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Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O SEGREDO DO MORTO / R. F. Lucchetti
O SEGREDO DO MORTO / R. F. Lucchetti

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

O SEGREDO DO MORTO

 

               Ordem de Prisão Contra um Morto!

     O Detetive Jackson assobiou baixinho ao ver a grande casa. Chegou a parar o carro, tirou do bolso a ordem de prisão e comparou o nome e o endereço

que lhe deram com o nome que estava escrito na caixa do correio que havia na entrada da propriedade.

     Era ali mesmo. Hugh Tinney. Crescent Drive, 1190. Parecia incrível que um homem, possuindo uma propriedade como aquela, desviasse dinheiro da sua firma!

Ou talvez fosse justamente por possuir a propriedade que se vira obrigado a dar o desfalque. Contudo, lá estava o nome dele na ordem de prisão e se o promotor público não estivesse certo de que fora cometido um crime, não a teria expedido.

     Jackson detestava essas incumbências. Tirar um homem de sua casa, prendê-lo diante da esposa e da família! Eram essas coisas que tornavam a carreira de detetive muito desagradável, às vezes.

     Jackson encostou o carro bem em frente à entrada e subiu as e escada, tocando a campainha. O homem que veio atender era baixo, gordo e careca. Tinha olhos miúdos e muito azuis e os poucos fios de cabelo que ainda possuía eram grisalhos. Olhou muito para Jackson.

     O detetive foi dizendo:

     - Sou da polícia...

     Não teve tempo de terminar. O homem deu um passo para trás e ficou muito pálido. Abriu a boca e passou-se algum tempo, antes que dissesse.

     - Sim, sei... Não esperávamos isso...

     - O senhor chama-se Hugh Tinney? - perguntou Jackson, aflito para ver-se livre de tudo aquilo.

     - Não, não sou Tinney. Ele... Está lá em baixo... Na adega. O senhor traz uma ordem de prisão, não?

     Jackson concordou.

     - Sim, para Tinney.

     Seguiu pelo corredor e chegara a meio caminho quando deu de cara com uma pequena extremamente bonita. Os seus cabelos faziam uma moldura escura para um rosto cheio e muito bonito. Chegava quase ao ombro do sargento Jackson. Que queria dizer que era muito alta.

     - É um detetive - explicou o homem que havia recebido Jackson. - Sinto muito, Carol. Não sei como explicar-lhe isso...

     A moça fitava o rosto do detetive sem pestanejar, com a cabeça ligeiramente inclinada para trás, como se quisesse vê-lo melhor.

     - Está à procura de meu pai? - perguntou tão admirada, que Jackson desejou estar em outro lugar qualquer, menos ali,

     - É verdade - respondeu ele. - Tenho aqui uma ordem de prisão.

     - Deve haver algum engano - disse a moça. - Estou certa de que meu pai poderá explicar tudo. Foi à adega buscar uma garrafa de vinho. Em breve estará de volta. Quer entrar e sentar-se um pouco?

     Jackson examinou a moça. Não seria a primeira vez que uma linda moça distrairia um detetive, enquanto o criminoso fugia pelos fundos, mas Jackson trabalhava na polícia há muito tempo e julgava que sabia ler o caráter das pessoas pelo rosto. Se Hugh Tinney fugisse, aquela moça não seria responsável.

     Seguiu-a, entrando na luxuosa sala de visita. Ela indicou-lhe uma confortável poltrona e sentou-se num banquinho que ficava em frente, encolhendo as pernas.

     - Se tem uma ordem de prisão contra meu pai - disse com a mesma expressão de espanto - quer dizer que alguém apresentou queixa contra ele. Pode-me dizer quem foi?

     Jackson abanou a cabeça.

     - Não. A ordem de prisão nada diz sobre o queixoso. Recebi-a simplesmente, com ordem de levar seu pai. Espero que Sr. Tinney possa explicar o caso.

     O homem que recebera Jackson sentara-se também.

     - Acho - disse ele - que você está procurando apoiar-se em esperanças que em breve serão desfeitas, Carol. Não, não sou eu o queixoso, mas conheço todos os fatos. É verdade. Seu pai apropriou-se de muito dinheiro da firma e os fiscais examinaram os livros há dois dias.

     Jackson interrompeu-o:

     - Como é que sabe disso?

     O outro deu de ombros.

     - Sou Lawrence Rossiter. Hugh Tinney é meu sócio. Vim aqui hoje para conversar com ele sobre o assunto, mas Hugh chegou tarde em casa e o jantar estava na mesa. Naturalmente, não quis tocar no assunto. Acabamos de comer há quinze minutos e Hugh desceu à adega para buscar uma garrafa de vinho.

     - Está bem - disse Jackson. - Esperarei por ele.

     O detetive esperava que Carol não fizesse uma cena quando visse sair o pai. Aqueles olhos claros tinham sido feitos para risos e não para lágrimas.

     No momento, tinham a expressão mais espantada que Jackson já vira em olhos humanos. A sua inteligência percebera a situação, mas se os olhos fossem mesmo o espelho da alma, era evidente que ela se recusaria a acreditar.

     Cinco minutos de silêncio embaraçoso se passaram e Jackson começou a preocupar-se.

     Não se ouvia o menor ruído na adega. Finalmente o detetive levantou-se, atravessou o corredor e chegou à sala de jantar.

     Carol seguiu-o.

     - A porta da adega é a da direita ao lado da porta da cozinha. Pode ir procurá-lo se quiser, embora eu tenha certeza de que meu pai nunca procuraria fugir de uma coisa que não fez.

     Jackson resmungou qualquer coisa, abriu a porta da adega e viu que as luzes estavam acesas. Desceu as escadas. A adega era espaçosa, muito arrumada e não havia ninguém lá dentro.

     O detetive encaminhou-se, a passos largos, em direção à porta que dava para fora. Estava fechada por dentro. Tinney não fugira, pois.

     Poderia ter subido as escadas sem fazer barulho, saído por outra porta. Jackson examinou a adega, procurando o compartimento dos vinhos. A um lado, havia uma porta na qual estava pregada um cartão, onde havia uma caveira com dois ossos cruzados e as palavras impressas em tipos graúdos:

 

         "PERIGO - DEFUMAÇÃO - VENENO"

 

     Não viu luz por baixo da porta, mas esta era tão bem fechada que podia ser que o aposento estivesse iluminado. Jackson segurou a maçaneta e experimentou.

A porta abriu-se. O rapaz respirou com força, abriu inteiramente a porta. Embora contendo a respiração, sentiu o cheiro pesado dos vapores de cianureto.

     O quarto estava às escuras. O detetive não conseguiu ver coisa alguma, afastou-se, fechando a porta, procurando um lugar onde o ar não estivesse contaminado.

Depois ficou pensativo. O único lugar onde Tinney poderia ter isso, se não tivesse fugido, era o compartimento de vinhos. Jackson tirou uma lanterna do bolso e abriu a porta novamente.

     Viu um corpo estendido de bruços no chão. Não hesitou um instante. Entrou rapidamente na sala, inclinou-se e, segurando o homem pelos ombros, puxou-o para fora. Bateu a porta e, dirigindo-se para uma janela, abriu-a, para que a ventilação fizesse sair os gases venenosos.

