de como preparar algo.

Então sabiam os ingredientes de cor.

E usaram este espaço por algum tempo, pensou, passando os dedos sobre a mesa e então examinando cuidadosamente inspecionando o caldeirão.

Ele girou e se dirigiu para Abalone. — Você honrou sua linhagem. Provou seu valor esta noite. Vá e saiba que o que deve acontecer agora não recaíra sobre você.

Abalone curvou-se. — Meu senhor, novamente, eu não sou merecedor.

— Isto é decisão minha e fiz minha declaração. Agora vá. E fique em silêncio sobre tudo isto.

— Tem minha palavra. E tudo que eu tenho a oferecer, pertence a ti e a ninguém mais.

Abalone agarrou o diamante preto e beijou a pedra. Então ele se foi, seus passos se arrastando em retirada enquanto abria caminho pelo corredor.

Wrath esperou até que não pudesse ouvir nada. Então em voz baixa disse. — Quero que este jovem seja cuidado. Forneça tesouros o suficiente para que sua geração seja cuidada.

— Como desejar, meu senhor.

— Agora, feche aquela porta.

Sem sons. A porta se fechou com apenas um chiado.

Durante muito tempo, Wrath caminhou pelo espaço claustrofóbico, imaginando o fogo aceso e o lugar quente, já que rompeu os aspectos do material vegetal, as raízes, os pós… A generosidade da natureza transformando-se em veneno.

— Por que ela? – Ele perguntou. — Se mataram meus pais por causa do trono, porque não eu?

Ahgony balançou a cabeça. — Eu também me perguntei isto. Talvez não quisessem um herdeiro. Quem é o sucessor em sua linha? Quem seria o próximo ao trono se você não fosse jovem?

— Existem primos. Distantes.

As famílias reais tendiam a ter descendência limitada. Se a rainha sobrevivesse a um nascimento, não queriam desnecessariamente se arriscar, especialmente se a criança fosse um varão.

— Pense, meu senhor. – Ahgony iniciou. — Quem estaria na linha para o trono? Talvez alguém que está para nascer? Eles poderiam estar ofertando tempo para um nascimento, depois devem recair sobre você.

Puxando as mangas da capa, Wrath olhou para seus antebraços. Depois de sua transição, ele recebeu a linhagem da família e traçou o que estava permanente em sua pele, acompanhando o que estava vivo, o que estava morto, jovens e quem estava grávida...

Ele fechou seus olhos, a solução para a equação se apresentando propriamente. — Sim. Sim, claro.

— Meu senhor?

Wrath deixou a capa cair de volta ao lugar. — Eu sei em quem eles estão pensando. É um primo meu e sua companheira é bem jovem agora. Na outra noite eles disseram que oraram à Virgem por um filho.

— De quem fala?

— Enoch.

— De fato. – Tohrture sombriamente disse. — Eu deveria saber.

Sim, pensou Wrath. Seu principal conselheiro. Buscando o trono para um filho que levaria a fortuna da família no futuro, enquanto o homem em si mesmo usava uma coroa em sua cabeça por séculos.

No silêncio, pensou em seu escritório, a escrivaninha coberta com pergaminhos que cobriam cada metro da superfície, as plumas e os tinteiros, as listas de pedidos a serem atendidos. Amava tudo isso. As conversas, os julgamentos, o calmo processo de decisão.

Então ele viu o corpo morto de seu pai, com suas mãos enluvadas e as unhas azuis de sua shellan.

— Devemos cuidar disto. – Ele declarou.

Tohrture movimentou a cabeça. — A Irmandade deve encontrá-lo e enviarei...

— Não.

Ambos os Irmãos olharam fixamente para ele.

— Eles derramaram meu sangue. Eu derramarei o deles em resposta, pessoalmente.

Os rostos dos dois soldados treinados ficaram impassíveis e ele soube o que estavam pensando. Mas não se importou. Teria sua vingança.

Do outro lado, havia um banco grosso sobre a mesa e o puxou. Sentando-se, ele assentiu com a cabeça por cima do caldeirão.

— Ahgony, vá, exalte a força de minha companheira. Deixe todos saberem que ela sobreviveu. Tohrture fique comigo e aguarde o retorno dos assassinos. Assim que eles ouvirem as notícias, devem vir aqui novamente para fazer uma segunda tentativa e quero saudá-los.

— Meu senhor, talvez possa oferecer meu serviço de uma forma diferente. – Ahgony olhou para seu Irmão. — Vamos escoltá-lo de volta para sua companheira e permita-nos ficarmos aqui.

Wrath cruzou os braços e inclinou-se contra a parede. — Leve a tocha com você...

 

Beth acabou de se levantar para ir se olhar no espelho.

Embora estivesse em um novo território de esgotamento, ela simplesmente tinha que sair da cama, fazer sua dura caminhada através do carpete grosso e concentrar-se na luz que brilhava intensamente sobre a pia do banheiro. À medida que avançava, seu corpo era uma contradição de músculos doloridos, tensos e acabados, entranhas relaxadas e seu cérebro parecia ter notado este último. Ela não podia manter um pensamento em sua cabeça, os fragmentos do dia e da noite eram existentes, mas não conseguia lembrar-se de nada em concreto.

Ao ver seu reflexo ficou surpresa, era como se estivesse olhando para seu próprio fantasma e não porque estava pálida. Na verdade, tinha a pele radiante e seus olhos brilhantes, embora estivesse cansada até o osso, como se houvesse ido a Sephora e se maquiado com um profissional. Inferno, até seu cabelo pertencia a um anúncio da Pantene.

Não, a parte de espectro era a camisola de Lanz que usava, de flanela e grande como uma barraca de circo, o padrão de cor azul pálido e branco era como uma nuvem ao redor dela, ondulando por todas as partes.

Isso a fez pensar em Os Fantasmas se Divertem, o filme. Geena Davis e seu baixo IMC, o menos irritado Alec Baldwin presos no além, rondando a casa, tão assustadores como Gasparzinho.

Olhando para baixo, ela curvou-se sobre o kit médico que nunca usou. Fechando-o, guardou-o no armário entre as duas pias.

Deus, se era o final ou todos os hormônios em sua corrente sanguínea, a experiência toda se transformou em uma lembrança nebulosa, já que seria horrível a experiência vivida.

Mas o que veio antes de sua necessidade estava claro agora. Como alguém cujos sintomas não faziam sentido antes de receber um diagnóstico, ela pensou nos últimos quatro meses… E amarrou-os com sua mudança de humor, o anseio por uma criança, os desejos, o aumento de peso.

TPM estilo vampiro.

Toda essa coisa de ficar fértil esteve em seu caminho durante algum tempo. Ela não tinha percebido todos os sinais...

Olhou de volta para o espelho, fixamente. Não, suas feições era as mesmas. Ela apenas sentia como se estivessem diferentes.

Como em sua transição.

Wrath a ajudou com tudo isso também. E foi divertido, como com a necessidade, ela sentiu algumas vagas estranhezas por algum tempo antes de sua mudança acontecer e também: inquietude, fome por outras coisas, dores de cabeça ao sol.

Teve que se perguntar se descobrir que estava grávida seria tão grande quanto descobrir que era um vampiro.

Colocando a mão em sua barriga, achava que havia uma grande chance de estar.

Por alguma razão, ela lembrou-se de sua transição. A primeira coisa que fez foi entrar no banheiro e ir direto para o espelho. Neste momento ao menos tinha presas para provar tudo. Agora, qualquer mudança que pudesse estar acontecendo estava em seu interior.

Pelo menos seu abdômen estava ainda inchado. Embora isso fosse mais provável apenas por causa do peso que ganhou graças a sua dieta Breyers.

Ou poderia estar grávida. Como pensava neste momento.

Imaginou o tipo nos infinitos comerciais da AT&T. Sabia que, embora Wrath sempre cuidasse dela, estaria louca ao pensar que quando contasse a ele, magicamente iria ficar feliz por formar uma família.

Novamente, assumindo que estivesse grávida.

Encontrando no reflexo seus próprios olhos, perguntou-se que diabo ela pôs em movimento. Havia coisas na vida que não poderiam ser desfeitas.

Esta era uma delas...

Seu estômago soltou um ruído quase como se tivesse saído de seu traseiro. Olhando novamente, ela murmurou. — Ok, gente, vamos em frente!

Com seu intestino trabalhando a comida que lançou a ele, ela girou ao redor e caminhou de volta para a cama.

Apenas, não foi onde ela terminou.

Ao invés, entrou no armário, puxou um roupão azul e empurrou seus pés em um UGGs[1] rosa que Marissa deu para todas as mulheres da casa como uma piada.

Os alojamentos da Primeira Família eram tão suntuosos que Beth não passava muito tempo olhando ou pensando na forma como foram construídos, e como sempre se sentia aliviada quando saia dali. Sim, certo, o lugar era adorável, se você fosse um sultão. Pelo amor de Deus, era como tentar dormir na caverna de Ali Baba, joias cintilavam nas paredes e no teto e nenhuma falsa.

E não, ela nunca se acostumaria ao banheiro de ouro.

A coisa inteira era absurda.

Merda, pensou, enquanto fechava o armário atrás de si. Como alguém poderia criar uma criança naquele ambiente?

Uma criança que estava no meio do caminho do normal e que era...

Descendo a escada até o segundo andar, percebeu que havia outro aspecto de todo este assunto sobre filhos que ainda não tinha considerado, esteve tão concentrada em conseguir um, que não pensou em criar um neste tipo de vida.

Seria um príncipe ou uma princesa. O primeiro, o herdeiro do trono.

Oh, e P.S., como se diz a uma criança que seu pai recebeu um disparo na garganta de alguém que queria a coroa?

Deus, por que ela não pensou em nada disso?

O que era o ponto de Wrath, verdade?

Saindo da escada, ela foi para escritório de Wrath, apenas consciente da conversa que estava elevada e chegando ao corredor.

Ficou um pouco surpresa por ele não estar atrás da mesa do escritório. Assumiu que, quando Fritz levou sua comida, seu hellren estava ocupado trabalhando.

Ao entrar no escritório, olhou fixamente para o enorme trono de madeira que parecia um barco e estreitou os olhos imaginando um filho ou uma filha, sentando nele. Estudando as Leis Antigas, se tivessem uma menina, Beth pensou, ela mesma iria se assegurar que mudassem as regras.

Se a monarquia britânica podia fazer isto, então podiam os vampiros.

Deus… Ela realmente estava pensando nisto?

Roçando sua testa, reconheceu que tudo era a ponta do iceberg que iria colidir direto com Wrath e enquanto isso, estava fixando a Fisher-Price em sua cabeça, desfrutando de um debate interno sobre fraudas Pampers, que tipo de vídeo comprar e iria gostar do estilo novo do berço Pottery Barn.

Cheia de coisas de bebê. O tipo de negócio que ela viu Bella e Z lutarem, comprarem e usarem.

Nada em seu radar era sobre crianças em sua idade adulta. O que era no que Wrath estava concentrado.

De repente, as pressões inerentes a essa grande cadeira esculpida nunca pareceram tão reais. Apesar de ser testemunha em primeira mão, a verdadeira carga de tudo isso realmente não apareceu até que este momento… Quando ela imaginou sua criança sentada onde seu companheiro ficava todas as noites.

Saiu rapidamente do escritório.

Havia dois outros lugares onde poderia estar, no ginásio ou talvez na sala de bilhar.

Oh, espere, não havia ninguém mais ali.

Pelo menos até que chegarem os novos moveis.

Homem, que bagunça estava.

Caminhando de camisola e roupão, chegou a escada, até que sentiu enjoos e teve que reduzir a velocidade.

Cruzando o mosaico de macieira, pensou que poderia perguntar quem estava na sala de jantar para...

No momento que chegou à porta, congelou.

Apesar do fato de que não fosse a hora de comer, a casa inteira estava à mesa e algo terrível tinha acontecido: Sua família era como uma coleção de versões de Madame Tussauds, o grupo estava imóvel nas cadeiras, tinham as feições corretas, mas as expressões erradas.

E todos os olhos caíram sobre ela.

Quando a cabeça de Wrath se ergueu e inclinou-se, foi como se estivesse passando por sua transição, tudo de novo, quando ela saiu do porão de seu pai e entrou, encontrando os Irmãos à mesa. A diferença, claro, era que neste momento não entrou de surpresa na sala.

Agora, era algo completamente diferente.

— Quem morreu? – Ela exigiu.

 

No Antigo Mundo, Xcor e seus Bastardos ficavam em um castelo que parecia ter saído da terra, como se as pedras de sua construção tivessem sido rejeitas pela terra e expelida como um tumor. Situado em um monte desprezível, inabitável, a construção estava sobre uma pequena aldeia de um povoado humano medieval, a fortificação não tanto real. E no interior, não era melhor, fantasmas de humanos mortos vagavam pelos muitos quartos e no grande corredor especialmente, batendo nas mesas pesadas, balançando lustres de ferro fundido, tombando pilhas de troncos em chamas das lareiras.

Realmente, se encaixaram bem ali.

No Novo Mundo, porém… Viviam em uma rua sem saída, em uma casa Colonial com uma suíte da cor do intestino.

— Nós fizemos isto! De verdade, temos o trono!

— Vamos governar para sempre!

— Hurra!

A medida que seus guerreiros se felicitavam mutuamente e bebiam álcool, ele estava sentado no sofá da sala com saudade daquele enorme salão do castelo. Tal espaço se coadunava mais em ser testemunha da história que eles colocaram em movimento e obtiveram sucesso.

Tetos de dois metros e sofás de veludo simplesmente não combinavam com um evento desta magnitude.

Além disso, seu castelo… Foi anteriormente a sede da Primeira Família. A saída de Wrath do trono sendo anunciado no mesmo lugar onde ele nascera e fora criado seria uma ótima ressonância.

Talvez este lugar fraco, suburbano fosse o que estivesse roubando a alegria de seus soldados.

Exceto que, não, era outra coisa: Esta luta com Wrath ainda não tinha terminado.

Não havia nenhuma maneira de terminar assim. Muito fácil.

Refletindo sobre sua viagem neste momento, Xcor apenas pode balançar sua cabeça. Antes de vir para o Novo Mundo, voando através do oceano pela noite, as coisas pareceram muito mais sob seu controle. Depois da morte de Bloodletter, ele tomou as rédeas dos soldados e desfrutou dos séculos de conflito com a Sociedade Lessening depois que a Irmandade chegou a Caldwell.

Eventualmente, no entanto, depois de todas suas vitórias no campo era difícil de encontrar muito esporte para estes ratos.

Queria logo assumir o trono por que... Era isso.

E talvez soubesse que, a menos que tomasse a coroa, ele e os Bastardos seriam caçados. Cedo ou tarde, a Irmandade descobriria sua presença e iriam querer exercer sua superioridade sobre eles.

Ou eliminá-los.

Através de seus esforços, entretanto, as mesas se inverteram; ele ganhou poder sobre eles e seu Rei. E é isso o que era tão estranho. A sensação de que ele, de alguma maneira estava fora de controle agora era ilógico.

Quando Balthazar deixou escapar uma risada compulsiva e Zypher serviu-se de mais gim, ou era vodca? O temperamento de Xcor se iluminou.

— Ele não respondeu ainda. – Xcor cortou a conversa.

O grupo virou com o cenho franzido.

— Quem? – Throe perguntou enquanto abaixava seu corpo. Os outros tinham copos de plástico vermelho ou estavam bebendo da garrafa.

— Wrath.

Throe balançou a cabeça. — Legalmente não pode fazer nada.

— Não seja ingênuo. Haverá uma resposta para nosso tiro de canhão. Isto não é sobre ele agora.

Levantou-se, uma inquietude percorrendo seu corpo, animando-o a fazer movimentos que lutava para manter dentro de si.

— Com todo respeito. – Throe disse. — Não vejo o que ele pode fazer.

Dando as costas a jovialidade, Xcor disse. — Marque minhas palavras, isto não terminou. A pergunta é, com base em sua resposta, podemos ainda nos sustentar?!

— Aonde você vai? – Throe exigiu.

— Sair. E não quero ser seguido, obrigado.

“Obrigado” foi mais como “foda-se”, pensou enquanto se desmaterializava na porta dupla e reaparecia no gramado.

Não havia mais casa nesta parte, a única estrutura era uma casa de bomba para o sistema de esgoto municipal.

Inclinou a cabeça e considerou o céu. Não havia luz da lua, uma capa de nuvens prometia mais neve e bloqueava a iluminação.

Sim, neste momento de triunfo, não sentia nenhuma grande alegria ou sensação de realização. Ele esperou sentir-se… Bem, feliz seria uma palavra para isto, apesar de não ser a emoção exata. Ao invés, sentia-se tão vazio como quando chegou à costa e incomodado até o ponto de ansiedade.

Oh, merda. Ele sabia a causa de sua preocupação.

Era a Escolhida, claro.

Enquanto seus homens apreciavam a ilusão da vitória, havia apenas um lugar onde queria ir, apesar de que seria, sem dúvida, colocar sua vida em risco.

E iria para o norte.

Viajar pelo ar frio da noite, com as suas moléculas ondulando até as montanhas, afastado do território de Caldwell.

De pé entre pinheiros e carvalhos, suas botas de combate tocavam a neve, ele olhou para cima, embora não pudesse ver o ápice da montanha.

Não podia, de fato, ver muito mais do que um metro diante dele.

A grande paisagem à frente não se baseava no tempo ou no terreno. Era mágico. Algum tipo de passe de mágica que ele não podia entender, mas não podia questionar a existência.

Seguiu a Escolhida até ali.

Antes quando foi a uma clínica, aterrorizou-se com o fato dos Irmãos terem se vingado dele por se alimentar dela, esperou que saísse do tratamento e a seguiu até ali. De fato, manipulou todos para que tomassem de sua veia. Salvou a vida dela não por escolha, mas por uma preocupação criada por Throe e pela primeira vez lamentou ir a caça da Irmandade. Se não quisesse castigar ao homem como tal, nenhum deles a teria encontrado.

E sua pyrocant teria permanecido desconhecida para ele.

Porque na verdade, não conhecer aquela mulher, seu cheiro e o sabor de seu sangue, os momentos roubados naquele carro, teria sido uma benção para ele.

Ao invés, era como se houvesse usado uma serra em sua própria perna, cortando-a.

Ele inconscientemente se ofereceu para cruzar seu caminho.

Olhando fixamente para a névoa, se preparou para cruzar a barreira. Sua pele registrou uma advertência imediata, seus instintos internos se ativaram no campo de força, brincando com seu sentimento de terror. Continuando, suas botas tocaram a neve, moendo-a na subida da montanha.

Neste momento de triunfo, o único lugar onde queria estar era com a mulher que não podia ter.

 

Em termos gerais, se seu marido se negava a dizer uma palavra até que estivessem os dois sozinhos e a portas fechadas?

Merda, isso não ia bem.

Quando Beth ouviu as portas duplas do escritório se fecharem atrás deles, ela se aproximou do fogo da lareira e moveu as palmas para o calor. De repente sentia muito frio... Sobretudo porque Wrath não estava atrás da mesa de escritório ou sentando no trono de seu pai.

Seu hellren estava em um dos dois sofás azuis franceses e soltou um suspiro carregado como se tivesse sentindo um enorme peso.

George ficou aos pés de seu mestre, o cachorro olhando para cima como se ele, também estivesse esperando um sapato cair.

Wrath apenas olhava para frente, apesar de não conseguir ver nada, com o cenho franzido atrás dos óculos, seu cabelo negro como aura sobre ele.  

Girando, ela apoiou seu traseiro no calor e cruzou os braços. — Você está me assustando.

Silêncio.

— Por que você não está sentando atrás da mesa? – Ela disse bruscamente.

— Não é minha mais.

Beth sentiu todo o sangue deixar sua cabeça. — O que você… Sinto muito, o quê?

Wrath tirou seus óculos de sol e colocou o cotovelo em seu joelho enquanto esfregava os olhos. — O Conselho me depôs.

— O que… Foda. Como? O que eles fizeram?

— Não importa. Mas eles conseguiram. – Ele riu em uma explosão pequena. — Escute, pelo menos agora não preciso cuidar de toda aquela papelada. Não é meu problema. Eles podem governar eles mesmos, podem brigar internamente sobre a bola e discutir sobre esta estúpida merda.

— Quais foram os motivos?

— Sabe o que realmente está fodido? Eu odiava fazer o trabalho, no entanto, agora que se foi… – Ele esfregou seu rosto novamente. — De qualquer maneira.

— Eu não entendo. Você é o Rei por sangue e a Raça é governada pela monarquia. Como eles fizeram isto?

— Não importa.

Beth estreitou seu olhar. — O que você não está me contando?

Ele ficou de pé e começou a caminhar ao redor pelos moveis que sabia onde estava. — Isto nos dará mais tempo juntos. Não é uma coisa ruim, especialmente se você estiver grávida. E inferno, se você estiver, com certeza este assunto não estará em minha cabeça.

— Eu vou descobrir, você sabe. Se você não me contar, eu conseguirei alguém para fazer isso.

Wrath se aproximou da mesa e passou as mãos pelas bordas talhadas. Logo tocou a parte superior do trono, acariciando a madeira.

— Wrath. Fale. Agora.

Mesmo ela falando assim, levou um longo tempo antes dele falar. E quando finalmente o fez, sua resposta não foi nada do que esperava... E tão devastadora como qualquer peça do todo.

— A base deles foi… Você.

Certo, tempo de deixar os braços caírem.

Indo para o mesmo sofá no qual ele estava sentado, ela caiu nas almofadas suaves. — Por quê? Como? O que eu fiz?

Deus, a ideia de que ela lhe custou o trono por algo que ela fez.

— Não é nada que você fez. É… Quem você é.

— Isto é ridículo! Eles não me conhecem.

— Você é metade humana.

Bem, isso a calou.

Wrath se aproximou e ajoelhou na frente dela. Segurando suas mãos nas dele maior, ele disse. — Ouça e tenha isso claro, eu amo você, toda você, cada e toda parte de você. Você é perfeita em todos os sentidos.

— Com exceção do fato de que minha mãe era humana.

— Isto é o maldito problema deles. – Ele estalou. — Eu não me importo uma merda com este preconceito maldito. Não me afeta em nada.

— Nãoooo é exatamente verdade. Por minha causa você não estará se sentando mais naquele trono, certo?

— Você sabe o quê? A merda não vale a pena para mim. Você é a mais importante. Você é o que importa. Todo o resto... Todo mundo pode se foder.

Ela olhou para o trono. — Você esta querendo me dizer que não se importa que o trono de seu pai não seja mais seu?

— Eu sempre odiei o trabalho.

— Este não é meu ponto.

— O passado é passado e meus pais estão mortos há séculos.

Ela balançou a cabeça. — Isto realmente importa, no entanto. Eu sei que você foi pego nisso... Por eles. Não minta para mim... O mais importante... Não minta para você mesmo.

Ele se sentou nitidamente. — Eu não estou.

— Sim, acredito que sim. Eu vi você nestes últimos dois anos. Eu sei o que o motivou... E seria um erro pensar que todo este compromisso desapareceu devido a um terceiro que diz que você não poderá jamais usar a coroa.

— Número um, não é um terceiro. É o Conselho. Número dois é um fato consumado. O que está feito está feito.

— Deve haver algo que você possa fazer. Alguma forma de evitar isto...

— Você tem que aceitar, Beth. – Ele chegou a seus pés, sua cabeça na direção do trono vazio. — Vamos passar por isto...

— Nós não podemos.

— Ao diabo com isso.

— Uma coisa é você renunciar ou abdicar ou qualquer que seja o inferno como é chamado. Isto é uma escolha sua. Mas não quando outras pessoas impõem a você. – Ela disse secamente. — Nós discutimos isto antes...

— Beth, você precisa deixar isto ir...

— Pense sobre o futuro, um ano depois de agora, dois anos… Você quer dizer que não ficará ressentido comigo?

— Claro que não! Você não pode mudar quem você é. Não é sua culpa.

— Você diz isso neste momento, e eu acredito... Mas uma década depois de agora, quando você olhar para seu filho ou filha, acredita que não se sentirá preso a isto?

— Como? Ser criticado por todos os interessados? Ser colocado em um pedestal? Inferno, não! Toda esta razão é o motivo pelo qual eu não queria um maldito filho.

Beth balançou a cabeça novamente. — Eu não estou tão certa sobre isto.

— Jesus Cristo. – Ele murmurou, fechando as mãos nos quadris. — Faça-me um favor e não coloque esta merda em minha cabeça.

— Nós não podemos ignorar a possibilidade...

— Perdoe-me, eu perdi algo? Há alguma vidente com bola de cristal ou algo assim? Porque sem ofensa, você não pode prever o futuro mais do que eu posso.

— Exatamente.

Wrath levantou as mãos e começou a caminhar. — Você não entende, simplesmente não entende esta merda. Isto está feito. A moção de censura foi aprovada... Eu fui destituído como regente, eu não tenho nenhum poder ou autoridade. Então ainda que aparecesse qualquer coisa que pudesse fazer de um ponto de vista legal? Eu não sou mais a pessoa que pode mudar as coisas.

— Então quem é?

— Um primo distante meu. Beleza de sujeito.

O tom de seu hellren sugeria que o beleza de sujeito era um eufemismo para um puto idiota.

Beth cruzou seus braços no peito. — Eu quero ver a proclamação ou documento... Existe um, certo? Não acho que eles deixariam isso em um correio de voz.

— Oh, meu deus, Beth, deixe isso...

— Saxton o tem? Ou enviaram para Rehv...

— Você estará fodidamente de acordo! – Ele gritou com ela. — Você acabou de passar por sua necessidade! A maioria das mulheres fica na cama por uma semana... Por que você não pode fazer isso? Você quer um garoto, vá repousar lá embaixo maldição... Isso é o que supõe que deva fazer. Surpreende-me que, depois de todo este tempo que passou com a maldita Layla ela não te disse...

Enquanto ele continuava e continuava, ela soube que isto era vapor liberando-se por seu vocabulário. Mas eles não tinham tempo para ele manter isto indefinidamente.

Levantando-se, ela aproximou-se dele e...

Slap.

Enquanto Beth seguia adiante com sua palma, o som de estalo acentuado desvaneceu na sala e seu amado companheiro se calou.

Olhando com calma ela disse. — E agora que tenho sua atenção e não está em delírio como um lunático, eu apreciaria se contasse onde posso encontrar o que seja que nos foi enviado.

Wrath deixou sua cabeça cair para trás como se estivesse totalmente exausto. — Por que está fazendo isto?

Abruptamente, ela pensou no que ele disse para ela quando sua necessidade golpeou e que a encontrou tentando chegar às drogas.

Em uma voz trêmula, ela respondeu. — Porque eu amo você. E você não quer reconhecer ou não pode ver tão longe no futuro, mas isto é realmente importante para você. Estou dizendo, Wrath, este é o tipo de coisa que as pessoas nunca se esquecem. E como eu te disse, você quer deixar ir? Bem. É sua escolha. Mas eu ficarei bem e maldito seja se eu deixarei alguém tirar isso de você.

Ele fechou a boca. — Você não entende, leelan. Acabou.

— Não se eu tenho algo a ver com isto.

Passou-se um longo momento… E então ele estendeu a mão e puxou-a contra ele, segurando com tanta força que ela podia sentir a curva de seus ossos.

— Eu não sou forte suficiente para isto. – Ele sussurrou em sua orelha, como se não quisesse que ninguém ouvisse isto saindo da boca dele. Nunca.

Passando suas mãos pelas suas costas poderosas, ela o abraçou forte. — Mas eu sou.

 

Wrath esperava no quarto escondido que cheirava a terra e especiaria como sempre. Na escuridão, seus pensamentos eram altos como gritos, vívidos como um raio, indeléveis como uma inscrição em pedra.

E justo quando pensava que nunca aconteceria, que ele e seu silêncio companheiro estariam sempre na escuridão, literalmente e figurativamente, ouviu um som áspero e o painel camuflado começando a deslizar.

— Não importa o que aconteça. – Ele sussurrou para o Irmão. — Você não irá interferir. Eu ordeno assim e me escute bem.

A resposta de Tohrture não foi mais alta que uma respiração. — Como desejar.

A luz vacilante de uma única tocha iluminava pouco, mas era mais que suficiente para Wrath identificar o homem, um clérigo que estava na periferia da corte… Mas cujo pai era curandeiro.

Um guardião de ervas e poções.

O homem murmurou sob sua respiração. — …Faça mais esta noite. Cannae faz o que é impossível…

A medida que o homem ia para a mesa de trabalho, o corpo de Wrath atuou em beneficio de sua mente. Saindo das sombras de uma maneira descuidada, ele agarrou a parte superior do braço magro, colocando sua força sem delicadeza alguma. Em resposta, ouviu-se um grito de surpresa, mas logo a tocha deu meia volta e Wrath esteve a ponto de perder seu agarre enquanto as chamas abertas brilhavam em seus olhos.

— Feche a porta! – Wrath gritou quando tentou pegar o clérigo pela cintura.

Embora não houvesse comparação em seus tamanhos, Wrath era duas vezes maior, a túnica do clérigo estava solta e escorregadia o que deixava sua presa difícil de controlar. E aquela tocha era um perigo com ambos buscando controlá-la. Com as sombras que corriam pelas paredes, o caldeirão e a mesa, Wrath encontrou suas mãos sendo queimadas quando ele tentou...

E então a capa que usava para esconder sua identidade ficou em chamas.

Quando o calor abrasador brilhou a seu lado e se dirigiu para seu cabelo, saltou para trás e buscou sua adaga para cortar o tecido, exceto o que estava sob a capa. Saltando para trás, ele puxou o volumoso tecido pela cabeça, mas teve que soltar a mão com um grito de dor. Na seguinte batida do coração, as chamas estavam sobre ele e ainda que tentasse afastá-las, era como se desviar de uma nuvem de vespas. Batendo, cego por agonia e calor as grandes chamas e quando ouviu o som, percebeu...

Ele não sairia vivo disto.

Com a respiração curta, o coração batendo, a alma gritando de injustiça por tudo, ele desejava ser um homem diferente, um homem de espada, não de pluma, que pudesse dominar o outro com rapidez e confiança...

O dilúvio veio de cima e tinha mau cheiro, mau sabor e viscoso, era mais úmido que um cobertor de lã molhado. Com um movimento e um fedor que fez seus olhos lagrimejarem ainda mais, as chamas se foram, o fogo se foi, tudo terminou.

Um grande ruído resultou quando Tohrture lançou o caldeirão pesado de lado. — Não beba, meu senhor! Cuspa antes!

Wrath se inclinou e cuspiu o que estava em seus lábios. E quando um trapo foi empurrado em suas mãos, ele pode limpar seus olhos.

Apoiando suas mãos nas coxas, ele respirou profundamente com a esperança de parar de ofegar, esforçando-se para girar a cabeça. Ou talvez fosse a fumaça. A dor. Este desastre que caiu sobre ele.

Depois de um momento, percebeu que a luz ficou firme e olhou na direção do lugar iluminado. O Irmão controlava a tocha… Assim como subjugava o clérigo, o homem estava abaixado e curvado sobre si mesmo, com as pernas estiradas.

— Como você fez... – Uma tosse cortou a fala de Wrath. — O que fez com ele?

— Eu cortei os tendões atrás de seus joelhos de forma que ele não pudesse correr.

Wrath recuou com o pensamento. Mas a utilidade era evidente.

— Ele é seu para fazer o que quiser, meu senhor. – Tohrture disse, dando um passo atrás.

Quando Wrath olhou para o clérigo, era difícil não contrastar o comportamento tranquilo e o esforço bem sucedido do Irmão com seu próprio comportamento, uma bagunça ambulante. Para Tohrture, o efeito foi mais um trabalho para realizar.

Arrastando os pés até o homem comprometido, ele forçou o clérigo sobre suas costas, e houve uma pequena satisfação quando os olhos dele se abriram mais quando a identidade de Wrath foi revelada.

— A quem você serve? – Wrath exigiu.

A resposta foi um estalar que não chegou a nenhum lugar, e antes que Wrath soubesse o que estava fazendo, ele agarrou a roupa do clérigo e o arrastou pelo chão sujo. Agitando-o, fazendo sua cabeça balançar de uma maneira que fez com que Wrath fosse golpeado pela necessidade de matar.

Não havia tempo para examinar a emoção estranha, no entanto.

Arrastando o homem mais alto para ficarem nariz com nariz... Wrath grunhiu. — Se me disser quem mais está nisso, perdoarei sua jovem shellan e seu filho. Se descobrir que existe alguém mais envolvido, sua família será amarrada pelos pés e pelas mãos e pendurados pelos tornozelos no grande salão, por muito tempo.

Enquanto Tohrture sorriu de forma sanguinária, o rosto do clérigo ficou mais pálido.

— Meu senhor… – O homem sussurrou. — Poupe-me então... Poupe-me e contarei-lhe tudo.

Wrath olhou para aqueles olhos suplicantes, observando as lagrimas caírem... E pensou em sua shellan e seu pai.

— Por favor, meu senhor, mostre-me misericórdia... Eu imploro... Mostre-me misericórdia!

Depois de um momento longo, Wrath assentiu com a cabeça uma vez. — Prossiga.

Em uma pressa trêmula, os nomes saíram e Wrath reconheceu todos eles.

Era composto por seus conselheiros, começando com Ichan e terminou com Abalone... Que já provara onde estava sua lealdade.

A vibração interna de violência começou assim que o ultimo nome foi pronunciado e o clérigo caiu silencioso... E o impulso para matar não pode ser contido.

Sua mão tremia buscando o cabo de seu punhal, puxou sua arma com movimentos espasmódicos, um ângulo incorreto, a lamina ficou presa no coldre.

Mas ele conseguiu soltá-la.  

Deixou o clérigo cair novamente no cão, ele colocou o punhal na garganta do homem e começou a apertar.

— Meu senhor… – O clérigo começou a lutar, arranhando o pulso de Wrath. — Meu senhor, não! Você prometeu...

Wrath ergueu o braço.

E percebeu que foi certeiro ao disparar contra o coração, a jugular, e os órgãos importantes.

— Meu senhooooooooor...

— Isto é por meu sangue!

Ele empurrou todas suas forças no arco descendente... E encontrou o olhar horrorizado do clérigo quando a ponta do punhal perfurou o olho direito do homem e se dirigiu rapidamente para o cérebro atrás dele, parando apenas quando toda a lâmina incrustou no crânio.

O corpo em baixo do seu próprio entrou em espasmos imediatos, braços e pernas, o olho restante ficou branco.

E então tudo ficou quieto com exceção de algum espasmo secundário dos músculos faciais e das mãos.

Wrath caiu sobre o corpo do morto.

Enquanto considerava a visão daquele punhal sobressaindo do rosto do homem, sentiu náuseas e teve que arrancá-lo, apoiou as mãos na terra fria e vomitou até que seus braços já não puderam lhe segurar.

Rodando de lado, ele deitou seu rosto quente no interior do braço encharcado na sujeira.

Ele não chorou.

Queria.

A medida que a consciência de que matou alguém o golpeou, desejou voltar ao mundo que conhecia antes deste... Onde seu pai morreu de causas naturais e sua shellan simplesmente teve um enjoo por causa da gravidez... E a pior coisa com que teria que se preocupar era sobre as conversas na corte sobre a escolha de companheira.

Esta nova versão da realidade não era nada que ele quisesse fazer parte.

Não havia luz neste lado. Apenas a escuridão da meia noite.

— Eu nunca matei alguém antes. — Ele disse em uma voz fraca.

Mesmo com toda sua ferocidade, o tom de Tohrture era gentil. — Eu sei, meu senhor. Você fez bem.

— Eu não o fiz.

— Ele não está morto?

Sim, realmente ele estava. — Eu quis dizer o que disse sobre sua shellan e filho. Eles se salvaram.

— Claro.

Como a lista de nomes correu em sua cabeça, aquele desejo de matar reacendeu, inclusive quando seu estômago estava apenas assentado... E seus esforços eram um escárnio comparado ao que a Irmandade poderia fazer.

E realmente, ele não estaria vivo agora se Tohrture não entrasse.

Wrath levantou-se da sujeira, com a cabeça baixa. Como iria...

Uma palma grande se apresentou propriamente ante ele. — Meu senhor, permita ajudá-lo.

Wrath olhou para cima, os olhos brilhantes e claros, pensou que pareciam a lua, lançando luz sobre a escuridão, mostrando um caminho para sair de seu habitat natural.

— Nós devemos treiná-lo. – Tohrture disse. — Devemos ensinar o que você precisa saber para vingar seu sangue. Vou remover aquele corpo e montar a cena como se fosse um acidente... Isto nos dará o tempo que precisamos. E de agora em diante, a refeição será preparada por nosso próprio pessoal doggen, não qualquer pessoa da corte... E qualquer e todos os alimentos devem ser levados pelas próprias mãos dos Irmãos. Nós devemos comer e beber antes em sua presença e dormir na porta de seu quarto. Este é nosso voto solene.

Por um momento, tudo que Wrath pode fazer foi olhar para a palma estendida a ele como a benção da própria Virgem Escriba.

Ele abriu sua boca para dizer obrigada, mas nada saiu.

A modo de resposta, ele agarrou o que estava ante ele… E sentiu seus próprios pés se levantarem com controle.

 

Ar fresco era bom para a mente e a alma.

Quando Layla saiu para o jardim, ela teve cuidado ao atravessar o terraço coberto de gelo, esticando os braços, indo devagar: Ela não queria correr o risco de escorregar.

Engraçado como sua avaliação de tudo, desde superfícies potencialmente escorregadias, para escadas, para selecionar alimentos se intensificou.

— Saindo na noite, – ela disse ao jovem dentro de sua barriga.

Era, claro, loucura falar com aquele que ainda nem tinha nascido. Mas ela pensou que se pudesse manter o diálogo aberto, por ventura o jovem continuaria a escolher ficar por perto. Se ela apenas pudesse comer as coisas certas e não cair e descansar… De alguma forma, no fim de alguns meses, ela conseguiria segurar seu filho ou filha em seus braços, e não só em seu corpo.

Descendo para o gramado coberto de neve e longe da iluminação da casa, ela achou que, as botas que tinha pegado no hall, seriam quentes, sólidas e confortáveis. O mesmo aconteceu com a parca e as luvas. Ela deixou o chapéu e o cachecol para trás; ela queria o frio para arejar a cabeça.

Mais distante ao longo da propriedade, a piscina estava ostentando sua cobertura de inverno, mas ela a imaginava cheia de água iluminada por baixo, as ondas azuis celestes convidativas e suaves na pele e articulações. Ela iria nadar assim que pudesse... E ao ar livre. Por mais que ela apreciasse a piscina que estava no centro de treinamento, o ar tinha cheiro de cloro, e depois de ter usado as águas cristalinas, e banhos naturalmente frescos acima no Santuário, isso não favorecia...

De repente, ela parou de andar. Parada com o pensamento distraído. Parou tudo, exceto a pressão em seus pulmões e a batida de seu coração.

Fechando os olhos, ela repetiu o que tinha acontecido na sala de jantar, vendo a angústia no rosto de Wrath quando o anúncio foi feito, ao ouvir a indignação e a agressão nas vozes da Irmandade, observando como Rehv ficou olhando para o Rei, como se estivesse lendo coisas que ela não podia sentir.

Xcor estava por trás disso tudo.

Ele tinha que estar. Não foi de orquestrar uma tentativa de assassinato a se sentar de braços cruzados enquanto a glymera processualmente ganhou o que queria. Não, ele estava à espreita nos bastidores. Em algum lugar.

Com o estômago revirando, ela retomou seu passeio inquieta, indo além da área da piscina para os jardins formais geometricamente construídos. E ela continuou em seu lado, bem como, ligando-se com o muro de contenção de seis metros de altura que corria por todo o caminho ao redor do complexo.

Continuando sempre adiante, seus ouvidos estavam dormentes. Assim como o seu nariz. Ela não se importava.

Imagens de Beth aparecendo no arco da sala de jantar e Wrath olhando para a grande mesa, para ela, guerreavam com a muito mais traiçoeira e tão trágica montagem da...

Que ela se recusou a pensar.

Ou pelo menos tentou.

Ela realmente tinha permitido Xcor entrar no carro? Ele realmente se sentou ao lado dela, desarmado, sua coleção de armas deixadas sob o capô do Mercedes... E falou com ela? Segurou a mão dela?

— Pare com isso, – alertou a si mesma.

Nada de bom viria ao se lembrar daquela ligação, aquela chama ardente.

Layla reduziu os passos. Parou. Recordou com grande precisão e nenhuma culpa a forma que Xcor tinha olhado para ela.

Ela sabia muito pouco sobre ele... Além de suas aspirações políticas, ele era um completo estranho, e um que matava. E ainda teve a sensação, dada a sua falta de jeito com ela, que ele não era alguém que se deleitava com fêmeas com muita frequência.

Com sua desfiguração facial, era óbvio o porquê.

Mas com ela... Ele era diferente.

Além da gravidez, que ela provocou ativamente, ela sempre foi indiferente durante o curso de sua vida. Mas ela não podia ficar de braços cruzados enquanto houvesse caos, nem um pouco, se ela podia fazer algo para ajudar Wrath nesta situação horrível.

Ela tinha culpa. Sobre tanta coisa.

Ela poderia, no entanto, tentar fazer algo sobre isso tudo.

Pegando o seu telefone celular, o que Qhuinn tinha insistido que levasse com ela em todos os lugares, ela ligou a tela de discagem.

Xcor tinha dito a ela como chamá-lo, os dígitos gravados em sua mente no momento em que tinha deixado os lábios dele.

Ela nunca tinha imaginado usá-lo.

A cada toque do dedo da tela, o telefone deixou escapar um tom diferente, a sequência concluída em sete toques.

Ela pairou sobre o botão enviar. E então ela pressionou.

Seu corpo inteiro tremia quando colocou o fino, dispositivo do tamanho de carta de baralho em sua orelha. Um toque eletrônico soou uma vez... Duas vezes…

Layla andou em volta.

Mais à esquerda, do outro lado do muro, ela ouviu um som distante, tão fraco que se não tivesse memorizado exatamente o toque que estava em seu próprio telefone, ela poderia não ter notado.

O celular deslizou de seu aperto e caiu na neve a seus pés.

Ele os havia encontrado.

 

De pé no chuveiro na casa de Assail, Sola não sabia quanto tempo ela ficou sob o jato quente, deixando a água cair em seus ombros e costas, fechando os olhos e inclinando-se contra a parede.

Por alguma razão, ela estava gelada... Mesmo que não houvesse vapor suficiente para qualificar o banheiro como uma sauna, e ela tinha certeza que aumentou a temperatura central para quarenta graus.

Nada estava tocando o congelamento profundo que tinha se alojado no centro do seu peito.

Ela disse a avó que sairiam antes do amanhecer para Miami.

Em retrospecto, investir em um lugar seguro no coração dos negócios da família Benloise foi uma coisa idiota. Mas com alguma sorte, Eduardo, supondo que ele ainda estava no planeta e o beneficiário do testamento do seu irmão, estaria tão ocupado apreciando a compra de Bentleys azuis pálidos e lençóis Versace animal-print que não viria atrás dela.

Supondo que ele nem sequer sabia o que seu irmão tinha feito a ela. Ou planejado para ela.

Ricardo tinha guardado tanto para si mesmo.

Deus… O que Assail fez para aquele homem?

Um flash rápido do rosto dele, sangrando ao redor da boca e queixo, aumentou seu frio, e ela virou-se.

— Caralho! – Ela gritou enquanto olhava para fora do vidro enevoado.

A figura que apareceu na entrada estava quieta como uma estátua e poderosa como um tigre. E ele estava olhando para ela como um poder predador.

No mesmo instante, ela estava quente no interior de sua pele... Porque sabia por que ele tinha vindo, e ela queria isso também.

Assail caminhou até a porta de vidro que os separava e abriu. Ele estava respirando com dificuldade, e à luz acima de sua cabeça, seus olhos brilhavam como faíscas.

Ele entrou no chuveiro totalmente vestido, seus sapatos Gucci, sem dúvida, arruinados, sua jaqueta de camurça marrom escura absorvendo a água que caia e ficando da cor de sangue.

Sem dizer uma palavra, ele pressionou as mãos sobre o rosto dela e a arrastou pela cabeça até sua boca, os lábios dela esmagando enquanto ele a apoiava contra o mármore com todo o seu corpo. Sola deu um gemido, aceitando sua língua enquanto penetrava nela, segurando seus ombros através de suas roupas de grife.

Ele estava totalmente ereto e apertou os quadris contra ela, empurrando seu pau duro e esfregando-o contra sua barriga, o H[2] de ouro de seu cinto a arranhando. Mais beijos, desesperados, o tipo de fome que você vai se lembrar até quando estiver com oitenta e velho demais para pensar em tais coisas. E, em seguida, suas mãos estavam em seus seios escorregadios, os dedos beliscando seus mamilos até que a distinção entre a dor e o prazer desapareceu e tudo o que ela sabia era que se não atingisse o orgasmo no momento seguinte, ela ia morrer...

Como se sentisse o que ela precisava, Assail caiu de joelhos, jogou uma de suas pernas sobre o ombro, e caiu sobre ela, seus lábios devorando seu sexo, da mesma forma que ele atacou sua boca.

Esse sexo foi como castigo, uma acusação de sua escolha, uma expressão física da sua ira e sua desaprovação.

E talvez isso fizesse dela uma vadia doente, mas ela adorou.

Ela queria que ele viesse assim, puto e no limite, derramando-se dentro dela, para que ela não se sentisse tão culpada... Ou tão vazia.

Agarrando o cabelo encharcado dele, ela inclinou seus quadris e forçou-o a ir ainda mais duro, usando sua panturrilha em volta dele para que encontrasse um ritmo...

Sola mordeu o lábio quando gozou selvagemente, seu tronco empurrando contra o mármore com um grito estridente.

Antes que ela percebesse, ela estava no chão do chuveiro, esticada na frente dele enquanto ele tirava a jaqueta e a camisa de seda encharcada de seu peito esculpido. Enquanto ele ia para a fivela do cinto, ela estendeu a mão para ele, as mãos impacientes para alcançar aquela pele suave e os contornos duros dele.

Ele nunca disse uma palavra para ela.

Não quando ele abriu as pernas e montou nela, e não quando seu pau entrou e ele começou a golpear nela, nem mesmo quando ele se apoiou sobre ela e olhou-a nos olhos, como se estivesse desafiando-a a deixar tudo o que ele poderia dar a ela.

As costas largas de Assail ficaram em baixo do jato, protegendo-a, mantendo sua visão clara... Para que ela pudesse ver tudo a partir de sua expressão feroz até seus protuberantes músculos dos ombros, até as sombras projetadas por seus peitorais. Seu cabelo molhado balançado no ritmo, gotas de água caindo das pontas dos cachos como lágrimas, e de vez em quando seu lábio se curvava...

Vagamente, algo registrou como não estando certo, uma bandeira vermelha levantada nos recessos mais distantes do seu cérebro. Mas isso foi tão fácil de ignorar quando outro orgasmo assumiu o controle, silenciando o pensamento para que a sensação fosse tudo o que sentia... Assail era tudo o que sentia.

Quando seu sexo agarrou sua ereção, ele iniciou o orgasmo, também, seu corpo se arqueando...

Sem camisinha. Caralho!

Assim que o pensamento passou por sua mente, ele foi embora de novo, seu orgasmo se multiplicando, em vez de afastá-lo, ela estendeu a mão e afundou as unhas em seus quadris.

Ele tinha certeza que quando seu próprio orgasmo fosse se desvanecendo que as coisas ficariam... Um pouco estranhas.

Seu corpo ficou imóvel na recuperação e sentiu que ele retrocedia profundamente dentro dela, terminando o que tinha começado.

Exceto que ele não tinha terminado com ela.

Depois que ele terminou de ejacular, sua pélvis entrelaçada contra a dela, começou a retirar-se quase imediatamente. E ela esperava que ele se deitasse com ela sobre o mármore; talvez levantá-la e levá-la para fora para se secar e ficar na cama; talvez fazer um comentário que, caramba, eles não tomaram nenhum cuidado.

Talvez dizer-lhe o que ele tinha mostrado a ela: que ele não queria que ela fosse.

Em vez disso, ele colocou o seu peso em uma mão e agarrou seu pênis brilhando com a outra. Acariciando a si mesmo, ele gemia como se estivesse se preparando para gozar novamente.

O segundo orgasmo disparou dele e ele dirigiu tudo sobre seu sexo... E ele não parou por ai. Depois que ele cobriu seu núcleo, ele subiu, deslocando-se para seu estômago, suas costelas, seus seios, seu pescoço, o rosto dela. Ele parecia ter uma provisão infinita de esperma, e quando os jatos quentes caiam em sua pele supersensível, ela se encontrou gozando junto com ele, passando as mãos para cima e para baixo em seu corpo, sentindo a bagunça quente que ele estava cobrindo-a, espalhando em seus próprios seios.

No fundo da sua mente, ela sabia que existia algum outro motivo para tudo isso.

Mas com a falta da camisinha, ela já tinha muito no momento para se preocupar.

Era como se ele estivesse… Marcando-a… De alguma forma.

E que estava tudo bem com ela.

 

Xcor estava totalmente desorientado no meio da névoa, e sabia que estava chegando a hora de voltar. Ele estava vagando sem rumo em direção a montanha pelo que pareciam horas, e ainda não tinha chegado a qualquer tipo de cume ou fortaleza. Tudo o que ele tinha visto foram árvores perenes. O ocasional leito do rio estava coberto com uma camada de gelo. Pegadas de cervos na neve...

Seu telefone tocou discretamente no bolso.

Mesmo xingando pela interrupção, ele reconheceu que era a deixa adequada para parar esta loucura, sem duvida, um de seus Bastardos fazendo a checagem. Além disso, assumindo que ele descobriu o Complexo da Irmandade, o que ele esperava fazer? Uivar fora da janela da Escolhida até que ela concordasse em se encontrar com ele?

Tudo o que conseguiria era ficar cercado por guerreiros... E embora ele tivesse ouvido que vermelho era a cor do amor, derramamento de sangue não era um substituto apropriado para uma rosa.

Pegando seu celular, ele respondeu bruscamente. — Sim?

Um som agudo reverberou em seu ouvido, estridente e alto o suficiente para que ele afastasse o celular.

Retornando a ligação, ele gritou, — O quê?

Sem resposta.

— Porra, Throe.

De repente, todos os instintos que ele tinha ou jamais possuiu começou a gritar... E não em alerta como se estivesse a ponto de ser atacado.

Soltando o celular, ele virou-se lentamente, com medo de que fosse algum tipo de falha de alerta interno...

Sua respiração o deixou em um longo suspiro quando ele viu o que apareceu diante ele.

Era… Ela.

De fora da névoa densa, sua Escolhida se materializou... E o impacto de sua presença o desequilibrou mesmo enquanto ele permaneceu de pé. Oh, linda de se ver, o seu espírito suave fazendo-o sentir o monstro nele com grande clareza.

— Como você está aqui? – Ela perguntou com uma voz trêmula.

Ele olhou ao redor. — Onde estou?

— Eu... Quer dizer que você não sabe?

— A Irmandade não deve estar longe, mas eu não posso ver ou encontrar nada com esse maldito feitiço.

Envolvendo seus braços ao redor de si, ela parecia estar em conflito... Mas por que não estaria. Ele tinha que estar perto de onde ela ficava, apesar de não saber se isso era em termos de metros ou quilômetros.

— Como você está? – Ele perguntou em voz baixa. — Eu gostaria que houvesse luar. Eu poderia vê-la melhor.

Mas ele podia sentir o cheiro dela... E aquele perfume. Aquele cheiro.

— Eu liguei para você, – ela sussurrou depois de um longo momento.

Ele sentiu as sobrancelhas se erguerem. — Foi você? Agora?

— Sim.

Por um segundo, traiçoeiro, seu coração bateu mais rápido do que se ele tivesse corrido até aqui com ela. Mas então… — Você ouviu.

— Sobre o que você fez para Wrath.

— Essa foi a escolha do Conselho.

— Não finja para mim.

Ele fechou os olhos. Infelizmente, ele não podia. — Eu disse que o trono era para ser meu.

— Onde estão os seus soldados?

— Como se eu tivesse vindo essa noite para derrotar o Rei Cego fora de sua casa?

Sua voz ficou mais forte. — Você tem o que queria dele, e usou sua amada para fazê-lo. Por que se preocupar com ele agora.

— Não foi ele quem eu vim ver.

A Escolhida respirou rapidamente... Embora a admissão certamente não foi uma surpresa.

E Deus o salve, Xcor deu um passo mais próximo a ela, embora por tudo que era correto e apropriado, ele deveria se afastar: Ela era mais perigosa para ele do que qualquer Irmão, especialmente quando os leves tremores que vibravam através de seu corpo esbelto eram registrados por ele.

Ele se enrijeceu completamente. Era impossível não responder.

— Você sabe disso, não é, – ele disse com um suave rosnado. — Estava me ligando para ver se podia influenciar minhas ações? Vá em frente, agora. Você pode ser sincera... Somos só você e eu aqui. Sozinhos.

Ela ergueu o queixo. — Eu nunca vou entender seu ódio por aquele bom macho.

— Seu Rei? – Ele riu asperamente. — Um bom macho?

— Sim, – ela respondeu com genuína paixão. — Ele tem uma alma boa, tem uma relação duradoura de amor verdadeiro com sua companheira... Um macho que todas as noites se compromete a fazer seu melhor para a raça.

— Sério? E como ele está realizando esse objetivo louvável? Ninguém o vê, sabe? Ele nunca sai para se misturar com os aristocratas ou os plebeus. Ele é um eremita que falhou no seu dever em um tempo de guerra. Se não fosse eu, seria outro...

— É errado! O que você fez é errado!

Ele balançou a cabeça, ao mesmo tempo admirando a ingenuidade de princípios e triste que ela ia teria que lidar com isso. — É assim que o mundo funciona. A força vence a fraqueza. É tão universal quanto à gravidade e o pôr do sol.

Mesmo através de seu agasalho, ele podia dizer que seus seios estavam empinados sob seus braços cruzados, e seus olhos baixaram antes de se fecharem brevemente. — Eu nunca gostei da inocência, – ele murmurou.

— Perdoe a ofensa, então.

Erguendo as pálpebras, ele disse, — Mas eu acho que, como sempre, quando se trata de você, as revelações continuam em ritmo acelerado.

Ela estendeu suas longas mãos para ele, implorando através do ar frio. — Por favor. Apenas pare. Eu irei…

Quando ela só conseguia engolir em seco, ele encontrou-se ainda em curso. — Você vai fazer o quê?

Com movimentos bruscos, ela andava diante dele. E ainda assim, ele não podia mover um único músculo.

— O que exatamente, – ele perguntou profundamente, — Você vai fazer?

