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Series & Trilogias Literarias
Para Basha Argeneau, qualquer coisa é melhor do que enfrentar sua família distante. Mesmo se esconder no sul da Califórnia. Mas quando um Imortal sexy de preto aparece decidido a trazê-la de volta ao clã, ela fará de tudo para se manter longe e distante do passado que não pode superar.
Marcus Notte não está aqui para jogar, especialmente não com alguém tão louca quanto a loira infame. Convocado por Lucian Argeneau para trazê-la de volta para um interrogatório, Marcus está determinado a cumprir o pedido de Lucian, não importa como a sedutora pequena vampira vidente se sinta sobre isso.
Basha não se importa em combater fogo com fogo, especialmente com um Imortal quente envolvido. Mas se ele quiser levá-la embora, ele terá que pegá-la primeiro ...
Capítulo 1
Agosto de 2009
Divine atendeu seu último cliente, surpresa ao notar que não havia ninguém do lado de fora da sua porta esperando para ser atendido. Era a primeira vez naquele dia que não havia fila fora de seu trailer. Um olhar para o relógio explicou o porquê, hora do jantar. Esse era o único momento que tinha uma pausa dos clientes. Agora, as barracas de comida teriam fila ridiculamente longas, porque todos no espaço da feira iriam para eles em busca de comidas gordurosas, reabastecendo as energias para a diversão nos passeios noturnos. O que significava que tinha alguns minutos para recuperar o fôlego e relaxar um pouco.
Mal tinha acabando de pensar sobre isso quando viu algumas mulheres se movendo decididamente em direção ao trailer. Depois de uma breve hesitação, Divine rapidamente virou o letreiro para fora: ‘De volta em cinco minutos!’ Abriu a porta de tela e desceu os poucos degraus até o chão.
Ignorando o fato de que as mulheres pareciam alarmadas e correndo para a frente, ela deslizou para o lado de seu trailer. A maioria dos clientes esperava ela voltar sem grandes problemas, um pouco decepcionados e impacientes, mas teriam esperado, então Divine ficou surpresa quando o braço dela foi agarrado por trás. Ficou mais surpresa ainda, no entanto, pela força na mão que se apoderou dela ... até que se virou e notou que não era uma das mulheres, mas sim um homem.
Um par de centímetros mais alto do que ela, de cabelos escuros e de boa aparência, tinha a estrutura de um linebacker1. Ele também estava muito perto, deliberadamente invadindo seu espaço de uma maneira ameaçadora quando ele rosnou: — O que diabos você disse para minha esposa?
Divine revirou os olhos com exasperação, imaginando como ela deveria saber, já que não sabia quem era sua esposa.
Estava prestes a dizer isso quando percebeu que havia algo familiar no homem e rapidamente mergulhou em sua mente. Um batimento cardíaco depois, ela relaxou.
— Allen Paulson, —murmurou seu nome, obtendo uma satisfação quase infantil quando seus olhos se arregalaram incrédulos.
— Como você ...?
— Eu disse à sua esposa que você estava tendo um caso com sua secretária loira, de vinte e poucos anos, Tiffany, —interrompeu Divine bruscamente, silenciando-o imediatamente. — Eu disse a ela que esta Tiffany estava o pressionando para se casar, mas que você, não queria perder a tal Tiffany, mas também não queria desistir do dinheiro de sua esposa, preferia a viuvez do que divórcio. Disse a ela sobre seus planos em ficar viúvo em suas próximas férias. Acredito que ela iria se afogar ou sofrer uma queda enquanto acampava no Parque Nacional de Yosemite? —Ela inclinou a cabeça. — Pelo que me lembro, essa viagem foi marcada para esta semana, não foi?
Quando sua boca se abriu e seu aperto no braço aliviou, Divine acrescentou: — Estou supondo, pelo fato de que você está aqui e não em Yosemite, que ela ouviu o meu conselho em procurar seu advogado na manhã seguinte, mudar sua vontade no testamento, assim também remover você como beneficiário em seu seguro de vida.
Sua mão caiu, pendendo frouxamente ao seu lado.
— Sem dúvida ela também ouviu meu conselho e contratou um detetive particular. Percebo que conseguiu provas fotográficas de sua infidelidade naquele pequeno motel barato para o qual você gosta de levar sua secretária todos os dias na hora do almoço? —Ela entrou rapidamente em seus pensamentos, leu a resposta no caos e sorriu com satisfação. Não só a esposa tinha feito isso, como também levou a prova diretamente para um bom advogado de divórcio. A mulher estava agora a salvo e a caminho de ser solteira novamente. Porém, a mulher disse a seu querido marido que a vidente do parque era quem lhe dera o aviso e a colocara nesse caminho, e que tinha sido os melhores vinte dólares que ela já gastara. Era por isso que Divine agora tinha um marido irado e prestes a ser divorciado e destituído em suas mãos.
Divine esperou, preparada para a raiva do homem. Mas em vez da raiva explosiva que esperava, ele perguntou com uma voz baixa e assustada: — Como você sabia? Ninguém sabia. Não contei a ninguém o que planejava. Nem mesmo a Tiffany.
— Você se incomodou em ler a placa quando levou sua mulher para o trailer naquele dia há duas semanas em Pahrump? —Perguntou ela, divertida, e então o lembrou: — Madame Divine. Deixe que ela faça uma consulta de suas mãos e defina seu futuro, —ela lembrou.
— Sim, mas isso é apenas ... é uma farsa, —protestou ele. — Você é uma Carnie2. Ganha dinheiro à custa de enganar as pessoas. Gente como você só me faz rir.
— Sim, claro, —concordou Divine friamente, e depois inclinou a cabeça. — Então, por que você não está rindo?
Allen Paulson se encolheu como se tivesse levado um tapa, e enfim sua surpresa e desânimo deram lugar o ódio que ela esperava antes. Divine viu a raiva rolar na sua mente, não havia nem necessidade de lê-lo para saber que ele estava preste a explodir. O homem estava tão zangado que seus pensamentos estavam abertos, saindo fluidamente e facilmente dele. Divine não ficou muito surpresa ao ler que ele trouxe uma arma e planejava usá-la. Esperou puxar a arma de dentro da jaqueta e levantar, deixou até mesmo, chegar ao ponto de colocar o dedo no gatilho antes dela decidir reagir. Divine levantou rapidamente sua mão, agarrou-o pela garganta e o levantou do chão. Então o girou e bateu o corpo do homem contra seu trailer.
Quando a arma caiu de sua mão e ele gemeu de dor, ela o soltou. O homem caiu como uma boneca de pano, de bunda no chão com as pernas abertas, uma expressão chocada no rosto, e Divine imediatamente caiu sobre ele. O cascalho rangeu dolorosamente em seus joelhos, mas ela ignorou isso, pegou-o pelo cabelo da nuca, puxou a cabeça para o lado e afundou suas presas em sua garganta.
Um pequeno arrepio de prazer deslizou através de Divine quando o sangue quente e grosso começou a jorrar da ferida, coletado por seus dentes e passando por seu corpo. Sentiu uma ansiedade imediata enquanto os nanos em seu corpo se aglomeravam, ansiosos por receber esse novo suprimento de nutrientes. O homem sacudiu de surpresa quando seus dentes perfuraram sua pele, e ele levantou as mãos para tentar empurrá-la, mas nunca chegou a exercer qualquer pressão, em vez disso, congelou brevemente. Sua mente oprimiu a dele e sem querer, de forma automática, começou a transmitir seu próprio prazer para ele. No momento seguinte, ele estava gemendo e puxando-a em vez disso, puxando-a para mais perto com uma mão, apertando a cabeça com a outra e murmurando encorajadoramente: — Oh sim, bebê. Por favor.
Ele também estava arqueando seu corpo sob ela, esfregando sua dureza repentina contra ela. Divine geralmente não causava dor em suas vítimas, mas este merecia. Ela também não estava terrivelmente ansiosa para deixar um homem que tinha planejado matar sua própria esposa, de bom humor aqui no chão do parque, então deliberadamente retirou o prazer que estava experimentando e compartilhando sem querer, tendo o cuidado de deslizar em sua mente e controlar sua reação para impedi-lo de gritar de horror e dor quando ele se desse conta do que estava acontecendo.
Divine sempre teve o cuidado de não matar seus anfitriões. Por que matar a vaca que dá o leite? Além disso, matar era errado, não importava o quanto desprezível a pessoa fosse, então, apesar de ter bebido mais do que devia, ela se afastou e o libertou. Estava fraco e tonto, mas muito longe do perigo de morrer.
Sorrindo friamente pela sua expressão horrorizada, Divine se levantou, trazendo ele junto. Uma vez que ambos estavam em pé, ela o soltou, deixando-o inclinar-se fracamente contra o trailer, em vez de continuar segurando-o.
— Ouça com atenção, Allen Paulson, —disse ela severamente. — Você não vai ferir sua esposa e nunca mais irá considerar prejudicar ou matar alguém por dinheiro ou qualquer outro motivo. Se você fizer isso, eu vou descobrir, e então eu vou te encontrar ... —Ela levantou a mão e passou um dedo levemente sobre a ferida no pescoço dele. — E então eu terminarei esta refeição, cortarei sua cabeça, e deixarei seu corpo morto e frio em algum lugar que ninguém jamais encontrará você. Nós estamos entendidos?
Allen Paulson concordou fracamente. O rosto do homem estava branco como sua camisa, seus olhos quase afundados de horror, e ele deslizava lentamente ao longo de seu trailer, obviamente ansioso para escapar, mas com medo de tentar ser barrado. Divine fez uma careta. — E se você contar a alguém sobre isso, sobre mim, —enfatizou ela, — vou fazer pior.
Ele começou a sacudir a cabeça freneticamente e sussurrou: — Eu não vou. Juro.
Ela estreitou os olhos, e então seu nariz enrugou quando o cheiro azedo de urina subiu entre eles. Olhando para baixo, viu a mancha úmida crescendo na frente da calça e se afastou com desgosto. — Saia daqui antes que eu mude de ideia e limpe a sua mente.
Podia ver pela expressão de Allen Paulson que ele não tinha ideia do que ela queria dizer com isso, mas também não ficou por perto para perguntar.
Simplesmente balançou a cabeça loucamente e caminhou ao longo do trailer por alguns metros antes de encontrar a coragem de virar as costas para ela e correr.
— Você deveria ter limpado sua mente.
Divine endureceu com essas palavras atrás dela, e então se virou devagar. Olhou para o homem alto e loiro que falou com ela.
Ele era um greenie3, um trabalhador não qualificado e supostamente um habitante local contratado para ajudar no parque enquanto eles estavam na cidade. O nome pelo qual ele se apresentou era Marco. Divine sabia disso porque alguém falou para ela. Normalmente participava do processo de contratação dos funcionários, usando suas ‘habilidades especiais’ e ajudando Bob e Madge Hoskins, que possuía e administrava a Hoskins Entretenimentos, mas desta vez ela não tinha estado aqui. Os problemas familiares a mantiveram afastada e a contratação já havia sido feita quando voltou ao parque. Se estivesse aqui para ajudar a eliminar os desordeiros no processo de contratação, como costuma fazer, nunca teria permitido que Bob e Madge contratassem esse homem. Primeiro, ela não podia ler sua mente, e isso geralmente era um sinal de loucura em um mortal. Isso levava à segunda razão pela qual não o teria contratado, o homem era um imortal como ela. Descobriu isso rapidamente dele. Divine não tinha certeza de como ela sabia. Não conheceu muitos imortais. Na verdade, organizou sua vida de forma a ficar longe deles. Mas havia um arrepio de consciência quando ela passou por ele pela primeira vez ao retornar ao parque, pouco antes do meio-dia e no mesmo dia que ele fora contratado. Como se os nanos em seu corpo reconhecessem e enviassem sinais para os dele. Estava evitando-o desde então.
Mas isso não a impedia de tentar descobrir tudo o que podia sobre ele. Não que houvesse muito a descobrir. Ele se apresentava como Marco, sobrenome Smith. Todas as mulheres o achavam um pedaço de mau caminho. Os homens o via como praticamente um deus porque ele era forte e podia fazer o trabalho de quatro homens, e Bob e Madge esperavam que ele ficasse definitivamente trabalhando com eles no parque. Já Divine estava cautelosa. Ela havia evitado outros imortais por um motivo e o fazia há muito tempo. Não gostava nada de ter um por perto. Isso a deixava ansiosa e odiava se sentir ansiosa.
— Você não tem alguma coisa para fazer? —Perguntou, passando pelo homem e indo para a parte traseira de seu trailer. Os cinco minutos, no letreiro que ela havia virado, tinham acabado. Além disso, ela se alimentou de Allen Paulson e se sentia mais disposta. O intervalo acabou.
— Você deveria ter limpado sua mente, —repetiu Marco, andando atrás dela.
— Ele vai manter a boca fechada, —resmungou Divine irritada, principalmente porque sabia que ele estava certo. A verdade era que ela não tinha apagado a mente de Allen Paulson porque era uma mente nojenta, e ela não queria ter que passar mais tempo em sua mente do que o necessário.
Além disso, ele merecia passar seus dias com medo de que ela pudesse fazer-lhe uma visitinha qualquer dia, caso desse um passo errado.
— E se ele não ficar de boca fechada? —Marco perguntou quando se aproximavam do final de seu trailer. — E se ele for à polícia?
— Se ele for à polícia, e se eles não o prenderem imediatamente como um louco, mas virem até aqui falar comigo ... —Ela encolheu os ombros. — Vou limpar a mente dele, a mente do policial, e me mudar para outro parque.
— É assim que você chegou no parque de Hoskins? —Marco perguntou enquanto contornavam a extremidade do veículo. — Você não limpou a mente de alguém que deveria ter limpado e teve que se mudar?
Divine se virou para ele bruscamente com uma resposta furiosa em seus lábios, mas rapidamente pegou de volta as palavras que queriam sair e apenas disse forçando a calma: — Você é um sujeito muito curioso, Marco. Não é bom ser assim por aqui. Carnies cuidam de suas próprias vidas. Sugiro que você faça o mesmo.
Afastando-se dele, ela sorriu para as duas mulheres que estavam esperando na frente de sua porta. Outras se juntaram a elas. Na verdade, Divine agora tinha uma fila de meia dúzia de pessoas e estava crescendo a cada minuto, mas reservou seu sorriso apenas para as duas primeiras e disse: — Qual de vocês gostaria de ir primeiro? Ou eu devo receber as duas juntas?
— Oh, eu primeiro, —uma das mulheres disse ansiosamente. — Foi ideia minha.
Divine acenou com a cabeça e levou a mulher para dentro, deixando Marco e todo o pensamento sobre ele em sua varanda.
— Aqui, senhor.
Marcus desviou o olhar da porta que Madame Divine tinha acabado de levar sua cliente e olhou para o menino que puxava a parte de cima da perna da sua calça e estendia uma bola de algodão doce meio comida em um cone de papelão.
— Aqui, —repetiu o menino, segurando-o um pouco mais alto. — Eu não me sinto bem. Você pode ficar com o resto.
Marcus arqueou uma sobrancelha, mas pegou o algodão doce. Ele suspeitava que o garoto não se sentia bem porque estava cheio de algodão doce, sua camisa manchada de mostarda, pó de orelhas de elefante4 e, ele analisou a última mancha na camisa do menino e decidiu que tinha que ser ... sorvete. O garoto era um menu ambulante de tudo que havia comido naquele dia. Pelo menos, Marcus esperava que fosse tudo que o garoto tinha comido naquele dia. Caso contrário, ele estaria se perguntando se o pequeno tirano a sua frente seria filho de Dante ou de Tomasso. Eles eram as únicas duas pessoas que conhecia, entre mortais e imortais, que poderiam comer assim, feito esse menino.
— Danny! O que você está fazendo? Venha aqui e se afaste desse homem.
Marcus olhou para a mulher que corria em direção a eles do meio do caminho e ofereceu um sorriso tranquilizador, ao mesmo tempo deslizou nos pensamentos da mulher para aliviar sua mente de que ele não era um molestador de crianças e nada desagradável estava acontecendo. No momento em que ela os alcançou, tinha diminuído a velocidade para uma caminhada rápida e estava sorrindo de um jeito descontraído.
— Espero que ele não estava incomodando você, —ela disse desculpando-se quando pegou a mão do menino.
— De jeito nenhum, —Marcus assegurou.
A jovem mãe sorriu de novo e então assentiu e se afastou com o menino, dizendo: — Vamos, querido. Seu pai está esperando com sua irmã na fila da roda gigante. Eles ficarão preocupados.
Marcus observou-os ir e então voltou seu olhar para o trailer de Madame Divine. A porta estava fechada agora, assim como as persianas.
Ele não podia mais ver a mulher, exceto em sua mente, e definitivamente ele não parava de pensar nela. Madame Divine era mais do que inesquecível em seu traje de cigana. Uma blusa branca de camponesa que deixava seus ombros de fora, uma saia de baixo carmim, uma saia xadrez brilhante, uma faixa laranja amarrada na cintura com correntes douradas penduradas nela e tilintando alegremente, um largo cinto de couro e um cachecol carmesim em volta da cabeça. Aros de ouro pendiam de suas orelhas, uma corrente de ouro pendurada no pescoço, várias pulseiras de ouro penduradas no pulso, e botas de couro pretas com saltos agulha até o joelho, compunha a sua roupa.
A mulher parecia incrivelmente sexy nessa roupa, tão sexy, que quando observou ela se sentar no suposto assassino de esposa, Marcus quis puxá-la do homem para o próprio colo. Isso o deixou bastante assustado com esse desejo. Marcus não se interessava em mulheres há algum tempo. Na verdade, por alguns milênios. Ainda assim, ele não tinha ainda encontrado uma mulher como Madame Divine.
A mulher era muito atraente, e seu corpo estava acordando e respondendo a isso.