     Em seguida, ajoelhou-se ao lado do homem e tomou-lhe o pulso, mas não o encontrou. Tinney fora um homem bonito. Tinha os mesmos traços fisionômicos da filha, o mesmo cabelo e os mesmos olhos. Jackson ergueu-se e dirigiu-se para a porta. Examinou cuidadosamente o cartão-aviso.

     Em letras pequenas, quase indecifráveis, havia o nome de uma empresa de defumações. Jackson tomou nota. Meteu o dedo por baixo do cartão e moveu-o devagar, destacando-o com facilidade. Estudou os orifícios em que fora preso o cartão. Depois recolocou-o cuidadosamente no lugar, e subiu.

     Entrou na sala de visitas. Carol e Rossiter ergueram os olhos. Ambos mostraram-se surpreendidos, ao ver o detetive voltar sozinho. Jackson conservou-se de pé.

     - Sr. Rossiter - disse ele. - Vá ao telefone chame a polícia e diga que preciso de homens do Departamento de Identificação do médico legista e de um carro funerário.

     Carol pôs-se de pé, com a mão estendida.

     - Não! Não! Ele não se matou!

     Jackson reconduziu-a para a cadeira.

     - O compartimento dos vinhos estava sendo defumado com cianureto. Seu pai entrou lá e fechou a porta. Foi tudo rápido.

     - Ratos - disse ela, vagarosamente. - Havia ratos na adega. Não me lembrei disso, quando ele desceu para buscar o vinho.

     Uma criada, que Rossiter chamou, tomou conta de Carol. Depois que as duas subiram, Jackson ficou só, esperando a volta de Rossiter. O sócio de Tinney ficara visivelmente abalado pela notícia.

     - Diga-me uma coisa - pediu Jackson. - Tinney sabia que a adega estava sendo expurgada com gases venenosos?

     - Não sei, mas acho que deveria saber.

     Jackson pediu-lhe que ficasse onde estava e, saindo da sala, foi ao telefone. Chamou a companhia de defumações e perguntou ao gerente quem havia ordenado a defumação da adega.

     - O Sr. Tinney. Telefonou ontem para nós. Havia ratos na adega. Uns ratos enormes. Dissemo-lhe que talvez fosse preciso usar vapores de cianureto e que ele deveria ter cuidado. Pusemos na porta um aviso muito claro...

     - O senhor costuma prender as tachinhas dos cartões com o martelo ou apenas com a pressão dos dedos?

     - Usamos sempre o martelo. Há madeiras muito duras.

     - Obrigado - disse Jackson. - Por enquanto, é só.

     Desligou o telefone e voltou à sala. Rossiter estava acendendo um charuto com as mãos trêmulas. Jackson sentou-se.

     - Tinney acabou de jantar, disse que ia buscar uma garrafa de vinho e desceu à adega - falou o detetive. - Muito bem. Até o momento em que eu toquei a campainha, onde estavam o senhor e Carol?

     Rossiter engoliu em seco e fez um gesto com a mão gorda.

     - Aqui mesmo, na sala, à espera dele. Isto é, eu sai um instante da sala. Henry Kerwin, o advogado da firma, telefonou para mim. Estive dois ou três minutos conversando com ele, depois voltei. Carol não saiu daqui.

     Jackson suspirou profundamente.

     - Não estou preocupado com Carol. Moças desse tipo não costumam assassinar o pai.

     - Assassinar?

     O charuto de Rossiter escorregou dos lábios e caiu no colo do homem, lá ficando, a queimar-se, até que, sentindo o calor, jogou-o para o lado.

     - Falou em assassinato?

     - Foi isso mesmo que eu disse, Sr. Rossiter. Um assassinato a sangue-frio!

     Jackson desejou ter certeza do que dizia como o seu tom de voz demonstrava.

 

               O Homem que odiava

     O advogado Kerwin chegou pouco depois da polícia. Era um homem bem cuidado e de maneiras distintas, de sobrancelhas muito espessas. Quando Jackson o interrogou sobre o telefonema a Rossiter, Kerwin respondeu confirmando:

     - É verdade, telefonei para cá, de minha casa. Rossiter atendeu. Disse-me que Tinney tinha ido à adega. De qualquer forma, eu queria mesmo falar com Rossiter, para avisá-lo da prisão Tinney que seria feita a qualquer momento.

     - Então foi o senhor o queixoso? - perguntou Jackson.

     - Sim, senhor. Não havia outra alternativa. Tinney deu um desfalque de 250 mil dólares. Os livros provam, não permitindo qualquer dúvida. Naturalmente, eu era advogado de Rossiter, além de o ser de Tinney, e era obrigado a protegê-lo. Tinney, é claro, sabia que eu estava a par do desfalque. Disse-me que lhe era impossível repor o dinheiro. Assim sendo, dei parte ao promotor público.

     - Este detetive acredita que Tinney tenha sido assassinado - interrompeu Rossiter.

     Kerwin abriu a boca.

     - Assassinado? Sargento, não sou detetive, nem tenho pretensões a isso, mas quando os fatos me olham de frente, como no presente caso, sei que não se trata de assassinato. Em que baseia a sua absurda teoria?

     - Alguém - respondeu Jackson - tirou o aviso que dizia estar o compartimento cheio de gases venenosos, recolocando-o depois. Por que tem tanta certeza que se trata de suicídio?

    Kerwin sentou-se vagarosamente.

     - Os fatos aí estão. Tinney estava arruinado e não tinha coragem de enfrentar a situação. Sabia que a qualquer hora seria preso. E há mais uma coisa que talvez não tenha pensado. É possível que o próprio Tinney tenha removido o cartão, recolocado-o novamente, para que seu suicídio parecesse um assassinato.

Há um ano, Tinney fez um seguro a favor de Carol, no qual há uma cláusula relativa a suicídio. No caso de tirar ele a própria vida, Carol nada receberia.

Assim, ele talvez tenha tentado fazer com que o seu suicídio parecesse um assassinato.

     Jackson nada disse. Levantou-se e foi para o segundo andar. Entrou no quarto de Carol e encontrou-a de olhos muito vermelhos, mas bastante calma. A criada estava sentada ao lado dela. Jackson olhou para a criada:

     - Diga-me o que sabe sobre os ratos na adega.

     - Bem... Havia muitos. Eu própria os vi e falei sobre eles ao Sr. Tinney, há dois dias. Sr. Kerwin e o Sr. Rossiter estavam presentes e ouviram. Hoje de manhã vieram os homens da companhia e eu os mandei entrar. Disseram-me que o Sr. Tinney mandara fazer o trabalho.

     Jackson balançou a cabeça e voltou-se para Carol:

     - Depois do momento em que seu pai desceu à adega, até à hora em que eu toquei a campainha, por onde andou o Sr. Rossiter?

     Ela parecia muito admirada.

     - Estava comigo. Fomos para a sala de visita. O telefone tocou e ele atendeu. Desligou e voltou logo. Escutei-o falar.

     - Não poderia ter descido rapidamente à adega? Não poderia ido lá antes do jantar?

     - Não, tenho certeza disso.

     - O que é que o senhor está querendo descobrir, sargento?

     - A lua, talvez.

