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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O ROMANTICO
O ROMANTICO

                                                                                                                                                  

 

 

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 22

Laclere se desfez dos policiais lhes assegurando que sua irmã estava em choque. Deu sua palavra de cavalheiro, que a Condessa de Glasbury voltaria a Londres imediatamente, para atender os preparativos do funeral de seu marido.
Ninguém na carruagem disse uma só palavra durante a volta à cidade, Julián manteve Pen em seus braços durante todo o caminho. Embora sua voz estivesse tranquila, seu coração não estava. O conde estava morto. Penélope estava livre e segura. Sua alma desejava especular o que isso poderia significar. Pen descansava seus cabelos em seu ombro, esquentando-o como o calor do inverno, depois de um magnífico verão.
Não se atrevia a liberar as emoções que estavam a ponto de explodir dentro dele. Preocupavam-lhe as circunstâncias da morte de Glasbury. Quando chegaram na casa de Laclere, Julián desceu da carruagem e encurralou Vergil assim que sua carruagem parou.
Levarei Pen para seu escritório, ninguém vai se juntar a nós, nem mesmo você. Envia uma mensagem a Nathanial Knightridge e peça que venha aqui imediatamente. Quando chegar, por favor mande ele para o escritório.
— Knightridge? Julián não está pensando…
— Vergil, só faça isso.
Julián tirou Pen da carruagem e rapidamente a escoltou ao escritório de Laclere. Ela estava tão perturbada que ele teve que fisicamente sentá-la em uma cadeira.
Encontrou o suplemento de brandy de Vergil e lhe ofereceu. — Está aturdida, querida. Toma um pequeno gole disso.
Ela obedeceu e um pouco de cor voltou para seu rosto.
— Estou me sentindo estranha Julián, como se estivesse intumescida e não acredito inclusive, que entenda bem a notícia.
— Essa reação é normal, só descansa tranquilamente agora.
— Eu desejei tanto isso, meu Deus perdoe-me, algumas vezes desejei que estivesse morto. Era uma admissão parecida como essa, feita enquanto estava em choque que ele queria evitar que outros escutassem.
— Nem sempre podemos controlar nossos pensamentos, não deve se sentir culpada por eles agora.
Ela fez um valente esforço para recuperar-se. Ele podia ver como ela refazia as peças novamente e as juntava.
— Julián esses homens. A polícia. Por quê nos seguiram para levar essa notícia?
Quando ele não disse nada, sua cabeça se inclinou pensativamente e uma compreensão dos fatos entrou em seus olhos.
— Eles pensam que eu tive algo a ver com isso, não é?
— Eles vão fazer algumas perguntas, de todas as formas é claro, você não teve nenhum contato com Glasbury desde que retornou a Londres, uma vez que eles confirmem que você não esteve fora dessa casa sozinha, ficarão satisfeitos e tudo terminará assim.
— Exceto se estive. Saí sozinha.
— Desculpe?
— Tive que deixar a casa e sair sozinha, bom não realmente sozinha, mas sem a Bianca ou qualquer criado.
— Diabos.
— Quando foi isso querida?
— Ontem à noite. — Jesus.
— Catherine procurou-me. Ela esteve aqui com sua filha e sabia que seu marido podia estar procurando-as, assim as levei para o navio de St. John e lhe dei alguns dos meus documentos.
Descreveu-lhe os eventos dessa noite, o advogado nele escutava da mesma forma que um tribunal faria. Ele viu o tempo e os buracos em sua história, que a faziam terrivelmente vulnerável.
— Quem mais sabe que fez isso, além de Catherine e o capitão do navio?
— Uma criada e um lacaio. E o cocheiro da carruagem de aluguel é claro. — Mais de um, o que significava muitos, um poderia comprar, outros enviá-los para longe, escondê-los. Ela ainda parecia aturdida, nada em sua expressão indicava que compreendesse o perigo.
Ele a levantou e se sentou novamente com ela em seu colo e a abraçou.
— Estou esperando que chegue um homem, só falará com ele antes de alguém mais. Enquanto não chega, pensemos a respeito de coisas melhores. O que fará agora Pen? Seu objetivo era ficar livre dele e de repente está.
Ela o olhou com um estranho assombro.
— Isso é o que não pude me acostumar ainda, acredito que não tenho a mínima ideia do que vou fazer com essa liberdade. Nunca me atrevi a sonhar, de como viveria depois disso.
Ele a beijou na testa, seu coração estava agitado. Se ela nunca planejou ou sonhou com isso, significava que nunca acreditou que pudesse acontecer.
— Obrigado, Condessa. Acho que tenho uma clara ideia dos fatos agora.
Pen se levantou para deixar o escritório. Nathanial Knightridge lhe dirigiu um sorriso tranquilizador, Julián a escoltou para a porta e a entregou a Laclere que estava esperando do lado de fora. Julián fechou a porta, antes que Lacrere pudesse pensar em entrar.

Knightridge estava muito confortável no escritório de Laclere, fez algumas anotações a mais em uma folha que tinha usado, deixou a pluma e se sentou na cadeira. Era um homem alto, jovem e atlético, com uma presença convincente. Seu escuro cabelo dourado emoldurava seu rosto, com olhos escuros que atraíam a atenção do público com facilidade. Esses detalhes físicos, junto com uma tendência à extravagância e um brilho inegável, o fizeram muito bem sucedido no Velho Bailey. Com seus só vinte e seis anos de idade, Knightridge se transformou em um famoso advogado de defesa. Possuía um inegável talento para a exploração de alguns movimentos e estratégias permitidas à defesa, para aconselhar em processos criminais.
— Vou lhe dizer francamente Hampton. A palavra na sala foi um caustico veneno.
— Ele foi encontrado em seu armário e o sangue encontrado ali, indica que se produziu uma hemorragia intestinal. Havia dois copos e uma garrafa de vinho também ali. Os restos de um dos copos cheirava a algo mais do que vinho. Portanto, houve um convidado e o convidado o envenenou. Esse é o pensamento da polícia.  
— Suspeitam da condessa? 
— A perseguição dela pelo caminho demonstra que sim. Ela pode entrar na casa por uma razão. É provável que achem que se encontrou com ele, pretendendo uma reconciliação e depois cometeu o assassinato. Se não fosse uma condessa e seu irmão, não fosse um membro do reino, ela já estaria na prisão. 
— É claro que fala sem rodeios.  
— Se quiser que minta e ofereça uma falsa esperança, posso fazer.  Mas isso não lhe ajudará, no entanto.
— Não, não ajudaria. Julián olhou pela janela, sem ver nada. 
Teria que tê-la obrigado a pegar um navio para os Estados Unidos.  Ele deveria lhe suplicar de joelhos, que fugisse na escuridão com ele e encontrassem um novo mundo para eles mesmos. Deveria que lhe ter pedido para que fosse seu amante, sem desculpas quando considerava suas opções no cemitério de Bruton. 
Ela aceitaria? Poderia a proteção que lhe ofereceria ser suficiente para persuadi-la? Será que ela se importava tanto, para sustentar uma relação de conveniência com ele para o resto da vida? 
— Acha que ele fez isso? Knightridge falou com suavidade, como se discutissem sobre um batedor de carteira. 
— Diabos, é obvio que não.  
— Então, deve manter a cabeça clara, do contrário não terá nenhuma utilidade para ela. Ocorreram-me várias formas de defendê-la e abrir uma porta para uma apelação bem sucedida diante a equipe do Rei. 
Entretanto, se ela tratar de fugir e for surpreendida fazendo algo assim, será o laço que a levará a forca.  
 Knightridge o olhou bruscamente, como se procurasse a segurança de que suas advertências tinham sido escutadas. Julián aceitou a reprimenda em silêncio. Na verdade tinha começado a debater-se como ajudaria em sua fuga. 
— Se ela precisar de seus serviços, a defenderia?  
— Não poderia resistir a aceitar. Não só por sua amizade, mas sim porque promete ser muito dramático. As vendas dos desempenhos serão surpreendentes.  
— Eu nunca negaria à você o drama ou a fama que receberá, mas lembre-se que estamos falando da vida de uma mulher.  
— Nunca me esqueceria disso meu amigo. Estamos falando também da vida de sua amante, certo?  Continuando sendo franco, isso é mais que um motivo. Se não pode confiar em mim para fazer o melhor por ela, é melhor que o recomende outro homem.  
— Não. Tem que ser você. Está decidido.  
 Knightridge dobrou sua página de anotações e se levantou.— Diga a sua família que se interponha diante a polícia o maior tempo possível. Deve desmaiar cinco vezes ao dia ou o que seja que fazem as mulheres quando estão angustiadas. Peça para que Laclere envie alguém a Marselha imediatamente, para ver se a Sra. Langton pode voltar. Com sorte espero que tenha sido transferida para outro navio antes de encontrá-la. 
— É possível que se negue a voltar. Ela roubou sua filha e não vai querer correr o risco de ter que devolvê-la.
 — Deve fazer ela voltar. Vou colocar um anúncio nos jornais, enquanto isso, com a esperança de localizar o cocheiro da carruagem de aluguel, que a condessa alugou na noite anterior. Acho que sua única esperança de evitar a prisão é ele se apresentar. 
— Sim, claro, é um bom primeiro passo. As pessoas costumam a fazer isso? Apresentar-se? 
— Lamentavelmente eles cheiram qualquer assunto relacionado com um crime, ele quase nunca aparecem. Mas vamos esperar o melhor. 
— Não posso ficar. 
  Foram as primeiras palavras que Julián havia dito na última hora. O coração de Pen afundou e ela se enrolou mais em seus braços.
Sua declaração tranquila lhe havia dito que essa seria sua última vez juntos sozinhos,  por um longo tempo.
Talvez para sempre.
— Meu irmão está muito preocupado. 
— Laclere sempre se preocupa quando os que ama estão com problemas. 
— Estou com mais problemas do que qualquer um de nós esteve antes, não é? Inclusive Dante, nunca se viu envolvido em um desastre como esse. 

 


  Haviam feito de tudo, para melhorar a cara de sua precária situação, depois que Nathanial Knightridge foi embora. Quando Julián explicou o assunto a Laclere e a  Bianca,  todos riram achando engraçada a suspeita contra Pen.
Ela poderia ter se tranquilizado se não os conhecesse tão bem. Mas ela olhou através da indiferença forçada de seu irmão e viu as luzes, de uma profunda preocupação nos olhos de Bianca. 
E Julián foi muito cuidadoso com ela nessas últimas horas. Muito suave e protetor. Extremamente doce, mas do jeito que se faz com alguém em seu leito de morte. 
— Tudo ficará bem Pen.— Beijou-a como se nunca pudesse tê-la mais, o que quebrou seu coração. 
— Se não pode passar a noite comigo, é porque não tem certeza que tudo ficará bem,— lhe sussurrou.— Acha que poderá acontecer um julgamento e que as provas de que tive meu amante à cama, justo após a morte de Glasbury soará como se estivesse dançado sobre seu caixão? 
— Eu não acho que haverá um julgamento. Foi dito à polícia que está muito afetada para falar com eles, no entanto, não posso me entreter aqui.  
— Então tenho que fingir que choro sua morte?  
— Deve se retirar totalmente da sociedade. Se isso se interpretar como duelo, que assim seja.  
Ele não estava sendo honesto. Ela suspeitava que estava preocupado que acontecesse um julgamento. Sem dúvida. Não tinha problemas em ver como sua ausência na noite anterior seria vista. Se o condutor não fosse achado, nunca seria capaz de provar para aonde tinha ido. 
 Ela o manteve abraçado e fechou os olhos para que não existisse nada, exceto ele. Ela lhe fechou a cabeça e o coração para todo o restante e habitou na segurança feliz de seus braços. 
 A doçura foi tocada pela incerteza que enfrentavam. Ela era capaz de bloquear o mundo, mas essa intimidade estava encharcada com um medo intenso que nunca poderiam compartilhar isso de novo. 
— Nem sequer poderá me visitar durante o dia?  
— Eu sou advogado de sua família. Posso visitá-la durante períodos curtos.  
Pelo menos o veria. Não podia ficar sozinho com ela, mas não desapareceria totalmente. 
Essa ideia não a ajudou muito. Ela queria que a abraçasse desse modo durante os próximos dias. Ela não sabia como ia sobreviver às noites e as horas de solidão imaginando o pior, sem o tê-lo ao seu lado. 
De repente, todas as implicações de sua vulnerabilidade a inundaram. Se ela fosse julgada e declarada culpada, inclusive o abraço de Julián não poderia manter o terror que se construía dentro dela. 
— Pelo menos, não queimam mais na fogueira às esposas que matam seus maridos. Ou é diferente quando se trata de um conde? É traição à pátria, então?  
— Pen, não pense nisso.
— Talvez  permitirão que eu tenha primeiro a misericórdia de um garrote, da mesma forma em que foi feito com uma pobre mulher no norte, quando eu era uma menina. 
— Querida, não deves pensar nessas coisas. 
Ela não podia deixar de pensar. Prevendo a mesma sorte. Um tremor a sacudiu.
— Eu quero saber o que estou enfrentando. Talvez só vão me enforcar.  Talvez minha condição signifique que receberei uma corda de seda. 
Ele a virou para que pudesse olhá-la nos olhos. – Não deve assustar a si mesma com essas especulações. Eu não permitirei que sua vida corra perigo. Não vai a julgamento.
O tremor venceu sua compostura. Olhou de novo através de uma cortina de lágrimas. Ele a tomou em um abraço apertado. 
— Pen, prometo que você não vai ser machucada. Juro para você. Esse é um dragão que eu definitivamente vou matar. 
Ela engoliu as lágrimas quentes para que ele pensasse que ela acreditou.— Eu não espero que o mate.
— Dessa maneira,— disse. Ele lhe mostrou onde colocar as pernas quando a guiou para baixo sobre seu colo. Com suas anáguas em seu peito, sentou-a escarranchada e deixou suas pernas pendurando pela parte de trás do banco. 
 Ele levantou seus quadris e entrou nela até ficarem unidos totalmente. A conexão era muito estreita e profunda. Eles ficaram de frente um para o outro, sem mexer-se, simplesmente compartilhando a sensação de como ele a enchia. 
Ela memorizava a expressão de seu rosto, gravava em sua cabeça a calidez profunda de seus olhos e a gravidade emocionante de seu desejo. Nesse olhar ela entendeu todos seus mistérios. Que absorve tudo, não sabia que nome dar ao que viu, assombrada uma vez mais, como esse homem continha tais paixões escondidas.
Ele a olhou o tempo todo, enquanto fazia amor. A medida que se mexiam, com o olhar exigia que acreditasse nele, que a protegeria. Sua aura inteira lhe disse, que nunca permitiria que sua mulher sofresse nenhum mau. 
Ela se submeteu. Se deixou convencer um pouco mais. A medida que sua paixão se tornou furiosa, entregou-lhe até seus temores. 
 Pela última vez ela era livre e segura, em um lugar onde só ela e Julián existiam, a intimidade criava um escudo contra as coisas feias do mundo.


Os anúncios foram publicados nos jornais. 
Não só um condutor de carruagem de aluguel se apresentou. Laclere fez correr a voz de que estava oferecendo uma recompensa. 
Sessenta e quatro condutores de cavalos de aluguel compareceram. 
— Todos eles disseram que levaram a senhora da casa de Laclere naquela noite que o conde morreu,— explicou Knightridge  a Julián quatro dias depois.— A metade deles dizem que ela tinha outra mulher com ela.  
— Isso é uma hipótese previsível, já que as damas não saem sozinhas.  
— Por desgraça, sim. O que é pior, pelo menos vinte dizem que a levaram a casa do conde de Glasbury. Algo sem imaginação em suas mentiras e inclusive, sabendo que é seu irmão quem oferece a recompensa, descrevem uma história que se ajusta aos rumores. Não se sabe se nosso homem está inclusive entre eles, mas vou continuar com as minhas perguntas e tentar determinar isso.  
— E o lacaio?  
— Uma carruagem de aluguel é igual a outra no escuro.  
 Tinham se conhecido em um botequim em Smithfield, longe dos colégios de advogados. Knightridge usava um casaco azul de montar a cavalo com um corte surpreendentemente simples, por isso Julián supôs que tinha interrompido um dia de folga para essa reunião. 
— Estou certo que algo se apresentará em breve,— disse gentilmente Knightridge. 
 Julián não perdeu o tom. Ele o tinha usado também com muita frequência em seus casos.— Pensei que me livraria das mentiras e falsas esperanças.  
— Estou tentando ser simpático.  
— Preciso que seja honesto.  
— Como quiser. Acho que manhã ou um dia depois vão exigir falar com ela. Também acho que  será presa.  
— Sem dúvida, o próprio pessoal de Glasbury deve saber quem visita a casa.  
— Se o fizerem, não estão dizendo. O que não ajuda à condessa, é claro. Se supõe que tratam de protegê-la. Um deles, um velho cozinheiro, disse que o conde de vez em quando, recebia visitas que nenhum deles via. O que faz parecer que Glasbury exigia isso, para que deixassem que a pessoa entrasse sem apresentar-se. Não há indícios de que isso aconteceu é obvio, mas o vou usar em nosso beneficio.  
Knightridge parecia que já estava planejando sua atuação nos tribunais. 
— Como vê as coisas nesse ponto? Julián perguntou, muito certo que não queria ouvir a resposta. 
— Casos como esses são muito públicos. Os jornais especulam que já foi decidido quem será o jurado. Sua discrição recente foi sábia, mas receio que foi muito tarde. Eu vejo as dificuldades que surgem. As opiniões das pessoas tem muito peso nesses casos. Os jurados e os juízes jogam como audiência também. No entanto, é obvio que sabem que estão olhando muito atentos a St. James.  
— Em outras palavras, a que quer dizer.  
— Se fosse uma mulher sem nome e de classe baixa, acredito que poderia obter uma sentença absolvição porque não há provas. No entanto, o romance público deixa claro que ela desejava ser livre e isso afetará as coisas. A menos que algo novo se desenvolva, direi a você que não estou otimista. 


 Julián tinha entrado no botequim com um peso agasalhado no peito. Havia tido a esperança contra todo senso racional, que Knightridge poderia lhe dar alguma confiança e aplacar seus próprios medos crescentes. Em seu lugar, Knightridge só havia confirmado. 
Imaginou Pen sentada na casa de Laclere. A viu enfrentando as perguntas e como a levavam. A imaginou na prisão. Sentia seu medo como se compartilhassem a mesma alma. 
— Sinto muito, Hampton. Sinto que deveria citar algumas poesias para acalmar você da angustia. O problema com a poesia é que não resolve os problemas reais, não é verdade?  
Uma resposta sarcástica estava se formando na cabeça de Julián, mas morreu antes de chegar a seus lábios. Outra reação tinha substituído, organizou em sua cabeça a ideia que lhe havia apresentado. Na verdade, nesse caso, a poesia poderia resolver o problema totalmente.