Obviamente, ele tinha um fetiche por cigana, Marcus pensou ironicamente. Essa era a melhor desculpa que podia conseguir no momento. Certamente, tinha mais sentido do que sua própria vida atualmente. Parece que a crise de meia idade resolveu aparecer na idade madura de 2.548 anos. Essa era a única explicação do porque se viu fazendo um favor para Lucian Argeneau.
Marcus sorriu ironicamente ao pensar nisso. Lucian Argeneau não era apenas o chefe do poderoso Clã Argeneau, mas também supervisionava os Caçadores de Renegados e liderava o Conselho Imortal da América do Norte. Os caçadores de renegados eram a força policial imortal, eles caçavam imortais desonestos para serem levados ao Conselho Imortal, que então o julgavam e os sentenciavam a qualquer punição que achassem adequada, muitas vezes a morte.
Como chefe dessas duas organizações, Lucian poderia ser o imortal mais poderoso da América do Norte. Era difícil imaginá-lo precisando da ajuda de alguém. Mas ele precisava. Estava a procura por um membro da família, sua sobrinha Basha Argeneau, que pensaram estar morta há milênios, mas que agora descobriram estar viva ... e quem ele temia ser uma renegada.
Foi assim que Marcus se encontrou no parque, encarando o trailer de uma mulher que ele não conseguia ler a sua mente e que achava incrivelmente sexy. Não que a sua incapacidade de não a ler o incomodasse. Se essa fosse Basha Argeneau, ela era ainda mais velha do que ele, e imortais mais jovens geralmente não conseguiam ler imortais mais velhos que eles. Não era como se qualquer um dos outros sinais de ter encontrado uma Companheira de Vida estivesse surgindo, como por exemplo, um renovado interesse em comida e tal. Graças a Deus, porque se ela fosse uma possível Companheira de Vida, e também fosse Basha Argeneau ... bem, isso seria um relacionamento condenado desde o começo. Porque Basha Argeneau era considerada uma desonesta ... e os desonestos eram executados. A última coisa que precisava nesta sua vida era uma Companheira de Vida renegada.
— Ei! Marco! Você vai ficar por aí enchendo a cara de comida a noite toda ou vai me ajudar com a barraca de pula-pula?
Marcus olhou ao redor, surpreso, ao encontrar Kevin Morrow andando na direção dele. O carnie de vinte anos era alto e pegajoso, seu rosto era uma coleção de sardas tão numerosas que, à distância, parecia um bronzeado. De perto, entretanto, você via que o rosto dele era definitivamente sardento e também estava com cara de bons amigos, lembrando a Marcus que ele só deveria ter tido um intervalo de quinze minutos para ajudar a cuidar da barraca de comida.
— Eu fui ...
— Encher a cara de comida, —o jovem carnie interrompeu secamente e depois se virou, gesticulando para ele seguir. — Vamos. Se estiver ainda com fome, você pode ter um cachorro-quente enquanto trabalha. Provavelmente é melhor para você do que esse algodão doce açucarado de qualquer maneira.
Marcus piscou e olhou para o cone com o algodão meio comido que o garoto lhe dera alguns minutos atrás. Ou o que havia sido algodão doce meio comido. Não havia mais nada do doce agora, o cone estava vazio. Ele havia comido isso? Não comia em mais de um milênio. Não se lembrava de ter comido esse algodão doce. Mas definitivamente, ele agora tinha um gosto doce na boca e que era bastante agradável.
— Droga, —ele murmurou, jogando o cone de papelão em uma lata de lixo enquanto se dirigia atrás de Kevin. Ele comeu. Não era possível ler Madame Divine e cobiçava a mulher.
Ah, isso não era nada bom.
Capítulo 2
Divine viu o último cliente sair de seu trailer e então parou nos degraus para observar a sua frente. Era meia-noite, hora de fechar, mas as luzes das várias atrações ainda brilhavam no parque. A música instrumental ainda tocava, mas o resto dos sons já havia morrido. Os jovens vendedores barulhentos que tentavam atrair as pessoas para seus brinquedos e os agentes que tentavam atrair os moradores para os jogos de azar tinham encerrado. O riso, a tagarelice e os gritinhos dos moradores da cidade desfrutando das atrações também haviam se extinguindo, o que se via ainda eram as últimas pessoas se dirigido a saída.
Sem multidões preenchendo todo o espaço, agora podia-se ver a bagunça deixada para trás. Recipientes de comidas e bebidas descartáveis estavam espalhados pelo chão, derrubados e chutados para o lado, em vez de serem colocados nas lixeiras fornecidas em intervalos regulares. O lixo descartável estava misturado a hambúrgueres comidos pela metade, corn dog5 e cones de sorvete derretidos onde caíram. Entre a bagunça, podia ver um par de minúsculos tênis de bebê e até mesmo uma ou duas camisetas amarrotadas deixadas para trás. Os tênis pertenciam a uma criança. Como os pais não notaram os pés descalços? Se perguntava como os donos dessas camisetas foram para casa sem elas. Muitos garotos as tiravam e amarravam-nas cinturas, por causa do calor do dia, mas era obrigatório vestir as camisetas antes de brincar nos brinquedos. A única coisa que explicava era que os donos dessas camisetas os tinham perdido na saída. Isso a fez pensar em como ficariam chateados quando chegassem em casa e percebessem que as tinham perdido.
A música de repente acabou e as luzes da roda gigante piscaram. Divine olhou em direção aos outros brinquedos e percebeu que aos poucos as suas luzes também começaram a serem desligadas. Em instantes o parque estaria nos escuro, os brinquedos e as barracas fechadas para a noite. A limpeza seria deixada para o turno da manhã, uma forma de economizar eletricidade, já que se fosse feito a noite teria que deixar as luzes acessas. Era muita mais lucrativo fazê-lo à luz do dia. Além disso, até lá alguns dos alimentos descartados teriam sido devorados por cães ou vermes locais, o que economizaria um pouco de tempo da limpeza.
O olhar de Divine varreu o parque escuro, as estruturas em sua maioria sombras negras contra a noite enluarada. Em poucos instantes, o primeiro dos carnies terminaria seu dia de trabalho e iria para o terreno dos fundos, além da frente de seu trailer, onde todos os outros trailers estavam estacionados.
Haveria bebedeira e risos enquanto descansavam de seu longo dia e do estresse de lidar com o público. Divine às vezes se juntava a eles. Não bebia, já que a bebida não fazia enfeito nela. Ia mais para aproveitar a camaradagem. Geralmente, em uma boa noite, se sentava e tomava uma xícara de chá do lado de fora do trailer de Bob e Madge Hoskins. Se estivesse chovendo, se mudariam para dentro para discutir o dia e falar sobre o quanto bom ou quanto ruim tinha sido.
Divine movimentou seus pés, debatendo brevemente se deveria fazer isso hoje à noite. Era o greenie Marco que a estava fazendo pensar duas vezes.
A maioria dos imortais, como os mortais, considerava os carnies abaixo deles, não viam as longas e difíceis horas em que trabalhavam, viam apenas sua aparência descuidada e relaxada, e dentes ruins por falta de dinheiro e tempo para consertá-los. Na verdade, além dela, em todos esses anos, Marco era o único imortal que ela conhecia ter escolhido passar o tempo com Parques itinerantes e sua presença agora era preocupante.
Suspeitava que Marco poderia ser um renegado e usava o parque para se esconder. Se esse fosse o caso ... bem, a última coisa que precisava era que um desonesto chamasse a atenção dos Caçadores de Renegados para seu Parque. Divine se escondia neste tipo ambiente por uns bons cem anos. Ela não queria alguém como esse cara novo atrapalhando sua vida. A coisa mais segura a fazer era evitar o homem, e já que não podia garantir que ele também não fosse visitar os Hoskins ... pensou que talvez devesse ignorar sua rotina habitual de relaxar com o casal esta noite.
Por outro lado, os greenies costumavam ter suas casas para ir à noite, já que a maioria eram moradores locais. Quando isso não acontecia e precisavam ficar com os carnies, geralmente ficavam longe do trailer dos donos do Parque. Poderia ser bom para ela se juntar ao casal e relaxar um pouco. Certamente, não precisava mais ir caçar hoje à noite. Allen Paulson lhe forneceu o jantar.
Tomada a decisão, Divine fechou a porta de seu trailer e se dirigiu ao redor do veículo dela para o lote da parte de trás onde o Bob e Madge tinham estacionado o próprio trailer privado deles. O casal tinha vários veículos para negócios, incluindo um trailer onde contratavam greenies e lidavam com questões de atendimento ao cliente. Eles também tinham veículos de passeio, mas nunca viajavam sem seu próprio trailer para viver e dormir. Depois de um longo dia lidando com carnies e clientes, um espaço privado para se retirar era uma necessidade.
O terreno dos fundos era uma área grande, quase tão grande quanto o próprio Parque. Lá havia meia dúzia de trailers pertencentes aos carnies mais antigos que trabalhavam em tempo integral e que tinham barracas, brinquedos ou jogos. Havia também trailers de alojamentos com quartos pequenos do tamanho suficientes somente para uma cama ou beliches e um pequeno espaço para se locomover. Divine suspeitava que se teria mais espaço em uma cela de prisão, mas eram somente dormitórios, então nesse sentido servia o seu propósito. Geralmente havia de quatro a seis dormitórios em cada trailer, alguns alojamentos tinham seu próprio banheiro para os habitantes compartilharem. Para aqueles que não tinham, havia outros trailers com banheiros móveis neles. Também um trailer que servia de sala de aula para as crianças que viajavam com pais carnies, assim como um trailer de lavanderia e alguns trailers pequenos que serviam como pequenos mercados, lojas de conveniência ou drogarias, que abasteciam com mercadorias os funcionários do parque.
Para todos os efeitos, o parque era uma pequena cidade itinerante carregando tudo o que precisavam. Um carnie realmente não precisava ir até a cidade que eles visitavam, se não quisesse, a menos que não houvesse algum item especial disponível nas lojinhas do parque.
— Madame Divine.
Desacelerando, ela olhou para o lado, balançando a cabeça em saudação quando viu Hal caminhando em direção a ela com um ligeiro mancar. Um carnie idoso, Hal era baixo, magro, agitado e tinha mais rugas e menos dentes do que um elefante. O homem tinha um único dente na boca, uma coisa desagradável e marrom que deveria ter sido arrancado junto com os outros. Divine não gostava de estereótipos, mas alguns dos carnies viviam, na realidade, da forma como todos pensavam deles: bebiam muito, não cuidavam da própria saúde, tinham dentes podres e envelheciam antes do tempo. Hal se encaixava em todos esses estereótipos. Ainda assim, ela gostava do homem.
Pelo que Divine leu em sua mente, Hal ganhou cada uma daquelas rugas, e não perdeu todos os dentes porque apodreceram. Na verdade, parece que perdeu metade deles nas brigas regadas a álcool ao longo dos anos. Ele também era tão honesto quanto poderia ser. Dizia-lhe para cuidar das suas coisas ou elas iriam sumir. ‘Achado não é roubado’, ele adicionava com uma piscadela, tornando mais óbvio quem a ajudaria as coisas a sumir. Você não poderia culpar o homem por isso. Pelo menos ele avisava antes. Poucas pessoas faziam.
— Seu mancar estar um pouco melhor, —comentou Divine, enquanto o observava caminhar os últimos metros entre eles.
— Ah, sim. —Ele sorriu para ela, mostrando o seu único dente e um monte de chiclete. Passando os dedos pelo cabelo grisalho e desgrenhado, assentiu com a cabeça e acrescentou: — Tudo graças a você. Esse remédio que você me deu funciona que é uma maravilha. A gota6 vai embora ‘num instante’.
Os lábios de Divine torceram para cima com a pronúncia errada de ‘em um instante’, mas ela não o corrigiu.
— Mais um dia passando o remédio e eu não vou mancar, —ele continuou sorrindo e confidenciou: — Não tenho sido livre do mancar há tanto tempo, que esqueci como era andar normal. E eu só queria agradecer gentilmente, Madame Divine. Não me sinto tão bem em mais de uma década e com certeza é muito bom.
— Você é um querido, Hal, —disse Divine, sorrindo calmamente. Ela tinha notado que o homem havia piorado das suas dores a duas cidades atrás. Não era preciso ler a mente para saber que ele estava sofrendo com a gota, e Divine preparou um remédio antigo para a doença que conhecia desde seus dias andando com os ciganos. Segundo ele, parecia estar funcionando relativamente rápido. Claro, funcionaria mais rápido se deixasse de comer carne vermelha, e beber café e álcool. Mas isso era pedir um pouco demais do velho.
Divine poderia ter entrado em sua mente e o feito desistir da bebida e dos outros itens alimentares pouco saudáveis que contribuíram para o seu problema, mas ela não gostava de controlar a vida de outras pessoas. Animais como Allen Paulson eram outra coisa, ela não tinha escrúpulos em impedir que ele ou gente da sua laia prejudicasse ou matasse alguém por dinheiro, mas fora isso, Divine era uma defensora da crença ‘viva e deixe viver’. Ela não queria ninguém controlando suas ações e comportamentos, e não tinha necessidade ou desejo de controlar os outros. Para ela, pessoas que tentavam controlar os outros estavam tristemente carentes de autoestima ... e parecia haver muitos deles. A julgar por todas as pessoas que inventavam movimentos para exigir que governantes proibisse isso ou aquilo, obrigasse isso ou aquilo. Se perguntavam se essas pessoas não tinham outras coisas para fazer em seus tempos livres. Ela não podia deixar de pensar que, se conseguissem um emprego, ou um amante, amigos, um hobby ou, o inferno, até mesmo um filho, estariam muito mais satisfeitos e não iriam procurar controlar o que os outros faziam como uma maneira de se satisfazer.
— Bem, eu só queria agradecer a você, —Hal disse novamente, — E deixar você saber que seus esforços funcionaram antes de eu sair para comemorar com Carl. —Ele hesitou e então acrescentou timidamente: — E te perguntar se você, talvez, não quer ir com a gente? Estamos indo para a cidade, o Pub Irlandês McMurphy's. Eu fui lá a última vez que estávamos em Bakersfield e eles têm as melhores costelas que já provei. Feito em carvão de carvalho, acho que foi isso que a moça de lá disse. Muito bom, —ele assegurou.
— Tentador, —disse Divine gentilmente. — Mas não, obrigada, Hal. Você e Carl se divirtam por mim. Sem brigas, por favor, —acrescentou ela com firmeza. — Se voltar desdentado, ficarei muito aborrecida com você.
— Eu não amo muito dormir na cadeia, então não se preocupe, —ele jurou, levantando os dedos cruzados que sugeriam o oposto. O homem era muito escandalosamente honesto, pensou ela, acrescentando: — Pelo menos, não vamos começar nenhuma. Agora se alguém na cidade nos provocar, não podemos simplesmente deixá-los nos humilhar, você sabe. Mas não vamos começar nenhuma provocação.
Balançando a cabeça com diversão, Divine assentiu e se virou para continuar seu caminho, pensando que deveria manter seu telefone ligado caso precisasse sair pela noite ir busca-los. Se Hal e Carl acabassem na cadeia, preferia que eles ligassem para ela ao invés de perturbar Madge e Bob.
O casal estava chegando em uma idade avançada, os estresse e provações de dirigir o Parque estavam começando a aparecer. Se pudesse tornar as coisas um pouco mais fáceis para o casal, ficaria feliz em fazê-lo. Além disso, não era como se ela fosse dormir. Geralmente só dormia uma ou duas horas por dia agora. Divine não tinha ideia se isso era uma questão de idade ou preocupação, mas não se importava, não podia fazer nada com isso.
Divine havia aprendido com o tempo a não se estressar com as pequenas coisas. Havia o suficiente na vida para se preocupar; as pequenas coisas não valiam a pena.
A luz estava acesa no trailer dos Hoskins, o que significava que Madge, como de hábito, deixara Bob para trás lidando com os problemas de última hora que ocorriam no fechamento do parque, enquanto ela chegava mais cedo ao trailer para preparar café e um lanche leve antes de descansarem. Era a rotina habitual deles. Madge abria e começava o dia e Bob fechava no final da noite. O melhor do trabalho em equipe. Pelo menos, parecia funcionar para eles. O casal estava casado há trinta anos e ainda estavam felizes e carinhosos um com o outro, o que não era inédito, mas raro entre os mortais.
Embora a felicidade e o afeto depois de tantos anos juntos fossem incomuns para os casais mortais, entre os imortais era a regra de fato. Uma vez que os imortais encontravam seus companheiros de vida, poderiam passar dez, cem, mesmo mil anos juntos, o casal ainda seria sólido e feliz. Era o que todo adulto imortal esperava acontecer. Divine costumava sonhar com isso sozinha, mas isso era quando ela era muito mais jovem. Logo percebera que a maneira como vivia, tendo que se esconder e evitar outros imortais, tornava quase impossível encontrar seu companheiro de vida. Ficaria sozinha para sempre, e isso era muito tempo a menos que por sorte tivesse um acidente fatal onde fosse decapitada, queimada viva, ou virasse uma renegada e acabasse executada. Alguns dias, quando seu estilo de vida cigano e a falta de uma casa e família a deixava de mau humor, o desejo de um acidente como esse parecia quase atraente. Até agora, porém, essas crises de mau humor acabavam passando antes que fizesse algo estúpido. Até agora.
Divine empurrou o pensamento para longe enquanto alcançava a porta do trailer dos Hoskins, bateu brevemente e esperou pelo — Venha, entre, —que Madge sempre dizia, e então abriu a porta e entrou. Mas o sorriso que tinha começado a levantar os cantos de sua boca e a saudação que estava prestes a oferecer morreram quando ela viu o greenie, Marco.