     Jackson parecia cansado. Ia recomeçar o interrogatório quando alguém entrou na casa, fazendo muito barulho. Era uma pessoa que falava em voz alta e forte, Carol apertou os lábios.

     - É Bert Coppin, irmão de meu pai. É uma criatura impossível. Não quero vê-lo. Bert detestava meu pai.

     Isso fez com que Bert interessasse sobremaneira ao detetive Jackson, que desceu rapidamente e foi apresentado ao irmão do morto. Coppin era um velhote carrancudo, de sobrancelhas espessas e um par de olhos maldosos.

     O detetive teve a impressão de que Coppin odiava a tudo e a todos intensamente.

     - Então morreu envenenado! - dizia ele. - Além de ladrão, suicida! Muito bem! Eu sabia que o fim seria este. Tinha que ser assim. Kerwin, vou requerer minha parte na herança.

     Kerwin respondeu vivamente:

     - Que herança, Coppin? O homem morreu arruinado. Você fala demais, especialmente na frente de um detetive que tem a estranha idéia de que Hugh tenha sido assassinado.

     Coppin ficou mortalmente pálido, a princípio. Depois, o seu rosto ficou esverdeado. Fechou muito a boca. Caiu sentado, pesadamente, e Jackson viu que o homem precisava que lhe dessem um trago.

     Deixando Coppin onde estava, o detetive foi falar com o pessoal do Departamento de Identificação e ao médico-legista.

     - Tinney não precisou respirar mais que duas vezes, no máximo, naquele compartimento. Depois disso, não respirou mais. A morte foi instantânea.

 

     O encarregado de examinar as impressões digitais informou:

     - Encontramos as impressões digitais do morto na maçaneta da porta, além de outras que julgamos pertencer ao senhor. Há também outras no cartão onde se lê o aviso, mas não coincidem com as de nenhuma das pessoas presentes. Calculo que sejam do empregado da companhia defumadora e do senhor.

     - Está bem - disse Jackson. - Por enquanto, é só.

     Voltou a sala de visitas e viu que Carol se fora reunir ao grupo que lá se achava, apesar de sua aversão por Coppin. A moça conversava com Kerwin.

     - Não é agradável, Carol - dizia Kerwin. - Seu pai nada deixou. Rossiter já se ofereceu para fazer as despesas do funeral.

     Carol ergueu o rosto.

     - Não é preciso isso. Tenho um pouco de dinheiro e nossa família tem um mausoléu em Calvary. Nunca fui lá, mas estou certa de que há lugar para meu pai. Irei lá ver, hoje mesmo se for preciso.

     Kerwin concordou:

     - Acho melhor, para que fique tudo decidido logo. Gostaria de poder fazer alguma coisa, Carol. Há momentos em que nos sentimos tão inúteis!

     Mas Carol não prestava muita atenção ao que dizia o advogado. Estava pensativa.

     - Se eu me lembrasse... Estou fazendo um grande esforço, mas não o consigo. Há qualquer coisa que me parece não estar muito certa, mas não posso saber o que seja. Vou agora ao cemitério. Talvez não haja mais tempo, se deixar para amanhã. A chave está lá em cima, no bolso de papai. Ou estava.

     Jackson não fez comentários. Saiu de casa sem despertar atenção e dirigiu-se para onde deixara o carro. Acendeu um cigarro e ficou fumando, no escuro, tentando desvendar aquele caso. Tratava-se tão claramente de um suicídio que ele próprio se achava idiota de não acreditar que o fosse. Contudo, o modo pelo qual o cartão fora colocado o deixava preocupado.

     Se fosse mesmo um assassinato, quem seria o criminoso? Eliminou Carol imediatamente. Rossiter tinha um perfeito álibi e esse mesmo álibi provava que o advogado Kerwin estava em casa. Poderia, é claro, ter telefonado de outro lugar qualquer, mas não tão perto da casa de Tinney a ponto de poder ter telefonado depois de retirar o aviso da porta do compartimento de vinhos, esperando Tinney entrar, para recolocá-lo, antes de sair. Não havia casas ali perto, e muito menos telefones públicos.

     Kerwin saiu da casa e entrou no carro e afastou-se. Dez minutos mais tarde, surgiu Bert Coppin, com a cabeça curvada, como se estivesse mergulhado em profundas cogitações. Rossiter foi o último a sair. Passou-se meia hora. Afinal, saiu Carol. Jackson desceu do carro e aproximou-se dela.

     A moça admirou-se, quando o viu.

    - Julguei que o senhor já tivesse ido embora...

     Jackson abanou a cabeça.

     - Miss Tinney... Carol... Quero que saiba de uma coisa, não acredito que seu pai se tenha se suicidado. Acho que foi assassinado. Na sala de visitas, há pouco, a senhorita disse que havia qualquer coisa que a intrigava. Já sabe o que?

     Ela tornou a franzir a testa.

     - Não, bem gostaria de lembrar-se. É a respeito de meu pai... E da adega, penso eu. Mas não tenho certeza. Está tudo tão confuso...

     Jackson segurou o braço da moça.

     - A senhorita vai ao mausoléu e eu vou também, por duas razões. Quero estar presente para o caso de você se lembrar do que a incomoda e... Para protegê-la.

     Ela olhou-o com firmeza.

     - Proteger-me de que, sargento?

     - Não sei - confessou ele. - Mas, lá dentro, diante de todos, você confessou que tinha uma vaga idéia de uma coisa que poderia alterar todo o caso.

Se uma das pessoas que a ouviram falar for o criminoso, poderá agir novamente - contra você.

     - Poderemos ir no meu carro - disse ela. - Não estou com medo, mas se insiste em ir comigo, está bem.

     - Insisto - respondeu o sargento. - E continue a procurar lembrar-se da idéia que tem no fundo do cérebro, a associação entre seu pai e a adega. Ficarei em completo silêncio.

     Carol conduziu o detetive para a garagem, que ficava bem distante da casa. Entraram num possante coupé e dentro de poucos minutos punham-se a caminho.

Jackson sabia que o cemitério ficava distante. Carol foi devagar, até sair da estrada principal e começar a subir uma ladeira.

     Jackson conservou-se calado, como prometera. Via que a moça pensava muito, tentando esquecer-se de que o pai morrera havia poucas horas e procurando raciocinar com calma.

     Haviam acabado de subir a ladeira e iam começar outra, quando o motor falhou e acabou por parar completamente, Jackson, até aquele momento, não havia olhado para o relógio, e só então viu que o carro estava completamente sem gasolina.

     - Que aborrecimento! - disse Carol. - Papai sempre se encarregava de encher o tanque. Decerto as preocupações que teve nos últimos dias o fizeram esquecer-se disso.

     Jackson desceu do carro e olhou em volta.

     - Se foi coisa planejada não poderíamos ter parado em lugar mais isolado. Acho que vou dar uma volta por aí. Vem comigo ou prefere ficar no carro?

     Carol lançou um olhar às enormes árvores e estremeceu. Preferiu ir com o detetive. Jackson sabia que o último posto de gasolina ficava a uns sete quilômetros, pelo menos. Devia haver outro adiante.