Ela parou. Levantou o queixo adorável. Desafiou-o com seu olhar e seu corpo, mesmo que ela fosse noventa quilos mais leve do que ele e totalmente inexperiente.

— Você pode me ter.

 

— Está muito quente aqui... Ou eu estou louca?

Quando ninguém a respondeu, Beth olhou através do escritório. Saxton, Rehv, e Wrath estavam todos quietos enquanto ocupavam espaço no jogo de sofás azuis. Os dois primeiros estavam olhando fixamente para o fogo apagando, e ela não sabia onde Wrath dirigia seus olhos.

Diabos, mesmo que ele estivesse no mesmo quarto com ela, ela não fazia ideia de onde ele estava.

Tirando o roupão, ela o colocou na grande mesa esculpida e leu a proclamação de novo. A cadeira que ela escolheu era a única que Rehv normalmente usava, a bergère de assento macio, como ele a chamava, do lado de onde está o trono de Wrath.

Ela se recusou, apesar do que ela segurava em suas mãos, se referir a cadeira gigante como de ninguém mais além do seu companheiro.

Olhando de volta para o pergaminho, ela balançou a cabeça para todos os símbolos que tinham sido escritos tão cuidadosamente com tinta. Quando chegou ao Idioma antigo, ela foi lendo lentamente, tendo que pensar na definição de cada personagem antes de poder juntar uma frase. Mas sabe... A segunda leitura, foi igual a primeira.

Colocando o papel duro, pesado com sua borda colorida em cima da mesa novamente, ela passou os dedos pelo longo cetim que estava protegido por selos de cera. Eram tão estreitas e suaves quanto as tiras de fita usadas nos cabelos das meninas, perfeito para amarrar uma trança.

Não que ela estivesse pensando no bebê ou qualquer coisa.

— Então não há nada que possamos fazer sobre isso? – Disse ela depois de um tempo.

Cara, ela estava com calor. A flanela não tinha sido uma boa escolha... Ou era isso ou estresse.

Saxton pigarreou quando ninguém mais se ofereceu para responder. — Processualmente, eles seguiram as regras. E do ponto de vista legal, o seu fundamento está correto. Tecnicamente, lendo as Leis antigas agora, qualquer descendente de… – Mais pigarro. E ele olhou para Wrath para verificar o quão furioso iria ficar. — …Você dois estão destinados para o trono, e existe uma disposição sobre o sangue de nosso governante.

Sua mão foi para seu ventre. A ideia de que um grupo de pessoas tinha como alvo seu filho, que ainda estava por nascer e talvez nem mesmo existisse, era suficiente para fazê-la querer ir até o ginásio e dar uns bons socos.

Antes quando ela estava no mundo humano, de vez em quando foi discriminada por ser mulher, *cof*os-pica-tonta*cof*. Ela não teve nenhuma experiência com qualquer problema racial, no entanto. Para alguém que parecia Caucasiana, ainda que, como se viu, ela era apenas metade branca, porque era apenas meio-humana, essas coisas nunca foram um problema.

Cara… Ter uma opinião sobre um indivíduo baseado em características ligadas a loteria do esperma era loucura. As pessoas não podiam escolher o sexo do que ia sair do útero; Nem podiam mudar a composição de seus pais.

— Aquela glymera, – ela murmurou. — São um bando de idiotas.

— Eu provavelmente serei o próximo, – Rehv disse. — Eles sabem sobre os meus laços com os dois.

Ela enfocou no macho com moicano. — Eu sinto muito.

— Não sinta. Eu só aceitei o trabalho para ajudar você dois e a Irmandade. – Então ele disse secamente, — Eu tenho bastante em minhas mãos ao norte para me manter ocupado.

Isso mesmo, ela pensou. Era tão fácil esquecer que ele não era apenas o leahdyre do Conselho, mas o rei dos symphaths.

— E você não pode expulsar todos eles ou algo? – Ela perguntou ao macho. — Eu quero dizer, como leahdyre, você não pode conseguir... Eu não sei, um novo grupo de pessoas?

— Eu vou deixar o nosso bom amigo advogado aqui explicar se entendi errado, mas é do meu entendimento de que a adesão ao Conselho é determinada pela família. Então, mesmo se eu encontrar motivos para arrancar os filhos da puta, eles só seriam substituídos por membros dessa linhagem... Que provavelmente teriam a mesma opinião sobre as coisas. Porém, o mais importante foi feito. Ainda que todos fossem novos? A ação ainda permanece.

— Eu só continuo pensando se existe algo...

— Podemos parar com isso agora, – Wrath cortou a conversa. — Quero dizer, podemos apenas dar uma pausa nessa merda? Sem ofensa, mas olhamos todos os lados, você já leu o que eles enviaram... O que está feito está feito.

— Eu simplesmente não posso acreditar que foi tão fácil. – Ela olhou para o trono. — Quero dizer, um pedaço de papel e acabou.

— Eu temo pelo futuro, – Saxton murmurou. — Esse sistema de valores deles não é bom para pessoas como eu. Ou para as fêmeas. Nós tínhamos feito tal progresso nos últimos dois anos... Saindo da Idade da Pedra. Agora? Isso vai ser apagado, guarde minhas palavras.

Wrath levantou rapidamente. — Escute, eu tenho que ir.

Com passos largos, ele veio até ela, uma mão estendida para ela agarrar e o guiar nos últimos centímetros.

Quando ela pegou sua palma e o puxou para baixo, ela inclinou sua cabeça para um lado assim ele podia beijar sua jugular, e inclinou para o outro assim ele podia fazer o mesmo na esquerda, e em seguida, colocar os lábios em sua boca assim ele podia beijá-la lá, também.

E então ele e George partiram.

Observando ele ir, ela odiava como ele parecia, tão frágil, tão perdido... Embora fisicamente falando, era mais do que ela causou a ele durante o período de necessidade. Mentalmente e emocionalmente? Uma longa lista de pessoas eram responsáveis por isso.

Embora ela fosse uma dessas, também.

— Tem que haver um jeito, – ela disse para ninguém em particular.

Deus, ela orou para que seu hellren não estivesse indo para o ginásio. A última coisa que ele precisava era de mais exercício... Descanso e comida era o que seu corpo exigia agora.

Mas ela conhecia aquele olhar em seu rosto bem demais

 

Xcor nunca tinha sido um macho letrado. Não apenas ignorante em literatura, ele era, de fato, analfabeto... E em uma base regular, Throe usava palavras em inglês ou na língua materna que ele não entendia.

E ainda se suporia, mesmo no seu mais baixo nível de capacidade, que as quatro palavras de uma sílaba faladas para ele, pelo menos, se tomadas individualmente... Não ofereciam nenhum desafio à compreensão.

Seu cérebro, no entanto, estava se recusando a processá-las.

— O que você falou? – Ele perguntou asperamente.

Quando Layla repetiu o que ela havia dito, seu cheiro inspirava o intenso tempero do medo: — Você pode me ter.

Xcor fechou os olhos e fechou suas mãos. Seu corpo já havia traduzido seu discurso e respondeu por vontade própria, seus músculos se contraindo para chegar até ela, levá-la para baixo até o chão frio, montá-la para marcá-la como sua.

— Você não sabe o que diz, – ouviu-se murmurar.

— Eu sei.

— Você está com o bebê.

— Eu… – Mesmo com as pálpebras abaixadas, ele podia imaginá-la engolindo em seco. — Isso significa que você não me quer?

Ele levou um momento para respirar, seus pulmões queimando. — Não, – ele gemeu. — Não é isso.

Na verdade, quando ele a imaginou com outro, a pontada de dor que atravessou seu peito foi suficiente para deixá-lo pálido. E, no entanto, apesar da semente de outro plantada dentro de seu corpo, ele iria levá-la, tê-la, mantê-la...

Com exceção de uma coisa.

Abrindo os olhos, ele revisou todos os tipos de detalhes sobre ela, de seu bonito coque alto até suas feições delicadas, seu pescoço esbelto que ele queria em sua boca. Havia mais para ver, é claro... Mas era o rosto dela mais do que tudo que ele precisava acima de tudo na sua mente.

Tinha sido uma espécie de loucura desde o início com ela... Desde que ele a tinha trazido para aquela árvore no prado, e desde que ele tomou de seu pulso e tomou de seu manancial, ele havia sido infectado com uma doença.

— Responda-me uma coisa. – Seus olhos continuaram a vagar, medindo cada nuance de seu medo, a expressão congelada.

— O quê? – Ela iniciou quando ele não falou imediatamente.

— Exceto pelos eventos que transpiraram, você teria se oferecido a mim?

Ela deixou cair o olhar. Apertou os braços sobre seu coração. Abaixou a cabeça.

— Responda-me, – ele disse suavemente. — Fale a verdade, para que ambos possamos ouvi-la em voz alta.

— Mas o que está feito está feito, e...

Ele estendeu a mão e ergueu o queixo dela com o mais suave dos toques. — Diga isso. Você deve ouvir sua própria verdade... E eu asseguro que tomei flechas mais duras do que isso.

Lágrimas brotaram em seus olhos, tornando-os luminosos, como o luar sobre a superfície de um lago. — Não. Eu não faria isso.

Ele sentiu seu corpo balançar, com certeza, como se tivesse sido atingido. Mas como assegurou, ele ficou de pé em agonia. — Então minha resposta para você é não. Mesmo se houvesse uma maneira de desfazer tudo isso com o seu rei, e não há... Eu nunca vou levá-la contra sua vontade.

— Mas eu escolhi isso. É minha escolha.

Xcor balançou a cabeça. — Somente pelo impulso de outra coisa.

Ele deu um passo para trás. — Você devia voltar para… – Ele olhou para a névoa, ainda totalmente perdido. — Onde você tem que ir...

— Você me quer. – Agora sua voz era firme e segura. — Eu posso sentir isso.

— Claro que sim. Mas não como um cordeiro indo para o matadouro. Minha fantasia... Não é isso.

— Será que a razão importa?

— Alguns presentes são mais dolorosos do que insultos. – Ele foi para afastar-se dela, e encontrou-se imóvel. — Especialmente quando não há nada a ser feito sobre o seu Wrath. Ele foi substituído.

— Se você destituiu um Rei legítimo, você pode destituir outro. Você pode colocar Wrath de volta.

— Você me dá muito crédito.

— Por favor.

Sua firmeza o enfureceu, mesmo que fosse uma virtude, ele supôs. — Por que isso importa tanto para você. Sua vida não deve mudar. Você estará segura aqui... Ou lá. A Irmandade não será desfeita.

— Eles virão por você.

— Então, vamos matá-los. Eu estou esperando que eles vejam os benefícios de se curvarem graciosamente.

Na verdade, ele não podia acreditar que estava dizendo isso. Mas para não perturbá-la, ele deixaria que eles e Wrath vivessem... Desde que não entrassem em seu caminho.

Layla sacudiu a cabeça. — A lealdade deles não permitirá isso. – Suas mãos erguidas em suas bochechas e apertadas como se ela estivesse imaginando o horror. — Haverá guerra de novo. Por sua causa.

— Então me odeie. Será melhor para nós dois se você fizer.

Ela olhou para ele durante muito tempo. — Temo que não posso fazer isso.

Xcor fez o possível para ignorar a forma como o seu coração pulou. — Eu vou me retirar.

— Como você achou esse lugar?

— Eu os segui para casa há pouco tempo. Você estava no carro, voltando da clínica. Eu estava preocupado com você.

— E por que… Você veio hoje à noite?

— Eu tenho que ir.

— Não.

Por um momento, ele fingiu sonhar em que ela dizia isso e queria dizer isso para ele pessoalmente. E não apenas na esperança de convencê-lo sobre a sua posição.

Aquela loucura não durou muito. Especialmente porque ele imaginou-se aterrorizando aquele homem humano ferido no restaurante deserto, por nenhuma outra razão, apenas porque podia, e, em seguida, lembrou-se de remover as colunas de todos aqueles lessers e entregá-los aos membros da aristocracia? Como se o destinatário fosse significativo. Depois ele se lembrou de decapitar assassinos. Esfaqueá-los no intestino. Romper os seus membros...

Havia tantos atos de violência em seu passado.

Assim como a depravação da qual ele tinha passado no campo de guerra do Bloodletter.

Além disso, ele era a sua cara.

Ele queria apenas começar a descer a ladeira. Ao contrário dela, ele não poderia se desmaterializar... Já havia tentado várias vezes para acelerar a subida dessa forma e não conseguiu nesse nevoeiro.

Sim, ele queria deixá-la para trás. Por todas as razões que ele soletrou para ela e também aquelas que ele guardava para si.

Em vez disso, ele se ouviu dizer: — Encontre-me sob a árvore no prado. A meia-noite de amanhã.

— Para que, – ela fechou mais sua parca como se estivesse para ser comida viva, — Propósito?

— Não é pelo o que você está preocupada.

Agora ele deu a volta e começou a caminhar, até que seus pensamentos clareassem o suficiente para detê-lo. Olhando por cima do ombro, ele disse, — Escolhida. Você sabe o caminho para casa?

— Oh, sim… Claro… – Exceto quando ela olhou ao redor, ela pareceu ficar confusa. — Sim, é logo ali…

Ela não parou para esconder suas palavras. Ela honestamente não parecia saber onde estava.

Fechando os olhos, ele xingou. Ele nunca deveria ter vindo aqui... Nunca.

Por que e se ele a deixasse aqui sozinha, e ela não encontrasse abrigo antes do sol nascer? E se eles estivessem no meio do caminho para onde ela precisava ir?

Colocando as mãos nos quadris, ele inclinou a cabeça para trás e sondou o céu, pensando que talvez eles pudessem oferecer-lhe um pouco de bom senso... Porque ele claramente perdeu o dele.

Entre todas as maneiras para eu morrer, ele pensou…

Ele nunca tinha considerado que seria por causa de uma fêmea.

 

Quando Trez inspecionou a multidão de góticos no Iron Mask, ele não podia dizer que estava emocionado por voltar ao trabalho novamente. Seus negócios sempre foram importantes para ele... Bem, primeiro fazia bico para o Rehv; Então quando o Reverendo se despediu... Ou mais como apagou o seu caminho... Trez assumiu o comando do empreendimento do clube inteiro. E ainda que o lugar tinha sido seu ou de Rehv, ele adorava dirigir as operações, lidar com as pessoas, planejar novos locais, ver seu dinheiro crescer. Sim, certo, os humanos eram um pé no saco, mas isso era verdade se você estivesse dirigindo seu carro, comprando em um supermercado, ou tentando ganhar a vida.

Com certeza, as drogas e bebidas realmente não ajudavam aquele último, mas não importa...

Esta noite, porém, enquanto observava uma dúzia de meninas que trabalhavam circulando, sentado no colo, flertando, levando os homens pela mão e desaparecendo nos banheiros... ele estava enojado com tudo isso.

Especialmente quando ele pensava sobre o que concordou em fazer para s’Ex.

Cara, era tão tentador presumir que ele tinha resolvido o problema... que manter o carrasco feliz ia fazer tudo ir embora.

Errado.

A coisa era, ele só ficava pensando que, se ele tivesse mais tempo, ele iria encontrar uma maneira de sair.

— Alguma chance de você estar procurando por mim?

A fêmea humana em pé na frente dele tinha cabelo preto comprido... Natural, como muitos deles até aqui... E um corpo que era cheio de curvas como uma pista de corrida. Provavelmente até mais rápido. E com a pele artificialmente pálida como leite e lábios pintados da cor de sangue, ela era uma aspirante a vampira em um mundo de impostores, tudo espremido em uma personalidade que provavelmente se originou a partir de um emocional panorama bipolar.

Não que ele estivesse generalizando, nem nada.

— Não, – ele disse. — Eu não estou procurando por você.

— Tem certeza? – Ela se virou um pouco na frente dele, mostrando sua bunda redonda. — Porque eu valho a procura.

Na sua mente, tudo o que ele podia ver era sua Escolhida, exposta diante dele, tão bonita e limpa.

— Desculpe, – ele murmurou quando se virou e foi embora.

Depois que Selena tinha deixado ele e iAm na cozinha juntos, ela não voltou: Quando todo mundo tinha sido chamado para a sala de jantar para ouvir a notícia horrível sobre o Rei, ele esperava vê-la lá. Nada feito.

E ele queria ir até o Grande Acampamento de Rehv para vê-la. As coisas entre eles estavam muito abertas para seu gosto, mas ele tinha a sensação de que ir até o âmago da questão iria fazê-lo sentir-se pior.

Ela também.

Ele só precisava deixar a situação toda com ela pra lá...

Do outro lado do caminho, uma das prostitutas profissionais, uma morena de couro colante vermelho, encontrou seu olhar, e ele fez um rápido aceno com a cabeça para ela.

Sim, ele pensou. Ela ia fazer.

Quando ele fez um sinal para ela vir, ela estava mais do que feliz em afastar a multidão e diminuir a distância. — Ei, chefe.

Merda, ele realmente, totalmente odiava fazer isso. — Tenho um cliente particular, preciso de alguns serviços especiais. Está interessada?

— Sempre. – Ela olhou ao redor. — Ele está aqui hoje à noite?

— Local distante. Amanhã ao meio-dia. Eu vou perguntar para outras duas.

— Diversão. Não se preocupe com Willow, no entanto, está bem? Ela tem sido um pé no saco ultimamente.

— Entendido.

— Obrigada por pensar em mim, chefe. – Ela sorriu e bateu com o quadril no dele. — Eu vou ter certeza que seu amigo terá um ótimo momento.

Quando ela se afastou, Trez pensou, talvez, possivelmente… Sim, muito bem… Vomitaria seu jantar por todo o chão preto polido.

Em busca de ar fresco, ele caminhou para a entrada, e veio a frente como se ele estivesse apenas verificando com Ivan e o novo cara à frente da fila de espera. E então ele começou a caminhar, andar a pé em nenhuma direção particular embora não estivesse com um casaco e seu Ferragamos não era bom nas calçadas escorregadias.

Na sua solidão, ele estava longe de estar sozinho: pensamentos de Selena, seu irmão, seus pais, lotaram o espaço ao redor dele, fazendo-o considerar seriamente o mérito de ficar bêbado.

iAm disse a ele que o negócio feito com s'Ex era uma ideia idiota. E então prontamente voltou para a cozinha para fazer cacciatore.

Ainda assim, considerando todas as coisas, a conversa tinha ido realmente muito melhor do que algumas de suas outras ultimamente.

— Você quer comprar um pouco de crack? H?

Erguendo uma sobrancelha, Trez olhou para um cara branco que estava recostado contra o outro lado de um salão de tatuagem. De primeira.

Assim que ele abriu a boca para dizer merda cara, não, o vento mudou de direção e ele foi atingido em cheio no rosto pelo cheiro de lesser.

Ele parou imóvel em seu rastro.

— Então, o que vai ser? – O assassino perguntou a ele.

Trez olhou para a esquerda e para a direita, sem nenhuma razão particular... Diferente dele, de repente, estava interessado na compra de algo que ele nunca iria usar de um idiota que não sabia que estava falando com o inimigo.

Entrando na escuridão, Trez colocou a mão no bolso da calça como se estivesse indo por sua carteira. — Quanto?

— Qual.

Trez manteve o ardil, olhando em volta como se ele estivesse nervoso. De perto, isso era definitivamente um lesser, o cheiro doce muito pior do que um trabalho humano de sete dias-sem-chuveiro em uma fábrica... Que só passava ao ser mergulhado em talco de bebê.

E contrabandeando um guaxinim morto debaixo de cada axila.

— Ambos. Ei, você se importa se nós andarmos um pouco mais adiante?

O assassino se virou e começou a citar preços enquanto ele se movia mais fundo no beco do lado da loja. Ele não fazia isso para lavar o dinheiro.

Trez assumiu o controle com facilidade, vindo por detrás do bastardo, agarrando sua cabeça e estalando de um lado para o outro de forma que a única coisa mantendo isso na coluna era a pele. Pegando o peso morto pelo torso, ele empurrou o assassino atrás de uma pilha de paletes e começou a ir pelos bolsos.

Dez saquinhos de pó. Vinte ou mais pedras pequenas. Setecentos em dinheiro, aproximadamente.

Não é do grupo principal. Na verdade, dificilmente notável para esta parte da cidade, com exceção da parte lesser.

Empurrou o cadáver ainda, movendo-se no chão, pegou o telefone e discou um número. Ele foi atendido no terceiro toque.

— Butch? – Ele disse. — Ei, amigo, qual é? Uh-huh. Sim. Certo. — Ele fechou os olhos do assassino e pensou se as articulações molengas dos braços e pernas estavam totalmente fora de visão. — Bem, eu tenho um amigo que gostaria que você conhecesse. Não, não é o tipo que você gostaria de levar para casa para o jantar. Sim, ele não está indo para lugar nenhum. Não se apresse.

Depois que ele desligou, ele olhou para os pacotes na palma da mão. Eles foram marcados com o símbolo de morte, no Idioma Antigo.

Alguém na corrida estava tendo, um grande momento. E eles estavam trabalhando com o inimigo para fazê-lo.

Próxima pergunta? Quem era o fodido por trás disso?

 

Era perto do amanhecer, quando Beth decidiu que ela tinha que sair das habitações dela e do Wrath. Ele não tinha voltado ainda, e a perspectiva de passar mais um minuto com o caos em sua mente foi o suficiente para fazê-la querer dar uma pausa.

Primeira parada? Quarto de Layla, mas a Escolhida não estava lá. Provavelmente uma coisa boa quando tudo o que ela teria feito seria chatear a pobre fêmea sobre os primeiros sintomas da gravidez... Que eram loucos em dois relatos: Uma, se ela havia concebido, era o que, como 24 horas, no máximo? E dois, Layla quase tinha tido aquele horrível aborto espontâneo.

Não era exatamente uma boa companhia... Se Beth não queria ficar completamente louca.

Caminhando de volta para o corredor de estátuas, ela pensou... Cozinha. Sim, a cozinha era uma boa próxima parada... Assumindo que ela não queria chatear Wrath na sala de musculação do centro de treinamento.

Ele claramente precisa de um pouco de espaço.

Quando ela chegou à escadaria principal, ela estava achando aquele processo impossível como uma realidade paralela. A primeira camada era o que estava na frente dela: Wrath e o destronamento, o silêncio triste na casa, o estresse sobre o futuro seguro da raça. O segundo nível era completamente interno e completamente físico: Uma pontada em sua pélvis... Era a concepção… Ou a vinda do seu período, o que significa que não é bom? Uma dor em seu seio... Sintoma de concepção… Ou o resultado de todo aquele sexo? Flashs de calor... Ou resíduo do desequilíbrio hormonal… Ou a flanela?

Somente a gravidade da situação em que estavam, graças às ações do Conselho a impedia completamente de se desconcentrar do seu corpo. E enquanto isso, no fundo do seu coração, ela não sabia se ela esperava estar grávida... Ou esperava não estar.

Na verdade, isso era uma mentira.

Colocando a mão sobre o baixo ventre, ela encontrou-se rezando para que não estivesse. A única coisa pior do que Wrath perder o trono... Seria ele descobrir que ia ser pai logo em seguida.

Se ele já estava sentindo como se perdesse o legado de seus pais, isso iria ser como jogar-lhe uma pedra para pegar enquanto ele mal estava pisando na água: Sem dúvida, ele iria sentir como se estivesse traindo seu filho, também.

No nível do vestíbulo, ela atravessou para a sala de jantar e então entrou na cozinha. Deus, o estranho vazio... A cozinha geralmente era um lugar tão ativo, mesmo durante as pausas entre as grandes refeições familiares. Para entrar quando as venezianas estavam descendo e não ter nada no fogão, no forno, ou nas bancadas era assustador.

Droga... O que iria acontecer agora?

A Irmandade iria se separar? Aonde ela e Wrath iriam? Tecnicamente, eles não deviam ficar nos quartos exagerados no terceiro andar, se não fossem mais a primeira família.

Na verdade... Seria um alívio sair de lá.

Embora a causa da realocação fosse péssima.

Abrindo o freezer Sub-Zero, ela viu… Um monte de porcarias que ela não queria comer. Mas ela devia estar com fome, não devia? Ela só comeu as coisas que Fritz trouxe quantas horas atrás? E ela certamente não comeu nada durante o período de necessidade.

Ela precisava fazer xixi.

Desaparecendo no banheiro ao lado da cozinha, ela cuidou dos negócios, lavou suas mãos, e fez outra tentativa no refrigerador.

Alguém acabou de colocar uma grande vasilha de algo na grade mais baixa. Uma espiada sob a tampa e… Cacciatore. Normalmente o prato principal que vale a pena enfrentar, especialmente porque iAm deve ter sido o único que fez isso. Porém, um rápido cheiro conseguiu um grande e gordo: não, obrigada de seu estômago. A mesma coisa quando sentiu o resto de presunto. Um Tupperware de linguine a bolonhesa. Sopa de tomate…

Fazendo uma tentativa no freezer, ela tirou uma caixa de simples waffles Eggos… Em seguida, colocou-os de volta. — Meh.

Sorvete era um total não é bom. Apenas o pensamento daquela coisa de creme pesado a fez querer vomitar...

Ela hesitou enquanto olhava para si mesma. — Alguém ai? – Ela disse para sua pélvis.

Certo, era oficial. Ela estava totalmente perdida.

Depois de uma viagem pela despensa, que provou ser como tentar encontrar algo comestível na lavanderia, pelo amor de Deus, ela voltou para a geladeira e conseguiu pegar um pote de picles Vlasic.

— É picles, pessoal, – ela murmurou. — Picles. Clichê total aqui.

Exceto quando ela abriu a tampa e olhou para as fatias dançando em sua pequena piscina de água agridoce, ela fez uma careta e teve que colocá-los de volta.

Como último recurso, ela abriu a gaveta de vegetais...

— Sim, – ela disse rapidamente enquanto sua mão se estendia para agarrar. — Oh, sim sim sim…

Quando ela levou o monte de cenouras orgânicas até a gaveta das facas, ela não podia acreditar que estava prestes a comer todo aquele betacaroteno.

Ela odiava cenouras. Certo, não completamente... Se estivessem em saladas, não era como se ela fosse comer em volta delas. Mas ela nunca em sua vida as tirou para fora da geladeira.

De pé na frente da pia, ela cortou as pontas, descascou com o descascador, e fez um belo monte de tiras laranja brilhantes na cuba de aço inoxidável. Enxágue rápido. Cortou no meio. Fatiou longitudinalmente duas vezes. E voilà, crudités[3].

Crunch. Munch. Engoliu.

Elas eram tão frescas, que partia toda vez que ela dava uma mordida nelas, e o doce, gosto de terra era melhor do que chocolate.

Mais uma, ela pensou enquanto terminava sua última porção. Exceto quando ela chegou ao fim da número dois, ela pensou… Que tal outra.

Enquanto ela comia a terceira, ela voltou a pensar na proclamação do Conselho. Sua motivação para tentar fazer alguma coisa era moleza. Mesmo que a identidade racial de sua mãe não fosse culpa dela, ela ainda se sentia responsável por trazer o carrinho de merda para a porta da frente de Wrath.

Se ela pudesse descobrir uma maneira de contornar isso...

Do lado do Conselho, as coisas evidentemente seguiam em frente. Um juramento oficial daquele cara Ichan tinha sido programado... E Rehv descobriu porque, como um idiota, o Secretário do Conselho não conseguiu tirá-lo de sua lista de e-mail privado.

Isso aconteceria à meia-noite.

Ela olhou para os fornos duplos. O relógio digital azul mostrava quatro e cinquenta e quatro. Então, eles tinham 19 horas.

Que diabos poderia ser feito em dezenove horas?

Voltando para o esconderijo, ela...

O som do sistema de segurança, anunciando a abertura e fechamento de uma porta externa foi uma surpresa. Franzindo a testa, ela saiu pela despensa, empurrando uma das portas que os empregados utilizavam...

Layla estava saindo da biblioteca, parecendo como se tivesse estado em um acidente de carro: O cabelo dela estava emaranhado pelo vento, com o rosto branco como um lençol, com as mãos no rosto.

— Layla, – Beth chamou-a de cima. — Você está bem?

A Escolhida pulou tão alto que teve que esticar ambos os braços para se manter equilibrada. — Oh! Oh... Ah, sim. Sim, estou. Eu estou bem, muito bem, sim. Obrigada. – A fêmea abruptamente franziu o cenho. — E você? Você está…

Tantas maneiras para terminar para a fêmea, dado o que estava acontecendo: Você… É suicida? Você… Está dando uma pausa nas sessões de lamentações? Você… Está grávida, também?

— Oh, sim, tudo bem. Sim, muito bem. Sim.

Dois podiam jogar aquele jogo.

— Bem, eu estou subindo. Para ir para a cama. Para tomar um banho, e ir para a cama. – Quando Layla começou a tirar sua parca, seu sorriso era tão genuíno quanto o de Courtney Stodden. — Eu verei você em… Bem, mais tarde. Vejo você mais tarde. Tchau. Tchau por agora!

A Escolhida subiu a escada como se estivesse sendo perseguida, embora não houvesse ninguém atrás dela.

Quando Beth retornou a cozinha, ela se sentiu mal por não acompanhar a óbvia angústia da fêmea, mas a triste verdade era que ela já tinha tanto em suas mãos… Não havia espaço para o drama de qualquer outra pessoa com um lado do cérebro frito.

De volta a pia, ela descascou outra cenoura. Cortou pela metade e a virou para...

A solução veio a ela com tanta clareza, que quase cortou a ponta do seu dedo fora...

Derrubando a faca, ela pegou as duas metades… E os manteve juntos, encontrando o ajuste do quebra-cabeça que os fez parecer como se fossem um só.

Então, ela deliberadamente os separou. Reuniu-os. Separou-os.

Em ambas as encarnações... As metades ainda eram cenoura.

Jogando os pedaços na bancada, ela decolou em uma corrida mortal.

Foi uma grande cerca viva redonda que salvou ambos.

 

Quando Xcor se materializou no jardim da frente de sua casa suburbana, ele tinha que ter um momento para se recompor... Mesmo que o sol estivesse ameaçando, no leste.

Falando sobre um triz... Ele mal conseguiu que Layla voltasse a tempo. E até o momento, ele não tinha certeza se tinha conseguido.

Mas ele fez o seu melhor.

Uma vez que ficou óbvio que ela sofreu a mesma desorientação que ele na névoa, ele tomou sua mão e começaram a subir a colina. Ele não perguntou a ela para confirmar onde estava escondido o complexo da Irmandade, na verdade, no canto superior, para aquela informação, ele se baseou nos mesmos princípios que construíram seu muito mais apropriado covil no Antigo País.

Quanto mais alta a posição, mais defensável era.

Apressando-a mais rápido que podia, eles acabaram chegando diretamente em um muro de estuque de seis metros de altura, um bom sinal que eles estavam perto da casa dela. O problema era, ela estava muito nervosa para se desmaterializar sobre a maldita coisa.

Confrontado com a escolha de direita ou de esquerda, ele tinha sido bem ciente de que, em sua decisão descansou a segurança dela.

Em muitos níveis.

Ele tinha estado bem ciente de que, mesmo se pudesse construir um abrigo adequado para eles, algo capaz de protegê-los tanto da luz do sol durante todo o dia, a sua ausência seria notada e questionada quando ela voltasse no seguinte pôr do sol. Como é que ela seria capaz de apresentar respostas que não iria complicar a sua vida de forma irreparável, ele não sabia.

Ele escolheu à direita... Na teoria que ele queria fazer direito por ela, e, portanto, essa era a direção que ele tomaria.

Quando eles acharam aquele bem aparado e bem cuidado pequeno arbusto… E então vários irmãos idênticos, ficou claro que eles estavam na pista da casa principal. Ele não a levou a distância toda. Ele foi longe o suficiente para achar o primeiro canteiro, e então soltou a mão dela e sussurrou para ela ir mais rápido.

Ele, também, estava sem tempo.

Xcor tinha visto ela se mover com pressa por apenas um momento, e então ela se perdeu em meio à névoa, nem mesmo os sons de seus passos alcançando mais os ouvidos.

Era como se ela tivesse desaparecido para sempre.

E por mais que uma parte dele tivesse sido tentada a sentar-se e deixar o sol levá-lo, ele forçou-se a se afastar, descendo em zigue-zague até que tropeçou, literalmente, em um canteiro.

Embora ele só tivesse sido capaz de ver um metro e meio antes dele, a superfície elevada forneceu uma oportunidade para descer pelo terreno irregular com um entusiasmo inigualável. Ele correu a toda, a gravidade a seu favor, sua única preocupação era que alguém viria de roldão até a montanha e o veria em seus faróis.

Isso não aconteceu. Ele fez isso para se estabilizar e eventualmente se livrar da nevoa, da desorientação da paisagem.

A sensação de medo ele tinha experimentado pela primeira vez após atravessar o muro, no entanto. E se Layla não tivesse entrado a tempo? E se alguém a tivesse encontrado e a questionado? E se...

Ele tinha verificado seu telefone sem sucesso e então foi forçado a fechar os olhos, concentrar-se e rezar para que ele tivesse força restante suficiente e concentração para continuar afastado.

A única coisa que ele tinha noção era que ele não poderia morrer sem saber o que tinha acontecido com ela.

Pegando seu telefone mais uma vez, ele tinha um pouco de esperança errante que ela o chamou e ele não ouviu o toque em sua fuga montanha abaixo. Ai… Não.

Seguindo para a porta colonial, o fraco brilho no céu fez a sua pele formigar com advertência e seus olhos fecharam... Quando ele entrou repentinamente na casa.

Para uma cena de farra desprezível.

A única coisa que teria tornado mais completa teria sido a presença de fêmeas. Como estava, o ar estava com cheiro espesso de rum e gim, cheio de gargalhada, pesado com o tipo de agressão masculina que surgia após a vitória.

— Você voltou! – Zypher gritou. — Ele voltou!

O berro teria sido alto o suficiente para acordar os vizinhos, se houvesse algum. Como estava, isso encheu a casa.

— E nós temos notícias, – Throe disse com satisfação ligeiramente tingida com embriaguez. — A cerimônia de indução é à meia-noite na próxima véspera. No hall da biblioteca de Ichan. Fomos convidados, é claro.

A tentação de dizer-lhes para irem em seu lugar apelou. Mas ele manteve a voz calma. Com nada além de um aceno de cabeça, ele desapareceu no andar de cima.

Felizmente, seus soldados estavam acostumados a ele bater em retirada e o deixaram ir.

Quando ele fechou a porta do quarto, o barulho lá de baixo diminuiu, não cessou; no entanto, ele estava acostumado a se ajustar a esse grupo de machos.

Indo para a cama, que estava uma confusão de lençóis e cobertores emaranhados, ele se sentou, desarmado, e pegou seu celular. Embalando-o em suas mãos, ele olhou para a tela.

Não havia nenhum modo para discar: qualquer que fosse o telefone que ela usou era codificado.

Deitado de costas e olhando para o teto, ele sabia que um vazio era uma revelação.

A ideia de que ela pudesse estar morta e ele não soubesse o atingiu tão profundamente, que sentiu como se sua personalidade se dividisse em duas.

Para nunca ser unida novamente.

 

Onde estava ele?

Enquanto Sola caminhava pela cozinha de Assail, ajeitando as poucas coisas que reembalou do andar de cima, não deixava de olhar sobre o ombro, esperando encontrá-lo espreitando por todo o canto na tentativa de persuadi-la a ficar.

Mas ele já havia feito isto, não tinha?

No chuveiro.

Cara, por uma vez, as lembranças de estar com ele não conseguiram convencê-la. Deixava-a com vontade de chorar.

— Eu não entendo por que vamos tão cedo. – Sua avó anunciou quando saiu do porão. — Nem amanheceu ainda.

Sua avó estava vestida com uma versão amarela do vestido que costumava usar em casa, mas estava pronta para a viagem, com seus bons sapatos, sua bolsa combinando pendurada em seu pulso com uma alça de couro falsa. Atrás dela, cada um dos guardas de Assail carregava uma mala... E não pareciam felizes. Embora, digamos, dificilmente tinham caras de bons amigos.

— É uma viagem de vinte e três horas de carro, vovó. Temos que começar a andar.

— Não vamos parar?

— Não. – Ela não podia correr o risco com sua avó junto. — Pode dirigir durante o dia. Você adora dirigir.

Sua avó deixou escapar um som que para qualquer outra pessoa teria sido um “foda-se”. — Nós deveríamos ficar aqui. É bom. Eu gosto da cozinha.

Não era da cozinha que a mulher gostava. Inferno, sua avó podia cozinhar como Coleman sem piscar um olho... E o fazia.

Ele não é católico, Sola queria dizer. Na realidade é um traficante de drogas ateu. Logo irá ampliar seus negócios...

E se ela estivesse grávida? Perguntou-se. Porque por dois dias não tomou pílula. Não seria isso...

Estava fodida, como diziam.

Agitando-se, voltou da Terra da Fantasia. Sola fechou o zíper da mala e ficou ali.

— Bem? – Zombou sua avó. — Nós vamos? Ou não?

Como se ela soubesse exatamente o que Sola estava esperando.

O que, em seu caso era verdade.

Sola não tinha orgulho o suficiente para desistir de olhar novamente ao redor, buscando a entrada da sala de jantar, a porta que usou quando desceu do escritório, a poucos passos do porão. Tudo estava vazio. E não havia barulho de passos se aproximando, nem sons abafados como se alguém se apressasse em vestir uma camisa e se preparasse para descer.

Deixando o momento do chuveiro de lado, como ele não poderia querer se despedir...

Naquele momento, sua avó respirou fundo e a cruz de ouro que sempre levava no pescoço captou a luz do teto

— Vamos. — Sola se ouviu dizendo.

Com isto, ela levantou sua mala e dirigiu-se à porta de trás. Do lado de fora, um totalmente “perca-se entre a multidão” Ford estava estacionado perto da casa, o contrato de aluguel no nome da identidade de emergência de Sola.

Aquele que ninguém em Caldwell sabia que tinha. E no porta luvas, havia outros documentos e identificações para sua avó.

Usando o controle, destravou o carro e abriu o porta-malas. Os homens, enquanto isso, estavam lidando com sua avó como uma luva de pelica, ajudando-a com os degraus, carregando sua bagagem e seu casaco, que ela obviamente se recusou em vestir como um protesto.

Enquanto acomodavam a mulher no banco do passageiro e a mala atrás, Sola procurou na parte traseira da casa. Como antes, ela esperou vê-lo, talvez caminhando pelo quarto principal para chegar até antes de partir. Talvez surgindo do porão e disparando através da sala para sair. Talvez virando o canto…

Naquele momento, algo estranho aconteceu. Todas as janelas da casa tinham um brilho repentino, os vidros das janelas e das portas corrediças mostravam uma sutil centelha.

O que eram...

Persianas, pensou. Havia persianas em todas as janelas, o movimento sutil do tipo de coisa que você perde... A menos que estivesse olhando no segundo em que aconteceu. Depois? Era como se nada tivesse mudado. Todos os móveis ainda estavam visíveis, as luzes acesas, normal, normal, normal.

Outro de seus truques de segurança, ela pensou.

Levando seu tempo abrindo a porta, colocou um pé e olhou ao redor. Os dois guarda-costas estavam atrás de braços cruzados.

Ela queria dizer a eles… Mas não, não pareciam estar interessados em levar uma mensagem para Assail.

Pareciam francamente irritados, agora que tinham colocado sua avó em segurança no carro.

Sola esperou um momento mais, os olhos fixos na porta traseira aberta. Pelo umbral, viu os sapatos e os casacos no corredor atrás. Tão comum e normal para uma pessoa rica. Mas a casa não era nenhuma Casa Suburbana Americana e não só porque provavelmente valia cinco milhões. Ou dez.

Virando-se, ela sentou-se atrás do volante, fechou a porta e sentiu no ar o cheiro de limão do purificador. O que estava ali para mascarar o cheiro de cigarro.

— Eu não sei por que temos que partir.

— Eu sei, vovó. Eu sei.

O motor soou com um barulho alto ao pouco de vida que tinha e ela colocou o carro em ré. Antes de girar deu uma última olhada à porta aberta.

E então não havia mais desculpas para a demora.

Acelerando, ela piscou com força quando os faróis iluminaram o caminho da entrada e logo a estrada de apenas uma única mão que as levaria fora da península.

Ele não iria atrás dela.

— Você comete um engano. – Sua avó disse irritada. — Grande engano.

Mas a senhora não conhece a história inteira, Sola pensou enquanto se aproximava de um sinal de parada e golpeava o sinal direcional.

O que Sola não sabia, porém… Era que nem ela sabia.

 

Assail observava sua saída do circulo de árvores na parte de trás de sua casa.

Através das janelas da cozinha, a viu de pé junto a mesa, procurando em uma maleta como se buscasse o que deixou para trás.

Aqui fora, meu amor, ele pensou. O que você perdeu está aqui fora.

E então, sua avó apareceu com seus primos, e estava claro que a mulher não queria partir.

Era apenas mais uma coisa que adorava nela.

Também era óbvio que seus primos não estavam de acordo com sua partida. Por outro lado, nunca mais haviam comido tão bem quanto ultimamente e eles respeitavam quem os apoiavam.

Não havia problema algum com a grandmahmen de Marisol.

Quando Assail percebeu sobre o que era a busca de sua mulher, como se estivesse esperando que ele se apresentasse, sentiu uma pequena satisfação em sua tristeza. Mas era imperativo convencer sua fera interior que a deixasse escolher seu caminho.

Ele não podia discutir sua autopreservação da mesma maneira que não podia desistir de seus negócios. Trabalhou muito tempo e duro para desvanecer-se em um estilo de vida sedentário pelas noites... Inclusive passando-as com ela. Além disso, preocupava-se ainda com a família Benloise. Apenas o tempo diria se havia outro irmão por aí ou quem sabe algum primo com um olho ambicioso e um coração vingativo que queria seu sangue.

Ela estaria mais segura sem ele.

Enquanto Marisol guardava sua bagagem no porta-malas do carro, sua avó se acomodava na frente do veículo. E ela fez outra pausa. De fato, ao olhar ao redor, o sentiu, mas não o viu. Seus olhos passaram por ele em seu esconderijo nas sombras.

No carro. Fechando a porta. Ligando o motor. Girando-o.

Então tudo o que restou… Foram as luzes de freio que desapareceram pela estrada.

Os primos ficaram parados por apenas um momento. Diferente de sua mulher, sabiam exatamente onde estava e não se aproximaram. Entraram na casa, deixando a porta aberta para ele quando não pudesse suportar o sol nascente.

Seu coração uivou no peito quando finalmente deu um passo de onde estava escondido.

Caminhou através da neve, seu corpo estava débil, ao ponto de se perguntar se cairia. E a cabeça dava voltas e voltas como seu estômago. A única coisa que estava forte era seu instinto masculino, que incessantemente dizia que deveria segui-la pela estrada, parar o carro e mandar que levasse seu traseiro de volta para casa.

Assail se obrigou a entrar na casa.

Na cozinha, seus primos estavam guardando a comida que foi feita especialmente para eles em um papel alumínio no congelador. Sentia-se como se estivesse morto.

— Onde estão os celulares? – Assail perguntou.

— No escritório. – Ehric franziu o cenho enquanto colocava um post-it nos pacote. — Aquecer a setenta e cinco graus.

Seu irmão foi a um forno na parede e começou a apertar uns botões. — Como?

— Não diz.

— Maldição.

Em qualquer outra circunstância, Assail teria achado isto impossível acreditar que Evale estava perdendo o escasso impulso de falar sobre cozinhar. Mas Marisol e sua avó mudaram tudo… No pouco tempo que estiveram ali.

Conhecendo seus primos, não ficou surpreso por não se oferecerem para incluí-lo na refeição. Depois de séculos de existência transitória, tinha a sensação de que iriam se converter em fãs dos produtos alimentícios.

No escritório, ele se sentou atrás da mesa e observou os dois telefones idênticos. Naturalmente, seu cérebro foi parar no modo que os adquiriu e ele viu Eduardo primeiro no chão e então Ricardo enforcado naquela parede de tortura.

Ordenou a suas mãos a se fecharem em torno...

Seus braços se recusaram a obedecer ao comando, e de fato, seu corpo caiu novamente na cadeira. Quando olhou novamente para frente não viu absolutamente nada, estava claro que sua motivação lhe havia abandonado.

Abrindo a gaveta do centro da mesa, ele tirou um de seus frascos de cocaína e cheirou por um orifício nasal e logo no outro.

A febre do formigamento ao menos conseguiu fazer com que sentasse e um momento mais tarde, levantar os telefones… E conectá-los a seu computador.

Seu foco era artificial, sua atenção forçada, mas sabia que teria que se acostumar a isto.

Seu coração, negro como era, o deixou.

E estava a caminho de Miami.

 

Era de fato possível, se você corresse o tempo suficiente e forte o suficiente, fazer o corpo se sentir como se estivesse em uma luta.

Enquanto Wrath continuava a bater seu Nike na esteira, ele pensava em sua última sessão de luta com Payne.

Ele tinha mentido para ela. Quando ele finalmente assumiu o trono de forma séria, os Irmãos e Beth o confrontaram com uma série de “diretrizes” com a intenção de dissuadi-lo do antigo perfil de risco físico. Não foi exatamente um conversa feliz, e ele quebrou as regras pelo menos uma vez, com a ciência de todos, e um número de vezes que ninguém o havia pegado. E depois que ele foi descoberto lutando no centro da cidade, ele novamente concordou em deixar os punhais de lado, e usá-los apenas em cerimônias... E desde então, o cheiro de decepção de sua shellan tinha sido suficiente para mantê-lo na linha.

Bem, isso e o fato de que ele perdeu totalmente o restante de sua visão nessa época.

O bando não estava errado. O Rei precisa estar vivo acima de tudo; derrubar assassinos na parte de trás de um beco em Caldwell não poderia ter sido mais sua diretiva primordial.

E nem lutar com os Irmãos, também.

Nenhum deles queriam se arriscarem a possivelmente machucá-lo.

Exceto quando Payne se apresentou, e embora tivesse assumido inicialmente que ela era um macho, quando sua verdadeira identidade tinha sido descoberta, ele recebeu a aprovação… Justamente porque ela era uma fêmea.

Ele relembrou quando ela se esgueirou sorrateiramente pelo vestiário dos machos e colocou a faca em sua garganta.

Ele supôs agora... Que poderia lutar com qualquer um que quisesse. E, por isso, lhe devia um pedido de desculpas.

Abaixando-se, ele aumentou a velocidade da esteira. Este aparelho foi adaptado com ganchos no console e um cinto acolchoado que tinha sido feito para ele. Com cabos elásticos amarrados entre os dois, ele poderia ir sem mãos e ainda se manter no aparelho, os puxões sutis em sua cintura dizendo-lhe onde ele estava em relação à esteira.

Útil em uma noite como essa. Oh, espere... Era dia, agora.

Indo em um ritmo mais rápido, ele descobriu que, como sempre, sua cabeça tinha uma maneira de flutuar acima do esforço, como se com o seu corpo envolvido e trabalhando, ele ficasse livre à deriva. Infelizmente, como um helicóptero com medidores defeituosos, manteve-se batendo em penhascos rochosos: seus pais, sua shellan, a possibilidade de um bebê e todos os anos vazios que se estendia à sua frente.

Se ele tivesse a sua visão. Pelo menos, então, ele poderia sair com credibilidade e se envolver com o inimigo. Mas agora ele estava preso... Por sua cegueira, por sua Beth, pela chance dela estar grávida.

Claro que, se ela não estivesse em sua vida? Ele teria estado em uma farra de matança até que morresse honrosamente no campo. Embora, inferno, sem ela, ele provavelmente não teria se incomodado em fazer nada sobre a ascensão, em primeiro lugar.

Ele sabia que nunca deveria ter colocado essa porra de coroa na cabeça.

Depois de tudo o que seu pai tinha feito em um tempo tão tragicamente curto, ele deveria ter seguido seus principais instintos e mantido distancia dessa porra. A Raça havia ido bem, sem rumo, por vários séculos; provavelmente poderia ter mantido essa merda por tempo indeterminado.

Ele pensou em Ichan. Talvez esse filho da puta descobrisse que populações modernas não precisassem de reis.

Ou, mais ao ponto, talvez Xcor e os bastardos estivessem para aprender essa lição.

Tanto faz.

Wrath tentou aumentar a velocidade de novo... E descobriu que tinha colocado o aparelho na velocidade errada. Xingando, ele acertou ao seu ritmo já alucinante, e voltou seu pensamento para seu pai, sentado atrás da mesma mesa que ele já não podia ver ou usar, com rolos de pergaminho e potes de tinta, canetas de pena e volumes encadernados em couro, cobrindo a superfície esculpida.

Ele podia apenas imaginar o homem por trás de tudo, ostentando um meio sorriso de contentamento enquanto derretia a cera e apertava o anel com selo real nela...

— Wrath!

— O q...? – ouviu o som de borracha quando puxou o botão de segurança e pulou nos trilhos laterais. — Beth?

— Wrath, oh, meu Deus.

— Você está bem?

— Wrath, eu tenho a solução.

Ele não conseguia respirar, porra. — Sobre… O quê?

— Eu sei o que nós temos que fazer!

Wrath franziu a testa enquanto ofegava e apoiava as mãos sobre os trilhos, no caso das pernas como geleia perderam as forças e ele cair. E mesmo com a hipóxia, o cheiro de sua fêmea era forte com propósito e convicção, seus tons naturais aguçados chegaram a ele claramente.

Agarrando a toalha que tinha lançado sobre o console, enxugou o rosto. — Beth, pelo o amor de Cristo, será que você poderia parar...

— Divorcie-se de mim.

Apesar de toda a asfixia induzida pelo exercício, ele parou de respirar. — Sinto muito, – ele disse asperamente. — Mas eu não ouvi isso.

— Dissolva o nosso emparelhamento. Efetivamente ontem... Quando para todos os efeitos e propósitos você ainda era Rei.

Wrath começou a sacudir a cabeça, todos os tipos de pensamentos entupindo seu cérebro. — Eu não estou ouvindo você dizer que...

— Se você se livrar de mim, você se livra dos motivos que eles usaram. Sem motivos, sem remoção. Você tem o trono e...

— Você está fora da porra de sua mente! – Ele berrou. — Que porra você está falando!

Houve uma pequena pausa. Enquanto ela ficava surpresa por ele não ter achado sua ideia brilhante.

— Wrath, sério. Esse é o caminho para obter o trono de volta.

Quando o macho vinculado nele começou a gritar a plenos pulmões, ele estava a um passo de explodir... Mas já havia destruído uma sala inteira no complexo. E os Irmãos iriam matá-lo se ele quebrasse a sala de musculação.

Tentando manter seu nível de voz, ele falhou miseravelmente: — Nem fodendo!

— É apenas um pedaço de papel! – Ela gritou de volta. — Que diabos importa?

— Você é minha shellan!

— É tudo sobre cenouras!

Eeeeeeeeeeee, ele parou. Balançando a cabeça para clareá-la um pouco, ele disse, — Desculpe-me... O quê?

Difícil ir de findar seu relacionamento para a porra de um legume.

— Olha, você e eu estamos juntos porque nos amamos. Um pedaço de papel de uma maneira ou outra não vai mudar isso.

— Não, absolutamente não, eu não vou dar a aqueles idiotas a satisfação de te ferrar...

— Ouça-me. – Ela agarrou seu braço e apertou. — Eu quero que você se acalme e me escute.

Era a coisa mais estranha. Agitado como ele estava, quando ela lhe deu uma ordem direta assim? Ele seguia de pé como um soldado.

— Anteceda a dissolução do casamento... Emparelhamento... Seja o que for. Não dê a eles qualquer razão, você não quer parecer que é conservador. Então decida se quer ou não ser Rei. Mas dessa maneira? Não seria minha culpa. Agora, goste ou não, eu sou a razão pela qual você está perdendo o trono, e eu não posso passar o resto de nossas vidas sentindo-me responsável por algo assim. Isso vai me matar.

— Sacrificar-se não é a resposta.

— Nós não estamos me sacrificando nem um pouco. Eu não me importo em ser rainha. Eu me importo em estar ao seu lado, e nenhuma coroa ou decreto ou qualquer coisa vai mudar isso.

— Você pode estar levando nosso filho agora mesmo. Você está dizendo que quer trazer para o mundo um bastardo?

— Ele não seria para mim. Ele não seria para você.

— Mas para os outros…

— Como quem? Você está me dizendo que Vishous pensaria algo menos da criança? Tohr? Rhage? Qualquer um dos Irmãos... Suas shellans? E sobre Qhuinn e Blay... Qhuinn não está emparelhado com Layla. Isso quer dizer que você trataria com desprezo àquela criança?

— Não é de nossa família quem eu estou falando.

— Então, quem é, exatamente? Nós nunca vemos a glymera... Graças a Deus... E eu não acredito que eu já conheci o que vocês chamam de plebeus. Bem, com exceção de Ehlena e Xhex, eu acho. Quero dizer, todos esses cidadãos da Raça... Eles nunca vêm aqui, e é isso que vai mudar? Eu não penso assim. – Ela apertou seu braço novamente. — Além disso, você estava preocupado em colocar nosso filho no trono? Isso cuida desse problema, também.

Wrath se soltou de seu domínio e queria andar... Exceto que ele não conhecia a posição da sala de musculação bem o suficiente para não cair sobre seu traseiro.

Ele se conformou em enxugar seu rosto novamente. — Eu não quero o trono o suficiente para me divorciar de você. Não. É o princípio, Beth.

— Bem, se isso te faz sentir melhor, eu vou me divorciar de você.

Ele piscou por trás de seus óculos. — Não vai acontecer. Sinto muito, mas não vou fazer isso.

A voz forçada da sua leelan. — Eu não posso passar o resto da minha vida pensando que é culpa minha. Eu simplesmente não posso.

— Mas não é. Honestamente, não é. Olha, eu só… Eu preciso deixar o passado ir, sabe? Eu não posso agarrar-me aos meus pais dessa forma. Essa merda não é saudável. – Ele deixou cair à cabeça para trás. — Puta merda, eu quero dizer, você imagina que eu tinha acabado com isso até agora. Perdê-los, isso é.

— Eu não acho que as pessoas jamais passaram por esse tipo de coisa, especialmente do jeito que aconteceu com você.

Flashs voltaram antes de sua transição esquelética preso no entre piso, observando através de um nó na madeira enquanto seus pais foram cortados em pedaços. Era sempre o mesmo rolo de filme, os mesmos reflexos de lâminas de espadas e gritos de dor e terror... E sempre terminava do mesmo jeito, com as duas pessoas mais importantes de sua vida até aquele ponto indo, indo, indo.

Ele não iria perder Beth. Nem mesmo de uma forma figurada.

— Não, – ele disse com determinação absoluta.

Estendendo a mão, ele colocou sua mão no ventre dela. — Eu perdi meu passado e não há nada que eu possa fazer para mudar isso. Eu não perderei meu futuro, nem mesmo para o trono.

