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O RETORNO DOS DEUSES / Erich Von Daniken
O RETORNO DOS DEUSES / Erich Von Daniken

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

O RETORNO DOS DEUSES

 

                      A Sagrada Pedra Berlitz

Caro leitor, antes de dar início ao verdadeiro tema de meu livro, aqui vai uma história breve, porém um tanto inacreditável que — como espero, ficará claro — é relevante para a minha argumentação.

O cenário é o futuro, depois de alguma imensa catástrofe sofrida pelo mundo que conhecemos. Em seus esforços para entender épocas passadas da civilização — por meio de relíquias que sobreviveram, como um simples computador-tradutor Berlitz — os descendentes dos sobrevi­ventes desenvolvem uma mitologia e religião inevitavelmente falsas; como todas as crenças religiosas, é formada em tomo de uma verdade central, mas está tão sobrecarregada de falsas suposições e interpolações baseadas em suas próprias experiências e ignorância que a verdade sim­ples e óbvia é cada vez mais encoberta por mistério.

No mosteiro da Sagrada Berlitz, as crianças eram aceitas como aprendi­zes aos 15 anos de idade. Em determinado ano havia apenas oito meninos e dez meninas presentes à cerimônia. O abade falou com preocupação so­bre o pequeno número de bebês no “ano de nascimento”. A maioria deles havia crescido nos arredores do mosteiro; seus pais trabalhavam lá ser­vindo a Sagrada Berlitz. Além dos irmãos e irmãs, havia também os co- lhedores de frutos, caçadores e artesãos de todos os tipos, bem como parteiras e curandeiros. Todos eles se uniam na maravilhosa tarefa de dar à luz o maior número possível de bebês, e de criá-los fortes e saudáveis. Desde a Grande Devastação, as únicas comunidades humanas da área eram poucas e surgiam a longos intervalos; o abade suspeitava de que seus ancestrais talvez fossem os únicos sobreviventes.

Ninguém, nem mesmo o erudito abade e seu Conselho de Aprendi­zagem, sabia o que havia ocorrido na Grande Devastação. Alguns pensavam que as pessoas daquela época detinham armas ameaçadoras e aniquilaram-se mutuamente. Mas não havia grande apoio a esta tese. Era di­fícil imaginar que pudessem existir armas tão terríveis. Além disso, a tradição afirmava que aquele povo havia desfrutado de grande abundân­cia e prosperidade. Então, por que teriam de lutar entre si? Era ilógico. Uma possibilidade mais provável, levantada pelo Conselho de Aprendi­zagem, era a de ter havido uma espécie de infecção misteriosa que dizi­mou a humanidade. Mas essa tese também não se consolidou, pois contradizia o que fora transmitido às primeiras gerações que sucederam à Grande Devastação.

Os três pais e as quatro mães que sobreviveram à Grande Devasta­ção disseram a seus filhos que a catástrofe repentinamente se fez sobre suas cabeças em uma noite de paz. Esses registros eram incontestáveis. Foram escritos pelos filhos dos sobreviventes no sagrado Livro dos Pa­triarcas. Cada criança do mosteiro da Sagrada Berlitz sabia a Canção da Destruição que o abade cantava todos os anos na Noite da Recordação. Era o único texto que ainda existia da antigüidade:

Eu, Gottfried Skaya, nascido em 12 de julho de 1984 em Basel, Rhine, ti­nha ido com minha esposa e meus amigos, Ulrich Dopatka e Johan Fie- bag, suas respectivas esposas e nossa Filha Silvia, a uma expedição para escalar as montanhas de Bemese Oberland.

Como já passava das seis da tarde, pegamos um atalho na descida da montanha Jungfrau, usando os túneis da estrada de ferro Jungfrau. Naque­la época não passavam mais trens pelo vale por causa dos edifícios cons­truídos no topo da montanha.

De repente, a Terra estremeceu e partes do teto de granito caíram sobre os trilhos. Ficamos aterrorizados e Johan, o geólogo, nos arrastou para um nicho rochoso. Pensamos que o terrível episódio havia terminado quando começou uma imensa trovoada. O chão parecia derreter sob nossos pés, ouvimos barulhos horríveis, pior do que em qualquer tempestade. Trinta metros à nossa frente a parede do túnel inferior despencou. E então veio o silêncio.

Johan pensou que fosse uma erupção vulcânica — muito improvável naquela área — ou um terremoto. Precisávamos dar um passo acima para alcançarmos a saída no túnel superior.

Alguns metros antes da saída começou o barulho. Não tenho palavras para expressar estes alvoroços da natureza. Primeiro o vento atirou neve e pedaços de gelo que passaram na frente do túnel, depois árvores, rochas e telhados inteiros de hotéis que ficavam no vale. Houve estrondos e ex­plosões como as que os ouvidos humanos jamais tinham escutado. O ven­to lamentava e se enfurecia, gritava e rugia; tudo foi pelos ares, a mil metros de altura do solo, sendo arremessado ao espaço. A Terra estreme­ceu, os elementos gritaram. Paredes de granito do penhasco racharam como se fossem caixas de papelão. Só fomos protegidos da pavorosa tem­pestade porque estávamos no fundo de um túnel cuja abertura inferior es­tava cheia de escombros. Deus Todo-Poderoso seja louvado!

Os ventos assustadores continuaram por 37 horas. Não tínhamos mais forças; nos deitamos em apatia em meio à confusão, com os braços entre­laçados, em nosso refúgio. Só desejávamos que a montanha caísse sobre nós. Ninguém é capaz de imaginar o quanto sofremos.

Depois veio a água. Em meio ao uivo e à violência dos ventos, de re­pente ouvimos um trovão. Era como uma torrente e cascata de oceanos sem fim. Gigantescas fontes d’água fervilhavam e borbulhavam, assobia­vam e se arremessavam contra as paredes do rochedo. Como uma tempes­tade espancando a costa, novas montanhas de onda erguiam suas enormes cabeças, caindo umas sobre as outras, atingindo o vale e formando imen­sos redemoinhos que tragavam toda a vida para as profundezas. Parecia que todas as águas da Terra haviam se reunido para uma poderosa con­fluência. Queríamos morrer, e gritávamos nosso terror a todo fôlego.

Por oito horas a água exerceu toda a sua violência; então os ventos ces­saram, os gemidos da natureza se aquietaram, tudo ficou calmo. Maltrata­dos pela tortura, mudos de dor, nos entreolhamos. Finalmente Johan engatinhou de quatro para a pequena abertura que ainda permanecia no alto da saída do túnel. Ouvi-o soluçar tomado de pavor e fui até ele. Meus olhos foram tomados de uma visão que me deixou atônito. Meus senti­mentos mais profundos ficaram em farrapos. E eu também comecei a cho­rar de amargura; nosso inundo deixara de existir.

Os picos de todas as montanhas foram achatados como que por uma lima gigante. Não havia gelo ou neve em lugar nenhum, também não ha­via verde algum. As paredes úmidas dos rochedos cintilavam em uma luz singela e marrom. O sol não podia ser visto e no vale, onde havia estado Grindelwald, a cidade das águas, agora havia apenas as ondas de um enor­me lago.

Isso aconteceu no ano 2016 do calendário cristão. Não sabemos se mais alguém sobreviveu à Grande Devastação. Também não sabemos o que aconteceu. Que Deus Todo-Poderoso esteja conosco!

Os oito meninos e dez garotas ouviam a Canção da Destruição tomados de pavor. O abade, Ulrich III, havia cantado com uma voz de poderosa sonoridade. Depois de uma breve pausa para meditação, ele voltou-se aos noviços e disse: “Agora entrem para a Sala da Recordação. Examinem com reverência as relíquias dos antepassados. Vocês foram escolhidos, junto com seus irmãos e irmãs para honrarem e entenderem essas relí­quias.”

Cheios de expectativas, os jovens noviços entraram no longo edifí­cio escuro de madeira que até então eles haviam conhecido apenas pelo exterior. As irmãs tinham acendido velas de cera e as relíquias dos antepassados tremeluziam sob aquela luz bruxulante. Havia os sapatos dos sagrados — Gottfried Skaya, Ulrich Dopatka e Johan Fiebag. Os sa­patos de suas esposas não estavam lá. Eles eram feitos de um estranho material macio como couro, mas não era couro. Nem mesmo os membros do Conselho de Aprendizagem sabiam o que era. Um confrade paciente­mente explicou que podia haver animais com aquele tipo de pele no pas­sado que foram exterminados na Grande Devastação.

Christian, que tinha 17 anos e era o noviço mais velho, lentamente ergueu sua mão. “Caro irmão,” perguntou humildemente, “qual o signi­ficado dos escritos nos sapatos do sagrado Johan?”

Com um sorriso benevolente, o homem respondeu: “Tudo o que podemos decifrar são as letras REE no início e a letra K no final. Ainda não conseguimos descobrir o significado.”

Mais uma vez Christian levantou a mão: “Caro irmão, na antigüi­dade havia animais cujas peles nasciam com inscrições?”

“Você é brilhante”, respondeu o confrade em tom perturbado. “Tudo é possível para Deus Todo-Poderoso.”

Em uma gruta da sala escura ficavam as bolsas dos pais sobrevi­ventes. O confrade explicou pacientemente que elas foram descritas no Livro dos Patriarcas como “sacolas”, A parte “saco" significava bolsa, mas a última sílaba “las ” não fazia sentido, tampouco a ligação entre as duas partes da palavra.

Os noviços mais uma vez enfrentavam um enigma: as bolsas dos sobreviventes eram feitas de vários tecidos coloridos, que na verdade nem eram tecidos. Como os sapatos do sagrado Johan, essas bolsas eram macias e flexíveis; entretanto, nos 236 anos da Nova Era. ainda não ha­viam se desintegrado. Os noviços alegremente louvavam a Deus Todo- Poderoso pelo mundo tão maravilhoso, cheio de mistérios em que viviam.

Outra relíquia era a corda brilhante que fora encontrada na bolsa do sagrado Ulrich Dopatka. Ninguém sabia de que material estranho, elásti­co porém irrompível a corda era feita. Mas no Livro dos Patriarcas es­tava escrito que o material chamava-se “sintético” — uma palavra da antigüidade cujo significado, obviamente, nem mesmo os eruditos irmãos do Conselho de Aprendizagem conheciam.

Os noviços experimentaram sentimentos estranhos à medida que o confrade lhes mostrou um pedaço de “papel de embrulho”. Era do mes­mo marrom ao que o sagrado Gottfried Skaya se referia na Canção da Devastação. Como devem ter sofrido aqueles notáveis e sagrados pais! Que maravilhosos conhecimentos e materiais tinham na antigüidade!

A primeira visita às relíquias durou uma hora. Os noviços viram ferramentas desconhecidas, lápis misteriosos e objetos chamados “reló­gios” no Livro dos Patriarcas, inclusive um relógio parcialmente trans­parente com um só ponteiro, que sempre apontava para o pôr-do-sol. O irmão fez uma demonstração: para qualquer lado que ele girasse o reló­gio, o ponteiro voltava-se imediatamente para o pôr-do-sol.

A cerimônia de iniciação alcançou o seu momento máximo. Os no­viços ansiavam pelo momento em que, pela primeira vez, poderiam dar uma olhada na Sagrada Pedra Berlitz. Acompanhados pelos corais empo­lados dos irmãos e irmãs, entraram nas profundezas do Santuário. Em to­das as grutas e cavernas permaneciam acesos lampiões a óleo; o ar se enchia do intenso perfume do óleo de pinheiro. Antes deles, no teto do corredor, havia um buraco circular pelo qual entrava um raio de sol ilu­minando o altar. E lá, sobre uma pequena banqueta, ficava a Sagrada Pe­dra Berlitz, o maior tesouro que o mosteiro possuía.

O Abade Ulrich III fez uma oração em agradecimento. Os presentes ouviram com profunda emoção e inclinaram suas cabeças. A parte formal do festival de iniciação terminou com as palavras: “Sagrada Berlitz, agra­decemos este presente dos céus!” Todos os noviços então se reuniram em torno do abade. Ele cuidadosamente elevou a Sagrada Pedra Berlitz da banqueta e a segurou na direção dos jovens com um sorriso radiante de alegria.

A pedra era mais ou menos do tamanho de uma mão. Era negra e tinha vários botóezinhos, sobre os quais, olhando de perto, era possível notar letras individuais. A parte superior da pedra continha uma fenda, sob a qual havia um fundo cinza levemente cintilante. Ao lado, numa ins­crição clara, liam-se as letras “BERLITZ” e abaixo, em letras menores, a palavra “Intérprete 2".

Com a ponta do dedo, o Abade Ulrich Dl pressionou os botões das letras que formavam a palavra “AMOR”. Imediatamente as letras “A-M- O-R" apareceram no fundo cinza. Era fantástico; os noviços mal respira­vam. Então Ulrich pressionou outro botão e logo abaixo das letras “A-M-O-R" apareceram, como se escritas pelas mãos de um fantasma, as letras “L-O-V-E”.

“Aleluia!”, gritou Ulrich, e elevou seu olhar para os raios de sol que se infiltravam pelo telhado.

“Aleluia!”, regozijaram-se os noviços e os irmãos e irmãs do coro.

“Que o poder da pedra seja preservado! A Sagrada Berlitz seja lou­vada e seu poder também duradouro!”

Mais uma vez o abade pressionou os botões. Desta vez apareceu a palavra “S-A-G-R-A-D-O”; e logo depois as letras “S-A-C-R-E-D”.

“Aleluia!”, gritou o abade na direção do telhado, e sua “Aleluia” ecoou na multidão. Ulrich III começou, em uma seqüência cada vez mais rápida, a pressionar as letras das palavras da Sagrada Pedra Berlitz. A cada vez, apareciam letras esquisitas abaixo das palavras. Era um misté­rio que fugia ao alcance do entendimento humano. Os noviços se entreo­lhavam perplexos. Eles sabiam que testemunhavam uma enorme maravilha. Era um momento sublime.

Finalmente, Ulrich, relutante e cuidadosamente, colocou a Sagrada Pedra Berlitz de volta sobre a banqueta. Com reverência e uma expressão grave ele voltou-se aos noviços. “A Sagrada Pedra Berlitz é uma pedra- tradutora. Com sua ajuda, o idioma dos antigos pais sagrados pode ser transformado em outros idiomas da Antigüidade. A pedra é sagrada por­que ela retém o poder eterno do sol. Bastam três horas de luz solar e a pedra pode se pronunciar por doze horas. Ela nunca desapontou o Con­selho de Aprendizagem. Ajudou-nos a entender o sagrado Livro dos Pa­triarcas. Nos ajudará também a decifrar outras inscrições da antigüidade, cujos restos freqüentemente são descobertos.”

Valentin, o segundo noviço mais velho, em uma tentativa, pergun­tou: “Reverendo Ulrich, de onde vem a Pedra Berlitz?”

“Uma importante questão, meu jovem!”, respondeu o abade em tom bem-humorado. “Saiba, então, que a Sagrada Pedra Berlitz foi des­coberta pelo nosso sagrado pai Ulrich Dopatka. No Livro dos Patriarcas está escrito como o sagrado Ulrich Dopatka a encontrou. Isso aconteceu dois anos, sete meses e nove dias depois da Grande Devastação. O vene­rável Ulrich Dopatka escalou o restante da montanha que chamavam de Jungfrau. Algumas centenas de metros abaixo do pico, que havia sido destruído na Noite da Devastação, havia ruínas. O Livro dos Patriarcas, capítulo 16, verso 38, diz até que eram as ruínas de uma estação cientí­fica que existira abaixo do pico da montanha.”

O abade fez uma pausa para respirar por alguns segundos e depois prosseguiu: “Meu jovem amigo, o sagrado Ulrich Dopatka provavelmen­te escalou a montanha que se chamava Jungfrau na esperança de encon­trar algo útil naquelas ruínas. Talvez ele tenha sido guiado pelo espírito da Sagrada Berlitz para que a encontrasse. Muitos e misteriosos são os caminhos de Deus!

Amanhã vocês todos vão começar a ler o sagrado Livro dos Pa­triarcas. Nos anos que se seguem vocês aprenderão muito. Sejam obe­dientes e humildes. Louvem Deus Todo-Poderoso e os pais sagrados da antigüidade!”

No Livro dos Patriarcas, cada capítulo começava com as palavras: “Meu pai me disse...” O texto original havia sido escrito pelos filhos dos pri­meiros pais — os patriarcas — e totalizava 612 páginas. Do texto origi­nal, contudo, somente um quarto permaneceu. Era difícil decifrar a escrita porque tinha ficado manchada e amarelada com o passar dos anos. Graças a Deus os irmãos e irmãs logo começaram a fazer cópias.

As primeiras páginas, contudo, eram diferentes, pois tinham sido escritas por Gottfried Skaya no “papel de embrulho” que os primeiros pais levavam junto com o kit de sobrevivência. Estas páginas traziam ins­crições em ambos os lados com uma tinta preta e fina, cuja composição ninguém conhecia. Elas indicavam datas do antigo calendário Cristão.

E nada mais foi escrito por vários anos, até que surgiram as primei­ras inscrições em peles de animais. Isso foi escrito pelos patriarcas e pe­los filhos e sobrinhos dos primeiros pais. Eles haviam introduzido um novo calendário que contava os anos desde a Grande Devastação. As le­tras em vermelho vibrante desses documentos destacavam-se em contras­te com o fundo amarelo-escuro das peles; geralmente, várias peles eram unidas com hastes de plantas. Os descendentes dos patriarcas não come­çaram a usar giz antes do ano 116 depois da Grande Devastação: fizeram um calço de fibra de plantas tecidas e, untaram com uma fina camada de giz. Para uniformizar ainda mais, o giz era misturado a óleo de frutas.

Os noviços aproveitavam muito seus estudos. Seus professores eram os membros mais velhos do monastério, e quaisquer perguntas es­pecíficas que tinham eram respondidas pelo representante do Conselho de Aprendizagem.

“Venerável Membro do Conselho”, perguntou um noviço na quarta semana de estudo, “por que me chamo Birgit e meu amigo aqui Chris- tian? Por que é que tem um Valentin, um Marcus, um Will e uma Ger- trude? De onde vêm esses nomes todos?”

“Esses são os nomes que os primeiros pais deram a seus filhos e filhas. Havia três pais: o sagrado Gottfried Skaya, o sagrado Ulrich Do- patka e o sagrado Johan Fiebag. Eles, no todo, tinham quatro mulheres, cujos nomes eram: Silvia, Gertrude, Elizabeth e Jacqueline. Os primeiros pais procriaram com essas mulheres tendo quatro filhos; nos primeiros anos depois da Grande Devastação, cada uma das mulheres deu à luz uma criança por ano. Todos os descendentes receberam nomes que os pa­triarcas conheciam na antigüidade. Isso responde a sua pergunta?”

Então Valentin disse: “Ontem nós lemos o Capítulo 19; mas não conseguimos chegar a uma conclusão quanto ao significado do termo ‘Grandes Pássaros7. Venerável Membro do Conselho, poderia nos expli­car?”

O venerável membro do conselho hesitou por um instante, em se­guida sorriu e dirigiu-se decididamente para a parede lateral, onde havia prateleiras de madeira com cópias do Livro dos Patriarcas. Ele encon­trou a página que continha o Capítulo 19, separou-a das outras e colocando-a na frente de Valentin pediu que lesse o texto.

 

Capítulo 19,

Verso 1: Meu pai me disse que o pai dele, Gottfried, contou esta parábola a ele um dia quando, ao meio dia, um grande pássaro voava sobre o vale.

Verso 2: Na minha época havia pássaros que eram 200 vezes maior do que aquele pássaro.

Verso 3: No estômago daqueles pássaros sentavam homens que feste­javam e bebiam.

Verso 4: Por pequenas janelas eles podiam avistar a terra abaixo deles.

Verso 5: Estes pássaros voavam com asas rígidas, mais rápido do que o vento, sobre os mais largos oceanos.

Verso 6: Além dos largos oceanos havia casas tão altas que algumas delas tocavam as nuvens. Por esta razão eram chamadas de “arranha-céus”.

Verso 7: Nas cidades dos arranha-céus viviam milhões de pessoas.

Verso 8: Não sabemos o que aconteceu com elas. Que Deus tenha pie­dade de suas almas.

 

“E então, Valentin, o que você acha que significa?”

Valentin deu de ombros. “Na verdade não sei. Não consigo imagi­nar grandes pássaros nos quais as pessoas se sentem e até comam.”

“Você duvida do que dizem os escritos do Livro dos Patriarcas?” Valentin permaneceu em silêncio, mas a atenta Birgit falou: “O tex­to vem de um Patriarca da terceira geração depois da Grande Devastação. Ele enfatiza que seu avô contou esta parábola para o pai dele. Uma pa­rábola deve ser algum tipo de comparação.”

O noviço Christian, que sentava-se ao lado de Birgit e raramente a contradizia, porque a amava, interrompeu com veemência de forma inco- mum: “Eu tomo o texto sagrado por verdade, mesmo que eu não seja ca­paz de imaginar pássaros gigantes em que as pessoas se sentavam e comiam. O sagrado Gottfried Skaya não mentiu para seu filho — ele foi uma testemunha viva da antigüidade.”

A calorosa discussão que se seguiu foi interrompida pelo venerável membro do conselho: “Basta, noviços! O Conselho de Aprendizagem discutiu o Capítulo 19 em várias ocasiões. Também questionamos a Sa­grada Pedra Berlitz. A pedra não conhece outras palavras equivalentes a grandes pássaros. Portanto não podem ter existido. Arranha-céus, é ver­dade, é uma palavra reconhecida pela pedra sagrada. Portanto devem ter existido grandes casas e torres conforme descrito no Livro dos Patriarcas."

“Sendo assim, acreditamos que os grandes pássaros nos quais as pessoas se sentavam era uma visão do futuro concedida ao sagrado Gott­fried Skaya. Você obviamente sabe que os seres humanos não podem voar, mas neste aspecto eles gostariam de ser como os pássaros. Seguin­do este desejo, sem dúvida, o sagrado Gottfried Skaya imaginou um fu­turo distante no qual as pessoas poderiam voar sobre as águas como grandes pássaros, sem grande trabalho ou esforço. Provavelmente o jo­vem Patriarca cometeu um engano ao escrever este relato. Ele não deve­ria ter colocado os Versos 2-7 no tempo pretérito, mas no futuro. Em outras palavras, não ‘havia pássaros que eram 200 vezes maior do que aquele pássaro...’, mas ‘haverá pássaros que serão 200 vezes maior.’ Vo­cês estão entendendo, noviços?”

Todos permaneceram em silêncio. Neste ponto, Marcus e Christian não concordavam com o Conselho de Aprendizagem. Christian acredita­va que já havia pássaros mágicos feitos de madeira forte nos quais as pessoas se sentavam e acenavam para os que ficavam na terra.

Mês a mês, o estudo dos textos ficava cada vez mais difícil. Isso porque boa parte do material original estava ilegível e portanto não tinha sido transferido para as cópias reproduzidas. Além disso, havia muitas passagens faltando mesmo na fonte: lacunas no texto, que dificultavam o entendimento da totalidade. Mais complicado eram os textos incomple­tos da primeira geração — o Capítulo 3, por exemplo, no qual se discutia a causa da Grande Devastação.

 

Verso 1: Meu pai me disse que seu amigo Johan, o geólogo, achava que tinha sido causada por um grande meteoro que atingira a Terra.

Verso 2: O risco de sermos atingidos por um meteoro ou cometa era estatisticamente fixado em uma vez a cada 10.000 anos.

Verso 3: A força da colisão ... [ilegível]... 20 minutos mais do que a bomba de Hiroshima.

Verso 4: [O início não consta no original]... asteróides Geographos, Adonis, Hermes, Apollo e Icarus cruzavam a órbita terrestre.

Verso 5: [O início não consta no original)... uma fenda polar que levou a uma mudança no eixo da Terra.

Verso 6: O pólo norte agora fica na direção do pôr-do-sol... [ilegível].

Verso 7: O que antes era terra agora está debaixo d’água; somente as montanhas altas e vales elevados não submergiram.

Verso 8: As montanhas que anteriormente ficavam sob o mar, agora fi­cam expostas... [o resto não consta],

 

O Verso 1 já era difícil. A palavra “geólogo” já havia sido mencionada em referência ao sagrado Johan Fiebag. Mas não havia uma explicação do significado da palavra. A Sagrada Pedra Berlitz indicava a palavra “geologia” — mas o que isso queria dizer? O mesmo se aplicava às pa­lavras incompreensíveis “cometa” e “meteoro”.

Os veneráveis membros do Conselho de Aprendizagem ficavam quietos sem saber o que dizer para explicar o conceito “bomba de Hiroshima”. Eles haviam analisado esta palavra em todas as suas partes constituintes, sem conseguir determinar qualquer significado. “Hir” podia ser lido como “rir”, "Hiro” poderia ser associado a “herói”. E bomba, eles ha­viam descoberto com a ajuda da Sagrada Pedra Berlitz, e significava algo “atirado” e “explodido”.

O significado da parte final de “bomba de Hiroshima” era impossí­vel de se deduzir, apesar de alguns membros do Conselho acreditarem que se referia àquela terra distante da antigüidade que em outra parte do livro era referida como “China”. “China” e “shima” soam bem parecidas.

Então o que significava o termo inteiro? Provavelmente “o que foi atira­do por um herói na China” ou “explodiu o herói da China”. Entretanto, essa interpretação era contestada por outros membros do Conselho, pois sabia-se que apenas os três pais e as quatro mães haviam sobrevivido à Grande Devastação. Então de onde teria vindo o “herói da China”?

O significado do Capítulo 4 era igualmente caótico e difícil. Nele, o filho do sagrado Ulrich Dopatka escrevera:

 

Verso 1: Meu pai me disse que passaram muita fome naqueles dias até o dia em que perceberam que as águas estavam cheias de peixe.

Verso 2: Nos primeiros meses eles ainda esperavam que algum aero­plano aparecesse.

Verso 3: Não chegou nenhum aeroplano, mas um ÓVN1.

Verso 4: Tanto os homens quanto as mulheres puderam observá-lo por um bom tempo.

Verso 5: O ÓVN1 passou gentilmente por sobre as rochas na margem inferior.

Verso 6: Alguns meses depois, toda a margem começou a brotar e ver­dejar.

Verso 7: Dentre as plantas que cresciam por lá, encontraram muitas co­nhecidas: batata, milho, cereais — na verdade tudo o que as pessoas pre­cisam para se nutrir.

Verso 8: Todos estávamos contentes e agradecidos; mas os extraterres­tres desapareceram por muitos anos, até que voltaram para encontrar Gottfried Skaya.

 

Os veneráveis membros do Conselho de Aprendizagem deram a este ca­pítulo do Livro dos Patriarcas o título de Som da Esperança. O Verso I era claro, mas o Verso 2 continha uma palavra incompreensível; “aero­plano”. A Pedra Sagrada só oferecia a palavra “aeroplane”, que os mais eruditos associavam a “pássaro”, pois comparando com outros três tre­chos do texto, foi possível verificar que “aero" tinha a ver com “fazer com o ar”. Mas qual seria o significado de “plano”? A Sagrada Pedra Berlitz indicava que significava algo liso, achatado. De qualquer forma que se colocasse não fazia sentido nenhum: “pássaro liso”, “pássaro aé­reo”, “liso aéreo”, “pássaro aéreo liso”. Não era difícil concordar com um tnembro mais velho do Conselho que afirmava que deveria conter um pe­queno erro: que o filho do sagrado Ulrich Dopatka devia ter posto um “1” por engano escrevendo "aeroplano” em vez de “aeropano” — uma pala­vra antiga que talvez significasse uma cobertura ou proteção contra o ar ou vento. Não havia dúvidas quanto ao fato de ter feito frio e ventado nos primeiros meses após a Grande Devastação. Essa era a razão pela qual os Patriarcas esperavam que algo lhes protegesse do vento frio, mas ob­viamente esse “algo” não estava perto de chegar. Esta interpretação era interessante e geralmente aceita pela maioria.

As dificuldades de interpretação do restante do Capítulo, contudo, mantinham-se insuperáveis. O que os Patriarcas queriam dizer com “ÓVNI”? Deve ter sido algo que eles podiam passar boa parte do tempo observando. De alguma forma este OVNI tinha algo a ver com a geração de colheitas que começaram a brotar na margem. ÓVNI devia ser outra designação para Deus Todo-Poderoso, pois todas as plantas tinham sido destruídas na Grande Devastação, e agora, graças ao ÓVNI, reaparece­ram. Portanto deve se referir à grande e eterna bondade de Deus, que evi­tou que os primeiros pais e mães morressem de fome. E por isso que estavam todos — conforme descreve muito bem o Verso 8 — tão con­tentes e agradecidos.

Mas e a palavra “extraterrestre”? Seja lá o que for, mais tarde, en­controu Gottfried Skaya de novo.

Os membros do Conselho de Aprendizagem conheciam a palavra “extraterrestre”. Significava “de fora da Terra”. “Extraterrestre” portanto significava algo que vinha de fora da Terra, que claramente não pertencia à Terra. Então isso devia referir-se a Deus Todo-Poderoso ou a um de seus mensageiros. Não havia dúvida quanto a isso no Conselho de Aprendizagem. O Deus Todo-Poderoso deve ter escolhido Gottfried Skaya para quem Ele enviaria um ou mais mensageiros. A frase do verso 8 não permitia outra interpretação; “...mas os extraterrestres não tinham aparecido durante muitos anos, até que voltaram para encontrar Gottfried Skaya.”

Os monges, extremamente inteligentes e perceptivos, não conse­guiam fazer nada além de pesquisar o significado dessas coisas. A res­posta veio em um lampejo de esclarecimento. Deus Todo-Poderoso permitiu que o mundo todo fosse destruído, então a Grande Devastação deve ter sido um castigo que o Senhor aplicou à humanidade — uma pu­rificação da Terra. Mas como Deus Todo-Poderoso em sua infinita bon­dade não queria exterminar completamente a humanidade, ele escolheu um pequeno grupo de pessoas puras para sobreviverem à destruição. Es­tes fundariam uma nova raça humana.

Essas idéias foram confirmadas quando os pensadores do monasté- rio, dotados de grande perspicácia, conseguiram decifrar o significado do nome Gottfried Skaya. “Skaya” foi interpretado por meio da Sagrada Pe­dra Berlitz como céu, depois de ela própria corrigir para “sky”; “Gott” ela remetia a “God”, Deus; “fried” a “free”, livre. Estava claro, portanto, que “Gottfried Skaya” representava a liberdade que Deus havia concedi­do à humanidade, depois de Ele ter purificado o mundo com a Grande Devastação.

O irmão Johan, descendente do sagrado Johan Fiebag, a quem ocor­reu esta brilhante interpretação, foi condecorado com a Ordem dos Pen­sadores por isso.

Depois de quatro anos e meio, apenas 3 dos 18 noviços originais haviam permanecido fiéis aos estudos. Os demais trabalhavam no mosteiro ou no campo; e todas as noviças, sem exceção, tinham dado à luz o primeiro filho.

Marcus e Valentin concordavam em grande parte com as idéias e opiniões predominantes e ministravam palestras inspiradoras no mostei­ro. Christian permanecia desconfiado e cético. Muitas vezes ele tentara obter acesso à Revelação do Sagrado Gottfried Skaya. Mas somente o abade tinha permissão. A perspicácia inteligente de Christian não gostava de ser iludida com mistérios e aceitação pela fé, então ele decidiu tornar- se abade.

O caminho a subir, para tornar-se abade, era longo e árduo, fre­qüentemente cheio de intrigas de todos os tipos; era preciso estabelecer um equilíbrio entre o Conselho de Aprendizagem e os chefes externos ao mosteiro. A tarefa de Christian também era dificultada pelo fato de que ele jamais poderia revelar a verdade sobre as razões que o moviam ou compartilhar os pensamentos mais profundos com alguém.

Com o passar dos anos, Christian tornou-se uma figura ainda mais solitária. Ele passava muito tempo isolando-se, imerso nos estudos. As pessoas que o cercavam acreditavam que agia assim por causa do fogo e da devoção que inflamavam seu íntimo. Eles estavam certos, porém não sabiam que este fogo era alimentado pelas dúvidas sobre a interpretação dos textos. Christian queria saber, não crer. O estudo textual havia gerado um impossível emaranhado de comentários eruditos. Cada membro do Conselho acreditava em suas próprias conclusões e tentava impor sua vi­são pessoal. Nas cópias mais recentes do Livro dos Patriarcas mais e mais trechos do texto eram descartados porque, de acordo com os mem­bros do conselho, “eles não significavam nada e apenas confundiam a questão”.

No Capítulo 45 do Livro dos Patriarcas, estava escrito que apenas alguns dias depois da Grande Devastação aparecera madeira flutuando sobre as águas e que ressurgiram os primeiros pássaros; e depois de al­gumas semanas, brotos verdes começaram a se mostrar por entre as fen­das e buracos nas rochas.

O Conselho de Aprendizagem considerou isso um milagre atribuído às mãos de Deus. Christian discordava. Vários pássaros podem bem ter escapado da Grande Devastação escondendo-se em cavernas nas rochas. Pólen e sementes podem ter viajado pelos ares e caído, semeando a terra, que então passou a verdejar. O mesmo deve ter ocorrido com os diversos tipos de pequenos animais que, aos poucos, reapareceram. Eles devem ter encontrado abrigos de toda espécie para se protegerem da Grande Devas­tação.

Os debates sobre tudo isso eram exaustivos. Por exemplo, no texto original estava escrito (Capítulo 32. Verso 6): “Graças a Deus que o is­queiro de Uli ainda funciona; conseguimos fritar o peixe...” Mas na ver­são mais recente isso tinha sido alterado para “Deus enviou o fogo a Ulrich Dopatka para que os patriarcas pudessem esquentar seus alimen­tos”. Isso foi uma falsificação do texto! Apesar das veementes manifes­tações contrárias e do caloroso apoio de Valentin e Marcus, Christian era minoria. O Conselho aprovou a nova versão.

Igualmente absurdo foi o debate sobre o Capítulo 44, que acabou denominado Período dos Anjos. O original era assim:

 

Verso 1: Meu pai me disse que as pessoas da antigüidade tinham via­jado pelo espaço.

Verso 2: Várias expedições foram enviadas à lua e retornaram em se­gurança para a Terra.

Verso 3: A tecnologia envolvida era muito cara, portanto diversas na­ções haviam cooperado mutuamente, enviando seus conselheiros científi­cos para trabalharem nesses projetos.

Verso 4: Uma segunda expedição a Marte havia sido planejada para o ano 2017, um ano depois da Grande Devastação.

Verso 5: Para evitar tensões e disputas, todas as nações envolvidas nes­ses projetos eram mantidas informadas sobre os avanços tecnológicos.

Verso 6: A troca de informações ocorria por intermédio de conselheiros e mensageiros científicos.

 

Pelo Livro de Fatos Astronômicos (Capítulos 49-51), sabia-se que “lua” referia-se à pequena luz noturna; e que Marte era um planeta vizi­nho da Terra. Sabia-se os nomes de todos os planetas, bem como a es­trutura do sistema solar.

Apesar da clareza dessas informações, o Conselho de Aprendiza­gem recusou-se a aceitar o conceito de viagem espacial. Agora uma das palavras que a Sagrada Pedra Berlitz dava em resposta à palavra “men­sageiro” era “angel”, pela qual o Conselho chegou à palavra “anjo”. Ob­viamente esses mensageiros eram anjos, não havia dúvida; isso se confirmava pelo fato de outras nove ocorrências no texto em que a pala­vra anjo se encaixava perfeitamente e fazia total sentido.

A nova versão do Capítulo 44, com o acréscimo de comentários ex­tremamente esclarecedores, ficou:

Meu pai me disse que na Antigüidade as pessoas observaram o céu. Elas sonhavam em viajar até a lua e voltar em segurança. Naquela época, os anjos visitaram várias nações. Eles avisaram os seres humanos da Grande Devastação e disseram que era errado adorar o planeta Marte. Para evitar tensões e disputas, todas as nações foram informadas desse aviso. Os pró­prios anjos espalharam a informação.

De acordo com as idéias de Christian, essas alterações falsificavam o texto original; entretanto, tinham sido aprovadas pelo Conselho de Aprendizagem. Agora dizia-se que o Conselho fora “inspirado pelo espí­rito” e portanto tinha autoridade para adaptar os textos incompreensíveis para um formato mais razoável e acessível.

Christian tinha 49 anos quando foi eleito abade. Em homenagem ao sagrado Gottfried Skaya. ele se autodenominou Abade Gottfried II.


 

                     Confusão Textual

 

“Os incapazes de atacar o pensamento, atacam o pensador. ”

        (Paul Valéry, 1871-1945)

 

Os textos escritos há milênios que nos foram transmitidos são ricos em ignorância; eles são um fértil tubo de ensaio — parte mito, parte lenda —, sendo que alguns deles são considerados livros sagrados. Muitas des­sas histórias forçadas são consideradas verdades absolutas. Suas fontes textuais originais foram supostamente ditadas pessoalmente por Deus, ou no mínimo por um arcanjo ou outro, ou espíritos celestiais; ou talvez por um santo ou por uma pessoa “inspirada" no sentido gnóstico. (“Gnose”, atualmente, é considerada uma filosofia, religião ou visão de mundo in­fluenciada esotericamente. Mas a palavra “gnose” é de origem grega e significa “conhecimento”).

É inegável que esses textos contêm muita fraude e pensamentos ti­dos como verdadeiros. Líderes respeitados são enaltecidos e glorificados; sonhadores transformam os formatos das nuvens em sinais do céu; ocor­rências diárias como a morte são descritas como viagens para outro mun­do. Pior ainda, nossos ancestrais, em sua sede de conhecimento e movidos pela verdadeira crença e desejo de entender, falsificaram e obs­cureceram os textos. Acontecimentos que sem dúvida, nas versões origi­nais, não tinham nada a ver um com o outro, foram inter-relacionados. Para “esclarecer" as coisas, foram feitos acréscimos que de repente — e subitamente — foram passados adiante como sendo fontes originais. A moralidade, a ética, a crença e a história tribal tomaram-se inter-relacio- nadas; elementos externos de outras tradições culturais foram misturados.

e os textos foram amontoados de modo que a fonte e o significado ori­ginal agora, sem dúvida, nunca serão decifrados.

A miscelânea é compreensível. Estamos falando de textos com mi­lhares de anos e dos incessantes esforços de nossos ancestrais para darem sentido a eles. O estado de confusão dos textos antigos nos é trazido quando percebemos o grau de confusão que pode ser causado em um pe­ríodo de tempo bem inferior a milênios.

Veja este exemplo: cada cristão de fé está convencido de que a Bí­blia é, e contém, a palavra de Deus. E no que se refere aos evangelhos, acredita-se muito que os companheiros de Jesus escreveram mais ou me­nos suas elocuções e profecias à medida que ocorriam. As pessoas acre­ditam que os evangelistas testemunharam (pela primeira vez) as peregrinações e milagres da vida de seu mestre, e que logo depois escre­veram o que havia acontecido. Esta “crônica’ da vida de Jesus foi endos­sada com o termo “texto original”.

 

Textos Originais?

Mas na verdade — e todo teólogo com alguns anos de estudo nas costas sabe — isso tudo é falso. Os “textos originais” que oferecem um âmbito tão rico para sofisma teológico na realidade não existem. O que é que te­mos então? Cópias que, sem exceção, foram feitas entre os séculos 4 e 10 depois de Cristo. E essas cópias — cerca de 1.500 — foram feitas de cópias anteriores; e nenhuma cópia é idêntica à outra. Foram identifica­das mais de 80.000 discrepâncias. Não há uma só página desses chama­dos “textos originais” que não apresente contradições. De cópia para cópia, os versos foram alterados pelos autores que pensavam que sabiam o que significavam e podiam expressar de uma maneira mais adequada às necessidades de sua época.

Esses “textos originais” bíblicos esbanjam milhares e milhares de erros que não são difíceis de expor. O mais conhecido — o Codex Sinai- ticus — que, como o Codex Vaticanus, data do século 4 d.C., foi encon­trado em 1844 em um monastério no Sinai. Contém nada menos do que 16.000 correções, feitas no mínimo por sete mãos diferentes. Em várias partes o texto foi alterado várias vezes e substituído por um novo “texto original”. O professor Dr. Friedrich Delitzsch, especialista altamente ca­paz, encontrou 3.000 erros de cópia apenas neste texto.1

Tudo isso fica mais inteligível quando percebemos que nenhum dos evangelistas realmente foi contemporâneo a Jesus e nenhum contempo­râneo escreveu um relato como sendo testemunha ocular. Até a destrui­ção de Jerusalém pelo imperador romano Titus (39-81 d.C.) no ano 70, ninguém tinha começado a escrever coisa alguma sobre Jesus e seus apóstolos. O evangelista Marcos, o primeiro do Novo Testamento, escreveu sua versão pelo menos 40 anos depois da crucificação de seu mestre. Mesmo os padres da Igreja dos primeiros séculos depois de Cristo con­cordavam — com isso, senão com outras coisas mais — que os textos originais haviam sido adulterados. Eles falavam bastante abertamente so­bre os acréscimos, os decréscimos, as exclusões, os aperfeiçoamentos e destruições maciças dos textos. Quanto a isso, o especialista de Zurique, Dr. Robert Kehl, escreveu:

Ocorreu várias vezes de a mesma passagem ser corrigida por uma mão, depois “corrigida novamente” por outra pessoa, dando um significado to­talmente oposto, conforme qual dogma fosse preferido na ocasião por uma determinada escola de pensamento. De qualquer forma, correções indivi­duais — e mais as sistemáticas correções gerais — produziram um caos completamente indecifrável.2

Qualquer um que tenha uma Bíblia pode chegar a esta simples conclusão. Bastam apenas alguns exemplos: compare, por exemplo, os evangelhos de Mateus e de Lucas com o de Marcos. Os dois primeiros afirmam que Jesus nasceu em Belém. Marcos diz que ele nasceu em Nazaré.3

 

                 O Fim das Contradições

Seria bom se pelo menos os teólogos entrassem em acordo sobre alguma coisa! Em vez disso, eles assumem posições conflitantes, defendendo veementemente seu próprio lado, às vezes apenas perturbados, às vezes chegando a uma forte ira em defesa de suas interpretações. Para o leigo é um tanto quanto impossível forçar um caminho para o surgimento da contradição e da distorção. Mas me parece que os próprios teólogos, apesar da linha direta que têm com Deus, estão continuamente cometendo enganos.

Se mesmo os textos de períodos sobre os quais somos bem infor­mados — afinal, sabemos algo sobre a história romana — são tão distor­cidos e adulterados, o que podemos esperar de textos com milhares de anos? Estes antigos textos, não importa de qual origem religiosa ou geo­gráfica, são uma verdadeira confusão, uma salada-mista. E possível mer­gulhar nas milhares de páginas de comentários escritas por pesquisadores dedicados com conhecimento lingüístico e integridade. A única coisa que eles não fazem é concordar uns com os outros, mesmo em uma única ge­ração, muito menos em períodos mais longos.

