Criar uma Loja Virtual Grátis
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O SEGURANÇA DE WALL STREET / Juliana Dantas
O SEGURANÇA DE WALL STREET / Juliana Dantas

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT 

 

 

Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

O segurança de Wall Street é um spin off de O Leão de Wall Street. Aconselho a leitura tanto do Leão de Wall Street como do conto Espera, para melhor entendimento deste livro.

 


 


Capítulo 1

Amy

Finalmente, Wall Street.

E cá estou eu, prestes a entrar na cova dos leões por livre e espontânea vontade. Quer dizer, há apenas um leão, mas é o suficiente para me meter medo.

Quem não tem medo do Leão de Wall Street?

A expressão matar um leão por dia parece bem propícia agora.

Meu estômago está embrulhado enquanto admiro o prédio à minha frente. O medo faz a palma das minhas mãos suarem e os passos fraquejarem enquanto tomo uma respiração profunda e me obrigo a seguir em frente. Há muito em jogo para desistir agora.

A recepcionista me fita com um olhar entediado.

— Olá, tenho uma entrevista marcada com L... — Engasgo sem querer e pigarreio. — Liam Hunter.

Vamos lá. Vamos encarar o leão de frente.


Ethan

 

Observo Amy Grant pelo monitor na sala de segurança.

Ela caminha pela recepção de um lado para o outro parecendo apavorada, como se tivesse uma entrevista marcada com o próprio diabo.

Bem, não poderia culpá-la por estar com medo.

Liam metia medo em qualquer um. E mesmo que agora, pelo menos para as pessoas mais próximos, ele estivesse mais manso, o que poderia dizer? Um leão domesticado ainda era um leão.

Observar a garota esperando para entrar no covil do leão me lembrava uma outra garota na mesma situação há mais de um ano. Emma Jones. Ou melhor, Emma Hunter.

Não que houvesse alguma similaridade física entre as duas. Enquanto Emma tinha os cabelos escuros e pele clara, aquela garota ostentava cabelos ruivos, presos num coque alto, e roupas elegantes e sóbrias. A roupa a fazia parecer mais velha do que seus vinte e cinto anos, revelados no currículo à minha frente.

Amy Grant, vinte e cinco anos, natural da cidade de Nova Jersey, dois anos de experiência comprovados na casa de Ariana Colombo, a rica esposa do milionário Emiliano Colombo, dono de uma rede de restaurantes italianos espalhados pelo país. Foram eles que a indicaram e era por isso que ela estava ali, para ser entrevistada para trabalhar para Liam. Não exatamente para Liam, mas...

Meu celular vibra ao mesmo tempo em que a recepcionista pede que Amy Grant suba até o andar de Liam para a entrevista.

Solto um palavrão ao ler a mensagem.

“Que merda está acontecendo, Ethan? O Liam está louco? Eu vou matá-lo assim que chegar aí, ele não escutou nada do que eu disse?”

Porra, ela descobriu.

Merda. Merda. Merda.

Lá se vai um dia tranquilo. Bufando, pego meu café e disco uma mensagem rápida para Liam, que se resume em “Fodeu, a Emma descobriu e está vindo para cá”. Volto a atenção ao monitor, agora observando a câmera no elevador onde a candidata acabou de entrar.

E cuspo todo o líquido quente da boca ao ver a cena inusitada à minha frente: Amy Grant está com a saia levantada até os quadris. Uma calcinha vermelha de renda me diz oi ousadamente, enquanto ela abaixa a meia calça que contém um furo enorme na canela direita, o que explica o motivo dela estar se livrando da peça estragada, porém...

Ela não sabia que tinha câmeras no elevador?

Rapidamente, ela se desfaz da meia e a joga dentro da bolsa, descendo a saia de testemunha de jeová bege que vai quase até os joelhos. Mas agora é tarde. Já vi a calcinha vermelha de renda e só consigo pensar em algum motivo para fazê-la levantar a saia para que eu possa dar uma olhadinha de novo.

E, para completar, quando o elevador para no vigésimo andar, ela desfaz o coque e deixa os cabelos ruivos mais incríveis que eu já vi na vida caírem por seus ombros.

Porra, aquela ruiva é quente.

Sem pensar, saio da sala de controle e corro para a sala de Liam.

Dane-se, sou a segurança máxima ali e nada mais normal que eu desça e cheque com meus próprios olhos a candidata, antes que chegue em Liam.


Amy

 

Mil vezes inferno. Nada estava dando certo.

Eu tinha me vestido com esmero para aquela entrevista. Sabia que, para o cargo que almejava, precisava parecer profissional, discreta e de confiança. Sendo assim, deixei de lado meu visual hipster habitual, e fui às compras com o intuito de achar algo que não tinha nada a ver comigo, mas que me deixaria mais perto de conseguir um cargo ao lado dos Hunter.

Esse era meu objetivo e nada ia me desviar dele.

Nem que para isso eu tivesse saído de casa me sentido uma balzaquiana frígida e assexuada. Até domei meus cabelos num coque, porque eles chamavam muito a atenção. No entanto, agora eu olhava minha imagem no vidro enquanto esperava, sentada, na sala da secretária que havia me olhado de cima abaixo. Ela havia pedido para que eu esperasse, enquanto atendia um telefonema e continuava olhando para mim e cochichando sabe lá com quem ao telefone. Enquanto isso, eu me sentia toda errada.

Minhas pernas brancas estavam sem a meia fina porque a mesma rasgara sem que eu percebesse. Só me toquei desse fato quando estava no elevador e tive que tirá-la ali mesmo. O esforço para retirá-la, antes que alguém visse, fizera com que o coque elaborado do meu cabelo começasse a se desfazer e eu tomara a decisão repentina de soltá-lo. Agora meus cabelos caíam sobre os ombros, totalmente despenteados.

Jesus, era assim que eu ia me colocar em frente a Liam Hunter?

O cara era conhecido como o mais implacável investidor de Wall Street, o que lhe valera a alcunha de Leão. Ele definitivamente não era conhecido por ser piedoso. Muito pelo contrário.

Se eu estava nervosa antes, agora estava apavorada. Talvez devesse me levantar e sair discretamente dali, e desistir daquela ideia maluca.

E chego a me levantar para fazer exatamente isso, quando uma parede se interpõe em meu caminho. Meus olhos focam primeiro o terno todo escuro. E, quando levanto a cabeça, estou olhando para o cara mais alto que já vi na vida.

Olhos de lince, pretos e insondáveis, perscrutam meu rosto com frieza.

— Senhorita Grant. — A voz é um ressoar profundo, como um trovão, e quase espero ouvir relâmpagos à nossa volta. Encolho-me automaticamente.

— Sim? — Tento não revelar meu medo.

— Me acompanhe, por favor.

Oi? Minha primeira reação é dizer um sonoro “Nem pensar”.

Eu não ia acompanhar aquele cara ameaçador, que mais parecia um mafioso russo de uma série de TV, sabe Deus para onde. Mas ele deu meia volta, deixando-me com a visão de seu cabelo preto bem cortado enquanto se afastava, não me restando alternativa a não ser acompanhá-lo.

Os prédios de Wall Street são, em sua maioria, antigos e sóbrios, todavia os domínios de Liam Hunter são bem diferentes do que eu imaginava. Tudo ali é moderno, de aço e vidro. Elegante e arrojado, assim como seu dono.

Ali é o castelo do Leão de Wall Street. O rei.

E eu estou me perguntando quem é aquele cara, quando ele para em frente a uma porta dupla e a abre, fazendo sinal para eu entrar.

Faço o que manda, sem hesitar desta vez, porque né? Até parece que ia adiantar eu tentar correr agora. Ainda mais com estes saltos ridículos que estou usando.

O homem fecha a porta atrás de nós e eu olho em volta. Estamos numa sala com alguns sofás espalhados e uma mesa ao fundo. Um escritório?

— Senhorita Grant, eu sou Ethan Coen. Sou o segurança de Liam Hunter e preciso me certificar de que sua presença aqui não ameaça a segurança.

— O... o quê? — gaguejo de novo, um tique nervoso medonho que surgia sempre que eu ficava nervosa.

— Eu tenho que revistá-la.

Aquele grandalhão ia me revistar?

— É mesmo necessário? Não sou uma mulher bomba ou algo do tipo, acho que já percebeu.

Um risinho se forma em seus lábios e, porra, ele tinha uma boca até bonita. Bem desenhada, meio carnuda. Boca para se beijar.

Espera, de onde saiu aquilo? Estou doidona ou o quê? Nem tinha fumado hoje! E Tiziano jurou que aquele chá que tomamos de manhã não era alucinógeno. Daquela vez.

— É procedimento padrão. Ninguém chega perto de Liam Hunter sem que nos certifiquemos de que seja seguro.

— Não é necessário, não sou uma ameaça... — Oh Deus, faça com que eu não esteja vermelha. Isso não pode estar acontecendo.

— Isso nós veremos.

Sem alternativa, passo a bolsa para ele.

Ethan Coen a pega e, sem cerimônia, inicia o procedimento de tirar as coisas de dentro. Começa com minha carteira, onde verifica os documentos, e depois a descarta na mesa ao lado. Em seguida, pega minha nécessaire. E, vermelha, eu o vejo abrir o zíper e tirar de lá minha maquiagem, um OB e uma camisinha.

Ah, Deus, quero que um buraco se abra e me leve para a primeira estação de metrô possível, de onde eu poderia partir no primeiro trem para a puta que pariu!

Felizmente, ele descarta esses objetos vergonhosos e pega meu celular, que também não ganha muito atenção. E, por fim, a meia rasgada. Ethan levanta a sobrancelha para mim.

— Não pergunte.

— Ok.

Ele coloca tudo dentro da bolsa de novo.

— Como viu, nada suspeito.

— Agora por favor, fique de pé, de costas, perto da cortina.

— Oi?

— Eu disse que ia revistá-la.

— Me revistar, você quer dizer...

— Sim, até onde sei você ainda pode ter alguma bomba entre suas coxas.

— Ah... — perco a fala.

— Estou esperando, senhorita Grant.

— Não é absolutamente necessário...

— Sou eu quem decido. Se não colaborar, a senhorita será escoltada para fora do prédio e descartaremos seu currículo.

Oh, merda!

Mordendo os lábios com força, me viro e me posiciono como ele pediu. Fecho os olhos e me preparo para a humilhação.

Quase dou um pulo quando sinto o toque em meus ombros e descendo por meus braços cobertos pelo algodão do suéter rosa. E então, as mãos estão na minha cintura e permanecem ali por alguns segundos. Porra, as mãos dele são tão grandes que quase fecham na minha cintura!

Quando elas sobem pelas laterais do meu corpo algo estranho começa a acontecer. É como se o tempo tivesse mais devagar, como se ele me tocasse em câmera lenta. Os dedos são como pluma, subindo até roçarem nas laterais dos meus seios e prendo a respiração quando os traidores intumescem de repente, acordando e cutucando meu sutiã.

Mas que porra?

Elas param ali, roçando, e ainda nem respiro, esperando e achando realmente que elas iam a qualquer momento tocar meus seios.

Eu estava quase ansiando por isso.

Como assim?

Meu cérebro entra em curto circuito. E não consigo me mover. Minha respiração volta por arquejos, ofegante.

Então, ele retira as mãos.

Tenho certeza de que ouvi meus mamilos praguejarem.

Agora sinto as mãos dele em minhas costas, descendo pela espinha, e me arrepio inteira. Da ponta dos pés até o último fio de cabelo quando elas chegam aos quadris e, sem aviso, apalpam minha bunda.

Espera. Ele está me apalpando? É realmente necessário? Será que achava que eu poderia estar guardando uma granada no meio das minhas nádegas?

E, de repente, antes que comece a me refazer, ele está agachado na minha frente. Desço os olhos para seus cabelos negros brilhantes. Ele tem o olhar baixo, compenetrado, e as mãos rodeiam meu tornozelo e sobem pelas laterais.

Mais arrepios. Agora eles sobem mais rápido que as mãos e param no meio das minhas pernas.

Oh. Oh.

Estremeço. Enfraqueço.

As mãos migram para trás do meu joelho.

Porra, ele não poderia adivinhar que era uma área sensível, poderia? Eu tinha colocado isso no meu currículo?

E suas mãos continuam seu caminho antes que eu possa pedir que fique mais ali. Mas paro de me importar quando sinto seu toque no interior das minhas coxas.

Ah, bom jesus.

Isso. Isso. Isso.

Ethan se ergue na minha frente, maravilhosamente alto e, puta que pariu, ele cheira bem, como é que não tinha reparado antes?

Algo como almíscar e homem.

Nossos olhares se encontram e um calor abrasador aquece meu rosto. Meu corpo. Tudo ao redor. O mundo está em chamas.

Suas mãos param na minha coxa nua, bem pertinho de onde eu estou começando a sentir um pulsar ansioso e úmido.

Ah, por favor. Só mais um pouquinho. Se ele mover os dedos alguns milímetros ele vai sentir.

Vai me sentir.

E eu vou senti-lo.

E...

Uma batida na porta afasta meus loucos devaneios e dou um pulo de susto ao mesmo tempo em que as mãos grandes de Ethan deixam minha pele.

No instante seguinte, a porta se abre e a secretária está ali.

— Ethan, o senhor Hunter está aguardando a senhorita Grant.

— Sim, eu só estava checando algumas definições de segurança.

Ele me encara como se nada demais tivesse acontecido.

— Está liberada, senhorita Grant, pode acompanhá-la.

Eu nem sei como é que eu consigo me mover e seguir a secretária de volta pelo corredor. O segurança de Liam Hunter tinha tocado em mim como um amante e não como alguém procurando uma bomba relógio.

Aquilo realmente aconteceu? Ou eu imaginei?

— Pode entrar, senhorita Grant.

Eu deixo meus pensamentos de lado e entro na sala do Leão de Wall Street.


Capítulo 2

 

Amy

 

Estou na toca do leão.

Ele vai me devorar viva.

E sou uma idiota por estar aqui.

São os únicos pensamentos que norteiam minha mente enquanto dou alguns passos para dentro da sala de Liam Hunter e meus olhos focalizam a figura quase mítica sentada atrás da mesa imponente.

— Senhorita Grant, aproxime-se, não tenho o dia inteiro — rosna impaciente com uma voz que pode ser descrita com apavorantemente bonita. Se é que isso existe.

Respiro fundo e, tentando deixar meus medos inúteis de lado, precipito-me até a mesa no fundo da sala, onde o Leão, quer dizer, Liam Hunter, está me esperando.

Ele me observa.

Inferno, ele está me medindo?

Sim, ele está claramente me escaneando com os olhos de predador. É a palavra que me ocorre. Liam Hunter está me avaliando como um predador avalia a presa antes de devorá-la.

Oh, baby jesus, a cada passo eu me convenço mais de que é um grande erro estar li. Onde eu estava com a cabeça?

Bem, eu sabia bem onde.

— Sente-se, senhorita Grant. — Aponta para a cadeira em frente à mesa quando me aproximo o suficiente, ainda bem corajosa, sem desmaiar, ou dar meia volta e sair correndo, ou então começar a chorar como uma criancinha num safári com medo do animal que poderia comê-la com uma só mordida.

Contrariando meu interior apavorado, faço o que mandou, sentando-me na confortável cadeira, e finalmente o encaro. E assim, de perto, ao vivo e a cores, era ainda mais impressionante do que nas fotos dos jornais de finanças ou nos closes dos paparazzi.

Os cabelos eram de um inusitado tom de cobre, selvagem e quente, que lembrava mesmo a juba de um leão. Os olhos que continuam me analisando eram dourados e intensos.

Ok, Liam Hunter era bonito pra cacete, tinha que admitir. Mas isso não fazia com que ele fosse menos ameaçador para mim. Eu estava mais amedrontada do que atraída.

Hum, isso era bom. Não ia ser nada inteligente ficar me contorcendo de tesão pelo cara que seria meu chefe.

Quer dizer, se eu passasse em sua inspeção minuciosa.

A expressão “inspeção minuciosa” me faz lembrar do segurança de Liam, Ethan Coen. Ah, sim, aquele me dava tesão. Ainda podia lembrar de suas mãos grandes em mim, me inspecionando, seus olhos me vistoriando...

— Está vermelha, senhorita Grant. — A voz de Liam Hunter me tira do devaneio sensual em que eu mergulhara por alguns segundos e me estapeio mentalmente por ser tão distraída. Era um defeito terrível que nem a yoga tinha consertado. — Algum problema?

Eu pisco, ruborizando ainda mais, mas agora de consternação.

— Não, senhor, eu... quer dizer... só estou um tanto nervosa com... a entrevista — balbucio como uma adolescente e me estapeio novamente, agora com mais força. Com certeza Liam Hunter deve achar que eu sou alguma garota boboca e não uma candidata à altura do cargo oferecido.

— Está nervosa? — questiona devagar, os dedos longos tamborilam na mesa de vidro, seu olhar ainda é aterrorizante, quando ele se inclina. Como se fosse atacar. Obrigo-me a ficar no lugar e não correr desabalada porta afora sem olhar para trás. — Por que estaria nervosa? É apenas uma entrevista de emprego, para a qual, julgo eu, está preparada, já que está aqui. Ou não tem certeza que é qualificada para o cargo?

— É, eu...

— Por que se é esse o caso, poupe meu tempo, e desapareça da minha frente. Não tenho tempo a perder com gente incapacitada.

Senhor, ele está me expulsando? Forço meu cérebro subitamente vazio a funcionar. Concentre-se, Amy! — Minha consciência me sacode com força. — Você se preparou para estar aqui. Lembre-se de tudo o que está em jogo.

Engulo em seco e ergo a cabeça, tentando demonstrar uma segurança que estou longe de sentir.

Sim, muita coisa estava em jogo.

— Apenas tenho noção da seriedade da situação, senhor Hunter. Acredito que é um cargo que exige não só qualificação, mas extrema confiança do candidato. E, sim, se estou aqui eu acredito que seja apta a assumir a incumbência.

Liam Hunter franze o olhar, a expressão impassível.

Oh, Deus, faça com que ele não chame o grandalhão bonitão chamado Ethan para me pôr para fora. Não que eu não apreciaria aquelas mãos grandes e atrevidas em mim de novo, mas... Inferno, quero mesmo aquele emprego.

Eu preciso.

— Certo, vamos ao seu currículo. — Ele se recosta na cadeira e os dedos bonitos atacam os teclados do notebook e acredito que está verificando meu currículo. Faço uma prece silenciosa para que não tenha errado nada. Não pode haver nenhum furo na minha história.

— Então a senhorita nos foi indicada pelos Colombo.

Certo. Vamos ao jogo.

— Sim, trabalhei com eles por alguns anos.

— É o que diz aqui... Mas a senhorita se formou em jornalismo, correto?

Oh, droga, eu devia ter tirado aquela informação, mas fiquei com medo de ele descobrir de qualquer maneira. Sem contar que talvez apreciasse alguém com formação superior.

— Sim, correto, na universidade de Nova York.

— Hum... que coincidência... — Ele esboça um sorrisinho estranho que não entendo. Mas em vez de deixá-lo mais humano, só faz parecer mais assustador. Como um daqueles palhaços assassinos dos filmes, que davam gargalhadas sinistras enquanto matavam suas vítimas com uma machadinha.

— Coincidência?

— Minha esposa é formada em jornalismo pela mesma universidade — comenta, e me lembro das informações que li sobre eles, que Liam Hunter é casado, há pouco mais de um ano, com Emma Jones, agora Emma Hunter. Só não fazia ideia de que ela era formada em jornalismo. — E por que não exerce a profissão?

Abro a boca para responder exatamente o que estava na ponta da língua e já tinha ensaiado em frente ao espelho e até com a ajuda de Tiziano, mas a porta se abre de repente.

— Ela está subindo.

Olho para trás e Ethan Coen, em toda sua gostosura, está parado ali, com o semblante fechado.

— Porra, como ela ficou sabendo? — Liam Hunter passa os dedos pelos cabelos, exasperado.

— Não faço ideia, mas eu te avisei...

— Que grande merda!

Ops! O que será que estava acontecendo?

— O que eu faço? Sabe que não vou conseguir segurá-la aí fora.

— Traga ela aqui.

Ethan sai da sala e Liam Hunter volta a atenção para mim.

— Senhorita Grant, pode esperar na recepção, por favor. Tenho uma pequena... contenda para resolver antes de podermos continuar a nossa entrevista.

— Claro — murmuro, confusa, e me levanto e saio da sala. O local onde a secretária de Liam Hunter deveria estar se encontra vazio. Sem saber o que fazer, me acomodo no confortável sofá da recepção e pego o celular para me distrair.

Uma comoção me faz levantar o olhar e vejo uma moça passando como um furacão por mim e entrando na sala do Sr. Hunter. Ainda vejo seus longos cabelos castanhos, antes de ela fechar à porta com tanta violência, que a mesma apenas bate, mas não fecha, deixando uma fresta aberta.

Fico ali, paralisada no lugar, quando escuto a voz feminina irada.

— Que porra pensa que está fazendo?

— Emma... — A voz de Liam Hunter é um misto de exasperação e comedimento.

— Eu te falei que eu mesma ia fazer as entrevistas! E por que diabos fico sabendo que está entrevistando uma babá para meu filho bem aqui, e sem a minha presença?

Oh, aquela era a esposa de Liam Hunter! Eu havia visto fotos dela na internet, mas em todas estava muito elegante e bem maquiada, acompanhando o marido em algum evento. Ela parecia mais velha naquelas fotos. Aquela garota, de jeans, que entrou ali, parecia uma adolescente.

— Não entendo porque está brava. Claramente eu preciso entrevistar as candidatas à babá do meu filho.

— Não tem nada! Sou a mãe dele! Sou eu que devo saber quem seria apropriada para cuidar do meu filho!

Liam Hunter ri e a garota solta um palavrão.

— Emma... — De repente ele está falando mais baixo e eu não posso ouvir.

Droga! Eu queria muito ouvir o que estavam falando. Quase posso sorrir para mim mesma. É uma situação perigosa, mas me levanto e espio para dentro da sala.

Liam Hunter está sentado no mesmo lugar e sua esposa, inclinada sobre a mesa, com as mãos apoiadas no tampo de vidro.

— Não começa com seus joguinhos, estou puta com você e não vai adiantar nada... — ela esbraveja, ainda irritada, mas Liam apenas sorri de novo. — Estou furiosa por achar que deve controlar isso como tenta controlar tudo.

— Querida, eu controlo tudo.

— Ah, seu grande filho da puta!

— Emma, não me deixe irritado.

— Quem tem que estar irritada sou eu!

— É para isso que está aqui? Para me deixar irritado?

— Senhorita Grant?

Eu dou um pulo de susto e me viro ao ouvir a voz estrondosa atrás de mim e lá está Ethan Coen, me encarando com um olhar de quem sabe exatamente o que eu estava fazendo. Espiando o casal Hunter...

— Senhor Coen, eu...

Afasto-me rapidamente da porta e me sento de novo, como se assim pudesse apagar o que ele tinha visto. Oh, inferno, como eu podia ter sido tão descuidada?

— Estava espiando, senhorita Grant? — Com pouco passos, ele atravessa a sala e fecha a porta que eu estava espiando.

— Claro que não. Eu fui... fechar a porta que estava entreaberta...

— Senhorita Grant, sabe que temos câmeras por todo o prédio, não?

— Oh, eu...

— Não, claro que não sabe, senão não teria tirado sua meia em nosso elevador.

— Oh, meu Deus, você viu aquilo?

Ele sorri. Um sorrisinho de lado.

— Sim, senhorita.

Fico vermelha ao imaginá-lo me espionando pelas câmeras de segurança. Parecia até mesmo um tanto...

— Pervertido — sussurro.

— O quê?

— Nada. Pensei alto.

— Me chamou de pervertido.

— Bom, se fica espiando as mulheres em momentos íntimos...

— A senhorita estava num elevador. Deveria saber.

Eu engulo a vergonha.

Sim, ele tinha razão. Claro que existia câmera de segurança em todos os prédios de Nova York.

— Mas eu queria saber porque estava espionando os Hunter.

— Eu não estava...

— Se a senhorita ficar, vai aprender que não adianta mentir pra mim. E, pior, não adianta mentir para Liam Hunter.

— Vai me dedurar? — questiono, corajosa.

— Vou pensar no seu caso.

— Eles estavam discutindo. Por minha causa.

— Não era por sua causa. Emma ficou brava porque Liam decidiu entrevistar a babá ele mesmo.

— Acho que não lhe tiro a razão.

Antes que continue, seu celular vibra e ele olha o visor, encarando-me em seguida.

— A senhorita deve ir embora agora.

Droga, eu tinha perdido a chance.

— Por favor, eu a acompanharei até a portaria.

Eu me levanto, suspirando, vencida. E o acompanho para fora do prédio.

Entramos no elevador e me recordo de Ethan dizendo que me viu trocando a meia. Que vergonha!

Toda aquela produção e para quê? Para nada. Para não conseguir meu intento. Eu era uma lástima. Respiro fundo para conter o soluço que quer romper minha garganta e o cheiro de Ethan invade minha narina.

Bem, pelo menos eu tive o prazer de conhecer aquele cara gostoso. E ele colocara aquelas mãozonas atrevidas em mim. Era mais ação do que eu tinha visto o ano inteiro. Era algo para se comemorar.

Oscar teria muito trabalho hoje...

De repente me pergunto se Ethan aceitaria sair comigo.

Eu podia tentar...

— Pelo menos aproveitou? — arrisco.

— Quê?

— A visão. Aposto que deu para ver bastante...

Ele fica desconcertado.

— Ah, senhor Coen, quer dizer, Ethan acho que podemos deixar a formalidade pra lá agora que estraguei tudo aqui mesmo, mas que se dane! Quer saber, agora que não vamos mais ser colegas de trabalho...

— Do que está falando? Liam pediu que amanhã a senhorita esteja preparada para ir até sua casa para ser entrevistada pela senhora Hunter.

Oh. Dou um passo atrás, confusa.

— Sério? Achei que tinha levado um fora.

— Não, Emma exige que seja ela a te entrevistar.

O elevador para no térreo e saímos para o saguão iluminado.

— Esteja preparada amanhã. Irei buscá-la para levá-la até Emma.

— Certo. Até amanhã então, senhor Coen.

— Achei que já estava me chamando de Ethan.

Eu fico vermelha.

— Que seja! — E me afasto.

— E, senhorita — ele me chama e eu me volto —, cuidado para não rasgar mais nenhuma meia.

Ele acena e desaparece novamente dentro do elevador.

Enquanto eu fico com uma estranha sensação de irrealidade, parada ali, em Wall Street.


Capítulo 3

 

Ethan

 

O inconfundível cheiro de muffins assando invade minhas narinas assim que piso na cozinha dos Hunter naquela manhã.

Com um sorriso feliz e o estômago roncando, vistorio o ambiente e meus olhos famintos pousam nos bolinhos sobre a mesa, recém-saídos do forno.

— Hum, aí sim... — Minhas mãos se esticam para tocá-los, a boca já salivando quando dedos magrinhos seguram meu pulso e tomo um susto ao me deparar com Emma me encarando furiosa.

— Nem pense nisso!

— Ei, é só um muffin e de onde você saiu? Virou ninja agora, pelo amor de Deus, mulher! — Tento pegar de novo o muffin, mas agora ela me dá um tapa, até bem forte para alguém que pesa cinquenta quilos e mede um metro e sessenta.

— Eu falei que não!

— Ei, calma. — Dou um passo atrás, levantando os braços no ar em sinal de rendição, enquanto Emma pega a forma e leva de volta ao fogão com um olhar maligno preso em mim. — Está na TPM ou o Liam dormiu de calça jeans? —Desisto do muffin e pego uma maçã na fruteira.

— Ainda estou bem brava com você! — Ela rosna com a mão na cintura e solto uma risada, abocanhando a maçã. Emma achava que botava medo em alguém?

— E vai me punir me privando de muffins pelo resto da minha existência?

— Não banque o engraçadinho! Você e o Liam mancomunados para escolher a babá do Leo sem a minha presença, é bem típico de vocês.

— Ah, isso. — Termino a maçã com uma última mordida, jogando o caroço no lixo.

— Ah, isso? Acha pouco? Eu fiquei furiosa!

— E como foi que descobriu?

— Você e o Liam podem se sentir muito espertos com essa coisa de macho que sabe tudo, mas eu não sou idiota! Bastou uma ligação para o escritório para a secretária abrir a boca.

— Você contou isso ao Liam? Pobre Gillian...

— Não, não contei, porque a Gillian não merece ser demitida! Na verdade, eu devia exigir que você fosse demitido.

— Quem vai ser demitido? — Liam entra na cozinha segurando o bebê conforto em uma mão e um celular que digita furiosamente na outra.

— A Emma disse que você deveria me demitir.

Ele levanta o olhar o celular.

— O quê?

Emma rola os olhos.

— Deixa pra lá! — resmunga indo pegar o bebê que começa a chorar.

Mas antes que ela se aproxime, chego antes e o tiro do bebê conforto.

— E aí, cara? — Jogo o bebê para cima e o choro cessa na hora, sendo substituído por um sorriso banguela.

Leo era uma cópia escarrada de Liam, embora ainda tivesse apenas um tufo de cabelo cor de cobre na cabeça. E o que eu podia dizer? Eu era totalmente apaixonado pelo pequeno leãozinho. Assim como todos ali.

Desde que ele nasceu, há quase seis meses, a vida girava em torno do pequeno leãozinho de Wall Street. Mas parecia que o reino do reizinho daquela floresta estava com os dias contados, pelo menos era o que Emma havia declarado há algumas semanas quando decretou que voltaria a trabalhar.

Obviamente uma pequena guerra civil foi instalada no luxuoso apartamento dos Hunter. Liam Hunter não esperava de maneira alguma que sua jovem esposa, que havia engravidado antes mesmo de contraírem matrimônio na celebre Igreja da Trindade, tivesse a intenção de se sujeitar a algo tão mundano quanto ter um emprego. Afinal, Emma agora era a esposa de um dos homens mais ricos do país — o Leão de Wall Street.

No entanto, mesmo Liam Hunter sendo um dos homens mais duros e intransigentes de que se tem notícia, a pequena Emma Hunter tinha conseguido dobrar o temível Leão em suas exigências e, após algumas discussões a portas fechas e outras não tão fechadas assim, Liam tinha concordado com a volta de Emma ao mercado de trabalho.

Eu só esperava que agora ela tivesse a perspicácia de escolher um emprego melhor do que sua última incursão no mundo do jornalismo, que acabara com ela brigando com sua pseudochefe sacana e rolando pelas escadas, o que lhe custara uns dias no hospital e quase um ataque cardíaco em Liam. Tudo isso já estando grávida.

Eu ainda não entendia como Liam podia confiar em Emma para conseguir um trabalho depois da presepada que ela fizera ao se envolver com Samantha Arden. Ele apenas me comunicou ontem que entrevistaria uma candidata a babá, que lhe fora indicada pelo extravagante casal Colombo. Liam jogava golfe de vez em quando com Emiliano, um descendente de italiano, que fizera fortuna com uma rede de restaurantes espalhados pelo país. E Ariana tinha se tornado amiga de Emma quando esta descobriu que estava numa gravidez de risco, e Ariana se tornou sua aliada. Eu nem gostava de lembrar daqueles dias sombrios quando Liam descobriu que Emma escondeu a gravidez de risco dele. Mas felizmente tudo acabou bem e tanto Emma quanto Leo estavam ali para provar isso.

E eu fiquei realmente surpreso por descobrir que Emma tinha vencido aquela batalha épica. Não que eu duvidasse que ela tinha um poder sobre Liam que ninguém mais no mundo tinha, visto que eles se apaixonaram e se casaram em três meses de um nada tradicional relacionamento.

Até se envolver com Emma, Liam era um cara que não se envolvia emocionalmente com nenhuma mulher, não depois da vagabunda da Vanessa. Essa, hoje respeitável senhora Vanderbilt, fodeu com seu psicológico quando se conheceram na faculdade. O relacionamento durou poucos meses e começou quando Liam, até então um estudante qualquer, que saiu das ruas depois de ser adotado pelo respeitável casal Hunter, foi desafiado pela ambiciosa Vanessa a fazer fortuna e depois convidá-la para sair.

Certamente, Vanessa não conhecia Liam Hunter. Ela lançou um desafio e ele venceu. Inteligente e perspicaz, Liam usou sua expertise para investir na bolsa de valores e, em poucos meses, ganhava seu primeiro milhão.

Foi assim que começou a saga do Leão de Wall Street, um dos mais notórios investidores da bolsa de Nova York.

Liam trocou sua paixão por Vanessa pela paixão por ganhar dinheiro. E preterida, Vanessa o trocou por um figurão mais rico.

Bem, eu resolvi essa questão para Liam, o ajudando a socar a cara daquele almofadinha de Hollywood. Era uma questão de orgulho e não de dor de cotovelo. Liam Hunter já estava acima daqueles sentimentos ordinários.

Ele o havia reencontrado depois de anos, justamente numa fatídica noite, bebendo e se metendo em brigas sem sentido num escuro bar no Brooklin, onde a gente se conheceu na adolescência.

Embora não acreditasse em destino e essas baboseiras tolas, era certo que algo havia conspirado para que eu encontrasse Liam justamente na noite em que ele reencontrou o tal sujeito. Eu não via Liam desde que fui para a instituição para menores depois da briga de gangue em que nós dois nos metemos alguns anos antes. E desde que eu me livrei dos tiras e assistentes sociais dos infernos, vinha tentando ganhar a vida no que eu sabia fazer de melhor: usar meus punhos. Assim, eu me envolvi no submundo das lutas clandestinas de Nova York.

E qual não foi meu susto ao ver aquele cara de cabelo maluco e bem vestido tentando ficar em pé e socar um grandalhão tatuado.

Eu não pensei duas vezes antes de ir lá resgatá-lo, não sem antes dar uns bons socos de esquerda no idiota que queria bater no meu amigo.

Liam estava meio incoerente naquele momento, mas ficou feliz em me ver e nós pegamos algumas garotas para comemorar e fomos para seu apartamento.

E, porra, eu nunca podia imagina que Liam tinha se dado bem daquele jeito, claro que ele ainda não era o leão de Wall Street, dono de bilhões, mas aquele apartamento em Manhattan era muito mais do que eu podia imaginar que qualquer um de nós conseguiria um dia.

E, quando amanheceu, cuidamos das feridas um do outro, como fazíamos quando éramos crianças perdidas e ele me contara que tinha virado um investidor e que levara o pé na bunda de sua noiva vadia. Foi divertido tocaiar o idiota do Vanderbilt e certamente nós o deixamos com medo o bastante para dizer que tinha caído e batido a cara na calçada.

Eu não sei dizer quando foi que me tornei oficialmente a sombra do Leão de Wall Street. O segurança. O guarda-costas. Motorista. Conselheiro. Amigo. Irmão, mas, a partir daquele dia, não nos desgrudamos mais, e quanto mais rico Liam se tornava, mais nosso laço se estreitava.

Eu daria a minha vida por ele. E tenho certeza de que ele faria o mesmo por mim.

Era simples assim.

E como sua sombra, segui de perto a aproximação da destemida e inocente Senhorita Emma Jones.

E percebi, antes mesmo que Liam sequer desconfiasse, que aquela garota não era uma presa do leão. Ela era a verdadeira caçadora e nem fazia ideia de que tinha chegado onde nenhuma outra, nem a vaca da Vanessa Vanderbilt chegara: no coração do leão de Wall Street.

Não foi surpresa para mim quando ela se mudou para casa dele, depois de algumas conturbadas semanas de jogos sexuais e nem que aceitasse seu pedido de casamento logo depois. Eles foram feitos um para o outro. É, destino e essa merda toda talvez existisse.

E agora nós tínhamos uma pequena rainha por ali, medindo forças com o rei da selva e, pelo que podia constatar, com essa última batalha sobre o emprego, ela tinha mais poder do que eu imaginava.

Eu só esperava que tivesse mais lucidez, agora, em escolher seu trabalho, não estou a fim de bater em mais ninguém por um tempo. Porque no tal emprego com a chefe filha da puta que só desejava usá-la para conseguir matérias sobre investimentos que iriam prejudicar Liam, ainda habitava um cretino com quem ela tinha trocado alguns amassos em uma boate quando já estava com Liam. Enfim, uma longa história que causou um pequeno tsunami naquela relação — que de tranquila não tinha nada — e que acabou comigo tendo que usar meus punhos na cara do pobre coitado.

Eu precisava ter uma conversa série com Liam sobre o assunto, porque acreditava que ele não iria deixar Emma sair de casa, mas obviamente eu estava enganado e Emma estava pisoteando no bom senso do leão.

Isso me levava de novo ao assunto do momento: a contratação da nova babá.

Imediatamente eu me recordo das pernas de Amy Grant, agora não só quando ela tirava a indefectível meia no elevador, mas também quando a tive em minhas mãos, quando a chequei.

Ok, eu fui um tremendo filho da puta exigindo que ela fosse revistada por mim e isso era errado em tantos níveis que nem conseguia imaginar o quão ferrado eu estaria se decidisse contar a alguém ou se decidisse me processar por assédio ou algo assim. Mas, inferno, ela poderia ter tido um pouco de discernimento e dizer não. Poderia ter no mínimo exigido uma segurança feminina. Ou até mesmo dar meia volta e fugir.

Mas ela ficou. Ela permitiu.

Ah sim, eu posso não ter a lista astronômica do leão de Wall Street, mas também não sou nenhum celibatário em se tratando de mulheres.

Eu gostava delas. Conhecia elas.

Sabia quando elas estavam querendo o mesmo que eu.

E Amy Grant definitivamente estava na minha.

Puta que pariu. Ainda recordo do momento em que a toquei. Seu estremecimento sutil. Seu rosto corado, sua respiração ofegante. Seu olhar faminto que se juntou ao meu quando minhas mãos estiveram tão perto daquele lugar que eu já estava salivando para tocar. Lamber. Provar. Foder. As possibilidades eram infinitas e eu tinha certeza de que estaria dobrando a candidata a babá dos Hunter sobre a mesa e a fodendo com força se Gillian não tivesse escolhido aquele momento para entrar na sala e dizer que Liam a esperava.

Ah, foi uma pena.

— Onde está o Eric? — Liam senta na bancada apenas para abrir seu laptop.

Emma coloca alguns muffins à sua frente.

— Ele está de folga.

— Ainda?

— Eu te disse! Falei que ele podia ficar mais um dia com a Amanda em Vermont. — Suspira, citando Amanda, a amiga de Emma que agora namorava o chef de cozinha de Ethan, Eric. — Amanda disse que Vermont é tão romântico — ela se coloca atrás de liam e toca seu ombro. — A gente podia ir passar um fim de semana lá. Sozinhos, assim que tivermos uma babá...

— Você não estará trabalhando?

— Hum, não nos fins de semana, acredito.

— Nunca se sabe, agora se desistir dessa ideia...

Eu rio, olhando para Leo no meu colo, que está distraído brincando com minha gravata. Ou comendo ela. Por que as crianças levam tudo à boca?

— Vamos começar essa discussão de novo? — Emma levanta a sobrancelha. — Achei que já tínhamos chegado a um consenso?

— Eu cansei de brigar com você, apenas isso.

— Mas concordou com a babá.

— Eu sempre quis ter uma babá, ou duas, três. Ou sei lá quantas as pessoas ricas têm, foi você quem sempre quis cuidar de Leo sozinha.

— Claro que sim, ele é meu bebê! — Emma o tira do meu colo.

Eu olho para a minha gravata toda babada.

— Mas quer deixar o seu bebê com uma estranha e ir trabalhar. Quando nem precisa — Liam salienta fazendo Emma bufar.

— Cansei de discutir com você também!

É a vez de ele rolar os olhos e se levantar, fechando o laptop com um estrondo.

— Vamos, Ethan.

— Ei, e quando a tal candidata virá? — Emma pergunta antes de sairmos.

— Ethan irá trazê-la ainda hoje, satisfeita? — Ethan resmunga.

Emma sorri com uma falsa docilidade e se aproxima, beijando Liam no rosto.

— Sim, querido.

 

Nós entramos no carro e Liam liga o som. Nine inch Nails explode nos alto-falantes e relanceio o olhar para sua carranca quando dou partida.

— Ainda está puto com essa ideia da Emma, não é?

— Ela vai desistir mais dia menos dia.

Solto uma risada alta e ele me encara com a sobrancelha levantada.

— O quê?

— Se você diz... Se bem que eu estava realmente achando estranho você ter concordado. Já imagino que tem algo em mente.

Ele suspira.

— Emma é teimosa quando quer, mas também é um tanto volúvel em suas resoluções. E ela vai fazer o quê? Ela odeia ser jornalista!

— Então não tem nada armado para fazê-la desistir?

— Eu deixarei que minha querida esposa se enforque com a própria corda que lhe dei. — Ele sorri astuto. Chegando a dar medo.

— Não sei não...

— Desde quando eu erro uma previsão, Ethan? Além do mais, Emma não vai deixar Leo sozinho. Ela vai contratar essa babá e ficará cheia de ciúmes e, em pouco tempo, a pobre coitada correrá para longe ou a Emma a colocará para fora. E tudo vai voltar ao de sempre.

— Vamos ver.

— E, falando em babá, quero que vá até a casa de Amy Grant e descubra tudo o que puder descobrir sobre ela. Colombo garantiu que ela foi uma excelente babá para sua filha, e que Ariana a adora até hoje, mas precisamos fazer nossa própria investigação.

Eu sorrio devagar.

Investigar Amy Grant?

Ah, eu iria gostar muito daquela incumbência.


Capítulo 4

 

Amy

 

Acordo com um mantra entoando em algum lugar do apartamento.

— Oh, Tiziano, que merda! — Desistindo de dormir, levanto tropegamente e vou até a sala. Como previ, encontro Tiziano na posição do cachorro trepando, ou sei lá como chama aquela posição de yoga, a última mania do meu colega de apartamento.

— Não tem outro horário para fazer essa droga? — resmungo, e ele olha para mim sorrindo.

Ok, o sorriso dele é lindo, mesmo através daquela barba hipster que o deixa ainda mais irresistível. Sem contar que nesse exato momento ele está sem camisa e o peito perfeito brilha cheio de suor. Uma pena que ele seja tão gay. Realmente uma pena.

— Vai continuar me comendo com os olhos, querida? — Pisca para mim e rolo os olhos me arrastando até a cozinha.

— Fez café pelo menos?

— Nada de cafeína. Tem suco verde.

— Ah, não! — Por que Tiziano tinha virado aquele ser natureba nos últimos meses? Estava ficando cada vez pior.

— E, aí, como foi a entrevista? — Ele desiste da yoga e abre a geladeira.

Sento na bancada.

— Um desastre.

— Sério? Como ele é? O leão? É mesmo gostoso?

— Gostoso? Acho que não usaria esse adjetivo. Mas ele é lindo com certeza, para quem gosta de caras dominadores...

— Oh, adoro!

— Para seu azar ele é hétero.

— Ninguém é totalmente hétero para Tiziano, meu bem. — Ele me serve um copo de suco verde.

— O que tem aqui dentro? — Faço uma careta.

— Saúde!

Bufo e tomo o líquido asqueroso que, para minha surpresa, está bem gostoso. Tem gosto de laranja e agrião. Espero que seja só isso mesmo.

— Hum, até que é bom.

— O gengibre vai fazer maravilhas para o seu metabolismo. Está precisando perder um pouco deste culote. — Ele belisca meu quadril.

— Ai, não tenho culote.

— Se você diz. Só não venha choramingar no meu ouvido quando algum cara lindo preferir a mim, sua gorda.

— Ah, sua bicha má!

Ele ri.

— Estou brincando, baby! Você é linda, mesmo com esse cabelo do Pennywise. E aí, me conta, conseguiu o emprego?

— Não ainda.

— Como assim?

— Cheguei lá e estava no meio da entrevista quando fomos interrompidos pela esposa dele.

— Ah, eu já a vi num site de fofoca. É bonita, usando um Gucci divino.

— Ela parece muito mais nova pessoalmente, se quer saber.

— Mas já é mãe.

— Pois é. E então a entrevista foi remarcada para hoje com a senhora Hunter. Parece que ela ficou brava pelo marido ter tomado as rédeas da situação. Eu não lhe tiro a razão. Ficaria puta também.

— E vai continuar insistindo nisso?

Deixo escapar um suspiro, estremecendo.

— Eu preciso, Tiz.

— Boa sorte então.

Nossa conversa é interrompida pelo som da campainha e Tiziano levanta a sobrancelha.

— Esperando alguém? — Ele abre a porta e não sei quem está mais chocado, se eu ou Tiziano, quando me deparo com a figura alta, forte e viril de Ethan Coen.

— Uau! — Tiziano recupera a voz antes de mim, medindo o recém-chegado com interesse. Nisso, eu pulo da bancada e vou até a porta.

— Bom dia, senhorita Grant — Ethan me cumprimenta com aquela voz grossa e rouca que faz arrepiar dos pés à cabeça.

E não consigo deixar de medi-lo com olhos pidões, como uma criança em uma loja de doces, me deliciando com a visão de seus quase dois metros de altura revestidos num terno preto sob medida e os óculos escuros que o deixam com um ar de segurança da KGB.

Puta merda, ontem eu estava nervosa e já o achara maravilhoso, hoje, depois de uma tranquila noite de sono eu estou achando espetacular.

— Passei na inspeção? — ele indaga com um tom entre divertido e irônico e coro feito uma colegial virgem em frente ao quarterback mais gostoso da escola. Será que ele jogou futebol na escola? Com todos aqueles músculos e aquela altura...

— Ei, Amy, não vai nos apresentar? — Tiziano também mantém os olhos presos no nosso visitante.

E Ethan parece notar só agora que há outra pessoa na sala, pois desvia o olhar de mim para meu colega.

E percebo uma mudança sutil em sua expressão. Ele tira os óculos escuros e inspeciona Tiziano com um olhar que mataria qualquer um de medo. Mas não meu amigo, certamente. O mais provável era que ele estivesse de pau duro. Assim como eu deveria estar se tivesse um.

Meu Deus, de onde estavam surgindo todos aqueles pensamentos libidinosos insanos?

— O que está fazendo aqui? — Consigo achar minha voz perdida em meio à onda gigantesca de tesão dentro de mim.

— Eu vim te buscar para levá-la até a senhora Hunter.

— Oh, claro! Mas não marcamos nenhum horário ainda. Não é muito cedo? Acabei de acordar!

— Eu estou vendo. — Ele me mede agora, e eu olho pra mim mesma, meus pés descalços com as unhas pintadas de um roxo halloween descascando e minha camiseta velha de dormir, com um buraco bem grande no ombro.

Mil vezes porra!

Começo a corar de novo.

— Amy... — Tiziano cantarola do meu lado e suspiro, tentando achar alguma sensatez dentro de mim.

— Tiziano esse é Ethan Coen. Ele trabalha para Liam Hunter.

— Você é tipo o guarda-costas do leão? Meu Deus, se até o rei da selva precisa de um segurança, em que mundo estamos? — Tiziano ri da própria piada idiota, e eu bufo.

— Senhor Coen, este é Tiziano, nós moramos juntos.

— Moram juntos?

— Não desse jeito — eu corto no mesmo momento. Não quero que ele pense de maneira alguma que estou envolvida com Tiziano.

— Certamente que não — Tiziano continua —, ela não faz meu tipo. — Ele sorri, passando a mão pelos músculos de sua barriga sarada.

Ethan levanta a sobrancelha e tenho certeza de que ele começa a entender qual é a praia de Tiziano.

— Tiz, você não tinha que tomar banho para sair? — Lanço lhe um olhar de “some daqui agora”, que ele entende e se faz de desentendido.

— Está tão divertido aqui! Por que não entra, senhor Coen, estamos tomando suco verde, mas posso preparar qualquer coisa que quiser, enquanto nossa garota vai se arrumar para a entrevista.

Antes que possa impedir, a figura imponente de Ethan está dentro da minha sala. Eu fecho a porta me dando por vencida.

— Tudo bem! — Corro para o banheiro e olho minha imagem no espelho antes de ir para o chuveiro e vejo que meu cabelo está um show de horror, despenteado e armado como se eu tivesse tomado um choque elétrico. Foi assim que Ethan Coe me viu? Que merda!

Entro no chuveiro e tomo um banho rápido e me pergunto o que vestir quando entro no quarto.

Meu estilo é mais indie e descolado, com a maioria das minhas roupas compradas em brechós e feirinhas do Brooklin, o bairro onde moro. A roupa que usei ontem foi uma tentativa equivocada de parecer mais madura e séria. E sinceramente acho que não tinha adiantado nada.

— Que se dane! — murmuro, tirando uma saia xadrez do guarda-roupa, uma camisa branca, combinando com uma bota de cano curto. Nada de meias hoje.

Passo o secador no cabelo, conseguindo domá-los, e arremato o visual com um lenço vermelho para alisar a franja.

Quando saio do quarto, arregalo os olhos ao ver Ethan fuçando nos meus discos.

— Que diabos está fazendo?

Onde estaria Tiziano?

— Tem bastante disso aqui...

— Isso chama-se disco. Vinil. Acho que já ouviu falar.

— Já ouviu falar de I-pod?

Eu reviro os olhos.

— Sim, tenho dois.

— Que moderna... Hum, vamos ver... Edward Sharpe and Magnetic Zeros, Fleet Foxes, Bombay Bicycle Cub, Two Door Cinemas Club, Marina and the Diamons, Bom Iver... acho que nunca ouvi falar de nada disso.

— Não me admira, aposto que escuta Taylor Swift — alfineto.

Ele gargalha.

— Algo mais pesado.

— Como o quê?

Ele tira um outro disco da pilha.

— Lana Del Rey?

— Minha preferida, deveria ouvir.

— E o que mais recomenda?

— Sinceramente, você nem deveria estar mexendo nas minhas coisas.

— Preciso fazer uma vistoria na sua casa.

— Como é?

— Eu te falei. Ninguém se aproxima da família Hunter sem antes ser investigado.

— Investigado? — Engulo o medo e levanto o queixo. — Vocês sabem quem eu sou. Fui indicada pela Ariana Colombo. Deve saber quem é...

— Sim, eu sei. Mas isso não diz muita coisa. Acho que já acabamos por aqui... — Sem a menor cerimônia, ele caminha até a porta que leva até o terraço do prédio. — O que temos aqui em cima?

— Nada que seja da sua conta. — Minha resposta malcriada não surte o menor efeito, pois continua escada acima, e a mim não resta alternativa a não ser segui-lo.

— É uma horta? — Ele caminha pela laje onde eu e Tiziano tínhamos orgulho de ter enchido de verde e vida. Era para onde nos refugiávamos domingo de manhã para torrar ao sol no verão ou nas noites solitárias para encher a cara.

Ethan se abaixa tocando uma folha e cheirando.

— Plantamos tomates e manjericão.

— Nada de marijuana?

— Claro que não! — refuto rápido demais.

— Então vai dizer que não curte um pega? — Ele me encara como se soubesse todos os meus segredos. Imagino que deve ser assim que os bandidos se sentem naquelas salas de investigação da polícia enquanto um tira grandão os faz confessar todos os seus crimes.

— Não enquanto estou trabalhando.

Oh, merda. Resposta errada. Graças a Deus Tiziano tinha levado nossa plantinha mágica para a casa do seu último namorado, Slavro. Um artista performático romeno.

— Olha, eu podia ter mentido, mas preferi dizer a verdade. Eu nunca, jamais levaria qualquer erva ou alucinógeno, balinha ou... — Deus, estava piorando! — Enfim. Nada ilegal para a casa dos Hunter. Em se tratando do meu trabalho sou a pessoa mais careta do mundo. Será que pode deixar isso fora do seu relatório? — arremato com uma careta.

Ele se levanta, limpando as mãos.

— A lista de informações que eu tenho que deixar fora do meu relatório está só aumentando, senhorita Grant.

— Não me chame de senhorita Grant!

— Por que não?

— É tão formal e ridículo!

— Ok, Penny.

— Oi?

— Amy.

— Você disse Penny?

— Disse? Me confundi... Isso é uma galinha? — Ele se aproxima de um pequeno chiqueiro.

— Tiziano só come coisas orgânicas agora e ele pega seus próprios ovos. Só não conte a senhora Kostapoulos, nossa senhoria. É proibido ter animais aqui em cima.

— Vocês hipster são estranhos.

— Não faz isso, não me rotule, é tão irritante.

— Só estou fazendo meu trabalho.

— Certo, se já terminou o trabalho de me investigar ou sei lá o que está fazendo, acho que podemos ir.

— Certo. Terminei aqui. Agora seu quarto? — Ele passa por mim, descendo as escadas e o sigo, horrorizada.

— Meu quarto?

— Quer o emprego ou não senhorita? — Ele para na porta do meu quarto.

Abro a porta, fazendo um sinal para ele entrar.

E não posso negar que é tremendamente instigante ter aquele cara ali, no meu quarto. Ethan é tão alto e forte que parece preencher todos os espaços. Seu olhar varre o ambiente, concentrado e atento.

Se prende em meus quadros na parede. Pôsteres de filmes antigos e frases irônicas, uma foto de Frida Kahlo e até algumas imitações de Andy Warhol.

— Gosta de arte. — Não é uma pergunta.

— Quem não gosta? — Ele me lança um olhar sarcástico. — Ah claro, aposto que você gasta seu tempo livre malhando os bíceps e tomando whey protein.

Ele ri.

— Você é bem divertida, Penny.

Eu rolo os olhos quando me chama pelo nome errado de novo, mas por dentro estou começando a derreter lentamente só porque parece que ele me fez um elogio. Na verdade, nem sei direito se foi um elogio ou uma ironia. Mas quem se importa, quando ele tem aquele tom rouco na risada e duas covinhas no rosto anguloso e bonito que o torna ainda mais irresistível?

E, porra, ele está no meu quarto. Assim, bem perto da minha cama, enquanto caminha de lá para cá espiando minhas coisas. E o que eu posso dizer? Sou só uma garota na seca há muito tempo e muito suscetível a caras com quase dois metros de altura e com ombros largos capazes de preencher um colchão inteiro.

Será que ele caberia na minha cama? Será que era daqueles que gostava de ficar por baixo, enquanto eu o escalava todinho como meu Everest particular? Ou seria um daqueles caras dominadores que prenderiam meus pulsos com uma mão só, enquanto com a outra me inspecionaria, de forma sacana, como fez lá em Wall Street?

— Ora, ora o que temos aqui?

Eu volto à realidade depois da minha epifania erótica, arregalando os olhos ao notar Ethan abrindo minha gaveta de roupas íntimas e, como um pesadelo em câmera lenta, o vejo pegar uma calcinha de oncinha.

— Ei, que pensa que está fazendo?

— Hum, original. — Ele me ignora e continua a fuçar.

— Não devia estar mexendo nas minhas coisas! — Eu me aproximo, disposta a acabar com aquela invasão de privacidade e, antes que consiga chegar perto o suficiente, meu pior medo vira realidade quando ele assovia mergulhando a mão no fundo da gaveta e tirando de lá, nada menos do que Oscar, meu vibrador.

Por todos os santos protetores dos clientes de sex shops!

— Ora, ora, senhorita Grant! — Ele sorri, sacudindo o dito cujo na minha frente e estendo os dedos em garra para arrancá-lo de suas mãos. Meu rosto mais vermelho que pescoço de galo coió.

— Me dá isso aqui! — Consigo resgatar meu brinquedinho vergonhoso preferido e o soco de novo na gaveta, fechando-a com um estrondo.

Ethan ainda está rindo como se fosse muito engraçado.

— Quer parar de rir? Não sei o que é engraçado. — Levanto o queixo. — Saiba que toda mulher bem resolvida tem um desse! É perfeitamente natural!

— Eu não estou dizendo nada.

— Mas está rindo!

— Me diga, senhorita Grant, o seu namorado aprova seu amiguinho secreto?

— Meu... o quê?

— Namorado.

— Não tenho um namorado.

— Não tem um namorado? — ele repete.

— Não.

— Tem certeza?

— Acho que eu lembraria se tivesse. Mas por que pergunta? Isso é particular. O que tem a ver com o emprego?

— Melhor eu perguntar do que Liam. Talvez ele não queira alguém trabalhando na sua casa que esteja constantemente ocupada com encontros.

— Meu último namoro foi há mais de um ano.

— E sexo?

— O quê? — Coro de novo, e dessa vez acho que nem é bem de vergonha. Ouvir a palavra sexo da boca linda daquele cara é muito instigante, para dizer o mínimo. — Isso é realmente necessário?

— Não estaria perguntando se não fosse.

— Já faz mais de um ano que eu não faço sexo, ok? — respondo e ele levanta a sobrancelha. — Eu não tenho tido muitos encontros casuais — explico.

— Isso explica seu brinquedinho — fala devagar. — Me diga, senhorita Grant, isso é suficiente pra você?

O quê? Ele tinha mesmo feito aquela pergunta capciosa? Ou meu inesperado tesão estava me fazendo delirar?

E ele estava mesmo tão perto antes?

Respiro fundo, tentando desanuviar minha mente subitamente confusa e é um erro tremendo pois aspiro seu cheiro delicioso, o que me deixa ainda mais tonta. Quando o encaro, percebo seus olhos em minha boca.

Puta merda. Ele quer me beijar.

Ele vai me beijar?

Minha boca se abre, esperando pela dele. Ansiando.

Meu corpo inteiro tomado de expectativa e desejo.

— Ei, Amy, seu celular está tocando. — A voz de Tiziano na porta do quarto me tira do torpor erótico em que me encontrava e dou um passo atrás, assombrada.

Ethan ainda está me encarando, mas agora sua expressão é uma incógnita.

Ele é o temível guarda-costas fodão de novo.

Será que eu tinha imaginado aquele momento de segundos atrás?

De repente a porta se abre e Tiziano irrompe no quarto jogando o celular na minha mão.

— Sabe que odeio essa merda tocando, meu bem. — E então ele olha para Ethan. — Hum, ainda aqui?

Relanceio o olhar para o visor e o nome “Carl Cretino” pisca para mim. Empalideço e desligo o telefone sem atender.

— Carl Cretino? — Ethan pergunta, curioso, e dou um sorriso amarelo.

— Não pergunte.

— Assunto difícil?

— Acho que deveria me levar até a casa dos Hunter, não? Está ficando tarde. — Pego minha bolsa e saio do quarto, esperando que me siga.

Solto o ar, que não tinha percebido que estava segurando, ao chegar à calçada e meu olhar recai sobre o carro reluzente.

— Uau.

A sorte parece ter voltado à minha vida porque no instante seguinte Ethan está abrindo a porta do carro incrível para mim.

— Senhorita.

Eu me acomodo no banco do passageiro e Ethan dá a volta para sentar ao meu lado no banco do motorista e dá partida.

— Eu não deveria estar lá atrás?

— O banco de trás é para os patrões.

— Ah, claro, eu sou só uma empregada.

— Não ainda.

— É, não ainda.

Ele liga o rádio e o som explode com Nine inch Nails.

— É disto que eu gosto — ele diz, e eu sorrio.

— Combina com você.

Ele levanta a sobrancelha.

— É uma música forte e sexy ao mesmo tempo — respondo e me viro para a paisagem da ponte do Brooklin.

Nada mais é dito até que ele estaciona em frente a um elegante prédio em Upper East Side.

Nós saltamos e caminhamos pelo saguão elegante até o elevador e quando as portas se fecham começo a me sentir muito nervosa.

— O que foi?

Eu encaro Ethan e percebo que estou respirando rápido.

— Acho que estou nervosa.

— Não fique, se encarou Liam, Emma será fácil.

— Ela pode ser pior que ele. É a mãe, afinal.

— A tagarela é meio maluca, mas é gente boa. — Faz sinal para eu sair quando as portas se abrem num bonito hall.

— Estou bem? — pergunto, insegura, começando a me arrepender das minhas roupas informais.

Ele me mede e me brinda com um daqueles seus sorrisos bonitos.

— Está incrível, Amy.

E eu fico ali, parada feito uma estátua, enquanto a porta do apartamento dos Hunter se abre, apenas derretida porque, pela primeira vez, ele disse meu nome. E eu adorei ouvi-lo dos lábios de Ethan Coen.


Capítulo 5

 

Amy

 

— Finalmente estão aqui. Emma estava ansiosa.

Eu olho para o dono da voz e me surpreendo ao ver um oriental bonitinho, todo vestido de preto, sorrindo para nós.

— Essa é a candidata? — Ele também me mede, surpreso. — Acho que não esperava por isso.

— Sim, Eric esta é Amy Grant. Amy esse é Eric, o cozinheiro do Liam.

— Chef dos Hunter. — A correção vem da porta do corredor, de onde a mesma moça que eu havia visto de relance no escritório em Wall Street ontem surge. A esposa de Liam Hunter.

Ela sorri amigavelmente para mim, enquanto se aproxima.

Ainda é surpreendente como parece jovem sem maquiagem alguma e usando um coque alto na cabeça. Suas roupas também são simples e despojadas. Um jeans skiny e uma camisa xadrez folgada. Parece mais uma adolescente grunge do que a esposa de um dos homens mais ricos do país.

— Amy, essa é Emma Hunter — Ethan nos apresenta. — Emma, esta é Amy Grant.

— Eu sei quem ela é, Ethan, quanta formalidade! — Emma reclama e rola os olhos. — Olá, Amy, estou feliz de te conhecer finalmente.

— Eu digo o mesmo. Aliás, eu a vi ontem, mas acho que não percebeu minha presença.

— Ah, sim. A palhaçada do Liam. Espero que ele não a tenha assustado com aquela entrevista sem noção.

— Talvez eu tenha ficado um pouco assustada — confesso, e ela ri.

— Eu posso imaginar. Liam é bastante assustador quando quer. Ainda me lembro quando fui entrevistá-lo... Foi bem assustador. Embora tenho certeza de que não foi pelo mesmo motivo — ela diz, como se para si mesma. — Bom, eu espero que não! — E ri de uma piada que só ela parece entender e lembro de Ethan a chamando de maluca. — Mas venha se sentar, por favor. — Ela me guia pela sala mais linda que eu já vi na vida, com uma espetacular vista do Central Park

— Nossa, é lindo aqui.

— Sim, eu também adoro. Liam anda com umas ideias de nos mudarmos para uma casa, mas, sinceramente, onde mais teríamos essa vista? E eu amo Manhattan.

— Eu moro no Brooklin.

— Realmente? Eu não conheço muito. Sabe, não sou de Nova York. Me mudei para cá para estudar e ainda não conheço todos os lugares.

— Aposto que gostaria do Brooklin. É um lugar incrível.

— Sim, Liam foi criado no Brooklin, aliás. Estive lá com ele uma vez, mas não conheci muita coisa.

— Sério? Não fazia ideia. — Tento não parecer muito interessada.

— Sim, ele morou lá quando criança, até o...

— Emma, tenho certeza de que a senhorita Grant não está aqui para isso. Precisa entrevistá-la para a vaga de babá do Leo, esqueceu? — Ethan a corta, para a minha consternação.

— Ah, claro! Amy, você que beber alguma coisa? Um suco, um café, chá talvez?

— Eu aceitaria um café.

— Ethan, pede para o Eric servir um café pra Amy e você pode ir.

— Eu acho que deveria ficar...

— Por quê?

— Eu vou levar a Senhorita Grant de volta.

— Então espere em outro lugar. Quero conversar sozinha com a Amy e pare de chamá-la de senhorita Grant, é ridículo!

Eu olho para ele com um sorriso convencido que quer dizer “eu disse”.

Ele se afasta, um tanto contrariado.

— Não ligue para o Ethan, ele e o Liam são da mesma laia!

— Bem, Ethan é o guarda-costas do seu marido.

— Ah, nem sei se podemos chamá-lo assim. Ele na verdade é amigo do Liam, de adolescência. E eles são tipo irmãos siameses ou algo meio esquisito assim. Essa coisa de lealdade masculina, sabe?

Hum... Então Ethan Coen não era só um empregado de Liam Hunter? Era amigo pessoal? Aquilo era interessante...