— Oh, aí está você, Divine, amor, —Madge disse alegremente. — Estava aqui contando a Marco tudo sobre você. Eu pensei que seria legal se ele se juntasse a nós esta noite, vocês dois poderiam se conhecer. Vocês têm muito em comum. Ele é alérgico ao sol também.
— Não me diga, —murmurou Divine, olhando solenemente para o homem. Tanto para evitar o greenie.
Marcus quase sorriu com a expressão de Divine. Ela obviamente não estava feliz em vê-lo, mas estava se esforçando para esconder o desagrado, sabia que não gostaria de explicar o porquê a Madge se ela notasse. Ele suspeitava que o que Divine mais queria naquele momento era se virar e fugir, mas aparentemente não conseguia encontrar uma boa desculpa para fazê-lo, porque ainda estava lá, meio que vacilando na porta.
— Oi ... Marco, não é? —Disse Divine finalmente. Ofereceu um sorriso obviamente forçado antes de mudar seu olhar para Madge, onde seu sorriso se tornou mais espontâneo quando disse: — Seria uma boa ideia, mas Hal me parou no caminho para cá. Sua gota esta muito melhor e ele me chamou para ir com ele e Carl até a cidade comemorar. Eu odiaria ver o velho perder seu último dente. Eu só parei para dizer que vou faltar ao nosso habitual café klatch7 e ir com eles.
Corrigindo, ela arrumou uma desculpa depois de tudo, Marcus pensou. Ele não sabia quanto do que ela disse era mentira. Mas tinha certeza de que ela não tinha planejado se juntar a Hal e Carl na cidade quando entrou pela porta do trailer. Na verdade, tinha certeza de que foi sua presença que decidira sua mudança de planos ... bem ... dois poderiam jogar esse jogo. Colocando uma expressão de preocupação fingida, ele murmurou: — Oh, eu não acho que você deveria acompanhar os dois sozinha. Suspeito que, uma vez que eles bebam, esses dois homens podem ser um pouco difíceis de administrar. Talvez eu deva ir com vocês três.
— Oh, isso é uma ideia maravilhosa, —Madge interveio quando Divine começou a sacudir a cabeça. — Eu iria ficar preocupada com você se fosse só com os dois, mas com Marco lá para cuidar de você, me sentiria muito mais segura.
Por um momento, Marcus tinha certeza de que Divine recusaria, mas depois de um momento seus ombros caíram conformada. Sua expressão não era de derrota, no entanto, mas dura de raiva quando disse: — Então vamos.
— Passe por aqui quando voltarem, se as luzes ainda estiverem acesas, —Madge disse alegremente, aparentemente completamente inconsciente das ondas de raiva e ressentimento rolando fora de Divine, enquanto ela murmurava uma resposta afirmativa e virava-se para abrir a porta do trailer novamente.
Marcus ofereceu a Madge um sorriso especialmente caloroso enquanto seguia Divine. Sabia imediatamente que a dona do Parque tinha em mente um casório quando o convidou para o trailer essa noite. Ele leu os pensamentos dela, afinal de contas, e depois de entrevistá-lo naquela manhã e vê-lo trabalhar hoje, ela decidiu que ele parecia um sujeito decente, bonito, forte e trabalhador ... um bom partido para ‘nossa Divine’, como ela chamava a mulher. Ele não estava interessado em casamento, é claro, mas funcionava como uma boa desculpa de se aproximar de Divine e descobrir se ela era Basha Argeneau, a mulher que haviam pedido para encontrar.
Marcus achava difícil acreditar que Divine pudesse ser a renegada Basha que andava com Leonius Livius. Não depois de ler os pensamentos de Madge. Ele encontrou muito respeito e afeição pela vidente lá. Encontrou a mesma coisa em quase todas as mentes que leu naquele dia. Parecia que Madame Divine, ou Divine, como a maioria dos carnies a chamavam, apesar de um pouco reservada, sempre estava lá para ajudar. Participava de toda a preparação de chegada e saída do parque em alguma cidade, ajudava na montagem e desmontagem da estrutura, mesmo que esse não fosse seu trabalho e sempre estava disponível em ajudar qualquer pessoa, mesmo quando não era requisitada.
Pelo que ele descobriu naquele dia, sabia que Divine estava com esse Parque há dois anos. Naquela época, ela ganhou o respeito e a afeição da maioria das pessoas aqui. Os poucos que não gostavam, pelo menos respeitavam, e pareciam serem pessoas rancorosas de alguma forma. Uma mulher estava com ciúmes porque tinha certeza de que o homem em que era apaixonada estava interessado em Divine, enquanto outra, movida pela inveja, não gostava de como todos os outros pensavam tão bem de Divine.
Também havia dois homens que encontrou hoje que não tinham pensamentos muito lisonjeiros para a mulher. Um dos homens era o ‘Romeu’ do Parque, tinha dormido com quase todas as mulheres solteiras e várias mulheres casadas. Mas quando ele tentou chegar até Divine, ela lhe deu um fora.
O outro sujeito que encontrou naquele dia com pensamentos desagradáveis sobre Divine era um homem chamado Paul. Ele e sua namorada Kathy trabalharam no Parque por um tempo. Paul aparentemente tinha sido um bom trabalhador até recentemente, quando começou a beber.
Infelizmente, ele tinha uma tendência em bater em Kathy sempre que se embriagava, o que estava se tornando uma rotina noturna. Divine o detivera recentemente. Ela o arrancou de cima da menina, quebrando o pulso dele no processo, provavelmente de propósito, na humilde opinião de Marcus. Divine havia o explicado que se Paul machucasse Kathy, ou qualquer outra mulher carnie, ela quebraria os dois pulsos dele. Paul conseguira evitar bater em Kathy desde então, mas sabia que era apenas uma questão de tempo antes de escorregar e voltar a bater nela ... e então Divine manteria sua promessa ... e isso assustava Paul como o inferno.
Paul não apenas não gostava de Divine, ele tinha medo dela, e isso era uma coisa perigosa. Na experiência de Marcus, o medo levava as pessoas fazerem coisas estúpidas, e a julgar pelos pensamentos que passavam pela mente de Paul naquele dia, ele acabaria fazendo algo estúpido mais cedo ou mais tarde. O homem tinha desfrutado várias fantasias desagradáveis, enquanto Marcus trabalhava com ele. Fantasias de como pegar Divine desprevenida uma noite, atingindo-a na cabeça com um bastão e espanca-la até a morte, dessa forma ela nunca mais iria ameaça-lo novamente.
Enquanto permanecessem só nas fantasias, as coisas ficariam bem. Mas fantasiar sobre algo com frequência, muitas vezes pode lhe tornar suficientemente corajoso para coloca-las em prática. Marcus suspeitava que Paul teria uma grande surpresa se ele fosse estúpido o suficiente em tentar algo contra Divine. Marcus tinha certeza que uma surra não a mataria, e sua fúria de vingança seria algo para se ver. O homem teria sorte de escapar com vida. Ela provavelmente quebraria todos os ossos do corpo dele, e Marcus não iria culpá-la.
— Pare de olhar para minha bunda. Eu posso sentir seus olhos perfurando meu traseiro. Se você vem comigo, ande ao meu lado.
Marcus piscou com aquelas palavras de Divine enquanto o levava para longe do trailer dos Hoskins, e então piscou novamente quando percebeu que de fato estava olhando para a bunda dela. Huh, ele pensou. Isso era novo ... mas então, não tinha culpa que era uma boa visão. Ele gostava da maneira como as saias dela balançavam de um lado para o outro em volta dos quadris e para trás a cada passo. E essas botas. Droga, elas ... seus pensamentos morreram abruptamente quando Divine parou, virou-se para trás e franziu o cenho para ele. Então apontou o dedo para o chão ao seu lado em demanda silenciosa. Reprimindo um sorriso, Marcus andou para o lado dela e parou arqueando uma sobrancelha. — Eu pensei que você gostasse de atenção. Não é por isso que você usa as moedas barulhentas no lenço de sua saia?
— Não a sua atenção, —Divine assegurou ele severamente, e então virou para andar novamente. Um momento depois, percebeu que ela estava levando-o para seu trailer. Com certeza ela não pretendia tentar tirar o veículo dessa bagunça, não é? Bom Deus, havia um brinquedo de um lado, um reboque de algodão doce do outro, e um estacionamento. A parte de trás era um labirinto de veículos que ela não poderia passar. Deveria dizer a ela que tinha um carro e levá-la até o SUV que Lucian lhe dera, Marcus pensou. Estava estacionado no terreno do lado de fora dos portões onde havia deixado. Antes que ele pudesse fazer a sugestão, no entanto, ela parou ao lado de uma caixa grande retangular, ligeiramente saliente ao longo do lado do trailer que ele não tinha notado até agora. Divine abriu um pequeno painel de controle, revelando um conjunto de botões numerados. Digitou um código e deu um passo para trás quando um painel lateral se abriu imediatamente, revelando uma moto.
Enquanto Marcus permanecia boquiaberto, Divine desatou o veículo de duas rodas, desenrolou uma rampa estreita na extremidade e puxou a moto para o chão. Colocando o descanso da moto no lugar para mantê-lo na posição vertical, ela então se virou, retirou dois capacetes do encarte e apertou o botão novamente, fechando o painel.
Marcus pegou o capacete que ela lhe entregou e a observou enquanto resolvia chamar-lhe atenção sobre as roupas que ela estava vestindo. Mas sua intenção de falar morreu quando ela o distraiu inclinando-se para frente, deixando-o de queixo caído. Seus olhos se arregalaram em seu traseiro quando ela pegou a bainha de sua saia e puxou-a para cima através de suas pernas. Não foi até que, ela ficou em pé novamente com a borda da saia na mão e enfiou-a no cós da frente em sua cintura, que ele entendeu o que ela estava fazendo. Então passou a perna por cima da moto, ligou o motor, acelerou e depois virou-se olhando para ele. — Está bem?
— Tudo certo, —ele murmurou, rapidamente colocando o capacete que ela tinha dado a ele. Ao que tudo parece seria ela que estaria pilotando. Inferno. Uma moto. Ele esperava que ela soubesse dirigir a maldita coisa.
Capítulo 3
No momento em que Marco se acomodou na motocicleta atrás dela e deslizou seus braços ao redor de sua cintura, Divine sabia que tinha cometido um erro. Já havia levado na garupa de sua moto homens e mulheres antes, mas dessa vez parecia desconfortavelmente íntimo.
O homem tinha colado o peito nas costas dela, e Divine estava muito ciente de suas mãos descansando logo abaixo de seus seios. Ela se sentia envolvida em seu abraço, e isso era algo que nunca tinha experimentando. Ficou tentada a dar-lhe uma acotovelada e talvez pegá-lo de surpresa e o enviar voando fora da moto. Como não podia colocar em prática sua vontade, então Divine fez o possível para ignorar seu próprio desconforto e se concentrar na direção.
O Parque de Hoskins ia a Bakersfield, Califórnia, todos os anos. Divine já havia estado na cidade antes, inclusive quando fazia parte de outros parques. Sabia onde ficava o lugar que Hal mencionara. O McMurphy já existe há muito tempo. Divine nunca tinha jantado no estabelecimento, mas passou por ele algumas vezes e tinha uma boa memória. Anos atrás, era conhecido como Taverna McMurphy's. Agora se transformara em um pub irlandês e bar esportivo McMurphy. Se mudou de donos e foi renovado, ou os antigos proprietários tinham decidido mudar o nome, ela não sabia. Sabia onde ficava localizado, no entanto, e encontrou com bastante facilidade. Pouco mais de dez minutos depois, ficou aliviada ao poder parar a moto e esperar um pouco impaciente que Marco descesse antes de colocar o descanso no lugar e também descer.
Divine evitou olhar para Marco quando ela tirou o capacete e rapidamente soltou sua saia, deixando-a cair em torno de suas pernas novamente. Ainda podia sentir o calor onde o corpo dele tinha pressionado contra suas costas, e ficou irritada com isso. Suspirando, abria a trava que usava para segurar o capacete, então pegou o que Marco tinha e o guardou. Determinadamente ignorando-o, Divine se dirigiu para a entrada do pub, mas pôde ouvi-lo a seguindo.
Depois que anoiteceu o clima ficou mais fresco, mas a noite ainda estava quente, cerca de oitenta e cinco graus8. O pub era climatizado, e a onda de ar frio que os atingiu quando entraram foi um alívio. Divine parou na entrada da porta e simplesmente aproveitou o ar frio por um momento antes de dar a sua atenção em tentar encontrar Hal e Carl.
— Eu não os vejo, —Marco comentou atrás dela, o barulho de muitas vozes ao redor o forçou a inclinar próximo ao seu ouvido.
Divine segurou um arrepio quando sua respiração soprou em sua pele. Ignorando a sensação, ela simplesmente olhou ao redor e depois franziu a testa. Não os via também. — Hal definitivamente disse McMurphy. Ele disse que tinha gostada das costelas daqui ano passado e queria experimentar de novo.
— Oi. Posso ajudar? Parece que vocês estão procurando por alguém.
Divine olhou para a menina alegre que se aproximava. Ela tinha longos cabelos castanhos amarrados em um rabo de cavalo e carregava uma bandeja vazia, pressionada contra o peito. Divine não pôde deixar de notar que ela também estava olhando para Marco apreciativamente enquanto esperava por uma resposta.
— Estamos procurando por alguns amigos nossos, —disse Divine, chamando a atenção relutante da menina. — Alguns senhores mais velhos. Com aparência um pouco rude, pele bronzeada pelo sol, um banguela, o outro careca.
— Oh sim. —Sorrindo, a garota assentiu com a cabeça, seu rabo de cavalo acenando enquanto ela voltava seu olhar para Marco. — Eles estão aqui. Acomodei eles ali ... —Ela tinha tirado o olhar de Marco para gesticular para uma mesa no canto e franziu a testa quando a encontrou vazia. — Eu os coloquei lá há alguns minutos atrás. —Ela olhou em volta brevemente e então sorriu e encolheu os ombros. — Provavelmente saíram no pátio para fumar.
— Provavelmente, —Divine concordou, lembrando que Hal e Carl ambos fumavam. Alguns dos carnies fumavam.
— Bem, vocês podem procurá-los no pátio, ou, como são seus amigos, sentar e esperar por eles. Provavelmente não vão demorar. Vi a garçonete conversando com eles logo depois que eu os sentei. Pediram bebidas e o cardápio, mas ainda não escolheram o que comer.
— Nós vamos esperar na mesa, —Marco anunciou, tomando o braço de Divine para liderá-la até a mesa. Ela não protestou. Divine não tinha vontade de ir até o pátio fumacento. Nem mesmo queria estar aqui. Só veio por que tentou achar uma desculpa para evitar esse homem, que acabou acompanhando-a.
Os melhores planos podem sair pela culatra. Se não fosse por esse homem, poderia estar sentada no trailer de Madge agora, relaxando ao som de uma boa conversa.
Maldito homem, pensou irritada.
Acomodando-se na cadeira que ele puxou para ela, Divine pegou o cardápio para evitar olhar para ele.
— Você come?
Enrijecendo, olhou por cima de seu cardápio para Marco quando ele se acomodou na cadeira em frente a ela. Em vez de responder, ela perguntou: — E você?
Ele hesitou brevemente e depois disse: — De vez em quando.
Divine encolheu os ombros com desinteresse e baixou o olhar para o cardápio novamente.
— É que ... você é uma imortal ...
Isso chamou a atenção de Divine que olhou para ele bruscamente e depois olhou ao redor para ter certeza de que ninguém havia ouvido o comentário. Ninguém parecia estar prestando atenção a eles, mas ...
— E eu sou um imortal, —continuou ele.
— Pelo amor do Céus, —ela retrucou, olhando para ele. — Você sabe muito bem de que não podemos falar sobre essas coisas sem em público.
— Ninguém está ouvindo, —Marco disse suavemente, e então inclinou a cabeça e perguntou: — Do que você está fugindo?
Divine endureceu em seu assento. — O que faz você pensar que estou fugindo de alguma coisa?
— Oh, eu não sei, —ele disse com diversão, — Talvez o fato de você estar se escondendo em um Parque de Diversão?
— Se eu estivesse me escondendo, estaria trabalhando em algum lugar onde centenas de pessoas não me viriam todos os dias, —disse ela secamente. — Eu trabalho no Parque porque, por acaso, tenho uma boa vida lá.
— Lendo o futuro das pessoas?
Não havia julgamento em sua voz; ainda assim, Divine se sentiu endurecer defensivamente. — Eu não leio e nem controlo o futuro de ninguém.
— Certo. Você orienta o futuro deles, —ele disse calmamente.
Divine assentiu. Era uma excelente de distinção, mas importante para ela. — Eu leio suas mentes, oriento e aconselho seu futuro. Ou às vezes eu leio as mentes de quem as acompanha no meu trailer e uso o que descobrir para orientar o futuro do cliente.
— Como o marido que planejava matar a esposa pelo seguro? —Perguntou Marco. A expressão dele se tornando um pouco pensativa. — O marido deve tê-la acompanhado em sua tenda quando o Parque estava em sua cidade para você saber que ele planejava matá-la pelo o seguro.
Divine assentiu.
— Então você usa suas habilidades imortais para ajudar os mortais, —disse ele solenemente.
Divine sentiu-se relaxar. Por mais que tentasse não deixar que isso a incomodasse, as opiniões, que muitas vezes se deparava com os moradores da cidade sobre os carnies, incomodavam-na. A maioria das pessoas ia aos Parques apenas para se divertir e não fazia julgamentos, mas havia muitas pessoas que pensavam que todos os carnies eram escória, trapaceiros e ladrões. Que ela era uma vigarista e ladra, extorquindo dinheiro de pessoas tolas que acreditavam em videntes e tais absurdos.