 

 

 

CAPÍTULO 23

 Laclere entrou no escritório de Julián em Russell Square na noite seguinte. Sem dizer uma palavra, se serviu de uma bebida. Se sentou perto da cadeira de Julián ao lado da lareira enquanto bebia. 
Ele estava com uma aparência horrível. Desfocado e cansado. As rugas entre as sobrancelhas pareciam agora permanentemente gravadas. 
— A polícia são uns asnos,— murmurou.— Pergunto-me se foi prudente formar essa instituição, quando tais homens estúpidos se sentem atraídos pelo dever. Esse Lovejoy é ofensivo. Acredito que a morte do conde quer dizer que ele está fora do emprego privado, pela forma em que atua contra minha irmã.  
— Como Pen está passando?  
— Ela é muito valente. Mais valente do que eu, com certeza. Estou enojado com todo o assunto. Vejo o desenrolar de um futuro terrível para ela e não posso fazer nada para evitar.  
Julián deixou ao lado o livro que estava lendo. – Na verdade, talvez possa. 
— Por isso me pediu que viesse? Sim há um talvez, só me explique e vou fazer com segurança. 
— Necessitará que você faça algo um pouco desonroso e que o admita.  
— Para o inferno com a honra. Estamos falando da vida de minha irmã. Seja breve Hampton. Não estou com humor para sutilezas.  
— A maneira mais segura de evitar a detenção de Pen é oferecer outra pessoa à polícia em seu lugar. -
— Sim, mas quem? Inclusive Knightridge não tem teorias sobre quem matou realmente Glasbury.  
— Eu não fui para casa naquela noite, depois que nos separamos fora do clube Vergil. Tampouco fui encontrar Penélope. Eu não estive em um lugar onde alguém me visse.  Durante duas horas, eu estive caminhando pela cidade sozinho. Mais tarde visitei sua irmã e o lacaio da noite pode confirmar a hora que entrei em sua casa.  
A expressão de Laclere caiu. Olhou para o fogo.— Não posso permitir isso. Não vou deixar que sacrifique a si mesmo.  
— Está certo do que está fazendo?  
O olhar de Laclere se quebrou de novo nele. 
 Julián assumiu sua mais calma reserva a fim de que, os olhos de questionamento de seu amigo não encontrassem a resposta. O ar do escritório ficou muito carregado. 
— Há documentos incriminatórios, escritos por minha mão,— disse Julián.— Estão na gaveta daquela mesa que está ali. Se tiver o menor motivo para suspeitar de mim, pode ser desculpado pela oportunidade de olhar essa mesa, para ver se tinha algo que pudesse salvar a sua irmã. Julián se levantou de sua cadeira. 
— Diabos, não espere isso de mim. 
— Eu espero.  
— Isso...  
— Desonroso? Ao diabo com a honra, é o que acabou de dizer.  
— Isso é diferente. Você é inocente e é meu melhor amigo.  
— Você não sabe eu sou inocente. Sobre a nossa amizade, se for isso que o detém, vou acabar com ela antes que saia dessa sala.  
Olharam-se em silêncio, sem mais protesto, Julián se dirigiu para a porta. 
Uma hora mais tarde, Julián voltou para o escritório. 
Laclere estava sentado à mesa lendo uma folha, outros papéis estavam empilhados na mesa. Vários tinham sido deixados de lado em sua pilha de fichas especiais. 
Levantou o olhar quando Julián entrou. Deixou cair o papel, afundou-se na cadeira e fez um gesto para a pilha. 
— Alguns desses são muito antigos. 
— Sim.  
— Encontrei aqueles onde é possível ver o desejo de matar Glasbury, obviamente.— Jogou uma olhada aos que eram diferentes dentro de outro pilha.— Duelos e outras coisas. Na verdade, não um assassinato.  
— Vai ser suficiente. Eu acredito que deve pegar todas. A historia formará melhor meus motivos.  Terá convencer que não estou tentando ser cavalheiro, substituindo eu mesmo por ela.  
Laclere levantou o jornal que estava lendo.— Deveria ter dezesseis anos quando escreveu esse poema para ela. As cartas Julián, não tinha nenhuma ideia.
— Não?  
 Laclere deixou cair o papel.— Talvez, mas então Milton disse alguma coisa e eu pensei como éramos jovens que isso tinha ficado no passado. Nunca suspeitei disso,— fez um gesto à pilha novamente com espanto desconcertado. 
— Eu pensei que passaria também. Eu contava com isso. Esperei por isso. Fiz todo o possível para que passasse. No entanto, não consegui. Acha que sou um idiota?  
— Claro que não. Deus, não. Surpreende-me e isso é tudo. Por sua lealdade e amor. Na verdade, eu estou um pouco assustado.  
— Amarre-os e os leve. É tudo o que necessitam as autoridades, além das informações do que aconteceu no clube e minhas horas de solidão durante essa noite. A polícia se sentirá aliviada ao saber que sou eu e não uma condessa. Facilitará as coisas para eles.  
 Laclere vacilou, depois começou a empilhar os papéis cuidadosamente.— Não percebi quanto talento tem com a pluma, se é que devo dizer. Suas palavras são muito comovedoras. Os contos, os versos e pensar que minha irmã esteve todos esses anos cercada de escritores e não sabendo que o melhor deles estava de pé na frente dela, totalmente em silêncio sobre suas habilidades. Suponho que devia ter adivinhado, tendo em conta as épicos pouco comuns que criava e que nos cativavam quando éramos jovens.  
— Essas são privadas e nunca tive a intenção de entregar aos olhos do público.  
— Não serão mais privadas. Pode suportar isso?  
— Sim.— Ele poderia suportar isso por ela. 
Laclere amarrou os papéis em um pacote. Ele olhou por um momento e depois se levantou.— Vou dormir essa noite e decidir o que fazer.  
Julián sabia que Laclere queria contemplar sua escolha, mas os dois sabiam a decisão que deveria tomar. 
Laclere abriu a porta. Com a mão no trinco, se virou.— Eu sei porque está fazendo. Eu faria o mesmo por Bianca. Mas não há necessidade de uma mentira entre nós. Podes admitir que não o matou.  
Julián virou as costas para Laclere. Momentos depois, ouviu seu amigo fechar a porta atrás dele. 



Pen estava sentada em um banco do jardim debaixo de uma árvore. O sol brilhava. O que levantou um pouco seu ânimo. Ele fez mais não muito, para dissipar as nuvens dela, entretanto, espectros sinistros se abatiam sobre ela, como uma tempestade que se aproxima do mar. Tentava conter seu pânico, mas sempre estava ali ameaçando conquistá-la, era mais fácil manter sua compostura quando estava sozinha. Ver seus irmãos preocupados, ver o estado de ânimo de seus amigos só fazia tudo mais difícil. A espera era a pior parte. Lembrou de quando vivia com o conde e como ela sabia que chegaria para castigá-la. Estava morto, mas ali estava ela, destinada a viver de novo com a antecipação repugnante da dor e da humilhação que havia experimentado nessa época. A espera era pior que a realidade. 
Logo a espera terminaria. 
Laclere na noite anterior esteve tão silencioso, tão melancólico, que sua sensação de perigo disparou. Em seguida, Dante chegou de visita e ele e Vergil desapareceram no escritório. Quando Dante saiu, estava tão consternado que ela quis confortá-lo. 
Um estado de espírito fúnebre se instalou na casa nessa manhã. Todo mundo sabia que a polícia viria falar com ela hoje. 
Ela não seria capaz de inocentar a si mesma e isso, a colocaria na prisão. 
Nunca poderia sentar-se no sol no meio de um jardim novamente. 
Seus olhos umedeceram. Ela se agarrou ao seu sentido de um fio fino. Procurou provas em seu caminho de volta de algum tipo de controle. 
O ruído da porta do jardim a fez saltar. Soou passos no caminho. Seu coração começou a bater tão forte que sentia o batimento do coração nas têmporas. 
A polícia deve estar aqui. Laclere estava trazendo-os. 
Fechou os olhos e juntou sua dignidade. Para não prejudicar a si mesma ou a sua família. Ela devia se comportar com o decoro apropriado para sua condição. 
Os passos pararam na frente dela. Preparando-se ela abriu os olhos. 
— Julián!  
Ele sorriu e se sentou ao seu lado.— O dia está incrivelmente fora de época.  
Ela levantou o olhar para o trajeto do jardim.— Não está com acompanhantes?  
Seu braço a rodeou e se aproximou mais dela. – Não há acompanhantes.  
Não tinham ficado sozinhos a mais de uma semana, desde aquele dia terrível. Ele não a havia tocado, desde quando fizeram amor na biblioteca. 
— Eu senti terrivelmente sua falta.— disse Pen.
— Meu amor sempre estará contigo, inclusive se não estiver. 
Era a primeira vez, que utilizou essa palavra. Que fez brilhar seu coração só ouvindo. Se alegrou por ele também pensar, que o que compartilhavam era amor. Ela sabia que para ele, não significava o mesmo que para ela, mas só a palavra fez mais especial que usar a amizade, paixão ou o afeto. 
— Eu sei. No entanto, é bom ter você agora comigo. Especialmente porque engoliu as palavras. 
Ela não queria arruinar o pequeno oásis de paz que acabava de formar. 
Ele acariciou seu ombro e deu um beijo em seu cabelo.— Lamento que tenha que sofrer por tanto medo querida. Você não deveria ter. Não será mais questionada, espero, não hoje. Já não está sob suspeita.  
— Não estou? O que aconteceu?
— Centraram sua atenção em outra parte.  
Seu coração deu um tombo, quebrou da melhor maneira. Um alívio glorioso resplandecia através dela. Tirou seus braços ao redor de seu pescoço e lhe deu um beijo feliz. 
Os dois sorriram ao mesmo tempo em que seus dentes bateram. Ela riu e o olhou. Seu humor coincidia com o dela. Não podia lembrar de tê-lo visto tão feliz, ver tão claramente a luz de seu coração. Quase infantil. 
— Não posso acreditar nisso.  Ontem a noite meus irmãos pareciam estar preparando-se para meu velório. Inclusive nesta manhã. 
— Knightridge acaba de enviar sua palavra a Laclere e eu acredito Pen, que agora está a salvo. 
— Como me prometeu que seria.  Acariciou a curva de seu pescoço e aspirou profundamente. Ela já não precisava agarrar-se às lembranças de seu aroma e de sua força agora. Ela na verdade o tinha em seus braços. 
— Quando isso terminar, podemos voltar para a casa de campo Julián? Ficaria feliz. Só eu e você. Quero fazer amor com você no quarto com vista para o mar. Você disse que o som das ondas era muito nítido.   
Ele se aproximou e afundou o rosto em seu cabelo. Se limitou a beber desses perfeitos e preciosos minutos. 
— Vamos para lá, assim que for possível.  
 Ela mal podia conter o quanto maravilhosa se sentia.— Continuo rindo como uma louca, mas é como se estivesse realmente viva. O sol é mais quente e a brisa é mais fresca. Oh, Julián, esse é o dia mais importante. Para ser verdadeiramente livre do medo. Ficar fora de todas as sombras, antigas e novas, não sei o que fazer comigo.  
Ele voltou a rir.— O que acha que quer fazer?
— Eu quero passar todo o dia contigo. Eu quero ir para algum lugar e correr em um campo e ficar com o rosto vermelho e brincar como uma criança. Levantou-se e puxou sua mão.
— Vamos a Laclere Park. Lá poderemos esquecer de todo esses problemas por alguns dias.  
 Ele a puxou para trás e ela caiu em seu colo.— Não posso ir para Laclere Park. Tenho algo que devo fazer no final do dia. Podemos ir a Hampstead, entretanto, à propriedade de Chevalier, lá tem um campo e bosque. Isso seria bom o suficientemente para você?  
Ela colocou o braço ao redor de seu pescoço e deu um beijo em seu nariz.— Qualquer lugar é o suficientemente bom Julián, agora que sei que podemos ficar juntos.  


 Corbet Chevalier lhes deu as boas vindas. Ele serviu uma comida simples para eles, conversaram amigavelmente, então aproveitaram tranquilamente das instalações vazias. Assim, que ela e Julián ficaram sozinhos, Pen entrou na grande sala onde Laclere e seus amigos praticavam suas habilidades de duelo, desde que estavam na universidade. 
— Não tenho nenhum problema de imaginar todos vocês aqui,— disse enquanto examinava as espadas penduradas na parede. – Afinal de contas, uma vez eu vi vocês.  
— Isso foi muito feio de sua parte.  
— Essa era a ideia. Não esperava ser descoberta.  Ela riu ao lembrar. 
— OH, como Laclere me repreendeu. Não era muito mais que um garoto e ronronou com autoridade, como um padre. Graças a Deus Bianca o salvou, isso é tudo o que posso dizer.  
 A sala vazia ecoou seus passos. Viu os homens jovens da sociedade de duelo como os tinha visto nesse dia, suas espadas se chocando, seus torsos nus brilhavam com o suor do exercício. 
A maioria deles se apressaram a colocar as camisas quando se deram conta que ela e Diana estavam vendo. Um deles lhe deu um fascinante e sedutor sorriso, enquanto o fazia. Não foi Julián.
O fantasma de Witherby de repente, estava a seu lado, exalando o encanto que o tinha feito tão atraente. Sua lembrança já não a entristecia. Olhou agora para esse episódio do passado com indiferença assombrosa. Olhou para Julián e supôs que estava lendo seus pensamentos.— Não vou chorar por mais tempo Julián.  
— Fico contente. 
— Meu único arrependimento é que lamento não ter sido você, ao invés dele a me perseguir naquela época. 
— Teria percebido se eu tivesse feito?
— Não sei. Talvez não. Era muito jovem para entender. Muito jovem para apreciá-lo. Eu entretanto, me sinto um pouco nostálgica e ciumenta, por nenhuma razão aparente, mas suponho que gostaria que tivesse pensado em mim dessa maneira nessa época.
— Na verdade, eu pensava em você dessa maneira naquele tempo. 
Ela riu.— Bom, talvez tenha feito em alguma ocasião. Como me disse, os homens têm o hábito de pensar nas mulheres dessa maneira, em qualquer caso. Ela pegou sua mão e o arrastou até a porta.— Agora, vamos ao campo, enquanto o sol ainda está alto. 
Foi um dia perfeito, o melhor em sua vida, cheio de risos e brincadeiras. Brilhante pelo glorioso e futuro que imaginou. Seus sapatos se enlamearam e sujou seu vestido, já que brincaram de alguns jogos de sua infância. Desfrutaram de longos beijos e carícias entre as aventuras e fizeram o amor duas vezes em cima da grama seca, alheios ao frio do ar e do chão.

 


Quando o sol começou a desaparecer, viajaram de volta a Londres na calesa de Julián.
— Estamos em um estado terrível – disse Pen, recolhendo um morango da saia em ruínas. Tirou um pouco de grama do ombro de Julián.
— Não trocaria esse dia por nenhuma das roupas limpas do mundo,— disse ele.
— Tampouco eu. Eu gostaria que tivéssemos um pouco de vinho e assim poderíamos brindar por muitos dias mais como este. 
A cidade estava às escuras quando chegaram de volta a casa de Laclere. Julián ajudou Pen a sair da calesa.
— Julián, esse transporte me parece familiar.— Fez um gesto para uma carruagem estacionada.— Não é a que nos seguiu no caminho por volta de Laclere Park? A polícia deve ter vindo para falar comigo hoje, finalmente. Por que esperaram se eu não estava aqui?
 Julián olhou para a casa, para a carruagem da polícia e finalmente para ela. 
— Ao entrar, quero que se retire imediatamente para seu quarto querida. 
A alegria do dia desapareceu em um segundo. O medo da semana passada retornou como uma onda de frio que se quebrou contra seu coração.
— Julián, mentiu-me essa manhã, quando disse que eu estava a salvo?  Fez o que eu desejava para que tivesse um último dia de liberdade sem medo?
Pegou seu rosto entre as mãos e a olhou.— Não menti. Agora vá para seu dormitório.
Prometa-me que vai lembrar o que eu disse no jardim: Meu amor estará contigo, inclusive se não estou. 
— Por que não estará comigo? Em primeiro lugar, diz que não vieram por mim, então porque diz isso?
— Não estão aqui por você Pen. Eles estão me esperando. 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 24

