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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O SEQUESTRO DE PAPAI NOEL / L. Frank Baum
O SEQUESTRO DE PAPAI NOEL / L. Frank Baum

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

O Papai Noel mora no Vale Risonho, onde fica seu grande e incrível castelo no qual seus brinquedos são fabricados. Seus operários, escolhidos entre rílies, nuques, pixies e fadas, vivem com ele, cada um o mais ocupado possível do fim de um ano ao outro.
O Vale se chama Risonho, pois tudo é alegre e feliz. O riacho ri sozinho enquanto saltita entre suas margens verdes, o vento assobia alegre entre as árvores, os raios de sol dançam suavemente sobre a grama macia e, de seus ninhos verdes, as violetas e flores selvagens olham sorrindo para o céu. Para alguém rir, precisa estar feliz, para estar feliz é preciso estar contente. E por todo o Vale Risonho do Papai Noel o contentamento reina supremo.
De um lado fica a imponente Floresta de Burzim. Do outro lado fica a montanha gigante que abriga as Cavernas dos Diabinhos. E entre eles fica o vale, sorrindo em paz.
As pessoas pensariam que o bom velhinho, Papai Noel, que dedica sua vida a fazer as crianças felizes, não teria inimigo algum sobre a Terra e, na verdade, por muito tempo ele não encontrava nada além de amor onde quer que ele fosse.
Mas, os Diabinhos que vivem nas cavernas da montanha passaram a odiar muito o Papai Noel, e tudo pela simples razão de que ele fazia as crianças felizes.
As Cavernas dos Diabinhos são cinco, no total. Um caminho largo leva à primeira caverna, que é muito bem arqueada no pé da montanha, a entrada foi lindamente esculpida e decorada. Nela, reside o Diabinho do Egoísmo. Atrás dela há outra caverna, habitada pelo Diabinho da Inveja. Logo em seguida, vem a caverna do Diabinho do Ódio e, depois dela, chega-se à casa do Diabinho da Malícia — uma caverna escura e medonha situada no coração da montanha. Eu não sei o que fica além de lá. Alguns dizem que há armadilhas terríveis que levam à morte e à destruição e isso pode muito bem ser verdade. Porém, saindo de cada uma das quatro cavernas mencionadas, há um túnel pequeno e estreito que leva à quinta caverna — um quartinho aconchegante ocupado pelo Diabinho do Arrependimento. E, como o chão pedregoso dessas passagens é bastante desgastado pela trilha dos pés que ali passam, julgo que muitos errantes nas Cavernas dos Diabinhos tenham escapado pelos túneis para a morada do Diabinho do Arrependimento, que dizem ser um sujeito agradável que fica feliz em abrir para alguém a portinha que o leva ao ar fresco e ao sol novamente.

 


 


Bem, esses Diabinhos das Cavernas, crendo que tinham bons motivos para não gostar do velho Papai Noel, fizeram uma reunião um dia para discutir o assunto.

— Eu estou ficando muito solitário — disse o Diabinho do Egoísmo — pois o Papai Noel distribui tantos presentes de Natal bonitos para todas as crianças que elas ficam felizes e generosas, seguindo o exemplo dele, e ficam longe da minha caverna.

— Eu estou com o mesmo problema — concordou o Diabinho da Inveja. — Os pequenos parecem bastante contentes com o Papai Noel e há poucos que eu realmente consiga fazer com que fiquem invejosos.

— E isso me prejudica! — declarou o Diabinho do Ódio. — Pois se as crianças não passarem pelas cavernas do Egoísmo e da Inveja, não chegam à MINHA caverna.

— Ou à minha — acrescentou o Diabinho da Malícia.

— Da minha parte — disse o Diabinho do Arrependimento — é fácil ver que se as crianças não visitam as suas cavernas, elas não precisam visitar a minha. Eu sou tão ignorado quanto vocês.

— E tudo isso por causa dessa pessoa que eles chamam de Papai Noel! — declarou o Diabinho da Inveja. — Ele está simplesmente acabando com os nossos negócios e devemos tomar alguma medida imediatamente.

Todos concordaram com isso sem hesitar, mas o que fazer era algo mais difícil de decidir. Eles sabiam que o Papai Noel trabalhava o ano inteiro em seu castelo no Vale Risonho preparando os presentes que ele distribui na véspera de Natal. A primeira ideia foi tentar atraí-lo para as cavernas e levá-lo às terríveis armadilhas que acabavam em destruição.