Divine jamais—nunca—controlou o futuro de alguém. No entanto, tentava ajudar quem ela estava lendo, de qualquer maneira que pudesse. Era raro salvar uma vida como fez com a esposa de Allen, mas gostava de pensar que havia contribuído para a saúde e o bem-estar dos outros. Quase sempre podia sentir o cheiro de uma doença em um mortal. Diabéticos não diagnosticados tinham um aroma doce, enquanto o câncer apresentava o leve, mas distinto, cheiro adoçado de podridão. Também podia ouvir o som de problemas pulmonares ou brônquicos, um batimento cardíaco irregular, uma pulsação rápida ou lenta, etc. Havia muitos problemas de saúde que ela podia reconhecer e diagnosticar e aconselhar o cliente a fazer uma consulta geral.
Divine também fazia uma leitura rápida das mentes de quem acompanhava cada cliente, às vezes encontrando informações úteis lá, como um marido traidor, um amigo problemático, uma criança com um segredo perigoso que precisava ser revelado, como um abuso onde a criança era ameaçada para ficar em silêncio. E então também, podia ler a mente do cliente e saber quando eles iam fazer algo estúpido, ou ilegal, ou desesperador e aconselhá-los contra isso. Muitas vezes, o choque deles de saber que ela sabia o que eles estavam pensando ou planejando era o suficiente para fazê-los pensar melhor.
Divine tentava ajudar as pessoas em troca do dinheiro que a pagavam. Não recebia simplesmente o dinheiro e falava: ‘olha, você vai encontrar um estranho alto, moreno, bonito e vai viver a boa vida com ele’. Ela tentava ajudar de verdade. Sempre tentou.
— Sim, uso nossas habilidades para tentar ajudar os mortais, —disse finalmente Divine. — E sou paga por isso. Não tenho vergonha disso.
Marco assentiu, mas depois perguntou: — Então você não está se escondendo ou fugindo de alguma coisa?
Divine se moveu impaciente com a pergunta. Ela queria dizer não, mas ao invés disso perguntou: — É por isso que você se juntou ao Parque? Porque está correndo ou se escondendo de alguma coisa?
Marco fez uma careta e então se sentou em seu próprio lugar com um sorriso. — Touché
— Você não respondeu a minha pergunta, —ela apontou.
— Nem você, —ele respondeu imediatamente.
Ambos ficaram em silêncio por um momento e então Marco se inclinou para frente e perguntou: — Você pelo menos vai me dizer seu nome verdadeiro?
— Madame Divine para estranhos e Divine para meus amigos, —ela respondeu imediatamente e levantou seu cardápio novamente.
— Divine é o seu nome verdadeiro? —Ele perguntou desconfiado.
— Marco é o seu? —Ela respondeu, olhando cegamente para a seção de aperitivos.
Depois de uma pausa, ele perguntou: — Quantos anos você tem?
Divine deu um tapa no cardápio com irritação. — Agora isso é uma grosseria.
— Sim, isso é, —anunciou uma voz risonha, chamando a atenção para uma loirinha bonitinha que acabara de parar na mesa deles. Sua garçonete, advertiu Marco com olhos cintilantes e um sorriso brilhante: — Você nunca deve perguntar a uma mulher idade dela. Pelo menos não se você gosta de sua masculinidade e deseja mantê-la intacta.
A boca de Divine se contorceu brevemente e então abriu um sorriso quando o queixo de Marco caiu da interferência da garota.
— Obrigada, —disse Divine para a garçonete. — Você vai receber uma boa gorjeta.
— Só se você estiver pagando, —Marco resmungou, mas havia diversão em seus olhos também agora, e arrependimento quando ele olhou para Divine e murmurou: — Minhas desculpas. Eu não estava pensando direito.
— Obviamente, —disse Divine secamente, mas ainda estava sorrindo.
A garçonete riu e depois inclinou a cabeça. — Posso trazer alguma coisa para vocês?
— Ah. —O olhar de Divine caiu para o cardápio que ela estava fingindo ler. Ela realmente teria que pedir alguma coisa. Planejou dar uma gorjeta à garota. O problema era que ela não comia. Não comia há eras. Nem bebia, exceto para bebericar chás quando estava em companhia de mortais, e mesmo assim fazia mais de conta que estava bebendo do que realmente bebia. Segurava a xícara próximo ao rosto, ocasionalmente pressionando a borda da boca enquanto o vapor lhe dava uma espécie de mini limpeza facial. Provavelmente era bom para os poros dela, pensou, franzindo a testa para o cardápio. Depois de outro momento, suspirou e sorriu desculpando-se para a garota. — Na verdade, talvez devêssemos esperar que Hal e Carl voltem.
— Ah, você tem amigos vindo? —A garota perguntou.
— Bem, eles já estão aqui, eu acho. Dois homens mais velhos, um careca e o outro faltando a maioria dos dentes? —Ela disse, esperando estimular a memória da garota. — A jovem que nos recebeu na porta disse que eles estavam sentados aqui e achou que poderiam ter saído para o pátio.
— Ah, não, eles foram embora, —disse a loira, parecendo um pouco desapontada por divulgar essa notícia. — Eles queriam as costelas defumadas de carvalho, mas só servimos aos domingos. Eles disseram que voltariam no domingo e que era melhor voltar para suas garrafas e beliches agora ... seja lá o que isso quer dizer, —a garota acrescentou ironicamente.
Divine apenas sorriu fracamente. Isso significava exatamente o que parecia, os dois homens tinham voltado para seus beliches nos trailers e as garrafas de bebida esperando por lá. Ela não explicou isso, mas colocou a mão no bolso da saia e tirou uma nota de dez. Colocando-o na mesa, ofereceu um sorriso à menina e ficou em pé. — Obrigada.
— Oh, você não precisa ... —a garota protestou, pegando a nota de dez para devolver a ela.
Divine acenou para longe. — Fiquei agradecida com a informação que nos deu. Poderíamos ter ficado aqui esperando por muito tempo, e então eu teria me preocupado com o que havia acontecido com nossos amigos. Por favor, aceite.
Batendo no ombro da garota, ela se dirigiu para a porta, ciente de que Marco estava seguindo ela.
— Garrafas e beliches? —Perguntou Marco. — Eu entendo que isso significa ...
— De volta ao Parque, —Divine terminou com um aceno de cabeça. — Tanto Hal quanto Carl têm beliches nos alojamentos. —Ela encolheu os ombros e acrescentou: — Comer fora custa caro. Se eles querem as costelas, provavelmente não podem gastar dinheiro hoje também.
— Sim, eu notei que o pagamento é ruim no Parque, —disse Marco secamente.
— Pior do que ruim, —concordou Divine com diversão. — O que me faz pensar por que você se incomodaria em trabalhar lá. Certamente você poderia encontrar um emprego em outro lugar?
— Certamente eu poderia, —ele concordou evasivamente. — Mas isso parece ser divertido.
— Humm, —Divine disse duvidando muito que houvesse qualquer coisa divertida em levantar peso e vender cachorros-quentes.
— Estou enganado, ou você recebe melhor do que o restante dos funcionários? —Marco perguntou enquanto eles saíam para a noite úmida. Era como entrar em uma sauna ou se enrolar em uma toalha quente e molhada. Honestamente, o calor da última semana tinha sido terrível, mas a umidade tinha sido pior, uma panela de pressão que os cozinhavam em todos os lugares aonde iam. Ficaria feliz quando o verão passasse e o outono chegasse com suas temperaturas mais amenas.
— Eu suponho que é uma pergunta grosseira também, —Marco murmurou de repente, e Divine percebeu que ele ainda estava esperando por uma resposta. Ela debateu internamente em dizer simplesmente ‘sim, é uma pergunta grosseira’, mas depois mudou de ideia.
— Eu sou dona do meu trailer e não preciso contratar pessoal de apoio, —disse baixinho enquanto liderava o caminho para sua moto. — Tudo o que eu faço é meu.
— Você não tem que pagar Madge e Bob pelo espaço de aluguel ou qualquer coisa assim? —Ele perguntou surpreso.
— Eu costumava, —ela admitiu. — Mas eu me tornei uma atração, e também comecei a ajudá-los com coisas como contratar pessoas locais quando chegamos a cada cidade, afastando-as dos encrenqueiros e criminosos e coisas assim. Nesses dois anos que tenho trabalhado para eles, evitei a contratação de um possível funcionário que estava na lista dos mais procurados do FBI. Eles ficaram muito agradecidos que decidiram não cobrar mais o aluguel.
— Sim, alguém mencionou esse acontecimento esta manhã, quando eu fui contratado, —disse Marco calmamente. — Não mencionou que você tenha impedido a contratação de alguém em uma lista de procurados, mas que você normalmente ajuda com contratações, —explicou ele, e depois acrescentou: — Mas quando fui contratado você não estava lá.
Ela não entendeu se ele estava afirmando ou perguntando. Quando eles alcançaram a moto, Divine apenas disse: — Eu tinha assuntos pessoais para cuidar e não voltei para o parque antes de abrir.
Marco não foi rude o suficiente para perguntar de imediato o que eram esses assuntos pessoais e permaneceu em silêncio enquanto Divine destrancava os capacetes e entregava-lhe um. Colocou o outro, depois enfiou a bainha da saia na cintura, montou a moto e a ligou. Desta vez ela não precisou dizer a ele para montar. Mal ligou o motor e Marco deslizou para o banco atrás dela, as mãos dele agarrando ao redor de sua cintura.
— Eu poderia aprender a gostar disso, —disse ele em seu ouvido, falando alto para ser ouvido sobre o motor.
Divine não comentou, simplesmente acelerou o motor e se dirigiu para o recinto do Parque. Esse passeio tinha sido um fracasso completo e total. Não só não tinha escapado de sua presença, como continuava sem saber muito sobre ele. Na verdade, ele aprendeu mais sobre ela do que o contrário. Não que ele tenha conseguido muita informação dela, pelo menos esperava que não, e se perguntava se ele conseguia ler a sua mente.
Divine definitivamente esperava que ele não pudesse lê-la, e tinha quase certeza que ele não podia. Será que se ele conseguisse ler e descobrisse quem ela era de verdade, faria alguma coisa contra ela? Se preocupou com isso pelo resto do passeio. Quando chegaram a área do Parque, estava ansiosa para se afastar do homem e ter uma chance de pensar em tudo isso, já que era difícil de se concentrar com as mãos dele sobre ela e seu corpo pressionando contra o dela. Colocou a culpa no fato de que não estava acostumada a muito contato físico. Isso era uma distração.
Divine guiou a motocicleta até o meio do pátio vazio, mas não se dirigiu para seu trailer, em vez disso, guiou a moto passando pelo caminho entre a roda gigante e uma das bancas de jogo, desviando aqui e ali de alguns trailers, levando-os para a área onde ficavam os alojamentos e onde ela presumia que Marco estaria hospedado se ele não tivesse um lugar na cidade.
Ela parou ao lado do primeiro dos alojamentos e apoiou os pés no chão dos dois lados da moto para mantê-la na posição vertical, mas deixou o motor ligado enquanto esperava que Marco saísse. Depois de uma ligeira hesitação, ele saiu e o alívio imediatamente correu através dela. Então ele se moveu para o seu lado e disse algo que ela não conseguiu ouvir. Divine decidiu que provavelmente era ‘obrigado pelo passeio’, ou pelo menos ela queria que fosse isso. Ansiosa para ir embora, simplesmente balançou a cabeça e depois acelerou a moto pilotando-a para a frente, dirigindo ao longo do lado de fora do terreno dos fundos para alcançar seu trailer. Uma vez lá, desceu o descanso e tirou o capacete quando desligou a moto.
Estava prestes a pressionar o botão para abrir o painel lateral para guardar a moto quando ouviu um baque. Parecendo que vinha de dentro de seu trailer. Ficou quieta tentando ouvir mais alguma coisa e ouviu um som de tinido. Colocou o capacete no assento da moto e foi até a porta. Subiu os dois degraus e deslizou para dentro em pés silenciosos.
Não havia ninguém na área que ela recebia os clientes. Divine andou um pouco mais, alcançou a cortina que dividia as áreas do seu trailer e puxou-a para o lado o suficiente para espiar, mas não havia ninguém na salinha de estar ou na cozinha. Ela não ficou muito surpresa. A pequena garagem onde mantinha sua moto estava fora do trailer. Respirando lentamente, tentando se acalmar, se moveu pela sala, alcançou a pequena porta sanfonada do quarto, mas parou quando um farfalhar soou atrás dela. Antes que pudesse se virar, a dor explodiu dentro de sua cabeça e então as luzes se apagaram.
Capítulo 4
Marcus se moveu para o lado para evitar um grupo de jovens carnies a caminho dos alojamentos. Eles obviamente estavam comemorando o final do primeiro dia em uma nova cidade. Todos os últimos pareciam ter três velas ao vento9. Deviam estar bebendo desde de que o Parque foi fechado. Mas então, não era como se tivessem outro momento para relaxar. Já era meia-noite quando fecharam e a manhã chegava logo.
Com esse último pensamento em mente, Marcus acelerou os pés enquanto se dirigia para o trailer de Divine. Não só a mulher não lhe respondeu quando ele saiu da moto e a perguntou se ela estava indo para o trailer de Madge, mas estava com tanta pressa para se ver livre dele que esqueceu de pegar de volta o capacete. O que era bastante desanimador, se pensasse bem nisso, porque enquanto ela parecia ansiosa para escapar de sua companhia, seus sentimentos eram exatamente o oposto. Marcus gostou do passeio ao restaurante, por mais curto que tivesse sido. Ele gostou de bater boca com ela, mas tinha gostado ainda mais de ter indo ao restaurante e voltar, com as mãos sobre ela, o peito pressionando contra as costas dela. Foi uma experiência revigorante.
— Ei, Marco!
Virando a cabeça, ele olhou silenciosamente para o homem se aproximando. Tão alto quanto ele, e quase tão largo, Chapman era o dono do Tilt-A-Whirl10 que Marcus ajudara a montar depois que tinha sido contratado, naquele dia, assim como ajudou também na barraca de corn dog o resto do dia com o Kevin. Tecnicamente, Chapman era seu chefe, embora Bob Hoskins, o dono do parque é que realmente o contratou. Marcus achou um pouco estranho que Hoskins insistisse em contratar todos os funcionários, inclusive aqueles que trabalhariam com os proprietários independentes de brinquedos. Pelo menos tinha achado estranho até que leu a mente do homem. Parecia que um morador local que haviam contratado para trabalhar no parque em uma das cidades, há cerca de três anos, gostava um pouco demais de crianças. Ele havia atraído uma garotinha para longe da área do Parque, levando-a para os trailers de beliches, enquanto sua mãe estava distraída. Geralmente a área dos trailers era abandonada durante o dia. Felizmente, naquele dia uma carnie em tempo integral tinha voltado ao seu próprio beliche em seu intervalo para pegar alguma coisa e viu o homem conduzindo a menina em um dos beliches. Ela interveio.
Infelizmente, ela não levou a criança de volta a área do parque a tempo que a mãe não notasse a garota desaparecida e fizesse uma confusão. A polícia tinha sido chamada e, embora fosse uma carnie que resgatou a menina e o abusador fosse um morador local trabalhando temporariamente, o Parque levou a pior. A manchete tinha sido ‘Trabalhador do Parque sequestra criança, moradora da cidade’ e não ‘Um morador local, contratado temporariamente pelo Parque sequestra criança da cidade.’
Aparentemente, a assistência social caiu em cima deles, e Bob Hoskins e sua esposa, Madge, quase tinham falido antes que o negócio se recuperasse lentamente. Foi então que Bob Hoskins insistiu que a partir daquele momento assumiria todas as contratações. Foi também pouco depois disso que Madame Divine se juntou à sua tropa e ofereceu-lhe ajuda para investigar as pessoas que se candidatavam. Ela aparentemente havia também eliminado alguns funcionários de tempo integral que já trabalhavam no Parque, avisando a Bob e Madge qualquer comportamento inadequado e desonesto por parte deles. Foi aí que começou a participar de todas as entrevistas e Bob Hoskins tomava suas decisões com base na opinião de Divine Pelo menos ela fez isso até a manhã em que Marco foi contratado. De acordo com os pensamentos de Bob, os negócios pessoais de Divine a fizeram sair pouco depois que chegaram a área que instalaram o Parque, às 4 da manhã. Ela disse que esperava estar de volta no momento em que Bob começasse as entrevistas, mas ela não voltou.
Bob relutantemente começou a entrevistar, eliminando aqueles que tinham na cara um óbvio ‘não contrate’ e pedindo aos outros que voltassem para uma segunda entrevista quando Divine retornasse.
Pelo menos essa tinha sido sua intenção. No entanto, Marcus não queria que a mulher que suspeitava que fosse Basha Argeneau lesse seus pensamentos e descobrisse que ele estava lá tentando encontrar a renegada que procurava. Então entrou na mente do homem, colocou o pensamento rebelde de que não precisava da ajuda de Divine, de que ele estava nesse negócio há anos e sabia muito bem distinguir as pessoas que prestavam e que não prestavam. Afinal de contas, não foi ele que contratou o homem que havia sequestrado aquela garota, poderia muito bem decidir ... pelo menos no caso de Marcus.
Madge Hoskins tinha ficado um pouco surpresa com a decisão de seu marido de contratar Marcus sem que Divine o visse primeiro, mas uma pequena cutucada de Marcus na sua mente a ajudou a aceitar e ela preencheu a papelada do contrato dele quando Bob o entregou para ela. De acordo com o que Marcus tinha lido da mente de Madge esta noite antes de Divine aparecer, Divine não tinha dito nada a Bob sobre a contratação de Marcus. Mas ela não tinha tido muita chance para isso. Ela retornou de seu negócio pessoal assim que o Parque abriu seu portão e correu até seu trailer para mudar sua plaqueta de sinalização para ‘aberta’. Além de duas ou três pausas, que foi quando ela ficou sabendo sobre Marco, praticamente trabalhou direto, exceto por aqueles poucos minutos quando o Senhor-matar-minha-esposa-por-causa-do-seguro-assim-posso-fugir-com-minha-secretária tinha a atacado.