     Andaram em silêncio durante cerca de um quilômetro, sem ver uma só luz. Em seguida, ouviram um carro que se aproximava. Vinha a toda velocidade. Jackson tirou a lanterna e começou a fazer sinal. Ficou parado no meio da estrada, até que compreendeu que o carro que se aproximava não tinha intenções de parar.

     Deu um pulo para o lado e o carro passou rente. Em menos de meio minuto, desaparecia a luz do farol traseiro. Jackson limpou o rosto.

     - Puxa! Este sujeito guia depressa um bocado! Acho que teve medo de parar. Não o censuro por isso. É muito comum ver malfeitores pedindo condução à noite, nas estradas, e muita gente tem medo de parar.

     Carol segurou com força o braço do rapaz.

     - Papai nunca parava o carro na estrada à noite. Dizia que era muito perigoso, apesar de não ser nenhum covarde. Tinha medo de muita coisa. "Medo"!

Aí está o que eu estava tentando lembrar-me...

     Jackson parou.

     - Vamos, que era?

     - Papai tinha medo de ratos. Até de camundongos. Quando era pequeno, foi mordido por um rato. Quando aparecia um ratinho, costumava subir na cadeira.

Vê o que quero dizer?

     Jackson concordou:

     - Compreendo. Com esse medo de ratos e camundongos, nunca teria entrado na adega. Contudo, foi o que fez. A criada diz que seu pai sabia da existência dos ratos. Kerwin estava presente. Mas aposto que seu pai nunca soube de coisa alguma.

     - Mas foi papai quem ordenou o expurgo!

     - Como é que pode ter certeza disso? Alguém telefonou para a companhia, dizendo que era seu pai. Carol, era disso que precisávamos. Seu pai foi assassinado!

     Andavam agora mais depressa e em silêncio. Depois de um certo tempo, Jackson perguntou:

     - Por que é que Coppin odiava tanto seu pai?

     Carol disse:

     - Eram irmãos apenas por parte de pai. Certa vez, papai e minha avó vinham por esta mesma estrada e uma barreira caiu. A única probabilidade de salvação que havia para eles era sair do carro e procurar abrigar-se debaixo de uma pedra. Mas vovó era muito gorda e andava devagar. Papai fez tudo para puxá-la, mas não houve tempo. Só papai conseguiu salvar-se. Coppin dizia sempre que ele a deixará morrer, esmagada pela avalanche de pedras.

     - Compreendo - murmurou Jackson. - Carol, você tem a chave do escritório de seu pai?

     - Há uma no carro. Papai sempre deixava lá uma chave extra, para o caso de esquecer a penca. Por que pergunta?

     - Porque vamos ao escritório dele, olhar. Para ser positivo, o fato de seu pai ter sido assassinado exige que eu o faça, para ver se encontro alguma pista ou alguma idéia. Escute aqui, acha que encontraremos algum posto de gasolina ou teremos que esperar que algum carro passe por nós? Isto é o lugar mais isolado que já vi em minha vida!

 

               Tentativa de assassinato

     Duas horas mais se haviam passado desde que a gasolina acabara e eles ainda estavam caminhando. Jackson olhou para Carol, perguntando:

     - Agora que seu pai morreu, Rossiter é quem vai tomar conta dos negócios, não é?

     Ela concordou.

     - Kerwin me disse era isso que aconteceria, pouco antes de sair. Mas não me importo com isso. Afinal, a riqueza não é a única coisa importante na vida, não acha?

     - Não sei - resmungou Jackson. - Mas isso dá a Rossiter um motivo, o primeiro que já apareceu até agora, exceto, talvez, o desejo de vingança de Coppin.

Contudo, Rossiter tem um álibi tão perfeito, que não é possível que haja cometido um crime. Estou desnorteado, Carol. Não vejo para onde me virar. Mas, continue a pensar. Estou certo de que resolveremos tudo bem.

     Encontraram afinal o posto de gasolina e conseguiram prosseguir viagem. Chegaram ao cemitério quase às onze horas. Jackson, que estava guiando, parou perto da casa do vigia e indagou da posição exata do mausoléu. Seguiu até encontrarem um grupo de imponentes túmulos.

     Carol disse então:

     - Sargento, esqueci-me de lhe dizer uma coisa. Não consegui encontrar a chave do mausoléu. Nunca vim aqui, mas acredito que a porta esteja apenas fechada por uma grade e que possamos ver lá dentro, sem entrar. Ou então o vigia talvez nos possa informar se há carneiros desocupados. Papai nunca falava sobre este assunto. Sei que há muita gente enterrada aí. É uma sepultura antiquíssima.

     Jackson pôs o farol do carro no grupo de sepulturas, até encontrar uma com o nome de Tinney. Parou ali o farol e ajudou Carol a descer. Encaminharam-se rapidamente para a entrada. Era uma sólida porta de bronze.

     - Parece uma porta de banco. Nunca conseguiremos entrar ou ver nada lá dentro, Carol.

     Experimentou a pesada aldraba de bronze. Estava aberta. Empurrou a porta, que cedeu com facilidade. O farol do carro iluminava bem o interior do túmulo.

Era uma sala alta, menor do que parecia do lado de fora.

     - Acha que pode suportar?

     Ela sorriu ligeiramente.

     - Não estou com medo, se é isso que deseja saber. Estou intrigada por saber a razão de estar a porta aberta.

    Jackson pensava na mesma coisa. Mas não havia ninguém lá dentro. Foi fácil verificar. Duas das paredes mostravam uma porção de carneiros. A parede

do fundo era completamente lisa. Onde Jackson se sentou.

     Carol começou a ler os nomes colocados diante de cada carneiro. Sem se voltar, mostrou a Jackson um carneiro vazio. Enquanto o rapaz olhava, a luz do farol pareceu diminuir de intensidade. Jackson se voltou e o farol apagou-se. Estavam agora na mais completa escuridão. Automaticamente, Jackson passou o braço em volta de Carol e puxou-a para junto de si.

     - Alguém fechou a porta - disse baixinho - Por Deus! Podem trancá-la. É preciso evitar que isso aconteça.

     Largou a moça e correu para a porta. Antes de lá chegar, fecharam a porta à chave. Jackson meteu o ombro sem resultado.

     Carol chamou-o baixinho e ele seguiu, tateando, para junto dela. A moça tremia ligeiramente. Tirando do bolso a lanterna, Jackson acendeu-a, o que lhes trouxe maior conforto.

     - Que será isso? Fechar-nos aqui desta maneira! Isso deve fazer parte de algum plano. Mas qual? Aqui há bastante ar. É claro que poderíamos morrer de fome, mas o túmulo será aberto dentro de pouco tempo, para que a sepultura de seu pai seja preparada, antes do enterro. Não compreendo nada disso.

     Carol agarrou-se mais a ele.

     - Mas tudo que aconteceu deve ter um significado qualquer. Quem nos prendeu aqui, seja quem for, não se vai limitar a fechar-nos cá dentro e ir-se embora.

 

     Jackson apagou a lanterna.

     - Temos que suportar o escuro o mais possível. Quando o nosso amigo assassino se resolver a adir, precisaremos muita da lanterna. Escute... este som...

     - Eu também estou ouvindo - disse Carol. - Um rangido, parece-me. Estou começando a ficar com medo!