 

Um dos problemas com casamentos, emparelhamentos, seja o que for… Seria quando a pessoa que você ama impõe um veto? Não há muito o que você possa fazer sobre isso.

Quando Beth saiu da sala de musculação com seu hellren, ela era um balão desinflado. Sem argumentos, sem planos, ela odiava onde eles estavam, mas todos os caminhos para um lugar melhor foram obstruídos por um "não" que ela não poderia trespassar.

Em vez de segui-lo para o chuveiro, ela foi para o escritório e sentou-se à mesa, olhando para a proteção de tela do notebook de bolhas flutuando em torno da imagem do Outlook...

A onda de calor veio do nada, explodiu através de sua pélvis e se espalhou como um incêndio florestal para as pontas de seus dedos, as solas dos seus pés, a ponta da cabeça.

— Cristo, – ela murmurou. — Eu poderia fritar um ovo aqui no meu peito.

Afrouxar a gola da camisola ajudou um pouco, entretanto a explosão de calor interna se foi tão rápida quanto veio, nada além de suor em sua pele ficou para trás.

Saindo da proteção de tela, ela viu quando o próprio Outlook atualizou a caixa de entrada. A conta que estava configurada nesse computador era o e-mail geral para o Rei, e ela se preparou para uma longa lista de e-mails não lidos começando a aparecer no topo da lista.

Só havia um.

Uma representação tangível da troca do poder, ela supôs…

Franzindo a testa, ela se sentou em frente. O titulo do assunto: Coração Pesado. E era de um macho cujo nome ela reconheceu só porque tinha estado na lista de assinaturas naquela porra de pergaminho.

Abrindo a coisa, ela o leu uma vez. Duas vezes. E uma terceira vez.

 

Para: Wrath, filho de Wrath

De: Abalone, filho de Abalone

Data: 04430 12:59:56

Assunto: Coração Pesado

 

Meu senhor, é com um coração pesado que eu saúdo o futuro. Eu estava na reunião do Conselho e eu validei o Voto de Não Confiança, com seus antiquados, motivos preconceituosos. Estou doente por mim mesmo e pela raça sobre as ações da glymera ultimamente, mas mais ainda sobre a minha falta de coragem.

Há muito, muito tempo atrás, meu pai Abalone serviu a vosso pai. A família por tradição tem repassado a história, embora seus detalhes não sejam mais amplamente conhecidos: Quando uma conspiração foi contra os seus pais, meu pai tomou uma posição com o seu Rei e Rainha e honrou essa minha linhagem para sempre ao fazê-lo. Em troca, seu pai forneceu às gerações de minha família a liberdade financeira e elevação social.

Eu não fiz jus a esse legado essa noite. E eu acho que não posso tolerar a minha covardia.

Não estou de acordo com as ações tomadas contra você... E acredito que os outros sentem o mesmo. Eu trabalho com um grupo de plebeus, ajudando-os tomando a dianteira de suas preocupações e aproximando a glymera para reparação apropriada. Nas minhas relações com esses cidadãos fica claro que há muitos da origem da raça que se lembram de todas as coisas que seu pai fez para eles e suas famílias. Apesar de nunca terem lhe conhecido, essa boa vontade se estende a você e a sua família. Eu sei que eles devem compartilhar minha tristeza e minha preocupação sobre onde estamos indo agora.

Em reconhecimento de meu fracasso, eu renunciei ao Conselho. Vou continuar trabalhando com os plebeus enquanto eles precisarem de quem os defenda, e embora eu seja extremamente negligente nesse papel, devo tentar fazer algo de bom neste mundo ou jamais serei capaz de dormir novamente.

Eu gostaria de ter feito mais por você. Você e sua shellan estarão em meus pensamentos e orações.

Tudo isso é tão errado.

Sinceramente, Abalone, filho de Abalone

 

Que cara adorável, Beth pensou enquanto saia do Outlook. E ele provavelmente precisava se livrar do sentimento de culpa. Dada à abordagem rolo compressor da aristocracia para tudo, ele não tinha tido uma mínima chance.

A glymera tinha maneiras de arruinar vidas que não tinham nada a ver com caixões.

Verificando o relógio na parede, ela imaginou que Wrath chegaria a qualquer momento. E então eles... Bem, ela não tinha ideia. Normalmente, neste momento, eles estariam indo para a cama, mas isso não tinha qualquer atração.

Talvez eles pudessem mudar de quarto hoje. Ela não achava que podia lidar ou até mesmo ver essa suíte adornada com joias.

Preguiçosamente indo para o Internet Explorer, ela olhou para a tela do Google, sacudindo a cabeça para o botão Estou com sorte.

Sim. Certo.

Deus, se V não odiasse tudo sobre a empresa Apple, ela poderia ter um iPhone na mão e perguntar a Siri o que fazer.

Ela apreciava tanto que Wrath batesse o pé pelo seu casamento, mas caramba...

Por nenhuma razão, aquela cena de A Princesa Prometida passou pela sua mente... Aquela aonde eles iam se casar no altar em frente àquele padre.

O casamento é um sonho dentro de um sonho.

Beth congelou.

Em seguida, digitou rápido e clicou nessa porra de botão da sorte.

O que surgiu foi...

— Ei, você está pronta?

Beth lentamente levantou os olhos para o marido. — Eu sei o que nós temos que fazer.

Wrath recuou como se alguém tivesse deixado cair um piano em seu pé. E, então, prontamente parecia que sua cabeça latejava. — Beth. Pelo amor de Deus, porra.

— Você me ama, todo o meu ser?

Ele deixou seu enorme corpo cair para trás contra a porta de vidro do escritório, enquanto George se enrolou para deitar-se... Como se esperasse que isso fosse demorar. — Beth.

— Bem, ama?

— Sim, – seu hellren gemeu.

— Tudo de mim, humano e vampiro.

— Sim.

— E você não discrimina um lado contra o outro, certo?

— Não.

— Então, é como o Natal. Quero dizer, você não comemora o feriado, mas porque é o que Butch e eu estamos acostumados, você, tipo, nos deixa colocar árvores de Natal e decorações, agora todo mundo na família faz a coisa do presente, certo?

— Certo, – ele murmurou.

— E quando se trata do solstício de inverno, digo, se você vai fazer uma daquelas bolas, você não acharia que seria mais ou menos importante ou significativo do que o Natal, certo.

— Certo. – Isso foi falado em um tom que sugeriu em sua cabeça, ele estava respondendo a pergunta: Se eu colocar a arma aqui, e puxar o gatilho, eu poderia me tirar dessa miséria, não é?

— Nenhuma diferença mesmo?

— Nenhuma. Nós podemos parar agora?

— Minhas crenças, meus costumes, tão importantes quanto os seus, nenhuma diferença, certo?

— Certo.

— Mesmo?

— Mesmo.

Ela saiu repentinamente do computador. — Encontre-me no vestíbulo da frente em duas horas. Vista algo bonito.

— O que... O que diabos você está fazendo?

— Algo que nós tínhamos falado há um tempo e nunca seguimos em frente.

— Beth, o que está acontecendo?

— Nada. – Ela correu para o armário para que pudesse entrar no túnel à frente dele. — Tudo.

— Por que você não está me dizendo?

Ela hesitou antes de desaparecer. — Porque eu tenho medo de que você possa discutir comigo. Duas horas. No hall de entrada.

Quando ela saiu correndo do painel oculto, ela ouviu seu hellren xingando, mas não tinha tempo para entrar nisso com o seu homem.

Tinha que encontrar Lassiter. E John Matthew.

Agora.

 

Selena experimentou seu primeiro verdadeiro bloqueio naquela manhã.

Sentada à mesa da cozinha do Grande Acampamento de Rehvenge, ela estava bebendo uma xícara de café e um bolinho caseiro, quando sua mente começou a se agitar sobre o destino do Rei, os beijos de Trez, o olhar duro de iAm, e o seu próprio futuro incerto...

Mais especialmente dos beijos de Trez.

Ela não o tinha visto em público ou em privado, desde que tinham deixado aquele banheiro e descido as escadas para encontrar seu irmão na cozinha.

Ela estava feliz.

O negócio inacabado entre eles... O negócio sexual inacabado... Era muito intenso para ela agora. Lá, naquele momento, tudo parecia tão natural, tão predestinado até... Mas com a cabeça limpa e os olhos bem abertos, ela se perguntava em que estava pensando.

O futuro estava vindo, e ia ser difícil o suficiente sem a pressão da paixão.

E era aí que as coisas se direcionavam com ele...

Quando deu um nó no cérebro dela, ela tomou um gole de café, queimou o lábio e em sua frustração, decidiu simplesmente que não havia açúcar suficiente com a cafeína. E ela colocara muito pó no filtro. E a água não estava fria o suficiente, então não tinha um sabor metálico.

Na realidade, a mistura estava perfeita. Era o seu sentido interno que estava lutando para entrar em equilíbrio.

Mas ela poderia fazer algo sobre o Java, como os Irmãos o chamavam.

Avançando para o potinho de açúcar, ela estendeu o braço, inclinou o tronco sobre os quadris, e...

Seu corpo não só endureceu como congelou naquela posição... Como se todas as articulações que estivessem envolvidas se tornassem sólidas ao mesmo tempo.

O terror quadruplicou sua frequência cardíaca, suor jorrou de seu rosto e seu peito. E quando ela foi abrir a boca para respirar mais profundamente, ela descobriu que até mesmo sua mandíbula estava presa no lugar... Embora pudesse ter sido o medo.

De repente, o silêncio na casa a pressionou.

Não havia mais ninguém em casa. A outra Escolhida tinha ido até o Santuário para visitar Amalya, por conta do destronamento de Wrath. Rehvenge estava em Caldwell. O doggen que agora revezava entre esse local e a mansão da Irmandade tinha ficado na cidade, tendo em conta a triste notícia.

Em um cálculo frenético, ela tentou se lembrar de quanto tempo tinham levado suas irmãs para serem afetadas de forma permanente.

Não dias. Talvez meses em termos de tempo da Terra?

Querida Virgem Escriba... E se era isso?

Concentrando toda sua energia, ela tentou destravar as suas articulações e não deu em nada. Na verdade, a única coisa que se moveu foram as lágrimas que se juntaram em seus olhos e escorreram pelos cílios. E foi tão absolutamente bizarro: Por toda a sua imobilidade, ela podia sentir tudo. Os caminhos quentes por suas bochechas. O calor de sobrecarga que vinha de suas têmporas e das pontas das orelhas. O design legal de seus sapatos de sola macia. A queimadura persistente em sua língua e na parte de trás de sua garganta.

Ela ainda sentia a fome que a atraiu até a cozinha para tentar satisfazer.

O que ela iria fazer se não...

O tremor começou em suas coxas, começando com uma contração muscular e, em seguida, emanando com maior intensidade. Seus braços foram os próximos. Depois seus ombros.

Quando seu corpo estava lutando para sair de sua prisão, sacudindo as barras metafóricas que tinha se fechado em torno dele.

— Oi?

A voz masculina estava distante, ecoando do lado do lago da casa, e ela tentou responder. O que saiu foi um gemido fraco, nada mais... Tudo estava vibrando: de seus dentes até os dedos dos pés, ela foi sacudida com violência.

Apenas quando Trez entrou, seu corpo irrompeu livre de seus limites invisíveis, seus membros estalando, batendo em coisas, agitando-se livres. E então ela caiu, batendo a cabeça na borda da caneca de café, o bolinho saltando do seu prato, o ruído do açucareiro e o impacto estrondoso de seu peito em cima da mesa como uma bomba explodindo.

— Selena!

Trez a pegou antes dela deslizar para o chão, seus grandes braços pegando-a e segurando-a firme em seu corpo, tudo o que estava rígido se tornou líquido: Ela não apenas reclinou em seu aperto como se derreteu nele. E não porque ela estava excitada.

— O que está acontecendo? – Ele perguntou enquanto a levava para fora da cozinha e colocava-a no sofá em frente ao fogo.

Embora ela abrisse a boca para falar, não saiu nada. Em vez disso, os detalhes dos painéis de madeira escura e da lareira de pedras do rio e a coruja de pelúcia em cima da lareira tornou-se hiper claro, seus olhos praticamente ardendo pela acuidade da sua visão.

Fechando as pálpebras, ela gemeu.

— Selena? Selena.

Havia uma curiosa letargia agora, uma tão intensa que ela podia sentir sua energia sendo sugada para dentro de um vórtice que temia que nunca seria livre. Vagamente, ela estava ciente de que tinha errado a doença. Ela sempre assumiu que era nas articulações, mas na verdade, sentiu como se seus músculos fossem o problema.

Fora da superstição, nenhuma de suas irmãs falou dos pormenores. Tudo o que ela já tinha sido informada era da fase final.

Agora lamentou que não tivesse interrogado aquelas que tinham sofrido. Sobretudo quando a mais leve rigidez tinha começado nela há quanto tempo?

Um bom tempo.

Ela estava definitivamente iniciando a fase final agora...

Algo roçou sua boca. Algo molhado, quente... Sangue.

— Beba, – Trez ordenou. — Beba isso, puta merda, beba…

A língua dela saiu testado o sabor e o gosto dele a fez gemer com sede. Ela não achava que poderia engolir, no entanto...

Sim, sim, na verdade, ela podia.

Franzindo os lábios, ela vedou em torno do corte que ele tinha feito no pulso e oh, o alimento glorioso. Com cada sorvo, ela sentiu uma força vindo, enchendo onde a letargia a tinha deixado vazia.

E quanto mais ela tinha, mais ela queria, a ganância crescente em vez de saciedade.

Mas Trez não pareceu se importar. Mesmo.

Com mãos gentis, ele a reposicionou para que ficasse deitada em seu colo, com as pernas esticadas, com os braços sobre a cabeça. E enquanto bebia dele, ele era tudo o que ela via, seus belos olhos amendoados, os lábios perfeitamente moldados, sua pele escura e cabelo curto.

Da mesma maneira que ela esteve antes em sua presença, ela podia sentir suas prioridades mudando de volta para aquele lugar de desespero, para o impulso sexual que havia dizimado seu pensamento para tal ponto que não existia de qualquer modo.

De fato, nos recessos profundos de sua consciência, ela sabia que qualquer ação tomada neste estado era mais do que provável de se lamentada, mas ela não se importava. Se há uma coisa, o seu primeiro verdadeiro episódio da doença a fez querer seguir com ele mais ao invés de menos.

E talvez ela não pudesse se apaixonar.

Talvez… Ela pudesse lutar contra isso.

Rigidez, afinal, era o seu futuro.

 

De pé na entrada de seu quarto, John Matthew podia sentir uma convulsão ameaçando romper.

Enquanto sua irmã continuava a falar, sentiu sua cabeça acenar, ele retrocedeu para aquele lugar onde a epilepsia nascia, algum tipo de emaranhado de impulsos elétricos ameaçando assumir o controle de tudo... Exceto que tinha acabado com esta merda. Assim, quando o zumbido começou a elevar-se, ele impediu pela força de vontade.

Não. Vai. Fazer. Isto...

Incrível estar canalizando Dana Carvey no SNL. Mas lá vai.

Alem disso funcionou. Não imediatamente, mas gradualmente, aquele chiado e a queimação começaram a enfraquecer, seus apagões retrocedendo.

— Então… Você irá? – Beth perguntou, seus olhos arregalados. — Tipo, em uma hora. Lassiter precisa de bastante tempo para preparar-se.

Reorientando-se, ele se focou na aparência do que ela estava falando, seu cérebro ligando os substantivos e os verbos até…

Oh, meu Deus, ele pensou.

Cara, pela primeira vez, estava contente que fosse mudo. Porque se tivesse que falar, ela saberia que estava em algum lugar emocionalmente estranho. Como estava, suas mãos estavam mais constantes do que sua voz estaria.

Algo sobre o pedido dela estava chegando a todo vapor.

Seria uma honra, ele sinalizou.

Antes que pudesse soltar os braços, sua irmã se lançou sobre ele, abraçando-o com tanta força que quase arrancou sua cabeça fora. E quando fechou os olhos e a segurou em retorno, o tempo parou...

Uma visão o atingiu do nada. Em um minuto, ele estava de pé do lado de fora do quarto dele e de Xhex. No próximo?

Tudo o que podia ver eram lágrimas… Exceto, não, isto era a chuva. Chovia no para-brisa de um carro... Um carro que amava. E então ele estava alcançando a ignição e...

Beth se afastou e ele observou de uma vasta distância, enquanto a boca dela se movia, e ela lhe dizia mais coisas. Ele assentiu com a cabeça nos momentos certos, mas assim que ela saiu e fechou à porta, toda aquela parte foi embora.

Apoiando sua testa nos painéis, não tinha nenhuma ideia por que seus olhos estavam lacrimejando... Ou por que seu peito tinha inchado com tal orgulho e felicidade.

— Você está bem? – Xhex sussurrou por detrás ele.

Voltando da escuridão, ele assentiu... E então percebeu que ela não podia vê-lo.

— Sim, eu sei, – ela disse. — Mas tenho que perguntar em voz alta às vezes.

Houve um clique quando ela acendeu o abajur do seu lado da cama. Piscando com a iluminação, ele levou um soco no rosto, parecendo como se fosse apenas, sabe como é, um atrito ou alguma merda. Mas ela era uma symphath... Assim ele estava tão claro para ela como um outdoor.

Não entendo isto, ele sinalizou. Por que estou com ela na porra da mente?

Os olhos cinza metálicos de sua companheira bloquearam nele, e ele não fez nada para evitar aquele olhar fixo de laser: Se queria mais informações sobre tudo isso, ela era sua melhor aposta.

— Sua grade tem esta sombra, – ela murmurou, agitando a cabeça. — Nunca vi uma como esta. É como se... Não sei, você é o processo paralelo da vida? Ou isto…

O quê? – ele exigiu.

— Existem dois de você aí dentro.

É assim que me sinto. Ele esfregou seu cabelo já bagunçado. Especialmente em torno dela.

— Ela é sua irmã.

Mas havia mais do que aquilo nisso, ele pensou. Não de modo romântico ou qualquer coisa assim. Ainda assim…

— Vamos, – Xhex disse enquanto saía da cama. — Precisamos nos preparar. Porra de brilhante ideia dela.

Quando sua fêmea se aproximou dele nua, o corpo firme e musculoso dela teve uma maneira de clarear as coisas... De repente ele teve sexo com o cérebro o que foi um alívio. Pelo menos com isto ele podia fazer algo a respeito.

— Deixe-me ajudá-lo no chuveiro, – ela disse, alcançando entre as dobras de seu roupão e encontrando seu pau duro. — Você deveria estar muito, muito limpo para isto. – John estava mais do que feliz em ser levado pela rédea até o banheiro, e quando surgiram quarenta e cinco minutos mais tarde, estava mais relaxado... E limpo como um filho da puta.

— Sim, o smoking, – sua fêmea disse enquanto ficava na frente de seu armário, olhando fixamente para as coisas penduradas nas hastes. — Sem dúvida.

Assentindo, ele foi até a camisa branca engomada, puxando-a de seu cabide e colocando-a sobre os ombros. Xhex teve que fechar os botões... Por alguma razão suas mãos estavam chacoalhando agora, como se estivessem nervosas. Ele pegou a calça justa, entretanto... Sem os suspensórios. Ela tinha que cuidar deles. E esqueça o cinto e a gravata borboleta... Ele apenas ficou lá como uma vaca leiteira, enquanto ela fazia o trabalho rápido.

O bom da coisa era que ficou olhando para ela.

— Agora o paletó. – Ela segurou a coisa para ele como se fosse o homem, guiando a pura lã no lugar em suas costas, então o virou e alisou as lapelas. — Maldição…

O quê? –- Ele sinalizou.

O olhar dela estava cintilando quando lhe deu aquele olhar da cabeça aos pés nele.

— Você parece gostoso como o inferno.

John estufou o peito, ficando todo peito de pomba. Difícil não ficar quando sua fêmea estava lhe comendo com os olhos assim.

E você ainda está nua. Ele sorriu. Seu presente de aniversário é meu favorito.

Exceto que ela não estava completamente sem adornos. Estendendo a mão, ele tocou o colar que deu a ela, o com o grande diamante quadrado no centro.

Xhex não era normalmente melosa, mas cobriu a mão dele com a dela e a trouxe até a boca. Beijando-a, ela murmurou, — Eu sei. Eu amo você, também. Para sempre.

Ele se inclinou para ela e roçou os lábios contra os dela.

Alguns minutos mais tarde eles se dirigiram para fora, com ela vestida com calça e uma camisa de seda preta. Que, junto com o presente de aniversário acima mencionado, era um equipamento muito bom. Especialmente porque pela primeira vez, ela colocou nos pés um espetacular par de sapatos de foder.

Algo que ele planejava seguir sempre que pudessem se pegar um minuto sozinhos.

Outras pessoas estavam saindo das portas dos quartos: Blay e Qhuinn, também em ternos. Z e Bella, com a pequena Nalla vestida em outra confecção rosa de seda e tule… Que a fazia praticamente a coisa mais adorável que já viu.

E ele nem sequer gostava de crianças.

Enquanto o grupo caminhava pelo corredor de estátuas abaixo e alcançava as escadas, não houve muito conversa. Não havia desde que Rehv colocou aquele anúncio na mesa de jantar. Não haveria durante algum tempo.

Isto iria ajudar, porém.

Abaixo no foyer, ainda mais dos da casa se juntaram, mas não Wrath ou Beth ainda, e John juntou-se a multidão... Que novamente estava muito quieta. Inferno, até Rhage colocou um freio em sua habitual palhaçada... Embora com a boca daquele anjo caído pronto para mostrar...

— Mas que porra é essa?

Ao som da voz de V, John virou com o resto deles… E quando viu o que estava no topo da escadaria principal, ele piscou uma vez. Duas vezes. Doze vezes.

Lassiter estava de pé no topo dos degraus acarpetados, seu cabelo loiro e preto em um estilo topete, uma Bíblia pesada debaixo de sua axila, piercings refletindo a luz...

Mas nada daquilo era o verdadeiro choque.

O anjo caído estava vestido como uma fantasia branco cintilante de Elvis. Completo com boca de sino, mangas balão, e lapelas grandes suficientes como uma barraca no quintal. Oh, e asas de arco-íris que se revelavam quando ele abriu os braços, estilo pastor.

— Bem na hora da festa começar, – ele disse enquanto corria para baixo, lantejoulas piscando e relampejando. — E onde inferno está meu púlpito?

V tossiu a fumaça que tinha acabado de inalar.

— Ela pediu para você fazer o serviço?

O anjo estalou seu colarinho já a quilômetros de altura.

— Ela disse que queria a coisa mais santa na casa para fazer isto.

— Ela conseguiu o santo, certo, – alguém murmurou.

— Está é a Bíblia de Butch? – V perguntou.

O anjo lançou a posse.

— Sim. E seu livro de orações, é assim que ele chama? Tenho também um sermão que eu mesmo preparei.

— Santos nos preservem, – veio do lado oposto da multidão.

— Espere, espere, espere. – V acenou sua mão enrolada ao redor. — Eu sou o filho de uma divindade e ela escolheu você?

— Pode me chamar de Pastor... E antes que o Sr. Fã dos Sox molhe sua calcinha, quero que todos saibam que sou legítimo. Entrei on-line, e tive um curso de ministro em menos de uma hora, e estou ordenado, baby.

Rhage levantou a mão.

— Pastor de meia tigela, eu tenho uma pergunta.

— Sim, meu filho, você vai para o inferno. – Lassiter fez o sinal da cruz e em seguida olhou em volta. — Então onde está a nossa noiva? O noivo? Estou pronto para casar alguém.

— Não trouxe tabaco o suficiente para isto, – V reclamou.

Rhage suspirou.

— Há Goose no bar, meu irmão... Oh, espere. Nós não temos mais um bar.

— Acho que vou introduzir uma intravenosa de morfina.

— Posso colocar? – Lassiter perguntou.

— Foi isto o que ela disse – Alguém atirou de volta...

— Oh… Uau. Isto é, ah, um bom traje.

Todos examinaram por cima de seus ombros quando Beth falou mais alto. Ela estava entrando na biblioteca, Saxton ao lado dela, Rehv atrás deles. Este último tinha um pergaminho fechado debaixo do braço, e uma expressão confusa em seu rosto.

— Eu sei, certo? – Lassiter disse, fazendo uma pirueta, com aquela coisa de capa se espalhando.

Não que John Matthew prestasse qualquer atenção no macho. Ou qualquer outra pessoa.

Sem pensar conscientemente, ele caminhou em direção a sua irmã. Ela estava vestindo um vestido justo branco e simples, um daqueles que cobria seus ombros e ia até abaixo dos joelhos. E quando ele se aproximou, reconheceu-o como algo que viu as Escolhidas usando em casa quando queriam ficar confortáveis. Diferentemente delas, porém, seu cabelo estava solto e derramando abaixo por suas costas em ondas pretas.

Ela parecia inocente. E adorável. E perfeita.

Você está linda, ele sinalizou.

— Oh, obrigado. – Ela esperneou o vestido. — Layla emprestou este para mim. Então está pronto para me encaminhar pelo corredor abaixo?

Levou um bom tempo antes que John pudesse fazer suas mãos funcionarem direito. E quando sinalizou sua resposta, pensou que de toda aquela besteira que a glymera estava arremessando, e a tensão na casa, e a tristeza de Wrath… Isto era algo que sentiu como se tivesse esperado pela vida toda. Algo que cruzou uma grande distância para fazer. Algum tipo de meta que precisava enfrentar, apesar de não estar ciente do que estava lá fora.

Sim, eu estou, ele sinalizou com orgulho.

Beth nunca amou tanto o seu irmão. Quando John Matthew entrou ao lado dela, podia sentir a força silenciosa dele ressonando para ela... E ela precisava disto.

Embora tivesse organizado tudo, não tinha nenhuma ideia de como Wrath iria reagir a isto.

Olhando ao redor dos grandes ombros de seu irmão, ela piscou novamente para Lassiter. Pelo menos seu hellren seria poupado da visão do anjo naquela plataforma.

— Você amou isto, certo? – Lassiter perguntou, segurando a Bíblia mais alto. — Quero dizer, você disse que eu buscasse na Internet. Eu fiz. Até imprimi meu diploma ou como diabos isto seja chamado.

Abrindo a capa da versão de Rei James, ele tirou um pedaço de papel e acenou com isto ao redor.

— Viram? Bom e legal.

Beth se inclinou.

— Uau.

— Eu sei, certo? Assim como Harvard.

— Impressionante.

— Estou enquadrando totalmente esta merda. – Ele afastou a coisa. — E depois que acabei, pesquisei casamentos humanos. Descobri que precisaria de algumas batas cerimoniais, e estas foram as que gostei mais. Encontrei-as na Gould Fantasias e Mais... Boom! Não sou nada além de um cão de caça.

Beth esfregou suas têmporas. Vishous. Ela devia ter pedido a Vishous para fazer isto.

— Como conseguiu o cabelo?

— Spray. Grampos. Edição da Cosmos de dezembro... Para os feriados. Novamente, obrigado, Internet.

Rhage balançou a cabeça.

— Você tem bolas? Ou anjos nascem sem saco?

Lassiter astutamente sorriu.

— Faço tudo certo. Lá atrás no Antigo Pais, eu costumava usar a badalada do meio-dia e meia-noite.

Realmente, realmente, realmente deveria ter pedido a Vishous.

— Bem, aprecio tudo o que você...

Quando todos ficaram em silencio, ela olhou para o topo das escadas. Wrath apareceu e estava de pé, alto e orgulhoso, com George ao lado dele. Diferentemente de John, ele não estava em um smoking, mas tinha colocado um certo terno que ela lembrava.

Era o que ele tinha usado no primeiro encontro oficial deles com Darius.

— Para que é a multidão? – Ele perguntou.

— Apenas desça, – ela respondeu.

Quando ele começou a descer, as mãos dela ficaram suadas... E então um momento mais tarde, a mãe de todas as ondas de calor atacou, um calor escaldou através dela.

Cara, ela não podia esperar até que estivesse grávida ou completamente necessitada. Seu micro-ondas interno estava deixando-a louca.

Quando Wrath bateu no chão de mosaico sem seus pares de botas, ela pensou que ele não poderia parecer mais magnífico. Seu cabelo estava espalhado por todos seus enormes ombros, as extremidades chegando até os quadris, e com aquela gravata em seu pescoço… Parecia como um poderoso homem de negócios. Que poderia matar se estivesse disposto.

O que apenas conseguiu colocar seus hormônios em marcha.

— O que estamos fazendo aqui, Beth, – ele exigiu.

— Nós estamos casando.

Quando ele recuou, ela apressou-se antes que ele pudesse continuar com qualquer tipo de discurso.

— Você disse que meus costumes humanos importavam... Que eram igualmente importantes. Então estamos casando. Agora mesmo. Do meu jeito.

Ele balançou a cabeça.

— Mas nós já estamos acasalados. Por que...

— Então você pode se divorciar de mim e manter o trono. – quando ele ficou de queixo caído, ela o interrompeu. — Na frente de nossa família aqui. Com um ministro de verdade.

Lassiter levantou a mão.

— Feliz em servir. Eu também faço batismos. Basta pedir.

Wrath balançou a cabeça novamente.

— Isto é...

— Você está dizendo que meu lado humano vale menos?

— Bem, não. Mas...

— Então se fizermos a formalidade aqui e agora, não perdemos nada, não é? Você pode se divorciar de mim de acordo com a lei dos vampiros, nós ainda estaremos emparelhados e conseguiremos manter o trono. – Ela ergueu o queixo embora ele não pudesse vê-la. — Boa combinação, você não acha?

Houve um momento de silêncio abafado. E então um dos Irmãos disse, — Porra eu amo esta fêmea. Realmente a amo pra caralho.

 

Quando Wrath se permitiu manobrar ao redor do vestíbulo, George, como sempre, estava com ele.

Francamente, ainda que tivesse sua visão, teria que ser acompanhado.

Continuava esperando uma NFW[4] interna para sondar. Mas Beth o havia encurralado, da melhor maneira possível, ela tinha razão: Se suas normas culturais eram tão importantes para eles como um casal? Bem… Se eles fossem “casados” no modo humano, então estariam emparelhados. Por um período.

No entanto, não tinha certeza de como se sentia. Por outro lado, eles sempre fizeram as coisas de acordo com as tradições de sua raça originalmente e ainda que nada disso tivesse importância para ela, sempre esteve ao lado dele. Parecia justo que fizesse o mesmo por ela.

— Está pronto? – Lassiter perguntou a ele em voz baixa.

As pessoas estavam arrastando os pés, movendo-se ao redor do grande espaço do hall de entrada. — O que eles estão fazendo? – Wrath sussurrou.

— Formando duas filas pelo corredor que começa na sala de jantar e passa direito por nós. Estamos mais ou menos a cinco metros na frente da sala de bilhar. Ela sumiu, fecharam a porta para que não pudéssemos vê-la.

Wrath voltou a pensar em quando se emparelharam. A Virgem Escriba esteve com eles então. Beth usava um vestido velho vermelho de Wellsie e quase desmaiou quando os Irmãos escreveram seu nome em seus ombros. John Matthew, Blay, e Qhuinn não existiam ainda naquela época. Não havia Rehv, Xhex, Payne, Manny, os irmãos Sombra, nem os outros.

Ou Xcor e os Bastardos.

E desde então, eles perderam Wellsie. Ninguém mais, no entanto.

Do nada, a música inundou o hall, um clássico que ouviu antes, normalmente em filmes de garotas que participavam de... Casamentos, claro.

— Pronto? – Lassiter perguntou.

— Sim. – Jesus, isto não era o que esperava estar fazendo.

— Eu acabei de movimentar a cabeça para Fritz. – Sussurrou o anjo. — Ele está abrindo as portas.

Wrath limpou a garganta e se inclinou. — O que… O que ela está vestindo?

— Branco. Longo. Solto. Está sendo escoltada por seu irmão e leva uma rosa que Rhage tirou de um buquê em cima da lareira. – Fez uma pausa. — Os olhos dela estão em você e o sorriso? Vale milhões de dólares, meu amigo. Fodidos milhões de dólares.

De repente, a merda com o trono e as outras razões por estarem fazendo isto se foi: quando sentiu o cheiro de sua leelan, tudo em que conseguia pensar era que ela era tudo para ele e não apenas por que ela poderia estar salvando seu trono, aqui e agora.

Oh, merda santa, ela poderia estar grávida, também.

— Queridos irmãos. – Lassiter começou. — Nós estamos aqui reunidos para presenciar a união de Elizabeth, filha de Darius e Wrath, filho de Wrath.

Então deixaram os nomes formais dos vampiros de lado. Legal. Isso fazia com que parecesse mais humano.

— Quem entrega essa fêmea... Ah, mulher... Sua mão em casamento?

Wrath esperou que um dos Irmãos traduzisse a resposta de John. Ao invés, o homem falou sua resposta em voz alta e clara: Silvou uma nota declarando que anunciava que ele era o homem que apresentava sua irmã.

Por instinto, e porque não tinha ideia do que a cerimônia representava, ele estendeu a mão. Quando estreitou a mão de John Matthew, os dois apertaram forte, um voto dado e reconhecido com o aperto, uma troca de eu-cuidarei-bem-dela com é-melhor-porra-que-você-realmente-faça-isso.

Alguém limpou a garganta. Talvez alguns Irmãos que estavam ficando sentimentais.

Lassiter tossiu um pouco e ouviu o som de páginas sendo passadas para frente e para trás. — Ah… Certo, olhe, eu vou improvisar, certo? Existe alguma razão para que vocês dois não devam fazer isto? Não? Incrível.

Beth riu. — Acho que você deveria esperar nós respondermos.

— Todos juntos então, de acordo? E vocês rapazes no gargarejo também... Têm alguma razão para que isto não aconteça?

A casa inteira bem como sua shellan e ele mesmo gritou. — Não!

— Homem, nós estamos fazendo isto muito bem. – Disse sério. — Sim, continuando. Wrath?

Por alguma razão louca, ele começou a sorrir. — Sim?

— Você recebe esta mulher incrível que acaba de salvar seu traseiro como sua esposa? Irá amá-la, confortá-la, honrá-la e cuidá-la na saúde e na doença, renunciar a todas as outras e ser fiel a ela, sempre e até que a morte os separe... Merda, supunha-se que você teria que responder antes dele Beth. Pode responder?

— Não. – Wrath cortou com um grande sorriso. — Eu responderei primeiro. Sim, eu aceito.

Houve uma fungada na multidão. E neste momento Rhage sussurrou. — O quê? Isto é bonito, certo? Vão à merda todos vocês.

— Agora, Beth, aceita a este homem cabeça quente e dor no traseiro como seu marido? Você o amará e o confortará, honrará e cuidará na saúde e na doença, abandonando todos os outros, e sendo fiel enquanto vocês viverem?

— Sim. – Disse sua Beth. — Claro.

— Beeemm. – Lassiter passou mais algumas páginas. — Certo, os anéis? Pessoal, temos as alianças aqui?

— Pegue o anel do meu polegar. – Wrath disse, tirando o diamante negro que seu pai lhe deu. — Aqui.

— E ele pode usar o meu. – Beth disse. — É de sua mãe.

— Aww, isto é uma doçura. – Lassiter pegou o anel de Wrath. — Certo, vamos com isto. Eu, pelo poder a mim dado, abençoo estes anéis. Beth, pegue o seu e coloque em qualquer dedo que couber. Ou, como, a parte superior dos dedos... Lá vamos nós.

— Certo, repita depois de mim. Oh, mer... Quero dizer, merda. Eu deveria fazer Wrath repetir primeiro, suponho.

— Não. – Beth disse com outra risada. — Realmente está tudo perfeito.

— Perfeito. – Wrath concordou.

Estava tudo tão… Certo. Era natural e real... E a falta da cerimônia tão trabalhada, especialmente considerando o sistema de valores ridículos da aristocracia.

Inferno, Lassiter era um antídoto vivo, respirando em tudo isso.

— Certo, então, Beth, repita. “Eu, Beth, uma mulher totalmente incrível…”

Beth soltou outra risadinha. — Eu, Beth…

— Onde está a parte da “mulher incrível”? O quê? Vamos, eu tenho uma licença da Internet. Eu sei o que estou fazendo.

Wrath movimentou a cabeça para sua leelan. — Ele está certo. Você é, de fato, incrível. Acho que precisamos ouvir isto.

— Posso conseguir um amém! – Lassiter gritou.

— Ammmmmmmmmém! – Ecoou ao longo da mansão.

— Bem, bem, bem. – Ela disse. — Eu, Beth, uma mulher totalmente incrível…

— !…Recebo este idiota, Wrath...”

— …Recebo este idiota, Wrath...

— “…Como meu marido, para ter e manter de hoje em diante…”

— …Como meu marido, para ter e manter de hoje em diante…

— “…Para o bem e para mal; na riqueza e na pobreza…”

E de repente já não era uma piada. Quanto mais longe ia, mais sério Lassiter ficava, e a shellan de Wrath estremeceu como se as palavras que falava tivessem um grande valor e significado.

Isto era tradição para ela, ele percebeu.

Ela continuou de um modo rouco. — …na saúde e na doença…

— “…Para amar e respeitar, até que sejamos separados pela morte. Este é meu voto solene...”

Lassiter girou outra página. — “Entrego este anel como um símbolo do meu voto, e com tudo que eu sou, e tudo que tenho, honro você no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”

De repente, Wrath apertou os molares para manter suas próprias emoções sob controle enquanto ela repetia as palavras e deslizava o anel por seu dedo.     

— E agora, meu senhor. – Lassiter suavemente disse. — Repita depois de mim…

Beth nunca fora uma daquelas mulheres que imaginava seu casamento. Brincava com Barbies. Comprava revistas de noivas assim que completou vinte anos.

Tinha certeza, entretanto, que nunca imaginou em nenhuma hipótese que seria no mínimo parecido com isto: rodeada de vampiros, possivelmente grávida, com um anjo caído vestido de Elvis destruindo a cerimônia do Livro de Oração Comum.

E, no entanto, enquanto olhava para seu futuro marido, não podia imaginar nada melhor. E então, quando se encontrava a pessoa certa? Nenhuma das coisas das quais falavam na televisão, nenhum vestido da Vera Wang, nenhuma champanha, nenhum DJ ou uma festa importava.

— “Eu, Wrath recebo você, Beth...” – Lassiter começou.

— Entendi. – Seu marido disse em sua voz intensiva. — Eu, Wrath, recebo você, Beth, como minha esposa amada, para ter e manter de hoje em diante, no bem e no mal; na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para amar e respeitar, até que a morte nos separe. Este é meu voto solene.

Era um caso sério de delírio.

Quando Beth fungou e sorriu ao mesmo tempo, Wrath colocou o anel do Rei gigantesco no topo de seu polegar. Com profunda sinceridade, ele disse. — Eu dou a você este anel como um símbolo de meu voto, e com tudo o que sou e tudo que eu tenho, honro você em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo.

Houve uma ronda de aplausos, espontâneo e alto. E Lassiter teve que gritar para ser ouvido. — Pelo poder investido a mim graças ao Google, eu agora os declaro marido e mulher! Você pode beijar a noiva!

As palmas ficaram mais altas quando Wrath colocou os braços ao redor dela e a curvou para trás, a única coisa que a mantinha no chão era sua força.

Era um movimento que fazia sobre uma base regular, um modo inconsciente de afirmar e provar sua habilidade física para cuidá-la.

— Segure meus óculos. – Ele sussurrou quando a cortina de seu cabelo caiu ao redor, dando a eles isolamento. — Eu quero que você olhe em meus olhos ainda que eles não possam ver você.

As mãos de Beth estavam tremendo quando ela as levou para seu rosto. Puxou os óculos e seus olhos incríveis foram revelados e pensou na primeira vez que o viu, no quarto de hospedes subterrâneo da casa de seu pai.

Eram exatamente como agora. Verdes brilhantes até o ponto onde tinha que piscar e não apenas pelas lágrimas em seus olhos.

— Lindos. – Ela respirou.

— Inúteis. – Ele disse com um sorriso, como se estivesse se lembrando do mesmo momento.

— Não, eles me mostram todo o amor em seu coração. – Ela tocou seu rosto. — E isto é muito útil.

A boca de Wrath desceu sobre a dela, roçando uma vez, duas vezes. E então a beijou profunda e lentamente.

Quando finalmente começou a levantar-se, ela colocou de volta seus óculos e enfrentou a casa, ruborizando. Tanto amor por todas as partes.

A fazia parecer invencível contra qualquer coisa.

Acima do barulho, Lassiter gritou. — Obrigado a todos vocês, um enorme agradecimento.

Wrath inclinou-se de lado, coçou as orelhas de George e segurou na coleira do cachorro; então os três saíram do altar em direção ao jantar.

De alguma maneira Fritz conseguiu fazer um banquete do nada, a mesa magicamente colocada por arte de magia durante a cerimônia era simples, mas bem ampla e cheia.

Porém, primeiro os negócios.

Quando Rehv entrou pelos arcos, ele movimentou a cabeça para Beth e ela se inclinou para seu marido.

— É hora de assinar. – Ela disse.

Era doloroso ver a felicidade de seu marido sumir.

— Podemos, certo? – Ela sussurrou. — Nós estamos casados. Nós estamos cobertos.

— Sim… – Houve uma longa pausa. — Sim, eu posso fazer isto.

Exceto que ele tomou seu tempo para ir onde Rehv estava segurando um pergaminho que tinha tiras vermelhas e pretas fluindo mais abaixo pela metade.

— Eu tenho uma caneta azul para a linha de assinatura. – Rehv disse, tirando a coisa de seu casaco. — Este documento foi preparado por Saxton e tem a data de três semanas atrás. Ele me assegurou que a redação é legal e não podem contestar.

— Fechado. – Wrath murmurou.

Rehv pegou a caneta. — Assine e eu cuidarei de entregá-lo com prazer.

Beth soltou sua mão para dar a seu homem um pouco de espaço, mas ele não queria isto, claramente. Levantou o pergaminho.

— O que ele diz? – Ele exigiu.

Beth examinou os símbolos e não viu nada além de padrões de tinta azul.

— Diz que… – Rehv se inclinou. — Que a união foi anulada.

— Como se nunca houvesse existido? – Wrath murmurou.

Rehv tocou o pergaminho. — Esta é uma declaração política. Uma função política. Não se trata de vocês dois.

— Minha assinatura diz que sim. E seu nome está ali. Então é sobre nós.

Rehv afastou-se também. Então ficou apenas Wrath e o pergaminho que ele não podia ver.

Todos os Irmãos e os membros da casa ficaram de lado, todos em silêncio.

Ele não iria fazê-lo, ela pensou. Apenas não seria capaz de fazê-lo...

 

Vendo Selena tomar de sua veia, Trez estava totalmente contente por dar o fora do que quer que fosse que estava acontecendo em Caldwell por isso.

Ele ainda estaria no clube, terminando alguma merda contábil que devia ter feito dias antes, quando recebeu o texto do grupo sobre a reunião. E ele foi imediatamente para a casa... Esperando ver Selena. Quando ela não apareceu, ele disse a si mesmo para relaxar, deixe-a vir, quando vier, blá, blá, blá.

Ele permaneceu por cerca de um minuto e meio com essa merda antes de escapar, deixando iAm com um olhar sombrio no hall de entrada com o Gato Maldito, como ele chamava o animal, de volta em seus braços.

Assim que Trez tinha chegado até o grande acampamento, ele havia sentido a presença de Selena e ficou elétrico... Mas tudo tinha mudado quando ele a encontrou na cozinha, no meio de algum tipo de colapso. Vamos lá, contudo... Quando foi a última vez que ela se alimentou...

A partir do nada, seu pau e bolas rugiram com o pensamento dela compartilhando isso com alguém mais, e para voltar-se para o lado dos anjos, ele concentrou-se nos puxões contra seu pulso, a visão de seus lábios contra sua pele, na realidade que ele era, de fato, o único a tomar conta dela.

Por quanto tempo, no entanto, uma parte dele perguntou.

— Cale a boca. – Quando os olhos dela viraram para os seus, ele balançou a cabeça. — Não é você.

Acariciando o cabelo dela com as pontas dos dedos, ele ficou maravilhado com a diferença neles, como tudo nela era suave, como ela cheirava a ar fresco embora fosse inverno, como seus cílios eram longos contra as bochechas pálidas enquanto fechava as pálpebras.

Ele podia ter ficado assim para sempre.

Mas, eventualmente, ela o soltou, retraindo suas presas e sua boca. E então, estava na hora de um pouco de tortura: Sua língua rosa escapuliu e lambeu as feridas, fechando-as... E intensificando-as.

Reclinando em seus braços, seus olhos estavam confusos sob os cílios pesados, sem foco de satisfação.

— Eu não parei de pensar em você, – disse ele em voz baixa. — Nem por um segundo.

— Sim?

— Sim. – Ele balançou a cabeça enquanto acariciou o lábio inferior dela com o polegar. — E não apenas porque temos...Negócios inacabados.

Seu sorriso teria batido em sua bunda se ele já não estivesse sentado. — O que fazemos.

Deus, ele amava o sossego aqui. Sem música alta, nenhum ser humano bagunçando a sala, sem pressões do mundo exterior... Ou do s’Hisbe. Nem mesmo os Irmãos e as suas companheiras, tão legais como todos eles eram. Apenas os dois.

Quando sua ereção engrossou ainda mais, ele teve que mover seus quadris debaixo da cabeça dela. E, em seguida, ouviu-se dizer, — Eu quero fazer amor com você. Agora mesmo.

Merda, ele tinha realmente dito isso? E, no entanto, neste momento, todas as razões em sua cabeça para se manter firme pareciam tão distantes, nada senão um trovão distante no céu noturno que estava claro no momento e cheio de estrelas.

Exceto que, uma sombra cruzou o rosto dela, a saciedade preguiçosa, substituída por uma dúvida que o fez querer chutar em algum lugar de si mesmo.

Em vez de se afastar, porém, ela estendeu a mão e acariciou seu rosto. — Eu quero isso.

— Tem certeza? – Foda-se, ele estava duro. Muito difícil de fazer a coisa certa.

Quando ela acenou com a cabeça… Ele sabia que ambos estavam perdidos.

— Por favor, – ela sussurrou com voz rouca. — Tire-me dessa miséria, desse castigo.

Sua mão desceu para o corpo dela, indo para união de suas pernas... E ele quase teve um orgasmo em seguida, e ali, suas bolas apertando e seu pênis pressionando contra suas calças, até que ele teve que trincar seus molares.

Seu primeiro pensamento foi para tomá-la onde eles estavam. Não era inteligente.

Ele não ia parar, mesmo que alguém entrasse.

Com uma onda de força, Trez se levantou com ela em seus braços, embalando-a com cuidado. — Onde é o seu quarto?

— No andar de cima. Na parte de trás.

Saindo a passos largos, ele a levou pelas escadas que rangiam até o segundo andar, indo para uma suíte que estava sobre a cozinha, chutando a porta aberta. No interior, o mobiliário vitoriano era todo de mogno pesado com muitas curvas, e a cama era uma extensão espetacular de marcenaria, o quadro perfeito para ela quando ele a deitou sobre o edredom de veludo.

Rolando o corpo dela, ele a montou, tomando o cuidado para não soltar o peso nela. — Eu quero... Ver você.

As mãos dela foram para o cinto em seu robe, mas ele a impediu. — Não, eu gostaria de... Fazer isso.

O cinto era tão branco e suave quanto o resto do que ela usava, e quando suas mãos escuras afrouxaram o laço, ele lambeu os lábios. Separando as duas metades do tecido, não se apressou com a revelação.

— Oh, porra…

Sim, os mamilos dela endureceram ainda mais quando o ar frio os atingiu.

Incapaz de ajudar a si mesmo, ele se inclinou e lambeu um, sugando-o em sua boca enquanto continuou com o que ela estava usando, retirando o tecido de cima dela. Então, ele deu o mesmo tratamento ao outro enquanto acariciava o caminho até as coxas.

O cheiro dela foi direto para o seu sexo, seu pênis empurrando de novo, tentando sair.

E merda, o som dela gemendo seu nome o fez ceder. Mas, então, ele estava de volta a ação, tocando-a entre suas pernas, encontrando o núcleo quente, molhado dela e o acariciado. Quando as unhas dela arranharam seus braços, ele sorriu contra seu seio.

— Venha para mim, – ele gemeu enquanto a chupava.

Logo em seguida, seu corpo se contraiu, como se estivesse sendo puxado por um fio, seu tronco se arqueou contra o tórax dele enquanto ele se movia para sua boca, empurrando sua língua nela enquanto ajudava a criar seu orgasmo. Quando acabou, ela desmoronou, respirando com dificuldade.

— Por favor… – Sua voz falhou. — Eu sei que há mais.

— Sim, há. – Ele ergueu-se e quase rasgou a camisa ao meio. — Foda-se, sim, merda, eu quero dizer... Caramba.

Ele sabia que precisava ter cuidado com a linguagem, e jurou fazer melhor com o vocabulário.

Sua calça não foi tratada melhor do que sua camisa quando a lançou longe, nem mesmo se importou quando ela caiu sobre um dos postes da cabeceira.

— Você é… Magnífico.

Enquanto ela falava, Trez congelou e encontrou seus olhos... Só que ela não estava olhando para seu rosto. Não. Seu olhar estava fixo lá embaixo, e uma olhada rápida dele confirmou que seu pau fortemente excitado estava ereto e orgulhoso, pronto para começar o trabalho.

— Posso tocar em você? – Ela disse timidamente. Só que ela já estava agarrando-o, sua mão pálida...

O grunhido que ele soltou foi alto suficiente para abalar o espelho ao lado da porta, e ele caiu para o lado. — Cuidado… Oh, Deus…

Ele iria gozar, especialmente enquanto ela o acariciava...

— Oh, Jesus, – ele disse em um arquejo antes de morder o lábio inferior.

Selena ficou de joelhos, seus seios pesados balançando, seu cabelo desenrolou de seu coque. Com as duas mãos, ela achou um movimento constante, subindo e descendo, para cima e para baixo, passando por cima de sua ponta e, em seguida, encontrando o seu eixo novamente. E enquanto ela trabalhava nele, os quadris dele iam de encontro a ela, o ritmo cada vez mais rápido.

Com um safanão, ele empurrou-a de costas e afastou as mãos dela longe de seu corpo.

— Mas eu quero...

Ele a interrompeu com a boca, lambendo o seu caminho através de seus lábios. — Eu quero gozar dentro de você.

Seu sorriso era sexy como o inferno, seus olhos cintilantes. — E então eu posso explorar?

— Você vai me matar, fêmea.

Enquanto a montava, ela abriu as pernas para dar lugar. — Só penso em você, – ele se ouviu dizer.

E quem sabe, dessa vez, o passado ficasse para trás... Provavelmente porque ele passou as horas pensando nela no chão do banheiro, contorcendo-se em sua boca, querendo mais. Sim, o desespero para entrar nela, tê-la, gozar dentro dela, foi mais forte do que todas as coisas que ele odiava sobre si mesmo. Nada iria parar com isso agora.

Especialmente porque, durante o tempo em que eles estavam separados, ele apontou um fato marcante para si mesmo:

Ela esteve com um monte de machos, também.

Isso fazia parte do seu trabalho... Embora ele odiasse pensar sobre isso. Como uma Escolhida que serviu as necessidades de sangue de outros, ela tinha sido sexualmente treinada e esteve com os machos que ela serviu. Era assim que as coisas funcionavam.

E, tanto quanto o deprimiu, ele pensou em colocá-los em um pé de igualdade... Embora o sexo que ela fez tinha sido parte de um papel sagrado que salvou vidas. O dele tinha sido apenas um vício.

Tempo passado lá, ele pensou. Legal.

Agarrando-se, ele inclinou o pau e diminuiu a distância, pressionando-a, encontrando o ponto certo. Com um gemido, ele ergueu os dois braços para embalar a cabeça dela... E quando seus olhos se encontraram, ele poderia dizer que ela tinha parado de respirar, como se preparando para o tamanho dele.

— Eu irei lento, – ele murmurou, beijando-a suavemente.

Sua voz era um mero sussurro: — Obrigada.

Quando avançou lentamente nela, ela estava curiosamente imóvel, seu olhos fechados, suas presas descendo. E tudo o que ele podia fazer era olhar como ela estava bonita contra o edredom de veludo vermelho-sangue, seu cabelo preto emaranhado no travesseiro, o rosto corado.

— Você é apertada, – ele cerrou os dentes. — Querido Deus.

— Não pare.

— Eu não irei...

— Faça isso, apenas faça isso.

Trez franziu a testa, pensando que era uma estranha forma...

Aconteceu tão rápido que ele não teve a chance de pará-lo... Selena agarrou seus quadris, prendeu-o no lugar, e empurrou-se para frente, levando-o a ultrapassar uma barreira... Que não deveria ter estado lá.

Enquanto ela deixou escapar um suspiro de dor, nada calculado. — O que…

Ele não terminou a frase. Não foi possível concluir o pensamento. O forte aperto dela ao redor dele foi demais, e o orgasmo que estava se construindo explodiu fora dele, fluindo em seu corpo.

Em resposta, Selena passou suas pernas ao redor do quadril dele, um suspiro saiu dela quando ele tentou diminuir os impulsos. Virgem? Virgem…

E então ele se lembrou, do banheiro… Me leve, ensine-me.

Virgem.

Trez retirou-se tão rápido, e ela estremeceu... E ele quase terminou não apenas fora da cama, mas fora do quarto.

O sangue dela em sua ereção diminuiu fazendo seu pau desinchar. — Selena… Cristo, por que você não disse algo?

Seus olhos se afastaram dele enquanto ela puxava seu robe. Ela ainda amarrou o cinto antes de sentar-se sobre os travesseiros. — Eu queria você. Eu ainda quero. É tão simples quanto isso.

Ele estendeu a mão para afrouxar a gravata que estava comprimindo a respiração dele... E se lembrou de que estava pelado.

— Não é simples, – ele disse com voz rouca. — Isso não é simples.

A última coisa que ele precisava era outra fêmea com a qual ele seria obrigado a se casar: Se Phury como Primale quisesse que ele seguisse com isso? Que diabo ele iria fazer?

Especialmente porque… Ele estava apaixonando-se por Selena.

 

Quando Trez ficou pelado no lado mais longe do quarto, Selena pensou, Hmm, não era o que ela estava esperando.

Mas ela tinha razão em ficar quieta. No último minuto, ela fez uma decisão consciente para não contar... Precisamente por esse motivo.

— Como é... Como... Por que… – A gagueira não era um bom sinal. — Eu pensei que você fosse uma ehros.

— Eu sou.

— Então, como você é virgem?

— Eu não fui usada dessa forma.