Explicaria porque estava tão preocupado em me investigar. Talvez não fosse uma preocupação só de empregado para o patrão, e sim algo mais pessoal.

Eric retorna com uma bandeja com café e quando ele se afasta não consigo deixar de comentar:

— Achei inusitado esse seu chef.

Emma esboça um sorriso.

— Eu também achei quando o conheci. Mas se ficar por aqui, vai descobrir muita coisa inusitada.

Eu me remexo, quase empolgada e muito mais relaxada.

Emma Hunter parecia uma pessoa muito acessível. E falante.

— Eu espero ficar.

— Espero que fique também. Não terei paciência para ficar procurando babá! Liam queria que contratássemos uma velha chata, mas eu disse que queria alguém jovem e descolada. Afinal, a babá do meu bebê vai participar de nossa vida e é importante que eu me identifique. Então comentamos com Emiliano e Ariana, e eles te indicaram.

— Sim, eu amei trabalhar com os Colombo.

— Ariana pareceu muito empolgada em indicá-la, muito feliz em falar sobre você. Disse que fez um trabalho fenomenal com a filha dela...

— Sim, Penélope. Ela tem quatro anos agora. Eu cuidei dela desde que nasceu.

— E como Ariana te contratou?

— Nós nos conhecemos desde adolescentes — opto por um pedaço da verdade.

— Realmente? Não me lembro se ela comentou isso.

— Nós estudamos juntas em New Jersey.

— Cresceu lá?

— Sim, e me mudei para cidade para fazer faculdade.

— Li no seu currículo que estudou jornalismo! Eu também estudei jornalismo.

— Seu marido comentou.

— E por que não está seguindo a carreira?

— É difícil conseguir um bom emprego nessa área. Você deve saber. Quer dizer...

— Sim, claro que eu sei. Na verdade, só tive um trabalho nessa área. Fui estagiária num jornaleco ridículo e era horrível.

— Sei o que está dizendo. Servir café, passar fax e arrumar arquivos.

— Sim! — Nós rimos juntas.

E ali eu percebo que conquistei a simpatia de Emma Hunter.

Mas conquistar a simpatia da esposa do Leão de Wall Street não queria dizer que conseguiria o emprego do babá do filho deles.

— Eu gostei de você, Amy, mas tenho que levá-la para conhecer meu Leo. Se ele gostar de você, o emprego é seu.

Tento não ficar apavorada quando sigo Emma Hunter para conhecer Leo Hunter, rezando para que ele goste de mim.


Ethan

 

— Ouvindo atrás da porta? — Eric ri, quando passa por mim no corredor. Eu estava espiando Amy e Emma. Eu o sigo para a cozinha.

— Eu deveria estar lá.

— Por quê? É a Emma quem tem que saber se a garota é boa ou não.

— Emma é meio sem noção para julgar as pessoas. Você bem lembra do que aconteceu com a tal jornalista psicopata.

— Era uma situação diferente. Emma agora é a chefe. E estamos falando do filho dela, acha que arriscaria escolher alguém que não serviria? Mas por que está preocupado? Não gostou na moça?

Eu suspiro pesadamente sentando na bancada, enquanto Eric bate algo numa tigela que cheira a canela. O que me lembra do cheiro da casa de Amy Grant. O descolado apartamento no Brooklin exalava especiarias. Provavelmente proveniente de algum incenso indiano ou outra baboseira cósmica que ela e o tal colega barbudo seminu deviam curtir.

Ainda me lembrava de como senti um ciúme ridículo e descabido quando o hipster descamisado abriu a porta. Realmente achei que ele seria o namorado dela. Mas e se fosse? Não tinha nada a ver com isso. E claro que toda aquela conversa que inventei sobre Liam não querer que a babá tenha um namorado ou vida sexual foi mais para sanar a minha crescente curiosidade sobre a atraente candidata a babá.

E eu me vi ridiculamente satisfeito quando ela revelou que não tinha sequer alguém para trepar.

Porra!

Como é que eu podia dizer ao meu pau que ela era território proibido quando lhe era apresentada uma situação tão promissora quanto aquela? Ele já estava a postos, com o currículo na mão se candidatando para preencher a vaga nas calcinhas da senhorita Grant. Aquela calcinha vermelha que eu entrevi no elevador. Ou aquela de oncinha que tive em minhas mãos ao mexer em sua gaveta. Aliás, todas as lingeries da provável babá eram bem estimulantes.

— Mas o que achou da garota? Aposto que Liam pediu que a verificasse. — Eric questiona e coço meu cabelo me lembrando que a primeira coisa que fiz naquela manhã foi encontrar com Ariana Colombo.

Ariana Colombo era a jovem, bonita e excêntrica esposa de Emiliano Colombo e parecia satisfeita em dizer que Amy Grant foi uma excelente babá no tempo que trabalhou em sua casa, mas quando lhe perguntei por que a havia demitido, ela parecera confusa, sem saber o que responder. Aquilo foi estranho. Depois de um pouco de hesitação acabou dizendo que Amy pediu para sair porque estava procurando novos ares. Muito vago para meu gosto.

E depois eu invadi a casa de Amy, bisbilhotando seu apartamento, enquanto seu colega tomava banho, não sem antes me convidar para entrar na banheira com ele ou algo assim.

Por que demônios os gays gostavam tanto de mim, eu não entendo.

— Ela parece ok. Tem boas referências — respondo a Eric. — Eu chequei com sua antiga patroa, Ariana Colombo, e ela disse que adorava o trabalho de Amy.

— Mas por que parece que você está desconfiado da pobre garota se está tudo ok?

— Eu não sei. Realmente não há motivos aparentes...

— Wow... — Eric ri e eu o encaro confuso. — Você está a fim dela.

— O quê? Não!

— Ok, se você diz, mas acho que está pensando que, se ela for trabalhar aqui, terá que lidar com a atração que sente e isso pode acarretar alguma confusão.

— Não fala merda, chinês — contesto, sem querer assumir a Eric que ele tem razão.

Eu estou muito atraído pela candidata a babá e hoje, no quarto dela, provavelmente a teria beijado e talvez até prosseguido para alguma atividade mais sacana se o amigo dela não tivesse nos interrompido.

E eu tinha certeza de que ela não teria me interrompido.

Alguma coisa estava rolando ali.

E eu me perguntava onde iria dar.

De repente um choro de bebê se faz ouvir pelo aparelho em cima da mesa e eu me levanto.

— Deixa que eu cuido disso.

Passo pelo corredor e Emma e Amy ainda estão conversando, então sigo até o quarto de Leo.

O bebê agita os braços ao me ver, parando de chorar assim que o pego no colo.

— E aí, cara, já está sabendo que tem uma gata querendo vir cuidar de você? Você é um garoto de sorte, é o que eu digo...

Emma e Amy entram no quarto nesse momento e Emma me fita surpresa.

— O que está fazendo aqui?

— Ele estava chorando.

— Oh, ele não gosta de ficar sozinho, não é, meu amor? — Ela o retira do meu colo e passa para Amy. — Vamos ver se ele gosta de você!

Amy arregala os olhos e parece um tanto apavorada, mas segura o bebê com segurança.

Leo a encara curioso, provavelmente se perguntando quem é aquela que ele nunca viu. Mas certamente ele é um cara esperto, porque em seguida segura os cabelos vermelhos de Amy com os dedinhos curiosos, levando-os à boca.

Emma sorri enternecida.

— Wow, ele já gosta de você.

Amy retribui o sorriso.

— Ele é muito lindo.

— Não é?

— Quantos meses ele tem?

— Quase seis meses.

— E nunca teve uma babá?

— Não senti necessidade até agora. Gostava de cuidar do meu bebê eu mesma.

— Isso é incrível. Muitas mulheres nas suas condições têm até mais de uma babá para não ter nenhum trabalho e...

De repente ela interrompe a fala quando Leo abre a boca e vomita todo o leite do seu café da manhã na blusa branca de Amy.

— Oh, Leo, não! — Emma geme e eu seguro a vontade de rir. — Me desculpe, Amy, oh, Meu Deus, sua blusa...

Amy também parece consternada.

— Oh, não é nada...

— Parece muito para mim! — Solto uma risada e Emma me fuzila com o olhar.

— Amy, tem um banheiro duas portas a direita. Onde pode se limpar. Eu vou lhe emprestar uma roupa minha, não se preocupe. Tenho tantas mesmo que nunca nem usei.

Amy sai do quarto e Emma me encara preocupada.

— Será que ela vai fugir e não vai mais voltar?

— Não seja boba. Ela é babá. Deve estar acostumada.

— E por que você riu?

— Por que foi engraçado!

— Idiota!

Leo escolhe aquele momento para abrir o berreiro e Emma suspira.

— Ele se sujou também. Preciso trocá-lo. Será que pode ir no meu closet e pegar uma blusa para Amy, por favor? Diga a ela que eu volto para a sala para encerrarmos nossa conversa assim que terminar com Leo.

— Ok, madame!

Saio do quarto do bebê e rumo para o quarto de Emma, escolhendo uma camisa aleatoriamente e levando para Amy no banheiro. Bato a porta que está apenas encostada e a abro. E paro, surpreso ao ver Amy Grant de costas vestindo apenas um sutiã preto e sua hipster saia xadrez.


Capítulo 6

 

Amy

 

Sabe aqueles momentos em que temos a sensação de estarmos dentro de algum sonho maluco, porque o que está acontecendo geralmente não costuma acontecer na vida real? É assim que me sinto quando escuto a porta abrir e olho através do espelho para ver o segurança de Liam Hunter me espreitando.

Mas que porra!

Por um instante não me mexo, mesmo minha mente gritando para que recoloque a blusa. Sim, aquela mesma blusa cheia de vômito de bebê. Eca. Nem pensar. Mas por que ele não pede desculpas, fecha a porta e me deixa sozinha com a minha vergonha?

Ah, eu sei porque. Pelo mesmo motivo que estou paralisada ali, esperando que seu olhar, que agora percorre lentamente minha pele, volte ao meu. Eu gosto do jeito que Ethan está me olhando. Muito. Faz todos os pelos do meu corpo se arrepiarem e se ouriçarem de vontade de sentir aquelas mãozonas atrevidas de novo.

Ah, eu estava tão... tão ferrada!

— Você tem muitas sardas... — ele comenta por fim, e engulo em seco. Oi? Era só isso que ele ia dizer?

De repente me sinto um tanto irritada. Esse cara era muito descarado, isso sim! Primeiro me revista daquele jeito totalmente abusivo e agora ousa abrir a porta do banheiro, quando sabe que eu estou sem blusa, e ficar me secando?

— Qual o seu problema? — solto com a voz mais brava que encontro.

Ethan levanta a sobrancelha e, em vez de entender a deixa e vazar, o vejo dar um passo para dentro do banheiro e fechar a porta atrás de si.

O quê?

Meu coração dispara.

Não. Isso não está acontecendo.

É, talvez eu esteja mesmo sonhando. Um daqueles sonhos eróticos malucos. Era bom saber que eu tinha deixado para trás as fantasias com o meu professor de defesa pessoal.

— O que disse? — ele indaga.

— Que diabos está fazendo?

— Vim trazer essa blusa. — Mostra a mão onde segura uma camisa branca.

— Não precisa entrar!

— Está envergonhada?

Oh Inferno, eu nem estou. E ele sabe.

— Eu deveria! Mas isso não está em discussão e sim essa sua mania de... de... invadir meu espaço!

Ele levanta a sobrancelha de novo. E devo dizer que são bem bonitas. Escuras, bem desenhadas. Não daquelas feitas com hena, medonhas, que estão na moda, acho que de um jeito mais natural, másculo, embora...

Concentre-se, Amy!

— Eu invado seu espaço?

— Havia realmente necessidade de me revistar aquele jeito? — Decido colocar em discussão sua abusada inspeção em Wall Street.

— Por que não me impediu?

Sim, era uma boa pergunta.

Por que não impedi? Eu sabia o que estava acontecendo, não podia negar. E, mesmo assim, deixei que ele colocasse suas mãos em mim. Em todos os lugares. Em quase todos os lugares, me corrijo, não sem um pouco de pesar.

Bem, eu poderia me fazer de boba e dizer que ele fora um abusador filho da puta. Mas se tem algo sobre mim é que eu gosto de ser sincera comigo mesma. E a verdade é que eu tinha gostado do segurança de Liam Hunter. Muito.

Então simplesmente dou de ombros e o encaro através do espelho.

— Suas mãos em mim foi mais ação do que eu vi em um ano — confesso.

Por um momento, ele não fala nada. E eu sei que não esperava por isso. Quase posso rir, mas estou ocupada demais contendo as batidas desenfreadas do meu coração, que fazem minha pulsação ir a mil, numa louca expectativa. E, de repente, o vejo dar alguns passos em minha direção e estender a mão roçando meu ombro. Oh. Meu. Deus.

Se isso for um sonho, por favor, que eu não acorde.

— É realmente uma pena que estas lindas sardas em seus ombros, em suas costas... — Os dedos deslizam com delicadeza por minha pele, fecho os olhos, estremecendo quando tocam meu ventre — em sua barriga — Oh, Deus, seu toque deixa um rastro de fogo por onde passa, fazendo minha pele arder como se mil sóis estivessem sobre mim. E um fogo líquido se espalha por meus poros, corre por minhas veias até se instalarem como uma pulsação ansiosa no meio das minhas pernas — estejam tão carentes de atenção.

— Elas estão adorando a atenção que recebem agora — murmuro.

Ele ri.

Ah... Tão sexy.

Abro as pálpebras e nossos olhares se encontram no espelho.

A tensão sexual no ar é tanta que temo que vá incendiar as ricas cortinas do toalete chique dos Hunter.

— Todas elas? — questiona de novo, erguendo aquelas sobrancelhas magníficas.

Sacudo a cabeça afirmativamente.

— Cada uma delas? E onde mais tem sardas, senhorita Grant?

— Em lugares que não pode nem imaginar.

Ele dá um passo atrás, tirando as mãos de mim. Minha pele choraminga.

— Mostre-me.

Eu me viro, ficando de frente para ele.

— Veja você mesmo. — Encosto na pia atrás de mim.

— É um convite?

— Não gosta tanto de me revistar? — desafio.

E ele sorri lentamente. Sensualmente, aceitando o desafio. E, puta que pariu, Ethan tem um sorriso matador. Que faz coisas incríveis em meu âmago.

E, de repente, ele está tão perto que sinto todo aquele corpo enorme roçando em mim, enquanto mantém o olhar preso no meu, como se quisesse ver bem de perto a minha reação. A respiração sai por arquejos ansiosos de minha garganta, e sou toda expectativa quando seu toque desce pela lateral do meu corpo, até a saia e mais abaixo. E minha pele exulta quando recebe a visita daqueles dedos de novo. Subitamente ele se abaixa e, ainda me olhando, levanta minha saia e só então descansa o olhar nas minhas coxas.

— Ah, Senhorita Grant, encontrei algumas sardas aqui. — Os dedos mapeiam minhas sardas quase com rigor científico. — E onde mais?

Prendo a respiração quando ele se levanta, e de novo seu rosto está próximo. Sinto a respiração quente. Será que iria me beijar? Será?

Mas a ação em seguida faz todos os pensamentos fugirem para longe e solto um gemido baixinho ao sentir a inspeção sacana chegando à junção das minhas pernas.

Ah, por favor...

— Tudo bem aí? — A voz de Emma atrás da porta me faz dar um pulo, alarmada. E eu teria rido da cara assustada de Ethan se não estivesse morrendo de medo de que Emma Hunter me pegasse no toalete chique de sua casa, praticamente me esfregando em seu segurança. Bem, se ela não tivesse interrompido, certamente era isso que estaria acontecendo agora.

Que inferno, onde eu estava com a cabeça?

— Sim, está — respondo por fim.

Ethan deu vários passos para trás.

— Certo, vou te esperar na sala então. Ethan te trouxe a blusa?

— Sim, ele trouxe. — Eu o encaro com ironia.

— Ótimo. — Emma parece satisfeita, e escuto seus passos se afastando. Só então volto a respirar.

— Que merda! — Ethan passa os dedos pelos cabelos, como se também tivesse se dado conta do perigo da situação.

E olha que, com certeza, ele não tinha tanto a perder como eu.

Afinal, já era empregado de Liam Hunter sabe Deus há quanto tempo. E, se o que Emma disse era verdade, ele era muito mais que isso.

De repente algo passa pela minha mente. Será que aquilo era um teste?

Bem, se fosse, com certeza fui reprovada.

— Acho melhor sair daqui. — Apanho a blusa que ele pousara na bancara e a visto rapidamente.

— Sim, tem razão.

Sem falar mais nada ele se vai, fechando a porta atrás de si. Olho minha imagem no espelho. Meu rosto corado, meus olhos brilhantes.

— Você é tão burra, Amy!

E agora, o que será que ia acontecer?

Ajeito meu cabelo e respiro fundo, saindo do banheiro e indo encontrar Emma Hunter na sala.

— Hum, ficou bem em você — Ela comenta e eu tento sorrir.

— Obrigada. Acho que nunca usei um camisa dessa marca tão cara.

Ela sorri.

— Espero que não tenha ficado assustada com o Leo, tenho que pedir desculpas.

— Ah, não se preocupe. Ele é só um bebê e essas coisas acontecem. — Paro de falar, ficando tensa quando Ethan surge na sala.

— Que bom que não ficou assustada. Enfim, eu gostei de você, Amy — Emma continua e olha para Ethan. — Ethan vai te levar para casa. Não posso te dar uma resposta agora porque prometi conversar com o Liam antes. Ele cismou que temos que resolver isso juntos. — Ela faz uma careta de descaso. — Agora ele quer resolver juntos, sendo que estava disposto a decidir tudo sozinho!

— Certo. — Eu me levanto, querendo dar aquela situação por encerrada. — Eu entendo, claro. Mas acho que o Ethan não precisa me levar, posso pegar o metrô.

— Imagina! Ele te leva sim!

Engulo a vontade de insistir, era melhor não deixar Emma desconfiada de nada, então forço um sorriso.

— Tudo bem.

Para minha surpresa, Emma me abraça ao me levar até a porta.

— Te darei a resposta em breve!

Sigo Ethan, em silêncio, sem saber o que dizer depois da cena no banheiro. E ele também está bem calado, quando abre a porta do passageiro para mim e dá a volta, sentando no banco do motorista e dando partida.

Mordo os lábios, pensativa. Ao que parecia eu estava a um passo de conseguir o emprego na casa da Liam Hunter. E, sinceramente, me deixar levar pela atração pelo segurança, que não por acaso era o melhor amigo do Leão, não seria uma boa ideia.

Era a pior ideia de todas as piores ideias.

Respiro fundo e decido cortar logo aquele mal pela raiz.

— Escuta, o que aconteceu no banheiro... não deveria ter acontecido.

— Não aconteceu nada, se bem me lembro. — Oh, droga, ele tinha que usar aquele tom de pesar? Só me fazia lembrar do meu próprio pesar.

— E não deve acontecer, porque... não seria legal, a gente trabalhando junto e rolando esse clima.

— Clima?

— Ah, você sabe muito bem! — Não consigo evitar de corar, o que é ridículo.

— É, acho que tem razão, Penny.

Eu nem me dou ao trabalho de corrigir meu nome. Estou mais ocupada em não demonstrar minha decepção por ele não ter insistido mais. Ethan parecia a fim, não? Ou será que era só uma brincadeira agir assim comigo? Será que agia assim com todas as mulheres?

De repente, na minha imaginação, vejo várias mulheres fazendo fila na porta do escritório de Wall Street para serem apalpadas pelo segurança gostoso de Liam Hunter.

— Então é isso?

Volto à realidade e percebo que já estamos em frente ao meu prédio. Um pesar descabido me toma.

— Acha mesmo que vou conseguir esse trabalho?

— Emma pareceu gostar de você. E Leo também.

— Ele me atacou com vômito, não chamaria isso de gostar.

Ethan ri.

— Ele já fez o mesmo comigo também. — Há tanto carinho em sua voz que chega a ser estranho. Um cara daquele tamanho capaz de ser terno com um bebê.

— Mas enfim, quem vai definir tudo é Liam Hunter.

— Emma vai ter voz ativa, não se preocupe.

Mordo os lábios, incerta. Sinto medo. Já não tenho certeza de nada do que estou fazendo. Agora que estava tão perto de conseguir o que almejava, começava a duvidar de minhas convicções.

— Acho que não deve se preocupar. Ser babá não parece o melhor emprego do mundo. — Ethan me estuda e temo ter transparecido algo na minha expressão.

— Eu sei. Mas quero muito esse emprego.

— Por que é Liam Hunter?

Desvio o olhar.

— Com certeza dizer que trabalho com os Hunter é algo grande, há de convir. Não pode me culpar por almejar isso.

— Não, não posso. Mas já deve saber que estar sob o domínio de Liam não será fácil.

— Sob o domínio? Que isso? — Solto uma risada, sem querer parecer assustada. — Ele é um mafioso ou algo assim que não estou sabendo?

Ethan ri.

— Não, mas ele é um cara difícil.

— Posso imaginar, porém acho que terei que conviver mais com a Emma, e ela parece uma pessoa fácil de lidar.

— Sim, a tagarela é louca a maior parte do tempo, mas é gente boa.

— Então acho que está tudo bem.

— Se conseguir o emprego.

— É... Se conseguir.

— E vamos ignorar esse clima.

Oh, ele voltou ao assunto. E agora seu olhar já não parece amigável, e sim cheio de cobiça. E malícia. E...

Engulo em seco.

— Mas ainda não sou empregada dos Hunter.

— E o que isso quer dizer?

— Que podemos fazer algo... com esse clima.

Ah, que se dane!

— E o que sugere?

— Apareça para jantar hoje à noite e podemos descobrir. — Destravo a porta, abrindo-a. — Ah, e não use esse terno, você fica bem gostoso com ele, mas acho que tem algo mais informal, não?

Um sorriso sacana se distende em seu rosto.

— Até à noite, Amy Grant.

Eu salto e fico observando o carro se afastar, com um sorriso bobo no rosto, até que o celular vibra e eu o pego na bolsa. É uma mensagem de Emma Hunter.

“O emprego é seu! Começa segunda-feira.

Muito animada! E o Leo também!”


— Wow! — exclamo, meio surpresa.

Eu tinha mesmo conseguido? Ainda era difícil de acreditar!

Sinto um misto de alegria e apreensão.

De repente o celular toca e vejo o nome Carl brilhando na tela. Penso em não atender, mas sei que será pior.

— E aí? — Sua voz é impaciente.

— Eu consegui.

— Conseguiu? — Percebo que não esperava por isso.

Bem, ele ia ver.

— Sim, consegui o emprego na casa de Liam Hunter. O primeiro passo foi dado.

— Espero que não estrague tudo.

— Você disse que eu não ia nem conseguir entrar lá e olha só? Deve confiar mais em mim, Carl.

— Bem, veremos.

— Você vai ver. — Desligo e respiro fundo.

Agora não tinha mais como voltar atrás.


Ethan

 

— Cara, onde diabos está com a cabeça? — A voz debochada e irritada de Liam é a primeira coisa que escuto quando abro os olhos, ainda atordoado depois de voar pelo tatame, nocauteado por um belo soco em meu abdome.

Os alto-falantes da sala de ginástica quase estouram com um hip hop pesado e quando abro os olhos, Liam está inclinado sobre mim, suado, com aquele cabelo descabelado, e me encarando com os olhos franzidos.

— Acho que faz uns quinze anos que não consigo ganhar uma briga.

Solto uma risada, segurando a mão que ele estende, ficando de pé e, só para não perder o hábito, viro um soco em seu rosto bonito, fazendo-o ir ao chão.

E é a minha vez de me inclinar sobre ele.

— Acho que ganhei dessa vez.

— Seu filho da puta! — rosna, mas aceita minha mão estendida, ficando de pé, massageando o rosto. — A Emma vai me matar se ficar roxo, caralho!

Eu rio ainda mais, afastado-me e pegando uma toalha.

— Problema seu!

— Ela já está puta comigo por causa da tal babá! — Liam resmunga, bebendo um longo gole de água de sua garrafa, enquanto enxugo o rosto.

— Eu disse que ia dar merda, não quis me ouvir. Aliás, achei que decidiram bem rápido sobre a contratação — comento, como quem não quer nada.

Eu realmente achei que havia possibilidade de Amy Grant não ser contratada, mesmo Emma tendo gostado dela. Bem, a quem eu queria enganar? Como Amy tinha dito no carro, não seria nada aconselhável dar continuidade aquele flerte entre nós se ela trabalhasse para os Hunter.

Inferno, eu não tinha muitas regras em se tratando de foder mulheres, mas algo que eu nunca fazia era pegar alguém que trabalhasse para Liam. Porque sabia que era confusão.

— Ela apenas me ligou e comunicou que tinha aprovado Amy Grant. Nem sequer me perguntou o que eu achava! — Liam parece indignado e eu rio por dentro. Era engraçado pra cacete ver os embates de Emma e Liam. Eu e Eric até organizamos um pequeno banco de aposta para ver quem ganhava as brigas.

— Ela ficou brava porque quis decidir sem ela, Liam.

— Eu sei, por isso decidiu sem mim!

— Mas você ia barrar Amy Grant? — pergunto com cuidado.

— E o que eu sei sobre aquela garota? Nem conversei com ela direito quando esteve em meu escritório!

— Disse isso a Emma?

— Ela nem quer ouvir! — Ele se levanta. — Vou tomar um banho. — E nos encaminhamos para o elevador. — Vai jantar com a gente? Zoe já está socada lá em casa com a Emma e, certamente, aquela duende intrometida vai ficar até tarde falando sobre o casamento demoníaco, e não estou a fim de aguentar. Podemos jogar depois... — diz, referindo-se à melhor amiga de Emma, com quem ele implica desde que a conheceu. Zoe estava de casamento marcado e, se já era irritante antes, agora estava beirando a insuportável. Pelo menos na opinião de Liam. Eu não me importava. Até a achava divertida.

Em qualquer outro dia, eu aceitaria o convite de Liam, tanto do rango quanto do jogo depois. Mas eu já tinha recebido um convite para jantar.

Amy Grant e suas sardas me voltam à mente. Minha língua chega a coçar só de lembrar a vontade que tive de lamber todas elas, cada uma. As que tinha visto e as escondidas... Eu tinha passado a tarde inteira pensando no que teria acontecido se Emma não tivesse nos interrompido no banheiro...

— Eu passo hoje — respondo por fim.

Liam me lança um olhar enviesado, quando o elevador para no meu andar e eu salto.

— Aonde vai?

Eu também não teria problema algum em dizer a Liam que eu ia trepar, mas primeiro: nem sabia se a noite acabaria tão bem assim, o convite era para jantar e, sim, podia dizer que eu a senhoria Grant estávamos nas preliminares desde que nos conhecemos, mas eu não era tão convencido assim. Até podia passar dos limites às vezes, e tinha passado todos com a senhorita Grant, mas eu não era Liam, eu não forçava nenhuma barra.

E segundo e mais importante: certamente Liam não ia gostar nada de ouvir que eu estava indo a um encontro com a sua mais nova funcionária. Ainda mais sendo a pessoa que ia cuidar de Leo. Ainda mais que ele estava puto por ter sido contratada sem seu aval.

Não. Era melhor manter meu flerte com a senhorita Grant como meu pequeno segredinho sujo.

— Um encontro — respondo evasivo e saio do elevador, antes que possa insistir no assunto.

Estou entrando em meu apartamento quando vejo Eric saindo carregando um cesto de roupa suja.

— Está roubando minhas roupas, chinês?

— Devia agradecer por eu lembrar de lavar sua roupa, Coen! Vai jantar com os Hunter?

— Não, estou saindo...

Eric sorri maliciosamente.

— Você vai transar.

Eu não nego.

— Cuida da sua vida.

— Espero que não seja aquela chata da Nicole.

Eu fecho a cara.

Não gostava de lembrar de Nicole Zorn. E como fui idiota por tanto tempo.

— Claro que não. Não tenho o que, tipos como a Nicole, querem.

— Que merda, hein? Espero que esqueça aquela vadia.

Eric fecha a porta atrás de si e vou para o chuveiro, tentando apagar o mal-estar que falar de Nicole me causava ainda.

Eu passei tempo demais fantasiando com Nicole. Mais tempo do que era saudável para minha sanidade. E hoje me pergunto: por que diabos eu fui tão trouxa?

Mas Nicole era coisa do passado. E hoje eu tenho um encontro.

Então Nicole Zorn que fosse para o inferno com seu orgulho.

E estou muito satisfeito comigo mesmo, antevendo todas as sacanagens que teria a oportunidade de fazer com a senhorita Grant, quando saio do banheiro e estaco ao ver Emma sentada na minha cama.

— Oi, ursão.

— Que diabos está fazendo aqui? — Vou para meu closet pegar uma roupa, lembrando que Amy pediu que eu não vestisse terno. Opto por um jeans e camiseta preta. — Já não falei que ser esposa do chefe não te dá o direito de invadir minha casa quando bem entende?

— Fiquei sabendo que tem um encontro? — Escuto sua voz ainda no meu quarto e bufo irritado. Eric e sua língua grande.

— E daí?

— E daí que faz um tempo que não sai com ninguém.

— Emma, não tenho que fazer relatórios de todos as minhas fodas para você.

— Mas faz para o Liam que eu sei.

— E agora quer que eu acredite que Liam te conta. — Sabia que estava blefando.

— Ele não conta porque eu não pergunto, não me interessa com quem transa.

— Tagarela, você é a pior mentirosa que existe. Se não te interessa o que está fazendo aqui? Aliás, não tem visitas em casa? Liam falou que a Zoe veio jantar com vocês.

— Zoe não para de falar do casamento e até eu já estou de saco cheio, por isso fugi. E Liam está bravo comigo por causa da Amy.

Volto para o quarto já vestido e a encaro, agora deitada na minha cama. Folgada pra cacete.

— Ele está puto porque você não conversou com ele sobre a contratação da senhorita Grant.

— Ele ia fazer o mesmo!

— Os dois estão errados.

— Mas amei a Amy. Ela vai ser perfeita, eu sei.

— Você não é uma boa julgadora de caráter, tagarela, não admira o Liam ficar com medo.

— Medo do quê? Amy foi indicada pela Ariana, não tem nada errado com ela!

— Como pode ter tanta certeza tão rápido?

Ela franze olhar.

— Você não gosta da Amy ou é impressão minha?

— Não disse isso. — Desvio o olhar, ajeitando o cabelo.

— Espero que seja legal com ela!

Não posso deixar de sorrir maliciosamente. Sim, serei muito legal com a senhorita Grant. Felizmente Emma não vê meu sorriso, enquanto levanta da minha cama.

— Não vai me dar detalhes do seu encontro? — Ela me segue para fora do quarto e eu pego a chave do carro.

— Cuida da sua vida, tagarela.

Saio do apartamento, deixando Emma e sua curiosidade para trás.


Capítulo 7


Amy

 

— Hum, está maquiada querida? — Tiziano me lança um longo olhar especulativo, quando entro na cozinha e desvio o rosto. Merda.

— O que está fazendo? — desconverso, espiando os ingredientes na bancada. Tiziano virou vegano há alguns meses, e desde então ele vem experimentando várias receitas e me usando como cobaia. Nem sempre o experimento acaba bem. Uma vez, cheguei a parar no pronto socorro com intoxicação alimentar. Mas ele vinha melhorando.

— Hambúrguer — responde, e eu franzo a testa.

— Sério? Acabou a onda vegana?

— É hambúrguer vegano, meu bem!

— Hum... Talvez eu peça alguma coisa... — resmungo, olhando pela enésima vez meu celular. Será que Ethan ia aparecer como sugeri?

Eu queria e não queria ao mesmo tempo.

Se pensasse com sensatez, deveria desejar que não aparecesse. Certamente a essa hora ele já devia saber que eu tinha sito contratada. E se ele fosse mais sensato que eu, deixaria para lá.

Mas só por precaução, estou usando uma lingerie bonitinha.

— Hum, o que está rolando? — Levanto o olhar e Tiziano está me estudando com uma expressão preocupada.

Tiziano com expressão preocupada me assusta pra cacete. Porque isso quer dizer que ele vai ficar me analisando até tirar coisas de mim que eu não estou disposta a compartilhar.

Mil vezes merda.

— Nada. — Abro a geladeira e pego uma cerveja.

— Já recebeu a resposta dos Hunter? — insiste.

Suspiro, sentando na bancada e pegando um aipo.

— Já. Consegui.

Ele levanta a sobrancelha.

— Vai fazer isso?

— Eu já falei que sim!

— Você é louca, se quer saber.

Desvio o olhar. Era o que a minha consciência vinha sussurrando para mim mesma, e eu vinha tentando ignorar.

— Sabe os meus motivos.

— Claro que sim, tenho ouvido esse seu lamento há anos! Mas acha que essa é a maneira certa de conseguir o que quer?

— Eu tenho que arriscar! E acho que, agora, Carl nem ia me deixar recuar.

— Esse Carl é um cuzão.

— Eu sei.

— E mesmo assim está envolvida nisso com ele, você é tão sem noção às vezes, Amy!

— Não sou! Estou indo atrás do que eu quero! E vou conseguir, estou sentindo. — Se dissesse isso a mim mesma muitas vezes, talvez eu me convencesse.

— Não tem medo de Liam Hunter?

— Não! — minto descaradamente. Se fechasse os olhos ainda poderia ver Liam Hunter me espreitando atrás de sua imponente mesa, como se estivesse pronto a pular na minha jugular. Estremeço de horror.

— E do segurança dele, Ethan Coen, é esse o nome do gostosão, não é?

Agora estremeço de novo. Mas não é mais de medo.

— Ele não me mete medo também!

Tiziano solta uma risadinha.

— Eu achei que estava rolando alguma coisa quando entrei no seu quarto...

Coro sem conseguir me conter.

— Não estava rolando nada!

— Vai dizer que não acha ele um tesão? Que não deseja escalar aquele Everest com a língua?

— Ok, ele é gato, e daí?

— E daí que vai trabalhar ao lado dele...

— Não vou trabalhar ao lado dele! Ethan trabalha com Liam Hunter, meu trabalho será com Emma e o bebê. Aposto que nem vou ver Ethan direito. — Infelizmente.

— Eu acharia uma pena! Mas é melhor mesmo ficar longe do segurança do Liam Hunter. Se ele descobre o que está fazendo, está morta.

— Credo! Eles não são da máfia!

— Só estou dizendo! Acha que vão ficar felizes quando descobrirem?

— Ninguém vai descobrir!

— Uma hora vão.

— Eu estarei bem longe daquela casa quando isso acontecer — digo seriamente, porque era isso que eu esperava.

O som da campainha nos interrompe e meu coração dá um pulo no peito porque eu sei bem quem deve ser.

Tiziano levanta a sobrancelha.

— Esperando alguém?

— Hum.. Mais ou menos...

Vou até a porta e a abro e, como esperava e temia, é Ethan quem está ali, em toda a sua altura e gostosura, vestindo e jeans e camiseta preta, ainda mais delicioso do que com o terno preto, se é que isso é possível!

— Você veio.

— Você convidou.

— Achei que talvez... já deve saber que consegui o emprego com os Hunter.

— Fiquei sabendo. — Sua voz carrega um quê de desaprovação que me incomoda.

— Não parece estar feliz com isso.

— Por que não estaria?

— Não sei. Me diga você.

— Acho que já disse os motivos no carro, mais cedo.

Ah... então eu entendo.

Eu disse que não seria legal a gente se envolver se eu fosse funcionária dos Hunter.

Bem. Ele tinha razão.

Mas é só um jantar, não é? Não há problema nenhum nisso. E Tiziano estará junto. Não há nenhum problema em sermos amigos. Na verdade, eu vou precisar de sua amizade para ter mais sucesso na minha missão.

— Entendo — digo por fim — mas ainda podemos ser amigos e posso te oferecer um jantar. Não foi para isso que veio?

Ele responde com um sorriso que faz algumas borboletas sobrevoarem meu estômago.

Eu o convido para entrar e Tiziano, que se ocupa em pôr a mesa, olha de mim para Ethan com um olhar malicioso.

— Não me disse que tínhamos convidado, querida.

— Lembra do Ethan, não? — Eu me apresso em ajudá-lo, lançando lhe um olhar de “presta atenção no que vai falar”.

— Como esquecer? — ele cantarola, aproximando-se de Ethan, que estende a mão educadamente, mas Tiziano desconhece a palavra limite quando se trata de caras bonitos, e abraça Ethan que arregala os olhos, surpreso.

— Que prazer em revê-lo, Ethan — Tiziano completa ao soltá-lo, não sem antes passar a mão em seu peito.

Ah, eu tenho inveja da cara de pau de Tiziano, às vezes.

— É, percebi. — Ethan coça o cabelo, desconsertado, e posso jurar que ele está levemente corado.

— Tiziano, não seja insolente! — reclamo, mas estou sorrindo. — Acho que podemos comer. Estou faminta.

— Espero que goste de comida vegana, Ethan — Tiziano comenta, e Ethan parece meio incerto do que responder, quando senta à mesa.

— Eu já fui parar no hospital uma vez por causa da comida do Tiziano —conto. E Ethan parece assustado depois do meu comentário. — Mas ele melhorou, devo dizer. Acho.

— Não deixe que a nossa garota o assuste — Tiziano me interrompe, montando um hambúrguer para Ethan.

— Você é vegana? — Ethan me pergunta.

— Não. Eu já tentei, mas não deu certo.

— Que bom. Eric, o chef de Liam faz uma carne incrível. — Ele estuda o hambúrguer, à sua frente, com um olhar incerto.

— Sério? Acho muito fino que Liam Hunter tenha seu próprio chef!

— Liam é assim. Ele quer, ele tem... Que diabos é isso?

— Guaca Burger — Tiziano explica. — Quinoa, feijão e guacamole. Vai adorar, querido. Coma!

Respirando fundo, Ethan dá uma mordida no hambúrguer, e eu não consigo desviar o olhar. Ele tem as mãos tão grandes e, devo dizer, nunca reparei que um cara pode ser tão sexy ao comer.

— Querida, acho que caiu uma baba na mesa — Tiziano sussurra e eu limpo a garganta, ficando vermelha, ocupando-me em comer meu hambúrguer.

— E aí? Aprovado? — Tiziano pergunta a Ethan.

Obviamente ele está pouco se lixando para minha opinião hoje.

— É bom — Ethan fala de boca cheia, dando outra mordida. Desta vez eu e Tiziano suspiramos ao mesmo tempo. — Nem parece que não é carne.

— Eu disse. — Tiziano sorri com presunção. — Deveria virar vegano, querido. Eu posso te ajudar no processo. Tenho ótimas receitas, conheço restaurantes incríveis, posso ir na sua casa cozinhar...

— Tiz... — Toco sua mão. — Menos!

— Não seja ciumenta!

É a vez de Ethan me encarar com um sorriso.

— Está com ciúme?

— Do Tiziano?

— De mim.

— Por que teria?

— É, por que teria? — Tiziano se intromete. Obvio que já percebeu o clima rolando e está se divertindo com o meu infortúnio.

— Eu perguntei primeiro — Ethan insiste.

— É uma pergunta sem sentido. — Tomo um gole da minha cerveja. Talvez devesse ficar bêbada. — Então, Tiziano, me conta onde conseguiu essa receita — mudo o foco da conversa. Sei que Tiziano ama ser o centro das atenções e na hora seguinte ele discorre sobre suas descobertas veganas.

Finjo prestar atenção no meu amigo, mas meus olhos vagam toda hora para Ethan. Eu simplesmente não consigo evitar. E às vezes eu o flagro fazendo o mesmo. Sinto vontade de deixar Tiziano falando sozinho e arrastar o segurança de Liam Hunter para meu quarto e fazer coisas bem pervertidas...

Mas não posso. A cada minuto que passa, vou percebendo que estou, sim, atraída demais por aquele cara, e me dou conta de que posso estar me metendo numa enrascada bem maior do que era previsto.

Eu não posso mesmo me envolver com o segurança dos Hunter. Não só porque iríamos ser colegas de trabalho, mas porque ele não faz ideia das minhas reais intenções. E se descobrir não vai gostar nem um pouco.

Sinceramente? Estou começando a gostar muito das olhadelas safadas de Ethan Coen e não estou preparada para ver seu olhar de cobiça ser trocado por aversão.

— Bem, meus queridos, deixo a louça para vocês! — Volto à realidade quando Tiziano se levanta da mesa.

— Onde vai? — indago, confusa. E com um certo medo, mas empolgada também.

— Tenho um encontro! — Ele sorri e passa a mão nos cabelos de Ethan. — Adorei tê-lo como companhia, Ethan. Volte mais vezes!

Eu e Ethan observamos Tiziano se afastar em silêncio, até que a porta é fechada. Estamos sozinhos.

Completamente sozinhos.

Oh. Oh.

E quando volto minha atenção para Ethan, sei que por sua cabeça está passando a mesma coisa.

Começo a me mexer na cadeira, incomodada.

Bem, incomodada não é a palavra correta.

— Tem sobremesa? — Ethan quebra o silêncio.

— Por favor, não diga que isso é algum tipo de metáfora idiota em que está questionando se sou a sobremesa.

Ele ri.

— Você que está dizendo, Penny.

— Pare de me chamar de Penny!

— Ok, Penny. — Ele continua sorrindo. Tao, tão sexy.

Faz coisas incríveis acontecerem na região sul do meu corpo, que não entende que se envolver com Ethan está fora de cogitação.

E eu preciso tomar o controle daquela situação antes que seja tarde demais.

— Olha, o que eu disse mais cedo... Continua valendo. Não acho que a gente deva transar — explico.

— Quem falou em transar?

Por que demônios ele continua com aquele sorriso no rosto, como se soubesse algo que eu não sei? Como se... ele soubesse exatamente que estou blefando.

— Escuta, Ethan, a gente pode ser sincero, não é? Você sabe e eu sei, que nós dois queremos isso. Muito.

— Você vai direito ao assunto.

Eu me inclino.

— Não faço joguinhos, Ethan Coen.

— Gosto disso. — Ele se inclina também. Seu rosto está tão próximo que posso sentir o hálito em minha língua. Dá água na boca. — Gosto de você, Penny.

Oh, Deus.

Preciso mesmo daquele emprego?

Sim, eu preciso.

Não sem algum esforço, volto ao meu lugar, tomando um longo gole de cerveja.

— Então, acho que podemos ser amigos.

— Vai voltar ao seu amiguinho? — Franzo a testa, encarando Ethan, sem entender. — Aquele que encontrei na sua gaveta.

Engasgo com a cerveja quando entendo.

Puta que pariu!

Ethan apenas ri, enquanto bate nas minhas costas.

— Calma, Penny. Não quis te constranger.

Claro que queria, mas não fico constrangida facilmente. Ou tento não ficar e dou de ombros.

— É um bom amigo. O nome dele é Oscar.

— Chama seu vibrador de Oscar?

— Sim. Talvez eu compre outro para lhe fazer companhia. O chamarei de Ethan.

— Me sinto envaidecido.

Ficamos em silêncio por um instante, entretidos com nossos pensamentos e nossas cervejas.

— Eu gostaria de ver — diz de repente.

— Quê?

— Você e Oscar.

Oh. Meu. Deus.

Perco a fala por um momento. Mas minha mente está trabalhando rápido. Imaginando. E tenho certeza que ele também imagina. E de repente o ar está tão carregado de tensão e expectativa que quase me sufoca.

Eu deveria mandá-lo à merda. Deveria levantar da mesa, abrir a porta e dar a noite por encerrada. Segunda-feira seríamos apenas colegas de trabalho. E todo aquele flerte sacana seria esquecido.

Mas em vez disso, eu me levanto e vou para o meu quarto.

Não olho para trás para saber se Ethan está me seguindo.

Eu sei que ele está porque escuto o barulho de seus passos atrás de mim, rivalizando com o barulho das batidas do meu coração. Porém, quando escuto a porta do quarto sendo fechada, isolando nós dois do mundo lá fora, tudo silencia.

Até minha consciência.

Agora somos só nos dois.

Quer dizer, nós três, me corrijo com um arrepio de prazer perverso.

Eu, Ethan e Oscar.

Oh. Meu. Deus.


Capítulo 8

 

Amy

 

O ar está tomado de eletricidade quando me volto para Ethan.

Admiro por um momento como ele é grande e parece ocupar todo o espaço, não só com sua estatura, mas com sua aura de autoridade. É uma autoridade diferente da de Liam Hunter, pautada no dinheiro e poder.

Ethan não precisa disso. É algo natural. Ele mete medo apenas com o olhar.

Percebo que, em vez de me assustar, isso me deixa ainda com mais tesão, o que é algo estranho para mim. Não sou uma garota que faz o tipo indefesa e inocente, que gosta de ver os caras dominando e subjugando. Muito pelo contrário, eu gosto de caras divertidos, inteligentes e até um pouco franzinos, porque não curto me sentir ameaçada numa relação. Não que eu seja uma dominadora, só acredito que sempre deve ter um equilíbrio. É, talvez seja por isso que eu estou há tanto tempo solteira. Os caras são mandões demais ou frouxos demais para mim.

Mas cá estou eu, tremendo de tesão por um cara enorme, praticamente um brutamontes, que tinha me revistado sem nenhum pudor, usando um poder que lhe fora concedido pelo Leão de Wall Street.

Eu deveria estar correndo sem olhar para trás, mas em vez disso, eu mordo os lábios, ansiosa, quando ele se aproxima.

Ah, por favor.

Mal respiro de ansiedade.

— O que vai acontecer? — sussurro. — Vai mesmo ficar aí me olhando, enquanto... — Toda a situação parece muito surreal.

Ele sorri. Tão sacana. Tão maravilhoso.

— Você brinca com o Oscar... — completa e, sem que eu possa impedir, caminha até minha gaveta de calcinhas e quando se vira de frente para mim de novo, arregalo os olhos ao ver Oscar entre seus dedos.

— Sério, mesmo? — indago, muito vermelha. Sim, estou com vergonha, mas também estou muito ansiosa por saber o que ele pretende. Qualquer coisa parece muito interessante vinda de Ethan.

Ele estende o vibrador.

— Mostre-me o que faria se eu não estivesse aqui...

— Você é um maldito voyeur ou o quê?

Ele ri. Cara, até o riso dele faz meu ventre tremer.

— Se quiser que eu vá embora, eu vou, senhorita Grant. É só pedir.

Ir embora? Ele está louco?

Engulo em seco. E estendo a mão, pegando Oscar com os dedos trêmulos.

— Boa menina — Ethan sussurra em meu ouvido, enquanto passa por mim, afastando-se e sentando-se em uma poltrona em frente à cama.

Eu subo no colchão, sem conseguir desviar o olhar.

— Devo tirar a roupa ou...

— Não. Apenas levanta a saia e tira a calcinha

Caramba!

— Não quer me ver nua?

— Não acho que seja esse o objetivo.

— Não entendi.

— Não vamos transar, senhorita Grant. Não foi isso que combinamos?

Sim, ele tem razão. Melhor manter algum controle.

Ok, eu consigo fazer isso, penso, enquanto enfio a mão por baixo da saia e tiro a calcinha. E num átimo de atrevimento, a jogo para Ethan

Ele ri e a pega no ar.

— Está me fazendo sentir como se eu fosse uma stripper.

Ele ri mais ainda.

— Se fosse estaria dançando no meu pau.

Ai, cara, por que ele tinha que me dar ideias?

— Não descarto essa possibilidade.

— Não brinque comigo, senhorita Grant.

— Não sou eu que estou brincando.

— Faça — ordena de repente, num tom mais imperativo que arrepia até minha alma.

Eu me recosto nos travesseiros atrás de mim, levantando a saia.

— Abra as pernas! — ordena de novo. Minha respiração acelera.

Sei que estou tão quente que poderia entrar em combustão instantânea.

Ligo o vibrador e o som enche o ar. Ethan sorri. Sinto o estômago sendo sugado, enquanto levo a mão livre até o meio das minhas pernas, sentindo meu corpo. Um gemido trêmulo escapa de meus lábios e posso jurar que o mesmo gemido, mas num tom mais rouco, sai da garganta de Ethan também.

— Você já está molhada, senhorita Grant?

Fecho os olhos, derretendo de prazer com sua voz rouca cheia de desejo.

— Eu estou constantemente molhada desde o dia em que nos conhecemos.

Ele geme mais alto agora e levo o vibrador até onde anseio que Ethan toque.

— Isso, Senhorita Grant... — encoraja, e basta para mais um tremor forte assolar meu corpo. Embalo os quadris para a frente, ditando um ritmo, enquanto deslizo o aparelho para dentro de mim, abrindo ainda mais minhas pernas e porra... é tão bom, como nunca foi.

Eu amo Oscar e ele sempre foi satisfatório para mim, mas ter Ethan ali, em algum lugar, me observando, faz tudo ganhar uma dimensão extraordinariamente obscena.

— Parece gostoso — ele diz. Sua voz é quase um rosnado, baixa e íntima. Queria que ele se aproximasse e sussurrasse dentro do meu ouvido, quem sabe entre minhas pernas.

Ah, só de imaginar...

— Em que está pensando?

Abro os olhos, focalizando os dele, que são duas bolas de fogo, escuras e brilhantes.

— Em você.

— Seja mais específica. — Abaixo o olhar quando a mão dele se move e cobre a frente de sua calça, onde uma ereção enorme desponta.

Ah, meu Deus...

— Quero ver você — murmuro, entre gemidos cada vez mais altos.

— Não foi esse o combinado, senhorita Grant.

— Por favor, Ethan...

Eu quase desfaleço quando o vejo abrir a calça e se acariciar, ao vivo e a cores na minha frente.

Puta. Que. Pariu.

Ele era grande. Grosso. Lindo.

— Nossa! — não consigo deixar de exclamar, maravilhada. E ele sorri com presunção. Bem, ele pode mesmo ser metido.

— Olha o que faz comigo, senhorita Grant.

— Caramba... — Movo o vibrador mais rápido, usando a outra mão para acariciar meu clitóris, estou a ponto de explodir.

— Está próxima? — ele pergunta, tenso, o olhar duro preso em mim.

Sacudo a cabeça afirmativamente, sem conseguir falar, minha garganta está seca e todo meu corpo está tenso, apenas concentrado naquele prazer incrível que está crescendo e se enroscando em meu ventre.

E então eu explodo, com um longo gemido de libertação, fechando os olhos e deixando as ondas de um clímax fabuloso inundar meu corpo. E, em algum lugar da minha mente, percebo que Ethan também gemeu e gozou e, infelizmente, eu não vi isso porque estou muito ocupada em fazer o ar sair dos meus pulmões e em fazer meu corpo mole e sem forças voltar à vida depois de um orgasmo daqueles.

— Uau! — murmuro, abrindo os olhos depois de um tempo que não sei definir.

E a visão de Ethan, ainda com a calça aberta e aquele pau magnífico entre as mãos, enquanto ele respira pesado e me deixa com tesão de novo.

Estendo a mão, pego um pacote de lenços no criado mudo e jogo para ele.

— Obrigada! — Ele ri, pegando o pacote no ar.

Fico observando, fascinada, ele limpar a mão.

— Devo dizer, senhorita Grant, o Oscar é um cara de sorte.

— Eu sou uma moça de sorte por tê-lo.

— Que romântico — responde com ironia.

Isso me incomoda um pouco, mas, sinceramente, não quero começar a analisar nada agora.

Então me levanto e vou até o banheiro me recompor.

Quando retorno, Ethan está de pé em frente à porta.

— Posso usar seu banheiro?

— Claro.

Ele entra no banheiro e eu mordo os lábios, incerta do que fazer.

A cena anterior parece ter sido criada por minha imaginação.

Quando ele retorna, com um meio sorriso, me assusto com a vontade louca e súbita de beijá-lo.

Talvez convidá-lo para passar a noite, talvez...

— Isso foi divertido, senhorita Grant — ele diz, quebrando meu devaneio insano.

Em que eu estava pensando?

— Digo o mesmo — cruzo os braços em frente ao peito —, mas acho que já é hora de ir embora — completo. Embora aquela pequena pessoa insana dentro de mim esteja me cutucando e dizendo “peça para ele ficar”.

Abro a porta e saio do quarto, com Ethan me seguindo, indo até a porta do apartamento. Melhor acabar logo com aquilo, antes que seja tarde demais.

Sim, foi divertido, quente e meio doido, mas tinha sido só isso.

E apenas isso.

Eu estou focada em uma missão muito específica e não posso me distrair com aquele tesão descabido pelo segurança de Liam Hunter e pôr tudo a perder.

— Isso... vai ser esquecido, não é? — Eu me vejo na obrigação de dizer quando abro a porta. — Nosso trato ainda está de pé... Somente colegas de trabalho, certo?

Ethan sorri, daquele jeito meio sacana dele, que me deixa de pernas bambas e que eu estava começando a odiar e a adorar.

Levantando a mão, ele coloca um fio de cabelo atrás da minha orelha.

— Esquecer vai ser difícil, Amy. — Ele deixa de usar o “senhorita Grant” e isso me desconcerta. — Mas você tem razão. Apenas amigos. — E estende a mão para mim, num claro sinal para selar nossa amizade.

Ok, que opção eu tenho?

— Amigos. — Deixo que segure minha mão, que desaparece dentro da dele.

E, por um momento, enquanto nos olhamos, tenho a sensação de que quer dizer alguma coisa. E espero. Anseio. Meu coração batendo rápido no peito.

Mas Ethan apenas solta a minha mão e acena, desaparecendo porta afora.


****


— Parece que alguém transou... — A voz debochada de Tiziano me tira do devaneio erótico em que me encontro desde que acordei de manhã. E até mesmo agora, enquanto tomo um iogurte com granola artesanal que Tiziano comprou na feirinha perto de casa, ainda não consigo tirar a imagem do segurança de Liam Hunter da cabeça.

— Eu não transei! — desconverso, e Tiziano continua sorrindo sem acreditar em mim.

— Minha querida, se não transou é uma idiota, qualquer um vê que aquele segurança gostoso está louco para entrar nas suas calcinhas.

— Não sou idiota, sou precavida! Nós vamos trabalhar juntos e você sabe muito bem no que estou metida, não posso me envolver com Ethan. De jeito nenhum. Nunca.

— Claro, se repetir bastante para si mesma talvez se convença.

Somos interrompidos de repente pela porta se abrindo e um pequeno furacão de cabelos cacheados irrompe na sala, pulando em meu colo.

— Tia Amy!

— Penélope! — Consigo salvar o iogurte por pouco, enquanto observo Ariana entrando atrás da filha, com seus saltos agulha batendo no chão. Hoje ela usa uma calça de estampa de zebra tão colada ao corpo que parece que foi costurada a vácuo. Os cabelos estão escovados e armados com tanto laquê, que não sei como ainda não congelou o próprio rosto.

— Bom dia!

— Bom dia, gata. — Tiziano a beija no rosto e aspira. — Hum, que perfume fabuloso!

— Eu sempre sou fabulosa, e você está muito gostoso. — Ela passa a mão pelo tanquinho desnudo de Tiziano, que sorri satisfeito.

— Não para seu bico, minha cara!

— E você ainda não está arrumada por quê? — Ela estuda minha aparência com ares críticos. Ainda estou com uma camiseta de dormir, coque no alto da cabeça e remela nos olhos.

— Está cedo!

— Não quero pegar trânsito para New Jersey. Então levanta sua bunda daí e vá se arrumar! — Ela arranca Penélope do meu colo.

— Não grita comigo que não sou sua filha! — resmungo enquanto vou me levantando.

— Às vezes é pior que Penélope e sabe bem! Falando nisso, Emma Hunter me ligou ontem e disse que adorou minha antiga babá — ela diz com ironia, — E que a contratou.

— Sim, consegui o emprego — digo rápido, virando em direção ao quarto, mas Ariana vai atrás de mim. — Ei, um pouco de privacidade seria bom.

— Ainda não estou certa se agi corretamente mentindo por você. Não gosto dessa situação.

Retiro um vestido florido do armário.

— Já conversamos sobre isso, Ari.

— Não use essa merda! — Tira o vestido da minha mão. — Algo mais decente para visitar o papai, por favor!

Rolo os olhos, pegando um jeans.

— Decente? Olha sua roupa!

— Não estou mostrando minha bunda!

— Nem eu!

— Mas não desconversa. Ainda não engoli essa sua história de querer ser babá dos Hunter.

— Qual o problema? — Começo a me vestir. — Sabe que odiava meu trabalho! E o salário oferecido pelos Hunter é incrível!

— Mas babá? Você é formada, pelo amor de Deus! Quando contei para o papai ele ficou passado! Prepare-se para ouvir um sermão hoje.

— O Vini não é meu pai!

— Nossa, pra que falar assim? Espero que não diga isso para ele! Papai te considera como filha!

Sim, Ariana tem razão. De todos os cinco maridos da minha mãe, Vini Valastro, o pai de Ariana, foi o único que se preocupou em ser um pai para mim. Nem mesmo meu pai de verdade, um irlandês que minha mãe conheceu num festival de música e que eu não via há anos, se preocupou com isso. Talvez pelo fato de Vini ser viúvo e ter uma filha da minha idade, Ariana. Na época em que ele se casou com a minha mãe, nós tínhamos quinze anos. Infelizmente o casamento durou pouco, e não por culpa do Vini, um dono de pizzaria com descendência italiana de New Jersey, mas pela incapacidade da minha mãe de ser fiel. Eles se divorciaram três anos depois e Vini continuou me recebendo em sua casa, como filha, mesmo depois que fui para a faculdade. E o mesmo acontecia com Ariana, que me considerava uma irmã.

E agora eu pedi para ela mentir por mim. Eu nunca fui babá de Penélope, embora a adore e já tenha cuidado dela muitas vezes. Mas eu preciso que os Hunter pensem o contrário.

Eu não gostei de pedir algo assim à Ariana e ela não faz ideia das minhas verdadeiras intenções.

— O que você está aprontando, Amy? — Ariana insiste e eu dou de ombros, indo pentear os cabelos.

— Nada! Apenas achei interessante mudar de profissão. Não quer dizer que vou ser babá para sempre, mas trabalhar com os Hunter, mesmo sendo babá, vai me abrir muitas portas. Eu preciso desse tempo, só isso.

— Sei... Espero que não esteja aprontando nada. Eu gosto muito da Emma, embora aquele marido dela seja meio casca grossa.

— Ele não é diferente do Emiliano.

— Emiliano está a anos luz de Liam Hunter, por favor!

— Está bem, acho que tem razão. — Eu gosto do marido de Ariana, um cara que fez fortuna com uma rede de restaurantes. Ele é italiano também e os dois são extravagantes e exagerados. Feitos um para o outro.

— Espero mesmo que não esteja aprontando das suas.

— Aprontando das minhas? — Pego minha bolsa, jogando o celular dentro.

— Sim, aprontando! E ainda me ferrando junto, como quando papai pegou aquele cigarro de maconha no nosso quarto e você disse que era meu!

— Nossa, que memória, eu nem lembrava mais disso...

— Mas eu lembro! E você adora fazer as coisas sem pensar direito, tomara que não esteja fazendo isso desta vez. Não quero que se encrenque.

— Não seja dramática. Nada demais está acontecendo! Agora vamos — desconverso.

Eu só espero que Ariana não tenha razão.


Capítulo 9

 

Amy

 

Não posso negar que estou ligeiramente nervosa na manhã de segunda-feira. Para minha consternação ou alívio, não é Ethan quem aparece para me buscar e sim um motorista que nunca vi antes.

— Olá, senhorita, eu sou Owen. Motorista da senhora Hunter — ele se apresenta quando desço para a calçada.

— Cadê o Ethan?

— Ethan está ocupado com o senhor Hunter. Como vai trabalhar diretamente com a senhora Hunter, eu cuidarei do seu trajeto.

— Ah. — Tento conter a decepção quando entro no carro e Owen sai dirigindo pelas ruas do Brooklin em direção a Manhattan. Será que o fato de ser este outro cara e não Ethan a vir me buscar era proposital depois daquela safadeza toda de sexta à noite? Ok, nós combinamos que seríamos amigos, mas será que conseguiríamos esquecer aquele ménage com o Oscar?

Da minha parte, a resposta é um grande não. Eu passei o fim de semana inteiro divagando sobre isso. E até tive bons momentos com o Oscar para homenagear aquelas lembranças. E claro, a cada hora que passava, eu me vi ansiando pela chegada da segunda-feira, quando veria Ethan de novo.

Todavia, sei que estou me iludindo. Não vai rolar mais nada. Ethan é meu colega de trabalho. Um trabalho que é mais importante do que se supõe. E eu não quero e não posso falhar.

Com isso em mente, saio do carro no prédio dos Hunter, dizendo a mim mesma que agora eu estou no modo profissional. Não há margem para erros. Eu preciso fazer um bom trabalho na casa dos Hunter. Preciso que eles confiem em mim.

— Bom dia! — Emma me abraça de forma efusiva quando entro na cozinha que recende a muffin de maçã.

Emma veste uma calça jeans rasgada nos joelhos e uma camisa que não parece dela. Será que ela é dessas que gosta de usar roupas do marido?

Olho para minhas próprias roupas. Hoje estou usando um vestido florido vintage até os joelhos e uma bota curta. Será que Emma Hunter me fará usar uniforme?

Não gosto nem um pouco daquela opção. Mas também sei que não poderia dizer não se essas forem as ordens.

— Bom dia, que cheiro gostoso!

O chef oriental bonitinho não está por perto e Emma retira uma fornada de muffin do elegante forno.

— São Muffins! — Ela sorri.

Hum, Emma Hunter gosta de cozinhar?

— Parecem deliciosos.

— E são! Olha, Leo, quem está aqui! — Aponta para o bebê que brinca com um mordedor no carrinho que deve custar o aluguel da minha casa.

— Oi, Leo! — Eu me aproximo com certo receio. Ainda me lembro de como ele me recebeu da outra vez em que ali estive. Com vômito azedo. Eca!

— Está com medo que ele vomite em você de novo? — Emma brinca e fico vermelha. Droga. Não é legal eu me comportar como se tivesse nojo do mini Hunter.

— Claro que não! — O pego no carrinho e ele me olha com os olhinhos desconfiados. São idênticos aos de Liam Hunter. — Ele se parece muito com o senhor Hunter.

Emma revira os olhos, enquanto arruma os muffins em uma bandeja.

— Sim, ele é uma cópia do Liam!

— Ele é lindo. — Brinco com sua bochecha e ele sorri para mim. Eu me derreto um pouco. Isso, bebê, goste de mim e mostre para sua mamãe como eu sou boa babá.

— Ele gosta de você. Isso é bom.

— Aposto que é um bebê bonzinho.

— Às vezes, sim. Bem, só vou terminar aqui e te mostrarei a casa e seu quarto.

— Quarto? — Um alarme soa na mina cabeça.

— Oh, eu não te disse que precisaria dormir aqui?

— Hum... Não.

— Me desculpe, devia ter falado sobre isso. Vai haver algum problema?

Eu quero dizer que sim, tem muito problema. Mas claro que não digo nada. Então visto meu melhor sorriso de empregada satisfeita.

— Eu vou amar ficar aqui o tempo inteiro. — Eu quero correr e pular pela janela com essa opção, mas preciso pensar que será muito bom para meus planos se ficar bastante tempo na casa dos Hunter.

— Na verdade, eu disse ao Liam que não precisava, mas ele foi incisivo. Disse que já que íamos ter uma babá, seria legal ela estar disponível no período noturno. Afinal o Leo ainda acorda durante a noite. E às vezes saímos para eventos, e tenho que contar com o coitado do Eric para cuidar dele. E também, você sabe — ela fica um pouco vermelha — a vida sexual fica bastante comprometida com um bebê.

Oh. Não sei se quero ouvir, penso. É esquisito ouvir Emma Hunter falando de sua vida sexual com o Leão de Wall Street.

E quero logo mudar de assunto, mas de repente me lembro o que estou fazendo ali e a encaro com um sorriso conspirador.

— Imagino. Deve ser difícil.