Estou convencido de que essa salada de comentários sobre os textos antigos da humanidade — muito embora mentes brilhantes tenham colo­cado um belo tempero de pesquisa científica, análise e comparação — não fez nosso conhecimento avançar um milésimo. Séculos de exercício de raciocínio e profunda filosofia por parte de mentes incontestavelmente geniais não levaram a respostas certas, muito menos a provas da existên­cia de Deus, de deuses, de anjos ou de exércitos celestiais. A literatura da exegese, da interpretação de textos religiosos, enche bibliotecas intei­ras, mas ninguém consegue entender nada. Os resultados obtidos adap­tam na melhor das hipóteses, à opinião de uma escola de pensamento, e com o passar do tempo mudam, conforme o “gosto da época”. Não que isso faça diferença: cada nova geração nem sabe, nem se importa com o que seus predecessores pensavam.

Em seu diálogo Fedro, Platão cita Sócrates:

Ouvi dizer que havia nos arredores de Náucratis, no Egito, uma dessas ve­lhas divindades a quem os naturais da terra consagravam o pássaro deno­minado íbis. Esse deus era conhecido pelo nome Teute. Foi ele o primeiro a descobrir os números e o cálculo, a arte da geometria e a astronomia, o jogo do gamão e dos dados e também os caracteres da escrita...

Este deus Teute deu a escrita ao faraó da época dizendo: “Aqui está, majestade, uma arte capaz de deixar os egípcios mais sábios e com melhor memória, pois foi inventada para aumentar as recordações e a compreen­são.”

O faraó não concordou, e contestou o deus Teute:

“Esta invenção levará o esquecimento à alma de quem aprende, pelo fato de não obrigá-la ao exercício da memória... Confiante na escrita, será por meios externos, com a ajuda de caracteres estranhos, não no seu pró­prio íntimo e graças a eles mesmos, que passarão a despertar suas remi­niscências. Não descobriste o remédio para a memória, mas apenas para a lembrança. O que ofereces aos que estudam é simples aparência do saber, não a própria realidade.”4

Ele estava certo. Os escritos de 1.000 anos só podem nos dizer algo que aconteceu — talvez — há algum tempo e de uma maneira ou outra. Eles não podem nos ajudar a saber o que efetivamente aconteceu.

Quem sabe, Deus — seja lá quem for ele — possa ter criado outros mundos muito antes do nosso. Na obra Jewish Tales of the Ancient Times (Contos Judaicos da Antigüidade) está escrito:

No início, o Senhor criou milhares de mundos, depois ele criou mais ou­tros; e todos eles não são nada em comparação com Ele. O Senhor criou mundos e os destruiu, plantou árvores e as derrubou pela raiz, pois elas cresceram desordenadamente e ficaram no caminho umas das outras. E Ele continuou criando mundos e destruindo-os, até que criou o nosso mun­do. E então Ele disse: “Gosto deste; não gostei dos outros.”5

 

                   Um Presente dos Céus

Foi mesmo um ser humano que, na longa fase de desenvolvimento do in­telecto, de repente teve a idéia de rabiscar alguns sinais com significado? É claro! É claro? As tradições antigas nos dizem que as letras foram in­ventadas 2.000 anos antes da criação do mundo. Como não havia perga­minho disponível naquela época, nem pele de gado, nem metal, nem madeira, este livro existia, dizem, em forma de uma pedra safira. Um anjo chamado “Raziel, o mesmo que sentou-se ao lado do rio que vinha do Éden”, deu este estranho livro a nosso primeiro ancestral, Adão. Deve ter sido algo especial, pois continha não só tudo o que vale a pena saber, mas também predizia tudo o que aconteceria no futuro. O anjo Raziel ga­rantiu a Adão que ele encontraria lá “tudo o que acontecerá até o dia de sua morte”.

Não só Adão beneficiou-se do milagroso livro, mas também seus descendentes:

Seus filhos também, os que virão depois de ti, até o último da raça, sabe­rão deste livro o que acontecerá mês após mês, e o que acontecerá entre o dia e a noite; cada um saberá... seja o infortúnio ou a fome que os aflija, seja o milho farto ou escasso, haja chuva ou estio.

Um dicionário, ou mesmo uma enciclopédia inteira, não é nada se com­parado a este superlivro! Os autores deste livro devem ser procurados en­tre os exércitos celestiais, pois depois do anjo Raziel dá-lo a Adão, e até ter lido para ele, algo surpreendente aconteceu.

E no momento em que Adão recebeu o livro, um clarão desceu sobre a margem do rio e o anjo subiu aos céus em meio às chamas. Então Adão sabia que o mensageiro era um anjo de Deus e que o livro fora enviado a ele pelo Santo Rei. E ele o guardou em santidade e pureza.

Até mesmo detalhes específicos do curioso conteúdo do livro são obser­vados. A inventividade de seus autores, que viveram em alguma era cin­zenta, dificilmente pode ser superada:

No livro estavam gravados os sinais mais elevados de sabedoria sagrada e cie continha setenta e dois tipos de conhecimentos, divididos em 670 si­nais dos maiores mistérios. E também 1.500 segredos não confiados aos santos do mundo superior estavam naquele livro.

O Velho Adão leu o livro com grande diligência, pois ele sozinho lhe dava o poder de nomear cada objeto e animal. Mas quando ele pecou, o livro “voou de suas mãos”. Abracadabra.

Adão chorou amargamente e percorreu todo o caminho até chegar às águas do rio. E quando seu corpo ficou inchado e poroso, o Senhor teve piedade. Ele ordenou ao arcanjo Rafael que descesse até Adão e lhe devolvesse a maravilhosa pedra safira. Mas parece que isso não ajudou muito a humanidade.

Adão deixou o livro mágico para seu filho de dez anos de idade, Sete, que deve ter sido um rapazinho bastante atento. Adão lhe falou não apenas sobre a “força do livro”, mas também “em que seu poder e ma­ravilha consistiam”. Ele falou também sobre como ele próprio tinha usa­do o livro e que ele o havia escondido em uma fenda na rocha. Finalmente Sete recebeu instruções para usá-lo e para “conversar com o livro”. Ele só poderia aproximar-se dele com reverência e humildade. Além disso, não deveria comer cebola, alho ou outros temperos antes de usá-lo e devia lavar-se por inteiro antes de consultá-lo. Adão convenceu seu filho de que ele nunca deveria se aproximar do livro com uma men­talidade frívola.

Sete seguiu as instruções do pai, aprendeu com a sagrada pedra sa­fira por toda a sua vida, e finalmente construiu “...uma caixa dourada, co­locou o livro nela e escondeu a caixa em uma caverna na cidade de Enoque.”

Lá ela ficou até que foi revelado em sonho ao patriarca Enoque o local em que o livro de Adão se encontrava. Enoque, o homem mais in­teligente de sua época, não se demorou; dirigiu-se à caverna e esperou. “Ele o fez de modo que as pessoas do local não notaram absolutamente nada.” Por meio de alguma espécie de parapsicologia ou outro meio gnóstico, lhe foi revelado como ele deveria usar o livro. E no mesmo mo­mento em que o significado do livro ficou claro, uma luz surgiu sobre ele”. Na verdade, deve ter surgido um candelabro inteiro, pois Enoque

...agora conhecia todos os rumos das estações, dos planetas, das luzes que a cada mês preenchia suas atividades; ele também sabia o nome de cada ciclo e órbita, e dos anjos que conduzem seus cursos.

Maravilhoso! A história não é tão fácil de se desenredar quanto parece, entretanto não é encontrada em apenas duas páginas do Jewish Tales of the Ancient Times (Contos Judaicos da Antigüidade). Há várias conti­nuações e pequenos acréscimos, fragmentos em várias passagens diferen- tes e separadas. Não enfeitei a história com uma só palavra, simplesmente tentei unir as pérolas, em seu estado natural, para formar um colar. Então o que aconteceu com o livro?

Com a ajuda do anjo Rafael, o livro chegou às mãos de Noé. Rafael lhe explicou como ele devia ser usado. O livro ainda estava “escrito em uma pedra safira” e Noé, que tomou a fundar a humanidade depois do dilúvio, aprendeu a entender, com sua ajuda, todos os caminhos dos pla­netas, e também “os caminhos de Aldebarã, Órion, Sirius”. Ele também aprendeu “...os nomes de todas as diversas esferas celestiais ...e os nomes dos criados celestiais."

Não ficou muito claro para mim o porquê de Noé estar tão interes­sado nos caminhos de Aldebarã, Orion e Sirius; e nem de que lhe adian­tava saber os nomes dos “criados celestiais”. Depois do dilúvio, acredito que os sobreviventes deviam ter preocupações de outra natureza. Ah, sim, e Noé colocou o livro “em um relicário dourado e o levou pela pri­meira vez até a arca”.

E quando Noé saiu da arca, o livro o acompanhou todos os dias de sua vida. Na hora de sua morte, ele o deu a Sem. Sem o deu a Abraão, Abraão o deu a Isaque, Isaque o deu a Jacó, Jacó o deu a Levi, Levi o deu a Coate, Coate o deu a Anrão, Anrão o deu a Moisés, Moisés o deu a Josué, Josué o deu aos anciãos, os anciãos o deram aos profetas, os profetas o deram aos sábios; de geração em geração chegou até o Rei Salomão. A ele tam­bém o livro de mistérios foi revelado e ele tomou-se extremamente sábio... Ele ergueu grandes edifícios, e cotn a sabedoria do livro sagrado fez pros­perar tudo o que empreendia... Feliz é aquele cujos olhos viram, cujos ou­vidos escutaram e cujo coração entendeu a sabedoria deste livro.

Essa história rebuscada sobre o livro de Adão poderia ter sido posta na seção “fantasia” sem maior alarido não fossem alguns detalhes que le­vantam alguns questionamentos. Posso entender o desejo de conferir o li­vro a Adão — pois nosso solitário ancestral deve ter obtido o conhecimento em algum lugar, embora um livro, não fosse necessário, estritamente falando. Adão era, sem sombra de dúvidas, uma pessoa bem inteligente, que aprendeu o que precisava através da experiência diária. Também entendo que uma vez tendo sido introduzido um livro na histó­ria, os cronistas se perguntaram para onde ele teria ido e elaboraram o seu percurso ao longo das gerações.

O que não combina bem com tudo isso, contudo, é a idéia da pedra safira. Seja lá quem foi que começou a história só poderia imaginar livros feitos de papel, pergaminho, argila, madeira ou placas de pedra, ou talvez peles de animais ou de gravações em paredes de cavernas. E de onde terá surgido a idéia da pedra safira? Mesmo séculos atrás, que dirá milênios, a idéia de uma enciclopédia inteira gravada em uma pedra preciosa era totalmente incompreensível. Mas não é mais. Na era da informática, di­cionários em microchips é algo perfeitamente possível. Os cientistas tam­bém estão considerando a possibilidade de armazenar informações em cristais. Agora, de acordo com a história, Adão “conversava” com o livro de pedra safira. O quê?! Onde é que o autor desta história estava com a cabeça? E onde foi que ele conseguiu estes detalhes específicos, os “72 tipos de conhecimento”, os “670 sinais dos maiores mistérios” e os “1.500 segredos”? Trata-se de informações precisas que não vêm sim­plesmente do nada, muito menos de dádivas celestiais.

Não se pode contestar que as pessoas de milênios atrás tinham uma maior disposição para crer; mas sua crença também tinha raízes mais profundas. Até onde sei eles podem muito bem ter pensado que qualquer pedaço de metal velho era ouro de verdade; de qualquer forma, sua cren­ça na criação do mundo permanecia inabalável. Os anjos eram vistos como algo sobre-humano: eles eram as espadas e os mensageiros do Deus eterno. Não se brincava com os anjos — eles eram temidos. Então como é que um cronista inclui um anjo em sua velha obra de ficção cien­tífica? O “anjo Raziel” traz a Adão o livro de pedra safira, sendo que Ra- ziel era o mesmo que “sentou-se ao lado do rio que vinha do Éden”. Uma enxurrada de absurdos irreverentes? E como se não fosse o suficiente, o anjo Rafael é o encarregado de devolver o livro a Adão após a Queda.

Eu não superestimo a capacidade deste livro misterioso; contudo, tenho de perguntar por que o autor dá tanta importância a certas conste­lações celestiais. Por que Adão e seus descendentes precisavam saber os caminhos de Aldebarã, Sirius e Órion? Há maneiras mais fáceis de se fa­zer um calendário terrestre.

 

                    Eva e o ÓVNI

O anjo Raziel, que trouxe o livro em pedra safira, também “subiu aos céus em meio à luz”; mas isso só depois de “um clarão ter descido sobre a margem do rio.” Pode-se ler sobre fogo e carruagens voadoras durante a época de Adão, no texto apócrifo A Vida de Adão e Eva.6 Apesar da versão existente ser anterior a 730 d.C., baseia-se em documentos manus­critos em data desconhecida.

Eva ergueu os olhos para os céus e viu uma carruagem de luzes se apro­ximar, puxada por quatro águias fulgurantes, cuja magnificente beleza nin­guém nascido de um ventre materno é capaz de expressar.

Teria a velha mãe Eva sido a primeira testemunha de um ÓVNI? O mes­mo Senhor que criou Adão e Eva e que de vez em quando passeava pelo Jardim do Éden também subiu a bordo desse ÓVNI:

E vejam, o Senhor do poder subiu na carruagem; quatro ventos a sopra­ram, o Querubim guiou os ventos e os anjos dos céus seguiram na frente...

Adão também tirou do livro da pedra safira os nomes de todas as dife­rentes esferas do céu, bem como os nomes dos mensageiros celestiais. Mas afinal, de que céu estamos falando?

A obra Jewish Tales of the Ancient Times nos dá informações mais precisas. A primeira esfera é chamada Vilon; dela a humanidade é obser­vada. Acima de Vilon fica Rakia. onde se encontram as estrelas e os pla­netas. Ainda mais acima fica a esfera Schechakim, e depois dela os céus chamados Gebul. Makhon e Maon. A esfera mais superior do céu. que fica depois de Maon, é Araboth. Aqui

...moram os Serafins. É aqui que ficam também as rodas sagradas e os Querubins. Seus corpos são feitos de fogo e água. Entretanto, eles perma­necem inteiros, pois a água não extingue o fogo, nem o fogo faz a água evaporar. E os anjos louvam o Santíssimo, abençoado seja o Seu Nome. Mas os anjos habitam longe da glória do Senhor; eles ficam a 36.000 mi­lhas de distância Dele e não vêem a morada da Sua glória.

A palavra ‘‘milhas”, obviamente, não está presente na fonte original, mas é uma unidade de medida desconhecida que foi substituída por um tra­dutor por um termo que ele entendia. Mas o número 36.000 não foi alte­rado. Uma particularidade da história é que essas diferentes esferas celestiais não só são caracterizadas por medidas de distância como tam­bém de tempo. Entre um céu e o outro há “degraus” que precisariam de uma “viagem de 500 anos” para serem percorridos. Se observarmos esses dados à luz da modernidade, esta é uma distância de dez anos luz a uma velocidade de 2 por cento da velocidade da luz.

Todas essas histórias e relatos recebem o título “contos e lendas” – que são totalmente inconfiáveis —, nada além de “fábulas ineptas”, como mencionou o teólogo Dr. Eisenmenger 200 anos atrás.' Elas são fa­cilmente descartadas. Em comparação com a “história” elas podem ser relegadas à ficção; são grotescas e maravilhosas, fascinantes e ultrajan­tes. Esses contos e lendas evidentemente ignoram por completo uma se­qüência temporal cronológica e não têm o menor respeito por fatos históricos. A lenda é a especulação e fantasia de “um povo”8; contudo continua sendo uin elo valioso entre a ciência e a pesquisa histórica. Uma lenda aumenta a história; tenta preencher as lacunas e iluminar o que está obscuro. As lendas não surgem do nada; mesmo que seus pontos de vista e interligações não correspondam aos das fontes históricas, ainda conti­nua sendo a “filosofia religiosa da história de um povo”. Mesmo o geó­grafo grego Strabo (cerca de 63 a.C. — 26 d.C.), que escreveu a obra Geographica, em 17 volumes, comentou secamente: “Não é Homérico contar histórias sem um pingo de verdade.”

Nada Além de Lendas?

As lendas magnificam o que é grande, dão um toque mágico ao que é misterioso, enfeitam seus heróis com poderes imaginários. Mas as lendas nunca são uma teia de mentiras. Elas sempre se relacionam a personali­dades históricas e acontecimentos reais. Freqüentemente tentam preser­var o que os historiadores ignoram ou destroem. Todo cidadão suíço conhece, por exemplo, a lenda de Guilherme Tell e a maçã. Os historia­dores rejeitaram e desmistificaram-na, mas os suíços se importam com isso? De uma forma ou de outra, eles têm certeza de que a história deve ter acontecido!

As lendas são também, e sempre foram, internacionais. (Em outro livro demonstrei as extraordinárias relações entre histórias da Bíblia e as histórias tradicionais de índios da América Central.)10 As lendas judaicas inquestionavelmente também contêm similaridades facilmente demons­tráveis com as tradições persa, árabe, grega, indiana e até mesmo ameri­cana. Elas deram nomes diferentes aos personagens e heróis, uma variedade de deuses e descrições de fenômenos naturais diversos, mas os pontos centrais das histórias estão intimamente relacionados. Será que al­guém discorda de que a lenda do dilúvio pode ser encontrada sob várias formas por todo o mundo?

Nas lendas, todas as datas históricas são ignoradas. Nelas não im­porta quando algo aconteceu, somente que aconteceu. Isso também se aplica a muitos livros sagrados. Tomemos como exemplo a versão bíbli­ca do Dilúvio, com Noé e sua Arca. As pessoas apenas tinham de acre­ditar na história, até que houvesse uma descoberta sensacional no monte de Kujundshik, região de Nínive. Os arqueólogos encontraram 12 tábuas de argila que pertenceram à biblioteca do rei assírio Assurbanipal. Elas relatam a história de Gilgamesh, o rei de Uruk, que era um misto de ho­mem e deus, e que saiu em busca de seu ancestral terrestre Utnapishtim.

Para nossa surpresa, Utnapishtim nos dá uma descrição precisa do Dilúvio; ele reconta que os deuses o alertaram da aproximação do dilúvio e lhe conferiram a missão de construir um barco, no qual ele se refugiaria com suas esposas, filhos, amigos e artesãos de todos os tipos. As descri­ções da tempestade, da escuridão, da inundação das águas e do desespero das pessoas que ficaram para trás ainda hoje são lidas como um conto fascinante. Podemos ler também — como na Bíblia — a história do cor­vo e do pombo que foram enviados; e como, por fim, as águas baixaram e o barco atracou em uma montanha.

Os paralelos que se pode estabelecer entre a história do dilúvio na Epopeia de Gilgamesh e a Bíblia são claros e indiscutíveis para qualquer pesquisador. O que fascina nesta semelhança são as diferenças: há dife­rentes deuses e diferentes circunstâncias envolvidas. A história da inun- dação na Bíblia é relatada na terceira pessoa, enquanto na epopéia de Gil- gamesh a primeira pessoa é usada do começo ao fim, sugerindo o relato de uma testemunha ocular que efetivamente viveu o Dilúvio.

Os livros de história e pesquisa se apagam, estragam e se destroem, mas as lendas não. Elas permanecem obstinadamente vivas na consciên­cia dos povos, escritas continuamente depois de cada episódio de guerra e devastação. Uma lenda é a lembrança fora de foco, o vago legado do passado para o fuluro. É por isso que me prendo às lendas, testando seu velho espírito com meios modernos.

Se analisarmos as histórias e tradições da humanidade que nos fo­ram passadas — e agora eu quero dizer tudo o que existe na face da Terra

parece que um deus ou outro, um altíssimo, santíssimo, um querido deus, criou o primeiro ser humano. Ele colocou sua criação no Jardim do Éden ou em outro local gloriosamente belo. De acordo com a antiga tra­dição judaica, este Jardim do Éden existia muito antes de o mundo ser criado, e com todas as facilidades:

“Todos os seus campos e plantações e também a abóbada sobre ele, bem como seu solo, já existiam; e somente 1.361 anos, 3 horas e 2 piscadas de olhos depois foram criados o céu e a terra.”

E as pessoas até agora se perguntam por que o Jardim do Éden nunca foi encontrado, apesar de tantas buscas determinadas! (Eu documentei essa busca e seu fracasso em um outro livro.)11 A estação experimental de pesquisa, a Biosfera 1, com seu experimento Adão e Eva, muito prova­velmente foi reciclada depois. E se eu tivesse sido tentado a acreditar que nossos ancestrais primários eram as únicas pessoas no Éden, as lendas ju­daicas dizem outra coisa: “Serah, filha de Asser, é um dos nove que vi­veram no Jardim do Éden". E quem, podemos perguntar, eram os outros seis?

O “altíssimo” havia decidido criar o ser humano. Antes de fazê-lo, porém, passou pela formalidade de perguntar às hierarquias dos anjos o que achavam da idéia. Eles eram contra. “O Senhor esticou seu dedo e destruiu cada um.” Mais uma vez o “altíssimo” fez a mesma pergunta para outros anjos — e teve a mesma resposta. O terceiro grupo de anjos respondeu que de qualquer maneira o “altíssimo” iria fazer o que ele que­ria, e que então poderia prosseguir com os planos. Então ele criou Adão “com suas próprias mãos”.

O primeiro “modelo” humano era aparentemente superior aos anjos em alguns aspectos. Perturbou-os pensar que o ser humano ganharia po­der sobre um planeta inteiro e poderia se reproduzir conforme sua von­tade. Os anjos, aparentemente, não são férteis e não podem se reproduzir. Portanto, havia inveja no céu.

 

                   Disputas Celestiais

Ismael era o maior príncipe dos anjos no céu; pois todas as criaturas sa­gradas e os Serafins tinham apenas seis pares de asas cada, enquanto ele tinha doze pares. E Ismael uniu-se aos exércitos mais poderosos do céu contra seu Senhor; ele reuniu seus exércitos, desceu com eles e começou a procurar companhia na Terra.

Tal amotinamento não podia ser aprovado pelo “altíssimo”. E o que tinha de acontecer acabou acontecendo: o “altíssimo” retirou Ismael e seu exército do local sagrado que ocupavam. De acordo com a lenda judaica, o pecado no Jardim do Éden nada teve a ver com a famosa maçã, mas com o fato de o rebelde Ismael ter seduzido Eva e a engravidado. Depois do ato sexual, “ela olhou para seu rosto. E eis que — ele não se parecia com um ser terrestre, mas celestial.”

História maluca? Totalmente inacreditável? Pura fantasia? Dificil­mente. As histórias que foram continuamente copiadas e reinterpretadas durante milênios contêm um núcleo em comum — que ressurge entre in­contáveis povos diferentes em partes longínquas do globo: a tentação e a sedução do ser humano. O que terá ocorrido naquele nebuloso e distante passado? Vamos tentar nos lembrar: toda a religião Cristã baseia-se na idéia de que Jesus teve de vir para salvar a humanidade. Salvar do quê? Do pecado original. Este se deu no paraíso, naquele maravilhoso Jardim do Éden. Quer tenha sido uma maçã ou o sexo, o acontecimento decisivo ocorreu em algum lugar. A sedução de Eva ocorreu por intermédio de uma cobra ou de um arcanjo expulso do céu. Os teólogos modernos, que se sentem um tanto inconformados com a idéia, encontraram uma solu­ção: o pecado original nunca existiu. Afirmando isso eles também estão puxando o tapete da idéia da salvação, mas na verdade isso é problema deles, não meu.

Mas agora nos defrontamos com um paradoxo: o céu tradicional­mente é um local de alegria pura. O céu é o que as pessoas almejam após a morte. Todos gostariam de chegar lá, finalmente livrar-se das preocu­pações, da inveja, da miséria e da necessidade. O céu é o alvo de toda aspiração e sonho, a realização de todas as esperanças. Mas espera um pouco! Tem alguma coisa errada. Já havia muita inveja, conflitos e com­bates mortais no céu antes de os seres humanos serem criados. Então será que em algum ponto não entendemos bem o conceito de céu ? Será que os textos antigos estão falando de um céu diferente daquele em que ha­bita o Deus Todo-Poderoso?

E o dilema permanece, mesmo que alguém queira rejeitar ou igno­rar as tradições judaicas, ou que queira considerar a própria idéia de céu superior. Aquele que tentou Eva foi, de qualquer ângulo que você olhe.

a causa do pecado original que alterou tudo. Mesmo que o pecado nunca tenha acontecido, ele permanece, conforme a crença Cristã, sendo a razão para nossa salvação por meio de Jesus. Lenda ou não, se não houve pe­cado original também não há lógica para a salvação. O fato de o sedutor chamar-se Ismael, Lúcifer ou Diabo não altera os fatos.

Como todo mundo sabe pela Bíblia, Deus Todo-Poderoso enviou uma inundação para afogar a humanidade. Mas por quê? Ele havia criado o primeiro ser humano “com suas próprias mãos”, e, enquanto um Deus eterno e infinito, podia prever o futuro. Ele devia saber o que aconteceria. Ou será que não sabia? Neste caso o “altíssimo” seria diferente do que eu e milhões de devotos imaginam ser Deus. As lendas judaicas nos di­zem que depois da sedução de Eva surgiram duas raças separadas: a de Caim e a de Abel. Os descendentes de Caim comportavam-se como animais:

Exposta e nua seguiu a raça de Caim, tanto o homem quanto a mulher, como gado dos campos. Eles seguiram nus pelo mercado... e os homens procriaram com suas mães e com suas filhas e com as mulheres de seus irmãos abertamente nas ruas.

O engano e a perfídia desta raça são descritos nos contos de Sodoma e Gomorra. Os habitantes dessas cidades não aderiram nem à lei nem à moralidade, fazendo apenas o que tinham vontade de fazer.

Além do colapso geral da moralidade e das excentricidades sexuais em Sodoma, multidões de anjos decaídos desceram dos céus e tomaram as “mulheres humanas”. Não podemos classificar este tipo de anjo como “inocente”. Seus progênitos cresceram para serem gigantes:

Deles nasceram os gigantes, de poderosos contornos, que esticavam suas mãos para roubar, saquear e derramar sangue. Os gigantes tiveram filhos e multiplicaram-se como insetos: nasciam seis deles por vez.

Evidentemente tratava-se de um chiqueiro da humanidade, sem qualquer aspecto de redenção — portanto sem chances de separar o bom do mau. O que o “altíssimo” poderia fazer senão afogar toda a raça e começar ou­tra vez? O que nos mostra, contudo, que ele não pode ter sido aquele Deus verdadeiro que os devotos de todas as religiões adoram.

Os anjos decaídos supostamente produziram gigantes. Falei sobre esses gigantes em vários livros e não pretendo repetir. Apenas para ser breve: a obra Jewish Tales of the Ancient Times faz distinções entre di­ferentes raças de gigantes. Havia os Emites ou Guerreiros, os Rephites ou Gigantes, os Giborim ou Poderosos, os Samsunites ou Astutos, os Avids ou Falsos, e finalmente os Nefilim ou Ladrões.

Deve ter sido uma turma e tanto espalhada pela Terra! Nos contos apócrifos do profeta Baruc,13 eles têm até o número exato: “Deus enviou as águas do dilúvio sobre a Terra, e apagou toda a carne, e também os 4.090.000 gigantes.”

De que lugar da Terra, ou fora dela, o profeta Baruc tirou este nú­mero? É claro que a cronologia bíblica mais uma vez está totalmente equivocada no que diz respeito aos gigantes. Davi, que viveu muito tem­po depois do dilúvio, supostamente lutou arduamente contra gigantes que tinham seis dedos nas mãos e nos pés, assim como o segundo livro de Samuel reporta (21, 18-22) — absurdo cronológico.

 

O Zoológico de Frankenstein

Não me surpreendem as datas, que inevitavelmente se confundem, mas os acontecimentos. A obra Jewish Tales of the Ancient Times conta sobre uma estranha mistura de seres, curiosas formas de vida que não se encai­xam em uma seqüência evolutiva. Havia aqueles que “tinham apenas um olho no meio da testa” e outros que “tinham o corpo de um cavalo e a cabeça de um carneiro”, outros ainda “tinham cabeça humana e corpo de leão”; e finalmente até seres humanos sem pescoço, com olhos nas costas e — ainda mais estranho — “seres com rostos humanos e pés de cavalos”.

 

Seria essa absurda coleção de animais apenas uma grande piada, ou a lunática divagação de um bêbado? Possivelmente. Mas me intriga o fato de esses relatos estarem duplicados em vários lugares. O egípcio Maneto, por exemplo, fala sobre monstros semelhantes. Maneto foi es­criba e sacerdote supremo dos templos sagrados do Egito. O historiador grego Plutarco menciona-o como contemporâneo do primeiro rei Ptolemaico (304-282 aC). Maneto viveu em Sebennytos, uma cidade no delta do Nilo, e lá escreveu uma obra de três volumes sobre a história do Egito. Ele foi testemunha ocular do final do império de 3000 anos dos faraós, e escreveu sua crônica sobre os deuses e reis como quem conhecia os fatos.

O texto original de Maneto desapareceu, mas os historiadores Julius Africanus (que morreu em 240 d.C.) e Eusebio (que morreu em 339 d.C.) coletaram passagens substanciais de sua obra. Eusebio era Bispo de Ce- saréia e ex-cronista cristão cujos relatos tornaram-se parte da história eclesiástica. Maneto afirmou que foram os deuses que causaram certa mistura nos tipos de criaturas e surgiram monstros de todas as espécies. Esta é a versão de Eusebio:

E dizia-se haver seres humanos de duas asas; e outros com quatro asas e dois rostos; e com um corpo e duas cabeças, homem e mulher, macho e fêmea, em uma só criatura; outros seres humanos ainda tinham coxas de bode e chifres em suas cabeças, outros tinham pés de cavalos; outros eram cavalos na parte de trás e homem na parte da frente; dizia-se que havia touros com cabeça de homem e cães de quatro corpos, cujas caudas saíam das costas como peixes; também havia cavalos com cabeças de cães; ... e outros monstros, como todo tipo de seres parecidos com dragões... e um grande número de criaturas magníficas, de formas variadas e todas dife­rentes entre si, cujas imagens estavam dispostas uma ao lado da outra no templo de Belos, e foram preservadas.14

Maneto, por meio de Eusebio, certamente tinha razão sobre as ima­gens. Todo museu de bom tamanho da atualidade exibe esculturas anti­gas de seres mistos. As lendas judaicas e egípcias não são portanto pura besteira; elas evidentemente falam sobre uma realidade anterior. E se es­ses monstros do estúdio do Frankenstein nunca existiram, em que os in­ventores deles se inspiraram? Que cérebro nutria essas estranhas criaturas? E onde os maçons e escultores da antigüidade encontraram tais modelos? Sem dúvida na tradição, que é extraordinária e incansavelmen­te precisa — quase incomodamente precisa — para ser apenas uma tola lenda.

A Bíblia fala, no Livro de Gênesis, da construção da Arca (6, 15): “O comprimento da arca deve ser de trezentos côvados, a largura de cin­qüenta côvados e a altura de trinta côvados.”

Os contos judaicos são ainda mais precisos:

Cento e cinqüenta quartos devem ter o comprimento de seu lado direito, 150 quartos também devem ter o comprimento do lado esquerdo; devem ser construídos 33 quartos na parte da frente e 33 quartos na traseira. No meio devem ficar dez salas para os utensílios de cozinha e também cinco despensas no lado esquerdo; deve haver tubulações para trazer água, que possam ser abertas e fechadas. A embarcação deve ter três andares; o se­gundo e terceiro andares devem ser como o primeiro; no andar inferior de­vem ficar o gado e os animais selvagens; o segundo deve abrigar os pássaros e o terceiro é para os homens e as criaturas rastejantes.


 

                   Luz para a Arca

Depois de a arca ter sido calafetada com betume, para que cada fenda fosse vedada, deve ter ficado bem escuro dentro da embarcação antidilu- viana. Mas aparentemente não foi o que ocorreu, pois “na embarcação havia uma grande pérola, que brilhava sobre todas as criaturas com o po­der de sua luz.”

Um aparte impressionante neste ponto. O Livro de Mórmon é a “Bíblia” da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma comu­nidade religiosa que cresceu nos Estados Unidos. Este livro supostamente foi dado ao fundador da Igreja Mórmon, o profeta Joseph Smith (1805-44), por um anjo. De acordo com os mórmons, este livro foi preservado por milênios em forma de placas metálicas escondidas dentro de uma mon­tanha. E somente por meio de duas pedras tradutoras, que Joseph Smith recebeu do anjo Moroni, ele conseguiu traduzir as antigas inscrições para o inglês. As placas contam a história dos Jarede, um povo que deixou sua terra na época da construção da Torre de Babel e cruzou os mares em di­reção à América do Sul. Seus barcos “ficavam ajustados, de modo que podiam conter água como um vaso e a sua porta, quando fechada, ficava ajustada como um vaso”.15

Contudo, não era escuro dentro das embarcações deles, pois o Se­nhor deu aos Jareditas 16 pedras límpidas, 2 para cada barco, e estas pe­dras brilharam durante a travessia, que levou 344 dias. Provavelmente foi a mesma fonte misteriosa de luz que havia na Arca de Noé.

De acordo com a tradição Judaica, o Senhor pessoalmente fez um desenho da Arca para Noé: “E o Senhor desenhou com Seu dedo na fren­te de Noé, e lhe disse: ‘Veja, é assim que a arca deve ser’”.

Os mórmons têm algo bem parecido. No primeiro livro de Néfi (1:6) vemos: “Você deve construir um barco conforme lhe direi para que eu possa conduzir seu povo pelas águas”.

Então teriam os mórmons copiado diretamente da lenda judaica ou o contrário? Ou será que os judeus copiaram da epopéia do sumério Gil- gamesh ou da epopéia babilónica Enuma Efishl Esta última também traz uma variação da história do dilúvio, em que há um patriarca sobrevivente chamado Atra Haris e um deus — Enki — que, como sempre, encomen­da uma embarcação à prova de tempestades sem nenhuma abertura. A fonte de luz e a bússola também estão presentes.

A pergunta de quem copiou o que de quem não pode ser respondi­da. Não temos de assumir plágio só porque há detalhes semelhantes nes­tas lendas e livros sagrados. O que nos dá o direito de excluir a possibilidade de o texto original do Livro de Mórmon ter sido realmente gravado em primevas placas metálicas? Obviamente apenas nossa vaida­de cristã-judaica é que nos faz rejeitar tal idéia. E o fato de a história do dilúvio existir com diferenças sutis em outras culturas também não prova que os cronistas judeus roubaram a idéia. Teriam havido muitos descen­dentes da primeira geração depois do dilúvio, que desenvolveram suas próprias versões da história.

Os autores dessas diversas lendas viveram em terras, continentes, culturas e contextos religiosos diferentes. Não havia transmissão de no­tícias entre estes locais; as viagens intercontinentais ainda não eram co­muns. E não obstante, de inumeráveis fontes e de todos os cantos do globo surgem histórias e tradições que são quase idênticas. Teriam o mesmo talento e inspiração habitado as diferentes mentes desses escrito­res? Foram todos tomados de pensamentos idênticos? Nunca! Certas coi­sas não podem ser inventadas. Nenhum poder imaginário poderia, há milhares de anos, ter percorrido o globo da mesma maneira e ao mesmo tempo. Todos estes relatos uniformes devem ter origem pré-histórica. Originariamente, há relatos de uma experiência real. Durante os milênios eles foram enfeitados e embelezados, cada povo os atribuiu a seus pró­prios heróis e profetas. Mas a questão central em tomo do qual todas es­sas lendas se cristalizaram, o grande acontecimento, permanece.

 

                   A Questão do Dilúvio

Esta questão nos leva ao segundo dilema, sendo o pecado original o pri­meiro. Os livros sagrados proclamam que nosso amado Deus causou o dilúvio para punir as maldades da humanidade. Esse dilúvio obviamente ocorreu; há evidências científicas que substanciam esta tese.16 Além dis­so, uma equipe internacional de cientistas acredita ter localizado os restos da Arca de Noé perto do pico da montanha Al Judi, a mesma montanha da região de Ararat na qual, de acordo com o Alcorão, a Arca de Noé atracou. O líder da expedição, o geofísico David Fasold, explicou aos jor­nalistas que usaram um radar terrestre para obter fotos excelentes. As imagens estavam tão nítidas que era possível até contar as tábuas nas pa­redes do casco. E o professor Salih Bayraktutan, diretor do Instituto Geo­lógico da Universidade Ataturk, em Ankara, disse aos jornalistas do Observer. “Esta é uma estrutura construída por mãos humanas, que só pode ser a Arca de Noé.”17

Teria mesmo nosso terno Deus ordenado a construção da Arca? Seja lá quem for ou tenha sido ele, essa figura misteriosa sabia o que es­tava fazendo, pois queria salvar pelo menos algumas pessoas da devasta­ção. Então ele deu, para uma ou várias pessoas, de acordo com as diferentes tradições, instruções para a construção do barco. Ele até fez planos e desenhos com suas próprias mãos e/ou ditou as dimensões exa­tas. E concedeu misteriosas e brilhantes pérolas ou pedras, e até bússolas. E então veio a Grande Devastação.

Por que tão complicado? Se Deus — e mais uma vez me refiro ao Deus de todas as religiões — queria se livrar de alguns gigantes anjos pervertidos ou pessoas maldosas, ele certamente poderia fazer isso com um simbólico piscar de olhos. Ou, como diz o Alcorão, o livro sagrado do Islamismo: “Quando decreta alguma coisa, basta que diga: ‘Seja’ — e é.” (Sura 2, verso 118). Não haveria necessidade de um barco, planos, medições, betume ou qualquer luz misteriosa. Toda essa história da cons­trução do barco mostra que um ou outro queria que as coisas fossem as­sim ou não podia fazê-las diferente. Por que tecnologia em vez de milagre? O verdadeiro Deus deveria saber que seu envolvimento nos de­talhes da construção de um barco, milênios depois, só levantaria dúvidas quanto a sua onipotência. Sendo onisciente, ele também saberia que um dia haveria inúmeros relatos diferentes sobre o dilúvio. Então por que construir um barco em vez de dar uma solução claramente divina? Mila­gres são insuscetíveis aos cálculos da razão crítica. Então que espécie de Deus teria causado o dilúvio e ainda contribuído para os planos e medi­ções de construção da Arca?

Mas se ele não causou o dilúvio — se, em outras palavras, ele não teve nada a ver com o afogamento por atacado da humanidade, se o di­lúvio foi apenas uma catástrofe natural —, então este Deus não é o mes­mo que conhecemos por meio da religião. Nesse caso a humanidade teria atribuído a um Deus uma punição pela qual ele na verdade não foi res­ponsável. E neste caso a crença fica na corda-bamba. Quem quer que vote a favor da catástrofe natural deve, contudo, explicar por que as his­tórias do dilúvio são tema de lendas, folclore e livros sagrados interna­cionais.

E mais uma coisa: o dilúvio, enquanto catástrofe cósmica ou fenô­meno natural (causado talvez pela colisão de um cometa ou meteoro), não altera o fato de que o “altíssimo” tinha conhecimento prévio do que estava para acontecer. De outro modo não poderia ter alertado seus pro­tegidos, que por sua vez não poderiam ter empreendido a construção da Arca, ou ditado instruções para que ela ficasse impermeável.

Até aqui só uma coisa ficou clara: este deus da tradição não pode ser o verdadeiro Deus a quem todos os devotos de todas as religiões lou­vam. Então quem é ele na verdade?

Suponho que saibam que eu acredito que extraterrestres visitaram nosso planeta há milhares de anos. Eu escrevi 20 livros e participei de 25 séries televisivas sobre o mesmo tema.18 Também discuti longamente as razões para a visita e seus detalhes técnicos. Eu não pretendo retomar tudo novamente neste ponto, nem discutir mais uma vez os inúmeros in­dícios arqueológicos encontrados pelo globo que corroboram a minha teoria.

Minha preocupação neste livro é com uma filosofia “paleo-seti” (paleo = velha, antiga, do grego palaios; seti = busca de inteligência ex­traterrestre), com uma teoria e edificação de idéias que iluminem o sen­tido ou a falta de sentido nas crenças e visões religiosas e abram um novo rumo de pensamento sobre essas questões. Minha intenção certamente não é fundar uma nova religião nem, como afirmam críticos maliciosos, uma “religião substituta”. Religião implica fé — que é algo que não faz parte das minhas investigações. As religiões fazem promessas, mesmo após a morte — eu não estou prometendo nada. As religiões constroem igrejas e templos onde idolatram seus deuses e demais personagens sa­grados — apóstolos, santos e profetas. Na filosofia paleo-seti não há tem­plos ou adoração. As religiões em última instância também exigem a adesão a certas normas éticas — não há o mínimo sinal disso em mim ou em meus defensores. E finalmente, as religiões insistem em algum tri­buto financeiro anual. Você, caro Leitor, sente-se financeiramente explo­rado ao comprar ou tomar este livro emprestado?

 

               Outro Ponto de Vista

Enquanto a gigante espaçonave-mãe dos extraterrestres cruzava nosso sistema solar, os ETs a bordo dela há muito já conheciam o terceiro pla­neta. Somente neste planeta azul existiam todas as condições para vida. Os estrangeiros descobriram uma riqueza em formas de vida, dentre as quais estavam nossos primitivos ancestrais. Apesar de estúpidos e limi­tados, representavam a forma de vida mais elevada sobre a terra naquela época. Os alienígenas pegaram uma daquelas criaturas e alteraram-na ge­neticamente — o que, atualmente, não é uma idéia assim tão impensável.

Em determinado ponto, um grupo de extraterrestres achou que seu experimento com o primeiro Homo sapiens tinha sido bem-sucedido e que poderia deixar a Terra a este ser humano. Ele certamente era mais inteligente do que todas as outras criaturas voadoras e rastejantes; ele também tinha as ferramentas ideais para fazer o que quisesse — suas mãos. Para este ser se multiplicar, era necessário uma fêmea — Eva, ou seja qual for o nome da primeira mãe.

Os primeiros seres humanos inteligentes não falavam — como po­deriam tê-lo feito? Seus ancestrais diretos eram macacos, eles grunhiam e bramiam. Então os extraterrestres optaram por um programa de treina­mento. 0 par de Homo sapiens foi colocado em um jardim protegido — Biosfera 1 — e ensinado a falar, como relata o livro de Gênesis (11, 1): “Ora, a Terra tinha uma só língua e um mesmo modo de falar.” Adão, finalmente, pôde dar nome a tudo! O programa também teria incluído educação moral e instruções práticas para desenvolvimento da agricultura e artesanato.

Outro grupo de ETs fez a experiência com os animais da Terra. E por que fariam isso? Uma tripulação espacial em uma espaçonave gigan­tesca, um denominado habitat espacial, certamente conhecia outros siste­mas solares e planetas além da Terra. No mínimo deveriam conhecer seu próprio sistema solar. Muitos desses outros planetas podiam ser maiores ou menores do que o nosso planeta, estar mais próximos ou distantes de seus respectivos sóis; portanto poderiam ser mais frios, mais secos ou úmidos e sujeitos a gravidade mais ou menos forte.

Sabemos que existe uma infinidade de formas de vida na Terra que se adaptaram às condições e climas mais inóspitos. O urso polar dorme sobre o gelo, algo que eu não recomendaria para um leão; o canguru dá saltos enormes, enquanto a tartaruga dá passinhos lentos; alguns tipos de cobra adaptam-se a climas tropicais e congelam no frio. Certamente seria algo óbvio querer fazer experiências com o material genético disponível na Terra, para descobrir quais animais se adequam melhor a determina­das condições ambientais, e também quais são os mais resistentes e me­lhores em termos de sobrevivência. É uma idéia absurda?