Ele jogou as mãos para o alto em frustração. — Por que eu? – De repente, ele xingou. — Quero dizer…

— Como eu disse, eu queria estar com você. Continuo querendo. – Depois da dor, ela só conseguiu uma sugestão do prazer... Ela queria saber o que mais havia ao fazer amor.

Colocando a cabeça entre as mãos, ele apenas ficou lá. — Cristo.

— Só para que nos entendamos, – ela disse secamente, — Eu não estou esperando nada de você. Se for isso que você está preocupado. Não haverá emparelhamento.

Não com o futuro dela. Embora do modo como Trez estava olhando-a, isso não estava nas cartas de qualquer maneira...

— Você tem certeza que seu Primale vai pensar assim?

Ela ergueu o queixo. — Quem vai dizer a ele? – Quando isso parecia impedi-lo, ela deu de ombros. — Não vou ser eu. E ninguém está em casa com a gente. Então, se você não fizer isso, ele nunca vai saber.

Na verdade, ela não tinha certeza do que Phury faria se descobrisse... Tecnicamente, agora que ela tinha tido sexo com alguém que não fosse o Primale ou um Irmão, seria considerada uma Escolhida Caída. Mas era difícil saber nesses novos tempos o quanto da velha tradição sobreviveu.

Não que isso importasse. Seu tempo estava acabando.

Foi por isso que, quando Trez fez uma pausa depois de constatar que seu sexo estava apertado, tinha tomado o assunto em suas próprias mãos. Ela estava determinada a não perder sua chance, especialmente não depois daquele episódio no andar de baixo na mesa da cozinha.

De repente, ela pensou que ele estava comprometido... E sentiu uma pontada de dor através de seu peito.

— Não se preocupe, – ela disse com exaustão. — Não existe nada para ser feito.

— Eu tenho honra, sabe, – ele estalou.

— Não quero ofender.

Ele fechou os olhos e murmurou, — Você não deve se desculpar.

— Eu não consigo ver o problema. Meu corpo é meu para dar e eu escolhi você... E você me queria.

Com isso, suas pálpebras se arregalaram. — Eu te machuquei.

— O que foi doloroso foi que você parou.

Trez sacudiu a cabeça. — Isso está uma bagunça.

— De acordo com quem?

— Você não sabe da missa a metade. – Mas pelo menos ele veio e se sentou na cama. Colocou a cabeça para trás em suas mãos, ele exalou duro. — Eu não deveria ter sido o único, Selena. Ninguém além de mim.

— Mais uma vez, você não acha que isso é uma decisão que só eu posso fazer?

— Mas você não me conhece.

— Conheço o suficiente. – Afinal, ele disse a ela sobre as mulheres humanas. Seus pais. Estar vinculado a outra. O que mais poderia haver?

— Não. Você não...

Um som cortou o quarto, e levou um momento para ela perceber que era um telefone celular tocando.

— Você está brincando comigo, – ele reclamou quando passou por ela até o travesseiro. Nele, um aparelho celular estava sentado com sua tela virada para cima, depois de ter claramente deslizado para fora do bolso da sua calça, quando ela acabou na cabeceira da cama.

Ele verificou o número... E em seguida, olhou para o relógio. — Que horas são... Oh, merda.

— O que há de errado? – Ela perguntou.

— Eu tenho que atender. – Ele olhou ao redor como se estivesse procurando um pouco de privacidade. — Eu já volto.

Enquanto ela o observava sair para o corredor, seu corpo nu estava resplandecente... E apenas a visão de seu traseiro foi o suficiente para levá-la a avaliar se ela teria ou não a oportunidade de estar com ele novamente.

Fechando os olhos, ela esticou-se e encontrou uma dor em sua pélvis que nunca tinha estado lá antes.

Sim, tinha machucado um pouco. Mas não o suficiente para fazê-la se arrepender de nada... Ou de não querer fazê-lo novamente.

Algo lhe dizia que isto não estava em seu futuro, no entanto.

Ela deveria ter dito algo a ele.

Mas não havia como voltar atrás naquela decisão.

 

No final, Wrath assinou a maldita proclamação de dissolução.

O anel de sua mãe em seu dedo mindinho foi o que veio a sua mente: aquele rubi era um símbolo do voto solene de Beth e o fez pensar sobre tudo o que sua fêmea havia feito por ele. Para emparelhar, ela colocou sua fé, seu coração, seu futuro nele e em seu povo, tradições, costumes... Afastando-se do seu lado humano por completo, até o ponto em que não tinha mais nenhum contato com a raça, nada além dele e de seus irmãos, o trabalho dele assumindo a vida de ambos.

Ela ganhou muito, com certeza. Mas tinha perdido tudo o que já tinha conhecido. E tinha feito isso por ele, por eles.

Neste momento, a coisa mais importante não era o trono. Não, realizava-se segundo o padrão que ela mesma havia criado: Ele precisava colocar a sua assinatura onde a sua boca estava. Mesmo que ele odiasse toda essa merda, dos aristocratas e do Bando de Bastardos, até a sensação de perda que acompanhou esse pedaço de papel filho da puta, ele tinha que honrar o que disse a sua Beth.

As tradições dela tinham tanto peso e importância quanto as dele.

Se não fizesse isso? Ele estaria tratando-a com o mesmo desrespeito que o Conselho.

E essa era a maneira mais lógica para contornar a glymera.

Uma pequena satisfação mandar às suas maquinações à merda.

— Onde está a caneta? – Ele rosnou.

Quando Rehv colocou a coisa em sua mão, ele apertou a palma de Beth. — Onde é que eu faço isso?

— Bem aqui, – ela disse roucamente. — Aqui.

Ele a deixou levar a ponta da caneta para onde devia haver uma linha, e então ele rabiscou seu nome.

— O que acontece agora? – Ele exigiu.

Rehv riu com um toque desagradável. — Eu fecho essa pequena missiva e enfio isso onde o sol não brilha. – Houve o farfalhar do pergaminho. — Eles pediram para a “coroação” acontecer à meia-noite. É uma puta desgraça que eu tenha que esperar até lá. Vamos, Saxton, você precisa de um pouco de comida. Parece que você está a ponto de entrar em colapso.

Wrath olhou para a silenciosa, imóvel multidão. — Bem. Vocês irão comer ou não?

Quando a conversa pulou do silêncio, porque seus irmãos sabiam que ele precisava da atenção em outro lugar, ele tomou braço de Beth.

— Tire-nos daqui, – ele disse severamente.

— Entendido.

Com rápida eficiência, sua shellan levou-o para longe do barulho e da comida, e quando ele sentiu o cheiro de lenha, ele adivinhou que ela o levou em direção à biblioteca.

— Deite-se, George, – ela disse quando parou no que ele achou ser a porta. — Eu sei, eu sei que você não quer sentar-se aqui fora, mas precisamos de um minuto.

Boa pedida, ele pensou quando se soltou dela e caminhou por conta própria, sua mão da adaga esticada. Quando ele sentiu a cornija da lareira, desejou poder ver o fogo controlado. Ele queria cutucar algo quente e fazê-lo chiar.

Um clique-clique disse-lhe que ela os havia trancado.

— Obrigada, – sua Beth disse.

Ele se virou. — Por você.

— Vai dar tudo certo.

— Se você está falando sobre o Bando de Bastardos, eu não teria tanta certeza. Haverá outro ângulo. Nós compramos algum tempo, mas o problema não foi resolvido.

Cara, a amargura em sua voz não era característica dele. Mas essa situação o mudou.

Graças a Deus que seu pai estava morto... E isso não era algo que ele ousasse imaginar em pensar...

Atrás dele, Beth pressionou-o com seu corpo, suas mãos deslizando até seus ombros e esfregando os músculos tensos. — Foi uma cerimônia bonita.

Ele teve que rir. — Elvis fez um ótimo trabalho.

— Sabe o que os seres humanos fazem habitualmente depois para tornar a cerimônia oficial?

— O quê?

Quando os braços dela deslizaram em torno de sua cintura, ela deu a volta, ficou na ponta dos pés e beijou o lado de sua garganta. E ao que parece, seu humor começou a melhorar.

— Consumação, – ela murmurou. — É tradicional para o marido e a mulher selarem o acordo, se você sabe o que eu quero dizer.

Wrath começou a sorrir, mas então ele se lembrou da última vez que estiveram juntos... E as circunstâncias. — Tem certeza que você está pronta para... Depois... Bem, você sabe.

— Muito certa.

Para provar o ponto, ela esfregou-se contra ele, e ele teve que xingar. Instantaneamente faminto, ele, no entanto, reprimiu aquele lado selvagem quando baixou a sua cabeça e tomou a boca de sua esposa.

— Levante-me, – ela disse em um suspiro.

Quando ele concordou, ela puxou o vestido que estava usando até a cintura, as pernas se abriram para ficar ao redor dos quadris dele.

— Você não está usando calcinha, – ele gemeu.

— Eu queria estar preparada para isso.

— Jesus, estou feliz por não ter sabido... Eu teria…

Ele não se preocupou em terminar a frase. Em vez disto, quando ela se segurou em seu pescoço, ele tateou entre eles e desabotoou a calça. Instantaneamente, seu pau saltou livre, latejante e quente, e quando ele a desceu um pouco, encontrou seu núcleo...

— Merda! E se você estiver grávida? – Ele deixou escapar, empurrando-a para trás. — Porra...

— Mulheres grávidas fazem sexo. Realmente. Elas fazem.

Esticando-se, ela sugou o lábio inferior dele e, em seguida, mordeu-o com suas presas. — A menos que você esteja dizendo que não me quer?

Ele retirou suas botas. — Este não é o caso.

Qualquer confusão foi dissolvida quando ele entrou nela lentamente, pressionando, retornando para casa de forma suave. Ela não pareceu sentir dor, mas ele não se arriscou quando suas mãos em concha seguraram a bunda dela, começando a movê-la para cima e para baixo sobre ele.

— Eu amo você, — ele disse em seu cabelo. — Para sempre.

Quando ela murmurou de volta em seu ouvido, uma ponta de paranoia drenou um pouco do calor em seu corpo.

Teria seu pai dito a mesma coisa para a sua mãe?

E ele sabia como aquilo terminou.

De repente, o aviso de V veio a ele, sobre o campo de branco e o futuro em suas mãos. O que...

— Wrath, – sua esposa sussurrou. — Volte para mim. Concentre-se em mim aqui e agora…

Com um gemido de submissão, ele deixou todas as besteiras de lado, fazendo o que ela mandou, sentindo e conhecendo apenas a sensação dele bombeando dentro e fora dela. O orgasmo foi tranquilo, uma onda que se aproximou e retirou-se com todos os trovões de uma brisa de verão. Mas quando ele gozou dentro de sua fêmea e sentiu seu aperto ao redor dele, pareceu mais poderoso do que todos os que tinham sacudido as bolas dele.

Ele não queria deixá-la ir.

Jamais.

 

Fora do quarto de Selena, Trez aceitou a ligação... Mas não conseguiu um "alô".

— Onde diabos você está, – o assassino da rainha comandou? — E onde está o que você me prometeu.

Trez fechou os olhos. — Eu estou a caminho.

— Você não vai foder comigo.

A conexão foi cortada.

— Trez? – Selena perguntou do quarto. — Está tudo bem?

Não. Nem um pouco.

Já era meio-dia?

Ele empurrou a porta larga. — Sim. Mas eu tenho que ir.

Xingando baixinho, ele foi diretamente para sua calça e a puxou... E quando suas bolas ficaram presas no zíper, ele deliberadamente puxou com mais força, a dor disparando através de sua pélvis e deixando-o doente.

Aquela rápida ligação de s'Ex foi um lembrete de todas as razões pelas quais fora uma ideia idiota vir aqui.

Virgem.

Porra.

Quando ele pegou a camisa e enfiou um braço na manga, ele estava ciente de Selena sentada silenciosamente na cama.

Virgem.

Logo em seguida, todas as mulheres com que ele já tinha fodido vieram rapidamente em lembrança, mais uma vez enchendo o espaço entre eles. E então ele teve um pensamento feliz com as que ele estava fornecendo para s'Ex hoje.

— Isso não vai acontecer novamente, – ele disse, apontando para a cama, para ela.

Uma vez já foi demais.

Em resposta, o rosto de Selena não transpareceu nada, mas o cheiro dela disse tudo: a tristeza saiu de seus muitos poros.

E, ainda, ela o olhou nos olhos. — Como quiser. Mas estarei aqui se você mudar de ideia.

Cara, ela não era nada mais que autocontrole quando ele olhou para baixo, quase um desafio para ele ficar longe.

Seu autocontrole não era tão bom. Mas a situação em que ele se encontrava era muito ruim.

iAm já estava em risco. Se Selena fosse envolvida?

Ele não queria que ela caísse em seu inferno.

Oh, e quanto a Phury? Ele se sentiu como merda sem dizer nada ao Primale. Apenas outra forma em que ele a desonrou, mas nada de bom pode vir de uma revelação como essa.

— Eu tenho que ir, – ele murmurou.

— Como você quiser.

Ele reaaaaallmente queria que ela parasse de dizer isso.

Trez praticamente tropeçou para fora do quarto, e praticamente não se lembrava de como foi o seu caminho descendo as escadas, indo através da casa escura, e saindo no pátio lateral brilhante de neve. Fechando os olhos, demorou um pouco para se concentrar o suficiente para se desmaterializar...

…Mas ele finalmente chegou ao Commodore, aparecendo atrás da lixeira da entrada de serviço. Saindo de lá, foi ignorado pelos entregadores que estavam descarregando materiais de limpeza para a área de deposito, e também pelo mensageiro de bicicleta que estava pedalando pelo beco.

Porém havia muita gente esperando por ele no décimo oitavo andar.

Assim que ele saiu do elevador, xingou em voz baixa.

iAm estava apoiado na porta fechada, bem casual, exceto pelo seu olhar mortífero. E com ele? As prostitutas que Trez tinha arranjado para s'Ex.

O assassino da rainha estava, sem dúvida, no terraço exterior. Ou rondando o interior do apartamento, depois de tê-lo invadido, em um acesso de raiva.

Trez enfiou as mãos nos bolsos... Sem chaves. Porra.

Ele as esqueceu? Ou elas ficaram no chão do quarto de Selena?

Puta Merda.

— Perdeu algo? – Seu irmão falou lentamente.

— Oi, chefe, – uma das prostitutas disse.

— Chefe...

— E aí...

As mulheres falam por si só quando mexem em seus cabelos ou ajeitam seus sutiãs. Cada uma delas estava vestindo uma versão de “tamanho legal”, mas tudo era curto, apertado e decotado.

Não que elas iriam ficar vestidas por muito tempo.

— Permita-me, – iAm murmurou, tirando sua chave de cobre.

Depois de destrancar, ele abriu a porta e acenou para as meninas entrarem.

Enquanto elas entravam, o macho estreitou os olhos. — Que porra você está fazendo?

— Cuidando de negócios, – Trez silvou de volta. — Do único jeito que sei.

Passando por seu irmão, ele entrou na sala de estar. E, assim como a sombra que ele era, o assassino estava esperando do outro lado do vidro, as suas vestes negras flutuando no vento frio.

Quando as três prostitutas o notaram, elas congelaram, seja por fascínio ou susto. Talvez os dois.

— Dê-me um minuto, senhoras, – disse Trez enquanto foi até as portas de correr. — Eu o enviarei para vocês no quarto naquele corredor por ali.

— Sim, está bem, chefe, – a da frente respondeu.

Ele esperou até que elas saíssem da sala antes de deixar s'Ex entrar. Boa coisa... O assassino estava puto, ao tirar o capuz de sua cabeça.

Apontando o dedo para o rosto de Trez, ele vociferou, — Chegue na hora certa no futuro. Ou nosso acordo está defeito.

Assim que Trez estava prestes a jogar tudo na cara do desgraçado, iAm entrou. — Tínhamos um compromisso obrigatório com o Rei. Não podíamos sair de lá, e nada que vá acontecer de novo.

Brilhantes olhos pretos viraram na direção de seu irmão. — Tenha certeza disso.

iAm assentiu uma vez, seu rosto enganosamente calmo: a indicação contrária era a contração em sua sobrancelha esquerda... Merda, Trez ia ouvir tuuuuuudo sobre isso assim que o negócio estivesse acabado.

Ótimo. Outra coisa pela frente.

s'Ex chegou até o broche preto em sua garganta. Grande como o punho de um lutador, era cravejado com pedras pretas, o metal torcido em torno de si mesmo... E quando ele tirou a coisa, o robe caiu no chão.

Expondo uma camiseta branca comum e uma calça cargo preta.

O que não era comum era o resto do corpo: Cada centímetro de sua pele era marcada com aquela tatuagem ritual branca, com os braços fortemente musculosos e ombros modelados como a merda. E, no entanto, ele ainda poderia se passar por humano.

Boas notícias para as prostitutas.

— Apesar do fato de que você está atrasado, – s'Ex disse entre dentes, — Eu fiz a todos um favor.

— Então nossos pais estão vivos? – Trez disse.

— Oh, sim, isso, também. Eles estão perdendo suas acomodações, no entanto... A pedido da rainha. Da última vez que chequei, sua mãe estava tendo um colapso nervoso quando as suas joias eram recuperadas. – O assassino sorriu lentamente. — Sua Majestade está realmente satisfeita com o sofrimento deles. Se eu não o conhecesse melhor, eu diria que você planejou tudo isso perfeitamente.

— Qual é o favor?

— Sua Majestade está prestes a ficar ocupada com coisas que não envolvem você por um tempo.

Trez estreitou os olhos. — Como assim?

— Cerca de nove meses.

— Desculpe, o quê? Eu não entendo o que você...

— Ela está grávida.

Trez parou de respirar. E então forçou seus pulmões a voltarem a funcionar enquanto ele lançava um olhar ao seu irmão. — Como diabos isso aconteceu?

— De todas as pessoas, eu suponho que você não precisa de um diagrama.

— Mas eu pensei que seu consorte tivesse morrido há dez anos?

— Sim. Uma vergonha. – s'Ex estalou os dedos. — Ele teve uma queda feia.

— Então de quem é?

s'Ex sorriu com um toque malicioso. — É um milagre.

Santa… Merda.

s'Ex assentiu. — O momento é bom para você, porque ela vai ter que esperar para ver se é outra filha. Nesse ponto, os mapas de estrelas terão que serem lidos para descobrir qual será a próxima rainha. É óbvio que se for um filho, você está ferrado. Se não, você pode ter uma chance... Afinal, foi prometido particularmente para aquela filha. Se a outra for rainha? Você estará bem.

iAm exalou lentamente. — Isso é uma puta de uma notícia... Uma ótima notícia. Potencialmente.

— Mas você ainda me deve, – s'Ex rosnou. — De agora em diante? Você cuida de mim... Ou eu vou cuidar de vocês dois.

— Não se preocupe com isso. – Trez ajeitou calça, sua mente girando. — Tudo o que você precisar.

— É bem por aí.

Jesus... Isso mudou tudo. Ou, pelo menos, poderia.

Um resultado muito melhor do que ele poderia ter planejado.

Quando o olhar de obsidiana de s'Ex se moveu para o quarto em que as meninas estavam, Trez o reorientou. — Algumas regras.

O assassino olhou para trás. — Eu não ouvi isso.

Trez pisou firme, encontrando-se cara a cara com um homem enorme. — As regras são essas... Você não as machuca. Sexo selvagem estará bem, se for consensual, mas sem cicatrizes permanentes ou marcas. E você não pode comê-las. Essas são as minhas duas únicas restrições, e elas não são negociáveis.

Com Sombras, você sempre tinha que estabelecer limites. Especialmente uma Sombra como essa.

— Espere, elas são suas? – O macho perguntou.

— Sim.

— Oh, merda, porque não disse logo? – s'Ex estendeu a palma da mão. — Eu prometo. Nada permanente e nenhum almoço.

Que alívio, Trez pensou enquanto apertava a mão e dava-lhe um aperto forte. — Mas eu estou dando-as a você pelo tempo que você quiser. E o apartamento, também, é claro. Quando você quiser algo novo? Você sabe onde me encontrar.

Quando o assassino sorriu e foi embora, Trez agarrou o braço do macho. — Só mais uma coisa... Aquelas são humanas. Até onde elas sabem, vampiros são ficção... E você precisa manter isso assim se quiser que isso continue.

s'Ex parecia entediado. — Tudo bem. Mas teria sido mais divertido de outra maneira.

Quando ele saiu da sala, seus passos pesados ​​ecoaram pelo corredor e, em seguida, houve vozes. Seguido pelo som de uma porta sendo fechada.

Trez foi direto para o bar apesar de ser pouco depois do meio-dia apenas, e pegou uma garrafa de uísque Maker’s Mark. Ele não se incomodou com um copo; direto da garrafa era bom o suficiente para ele.

Enquanto o líquido queimava o caminho até seu estômago, seu único pensamento era que ele deveria se sentir mais aliviado do que se sentia. Mas então, ele não estava fora de perigo ainda.

E ele tinha tirado a virtude de uma boa fêmea cerca de meia hora atrás.

Nenhum cartão passe-livre-da-prisão iria mudar isso.

— Nove vidas, – iAm disse quando ele se aproximou e esticou a mão.

Trez passou o uísque. — Ainda não...

O gemido que ondulava distante era do sexo feminino. E assim foi o que se seguiu.

— Ele vai fazer com todas as três de uma vez, – iAm murmurou.

Uma imagem rápida do assassino de costas, com uma mulher montando seus quadris, outra montando seu rosto, tudo ao mesmo tempo, e ele tocando uma terceira fez Trez tomar a garrafa de volta e beber com vigor.

Puta merda, Trez pensou, ele esperava poder ficar à frente daquele apetite.

 

Neve fresca começou a cair às seis horas, como se isto tivesse esperado pelo sol baixar no horizonte antes de fazer seu aparecimento... E pela meia-noite, a tempestade não estava mostrando qualquer sinal de clarear.

Quando Xcor desviou a vista da janela de seu quarto, ele seguiu os flocos espessos, graças às iluminações da rua que marcavam o círculo da rua sem saída na frente da casa.

— Você vem?

Ao som da voz de Throe, Xcor olhou por cima do ombro. Seu lutador estava de pé na entrada, vestindo um terno adequado.

Sua Escolhida estaria esperando por ele, Xcor pensou. Neste tempo ruim.

Assumindo que ela aparecesse.

Mas ele não podia faltar à coroação.

— Sim, – ele disse com a voz rouca, saindo da cadeira que puxou para perto da janela.

Juntando seus coldres, ele os prendeu em seus ombros e na cintura e deslizou várias armas de fogo e lâminas. Mas quando foi pegar a foice, Throe balançou a cabeça.

— Acho que deveria deixar isto aqui, não?

— Ela vem comigo.

Depois que Xcor a colocou nas costas, ele cobriu tudo com seu casaco de couro. — Vamos em frente.

Quando caminhou até Throe, ele recusou encontrar os olhos do macho. Sabia o que encontraria se fizesse e estava desinteressado pelo escrutínio.

Juntando-se aos Bastardos abaixo, ele estava silencioso enquanto saíam para a noite fria e se desmaterializavam no quintal…

… Para o solo formal de Ichan, a casa moderna do filho de Enoch.

Pela neve pisoteada, ele viu que os outros já tinham chegado, os membros do Conselho em roupas formais ao redor do interior das salas, passando pelas janelas brilhantes.

A celebração era justificada, haja vista ter sido de fato, um triunfo... Ou isto deveria ter sido. Mas tudo o que conseguia pensar era na fêmea que estava lá fora no prado, esperançosamente agasalhada contra os elementos do inverno, esperando por ele. Olhando para o céu, a neve caiu em seus olhos e ele piscou.

Quanto tempo ela iria ficar lá...

— Por aqui, – Throe disse, indicando uma entrada dianteira que tinha toda a sutileza de um outdoor ao lado da estrada. — Como se alguém pudesse perder isto.

Muitos refletores, todos focados no vidro colorido ao redor de uma porta pintada de vermelho, que tinha algum tipo de símbolo do Sol nela.

— Que extravagante, – Throe murmurou quando eles começaram a atravessar a neve. — Infelizmente, dentro está pior.

Xcor, ao contrário, não tinha uma opinião sobre a decoração. E ele estava impressionado com todos os funcionários uniformizados que abriam caminho e distribuíam pequenos pedaços de comida em bandejas de prata, e tomando nota das bebidas.

Não, ele estava em um campo longe, debaixo de uma árvore de bordô, esperando que uma fêmea chegasse, assim ele poderia dar-lhe seu casaco contra as rajadas.

Ele não estava aqui...

— Posso pegar seu casaco? — Um doggen perguntou ao seu cotovelo.

Erguendo os olhos para ele, o mordomo se afastou.

— Não.

— Como desejar, senhor. – A curvatura que ele fez foi tão baixo, que o doggen quase tocou o chão brilhante. — Mas é claro.

Naquele momento, Ichan aproximou-se com todo o floreado de um maestro. Realmente, ele estava vestindo uma jaqueta de smoking de cetim que era vermelho como sangue, e um par de mocassins que levava suas iniciais em fios de ouro. Completamente um almofadinha, pelo menos em sua própria mente.

— Bem-vindo, bem-vindo. Pegue uma bebida... Claus, sirva-os.

Xcor deixou seu Bastardo responder por ele, decidindo se mover para outra sala.

E de fato, os aristocratas silenciavam quando passava por eles, seus olhos arregalando de medo e respeito... Isto porque ele usava suas armas. Ele queria que sua personalidade fosse um poderoso lembrete de quem estava realmente no comando.

Enquanto prosseguia, ele notou distraidamente que Throe estava correto sobre a mobília. A "arte” moderna sufocava os espaços, enchendo cantos e paredes, lotando cadeiras, mesas e sofás que estavam tão contorcidos, que queria saber onde um convidado realmente poderia se sentar. E o esquema de cores estava por todo lado, a única semelhança parecia ser que as brilhantes destoantes matizes afrontavam a retina...

Quanto tempo ela esperaria? Ela teria vestido um casaco?

Claro que teria.

E se alguém questionasse por que ela estava saindo? E se ela fosse pega voltando para casa...?

— Xcor? – Throe disse calmamente.

— Sim.

— Está na hora. — Throe movimentou a cabeça na direção de uma biblioteca que não era nada além de estante e livros, a mobília era abençoadamente escassa.

Ou pelo menos, a maior parte. Centrada no meio do espaço, havia uma grande cadeira como um trono, como também uma mesa com um grande pedaço de pergaminho, cera para lacrar, e muitas, muitas fitas.

Ah, sim. O local precioso do pequeno auge de Ichan.

Que não iria durar.

Xcor aproximou-se cuidadosamente e permaneceu na entrada da sala, encontrando o olhar de cada membro da glymera, enquanto eles tinham que passar por ele. Quando não sobrou nenhum para se juntar, ele virou sua atenção para a reunião, seus Bastardos de pé ao redor dele, de tal forma que seus corpos sufocavam a saída da biblioteca...

Por trás, a porta principal abriu uma última vez, uma corrida de ar seco e gelado intrometeu-se como um convidado errante. Olhando por cima de seu ombro, ele franziu o cenho.

Um convidado errante, realmente: Rehvenge, o titular leahdyre do Conselho, caminhava a passos largos como se possuísse o lugar, seu casaco de visom de corpo inteiro varrendo atrás dele, uma bengala vermelha que não era um guarda-chuva, ajudando-o.

Ele estava sorrindo, os olhos púrpuros mostrando um calculismo que era uma advertência.

— Estou atrasado? – Ele falou. Quando se aproximou de Xcor, aqueles olhos olharam diretamente dentro dos seus. — Odiaria perder isto.

Quem diabos o convidou, Xcor se perguntou. O macho estava solidamente do lado do antigo Rei, uma toupeira que mais parecia um jaguar no meio deles.

De dentro da biblioteca, Ichan virou em meio a um gesto, um cigarro em um suporte antigo de ébano agitando... Apenas para congelar quando viu quem chegou.

Rehvenge ergueu sua bengala no lugar de uma saudação.

— Surpresa, — o macho disse enquanto invadia a multidão. — Oh, vocês não me esperavam? Eu estava na lista de convidados.

Quando Throe avançou, Xcor agarrou o macho e o arrastou para trás.

— Não. Ele não deve estar sozinho.

De uma só vez, todas as mãos de seus soldados desapareceram dentro de suas roupas. Assim como as dele.

E ainda nenhum Irmão apareceu.

Então isto era uma mensagem, Xcor pensou.

Ichan olhou ao redor como se esperasse que Xcor lidasse com a intrusão, mas quando ninguém do grupo de lutadores se moveu, o aristocrata pigarreou e abordou Rehvenge.

— Uma palavra, se você quiser, – Ichan disse. — Em particular.

Rehvenge sorriu como se já tivesse suas presas na garganta do idiota.

— Não, não em particular. Não por isto.

— Você não é bem-vindo aqui.

— Você quer tentar me remover? – Rehvenge deslocou-se para diante em seus quadris. — Quer tentar isto e ver onde vai dar? Ou talvez queira pedir para aqueles assassinos ali fazerem isto por você?

Ichan abriu e fechou a boca como um peixe, sua bravata se foi.

— Eu acho que não.

Quando Rehvenge enfiou a mão no seu casaco, Ichan guinchou em alarme e os aristocratas na sala agitando-se ao redor como gado prestes a serem sacrificados.

Xcor olhou por cima de seu ombro novamente. A porta tinha sido deixada aberta, os funcionários se distraíram para fechá-la... Ou talvez tenham apenas ido para cima e desapareceram.

Rehvenge deixou a coisa aberta de propósito, não é? O macho já estava planejando sua saída.

— Trago saudações de Wrath, filho de Wrath, – o macho disse, ainda com aquele sorriso de merda em seu rosto. — E tenho um documento que ele gostaria de compartilhar com todos vocês.

Quando ele tirou um tubo de papelão debaixo do braço e abriu a tampa, os aristocratas ofegaram... Como se esperassem que uma bomba saísse.

E talvez houvesse mesmo uma espécie daquilo lá.

Rehvenge desfraldou um pergaminho que tinha fitas vermelhas e pretas penduradas na extremidade. Em vez de ler o que tinha sido escrito, ele meramente virou a coisa ao redor.

— Acho que você deveria fazer as honras, – ele disse para Ichan.

— Tudo o que tem… – As palavras secaram completamente quando o macho aproximou-se com o que estava sendo exibido diante dele. Depois de um momento, ele disse, — Tyhm. Tyhm!

— Sim, eu acho que você verá que tudo é bom e legal. Wrath não está mais emparelhado com ela. Ele se divorciou há mais ou menos três semanas... E não sou um advogado, mas estou bem certo de que você não pode basear um voto de não confiança em um assunto que não existe.

O alto e magro procurador tropeçou e balançou, como se a proximidade ocular aumentasse sua compreensão do que quer que estivesse lá.

E realmente, a expressão em seu rosto era toda a tradução que a multidão exigia: Descrença transformou-se em uma espécie de horror, como se um explosivo tivesse de fato sido detonado bem em frente dele.

— Isto é uma falsificação! – Ichan declarou.

— Tem testemunhas adequadas... E eu sou uma delas. Talvez você gostaria que Wrath e a Irmandade viessem aqui e testemunhassem por sua validade? Não? Oh, e não se preocupe. Nós não estamos esperando uma resposta de todos vocês. Não há nenhuma.

— Sairemos agora, – Xcor sussurrou.

Se ele fosse Wrath, o próximo movimento seria atacar a casa... E não havia suficiente cobertura aqui dentro, aquelas artes horríveis e os grandes espaços abertos ofereciam pouco uso disso como proteção.

Quando as vozes dos aristocratas se misturaram e aumentaram, ele e seus soldados se desmaterializaram do lado de fora sobre o gramado dianteiro. Se preparando para o embate, eles sacaram suas armas.

Exceto que não havia ninguém lá.

Nenhum Irmão. Nenhum ataque. Nada…

O silêncio era ensurdecedor.

 

Tal como acontece com todas as grandes mudanças na vida, o sol e a lua não prestaram atenção ao drama do planeta, seus horários não foram afetados pelas mudanças dos destinos abaixo.

Era bem depois da meia-noite quando Wrath acordou próximo a sua shellan em sua cama de casal, seu braço ao redor da sua cintura, sua mão cobrindo seu seio. E por um momento, ele se perguntou se alguma daquelas coisas haviam acontecido... A necessidade, a merda do Conselho, a resposta.

Talvez tudo tivesse sido apenas um fodido pesadelo.

Chegando mais perto, ele conteve sua excitação. Ele ia deixar o impulso sexual para sua leelan, pelo menos até que soubessem se ela estava grávida. E se ela estivesse… Bem, então ele não tinha certeza do que iria fazer.

Caralho, ele estava realmente pensando assim?

— Você está acordado, – Beth disse.

— Como você sabia? – Ele murmurou em seu cabelo.

Ela virou-se em seus braços. — Eu só sabia.

Ficaram lá por muito tempo, e puta que pariu, ele desejava poder vê-la corretamente. Em vez disso, ele se acomodou para passar seus dedos sobre suas feições.

— Como você se sente? – Ele perguntou.

— Vitoriosa. – Ele podia perceber o sorriso em seu rosto. — Deus, eu amo Rehvenge. Ele realmente levou para o Conselho.

Quando ele não disse nada, ela suspirou. — Isso é uma boa coisa, Wrath. Eu prometo a você.

— Sim, é. – Ele a beijou na boca, e depois se afastou. — Estou morrendo de fome. Você quer comer?

— Na verdade... Não. Eu não estou com fome, mas deve ser a hora da primeira refeição. A menos que tenhamos dormido durante ela?

— Eu acho que a hora passou. E vocês chamam de café da manhã, certo? – Ele saiu da cama e passou cuidadosamente por George indo ao banheiro. — Eu duvido que alguém esteja acordado. Aquela festa foi até às cinco da tarde.

Quando ele abriu a porta, o golden o derrubou com as saudações, a coleira tilintando, o rabo abanando os batentes, a perna de Wrath, a parede à medida que ele girou, girou, girou, e espirrou sorridente.

— Wrath?

— Ei, cara, – ele disse quando se ajoelhou. — O que há, grande homem? Quem é o grande homem...

— Wrath.

— Sim?

— Vamos trabalhar depois que você comer.

— Você está tentando me colocar de volta sobre o cavalo? – Ele acariciou a cabeça lisa quando o cão espirrou novamente.

— Sim. Eu estou.

Ele esfregou seu próprio rosto. — Chuveiro. Comida. Então nós conversaremos.

— Trabalho, você quer dizer.

A boa notícia, ele supôs, era que ninguém iria querer nada com ele no banheiro. E quando ele entrou debaixo do chuveiro antes que estivesse quente, não sabia por que estava se apressando. Essa sua esposa iria puxar sua coleira até que ele estivesse de volta ao trono, empurrando papeis.

Com essa perspectiva pairando sobre sua cabeça? Ele devia estar lavando a mão na pia e usando o secador de uma senhora para se secar...

A princípio, ele não tinha certeza do que ouvia. Entretanto, sobre o barulho do chuveiro, ele reconheceu a ânsia de vômito.

Ele pulou para fora do Box de mármore tão rápido, que quase caiu no chão escorregadio. — Beth! Beth.

— Eu estou bem, – ela disse do canto.

Correndo até o espaço separado do vaso sanitário, ele estendeu as palmas das mãos e sentiu ao redor, encontrando sua companheira em seus joelhos na frente do vaso, uma mão segurando seu cabelo, a outra apoiando no vaso.

— Eu vou chamar a Dra. Jane.

— Não, você não vai.

Ela foi interrompida por uma série de suspiros, e enquanto ele permanecia de pé acima dela, queria ser o único a atravessar o ofego e o esforço.

— Dane-se, – ele murmurou, cambaleando para frente quando foi até o telefone da casa.

Só que tocou antes que ele pudesse pegar a coisa e marcar a extensão da clínica. Merda, talvez a mulher de V estava lendo mentes, também, agora.

— Jane?

— Ah, não, meu senhor, é Fritz.

— Oh, escute, você podia me trazer...

— Wrath, pare com isso. Eu estou bem, – disse Beth diretamente atrás dele.

Ele se virou. O cheiro de sua esposa certamente não sugeria uma emergência de saúde e o tom dela estava irritado, não entrou em pânico. — Ah…

— Quem eu posso trazer para o senhor? – O mordomo perguntou na extensão.

Beth cortou a conversa novamente: — Wrath, sério. Não aborreça a mulher, certo? Não está acontecendo nada.

— Então por que você estava vomitando?

— Desculpe-me? – Fritz disse. — Meu Senhor?

— Não você, – Wrath murmurou. — E ou ela vem aqui ou...

— Tudo bem, tudo bem, eu vou até a clínica, – Beth murmurou. — Deixe-me me vestir.

— Eu vou com você.

— Eu tinha a sensação de que você ia.

Soltando um palavrão, ele perguntou-se como no inferno iria passar por isso, se ela estivesse grávida, nesse caso iria morrer de medo por quanto tempo? Dezoito meses? Ou se ela não estivesse, nesse caso ele iria ter que ajudá-la a passar por sua decepção.

Ou… Merda, ela podia perder o bebê, também.

Essa era a terceira opção, oh, Deus, agora ele sentia vontade de vomitar.

— Obrigado, Fritz, – ele disse, — Eu descerei.

— Meu Senhor, eu só queria que o senhor soubesse que haverá trabalhadores em casa essa noite.

— Trabalhadores?

— Para a sala de bilhar. O dano... Era bastante extenso. O piso deve ser inteiramente substituído, embora a boa notícia seja que os artesãos originais estão disponíveis. Contratei-os para que venham, e em coordenação com Tohr. Ele estava indo para discutir isso com o senhor.

— Há muita coisa acontecendo.

— Mas não se preocupe, senhor. Temos medidas de segurança adequadas no lugar. Os trabalhadores foram verificados a fundo pelo Vishous, e os Irmãos estarão à disposição para supervisionar. Receio que não havia outra opção, assumindo que queremos usar o espaço novamente.

— Isso é bom. Não se preocupe com isso.

— Obrigado, meu Senhor.

Quando Wrath desligou, ele se reorientou sobre o problema de sua fêmea. Marchando para o armário, ele puxou sua calça de couro e uma camiseta.

— Vamos, – ele anunciou quando colocou a coleira cabresto de George na frente.

— Wrath, eu vou ficar bem… – houve uma pausa. — Oh, merda.

Seus passos passaram por ele, e voltou para o banheiro.

Calmamente, Wrath voltou ao telefone e pediu ao mordomo para ligá-lo com a Dra. Jane.

 

Foi um pouco difícil argumentar com o marido sobre a visita de um médico quando Beth não podia ficar com a cabeça fora do vaso. Toda vez que ela pensava que a náusea havia terminado, e ficava de pé, voltando para o quarto... Dois minutos mais tarde, ela estava de joelhos novamente no chão de mármore, vomitando absolutamente nada.

— Eu não preciso me deitar, — ela reclamou quando olhou para o teto sobre sua cama.

Quando Wrath não respondeu, ela virou a cabeça no travesseiro e lançou um olhar em sua direção. Ele estava sentado na beirada do colchão, ombros definidos, mandíbula travada, enorme corpo imóvel como uma pedra.

— Eu estou bem, – ela adicionou.

— Uh-huh.

— Vai ser um longo par de meses se nos preocuparmos com cada pequena pontada.

— Você acabou de tentar vomitar seu fígado.

— Eu não fiz.

— Então você estava trabalhando em seu pâncreas?

Ela cruzou seus braços sobre seu tórax.

— Eu posso sentir você olhando para mim, – Wrath disse.

— Bem, eu estou. Isso é ridículo.

A batida na porta era tranquila. Assim como o... — Olá?

— Entre, – Wrath disse enquanto se levantava. Esticando sua mão para fora, ele esperou Dra. Jane vir até ele.

— Ei, você dois, – a fêmea disse ao entrar… e diminuiu a velocidade ao olhar ao redor da suíte. — Deus querido, olha esse lugar.

— Exagerado, certo? – Beth disse.

— É real? – Jane respirou quando ela apertou a mão de Wrath. — Eu quero dizer, como… Os rubis e as esmeraldas. Nas paredes?

— Sim, eles são reais. – Wrath deu de ombros como se não fosse grande coisa. — Eles faziam parte do tesouro recuperado do Antigo País. Darius os instalou aqui.

— Bonito papel de parede extravagante. – Dra. Jane enfocou em Beth e sorriu quando se aproximou toda profissional de negócios. — Então, eu entendi que você esteve doente.

— Eu estou bem.

— Não, ela não está, – Wrath cortou a conversa.

— Sim. Eu estou.

Dra. Jane colocou sua maleta antiquada na mesa de cabeceira e pigarreou. — Bem, talvez possamos apenas ver como você está. Você pode me dizer o que aconteceu?

Beth deu de ombros. — Eu vomitei...

— Umas duas dúzias de vezes, — Wrath interrompeu.

— Não foram duas dúzias de vezes!

— Tudo bem, três dúzias...

Dra. Jane levantou ambas as mãos e olhou para trás e para frente. — Um… Você sabe o que eu gostaria de fazer se estiver tudo bem para você, Wrath? Que tal eu conversar com sua companheira cara a cara... Eu não estou excluindo você. Eu só acho, talvez, que as coisas irão um pouco melhor se ela e eu tivéssemos um segundo sozinhas?

Wrath colocou as mãos nos quadris. — Ela vomitou. Pelo menos uma dúzia de vezes. Se ela quiser adoçá-lo, tudo bem. Mas esses são os fatos.

— Tudo bem, obrigada por isso. Eu realmente aprecio isso. – A médica sorriu. — Ei, você sabe o que seria útil? Se você descesse e conseguisse um pouco de refrigerante de gengibre e cream cracker na cozinha.

Wrath olhou furioso de forma positiva. — Você está me dando trabalho para se livrar de mim.

— Como um macho vinculado, eu sei que você vai querer cuidar dela. E eu acho que, se ela está enjoada, ter essas coisas em sua barriga pode fazê-la se sentir melhor.

— Eu posso chamar Fritz, você sabe.

— Sim, eu sei. Ou você pode fazê-lo sozinho e dar para ela.

Wrath estava ali, franzindo a testa e rangendo os dentes. — Sabe de uma coisa, Jane, você está passando muito tempo com Rhage.

— Porque eu estou manipulando você? — O sorriso da médica aumentou. — Talvez. Mas se você sair agora mesmo, pode regressaaaaar antes de eu ter acabado.

Wrath ainda estava murmurando baixinho quando assobiou para George e pegou a coleira cabresto do golden. — Eu não vou demorar.

Uma advertência, mais do que qualquer coisa.

Mas ele partiu.

Dra. Jane esperou que a porta se fechasse antes de revirar os olhos. — Então. Deixe-me adivinhar, você acha que está grávida.

Beth ficou boquiaberta. — Bem, eu…

Em um tom mais suave, a médica disse, — Você não vai dar azar. Dizê-lo em voz alta não vai mudar nada, eu prometo. Eu só quero saber onde sua cabeça está.

Beth colocou as mãos em seu estômago arredondado. — Eu não sei, eu me sinto meio boba. Mas isso não é como as náuseas ou qualquer coisa que eu já conheci. É como se... Não é realmente sobre o meu estômago? É como se todo o meu corpo estivesse enjoado? E Layla vomitou assim que o aborto parou.

Dra. Jane balançou a cabeça. — Ela fez. Mas antes de irmos muito longe comparando vocês, eu quero lembrá-la de que cada gravidez é diferente. Mesmo com a mesma mulher. Dito isso, você apenas passou por sua necessidade, e talvez você esteja. Provavelmente é muito cedo para dizer, no entanto.

— Era isso que eu estava pensando. E ainda… Eu não sei... Eu sou do tipo de tomar isso como se talvez fosse um sinal. Mas, droga, talvez isso não signifique nada.

— Bem, eu vou dizer isso. O fato de que você tenha uma parte humana na mistura? Ela acrescenta outra camada de complicação que vai fazer o diagnóstico e o tratamento complicado. É por isso que eu queria ter uma conversa franca com você. Eu acho que seria uma boa ideia para você e eu termos uma ideia de como e por quem você gostaria de ser tratada se você estiver grávida. Eu ficaria mais do que feliz de ajudá-la a passar por isso, mas essa não é a minha área de especialização. Agora, Layla foi para Havers...

— Eu não posso ir lá. Wrath vai querer estar comigo durante todas as consultas, e ninguém vai acreditar que não estamos juntos, se ele aparecer comigo grávida na clínica. Quer dizer, a última coisa que precisamos é que eles nos chamem por motivos de fraude.

— Eu concordo. Então eu tenho uma ideia.

— Qual?

— Há uma ótima obstetra em Caldwell. Todo mundo falava sobre ela no hospital. Ela tem experiência em casos especiais e suas necessidades e eu acho que nós devemos pedir a Manny para entrar em contato com ela, ver se ela vai atendê-la como uma paciente particular. Entre mim e Ehlena no lado vampiro, e ela no lado humano? Com o equipamento? Vou me sentir mais confortável com tudo isso.

Beth assentiu. — Sim, isso é uma boa ideia.

— Ótimo. Vou fazer os arranjos. Enquanto isso, eu farei uma avaliação em você aqui e te dou algo para as náuseas...

— Honestamente, eu estou bem agora. Ela só parece acontecer quando eu fico em pé.

— Certo, mas me deixe verificar sua pressão arterial, ok?

— Sirva-se.

Enquanto Beth estendeu seu braço, ela teve um momento de total incredulidade. Era possível que todo aquele sexo deu resultado?

Tipo, para a sua verdadeira função biológica?

Dra. Jane deslizou o manguito de pressão arterial no lugar e a coisa fez pequenos ruídos de sopro quando foi inflado, a pressão sobre seu bíceps fazendo-a pensar sobre todas as coisas invasivas que ia acontecer com ela se ela estivesse, de fato, engravidado. Os exames de sangue. Ultrassonografias. Exames. Como alguém que tinha sido saudável durante toda a vida, ela não tinha certeza de como iria lidar com isso.

Agora não tem volta.

Houve um longo silvo quando Dra. Jane observou um pequeno medidor e ouviu através de seu estetoscópio. — Perfeito. Deixe-me verificar seu pulso. – Depois de um momento com as pontas do dedo pressionando o pulso de Beth, a doutora movimentou a cabeça. — Sim. Bom.

A médica sentou-se e ficou olhando para ela.

— Você está me dando um olhar médico, – disse Beth, de repente assustada.

— Desculpe, é um reflexo. – Dra. Jane colocou as coisas de volta em sua maleta. — O negócio é o seguinte. Eu podia ficar agressiva e coloca-la no lugar, mas sua pressão e pulsação estão ótimas, sua coloração está boa, e você não está vomitando no momento. Eu gostaria de esperar-para-ver isso... Desde que você não esteja sangrando por baixo?

— Não. Nem um pouco.

— Formidável. Contanto que você concorde em gritar se alguma coisa mudar? Vou ficar de prontidão.

— Fechado...

Wrath irrompeu pela porta, com Fritz firme em seus calcanhares.

— Oh, meu Deus, – Beth disse quando ela percebeu o monte de… Hum, um monte… Ambos estavam carregando... — Isso é uma caixa de refrigerante?

— Duas, – seu marido anunciou. — E nós deixamos uma de reserva no corredor.

Dra. Jane riu quando ela se levantou. — Sua esposa está bem agora. Mas ela me prometeu que vai chamar, e eu tenho a sensação de que, se não o fizer, você vai.

Wrath assentiu. — Você pode apostar nisso.

Beth revirou os olhos, mas por dentro, ela não se importava de ele ser insistente. Seu marido estava pronto para tomar conta dela... Ela estando ou não carregando o seu filho.

E isso é que era amor.

 

Depois que Wrath acompanhou Dra. Jane até a saída, ele voltou diretamente para a cama. Quando se sentou, Beth pegou sua mão e apertou-a.

— Eu vou ficar bem, – ela disse.

Deus, ele esperava.

— Você está bocejando?

— Sim. De repente estou exausta.

— Deixe-me pegar um refrigerante...

— Não. Não, obrigada… Quero apenas descansar por um minuto ou dois. Então enfrentarei a ideia de colocar algo para dentro.

— Você ainda está enjoada?

— Não. Só não quero estar. – O dedo polegar dela afagou de um lado para outro sobre a palma da mão dele. — Podemos fazer isto, Wrath. Tudo isso.

Como não queria deixar sua paranoia sair, ele acenou com a cabeça. — Sim. Tudo vai ficar bem.

Exceto que por dentro, ele não estava sentindo isso. Nem um pouco.

— Você deveria descer e trabalhar, – ela murmurou, enquanto já estava adormecendo. — Saxton ficou. Ele pode ajudá-lo a verificar os e-mails e outras coisas.

Como se a glymera fosse ter qualquer coisa para dizer-lhe esta noite?

Quando ele desceu para conseguir comida com Fritz, ele chocou-se com Rehvenge, que estava mais do que feliz em reportar a frustrada cerimônia da realeza de Ichan. Falando sobre seu gingado... Rehv estava alto como uma pipa vitoriosa: Os aristocratas tinham levado uma, a perna que os sustentava fora cortada na altura do joelho.

Mas não havia nenhuma razão para ser ingênuo e assumir que eles não iriam receber tudo de volta no rabo novamente.

Eles iriam apenas encontrar outro caminho para chegar até ele.

Graças a Xcor.

Cara, se ele pudesse apenas por as mãos naquele filho da puta…

— Não posso dormir assim, – Beth disse. — Com você pairando.

— Eu quero ficar.

— Não há nada para ser feito aqui. Nós estamos em modo de correr e esperar até que saibamos de uma forma ou de outra.

— Quem a alimentará quando você estiver pronta?

O tom dela ficou gentil. — Fiz um bom trabalho antes de você se aproximar.

Bem… Merda.

No fim, entendeu que ela precisava de descanso mais do que ele precisava ficar de babá de uma fêmea crescida. Depois de dar um beijo ou dois em sua boca, ele deixou George escoltá-lo da suíte e desceu as escadas. Emergindo no patamar do segundo andar, ele estancou. O último lugar que queria estar era naquele escritório...

O som de marteladas abaixo conseguiu sua atenção. O que…?

— Escadas, – ele disse ao seu cachorro.

Enquanto George o levava até o primeiro andar, os barulhos ficavam mais altos, mas eles ainda estavam abafados... E seu nariz pegou um cheiro de pó de concreto no ar. E qualquer outra coisa…

— Ei, – Rhage disse. — O que esta acontecendo?

Wrath estendeu a mão e deixou o irmão bater em sua palma.

— Nada. Como vão as coisas lá dentro?

— Tirando o chão. Temos alguns plásticos grossos na soleira da porta para manter o pó abaixo... Fritz tinha esperança que nós a deixássemos aberta, assim ele poderia limpar a manhã toda depois que eles partissem. Nós impedimos.

— Boa pedida.

Do outro lado daquele chapa, vozes de machos zombavam entre um estrondo e outro dos martelos que rachavam as pedras, a conversa casual e claramente nascida da grande familiaridade. — Quantos trabalhadores?

— Sete. Nós queremos que eles entrem e saíam tão rápidos quanto possível, porque estamos todos um pouco inquietos... John está aqui comigo.

— Ei, JM, – Wrath disse, acenando com a cabeça na direção do cheiro do macho.

— Ele disse ei... E quer saber como Beth está.

— Ela está bem. Realmente bem... Obrigado por tudo, filho.

— Ele disse, sim, o prazer foi todo dele.

Bom garoto. Transformando-se em um grande macho, pensou Wrath.

— Então, eu quero entrar e conhecê-los, – ele deixou escapar sem nenhuma razão em particular.

Houve um longo período de silencio, durante o qual ele estava disposto a apostar que Rhage e John estavam trocando olhares e sem entenderem.

— Bom, fico contente que vocês concordaram, – Wrath murmurou enquanto instruía George.

O cachorro sinalizou que estavam chegando perto de uma barreira, e Wrath estendeu a mão, a palma encontrando um lençol duro e espesso. Soltando seu domínio sobre o cabresto, ele usou as duas mãos para afastar isso, assim ele não o rasgava das cordas acima.

As vozes imediatamente pararam.

Com exceção daquela respiração, — Santa… Merda.

De repente houve um movimento ruidoso, como se ferramentas estivessem sendo jogadas no chão... E então um sussurro.

Quando sete machos de considerável tamanho apenas caíram de joelhos.

Por um momento, os olhos de Wrath lacrimejaram por trás de seus óculos esportivos.

— Noite, – ele disse, tentando ser casual. — Como está indo o trabalho?

Nenhuma resposta. E ele podia sentir o cheiro da atordoada descrença... Que era como cebolas refogadas, não completamente desagradáveis.

— Meu senhor, – veio uma saudação baixa. — É uma grande honra estar em sua presença.

Ele abriu a boca para levar aquilo… Exceto que à medida que inalou, percebeu que era a verdade. Para cada e todos eles. Eles estavam honestamente temendo e dominados.

Em uma voz rouca, ele disse, — Bem-vindos a minha casa.

 

Quando John passou por debaixo do lençol e permaneceu atrás de Wrath, tudo o que pode pensar foi, sobre a porra do tempo.

Os sete trabalhadores estavam todos ajoelhando em um joelho, suas cabeças curvadas, seus olhos olhando para cima como se Wrath fosse o sol e eles não pudessem olhar fixamente para ele por muito tempo.

Então o Rei falou, e as quatro simples palavras que saíram de sua boca foram transformadoras, os trabalhadores olharam para cima como uma coisa sem igual… Uma espécie de adoração.

Wrath fez como se estivesse olhando ao redor.

— Então, quando vocês acham que isso vai acabar?

Os machos olharam de um lado para outro, e então o mestre de obras, o sujeito que apresentou os trabalhadores um por um, enquanto eles ainda estavam reverenciados, falou.

— Nós vamos começar a quebrar o chão. E colocar um novo.

Mais uma olhada de um lado para outro... Enquanto Wrath apenas continuava a balançar seus óculos esportivos da esquerda para a direita, como se dando uma olhadinha.

— O senhor prefere… – O mestre de obras pigarreou como se estivesse aflito. — O senhor prefere outra equipe?

— O quê?

— Nós desagradamos nosso senhor de alguma maneira para trazê-lo aqui?

— Deus, não. Estava apenas curioso. Isto é tudo. Não sei nada sobre construção.

O mestre de obras olhou para cada um de seus machos.

— Bem, isto é porque está abaixo de você, meu senhor.

Wrath riu em uma explosão severa. — O inferno que está. É trabalho honrado. Não há nenhuma vergonha nisso. Então quais são seus nomes?

Os olhos do mestre de obras se arregalaram, isto era a última coisa que ele esperava. Entretanto ele ergueu-se do chão e pegou seu cinto de ferramentas.

— Eu sou Elph. Este aqui é… – Ele voou pelas apresentações rapidamente.

— Vocês todos têm famílias? – Wrath perguntou.