— Não é fácil! — Ela ri, aproximando-se e pegando Leo do meu colo. — Venha, vou te mostrar tudo.

Ela me leva por todos os cômodos do apartamento muito espaçoso e, como não poderia deixar de ser, tudo é maravilhoso e grita riqueza.

E, enquanto Emma Hunter tagarela sobre o que gosta no lugar, me vejo observando que ela não combina nada com aquele ambiente. Como é que veio parar ali? Eu sabia pouco sobre ela. Emma Jones tinha vinte e dois anos quando conheceu Liam Hunter, estudava jornalismo e se casaram em pouco tempo, ao que parece. De repente me sinto muito curiosa sobre a história deles. Como alguém como ela, uma garota ainda, que vestia jeans rasgado e tinha a cara limpa, caíra no radar de um cara como Liam Hunter. Lindo, rico e implacável.

É uma incógnita.

— Esse é meu quarto. — Aponta para um cômodo espaçoso com uma lareira fabulosa de aço ao fundo.

— Imponente.

Ela ri e me leva em frente.

— Aqui é o quarto do Leo, você já viu. — Ela passa para uma porta adiante e a abre e nós entramos em um lindo quarto decorado em tons pastéis muito feminino. — E este é seu quarto.

— Nossa, é lindo! — Jesus, mais parece o quarto de uma princesa e não de uma babá.

Quando Emma disse que eu teria que dormir no trabalho imaginei que iria ser colocada em um quarto de empregada.

— Gostou? Se quiser decorar de sua maneira — ela mede minha reação. — Penso que talvez prefira algo mais vintage, ou colorido.

— Não, está lindo! — Ela tem razão. Eu iria preferir algo diferente, mas ali não é minha casa. E acho que será divertido fingir que sou uma herdeira rica por um tempo.

Uma herdeira rica apaixonada pelo motorista da família.

Ops. Apaixonada? Isso é um exagero. Com tesão seria mais apropriado.

— Ethan também mora aqui? — Aproveito para perguntar, como quem não quer nada.

— Não, ele tem um apartamento alguns andares abaixo.

— Nossa, ele deve ganhar bem. — Isso me surpreende.

— Você sabe, Ethan é muito mais do que só o segurança do Liam.

— É, acho que ouvi algo sobre isso.

— Mas se quer saber, Eric também mora no prédio.

— Meu Deus, sério?

Emma ri.

— Liam é o dono do prédio.

— Entendi agora.

Será que se eu ficasse tempo suficiente também iria ganhar um apartamento? Poxa, Tiziano ia gostar de morar em Manhattan.

O que eu estava pensando? Eu não ficaria tempo suficiente.

De repente essa alternativa não parece muito divertida para mim.

— Você acha que consegue ficar sozinha com o Leo agora à tarde?

Eu? Sozinha com aquela pequena bola de vômito?

— Claro que sim. — Meu sorriso doce não condiz com meu horror.

— Ah, que bom. Estava preocupada. Eu não faria isso, queria que se acostumasse com Leo primeiro, mas Zoe me intimou para ir a uma degustação de bolos de casamento. — Ela bufa. — Acho uma chatice, mas quando conhecer Zoe vai entender, ela é meio tirana e você nem imagina como está sendo a preparação do seu próprio casamento.

— Zoe é uma amiga?

— Sim, minha melhor amiga. Moramos juntas antes de eu me casar.

— Sim, estou ansiosa para conhecê-la. — Até parece.

— Eu vou me arrumar, pode ficar com Leo?

— Claro! — Eu o pego do seu colo.

— Eric foi fazer algumas compras, mas deve chegar antes do almoço, então não ficará sozinha.

— Fico mais tranquila.

Emma sorri e se afasta, e eu olho para Leo em meu colo. Agora ele está ocupado chupando meu cabelo. Ah que beleza.

— Hum, amiguinho, parece que seremos só eu e você, então seja bonzinho comigo, ok? Pode me avisar se for vomitar?

Ele emite sons ininteligíveis.

— Que bom que nos entendemos.

Olho em volta. E percebo que é um bom momento para eu andar pelo apartamento.

Emma havia me mostrado quase tudo, porém tinha percebido algumas portas fechadas. Resolvo me encaminhar para a primeira delas, no fim do corredor, e me deparo com um escritório.

Wow. O território de Liam Hunter.

Meus olhos brilham e minha pulsação dispara de ansiedade e de um certo medo.

— Olá. — Quase dou um pulo ao ouvir a voz atrás de mim e me viro para ver o chef bonitinho me encarando com um sorriso.

— Oi — tento não parecer culpada, enquanto sacudo Leo.

— Vejo que já assumiu seu posto.

— Sim, estava... conhecendo a área.

— Cadê a Emma?

— Foi se arrumar, ela vai sair com uma amiga. Zoe.

— Ah, sim, a degustação de bolo. Eu estarei na cozinha se precisar. Deseja algo para almoço?

— Eu?

Ele sorri para mim.

— Sim, você.

— Não creio que meu gosto tem alguma prioridade aqui.

— Mas você será a única que almoçará aqui hoje, então pode se sentir a dona da casa. — Ele pisca e eu o acompanho para a cozinha.

Acho que vou gostar deste Eric.


No fim, a minha tarde até que foi bem agradável. Leo dormiu assim que tomou sua mamadeira e, como Eric estava ocupado de um lado para o outro limpando o apartamento, decidi ficar no quarto que me foi designado, fingindo lindamente que era uma princesa. Até fiz um facetime com Tiziano, mostrando minhas dependências a ele, que perguntou se não tinha uma vaga no staff dos Hunter.

— Fazendo o quê? Aqui já tem um cozinheiro incrível, superchique, que além de fazer comidas fabulosas ainda limpa tudo! Tem o Ethan que é tipo segurança e motorista e ainda um tal de Owen, que é o motorista e segurança da Emma.

— E, você, a babá quase perfeita.

— Eu sou perfeita, meu bem.

— Quero ver quando eles descobrirem...

— Shi! — eu o advirto, olhando para a porta que deixei encostada como se pudesse ter alguém escutando atrás dela, o que era absurdo. — Ninguém vai descobrir nada. Pelo menos, não enquanto eu estiver aqui.

— E já definiu qual seu prazo?

— Ainda não. Mas espero conseguir tudo sem demorar muito. Quanto menos ficar melhor.

— E acha que vai ser fácil?

— Sinceramente, terei que tomar cuidado. O Eric parece estar em todos os cantos, fico com medo que desconfie.

— E o tal Ethan?

— Ele fica o tempo inteiro com Liam Hunter. — Não consigo evitar o tom decepcionado na minha voz e Tiziano percebe.

— E aposto que preferiria que ele ficasse o tempo inteiro aí, para o seu deleite, não?

— Não vou negar. Ele é o cara mais gostoso que conheci na vida.

— Você é muito enrolada, Amy. Faz tempo que não te vejo empolgada com um cara e vai arrastar asa justamente para o segurança de Liam Hunter.

— Pois é, eu não poderia ser mais azarada mesmo.

— Só espero que tome cuidado — ele fala, mais sério do que lhe é habitual.

— Pode deixar. Eu não vou fazer nada nesta primeira semana, preciso estudar o ambiente, mostrar serviço. Deixar que cofiem em mim.

— Certo. Faça o que tem que fazer. Eu já esgotei meu estoque de bons conselhos.

— Eu sei o que estou fazendo, Tiziano — garanto.

Mas depois que desligo, fico me perguntando se sei mesmo.

Agora que o plano está em prática, não posso deixar de sentir um certo medo. Ou um medo enorme.

Porém, não vou voltar atrás.


Emma retorna no começo da noite e diz que Owen está me esperando lá embaixo para me levar até em casa para buscar as minhas coisas.

Fico decepcionada de novo por não ser Ethan.

— Leo se comportou direitinho? — Ela abraça o filho, com saudade.

— Um anjinho. — Sorrio. Porque é verdade. E nem precisou que eu desse calmante a ele ou algo assim.

Eu me despeço e desço para encontrar Owen e buscar minhas coisas.

Quando retorno, me ocupo em guardar minhas roupas no closet, pois Emma disse que cuidaria de Leo.

Fico me perguntando se eu terei mesmo que cuidar do garotinho, porque Emma parece muito apegada ao bebê.

Quando termino, rumo para a cozinha e Emma anuncia que jantaremos sozinhas porque Liam foi a um jantar de negócios e Eric já foi dispensado para encontrar sua namorada, Amanda.

— O que foi? — Ela me estuda, quando vê que fiquei meio hesitante, enquanto ela põe os pratos na mesa. Leo está ressonando em seu carrinho.

— Não achei que comeríamos juntas, afinal sou apenas a babá.

Emma sorri.

— Ah, não temos essas formalidades aqui, vai ver.

— Seu marido pensa o mesmo? — insisto quando sentamos à mesa para comer um delicioso peixe com legumes.

— Liam trabalha demais, vai ver que nem sempre ele estará por aqui — ela diz, distraída, e eu franzo a testa.

Será que ela estava mesmo ok com essa ausência do marido?

Claro que era de se esperar que um cara poderoso como Liam Hunter fosse bem ocupado, mas ele era casado e tinha um bebê pequeno.

Mordo os lábios contendo a vontade de me aprofundar no assunto, mas a curiosidade vence a cautela.

— Como vocês se conheceram? — Emma levanta o olhar e eu finjo vergonha. — Ah, me desculpe, estou sendo invasiva.

— Não, não é nenhum segredo. Eu era estagiária em um jornal, e fui substituir uma colega numa coletiva com o Liam. Cheguei atrasada, mas mesmo assim consegui dez minutos com ele.

— E se apaixonaram?

Ela ri.

— Não foi bem assim. Foi um pouco mais... complicado.

— Desculpa, mas... é difícil imaginar como foi isso. Você é tão...

— Sem graça?

— Não! Não é sem graça. Você é linda, não me entenda mal, mas, bem, eu via todas aquelas mulheres com quem ele saía...

— Ah, sim, eu também achei bizarro. E acho que nunca me imaginei me envolvendo com alguém como o Liam, mas foi... instantâneo, sabe? Como se tivesse que ser.

— E demorou quanto tempo para se casarem, parece que foi pouco tempo.

— Uns três meses.

— Meu Deus, não foi muito rápido?

— Eu estava grávida.

— Ah, entendo.

— Mas nós já íamos nos casar, na verdade eu vim morar com ele menos de dois meses depois que nos conhecemos e ele já tinha pedido minha mão.

— Uau. Isso foi rápido.

— Liam disse que não queria perder um negócio.

— Negócio?

— É, temos até um contrato.

— Vocês têm um contrato? — Caramba, que casal bizarro é aquele?

— E fui eu que redigi! Se Liam achava que ia ditar todas as regras estava muito enganado.

— E deu certo?

— Sim, olha onde estamos.

Sim, ela estava jantando com a babá.

— E você não achou rápido demais?

Ela dá de ombros.

— Parece meu pai falando.

— Desculpa, é só um comentário.

— Tudo bem. Todo mundo acha isso.

Leo começa a chorar e Emma se ocupa do filho.

— Não acha que eu que deveria fazer isso?

— Não, continue a comer.

— Mas eu sou a babá. Se vai cuidar dele, qual o intuito de eu estar aqui?

— A contratei porque quero voltar a trabalhar.

— Ah, isso é novidade, não pensei...

— Liam queria uma babá desde que Leo nasceu e eu não via porque, se eu estava em casa, mas quero um trabalho.

— Isso é admirável.

— Você também acha que sou boba?

— Por que seria?

— Porque não preciso trabalhar, e mesmo assim eu fico insistindo.

— Claro que não. Você é muito nova para ficar enterrada em casa com um filho... — De repente me dou conta da merda que estou dizendo e me calo, muito vermelha. Droga. — Oh, me desculpe, eu não quis dizer...

Emma sorri, mas percebo que o que eu falei a afetou um pouco.

— Tudo bem, algumas pessoas pensam assim mesmo.

— Eu não quis aborrecê-la e nem a criticar. Desculpe, não é da minha conta.

— Não se preocupe. — Ela abre um sorriso mais genuíno agora. — Não estou brava.

Ela olha para Leo, que adormeceu em seus braços.

— Vou colocá-lo para dormir. Fique à vontade, ok?

Antes que consiga responder que eu posso colocar o bebê para dormir, afinal é meu trabalho, Emma já desapareceu corredor afora.

Termino de comer e decido lavar a louça, e quando estou acabando de secar os copos levo um susto ao me virar e ver Liam Hunter, parado, olhando para mim.


Capítulo 10

 

Amy

 

Jesus Cristo protetor das babás falsas, me ajude — rogo, sentindo minhas pernas trêmulas de medo. Liam Hunter fica parado ali, no alto de seu terno escuro e olhar ameaçador como um leão prestes a pular em seu jantar e engulo em seco.

Devo correr? Ajoelhar e pedir desculpas por... sei lá, estar maculando sua cozinha?

— Então você é a babá.

Eu limpo a garganta.

— Sim, senhor... Hunter, quer dizer... sim, eu sou Amy, quer dizer, acho que sabe meu nome e...

— Sim, eu me lembro do seu nome, senhorita Grant. E achei que tivesse sido contratada para cuidar do bebê e não lavar a louça.

— Ah — solto um riso nervoso —, eu só queria ajudar. Emma, quer dizer, a senhora Hunter insistiu em colocar o bebê para dormir. Insistiu muito, mesmo eu dizendo que era minha obrigação — justifico.

Vai que ele ache que eu sou supérflua e me demita?

Ele solta um rosnado, passando os dedos pelos cabelos, num sinal de exasperação.

— Emma não toma jeito. Ela é muito apegada ao Leo.

— Bem, é o filho dela — eu me vejo defendendo Emma.

— Mas temos uma babá agora. — Ele olha para mim de novo, como se quisesse ler meu pensamento. Ele não pode ler pensamentos, pode?

Porque se puder eu estou frita.

— Certo, seja bem-vinda, senhorita Grant — diz, agora de um jeito mais agradável, mas ainda assim ameaçador.

— Obrigada, Senhor Hunter. E... obrigada... pela confiança.

— Ainda não sabemos se devo agradecer por isso, não?

Oh, merda. Merda. Merda!

Eu rezo para não me mijar inteira.

— Boa noite, senhorita Grant.

Ele dá meia volta e desaparece no corredor, e eu volto a respirar normalmente.

Meu Deus, eu preciso me controlar! Não posso agir como se fosse uma criminosa a cada vez que Liam Hunter olhar para mim. Ele não é um dos caras mais ricos do país à toa. Ele é esperto. E impiedoso.

E eu tenho que tomar muito cuidado.

Termino de limpar a cozinha, levando mais tempo do que o necessário, com medo de encontrar Liam de novo. Depois vou para o quarto de Leo.

Emma está ali, velando seu sono com um olhar de mãe zelosa.

— Oi, ele dormiu?

— Sim, como um anjinho. — Sorri — Pode ser que acorde daqui a algumas horas. — Ela pega a babá eletrônica, mas eu retiro de sua mão.

— Acho que posso cuidar disso.

Emma hesita e vejo que quer arrancar da minha mão, mas, com um suspiro, acaba cedendo.

— Certo. Acho que posso tentar me acostumar — diz ela, com um olhar de quem está deixando o filho para sempre. Contenho meu riso.

— Eu prometo que te chamo se precisar, está bem? — eu a tranquilizo. — Precisa aprender a confiar em mim. Estou aqui para isso.

— Ok. O Liam já passou por aqui e disse a mesma coisa. E você já vai dormir? Está cedo ainda e não precisa ficar aqui velando o sono do Leo, ele vai dormir por umas boas horas. Se quiser, temos uma sala de TV enorme no fim do corredor e também temos uma academia no subsolo do prédio. Pode usá-la.

— Hum, acho que vou tentar a academia. — Lembro de Tiziano dizendo que estou com culotes.

— Divirta-se então.


Eu volto para o quarto e me troco, colocando um legging e uma regata. Ao passar pelo apartamento, tudo está silencioso e, por um momento, eu hesito. Será que é um bom momento para eu ir até o escritório de Liam Hunter? Não. Melhor seria eu esperar para fuçar por lá quando o leão não estivesse por perto. Então desisto e desço até a academia no subsolo. Devo confessar, não estou nem um pouco empolgada por essa atividade, malhar não é o meu forte, porém, quando adentro na sala cheia de aparelhos, mudo de opinião rapidinho ao ver Ethan Coen malhando os bíceps.

Sem camisa.

Suado.

Eu acho que amo malhar.


Ethan

 

Eu estava deliberadamente evitando a casa dos Hunter e só havia um motivo para isso: eu não queria colocar meus olhos na nova babá. Porque tinha certeza de que, assim que pousasse meus olhos na sua figura ruiva e sexy, eu ia querer botar todos os meus dedos e mais algumas partes de minha anatomia também.

Partes que estavam muito putas comigo desde que eu a vi fodendo com o tal do Oscar e as privei de participar da festa.

Eu deveria saber que não era uma boa ideia ter provocado aquela situação. Não quando já tinha dito a mim mesmo que a nova babá seria apenas isso. A babá.

Mas pensar e fazer eram coisas bem diferentes e, agora, enquanto eu malho tentando me cansar tanto a ponto de não ter forças para nada, me vejo perguntando até quando vou conseguir evitar a casa de Liam e Emma. Por enquanto parecia que nenhum dos dois desconfiava de nada. Não faziam ideia da sacanagem que tinha rolado solta entre mim e a babá ruiva de Leo. E acho que deveriam continuar assim. Até mesmo porque não ia rolar mais nada. Nada.

— Olá — Levanto o olhar assim que escuto a voz melodiosa a poucos metros e, por um momento, acho que meu tesão recolhido está me fazendo ter sonhos estranhos. Porque só assim faria sentido estar vendo Amy Grant caminhando em minha direção, com os cabelos vermelhos presos no alto da cabeça e vestindo uma calça que parecia ter sido costurada a vácuo em seu corpo e uma regata que não deixava muito à imaginação.

Cacete.

Que merda ela está fazendo aqui? Veio me perturbar?

Solto o peso no chão e, por pouco, não pega no meu dedão.

— Que diabos está fazendo aqui? — Ok, acho que fui mais duro do que precisava. O que faz Amy franzir a testa, meio confusa e até um tanto ultrajada.

— Emma disse que eu poderia usar a academia. — Sua voz agora tem um tom defensivo. — Não sabia que estava aqui. — De repente parece que algo lhe ocorre. — Acha que eu vim atrás de você? Te perseguir ou sei lá o quê?

Solto uma risada. Não tem humor. Quer dizer. Só um pouco, enquanto me ocupo pegando o peso no chão e colocando sobre a prateleira.

— Se a chefe disse, então está ok.

— Você está esquisito...

Passo os dedos pelos cabelos molhados de suor, fazendo uma careta.

É, aquilo estava esquisito pra caramba.

E não era para ter ficado.

Mas de quem era a culpa?

— Ok, me desculpe, estou sendo um idiota.

— Ah... está estranho depois do...

— Ménage com o Oscar — completo, e ela ri.

Eu acabo rindo junto.

— Pronto, não está mais tão esquisito — diz ela com humor. — Amigos, lembra? — Pisca, pegando um peso e, então, o solta. — Caralho que troço pesado!

— Penny, você já malhou alguma vez?

Embora ela tenha um corpo incrível, não parece que academia seja seu forte.

— Não gosto dessa coisa de academia. Um monte de cara hétero bombado medindo os bíceps...

— Ei, está ofendendo. — Apanho um peso menor e passo para ela.

— Vai dizer que não fica em frente ao espelho se achando supergostoso? — Ela levanta o peso, e acho que pretende, com aquele movimento, malhar o tríceps, mas só vai conseguir uma lesão.

— Me acha gostoso? — Pisco e ela rola os olhos.

— Está vendo? É disso que estou falando!

— Está fazendo tudo errado! — Seguro seus braços para cima e me posiciono às suas costas e mexo suas mãos nos movimentos certos.

Percebo quando ela prende a respiração, e automaticamente dou um passo atrás.

Melhor não brincar com a tentação. Mas, porra, ela fica bem gostosa naquela calça. E eu sou apenas um cara.

Talvez devesse subir para o meu apartamento e tomar um banho frio.

Sozinho.

Mas, em vez disso, me vejo puxando assunto, enquanto a observo. Olhar não tira pedaço.

— E como foi seu primeiro dia de trabalho?

— Emma é legal. Mas ela não está muito disposta a desgrudar do Leo.

Eu disfarço um sorriso.

— Eu já imaginava.

— E seu chefe me assusta.

— O quê?

— Liam Hunter. Eu não consigo ficar na mesma sala que ele. Me dá calafrios!

Agora eu rio com vontade.

— Liam não morde.

— Tenho minhas dúvidas!

Ela muda o exercício e começa a fechar e abrir os braços, malhando o peito.

Aí. Sim.

Eu me coloco de frente agora.

— O Liam é meio intratável às vezes...

— Às vezes?

— Ok, a maior parte do tempo, é porque ele é tipo viciado em trabalho ou algo assim, é como ele funciona. Mas é um cara legal.

Ela me encara com um risinho.

— Você gosta dele, não?

Cruzo os braços em frente ao peito.

— Por que não gostaria? Somos amigos.

— Sei... Desde adolescentes. Poderia me contar essa história.

— Você é curiosa, não? — Uso o mesmo tom de sua pergunta.

Ela se afasta, colocando o peso no lugar, e vai para a bicicleta.

— Apenas puxando assunto. Qual o problema de me falar como foi sua adolescência?

— Não tem muita coisa bonita para se dizer. — Faço uma careta, lembrando dos anos de merda depois que meu pai morreu. Não que antes fosse uma sucessão de dias ensolarados. Jack Coen, meu pai, era um vagabundo durão que ganhava dinheiro fácil aliciando garotas na prostituição. E que não era muito amoroso e responsável, por assim dizer. Então, cedo eu tive que aprender a me virar sozinho. Algumas garotas que ele trazia para casa eram legais e ficavam por um tempo e eu me apegava a elas, mas sempre iam embora. Um dia percebi que era melhor não me apegar. Só podia contar comigo mesmo. E, quando Jack morreu, em decorrência de uma briga com outro cafetão, fui mandado para uma sucessão de lares adotivos fodidos e, sinceramente, não foi tão diferente do que morar com meu pai. Alguns lugares eram até melhores. Porém, eu já sabia. Não podia me apegar a ninguém. Eu só tinha um lema: seja mais forte que os outros, assim ninguém lhe passa a perna. Ou acaba com sua vida, como foi com meu pai.

E eu vivia bem assim, sozinho, até conhecer Liam.

— Não parece ter boas lembranças... — Amy me estuda.

Dou de ombros, forçando um sorriso, enquanto me coloco na bicicleta ao lado dela.

— Podia ter sido pior.

— Como conheceu o Liam? Sei que os pais dele morreram quando era criança, embora não tenha ideia de como... E ele foi adotado pelos Hunter, não? Não sei onde se encaixa nisso.

— Eu e Liam vivemos em lares adotivos por quase toda nossa adolescência.

— Você também?

— Sim, e num desses lares, nós nos esbarramos. E nos tornamos amigos.

— Sei... — Ela morde os lábios como se quisesse perguntar mais. Por que demônios as mulheres eram tão curiosas? — Então, satisfeita?

— Você está sendo bem evasivo, mas tudo bem.

— O que mais quer saber?

— Vocês brincavam de troca-troca?

— O quê? — Quase grito e ela ri com malícia.

— Você sabe, essa coisa de garoto “mostra o seu que eu mostro o meu”. “Primeiro eu, depois você”.

— Você tem uma mente muito pervertida, senhorita Grant. Isso te excita? Dois homens juntos?

— Está bem, se não quer contar. Acho que tem a ver com lealdade masculina né? Então vamos tentar mais uma pergunta, já dividiram a mesma mulher?

Porra, que diabos se passava na mente daquela garota?

— Liam é meio possesivo nesse departamento, se quer saber. Se ele tem interesse em alguma mulher, é melhor que ela olhe só para ele.

— Hum, mas agora ele tem a Emma.

— Sim, ele tem a Emma. E ela já se enfiou em alguma confusão por causa disso.

Os olhos de Amy brilham de curiosidade, mas eu defino que já falei demais.

— Bem, o papo está maneiro, mas preciso ir para casa.

Ela parece decepcionada e, por um momento, tenho vontade de convidá-la para ir comigo. Mas sei que não posso.

Quase consigo escutar meu pau suspirar quando aceno para Amy Grant e me afasto, voltando sozinho para meu apartamento vazio.


Capítulo 11

 

Amy

 

Uma semana se passou e eu sobrevivi.

Os dias na casa dos Hunter eram mais tranquilos e interessantes do que eu supunha no começo.

Emma era uma garota muito divertida e Leo um bebezinho bonzinho. E não tinha mais vomitado em cima de mim. A comida era boa pra cacete e eu realmente não sentia falta nenhuma das baboseiras veganas de Tiziano.

Só havia duas questões que faziam meus dias não serem tão fascinantes. Eu morria de medo de Liam Hunter e, justamente por isso, não tinha feito praticamente nada para pôr meu plano em andamento. Além disso, não via Ethan com a frequência que eu desejava.

Depois da noite na academia, quando eu pude constatar que a química entre nós ainda era tão poderosa quanto antes (eu tinha alguma esperança que o fogo tivesse se extinguido depois do episódio com o Oscar), ele praticamente não aparecia no apartamento dos Hunter. Claro que seus dias eram passados à volta de Liam Hunter e acredito que à noite ele deveria ter coisa melhor para fazer. Eu até fui na academia todas as noites, querendo reencontrá-lo “casualmente” por lá, mas ele não deu as caras.

E todo dia eu voltava para o apartamento dos Hunter e pensava em entrar no escritório de Liam, mas me faltava coragem. Porém, eu sabia que Carl não iria esperar para sempre. Até agora tinha conseguido enrolá-lo com alguma informação que conseguia com Emma Hunter, que, graças a Deus, era muito falante.

E foi para ela que eu perguntei sobre Ethan e Liam.

— Ah, eles se conheceram em um lar adotivo, quando tinham dezesseis. E se tornaram amigos — ela tinha dito em um dia em que arrumávamos o closet fabuloso de Leo.

Sim, Leo Hunter tinha um closet só seu, cheio de roupinhas minúsculas pendurados nos cabides dourados. Emma disse que aquilo fora obra de sua amiga Zoe, que era um tanto descompensada quando se tratava em gastar dinheiro, ainda mais dinheiro que não era dela.

— E como foi que Liam foi parar na casa do Hunter? — Fingi perguntar casualmente.

— Eles se meteram em uma briga. E Ethan foi preso.

— Sério?

— Sim, e ficou em uma instituição para menores.

— Liam também? — Deus, isso era melhor do que eu esperava.

— Não, Liam se machucou e foi parar no hospital de David Hunter. E ele decidiu adotá-lo.

— Nossa, que sorte a dele.

— Sim, ele teve muita sorte, mesmo porque os Hunter são pessoas incríveis. E olhe todas essas roupas aqui? — Ela apontou para uns macacões muito pequenos. — Nada disso serve mais! Ele está crescendo tão rápido, acho que precisamos sair para fazer compras.

E assim o assunto foi desviado e, pelo menos por enquanto, eu não quis mais fazer perguntas.

— Nós vamos viajar esse fim de semana, Amy, tudo bem para você? — Emma me comunica numa manhã, quando chego com Leo na cozinha. Liam Hunter está ali ainda, violentando os teclados de seu laptop com cara de poucos amigos, e eu não posso evitar de sentir um arrepio de medo, quando levanta o olhar para mim.

Tenho que conter a vontade de balbuciar coisas como “me desculpe por existir, senhor”. Mas logo percebo que ele não olha para mim e sim para Leo, como se certificando de que o menino está em segurança em minhas mãos. Graças a Deus, eu e Leo somos amigos agora, e ele apenas faz barulhos de nenê com a boca grudada nos meus cabelos.

— Tudo bem, Amy? — Emma insiste. Ela está sentada à bancada também, tomando uma grande xícara de café.

— É, tudo bem — concordo, mas não curtindo muito a ideia. Viajar com os Hunter? Oi?

Mas será que Ethan ia também? — eu me pergunto e a tal viagem ganha uma nova perspectiva com essa alternativa.

— Nós vamos para Idaho.

— Idaho? — Que diabos iríamos fazer em Idaho?

— Tem uns negócios lá de debate e seminários, de gente rica, esse povo do Liam. — Emma claramente não faz ideia do que está falando e Liam bufa.

— É uma série anual de debates e seminários, organizados pelo banco Firestone & Co. Grandes fusões são feitas nessas ocasiões e, sim, só são convidados seletos.

— Gente metida — Emma corrige com uma careta de nojo.

— Você não precisa ir se não quiser — Liam resmunga.

— Ah, claro, para você ficar falando no meu ouvido uma semana, poupe-me! Eu quero ir! Amy e Leo estarão comigo e será divertido. — Ela sorri para mim. — Parece que o lugar é um resort fino nas montanhas e, se tivermos sorte, vai ter até algum ator de Hollywood por lá para gente apreciar. — Ela pisca, e parece não notar ou não se importar com o olhar ameaçador de Liam em sua direção.

De repente nossas atenções vão para a porta, quando Ethan entra. E luto para nãos suspirar. Ele está bem apetitoso essa manhã com seu terno escuro.

— Bom dia, família. — Ele sorri.

Ah, tão sexy.

— Amy. — Ele relanceia o olhar rápido para mim e percebo que faz muito isso, apenas me olhar rápido, como se não quisesse ou não pudesse fixar sua atenção em mim.

Sim, eu entendia o que ele estava fazendo.

— Ethan também vai nessa viagem? — indago, sem me conter, enquanto Liam se levanta pegando o laptop.

— Você ainda não entendeu, Amy? Onde o Liam está o Ethan está atrás! — diz Emma, divertida, aproximando-se e pegando Leo do meu colo.

— Sim, claro que ele vai. — Liam passa por Emma, lhe dá um beijo na testa e acaricia o cabelo de Leo. Ele ficava quase humano assim, quando eu via o carinho que dedicava ao filho e à Emma.

Mas mesmo assim, eu me cagava de medo.

Ethan me lança um sorriso antes de sair e eu prendo um gemido.

Ah, sim, essa viagem seria bem interessante.


****


— Uau — murmuro quando saímos do carro no aeroporto e me deparo com um avião maravilhoso. Branco e reluzente.

— É um Gulstream IV — Ethan diz, como se isso significasse algo para mim.

Até parece. Eu só andava de classe econômica e quando tinha promoção.

Nem o marido de Ariana possuía um avião assim.

Sigo Emma e Liam, que vão na frente de mãos dadas. Liam está levando o bebê-conforto com Leo e eu me sinto meio supérflua ali.

— Tudo bem? — Ethan indaga.

— Só estou um tanto apreensiva, sem saber o que esperar desta viagem.

— Relaxa. Liam vai tratar de negócios e você vai poder ficar com a Emma torrando na piscina ou algo assim.

Eu sorrio para ele.

— E você? Vai poder torrar na piscina também?

Ah, seria divino poder ver Ethan de sunga. Bronzeado. Nadando, pingando água...

— Quem sabe? — Ele devolve meu sorriso. Tão cheio de promessas...

Entramos no jato, que por dentro é ainda mais incrível.

Emma e Liam se acomodam nas poltronas de couro creme e Liam ajeita o bebê conforto de Leo na frente deles.

Tenho vontade de perguntar se querem que eu cuide do bebê durante a viagem, mas tenho medo de falar até com Emma quando Liam está por perto.

Para meu deleite, Ethan senta ao meu lado.

A aeromoça bonita e solícita nos traz bebidas e tira-gostos. Liam liga o laptop e Emma, que usa óculos escuros não sei por que, parece já estar adormecida. Será que ela está bem? Ela parecia bem calada hoje. Ou sonolenta.

— Acha que Emma está bem? — pergunto baixinho para Ethan.

— Claro que sim.

— Ela parece meio aérea.

— Só me parece com sono. Deixe-a descansar.

— Acha que devo pegar Leo?

— O Liam está com ele, não se preocupe. Relaxa e curta a viagem. — Sorri, colocando fones de ouvido.

Suspiro e tento fazer o que ele falou.

E, para minha surpresa, consigo dormir boa parte da viagem também.

Acordo com o capitão dizendo que estamos nos preparando para pousar e bocejo, meio dolorida.

— Você é bonitinha dormindo, Penny.

Eu me viro e Ethan está me estudando.

Ele está muito perto. Muito... delicioso.

— Mas baba.

— Eu não babo!

— E ronca um pouco.

— Não ronco, não!

Ele ri e claramente está me provocando.

— Ei, Amy, olha essa paisagem! — Emma me chama de sua poltrona e percebo que agora ela parece mais animada. Tirou os óculos escuros e, aparentemente, o cochilo lhe fez bem.

— Sim, muito bonito. — Olho para as montanhas abaixo. Era tudo verde e lindo.

O avião pousa minutos depois e somos conduzidos por funcionários bonitos e bronzeados da Firestone & Co, que nos chama pelo nome, como se nos conhecesse há anos, e se apressam a levar nossas bagagens até utilitários esportivos ali mesmo na pista.

— Como eles sabem o nosso nome? — indago quando entramos em um carro.

Emma e Liam seguem no outro com Leo.

Ethan ri.

— Eles decoram tudo.

— Nossa. Para onde mesmo estamos indo?

— O mais lendário resort nas montanhas, o Sun Valley.

— Sério? Ainda não entendi direito que diabos é isso.

— O banco de investimento Firestone & Co organiza esse evento anual, para amigos e clientes. Grandes fusões são feitas aqui. E só é convidado quem é muito próximo ou aqueles com quem eles querem fazer negócio. Magnatas, investidores, banqueiros...

— Liam já foi convidado antes?

— Ele sempre é convidado, mas nem sempre vem. Liam não é muito sociável. Ele gosta de ser direto em seus negócios e não ficar se pavoneando no meio de figurões.

— Se é negócio, por que a Emma veio junto?

— Não são só negócios. Os debates são entremeados por atividades recreativas ao ar livre. Os figurões são convidados com suas famílias. Esposas, filhos, namoradas, netos. Vem todo mundo.


Nós chegamos ao resort e somos levados a um chalé próximo à piscina e à quadra de tênis. E o que dizer do lugar? É a porra de um chalé, mas dá para colocar três apartamentos em que eu dividia com Tiziano ali. A decoração tem um tom de sofisticação casual, como tudo o que permeia o lugar.

Eu sou colocada no menor quarto, mas, fala sério. Eu estou me sentido a princesa Kate. Há um banheiro lindo com uma banheira fabulosa, que eu não vejo a hora de experimentar, e um kit com o logo da Firestone & Co me aguarda em cima da cama.

— Estou me sentindo muito rica! — murmuro para mim mesma.

Escuto uma batida na porta e Ethan entra segurando minha mala.

Eu sinto um friozinho na barriga ao vê-lo.

— Gostou?

— Eu amei, estou me sentindo milionária! — Pulo na cama.

E antes que Ethan possa tecer algum comentário, Emma entra no quarto com Leo no colo.

— Pelo visto já está aproveitando! — Ela ri do meu entusiasmo e eu me sento na cama no mesmo instante, vermelha.

— Oh, me desculpe.

— Desencana! Também achei tudo lindo.

— Amy disse que estava se sentindo rica — Ethan diz, divertido, e eu o fuzilo com o olhar.

— Ah é? — Emma ri, divertida.

— Sim, talvez eu arranje um investidor bilionário neste fim de semana — comento, mordaz, e Ethan franze o olhar.

— Sabe que podemos dar um jeito nisso — Emma se anima, sentando ao meu lado e colocando Leo sobre a cama.

— O que está dizendo, Emma? — Ethan pergunta.

— Amy tem razão, está cheio de figurões aqui, e tem uns solteiros. Se Amy quer um namorado rico, podemos arranjar.

— Eu estava brincando — digo, apavorada, mas Emma parece muito excitada com a ideia.

— Félix!

— Quem é Félix?

— Félix Firestone!

— Félix Firestone? Tem a ver com o banco que organiza esse evento?

— Ele é o filho do dono do banco, meu bem!

— Emma, não seja maluca — Ethan resmunga.

— Não estou maluca!

— Ethan tem razão, Emma. Eu sou só a babá aqui! Acorda!

— E daí? Felix não vai se importar com isso. Amy, você vai adorá-lo. Vou te apresentar a ele no jantar de hoje! Ele é lindo, educado e tão gentil! Sabe que ele deu em cima de mim?

— Ai, meu Deus.

Emma ri.

— Eu ainda nem namorava com o Liam.

— Mas o Liam ficou puto — Ethan completa, e Emma rola os olhos.

— Liam fica puto com tudo!

— E você acha que esse Félix...

— Vou apresentá-los e vamos ver no que dá!

Ela se levanta.

— Vou trocar de roupa e ir para a piscina. Vamos Amy?

— O que o Liam está fazendo? — Ethan pergunta.

— Está checando a tal agenda social com tudo o que tem pra fazer aqui! Parece que ele estará muito ocupado o tempo inteiro.

— Vou ver se precisa de mim — Ethan diz com voz mal mal-humorada e se afasta.

Emma pega Leo.

— Ele ficou bravo por quê?

— Não faço ideia — desconverso. — Vamos mesmo para a piscina?

— Claro que sim. Vamos levar Leo para aproveitar o sol.

Encontro Emma meia hora depois e vamos para a piscina. Já tem algumas pessoas por lá, sobretudo mulheres. Muitos seios falsos e botox. Joias que poderiam sustentar um pequeno país do terceiro mundo e muita ostentação.

— É impressionante — murmuro, e Emma ri.

— Você se acostuma. — Ela se acomoda em uma espreguiçadeira, e eu faço o mesmo.

Um garçom latino bonitinho se aproxima, muito solícito, e pergunta se queremos bebidas ou qualquer coisa que solicitarmos e me pergunto se ele também está na lista. Ele é bem bonitinho mesmo.

— Quero uma pina colada — Emma pede e eu levanto a sobrancelha.

— Estou de férias! E não amamento mais!

— Acho que não devo beber, estou em horário de trabalho, não?

— Deixa de ser idiota, um Cosmo para minha amiga. — Ela pisca para mim.

E não sei porque, mas isso me deixa com uma sensação estranha por dentro. Por que eu sei que Emma não me chamou de amiga por uma maneira de dizer e sim porque realmente está começando a me considerar assim.

E ela não faz ideia de quais são meus verdadeiros objetivos.

Sorrio amarelo e volto a atenção para Leo no meu colo, me ocupando em passar protetor solar em sua pele sensível.

Nossas bebidas chegam minutos depois e a minha está realmente deliciosa. Emma faz um brinde.

— À nossa diversão!

— Não posso deixar de concordar! — Bato o copo no dela, enquanto ela se recosta, colocando os óculos escuros e suspirando.

— Acho que estava precisando disso. — Suspira, mas de repente ela se senta muito ereta e tira os óculos do rosto, olhando fixo em direção ao outro lado da piscina, onde uma mulher loira e deslumbrante surge usando um maiô vermelho chamativo. — Mas que diabos essa vagabunda está fazendo aqui?

— O quê? — balbucio sem entender. Está na cara que Emma se refere à mulher que agora também olha para nós. Mas seu olhar é diferente do de Emma, que está dardejando fogo. A mulher sorri e até acena. — Quem é aquela?

Emma desvia o olhar para mim, muito pálida.

— Vanessa Vanderbilt. A ex-noiva de Liam.

Oh. Oh.


Capítulo 12

 

Amy

 

Volto a atenção para a mulher loira e linda do outro lado da piscina, cumprimentando algumas outras mulheres. Hum, aquilo ia ser realmente interessante...

— Eu não sabia que ela estaria aqui — Emma sibila ao meu lado, e eu a encaro. Ela está claramente furiosa.

— Não sabia que o Liam tinha sido noivo antes — comento. O que não é totalmente verdade. Eu sabia alguma coisa sobre isso, sim, mas não muito. Afinal, aparentemente Liam e a senhora em questão tiveram algum tipo de compromisso há muito tempo. Sabia-se muito pouco sobre o Liam antes dele se tornar o Leão de Wall Street.

— Foi há milhões de anos, mas ela ainda me irrita totalmente — Emma responde, ainda com o olhar mortal fixo na ex de seu marido.

Bem, eu não a culpava. Qual atual tinha simpatia pela ex?

— Vanessa Vanderbilt... Tem alguma coisa a ver com Elliot Vanderbilt, o magnata da indústria de comunicação em Hollywood?

— É a esposa dele.

— Nossa!

— E é uma grande interesseira, isso sim! Ai, merda, ela está vindo pra cá. — Emma se apruma e, sem aviso, retira Leo do meu colo, como se eu fosse de alguma maneira entregar o garoto em oferenda à Vanessa Vanderbilt.

— Emma Jones, que surpresa — Vanessa exclama com a voz melodiosa e um sorriso calculado. Ela é realmente bonita, embora pareça que sua maquiagem pesada esteja um tanto over para aquela hora da tarde.

— Emma Hunter — Emma corrige. — E posso dizer o mesmo, que surpresa vê-la por aqui. — O tom de Emma não disfarça sua insatisfação.

— Eu sabia que Liam estaria aqui, mas não tinha certeza se você viria junto, afinal, acabou de ter esse lindo bebezinho! — O sorriso de Vanessa fica mais doce, enquanto ela se inclina com a mão estendida em direção a Leo.

Emma se levanta de um pulo, impedindo que Vanessa toque no bebê.

Eu faço o mesmo, preocupada com a animosidade que aumenta a cada segundo.

A mulherada em volta da piscina acompanha o diálogo com interesse. Bando de abutre!

— Meu filho tem seis meses!

— Sério? Achei que tivesse menos, afinal não voltou à forma ainda. — Vanessa mede Emma, que veste um maiô preto. E, porra, Emma não está gorda! Óbvio que a loira com cimento na cara disse isso para irritar Emma. E conseguiu, porque vejo os olhos de Emma se arregalarem de ultraje.

Seguro seu braço.

— Emma, acho que devemos entrar, está ficando com muito sol para o Leo.

— E você quem é? — Vanessa volta a atenção para mim, me medindo.

— Amy Grant — Emma responde por mim —, minha babá.

— Ah, claro. Imagino que você deve ter um monte delas. Se eu tivesse filhos também teria um monte de vocês à minha volta.

— Mas não tem e acho que deveria pensar em nunca ter, se acha que devem ser criados por babás! — Emma praticamente rosna.

Meu Deus. Quase posso ver laser saindo de seus olhos como nos desenhos animados.

— Ah, querida, mas não sou como você, quantos anos tem? Vinte? E já com um bebê, realmente não é vida para mim, gosto de manter meu corpo em forma e o interesse do meu marido.

Wow.

— É bom mesmo que se preocupe com seu marido e não perca tempo olhando para o marido das outras — Emma dardeja.

— O que está querendo dizer? — Vanessa ri. — Que eu tenho interesse no Liam? Sabe muito bem que isso é ridículo! Eu larguei o Liam, não o contrário, e, aliás, eu poderia estar com ele até hoje se quisesse.

— Ora, sua... — Seguro Emma com mais força agora.

— Emma, vamos entrar! — Praticamente a arrasto pela área da piscina até o chalé.

Emma está possessa quando entramos, e tiro Leo do colo dela quando o bebê começa a chorar, possivelmente assustado com a fúria da mãe.

— Aquela... aquela...

— Emma, se acalma!

— Acalmar? Se não fosse terrível encontrar aquela vaca aqui, ela ainda ficou me provocando, você viu!

— Sim, eu vi. Mas era o que ela queria, provocar. Mulheres como Vanessa Vanderbilt vivem para isso.

— Mas ela me irrita tanto!

— Bem, não posso te culpar por ter ciúme.

— Eu não tenho ciúme.

— Ok, se diz!

— Não é isso. Você não sabe a história toda.

— Hum, pode me contar então. — Eu sorrio, encorajando.

Mas Emma sacode a cabeça.

— Não, quer saber, não quero falar sobre isso! Não vou deixar essa piranha da ex do Liam afetar meu fim de semana.

— É, tem razão. — Tento não parecer desapontada. Porém, uma outra ideia se forma em minha mente.

— Eu vou dormir. Não dormi muito na noite passada... — Emma diz por fim.

— Claro, vá descansar.

— Você pode ficar com o Leo?

— Emma, não seja boba, é para isso que estou aqui.

Ela sorri agradecida.

— Obrigada. E obrigada por ter me segurado lá na piscina. Teria arrancado cada fio do cabelo da Vanessa se não tivesse me impedido.

— Aposto que seria fácil, boa parte daquela juba é aplique. Tenho certeza.

Emma ri com mais vontade agora, e vai para o quarto.

Eu olho para Leo.

— Então amiguinho, que tal a gente voltar para a piscina?

Eu me encaminho com o bebê de volta à área da piscina, rezando para que Vanessa Vanderbilt continue por lá.

E, para meu deleite, ela ainda está. Esparramada em uma espreguiçadeira, mexe em seu celular com uma mão e segura um drink vermelho em outra.

Eu respiro fundo e me aproximo.

— Não conte a sua mãe, hein? — murmuro para Leo e sento ao lado de Vanessa, como quem não quer nada.

— Ei, não é a babá da Emma Jones?

Eu sorrio para ela, com falsa timidez.

— Sim, senhora.

— Ah, não me chame de senhora, credo! Me chame de Vanessa.

— Claro, Vanessa.

— Sua patroa está mais calma? Achei que ia me jogar na piscina. Ela precisa se controlar, ou essa coisa agressiva tem a ver com hormônios da gravidez? Acho que ouvi falar algo sobre isso.

Eu me seguro para não rolar os olhos.

— Ela só ficou um pouco chateada por você estar aqui — digo, fingindo um tom entre culpado e conspiratório.

— Ah, é? — Vanessa retira os óculos de sol. — Não sabia que ela me detestava tanto.

— Você é a ex do marido dela, acho que entende, não é?

Vanessa ri.

— É, não posso culpá-la, mas não é como se eu quisesse alguma coisa com o Liam. Pelo amor de Deus, terminamos há séculos atrás.

— Sério? E como foi?

Vanessa toma um gole de bebida e se vira para mim, e ali eu percebo que Vanessa é daquelas que gostam de falar. E muito.

Eu tirei a sorte grande.

— Nós estávamos na mesma faculdade. E ele me chamou pra sair, mas era um pobretão.

— Liam Hunter, pobretão?

Ela sacode a cabeça afirmativamente.

— Sim, querida. E, quer saber? Foi o fato de eu ter dito a ele que só lhe daria uma chance se fosse rico, que o motivou a ganhar dinheiro.

— Sério?

— Sim — ela confirma com orgulho. — Eu fiz o Leão o de Wall Street.

Wow. Por essa eu não esperava.

— Enfim, ele foi investir na bolsa e, o que posso dizer? O filho da mãe é bom nisso! E voltou com um milhão na conta! Aí eu não podia recusar, não é?

— Então Liam era apaixonado por você.

— Claro que sim. Demais! — Ela esboça um sorriso debochado. — Nós fomos morar juntos num apartamento incrível em Upper Side e ficamos noivos, mas comecei a me cansar de sempre ficar sozinha enquanto ele ganhava mais dinheiro.

— E por isso terminou tudo? — Ela era louca ou o quê, por terminar com Liam Hunter? Bem, Emma que teve sorte.

Ela dá de ombros.

— Eu era jovem e ambiciosa. E também impaciente, quando o Elliot apareceu e quis me conquistar, eu fui. Ele era muito mais rico que o Liam na época. Um homem mais velho que não precisava provar nada a ninguém, e muito menos perder anos em trabalho árduo para conquistar uma fortuna.

— Como o Liam.

— Exatamente.

— E o Liam aceitou assim, fácil?

— Fácil? Imagina. Ele e aquele segurança dele deram uma sova no Elliot.

— Ethan?

— É esse o nome dele? Aquele guarda-costas bonitão?

— Sim, é esse o nome dele.

— Esse mesmo. Eu convenci o Elliott a não prestar queixa, senão Liam e o tal Ethan estariam em maus lençóis.

— Nossa, que história... Então Emma sabe de tudo isso e te odeia?

— Na verdade, ela não sabia de nada sobre mim. Pouca gente sabe. Quando nos envolvemos, Liam ainda não era o Leão de Wall Street. Então eu estava em Nova York e encontrei Emma em uma festa com Liam, ficou claro que ela não sabia sobre mim e eu tinha que desfazer esse mal-entendido.

— Você contou a ela?

— Contei. E ela ficou muito brava. Achei até que ia terminar com o Liam.

— Você queria isso? — indago com cuidado.

— Pouco me interessa na verdade. Mas foi divertido.

Hum, então Vanessa não tinha nenhum interesse real em Liam. Nisso Emma podia ficar tranquila. Mas a mulher era provocadora.

— E eles não terminaram, em vez disso se casaram. Mas parece que Emma não superou... Deve ser a idade, não é? Ela é muito nova. E aguentar um cara como Liam, não é para qualquer uma. Eu, sinceramente, acho que esse casamento não vai longe. E sei como Liam pode ser.

— Liam pode ser como?

Ela abaixo o tom.

— Ainda não sabe?

— Sei o quê?

— Vanessa, querida, vamos para a sauna? — Uma mulher com um seio tão grande que parecia uma bexiga e um cabelo armado de laquê a chama, e Vanessa se levanta.

— Preciso ir. Adorei conversar com você. — E sem mais, ela se afasta seguindo algumas mulheres.

Droga!

Volto com Leo para o chalé e me tranco no quarto. Leo está sonolento e eu o troco, dou mamadeira e o coloco para dormir facilmente. E, então, passo um recado para Carl, apenas para me exibir.

“Você não sabe o quão interessante está essa viagem.”

E antes que ele possa responder, eu pego meu laptop.


Acabo dormindo depois e quando acordo já é noite, e Leo não está mais do meu lado na cama.

Levanto, assustada, e vejo que no lugar da criança há um bilhete e um vestido dourado.

Por um momento louco, eu acho que o rei dos duendes levou o bebê e deixou um vestido no lugar, tipo aqueles pactos.

E nem fumei nada hoje! Penso, me estapeando mentalmente e pegando o bilhete.


Amy, levei Leo comigo para que possa se arrumar para o jantar hoje à noite. Não sei se trouxe algum vestido, então estou lhe emprestando um meu. Espero que sirva.

Emma.


Ela está louca ou o quê?

Como é que eu ia a algum jantar com aquela gente metida se tinha que cuidar do bebê? Antes que eu possa ir atrás de Emma e perguntar se ela tinha fumado algum, escuto uma batida na porta, antes da mesma ser aberta e uma garota morena e bonita aparecer no meu campo de visão. Ela se veste de branco, embora seja quase informal, um conjunto de camiseta e short e um logo do hotel do lado direito da camiseta polo.

— Olá, eu sou Marina. — Sorri, cordial, e reparo que ela segura o bebê conforto de Leo com uma mão. Graças a Deus ele não foi levado pelo David Bowie. — Eu sou uma das babás do resort, cuidarei do bebê hoje.

— Ah, agora começo a entender...

— Eu vim pegar os brinquedinhos que ficaram aqui.

— Claro! — Aponto para a cômoda onde tem alguns mordedores de Leo.

A moça sorridente pega os brinquedos e sai, fechando a porta atrás de si.

Eu suspiro, meio tonta da soneca. Ainda achava um tanto maluco a Emma querer que eu participasse de um jantar chique, mas, por outro lado, acho que seria muito divertido. Colocar uma roupa bonita, beber bons drinks e pagar de rica por um dia. Que mal tinha? E podia ser bom para minha missão...

Com essa nova perspectiva, entro no chuveiro e algum tempo depois saio do quarto, trajando o vestido de Emma, maquiada e de salto alto. Consegui até fazer um penteado elaborado no meu cabelo.

— Espero que aquele demônio não apareça na minha frente de novo. — Escuto a voz alta de Emma dardejar quando chego a sala do chalé. Ela usa um vestido verde lindo, embora sua maquiagem esteja um tanto errada. Está tentando colocar uma sandália no pé, enquanto Liam bebe um whisky e Ethan está parado na porta, todo de preto.

Uau.

Assim que meus olhos pidões se prendem nele, derreto inteira e esqueço o drama de programa da tarde rolando entre o casal na sala.

Ethan está delicioso. Mais do que nunca. Se é que isso é possível. E o jeito que me olha... faz uma cascata descer para minha calcinha.

Ah, estou perdida.

E estou amando.

Quem liga?

— Você poderia parar de ser ridícula! — Liam diz com uma fúria controlada e Emma fica de pé, finalmente conseguindo colocar a sandália.

— Ah, claro, para você está tudo bem. Mas eu já aviso, se aquela piranha chegar perto de mim, arranco o aplique dela. Não quero nem saber.

Ethan disfarça um riso. Liam revira os olhos e eu juro por Deus que, se não me cagasse de medo de Liam Hunter, eu lhe daria um soco no estômago. Ele não tinha sensibilidade nenhuma?

— Emma. — Eu me aproximo.

Ela olha para mim e então sorri.

— Oh, você está linda.

— Obrigada. Realmente não esperava ser convidada, ainda não tenho certeza se é uma boa ideia.

— Ah, é sim! Tem essa babá do resort que pode ficar com o Leo e acho que preciso de uma amiga hoje. — Seus olhos imploram e eu tenho pena.

Era fácil esquecer que Emma tinha apenas vinte e três anos e estava casada com Liam há pouco tempo. Ela era só uma menina comum jogada na cova dos leões.

— Quem fez sua maquiagem? — pergunto, vendo o tanto de sombra verde que ela jogou no olho.

— Eu mesma. Está horrível?

— É, não... Mas eu posso ajeitar.

— Ah, obrigada! Zoe sempre me ajuda, ou eu contrato alguma maquiadora profissional, não sou boa para essas coisas.

— Tudo bem, eu sou boa! — Pego sua mão e a levo para o banheiro, ajeitando sua maquiagem até que ela fique deslumbrante.

Assim com um lindo vestido de grife e maquiagem pesada dava para entender o que Liam Hunter via nela. Não que ela não fosse uma moça bonita e de uma personalidade vibrante. Mas, fala sério, o marido dela era Liam Hunter. Lindo, poderoso e assustador Leão de Wall Street. Não era à toa que estivesse ainda toda insegura.

— Ah, ficou ótimo! — Ela se olha no espelho e se vira para mim, agradecida, e me dá um abraço.

De novo me surpreendo com a sensação opressora no meu estômago.

Não quero gostar de Emma Hunter. Mas ela está tornando minha missão de não me apegar muito difícil.

— Agora vamos nos divertir!

— Não fique preocupada com a Vanessa — me vejo dizendo.

— Vou tentar! — Faz uma careta e eu sorrio para ela.

— Vanessa é uma vaca, mas nunca vai roubar o Liam de você. Ninguém vai.

— Ela poderia tentar, mas eu acabaria com ela antes.

Eu rio.

— Eu te ajudo, se precisar.

Seguimos de mãos dadas e passamos pelos homens na sala, que apenas trocam um olhar, como se dizendo “melhor nem perguntar”, e seguimos para a sede do resort, através do caminho iluminado por belas tochas douradas.

Sinto-me quase como a cinderela na noite do baile.

Uma cinderela que finge ser uma babá, mas que nesta noite está fingindo ser rica.

Que finge não estar curtindo muito seguir de mãos dadas com aquela garota incrível, que por acaso é a esposa do Leão de Wall Street, e que está facilmente se tornando uma amiga.

Que finge ser apenas amiga de um cara que está deixando seu mundo de cabeça para baixo.

E que pode botar tudo a perder.

Ah, essa cinderela está muito enrolada...


Capítulo 13

 

Amy

 

Nós só damos alguns passos, quando Liam surge e puxa Emma para perto.

— Ei, o quê? — Emma fica confusa, mas Ethan já puxa o meu braço para seguirmos.

— Vamos andando.

— Mas a Emma...

— Liam quer falar com ela.

— Ah, entendi. É bom mesmo!

Ethan me lança um olhar enviesado. E então reparo que seus dedos estão ainda cingindo meu pulso.

E me arrepio.

— Ah, ele foi meio safado com esse lance da Vanessa.

— Você acha é?

— Não se faça de idiota. A Emma estava brava e com certa razão.

— Liam terminou com a Vanessa faz uma vida! Ela não significa nada para ele.

— Todos nós sabemos disso, mas é difícil para a Emma. Porque Vanessa fica provocando.

— O que você sabe?

— Emma não falou? Eu estava com ela na piscina. E a Vanessa é bem venenosa.

— Vanessa faz isso por diversão. Emma tem que aprender. Ela vai ter que lidar com muitas mulheres que passaram pela vida do Liam por aí.

— Isso é cruel.

— Ela sabia disso quando casou com Liam.

— Não faz ser mais fácil.

De repente ele solta meu braço, pegando o celular, que vibra no bolso. Lê algo antes de guardá-lo novamente.

— Devemos seguir. Talvez Liam e Emma demorem um pouco.

— Eles estão brigando?

— Não é da nossa conta, não é?

— Tem razão.

Ele me mede de novo.

— Você está linda, aliás.

Eu coro de satisfação, um prazer quente se enroscando em meu ventre.

— Você também, aliás.

Ele sorri de lado e me dá vontade de ficar na ponta dos pés e beijar seu rosto. Ou morder. Ou lamber. Enfim...

Chegamos no grande e elegante salão e nos misturamos aos convidados Vips. Ethan pega duas taças de espumante e passa uma para mim.

— Hum, isso é bom! — Experimento um gole. Maravilhoso. Nossa, ser rico era mesmo um negócio bom.

— Tudo aqui é de primeira linha.

— Estou vendo...

Circulamos e Ethan me explica um pouco como funciona aquelas ocasiões.

— Não se engane quando vê todo mundo circulando, parecendo muito à vontade. Existe uma hierarquia tácita estabelecida. A distância entre os chalés de cada hóspede e a pousada onde as reuniões acontecem, os almoços ou jantares aos quais cada um é convidado, e com quem se sentam. Tudo é milimetricamente orquestrado.

— Devo entender que vamos ser convidados para jantar nos estábulos?

Ele solta uma sonora gargalhada. Estremeço.

— Estamos com o Leão, não se preocupe.

Quando somos chamados à mesa para o jantar, Emma e Liam chegam também e estudo Emma para ver se ela está brava ou algo assim, mas eles parecem relaxados. Graças a Deus eu não vi Vanessa em lugar algum.

Emma se adianta e me puxa pela mão.

— Amy, vem aqui, quero te apresentar alguém.

E noto que estamos indo em direção a um homem alto e magro, porém elegante.

— Félix! — Emma o chama e me dou conta de que aquele era o ricaço que ela queria me apresentar.

O homem sorri ao vê-la.

— Emma, que bom revê-la.

— Eu digo o mesmo. E quero lhe apresentar uma amiga. Esta é Amy Grant.

Félix me mede com claro interesse masculino. E eu quero dizer que senti qualquer coceirinha. Mas nada.

Acho que não é hoje que eu vou me apaixonar por um bilionário.

— Muito prazer. — Félix segura minha mão, educado. Ele parece ser um cara gentil.

— O prazer foi meu. Aliás, que bela reunião. — Sorrio. Quem sabe eu conseguisse fazer amizade com ele. Seria bom. Muito bom.

— Meu pai que tem todo o crédito.

— Sim, cadê seu pai? — Emma pergunta animada. — Vai adorar o pai do Félix, Amy.

Oh, Deus.

— Emma, vamos! — Liam aparece e segura o braço de Emma. — Félix, já está monopolizando minha esposa? — ele fala em tom de brincadeira, mas há um fundo de ameaça ali.

Recordo-me de Emma dizendo que Félix já deu em cima dela.

— Eu estava apresentando Amy a Félix, querido. — Ela lança a Liam um olhar de “hoje eu sou cupido, me deixa." Liam apenas rola os olhos impacientes.

— Claro, agora que já foram apresentados, podemos ir comer. Estou faminto.

Ele acena e leva Emma para longe.

E eu fico na companhia de Félix.

— A senhorita daria a honra de me acompanhar no jantar?

— Claro — respondo. Por que não?


Felix é mesmo um cara muito gentil e educado. Não é daqueles que ficam passando do limite ou se achando dono da mulher apenas porque ela está disponível. Ele é simpático e atencioso, embora às vezes seus olhos recaiam sobre meu decote e sua mão toca minha pele para chamar minha atenção para algo.

Seria realmente agradável e interessante se eu não sentisse um olhar na mesa vizinha me queimando. Toda vez que olho para a mesa onde os Hunter estão, vejo Ethan nos encarando com uma expressão de assassino em série.

E não vou negar. Isso me deixa com um tesão danado.

Eu nunca fui esse tipo de garota. Que gosta de provocar um cara, causar ciúme e acha atraente o fato dele ficar todo possessivo. Mas com Ethan eu estou descobrindo que amo todo esse lance.

E cada vez que ele olha para mim, eu me inclino mais para Félix, toco seu braço, digo algo em seu ouvido, e quase posso ouvir Ethan rosnar.

Sim, ele está com raiva. E eu estou achando divertido.

Quando o jantar termina, os convidados se espalham pelo salão com seus drinks para terminar de curtir a noite e contar vantagem. Vejo Liam conversando com dois senhores de meia idade e parece ser assunto de negócio. Ethan está à sua volta, alerta, mas o seu olhar está em mim, enquanto sigo com Félix.

— É uma pena que estou com todas as minhas horas preenchidas — Félix diz —, mas essa noite estou livre.

Seu olhar é cuidadoso, todavia a expressão não deixa dúvida. Bastava eu sorrir e segurar seu braço e estaria na sua cama no fim da noite. Claro que eu não queria ir para cama com Félix, mas queria muito passar mais horas com ele, conversar mais...

E estou pensando se seria prudente aceitar o convite, apenas para dar o fora antes do fato consumado, quando uma sombra se coloca ao meu lado.

— Amy, precisa voltar ao chalé. — A voz de Ethan reverbera quase no meu ouvido.

Eu estremeço de susto. E algo mais.

— O quê?

— Me desculpe, Firestone — continua, com a atenção em Félix —, mas deve saber que Amy está aqui para cuidar do filho do Liam e da Emma, e ela precisa voltar.

— Tem uma babá com o bebê — balbucio confusa.

— Ele está chorando e ela não o conhece. Liam pediu que eu a levasse.

Ah, merda!

Olho para Félix com um olhar de desculpa.

— Me desculpe.

— Tudo bem. Nos vemos outra hora, com certeza. — Ele sorri.

Ethan segura meu braço e me arrasta porta afora.

— Leo está bem? — pergunto, agora um pouco preocupada.

Ethan não responde, ele me arrasta mais apressadamente e reparo que não estamos indo para o chalé e sim para um ponto escuro atrás da piscina.

— O que...

— Cala a boca, senhorita Grant, já falou demais — Ethan rosna com fúria, e então me vejo sendo puxada para uma parede de musgo e Ethan me prensa nela. No instante seguinte sua boca está me calando.

Oh. Meu. Deus.

Não vou negar que já tinha fantasiado muitas vezes com como seria beijar Ethan Coen. Mas, puta merda, aquilo é muito, muito melhor do que qualquer fantasia.

Ele tem um beijo duro, sua língua força a entrada e arrebata a minha com maestria, enquanto a mão grande segura minha cabeça no lugar, puxando meus cabelos sem delicadeza alguma. E quem se importa? Eu certamente que não. Nem dá para se preocupar com o meu coque se desfazendo por seus dedos, quando arrepios sucessivos de prazer traspassam o limite dos meus lábios sendo beijados e varrem meu corpo inteiro, derretendo tudo por onde passa, me deixando fraca e entregue, só suspirando e querendo mais.

Ah, por favor.

E então o mais está ali, quando a outra mão enorme escorrega por cima do vestido, pelas minhas costas e pousa em minha bunda, com um aperto daqueles bem dados, me levando para mais perto dele, nossos quadris se roçando, buscando um ao outro, e, oh, eu sinto sua ereção.

Sim. Sim. Sim.