     - Eu também - resmungou Jackson.

     Tornou a acender a lanterna e examinou as quatro paredes. Não havia lugar onde um assassino se pudesse esconder. Todos os carneiros estavam cimentados.

Contudo, o som vinha de dentro do túmulo.

     - Que faremos? - perguntou Carol, desanimada.

     Jackson respondeu com voz firme:

     - Vamos sair daqui! Segure a lanterna, enquanto eu examino a porta. Deve haver um meio!

     Mas a fechadura era grade e pesada. Não havia meio de forçá-la. Jackson endireitou o corpo. Ouvira de novo o mesmo rangido, desta vez mais alto. Os dois se voltaram. Nada sabiam que aquilo poderia ser-lhes fatal, pois o assassino não os iria trancar ali á toa! Jackson suava frio. E se o assassino tivesse descoberto um meio de impregnar a tumba de gases de cianureto?

     Este pensamento fê-lo agir. Pediu a Carol que se afastasse para o fundo do mausoléu. Tirou o revólver e colocou o cano encostado na fechadura.

     - Tenho aqui um trinta e oito e balas de aço. - explicou ele. - Espero que sirvam para arrebentar esta fechadura. O método já deu resultado em fechaduras menores. Reze para que não nos falhe agora.

     - Ainda não fiz outra coisa, senão rezar, desde que fecharam a porta, sargento.

     Carol estremeceu.

     - Sargento... Escute aqui, não posso continuar a chamá-lo assim. Nem ao menos sei seu nome. O primeiro nome...

     - Jim - respondeu Jackson. - É melhor abaixar-se para o caso de algum bala ricochetear. Vou atirar.

     Apertou o gatilho. O barulho foi terrível, dentro do espaço confinado do mausoléu. Os dois ficaram momentaneamente surdos. Em seguida, Jackson julgou ouvir novamente o mesmo som de qualquer coisa rangendo, desta vez mais definido. Não prestou atenção, entretanto. O seu principal objetivo era abrir a porta.

     Tornou a atirar. Depois focalizou o raio da lanterna na fechadura para ver o resultado. Por acaso, o raio de luz desviou-se da fechadura amassada e foi bater no chão. Por uma razão que ele próprio não soube, Jackson seguiu com os olhos o raio de luz. Tornou a erguê-los para a fechadura, mas baixou-se rapidamente.

     Inclinou-se e apanhou um objeto que lhe parecia um pedaço de cimento. Enquanto o fazia, ouviu de novo o antigo som e viu novos fragmentos de cimento caírem ao chão. Jackson encostou na parede e dirigiu a lanterna para o teto.

     O teto do mausoléu era feito de blocos, de grandes blocos de granito, presos com cimento. O maior dos blocos movia-se ligeiramente. Moveu-se mais e mais. Estava solto e vinha caindo!

     O som que ouviram provinha disso. Era agora muito alto, porque o bloco de granito se desprendia rapidamente dos últimos fragmentos de cimento. Jackson deu um grito e deu um pulo, aproximando-se de Carol e puxou-a para o lado.

     Tudo isso não levou mais de dez segundos. O bloco vinha caindo. Tocou o chão com um enorme ruído, levantando uma nuvem de pó e fragmentos de cimento e granito. Jackson sentiu a beira da pedra passar-lhe rente ao braço. Notou, mais tarde, a falta de uma botão na manga do paletó.

     Carol, com as mãos fortemente comprimidas tapando o rosto, não tinha coragem nem de respirar, até que Jackson passou o braço pelos seus ombros. O enorme bloco estava a seus pés, a centímetros de distância.

     Jackson começou a praguejar em voz baixa com o rosto rubro de cólera. Conseguiu subir no bloco e puxou Carol para cima. Vinha até eles o ar puro fresco e da noite. Lá em cima, estava o céu.

     - Bem, ao menos um beneficio nos fez este maldito assassino! Deu-nos uma passagem. Este bloco formava a maior parte do teto. Vou sair na frente, porque é possível que ele esteja lá fora, à espera para a possibilidade de termos escapado.

     Mas não se ouviu nenhum tiro nas trevas. Um carro vinha se aproximando. O farol do carro de Carol já não iluminava a cena. Jackson deitou-se em cima do túmulo sem teto, esperando que o carro que se aproximava parasse, junto do jazido. Jackson estava com a arma pronta para qualquer eventualidade.

     - Acho que deve ser o vigia - disse ele - Com certeza os tiros o despertaram. Está-se sentindo bem, Carol?

     - Apenas... Um pouco abalada. Jim, como é que aquele bloco pôde cair?

     - Do mesmo modo que faltou gasolina em seu carro. Foi tudo de propósito. Acho que o assassino vinha naquele carro que passou por nós na estrada, quando íamos à procura de gasolina. Teve bastante tempo de chegar aqui e preparar isso. Não era difícil, se estivesse provido de instrumentos apropriados, como acredito que deveria estar. Retirou parte do cimento, para enfraquecer o bloco. Talvez tenha subido ao telhado, depois que nos trancou lá em baixo, para adicionar seu próprio peso ao do bloco de pedra, fazendo-o cair mais depressa. Os tiros que dei apressaram a queda. Era fácil prever que eu atiraria.

     - Acha que vai tentar matar-nos novamente?

     - Pode ter certeza disso. Só há um jeito: descobrir-lhe a identidade e dar cabo dele, de um modo ou de outro. Carol, isso é uma prova de que seu pai foi assassinado.

     A pessoa que vinha no carro que haviam avistado era o guarda do cemitério. Quando Jackson mostrou seu distintivo da polícia, o homem não causou embaraços.

Não vira ninguém entrar, a não ser Jackson e Carol. Mas era muito simples penetrar no cemitério pela cerca baixa e ornamental que limitava o terreno.

     Jackson dirigiu-se apressadamente para o escritório do cemitério e telefonou, em primeiro lugar, para a casa de Bert Coppin. Não obteve resposta. Ligou depois para Kerwin. Um criado informou que Kerwin ainda não voltara da casa de Tinney. Tentou depois falar com Rossiter.

     - Vim diretamente para casa - respondeu ele a Jackson.

     - Teve alguma notícia de Bert Coppin, depois que chegou em casa?

     - Não. Eu e ele nada temos em comum. Não havia razão para Coppin telefonar-me.

     - E Kerwin?

     Rossiter pareceu hesitar.

     - Veio para minha casa comigo. Posso telefonar para ele daqui a pouco, se quiser. Mas acho que não teve ainda tempo nem de descer do carro.

     - Não é preciso. Já que me diz que ele esteve aí... Explicarei depois.

 

               Um tiro nas trevas

     Jackson voltou para o carro e sentou-se ao lado de Carol. Acendeu dois cigarros e deu-lhe um.

     - Não era Rossiter. A pessoa que procuramos não pode ter álibi para as duas últimas horas. Rossiter foi diretamente para casa. Deve ser verdade. Pelo menos, não poderia ter estado aqui e já estar em casa, tão depressa, depois de ter tentando matar-nos. Portanto, está eliminado.

     - Kerwin?

     - Esteve com Rossiter. Saiu de lá um minuto antes de eu telefonar. Mas Coppin... O caso com ele é outro. Não atendeu o telefone. Se temos três suspeitos e dois deles têm álibis, só nos resta Coppin.