— Eu tenho uma filha e uma companheira, – Elph disse. — Embora minha primeira shellan tenha morrido de parto.

Wrath colocou a mão no coração como se tivesse sido atingido por algo.

— Oh, caralho. Eu sinto muito.

O mestre de obras piscou para o Rei.

— Eu… Obrigado, meu senhor.

— Quanto tempo atrás faz que você a perdeu?

— Doze anos. – O macho limpou a garganta. — Doze anos, três meses, dezessete dias.

— Como está sua filha?

O mestre de obras sacudiu os ombros. Então balançou a cabeça. — Ela está bem...

O de trás, que tinha dito o santa merda, falou mais alto.

— Ela é paralítica. E é um anjo.

O olhar que ele recebeu de seu superior foi imediato... Como se o sujeito não quisesse incomodar Wrath.

— Ela está bem, – ele cortou a conversa.

— Paralítica? – Wrath pareceu empalidecer. — De nascimento?

— Ah… Sim. Ela foi ferida. Ela nasceu sem ajuda. Apenas eu, que não era de nenhuma ajuda.

— Onde caralho estava Havers?

— Nós não conseguimos chegar à clínica.

O nariz de Wrath chamejou. — Você está mentindo para mim.

As sobrancelhas do mestre de obras se ergueram em choque. — Não foi culpa de ninguém, meu senhor. Com exceção da minha.

— Pensei que você fosse construtor. Ou você foi para a escola de medicina?

— Não fui.

— Então como foi sua culpa? – Wrath balançou a cabeça tristemente. — Sinto muito. Olhe, estou contente que sua filha sobreviveu.

— É minha maior bênção, meu senhor.

— Sem dúvida. E sei que você sente falta de sua companheira como o inferno.

— Toda noite. Todos os dias. Embora minha segunda shellan me faça continuar.

Wrath assentiu como se soubesse exatamente onde o macho estava.

— Eu entendo isso. Entendo isso perfeitamente. Algo similar aconteceu com meu irmão, Tohr.

Houve uma longa pausa. Então o mestre de obras disse devagar, — Não sei o que mais dizer, meu senhor. Além de que o senhor nos honrou muito com sua presença.

— Você não tem que dizer nada. E eu deveria deixá-los em paz. Estou começando a tomar o tempo de vocês. – Wrath ergueu sua mão da adaga em uma onda casual. — Até mais tarde.

Quando o plástico caiu de volta no lugar atrás do Rei, os trabalhadores estavam mudos.

— Ele sempre é assim? – O mestre de obras perguntou entorpecido.

Rhage assentiu. — Ele verdadeiramente é um macho de valor.

— Não pensei que ele seria… Assim.

— Assim como?

— Tão acessível.

— Baseado em quê?

— Os rumores. Eles dizem que ele é indiferente. Intocável. Desinteressado das pessoas como nós. – O mestre de obras se sacudiu como se não pudesse acreditar que ele disse isso em voz alta. — O que quero dizer é...

— Não, tudo bem. Eu posso imaginar de onde isso vem.

— Ele parece com o pai dele, – o mais velho atrás disse. — Escarrado e cuspido.

— Você o conheceu? O pai de Wrath? – Rhage perguntou.

O macho mais velho assentiu.

— E vi os dois juntos uma vez. O Wrath mais jovem estava com cinco anos. Ele sempre permanecia ao lado de seu pai, quando o Rei tinha audiência com os cidadãos. Tive uma disputa de propriedade com meu proprietário que era da glymera. O Rei cuidou de mim sobre aquele aristocrata, eu digo a você. – Um ar de tristeza superou a aura inteira do macho. — Lembro quando o Rei e a rainha foram mortos. Nós estávamos certos que o herdeiro tinha sido sacrificado também, quando soubemos do contrário… Wrath já tinha ido embora.

— Ouvi que ele foi baleado recentemente, – o mestre de obras disse para Rhage. — Isso é verdade?

— Nós não falamos sobre isto.

O mestre de obras se curvou. — Claro. Perdoe-me.

— Como eu disse, tudo bem, não se preocupe. Vamos, JM, vamos deixar esses caras trabalharem.

Quando John movimentou a cabeça, Rhage completou, — Apenas nos diga se precisarem de qualquer coisa.

John seguiu o Irmão, entretanto parou na divisão entre os lençóis. Os trabalhadores estavam ainda olhando fixamente para onde Wrath esteve parado e conversou com eles, como se estivessem repassando tudo de novo. Como se eles tivessem sido testemunhas de um evento histórico.

Saindo, ele perguntou-se se Wrath estava ciente do efeito que causou neles.

Provavelmente não.

 

Quando Anha se sentou em frente a sua penteadeira, ela não tinha nada mais que a sombra de um prolongado cansaço de seu episódio: A cada noite que passava, estava se sentindo mais ela mesma, seu corpo se recuperando, sua mente se reafirmando.

Mas tudo mudou.

Em primeiro lugar, a Irmandade se mudou para a câmara ao lado. Todos os doze deles. E eles se revezavam em serviço, assim a porta do espaço privado dela e de Wrath nunca ficava desprotegida.

E então havia a comida. Wrath se recusou a deixá-la comer qualquer coisa que ele ou os Irmãos não provassem pessoalmente primeiro... Depois de bastante tempo de um período de espera.

E então havia a preocupação no rosto de seu hellren, toda vez que o pegava desprevenido.

Falando de preocupação, onde ele estava?

— Seu Rei deve retornar em breve.

Ela ofegou e espiou sobre o ombro. Tohrture estava sentando no canto, “lendo” um livro de sonetos. Na verdade, ela não achava que ele prestasse atenção nos símbolos afinal. Ao invés disso, seus olhos estavam nas janelas bloqueadas, na porta, nela, nas janelas, na porta, nela. Algumas ocasiões, ele quebrava o ritmo falando com um de seus Irmãos ou saboreava a comida que era preparada em sua lareira.

— Onde ele foi? – Ela perguntou uma vez mais.

— Ele deve retornar logo. – O sorriso era para ser reconfortante. A sombra em seu olhar certamente não era.

Anha estreitou os olhos. — Ele não explicou nada disso.

— Está tudo bem.

— Não acredito em você.

O Irmão apenas sorriu para ela daquele jeito dele, não lhe dando nada para continuar.

Anha derrubou a escova e virou-se completamente.

— Ele pensa que eu fui envenenada, então. Caso contrário, por que esta proteção. A culinária. A preocupação.

— Está tudo bem.

Assim que ela ergueu as mãos frustrada, a porta se abriu...

Ela saltou de pé tão rápido, que sua penteadeira cambaleou, frascos e potes caindo.

— Querida Virgem Escriba! Wrath!

Erguendo suas saias, ela correu descalça através do chão de carvalho pelo horror diante dela: Suspenso entre os braços de dois Irmãos, seu companheiro estava sangrado em todos os lugares, a frente de sua bata manchada, de seu lábio cortado e de seu rosto contundido, suas juntas pingavam sobre o tapete, sua cabeça pendia mole como se ele não pudesse mantê-la erguida.

— O que fizeram com ele! – Ela gritou quando a porta da câmara foi fechada e bloqueada.

Antes que pudesse se impedir, ela bateu nas pessoas que o seguraram, seus punhos não causando nenhum impacto naqueles que o manobraram para cima da plataforma da cama.

— Anha… Anha detenha-se… – Quando eles deitaram Wrath, ele ergueu a mão esquerda. — Anha… Detenha-se.

Ela queria apertar a mão dele e agarrar-se nele, mas ele parecia machucado em todos os lugares.

— Quem fez isto com você!

— Eu pedi a eles.

— O quê?

— Você me ouviu corretamente.

Recostando-se, ela achou que agora tinha vontade de bater nele também.

A voz de Wrath estava tão fraca, que ela se perguntou como ele ainda estava consciente.

— Há um trabalho que precisa ser feito. Por minhas próprias mãos. – Ele dobrou-se e estremeceu. — Nenhum outro será suficiente.

Anha olhou para seu companheiro... E então fez o mesmo para os machos reunidos, como também para as pessoas que tinham acabado de chegar, entrando claramente depois que ouviram os gritos.

— Você deve se explicar agora mesmo, – ela grunhiu. — Todos vocês. Ou vou me retirar deste quarto.

— Anha. – A voz de Wrath estava alterada e ele estava respirando com dificuldade. — Seja racional.

Ela levantou-se e pôs as mãos nos quadris.

— Estou arrumando minhas coisas se alguém entre vocês não falar comigo.

— Anha...

— Fale ou eu vou arrumar as coisas.

Wrath exalou uma maldição irregular.

— Não há nada com que se preocupar...

— Quando você entra em nossa câmara de emparelhamento parecendo como se tivesse sido atingido por uma carruagem, isto é minha preocupação! Como ousa me excluir disto!

Wrath ergueu a mão como se fosse esfregar o rosto e então fez uma careta quando o contato foi feito.

— Acredito que seu nariz está quebrado, – ela disse sem rodeios.

— Entre outras coisas.

— Realmente.

Wrath finalmente olhou para ela.

— Devo vingá-la. Isto é tudo.

Anha se ouviu ofegar. E então seus joelhos enfraqueceram e ela se deixou cair na plataforma da cama. Ela não era ingênua, e ainda a confirmação do que suspeitava foi um choque.

— Então isto é verdade. Eu fui envenenada.

— Sim.

Rastreando os danos feitos a seu hellren com outros olhos, ela balançou a cabeça. — Não, não devo permitir isto. Se você precisa ter uma vingança forjada, deixe um destes machos capazes fazê-lo.

— Não.

Ela olhou para a pesada mesa esculpida do outro lado, que eles recentemente moveram para cá, em que ele esteve sentado feliz por horas e horas, governando, pensando, planejando. Então considerou seu rosto disforme.

— Wrath, você não está apto para deveres violento, – ela disse com voz rouca.

— Eu devo estar.

— Não. Eu o proíbo.

Agora ele olhou para ela. — Ninguém comanda o Rei.

— Com exceção de mim, – ela respondeu suavemente. — E nós dois sabemos disto.

Com aquilo houve uma risada suave no quarto... De respeito.

— Eles fizeram o mesmo com meu pai, – disse Wrath com voz morta. — Exceto que o envenenaram ao ponto de matá-lo.

Anha levou a mão até a garganta. — Mas não… Ele morreu de causas naturais...

— Ele não morreu. E como filho, sou obrigado a corrigir o erro... Como também o seu. – Wrath enxugou o sangue de sua boca. — Escute-me agora, minha Anha, e ouça esta verdade claramente… Não devo ser castrado nisto por você ou qualquer um. A alma de meu pai me assombra agora, caminhando pelos corredores de minha mente, conversando comigo. E você irá fazer o mesmo se eles finalmente tiverem sucesso em colocá-la em seu tumulo. Estou predestinado a viver assim nesta geração. Não espere que eu faça o mesmo com a seguinte.

Ela se debruçou com urgência. — Mas você tem a Irmandade. É isso o que eles são, para que servem. Eles são seus guardas particulares.

Enquanto ela implorava para seu companheiro, o enorme peso e numerosos machos pressionaram-se sobre ela... No melhor sentido.

— Comande-os, – ela implorou. — Mande-os para o mundo para exigir esta dívida.

Sua mão ensanguentada ergueu-se, e ela pensou que fosse para apertar a dela. Ao invés disso, descansou em seu vestido, sobre seu corpete… Em seu útero.

— Você está com um bebê, – ele disse asperamente. — Posso sentir o cheiro dele.

Ela tinha pensado o mesmo também, embora por razões diferentes.

O olho funcionando de Wrath encontrou o seu.

— Então não posso permitir que outros façam o que é meu dever. Ainda que eu possa considerar que você ache que sou tão fraco… Nunca poderia olhar no rosto de um filho ou uma filha com a consciência de que não tive coragem de cuidar de minha linhagem.

— Por favor, Wrath…

— Que tipo de pai eu seria então?

— Um que estaria vivo.

— Por quanto tempo, entretanto. Se eu não proteger o que é meu, isto será levado de mim. E não perderei minha família.

Derrotada, Anha sentiu as lágrimas caírem por seu rosto, queimando por todo o caminho.

Soltando a testa no diamante negro do anel ensanguentado do Rei, ela lamentou.

Em seu coração, ela sabia que ele estava certo... E odiou o mundo em que eles viviam… E iriam colocar um bebê neste mundo.

 

No centro da cidade, no coração urbano de Caldwell, Xcor pegou velocidade em uma ruela, suas botas de combate batiam contra a suja água salgada, o ar frio batendo em seu rosto, as sirenes distantes e gritos ofereciam um tipo de narração de uma batalha.

Mais adiante, o assassino era tão rápido quanto ele. O bastardo não estava tão bem armado, no entanto... Especialmente depois de ter descarregado sua arma, e em seguida, numa crise de quinze anos de idade, ter lançado o carregador automático para Xcor.

Grande movimento. Com direito a chorar por sua mamãe.

E então a perseguição começou.

Xcor estava de acordo em permitir que o lesser testasse sua falta de coração. Desde que toda esta corrida não o levasse ao tipo de complicação da noite anterior.

Não tinha interesse em outro ser humano.

Depois de alguns quilômetros, o assassino chegou ao final da rua... Com o qual se viu obrigado a encenar um vídeo musical, lançando seu corpo em um muro de vinte metros de altura e começando a escalar com desenvoltura admirável.

Por outro lado, o Omega lhe dava uma espécie de super poderes depois de sua introdução.

Não que fosse salvá-lo.

Xcor deu três passos e saltou, lançando seu corpo no ar, seu peso indo para cima e aterrissando nas costas do assassino golpeando-o com um movimento parecido ao de esgrima. Bloqueando-o e puxando com força, se esgrimiu no ar, girando de tal maneira que caíram com Xcor por cima.

Sua espada gritava para sair e brincar. Mas em lugar de liberá-la, tirou seu pequeno primo da cintura.

A faca tinha a lamina de aço e o cabo de borracha, e sentia-se como uma extensão de seu braço quando a ergueu sobre o ombro.

Agora, poderia terminar isto rapidamente atingindo o centro de seu peito. Mas onde estava a diversão nisto? Golpeando seu rosto de lado, atingiu a orelha arrancando-a...

O grito resultante foi uma espécie de música, ecoando em seus ouvidos.

— O outro lado. – Ele grunhiu, forçando a cabeça se virar. — Precisa combinar.

A lâmina assobiou pela segunda vez no ar, a precisão de Xcor era exata, tocando apenas a orelha. E a dor era o suficiente para incapacitar sua presa... Bem, isso e o fato de que com certeza o assassino sabia que o que viria seria muito pior.

O medo tinha uma maneira de paralisar as pessoas.

E os mortos vivos tinham razão para sentirem-se aterrorizados.

Com uma série rápida de cortes, Xcor abriu caminho pelo corpo, golpeando a lâmina profundamente em cada ombro para cortar os tendões e incapacitar o torso... E então as partes atrás dos joelhos.

Sentando-se, ele observou as contorções e aspirou o cheiro... Assim como os que sofrem: Ser a causa da dor alimentou sua fera interior, uma refeição para o lado mau dele... Que apenas o deixou faminto por mais.

Era hora de ser um pouco mais invasivo. Decidiu cortar o pé esquerdo... Lentamente. Com a metade da força, cortou uma, duas… Três vezes antes da lâmina cortar completamente. O pé direito teve o mesmo tratamento vagaroso.

Em meio a seu trabalho, sua mente saiu de seus pensamentos que tinha certeza serem ainda mais depravados.

Ele não parava de pensar no prazo final de Wrath. Tyhm, o advogado, fez uma avaliação posterior do documento de emparelhamento e sua dissolução foi considerada legal... Mas Xcor sabia o que aconteceu.

Não venha dizer-lhe que o Rei não havia assinado na linha tão logo o pergaminho caiu sobre o seu escritório.

Movendo-se sobre o joelho, retomou seu trabalho, e o ritmo o lembrou do seu antigo país, quando cortava madeira para cuidar da frustração.

A pergunta era: até que ponto este pedaço de papel iria? O Rei realmente teria se afastado de sua companheira?

Era um casamento por amor.

Ao ouvir a voz da Escolhida em sua cabeça, uma onda de poder tomou conta dele... Enquanto trabalhava nas coxas do lesser. Não mais se contendo, lançou seus músculos ao trabalho, golpeando através da pele e ossos, o sangue negro caindo em seu rosto, suas presas descobertas.

O assassino arranhava a neve até o pavimento, as unhas cortando o asfalto quando os gritos secaram sua garganta, sua respiração ofegante, a adrenalina percorrendo seu coração, deixando-o inconsciente.

Mas ele não iria morrer desta maneira.

De fato, apenas havia uma maneira de matá-lo.

Xcor reduziu o lesser em pedaços, deixando apenas a cabeça presa ao torso, as piscinas de sangue negro se formando sob os quatro pontos onde se uniam suas extremidades.

Quando não havia nada mais para cortar, Xcor se sentou nos calcanhares e respirou fundo. Não era tão divertido agora que o assassino estava todo comprometido. O sofrimento estava ainda lá, mas não era tão óbvio.

No entanto, ele não queria colocar fim a sua obra. Como um viciado que se aferra a algo que já não existe para satisfazer suas necessidades, ele no entanto não podia terminar as coisas.

Quando seu telefone tocou e foi para caixa de voz, estava decidido a ignorá-lo. Não queria ouvir as queixas de Ichan... O aristocrata vinha deixando mensagens uma atrás da outra, tentando recuperar seu quase trono. E logo havia Tyhm, que também ligou.

A pequena conspiração deles falhou, contudo... A mente de Xcor ainda tinha que pensar na próxima abordagem.

Erguendo a faca no ar, logo enterrou a lâmina de aço do lado direito do peito vazio... E imediatamente teve que se afastar para proteger os olhos e o rosto da brilhante luz e onda de calor.

Quando foi golpeado pelo impacto, seu telefone começou a tocar novamente.

— Maldição. – Colocando a mão dentro de seu casaco, tirou o dispositivo irritante. — O quê?

Houve uma pausa. E então a voz mais doce que ele já havia ouvido entrou em seus ouvidos.

— Estou esperando por você.

Xcor balançou, apesar de estar quase prostrado no chão. Fechando seus olhos, ele exalou. — Estou a caminho.

— Você não veio antes quando disse que viria.

Mentira. Assim que pode se desprender dos Bastardos, ele se materializou até a arvore de bordo... E encontrou as pegadas de Layla na neve. Ela deve ter retornado a seu ponto de encontro agora, entretanto.

— Havia coisas que eu não podia deixar passar. – Esta maldita reunião. O mal estar depois. — Mas já não é mais assim. Tenha certeza.

Queria ficar no telefone com ela, mas desligou. Levantando-se, olhou para baixo e reconheceu que parte de sua raiva era porque havia perdido a oportunidade de ver sua...                            

Abruptamente, amaldiçoou. Os membros que cortou em pedaços não foram incinerados.

Ele não iria limpar nada esta noite, no entanto. Qualquer humano que encontrasse os restos poderia apreciar seu trabalho.

Imaginando o norte, ele dispersou a si mesmo no vento... E voltou a formar-se no prado. Imediatamente a viu, de pé sobre um arvore gigante, seu rosto pálido brilhando a luz da lua.

Depressa, ele tentou se desmaterializar até ela, muito impaciente para superar a distância a pé. Mas sua mente estava muito confusa para ele se concentrar o suficiente. Pela esquerda cruzou a distância fisicamente, começou a caminhar, mas logo estava correndo… Como uma máquina em pleno funcionamento.

Ela era a única meta que importava neste momento, e quando chegou ante ela, estava sem fôlego. Fora de sua mente.

Apaixonado.

 

Layla levou uma mão a seu nariz.

Quando Xcor aproximou-se, o cheiro que o circundava era vil, tão doce que ela sufocou. E ele notou sua reação imediatamente, escondendo suas mãos ensanguentadas nas costas, afastando-se contra o vento.

— Perdoe-me. – Ele disse com voz rouca. — Eu estava no campo.

Como não havia nada que indicasse que o sangue era de sua espécie, ela suspirou com alívio. — Nosso inimigo?

— Sim.

— Então foi justo e correto.

Quando seus olhos chamejaram, ela balançou a cabeça. — Eu não tenho nenhum problema com sua defesa de nossa raça.

— Isto é refrescante.

Ela tentou imaginá-lo lutando... E instituiu que não era difícil no mínimo. Com seu grosso pescoço e ombros gigantescos, ele foi criado para a violência. E, no entanto, inclusive com o fedor dos assassinos sobre eles, ela não tinha medo.

— Eu esperei na neve por você. – Ela sussurrou.

— Me preocupa que tenha feito isto.

— Está feito. O Conselho sabe sobre Wrath, quero dizer.

Ele estreitou seus olhos. — De modo que é por que isso que veio aqui? Para se regozijar?

— Não, não por isso. Simplesmente esperava...

Quando ela não terminou, ele cruzou seus braços, seu peito parecendo maior. — Ponha isto em palavras.

— Você sabe exatamente sobre o quê estou falando.

— Eu quero ouvir as palavras.

— Deixe Wrath em paz.

Xcor afastou-se dela, caminhando de um lado para outro. — Responda-me uma coisa.

— Qualquer coisa.

— Esta não é uma resposta segura para você, Escolhida. – Ele olhou por cima, seus olhos reluzindo na escuridão. — De fato, esta reunião não é segura para você.

— Você não me machucará.

— Tanta fé você coloca em um monstro.

— Você não é um monstro. Se fosse, teria me matado aquela noite no carro.

— Minha pergunta é. – Ele disse. —Wrath se separou de verdade de sua mulher? Você pode tentar mentir para mim, mas saberei a verdade.

Talvez não, Layla pensou. Porque praticou sua resposta a este inquérito. Por horas.

Encontrando seus olhos, ela disse sem qualquer emoção: — Sim, ele o fez. O anúncio foi precedido, mas é verdade. Ele desistiu de seu único amor para tentar manter o que você tenta roubar dele.

Horas na frente do espelho. Ela se sentou em seu banheiro, no pequeno banco acolchoado, sob o clarão de tantas luzes quantas ela pode acender, repetindo aquelas palavras inúmeras vezes. Até que as decorou... E seu significado se perdeu e transformou-se em apenas silabas. Até ela poder falar sem vacilação ou tropeção.

E ela sabia que falar parcialmente a verdade, dava-lhe mais credibilidade.

— Tal sacrifício. – Ele murmurou.

Ele, também, não revelou nada.

Passou-se um longo, longo silêncio... Cheio de batidas de seu coração.

— Deixe esta busca ímpia para trás. – Ela disse. — Por favor.

— E sua oferta anterior. Ainda permanece?

Ela engoliu forte. Em muitos níveis, ela não podia imaginar fazer sexo com ele. Ele era um inimigo como a Sociedade Lessening... E de fato, uma parte dele era monstruosa. Além disso, ela nunca imaginou trocar seu corpo por algo.

E ela não era ingênua. Sim, sentiu uma atração por ele quando chegou até ela e a encontrou naquele carro. Mas isto era um acordo de grandes proporções.

Layla levantou seu queixo. — Sim. Permanece.

— E se eu concordar com suas condições, eu teria que esperar pelo nascimento da criança? Ou poderia tomá-la imediatamente.

Neste momento, o ar mudou, uma especiaria escura acendeu-se e ultrapassou o fedor que lhe havia feito mal.

Suas mãos foram para seu ventre, um terror súbito apoderou-se dela. E se ela colocasse em perigo a criança dentro dela? Mas as outras Escolhidas continuavam tendo relações com o Primale, não continuavam? Não seria prejudicial.

— Você pode me ter sempre que desejar. – Ela finamente disse.

— E se eu quisesse aqui e agora. No frio. De pé, completamente vestido.

Seu coração trovejou, seu peito se apertando ao reconhecer sua excitação... E sentiu medo. No entanto, ela se manteve firme, permanecendo em ligação com o fato de que ela tinha algo que ele queria, e com esta realidade, havia uma possibilidade de Wrath e Beth e qualquer criança que eles pudessem ter estariam a salvo.

— Eu faria isto. – Ela se ouviu dizer.

— Tudo isso por seu Rei.

— Sim. Por ele.

Xcor sorriu, mas sem calor ou humor. — Vou considerar suas condições. Encontre-me aqui amanhã, a meia noite... E eu darei minha resposta.

— Pensei que fosse para isso que me chamou aqui esta noite.

— Eu mudei de ideia.

Ela esperou ele se desmaterializar. Ao invés, ele virou de costas e caminhou até onde estava quando chegou, seus passos largos pesados aumentando a distância entre eles.

Fechando seus olhos, ela...

— O que você disse para ele? – Uma voz exigiu atrás dela.

 

Trez decidiu dar uma basta naquele absurdo.

Enquanto ele voltava a se desmaterializar no Grande Acampamento de Rehv, ele estava pronto para confessar tudo, estabelecer a conversa, consertar as coisas com a sua Escolhida. Ele e Selena estiveram dando voltas entre si por tempo suficiente, e agora que ele tinha um pouco de espaço para respirar... Pelo tempo que durasse... Ele tinha que fazer a situação com aquela fêmea a sua prioridade.

Junto com o apetite de s'Ex, é claro.

Puta que pariu. Aparentemente aquele assassino usou as meninas tão duro que elas foram incapazes de trabalhar hoje à noite. Ele recebeu textos de todas as três... E a boa notícia foi que, pelo menos elas, não pareciam se arrepender de porra nenhuma: Cada uma delas perguntou se podiam ver o assassino novamente.

Nesse ritmo, elas estariam lhe pagando para ver aquele filho da puta.

Droga, elas ainda não tinha levantado a questão do dinheiro que ele tinha concordado em pagar-lhes por seus esforços.

Reassumindo sua forma em seu lugar habitual no gramado lateral, ele ficou aliviado ao ver uma luz acesa no quarto dela... E em nenhum outro lugar. Graças a Deus. Entrando na casa pela entrada dos fundos da cozinha, ele não chamou o nome dela, nem fez um som. Em vez disso, ele andou pela casa vazia, circulando até a base da escada, subindo de uma maneira que nenhuma das tabuas rangeu.

No andar superior, ele foi para a esquerda, e quando chegou à porta parcialmente fechada, podia sentir aumentar o aperto em seu peito.

— Selena…?

Seu cheiro estava no ar; ele sabia que ela estava lá.

— Selena? – Ele empurrou a porta um pouco mais, e foi então quando ouviu o som da água corrente.

Ele teve que abaixar a cabeça sob o batente da porta para entrar, e quando ele foi para a esquerda novamente, ele sentiu a umidade no ar, e o calor...

Oh… Cara.

Encontrou-a na banheira. Cabeça inclinada para trás enrolada em uma toalha, o corpo esticado em uma profunda piscina de águas claras, as mãos descansando sobre os lados da antiga banheira de porcelana.

— Eu podia ter me levantado, – ela disse sem se preocupar em abrir os olhos. — Mas eu queria que você me visse nua.

Trez limpou a garganta com uma tosse... O que você fazia quando alguém batia no seu plexo solar. — Ah… A gente pode conversar?

— Eu acho que nós conversamos. – Suas pálpebras se levantaram e ela olhou para ele. — Ou há mais?

Com isso, ela moveu suas pernas, a água ondulou sobre aquele corpo incrível, suas curvas ampliadas como se ela estivesse se movendo… Seus mamilos úmidos e deixados ao ar.

— Há mais, – ele resmungou enquanto passava a língua nos lábios.

— Então certamente, arrume uma cadeira. A menos que você queira se juntar a mim.

Fodido inferno. — Existe uma maneira em que eu consiga que você saia dai. E vestida?

— Se você quiser isso mesmo, de qualquer jeito, me obrigue.

Sim, porque colocar as mãos sobre ela pelada ia ser uma tão graaaande ajuda.

Xingando baixinho, Trez se aproximou e pegou uma cadeira... Porque no final, ele estava com medo de que se ficasse de pé tropeçasse e caísse dentro dela. Literalmente.

Quando ele se sentou, ele colocou as mãos no rosto e esfregou com força... E então tudo o que ele podia fazer era ficar assim.

A água fez um tinido como se ela estivesse se sentando. — Trez? Você está bem?

— Não.

Foram tantos os penhascos em sua via, quando as coisas que ele fizera ou fizeram com ele tinham voltado para mordê-lo na bunda. Nunca gostei disso.

— Trez? – Quando ele não a respondeu, ela disse, — Você está me assustando.

— Eu estou… – Caramba porra, por onde começar. — Selena, me desculpe.

— Por quê? – A tensão era espessa em sua voz. — Pelo que você está se desculpando?

A vergonha fez sua garganta se contrair, ele mal podia respirar. — Eu preciso ser honesto com você. Cem por cento.

— Eu pensei que você fosse.

Tudo o que ele podia fazer era sacudir a cabeça. — Olha, você sabe que eu tive… Extensas relações com os seres humanos.

— Isso não foi exatamente como você escolheu a frase anterior, – ela observou.

Mais, com a cabeça balançando. — Meu negócio é… É um clube. Você sabe o que é isso?

— Rúgbi? Ou beisebol?

— Uma boate. Um lugar onde as pessoas bebem e… Escutam música. – Jesus Cristo. — E fazem outras coisas.

— Sim…?

Ele deixou cair as mãos. Ela se sentou e seus mamilos rosa ficaram justamente na extremidade da água, a superfície morna lambendo-os mais uma vez... Não que ela parecesse notar.

— Você se importaria de sair e colocar um roupão? – Ele perguntou.

— Não tenho nada do que me envergonhar.

Inimaginável. — Eu sei. É muito difícil de me concentrar.

— Talvez eu queira que você lute.

Certo, certo, virgens não deviam ser tão tentadoras. Então, novamente, ela não era mais... Ele tinha dado um jeito nisso.

Foda-se. — Missão cumprida, – ele murmurou.

— Você estava me contando sobre o seu trabalho?

Ele focou os olhos no chão. Era azulejo branco simples, antigo e bem limpo, o tipo de coisa que conseguia parecer fresco até com as suas rachaduras laterais e lascados ocasionais.

— Trez? – Desde o rabo de olho, ele viu quando ela estendeu o pé e ligou a água quente para renovar. — Você estava dizendo?

Apenas faça.

Ótimo, a vida tinha sido reduzida a um anúncio da Nike.

— Eu trafico mulheres. Você entende o que isso significa?

Ela franziu o cenho. — Você as joga na rua?

— Eu as vendo. Seus corpos. Para homens, normalmente.

Silêncio.

Ele a encarou. — Eu sou pago por isso. Eu as vendo. Você entende?

Depois de um momento, suas bonitas mãos se afastaram dos lados da banheira e se cruzaram sobre os seios.

Exatamente, ele pensou.

— E isso não é o pior.

Houve uma longa pausa. E então ela disse, — Acho que eu devia me vestir.

Ele se levantou e se dirigiu para a porta. — Sim, eu acho que sim.

 

Lá fora, no campo coberto de neve, Layla virou. Ela estava prestes a gritar quando reconheceu o homem que havia saído de trás da grande árvore. Era o soldado, que tinha sido ferido e levado para o centro de treinamento da Irmandade. O único que não conseguiu corrigi-la quando ela assumiu que ele era afiliado com os Irmãos.

A pessoa que a tinha trazido aqui para ajudar Xcor naquela noite a muito tempo.

— Desculpe-me, – ele disse, inclinando-se, seus olhos ainda sobre ela. — Dificilmente seria uma saudação adequada.

Ela estava prestes a fazer uma reverência quando se lembrou de que ele não merecia o respeito. Ele, assim como Xcor, estava do outro lado das coisas.

— Você está parecendo excepcionalmente bem nessa noite fria, – ele murmurou.

Seu sotaque não era igual ao de Xcor, cada palavra pronunciada perfeitamente, a voz bem modulada em vez de áspera. Mas ela não se deixou enganar. Ele a usou como uma ferramenta uma vez.

Não havia dúvida de que ele faria de novo.

— Então o que você conversou com ele? – Ele perguntou, estreitando o olhar.

Layla puxou as vestes pesadas para mais perto em torno de seu corpo. — Eu acho que se você quer saber, pode perguntar a ele mesmo. Se você me der licença, vou me despedir de você...

A mão que prendeu seu braço machucou sua carne, e seu belo rosto sombrio ao ponto de ameaça. — Não, eu não penso assim. Eu quero que você me diga o que você estava discutindo com ele.

Inclinando seu queixo, ela encarou o soldado. — Ele queria saber se era real.

Aquelas sobrancelhas desceram, seu aperto afrouxando um pouco. — Eu imploro seu perdão?

— A proclamação de divórcio. Ele queria saber se Wrath desistiu realmente de sua rainha... E eu o assegurei que era verdade.

O soldado deixou cair a sua mão. — Assumindo que você pode ser confiável.

— Se eu posso ou não posso ser, não muda a verdade. Você vai descobrir em outro lugar, eu tenho certeza.

Provavelmente não, na verdade, dada a falta de contato que a família tinha com o resto da raça. Mas por ventura esse homem poderia não saber disso.

— Então foi um emparelhamento arranjado e o Rei não se importava nada.

— Pelo contrário, o seu amor era óbvio para todos. Ele estava bem e verdadeiramente vinculado. – Layla se forçou a dar de ombros casualmente. — Mais uma vez, você vai ouvir isso de outras pessoas, eu tenho certeza.

Throe balançou a cabeça. — Então ele não podia tê-la deixado ir.

— Talvez você deva considerar isso contra quaisquer ambições que você tenha para o trono. – Ela deu um passo furtivo para trás. — Um macho que deixa de lado sua companheira vinculada fará qualquer coisa para manter o que os outros procuram tirar dele. O inimigo que você está procurando por suas ações não faz rodeios... E ele virá por todos vocês. Marque as minhas palavras.

— Que coisinha feroz você é, não.

— Mais uma vez, é apenas um fato para você descobrir em seu tempo livre. Ou não. De qualquer forma, não me incomoda.

Quando ele deixou-a dar outro passo para longe, ela pensou que havia uma boa chance que ela pudesse partir.

— Havia algo mais, – ele disse. — Não havia?

— Não.

— Então por que ele não se desmaterializou?

Ela franziu a testa, não tendo pensado nisso. — Você terá que perguntar a ele.

— Não é o jeito dele. – Os olhos do soldado desceram pelo seu corpo. — E eu acho que posso adivinhar. Tenha cuidado, Escolhida. Ele não é quem você pensa que é. Ele é capaz de traições que uma fêmea como você não poderia entender.

— Se você me desculpar, vou me despedir agora. – Ela fez uma reverência e depois se esforçou para se concentrar, foco, foco…

— Tenha cuidado.

Aquelas palavras assombraram-na enquanto ela desaparecia do prado... E encontrou seu caminho de volta à entrada da frente da mansão.

Quando ela contemplou a porta pesada, um tremor passou por ela. Esse lutador lhe pareceu mais aterrorizante do que Xcor: esse último nunca iria machucá-la. Ela não sabia como tinha tanta certeza disso, mas era como a batida de seu coração, algo que ela podia sentir no centro do peito.

Aquele outro macho? Não era o caso. Mesmo.

Fechando os olhos, ela odiava estar no meio com Xcor. Como iria passar as horas antes de amanhã à meia-noite? E por que ele estava fazendo-a esperar?

Ela já sabia qual iria ser sua resposta.

 

Selena se vestiu novamente. Tudo, roupas íntimas e tudo o mais. Apesar de suas mãos tremerem tanto, que mal conseguia ajeitá-las.

Quando finalmente saiu para o quarto, encontrou Trez sentado em uma cadeira de encosto reto na frente da escrivaninha que ela às vezes costumava usar para escrever no seu diário. E, de fato, ela estava feliz de ter fechado o volume encadernado em couro após ter terminado de escrever nele, na noite passada.

Tinha escrito muito sobre ele, naturalmente.

E ela tinha a sensação de que mais tarde voltaria a escrever.

Ele olhou para ela, seus olhos escuros faiscando por um momento. — Você está pronta para continuar a conversa agora?

Querida Virgem Escriba, de todas as coisas que ela pensou que ele contaria... Não esperava nada daquilo.

— Como você pode... Vendê-las? – Ela disse asperamente.

Ele suspirou. — Elas querem o dinheiro. Eu proporciono os meios. E garanto-lhes segurança.

— E elas… Você também recebe dinheiro por isto.

— Sim.

Ela teve de sentar-se antes que caísse... E estava indo para a cama antes de pensar, não, ali não. Em vez disso, escolheu o sofá que ficava em frente à lareira. Sentando-se sobre os pés e fez com que a túnica cobrisse toda a sua pele.

— Há quanto tempo? – Ouviu-se perguntar.

— Anos. Décadas. Primeiro eu fui supervisor. Agora eu sou o chefe.

— Não consigo imaginar… Isso.

Ele esfregou as têmporas. — Eu sei que não consegue.

Abruptamente, Selena encontrou-se lutando para ficar quieta. Sua bússola interna estava girando tão rápido, que mal conseguia formar uma frase. — Quer saber? Apenas conte tudo. No momento, minha cabeça está visualizando todos os tipos de coisas horríveis e eu...

— A pior parte é que eu estive com umas duas mil mulheres. Fácil.

A princípio, ela pensou que ela não poderia ter ouvido direito. Mas a onda de frio que a transpassou sugeriu o contrário.

— Mil, – ela disse com voz fraca.

— Chutando baixo. Pode ter sido perto de dez. Mil, quero dizer. Merda, talvez até mais.

Selena piscou. Certo, quando ele tinha dito anteriormente que eram "muitas" mulheres humanas? Ela tinha pensado que era uma dúzia, no máximo. Mas os números que ele havia mencionado? Mesmo para os padrões ehros, eram... Incomensuráveis.

Quando ela tentou imaginar todos os diferentes cenários que ele podia ter… — E algumas dessas mulheres você…

— Sim. Por muito tempo, eu tinha de experimentar uma prostituta para poder vendê-la.

Com uma onda de náusea disparando pelo seu estômago, tudo o que Selena pôde fazer foi olhar para ele.

— Você está certo, – ela se ouviu dizer. — Eu não o conheço.

— Deus, Selena, eu estou arrependido pra caralho... Eu nunca devia ter tocado em você. Não que eu não a desejasse, mas porque eu… Bem, sim, porque eu sabia que essa seria a sua reação quando eu lhe dissesse a verdade. E realmente, ontem à noite, eu vim aqui para tentar explicar, só que então…

Ela colocou o rosto entre as mãos, imagens dele beijando-a, acariciando-a, tomando-a, cavalgando-a. — Eu acho que vou vomitar.

— Eu não a culpo, – ele disse desolado.

E ainda não assim, não havia razão para reformular a realidade de forma a resgatar a virtude que ela tinha perdido por vontade própria. — Eu o seduzi. – Ela baixou as mãos. — Eu pedi pelo que aconteceu.

— Não, a culpa é só minha...

— Apenas chega.

— Certo. Sinto muito.

Ela também sentia. Porque a triste verdade era que ela tinha gostado de estar com ele. Na verdade, enquanto estava acontecendo, tinha sido uma espécie de paraíso. Infelizmente, essa ilusão tinha sido passageira como o ato, e agora que tudo tinha acabado? Era como se o prazer nunca tivesse existido.

— Selena, seja o que for que esteja pensando, pode dizer...

— Eu queria ter nascido em outra vida, – ela desabafou. — Eu gostaria de me apaixonar por um macho e encontrar com ele um humilde lugar no mundo. Não acho que teria buscado por algo assim, não importa o quão pouco tivéssemos.

— Isso ainda pode acontecer para você. – Sua voz se tornou totalmente impassível. — Isso pode acontecer... Qualquer macho iria querer você.

Ah, sim, mas só havia uma pessoa que ela queria. E mesmo que Trez tivesse sido um santo, o que ele claramente não foi, o tempo dela ainda estava se esgotando.

— Está tudo bem. – Ela se esforçou para conter as lágrimas... E conseguiu. Afinal, logo ela estaria sozinha. — As coisas são como são. Aprendi há muito tempo que não há como negociar com o destino.

Eles ficaram em silêncio por um longo tempo.

— Eu não a amo, – ele disse entre dentes. — Não sei por que sinto que tenho de dizer isso, mas sinto.

— Aquela a quem vai emparelhar? Sim, você já disse isso. – De repente, ela olhou para ele, observando a cabeça abaixada, sua aura de tristeza. — Irônico, mas não somos tão diferentes assim, você e eu.

Quando seus olhos se voltaram para os dela, ela deu de ombros. — Eu não tive nada a ver com meu destino, também. A tragédia é que algumas coisas nos seguem como sombras... Elas irão conosco para onde quer que vamos.

— Sim. Eu nunca me importei com isso. Até conhecer você.

Ela pensou no cemitério do Santuário, em suas irmãs que tinham sido relegadas a um período de vida mais curto, e tiveram que esperar a morte na prisão de seus próprios corpos. Então, ela se lembrou da sensação dele se movendo dentro dela, o calor líquido que fluiu ao longo de seus músculos e ossos.

— Você as amava? – Ela perguntou.

— Quem? Oh, as mulheres… Não. Jamais. Mesmo. Inferno, metade das vezes nem ao menos gostei. – Ele estalou o pescoço como se os músculos dos ombros estivesse enrijecendo novamente. — Eu realmente não sei em que porra eu estava pensando. Eu estava fora de controle e só queria sair da minha própria cabeça. O problema é que todas aquelas mulheres estão dentro de mim agora.

— Dentro…?

— Meu povo acredita que você pode se envenenar se fizer… Se você estiver com as pessoas do jeito que eu estive. E eu... Me envenenei. Isto vai me devorar até que não reste mais nada de mim.

Quando ele tocou o centro do peito, ela percebeu que, de fato, ele estava oco, a luz tinha desaparecido de seu olhar, faltava animação em seu corpo, sua aura dissipada como se ele nunca tivesse existido.

Tomada pela tristeza, ela balançou a cabeça. — Você estava errado.

— Sobre o quê?

Tão vazio, ele estava… Vazio até a alma. — O que eu vejo agora… É o pior de tudo.

 

 

 

Nas margens do Hudson, Assail estava novamente vestido de preto com uma máscara preta cobrindo o rosto. Atrás dele, Ehric estava em silêncio e alerta, vestido da mesma maneira.

Os dois traziam armas de fogo nas mãos.

— Eles estão atrasados, – seu primo disse.

— Sim. – Assail ouvia atentamente. — Nós daremos a eles cinco minutos. Nem um a mais.

À esquerda, a cerca de quatro metros na linha de árvores, seu Range Rover blindado estava estacionado com a traseira virada para o rio, Evale no banco do motorista esperava com o motor ligado.

Assail olhou para o céu noturno. Depois da nevasca que tinha caído mais cedo, a lua agora tinha algumas nuvens preguiçosas flutuando sobre sua face, e ele esperava que elas ficasse lá por um tempo. Eles não precisavam de mais luz, embora o local fosse discreto o suficiente: Distante, em uma curva na linha da costa, com a floresta que vinha quase até a beira do rio congelado. Além disso, o modo como a pista era irregular, esburacada, até o SUV tinha dificuldade em transitar em seu modo off-road.

— Estou preocupado com você.

Assail olhou por cima do ombro. — Desculpe-me?

— Você não dorme.

— Eu não estou cansado.

— Você cheira coca demais.

Assail se virou e rezou para que aquele a quem aguardavam aparecesse logo, por um novo motivo. — Não se preocupe, primo.

— Você sabe se elas conseguiram chegar a seu destino?

Fazia tanto tempo que Ehric não perguntava alguma coisa, que Assail teve que se virar mais uma vez. E na verdade, seu principal instinto era acabar rápido com o interrogatório, mas a verdadeira preocupação naquele rosto tenso o deteve.

Ele voltou a olhar a água lenta, gelada. — Não, eu não sei.

— Você vai ligar para ela?

— Não.

— Nem mesmo para ter certeza de que elas estão em segurança.

— Ela não quer que eu ligue. – E os porquês dessa espera no Hudson eram a prova da solidez de sua decisão de deixá-lo. — Foi um rompimento definitivo.

Até ele ouviu o vazio em sua voz.

Deus, ele queria nunca ter conhecido aquela mulher.

O som a princípio foi indistinguível dos ruídos noturnos do ambiente, mas o zumbido rapidamente ficou distinto: Vindo da esquerda, ele anunciava que, talvez, sua espera tivesse acabado.

O barco de pesca que virava a esquina era tão lento no rio como uma folha flutuando e quase tão silencioso. Conforme previsto, haviam três homens nele, todos eles vestidos em roupas escuras, e cada um trazia uma vara na mão, como se não estivesse nada mais do que pescando sua próxima refeição.

Eles pararam próximo à orla.

— Pegaram alguma coisa? – Assail perguntou, conforme tinha sido orientado.

— Três trutas.

— Eu comi duas ontem à noite.

— Eu quero mais uma.

Assail assentiu, baixando a arma e dando um passo à frente. A partir desse momento, tudo se tornou silencioso e muito rápido: uma lona foi levantada e quatro mochilas mudaram de mãos, movendo-se do barco para ele e, em seguida, para Ehric, que as pendurou nos ombros. Em troca, Assail passou uma maleta preta de metal.

O homem mais alto digitou o código que tinha recebido, abriu a tampa, inspecionou os maços, e anuiu.

Houve um rápido aperto de mãos... E depois Assail e Ehric recuaram para as árvores. As mochilas foram na parte traseira, Ehric atrás, Assail no banco do carona.

Ao se dirigirem de volta para a pista esburacada, as janelas estavam abertas para capturar todos os sons ou cheiros.

Não havia nada.

Ao entrarem na estrada, pararam e esperaram ainda escondidos nas árvores. Não havia carro em nenhuma direção. O caminho, como se dizia, estava livre.

Ao comando de Assail, o carro foi ligado e eles partiram, na noite.

Com quinhentos mil dólares em cocaína e heroína.

Até agora, tudo bem.

Depois de extrair todas as informação de ambos os telefones de Benloise, ele havia vasculhado os números e as mensagens de texto, principalmente os internacionais. Encontrou dois contatos na América do Sul, com os quais parecia ter havido muita comunicação, e quando ele tinha ligado do telefone de Ricardo, havia sido encaminhado para uma rede de conexões seguras, um número de cliques que ocorrem antes de um adequado toque começar.

Desnecessário dizer que não houve muita surpresa depois de Assail se apresentar e explicar o propósito de sua ligação. Mas Benloise tinha informado aos seus compatriotas de seu novo e maior cliente, por isso não foi um completo choque para eles saber que, o distribuidor tinha se tornado supérfluo... E havia sido eliminado.

Assail lhes tinha oferecido um acordo para iniciar o relacionamento com o pé direito: Um milhão em dinheiro para meio milhão em produto, como um gesto de boa-fé.

Parcerias tinham que ser cultivadas, afinal.

E ele tinha aprovado os homens enviados para fazer a transação. Eles eram claramente diferentes dos traficantes de rua de Benloise, totalmente profissionais.

Agora, ele e seus primos só tinham que dividir o produto para a venda na rua, e contatar o Forelesser para a distribuição. E o negócio poderia recomeçar como se Benloise nunca tivesse existido.

Perfeitamente planejado.

— Correu tudo bem, – Ehric disse ao pegarem a estrada que iria levá-los para a casa de vidro de Assail.

— Sim.

À medida que seguiam, ele olhou para fora da janela, observando as árvores passarem. Uma casa. Aquela cabana de caça.

Ele devia estar mais feliz. Isso iria, afinal de contas, abrir um enorme potencial de lucro. E ele amava o dinheiro e todo o seu poder. Verdadeiramente, amava.

Em vez disso, a única coisa em sua mente era a preocupação com sua fêmea, se ela tinha de fato conseguido chegar a Miami a salvo com a avó dela.

E não havia nada que ele pudesse fazer a respeito.

Ela tinha partido.

Para sempre.

 

Ao acordar, a primeira coisa que Beth fez foi analisar seu corpo inteiro em busca de ânsia de vômito. Quando a detectou com força total, forçou-se a se erguer e colocar os pés no chão. Quanto tempo tinha dormido? As venezianas ainda estavam fechadas, isso significava que ainda não era dia, mas cara, ela se sentia como se tivesse apagado por dias.

Baixou os olhos para olhar a si mesma, colocou as mãos sobre a barriga...

Puta merda, não se lembrava de ter engolido uma bola de basquete.

Sob suas mãos, seu estômago estava inchado e rígido, a protuberância tamanha que ela duvidava que pudesse caber nas calças.

Seu primeiro instinto foi pegar o telefone e chamar a Dra. Jane, entretanto, tentou controlar o pânico e levantar-se.

— Sinto-me bem, – ela murmurou. — Sinto-me muito, muito bem…

Ao caminhar para o closet, sentia como se seu corpo fosse uma bomba prestes a explodir... E, cara, ela odiava aquilo: Não tinha nenhuma ideia do quanto subestimava sua boa saúde até deliberadamente tentar se complicar...

Por nenhuma razão aparente, o Rubi Saturnino deslizou imediatamente de seu dedo.

Olhando para baixo, observou o anel cair no tapete... E franziu o cenho ao se curvar e pegar a coisa. Ela e Wrath tinham convenientemente trocado, porque ambos tinham lutado com algo que não se encaixava... E os símbolos de seu casamento tinham um significado, não importando em qual dedo estivessem.

Ou não estivessem, como era o caso aqui...

— Que diabo? – Ela suspirou.

Quando foi colocar a coisa de volta, percebeu que seus dedos estavam positivamente esqueléticos, a pele esticada nas juntas nodosas e a palma afundada.

Com o coração começando a martelar, ela se apressou para o espelho no banheiro e acendeu as luzes...

Beth ofegou. O reflexo que a encarava de volta estava todo errado... Todo fodidamente errado. Durante a noite, seu rosto tinha literalmente se encovado, toda a gordura de suas bochechas e suas têmporas tinham se esvaído, seu queixo estava pontudo como uma faca, os tendões de seu pescoço sobressaíam-se em um relevo acentuado.

Um medo gritante lanceou seu peito. Especialmente ao erguer o braço e puxar a pele em seus tríceps. Solta. Frouxa.

Era como se tivesse perdido uns sete quilos em horas... Exceto na barriga.

Tentando não enlouquecer completamente, ela dirigiu-se ao armário para encontrar algo que pudesse vestir. No fim, pegou um par de calças de moletom com cordão, e uma das poucas camisas de botão de Wrath. Esta última era como uma nuvem de algodão branca e fina ao redor dela... E isto significava, ter outra onda de calor, exigindo bastante ventilação.

Pelo menos seus chinelos ainda se ajustavam perfeitamente.

Dirigindo-se para o patamar do segundo andar, ela colocou a cabeça dentro do escritório e não encontrou Wrath na escrivaninha. Talvez ele estivesse malhando?

Ela estava descendo a escada principal quando o encontrou.

Ele e George estavam saindo da sala de jantar junto com uma série de doggens, o pessoal levando todos os tipos de bandejas prateadas através do mosaico da macieira em flor.

No segundo em que captou seu cheiro, ele parou.

— Leelan! Tem certeza de que deveria estar de pé?

Acabou que o cheiro da comida foi uma distração infernal: o pico de fome que ela sentiu em resposta ao estímulo foi suficiente para detê-la em seu caminho.

— Ah… Sim, sinto-me bem. Estou com fome, na verdade.

E também morta de medo.

Enquanto o pessoal seguia para a sala de jogos, atravessando os pedaços pesados de lona que cobriam a entrada, Wrath se aproximou da base das escadas.

— Vamos levá-la para a cozinha.

Caminhando a distância até juntar-se a ele, deixou-o tomar seu braço, e apoiou-se na força dele, respirando fundo, aliviada. Provavelmente tinha só imaginado tudo aquilo lá em cima. Realmente. Provavelmente.

Merda. — Sabe, eu dormi bem, – ela murmurou como se para tranquilizar a si mesma. O que não deu certo.

— Sim?

— Hum-hum.

Juntos, eles passaram pela longa mesa de jantar, e entraram pela porta vai e vem do outro lado. Do outro lado, iAm estava uma vez mais no fogão, mexendo uma grande panela.

O Sombra virou-se... E imediatamente franziu o cenho ao olhar para ela.

— O quê? – Ela colocou as mãos em seu estômago. — O que você está...

— Nada, – ele disse, batendo sua colher de pau na panela de aço. — Vocês gostam de canja de galinha?

— Oh, sim, soa perfeito. – Beth subiu em um banco. — E um pouco de pão talvez...

Fritz materializou-se em seu cotovelo com uma baguete e um prato com manteiga.

— Para você, senhora.

Ela teve que rir.

— Como soube?

Quando Wrath sentou-se no banco próximo a ela, George parou entre eles.

— Eu o mantive em sobreaviso.

Uma tigela de sopa fumegante foi deslizada na frente dela pelo Sombra.

— Aproveite.

— Ele, também? – Ela perguntou a iAm.

— Sim, o Sombra pode ter sido incluído nisto também.

Pegou a colher que Fritz lhe ofereceu, ciente de que os três machos a olhavam... Wrath com tal intensidade, que era quase como se ele tivesse conseguido sua visão de volta...

— Mummm, – ela disse... E estava sendo sincera. A sopa estava perfeita, simples, não muito pesada, e quente, quente, quente.

Talvez fosse apenas por ela ter passado por sua necessidade e estar sem comer há quanto tempo?

— Então o que está acontecendo na sala de jogos, – ela perguntou, tentando distrair os machos.

— Eles estão limpando minha bagunça.

Ela estremeceu.

— Ah.

Wrath tateou em volta em busca da baguete e rompeu a extremidade dura, pondo-a de lado. O pedaço que ele partiu para ela estava macio no meio, crocante por fora... E a manteiga que colocou era sem sal, tipo doce.

A combinação ficava ótima com a sopa.

— Gostaria de algo para beber? – Fritz perguntou.

— Vinho? – iAm disse... Antes de deter-se. — Não, não vinho. Leite. Você precisa de cálcio.

— Boa ideia, Sombra, – Wrath entrou na conversa enquanto movimentava a cabeça para Fritz. — Traga tudo...

— Não, não, vai me deixar enjoada. – E aquilo os fez pararem imediatamente o que estavam fazendo. — O que já acontecia antes de todo o, bem, você sabe. Mas o desnatado soa bem.

E assim foi, os três servindo à mesa: Mais sopa? iAm enchia sua tigela novamente, imediatamente. Mais pão com manteiga? O marido providenciava. Mais leite? O mordomo corria para o refrigerador.

Estar cercada por toda a normalidade realmente ajudava a tranquilizá-la. Mas sentia a necessidade de tentar esclarecer bem as coisas antes de eles a alimentarem até que explodisse.

— Rapazes. Eu realmente agradeço tudo isso... Mas não sabemos se eu estou grá...

Ela não chegou a terminar o pensamento, muito menos a frase.

De uma vez, tudo o que comeu dirigiu-se para a saída de emergência ao mesmo tempo, seu estômago se contraindo sem aviso prévio.

