Algumas cenas narradas na Bíblia guardam relação com outras culturas mais antigas, vindas tanto de lugares próximos como longínquos. A influência da antiga sabedoria oriental se deixa entrever em certas passagens dos patriarcas mais antigos. O belo relato da Criação descrito e Géneses, o primeiro livro do Antigo Testamento, narra como o Deus Único, Javé, cujo nome não se deve pronunciar em vão, criou em sete dias todo o universo, as criaturas que o povoam e o primeiro homem e a primeira mulher. Da mesma forma como já sucedera na lenda persa, onde as sombras deixaram passo à luz, no Antigo Testamento se diz que Javé separou a luz da trevas.

No princípio, Deus criou os céus e a Terra. A terra estava confusa e vazia e as trevas cobriam a face do abismo, mas o espírito de Deus espargiu-se sobre a superfície das águas. Disse Deus: “Que exista a luz!”; e se fez a luz. E Deus viu ser boa a luz, e a separou das trevas; e à luz chamou “dia”, e às trevas “noite”, e houve tarde e manhã, do dia primeiro.

No segundo dia, separou as águas sob o firmamento das que estavam acima do firmamento: “Haja firmamento em meio das águas, que se separem umas das outras”; e assim foi. E Deus fez o firmamento separando águas das águas, as que estavam sob o firmamento das que estavam sobre o firmamento. E Deus viu ser bom. Deus chamou o firmamento de céu e houve noite e manhã, do dia segundo.

No terceiro dia, fez que aparecesse a terra firme, e sobre ela crescerem as plantas: “Juntem-se num lugar as águas debaixo do céu, e apareça o seco”. Se fez, e se juntaram as águas debaixo do céu em seus lugares e apareceu o seco, e ao seco Deus chamou “terra”, e à reunião das águas “mares”. E Deus viu ser bom. Disse logo: “Faça brotar a terra erva verde, erva com semente, e árvores frutíferas cada uma com seu fruto, segundo sua espécie e com sua semente, sobre a terra”. E assim foi. Produziu a terra erva verde, erva com semente, e árvores frutíferas com semente para cada uma. E Deus viu ser bom.

No quarto dia, Javé separa a luz das trevas, cria as estrelas e os astros, em especial as duas luminárias, o Sol e a Lua: “Haja no firmamento dos céus luminárias para separar o dia da noite, e servir de sinais as estações, dias e anos; e brilhem no firmamento dos céus para iluminar a Terra”. E assim foi. Deus fez as duas grandes luminárias, a maior para presidir o dia e a menor para presidir a noite e as estrelas; e as pôs no firmamento dos céus para iluminar a Terra e presidir o dia e a noite, e separar a luz da trevas. E Deus viu ser bom, e houve tarde e manhã, do dia quarto.

No quinto dia, Javé cria todos os animais marinhos e todas as aves: “Fervam de animais as águas e voem sobre a Terra aves sob o firmamento dos céus”. E assim foi. E Deus criou os grandes monstros da água e todos os animais que fervilham nela, segundo sua espécie, e todas as aves aladas, segundo sua espécie. E Deus viu ser bom, e os abençoou, dizendo: “Procriai e multiplicai e enchei as águas do mar, e multipliquem-se sobre a Terra as aves”. E houve tarde e manhã, do dia quinto.

No sexto dia, cria o resto dos animais, e também o primeiro homem e a primeira mulher, aos quais encarregou a missão de multiplicar-se: “Brote a terra seres animados segundo sua espécie, gados, répteis e bestas da terra segundo sua espécie”. E assim foi. Deus fez todas as bestas da terra segundo sua espécie, os gados segundo sua espécie e todos os répteis da terra segundo sua espécie. E Deus viu ser bom. Disse então, Deus: “Façamos o Homem à nossa imagem e semelhança para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os gados e sobre todas as bestas da terra e sobre quantos animais se movam sobre ela”.

E Deus criou o Homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, e os criou macho e fêmea; e Deus os abençoou dizendo-lhes: “Procriai e multiplicai e enchei a terra; submetei e dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre os gados e sobre tudo quanto vive e se move sobre a terra”. Disse também, Deus: “Aqui lhes dou todas as ervas de semente que há sobre toda a face da terra, e todas as árvores que produzem fruto de semente, para que todos lhes sirvam de alimento. Também todos os animais da Terra e todas as aves do céu, e todos os seres viventes que sobre a Terra estão e se movem lhes dou para comida e quanta erva verde a terra produza”. E assim foi. E Deus viu ser bom tudo quanto tinha feito, e houve tarde e manhã, do dia sexto.

Terminado o ordenado labor da criação, Javé decide fazer um novo dia, dedicando-o a seu merecido descanso, o importante dia sétimo, que seria um dia tão sagrado como o era o número sete dos hebreus.

Assim foram acabados os céus e a Terra e todo seu cortejo. E acabada no dia sexto toda a obra que tinha feito, descansou Deus no sétimo dia de tudo quanto fizera; e abençoou o dia sétimo e o santificou, porque nele descansou Deus de tudo quanto tinha criado e feito. Esta é a origem dos céus e da Terra quando foram feitos.

Completada a primeira fase da Criação, a Bíblia segue narrando com mais detalhes as passagens que levaram à finalização da obra divina, a criação do primeiro homem composto por Javé em argila modelada por sua mão e animado com um sopro divino, acompanhando a tradição de outros povos, próximos no tempo e no espaço, que faziam com que os deuses criassem, do barro do solo, seus seres terrestres, como já contado nas lendas da Mesopotâmia, a terra entre rios, e no Egito.

Mas, ao mesmo tempo que se punha em marcha a humanidade, Javé não parava de trabalhar em beneficio da sua criação e se esforçava por juntar mais flora, plantando os mais ricos e formosos vegetais para formar um jardim inigualável, o lugar escolhido para sua criatura: o Éden.

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