Fez o que Julián lhe pediu, retirou-se imediatamente para seu quarto. Então correu para o outro quarto que tinha vista para rua.
Durante meia hora horrível ela esperou.  A luz se derramou na escuridão quando a porta abriu e em seguida Julián se aproximou da carreta da polícia, acompanhado por dois homens. Subiram na carreta e se afastaram.
Não viu nada, exceto depois de um oceano de lágrimas gritou tão forte que doeu. Ela caiu no chão, a dor a deixou sem fôlego, sucumbiu a todos os medos que esteve levando nos últimos dez dias.
A presença de outra pessoa invadiu o meio da sua miséria. Ela levantou o olhar e viu Vergil de pé a dez metros dela, segurando uma lamparina. Colocou sobre uma mesa, se aproximou e se sentou no chão com ela. Seu abraço só a fez chorar mais. Finalmente o pior passou, mas só porque ela estava exausta. Então recuperou a compostura, embora não estivesse realmente calma.
— Você sabia, — ela sussurrou em seu ombro.
— Sim.
— Permitiu que me levasse hoje e fizesse de conta que tudo estava bem, você sabia que estariam esperando-o quando retornássemos.
— Era como ele queria que fizesse.
— Ele se comportou tão feliz quando estava comigo, eu jamais imaginaria nem por um instante.
— Possivelmente porque ele realmente estava muito feliz por você.
Ela inalou profundamente e secou seus olhos, dessa forma podia ver o rosto de seu irmão.
— Não devia ter lhe permitido fazer isso. Deve ir e dizer a ele que eu não quero que faça.
Vergil puxou suas pernas e descansou suas costas na parede. — Acho que agora já não está em nossas mãos Pen.
— Ele fez isso para me proteger.
—Se é assim, não vai escutar minhas súplicas para que não faça. Tampouco vou fazer tal declaração. -
Não podia acreditar no que ouvia.— Está dizendo que aprova essa mentira? 
— Você é minha irmã. Vou aprovar qualquer coisa que espero que a salve.
— Inclusive com a condenação de um inocente? Que é seu amigo? 
Ele não respondeu. Nem seus olhos se encontraram.  Ele parecia terrivelmente incomodado.
 — Vergil, estamos de acordo que isto é um erro elaborado de sua parte, não é? Você concorda que Julián é inocente, não é?
Para sua surpresa, ele não respondeu imediatamente. Na verdade parecia estar avaliando as provas.
— Negou-se a me dizer que ele é inocente Pen.— Perguntei e tudo o que obtive foi seu maldito silêncio. Mas, sim, acredito que é inocente.  Não porque ele é meu amigo, ou porque acredito que é muito bom.  Na verdade, concluí que se ele acreditasse que estivesse em perigo, não duvidaria em matar. 
— Espero que não tenha falado com a polícia sobre seu estranho caráter. 
— Pen, ele esperava que fosse em um duelo. Seja qual for o motivo que deu à você para voltar a Londres, no fim o que ele realmente esperava era que terminasse em um duelo. Ele disse à polícia que forçou Glasbury a desafiá-lo para um duelo. 
 Um duelo. Uma revolta furiosa cresceu dentro dela. Em sua cabeça começou a formar uma resposta mordaz à acusação de seu irmão.
Mas as lembranças chegaram a ela, as promessas de proteção de Julián, inclusive naquela primeira noite em sua biblioteca jurou que Glasbury jamais a obrigaria a voltar. Farei o que for necessário. Quantas vezes fez essa promessa com a confiança de terminar em um duelo?
Ela sempre concluiu que era só para tranquilizá-la.
— Vergil, se você acha que ele era capaz disso, por que acha que ele não fez?
— O veneno. Julián nunca usaria um método tão covarde. Se ele tivesse matado Glasbury, seria colocando uma espada no coração do canalha.
— Não vai me ajudar, não é verdade?— Knightridge expôs a questão com uma irritação considerável, enquanto caminhava ao redor da cela impacientemente. Era uma cela pequena, úmida, mas Julián sabia que era uma das melhores de Newgate. Seus amigos tinham subornado o diretor, para garantir que o novo recluso recebesse o melhor tratamento que a prisão podia permitir, tal como era. Sua condição de filho de um cavalheiro e de advogado lhe permitiu também um pouco de respeito.
— Este é o problema com homens como você,— Knightridge estourou.— Quando finalmente caem de amor, de repente, se transformam em verdadeiros estúpidos.  Particularmente, sinto-me ofendido da pouca confiança que tem em mim, até o ponto de inventar essas ridículas declarações que fez a polícia.
— Não disse quase nada. Não posso negar que não estava em casa naquela noite. Admiti que não podia provar meus movimentos pela cidade. Neguei a responder às perguntas a respeito de minha relação com a condessa
— Todo o país tem conhecimento. 
— De todos os modos, como um cavalheiro me neguei a falar disso. 
— Pelo menos negou que o matou, maldito seja?
— Claro. Todos no mundo não negam?
— Não fique impertinente comigo Hampton. Jesus. Knightridge ficou olhando para o chão.— Muito bem, quero ter certeza que entende. Seus movimentos são suspeitos e não pode provar que não estava na casa de Glasbury. Teve uma relação muito indiscreta com a condessa, mas o conde não fez nenhum movimento para o divórcio que vocês esperavam. Pior ainda, ele deu entrada em uma petição de restabelecimento de seus direitos conjugais. Ameaçando interferir no projeto no qual você investe e você foi é o sócio com menos probabilidades de sobreviver ao golpe financeiro, se ele tivesse êxito. Houve uma disputa pública nessa noite, teve que ser contido e pediu que tirasse satisfação. 
Enquanto recitava os fatos, Knightridge franzia o cenho mais profundamente e mexendo a cabeça com desalento.
— Eles também têm alguns documentos meus, assim parece. 
— Documentos?
Julián os descreveu. 
— Em alguns papéis, enquanto sofria de profundas melancolias, fantasiava matar a Glasbury. 
— Maravilhoso.— Knightridge acelerou seu ritmo um pouco mais.— Tenho a intenção de averiguar, a forma como se apossaram de seus papeis. Podem me conduzir a alguma parte. 
— Preferiria que não o fizesse. 
Knightridge cruzou os braços no peito,— Se for seu objetivo vão enforcá-lo.
— Não é meu objetivo que me enforquem, entretanto, não fará nada que possa mudar as suspeitas de novo para a condessa. Nada. Deve mantê-las o mais afastado dela como for possível. 
— Maldita seja, se for possível fazer. Ela está no meio de tudo, mas farei o que possa por você Hampton. Sinto-me aliviado de que não se importe, em não escutar falsas esperanças, já que sequer posso oferecê-las.
 Como se perder Julián não fosse suficiente, Pen se viu obrigada a sair durante três dias. Seus irmãos a colocaram em uma carruagem e a levaram a casa de campo de Glasbury em Cambridge Shire para o funeral dele.
 Lá teve que interpretar à viúva em um ritual público e a procissão de conhecidos, quando todos os presentes a culpavam pela morte do conde. Seus irmãos estavam a seu lado, com os rostos esculpidos em pedra, olhando a qualquer um que a olhasse por muito tempo.
 Depois do enterro, depois das condolências corteses, depois que ela viu mais olhadas e sussurros que nunca pensou que suportaria, retirou-se à biblioteca com Laclere e Dante. Ela tentou restaurar sua compostura, para continuar mostrando-se como a anfitriã das pessoas que carregavam o caixão. Se sentia como uma estranha nessa casa enorme. Nunca foi sua casa. Glasbury preferia a escura e isolada casa de Wiltshire, quando estava no país. Nenhum hóspede a tinha visitado ali. Nenhuma festa foi realizada em sua casa. Quando se retirou da vida da cidade, foi essa privacidade que permitiu a Glasbury desfrutar de um tipo muito especial de esporte.
Dante e Vergil se sentaram com ela. Nenhum deles falava. Ela passou os minutos lhes perguntando como estava passando Julián, imaginando os horrores da prisão. Continuou mordendo a língua com as perguntas que seria muito dolorosas, para que seus irmãos respondessem.
A porta da biblioteca se abriu e um senhor de cabelo branco entrou. Era o senhor Rumford, Advogado de Glasbury.
— Gostaria de saber se precisa de mim, milady. Se não, vou voltar para a cidade. Ele falou em um tom cortante, como se estivesse fazendo esforço por esconder seu desgosto por ter que falar com ela.
— Você arrumou para que todos os empregados permaneçam em diferentes propriedades?
— Está tudo resolvido. Também informei aos que receberam legados e fiz as disposições necessárias para as contas pelos meus serviços, se lhe parecer satisfatório. 
Ela realmente não se importava. O Sr. Rumford era muito respeitado. Estava certa que dirigiria tudo maravilhosamente.
— Suponho que o herdeiro já foi contatado,— Disse Laclere.
— Escrevi para seu sobrinho. Ele está na Jamaica, passará algum tempo antes que ele saiba sobre o triste evento. Pode acontecer algum atraso também sua volta. As propriedades que tem lá, estão passando por um pouco de confusão, enquanto se realizam ajustes para a emancipação dos escravos. Até que ele chegue, é obvio, a condessa tem direito de usar todas as propriedades.
Se for muito valente, sua voz parecia dar a entender.
O Sr. Rumford se despediu.
— Seu tom de voz beirava a rabugice, não importando como corrigisse suas palavras,— murmurou Dante.
— Ele não me conhece absolutamente Dante. Acho que o encontrei uma vez. Também acha que sou responsável, não realmente uma cúmplice. 
— Isso passará,— disse Laclere.— É o tipo de intrigas que cresce rapidamente e desaparece com o tempo. 
Isso não era certo. Ela poderia não ser o primeiro assunto do dia por muito tempo, mas ficaria manchada para sempre.
O lugar que tinha esculpido para ela na sociedade se reduziria ainda mais, ela não tinha dúvida.
Nada disso devia lhe importar agora. O único que importava era o homem sentado em uma cela, de uma fétida prisão.
— Quero ver Julián quando voltar a Londres,— disse.— Suborna quem for necessário, mas consiga que eu entre lá. 
Uma hora antes do amanhecer, Pen entrou na prisão de Newgate em companhia de Charlotte e do Sr. Knightridge.
— O diretor tem dificuldades para permitir isso,— disse Knightridge.
É evidente que essa dificuldade pode ser influenciada por presentes e considerações. Pen se perguntou quanto teria custado a Laclere.
— Geralmente, essas visitas só são permitidas  antes da execução,— continuou Knightridge.
— Fala como se não estivesse de acordo, com que deixassem minha irmã vir vê-lo,— disse Charlotte.
Apesar do seu véu preto e da fraca luz das tochas, Pen reconheceu a expressão de ressentimento de sua irmã. Mas então, o tom de voz de Charlotte foi bem transmitido.
— Eu já vi homens inocentes serem enforcados, depois de lhes ter sido negado o consolo de amigos e da família, senhora. Não lamento o privilegio de sua irmã. Eu só digo que não é justo. 
— Então, coloque seus esforços nessa reforma, senhor. Minha irmã está suficientemente angustiada e não necessita de suas conferências.
— Não é uma conferência, somente uma observação.
Os olhos de Charlotte se estreitaram. Abriu a boca para responder.
Pen pôs uma mão em seu braço.— Se tratava de uma observação ou de uma conferência Sr. Knightridge, não me importa. Estou agradecida por você conseguir organizar esse encontro para minha irmã. – A boca de Charlotte permaneceu bem fechada, mas seus olhos continuaram provocando-o.
Conduziu-as através de uma sala de recepção triste, através de uma pesada porta velha e para um escuro escritório.
 O homem dentro se limitou a assentir quando os viu eles. O Sr. Knightridge o apresentou como o ajudante da guarda da prisão.
O diretor saiu. Os minutos passavam lentamente. Pen notou como suas emoções se distorciam durante esse tempo.
— Pode parecer mudado quando o ver,— disse Knightridge.— está na prisão seis dias e isso afeta um homem com rapidez. 
 Charlotte pegou sua mão para consolá-la. Pen deixou, mas encontrou mais conforto em seu próprio coração. Sua desolação tinha clareado um pouco nesses últimos dias. De baixo da premonição horrível, que crescia através do medo doentio, uma nova emoção havia surgido. A raiva.
O diretor levou seu prisioneiro. A respiração de Charlotte parou. Pen mal pode esconder seu próprio choque. Julián estava acorrentado.
 Ele se colocou de pé, alto e orgulhoso, exalando a mesma reserva que mostrava nas festas. Tinha se barbeado, sem dúvida, outro privilégio que comprou com uma moeda escondida. Agia como se não percebesse as correntes que impediam seu caminhar e limitavam seus braços.
— Nos deixe sozinhos,— Knightridge disse ao diretor.
— Não acho que devo.
— O prisioneiro está restringido, as damas são viúvas de nobres do reino e eu sou um cavalheiro. Você não precisa se preocupar. 
O diretor se foi, mas não contente.
Assim que a porta fechou, Julián se dirigiu a Pen.— Não deveria ter vindo. 
— O Sr. Knightridge não vê perigo que eu lhe visite. 
— Isso é certo, Hampton. Acho que a devoção da condessa a um amigo será bem recebida pela sociedade. Seria vista como muito cruel se simplesmente o ignorasse agora. 
— Pode ser mal interpretado,— disse Julián.— Disse para que não fizesse nada que pudesse envolvê-la.
— É o advogado que vai me indicar o que fazer nos processos penais agora? Deixe-me ver como salvar seu pescoço.
— Espero que não tenha intenção de salvar seu pescoço, colocando em risco o de minha irmã,— disse Charlotte.
O  Sr. Knightridge suspirou com paciência tensa, como se de repente, lembrasse que existiam certas irritações das quais não podia prescindir.— Minha querida baronesa, você concordou que eu lhe permitisse vir com sua irmã, não que interferisse. No futuro vou pedir que Lady Laclere seja sua companheira. 
— Você não permitirá nada senhor. Lembre que...
— Por favor, Charlotte. As críticas pode deixar para quando formos, se for necessário, mas não quero desperdiçar o pouco tempo que tenho com Julián dessa maneira,— disse Pen. 
— Se essa visita for mal entendida ou mal interpretada, não me importa Julián. Se alguns pensarem que implica que sou cúmplice, que assim seja. Sempre e quando me permitirem vê-lo durante esse período, eu o farei. 
 Com uma expressão satisfeita de vitória, que não fez nada para apagar o fogo de Charlotte, o senhor Knightridge foi para a porta. 
— Senhora, deve se juntar a mim, talvez podemos permitir que a condessa fique alguns minutos a sós com o Sr. Hampton. Estou certo que só posso intimidar ao guarda por um breve tempo.
 Seu olhar quando saiu lhe advertiu que seria muito breve. Assim que a porta se fechou, foi para Julián e o abraçou.
— Não me repreenda. Não faça. Deixe que eu lhe abrace. 
Ele não podia abraçar suas costas, mas lhe deu um beijo na cabeça.— Estou muito grato para repreender. 
— Não ficará preso por muito tempo, verdade? Não poderia suportar que...
— O vice diretor teme uma dramática fuga, por isso colocou em mim quando me trouxeram aqui. 
Isso foi um alivio. Ela não queria imaginá-lo dia e noite acorrentado.
— Sei que não fez isso, Julián. Eu gostaria que não tivesse criado essa farsa. 
— Não há farsa. Cada dado que têm é verdadeiro. Não criei nada.
— Então deve negar. 
— Não tem como. No entanto, eles pensam que têm o suficiente. 
 Sim, eles fizeram. E isso era tudo o que lhes importava. Eles tinham seu assassino e não queriam olhar mais à frente.
Não era isso o que tinha acontecido com ela? Julián a salvou simplesmente lhes dando outra pessoa para ficar em seu lugar.
— Julián, você não fez isso, eu tampouco fiz, mas alguém fez. 
— Não acredito que só você e eu sejamos os únicos sabiam o que ele era Pen. Pode ter dúzias de pessoas que o queriam morto. 
Dezenas de pessoas que o queriam morto, mas não dezenas de pessoas que podiam fazer.
A raiva foi crescendo de uma forma fria e determinada em seu coração.
Em algum lugar havia um homem dormindo em sua cama, enquanto que Julián adoecia na prisão. O verdadeiro assassino caminhava livremente pelas ruas, seguro que outro ocuparia seu lugar na forca.
 Abraçou mais fortemente Julián, absorvendo o calor humano que teria que sustentá-la por vários dias. Sua satisfação não provinha só de escutar os batimentos do seu coração e o sentimento de respirar. Entretanto, uma firme determinação a tinha reclamado. Ela sabia o que deveria fazer. Já estava na hora, dela levantar uma espada e um escudo.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 25

— Eu peço a todos que me ajudem,— disse Pen.
 Ela estava sentada em seu salão, vestida com o traje preto fosco requerido pelo luto. Havia finalmente retornado a sua casa no dia anterior, depois de ver Julián.
Seus amigos mais queridos de seu círculo a acompanhavam.
— Deus o que precisa,— disse Sofía.— Estamos a suas ordens. 
— Não é um agradável dever, receio. Vocês podem optar por rejeitar. 
— Duvido— disse Fleur.
— Se negarem, entenderei. O conde se foi, depois de tudo. Ele não pode defender-se. Eu só faço isso devido a Julián.
— Ele não poderia defender essas coisas, inclusive se vivesse, assim deixa de ser tão amável,— disse Charlotte. Ela era a única que já conhecia o propósito da reunião.
 Pen tinha discutido com ela no dia anterior, assim que ficaram sozinhas. A reação de Charlotte foi extrema, forte e cheia de um tipo de linguagem, que uma dama jamais deveria pronunciar.
— Acho que ajudaria Julián se soubessem porque deixei Glasbury. O Sr. Knightridge está de acordo,— explicou Pen.— Quando as senhoras lhes pedirem todos os detalhes, talvez todas vocês devem satisfazê-las. Especialmente você, Sofía. As melhores ouvintes de Londres a visitam. 
— Se uma fofoca da duquesa lhe pode ajudar, vou encher seus ouvidos. Só me diga o que dizer. 
Essa foi a parte difícil. A prática com Charlotte a ajudou. No entanto, ao descrever as terríveis experiências, reconhecendo sua covardia por Cleo, seria difícil. Seu coração se contraiu com a ideia de que o mundo inteiro soubesse.
 No entanto, essas eram seus amigas. Não tinha necessidade de preocupar-se com suas reações. E ajudaria a Julián.
— Soube no primeiro ano de meu casamento com Glasbury, que ele tinha expectativas de uma mulher que não era normal ou honrosa. 
Ela lhes disse o que queria dizer. Ela revelou mais do que havia dito algum dia a Julián. Por quinze minutos, colocou em palavras as lembranças que ainda a faziam encolher-se.
A boca de Fleur se abriu na terceira frase e não voltou a fechar. Sofía parecia em estado de choque e Diane a ponto de chorar. A expressão de Bianca se transformou em pedra.
 Ela não teve que explicar suas suspeitas sobre a morte de Cleo. Ela podia as vê-las saltarem à mesma conclusão, assim que souberam. Bianca assinalou em voz alta, a forma que a morte coincidia com a data das intenções do conde para ela voltasse.
Charlotte notou suas reações com furiosa satisfação.— É um milagre que não a matasse Pen. 
 Bianca bateu os dedos cuidadosamente sobre o tecido rosa de Damasco, que cobria o sofá onde estava sentada.— Se isso se tornar conhecido, muitos pensarão que Julián deveria tê-lo matado também. Suponho que o senhor Knightridge o tenha antecipado. 
— Acredito que sim,— disse Pen.
— Assim haverá dois julgamentos. Um em uma sala e outro nos salões de Londres, no café e nas lojas,— disse Fleur.— Minha própria experiência é que esse último pode influenciar no primeiro. 
— Foi ideia do senhor Knightridge revelar isso Pen?,— perguntou Diane.— Se for assim, é muito brilhante em compreender os caminhos do mundo.
— Foi ideia da própria Pen,— Charlotte disse.— E o brilhantismo de Knightridge é muito mais a sombra de sua arrogância, se me perguntarem. 
Bianca começou a rir.— E se alguém não perguntar, dirá de todos os modos. 
— Farão?— Pen perguntou. – É possível? É tão sórdido e terrível que...
— É obvio que podemos,— disse Bianca.— Cada uma a sua maneira. Nem todos os detalhes devem entrar no jogo de dados. A imaginação preenche lacunas. Atrevo-me a dizer que a discrição será lançada aos ventos, especialmente entre os homens quando estiverem sozinhos.
Pen contemplou suas mãos.— Tenho minhas próprias dúvidas, devo confessar. 
— Sacrificou-se por discrição durante muitos anos, querida amiga,— disse Diane.  Protegeu sua reputação durante sua vida, com grande custo para si mesma. Depois do que disse a respeito dessa menina, que de minha parte, não importa seu nome está em ruínas agora.
— Vamos fazer isso se der permissão ou não,— Charlotte disse.— Certamente estou pronta. 
— Levante a testa Pen. 
Laclere murmurou o aviso quando dirigia sua carruagem por Hyde Park.
Ela se alisou o tecido de algodão preto sobre sua saia e se pôs rígida em sua coluna vertebral. Todas as cabeças volteavam em sua direção. Uma carruagem desacelerou ao passar, para que seus ocupantes pudessem olhá-la.
Dante lhe ofereceu o braço. Laclere flanqueou seu outro lado. O vento agitava as fitas de seu chapéu ao redor de seu rosto, enquanto caminhavam.
Só havia passado dois dias, desde que se reuniu com suas amigas, mas ela suspeitava que muitas pessoas que percebiam sua chegada no parque já ouviram falar de seu casamento.
Seus irmãos, obviamente, haviam ouvido. Poderia se dizer que eles sabiam. Seus olhos se incendiavam grosseiramente, cada vez que Glasbury era mencionado.
— Já fui assunto das fofocas antes, é obvio,— disse.— É um pouco diferente ser francamente notável, mas não muito desconcertante.
 Dante deu um tapinha no braço.— O mais difícil é a primeira vez, querida. Mas não pode se esconder e deve ser valente. É a única maneira. 
 Nunca pensou em ficar escondida em sua casa. Se seus irmãos não tivessem vindo por ela nesse dia, teria mandado chamá-los.
— Adrian viajou a Blackburn,— disse Laclere.— Sofía lhe contou do sequestro. Tem intenção de ver se pode trazer Jones de volta a Londres. 
— Duvido que o Sr. Jones admita ter matado Cleo. 
— Estou de acordo, Adrian esclarecerá que foi sequestrada por ordem do conde. 
— Isso só pode convencer o juiz, de que Julián tinha mais motivos para matar Glasbury,— disse Pen.
— Vamos deixar que Knightridge diga como usá-lo. Receio que o juiz já tenha motivo suficiente para condenar Julián. Se esse dado pode ser usado para demonstrar a defesa de uma mulher em perigo, pode valer a pena o risco. 
— Pen vai ao julgamento? – Dante lhe perguntou.