Ela mal chegou ao banheiro de serviço a tempo.

Sim, isso tudo emergiu, da sopa até o pão, por assim dizer. E então, mesmo quando podia jurar que não apenas seu estômago, mas sua cavidade torácica inteira estava vazia, os engolfos a manteve curvada sobre o vaso sanitário até que seus olhos lacrimejavam, sua cabeça latejava e sua garganta nada mais era que uma bagunça ardente.

— Ei, como estamos indo.

Claro, era a Dra. Jane. — Ei, o que está acontecendo...

Demorou um tempo até conseguir dizer alguma coisa. E a propósito, ela realmente odiava o som dos engasgos reverberando na privada.

Quando houve uma pausa na ação, por assim dizer, ela descansou sua testa quente e suada no braço, estendendo a mão para a descarga novamente… E descobriu que não tinha energia para puxar a alavanca para baixo.

— Acho que precisamos levá-la ao médico, – Jane disse.

— Achei que você fosse uma, – Wrath resmungou.

— Temos mesmo? – Beth perguntou.

O fato de que ter recomeçado a vomitar naquele momento, meio que respondia àquilo, não?

 

Do lado de fora do banheiro de serviço da cozinha, Wrath estava pronto para gritar com sua cegueira: Não havia nada pior do que sua companheira com necessidades médicas, para deixar você bem puto por ser cego.

Com a porra das suas pupilas, ele não conseguia ver o rosto dela para conseguir uma analise de sua cor, sua expressão, seus olhos. E sua sensação aguda de olfato? Saiu pela janela, também... O vômito entupiu suas narinas, tornando impossível puxar quaisquer indícios emocionais.

A única coisa que funcionava? Seus ouvidos... De forma que toda nova onda de náusea ia diretamente para seu cérebro.

— Certo, vamos lá, – Beth finalmente disse rouca.

— Espere a porra de um minuto, – ele rugiu. — Ir aonde?

A voz de Jane estava nivelada.

— Ao médico...

— Você é a maldita médica...

A companheira de V colocou a mão em seu antebraço.

— Wrath. Ela precisa de um especialista e nós encontramos um.

Mas que porra...? Espera um minuto. — Isto não está soando como Havers, – ele rangeu.

— Não é. É uma humana...

— Ohhh não, não, isto não vai acontecer...

Eeeeeeeee outra rodada de ânsias de vômito.

Por trás de seus óculos escuros, ele fechou os olhos. — Caralho.

Diante do horrível cenário do sofrimento de sua esposa, a Dra. Jane começou a dar-lhe todos os tipos de razões bem racionais, porque sua shellan tinha que ser tratada com cuidados especiais. Mas, Cristo, a ideia dela sair para o mundo humano, durante o dia... Porque olá, o caralho das persianas tinham acabado de descer…

E sabe o que mais? Ele realmente desejava que a porra da vida o tirasse da sua lista de merdas. Estava ficando cansado pra caralho de situações invencíveis.

— …Mestiça, complicações desconhecidas, incapaz de fazer uma avaliação…

Ele cortou o pequeno discurso da Dra. Jane. — Sem querer ofendê-la, mas não vou deixar minha esposa sair sem uma fodida segurança reforçada, e ninguém pode sair desta casa neste momento...

— Então eu irei com ela.

Wrath olhou por cima de seu ombro ao som da voz de iAm. Seu primeiro instinto foi dar uma de macho vinculado para cima do cara e dizer ao Sombra que ele mesmo resolveria aquilo, obrigado. O problema era que, não conseguiria resolver merda nenhuma... E apenas um idiota se recusaria a permitir um tratamento médico que sua companheira necessitava.

Wrath deixou a cabeça tombar para trás com uma maldição.

— Você está certa de que ela precisa disto? – Ele perguntou, sem saber realmente do que estava falando.

— Sim, – a Dra Jane respondeu com seriedade. — Tenho certeza absoluta.

iAm falou novamente. — Cuidarei para que nada aconteça com ela. Pela minha honra.

Ele teve a sensação de que o Sombra estava oferecendo-lhe sua mão... E confirmou, quando Wrath cegamente estendeu a mão... E de fato... O outro macho a apertou.

— O que posso fazer por você? – Wrath ouviu-se dizendo enquanto eles se cumprimentavam.

— Nada neste momento. Apenas deixe-me levá-la.

— Ok. Tudo bem. – Só que, quando Wrath soltou e recuou, não estava em paz com nada daquilo. Mas que outra escolha ele tinha?

Balançando a cabeça, ele pensou, veja, era justamente por isto que não queria um filho. Esta merda toda de gravidez não era para ele.

Que diabos faria se a perdesse...

— Wrath, – Beth disse fraca. — Wrath, onde você foi?

Como se ela soubesse que ele estava a dois pensamentos de perder a sanidade... Em direção à loucura total.

— Estou aqui mesmo.

— Você vai me levar para cima? Acho que deveria tentar me alimentar primeiro, e não quero fazer isto na rua.

— Além disso, – a Dra Jane murmurou, — Preciso ligar e ver quando ela pode nos encaixar.

— Wrath? Leve-me para cima?

Entrando em ação, ele foi adiante e pegou sua amada suavemente em seus braços, erguendo-a do chão.

E só para constar, ele imediatamente, voltou a si. Acalmou-se. Preparou-se para manter sua merda sob controle, nem que fosse apenas para poupar Beth da preocupação com ele.

— Obrigado… – ela sussurrou enquanto sua cabeça pendia na dobra do braço dele.

— Pelo quê?

Ela não lhe respondeu até que George os guiou até a base das escadas e Wrath começou a subir.

A resposta dela foi apenas uma palavra: — Tudo.

 

Eram sete e vinte e três da manhã, quando Sola saiu para seu terraço e conseguiu ver o mar.

— Quase faz a viagem valer à pena, – murmurou para si mesma.

Com o nascer do sol, a vasta extensão azul de água se fundia com a cor do céu, apenas as belas nuvens do amanhecer marcavam o horizonte entre o céu e a Terra.

Sentando-se em uma cadeira de jardim, gemeu quando todas as articulações que tinha, e algumas que ela não sabia ter, gritaram. Cara, ela estava tensa. Então novamente, um total de vinte e quatro horas atrás do volante de um carro fazia mesmo aquilo à uma garota. E não eram apenas seus ossos que estavam doloridos. Sua panturrilha direita repuxava, como se fossem câimbras, apesar de ter usado o piloto automático[5] uns bons oitenta por cento do tempo.

Uau, o ar era suave e agradável aqui em baixo, mesmo em dezembro.

E a umidade era incrível. Sua pele estava absorvendo positivamente todo o ar úmido, seu cabelo também, seu rabo-de-cavalo já estava cacheando no final.

— Vou dormir agora, – sua avó anunciou.

Sola olhou para trás através da porta de tela. — Eu também. Irei em breve.

— Nada de fumar, – a avó ralhou.

— Parei de fumar há dois anos.

— E não vai recomeçar.

Com isso, sua avó balançou a cabeça e saiu do terraço.

Sola se concentrou no oceano. Seu apartamento em Miami ficava no quinto andar de um edifício antigo, o condomínio era apenas um espaço despretensioso de mil e quinhentos metros quadrados, que ela tinha comprado a vista, vários anos atrás, e então tinha decorado com móveis baratos da Rooms To Go. O prédio tinha uma piscina e quadras de tênis, no entanto, estava quase vazio, com as férias se aproximando e as pessoas fugindo do resto do inverno.

Arqueando as costas, ela tentou dar a sua coluna um pouco de alívio. Não conseguiu. Ela provavelmente iria precisar de um quiropraxista após essa viagem.

Ainda bem que ela não precisaria se preocupar de fazê-la novamente.

Merda, isso era deprimente.

Colocando a mão no bolso de trás, pegou seu iPhone. Nenhuma chamada. Nenhuma mensagem.

Ela não tinha pensado que deixar Assail a machucaria tanto. Mas, não podia dizer que se arrependia.

O que ele estaria fazendo agora, se perguntou. Provavelmente, descansando após uma noite de trabalho gerenciando o lado sombrio da economia de Caldwell.

Será que ele voltaria para aquela mulher? Aquela que ela o tinha visto foder?

Fechando os olhos, ela respirou fundo algumas vezes, e o fato de poder sentir o cheiro da água salgada no ar ajudou. Ela não estava mais lá em cima, recordou-se. Ela não estava mais com ele, não que eles realmente tivessem estado juntos.

Então, o que ele estaria fazendo e com quem? Não era seu problema.

Não mais.

Ia ficar tudo bem, disse a si mesma ao guardar novamente o telefone e olhar para o oceano. Ela tinha feito a coisa certa...

Mas mesmo assim, imagens de Assail inundavam sua mente, intrometendo-se e cobrindo a bela vista à sua frente.

Inclinando-se, sentiu a pele ao redor de sua coxa e, então apertou os dedos no curativo. Quando a dor subiu pelo seu torso e disparou até seu coração, disse a si mesma para se lembrar de como tinha vindo parar aqui. Por que tinha tido de se mudar.

Exatamente como suas orações tinham sido respondidas.

Sim, a viagem havia lhe dado algo mais além de um corpo dolorido e um cérebro cansado: todos aqueles quilômetros de rodovia tinham feito maravilhas sobre sua perspectiva a respeito de tudo.

No norte, ela tinha dito a si mesma que sua fuga tinha sido seu próprio rumo.

Mas agora, com o amanhecer à sua frente, os raios riscando por cima da água, os golfinhos brincando nas ondas da manhã... Ela percebeu que não. Aquilo tinha sido um pretexto.

Porque admitir para si mesma que acreditava em Deus era muito assustador, muito louco.

Longe de tudo o que ela tinha deixado para trás no norte, em um território neutro, onde estava começando de novo, ela foi capaz de ser honesta consigo mesma. Aquela oração que tinha feito, aquela última, havia de fato sido respondida... E na vinda para cá, ela estava honrando sua parte no trato.

Com grande sacrifício, como se revelou... Porque sabia que ia ser um longo, longo tempo antes que fosse capaz de parar de ficar verificando seu telefone.

Levantando-se da cadeira de jardim, voltou para dentro, e ao fazer uma pausa para fechar a porta, olhou para o vidro de correr... E lembrou do primeiro andar da casa de Assail. E, quando pegou a mala que tinha deixado atrás da porta... Tudo o que podia pensar era que tinha guardado as roupas nela, quando ainda estava com ele.

O mesmo, quando escovou os dentes: A última vez que ela tinha usado sua escova de dente estava no banheiro dele, no andar de cima.

E ao se deitar sobre os lençóis brancos, recordou-se de ficar deitada ao lado dele depois dele ter vindo até ela no chuveiro e tomado-a com tal poder incrível.

Fechando os olhos, ela ouviu os sons estranhos ao seu redor, alguém falando alto no estacionamento dos fundos, a pessoa no andar de cima tomando banho, um cachorro latindo do outro lado do muro.

A casa de Assail tinha sido tão silenciosa.

— Merda, – ela disse em voz alta.

Quanto tempo ia levar antes que ela parasse de comparar tudo o que havia deixado para trás?

Era exatamente como tinha sido quando sua mãe tinha morrido. Durante meses depois, os marcadores da sua vida tinham sido determinados por nuances de sua mãe: último filme que viram juntas, as coisas que tinha comprado na loja naquela mesma tarde, o último presente de aniversário dado e recebido, aquele Natal... Que, é claro, ninguém sabia que seria o fim da tradição.

Toda aquela comparação implacável de lembranças tinham durado por pelo menos um ano, até que cada um dos aniversários, internos e externos, haviam se esgotado. Passar por eles tinha sido como perfurar uma parede de cada vez, mas ela tinha conseguido, certo? Ela tinha colocado um pé na frente do outro até que a vida havia retomado uma espécie de normalidade...

Ah porcaria. Ela realmente não devia estar comparando esta fuga de um traficante de drogas ao luto pela mulher que tinha lhe trazido ao mundo e que a tinha criado por quanto tempo antes de sua avó ter assumido?

Mas lá estava.

Antes de Sola finalmente adormecer, abriu a gaveta da mesa de cabeceira e colocou a Bíblia de seu pai debaixo do travesseiro.

Era importante manter um vínculo com alguma coisa, qualquer coisa.

Caso contrário? Aterrorizava-a pensar que podia querer colocar as malas naquele maldito Ford alugado para fazer a viagem de volta. E aquela estupidez simplesmente não era uma opção.

Depois de tudo o que tinha acontecido ultimamente, ela realmente não queria saber o que acontecia com pessoas que quebravam suas promessas ao cara lá de cima.

E não, ela não estava falando sobre o Papai Noel.

 

Que bom que Beth nunca tinha tido uma fantasia hipotética sobre como seria descobrir que estava grávida.

Enquanto estava sentada em uma sala de espera perfeitamente agradável, rodeada de cadeiras em tons neutros, revistas sobre a menopausa e a maternidade, e mulheres que estavam entre seus vinte e cinquenta anos, estava muito claro que o que saísse desta consulta: positivo, negativo ou ainda muito cedo para dizer, ela nunca teria imaginado este cenário.

Sem seu marido. Escoltada por um Sombra com armas escondidas suficientes para explodir um tanque... Ou talvez um porta-aviões. Tendo tomado sangue de uma veia, pelo amor de deus, uns vinte minutos antes de deixar uma casa do tamanho e formato de Versalhes.

Sim, não era exatamente a merda de cenário que estaria descrito na, digamos... Pegou a revista mais próxima... Na Maternidade Moderna, por exemplo.

Folheando as páginas coloridas, viu diferentes tipos de mães felizes e satisfeitas segurando seus Anjos Celestiais na Terra, enquanto falavam sobre a santidade da amamentação, da importância do contato pele com pele e daquela primeira consulta pré-natal importantíssima.

— Estou ficando enjoada. – Ela murmurou lançando a propaganda de lado.

— Merda. – iAm disse enquanto se levantava. — Vou procurar o banhe...

— Não, não. – Ela puxou-o para baixo de novo. — Quero dizer, é, não, era apenas um comentário.

— Tem certeza?

— Absolutamente. E da próxima vez que eu ficar aborrecida, prometo apenas dizer. Não lançarei metáforas.

iAm teve que se apertar novamente em sua cadeira estofada: o Sombra era tão grande, que transbordava dos braços e do encosto traseiro... E chamava muita atenção.

Embora não necessariamente por causa do seu tamanho.

Cada mulher que entrava, caminhava até a recepção para olhá-lo... De uma maneira que provava que uma mulher grávida, ou com os ovários atrofiados, ou super ocupadas atendendo telefonemas ou preenchendo papelada, não estavam mortas do pescoço para baixo.

— Você já foi casado? – Ela perguntou ao sujeito.

Com ar ausente, ele negou com a cabeça, aqueles olhos negros vasculhando os arredores como se estivesse pronto para defendê-la com própria sua vida.

O que era muito amável, realmente.

— Alguma vez se apaixonou?

Outra negação com a cabeça.

— Você quer filhos?

Olhando para ela, ele firmemente riu. — Me disseram que você era repórter?

— Meu lado quem-o-que-onde-porque-quando está evidente de novo?

— Sim. Mas está bem, eu não tenho nada para esconder. – Ele cruzou as pernas, o tornozelo sobre o joelho. — Sabe, com tudo isto acontecendo com meu irmão estes anos todos, eu nunca pensei nisto, entende? Preciso conseguir consertar as coisas com ele sabe, e a merda é que não tenho conseguido.

— Eu realmente sinto muito. – Ela tinha ouvido o suficiente das fofocas familiares para entender a situação. — Para ser honesta, eu continuo esperando descer uma noite destas e descobrir que vocês dois sumiram.

Ele anuiu. — Poderia bem acontecer...

— Marklon, Beth? – Uma enfermeira chamou através de uma porta aberta do outro lado da sala.

— Sou eu. – Levantando-se, colocou sua bolsa no ombro e se encaminhou para a porta. — Aqui estou.

Jesus, por falar em enjoo: a perspectiva de realmente entrar na sala da médica, ela pensou, ok, agora ela realmente iria vomitar de novo...

A enfermeira sorriu e recuou, apontando a pequena sala de triagem atrás dela. — Eu só vou verificar seu peso e pressão sanguínea.

— Você pode segurar isto? – Ela perguntou para iAm, estendendo sua bolsa Coach.

— Sim.

Enquanto ele pegava a sua bolsa, a enfermeira parou e deu uma olhada da cabeça aos pés para o Sombra. Então ela corou em um tom vermelho brilhante e teve que pigarrear. — Bem-vindo. – Ela disse para ele.

iAm só acenou e continuou vigiando a área em volta. Como se talvez um grupo de ninjas fosse saltar da sala de exames ou algo assim.

Beth teve que sorrir quando a enfermeira voltou a se concentrar e começou a tirar seus sinais vitais.

Depois disto, a mulher os acompanhou por um corredor que tinha uma dúzia de salas numeradas. Conforme avançavam, a decoração era da mesma cor marrom e creme da sala de espera, com tipos semelhantes de falsas obras de arte texturizadas emolduradas em vidro, fazendo o possível para dar uma sensação não institucional a um lugar cheio de equipamentos médicos e pessoas em aventais e jalecos brancos.

— Na cinco, por favor. – A enfermeira disse, novamente parando ao seu lado.

Enquanto iAm passava por ela, ela recuou um grande passo, seus olhos muito abertos, como se gostasse da forma como ele cheirava.

A enfermeira sacudiu-se e entrou, fechando a porta. — Por favor, se sente na maca de exames. E você pode ficar em qualquer lugar que quiser, senhor.

O Sombra escolheu um assento de frente para a entrada, olhando para a porta, como se estivesse desafiando a qualquer um que passasse por ela.

Com outro sorriso, Beth teve de se perguntar o que a enfermeira pensaria se soubesse que ele estava preparado para atacar qualquer um com quem ele não fosse com a cara. Disposto a matar.

Talvez cortá-los em pedacinho e colocá-los em um espeto.

Deus, ela esperava que realmente aquilo na sopa fosse só frango...

— Sra. Marklon? Olá?

Ela se agitou. — Oh, desculpe-me, o quê?

A parte do histórico foi rápida, porque antes de sua transição ela era perfeitamente saudável, e não era como se fosse contar que há apenas dois anos, ela tinha se tornado uma vampira.

Dã.

— E de quantos meses você acha que está? – Veio a pergunta eventual.

— Eu ainda não tenho certeza se estou grávida, para ser honesta. Mas é possível, tenho tido bastante enjoo... Eu só quero me assegurar de que estou bem.

— Você fez algum teste de farmácia?

— Não. Deveria?

A enfermeira balançou a cabeça. — Nós podemos fazer uma exame de sangue aqui se a doutora quiser um. E quanto aos enjoos, se estiver grávida, muitas mulheres sentem enjoo matinal, que acaba sendo mais enjôo-o-dia-inteiro no primeiro trimestre... É normal.

— Bom Senhor, eu não posso acreditar que estou falando disso.

A enfermeira apenas sorriu e terminou de escrever na planilha.

— Certo, agora, se puder colocar esta camisola. – Um pedaço quadrado de papel foi colocado em seu colo. — Eu irei chamar a médica.

— Obrigada.

A porta se fechou atrás da enfermeira com um clique.

— Eu não posso te deixar sozinha. – iAm disse ao se levantar, virando de cara para a parede... E colocou a cabeça em suas grandes mãos. — Mas fortemente sugeriria que não conte a seu marido que ficou nua comigo no quarto. Eu gosto de meus braços e pernas onde estão, muito obrigado.

— Estou de acordo.

Ao tirar rapidamente suas roupas e entrar naquela camisola franzina, realmente desejou que Wrath estivesse com ela. E na verdade, era uma boa prova do quanto a presença dele a acalmava. Eles tão raramente se separavam, que era fácil esquecer o quanto significava para ela, especialmente quando as coisas se tornavam tão estressantes.

Eeeeee então foi questão de se apressar para então esperar.

— Então se você fosse se casar, que tipo de mulher iria querer?

iAm olhou para ela. — Nós não podemos conversar sobre beisebol ou algo assim?

Oh, merda. — Ou que tipo de cara, se for o caso. Desculpe, não quis ofendê-lo.

Ele riu novamente. — Eu não sou gay.

— Então como ela seria?

— Cara, você não desiste, não é?

Agora foi a vez dela rir. — Escute, estou sentada aqui, congelando neste modelito de papel, esperando ouvir que tenho uma gripe e não preciso me preocupar, então me ajude a me distrair de minha realidade, certo?

iAm voltou a se sentar em sua cadeira. — Bem, como eu disse, realmente nunca pensei muito nisto.

— Posso te arranjar um encontro...

— Não. – Ele reclamou. — Nãooooooooo. Não, não, não, nem pense nisto, mocinha.

Ela levantou as mãos. — Certo, certo. É só que, eu não sei, você parece um cara legal.

Ele não respondeu.

E quando ele ficou em silêncio, ela pensou, maldição, ela o tinha deixado desconfortável...

— Posso dizer algo que ninguém sabe? – Ele perguntou.

Beth se endireitou mais. — Sim, por favor.

O Sombra deixou escapar um longo suspiro. — A verdade é…

Oh, Deus, por favor não deixe a médica entrar antes que ele...

— Eu nunca estive com uma mulher antes.

Quando as sobrancelhas de Beth se levantaram até o centro de sua testa, ela forçou-as para baixo. Não queria que ele visse o choque em seu rosto.

— Bem, isto é…

— Ridículo. Eu sei.

— Não, não, de jeito nenhum.

— Trez mais que compensou isto. – Ele murmurou. — Se compararmos sua vida sexual com a minha, ainda estaríamos na faixa de Wilt Chamberlain[6].

— Oh, uau. Eu quero dizer...

— Antes de meu irmão fugir dos s 'Hisbe, eu era malditamente tímido. E então depois que a merda dele bateu no ventilador? Passei a tentar evitar que ele saísse completamente do controle. Além disso... Não sei, não gosto de prostitutas. Nossa tradição diz que se deve honrar o seu corpo e compartilhá-lo apenas com quem seja sua metade. Suponho que não consegui tirar esta merda da minha cabeça.

Depois de um momento, ele franziu o cenho para ela. — O quê?

— Eu só… Nunca ouvi você dizer tantas palavras de uma vez. É bom vê-lo se abrir.

— Podemos manter isto entre nós?

— Sim, absolutamente.

Ela esperou alguns segundos. — Mas se eu encontrar alguém, tipo, você sabe, com quem poderia fazer sentido, posso apresentar a você?

Ele balançou a cabeça. — Eu agradeço. Mas não sou uma boa aposta.

— Então o que você vai fazer, passar a vida inteira sozinho?

— Eu tenho meu irmão. – Ele disse com voz rouca. — Acredite. As merdas dele são mais do que suficiente para me manter ocupado.

— Sim, tenho certeza disto.

Quando ele voltou a ficar em silêncio, ela achou que ele tinha terminado de falar. Ao invés disto, ele falou uma última vez: — Eu só tenho mais um segredo.

— E o que é?

— Não conte a ninguém… Mas gosto daquele seu maldito gato.

Inclinando a cabeça para o lado, Beth sorriu para o Sombra. — Eu tenho a sensação… De que ele gosta de você também.

 

Passou-se uma hora inteira antes da porta se abrir novamente.

E era apenas outra enfermeira. — Oi, eu sou Julie. A Dra. Sam está presa em uma emergência. Ela realmente sente muito. Pediu que tirasse uma amostra de sangue para agilizar as coisas.

Por uma fração de segundo, Beth se preocupou com aquela ideia brilhante. Existiam diferenças anatômicas nas duas espécies. Se eles encontrassem algo...

— Sra. Marklon?

iAm disse que cuidaria de qualquer consequência, ela se lembrou. E ela podia adivinhar como iria fazer isto.

— Sim, claro. Qual braço quer?

— Deixe-me olhar suas veias.

Cinco minutos, um pouco de álcool, duas agulhas e três frascos mais tarde, ela e iAm ficaram sozinhos novamente.

Durante algum tempo.

— Sempre demora tanto? – Ele perguntou. — Com humanos?

— Eu não sei. Eu nunca estive doente, certa como o inferno que nunca desconfiei que estivesse grávida antes.

O Sombra reposicionou-se na cadeira novamente. — Você quer ligar para Wrath?

Ela pegou o telefone. — Eu não tenho sinal. E você?

Ele verificou o seu. — Não.

Fazia sentido. Eles estavam em um dos mais novos edifícios do Hospital St. Francis, um monstro de aço e vidro de doze ou quinze andares de altura... E eles estavam somente no segundo andar. No meio.

Nenhuma janela a vista.

Deus, ela queria que Wrath estivesse ali...

A porta se abriu, e mais tarde… Muito mais tarde… E ela se lembraria da primeira coisa que a atingiu:

Eu gosto desta mulher.

A Dra. Sam tinha quase um metro e oitenta de altura, cerca de cinquenta anos de idade… E interessava-se completamente pela sua paciente. — Oi. Eu sou a Sam, e sinto muito te deixar esperando.

Mudando a pasta de papéis para o outro braço, ela estendeu a mão e sorriu, relampejando bonitos dentes brancos e um rosto que envelheceu naturalmente bem. Seu cabelo loiro curto tinha um bom trabalho de tintura, e ela tinha uma aliança de ouro e um anel de diamantes em sua mão esquerda. — Você deve ser Beth. Manny é um velho amigo meu. Eu costumava dar suporte em ginecologia e obstetrícia no pronto socorro para ele, de vez em quando.

Por uma razão absolutamente inútil, Beth sentiu um desejo absurdo de chorar e conseguiu segurar. — Eu sou Beth. Marklon.

— E você é? – Ela disse para iAm, também oferecendo sua mão.

— Um amigo.

— Meu marido não pôde vir. – Beth disse enquanto os dois apertavam as mãos.

— Oh, eu sinto muito.

— Ele não vai poder vir nas consultas.

A Dra. Sam apoiou um quadril na maca de exames. — Ele é militar?

— Ah… – Ela olhou para iAm. — Na realidade, sim.

— Agradeça a ele pelo serviço prestado, certo?

Deus, ela odiava mentir. — Agradecerei.

— Certo, então vamos aos negócios. – Ela abriu o prontuário. — Você tem tomado vitaminas pré-natais?

— Não.

— Isso vai ser primeira coisa em nossa lista. – A Dra. Sam olhou para cima. — Eu tenho algumas naturais que não irão fazê-la enjoar...

— Espere, então eu estou grávida?

A doutora franziu o cenho. — Eu... Eu sinto muito. Pensei que tivesse vindo para seu exame de ultrassom?

— Não, eu vim para descobrir se tenho uma gripe estomacal ou se estou… Você sabe.

A médica puxou a cadeira que a enfermeira tinha usado e se sentou bem perto. Então ela colocou as mãos sobre a mão de Beth. — Você está definitivamente muito grávida. E já faz um tempo. É por isso que precisamos iniciar seu pré-natal imediatamente... Além de fazê-la ganhar um pouco de peso.

Beth sentiu o sangue sumir de sua cabeça. — Eu... Isto não é possível.

— Olhando os resultados de HCG, eu diria que você está em seu segundo trimestre... Embora os níveis possam significativamente variar. Mas agora mesmo está acima de cem mil. Como eu disse, espero que me deixe fazer o ultrassom para que possamos ver como estão as coisas.

— Eu… Eu… Eu… Eu…

— Sim, ela gostaria que fizesse. – iAm disse à distância. — Você pode fazê-lo agora?

— Eu… Eu…

— Sim, agora mesmo. – Mas a Dra. Sam não se moveu. — Mas vamos nos certificar de que Beth concorda. Você gostaria de algum tempo com seu amigo?

— Eu não posso estar de quatro meses. Você não entende que… Não é possível.

Talvez isto fosse uma coisa de vampiro, ela pensou. Tipo, os resultados deram alterados por que ela era uma...

— Bem, novamente os níveis de HCG são realmente uma indicação a princípio... E unicamente em relação com o quanto eles estão aumentando. – A médica ficou de pé e abriu uma gaveta, tirando um pequeno dispositivo em forma de caixa com um sensor conectado através de um cabo grosso. — Posso verificar as batidas do coração?

— Não é possível. – Beth se ouviu dizer. — Apenas não é...

— Vamos ver se existe uma batida de coração?

Beth deitou-se novamente sobre a cama e sentiu que a médica colocava algo do tamanho de um dedo em seu estômago...

Um pequeno ritmo apareceu. — Sim, temos uma batida de coração. Boa e forte. Cento e quarenta é o que gostamos de ver, e você tem um.

Beth conseguiu apenas piscar para o teto acima dela. — Traga a máquina de ultrassom. – Ela disse bruscamente. — Agora.

 

Enquanto Johhn marchava pelo mosaico do chão do vestíbulo, ele estava muito consciente de duas coisas: Uma, sua irmã já estava fora há horas. E duas, Wrath estava a ponto de perder o controle.

O Rei tinha se postado no último degrau da escada principal, o peito se movendo para frente e para trás como se a passagem dos segundos estivesse sendo medida pelo seu corpo inteiro.

Sem nenhuma razão, John aproximou-se da lona plástica pendurada no arco da sala de jogos. O trabalho tinha avançado na noite anterior... E apesar da grande metragem, o chão estava quase totalmente pronto. Esta noite, supunha-se que chegaria uma nova carga de mármore e começariam a instalá-lo. Logo, iriam trabalhar as paredes, o que tomaria mais tempo...

Uau. Ele realmente estava tentando se distrair.   

Deixando a cobertura cair de volta no lugar, olhou para Wrath. Era de se pensar que, em um momento como este, John seria a pior pessoa para se sentar com ele, uma vez que era mudo e o Rei cego.

Mas Wrath não queria conversar, assim que, bom, funcionava.

Os demais tinham saído de cena após a partida de Beth com o Sombra... E John tentara seguir o exemplo. O lado marido totalmente triunfava sobre o lado irmão, especialmente quando se tratava de uma merda destas. Mas uma vez lá em cima, inclusive depois de fazer sexo com Xhex? Seus passos o trouxeram de volta ali, para baixo.

E então ele esperou.

Engraçado, tinha a sensação de que se fosse qualquer outro, Wrath o teria expulsado.

— Seu telefone tocou? – Wrath perguntou, sem olhar para cima.

John soprou um pequeno assobio descendente, o mais perto que podia chegar de um não. Mas então, se ele tivesse recebido um telefonema, os dois teriam ouvido o toque do celular.

— Mensagem?

John balançou a cabeça, antes de se lembrar que deveria assobiar novamente...

Do nada, a campainha do vestíbulo tocou e uma imagem apareceu no monitor discretamente instalado na imensa entrada principal.

Beth. iAm. Lá fora na escada da entrada.

Ao mesmo tempo em que Wrath pulava em pé, John correu para o botão de acesso antes que Fritz aparecesse, assobiando em tom de urgência para que o marido soubesse que a esposa tinha retornado.

No segundo em que apertou o botão para liberar o mecanismo, a porta interna do vestíbulo se abriu.

John jamais se esqueceria da aparência de Beth ao entrar na casa: Seu rosto estava pálido e marcado, os olhos arregalados, os movimentos lentos e descoordenados. Ela segurava seu casaco em vez de usá-lo e o deixou cair no chão, junto com a bolsa.

Objetos se espalharam por todos os lugares. Uma carteira. Uma escova de cabelo, um batom.

Por que ele estava notando tudo isto...?

E então, tudo que pôde ver foi sua irmã correndo pelo mosaico de macieira do piso... Como se estivesse sendo perseguida por um louco.

Quando se jogou sobre Wrath, não foi com alegria.

Ela estava apavorada.

Em resposta, Wrath facilmente a segurou, ergueu-a do chão e a tensão que enrijeceu seu maxilar não teve nada a ver com o peso dela.

— O que foi, leelan? – Ele perguntou.

— Estou grávida. Estou...

— Oh, Deus...

— ...Esperando um menino.

John esticou a mão em busca de equilíbrio. Ele não podia ter ouvido direito. De jeito nenhum...

Wrath lentamente a colocou no chão. E então momentaneamente se apavorou, caindo sentado naquele último degrau da escada, como se seus joelhos tivessem falhado.

E nossa, quem diria, John fez o mesmo, uma combinação curiosa de desespero e alegria incrédula, tomando-o de ímpeto até cair sentado no chão.

Como era possível…?

 

No silêncio que se seguiu ao grande anúncio de Beth, Wrath não conseguiu fazer seu cérebro funcionar. Ou seus braços ou pernas. Ao cair naquele degrau que seu traseiro tinha esquentado, sentiu-se como se estivesse em uma espécie de pesadelo.

— Eu não... Entendo. – Um filho? Eles iam ter um filho? — Sua necessidade foi há uma... Ou duas noites atrás.

— Eu sei, eu sei. – Ela engasgou.

Imediatamente, ele entrou em ação. A merda com seu cérebro bagunçado; sua shellan precisava dele. Recuperando o controle de si mesmo, ele a puxou para seu colo, consciente de que John e iAm eram os únicos ao redor... E ficou contente por isto.

— Diga-me o que a médica disse.

O cheiro das lágrimas dela o matava, mas se manteve firme enquanto ela limpava a garganta algumas vezes. — Eu só fui lá, preparada para ouvir que ainda era cedo demais. Não era para eu já estar de quatro meses...

— O quê?

— Foi o que ela disse. – Beth balançou a cabeça contra o peito dele. — Quero dizer, eu sei que me sentia diferente, mas pensei que fosse a necessidade chegando. Ao invés, eu já estava... Quero dizer, acho que eu fiquei grávida antes mesmo da necessidade chegar.

Jesus… Cristo.

Ela se inclinou para trás. — Honestamente, reparei que minhas roupas estavam mais apertadas há um mês. Talvez um pouco antes? Pensei que fosse tensão, ou por eu não estar tendo tempo para exercícios? E então meu humor começou a mudar e agora olhando para trás... Meus seios estavam doloridos também. Mas minha menstruação nunca foi regular. Assim simplesmente não sei. Oh, Deus, e se causei algum dano ao bebê por passar tanto tempo com Layla? E se...

— Beth, shh... Beth, escute. O que a médica disse sobre o bebê?

— Ela disse… – Sua companheira fungou. — Ela disse que ele é bonito. É perfeito. E que tem o coração de um leão.

Com isto, Beth teve um ataque de choro, mais como liberação de emoções que qualquer outra coisa. E enquanto a abraçava, ele olhou por cima de sua cabeça.

— Um filho? – Ele disse.

— A médica disse que ele é grande e forte. E eu o vi se mover. – Ela disse entre lágrimas. — Eu não pensei que fosse um bebê, eu pensei que fosse indigestão...

— Então você engravidou antes da necessidade.

— É a única explicação. – Ela lamentou.

Wrath a abraçou ainda mais forte contra seu coração acelerado. — …Um filho?

— Sim. Um filho.

De repente, ele sentiu o maior, mais largo e mais feliz sorriso se formar em seu rosto, a maldita coisa esticando suas bochechas a ponto de dor, fazendo os olhos lacrimejarem, e as têmporas arderem. E a felicidade não estava somente em seu rosto. Uma carga tão intensa que queimou seu corpo inteiro por dentro, limpou lugares que ele nem sabia estarem sujos, tirando teias de aranhas que estavam nos cantos, fazendo-o se sentir vivo como não se sentia há um longo, longo tempo.

Antes de perceber o que estava fazendo, ele levantou-se com Beth no colo, inclinou-se para trás e gritou a plenos pulmões, com mais orgulho que seu tamanho poderia conter.

— Um fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilhoooooooooooooooooooooooooooooo! Vou ter um fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilhoooooooooooooooooooooooooooooo!

 

Beth se apaixonou por seu filho naquele momento.

Enquanto Wrath uivava para a lua com orgulho paternal, ela sorriu por entre as lágrimas e a preocupação. Já fazia tanto tempo que não o via bem e verdadeiramente feliz... E, no entanto, ali estava, em meio a notícia que achou que iria enlouquecê-lo, radiante como o sol.

Por causa do filho deles.

— Onde diabos estão todos? – Ele se queixou enquanto olhava para as escadas.

— Você acabou de chamá-los, há mais ou menos dois segundos...

As pessoas apareceram correndo, ficando preso em um congestionamento na parte superior da escada, apesar da coisa ser enorme, o som de pés grandes batendo pelo vestíbulo quando os Irmãos finalmente chegaram com suas companheiras a reboque.

— Aqui. – Ela disse, pegando um pedaço de papel. — Mostre a eles esta... É uma imagem do ultrassom.

Wrath girou-a para segurá-la com um braço só... E com o outro braço pegou o papel e empurrou como se tivesse o tamanho de um outdoor e fosse feito de ouro.

— Olhem! – Ele gritou. — Olhem! Meu filho! Meu filho!

Beth teve que rir mesmo que suas lágrimas corressem mais forte.

— Olhem!

Seus Irmãos formaram um círculo ao redor do que ele tinha na mão e ela se surpreendeu... Cada um deles tinha um brilho em seus olhos, seus sorrisos viris provando que estavam tentando controlar suas emoções.

E então ela olhou para Tohr. Ele estava atrás, ao lado de Autumn. Quando sua companheira olhou para cima com preocupação, pareceu preparar-se para se aproximar.

— Estou tão feliz por você. – O Irmão disse para os dois.

— Oh, Tohr. – ela disse, estendendo as mãos.

Quando o Irmão as apertou, Wrath baixou o braço como se tentasse esconder o ultrassom.

— Não. – Tohr cortou. — Mantenha-o à mostra, tenha orgulho. Tenho um bom pressentimento sobre isto e estarei compartilhando sua felicidade... O tempo inteiro.

— Ah, merda. – Wrath disse, puxando o Irmão para um forte abraço. — Obrigado, cara.

Houve tantas vozes e pessoas felicitando-os, mas havia outro rosto que ela queria ver.

John também estava por perto, e ao cruzar o olhar com o dela, começou a sorrir... Mas não como Wrath. Ele estava preocupado.

Eu vou ficar bem. Ela murmurou.

Embora não tivesse bem certa de acreditar nisto. Culpava a si mesma, não sabendo que já estava grávida, por tentar forçar aquela sua necessidade... E especialmente por ter conseguido. E se aquele enjoo violento fosse um sintoma de aborto voluntário? E se...

Saindo do transe, ela se aferrou a duas coisas: uma, ela tinha ouvido aquele coração batendo, alto e forte; e dois, a médica lhe tinha dito maravilhas sobre o estado do bebê.

De repente o mar de gente se abriu... E ali estavam.

Bella, com Nalla nos braços, Z de pé ao lado de suas meninas.

Beth desabou novamente quando a mulher se aproximou. Deus, era impossível não se lembrar de como Nalla tinha começado tudo aquilo, pondo em movimento uma necessidade que tinha se tornado inegável.

Bella chorava também, ao parar. — Nós só queremos dizer hurra!

Naquele momento, Nalla estendeu os bracinhos para Beth, com um sorriso mais gengiva do que dentes no rostinho, irradiando pura alegria.

Não havia como recusar aquilo, não, em absoluto.

Beth tirou a pequena menina dos braços de sua mãe e a posicionou em seu peito, segurando suas mãos e dando beijos, beijos, beijos.

— Você está pronta para ser uma ir… – Beth olhou para Z e então seu marido. — …Uma irmãzona?

Sim, Beth pensou. Por que era isso o que a Irmandade e suas famílias eram. Mais próximos do que irmãos, mais fortes do que o próprio sangue por terem sido escolhidos.

— Sim, ela está. – Bella disse, ao enxugar seus olhos e olhar para trás, na direção de Z. — Ela está tão pronta.

— Meu irmão. – Z levantou sua mão, seu rosto cheio de cicatrizes com um meio sorriso, seus olhos amarelos cálidos. — Parabéns.

Em vez de falar qualquer coisa, Wrath empurrou o ultrassom no rosto de seu Irmão. — Você o vê? Vê meu filho? Ele é grande, certo, Beth?

Ela beijou o cabelo super suave de Nalla. — Sim.

— Grande e saudável, certo?

Beth riu um pouco mais. — Grande e saudável. Absolutamente perfeito.

— Perfeito! – Wrath gritou. — E foi um médico que disse... Quero dizer, alguém que se formou em Medicina.

Até mesmo Z começou a rir daquele ponto.

Beth devolveu a Nalla para seus pais. — E a Dra. Sam disse que ela fez o parto de mais de quinze mil bebês em sua carreira.

— Veja! – Wrath gritou. — Ela sabe das coisas. Meu filho é perfeito! Onde está o champanhe? Fritz! Traga o maldito champanhe!

Balançando a cabeça, Beth respirou fundo e decidiu aproveitar o momento. Ainda havia um longo caminho à frente deles, culminando com o parto... O qual, Cristo, já a deixava completamente aterrorizada. Com tantos obstáculos adiante, e tantas experiências desconhecidas, era tentador perder-se em uma espiral de neuroses.

Mas pela próxima hora, apenas queria curtir com Wrath toda esta alegria... E fazer parte da celebração deste milagre.

Era malditamente engraçado: Todo o tempo que tinham estado brigando por causa de sua vontade de ter um filho… E já tinha um no forno.

Às vezes, a vida era realmente irônica.

Descansando de volta nos braços de seu marido, ela apenas desfrutou de vê-lo receber os cumprimentos de seus Irmãos, e inclusive aceitou uma taça de Fritz.

Seu hellren era um cara alto. Mas naquele momento? Ele envergonharia o Monte Everest.

— Você pode me soltar. – Ela disse com um sorriso.

O cenho franzido que lhe disparou era sua maneira de dizer que era uma parede de tijolos, se ela já viu uma. — Absolutamente não! Você é minha esposa, e está carregando minha criança. Terá sorte se eu deixar seus pés tocarem o chão daqui a três anos.

Com isto, ele se curvou e a beijou na boca.

Ah, inferno, talvez devesse discutir aquilo, tipo “este bebê é nosso, e não só seu”... mas não teve vontade. Tinha ficado tão apavorada e com medo que ele não aceitasse e amasse a criança, que estava aliviada e mais do que feliz por ele já se sentir tão possessivo.

E já apaixonado.

O que era muito bom para seu futuro filho: Quando Wrath, filho de Wrath, decidia que alguém lhe pertencia? Ele arrastaria a Lua para a Terra, se fosse preciso.

Esta reação era exatamente o que ela tinha tido medo de desejar.

Wrath ergueu seu copo. — Ao meu filho. – Ele gritou acima da multidão. — E mais importante… À minha esposa.

Quando ele virou seu rosto para ela, o amor que sentia fazia seus olhos brilharem tão ferozmente, que ela podia ver a pálida luz verde, mesmo através das lentes do óculos escuros.

A casa inteira gritou de alegria… E todos beberam.

Exceto ela, claro.

Porque estava grávida, ela pensou com um sorriso grande o suficiente para rivalizar com o de Wrath.

 

Wrath deixou-se levar totalmente pelo momento. Com seus irmãos o cercando, e um novo propósito lhe dando razão de viver, ele sabia que esta era uma das melhores noites de sua vida. Ou... Merda, ainda era dia, não era?

Quem caralhos se importava?

Era difícil explicar, até mesmo para ele mesmo, o que exatamente tinha mudado. Mas de repente tudo parecia diferente, desde a forma como apertava as mãos de seus Irmãos a como sorria para suas companheiras e como mantinha Beth no colo.

E ela era a melhor parte de tudo.

Com o champanhe fluindo, e o riso ecoando pelo vestíbulo, não podia acreditar que tinha chegado àquele momento de sua vida. Há apenas uma noite quase tinha perdido o trono e potencialmente sua companheira. E ali estava ele, com a coroa ainda em sua cabeça e sua esposa grávida com seu filho na barriga.

Já de quatro meses.

Recordou, analisando as semanas e os meses anteriores. Foi em uma noite, há quatro meses, quando Beth tinha ido encontrá-lo no escritório durante o dia. Àquela altura, não ficavam juntos há um tempo, o que com tudo o que andava acontecendo... E ele tinha ficado agradavelmente surpreso pela agressividade com a qual ela o tinha “atacado”. Depois... Pensando melhor, o cheiro dela tinha realmente mudado... Aprofundou-se, ainda que não da mesma forma que em uma gravidez de uma fêmea vampira.

O tempo todo, ela estava grávida.

O destino tinha servido aos dois: dando a ela o que queria e temia jamais ter, e o que ele nem sabia que precisava.

Ao ouvir o bocejo de sua companheira, ficou alerta. — Certo, hora de subir.

A multidão acalmou-se imediatamente, e ele concentrou-se em sua Beth. Aquilo aconteceria muito dali em diante, não apenas da parte dele, mas de seus irmãos. Eles sempre foram protetores com ela. Agora estando grávida? Ela iria ter vinte vezes mais daquela merda.

— E acho que preciso me alimentar novamente. – Sua Beth disse enquanto subia a escada com George fazendo uma pressão sutil em sua perna.

— Entendi. – Ele franziu o cenho. — O que a médica disse sobre o enjoo?

— Ela não acha que seja gripe. Mas já que ela não sabe de toda a estória da necessidade, que talvez seja a causa.

— Vou falar com Havers... Você não precisa ir.

— Isso seria realmente ótimo. Estou nervosa.

— Não se preocupe. Eu resolvo tudo.

E ele absoluta e positivamente o faria. Ele se sentia no controle do universo, sentia que uma parte antiga e familiar dele tinha despertado outra vez.

George o guiou até a porta que dava para a escada do terceiro andar e lá em cima, Wrath virou a esquerda.

Quando a porta se abriu, ele entrou, levando-a diretamente para a cama. — Você quer tomar banho? Uma chuveirada? A banheira?

Ela riu. — Eu só quero ficar aqui. Sinto-me como se tivesse andado numa montanha russa a toda velocidade.

Sentando-se ao lado dela, ele colocou a mão sobre sua barriga. — Eu amo isso.

— Ama o quê?

— Esta coisa toda que está acontecendo. – Ele sorriu. — Nosso bebê.

— Claro que sim.

— Eu queria poder ver. Ver o ultrassom.

— Eu também.

— Mas tudo bem. – Ele acariciava em círculos, tentando imaginar como seu filho seria. — E ele é forte.

— Sim. Como seu pai.

— Aqui, tome minha veia. – Ele estendeu seu pulso para sua boca. — Por favor.

— Oh, obrigada.

A medida que seus dentes se afundavam em sua pele, ele a quis em sua garganta, mas não confiava em si mesmo. Ele já estava todo excitado, e aquele tipo de merda sempre terminava de um determinado jeito... E de jeito nenhum aquilo voltaria a acontecer enquanto ela estivesse grávida. Não. Não com seu filho ali...

A mão de sua esposa caiu em seu pau duro... E ele quase pulou — Merda!

Ela soltou sua veia. — Nós podemos fazer sexo, sabe.

— Ah, não. Não mesmo.

— Wrath, eu não estou doente e não é como se tivéssemos que nos preocupar se vou ficar grávida ou não. – O sorriso dela era tão convincente quando seu tom de voz. — Você já deu um jeito nisto.

— Eu dei mesmo, não dei?

— Estou tão feliz com tudo isto. – Ela disse, ao mesmo tempo que sentia-o tocar seu rosto. — Sobretudo com sua reação a tudo isto.

Parece que os dois tinham se surpreendido com a sua reação.

Acariciando sua barriga, pensou na vida que crescia dentro dela. — Quer saber qual a melhor parte de tudo?

— Diga. – Ela sussurrou.

— Você me deu algo… Que até então não sabia que precisava. É o maior presente que eu recebi... E tipo, completa-me em lugares que nem sabia que estavam vazios. E apesar de tudo? Eu não te amo nem um pouquinho a mais. Você continua tão importante para mim como sempre foi. – Ele curvou-se para baixo e deu um beijo sobre a camisa solta que ela usava... Uma das suas, na realidade, e aquilo era ótimo. — Eu estava completamente unido a você antes disso e continuarei depois disto... E para sempre.

— Você vai me fazer chorar de novo.

— Chore. E deixe que eu cuide de você. Eu cuido disto.

— Eu te amo tanto.

Ele foi para sua boca e a beijou uma vez, duas vezes, três vezes. — Certo. Para trás. Agora termine de se alimentar e descanse... E depois trarei comida.

— Nada de comida, por favor. Não agora. Sua força é tudo que eu preciso.

Amém por isso, ele pensou.

Wrath ficou na extremidade da cama por uma eternidade enquanto ela sugava seu pulso. Então, ajudou-a a chegar ao chuveiro, secou-a e a levou para os lençóis.

— Eu só vou descansar um pouco. – Ela disse, a deriva quando as persianas começaram a subir para a noite.

— Descanse o tempo que quiser.

Um filho. Um filho.

— Eu vou para o escritório. – Ele disse... Antes de conseguir se segurar.

Engraçado, isso era o que dizia todas as noites após a Primeira Refeição, a piadinha deles sobre como ele colocava a coroa para lidar com toda aquela merda.

— Estou tão contente. – Ela disse em voz sonolenta.

Engraçado… Naquele momento? Toda aquela coisa de Rei não parecia mais um fardo.

De fato, ao pegar a guia de George, sentiu-se surpreso com a facilidade ao descer os degraus e dirigir-se ao escritório. E ao entrar, aproximou-se da mesa, passou a mão pelos contornos entalhados... E fez uma pausa antes de sentar-se na cadeira de seu pai.

Foi com uma sensação de assombro que ele lentamente soltou seu peso. O trono rangeu como sempre fazia... E ele se perguntou se quando o seu pai se sentava nele também rangia? Não se lembrava daquele detalhe de sua juventude e desejou ter uma memória melhor.

Em vez de pedir a Saxton para entrar, ou verificar e-mails através de seu computador ativado por voz, franziu o cenho e tentou resgatar tantas lembranças do passado quanto pudesse. As que ele se lembrava eram nebulosas... Por causa de seus olhos defeituosos.

Deus, ele nunca tinha realmente pensado no lado humano de sua esposa... Mas esperava como o inferno que o novo DNA que ela trazia em si pudesse anular o seu defeito. Seria maravilhoso se seu filho nascesse com boa visão.

Seria tão bom se seu filho nascesse com bons olhos.

Mas e se não nascesse?

Então ele mesmo abriria o caminho e estaria lá para apoiar seu filho. Ser cego não era genial... Mas também não significava não ter uma vida.

Meeerrdaaa, pensar que esteve disposto a sacrificar uma criança apenas por ter medo de que ela pudesse ter um defeito. Estúpido. Tão estúpido. E realmente uma puta mancada de sua parte.

Graças a Deus, o destino tinha tomado um caminho melhor...

— Meu senhor. – Fritz disse.

— Entre! – Merda, ele realmente estava radiante... Era hora de baixar a bola um pouco, senão ia acabar se irritando.

— Um dos trabalhadores deseja uma audiência.

Ah, sim. E por um momento, ele quase voltou a seu padrão de evitar as coisas, mas então ficou em pé. — Eu descerei... Não.

Pensando melhor, ele se sentou de volta no trono. — Mande-o subir... Mas acompanhe-o, por favor? E peça a um dos Irmãos que o ajude. – Ele não estava disposto a confiar em ninguém além dos que moravam em sua casa.

— Imediatamente. – O mordomo disse. — Com prazer!

Parecia que ele não era o único imensamente feliz por ali.

Baixou o olhar para o chão. — Eu não sei o que estou fazendo aqui, George.

O encorajador apoio que recebeu foi exatamente o que precisava. Foda-se a glymera, de verdade.

Um pouco mais tarde, a voz forte de Vishous invadiu a sala. — Estou com seu visitante, certo?

— Traga-o.

Houve alguns sons de movimento e de repente, os odores na sala mudaram... Tão opressivamente que Wrath recuou.

Ele jamais tinha visto tamanha… Gratidão? Era aquilo o que era? Reverência? Era um conjunto de odores nascido de emoções profundas, com certeza.

— O encarregado está curvado diante de sua mesa, meu irmão. – V disse. — Ele tirou o chapéu.

O fato do encarregado estar chorando foi algo que Vishous propositalmente deixou de informar.

Wrath ficou em pé e deu a volta. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, uma corrente de palavras saiu da boca do humilde homem.

— Eu sei que foi você. Eu sei que só poderia ser você. – A voz do homem sufocou. — Eu jamais poderei pagá-lo... Como soube?

Wrath deu de ombros. — Eu só achei que fosse provável que sua filha precisasse de uma cadeira de rodas melhor. E um par de rampas.

— E a van. Aquela van… Como…

— Suponho que o dinheiro esteja um pouco escasso... Mesmo que você cuide bem de sua família. E quanto ao porquê, você esta me ajudando aqui, então queria ajudá-lo lá.

— Minha segunda shellan mal pode expressar seu agradecimento. Nem eu. Mas gostaríamos que ficasse com isto. Como uma homenagem digna de Vossa Alteza.

Wrath franziu o cenho, uma lembrança repentina do passado voltando para ele.

E o fez piscar forte.

Podia se lembrar de pessoas fazendo isto para seu pai, oferecendo ao Rei símbolos de agradecimento.

— Será uma honra. – Disse com voz rouca enquanto estendia as mãos.

O que foi colocado em suas mãos era liso e suave. — O que é isto?

Houve uma pausa desajeitada. Como se o homem não entendesse.

E foi neste momento quando Wrath soube que tinha chegado a uma encruzilhada. Curiosamente pensou em seu filho.

Trocando o leve peso de uma mão para outra, levou a mão ao rosto...

… E tirou seus óculos escuros.

— Eu sou cego. – Ele disse ao cidadão. — Eu não posso ver. Foi assim que eu soube o que seria importante para você e sua família. Tenho um pouco de experiência em me adaptar ao mundo.

O arfar foi ruidoso.

Wrath sorriu um pouco. — Sim, o título de Rei Cego não é apenas uma fofoca. E juro por Deus... Que não me envergonho dele.

Puta merda… Até dizer as palavras, ele não tinha percebido o quão inferior se sentia antes. O quanto tinha mantido escondido. Quantas desculpas ele tinha oferecido por causa de algo sobre o que não tinha o menor controle. Mas isto era passado.

Enxergando ou não, ele teria que estabelecer um exemplo neste mundo... E seria maldito se não estivesse à altura dele.

— Então, por favor. – Ele disse ao homem claramente surpreso. — Descreva o presente que ofereceu em minha honra.

Houve uma pausa muito longa. E o homem não foi o único que ficou surpreso. V estava emanando dúzias de Oh-Meu-Deus enquanto fumava como uma maldita chaminé em um canto.

O homem limpou a garganta. — É... Um, minha companheira, ela tece no modo tradicional do País Antigo. Ela vende para a Raça confeccionar bandeiras e roupas. Este é… O seu melhor trabalho, um que ela fez anos atrás e não teve coragem de vender. Levou um ano para terminá-lo... – A voz do homem se rompeu. — Ela disse que sabe agora por que não conseguiu vendê-lo. Ela quer que lhe diga que agora sabe que o estava guardando em sua honra.