Nós mesmos fizemos e fazemos a mesma coisa. Não — até agora

por meios genéticos, mas por cruzamentos. Cruzamos vacas alemãs com suíças que hoje pastam alegremente no clima tropical do Quênia; combinamos diferentes tipos de bois para produzir vacas mais fortes com maior produção leiteira; cruzamos bode com ovelha; cruzamos uma va­riedade de grãos para que se adaptassem melhor a um novo ambiente; e agora começamos a produzir vegetais por engenharia genética. Não há absolutamente nenhum conhecimento do que nossos cientistas ainda po­dem criar; quem pode afirmar que de repente não construiremos geneti­camente uma pessoa capaz de viver 240 anos?

Foi assim que os monstros e seres mistos apareceram anteriormente na Terra. Os seres humanos falavam entusiasmados sobre eles; essas criaturas “divinas” os espantavam e amedrontavam. E uma vez tendo morrido ou sido destruídos pelo dilúvio, essas bestas de filmes de terror foram direto para a memória folclórica. Foram promovidos a mito e len­da, símbolos de um tempo distante em que os deuses haviam criado todos os tipos de seres.

Não estou, contudo, subestimando o poder da imaginação humana. O poeta grego Homero (cerca de 800 a.C) descreveu as sereias, nas aven­turas de a Odisséia, que cantavam com tal encanto que os navegantes perdiam seu arbítrio e memória. Apesar de Homero não descrever essas sereias com detalhes, a imaginação de outros autores as descreveu como mulheres aladas com pés de pássaros. Também houve o grego Hesíodo (cerca de 700 a.C.) que criou a monstruosa Medusa, em cuja cabeça re- torciam-se cobras, e cuja aparência era tão assustadora que transformava as pessoas em pedra. E claro que Hesíodo nunca viu a Medusa de verda­de. Conhecemos também as lendas do cavalo voador, Pégaso, e da fênix que renascia das próprias cinzas. Tudo isso e muito mais surgiu da ima­ginação humana, da qual todos os contos folclóricos dependem. Mas a imaginação não surge do nada; precisa de pontos de referência para ocor­rer. Mesmo que nossa razão lógica ainda resista à idéia de um zoológico de monstros que supostamente viveram em certa época, esta resistência não altera dois fatos inevitáveis:

Os escritores e historiadores da antigüidade descreveram essas criaturas e também afirmaram que elas foram criadas pelos deuses.

Os pedreiros e escultores de milhares de anos atrás preserva­ram esses seres mistos pela eternidade.

 

Os Anjos com Fome de Sexo

Enquanto isso, na espaçonave-mãe, irrompera o motim. Alguns oficiais do alto escalão tinham idéias bastante diferentes das do comandante, o “altíssimo”. Se o líder dos rebeldes se chamava Ismael, Lúcifer ou qual­quer outra coisa, tem pouca importância. A lenda o descrevia como “o maior dos príncipes”. Na história de ficção científica Jornada nas Estre­las ele, sem dúvida seria conhecido como Primeiro Oficial. Seja lá qual fosse seu nome. Ismael ou XY, parece que tinha mais poder do que o res­tante da tripulação, pois ele era o único que possuía “12 pares de asas”. Ismael e seus desertores perderam a batalha e foram postos para fora do “céu”. Isso não parece, de forma alguma, tê-los aborrecido. Eles prova­velmente acreditavam que seu “know-how” técnico os asseguraria uma boa posição.

Eles mal puseram os pés na Terra e já tinham desenvolvido um ape­tite voraz por sexo. Na lenda, o líder Ismael seduziu Eva prontamente: “E eis que — ele não se parecia com um ser terrestre, mas celestial.” Ou­tros membros da tripulação partiram para cima, conforme a preferência, de garotas bonitas e também garotos. Mesmo os que crêem mais fervo­rosamente na Bíblia não podem passar sem notar esta passagem do livro de Gênesis (6, 1):

Ora, tendo os homens começado a multiplicar-se sobre a terra, e tendo ge­rado filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram for­mosas, tomaram por suas mulheres as que dentre todas lhes agradaram.

A conhecida disputa que vem desde a época imemorial da curta frase “fi­lhos de Deus” e que produziu milhares de páginas de comentários con­traditórios e conflitantes só tirará um sorriso amarelo de qualquer indivíduo com um mínimo de conhecimento interior. "Filhos de Deus” é de várias formas traduzido como “gigantes”, “crianças de Deus”, “anjos caídos” ou talvez “seres espirituais renegados”. É o suficiente para deixar alguém com vontade de gritar! Uma única frase transforma suas crenças! Todos os especialistas com sólido conhecimento de hebraico podem di­zer exatamente o significado destas sílabas: “Os que desceram eram pa­recidos com os homens e bem maiores do que os seres humanos.”19 Mas nem sempre se tem a permissão de dizer o que se pensa. Eu tenho, e sem qualquer constrangimento.

A antiga restrição de que extraterrestres jamais poderiam se unir a terráqueos já caiu por terra há muito tempo; eu não preciso me repetir neste ponto. (“E os deuses criaram os homens a sua imagem...”)

Neste drama da pré-história, o “altíssimo”, o comandante da espa- çonave, obviamente tinha mapas melhores do que sua tripulação renega­da. Com preocupação ele observava os acontecimentos na Terra. Os cruzamentos entre ETs e pessoas deram origem a criaturas totalmente in­coerentes com a raça planejada de Homo sapiens. Este foi o pecado ori­ginal da mitologia. Os seres humanos agora estavam herdando as mensagens genéticas erradas. “E o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a Terra e foi tocado de íntima dor de coração,” diz em Gê­nesis (6:6). O “altíssimo” de alguma forma agora deve interromper o pro­jeto “ser humano” e recomeçar. Mas como? Os anjos renegados provavelmente tinhain armas poderosas, eles podiam se esconder em ca­vernas e em edifícios. Não havia possibilidade de caçar os miseráveis in­dividualmente.

Não podemos saber através das lendas e textos religiosos se o dilú­vio foi causado intencionalmente ou se um grande meteoro colidira com a Terra. Um dilúvio artificial é possível — ainda hoje fazemos estas coi­sas — e meteoritos caem constantemente sobre a Terra. Seja lá o que te­nha sido, o “altíssimo” deve ter sido informado sobre o exato momento em que o dilúvio aconteceria — pois ele avisaria os bons e contaria sobre a construção do navio.

 

                 Ciência e Teologia

Eu mesmo não vejo muito futuro para o tipo de teologia que conhecemos até hoje. Os teólogos podem acreditar em revelações, mas eles nunca tor­narão racional o que é, por natureza, irracional. Isso não significa que eu contesto a abordagem científica da teologia sistemática, na qual os textos são comparados com famosos acontecimentos históricos, manuscritos são examinados e procura-se avaliar diversos relatos diferentes por meio de análise comparativa. Por exemplo, quais profetas, e quando, se referi­ram ao Messias? Quais de suas declarações são incompreensíveis e a quais devemos atribuir menor importância? O que todas essas declara­ções têm em comum e com qual outro relato a descrição de um determi­nado profeta concorda? Se os teólogos simplesmente chamassem isso de “ciência", eu nem discutiria com eles — a não ser sobre o próprio termo “teologia”. Ele deriva de theos (deus) e logos (palavra), que portanto sig­nifica “a palavra de Deus”. Mas isso certamente não é teologia. É verda­de que todos os teólogos estão certos de que estão preocupados com a “palavra de Deus”, ou então eles nunca teriam escolhido essa profissão. Mas tal convicção já é fé. Eles têm fé que os textos sagrados e não tão sagrados vieram da boca de Deus, que ele os ditou ou os revelou a pou­cos escolhidos. Mas o que resta desses textos uma vez que o ingrediente fé é retirado?

Apenas os textos. Eles simplesmente perdem sua qualidade de sa­grado. Eles podem continuar sendo respeitáveis por causa da idade. Po­demos tratá-los com respeito porque eles descrevem ocorrências de um tempo inacessível à história. Podemos analisá-los cientificamente porque eles contêm muito de interessante. Uma vez que abandonarmos o caráter sagrado desses textos, podemos começar a enxergar problemas neles. Na verdade é nossa idéia de que eles têm caráter sagrado que impede uma análise moderna do seu significado.

Por outro lado, a filosofia paleo-seti também é apenas um ponto de vista, uma teoria; oferece uma base bastante útil, mas ainda não pode ser provada. E com a teologia é diferente? Existem provas científicas preci­sas paia tais suposições? Sabe-se bem que não existe nada mais subjetivo do que gosto ou opinião — portanto não há razões para discussões em torno deles. Mas as pessoas continuam discutindo, porque a defasagem de gerações aliada ao espírito dos tempos causa tumulto em suas vidas interiores. Alguns querem se prender à segurança da crença; outros que­rem explicações científicas. “Ciência” vem da palavra scientia — conhe­cimento.

O “conhecimento” da teologia é inútil para a ciência exata. Está cheio de contradições e em última instância continua sendo uma questão de crença ou sentimento. O mesmo se aplica à filosofia paleo-seti. Mas a última desenvolve uma clara ligação, uma linha de pensamento que em­prega a razão e toma o incompreensível mais acessível. A filosofia paleo-seti dá sentido ao que anteriormente não fazia sentido. Os ocultis- tas podem pôr de lado suas bolas de cristal, os membros de irmandades secretas podem fechar suas lojas, pois os artigos de crenças que vende­ram tão bem durante milênios são cada vez menos procurados. Somente o conhecimento científico moderno é capaz de nos oferecer uma interpre­tação compreensível do passado. E isso também não ocorre por acaso; está na natureza das coisas. As maçãs caem das macieiras quando ama­durecem. E meu avô jamais poderia ter concebido as idéias que eu hoje proponho. Viagens espaciais eram algo impensável na sua época, ele não sabia absolutamente nada sobre genes e engenharia genética, e anjos, para ele, eram invioláveis mensageiros de Deus. Ele teria achado que um holograma era uma visão, e uma televisão, um vidro falante. Bendita seja a Sagrada Pedra Berlitz!

E não é porque estamos nos aproximando do final do milênio que os véus se erguem, mas porque a ciência e a tecnologia escancaram os portões. Se as pessoas não tivessem começado a discutir a possibilidade de viagens espaciais ou inventado o computador ou desvendado os segre­dos do código genético até o ano 2100, até lá nós não saberíamos exa­minar as questões levantadas. Vamos imaginar que meu tataravô tivesse feito uma descoberta genial 200 anos atrás. Digamos que ele tivesse des­coberto placas gravadas que, quando decifradas por homens sábios, fa­lassem sobre uma viagem de um mundo distante da Terra e a péssima recepção dos viajantes por parte dos habitantes da Terra. O que as pes­soas teriam feito com um texto desses há 200 anos? Teria sido atribuído um grande poder de imaginação ao autor desconhecido; o texto teria sido visto em termos de alegorias e simbolismo. As pessoas teriam extraído dele algum tipo de moral, como a que devemos ser amigáveis com os es­tranhos mesmo sem sabermos de onde vêm. Mas suas percepções esta­riam muito aquém da verdadeira possibilidade de viagem espacial.

Então eu acredito que nós deveríamos trazer uma visão moderna para corroborar as antigas questões da humanidade. Essas questões bem podem ter ficado muito mais fáceis de solucionar do que na época de meu tataravô. Não sofremos mais de maldições por feitiçaria ou excomu­nhão, e os meios modernos de comunicação permitem o rápido desenvol­vimento e disseminação de novas teorias. Posso entender por que algumas pessoas, arraigadas a suas velhas crenças, adotam uma ação de retaguar­da, impedindo a avalanche de novas descobertas. Eles podem conseguir isso por um tempo, mas nenhuma força na Terra irá conter a chegada do futuro. As coisas que são proibidas pela religião ou pela ideologia em um país comumente assumem proporções ainda mais radicais em outro.

Os críticos me perguntam continuamente o que me dá tanta certeza de que estou no caminho certo. Eles afirmam que minhas visões não pas­sam de idéia fixa e são impossíveis de serem provadas. Eles também me acusam de usar trechos de lendas e mitologias de maneira bastante res­trita com vistas a apoiar minhas teorias.

 

                 A Escolha Certa

E por que me acusam de fazer o que todos devem fazer, dada a riqueza de materiais? Cada livro que li parte de uma seleção que o autor faz para corroborar seu ponto de vista. A objeção de que investigações científicas não se aplicam ao material desse modo é pura fantasia em que somente um aluno muito ingênuo acreditaria. Nos últimos quatro anos eu devorei cerca de 300 obras teológicas — e a conclusão de cada uma delas corro­borava o ponto de vista do autor. São usadas inúmeras referências cruzadas, especialmente em teses de doutorado, para mostrar que os adversários do autor estavam enganados de uma maneira ou de outra. Os rios de litera­tura sobre cada assunto tornaram-se tão imensos que nenhum autor no mundo pode ter uma visão global ou levar em consideração todos os tra­balhos de seus predecessores. E preciso escolher, abandonar os restos pelo caminho. O especialista no assunto tem uma visão ampla das opi­niões que se lhe opõem, com o que o leigo pouco se importa, muito me­nos os editores e livreiros. Devemos reconhecer que as escolhas são inevitáveis e admitir honestamente que um autor diz aquilo o que quer dizer e procura deixar clara a linha de raciocínio que persegue.

Os textos religiosos estão cheios de enigmas de moral e ética, que nada me interessam. E é por isso que eu não me importo com as centenas de páginas dos alertas, das ameaças, profecias e instruções dos profetas. Não é problema meu explicar ao leitor por que não se deve comer carne de porco, e em que circunstâncias se deve repudiar a esposa. Todos os especialistas sabem que as declarações dos profetas raramente são autên­ticas ou originais. Gerações posteriores acrescentaram, aumentaram e temperaram esses textos conforme suas preferências. E, além disso, no que diz respeito à cronologia religiosa, de que servem passagens como “Taré gerou Abraão, Abraão gerou Isaque” quando Abraão provavelmen­te nunca existiu?

O quê? Mas há textos que falam de Abraão, foram escritas histórias sobre ele e no apocalipse de Abraão são descritas experiências com ri­queza de detalhes. Está certo; estes textos existem, e são muito úteis para o meu trabalho. Mas não significa que estamos lidando com fontes ori­ginais das mãos de Abraão, ou próximas a ele. Na obra Chronicles of Jerahmeel,'u que baseia-se em fontes ainda mais antigas, afirma-se que Abraão era um grande astrólogo e mágico. Diz-se que ele recebeu o co­nhecimento diretamente dos anjos. A nós, pessoas de uma cultura cristã, foi inculcado que Abraão foi o progenitor da humanidade; mas na verda­de os pesquisadores nem chegaram ao acordo de que ele efetivamente te­nha existido e qual o significado de seu nome.

Franz M. Böhl, Professor da Leiden University, afirma:

O nome Abraão, que aparece somente em Gênesis 11,26; 17,5, significa “o pai sublime” ou “o pai é sublime”. Pode-se tomar a palavra “patriarca” em si como uma tradução para o nome... Abraão, provavelmente, é apenas uma variante dialética, uma expansão do nome mais comum Abraão”.21

Essa passagem foi escrita em 1930, mas investigações posteriores chega­ram a uma conclusão semelhante. Cinco anos depois do Professor Bõhl. o Journal ofBiblical Literature fez uma observação sucinta: “Abraão ori­ginalmente não era um nome de pessoa mas o nome de uma divinda­de.”22

Os 60 anos de pesquisa sobre Abraão não clarearam nem um pouco a questão. Em uma publicação da Universidade de Yale, observei o se­guinte trecho: “Nós provavelmente nunca chegaremos a provar que Abraão realmente existiu.”23

Que necessidade há, então, frente a essa confusão teológica, de prestar atenção ao meu trabalho no que tange às cronologias dos dizeres de qualquer profeta? Especialmente devido ao fato de a mesma dúvida rondar outros profetas também. Ezecjuiel, uma das primeiras testemunhas no meu caso da filosofia paleo-seti,"4 teve de passar por inúmeras trans­formações pelos séculos. Em um trabalho que apareceu em 1981, foram examinados nada menos do que 270 tratados sobre o profeta.25 Duzentas e setenta cabeças sábias dedicaram anos de suas vidas à pesquisa sobre Ezequiel. A figura desse profeta, durante o processo, passou por transfor­mações extraordinárias. Originalmente suas palavras eram irrepreensí­veis; então ele tornou-se um “visionário”; depois um “sonhador” e “idealista”; e mais recentemente ele foi considerado um “cataléptico” — ou seja, um esquizofrênico sujeito a ataques. Os textos de Ezequiel tam­bém foram dissecados. Os especialistas em semântica descobriram que estilo e vocabulário mostravam que os textos foram escritos por mais de um autor. O pobre profeta foi declarado um “pseudo-Ezequiel”, cujo li­vro foi montado 200 anos após a morte de Cristo com uma variedade de outros textos diferentes.26

Há cem anos, contudo, o professor de teologia Rudolf Smend ainda escrevia:

Não deve restar dúvidas de que este texto baseia-se em uma experiência visionária, que de forma alguma pode ser atribuída a uma convenção par­ticular de estilo escrito.27

E hoje? A maioria dos teólogos acredita que o livro de Ezequiel é obra de vários editores, que inclui o trabalho do próprio profeta bem como acréscimos inseridos em várias épocas.

Quem pode me contestar, então, se eu escolher as folhas mais fres­cas dessa salada russa? E uma salada que além de tudo contém temperos indigestos. Há nomes e datas que aparecem nos livros sagrados que com­binam com salada tanto quanto fatias de sola de sapato. Vejamos, por exemplo, este trecho do livro de Gênesis (15,13 e 16):

E a Abraão foi dito: Saiba, desde agora, que a tua descendência será pe­regrina numa terra que não é sua, será reduzida à escravidão e afligida du­rante quatrocentos anos... Mas na quarta geração voltarão aqui...

A arqueóloga inglesa Kathleen M. Kenyon fez uma áspera observação ao trecho:

A cronologia se contradiz. Para aceitar que sua estadia durou 400 anos, e ao mesmo tempo saber que a quarta geração depois da entrada no Egito estaria envolvida no êxodo, são duas afirmações visivelmente incompatí­veis que somos forçados a não considerar históricas.28

Os pontos de vista teológicos não são apenas obscuros; eles também va­riam de um professor e de uma década para outra. E então o que nos res­ta? Os próprios relatos misteriosos. O tipo de histórias nas quais o autor escreve na primeira pessoa, ou seja, reconta uma experiência pessoal. Como nas lendas e mitos, a literatura religiosa mantém um núcleo, uma pepita de verdade. E aquele aspecto misterioso que as edições mais anti­gas mal alteraram. E por que não? Em parte porque não o entendiam; o mistério se resumia às palavras dos profetas e era passado às mãos das gerações posteriores. Em parte também porque não ousavam colocar suas próprias palavras na boca de um venerável profeta de uma maneira ma­ciça; eles teriam então de ter mentido. A experiência pessoal original do “Eu vi... eu ouvi... o altíssimo me falou...” veio de uma antiga fonte pri­mitiva. Os editores posteriores só tentaram consertar grosseiramente, ten­taram dar sentido ao incompreensível. E pelo fato de eles mesmos não entenderem, hoje temos o perfeito caos. Se eles tivessem simplesmente copiado os textos antigos sem fazer alterações! Mas para um ser racional isso é algo totalmente impossível. Não conseguimos fazer isso nem hoje. Já temos versões do Novo Testamento em forma de histórias em quadri­nhos e outras adulterações ainda piores, aparentemente para tornar o tex­to sagrado relevante para nossa época. Entretanto, “por meios impuros, temos um resultado impuro” (Mahatma Gandhi, 1869-1948).

 

                       Fazendo Escolhas

Meu processo de escolha ignora tudo o que é completamente incom­preensível para o entendimento presente. Isso não significa que não esta­remos analisando essas coisas novamente de uma outra perspectiva daqui a 20 anos. Quem quer que diga que este processo não é científico, não deve continuar dizendo; deve observar acadêmicos judeus que enfrenta­ram exatamente o mesmo problema por séculos e milênios. Eles também não entenderam a importância dos textos antigos; então cada palavra, cada frase, foi colocada desta ou daquela forma, e constantemente rein- terpretada e reformulada. Há provas escritas disso nos vários livros mi- drash. A famosa literatura midrashim contém pesquisas textuais das mentes judaicas mais brilhantes por muitos séculos.

Essas interpretações se dão por centenas de páginas. Novos nomes, novos pontos de vista. E tudo isso somente prova que os maiores acadê­micos judeus não entendem mais os textos originais.

Então como fazer minhas escolhas? Como devo proceder? Como posso saber mais do que os acadêmicos do passado e decidir quais tre­chos são originais e quais não são?

Quando a vida de Abraão'0 é descrita em termos de que anjos des­ceram em seu nascimento e de que ele se opunha ao seu próprio Rei Nimrod da Babilônia, suponho que se trata de devoto acréscimo de edi­tores posteriores. Eles preocupavam-se em manter a moral de Abraão elevada e uma origem propriamente gloriosa. Mas onde quer que Abraão

ou seja lá quem for, o nome é irrelevante — começa a falar na pri­meira pessoa, eu finco meus ouvidos. Eu me atenho a esses trechos, es­pecialmente quando eles descrevem algum episódio surpreendente relacionado ao espaço, que os editores posteriores não poderiam ter in­ventado, porque eles não teriam tido acesso a tais detalhes.

Nos textos que os teólogos chamam de Apocalipse de Abraão, o au­tor — vamos chamá-lo de XY — descreve dois seres celestiais que des­cem à Terra.31 Estes dois seres celestiais levaram Abraão para as alturas, pois o “altíssimo” queria conversar com ele. Abraão relata que eles não eram humanos e que ele teve muito medo deles. Descreve-os como seres de corpos brilhantes “como uma safira”; eles levaram-no em meio à fu­maça e o fogo, “como que com a força de muitos ventos”. Chegando às alturas, ele avistou uma “luz gloriosa além do que se possa descrever” e figuras grandes que gritavam palavras umas para as outras “que eu não entendo”. E para qualquer um que não tenha entendido onde ele havia chegado, ele deixa ainda mais claro: “Mas eu queria descer logo para a Terra; o lugar elevado onde nos encontrávamos em certo momento estava em ordem e no momento seguinte havia se virado para baixo.”

Então alguém está nos dizendo — na primeira pessoa, em forma de narrativa — que ele queria “descer logo para a Terra”. E lógico assumir­mos portanto, que ele estava acima da Terra. E por que um editor poste­rior não poderia ter inventado o texto? Porque ninguém poderia saber que espaçonaves gigantescas, como as estações espaciais do futuro, sempre giram em tomo de seu próprio eixo. Somente por meio da força centrí­fuga causada pela rotação da própria espaçonave pode-se ter gravidade artificial. E o que diz o Apocalipse de Abraãol “o lugar elevado onde nos encontrávamos em certo momento estava em ordem e no momento se­guinte havia se virado para baixo”. Coincidência? Pura fantasia? Por que Abraão insiste que esses seres não eram humanos e que suas roupas bri­lhavam como safira?


 

Na verdade, estes textos não poderiam ser mais claros. E a hora de­les é agora. O homem moderno já se cansou de ter de engolir contos de fadas religiosos. Há uma nova e moderna interpretação das tradições e dos textos antigos que esclarece tudo em um segundo.

Antes de eu passar a um novo capítulo, gostaria — pela última vez

de acender uma antiga fogueira para a qual eu sempre me volto no curso dos anos. Quase todos os meus livros mencionam o profeta Eno­que. Não devo abordar isso exaustivamente agora, mas ainda assim gos­taria de consolidar alguns pontos como marcos de que os modernos exegéticos acharão difícil ignorar.

Enoque Outra Vez

Quem foi Enoque? Os antigos contos judaicos descrevem-no como “um rei sobre os homens”, que reinou por “243 anos”. Ele tinha muita sabe­doria, que transmitia a todo o mundo.

De acordo com o geógrafo e historiador Taki al-Makrizi (1364- 1442), foi ele quem construiu as grandes pirâmides do Egito. Em sua obra Hitat, ele menciona que Enoque ficou conhecido por quatro nomes diferentes: Saurid, Hermes, Idris e Enoque. O trecho a seguir foi extraído de sua obra Hitat, Capítulo 33:

O primeiro Hermes, conhecido por sua triplicidade nas qualidades de pro­feta, rei e sábio... leu nas estrelas que a inundação chegaria. Então ordenou que fossem construídas as pirâmides; e nelas ele escondeu tesouros, textos e manuscritos, e tudo que de outro modo se perderia, para que pudesse ser preservado.32

A palavra árabe Idris significa “progenitor” ou “pai original da sabedo­ria”; e tanto para a teologia cristã quanto para a judaica, Enoque é o sé­timo dentre os dez patriarcas originais do dilúvio. Enoque foi o pai de Matusalém, que supostamente viveu na idade bíblica até os 969 anos.

No Antigo Testamento, Enoque aparece em apenas cinco versos (Gênesis 5,21-24), que dizem: “E Enoque andou com Deus e desapare­ceu, porque Deus o levou”. E sem mais nem menos ele desapareceu! Em hebraico a palavra enoque significa “o iniciado” ou “o perspicaz”. Graças a Deus, esse iniciado certificou-se de que seu conhecimento não desapa­receria sem deixar vestígios — para incômodo dos ortodoxos, que prefe­ririam se ele tivesse simplesmente desaparecido —, pois ele era um escritor assíduo. E foi aí que começou o problema.

Existem dois livros, que não fazem parte do Antigo Testamento, mas fazem parte dos textos apócrifos. Os Pais da Igreja que compuseram a Bíblia não sabiam o que fazer com os textos de Enoque. Os excluíram porque não os entendiam. Mas a Igreja Etíope ignorou as ordens dos eclesiastas que ditavam as regras; então o Livro de Enoque acabou no câ­none abissínio. Também surgiu uma variável eslava do mesmo livro. Comparações textuais feitas entre ambos por especialistas mostraram conclusivamente que ambos derivaram de uma fonte original, e foram es­critos por um autor — ninguém que não fosse Enoque. Então quem era ele?

Fico continuamente pasmado com a falta de visão de diferentes exegetas. Se os textos condizem com as suas convicções, eles os consi­deram genuínos. Caso contrário, são considerados falsos. O Livro de Enoque não só é escrito na primeira pessoa, mas o autor também faz re­ferência continuamente à sua própria autoria — embora ele temesse que mentes futuras fossem por demais limitadas para reconhecer tal fato. Gostaria de citar dois exemplos textuais que demonstram claras indica­ções da autoria de Enoque.

 

                     Relato de Uma Testemunha Ocular

No primeiro mês do meu 365° ano, no primeiro dia do primeiro mês, eu, Enoque, estava sozinho em minha casa... e então me apareceram dois ho­mens, extraordinariamente grandes, como eu nunca vira antes na Terra...''

Este é o verdadeiro e completo ensinamento da sabedoria, escrito pelo autor Enoque... e agora meu filho, Matusalém, lhe conto tudo e escrevo para você. Eu revelei todas essas coisas a você e lhe dei os livros referen­tes a elas. Preserve, meu filho Matusalém, estes livros que vem das mãos de seu pai, e passe-os para as gerações futuras do mundo.

Não se pode notar maior clareza do que aqui. A fonte original do Livro de Enoque vem do Enoque que viveu antes do dilúvio — pois ele se re­fere a seu filho Matusalém. Afirmar que isso é apenas uma falsificação pré-cristã é acusar o autor de mentiras deslavadas. Atribuir o Livro de Enoque a fontes outras que não Enoque que viveu antes do dilúvio é de­sacreditar a disciplina da pesquisa textual. Também é um terrível exem­plo de manipulação dos devotos, que devem engolir qualquer versão pré-digerida que freqüentemente lhes é ofertada. E claro que os pesqui­sadores também tentam despistar os embaraçosos textos de Enoque como “visões”. Esta palavrinha é estendida para cobrir tudo aquilo que está além do nosso entendimento. Os defensores da tese de que eram “visões” ignoram o fato de que Enoque diz categoricamente que estava em um es­tado de vigília. Além disso, ele dá a sua família instruções exatas para o período de sua ausência. Isso também não pode ter sido uma “visão no leito de morte”, pois depois de suas conversas com os “anjos” ele retoma são e salvo para o convívio dos seus. Somente muito depois ele desapa­rece nas nuvens em uma carruagem de fogo.

Então o que há de tão importante sobre este livro de Enoque? Ele simplesmente corrobora a filosofia paleo-seti. Como no Antigo Testa­mento, Enoque relata o que acontece quando os anjos se amotinam.

 

                     Quando os Anjos se Amotinam

O Livro de Enoque (6,1-6) diz:

Conforme os filhos dos homens se multiplicaram, deles nasceram filhas amorosas e belas. E assim que os anjos, os filhos do céu, as viram, toma­ram-se enamorados delas e disseram uns aos outros: ‘Tomemos como es­posas mulheres da raça dos homens e tenhamos filhos com elas.” Então o Samiaza, seu chefe, disse: “Temo que não possais cumprir vosso desejo. Teria eu de suportar sozinho a pena de uma grande transgressão.” Mas eles responderam: Então que façamos um juramento e aliemos todos para não mudarmos em nada nosso plano e executá-lo.” E assim juraram e se ligaram por mútuas execrações. Eram em número de duzentos, que nos tempos de Jarede desceram do pico do monte Armon.35

Se não for o motim dos “filhos dos céus”, então o que é? Ficou bem claro o que estava havendo, (7,1-6):

Todos eles tomaram esposas para si mesmos. Então começaram a ir até elas e a cometerem atos impuros com elas. E ensinaram-lhes a arte da magia e das erv as e mostraram-lhes a ciência das plantas. E então suas esposas engravidaram e deram à luz gigantes de 300 pés de altura. Eles devoraram todas as provisões do outro povo. Mas quando não havia mais comida, os gigantes voltaram-se contra eles e os devoraram. E começaram a devorar pássaros, animais selvagens, animais rastejantes e peixes; e também a carne e o sangue uns dos outros. E então a terra gritou contra esses inimigos.

O cenário pré-diluviano é descrito com detalhes realistas, mesmo que nos pareça inacreditável hoje em dia. Os bons anjos — aqueles que não se envolveram com o motim — observaram tudo de cima. Eles informaram o “altíssimo” e ele decidiu tomar uma atitude: “Toda a terra deve ser to­mada; um dilúvio deve tomar a terra e destruir todas as coisas.”

Notável no livro de Enoque são os vários detalhes não encontrados em nenhum outro texto. No Capítulo 69, Enoque lista até os nomes dos líderes do motim e descreve todas as suas hierarquias e funções!

Então o que aconteceu com Enoque? Onde descansam seus ossos? Onde fica o templo ou a catedral erguida em sua homenagem?

 

                       Uma Ascensão Bastante Perturbada

Não há nada parecido nesta Terra. O Antigo Testamento permite que Enoque desapareça sem deixar vestígios. Supostamente o Senhor o leva­ra. Ou. de acordo com a versão bíblica que se seguiu, ele subiu, desapa­recendo por entre as nuvens em uma carruagem de fogo. Os antigos contos judaicos são mais precisos sobre sua decolagem.

Os anjos, aparentemente, haviam prometido levar Enoque com eles, mas no entanto a data da partida ainda não havia sido fixada. “Soube que eu viajaria pelos céus; no entanto a data na qual os deixarei ainda não me é conhecida.’’ Então Enoque reuniu as pessoas à sua volta e lhes contou tudo o que os anjos lhe haviam dito. E, particularmente, disse-lhes para não esconder seus livros ou guardá-los em segredo, mas tomá-los aces­síveis a gerações futuras — que é um pedido que eu próprio atendo. De­pois de alguns dias transmitindo sua sabedoria, as coisas começaram a ficar animadas.

Mas ao mesmo tempo em que as pessoas se reuniam em tomo de Enoque, e ele lhes falava, elas ergueram seus olhos e viram a figura de um cavalo descendo do céu para a terra como se corresse em uma tempestade. Então as pessoas disseram a Enoque o que haviam visto e Enoque lhes disse: “Este cavalo desceu até a terra para me buscar. Chegou a hora e o dia de minha partida e eu não tornarei a vê-los.” Então o cavalo também estava lá e todos os filhos dos homens o viram com seus próprios olhos.

Está evidente que Enoque fora avisado pelos celestiais que sua decola­gem seria muito perigosa para todos os espectadores. Então ele tentou contê-los. Ele avisou várias vezes os que assistiam para que não o seguis­sem “para que não morram”. Alguns hesitaram e guardaram certa distân­cia, mas os mais obstinados queriam observar de perto a partida de Enoque.

Eles lhe disseram: “Nós o acompanharemos para onde for; somente a mor­te irá nos separar." Como não atendiam ao pedido dele, ele simplesmente calou-se: e eles o seguiram e não voltaram. E foi assim que Enoque subiu ao céu em uma tempestade, em cavalos de fogo, em uma carruagem de fogo.

Esta subida às nuvens acabou em morte para todos os observadores. No dia seguinte, as pessoas saíram à procura daqueles que haviam acompa­nhado Enoque.

E elas as procuraram no local em que Enoque havia subido para o céu. E quando chegaram ao local, encontraram a terra coberta de neve e sobre a neve havia pedras maiores como granizo. Então uns disseram aos outros: “cavemos a neve para ver se encontramos os que acompanharam Enoque.” E cavaram e encontraram os que acompanharam Enoque mortos sob a neve. Eles também procuraram Enoque, mas não o encontraram, pois ele havia subido aos céus... Isso ocorreu no ano 113 da vida de Lameque, fi­lho de Matusalém.

Então nos deparamos com outra impossibilidade — depois da des­cida dos anjos e do dilúvio. Mas agora nossa surpresa acabará, pois todas as interpretações textuais anteriores estão cheias de impossibilidades. So­mos obrigados a acreditar que nosso amado Deus não fez absolutamente nada além de observar centenas ou talvez milhares de observadores vira­rem cinzas enquanto seu mestre Enoque subia aos céus! Que má ação de­vem ter cometido? Eles tinham ouvido a sabedoria de Enoque, acompanharam-no ao ponto de partida. Enoque subiu em uma tempesta­de a bordo de uma carruagem de fogo para o céu, enquanto abaixo dele aqueles que receberam sua sabedoria eram queimados, junto com a terra e as pedras, até virarem cinzas brancas como a neve. (Alguns tipos de pe­dras calcárias ficam brancas como a neve sob temperaturas elevadas.)

Nenhum desses acontecimentos — a queda dos anjos, o dilúvio, a ascensão de Enoque ou a viagem espacial de Abraão — encaixam-se com a imagem de um Deus bondoso. Por que um Deus onipresente chamaria Abraão para conversar com ele? Ele devia conhecer — enquanto onis­ciente — o que Abraão estava pensando e sentindo. Por que nosso amado Deus precisaria de uma espaçonave que girava em torno de seu próprio eixo sobre a Terra? Por que Deus teve de enviar duas figuras para buscar Abraão? Por que ele precisa de “cavalos de fogo” para levar Enoque para o            céu?

As respostas para tais perguntas são sempre as mesmas: o “altíssi­mo”, o Deus aqui descrito, jamais pode ser o mesmo Criador onipresente louvado por todas as religiões (e por mim). Eu considero um insulto ao verdadeiro Deus atribuírem tais erros e crueldades a Ele. Mas se substi­tuirmos Deus ou o “altíssimo” por viajantes espaciais extraterrestres, os acontecimentos paradoxais tomam-se compreensíveis. Podemos então entender quem foram estes anjos decaídos e por que satisfizeram seu de­sejo sexual. Podemos entender as razões para um dilúvio e o desejo do “altíssimo” de comunicar-se com seres humanos individuais; e podemos entender por que as várias pessoas que não observaram o aviso de Eno­que foram queimadas até a morte.

Isso também toma compreensível o medo que as pessoas têm do dia do julgamento, de alguma espécie de acerto de contas universal — pois o “altíssimo” prometeu que voltaria...

 

                       Notas

Delitzsch, F; Die grosse Täuschung, Stuttgart/Berlim, 1921

Kehl, R. “Die Religion des modernen Menschen”, em Stiftung für universelle Religion, Vol 6a, Zurique

O Evangelho de São Mateus começa com a linha de descendência de Jesus “o filho de Davi, fdho de Abraão”. Seus ancestrais são listados até Jacó, que era pai de José. José foi marido de Maria. Mas de que adianta essa linha de descendentes se Jesus na verdade não era filho de José? (Jesus, conforme se diz, foi concebido imaculada­mente.) Mateus lista 42 ancestrais de Jesus; Lucas, por sua vez, lista 76. Os evangelistas também discordam quanto às últimas palavras de Jesus na cruz. De acordo com Marcos (15,34) e Mateus (27,46), ele disse em voz alta: “Deus meu. Deus meu, por que me desampa­raste?”. De acordo com Lucas, ele disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. A versão de João é: “Está consumado.” e inclinando a cabeça, entregou o espírito”.

Mesmo a ascensão — o acontecimento mais marcante da história de Jesus — é relatada de maneiras diferentes. De acordo com Mateus (28,16-17), Jesus instruiu seus discípulos para que se reunissem na montanha da Galiléia. “E quando o viram, adoraram-no; alguns, po­rém, duvidaram.” Ainda duvidaram? Mateus não tem nada mais a acrescentar sobre a ascensão.

Marcos (16,19) tem apenas uma frase sobre o extraordinário aconte­cimento: “E o Senhor Jesus, depois que lhes falou, elevou-se ao céu e está sentado à direita de Deus.” Quer dizer que foi simples assim, não é?

Lucas (24,50-52), diz que o próprio Jesus levou os discípulos “fora até Betânia; e levantando as suas mãos, os abençoou. Aconteceu que enquanto os abençoava, separou-se deles e elevava-se ao céu.”

João, o discípulo preferido de Jesus, não sabe nada sobre uma ascen­são.

Estes são apenas alguns dos exemplos de textos da Bíblia acessíveis a todos, que foram traduzidos de maneira diferente de Bíblia para Bíblia, de acordo com o pensamento de diferentes Igrejas. (Os tre­chos aqui mencionados fazem parte da versão King James.)

Platão, Phaedrus, Penguin, Londres, 1973

Berdyczewski, MJ (Bin Górion), Die Sagen der Juden von der Ur­zeit, Frankfurt am Main, 1913

Fuchs, C, “The Life of Adam and Eve”, em Die Apokryphen und Pseudepigraphen des alten Testaments, Vol 11, publicado por E. Kautzsch. Hildesheim, 1962

Eisenmenger, J., Entdecktes Judentum, Kongsberg, 1711

Bergmann, J., Die Legenden der Juden, Berlim, 1919

Strabo, Erdbeschreibung, traduzido para o Alemão por Dr. A Forbi- ger, Berlim

Däniken, E. von, Der Götter-Schock, Munique, 1992

Däniken, E. von, Wir sind alle Kinder der Götter, Munique, 1987

Um pequeno exemplo, com alguma relevância contemporânea, para ilustrar:

As pessoas de Sodoma e Gomorra armaram camas nas ruas. Quem quer que entrasse nas cidades era aprisionado e forçado a deitar-se em uma cama. Se um estrangeiro fosse menor do que a cama, três homens o pu­xariam pela cabeça e outros puxariam-no pelos pés. O homem gritaria, mas eles não dariam importância, continuando a esticá-lo. Mas se o estran­geiro fosse maior do que a cama. Crês homens ficariam de cada um de seus lados e os puxariam para os lados, sendo torturado até a morte. Quando o estrangeiro gritava durante a tortura, eles replicavam: “É isso o que acon­tece a quem vem para Sodoma.”

Kautzsch, E., Die Apokryphen und Pseudepigraphen des alten Tes­taments, Vols. 1 e 2, Tübingen, 1900

Karst, J., Eusebius-Werke, Vol 5, Die Chronik, Leipzig, 1911

O Livro de Mórmon, 16a edição, 1966

Tollmann, A. e E., Und die Sintflut gab es doch, Munique, 1993

Bayraktutan, S., mencionado no Die Welt, 17 de janeiro de 1994

Däniken, E. von, Auf den Spuren der All-mächtigen, transmissão en­tre janeiro e dezembro de 1993 pela SAT-1. Também os livros Auf den Spuren der All-mächtigen e Raumfahrt im Altertum, Munique, 1993

Agrest, Matest M., “The historical evidence of Paleocontacts”, cm Ancient Skies, Vol. 20. Highland Park, Illinois, 1994

Gaster, M, The Chronicles of Jerahmeel, Nova York, 1971

Böhl, F. M. Th., Das Zeitalter Abrahams, Leipzig, 1930

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Smend, R., Der Prophet Ezechiel, Leipzig, 1880

Kenyon. K, M., Bible and Recent Archaeology, British Museum Pu- blications, Londres, 1987

Midrash é a obra de interpretação, a busca do sentido. Não espero que meus leitores comprem as midrashim; portanto, apresentarei al­guns exemplos. O que segue vem da Midrash Bereshit Rabha, que consiste de mais de cem capítulos:

E Deus disse: Vamos criar o homem. E a quem Deus consultou? De acor­do com o Rabino Joshua, em nome do Rabino Levi: as obras do céu e da terra. Como um rei consulta seus conselheiros, que nada fez sem consul- tá-los. De acordo com o Rabino Samuel bar-Nachman, Deus consultou as obras de cada dia. Como um rei com seus conselheiros e que não fazia nada sem o seu conhecimento. De acordo com o Rabino Ami, Deus con­sultou seu coração. Como um rei que convidava um construtor a erguer um palácio; se, quando ele visse o palácio, não lhe agradasse, a quem de­veria culpar? O construtor, é claro. Da mesma forma Deus culpou seu pró­prio coração.

Todas essas são opiniões pessoais, que surgiram do desejo de dar sentido àquilo que era transmitido como tradição. Os enigmas dos textos antigos ainda hoje não foram desvendados. As midrashim ex­ploram os livros sagrados linha por linha, discutindo e interpretando cada frase. Os acadêmicos mais devotados dedicaram-se a esses tex­tos — eles tinham de fazer sentido. Para tanto, pesquisaram e extra­polaram, compararam e suprimiram. Aqui vai mais um exemplo para ilustrar o que eu quero dizer, desta vez da midrash Shemot Rab­ha. Este consiste de 52 capítulos e relações com o Livro do Êxodo.

E Deus falou com Moisés. De acordo com o Rabino bar-Mamal, Deus disse-lhe: “Você queria saber o meu nome. Meu nome segue os meus fei­tos; às vezes sou chamado Deus, o Todo-Poderoso; às vezes Zebaoth, às vezes Elhim; quando provoco a guerra entre os blasfemadores, sou chama­do de Zebaoth; quando castigo os homens por suas más ações sou chama­do Deus Todo-Poderoso, e quando demonstro piedade pelo mundo sou chamado Jeová, pois este nome é o exato significado da misericórdia.”

Beer, B., Leben Abrahams, nach Aujfassung der jüdischen Sage, Leipzig, 1859

Riessler, P., Altjüdisches Schrifttum ausserhalb der Bibel. Die Apo- kalypse des Abraham, Augsburgo, 1928

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Bonwetsch, N. G., Die Bücher der Geheimnisse Henochs. Das soge- nannte slawische Henochbuch, Leipzig, 1922

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Reissler, P., Altjüdisches Schrifttum ausserhalb der Bibel. Das He- nochbuch, Augsburgo, 1928

Sobre este assunto, consulte Berdyczewski, M. J. (Bin Görion), Die Sagen der Juden von der Urzeit, Frankfurt am Main, 1914

 

“Ninguém nunea é iludido, mas ilude-se a si mesmo.”