 


 O horário foi publicado. Julián irá a julgamento em dois dias. O tempo se distorceu de novo, estão pedindo uma execução rápida, com uma velocidade aterradora. 
— É obvio que irei. É muito tarde para fingir que não é meu amante. Nós enfrentaremos a isso juntos. 

Multidões enchiam as ruas fora de Old Bailey onde se celebraria o julgamento. Os vendedores ambulantes se juntaram para beneficiar-se da venda. Quando o transporte de Dante rodou para parar, um rapaz correu para oferecer um panfleto que continha uma descrição horripilante do crime. A reação de Dante foi tão fria, que o rapaz se ruborizou e saiu correndo para procurar outros clientes.
Pen saiu. O transporte de Dante não foi reconhecido, mas o traje de luto de Pen chamou a atenção. A multidão em massa começou a se fechar sobre eles.
— Rápido, Pen. – Dante a tirou pelo braço e a apressou a entrar no edifício.
 La sala estava cheia. Sua chegada à galeria causou um grande alvoroço. Os rostos a desafiavam abertamente. Em um impulso, ela estendeu a mão e dobrou o véu do rosto.
— Todos sabem quem sou eu,— disse a Dante.— Esse véu é ridículo. Vamos a lhes deixar ver e desfrutar do espetáculo para que valha a pena. 
 Dante tinha enviado na frente alguns serventes para guardar alguns assentos.  Em seguida, outros corpos foram saindo e se uniram a eles, Laclere chegou com Bianca e Fleur, e os St. Johns foram seguidos por Charlotte.
 Una nova comoção atraiu a atenção de seu grupo. Pen deu a volta, o corredor se abriu e uma mulher de baixa estatura caminhou ao longo dela, com um vestido de cor maçã verde, com um xale amarelo e um chapéu extravagante, com duas enormes colunas.
A duquesa de Everdon tinha chegado e se assegurava que todos soubessem. Sofía se sentou justo ao lado de Pen e sorriu com malícia. 
— Acha que haverá um relatório dizendo que usava muita roupa para um julgamento?
— É obvio que não. Sua elegância é sempre impecável. – O sorriso de Sofía indicou que sabia que sua elegância não era celebre. 
— Pensei em lhes dar um bom espetáculo. O chapéu também fará com que seja mais fácil para Julián nos ver. Antes que Adrian fosse a Blackburn, disse que me assegurasse de me sentar ao seu lado hoje. 
 O verdadeiro espetáculo era que uma duquesa tivesse vindo, nem todos os olhos exagerados por volta dela, nem os sussurros ou os zumbidos conseguiam alterar agora, a compostura de bondade de seus amigos.
— Duvido que antes, outro acusado tenha tido tantos partidários,— disse Pen.
— Acredito que houve alguns casos de traição à pátria em que se superaram,— disse Sofía. – Parece que já estão se preparando para começar o julgamento. Pegou a mão de Pen.— Agora coragem. 
 Pen teve que admitir que o Sr. Knightridge era um advogado impressionante. Com sua altura imponente, sua peruca e um vestido impecável, fazia parecer com que o juiz parecesse encolhido e velho. Tinha um engenho fresco e usava tons insinuantes para interrogar às testemunhas, de maneira que manteve entretida e também pôs de manifesto as ambiguidades na informação do caso.
A atitude de Julián resultou inútil para seu próprio caso. Sua reserva de hoje o fazia parecer arrogante e inclusive frio. Sua falta de expressividade dava a sua história que várias bocas vinham perseguindo.
 O coração de Pen se quebrou, enquanto o via guardando sua dignidade apesar de ser exibido como um animal em um circo. Ela imaginava a tortura que devia ser para ele, estar exposto no pelourinho público, sem sequer poder anunciar sua inocência com força.
Ela sabia porque. Ele não queria que procurassem em outro lugar. Ele não queria que todas as suspeitas voltassem para ela.
 Tinha se fixado nela logo que entrou, mas jamais a olhou depois disso. Ela estava sentada no meio de todos, com seu rosto estoico, mas com seu coração sangrando. Observou as provas que tinham contra a ele e sentiu saindo de seus braços para sempre.
O promotor se aproximou de Julián com alguns papéis na mão.— Você odiava o conde, não é senhor? Tanto que de fato desejava vê-lo morto. Esse documento está escrito por sua mão. Nele planejou a morte de Glasbury. Há vários deles, escritos ao longo dos anos. Permita-me ler por você. Ele os leu. Soavam como os registros em um jornal de notas. Em cada um, Julián revelava suas paixões mais escuras, sua raiva e descreviam a morte do conde por sua mão.
A sala ficou silenciosa. O coração de Pen pulsava com força. Julián permanecia inexpressivo. Deu uma olhada nos rostos da galeria e viu a forma em que o olhavam. Viam um homem sinistro, não um bom e tranquilo. Inclusive, seus amigos pareciam surpresos pela tempestade que soava nas palavras que eram lidas. Laclere em particular, tinha o rosto cinzento, como se soubesse que essas páginas poderiam selar o destino de Julián.
Satisfeito com o efeito que tinha produzido, o promotor deixou o cenário.
Knightridge se levantou com o cenho franzido. Ele estendeu a mão para que o promotor lhe entregasse as páginas.
– Todos estão datados. A tinta da data, é igual à tinta que aparece no texto, por isso podemos supor que são da mesma data, em que foram escritos. Dois deles são de mais de dez anos e um terceiro tem data de cinco anos. E em um momento, esse não é fácil ler, mas parece que foi o primeiro que foi escrito há mais de quinze anos. Fez uma pose dramática com as mãos em seus quadris.
— Senhor, para um homem com inclinação para o assassinato, maldito seja, tomou muito tempo para agir. — A risada estalou na sala, inclusive Julián sorriu.— Talvez eu não tramo tão lentamente as coisas.
O público rugiu.
— De fato, talvez você não o fez. Sugiro que você não tramou nada.— Agitou as páginas e sua voz retumbou.— Essas são as palavras de um homem indignado. Furioso. Sugiro que são os pensamentos de uma alma, que estava torturada por um segredo que lhe queimava e encontrava a liberdade nesses escritos, pois era a única forma que a honra lhe permitia. De fato senhor, não acredito que você tenha dito a esse jurado, tudo o que precisaria saber sobre esse caso.
Julián não disse nada.
– A honra ainda lhe amarra. Farei-lhe algumas perguntas, entretanto, que não requerem nenhuma falta à honra, o garanto. Você serviu todos esses anos como advogado da família do visconde Laclere, é certo?
— Sim.
— Quando a condessa de Glasbury se separou de seu marido, procurou-o em busca de seu conselho?
Julián não disse nada.
— Acredito que podemos assumir que sim. Acredito que também podemos assumir que lhe confessou porque queria dar esse passo, que afetaria sua posição social e sua fortuna de forma drástica. Acredito que podemos assumir senhor, que todos esses anos você conhecia os detalhes de seu matrimônio, de uma forma que ninguém mais sabia. Um zumbido se moveu como uma onda através da multidão. Pen sentia todos os olhares em cima dela. Knightridge estava mentindo, é obvio. Os dados eram já conhecidos para todo mundo e ele era consciente disso.
Entretanto Julián não estava, ele olhou a Knightridge. — Você assume uma grande quantidade de coisas. – disse.
— Talvez o faça. Talvez, o mero conhecimento dos maus entendimentos a uma boa mulher, não seja o suficiente para levar em conta essas fantasias sobre sua morte.
Knightridge com fisionomia que mostrava uma profunda reflexão, passeava na frente do jurado. Passou perto do promotor. Fez uma pausa e inclinou a cabeça.
— Eu diria que isso é uma pilha bastante grande de papéis o que tem ali. São todos esses papéis contra ao Sr. Hampton? Mais conspirações e complôs contra Glasbury?
Para consternação de seu adversário, Knightridge arrancou uma grande quantidade de papéis e retirou uma boa distância com eles. Com um floreio, abriu cada um deles e os leu rapidamente.
— OH, bem, bem, acredito que o jurado tem que conhecer esses. Pelo interesse da justiça, lamento dizer que devem ser lidos. Falam do caráter do senhor Hampton e talvez inclusive, de suas intenções.
— O que terá ali?— sussurrou Sofía.
— Não tenho a mínima ideia,— respondeu Pen.
– Parece que ele supõe, que isso vai ajudar no caso.
Knightridge pegou uma grande página, com o braço estendido e preparado para começar.
— Vamos ver, esta carta está datada em dezesseis de abril de 1816. Você era novato nas leis nesse tempo então, acredito eu. Imagino que talvez, só estava há dois anos na universidade. Desde que se encontrava em seu poder, suponho que nunca a enviou. Limpou a garganta e começou a ler.— "Meu incomparável amor...”
Era uma carta. Uma carta de amor. Uma bela carta, doce suave e cheia de nostalgia, escrita por um jovem a uma mulher que não podia ter. Pen não podia afastar os olhos de Julián, enquanto escutava. Ela não teve nenhum problema em imaginar-lhe então, cheio de promessas. Escutava-o dizer essas palavras e o via sentado em um escritório, enquanto ele as escrevia.
Ela não tinha nem ideia que ele nessa época tinha um secreto amor. Perguntava-se se a garota o teria ferido gravemente. Possivelmente, essa era a razão pela que nunca se casou. Knightridge terminou de ler. Ele olhou a Julián e este lhe retornou o olhar. O coração de Pen estava agitado. Que duro deveria ser tudo isso para uma pessoa tão privada como Julián. Knightridge abriu outra página, a sala ficou silenciosa esperando escutar o que poderia ser lido desse papel.
— Janeiro 25 de 1822. 'Meu incomparável amor'—
Era outra carta de amor. Pen escutava encantada o lírico dessas palavras. Essa era um pouco amarga. A metade da leitura, seu coração deu um salto. Um zumbido silencioso entrou em seus ouvidos. Seu olhar se aguçou pela surpresa. Uma linha tinha saltado sobre ela. Uma referência. “A diferença da legendária mulher que usava seu nome, seu marido não era Ulises, merecedor da lealdade eterna de uma esposa.“ Uma pequena comoção estremeceu o salão quando alguns outros reconheceram a alusão. A esposa do Ulises, herói grego antigo se chamava Penélope. A carta foi escrita para ela. Só podia olhar a Julián com assombro. Como se sentisse sua atenção, ele virou seu olhar diretamente para ela. Knightridge lia uma e outra vez. Mais cartas. Poemas. Expressões de desejo insaciável e amor não correspondido em versos que a elogiavam como perfeita, bela e cheia de graça. Em outras ardia com a fúria de um homem preso por uma devoção sem esperança. O mundo caiu ao seu redor, transformou-se nebuloso e distante.

 

Vagamente escutava as reações ao seu redor. Escassamente se deu conta, que todo mundo tinha descoberto quem era a mulher. Não lhe importava, eles não eram importantes. Julián se limitou a olhar para ela e para nenhuma outra parte. Knightridge continuou lendo, mas era como se Julián dissesse as palavras ele mesmo, ele a olhou nos olhos, como se revelasse as profundidades escondidas dentro do seu coração.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 26

— Estive magnífico, se me permite dizer. Knightridge se pavoneava, enquanto empurrava a porta fechada e descansava seu peso nela, bloqueando os guardas que esperavam Julián e o fazer voltar para sua cela.
Julián cruzou os braços e manteve sua distância. Se essa sala tivesse uma janela, ele a esmagaria.— Tinha que ler todos?
— É obvio. Os homens estavam fascinados. As mulheres estavam chorando. Escutou o rugido quando o juiz tentou interromper? Além disso, mediante a leitura todos eles atrasaram a finalização do julgamento até manhã.
— O promotor teve a cortesia de não ler, apesar de que apoiaria seu argumento contra mim, mostrando um motivo mais forte.
— Sabe muito bem, que os julgamentos penais não são só a respeito da lei. São espetáculos teatrais. Há uma possibilidade, de que eu possa salvar seu pescoço, apesar de sua miserável atuação como ator principal nesse drama. Não poderia ter sorrido mais?
— Tudo o que fiz foi envergonhá-la.
— Não me pareceu envergonhada. Laclere pode trazê-la aqui e você mesmo pode perguntar, se é que poderei manter a raia os guardas por mais tempo.
Julián não estava certo se desejaria perguntar a ela alguma coisa, não tinha ideia do que ele poderia dizer. Ela não parecia envergonhada, só parecia assombrada.
— Por que deseja que o julgamento continue amanhã?
— Use sua imaginação para algo mais, que poesia de amor bem escrita, vale dizer; Estou esperando que essas palavras se espalhem, quero que toda a cidade as escute, as damas e os casais do reino, os comerciantes e suas filhas, as criadas e os mendigos. Se estiver certo, e poucas vezes me engano, amanhã as multidões gritarão por sua liberdade.
— Maravilhoso. Quando me enforcarem, a cidade brindará por mim e então, seguirão com seus negócios.
— Não tenha tanta certeza. A respeito de sua execução, entre a evidência de seu casto e longo amor, sua proteção e o conhecimento de como Glasbury a maltratava, eu espero...
— O que?
Knightridge parou com sua boca aberta e esboçou um sorriso cauteloso.
— Humm, claro, certamente você ainda não sabe nada a respeito disso. Deveria ter dito isso mas…
— Ilumine-me por favor. — disse Julián.
— É sobre todo esse assunto dos negócios de Glasbury.
— Os eventos que cercaram seu casamento, é o que queria dizer. Agora entendo por que deliberadamente tirou esse ponto do julgamento. Se eu me livrar da forca por esse assunto de Glasbury, vou fazer que me enforquem por matar você!
— Foi ideia dela, juro. Corrigindo: delas! Eu não imaginava quanto à história prejudicaria Glasbury até que ela me perguntou se poderia ajudar, se soubessem a verdade. Fiquei atônito quando escutei todos os detalhes. Se desejas gritar com alguém por essas revelações, grita com ela e não comigo.
— Mas parece que você não lamenta que ela o tenha feito.
— Isso mudou tudo Hampton. Você entrou na prisão como um canalha, mas entre essa história e esses papéis, agora é um cavalheiro com armadura. Diabos, sim, estou muito feliz que ela tenha falado. É uma mulher condenadamente valente, muitas das mulheres que conheço permitiriam com dor que o enforcassem, sem admitir tais coisas.
Julián fechou seus olhos e lutou para conter seu temperamento. Ela continuava fazendo, continuava se sacrificando pelos os outros. Ela passou anos nesse casamento, ao invés de permitir que o mundo soubesse a verdade, mas agora ela tinha difundido a história para tentar salvá-lo.
Olhou por sua memória e via a sala da corte, enquanto Knightridge lia esses poemas. Ela estava tão incrédula, tão surpresa, não estava irritada, mas incrivelmente perplexa, como se de repente, o mundo tivesse cores que ela jamais tinha visto antes. Por alguma razão, isso só serviu para alimentar seu caráter ameaçador. Seu amor não esteve isento de ressentimentos e raivas, eles agora se agitavam em sua cabeça.
Escutou vozes fora da porta. Os pedidos de Laclere se escutavam claramente através da porta de carvalho. O visconde falava em seu tom mais intimidante, um que lhe dava o privilégio de ostentar com o título. Ele entrou com Pen e Bianca, fecharam a porta a dois céticos, mas acovardados guardas.
— Eles só ficarão dóceis, por um pequeno período de tempo e Knightridge deve permanecer conosco.
Pen aceitou a falta de privacidade com equanimidade. Julián lutou para acomodar-se a si mesmo. Diabos, os jornais imprimiriam essas cartas amanhã, assim à presença de algumas pessoas nessa sala não era nada em comparação com o que seria aquilo.
Laclere, Bianca e Knightridge se reuniram em um canto da sala pretendendo conversar. Julián olhou para Pen. Ela agora não parecia perplexa. Uma mistura de calidez se via em seus olhos. Ela se aproximou e pegou uma de suas mãos entre as suas pequenas e suaves palmas, depois a levantou e beijou. — Julián, nunca em minha vida me senti mais honrada. Acredito que nenhuma mulher foi.
De repente, não havia mais ninguém nessa sala. Só Pen segurando sua mão, com um toque que trazia a luz da primavera e brisa nesse espaço. Não havia agora tempestade dentro dele, não podia ter enquanto o sorrisse dessa forma.
— Não tinha ideia, — disse ela. — Eu nunca imaginaria isso, certamente que não, você é um homem tão honorável, que não deveria me seguir.
— Frequentemente lamentei essa honra. Estive perto de fazer isso por um lado. Somente o custo para você me fazia parar.
— Eu fui uma maior parva, meu amor. Não só no passado, mas também nas recentes semanas. Você me disse isso em Hampstead e eu ainda não entendia o que você realmente estava dizendo.
— Eu não esperava que você entendesse, só precisava dizer antes de nos separar.
Ela o olhou com profundas luzes que queimavam em seus olhos, sua expressão trouxe para sua memória cada lembrança, que ele tinha visto em seu rosto. Era tão bela que seu coração queria explodir. Ele a atraiu para seus braços, ela se apoiou nele encaixando perfeita e comodamente.
— Eu estava sentada lá, enquanto o Sr. Knightridge lia seus papéis, vi você através dos anos, lembrando a formas em que me protegeu. Fui tão estúpida Julián, tão cega, por favor, diga que não desperdicei o melhor de seu amor. Em algumas dessas cartas, soava tão zangado, tão perto de me odiar, não o culparia se você o fizesse.
Ele levantou sua cabeça e a beijou. — Nunca a odiaria, minha raiva nunca foi contra você, a não ser com o pequeno inferno que vivia dentro de meu coração. A raiva sempre passava e nunca me arrependi de te amar, assim se tivesse morrido sem nunca beijar ou tocar você, jamais teria pensado como um amor perdido.
Ela o olhou quando fez referência à morte, uma tristeza cruzou por sua expressão, mas uma rápida determinação a encobriu.
— Estou muito feliz que tenha me beijado. Voltará a fazer frequentemente, estou segura disso em meu coração.
Ele a beijou de novo, um longo e doce beijo, justamente enquanto a segurava entre seus braços, ele acreditou que haveriam muitos mais abraços. As resplandecentes emoções que ela despertou nele, escureceram qualquer perigo. Uma forte tosse quebrou sua paz. Pen virou a cabeça e Julián olhou por cima, um punho estava batendo na porta, Laclere se aproximou com um olhar de desculpa. Ele e os outros tinham escutado tudo, certamente, suas suaves expressões diziam que sim, mas isso não importou a Julián.
Soltou Pen e gentilmente a colocou longe dele. As lágrimas transbordavam em seus olhos e ele esteve a ponto de abraçá-la novamente. Laclere fez uma pausa e esperou para abrir.
— Amo você com todo meu coração Julián, — Pen sussurrou. Julián pegou sua mão e a colocou sobre a de seu irmão. — Lembre que meu amor está contigo querida, embora eu não esteja.
Pen escutou essas palavras durante todo o trajeto para sua casa, elas ecoavam em sua cabeça enquanto estava na biblioteca sentada com Charlotte, quem tentava distraí-la com uma conversa banal. Ela seguia escutando sua irmã, vendo Julián enquanto repetia essas palavras desse dia. Havia tal tristeza em seus olhos, como se esperasse que ela sozinha pudesse contar com seu amor e não com ele no futuro.
Julián não acreditava que pudesse abraçá-la de novo. Isso era impensável, ela não podia permitir que isso acontecesse. Levantou-se do sofá.