Wrath afastou os óculos e passou a mão acima e abaixo pelo tecido. — Nunca senti nada tão fino... É como cetim. De que cor é?

— Vermelho.

— Minha cor favorita. – Wrath fez uma pausa. E então decidiu, Foda-se. — Eu vou ter um filho.

Ouviu um segundo arfar de assombro.

— Sim, minha amada e eu… Tivemos sorte. – Subitamente, a realidade de seu filho não ser o herdeiro do trono golpeou-o... E sentiu tristeza. Tristeza sim, mas também uma espécie de alívio. — Eu o usarei para recebê-lo quando nascer.

Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee, ouviu o terceiro arfar.

— Não, ele não será o herdeiro para o trono. – Wrath disse. — Minha esposa é metade humana. Então ele não poderá me suceder no trono... Mas tudo bem.

Seu filho poderia seguir seu próprio caminho. Ele seria... Livre.

E quando Wrath falou sua verdade, sem desculpas ou explicação, quando se envolveu nas capas da honestidade, quando disse as palavras que vinha mantendo escondidas sem nem perceber que o fazia...

Percebeu que ele também finalmente estava livre... E que seus pais, se tivessem a chance de vê-lo, o teriam aprovado.

Do jeito que ele era.

 

O Caldwell Galleria Mall ficava aberto até as dez horas da noite.

Ao se materializar em um canto escondido de seu extenso estacionamento, Xcor passou pelas filas de carros estacionados, seus passos largos encurtando a distância até uma entrada que tinha uma gigante placa vermelha sobre uma infinidade de portas.

Ele não tinha ideia do que estava fazendo aqui. Metido entre humanos. Com um propósito que, se apresentado por um de seus soldados, ele jamais teria deixado levar a cabo.

Empurrando as portas de vidro ao entrar, ele franziu o cenho. Roupas femininas abundavam à esquerda e à direita, todos os tipos de cores alegres... Que o fez pensar com carinho em soltar um lança-chamas para acabar com a tortura sobre suas retinas.

Mais à frente, haviam seções após seções de caixas de vidro exibindo esquisitices cintilantes, lenços pendurados em prateleiras e espelhos... Puta merda, haviam espelhos por toda parte.

Ao passar por eles, baixou os olhos. Ele não queria se lembrar de sua feiura. Especialmente essa noite...

Será que eles sequer tinham o que ele queria neste lugar?

Rondando o primeiro andar, ele podia sentir os olhos dos clientes sobre ele... E ficou claro que eles estavam se perguntando se iam acabar no noticiário da noite de uma maneira ruim. Ele ignorou a todos e subiu a escada rolante.

Foi no segundo andar que encontrou o departamento de moda masculina.

Sim, aqui, todos os tipos de camisas masculinas e calças e blusas e jaquetas estavam dispostos em cabides e mesas de exibição. E assim como no andar de baixo, a música soava de cima, em batidas baixas, enquanto a luz do teto destacava a mercadoria.

Que diabos ele estava fazendo aqui...

— Ei, eu posso ajudá-lo... Uoou!

Ao se virar e assumir posição de ataque, o vendedor humano negro saltou para trás e ergueu as mãos.

— Perdoe-me, – Xcor murmurou. Pelo menos ele não sacou uma de suas armas.

— Não tem problema. – O homem bonito e bem vestido sorriu. — Você está procurando algo específico?

Xcor olhou em volta, e quase voltou para escadas chique. — Eu preciso de uma nova camisa.

— Oh, legal, vai ter um encontro sexy?

— E calças. E meias. – Pensando bem, ele nunca usava cuecas. — E roupas de baixo. E uma jaqueta.

O vendedor sorriu e levantou a mão, como se fosse dar um tapinha amistoso no ombro de seu cliente... Mas, então, deteve-se ao claramente reconsiderar o contato.

— Que tipo de estilo você gosta? – Ele perguntou.

— Estar vestido.

O cara fez uma pausa como se não tivesse certeza de ter sido uma piada. — Ah… Certo, acho que posso achar algo para vesti-lo. Além disso, vai ser legal. Venha comigo.

Xcor o seguiu, porque ele não sabia mais o que fazer... Ele tinha iniciado aquilo; não havia razão para não seguir adiante.

O homem parou na frente de um expositor de camisas. — Então eu vou me basear em que seja um encontro, a menos que você diga o contrário. Casual? Você não mencionou um terno.

— Casual. Sim. Mas eu quero parecer… – bem, diferente dele mesmo, pelo menos. — Apresentável.

— Então eu acho que você vai querer uma camisa social.

— Uma camisa social.

O cara o encarou firmemente. — Você não é daqui, não é?

— Não, eu não sou.

— Eu percebi pelo sotaque. – O vendedor passou a mão pela estonteante variedade de camisas dobradas. — Esses são nossos cortes tradicionais. Eu posso dizer sem medi-lo que as peças europeias não vão caber em você... Você é musculoso demais nos ombros. Mesmo que pudéssemos acertar nos tamanhos do pescoço e braços, seu tórax não caberia. Você gosta de alguma destas cores?

— Eu não sei o que gostar.

— Aqui. – O homem pegou uma azul que lembrava a Xcor a cor de fundo de seu telefone. — Combina com os seus olhos. Não que não haja outras opções... Mas talvez seja melhor destacar o que você já tem. Alguma ideia do seu tamanho?

— XXXL.

— Nós precisamos ser um pouco mais exatos. – O vendedor tirou uma fita métrica. — Pescoço? Braços?

Como se para ajudá-lo a entender, o homem fez um círculo na frente de sua própria garganta.

Xcor olhou para si mesmo. Não vestia nada além da camiseta sem mangas mais limpa que tinha, um par de calças cargo, e suas botas.

— Eu não sei.

O homem estendeu a mão com a fita, mas depois hesitou. — Vamos fazer assim, que tal eu te dar isso e você simplesmente dá a volta no pescoço para eu ver o número.

Xcor pegou a coisa e fez o que ele pediu.

— Certo, uau. – O vendedor cruzou os braços sobre o peito. — Bem, você não vai usar gravata, vai?

— Gravata?

— Eu vou tomar isso como um não. Posso medir seu braço?

Xcor estendeu o braço esquerdo e o homem se moveu rápido. — Esse é quase normal em comprimento pelo menos. Largura? Você está no território do The Rock, fácil, fácil. Mas eu tenho uma ideia.

Um minuto e meio de procura depois, Xcor tinha três camisas diferentes para provar.

— Que tal calças? – O vendedor perguntou.

— Eu não sei meu tamanho ou preferência. – Poderia também ser eficiente. — O mesmo posso dizer sobre jaquetas.

— Eu tive a sensação que você iria dizer isso. Venha comigo.

Antes que ele percebesse, estava totalmente nu em um provador, tirando as roupas do corpo, as armas escondidas sob a pilha de coisas que ele tinha usado para sair.

— Como ficou? – Seu novo melhor amigo perguntou do outro lado.

Xcor olhou-se no espelho e sentiu suas sobrancelhas se erguerem. Ele estava... Não bonito, não. Ele nunca estaria bonito. Mas também não parecia tão estúpido quanto se sentia... Ou tinha aparência tão rústica quanto quando usava suas próprias roupas.

Tirou a jaqueta escura que lhe foi sugerida, atou suas armas e facas e, em seguida, colocou a coisa de volta. Ficava um pouco apertada na parte de trás, e ele não podia abotoá-la totalmente por isto... Mas ficava muito melhor que o seu casaco de couro manchado de sangue. E as calças ficaram apenas ligeiramente esticadas em suas coxas.

Saindo, ele entregou as outras duas camisas. — Eu vou levar tudo.

O vendedor bateu palmas. — Legal. Quanta diferença! Vai levar sapatos?

— Talvez mais tarde.

— Nós vamos ter uma liquidação no final do mês. Volte depois.

Xcor o seguiu até o caixa, e pegou uma tesoura de um porta-canetas para cortar as etiquetas que estavam saindo de seu pulso e sua cintura. — Vocês vendem essências?

— Oh, você quer dizer perfumes?

— Sim.

— Esse é outro departamento, do outro lado. Posso te mostrar onde ficam... Na verdade, experimente isto. – Ele abriu uma gaveta. — Tenho algumas amostras aqui, sim, o clássico Drakkar. Égoïste... Esse é bom. Polo... O tradicional. Oh, experimente esse.

Xcor aceitou um frasco pequeno, abriu a tampa e cheirou. Fresco, limpo… O cheiro da beleza masculina, caso houvesse uma fragrância para isto.

Basicamente tudo o que ele não era.

— Eu gosto desse.

— Calvin Klein Eternity. Muito tradicional... E as gatinhas adoram.

Xcor assentiu como se soubesse o que ele estava falando. Que mentira.

O vendedor registrou tudo. — Certo, seu total é de quinhentos e um dólares e noventa e dois centavos.

Xcor retirou as notas que tinha enfiado no bolso de trás. — Eu tenho isso, – ele disse, mostrando o dinheiro em suas mãos abertas.

As sobrancelhas do vendedor se ergueram. — Sim, não é tanto assim. – Houve uma pausa. — Você… Sim, certo, eu preciso de cinco daqueles, quatro desses, e duas daquelas pequenininhas.

Xcor tentou compreender as denominações que o cara dava às notas... Aparentemente, significavam algo.

— E aqui está o seu troco e recibo. Você quer uma sacola para suas roupas velhas?

— Sim, por favor. Obrigado.

Uma sacola grande branca com uma estrela vermelha foi passada sobre o balcão. — Obrigado por ter vindo, a propósito, meu nome é Antoine. Se você quiser voltar para comprar os sapatos no final do mês...

Depois de empurrar suas roupas velhas dentro, Xcor viu-se se fazendo uma reverência. — Sua ajuda foi muito apreciada.

Antoine levantou a palma da mão como se estivesse se preparando para dar novamente um tapinha amistoso no ombro dele. Mas, mais uma vez, ele se conteve e sorriu em seu lugar. — Acaba com ela, cara.

— Oh, não. – Xcor balançou a cabeça. — Isso não será necessário. Desta fêmea eu gosto.

 

Layla deixou a mansão às onze e quarenta e oito, esgueirando-se pelas portas francesas da biblioteca. Ninguém pareceu notar; Mas também, Rhage e John Matthew estavam vigiando os trabalhadores na sala de jogos, Wrath estava lá em cima em seu escritório com Saxton, Beth estava de repouso, os outros Irmãos estavam lutando, e Qhuinn e Blay estavam desfrutando de um momento de tranquilidade em sua folga.

Oh, e os empregados estavam ocupados com a limpeza após uma Primeira Refeição comemorativa.

Não que ela estivesse vigiando a todos na casa.

Não.

Desmaterializando-se fora do terraço da parte de trás, ela viajou para o prado que estava se tornando tão familiar, e retomou sua forma novamente ao pé da árvore de bordo.

Vestida em sua tradicional túnica, tinha um casaco para se aquecer, no bolso tinha colocado um Mace[7].

Qhuinn insistiu em ensiná-la autodefesa e também como dirigir. Então, caso o outro macho aparecesse, ela estava preparada.

Deslizou a mão no bolso do casaco e apalpou o cilindro, teve o cuidado de caminhar ao redor da árvore. E observou cuidadosamente a extensão do prado coberto de neve.

Ela estava só.

Querida Virgem Escriba, ela estava realmente...

Lá na base da subida, uma figura se apresentou vinda do próprio ar... E quando a brisa mudou de direção, ela apreendeu o aroma.

Era ele. E… Mais alguma coisa? Algum tipo de fragrância que era ao mesmo tempo masculina... E deliciosa.

Xcor levou muito tempo para se aproximar. Seus passos eram regulares e vagarosos e quando ele subiu ao monte e veio até ela, carregava algo sob o braço. Ela sentiu o corpo responder imediatamente à sua presença, seu coração acelerando, as mãos suando, sua respiração ficou entrecortada.

Ela disse a si mesma que era medo. E irresistivelmente, isso era verdade. Mas havia algo mais...

As roupas dele estavam diferentes, ela percebeu quando ele chegou à sua frente. Mais refinadas. Atraentes.

Como se ele tivesse, talvez, se vestido para ela?

Tentando aliviar a queimação em seus pulmões, ela respirou fundo e franziu o cenho. — Seu cheiro está… Diferente.

— Ruim?

Ela balançou a cabeça. — Não. Não Nem um pouco. E suas roupas… Você está muito bem.

Ele não respondeu, e seu rosto não revelava nada... De modo que ela não pôde tirar qualquer conclusão.

O silêncio se prolongou. Até que ela não aguentou mais. — Bem…?

Pelo menos ele não fingiu interpretar mal sua pergunta. — Eu tenho pensado sobre tudo o que você me ofereceu.

E agora seu coração batia tão alto, ela mal podia ouvir sua voz profunda.

— O que você diz? – Ela exigiu em uma voz rouca.

— Eu concordo com suas condições.

Era o que ela esperava. E, no entanto, mesmo assim, ela começou a tremer incontrolavelmente.

— Em troca do seu uso, vou cancelar todos os meus esforços no que diz respeito ao trono.

Pelo menos havia alívio naquilo, exceto ela saber que tinha que cumprir com a sua parte no trato.

— Não se preocupe, – ele disse rispidamente. — Não será essa noite.

Seu alívio se expressou em um suspiro muito alto... O que tornou o rosto dele ainda mais sombrio.

— Este adiamento não é indefinido. – Ele pegou o que carregava sob o braço. — Você vai me dar o que eu quero, mais cedo ou mais tarde.

Com um movimento rápido, ele desembalou o que provou ser um cobertor e colocou-o aberto no chão.

Olhando para ele, Layla não sabia o que fazer.

— Sente-se, – ele ordenou. — E cubra-se com isto.

Quando ela obedeceu e se enrolou na coberta, ela se perguntou o que ele estava fazendo...

Xcor sentou-se ao lado dela, passando os braços em torno do joelhos. Olhando fixamente à frente, sua expressão era inescrutável.

Seguindo o exemplo, ela fez o mesmo. Imitando até a postura dele.

Pelo menos ela tinha salvo Wrath. E desde que seu próprio bebê estivesse em segurança, ela iria em frente e faria o que fosse necessário por seu Rei.

Não importa o que custasse.

 

Na noite seguinte, Beth deitou em sua cama de casal e segurou um extraordinário pedaço de tecido nas mãos. — Isso foi feito por alguém?

— Sim, a shellan do mestre de obras.

Estreitou os olhos e tentou imaginar como a trama incrivelmente fina e regular podia não ter sido feita por uma máquina. – É totalmente surpreendente.

— Eu disse a eles que nosso filho o usará quando nascer.

Com um estremecimento, ela tentou ignorar a pontada de puro terror que a percorreu. Wrath, que tinha estado em pânico sobre tudo o que envolvia o parto antes que ela engravidasse, parecia ter se esquecido disso, no momento. Ela, por outro lado? Meio que andava fingindo estar despreocupada sobre o assunto.

— Sim, claro. – ela murmurou. — Eu amo a cor.

— Eu tinha de fazer algo pelos dois. Ele é um bom sujeito. Eu não esperava nada em troca…

Quando Wrath saiu do closet, estava vestido com seu uniforme, e ela teve que tomar um segundo para admirar a vista. Seus cabelos balançavam soltos, quase até os quadris estreitos. Seus braços magníficos mostravam todos os músculos, graças a camiseta sem mangas. E aquelas calças de couro...

— Eu acho que ela trabalhou nisso por um ano...

— Você vai voltar a fazer sexo comigo? Ou eu tenho que esperar cinco meses?

Parada. Súbita.

Mas pelo menos, ela sabia que seu marido estava prestando atenção. — Vamos, Wrath. Como eu disse ontem, eu estou grávida, não doente.

— Ah…

Ela olhou fixamente para os quadris dele, observando sua excitação tomar forma, querendo aquela longa e dura ereção dele.

— Bem, pelo menos eu sei que você me quer, – ela murmurou.

— Nunca duvide disso.

— Então, que tal agora. Porque você parece... Muito bem. – Os olhos dela subiram e desceram novamente. — Você ficou maior de repente? Quero dizer, isso é um taco de beisebol em seu bolso ou você só está feliz em me ver? Venha aqui e me deixe provar sua mercadoria, garotão.

Ele deixou cair a cabeça para trás. — Beth…

— O queeeeeee. Qual é o problema... Olha, temos que conversar sobre isso. Esse negócio de abstinência não é bom para você e nem para mim.

— Meu filho está ai dentro, certo? E só... Isso só não parece… Certo.

Beth não queria rir, mas não conseguiu se conter. — Me desculpe. – Ela levantou as mãos quando ele franziu a testa, como se estivesse puto. — Honestamente, eu não estou tirando sarro de você.

— Oh, é mesmo?

— Venha aqui. – Ela estendeu os braços. — E não, eu não vou te seduzir. Palavra de escoteiro.

Ele andou em seus pés descalços, as meias pretas penduradas em suas mãos hábeis. Parecia absurdo sentar o Rei dos vampiros para uma conversa encorajadora... Especialmente ele sendo tão forte como era. Mas ela ia enlouquecer se não pudesse ter essa conexão sexual. E ele também.

— Eu quero estar com você, — ela disse, — Mas só se você estiver confortável com isso. Não vai machucar o bebê... Você mesmo pode ligar para a médica e perguntar. Ou converse com Z, ele e Bella ficaram juntos enquanto ela estava grávida. Ela me disse que sim. Converse com quem precisar, mas, por favor, repense sua decisão. Estar com você precisa fazer parte de tudo isso.

Quando ele estalou os dedos como se estivesse considerando as coisas, ela olhou fixamente para as tatuagens que corriam até o interior dos antebraços dele.

Ela tentou imaginar um filho dela com um conjunto daqueles e estendeu a mão, virando uma das mãos dele, de forma a poder passar as pontas do dedo sobre os símbolos.

— Será que ele também fará tatuagens como estas? – Tantos nomes, ela pensou. — Ou por eu ser mãe dele, não lhe será permitido...

— Foda-se essa merda. Ele poderá perfeitamente fazê-las... E serão feitas por V. Mas só se ele quiser.

— Estou surpresa.

— Com o quê?

— Com o tanto que eu quero que ele queira. Eu quero que ele seja exatamente como você.

Houve uma longa pausa e Wrath teve que pigarrear. — Isso é praticamente o melhor elogio que alguém já me fez.

— Eu não sei... Eu só sinto que você é o homem perfeito.

— Agora você está me fazendo corar.

Ela riu rapidamente. — É verdade.

— Eu xingo. Constantemente. Eu tenho pavio curto. Sou mandão com as pessoas que me rodeiam, inclusive com você.

— Você também é um grande guerreiro. Grande amante... Embora meu filho nunca, jamais fará sexo... Não, não vou pensar nisso, e se nós tivermos netos, eles serão concebidos imaculadamente. Espere, onde eu estava... Oh, sim, então você também é muito leal. Você nunca olhou para outra mulher.

Wrath ergueu o dedo indicador. — E isso seria verdade mesmo se eu não fosse cego.

— E você é inteligente. Ótima aparência...

Ele se inclinou. — Você está tentando me bajular para que eu faça sexo com você?

— Está funcionando?

— Talvez. – Ele beijou seus lábios suavemente. — Apenas me dê um pouco de tempo. Ainda ontem você foi atendida às pressas pela doutora porque estava vomitando.

Ela passou a mão pelo seu rosto e sua mandíbula firme. — Eu esperarei por você. Sempre.

— Fico feliz. – Ele voltou a se sentar. — Então como está o estômago? Você quer comida? A doutora disse que você precisa ganhar um pouco de peso, certo?

— Não sinto vontade de comer nada. Mas vou tentar algumas dessas bolachas de água e sal e refrigerante daqui a pouco. Layla disse que era a única coisa que conseguia manter no estômago.

— Boa ideia. Quando você vai ver a Doutora de novo?

— Bem, essa foi a outra parte do compromisso. iAm teve que trabalhar um pouco de magia na pobre mulher... Naturalmente, meu exame de sangue não foi nada do que eles já tenham visto antes, embora as taxas dos hormônios da gravidez acabaram por serem suficientemente normais. Ela quer que eu volte em um mês, a menos que haja qualquer alteração. Dra Jane disse que tentaria conseguir uma máquina de ultrassom para a clínica, eles têm algum equipamento portátil para ortopedia, mas não tem nada especificamente para gravidez que faça processamento de imagens em 3D. Infelizmente, é o tipo de equipamento que custa muito caro.

— Qualquer coisa que eles precisem, podemos comprar.

Beth assentiu e caiu em silêncio.

Depois de um momento, ela pegou a grande mão do marido e esfregou o polegar sobre o diamante negro dele.

— O que você vai fazer hoje à noite? – Mesmo que ela soubesse a resposta.

— Eu vou ficar em minha mesa.

Ela sorriu. — Eu adoro quando diz isso agora.

— Sabe... Eu também. – Ele deu de ombros. — É engraçado, eu me sentia muito inadequado nesse trabalho. Sabe, quando comparado com o meu pai, blá, blá, blá. Mas eu era o único que não me aprovava, não ele. E não sei, eu meio que deixei essa bobagem para lá.

— Fico feliz.

— Sim, é uma coisa boa. – Ele franziu a testa. — Eu só queria que houvesse alguma forma de... Não sei, eu gostei de ajudar aquele mestre de obras. E existem outros como ele lá fora... Tem de ter. Mas eu não sei como chegar até eles. Meu pai costumava tirar esta merda de letra, falava com as pessoas... Pessoas de verdade, não aquela porcaria da glymera...

Beth sentou-se rapidamente. — Tenho uma ideia. Sei exatamente o que fazer.

Ele olhou para ela, e o sorriso lento que marcou seu rosto foi a coisa mais sexy do mundo. — Sabe o quê? – ele disse. — Eu amo sua mente. Totalmente.

 

Wrath girou a perna esticada ao redor, trazendo-a em um círculo completo. E o contato se fez exatamente onde ele quisera – no alto, e no rosto.  

Tohrture se moveu no ritmo do impacto, girando em um círculo, empunhando sua espada de modo que a lâmina passasse bem perto do peito de Wrath. Só que não chegou a diminuir a distância. Nenhum sangue foi derramado, nenhuma roupa foi cortada.

Mas Wrath sabia que não devia desfrutar a pequena vitória. Saltando para trás sobre seus pés, deu uma cambalhota no ar e aterrissou solidamente, definindo sua posição de combate, levantando ambas as adagas...

— Solte as lâminas, – Ahgony gritou.

Sem perder o ritmo, ele as soltou, enfrentando o adversário de mãos vazias.

Tohrture veio para ele em pleno ataque, sem amenizar a velocidade nem a força, e Wrath ficou muito quieto. No último segundo, quando o grito de guerra do Irmão soou e ecoou na caverna iluminada por tochas, Wrath se agachou no chão e pegou o lutador pelos tornozelos com um bote explosivo.

Tohrture caiu para frente... E como Wrath tinha aprendido, a última coisa que se poderia querer era um Irmão com uma espada sobre você. Saindo do caminho, ele pulou de volta para seus pés. Isso era fundamental. Sempre se manter em pé.

Tohrture fez o mesmo, ficando em pé um momento depois, a espada erguida, a nível dos olhos. Ambos respiravam com dificuldade, e agora, depois de quantas noites de treinamento, Wrath não era o único com hematomas.

A espada fez um assobio rouco quando Tohrture começou a girá-la de frente para trás de ambos os lados de seu enorme corpo volumoso.

Wrath não teve nem consciência dos cálculos que fazia... Onde o peso de seu oponente estava dividido, para onde aqueles olhos estavam olhando, onde os pequenos grupos musculares se contraiam. Mas era tudo parte de seu treinamento, as coisas que uma vez pareceram estranhas, se tornavam uma segunda natureza.

Vindo do nada, ele foi atacado pelas costas, um peso enorme o levou para o chão. Antes que ele pudesse respirar, virou-se e se viu preso pela garganta com uma gravata.

Crack!

O impacto o deixou sem reação, seus braços caíram ao chão, cheio de sujeira.

— Chega! – Ahgony gritou.

No mesmo instante, o peso o deixou, Night afastou-se, seu rosto mostrando preocupação naquele momento, ao invés de agressão.

Wrath se forçou a rolar e apoiar sua parte superior do corpo acima do chão. Lutou para respirar pela boca que sangrava, ele deixou que o jato sanguíneo caísse no chão sujo com a força da gravidade.

A dor queimava como brasa em seu rosto, e enquanto ele esperava que ela amenizasse, lembrou-se do inicio de tudo isso... Como a sensação da dor uma vez o deixara perturbado, assustado, distraído. Agora não mais. Agora ele conhecia o padrão do alívio: Como a dormência inevitavelmente viria, como sua mente clarearia e ele estaria novamente em pé.

Pingo. Pingo. Pingo.

Seu sangue era vermelho brilhante ao formar uma poça crescente sob seu rosto.

— Chega por hoje, – Ahgony anunciou. — Bom trabalho, meu senhor.

Wrath se apoiou de joelhos de modo que seu torso ficasse na vertical. Ele sabia que não devia tentar se levantar ainda. Seu crânio estava muito zonzo para isso. Espera… Espera…

— Aqui, senhor, permita-me, – Night disse, oferecendo sua mão.

— Devemos chamar o curador? – alguém disse.

Wrath fechou os olhos e sentiu seu corpo desabar. Mas então ele imaginou sua amada shellan, deitada na cama deles, sua pele da cor das nuvens.

Levantando-se por conta própria, cuspiu o sangue que restava em sua boca.     — Novamente, – ele disse aos reunidos. — Faremos… Novamente.

Houve um momento de pausa, a luz bruxuleante das tochas sobre os outros machos na caverna de treinamento secreta.

E então os Irmãos se curvaram diante dele de um modo que notou que começaram a fazer recentemente, não com cortesia, não como alguém saudando ou se despedindo, como era costume aristocrático.

Esse era com respeito.

— Como quiser, meu senhor, – Ahgony disse. Antes de gritar mais uma vez,     — De novo!

 

— Aonde você vai?

Abalone fez uma pausa no processo de colocar o casaco. Fechando seus olhos, ele recompôs a expressão do rosto antes de se virar e encarar sua filha.

— A lugar algum, meu bem. – Ele sorriu. — Prossiga com suas lições...

— Por que esta carta? – Ela indicou o envelope aberto em sua mão. — Onde você vai?

Ele pensou na proclamação pendurada sobre a lareira. A que levava o nome de seu pai. E então, preocupado, olhou para o que ela trazia em sua delicada mão.

— Fui convocado pelo Rei. – Ele disse firmemente. — Devo obedecer.

Sua filha empalideceu, cruzando os braços ao redor de seu corpo. — Vai voltar?

— Eu não sei. – Se aproximou dela, puxando-a para si. — Isto depende de Vossa Majestade...

— Não vá!

— Nada lhe faltará. – Desde que fossem mantidos os recursos que certa vez foram dados pelo pai do atual Rei a ele. Mas então, ele o mantinha escondido em muitos lugares secretos. — Fedricah sabe de tudo e cuidará de você. – Ele deu um passo para trás. — Eu não posso envergonhar minha linhagem. Seu futuro depende disto.

Se ele não compensasse sua ação covarde, sabia que ela poderia ser a próxima. E ele não aguentaria.

— Fique bem. – disse a ela em voz trêmula.

— Pai! – Ela gritou quando ele virou e caminhou para a porta.

Acenando para o mordomo, não conseguiu olhar o doggen se interpor e segurar sua filha.

Fora, ainda podia ouvir sua filha amada gritando seu nome e lamentando. E passou-se um tempo até ele ser capaz de convocar toda sua concentração para se desmaterializar... Mas eventualmente, conseguiu.

Prosseguindo até o endereço recebido, ele retomou forma em frente…

Bem, se este fosse o lugar onde seria executado, era um lugar elegante o suficiente para se perder a vida. A mansão ficava na melhor parte de Caldwell, uma beleza Federal com luz brilhante em todas as janelas e um alegre lustre na entrada convidativa.

Ele podia ver figuras se movendo do lado de dentro. Grandes.

Com o medo apertando sua garganta e enfraquecendo seus joelhos, caminhou até a porta da frente. Havia um botão para apertar na maçaneta de metal, e assim que o tocou, a enorme porta se abriu.

— Oi! Você deve ser Abalone?

Tudo que pode fazer foi piscar. A morena à sua frente vestia roupas soltas, seu cabelo enrolado nas pontas, os olhos azuis brilhantes, amigáveis e atentos.

— Eu sou Beth. – Ela estendeu a mão. — Estou realmente feliz por ter vindo.

Ele baixou o olhar para a mão dela e franziu o cenho. Aquilo era… O Rubi Saturnino em seu dedo? Queridíssima Virgem Escriba, esta era a...

Abalone caiu de joelhos diante dela, curvando sua cabeça quase até o chão polido. — Vossa Alteza, eu não sou merecedor...

Duas botas pretas volumosas entraram em seu campo de visão. — Ei, meu homem. Obrigado por vir.

Tinha de ser um sonho.

Abalone ergueu seus olhos, para cima, bem acima… O maior vampiro macho que já tinha visto olhava para ele. E realmente, com aquele cabelo preto longo e aqueles óculos escuros, ele sabia exatamente quem ele era.

— Vossa Alteza, eu...

— Não leve a mal, mas você poderia se levantar? Eu gostaria de fechar esta porta. Minha esposa está ficando com frio.

Se erguendo do chão, ele percebeu que tinha se esquecido de tirar seu chapéu. Com um movimento brusco, ele o arrancou da cabeça e colocou na frente de seu corpo.

E então tudo o que pode fazer foi olhar de um lado para outro... E então para trás, quando dois homens tão grandes quanto ele, que deveriam ser membros da Irmandade, moviam cadeiras através do vestíbulo.

— Este é ele? – Perguntou o magnificamente bonito.

— É. – O Rei respondeu, estendendo o braço à direita. — Vamos entrar aqui, Abe...

— Você vai me matar? – Abalone falou sem se mover.

As sobrancelhas da rainha se ergueram. — Não. Bom deus, não, por que faríamos isto?

Wrath colocou a mão no ombro de Abalone. — Eu preciso de você vivo, amigo. Preciso de sua ajuda.

Convencido de que acordaria a qualquer momento, Abalone seguiu aturdido para um cômodo adorável que deveria ser a sala de jantar, dado o lustre de cristal e a lareira proeminente. Mas não havia uma grande mesa, nem uma fila de cadeiras, e nem um aparador. Ao invés disto tudo, em frente à lareira, um par de poltronas foram posicionados de frente um para outro e havia outros sofás confortáveis e bancos ao lado. Uma escrivaninha tinha sido posicionada em um canto próximo, na qual um bonito homem loiro em um terno alinhado, trabalhava com uma interminável papelada.

— Sente-se, Abe... – O Rei disse quando se sentou em uma das poltronas.

Abalone obedeceu... Era bem melhor que uma guilhotina, afinal.

O Rei sorriu, seu rosto aristocrático e severo, se aquecendo um pouco. — Eu não sei o quanto você sabe sobre meu pai. Mas ele costumava fazer audiências com cidadãos. Minha esposa leu seu e-mail depois daquela reunião do Conselho... E você mencionou que trabalhava em uma associação deles?

Abalone olhou de um lado para outro entre o Rei e sua companheira, que tinha se sentado na outra poltrona, tomando um refrigerante.

Os dois tinham mentido, pensou de repente. Eles estavam muito juntos, seu respeito e devoção mútuo eram óbvias.

— Abe?

— Ah… – Não era o que ele esperava disto em qualquer nível, embora lhe agradasse muito a ideia da glymera ter sido passada para trás. — Sim, mas é… Se trata mais de uma pequena afiliação, na verdade. Existiam questões a serem avaliadas e... Não que eu estivesse tentando fazer o seu papel...

O Rei levantou as mãos. — Ei, eu agradeço. Eu só quero ajudar.

Abalone engoliu em seco.

— Você quer um refrigerante? – Alguém perguntou.

Foi um Irmão de cabelos pretos, cavanhaque, e gélidos olhos prateados, além de um conjunto de tatuagens em uma das têmporas.

— Por favor. Obrigado. – Abalone respondeu fracamente.

Dois segundos mais tarde, o guerreiro entregou uma Coca-Cola gelada em um copo. Que se mostrou a melhor coisa que Abalone já tinha saboreado.

Recompondo-se, ele murmurou. — Perdoe-me. Achei que o tinha desagradado.

— Nem um pouco. – Wrath sorriu novamente. — Você vai ser muito, muito útil para mim.

Abalone ficou olhando o copo efervescente. — Meu pai serviu ao seu.

— Sim. E serviu muito bem, posso dizer.

— Através da generosidade de seu sangue, o meu prosperou. – Abalone tomou outro gole, sua mão trêmula fazendo o gelo tilintar. — Posso dizer algo sobre seu pai?

O Rei pareceu ficar tenso. — Sim.

Abalone encarou os óculos escuros. — Na noite em que ele e sua mãe foram assassinados, uma parte de meu pai também morreu. Ele nunca mais foi o mesmo. Eu posso lembrar nossa casa de luto por longos sete anos, os espelhos cobertos por tecidos pretos, o incenso queimando, os umbrais pintados de negro.

Wrath esfregou o rosto. — Eles eram boas pessoas, meus pais.

Abalone pôs o refrigerante de lado e saiu da poltrona, ficando de joelhos ante seu Rei. — Eu o servirei da mesma maneira que meu pai o fez, até a medula.

Abalone teve vaga consciência de que outros entraram na sala e estavam olhando para ele. Ele não se importou. A história tinha dado um giro completo… E ele estava preparado para ir adiante com orgulho.

Wrath anuiu uma vez. — Estou fazendo de você meu principal conselheiro. Aqui e agora mesmo. Saxton. – Ele disse. — O que eu preciso fazer?

Uma voz culta respondeu suavemente. — Você acabou de fazê-lo. Eu prepararei o documento.

O Rei sorriu e estendeu a mão. — Você é o primeiro membro da minha corte. Boom!

 

— Eu sei onde você foi ontem à noite.

Xcor parou no meio do beco e não se virou. — Sabe?

A voz de Throe era impassível. — Eu o segui. Eu a vi.

Agora ele girou sobre suas botas de combate. Estreitando o olhar para seu homem de confiança, disse. — Cuidado com o que vai dizer em seguida. E nunca mais volte a me seguir.

Throe bateu a bota. — Eu conversei com ela. O que diabos esta fazendo...

Xcor se moveu tão rápido que em menos de uma batida de coração o outro macho se viu preso contra uma parede de um edifício, lutando para respirar através de sua garganta pressionada.

— Você não tem direito de questionar isto. – Xcor se segurou para não sacar a adaga, mas foi difícil. — O que ocorre dentro de minha vida particular não é da sua conta. E me permita esclarecer: não se atreva a voltar a se aproximar dela, se quiser viver para morrer de causas naturais.

A voz de Throe soou estrangulada. — Quando tomarmos o trono...

— Não. Chega disto.

As sobrancelhas de Throe se ergueram. — O que?

Xcor soltou o macho e perambulou em volta. — Minhas ambições mudaram.

— Por causa de uma fêmea?

Antes dele poder evitar, puxou uma de suas armas e apontou diretamente para a cabeça de Throe. — Cuidado com seu tom.

Throe lentamente ergueu suas mãos. — Apenas pergunto pela mudança súbita...

— Não é por ela. Não tem nada a ver com ela.

— O que é então?

Pelo menos Xcor podia dizer a verdade. — Aquele macho desistiu da fêmea a quem tinha se emparelhado para manter o trono. Eu o soube de boas fontes. Por ter se disposto a fazer isto? Ele pode ficar com a maldita coisa.

Throe exalou lentamente.    

E não disse nada mais. O guerreiro apenas encarou os olhos de Xcor.

— O quê? – Xcor exigiu.

— Se você quiser eu diga mais alguma coisa, vai ter que baixar a arma.

Passou-se um tempo antes de seu braço obedecer os comandos de seu cérebro. — Fale.

— Você está cometendo um erro. Estamos a ponto de grandes progressos... E haverá outro ângulo.

— Não, para nós não haverá.

— Não tome esta decisão por uma paixão.

No entanto, este era o problema. Ele temia ser muito mais que isso. — Eu não estou.

Throe caminhou ao redor, mãos nos quadris, a cabeça balançando de um lado para outro. — Isto é um erro.

— Então forme seu próprio bando e tente vencer. Não vai funcionar, mas prometo a você um bom enterro, se ainda estiver por aqui.

— Suas ambições eram as minhas. – Throe o encarou firmemente. — Eu não quero desistir do futuro tão jovialmente.

— Eu não conheço esta palavra “jovialmente”, mas não me importo com o significado. É aqui onde estamos. Você pode partir se quiser, ou pode continuar e lutar conosco como sempre fizemos.

— Você está falando sério.

— O passado não me interesse mais como antes. Então vá se quiser. Leve os outros. Mas já a muitos anos nossa vida no País Antigo acabou, então não vejo porque a identidade do Rei deve ser tal preocupação para você.

— Isto é porque minha lâmina não foi afiada na pedra da coroa...

— O que fará agora? Essa é a única coisa que me importa.

— Eu acho que não o conheço mais.

— Antigamente, isto teria sido uma bênção.

— Não mais.

Xcor deu de ombros. — Isto é com você.

Throe olhou para cima como se buscando inspiração dos céus. — Está bem. – Ele disse firmemente.

— O que está bem?

— Por mais que eu pudesse... – O rosto do homem ficou ameaçador. — ...Minha lealdade é para você.

Xcor anuiu uma vez. — Aceito sua lealdade.

Mas ele não se enganaria. A ambição de Throe estava entre eles agora, e nenhuma troca de palavras ou mesmo um pergaminho mudaria isto.

Isto não acabava ali, nem de longe. E quem sabe se levaria noites, semanas ou anos antes do desdobramento vir à tona… Mas aquela dívida os perseguiria daquele momento em diante.

E ele temia que a moeda fosse uma fêmea.

 

Sentado em sua escrivaninha no Iron Mask, Trez já estava farto de toda coisa do clube. O barulho, o cheiro, os humanos... Até a papelada o irritava.

Ao afastar cerca de cento e cinquenta recibos, estava a ponto de explodir ao esfregar os olhos. E então, quando baixou as mãos e seus olhos se reajustaram à luz fluorescente, um borrão apareceu em sua vista.

Outra enxaqueca?

Ele pegou um pedaço qualquer de papel e verificou para ver se conseguia ler o texto.

Nenhum ponto cego... Ainda.

Desistiu de tentar conseguir fazer qualquer coisa, e se recostou em sua cadeira, cruzou os braços sobre o peito, e olhou para a porta fechada. A batida distante do som da pista o fez pensar que precisava obter alguns protetores de ouvido.

O que realmente queria era dar o fora daqui. E não só deste clube. Ou do que estava acontecendo no armazém do outro lado da cidade. Ele queria sair de toda esta porra de negócio, da vendas de bebidas às prostitutas, do dinheiro à loucura.

Puta merda, toda vez que fechava os olhos, ele via o rosto de Selena. Ouvia a voz dela ao dizer que queria se vestir. Sentia o cheiro de sua decepção.

Quando pensava sobre o “relacionamento” deles, se é que podia chamá-lo assim, ele definia as coisas em termos de coito interrompido. Conversas fracassadas. Meias-verdades. Segredos escondidos.

Tudo dele.

E era estranho. Seu irmão vinha tagarelado com ele para limpar seu modo de agir por quanto tempo? Dizendo-lhe que tinha que se controlar e parar com as trepadas, advertindo-o de que o tempo estava encurtando, esperando e rezando para que uma reviravolta chegasse... Mesmo quando não havia nenhuma esperança de que isto acontecesse. Enquanto isso, ele vinha trepando com prostitutas em lugares públicos, tendo enxaquecas, e montando uma onda enorme de autodestruição... Erguendo o colarinho, e não dando a mínima.

Apesar de todos os melhores esforços de iAm, Selena tinha sido a única a fazê-lo realmente ver a si mesmo.

Parecia desrespeitoso com seu irmão admitir isto, mas lá estava.

Deus… Ele rezava para que a rainha tivesse uma filha que fosse escolhida. Talvez daquele jeito, pelo menos parte deste pesadelo estaria terminado...

A batida na porta foi suave, e ele sentiu o aroma de loção corporal antes mesmo da coisa abrir.

— Entre, – ele murmurou.

A funcionária que entrou tinha pernas longas o suficiente para ser uma modelo, mas seu rosto não chegava lá: o nariz um pouco grande demais, os lábios pequenos demais, os olhos um pouco fora do centro. E isso mesmo depois de toda cirurgia plástica. Ainda assim, de longe ou na escuridão, ela era um maldito nocaute.

— Me disseram que queira me ver?

A voz dela era padrão tele-sexo, profunda e rouca, e seu cabelo, ao empurrá-lo por cima do ombro, era naturalmente espesso.

— Sim. – Ainda bem que ela não o conhecia bem o suficiente para saber de que ele estava meio morto. — Tenho um cliente especial que...

— O cara que elas estavam falando? – Os olhos dela arregalaram. — Tipo, o deus do sexo?

— Sim. Quero saber se pode encontrá-lo em um apartamento amanhã. – Ele e s'Ex estabeleceram um horário uma vez por semana, mas quando seu chantagista telefonava dizendo que queria uma encontro? Você concordava. — Vou apresentá-la e...

— Oh, porra, sim. As outras meninas estavam falando dele... Ele é um garanhão.

Ela começou a correr as mãos para cima e para baixo em seu corpo, cobrindo seus peitos e seu sexo.

— Amanhã ao meio-dia. – Ele lhe deu o endereço do Commodore. — Encontrarei você lá.

— Obrigada, chefe.

Quando os olhos dela se estreitaram, ele teve a sensação do que estava por vir. E veio meio, — O que posso fazer para mostrar minha gratidão?

Ele balançou a cabeça.

— Nada. Basta chegar na hora certa amanhã.

— Tem certeza?

Olhando fixamente para ela, parte dele queria ceder. Seria muito mais fácil desta maneira... Como cair para trás em uma piscina em julho... Splash, e lá se ia o calor. O problema era que, naquela situação hipotética, ele não sabia nadar. E toda vez que se deixava ir apenas para se esfriar, acabava debaixo d’água, incapaz de respirar.

A luta para chegar à superfície simplesmente não valia a pena o alívio momentâneo.

— Obrigado, garotinha. Mas eu passo.

A mulher sorriu. — Você agora tem uma fêmea, chefe?

Trez abriu a boca para dizer não.

— Sim, tenho.

Hã, ele pensou. Sim, certo.

Depois da pequena DR feliz deles, Selena não foi mais até a casa da Irmandade novamente, e ele certo como inferno não foi para o grande acampamento de Rehv.

Ainda conseguia lembrar-se da exata aparência dela ao olhar para ele. Eventualmente, ele se levantou e deixou o quarto dela... Depois que o silêncio esticou por tempo demaaaaais. Sim, certo, podia tê-la pressionado com algum tipo de definição ou algo assim. Mas o resultado era, que se ele voltasse ou não para os s'Hisbe, ele ainda estava contaminado.

O que tinha a oferecer-lhe ou a qualquer outra pessoa não valia o fôlego de uma desculpa.

— Ohhhh, isto é uma grande novidade, – a prostituta disse. — Posso contar às outras meninas?

— Sim. Certo. Tanto faz.

Ela praticamente saiu dançado de seu escritório.

Quando a porta fechou, ele voltou a olhar fixamente para ela. Em sua superfície plana, tudo o que podia ver era Selena, exatamente como se ela tivesse morrido e o fantasma dela viesse assombrá-lo.

Por um momento, ele ficou realmente louco o suficiente para desejar que houvesse algum negócio inacabado entre eles que pudesse usar como desculpa para vê-la. Mas a realidade era que, podia ir até ela de mil maneiras diferentes… E tudo o que teria a oferecer era a si mesmo.

Não bom o suficiente ontem. Hoje. Ou amanhã...

Bem dentro dele, uma mudança ocorreu. A princípio ele apenas reconheceu isto como um pensamento errante. Entretanto, quando aquele pensamento ressoou, percebeu que era muito, muito mais do que isto.

Quando examinava o futuro, não via nada de substancial em sua vida exceto seu irmão. iAm era isto, tudo o que tinha de valor neste mundo. E abruptamente, a ideia de entregar-se para a rainha e sua filha, tornando-se um escravo sexual encarcerado nas paredes do palácio, usado apenas por seu pau e sua ejaculação… Não parecia muito diferente do modo como vinha vivendo sua vida.

Ele tinha regularmente fodido coisas e não se importava.

Não era como se quaisquer daquelas mulheres tivessem alguma porra de significado.

Por que a filha da rainha seria diferente?

Bem, merda… A única coisa que não seria a mesma coisa? Seu irmão estaria livre para viver a vida dele.

Liberto.

E isso era a única coisa verdadeiramente honrada que Trez poderia fazer.

Recostando-se em sua cadeira, ele percebeu… Que não seria uma maneira ruim de terminar as coisas.

 

Sola saiu de seu apartamento mesmo que fosse meio da noite. Ela simplesmente não conseguia mais permanecer confinada, e o terraço não estava sendo suficiente para seu perambular.

Descendo os degraus de concreto, ela passou pela piscina iluminada no caminho que cortava os arbustos. Do outro lado, a praia esticava-se um quilômetro e meio em ambas as direções, o vento forte e morno batia em seu rosto.

Ela escolheu a direita por nenhuma razão em particular e colocou as mãos nos bolsos de sua jaqueta leve, tateando em busca de seu celular.

Ele continuava silencioso.

E quando olhou para o oceano escuro e escutou as ondas na orla, ela soube que ele não iria tocar.

Oh, certo, ela recebia chamadas de sua avó. Talvez da empresa de telefonia. Talvez a loja de conserto de seu novo carro.

Mas não do código de área 518.

Parando, ela observou o luar que fluía por detrás dela tocando o topo do mar agitado. Embora isto a deixasse nauseada, deliberadamente colocou-se de volta no porta mala daquele carro, sentindo o frio e a vibração, o medo de saber que o que quer que estivesse por vir, iria machucar. Muito.

Mantendo tudo aquilo firmemente em seu peito, lembrou mais uma vez, a si mesma o porquê do telefone ficar mudo era uma boa coisa...

A princípio, ela não teve certeza exatamente do que lhe trouxe a sensação.

Não foi um cheiro, não; o vento a seu favor. E não foi a visão de nada específico... Ao vasculhar a paisagem atrás dela, em busca de arbustos balançando, viu somente outro condomínio em desenvolvimento, um tipo de gramado, uma piscina… Mas nada se movendo. Nenhum som, nada.

— Assail? – Ela suspirou para o vento.

Ela caminhou em direção aos arbustos. Então correu.

Mas quando chegou perto deles? Ele não estava lá.

— Assail! – Ela gritou. — Sei que está aqui!

Sua voz não foi muito longe por causa do vento. Retrocedendo, ela correu se aproximando de casa. — Assail?

Seu coração estava disparado em seu peito, uma esperança traiçoeira vibrando por ela até que sentiu como se flutuasse sobre a areia.

Mas aquele otimismo era como gasolina em um tanque. Quanto mais tempo permanecia sem resposta, mais baixo o nível foi chegando, até que ela diminuiu a velocidade... E parou.

— Assail…?

Ela olhou ao redor, rezando para vê-lo, mesmo que fosse a última coisa que precisasse.

Mas o homem de cabelos pretos que procurava, não respondeu seu chamado… E eventualmente aquela sensação de que estava sendo observada passou.

Como se o vento a tivesse levado.

Como se nunca tivesse existido.

No caminho de volta para sua casa, ela deixou as lágrimas rolarem uma a uma sem se preocupar em enxugá-las. Estava escuro. Não havia ninguém para vê-las.

E nada do que se esconder.

Ela estava… Sozinha.

 

E assim foi, as semanas e os meses se passaram, as estações mudaram do frio intenso do inverno para os úmidos ventos preparatórios da primavera, e para as noites docemente perfumadas que prometiam um verão antecipado.

Em maio, Wrath se acostumou a medir o tempo não pelo calendário, ou pelo subir e baixar das venezianas da mansão, ou pelas refeições em sua própria casa.

Foi pelas noites que ele passou ouvindo as histórias de seu povo.

As verdadeiras. Aquelas sobre vida e morte. E emparelhamentos e separações. E doenças e saúde. Era engraçado: Tão importante quanto lhe tinha sido a cerimônia vampírica de emparelhamento, tinha sido a cerimônia humana a pedido de Beth, que tinha marcado o início de uma existência melhor.

Suas audiências com o povo eram todas organizadas graças ao tranquilo e constante Abe, também conhecido por Abalone, mas as respostas de Wrath eram dele mesmo. E havia tanto para fazer, mediar desavenças nas famílias, abençoar os filhos e filhas recém-nascidos, partilhar a dor com aqueles que sofreram perdas, e alegria com aqueles que tiveram boa sorte.

Como sempre, Beth ficava ao seu lado, sentada junto com Abe durante as audiências, verificando a papelada com Saxton quando era necessário… Sua barriga crescendo a cada momento.

— Estamos aqui, meu senhor, – Fritz disse da frente do Mercedes. — A casa do Mestre Darius.

— Obrigado, meu homem.

Quando ele e George saíram da parte de trás, ele parou e se inclinou. — Ei, pode ir buscar mais desses morangos? Ela está com um desejo por cenouras novamente, também. E picles. É melhor trazer dois frascos desses filhos da puta temperados.

— Volto o mais rápido possível, meu senhor! Acho que vou pegar alguns sorvetes de iogurte para ela? Ela gosta de raspas de chocolate?

— Oh, merda. Sim. E não se esqueça das beterrabas. Ou da carne.

— Não esquecerei.

— Depressa, certo? iAm está trazendo-a de Pottery Barn.

Wrath fechou a porta. — Vamos em frente, – ele disse para George.

E o cachorro sabia direito para onde ir, levando-o para a entrada... Que Wrath abriu com a mente. — Oi, querida, cheguei! – Ele gritou.

— Você trouxe flores? – Lassiter gritou de volta.

— Não para você.

— Porra. Bem, eu estou escalado esta noite com Tohr, então podemos nos apressar? Há uma lista cheia de compromissos, mas eu quero voltar para Hell’s Kitchen.

— Você não grava essa merda? – Wrath reclamou quando ele e George entraram na antiga sala de jantar.

— Sim, mas eu tenho baixo controle de impulso. Vai ao ar às nove, está bem? E eu odeio esperar. Eu coloquei água fresca para o George debaixo de sua cadeira, a propósito.

— Pelo menos você é um amante de cachorros. Essa é a única coisa que te salva.

— Ha! Eu tenho asas e uma auréola, seu filho da puta mal humorado. Eu já sou permanentemente salvo.

— Apenas para a nossa sorte.

— Ei, meu irmão, – disse V ao atravessar o arco e acender um cigarro enrolado à mão. — Onde está a sua fêmea?

Lassiter cortou, — Ela deve voltar em breve, certo?

Wrath teve que sorrir ao se sentar. A única coisa que fazia o filho da puta irritante ficar sério era quando se tratava de Beth, e ele tinha que admitir que isso era meio... Amável.

— Ela voltou? – Rhage perguntou ao entrar na sala.

— Quanto tempo pode demorar para encomendar móveis de bebê? – Butch exigiu ao fazer sua aparição.

— Semanas, – Z respondeu. — Você não tem ideia.

E assim foi, todo mundo chegando com a mesma pergunta, de Blay e Qhuinn até Phury e Rehvenge.

O único que não perguntou em voz alta foi John... Mas não precisava. O irmão de Beth era uma presença discreta e preocupada, desde que haviam feito o anúncio da gravidez surpresa. E Wrath amava o cara por isso. John nunca ficou no caminho, mas estava sempre lá, ouvindo Beth, sendo solidário, conversando com ela, trazendo seus filmes.

Engraçado, a seriedade com que tratava toda a situação fazia Wrath pensar em Darius.

Deus, como ele queria que o irmão houvesse sobrevivido para presenciar o que estava por vir em... Apenas quatro semanas?

Jesus…

Toda vez que Wrath pensava sobre o evento iminente, ele perdia a respiração. Mas se forçava a lembrar de todos os exames que iAm tinha levado sua esposa para fazer. Beth estava tendo uma gravidez perfeita. Ela estava saudável, feliz, comendo e bebendo, e se alimentando bem... Não que a Dra. Sam, a médica humana que a acompanhava, soubesse sobre isso. E a frequência cardíaca estava ótima. E seu filho estava ótimo.

Era quase fácil demais.

Faltava somente quatro semanas.

— Leelan, – Wrath gritou ao saltar de sua cadeira.

Houve todo tipo de saudações em vozes profundas, mas seus irmãos saíram do caminho para que ela desse um pulo certeiro em seus braços. E quando ele a levantou, teve o cuidado de não colocar nenhuma pressão sobre a barriga.

— Como você está? – Ele sussurrou em seu ouvido, sabendo que um dia desses, ela ia responder que estava tendo contrações.

— Perfeita. Oh, Meu Deus, eu consegui as melhores coisas! Eu tive que escolher azul... Quero dizer, afinal vamos ter um menino. O berço e a cômoda são perfeitos... Certo, iAm?

O Sombra respondeu, — Perfeitos.

Sem dúvida o pobre coitado não tinha nenhum interesse naquela merda toda, mas isso não importava. Ele era outro que era fiel a Beth, e era seu protetor no mundo humano... E Wrath sabia o porquê, claro. Era a maneira de iAm pagar o abrigo que ele e seu complicado irmão encontraram na mansão após seu apartamento no Commodore ter se tornado inseguro. Além disso, era bastante óbvio que ele gostava de Beth de um jeito não romântico.

— Certo? Eu sei, certo? – Beth abraçou o pescoço de Wrath tão forte que ele não pôde engolir. — Estou tão excitada! Quero conhecê-lo agora!

— É instinto isto de preparar a casa para a chegada do bebê? – Wrath perguntou na direção de onde ele ouviu a voz de Z por último.

— Sim. E você ainda não viu nada. Ainda tem de passar pelas Fraldas Genies e mamadeiras.

— Nós compramos Born Free[8], – Beth informou a ele, como se ele soubesse o que aquilo significava. — No caso do meu leite não descer.

Wrath apenas se sentou na cadeira e a ajeitou em seu colo, satisfeito por aliviar suas costas e deixá-la se divertir fazendo seu relatório. E os irmãos e os guerreiros? Se reuniram ao redor, fazendo perguntas como irmãos mais velhos fariam.

Qualquer um deles teria dado a sua vida por ela ou pelo bebê em seu ventre.

Era o suficiente para fazer um macho ter que piscar um pouco mais rápido.

Quando Wrath enlaçou sua fêmea, percebeu a própria mão fazendo um círculo em sua barriga intumescida e seu cérebro voltou para pouco antes do pôr do sol. Uma vez que superaram aquela questão dele sobre o sexo, as coisas tinham voltado a ser como era no início.