O prazer agora vem direto daquele ponto no meio das minhas pernas, e não hesito em abri-las. Descendo minhas próprias mãos ansiosas, agarro sua bunda e o puxo para mim. Ah, isso! O gemido que nós dois soltamos, se mistura na noite escura e a boca descola da minha para traçar um caminho quente e úmido por meu rosto afogueado, e chegar até minha orelha, que ele morde.

— Oh, Deus — sussurro, com as pernas feito geleia, me esfregando nele desavergonhadamente e não é suficiente. Ainda mais quando Ethan puxa minha cabeça para trás, para que sua boca pecaminosa alcance meu pescoço, que ele lambe, beija, morde, como uma iguaria rara, e só consigo gemer cada vez mais alto, contorcendo-me de ansiedade. A mão que estava no meu cabelo, desce e agarra um seio, apertando, enquanto ele geme roucamente de satisfação.

— Porra, você é muito gostosa, senhorita Grant.

Sorrio na escuridão, percebendo que estou muito perto de deixar que me foda bem ali, no cantinho escuro, contra o muro... basta eu pedir...

— Eu quero foder você! — Ele volta a boca para a minha, mordendo meus lábios, e estremeço de expectativa quando roça sua ereção em mim, despudoradamente, deixando claras suas intenções sacanas, os dedos achando um caminho por entre meu decote para encontrar meu mamilo.

— Ah, sim — murmuro, infiltrando uma mão em seus cabelos e lambendo seus lábios. — Quer dizer... não acho uma boa ideia. — Ainda resta um pouco de sanidade em mim. Em algum lugar da minha mente, há um sussurro dizendo que aquilo não vai acabar bem... que tenho coisas mais importantes para pensar no momento, mas, inferno, Ethan está esfregando seu pau em mim. Pelo amor de Deus, quem liga para qualquer outra coisa que não seja o fato de que ele quer me foder bem fundo e forte até meus olhos rolarem para fora das órbitas?

— Não? — ele pergunta lentamente, fazendo um arco completo com o quadril e, porra, ele é bom nisso. Fecho os olhos e solto um gemido longo, enquanto ele continua a me matar devagar, a mão descendo para meu quadril e puxando meu vestido para cima, começo a sentir o vento nas minhas pernas, relevadas lentamente, enquanto Ethan continua a me torturar com seus beijos.

Então, como se vindo de muito longe, escuto vozes alteradas e passos. Reteso-me, abrindo os olhos, ao mesmo tempo em que Ethan para os movimentos e levanta a cabeça. Abro os olhos para olhar na mesma direção que ele, que solta um palavrão ao ver a cena.

Perto da piscina Emma está gritando com Vanessa. Que também grita de volta, embora a gente não consiga escutar o quê.

— Merda — Ethan rosna e me solta.

Eu cambaleio, ainda tonta.

Começando a sentir um ódio mortal de Vanessa Vanderbilt.

Quem aquela vaca pensa que é para atrapalhar o que estava começando a ser a foda da minha vida?

— Preciso parar isso. — Ethan relança um olhar de desculpa para mim e eu faço uma careta.

— Vá em frente!

Ele sai apressadamente e eu apenas ajeito meu vestido no lugar, antes de ir atrás dele. Isso dura poucos segundos, mas quando levando o olhar novamente, Emma está agarrada ao cabelo de Vanessa, que tenta unhá-la e grita impropérios.

— Me solta, sua louca!

— Eu vou arrancar este cabelo falso, sua piranha! — Emma grita e Ethan agora corre e eu faço o mesmo, e com horror, antes que Ethan consiga alcança-las, as duas mulheres engalfinhadas caem na piscina com um estrondo.

— Caralho! — Ethan pula atrás e eu não sei o que fazer.

As pessoas, alertadas pelos gritos, começam a se aproximar e eu só me pergunto onde diabos está Liam Hunter.

Ethan retira Emma que ainda está xingando de dentro da piscina. O vestido arruinado e os cabelos pingando.

— Me solta, eu vou acabar com essa vaca! — ela grita.

— Emma, para com isso! — Ethan tenta contê-la.

Vanessa é retirara da piscina por um segurança. Um homem que parece ser seu marido, um cara de uns quarenta anos trajando um bigode espeço coloca seu paletó em cima do vestido bege que está totalmente transparente.

— Vanessa, pelo amor de Deus, que foi isso?

— A culpa não é minha! É daquela ninfeta que Liam arranjou!

O homem olha para Emma.

— Ah, agora entendo, essa é a esposa de Liam Hunter.

— Que diabos... — Escuto uma voz atrás de mim e congelo.

Liam Hunter está se aproximando com o rosto furioso de Emma e Ethan.

— Que porra está acontecendo aqui? — Seu olhar preocupado varre Emma. — Emma, você está bem?

— Você devia segurar sua esposa, que agrediu a minha — Vanderbilt dardeja e Liam se vira para o homem com um olhar mais frio que o iceberg que afundou o Titanic.

Vanessa está chorando agora, numa interpretação digna de Oscar, enquanto os convidados esperam pelo próximo ato como se estivessem numa sala de cinema. Só faltou a pipoca.

— Está acusando minha esposa do quê? — Liam sibila.

— Sim, Emma me agrediu! — Vanessa choraminga com voz de mártir.

— Ela que começou! Ela me provocou! — Emma grita.

Liam agora lhe lança um olhar exasperado.

— Sério isso?

— Liam — Ethan diz, numa voz que claramente pede calma.

— Acho melhor todo mundo entrar — Félix vem em socorro.

E um senhor, que acho que é o pai dele, também diz o mesmo, com uma voz mais firme, e todo mundo anui. E a plateia, insatisfeita ao ser privada do fim do dramalhão, começa a dispersar.

— Acho melhor levar as senhoras para se secarem — o Firestone mais velho diz.

— Sim, concordo — Ethan pega Emma no colo, sem cerimônia, e segue com ela em direção ao chalé.

Deixo meus olhos descansarem em Liam Hunter, que está claramente contendo sua fúria. Ele segue com o olhar Emma e Ethan desaparecendo e então sua atenção recai no casal Vanderbilt.

Elliot está consolando a esposa, passando o braço em volta de seu corpo trêmulo, pronto para levá-la em direção ao próprio chalé, mas Liam se coloca na frente deles.

Oh. Oh!

— Você — ele aponta o dedo longo para Vanessa —, se eu vir você de novo perto da minha esposa, se falar com ela, se sequer olhar pra ela, eu arranco seus olhos.

— Ei, Hunter, foi sua esposa quem começou — Elliot intervém.

— E, você — ele aponta o dedo em riste agora para Vanderbilt. E não passa despercebido a mim o medo nos olhos do homem —, segure sua esposa. Se ela chegar perto da Emma da novo, vou responsabilizar você também.

— Você e o brutamontes do seu segurança vão me bater de novo? Eu processo vocês!

— Isso se você estiver vivo para tentar! — Liam resmunga e, dando a conversa por encerrada, segue com passos duros em direção ao chalé.

Eu ainda fico paralisada ali, enquanto os Vanderbilt se afastam em outra direção.

Nossa, aquilo parecia filme de máfia!


Quando chego ao chalé, Ethan está na sala, dispensando a babá que cuidou de Leo.

— O bebê está dormindo. O deixei no quarto da Amy, tudo bem? — a moça avisa.

— Claro, eu cuido dele agora, obrigada — repondo, entrando na sala.

A moça sai do chalé e eu encaro Ethan.

— Nossa, que noite hein?

Ele passa os dedos pelos cabelos. Ele ainda está todo molhado.

— Pois é. A tagarela perdeu a cabeça.

— Vanessa deve ter provocado — defendo Emma.

— Eu sei.

— Liam ameaçou os Vanderbilt. Parecia um mafioso siciliano!

Ethan ri, ainda meio tenso.

— Esse é o Liam. Espero que eu não tenha que dar uma prensa naquele pateta de novo.

— Então você é tipo um mafioso também — digo, com um sorrisinho que ele retribui e então nós dois estamos de novo naquele lugar só nosso, relembrando o que rolou antes de sermos interrompidos pela briga de Emma e Vanessa.

E eu sei que pela cabeça dele está se passando a mesma coisa que na minha.

O que será que teria acontecido? Acho que era muito óbvio...

— Amy...

— Ethan...

Nós dissemos ao mesmo tempo, mas antes que consigamos prosseguir, Leo chora.

— Oh, acho melhor eu ir vê-lo...

— Pode ficar com ele? Liam está lá dentro com a Emma e acho que eles terão que resolver essa contenda entre eles hoje.

— Claro que sim. É meu trabalho. Você acha que a Emma está em mal lençóis?

— Não se preocupe com a Emma e o Liam, eles se entendem.

— Ok, boa noite.

Eu vou para o quarto, pego Leo e o acalmo.

É, parece que o meu feitiço de Cinderela tinha acabado antes mesmo da meia noite.


Capítulo 14

 

Amy

 

Acordo cedo na manhã seguinte e Leo não está no seu carrinho. Imagino que tenha sido Emma que o levou em algum momento. Mas que bela babá eu estava me saindo, se nem via o bebê sendo levado.

Levanto-me e tomo um banho e me arrumo, aproveitando para refletir sobre os acontecimentos da noite passada. Ou melhor, todo o episódio de pegação com Ethan.

E que pegação! Só de lembrar já sinto um frenesi pelo corpo. Devia imaginar que, quando eu e Ethan parássemos de correr em círculo, o negócio ia pegar fogo.

Espera: em que momento eu tinha decido parar de correr em círculo?

Bem, quando a boca de Ethan estava desbravando a sua, querida! Ou quando a mão grande e cheia de dedos espertos dele estava em várias partes estratégicas de seu corpo, ou quando você decidiu se esfregar nele bem desavergonhadamente! Minha consciência grita.

Ok. Aquilo foi inesperado. E muito diferente da decisão que tínhamos tomado juntos de não ultrapassar a linha “somos colegas de trabalho e nada mais”.

No entanto, tinha rolado. E foi incrível. E eu não podia negar que estava ansiosa por mais. Muito, muito mais...

Mas será que eu devia esquecer minhas resoluções e me jogar em cima de Ethan na próxima oportunidade? Ou devia fingir que nada tinha acontecido?

E o que será que Ethan pensava de tudo isso?

O que eu não poderia esquecer era que, para Ethan, eu era apenas a babá de Leo, sua colega de trabalho. Mas para mim, ele era o cara que poderia botar a perder toda a minha missão naquele emprego.

Ah, inferno. Eu estava tão, tão ferrada.

E, quando saio do quarto, ainda não tenho uma decisão tomada quanto ao assunto.

— Bom dia! — Quase dou um pulo quando escuto a voz de Liam Hunter surgir de trás de um sofá, seguida de um gritinho de Leo. O que impede minhas pernas de darem meia volta e correr para as montanhas.

Engolindo o medo, me aproximo e, sim, o dono da porra toda está sentado no sofá, vestindo o que parece ser um moletom de corrida, tomando um copo que acredito ser de café. Com a outra mão ele segura Leo, que brinca com seu celular que, tipo, deve custar uns três meses do meu aluguel.

— Bom dia — sussurro. — O senhor quer... quer dizer, quer que cuide do bebê? — consigo terminar a sentença. Liam continua a me fitar daquele jeito predador de ser, como se estivesse avaliando qual o gosto da minha carne fresca em seus dentes.

— Está com medo, senhorita Grant? — ele diz de repente, e eu arregalo os olhos.

Ai, Deus. Ele sabia. Sei lá como, mas sabia que eu estava aprontando alguma e talvez agora ele me matasse e me jogasse em alguma vala entre as montanhas e...

— Pare de assustar a pobre garota, Liam. — Ethan surge na sala e eu tenho que me conter para não correr e me agarrar a ele, pedindo que me proteja.

Mesmo assim, lanço-lhe um olhar agradecido, enquanto me afasto para a cozinha, que é em estilo aberto, então ainda não dá para me livrar totalmente de Liam Hunter. Começo a preparar panquecas.

— Não precisa muito para assustá-la — Liam resmunga.

— Cadê a Emma? — Ethan indaga.

— Ainda dormindo — Liam diz. E subitamente eu me dou conta de que, se não foi Emma quem tirou Leo do meu lado, foi Liam que entrou lá sorrateiramente.

Oh, santo Deus protetor das babás falsas. Só de imaginar aquele homem ameaçador me olhando dormir já me deixa com náusea. Talvez eu devesse comprar uma arma e colocar embaixo do travesseiro.

— Amy, tudo bem? — Desta vez eu pulo de susto quando escuto a voz de Ethan quase dentro do meu ouvido.

— Meu Deus, que susto! — resmungo, enquanto ele ri. E toca meu braço suavemente.

— Ei, está assustada.

— Você me assustou! — Não digo que já estava com medo por causa do chefe dele.

— Liam também te assusta, não é?

Dou de ombros, desviando o olhar, enquanto coloco uma panqueca sobre o prato, e lanço um olhar para a sala para ver se Liam não consegue nos ouvir, mas ele já desapareceu.

Infelizmente não era para sempre.

— Acho que Liam Hunter assusta até o diabo! — respondo, e Ethan ri.

E eu já disse que a risada dele é incrível? E que ele tem covinhas como um garoto travesso?

— Não vou discordar. — É sua resposta simples, quando se aproxima, pega uma panqueca e passa geleia de morango em cima.

— Não sabia que comia porcaria. — Não consigo deixar de comentar, enquanto a panqueca desaparece dentro de sua boca em segundos. Nossa.

Aquela boca...

— Você é cheia de tirar conclusões não é, senhorita Grant? — ele diz devagar, pegando outra panqueca, mas seu olhar fica em mim, avaliador. Mordo os lábios, para não me aproximar e limpar o resto de geleia de sua boca com minha língua...

— Parece que alguém mais está com fome.

Oh, Deus, minhas pernas viram gelatina.

Ele não disse isso...

— Estou pensando no que não terminamos ontem — continua, estudando minha reação.

Luto para respirar. E encontrar a voz em algum lugar dentro de mim.

— Eu estou tentando entender ainda...

Ele levanta a sobrancelha.

— Tenho que explicar? Achei que ensinassem na escola. Fugiu das aulas de educação sexual?

Solto uma risadinha boba.

Sei que estou vermelha e é ridículo. Não consigo evitar.

— Nós combinamos em sermos apenas colegas de trabalho e de repente você está me levando para um canto escuro com segundas intenções.

— Eu tinha todas as intenções.

— Más intenções?

— As piores...

Ai. O calor que estava no meu rosto, move-se pela minha pele. Pega fogo. Instala-se num pulsar úmido e urgente em meio às minhas pernas.

Merda. Cacete.

Porque ele tinha que ser tão gostoso? E falar daquele jeito?

— O que acontece agora... — sussurro, minha voz cheia daquelas más intenções que ele tinha citado.

Ah, que se dane.

Vejo seu olhar escurecer. E, em um segundo, ele está de pé, vindo em minha direção. Ah, inferno.

Vou ser o café da manhã do segurança. E estou amando isso.

— Bom dia. — A voz de Emma rompe o círculo de tensão sexual em que nos encontramos. E Ethan para de se mover.

E noto uma veia pulsar em sua testa.

Eu quase choro de frustração, ao vê-lo se virar e se afastar, enquanto Emma se aproxima. Ela está meio pálida e sorri, desanimada, para mim.

— Bom dia, Amy, cadê o Leo? Passei no seu quarto e ele não estava lá.

— Está com o Liam — respondo.

Emma suspira, servindo-se de café.

Ela parece estar com os pensamentos longe.

Troco um olhar com Ethan. O que será que aconteceu ontem depois da briga?

— Devem estar se perguntando por que perdi a cabeça e me sujeitei a brigar com a Vanessa — diz ela.

— Acho que imagino — respondo com um sorriso solidário. Podia bem imaginar o tipo de provocação de Vanessa.

— Aquela mulher me irrita tanto! Não posso evitar querer pegar uma tesoura e cortar todo aquele cabelo e deixá-la nem um pouco atraente.

Ethan ri, ignorando o olhar ameaçador de Emma.

— O que você tem com o cabelo da Vanessa?

— Não sei, ele é todo... perfeito! Acha que ela é loira natural?

— Eu sei lá. Mas pergunta ao Liam, ele deve saber...

— Ora, seu... — Emma joga um pedaço de panqueca em Ethan, que ri, afastando-se para a varanda. — Idiota!

— Eu entendo — digo, e Emma me encara — sua fissura com o cabelo da Vanessa. Ela é aquele tipo de mulher que não ia ficar bem sem cabelo. Tenho certeza.

Emma ri, um pouco mais bem-humorada.

— Acha que sou ridícula?

— Claro que não!

— O Liam acha — ela diz baixinho.

— Vocês brigaram? — pergunto com cuidado.

— Ele ficou bravo porque acha que eu tenho ciúme da Vanessa.

— E não tem? — Levanto a sobrancelha e Emma dá de ombros, culpada.

— E não é para ter? Eles moraram juntos e ele ficou rico para se aparecer para aquela lambisgoia!

Ah, então a história de Vanessa era verdadeira? Confesso que tive minhas dúvidas.

— Sério? — Eu puxo uma cadeira, encorajando Emma a continuar.

— Pois é. Ok, foi há muito tempo, mas sabe, foi ela quem deu o pé na bunda do Liam. E não o contrário.

— Então não tem o que temer. Ela não queria o Liam. Casou com outro, fim de história.

— Então por que ela fica me provocando? É quase como se ela quisesse me provar que poderia ter Liam quando quisesse.

Ah, ali estava a raiz do problema. A insegurança de Emma.

— E você acha que ela tem razão?

Emma solta um suspiro pesado.

— Não. Quer dizer... quando estamos só nós dois eu nem lembro que qualquer outra pessoa existe. Mas aí a gente se depara com ela de novo e é como se toda minha insegurança voltasse.

— É, entendo que deve ser difícil ser casada com um cara como o Leão de Wall Street.

— Você nem imagina. — Sorri com desânimo.

— Mas ele é casado com você.

— Sim, ele é — concorda, o pensamento longe. E me pergunto o que vai na sua mente.

Emma ainda é muito nova. Um casamento como aquele deveria ser difícil até para uma mulher mais experiente. Para alguém como ela devia ser bem pesado.

— Eu vou tomar um banho. — Ela coloca a xícara na mesa e se afasta.

Termino de comer e vou até a varanda, para pegar Leo, mesmo não querendo me aproximar de Liam de novo, mas sei que Ethan está com ele e isso me acalma um pouco. Quando me aproximo das portas duplas, os dois estão sentados no sofá na varanda de frente para as montanhas.

— Então que diabos é essa sua palestra? O que é dito lá? — Ethan pergunta, curioso.

— Coisas que não se pode dizer diante da imprensa porque são diretas demais ou muito fáceis de serem mal interpretadas.

Opa. Eu paro, alerta.

— Preciso mandar a Emma embora — Liam diz, mudando de assunto.

— Acha uma boa ideia? — Ethan pergunta devagar.

— Tenho negócios para fechar e não quero ficar pensando que ela estará por aí com uma tesoura cortando os cabelos de alguém.

Ah, Ethan era um linguarudo e tinha contado o desabafo de Emma para Liam.

— Vamos bater no Vanderbilt de novo? Porque eu não acho uma boa ideia. — Ethan questiona, corroborando a história de Vanessa de novo, Ethan tinha mesmo ajudado Liam a dar uma surra em Elliot Vanderbilt.

— Não vale a pena. — Liam responde se levantando. E eu me escondo rápido. — Vou levar Leo para Emma e contar que ela vai embora.

— Boa sorte com isso — Ethan diz.

Liam passa para o quarto e Ethan vem atrás.

Eu saio do meu esconderijo com cara de quem acabou de chegar.

— Está tudo bem? Vim pegar o Leo.

— Liam o levou para Emma.

— Certo.

— Acho que deve se preparar para partir.

— Por quê? — finjo inocência.

— Liam acha melhor a Emma ir embora, para evitar confusão.

— Acha isso justo?

— Não questiono as decisões do Liam.

— Você faz qualquer coisa por ele, não é?

— O que quer dizer?

— Ouvi dizer sobre o pau que deram no Vanderbilt.

Ele franze o olhar.

— Escutando conversa atrás da porta Penny?

Eu coro. Merda. Merda!

— Quê? Não entendi. Ontem você comentou sobre ter que dar uma prensa nele de novo — eu me faço de desentendida. — E na verdade, ouvi a Vanessa dizendo isso ontem lá na piscina. Sabe que ela gosta de abrir aquela boca metida.

— Sim, imagino que ela goste de contar essas merdas para se exibir.

— Devo acreditar que ela e o marido estão em maus lençóis pela briga de ontem?

— Liam não perde mais tempo com aqueles dois. Mas... — ele se aproxima e desta vez seu olhar tem um brilho duro como aço que nunca vi antes. Estremeço pela primeira vez com um certo medo. — Você tem razão. Eu faço qualquer coisa pelo Liam. Eu o defendo de qualquer coisa.

Engulo em seco.

E Ethan está se afastando.

Porra, que foi isso?

Ele desconfia de mim?

Será?

Eu estou ficando paranoica?


Liam consegue mesmo convencer Emma a partir e eu nem quero saber como, já que imaginei que ela não arredaria pé dali e deixaria Vanessa perto de Liam.

Assim, horas depois, eu observo Liam e Emma entrarem em um carro com Leo seguro em seu bebê-conforto, já que ele e Ethan nos acompanhariam até o aeroporto, e entro em outro carro com Ethan.

Ainda me pergunto que diabo foi aquela cena mais cedo, mas decido ignorar. Afinal, se Ethan sequer desconfiasse das minhas intenções ele jamais me deixaria chegar perto dos Hunter. Devo estar mesmo ficando paranoica.

Mas agora, enquanto o carro percorre a estrada em direção ao aeroporto, estudo seu perfil bonito, aproveitando que ele está com o olhar fixo no celular.

— Procurando alguma coisa? — ele diz, devagar, sem me olhar e eu sorrio.

— Apenas admirando a vista.

Ele olha para mim. Oh, agora tenho sua atenção.

— Você gosta de provocar não é, Grant?

— O que aconteceu com o “senhorita”?

— Acho que podemos deixar de lado as formalidades depois de ontem.

Aspiro com força.

De repente o ar parece rarefeito no carro.

— Então me chame de Amy — murmuro baixinho.

E, como em câmera lenta, vejo sua mão subir e seus dedos quentes tocarem meu rosto, acariciando. Queria fechar os olhos e suspirar, mas não consigo parar de olhar para ele.

— Por que às vezes vejo uma sombra em seu olhar... Amy? — ele diz meu nome com todas as letras.

Droga.

Eu não estava tão paranoica assim. Mas, para meu alívio, aparentemente era só uma desconfiança. Que não deveria ser forte, haja vista que eu continuo ali e não em uma vala no meio das montanhas.

— É difícil fingir que não quero que tire minha calcinha e me foda com força — opto por uma parte da verdade.

E, com um rosnado, sua mão migra para minha nuca, me puxando com ímpeto para perto, até que a boca se choca com a minha, com aspereza.

Ah, sim.

De repente, o carro dá uma guinada brusca e o motorista solta um palavrão, ao mesmo tempo em que somos jogados contra o vidro.

E encontramos o olhar arregalado do homem nos fitando pelo espelho, como se estivesse assistindo um pornô dos bons.

Porra, esqueci do motorista!

E, pelo jeito, Ethan também.

Ele me solta com uma imprecação e me ajeito no banco, vermelha feito pimentão.

— Olha a estrada! — Ethan grunhe para o pobre motorista, privado de sua diversão.

Bem, não foi só ele!

Nem olho mais para Ethan, prendendo minha atenção no meu próprio celular.

O carro não demora para chegar ao aeroporto e antes que eu salte, Ethan segura meu braço e cola a boca em meu ouvido.

— Daqui a três dias, estarei de volta a Nova York, Grant. E vamos acabar logo com isso. Não vai mais precisar esperar para eu te foder com força.

Uau.

Saio do carro tropeçando em minhas grandes expectativas.


Capítulo 15

 

Ethan

 

Estou ansioso pra cacete quando o avião de Liam pousa no LaGuardia, finalmente, depois de cinco longos dias enfurnado naquele evento amaldiçoado. Eu geralmente não me importava de acompanhar Liam a qualquer lugar que fosse. Liam era um filho da puta viciado em fazer dinheiro e sua vida era uma sucessão de viagens a lugares onde ele pudesse exercer essa atividade. E, estar ao seu lado, certificando-me de que nada o atrapalhasse era meu trabalho. Que eu exercia com uma precisão e dedicação quase militar. E não era nenhum sacrifício. Aquela vida ao lado de Liam não foi algo que eu planejei. Mas, para um cara como eu, que tinha crescido sem família, sem grana e sem qualquer perspectiva para o futuro, contando apenas com meus punhos para sobreviver, reencontrar Liam no meu caminho foi como ganhar na loteria. Ou como aquela gente que entrava para a igreja depois de uma vida desgarrada, e passava a seguir cegamente uma religião que lhe acalentava.

Liam Hunter não era só meu chefe. Era meu amigo. Meu irmão. Minha religião.

Então, passar meus dias o seguindo cegamente, como um dos apóstolos de Jesus o seguia, era a única maneira que eu sabia viver.

Mesmo quando Liam encontrou Emma e se casou, nada tinha mudado, eu apenas agreguei mais uma pessoa à lista que antes tinha apenas Liam. Emma também passou a ser como uma irmã, para ser protegida e amada. Ok, pode parecer meio sentimental demais essa palavra vinda de um cara como eu. Mas eu não tinha vergonha de dizer que eu amava Liam e Emma. Eles eram como minha família. E a vida era boa, até agora.

Eu não sabia dizer o que era, mas naqueles dias em Sum Valley, enquanto Liam passava suas horas pulando de reunião em reunião, entretido com seus joguinhos de poder e dinheiro, eu senti uma espécie de inquietação que nunca tinha sentido antes. Nunca foi problema achar algo para me entreter enquanto Liam estava ocupado e não precisava de mim. Não raro nessas viagens, eu encontrava alguma distração prazerosa, falando mais claramente, uma garota para foder. E em Sum Valley não foi diferente, o lugar estava enfestado de esposas entediadas, enquanto os maridos brincavam de monopólio. Elas estavam loucas para achar sua própria diversão. Em outros tempos, eu não hesitaria em pegar o que me era oferecido. Essas mulheres não eram perigosas, elas apenas queriam prazer e discrição, afinal, não estavam dispostas a perder seus casamentos vantajosos.

Porém, dessa vez, eu não estava nem um pouco interessado. E o pior é que eu sabia o motivo: era tudo culpa de uma ruiva hipster que estava me deixando louco. Eu juro que tentei ficar longe, manter a promessa do “apenas colegas de trabalho”, mas quando a vi naquela festa com Félix Firestone, eu decidi que estava pouco me importando com minhas antigas convicções. Eu queria Amy Grant e não podia mais esperar.

E não foi surpresa quando ela se mostrara muito disposta naquele cantinho escuro. Foi realmente uma pena que Emma tenha nos interrompido com aquela briga sem noção com Vanessa Vanderbilt. Que, devo acrescentar, havia me lançado alguns olhares prolongados no último jantar no resort. Ela estava muito louca se achava que eu ia colocar meu pobre pinto para dentro daquela boceta interesseira.

Assim, eu apenas contara as horas para o retorno a Manhattan. E tentava não analisar o fato de que aquele tédio e ansiedade que sentira nos últimos dias tinha alguma coisa a ver com Amy Grant.

Meu lance com a babá era apenas tesão. Um desejo não satisfeito, mas que seria resolvido muito em breve.

— Ei, está surdo? — Liam chama minha atenção quando entramos no carro, que Owen já tinha deixado no aeroporto.

— O quê? — Dou partida, relanceando o olhar para Liam, que está com a testa franzida.

— Estou falando com você há um tempo e parece que está tão envolvido com as próprias merdas que nem me ouviu!

Eu não consigo deixar de rir, enquanto o carro sai do estacionamento para a rodovia.

— Eu tenho direito às minhas próprias merdas de vez em quando, Liam.

— Que diabos está falando? Estou te achando meio estranho esses dias. É falta de sexo? Reparei que não fodeu ninguém lá no resort.

— Acha que todos os problemas se resumem à falta de sexo?

— Geralmente, sim. Eu fico puto, eu trepo. Estou feliz, eu trepo. Estou triste, eu trepo.

Nós rimos, enquanto Liam liga o rádio e Nine Inch Nails enche o carro com seus acordes agressivos.

— Por que não quis pegar ninguém? Provavelmente estaria de melhor humor.

De repente eu penso em contar a Liam sobre Amy. Mas me calo, e não é só porque ela é a babá do filho dele. Sei que Liam, apesar de não gostar nada de misturar negócios com prazer, ia me entender no final das contas se eu quisesse pegar a sua babá. Merda, acredito até que ele a demitisse apenas para que eu pudesse fodê-la sem problemas. Era assim que Liam agia. Ele era prático e direto ao assunto. Seja lá qual fossem as consequências.

E eu não tinha pudor para contar qualquer coisa que fosse a ele. Desde que éramos adolescentes contávamos tudo um ao outro. Mas de alguma maneira, queria guardar Amy só para mim.

— Que tal falarmos do fato de que provavelmente Emma estará um tanto puta por você tê-la mandado embora do resort? — mudo de assunto.

Liam solta um palavrão.

— Por que ela estaria? Ela entendeu quando eu disse que devia voltar.

— Entendeu? Ou você não deixou espaço para outra coisa?

— O que está querendo dizer?

— Sabe bem. Você é controlador pra caralho e sobretudo com a Emma.

— Eu não... que merda é essa? Eu apenas quero protegê-la, inclusive dela mesma. Sabe que Emma é impulsiva e, se ela ficasse no resort, era uma questão de tempo para dar merda de novo.

— A culpa é da Vanessa, não da Emma.

— Eu não controlo a Vanessa.

— Aí está! — Ele percebe que caiu na minha armadilha e me lança um olhar raivoso. Mas Liam sabe que aqueles olhares não funcionam comigo, o que não o impede de tentar.

— Aí está o caralho! Emma sempre acaba fazendo o que bem quer! O que me deixa puto a maior parte do tempo! Eu controlo tudo à minha volta e, sim, eu tento controlar a minha esposa, porque ela é a coisa mais importante pra mim, e é assim que eu ajo com o que me é precioso. Mas sabe muito bem que ela torna isso bem difícil.

Eu rio do seu desabafo.

— Talvez devesse tenta ser menos controlador?

— Por que diabos eu faria isto?

Ah, jesus. Às vezes Liam parecia uma criança rabugenta.

— Certo, então ao menos tente entender que Emma se sente insegura às vezes. Principalmente em relação a esse lance com a Vanessa.

— Isso é ridículo.

— Não é ridículo para ela. Lembre-se de como se sentiu com o tal do Tristan.

— Por que está citando este filho da puta de novo?

— Ei, calma. É apenas uma comparação. Imagina que fosse Tristan que estivesse lá no resort.

— Eu o colocaria para fora do meu caminho.

— Errado. Pediria para eu colocá-lo.

— Não pense que eu também não sei usar meus punhos quando é preciso.

— Não duvido.

— E não pense que percebi que mudou de assunto — ele diz de modo astuto. — Tem alguma coisa passando na sua cabeça de merda e acho melhor me contar.

— Não tem nada na minha cabeça, além de cabelo.

— Nossa, que engraçado! Só não me diz que é a vagabunda daquela modelo de novo.

— Não, não é — respondo, meio sombrio. Então me dou conta de que realmente já faz um tempo que eu sequer pensava na existência de Nicole.

Para quem passou tanto tempo obcecado, eu devia me sentir aliviado por estar me livrando daquele mal.

“Claro, agora você tem outra obsessão! ”

Ah, inferno. Ignoro minha consciência. Nicole e Amy não poderiam ser mais diferentes. Mesmo porque Nicole nunca esteve ao meu alcance. Agora Amy...

Era uma questão de tempo, e eu esperava que muito pouco tempo.


Quando chegamos, sei que deveria ir para meu próprio apartamento, mas subo com Liam, com a desculpa de que quero dar um alô para Emma e ver Leo.

Claro que é uma mentira deslavada. Emma estaria com sua atenção toda em Liam, seja para brigar ou para foder, e eu poderia ir procurar a babá.

Meu pau bateria palmas se tivesse mãos.

— Emma! — Liam chama quando entramos na sala. Eric está passando aspirador no chão e acena alegremente.

— Ei, bem-vindos!

Escuto passos correndo e, no minuto seguinte, Emma está pulando em cima de Liam e enganchando as pernas em sua cintura. Eu percebo que se tivesse apostado com Liam que ela estaria brava teria perdido, pois agora ela está enfiando a língua na sua garganta.

Eric ri, desligando o aspirador e se dirigindo para fora da sala.

— Ei, cadê a Amy? — pergunto, sem me conter. Eric levanta a sobrancelha.

— Está de folga.

— Folga hoje?

— Parece que ela ia para a casa de um parente, aniversário da mãe dela ou algo assim.

— Ah — eu tento conter minha decepção.

— Oi, Ethan. — Emma finalmente desgruda a boca da de Liam e sorri para mim.

— Baby, o Ethan disse que estaria brava comigo — Liam diz com sarcasmo para mim, o que me faz revirar os olhos. — Isso, revire os olhos como uma mocinha. — Ainda zoa comigo.

— Vá se foder!

— O que foi? Eu estaria brava por quê? — Emma franze a testa.

— Nada, enfia a língua de novo na boca do seu marido para ele se calar. Eu tenho mais o que fazer.

Os dois estão rindo, enquanto Liam a coloca no chão, perguntando como está Leo e eu sigo para fora do apartamento.

Ao que parece Emma tinha resolvido suas questões de insegurança em relação a Vanessa, ou assim eu esperava. Era sempre melhor que a paz reinasse, pelo menos por um tempo, no reino dos Hunter.

Assim, eu poderia sair de fininho e ir atrás de resolver meus próprios problemas. Um problema urgente de uma parte específica de minha anatomia.

Em vez de ir para casa, eu volto para o carro. Se tivesse sorte, Amy Grant ainda estaria em casa.


Amy

 

Eu queria dizer que em todos aqueles dias depois que eu e Emma voltamos do resort, eu tinha aproveitado para pensar e colocar a cabeça no lugar. Porém, quando sua vagina resolvia tomar o controle de sua mente, num golpe de estado bem baixo e suicida, ficava difícil pensar em outra coisa a não ser em quando Ethan Coen ia voltar e acabar com sua agonia.

Então, quando eu, já arrumada para ir ao almoço na casa da minha mãe em Hampton, abro a porta após ouvir a campainha tocar e me deparo com os quase dois metros de gostosura do segurança que tinha virado minha cabeça, meu coração quase salta no peito de emoção.

Espera, Coração? Emoção?

Desde quando eles faziam parte do golpe?

Ah, inferno.

Eu estou perdida.

— Olá, senhorita Grant. — Ele sorri, daquele jeito que faz as covinhas safadas aparecerem. Os dentes muito brancos à mostra, me lembrando o que eles eram capazes de fazer com meus lábios, o que me faz pensar no que mais ele é capaz de fazer quando tiver acesso ao resto do meu corpo.

Ah, aquela parte rebelde no meio das minhas pernas está chorando. Vocês entenderam.

— Ethan Coen. — Saboreio seu nome, derretida.

Os olhos dele faíscam para mim. Ele sabe o que faz comigo. Malditamente sabe e eu não me importo. Aliás, já estou pensando em esquecer o almoço com a minha mãe para ser a refeição de Ethan Coen.

— A que devo a visita? — questiono com uma falsa inocência calculada.

— Eu te disse que tínhamos negócios inacabados.

Oh, doce jesus, minha vagina está quase saltando do meu corpo e pulando em cima dele.

Mas, de repente, eu vejo o rosto da minha mãe se interpondo na minha frente. Faz dois meses que eu não a vejo e, embora a gente não seja muito apegada uma à outra nessa altura da minha vida, afinal, somos muito diferentes e minha mãe é bem ocupada entre um casamento e outro, sem contar os casos extraconjugais, hoje é aniversário dela, e eu realmente não posso decepcioná-la.

Ah, que merda.

— É, eu... adoraria te convidar a entrar para... conversamos sobre, mas... eu tenho um almoço com a minha mãe. E é em Hampton e eu já deveria ter saído. Sinto muito. Mesmo. Nem faz ideia — completo rapidamente ao ver a sombra de decepção em seu olhar.

Mas essa sombra é logo substituída por um brilho obstinado.

Pelo amor de Deus, que ele não me agarre aqui e agora e me leve como um homem das cavernas para a cama, porque eu não tenho força alguma para resistir.

— Eu te levo.

Minha boca se abre em assombro.

— Quê?

— Eu te levo de carro para Hampton. Você iria de ônibus?

— De que mais?

— Então, está resolvido.

— Eu não acho.... eu não sei... — ainda hesito, e nem sei por quê.

— Eu não vou ficar e estragar o momento mãe e filha ou sei lá o que planejou com sua mãe, Penny.

— Ah, não é isso. — Claro que é! Não quero Ethan metido com minha família. Afinal, ele nem faz ideia que Ariana faz parte dela.

Mas que mal tem em ele me levar até a porta da casa da minha mãe. Seria realmente muito melhor do que ir de ônibus.

— OK, vou pegar minha bolsa.

Ele sorri, satisfeito, e não posso evitar de sorrir da mesma maneira.


Quando chego à calçada Ethan está abrindo a porta para mim, bem cavalheiro, e eu me acomodo no banco creme com um sorriso bobo no rosto.

— Você é meu motorista hoje? — pergunto, quando ele senta ao meu lado e dá partida.

— Está com alguma fantasia motorista-madame, Penny? Eu deveria vestir uniforme e quepe?

— Não preciso de nenhuma fantasia boba quando se refere a você — sussurro sem me conter, e Ethan desvia o olhar do trânsito para grudar aqueles olhos escuros nos meus. Engulo em seco, com minha pulsação indo a mil, quando ele desvia de novo os olhos para o trânsito.

— Gosta de brincar com fogo não é, Grant?

— Nem imagina — respondo, ligando o rádio. — Posso colocar meu Ipod aqui?

— Por quê? Acha que não tenho músicas de que você gosta?

— Tenho certeza.

— Ok, vamos ver que esquisitice hipster vai me fazer ouvir.

Rolo os olhos para as críticas ao meu gosto musical e Lana del Rey enche o carro com sua voz melodiosa e triste.

— Meu Deus, é para eu pegar no sono enquanto dirijo?

— Cala a boca!

Ele ri.

— Ok, essa música é sexy.

Ah, quando ele fala sexy... é tão... nhami!

Suspiro e fecho os olhos, deixando a música envolver meus sentidos. Mesmo assim, com os olhos fechados sinto o olhar de Ethan em mim. Não sei como ele faz isso, já que tem que manter a atenção na estrada, mas ele faz.

E isso faz minha pele arrepiar de expectativa.

Deixamos a música ser o único som dentro do carro, até que entramos na rodovia. Abro os olhos e Ethan sorri de lado.

— Achei que tinha dormido.

— Estou apenas curtindo a música. Não curte isso? Fechar os olhos e deixar a música entrar em você?

— É assim que você reage?

— O quê?

— Quando algo entre em você.

Ah, puta merda.

— Tenho certeza de que quando você entrar em mim vai ser bem diferente de uma música.

— Porra, Penny — ele xinga, e eu mordo os lábios.

— Desculpa.

— Desculpa, nada. Você é uma provocadora.

— Você que quis me dar carona!

— Estou vendo que talvez não tenha sido uma boa ideia.

— Por quê?

— Porque estou aqui, duro, e querendo exatamente entrar em você neste momento.

— Ah...

Suas palavras vão direto para o meio das minhas pernas.

Meu rosto esquenta, um tanto envergonhado. Um tanto excitado.

— Quem está provocando agora?

— Dois podem jogar este jogo, baby.

— Não estou jogando. Eu te disse, não faço jogos.

— Você é uma tremenda de uma mentirosa — ele diz devagar. Seu olhar está sempre preso na estrada. Da minha parte, eu já estou sentada de lado, sem conseguir parar de olhar para ele.

Sua mão segura com força o volante. E eu não consigo deixar de abaixar o olhar e ver que sim, ele tem uma ereção.

Wow.

O calor do carro se torna quase sufocante. Respiro por arquejo.

— Então somos dois — respondo.

— E o que vamos fazer com isso?

— Eu não sei... Mas está bem quente aqui. — Eu me abano. Parece que o carro vai pegar fogo a qualquer momento de tão quente.

— Não duvido que o calor que vem de você possa incendiar o carro.

— Só meu?

Ele relanceia o olhar para minhas pernas. Estou usando um vestido curto e florido de verão. Não me parecia ousado. Até agora.

— Eu posso sentir daqui, Amy.

— Ah, ok. Estou mesmo me sentindo quente — sussurro.

— Talvez devesse ficar mais à vontade.

— Ah é? — Ok, dois podem jogar aquele jogo, como ele disse.

Com um suspiro, levo a mão à barra do meu vestido e, com um único movimento, o tiro pela minha cabeça.

Ethan olha para mim e o carro sai da estrada por um instante.

— Cacete, Penny! — Ele segura o carro.

— Pare de me chamar de Penny e olha a estrada! Não quero morrer hoje.

Ele faz o que pedi, afinal, aposto que também não é a intenção dele nos matar.

— Você que está me matando.

Eu solto um risinho.

E levo a mão ao meu sutiã.

Que se dane.

Ethan olha para mim, com os olhos arregalados, sem saber se mantém a atenção nos meus peitos ou na estrada. Seria engraçado, ver seus olhos pulando de um lado a outro como um desenho animado.

— Porra!

Eu levo a mão a calcinha e a escorrego pelas minhas pernas.

E em segundos, Ethan está jogando o carro no acostamento e me puxando para ele.

Ah, sim.


Capítulo 16

 

Amy

 

No momento em que os lábios de Ethan se chocam com os meus, eu enlouqueço

Sim, essa era uma boa palavra para descrever o que se apodera de mim. Uma pura e deliciosa loucura. Ainda mais quando aquelas mãos grandes me levam para cima dele e começam um passeio atrevido por minha pele em fogo.

Solto um longo e gutural gemido dentro de sua boca, quando nossas línguas se encontram e se acariciam sem a menor delicadeza e enterro os dedos nos cabelos escuros, ao mesmo tempo que ondulo meus quadris com força contra os dele e, desta vez, nós dois gememos juntos, com aquela fricção mundana. Eu nua e ele ainda de calça preta. Mesmo assim, posso sentir o inegável desejo dele entre minhas pernas, o que faz minha excitação aumentar a um nível estratosférico.

— Porra, Amy — grunhe quando os lábios soltam dos meus, e aproveito para respirar e morder sua boca gostosa enquanto ele segura meus seios em concha, olhando para o que faz com grande satisfação. — Eu quero foder você. Agora.

Ah, por favor...

— A gente está no meio da estrada — sussurro, com um restinho de coerência, rezando para que ele não tivesse mais nenhuma.

— Ah, que se dane! — É sua resposta rouca que me faz exultar e, sem demora, levar a mão à calça, abrindo-a enquanto lambe e morde meu pescoço.

— Aqui! — um preservativo surge na mão dele e eu o pego, rasgando a embalagem com a boca. Ethan arranca da minha mão e o coloca ele mesmo naquela ereção magnífica. Caramba. Ele era lindo até ali!

Fecho os olhos, esperando ansiosa, enquanto levanta meus quadris e sinto a ponta do seu pau roçar na minha entrada. Prendo a respiração, tudo se revirando em meu íntimo em expectativa de tê-lo finalmente dentro de mim.

— Abra os olhos — ele pede com uma inesperada suavidade, como se agora tivéssemos todo o tempo do mundo. E eu obedeço, perdendo-me nas profundezes escuras de seu olhar. — Quero te foder assim desde a primeira vez que te vi.

— Sim... — É a única coisa que consigo dizer, quando o sinto deslizando lentamente para dentro de mim. — Ah, sim. — Jogo a cabeça para traz, tomada pela sensação sublime que é sentir Ethan me fodendo daquele jeito, suas mãos subindo e descendo meus quadris num ritmo preciso para enlouquecer, os bicos dos meus seios roçando em seu peito forte, seus lábios deixando uma trilha molhada e quente por minha boca, meu queixo, meu pescoço.

E só consigo gemer e me perder um pouquinho mais a cada estocada, apressando meus quadris contra os dele, buscando mais daquele prazer perverso, ofegando e arquejando, enquanto sinto todo meu corpo tremer em cima dele.

— Porra, Amy! — ele grunhe de repente, uma mão se infiltrando em meus cabelos e me puxando e outra indo para o meio das minhas pernas e tocando meu clitóris.

— Oh, sim, aí — imploro. Sentindo o clímax se aproximando sorrateiramente, mexo meus quadris com fúria, querendo e precisando de uma libertação. E então ela vem, em ondas violentas de puro prazer, fazendo-me gritar e estremecer, arranhando seus ombros e perdendo o fôlego.

Como vindo de muito longe, ainda o sinto estocando mais um pouco dentro de mim, até seu corpo tencionar e as mãos grudarem em meus quadris com força, quando ele explode em seu próprio gozo.

— Caramba! — murmuro, quando consigo achar minha capacidade de falar. Ainda estou toda suada e grudada em Ethan.

Ele ri, e levanto a cabeça de seu ombro, fitando-o meio chocada.

— A gente acabou de transar?

— Penny, o que te ensinaram na aula de educação sexual?

Eu rio também e ele me beija. Ah, tão doce, tão...

Errado!

De repente uma sombra envolve meus pensamentos delirantes pós-foda.

Aquilo não devia ter acontecido. Ethan era o segurança de Liam Hunter. E podia ser um grande problema para mim levar aquele trabalho a um nível pessoal.

Saio de cima dele e vou para o banco do motorista, sentindo-me meio tonta. Não quero olhar para Ethan, mas sei que ele está se limpando e se livrando do preservativo e ele me passa um lenço para eu fazer o mesmo.

— Obrigada! — respondo, meio envergonhada, o que era ridículo dada a situação. E começo a me vestir.

E só então, quando ambos estamos vestidos e mais ou menos arrumados, Ethan toca meu queixo me obrigando a encará-lo.

— Não estou curtindo muito esse seu olhar.

— Que olhar?

— Como se tivéssemos feito uma grande merda.

— E não fizemos?

— Penny, isso não foi nada mais do que uma boa e inevitável foda. Não leve tão a sério.

Ah, ok.

Ele está levando tudo na brincadeira?

Eu deveria ficar aliviada.

Mas porque eu estou meio... chateada?

Ah, merda. Grande merda!

Eu dou de ombros.

— Certo, tem razão. Acho que estávamos nas preliminares há um tempo, não?

Ele sorri de lado. Aquele sorriso que ainda dá nó no meu estômago e dá partida no carro.

Nenhum de nós fala mais nada até que ele estaciona em frente ao exótico jardim da casa minha mãe.

Saio do carro e Ethan faz o mesmo. Preparo-me para me despedir dele com um simples e singelo “Obrigada pela carona”, quando minha mãe abre a porta e vem saltitando em nossa direção.

— Querida, você chegou!

— Ah, droga!

Eu não queria que minha mãe visse Ethan, por motivos óbvios.

Com um sorriso forçado me viro para minha mãe. Helena Cooper ainda é uma mulher bonita. Com seus cabelos loiros, lábios de colágeno, muito botox para parecer menos do que seus cinquenta anos e calças coladas brancas, o que faz jus à sua última lipoaspiração. Tudo pago com o cartão de crédito de seu quinto marido, de quem acaba de se divorciar.

Estou só esperando quem será o próximo.

— Oi, mãe. — Ela me abraça e me faz tossir com a onda de perfume Chanel número 5. Vejo quando seu olhar descansa em Ethan.

Lá vamos nós.

— E não me disse que ia trazer um... amigo?

— Ethan veio apenas me dar uma carona — respondo rapidamente.

— E não vai nos apresentar? Cadê seus modos? — Ela sorri para Ethan. — Sou Helena, mãe da Amy, e você?

— Ethan Coen, senhora. — Ethan estende a mão, mas minha mãe o abraça sem cerimônia.

— Não me chame de senhora, por favor. Nossa, mas você é forte, não?

Ela me lança um olhar de “vai me contar tudo, nos mínimos detalhes” e eu rolo os olhos.

— Mãe, o Ethan, precisa voltar...

— Imagina, não pode ficar conosco? Somos só nos duas e Maria fez uma lasanha espetacular...

— Mãe...

— Claro que eu aceito. Não dispenso uma lasanha. — Ethan sorri, derretendo minha mãe, que se engancha nos braços de Ethan e o leva para dentro, para meu desespero.

— Adoro conhecer os amigos da Amy — ela diz, quando nos acomodamos em sua sala toda branca. — Por que Tiziano não veio, querida?

— Ele tinha trabalho — minto. Eu não tinha convidado Tiziano. Ninguém além de mim era obrigado a aguentar a minha mãe.

— Ah, que pena, ele ainda é modelo?

— Às vezes. — Tiziano, na verdade, nunca tinha um trabalho fixo. Ele fazia desde trabalhos de modelo, a bicos de garçom.

— E você, Ethan? O que faz e como conheceu minha filhinha?

— Ethan é segurança dos Hunter — explico. — Lembra, o casal para qual estou trabalhando de babá.

Assim como Ariana, minha mãe não fazia ideia de minhas verdadeiras intenções. Eu achava melhor que continuasse assim.

— Ah, sim, esse seu trabalho de babá, ainda não entendo nada, Ar...

— Mãe, que tal me levar para pegar umas bebidas? Aposto que o Ethan quer uma cerveja.

— Claro, mas não precisa ir comigo, eu pego...

Eu a puxo pela mão, impedindo que continue.

— Ah, querida, que homem é esse? Meu Deus — ela começa a tagarelar assim que chegamos na cozinha. Sua empregada latina, Maria, está cantarolando uma salsa enquanto retira uma lasanha do fogo.

— Hola, Amy.

— Oi, Maria.

— Amy, anda logo, me conta tudo! — minha mãe insiste.

— Não tem nada pra contar, eu já falei, ele é o segurança de Liam Hunter.

— Sim, aquele figurão, milionário! Mas não venha querer me dizer que não tem nada entre vocês, eu posso ver a química! Conheço essas coisas.

— Mãe...

— Ele veio te trazer aqui, naquele carrão...

— O carro é do Liam!

— Ainda não entendo que diabos está fazendo trabalhando de babá, até pensei que tinha começado a seguir meus conselhos e tinha ido atrás de um marido rico! Veja Ariana...

— Mãe, sobre a Ariana, não cite o nome dela para o Ethan.

— Por que não?

— Os Hunter não sabem que Ariana é minha irmã adotiva.

— Não? Não foi ela quem te indicou?

— Foi, mas para não ficar muito tendencioso, ela apenas disse que eu fui a babá da Penélope. E os Hunter, e isso inclui o cara lá na sala, não podem saber o contrário. Entendeu?

— Claro, se quer assim...

— Eu quero, obrigada. — Abro a geladeira e pego duas cervejas.

— Não quer vinho?

— Prefiro cerveja e tenho certeza de que o Ethan também.

Volto para a sala e dou a cerveja para Ethan.

— Desculpa por isso — digo, aproveitando que minha mãe ainda não retornou.

— Ah, Penny, eu amo lasanha.

— Mas não conhece minha mãe, ela vai ficar te atormentando. Por isso que nem convidei o Tiziano.

Ele apenas ri.

Minha mãe retorna e nos chama para a sala de jantar.

— Sua casa é linda, Helena — Ethan elogia.

— Ah, sim, meu ex marido foi generoso em deixá-la para mim, afinal eu a decorei.

— Ex-marido, o pai de Amy? — Ethan indaga. Ah, que merda.

— Claro que não. Roger foi meu quinto!

Nós sentamos à mesa.

— Minha mãe coleciona maridos. — Não consigo evitar a ironia na minha voz.

— Amy é um tanto crítica com a minha vida, mas o que posso dizer? Não gosto de viver sozinha.

— E o pai de Amy foi qual número? — Ah, mas que grande curioso Ethan está se saindo!

— Meus pais não foram casados — respondo de má vontade.

— Sim, eu conheci o pai da Amy em um festival na Irlanda.

— Seu pai era irlandês?

— É o que minha mãe diz!

Mamãe sorri, passando a travessa de batata para Ethan.

— Olha os cabelos dela? Claro que é irlandesa. Mas o pai dela era apenas um safado de quem pouco ouvi falar durante todos esses anos.

— Você conheceu seu pai? — ele pergunta, e vejo um certo cuidado no seu olhar.

— Conheci, mas não temos mais contato. Nunca fomos muito próximos.

— Amy nasceu na Irlanda. Ficamos juntos por um tempo, mas não deu certo. Eu voltei para casa dois anos depois e me casei. Meu primeiro casamento. Ronan veio visitá-la algumas vezes.

— O que seu pai fazia?

— Ele era músico, tocava guitarra.

— Legal.

— E você, querido, o que seus pais fazem?

Eu me aprumo, querendo ouvir.

— Ambos estão mortos.

— Ah, não diga... — Helena acaricia a mão de Ethan com um olhar maternal. — Pobre querido. Como eles morreram?

— Minha mãe foi embora quando eu tinha três anos. Fiquei sabendo que ela morreu anos depois em um acidente de carro. E meu pai morreu em uma briga, quando eu tinha treze.

— Uma briga?

— Sim, ele era... um cafetão por assim dizer e minha mãe... ela era uma das suas prostitutas.

— Oh, que horrível! — Mamãe só falta colocar Ethan em seu colo. Eu ainda estou meio chocada com aquelas informações. Sim, eu sabia que os pais dele tinham morrido, afinal, ele conheceu Liam em um lar adotivo, mas não sabia destes detalhes sórdidos e chocantes.

— Uma criança não devia viver essas coisas. E onde viveu depois? — Minha mãe continua.

— Eu vivi em lares adotivos.

— Foi em um desses lares que ele conheceu o Liam Hunter — digo.

— Sim, isso mesmo — ele concorda com o pensamento longe e se cala. Percebo que está se dando conta de que falou demais. Não parece que Ethan goste de falar do seu passado. Bem, eu também não gostaria se fosse trágico assim.

Fico observando ele comer, suas mãos grandes e fortes. Ele é tão forte, sempre me parece indestrutível. O segurança do leão.

Pergunto-me o quanto do que ele é hoje foi moldado por aquela criança que cresceu sem mãe e com um pai com aquela profissão. Ainda mais perdendo este mesmo pai e tendo que viver em lares adotivos. De repente sou eu que quero colocá-lo no meu colo e dizer que está tudo bem.

— Esse médico é incrível, o melhor, embora custe os olhos da cara! — minha mãe diz, quando Maria volta com uma bandeja que parece ser torta de morango. Percebo que minha mãe estava tagarelando sobre ela mesma, algo sobre sua viagem a Miami para a última cirurgia e Ethan a escuta com atenção.

— Foi um dinheiro bem empregado, você está linda, Helena — Ethan diz, galante, e minha mãe se derrete.

— Gostei do seu namorado, querida.

— Mãe, Ethan não é meu namorado! — Coro, indignada.

— Se não são namorados deveriam ser, formam um lindo casal.

— Ethan, desculpa minha mãe, ela é louca.

Mas Ethan está rindo.

— Posso me acostumar com uma sogra como sua mãe — ele diz, divertido, e eu bufo. O desgraçado está rindo da minha cara! Mas minha mãe está adorando.

Graças a Deus ela volta a tagarelar agora sobre seu jardim, e até arrasta Ethan para ver suas novas petúnias vindas do Colorado.

Eu os sigo de longe, observando que Ethan tem muita paciência com as futilidades da minha mãe e até faz comentários espirituosos, o que faz Helena rir feito uma colegial.

Ah, ela já está encantada com Ethan. Mas quem não fica?

De repente me pego pensando sobre o papo do namorado. E fico imaginando como seria se Ethan fosse mesmo meu namorado. Se ele me acompanharia até a casa da minha mãe como hoje e, como agora, ele lançaria olhares por sobre os ombros de Helena, piscando para mim e fazendo minha pulsação acelerar, me lembrando de toda interação sacana que tinha rolado no carro e que poderia muito bem rolar de novo...

Mas não vai rolar.

Estou bem certa disso. Só preciso achar meu autocontrole que está perdido em algum lugar entre meu tesão por Ethan e meu medo de ser descoberta.

Finalmente Ethan diz que precisa voltar e pergunta se quero uma carona de volta.

Eu digo que não, posso pegar o ônibus e minha mãe diz que é um absurdo, Ethan diz o mesmo. E não me resta alternativa a não ser abraçar minha mãe e entrar no carro. Vejo minha mãe abraçando Ethan e sussurrando algo no ouvido dele antes que ele entre no carro. Ele dá partida e eu o fito de esguelha.

— O que minha mãe te disse?

— Que adoraria ter netos tão altos quanto eu.

— Oh... que merda!

Ele ri com vontade.

— Calma, Penny.

— Me desculpa mesmo pela minha mãe. Como todas as mães, ela é louca para que eu case e tudo o mais.

— E você, não está louca para se amarrar?

— Faço a mesma pergunta?

— Isso não é para mim — ele diz, dando de ombros, e dá o assunto por encerrado.

Foco minha atenção na estrada e me questiono se essa vida que Ethan leva, sendo a sombra de Liam Hunter é o que ele quer fazer para sempre. Será que ele não deseja mais do que ser um anexo do Leão de Wall Street?

Tenho vontade de perguntar, mas sei que não devo. E, também, sei que não é da minha conta.

Fecho os olhos e, embalada pela música, acabo adormecendo.

Acordo quando Ethan está estacionando em frente ao meu prédio.

A tarde está caindo e um vento frio assola meus cabelos, quando saltamos e eu olho para Ethan.

E sou surpreendida pela vontade insana que eu tenho de beijá-lo quando ele ergue a mão e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Por que sinto que não é algo só físico. É algo que faz meu coração pular ansioso no peito. Borboletas sobrevoam meu estômago e todo aquele clichê de livros românticos.

Ah, merda.

— Tudo continua igual — digo rapidamente, assustada comigo mesma. O jeito que Ethan me faz sentir. Aquilo está se tornando perigoso.

— Não sei se estou satisfeito com isso, Penny.

— O que quer dizer?

— Que eu quero foder você de novo.

— Só foder?

— Tem algo melhor?

— Não acha um grande erro?

— Não discordo que seja, mas porque vamos mentir dizendo que não vai mais rolar?

— Não acho uma boa ideia...

Por favor, não insista, sei que não serei capaz de resistir.

De repente escuto passos e olho através de Ethan e congelo ao ver Carl se aproximando.

Oh. Oh.


Capítulo 17

 

Amy

 

Ethan acompanha meu olhar.

— Quem é aquele?

Carl para e sei que ele quer virar e fingir que não me conhece, mas Ethan já percebeu que não é verdade.

— É, eu...

Ethan franze a testa.

— Está com medo por que, Penny? Qual o problema?

Ele fica alerta e não sei dizer a que conclusão está chegando, mas sei que preciso desfazer seja lá qual desconfiança que passa pela cabeça dele.

— Carl! — eu chamo o homem de cabelos loiros ralos e óculos pretos que me encara confuso. Imploro com o olhar para ele manter a calma.

— Quem é esse cara? — Ethan insiste.

Pense, Amy, pense!

— Ei, Amy! — Carl se aproxima e posso ver que está se cagando de medo de Ethan. Sim, ele deve mesmo ficar com medo.

— O que está fazendo aqui?

— Eu...

Eu faço minha melhor cara de brava.

— Eu já falei para me deixar em paz, Carl. Porque fica rondando a minha casa?

— Eu não fiz isso!

— Por que outro motivo estaria aqui? Disse que não queria nada contigo!

— Esse cara está te importunando, Amy? — Ethan adquiri uma postura ameaçadora e acho que Carl vai mijar nas calças. Certo, talvez fingir que Carl era algum paquera stalker não tenha sido uma boa ideia.

— Não, eu apenas... estava passando — Carl gagueja.

— Quem é esse cara, Amy? — Ethan agora está com um olhar mortal.

— Ninguém! Quer dizer. A gente se conheceu em um bar e tivemos um encontro e eu disse que não ia rolar nada, mas ele parece que não entendeu.

— Acho que é melhor deixar a Amy em paz, Carl. Se eu o vir rondando a casa dela de novo, quebro suas pernas.

Caramba.

— Sim, eu... me desculpe. Eu... Nunca mais vai me ver... Amy — Carl gagueja e se afasta quase correndo virando a esquina, e eu respiro aliviada.

— Por que não me disse que tinha um cara te perseguindo? — Ethan questiona e eu rio.

— Carl não é um perseguidor! Ele só é um dos insistentes.

— Você parecia com medo quando o viu.

Eu dou de ombros.

— Só é chato. Mas tenho certeza de que, depois de sua ameaça, ele jamais vai voltar aqui.

— Se quiser eu posso dar um jeito nisso...

— Não! Sério, é bobagem. Vamos esquecer. Bem, eu preciso entrar. Amanhã tenho que estar cedo na casa dos Hunter.

— Claro — ele parece relaxado de novo. Graças a Deus. Mas agora percebo que talvez a gente precise falar sobre o que rolou no carro. E eu não estou preparada para isso ainda.

— A gente se vê amanhã! E obrigada pela carona. — Aceno e entro no prédio, antes que Ethan tenha chance de me impedir.

Quando entro em casa, escuto Tiziano cantando lá em cima no terraço e vou para lá. O crepúsculo está caindo e me sento sobre uma de nossas cadeiras de praia, observando Tiziano cuidar de um vaso de tomate.

— Olá, garota, que cara é essa?

Eu solto um grande suspiro.

— Acho que me envolvi numa enrascada, Tiz.

— Hum, eu te falei.

— Eu transei com o Ethan.

Ele agora se vira para mim com um sorriso mais que interessado.

— Sério? E qual o tamanho da coisa dele? Estilo astro pornô, eu aposto que é! Ainda pode sentar?

— Ah, fala sério, eu aqui toda encrencada e você quer saber de piroca?

— Querida, tem coisa melhor?

Eu rolo os olhos.

— Ok, está bem. Qual o problema além daquele que a gente sabe muito bem?

— Justamente este! Eu estou naquela casa com segundas intenções! Não posso me envolver com o melhor amigo do Liam Hunter que ainda por cima é seu segurança.

— Então leva tudo como deve ser. Apenas sexo.

— É fácil falar!

— Vocês mulheres complicam tudo. Aposto que o grandão está querendo apenas umas boas horas entre essas suas lindas pernas, meu amor.

— Acha que é só isso? — Não posso evitar minha voz decepcionada.

— Está vendo? É você quem está complicando. Ele não te pediu em casamento, meu anjo. Então, apenas curta aquele corpo divino e se divirta.

— Ele vai me odiar quando descobrir.

— Não só ele — Tiziano cantarola e eu me encolho de frio, mas que não tem nada a ver com a temperatura.

De repente a campainha toca e eu me arrasto escada abaixo para atender, me perguntando se pode ser Ethan. Isso faz meu coração se animar. Mas quando abro a porta é Carl quem está ali.

— Que merda foi aquela? — Ele entra sem pedir licença e respiro fundo.

— Que merda foi aquela pergunto eu! Que diabos veio fazer aqui? Quer que eu seja descoberta?

— O que estava fazendo com o segurança de Liam Hunter?

— Eu trabalho com ele!

— Isto eu sei! Mas não pareceu trabalho o que eu vi! Você está trepando com ele?

— Carl!

— Bem, não que não seja uma boa ideia. Assim, se tiver mais íntima pode conseguir muito mais informação.

— Carl, que nojo. Acha que eu ia transar com um cara por isso?

— Então o que está fazendo? Eu vim aqui para saber como anda tudo. Você não me passou quase nada.

— Porque não consegui quase nada! Estou a menos de um mês na casa dos Hunter!

— Já devia ter conseguido algo! Não pode se arriscar ficando muito tempo naquela casa. É perigoso.