(Johann Wolfgang von Goelhe, 1749-1832)

 

Desde que o Homo sapiens foi capaz de pensar, ele leme a morte. Ele vi­vência ciclos de morte e renascimento na natureza. Vê o brilho das es­trelas sumir com a aurora — e retornar com todo seu vigor ao cair da noite. O que existe entre a inorte e a vida nova? Alguma misteriosa con­dição de expectativa, de espera pelo novo nascimento? Aqueles que acre­ditam que a vida continua além da morte podem encontrar forças para enfrentar a morte com relativa serenidade. Entretanto o medo da morte permanece; pois, como sabemos pela nossa própria experiência, a espe­rança é algo vacilante e evasivo.

O medo do indivíduo também é o terror das massas. Nações inteiras temem a guerra, a bomba atômica, a destruição do meio ambiente. Mui­tos pensam com inquietude e apreensão em acontecimentos terríveis cu­jas ameaças aparecem em textos sagrados: o Juízo Final ou dia do julgamento. No Novo Testamento, São Marcos anuncia (13,24-25):

Mas, naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol escurecerá, a lua não dará o seu resplendor, as estrelas cairão do céu e serão abaladas as potes­tades que estão nos céus.

Seu colega Lucas é ainda mais específico; ele até lista os sinais de aviso que precederão o Dia do Julgamento (21,10-26).

Levantar-se-á nação contra nação e reino contra reino. Haverá grandes ter­remotos por várias partes, pestes e fornes; aparecerão coisas espantosas no céu e sinais extraordinários...Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; na terra, consternação dos povos pela confusão do bramido do mar e das on­das, tomando os homens de susto, na expectactativa do que virá sobre todo o mundo, porque as virtudes dos céus se abalarão.

O Alcorão também descreve esses tumultuados acontecimentos em ter­mos não menos dramáticos (Sura 82).

Quando o céu se fender, quando os astros se dispersarem, quando os mares transbordarem, quando os túmulos forem revolvidos, cada alma saberá o que fez em seu favor ou contra si.

O dia do julgamento é evocado até mesmo em cantos Gregorianos, na­queles simples e maravilhosos cânticos de tanta profundidade que ainda são entoados nos monastérios católicos. O Dies Irae (literalmente “dia de fúria”) é cantado durante a liturgia aos mortos.

Nesta época de tumultuada destruição, diz-se que o “juiz” do dia do julgamento também surgirá. Em Marcos (13,26) vemos:

Então verão o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Enviará logo seus anjos e juntará os seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até a extremidade do céu.

Lucas (21,28) acrescenta outra frase: “Quando começarem, pois, a suce­der estas coisas, erguei-vos e levantai as vossas cabeças, porque está pró­xima a vossa libertação.”

 

                     O Apocalipse

E claro que somente os sinceros e leais serão salvos, os devotos, que crêem cegamente nas escrituras sagradas. Mas se você me perguntar quais escrituras sagradas, não saberia lhe dizer, pois cada religião neste manicômio terrestre acredita que somente a sua própria escritura sagrada revela a verdade. Há o prenúncio de um juiz celestial surgindo “nas nu­vens" para medir as boas e más ações da humanidade com um critério decisivo. E antes de os sortudos escolhidos serem levados para o céu, o resto da humanidade será açoitada, espancada, sugada e esquartejada.

São João nos dá a descrição mais interessante disso em sua chama­da Revelação, o último texto contido no Novo Testamento. Lemos que os sete selos serão abertos e que com cada selo novas pragas virão para afligir a humanidade. As trombetas soarão e com cada som terríveis acontecimentos sucederão, em que um terço do oceano se transformará em sangue, um terço de todas as criaturas morrerá e um terço dos barcos afundará.


Mas o pior ainda está por vir quando a terceira trombeta soar (8,10)

Caiu do céu uma grande estrela, a arder como um facho, e caiu sobre a lerça parte dos rios, e sobre as fontes das águas. O nome da estrela é Ab­sinto; a terça parte das águas converteu-se em absinto e muitos homens morreram por causa daquelas águas, porque se tomaram amargosas.

Finalmente o sol e a lua foram envoltos em escuridão, e as pessoas foram atormentadas por criaturas inimagináveis — gafanhotos, escor­piões, etc. — sem o alívio da morte. O terror não tem fim: cavalos com cabeças de leões tomam a cena e cospem fogo, fumaça e enxofre.

Não faço idéia de quem era o dono do cérebro que produziu tais pe­sadelos, ou de que espécie de “visões” sofria São João. O que sei é que vários elementos do apocalipse podem ser encontrados tanto nos textos muito antigos de Enoque quanto nos mais recentes do profeta Daniel (7,1-27).

Em contraste com as catástrofes na história mundial que ocorreram até agora, confinadas a áreas geográficas relativamente pequenas, o apo­calipse de São João profetiza uma destruição por todo o mundo da qual ninguém escapará, e um acerto de contas e julgamento finais.

Então de onde vieram essas idéias, essas imagens de um acerto de contas com uma subseqüente redenção dos eleitos?

E mais particularmente, que tipo de Deus “piedoso” é este que tor­tura e mata os descrentes e depois os deixa assar no fogo eterno do in­ferno?

A imaginação humana não tem apenas visões belas; é igualmente capaz de evocar cenas macabras. Pessoas com raiva desejam que seus inimigos vão para o inferno e passam a imaginar o inferno em sua forma mais lúgubre. Também está claro que as pessoas buscam conforto para seus sofrimentos terrenos à espera de um mundo mais bonito no qual as coisas serão melhores para elas. Além disso, elas também podem desejar que os outros — os maus, os injustos, os ricos, os ateus, etc. — tenham seus destinos cumpridos e tenham sua parcela de sofrimento, enquanto eles próprios sorvem o néctar dos deuses e se aquecem nas glórias do pa­raíso.

Oh, que mundo tão cruel doce a ti e amargo a mim não seria malvado assim se a mim fosse mel e a ti fel

Quanto piores ficam as coisas no mundo, mais as pessoas almejam uma era dourada na qual a justiça e a igualdade reinem. Já que “nada vem do nada” — nem mesmo uma era dourada — é preciso alguma espécie de rei, um governador, um redentor, um profeta, alguém que em outras pa­lavras tenha o poder de limpar a imundície e nos escolher. Esse desejo psicologicamente compreensível é responsável por todas as ressurrei­ções, messias e profetas com os quais fomos agraciados no decorrer dos séculos. Deixe-me descrever alguns exemplos surpreendentes.

 

                   Profetas de Nossos Tempos

Em 5 de janeiro de 1945, o vidente de 67 anos de idade, Edgar Cayce, morreu em Virginia Beach, EUA. Em estado de transe, o “profeta ador­mecido”, como era conhecido, era capaz de curar inúmeras pessoas ape­sar de nunca ter lido um único livro médico em sua vida. Em aproximadamente 2.500 “leituras”, ele deu informações extraordinárias sobre o passado e o futuro, bem como sobre suas várias reencarnações desde a época do antigo Egito até a modernidade. Muitos livros foram es­critos sobre ele e seus seguidores somam vários milhões.1

Em novembro de 1926, em Puttaparthi, no estado indiano de Andhra Pra- desh, nasceu um menino com o nome de Satyanarayana Raju. Seu pri­meiro nome se traduz aproximadamente como “homem divino”. Aos 14 anos de idade, Satyanarayana Raju foi mordido por um escorpião e, ao acordar de um coma que durou vários dias, ele afirmou ser a reencarna- ção de Sai Baba, que havia sido um hindu sagrado no século anterior. Sa­tyanarayana Raju ficou famoso aos 30 anos, e aos 36 fundou seu próprio ashram, uma espécie de retiro religioso. Hoje Sai Baba recebe pessoas e profere palestras no local em que nasceu, a 250 quilômetros ao noroeste de Bangalore. O seu ashram é o maior da índia. Existe também uma uni­versidade anexa a ele e um excelente hospital. Seus adeptos são estima­dos em torno de 100 milhões. Foram escritos inúmeros livros sobre ele/ Cada dia ele realiza materializações e curas milagrosas de todos os tipos na frente de seguidores e também de câmeras de televisão. Ele atribui a si mesmo onipotência, onisciência e onipresença e proclama-se uma reencarnação de Buda, Krishna, Rama e Cristo. A revista alemã Der Spiegel apresentou uma reportagem afirmando que ele não é avesso ao sexo físico.3 Ele profetizou sua própria morte para o ano de 2022, mas somente para reencarnar prontamente no estado hindu de Karnataka.

Em Graz, Áustria, em 15 de março de 1840, algo estranho ocorreu. O professor de música Jakob Lorber, aos 40 anos, de repente ouviu uma voz nítida ordenando que ele escrevesse. Obedientemente, apesar de ini­cialmente estar bastante assustado, pegou sua caneta e nos anos que se seguiram escreveu volume após volume ditados pela voz, que ele diz ter a sensação de estar “na região do coração”. As obras do professor Lorber abrangem nada mais nada menos do que 25 volumes — aproximadamen­te 10.000 páginas ao todo.4 Ele descreveu detalhes astronômicos e cien­tíficos antes desconhecidos e fez comentários surpreendentes sobre o Velho e o Novo Testamento. Seus seguidores somam algumas centenas de milhares de pessoas firmemente convictas da verdade de seus ensina­mentos.

No último século também, em Qadian, um vilarejo a nordeste de Lahore onde hoje é o Paquistão, nasceu o profeta Hazrat Mirza Chulam Ahmad. Durante sua vida ele provou ser uma pessoa gentil, amável, hábil na es­crita e oratória; fundou o movimento Ahmadiyya, uma comunidade islâ­mica que ainda conta com muitos seguidores. A ele foram atribuídos poderes milagrosos; seus adeptos juram que Deus Todo-Poderoso os “acordou para continuarem a tarefa de todos os profetas do passado”. Ele foi considerado “o Messias e Mahdi para os cristãos e muçulmanos”, bem como “Krisbna para os hindus. Buda para os budistas... e o redentor de toda a humanidade”.3

Esses são apenas alguns profetas que apareceram nos últimos 150 anos; seja lá o que for que você pense sobre eles, eles fizeram coisas surpreen­dentes. Além desses profetas positivos e curandeiros, que nunca fizeram mal a ninguém, há uma série de figuras negativas: profetas do julgamen­to que nos vêm dizendo há anos que todos deveremos estar mortos nesta ou naquela data. Desde um tempo imemorável o fim do mundo tem sido um tema continuamente abordado; o próprio mundo, entretanto, não ade­re a ele.

 

                     Crentes e Descrentes

Não me preocupo em destituir as profecias dos charlatões, mesmo quan­do estes se valham de pretextos científicos. É sempre fácil reconhecê-los pela ligação que mantêm com o presente e ideologias particulares. Não me preocupo sequer com profetas como Jakob Lorber, Hazrat Mirza Chulam Ahmad, Edgar Cayce ou Sai Baba, mesmo que este último de­clare ser Deus. Suas impressionantes capacidades e, caso lhe agrade, seu conhecimento universal, podem ser explicados por uma moderna teoria racional, matematicamente deduzida, formulada pelo físico atômico fran­cês Jean E. Charon, que reza o seguinte: matéria e espírito estão insepa­ravelmente unidos um ao outro. Cada átomo, ou para ser mais exato, cada elétron contém a inteligência total do universo.6 Isto explica o co­nhecimento dos profetas, mesmo que eles próprios não saibam de onde vem — uma contradição no fato em si!

Mas algo me preocupa de um modo bastante diferente: as religiões que nos dizem que no dia do acerto de contas os descrentes serão afoga­dos, mortos, apunhalados, envenenados (pela “água amarga”), golpeados, esmagados por terremotos ou erradicados por outros desastres. Mas que descrentes? Aqueles que não acreditam nos dogmas católicos? Aqueles que tiveram a infelicidade de crescer em uma tradição cristã? Os que ti­veram o azar de crescer em terras árabes ou asiáticas? Aqueles que não estão cientes dos ensinamentos do Alcorão ou do Budismo ou Hinduís- mo? Os pertencentes à religião Xintó do Japão? Ou aqueles que não ado­tam o Livro de Mórmon ? Parece que nosso amado Senhor Deus, de uma maneira ou de outra, fez uma bela confusão!

Quase todas as religiões esperam um redentor de alguma espécie, um salvador, uma reencarnação do Messias. Para a cristandade, Jesus Cristo é a figura, o salvador que nos redimiu há 2000 anos do peso ne­fasto do pecado original, e que, contudo, presumivelmente voltará “em um trono nas nuvens” para nos julgar. Por que, então, Jesus tomou-se o Messias para os cristãos enquanto seu próprio povo, os judeus, não o re­conheceram como tal? Isso é tão confuso e — como não seria de sur­preender — acompanhado de milhares de comentários enfadonhos que eu devo me concentrar na essência.

 

                 Jesus foi o Messias?

Parece ambíguo elevar Jesus a um salvador cristão ou judaico — não só porque, ao contrário das profecias, não houve paz duradoura depois dele, mas também porque o reino da Casa de Davi, que supostamente duraria para a eternidade, morreu há milhares de anos! O “profético” Livro de Isaías às vezes é traduzido no tempo presente — “Nasce uma criança en­tre nós” — às vezes no futuro — “no desenvolvimento de seu governo e a paz não terá fim”. A tão esperada criança poderia, logicamente, nem ter nascido na época de Isaías. Portanto é útil saber que o documento he­braico original em que os textos proféticos estão escritos é uma forma puramente consonantal, não havendo tempo gramatical futuro.7 Para fa­cilitar a leitura, as vogais foram indicadas por pequenos pontos entre as consoantes. No texto original havia o imperfeito (passado contínuo) e o perfeito (passado completo). Não havia nenhuma forma futura. Portanto os tradutores podem interpretar como quiserem, e assim o passado se­qüencial — abracadabra — transforma-se em uma possibilidade futura!

Os acadêmicos, obviamente, discordam quanto às passagens de Isaías serem genuínas. Sempre que um especialista afirma que o Livro de Isaías original passou por uma total reestruturação, acréscimo ou subtra­ção, outros declaram o contrário. Trata-se de contendas teológicas às quais me acostumei com o passar dos anos. Ninguém conhece a verdade.

no entanto a nenhuma profecia messiânica foi dada tamanha importância universal quanto a de Isaías 9,6 e Daniel 7,27.

Seja lá quem queira, a todo custo, identificar uma figura messiânica de Jesus dessas vagas indicações e formulações, inevitavelmente fracassa quando elas são confrontadas com fatos históricos. A vida de Jesus não foi seguida nem da aparição de um poder singular, nem de um reino de duração eterna. Os teólogos cristãos sabem disso, é claro, e é por isso que inventaram um hipotético “reino eterno” que deve seguir o dia do julga­mento. O que até agora não apareceu deverá aparecer no futuro — tudo para manter as esperanças vivas!

Aquele que cruzar o deserto da argumentação teológica reconhece­rá nos textos antigos a esperança voltada ao futuro, uma profecia de al­gum acontecimento importante que deve ocorrer em um momento ou outro. Os profetas e escritores apocalípticos imaginaram esse aconteci­mento de várias formas. Os profetas patriarcais vêem nitidamente o ce­nário se formando acima da Terra, enquanto os apocalípticos imaginam-no em algum lugar sobre a Terra. O teólogo Dr. Werner Kiip- pers faz a seguinte notável observação:

A luz lançada por esta esperança brilha sobre um fundo escuro; e no ponto de foco surge a forma móvel de uma figura misteriosa: um Filho do Ho­mem de aparência humana, o escolhido da justiça, a estrela da paz, o novo sacerdote, o homem, o Messias. Como podemos compreender tal combi­nação — uma figura de mesma estrutura física de um homem, que é mais do que um simples homem e não é anjo nem Deus?8

A teologia judaica descreve firmemente o Messias como um “ho­mem de descendência humana”;9 ele é freqüentemente descrito não como uma personalidade individual, mas como todo o povo de Israel. A teolo­gia cristã o vê diferente: como uma figura messiânica igualada ao “filho de Deus”. Mas ambas as versões teológicas deixam várias perguntas no ar. De onde veio a idéia de um messias? Há quanto tempo? Não há mo­tivos para citarmos profetas como Isaías, Daniel ou Ezequiel quando se sabe que seus textos foram adulterados e reescritos. Também não se pode, pela mesma razão, confiar neles para qualquer espécie de referên­cia cronológica precisa: a idéia de um messias é claramente, muito mais antiga do que os profetas. O que eles registraram foram apenas pistas na memória folclórica de uma expectativa que existiu desde a expulsão do paraíso. Os profetas e seus posteriores editores redigiram com base na sa­bedoria tradicional de todo um povo. Essa esperança já era uma parte in­tegral, talvez a preocupação central, de uma raça de seres humanos antes de qualquer palavra ter sido escrita. As expectativas de ser salvo e liberto são “muito antigas, datadas de antes dos profetas”.10

“Os israelitas legaram três presentes para o mundo", escreve o teó­logo Leo Landmann: “o monoteísmo, a moral e os verdadeiros profetas. A eles devemos acrescentar um quarto: a crença no Messias”.11 Isso é fá­cil de refutar; muitas culturas e povos antigos tinham expectativas mes­siânicas.

Em 1919 o teólogo H. W. Schomems escreveu:

A certeza da superioridade da cristandade, sem dúvida sua validade abso­luta sobre todas as outras religiões, fortalece e edifica a população Cris­tã.12

Eu acredito que tais afirmações devem ser ponderadas com um co­nhecimento de outras religiões. Primeiro é necessário ler e sentir ao que levam; e seja lá quem for que, depois desse estudo, ainda credite supe­rioridade absoluta à cristandade, estará fechando os olhos e se entregando à fé cega. A fé é uma questão individual. Pessoalmente eu respeito as crenças de cada indivíduo. Mas acho que é errado subestimar outras re­ligiões: elas preservaram sua intensidade e fascinação por milhares de anos — em muitos casos há mais tempo do que a cristã. Todas as reli­giões, sejam elas pré ou pós-cristãs, contêm a idéia de redenção. Todas, sem exceção, aguardam ansiosamente os sinais celestiais e o prometido retorno do seu messias. A maior e certamente mais dinâmica das reli­giões pós-cristãs é o islamismo. No livro sagrado dos muçulmanos, o Al­corão, Jesus é respeitado como profeta, mas não reverenciado como Messias ou filho de Deus.

 

                       O Messias do Islamismo

O cristianismo está só ao crer em Jesus como sendo o Messias e Reden­tor. Nenhuma das grandes religiões do mundo adere a esta crença, nem o judaísmo ou o Islamismo, sem falar nas religiões da Ásia.

Agora, todas essas religiões do mundo tiveram, e ainda têm, seus excelentes pesquisadores, pensadores e exegetas. Todas tiveram e ainda têm escolas de primeira linha e locais para aprendizagem equipados com exércitos de especialistas poliglotas. Mas para mim, leigo em teologia, é surpreendente que, com base no mesmo material, todos esses cabeças-de- ovo superinteligentes tenham chegado a versões completamente diferen­tes da mesma verdade. O judaísmo, o islamismo e o cristianismo baseiam suas exegeses nos mesmos profetas da antigüidade. Então como se pode afirmar que a exegese é uma ciência exata? Se fosse assim, certamente seria possível esperar que eles chegassem a resultados semelhantes. Como isso evidentemente não ocorreu, eu afirmo que ninguém mais sabe a verdade. Esses pesquisadores estão a serviço somente de suas próprias causas, creiam eles nelas ou não.

O islamismo também traz a idéia de um dia do julgamento e do acerto de contas final. Semelhante à Revelação de São João, o Alcorão nos diz (21a Surata, verso 104):

Será o dia em que enrolaremos o céu como rolo de pergaminho. Do mes­mo modo que originamos a criação, reproduzi-la-emos.*

Ou, semelhante às trombetas na Revelação, outro verso do Alcorão (20a Surata, verso 102) diz: “Dia em que a trombeta será soada e em que con­gregaremos, atônitos, os pecadores”. 17a Surata, Verso 58, menciona que nenhuma cidade restará em pé no dia da punição e ressurreição.

E quando isso deverá acontecer? Segredo de Alá (2 Ia Surata, Verso 40):

“Surpreendê-los-á inopinadamente e os aniquilará. Não poderão desviá-lo, nem serão tolerados”.

O messias islâmico é chamado de “Mahdi”. Tanto o profeta Maomé quanto os vários imames que o seguiram proclamaram o retomo de Mahdi. Os imames — os grandes mestres do islã — sempre consideraram errado especular sobre a data do retomo de Mahdi, pois este era um segredo conheci­do apenas por Alá. Assim como no judaísmo e no cristianismo, a litera­tura sobre o retorno de Mahdi enche bibliotecas inteiras. Não há nada sobre o assunto que ainda não tenha sido ensinado e escrito por alguém. Um estrangeiro certa vez perguntou ao quinto imame, al-Baquir, que si­nais seriam testemunhados antes do retomo de Mahdi. Ao que ele respondeu:

Acontecerá quando as mulheres se comportarem como homens e os ho­mens como mulheres; e quando as mulheres sentarem-se de pernas abertas sobre os cavalos. Acontecerá quando as falsas profecias forem considera­das verdadeiras e as profecias verdadeiras forem rejeitadas; quando os ho- mens derramarem o sangue de outros homens por razões pequenas, quando eles cometerem atos indecentes e esbanjarem e desperdiçarem o dinheiro dos pobres.13

Neste caso, as palavras de Mahdi já deveriam ter sido cumpridas faz tem­po. Sem falar que, antes da vinda de Mahdi, “60 homens falsos aparece­rão, se autodenominando profetas”. Pelas minhas contas, até agora já deve ter passado dos 60.000 falsos profetas.

O mesmo caos teológico existente no que diz respeito ao retorno de Mahdi encontramos sobre o retorno do Messias no judaísmo e no cristia­nismo. Todas as grandes religiões do mundo esperam um messias, mas nenhuma sabe quando ele virá. A figura do messias é geralmente vista em relação com as estrelas, o firmamento e o acerto de contas dos feitos humanos. Supostamente ele estará acompanhado por exércitos de anjos, será dono de imenso poder e se sentará em um trono sobre as nuvens. Es­sas crenças derivam de uma memória folclórica central? Relembram a promessa original do “Nós voltaremos”?

Para tornar estas vagas suposições mais concretas e precisas, preci­samos nos voltar a outras tradições mais antigas do que as do apocalipse cristão ou o Alcorão.

A palavra Avesta vem da Pérsia Central e significa texto básico ou instrução. A Avesta contém os textos religiosos dos parses, ou adeptos modernos de Zaratustra. Zaratustra foi presumivelmente concebido em estado virginal. A tradição diz que uma montanha envolta em pura luz desceu dos céus. Da montanha surgiu um jovem rapaz, que implantou o embrião de Zaratustra no ventre de sua mãe. Pelo fato de a religião deles ser mais antiga do que o islã, os parses recusaram-se a aceitar o Alcorão como livro sagrado. Eles emigraram para o Irã e para a índia. Apesar de seu idioma, o Gujarati, ser um idioma hindu moderno, eles continuam a realizar as cerimônias no idioma do templo de Avesta, comparável com a tradição católica de rezar missas em latim.

Os parses encontram-se em um dilema semelhante ao dos adeptos de outras religiões: existe somente um quarto dos textos originais da Avesta. Partes dessa antiga religião persa foram conservadas em docu­mentos cuneiformes, que foram encomendados pelo Rei Dario, o Grande, (558-486 a.C.), seu filho Xerxes (aproximadamente 519-465 a.C.) e seu neto Artaxerxes (aproximadamente 424 a.C.). O deus mais elevado dessa religião chama-se Ahura Mazda, e foi o criador do céu e da terra.

 

                     Louvadas Sejam as Estrelas!

Nos textos parses, as estrelas fixas são ordenadas em vários agrupamen­tos de estrelas, sendo que cada uma é governada por “comandantes” es­pecíficos. Os exércitos celestiais decididamente são militarizados; há “soldados” das constelações e também batalhas realizadas por todo o uni­verso. As diferentes estrelas são exaltadas nos termos mais elevados (Afrigan Rapithwin, verso 13):

A estrela Tistrya. a brilhante e majestosa que exaltamos.

A estrela Catavaeca, que conduz as águas, a exaltamos.

Todas as estrelas que contêm sementes aquáticas, exaltamos.

Todas as estrelas que contêm as sementes das árvores, exaltamos.

As estrelas chamadas Haptoiringa, as curativas, que se opõem a Yatus, exaltamos...

Tais tributos parecem ser mais do que apenas ornamentações de pura fan­tasia, pois os parses tinham, desde o início, certo grau de conhecimento astronômico. Os planetas, por exemplo, lhes eram conhecidos como “cor­pos simples em forma redonda". Desde a época mais antiga, os templos dos parses homenageavam os diversos deuses e seus locais de origem no universo, de modo que quase prefiguraram a revolução do pensamento astronômico trazida por Galileu Galilei em 1610. Em cada templo podia ser encontrado um modelo redondo do planeta ao qual era dedicado. Ha­via tipos específicos de roupas e hábitos em cada templo, dependendo do planeta que se homenageava. No templo de Júpiter, era preciso vestir a roupa de um juiz ou acadêmico; no templo de Marte, por sua vez, os par­ses usavam vermelho, vestimenta marcial, e tinham de conversar em “tom de orgulho"! No templo de Vênus ria-se e gracejava-se; no templo de Mercúrio falava-se como orador ou filósofo; no templo da lua os sa­cerdotes parses comportavam-se como crianças briguentas, pulando e correndo, e no templo do sol usavam brocado e comportavam-se “como serv idores dos reis do Irã."

A quadriga solis, a carruagem de quatro cavalos com cavalos ala­dos, teve origem no folclore iraniano;15 na versão parse, os deuses de planetas particulares revezam o comando da carruagem do sol. E nos tex­tos de Avesta, a carruagem celestial e seus comandantes são exaltados da seguinte forma (Yasna, Capítulo 57, Verso 27):

Quatro cavalos brancos, brilhantes, luminosos, astutos, sábios, sem sombras, cavalgam por regiões celestiais... mais rápido do que as nuvens, mais rápido do que os pássaros, mais rápido do que flechas, eles surpreendem todos os que os acompanham...

Nesses textos, essas máquinas voadoras existem em abundância no uni­verso. Os parses também, quase não é preciso dizer, aguardavam ansio­samente pelo reaparecimento de seus deuses. Eles acreditavam que “seres de luz” desceriam dos céus e salvariam a humanidade do sofrimento. O próprio Zaratustra questionava seu deus Ahura Mazda quanto ao fim do mundo e a resposta que teve foi de que haveria uma batalha final dos bons contra os corruptos. Dos céus desceriam vários “conquistadores” imortais e com o conhecimento de todas as coisas. Antes de eles apare­cerem nos céus, o sol será tomado pela escuridão, haverá terremotos, ventos e tempestades horríveis e uma estrela cairá do céu. Depois de uma batalha terrível na qual os exércitos se confrontarão mutuamente, uma nova era dourada surgirá. A humanidade se tomará conhecedora das artes da cura e “poderá curar uns aos outros, mesmo estando perto da morte.”

Essa versão da “redenção” não parece tão diferente da que encon­tramos em outras religiões, exceto pelo fato de esses “conquistadores” serem os deuses dos mundos estelares que aparecem como os tão espe­rados salvadores.

 

                            A Era Dourada

No Hinduísmo tudo é mais complicado por causa das múltiplas divinda­des. No início das quatro épocas do mundo havia a Era dos Deuses, Krtayuga ou Devayuga. Em todos os aspectos esse período era perfeito, pois não existia doença nem inveja, nem disputas nem rancor, nem o medo e nem a dor. Naquela época, de acordo com os ensinamentos hin­dus, o pensamento de todas as pessoas fixava-se somente no elevado Brahma, e mesmo os membros das quatro castas viviam em perfeita har­monia. A vida e os próprios seres humanos eram simplesmente perfeitos. As pessoas dedicavam-se a uma vida ascética e ao estudo das escrituras. O desejo material era algo desconhecido. As pessoas amavam a verdade e o conhecimento. Não havia injustiça, pois ninguém possuía aspiração terrena. O Bhagavata-Purana, uma das muitas obras da religião hindu, descreve as pessoas da era dourada como contentes, amigáveis, pacien­tes, gentis e complacentes. Elas eram felizes porque levavam paz em seus corações e não conheciam o mal.

Era portanto um mundo que mal podemos imaginar. Atualmente, é claro, somos virados para lá e para cá por desejos e aspirações. A idade de uma era de absoluta felicidade que desconhecia os desejos é bastante estranha para nós. Entretanto, esta era dourada do Hinduísmo é, por as­sim dizer, somente um desejo projetado no distante futuro. Como foi na “era do sonho”, será mais uma vez no futuro. Um tempo de beleza, força, juventude e harmonia voltará.

O Hinduísmo não tem um casal “fundador” como Adão e Eva; Brahma criou 8.000 pessoas de uma só vez — 1.000 casais de cada casta que eram como os seres divinos. Esses casais se amavam, porém não geravam filhos. Somente no final de suas vidas esses pares tinham dois filhos cada; não pelo sexo, mas pelo poder do pensamento. Desta manei­ra a Terra foi populada com seres espirituais.

Essa história feliz durou até que espíritos negativos, bem como deuses de todos os tipos, introduziram o caos e a confusão entre os seres humanos. Os deuses eram vistos como seres altamente poderosos e imor­tais, entretanto em outros aspectos muito semelhantes aos humanos, e do­tados de personalidades individuais. A maior dessas divindades era o “Príncipe do Universo, que governava tudo”17. Os deuses hindus são tan­tos, diversos e inter-relacionados que não posso descrevê-los aqui deta­lhadamente. Basta dizer que tinham dominado as viagens aéreas e espaciais por meio de máquinas voadoras de todos os tipos e descrições. Todos esses objetos voadores eram de natureza material, real — não eram espirituais, nem vieram da fantasia ou da imaginação.

Equipamentos voadores com sistemas de armas alarmantes são des­critos nos textos religiosos hindus com grande riqueza de detalhes, espe­cialmente nos Vedas, considerados como as mais antigas fontes de linguagem e religião. A palavra veda significa “conhecimento sagrado”. Em um desses textos, o Rigveda, encontra-se uma coleção de 1.028 hinos aos deuses. Afirma-se em termos nada imprecisos que essas máquinas voadoras vêm do cosmos para a terra, e que os deuses vieram pessoal­mente transmitir o conhecimento para os seres humanos. Semelhante às lendas judaicas, os textos hindus descrevem batalhas entre os deuses; não, contudo, em algum céu indeterminado de glória espiritual, mas “no firmamento”, “acima da terra”.

 

                               Guerras nas Estrelas

No “Vanaparvan”, que pertence ao antigo Mahabharata (capítulos 168- 73) da índia, as habitações dos deuses são descritas como instalações es­paciais, que orbitavam acima da Terra. O mesmo tipo de coisa pode ser encontrada no Capítulo 3, Versos 6-10, do Sabhaparva. Essas estações espaciais gigantescas tinham nomes como Vaihayasu, Gaganacara e Khe- cara. Elas eram tão enormes que as naves usadas para curtas viagens, as vimanas, voavam para dentro delas pelos enormes portões.

Não estamos falando de fragmentos obscuros que ninguém pode examinar, mas de antigos textos tradicionais indianos que podem ser en­contrados em qualquer grande biblioteca. Na seção “Drona Parva” do Mahabharata, página 690, verso 62, podemos ler como três cidades grandes e ricamente construídas giram em torno da terra. Delas, a discór­dia se espalha para as pessoas na Terra e também para os próprios deuses em uma guerra de proporções galácticas (verso 77).

Siva, que conduzia a carruagem mais excelente, composta de todas as for­ças do céu, preparou-se para a destruição das três cidades [celestiais]. E Sthanu, líder dos destruidores, oponente de Asuras, este belo lutador de imensurável bravura, conduziu suas forças em uma excelente posição de batalha... Quando as três cidades cruzaram os caminhos umas das outras no firmamento, o deus Mahadeva as atingiu com uma terrível torrente de luz da saída tripla de sua arma. Os Danavas não conseguiam olhar para o rastro da torrente de luz, cheia de fogo de yuga e com o poder de Vishnu e Soma. Enquanto os três povoados começaram a queimar, Parvati correu para assistir ao espetáculo.

Os deuses do Hinduísmo travaram uma batalha “no firmamento”, como Ishmael (ou Lúcifer) na tradição judaica:

Ishmael era o maior príncipe dos anjos no céu... E Ishmael foi e uniu-se a todos os exércitos mais elevados do céu contra seu Senhor; ele reuniu seus exércitos à sua volta e desceu com eles, e começou a procurar com­panhia sobre a Terra.

E o que lemos em Enoque? Ele descreveu o motim entre os anjos e até listou nomes.

Essa tradição central — a batalha no céu, a luta entre os deuses — é algo decisivo e transformado em farsa pelo conceito ingênuo de céu ao qual várias religiões se submetem.

No Hinduísmo, os seres humanos alcançam absoluta serenidade graças a seus próprios poderes, por meio de ciclos contínuos de renasci­mento durante os quais aperfeiçoam e purificam seu camia. Para isso, contudo, recebem a ajuda dos deuses e finalmente do deus universal Brahma. Mas os hindus também estão familiarizados com a idéia do re­torno dos deuses. Vishnu renascerá como Krishna e salvará a Terra da desordem em que se encontra. Onde a idéia de carma ou reencamações se encaixa nisso tudo é um mistério para os ocidentais. Como os hindus chegaram à crença do contínuo ciclo do renascimento, no qual eles car­regam, arrastam seus bons e maus feitos de uma vida para a outra7

Os ensinamentos extraordinariamente complexos do carma são descritos na religião jainista com detalhes muito precisos. O jainisino é, ao lado do budismo e do hinduísmo, uma das três maiores religiões da índia. Séculos antes da chegada do budismo, o jainismo surgiu ao norte da índia, e gradualmente se espalhou por todo o subcontinente. Seus adeptos afirmam que foi originalmente fundado em épocas bem antigas

há milênios. Eles acreditam que seus ensinamentos são eternos e im­perecíveis. mesmo que sejam esquecidos por longos períodos. A religião jainista está inclusa em uma série completa de textos pré-budistas, que são — não há outra maneira de expressar — extraordinários.

 

                       Ciência Antiga

A literatura teológico-científica do jainismo contém histórias de homens sagrados, cânticos sobre os criadores originais, bem como preceitos de toda espécie. Essas obras ficam — de modo semelhante à Bíblia — reu­nidas sob um guarda-chuva de título único: Shvetatnbaras. São divididas em 45 seções principais, cada uma delas com nomes um tanto impronunciáveis.

A “Vyahyaprajnaptyanga” apresenta todos os ensinamentos do jai­nismo em diálogos e lendas. A “Anuttaraupapatikadashanga” conta his­tórias dos seres sagrados originais, que subiram aos mundos celestiais mais elevados.

Na seção “Purvagata” encontram-se descrições e livros científicos. Neles, o “Utpada-Purva” trata de formação e dissolução de diferentes substâncias (química). A “Viryapravada-Purva" descreve as forças ativas da substância dos deuses e dos grandes homens. A “Pranavada-Purva” examina a arte da cura. A “Lokabindusara-Purva” trata de matemática e redenção.

Como se não bastasse tudo isso, há também as 12 “Upangas” que descrevem todos os aspectos do sol, da lua e outros corpos planetários, bem como as formas de vida que os habitam. Além disso, a “Aupapatika” nos diz como se pode alcançar a existência divina. Também somos ofer­tados com uma lista de reinos divinos (Prakirnas, Livro 7).

Além desses escritos, supostamente há livros que existiram nos tempos mais primitivos, mas que foram perdidos. Os jainistas acreditam que esses escritos tenham sido transmitidos oralmente, de sacerdote para sacerdote, através das gerações. Não se preocupam com sua perda, uma vez que com as reencarnações com os antigos profetas reaparecem con­tinuamente, tomando a revelar o conteúdo — à medida que a época e as pessoas estão prontas para receber tais ensinamentos. O conteúdo dos textos perdidos só sobreviveu em fragmentos, mas mesmo esses frag­mentos tratam de coisas assombrosas:

como é possível viajar para terras distantes por meios mágicos

como é possível realizar milagres

como é possível transformar plantas e metais

como é possível voar pelo ar

Voar pelo ar também é algo descrito na literatura sânscrita. Meu livro, Der Götter-Schock trata disso detalhadamente.

De acordo com os ensinamentos jainistas, a era em que vivemos é apenas uma dentre muitas. Antes do nosso houve outros períodos cósmi­cos, e em suma — por volta do ano 2.000 — uma nova era deverá ter início. Essas novas eras também são mencionadas por 24 profetas, os tirthamkaras. Os profetas de nossa era estão apenas nascendo, ou talvez já sejam adultos. Os líderes religiosos do jainismo acreditam que sabem seus nomes e outros detalhes sobre suas vidas.

 

                         Datas Impossíveis

O primeiro desses tirthamkaras foi Rishabha. Ele habitou a Terra durante 8.400.000 duvidosos anos. Rishabha tinha proporções gigantescas. Todos os patriarcas que o sucederam diminuíram gradualmente em estatura e longevidade; entretanto, o 21ü deles — que se chamava Arishtanemi — viveu ainda por 1.000 anos e tinha dez vezes a altura de um arco. Somen­te os dois últimos, Parshva e Mahavira, viveram o que consideraríamos um tempo “razoável”. Parshva viveu 100 anos e só tinha 2,70 m de altu­ra, enquanto Mahavira. o 242 dos tirthamkaras, chegou a apenas 72 anos e 2,10 m de altura.

Os jainistas descrevem a aparência dos tirthamkaras nas eras an­tigas de uma maneira que nos deixa tontos só de imaginar. Os dois últi­mos presumivelmente morreram em 750 e 500 a.C., respectivamente, enquanto o sucessor Rishabha (o primeiro patriarca) agraciou a Terra por cerca de 84.000 anos.

Esses números, colocados bem a nossa frente, deveriam na verdade fazer com que nossos investigadores de mitos e também teólogos paras­sem e prestassem atenção. Por quê? Porque temos aqui, bem embalados em conceitos religiosos, um núcleo de memória folclórica que brilha por livros sagrados e outros não tão sagrados. Deixe-me, brevemente — em estilo telegrama — refrescar sua memória.

Na antiga lista de reis da Babilônia (WB 444). contam-se dez reis desde a criação da Terra até o dilúvio. Estes governaram por aproxima­damente 456.000 anos. Depois do dilúvio “o reino mais uma vez desceu dos céus“20 e os 23 reis que se seguiram governaram juntos por 24.500 anos, 3 meses e 3 dias e meio.

Para os patriarcas bíblicos estes são considerados apenas períodos inacreditáveis. Adão supostamente viveu mais de 900 anos; Enoque tinha 365 anos quando subiu às nuvens, e seu filho Matusalém, 969 anos.

Não era diferente no Egito. O sacerdote Maneto registrou que o pri­meiro governador divino no Egito foi Hefaisto, que também trouxe o le­gado do fogo. Depois seguiu Cronos, Osíris, Tiphon, Hórus e o filho de Isis.

Depois dos deuses, a raça dos descendentes dos deuses governou por 1.255 anos. E depois outros reis governaram por 1.817 anos. Depois disso, outros 30 reis governaram por 1.790 anos. E então outros 10 por 350 anos.

O reino dos espíritos dos mortos e descendentes dos deuses abarcou 5.813 anos.21

Tais datas impossíveis são confirmadas pelo historiador Deodoro da Si­cília, que há 2.000 anos escreveu uma biblioteca inteira de obras conten­do 40 volumes:

De Osíris a Ísis até o governo de Alexandre, que fundou a cidade no Egito cujo nome foi dado em sua homenagem, diz-se ter passado mais de 10.000 anos; alguns dizem, contudo, que o período na verdade é apenas um pou­co mais do que 23.000 anos...22

E como meu último testemunho contra tais datas impossíveis, dei- xe-me mencionar o grego Hesíodo. Em sua obra Myth of the Five Races of Mankind23, ele escreveu — era aproximadamente 700 a.C. — que ori­ginalmente os deuses imortais, Cronos e seus companheiros, criaram os seres humanos: “Aqueles heróis de excelente descendência, chamados semideuses, que na era que antecedeu a nossa habitaram sobre a Terra sem fim...”

Voltemos agora aos jainistas — que. ao que parece, não estão so­zinhos no que diz respeito ao registro de datas de proporções astronômi­cas. Muitos relatos jainistas — vistos do ponto de vista da ciência moderna — são bastante revolucionários. Seu conceito de tempo, de kala, parece algo formulado por Albert Einstein.

A menor unidade de tempo deles é o samaya. E o tempo que leva para o átomo mais lento mover-se à distância de seu próprio comprimen­to. Inúmeros samayas formam um avalika, e — finalmente mensuráveis – 1.677.216 avalikas formam um muhurta, que equivale a 48 dos nossos minutos. Com trinta muhurtas temos um ahoratra, que é exatamente um dia e uma noite. Chegou lá? Multiplique 48 minutos (um muhurta) por 30 e terá 1.440 minutos nossos, que equivale exatamente ao número de minutos em 24 horas. Mas o conceito temporal dos jainistas tem milhares de anos de idade e foi originalmente passado para os humanos por seres celestiais.

Quinze ahoratras dão — de acordo com nossa medição de tempo – um paksha, que é metade de um mês; dois pakshas são portanto um masa, ou um mês. Dois meses formam uma estação, três estações for­mam uin ayana, ou semestre. Dois ayanas formam um ano, e 8.400.000 anos formam um purvanga. Mas continua: 8.400.000 desses purvangas formam um purva (=16.800.000 anos). A contagem jainista chega a nú­meros de 77 dígitos. Depois disso, suas medidas de tempo são apresen­tadas em termos de conceitos específicos, semelhantes ao nosso ano-luz, para uma distância de 9.500.000.000.000 de quilômetros.

Qualquer um bem poderia chamar isso de idiossincrasia, não fosse o fato de os maias da América Central operarem com números igualmente surpreendentes, além de relacioná-los ao tempo e ao universo da mesma forma que os jainistas na distante Ásia.

Os jainistas também obtiveram de seus instrutores celestiais defini­ções do espaço que são de pasmar e que no final — ou finalmente? — tornam-se compreensíveis em conexão com a misteriosa idéia do carma. Só posso fornecer um breve resumo aqui dessa doutrina extremamente complexa e complicada, um entendimento do que eu extraí de um livro do autor e teólogo Helmut von Glasenapp.“4

Nos escritos científicos jainistas, o átomo ocupa um ponto no espa­ço. Este átomo pode se relacionar com outros para formar um skandha, que então abrange vários ou um imensurável número de pontos no espa­ço. Nossa própria ciência nos ensina o mesmo: dois átomos podem for­mar uma cadeia de proporções menores; mas também há cadeias de moléculas que consistem de muitos milhões de átomos. Essas cadeias de átomos dão origem a substâncias e materiais de densidades diversas. Os ensinamentos jainistas distinguem seis formas básicas de tais cadeias ou conexões:

fino-fino: coisas invisíveis

fino: coisas que ainda são invisíveis

fino-grosso: coisas que são invisíveis porém perceptíveis pelo olfato ou audição

grosso-fino: coisas que se pode ver, mas não sentir, como uma sombra ou a escuridão

grosso: coisas que se reúnem por si mesmas, como a água ou o óleo

grosso-grosso: coisas que não se reúnem sem a ajuda externa (pedra, metal)

No jainismo, mesmo uma sombra ou um reflexo são considerados materiais, porque é produzido por uma coisa. Mesmo o som não é clas­sificado como “fino-fino”, mas como materialidade fina, que resulta da “agregação de átomos que se atritam”.