     - Mas por que? Afinal de contas, ele era irmão de papai.

     - Por ter vivido todos esses anos na convicção de que seu pai matou-lhe a mãe. Há certa semelhança entre a morte de sua avó e na que o assassino destinou a você, dentro do mausoléu. Coppin estaria limpando o caminho, eliminando-a. Não seria ele o herdeiro do que resta dos bens de seu pai, no caso de não termos escapado daquele bloco de pedra?

     - Acho que sim. Nunca ouvi falar de outro parente de meu pai. Mas Kerwin me afirmou que não haverá herança. Tudo o que possuía ainda é pouco para pagar a dívida para com a firma.

     - Vejamos o que nos vai dizer Coppin. Temos de pegar logo o assassino, antes que ele dê cabo de nós.

     Os dedos de Carol, crisparam-se no braço do rapaz.

     - Jimmy, - disse ela. - Não há razão para você expor sua vida para me defender.

     Jackson olhou para ela, sorrindo.

     - Sou pago para defender os outros e, agora mesmo, estou fazendo jus ao meu salário.

     Fizeram os 30 quilômetros que os separam da cidade em cerca de vinte minutos. Jackson parou em frente à casa de Coppin acompanhado por Carol. O próprio Coppin veio atendê-los. Olhou muito para Jackson e franziu a cara quando viu Carol.

     Jackson foi logo dizendo:

     - É necessário que eu saiba exatamente de tudo que o senhor fez depois que saiu da casa de Carol, hoje à noite. E terei de procurar provas para tudo o que disser. Portanto, não minta.

     - E por que iria mentir?

     Coppin fez a pergunta, sem se afastar do lugar onde estava.

     - Nada tenho a ocultar. Vim diretamente para casa e não saí daqui, desde que cheguei. Estive só.

     - Em que lugar da casa? - perguntou Jackson.

     - Na sala de visitas. Para que tanta pergunta?

     - Trata-se de um assassinato. Preciso usar seu telefone. Se fizer objeção, poderei mostrar-lhe novamente meu distintivo.

     - Não faço nenhuma objeção.

     Coppin começou a afastar-se, mas logo depois tornou a bloquear a porta. Apontou para Carol.

     - Ela poderá esperar aí fora. Não permitirei que a filha do homem que matou minha mãe pise em minha casa.

     Jackson respondeu, com voz muito baixa e suave:

     - Houve, esta noite, um atentado contra a vida de Carol. Ela vai entrar comigo. Quer discutir esse ponto?

     Mas Coppin não discutiu. Afastou-se, levando Jackson à sala de visitas, onde ficava o telefone. Jackson não pegou o aparelho. Limitou-se a olhar para Coppin, com ar acusador.

     - Então ficou aqui sentado, desde que chegou em casa? Por que não atendeu o telefone? Liguei para cá há pouco menos de meia hora.

     Coppin começou a compreender que estava sendo pilhado numa armadilha. Passou a língua pelos lábios, nervosamente.

     - Juro que o telefone não tocou. Estive aqui o tempo todo. É a pura verdade.

     Jackson pegou o telefone e discou ao acaso. Ouviu a campainha tocar e alguém responder. Desligou imediatamente.

     - O telefone não está com defeito. Por que mente, Coppin? Por que matou Hugh Tinney e tentou livrar-se de sua única herdeira? Tudo porque neste seu cérebro confuso existe a idéia de que Hugh Tinney matou sua mãe. Planejou matá-la, por vingança, esperando, ainda levar algum proveito.

     - Não - exclamou Coppin. - Sinceramente, sargento, estou-lhe dizendo a verdade. É certo que eu o odiava, mas não seria capaz de matar nenhum dos dois.

Não tenho coragem para isso. O senhor tem de acreditar em mim.

     - Escute aqui - disse Jackson. - Não estou dizendo que acredito ou que não acredito em você, mas se sair deste lugar, antes de eu me comunicar novamente com você, irá parar tão depressa na cadeia, que nem saberá como lá chegou. Vamo-nos embora, Carol.

     Saíram os dois. Jackson andou alguns quarteirões, depois saiu do carro, deixando Carol à sua espera. Entrou numa farmácia e ficou lá durante alguns minutos. Quando voltou, parecia preocupado.

     - Aonde vamos agora? - perguntou Carol.

     - Ao escritório de seu pai. Talvez possamos encontrar lá um indicio esquecido. Até o mais esperto ladrão costuma esquecer-se de pequenos detalhes.

     O escritório ficava num edifício moderno, de luxuosa aparência. Tudo indicava uma sólida base financeira e, entretanto, a firma ruíra como uma castelo de cartas.

     Jackson verificou que as chaves encontradas no carro do morto não só davam acesso ao escritório, como também abriam a secretária e o cofre. No cofre não havia nada de interessante. Todos os livros da firma, como era natural, haviam sido removidos, como provas, mas os documentos pessoais de Hugh Tinney haviam ficado em sua secretária. Jackson examinou a correspondência. Depois, folheou um talão de cheques.

     O último cheque fora emitido na véspera. Era destinado ao pagamento do prêmio da apólice de seguro de Tinney. Jackson franziu a testa e olhou para a moça, que estava sentada, vendo, de olhos úmidos, aqueles objetos que haviam pertencido a seu pai.

     - Examinemos o caso de um novo ângulo - disse o detetive. - Se seu pai alterou os livros, para justificar as suas falcatruas e precisava tanto de dinheiro, como é que sua conta no banco está tão em ordem? E por que mandaria pagar a apólice de seguro, sabendo perfeitamente que o cheque não teria mais valor depois da sua prisão? Tudo isso me parece absurdo. Seu pai era um negociante prático. Se quisesse certificar-se de que a apólice seria paga, apesar de estar ele falido, o melhor meio seria efetuar o pagamento em dinheiro.

     Carol inclinou-se sobre a mesa.

     - Quer dizer que papai teria sabido que seu cheque seria recusado pelo banco. E um cheque sem fundos tornaria nula a apólice de seguro.

     - Exatamente - disse Jackson. - Isso prova que seu pai não tinha intenção de suicidar-se, mas prova também alguma coisa importante.

     - Diga-me o que é, Jimmy. Tenho certeza de que você tem razão.

     - Claro que tenho. Quando seu pai emitiu o cheque, tinha certeza de que seria pago imediatamente. Não sonhava, sequer, que seria preso e que sua fortuna seria confiscada. Ora, um homem que dá um desfalque, sabe muito bem que pode ser pilhado mais cedo ou mais tarde, e toma as suas precauções. Se seu pai não agiu dessa forma é porque não era o ladrão, Carol.

     - Mas quem era então o ladrão?

     - Só havia dois homens na firma - observou Jackson. - Estou começando a ter alguma idéias, Carol. Vamos agora à polícia. Já pegou alguma vez num revólver?

     - Só duas vezes na vida. Mas... Que pretende fazer, Jimmy?

     - Vou fazer uma armadilha para um assassino muito entendido nesses assuntos. Mas minha armadilha vai ser psicológica. Não espera por essa, de modo que deverá cair facilmente.