— Charlotte, estou muito grata por me fazer companhia, mas devo pedir que vá embora. Preciso sair.
— Mas você está de luto.
Eu não vou para uma festa. Vou à casa de Glasbury. Até que seu sobrinho volte da Jamaica é ainda minha casa, segundo a lei.
— Pen, isso só trará lembranças ruins, que você espera conseguir fazer?
Devo ver esse vestiário e falar com os criados.
— Querida, o Sr. Knightridge falou com eles. Não podem dar mais informação que possa ajudar Julián. Embora Knightridge seja um presunçoso e arrogante, ele é o que é e duvido que obteve toda a informação que pôde sobre a investigação.
— Há muita diferença entre uma consulta feita por ele e a que eu posso fazer. Eu sou a condessa de Glasbury. Por anos rejeitei pensar em mim dessa forma, mas possivelmente por um longo tempo mais, deva ostentar essa posição e se eu sou a condessa, então nesse momento eles ainda são meus criados.
— Se está determinada a fazer isso, vou contigo. Não permitirei que esteja perto do fantasma desse sapo sozinha.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 27

A carruagem de Pen parou na frente à casa de Grovenor Square. Ela não colocava os pés nessa propriedade desde que havia deixado Glasbury. Só tinha tido vinte e um anos então, quando esteve ali.
— Quando deixei o conde, estava nessa casa,— contou a Charlotte,— o conde me viu partir, ele só permitiu eu que levasse os objetos pessoais que havia trazido comigo quando me casei. Nada mais. Nem dinheiro ou as joias que ele tinha me dado, nem os vestidos que tinha comprado.
— Ele desejava que você sofresse, pois pensava que retornaria em pouco tempo.
— Teria deixado ele, mesmo se tivesse que ir só com a roupa do corpo se fosse necessário, de todas as formas, não desejava levar nada do que ele tinha dado, isso ele jamais entendeu.
Um lacaio as ajudou a descer, Pen caminhou para a porta, virou-se e reviveu o momento em que ela saiu por essa mesma porta, há tantos anos atrás. Estava chovendo naquele dia, mas o sol de repente brilhou em seu coração. Uma euforia se derramou por sua alma quando deixou a sombra desse lugar. Quase correu à carruagem que a levaria para Laclere Park, Julián ficou parado ali esperando para escoltá-la até que explicasse a seus irmãos, a pequena história que podia ser dita a respeito de sua escandalosa decisão.
— Éramos tão jovens então, Julián assumiu um grande risco enfrentando a Glasbury por mim – disse ela. — Não imagino o quanto colocou em jogo.
Charlotte tocou o sino da porta.
Um criado grande abriu a porta. Pen o reconheceu, quando ele se colocou a um lado e lhe fez uma reverência, estava claro que a reconheceu também.
— César, é bom vê-lo de novo,— disse ela, como se entrasse em uma sala de recepções. Ele era um dos muitos escravos, que Glasbury havia trazido de sua plantação na Jamaica. Ele e seu irmão Marcus serviam como lacaios por anos, seguindo ao conde de propriedade a propriedade.
— Obrigado Milady. – ele se ofereceu para pegar seus casacos.

— Sabe se o novo conde voltou para a Inglaterra?
— Não temos nenhuma palavra até o momento.
César falou com a mesma formalidade que sempre usou, seu rosto não mostrava expressão e seus olhos não revelavam nada. Esse enigmático sigilo não era usual nos criados, mas César e os outros ilhéus sempre se mostravam severos e fechados, como se seus olhos fossem as janelas de sua alma e deliberadamente os guardassem com uma tela para não vê-las.
— Ficarei aqui poucas horas – explicou Pen,— antes de ir desejo falar contigo a sós. Agora, me diga quem mais esteve aqui que eu conheça, talvez seu irmão?
— Meu irmão assumiu outro posto na cidade. Além de mim, acho que só Cook é da época que você esteve conosco.
— Julia? Ela está aqui agora?
— Abaixo, madame. Mudou-se aqui de Wiltshire faz alguns anos, quando o conde começou a passar mais tempo na cidade.
— Preciso vê-la, não avise ela, eu irei em seguida procurá-la.
Ela levou Charlotte às escadas e desceram, Charlotte lhe perguntou.
— É ele um dos escravos dos que você falou? Como Cleo?
— Sim, mas César e seu irmão não parecia que lhes importasse muito. Eram muito devotos e parecia que aceitavam sua situação, provavelmente eram os únicos nos quais Glasbury confiava realmente. Sempre foram com ele a todas as partes, enquanto que os outros permaneciam em Wiltshire.
— Se for assim, eles devem saber que ele não podia tê-los aqui na Inglaterra legalmente. Devem ter se informado da verdade.
— Depois que abandonei o conde, Julián forçou Glasbury a dizer a todos eles que eram livres na Grã-Bretanha, mas isso foi antes e pelo menos outros criados falaram da lei a outros, como poderiam eles saber?
— Se eu fosse um escravo e ainda não conhecesse o cheiro da liberdade, eu gostaria de saber como é.
— Se conheceram, então escolheram ficar aqui. Ele deu a César e a Marcus um grau de certos privilégios e autoridade. Era para eles uma posição segura. Talvez, fez com que suas correntes fossem menos visíveis.
— Acha que César sabia o que acontecia com Cleo?
— Receio que todo mundo na mansão de Wiltshire sabia.
— Covardes!
Pen parou e se virou para sua irmã. — Sim. Da mesma forma que eu fui. Seu eu não vivesse com medo Charl. Nunca saberá como se quebra o espírito, não pode entender e reza para Deus para que nunca, jamais precise saber.—
A cozinha não estava vazia. Duas mulheres jovens estavam desengordurando as panelas em um canto. Uma velha mulata estava sentada perto do fogão, com os olhos fechados e com as costas reta. Alguns cabelos grisalhos escapavam de seu lenço vermelho amarrado na frente. Ela usava um longo avental sobre a saia de seu vestido marrom simples.
— Julia?— Julia virou lentamente a cabeça. Ela fez um gesto às outras duas mulheres. Essas deixaram suas panelas e saíram correndo da cozinha. Julia começou a levantar-se. Apertou as mãos contra seus joelhos e se empurrou para cima.
— Não. Por favor, não. Eu sentarei com você. Pen levou um banco para a lareira e se sentou. Os olhos vazios a olharam. Em branco, como César. Igual a Cleo. Os escravos desde jovens aprendiam a esconder seus pensamentos. A sobrevivência dependia disso.
Charlotte ficou perto, mas justo onde Julia podia vê-la. Pen as apresentou. Julia lhe fez uma reverência apropriada, mas carente de interesse.
Agora que ele está morto, você pode voltar. — Julia disse com surpreendente franqueza. — Até que o próximo amo venha. — Um matiz em seu tom sugeria que o próximo amo, não seria melhor que o último.
— Não penso voltar. Só vim essa noite para resolver alguns assuntos, nada mais.—
— Quais são esses assuntos?
— Sua morte, por exemplo. Ouvir falar que os criados não viram nada, que não sabem nada. Não acredito que isso seja possível. Julia coçou a pele debaixo de um de seus olhos.
— Estávamos dormindo.
— Certamente seu ajudante de quarto sabe quem o visitou.
— O amo trazia convidados algumas vezes e não desejava que os vissem. Essa noite, enviou a seu valete para longe.
— Quem recebeu seu convidado? Não acho que Glasbury se rebaixaria a receber.
Julia não fez nenhuma replica. — César poderia ter feito, mas foi para cama antes que qualquer visitante chegasse.
Pen olhou nos olhos de Julia. Olhou-a dura e longamente, procurando luzes entre a tela, para ver os pensamentos escondidos pela neblina.
— Eu também vou dizer algo para você Julia. Cleo está morta. Soube faz só um mês.
Julia posou seu olhar aborrecido sobre o coração. — Bem, a garota está melhor no céu, é um lugar melhor e tem um amo melhor que a abraça agora.
Depois pegou uma vara e se inclinou para mexer o fogo. Enquanto o fogo queimava sob seu rosto, Pen viu que alguma coisa se refletia no fundo desses olhos. Algo inesperado e confuso. Satisfação. Uma profunda satisfação brilhava dentro dessa velha escrava.
— Ela sabe algo. Estou segura disso,— disse Pen a Charlotte, quando ficaram sozinhas na sala de Glasbury.
— É óbvio, que não se importa por ele ter morrido e não posso dizer que a culpo.—
Pen estudou o dormitório. Estava igual ao restante da casa, passado de moda na decoração, cheia de linhas bufantes e dourados do século passado. Glasbury não permitiu que ela mudasse nada. Não confiava no julgamento dela ou em seu gosto.
Sua cama era uma ameaça. E o banco. O tapete sobre o qual a tinha tomado uma noite. Deu a volta e se encontrou com a expressão de preocupação de Charlotte.
— Era outro mundo e outra mulher,— disse Pen, enquanto se dirigia para o vestiário.— Não me olhe como se fosse a começar a delirar.
O vestiário era tão grande como o dormitório e continha sofás e cadeiras junto com armários e gavetas. Tinha sido construído na época, em que as pessoas se entretinham em seus camarins. Pen podia dizer imediatamente, que havia sido limpo a fundo. Não restou nada que indicasse o que aconteceu naquela noite. Ela passeou ao redor dele de todos os modos, com a esperança de encontrar algum indício.
Acha que os criados poderiam ter feito?— perguntou Charlotte.
— Se jantou nessa noite, o veneno bem pode ter estado nesse alimento, não no vinho que tomou depois.
— Por que agora, depois de todos esses anos? E se esteve aqui um visitante, isso vai prejudicar Julián, pois encontraram duas taças de vinho. Glasbury nunca compartilhava vinho com um criado. Alguém mais esteve aqui.
— Atrevo-me a dizer que essa pessoa nunca vai admitir. Se um visitante chega ao meio da noite e é recebido pelo próprio conde, seu valete é mandado embora, é porque existe uma boa razão.
Infelizmente, é bem provável que esteja certa.— Charl tranquilamente abriu uma gaveta da penteadeira. – Imagino que a casa recebeu cartas ou notas.
— O Sr. Knightridge se encarregou disso.
— É obvio que sim, o grande Knightridge.— Charl se aproximou do grande armário da parede do fundo. Abriu suas portas e examinou as roupas do conde.
Empurrou a um lado algumas capas da manhã e ficou congelada. Ela arrumou rapidamente as capas para trás. Pen o notou.
— O que foi? Está muito pálida.
Foi ao armário. Charl continuou alisando os casacos.
— Não foi nada. Na verdade.
Pen empurrou para um lado as capas. Pendurados na parte de trás do armário de Glasbury estavam os chicotes, cordas, suas correias e todas as ataduras que usava.
— Knightridge não procurou muito a fundo, me parece,— disse Charlotte.
— Ele não estava procurando esse tipo de coisas.
— Talvez deveria ter feito.
Pen fechou o armário.— Acho que sei quem esteve aqui nessa noite. Eu sei que seus visitantes eram secretos. Deixou de fazer quando trouxe Cleo. As mulheres que vinham aqui, eram prostitutas, desse modo ele podia desfrutar de todas suas perversidades sem que ninguém o parasse.
Charlotte fechou os olhos e voltou a abri-los.— OH, Pen, você é muito boa para não ver mais coisas.
— O que quer dizer?
— Pode ainda ter sido um homem quem esteve aqui e não tem que ser necessariamente uma prostituta. Recebi algumas fofocas ultimamente e pude saber que Glasbury não se limitava somente às mulheres em seus jogos.
Pen estava na frente de César na biblioteca. Tinha deixado Charlotte no salão. Nessa reunião era necessário que a fizesse em um lugar a sós.
Estava de pé alto e reto, impressionante dentro de seu libré. O conde tinha interpretado mal as maneiras respeitosas e submissas de César, pelo contrário, ela sempre reconheceu um orgulho subjacente em seu rosto e em sua postura.
Não tinha ideia de quantos anos tinha. Quarenta? Cinquenta? Talvez, a peruca escondia seus cabelos grisalhos? Os habitantes das ilhas não revelavam sua idade no rosto, da mesma forma que os ingleses. Julia, que em realidade era velha, provavelmente muito mais velha do que parecia.
— Não vou tentar fazer nenhuma pergunta, porque sei que não tem as respostas para elas, — disse ela.
— Como deseja, milady.
— Meu desejo é que me escute e leve minhas palavras a seu coração. Penso que você sabe quem visitou o conde nessa noite. Possivelmente, não diz por que tem medo que lhe vejam como um cúmplice. Talvez, pretenda proteger o nome de Glasbury ou de alguém mais. Qualquer que seja a razão, eu acho que tanto Julia como você, pelo menos sabem o que aconteceu e não querem contar.
— Nós não estamos mentindo.
— De todos os modos, não disse toda a verdade. — Ela caminhou para ele. — Um homem vai ser julgado por sua morte e ele é inocente. O Sr. Hampton não fez isso e você sabe. Deixará que o enforquem?
César fez uma pose, que dizia claramente que se um inglês morria não se importava.
— Lembra-se de Cleo, César?
Isso o fez reagir. Um movimento passou através de seu rosto, antes de reassumir sua impassividade.
— Foi Julián Hampton que a levou para longe do conde. Sabia? Antes que eu deixasse o conde, ele fez Glasbury a entregar e se assegurou, que o conde nunca mais pudesse fazer tais coisas novamente com um criado. Ele forçou o conde a dizer para vocês que eram livres, quando puseram o pé na Inglaterra, esse é o motivo porque as coisas mudaram depois. Graças ao Sr. Hampton. Ele levou Cleo para uma mulher que cuidou dela, e pagou para que a cuidasse todos esses anos. O homem que deixará que enforquem velou pela segurança de Cleo e pela liberdade de outros, quando ninguém mais o fez.
Ele afastou o olhar, como se para manter a compostura precisasse olhar o gesso da parede atrás dela.
Então ela teve a certeza, que esse homem sabia de alguma coisa que poderia ajudar a Julián, ele só precisava dizer e o perigo desapareceria.
— Deve salvá-lo. Não de modo para proteger a si mesmo, se você vai ficar ou ir embora, seja o que for que deseje, deve ir falar com o Sr. Knightridge e contar o que aconteceu aqui nessa noite realmente.
Ele se virou para olhá-la novamente, olhando através dela, não lhe ofereceu nada exceto o silêncio.
Sentiu-se derrotada, sua inabilidade para chegar a ele estava enlouquecendo-a, pensou por um momento que começaria a gritar ou a chorar. A resposta para salvar Julián estava justo na frente dela e não podia obtê-la. Por medo, por orgulho ou por ódio, César e Julia ignorariam suas preces.
Se as coisas estivessem contra Julián amanhã, ela nunca se perdoaria e tampouco a esse homem. Lívida além do bom sentido, mordeu sua indignação e caminhou para a porta.
— Se enforcarem o Sr. Hampton porque você permaneceu em silêncio, não descansarei até que encontre o motivo. Encherei meus dias e noites vazias, perseguindo toda a verdade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 28