Nesse ensinamento a substância “fina-fina” é capaz de permear tudo e portanto ter uma influência que altera outras substâncias. A subs­tância que penetra uma alma expressa-se como carmii — que nos traz ao renascimento. Ainda está me acompanhando?

 

                               O Carma Permanece Eterno

Sabe-se comumente hoje em dia que todo tipo de matéria — seja ela uma mesa ou um pedaço de osso — pode ser reduzida para o nível atômico.

O átomo em si consiste de partículas subatômicas, sendo que uma delas é o elétron, que oscila em um ritmo inimaginável de 10 à potência de 23 por segundo. A matéria desse elétron seria caracterizada pelos jainistas como “fina-fina”; não é visível, e além disso, é imortal. Os átomos po­dem entrar em todas as cadeias e combinações possíveis, mas o elétron sempre os acompanha. Age como o “espírito na matéria”,25 semelhante ao campo magnético ou à onda de rádio, que permeia substâncias espe­cíficas. Agora os pensamentos de cada forma de vida influenciam os atos. “A substância do mundo é a substância do espírito”, escreveu o as­trônomo e físico inglês Arthur Eddington (1882-1944). E o vencedor do Prêmio Nobel, Max Planck, formulou as seguintes palavras:

Não existe matéria como tal! Toda matéria surge e é mantida somente por virtude de uma força que faz as partículas atômicas oscilarem.

A nossa existência é conseqüência de um ato anterior. Não existiríamos não fosse uma vida anterior que nos deu origem. (E isso não mudará se, no futuro, aprendermos a criar vida artificialmente). Em outras palavras, cada existência é um elo na longa cadeia de existências prévias ou futu­ras. Uma vez que nossos pensamentos regem nossas ações, essas ações, por sua vez, deixam seu rastro em nossa mente ou espírito. Seria possí­vel, por exemplo, descrever um campo magnético como mente, mas com influência sobre a matéria. Os jainistas vêem o que chamamos de “alma” como materialidade “fina-fina” do corpo físico. Essa materialidade é tão intocável pelo corpo quanto o elétron pelo núcleo do átomo. Um elétron pertence ao átomo, mas os dois nunca entram verdadeiramente em con­tato. O átomo pode alterar sua posição, unir-se a outros para formar ca­deias moleculares gigantescas e sempre será acompanhado por elétrons

mas, é estranho dizer, não os mesmos elétrons, pois um elétron “salta” de um átomo para outro, por exemplo, quando sujeito ao calor. E no bi­lionésimo de um segundo no qual um elétron salta para um novo átomo, o lugar vago por ele é preenchido por outro elétron. Então temos uma ati­vidade “fina-fina” imortal e eterna, uma oscilação além do átomo mate­rial.

Os jainistas vêem o carma da mesma maneira. Não importa o que acontece ao corpo — se é queimado ou devorado por vermes. Para o car­ma, ele permanece imortal. Este carma contém todas as informações so­bre a forma de vida a que pertence. Durante a vida nós pensamos e sentimos; este pensamento e sentimento é transposto para a substância “fina-fina” do carma, semelhante a uma gravura. Quando este carma é formado em um novo corpo, ele já contém todas as informações de sua existência anterior, e continua assim por toda a eternidade. Mas uma vez que o objetivo final da vida é obter uma condição de serenidade absoluta – tornando-se um com o Brahma —, o carma nos levará a este objetivo por meio de uma série de incontáveis reencarnações.

Esse modo de pensar não está tão longe da filosofia atual e das des­cobertas da física moderna. O que pode nos surpreender, contudo, é que tais histórias complexas foram ensinadas há milênios e por professores vindos das profundezas do universo. A última era dos jainistas (que foi seguida por nossa própria época) começou em torno de 600 a.C. com o último dos 24- tirthamkaras. Este tirthumkara chamava-se Mahavira. E quem era ele? O filho de um rei cujo embrião fora implantado por seres celestiais no ventre de sua mãe, uma jovem rainha.25 Todos esses profes­sores celestiais da antigüidade presumivelmente ressurgirão, nascidos em novos corpos. Os jainistas têm muitos desenhos antigos que descrevem o 24° tirthamkara, o profeta Mahavira. Acima da procissão em sua ho­menagem, que aparece na Figura abaixo, flutuam cinco aeronaves celes­tiais.

Há uma grande diferença entre as expectativas dos jainistas em re­lação ao retorno dos deuses e a dos cristãos, muçulmanos ou judeus. Os últimos acreditam que um messias e juiz supremo aparecerá, e depois disso aqueles que têm fé desfrutarão da glória celestial enquanto os que não têm fé queimarão no inferno. Os jainistas não esperam um salvador único, mas vários de uma só vez. Os profetas ou tirthamkaras retornam continuamente, a cada era. Não existe fim do mundo depois do seu sur­gimento — nem alegria celestial ou ambrosia, nem danação eterna, mas simplesmente um novo ato no drama do universo. Os tirthamkaras são menos salvadores do que auxiliares. Eles preparam os seres humanos para a próxima era ou etapa. É por isso que nascem como seres humanos (pensem no “filho do homem” nas profecias de Enoque); mas sua subs­tância, seu conhecimento cármico, deriva do universo. Forças extraterres­tres, não terrestres, plantam a semente ou o embrião no ventre da mãe. Também vale lembrar que essas idéias eram comuns há séculos, senão milê­nios, antes do nascimento de Cristo, e que os jainistas portanto não podem ter copiado a imaculada concepção do cristianismo — mas sim o contrário!

Não é de surpreender que tais mestres cósmicos como os tirthamkaras eram versados em astronomia e astrofísica. É dessa fonte que os jainistas tiraram suas datas astronômicas — para nós incompreensíveis. Os seus ensinamentos nos mostram que eles eram capazes de medir as dimensões do universo. Sua unidade de medida era o rajju — a distância que Deus voa é de seis meses, quando viaja a 2.057.152 yojanas por segundo.

Os ensinamentos jainistas dizem que a Terra é cercada por três ca­madas, caracterizadas de acordo com sua densidade: denso como a água; denso como o vento e denso como uma leve brisa. Além delas fica o es­paço vazio. Nossa ciência moderna chegou à mesma conclusão: atmos­fera; troposfera, que contém nitrogênio e oxigênio; e estratosfera, com a camada de ozônio. Depois dela fica o espaço interplanetário.

As pessoas hoje em dia vêm cada vez mais defendendo a visão da existência de outras formas de vida além da nossa no universo. Os jai­nistas sempre acreditaram nisso; para eles, todo o universo está cheio de formas de vida distribuídas desigualmente pelos céus. É interessante no­tar que apesar de reconhecerem a existência de plantas e formas de vida básicas em diversos planetas, somente alguns planetas específicos são ha­bitados por seres dotados de “movimento voluntário”.27

Os filósofos do jainismo descrevem as diferentes características que os habitantes de vários mundos possuem. Os céus dos deuses têm até um nome: Kalpas. Lá, aparentemente, é possível encontrar magníficos palácios voadores — estruturas móveis que compõem cidades inteiras. Estas cidades celestiais ficam dispostas umas sobre as outras de modo que do centro de cada “nível” as vimanas (carruagens divinas) podem aventurar-se em todas as direções. Quando uma era termina, e chega a hora de novos tirthamkaras nascerem, um sino soa no palácio-chefe do “céu”. Este sino faz com que sinos toquem em todos os outros 3.199.999 palácios celestiais. Então os deuses se reúnem, em parte por amor pelos tirthamkaras, em parte por curiosidade. E então, em um palácio voador, visitam nosso sistema solar, e uma nova era começa sobre a Terra.

 

                         À Espera do Superbuda

No budismo, a idéia fundamental de redenção aparece de maneira seme­lhante ao jainismo. Entretanto, os jainistas receberam os ensinamentos antes da chegada do Buda (560-480 a.C.). A palavra Buda significa “o desperto” ou “o iluminado”. O nome real de Buda era Siddartha. Ele veio de uma família nobre e cresceu em meio ao luxo no palácio de seu pai, em uma colina ao pé do Himalaya no Nepal. Aos 29 anos, ele se cansou de sua existência monótona. Saiu de casa, dedicou-se por sete anos à arte e prática da meditação e seguiu um caminho de conhecimento.

Mas os deuses do folclore, da lenda e mitologia já existiam nos dias de Buda. Depois de sua iluminação ele sentiu a encarnação de um ser ce­lestial. Começou a pregar a seus discípulos o caminho quádruplo que pode levar todas as pessoas para o estado búdico, a iluminação. Buda convenceu-se de que o futuro traria outros budas. Em seu discurso dc despedida, o Mahaparinibbana-Sutta, ele fala desses budas do futuro. Ele profetizou para seus discípulos que um deles viria quando a índia esti­vesse cheia de pessoas e as cidades e vilarejos estivessem tão populosos quanto galinheiros. Em toda a índia haveria 84.000 cidades; na cidade de Ketumati (atual Benares) viveria um rei chamado Sankha, que governaria o mundo inteiro, mas não pela força, e sim pelo poder de sua integridade. E durante o seu reinado, o sublime Metteya (também chamado Maitreya) desceria à Terra — um fenomenal e único “condutor de carruagem e co­nhecedor de mundos”, um mestre dos deuses e dos homens: em outras palavras, o perfeito Buda.

A profecia de Buda da chegada de um “superbuda” é semelhante ao ensinamento jainista do retorno dos tirthamkaras. O budismo também fala de eras diversas, comparadas a uma roda giratória. A única diferença é que no budismo estas eras são imensuravelmente longas.

A idéia de quatro eras — ou no jainismo seis — também é infor­mada pela mitologia Sumério-Babilônica. Em culturas muito distantes umas das outras encontram-se os mesmos números. Um professor de his­tória religiosa, Dr. Alfred Jeremias, soube desses paralelos há 65 anos. Ele é apenas um exemplo.28

De acordo com relatos babilónicos, os antigos reis ou governadores do céu reinavam por milhares de anos. As datas relacionadas aos deuses Anu, Enlil, Ea, Sin e Samas são notavelmente próximas aos períodos atri­buídos às yugas ou eras na índia:

 

Anu

= 4.320

Kali-Yuga =

432.000

Enlil

= 3.600

Kali-Yuga =

360.000

Ea

= 2.880

Deva-Yuga =

288.000

Sin

= 2.160

Treta-Yuga =

216.000

Sama

= 440

Dvapara-Yuga =

144.000

Adad

= 432

Maha-Yuga =

4.320.000

 

Existe uma razão para o fato de Kali-Yuga aparecer duas vezes; a Kali- Yuga “sem ocaso” tem menor duração do que a Kali-Yuga “com ocaso”. O número de zeros não é importante, mas a correspondência dos dígitos básicos demonstra uma fonte original comum. O número 4.320.000 na Maha-Yuga (“grande era”) é idêntico ao do terceiro rei pré-diluviano En- me-en-lu-an-na, que reinou por 12 sur ou 43.200 anos. O número

da Deva-Yuga corresponde ao período do reinado do sexto rei, En-sib-zi-an-na. Ele viveu por oito sar, ou 28.800 anos.

Na Grécia, pode-se encontrar a mais antiga referência literária a uma era do mundo nos escritos do poeta Heráclito. Ele refere-se a um pe­ríodo de 10.800.000 anos, que corresponde precisamente ao segundo pe­ríodo dos antigos reis da Suméria — 30 sar ou 108.000 anos.

Esses números não têm nenhuma relação direta com o retorno de um salvador ou outro, mas demonstram a base comum compartilhada por diferentes tradições. A única maneira de explicar tais correspondências é assumirmos que, no início dos tempos, deve ter havido um único ensina­mento original. Esta fonte comum deve pertencer a uma era muito antiga, pois de outro modo seria mencionada em registros históricos.

 

                           Disfarces Psicológicos

A psicologia não me ajuda nem um pouco em minhas pesquisas quanto à idéia do retomo dos deuses. Afirmei que todas as culturas demonstra­ram essa idéia de alguma maneira, e que ela está sempre relacionada às estrelas e salvadores que vêm de fora da Terra; além disso, há freqüente referência à fertilização artificial de um embrião trazido pelos “deuses”. Eu não tenho outra escolha senão acreditar que essas idéias têm uma ori­gem comum, e que é inacessível à psicologia. É claro que é compreensí­vel que as pessoas esperem por um grande salvador, rei e “superbuda” - quando as coisas vão mal, as pessoas esperam todos os tipos de Terra dos sonhos”. Mas isso não explica as relações e correspondências entre todas as diferentes tradições. Os desejos por si só não podem oferecer re­latos tão precisos na primeira pessoa e todos os detalhes de datas e no­mes. Ou será que as pessoas acham que Enoque inventou aquela longa lista de nomes e funções dos “anjos” amotinados? Ou que a idéia de me­dir o universo com o número 2.057.125 yojanas simplesmente veio voan­do até a cabeça de algum sonhador embaixo de uma figueira? A psicologia também não ajuda explicando as datas idênticas em diferentes tradições culturais ou a ampla idéia de fertilizações artificiais e implantes de embriões. Uma outra questão é a maneira como as religiões mais an­tigas transformaram esses conceitos para glorificar seus salvadores com uma concepção imaculada — que, certamente, é algo compreensível do ponto de vista psicológico.

Mesmo atualmente, os cristãos católicos ainda acreditam que Jesus foi concebido imaculadamente por Maria. Eles têm de acreditar nisso porque trata-se de um dogma (ou artigo de fé) da Igreja. Apesar de que. para ser totalmente justo, seria necessário acrescentar que o contrário também não pode ser provado cientificamente. Como é que podemos saber realmente se Jesus, ou se preferir, o profeta indiano Sai Baba, não se desenvolveu a partir de uma semente cósmica? Isto é, afinal de contas, o que se dizia na antigüidade: todos os grandes deuses e reis-deuses de­viam ter credenciais imaculadas para serem considerados iguais aos seus predecessores.

 

                           Sementes do Céu

A semente que se transformou no rei acadiano Hammurabi (1726-1686 a.C.), conforme se diz, foi implantada em sua mãe pelo deus-sol. Hammu­rabi mais tarde tornou-se um grande legislador. Dele vieram as norinas e regulamentações mais antigas registradas para a organização da socieda­de humana.: o Codex Hammurabi. O pilar de pedra, com mais de 2 me­tros de altura, no qual estas leis foram gravadas, foi encontrado e desenterrado no início de nosso século em Susa. Hoje pode ser visto no Museu do Louvre, em Paris. O Codex Hammurabi consiste de 282 pará­grafos. De acordo com Hammurabi, eles foram dados pelo deus do céu – da mesma maneira que Moisés recebeu as tábuas dos Mandamentos diretamente das mãos de Deus. No “Prefácio” de sua coleção de normas, Hammurabi afirma expressamente que “Bei, o Senhor do Céu e da Terra” o havia escolhido para “espalhar a justiça pela Terra, destruir os malva­dos e evitar que os fortes oprimissem os fracos”.29 E é claro que o povo aguardava ansiosamente pelo retorno de seu legislador.

Tudo o que podemos ter certeza é de que Hammurabi conseguiu algo notável, e distinguiu-se de todos os seus contemporâneos por causa de diversos feitos incomuns. Obviamente seria possível assumir que sua origem divina lhe foi atribuída somente após a sua morte — se não fosse o pilar de pedra com o próprio testemunho, escrito durante sua vida, di­zendo que ele havia sido escolhido pelos deuses. Devemos chamar o su­premo legislador de supremo mentiroso? Seria o mesmo que acusar Moisés de ter inventado a história de que recebeu as pedras no monte sagrado.

Nós, pessoas modernas, superiores e sensatas, “sabemos”, é claro, que a semente do Rei Hammurabi não pode ter vindo do rei-sol. Mas como sabemos? Não estávamos lá, e o esqueleto de Hammurabi nunca foi submetido à pesquisa genética. É típico da lógica humana rejeitar a afirmação de Hammurabi ter feito contato com seres de outro mundo e ao mesmo tempo aceitarmos as histórias de Moisés e de outros profetas.

O rei assírio Assurbanipal (668-622 aC), em cuja biblioteca foi des­coberta a Epopéia de Gilgamesh, também foi concebido imaculadamente. Ele era filho da deusa Ishtar, que o amamentou. Ishtar deve ter vindo de outro mundo porque um texto cuneiforme diz: “Os quatro seios dela fi­cavam em sua boca; você se alimentava em dois e em dois escondia seu rosto.”10 Isso mesmo, quatro seios — o suficiente para causar inveja a alguns de nós. O rei Assurbanipal recebeu autoridade por suas decisões do “conselho divino" dos deuses Bei, Marduk e Nabu. O último era o deus onisciente com quem a humanidade aprendeu a escrita. No Louvre há uma escultura cilíndrica sobre a qual Nabu aparece ao lado de Mar­duk. O principal templo de Nabu ficava em Borsippa e levava o nome “Templo dos Sete Transmissores de Comando do Céu e da Terra” — nome estranho.

Seria tudo isso apenas auto-engrandecimento por parte da elite go­vernante? Será que a autoridade deles dependia de as pessoas e sacerdo­tes acreditarem que sua origem era divina? Pessoalmente eu não acredito nisso. Nem todos os reis e fundadores de religiões sustentam que levam uma “semente celestial” dentro de si; somente alguns do início dos tem­pos estavam convictos de que tinham um código genético específico para transmitir. Não podemos esquecer que aparecem histórias semelhantes em muitas tradições diferentes e em vários textos sem indicação crono­lógica — os egípcios, Enoque, os jainistas, e é claro, os apócrifos do An­tigo Testamento! O último fala também sobre professores divinos, mesmo sendo chamados de “anjos caídos”; e lá também, no princípio da tradição judaica, encontramos uma série de personagens cuja semente não é de origem terrestre. E claro que essas coisas não encontram um pú­blico muito receptivo; as pessoas mantêm certa distância. E de repente dizem que Erich von Dániken está em conluio com uma porção de racis­tas ignorantes, como se eu tivesse inventado a idéia de “sementes celes­tiais” e “escolhidos”. Não posso ser considerado responsável por tais conceitos — eles vêm diretamente das tradições e dos textos antigos que são sagrados para muitos povos.

Então Noé, o sobrevivente do dilúvio, por exemplo, não era nin­guém. Seu pai terráqueo chamava-se Lameque, mas na verdade Lameque não era seu pai físico — qualquer um pode ler isso por si mesmo nos Ma- nustritos do Mar Morto., Lá está escrito que um dia Lameque retornou de uma viagem que havia durado mais de nove meses. Chegando em casa ele encontrou um bebê que não pertencia à sua família — ele tinha olhos diferentes, a cor de seu cabelo era diferente e o tipo de pele também. Fu­rioso, Lameque dirigiu-se à esposa que jurou não ter dormido com outro homem, muito menos com um soldado ou filho do céu. Preocupado, La­meque saiu para pedir conselho a seu pai, ninguém menos do que Matu- salém. Este, não teve nada a acrescentar ao assunto, sendo assim ele, foi pedir conselho a seu pai, o avô de Lameque. E quem era ele? Nosso ami­go Enoque. Ele disse ao filho Matusalém que Lameque deveria aceitar o garoto como sendo seu próprio filho e não ficar zangado com sua mulher, pois os “guardiães do céu” haviam colocado a semente no ventre de sua esposa. Fizeram isso para que o ovo, como estava, crescesse e se trans­formasse no progenitor de uma nova raça após o dilúvio.

Este episódio mostra que Enoque — que posterioremente viajou para as nuvens em uma carruagem de fogo — já estava informado sobre a aproximação do catastrófico dilúvio. E quem disse isso a ele? Os “guar­diães do céu”. E quem providenciou a fertilização artificial na esposa de Lameque? Os mesmos viajantes espaciais.

E com exemplos como este que eu tento esclarecer os relatos e tra­dições encontrados em todo o mundo, existentes há muitos milhares de anos. Essa divina elite, esses incontáveis filhos de deuses, aparecem em quase todas as mitologias do mundo.

 

                 Deuses de Ontem — Deuses do Amanhã

A cultura dos tibetanos, que atingiu grandes proporções em vales eleva­dos isolados do restante do mundo, está familiarizada com o “altíssimo rei do céu” ou o “santíssimo das alturas”. Os tibetanos diferenciam céu transcendental de firmamento.

Os mais velhos reis tibetanos eram chamados “tronos celestiais”. Eles des­ciam dos céus à serviço dos deuses e voltavam assim que o seu mandato terminava, sem passar pela morte.

Eles tinham armas inimagináveis, com as quais destruíam ou controla­vam seus inimigos. A aparência de algumas dessas armas foi preservada na memória folclórica — o “thunder-hammer” (“martelo-trovão”), por exemplo, ainda hoje é homenageado em templos tibetanos. Deve haver mais nisso além de fantasia; estes “thunder-hammers”(“martelos-trovões”) são uma realidade, mesmo que não possamos imaginar como fun­cionavam.

A lenda sobre o grande rei tibetano Gesar afirma que ele surgiu dc uma “aparição celestial de luz”. Assim que criou ordem na Terra, ele re­tornou à sua casa no céu, naturalmente prometendo que um dia voltaria. Assim como os misteriosos primeiros legisladores da China ou os reis- deuses do antigo Egito, o Rei Gesar era um professor da humanidade. Assim como eles, ele foi considerado um “fabricante de humanos”, sendo que antes de sua vinda os seres humanos ainda viviam como animais. Na genealogia real do Tibet, a chamada Gyelrap, há registro de 27 reis; 7 de­les desceram uma escada do firmamento à Terra. E mesmo nos textos mais antigos eles voaram até a Terra em uma caixa. O grande professor tibetano com um nome complicado, Padmasambhava (também conhecido como U-Rgyan Pad-Ma), trouxe textos indecifráveis dos céus para a Ter­ra. Antes de sua partida, seus alunos depositaram esses textos em uma ca­verna para preservá-los para “uma ocasião em que os entenderiam.”33 O mesmo professor desapareceu na frente de seus discípulos e voltou para as nuvens. Ele não foi, ao que parece, “teletransportado”, mas “surgiu um cavalo de ouro e prata”, e todos assistiram sua decolagem rumo às nu­vens sobre o cavalo. Isso lembra alguma coisa? Enoque e seu cavalo de­viam ser bem amigos!

Sinto-me quase constrangido em acrescentar que os livros sagrados do Tibet também fazem referência a números impossíveis. Quatro gran­des reis divinos são referidos, sendo que a duração de vida de cada um alcançava até nove milhões de anos terrestres. Também há descrição de várias habitações que distavam longas viagens pelo espaço. Os números e períodos mencionados lembram fortemente a teoria de relatividade de Einstein — sendo que uma grande diferença, obviamente, é que os livros tibetanos Kandshur e Tandshur têm milhares de anos de idade.34

Mas não é apenas no Oriente Próximo e no Extremo Oriente que tais idéias prevalessem. Na América, os índios nativos tinham lendas bas­tante similares. As histórias da tribo Wabanaki referem-se ao professor Gluskabe, que os ensinou a pescar, caçar, construir cabanas, fabricar ar­mas, medicamentos, química e, é claro, astronomia. Antes de encerrar seu trabalho na Terra e decolar para as estrelas, ele prometeu voltar em um futuro distante.33 Mas que surpresa!

Falei sobre o deus maia Kukulkan em outro livro.36 Aqui me limi­tarei a uma citação: “O povo tem forte convicção de que ele viajou para os céus”.37 E para quem quer que ainda não tenha deduzido isso — ele também promoteu voltar.

Esses fragmentos de religião e memória folclórica não precisam de nenhum Sherlock Holmes para serem interligados. E pessoalmente, eu considero uma grande besteira afirmar que vários povos por todo o globo tiraram suas expectativas de retomo dos deuses dos missionários cristãos. Pelo amor de Deus, o que surgiu primeiro — o cristianismo ou os outros textos?

Seja lá qual for a cultura que se analisar — e há muitas outras que eu não mencionei (como os aborígines na Austrália, os chineses, os incas, lembre-se de que os conquistadores cristãos Pizarro, no Peru, e Cortes, no México, foram considerados deuses que voltavam) — lendas seme­lhantes ou praticamente idênticas são encontradas. Deuses com sua pas­sagem de volta são um fenômeno mundial e os exemplos que eu mencionei neste capítulo não passam da ponta do iceberg.

 

                               Quem Voltará?

Mas quem deve voltar e quando? Os cristãos e judeus aguardam o Mes­sias, os muçulmanos aguardam o Mahdi — que no geral é apenas um nome diferente para uma figura de messias. A palavra “messias” origi­nalmente significava “o consagrado”. Vem do hebraico maschiach (christos em grego), e significa rei consagrado; mas não pode se referir a um rei terráqueo, pois, de acordo com o famoso professor Dr. Hugo Gressmann escreveu, o termo “messias” vai contra a idéia de um ser hu­mano; “Messias é o nome de um ser divino que, acredita-se, tenha exis­tido antes mesmo de existirem seres humanos.”38

Observemos todos os denominadores comuns de todos esses con­ceitos de “messias”.

Ele tem grande poder

Ele traz nova ordem

Ele é a justiça personificada

Ele é inspirado, eleito e enviado por Deus

Conforme religiões diferentes ele é:

um “filho do homem” concebido pelo divino (semente, em­brião, carma do divino), que habitou a Terra por um tempo, foi para os céus e um dia voltará

um ou vários seres extraterrestres semelhantes a deus que vie­ram habitar a Terra

Em muitas tradições, o retorno dos deuses está associado a algum tipo de dia do julgamento ou acerto de contas final e a catástrofes naturais. Cada religião acrescenta seu próprio tom e interpretação, altera a história um pouco mais ou um pouco menos para reforçar sua própria mensagem e assegura a salvação somente daqueles que acreditam nela. Mas as lendas são o centro de todas essas crenças, e são bem mais antigas do que reli­giões específicas, sejam elas cristãs, muçulmanas, judaicas ou budistas. Então deixe-me repetir: quem virá? O julgamento de quem devemos te­mer? Quem voltará com exércitos celestiais e provocará forte turbulência no firmamento?

A filosofia paleo-seti pode oferecer uma resposta a essas perguntas que está de acordo com todas as tradições. É uma teoria que confirma muitos textos e responde vários enigmas separados. Mas se comparada às religiões, a filosofia paleo-seti não implica fé ou crença — apenas uma análise racional e sem preconceitos das idéias e proposições; pois, dife­rente das expectativas messiânicas religiosas, baseia-se na lógica e na razão.

 

                           Adeus, Papai!

Os viajantes espaciais alienígenas que habitaram a Terra há milhares de anos e deram um empurrãozinho genético à raça humana — os mesmos viajantes espaciais mencionados na literatura antiga como deuses, anjos, anjos caídos, etc. — partiram em algum momento. Algumas poucas pes­soas privilegiadas tiveram permissão de partir com eles; elas também se despediram. 0 que foi dito àqueles que ficaram para trás, que provavel­mente teriam gostado de participar dessa viagem? A seguir encontra-se um diálogo imaginário de despedida entre Enoque e seu filho Matusalém:

Enoque: Chegou a hora, meu filho. Eles virão me buscar no alvorecer. Matusalém: Pai, nós tornaremos a vê-lo?

Enoque: Não. Pelo menos a sua geração, não. Soube que durante minha ausência se passarão vários milênios na Terra.

Matusalém: Com pode ser? A morte não chega a todos?

Enoque: E verdade. Mas há outras leis vigorando pelo cosmos. Quando os guardiães retomarem daqui a milhares de anos, a Terra e os seres hu­manos terão mudado.

Matusalém: Não consigo entender. Mas foi o que lhe disseram os guar­diães. E para onde irão?

Enoque: Você vê as estrelas brilhantes no cinturão de Órion? Estenda aquela linha 1,80 m. Lá você verá uma pequena estrela, não tão brilhante, meio amarelada. Aquela é a casa-sol dos guardiães. Há uma Terra mais bela do que a nossa. E para lá que vou.

Matusalém: Pai, você foi escolhido para seguir viagem para o céu en­quanto homem — eu o invejo.

Enoque: Não, meu filho, eu não vou para o céu. O céu que os homens almejam é um lugar de felicidade absoluta. Só podemos alcançar este céu depois da morte. Vou para o cosmos.

Matusalém: Não entendo qual a diferença entre céu e o que você chama de “cosmos”. Veja a glória dos céus; reinavam paz e beleza. Os guar­diães podem viajar em seus cavalos de fogo. O poder deles é ilimitado. Para nós, parece que são imortais. Deve ser o mesmo que céu, mesmo que você chame de “cosmos”.

Enoque: A hora de minha partida se aproxima. Você ouve a comoção das pessoas? Elas se reúnem para ouvir minhas palavras de despedida. Os guardiães alertaram-me para não permitir que ninguém se aproxime do ponto de partida do cavalo de fogo. O mesmo para você e sua família. E agora, filho Matusalém, eu expliquei tudo a você e lhe dei todos os livros que escrevi para que guarde. Preserve-os. Faça muitas cópias deles — e assegure que nenhuma palavra será alterada. Mesmo que você e seus fi­lhos e netos não entendam minhas palavras, as gerações futuras entende­rão e agradecerão por vocês não terem alterado uma única palavra. Os guardiães disseram-me que esses livros não devem ser guardados em se­gredo. Portanto, dê-lhes às gerações futuras do mundo.

Embora Enoque tenha tentado fazer seus ouvintes compreenderem que ele viajaria para o espaço e não para o céu, as gerações seguintes não entenderam a diferença. Mais tarde, aqueles que não haviam testemunha­do a visita dos “deuses” encontraram pouco significado nos textos que le­ram. Os seres que desceram na época de seus tataravôs devem ter sido mensageiros divinos de Deus — foi então que surgiu a idéia de anjos. Faz parte da natureza humana buscar sentido — até gerar o absurdo.

Os pensadores e filósofos de cada geração, os “homens de sabedo­ria”, teriam — exatamente como no cenário imaginado da Sagrada Pedra Berlitz — alterado sutilmente os textos para torná-los mais inteligíveis. Tal sabedoria pode bem achar que uma passagem que descrevesse um es­tranho cavalo que brilhava, estrondava, tinha quatro pés e voava deveria ser alterada para esclarecer que significava um cavalo voador. Seres alie­nígenas poderiam, facilmente, ser chamados de anjos, o comandante logo seria chamado o “altíssimo” e as descrições do interior da espaçonave como a habitação dos anjos e o trono de Deus. Na comparação que segue do atual Livro de Enoque com uma fonte original imaginária, tentarei ex­por esse processo interpretativo.

Fonte imaginada:

Minha experiência foi: primeiro eu vi nuvens, e depois, à medida que éra­mos elevados mais e mais, notei uma névoa que ficava cada vez mais e mais fina. E de repente estávamos entre as estrelas, mas algo ainda brilha­va como raios ao nosso redor. Eu estava tão acanhado que eles tiveram de me erguer da cadeira. Caminhei por uma passagem até me aproximar de uma parede que parecia ser feita de pedras brilhantes. Notei também pon­tos de luz avermelhados que piscavam nessa parede. Então entrei na nave estelar. Dentro dela era tão brilhante e luminoso como fora, mas agora o chão era feito de ladrilhos sob os quais cintilava uma luz fraca. O teto era o mais bonito de todos: como se por uma cúpula transparente eu visse o céu estrelado; e os guardiães chegavam e partiam em máquinas voadoras menores, e realizavam todo tipo de trabalho. Então tivemos de embarcar mais uma vez, entrando em uma nave estelar maior. Dentro dela todas as portas estavam abertas, mas eu vi configurações indescritíveis de luz na frente de cada porta. Os guardiães explicaram que tratava-se de sensores e proteções. O centro da nave estelar era enorme e indescritível. Bem no meio, sobre uma plataforma elevada, havia um assento; e em volta, com um leve brilho, um grande círculo de vidro. Junto a ele vi um sol luminoso e muitos guardiães que trabalhavam fora da nave. Naquele assento ficava o comandante, vestido em uma túnica branca como a neve. Me joguei no chão à sua frente; mas ele voltou-se para mim, falou palavras de saudação e disse: “Então é você o encarregado de espalhar a ordem e a justiça lá embaixo?”

Do Livro de Enoque (14:8fF, 71:llfF) como se encontra hoje:

“Na visão foi-me dado presenciar o quadro seguinte: nuvens levaram-me e uma névoa arrebatou-me ao alto; o curso das estrelas e dos raios condu­zia-me e me impelia, e ventos deram-me asas, transportando-me ao alto daquele panorama. Eles conduziram-me ao céu. Entrei por ele, até defron­tar-me com um muro, todo feito de pedras de cristal e circundado de lín­guas de fogo, que começou a inspirar-me grande medo. Todavia, eu entrei pelas línguas de fogo e aproximei-me de uma grande casa, toda construída de pedras de cristal; e de cristal eram também os fundamentos da casa. Seu teto era como se estivesse no curso das estrelas e impelida por raios; e de permeio havia querubins flamejantes; eis que havia lá uma outra casa, maior ainda do que a primeira; todas as suas portas estavam abertas diante de mim, era feita de línguas de fogo. Em todos os seus aspectos ela reve­lava brilho fausto e grandeza, de tal sorte que eu não saberia como des­crever sua magnificência e tamanho... e vi dentro dela um trono muito alto. Sua aparência era como que circular, toda sua volta era como o sol brilhante; tinha o aspecto de querubim... A Grande Majestade sentava-se sobre ele; suas vestes eram mais brilhantes que o sol e mais brancas do que a neve... Então me prostrei; meu corpo todo amoleceu e o meu espírito se transformou... Ele se aproximou de mim, saudou-me com a sua voz e disse: Sois aquele nascido para a retidão.”

 

                       Exegese no Decorrer das Eras

Que drama quando viajantes espaciais tornam-se anjos e querubins, quando oficiais tomam-se arcanjos e um comandante é transformado no “altíssimo” ou — Deus nos acuda! — em Deus. Que caos temos quando simples descargas elétricas viram línguas de fogo, e uma ponte de co­mando é transformada em glória indescritível! E claro que é compreen­sível que o assento do comandante vira um trono elevado, e que o próprio comandante fica sendo uma grande Majestade. E confortador, pelo me­nos, que nosso amado Deus não tenha escorregado porta afora nesta parte do texto. Isso teria sido, é claro, um tanto improvável, uma vez que “ele se aproximou e disse palavras de saudação...”. Deuses geralmente não se permitem cumprimentar um visitante terráqueo — que teria sido impar­cial demais para os exegetas; então deixaram como grande Majestade.

Os visitantes extraterrestres da época de Enoque estavam familiari­zados com gigantescas distâncias interestelares. Eles sabiam que uma viagem para casa e de volta ao nosso sistema solar levaria alguns milha­res de anos. Como é que poderiam fazer os seres humanos entenderem isso? Eles teriam apontado para o céu estrelado e dito: “Estamos indo agora, mas voltaremos. Escrevam em seus livros, transmitam a mensa­gem aos seus descendentes; todas as gerações futuras devem se lembrar de que nós voltaremos!” E quando os seres humanos se perguntaram quando eles voltariam — em questão de meses, anos ou milênios — os próprios ETs não tinham uma resposta precisa. Possivelmente teriam res­pondido: “Voltaremos a qualquer hora. Estejam prontos para a nossa vol­ta, lembrem-se dos mandamentos que demos a vocês, para que não tenhamos que destruir a raça humana mais uma vez.”

E se as pessoas lhes perguntassem que sinais reconhecíveis acom­panhariam sua volta, eles talvez tivessem apontado para a lua e para as estrelas e respondido: “Para aqueles que estiverem na medade do globo em que se faz a noite, parecerá que a lua se escurecerá, que estrelas bri­lhantes caem para a Terra. Para aqueles que estiverem na metade do glo­bo em que se faz o dia, parecerá que montanhas douradas se fazem em pedaços nos céus. As pessoas que se prepararam para a nossa volta, que nos esperam, que entendem os sinais no céu, ficarão muito alegres. Elas dançarão e se regozijarão porque nós traremos uma nova ordem e mais justiça para a Terra. Mas aqueles que tiverem adulterado os textos, que tiverem forçado seus semelhantes a acreditarem na versão deles da ver­dade, serão tomados de pânico. Eles nos temerão e também temerão seus próprios seguidores. Eles se esconderão e invocarão seus falsos deuses. Mas será vão, pois não existem deuses.”

Mas é claro que os extraterrestres sabiam que os textos seriam adul­terados e reinterpretados com o passar das eras. Por esta razão deixaram vestígios em várias partes diferentes do mundo, certificaram-se de que muitas sociedades humanas diferentes na Terra teriam um registro escrito de sua vinda. Em algum momento futuro, a comunicação global possibi­litaria o intercâmbio mútuo dessas tradições. E então, como esperavam, a verdade central no núcleo de todos esses diferentes relatos surgiria. As pessoas teriam de começar a fazer comparações. Um e um são dois.

A filosofia paleo-seti na verdade vira de ponta-cabeça a sabedoria recebida — que geralmente se manisfeta de uma ou duas maneiras opos­tas. Existem basicamente dois tipos de pessoas: os crentes e os não-cren- tes. Cada grupo foi educado de forma diferente e imbuído de valores diferentes; mas eles concordam em relação a uma coisa — o ser humano é a única forma de vida inteligente no universo. Os crentes acham que Deus criou a Terra em um ato (simbólico) de seis dias, e descansou no sétimo. Depois de Deus fazer as plantas e os animais, ele criou o homem como a glória coroando a sua criação. Aleluia! Os não-crentes, por sua vez, se atêm à teoria da evolução. Em um processo que durou milhões de anos, os aminoácidos formaram células, depois formas de vida sim­ples, e depois formas de vida mais complicadas, até que — no auge da evolução — surgiu o Homo sapiens. Somos o ápice da evolução. Mais uma vez, aleluia!

Em ambos os casos somos vistos como a forma de vida mais elevada – única no universo. Para que iríamos querer extraterrestres, mesmo que todos os livros sagrados nos forneçam evidências de sua existência?

 

                              Superando Valores Antigos

E aí vêm eles! Todos os tipos de espaçonaves diferentes: com vários an­dares, achatadas, douradas e cobre, vimanas menores e estruturas gigan­tescas que parecem cidades umas sobre as outras. Elas passam pela lua cheia e causam distúrbios em nossos oceanos. A humanidade fica aterro­rizada, chocada, boquiaberta. Isso não é o que esperávamos. Nem os crentes nem os não-crentes. Os cristãos correrão para as igrejas e pergun­tarão aos padres: “O Dia do Julgamento chegou?’ Os muçulmanos reza­rão para Alá, pedindo com devoção que seja o Mahdi que tenha voltado, e que finalmente tenha vindo para separar os infiéis após longos anos de espera. Os judeus irão para as sinagogas e abordarão seus rabinos e toda Jerusalém ficará cheia de gente, já que a tradição ensinou que o Messias desceria lá. Somente os cientistas vão demonstrar espanto quando pega­rem seus sensores e telescópios e rastrearem os céus, finalmente tendo de aceitar o fato de que os extraterrestres ocuparam posições em volta de todo o globo.

Mas os crentes, que se prendem à ideia de seu próprio messias, per­derão o senso de realidade; não conseguirão relatar seus intrincados sis­temas de crença para os novos. Serão inflexíveis demais para compreen­der os novos (e ao mesmo tempo antigos) fatos à sua frente. Serão inca­pazes de alterar suas idéias para abranger uma nova política global e religião universais. Então se tomarão descrentes — da realidade. Verão os extraterrestres como mensageiros do demônio, que apareceram no ho­rizonte para abalar a fé. Eles ficarão amargos e confusos porque não con­seguirão aceitar a evidência à frente; e finalmente morrerão porque não conseguirão entender mais nada.

Os verdadeiros crentes, por sua vez — aqueles que podem viver com os fatos que agora se apresentam, que não precisam mais de qual­quer tipo de fé porque sabem — florescerão. Até lá, todo conhecimento construído sobre o passado agora será acrescentado a um conhecimento que vem do futuro, o conhecimento e know-how dos ETs que já supera­ram os problemas que nos afligem. Para eles, o nosso futuro já é passado. A humanidade correrá paia obter o conhecimento deles, como abelhas atrás de mel. “Como vocês solucionaram seus problemas ambientais? Como lidaram com os riscos da explosão demográfica? Que tipo de reli­gião têm e no que se baseia? Como suas espaçonaves são propelidas e como funciona uma rádio interestelar? Como se cura um tumor maligno e como é possível prolongar a vida? Qual o sistema político mais justo e como vocês punem os criminosos?” Assim nós deixaremos a estrada do conhecimento de mão-única e nos uniremos numa estrada de oito faixas. Quando o universo abrir suas portas para nós, uma época verdadeiramen­te celestial terá início. Mas somente para os crentes — perdão, quero di­zer, para aqueles que forem capazes de lidar com a realidade.

Essa inversão de valores, essa nova abordagem filosófica para a “segunda vinda”, está à vista. As religiões lutam contra isso e denun­ciam-me como herege; eles me chamarão de tentador e pseudoprofeta, re­cusando-se a aceitar que são eles mesmos que ajudaram a manter viva a expectativa do retorno dos deuses há milhares de anos; que eles esculpi­ram a imagem de seu próprio messias — ou seja lá como queiram cha­mar este salvador — até que ela se encaixasse bem em suas berlindas envidraçadas, como uma peça de museu. Todas as berlindas de vidro das outras religiões são, é claro, adequadas somente para ser esmagadas. Cada religião afirma que seus próprios ensinamentos são superiores aos das demais. Eu, pessoalmente, nunca me envolvi nessa classificação de superioridade humana. A carapuça não servia e eu não conseguia ver sen­tido completo.

 

                         As Sementes Trazem o Fruto

Nós sabemos muito pouco sobre o verdadeiro poder e tecnologia genética dos extraterrestres. Mas eles devem estar, no mínimo, alguns milhares de anos à frente de nossas capacidades, de outro modo eles — ou seus an­cestrais — não poderiam ter nos visitado em um passado remoto. A his­tória da ciência e tecnologia moderna nos ensina que tudo fica continuamente mais perfeito, menor e mais eficaz. A tecnologia da infor­mática demonstra isso com chips mais e mais microscópicos, milhares de milhões de bytes e velocidades de operação cada vez maiores.

Por exemplo, em meados dos anos 80 já, qualquer computador de melhor qualidade poderia ter uma velocidade de cômputo de vários me- gaflops (flops — operações de ponto flutuante por segundo; megaflops – um milhão de flops). Computadores de grande porte como o Cray 2 chegavam a gigaflops (mil milhões de flops) no início dos anos 90. Uin ano mais tarde, pôde-se alcançar dez gigaflops, e enquanto digito estas linhas foi anunciado o computador de 100-gigaflops — o CM 5. O com­putador teraflops (1 bilhão de flops) já está sendo desenvolvido e as pes­soas estão começando a discutir seriamente a possibilidade de um computador de 10-teraflops.