Então, no dia seguinte, enquanto o Papai Noel estava ocupado com o trabalho, cercado por seu pequeno grupo de assistentes, o Diabinho do Egoísmo foi até ele e disse:

— Esses brinquedos são de um brilho e uma beleza maravilhosa. Por que você não fica com eles? É uma pena dá-los àqueles meninos barulhentos e àquelas garotas birrentas que quebram e destroem tudo rapidinho.

— Bobagem! — disse o velho de barba grisalha com os olhos claros brilhando de alegria quando virou para o Diabinho que o atentava. — Os meninos e as meninas nunca ficam barulhentos ou birrentos depois de receber meus presentes e, se eu posso fazê-los felizes por um dia no ano, ficarei muito contente.

Então o Diabinho voltou para falar com os outros, que o aguardavam em suas cavernas, e disse:

— Eu falhei, pois o Papai Noel não é nada egoísta.

No dia seguinte, o Diabinho da Inveja visitou o Papai Noel. Ele disse: “As lojas de brinquedo estão cheias de brinquedos tão bonitos quanto esses que você faz. É uma pena que elas atrapalhem o seu negócio! Eles fazem os brinquedos em máquinas muito mais rápido do que você pode fazê-los à mão e os vendem por dinheiro, enquanto você não ganha nada pelo seu trabalho.”

Mas o Papai Noel se recusou invejar as lojas de brinquedo.

— Eu só posso dar presentes aos pequenos uma vez por ano, na véspera de Natal — respondeu ele — pois são muitas as crianças e eu sou apenas um. E, como eu faço meu trabalho por amor e bondade, eu ficaria envergonhado se recebesse dinheiro por meus pequenos presentes. Mas, durante o ano inteiro as crianças devem ser animadas de algum jeito e, assim, as lojas de brinquedo conseguem levar muita alegria aos meus amiguinhos. Eu gosto das lojas de brinquedos e fico feliz em vê-las prosperar.

Apesar do segundo fracasso, o Diabinho do Ódio achou que ele poderia tentar influenciar o Papai Noel. Então, no dia seguinte, ele entrou na oficina movimentada e disse:

— Bom dia, Papai Noel! Eu tenho más notícias para você.

— Então corra para longe, como uma boa pessoa faria — respondeu o Papai Noel. — Más notícias são coisas que devem ser mantidas em segredo e nunca contadas.

— Mas dessa você não pode escapar — disse o Diabinho — pois no mundo há muitas pessoas que não acreditam no Papai Noel e você está destinado a odiá-los amargamente, pois eles já o prejudicaram.

— Bobagem, besteira! — disse o Papai Noel.

— E há outros que ficam indignados por você fazer as crianças felizes, eles zombam de você e o chamam de lenda velha! Você estaria muito certo em odiar esses caluniadores baixos, e merecem uma vingança por essas palavras más.

— Mas eu não os odeio! — disse o Papai Noel, otimista. — Essas pessoas não me causam mal algum, mas apenas fazem de si mesmo e de seus filhos infelizes. Pobres criaturas! Eu prefiro ajudá-los que machucá-los.

De fato, os Diabinhos não conseguiram atentar o velho Papai Noel de jeito nenhum. Pelo contrário, ele era esperto o bastante para ver que o objetivo das visitas era o de fazer travessuras e causar problemas, e suas risadas alegres desconsertavam os malvados e mostravam a eles a estupidez de tal plano. Então, os Diabinhos abandonaram as palavras doces e decidiram usar a força.

Todos sabiam que nenhum mal poderia atingir o Papai Noel enquanto ele estivesse no Vale do Riso, pois as fadas, os rílies e nuques o protegiam. Mas, na véspera de Natal, ele leva suas renas pelo mundo inteiro, carregando um trenó cheio de brinquedos e presentes bonitos para as crianças. Era nessa hora e ocasião em que os seus inimigos tinham mais chance de feri-lo. Então, os Diabinhos planejaram tudo e esperaram a chegada da véspera de Natal.

A lua brilhava grande e branca no céu e a neve repousava límpida e cintilante no chão quando Papai Noel estalou o chicote e voou para fora do vale em direção ao grande mundo além dele. O trenó espaçoso estava lotado de sacos gigantes de brinquedos e, enquanto as renas corriam, nosso velho e alegre Papai Noel ria, assobiava e cantava de alegria. Em toda sua vida feliz, esse era o único dia do ano que ele ficava mais feliz — o dia em que ele deixava com carinho os tesouros de sua oficina com as criancinhas.