Na manhã seguinte, os vendedores ambulantes perto de Old Bailey vendiam muito jornais novamente, onde descreviam as dramáticas revelações do dia anterior. Algumas das cartas de Julián e dos poemas foram também publicados. Os espectadores entraram na sala cheios de expectativas. Levavam os jornais, cujas histórias refletiam a simpatia da cidade com o prisioneiro romântico.
  Quando  Sofía  chegou dessa vez,  seu marido a acompanhava. Adrian Burchard havia voltado a Londres na noite anterior, com uma carta do Sr. Jones admitindo que sequestrou a condessa de Glasbury sob ordens de seu marido.  Essa palavra havia se espalhado rapidamente, mesmo que ainda não tivesse saído dos jornais.
 — A opinião geral para Julián, no melhor dos casos deve ser condenado por homicídio involuntário e não por assassinato,— Sofía sussurrou assim que se sentou ao lado de  Pen. 
— Participei de uma festa ontem à noite, onde várias damas insistiam que isso não era pior que a própria defesa.
Adrian balançou a cabeça. 
— À noite no White’s, vários homens comentaram que um canalha como ele precisava ser assassinado, sem importar qual fosse seu título, ou com que método o fizesse.
Suas palavras tranquilizadoras não acalmaram Pen.  Emoções turbulentas faziam estragos nela. Não sabia se poderia suportar estar aqui hoje.  Ela não esperava que todas estas opiniões da cidade importassem em absoluto. O conde estava morto e alguém tinha que pagar.
Sabendo que havia pessoas que poderiam salvar Julián, estavam agora sentados na casa Glasbury, a faziam enlouquecer. Passou a noite tentando pensar em algum argumento ou promessa que pudesse dar coragem a Cesar para vir e falar. O amanhecer havia trazido um terrível medo em seu coração, que não podia controlar.
O juiz e o jurado chegaram e Julián também entrou. O promotor tomou sua posição. O advogado defensa não estava à vista.
— O Sr. Knightridge parece estar esgotado com as declamações de ontem. — disse o juiz sarcasticamente. — Que pena.
Ele fez um chamado à ordem para começar o julgamento.
— Não resta nada mais que a soma dos fatos. O promotor começou a levá-lo para fora de novo. Knightridge não poderia refutar de todas as formas, pois sua ausência não afetaria agora o resultado.
O medo de Pen se incrementou de todas as formas. Era como se Knightridge não desejasse estar presente, quando seu amigo fosse condenado e deixar Julián parado aqui sozinho contra todas essas acusações.
Quando o registro foi reduzindo-se, um rumor de vozes irrompeu a sala. Começou na parte de trás da sala e pouco a pouco, foi se levantando até que abafou a voz do promotor.
O juiz pediu silêncio, sem nenhum resultado. Ele olhou para a fonte do distúrbio, sua boca se franziu e suas pálpebras caíram.
Knightridge estava apertado entre os funcionários da corte. Ele se dirigiu para o juiz.
— Devo pedir sua indulgência, mas um assunto muito importante me atrasou.
— Nós não nos perdemos com a sua ausência senhor, você pode achar que é essencial para todos a sua participação, pode estar certo que somos perfeitamente capazes de terminar esse julgamento sem sua ajuda.
— Certamente, entretanto o julgamento não terminou ainda, uma pessoa veio para ver-me essa manhã e me expressou seu desejo de dar toda a informação. Esta é uma história que deve ser escutada.
— Já temos tudo o que necessitamos. — Knightridge parecia ofendido, ferido, perplexo.
— Nega-se a receber um testemunho sob juramento que poderia dar luzes sobre os eventos que aconteceram nessa noite? Se você requerer os precedentes antes de permitir tal informação tardia, eu posso dar-lhe. O juiz o olhou com extremo desagrado, Knightridge respondeu com uma mistura de inocência e altivez.
Foram os espectadores que resolveram suas diferenças, gritavam para que a nova evidência fosse escutada. Outras vozes também concordaram. O alvoroço cresceu, diante da possibilidade de retroceder suas prerrogativas, frente à ameaça de um motim o juiz decidiu  pelo último.
Knightridge se virou para a porta da corte. Fez um gesto para alguém. Todas as cabeças viraram.
Uma mulher entrou na sala de audiência.
A senhora Pérez.
— Meu Deus, o que é isso?— murmurou Sofía.
Pen não tinha ideia alguma, ela estava tão atônita como todos os outros.
A Sra. Pérez caminhou para o juiz. Seu recatado vestido de marfim, contrastava com sua pele amendoada. Seu chapéu estava muito sedado, somente seu xale parecia exótico, comprido e sedoso, azul escuro com padrões de cor verde. Fluía sobre ela como água e fazia alusão às curvas ocultas pela roupa.
A luz que entrava por uma janela iluminava seu rosto, o fôlego de Pen ficou perdido, no teatro ela não foi capaz de distinguir claramente os rasgos dessa mulher, mas agora pela manhã revelava sua incomum e atraente beleza.
Com grande cepticismo o juiz se dirigiu a ela. — Você tem informação sobre esse crime madame?
— Eu tenho uma informação que deveria ser ouvida, não sei nada a respeito do crime.
— Realmente, isso é um desperdício — disse o juiz.
Eu sei por que o Sr. Mr. Hampton não esteve com o conde nessa noite, — ela continuou. — Ele estava comigo.
Pen soltou a respiração, igual à Sofía e Dante. Assim fizeram todos depois de cinco segundos, toda a audiência inalou audivelmente.
Pen olhava a mulher que estava na frente do juiz. Havia alguma coisa em sua expressão, algo na forma em que se preparou para esse papel.
— É verdade, senhora? Você está dizendo que é amante do Sr. Hampton? Perguntava-me de quantas mulheres esse homem necessita. — O juiz parecia encantado com sua pequena piada. Ninguém riu.

— Ele não é meu amante. Ele foi para aconselhar-me. Meu marido estava a ponto de embarcar para um investimento que me preocupava por ser potencialmente perigosa. Perguntei a Hampton se podia me visitar, quando eu soubesse que Raúl não estaria em casa, assim eu poderia consultá-lo e meu marido não saberia.  Chegou à meia-noite e foi duas horas mais tarde.
— E ficou satisfeita com seu conselho? O juiz perguntou com um sorriso.— Contente com seus serviços?
 O público não captou a ironia. O drama era mais convincente que as insinuações do juiz, com suas intenções de ser engenhoso.
A senhora Pérez fingiu não perceber o duplo sentido. Ela assumiu a atitude de uma mulher virtuosa e incapaz de compreender essas coisas. 
— Seu conselho foi muito bem recebido, obrigada. Eu fui capaz de convencer a meu marido de retirar-se desse arriscado assunto.
— Por que não se apresentou antes?— O promotor interferiu. 
— Isso parece muito suspeito. Talvez, você seja sua amante e agora mente para salvá-lo.
— Não disse nada antes, porque tinha medo que meu marido pudesse interpretar mal essa reunião. Entretanto, Raúl viu minha crescente angustia e ao saber do segredo que tinha, insistiu que eu encontrasse o Sr. Knightridge. — Ela baixou o olhar humildemente, como se a ordem do marido fosse à lei para ela.
— Seu marido acredita atualmente na inocência dessa reunião a meia noite?
— Minha donzela e meu mordomo estavam presentes para testemunhar minha inocência. Eles estiveram na sala de desenho todo o tempo. Nunca me encontraria com um homem a sós, menos ainda para tratar de negócios. De onde eu venho às damas não fazem isso.
Ela olhou para o juiz. — Se você deseja falar com meus criados, eles lhe explicarão como foi tudo.
— OH, sim, estou certo que eles farão. — O promotor levantou suas mãos para expressar sua exasperação e incredulidade.
— Não acho que essa nova evidência vale como razão convincente— disse o juiz ao jurado. –Alguém matou o conde de Glasbury e uma história muito tardia dessa mulher nos diz quem o fez ou quem não fez.
O rosto de Julián parecia de pedra. Pen sabia a razão de sua raiva, se acreditassem na história da Sra. Pérez e Julián fosse exonerado, a polícia tinha outra pessoa que podiam acusar muito facilmente.
— Se me permite falar, — O Sr. Knightridge disse muito politicamente.
— Receio que nós já o ouvimos falar o suficiente.
— Por favor, peço sua indulgência. A dama, de fato nos disse quem não matou o conde e eu poderia ser capaz de jogar alguma luz sobre quem sim o fez.
Isso certamente chamou a atenção de todos, o cenho de Julián se aprofundou.
No centro de um novo cenário, Knightridge falou humildemente, como se estivesse fazendo uma confidência ao juiz. Entretanto, seus espectadores estavam cada vez mais pendurados em suas palavras. Sem dúvida Pen as escutava atentamente.
— Senhor, muito cedo nessa manhã, antes do amanhecer, acompanhei os membros da Polícia Metropolitana de volta à casa de Glasbury. Fui informado, que se fizéssemos uma busca mais exaustiva nas dependências do conde, poderíamos encontrar coisas importantes, que poderiam contribuir com luzes sobre o caso.
Ele fez uma pausa e olhou para cima aos espectadores. Deu ao juiz um significativo olhar, que indicava que, o que vinha a seguir seria muito embaraçoso.
O juiz o olhou como um homem que conhecesse o seu jogo, mas lhe daria o gosto.
— Vá em frente.
— Bem, em seu guarda-roupa, escondido por suas roupas, encontramos certos objetos que sugeriam que seus visitantes secretos o visitaram, diremos que eles vinham a suas ordens e para cumprir suas ordens como fosse. Ele viu positivamente consternado que seu dever requeria que abordasse o indelicado assunto.
A cara do juiz avermelhou de vergonha e de raiva.
— A polícia tem agora esses objetos em seu poder. Possivelmente você deveria pedir que os trouxessem para que possa verificá-las.
— Isso não será necessário.
— Não? Então estamos de acordo que a existência desses objetos, indica que terá que procurar o assassino do conde, em outros círculos menos elevados que os vistos até agora?
— OH, meu Deus, ele é muito bom nisso, — sussurrou Sofía.
Sim, era muito bom.
O juiz olhava como um homem que fosse encurralado em um canto. Chegando até ali, Knightridge continuou pressionando.
— Estamos de acordo que o testemunho dessa Dama exonera o Sr. Hampton e que o visitante do conde era uma pessoa desconhecida para a polícia e não associada com o Sr. Hampton?
Esse sinal não foi passado por cima e os espectadores gritaram em acordo e pediam uma resposta. As bochechas do juiz estavam inchadas, enquanto se debatia pensando na resposta. Finalmente exalou e assentiu com a cabeça.
A galeria se tornou louca, Pen olhou para Julián, enquanto o estrondo crescia ao seu redor. Queria agarrá-lo, abraçá-lo e chorar de alivio em seus braços. Ele devolveu o olhar, embora seu comportamento não tivesse mudado, o fogo que havia em seus olhos a queimava. Luzes de vida e esperança queimavam neles. Chamas particulares que só ela poderia reconhecer. O amor e a paixão de toda uma vida agora o esperavam, se é que ela era o suficientemente valente para aceitá-los.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 29