— Acha que não sei? Mas está tudo sob controle. Na verdade, estou ficando bastante íntima de Emma Hunter. E consegui uma ótima história com a ex noiva do Liam, Vanessa Vanderbilt. Já ouviu falar?

— Uau, você conseguiu Vanessa Vanderbilt?

— Sim, e é uma história ótima!

— Acha que ela pode marcar uma entrevista formal?

— Não duvido que consiga. Aquela lá gosta de ver o circo pegar fogo! Mas não creio que deva entrar em contato com ela agora. Vamos primeiro terminar a pesquisa na casa dos Hunter.

— Acho que deveria ser mais ousada. — Ele pega um pequeno gravador do bolso.

— O quê? Não!

— Sim!

— Eu estou fazendo relatórios sobre tudo o que descubro.

— É pouco. Precisa documentar tudo. E tirar foto. Muitas delas. Tenho certeza de que tem acesso a tudo no apartamento. E já fuçou no escritório?

— Não. Fiquei com medo. Acho que preciso de mais tempo.

— Amy, Amy... Você que se ofereceu para isso. Quer que eu me arrependa?

— Do que está falando? Sem mim você não tem nada! De que outra maneira ia conseguir entrar na casa do Leão? Eu tinha os contatos e disse que ia entrar lá. E entrei! Então confia no meu trabalho!

— Eu quero confiar. — Ele estende de novo o gravador e eu o pego de má vontade.

— Isso não é uma boa ideia. Preciso ser discreta. Se me descobrem lá, está tudo perdido.

— Por isso deve ser mais rápida!

— Deixe-me fazer do meu jeito!

— Esqueceu-se de que eu ainda sou seu chefe, Grant?

— Eu era tratada como uma merda de estagiária! E você me fazia servir café e tirar cópia! Em vez de confiar em mim para um trabalho decente! Eu tive que dizer que ia conseguir informações preciosas sobre a biografia do Leão que você está escrevendo para me dar algum valor! — explodo.

Eu odiava Carl Davis. Eu tinha passado dois malditos anos como sua assistente, servindo café, passando fax e organizando arquivos, esperando o dia em que ele ia me dar uma chance. Meu sonho era ser uma grande editora e mesmo a Simon&Davis não sendo a melhor editora do mercado, era onde eu tinha conseguido um emprego. E eu tentei. Por dois anos, eu tentei de tudo para que Carl me notasse, que me desse uma chance de provar meu valor. Tudo inútil. Ele era um cretino pretencioso.

Mas, há alguns meses, Carl havia decidido escrever uma biografia do mais novo proeminente membro dos bilionários americanos. Ninguém menos que o Leão de Wall Street. Mas Carl estava muito enganado se achou que seria uma tarefa fácil. Liam Hunter estava blindado. Ele não curtia essa coisa de celebridade e de ter sua vida devassada. E bateu as portas de seu escritório em Wall Street para Carl e a Simon&Davis.

Carl decidiu seguir em frente, secretamente começando a organizar uma biografia não autorizada. Mas ele não tinha nada. E foi então que eu lhe dei algo: Eu percebi ali minha chance de provar meu valor. Eu disse que minha irmã adotiva frequentava a casa dos Hunter e que iria conseguir um jeito de fazer o mesmo. Carl não acreditou, mas quando Ariana comentou que Emma Hunter precisava de uma babá eu percebi minha chance e convenci Carl de que eu iria conseguir entrar na casa dos Hunter como babá do filho deles. E, para tanto, eu exigi ser a coautora do livro.

Eu sabia que era arriscado. Sabia que Liam Hunter poderia engolir todos nós quando descobrisse. Mas eu tinha certeza de que, com a biografia pronta, mesmo que não fosse lançada, eu conseguiria alguma notoriedade profissional. Eu seria aquela que escreveu uma biografia do Leão de Wall Street.

E isso seria só o começo.

Já estava cansada de esperar as coisas acontecerem para mim. Eu tinha que tomar meu destino em minhas mãos. E era isso que estava fazendo infiltrada na casa do Hunter.

— Certo. Vou confiar em você. Deixarei em suas mãos a maneira como vai conseguir as informações. Mas quero relatórios diários e é bom que tenha sempre algo interessante. Esse livro sobre o Leão tem que ser bombástico.

— Eu sei. Ou esqueceu que meu nome estará lá também?

— Claro que não esqueci. Mas para isso o livro tem que sair, não é?

— E ele vai — digo com convicção.

Carl finalmente vai embora e eu caio em um sofá, esgotada.

— Vou perguntar de novo — Tiziano surge no meu campo de visão — Que diabos está fazendo se envolvendo neste tipo de negócio com esse cara, Amy?

Exalo uma respiração profunda.

— Você sabe muito bem. Estou dando o pontapé inicial na minha maravilhosa carreira de jornalista. Eu sou a próxima Kitty Kelly.

— Quem? KitKat?

— Kitty Kelly — corrijo, como se tivesse falando com uma criança —, a jornalista especializada em biografias não autorizadas. Que escreveu a biografia da Oprah!

— Acha mesmo que o Leão de Wall Street vai deixar você e aquele seu chefe escroto sair impune quando descobrir? Não tem medo de um processo? Isso para dizer o mínimo?

— Em 1983, Frank Sinatra abriu ação para impedir sua biografia não autorizada, alegando invasão de privacidade. Ele retirou a ação meses depois porque não deu em nada e teve que engolir o livro sobre sua vida vinte e duas semanas na lista de mais vendidos! Liam Hunter pode tentar, mas não vai dar em nada!

— Pela lei americana, todo cidadão não tem direito à privacidade? — Tiziano insiste.

— Sim. Mas a primeira emenda garante liberdade de expressão. É aí que entram as biografias não autorizadas!

— Esperto...

— Como disse a Kitty “A vida de uma pessoa pública pertence a todos nós, cidadãos americanos”.

— Então não tem medo de ser processada pelo Leão de Wall Street?

— Kitty nunca perdeu uma ação — respondo de forma petulante, levantando-me para dar um basta naquela conversa.

— E não tem medo do segurança dele?

Eu me volto para encará-lo.

— O que quer dizer?

— Vocês estão envolvidos.

— Não estamos envolvidos! — refuto, mas sei que meu rosto está vermelho feito pimentão.

— Ok, querida. Se quer se enganar. Fique à vontade.

Eu rolo os olhos e me refugio em meu quarto para remoer as palavras de Tiziano.

Eu estava envolvida?

Gostaria muito de dizer que Tiziano estava redondamente enganado, mas não podia enganar a mim mesma.


Capítulo 18

 

Amy

 

Eu disse a Tiziano que não estava preocupada com as consequências do que estava fazendo, me infiltrando na casa dos Hunter, conquistando a confiança deles para depois apunhalá-los pelas costas, quando usasse tudo o que descobrisse para escrever uma biografia bombástica do Leão de Wall Street. Mas, no fundo, a realidade era bem diferente.

Quando eu não conhecia Liam Hunter e as pessoas que o cercavam, eles eram apenas um punhado de gente rica e metida, muito preocupados com seus próprios umbigos e carteiras cheias de dinheiro e que mereciam ter suas vidas devassadas e exploradas para a satisfação dos pobres mortais, que, como eu, nunca chegariam nem perto de uma vida de glamour e riqueza como a que o Leão ostentava.

Porém, agora que estou vivendo na toca do leão, começo a perceber que minha missão pode ser muito mais difícil do que eu pensava a princípio. E o principal empecilho que começa a se imiscuir na minha determinação férrea para cumprir meu objetivo, é o fato de que agora enxergo os que cercam Liam Hunter como pessoas como eu. Ok, gente que não se preocupa em pagar os boletos, mas, mesmo assim, com sentimentos, medos, inseguranças e incertezas. Como Emma Hunter, uma moça doce e até um tanto ingênua ainda, mesmo sendo casada com um dos caras mais sexys e poderosos do mundo. E que, justamente por isso, sofria com sua insegurança. Uma garota que me considerava uma amiga, embora eu fosse apenas uma empregada e a conhecesse a tão pouco tempo.

E o que dizer de Ethan Coen, o misto de guarda-costas, motorista e melhor amigo de Liam Hunter? Ele era o cara mais incrível que eu tinha conhecido. Sem contar o mais sexy. E eu não conseguia parar de pensar nele e no que mais a gente poderia fazer se tivesse uma segunda oportunidade. E sei que não deveria rolar mais nada. Que eu deveria estar satisfeita pela transa rápida e maravilhosa no carro, mas quem disse que conseguia convencer a mim mesma?

A verdade era que eu estava me sentindo andando em uma corda bamba. Eu ainda queria demais aquela chance que Carl me dera. Ainda queria provar a todo mundo que eu não era uma fracassada, que podia ter uma carreira incrível no jornalismo, sendo a coautora da biografia não autorizada do leão de Wall Street. Mesmo morrendo de medo do que ele faria comigo quando viessem à tona meus verdadeiros objetivos. Porque, por mais que estivesse louca por seu segurança e adorando a minha pseudo-amizade com sua esposa, eu ainda não estava certa de que o leão tinha um coração batendo naquele peito de aço.

Sem dúvida alguma, convivendo mais de perto, era fácil entender o medo que ele metia nas pessoas. Ele era duro, inflexível e impiedoso. Um homem de negócios frio e calculista. Não foi à toa que ele se tornou um dos caras mais ricos da América em tão pouco tempo, mesmo sendo tão jovem.

Mas esse mesmo cara que conduzia seus negócios com mãos de ferro, era o cara que conquistou Emma Hunter, aquela moça doce e divertida, que orbitava a sua volta com um olhar apaixonado de devoção e desejo. Sem contar o amor e lealdade incondicional de Ethan.

Quem era na realidade Liam Hunter?

Não posso negar que essa pergunta também era bem intrigante. Já estava claro que eu teria muita coisa a contar ao mundo sobre ele. Liam Hunter tinha mais nuances do que se podia imaginar. E, inferno, eu queria contar isso ao mundo! Será que eu estava tão errada?

Bem, certamente Ethan, quando descobrir, vai achar que você está cometendo o pior dos crimes.

Estremeço ao pensar nessa possibilidade. Nunca imaginei que eu teria que me preocupar com isso quando entrei naquela casa. Eu achava que ia pegar minhas informações e partir sem olhar para trás.

Agora, eu sentia vontade de chorar ao imaginar o olhar de desejo de Ethan ser substituído pelo olhar de ódio.

Ah, eu estava tão ferrada.

— Que cara é essa? — Levanto o olhar e Eric está me fitando com uma expressão curiosa. Não o tinha visto entrar na cozinha, onde eu tentava me concentrar em uma revista, mas sem sucesso, enquanto Leo dormia tranquilo em seu carrinho ao meu lado.

Eu tinha passado o dia sozinha na casa, a não ser pela companhia de Eric, que estava bem ocupado no seu dia de faxina, pois Emma havia saído cedo para ajudar sua amiga Zoe com os preparativos do casamento que aconteceria em menos de um mês. Eu estava curiosa para conhecer essa tal Zoe. Ela me parecia uma louca varrida, além de uma interesseira de marca maior. Já tinha entendido, pelo que Emma deixava escapar, que era Liam quem estava pagando o casamento suntuoso dela com um recém-formado advogado sem um tostão. E que o casamento seria em um castelo na Irlanda. Puta merda, castelo na Irlanda? Sério? E ela era só a melhor amiga de Emma, e Liam nem ia com a cara dela.

Caramba, era bom ter dinheiro para distribuir assim!

— O quê? — Volto a folhear a revista, enquanto Leo resmunga algo e sacudo o carrinho com meu pé.

— Estava com a expressão de quem tem um problema sem solução.

— Nada não...

Ele continua me inspecionando.

— Tem a ver com o Ethan?

Eu coro até a raiz do cabelo.

— Ethan? Por que teria alguma coisa a ver com o Ethan?

— A Emma e o Liam parecem ainda não terem percebido, mas eu já saquei que tem alguma coisa rolando.

— Ah, que absurdo, nada a ver!

Ele ri, voltando a mexer nas panelas no fogão.

— Ok, se quer assim. Eu não tenho nada a ver com isso mesmo...

— Olá! — Emma entra na cozinha, toda sorridente, e vai direto para o carrinho de Leo. — E como está meu bebê?

— Muito bonzinho, como sempre.

— Sério? Ele não dormiu bem. Acha que são os dentes?

— Pode ser. Penélope chorava demais quando começou a nascer os dela.

— Já está quase na hora do jantar, acho que vou dar banho nele.

— Eu posso fazer isso.

— Você pode assistir. Estou com saudade do meu bebê!

Emma pega Leo no colo. E nós seguimos para o quarto do bebê.

— Como foi lá com a sua amiga?

Emma bufa, colocando Leo no trocador.

— Zoe está insuportável! Hoje fomos ver os vestidos das madrinhas e ela não sabe que cor escolher. Para que tanta frescura?

— Você não ficou assim no seu próprio casamento também?

— Eu? Claro que não! Primeiro que detesto essas coisas de organizar evento, segundo que eu estava com meu pé quebrado.

— Acho que vi uma foto de seu casamento numa revista.

— Sim, eu caí da escada brigando com minha ex-chefe.

— O quê? — Caramba que história era aquela agora?

— Pois é! — Emma leva Leo para o banheiro e eu vou atrás. — Samantha Arden me ofereceu uma vaga de repórter no site sobre finanças dela e eu fui bem trouxa de acreditar que era só isso. — Emma coloca Leo na banheirinha e eu me apresso em pegar o seu shampoo. — Mas, na verdade, ela queria me usar para conseguir informações sobre Liam.

O shampoo escorrega da minha mão, espalhando o líquido branco pelo chão.

— Merda! — Não consigo evitar o palavrão e Emma ri, sem ter noção do que me tirou do prumo.

— Não é uma merda mesmo? Muito vadia! Ela chegou a dormir com um funcionário de Liam! Que era outro filho da puta que estava fazendo inside training. E quando eu descobri o que ela estava fazendo, fui atrás para tentar detê-la. Nós brigamos e tudo acabou comigo rolando da escada.

— Nossa, que confusão — murmuro, entregando-lhe o shampoo.

— Sim, uma baita confusão. E eu tive que me casar com o pé engessado. Zoe ficou puta.

— O que o Liam fez com essa mulher? — pergunto num fio de voz.

— A última vez que ouvi falar de Samantha Arden ela tinha se mudado para o Canadá. Parece que nunca mais conseguiu emprego descente, ou algo assim. Liam queriam acabar com ela.

— E não acabou?

— Bem, para a ambição dela, de ser uma repórter fodona que ia abalar o mundo das finanças, ela se lascou, não é?

Engulo em seco.

— E o tal funcionário, como ele chama? — pergunto como quem não quer nada, pegando a toalha e envolvendo Leo quando Emma o tira da banheira.

— Brady? — Ela parece incerta. — Sim, Brady Nelson.

— O que aconteceu com ele?

— Ele foi processado e está preso. Felizmente não conseguiram provas de que Liam tivesse de algum modo se beneficiado das falcatruas de Brady. Ainda bem!

Cacete, Brady Nelson tinha mesmo se ferrado, mas como é que aquela história tinha ficado escondida?

— Acho que não li nada sobre esse assunto nos jornais... — Comento como quem não quer nada, seguindo Emma para o quarto.

— Porque Liam se certificou disso. Ele não queria escândalo envolvendo seus negócios e não me pergunte como foi que ele conseguiu manter toda a imprensa de fora.

É, eu podia bem imaginar, penso sombriamente, pegando uma fralda e passando para Emma colocar em Leo.

— E me conta, como foi seu fim de semana? — Ela muda de assunto e eu resolvo não insistir mais por hora. Pelo menos eu tinha um nome agora. Ou melhor, dois! Samantha Arden e Brady Nelson. Não posso negar que fiquei bastante empolgada com aquele novo capítulo sobre a história de Liam Hunter.

— Foi tranquilo — respondo, enquanto me ocupo em trocar Leo. — Fui almoçar com a minha mãe. Ela mora em Hampton.

E não consigo evitar corar feito uma adolescente que acabou de perder a virgindade. Como se Emma pudesse ler na minha testa que eu transei desavergonhadamente com seu segurança.

— Sério? Sua mãe mora em Hampton? — Sei porque Emma está surpresa. Afinal, Hampton é um lugar de gente rica.

— O quinto marido da minha mãe era bem rico. E ela ficou com a casa no divórcio.

— Sua mãe casou cinco vezes?

Eu rio do seu assombro.

— E aposto que ainda terá a sexta.

— Uau! E seu pai?

Conto a versão editada do meu nascimento que conto a todo mundo e aproveito para virar as perguntas para ela.

— E sua família? — questiono, pegando Leo limpinho e arrumadinho no colo. Eu o coloco no carrinho e nós seguimos de volta à cozinha, que recende a tempero, fazendo meu estômago roncar.

— Meus pais são divorciados. Minha mãe casou de novo há algum tempo e meu pai é um solteirão. Ele é policial numa cidadezinha no interior de Washington.

— Seu pai é policial?

— Sim, e pode imaginar que eu morri de medo de contar que estava namorado o Liam. E tipo, em dois meses eu estava morando com ele e de casamento marcado.

— Posso imaginar!

— Mas tirando um assombro inicial, meu pai caiu de amores pelo Liam.

Eu faço uma cara de descrença e Emma me fita divertida.

— Por que fez essa cara?

— Nada, é que... É difícil imaginar alguém caindo de amores por seu marido.

— Eu já percebi que você tem medo do Liam.

Fico vermelha.

— É que quando o senhor Hunter olha pra mim eu tenho a impressão de que ele quer me bater — confesso.

— O quê? — Emma arregala os olhos.

— Oh, eu não devia ter falado isto. — Relanceio um olhar para Eric, que parece estar segurando o riso.

Emma senta à minha frente com um olhar inquisidor. Ah, merda. Merda! Por que eu tinha dito aquilo? Agora Emma ia ficar brava comigo.

De repente escutamos passos se aproximando e Liam Hunter em pessoa aparece na cozinha.

— Boa noite — ele diz de forma tranquila.

— Hum, interessante isso... — Emma desvia o olhar para Liam, que se aproxima dela e beija sua testa. — Acho que devemos perguntar ao senhor Hunter.

— Perguntar o quê? — Liam franze o olhar e eu sinto meu estômago doer.

— Emma, não...

— A Amy acha que você quer bater nela, Liam.

Ah, cacete!

— O quê? — Liam desvia o olhar de Emma para mim e eu começo a tremer. Talvez eu mije nas calças.

— Você quer? — Emma insiste.

E Liam volta a atenção para Emma. E parece estar rolando algo mais ali que não consigo entender. Ou talvez eu já esteja delirando perdida em meu pavor.

— Você acha que eu quero? — ele devolve a pergunta a ela. Sua voz é fria como gelo. Ah, caramba.

— Estou perguntando — Emma insiste. E acho que nunca vi Emma assim tão séria.

— Não gostei disso. — É a resposta de Liam.

Eu chego a abrir a boca para me desculpar, dizer que não tinha dito por mal, que eu não pensava realmente que Liam Hunter ia me agredir ou algo assim.

— Acho que devemos ter uma conversinha, senhora Hunter — Liam diz, interrompendo meus pensamentos caóticos.

Engulo em seco, esperando a reação de Emma, porque há uma clara ameaça na voz de Liam.

Espera, a ameaça era para Emma e não para mim?

Eu quase respiro aliviada, mas então me preocupo com Emma.

Eu devo?

— Agora — ele completa e, dando meia volta, sai da cozinha.

E, para meu assombro, Emma o segue sem falar nada.

Que diabos?

— O que foi isso? — balbucio para Eric, que continua a mexer em suas panelas alheio ao estranho diálogo. — Ai, eu não deveria ter dito nada. Eu falei sem pensar. Acha que a Emma ficou brava?

— Desencana.

— Mas eu disse que o marido dela queria me agredir e tipo, não quis dizer isso, só tenho um medo danado do Liam, como se ele fosse... merda, realmente quebrar meu pescoço!

Eric coloca um prato com algo que parece lasanha na minha frente.

— Acho melhor comer.

— Mas a Emma... — Eu geralmente jantava com a Emma.

Todavia, isso era quando Liam não estava em casa. Emma já tinha me convidado para jantar com eles, mas eu evitava a todo custo, por motivos de que se eu comece com Liam me fitando, provavelmente, teria uma congestão.

E como Liam geralmente chegava tarde do trabalho, nós invariavelmente comíamos juntas.

— Acho que deve comer e deixar os patrões resolverem suas... pendências — ele diz, ainda se divertindo, e resolvo fazer o que sugere, afinal, a lasanha tem mesmo uma cara boa.

E me pergunto se Ethan vai aparecer.

Depois de jantar, coloco Leo para dormir e ponho minha roupa de academia para malhar. Ou melhor, fingir que estou malhando para ver se Ethan aparece. Mas ele não dá as caras.

Tenho vontade de perguntar a Eric qual o apartamento de Ethan, que é em algum lugar do prédio. E se eu fosse até lá?

Bem, talvez essa não fosse uma boa ideia. Ethan bem podia estar me evitando de novo depois do que aconteceu no carro no fim de semana. E eu devia fazer o mesmo. Porém, quando vou dormir, não consigo evitar de sentir uma dorzinha no peito.


Na manhã seguinte, quando entro no quarto de Leo, Emma já está lá com ele.

— Bom dia, Amy! — Parece animada, e a estudo com cautela.

Devo tocar no assunto da conversa bizarra de ontem?

Emma não parece nem um pouco preocupada sobre aquilo agora e talvez eu deva esquecer.

— Bom dia Emma, dormiu bem?

Ela sorri bem animada.

— Muito bem! Eu vou ter que sair hoje e acho que ficarei fora o dia inteiro de novo. Zoe ainda não escolher a porcaria do vestido e tenho certeza de que vai me alugar até acabar com minha paciência!

— Tudo bem, eu e Leo ficaremos bem.

— Ah, eu queria levá-lo comigo, mas ele vai ficar chatinho se passar muito tempo fora. Prefiro que fique.

— Sem problema, é para isso que estou aqui. — Sorrio, solícita.

— Ah, você é tão legal! Por que Zoe não é assim como você, toda zen?

— Eu não sou zen.

— Comparando com a Zoe, você é o Dalai Lama! Liam tem razão, ela é uma duende psicopata. — Eu rio daquela colocação. — Bem, preciso ir! — Ela beija Leo, passando-o para meu colo.

Então sua blusa sobe e eu vejo marcas arroxeadas em seu pulso.

— O que foi isso?

— O quê?

— Seu pulso. Está roxo, você se machucou?

Ela fica vermelha.

— Ah, acho que bati em algum lugar.

— Emma, tem certeza? — pergunto com cuidado, porque a desconfiança que se delineia em minha mente me deixa horrorizada, mas Emma sorri e apenas pega sua bolsa e acena. O movimento faz sua blusa levantar, e como ela está usando uma calça de cintura baixa, meus olhos descem para a pele nua de suas costas à vista e há marcas ali também.

— Sim, não lembro onde! — responde de forma distraída, sem perceber meu olhar de horror, e sai do quarto.

Eu me sento, abraçando Leo.

Mas que porra era aquela agora?

Liam Hunter tinha agredido Emma?

Que filho da puta abusivo do cacete!


Passo o dia remoendo aquele novo fato aterrorizante sobre Liam Hunter e com vontade de quebrar alguma coisa. De preferência na cabeça de abusador filho da puta de Liam Hunter.

Como Emma suportava aquilo? Eu não conseguia entender. Ela devia dar o fora dali. Ou melhor, denunciar Liam Hunter à polícia!

E será que Ethan sabia? Ah, eu não podia acreditar. Que sujeira toda era aquela no reino nos Hunter?


Já anoitece quando Emma volta para casa e ela está com Liam. Eu estudo os dois, que parecem relaxados e até mesmo amorosos um com o outro.

Será que era assim que ele agia? Eu já tinha ouvido falar de homens abusivos. Eles pareciam dóceis, mas no fundo eram filhos da puta, e muitas vezes a mulher nem percebia.

— Oi, Amy, como está meu bebê? — Emma se aproxima e tira Leo do meu colo. Liam apenas segue em frente para o quarto com um aceno rápido em minha direção.

— Tudo bem... e você? — Lanço-lhe um olhar de pena.

Mas ela sorri de volta.

— Estou cansada, afinal, como eu previ, a Zoe me esgotou, mas pelo menos os malditos vestidos foram escolhidos! Graças a Deus, ela viaja em poucos dias para a Irlanda e fica lá até o casamento e eu serei poupada!

— Que bom pra você — Será que Zoe sabia o que Emma passava?

— Eu vou ficar com Leo agora à noite, então se considere de folga. — Ela pisca e se afasta para o quarto.

Eu vou para a cozinha e pergunto a Eric onde é o apartamento de Ethan e tenho que aguentar ele responder com um sorriso malicioso que eu decido ignorar.

O apartamento de Ethan é alguns andares abaixo e eu rezo para ele estar em casa quando toco a campainha.

Ele a abre alguns segundos depois e, por um momento, eu me permito perder o fôlego com sua visão incrivelmente máscula. Ele usa apenas uma calça e está descalço.

— Amy Grant. — Saboreia meu nome, enquanto me mede da cabeça aos pés.

Luto para me lembrar o que eu vim fazer ali, em vez de pular em cima dele e pedir para me foder de novo até arrancar aquele desejo quase insano de dentro de mim.

Mas eu tenho algo mais importante para tratar com Ethan Coen hoje, então passo por ele e entro sem cerimônia na sala de seu apartamento.

Por um momento, deixo meus olhos curiosos percorrerem o ambiente muito masculino. A sala, quase tão espaçosa quanto a dos Hunter, mas menos arrumada.

É claro que um homem mora ali sozinho. Há algumas roupas espalhadas, uma TV enorme em uma das paredes e, próximo, um aparelho que deve ser algum videogame de última linha.

— A que devo essa visita inesperada? — Seu risinho safado não deixa dúvida de que ele achava que eu tinha vindo ali para ser seduzida. Ou seduzi-lo. Enfim...

Respiro fundo e volto ao foco.

— Você sabe que Liam Hunter bate na Emma?

Ele arregala os olhos, surpreso, e então de repente começa a rir.


Capítulo 19


Amy

 

— Por que está rindo? Isso é sério! Demais! Não acredito que sabe e acha engraçado. Ou eu estou louca? Eu acho que não! Quer dizer, tenho quase certeza de que ele bate nela sim!

— Provavelmente — Ethan responde indo até sua geladeira e pegando uma cerveja. — Quer uma, Penny?

— O quê? E você confirma com essa calma? Meu Deus!

Quem era aquela gente?

— Calma, Penny. — Ele me passa uma cerveja que eu pego ainda meio em choque. Tenho vontade de quebrar a garrafa na cabeça dele, se é o tipo de cara que encoberta aquele comportamento do seu chefe.

— Não posso ter calma! Você está rindo dessa situação horrível! Pobre Emma! Seu chefe é um abusivo filho da puta!

Ignorando meu ataque, Ethan pega meu braço e me faz sentar ao seu lado no sofá.

— Acho que já está na hora de saber de uma coisa.

— O que? Que Liam Hunter é um cretino abusador de mulheres? E que você dá risada disso?

— Penny, Liam não é um abusador e muito menos a Emma uma vítima inocente — diz ele, como se tivesse falando com uma criança.

Ah, ok!

— Eu vi as marcas roxas na pele dela! E ela ainda veio com aquele papo de que bateu em algum lugar!

— Penny, não é o que está pensando...

— E é o que então?

— Já ouviu falar de BDSM?

Eu franzo a testa, sem entender aonde ele quer chegar.

— Quê?

— BDSM. Bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo.

Eu arregalo os olhos, ainda confusa.

— O que isso tem a ver... Oh! — De repente eu começo a entender aonde ele quer chegar.

— Sim, acho que começa a entender. Liam é um dominador. E Emma é uma submissa. É o lance entre eles.

— Oh... Não! — exclamo, chocada em cristo.

— Isso aí. — Ethan toma um gole de sua cerveja. E eu faço o mesmo com a minha, tomando quase inteira para acalmar meus pensamentos caóticos.

BDSM? Aquele lance sexual esquisito de sadismo e masoquismo?

Liam Hunter é um dominador?

Caralho!

Por que nunca pensei nisso antes? Fazia todo sentido!

Combinava muito com ele, ser um cara que gostava de sexo punitivo, mas... Emma? A doce e angelical Emma?

Puta que Pariu!

— Quer dizer que Liam e a Emma praticam essa coisa de se vestir de coro e ficar batendo com o chicote?

Ethan ri.

— Não me pergunte detalhes, Penny. Não me intrometo na vida sexual do Liam e da Emma. Não é da minha conta. Se eles gostam de brincar de submissa e dominador entre eles, se Emma leva umas palmadas de vez em quando e parece gostar... É problema deles. Só queria que entendesse que Liam não é um homem que bate em mulheres. Quer dizer, ele bate, mas é porque elas gostam disso.

— Isso é uma surpresa. Ou nem tanto.

— Parece chocada. — Ele estuda meu rosto — Nunca ouviu falar disso?

— Sim, claro! Mas acho que nunca conheci alguém tão próximo e a Emma é tão...

— Não julgue as pessoas, Penny. Entre quatro paredes, vale tudo.

Bem, ele não deixava de ter razão. Quem era eu para julgar o que alguém gostava de fazer na cama? Mesmo achando um lance bizarro demais gostar de apanhar. Caramba!

— Eu não sei se permitiria algo assim. Alguém me batendo... Nem pensar.

— Prefere dominar? — Ele levanta a sobrancelha e um arrepio transpassa minha espinha.

Ele está perguntando sobre minhas preferências sexuais?

Oh.

— Talvez sim? Alguns homens certamente merecem levar uma sova. — Tomo um gole de cerveja e minha pulsação acelera com a risada de Ethan muito próxima ao meu ouvido.

— Estou à disposição, Penny.

Eu me viro devagar. E Ethan está sorrindo, daquele jeito safado e lindo.

Que faz aquele ponto entre minhas pernas umedecer em expectativa, se contraindo de ansiedade para senti-lo de novo.

— Está dizendo que seria meu brinquedinho, Ethan? — sussurro. — Meu escravo sexual?

Ele se levanta e, ah, ele tem uma ereção bem grande que não faz a mínima questão de esconder.

Eu começo a hiperventilar quando ele me estende a mão.

E o que eu posso dizer? Eu deixo que ele me puxe para o quarto.

Meu coração batendo forte no peito em expectativa.

Caralho. Isso está mesmo acontecendo?

— Não sabia que esse era seu lance — comento, e ele se sorri para mim.

— No momento meu lance é você, Penny.

— Ah...

— E eu vejo esses seus olhinhos pidões brilhando de curiosidade. Todo o papo sobre a vida sexual do Liam e da Emma mexeu com você.

— Já falei que não quero um cara me batendo.

— Mas quer me bater?

Oh, Deus.

— Talvez amarrar você e tê-lo à minha disposição possa ser bastante divertido.

Eu achava que ele ia recuar. Mas, porra, Ethan sorri e desaparece dentro do seu closet e quando volta me entrega uma algema.

— Você tem uma algema?

— Não sou santo, Penny. Posso não ser um dominador como o Liam e muito menos um submisso como a Emma, mas gosto de todo tipo de sexo. Ainda mais se for como uma ruiva deliciosa como você.

— Ah, está falando sério que vai me deixar fazer isso? — Começo a sentir até tontura. Tenho certeza de que meu rosto está pegando fogo.

Ele sorri lentamente.

— É só mandar, Penny.

Ah, meu Deus.

— Deite-se! — Peço. Ainda sem saber muito bem o que fazer. Nossa, era como largar uma criança dentro de uma loja de doce e dizer “pode pegar, é tudo seu”.

Respiro uma longa golfada de ar e esse ato só piora tudo porque sinto seu cheiro maravilhoso, enquanto ele se deita na cama. Ethan é tão grande que o colchão é quase pequeno demais para ele.

E, hoje, esse cara enorme (em todos os sentidos) é todo meu. Para brincar.

Para algemar e fazer o que eu bem entender.

O natal tinha chegado mais cedo esse ano!

Ethan tem um risinho de lado no rosto, que faz uma covinha aparecer. Mordo os lábios, contendo meu próprio sorriso safado.

Eu me sinto muito, muito safada neste momento.

— Está esperando o que, Penny? — Ele estica a mão, fazendo seu peito aumentar de tamanho e acho que está esperando que eu o algeme na cama.

Ai, caramba.

— Não me chame de Penny.

Ele levanta uma sobrancelha.

— E como devo te chamar?

— Deixe-me ver. — Eu me aproximo e seguro seu pulso, prendendo-o na cama e o encaro enquanto deslizo minhas mãos por seu braço, adorando sentir seu bíceps tremer. Posso sentir a respiração dele se acelerando.

Assim como a minha.

Aproximo minha boca da dele. Seu olhar está inquieto e pidão. Beijo seus lábios de leve e ele empurra a língua para buscar a minha, mas me afasto.

— Me chame de senhora.

Ele sorri enquanto eu me levanto e ando em volta da cama apreciando seu corpo.

— Está gostando disso não é, Penny?

— Ei! — Faço cara feia. — Como deveria me chamar?

— Você está gostando disso, senhora?

— Na verdade acho que está vestido demais... — Eu me aproximo de novo e me ajoelho na cama ao seu lado, levando minha mão ao seu jeans e abrindo. Ethan prende a respiração, ansioso.

É minha vez de sorrir com presunção.

— Está impaciente... escravo?

— Vai mesmo me chamar de escravo, P... quer dizer, senhora?

Dou de ombros, deslizando o jeans por sua perna. Deixo a cueca box preta de propósito.

— Não é o que você é?

Termino meu trabalho com a calça e o admiro.

Ethan é realmente uma visão. Quase dois metros de músculos e força esparramados sobre o colchão. À minha mercê.

Coloco uma perna de cada lado do seu corpo e deslizo a mão por suas coxas firmes, cheias de pelo escuro até o quadril estreito coberto pela cueca. Seu pau se ergue ainda mais em expectativa.

— Não acha que está muito vestida? — pergunta com a voz rouca, o que me deixa mais louca ainda.

Olho para mim mesma por um instante. Estou usando um vestido curto florido de verão, o que vem bem a calhar.

— Sou eu que dito o ritmo aqui, esqueceu? — E deixo minhas mãos afoitas correrem pelo peito maravilhoso, sua barriga de tanquinho. Abaixo a cabeça e beijo os caminhos de pelos que seguem até desaparecer na boxe.

— Está me matando, Penny...

Levanto de um pulo.

— Está me desobedecendo!

Ah, cara, isso é tão divertido!

Ele rola os olhos e solta um palavrão.

— Me desculpe, senhora.

— Assim é melhor... Agora vamos ver... Acho que essa boxe já pode ir embora.

Estico a mão e retiro a boxe, minha boca ficando seca com a visão de sua poderosa ereção se erguendo majestosa e exigente.

Minhas partes íntimas se contraem em expectativa, salivando... se é que me entendem.

— Você é tão lindo... Ah, o que eu poderia fazer com você, Ethan Coen...

— Eu tenho direito a um pedido, senhora?

— Não sei... você pode tentar!

— Quero te foder.

Eu rio.

— Não tão fácil assim... — Levanto minha saia, devagar, provocando. — Mas se fizer algum pedido mais razoável posso atender.

— Quero ver seus seios... senhora.

— Ok. Vou ser boazinha. — Abaixo a parte de cima do meu vestido e tiro meu sutiã. Adoro seu olhar intenso em mim e toco meus seios, apertando.

— Gosta deles?

— Muito, senhora.

— Quer sentir o gosto deles?

— Não só deles, senhora.

Ah, puta merda!

— Tira a calcinha — ele pede, impaciente.

— Não pode mandar em mim!

Seus olhos estão vidrados em mim e isso me deixa ainda mais excitada.

— Tire a calcinha! — Sua voz adquire um tom imperioso agora que confunde minha personagem dominadora. Eu quero fazer o que ele manda, porque, porra, ele sabe pedir com aquela voz de trovão.

Então, engolindo em seco, eu retiro minha calcinha e me acaricio.

— Cacete — ele sibila.

— Isso é tão pervertido — murmuro. — Parece que eu estou abusando de você.

— Não estou sendo abusado o suficiente — reclama, e eu rio, divertida, mas muito, muito ansiosa para atendê-lo.

Subo em cima dele e deslizo devagar, até estar de joelhos pairando em cima do seu rosto.

— Me beija! — ordeno e desço devagar, estremecendo inteira quando ele obedece, a boca me encontrando quente, úmida e ansiosa, depositando um beijo quente de língua e dentes ali.

— Ah — solto um longo gemido, jogando a cabeça para trás, perdida naquele prazer mundano que é ter Ethan Coen me saboreando.

Eu podia deixar ele ficar ali o dia inteiro, até eu gozar forte muitas fezes. Mas a brincadeira estava apenas começando, então reúno todo meu controle e me afasto, sentando em seu peito.

— Cansei dessa brincadeira.

— Por favor — ele pede, impaciente.

— O quê?

— Deixa eu foder você.

— O quê? — Estapeio seu rosto. — Fala direito, escravo.

— Senhora — ele corrige.

— Talvez eu me divirta com outras partes deste seu corpinho, segurança. — Acaricio seu peito, descendo meu corpo.

— Quero que foda meu pau, senhora.

— Talvez eu te vire de costas e foda sua bunda!

— Com o quê? — ele desafia com escárnio.

— Com os meus dedos pra começar. Tenho certeza de que eu acharia algo interessante depois.

— Onde estaria a graça para você?

— Talvez só goste de ver você sofrer.

— Eu já estou sofrendo. — Ele geme quando toco sua ereção, deixando meus dedos subirem e descerem devagar.

— Oh, pobrezinho. Tão forte e tão indefeso.

— Você está me matando...

Eu me inclino até que meus mamilos estejam na altura de sua boca.

— Lamba! — ordeno, e ele faz como eu pedi, a língua deslizando por meu mamilo, rodeando e terminando com um chupão forte e uma mordida que me faz gemer de dor.

— Ai! Como se atreve?

— Desculpa, senhora.

— Vou soltar você e vai pagar dez flexões por isso!

— Como quiser, senhora.

Eu me inclino e solto a algema, mas, sem aviso, Ethan parte para cima de mim, me segurando e me girando sobre a cama. E em questão de segundos, estou de bruços sobre o colchão, com o corpo forte de Ethan me prendendo lá, com uma mão segurando meus pulsos atrás das costas e outra em meu cabelo.

— Quem está fodendo por trás agora? — Ele rosna em meu ouvido. Sinto sua ereção na minha bunda.

Ai, merda.

— Quem é o senhor agora?

Sinto sua mão indo para o meio das minhas pernas e deslizando com perícia.

Gememos juntos.

— Porra! — Ele solta um grunhido. — Tão molhada. Me dominar te deixou assim?

— Ver seu pau duro por mim me deixou assim...

Ele me solta por um momento e escuto o barulho de uma gaveta se abrindo e o inconfundível barulho de um preservativo sendo retirado da embalagem. Nem me passa pela cabeça fugir.

Ele volta rapidamente, as mãos grandes subindo meus quadris e então está me fodendo fundo e com força. Não deixo de sentir um certo alívio por ser no buraco habitual, se é que me entende.

Fecho meus olhos e apenas deixo as sensações incríveis dominarem meu corpo e meus sentidos, enquanto Ethan estoca de forma quase bruta, os quadris batendo nos meus sem delicadeza, os dedos puxando meus cabelos e me fazendo gemer alto e ruidosamente, um prazer quente se enroscando dentro de mim.

— Porra, vou gozar logo. — Ethan grunhe atrás de mim — Merda!

É o que basta para o meu próprio clímax explodir e gozo forte, sentindo que Ethan também está perdido em seu próprio gozo, agarrando-me forte e tensionando dentro de mim.

Caímos na cama, lado a lado, arfando e rindo no minuto seguinte.

Acho que nunca ri tanto na minha vida. E a risada de Ethan é uma delícia, uma gargalhada ruidosa e rouca que me faz rir mais ainda.

— Ah, temos que fazer isso mais vezes — consigo dizer, enxugando as lágrimas dos meus olhos, enquanto Ethan retira o preservativo e puxa um lençol para cima de nossos corpos ainda suados.

— Ethan! — De repente nós dois paramos de rir ao ouvir a voz de Liam Hunter.

Que merda ele estava fazendo ali?

— É o Liam? — pergunto, empalidecendo no mesmo instante. E seria engraçado ver a cara de pavor de Ethan se eu mesma não estivesse preocupada no momento.

— Merda! — Ethan me empurra, fazendo com que eu role no chão. — Se esconde, ele vai ficar puto se te pegar aqui!

Os passos estão ficando cada vez mais perto da porta e eu não penso duas vezes em me levantar e correr para o banheiro da suíte, fechando a porta com um estrondo e me encostando nela.

Rezando para que não seja pega.


Capítulo 20

 

Ethan

 

Assim que Amy desaparece dentro do banheiro, tendo o bom senso de fechar a porta, Liam surge no quarto.

— Que porra, Liam? — reclamo, sabendo que de nada ia adiantar.

Liam Hunter era assim. Ali podia ser minha casa, mas ele tinha acesso a tudo como se fosse o rei em seu reinado. E vou dizer, até hoje eu nunca tinha me importado. Liam até já tinha me pegado pelado com alguma mulher vez ou outra, a que ele apenas fazia alguma observação irônica e me deixava terminar. Pelo menos ele respeitava as minhas fodas e adiava seja lá qual o assunto para depois que eu terminasse com a mulher em questão.

Mas, desta vez eu estava realmente puto.

O olhar analítico de Liam passeia pelo quarto por um instante. O vestido de Amy ainda está jogado pelo chão.

— Está com uma mulher, seu filho da puta?

— O que acha? — Bufo irritado. — Agora dá o fora.

— Cadê ela? Já estava na hora mesmo de transar, estava de muito mal humor...

— Some daqui! Ela está no banheiro e com certeza ia morrer de vergonha se a visse.

— Desde quando se preocupa com isso? — Ele dá de ombros. — Quando vai acabar aqui? Ia te chamar pra jogar.

— Por que não está trepando com sua esposa e me deixando em paz?

— Porque a Emma apagou. E eu ainda tive que fazer o Leo dormir porque a babá sumiu. Parece que a Emma deu folga para ela ou algo assim. — Liam aparentemente não percebe meu olhar nervoso para o banheiro, como se ele fosse juntar dois mais dois e sacar que era Amy Grant quem estava ali do outro lado da porta.

— Eu não estou disponível hoje — respondo.

Liam levanta a sobrancelha.

— Hum, a noite inteira hein?

— Cuida da sua vida, caralho! — Levanto-me, empurrando Liam para fora e fechando a porta na sua cara, ignorando sua risada.

Ainda espero os passos se afastarem até ouvir a porta da frente batendo, antes de ir até o banheiro à procura de Amy.

Ela está no chuveiro e um sorriso se forma nos meus lábios antes de entrar no boxe e abraçar seu corpo molhado por trás. Adorando pra cacete quando ela suspira e cola aquela bunda gostosa em meu pau muito disposto novamente.

— Seu chefe intrometido foi embora? — ela pergunta e eu rio, mordendo sua orelha. Ela estremece.

— Olha como fala! — ameaço, o que a faz apenas rir.

Gostava disso. Gostava de como ela soava tão irreverente às vezes, como se não estivesse nem aí para todo aquele nosso estilo de vida ali no reino de Liam Hunter. Aliás, às vezes parecia que ela não estava nem aí para Liam Hunter. Era um sopro de ar fresco, não podia negar.

— Por quê? Vai me punir? Achei que eu que mandava aqui...

Subo as mãos para seus seios, apertando ambos e a fazendo gemer de dor e prazer.

Sim, eu não era dominador e muito menos submisso, mas sabia bem como utilizar os dois para uma combinação muito interessante. E ia mostrar isso a Amy Grant. Ela já tinha brincado de senhora, agora eu é que ia brincar de senhor e escrava.

— Não tem medo? — sussurro em seu ouvido.

— Confesso que tenho medo do seu chefe.

— Isso eu já percebi. Só espero que não tenha o mesmo tipo de medo que Emma.

De repente me passa pela cabeça que Amy pode ter algum tesão em Liam e isso me irrita.

Claro que eu convivia com um cem número de mulheres que dariam tudo para estar na cama de Liam. E muitas delas tinham realmente estado, antes dele se casar com Emma. E não me importava. Até catei algumas depois de ele se cansar.

A única que tinha me irritado foi Nicole. Embora, essa Liam tivesse rejeitado. E certamente por minha causa.

Pensar em Nicole, faz algo escuro sombrear meu peito e eu solto Amy.

Ela se vira, franzindo os olhos.

— O que foi?

— Devo me preocupar? — insisto, mais duro do que deveria.

Eu sabia que no fundo estava sendo ridículo. Amy não era Nicole.

Mesmo porque o interesse de Nicole em Liam não era sexual e sim financeiro.

— Se preocupar com o quê? Que eu tenha medo do Liam... Oh... — De repente ela parece entender. — Ah, foi por isso que Emma ficou brava quando eu disse que achava que Liam queria me bater!

— Você disse isso a Emma?

— Eu disse, mas foi sem pensar e eu não entendi na hora as implicações do que estava dizendo! Que se Liam quisesse me bater... deste jeito que ele costuma fazer com a Emma, seria algo sexual ou qualquer coisa assim! Por isso Emma ficou brava! E Liam também!

— Liam ouviu?

Ela rola os olhos.

— Foi uma bobagem! Eu disse isso e Emma perguntou a ele, que ficou todo bravo e os dois tiveram um diálogo maluco que eu não entendi nada na hora e foram para o quarto. Agora eu sei bem por quê! — Ela ri.

— Então não tem nenhum interesse que Liam faça esse lance de dominador em você?

Ela me encara agora com um olhar divertido.

— Está com ciúme, segurança?

— Deveria? — Eu a prendo contra o vidro do boxe, e ela morde os lábios, com os olhos brilhando de desejo.

— Não tenho nenhum interesse no Leão de Wall Street. A única coisa que ele incita em mim é um medo do cão e nem é esse tipo de medo sexual aí que a Emma tem! Credo! — ela estremece e ri. Eu a beijo, engolindo seu riso.

— De mim, tem medo? — deslizo a boca por seu pescoço e a mão para no meio de suas pernas, a encontrando molhada. E não é da água do chuveiro. — Vai deixar eu ser o senhor agora?

Ela geme alto, ondulando os quadris contra meus dedos.

— Só se eu puder fazer um pedido?

— Posso ser bonzinho. Por enquanto.

Ela abaixa o olhar, como uma menina tímida, que tenho certeza de que nunca foi, e quando me encara novamente, sei que aceitaria qualquer coisa que ela pedisse.

— Posso chupar o seu pau... senhor?

Cacete!


***


Amy

 

Estou com um sorriso bobo no rosto na hora do almoço no dia seguinte e Eric com um sorriso malicioso quando me serve um suculento filé com batatas.

— Alguém teve uma boa noite de... sono? — ele cantarola.

A noite passada realmente tinha sido memorável para dizer o mínimo!

Acho que nunca tinha me divertido tanto na cama com um cara antes. Ou no chuveiro, relembro com um arrepio, ao me recordar de como foi bom deixar Ethan virar o jogo e brincar um pouco de dominador comigo. Obviamente ele foi esperto o suficiente apenas para ser mandão e se absteve da parte das palmadas, porque sinceramente eu não sei como reagiria a isso não. Mas pensando bem, se fosse com Ethan... talvez eu deixasse ele passar um pouco dos limites se fosse acabar com todos aqueles orgasmos que ele tinha me proporcionado ontem, antes de eu finalmente voltar para casa de madrugada, tentando não fazer barulho, como se fosse uma adolescente, depois de Ethan dizer que ele e Liam iriam viajar a Washington de manhã e só voltariam no dia seguinte. Hum, infelizmente eu não poderia fugir para o quarto dele hoje...

— Alguém devia cuidar da própria vida?

— Alguém deveria ter bastante cuidado com o chefe, que não vai gostar nada disso — ele diz, me fazendo estremecer de medo.

— Você não vai contar nada, não é?

— Claro que não. Isso é problema seu e do Ethan. Só estou... dando uma dica.

— É, eu sei. Obrigada.

— De nada.

— Mil vezes inferno! — Emma entra na cozinha esbaforida.

— O que foi? — Eu e Eric perguntamos ao mesmo tempo.

Ela havia saído cedo para degustar bolo ou algo assim com Zoe.

— Eu esqueci que a Zoe viaja depois de amanhã para a Irlanda.

— Você me disse que ela ia viajar por esses dias e achei até que estava contando as horas para se livrar dela.

— Sim, mas hoje de manhã ela veio com um papo assustador sobre uma festa de despedida de solteira! Aparentemente eu estaria organizando uma festa incrível para ela e tipo, eu nem faço ideia porque teria que fazer algo assim!

— Oh, deixa ver se entendi: Zoe acha que você vai dar uma festa de despedida de solteira e você na verdade não organizou nada?

— Sim! E ela disse “espero que seja hoje, porque amanhã eu estarei toda ocupada”

— E o que disse?

— Eu disse “claro que vai ser hoje” e ela riu e me abraçou dizendo que eu sou a melhor amiga do mundo.

— Acho que ela vai descobrir quando não tiver festa nenhuma que você é a pior amiga do mundo — Eric comenta.

Emma começa a chorar e eu abraço.

— Ei, não fica assim, vamos dar um jeito!

— Como?

— Ora, você é rica! Ricos podem tudo!

Ela ri enxugando o rosto.

— Não acho que seja tão fácil assim! Eu precisaria arranjar uma festa para poucas horas e convidar um monte de gente e ...

— Calma! A gente vai conseguir. — Seguro suas mãos — Vamos ver: precisamos de um local, por que não aqui no seu apartamento?

— Aqui?

— Sim, esse lugar é incrível e teríamos controle de tudo! Melhor do que conseguirmos fechar um lugar em poucas horas.

— O Liam ia conseguir isso.

— Liam está viajando e, fala sério, quer pedir para seu marido organizar uma festa para sua amiga?

— Não, ele não faria isso. Ele já está pagando o casamento, ia mandar eu me lascar se pedisse algo mais.

— Então, nós vamos conseguir sem ele!

— Falar é fácil.

— Então está decidido. Vamos fazer aqui!

— Eu não sei...

— Liam está viajando e volta amanhã, não é?

— Sim.

— Então está perfeito. Continuando. Precisamos de comida e bebida. — Encaro Eric. — Acho que o Eric pode conseguir, não?

— Posso dar um jeito.

— Ótimo, uma questão a menos.

— E como vamos convidar as pessoas? — Emma ainda parece incerta.

— Hum... Zoe tem facebook?

— Sim, ela vive para isso.

— Então vamos entrar no facebook dela e convidar suas amigas lá!

— E eu conheço uma garota do trabalho dela... Rachel.

— Ótimo, ligue para essa Raquel e peça pra trazer todo mundo.

— Acha que vão vir assim, em cima da hora?

— Querida, uma festa open bar na casa do Leão de Wall Street? Quando a notícia se espalhar vai ter gente se estapeando para receber um convite! — garanto.

 

— Graças a Deus a Amanda não pôde vir nessa festa — Eric pragueja, voltando para cozinha naquela noite e colocando a bandeja cheia de copos vazios na bancada, antes de enfiar a mão no cós da calça e tirar várias notas de dólar. Eu o tinha obrigado a ficar sem camisa para servir as garotas famintas por diversão na sala dos Hunter.

— Amanda passa bem com você, Eric, que peito incrível! — brinco, e ele ri, enquanto volta a encher as taças de espumante. — Como estão as coisas na sala? — indago, colocando um camarão na boca. Tinha fugido para a cozinha depois de verificar se Leo continuava dormindo tranquilo, alheio à bagunça na sala dos Hunter, lotado de mulheres barulhentas e bêbadas.

— Elas estão ficando cada vez mais bêbadas e mais atrevidas — Eric reclama.

— Ou seja, um sucesso! — Que orgulho!

Emma tinha duvidado até o último minuto de que íamos conseguir organizar a despedida de solteira de Zoe. Mas Eric conseguiu organizar, sem problemas, a parte de bebidas e comidas, melhor que qualquer buffet caríssimo da cidade. Como eu previ, as amigas de Zoe tinham corrido em massa para a cobertura dos Hunter, afinal, não era todo dia que se era convidado para uma festa no covil do Leão de Wall Street.

E quando Zoe apareceu, fazendo cara de surpresa, em meio a gritos e lágrimas, Emma respirou aliviada e eu liguei o som muito alto, enquanto Eric servia espumante caro e canapês chiques para a horda ávida de mulheres.

— Emma, está tudo incrível! — Zoe abraçara Emma, que piscou para mim, levando o crédito e me fazendo rir. — Não vejo a hora da chegada do stripper!

Emma arregalou os olhos para mim e eu fiz uma careta.

Porra, tinha esquecido do stripper!

— O que vamos fazer? — Emma correu para a cozinha atrás de mim, depois de deixar Zoe se embebedando na sala.

— Eu não sabia que sua amiga ia querer um stripper... — Olhei para Eric, que já estava sem camisa e ele sacudiu a cabeça negativamente.

— Nem pensar! Não vou rebolar o traseiro na cara daquelas loucas na sala.

Mas de repente algo me ocorreu e eu peguei o celular.

— Não se preocupe, eu vou dar um jeito. Zoe quer um stripper? Eu vou conseguir um! — garanti à Emma.

E quando a campainha toca, corro para atender, ansiosa.

As mulheres na sala estão em diferentes níveis de embriaguez, mas todas ficam alerta.

— É o stripper! — alguém grita, fazendo as outras gritarem atrás, ouriçadas.

Abro a porta e arregalo os olhos ao ver Tiziano vestindo um uniforme de policial.

— Caramba, onde conseguiu isso? — Não consigo conter a gargalhada.

— Querida, Tiziano consegue qualquer coisa. Eu saí com um policial meses atrás e ele me emprestou o uniforme. Tive que pagar um boquete, mas não foi sacrifício... — Ele pisca. — Quem é a noiva?

— Aquela morena de cabelos com luzes e vestido dourado. — Eu aponto para Zoe, que tem os olhos brilhando de expectativa. Assim como todas as mulheres na sala.

— Ok, hora do show! — Tiziano entra e eu faço um sinal para Eric aumentar o som. — Recebi uma reclamação de barulho neste apartamento. — Tiziano usa sua voz máscula, e posso ver o nível de feromônio explodindo na sala.

— Me desculpe, senhor policial — entro na brincadeira —, mas estamos dando uma festa para aquela moça ali. — Aponto para Zoe.

Emma está ao seu lado de olhos arregalados.

— Então já temos uma culpada. — Ele se aproxima de Zoe. — Acho que terei que revistá-la, senhorita.

— Ai, meu Deus! — Zoe suspira e passa a taça que segura para Emma, que toma tudo de um gole só.

Tiziano puxa Zoe e começa a passar a mão nela, ao som da música. A garota ri feito boba, e as amigas, à sua volta, soltam gritinhos a cada investida mais sacana de Tiziano.

— Acho que tenho que pedir desculpas por isso, senhorita — ele diz. — Parece que não encontrei nada suspeito. Mas como sou um cara legal, posso fazer um show pra você e suas amigas.

— Sim! — elas gritam em coro.

— Tira a roupa! — alguém mais atrevida grita e arregalo os olhos ao ver que foi Emma.

Tiziano coloca Zoe em uma cadeira e começa a dançar, mexendo os quadris sensualmente e tirando a blusa, mostrando seu peito incrível e o tanquinho sarado, para a alegria da plateia feminina.

— Onde foi que você encontrou esse cara? — Emma pergunta quando paro ao lado dela.

— Não conta pra ninguém, mas ele é meu colega de apartamento — cochicho.

— Sério? Você mora com esse gostoso?

Eu rio.

— Ele é gay.

— Oh. — Ela faz uma careta decepcionada, mas logo se anima de novo — Bem, se é assim, acho que é até melhor, não é como se eu pudesse transar com ele ou algo assim — ela diz e eu me pergunto quanto daquelas taças ela já tomou. — A gente pode aproveitar!

E ela vai para o lado de Zoe, que agora tem suas mãos presas por Tiziano que faz ela abrir sua calça.

— Cara, isso está muito engraçado — Eric comenta, passando ao meu lado, e tenho que concordar.

Tiziano tira a calça a joga para a mulherada, que está delirando com sua sunga pequena de oncinha.

Caralho, que diabos era aquilo?

Agora elas se revezam colocando dinheiro em sua sunga ridícula, enquanto aproveitam para passar a mão em seu corpo sarado.

— Amy — Emma me abraça —, você é incrível! Estou amando tudo!

— Eu disse que íamos conseguir!

Ela ri, suada e bebendo mais espumante.

— Acho que nunca fui numa festa assim!

— Não teve uma despedida?

— Eu estava grávida e tinha acabado de sofrer aquele acidente, com o tornozelo engessado e tudo! — Ela dá de ombros. — Eu saia com a Zoe quando era solteira, mas depois... Acho que até agora não tinha percebido como sinto falta de um tipo de diversão assim, beber e apenas me divertir.

Eu sorrio com pena.

— Você é nova demais para estar casada e com um bebê. É normal se sentir assim. — Não consigo evitar de falar e Emma me encara aturdida. Merda. Acho que falei demais. — Então agora aproveita para se divertir! — Eu a puxo para o meio da sala, agora transformada em pista de dança, onde Tiziano é o rei da noite.

Ele puxa Emma, que não se faz de rogada e ri, enquanto ele a gira.

— Mas que merda é essa?

Paro de dançar e olho para porta onde Liam Hunter está encarando a bagunça na sua sala com cara de poucos amigos, com Ethan tão surpreso quanto ele, logo atrás.

Ai, agora lascou.


Capítulo 21

 

Ethan

 

Por um momento estou tão estupefato quanto Liam, olhando a horda feminina dançando e rindo ao som de uma batida alta, enquanto um cara sarado vestindo tanga de oncinha rebola grudado em ninguém menos que Emma Hunter.

— Ai, droga! — Amy se aproxima e não posso deixar de apenas admirá-la por um momento, trajando um minivestido preto. Seu olhar é de surpresa e medo e, quando volto minha atenção a Liam, começo a ficar com medo por ela, porque já está claro para mim que, embora a tagarela seja meio louca, ela não teria como armar aquela boate na sala.

Isso era obra de Amy Grant.

— Emma — Liam grita ao meu lado, indo na direção da esposa e eu o seguro, ao mesmo tempo em que o cara que está sarrando Emma se vira e eu reconheço o colega de apartamento gay de Amy, Tiziano.

Emma está rindo e dançado e ainda não viu Liam.

— Calma, cara — sibilo para Liam, que está prestes a cometer um assassinato.

— Que porra está acontecendo aqui? — ele grita. — E que merda Emma está fazendo se esfregando naquele cara?

Amy está perto agora, branca feito papel.

— Não deveriam estar aqui — gagueja, olhando de mim para Liam.

Liam agora prende a atenção nela.

— Isso é obra sua? — Seu tom é frio como gelo, porque ele já percebeu o que eu percebi.

— Liam! — A voz de Emma se faz ouvir por cima do burburinho e agora ela segura a mão de Tiziano e vem em nossa direção. Tiziano está rindo e secando Liam, alheio ao perigo que corre.

— Que porra é essa? — questiono a Amy, ainda segurando Liam, que agora está rosnando.

— É a festa de despedida de solteira de Zoe — Amy explica rápido.

Ah, agora eu entendo.

Emma, muito provavelmente bêbada e sem noção do que está causando, se joga em cima de Liam, atracando os braços em seu pescoço e o beijando.

— Você voltou!

— E você está bêbada, caralho! — ele grunhe, e Emma apenas ri.

— Sim, eu estou! E estava dançando, você viu? Já conhece Tiziano? Ele não é gostoso? Opa, lindo? Quer dizer...

— Emma, melhor calar a boca — Amy sussurra.

— Eu preciso me apresentar, sou Tiziano, uma honra conhecer o leão de Wall Street, uau! — Tiziano sorri.

— Quem diabos é você e por que estava se esfregando na minha esposa?

— Ele é amigo de Amy — explico rápido, antes que Liam parta para cima de Tiziano, que não parece nem um pouco preocupado. Talvez ele até curta levar uma sova de Liam, pelo olhar de cobiça que lança a ele.

— Querido, ele não estava se esfregando em mim. — Emma ri. — Quer dizer, eu estava me esfregando nele. — Ela ria mais ainda.

O que faz Liam soltar um grunhido ainda mais alto.

— Emma, porra, pare de piorar a situação! — peço, embora saiba que ela está além da razão nesse momento. Ela fica ainda mais tagarela quando está bêbada. Haja vista quando chegamos em sua casa, quando ainda namorava Liam e ela confessou, tão bêbada quanto agora, que tinha beijado outro cara, o que fez uma pequena crise se instalar entre eles.

— Ah, não fica com ciúme, querido! Ele é gay. Infelizmente. — Ela ri alto.

E Liam franze a testa.

— Sim, este é Tiziano. — Amy agora se coloca na frente do amigo. — Nós moramos juntos, e ele apenas se prontificou em ser nosso stripper hoje porque estava muito em cima da hora para contratar um e... quer dizer, claro que eu não ia contratar um stripper de verdade para se esfregar na sua esposa...

— Amy, já chega — eu a impeço de continuar. — Acho que o Liam já entendeu o que está rolando aqui. É uma festa para Zoe. — Eu olho para cima e vejo Zoe pulando no sofá com uma garrafa de champanhe na mão.

— Por que diabos eu não estava sabendo disso? — Liam indaga, cuspindo fogo.

— Nós aprontamos tudo em cima da hora. — Amy me encara. — Achei que iam voltar só amanhã.

Ah, agora ela estava brava?

— E decidiram fazer uma festa desse nível com meu filho em casa? Aliás, você não devia estar cuidando dele, Amy Grant?

Caralho.

Amy fica vermelha e começa a gaguejar.

— Leo está dormindo...

— Vem, Liam, vamos dançar! — Emma continua rebolando e tentando levar Liam para o meio da sala.

— Liam! Você chegou! — Zoe grita agora. — Galera, o leão está aqui! Levanta a mão quem quer que o leão faça stripper para a gente! — E toda a mulherada grita eufórica.

Eu teria rido da cara de horror de Liam se a situação não tivesse passando dos limites.

Vejo Eric vindo pelo corredor com uma bandeja e sem camisa. Ele arregala os olhos ao nos ver e volta correndo para a cozinha.

Caramba!

O que mais eu ia ver por ali?

— Acho que vou vomitar — Emma diz de repente e Liam a segura, antes que ela vá ao chão.

— Bem, acho que já chega. — Ele a pega no colo e me lança um olhar exasperado. — Vou levá-la para o quarto. Cuida dessa bagunça aqui. — Ele olha para Amy que se encolhe. — E, com você, eu me entendo amanhã.

— Ai, merda — Amy choraminga.

— Que porra estava pensando, Penny?

— Eu achei que iam voltar amanhã! Zoe queria uma festa e Emma esqueceu de organizar!

— E você achou uma boa ideia dar uma festa com seu amigo peladão ali. — Aponto para Tiziano que agora está dançando em cima do sofá com Zoe. — Aqui na casa do Liam? Enlouqueceu?

— Não era para estarem aqui! Agora Liam vai me demitir...

Eu bufo, olhando em volta.

— Acho melhor começar a dispersar essa galera. Antes que o Liam volte e decida fazer isso ele mesmo.

— Acha que ele vai me demitir?

— Eu não duvido, hein. Ele não gostou nada de ver Emma no meio da bagunça e ainda se esfregando naquele seu amigo.

— Ela não estava fazendo nada demais! Caramba, ela estava se divertindo muito. Liam devia ficar feliz!

— Feliz?

— Ah, quer saber? Você e Liam Hunter são dois escrotos! Machistas! Estão bravos só porque a gente estava se divertindo, rindo, bebendo e dançando.

— Hei... — Eu percebo que ela está ficando brava e não sei por quê.

Ela não conhecia Liam e não entendia que ele era muito possessivo com Emma?