Mesmo com as mudanças hormonais e tudo.

Àquela altura, eles tinham que fazer com ela por cima, e isso estava mais do que bem para ele. Ele amava tomar seus seios, agora pesados, nas mãos sentindo seu núcleo levá-lo de uma maneira nova, devido à forma como o corpo dela havia mudado de forma.

De fato, talvez houvesse tempo para uma rapidinha antes de...

— Ei, Abes.

— Aê, Ab.

— E ai, Albacore?

Naturalmente, Lassiter era o que se recusava a dizer aquele nome direito.

Quando Abalone gaguejou entre tanta saudações, era de se sorrir. O cara ainda não tinha se acostumado aos irmãos, mas eles estavam acostumados a ele. Assim como Wrath.

— Meu senhor, minha senhora, boa noite.

— Abalone, como está a sua filha? – Beth disse.

— Sim, Abe, como foi o encontro ontem à noite?

Silêncio total e absoluto. A Irmandade tinha adotado o macho e sua única filha, e pobre do jovem que levasse a garota em um encontro e não a tratasse direito.

— Bem, eu não acredito que tenha sido amor ao primeiro encontro. Mas ela foi devolvida uns trinta minutos antes do toque de recolher.

— Bom. – Wrath assentiu. — Isso significa que ele pode manter as pernas. Então, o que temos para essa noite?

— Temos uma lista cheia, – o aristocrata reportou. — O primeiro casal que veremos acabaram de ter um neto, e querem perguntar a você se podem trazer a mãe com o pequenino. Mas a filha não é casada com o pai, e eles estão preocupados de que isto o ofenderá.

— Absolutamente não.

O tom de Abalone permaneceu calmo. — Mas é importante para eles pedirem permissão e reconhecer isso pessoalmente com você.

— Tudo bem. Legal. Quando eu conheço a criança?

Abalone riu. — Amanhã à noite?

— Estarei aqui. E quem, depois disso?

— Um primo meu, na verdade. Ele pede permissão para…

Quando o cavalheiro continuou e continuou, detalhando as inter-relações familiares, Wrath o admirou novamente. Abe era tão discreto e respeitoso, nenhuma vez saindo de seu lugar, e ainda assim a cada fodida noite, fornecia esse manancial de conhecimento e compaixão.

Era malditamente impressionante.

E ao ficar ali sentado ouvindo todo o preâmbulo, Wrath foi atingido pela certeza de que ele poderia fazer essa porra para sempre. Ele realmente podia.

Especialmente com sua shellan na frente e no centro, seu cachorro ao lado, e seus irmãos em torno deles todos.

 

Com um sentimento de grande pavor, Anha colocou sua mão em sua barriga intumescida, e viu seu companheiro se preparar para noite à frente.

À luz bruxuleante da lareira e das velas, tudo nele estava diferente. Ela tinha notado a mudança que vinha ocorrendo ao longo dos últimos meses, mas nessa noite, tudo o que era sutil parecia ter se unido de uma só vez, o auge tinha chegado.

Seu corpo estava diferente agora, mais rijo, mais definido. Maior.

E sua expressão não era a mesma. Pelo menos, não quando esse seu novo estado de espírito pesava sobre seus ombros.

Como se sentindo sua avaliação, ele olhou para ela.

— Quanto tempo vai ficar fora? – Ela perguntou. — E não minta. Eu sei com que propósito está partindo.

Ele se afastou, em direção à mesa de carvalho onde havia se materializado numa roupa que ela nunca vira antes, trazida pela Irmandade. Tudo era preto.

— Devo voltar ao amanhecer.

Sua voz estava mais baixa do que o normal, mais fria que o normal. E então ela percebeu que ele estava colocando um cinto de couro sobre o peito. Assim como os irmãos usavam.

— Você vai lutar? – Ela sussurrou através da garganta apertada.

Ele finalmente lhe respondeu, somente depois de colocar duas adagas negras, punho para baixo, sobre o coração. — Eu devo retornar ao amanhecer.

— Você vai matá-los, não vai.

— Você quer que eu responda a isso?

— Sim.

Wrath, seu companheiro, seu amor, o pai de seu bebê por nascer, aproximou-se de onde ela estava sentada diante de seu espelho. Quando ele se ajoelhou, foi um alívio, porque ele era quase familiar dessa forma. Especialmente quando olhou em seus olhos.

— Vou fazer o que precisa ser feito, – ele disse.

Ela colocou as mãos no rosto dele, traçando as feições, pensando de novo em todas as madrugadas em que ele chegava em casa sangrando e mancando, inchado e rígido. Mas, ultimamente, ele tinha mantido o treinamento com os machos, e não voltava mais ferido.

Então, ela deveria ter percebido que era hora.

— Tome cuidado? – Ela implorou. — Nós precisamos de você.

— Eu voltarei para você. Sempre.

Com isso, ele beijou-a com força, e então saiu pela porta do quarto. Antes que voltasse a se fechar à sua passagem, ela viu que os Irmãos fizeram fila em ambos os lados do corredor de pedra, cada um com uma tocha.

Eles se curvaram para seu hellren à medida que este passava por eles.

Sozinha…

Deixando cair a cabeça nas mãos, ela sabia que tudo o que podia fazer... Era rezar.

 

Quando Wrath atendia ao primeiro de seus compromissos, Beth saiu escondida para a cozinha e afanou uma tigela de morangos frescos que Fritz tinha comprado para ela no mercado local de Hannaford.

Cara, depois de meses, ela tinha se acostumado aos mimos, um benefício que Bella disse para apreciar, mas que tinha levado algum tempo para se acostumar: todos tinham sido, e ainda estavam sendo tão amáveis, os Irmãos e suas companheiras, os empregados, John Matthew, os Sombras. Era incrível.

Assim como a gravidez.

Por algum milagre, parecia exatamente uma gravidez humana normal, bem em seu oitavo mês e se sentindo ótima. Ela tinha muita resistência, sem tornozelos inchados, nenhuma estria, e um bebê que dava voltas sob sua caixa torácica cada vez que ela comia. Especialmente se houvesse açúcar envolvido.

Ela tinha esperado por muito mais coisas...

Desastres? Merda, sim, tinha se preparado para eles. Depois do choque inicial com a médica, ela tinha naturalmente ido para a internet se apavorar estupidamente com todas as diferentes coisas que poderiam sair mal. A única coisa que salvava era que, naquele ponto, ela já tinha conseguido passar do primeiro trimestre, que era quando a maioria dos abortos involuntários aconteciam. Mas ainda assim, infelizmente, aquela necessidade que a tinha atingido era uma carta inesperada que ela não tinha conseguido deixar para lá, por mais de um mês.

Mas, sim, a preocupação tinha passado em sua maioria, agora que ela estava no final das quarenta semanas. E claro, o parto poderia ser difícil... Mas não, ela não iria tentar se arriscar a um parto natural, sem anestesia. E cada vez que ficava um pouco inquieta? Ela só lembrava a si mesma das milhões de mulheres e fêmeas que tinham passado por aquilo antes dela.

O que plano de nascimento requeria que, tanto iAm quanto Trez ficassem disponíveis pelas próximas quatro semanas. A Dra. Sam tinha prometido ficar disponível sem importar a hora, dia ou noite... Uma promessa que ela suspeitava que iAm tinha instilado em sua mente com um passe de mágica mental.

Ele trabalhou em vários daqueles, discretamente, claro.

E deste modo eles tinham sido bem sucedidos em manter a identidade da Raça em sigilo.

Ela tinha esperanças de que, como muitas mulheres, entrasse em trabalho de parto à noite, para que Wrath pudesse fazer parte de tudo. Mas ambos concordaram, que, embora fosse matá-lo, sua segurança e a segurança do bebê vinham em primeiro lugar.

E isso significava que ela teria que ir para Dra. Sam...

— Os frutos estão de seu gosto, senhora? – Fritz perguntou.

Olhando através da cozinha de seu pai, ela movimentou a cabeça. — Estão perfeitos.

Quando o mordomo sorriu como se tivesse ganhado na loteria, ela terminou o que estava na tigela e permitiu que ele a pegasse.

Dando a volta na sala de jantar, ela teve cuidado de não fazer nenhum barulho ao atravessar para o sofá.

Wrath estava sentando em sua poltrona favorita, a que ficava à esquerda, a que tinha a mesa de Saxton atrás. Em frente a ele, na outra poltrona do par, estava um homem com as mãos cruzadas nos joelhos, os ombros curvados e o rosto cinzento. A roupa que usava não era luxuosa, mas do tipo que poderia comprar na Target, e seu relógio não era um Rolex, apenas tinha a pulseira da cor preta.

Wrath inclinou-se e ofereceu sua mão. — O que aconteceu?

O homem moveu-se para frente e para trás na cadeira. — Ela… – De repente olhou para Beth, seu rosto empalidecendo ainda mais.

Quando ela enrijeceu, colocou a mão sobre a barriga.

Oh… Inferno.

— Fale comigo. – Wrath disse em voz baixa.

— Ela… – Neste momento, o homem começou a sussurrar tão baixo que mal se ouvia.

Mas Wrath entendia cada palavra. E enquanto observava as mãos apertadas de seu marido, aqueles antebraços saltando, ela soube do que se tratava.

Mortes. De parto.

Ela ouviu por tanto tempo sobre como a Raça de vampiros sofriam na cama do parto, como chamavam, mas antes não compreendia muito suas perdas. Agora por estar mais perto dos cidadãos? Estava horrorizada.

Tantos mortos. Mães e crianças.

Da mesma maneira que sua própria mãe morreu.

Era uma tragédia que a ciência médica não conseguia resolver. Dissesse o que fosse sobre Havers: Ele tinha uma clínica equipada com todos os tipos de tecnologias modernas, e coisas ruins ainda aconteciam. Aparentemente o tempo todo.

Wrath levantou seus grandes braços e colocou as mãos nos ombros do homem. Ele falou também suavemente, mas para qualquer coisa que estivesse dizendo, o homem apenas movia a cabeça.

Eles ficaram assim por muito tempo.

Quando a reunião finalmente terminou, os dois levantaram-se e se abraçaram, e o civil era muito menor que seu marido.

Antes do homem partir ele beijou o anel de Wrath.

Abalone escoltou o cidadão, conversando suavemente com ele, enquanto Wrath se sentava. Suas sobrancelhas estavam baixas, sua boca uma linha sombria.

Quando ficou de pé, estremeceu e teve que sentar-se novamente. Observando-o cuidadosamente, ela quis puxá-lo firmemente para ela, mas imaginou que um lembrete da gravidez, provavelmente não era algo que ele precisasse naquele momento.

— Eu não posso ajudá-lo. – Wrath disse em uma voz rouca. — Eu não posso… Resolver a situação dele.

— Às vezes saber que não está sozinho é o suficiente.

— Eu não tenho tanta certeza disto.

Mas ele segurou suas mãos e as levou aos lábios beijando suas juntas uma por uma. E quando uma repentina onda de cansaço a golpeou, ele pareceu perceber.

— Que tal você voltar para casa? – Ele disse.

— Como soube?

— Você acabou de bocejar.

— Eu?

— Peça a Fritz que te leve.

Ao se espreguiçar, ela quis ficar, mas teve de ser realista. — Talvez caminhar pelo centro comercial aquele tempo todo tenha sido demais.

— Vamos, descanse. Estarei em casa em umas horas e vamos assistir um pouco de merda televisiva, certo?

— Isso soa como o céu.

— Bom. – Ele a beijou uma vez. E então pareceu ter que fazê-lo novamente. — Eu amo você.

— Eu amo você, também.

— Fritz! – Seu marido gritou. — Carro!

Ela certificou-se de acariciar George por um tempo e dizer a ele onde ela estava indo antes de partir. E então, saiu para a noite, sentando no banco traseiro do Mercedes, rumo à mansão.

Apoiou sua cabeça contra o encosto do banco, e sentiu-se começando a cochilar. — Receio não ser uma boa companhia. – Ela disse para Fritz.

— Apenas descanse, senhora.

— Boa ideia, Fritz.

 

Ao se afastar de Beth, Wrath se recostou na poltrona, e não estava nem um pouco à vontade.

…Ela morreu na minha frente…

…Segurei meu filho sem vida nas minhas mãos…

— Meu senhor?

— Desculpe, o quê? – Ele se balançou. — O quê?

Abalone limpou a garganta. — Você gostaria de um descanso, senhor?

— Sim. Apenas me dê um minuto. – Segurando a coleira de George, ele disse. — Cozinha.

Caminhando pela porta com seu cachorro, sentiu-se aliviado por Fritz já ter saído e que os Irmãos tivessem ficado.

Merda, no minuto em que sentiu o cheiro da dor e luto naquele civil, soube que aquele homem tinha perdido tudo e não no sentido material. As pessoas não entravam naquele tipo de agonia por coisas. E como sempre Abalone sabia de toda a história, mas Wrath preferia deixar as pessoas dizerem os detalhes pessoalmente a ele; queria ouvir as coisas diretamente deles.

Daquela vez, não tinha sido realmente o parto a reivindicar a vida daquela mulher.

Um acidente de carro.

Wrath estava certo de que tinha sido o primeiro, mas não foi assim que o destino jogou. Não, a mulher sobreviveu até o nascimento e teve a criança. Foram assassinados por um condutor bêbado voltando para casa, da clínica de Havers.   A crueldade casual do destino era às vezes destruidora em escalas épicas.

Incrível.

Dirigiu-se à mesa, puxou uma cadeira e se sentou. Tinha certeza de que estava de frente para as janelas, não que pudesse vê-las.

Tantas histórias que tinha ouvido, mas esta… Jesus Cristo, o afetou.

Não soube dizer quanto tempo ficou ali, mas finalmente V colocou a cabeça na porta. — Você está bem?

— Não.

— Você quer remarcar, certo?

— Sim.

— Certo.

— V.

— Sim?

— Lembra-se daquela visão da qual me falou. Onde eu estava olhando para o céu e o futuro estava em minhas mãos?

— Sim.

— O que…

Abruptamente, ele reviveu a dor daquele civil. — Não, não importa. Eu não quero saber.

Às vezes, a informação não era uma boa coisa. Se aquele cidadão pudesse ter visto o futuro, não teria mudado o resultado. Ele apenas teria passado o resto de seu tempo com sua mulher sendo aterrorizados pelo que se aproximava.

— Eu vou remarcar as audiências. – O Irmão disse, após um momento.

A porta fechou com um golpe.

Sem razão aparente, pensou em seu pai e sua mãe, e perguntou-se como teria sido a noite de seu nascimento. Eles nunca tinham falado disto, mas ele nunca tinha perguntado, de qualquer forma. Sempre havia mais em jogo, além disso, era muito jovem para se preocupar com estas coisas.

Enquanto tentava imaginar a chegada de seu próprio filho, não podia imaginar o fluxo dos acontecimentos. Era uma hipótese muito carregada de emoções para lidar. Mas havia uma coisa que era malditamente clara como o cristal.   

Apenas não estava certo de como abordá-la.

Enquanto pensava nas coisas, lembranças dos últimos meses apareceram. Histórias e problemas, presentes dados e recebidos. Depois de toda luta e trabalho de Rei, era uma revelação realmente amar o que ele fazia.

Nem sequer sentia falta de lutar.

Inferno, havia muitos outros desafios para confrontar e superar: Batalhas, afinal, nem sempre aconteciam em campo e as vezes o inimigo não estava armado com armas convencionais. Às vezes eram, inclusive, eles mesmos.

Finalmente, soube exatamente o motivo de seu pai ter ficado tanto tempo no seu trono. Ele malditamente entendeu.

E era engraçado: a única coisa que muitas pessoas tinham em comum era o amor por suas famílias. Suas companheiras, seus pais, seus filhos, tudo o que parecia vir em primeiro lugar.

Sempre.

A família primeiro.

A próxima geração… Primeiro.

Voltou a se lembrar da noite que seus pais foram sacrificados. A única coisa que fizeram antes que a porta fosse derrubada? Escondê-lo. Mantê-lo a salvo. Preservá-lo... E não foi para garantir seu futuro no trono. Isto não foi em absoluto o que disseram ao prendê-lo naquele espaço apertado.

Eu amo você.

Aquela tinha sido a única mensagem que tinha importado antes do tempo deles se esgotar.

Não foi um Seja um bom Rei. Nem um Siga meus passos. Nem mesmo um Deixe-me orgulhoso senão…

Eu amo você.

Isto era o que os unia, mesmo através da separação da morte e do tempo.

Quando imaginava seu filho entrando no mundo, tinha certeza de que a primeira coisa que iria dizer seria, eu te amo.

— Wrath?

Ele saltou e girou em direção ao som de voz de Saxton. — Sim? Desculpe, estava longe.

— Acabei com toda a documentação por esta noite.

Wrath voltou-se para as janelas que não podia ver. — Você trabalhou rápido.

— Na realidade, são três da manhã. Você está sentado aí há mais ou menos cinco horas.

— Oh.

E ainda assim, não se moveu.

— A maioria dos Irmãos saíram há horas. Fritz está ainda aqui. Ele está limpando lá em cima.

— Oh.

— Se você não precisa de mais nada.

— Tem uma coisa. – Ele se ouviu dizer.

— Claro. Como eu posso ajudar?

— Eu preciso deixar um legado para meu filho.

— Um legado?

Quando Wrath começou a trabalhar todo o assunto em sua cabeça, sentiu-se um pouco assustado. Deus, era de se pensar que os grandes acontecimentos da vida pudessem vir com uma placa de advertência no acostamento da proverbial estrada, um pequeno número amarelo que anunciasse a direção para onde se estava indo, e que talvez oferecesse um conselho tipo “reduza a velocidade”.

Mas então, ele e sua shellan já estavam grávidos meses antes de sua primeira necessidade.

Então o destino agia à sua própria maneira, não agia?

— Sim. Mais ou menos.

 

Foi bem como ele tinha prometido.

Wrath honrou a palavra que dera a sua shellan. Ele estava, na verdade, de volta ao amanhecer.

Enquanto avançava em seu cavalo, sentia-se exausto a ponto de agonia, incapaz de manter-se em pé para mais uma caminhada. Mas também havia outra razão para o seu progresso lento.

Embora tivesse saído sozinho, ele não voltava como tal.

Havia seis corpos sendo arrastados pelo chão, atrás dele e seu cavalo, e mais dois na parte traseira da sela. Os primeiros, ele tinha amarrado com cordas nos tornozelos; os últimos foram fixados ao cavalo com ganchos e redes.

E dos outros que tinha matado não tinha sobrado suficiente de seus restos para trazer com ele.

Ele não conseguia sentir nenhum cheiro além do sangue que havia derramado.

Ele não conseguia ouvir nada além do ruído abafado dos corpos sobre a sujeira da estrada.

Ele não sabia de nada, exceto que havia assassinado a cada um deles com suas mãos.

O vale arborizado que ele atravessava era a última a distância a ser percorrida para chegar ao castelo... E na verdade, quando se deparou com uma clareira, lá estava ele, erguendo-se feio da própria terra.

Ele não gostava do que tinha feito. Ao contrário de um gato de celeiro que gostava de seu dever, os ratos que tinha matado não lhe tinham sido fonte de felicidade maliciosa.

Mas, quando ele pensava em seu filho ainda não nascido, sabia que tinha feito do mundo um lugar mais seguro para ele ou ela. E, quando ele considerava sua amada companheira, bem como a morte de seu próprio pai, ele estava bem ciente de que o que tinha sido atípico para a sua natureza tinha sido, de fato, muito necessário.

A ponte levadiça sobre o fosso desceu rapidamente, proporcionando-lhe a entrada, como se estivesse sendo esperado.

E estava mesmo.

Anha correu para as pranchas, a luz da lua que desaparecia se refletiu em seus cabelos escuros e vestes vermelhas.

Ele a conhecia há tão pouco tempo, quando julgado pela passagem das estações. Mas com o curso dos acontecimentos, acreditava que estavam juntos há vidas.

A Irmandade estava com ela.

Puxando as rédeas, ele soube que ela viu tudo quando suas mãos subiram para a boca e Tohrture teve que tomar seu cotovelo para mantê-la de pé.

Desejou que ela não tivesse vindo. Mas não havia modo de desfazer as coisas.

Desmontando, mesmo sem ter chegado ainda à ponte, deixou o cavalo onde estava e atravessou as espessas pranchas.

Pensou que talvez ela fugisse dele, mas, não, foi o oposto.

— Você está bem de verdade? – Ela disse, ao se lançar para ele.

Seus braços estavam fracos, quando a enlaçaram. — Sim.

— Você mente.

Ele afundou o rosto em seus cabelos cheirosos. — Sim.

Pelo menos com ela, não tinha de fingir. A verdade era que ele ainda temia o futuro. Ele podia ter tomado a sua vingança sobre esses traidores, mas haveriam outros.

Reis eram alvos para as ambições dos outros.

Essa era a realidade.

Fechando os olhos, ele desejou que houvesse uma maneira de sair daquele legado... E ele se preocupava com seu futuro filho, se tivesse um. Filhas tinham uma chance. Filhos eram amaldiçoados.

Mas não podia mudar o que ele nascera para ser. Ele apenas rezava para que a coragem que o tinha amparado essa noite, viesse de novo, quando mais fosse necessário.

Pelo menos agora ele provou para si mesmo e sua amada que ele não era apenas um líder em tempos de paz. Na guerra, ele podia empunhar a espada, se fosse preciso.

— Eu amo você, – ele disse.

Quando sua companheira estremeceu contra ele, ele soube que ela estremeceria novamente, na noite seguinte, quando visse o que ele faria com as cabeças daqueles cadáveres.

Mensagens tinham que ser enviadas a fim de serem recebidas.

— Vamos para os nossos aposentos, – ele disse, colocando-a em seu peito.

Quando acenou para os irmãos, sabia que eles cuidariam de seu cavalo e suas presas. Haveria tempo para as decapitações mais tarde. Agora? Ele só queria um pouco de sanidade em meio à loucura.

Ao entrar no castelo deles, ela foi, como sempre, sua única força.

— Se tivermos um filho, – ele murmurou.

— Sim? – Ela olhou para ele. — O quê?

Wrath observou o rosto que o olhava de volta, o belo rosto que definia suas horas, bem como seus anos. — Espero que ele encontre alguém como você.

— De verdade? – Ela sussurrou.

— Sim. Eu rezo para que ele tenha pelo menos metade da minha sorte.

Quando Anha o apertou em torno de sua cintura, sua voz tornou-se áspera. — E para uma filha… Um macho tão bom quanto seu pai.

Wrath beijou o topo de sua cabeça e seguiram em frente, através do grande salão e até seus aposentos, a Irmandade com eles, mas mantendo uma discreta distância.

Sim, pensou, para sobreviver, é preciso não estar sozinho.

E é preciso ter uma companheira corajosa.

Tendo isto? Você será mais rico do que qualquer rei e rainha que já percorreram a Terra.

 

Wrath viu sua mãe, pela primeira vez em trezentos e trinta anos, no dia seguinte.

Em algum nível, sabia que devia ser um sonho. Ele estava cego por tanto tempo para ser seduzido a pensar que aquela realidade de repente tinha mudado.

Além disso, olá, ela estava morta há séculos.

E ainda assim, ela saiu da escuridão para ele, estava tão viva quanto ele poderia ter desejado que estivesse, movendo-se com facilidade, usando um vestido de veludo vermelho no estilo antigo.

— Mahmen? – Ele disse com admiração.

Quando ergueu a cabeça, percebeu em choque que foi de seu travesseiro. E merda, este era seu quarto... O que podia dizer pela sutil cintilância das paredes.

Seu primeiro instinto foi virar e encontrar...

Beth estava exatamente ao lado dele, deitada sã e salva debaixo dos cobertores, seu rosto virado na direção dele, seu cabelo escuro por toda parte do travesseiro que combinava com o dele. E podia dizer pela forma de sua barriga que sim, ela ainda estava grávida.

Jesus Cristo, ele podia vê-la.

— Beth, – ele disse aproximando-se, — Beth! Eu vejo você, leelan, acorde eu a vejoeuavejo...

— Wrath.

Ao som da voz de sua Mahmen, ele voltou a se virar. Ela estava exatamente ao lado da cama agora, seus braços cruzados, suas mãos dobradas nas mangas volumosas daquele vestido.

— Mahmen?

— Não sei se você se lembra disto, mas você veio a mim uma vez.

Deus, sua voz era tão gentil, assim como ele se lembrava... E quase fechou os olhos apenas para poder memorizar o som. Só que não, não se privaria nem por um nano segundo da visão.

Espere, o que ela disse? — Eu fui?

— Eu estava morrendo. E você veio até mim de fora da névoa do Fade. E disse-me para segui-lo para casa. Fez-me parar e retornar com você.

— Eu não lembro...

— É uma dívida que lhe devi por um longo tempo. – Seu sorriso era tão pacífico como o da Mona Lisa. — E devo retribuí-lo agora. Porque o amo tanto, tanto...

— Retribuir? Sobre o que está falando?

— Acorde, Wrath. Acorde agora mesmo. – Abruptamente, aquela voz mudou, tornando-se urgente. — Chame o curador... Você deve chamar o médico se deseja salvar a vida dela.

— Salvá-la... A vida de Beth?

— Acorde, Wrath. Imediatamente, chame o curador.

— O que você está...

— Wrath, acorde.

Repentinamente, como se tivesse sido catapultado para fora do sono REM, Wrath sentou-se bruscamente.

— Beth! – Ele gritou.

— O que-o que-o que-o que...

Quando se virou para sua esposa, ele amaldiçoou a escuridão ao seu redor. Porra de maldito sonho, provocando-o com o que ele não tinha.

— O quê? – Beth choramingou.

— Merda, desculpe, sinto muito. – Ele estendeu a mão e a acalmou, e acalmou a si mesmo. — Desculpe, tive a porra de um sonho.

— Oh, caramba, você me assustou. – Ela riu e ele a ouviu bater no travesseiro como se tivesse se deixado desmoronar. — Boa coisa nós dormimos com a luz do banheiro acesa.

Franzindo o cenho, ele virou-se para o lado da cama onde sua mãe esteve em pé…

— Não, ela não estava realmente aqui.

— Quem?

— Desculpe. – Estalando o pescoço, ele lançou sua perna para o lado da cama. — Volto já.

Ele deu uma boa alongada, e quando sua espinha soltou um estalo, estalando, esticando, pensou com carinho na conversa que teve com Payne assim que chegou em casa. Eles iriam começar a lutar novamente... E não porque ela era uma fêmea.

Era porque ela era uma lutadora e tanto e ele queria voltar ao jogo agora.

No banheiro, ele acariciou George, que estava enrolado na cama de cachorro Orvis[9] que Butch lhe deu no Natal... E então deu uma mijada e lavou o rosto.

Quando voltou para cama, pretendia retornar para a terra dos sem luz. Exceto que quando se deitou, franziu a testa.

— Ah, escute… Você está se sentindo bem?

Sua Beth bocejou.

— Sim, absolutamente. Mas estou contente de ter voltado naquela hora... O sono ajudou. E deitar me fez sentir melhor... Estou com as costas dura ainda daquele passeio no centro comercial.

Tentando soar causal, ele perguntou, — Quando é sua próxima consulta com a médica?

— Sexta-feira. Vamos semanalmente agora. Por que está perguntando?

— Por nada.

Quando ele ficou calado, ela enrolou-se contra ele e soltou um suspiro como se estivesse se aconchegando para voltar a dormir. Ele aguentou cerca de um minuto e meio.

— O que acha de ligar para a médica?

— Ligar quando... Espere, você quer dizer agora?

— Bem, sim.

Ele podia senti-la recuar.

— Mas por quê?

Sim, como ele poderia dizer-lhe algo como, Minha mãe morta me disse isto.

— Não sei. Somente, talvez ela pudesse lhe fazer um exame ou algo assim.

— Wrath, isto não é apropriado. Especialmente considerando que não há nada de errado. – Ele a sentiu tocando seu cabelo. — Isto é sobre aquele civil? Que perdeu a esposa e o bebê?

— Não foi durante o parto.

— Oh. Pensei que...

— Talvez pudéssemos apenas ligar para ela.

— Não há nenhuma razão para isso.

— Qual é o número dela? – Ele agarrou o telefone. — Vou ligar para ela.

— Wrath, você perdeu o juízo?

Foda-se isto, ele apenas faria um 411[10].

Beth continuou a falar com ele, enquanto esperava que a operadora atendesse. — Sim, oi, em Caldwell, Nova Iorque. O número da Dra. Sam... Qual é o sobrenome dela?

— Você perdeu o juízo.

— Vou pagar pela visita... Não, não você, Operadora. – Quando lembrou o sobrenome, ele repetiu e soletrou-o duas vezes. — Sim, ligue-me com o consultório, obrigado.

— Wrath, isto é...

Assim que o telefonema foi atendido, Beth ficou quieta.

— Beth? – Ele perguntou com uma careta.

— Desculpe, – ela disse. — Senti uma pontada nas costas. Sabe de uma coisa? Usarei tênis de corrida da próxima vez que for caminhar assim. Agora você vai desligar e...

— Sim, oi, isto é uma emergência médica. Preciso que a Dra. Sam venha até nossa casa, minha esposa é uma paciente dela… Trinta e seis semanas... Sintomas? Minha esposa está grávida, quanto tempo você vai demorar?

— Wrath? – Beth disse em voz baixa.

— O que você quer dizer, como não pode...

— Wrath.

E isso foi quando ele se calou… E percebeu que sua mãe tinha razão. Virando a cabeça na direção de sua esposa, ele disse com medo, — O quê?

— Estou sangrando.

 

A definição de terror mudava quando as coisas não eram apenas sobre você. E nada era menos sobre si mesma do que se estar com trinta e seis semanas de gravidez, sentindo algo jorrar entre as pernas… Sabendo que não era a bolsa que tinha estourado.

A princípio, Beth pensou que tinha perdido o controle de sua bexiga, mas quando moveu os cobertores para o lado e mudou de posição, viu algo nos lençóis.

Ela nunca tinha visto sangue tão brilhante antes.

E merda, a parte inferior de sua costas de repente a estava matando.

— O que está acontecendo? – Wrath exigiu.

— Estou sangrando, – ela repetiu.

As coisas aconteceram muito rápidas naquele ponto. Era quase como estar na traseira de um carro em velocidade, tudo zumbindo rápido demais para entender: Wrath gritando ao telefone, outra ligação sendo feita, Dra. Jane e V chegando em uma corrida mortal. E então mais rápido ainda, movimento, movimento, movimento, todos ao redor dela, enquanto ela se sentia curiosamente calma e entorpecida.

Quando foi transferida para maca, olhou para onde tinha estado na cama e estremeceu com a mancha neon. Era enorme, como se alguém tivesse despejado um galão de tinta por baixo dela.

— O bebê vai ficar bem? – Ela murmurou, algum tipo de choque assumindo o controle de tudo. — Ele está... Wrath vai ficar bem?

As pessoas ofereceram-lhe compaixão, mas nenhuma resposta verdadeira.

Mas Wrath, o mais velho, estava bem ao seu lado, segurando sua mão, orientando-se com ajuda da lateral da maca.

John apareceu quando eles chegaram ao patamar do segundo andar. Estava vestindo apenas boxers, o cabelo todo bagunçado, os olhos alertas. Ele pegou a outra mão dela.

Ela não lembrava de muita coisa sobre a movimentação, apressada, e mais apressada para dentro do túnel... Com exceção do fato de que a dor estava ficando mais forte. Oh, e as luzes do teto açoitavam enquanto ela estava deitada, um ritmo pulsando como se ela estivesse em um filme de Guerra nas Estrelas prestes a entrar em velocidade da luz.

Por que não conseguia ouvir coisa alguma?

Quando olhava para as pessoas ao seu redor, suas bocas estavam se movendo, seus olhos se encontravam sobre ela, com urgência.

— O pequeno Wrath vai ficar bem? – Até sua própria voz estava apagada, o volume totalmente baixado. Ela tentou torná-la mais alta. — Ele vai ficar bem?

E então eles estavam se espremendo passando pela entrada habitual do centro de treinamento, e indo mais abaixo até uma porta de emergência que tinha sido criada apenas para ela, apenas para esta situação.

Exceto que este não era seu plano de parto. Ela deveria ir para o mundo humano, onde havia pessoas para cuidar dela e do pequeno Wrath, resolver quaisquer problemas que ele pudesse ter, estar lá para ela e iAm se fosse luz do dia, e para Wrath, o pai, e John, se fosse noite.

O pequeno Wrath, ela pensou.

Acho que ela tinha acabado de dar um nome ao filho.

Ao chegar à clínica, ficou apenas pensando que não deveria estar aqui. Especialmente quando olhou para aquele enorme lustre na sala de cirurgia.

Por alguma razão, pensou em todas as vezes que tinha vindo até aqui, apoiando um Irmão ferido em campo, vindo para um exame com Layla, ou...

A Dra. Jane colocou o rosto no caminho. Seus lábios moviam-se lentamente.

— …eth? Você pode me ouvir, Beth?

Ah, bom, alguém tinha aumentado o volume do mundo.

Mas sua resposta não foi registrada. Não conseguia ouvir sua própria voz.

— Ok, bom. – A Dra. Jane enunciou tudo claramente. — Quero fazer um ultrassom para descartar a placenta prévia... Que é uma complicação onde a placenta acaba na parte mais baixa do útero. Mas estou preocupada que você tenha um descolamento.

— O que… O quê? – Beth murmurou.

— Está com dor?

— Na parte de baixo das costas.

A Dra. Jane movimentou a cabeça e colocou as mãos sobre a barriga de Beth.

— Se eu apertar...

Beth gemeu. — Apenas certifique-se de que Wrath fique bem.

Eles passaram a máquina de ultrassom sobre sua camisola que foi cortada. Quando aquele gel foi esguichado sobre seu estômago e as luzes escureceram, ela não olhou para o monitor. Olhou fixamente para o rosto de seu marido.

Aquele maravilhoso rosto masculino estava totalmente apavorado.

Ele não estava usando seus óculos escuros. E seus pálidos olhos verdes desfocados, vagavam em torno do quarto como se estivessem desesperados para ver algo, qualquer coisa.

— Como você soube? – Ela sussurrou. — Que eu estava com problemas…

Seus olhos estalaram na direção dela.

— Minha mãe me disse. Em um sonho.

Por alguma razão, isso a fez chorar, aquela imagem de seu marido cada vez mais flutuante, enquanto a natureza incontrolável da vida voltava a se impor da pior maneira possível: Ela não se importava com nada, exceto o bebê, mas não havia coisa alguma que pudesse fazer para evitar qualquer resultado. Seu corpo e o bebê eram os que jogavam aqueles dados.

Sua mente, sua vontade, a alma dela? Todos os seus sonhos e desejos, esperanças e loucuras?

Nem mesmo na mesa de jogo.

O rosto da Dra. Jane voltou.

— …eth? Beth? Você está comigo?

Quando ergueu a mão para tirar um fio de cabelo de seu rosto, ela percebeu que eles colocaram um medidor de pressão nela e introduziram uma IV. E aquilo não era cabelo no caminho; eram lágrimas.

— Beth, o ultrassom não está me mostrando o que eu esperava ver. A frequência cardíaca do bebê está diminuindo e você ainda está sangrando muito. Nós precisamos tirá-lo? Tenho certeza de que teve um descolamento e você esta em risco, assim como ele. Ok?

Tudo o que podia fazer era olhar para Wrath.

— O que faremos?

Com uma voz que estava tão rouca que era apenas compreensível, ele disse, — Deixe ela e Manny operá-la, ok?

— Tudo bem.

A Dra. Jane voltou à vista. — Nós vamos ter que colocá-la para dormir... Não quero fazer uma epidural porque não vai dar tempo.

— Certo.

— Eu amo você, – ela disse para Wrath. — Oh, Deus… O bebê…

 

Tudo o que Wrath tinha para se guiar eram os cheiros no quarto. Antisséptico no ar. Sangue... Que o apavorou. Medo... De sua Beth e dos outros ao redor dele. Raciocínio calmo e frio por parte da Dra. Jane, Manny e Ehlena.

Felizmente, esse último seria um salva-vidas.

De repente, uma nova fragrância entrou na mistura. Adstringente.

Em seguida, houve um chiado ao lado dele, como se alguém tivesse puxado uma cadeira. Depois uma ampla mão empurrou-o para baixo de modo que se sentasse, e tomou sua própria em um aperto tão forte que os ossos quase se partiram.

John Matthew.

— Ei, cara, – ele disse, ciente do tempo ter dado uma parada. — Ei… Cara.

No final, tudo o que Wrath podia fazer era devolver o aperto da mão de seu Irmão, e assim os dois ficaram, lado a lado, juntos, congelados, enquanto termos médicos eram trocados de um lado para o outro e havia sons de metal ressoando e assobios e ruídos de sucção.

A voz da Dra. Jane era nivelada. As respostas de Manny também.

Eles eram como o inverso da situação: Quando as coisas ficavam mais assustadoras, tornavam-se mais focados e controlados.

— Certo, peguei ele.

— Espere, já está acontecendo? – Wrath exigiu.

O assobio alto ao lado dele foi a única resposta que teve.

E então... O som do primeiro choro de um bebê.

— Ele está vivo? – Wrath perguntou, como um idiota.

Outro assobio.

Ele então se esqueceu de seu filho, completamente. — Beth? E quanto a Beth?

Ninguém respondeu.

— Beth? – Ele gritou. — John, o que diabos está acontecendo?

O cheiro de sangue era espesso no ar. Tão espesso. Muito espesso.

Ele não podia respirar. Nem pensar. Ele nem estava vivo.

— Beth… – ele sussurrou na escuridão.

Passou-se uma eternidade até a Dra. Jane vir até ele. E pela proximidade e direção de sua voz, ele sabia que ela tinha se ajoelhado à sua frente.

— Wrath, nós temos um problema. O bebê está bem, Ehlena o está examinando lá fora. Mas Beth continua sangrando, mesmo depois que suturei seu útero da cesárea. Ela está sangrando muito e não há nenhum sinal de estar coagulando. A coisa mais segura a fazer é uma histerectomia. Você sabe o que é isso?

Ela estava falando com ele como se fosse estúpido... Isso era bom, também.

— Não. – Embora ele já tivesse ouvido a palavra anteriormente. Inferno, naquele momento, ela teria que explicar com os mais simples dos termos.

— Eu preciso retirar o útero dela. Ela vai morrer, Wrath, se eu não fizer. Quer dizer que ela não poderá ter mais filhos.

— Eu não ligo para nada além dela. Faça tudo o que for preciso. Faça, agora.

— Certo, vamos começar, Manny.

— Onde está o meu filho! – Ele gritou abruptamente. — Dê-me o meu filho!

Em menos de um momento depois, um pequeno pacote foi colocado em seus braços. Tão leve. Leve demais para estar vivo... E ainda assim seu filho estava quente e respirando. Vivo.

Ele queria abraçá-lo porque sua shellan estava nessa criança. Em cada molécula de seu corpo vivo, ela estava com ele, e isso significava que, se mantivesse a criança junto a seu coração… Estaria segurando sua Beth.

— O que está acontecendo? – Ele sussurrou, sem esperar de fato, uma resposta.

Ele deixou as lágrimas caírem livremente. Provavelmente no rosto de seu filho.

Quem caralhos se importava.

 

Beth saiu da confusa terra do nunca como uma rolha ainda boiando na água. Veio à tona, sentindo as coisas irem e virem, fora de foco.

Mas no segundo que seu cérebro funcionou, ela gritou, — Wrath!

— Aqui, estamos aqui.

Recuando, ela se mexeu na cama de hospital e sentiu num instantâneo oh, inferno, não, de sua barriga.

E então nada mais importava. Sentado ao lado de sua cama, em uma cadeira que não era grande o suficiente, seu marido e seu filho eram cara de um, focinho do outro.

E o choro que emergiu dela foi completamente incontrolável, jorrando tão rápido que parecia explodir de sua alma. E, cara, sua barriga doía muito.

Quando ela se esticou para o lado da cama, sua intra venosa repuxou, mas ela não se importou. E seu macho veio até ela, Wrath levantou-se com o recém-nascido e sentou-se ao lado dela na cama de hospital.

— Oh, meu Deus, meu bebê, – ela se ouviu dizer.

Pequeno Wrath, sim, ela realmente o havia nomeado já que era a cara do pai. Até mesmo as entradas do cabelo formando o pico da viúva no centro da testa. E como ele a reconheceu de alguma forma, abriu os olhos quando seu pai deixou-a segurar o precioso pacote.

— Ei, aqui, grandão.

Porque mesmo que, ele pesasse quanto? Três quilos ou algo assim? Da maneira que o pequenino a encarou, era como se ele já fosse mais alto do que o pai.

— Você é lindo, – ela disse para ele.

E então ela viu seus olhos. As pupilas eram normais, as íris azuis escuras, e não verdes claras.

Ela olhou para o marido. — Ele é perfeito.

— Eu sei. Eles me disseram que ele se parece comigo.

— Ele parece.

— Com exceção dos olhos. Mas eu o teria amado de qualquer maneira.

— Eu também.

Ela balbuciou e mexeu com o tecido vermelho que a shellan do capataz tinha feito a mão. Até se dar conta de que algo não estava certo.

Seu marido estava muito reservado para esse momento especial. — Wrath? O que você não está me dizendo?

Quando ele esfregou o rosto, aquele terror que ela sentia voltou. — O que. Há algo de errado com ele?

— Não.

— Onde está o mas?

— Eles tiveram que retirar suas entrahas. Você estava sangrando muito.

Ela franziu a testa e balançou a cabeça. — Desculpa?

Wrath tateou em volta até encontrar seu braço. — Suas entranhas se foram.

Uma onda de frio a golpeou. — Uma histerectomia?

— Sim. Foi isso o que disseram.

Beth exalou. Outra coisa que não fazia parte do plano. E foi um choque perceber que a parte do que a definia como uma mulher... Uma fêmea... Já não estava com ela.

Mas então ela olhou para seu menininho perfeitamente formado, perfeitamente saudável. A ideia que ela poderia não ter tido esse momento? Que ela não estaria aqui com seu marido e seu filho?

Dane-se o útero.

— Tudo bem, – ela disse. — Está tudo bem.

— Eu sinto muito.

— Não. – Ela balançou a cabeça bruscamente. — Não, nós não sentimos muito. Nós temos nossa família e nós somos muito, muito sortudos. Nós não sentimos muito.

E foi aí que Wrath se encheu de lágrimas, as gotas caíram pelo queixo firme até as tatuagens de seu antebraço.

Quando ela olhou para todos os nomes, ela sorriu e imaginou o pequeno Wrath, grande e alto, forte como seu pai.

— Nós conseguimos, – ela anunciou em uma súbita onda de otimismo. — Nós conseguimos!

Wrath começou a sorrir, e, em seguida, ele encontrou sua boca, beijando-a. — Sim. Você conseguiu.

— Foi preciso dois. – Ela acariciou seu rosto. — Você e eu. Juntos.

— Eu fiquei com a parte divertida, – ele disse com um sorriso.

 

Várias horas mais tarde, Beth saiu da cama e tomou um banho de esponja no banheiro. Então vestiu uma camisola Lanz e, com a ajuda de Wrath, saiu do quarto com o pequeno Wrath em seus braços.

Para uma aclamação de pé.

Ela pretendia voltar para a mansão para encontrar a família, mas eles tinham vindo até ela. Quase cinquenta deles, desde os Irmãos até os doggen, estavam amontoados no corredor de concreto do centro de treinamento, alinhados em toda extensão, para frente e para trás.

Difícil não chorar.

Mas então, o que seja. Eram família.

— Salve o Rei! – Veio o coro.

Embalando o filho contra o peito e cobrindo as orelhas do P. W[11], ela começou a rir. E foi então que ela viu seu irmão. Ele estava radiante, seu sorriso tão largo e orgulhoso, com as mãos fechadas na frente de seu coração como se estivesse morrendo de vontade de segurar o bebê.

Mancando até ele, ela não disse uma palavra. Ela só lhe entregou o P.W.

A alegria que recebeu em troca quando John desajeitadamente segurou o pacote vermelho foi praticamente a melhor coisa do mundo. Perdendo apenas para Wrath.

De repente, a multidão começou a cantar no Idioma Antigo. — Salve o Rei.

— Bem, não exatamente.

Quando Wrath disse as três palavras, foi como se tivesse desligado o som do mundo inteiro.

Franzindo a testa por cima do ombro, ela e todo mundo só olhava para o último vampiro de raça pura do planeta.

Wrath pigarreou e baixou os óculos escuros para apertar a ponte do nariz. — Eu aboli a monarquia na noite passada.

Silêncio total e absoluto.

— O quê…? – Ela disse.

— Você me disse que não queria ser a causa de minha desistência do trono. Você não foi. No final, foi a minha escolha. Cedo ou tarde, alguém chegaria a mim... E por extensão, a você e a ele. E então, se eu morrer? Meu filho vai acabar tendo que lutar para manter algo que não deveria ser decidido pela linhagem. Deveria ser decidido pelo mérito.

Beth colocou as mãos no rosto. — Oh, meu Deus…

— Então, nós estamos numa democracia agora. Saxton ajudou a legalizar. E as eleições vão ocorrer em pouco tempo. Eu falei com Abalone... Ele vai coordenar tudo. Inferno, o cara já tinha uma boa lista de candidatos. Ah, e o melhor de tudo? Acabou a utilidade da glymera. E acabei com o Conselho. Até mais, filhos da puta.

— Estou tão feliz por estar aposentado, – Rehv interrompeu a conversa. — De verdade.

Wrath olhou na direção de Beth. — É a melhor coisa para nós. Para o P. W. E quem sabe, talvez ele futuramente decida concorrer. Mas será escolha dele. Não será um fardo, e ninguém, de qualquer segmento de qualquer sociedade, será capaz de lhe dizer que a fêmea que escolheu, não é digna. Nunca mais.

Com isso, Wrath enfiou a mão no bolso da calça cargo pretas que vestia... E tirou um punhado de pedaços de... Lascas?

Não, eram fragmentos de pergaminho.

Ao jogá-los ao chão, ele disse, — Oh, e eu rasguei aquele falso decreto de divórcio, também. A cerimônia humana é totalmente legal. Mas já que o nosso filho tem os dois tipos de sangue, eu queria que ambas as tradições valessem.

Beth abriu a boca para dizer alguma coisa. Mas no final, tudo o que pôde fazer foi ir contra o corpo duro de seu marido e abraçá-lo.

Naturalmente, não houve um único olho seco no centro de treinamento.

Mas isso era o que acontecia quando um mortal comum... Fazia algo digno de um super-herói.

 

Passou-se um bom mês até Wrath perceber que a visão de V tinha se realizado. O rosto no céu, o futuro em suas mãos...

  1. W. já tinha rotina definida, dormia durante o dia, ficava acordado a noite toda... O que era simplesmente perfeito. Beth tinha se recuperado da cesárea como um foguete, alimentando-se bem, comendo bem, e sendo a melhor mãe do maldito planeta.

Parecia ter encontrado sua natureza. Ela era incrível… E estava tão feliz, tão malditamente feliz.

A realidade de ter um filho era melhor até do que o sonho tinha sido.

E oh, sim, P.W. estava levando o assunto de existir como um completo soldado. Comia, fazia cocô, dormia, fazia cocô, comia. Ele raramente se inquietava ou chorava, e não via nenhum problema em ser passado de colo em colo durante as refeições, de modo que cada membro da família tivesse uma chance de segurá-lo.

Até o cachorro e o gato gostaram dele. A criança dormia em um berço na suíte da Primeira Família, e aparentemente, George e Boo, ambos pensavam nele como um posto de guarda. Quando o retriever não estava ajudando Wrath a se locomover, ele ficava sempre com a criança, deitado na frente do berço, de guarda, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. E quando George estava de serviço com seu outro mestre? Aquele felino assumia o turno enquanto o bebê dormia.

Então, sim, ele estava em uma noite alegremente normal em junho quando Beth disse que estava saindo para uma corrida após a Primeira Refeição, e Wrath decidiu levar P. W., seu cão e o gato em um passeio em volta do primeiro andar. O garoto sempre parecia gostar disso, e como de costume, no momento em que começou a andar, sua cabeça começou a girar ao redor como se estivesse avaliando a propriedade.

Eles estavam na biblioteca, passando pelas portas francesas, quando P. W. soltou um grito e ficou tenso, como se algo tivesse chamado sua atenção.

— O que foi, garotão?

Wrath reposicionou seu filho, Deus, ele amava essa palavra, filho e, em seguida, fez as contas.

— Será que é para a lua que você está olhando? Deve ser... Sim, eu acho que é.

Destravando a porta, ele saiu e respirou fundo. O verão tinha chegado em cheio, a noite morna como água do banho, e quando P.W. esticou seus braços para cima, Papai pensou, sim. Ele estava olhando para o velho homem no céu.

Ou… O rosto.

Com a sensação de que a realidade tinha se acumulado, de alguma forma específica e mágica, Wrath virou seu filho de pé para que encarasse o exterior.

Ergueu-o alto.

Segurando o futuro... Em suas mãos.

Para que seu filho visse a lua pela primeira vez, com olhos que eram tão perfeitos quanto o resto dele.

— Eu vou te dar tudo o que puder, – disse Wrath bruscamente, contente por não ter mais ninguém por perto. — Qualquer coisa que você precisar, vou providenciar. E eu vou te amar até o meu último suspiro.

De repente, ele percebeu que não estava mais sozinho.

As pessoas saíam correndo para fora das portas da casa. Uma grande multidão.

Girando ao redor, ele segurou seu filho protetoramente, preparando-se para más notícias. — O quê?

 

Eles procuraram Beth quando ela estava na esteira. Todos eles. Todos os membros da Irmandade.

Mas não foi Tohr quem falou. Foi Saxton.

E quando ele terminou, ela ficou entorpecida e quase caiu fora de seus Nikes.

Sua viagem de volta pelo túnel, em direção à casa, teve o mesmo tipo de remoção de consciência, que ela tinha sofrido quando entrou em trabalho de parto. Ela não se lembrava de nada da corrida, nem todas as pessoas com ela, e nem do que foi dito.

E quando ela chegou no hall de entrada, e viu que os outros se ​​reuniram na casa mais uma vez, cada um deles tinha a mesma expressão que sentia em seu próprio rosto.

O destino tinha tomado as rédeas novamente.

E tudo o que podiam fazer era ir na nova direção.

Ela liderava o ataque, ao contornarem o primeiro andar da casa, esperando a cada volta ver Wrath e P. W.

A porta aberta para o terraço deu a dica de onde estavam.

Quando ela saiu para a noite, viu o marido segurando seu filho até a lua mais cheia da temporada, o astro brilhando cintilante como o sol, a paisagem banhada em luz branca.

Era como se ele estivesse fazendo uma oferenda sagrada.

 

Com um giro rápido, Wrath girou num instante, protegendo seu filho com seus enormes braços. — O quê?

Mesmo que Saxton tenha trazido as informações para casa, todo mundo olhou para ela.

Um passo à frente, ela desejava que estivesse em algo que não fosse roupa de ginástica. Um vestido de baile, talvez.

— Beth, o que diabos está acontecendo?

Ela tentou fazer com as palavras certas, freneticamente amarrando substantivos e verbos juntos ao acaso em sua cabeça. No final, porém, ela proferiu de forma curta e doce.

Caindo de joelhos, ela abaixou a cabeça. — Vida longa ao Rei.

Um a um, a multidão atrás dela fez o mesmo, um coro daquelas quatro palavras levantando-se para a noite enquanto seus corpos se inclinavam no chão.

— Desculpa. – Wrath sacudiu a cabeça. — Eu não estou ouvindo isso?

Ela se levantou. Mas foi a única.

— Você foi eleito por unanimidade por toda a vida. Rei da Raça. Abalone liderou os esforços, e todos os cidadãos que você ajudou votaram. Cada um deles. Você foi escolhido pelo seu povo para liderar. Você é o Rei.

Quando o canto começou, Wrath parecia não ter ideia de como responder. E foi tal canto alegre, vozes femininas e masculinas elevadas para o céu noturno, uma celebração do presente e do futuro.

— E quem sabe, – Beth disse quando ela olhou para seu filho. — Talvez ele cresça para ser como o pai, e seja escolhido, também. Mas cabe ao povo, você colocou o direito de voto nas mãos deles, e eles deram o trono a você.

Wrath limpou a garganta. Uma e outra vez.

No final, tudo o que ele pôde fazer foi sussurrar, — Eu queria que meu pai e minha mãe estivessem vivos para ver isso.

Beth colocou os braços em torno de seu marido e filho, enlaçando-os. E quando olhou por cima do ombro do seu homem e viu a face da lua, teve uma súbita sensação de que o realinhamento tinha acabado, a nova era tinha finalmente chegado.

— Eu acho que eles estão, – ela suavemente disse. — Eu acho que os dois estão olhando para baixo nesse exato momento… E eles estão muito, muito felizes com isso.

Os pais, afinal, ficavam especialmente orgulhosos ao ver a coragem de seus filhos serem recompensados ​​pelo mundo.

E saber que estavam cercados por muito amor.

Por todos os lugares.

Para sempre.

 

 

[1] Botas de uma marca especifica.

[2] Hermes.

[3] Crudités é uma palavra francesa, quer dizer: vegetais crus, são aperitivos tradicionais na França, são legumes crus (ou não) e frutas,  geralmente cortado em tirinhas do mesmo tamanho e espessura, que deve corresponder a apenas uma ou duas mordidas.

[4] NFW (No fucking way), que traduzindo seria “Nem fodendo”.

[6] Wilt Chamberlain foi um dos maiores jogadores de basquetebol norte-americano de todos os tempos. Além de vencer o título da NBA em duas oportunidades (1967 e 1972), também quebrou diversos recordes individuais da NBA em pontos e rebotes: É o único jogador em todos os tempos a fazer mais de 100 pontos em um jogo e o único a ter média de mais de 40 ou 50 pontos por jogo em uma temporada. Já foi o líder da NBA em pontos e rebotes por jogo 11 vezes, por 9 vezes teve a melhor taxa de acertos (field-goal) e até já foi líder em assistências uma vez (1968), fato incomum para um jogador de sua posição. Em toda história da NBA, é o unico jogador a ter média de mais de 30 pontos e 20 rebotes por jogo em uma temporada.

[7] Mace (spray), uma marca de gás lacrimogêneo, muitas vezes usado pela polícia. Mace Segurança Internacional (empresa), um fabricante de spray de pimenta nos EUA.

[8] Born Free são utensílios que ajudam na transição do bebe, mamadeiras que viram copos, mordedores que acalmam e estimulam as gengivas sensíveis do bebê, ajudando na transição para alimentos sólidos.

[9]. Orvis – Loja de varejo.

[10] Número da operadora que fornece o número dos assinantes.

[11] Pequeno Wrath.

 

 

                                                                  J.R. Ward

 

 

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