— Terra para Marco? Você ouviu uma maldita palavra do que eu disse?
Marcus piscou quando a mão de Chapman acenou na frente de seu rosto e então fez uma careta e balançou a cabeça com pesar. — Desculpa. Acho que estou um pouco cansado.
— Tenho certeza. Parecia que você estava dormindo em pé, —disse Chapman divertido, depois deu de ombros e disse, compreensivo: — Trabalhamos um dia longo. Pode levar algum tempo para se acostumar.
— Sim. Posso imaginar, —Marcus murmurou.
— Por que você não dorme um pouco? Precisamos verificar o brinquedo antes de abrirmos amanhã, e eu estava pensando que você pode ser melhor aproveitado dirigido o Tilt-A-Whirl amanhã, ao invés da barraca de corn dog.
Marcus ergueu as sobrancelhas. — Não é o trabalho de Stan?
— Sim, bem, acabei de receber uma ligação. Stan ficou turbulento na cidade e está na cadeia. Não tenho certeza de quando eles vão deixá-lo sair, —Chapman disse sombriamente, e correu uma mão cansada pelo cabelo ralo. Deixando a mão cair de volta para o lado, ele balançou a cabeça. — Eu não sei a história toda ainda, mas Stan é um bêbado agressivo. Parece que agrediu a pessoa errada, o filho do prefeito ou algo assim. Se foi, capaz de passar um dia ou dois preso e isso me deixa na mão. Uma das garotas vai ficar com o carrinho de corn dog para que você possa me ajudar no Tilter amanhã. Vou treiná-lo antes de abrirmos. —Ele sorriu ironicamente. — Você parece inteligente suficiente para aprender, o que é uma bênção. Normalmente, os greenies que contratamos são estúpidos, preguiçosos ou lentos, e você não é nada disso. Não deve ter nenhum problema com o Tilt-A-Whirl. Agora vá dormir um pouco.
Marcus assentiu, mas o homem já estava indo embora, sua mente, sem dúvida, pensando no próximo problema. Chapman nem mesmo perguntou se Marcus aceitaria, já foi logo dizendo como seria. Ele parecia ser uma pessoa de personalidade do tipo A11, sempre sob estresse. Marcus calculou que o homem, que aparentemente tinha cinquenta anos, não faria sessenta, que era a idade que ele já parecia. Esse pensamento fez Marcus dar uma olhada no estacionamento dos fundos, observando as pessoas fazendo o seu caminho aqui ou ali. Notou que a maioria das pessoas aqui parecia mais velha do que eram, tanto homens como mulheres. Se parecessem cinquenta, provavelmente tinham quarenta. Essa vida parecia difícil para todos, mas eram pessoas interessantes, pensou, enquanto se dirigia para o trailer de Divine.
Caminhou entre o trailer e a cerca ao redor do Tilt-A-Whirl e notou que sua moto não estava à vista.
A pequena garagem estava fechada. Ela já deve ter guardado a moto, —ele pensou quando chegou e subiu as escadas para bater em sua porta.
Se virou para olhar o pátio do parque enquanto esperava que ela respondesse. Era estranho vê-lo tão vazio e silencioso. Era como uma cidade fantasma, os vários brinquedos e barracas apenas sombras escuras contra o céu noturno. Era meio assustador, na verdade. Se virou para bater na porta novamente, mas parou quando notou que não havia luz aparecendo na janela na parte superior da porta.
Franzindo a testa, recuou os degraus, foi para o lado e olhou ao longo do trailer. Não havia luzes em nenhuma das janelas. A mulher não tinha tido tempo suficiente para voltar, guardar a moto e já está dormindo. Imaginou que ela também poderia não ter chegado ainda. Talvez tenha voltado para o trailer de Madge, ele pensou, e decidiu vagar até lá e descobrir.
O som de vozes elevadas acordou Divine e ela abriu os olhos, mas imediatamente fechou-os novamente quando a dor passou por suas pupilas e em sua cabeça latejante. Deus querido, parecia que alguém usou uma serra em seu crânio.
Por um momento, estava tão presa na dor esmagadora que Divine não prestou atenção aos gritos da sala. Depois de um momento, porém, a dor diminuiu um pouco. Ainda estava lá, mas uma dor latejante e insistente que ela podia suportar se não se movesse, abrisse os olhos ou respirasse com muita força. Deitada completamente imóvel e respirando superficialmente, esperou que a agonia desaparecesse e lentamente se tornou consciente do que estava sendo dito.
... — Seja razoável. Quando os meninos disseram que ela estava brincando com o espião de Argeneau, eu tive que ordenar que eles a trouxessem.
— Ela não estava brincando com ele, Abby, —uma voz que ela reconheceu como seu filho Damian, disse, fúria em seu tom. — Ela estava procurando por alguns amigos mortais com ele. Ela não o queria junto, e nem sabe quem ele é! Você mesmo me disse isso.
— Sim, mas eu só sei disso porque eu a li, —a primeira voz masculina argumentou. Abaddon, pensou Divine enquanto o homem continuava: — Os meninos não podem lê-la, eles são jovens demais. Eu sou o único que pode ler sua mãe.
— Então você disse a eles para esmagar seu crânio e arrastá-la para cá? —Damian perguntou com desgosto.
— Eu disse a eles para derrubá-la e trazê-la, —ele corrigiu calmamente. — Eles foram um pouco ... entusiasmados em seus esforços.
— Eles bateram em seu crânio, Abby!
— Eles estavam com medo dela, então bateram com um pouco mais de força do que o necessário, —o homem disse suavemente.
— Um pouco mais de força? —Damian deu um suspiro de desgosto. — Foi preciso drenar o sangue de três garotas para a curar. Agora temos que encontrar outras pessoas. —Houve uma pausa e então ele perguntou: — Que garotos você deu a ordem? Quero que sejam punidos.
— Eu os enviei para conseguir mais garotas. Vai ficar tudo bem. Deixe-me lidar com isso, —insistiu Abaddon.
— Como você vai lidar com isso? —Damian perguntou bruscamente. Ele então rosnou: — O que diabos eles estavam fazendo espionando ela sem a minha permissão? Eu não vou ter você e os meninos fazendo coisas pelas minhas costas.
— Você parecia que estava gostando de ser entretido pela loirinha. Eu não queria interromper e incomodá-lo com isso, então decidi enviar alguns rapazes para vigiar Basha. Estava preocupado, —acrescentou ele rapidamente. — Com Lucian enviando espiões para procurá-la, achei melhor ter certeza de que havia alguém por perto para ajudar se ela se metesse em confusão.
— Arrastá-la de volta aqui meio morta não a ajudou.
— Ela é imortal, —Abaddon lembrou pacientemente. — Não estava nem perto da morte. Ficará bem.
— Não graças a você.
Um longo suspiro soou, e então Abaddon insistiu: — Venha, você esteve com ela a noite toda. Você deveria descansar.
— Eu tenho ficado acordado a noite toda com ela por causa de você, —disse Damian ressentidamente, sua voz se afastando.
— Sim, e eu sinto muito por isso, —disse Abaddon, sua voz ficando mais fraca quando os dois homens aparentemente saíram da sala. — Mas pelo menos sabemos que ela não está em conluio com eles.
— Ela é minha mãe, Abby. Nunca iria agir contra mim.
— Não tenho tanta certeza. Se ela descobrir ...
O que veio depois disso foi muito baixo para Divine ouvir. Ela instintivamente abriu os olhos e virou a cabeça em um esforço para ser capaz de ouvi-los novamente, mas no instante em que fez, agonia disparou através de seu crânio mais uma vez e desta vez, trouxe a inconsciência com ela.
— Bom dia, Marco.
Marcus olhou para cima do painel do Tilt-A-Whirl e ofereceu um sorriso de saudação a Madge quando ela se aproximou. Ele tinha ido ao trailer dos Hoskins na noite passada depois de achar estranho o trailer escuro e silencioso de Divine, mas Divine não estava lá. Ainda assim, Bob e Madge estavam acordados e ele conversou com eles por uma boa hora antes de voltar ao seu SUV e ir para um motel próximo dormir um pouco antes de voltar ao Parque hoje.
Ele gostava dos Hoskins e obviamente eles gostavam de Divine. Não só tinham falado nela enquanto conversavam com ele, mas também os liam em seus pensamentos. O casal não tinha filhos e tendia a adotar não oficialmente os membros mais jovens de seu Parque. Divine era um daqueles que eles consideravam família. Se eles tivessem uma filha, ficariam orgulhosos se ela fosse como a Divine.
Enquanto o casal lhe dissera pelo menos cem boas ações que Divine havia realizado, e tantos traços de personalidade positivos que ela possuía, Marcus não tinha descoberto nada sobre o passado de Divine. Ela aparentemente não compartilhava muito disso, e eles, como a maioria dos carnies, não bisbilhotavam. Mas o que eles sabiam sobre ela dos últimos dois anos era suficiente para impressioná-los. Ela não bebia, não usava drogas, não roubava. Sempre quieta, fazia seu trabalho e estava sempre disponível para ajudar.
De acordo com os pensamentos do casal mais velho, Divine poderia parecer à primeira vista uma pessoa difícil, mas uma vez que você estava perto dela por um tempo, ficava claro que era atenciosa e gentil. Havia pouco serviço na preparação do espaço em que ela recebia os seus clientes no seu trailer, então estava sempre ajudando os outros a montar e derrubar suas próprias barracas ou brinquedos. Ajudava com as contratações, como ele descobriu mais cedo, mas também era rápida e útil para fazer qualquer outro trabalho que precisasse ao redor. Bob não achava que houvesse algo que ela não pudesse consertar. ‘A moça é afiada como um chicote’, conseguia lidar com facilidade com contas. Era como se ela estivesse no negócio há muito mais tempo do que seus anos poderiam permitir.
Esse pensamento fez Marcus sorrir. Divine poderia parecer com vinte e cinco, mas ela era imortal e, embora ele não soubesse exatamente a idade dela, poderia estar ‘no negócio’ desde a época do primeiro Parque. Isso explicaria o conhecimento e a habilidade que tanto surpreendiam os mortais daqui.
— O que diabos você fez a nossa pobre Divine quando vocês dois estavam fora ontem à noite? —Madge perguntou e ele voltou a sua atenção para o fato de que a mulher mais velha tinha perguntado algo e que, enquanto ela sorria, havia preocupação em seus olhos também.
— O que você quer dizer? —Ele perguntou surpreso.
— Bem, ela geralmente acorda com os pássaros. Juro que a garota não dorme mais do que algumas horas por noite. Mas até onde eu sei, ela ainda nem está acordada. Nós abrimos em meia hora, mas o trailer dela está fechado, o letreiro dela não está fora, e eu bati e não obtive resposta.
Marcus franziu a testa e olhou para o trailer de Divine.
— Talvez ela tenha acordado e saiu ou algo assim, —Madge murmurou, olhando para o trailer também. — Embora eu não saiba onde ela teria ido. Sendo alérgica ao sol como você, geralmente fica perto do trailer quando não está ajudando alguém.
O pensamento aparentemente a lembrou de uma preocupação que ela tinha por ele, e ela olhou para o toldo que havia sido colocado sobre os controles do Tilt-A-Whirl e acenou com satisfação. — Estou feliz por Chapman ouvir e preparar isso para você. Bob avisou que ele poderia te perder se tentasse fazer você trabalhar ao sol.
— Obrigado, —Marcus murmurou. Tinha sido uma preocupação dele quando Chapman mencionara tê-lo executando no Tilt-A-Whirl. Certo, tudo bem, sua cabeça estava muito embrulhada em pensamentos de Divine para se preocupar com esse detalhe na noite passada, mas definitivamente estava em sua mente quando ele saiu para o SUV naquela manhã. Mesmo cedo do dia o sol já estava fora e batendo seu calor na terra. Ele tinha ficado feliz em chegar e descobrir que Chapman tinha montado o toldo para ele.
— Você a viu hoje de manhã?
Retornando ao assunto em questão, Marcus balançou a cabeça devagar e depois sugeriu: — Talvez ela tivesse que ter indo para a cidade atrás de alguma coisa.
— Isso é possível, —Madge disse com um suspiro. — É raro, mas às vezes ela vai à cidade em busca de ervas e coisas para esses remédios naturais dela.
Marcus hesitou. Isso era outra coisa que ele aprendeu na noite passada. A Divine estava sempre oferecendo remédios naturais para os outros carnies quando adoeciam, o que era muito apreciado, já que a maioria não podia pagar pelos cuidados de saúde adequados. Às vezes, porém, ela até parecia descobrir que eles estavam doentes antes do indivíduo, e todos tinham aprendido a leva-la a sério quando ela dizia a alguém que precisava cuidar da saúde. Todos os carnie gostavam, ou pelo menos respeitavam a sua opinião.
— Isso é provavelmente o que aconteceu, então, —disse Marcus para acalmar a preocupação da mulher.
— Sim, —Madge concordou, relaxando um pouco. — Ela provavelmente voltará em sua moto pouco antes dos portões se abrirem.
Marcus apenas balançou a cabeça, seu olhar passando pelo trailer novamente.
— Falando nisso, acho melhor chegar ao portão e ajudar as bilheterias a se prepararem. —Ela se virou, acrescentando: — Você vem para o nosso trailer depois de fechar hoje à noite e eu vou te alimentar. Precisamos manter sua força. Bob jura que você trabalha mais que três homens juntos aqui.
— Obrigado, —Marcus murmurou, mas seu olhar ainda estava no trailer, e depois que ela saiu, ele se afastou do painel de controle do Tilt-A-Whirl e se dirigiu para o veículo. Ele bateu uma vez ao alcançar a porta, esperou a contagem de dez, e quando não houve nenhum som de movimento de dentro, tentou a maçaneta da porta. Não estava bloqueada. Marcus hesitou, olhou ao redor para ter certeza de que ninguém estava prestando atenção, e então deslizou rapidamente para dentro.
— Olá? —Ele chamou enquanto esperava que seus olhos se ajustassem. Com as cortinas fechadas, não havia luz no quarto, mas ele tinha uma boa visão noturna, assim como todos os imortais, e depois de um momento entrou em ação e olhou ao redor da pequena sala de consulta que Divine tinha montado. Tudo estava parado e quieto e aparentemente em seu lugar, então ele se moveu para a cortina, puxou-a para o lado, e olhou ao redor da área da sala de estar e cozinha enquanto continuava a andar mais para dentro.
Marcus estava talvez na metade do quarto quando notou o sangue na parede ao lado da porta. Seguindo os riscos, e viu que eles terminavam em uma poça alarmantemente grande no chão. Apressando-se para frente agora, ele se ajoelhou e tocou a poça. O sangue estava secando, mas a poça era profunda o suficiente, ainda estava molhada no meio. Por seu palpite, o que aconteceu tinha sido horas atrás ... e era sangue imortal. Ele poderia dizer isso imediatamente.
Amaldiçoando, se endireitou e voltou para o lado de fora para verificar a pequena garagem lateral onde a moto era guardada. Ele estava assistindo Divine na noite anterior, quando ela digitou o código para abri-lo e copiou suas ações agora. Quando a garagem se abriu, estava vazia. Nenhuma moto e nenhum capacete. Marcus fechou a garagem e voltou para continuar sua busca dentro do trailer.
Capítulo 5
O farfalhar de roupas acordou Divine e, em seguida, ela piscou os olhos abrindo-os com surpresa quando um pano frio foi colocado em sua testa. Se viu olhando para o rosto magro do filho. Meio escondido por fios de seus longos cabelos, tornando sua expressão inescrutável.
— Você acordou. Como se sente? —Damian perguntou, sentando na beira do colchão em que ela estava deitada.
Divine olhou para ele sem expressão, confusão em seus pensamentos. — Damian? O que você está fazendo aqui?
— Você não se lembra?
Divine tirou os olhos de seu filho com essa pergunta e olhou fixamente com desagrado o homem de cabelos escuros que acabara de falar. Ela não conseguiu evitar a carranca que reclamava seus lábios. — Abaddon.
— Basha, —ele cumprimentou com um sorriso condescendente, e raiva chicoteou através dela como uma cobra.
— Eu não respondo a esse nome, Abaddon, e você sabe muito bem disso. Meu nome é Divine e tem sido por um bom século. Você deveria já ter se acostumado a ele.
— Você pode se chamar do que quiser, mas em seu coração você sempre será Basha, —disse Abaddon com um encolher de ombros.
Isso só a deixou furiosa, talvez porque em seu coração ela soubesse que era verdade. Podia dar a si mesma qualquer nome que desejasse, mas sempre seria Basha, filha de Felix e Tisiphone, neta de Alexandria e Ramsés e sobrinha do grande e poderoso Lucian Argeneau, um homem que costumava adorar, mas que aprendera a temer. Em seu coração, ela ainda era Basha, mas estava se esforçando para não ser, e odiava que a jovem que tinha sido há muito tempo ainda se agarrasse à mulher que se tornou.
Sabendo que ele podia e provavelmente estava lendo seus pensamentos, Divine voltou sua atenção para o quarto em que estava e clareou seus pensamentos. Notou o papel de parede rasgado e antigo e os pisos de madeira desgastados. Havia buracos nas paredes e um grande no chão, dizendo-lhe onde ela estava, o prédio abandonado na periferia da cidade em que seu filho se instalara para sua breve estada na Califórnia.
— Eu não sei por que você escolhe morar em lugares tão horríveis, Damian, —ela disse infeliz.
— Onde ele deveria viver? —Abaddon perguntou secamente. — Ele deveria fugir ou juntar-se ao Parque com você?
— Eu não fugi, —ela retrucou.
— Basha, minha querida, você está fugindo desde ...
— Saia daqui Abby, —Damian interrompeu. — Você está a perturbando.