— Não, não quero discutir! Estou cansada e tem razão, precisamos acabar agora com essa bagunça. Vou pedir para o Eric desligar a música e ajudar a pôr essa gente para fora.

— Amy — eu a chamo, mas ela já está indo para cozinha.

Zoe escolhe esse momento para cair do sofá e eu vou em seu socorro com um suspiro.

****

Eu entro na cozinha na sala dos Hunter na manhã seguinte e milagrosamente tudo está limpo como se não tivesse rolado uma festa de arromba no dia anterior.

E me pergunto se Liam já despediu Amy. De verdade, eu estava preocupado com ela depois de ontem. E esperava que tivesse a chance de conversar com Liam e tentasse ao menos defendê-la antes que ele a enxotasse dali. Eu não queria que Amy fosse embora. Tinha certeza de que ela apenas quis ajudar Emma, e realmente eu e Liam não íamos voltar naquela noite. Mas desde que se casara, Liam vinha tentando diminuir seu tempo de viagens para ficar em casa com Emma e Leo. Nem sempre era possível, mas quando conseguia, ele voltava correndo para Manhattan. E chegar em casa e encontrar uma boate instalada em sua sala e a esposa bêbada se esfregando num cara seminu não tinha sido a melhor recepção.

Não seria para nenhum cara, e para alguém como Liam era mil vezes pior.

Dirijo-me para a cozinha e encontro Emma sentada à bancada com o rosto pálido, com uma xícara de café nas mãos.

— Bom dia, tagarela, ressaca? — Acho divertido o olhar de fúria que me lança.

— Cala a boca. E não fala alto perto de mim. Minha cabeça parece que vai explodir.

— Você estava se divertindo muito ontem...

Ela esboça um sorriso.

— Ah, sim, isso não posso negar.

— Seu marido ficou bem puto quando te viu esfregando esse seu traseiro gostoso na sunga de oncinha do Tiziano.

Ela geme com uma careta.

— Não me lembre! Por que diabos chegaram mais cedo?

— Liam estava com saudade.

— Ah, merda.

— Sim, uma grande merda, tagarela.

— Eu só queria dar uma festa legal para a Zoe.

— E Amy que deu a ideia?

— Ela apenas quis ajudar e a festa foi um sucesso. A Zoe já me ligou agradecendo e dizendo que sou a melhor amiga do mundo! Provavelmente ela não lembra que pediu para Liam fazer stripper pra ela.

— Você lembra disso?

— Liam me lembrou tudo hoje de manhã! E sabe muito bem com que humor!

— Ele está muito bravo?

— Ele queria demitir Amy para ter uma ideia.

Eu fico alerta.

— Demitir Amy?

— Ah, mas eu não deixei. Mandei-o parar com isso, porque Amy é minha empregada e não dele.

— E ele concordou?

— Não tem que concordar com nada. Eu mando aqui também. E, em se tratando de Amy, sou eu quem tomo as decisões. E ela vai é ter um aumento.

Eu rio, mais aliviado.

— Você é dura na queda, hein tagarela?

— Eu tento. — Ela sorri, mas de repente fica séria. — Você acha que eu casei muito rápido?

— O quê? — Eu a encaro sem entender de onde tinha surgido aquele papo.

Ela dá de ombros.

— É algo que fico pensando às vezes... Eu só tenho vinte e três e as garotas da minha idade, tipo a Amy, estão por aí curtindo a vida, e eu estou aqui com um bebê.

— Nunca achei que isso fosse problema para você. Achei que era louca pelo Liam e estava feliz com sua vida.

— Eu sou, mas...

— Por que está pensando nisso agora? De onde surgiu? — indago, desconfiado.

— Amy me disse algo.

Ah, de repente eu entendo.

— Amy andou colocando caraminholas na sua cabeça.

— Não! Ela só comentou e tipo, é verdade! Eu realmente me casei rápido.

— Bom dia. — Antes que eu possa dizer algo, Amy surge com Leo no colo. Ela também está um tanto pálida. E deve ser de ressaca.

Eu a encaro com certa raiva. Porque ela andava colocando besteiras na cabeça de Emma?

— Meu bebê! — Emma pega Leo no colo e se levanta, se afastando em seguida.

— Ei! — Amy se serve de café me encarando, ressabiada com meu olhar frio. — Está bravo ainda por causa de ontem.

— Não. Estou bravo porque anda colocando besteiras na cabeça de Emma.

— O quê? — Ela me fita, confusa.

— Emma disse que você comentou que ela casou cedo demais.

— Ué, mas é verdade!

— Emma e Liam são felizes. Emma é feliz aqui, porque a está deixando confusa?

— Ei, como assim? Eu só fiz um comentário! Um comentário verdadeiro e que provavelmente Emma concorda, se está refletindo sobre o assunto! É realmente muito nova para estar casada e com um bebê! É normal ela se sentir presa aqui.

— Emma não se sente presa aqui, que merda é essa?

— Pois eu acho que sim! — Ela para na minha frente, não recuando. — Você e Liam são dois machistas! Acham que Emma deve se sentir feliz e agradecida por Liam ter casado com ela! Pelo amor de Deus! Há muito mais na vida do que isso! Ela deve almejar mais do que viver a vida em torno de Liam Hunter!

— Você não sabe o que está dizendo...

— Sei, sim! E não é só a Emma que vive assim! Todo mundo vive a vida do Liam! Como se ele realmente fosse o rei e vocês os súditos! Tudo tem que correr conforme suas vontades! Não pode negar! Até você! Não tem uma vida, vive a vida do Liam, correndo atrás dele e fazendo suas vontades! É assim que quer viver o resto da vida? Talvez a Emma já tenha acordado para o fato de que ela pode fazer o que quiser, independentemente do Leão de Wall Street gostar ou não!

— Você está aqui há cinco minutos e acha que sabe muito sobre todos nós! Talvez devesse deixar Liam te demitir, se odeia tanto o que temos aqui — digo friamente, irritado com suas opiniões.

— O que está dizendo?

— Emma disse que Liam queria te demitir.

Ela empalidece e eu continuo.

— Mas ela não deixou. Emma gosta muito de você. Mas ela não é muito boa em julgar caráter.

— O que quer dizer?

— Que talvez não devesse dizer, a ela, essas merdas que disse a mim. Porque ela não vai gostar de ouvir, Emma ama o Liam, assim como eu. Talvez você não entenda e nunca vai entender esse tipo de conexão. Então não deve ficar aqui.

E eu lhe dou as costas saindo da cozinha, indo esperar Liam no carro.

Estava puto com Amy Grant.

Quem ela pensava que era?

“Mas ela não tem razão, você não vive mesmo a sombra do Leão de Wall Street”?

Minha consciência me alerta e eu a rechaço.

Sim, era verdade, mas era a vida que eu escolhi viver. Liam era mais que meu patrão. Era meu amigo. Meu irmão. Ele tinha me tirado de uma vida de merda. Por que eu ia querer ter uma vida diferente daquela que vivia com ele?

— Que cara é essa? — Liam entra no carro. — Está de ressaca também, porra? Já basta a cara de merda da Emma.

Eu rio, dando partida enquanto ele liga o rádio.

— Estava só pensando...

Ele me fita, franzindo a testa.

— Não pareciam bons pensamentos.

— Todos nós temos nossas merdas.

— Está com algum problema? — ele insiste, sério.

— Não, claro que não — desconverso. — Emma disse que queria demitir Amy Grant.

— Eu devia! Mas Emma disse que não sou eu que devo tomar essa decisão e sim ela.

— Achei que ia insistir. — Não era do feitio de Liam ser contrariado.

— Emma gosta muito de Amy.

— E você está ok com isso?

— O que quer dizer? Não é como se eu proibisse Emma de ser amiga de quem bem entende!

Eu rio e Liam refaz a colocação.

— Ok, eu fico de olho em Emma, porque você sabe que ela tem um histórico de se envolver com gente que não vale nada.

Sabia que ele estava falando da ex-chefe de Emma.

— E, pode não parecer, mas às vezes eu me preocupo de ela se sentir sozinha.

É minha vez de o fitar com a testa franzida.

Liam era louco por Emma. Tinha sido assim desde que ele pousara os olhos nela e ele não sossegou enquanto não a trouxe para casa, primeiro lhe propondo casamento com apenas um mês de relacionamento e depois aproveitando da gravidez inesperada para adiantar o casamento, mesmo Emma tendo dito que seria ela a escolher quando iam se casar e até tinha adiantado que o noivado seria longo, afinal, eles mal se conheciam. Mas mesmo com tudo tendo rolado rápido demais, eles eram felizes pra caralho juntos. Eu não tinha dúvida de que foram feitos um para o outro. E, Leo, embora tivesse chegado cedo, apenas viera completar a felicidade dos dois. E eu achei que Liam estava satisfeito e tranquilo por Emma estar ali, ao seu lado. Não me passava pela cabeça que ele pudesse ter alguma dúvida de que ela fosse totalmente feliz com ele.

— O que quer dizer?

— Eu não gostei desse papo dela querer trabalhar — ele confessa.

— Eu sei, mas achei que tinha concordado. Afinal, não foi por isso que contrataram uma babá?

— Sim, concordei. Porque mesmo Emma não precisando trabalhar, entendo que ela pode se sentir sozinha e sem ter algo útil para fazer em casa.

— Sério? Achei que era feliz com Emma vivendo a sua volta.

Ele ri.

— Isso é o que eu gostaria de imaginar como perfeição. Mas ela é inteligente e muito jovem. Eu não liguei quando ela quis deixar a profissão de jornalista de lado porque sabia que ela não gostava, só estudou isso porque seu pai insistiu. E teve aquela confusão com Samanta Arden. E depois Leo. Mas entendo que ela pode querer mais do que ficar em casa criando Leo. Meu trabalho toma muito tempo e mesmo eu tentando ficar mais em casa, é impossível. Então é natural que ela queira fazer alguma coisa com seu tempo.

— E o que Amy Grant tem a ver com isso?

— Elas se tornaram amigas, dá pra perceber. E parece que Emma fica mais feliz com Amy por perto. Então talvez o problema não fosse o trabalho e sim falta de companhia.

— Zoe também é amiga de Emma.

— Zoe é um gnomo interesseiro e fútil. Nem sei como elas conseguem ser amigas.

Eu rio. Liam nunca foi com a cara de Zoe.

— E mesmo assim está bancando o casamento suntuoso dela.

— Eu faço para deixar Emma feliz.

Sim, Liam era capaz de qualquer coisa para fazer Emma feliz. E agora ele achava que Amy fazia Emma feliz. E por isso estava deixando que ficasse por perto.

Como será que ele reagiria quando soubesse que eu estava fodendo a babá bem debaixo do seu nariz?

Será que ia se importar?

Eu não saberia dizer. Mas por enquanto era melhor que Liam continuasse assim, sem saber de nada.


Quando voltamos para casa naquela noite, já passa das nove da noite e eu sigo com Liam para sua casa, com a desculpa de que quero dar um alo para Emma e Leo, mas na verdade eu quero ver Amy.

A verdade é que a raiva que eu estava sentido de manhã já tinha arrefecido e agora o tesão tinha tomado conta dos meus pensamentos de novo. E tudo o que eu almejava era levar Amy Grant de volta para a minha cama, para mais algumas horas de sacanagens.

Mas o apartamento está silencioso quando entramos e seguimos para a cozinha, onde apenas Eric está.

— Ei, Eric, cadê a Emma? — Liam pergunta.

— Ela saiu com Amy.

— A essa hora? Com Leo?

— Não. Leo está aqui. — Ele aponta para o carrinho de Leo, onde o bebê dorme tranquilo.

— E onde diabo elas foram?

Eric me lança um olhar que eu entendo como “segura essa agora”.

— Elas foram a uma boate.

Ai, cacete.

Agora o bicho ia pegar.


Capítulo 22

 

Amy

 

— Uau, devíamos fazer isso sempre! — Emma diz ao meu lado, e eu sorrio de seu entusiasmo.

Eu tinha ficado surpresa quando ela disse, naquela tarde, que queria sair para dançar. Depois da surpresa nada agradável de ontem à noite, quando Liam chegou e nos flagrou no meio da festa de Zoe, com direito a Emma bêbada e se esfregando em Tiziano, eu achava que ela ia me passar algum sermão ou me culpar por toda a confusão. Mas em vez disso ela me chamou para sair.

— Tem certeza? — Eu franzi a testa, tentando entender de onde surgira aquela ideia.

— Claro! Eu me diverti tanto ontem! E agora eu percebo que estou há muito tempo trancada em casa, sem fazer algo realmente louco!

— Louco? — Caramba ela queria mesmo confusão. Tive vontade de dizer a ela que se queria fazer coisas loucas, não deveria ter engravidado e casado com um cara como o Leão de Wall Street. Mas me calei. A discussão com Ethan ainda estava fresca na minha mente. Pensar naquilo me deixava com o estômago revirado. Eu odiei brigar com Ethan. Mas deveria saber que ele ficaria puto por eu questionar o estilo de vida que eles viviam ali, endeusando Liam Hunter.

Mas agora ele estava bravo comigo e eu não gostava nada daquela situação.

— Sim, dançar, beber, rir, me divertir! — ela disse. — Vou deixar você escolher a boate, eu não conheço muitas!

Cogitei seriamente me recusar a participar daquela pequena rebelião de Emma Hunter, mas, poxa, eu gostava de Emma e realmente queria vê-la feliz. Se ela estava querendo sair um pouco daquela sua rotina de mãe e esposa de Liam Hunter, eu podia ajudá-la.

Agora eu olho para ela, usando um vestido justo e dourado e maquiagem pesada nos olhos, que eu mesma fiz, enquanto ela bebe avidamente seu Cosmopolitan e me pergunto em que tipo de enrascada me meti dessa vez. Para quem morria de medo do leão e estava infiltrada na vida dele com objetivos escusos, tentando passar despercebida e sair viva, estava arriscando demais meu pescoço.

Ainda me lembrava de Ethan dizendo que Liam queria me demitir e que Emma tinha vetado. Até tinha agradecido a ela e pedido desculpas por tê-la colocado naquela situação com o marido.

— Não peça desculpas! Eu amei o que fez.

— Mas o Liam ficou tão bravo que queria me demitir.

— Ele não vai te demitir, eu não vou deixar! — Ela me abraçou e eu senti um aperto de culpa no peito.

Emma era tão legal e eu estava sendo uma filha da puta.

— Adoro essa música! — ela grita ao meu lado, enquanto se levanta. — Vamos dançar!

Eu me divirto com seu entusiasmo, mas meu celular vibra naquele momento.

— Vai indo, tenho uma mensagem.

Ela se afasta, sumindo no meio da horda de corpos em movimento e eu gelo ao ver a mensagem no meu celular.

“Liam está indo buscar Emma”, E.

Caralho. Cacete. Merda. Todos os palavrões possíveis e imagináveis!

Agora sim eu estava lascada.

Levanto e vou para a pista encontrar Emma, mas começo a me desesperar ao não a encontrar em lugar nenhum.

Volto para mesa e percebo que o celular dela está tocando dentro da bolsa Gucci que ela largou ali. Puta merda, certeza que deve ser Liam.

E, justamente quando estou cogitando atender e ao menos tentar acalmá-lo, vejo Ethan vindo em minha direção com cara de poucos amigos e Liam logo atrás não com uma expressão melhor.

Será que dá tempo de levantar e correr até o Canadá?

— Oi. — Sorrio em vez disso, como se encontrasse velhos amigos na balada. — Vocês por aqui!

— Onde diabos está minha mulher? — Liam passa à frente de Ethan e engulo em seco.

— Liam, calma aí. — Ethan toca seu peito.

— Ela está dançando — respondo rápido.

Liam olha em volta, como que farejando.

— Cara, relaxa. — Ethan tenta de novo. — Emma é bem grandinha, ela deve apenas estar se divertido.

— Você conhece a Emma e sabe muito bem que ela não é muito coerente quando inventa de se divertir. — Liam rosna e me pergunto que porra Emma andou aprontando no passado para deixar Liam desconfiado daquele jeito. Ou ele era só um cara possessivo demais mesmo?

— Senta aí, e toma um drink, eu vou encontrá-la — Ethan continua, mas Liam já está andando para o meio da pista.

— Não, eu mesmo vou encontrá-la.

Ethan bufa e volta a atenção para mim. Eu me encolho quando ele senta ao meu lado com o olhar fuzilando em minha direção.

— Que merda pensa que está fazendo?

— Eu?

— Sim, você. Emma não teria ideia de vir aqui sozinha. Sei muito bem que anda colocando ideias na cabeça dela e...

— Eu, ei... pare aí! — Levanto a mão me defendendo. — Foi Emma quem me chamou para sair e não o contrário! Ela disse que queria dançar e se divertir. Que percebeu ontem que sente falta disso. Então, como te disse hoje de manhã, ela pode não estar tão feliz assim em ser a esposinha feliz do Leão do Wall Street!

Ethan solta um palavrão e parece irritado e frustrado. Toco seu braço, tentando acalmá-lo.

— Eu não quero causar confusão entre a Emma e o Liam...

— Mas é só o que vem acontecendo depois que você surgiu. — Ele me encara com frieza e empalideço, como se Ethan pudesse descobrir minhas reais intenções.

Eu não tinha a menor intenção de causar qualquer problema entre Emma e Liam. Claro que eu tinha minha opinião sobre o tipo de relacionamento que eles viviam. Realmente tinha minhas dúvidas se era saudável. Liam era um cara muito intenso e possessivo e Emma, uma garota doce e muito nova ainda. Sem contar aquele lance todo do BDSM que eu não entendia muito bem. Mas no final das contas, quem era eu para questionar como as pessoas decidiam viver?

Eu só achava que Emma tinha o direito de questionar e se rebelar contra algo que lhe fora imposto e não escolhido. Era óbvio que ela era louca por Liam e, justamente por causa disso, tinha mudado toda sua vida para estar do lado dele. Mas ela ainda era uma mulher e tinha direito a sua individualidade. De viver seus sonhos, de poder sair e se divertir quando queria, sem que o marido enfurecido fosse buscá-la e levá-la à força para casa.

Se Ethan não entendia isso, começava a achar que ele não era um cara para mim.

Opa, o que diabos eu estava pensando?

Desde quando eu pensava em Ethan naqueles termos? Em alguém que eu queria para mim?

Engulo em seco, esvaziando o resto da minha taça com o coração afundando no peito. Ethan não era para mim. Ou melhor. Eu não era para ele.

Inferno, ele nem sabia de verdade quem eu era. E iria me odiar quando descobrisse.

Assim como Emma, penso, quando a vejo se aproximar com o braço de Liam a sua volta. Eu os encaro, preocupada. O que será que tinha acontecido? Liam ainda parece bravo, mas pelo menos Emma está sorrindo.

Será que já estava tão bêbada que nem percebia toda a tensão à sua volta?

— Ei, Ethan, você também está aqui! — Ela se joga no sofá do meu lado. Liam continua em pé.

— Emma, eu disse que íamos embora.

— E eu disse que íamos ficar — rebate com um sorriso no rosto, mas percebo uma determinação diferente em sua voz.

Wow. Ela não está bêbada não. Emma sabe muito bem o que está fazendo!

Eu olho a cena à minha frente, como se fosse uma novela mexicana, muito interessada no desenrolar da trama.

Ethan está alerta e Liam solta um palavrão.

— Emma — ele sibila.

— Eu preciso de uma bebida! — Ela faz sinal para o garçom que está passando. — Alejandro, mais um Cosmo pra mim!

— Emma, não vai mais beber — Liam diz agora, e eu percebo um tom de preocupação em sua voz exasperada.

— Vou sim! Vou beber até cair se quiser — ela desafia. — Estou me divertindo, Liam. Hoje é a noite das garotas! — Ela olha para mim e eu tenho vontade de dizer “não me coloca em mais confusão não” — Aliás, se acostume que acho que vou estabelecer um dia todo mês para isso!

Caramba, ela está cutucando o Leão com vara curta.

— Então, acho melhor você e o Ethan darem o fora! — continua. — Nós sabemos nos cuidar.

— Você lembra muito bem o que acontecia quando decidia sair e beber em suas noites de garota.

Emma arregala os olhos e agora vejo que ela também está enfurecida

— Não acredito que está jogando isso na minha cara! Sério, Liam? — Seu tom é furioso e magoado ao mesmo tempo. — Acha mesmo que é para isso que estou aqui, vá se foder! — Ela se levanta, eu me movo para fazer o mesmo, mas Ethan me segura, ao mesmo tempo que vejo Liam fazendo o mesmo com o braço de Emma.

— Não se intrometa! — Ethan sussurra ao meu lado.

— Me desculpa. — Escuto Liam dizendo e fico muito surpresa. Não esperava que ele fosse recuar assim com aquela voz arrependida. Vejo que os olhos de Emma estão brilhando de lágrimas.

Caramba, que diabos tinha acontecido?

— Está sendo irracional! Quando a única coisa que eu quero é uma noite para me divertir e você não parece se importar com o que eu quero!

— Não é verdade! Não achei que queria isto, que sentia falta deste tipo de coisa... Não sabia que estava infeliz por ser minha esposa e mãe do Leo. Achei que estava feliz.

— Eu sou feliz, só... Às vezes me sinto entediada! Gosto de ser mãe, mas... não acho que é um pecado tão grande querer apenas ser eu mesma de vez em quando, até com um pouco de inconsequência.

— Não sabia que se sentia assim! — Liam parece frustrado.

— Eu devia ter dito — ela sussurra.

— Bem, acho que aqui não é o lugar para DR. — Ethan se intromete finalmente, levantando-se e me levando junto. — Que tal irmos embora?

— Emma não quer ir — Liam diz, nos surpreendendo — E se minha esposa quer se divertir, eu posso me divertir também. Se ela não se importar de trocar a noite de garotas por uma noite comigo.

Emma sorri, colando nele.

— Eu até prefiro — sussurra e o beija.

Ethan olha para mim.

— Acho que fomos dispensados?

— Sim, eu assumo por aqui — Liam leva Emma para a mesa e me encara. — Acho que a babá devia estar trabalhando também.

Ai, merda. Coro de vergonha.

— É, eu...

— Não seja chato Liam! Eu que convidei a Amy! Mas tudo bem, ela pode ir. Não se importa, Amy?

— Claro que não! Divirtam-se!

Ethan também se despede e nós seguimos para fora da boate.

Ele está silencioso quando entramos no carro e é fácil perceber que ainda está bravo comigo.

— Não vai falar nada? — arrisco perguntar.

— O que quer que eu diga?

— Está puto comigo. Acha que a culpa é minha por ter trazido a Emma.

— E não é?

— Você ouviu a Emma! Eu tinha razão afinal!

— O que sei é que, até você chegar, nada disso a perturbava.

É a minha vez de bufar, irritada.

— Sério, que está colocando a culpa dos problemas conjugais da Emma e do Liam em mim?

— Não disse isso!

— Acho que a verdade é que está bravo porque eu questionei esse culto ao Liam Hunter do qual você faz parte!

Ele para o carro no estacionamento subterrâneo com um tranco, jogando-me para a frente.

— Por que está tão pronta a criticar o que não entende?

— Eu não entendo mesmo! Olhe pra você, vive a vida do Liam, preocupando-se com os problemas conjugais do Liam como se fossem seus! E adivinha? Não é problema seu!

— Nem seu!

— Eu sei! Mas só estou aqui de passagem, sou apenas uma babá, este é apenas um emprego. E você? Ser a sombra do Leão de Wall Street é tudo o que quer da vida?

— E se for?

— Eu acharia muito triste! — respondo por fim.

Estou percebendo agora que os laços que uniam Ethan a Liam eram mais profundos e estranhos do que eu imaginava.

E ele tinha razão, talvez eu devesse ficar de fora e não me intrometer.

O problema é que havia algo em toda aquela devoção de Ethan a Liam Hunter que me incomodava. E não era só porque eu tinha medo do que ele ia pensar quando descobrisse minhas reais intenções, percebia agora. Tinha algo a ver com o fato de eu desejar Ethan para mim.

Mas ele não era meu e nunca seria.

Ele pertencia ao Leão de Wall Street.

— Como disse, você está aqui só de passagem — ele responde por fim e eu entendo, com uma pontada no peito e uma inesperada vontade de chorar.

— Sim, tem razão. — Saio do carro e ele me segue pelo elevador. Noto que ele aperta o botão do seu andar. Faço o mesmo, apertando para ir para a cobertura. Não falamos nada no rápido trajeto.

E quando ele sai sem olhar para trás, percebo que uma lágrima solitária está rolando por meu rosto.

Mas que grande merda!

 

Quando entro no quarto de Leo na manhã seguinte, surpreendo-me ao ver Liam Hunter ali. Ele está trocando o bebê com suas mãos inesperadamente hábeis.

— Bom dia, não é tarde para a babá acordar? — resmunga sem me encarar e engulo o medo me aproximando.

— Ainda são seis da manhã... senhor — murmuro, e ele relanceia o olhar dourado para mim.

— Seu horário tem que seguir o horário do bebê.

— Eu sei disso.

— Então por que ele chorou e você não ouviu?

— Ele não chorou... — balbucio, perguntando-me se a babá eletrônica tinha pifado. — Eu teria ouvido a babá eletrônica.

— Talvez ele não tenha chorado, mas podia ter. — Liam pega o bebê no colo.

Ah, que merda, ele estava me testando!

— Saiba que não estou nada feliz com o que aconteceu ontem. E nem na tal festa de despedida de Zoe.

— Eu imagino. Mas só quis ajudar.

— Eu pago para que ajude com o bebê e não para organizar festas com homens pelados e levar minha esposa para boates.

Ai, caralho!

— Apenas segui as ordens da Emma — tento esclarecer.

— Sim, ela me disse. Mas Emma é um tanto inconsequente às vezes.

— Devia confiar mais nela. — Mordo a língua assim que as palavras saem da minha boca. Liam Hunter franze os olhos.

Porra, que merda eu estava fazendo provocando Liam Hunter?

— Está questionando o jeito como trato minha esposa, senhorita Grant?

— Ah, eu... quer dizer... claro que não, mas... bem, se quer saber... eu só acho que Emma é adulta e tem direito a... enfim. Acho que conversaram sobre isso ontem, não preciso repetir — consigo termina meu gaguejo.

— Emma te disse algo? Ela por acaso anda reclamando com você? Acha que ela não está feliz aqui? — De repente ele parece um tanto curioso e até mesmo inseguro?

Sério?

Eu devia recuar, colocar um sorriso plácido no rosto e dizer um “claro que não”. Mas reúno toda minha coragem para dizer exatamente o que penso. Quer dizer, pelo menos uma parte, ainda quero manter aquele emprego e todos os dentes na minha boca.

— Eu acho que ela é feliz. Emma é louca por você, disso não há dúvida e é totalmente devotada ao Leo, mas... Ela também é jovem e o relacionamento de vocês evoluiu muito rápido. É normal ela se sentir um tanto perdida, ou até mesmo se perguntar se quer apenas ser esposa e mãe. Ela pode sentir necessidade de mais. E isso é muito normal. Como marido dela deveria apoiá-la.

Ai. Será que falei demais? Liam Hunter me encara num silêncio só quebrado pelo balbuciar de Leo, que agita os bracinhos em minha direção.

— E você descobriu tudo isso estando aqui há poucas semanas? — Ele está sendo irônico? Não consigo dizer. Liam Hunter deveria jogar pôquer.

— Às vezes a visão de alguém de fora é muito mais clara de quem está dentro — respondo, dando de ombros e pegando Leo do seu colo. — Vou alimentá-lo.

Saio do quarto, deixando Liam Hunter para trás e me perguntando se ainda teria um emprego por muito tempo.

Mas me sinto bem por ter dito o que penso. Acho que devia isso à Emma.


Quando chego à cozinha vazia, ocupo-me em preparar a mamadeira de Leo, e algum tempo depois Emma surge com Liam.

— Bom dia, Amy. — Emma sorri animada e isto me deixa um tanto mais tranquila. — E como está meu bebê? — Ela pega Leo e o abraça.

— Muito bem. — Eu relanceio o olhar para Liam, que apenas digita algo, distraído, no celular.

— Eu e Liam vamos fazer uma pequena viagem no fim de semana, você se importa de ficar com Leo?

Eu engulo minha surpresa.

— Claro que não. É para isso que estou aqui.

— Eric está de folga o fim de semana, mas Ethan está em casa se precisar de algo.

— Ele não vai levar vocês? — pergunto, surpresa. Ethan era praticamente o terceiro elemento na relação de Emma e Liam.

— Ele apenas vai nos levar ao aeroporto. Seremos só eu e Liam desta vez.

— Onde vão?

— Liam diz que é surpresa e ele sabe que eu odeio surpresas! — ela rola os olhos.

— Você vai gostar desta, baby. — Ele se aproxima, pegando Leo e beijando seu cabelo de forma carinhosa. E eu ainda me surpreendia às vezes com como ele podia ser carinhoso com o filho.

Quase me fazia acreditar que o Leão de Wall Street tinha um coração.

Ele coloca o bebê no carrinho e puxa Emma, que está meio chorosa por deixar Leo.

— Vamos, Emma, Amy nos ligará se precisar de algo. — Ele me lança um olhar ameaçador que diz claramente “é melhor que mantenha meu filho seguro se quiser permanecer viva”.

— Claro que sim. Divirtam-se.

Eles finalmente partem e eu solto um suspiro.

Hum, estaria o fim de semana inteiro sozinha com Leo.

Mas Ethan estaria por ali também. Será que ele falaria comigo? Ou iria me ignorar?

Eu me pergunto se o que tínhamos acabou de vez. Certo, eu sabia que não ia durar, como poderia? Mas não esperava que acabasse assim tão rápido.

De repente não quero que Ethan continue com raiva de mim. Não ainda.

Mas o que eu posso fazer?


Capítulo 23

 

Ethan

 

— Está tudo bem? — pergunto a Liam no aeroporto naquela manhã, enquanto Emma está afastada ao telefone, falando com Amy. Ao que parece ela não está segura de deixar Leo para viajar sozinha com Liam pela primeira vez.

— Ainda estou me fazendo a mesma pergunta — Liam responde um tanto incerto.

Eu havia acordado hoje de manhã com uma mensagem de Liam dizendo que ele e Emma iam viajar no fim de semana, sozinhos, sem Leo e que eu não deveria ir junto.

Era algo estranho, já que onde Liam estava, eu também estava junto.

— Que diabos é essa viagem?

— Fiquei pensando no que vem rolando. Dela insistir em ter uma babá, sendo que antes abominava o assunto.

— Ela disse que queria trabalhar.

— Essa é outra questão. Eu já te disse o que penso, mas acabei concordando. No fundo achei que fosse desistir, e acho que tinha razão porque até agora ela não tocou mais no assunto. Mas fiquei preocupado com essa súbita vontade de sair e... curtir sozinha por aí.

— Ela não estava sozinha, estava com Amy Grant.

— Óbvio que eu estava culpando a babá hipster também. Achei que ela estava enfiando merdas na cabeça de Emma. E ainda não estou muito certo se confio naquela garota.

— O que quer dizer?

Eu levanto a sobrancelha ao ouvir que Liam não confia em Amy.

— Apenas que tem algo nela que não me inspira confiança total. Acho que o fato dela quase mijar de medo quando me aproximo.

Eu solto uma risada.

— Um monte de gente tem medo de você.

— Mas ela tem mais. Como se estivesse escondendo algo.

— O que diabos Amy Grant pode esconder? Ela foi babá dos Colombo por anos. A própria Ariana a indicou.

— Talvez seja apenas uma cisma.

— Acha que ela está influenciando a Emma e talvez não vá com a cara dela por isso.

— Cheguei a pensar, mas... Acho que ela tem razão.

— Como assim?

— Não dormi essa noite, pensando nas confissões de Emma ontem. Eu fiquei realmente preocupado dela estar infeliz.

— Emma não é infeliz! Amy te disse isso?

— Não, mas ela abriu meus olhos para o fato de que talvez eu esteja um pouco cego para a realidade de Emma. Ela é jovem e pode querer mais do que ser apenas esposa e mãe.

— Amy te disse isso? — Caralho, ela era louca? — Quando?

— Tivemos uma espécie de conversa hoje de manhã no quarto de Leo.

— Sério?

— Bem, talvez eu a tenha repreendido um pouco e depois acabei a coagindo a dizer o que pensava.

— E não ficou puto?

— Ela apenas disse algo que eu já estava desconfiando.

— E o que significa?

— Significa que a felicidade de Emma é coisa mais importante pra mim e eu não quero que ela acorde um dia a perceba que perdeu seu tempo comigo, que se arrependa de algo.

— Não consigo imaginar a Emma se arrependendo de ficar com você.

Ele sorri.

— Eu não vou deixar que aconteça. Por isso estou tomando algumas precauções.

Lá está, o Leão em sua arrogância.

— É isso que essa viagem significa?

— Para começar. Acho que precisamos nos afastar e ficarmos juntos, sozinhos. Eu sei que às vezes trabalho demais e que Emma pode estar cansada também com Leo.

— E onde estão indo?

— Para Las Vegas.

— Acha que Las Vegas é o lugar para ter uma DR?

Ele ri.

— Acho que posso matar dois coelhos com uma cajadada só e lhe proporcionar alguma diversão mundana também. Se ela quer se embebedar e fazer loucuras, que seja comigo.

— Claro, assim você pode controlar todos os passos da loucura dela.

— Não disse que ia mudar meu modus operandi, irmão.

— Liam sendo Liam — ironizo.

— Apenas cuido do que é meu.

— E qual o próximo passo?

— Vamos ver. Talvez ela queira mesmo trabalhar.

— Vai deixá-la escolher?

— Que alternativa tenho? Embora este seja meu sonho, eu não posso controlar todas as suas vontades. E se deixar ela ter uma carreira, ou dar alguns passos sozinha para deixá-la feliz, que assim seja. Eu aguento qualquer coisa se ela ficar para sempre comigo. Ela é minha vida agora.

Ele prende o olhar em Emma, que percebe e sorri de volta, com a mesma devoção e, de repente, eu sinto uma certa inveja, quando Liam se levanta e vai em sua direção, como se uma linha invisível os unisse.

Eles seguem para a área de embarque, onde o avião particular de Liam os espera. E eu me sinto estranho sendo deixado para trás.

O que eu faço agora que não preciso seguir Liam?

De repente as palavras de Amy voltam à minha mente.

Era assim que eu queria viver pelo resto da vida?

A resposta vem rápido: sim.

Mas será que Liam pensava do mesmo jeito? Ele precisava mesmo de mim da mesma maneira que antes, quando não havia Emma?

Ele e Emma eram uma família agora. Eu podia dizer que também fazia parte daquela família, mas sabia que não era a mesma coisa.

No final, eu não tinha minha própria família. E nunca iria ter?

Observo de novo, o casal seguindo pela pista, abraçados. E de novo sinto um vazio por dentro. Eu nunca tinha parado para pensar que poderia querer algo assim, o mesmo relacionamento que Emma e Liam tinham. Achava que não era para mim. Que eu era feliz apenas seguindo os dois. Porém, agora, sinto que talvez Amy tenha razão.

Talvez eu almeje mais.

Talvez ter alguém a quem amar, não apenas foder e mandar embora, seja algo que eu possa querer.

Volto para casa, sentindo-me estranho comigo mesmo e com meus novos pensamentos. Abro a porta do meu apartamento e hesito. Sinto vontade de ir ver Amy. Percebo que não estou mais com raiva dela. E queria lhe dizer isso.

Mas, ao mesmo tempo, me pergunto se ela quer o mesmo.

De repente sou surpreendido ao sentir um cheiro diferente no ar. Que diabos? Caminho até a varanda, seguindo o inconfundível cheiro de churrasco, e arregalo os olhos surpreso ao ver Amy Grant com Leo em um braço enquanto vira a carne na grelha com outro.

— Que porra é essa?

Ela se vira ao ouvir minha voz.

Caramba, ela estava linda. O cabelo vermelho preso numa trança, o rosto limpo cheio de sardas e sorrindo pra mim.

— Oi.

— O que está fazendo aqui? — Eu queria estar bravo pela invasão, mas, porra, quem poderia reclamar de uma gostosa usando um minivestido branco e fazendo churrasco?

— Acho que essa é minha tentativa de pedir desculpas. — Ela pega uma cerveja e joga pra mim. — Perdoada?

Puta merda, de onde saiu aquela mulher?

— Como adivinhou minhas coisas preferidas? — Abro a cerveja e tomo um longo gole.

— São as minhas também. — Ela pisca, sacudindo Leo, que resmunga.

Eu fico olhando aquela cena tão doméstica. Amy Grant fazendo comida para mim, segurando um bebê e, por um momento, fantasio que é algo permanente. Que aquela garota ruiva atrevida pertence a mim e que aquele bebê em seu colo até poderia ser nosso.

E aquela fantasia parece tão certa que sinto como se todo o mundo mudasse de repente, num piscar de olhos.

Eu poderia transformar a fantasia em realidade? Ousar querer uma vida diferente daquela que vivia até agora, sendo o segurança do Leão de Wall Street?

Uma vida só minha, com uma garota ao meu lado e até, quem sabe, alguns bebês?

Caralho, eu queria!


Amy

 

— O que foi? — pergunto, insegura, enquanto Ethan fica olhando para mim de forma esquisita.

Será que eu tinha exagerado?

Desde que Emma e Liam partiram eu só pensava em descer até a casa de Ethan e pedir desculpas. Retomar aquele flerte descompromissado e sacana que tínhamos. Ver ele olhando de novo para mim com desejo em vez de raiva.

E então me veio a ideia de fazer algo para ele. Para pedir desculpas. E o que um cara como Ethan poderia querer? Minha mãe dizia que homem a gente prende com sexo e comida. Então optei pela desculpa mais inocente. O sexo podia vir depois, claro. Eu estava ansiosa para chegar nesta parte, na verdade.

— Você é realmente uma visão, Amy Grant — sussurra.

Com desejo.

E algo mais que me deixa arrepiada e faz meu coração disparar no peito.

Fico vermelha como uma colegial virgem.

— Então, perdoada? — insisto. Ele se aproxima e, segurando minha nuca, deposita um beijo quente na minha boca.

Caramba. Ele sabe beijar!

Quando seus lábios descolam dos meus, estou com as pernas bambas, a carne está queimando na grelha e Leo Hunter está esperneando no meu colo.

— Acho que precisa de ajuda! — Ele retira Leo do meu colo e consigo salvar nosso almoço. Levando a carne para a mesa na enorme varanda.

— Ei, amigo, está reclamando porque beijei sua garota? — Ele brinca com Leo que vai parando de chorar, encarando-o com os olhinhos iguais ao de Liam Hunter.

— Acho melhor a gente comer. — Estendo a mão para pegar Leo e colocá-lo no carrinho.

— Não, deixa ele aqui — Ethan diz, segurando Leo com uma mão e comendo com a outra.

— Você sabe fazer isso. — Fico admirada.

— Eu e Leo já nos entendemos a algum tempo.

— Estou vendo.

O menino parece mesmo bem à vontade no colo de Ethan.

— Sabe onde Emma e Liam foram?

— Para Las Vegas.

— Sério? Uau! Estranhei um pouco essa viagem repentina.

— Fiquei sabendo que andou conversando com Liam — ele diz, estudando minha reação.

Eu bebo um longo gole de cerveja.

— Ele está bravo comigo? Eu só quis ser sincera.

— Sei que acha que Liam é um cretino ou algo assim...

— Não acho isso... — Ethan ri, sabendo que estou mentindo.

— Tudo bem, a maioria das pessoas pensam. Não espero que entenda todas as nuances do Liam de uma hora para outra. Mas ele é louco pela Emma. E ficou realmente inseguro com a possibilidade de ela não estar feliz com ele.

— Eu disse a ele que Emma era feliz, só... talvez precise mais de espaço, de fazer suas próprias coisas.

— Sim, acho que ele está começando a entender isso.

— Ele é possessivo demais.

— É o jeito do Liam. Ele perdeu os pais muito novo, nunca se permitiu amar ninguém de verdade até a Emma.

— Ele amou você.

— É diferente, somos feitos do mesmo barro.

— Dois garotos perdidos — murmuro.

Ele sorri.

— Liam só não quer perdê-la.

— A deixar ter suas próprias escolhas e experiências não é perder.

— É difícil para Liam entender isso, ele é muito protetor com Emma, ainda mais depois de tudo o que sofreram na gravidez do Leo.

— O que aconteceu?

— Emma teve um problema sério. Escondeu do Liam que, para manter a gravidez, podia morrer. Liam ficou puto quando descobriu, ela já estava de seis meses.

— Nossa.

— Foi um pequeno filme de terror. Liam ficou perdido. E apavorado de perdê-la.

— Mas tudo deu certo — murmuro, sentindo pena de Emma e até de Liam.

— Sim, porém Emma não pode mais ter outro bebê.

— Pelo menos ela tem essa coisinha fofa. — Eu aperto as bochechas de Leo que sorri, banguela.

— Sim, ele é o pequeno milagre de Emma e Liam.

— E Liam levou Emma para Las Vegas para terem uma DR?

Ethan ri.

— Esse é o Liam.

Leo começa a fechar os olhinhos de sono.

— Acho que ele precisa dormir.

Eu o tiro do colo de Ethan e o levo para dentro. Leo dorme rapidamente e eu o coloco no carrinho. Quando saio do quarto, encontro Ethan sentado no sofá tomando cerveja. Ele estende a mão para mim.

— Vem aqui, Penny.

Seguro sua mão e ele me puxa para seu lado, passando o braço a minha volta e me mantendo perto, os olhos fixos em um jogo de futebol na TV.

E percebo que estou apreciando demais este gesto tão simples. Apenas ficar ali, sentada ao seu lado, enquanto ele assiste um jogo qualquer na TV, usa uma mão para acariciar meu braço de leve, a boca de vez em quando beija meu ombro.

Eu poderia ficar para sempre ali. Com os braços de Ethan me prendendo perto.

E isso me assusta pra caramba. Porque eu sei que minhas horas ali estão contadas. Ele pode estar feliz comigo agora, mas quando descobrir o que estou fazendo, vai me odiar.

E isso faz meu coração doer de um jeito que nunca doeu antes.


— Ei, Penny. — Escuto a voz de Ethan em algum lugar e abro os olhos. E me dou conta de que estou deitada no sofá e uma manta cobre meu corpo. A luz do dia já se foi e um cheiro de molho de tomate e especiarias flutua pelo ambiente.

Levanto meio desorientada e encontro Ethan na cozinha. Ele sorri para mim, usando um avental branco enquanto tira algo que parece macarrão do fogo.

— Achei que estava desmaiada.

— Eu dormi demais? — Faço uma careta.

— A tarde inteira.

— Leo!

— Calma, ele está aqui.

Só então eu vejo que o bebê está no carrinho ao lado de Ethan.

— Você o alimentou?

— Claro que sim, Penny!

— O que está fazendo?

— Pasta.

— Precisa de ajuda?

— Você fez o almoço, eu faço o jantar. — Pisca e o acho muito delicioso naquele momento.

— Posso me acostumar com isso — murmuro, sentando-me à bancada enquanto ele me serve um prato de talharim com molho vermelho.

— Eu posso ter segundas intenções.

Levanto a sobrancelha.

— Só segundas?

— Acho que não usei a expressão correta, quis dizer, más intenções.

Sinto um calor insidioso tomar meu corpo.

— Hum, isso é bom. — Experimento a comida e o encaro com malícia. — Acho que pode se dar bem.

Ele sorri daquele jeito que me faz esfregar uma coxa na outra.

— Mal posso esperar.

Nem eu. Nem eu!

Depois do jantar, insisto em lavar a louça e Ethan leva Leo para fazê-lo dormir.

Apresso-me em lavar os pratos e panelas, rezando para que Leo durma rápido hoje.

E estou terminando de secar tudo, quando sinto um braço forte rodear minha cintura e uma boca quente deslizar em meu pescoço.

— Wow! — Enfraqueço totalmente, antes de Ethan me rodar e colar os lábios nos meus, num beijo de tirar o fôlego.

— Estou querendo fazer isso o dia inteiro — ele rosna, erguendo-me facilmente e me colocando sobre a bancada.

— Sim... — É meu gemido incoerente, porque Ethan já está escorregando aquela mão grande e cheia de dedos para o meio das minhas pernas, encontrando minha calcinha pronta para ser tirada.

Porra, eu estou pegando fogo e nem passa pela minha cabeça o impedir, quando o sinto escorregá-la por minhas pernas. Estou muito ocupada, abrindo sua calça e ele ri, ajoelhando-se na minha frente e percebo, entre surpresa e animada, que ele tem outras ideias.

Ah, sim. Por favor...

Sua boca encontra meu clitóris e ele faz a festa ali, com língua, dentes e saliva, levando-me ao delírio. Jogo a cabeça para trás, gemendo alto, ondulando os quadris em sua direção, sentindo as ondas de prazer quente e delicioso se espalharem do ponto em que ele acaricia para todos os poros da minha pele em fogo.

— Porra, não para... — imploro e ele ri, aproveitando para enfiar dois dedos dentro de mim e começar um impulso e recuo com a ajuda de sua língua girando, o que me faz gritar todos os palavrões do mundo em alto e bom som, até um orgasmo alucinante transpassar meu corpo, em ondas gigantes de prazer incrível, me fazendo desmanchar em sua boca.

Tenho certeza de que estou morta, caída sobre a bancada, respirando por arquejos, quando Ethan sobe beijando minha barriga e aproveitando para arrancar meu vestido e meu sutiã, depositando dois beijos castos nos meus seios, até encontrar minha boca.

— Acho que você me matou — sussurro, incoerente, e ele ri enquanto se afasta.

Abro os olhos para vê-lo se despindo e arregalo os olhos quando o observo colocando um preservativo.

— Não, acho que não tenho forças — reclamo, mas já sinto minhas entranhas se apertando de novo.

— Vai ter que ter, Penny! — Ele ri, puxando meus quadris e me penetrando com força.

As mãos encontram meus mamilos que ele castiga com os dedos e depois se inclina para fazer o mesmo com a língua.

Gemo, começando a sentir o prazer crescer de novo, correspondendo suas investidas. Ethan estoca forte em mim, morde meu pescoço e geme em meu ouvido.

— Vai gozar de novo, Penny? — desafia, indo mais fundo em mim.

— Cacete, você é bom nisso...

— Você tem uma boca suja, Penny... — Ele ri e beija minha boca, me erguendo com ele e, sem aviso, ele me joga na parede, metendo com mais força ainda.

Grito a cada estocada, adorando Ethan rosnar e grunhir em minha pele, me apertando tanto que tenho certeza de que vai ficar roxo depois, mas não me importo. Ethan está gozando dentro de mim e me levando junto naquele delírio.

Ele me leva para o chuveiro depois e o banho é rápido porque estamos ambos mortos dessa vez e eu não me oponho quando ele me coloca em sua cama e me abraça antes de puxar a coberta sobre nós.

Ah, eu podia mesmo me acostumar com isso.


Quando acordo, Ethan ainda está grudando em mim e, por um momento, apenas aprecio aquele idílio. O corpo forte e quente de Ethan atrás do meu. Seus braços me rodeando enquanto ele ressona.

O dia amanhece e me dou conta de que passei a noite inteira ali, em seus braços. E tinha adorado cada minuto do nosso dia anterior, desde almoçarmos juntos e até ficar simplesmente assistindo jogo ao seu lado.

Assim como ele fazendo o jantar para mim, depois me foder daquele jeito incrível e dormir agarrado comigo.

Ah, merda.

Eu queria isso para sempre.

Quão ferrada eu estou?


Desvencilho-me de seus braços e vejo meu vestido dobrado direitinho sobre a cadeira. Ethan o tinha colocado ali em algum momento da noite, percebo, enquanto coloco novamente o vestido.

Olho Leo no carrinho. O bebê acordou, mas está quietinho.

Eu o pego no colo e Ethan acorda, me procurando na cama.

— Penny, onde vai? — pergunta, sonolento e, porra, muito lindo.

— Preciso cuidar de Leo.

— Vem aqui — ele pede e eu sorrio, indo em sua direção, segurando Leo. Ele me puxa para um abraço, me colocando entre suas pernas e ligando a grande TV na frente da cama.

Está passando uma luta livre e ele boceja.

— Vai me manter aqui? — pergunto, divertida.

— Por que não?

— Leo pode ter outras ideias?

O bebê apenas brinca com meu cabelo.

— Ele está de boa.

De repente o celular de Ethan toca e ele solta um palavrão.

— Ei, Liam... O quê?

Ele me solta e eu aproveito para sair da cama de novo.

— Mas que merda... Não, tudo bem. Eu busco vocês.

Ele desliga contrariado.

— Liam e Emma estão voltando.

— Já? Não iam passa o fim de semana lá?

— Parece que Emma não consegue ficar longe do Leo.

— A gente devia imaginar... Bem, acho que precisa se arrumar para buscá-los. Vou subir para casa e cuidar de Leo.

Ele me acompanha até a porta, mas, antes que eu saia, segura meu braço.

— Antes de ir...

— Sim?

— Queria te convidar para sair.

Eu arregalo meus olhos.

— Como assim?

— Um encontro. — Sorri, quase tímido, e não posso deixar de sorrir também.

— Sério?

— Sério, Penny... Você quer?

Ah, Deus, eu devia acabar agora com aquela insanidade, mas não consigo.

Não ainda.

— Sim, eu quero. Quero muito.

Muito mais do que devia.


Capítulo 24

 

Amy

 

— Las Vegas é tão incrível! — Emma tagarela de manhã na segunda feira, enquanto dou papinha para Leo.

Ela e Liam haviam chegado de viagem no dia anterior e me dispensado, depois de Emma fazer mil perguntas de como Leo tinha ficado naquelas vinte e quatro horas sem ela. Depois de afirmar umas duzentas vezes que Leo ficara perfeitamente bem e que não deveria ter abortado sua viagem com Liam no meio, ela finalmente pareceu mais tranquila e aproveitei para ir almoçar com Tiziano.

Não vou negar que o que eu queria mesmo era voltar para a cama de um certo segurança, mas Emma comentou que Liam havia convidado Ethan para almoçar com eles. Ao que parece, não era só Emma que tinha sentido falta de alguém que deixara para trás, não pude deixar de pensar com ironia, aparentemente Liam Hunter tinha sentido falta de seu anexo de quase dois metros! Mas quem podia culpá-lo? Eu só tinha pulado da cama de Ethan há algumas horas e já estava louca para voltar para lá.

Assim, eu me contentei em voltar para casa e comer a gororoba saudável de Tiziano.

— Se estava tão incrível por que voltou correndo para Manhattan? — eu a cutuco.

— Não vai me deixar em paz por isso, não é? — Solto uma risada divertida de sua consternação. — Você é igual ao Ethan, vai ficar pegando no meu pé por ser uma mãe agarrada com meu filhote. — Ela beija a bochecha de Leo, cheia de sopa de cenoura.

— Ele estava seguro comigo!

— É fácil falar! Foi a primeira vez que eu passei a noite longe dele! Eu tive um pesadelo horroroso, onde Leo estava chorando e gritando meu nome e eu não estava aqui.

Agora eu gargalho alto, levantando-me e levando o pote de sopa até a pia.

— Leo gritou seu nome com apenas seis meses de idade?

— Pode rir! Pesadelos não fazem sentido! Mas acordei com tanta dor no coração e só conseguia implorar para o Liam me trazer de volta para casa. — Ela abraça Leo, como se ele fosse desaparecer a qualquer momento.

— Aposto que o Liam deve ter ficado puto por ter sua noite romântica interrompida! — Pego um pano de prato e molho para limpar a boca de Leo.

— Ele tentou me dissuadir! Mas sabia que não ia adiantar! E ele já tivera sua dose de romantismo naquela noite. Três doses para ser mais exata. — Ela ri com malícia, e eu limpo sua boca que também está suja por ter beijado Leo.

— Hum, então está tudo bem no reino do Leão de Wall Street?

Ela suspira.

— Ninguém disse que ia ser fácil morar com um leão, não é? — Há um tanto de amargor em sua voz, mas também há um sorriso amoroso em seus lábios.

— Era assim que imaginava sua vida com ele? — Não consigo evitar a pergunta. — Você é feliz aqui?

— Eu sou feliz o tempo todo? Claro que não! Mas quem é? Achei que ia ser feliz o tempo inteiro quando caminhei em sua direção na igreja de trindade? Claro que sim! Mas percebo a cada dia em que acordo ao seu lado que a vida não é assim. Que se quero ser feliz tenho que lutar todo dia para isso. E vou ter dias bons, vou ter dias horríveis. E alguns vão ser maravilhosos e vão fazer tudo valer a pena. O dia de ontem com Liam em Las Vegas foi um desses momentos. O incrível é que tenho um homem peloqual eu sou louca do meu lado. E ele é louco por mim. Liam é minha vida. Eu escolhi assim. Eu o escolhi. E não trocaria Liam por nada neste mundo.

— Nem por um Liam menos possessivo? — arrisco, e ela ri.

— Eu sabia que ele era assim. E foi por esse Liam que eu me apaixonei. Ele é perfeito? Não! Eu também não sou e ele me ama desse jeito. Juntos nós somos perfeitos. Ou tentamos ser. Às vezes a gente acerta, em outras, erramos feio, mas seguimos assim. Juntos. E mesmo que as pessoas não entendam nosso modo de vida, é assim que a gente é feliz. Sei que estamos juntos há tão pouco tempo e tanta coisa já mudou, mas amor não é uma questão de tempo e sim de conexão. Você vai entender quando encontrar um cara que, com apenas um olhar, um toque, vai virar seu mundo e suas crenças de cabeça pra baixo e aí, minha querida Amy, você estará tão perdida quanto eu.

Não consigo evitar de pensar em Ethan, em sua inspeção sacana quando nos conhecemos em Wall Street e em como eu deixei ele me tocar de um jeito que nunca achei que seria possível. Fora uma situação hipoteticamente errada, mas que parecera tão certa.

— Agora, vou levar este garotinho para tomar um banho! — Ela se afasta com Leo e me deixa sozinha com meus assustadores pensamentos.

— Amy, telefone para você. — Eric entra na cozinha e me entrega o aparelho sem fio e eu o fito, confusa.

— Pra mim? Tem certeza? — Quem me ligaria naquele telefone dos Hunter?

— Sim, Amy Grant, é Ariana Colombo.

— Oh, entendo. — Coloco o aparelho no meu ouvido. — Oi, Ariana, por que está me ligando aqui na casa dos Hunter?

— Porque precisava falar com você e não atende o celular!

Eu bufo, lembrando que deixei meu celular desligado o fim de semana inteiro, porque não queria ser encontrada por Carl. Ele estava me deixando mensagens cada vez mais insistentes.

— O que quer?

— Liam Hunter ligou para Emiliano perguntando de você!

Gelo dos pés à cabeça.

— O quê? Está falando sério? — Percebo o olhar curioso de Eric e me levanto, saindo da cozinha. — Como assim? O que ele queria?

— Como assim pergunto eu! Que porra está aprontando aí? Por que Liam Hunter está desconfiado de você?

— Ai, meu Deus, que... Merda! — Respiro fundo para conter a onda de puro horror que toma meu corpo. Como assim Liam estava desconfiado de mim? Desde quando? Como?

— Merda mesmo! Você disse que queria apenas trabalhar aí, mas eu devia ter desconfiado que estava aprontando alguma...

— Não estou aprontando nada! Se acalma — eu a corto. — Me diga exatamente o que foi que rolou. Liam ligou para seu marido e perguntou o quê? E pelo amor de Deus não me diz que Emiliano contou que nunca fui babá de vocês!

— Ele ligou ontem à tarde, sorte que estávamos juntos. Ele queria saber de novo sobre como foi o tempo que trabalhou com a gente! O que Emiliano sabia sobre você!

— Caralho! Mas ele sabia que não podia contar a verdade, não é?

— Sabia sim, mas ele disse que não ia se intrometer quando eu disse o que ia fazer. Eu contei a ele apenas que queria uma chance de trabalhar na casa dos Hunter e ele nem se importou! Só que agora que Liam Hunter ligou, ficou todo nervosinho!

— Mas o que ele disse, me conta logo!

— Emiliano não era nem louco de me desmentir!

Eu quase respiro aliviada e Ariana continua.

— Ele confirmou que você foi babá de Penélope e que, se Liam queria saber mais detalhes, era melhor falar comigo. E teve o bom senso de me passar o telefone.

— E aí?

— E aí que eu menti de novo por você! Mas não pense que estou satisfeita com isso!

— E Liam acreditou?

— Por que não acreditaria? Eu perguntei se não estava satisfeito com você e ele não quis dizer nada, apenas que estava checando. Mas ele é o Leão de Wall Street, não é? Ele não dá ponto sem nó e se farejou alguma merda sua é melhor que vaze daí antes que ele te coma viva!

Estremeço de medo de novo, porque Ariana tem toda razão. Liam Hunter está desconfiado de minhas intenções e estou ferrada.

— Fique calma. Eu prometo que vai ficar tudo bem. — Uso minha voz de irmãzinha querida chapada que usava com Ariana quando ela ficava louca comigo quando éramos adolescentes.

— Ah, sabe que não vai adiantar nada usar este tom comigo, não é?

— Apenas... Fique na sua, ok?

— Ficar na minha? Por favor, Amy, diz pra mim que não está aprontando nada.

Fecho os olhos, engolindo em seco.

— Não posso.

— Porra, Amy! Eu sabia! Que merda está fazendo aí? Pelo amor de Deus, seja lá o que pretende, pare agora! Não sabe com quem está mexendo...

Vejo Eric vindo na minha direção com um olhar curioso de novo.

— Ariana, preciso desligar...

Ariana continua gritando e desligo na cara dela.

— Problemas? — Eric indaga.

— Nada da sua conta — corto. Ele levanta a sobrancelha, surpreso com minha rispidez, e me arrependo.

— Desculpa. Só...

— Tudo bem, não é da minha conta. Ariana não era sua antiga patroa?

— Era.

— Pelo visto, assim como ficou amiga da Emma, também se tornou amiga de Ariana?

— Algo assim. — Eu lhe lanço um sorriso amarelo e vou para o meu quarto.

Pego meu celular e o ligo. Como imaginei, está repleta de mensagens cada vez mais ameaçadoras de Carl.

Com um suspiro cansado, respondo que vou encontrá-lo naquela tarde.

Eu preciso ter uma conversa muito séria com Carl sobre nosso plano. Porque ele está lentamente indo por água a baixo.


Entro no escritório da editora naquela tarde com o estômago doendo. Sabia que Carl estava esperando que eu tivesse grandes novidades, mas enquanto estava no Uber a caminho, eu me dera conta de que tivera todo o fim de semana sozinha no apartamento de Liam Hunter e, em vez de aproveitar e fuçar todos os cantos, inclusive seu escritório, eu havia passado todo meu tempo livre trepando com o segurança.

Confesso que até o momento em que liguei para Carl e disse que queria encontrá-lo e ele me respondera dizendo que estava ansioso para minhas novidades, eu não tinha me dado conta de que passara os últimos dias sem me preocupar um minuto que fosse em conseguir qualquer tipo de informação sobre os Hunter. Eu esquecera da minha missão. Era simples assim. Até o tal gravador que Carl pedira para eu usar, estava esquecido dentro da minha bolsa.

Claro que eu podia dizer que estava morrendo de medo de Liam Hunter, afinal, não seria tão mentira assim. Ainda mais agora que ele claramente estava desconfiado de mim. Não creio que fazia ideia ainda do que eu estava aprontando, mas ele era o leão de Wall Street caramba, claro que se eu não fizesse nada para dissuadi-lo do fato de que não era de confiança, ele iria descobrir algo.

E aí, sim, eu estaria morta. E, pior, sem nenhuma informação que prestasse.

E se Liam não me matasse, eu seria morta por Carl, meu chefe escroto que agora me encara em sua mesa horrorosa de vidro fumê cafona com um sorriso diabólico.

— Minha cara Amy, espero que o fato de ter me ignorado por dias tenha um bom motivo.

— Sim, eu tenho. Liam Hunter está desconfiando de mim.

— O quê? O que você fez?

— Eu não fiz nada! Mas ele é o maldito Leão de Wall Street, Carl, acha que é idiota?

— Ele iria descobrir uma hora, claro, mas esperava que já tivesse conseguido bastante coisa para nós.

— Sinceramente acha que eu podia ficar futricando na casa dele sendo que está de olho em mim?

— Está querendo dizer que não descobriu mais nada?

Penso na história que Ethan me contou sobre Emma e sua gravidez complicada. Seria um prato cheio. Eu poderia usar para Carl ficar um pouco feliz comigo. Mas algo me impede de falar.

De repente não me sinto bem em usar a história de Emma daquele jeito

“Por que tanto pudor agora, sendo que está ajudando a escrever uma biografia para devastar a vida do marido dela e consequentemente a dela mesma?”

Engulo a vontade de vomitar que esse pensamento me causa.

— Tudo bem, estou de bom humor. — Ele se levanta. — Você chegou na hora certa.

Segura meu braço e me leva para fora da sala.

— O que foi?

— Sabe que não podíamos usar simplesmente as coisas que ia descobrir infiltrada na casa de Liam Hunter, seria apenas um norte para seguirmos mais a fundo e conseguirmos histórias legítimas.

— Sei... — Eu o sigo pelo corredor, tentando entender aonde queria chegar.

— E já estou me adiantando e conseguindo entrevistas para documentar todas as informações. Assim, com gravações e autorizações devidamente assinadas, Liam Hunter não terá muito o que fazer contra nós...

Finalmente entramos na sala de reunião e eu entendo o que Cal quer dizer.

Quem está ali nos esperando no alto de seu Labotim e cabelos loiros devidamente penteados é ninguém menos que Vanessa Valderbilt.

— Acho que já conhece a senhora Valderbilt — Carl diz, com pompa, e eu ainda não consigo acreditar.

— Então é mesmo verdade que você é uma espiã? — Vanessa joga os cabelos para trás rindo com vontade. — Eu só quero ver a cara daquela pirralha chata do Liam quando descobrir.

— O que você está fazendo aqui? — balbucio, com vontade de pegar a tesoura no porta-lápis e cortar não só o cabelo como a cara escrota de Vanessa Valderbilt.

— Sente-se, Amy — Carl pede. — Vanessa Vanderbilt concordou em nos conceder uma entrevista, contando toda sua história com Liam Hunter.

— Sério? — Mal posso acreditar na coragem daquela bruxa.

— Por que o espanto? — Vanessa acende um cigarro. — Eu devia mesmo desconfiar que queria saber muito mais do que devia naquele dia na piscina do resort. Mas tudo bem, não se preocupe. Eu estou com vocês! — Ela bate na minha mão com um sorriso conspirador.

Tenho vontade de cuspir na cara dela de tanto nojo.

— Por que está fazendo isso?

— Como assim? Seu chefe aqui me disse que está escrevendo uma biografia do Liam e nada mais justo de que eu, a criadora do Leão de Wall Street, esteja nessa biografia. E com destaque!

Meu Deus, ela era mais vagaba do que eu imaginava.

Emma tinha toda razão em odiá-la.

— Não, seus verdadeiros motivos! Sabe que Liam vai abominar tudo isso, não? Por que depois de tanto tempo ainda quer chamar a atenção dele? Por acaso ainda é apaixonada por ele ou algo assim?

— O quê? — Ela ri, ultrajada. — Por que está me questionando? Estou aqui para ajudar vocês, devia me agradecer!

— Amy... — Carl se intromete com um olhar de ameaça.

— Não, deixa ela falar — Vanessa o interrompe. — Vamos, parece bem eloquente em suas opiniões! Aposto que foi a pirralha mal saída das fraldas do Liam que encheu sua cabeça contra mim, foi isso? Aposto! Ela me odeia, morre de ciúme de mim, porque sabe que Liam nunca me esqueceu.

Dessa vez sou eu que solto uma risada.

— Está louca? Acredita mesmo no que está dizendo? Liam Hunter é louco pela Emma!

— Eu criei Liam Hunter, minha querida, eu sei o que estou dizendo!