Ele sabia muito bem que seria uma noite movimentada. Enquanto assobiava, gritava e estalava o chicote novamente, ele observava todas as vilas, cidades e fazendas que o esperavam e pensava se tinha presentes suficientes para visitar todos os lugares e deixar todas as crianças felizes. As renas sabiam exatamente o que se esperava delas, eram tão rápidas que suas patas mal tocavam o chão coberto de neve.

De repente, algo estranho aconteceu: uma corda atravessou a luz da lua e um grande laço em sua ponta envolveu e apertou os braços e o corpo do Papai Noel. Antes que pudesse resistir ou mesmo gritar, ele foi arrastado do assento do trenó e caiu num monte de neve enquanto as renas seguiram em frente com todos os brinquedos e os levaram rapidamente para fora da vista e da audição.

Tal experiência confundiu o velho Papai Noel por um momento e, quando ele retomou os sentidos, viu que os Diabinhos perversos haviam o puxado do trenó e o amarrado com muitas voltas de uma grande corda. Então, eles levaram o Papai Noel sequestrado embora para a montanha, onde colocaram o prisioneiro em uma caverna secreta e o amarraram na parede rochosa sem que ele pudesse escapar.

— Ha, ha! — riram os Diabinhos, esfregando as mãos com uma alegria cruel. — O que as crianças farão agora? Imagine como elas vão chorar, gritar e berrar quando verem que não há brinquedos na chaminé e nem presentes na árvore de Natal! Imagine os castigos que elas receberão dos pais e como elas virão aos montes para nossas Cavernas do Egoísmo, da Inveja, do Ódio e da Malícia! Nós, os Diabinhos das Cavernas, fizemos uma coisa muito esperta.

Mas, por acaso, naquela véspera de Natal, o bom Papai Noel levou com ele em seu trenó, Nuter, o Rílie, Pedro, o Nuque, Kilter, a Pixie, e uma pequena fada chamada Wisk — seus quatro assistentes favoritos. Ele achou que esses pequenos seres seriam úteis em ajudá-lo a distribuir os presentes para as crianças e, quando seu mestre foi arrastado de repente do trenó, eles estavam muito confortáveis embaixo do assento, onde o vento cortante não podia alcançá-los.

Esses pequenos imortais não sabiam da captura do Papai Noel até algum tempo depois que ele desaparecera. Mas, por fim, eles sentiram falta de sua voz alegre e, como seu mestre sempre cantava ou assobiava em sua jornada, o silêncio foi um aviso de que havia algo errado.

A pequena Wisk colocou a cabeça para fora do assento e descobriu que o Papai Noel havia sumido e ninguém estava guiando o voo das renas.

— Ei! — ela gritou, e a rena diminuiu a velocidade, obediente, até que pararam.

Pedro, Nuter e Kilter sentaram no assento do trenó e olharam para trás, vendo a trilha feita pelo trenó. Mas o Papai Noel havia sido deixado a quilômetros e quilômetros de distância.

— O que faremos? — perguntou Wisk, com toda a alegria e a animação banidas de seu rosto por essa grande calamidade.

— Nós devemos voltar imediatamente e encontrar nosso mestre — disse Nuter, o rílie, que pensava e falava com muita clareza.

— Não, não! — exclamou Pedro, o nuque, em quem, apesar de cansado e calejado, se pode sempre confiar numa emergência. — Se nós nos atrasarmos ou voltarmos, não teremos tempo de entregar os brinquedos para as crianças antes do amanhecer e isso deixaria o Papai Noel mais triste que tudo.

— Tenho certeza que foram criaturas malvadas que o capturaram — continuou Kilter, pensativo — e o objetivo delas deve ser fazer as crianças infelizes. Logo, nossa primeira tarefa será distribuir os presentes com o mesmo cuidado que o Papai Noel teria se estivesse aqui. Depois podemos procurar por nosso mestre e libertá-lo com facilidade.

Esse parecia um conselho tão bom e sensato que os outros não hesitaram em aceitá-lo. Então Pedro, o nuque, chamou as renas e os fieis animais correram e voaram sobre as montanhas e os vales novamente, entre as florestas e as planícies, até que chegaram às casas onde as crianças estavam dormindo e sonhando com os belos presentes que encontrariam na manhã de Natal.

Os pequenos imortais haviam iniciado uma difícil missão, pois apesar de já terem ajudado o Papai Noel em muitas de suas viagens, seu mestre sempre havia os guiado e dito exatamente o que queria que eles fizessem. Mas agora eles tinham que distribuir os presentes de acordo com seu próprio julgamento e eles não entendiam as crianças tão bem quanto o bom velhinho. Logo, não é de admirar que eles tenham cometido alguns erros ridículos.