— Você foi quem contou ao Sr. Knightridge sobre o guarda-roupa. — disse Pen.
Ela estava parada com Charlotte fora de Old Bailey, esperando por Julián. A multidão se dispersou, mas algumas pessoas ainda circulavam a seu redor. Abaixo na rua se escutava um novo grito, um moço oferecia notícias frescas descrevendo a conclusão de suspense do julgamento.
O juiz tinha recomendado ao jurado votar pela absolvição e eles rapidamente fizeram.
As formalidades estavam sendo atendidas, mas Julián sairia logo por essa porta.
Ela não podia esperar para vê-lo e abraçá-lo. Embora ali, também havia outras pessoas que desejavam saudá-la, deveriam esperar para mais tarde, depois que ela tivesse Julián de novo perto dela.
— Certamente que disse, quando eles examinaram pela primeira vez seus aposentos, não procuravam evidências que confirmassem a conduta aberrante de Glasbury. Suas revelações vieram depois disso, agora com os detalhes de seu casamento bem conhecidos, eu me dei conta que Knightridge necessitava somente aludir a eles, para abrir outras possibilidades na cabeça dos jurados.
— É tão brilhante como ele Charlotte, deve admitir que ele executou perfeitamente o jogo. Deixou o juiz sem saída.
Charl riu. — Suspeito que a todos os juízes não gostam dele tanto como eu, se é que faz todos luzir como tolos quando ele ganha.
A porta se abriu. Uma túnica apareceu.
— Aqui vem ele, espero que seja amável e lhe agradeça como merece.
— Sem você, Pérez e eu, ele teria perdido o caso, como me surpreendeu ao encontrá-la unindo-se ao nosso batalhão.
Graças a Deus, seu marido foi compreensivo e honorável, é tudo o que posso dizer.
Pen tinha mais coisas a dizer sobre a Sra. Pérez e a ela em pessoa, mas isso seria em outro dia. Hoje era para celebrar, Julián cruzou a soleira atrás de Knightridge. O sinal que lhe fez a deixou enjoada e cambaleante.
Ele fez uma pausa e olhou para o céu, então fechou os olhos como se precisasse recuperar a compostura frente a uma poderosa emoção. Quando os abriu de novo, era novamente o Sr. Hampton que o mundo conhecia.
Contido, frio, reservado. Até que a olhou, um fogo intenso ardia em seus olhos. Revelavam tudo o que havia em sua alma, ela viu o medo angustiante com que teve que lutar na prisão, quando se supunha que o enforcariam e também, a exalação que deu por sua inesperada salvação.
Nesse momento, ela também compreendeu como nunca antes, sua resolução de protegê-la a todo custo, ainda que dependesse de sua própria vida.
Ignorando o que Knightridge lhe estava dizendo e sem pensar nos olhos que ainda os estavam olhando, com a esperança de ver mais espetáculo, Julián caminhou para ela abrindo seus braços. Ela não o pensou duas vezes e correu ao encontro de seu esperado abraço.
Pen o levou para sua casa, ele foi incapaz de recusar, ainda estava chocado e não conseguia absorver do todo o giro que tinha tomado às coisas nesse dia. O indulto o tinha deixado intoxicado de alívio, embora o julgamento também, o deixou mais cansado do que imaginava.
Pen pegou sua mão, ordenou que lhes trouxessem um pouco de brandy e deu instruções para que preparassem um banho.
Quando lhes levaram o brandy, serviu uma boa quantidade e depois serviu um menor em outro copo.
Prometo não contar, começou ela, sinto que alguém aqui precisa de meus cuidados.
O espírito que ela esquentou, ajudou a colocar seu mundo novamente em seu lugar. Pen se sentou em um sofá e tomou um gole. Estava muito contente e feliz.
Ele esperava não ter que dizer nesse momento, mas pensou que deveria fazer de todas as formas.
— Eu nunca visitei a Sra. Pérez e mais do que nunca naquela noite.
— Eu sei.
— Não imagino por que ela fez isso, ela não me deve nada e muito menos mentir sob juramento.
— Talvez, ela esteja apaixonada por você e não podia suportar a ideia de que o enforcassem. — Pen afastou seu copo, levantou e se aproximou dele.— Qualquer que seja sua razão, estou extremamente agradecida, amanhã iremos lhe agradecer. Mas agora veem comigo.
Puxou-o pela mão e o conduziu para fora da sala.
— Aonde vamos?
— Para um lugar onde eu possa cuidar você, assim não coloque objeções ou fale que é muito indiscreto, pois agora sou muito conhecida e vou ser tão desavergonhada como quiser.
— Esse é um dos benefícios do escândalo, não é?
— OH, sim, eu aprendi isso desde o começo.
Ela o conduziu acima para seu quarto, indiscreto, era uma palavra que não conseguia descrever o que estava fazendo no meio dia, com o completo conhecimento de todos os criados, lhe recordando disso mais tarde. Hoje, não havia regras que ele estivesse inclinado a obedecer.
O banho estava preparado perto da lareira de seu quarto. Uma vaporosa banheira esperava em cima de um grande plástico que protegia o tapete.
— Meu vestiário não é grande o suficientemente grande, — explicou ela — E eu pensei que você gostaria de lavar a última semana que passou.
Ele ainda cheirava a prisão nele e ela provavelmente também, Julián não estava certo que um banho pudesse tirar dele completamente esse aroma, estava em sua cabeça, junto com a miséria e o desespero que impregnava um lugar como aquele.
Sentou-se e tirou suas botas.
O trinco da porta soou, ele se virou para ver. Pen não foi embora, só tinha fechado e assegurado à porta. Moveu-se para ele e deslizou suas mãos para frente de sua jaqueta.
— Eu disse que desejava cuidar de você, pensou que isso significava, como uma mãe?
— Espero que algo mais que um banho esteja me esperando aqui.
— Sim, muito mais, mas primeiro eu cuidarei de outras formas. Ela deslizou seu casaco por seus ombros e braços, jogando a um lado. Seus dedos procuraram o nó de sua gravata. Ele fechou os olhos e descansou sua cabeça em seus seios. Os braços dela cercando-o e seu suave toque, despertaram o desejo que começou a queimar como uma tocha. Ele voltou sua cabeça e a beijou na curva de seus seios. Com um suave sorriso, ela começou a desabotoar seu colete. Cada pequeno toque o inflamava mais. Começou a pensar que talvez o banho pudesse esperar.
Ela se mexeu na frente dele para afrouxar seus punhos e o pescoço. Pouco a pouco levantou a camisa sobre sua cabeça, depois ela fez uma pausa.
Ele levantou a cabeça e a olhou com sua expressão de pálpebras pesadas, sensuais luzes brilhavam nos olhos dela, estava desfrutando disso. Ela o pegou olhando-a, um belo rubor se estendeu por suas faces. — Tem que parar agora, do contrário não vou poder continuar.
O desejo já rugia por dentro, alimentado pela liberação embriagadora que havia trazido o dia. Ao despir de suas roupas, tornou-se erótico, entretanto, não lhe importava o atraso.
Ele se levantou, ela focou sua atenção trabalhando nos botões de suas calças. Ele centrou a sua, em ver como a luz que passava através da janela fazia brilhar seu cabelo escuro.
Sua mão passou roçando em cima de sua ereção, seu rosto se avermelhou mais e teve problemas para finalizar sua tarefa.
— Deseja ajuda Pen?
— Não. Eu posso fazer isso sozinha. — Soava mais como uma declaração de vontade do que de competência. — Sonhei durante dias, o que eu faria quando o recuperasse de novo e esses botões não vão me derrotar. — Consegui. As calças afrouxaram. Ela parou novamente.
— Nenhuma ajuda para nada?
Ela soltou uma gargalhada.
— Poderia me beijar. Isso ajudaria enormemente, isso é mais difícil do que eu pensei. Eu esperava me sentir perigosa e sedutora, mas ao invés disso, sinto-me tola e covarde.
Ele deslizou sua mão atrás de seu pescoço e a atraiu para ele.— Você é tão perigosa, que eu estou terrivelmente seduzido. Seu beijo lhe revelou quanto. Ele apenas se conteve de devorá-la, sua língua varreu o veludo úmido de sua boca, imaginou outros veludos escondidos e lutou contra a urgência de levantá-la e levá-la à cama. Mas não sucumbiu, porque não podia caminhar. Durante o beijo, Pen tinha empurrado para baixo sua roupa de baixo e estava agrupada ao redor de seus tornozelos.
Seus olhos brilhavam vendo o próprio desejo dela. Pen beijou o pescoço e continuou descendo para seu peito. A pressão cálida de seus lábios criava pontos de delicioso fogo.
Ela se afastou.— Se não for um banho absolutamente, deverá ser logo.
Ajoelhou-se para tirar de seus tornozelos e dos pés a roupa. Baixou o olhar para ela, enquanto estava ajoelhada para atendê-lo. Igual a um criado para seu amo, ou uma dama a seu senhor. A postura que tinha, poderia ser considerada como de submissão, era a filha de um visconde e viúva de um conde. Provavelmente, ela nunca se ajoelhou de boa vontade na frente de alguma pessoa, exceto do próprio rei. Não foi educada para humilhar-se no cuidado de alguém.
Julián tocou sua cabeça.— Sinto-me honrado, minha senhora.
Ela o olhou acima e seus olhos estavam nublados, levantou a cabeça e o beijou brandamente em sua perna, depois em sua coxa. Então, o beijou intimamente, de uma forma que lhe fez apertar os dentes.
Ele levantou sua mão e a ajudou a levantar-se. Caminhou para a tina e entrou nela.
— Ainda está quente? — perguntou ela.
Se não estiver eu sim e acho que meu corpo voltará a esquentá-la rapidamente.
Começou a banhar-se, perguntando-se se ela sequer sabia o que tinha comprometido esse último beijo. Ela se ajoelhou ao lado da tina, sem dúvida para ajudá-lo.
— Molhará seu vestido.
Não acho que um pouco de sabão e água o arruínem.
— Não há nenhuma razão para fazer isso. — Ele levantou sua mão e a levou atrás dela, depois começou a desabotoar seu vestido.
Se é para ser perigosa Pen, deveria fazer bem.
Ela se contorceu para que pudesse despi-la mais facilmente. Ele se ajoelhou e terminou de despi-la. Fez um gesto para a cadeira onde estavam suas roupas — Se colocar suas roupas sobre as minhas na cadeira, não se molharão. — Assim poderia vê-la melhor. Ela se deu conta de seu plano, assim que se levantou e saiu de seu vestido. Parecia bastante sóbria, enquanto deixava de lado rapidamente se desprendeu de suas anáguas e um sorriso sensual suavizou sua boca enquanto deixava as tiras caírem.
 — Eu gosto do jeito que está me olhando Julián. Sinto-me muito sedutora e perigosa agora. Quero ver se posso ser devastadora e malvada também. Deve permanecer aí enquanto termino.
— Acredite em mim, sou incapaz de me mexer.
  Ela deliberadamente demorou muito tempo para tirar a camisa. Zombou dele  realizando uma lenta revelação de seu corpo.  O tecido desceu por seus seios cheios e cremosos que havia sonhado beijar, passou ao longo da curva encantadora de sua cintura, ao redor de seus quadris e por cima do pelo escuro aninhado debaixo de seu ventre. Finalmente, ficou nua e só a cobria uma transparente camisa de seda que chegava aos joelhos, uma perfeita visão feminina, toda branca, rosada e suave.
Seu olhar nunca o abandonou. Sua expressão revelava sua excitação e outras coisas, também. Estava triunfante e com um ar muito mundano.
Aproximou-se da banheira. Ela parecia incrivelmente erótica assim nua, a exceção da seda branca. Os efeitos de sua sedução ao despir-se, estavam recolhidos nele com uma fúria implacável. Quando chegou ao seu alcance, a puxou pelo braço para poder dar um beijo.
Ela se juntou a ele como se fosse o primeiro beijo em anos. Sua resposta foi tímida e vacilante ao principio, depois apaixonada e agressiva. Ela se inclinou sobre a banheira, com as mãos nas bordas, os braços ao lado de seu ombro.
Seus seios a centímetros de seu rosto. Beijou cada um de deles, depois moveu a língua para um dos mamilos e com os dedos apertou o outro. A respiração dela se acelerou de uma maneira que ele amava, em seguida deixou escapar alguns suspiros. Ela se mexeu um pouco para dar a ele um melhor acesso. Julián sabia que seus seios eram muito sensíveis, por isso, a atraiu e a acariciou suavemente, de alguma maneira que sabia que dava mais prazer para ela.
— É tão bom, — sussurrou ela entre profundos suspiros. — Essa noite quando estiver sozinha em meu quarto, recordarei esse momento e não poderei dormir. Ela tocou seu rosto e o atraiu para poder beijá-lo.
— Eu poderia ficar assim para sempre, mas hoje estou me ocupando de você, lembra?
Ela se endireitou e o olhou — Eu não terminei de me despir.
Levantou um pé e colocou na beira da banheira, justo perto do ombro dele, lentamente começou a baixar sua meia. Não havia razão para que ele estivesse impaciente, mas estava.
Já estava no meio do caminho de enlouquecer e a descida dessa meia, quebrou sua resistência. Ele aproveitou esse momento e beijou o lado de fora de sua coxa. Sentia uma paixão gloriosa rompendo dentro dele. Uma magnífica agitação de fome, de prazer e uma necessidade indescritível de saciar-se apoderaram de seu ser.
Ela baixou uma perna e levantou a outra, passando ligeiramente em cima de seu braço para manter o equilíbrio. Essa posição a expôs muito mais, ele teve que apertar a mandíbula para controlar os brilhos da luz sexual que atravessavam seu corpo e sua cabeça. Percebeu as mãos dela sobre seus joelhos, olhou-a e a expressão lhe disse que percebeu que ele não estava olhando a meia em absoluto.
— É muito boa sendo devastadora e malvada Pen.
— Você é mais devastador meu amor. E justo agora, está sendo extremamente perigoso, na mais emocionante das maneiras. Ela olhou para baixo seus cachos escuros e a pele rosada que ele estava olhando. — Deseja me beijar ali?
— Sim. Incomodaria você?
— Talvez um pouco. Não é algo que eu tenha feito antes. Mordeu seu lábio inferior e de repente pareceu muito jovem e inocente.
— Julián acredito que eu gostaria de experimentar coisas com você, que nunca tenho feito antes.
Ele terminou de lhe tirar a meia e usou esse tempo para controlar-se. Desceu o pé dela e se levantou da banheira, não se preocupou em usar uma toalha, pegou-a em seus braços e a levou para cama. Reclinou-se a seu lado e levantou os braços para contemplá-la, enquanto a luz que entrava pela janela se deslizava sobre sua beleza. Maravilhou-se de como suave, sedosa e cálida era. Ela o atraiu para si em um abraço, o primeiro e sensual abraço que lhe dava desde aquele dia que passaram em Hampstead.
Segurou-a totalmente em silêncio, sentindo sua pele contra a sua fez que lhe encolhesse o coração maravilhosamente. Outro sentimento, comovedor, delicioso e agradecido, uniu-se ao caos poderoso que o possuía. Não permaneceram quietos muito tempo. Demonstrando sua nova agressividade, Pen se dispôs a ser devastadora, empurrou-o sobre suas costas e lhe beijou fortemente. Ela utilizou sua língua como fez nele antes, mexendo-se sobre seu peito, provando sua pele até que a cabeça dele ficou em branco de todo o resto, exceto da sensação de sua boca, de suas mãos e dos sons que ela fazia mostrando seu crescente abandono. O desejo o urgia a tomá-la, mas a fome de possuí-la de uma forma diferente, falava mais alto. Virou-a de costas, abriu suas pernas e ficou de joelhos. Pen o olhou com suas pálpebras baixas. Ele começou a baixar lentamente e a prodigalizar beijos em seu estômago, depois em sua coxa. Levantou a cabeça e viu que ela ainda o olhava. Ele acariciou suas coxas.
— Nunca fiz isso antes Pen, não é uma coisa que tenha compartilhado com outra.
— Eu adoro saber disso, me faz muito feliz. — sussurrou ela.
Ele ficou entre suas pernas e imediatamente se inundou em uma dança sexual, beijou a suave pele dentro de suas coxas e a suavidade surpreendente de seu monte com seus cachos sedosos. Ela instintivamente abriu as pernas mais amplamente. Acariciou-lhe as dobras úmidas, cor de rosa expostas para ele e viu como ela relaxava e respondia a seu familiar toque. Seus ofegos de paixão e sua essência feminina o estavam enlouquecendo. Um prazer primitivo, quase violento agitou sua consciência. Ele a beijou degustando-a suavemente.
A respiração de Pen lhe indicou o perto que estava de sua liberação, beijou-a de novo, usando a língua, deixando que seus gritos lhe guiassem para a busca de seu maior prazer. Ela instintivamente dobrou os joelhos e levantou os quadris, convidando-o a lhe dar mais.
Estava perdido, absorto pelos mistérios que ia descobrindo, inconsciente de tudo exceto do poderoso desejo e do prazer que alagava seu próprio corpo. Pen começou a lançar gritos frenéticos e isso o motivou a explorar mais profundamente, fazendo círculos em seu sensível clitóris com sua língua. O clímax dela o envolveu, soou em sua cabeça e estremeceu o quadril de Pen e pulsou até sua boca. Enquanto o grito rouco do Pen fazia eco em sua cabeça, Julián se ajoelhou, levantou suas pernas em direção ao seu corpo. Tomando seu quadril em suas mãos, ele entrou na doce calidez que tinha beijado. Pen estava absorta nele, seu canal estreito estremecia ao redor dele e suspirava com desespero. Então ele começou a empurrar mais duro, mais rápido e mais fundo. Ela começou a gritar de novo, unindo-se a ele nessa sublime fúria de desejo até que ambos compartilharam felizmente o maior clímax de suas vidas.
Pen despertou nos braços de Julián, sob a suave luz do amanhecer, sentia-se flutuar em uma nuvem de lânguida felicidade, enquanto escutava sua respiração. Valorizando o calor acolhedor de seu peito debaixo do rosto e o pulso sutil de seu coração em seu ouvido.
Houve muitas inovações com Julián e os atos audazes da noite anterior só tinham significado como metáforas para entender o restante. Foi seu primeiro dia de completa liberdade, desde quando estiveram em Hampstead. E ontem à noite, foi a primeira fazendo amor depois de que ambos escaparam de todos os perigos. A noite passada foi também a primeira relação sexual, depois que ela soube a verdade sobre o amor que ele sentia por ela, há muitos anos.
Sentiu-se mal ao saber, que ele se preocupou por ela durante tanto tempo em silêncio. Outros homens poderiam ter enviado cartas, ou a perseguindo procurando uma aventura perigosa e dolorosa. Outros poderiam ter interpretado de poeta apaixonado em um cenário público. Alguns outros deixariam que o mundo soubesse a respeito de sua paixão, sem esperança. No entanto, a tranquilidade com que Julián dignificou seu amor foi muito mais romântico. Poderia ter se declarado a outra mulher, não tinha dúvida disso, mas ele permaneceu silencioso para protegê-la de Glasbury.
Um raio de luz do novo dia se moveu sobre o rosto de Julián e o despertou. Seu braço se apertou ao redor de Pen, como se precisasse assegurar-se que ela ainda estava ali. Ela permaneceu pressionada nele, mesmo depois de saber que ele já estava totalmente acordado. Sentia seus olhos nela e depois um doce beijo em sua cabeça.
— Que desejas fazer agora Pen?
Tinha muitas coisas para fazer hoje, mas mesmo assim poderiam esperar.
Agora queria viver essa encantadora satisfação.
No entanto, ela sabia o que significava realmente essa pergunta. Não estava só perguntando sobre o dia de hoje, mas também dos próximos que viriam.  Ele estava perguntando o que queria fazer com sua liberdade.
— Hoje quero agradecer a mulher que o salvou,— disse.— Depois  quero ir com você para a casa de campo de novo. Nesse momento, no entanto, desejo fazer amor com você nessa incrível luz e gloriosa paz.
Eles fizeram lentamente, suavemente e perfeitamente. Depois, mandaram uma mensagem a Batkin para que mandasse algumas roupas limpas de Julián.  Ao meio dia se encontravam na sala de café da manhã, bebendo café, lendo cartas e o jornal.
Uma das cartas havia chegado da França.
— Julián, chegou uma carta da Catherine. Escreve de Marselha, justo antes de partir novamente, explicitamente me agradece pela ajuda dessa noite. Ele a leu.
O homem de Laclere deve tê-la perdido. Deve guardar isso. Embora esteja seguro que o manejo que Knightridge fez com o juiz, significa que está fora de toda suspeita, entretanto se a polícia ficar ambiciosa, isso deverá ser o suficiente.
Outra carta chamou a atenção de Julián, tinha chegado dois dias antes, mas se deu conta que ela não a tinha aberto, depois de um momento ela abriu.
— Parece que preciso logo me encontrar com o Sr. Rumford, o advogado de Glasbury. — Disse enquanto examinava a solicitação formal e abrupta que a chamava para ir ao escritório do solicitante.
— Devo verificar a propriedade que herdei como sua viúva. Acho que é uma mansão em Northumberland, que nunca vi antes.
— Na época de meu casamento, pedi uma propriedade que proporcionasse uma vida campestre com considerável elegância e estilo.
Ele sabia de tudo isso, já que era o advogado da família, deve ter desenhado esse acordo, certamente sabia muito mais que ela.
Em outras palavras, não há incentivo para uma vida na cidade, depois disso. —
— Não penso assim.
— Parece que a generosidade de Glasbury com minha família, depois de nosso casamento foi compensada por um pequeno estabelecimento para mim, no caso de sua morte. Ela colocou a carta de lado. 
— Não me importa. Considerando o quanto fui breve realmente como sua esposa, me sentiria culpada aceitando mais.
— Tenho certeza que Laclere  continuará  ajudando você, se quiser manter sua casa de Londres.
— Não quero que Vergil continue me ajudando. Estou cansada de depender dele. Realmente, depois de ser salva do alcance de Glasbury, eu não quero estar endividada com nenhum homem para meu sustento.
Julián voltou sua atenção para o papel.
— Então, não serei tão tolo para me oferecer a ajudá-la. Entretanto, posso permitir isso e sempre quando desejar.
O silêncio caiu sobre a sala do café da manhã, nada mais precisava ser dito sobre esse assunto e tampouco se esperava que fosse falado, Pen não queria tocar nesse assunto agora.
Só desejava terminar com o passado, antes de falar sobre o futuro dos dois. Havia algumas perguntas por exemplo, a respeito dos acontecimentos da última semana que precisavam de respostas. Como se adivinhasse seus pensamentos, Julián baixou o jornal a Gazetta e assinalou.
— O relatório sobre as conclusões do julgamento, insinua que há muitas perguntas que permanecem sem respostas.
— Algumas pessoas sempre se perguntarão se algum de nós o assassinou, não acha?
Suponho que sim, eles mais do que ninguém, se perguntarão se fui eu. Entretanto, vamos deixar que conheçam a carta de Catherine. Isso colocará um ponto final sobre as especulações a respeito de você.
— Como se isso fosse a única conclusão, que lhe importasse.
— Não acha Pen?
A calma com que fez a pergunta, como se perguntasse pelo clima, incomodou-a.
— Não, porque eu estou certa que você não o matou e também que eu não fiz isso.
— Não pode estar completamente segura.
— Está errado. Eu estou completamente segura que você não poderia fazer isso.
— Então, você tem mais fé em mim do que eu mesmo tenho, pois não estou completamente seguro que não poderia fazer. Tive muita vontade.
— Isso é outra história, não é?— Ela suspeitava que Vergil estava certo, quando concluiu que Julián mataria para protegê-la. Mas, da mesma forma que os cavalheiros faziam,  haveria só um combate individual, não cometeria um assassinato.
Julián não contratriou a sua confiança, mas perguntou si mesma, se ele não pensaria se de verdade acreditava nele. Isso era de muito mau gosto para perguntar-lhe.
Felizmente, não duraria muito tempo. Finalmente, ele entenderia que seu amor era tão profundo que nunca poderia duvidar dele. Também se daria conta de que, inclusive se não sentisse amor, ela nunca duvidaria de sua inocência. Além disso, ela sabia quem era o verdadeiro culpado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 30