— Agora só falta você dizer que se criou pode destruir!

— Hum, é uma boa frase. — Ela olha pra Carl. — Pode usar no seu livro. Ficaria incrível.

— Pelo amor de Deus!

— Amy, chega, o que está fazendo? Vanessa está aqui para nos ajudar e não para ser insultada por você. Se não tem nada a acrescentar, saia da sala.

Eu me levanto.

— Sim, é melhor mesmo.

Eu saio da sala e Carl sai atrás de mim, furioso.

— Que merda pensa que está fazendo?

— Eu pergunto a mesma coisa. Se unindo aquela cobra...

— Vanessa é nosso trunfo! Ela vai nos contar tudo, prometi inclusive deixar o foco quase todo nela e acho que o público vai adorar.

— O público quer Liam Hunter e não uma loira falsa pretensiosa e metida a besta querendo cinco minutos de fama.

— Que porra está dizendo? Por que esse ódio de Vanessa Valderbilt?

— Ela infernizou a vida da Emma!

— Ah, está defendendo a Emma Hunter por quê?

— Qual o problema, eu tenho consideração pelas pessoas, Carl!

— Tem tanta que está na casa dela, mentindo para conseguir informações para escrever uma biografia não autorizada! Você não é diferente de Vanessa Vanderbilt!

— Não me compara àquela demônia!

— Amy, qual o seu problema? Está arrependida? Está dando para trás em nosso plano?

Engulo em seco.

O questionamento de Carl batendo forte em mim, porque eu sei que ele tem razão.

Eu estou mesmo repensando toda aquela história.

Está claro que eu já saí do foco faz tempo. E realmente me sinto doente só de pensar em decepcionar Emma.

E Ethan.

Merda, Liam Hunter não era o primeiro na minha lista de consideração, mas com certeza era na do medo. O que era um motivo mais do que válido para eu desistir de vez daquela trama.

— Sim, estou.

Carl segura meu braço com força.

— Nem pense nisso.

— Carl, está me machucando!

Ele me solta, mas continua a apontar para mim o dedo em riste.

— Não vai desistir! Estamos juntos nessa.

— Não vou continuar! Não vê que não vai dar certo? Liam Hunter está desconfiado de mim!

— Vai dar um jeito de ficar lá e descobrir o que puder antes que isso aconteça.

— Não!

— Amy, não brinca comigo!

— Eu digo que eu não quero continuar, eu... me demito!

— E o que vai fazer? Por acaso pensa em contar alguma coisa ao Hunter ou a mulherzinha dele?

— Não, claro que não. — Minha coragem não chega a tanto.

Eu simplesmente não quero mais continuar a fazer parte daquela farsa com Carl. Não só porque estou morrendo de medo de Liam Hunter. Mas sobretudo porque não consigo mais conceber prejudicar Emma.

E também não quero decepcionar Ethan. Só de pensar que ele pode me odiar eu tenho vontade de morrer.

E era exatamente por isso que eu não podia contar a verdade. Mas pelo menos eu posso pular fora daquela trama antes que seja tarde demais.

— Então escuta bem o que eu vou te dizer. Vai continuar na casa do Hunter até que eu diga o contrário!

— Não pode me obrigar!

— Ah, eu posso! Se não continuar na casa dos Hunter e me ajudando, vou fazer com que o Leão descubra da pior maneira possível quem é a babá do filho dele.

— Não faria isso! — Estremeço de horror e Carl ri de forma diabólica.

— Ah, vai pagar para ver? Não tem nenhuma serventia para mim se quiser pular fora!

— Não tem como me entregar sem se ferrar também! Vai ficar sem sua preciosa biografia do leão?

— Acho que tem muito mais a perder do que eu! Ou acha que não percebi que está trepando com o segurança?

— Claro que não...

— Não tente negar. Vi muito bem o clima entre vocês no carro aquele dia... E acho que o fato de querer pular fora tem muito a ver com essa sua súbita paixão, não é?

— Por favor, Carl, desista...

— Não! Não vou desistir e nem você! Então estamos combinados! — Ele me dá espaço finalmente. — Volte para a casa dos Hunter e siga com nosso plano. Ainda temos muito coisa para descobrir! E vou voltar para Vanessa Vanderbilt e pedir desculpas por você!

Ele se afasta e eu corro para o elevador e só quando estou lá dentro estuprando o botão do térreo que percebo que estou chorando.

Mas que grande merda!

O que é que vou fazer agora?


Capítulo 25

 

Amy

 

Nunca me senti tão mal na minha vida como naquele trajeto de volta à casa do Hunter depois da reunião com Carl. Como é que eu tinha deixado minha vida se transformar em um episódio ruim de Melrose Place?

Quando me envolvi naquela trama, tudo o que queria era uma chance de provar ao mundo que eu era capaz de fazer um trabalho incrível. Era só entrar na casa do Leão de Wall Street, conseguir algumas informações bombásticas e pular fora com tudo o que era preciso para escrever junto com Carl a biografia do século. E a partir daí minha vida ia mudar e eu seria uma profissional de respeito, não mais a maluca da Amy Grant que não conseguia um emprego decente e pagava os boletos em atraso.

Mas eu não tinha contado com um detalhe: que iria me envolver tanto com as pessoas que cercavam Liam Hunter, a ponto de não querer mais prejudicá-los de maneira alguma.

A questão era que agora eu estava metida até o pescoço em mentiras e não sabia como sair da lama que eu estava chafurdada. Ainda por cima, Carl estava enfiando suas botas malcheirosas em minha cabeça e me afundando ainda mais na sujeira.

Como é que eu ia sair daquela confusão?

Subo desanimada para a cobertura, arrastando meus pés cheios de culpa e me pergunto se o melhor a fazer não seria pedir logo minha demissão e sumir da vida dos Hunter sem deixar rastro. Será que tinha dinheiro suficiente na minha conta para uma passagem para a Venezuela?

Ainda estou tentando achar uma saída para aquele dilema, quando alguém puxa minha mão e me vejo prensada contra a parede do hall de entrada dos Hunter por um corpo sarado, enquanto uma boca muito gostosa devora a minha.

Ah, caramba. Minhas pernas viram geleia e, por um momento, deixo todo e qualquer pensamento ruim de lado para apenas apreciar o quanto gosto de estar assim, me amassando com Ethan Coen.

— Ei, Penny — Ethan sussurra contra meus lábios e não consigo evitar um sorriso lânguido, quando ele esfrega seus quadris nos meus. Ah, sim. Eu não teria problema em ser demitida por transar com o segurança ali mesmo no hall.

Já estava lascada mesmo!

Pensar nisso tira um pouco do meu tesão e um frio percorre minha espinha.

— O que foi? — Ethan estuda meu rosto, afastando-se um pouco, e eu tento sorrir.

— Nada. Apenas continue fazendo isso — murmuro o beijando de novo e é a vez de Ethan gemer dentro da minha boca.

Deixo minhas mãos agarrarem seus ombros, querendo mantê-lo ali para sempre. Mas sei que meu tempo com Ethan está se esgotando.

Assim como meu tempo na casa do Leão.

Eu não queria que isso me deixasse tão triste.

Um barulho dentro do apartamento faz Ethan me soltar e eu volto à realidade contra a vontade.

— Acho melhor entrar...

— Antes de ir, queria te lembrar que concordou em sair comigo.

Eu sorrio.

— Sim, nosso encontro... — Que se dane, eu ainda posso me manter mais um pouquinho naquele idílio.

— Eu tinha programado algo realmente legal para hoje à noite...

— Sério? Isso envolve eu poder te algemar de novo?

Ele ri, apertando minha bunda.

— Isso a gente podia negociar depois do que eu tinha programado.

— E por que está dizendo no passado?

— Por que Liam tem um evento hoje e preciso acompanhá-lo.

— Ah... — Não disfarço meu desapontamento.

De repente a porta do elevador começa a se abrir e Emma aparece segurando uma caixa enorme.

— Ei, olá para vocês, o que fazem aqui?

Eu e Ethan nos olhamos sem saber o que dizer, como dois adolescentes pegos se esfregando nos corredores.

— Estava dizendo a Amy que você e Liam vão a um evento hoje.

— Você também vai? — indago, curiosa, quando Ethan abre a porta do apartamento e nós entramos.

— Sobre isso, eu tenho novidades! — Emma larga a caixa em cima do sofá. — Você também vai, Amy!

— Eu? — Arregalo os olhos, surpresa, e Emma pula e bate palmas, muito excitada.

— Sim, não vai ser o máximo?

— Emma, que diabos está falando? Por que eu iria em um evento com você e Liam?

— Porque eu quero!

— Ainda não é uma resposta satisfatória.

— Ah, por favor, esses eventos são tão chatos! Cheio de gente metida a besta, e ter você lá comigo vai ser divertido!

Eu olho para Ethan em busca de socorro e Ethan ri muito satisfeito.

— Acho que a tagarela tem razão.

— Ah, mas quem vai cuidar do Leo?

— Eric e Amanda. Ela está vindo para cá. Só espero que eles não transem sobre minha bancada, credo! — Emma faz uma careta.

— Eu ainda não sei... — tento argumentar, mas Emma já segura minha mão e me puxa para seu quarto.

— Vem, achei um vestido lindo para você! E quero que me ajude com minha maquiagem e cabelo, sabe que não sou boa nisso.

Eu deixo Emma me levar, ainda relanceando um último olhar para Ethan, que pisca para mim.

E, assim, algumas horas depois, estou usando um Gucci verde e recebendo um olhar de admiração de Ethan quando chego à sala.

— Uau! — Ele me mede com indisfarçável interesse, e sinto borboletas sobrevoarem meu estômago, assim, como naqueles romances açucarados de banca.

— Devia parar de me olhar assim se não quer que ninguém descubra que quer tirar minha roupa.

— Mas eu quero tirar sua roupa.

O meço também e ele também não está nada mal, usando aquele terno todo preto.

— Eu também quero tirar a sua, mas podemos deixar isso para o fim da noite?

— Promete?

— Qualquer coisa — sussurro, recebendo um sorriso malicioso em resposta, que faz a temperatura aumentar uns bons graus.

— Prontos? — Emma aparece segurando Leo. Ela usa um vestido vermelho de brocado e está deslumbrante.

Liam Hunter vem logo atrás, checando sabe-se lá o que no seu celular, com cara de poucos amigos.

Fico me perguntando como foi que Emma conseguiu convencê-lo a me levar junto hoje. E ainda tenho dúvidas de que ele está totalmente de acordo com isso. O que me faz lembrar que ele ligou para Ariana para me checar. Só espero que tenha ficado satisfeito por enquanto.

Ainda não estou pronta para devolver meus sapatos de Cinderela.


A festa é no Waldorf Astoria e, como Emma dissera, está cheio de gente rica e metida.

Mas a bebida é boa e eu estou divertindo Emma com meus comentários mal-educados sobre a roupa dos outros, enquanto Liam Hunter conversa com homens engravatados como ele, usando jargões financeiros.

Ethan nos segue de perto e é realmente uma delícia a doce expectativa em que me encontro, com cada olhar demorado que ele me lança.

Ah, sim. No fim da noite. Nós dois. Sozinhos. Sem roupa.

E eu nem ia exigir uma algema. Não ia ter tempo para isso.

— Ethan consegue mais deste pra nós! — Emma sacode a taça vazia de prosecco.

— Não bebeu demais?

— Ela só bebeu esta taça — eu digo. — Estou contando, não se preocupe.

— Desde quando é minha babá, Amy? — Emma brinca.

— Só me assegurando de que seu marido não me culpe por nenhum problema hoje.

Emma gargalha quando Ethan se afasta para buscar mais bebida.

— Ah, você é tão engraçada! Liam gosta de você!

— Sério? — Eu levanto a sobrancelha descrente. — Acho que Liam só me suporta porque você exige. Ele já teria me demitido faz tempo.

— Você não conhece o Liam, ele mantém essa cara de que tem um toco enfiado no rabo para meter medo nas pessoas, mas, no fundo, ele é um leãozinho manso.

— Fala sério, Emma.

— Ok, talvez seja um exagero, mas o que quero dizer é que... Ei, o que aquela vadia está fazendo aqui? — Sigo seu olhar indignado e vejo uma moça loira alta e magra conversando com Ethan. E na mesma hora sinto ciúme.

— Quem é aquela? Você conhece?

— Aquela é Nicole Zorn.

— Eu deveria saber quem é a tal Nicole? Ah, acho que sei quem é. Uma modelo. Desfila para Victoria Secret e tal.

— O Ethan foi apaixonado por ela por um tempão.

O quê?

Sinto meu estômago dando uma volta, olhando de novo para Ethan e a modelo loira.

Ethan era apaixonado por aquela garota linda?

Modelo de lingerie?

Sinto todo o ar sendo sugado do meu pulmão, tamanha é a dor que sinto no peito.

— Não acredito que Ethan está conversando com ela! — Emma continua.

— Ele é apaixonado por ela? — sussurro.

— Espero que não seja mais! Porque ele já passou muito tempo correndo atrás daquela piranha frígida!

— Eles... tinham um caso ou algo assim?

— Nada! Claro que era tudo o que Ethan queria, mas ela deu o fora nele. E mais de uma vez! Até tentei ajudar, mas não adiantou.

— Como ela pode não querer o Ethan? — questiono, chocada, sem saber se o fato de Ethan nunca ter dormido com a tal Nicole me fazia sentir melhor ou não.

— Né? É o que me pergunto! Como alguém pode não amar o Ethan? Ela é uma vaca interesseira, ou algo assim, que preferiu dar em cima do Liam.

— Espera... Ela queria ficar com o Liam?

— Pois é! Mas o Liam sabia que o Ethan era louco por ela, e a enxotou!

— E mesmo assim o Ethan continuou atrás dela?

— Eu achei que ele já tinha superado, mas não entendo o que está fazendo ali batendo papo com ela.

Eu volto de novo minha atenção para Ethan e a tal Nicole e tento entender o que diabos está se passando. Ela tem cara de fresca, mas é linda, sem dúvida. Será que Ethan ainda está tentando conquistá-la? Será que sou apenas uma substituta para ele passar um tempo, enquanto sonha em foder Nicole Zorn?

— A gente devia ir lá atrapalhar seja lá o que está rolando... — Emma se adianta, mas seguro seu braço.

— Não — murmuro mortificada.

— Não ouviu o que eu falei? Nicole é uma vadia interesseira, não quero o Ethan com ela!

— Mas se ele a quer, não devemos nos intrometer. — O nó fecha minha garganta e respiro fundo para conter a onda de choro que está surgindo, vinda do fundo do meu coração.

Emma me fita com os olhos franzidos.

— O que há com você?

— Comigo, nada — choramingo, fungando —, só acho que se o Ethan prefere aquela loira sem peito, ele deve ficar com ela...

— Mas o que está dizendo, por que está chorando por causa disso? Wow! — Os olhos de Emma se arregalam. — Você está chateada por que o Ethan está com a Nicole porque... Wow... Você está a fim do Ethan?

— Não, claro que não.

— Está sim! Oh, meu Deus, como não percebi? Como assim? Por que não me disse? Por quê? Espera... está rolando alguma coisa entre vocês?

Eu quero negar, mas sei que a verdade está escrita em meu rosto.

— Cacete! Como assim? Desde quando? Como... Onde... Por que eu não sabia disso?

— Porque não é nada — confesso por fim. — É só... Sexo, acho, mas...

— Mas você está apaixonada por ele!

— Não estou!

— E por que está arrasada por vê-lo com a Nicole? Ai, eu não devia ter dito aquelas coisas sobre eles, não foi bem assim...

— Acho que foi exatamente assim! Mas não se preocupe, eu e Ethan... Não é nada. É apenas...

— Sério que estavam trepando todo esse tempo e ninguém sabia de nada?

— Talvez Eric saiba.

— Ah! E o Liam? Ele sabe?

— Duvido muito. Ele já me odeia. Se souber que estou transando com o Ethan vai me odiar mais ainda.

— Claro que não! O que o Liam tem a ver com quem o Ethan transa?

— Sério que ainda pergunta?

— Ok, eles são tipo, duas irmãs siamesas, mas o Liam não pode impedir o Ethan de ficar com quem quiser!

— Não acho que este ainda seja um problema, já que ele está lá agora se esfregando na tal modelo...

Nós duas olhamos para onde Ethan e Nicole estão e os dois desapareceram de vista.

— Ah, não estavam se esfregando! — Emma diz.

— Então aonde é que eles foram?

— Se o Ethan está com você, ele não ia te largar aqui para se atracar com quem quer que fosse.

— Mesmo que seja Nicole, a garota dos seus sonhos?

— Escuta, Nicole foi o alvo do desejo do Ethan, mas não é mais.

— Como sabe?

— É melhor que não seja! Eu prefiro você! — Ela sorri, toda animada agora. — Ah, isso é tão incrível! Sempre quis que o Ethan achasse uma garota legal! Ah, vocês formam um casal tão lindo!

— Não somos um casal! — refuto, mas Emma continua delirando.

— Vocês podiam se casar! Seria maravilhoso! Já sei, tenham uma filha, assim ela pode namorar com o Leo, quão perfeito seria?

— Emma, não viaja, já está bêbada?

— Aí estão vocês. — Liam aparece e vejo como num filme de terror Emma abrir a boca para contar a ele sobre mim e Ethan, mas seguro sua mão, a puxando em direção ao banheiro.

— A gente já volta!

— Ei, Amy, aonde vamos? — Emma me segue confusa.

Eu paro apenas quando chegamos ao banheiro.

— Não pode contar ao Liam sobre mim e Ethan!

— Por que não?

— Porque é melhor assim.

— Mas o Liam vai saber uma hora...

— Emma, por favor. Não acha que quem deve contar é o Ethan, se ele assim quiser?

— É, acho que tem razão. Mas vou ter que esconder do Liam?

— É só fingir que não sabe.

— Ok, se quer assim...


Ethan

 

Aquela estava sendo uma noite relevadora, para dizer o mínimo.

Eu fiquei puto quando Liam disse que teríamos aquele evento, o que estragou meus planos para o encontro com Amy hoje à noite. Porém, Emma inventou de trazer Amy para a festa, o que acabou melhorando bastante a noite que estava fadada a ser uma chatice, pajeando Emma e Liam em mais um evento maçante. Talvez até pudesse levá-la para algum canto escuro em algum momento.

O que eu não esperava era encontrar Nicole Zorn zanzando por ali. Fazia meses que não topava com Nicole em lugar algum, na verdade desde o jantar em que a Emma tivera a má ideia de convidá-la com o intuito de bancar o cupido. O que foi uma ideia estúpida, pois ficou claro que Nicole não tinha mesmo o menor interesse em mim. E depois daquele dia comecei a entender que era melhor desistir daquela minha paixão sem sentido.

E encontrei outras mulheres para foder e passar meu tempo, até encontrar uma certa ruiva que virou minha vida de ponta cabeça. E que, além de ser a mulher mais incrível com quem eu já tinha transado, ainda era inteligente, divertida e estava me deixando louco colocando em xeque todo meu estilo de vida. Principalmente o fato de eu viver a vida de Liam Hunter, o que não era nenhum problema até aquele momento.

E eu a acusei de meter caraminholas na cabeça de Emma, quando eu mesmo estava começando a rever todos os meus conceitos de uma vida perfeita. O que agora incluía ter Amy Grant a meu dispor a maior parte de tempo possível e não só na minha cama. De repente comecei a fantasiar de ter aquela ruiva ao meu lado por um bom tempo. Sim, eu queria ter Amy Grant como minha namorada, com tudo o que tinha direito. Mas como é que eu ia encaixar uma namorada em minha vida de sombra de Liam Hunter na mesma equação. Eu ainda não sabia dizer.

Mas encontrar Nicole e perceber que não sentia o menor tesão por ela fora muito revelador. Naquele momento, em que ela estava na minha frente, falando de si mesma, eu me perguntava o que foi que tinha visto nela afinal. Eu passara um tempão fantasiando com aquele ser fútil e tinha sido uma total perda de tempo. E de repente percebi, enquanto dava um chega pra lá no papo chato de Nicole, que não queria mais perder tempo. Queria aproveitar o que a vida estava me oferecendo agora. E já estava na hora de Liam saber. Ele sempre seria meu melhor amigo, meu irmão, e o cara que pagava meu salário, claro. Mas não era mais prioridade. Eu queria começar a viver a minha própria vida.

— Eu te vi com a Nicole Zorn, o que é isso agora? — Liam me interrompe, quando finalmente consigo me livrar de Nicole.

— Nada, ela só queria mais uma vez acenar com o que nunca vai me dar.

— Ainda está caído por aquela vadia?

— Não, nem um pouco.

— Sério? De verdade?

Eu rio do seu espanto.

— Sério. Não sinto mais nada por ela.

— Emma vai gostar de saber.

— Na verdade eu estou com outra pessoa.

Agora o olhar de espanto de Liam é maior ainda.

— Como é?

— Sim, é isso que ouviu.

— Como assim, está se dando bem e nem me contou, seu filho da puta? Espera... você disse que está com uma mulher? Você quer dizer... em um relacionamento? — Agora parece que contei para ele que tenho três mamilos.

— Não sei se posso chamar de relacionamento, mas é o que eu quero que seja.

Liam ficam parado e me olhando como se tivesse virado uma estátua de sal.

— Está falando sério? — Finalmente ele parece ter achado sua voz.

— Sim, estou.

— Está me dizendo que está apaixonado e toda esta baboseira romântica?

— Você fala como se não tivesse apaixonado também.

— É diferente.

— Diferente como? — Desta vez eu não consigo parar de rir. — Por que o espanto?

— Eu não consigo entender, nunca vi você com ninguém assim... romanticamente envolvido, é esquisito.

— Então se acostume.

— E quem é essa mulher? Quando vou conhecê-la... Caramba, quando eu contar a Emma, ela vai enlouquecer. Se prepara... Ah, ali vem ela e a babá — ele diz, e eu acompanho seu olhar para ver Emma e Amy retornando do banheiro.

— Acho que já conhece essa mulher... — digo, admirando Amy.

— O quê? Não entendi... — Então de repente ele entende. — Que diabos, está dizendo que está fodendo a babá com o cabelo do Pennywise?

— Quem tem o cabelo do Pennywise? — Emma se aproxima com Amy um pouco atrás. Percebo que seu olhar está receoso.

— Sério? Sério? — Liam continua sua epifania.

— Liam...

— O que foi? — Emma nos fita confusa.

— Sabia que Ethan está fodendo com a babá?

— Ah, você contou a ele? — Emma tem um sorriso animado no rosto e percebo que de alguma maneira ela já sabia sobre Amy e eu.

— Você sabia? — Liam agora está quase gritando.

Amy está pálida, como se fosse vomitar, e me apresso em passar por Emma e segurar sua mão.

Agora ela me fita com os olhos arregalados de surpresa.

— Ah, eles são tão lindos! — Emma suspira.

— Você sabia e não me contou? — Liam insiste e Emma revira os olhos.

— Segura sua onda! Eu acabei de descobrir! Mas não é o máximo?

— Não posso acreditar que estava fodendo a babá bem debaixo do meu nariz...

— Bem, já que esclarecemos este ponto, eu tenho um lugar para levar a Amy... — Eu me adianto, pegando meu celular e deixando um recado para Owen vir buscar Emma e Liam no fim da noite.

— Onde vão, que história é essa? — Liam não parece nem um pouco satisfeito e sinceramente não estou preocupado com isso no momento.

— Owen está vindo buscá-los. Nos vemos amanhã. — Aceno, puxando Amy pela mão. Ainda consigo ver Emma enxugando os olhos.

— Não é lindo? Sempre quis ver o Ethan apaixonado...

— Ah, não gostei nada disto, ele não pode ir embora e me deixar aqui...

— Ah, supera! Para de ser carente! Deixa-o ir viver a vida dele!

Eu não escuto a resposta de Liam porque já estou deixando a festa para trás com uma Amy muito surpresa.

— O que foi aquilo? — Ela sussurra. — Você deixou o Liam lá sozinho e, tipo, por que diabos contou a ele sobre nós? Ele vai me matar! Pior, vai me demitir!

Eu rio e a beijo, engolindo suas palavras sem sentido.

— Relaxa, Penny.

— Ah... — De repente ela franze a testa. — Penny... Pennywise! É por isso que me chama de Penny? Por causa do palhaço assassino?

Desta vez eu gargalho com vontade, levando Amy para o carro e abrindo a porta para ela entrar.

— Podemos discutir isso depois?

— Você me chama de it, a coisa! — ela grita, e eu a ignoro, dando a volta e sentando no banco do motorista. — Sério mesmo? — ela insiste.

Dou partida do carro.

— Sério é que eu te devo um encontro.

— Ah... — ela aquiesce. — Não credito que isto está acontecendo...

Eu sorrio, segurando sua mão.

— Nem eu, mas estou achando incrível.

Ela sorri de volta.

— Eu também.


Capítulo 26

 

Amy

 

— Sério que você acha que pareço o palhaço Pennywise? — Quebro o silêncio do carro depois de alguns minutos, e Ethan solta uma gargalhada divertida.

Mordo os lábios para não suspirar alto, como uma colegial boba às voltas com o primeiro amor.

Amor?

Meu coração dá um pulo no peito rejeitando aquela ideia insana, mas, cacete, Ethan está olhando para mim agora, com aquele sorriso safado e de covinhas lindas, fazendo um tsunami agitar minha barriga. E não posso mais fugir da verdade irrefutável: eu estou loucamente apaixonada pelo segurança do Leão de Wall Street.

É como disse Emma, amor era uma questão de conexão e não de tempo.

Ah, merda. O que vou fazer agora? Quero chorar e gritar e pular no colo dele e sussurrar em seu ouvido tudo o que sinto e torcer para que ele diga que sente o mesmo.

Mas aí eu teria que contar os reais motivos que me fizeram entrar na vida de todos que rodeavam o Leão de Wall Street. E ele iria me odiar.

Engulo o nó na minha garganta, quando Ethan toca meu rosto e aproxima os lábios dos meus, beijando-me devagar.

— É esse seu cabelo, Penny.

Eu consigo rir, apesar da dorzinha que começa a se alastrar no meu peito. Porque sei que meu tempo está correndo agora.

Só mais algumas horas, peço, só mais alguns instantes com este cara maravilhoso, antes que eu tenha que abrir mão dessa ilusão.

Quando Ethan para o carro em frente ao Terminal 5, eu solto um grito, porque eu sei quem está fazendo show lá esta noite.

— Não acredito! Você me trouxe no show de minha cantora preferida?!

— Eu andei ouvindo também e, às vezes, eu caí no sono, mas...

Eu lhe dou um tapa no ombro.

— Lana não é para dormir! Para de ser chato!

Ethan sai do carro e me puxa em direção a entrada, ignorando toda a galera que deve estar na fila desde muito cedo.

— A gente não vai pegar fila?

— O nome Liam Hunter abre qualquer porta, baby.

Eu tenho que concordar, muito empolgada, que sair com o segurança do Leão tem suas vantagens, quando entramos na casa de show e vamos direto a um camarote com uma visão muito perto do palco. E mal consigo segurar a euforia quando o show começa, cantando todas as músicas e tendo Ethan bem atrás de mim, rindo da minha vibração.

E quando o show termina, lanço meus braços a sua volta e o beijo com vontade, demonstrando todo meu agradecimento por aquela noite incrível.

— Obrigada, eu amei! — Sorrio feliz e ele aperta minha bunda e me puxa para fora, até que estejamos dentro do carro.

— Vai poder demonstrar quando chegarmos na minha casa, Penny. — Ele pisca, dando partida.

— Talvez até antes. — Deslizo a mão por sua coxa até chegar na frente da calça apertando de leve, mas na pressão certa para fazê-lo grunhir.

— Você é muito atrevida, Penny.

— Não viu nada, segurança... — Abro a calça e abaixo a cabeça, o tomando em minha boca e demonstrando com muito prazer o tanto que estou agradecida.

 

— Ah sim, Ethan — grito pela terceira vez naquela noite, meu corpo tremendo e se desmanchando em mais um orgasmo incrível, desta vez pela boca habilidosa de Ethan, que agora desliza por meu corpo, até estar sorrindo acima de mim, muito satisfeito.

Não sei dizer há quanto tempo estamos ali, na cama de Ethan, muito ocupados em uma maratona de agradecimentos mútuos, que tinha começado no carro e continuado no elevador, onde Ethan me fodeu antes mesmo que chegássemos no seu apartamento. E depois ele tirou minha roupa e demonstrou que a segunda vez podia ser ainda melhor quando me colocou na cama, de quatro e não parou até que eu gritasse seu nome de novo, dessa vez fazendo eco com meu próprio nome em sua boca. A mesma boca que ele tinha usado a pouco para me fazer gritar. Pela terceira vez.

Ah, eu amo esse cara. Muito.

— Mais uma vez? — Ele esfrega seu pau em mim, demonstrando que já está pronto para outra e arregalo os olhos.

— Não sei se reparou, mas eu tenho só uma vagina.

Ele ri, mordiscando meu pescoço.

— Mas tem um outro lugar que podemos usar... — Ele vai descendo a mão para a minha bunda e eu lhe dou um tapa.

— Não tão rápido, mocinho!

— Vai dizer que ainda é virgem daí, Penny?

— Não é a minha maneira preferida...

— E qual a sua preferida?

Eu sorrio e o beijo, virando e me colocando em cima dele.

— Lá vem você querendo me dominar de novo!

— Não lembro de ouvi-lo reclamar.

— Com você eu gosto de qualquer jeito

Sorrio, satisfeita com a resposta e de repente me vem algo desagradável na lembrança. Nicole Zorn.

— Emma me contou que era apaixonado por Nicole Zorn.

Ele fica sério.

— Emma é uma linguaruda.

— É mentira?

— Foi apenas uma merda de um tesão — resmunga ele.

— Você parecia bem animado conversando com ela hoje.

— Sim, e sabe o que eu descobri?

— O que?

— Que eu não sinto mais nada por ela.

— Sério?

— Estava com ciúme, Penny?

— E se disser que estava?

— Eu ia dizer que não precisa. Que eu prefiro as ruivas agora.

— Ruivas?

Ele me vira de novo e prende meus braços acima da cabeça, me penetrando bem devagar, fazendo meus olhos revirarem nas órbitas.

— Uma ruiva — sussurra em meu ouvido, e se move dentro de mim com força, me fazendo gemer, excitada de novo.

 

Acordo quando já é dia e solto um palavrão, tentando abrir os olhos, preocupada. Eu não deveria estar ali e sim cuidando de Leo!

Liam Hunter vai me matar!

Ainda sonolenta, levanto e percebo que a cama está vazia ao meu lado. Consigo achar o celular e respiro um pouco mais aliviada quando vejo que ainda nem são seis horas.

Visto uma camisa de Ethan e vou a sua procura, o encontrando na cozinha, todo arrumado.

— Por que não me acordou?

Ele sorri, enquanto digita algo em seu celular.

— Hoje Pennywise teria ciúme de você.

Rolo os olhos, levando os dedos ao meu cabelo que, com certeza, deve estar terrível.

— Vá se foder, Ethan!

Ele apenas ri mais ainda, largando o celular e apontando para a bancada.

— Senta aí, acho que precisa de um café.

Me arrasto até a bancada e largo o celular na mesa.

— Por que já está todo arrumado?

— Porque eu e Liam vamos viajar daqui a pouco.

— Sério?

— Sim, surgiram uns assuntos urgentes para ele resolver na Europa.

— Hum, isso é longe.

— Pois é. — Ele coloca uma xícara na minha frente e aspiro o cheiro bom de café.

— Ah, isso é tudo de que preciso. Mas acho que é melhor eu ir para casa. Se Liam Hunter já te recrutou, isso quer dizer que ele está acordado e Deus me livre de Leo acordar e ele perceber que não estou lá! — Eu me levanto, apressada. — Vou pôr meu vestido.

— Amy. — Ethan segura minha mão, impedindo que eu me afaste.

— Sim?

— Quando eu voltar... queria te perguntar uma coisa.

Esboço um sorriso.

— É uma pergunta safada?

— Também...

— Ah... — Tento conter as batidas erráticas do meu coração.

— Eu sei que você não vai ser a babá do Leo para sempre, mas com certeza você não está aqui só de passagem. — Ele me beija devagar, fazendo minhas pernas virarem gelatina e meu peito se apertar. — Então, vá pensando nisso.

Ele me solta e vou para o quarto sem olhar para trás, porque sei que se me virar irei vê-lo me olhando com paixão e expectativa e que, antes de qualquer plano que Ethan faça para nós, tenho que contar a verdade.

E quando eu contar... Tudo estará acabado, para dizer o mínimo.

Coloco meu vestido, com uma imensa vontade de chorar e prometo a mim mesma que, assim que Ethan voltar de viagem, eu contarei tudo.

Volto para a cozinha, tomando o cuidado de recolocar o sorriso no meu rosto, mas ele se apaga quando vejo Ethan segurando meu celular e me encarando com um olhar estranho.

— Ariana Colombo é sua irmã?

A cor foge do meu rosto.

Ah, inferno.

— O quê? — Tento ganhar tempo.

— Uma mensagem piscou no seu celular. Ariana Colombo dizendo que o pai de vocês está perguntando se vai almoçar no domingo.

Eu abro a boca várias vezes, tentando achar uma resposta satisfatória. Tentando me safar. Mas de repente percebo que não quero fazer isso.

Não quero mais mentir.

Eu respiro fundo.

— Sim, ela é minha irmã de criação. O pai de Ariana foi casado com a minha mãe por um tempo.

— E você foi babá da filha dela? Por que Ariana não disse isso quando te indicou?

— Eu nunca fui babá da filha de Ariana.

Ethan franze a testa, confuso, tentando entender as implicações do que estou dizendo.

— Como é?

— Eu pedi para Ariana me indicar. Pedi que ela mentisse para eu conseguir esse trabalho.

Os olhos de Ethan agora são duas bolas de gelo quando finalmente percebe que estou falando sério.

Que sou uma mentirosa. Uma farsa.

Ethan já está bravo e nem ouviu ainda o pior.

— Por quê?

Fecho os olhos, lutando contra a vontade de chorar. Ou de rir e dizer que estou brincando. Que ele não precisa me olhar com essa expressão de frieza e desconfiança. Mas sei que é tarde para mim.

Abaixo o olhar para o chão, como a pessoa cheia de culpa que sou.

— Eu sou uma jornalista. Trabalho em uma editora. Meu chefe quer escrever uma biografia sobre o Leão de Wall Street. — Minha voz embarga sem que consiga evitar e levanto a cabeça para encorar Ethan, vendo sua desconfiança se transformar em fúria quando finalmente percebe as implicações de tudo o que estou contando. — Sinto muito.

— Está me dizendo que mentiu naquele seu currículo, Ariana Colombo mentiu ao te indicar para cuidar do filho de Liam e Emma? Que você só queria entrar aqui para conseguir informações como uma espiã ou algo assim? — Sua voz está perigosamente baixa e engulo em seco, antes de acenar confirmando.

— Sim, Carl não conseguiu a colaboração do Liam. Ele estava em um beco sem saída e eu me dei conta de que podia ajudar, porque Ariana conhecia Emma e contou que ela estava procurando uma babá... — Caramba, começo a chorar, notando o quanto fui idiota em entrar naquela farsa com Carl.

Eu achava mesmo que ia sair impune?

Ethan solta um palavrão e anda pela sala como um bicho enjaulado. Sua fúria silenciosa chega até mim como labaredas que queimam minha pele e me deixa com vontade de gritar.

Ele soca a parede com força e volta a me encarar com ódio.

— Quem diabos é você?

— Você sabe... — sussurro e ele se aproxima, segurando meu braço e me sacudindo com força.

— Sei? Você é uma maldita de uma mentirosa! O tempo inteiro.... — Ele me solta, com nojo e eu soluço.

— Sinto muito, eu...

— Que porra achou que estava fazendo? — Ri, totalmente sem humor. — Achou que ia entrar na casa do Leão e simplesmente pegar informações sobre a vida dele, de Emma, de Leo... — Ele para, enojado, e choro ainda mais, sentido nojo de mim mesma também.

— Eu sei que é horrível, mas não conhecia o Liam e nem Emma...

— Caralho... A Emma! Ela confiava em você! Ela se tornou sua amiga e você...

— Eu nunca quis prejudicar ninguém.

— Não? E achou que estava tudo bem entrar na casa de Liam e Emma, mentir, usar o filho deles para isso e depois pegar todas as informações que conseguiu de forma escusa, colocar em um livro com esse tal Carl e que ia sair impune?

— Sim, eu achei — murmuro minha culpa. — Não medi as consequências do que estava fazendo. Liam Hunter era apenas um cara famoso, um empresário bilionário e inescrupuloso! Eu era só uma assistente qualquer, odiava meu trabalho e queria ser alguém! E vi como a minha chance de mostrar o meu valor...

— Mostrar o valor? Sério?

— Isso é mais comum do que imagina! Muitas biografias são escritas assim...

— Não me interessa!

— Então eu pedi que Ariana mentisse.

— A vaca da Ariana! — ele explode.

— Por favor, não a culpe. Ela não sabia dos meus objetivos.

— E mentiu!

— Eu pedi que ela mentisse dizendo que queria apenas um trabalho com os Hunter. Ela não faz ideia da biografia. Nem Emiliano.

— Não sei se Liam vai pensar assim quando descobrir... Inferno, ele vai acabar com a sua vida quando... — Ethan solta mais alguns palavrões.

— Eu sei. Merda, eu sei!

— Se sabia porque foi idiota de entrar nisso?

— Achei que quando ele descobrisse eu já estaria longe daqui. Conseguiríamos entrevistas e autorizações e mesmo se houvesse um processo, o livro seria um sucesso.

— Acha que Liam ia se contentar com um processo?

Eu me encolho.

— Sim, acho que fui inocente...

— Inocente é tudo o que você não é! Eu devia ter percebido, mas estava ocupado demais pensando em como tirar sua calcinha! Caralho, foi por isso que deu em cima de mim? O tempo inteiro estava tentando me ludibriar para que eu não desconfiasse?

— Não! Claro que não! A atração que surgiu entre a gente foi inesperada.

— Desculpa se é difícil acreditar! Sou o segurança do Leão de Wall Street. Eu devia saber que você não valia nada!

Eu me encolho, arrasada com suas palavras duras.

— Devia saber que estava mentindo, devia te impedir de se aproximar dele e de sua família! E em vez disso eu deixei você entrar! E ainda a levei para minha cama! — Ele ri de novo com amargor. — Ouvi as merdas que me disse! Comecei a acreditar que tinha razão, que podia querer mais. Eu quis você, Amy.

Ele me encara agora com tanto pesar e decepção que meu coração se quebra de vez.

— Eu me apaixonei por você... — sussurro. Rezando para que ele acredite, mesmo sabendo que é tarde demais.

— Não...

— Sei que não acredita.

— Cala a boca...

— Mas eu realmente me apaixonei e... estraguei tudo. Agora você me odeia, vai contar ao Liam e ele vai, sei lá, me matar ou quebrar minhas pernas como nos filmes de máfia, e deixar a cabeça de um cavalo morto na cama dos Colombo...

— Eu mandei calar a boca!

— Mas não posso mentir mais! — insisto — Sei que fui idiota. Que fui uma escrota, com todo esse plano ridículo. Hoje eu me arrependo muito de ter enganado a Emma, que é uma pessoa maravilhosa. E até o Liam Hunter. Ele é esse cara que parece tão frio e impiedoso no mundo dos negócios de Wall Street, mas eu sei que ele também é humano e que ama sua família. E sobretudo, eu me odeio por ter decepcionado você... Eu só queria... voltar no tempo e nunca ter feito nada disso.

Eu não queria pensar que se não tivesse mantido o plano de entrar na vida dos Hunter, nunca teria conhecido Ethan e nem vivido os melhores momentos da minha vida com ele.

Ethan não diz nada. Parece perdido em seu próprio sofrimento.

E o sofrimento dele me faz sofrer ainda mais. Eu só queria me aproximar, tocar seu cabelo e dizer que sentia muito.

— O que vai acontecer agora? — murmuro.

Ele me encara colocando uma máscara de frieza no rosto.

— Eu deveria subir e contar ao Liam exatamente quem você é e deixar que ele acabe com você.

Não posso negar que a ideia de ter Liam Hunter descobrindo quem eu sou me assusta, mas sinceramente, no momento estou muito mais assustada com a possibilidade de Ethan me odiar para sempre.

— Mas eu te darei uma chance de se safar. — Levanto o olhar, surpresa, mas Ethan não me encara nos olhos. — Estou saindo com Liam em alguns minutos. Nó voltaremos em uma semana. É exatamente o tempo que você tem para desaparecer de nossas vidas. Você vai pedir demissão a Emma e partir. Porque se eu voltar e ainda estiver aqui, deixarei que Liam decida o que fazer e acho que já deve ter entendido que vai ser bem pior.

— Por que está fazendo isso? Achei que não perderia tempo em me entregar ao Leão.

— Não quero que Emma se decepcione com você. Ela já tem um histórico por se envolver com gente que não presta. — Sinto suas palavras como tapas no meu rosto. — E isso pode causar mais problemas entre ela e Liam.

— Simples assim, vai me deixar ir? — Por que eu não estava pegando minhas coisas e correndo sem olhar para trás?

— Liam é impiedoso e não vai sossegar até acabar com você e esse tal Carl.

— Eu não posso impedir o Carl de continuar com os planos dele...

— É bom que você o avise para parar. Porque eu não vou ter com ele a mesma piedade que estou tendo com você.

— Piedade...

— Apenas... Faça o que estou mandando. E não magoe a Emma, porque aí sim, não te darei uma segunda chance.

Tenho vontade de gritar que não quero nada disso. Que quero subir lá na casa dos Hunter e confessar todos meus pecados, mas de certa forma eu entendo Ethan.

Emma vai ficar arrasada se souber que a usei, mesmo que agora eu esteja arrependida e não tenha a menor intenção de continuar a ajudar Carl.

Ethan pega a chave do carro e fecha a porta, que bate com um estrondo, me fazendo tremer.

Eu fico ali, paralisada, ainda sem acreditar que há apenas poucas horas estava o paraíso e que agora tudo tinha virado inferno.


Capítulo 27

 

Amy

 

Eu nunca me senti tão miserável em toda a minha vida.

Como é que eu tinha deixado tudo se transformar naquele emaranhado de dor e arrependimento?

Depois que Ethan se vai, ainda permaneço ali, sozinha em seu apartamento, tão cheio de lembranças sexys e doces de nós dois. Choro por tudo o que poderíamos ter sido e que nunca mais seria possível porque eu era a criatura mais burra do universo.

Por que, demônios, eu tinha achado que podia entrar naquela trama com Carl e sair ilesa? Ok, talvez estivesse ciente de que o Leão poderia descobrir e me escorraçar dali. Era claro que eu sabia que ele ia descobrir de qualquer jeito quando a biografia ficasse pronta. Porém, nunca ia imaginar que poderia me apaixonar pelo cara que simplesmente dava a vida por ele. Contrariando todas as possibilidades, foi exatamente o que aconteceu.

E agora Ethan sabe. E me odeia.

E eu não consigo nem respirar direito.

Com muito esforço, levanto e praticamente me arrasto para a cobertura dos Hunter. Graças a Deus, Emma não está no meu caminho quando rumo para o quarto e entro no chuveiro, chorando mais um pouco minha miséria.

E quando saio de lá e me visto, tomando cuidado de passar um pouco de maquiagem, me pergunto como vou encarar Emma.

Tenho vontade de lhe dizer toda a verdade. Mas sei que Ethan tem razão. Ela não merece essa decepção. O melhor que posso fazer agora é arranjar uma boa desculpa para pedir demissão e desaparecer da vida do Leão e de todos que o rodeiam.

Respiro fundo, conjurando força e vou para a cozinha. Emma está ali, com Leo no colo. Eric cozinha algo no fogão e os dois sorriem ao me ver. Não consigo retribuir.

— Ei, olha quem apareceu, ainda consegue andar? — Emma ri, animada com sua piada maliciosa. — Quero que me conte tudo! Ethan é tão bom de cama quanto parece? Ele é bruto? Ou tipo...

— Ei, Emma, acho que a Amy não está bem. — Eric percebe antes de Emma que estou prestes a vomitar. Ou algo assim.

— O que.... O que foi? — O olhar de Emma se torna apreensivo.

Leo começa a chorar e agita os bracinhos para mim.

Aí eu desabo. Eu nunca mais ia ver Leo. E nem tinha reparado que me apegara tanto ao pequeno Hunter.

— Meu Deus, Amy, o que foi? — Emma balbucia, apavorada com meu choro.

Eric se aproxima e me coloca sentada. Não consigo parar de tremer e de soluçar.

Emma está apavorada, e tenta acalmar Leo.

Eric coloca um copo de água em minha mão e pega Leo do colo de Emma, o levando dali.

— Eu o acalmo. Veja o que aconteceu com Amy — diz, e choro ainda mais ao sentir a preocupação em sua voz.

Ah, Eric, você é tão legal e eu sou um monstro.

— Jesus, Amy, está me assustando! — Emma se aproxima e respiro fundo várias vezes, tomando uns goles de água e me obrigando a ficar calma.

Preciso seguir em frente. Fazer o que Ethan pediu.

— Que diabos aconteceu? É algo com Ethan? Vocês estavam bem ontem, eu achei...

Então percebo que já sei qual será minha desculpa.

— Eu e o Ethan terminamos — sussurro. E nem tenho que fingir que estou arrasada porque é verdade.

Terminar com Ethan tinha me quebrado de uma maneira que nunca julguei ser possível. Eu já tive outros relacionamentos. Já estivera apaixonada antes, mas nunca fiquei assim. Nunca achei que podia ficar assim.

Emma está consternada agora.

— Como assim? Ele contou ao Liam ontem e vocês passaram a noite juntos, e... Não entendo!

— Eu sei. Nós estávamos bem, mas... algo aconteceu.

— O que aconteceu? Não me diga que é por causa da Nicole?

— Não, quer dizer...

— Ah, eu sabia... Não vem dizer que o Ethan te disse que ainda gosta daquela vadia? Porque eu vou matar o Ethan!

— Não, a culpa não é dele...

— Mas você está arrasada.

— Sim, estou.

— Você estava apaixonada?

— Sim, muito — confesso.

— Ah, Amy, não entendo o que pode ter acontecido. Nicole não foi nada...

— Eu sei, não tem nada a ver com a tal Nicole.

— Então o que foi?

— Acho que não entenderia...

— Mas quero entender! Eu estava tão feliz com vocês dois juntos e agora... — Ela começa a chorar.

— Emma, não chora.

— É horrível que não estejam mais juntos...

— Às vezes isso acontece.

— Sim, claro. — Ela funga e me encara esperançosa. — Mas você gosta dele. E tenho certeza de que se Ethan te assumiu para o Liam, que aliás está todo puto, morrendo de ciúmes...

— Liam com ciúmes?

Ela ri por entre as lágrimas.

— Você sabe como eles são ligados. Acho que Liam nunca se tocou que um dia Ethan poderia encontrar alguém, que pudesse ter um relacionamento sério...

— Quanto a isso ele não precisa se preocupar mais. Eu e Ethan não temos mais nada.

— Mas pode ter sido só uma briga.

— Não foi só uma briga, Emma. Foi pra valer e acabou.

— Não dá pra entender...

— Não tente. A vida é assim, não deu certo.

— Isso é tão triste. Como vai ser agora, vocês dois aqui...

— Então, sobre isso, tem mais uma coisa. Eu... acho melhor pedir demissão.

— Não!

— Sim, vai ser melhor. Ethan vai se sentir mal comigo aqui, uma situação estranha...

— Não, não pode ir embora.

— Eu preciso, Emma.

— Por favor, não faça isso. Entendo que talvez seu caso com o Ethan não tenha dado certo, mas... Se ficar aqui, talvez...

Eu sorrio tristemente.

— Não vai rolar. E estou bem triste agora, para falar verdade. Não vou aguentar ver o Ethan todo o dia. Não consigo. Por favor, entenda.

— Não acredito que isso está acontecendo.

— Você vai arranjar outra babá.

— Não vai ser a mesma coisa.

— Eu sinto muito. Não quero decepcioná-la. Mas entenda, imagina se terminasse com o Liam e tivesse que conviver com ele, como seria?

— Eu não consigo nem imaginar.

— Então só espero que me entenda. Eu preciso ir. Antes que o Ethan retorne dessa viagem.

— Ah, Amy, fique!

— Não posso. Desculpa.

— Tudo bem — ela anui finalmente. — Não posso te prender aqui. Sei que deve ser difícil.

— Obrigada por tudo. — Eu a abraço e choramos mais um pouco.

Eu realmente gostava demais de Emma. Por isso estava partindo sem que ela soubesse de nada.

Ia ser melhor assim.

Retorno ao meu quarto e começo a arrumar minhas coisas.

Eric aparece e me ajuda sem dizer nada.

— Vai ficar bem? — Questiona, quando guardo a última roupa na mala e ele me ajuda a levar para a sala.

— Um dia. — Dou de ombros.

— Sinto muito. Owen vai te levar. — Ele passa a mala para Owen que leva para fora, com seu jeito silencioso.

— Cadê a Emma?

— Ela não quer se despedir. Está com Leo no quarto.

Seguro a vontade de começar a soluçar de novo.

— Obrigada por tudo, Eric. — Eu o abraço e ele me acompanha até o elevador.

Consigo segurar a vontade de chorar até chegar em casa.

Tiziano me espera na porta do apartamento, com o rosto apreensivo e um olhar de “eu te disse que ia dar merda”.

Eu tinha conseguido digitar uma mensagem para ele no carro, comunicando que pedi demissão com algo do tipo “fodeu tudo”.

Ele me abraça e me leva para dentro.

— Por favor, não diga nada — balbucio, e ele apenas me acompanha até o quarto, se acomoda na cama comigo e me embala enquanto choro. Demora um pouco até que me torne coerente e consiga contar tudo.

— Eu não quero ser aquele que vai te dizer “eu avisei”.

— Fui tão idiota, Tiziano.

— Ah, querida, você foi uma cretina.

Eu rio por entre as lágrimas.

— O que eu vou fazer?

— Agora? Vai chorar, vai sofrer e vai deixar o tempo passar. Tudo passa, querida, e o tempo cura tudo, vai ver.

— Acha que vou esquecer o Ethan?

— Quem pode dizer? Mas você vai tentar.

— Ele me odeia e conviver com isso está sendo horrível.

— Teve sorte, Ethan deve gostar mais de você do que imagina.

— Sério?

— Claro. Ele tinha que ter te entregado ao Liam e não o fez. Ethan te protegeu, acima da lealdade que tem com Liam Hunter.

Essa conclusão de Tiziano faz outra onda de choro sacudir meu corpo.


Cinco dias depois estou deitada no terraço. Escutando Lana Del Rey a todo volume e lamentando que Tiziano tenha levado nossa plantinha mágica para a casa do seu último namorado, porque só assim para eu sair daquele buraco de tristeza e culpa em que me encontro.

— Ah, também queria estar morta...

Eu tinha desligado o celular e sabia que Carl devia estar louco atrás de mim, mas não me importava. Ele que fosse para o inferno com sua biografia.

Aliás, que todos fossem para o inferno, não me importava.

Infelizmente, com Ariana não tive a mesma sorte, ela apareceu no dia seguinte em que deixei a casa dos Hunter, cobrando satisfação, com o dedo em riste.

— Posso saber que diabos está acontecendo?

— Por que está gritando? — Reajo com uma careta, aumentando o som, e ela bate na minha mão, desligando.

— Emma me ligou toda chorosa dizendo que você pediu demissão depois de transar com o segurança dos Hunter, é verdade?

— Sim, é!

— E é por isso que está aqui com essa cara de quem não toma banho há dois dias e nem penteia esse cabelo medonho?

— Ah, Ariana, eu fui tão idiota! — Comecei a chorar e ela me abraçou e até deixou que eu ligasse o som de novo, tendo Lana como trilha sonora para confessar, enfim, todas as merdas que tinha aprontado.

— Eu sabia que estava fazendo merda! E dessa vez foi longe demais, Amy! Você enlouqueceu, enganar o Leão de Wall Street? Meu Deus, e ainda envolver a mim e ao meu marido nisso!

— Me desculpe...

— Caramba, como pode ser tão burra?

— Burra?

— Sim, burra!

— Só queria ter uma chance de ser alguém!

— Enganando os outros?

— Nem pensei nisso...

— Claro, esse é seu problema, nunca pensa!

— Você me odeia agora também?

— Não, não te odeio. É minha irmã! Mas fico preocupada com você. Já tem vinte e cinco anos, precisa parar de agir sem pensar! Precisa crescer, Amy, já chega dessas palhaçadas inconsequentes! Eu entendo que queria crescer na sua profissão, não é pecado ter ambição, mas se tivesse parado para pensar um minuto nas consequências do que estava fazendo não tinha entrado nessa.

— Eu sei. Agora eu sei. Não vou mais ajudar o Carl. Eu já tinha decidido.

— Só que agora é tarde. Sorte sua que o Ethan apenas a mandou embora e não contou nada ao Liam, porque se contasse estava ferrada! E coitada da Emma, sabe que ela me ligou e pediu que eu conversasse com você e a convencesse a voltar?

Eu sorri por entre as lágrimas.

— Emma é tão legal.

— Sim, ela é. E o que pretende fazer agora?

— Eu não sei. Só quero sofrer em silêncio.

— Bem, acho que o melhor que faz é realmente pensar na vida por um tempo. — Ela se levantou e depois me abraçou para ir embora, não sem antes me fazer prometer tomar banho e lavar o cabelo.

E agora eu tento achar algum sentindo para levantar e seguir em frente, mas não encontro.

Só consigo pensar em Ethan. Em quando ele esteve ali me investigando. Ou quando fizemos o ménage com o Oscar. Eu devia ter aproveitado para transar com ele naquele dia. Se soubesse que nosso tempo juntos seria tão breve, teria aproveitado todos os minutos.

Agora eu estou sozinha. Apenas com minhas lembranças.

E a culpa que ainda esmaga meu peito.

O pior é que não sinto falta apenas de Ethan. Sinto falta de Emma, sinto falta de Leo. Até do Liam Hunter.

— Que legar legal! — Abro os olhos, atordoada ao ouvir a voz de Emma, achando que estou delirando, mas fico mais aturdida ainda quando percebo que não comecei a delirar e sim que a esposa de Liam Hunter está ali na minha frente.

— Emma?

Ela olha para todos os lados, animada.

— Muito legal esse espaço! E essa vista! Uau!

Sim, a vista é linda e, com o começo do verão, o sol está se pondo refletindo uma luz incrível no terraço.

— Emma, que diabos faz aqui?

Ela finalmente me encara e retira os óculos de sol.

— Oi, você parece horrível. — Faz uma careta.

— Ainda não entendo o que está fazendo aqui?

— O casamento da Zoe é neste fim de semana.

— E? — Sim, eu me lembro que o casamento da amiga interesseira dela é neste fim de semana. Na Irlanda.

— E eu estou indo para lá agora.

— E...

Ela sorri.

— E você vai comigo.

Ai, Deus, Emma Hunter tinha enlouquecido ou o quê?

— Como é?

— E nem pense em dizer não! Uma das damas de honra da Zoe comeu camarão estragado ou ao algo assim, e está com intoxicação. E ela te convidou, porque ainda está toda encantada com a festa de despedida de solteira.

— Contou a ela que não sou mais sua babá?

— Claro que sim, e quem se importa? Está sendo convidada como amiga!

— Emma, isso é ridículo...

— Não é! Vamos, levanta sua bunda daí!

Ela me puxa da cadeira e sai me arrastando escada abaixo, onde um Tiziano sem camisa segura Leo em uma mão, enquanto leva minha mala com a outra.

— O que é isso?

— Eu fiz sua mala! — ele responde sorridente.

— Como assim, quando...?

— Eu liguei para Tiziano hoje de manhã e pedi que ele providenciasse isso para mim.

— Sério? — Encaro Tiziano chocada. — E não me disse nada!

— Ordens da senhora Hunter, querida, quem sou eu para contestar?

De repente Owen entra na sala e pega minha mala, levando-a embora. A presença do outro segurança enche meu coração de apreensão.

— Emma, não pode estar mesmo falando sério. Sabe que não posso ir com você, Ethan...

— Ethan não tem nada a ver com isso!

— Mas ele estará lá.

O que seria uma grande merda. Ethan não queria me ver. E ficaria puto de eu estar com Emma.

— E daí? — Ela se aproxima de Tiziano e pega Leo. — Olha, Leo, quem vai viajar com a gente? Ele estava com saúde de você! Vamos?

— Não...

Mas Tiziano já está praticamente me carregando porta afora, seguindo Emma até o carro.

— Tiziano, me ajuda, sabe que não posso ir...

— Querida, relaxa.

— Não! Isso vai ser uma grande confusão.

— Que eu adoraria ver, mas infelizmente não posso ir.

Ele me joga dentro do carro e coloca minha bolsa no meu colo.

— Boa viagem!

— Tiziano... — Minha voz morre, amortecida pelo ronco do motor, quando Owen dá partida e ainda vejo Tiziano rindo e acenando antes do carro virar a esquina.

— Relaxa, Amy — Emma diz ao meu lado, e eu a encaro, pálida e com dor de barriga.

— Relaxar? Você está me sequestrando!

Ela ri e Leo escolhe aquele momento para sacudir os bracinhos em minha direção.

Eu o pego sem pensar, tentando me acalmar, porque minha mente só pensava em uma coisa.

Emma Hunter é louca e está me levando para a Irlanda.

Para um casamento onde Ethan estará.

Rechaço o pequeno pulo de alegria que meu coração dá. Porque o medo do que pode acontecer é bem maior.

Sinto a mão de Emma sobre a minha e a encaro. Ela está sorrindo.

— Amy, não se preocupe. Eu tenho um plano!

Oi?


Capítulo 28

 

Ethan

 

A vida era mesmo uma merda. Principalmente quando você descobria que a mulher que o tinha feito mudar todos seus pensamentos sobre amor e compromisso, simplesmente era uma maldita de uma mentirosa.

Agora, tudo o que eu desejava era nunca ter deitado meus olhos na figura linda e ardilosa de Amy Grant.

Como é que eu podia ter sido tão idiota? Justo eu, que achava que levar vários foras sucessivos de Nicole Zorn fora o fundo do poço.

Inferno, Nicole Zorn e sua arrogância não era nada em frente às promessas doces e traiçoeiras de Amy. A maldita babá. Embuste!

Devia ter acreditado nos meus instintos iniciais. Devia ter mantido a mente alerta. Mas não, deixei meu pau tomar conta da situação, muito feliz e saltitante em brincar com a babá dissimulada. E baixei totalmente a guarda quando permiti que ela entrasse aonde nenhuma outra entrara até então. No meu coração.

E doía. Porra, doía pra cacete! Mesmo agora, vários dias depois, ainda não conseguia lidar com a decepção de que Amy não era quem eu pensava ser.

E pior que lidar com meu próprio coração partido, como se fosse um adolescente ridículo, ainda tinha que lidar com o fato de que ela entrara em nossas vidas para prejudicar Liam.

Cara, ainda era difícil de acreditar que ela fora tão sacana a esse ponto. Mentir e enganar. Forjar uma amizade com Emma para conseguir sua confiança, apenas para obter informações para um maldito livro!

Bato no volante com força, tentando conter a fúria. Mas tudo bem, em poucos minutos eu não precisaria mais conter a vontade de socar algo. Ou alguém. Eu tinha remoído a minha dor e a minha raiva por uma semana. Seguindo Liam em suas negociações na Europa, e tendo que engolir a vontade de contar toda a verdade a ele. Mas sabia o que ia acontecer se contasse. Liam ia ficar puto e não iria sossegar enquanto não acabasse com Amy Grant e o tal chefe escroto.

Ok, eu podia deixar que ferrasse com o tal Carl, mas havia algo em mim que não queria ver Liam prejudicando Amy. Era uma merda, mas mesmo sabendo o tipo de pessoa que ela era e o que tinha feito, ainda queria protegê-la de alguma maneira. O que era, no mínimo, sem sentido.

Devia deixar que Liam fizesse o que quisesse com Amy e não estar nem aí. Bem, quem sabe um dia eu conseguisse. Depois que a tirasse do coração.

Cacete, para de ser idiota! Minha consciência grita em meu ouvido. O que ela vinha fazendo muito nessa última semana, sempre que eu deixava que Amy voltasse a meus pensamentos. E se fosse apenas para ter raiva, seria fácil. Mas era difícil encarar a saudade. Cacete, eu estava tão ferrado...

Bato no volante de novo, pronto para atacar alguém. Torcendo para que o que eu viera fazer ali fosse o bastante para acalmar minha ira.

Eu deixara Liam em casa, depois de voltarmos a Nova York, onde ficaríamos apenas um dia, antes de retornarmos à Europa, desta vez para encontrar Emma que já tinha ido há dois dias para a Irlanda, ajudar nos últimos preparativos para o casamento de Zoe, que aconteceria amanhã. Liam poderia ter ido direto, mas ele não queria ter que aguentar Zoe e sua chatice megalomaníaca mais do que necessário.

Aperto o olhar, estudando a entrada do prédio em que estou de tocaia há algum tempo. Nada do cretino ainda.

Meu telefone toca e vejo que é Emma. Não atendo.

Ela tinha me ligado chorosa e suplicante quando Amy pediu demissão, usando a desculpa, pelo o que eu tinha entendido, de que não poderia ficar depois que “terminamos”.

— Você tem que voltar com ela! — Emma gritara no meu ouvido e eu respirara fundo, lutando contra a vontade de começar a chorar como um bebezão e dizer que Amy não passava de uma mentirosa embusteira que tinha quebrado meu coração.

— Emma, pare de chorar. Vai arranjar outra babá — eu havia dito, com a melhor voz fria de macho superior que encontrara dentro de mim.

— Mas vocês estão apaixonados, eu não entendo...

— Por que não é da sua conta!

— Ei! — Ela soara magoada e eu soltara um palavrão.

— Me desculpe. Sei que gostava da Amy, mas... Foi melhor assim. Você vai esquecer — dissera as palavras que vinha repetindo a mim mesmo.

— E você vai? — ela questionara e eu me fizera a mesma pergunta.

— O tempo vai se encarregar disso, tagarela.

Eu consegui desligar um tempo depois apenas para aguentar Liam me atazanando depois.

Quando eu entrei no carro na manhã em que deixei Amy no meu apartamento, meu humor estava terrível e só queria sair quebrando tudo.

— Está de mal humor porque te tirei do meio das pernas da babá?

— Vá se foder! — resmunguei e Liam foi esperto o bastante para saber que não queria falar sobre isso.

Mas depois que Emma lhe contou que Amy tinha ido embora, não foi tão fácil me livrar de suas perguntas.

— Que porra aconteceu?

— Nada. Apenas acabou. — Tentei ser sucinto.

— Simples assim? Ontem estava todo apaixonado, fazendo discursos românticos e hoje diz que acabou e que a babá foi embora?

— Achei que ia ficar feliz.

— Por que, porra, eu ficaria feliz com sua infelicidade?

— Não estou infeliz!

— Não? Parece que tem um toco enfiado no rabo! Eu sabia que tinha alguma coisa errada!

— Olha, Liam, apenas... deixa para lá. Sim, eu estava com a Amy, e não deu certo. Acabou. Às vezes as coisas acabam e a vida segue.

— Não parece tão simples...

Eu fiz o meu melhor para ignorar, assim, como as ligações de Emma, que, até que enfim, parecia que eles tinham entendido.

Liam até disse na noite anterior que tinha sido melhor.

— Não entendo que porra aconteceu, mas... não posso deixar de ficar aliviado.

— Aliviado?

Ele fez uma cara culpada.

— É, Emma me disse que era melhor começar a me acostumar em não ter mais você comigo.

Eu ri, sem o menor humor.

— Por que eu faria isso?

Ele deu de ombros.

— Emma estava convencida de que Amy era a garota certa, palavras dela. Tipo... que Amy seria a sua Emma.