Mamie Brown, que queria uma boneca, ganhou um tambor, e um tambor não vai servir de nada para uma menina que adora bonecas. Charlie Smith, que adora correr e brincar ao ar livre queria galochas novas para que seus pés ficassem secos, mas recebeu um kit de costura cheio de linhas coloridas, lã e agulhas, o que o deixou tão irritado que, por impulso, ele disse que o nosso querido Papai Noel era uma fraude.

Se muitos erros como esse tivessem acontecido, os Diabinhos teriam conseguido alcançar seu objetivo maligno de fazer as crianças infelizes. Mas os amiguinhos do Papai Noel sequestrado trabalharam com fidelidade e inteligência para imitar os pensamentos de seu mestre e cometeram menos erros que o esperado em uma situação tão incomum.

E, apesar de terem trabalhado o mais rápido possível, o dia começou a raiar antes que todos os brinquedos e outros presentes fossem distribuídos. Assim, pela primeira vez em muitos anos, as renas chegaram ao Vale Risonho sob a luz do dia, com o sol espreitando sobre a borda da floresta, provando que eles estavam muito atrasados em relação às horas costumeiras.

Após colocarem os cervos nos estábulos, as criaturinhas começaram a pensar como poderiam resgatar seu mestre e perceberam que precisavam descobrir, antes de tudo, o que havia acontecido com ele e onde ele estava.

Então Wisk, a fada, foi até os aposentos da Fada Rainha, que ficavam bem no coração da Floresta de Burzim. Assim que chegou, não demorou muito para que ela descobrisse tudo sobre os Diabinhos malvados e como eles sequestraram o Papai Noel para não deixar que ele fizesse as crianças felizes. A Fada Rainha prometeu ajudá-los e, assim, fortalecida por esse poderoso apoio, Wisk voou de volta para onde Nuter, Pedro e Kilter a esperavam e os quatro se reuniram para planejar o resgate de seu mestre daqueles malvados inimigos.

É possível que o Papai Noel não estivesse tão feliz quanto de costume durante a noite após a sua captura. Apesar de confiar em seus amiguinhos, ele não poderia evitar um pouco de preocupação e, de vez em quando, um olhar de ansiedade aparecia nos olhos do velhinho enquanto ele pensava em como suas queridas criancinhas poderiam estar desapontadas. E os Diabinhos, que revezavam em sua guarda, não deixavam de insultá-lo com palavras de desdém à condição frágil do bom velhinho.

Quando chegou a manhã de Natal, o Diabinho da Malícia estava vigiando o prisioneiro, e sua língua estava mais afiada que a de qualquer um dos outros.

— Papai Noel, as crianças estão acordando! — ele gritou. — Elas estão acordando e encontrando a lareira vazia! Ho, ho! Imagine como elas vão chorar, berrar e espernear de raiva! Nossas cavernas ficarão cheias hoje, Papai Noel! Com certeza estarão cheias!

Mas, assim como fez com os outros insultos, o Papai Noel não respondeu nada. Ele estava muito triste com a sua captura, é verdade, mas sua coragem não o abandonou. Achando que o prisioneiro não responderia às suas zombarias, o Diabinho da Malícia logo foi embora, enviando o Diabinho do Arrependimento em seu lugar.

Esse último sujeito não era tão desagradável quanto os outros. Ele parecia gentil e educado e sua voz tinha um tom suave e agradável.

— Meus irmãos Diabinhos não confiam muito em mim — disse ele, quando entrou na caverna — mas já amanheceu e agora o mal está feito. Você não poderá visitar as crianças por mais um ano.

— É verdade — disse o Papai Noel quase alegre — a véspera de Natal já passou e, pela primeira vez em séculos, eu não visitei minhas crianças.

— Os pequenos ficarão muito desapontados — sussurrou o Diabinho do Arrependimento, que quase parecia arrependido — mas nada pode ser feito sobre isso agora. A tristeza deve fazer as crianças egoístas, invejosas e raivosas e, se elas vierem até as cavernas dos Diabinhos hoje, eu terei a chance de guiar algumas delas até a minha Caverna do Arrependimento.

— Você nunca se arrepende de nada? — perguntou o Papai Noel, curioso.

— Ah, mas claro que sim — respondeu o Diabinho. — Nesse exato momento eu estou arrependido de ter ajudado na sua captura. É claro que agora é muito tarde para consertar o mal que foi feito, mas o arrependimento só chega depois de um pensamento ou uma ação má, pois no início não há nada do que se arrepender.

— Entendi agora — disse o Papai Noel. — Aqueles que evitam o mal nunca precisam visitar a sua caverna.