Podemos chamar isso de estonteante velocidade de progresso. Mas o que são dez anos se comparados a milênios de evolução? Uma gota no oceano. Como serão os computadores daqui a 50 anos? Eles pensarão por si mesmos, se autoprogramarão e conversarão conosco. Serão capazes de tradução instantânea e impecável de um idioma para outro. Haverá com­putadores de direito capazes de julgar um caso com maior rapidez, me­lhor e com maior justiça do que os seres humanos. Os computadores criarão computadores; e em vez da tela de TV em sua sala de estar, ha­verá a projeção de um holograma tridimensional.

No campo da genética, as conquistas estarão fora da imaginação e dos sonhos dos biólogos antecedentes. Nos próximos 20 anos, a genética será capaz de — seja em estágio embrionário, ou mesmo antes da con­cepção — evitar que os pais transmitam males hereditários aos seus fi­lhos. Contanto que nossos códigos de ética e nossas leis permitam, poderão construir seres humanos dotados de características bem especí­ficas — verdadeiras obras-de-arte genéticas. As pessoas dizem que isso é “brincar de Deus”; mas elas se esquecem de que o Deus (ou melhor, os deuses) do Antigo Testamento criaram o homem “à sua imagem". Ele o programou conforme seus desejos e claramente também continuou aperfeiçoando seus descendentes. Espero que agora esteja claro que este “Deus” não pode ser o criador do universo. Os geneticistas que “brincam de Deus” não estão mais a par da criação e do espírito do universo do que estavam os “deuses” mitológicos. Um computador pode parecer algo divino para um macaco — mas isso não o toma divino.

Se tais avanços podem ocorrer no curto período de 50 anos, o que seria obtido em vários milhares de anos de desenvolvimento científico e tecnológico? Até onde foram os ETs até agora? Se eles já puderam pre­determinar as características genéticas de um feto há milhares de anos, o que podem fazer agora? Poderiam talvez influenciar o código genético à distância, por meio de algum raio ou feixe luminoso invisível? Será que eles podem ter acesso aos nossos cérebros? Teriam eles inserido um có­digo em nossa fórmula genética há milhares de anos, para que depois de um número predeterminado de gerações certas mensagens fossem libera­das em nossos cérebros? É possível que tenhamos mensagens e informa­ções codificadas que podem ser ativadas por estímulos específicos, para que possamos nos conscientizar delas?

Todo geneticista moderno está familiarizado com o chamado “lixo” genético. Isso refere-se a seções aparentemente inúteis e sem sentido do DNA (ácido desoxirribonucléico). Elas parecem não ter finalidade algu­ma porque não têm um início ou fim apropriado. Características herdadas são geralmente “plugadas” com um tipo de rolha, que só se encaixa ao material complementar certo. O Dr. Beda Stadler, professor de genética da Bem University, compara isso aos blocos Lego. Nosso DNA contém aproximadamente 110.000 genes ativos, dentre os quais pode-se encon­trar muitos fragmentos de lixo genético. É realmente lixo? Ou tem uma tarefa bastante específica que até agora enganou os geneticistas? E difícil acreditar que milhares de anos de evolução levaram consigo muitos frag­mentos inúteis de lixo genético.

Embora nosso conhecimento amplie continuamente suas fronteiras, ainda não sabemos quase nada sobre seu contexto universal. Entretanto, continuamos a nos comportar como se soubéssemos tudo. Não sou uma extensão dos profetas do jainismo, os tirthamkaras, nem o “superbuda”. Minhas teorias não são em nada influenciadas por fenômenos, nem por pessoas como Sai Baba da Índia, que realiza milagres. Não é possível que a mensagem codificada tenha sido ativada nele cedo demais ? Sabemos pela experiência que genes humanos só liberam determinadas mensagens depois de certo período. Um garoto de seis anos de idade não fica com barba, nem está sexualmente maduro. Os pêlos e a maturidade sexual só surgem depois que certas etapas físicas tiverem sido alcançadas; hormô­nios específicos são então ativados e liberados por mensagens e códigos genéticos. Mas o código do pêlo esteve presente desde o início — já se encontrava na infância, foi programado em cada célula na concepção. A mensagem estava lá, mas o momento de ela ser decodificada não havia chegado.

Não seria possível o “lixo genético” desempenhar a mesma função em nós todos? Nós carregamos conosco informações que necessitam ape­nas de um sinal — uma mensagem ou outra — para despertar? A tec­nologia da informática já está realizando experimentos com chaves atômicas que introduzem elétrons únicos para ativar o processo binário de “sim” ou “não”. Essa espantosa chave — rápida como a velocidade da luz — foi descoberta pelo físico russo Konstantin Licharev. Chama-se single-electron tunnelling effect (SET); sua eficácia, desde então, foi pro­vada e é considerado um modelo para o desenvolvimento de miniaturização em microeletrônica. Mas se um elétron pode servir como uma chave para orientar um computador em uma direção ou outra, certamente também pode despertar uma mensagem ou código genético inato.

 

                       O Retorno em Outras Formas

A filosofia paleo-seti interpreta a idéia do retomo dos deuses como um retomo daqueles extraterrestres que há muito visitaram nossos ancestrais. Para abrandar o choque deste retorno, profetas são enviados à humanida­de para um preparo. Tais profetas podem ter recebido o conhecimento de várias maneiras.

Eles podem ser extraterrestres disfarçados de seres humanos.

Podem ser seres humanos cujos embriões foram programados externamente (“filhos do homem”).

Toda a humanidade carrega mensagens geneticamente codifica­das que são liberadas somente quando certas condições são cumpridas (como no crescimento dos pêlos do corpo); isso ocorreria em diferentes épocas em indivíduos diferentes.

Talvez a humanidade inteira carregue essas informações gené­ticas consigo, mas elas são liberadas somente em certos indiví­duos por meio de algum raio ou feixe luminoso ativador vindo de fora da Terra (como na chave de elétron).

Talvez somente alguns indivíduos carreguem essa mensagem extraterrestre consigo.

Tais informações genéticas só podem ser ativadas em determi­nados indivíduos quando os ETs julgarem ser o momento certo.

Creio que a quinta possibilidade seja a menos provável, uma vez que em última instância derivamos do mesmo “estoque”, não importando se nos referimos ao simbólico Adão e Eva ou aos nossos ancestrais pós-diluvia- nos. A sexta opção não é impossível, mas altamente especulativa.

No Livro de Enoque (39,1) podemos ler;

Naqueles dias descerão do alto dos céus Filhos eleitos e santos, e sua fa­mília juntar-se-á aos filhos dos homens.

Estaria Enoque apontando para a segunda possibilidade da lista? Em caso afirmativo, como ele sabia? Por meio dos “guardiães do céu”? E de quem mais? E como os profetas descreveram esses cenários utópicos para nós em seus livros antigos? Na Revelação de São João está escrito (9,1-3; 7,9-10);

O         quinto anjo soou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu sobre a Terra, e foi-lhe dada a chave do poço do abismo...Da fumaça do poço saíram ga­fanhotos para a terra... E os gafanhotos eram parecidos a cavalos apare­lhados para a batalha... tinham couraças, como couraças de ferro, e o estrondo de suas asas era como o estrondo de carros de muitos cavalos que correm ao combate; tinham caudas semelhantes às dos escorpiões, e havia arguilhões nas suas caudas, em que estava o poder de fazer mal aos ho­mens durante cinco meses.

E três capítulos depois, no 12,7-9:

Houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam con­tra o dragão; e o dragão com os seus anjos pelejavam contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo, foi precipitado na Terra, e foram precipitados com ele os seus anjos.

Este livro presume-se que foi escrito pelo apóstolo João, mas todo pes­quisador sabe que isso não é verdade. A “revelação secreta” não vem de João, mas de alguma “equipe editorial” dentre os anos 90 e 100 d.C. É claro que eles não inventaram simplesmente o texto — eles o derivaram de textos mais antigos. Pode-se encontrar descrições semelhantes nos Apócrifos, principalmente (mas não somente) no Livro de Enoque, e também em seções breves do Antigo Testamento, no Livro de Daniel, por exemplo. Tudo isso sugere que deve ter havido uma fonte original mais antiga. Alguém deve ter escrito originalmente o primeiro texto, e também deve ter vivenciado essas visões amedrontadoras. Ou será que não?

Eu não mergulho muito na psicologia; não a valorizo muito, e sei que ela ou diz tudo ou não diz nada — dependendo de acreditarem ou não. A abordagem a seguir me parece muito mais próxima da verdade.

Todos nós já assistimos a filmes como Guerra nas Estrelas e Jor­nada nas Estrelas. Conhecemos os efeitos especiais que podem ser obti­dos atualmente em filmes modernos. Eu imagino que os extraterrestres tenham uma “tecnologia de visão'’ muito mais avançada. Talvez eles te­nham filmes em terceira dimensão, sem a necessidade de aparelhos de realidade virtual. Tecnologia cinematográfica envolvendo holografta a la­ser produziria ilusões perfeitas.

Mas os “guardiães do céu” tinham uma relação muito próxima com Enoque. Ao final de sua residência provisória na Terra eles até levaram- no na sua grande viagem. Por que os ETs não teriam projetado alguns fil­mes para seus terráqueos favoritos? As descrições humanas desses filmes teriam facilmente transformado robôs de combate em “gafanhotos ... pa­recidos a cavalos... tinham couraças”, e “o estrondo de suas asas era como o estrondo de carros de muitos cavalos". E o pobre arcanjo Mi­guel — que obviamente não tinha nome no filme dos ETs, recebeu este nome por parte dos intérpretes posteriores — “pelejavam contra o dra­gão” e, no final de tudo isso, um lado vence e o perdedor é atirado às profundezas — como em qualquer filme do gênero.

Alguém escreveu isso, bem pode ter lhe parecido uma visão. Gera­ções posteriores certamente a consideraram uma “visão” e, finalmente, vários fragmentos dessa aparente visão acabaram nos escritos de diversos profetas. Mais tarde, um grupo de “editores” remendou o apocalipse e a “revelação secreta” e até responsabilizou o venerável João por isso.

Nem tudo o que se encontra nos textos sagrados tem de ser visão ou revelação. A explicação mais plausível freqüentemente é a mais banal.

            O que é necessário é estar preparado para ver as coisas de um ponto de vista diferente.

 

                       Notas

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                         Rastreando a Verdade

Onde estão os sinais de extraterrestres? Por toda parte. A maioria das pessoas no entanto não os vê: há somente evidências circunstanciais, e nada está provado. Mas aqueles que não enxergam os vestígios e sinais deles nas grandes lendas e mitologias do mundo devem ser meio cegos. Como parece que quase todo mundo sofre desse distúrbio de visão, al­guém pode perguntar por que os ETs não deixaram marcas e indicações mais óbvias de sua visita por aqui. Para que servem os textos religiosos e contos da antigüidade, de que adiantam tradições estranhas de “núme­ros impossíveis” se qualquer um pode fazer delas o que bem entender?

E preciso provas que não se possam negar. Só então a ciência irá parar e perceber. É mesmo? Mas quantas vezes já aconteceu de haver provas científicas demonstradas e rejeitadas porque não se encaixavam em nossa visão de mundo religiosa? Quantas vezes uma ramificação da ciência provou algo, só para ser refutada por outra que não gostava muito da idéia? Quantas vezes provas científicas irrefutáveis — sim, isso acon­teceu! — foram completamente minadas por razões ideológicas? Os ge- neticistas de cada laboratório podem recontar epopéias sobre o tema! Eles podem provar facilmente a razoabilidade, importância e progresso que a pesquisa genética representa. E como a mídia responde? Não to­que! Perigo! Terrível! Deveria ser condenado imediatamente! O que dis­se Albert Einstein? “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana” (embora ele ainda não tivesse certeza quanto à primeira).

Então que espécie de prova irrefutável os extraterrestres poderiam ter deixado? Algum tipo de escultura em penhascos ou montanhas? Não.


Com o passar de milhares de anos teriam erodido e sido despedaçadas. Será que eles podem ter montado um tipo de construção, digamos pirâ­mides? Não, pela mesma razão acima. Se bactérias, cupins ou pessoas certas de estarem fazendo o melhor não destruíssem tais construções, ter­remotos, enchentes, erupções vulcânicas e outras catástrofes naturais o fariam.

Mas será que eles não deixaram um texto indestrutível em algum lugar? E poderiam? Onde, então? Em que construção, dentro de que montanha? Não, pela mesma razão anterior.

Mas por que é necessária uma construção? Os ETs poderiam ter deixado evidências em forma de metal, ou em algum material artificial a qualquer custo, algo que resistiria ao tempo. Na verdade tais vestí­gios existem; mas infelizmente a religião proíbe a investigação científi­ca.1 E de qual metal indestrutível as “tábuas dos deuses” seriam feitas? Prata, ouro, platina? Todos esses podem ser derretidos. Aço, então? Su- peraço? Mas onde é que estão os robustos tanques da Primeira Guerra Mundial? Enferrujaram! E os restos de milhares de aviões que foram atingidos na Segunda Guerra Mundial? E falando em termos comparati­vos, isso foi ontem! Mesmo os poucos vestígios preservados em museus terão se desintegrado daqui a mil anos.

Mas se os “guardiães do céu” tivessem deixado resíduos por aí, não poderiam seguramente ser encontrados? Não, seria um absurdo depois de tanto tempo esperar descobrir esses objetos. A natureza os absorveu.

Mas deve haver alguma maneira de transportar mensagens do pas­sado para o futuro. Eu concordo. Mas para isso ocorrer, há duas condi­ções a serem preenchidas;

A mensagem deve estar em um formato indestrutível.

A mensagem nunca deve cair nas mãos da geração errada.

Quem seria a geração errada? Todos aqueles incapazes de avaliar ade­quadamente tais informações. Eles destruiriam a mensagem sem decifrá- la. Se estivesse na forma de matemática avançada, somente uma sociedade matematicamente avançada seria capaz de decifrá-la. Se fosse um microfilme, somente uma sociedade capaz de ler microfilmes poderia decifrá-la. Se fosse codificada em linguagem de computador, somente aqueles com conhecimento avançado de tecnologia de computadores da­riam algum sentido a ela. Se a mensagem fosse deixada em um ambiente estéril da lua, ou no ambiente (quase) estéril de Marte, ou talvez em um satélite orbitando a Terra, seria descoberta somente por uma sociedade que tivesse iniciado as viagens espaciais. E se a mensagem estivesse guardada em material genético, somente uma sociedade capaz de decifrar o DNA chegaria a ela.

Mas para uma sociedade que nem sequer pensa em procurar tal mensagem, sinais e vestígios precisam existir, como indicadores que es­timulem a busca. O que os olhos não vêem o coração não sente.

 

                             A Mensagem do Gene

Pareceria provável, na etapa presente da pesquisa paleo-seti, que a men­sagem extraterrestre tivesse sido implantada nos genes humanos e tam­bém nos genes de formas específicas de vegetação. Os ETs de milhares de anos atrás confiaram na curiosidade humana, ou científica. “Os deuses criaram o homem à sua imagem”, diz a tradição. Não criaram apenas o homem, mas de acordo com as lendas, também criaram formas de plantas únicas e refinadas. Tudo o que os extraterrestres tiveram de fazer foi im­plantar algumas seqüências de genes (modificando o DNA — lambém conhecido como “mutação artificial”) no genoma humano e em certas “plantas divinas”. A curiosidade é uma expressão de inteligência, que é uma qualidade que tornou-se característica da raça humana depois de ocorrer essa mutação artificial. Todo o nosso conhecimento deriva da curiosidade sobre o mundo. Foi a curiosidade científica que nos estimu­lou a procurar partículas subatômicas, investigar a origem do universo e dissecar a nós mesmos até encontrarmos a partícula mais fina de DNA Uma vez que os humanos e as plantas reproduzem-se continuamente e transmitem informações genéticas de uma geração para a seguinte, as mensagens dos extraterrestres provavelmente serão descobertas em al­gum lugar em nós mesmos, e talvez em algumas poucas espécies de “plantas divinas”. As duas condições que mencionei então seriam atendidas:

A mensagem permaneceria indestrutível pelo tempo que os hu­manos e plantas continuassem existindo.

A mensagem só seria encontrada por uma geração capaz de in­vestigar a biologia molecular (genética) e decifrar códigos ge­néticos.

A segunda premissa automaticamente envolve toda uma série de outras especializações científicas e desenvolvimento tecnológico. Ninguém pode estudar biologia molecular sem um microscópio de alta resolução. E preciso poder observar o interior de uma célula. Quem não sabe nada sobre o duplo espiral da estrutura de DNA também não é capaz de deci­frar o genoma. São necessários instrumentos e processos específicos para tudo isso, que só podem ser obtidos por uma sociedade que tenha atingi­do um nível correspondente de habilidade tecnológica. Um microscópio eletrônico é tão impensável sem a eletricidade quanto observar bilhões de seqüências e combinações potenciais do DNA sem um computador. Todo um exército de matemáticos seria incapaz de substituir o trabalho de um computador.

Esses pensamentos revelam um outro aspecto da hipótese paleo-seti que irrita muitos críticos. Por que agora? Por que é que de repente de­veríamos pensar em buscar vestígios de ETs na história humana? Para fa­lar francamente, o universo não poderia se preocupar menos sobre quando começaremos a buscar ETs. Mas começaremos a procurá-los quando estivermos prontos — ou seja, agora. Se nossa ciência não sou­besse nada sobre genética por mais cem anos, possivelmente não pode­ríamos começar a procurar vestígios genéticos de extraterrestres até lá.

Eu escrevi muitos livros sobre a evolução dos seres humanos desde a raça dos hominídeos.2 As descobertas mais recentes da antropologia conservadora só me fazem rir. Os jornais afirmam que as pesquisas de fósseis agora revelaram que a “teoria geralmente aceita” da origem hu­mana talvez precise ser revista.' Isso porque os cientistas chineses têm investigado um crânio pré-humano 200.000 anos mais velho do que ha­via sido considerado de acordo com teorias anteriores. Mal se pôde dige­rir essa notícia e os antropólogos americanos anunciam que dataram três crânios usando os métodos mais avançados, e descobriu-se que têm anos mais do que o homo erectus (o precursor ereto do ho­mem).4 Há divergências sobre o fato de os seres humanos terem se ori­ginado na África ou em Java. Quem sabe, talvez tenham vindo da China; ou talvez restos fósseis logo sejam encontrados no Japão, arruinando to­das as teorias presentes.

Na verdade eu penso que a pesquisa antropológica não está inves­tigando uma espécie humana inteligente, mas mutações e descendentes do macaco. Será que realmente importa se os ossos de macaco têm 1,8 ou 3 milhões de anos? Não estou nem um pouco interessado em desco­brir quando exatamente as espécies de macacos aprenderam a ficar em pé e esticar seus dedos. Não refuto que todas as espécies de famílias de ma­cacos vêm mudando pelo menos durante os últimos 20 milhões de anos e que nossos ancestrais descendem da mesma raça. Mas tudo isso na ver­dade não tem nada a ver com o desenvolvimento da inteligência do Homo sapiens. Foram os deuses que criaram o ser humano inteligente. É claro, eles pegaram a matéria-prima da raça hominídea com este objetivo onde mais encontrariam? E os geneticistas descobrirão os genes que estes “deuses” implantaram em nós; a única pergunta é se serão autori­zados a revelar os resultados, pois isso provaria a hipótese paleo-seti. O tiro da corrida pela verdade há muito foi disparado. Os geneticistas, in­teligentes e precisos — e não todos aqueles argumentos “religiosos” — fornecerão a prova de que precisamos.


Máquinas para nos Deixar Transparentes

No final de fevereiro de 1987, a revista científica Nature (Vol 325) de­clarou que os geneticistas japoneses desenvolveram um superseqüenciador: um aparelho capaz de decifrar um milhão de caracteres de DNA por dia. Desde então, o tempo não parou. O Projeto Genoma Humano está a todo vapor. Sempre que os governos restringem os financiamentos por­que os sinalizadores ideológicos limitam sua visão, a indústria assume seu lugar. Só nos EUA existem aproximadamente 1.300 empresas de ge­nes privadas e semiprivadas. A algumas milhas de distância de Washington, os robôs genéticos, os superseqüenciadores, trabalham vinte e quatro horas por dia. Lá, no subúrbio de Gaithersburg, atrás de um pe­queno jardim, encontra-se The lnstitute for Genomic Research (TIGR). Trinta das máquinas seqüenciadoras ficam em um salão extremamente limpo. O diretor do TIGR, Dr. Craig Venter, é um homem de grande vi­são: ele deu aos robôs genéticos os nomes mitológicos Hércules. Thor, Júpiter e Baco. Os deuses da antigüidade estão ressuscitando!

“Todos os dias”, diz ele, “os robôs do TIGR estão decifrando se­qüências de cadeia de cerca de 600 genes, e cerca de 500.000 moléculas base estão sendo armazenadas”.5 Em nada mais do que dez anos, todo geneticista deve ter acesso ao completo genoma humano. Então o ser hu­mano transparente será uma realidade.

Mas o TIGR é somente um peixe no oceano no Projeto Genoma Humano. Várias universidades em todo o globo envolveram-se na deco- dificação de material genético; o mesmo fizeram grandes empresas far­macêuticas. Em países nos quais a situação política impediu a pesquisa genética, as multinacionais levaram tais pesquisas para outros locais. No campo da genética, a antiga verdade da tecnologia militar também se aplica: “Se não fizermos, alguém o fará”.

E o que estão fazendo? O ser humano possui cerca de 110.000 ge­nes dispersos entre cerca de 3.000 milhões de segmentos de DNA. Quan­do escrevi esse livro, cerca de 10.000 genes haviam sido investigados. Agora sabemos qual é a função deles. 10.000 genes decodificados com­parados a 110.000 no genoma humano podem parecer pouco; mas mais e mais superseqüenciadores estão em funcionamento, e os computadores estão continuamente armazenando e comparando seus “fragmentos gené­ticos”; e além disso, quanto mais genes forem conhecidos, mais fácil fica mirar com exatidão nos outros.

Como é possível a um leigo entender esse processo de decodifica- ção? O que está acontecendo? Os genes são minúsculos segmentos do duplo espiral do DNA. Também é possível imaginar este duplo espiral como um tipo de escada de corda, ou um zíper cujo fecho denteado con­siste de cadeias de ácido nucléico. Cada célula do corpo humano contém uma faixa de DNA; e assim como uma escada de corda possui degraus, o mesmo acontece com o DNA: há quatro tipos diferentes de composição química. Elas são chamadas adenina. guanina, citosina e timina. Junto com uma base de ácido fosfórico, vários “degraus” da “escada de corda” formam as seqüências nucleotídeas. Elas são, dessa forma, as letras do código genético. Mas os “degraus” da “escada de corda” não ficam só presos à corda sem nenhum prendedor. A base nitrogenada adenina liga- se à timina; e a guanina “sente-se” magneticamente atraída pela citosina. (Imaginando-se “blocos Lego” como modelo, cada bloco não se encaixa a qualquer outro). Agora imagine os quatro materiais básicos em quatro cores diferentes, e estique a “escada de corda” 100 metros. Neste modelo, o DNA é a escada de corda e as cores são as letras do código genético.

O que acontece depois? Dentro da célula, o DNA abre seu “fecho ecler” segmento por segmento, “degrau” por “degrau” e começa a dupli- car-se. Os nucleotídeos aderem ao material básico aos quais correspon­dem — as composições químicas espalhadas pela célula, que ingerimos com os alimentos que os nossos órgãos pegam e reduzem a seus compo­nentes. Assim, uma nova faixa de DNA cresce absolutamente idêntica à antiga. A célula agora se divide e a nova célula novamente divide sua fai­xa de DNA e se reproduz. Então cresce uma massa de células e finalmen­te forma um corpo — e em cada célula encontra-se o projeto do todo. O ser humano possui cerca de 50 bilhões de células, sendo que cada uma delas contém todo o seu “programa”.

Cada “letra” do código genético é responsável por diferentes fun­ções e crescimento no corpo humano. Se algo começa a mudar em algu­ma parte do DNA de modo que, digamos, um câncer no fígado se desenvolva, deve ser possível eliminai' as faixas genéticas específicas res­ponsáveis e substituí-las por uma combinação capaz de reproduzir célu­las saudáveis de material genético. Mas para isso, os geneticistas primeiro devem saber exatamente qual combinação é responsável por quais funções. E nesta decodificação que os superseqüenciadores estão trabalhando agora.

E afinal por que temos de entender de genética? Não estamos nos metendo no trabalho de Deus? Não podemos simplesmente ser o que so­mos e deixar o resto para lá? Por causa de fatores ambientais como ra­diação e produtos químicos que entram nas células por meio de alimentos poluídos, surgem defeitos no processo genético; talvez um tumor malig­no de repente comece a crescer, podendo atacar todas as células. Esses defeitos são transmitidos às gerações seguintes. Se quisermos curar o in­divíduo doente e evitar que os genes defeituosos sejam transmitidos para as gerações seguintes, precisamos saber qual seção da “escada de corda” está produzindo o tipo de “degrau” errado, para que então possamos co­meçar a consertar a estrutura genética. E isso já está ocorrendo.

Hoje, produzem-se hormônios por meios genéticos; existe insulina, enzimas, proteínas e todos os tipos de micróbios produzidos genetica­mente e usados para neutralizar partições em óleo cru ou para despedaçar uma bactéria nociva. Todos os tipos de medicamentos já são produzidos geneticamente, por exemplo os antiinflamatórios, antidepressivos e dro­gas e vitaminas para moldar o corpo. As indústrias alimentícia e de sabão em pó, sem o conhecimento dos consumidores, já vêm usando enzimas genéticas há muito tempo. Os adolescentes orgulhosos de seus jeans com efeito stone-washed não sabem que devem agradecer às enzimas produ­zidas geneticamente. A era do supermercado genético está à toda; e uma novíssima profissão está substituindo ocupações mais antigas: a terapia genética.

 

                             De Outro Mundo

Mas o que os geneticistas farão quando encontrarem mais e mais infor­mações genéticas presas à “escada de corda” que possivelmente não de­rivam de nossos ancestrais? É relativamente fácil comparar; afinal, os nossos parentes gorilas, chimpanzés e orangotangos ainda estão por aí. O que as pessoas vão pensar quando eles encontrarem exatamente o seg­mento genético responsável pela fala humana e ao mesmo tempo desco­brirem (por comparação com a composição genética da família dos macacos) que este segmento de repente apareceu, e não se desenvolveu lentamente?

E o que as pessoas dirão quando for evidenciado que o material ge­nético humano não pode ser de origem terrestre porque não se encaixa em qualquer outra forma de vida terrestre? Como reagirão quando os ge­neticistas investigarem as múmias do antigo Egito e descobrirem, sem sombra de dúvidas, que os mais velhos faraós — aqueles com grandes crânios, que afirmavam ser “filhos dos deuses” — contêm material ge­nético que jamais poderia ter vindo da Terra, material isento de “estágios intermediários” da teoria evolucionai? E o que vão gaguejar e balbuciar quando exatamente os mesmos padrões genéticos forem encontrados, do outro lado do mundo, nos legisladores pré-incas, os “filhos do sol”? Es­tamos subindo a escada-rolante do conhecimento e não podemos saltar para fora agora. O apocalipse virá bem antes do fim do mundo, na forma de nossa percepção da origem da inteligência humana.

Mas o que é possível para o genoma humano também pode funcio­nar com animais. Há alguns anos, as pessoas têm falado muito sobre di­nossauros. 6 Desde o filme O Parque dos Dinossauros, ouvimos constantemente todo tipo de teoria e “provas” sobre o por que eles foram subitamente extintos.

Há cerca de 200 milhões de anos havia diversos tipos de dinossau­ros: monstros carnívoros de 12 metros de comprimento que viviam no Egito; outros com esporas e peles como couraças de aço; plesiossauros de crânio pequeno e poderosas barbatanas, adaptados à água; e os bra- quiossauros, com 30 metros de comprimento e 12 de altura. Existiram até 100 espécies, incluindo os dinossauros voadores. De repente, sem ne­nhum aviso, todos morreram há cerca de 64 milhões de anos. E isso ocor­reu em todos os continentes de uma só vez, como se alguma infecção tivesse afetado os dinossauros e nada mais. Há teorias sem fim que ten­tam explicar essa repentina extinção.' A mais recente sugere que deve ter sido causado pela colisão de um meteoro com a Terra; mas por que, en­tão, somente os dinossauros foram afetados, e não todas as criaturas?

No filme O Parque dos Dinossauros, é extraído o conteúdo do es­tômago de um mosquito preservado em âmbar por milhões de anos. Por ter picado um dinossauro pouco antes de morrer, em seu estômago havia aJgumas partes dos genes do dinossauro. Estes são transformados — E... tchan! — em dinossauros novos e vivos. Isso só é possível na fantasia, e mesmo na teoria; mas seria preciso de material mais básico do que alguns fragmentos do estômago de um mosquito. Para fabricar um dinossauro, seriam necessários cerca de 50.000 genes para cada milhar de componen­tes de células. E isso não está disponível — a não ser talvez num peque­no pássaro.

 

                               Pardal Jurássico

Um paleontólogo de Munique, Dr. Peter Wellnhofer, realizou investiga­ções em uma ave fossilizada, o arqueopterix. Este pássaro tem cerca de 150 milhões de anos, 40 centímetros de comprimento e vale 2 milhões de libras esterlinas; existem somente sete deles no mundo, o que eleva o preço. Entre os dentes do pássaro, Dr. Wellnhofer descobriu fragmentos triangulares de osso típicos de espécies bastante diferentes: o dinossauro carnívoro, alossauro. Isso o convenceu de que todas as espécies de pás­saros, “do pardal ao condor”, descendem dos dinossauros.

De acordo com teorias anteriores, os pássaros descendiam dos rép­teis. Não pretendo fazer um julgamento entre diferentes opiniões sobre este tema; mas se os pássaros descendem dos dinossauros, cada pardal conteria material genético herdado dessas criaturas da antigüidade.

Talvez os geneticistas também descubram por que todas as espécies de dinossauros tiveram de desaparecer da superfície da Terra. Talvez es­ses monstros tenham representado alguma espécie de ameaça à Terra, tal­vez tenham até comido tudo — plantas e outros animais —, tornando a evolução pré-humana impossível. Talvez alguém tenha desejado evitar que um planeta ideal como a Terra — nem fria nem quente demais — fosse dominado por criaturas gigantescas e estúpidas que não ofereciam poten­cial para desenvolver a inteligência e tecnologia. Talvez, talvez...

E a consciência humana? Como surgiu? Há dezessete anos, o Dr. Julian Jaynes, Professor de Psicologia na Universidade de Princeton, EUA, apresentou essa questão e enfrentou reprovação geral por parte de seus colegas.9 Consciência? Ela se desenvolveu no curso da evolução. É mesmo? Mas como percebemos que somos conscientes? Uma massa de células é consciente de sua própria existência? A consciência não tem nada a ver com reflexos, respostas de medo ou abanar o rabo; tampouco é a soma de todos os processos de memória. A consciência não surge por meio da experiência ou da aprendizagem. Podemos alimentar um cérebro eletrônico com tanta informação quanto quisermos, mas ele não desen­volverá consciência. Jaynes afirma:

Nossos períodos de percepção consciente na verdade são muito menores do que imaginamos. E difícil perceber isso, uma vez que na verdade não estamos cientes dos momentos de inconsciência. Nossa consciência so­brepõe essas “lacunas" com sua ampla rede, dando-nos a ilusão de consis­tência e continuidade. Podemos comparar a não-consciência com todos os objetos em uma sala escura que não estão sendo iluminados pelo lume de uma tocha.

De que, então, consiste a consciência? Como ela surgiu? Esta questão, como a que se refere à capacidade matemática, continua sem resposta. Somente o ser humano, dentre todas as criaturas da Terra, possui conhe­cimento matemático. A objeção a isso que é bastante lógico, uma vez que temos de ter a capacidade de contar para barganhar e trocar produtos, co­loca a carroça na frente dos bois. Primeiro precisamos ter a capacidade, e depois podemos usá-la. Os animais, afinal de contas, têm pernas e gar­ras; mas nenhum cachorro pensou em contar as lingüiças em frente a suas patas. A capacidade matemática é um pré-requisito para toda ciência. Sem ela, nada pode ser calculado ou comparado. O Dr. Max Flindt, que aprofundou-se nessa questão, explicou isso com um exemplo:

Sem capacidades matemáticas avançadas, seríamos incapazes de aterrissar em outro planeta. Um suipreendente número de pessoas desconhece o fato de que é impossível enviar uma espaçonave à lua ou Marte sem lançar mão do grau mais elevado de precisão matemática. O mesmo se aplica aos vôos de veículos de ida e volta ao espaço e a cada satélite. Os cálculos necessários para o ângulo preciso de reentrada do veículo na atmosfera terrestre são um exemplo perfeito disso — pois disso depende a segurança de vidas humanas. Se o ângulo for íngreme demais — mesmo que por uma fração de grau — a espaçonave sairá completamente de controle; se for raso demais, a espaçonave sairá da atmosfera terrestre e será lançada ao espaço. Isso tudo tem a ver com a evolução, uma vez que um princípio fundamental da teoria evolutiva é a de que nenhuma capacidade desenvol­ve-se isoladamente sem que em determinado ponto surja a necessidade. Entretanto, não há razão que explique por que a matemática foi necessária para a sobrevivência dos precursores do homem. Os animais de todas as espécies sobrevivem sem ela (contudo, não sem o olfato). No espaço, por outro lado, a sobrevivência é impossível sem a matemática. E o que se aplica a viagens espaciais humanas aplica-se igualmente à de extraterres­tres. Se a Terra já foi visitada por alienígenas, estes visitantes deveriam ser versados em matemática. É por isso que eu considero nossa capacidade matemática como indicativo de que não somos apenas de origem terrestre.

Os deuses nos criaram à sua imagem. E de repente, sem nem mesmo ten­tar considerar tais questões, encontramos as respostas em nossos próprios genes.

 

                             Inteligência Artificial

No início do verão de 1993, um tipo de grupo um tanto incomum se en­controu na cidade austríaca de Linz; algumas centenas de especialistas em informática participaram da conferência Ars Electrónica. Não se tra­tava de uma reunião de informática que se dá normalmente em todas as partes do mundo; a reunião em Linz se preocupava com inteligência ar­tificial. Ulrike Gabriel, do Frankfurt Institute for New Medias, apresen­tou baratas movidas a energia solar. Essas criaturas artificiais, orientadas por sensores luminosos, reuniam-se em grupos, “farejavam” umas às ou­tras, ou faziam repentinos movimentos para trás sempre que colidiam com obstáculos. Por que razão? O sistema eletrônico nessas baratas es­tava reunindo experiência

Tom Ray demonstrou seu funcionamento com seu programa de computador Tierra (‘Terra”). A partir de centenas de comandos ele com­pôs uma faixa eletrônica, semelhante ao DNA, que se recria ou duplica. Depois de 24 horas, havia se formado uma espécie de biotipo de tela. Der Spiegel informou o seguinte:

Primeiramente uma faixa se multiplicou rapidamente e espalhou-se de for­ma explosiva pelo depósito de memória eletrônica. Depois surgiram as primeiras mutações, que também foram capazes de se multiplicar e com­bater as anteriores. Finalmente, parasitas de computador também entraram no campo, que só transmitia metade dos comandos. Esses parasitas ocu­param o programa dos antecessores e usaram seu código de reprodução. Então os mecanismos eletrônicos desenvolveram reações de defesa inusi­tadas, semelhantes a um sistema imune, capazes de bloquear os vírus de computador antes que eles destruíssem o programa original. E assim como ocorre na vida, a população parasita foi dizimada, e todo o processo reco­meçou; exceto pelo fato de agora o programa estar enriquecido pela expe­riência com parasitas. O computador se autovacinou.12

Tais experimentos demonstram que a inteligência e vida artificiais são possíveis. Mas e a consciência? Deve ser um privilégio das formas de vida dotadas de sensação. E as sensações, por sua vez, estão relacio­nadas a condições corporais orientadas por hormônios. Os hormônios, por sua vez, são ativados por nossas percepções, nas quais se combinam nossos órgãos de sentido e experiência pessoal. A inteligência artificial, por outro lado, não sabe nada sobre hormônios. É verdade que pode com­parar diferentes informações com grande velocidade (experiência), e com base nisso fazer deduções corretas (aprendizagem); mas não pode sentir – a menos que, é claro, a coloquemos em um corpo dotado de sensa­ções, e neste caso não teríamos algo diferente de uma forma de vida.

O cérebro de um computador, com seus poderosíssimos chips, é tão sensível a fatores ambientais — fumaça, umidade, oscilações de tempe­ratura, impactos, objetos estranhos ou animais (uma formiga é capaz de gerar o caos) — que é preciso haver uma proteção externa. O mesmo se aplica às formas de vida, cujo cérebro é envolto pelos ossos do crânio. Recebendo e trocando informações, o computador aumenta o seu conhe­cimento, assim como as formas de vida, e pode continuar fazendo isso por milhares de anos.

Observemos algumas datas históricas relacionadas a isso. A fala humana surgiu há aproximadamente 30.000 anos como o primeiro meio de comunicação. Os desenhos e entalhes em rocha mais antigos, as for­mas visuais de comunicação, têm cerca de 13.000 anos. A primeira forma de escrita tem apenas 5.000 anos; e há 3.000 anos surgiu o primeiro meio de comunicação a longa distância, em forma de sinais de fumaça, fogo e reflexos com espelho. A impressão foi inventada há 500 anos, e no últi­mo século, a comunicação telegráfica se desenvolveu. Apenas nos últi­mos 100 anos tivemos figuras em movimento (filmes), e nos últimos 30, os computadores ficaram disponíveis para todos.

Um cientista bastante erudito do século 18 teria lido 200 livros; te­ria precisado de apenas alguns artigos especializados para manter-se atualizado em sua área. Hoje, em todo o mundo, mais de 300.000 jornais e revistas estão em circulação; além disso, há mais inúmeros programas de TV e rádio, sem falar na avalanche anual de artigos, teses e livros es­pecializados. A Biblioteca do Congresso, em Washington, tem 100 mi­lhões de documentos, e todas as outras bibliotecas do mundo contêm outros 1.000 milhões.

E evidente que ninguém pode acompanhar esse dilúvio de informa­ções. E como a expectativa de vida dos seres humanos, bem como das milhares de milhões de células do cérebro humano que cada um de nós tem, não são suficientes, passamos agora a armazenar conhecimento hu­mano fora do cérebro. As gerações futuras provavelmente terão de apren­der menos do que nós, mas, por outro lado, terão de saber como e onde se encontram as informações de que precisam.

Deve ser o mesmo para formas de vida extraterrestres. Ou eles têm células cerebrais como nós, e neste caso a capacidade de armazenagem deles é limitada, ou então são uma espécie de robô computadorizado, que pode selecionar a informação de que necessita em um grande computa­dor. Uma terceira possibilidade seria uma síntese de ambas. Poderia-se criar seres naturais, prestando atenção à sua estrutura genética, para que desenvolvessem uma enorme capacidade cerebral que, no entanto, usasse somente uma quantidade ínfima da verdadeira capacidade. Por quê? A capacidade de software de um computador ocupada pela metade tem es­paço para novas informações. Um cérebro humano que usa somente 20 por cento de sua capacidade pode ser “ocupado” com conhecimento, con­forme necessário, se assim quiserem os deuses.

E parece que eles querem; e isso me leva à questão central do tema de que trato. Em meu último livro,13 discuti várias aparições de ÓVNIs e mencionei alguns relatos de “abdução”. Deixe-me recapitular breve­mente.

 

                                 Não Parece Loucura?

Por mais de 30 anos, de acordo com a literatura sobre ÓVNIs, tem havi­do casos de pessoas que afirmam ter absoluta certeza de que foram ab­duzidas por alienígenas, analisadas e de que sofreram intervenção médica na região genital — não foram estupradas ou sofreram abuso, mas foram investigadas, como se estivessem em um laboratório. Vítimas masculinas de abdução afirmam convictos que foram retiradas amostras de esperma; as mulheres falam sobre testes de gravidez, procedimentos de “sucção” e até de gravidez criada artificialmente. No último caso, o feto em cres­cimento foi removido por intervenção cirúrgica algumas semanas depois.

Naturalmente, ninguém levou esses relatos a sério: todos sabemos que as pessoas podem ter sonhos, desejos e fantasias sexuais das mais se­cretas. E os médicos estão familiarizados com o fenômeno de falsa gra­videz. E bastante possível que algumas mulheres engravidem e não queiram revelar quem é o pai, então usam a desculpa do ET — embora ninguém acredite nelas. Contar algo do gênero também pode fazer algu­mas pessoas se sentirem especiais ou escolhidas, ou até mesmo dar a idéia de que uma concepção imaculada tenha ocorrido. Nas últimas três décadas tive o prazer de considerar tais histórias como invenções diver­tidas, sem me perguntar para que os extraterrestres poderiam querer ma­terial genético humano.

Mas é bastante provável que eu estivesse errado, pois o que parecia produto de mentes fracas recentemente recebeu metódico apoio. Em 1987 o autor americano Budd Hopkins apresentou os resultados, com o aval de vários cientistas de muitos anos de pesquisa.14 As pessoas que ele entrevistou descreveram — algumas vezes sob hipnose — como material genético foi colhido delas “por um tubo”. Há casos em que uma mesma pessoa foi abduzida três vezes: na puberdade, quando era um jovem ra­paz e aos 35 anos. Se isso for verdade — e eu ainda me reservo julga­mento — diria que a pessoa sofreu implantes feitos por alienígenas, assim como colocamos anéis em pássaros, golfinhos e ursos.

Logo depois de Hopkins publicar essa pesquisa, outros autores re­lataram semelhantes histórias de horror.15 Não só indivíduos, mas famí­lias inteiras aparentemente foram abduzidas por “luzes estranhas”. As vítimas flutuaram em salas bem iluminadas; a região genital dos homens ficava coberta com uma “espécie de substância de borracha” e sujeita a movimentos de sucção. Em outros casos, eles foram sexualmente estimu­lados por uma “mulher muito bonita” e até “fizeram sexo”.

Sempre que abordo a questão de “abduções” em meus trabalhos, to­dos começam a rir. Nosso intelecto não está adequadamente propenso a aceitar abduções feitas por ETs — que dirá sobre eles nos analisarem dessa maneira. Tudo isso parece forçado demais. As pessoas que acham que coisas como alienígenas não existem não estão, obviamente, dispos­tas a se convencer destas histórias. Elas sabem, com a certeza de um so­nâmbulo, que ÓVNIs não existem e não podem existir. Colocam barreiras totalmente intransponíveis que nenhum argumento é capaz de penetrar. E as pessoas que acham que OVNIs podem existir, acham as histórias de abdução esquisitas, grotescas e loucas. Elas não vêem nenhu­ma razão para ETs se comportarem de tal forma, mesmo que estes seres existam.

Mas receio que teremos de repensar nossa atitude; e esta revisão de idéias tem muito a ver com nosso cérebro, com a capacidade de nossa massa cinzenta, com intervenção genética, bem como com o retorno dos “deuses” e seus profetas.

Dr. Johannes Fiebag, treinado como cientista, investigou recentes casos de abdução na Alemanha, Áustria e Suíça,16 dentre eles o de uma mulher de Berlim, Maria Struwe. Fiebag a descreve como “uma mulher bonita, inteligente, atenta, crítica, não reservada, mas mantendo uma cer­ta distância dos eventos que descreve”. Maria Struwe reconta um sonho apesar de simultaneamente estar ciente de que não foi um sonho. Ela deitou-se sobre uma espécie de mesa de cirurgia; à sua esquerda e direita estavam pequenos seres alienígenas com cabeças e olhos grandes. Na ocasião ela estava grávida do terceiro filho — ou pelo menos achava que estava. Ela entendia os sinais de gravidez por causa de suas experiências de partos anteriores, e também havia feito uma consulta com um gineco­logista.