Julián parou a carruagem na bonita, mas modesta casa em Picadilly. Um criado desceu para se encarregar de sua carruagem e Julián escoltou Pen até a porta. Um criado de pele escura pegou seu cartão, não usava libré ou peruca, mas sua semelhança com o outro criado negro que ela conheceu era inconfundível.
— É bom vê-lo de novo Marcus. César disse que você agora tinha outro emprego.
Marcus aceitou a saudação e o reconhecimento com um semblante agradável que alguém pensaria que ele era surdo, entretanto isso para Pen não importou, pois sua atenção se centrou imediatamente na voz da pessoa com a qual ela desejava falar.
Sons de intensa atividade desciam pela escada. No meio do ruído e da confusão, uma voz dominante dava ordens em espanhol e sua voz era como um chicote no meio do caos. Marcus os deixou para apresentar seus cartões. Esperava que essa mulher quisesse se pavonear um pouco, por sua grande atuação e os atendesse.
Marcus se virou e os levou para uma biblioteca. As ligações que monopolizavam as prateleiras pareciam do tipo que pudesse ser compradas em caixas em um leilão, para encher as bibliotecas das casas de férias.
A Sra. Pérez esperava por eles, já não vestia o branco virginal, mas sim de um vibrante violeta, não tinha uma atitude submissa e recatada, mas sim exsudava sua vitalidade magnética. Ela os recebeu com um longo e conspirador sorriso. Aceitou as expressões de gratidão que Julián manifestou e lhes ofereceu café, enquanto fazia educadas brincadeiras. Todo o tempo, ela mostrou uma atitude que sugeria que ela acreditava que sua visita e toda a conversa que tinham era parte de uma grande piada. Julián assinalou para um baú aberto perto da mesa.
— Sua casa está muito ocupada hoje, estão deixando a cidade?
— A Inglaterra é muito frio para mim, a umidade já começou a afetar minha saúde, assim retornamos para o nosso país, onde o inverno não é tão sorvete.
— A sociedade sentirá muito sua decisão, espero que voltarão para a primavera a tempo para o começo da temporada, — disse Pen.
— Poderia retornar, entretanto não posso garantir que voltarei a ver meus amigos ingleses de novo. — Dirigiu um cálido sorriso a Julián. — Portanto, se houver algo que queiram discutir comigo, aconselho-lhes a fazer agora.
— Além de agradecer novamente por seu testemunho a tempo, quero desejar uma viagem segura, não tenho nada mais que me sinta obrigado a dizer – contestou Julián.
— As mulheres inglesas são muito complacentes com seus amantes Sr. Hampton. Eu concluí, que você veio hoje para me pedir que assegurasse para a condessa que não esteve comigo naquela noite.
— Não vou exigir nenhum tipo de garantia,— disse Pen.— E como cavalheiro, o senhor Hampton jamais lhe pediria que admitisse abertamente, que você é uma mentirosa e que cometeu perjúrio. Os olhos da senhora Pérez  lançou fogo pelos insultos.
Pen tomou um gole de café e depois baixou a xícara.— Eu, no entanto, não sou tão limitada como ele. Certamente estou muito agradecida por sua mentira, ainda mais do que ele está, não deixo de perguntar-me, o que a levou a fazer isso.
— Ele estava em perigo e não acreditei que ele fosse capaz de tais coisas, seria uma vergonha que o enforcassem por algo assim, — Deu de ombros.
— Você é realmente uma mulher de coração muito generoso. — disse Pen.
— Sim, — confirmou Julián. — Claro que, ao servir de álibi, também se dava a si mesma. Se condessa ou talvez eu, tinha motivos para pensar que teve algo a ver com a morte de Glasbury, agora não podemos expressar nossas suspeitas a polícia, sem destruir também o testemunho que garantiu a minha liberdade. 
Esse pequeno discurso deixou Pen surpresa. Não tinha se dado conta, que Julián também suspeitava.
— Muito bem, senhora,— disse Julián. – Muito inteligente. 
A senhora Pérez começou a fazer beicinho com o insulto, mas pensou melhor. Ela olhou de Pen para Julián e de volta a Pen de novo. Aqueles olhos obscuros cravados nela, como se pesava o perigo em que estava. 
— Como seu amante, falar disso, também coloca você m situação de risco. 
— Você se preocupou, porque achou que eu trabalharia para conseguir a verdade , não é? É por isso que você testemunhou. Eu disse a César que descobriria a verdade se Julián fosse enforcado. Por isso, se encarregou de que não o enforcassem. 
— Não me importaria se você averiguasse a verdade, sobre a morte de Glasbury, pois isso não era uma penalidade para você. No entanto, se seu amante morresse, era possível que você buscasse vingança. 
— Milady, a condessa pode saber tudo, mas eu não. Cheguei à conclusão, que você matou Glasbury somente porque me pareceu estranho, você decidir mentir por mim. Não acredito que haja razão, pela qual você desejasse a morte do conde.
Eu não admiti esse crime senhor, somente estou me protegendo se por acaso, a condessa desejar me acusar disso.
— Por que ela faria isso? — Perguntou Julián.
— Olha-a Julián, — Pen disse. — Os olhos, e a forma de seu rosto. Ela me deslumbrou tanto no teatro que perdi os detalhes. Mas na corte, recatada e modesta testemunha me era muito familiar, não só pelos seus traços, a não ser por seu comportamento. Muito submissa, como se sua personalidade se escondesse atrás de uma parede, lembrou ao César, Julia e todos os outros. Era o comportamento de um escravo.
Julián examinou sua anfitriã com uma nova curiosidade. A Sra. Pérez começou a construir essa parede que falava Pen com tanto conhecimento.
— Está relacionada com Cleo, não é verdade? Pen perguntou. — A semelhança estava ali.
— Você viu Cleo faz muito tempo, quando ainda era uma garota. Provavelmente não lembra como se parecia. Talvez nunca lembraria, era somente uma escrava que lhe servia e nada mais. — disse-lhe a Sra. Pérez.
— Se soubesse quanto tempo passou, é porque estaria interessada nessa casa e em seus criados. Na verdade, já tomou um como seu empregado. Se minha memória não falha, eu vi o rosto de Cleo em minha cabeça e sou muito consciente dos anos que passaram.
— O muro em seu rosto, já não estava em seu lugar, derrubou-se e a Sra. Pérez se sentou como um vulcão que está a ponto de entrar em erupção.
— A condessa está correta? Você tem algum parentesco com Cleo? — Julián lhe perguntou.
A Sra. Pérez o olhou. — Era minha meio irmã.
Somente com essa declaração, Pen soube que estava certa em considerar que já havia resolvido o mistério da morte de Glasbury.
— O conde visitou suas terras na ilha, vinte anos atrás. — disse a Sra. Pérez, em seu percebia-se o desgosto.
— Ele viveu ali quando seu pai estava vivo, da mesma forma que seu herdeiro o tem feito nesses últimos anos. Tinha desfrutado de sua vida ali, amava ser um Deus na terra, com escravos a quem podia bater e quebrar várias vezes. Depois ele retornou novamente, ninguém estava contente de que tivesse feito.
— Você ainda vivia ali por nessa época? — perguntou Pen.
— Só mais tarde que eu saí. Um visitante se fascinou por mim e comprou-me por muito dinheiro. Quando morreu, fui embora. Fui para a Venezuela. Criei uma nova história nova para mim. Há muitos como eu, que foram aceitos. Transformei-me em amante de homens com influência. Finalmente encontrei um, que um dia me trouxesse aqui, para que eu pudesse ver minha irmã. Levantou-se e caminhou a seu redor, suas palavras amargas choviam em suas cabeças. 
— Ela era uma menina quando Glasbury a conheceu. Foi uma dos vários escravos que ele decidiu levar para a Inglaterra. A liberdade, pensei. Eu sabia que ele a desejava. Eu acreditava que ia ser sua amante quando fosse mais velha. Esperava uma vida melhor do que a que tinha. Todos nós pensamos que era uma grande sorte que o amo a favorecia. 
— Não sabia de seus gostos?
— Só soube deles quando cheguei aqui. Procurei minha irmã, esperando encontrá-la em uma vida de luxo, com criados ao seu dispor.  Ao invés disso, havia ido embora. Os outros escravos que se foram de sua casa me contaram tudo. Eles sabiam que eu era um deles. 
— Como soube que tinha morrido? Perguntou Julián.— Nem eu soube por vários meses. 
— César descobriu.  O conde era muito descuidado em volta de César. A familiaridade gera isso e sabemos como usá-lo.  César tinha aprendido a ler e viu a carta que informava a Glasbury da morte da garota. Ele acreditou que o conde a tinha matado e eu acredito também. 
— Então o matou por vingança,— disse Julián.
— Por justiça. Era fácil captar seu olhar. Eu já sabia que gostava das morenas. Sabia de suas preferências em todas as coisas.  Ela se afastou, mas Pen vislumbrou a expressão que ela tratou de esconder. A viu e reconheceu. A senhora Pérez tinha pagado um preço muito alto para levar Glasbury até sua morte.
— Se vocês falarem disso, não servirá de nada,— disse, virando-se bruscamente para desafiá-los. 
— Seus criados nunca vão me entregar. Estão muito contentes por ele ter ido, feliz de que tenha pagado por seus pecados com minha irmã e pelos outros. Falem com eles se duvidarem de mim.  Eles conhecem os grandes crimes cometidos com os escravos trazidos para cá, que lhes falou com outros da liberdade em virtude do direito Inglês e depois não cumpriu. 
— Tenho certeza, que outros não a trairão.  Eles lhe ajudaram e são seus cúmplices,— disse Julián.— Glasbury alguma vez desconfiou quem era?
— Nunca. Para ele, eu era só uma escrava da noite, comprada com um colar de pedras preciosas que ele chamou um presente. Suas pálpebras desceram. – Mas contei para ele no final, quando já tinha bebido o vinho. Assegurei-me de que ele soubesse antes de morrer. 
— É obvio,— disse Julián.— Você queria ter certeza de que ele soubesse. 
— Fala com desaprovação. Talvez, você ache que deveria ter feito uma oração por minha irmã e ter ido contente. Talvez, deveria ter ido a esses policiais e pedido ajuda, com nada mais que uma história triste como evidência. 
— Eu acredito que o assassinato é errado senhora. Raúl sabe disso? É por isso que a está enviando de volta o mais rápido possível?
— Escolhi deixá-lo, mas sim, Raúl sabe. Ele é um homem educado senhor Hampton.  Ele sabe tudo a respeito das leis morais ensinadas pelos filósofos. Mas também, compreende que há leis superiores que aquelas. Se eu tivesse sido um homem, poderia ter desafiado Glasbury.  Poderia ter enfrentado ele com honra. Mas é negado às mulheres, devemos ter um homem que faça por nós, ou temos que encontrar outras maneiras. E eu encontrei outra maneira. 
— Uma forma para colocar em perigo uma mulher inocente,— Julián interpôs furioso.— Não me fale de honra se contempla permitir que outro pague em seu lugar. Você tinha que saber, que as suspeitas cairiam sobre a condessa. 
A senhora Pérez parecia um pouco aborrecida. 
— Não estaria em perigo,— disse a Pen.— Eu esperava que você permanecesse em Nápoles até que terminasse. As autoridades assumiriam que uma prostituta teria feito, alguma das miseráveis que Glasbury pagava, uma mulher que nunca encontrariam.
— Mas eu não estava em Nápoles quando fez isso. Você sabia. 
— Eu não poderia demorar mais tempo. Não pensei que uma condessa pudesse enfrentar uma pena de morte, mesmo que se suspeitasse dela. Eu acreditava que a aristocracia se ocupasse de si mesmo, embora só fosse para silenciar qualquer escândalo. 
— Você acreditou errado,— disse laconicamente Julián.
— Tampouco parecia se importar que o senhor Hampton estivesse no banquinho em seu lugar,— disse Pen.
— Seu papel nos pecados do conde foi mal entendido, senhor Hampton. Por isso me desculpo. Pensei que Glasbury conseguiu simplesmente vender Cleo para você, de maneira ilegal. Pensei que você não era melhor que o conde. Depois que a condessa explicou a César o que realmente aconteceu, procurei ganhar sua liberdade. 
— E assim o fez,— disse Pen.— Por isso estou agradecida. A senhora Pérez lhe dirigiu um olhar de mulher para a mulher. Com os olhos disse, que embora os homens pudessem fazer suas leis e regras, todos sabemos como é realmente a vida.
Julián ofereceu sua mão a Pen para ajudá-la a levantar-se, era o sinal de que esta visita havia terminado.
— Como eu já disse senhora, para expressar mais suspeitas contra ele seria necessário destruir meu próprio álibi. Eu lamentaria, se a morte do conde caísse em um dilema moral severo. Como estão as coisas, acho que é bom que você esteja deixando a Inglaterra antes que minha consciência analise isso muito tempo. Se seus atos podem ser aceitos como necessários para fazer justiça, deixamos que Deus decida. 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 31

— Eu tenho falado muito, não é?— Pen sussurrou as palavras, enquanto se esticava no ouvido de Julián para lhe dar um beijo.
— Não, em absoluto. Nunca me canso de sua voz. 
Na verdade, ela esteve falando quase todo o caminho desde que deixaram Londres. Para qualquer pessoa no mundo seria o suficiente, depois de um quilômetro e meio ficar falando.  Entretanto, essa era Pen e ela nunca o aborrecia. Os boatos sociais e as descrições da nova moda o cativavam se era ela quem falava deles.
 — É porque me sinto muito emocionada Julián. Não posso acreditar que ficaremos nos próximos dias, sem absolutamente ninguém em volta de mim, exceto você.  Meu Deus, me pergunto como vamos preencher todas essas horas. – Sorriu com malícia.
— Bom por um lado, eu a ensinarei.
Ela se agarrou em seu braço.— Ensinar que patife? 
— Como cozinhar. 
— Cozinhar? 
— Sim, não temos criados na casa, alguém tem que cozinhar. Se tenho uma mulher comigo, não espera que eu faça tudo sozinho. 
— Acho que viveríamos mais tempo se você o fizer. E se eu for uma aluna muito boa e aprender a cozinhar, ensinará outras coisas também? 
— Só se prometer ser uma aluna muito boa nesses tipos de coisas também. 
 — Tenho intenção de ser uma muito boa Julián.— Seus dentes brandamente se fecharam na orelha dele.
— Mundana, perversa e descarada. 
 A casa de campo parece estar distante, disse rindo, enquanto se aconchegava nele e continuava maliciosamente a tortura que deixou sua orelha em chama.
— Fica quieta ou vou ter que parar e tomá-la aqui mesmo na estrada. 
— Atreveria-me a continuar, exceto que parece que uma tempestade vem para cá. Você adora desfrutar das tempestades, não é Julián? 
— Eu não diria que desfruto deles. No entanto, me impressionam. 
— Quer dizer que fica impressionado por toda essa energia. Pelas forças terríveis desencadeadas, que se mexem pela natureza em reposo com uma inesperada pressão e pela forma que a fria racionalidade do homem é arrastada a um lado por seus poderes primordiais que darão suporte em nossas vidas nesta terra. É isso o que quer dizer quando falas a respeito?
Ele olhou para ela. Ela chamou sua atenção e sorriu suavemente.— Assim foi como expliquei há anos, quando éramos muito jovens. Essa lembrança voltou para mim uma noite, enquanto você estava na prisão, quando o vento e a chuva atingiam minha janela. Eu podia ouvir você dizendo cada palavra. Confesso que nunca compreendi até que fizemos amor. Uma grande paixão tem o mesmo poder, não é? 
— Com a pessoa certa sim. 
Ele a levou para a casa antes que a tempestade chegasse. Debaixo das rajadas de vento, ele desceu a bagagem e cuidou dos cavalos.
O céu ficou escuro e carregado de nuvens baixas, quando voltou para a casa, procurou Pen e a encontrou no terraço, em volta de manto azul, o vento fazendo um alvoroço de seus cabelos.
Ele a abraçou por trás. Juntos, viram o surgimento das ondas agitadas do mar que agitavam o verde escuro e branco.
Ela estava certa. Ele gostava de uma boa tempestade. A dinâmica agitava a parte mais humana dele. As emoções que davam a uma pessoa  de coração e alma estavam mais vivas na face de uma natureza desenfreada.
Pen descansava em seu peito. – Meu rosto está ficando vermelho. O seu jamais fica, não importa quanto você fica no frio ou no vento. Isso não é justo. 
— Sempre achei você linda, com um rosto cor de rosa. 
Ele olhou para onde seus braços estavam cruzados sobre o manto. – Não era para usar esse terrível luto, pelo menos só quando estivesse em público? Parece fazer sentido, mas talvez não fale bem de mim. 
— Disse que nunca chorarias por um homem novamente Pen e de todos, ele é o que menos merece.  Não tem que fingir. 
— Eu teria chorado por você Julián. Teria me afligido para o resto de minha vida. 
Isso o comoveu profundamente. Fechou os olhos e esfregou o rosto na coroa de seu cabelo.
— Eu queria vir aqui para poder fazer amor no mar,— disse.— Também porque poderíamos ficar totalmente sozinhos. Mas também com a esperança de que estando aqui me ajudaria a tomar uma decisão importante de novo, como aconteceu da última vez.  Eu devo decidir o que vou fazer com a minha liberdade, não é?
— Só há uma opção que realmente desejo Pen, mas viverei com a que decidir. 
Ela se virou em seus braços e o olhou.— Que outra opção é a que quer?
— A que me dá o direito de cuidar de você.  Entretanto, aceitei que essa não é a decisão que você deseja.  Depois de ter esperado tanto tempo, para sua independência.
— Você está me propondo casamento Julián?
— Apesar de minha posição se ver afetada pelo escândalo, ainda sou o assessor jurídico de numerosas e importantes famílias. Nunca faltaria nada para você Pen. Também tenho alguns investimentos que renderam muito bem e outros que prometem ser ainda melhor, em particular, o projeto de Dante e Fleur Durham.  Não viveríamos no estilo de Laclere ou do conde de Glasbury, mas não terá que contar moedas de um centavo. 
— Eu não preciso viver no estilo de meu irmão. Essa é uma proposta, então?
— Farei é obvio, mas eu aceitarei o que você preferir. Posso ver como o casamento para você é pouco recomendável querida. Entendo se essa noção a deixa fria. 
 Ela riu.— Por Deus, fala muito senhor Hampton. Estou de acordo, que o casamento tem pouco a recomendar.  E não pode haver nenhuma desculpa o suficientemente boa para que eu volte a casar. 
— Sim. Claro, estou vendo.
O vento levantou sua capa e essa voou para cima e voou para fora. o fazia parecer sem peso, como um anjo tocando o pé na terra, depois de um voo.
— Não há boas desculpas, mas pode ter algumas boas razões,— disse ela.
— Posso lhe dar muitas.— Deu-lhe um beijo.— Essa é uma e há milhares mais, que você vai gostar. A paixão é outra e a amizade. 
— E estar apaixonado Pen. Essa é uma das melhores razões de todas para o casamento e eu estou perdidamente apaixonado por você. 
— Outra razão é amar um homem que é digno de seu amor. Isso muda tudo e foi o que eu descobri.  Então, está me propondo Julián? Por que se for assim, estou quase convencida. 
— Eu estou fazendo e pressionarei para ganhar meu caso da única forma que sei. 
A beijou dura e longamente, deixando que seu coração e sua alma liberassem seus ventos de desejo e paixão revelarem sua eterna tempestade de nostalgia e amor.
Ela emergiu sem fôlego e sorriu. Suas pálpebras se levantaram. 
— Acredito que seria uma grande tola se negasse meu amor. Seria uma idiota para arriscar que mude de opinião. 
— Eu nunca mudaria de opinião. Eu sou seu e estarei com você do jeito que você quiser.
— Como meu esposo Julián. Eu ficaria orgulhosa de ser sua esposa. 
Beijou-a de novo, com profunda gratidão. A alegria embebia cada centímetro dele, uma emoção perfeita e pura, afetada pela incredulidade.
Ela retrocedeu fora de seu abraço.— Vou entrar agora. Deve ficar aqui por um tempo. Quero que saiba que você não tem que estar comigo cada minuto desse amor que compartilhamos. Não é obrigado a renunciar os seus silêncios o a solidão completa. Não terei ciúmes desses momentos privados e não tenho desejos de roubá-los. 
Retornou para a casa. Ele olhou em direção do mar.
A tempestade se aproximava rapidamente. Não seria muito longa. A distância podia ver um brilho de luminosidade divina correndo por entre as nuvens.
A água por baixo tinha se transformado em um caos. As ondas saltavam e estouravam. As mais altas estouravam na parede do terraço, bem abaixo dele. A chuva começou, primeiro com gotas grandes e depois em forma fluída.

 


Foi uma tempestade gloriosa com ventos espetaculares. Voou diretamente nele, agitando seu corpo, sua alma e seu sangue. Achava impressionante como poucas tempestades o fizeram se fundir com suas próprias emoções, da mesma forma que as tempestades grandes o fizeram em sua juventude.
Ele permaneceu em silêncio, mas outra voz falou em sua cabeça. Pen tinha sussurrado seu amor.  Embora tivesse ficado sozinho no terraço, estava em seu coração mais segura de que estava na casa,  aumentando a sua essência tinha com ele a glória. Um estranho momento chegou a ele, um instante transcendente no qual sua consciência parecia unida ao poder da natureza.
Só poucas vezes no passado, tinha lhe acontecido e sempre quando estava em uma profunda melancolia. Mas dessa vez, a alegria e a beleza o saturavam. Dessa vez o amor unificava sua alma com os elementos.
— Julián.
Ele se virou e olhou para cima, uma janela de seu quarto estava aberta. Pen aparecia perto e o olhava de lá. Despiu-se completamente e deixou seu cabelo solto. Os escuros cachos fluíam sobre seus seios de marfim. Estava tão bela e perfeita, que cortou sua respiração.
— Estou aqui acima, Sir Julián. Veem e me cante uma canção ou leia um poema, valente cavalheiro. Proteja-me durante essa feroz tempestade.
Ele se dirigiu até a torre do Castelo, desprendendo-se de sua armadura.
— Já estou chegando, minha senhora.

 

                                                                  Madeline Hunter

 

 

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