Abaddon hesitou, mas depois assentiu obedientemente. — Como quiser.
— Eu não sei porque você permitiu ele em sua vida, —Divine rosnou enquanto observava o homem sair.
— Ele tem sua utilidade, —disse Damian suavemente.
— Ele é um animal como seu mestre foi antes dele, —retrucou Divine, e então se virou para o filho e disse com frustração: — Levei dez anos para nos afastar daquele homem e remover sua influência de sua vida, e então quando você fez dezoito anos e partiu sozinho, simplesmente o recebeu de volta como um tio há muito tempo perdido.
— Você realmente quer discutir sobre isso de novo? Agora? —Damian perguntou.
Suspirando, Divine balançou a cabeça e fechou os olhos brevemente. Ela desistiu de discutir sobre Abaddon há dois milênios e meio ... depois de mais de duzentos anos de tentativas inúteis de tirar Damian do homem, ela reconheceu que era a vida dele, que ele poderia fazer o que quisesse com ela e se relacionar com quem quisesse. Foi também quando ela começou a passar menos tempo ao redor do filho, levando sua própria vida e deixando-o para liderar a dele.
— Eu não quero discutir, Damian, —ela disse finalmente, — Mas ele ...
— Salvou sua vida, —ele interrompeu e, em seguida, acrescentou educadamente: — Novamente. Certamente você pode lhe dar algum crédito?
— Ele salvou minha vida? —Perguntou Divine franzindo o cenho, agora tentando entender as memórias dela para descobrir como tinha chegado ali. Lembrou-se de voltar da cidade, deixando Marco pelos alojamentos, voltando para seu trailer com a intenção de guardar a moto e ... ouviu um barulho vindo do trailer, recordou Divine. Ela entrou para investigar e ... ergueu a mão para sentir a cabeça quando se lembrou da dor que a atravessava.
— Abby estava preocupado com este negócio de Lucian enviando espiões para procurar por você.
Divine piscou suas memórias e olhou para o filho quando ele disse isso. Ela descobriu que ele estava ao redor e decidiu fazer-lhe uma visita aqui, no dia anterior. Divine tinha ficado surpresa ao saber, quando chegou na cidade com o Parque, que Damian estava na área. Ainda mais surpreendente era que ele queria vê-la. Eram muito próximos quando ele era um menino, mas enquanto crescia ficaram cada vez mais distante até que ela raramente o via ... a menos que ele precisasse de alguma coisa. Desta vez ele queria vê-la para avisá-la. Damian ficou sabendo que seu tio Lucian não estava apenas procurando por ele. Lucian havia enviado espiões a sua procura e de alguma maneira descobriu onde ela vivia.
O palpite era que o filho de Damian, Ernie, o revelara quando foi pego e arrastado a frente do Conselho.
O pequeno tolo, pensou Divine com um suspiro. Ela cuidou de Ernie para Damian, pelo menos nos primeiros cinco anos. O menino imortal tinha sido uma criança doce, mas de alguma forma se tornara um adulto fraco e às vezes tolo. Ele sempre parecia estar tentando provar alguma coisa para seu pai e, aparentemente, havia ido para o norte, para o Canadá, com um esquema desmiolado de fazer algumas ‘bravuras’ para ganhar o respeito de seu pai.
O pequeno idiota tinha feito tudo errado embora. Ele sequestrou alguém ligado à família Argeneau, sabia Deus com que propósito, e então foi pego e executado por seus esquemas. Se algo podia ficar pior, Ernie foi capaz disso.
Lucian começara a procurar por Damian ... e agora sabia que por ela também. Sabendo disso, Divine tinha suspeitado que Marco poderia ser um espião, mas não teve a chance de descobrir com certeza ou fazer algo sobre isso.
— Abby estava preocupado com você sozinha no Parque, então ele enviou alguns dos meninos para verificar e ter certeza que você estava bem, —Damian continuou capturando sua atenção novamente. — Eles encontraram você inconsciente em seu trailer, com uma ferida na cabeça, e trouxeram para cá. Você está em casa.
Divine apenas assentiu. Ela já havia vivido dessa maneira e o conhecimento disso era deprimente. Odiava que seu filho tivesse que viver assim, sempre em movimento, sempre se escondendo, tentando fugir de sua família. Ambos faziam, mas ela pelo menos tinha o Parque e seu trailer. Damian se recusava a se estabelecer em uma vida mais segura e preferia evitar mortais e imortais completamente, se contentando com casas abandonadas e prédios abandonados. Ele não tinha uma casa real e nunca teve, realmente. Sempre estavam correndo ... por causa de sua maldita família.
— Abby tem algumas suspeitas sobre quem te derrubou.
Divine olhou para ele. — Ele tem?
Damian assentiu. — Um dos espiões de Lucian está trabalhando no seu Parque.
— O que? —Ela perguntou com surpresa, e então seus olhos se arregalaram quando ele mencionou o Parque e se recordou de suas responsabilidades.
Sentando-se, tirou as pernas da cama. — Que horas são? Há quanto tempo estou aqui?
— Mãe, deite-se. Você levou um duro golpe na cabeça. Um pequeno descanso ...
— Estou curada, —resmungou Divine, e olhou para o relógio de pulso. Querido Deus, era quase meio-dia. O Parque estaria abrindo em breve e ela deveria estar lá. Sábados eles abriam às 10 da manhã, mas nos dias úteis e domingos eles não abriam até o meio dia. O movimento era muito devagar nesses dias, não valia a pena abrir tão cedo. Mas mesmo quando não abriam meio dia, eles acordavam cedo, limpava a área da noite anterior e verificavam se tudo estava funcionando e pronto para o dia agitado à frente. Ela tinha sentido falta de ajudar com isso, mas absolutamente não podia deixar de abrir. — Eu tenho que voltar.
— Mãe, —disse Damian com exasperação quando ela se levantou e olhou para sua blusa manchada de sangue. Parecia que trabalhava na casa assombrada em vez de seu próprio show de adivinhação.
— Como está sua cabeça? —Ele perguntou, pegando o braço dela e chamando sua atenção para longe da sua blusa manchada.
— Estou bem, —ela assegurou. — Me curo rapidamente, todos nós, e eu tenho que voltar. Abrimos ao meio-dia.
— Sim, mas eu não acho que você deva voltar, —ele protestou. — Você não está segura lá. Um dos espiões de Lucian se juntou ao seu Parque. Ele deve suspeitar de você e achamos que foi ele que te machucou. Se os meninos não tivessem te encontrado ...
Divine parou para encará-lo enquanto suas palavras despertavam uma lembrança em sua cabeça. ‘...Quando os meninos disseram que ela estava brincando com o espião de Argeneau, eu tive que ordenar que eles a trouxessem’... as palavras passaram por sua cabeça no que ela achava que era a voz de Abaddon.
— Você percebe que não pode voltar para lá, não é? —Damian perguntou.
Divine virou olhos solenes para seu filho. — Os garotos me acharam?
— Sim. Nós achamos que foi esse cara, Marco, que bateu em você. Ele é um dos homens que Lucian enviou para procura-la.
— Marco? —Divine perguntou com surpresa, embora supôs que ela não deveria estar surpresa. Já sabia que ele era um imortal.
— Felizmente, a chegada dos garotos deve tê-lo assustado, —Damian continuou. — Eles encontraram você e a trouxeram para cá, assim pôde curar. Eu tenho te dado sangue a noite toda. O pior da cura provavelmente já passou, mas sem dúvida você precisará de mais sangue por um tempo quando terminar.
Divine olhou para ele, outras palavras brincando em sua cabeça.
‘... Então você disse a eles para esmagar seu crânio e arrastá-la para cá.’
‘... Eu disse a eles para derrubá-la e trazê-la ... Eles foram um pouco ... entusiasmados em seus esforços.’
‘... Eles bateram em seu crânio, Abby!’
‘... Eles estavam com medo dela, então bateram com um pouco mais de força do que o necessário ...’
‘... Um pouco mais de força? ... foi preciso drenar o sangue de três garotas para a curar. Agora temos que encontrar outras pessoas ...’
‘... Que garotos você deu a ordem? Quero que sejam punidos.’
— Mãe?
Divine forçou sua atenção da conversa repetindo em sua cabeça e olhou para seu filho. Ele estava franzindo a testa com preocupação.
— Talvez você devesse se sentar, —disse Damian. — Você ficou pálida.
Divine respirou fundo e se virou para ir em direção à porta, em vez de olhar para ele. Seu filho estava mentindo para ela. — Eu tenho que voltar.
— Mãe ...
— Agora que eu sei que Marco é um espião, posso ficar de olho nele, —disse calmamente. — Mas eu tenho que voltar. Meu trailer está lá.
Parando na porta, ela se virou. — Ainda está lá?
— Sim. Os garotos trouxeram sua moto para cá, mas deixaram o trailer, —ele assegurou a ela, e então acrescentou rapidamente, — Mas nós podemos mandar um deles pegá-lo para você. Não há necessidade de você voltar.
— Claro que há. Se eu simplesmente desaparecer, saberão que sou a mulher que estão procurando, —argumentou. — Além disso, é sempre melhor aprender o que você pode sobre o seu inimigo. Posso descobrir exatamente o que Lucian sabe se eu voltar.
Divine não esperou que ele respondesse, mas se virou e abriu a porta e saiu apressada. O corredor estava vazio, assim como a sala da frente quando ela chegou, e Divine supôs que todos estavam dormindo agora. Eles tendiam a ser corujas da noite. Enquanto ela estava feliz por Abaddon não estar por perto para ler seus pensamentos caóticos naquele momento, teria gostado de encontrar pelo menos dois garotos. Uma pressão mais ameaçadora em um deles teria lhe dado a verdade de quem tinha batido na sua cabeça na noite passada ... e provavelmente era por isso que eles não estavam por perto no momento. Damian obviamente não queria que ela soubesse que Abaddon tinha colocado seus próprios netos para atacá-la.
Divine viu sua moto no momento em que saiu para a varanda da casa em ruínas. Seria bom ir embora sem encontrar Abaddon. Suspeitava que se ele a lesse e descobrisse que ela sabia que Damian estava mentindo, ficaria presa por um tempo discutindo com o filho ou chutando seu traseiro, e ela realmente não tinha tempo para nenhum dos dois.
— Tudo bem, tudo bem, pode voltar, —disse Damian enquanto ela puxava o capacete.
Divine conseguiu não sorrir ao seu tom. Ele dizia isso como se estivesse lhe dando permissão. Ela era a mãe aqui, por piedade.
Iria quando e onde quisesse, e sempre foi assim ... e ela lidaria com ele e sua mentira no tempo certo também.
— Mas tenha cuidado. Marcus Notte pode não ser o único espião que Lucian tem lá.
Divine tinha acabado de puxar o capacete, mas fez uma pausa olhando para ele com uma carranca no rosto. — Marcus Notte?
— Aquele cara, Marco, no Parque é Marcus Notte. Os Nottes estão unidos aos Argeneaus agora. Marguerite é casada com Julius Notte e Christian é seu filho. Ele e seus primos estão passando cada vez mais tempo com o Argeneaus no Canadá. Estão ficando mais próximos. Na verdade, se você encontrar um Notte, pode pensar nele como um Argeneau.
Divine digeriu esta notícia, ciente da decepção que a beliscou com a notícia de que Marco era realmente Marcus Notte, um espião do seu tio Lucian. Suspirando, balançou a cabeça, olhou para o filho e perguntou lentamente: — De onde você tirou toda essa informação?
— Abaddon tem espiões em todos os lugares, —disse Damian com um sorriso. — Como você acha que consegui evitar a família Argeneau todos esses anos?
A culpa habitual deslizou através de Divine na lembrança de que sua própria família estava caçando seu filho, que ele tinha sido forçado a viver da maneira que vivia por causa deles. Apertando os lábios, Divine apenas balançou a cabeça, colocou o capacete e montou sua moto. As chaves estavam na ignição e ela ligou o motor, depois olhou para o filho e abriu os braços quando ele se aproximou para um abraço.
— Tenha cuidado, —ele aconselhou antes de recuar, e Divine forçou um sorriso e acenou com a cabeça, em seguida, colocou a moto em movimento. Sua mente era um turbilhão de confusão enquanto se afastava indo embora. Seu cérebro ainda estava se recuperando do ataque que aparentemente havia quebrado seu crânio, e a memória estava voltando rapidamente, incluindo a conversa que ouviu ao acordar pela primeira vez. Quanto mais se lembrava disso, mais perguntas surgiam em sua mente. Havia certas frases-chaves que a incomodavam.
‘... Eles estavam com medo dela, então bateram com um pouco mais de força do que o necessário.’
A parte sobre os garotos terem medo dela não a surpreendia muito. Ela teve que dar-lhes algumas lições recentemente quando os garotos fizeram coisas estúpidas como assumir muitos riscos e chamar atenção para si mesmos. Pelo que entendeu, foram alguns garotos agindo e sendo pegos pelo Argeneaus que forçaram Damian a tentar resgatá-los, quase o pegando também.
Foi Abaddon quem a chamou dizendo que Damian precisava dela. O homem tinha sido muito vago sobre o que os meninos estavam fazendo para chamar atenção para si mesmos, mas Divine não se preocupou muito com isso na época. Ela era mãe. Correu para o norte para salvar seu bebê e se preocupou com o resto depois. Mas depois, ninguém explicou o que aconteceu exatamente.
Todos eles tinham apenas insistido em dizer que só tinham agido estupidamente, e nenhuma quantidade de ameaça da parte dela os fizeram falar.
Era uma grande frustração para Divine que não pudesse ler seu filho ou netos. Não sabia por qual motivo isso acontecia. Sua própria mãe tinha sido capaz de lê-la. A única coisa que conseguia pensar era que eles não eram mais apenas imortais. E de alguma forma, isso impediu sua capacidade de lê-los.
Divine suspirou. Seu filho sendo um Sem Presas não tinha sido o primeiro golpe que a vida tinha jogado nele, mas era um dos grandes. Ela não sabia por que, mas alguns imortais nunca desenvolveram as presas que os outros tinham. Isso significava que ele tinha que cortar suas vítimas para obter o sangue que precisava para sobreviver. A maioria dos filhos de Damian era do mesmo jeito e enquanto Divine tinha sido capaz de ler cada um deles quando crianças, uma vez que atingiram a puberdade, ela perdeu a habilidade. Isso a fazia pensar que a falta de presas não era a única diferença neles.
Divine franziu a testa sobre isso, e então voltou sua atenção para outra coisa que a incomodava sobre a conversa que ela ouviu.
‘... Um pouco mais de força?’
‘... Foi preciso drenar o sangue de três garotas para a curar. Agora temos que encontrar outras pessoas.’
‘... Que garotos você deu a ordem? Quero que sejam punidos.’
Essa parte da conversa a incomodou por dois motivos. Primeiro ‘drenar o sangue de três garotas’ a fazia pensar ... Bem, francamente, parecia que ele queria dizer que aquelas garotas tinham morrido. Tinha que estar errada sobre isso. Ela criou Damian, certo?
Alimentava-se apenas quando precisava, quando queria, e nunca até o ponto da morte. O ensinou isso desde cedo. Foi como ela foi criada e como ela o criou.
Por mais preocupante que fosse, Divine estava mais preocupada com a resposta de Abaddon quando Damian disse que ela era sua mãe e nunca agiria contra ele.
‘... Não tenho tanta certeza. Se ela descobrir ...’
Descobri o que? Ela pensou. O que Damian poderia ter feito que a faria repensar seu amor e apoio a ele? Ela não sabia, mas as palavras de Abaddon sugeriram que poderia ter feito algo que causaria o seu afastamento, e o fato de que ele mentiu para ela sobre como tinha sido machucada era perturbador, assim como o fato de que ele foi tão convincente na mentira. Isso a fez pensar em quantas outras mentiras contou a ela no passado.
Divine passou por um outdoor promovendo a feira do condado de Kern, e sua mente se voltou para outra preocupação. Marco então seu nome era realmente Marcus Notte e ele era espião de Lucian Argeneau. Isso explicava porque estava no Parque. O homem não era desonesto, e a julgar pelas perguntas que ele fez na noite passada, ele suspeitava que ela era Basha, mas não tinha certeza. Isso era uma boa coisa, pelo menos.
Também achou que provavelmente era uma coisa boa que começou a pintar o cabelo há alguns anos atrás. Não que alguém provavelmente tivesse uma ideia clara de como ela se parecia, exceto talvez por seu tio e alguns dos outros imortais mais velhos que a conheciam quando ela era jovem.
Eles não tinham câmeras naquela época, nem retratos, então não teria uma imagem a não ser que Lucian tivesse arranjado uma daquelas imagens de retrato falado ou algo assim. Ele poderia muito bem ter feito isso, mas se tivesse, estaria dependendo de sua memória, o que era reconhecidamente boa. Ainda assim, ele não a via há mais de dois milênios. Isso foi há muito tempo. Além disso, qualquer esboço dela a mostraria como uma loira que ela atualmente não era. Começou a pintar o cabelo de ruivo antes de se juntar ao Parque de Hoskins e agora estava feliz por isso. Pode não despistar completamente de Marcus, mas ajudaria.
Divine passou um momento tentando descobrir o que fazer com ele. Primeiro ela pensou que evitá-lo seria melhor, mas isso parecia inútil. O homem não iria embora a menos que ela o convencesse de que não era Basha e ela não poderia fazer isso evitando-o. O problema é, sendo realmente Basha, como iria convencê-lo de que não era?
Nenhuma ideia veio à mente quando chegou ao Parque, e Divine decidiu que a melhor coisa que poderia fazer era agir naturalmente em torno dele. Se não agisse nervosa ou deixasse saber alguma coisa, ele poderia eventualmente decidir que ela não era a mulher que estava procurando. Além disso, talvez conversando com o homem como se ele fosse um amigo e não um inimigo, ela poderia descobrir o que os Argeneus sabia sobre ela e seu filho. Talvez até mesmo aquelas ações arriscadas que seu filho e seus netos fizeram quando teve que salvá-lo de seu tio ela pudesse descobrir.