Foi então que ocorreu este “sonho" horroroso. Os alienígenas de cabeças grandes removeram o embrião dela. Ela acordou em sua própria cama, banhada em suor, como se tivesse tido um pesadelo terrível. Logo depois visitou seu médico, que descobriu surpreso que ela não estava mais grávida. Todos os sintomas de gravidez cessaram. Duas semanas depois, a Sra. Struwe expeliu dois “pedaços de carne”. Ela supôs que se tratava dos restos de placenta e puxou a descarga.

Depois de algum tempo, o casal Struwe decidiu tentar novamente um terceiro filho. Mas como todos os métodos naturais não apresentaram sucesso — ao contrário das gestações anteriores —, eles decidiram optar pela inseminação artificial. “Estava marcado para 22 de fevereiro de 1988. Mas ela sentiu uma dor inexplicável que o processo teve de ser in­terrompido”. Duas semanas mais tarde a Sra. Struwe expeliu duas peles transparentes, de origem desconhecida. E, de repente, como que por in­tervenção divina, ela engravidou novamente, em 12 de maio de 1988. Em 9 de janeiro de 1989, ela deu à luz o terceiro filho, Sebastian.

O Dr. Fiebag sugere várias explicações, nas quais se dá o seguinte cenário:

No verão de 1986 a Sra. Struwe estava grávida.

No terceiro mês de gravidez, os ETs extraíram o embrião.

Os alienígenas implantaram alguma espécie de pele em seu úte­ro destinada a evitar futura gravidez.

Por isso ela não conseguiu engravidar por meio natural nem ar­tificiai.

Mas essas “barreiras” foram expelidas, e então pôde ocorrer uma gravidez normal.

Todos esses acontecimentos poderiam ser explicados como “uma gravidez comum”, não fosse por Sebastian. Esse garotinho contava a seus pais sobre sonhos estranhos, povoados por monstros com cabeças e olhos grandes. Ele conta que viu “criancinhas dentro de caixas”; que ele ficou flutuando e que os monstros colocavam fluidos nele. Eles conversavam com ele “pelos pulmões” — o que significa de alguma maneira interna. Quando o Dr. Fiebag mostrou ao garoto alguns desenhos descrevendo vários tipos de ETs, ele imediatamente identificou os pequeninos com ca­beças e olhos grandes. A Sra. Struwe assegurou ao Dr. Fiebag que ela nunca falou a Sebastian sobre o “sonho” que tivera ou sobre extraterres­tres com cabeças grandes e olhos volumosos.

Então o que está havendo? Os pesquisadores do Dr. Fiebag, em paí­ses de idioma alemão, têm relatos paralelos na investigação do professor

David Jacobs, na América. Ele acredita que as extrações de esperma e fertilizações artificiais são o motivo para todas essas abduções, com o ob­jetivo de criar uma forma de vida meio humana, meio alienígena.1'

O número de casos está aumentando; não há centenas, mas milha­res deles. Os livros referidos nas notas 15, 16 e 17 são apenas a ponta do iceberg. Então é tudo apenas uma loucura passageira? Em caso afirmati­vo, por que de repente agora? Milhares de pessoas que nunca se viram, que moram em continentes diferentes, subitamente foram infectadas pela mesma loucura? Todos esses casos têm uma explicação psicológica?

 

                             Finalmente Loucura?

“Não, não têm”, afirma alguém cuja visão devemos respeitar, Dr. John E. Mack, psicólogo reconhecido, professor de psiquiatria na mais reno- mada universidade da América — Harvard. O professor Mack não só é psicólogo e psiquiatra como fez doutorado no Cambridge Hospital, MA, e ganhou o desejado prêmio Pulitzer. Ele tem 64 anos de idade e portanto não pertence mais ao impressionante grupo de jovens iludíveis que se­guem a loucura da moda. Ele conhece sua profissão e é ágil em perceber truques, mentiras ou fantasias envoltas em suas disciplinas. No outono de

perguntaram-lhe se estava interessado em encontrar pessoas que alegavam terem sido abduzidas por alienígenas. Sua reação foi dizer "de­vem ser loucos”. Mas em certa ocasião, contudo, ele encontrou Budd Hopkins, que, conforme mencionei, é autor do livro Intruders. Este en­contro deveria mudar sua vida.

Nos anos que se seguiram, o professor Mack encontrou centenas de pessoas “de várias regiões diferentes do país, que nunca haviam tido ne­nhum contato umas com as outras”. E pelo fato de essas pessoas parece­rem absolutamente sãs, responsáveis e confiáveis, ele começou a desenvolver interesse profissional pelo fenômeno. Finalmente ele reali­zou um estudo envolvendo 78 pessoas, sujeitando-as a todos os testes e procedimentos rigorosos de sua profissão. Os resultados da pesquisa ago­ra encontram-se disponíveis em um volume pesado de cerca de 400 pá­ginas. O livro se chama Abduction e leva o subtítulo Human Encounters with Aliens. 18

A resposta do professor Mack aos seus colegas e a todos os céticos não poderia ser mais convincente. Sim, disse ele. os extraterrestres exis­tem; os abduzidos estão dizendo a verdade e realmente ocorreram extra­ções de embrião, amostragem de esperma e fertilização artificial. Não se trata de delírios psicológicos ou fantasias de auto-satisfação. De acordo com este acadêmico de Harvard, somos claramente “participantes de um universo populado de formas inteügentes, das quais nos separamos.”

As abduções sempre ocorrem seguindo as mesmas linhas gerais. Pequenos seres com olhos grandes, negros, posicionados verticalmente e de pele acinzentada de repente são vistos movendo-se em quartos como se tivessem saído da parede. (Também ocorreram abduções em carros). Os alienígenas têm narinas e boca pequenas com lábios finos. Geralmen­te são avistadas luzes curiosas fora. As vítimas de abdução sentem medo e pânico e começam a imaginar todo tipo de coisa terrível. Mas são acal­madas, “esfriadas” e fisicamente paralisadas. Depois vem um vôo espec­tral pela janela ou porta da varanda, e embora algumas vítimas sintam que estão sendo “transportadas”, sentem correntes do ar noturno à sua volta. Chegam a uma espaçonave. Alguns abduzidos pensam ter atraves­sado paredes para a espaçonave alienígena. Dentro dela é luminoso; são colocados deitados em uma espécie de mesa cirúrgica e examinados com instrumentos irreconhecíveis. São removidas amostras de pele e cabelo, agulhas finas e outros objetos são inseridos em seus orifícios corporais. Em volta da mesa cirúrgica ficam vários deles; mas sempre parece que um único desempenha o papel de “cirurgião-chefe”, enquanto outro ocu­pa o papel de “tradutor”. Raramente, contudo, há algum intercâmbio fa­lado — as comunicações ocorrem por telepatia.

Esse “tratamento” dos abdutores pode ser muito desagradável e é descrito como repugnante. Contudo, raramente se sente dor física, pois os alienígenas neutralizam o centro da dor no cérebro. Depois dessa “ope­ração”, geralmente ocorre um diálogo, no qual os abdutores tentam, pelo menos de maneira fragmentada, explicar suas ações para suas vítimas. A alguns abduzidos são mostradas prateleiras cheias de pequenos embriões, que flutuam em uma espécie de fluido. As vítimas voltam para casa da mesma maneira que saíram de lá, embora às vezes haja enganos: algumas vezes elas acordam em um lugar desconhecido, ou acham que elas e seus carros foram transportados várias centenas de quilômetros.

Estranho, alguns podem ficar tentados a afirmar. Tem de ser sonho e fantasia. Mas pense só por um segundo como se sente um animal semi- inteligente quando seres humanos realizam experimentos com ele — nada diferente, presumo.

Nós facilmente refutamos essas teorias — elas parecem forçadas e estranhas demais, e adotamos a ajuda da lógica e da razão para reprová- las. Mas a lógica e a razão, é claro, são ferramentas limitadas, confinadas ao que já sabemos. Há várias gerações, um avião supersônico, um trans­missor de rádio, um aparelho de raio-X ou uma bomba de hidrogênio que pode destruir cidades inteiras de uma vez teriam parecido coisas ilógicas e impensáveis. Mesmo há 50 anos, teria sido impossível explicar a bom­ba de átomo para um cientista. “Isso é impossível”, ele teria afumado, “pois as armas sempre liberam energia e esta energia descontrolada des- trói a área à sua volta. Mas esta bomba de átomo, como me diz, só destrói tudo que for de natureza orgânica, viva, deixando tanques e edifícios de concreto intactos”.

Não, a lógica e a razão de hoje não ajudam muito a entender o fe­nômeno das abduções.

 

                                   Implantes em Pessoas

Por que provavelmente pelo menos alguns casos de abdução são verda­deiros? A resposta é o número de pessoas que vivenciou situações seme­lhantes, apesar de não se conhecerem, não terem lido livros ou assistido a vídeos ou filmes sobre o assunto. Então vem a semelhança entre os re­latos de pessoas em países e continentes diferentes, e de milhares de mu­lheres que tiveram embnões roubados de forma vampiresca. Também há cicatrizes inexplicadas nos abduzidos, que não foram feitas por nenhum médico humano. E, finalmente, há os minúsculos implantes alienígenas que foram removidos cirurgicamente de várias vítimas de abdução.

Espere um pouco, como é que é? Sim. O professor Mack, na página 42 da edição americana de seu livro, menciona vários objetos minúsculos de metal ou semelhantes a fibra de vidro que tiveram de ser extraídos ci­rurgicamente: implantes semelhantes a uma agulha pequena, em um caso situado no pênis de um homem, em outro, na região superior do nariz, próxima ao cérebro, de uma mulher de 24 anos. Embora esses curiosos implantes tenham passado por testes físicos e químicos, os resultados são incompreensíveis por desconhecermos a função pretendida. Análises re­velaram ligas ou componentes muito incomuns, mas nada que pudesse expor seu objetivo. Talvez isso seja mais ou menos como um humano marcar um urso colocando um anel em sua orelha: os outros ursos podem ver o anel e cheirá-lo sem entender o por que de estar lá.

Mas talvez estejamos em melhor posição do que um urso para fa­zermos algo do gênero. Se moderarmos o pânico e explorarmos nossa ca­pacidade de razão, podemos pelo menos fazer uma tentativa de análise da situação. Os ETs, afinal, conversaram com algumas das vítimas e lhes deram explicações sobre os procedimentos desagradáveis.

Conforme alguns relatos, os ETs afirmaram que nosso planeta foi ameaçado por uma catástrofe. Indicações quanto ao tipo de catástrofe são contraditórias e obscuras. Outras versões dizem que nossa conduta huma­na está saindo dos trilhos. Finalmente, os ETs também disseram que nos­sa ciência está se desenvolvendo de acordo com um "princípio causal” desorientado — o que nós, pessoas comuns, denominaríamos “lógica”. O modelo de conhecimento que nos é passado por acadêmicos e cientistas é, de acordo com esta versão, totalmente distorcido. (Isso não chega a surpreender se você pensar nas teorias da evolução e ciências religiosas!) E por causa de nossa falsa visão de conhecimento, estamos desenvolven- do um tipo de consciência falsa — trivial e egocêntrica, preocupados apenas com nós mesmos como se fôssemos o centro do universo.

 

                             Um Cavalo de Tróia

Os alienígenas cabeças de lâmpada com olhos de semente de kiwi só têm um remédio para esta situação: como a raça humana está desprovida de grandes evoluções, querem criar um híbrido! Nossa estrutura genética bá­sica sobreviverá — mas só misturada à deles. Não é uma idéia agradável.

Aqueles alienígenas cinzas, com boca de fenda e pele de borracha impondo-se aos abduzidos nos parece crime. Abdução é crime, assim como abuso sexual. Os direitos humanos foram brutalmente violados, in­tervenções médicas são feitas sem a permissão do sujeito, técnicas de la­vagem cerebral e controle do pensamento são aplicadas nas pessoas contra sua vontade. Os ETs cinzas não se importam nem um pouco com nossos sentimentos e leis; estão nos tratando como animais inferiores. Colocam implantes em nós. controlando os “implantados”, sem dar infor­mações lógicas ou prováveis de suas atividades, razões ou lugar de ori­gem. O autor americano John White diz o seguinte:

Os alienígenas sempre se aproximam de nós no escuro. Nunca dizem exa­tamente porque estão nos abduzindo. Tudo isso me parece suspeito, como um cavalo de Tróia; e eu devo expressar minha preocupação sobre o que está havendo. Se os alienígenas mudarem seus modos, se vierem à luz do dia e forem claros sobre suas intenções, terei o prazer de dar-lhes as boas- vindas à sociedade humana. Caso contrário, continuarei considerando-os criaturas fingidas, ladras do mundo sublunar, cuja disposição é o mal, mesmo que se distingam como bem. E se forem provados de natureza fí­sica, parafísica ou metafísica, tal fato não altera esta conclusão.19

Os alienígenas, é verdade, não tomam fácil acreditarmos em suas boas intenções. Durante 30 anos, no mínimo, houve relatos documenta­dos sobre abduções; contudo, a maneira e forma das investigações dos alienígenas nunca mudaram. As vítimas sempre são tratadas conforme uma rotina fixa; os testes de esperma e extrações de embrião prosseguem de forma estereotipada. Nenhuma equipe de pesquisa médica da Terra precisaria examinar tantas milhares de pessoas assim. No centésimo “pa­ciente”, no máximo, teriam a informação que procuravam — a menos que estivessem buscando algo específico e diferente em um indivíduo bastante único.

A raça humana não consiste, obviamente, de robôs produzidos em massa — somos todos individuais e diferentes. Nenhum de nós tem as mesmas lembranças ou sentimentos que o outro — semelhantes talvez, mas não idênticos, assim como nossas impressões digitais. Cada pessoa tem seu próprio conjunto de experiências: sofre, ama à sua maneira, gos­ta de determinados tipos de música, lê certos jornais, gosta de determi­nados programas de rádio.

Seria este o motivo das pesquisas alienígenas — nossa disparidade e variedade de características? E por isso que precisam de milhares e mi­lhares de indivíduos, variedades de esperma e embriões — para formar uma nova raça Ou estão tentando filtrar o que lhes parece o melhor ma­terial por meio de uma exaustiva quantidade de comparações? Não tenho a resposta, nada melhor do que outros investigadores; mas isso não muda o fato de que os alienígenas estão nos sujeitando a um tipo de procedi­mento criminoso. Na Terra as pessoas obedecem as regras do país em que estão. Será que padrões semelhantes não se aplicam ao universo?

Mesmo que se adote o ponto de vista de que os ETs cinzas são uma raça degenerada, superior a nós em tecnologia e telepatia, mas com ne­cessidade de uma revitalização genética, ainda assim não devemos per­mitir que façam isso sem o nosso consentimento. Afinal de contas também somos inteligentes; dominamos a matemática, fizemos grandes progressos científicos e culturais. Não somos simplesmente ninguém; en­tão por que devemos permitir sermos tratados como animais? Posso en­tender que os ETs talvez não queiram nos surpreender com uma aparição repentina, nos assustando como uma raposa no galinheiro — o que eu chamo de “choque dos deuses’’“0 —, mas muito tempo passou desde as primeiras abduções; já é hora de colocar um ponto final nesses episódios “aventureiros” e nos dar alguma explicação sobre suas atividades. É hora de os alienígenas ignorarem nossa vaidade e sentimentos receosos e apa­recer para valer.

Os seres humanos não gostam de ser deixados no escuro por déca­das, e ser tratados como cobaias. Além de tudo, nossa consciência e per­cepção mudaram. Há trinta anos teria sido uma exorbitância, para não dizer loucura, acreditar na existência de alienígenas. Hoje, metade da po­pulação americana acredita na existência de ÓVNIs; e no Brasil, esse nú­mero chega a dois terços da população. Mesmo há cinco anos, 45 por cento da juventude da iluminada França afirmou acreditar em ÓVNIs;21 mesmo no país anti-ÓVNIs, a Alemanha, em que a “séria” imprensa dei­xa de relatar ou caçoa de cada caso sobre ÓVNI, um quinto das pessoas acredita em ÓVNIs. De acordo com o mais recente estudo do Allensbach Institute com grupos de opinião pública, a porcentagem é maior entre a faixa etária de 16-20 anos: um terço dela aceita a existência de alieníge­nas.22

O pensamento humano não permaneceu inerte; os incontáveis seria­dos de ficção científica na TV e aterrissagens na lua ajudaram a expandir nossa consciência. E a infinidade de livros que tratam do assunto de vida extraterrena não foram escritos apenas para os estudiosos — pelo menos metade da humanidade tomou conhecimento do assunto. Os ideais mais vaidosos da democracia mundial deveriam levar a mídia a atualizar con­tinuamente as notícias sobre os ETs. Mas isso não ocorre, o que me faz começar a entender por que os alienígenas cabeça de lâmpada com olhos de semente de kiwi se comportam dessa maneira.

Todos nós provavelmente tivemos a experiência de tentar explicar algo a alguém ou a um grupo de pessoas e não sermos ouvidos, deparan- do-nos com falta de interesse, sendo postos de lado por argumentos irre­levantes, sendo insultados ou talvez simplesmente ignorados. Outras tentativas de esclarecer a questão podem continuar sem efeito. O que fa­zemos neste caso? Nos retiramos, supondo que novos esforços de comu­nicação serão infrutíferos. O mesmo não poderia acontecer com os ETs? Será que eles não estão cansados de tentar falar conosco porque somos arrogantes demais para escutar?

Os casos de abdução investigados pelo Dr. Mack revelaram algo dessa natureza. Os extraterrestres aparentemente disseram aos abduzidos que os seres humanos ainda não estavam prontos para se comunicar com eles e aceitarem sua existência. Se eles se apresentassem abertamente, nós reagiríamos com agressividade e os consideraríamos inimigos. Nosso comportamento não lhes permitiria aparecer em nossa frente; seriamos tomados de pânico. Nossa consciência está tão contaminada por concei­tos científicos e religiosos errôneos que não seria possível para eles uma aproximação aberta. E aproximando-se apenas de alguns indivíduos, a sociedade humana não acreditaria na existência deles, mesmo que esses relatos viessem de pessoas altamente conceituadas.

Isso não só é verdade. Imagine só o que aconteceria se o Papa ou algum primeiro ministro anunciasse ter se comunicado com alienígenas. Seria destituído no mesmo instante. O mesmo aplica-se aos jornalistas, editores e cientistas de renome: ninguém acreditaria neles. “Extraterres­tres? Aqui? E ele acha que falou com um deles? Coitadinho, deve estar com algum parafuso solto!” E exatamente o tipo de recepção que os re­latos causariam. Mas por quanto tempo mais?

 

                               Híbridos do Futuro

Os horrendos alienígenas fora-da-lei anunciaram uma catástrofe ameaça­dora às vítimas abduzidas. Esta é a principal razão, dizem, para suas ati­vidades. A boa notícia nisso tudo é que a raça humana pode sobreviver, mesmo que em um híbrido (mistura) entre eles e nós. E quando exata­mente virá este dia do juízo final? Os ETs não mencionam data alguma

parecia que eles próprios não sabiam. Isso soa familiar? Todas as re­ligiões, como você deve lembrar, enfatizam que ninguém sabe a data do acerto de contas final. Talvez os ETs tenham acesso a indicadores, seme­lhantes aos usados pelos geólogos, para prever terremotos e erupções vulcânicas; essas informações ajudam, por exemplo, a prever que a falha de San Andreas na Califórnia irá irromper, mas não exatamente quando a erupção ocorrerá.

Não é possível que os sensores e instrumentos de medição dos ex­traterrestres, anões de pequenas narinas — cuja tecnologia, para nós, é um livro guardado a sete chaves — possam registrar algum cataclisma que se aproxima, cujas dimensões exatas são desconhecidas? Se isso fos­se verdade, seria uma boa justificativa para seu comportamento imoral, pois:

Pessoas que não estão abertas a receber tais fatos são egocên­tricas demais.

Não se sabe quanto tempo demorará para que a catástrofe se abata sobre nós, portanto é necessário ação urgente. Gerações posteriores, de acordo com tais circunstâncias, entenderão a ne­cessidade de um comportamento tão transgressor.

Apesar de todo seu comportamento — de acordo com nossos con­ceitos — imoral e contraventor em relação a nós, sempre me chamou a atenção o fato de os alienígenas nunca terem mutilado ou matado nenhu­ma das vítimas. Todas elas foram devolvidas sãs e salvas ao seu quarto ou carro. Nosso comportamento em relação aos animais demonstra bem menos consideração.

Recentemente surgiu a idéia de que estes pequenos seres com ca­beças grandes não são extraterrestres, mas viajantes do tempo de nosso próprio futuro. É verdade que os físicos nos últimos anos demonstraram que o princípio de viagem no tempo não está longe do possível, mas ain­da não temos idéia de como poderia ser feita na prática.2^ Embora seja uma idéia fascinante, pessoalmente eu não acredito que isso explica o fe­nômeno desses pequeninos ETs de olhos amendoados. Imagine a situa­ção seguinte.

No ano 3.000, existe a máquina do tempo. Os habitantes inteligen­tes da Terra são pequenos em estatura, com pele cinza e crânios volumo­sos, e dominaram a telepatia. Eles viajam para o nosso tempo em suas máquinas e descobrem que a humanidade, pouco antes do ano 2.000, se vê diante de uma catástrofre iminente. Eles se dedicam ao trabalho de co­letar material genético que possam implantar em sua própria espécie. Se não fizessem isso, a raça deles não existiria no futuro. Não, isso não faz sentido. Se os homenzinhos cinzas são nossos descendentes, certamente não há necessidade de coletar material que eles já têm! A meu ver essa idéia de viagem no tempo não ajuda muito.

 

                           Falsamente Programados?

Várias vitimas de abdução, especialmente aquelas que foram abdu­zidas em várias ocasiões, não se sentem mais totalmente “terráqueas”. Apesar de conservarem um corpo humano intacto e normal, não podem se livrar do sentimento de uma mudança de consciência. Elas têm a im­pressão de que guardam um conhecimento latente que se estende para além da Terra e do presente. Esse grupo de abduzidos afirma que tem grande dificuldade de expressar esses sentimentos em linguagem comum. Elas subitamente passaram a ter um conhecimento do tempo e espaço que ocupa todo seu crânio, como se sua capacidade cerebral antes inativa tivesse recebido uma entrada de dados repentina. Parece que entraram em uma sublime catedral cheia de milhões de afrescos e fragmentos, espaços pelos quais vibram suaves melodias de milênios. Indescritível. Não há conceitos humanos ou palavras capazes de expressar tais sentimentos e visões de maneira compreensível. Tudo parece coexistir simultaneamen­te: por um lado é uma visão nítida, real, racional; por outro, uma camada sobre outra, sobrepostas, interligadas e misturadas demais — demais, de­mais mesmo, e ao mesmo tempo inter-relacionadas por canais instantâ­neos.

Seria um estado próximo à loucura — a incapacidade de lidar ou digerir uma avalanche de informações? Ou dados estão sendo implanta­dos intencionalmente na massa cinzenta de seres humanos para nos ele­var a uma consciência cósmica? Essa consciência cósmica, uma perspectiva um tanto diferente das coisas, visa permitir àqueles que vi- venciam tais experiências mostrar a seus semelhantes humanos um novo caminho? Esta “razão em expansão”, como chamo, seria destinada a abrir os olhos das pessoas para outras realidades? Já é bastante conhecido hoje que nosso mundo possui mais elementos do que nossos sentidos por si só são capazes de perceber.

O leitor deste livro agora terá entendido que cada célula de seu cor­po contém as informações totais (DNA) necessárias para a estruturação do seu corpo. Ao mesmo tempo, o DNA também contém inúmeros frag­mentos — o chamado “lixo” — que aparentemente não tem finalidade al­guma. Eles não fazem parte de nenhuma cadeia ou seqüência (no modelo de “blocos Lego”). Também sabe-se no geral que somente uma parte da capacidade do nosso cérebro é usada. A evolução criou algo que, até ago­ra, não foi convocado. A esses fatos provados cientificamente pode-se acrescentar o que nos foi transmitido por religiões antigas.

Os deuses criaram o homem à sua imagem.

O sobrevivente do Dilúvio — seja ele chamado Noé, Utnapis- htim ou qualquer outra coisa — era um híbrido entre seres hu­manos e “guardiães do céu” (veja referência anterior sobre o papel de Lameque, página 75).

Nosso material genético, portanto, já contém partes extraterrestres. Os pequenos alienígenas sabem disso. Tudo o que eles têm a fazer é des­pertar o “lixo” tornando-o compatível com o restante de nossas cadeias de DNA, para que a metade vazia do cérebro seja inundada de informa­ções. Os seres humanos nunca foram somente da Terra. Nós nos desen­volvemos em formas terráqueas sobre a Terra; de geração em geração evoluímos religiosa, política e cientificamente, suprimindo radicalmente os aspectos extraterrestres em nós mesmos e imaginando-nos no centro do universo. No entanto, agora o dia do acerto de contas está chegando – o sino do despertar da consciência.

Não fico surpreso com os muitos relatos de vítimas de abdução que, sem nunca terem lido Erich von Dániken, afirmam que os extraterrestres estiveram aqui em várias ocasiões em um passado distante e longínquo, e que eles ajudaram os seres humanos a evoluir. Há vinte anos, o astrô­nomo James R. Wertz já desdobrava a teoria de que os extraterrestres po­deriam facilmente ter visitado nosso planeta em intervalos de 7,5 vezes em cada 105 anos; nos últimos 500 milhões de anos, portanto, isso seria aproximadamente 640 vezes."4 Dez anos depois, Dr. Martyn Fogg, Uni­versidade de Londres, sugeriu que todas as galáxias provavelmente já ha­viam sido habitadas quando a Terra surgiu.

 

                             SETI sem a Europa

Entra ano, sai ano, sem serem notadas mundialmente, ocorrem con­ferências do SETI* com um número crescente de participantes. Em uma recente, organizada pela Universidade da Califórnia e patrocinada, entre outros, pela NASA, mais de 70 artigos científicos foram lidos. Temas como os seguintes foram examinados:

The Galactic Library: SETI and Scientific Education (Andrew Fraknoi, astrônomo, Foothill College)

The Search for Life on Mars: Taking Stock of What We Know (Michael Klein, Jet Propulsion Laboratory, e Jack Farmer, Ames Research Center of NASA)

SETI Begins at Home: Can We Define and Measure Intelligen- ce on Tliis Planet? (Lori Marino, New York University)

The Search for Extraterrestrial Technologies in Our Solar Sys­tem (Michael Papagiannis, Boston University)

A maioria dos palestrantes debateu as possíveis maneiras pelas quais a tecnologia poderia ser usada para detectar pistas de vida aliení­gena — como os tipos de radiofreqüência que podem captar sinais extra­terrestres. Entretanto, também houve crítica ao excesso de amadorismo no campo de pesquisa do SETI; muitos sentiram que, para que fossem le­vados a sério pelo público, deveriam excluir os amadores.

Gostaria de fazer aqui uma distinção. A meu ver, esta atitude ape­nas repete aquela antiga atitude elitista de “só nós é que sabemos” que há tanto tem nos levado a becos sem saída e a uma visão limitada — seja no cenário político ou nos campos da religião ou ciência. Por toda a his­tória, as instituições — de qualquer espécie — sempre tentaram se dis­tanciar dos outros seres humanos comuns para excluí-los do acesso tanto à verdade quanto ao conhecimento falso. As religiões ainda perpetuam essa prática; e os grupos políticos ainda tentam guardar seus lastimáveis segredos, apesar de sempre acabarem vazando no final. Tais atitudes são apenas maneiras de tentar assegurar vantagem própria excluindo outros. Como, afinal, se espalham novas idéias? Por meio de quem elas se tor­nam públicas? De quem as idéias novas e revolucionárias freqüentemente vêm? E finalmente, quem financia quase toda a ciência, a arqueologia e astronomia?

O         elitismo nunca foi capaz de evitar a disseminação do conheci­mento, mas tornou o processo consideravelmente lento. O elitismo supri­me a consciência pública e elimina as idéias frescas pela raiz. A consciência pública é que traz novas idéias ao meio comum e forma um ambiente propício para sua propagação. A vida pública é a antítese do si­gilo e da censura. Ao mesmo tempo, contudo, também estou convencido de que os especialistas devem ter a permissão de trabalhar sem a interfe­rência de pressões e intervenção pública, sem a intervenção daquilo que freqüentemente pode ser o pseudoconhecimento de amadores. Mas não devem tentar ocultar e manter em sigilo o florescimento dos seus resul­tados. “Mesmo as cortes militares são incapazes de silenciar um ru- mor”(Johann Nestroy, 1801-62).

Simplesmente imagine que toda a humanidade possui poderes tele­páticos, como acreditamos que os extraterrestres possuem. Em uma so­ciedade telepática não pode haver segredos ou conhecimento elitista; isto certamente não ameaça a sociedade ET.

Na última conferência internacional do SETI, 73 palestras inteli­gentes foram realizadas, mas nenhuma delas sobre ÓVNIs, abduções ou mesmo hipóteses paleo-seti. Esses temas são considerados indignos de pesquisa científica “real”; como se não existissem publicações científicas no campo de ÓVNIs escritas por ótimos especialistas, com base em pes­quisa adequada (por exemplo. Present UFO Research, do físico Illobrand von Ludwiger26). E o professor de Harvard, Dr. Mack? Será que agora ele deve ser excluído da lista de cientistas?

Por que aqueles que se dedicam à busca de vida extraterrestre ex­cluem os temas e pessoas mais importantes a se considerar? Como uma respeitável divisão da ciência — que tomou-se o SETI — se permite so­frer preconceito a ponto de levar certos caminhos de investigação ao os­tracismo? A ciência não confia em uma ampla base de informações? Sem os ÓVNIs e a filosofia paleo-seti, a disciplina do SETI fica incompleta, e seus resultados — amplamente divulgados pela mídia — são tímidos, para não dizer amadores. E a ciência que acusa os amadores de deixarem de levar em consideração todos os aspectos relevantes de um tema, de se­rem parciais, desequilibrados e incompletos. Mas neste caso, sinto dizer, a mesa virou: vocês, meus caros pesquisadores do SETI, estão se enclau­surando em uma elitista torre de marfim, e deixando de observar o todo.

Na verdade eu sei por que ÓVNIs e filosofia paleo-seti não são per­mitidas como assuntos de debate nas conferências internacionais do SETI. A seguir algumas observações pessoais. Em 1969, quando meu primeiro livro, Eram os Deuses Astronautas?, ocupou as manchetes no mercado editorial americano, vários críticos de maior e menor destaque ergueram suas cabeças. Tudo bem — a crítica pertence tanto à democra­cia quanto à busca de rigor científico. Mas junto com essas críticas houve também ataques venenosos e até livros inteiros escritos na tentativa de repudiar minhas idéias, principalmente de fontes religiosas ou de campos conservadores da ciência, como arqueologia e antropologia. A esses ata­ques foram acrescentadas várias mentiras, preparadas na cozinha da de­sinformação, e que alimentaram o sistema digestivo do circo da mídia. Assim, uma imagem negativa das minhas idéias foi propagada e disse­minada, ganhando espaço entre jornalistas e similares. Era a velha histó­ria; logo tornou-se tabu dizer algo positivo a respeito do meu trabalho. Curiosamente, contudo, minhas idéias começaram a aparecer em todos os tipos de publicações — mas sempre sem o reconhecimento da fonte. O estabelecimento científico permitiu-se ser orientado pelo preconceito, sem ter a coragem de deixar a verdade às claras.

As coisas não melhoraram. Mais de um quarto de século se passou desde a publicação do meu livro. Recalling the Future, a filosofia paleo- seti foi elaborada e documentada em outros 19 livros e seriado de televi­são em 25 episódios.' Há uma imensidão de evidências fornecidas por textos muito antigos e restos arqueológicos, bem como livros de uma sé­rie de autores de vários países diferentes — mas nenhum deles impres­siona os pesquisadores do SETI. Não é permitido examiná-los — é mais importante proteger a elite.

Steve Beckwith, diretor do Max Planck Institute for Astronomy, em Heidelberg, defende que “existem muitos planetas em nossa galáxia que podem ter condições adequadas ao desenvolvimento de vida”. E o astrô­nomo inglês David Hughes acrescenta: “Em tese, afinal, deve haver ses­senta mil milhões de planetas na Via Láctea. Quatro mil milhões deles provavelmente assemelham-se à Terra — úmido e condutor de vida. 28 O cosmos está fervilhando de vida — incluindo formas de vida se­melhantes à raça humana. E pelo menos uma dessas civilizações extra­terrestres visitou nosso planeta milênios atrás. Isso é fácil de se provar; então, por que os pesquisadores do SETI não querem saber? E por falar nisso, a diferença entre cientistas e amadores freqüentemente consiste de uma só frase: amadores são pessoas que não recebem nada e fazem mui­to, enquanto profissionais são pessoas que não fazem nada por nada.

O quanto os cientistas do SETI já se permitiram ser espremidos em uma camisa de força é demonstrado pela “Declaração de Princípios Re­lacionados às Atividades para a Detecção de Inteligência Extraterres- tre”(Declaration of Principles Concerning Activities Following the Detection of Extraterrestrial Intelligence).2^ Trata-se de um trecho da le­gislação que todos os cientistas oficialmente envolvidos em pesquisas do SETI devem obedecer. Ela é formada por regulamentos que ditam como se deve agir caso seja descoberta inteligência extraterrestre. Gostaria de compartilhar algumas dessas regulamentações com você para que possa ter uma idéia melhor de como a descoberta de ETs é tratada em círculos internacionais.

 

                           Submetendo à Censura

Nós, instituições e indivíduos participantes da busca de inteligência ex­traterrestre, reconhecemos que esta busca faz parte de uma pesquisa espa­cial, e que deve ser realizada com intenções pacíficas e pelo interesse comum de toda a humanidade. Somos inspirados nesta busca pela enorme importância de oferecer prova de vida extraterrestre, embora a probabili­dade dessa descoberta seja pequena.

Lembramos a todos os envolvidos do acordo que regula todas as ativi­dades governamentais de pesquisa, e a utilização do espaço... que também se aplica a grupos financiados pelo estado... (Artigo XI)

Confirmamos os seguintes princípios que devem ser seguidos no caso de disseminação de informações sobre a descoberta de inteligência extra­terrestre:

Todas as pessoas e todas as instituições de pesquisa governamentais ou privadas, ou ministério, que acredita ter recebido um sinal ou outra forma de prova confirmando a existência de vida extraterres­tre, deve tentar testar se as explicações mais plausíveis realmente oferecem prova de inteligência extraterrestre, e não de um fenôme­no natural de alguma espécie, antes de qualquer divulgação. Caso não possa ser dada prova da existência de inteligência extraterres­tre, o descobridor está autorizado a publicar suas conclusões sob o termo “fenômeno desconhecido”.

Antes de o descobridor fazer qualquer declaração pública de que há provas da existência de inteligência extraterrestre, deve imedia­tamente informar todos os outros pesquisadores e instituições de pesquisa que forem participantes desta declaração... Os participan­tes desta declaração não farão declaração pública sobre a desco­berta até que esteja confirmada a relação da descoberta à inteligência extraterrestre. A descoberta deve informar a autoridade oficial sob os auspícios da qual estiver trabalhando...

Nenhuma resposta deve ser dada a um sinal de rádio extraterrestre ou outros sinais de inteligência alienígena, antes que sejam efetua­das as consultas internacionais necessárias...

...Caso seja encontrada evidência de inteligência extraterrestre, será formado um comitê internacional de cientistas e de outros especia­listas, que atuarão como foco central para análise complementar e observações subseqüentes. Este comitê também supervisionará a disseminação de informações ao público. O comitê deverá ser com­posto de membros de todas as instituições internacionais acima mencionadas; também podem ser cooptados outros membros... A International Space Travei Academy atuará como órgão administra­tivo oficial para este acordo e declaração...

O que devemos entender de tudo isso? Os cientistas naturalmente evitam

o          sensacionalismo. Toda descoberta importante é sempre testada e retes- tada antes de ser publicada. Ninguém quer parecer um idiota diante dos colegas tendo de retratar uma falsa descoberta. E bastante sensato o fato de International Astronomical Union ou a comissão do SETI n° 51 — ambas mencionadas em outras partes do documento — desejarem ter ab­soluta certeza de que há prova real da existência de alienígenas antes de a notícia se espalhar pelo mundo. Entretanto, o que parece estranho é a exigência de informar todos os tipos de outros comitês e comissões antes de a descoberta ser tornada pública. Falando português claro, isso é cen­sura; pois mesmo quando alguém tem 100% de certeza de que obteve evidências sobre a existência de inteligência extraterrestre, ainda não tem a permissão de divulgar o fato. Antes disso acontecer, os poderes que monopolizam o acesso à informação devem dar a palavra e decidir quais fragmentos específicos da verdade poderão ser liberados. Cabe aqui per­guntar como esse processo de censura pode ser conjugado com a liber­dade de informação garantida pela lei em todos os países livres do mundo.

Até agora, todos os trechos dessa declaração que dizem como lidar com o público são, em última instância, um desperdício de papel. Nós — as massas, o povo — há tempos sabemos que ETs existem!

 

                         Notas

Däniken, E. von. Der Götter-Schock, Munique, 1992

Ibidem

“Welcher Kontinent ist die Heimat des modernem Menschen?”, no Welt am Sonntag, 20 de março de 1994

“Hat der Exodus früher begonnen?”, na Focus, n° 11, 1994

Sanides, S. e Gottschiling, C., “Goldader in Erbgut”, na Focus, na 15, 1994

A maioria da pessoas não sabe que “dinossauro” é um termo que foi inventado pelo zoólogo britânico Richard Owen em 1841, ao receber estranhos ossos semelhantes aos de répteis. Ele adotou a palavra gre­ga deinos (“amedrontador”, “terrível”) e sauros (“lagarto”) e as as­sociou.

Halstead L. B., Die Welt der Dinosaurier, Hamburgo, 1975

“Jurrassic Spatz: Vögel stammen von Dinosaurien ab und nicht von Reptilien. Münchner Paläontologe beendet Expertenstreit”, na Fo­cus, nö 3, 1994

Jaynes, J., The Origin of Consciousness in the Breakdown of the Bi­cameral Mind, Nova York, 1978

Jaynes, J., Interview in Psychologie heute, março de 1978

Flindt, M., e Munn, V., “Is Mathematical Ability Extraterrestrial?”, in Ancient Skies, Vol 20, na 3, 1993

“Sind Radrenner lebendig?”, na Der Speigel, n~ 25, 1993

Däniken, E. von, Wir alle sind Kinder der Götter, Munique, 1987

Hopkins, B.. Intruders, Ballantyne, 1987

Strieber, W., Communion, Nova York, 1987; Transformation: The Breakthrough, Nova York, 1988

Fiebag, J., Kontakt: UFO-Entführungen in Deutschland, Österreich und der Schweiz, Munique, 1944

Jacobs, D., Secret Lives: Firsthand Documented Accounts of UFO Abductions, Nova York, 1992

Mack, E., Abduction: Human Encounters with Aliens, Nova York/Toronto, 1994

White, W. J., “Aliens Among Us — a UFO Conspiracy Hypothesis in a Religion Mode”, no Mufon UFO Journal, ne 286, fevereiro de 1992

Däniken, E., von, Der Götter-Schock, Munique, 1992

Science & Vie Junior, janeiro de 1991

“Jeder fünfte Deutsche glaubt an UFOs”, na Die Welt, 28 de feve­reiro de 1991

Meckelburg, E., Zeittunnel: Reisen an den Rand der Ewigkeit, Mu­nique, 1991; Transwelt: Erfahrungen jenseits von Raum und Zeit, Munique, 1992

Wertz, J. R., “The Human Analogy and the Evolution of Extrater­restrial Civilizations”, no Journal of the British Interplanetary So­ciety, Vol. 29, n— 7-8

Fogg, M. J., ‘Temporal Aspects of the Interaction among the First Galactic Civilization. The Interdict Hypothesis”, na Icarus, Vol. 69, 1987

Ludwiger, J. von, Der Stand der UFOForschung, Frankfurt. 1992

Um video da série, Auf den Spuren der All-Mächtigen, pode ser so­licitado diretamente à Ancient Astronaut Society, CH-3803, Beaten­berg, Suíça

“Planeten-Brut aus dem Urnebel”, na Der Speigel, n~ 22, 1993

Isso foi aceito em abril de 1989 pelo Conselho de Curadores da Aca­demia e pela Diretoria do International Institute of Space Law

 

                    A Grande Decepção: Conspiração do Silêncio e as Mais Recentes Pesquisas

Meu livro,. Os Olhos da Esfinge1 foi escrito quatro anos atrás. Nele, eu examinei os enigmas e mistérios insolúveis do antigo Egito e também discuti várias teorias sobre a construção da Grande Pirâmide.

Desde então, novas descobertas surgiram, sobre as quais não posso ficar calado. Qual a relação delas com o tema deste livro, com a “Segun­da Vinda’’ e com o retomo dos extraterrestres?

Os antigos egípcios consideravam Enoque o construtor das pirâmi­des. (Enoque, Idris e Saurid são a mesma figura, de acordo com a tradi­ção árabe). Enoque escreveu mais de 300 livros, que confiou a seu filho Matusalém, na esperança de que este os passaria às “futuras raças do mundo”. Nenhum desses livros foi descoberto. Estariam eles guardados em câmaras impermeáveis ao ar da Grande Pirâmide? Podemos encontrar lá as respostas para nossas perguntas sobre o dia do julgamento e o re­tomo dos deuses?

E alguém está tentando manter este segredo oculto ao mundo?

Nos últimos dois anos os acontecimentos em tomo da Pirâmide de Quéops no Egito mostraram claramente como os cientistas consideram as pessoas ingênuas, e até que ponto a mídia é manipulada e, por sua vez, manipula a opinião pública. Em 22 de março de 1993, exatamente às 11:05 da manhã, um acontecimento da mais elevada ordem ocorreu. Algo de inesperado, impensável e além da compreensão de todos os egiptólo- gos clássicos aconteceu. Uma bomba não teria causado impacto maior na perspectiva egiptológica. E essas ondas de choque foram canalizadas, controladas e consideradas inofensivas; e o que era provavelmente uma sensação ainda maior — o acontecimento do milênio, comparável à des­coberta de inteligência extraterrestre — foi barrado e impedido. Mas que acontecimentos foram esses?

O engenheiro alemão, Rudolf Gantenbrink, nascido em 24 de de­zembro de 1950 em Meden, teve a percepção de um gênio: um pequeno robô de sua invenção, extremamente refinado tecnicamente, depois de percorrer 60 metros por uma estreita passagem anteriormente desconhe­cida da pirâmide, chegou a uma porta em que havia duas hastes de metal. O robô esteve percorrendo esse túnel estreito por duas semanas, e conti­nuamente se deparava com obstáculos que tinha de superar. Várias vezes teve de retomar o ponto de início para que fossem feitas alterações e aperfeiçoamentos técnicos.