     - Mas o que tem isso com os tiros que vou dar?

     - Fazem parte do plano. Quero que tome cuidado para não matar ninguém. Ou talvez seja melhor matar, se o criminosos estiver ao alcance de sua arma...

     Estiveram meia hora no sótão da Chefatura. Foi o bastante para Jackson ensinar a Carol como segurar e apontar uma arma de fogo. Em seguida, o detetive entregou à moça um revólver de cabo de madrepérola.

     - Não zombe - disse ele, sorrindo - Esta arma já matou um homem, quando andava nas mãos de uma mulher. Ela está hoje na cadeia. Mandei-a para lá. Sabe o que deve fazer?

     Ela fez um gesto concordando.

     - Sim, sei. Mas gostaria de ficar sozinha num lugar escuro, para poder pensar melhor.

     - Não temos tempo agora. Até logo. Conserve-se com os olhos bem abertos e a mão pronta. Estamos arriscando, deixando de andar juntos, mas é preciso.

Boa sorte.

 

     Sorrindo para Jackson, Carol seguiu para a esquina, onde deixara o carro.

     Jackson foi logo para a casa de Coppin e, deixando o carro na esquina, seguiu a pé até a casa. Subiu as escadas da frente e chegou, na ponta dos pés.

Coppin lá estava, esfregando nervosamente as mãos e andando de um lado para outro. Jackson sorriu e afastou-se.

     Foi, em seguida, para a casa de Rossiter, uma suntuosa residência de um só andar, com janelas decorativas, muito altas. Da calçadas, não era possível olhar lá para dentro, mas, subindo as escadas, Jackson conseguiu espiar para dentro da sala luxuosamente mobiliada.

     Jackson tocou a campainha e Rossiter mandou-o entrar. O detetive sentou-se na mais confortável poltrona da sala e olhou pela grande janela. Estava bem à sua frente. Cruzou as penas e olhou em silêncio para Rossiter, por um momento.

     - O senhor deve saber que alguém tentou matar-me e a Carol, há pouco tempo. A tentativa esteve muito perto de dar bom resultado...

     - Matar o senhor? E Carol?

     Rossiter parecia não compreender.

     - Exatamente. E o pior é que não sei porque. Nem Carol. Ela parece desconfiar de alguma coisa, mas nada me diz. No momento está protegida, de modo que nada há que temer. A pessoa que nos tentou matar estava de volta do Cemitério Calvary no momento em que eu telefonei para cá. O cemitério fica tão longe daqui que qualquer pessoa que atendesse ao meu chamado telefônico estaria livre de suspeitas. Isso exclui você e Kerwin, se é que ele estava mesmo aqui.

     - Estava, sim. Tínhamos muito que discutir sobre os bens de Tinney e as finanças da firma. Só dentro de algumas semanas conseguiremos organizar tudo.

Mas, sargento, não consentirei que Carol seja prejudicada. Não, senhor! O pai dela pode ter cometido erros, mas Carol não tem culpa disso. Tenciono providenciar para que ela fique com o bastante para viver decentemente. Afinal de contas, fui sócio do pai dela durante cinco anos.

     - Você é um bom sujeito - disse Jackson, em tom de aprovação. - Deixe-me continuar a história. Você e Kerwin ficaram eliminados. Resta-nos Coppin e ele não atendeu, quando telefonei. Contudo quando lhe pedi que explicasse onde se encontrava, jurou que estava em casa, a poucos passos do telefone.

     - Então estava mentindo e quem mente tem alguma coisa a esconder. Sargento, o senhor sabia que Coppin odiava tanto Hugh Tinney, que seria capaz de matá-lo? E é possível que odiasse Carol também.

     - Sei, Carol me disse. Quantas pessoas estão a par deste fato?

     - Carol, eu e Hugh naturalmente. Pediu-me que não falasse sobre isso. Por que pergunta?

     Jackson cruzou as mãos e ficou brincando com os polegares, enquanto olhava o espaço.

     - Rossiter, você é um ótimo rapaz. Acho que sua vida também corre perigo. Por que? Porque sei que Hugh Tinney foi assassinado inteligentemente. Foi tudo planejado e executado no momento oportuno.

     Rossiter começava a ficar nervoso.

     - Diz que minha vida está em perigo?

     - Exatamente. O assassino conseguiu matar Hugh Tinney. Pode ainda conseguir matar Carol também. Assim, você é a única pessoa que ficará conhecendo o segredo do ódio de Coppin pelo irmão. Sabe o motivo. Ele não pode adivinhar que eu também sei. Se imaginasse isso, talvez tivesse tentado contra a minha vida também. Compreende?

     Rossiter concordou:

     - Quer dizer que o assassino pretende matar-me também?

     - Exatamente. Não podemos deixá-lo correr esse risco. Vou levá-lo comigo à Chefatura de Policia, até que Coppin seja preso.

     - Irei com muito prazer. Agora mesmo.

     Apanhou o chapéu e deixou que Jackson saísse em sua frente. Estavam quase alcançando a calçada, quando ouviram o primeiro tiro. O chapéu de feltro de Jackson deu um salto, foi pousar outra vez na cabeça, mas não ficou muito tempo. Tornou a ser arrancado, no momento em que o detetive corria na direção de um arbusto. Aterrado, Rossiter não se movia. Mais um tiro ecoou e os nervos do negociante não agüentaram mais. Rossiter caiu, todo encolhido.

     Jackson correu para ele e puxou-o para perto do arbusto. Tirou o revólver.

     - A primeira pegou-me no chapéu - disse ele sombriamente - A segunda era para você. Vou ver se encontro esse sujeito. Fique aí onde está.

     Está recomendação era inteiramente desnecessária. Rossiter não era capaz de mover nem um dedo.

     Jackson voltou dentro de dez minutos, muito contrariado.

     - Fugiu, mas sei onde encontrá-lo. Deve ter ido para casa correndo, porque eu lhe disse que não saísse de lá e calcula que eu vá procurá-lo.

     - Mas... não me vai levar lá, não é verdade? - perguntou Rossiter, batendo o queixo.

     - Nada disso. Você vai para meu escritório, e lá ficará, até que Coppin seja preso. Vamos andando.

 

               Confissão forçada

     Rossiter ficou muito mais calmo, ao chegar ao escritório de Jackson. Dois goles de uísque acabaram de reanimá-lo e trouxeram-lhe um pouco de cor às faces. Jackson enfiou o dedo no buraco que a bala lhe fizera no chapéu.

     - Já estive muitas vezes bem perto da morte, mas nunca estive mais do que agora... Você pode ver, Rossiter, que Hugh Tinney foi assassinado e que o assassino sabe perfeitamente que lhe conhecemos a identidade. Pretende livrar-se de nós, para que ninguém mais possa revelar essa identidade, nem ao menos indiretamente. Voltarei daqui a pouco, trazendo Coppin preso. Espero que ele resista à prisão...

     Rossiter ficou meia hora à espera de Jackson, esfregando os dedos ou tamborilando na mesa, alternadamente. Finalmente, pela porta aberta, viu quando Coppin chegou preso. Vinha pálido e manso como um cordeiro. O seu pulso direito estava preso ao esquerdo de Jackson. Os dois se aproximaram da mesa do tenente. Um soldado veio ao encontro deles e Coppin foi revistado. Enquanto o conduziam para a cela, Jackson entrou no escritório, esfregando as mãos.