Várias pessoas a saudaram enquanto passava pelos terrenos do Parque. Ela devolveu as saudações, mas não diminuiu o ritmo até chegar ao trailer. Fez um trabalho rápido de guardar a moto e o capacete e fechou o painel, depois se virou e se assustou, pulando para trás para não bater em Marcus.
— Como você está? —Ele perguntou.
Divine franziu a testa brevemente pela a preocupação em seu rosto. Era como se ele soubesse ... deixando o pensamento de lado, passou por ele, murmurando: — Estou bem.
— Há sangue em suas roupas e em seus cabelos.
Divine tinha esquecido sobre isto com tudo mais em sua mente. A parte de haver sangue em seu cabelo era novidade para ela. Ela levou as mãos instintivamente para sentir o lado de sua cabeça, apertou a boca enquanto sentia a camada crocante de sangue seco.
Ela não parou de andar e, enquanto subia os degraus até o trailer, repetiu: — Estou bem.
Quando entrou no trailer, Divine acendeu as luzes. Memórias da última vez em que entrou escorregaram em sua mente. Ela também se lembrou de ter sido atingida na cabeça do lado de fora da porta do quarto e se mudou para a próxima seção do trailer, acendendo a luz também. Não que precisasse da luz para ver o sangue seco na parede, porta e chão.
Divine respirou fundo enquanto olhava para o sangue, e então se moveu para o quarto indo buscar roupas frescas no armário. Se dirigiu para o chuveiro no banheiro pequeno. Não havia muito tempo para ficar pronta. Faltavam exatamente três minutos para o meio-dia quando entrou no chuveiro, dois minutos depois saiu e vestiu as roupas. Secou o cabelo com a toalha, soltou a toalha e colocou os fios úmidos em um rabo de cavalo enquanto caminhava de volta pelo trailer.
Pegando a plaquinha de aberta do seu lugar ao lado da porta enquanto saía, Divine a colocou no chão ao lado de seus degraus e então olhou para o relógio: 12:01. Um minuto atrasada. Não é ruim, decidiu, e olhou ao longo do meio da área do Parque observando que as pessoas estavam começando a entrar através do portão. Relaxando, voltou para a porta, seus olhos deslizando e parando em Marcus. Ele estava parado embaixo de um toldo nos controles do Tilt-A-Whirl, olhando para ela.
Divine terminou sua preparação, deixando a porta aberta para que ela pudesse ver quando o primeiro cliente chegasse. Então se acomodou na cadeira, de frente para a porta, esperando outro longo dia começar. Enquanto ontem estavam abertos do meio-dia à meia-noite, hoje era sexta-feira e estariam abertos até às 2 da manhã e, amanhã, estariam abertos a partir das 10 da manhã até à meia-noite. Domingo eles começavam ao meio-dia e fechavam às seis. Mesmo assim, seria um dia longo. Uma vez que os portões fossem fechados, eles começariam a desmontar. Empacotariam o Parque, o que levaria de quatro a seis horas, e então iriam para a próxima cidade em sua programação.
Divine não lembrava o nome da cidade, mas o que lembrava era que ficava a seis horas de carro de Bakersfield.
Mesmo assim, eles não descansariam, teriam que se preparar assim que chegassem lá. Se tivessem sorte, terminariam a tempo de dormir algumas horas antes de abrir, mas às vezes não dava tempo. Na verdade, muitas pessoas falavam mal dos carnies, mas eram algumas das pessoas mais trabalhadoras que já encontrara.
Seu olhar encontrou Marcus pela porta aberta. Ele ainda estava no painel, mas Chapman estava com ele agora, sem dúvida lhe dando instruções de última hora.
Divine mordeu o lábio. Ela tinha três dias para convencer Marcus de que ela não era Basha, ou suspeitava que ele os seguiria até a próxima cidade. Talvez precisasse inventar uma história falsa, uma história e uma explicação do por que ela estar no Parque. Poderia dizer que pertencia a uma família, embora isso seria fácil de verificar.
Outra opção, seria dizer que foi transformada por um ladino alguns séculos atrás e fugiu antes de fazer qualquer coisa.
Teria que nomear um ladino, e dar o nome de um imortal com uma data de nascimento a partir do momento em que aconteceu o fato ... as histórias sempre poderiam ser checadas.
Divine suspirou e esfregou uma mão ao lado de sua cabeça. Ainda estava latejando um pouco, o que significava que a cura estava ocorrendo. O maior dano foi resolvido, seu crânio foi consertado e recolocado no lugar e a maior parte de seu cérebro, obviamente, de volta as suas funções normais ou ela não estaria andando e falando. Agora, supunha que as pequenas artérias e pedaços de tecido e sinapses estavam sendo consertados. Seu corpo estaria usando sangue como louco para gerenciar a tarefa. Ela precisaria de sangue novamente em breve.
— Olá?
Divine olhou para a porta e ofereceu um sorriso de saudação. Seu primeiro cliente havia chegado.
Capítulo 6
— Você é uma estrela, garoto! —Chapman anunciou quando parou na Tilt-A-Whirl ao lado de Marcus. — Lidou com o Tilter como se trabalhasse com ele a anos. E lidou com as crianças como uma estrela pop também. Elas estavam comendo da sua mão. Nunca uma noite de sexta-feira passou sem algum tipo de empurra-empurra, guerrinhas, ou brigas tolas por garotas ou cortadores de fila. Sim senhor, garoto, você é uma estrela.
Marcus ficou em pé depois que recolheu os cones vazios de algodão doce e os copos de bebida descartáveis que haviam jogados descuidadamente ao redor do Tilt-A-Whirl e sorriu ironicamente para Chapman. Ele costumava ser chamado de garoto, filho ou jovem por pessoas na faixa dos 40 ou 50 anos. Não ficava mais surpreso com isso, mas ainda parecia que estava sendo chamado a atenção e isso o irritava um pouco. — Obrigado. Que bom que está feliz.
— Feliz? Inferno! —Chapman sacudiu a cabeça e cuspiu na terra. — Gostaria de um emprego em tempo integral e vir conosco quando formos embora daqui?
— E quanto a Stan? —Marcus perguntou baixinho.
— Stan, —Chapman murmurou com um suspiro e esfregou a parte de trás da cabeça com agitação. — Parece que a confusão que Stan entrou na cidade não foi uma luta, mas uma provocação de empurra-empurra. Ele empurrou mais forte, o outro cara caiu para trás e quebrou o pescoço no último degrau de um banquinho de bar. Morto antes que caísse no chão. —Ele deixou sua mão cair cansadamente para o lado dele. — Stan foi acusado de homicídio culposo. Não vai estar disponível por um bom tempo.
— Sinto muito em ouvir isso, —Marcus disse calmamente. Viu muitos acidentes estúpidos como esse acontecerem ao longo dos séculos para se surpreender com essa história.
— Sim, eu também, —Chapman disse baixinho, olhando para o chão e balançando a cabeça. — Stan não é um cara mau, e pelo que ouvi o outro cara começou. Não gostou de ver um carnie conversando com uma moça da cidade e decidiu intervir, começou a empurrar Stan ao redor e quando ele empurrou de volta ... —Encolheu os ombros. Endireitando-se, ele balançou a cabeça novamente, como se a sacudisse afastasse o pensamento do destino de Stan.
— Bem, pense sobre isso. Você tem um emprego se quiser viajar.
— Eu vou pensar sobre isso, —Marcus murmurou, observando o homem ir embora parecendo cansado e derrotado. O som de uma abertura de porta de tela atraiu seu olhar para o lado e viu Divine conduzindo uma jovem mulher para fora de seu trailer.
— Muito obrigada, —a morena estava dizendo com sinceridade quando Divine a conduziu escada abaixo.
— Você é bem-vinda, —disse Divine solenemente, parando ao pé dos degraus. — Espero que tudo dê certo para você.
— Obrigada, —repetiu a mulher e depois saiu correndo. Divine assistiu até que a cliente estava na metade do caminho escurecido, e então se virou para pegar a plaqueta de aberto.
Marcus franziu a testa enquanto notava como ela estava pálida e que havia linhas de dor ao redor de sua boca e olhos. Isso o lembrou do sangue que encontrou em seu trailer e do sangue seco que ela tinha em suas roupas e em seus cabelos mais cedo. Obviamente tinha sido ferida em algum momento da noite e, a julgar pela quantidade de sangue que estava no trailer, teria sido grave. Não tinha certeza, mas poderia até mesmo estar se curando disso ainda, estava certo de que ela precisava muito de sangue ... e ela não tinha nenhum. Ele passou por aquele trailer de ponta a ponta e não encontrou nada além de um pequeno refrigerador com um pouco de creme velho, presumivelmente para aquelas ocasiões em que Madge aparecia para tomar café.
Movendo-se para a lixeira mais próxima, Marcus descartou o lixo que havia recolhido enquanto esperava que Chapman viesse e dissesse que ele poderia ir embora. Então se dirigiu para o estacionamento onde seu SUV estava agora estacionado. Mudou-se para lá em seu intervalo. Encontrar o sangue no trailer de Divine convencera-o de que talvez fosse melhor estar por perto, pelo menos até descobrir o que havia acontecido. O que significava que ele estaria dormindo em seu SUV. Era provavelmente o melhor, reconheceu. Ficar no hotel poderia levantar suspeitas entre os carnies. Ninguém com seus salários poderia pagar um quarto de motel e muito menos um hotel. Não conseguiria nenhuma informação se todos suspeitasse e desconfiasse dele, então ficar aqui parecia a melhor escolha.
Várias pessoas gritaram saudações quando ele passou e Marcus respondeu educadamente, mas não diminuiu. Em seu SUV, certificou-se de que ninguém estava olhando, então subiu na parte traseira, destrancou o refrigerador embutido e pegou vários sacos de sangue. Ele os enfiou dentro de sua camisa, fez uma careta pelo volume suspeito que fez nela, e então puxou a jaqueta de couro que usará como travesseiro na noite passada. Estava quente demais para a jaqueta, mas pelo menos o couro deixava a protuberância em sua camisa menos óbvia. Ainda assim, ele se moveu rapidamente enquanto trancava e deixava o SUV, se escondendo nas sombras o máximo possível em seu caminho de volta ao trailer de Divine.
Bateu uma vez em sua porta, mas, com medo que ela o afastasse, Marcus não esperou que ela respondesse, abriu a porta e entrou, mal se abaixando a tempo de evitar a vassoura que veio voando em sua cabeça.
— Uau. Sou eu, —ele disse rapidamente, levantando a mão enquanto se endireitava. Ainda bem que era rápido, ou teria levado a vassoura na cara. Porra, a mulher era rápida. — Divine, sou eu, Marco.
— E o que diabos faz você pensar que estar tudo bem invadir o meu trailer? —Ela perguntou secamente, desta vez fazendo o inesperado e batendo o cabo da vassoura em sua virilha.
A respiração de Marcus o deixou em um som que ele não se lembrava que tivesse feito antes. Saiu um — eeeee-iiiiii-ouuuuuu, —e terminou em um uivo. Ele também soltou os sacos de sangue em favor de segurar seus órgãos genitais com uma mão enquanto agarrava a vassoura com o outra para garantir que ela não fizesse isso novamente. Ele não precisa se preocupar, as mãos de Divine ficaram frouxas na vassoura, sua atenção fixa no que ele tinha deixado cair.
— Que diabos é isso? —Ela perguntou com desânimo, olhando para os sacos de líquido carmesim escuro jogados no chão de seu trailer.
— Eles são para você, —Marcus murmurou com os dentes cerrados. Porraaaa, a mulher quase o abateu ... e o golpe doeu tanto que quase desmaiou. Ainda podia desmaiar. Mulheres imortais eram mais fortes que mulheres ou homens mortais, e ela não se segurou. Fez de tudo o que podia para não cruzar as pernas e pular continuamente uivando como um garoto maricas. Alternadamente, ele queria rasgar as calças e ver se suas bolas ainda estavam intactas. Suspeitou que ela tivesse esmagado pelo menos uma delas com o golpe, estalando-o como um balão em seu jeans.
Esse pensamento fez Marcus lançar um olhar relutante para baixo. Ele gemeu quando viu o sangue começar a florescer em sua virilha.
Droga, a mulher tinha o abatido totalmente.
— Bem, o que você espera que eu faça com isso? —Perguntou Divine, curvando-se para pegar uma das sacolas e olhar para ela com desgosto.
Marcus a pegou da mão dela e bateu na boca quase antes que suas presas terminassem de se estender.
Ela olhou para ele com os olhos arregalados quando a bolsa rapidamente começou a encolher. Quando a última gota de sangue foi sugada através de suas presas em seu corpo, ele puxou a sacola enrugada para longe com um suspiro de dor e se virou para bater a testa contra a parede e depois se inclinar nela tentando ignorar a nova dor agora centrada em sua virilha enquanto os nanos em seu sangue começavam a fazer reparos. Porra, a dor da cura era quase pior do que a que sentiu quando ela bateu nele. Cura, ele pensou sombriamente, tentando não ranger os dentes. Era pior, porque o golpe durou apenas um momento e os reparos demorariam muito mais tempo.
— Merda, —gemeu Marcus, pressionando a testa com mais força na parede para tentar se distrair da dor em suas regiões inferiores. Ele seguiu com uma bela série de maldições em italiano e inglês que terminaram em um — Ah inferno, —quando o mundo ficou embaçado ao redor dele e ele se sentiu deslizando em direção ao chão e à inconsciência. Parecia que a cura ia derrubá-lo já que o golpe real não tinha conseguido.
Divine observou Marcus esparramado no chão e suspirou com exasperação. Ela realmente precisava controlar seu temperamento. Tudo bem que ficou irritada quando ele entrou sem sua permissão, mas agora, tudo que tinha conseguido era mais trabalho para si mesma.
Estalou a língua, balançou a cabeça, afastou a vassoura e, em seguida, agachou-se para virar o homem. Ele estava branco como um lençol, mas não entendeu o porquê até que o olhou direito e notou a mancha de sangue ao redor de sua virilha.
— Oh droga, —murmurou Divine, culpa deslizando através dela. Ela não queria causar danos reais, apenas ensiná-lo uma lição sobre como não entrar nas casas de outras pessoas sem permissão. Infelizmente usava sua força tão raramente que Divine esqueceu o quão forte ela era.
Esta não era a primeira vez que fez mais danos do que o pretendido. Ela já jogou um neto através de uma parede quando tudo o que pretendia fazer era segurá-lo contra a parede. Mas não se arrependeu disso. Tinha sido o Rufus, que suspeitava que não seguia suas regras sobre a alimentação. Ele era um idiota tagarela, sempre zombando da ‘estupidez e fraqueza dos mortais’. Ela o ouviu mais de uma vez declarar que os mortais não passavam de gado estúpido e mereciam ser abatidos. Ele sabia que ela odiava a maneira como ele pensava e ela se culpava por isso.
Divine não passou muito tempo em torno de seu filho e seus netos. Não desde que seu filho se tornou um homem adulto e foi viver a própria vida. No início o visitava mais frequentemente e até ajudara a criar os netos nos primeiros séculos, quando a mãe biológica não queria ser incomodada, mas achara muito doloroso quando um ou outro deles eram pegos por um dos caçadores e condenados à morte por tio Lucian ... na verdade, tinha sido um alívio quando Damian parou de pedir para ela ajudar com seus filhos.
A última vez que passou mais de meia hora com Damian foi quando teve que resgatá-lo do tio Lucian no Canadá. Ela foi o mais rápido que pôde quando recebeu a mensagem de Abaddon de que seu filho poderia precisar dela.
Felizmente, o Parque em que ela trabalhava na época estava em Michigan e pôde chegar a Toronto com rapidez suficiente. Se hospedou em um hotel e imediatamente tentou entrar em contato com Damian. Quando não conseguiu contatá-lo, tentou relutantemente entrar em contato com Abaddon, sem sucesso. Passeou por seu quarto de hotel por dois dias, tentando repetidamente alcançar qualquer um dos homens. Assim que estava prestes a desistir e voltar para Michigan, Abaddon ligou para ela em pânico. Disse a ela que Leo estava escondido em um hotel no centro de Toronto e Lucian e seus homens estavam procurando por ele.
Divine tinha cerrado os dentes por Abaddon ter chamado Damian de Leo, mas simplesmente disse: — Qual hotel? Em que quarto ele está?
O hotel não estava longe do dela. Ainda assim, quando chegou, passou pelos homens que seu tio parecia ter cercado o prédio, e chegou ao andar onde o quarto de Damian estava, ela tinha chegado muito tarde. Eles o encontraram, e Damian estava deitado no chão no corredor, várias balas no peito e uma flecha saindo de seu coração.
Chocada e horrorizada, Divine o pegou e começou a se virar com ele, mas um pequeno som, talvez um suspiro, a fez olhar de volta para o quarto que Damian tinha ficado do lado de fora. Uma pequena morena estava tentando ajudar um homem de cabelos escuros a ficar de pé e a tinha visto. A mulher estava abrindo a boca para gritar quando Divine assumiu o controle de sua mente, impediu-a de fazer um som, apagou sua mente e a colocou para dormir. Ela então correu para as escadas com o filho, carregando-o para cima e não para baixo e depois pulou do telhado do prédio para o seguinte, e pulou para mais outro prédio e mais outro, antes de parar para remover a flecha do seu coração. Ele não milagrosamente ganhou consciência imediatamente, é claro. Além da flecha, tinha várias feridas de balas e perdeu sangue suficiente para ficar inconsciente por um tempo. Ela esperou uma hora antes de se movimentar de novo.