O robô de Gantenbrink pesa 6 quilos e é uma máquina do tipo tra­tor com apenas 37 centímetros de comprimento. É movida por sete mo­tores independentes, cujos microprocessadores são orientados por controle remoto. Na frente ficam dois pequenos faróis halógenos e uma minicâmera de vídeo, do tipo Sony CCD, que pode fazer rotações e in­clinar-se. Apesar de ter uma estrutura leve de alumínio, é capaz de car­regar até 40 quilos de peso, graças às esteiras do trator feitas especialmente de borracha que podem encontrar apoio tanto no chão quanto no teto.

O próprio Rudolf Gantenbrink foi responsável por todos os aspec­tos decisivos aplicados no desenvolvimento desse equipamento único. Ele próprio o construiu; o trabalho de precisão mecânica levou meses para ser concluído, muito suor e 100.000 libras, que ele próprio investiu nesta obra-de-arte da engenharia. Ele recebeu apoio técnico da empresa suíça Escap, de Genebra (motores especializados), da Hilti Ltda em Va­duz (tecnologia de perfuração) e da empresa Gore, em Munique (espe­cializada em cabos). O robô de Gantenbrink é um exemplo maravilhoso do que pode ser feito se, em vez de dizer “isso nunca vai dar certo”, se empregasse uma combinação de inteligência, tecnologia e força de vontade.

E o que levou Rudolf Gantenbrink a pensar que valeria a pena de­dicar tanto tempo e energia para penetrar a Grande Pirâmide? Afinal todo mundo certamente já sabia que não havia nada mais a ser encontrado ali. O repórter de rádio e TV Torsten Sasse, de Berlim, o questionou e obteve a seguinte resposta:

Tudo começou quando eu estava no Egito durante a Guerra do Golfo. Su­geri ao professor Stadelmann (do DAI, o Instituto Arqueológico Alemão) que seria válido observar mais de perto os “túneis de ventilação” — como eram chamados na época —, uma vez que agora possuímos tecnologia que nos possibilitaria fazer isso, e pelo fato de esses túneis também serem a última parte da pirâmide que ainda não havia sido examinada.

Em 1992 investigamos os túneis superiores com uma câmera de vídeo, e montamos um sistema de ventilação para ver se o ar fresco passaria por possíveis saídas. Já em 1992 concluímos que esses túneis levavam a al­gum lugar, mas não sabíamos onde ou como. Este foi o ponto de início de todas as minhas investigações.

O projeto subseqüente chamou-se Upuaut 2; devo explicar o nome a vocês. O robô foi batizado assim por sugestão do professor Stadelmann — Upuaut é um antigo deus egípcio e significa “Desbravador”.

O Upuaut 2 foi desenvolvido exclusivamente para investigar os dois tú­neis inferiores.

De quais túneis “inferiores” e “superiores” estamos falando aqui? A Grande Pirâmide contém três câmaras; e na opinião do professor Rainer Stadelmann, isso ocorre em todas as pirâmides egípcias. Stadelmann é conhecido como o “inventor” da “teoria das três câmaras”. Todo turista que fizer o esforço de subir a Pirâmide de Quéops poderá visitar duas dessas câmaras: a superior é chamada Câmara do Rei — assim batizada com base em esperanças, uma vez que nenhuma múmia foi encontrada ali — e a outra, um pouco menor, chamada Câmara da Rainha. Da câ­mara superior, dois túneis se dirigem diagonalmente para cima. Foram denominados túneis de ar. Neles, Rudolf Gantenbrink montou seu siste­ma de ventilação. Os turistas notaram-no pelo ar fresco que ia para a Câ­mara do Rei — mas somente por um curto período; o sistema não funciona mais. Isso não tem nada a ver com Rudolf Gantenbrink, mas com os atendentes da pirâmide que, por alguma razão que eles devem sa­ber, esquecem continuamente de ligá-lo.

Da câmara menor inferior também saem dois túneis: um na direção sul, e outro na direção norte. Portanto, as aberturas do túnel são opostas e têm a mesma altura que o fim do túnel de entrada. O robô de Rudolf Gantenbrink entrou no túnel sul. A terceira câmara fica na rocha, abaixo da pirâmide. Chama-se Câmara Inacabada.

Que motivo os especialistas atribuem à existência dos túneis que saem da Câmara da Rainha?

Não chegaram a um acordo. Alguns os consideram “passagens para as almas” outros “corredores modelo”, e finalmente foram considerados bocas de túneis de ventilação,3 ou passagens de ar. No entanto, esta últi­ma idéia não faz sentido, uma vez que os túneis só foram abertos no úl­timo século, quebrando-se as paredes. Em 1872, o inglês W. Dixon estava tentando localizar câmaras ocultas batendo em várias partes das paredes da câmara e escutando a profundidade do tom. Quando ele encontrou um som mais oco, pegou sua picareta e descobriu as aberturas dos “túneis de ar” alguns centímetros debaixo da superfície da pedra. Ambos os túneis têm proporções quadradas, 20x20 centímetros.

Pelo menos duas coisas estão evidentes: primeiro, não podem ser passagens de ar, pois para funcionar eles teriam de chegar à câmara; e segundo, devem ter sido parte do projeto original da pirâmide; seria im­possível fazê-los ou cavá-los depois de a pirâmide ter sido construída. Nem mesmo uma criança pode caber em um quadrado de 20 centímetros.

Os dois túneis da Câmara da Rainha não levam diagonalmente para cima como os da Câmara do Rei. Primeiro entram horizontalmente na pa­rede, depois começam a subir um ângulo de exatamente 39 graus, 36 mi­nutos e 28 segundos. A maioria dos egiptólogos concordou que os túneis “terminam depois de uma curta distância” até o robô de Rudolf Gantenbrink de repente provar que estavam errados.

 

                       O Desbravador

Em 22 de março de 1993, estava quente como sempre na planície da Pi­râmide de Gizé; e dentro da Grande Pirâmide estava úmido como sem­pre. Rudolf Gantenbrink havia montado uma mesa na Câmara da Rainha, feita de duas caixas e tábuas. Sobre ela ficava uma “estação” eletrônica e um monitor que transmitia imagens nítidas da câmera do robô. Tam­bém foi montada uma máquina de vídeo para gravar as seqüências da fil­magem. Enquanto um colega inseria cuidadosamente o leve e finíssimo cabo no túnel, e um egiptólogo do Ministério Egípcio para Monumentos Antigos observava a tela com crescente admiração, Gantenbrink contro­lava a alavanca de direção do pequeno robô com total concentração. Toda a equipe sofria pressão de tempo, uma vez que o Ministério para Monumentos Antigos havia decidido suspender essas investigações na­quele mesmo dia. Muitos agentes de viagem estavam reclamando porque não podiam levar os turistas para dentro da Grande Pirâmide enquanto faziam as investigações. O ministério também estava perdendo dinheiro, uma vez que a entrada na pirâmide não é gratuita.

Metro por metro, o monstro em miniatura criado por Gantenbrink superou a passagem íngreme. Os faróis da frente iluminaram cenas que ninguém havia visto pelo menos nos últimos 4.500 anos. Quéops, consi­derado construtor da pirâmide, governou de 2551 a 2528 a.C.

A lenta jornada passou por paredes lisas; o robô teve de transpor pequenas pilhas de areia e contornar inteligentemente fragmentos que ha­viam caído do “teto”. Finalmente, depois de 60 metros, veio a primeira surpresa: no chão, um pedaço de metal quebrado. Logo depois, a grande sensação. A câmera do robô transmitiu uma espécie de porta ou divisória, que fechava todo o túnel; na parte superior da porta havia duas pequenas hastes de metal, sendo que a da esquerda estava parcialmente quebrada.

Rudolf Gantenbrink conduziu o robô até a porta, mirando o feixe de laser na parte inferior. O feixe vermelho de 5 milímetros de largura desapareceu sob a base da porta. Isso indicou que havia espaço além. No canto inferior direito da porta, faltava uma parte da pedra. A câmera do robô captava uma poeira escura, que sem dúvida havia saído desta mi­núscula abertura no decorrer de milhares de anos. Mas a jornada do robô chegava a um impasse.

Michael Haase, um matemático de Berlim, determinou a posição da porta misteriosa.4 Fica no lado sul da pirâmide, a uma altura de cerca de 59 metros acima do chão, entre o 74° e o 75° nível de pedras. Se o túnel bloqueado pela porta continuasse no mesmo ângulo, levaria à parede ex­terna da pirâmide a uma altura de 68 metros. A distância horizontal da porta à parede externa equivale a cerca de 18 metros. Rudolf Gantenbrink naturalmente escalou a parede sul para investigar, mas não havia nenhum sinal nenhum da existência do túnel.

 

                     As Notícias Sensacionais Encobertas

A descoberta de um longo túnel de 60 metros dentro da pirâmide é uma sensação, a porta bloqueando-o, outra. Alguns podem ter pensado que os esforços e a realização de Gantenbrink seriam classificados pelos egiptó- logos como uma descoberta secular. Se um astrônomo descobre uma nova estrela ou cometa, é comum que ela leve seu nome. É por isso que agora eu chamo o “novo” túnel de Túnel Gantenbrink, assim como fazem meus colegas. A mesquinhez e inveja dos egiptólogos, por sua vez, ga­rantem uma visão diferente. Outros, dizem, já suspeitavam da existência do túnel. Isso é só um quarto da verdade. É verdade que as pessoas sa­biam da existência de aberturas horizontais que saíam da Câmara da Rai­nha tanto na direção norte quanto sul, mas ninguém sabia de uma passagem de 60 metros dentro da pirâmide. Ao contrário, as pessoas es­peculavam a respeito de “passagens para as almas” que “terminavam de­pois de uma curta distância”.5 E teorias não são descobertas. É possível suspeitar de todo tipo de coisa. Mas somente o engenheiro alemão Rudolf Gantenbrink descobriu a passagem de 60 metros e a porta no final dela.

O próprio Gantenbrink não está interessado em sensacionalismo. Sua preocupação principal é preservar o que restou da antigüidade. Ao mesmo tempo, ele quer injetar vida nova na arqueologia, e rejuvenescê-la com nova tecnologia. Ele é um homem honesto e trabalhador que gosta de solucionar enigmas e que coloca sua experiência e genialidade a ser­viço de uma ciência fascinante. Mas nada disso, aparentemente, é apre­ciado: Gantenbrink foi tratado com descaso.

Após a descoberta do Túnel de Gantenbrink, nada aconteceu por um bom tempo. Apesar de os especialistas do Cairo e do Instituto Ar­queológico Alemão (DAI) saberem da descoberta, nada se ouviu deles a não ser um gélido silêncio. O público não foi informado. Ninguém tinha permissão para dizer nada. E o público permaneceria no escuro até hoje, se as circunstâncias é o próprio Gantenbrink não tivessem feito algo a respeito. Gantenbrink mostrou uma cópia do extraordinário vídeo que o robô captou para alguns colegas; então a imprensa britânica ficou saben­do e, somente duas semanas depois da descoberta (!), publicou um artigo intitulado “Portcullis Blocks Robot in Pyramid”6. Este artigo também chegou ao Cairo via fax.

Qual foi a reação? O DAI no Cairo negou as notícias. “Isso é tudo futilidade”, disse a assessora de imprensa do Instituto Christel Egorov para a agência de notícias Reuter.7 Segundo ela, a passagem descoberta era apenas um túnel de ar, e o minirrobô simplesmente media a umidade. É bem sabido, diz ela, que não há outras câmara na pirâmide.

Não só podemos nos sentir enganados por isso, mas estamos sendo enganados! Os arqueólogos do DAI no Cairo tinham total consciência de que suas afirmações eram falsas. O robô que percorreu o Túnel de Gan­tenbrink simplesmente não tinha nenhum instrumento para medir a umi­dade.

E a coisa ficou pior. Dr. Rainer Stadelmann, o grande chcfe da egiptologia alemã e diretor do DAI, negou que houvesse qualquer possi­bilidade de uma câmara secreta atrás da porta do túnel. Ele disse aos jor­nalistas: “Todos sabem que todos os tesouros guardados dentro da pirâmide foram saqueados há muito tempo”.8 Seu colega, o egiptólogo Dr. Günter Dreyer, o apoiou: “Não há nada atrás daquela porta. É pura imaginação.”9

Antes de relatar como o estimado círculo de egiptólogos do Cairo se livrou de Rudolf Gantenbrink, devo “clarear” a opinião das pessoas sobre a estrutura interior da pirâmide.

É um absurdo afirmar que não há nada dentro da pirâmide além das três câmaras conhecidas, e que não há possibilidade de haver qualquer coisa atrás da porta. Se os arqueólogos do DAI dissessem que não se sabe se há algo atrás da porta misteriosa, estariam certos. Mas afirmarem categoricamente que sabem que não há nada lá não é apenas dogmático e anticientífico, mas também — ecoando as palavras do próprio DAI — “absoluta futilidade”.

Conhecimento dos Antigos

Vamos voltar um pouquinho e dar uma olhada na história. No século 14, havia antigos fragmentos árabes e cópticos nas bibliotecas do Cairo que o geógrafo e historiador al-Makrizi compilou em sua obra Hitat. Lá po­demos ler:

Onde o construtor das pirâmides tinha 30 câmaras de tesouro de granito colorido na pirâmide do oeste: elas estavam cheias de instrumentos e ima­gens feitas de pedras preciosas, com ferramentas do mais fino ferro, como armas que não enferrujam; com vidro que pode ser dobrado sem quebrar; com estranhos talismãs; com todo o tipo de medicamentos simples e com­postos; e com venenos mortais. Na pirâmide do leste havia a descrição das várias esferas celestiais e dos planetas, e imagens feitas das criações de seus antepassados; também o incenso oferecido às estrelas e livros sobre elas. Lá também se pode encontrar as estrelas fixas e o que acontece com a sua progressão de uma época a outra...

E a pirâmide colorida, finalmente, guardava os cadáveres dos videntes e adivinhos em esquifes de granito negro; e ao lado de cada adivinho fi­cava um livro, no qual estavam escritas todas as suas maravilhosas artes, a história de sua vida e os seus feitos.10

E quem deve ter erguido essas enormes construções? Quéops, como di­zem os egiptólogos? O Hitat, como já mencionei, nos diz:

O primeiro Hermes, conhecido como O Tríplice por suas qualidades de profeta, rei e sábio (aquele que os hebreus chamam de Enoque, o filho de Jare, o filho de Mahalelel, o filho de Kena, o filho de Eno, o filho de Seth, o filho de Adão — cujo nome é abençoado; e cujo nome também é Idris), leu nas estrelas que a inundação chegaria. Então ordenou que fossem construídas as pirâmides; e nelas ele escondeu tesouros, textos e manus­critos, e tudo que de outro modo se perderia, para que pudesse ser prote­gido e preservado.

Não é só no Hitat que Enoque é indicado como construtor da gran­de pirâmide. No século 14, o viajante e escritor árabe Ibn Battuta diz a mesma coisa:

Enoque ergue as pirâmides antes do dilúvio, para preservar dentro delas livros de conhecimento e ciência, bem como outros objetos valiosos.11

Nem é necessário mencionar que os egiptólogos ignoram essas tradições árabes. Eles têm certeza de que o construtor das pirâmides foi Quéops, mesmo havendo tantos argumentos convincentes contra tal ponto de vis­ta. Abordei isso em detalhes em meu livro Os Olhos da Esfinge.12

Os arqueólogos se comportam como se fossem surdos, cegos e mu­dos. Eu quase posso aceitar, embora relutantemente, que eles talvez não queiram considerar textos do século 14. Mas o fato de também rejeitarem a evidência da ciência moderna, se não estiver de acordo com sua dou­trina sagrada, me parece inacreditável. Exemplos dos últimos 25 anos fa­lam por si mesmos.

Em 1968-9 o vencedor do Prêmio Nobel de física, Dr. Luis Alva- rez, realizou uma análise da Pirâmide Quéfren usando radiação. Alvarez e sua equipe usaram o conhecido fato da física de que a radiação cósmica está constantemente bombardeando nosso planeta e, à medida que pene­tra massa sólida, perde uma proporção de sua energia. Uma medição exa­ta pode revelar a rapidez com que os prótons estão penetrando uma ca­mada de pedra. Se a pedra contiver espaços vazios, os prótons não são impedidos em sua passagem na mesma proporção. Alvarez mediu os per­cursos de 2 1/2 milhões de partículas com o auxílio de um transmissor e um computador IBM. Mas os oscilógrafos mostraram um padrão caótico, como se as partículas estivessem se curvando ao redor da terra. Era frus­trante e exasperante. O caríssimo experimento no qual vários institutos americanos, a IBM e a Universidade Ain-Shams do Cairo estavam envol­vidos terminou sem resultados claros. O líder da pesquisa arqueológica na ocasião, Dr. Amr Gohed, disse aos jornalistas que as conclusões eram “cientificamente impossíveis”; ele acrescentou que ou a “estrutura das pi­râmides é caótica” ou existe “algum mistério aqui que nós não explica­mos”.13 Os arqueólogos geralmente ignoram esses impressionantes resultados.

 

                           Datando a Esfinge

Em 1986 outra tentativa foi feita com novos instrumentos e métodos para buscar câmaras ocultas na Pirâmide de Quéops. Dois arquitetos france­ses, Jean-Patrice Dormion e Gilles Goidin, descobriram vários espaços ocos dentro da pirâmide com a ajuda de detectores eletrônicos. Mas isso não alterou a obscura opinião dos egiptólogos. Uma vez que um dos pa­trocinadores dessa investigação foi a comissão de eletricidade da França, a pesquisa foi descartada como uma jogada de marketing.

A mais importante investigação que se seguiu foi feita por uma equipe japonesa de cientistas da Universidade de Waseda, em Tóquio. Usando os equipamentos eletrônicos mais avançados, especialistas japo­neses tiraram raio-X do interior da Grande Pirâmide e de toda a área em volta da Esfinge. Eles encontraram nítidos indícios de todo um labirinto de passagens e câmaras dentro da Pirâmide de Quéops. Apresentaram seus resultados em um relatório que era um modelo de procedimento científico.14 E o que disseram os egiptólogos? Que essa pesquisa era, é claro, apenas publicidade e promoção para a indústria eletrônica japonesa!

A equipe do DAI no Cairo aparentemente não está interessada em coisa alguma. E seus colegas na Europa e em outros lugares geralmente não sabem quase nada sobre o que acontece no planalto de Gizé. Se cou­besse aos egiptólogos, nenhuma pesquisa teria de ser feita, pois eles já sabem tudo!

Em 1992, o geólogo Dr. Robert M. Schoch, da Escola de Estudos Básicos da Universidade de Boston, juntamente com outros cientistas, realizou análises e medições geológicas da Esfinge. Os resultados mos­traram que ela é pelo menos 5.000 anos mais antiga do que se pensava anteriormente.1'5 As pessoas geralmente acreditam que o faraó Quéfren (2520-2494 a.C) construiu a Esfinge. E isso não porque alguma prova real tenha sido encontrada, mas porque o nome “Quéfren” ainda é deci- frável em uma placa desgastada, caso se esteja determinado a ler assim. Este nome metade apagado nem pertence à Esfinge, mas a uma esteia (monólito) do faraó Tutmosis IV, que governou mais de 1.000 anos de­pois de Quéfren, de 1401 a 1391 a.C. Mas como Schoch chegou à opi­nião de que a Esfinge era pelo menos 5.000 anos mais velha do que Quéfren? Sua equipe plantou alguns receptores sísmicos no solo. Então foram geradas ondas sonoras, que permitiram que fosse feita uma pesqui­sa do que havia debaixo da superfície, um método que continua demons­trando-se útil na geologia. Os computadores analisaram os dados e produziram longas faixas de gráficos, que reproduziam um exato plano subterrâneo da Esfinge. Havia vestígios muito nítidos de desgaste a uma profundidade de 2,4 metros, ausente na parte traseira. Mas na parte tra­seira foram realizados consertos bem depois de a Esfinge ser construída.

Durante seu governo, o Faraó Tutmosis IV fez com que a Esfinge fosse desenterrada da areia e consertada.

As medições geológicas e análises químicas levaram a uma única conclusão possível: os fortes sinais de erosão e umidade derivam de uma época de chuvas prolongadas, que não havia ocorrido no tempo de Qué- fren. Assim como em anéis de troncos de árvores, foi possível datar a erosão a pelo menos 7.000 a.C.

E a reação dos arqueólogos aos dados de Schoch? Uma tempestade de indignação. Em uma conferência em Boston, Mark Lehner, da Univer­sidade de Chicago, descreveu Schoch como “pseudocientista”. O princi­pal argumento de Lehner foi o seguinte. Se a Esfinge realmente era tão antiga, deve ter existido uma cultura na época capaz de erguer tamanha obra-de-arte. Mas naquela época os seres humanos eram apenas caçado­res e ceifeiros. Finito!

Talvez faça parte da natureza humana quando alguém fica sem ar­gumentos razoáveis e posto contra a parede usar de insulto e abuso. Foi isso, de qualquer forma, que aconteceu no debate entre o arqueólogo Mark Lehner e o geólogo Dr. Robert Schoch. Lehner acusou seu colega científico de “credibilidade suspeita”. Por que esse ataque injusto? Um dos patrocinadores da investigação geológica de Schoch era um certo John Anthony West. E o Sr. West foi culpado por dois crimes atrozes: primeiro, ele não era um cientista, e segundo, ele já havia publicado li­vros nos quais assume a existência de uma civilização “mais antiga do que qualquer um de nós sabe” — sacrilégio, aos olhos de um arqueólogo “real”.

Os arqueólogos não estão interessados no fato de Schoch não ter sido o único geólogo envolvido na medição sísmica da planície de Gizé. Dentre os membros da equipe também estava o Dr. Thomas L. Dobecki, outros dois geólogos, um arquiteto e um oceanógrafo. Ninguém prestava atenção nenhuma à firme convicção deles de que as partes inferiores da Esfinge certamente continham canais de água que só poderiam ter sido formados como resultado de longa exposição à água. A anáüse geológica do Dr. Schoch foi totalmente condenada pelo atual diretor de antigüida­des em Gizé, o egípcio Dr. Zahi Hawass, como “alucinações america­nas”. De acordo com ele, não havia “absolutamente nenhuma justificativa científica” para fixação de nova data da Esfinge por Schoch.

Então parece que os egiptólogos não têm interesse em resultados que não sirvam a eles, mesmo que sejam científicos e obtidos por méto­dos científicos adequados. Eles determinam no que o mundo deve acre­ditar. Eles não notam que na verdade estão serrando o galho em que estão sentados. A opinião pública está cansada de confiar na ciência; e em uma ramificação da ciência que aceita outras ramificações somente quando confirmam que suas próprias visões quase não são dignas de confiança.

Outra das ciências exatas é a física, e no Swiss Technical College (ETH), de Zurique, o professor Dr. W. Wõlfli é reconhecido como uma autoridade. Ele aperfeiçoou o controvertido processo de datação do car­bono, por meio do qual a idade de materiais orgânicos pode ser medida. O professor Wõlfli, junto com vários colegas de outras universidades, analisou 16 materiais diferentes da Pirâmide de Quéops, dentre eles havia restos de carvão vegetal, farpas de madeira, fragmentos de palha e grama. O resultado? Todas as amostras eram em média 380 anos mais velhas do que os egiptólogos haviam deduzido a partir da cronologia dos reinos. Uma amostra da Pirâmide de Quéops na verdade era 843 anos mais velha do que se pensava.

Os físicos examinaram um total de 64 amostras orgânicas, e apli­caram vários métodos. Todas as amostras, sem exceção, indicaram datas com vários séculos a mais do que havia sido determinado pelos egiptó­logos. Mas não foram obtidas conclusões, nem novas perspectivas foram consideradas. Ao contrário: a antiga posição estava cimentada com novas desculpas. E se você acha que “desculpas” é um julgamento austero, eu pessoalmente considero isso um termo excessivamente suave para a fu­tilidade que esperam que engulamos.

 

                           Descreditando Gantenbrink

Os egiptólogos do DAI querem Rudolf Gantenbrink longe deles. Por quê? Ele não fez uma descoberta espetacular com seu robô? Ele não in­vestiu muito tempo e dinheiro a serviço da arqueologia, ajudando a avan­çar o estado de conhecimento? Foi anticientífico? De jeito nenhum — seus resultados podem ser repetidos por qualquer um a qualquer hora. Ele foi áspero ou mal-educado? De forma alguma. Gantenbrink é uma pessoa muito agradável. Ele deu início a todo tipo de especulações e boatos anti- científicos? Mais uma vez não; ele falou com a mídia de maneira bastan­te prudente e reservada. Ele sempre afirmou claramente que ninguém sabia se havia algo a ser encontrado atrás da porta de pedra no túnel re- cém-descoberto; ele recusou-se a especular a respeito. Então o que ele fez de errado? Por que ele é considerado uma persona non grata para os egiptólogos do DAI?

Ele falou à imprensa. Não saiu correndo ao encontro dos jornalistas e berrou suas descobertas para o mundo; os jornalistas souberam de sua descoberta fenomenal por meio de cientistas britânicos e procuraram-no. Afinal de contas o trabalho dos jornalistas é acompanhar e investigar acontecimentos interessantes. Mas Rudolf Gantenbrink não saiu um mi­límetro da linha — ele permaneceu comedido, factual e decentemente circunspecto. Ele deveria ter mentido e vendido gato por lebre aos jorna­listas? Gantenbrink não é um político!

Em um relatório da Agência de Notícias Alemã (DPA) de 27 de ju­nho de 1994, o jornalista Jõrg Fischer escreveu:

Mais uma vez, como em várias vezes nos últimos séculos, as gigantescas pirâmides de Gizé são o centro de elocubrações misteriosas e místicas... O expert em robôs Rudolf Gantenbrink, de Munique, anunciou indepen­dentemente sua descoberta à imprensa e disse suspeitar de que havia uma câmara fúnebre atrás da porta. “Alguns tablóides da Alemanha já encon­traram as cinzas de um faraó e um tesouro de ouro”, comentou o diretor do DAI, Professor Rainer Stadelmann, sobre o “absurdo” que ele diz já ter sido escrito sobre o assunto.

As palavras aqui atribuídas a Gantenbrink são infundadas. Ele nunca ex­pressou sua visão de que havia uma câmara fúnebre a ser encontrada atrás da porta. A mídia, muito mal informada, foi enredada a serviço de um professor que quer descreditar e pôr de lado o trabalho de Ganten­brink. Gantenbrink nunca deu informações voluntária e “independente­mente” para a imprensa, pois ele nunca foi membro do DAI e portanto nunca esteve sujeito a restrições de informações que este órgão possa ter tentado impor. O relatório da DPA, que foi transmitido em nível interna­cional e formou a base de muitos jomais, conseguiu atingir o objetivo de desinformação do professor. As pessoas deveriam acreditar que Ganten­brink estava publicando imaginações não-científicas. Isso, por sua vez, perturbou o governo egípcio de tal forma que este cancelou a permissão para mais pesquisas nos túneis das pirâmides.

 

                             Erro Acadêmico

Tudo isso fica mais claro depois em um relatório da DPA:

O arqueólogo [Dr. Rainer Stadelmann] exclui categoricamente qualquer possibilidade de uma câmara: depois de examinar as imagens registradas por uma câmera de vídeo operada por controle remoto e compará-las com o que se sabe sobre os três outros túneis, ele acredita que sua opinião será confirmada de que o túnel é um “corredor modelo”. A abertura que sai da câmara da Rainha e leva para cima cumpria o objetivo, conforme as crenças religiosas do antigo Egito, de permitir que a alma do faraó subisse ao céu. A poeira preta em frente ao bloco de pedra no final da passagem vem, de acordo com Stadelmann, das hastes metálicas erodidas na "porta modelo”.

Sua séria teoria e o fato — que ele repetiu constantemente — de que as pessoas não conseguiriam percorrer o túnel estreito, que dirá esconder um sarcófago ou tesouro lá, foi amplamente ignorada.

Qualquer um que não compartilhe da teoria do professor está, obviamen­te, no mundo da lua. Eu posso entender porque ele "exclui categorica­mente” a possibilidade de outra câmara. Foi ele quem inventou a “teoria das três câmaras”. A descoberta de outra câmara não se encaixaria bem nisso. E possível perceber até que ponto ele foi para salvaguardar sua teoria, se considerarmos que os espaços vazios de que temos conheci­mento na pirâmide somam 2.000 metros cúbicos, e que a Grande Galeria ocupa 1.800 metros cúbicos enquanto as outras câmaras compartilham o volume restante entre elas, mas que a Grande Galeria não deve ser con­siderada uma “câmara”.

E a idéia do “corredor modelo”? Vamos pensar por um instante. Os egípcios da antigüidade construíram a estrutura mais perfeita da história do mundo. Ela é formada por cerca de 2 milhões de blocos de pedra. O planejamento inicia] deve ter sido fenomenal: todos os blocos e escoras se encaixavam perfeitamente e com a maior exatidão; uma construção para a eternidade. Dentro da pirâmide é colocada uma passagem, que agora chamamos de Grande Galeria. Leva diagonalmente para cima em direção à Câmara do Rei, tem 46,61 metros de comprimento, 2,09 metros de largura e 8,53 metros de altura. Uma vez que as paredes da passagem se inclinam uma em direção à outra à medida que se elevam, o teto — de lajes de pedra horizontal — mede apenas 1,04 metros. Os gigantescos blocos de granito de ambos os lados do vão de 8,5 metros não ficam em um plano horizontal, mas como que para abalar nossa complacência, se­guem o ângulo de elevação da Grande Galeria. O formato dos blocos e lajes é de tamanha perfeição que o visitante dificilmente encontra alguma fenda ou junção. Antes de se chegar à Grande Galeria, é necessário cur­var-se e arrastar-se pela passagem ascendente.

Ainda não sabemos porque os construtores fizeram primeiro uma passagem estreita e baixa que levava à Grande Galeria. Mas o professor Stadelmann, com a certeza de um sonâmbulo, sabe que o Túnel de Gan- tenbrink é um “corredor modelo”, por meio da “comparação com três ou­tros túneis da pirâmide”. Por Osíris! Em que lugar da Grande Pirâmide existem “corredores modelo” para que se possa comparar? Eles sempre foram conhecidos como “passagens de ar”!

O Túnel de Gantenbrink é considerado pequeno demais para que um sarcófago, que dirá um tesouro, fosse transportado por ele. Mas então por que há um sarcófago de granito na Câmara do Rei com dimensões superiores à passagem ascendente? De acordo com a lógica do Professor Stadelmann, não deve estar lá.

Neste milagre da construção, destinado a sobreviver até o final dos tempos, os arquitetos do antigo Egito devem ter introduzido um “corre­dor modelo”, embora esteja oculto e na verdade não leve diretamente para fora da Câmara da Rainha. As aberturas de ligação só foram feitas pelo Sr. W. Dixon há cerca de 120 anos. Por este “corredor modelo”, a alma do faraó deve voar para as estrelas. O único problema é que o faraó nunca se deitou na Câmara da Rainha. E mesmo que um cadáver tivesse sido depositado ali e os túneis tivessem sido abertos desde o início, a alma do faraó não teria tido claro acesso ao firmamento. Conforme os egiptólogos, o Túnel de Gantenbrink está fechado por uma pedra atrás da qual não existe nada. Pobre faraó!

As teorias “sérias” dos renomados egiptólogos, e as repetidas decla­rações de que pessoas não poderiam ter passado pelo túnel estreito, que dirá terem escondido um sarcófago ou tesouro no final dele, beiram o completo absurdo. Consideremos outra possibilidade, uma outra maneira de observar toda a situação. Os arqueólogos sensatos consideram apenas que o Túnel de Gantenbrink leva para fora da Câmara da Rainha. Mas por que não pode também levar para dentro da Câmara da Rainha? Além da porta misteriosa do Túnel de Gantenbrink pode (não deve) haver uma câmara, com outro túnel de entrada superior, cuja abertura também pode ser emparedada assim como foi a abertura do túnel na Câmara da Rainha, antes de o Sr. Dixon pegar sua picareta e arrebentá-la.

Para colocar de outra forma, se um robô tivesse descido o Túnel de Gantenbrink, teria se deparado com a parede bloqueando a Câmara da Rainha, caso ela ainda não tivesse sido quebrada pelo Sr. Dixon. E todos os principais arqueólogos teriam se unido na opinião de que não poderia haver nada mais atrás dela. E ninguém teria se incomodado em perfurar a aparente barreira final, ou dissolvê-la com ácido. Isso é científico? Onde fica a curiosidade, a luta pelo conhecimento? Como se pode afir­mar a priori e categoricamente que não há nada mais a ser encontrado atrás da porta do Túnel de Gantenbrink? E como pode alguém que dis­corda ser considerado um lunático?

No final do túnel, o robô de Gantenbrink filmou duas hastes metá­licas na porta de pedra. O fato de serem de metal não pode ser negado, graças a Deus, devido a um pedaço de metal que está quebrado e no chão. Como apenas o cobre era disponível na época de Quéops, as hastes são consideradas de “cobre” com enorme certeza. Mas podem muito bem não ser. Entretanto o professor Stadelmann e seus pretensiosos egiptólo­gos ofereceram uma explicação “natural e razoável”, que ele descreveu para o jornalista de rádio e TV Torsten Sasse:

Mas para que serve este [puxador de cobre]? Primeiro nós pensamos que podia estar ali por alguma razão técnica. Mas devido a sua finura, exclui­ria esta possibilidade e assumiria que trata-se de um sinal hieroglífico de­corativo. E, caso seja, tem algum conteúdo simbólico. Devemos nos perguntar então qual o significado. Poderia talvez ser o sinal da flor de ló­tus, que é o símbolo do sul. Ou, talvez mais provavelmente, o sinal shuut em egípcio antigo — que é uma espécie de guarda-sol carregado atrás do rei quando desfilava a corte real. Se é isso o que são, então podiam estar lá à disposição da alma do rei para que ela usasse quando fosse voar para o céu.

Meu Deus! Que monte de interpolação injustificada. A Grande Pi­râmide é totalmente anônima: não sabemos nada a respeito da equipe de arquitetos e engenheiros construtores, ou sobre o sacerdote ou faraó en­volvido em sua construção. Não há uma única inscrição para nos dar uma pista sobre como foi construída. Ninguém deixou nenhum vestígio que pudesse nos ajudar a responder uma única pergunta sobre a construção da pirâmide. Na própria pirâmide não há hieróglifos, nenhuma parede é coberta de inscrições, como encontramos em outras instalações tumulares do antigo Egito. Acredita-se que Quéops e sua suposta força por trás da construção tenha sido devido a um déspota que tinha a idéia de deixar a maior construção de todos os tempos. Entretanto ele mesmo e seus ser­vos esqueceram de homenageá-lo em texto ou imagem. Nenhuma peque­na inscrição foi colocada ali em homenagem ao faraó Quéops, em nenhum outro lugar se pode encontrar registros de um feito heróico deste suposto egomaníaco. Todas as paredes, corredores e câmaras da Pirâmide Quéops são lisamente polidas — elas nunca, hoje ou no passado, foram decoradas com uma única palavra. Perfeito anonimato.

E ainda assim devemos acreditar que no final do Túnel de Ganten- brink fica o hieróglifo shuut, colocado lá para que o faraó pudesse subir para junto de seus ancestrais sem se queimar ao sol ? E uma idéia que — para ser pacífico — não me sensibiliza nem um pouco!

Na parte inferior da porta no final do Túnel de Gantenbrink falta uma pequena parte triangular. Foi lá que o olho do robô captou a imagem de um pequeno traço de poeira preta. O professor Stadelmann acha que trata-se de poeira do metal erodido das hastes.

Mas vamos ponderar por um instante: os egiptólogos versados acre­ditam que o Túnel de Gantenbrink é apenas um “corredor modelo” que foi fechado no final com uma pedra; mas neste caso não haveria o menor sinal de ar ou vento. Só a peça metálica da esquerda quebrou; mas a poeira fica no canto direito. Será que espíritos da poeira passaram por ali? E se as hastes metálicas tivessem enferrujado silenciosamente duran­te os milênios, a poeira preta teria ficado na base da porta, diretamente abaixo delas. Mas não. Foram parar no pequeno buraco triangular, como se uma fraca corrente de ar a tivesse soprado. Tal corrente de ar sugere que o Túnel de Gantenbrink estende-se além da porta. Ou que há uma câ­mara atrás da porta para a qual outro túnel leva. 0 feixe vermelho de 5 milímetros de largura do robô Upuaut também passou sob a porta. Se aquilo é uma porta ou uma pedra de fechamento final, ela não fica total­mente plana sobre o chão do túnel. Será que isso não deveria nos fazer pensar? Obviamente não: os egiptólogos concordaram entre eles que tra­ta-se de um “corredor modelo”, então não é necessário mais pesquisa!

 

                             Dissipando a Confiança

Em 5 de agosto de 1993, o diretor do Museu Egípcio em Berlim, Dr. Die- trich Wildung, escreveu no Frankfurter Allgemeine Zeitung:

Os egiptólogos sem dúvida têm razão em agradecer ao especialista técnico [Rudolf Gantenbrink]. Entretanto, ele é incapaz de resistir à tentação de obter para si mesmo uma espécie de publicidade sensacional, e começou a explorar o pântano do misticismo das pirâmides e tesouro imaginário. E eis que surge Erich von Däniken no palco, interpretando a poeira preta no canto inferior da laje de pedra como um sinal da múmia oculta do Rei Quéops. E onde há uma múmia intocada, não muito longe também deve haver um tesouro inestimável, que desde Heródoto incitou a imaginação do mundo. Os mecanismos automáticos da arqueologia tradicional iniciam a rotina; e os mais precavidos e cuidadosos especialistas são descartados como homens de ontem, relutantes em livrar-se do lastro do tradicionalismo e intelectualismo.20

Este é o tipo de futilidade com a qual os egiptólogos fiam o seu confor­tável casulo e disparatam aqueles que pensam diferente. Nunca sonhei em pensar que a poeira preta indicava que a múmia do Rei Quéops ficava atrás da pedra. Esta idéia veio de David Keys, o arqueólogo correspon­dente do jomal The independent.21 Eu nunca teria tido uma idéia dessas, uma vez que não acredito que a Pirâmide de Quéops pertencia a Quéops. muito menos que contém um túmulo.

Então, o que eu acredito que há atrás do bloqueio no Túnel de Gan­tenbrink? Provavelmente o mesmo que está escondido em todas as outras câmaras não descobertas: textos e documentos de todo tipo, como suge­riram os historiadores árabes do século 14 mencionados anteriormente.

David Keys chamou a atenção das pessoas para outro item curioso: a distância vertical entre a Câmara da Rainha e a Câmara do Rei é de 21,5 metros, que equivale exatamente à distância entre a Câmara da Rai­nha e a porta no final do Túnel de Gantenbrink. Seria coincidência ou uma nítida evidência de outra câmara?

Os especialistas do DAI agora gostariam de investigar o túnel norte que leva para fora da Câmara da Rainha. Rudolf Gantenbrink também pensou nisso. Eu pessoalmente acho que deveria-se concluir uma tarefa por vez. Há várias sugestões para abertura, quebra ou até corrosão da porta. Por que as opiniões, o trabalho e conhecimento de alguns como Rudolf Gantenbrink subitamente passam a ser indesejados? Como acadê­micos, que geralmente em outras circunstâncias são bastante razoáveis e abertos, até bem-humorados, podem de repente agir de forma tão excên­trica e dissonante?

Só posso imaginar que estejam com inveja. Os melhores arqueólo­gos estão profundamente magoados porque alguém que não é arqueólogo conseguiu fazer uma descoberta inesperada. Eles estão amargurados por­que Gantenbrink fez declarações à imprensa. Ou será que querem escon­der o que pode haver por trás da porta? Querem guardar qualquer descoberta para si mesmos, longe da plebe, e examinarem secretamente?

O         que é irrefutável é que os cientistas do Egito não desejam ter qualquer interesse ou envolvimento público naquilo que eles sabem. Qualquer informação que concederem é antes censurada por eles. Sem dúvida eles não querem jornalistas ou observadores neutros presentes quando a misteriosa porta for aberta. Não querem câmeras de TV regis­trando para o mundo o que foi descoberto. Não querem que mais nin­guém, de nenhum outro ramo da ciência, analise as hastes de metal da porta. E este segredo infantil é, como dizem os egiptólogos, somente para permitir que realizem suas investigações em paz. Posso entender este de­


sejo; mas não se trata de um túmulo insignificante. Trata-se da Grande Pirâmide, que fascina a humanidade há milhares de anos. É a mais gigan­tesca construção do planeta, uma das maravilhas do mundo, um monu­mento em torno do qual giram lendas e histórias há milênios. A egiptologia está perdendo sua chance de demonstrar amplamente ao mun­do que seus procedimentos são corretos e cientificamente rigorosos. Está desperdiçando a possibilidade de mostrar aos apoucados e místicos — que acreditam haver segredos e conspirações em cada canto — os fatos com clareza; de mostrar de uma vez por todas o que há realmente lá.

Ou estariam eles realmente assustados com o que podem encontrar no final do Túnel de Gantenbrink? Os arqueólogos não eram tão ame­drontados antigamente. Quando os túmulos de Tutankhamun e Sekhemk- het foram abertos, foi permitida a presença dos jornalistas. Desde então, redes de mídia global, que permitem que imagens ao vivo do robô de Gantenbrink sejam transmitidas simultaneamente para milhões de lares em todo o mundo foram desenvolvidas. Não haveria necessidade de uma multidão de jornalistas se espremendo na Câmara da Rainha e perturban­do a paz e o silêncio de alguém. Mas imagens ao vivo é que são neces­sárias, captadas no momento em que as descobertas estão sendo feitas, não imagens editadas, liberadas dias, semanas ou meses depois e acom­panhadas de uma lenda escorregadia que deixe tudo tolerável ao status quo.

Imagine simplesmente se os americanos realizassem a aterrissagem na lua secretamente, e semanas se passassem até que a NASA liberasse imagens censuradas para o mundo. O clamor seria completamente justi­ficado: “O que estão nos escondendo ? O que têm a encobrir? Por que nós que pagamos impostos devemos financiar uma organização que nos trata como crianças?”

Os egiptólogos do DAI e do Ministério Egípcio para Monumentos Antigos comportam-se como se a franqueza fosse uma ameaça. Aqueles que evitam a análise minuciosa pública e se fecham em segredo têm algo a esconder. Se alguém começa a ocultar algo, vai acabar tendo de perpe­tuar a decepção. Enquanto as “políticas de informação” dos egiptólogos se consomem em táticas de esquiva e segredos, o público não terá razão para acreditar no que dizem. Não importa quantas pessoas de boa-fé e aparentemente honestas anunciem que, conforme esperado, nada foi en­contrado atrás da porta do Túnel de Gantenbrink; a opinião pública não será enganada, pois os egiptólogos terão perdido a chance de ganharem confiança.

O antigo historiador romano Cornélio Tácito (55-120 d.C.) falou tudo. “Aquele que não gostar de críticas, deve mostrar que não as me­rece.”

 

 

* N. R.: Segundo "Os significados dos versículos do Alcorão Sagrado” — Tradução do Prof. Samir El Hayek — Centro de divulgação do Islã para América Latina, 1989.

 

* N.R.T.: Search for Extraterrestrial Intelligence — Busca de Inteligência Extraterrestre — programa científico com finalidade de detecção de sinais inteligentes com sofisticados sistemas de antena.

 

 

                                                                                Erich Von Daniken  

 

                      

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