— Amy não é Emma.

— É, vejo agora.

Eu fingi não me incomodar com as palavras de Liam, porém a verdade é que Emma tinha razão. Eu estava mesmo começando a achar que Amy era minha Emma.

Estava tão enganado.

Agora aqui estou eu, saindo do carro, quando vejo aquela barata nojenta do chefe de Amy saindo do prédio, sem saber que está prestes a levar a maior surra de sua vida.

Eu podia ter poupado Amy Grant. Mas esse tal de Carl não teria a mesma sorte. Ele ia aprender como eu lidava com quem tentava prejudicar o Leão de Wall Street.


Amy


Eu nunca estive tão nervosa em minha vida.

Observo minha imagem no espelho, usando um lindo vestido lilás, os cabelos presos em um intricado coque na nuca e a maquiagem perfeita.

— Você está linda! — Emma exclama ao meu lado e eu tento sorrir ao encará-la. Ela está usando um vestido igual ao meu.

— Você também não está nada mal!

Ela ri.

— Mas parece que está com dor de barriga.

Desisto de tentar sorrir e faço uma careta.

— Ainda acho que é um grande erro estar aqui... — externo mais uma vez meu medo à Emma. Mas, como das outras vezes, não adianta nada.

Emma sorri, colocando os sapatos ridiculamente altos. Estamos em um dos elegantes quartos do castelo que Zoe escolheu para ser palco de seu casamento ostentação.

Eu e Emma chegamos há dois dias e desconfio que a único motivo dela ter insistido em me trazer foi para poder se safar de Zoe, que, como a maioria das noivas, passava as horas correndo de lá para cá, certificando-se de que tudo ia ser perfeito no seu grande dia.

E quando Zoe gritava alguma ordem absurda como “preciso que alguém conte todos os ramos de orquídeas de novo porque tenho certeza de que não está correto!”, Emma sorria, sacudindo Leo e perguntava se eu podia ajudar Zoe, já que ela estava ocupada com o bebê. Ahan, sei.

Emma tinha sorte de duas coisas: eu tinha uma puta paciência com gente louca, vide que era irmã de Ariana e minha mãe também não ficava atrás, tendo sido casada cinco vezes, o que significava cinco cerimônias ridiculamente bregas. E eu estava me sentindo muito culpada ainda por todas as mentiras que contara a ela no período que estive em sua casa. Então, apenas sorria de volta e concordava em ajudar Zoe com as malditas flores, ou seja lá qual loucura ela inventava.

O bom de tudo isso era que eu me distraía da ideia de que, em pouco tempo, Ethan estaria chegando com Liam e, quando me visse ali, não ficaria nada contente. Talvez ele me levasse até o penhasco mais próximo e me empurrasse de lá para se livrar de mim de vez.

Quando tentava dizer a Emma que Ethan ia ficar muito furioso quando me visse ali, ela apenas batia na minha mão com um sorriso matreiro.

— Vai dar tudo certo, querida. Lembra do nosso plano?

Ah, sim, o plano maluco de Emma de que, quando Ethan me visse, ele ia cair de amores por mim e de novo.

Só que Emma não sabia os motivos de Ethan ter me dado o fora e eu não podia contar.

— Não vai! Eu e Ethan não terminamos nada bem, ele não vai querer me ver... Acho que deveria ligar para ele agora e contar que estou aqui. Vai ver que vai pedir para se livrar de mim antes que chegue.

— Não seja boba! Não vou ligar para o Ethan! Ele não manda no casamento da Zoe e ela te convidou!

— Acha que sou burra, Emma? Você que inventou de me trazer!

— Tudo bem, inventei mesmo e por isso vai continuar aqui!

Agora, a poucas horas da cerimônia, Liam já tinha ligado para Emma e avisado que estava a caminho.

— Espero que Liam não atrase! — Emma reclama, enquanto seguimos para fora do quarto.

— Aí estão vocês. — A mãe de Zoe, uma discreta senhora com sorriso bondoso surge no corredor segurando Leo, que está lindinho em seu mini smoking.

— Ah, que lindo! — Emma pega o bebê, o esmagando em seus braços. — Obrigada por cuidar dele enquanto nos arrumávamos.

— Eu adorei, querida, é um bebê tão bonzinho. Porém, acho melhor não entrar no quarto da Zoe agora.

— O que foi?

— Leo vomitou no vestido da festa de Zoe.

— Ah, meu Deus! — Emma parece horrorizada e eu me seguro para não rir. — Ela deve estar querendo me matar!

— Ela está prestes a matar qualquer um de nós, na verdade — Jackson, o noivo de Zoe aparece. — Uau, estão lindas.

— Acho que preciso ir ver Zoe — Emma diz, preocupada. — Deve estar surtando! Pode ficar com Leo pra mim? — ela me pergunta e estou prestes a dizer que sim, quando Jackson se interpõe.

— Na verdade eu vim te chamar porque o Liam e o Ethan chegaram.

Sinto meu estômago embrulhar.

Ai, senhor. É agora.

Eu ainda estava rezando para que alguma coisa os atrasasse para além da cerimônia, quem sabe assim eu pudesse fugir. Mas a sorte não está comigo hoje, ao que parece.

— Liam chegou! — Emma sorri feliz. — Pode dizer a ele que vou ajudar Zoe e que já desço?

— Não! — exclamo, e ela franze a testa, confusa. — Quer dizer, porque não desce e vai ver o Liam e eu cuido da Zoe?

— Tem certeza? — Percebo que ela amou a ideia, o que é ótimo para mim. Assim, posso evitar Ethan e minha morte iminente mais um pouco.

— Claro que sim!

Apresso-me em ir na direção do quarto de Zoe. E quando lá chego, arregalo os olhos ao ver uma Zoe, surtada, andando de um lado para o outro, enquanto o maquiador a segue tentando terminar a maquiagem que, percebo, foi feita apenas em um olho. Pelo menos o cabelo já está pronto.

— Tudo bem aqui? — Visto meu melhor sorriso enfermeira de hospício.

Zoe me encara e começa a chorar.

— Ei, o que foi? — Eu me aproximo e a seguro pelos ombros.

— Está tudo dando errado!

— Não! De onde tirou isso? — Eu a levo até uma poltrona e o cabeleireiro rola os olhos, fumando um cigarro suspeito perto da janela.

— Ei, isso é maconha?

O rapaz, que ostenta um cabelo roxo e maquiagem punk sorri com ironia

— Claro que não, querida!

É minha vez de rolar os olhos. Zoe continua a chorar, balbuciar e mexer as mãos, enquanto tenta me explicar tudo o que apenas na sua mente insana está dando errado.

— E o Leo vomitou o meu vestido da festa, sabe quanto custo aquela merda?

— Não chame um Vera Wang de merda, Zoe — digo, e ela ri histérica.

— Um Vera Wang arruinado!

— Mas esse seu vestido da cerimônia está lindo, nem precisa trocar...

— Não era isso que eu tinha imaginado — ela grita como uma criança birrenta e eu bufo.

— Eu preciso maquiá-la — o maquiador, um senhor de meia idade efeminado e sem paciência resmunga e eu sorrio para tranquilizá-lo.

Eu tenho uma ideia.

— Ei, Gunther, é esse seu nome, não? — indago ao cabeleireiro.

Ele assente ainda com cara de enfado.

— Pode me emprestar seu cigarro?

— O quê?

— Por favor, temos uma emergência aqui!

Ele se aproxima e me estende o baseado e eu passo para Zoe.

— Acho que precisa disso, Zoe. — Sorrio docemente como quem está oferecendo balinha na porta da escola a uma criança inocente. Mas isso era por uma boca causa.

— Eu não fumo! — Ela me encara, confusa.

— Só para relaxar, querida, eu prometo, vamos, só uma tragadinha...

Ela pega o cigarro e aspira e sorrio para a plateia composta pelo maquiador e o cabeleireiro, enquanto Zoe parece ficar mais calma a cada tragada.

— Não é tão ruim... — balbucia com um sorrio remelento e suspiro aliviada, pegando o cigarro de sua mão e passando para o cabeleireiro.

— Obrigada.

— Você me dá medo! — ele resmunga e volta ao seu posto perto da janela.

Ignoro a observação e convenço Zoe a lavar o rosto, antes de o maquiador finalmente conseguir terminar seu trabalho com uma Zoe dando risadinhas tolas.

— E aí, tudo bem por aqui? — Emma aparece quando Zoe já está pronta. — Wow, você está maravilhosa, Zoe! — Ela se emociona e Zoe apenas ri, doidona.

— Não sou mesmo linda? Hum, acho que estou com fome... Já sei, vamos comer o bolo do casamento?

— Agora? Está louca? — Emma ri para mim,confusa, e eu apenas faço um sinal com a mão para relevar. — Vamos descer, Zoe, seu pai já está aí fora para te levar!

Sigo Emma para fora do quarto, voltando a sentir meu estômago doer.

Agora não tinha mais como fugir.

Descemos para o caminho para fora do castelo, onde todo o local da cerimônia estava arrumado como um conto de fadas, com o sol se pondo no oceano dando uma bela visão do penhasco a beira mar que estamos.

A marcha nupcial começa e Emma sorri animada para mim, mas não consigo retribuir, pois acabei de avistar Ethan.


Capítulo 29

 

Amy

 

Ele está mais afastado dos convidados. Vestido todo de preto, como sempre. O semblante esculpido em granito e o olhar mortal preso em mim.

Quero desviar meus olhos, mas não consigo. De repente penso só em como está lindo e em como senti falta de apenas descansar meus olhos em sua figura incrível.

Por que estraguei tudo? Por que o universo tinha sido tão cruel comigo, que, justamente quando decido fazer a maior merda da minha vida, ele me coloca um cara tão maravilhoso como Ethan no meu caminho. Para me apaixonar. E depois perder.

Não era nem um pouco justo.

Eu me posiciono ao lado de Emma, e Zoe aparece desfilando linda em seu vestido caríssimo, ainda sorrindo, acenando e jogando beijos no ar para os convidados. Jesus, ela está doidona!

Jackson franze a testa, confuso, e olha para mim e para Emma, em busca de resposta para o comportamento bizarro da noiva. Eu apenas dou de ombros e ele sorri, fazendo o mesmo, certamente está pensando que uma Zoe ligadona é melhor do que uma Zoe psicopata.

A cerimônia começa com o céu de fim de tarde explodindo em cores e, devo dizer, Zoe acertou em cheio em escolher aquele local para o casamento. É mesmo lindo de se ver.

Quando a cerimônia termina e Jackson beija uma Zoe às gargalhadas, os convidados seguem para a área da recepção no jardim do castelo, e penso que esse é um momento ótimo para fugir. Procuro Emma com o olhar e ela está com Liam, que segura Leo no colo.

Aproximo-me deles, ainda com um pouco de receio de Liam Hunter, mas percebo, por sua expressão, que Ethan não lhe contou nada mesmo.

— Amy Grant, que surpresa.

Eu me pergunto o que se passa na sua cabeça. O que será que Ethan contou sobre nosso término.

— Olá, senhor...

— Acho que não precisa mais me chamar de senhor, já que não sou mais seu patrão — diz com uma voz extraordinariamente macia, seguida de um sorriso, quase humano.

Ah?

— Nunca foi, na verdade — Emma se interpõe — eu era a patroa de Amy! — E de repente ela olha para além de nós. — Ethan, venha aqui!

Ah, droga! — Gelo da cabeça aos pés.

Ethan se aproxima, colocando-se ao lado de Emma, que se engancha em seu braço.

— Não está feliz de ver a Amy? — pergunta com um sorriso.

E Emma é realmente muito sem noção se não percebe o olhar irado de Ethan em minha direção.

— Estou surpreso. Achei que nunca mais ia vê-la entre nós — ele acentua o “nunca mais” e engulo a vontade súbita de chorar.

Sim, ele ainda está com raiva.

E eu que tinha a esperança de que sua raiva tivesse diminuído, estava enganada.

— Emma insistiu que eu viesse — digo em um fio de voz. Preciso sair dali. Ficar perto de Ethan, agora, sabendo que ele me odeia, está acabando comigo.

— Olha, vão servir a comida, estou faminta! — Emma segura meu braço e me puxa em direção à mesa. Não ouso olhar para Ethan, mas sei que ele está nos seguindo com Liam.

Comer é uma tortura. A comida que, pelo preço que eu vi Zoe dizendo que custou, devia ser deliciosa (ou feita de ouro), parece papel na minha boca.

Às vezes, relanceio o olhar na direção de Ethan, apenas para flagrá-lo me encarando com raiva. O que faz um bolo se formar em minha garganta.

Os noivos se levantam para a dança do casal e, depois de matar a larica, acho que Zoe está mais calminha. Ou bêbada, pelo jeito que tropeça no vestido. Realmente o vestido vomitado ia ser bem melhor para dançar.

— Eles formam um casal tão lindo! — Emma deita a cabeça no ombro de Liam, suspirando. — Amo casamentos. Espero em ir outro muito em breve...

Ah caramba. Emma era sutil como um elefante.

— Desde quando você é tão romântica? — Liam questiona, ajeitando um Leo quase adormecido no colo.

— Desde que me apaixonei por você! — Ela o beija. — Dança comigo?

Leo resmunga entre os dois e eu aproveito para tentar escapar, levantando-me para me oferecer para cuidar do bebê.

Mas acho que Ethan teve a mesma ideia que eu, pois já estende os braços na minha frente.

— Deixe que eu fico com Leo.

Liam não hesita em passar o bebê para o colo do segurança e se levantar, levando Emma pela mão.

Fico olhando os dois se afastarem, com um olhar de inveja.

Eu poderia ter tido minhas dúvidas com aquele bizarro relacionamento, mas é obvio que Liam e Emma são muito apaixonados e felizes um com o outro.

E é duro pensar que eu nunca terei algo assim.

— Que diabos está fazendo aqui? — Ethan rosna à minha frente e eu o encaro, tentando soar calma e não começar a chorar e implorar por perdão.

Não ia adiantar nada. Era difícil falar em dignidade na minha situação, mas podia tentar.

— Emma insistiu.

— Quer que eu acredite?

— Acredite no que quiser, Ethan — digo, cansada. — Você me odeia.

— Acha que não tenho motivos... — Sua voz é cheia de acusação e algo mais que parte meu coração. É decepção.

— Sim, você tem! — Mordo os lábios com força. Não vou chorar. Merda.

— E eu não falei que era para sumir da vida dos Hunter?

— Sim, e fiz o que mandou! Pedi demissão no mesmo dia. Fui embora da casa deles sem olhar para trás.

— Mas está aqui.

— Já disse que a Emma praticamente me sequestrou!

Ele solta um palavrão, passando a mão livre pelos cabelos.

Ah, quanta saudade daquelas mãos...

— Sinto muito por tudo — murmuro.

Ele não me encara. Está perdido em seus próprios pensamentos sombrios.

De repente quero aproveitar aquele último momento para tentar me redimir mais uma vez, mesmo sabendo ser em vão.

— Eu sei que me odeia agora, mas quero que saiba que me arrependo muito do que fiz, porém, de alguma maneira, não lamento.

Ele volta a me encarar e eu continuo.

— Eu nunca vou lamentar ter te conhecido... Ter ficado com você foi a melhor coisa que fiz na vida — digo com toda seriedade do meu coração. E rezo para que ele acredite. Ao menos nisso. — E estraguei tudo sendo cretina. Então, só espero que um dia você consiga pensar em mim sem ser com raiva. Por que eu vou guardar nossos momentos no meu coração e na minha memória para sempre.

Deixo minhas palavras se assentarem no espaço entre nós, enquanto olho para os casais dançando, com uma sensação de conformidade tomando minha alma.

Era isso. O fim.

O fim de algo que poderia ter sido incrível.

— Sim, eu odeio você! — ele diz por fim, e eu volto minha atenção para seu rosto. Está furioso enquanto continua. — Te odeio por ter sido tão burra e entrado em uma trama para enganar o Liam, achando que ia acabar bem. Odeio por ter enganado a Emma, que é uma pessoa doce e ingênua. E odeio sobretudo por ter feito com que eu me apaixonasse por você, quando o tempo inteiro estava apenas se divertindo em seu planinho diabólico! Porra! — Bate na mesa e não sei como Leo não acorda. Meu coração está aos pulos.

Ele tinha dito mesmo que se apaixonara por mim?

Por que de todas as coisas terríveis que ele me disse eu só me apego a isso?

— Hora de trocar de par! — Emma retorna e me puxa pela mão. — Vá dançar com Liam, Amy.

O... quê?

Mas Liam Hunter já segura minha mão e me puxa para o meio da pista.

Que mundo estranho era aquele em que eu vivia agora, em que dançava calmamente uma música romântica com o Leão de Wall Street?

— Ei, não vou te engolir — Liam diz, e eu finalmente tomo coragem de encará-lo.

Caramba, ele é bonito assim, não o aterrorizante Leão de Wall Street.

— Por que tem tanto medo de mim? — Ele franze a testa, o olhar tornando-se perigoso.

Ah, lá estava. O leão de novo.

— Acho que todo mundo tem! — murmuro, e ele ri. Gargalha na verdade.

Será que ele também tinha dado um pega no baseado do cabeleireiro?

— É verdade. E é divertido.

— Divertido?

— Sim, é muito bom para os negócios.

— Imagino. — Faço uma careta.

— Por que terminou com o Ethan? — Ele me pega de surpresa com sua pergunta.

— Ah, foi isso que ele disse?

— Não. Ele não me disse muita coisa. O que me deixou curioso.

— Ah, claro. São tão próximos que deve ser esquisito Ethan não te contar algo.

— Sim, somos muito próximos. Ele é como um irmão. E fiquei puto por vê-lo magoado.

Arregalo os olhos. Liam Hunter estava tirando satisfação comigo?

— Minha vez! — Antes que consiga responder a voz de Ethan nos interrompe e, no momento seguinte, me vejo sendo trocada de braços. Do leão para o segurança.

E já nem lembro mais de Liam Hunter, quando Ethan me segura firme. Seu cheiro maravilhoso invadindo minhas narinas, trazendo todo tipo de lembrança olfativa para meu sistema.

Seu braço em volta da minha cintura é tudo o que quero para sempre e minha mão sendo engolida pela sua é o paraíso, enquanto deixo meu braço livre matar a saudade de sua nuca.

De repente suas últimas palavras voltam à minha mente, fazendo um frisson percorrer minha espinha.

— Por que não me entregou ao Liam? — pergunto num fio de voz. As palavras de Tiziano reverberando em minha memória.

— Você sabe por quê. Pelo mesmo motivo que estou aqui, dançando com você. Por que só consigo pensar em como está linda, em como senti sua falta, Penny. E isto é uma merda! — Sua voz sai derrotada e eu quero chorar. E choro. Uma lágrima silenciosa rola por meu rosto.

Ah, Ethan.

— Por que você é uma mentirosa. E eu só consigo me achar um idiota por ainda te querer, quando devia estar te entregando para os leões. — Seu braço me aperta mais e um desejo saudoso percorre meu corpo. Rouba meu fôlego.

Aperto minha própria mão em seu ombro, querendo desesperadamente que ele me beije e encha meu mundo de paixão.

E sei que ele quer o mesmo. Conheço o jeito que seu olhar feroz mira minha boca quando quer me beijar. Como seus braços me pressionam quando querem me tomar.

E então tudo mais desaparece, restando apenas Ethan e seu desejo.

E eu queria que aquele momento fosse eterno. Que nada fosse mais forte do que seu desejo por mim. Seu amor por mim.

Assim como meu amor por ele.

Mas de repente a música termina e a voz de Zoe se faz ouvir em meio ao burburinhos dos convidados.

— Eu vou jogar o buquê, cadê as solteiras!

Ethan me solta com cara de poucos amigos, como se tivesse se tocado de que tinha feito algo muito errado e só consigo lamentar.

Mas, merda, ele gosta de mim. Será que eu não posso ter nem um pouquinho de esperança?

— Vai, Amy — Emma grita e olho para onde ela está com Liam ao lado. E Liam olha de mim para Ethan com um olhar especulador.

E entendo que, por mais que eu queira e até por mais que Ethan queira também, nada entre nós é possível agora, porque eu estraguei tudo com minha intenção de prejudicar a pessoa a quem Ethan devia mais lealdade no mundo.

O Leão de Wall Street.

E de repente eu sei que não posso mais mentir.

Nem para Emma e nem para Liam.

Sei que posso estar cavando minha própria sepultura, mas não tem outra maneira de terminar aquela história, eu preciso contar toda a verdade a Liam e Emma.

E dou um passo para fazer exatamente isto, quando de súbito duas coisas acontecem, um buquê é jogado diretamente na minha mão e Ethan está me puxando através dos convidados que aplaudem e gritam pelo meu feito.

— Ethan... — eu o chamo, aturdida.

— Cala a boca! — Grunhe, enquanto entramos no castelo e ele abre a primeira porta que aparece. É uma sala muito elegante, com armas na parede... e é só o que meus olhos confusos conseguem captar antes de ser puxada com toda força para os braços de Ethan e sua boca esmagar a minha.

E por um momento maravilhoso meu coração e meu corpo exultam.

Quantas vezes naquela semana eu sonhei em estar com Ethan exatamente assim, com sua boca devorando a minha, com as mãos puxando meu cabelo, com seu corpo excitado pressionando o meu com desejo?

Eu sabia o que ele queria. O que ele precisava. Porque era a mesma coisa que eu queria e precisava.

Era mais que desejo. Era necessidade.

Era saudade.

Então, deixo que me coloque sobre uma mesa e se infiltre entre minhas pernas muitos saudosas em cingi-lo e trazê-lo para perto. Deixo que a boca masculina deslize por meu pescoço, lambendo, mordendo, marcando, enquanto seus gemidos fazem eco com os meus na sala vazia.

E minhas próprias mãos descem afoitas por seu peito e abrem o cinto apressadamente. Não precisa de palavra. Ele toma minha boca de novo com um rosnado, descendo as mãos para subir meu vestido e não perde tempo nem em despir a calcinha, apenas a tira do caminho antes de me penetrar com força, fazendo um grito escapar da minha garganta.

Ah, sim. Bem assim. Rápido. Com força. Com vontade.

Encosto minha testa na dele e me agarro a seus ombros. Me movo junto, nossas respirações pesadas se misturando, nossos olhos bem abertos, enquanto o prazer vai crescendo vertiginoso, intenso, esmagador.

Até tudo desaparecer e restar apenas sensação. Doce. Sublime. Perfeita.

Nós somos perfeitos juntos.

E eu o abraço forte, enquanto goza dentro de mim e me desmancho de amor.

Só amor.

Depois ficamos em silêncio. Enquanto nossas respirações vão voltando ao normal.

Ainda mantenho meus braços firmemente agarrados a ele, negando-me em soltá-lo, porque sei que quer se soltar, pode ser para sempre.

E não quero.

Não posso.

Mas um barulho de alguém passando no corredor faz com que Ethan se retese e se afaste, obrigando-me a soltá-lo.

E só quando se vai é que percebo que também estava me agarrando com força.

Ele abaixa meu vestido no processo, tirando-me da mesa e se virando para fechar a própria roupa.

— Me desculpe! — diz, com uma voz que não entendo.

Ou estou muito confusa para entender.

— Não peça desculpa por isso — rebato, e ele me encara.

Não tem mais raiva em seu olhar.

Mas tem pesar.

Meu coração quebra mais um pedacinho.

— Por que as coisas não podiam ser simples, Penny? — Sua pergunta vem com um sorriso triste. — Por que você não podia ser apenas uma hipster maluca por quem eu me apaixonei? Apenas uma garota que eu posso amar?

— Mas eu sou essa garota. O problema é que essa garota fez uma merda muito grande, e justamente contra o cara que você protege e ama também. E é com isso que você não consegue lidar. — Respiro fundo. — E eu não sei o que vai acontecer. Se um dia vai me perdoar, ou vai me esquecer. Mas só quero que saiba que eu te amo. De verdade. E vou contar toda a verdade a Liam e Emma.

— Que verdade? — A voz de Liam irrompe na sala e eu e Ethan olhamos para a porta para vê-lo parado com um olhar ameaçador.

— Nada — Ethan diz rápido, mas eu dou um passo à frente.

— A verdade é que eu não era uma simples babá... — começo.

— Amy — Ethan tenta me deter, mas sei que não posso mais.

— Eu menti. Sou uma jornalista e me infiltrei na sua casa para conseguir informações e escrever uma biografia sobre você.

— Como é? — É a voz da Emma que escuto agora, quando ela aparece ao lado de Liam, que está me fitando como se estivesse levando em consideração o que eu acabei de dizer.

E percebo exatamente o segundo em que ele entendeu.

Quando o olhar do Leão de Wall Street recai mortal sobre mim.


Capítulo 30

 

Amy

 

Eu achava que tinha vivido um inferno quando Ethan descobriu minhas mentiras. Mas ver a cara confusa de Emma e a fúria fria nos olhos de Liam Hunter estava sendo mais terrível ainda.

— Me desculpe, Emma — murmuro — mas é o que ouviu. Eu nunca fui babá da Ariana. Ela é minha irmã de criação. Minha mãe foi casada com o pai dela e...

— Não quero saber a árvore genealógica da sua família, quero que explique essa história de ter mentido — Liam me corta.

— É sério? — Emma ainda parece desconcertada.

— Amy — Ethan tenta me impedir ainda.

— Não, Ethan, tenho que contar — continuo. — Eu sou uma jornalista.

— Isso eu já sabia! — Liam explode.

— O que não contei é que eu trabalhava em uma editora. Era assistente e não tinha nenhuma perspectiva...

— Você contou isso pra mim — Emma diz.

— Mas eu menti em dizer que tinha sido há muitos anos e que trabalhei como babá. A verdade é que meu chefe, Carl Davis, queria escrever uma biografia...

— Espera... Carl Davis da Simon&Davis? — A voz de Liam soa perigosamente baixa.

— Sim.

— Aquele filho da puta me procurou algumas vezes há alguns meses insistindo na merda de uma biografia... Espera... Então é isso que estava fazendo na minha casa, estava me espionando?

Ah, merda. Ele já tinha entendido.

Ethan solta um palavrão ao meu lado.

Emma ainda parece confusa.

— Claro que não! A Amy não ia fazer uma merda dessa... ia? — Me encara, ainda querendo entender, e não consigo negar.

— Me desculpa, mas foi exatamente o que fiz. Liam bateu a porta na cara do Carl e eu sabia que Ariana era sua amiga e comentou que queria uma babá. E pedi que ela mentisse.

— Ariana sabia? — Emma parece desolada.

Sinto-me mais culpada ainda.

— Não! Nem ela nem Emiliano sabiam qual o meu objetivo. Eu apenas disse que queria mudar de ares. Ela não tem nada a ver com isso... queria só me ajudar e...

— Ajudar a me enganar! — Liam esbraveja e dou um passo atrás, começando a ficar mesmo com medo.

— Eu não queria prejudicar ninguém, só uma chance de fazer algo grande, e a biografia ia ajudar muito a minha carreira.

— Amy, como pôde fazer isso? — Emma murmura. — Por que não pediu para nós? A gente te ajudava.

— Ajudar, você ficou louca? — Liam grita, furioso, e aponta o dedo em riste para mim. — Você entrou na minha casa, mentiu para mim, usou minha esposa, meu filho... — Ele está andando em minha direção agora.

Começo a tremer.

Mas Ethan se coloca na minha frente.

— Liam, se acalme.

Liam franze a testa parando.

— Você sabia.

O olhar de culpa de Ethan diz tudo.

— Porra, você ajudou essa vadia a me enganar?

— Não, cara...

— Ethan só descobriu no dia em que pedi demissão. — Eu me interponho ao ver que Liam não está entendendo. — Eu lhe contei, por isso brigamos e ele pediu que eu fosse embora.

Liam encara Ethan.

— Você descobriu e deixou ela ir? Deixou que se safasse?

— Eu dei uma surra no tal Carl. Ele não vai mais continuar com essa merda de ideia de livro biografia. E talvez não ande direito também...

— Porra, mas foi ela que entrou na minha casa e enganou a minha mulher usando meu filho! — Liam grita.

— Acabou, Liam. Ela está fora da sua vida.

— Acha que devo deixar assim?

— Amy se arrependeu.

— Você está protegendo essa mentirosa? Defendendo ela?

— Estou apenas fazendo o que é certo.

Liam ri sem humor.

— Não acredito que está do lado dessa...

— Olha como fala — Ethan diz, de um jeito tão frio como nunca vi antes. E Liam também fica sério. Os dois se encarando como se nunca tivessem se visto antes.

Caramba. Que diabos eu tinha feito?

— Vai mesmo ficar do lado desta mentirosa, irmão? — Liam sibila baixo. E sinto um desgosto frio em sua voz.

— Sei que ela fez merda. E por isso que mandei que fosse embora. Porque sabia que você ia querer destruí-la.

— E por que não pode deixar? Não é o que ela merece?

— Precisa esfriar a cabeça, Liam.

— Eu preciso é acabar com essa...

— Não. Não vou deixar você fazer qualquer coisa contra a Amy — Ethan diz, sério.

— Que porra, Ethan! — Ele empurra Ethan e desta vez Emma se coloca entre os dois.

— Ei, Liam, chega!

— O quê? Ele está defendendo essa vadia que invadiu nossa casa, pôs a mão no nosso filho!

— Ethan está defendendo a mulher que ele ama! — Emma grita.

— Ah, vá! — Liam se exaspera. — Ele não está pensando direito! Essa mulher entra na vida dele e ele defende o que ela fez? Contra mim?

— O quê? — Emma continua. — Está com ciúme porque Ethan ama alguém mais do que a você? Fala sério! A lealdade do Ethan também está com outra pessoa agora, e daí? Supere! Uma hora ia acontecer! Não estou defendendo a Amy, aliás... — Ela se vira para mim e sem que qualquer um de nós espere, vira um soco na minha cara e eu teria caído se Ethan não me segurasse, totalmente estupefato. — Isso foi por mentir pra mim!

Ela sacode a mão encarando Liam.

— E você pare de ser ridículo!

— É ridículo ficar puto por alguém ter nos enganado?

— Eu também estou puta! Mas como deve ter percebido, já resolvi a questão por nós. Vai fazer o quê? Agredir uma mulher? Sabe que eu não ia permitir que botasse a mão em alguém que não seja eu!

— Não ia bater nela, eu... — Liam parece confuso.

Caralho, que diabos? Não sei se estou tonta por toda aquela cena ou pelo soco. Massageio meu rosto, que certamente ficará roxo.

— Agora não vai fazer mais nada! Amy errou, mas sei que ela não é uma pessoa ruim!

— Você nunca acha que ninguém é ruim!

— Dessa vez eu sei. E sabe como eu sei, porque Ethan nunca ia se apaixonar e muito menos defender alguém que, bem no fundo, ele sabe que é gente boa. E ele já deu uma surra no tal chefe safado, então nenhuma biografia vai ser feita.

— Ei, a Zoe e o Jackson estão indo embora! — A mãe de Zoe entra na sala, segurando Leo, mas para ao ver a tensão. — Hum, algum problema aqui, crianças?

— Nada que não possa ser resolvido! — Emma se adianta e pega Leo. — Diga a Zoe que já vamos. — Ela olha para nós três. — Vocês vão sair e se despediram de Zoe. E acho que chega de briga por hoje!

Ethan ainda está me segurando, muito sério. Ele e Liam não se olham.

Ah, que merda. Agora eles estavam putos um com o outro por minha causa!

Emma sai da sala e Liam olha para Ethan, sei que quer dizer alguma coisa. Ou gritar. Mas segue Emma para fora.

Eu respiro aliviada e encaro Ethan, que agora toca meu rosto.

— Está doendo? Precisa de gelo.

Sorrio tristemente e tiro suas mãos de mim.

Embora isso seja muito difícil.

— Preciso ir embora daqui.

— Amy...

— Sabe que vai ser melhor assim. Liam e Emma estão putos comigo. Com razão. E Liam está bravo com você. Por minha culpa.

Ele abre a boca para discordar, mas continuo:

— Por favor, Ethan. Apenas... Vou subir, pegar minhas coisas e peça para Owen me levar até o aeroporto. Vou fazer o que você me mandou antes. Vou sumir da vida de vocês. O que eu fiz foi demais para ser perdoado, e você sabe disso, não é?

Ele me encara em silêncio por um tempo.

Torço para ele me deixar ir.

Torço para ele me impedir.

— É isso mesmo que quer?

— Sim.

Ele assente, sem olhar para mim.

— Certo. Acho que tem razão. Vou pedir para Owen te levar.

E sem falar mais nada, ele se afasta.

Sinto como se tivesse levado meu coração junto.


Ethan

 

Aguentar o resto do circo que era o casamento de Zoe foi uma pequena tortura depois de Liam e Emma descobrirem a verdade sobre Amy.

Liam estava puto e sem falar comigo e Emma, fingindo que tudo estava bem enquanto os últimos convidados iam embora e finalmente nós estávamos livres para voltar para o hotel em Dublin, onde ficaríamos até a partida na manhã seguinte.

Dirigi ao lado de Liam com cara de merda e Emma brava por ele não estar falando comigo. Mas o que ela esperava?

Liam tinha razão de estar bravo. Eu deveria ter contado a ele sobre Amy. Mas escolhi protegê-la.

Eu podia mentir para mim mesmo, mas já estava de saco cheio. Fiquei decepcionado pra cacete com as mentiras de Amy, mas ainda gostava dela. Essa era a verdade. E não queria que Liam fizesse nada que pudesse prejudicá-la.

E quando chegamos no hotel e Liam e Emma foram para a suíte, pude ficar sozinho com meus pensamentos. E meu sofrimento.

Eu tinha observado de longe a Amy partir, levada por Owen, contendo a vontade de ir atrás dela. Como fui depois que ela pegou o buquê.

E o que eu podia dizer? Eu estava com saudade. Estava com tesão. Estava morrendo para senti-la de novo. Nem que fosse uma última vez. O problema foi que depois que acabou, eu só pensava que não queria que fosse a última vez. Queria que ela voltasse para mim.

Mas como seria possível?

Eu ia perdoá-la pelo que tinha feito?

Por que não? Uma voz sedutora sussurrava em meu ouvido. Amy podia ter feio uma grande confusão se envolvendo naquela farsa, mas eu acreditava quando ela dizia que estava arrependida.

E acreditei quando disse que me amava.

E tudo o que queria era acreditar que um futuro juntos ainda era possível.

Mas Liam entrara e descobrira tudo e ficara puto como era de se esperar. E ficara furioso comigo porque ter defendido Amy.

Nunca fiquei tão dividido na minha vida. Mas sentia que estava fazendo a coisa certa defendendo Amy. Eu já passara tempo demais defendendo Liam. A merda é que eu sentira como se tivesse que escolher um lado, quando só queria que todos estivéssemos juntos na mesma equação.

Liam era minha família.

E eu queria que ele aceitasse Amy também. Assim como aceitei Emma.

De repente escuto uma batida na porta e me levanto da cama, onde estava deitado olhando o teto desde que cheguei.

E me deparo com Emma.

— Ei, tudo bem? — Ela parece preocupada e eu sorrio.

— Sim, tagarela.

— Não parece.

— Eu vou ficar.

Ela entra sem ser convidada. Típico.

— Que diabo de música é essa? — Ela apura os ouvidos e fico vermelho.

— É Lana Del Rey.

Era uma merda que Amy tivesse razão e a música fosse realmente boa. Ainda mais para fossa.

— É bom... — Emma resmunga e deita na cama.

— O que veio fazer aqui?

— Liam está chateado.

Eu rio, deitando-me ao seu lado.

— Chateado?

— É, não sei se essa é a palavra.

— E você, não está? Com as mentiras da Amy?

— Claro que sim, mas... acho que de alguma maneira entendo ela, sabe? Essa coisa de querer ser alguém, de provar ao mundo que é capaz.

— Ela não agiu certo.

— Claro que não. Mas... Ela não é uma pessoa ruim.

— Eu sei.

— Sabe mesmo? Liam acha que estou sendo ingênua de novo.

— Por causa da Samantha.

— Não é a mesma coisa! E você também gosta da Amy.

— Isso não apaga o que ela fez.

— Sim, é verdade. Mas foi bem legal o jeito como a defendeu. — Emma sorri.

— E isso deixou o Liam puto.

Emma rola os olhos.

— Liam não está acostumado em ver você sendo leal a outra pessoa. Mas ele tem que se acostumar.

— Acho que não vai precisar.

— Então não vai mais ver a Amy?

— Ela quis ir embora.

— Você a deixou ir.

— Tagarela, acha que ainda tinha alguma chance? Toda essa confusão, foi melhor assim, ela tem razão. Acabou.

— É uma pena...

De repente alguém bate na porta de novo e, dessa vez, com mais violência, e nós sabemos que é Liam.

Emma se levanta e eu a sigo quando ela abre a porta.

Liam está parado na soleira com cara de poucos amigos, segurando Leo.

— Só vim te chamar porque o Leo estava chorando — ele diz, e eu seguro um riso.

— Claro que sim. — Emma pega Leo e pisca para mim. — Vou para meu quarto e espero os garotos para jantarem comigo depois de fazerem as pazes, ok?

Ela desaparece e Liam continua parado na porta, como uma criança birrenta.

— Continua tão bravo comigo que nem vai entrar?

Ele solta um palavrão e entra na suíte.

Pego duas cervejas no frigobar e jogo uma para ele, que está na janela olhando o movimento na rua.

— Gosto daqui — resmunga depois de um tempo. Eu me posiciono ao seu lado.

— Será que tem parente ainda por aqui?

— Duvido muito.

— O pai da Amy é Irlandês.

Ele me encara.

— Sério? Será que somos parentes?

— Os cabelos são parecidos.

— Vai me deixar para ficar com ela?

— Que porra é essa? — exclamo, surpreso com o rumo da conversa.

— Quer que eu pense o quê? Você a defendeu e...

— Sim, a defendi. E sei que está puto por eu ter escondido o que descobri de você, mas eu sabia que ia ficar furioso e sabemos como age quando é passado para trás.

— Você sempre me ajudou a agir exatamente assim.

— Sim, desde que tínhamos quinze anos e eu quebrei o nariz daquele idiota que roubou seu lanche na escola.

Ele ri.

— E eu te defendi quando foi suspenso. Tive que dar uma boa grana para aquele diretor mercenário para não ligar para os nossos pais.

— Não eram nossos pais.

— Não, não eram — resmunga me fazendo me lembrar de Megan e Tim, o casal que só cuidava de órfãos porque recebiam dinheiro do governo.

Eu passei por muitos lares fodidos depois que meu pai morreu. E Liam também. Mas desde que nos encontramos, protegíamos um ao outro. Até a fatídica briga de gangue que me levou ao reformatório, e Liam à casa dos Hunter.

— Tive que te escutar lamentar por semanas a perda daquela grana. — Mesmo quando éramos dois órfãos sem eira nem beira, Liam já gostava de ganhar dinheiro se metendo em apostas na escola.

— Eu ganhei mais depois. — Ele ri e eu rio junto.

— Por que achou que eu ia te deixar pela Amy?

— Você está claramente apaixonado por ela.

— Nós terminamos depois do que ela fez.

— Vocês estavam trepando no casamento da Zoe.

Eu não nego. Liam tinha um sexto sentido para essas coisas.

— Não foi nada...

— Parecia muito.

— Fiquei puto com ela quando descobri. Estava realmente achando que... era para valer. Que ela era a minha Emma, entende?

— Sim, entendo. Por isso que achei que estava indo.

— É isso que veio fazer aqui? Veio me dar um ultimato, me pedir para escolher.

— Emma me mataria se fizesse isso.

Eu rio, mas Liam continua sério.

— Estou puto de verdade com o que Amy Grant fez. E lamentando que não tenha me chamado para dar uma surra no tal Carl. Existe um lado meu que quer caçar Amy Grant e fazê-la pagar. Talvez até que ela se esconda no Canadá como a tal Samantha Arden.

Pobre Samantha. Da última vez que ouvi falar dela, ela trabalhava no Mcdonald’s.

— Aí eu lembro que você a defendeu. Que tem fé em seu caráter.

— Eu posso estar pensando com a cabeça errada, você sabe.

Desta vez ele ri.

— Sei como é isso. Mas você não é assim. Você pensa com o coração.

— Cara, que porra de baboseira é essa?

— Sabe que tenho razão. E, se não confiar no seu julgamento, tenho que confiar em Emma.

Dessa vez levanto a sobrancelha surpreso.

— Desde quando confia no julgamento de Emma?

— Desde que ela está exigindo que seja assim — ele resmunga. — Mas ela tem razão. Não posso protegê-la de tudo e todos. Tenho que confiar que Samantha foi só um caso isolado. Porque Emma me disse que gosta da Amy e acredita que ela não fez por mal.

— Eu sei que a Amy agiu mal. E também fiquei puto. Brigamos, e eu a expulsei da minha vida e pedi que pedisse demissão. Não queria que contasse a Emma, e nem a você. Sabia que Emma ficaria magoada e que você ficaria irado. Mas também sei agora que queria protegê-la.

— Protegê-la de mim.

— E talvez dela mesma.

— É, acho que entende agora o que eu falo quando quero proteger Emma?

— Pois é, acho que Amy também tem uma tendência a um certo comportamento kamikaze.

— E o que vai fazer?

— Primeiro, não vou te deixar ou qualquer coisa assim. Você é meu irmão. Meu melhor amigo. E em nenhum lugar eu receberia o salário que me paga.

— É, com certeza é o segurança mais rico do mundo — Liam ironiza e eu não posso discordar.

— E quanto a Amy... — eu suspiro. Como poderia dizer a Liam o que nem eu sabia. — Eu não sei. Ela pediu para ir e... acho que realmente acabou.

— Tem certeza?

Dou de ombros e tomo um gole da minha cerveja.

Eu não tenha certeza de nada.


Capítulo 31

 

Amy

 

— Amy, cadê as cópias do contrato que pedi faz duas horas? — A voz irritada do meu mais novo chefe atravessa as várias camadas de depressão que compõe meus pensamentos. Levanto o olhar dos rabiscos sem sentido, que me ocupava em fazer para não enlouquecer e enfiar o lápis na minha mão ou nos olhos do Bob Babaca.

Era mesmo uma ironia do destino que tivesse terminado exatamente do jeito que tinha começado. Tirando cópia e passando fax em uma editora medíocre. E com um chefe tão escroto e folgado como Carl.

Pelo menos não era Carl. Eu ficara sabendo que ele tinha se mudado com sua perna quebrada para o Canadá. Será que estava trabalhando no mesmo Mcdonald’s que a tal Samantha Arden?

Bem, ter conseguido aquele emprego medíocre de assistente não parecia tão horrível, comparando com o que podia ter acontecido comigo depois de ousar mexer com o Leão de Wall Street.

— Ei, escutou o que eu falei? — Bob Babaca grita de novo, de sua sala, com a voz estridente, e reviro os olhos, levantando-me e pegando as cópias que, sim, eu tinha tirado há duas horas e levado para sua mesa.

Ele me olha através dos óculos cafonas, e engulo o nojo do cabelo oleoso cheio de caspa.

E pensar que ele tinha ousado flertar comigo quando assumi meu cargo, há alguns dias. Misericórdia! Bob conseguia em muitos aspectos ser mil vezes pior que Carl Cretino.

Mas sempre que ele gritava com sua voz de gralha, ordenando que eu fizesse alguma coisa idiota como servir café, buscar seu almoço, ou digitar algum memorando pela milésima vez, engolia a vontade de cuspir na sua cara e mandar enfiar aquele emprego onde o sol não batia.

Porque eu sabia que merecia aquilo. Eu tinha cavado minha própria sepultura ao me meter nos planos ardilosos de Carl. E estava pagando o preço.

E podia ser pior, podia estar desempregada. Ou trabalhando de garçonete em um dos restaurantes do marido de Ariana, que fora o que ela “gentilmente” me oferecera dizendo que eu “devia agradecer por ela ainda falar comigo” e me sentir “feliz por ela estar me oferecendo um trabalho para não morrer de fome”.

Eu sabia que ela estava fazendo aquilo apenas para me punir, porque ficara realmente puta por tê-la envolvido naquela farsa. Pelo menos ela não contou nada ao pai dela, ou Deus me livre, à minha mãe.

E Tiziano me salvara do trágico destino servindo mesas, quando conseguiu que seu ex namorado, Slavro, me indicasse para aquele cargo.

— Como é que ele conhece gente de editora? — eu perguntei a Tiziano quando ele interrompeu minha sessão fossa, ouvindo música deprê no nosso terraço, para onde eu tinha voltado depois da confusão na Irlanda.

Devia saber que a ideia estapafúrdia de Emma de me levar só ia piorar tudo. Embora eu tivesse me permitido um fio de esperança quando transei com Ethan de novo. Quando senti que ele estava sofrendo tanto quanto eu. E ele tinha me defendido para Liam Hunter. O cara que ele mais venerava no mundo. Eu devia ter ficado feliz, mas só me sentira péssima por ser o motivo de uma briga daquelas, de estremecer o alicerce de uma amizade tão antiga. Por isso tomei a decisão de partir. De sair da vida de todos eles para sempre.

Ethan ia me esquecer. Assim como Emma, Liam e até Leo.

Eu só me perguntava se eu ia esquecer também. Por enquanto, eram só lembranças e lágrimas.

— Slavro conhece todo mundo, minha querida — Tizano me respondeu. — Agora levanta daí, toma um banho, penteia este cabelo, pelo amor de Deus, e vá fazer essa entrevista.

Isto fora há uma semana.

E eu só me sentia cada dia pior.

— Mais alguma coisa? — resmungo para Bob.

— Sim, traga meu café.

Forço um sorriso.

— Claro. O café!

Dou meia volta para sair dali, me perguntando se ele perceberia se eu cuspisse no café, quando Bob me chama de novo.

— Vou entrevistar um candidato para o cargo de editora Junior.

Eu me volto, interessada.

— Tem uma vaga aberta?

Seria realmente maravilhoso ter outro cargo mais independente. Editor Junior tinha uma sala própria e trabalho de verdade que não envolvia servir café e tirar cópia.

— Sim, Fred está saindo. Os candidatos chegarão esta tarde. O RH marcou duas entrevistas.

— Eu tenho interesse — falo rápido, e ele me olha com escárnio.

— Você não tem qualificação necessária. Agora vá buscar o café!

Saio da sala com vontade de passar direto e não voltar mais. Mas paro quando vejo, entrando na sala, ninguém menos que Emma Hunter.

— Emma! — balbucio, surpresa.

— Oi, Amy. — Ela se aproxima com um sorriso incerto. Como se não soubesse como eu a receberia.

— O que está fazendo aqui? Você veio... falar comigo? Como sabe... O que... — gaguejo, aturdida.

— Bem, não vim falar com você, e sim com Bob Basset.

— Bob Babaca? Quer dizer... — Sacudo a cabeça, tentando organizar meus pensamentos. — Você conhece o Bob...

— Não. Eu vim para o cargo de editor Junior. — Mostra o currículo que segura.

— Oh... — Por isso eu não esperava.

— Parece bem surpresa em me ver.

— Não deveria? Mas você não parece em me ver.

Ela esboça um sorriso culpado.

— É, eu sabia que trabalhava aqui.

— Como assim? Eu... Não estou realmente entendendo.

— Bem, andei conversando com Tiziano.

— Ah... — Não podia acreditar que Tiziano estava mantendo conversas secretas com Emma Hunter sem me contar nada!

— Não fique brava com ele, pedi que não falasse nada. Porque parecia que, quando foi embora da Irlanda, queria ficar longe.

— Achei que desejasse o mesmo — falo com ironia. — Fiquei com o olho roxo até alguns dias.

Ela ri divertida.

— Você mereceu.

— É, não posso discordar.

— Ah, então, depois que passou toda aquela confusão e nós voltamos, fiquei com vontade de conversar com você e...

— Para quê? Achei que me odiasse.

— Eu não te odeio! Claro, foi uma cretina, mas acho que até te entendo. E realmente não acho que fez por mal, apenas...

— Fiz merda.

— É, bem colocado. E por isso liguei para o Tiziano há alguns dias para saber como estava. Ele me contou que estava trabalhando aqui.

— Ainda não explica o que está fazendo aqui e se candidatando para trabalhar!

— Fiquei curiosa sobre o que estaria fazendo. E acabei descobrindo que eles estavam contratando e pensei “por que não? Estou mesmo querendo voltar a trabalhar e seria legal trabalhar com a Amy”.

— Você é louca? Isso é absurdo!

Ela ri.

— Não acho! Eu contei que queria trabalhar!

— O Liam sabe que está aqui?

— Sabe.

— E concordou?

— Ele disse que podia comprar a editora, que era mais fácil. E eu disse que já vi isso em algum lugar e que é extremamente sem cabimento e ridículo.

— Mas ele sabe que eu trabalho aqui? O... Ethan sabe? — O coração dói só de dizer o nome dele.

Ela faz uma cara culpada.

— Talvez eu tenha omitido esse pequeno detalhe.

— Ai, meu Deus, Emma!

— Vou contar depois!

— Amy, cadê meu café? — A voz de Bob nos interrompe vinda da sala.

— Merda! Cara chato! — resmungo.

— Quem é esse idiota? — Emma pergunta, curiosa.

— Meu chefe. Bob Basset.

— Ah, é com esse cara que vim falar!

— Pois é. Então acho melhor eu dizer a ele que você está aqui.

— Ótimo — Emma sorri. — Você pode falar bem de mim, por favor? Acho que pode ajudar se tive alguma referência.

— Emma, tem certeza? Acho que deveria ir embora, não quero que se meta em confusão...

— Não seja boba. Eu vim para a entrevista. Estou bem? — Aponta para si mesma. Hoje ela está muito elegante trajando um vestido cinza que, com certeza, é de alguma marca muito cara e chique.

— Está ótima.

— Que bom! Fiquei meio sem saber o que vestir...

— Bem, se quer mesmo continuar com isto, me dê seu currículo.

— Obrigada! Estou tão animada!

Eu me encaminho à sala de Bob, anunciando Emma.

— Ah, sim. — Ele pega o currículo e me pergunto se não sabe quem Emma é. Melhor que não saiba mesmo. — Peça para ela entrar e não esqueça do café, que inferno!

— Sim, senhor — sibilo com raiva, que não é percebida por ele e, quando volto à sala, levo o segundo susto do dia quando Ethan surge do corredor carregando um Leo Hunter esperneando a todo pulmão no colo.

— Ethan. — Empalideço. Meu coração para por alguns segundos, quando os olhos escuros de Ethan pousam nos meus.

— Amy. — Meu nome em seus lábios é maravilhoso de ouvir e meu peito se aperta fazendo meu coração voltar a bater, agora num ritmo disparado e errante.

Ah, Deus, é Ethan que está ali na minha frente. Sua figura alta de ombros largos preenchendo todo o ambiente com sua força e magnetismo e...

Foco, Amy!

Leo dá um pequeno grito fazendo com que eu volte à realidade, quando Emma o retira do colo de Ethan.

— Que diabos está fazendo aqui, Ethan?

— Achou mesmo que o Liam não ia verificar onde estava se metendo, tagarela? — Ele desvia o olhar de mim para Emma.

— Ah... — Ela faz uma careta.

— E claro que quando ele descobriu quem é que trabalhava aqui... — Volta a me encarar e é minha vez de desviar o rosto, vermelha.

— Amy não tem nada a ver com isso, deve saber! E quero mesmo este emprego, então se me der licença, eu tenho uma entrevista. — E ela entra na sala de Bob, levando Leo.

Um silêncio tenso recai sobre nós quando a porta se fecha atrás de Emma.

Tomo coragem de encarar Ethan de novo e ele também está me encarando.

Ah, Deus, ele continua lindo. E eu senti tanta saudade. Tudo o que quero agora é romper a distância e...

— Ei, Penny — ele diz e é o que basta para o nó se romper em minha garganta e eu começar a chorar.

O rosto, até então sem expressão de Ethan, se desfaz, substituído por um olhar preocupado.

— Penny... — E no segundo seguinte estou em seus braços. — Shi, não chora — sussurra em meus cabelos e suas palavras ditas com tanto carinho me fazem chorar mais ainda.

— Me... desculpe. — Soluço em seu terno caro e ele ri.

Ah, era o som mais perfeito do mundo.

— Por que está chorando?

Eu me afasto para encará-lo.

— Porque achei que nunca ia te ver e... eu senti tanto a sua falta...

Ele toca meu rosto e eu fecho os olhos. Ah, se eu estiver sonhando que nunca acorde.

— Também senti sua falta, Penny. Muita.

Volto a fitá-lo e o amor que vejo refletido em seu olhar faz meu coração se encher de uma esperança tola e suicida, mas não posso evitar.

— Não está furioso comigo?

— Eu estive.

— Não está mais?

Ele sorri. Agora com malícia. Com aquelas covinhas comestíveis aparecendo. E uma onda inesperada de desejo faz meu ventre se contrair de expectativa.

— Eu te amo, Penny — diz de repente, e eu acho que em algum momento naquela semana devo ter sucumbido e morrido de tédio e agora estou no céu. Só isso explica Ethan estar ali, agarrado a mim, dizendo que me ama.

— Você pode dizer o mesmo agora — ele diz, meio inseguro em vista do meu silêncio pasmo.

— Está falando sério? Ainda me ama depois...

— Eu te amo apesar de toda merda que fez? Sim.

— Puta merda! — Sem me conter mais, o beijo com todo amor, com toda paixão que vinha guardando no fundo do meu coração.

Era tudo dele.

Meu coração. Meu corpo. Minha alma. E toda a merda que eu tinha dentro de mim.

— Isso quer dizer que vai me dar mais uma chance? — ele diz, quando finalmente separo minha boca da dele. Suas mãos já estão na minha bunda. Graças a Deus!

— Sou eu que devo pedir uma chance e não o contrário!

— Tanto faz!

Eu sorrio, infiltrando meus dedos em seus cabelos.

— Ah, tem certeza de que você me ama mesmo? Sabe que às vezes eu faço umas merdas...

Ele ri, me apertando mais.

— Amy, isso é o amor. Amar apesar de tudo. E eu aguento o Liam e a Tagarela. Acho que posso aguentar você também.

— Ah, Deus, o Liam! Ele nunca vai aceitar que eu fique com você...

Ethan ri.

— O Liam que cuide da vida dele...

De repente a porta da sala de Bob se abre e Emma sai de lá aos berros.

— Isso é um absurdo!

— Absurdo é a senhora achar que pode trazer uma criança se esgoelando para minha sala! E ainda achar que iria contratá-la — Bob esbraveja e Emma fica roxa de raiva.

— Ah, seu... quer saber? Enfia essa merda de emprego no seu rabo! — grita e eu coloco a mão sobre a boca para não rir alto. Jesus! Bob agora parece que vai explodir. — Sabe que eu posso comprar tudo isso aqui, não é?

Emma pega o celular, enquanto embala Leo que choraminga em um braço.

— Eu vou mostrar pra você... Liam, querido? Mudei de ideia, compra essa merda e demite todo mundo! Principalmente um tal de Bob Babaca! É... É um imbecil de cabelo ensebado e pinto pequeno!

Ela desliga e sai marchando do escritório.

— Vamos embora!

— Que diabos está acontecendo aqui? — Bob esbraveja comigo agora, ao me ver agarrada a Ethan. — E quem é esse?

Ethan se afasta, mas continua segurando minha mão.

— Eu sou Ethan, namorado da Amy e segurança de Liam Hunter, o leão de Wall Street, marido da Emma.

Bob empalidece.

— Liam Hunter?

— Que, aliás, está lá embaixo agora. Você vem comigo? — ele indaga e eu sorrio e olho para Bob.

— Bob, eu me demito!

— Mas o que...

Apenas pego minha bolsa e sigo Ethan para fora.

Encontramos Emma quando entramos no elevador.

Ela olha para mim e Ethan e seu rosto, até então enfurecido, se transforma com um sorriso.

— Hum, estão juntos de novo? — indaga esperançosa.

— Sim, senhora — Ethan responde, beijando minha mão.

Eu não consigo parar de sorrir.

— O que o Liam vai dizer disso? — Ela levanta uma sobrancelha, divertida.

— Ele vai ter que aceitar minha namorada. — Ethan pega o próprio celular e sei que deve ter alguma ordem de Liam. — Aliás, vamos embora que ele está pronto para subir aqui.

— Liam está aí também?

— Tagarela, até parece que não conhece seu marido.

— Típico!

O Elevador para no térreo e seguimos para o carro, onde Liam está encostado com os braços cruzados e com cara de poucos amigos.

Confesso que sinto uma pontinha de apreensão.

Estou feliz de ter mais uma chance com Ethan, mas não quero que o fato de estarmos juntos se transforme em problema com Liam Hunter.

— Que diabos aconteceu lá em cima?

— O cara era um idiota! Acredita que ficou bravo porque Leo estava chorando? — Emma dardeja indignada.

— Você levou um bebê a uma entrevista de emprego? Eu faria a mesma coisa! — Liam assume a postura de empresário, o que faz Emma apenas bufar e rolar os olhos.

— Ele gritou comigo e assustou Leo.

— Eu te disse que seria bem mais fácil comprarmos uma editora...

— Fala sério! Não quero que seja condescendente comigo!

— Ei, vocês dois, vamos embora que aqui não é lugar de DR. — Ethan se adianta e abre a porta do motorista para o casal em crise.

Só então Liam Hunter parece notar minha presença.

— Olá, Amy — cumprimenta com naturalidade —, fiquei sabendo que acabou de perder mais um emprego? — Ok, agora tinha um certo divertimento ali. Olho para Ethan, me perguntando como Liam já sabe disso e imagino que ele deve ter avisado pelo celular enquanto descíamos.

— Como Emma disse, Bob era um cretino.

Seu olhar se prende na mão de Ethan, que segura a minha.

— E ao que parece, está voltando ao nosso convívio.

Fico sem saber o que dizer. Sua voz não tem entonação. Olho para Ethan e ele parece relaxado. O que me tranquiliza um pouco.

— E eu estou muito feliz com isso — Emma diz, sorrindo. — Senti muito a sua falta, Amy.

— Mas não pense que a Amy vai voltar a ser babá de vocês — Ethan diz, divertindo-se.

— Por que não? Ela não tem mais emprego mesmo e o Leo a adora e...

— Entra no carro, baby — Liam pede para Emma, cortando-a, e olha para Ethan. — Você também. Quero trocar uma palavrinha com Amy Grant.

Olho para Ethan, apreensiva. Mas que merda? Era agora que Liam ia tipo me prometer uma milhão caso eu me afastasse de Ethan, como naquelas novelas da tarde?

Bem, eu ia gostar de ganhar um milhão, mas...

Ethan solta minha mão e beija meu rosto.

— Está tudo bem — diz em meu ouvido. — Nada vai mudar o que sinto. Estamos juntos agora.

Eu sorrio, deixando de lado o medo que ainda sentia de Liam Hunter se intrometer entre nós.

Ethan se afasta e entra no carro.

Encaro o Leão de Wall Street.

— É o seguinte. Eu fiquei puto com você pelo o que aprontou. E não só pelo plano ridículo com seu ex-chefe, mas sobretudo por ter magoado meu irmão.

— Eu amo o Ethan. E nunca mais quero fazer nada que o magoe.

— É bom mesmo. Porque eu te mando para o Canadá. Acho que tem vaga em algum Mcdonald’s por lá.

— Fiquei sabendo — respondo corajosamente.

— E Emma confia em você, portanto, estou admitindo que agora faz parte de nossa vida.

— Obrigada — digo com sinceridade. — Isso é importante para o Ethan. Não quero jamais ficar entre vocês.

— E, como Ethan disse, acho que não cabe mais ser nossa babá.

— Nunca foi essa minha intenção. Embora ame o Leo.

— Enfim, depois de toda essa confusão, eu pensei muito e acho que talvez ter uma biografia não seja tão ruim assim.

Agora eu abro a boca, chocada.

— Como é?

— Contanto que eu tenha total controle sobre tudo... Acho que pode ser bom para os negócios.

— Está falando sério?

— Então a minha proposta é que você seja a pessoa a escrevê-la. O que acha, Amy Grant?

Puta que pariu!


Epílogo

 

Ethan

 

— Não acredito que finalmente está pronta! — Emma exclama aproximando-se com Leo no colo, que se contorce todo, irritado, até que ela o coloca no chão e o pequeno leãozinho sai correndo pela livraria. — Leo, volta aqui!

— Deixe que Tiziano cuide disto! — Liam resmunga, enquanto ataca as teclas de seu celular, provavelmente dando ordem para algum coitado sobre alguma bolsa de valor pelo mundo.

Tiziano, que agora nas horas vagas, cuidava de Leo, já que Emma, apesar de não ter um trabalho fixo, como almejara um dia, tinha ficado bastante ocupada ajudando Amy naquele ano, prontifica-se a correr atrás do herdeiro dos Hunter.

— Estou nervosa... — Amy murmura ao meu lado, e eu descanso meus olhos em sua figura perfeita. Hoje ela está tão elegante quanto Emma, usando um vestido preto, sensual e sóbrio ao mesmo tempo, se é que isso existe. Mas é assim que ela parece a mim. Linda e inteligente. Hoje ela está realizando um sonho. É o dia do lançamento da biografia do Leão de Wall Street, à qual ela vinha se dedicando há um ano.

Um ano em que ela se tornara também, assim como eu, a sombra de Liam Hunter, grudada nele, enquanto desvendava toda a história por trás do Leão de Wall Street. E até Emma tinha se envolvido, tornando-se uma espécie de assistente de Amy. E, assim, nós quatro formamos um bom time no ano que passou.

Mas agora, o livro estava pronto e seria lançado ao mundo. E uma nova fase começava.

Amy tinha conseguido uma editora de renome para lançar seu livro e, nos próximos meses, estaria ocupada com entrevista e turnê de divulgação. Afinal, como ela previu, ela se tornou a mais quente jornalista do momento, ao lançar a biografia de Liam Hunter.

Emma e Liam, em contrapartida, estavam envolvidos em uma nova discussão, desta vez, sobre o fato de Emma querer ter mais um bebê. Depois da gravidez de risco de Leo, ela não podia mais engravidar, mas ela insistia que podiam contratar uma barriga de aluguel. E eu e Amy acompanhávamos aquela nova briga, nos perguntando quem ia vencer no final.

E eu, bem, também estava pronto a entrar em uma nova fase.

— Acho que podemos começar? — Zoe aparece nos chamando para a coletiva de imprensa que marcaria o aguardado lançamento. Obviamente Zoe estava amando se envolver em todo o processo de divulgação.

— Sim, vamos logo com isso que tenho mais o que fazer! — Liam resmunga, segurando a mão de Emma e os dois seguem na frente.

Eu me viro para Amy e seguro sua mão, a impedindo de ir.

— Está feliz?

Ela sorri com um suspiro.

— Muito! Nem acredito que este dia chegou. Está tudo perfeito.

— Não acha que poderia ficar mais perfeito?

Ela levanta a sobrancelha.

— Acha possível? Estou prestes a me tornar uma lenda do jornalismo, tenho um namorado gostoso e...

— Que tal — coloco a mão no bolso e tiro de lá o anel que tinha escolhido com Emma na semana anterior — um noivo perfeito?

Os olhos de Amy se arregalam.

— Porra!

— Você tem uma boca suja, Penny! — Seguro sua mão. — Mas, posso conviver com isto. Quer se casar comigo?

— Claro que sim! — Ela sussurra, emocionada, enquanto escorrego o anel por seu dedo.

Ela pula em mim em seguida e eu a recebo em meus braços. Por cima de seus cabelos flamejantes, vejo Emma chorando e Liam sorrindo.

Tiziano faz gestos obscenos antes de correr atrás de Leo, que foge de novo, derrubando alguns livros no processo.

E, neste momento, percebo que não escolheria outra vida.

Eu tinha a vida perfeita.

 

 

                                                   Juliana Dantas         

 

 

 

                          Voltar a serie

 

 

 

 

      

 

 

O melhor da literatura para todos os gostos e idades