— Como uma regra, isso se aplica — respondeu o Diabinho — mas ainda assim, você, que nunca fez mal algum, está prestes a visitar a minha caverna, pois para provar que me arrependo de fazer parte da sua captura, vou permitir que você fuja.

Essa fala foi uma grande surpresa para o prisioneiro, até que ele percebeu que isso era exatamente o que deveria se esperar do Diabinho do Arrependimento. O sujeito logo se ocupou em desamarrar os nós que apertavam o Papai Noel e de destrancar os cadeados que o prendiam à parede. Então, ele o guiou por um longo túnel até que ambos chegaram à Caverna do Arrependimento.

— Eu espero que você me perdoe — disse o Diabinho, suplicando — eu não sou uma pessoa má, sabe, e acredito que faço muito bem ao mundo.

Com isso, ele abriu a porta dos fundos deixando entrar os raios de sol, e o Papai Noel respirou o ar fresco aliviado.

— Eu não guardo mágoas — disse ele ao Diabinho, num tom gentil — e tenho certeza que o mundo seria um lugar sombrio sem você. Bom dia. Um feliz Natal para você!

Com essas palavras, ele foi embora e saudou a manhã ensolarada. Logo depois, já estava caminhando, assobiando baixinho para si mesmo, a caminho do Vale Risonho.

Havia um vasto exército das criaturas mais curiosas que se pode imaginar marchando pela neve em direção à montanha. Havia inúmeros nuques da floresta com uma aparência tão desajeitada e esquisita quanto os galhos retorcidos dos quais eles cuidavam. Havia também rílies delicados dos campos, cada um carregando o emblema da flor ou planta de que cuidava. Atrás deles, havia fileiras de pixies, gnomos e ninfas e, na retaguarda, milhares de belas fadas voavam pelo belo cenário.

Este maravilhoso exército era liderado por Wisk, Pedro, Nuter, e Kilter, que reuniram as criaturas para resgatar o Papai Noel do cativeiro e punir os Diabinhos que ousaram levá-lo para longe de suas amadas crianças.

Apesar de parecerem tão sábios e pacíficos, os pequenos imortais possuíam poderes que seriam muito terríveis àqueles que provocassem sua raiva. Ai dos Diabinhos das Cavernas se esse poderoso exército vingativo tivesse os encontrado.

No entanto, vindo ao encontro de seus leais companheiros, apareceu a figura imponente do Papai Noel, a barba flutuando com a brisa e seus olhos brilhando com alegria diante dessa prova de amor e admiração que ele inspirou nos corações das criaturas mais poderosas que existem.

Enquanto eles se reuniam em volta do bom velhinho e dançavam de alegria com seu retorno seguro, ele distribuía os mais sinceros agradecimentos pelo apoio. Mas Wisk, Nuter, Pedro, e Kilter receberam um abraço carinhoso.

— É inútil perseguir os Diabinhos — disse o Papai Noel ao exército — eles têm sua função no mundo e nunca poderão ser destruídos. Mas, mesmo assim, é uma pena. — Ele continuou, pensativo.

Então as fadas, os nuques, as pixies e os rílies escoltaram o bom velhinho até seu castelo e lá o deixaram para que conversasse com seus pequenos assistentes sobre os acontecimentos daquela noite.

Wisk já havia ficado invisível e voado sobre o grande mundo para ver como as crianças estavam se comportando nessa bela manhã de Natal e, quando retornou, Pedro já terminara de contar ao Papai Noel como eles distribuíram os brinquedos.

— Nós realmente fizemos um bom trabalho — disse a fada, satisfeita — pois eu encontrei pouca tristeza nas crianças nessa manhã. Ainda assim, você não deve ser capturado novamente, querido mestre, pois pode ser que não tenhamos a mesma sorte ao imitar suas ideias em outra ocasião.

Então ela relatou os erros cometidos, que não foram descobertos até a sua inspeção. E o Papai Noel enviou imediatamente galochas ao Charlie Smith e uma boneca à Mamie Brown. Assim, até mesmo aqueles que estavam desapontados ficaram felizes, no fim.

Quanto aos malvados Diabinhos das Cavernas, esses ficaram raivosos e desgostosos quando descobriram que sua engenhosa captura do Papai Noel não resultou em nada. Na realidade, naquele dia de Natal, ninguém parecia ser egoísta, invejoso ou raivoso. E, percebendo quantos amigos poderosos o bom velhinho tinha, viram que era tolice se opor a ele e nunca mais tentaram interferir em suas jornadas na véspera de Natal.

 

 

                                                                  Lyman Frank Baum

 

 

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