     - Muito bem, é isso... Você já não corre mais perigo. Coppin é o único suspeito, graças ao seu auxílio. Portanto, vou levá-lo agora mesmo para casa.

Está tudo resolvido.

     - Coppin confessou? - perguntou Rossiter.

     - Coppin? Esse sujeito é uma esfinge humana. Não confessa nem que dia da semana é hoje. Quer falar imediatamente a um advogado. Mas não sairá daqui.

Vamos, já podemos respirar livremente.

     Rossiter saiu em companhia de Jackson, parecendo um pouco relutante. Abriu a boca uma ou duas vezes, mas tornou a fechá-la, sem nada dizer. Jackson levou-o diretamente para casa e saiu do carro em sua companhia, chegando até à porta.

     Rossiter tirou as chaves do bolso e hesitou um momento, em frente à porta.

     - Sargento, não quer entrar para tomar uma bebida? Deve estar bem precisando depois de tudo que aconteceu. Eu, pelo menos, estou.

     - Não, muito obrigado - respondeu Jackson. - Estou de serviço hoje. O senhor sabe o que é isso.

     Rossiter agarrou o braço do sargento.

     - Entre um instante, por favor. Estou com medo. Sei que Coppin está preso, mas pode ter deixado alguém trabalhando em seu lugar.

     - Tolice - zombou Jackson. - Mas entrarei um pouquinho, já que insiste. Abra a porta.

     Rossiter meteu a chave na fechadura e abriu a porta. Pôs o pé na soleira e parou. O "hall" estava fracamente iluminado por uma lâmpada da sala de visitas.

Estranhas sombras projetavam-se nas paredes e a mais fantástica de todas era a de um homem segurando um revólver.

     A sombra tornava a figura enorme. Aparentemente, o assassino não tinha a menor idéia de que a sua sombra estava sendo projetada na parede, pois conservava-se

rígido e imóvel, à espera. Rossiter continha a respiração. Tateou, à procura de Jackson, mas não o encontrou. Virou a cabeça. O detetive descia vagarosamente as escadas.

     Rossiter seguiu-o, na ponta dos pés. Assobiou baixinho e o detetive voltou-se.

     - Sargento, há uma pessoa lá dentro, com um revólver na mão! Vi a sombra na parede.

     - Sombra? Na parede?

     Jackson tornou a subir a escada, sacando o revólver. Entrou no "hall". Rossiter o seguia.

     - Que sombra? - perguntou o detetive. - Rossiter, sei que você passou um mau quarto de hora. Está com os nervos abalados, mas não julguei que estivesse tão mal assim. Meu conselho é que vá deitar-se e durma bastante. Não pense em tiros, assassinatos e derramamentos de sangue. Não há ninguém aqui na sua casa. Quem haveria de querer matá-lo, afinal de contas? Apenas Coppin e este está bem seguro.

     O sussurro de Rossiter mal se ouvia.

     - Não vai ficar? Não quer acreditar em mim?

     Jackson suspirou:

     - Escute aqui, Rossiter, sua imaginação está solta... E tem-lhe pregado peças. Se continuar a ter visões, chame um médico, sou apenas detetive.

     - É Kerwin quem está lá dentro - disse Rossiter. - Kerwin! E pretende matar-me! Tem que me matar, porque eu sei da verdade. Foi Kerwin quem matou Hugh

Tinney...

 

     Jackson voltou-se rapidamente enfrentando Rossiter.

     - Continue. Agora já começo a compreender. Por que foi que Kerwin matou Tinney?

     - Porque... Porque Kerwin deveria dar parte de mim, porque fui eu que roubei a firma e não Tinney. Mas, em vez disso, alterou os livros, de modo que Tinney tivesse um bom motivo para suicidar-se. Depois, quando eu tomasse conta dos negócios, Kerwin trataria de fazer uma chantagem e me obrigaria a dar-lhe muito dinheiro.

     Jackson disse:

     - Você roubou o dinheiro e Kerwin matou Tinney. Tem certeza disso?

     - Tenho sim. Eu o ajudei mais tarde. Kerwin instalou um telefone no sótão da casa de Tinney e telefonou para mim de lá, logo depois de cometer o crime, fabricando assim um álibi para nós dois. E agora está aí à minha espera. Foi ele quem atirou em nós. Sabe que sou fraco e que acabaria falando.

     Jackson elevou a voz:

     - Pode sair, Mike.

     Um detetive que se parecia com Kerwin, em estatura, saiu da sala de visitas. Rossiter olhou para ele, depois para Jackson.

     Alguém mais vinha saindo da sala - Carol Tinney.

     - Não compreendo - murmurou Rossiter.

     Jackson explicou, então.

     -Kerwin foi preso há pouco, quando entrou em casa de Coppin para recolocar a campainha do telefone, que havia roubado. Compreendeu que Coppin era um ótimo suspeito e que eu trataria de controlar os movimentos de todos vocês, depois do atentado contra a vida de Carol. Depois que me separei de Coppin, liguei para a casa dele. Sabia que ele não sairia de perto do telefone. Mas não atendeu. Quando Coppin concordou em ser preso, Kerwin teve a oportunidade de recolocar a campainha. Depois que o fez, dois de meus auxiliares o agarraram. mas isso não bastava. Era preciso fazer com que você falasse e só havia um meio de consegui-lo: amedrontá-lo. Foi Carol quem deu aqueles tiros. Você julgou ter sido Kerwin. Pensou que ele estivesse com medo e pretendesse matá-lo.

Eu deixei que você pensasse isso e arranjei esta cena, porque o que eu precisava era de uma confissão sua, Rossiter. Mike, pode levá-lo e coloque-o longe de Kerwin. Mande Coppin para casa.

     O sargento Jackson sentou-se no carro, ao lado de Carol.

     - Eu deveria ter compreendido tudo desde o começo. Quando cheguei à sua casa, Rossiter julgou que eu tivesse isso prendê-lo, e que o que fizera fora descoberto. A sua consciência culpada fez com que a fisionomia o traísse. Naturalmente, foi Kerwin quem arranjou todo o plano. Viu um boa oportunidade de fazer com que Rossiter tomasse conta dos negócios da firma, para depois explorá-lo à vontade. Este plano lhe veio à mente quando seu pai lhe disse que Rossiter era um ladrão.

     Carol respirou fundo.

     - Então está tudo explicado. Papai nunca foi ladrão. Jimmy estou tão grata a você! Gostaria de poder dizer-lhe mais alguma coisa, mas agora que está tudo resolvido, lembrou-me de que tenho obrigações a cumprir. E obrigações nada agradáveis.

     Jackson concordou, com um gesto de cabeça.

     - Sei disso. Estou pronto a ajudá-la, se quiser. Mas... Depois que tudo estiver esquecido, em parte, insisto numa coisa. Quero que volte comigo à polícia, para praticar um pouco de tiro ao alvo. Vê este buraco em meu chapéu? Foi você quem o fez e isso me faz compreender que sou um péssimo professor...

 

                                                                                 R. F. Lucchetti  

 

                      

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