Não sabendo mais o que fazer, Divine o deixou lá enquanto voltou para buscar o seu trailer. Não tinha demorado muito ... mesmo assim, Damian não estava mais lá quando retornou.
Em pânico, ligou para o número dele e uma voz estranha atendeu. Suspeitando que era um dos homens do tio Lucian, ela desligou imediatamente e ligou para Abaddon, dizendo a si mesma que só porque eles tinham o telefone de seu filho não significava que tinham o pego. Suas ligações para Abaddon ficaram novamente sem resposta. Divine tinha ficado na cidade por mais um dia inteiro ligando de novo e de novo, e então arrumara as malas e dirigiu para a fronteira, com a intenção de chegar o mais longe possível do Canadá e de seu tio.
As semanas seguintes foram estressantes enquanto ela esperava para saber se o filho conseguira se arrastar daquele telhado sozinho, ou havia sido capturado. Ela também mudou de Parque, nesse período foi quando entrou para o Parque Hoskins. Uma vez estabelecida no novo local discou o número de Abaddon tantas vezes que começou a sonhar com isso. E então ela finalmente recebeu um telefonema, não de Abaddon, mas de seu filho. Ele estava vivo e bem, e queria agradecer-lhe por salvar sua vida. Sério! Foi o que ele disse. Divine tinha quase morrido de preocupação. Tanta ansiedade e medo por ele, para finalmente a chamar, todo alegre como um chimpanzé e dizer obrigado? Divine exigiu saber onde ele estava e descobriu que estava escondido não muito longe do Parque, e ela imediatamente saiu para ir vê-lo.
Seu temperamento não melhorou quando chegou ao prédio dilapidado em que ele se abrigara. Ele merecia mais do que os buracos que escolhia para morar, e ela também não gostava da escolha de seus companheiros. Nem das mulheres. Eram todos viciados em drogas, acabados, desmaiados, cada um deles enlouquecidos pelas drogas e com as mentes tão devastadas e destruídas que seus pensamentos não faziam sentido quando ela tentava lê-los. Ela não tinha ficado nada satisfeita em encontrar seus netos tão drogados por se alimentarem deles. Ignorou a princípio o que seus netos estavam fazendo, por conta da preocupação e vontade de ver por si mesma que Damian estava bem. Uma vez que viu com seus próprios olhos que ele estava vivo e bem, Divine exigiu uma explicação e Damian contou que Abaddon o tinha levado embora do telhado quando ela o deixou lá.
Aquela última parte tinha sido dita com uma nota ferida que sugeria que ela o abandonara, e foi quando Divine deixou seu temperamento rasgar. Ela explicou em termos inequívocos que o deixou para buscar o trailer e voltou para encontrá-lo fora.
— É o que você diz. Provavelmente foi chamar os Caçadores de Vampiros para ir buscar o papai, —Rufus zombou, suas palavras arrastadas pelos efeitos do sangue encharcado de drogas que consumiu. Divine nem pensara duas vezes, ela o pegou pela garganta e o jogou contra a parede ... ele passou direto por ela, caindo no chão no quarto ao lado. Divine tinha seguido para se certificar de que ele estava bem, e então o avisou que controlasse a sua língua se ele não quisesse ficar sem ela, já que também não tinha presas. Claro que foi uma ameaça vazia, mas eficaz. Ele disse — sim, senhora, —e balançou a cabeça repetidamente quando ela se virou e saiu.
Damian a seguiu, mas quando ela perguntou como Lucian Argeneau o havia rastreado, ele tinha sido irritantemente vago sobre toda a provação. Alegou que alguns garotos tinham se arriscado em comportamentos estúpidos, e que ele tentou limpar a bagunça deles e foi pego. Damian se recusou a explicar que comportamentos arriscados tinham sido esses, no entanto. Ele também evitou os olhos dela o tempo todo, o que a fez suspeitar que estava mentindo, embora não pudesse dizer qual parte do conto era uma mentira.
— Que riscos? —Ela exigiu. — Que coisas estúpidas eles fizeram?
— Eles são meus filhos. Vou lidar com isso, —ele disse, recusando-se a explicar.
Divine tinha deixado o assunto de lado, muito emocionalmente exausta de semanas de preocupação para ter energia em lutar com ele. Mas tomou o tempo para avisá-lo em termos claros que se acalmasse e evitasse problemas por algum tempo. Lucian não gostava de perder, não ficaria feliz em perdê-lo, e teria seu pessoal procurando por ele. Enfatizou isso batendo nele até que ele prometeu que faria isso.
No momento em que ele fez essa promessa, ela montou sua moto e foi embora. Divine sempre saia das visitas aos abrigos escolhidos por Damian sentindo-se um pouco suja. Ela culpava Abaddon e alguns de seus netos. Sempre achara Abaddon repugnante, mas, embora não gostasse de admitir, alguns de seus netos a deixavam se sentindo do mesmo jeito. Como regra geral, eles a evitavam o máximo possível e na sua presença, quando não podia evita-la, eram calados e educados, mas isso não importava. Divine sempre saiu preocupada com o que eles estavam fazendo e sentindo que precisava de um banho. Era por isso que não conseguia visitar seu filho mais vezes. Na verdade, ela não o tinha visto mais do que meia dúzia de vezes no último século, e quatro dessas vezes foram nos últimos dois ou três anos, duas vezes quando ela teve que salvá-lo de Lucian e depois duas vezes nos últimos dois dias.
Marcus gemeu das profundezas de sua inconsciência e Divine voltou sua atenção para o homem que ela estava agachada perto. Supôs que não podia simplesmente deixá-lo deitado em seu chão. Bem, ela podia, mas poderia ficar estranho se Madge ou alguém aparecesse para uma visita e olhasse pela janela.
Estalado sua língua contra os dentes, pegou o homem e levou-o para o quarto na parte de trás do trailer. Coloco-o na cama e debateu se deveria tirar suas calças para que ele ficasse mais confortável, mas rapidamente afastou o pensamento. Se visse a lesão que fez nele, ficaria se sentido mais culpada e não queria se sentir mais do que já estava. Não deveria. Ele havia entrado sem ser convidado. Um homem poderia levar um tiro em algo assim.
Mas espere, Divine supôs que ele preferia levar um tiro do que o que aconteceu em suas calças quando ela o atingiu. Ela viveu muito tempo e nunca viu um homem ficar em várias cores diferentes por causa da dor. Em um momento ele realmente ficou verde.
Fazendo caretas, ela rapidamente cobriu-o com um cobertor para que não tivesse que olhar para as evidências do que tinha feito. Divine então voltou para a outra sala e examinou a bagunça. Depois de um suspiro, recolheu os sacos de sangue restantes e jogou-os no frigorífico, depois começou a limpar o sangue que secara no chão. Felizmente, ela não gostava de tapetes e o piso do seu trailer era um laminado que parecia madeira de lei. Tudo em seu trailer era facilmente limpável, o que vinha a calhar em momentos como esse. Não que houvesse muitos momentos assim. Na verdade, esse era o primeiro. Mas ela não tinha dúvidas de que haveria outros no futuro antes de trocar esse trailer por outro. A vida podia ficar confusa.
Não demorou muito para terminar sua limpeza. Uma vez feito, Divine caminhou até a porta do quarto e olhou para Marcus novamente.
Ela quase cobriu a cabeça dele com o cobertor quando o jogou sobre ele. Estava deitado tão imóvel que parecia estar morto, nem de longe recuperando a consciência. Em sua experiência, se ele não estivesse profundamente desmaiado, estaria gemendo e se debatendo. A cura costumava ser mais dolorosa do que a lesão que a provocava, algo que ela aprendeu bem desde cedo.
Não querendo pensar sobre isso, Divine se virou e foi para a porta. Precisava ir para a cidade e encontrar uma refeição. Precisava de sangue. O latejar em sua cabeça piorava cada vez mais à medida que o dia progredia, e então começara a se espalhar. Um sinal claro de que precisava de sangue. Ela não estava muito preocupada em deixar Marcus aqui sozinho. Não havia nada aqui para ele descobrir que lhe diria sua identidade. Na verdade, não havia nada aqui para dizer-lhe muito sobre ela. Divine havia aprendido há muito tempo viajar com poucos pertences. Nunca sabia quando poderia ter que se mudar de novo, e possivelmente fazê-lo com nada mais além das roupas do corpo.
Fez isso muitas e muitas vezes ao longo dos anos.
Ao sair, respirou fundo, olhou para a noite estrelada e foi pegar sua moto.
Capítulo 7
Foi a fome que acordou Marcus. Seu estômago faminto estava doendo. Essa consciência foi seguida pela percepção de que estava deitado em uma cama, debaixo de um cobertor. Uma olhada ao redor disse a ele onde estava e lembrou o que tinha acontecido. Também explicava o porquê de tanta fome. A única bolsa de sangue não foi suficiente para compensar o sangue que seu corpo usou para curar suas bolas.
Fazendo uma careta ao pensar na lesão que havia sofrido, Marcus se abaixou para sentir-se cautelosamente ao redor do cobertor. Seu jeans estava duro com sangue seco ao redor da virilha, mas não havia mais nenhuma dor lá embaixo. Ele curou. Ótimo. Agora só tinha que se levantar, sair daqui sem que sua anfitriã, tão adorável, rebentasse-o literalmente, novamente, e voltar ao SUV para encontrar algum sangue. A menos, claro, que o sangue que ele trouxe para cá ainda estivesse por perto. Pelo olhar enojado no rosto de Divine, duvidou que ela o tivesse consumido. Agiu como se ele tivesse oferecido a ela uma velha atropelada a uma semana. Tentou fazer algo legal e ela tinha batido as bolas dele fora e zombou de sua oferta.
— Mulheres, —murmurou em voz baixa, e estava prestes a tirar o cobertor de si mesmo e levantar quando um som no outro quarto o fez parar. Supôs que deveria ter assumido que era Divine. Era seu trailer, afinal de contas, mas havia algo furtivo sobre o som. Ficou imóvel, com os ouvidos tensos, e depois endureceu e fechou os olhos para fingir que dormia quando ouviu a porta do quarto se abrir.
Mal se abriu quando se fechou novamente, mas o som veio com um cheiro que lhe disse que a pessoa na porta não era Divine.
Ela cheirava a rosas silvestres e baunilha, uma combinação surpreendentemente potente que o fazia pensar em bolinhos na mesa de chá em um jardim. Isso o deixava com fome.
No entanto, o cheiro que havia deslizado para o quarto quando a porta foi aberta era de almíscar e suor masculino. Marcus abriu os olhos para encontrar o quarto vazio. Surpreso com isso, colocou os cobertores de lado e cuidadosamente se sentou, aliviado quando a ação não aumentou a dor que a falta de sangue estava causando. Estava fraco embora. Precisava de sangue.
O distinto barulho do fechamento da porta de tela do trailer fez Marcus ficar de pé e sair do quarto para investigar. Mesmo que só desse para ver de longe quem estava se afastando do trailer, já era alguma coisa, ele pensou.
Marcus estava no meio da sala quando chamas de repente explodiram do lado de fora das janelas de cada lado dele. Congelando, ele olhou de uma janela para a outra e depois continuou em frente, correndo agora. Empurrou para a área separada com a mesa onde Divine fazia seus atendimentos, notando que também havia chamas fora daquelas janelas.
Com os músculos tensos, Marcus alcançou a porta e tentou abri-la, não muito surpreso quando a maçaneta girou, mas a porta não se mexeu. Claro. Por que alguém colocaria um trailer em chamas e deixaria a porta aberta para a pessoa dentro escapar? E com certeza esse incêndio foi proposital. Chamas disparavam em todas as janelas. Incêndios naturais não começavam assim. Além disso, podia sentir o cheiro de gasolina que deve ter sido usado como um acelerador. Coloque isso com o ataque que deixou Divine e o trailer encharcado de sangue na noite passada juntos e parecia para ele que alguém queria matá-la.
Rangendo os dentes enquanto a maçaneta da porta esquentava em sua mão, Marcus recuou e depois jogou seu peso na porta sólida. Isso teria a arrancado fora a maioria das portas, mas tudo o que aconteceu com essa foi rachar a parte interna em alguns lugares. Eles devem ter enfiado algo entre a porta de tela e a porta do trailer, imaginou.
As chamas estavam crescendo rapidamente. A julgar pela maneira como o fogo explodiu, eles devem ter despejado a gasolina em toda a volta do trailer e depois incendiado. Era a única explicação para a maneira como as chamas tinham aparecido em todas as janelas. Mas o fogo estava rapidamente se firmando agora, comendo a fibra de vidro e o que quer que o trailer fosse feito, o calor dentro estava se tornando como um forno na grelha. Imortais tendiam a ser altamente inflamáveis e Marcus sabia que não tinha muito tempo.
Desistindo da porta, ele se virou e olhou de uma janela para outra e depois correu de volta para a área da sala. Depois de uma breve pausa, se estabeleceu na janela acima do sofá. Era maior e ele poderia usar o sofá como uma plataforma de lançamento, decidiu, e correu para ele. Quando ele bateu no sofá e saltou, Marcus levantou as pernas, puxando-as para perto de seu peito, curvou a cabeça para baixo e passou os braços em torno dela, tentando fazer-se o menor possível quando ele bateu e atravessou a janela.
Foi só quando o vidro o cortou é que Marcus considerou que deveria ter jogado uma das cadeiras da mesa da cozinha primeiro para quebrar o vidro, e foi só quando as chamas o lamberam é que ele pensou que deveria ter se envolvido no cobertor da cama antes de saltar para fora, dessa forma teria se protegido mais do vidro cortado e do fogo.
Pensar nisso agora, no entanto, era tão perfeito quanto inútil, Marcus pensou sombriamente ao sentir sua pele pegar fogo em suas costas e braços enquanto passava pelas chamas. Caiu no chão com um baque surdo que parecia horas depois, mas só deve ter sido alguns segundos. Apesar da dor irradiando através de cada parte de seu corpo, Marcus começou a se afastar do trailer assim que sentiu a terra sob seus pés. Ele rolou uma vez, duas vezes, e depois bateu no carrinho de algodão doce estacionado em um dos lados do trailer de Divine.
Pausando de costas, levantou a cabeça para observar seu corpo, aliviado ao ver que não parecia estar mais em chamas. Suspirando, ele deixou a cabeça cair brevemente, respirou fundo, e então começou a se levantar, apenas para gemer e recuar enquanto seu corpo reclamava vigorosamente. Ele pode não estar pegando fogo agora, mas obviamente não escapou sem ser queimado. Sua pele estava apertada e dolorida em vários lugares, suas costas, pernas e braços suportaram o pior. Os imortais eram muito inflamáveis, mais do que o corpo humano. Teve sorte que rolar no chão tivesse apagado as chamas.
Suspirando, Marcus fechou os olhos, mas imediatamente os abriu novamente enquanto o som de vozes chamando em alarme lhe dizia que o fogo havia sido notado e que os carnies estavam vindo investigar. Suspeitava que desde que ele era um recém-chegado e ninguém o tinha visto sair pela janela, seria o suspeito número um de quem tinha colocado o fogo. O pensamento era o suficiente para fazer Marcus se mover com dor ou sem dor. Ele não estava em condições de controlar as mentes e pensamentos de uma grande multidão de pessoas. Inferno, nem mesmo quando estava saudável não podia fazer isso.
Empurrando-se de pé, encostou-se ao carrinho de algodão doce e cambaleou para a frente, fazendo uma careta quando o ombro e o braço se esfregaram contra a superfície de madeira. Depois de alguns passos, Marcus desistiu. Estava se movendo muito lentamente e suas pernas estavam balançando, ameaçando desabar sob ele a cada movimento. Não havia como conseguir voltar para seu SUV e o sangue esperando lá.
Marcus engoliu em seco e respirou fundo, tentando clarear sua mente e descobrir o que fazer. Seu cérebro era atualmente uma massa caótica de dor e confusão e sua mente definitivamente estava no automático ou não teria notado a porta ao lado dele. Esconder-se dentro do carrinho de algodão doce que estava encostado parecia a melhor opção nesse momento. Se tivesse energia sobrando, Marcus teria amaldiçoado a si mesmo por estar tão lento. Mas, em vez disso, simplesmente se virou para a porta, fechou a mão ao redor do cadeado e puxou com toda força que tinha.
Ficou bastante surpreso quando se partiu. Achava que não tivesse mais forças nele. Mas talvez a adrenalina estivesse fazendo a diferença. Havia definitivamente uma tonelada de adrenalina percorrendo-o enquanto ouvia os sons das pessoas correndo para lá. Empurrando a porta aberta, Marcus deslizou para dentro da cabine, fechou a porta e depois caiu no chão como uma pedra com a última gota de energia que tinha.
— Que diabos, —Divine resmungou em seu capacete de motociclista, automaticamente diminuindo o acelerador da moto quando viu a enorme fogueira que uma vez tinha sido seu trailer no final do pátio. Ela notou as silhuetas de pessoas ao redor dele e, a princípio, não tinha certeza do que estavam fazendo, mas depois percebeu que corriam jogando baldes de água nas chamas do trailer, enquanto outras atiravam com extintores de incêndio. Outros ainda gritavam freneticamente seu nome. Divine percebeu que eles pensavam que ela estava dentro, e então lembrou que deixou Marcus lá dentro.
Amaldiçoando, acelerou a moto, cruzando rapidamente a distância até o que uma vez fora sua casa. Mal tinha desligado a moto quando a desmontou deixando-a cair no chão perto de algumas pessoas. Os pneus ainda estavam se movendo quando caiu de lado. Divine desabotoou e tirou o capacete, largando-o junto à moto enquanto corria para frente.
— Oh Divine! Graças a Deus! —Madge chorou, observando-a e correndo para o lado dela.
— O que aconteceu? —Ela perguntou sombriamente, movendo-se ao longo do trailer, verificando as janelas em busca de movimento e uma maneira de entrar.
— Ninguém sabe. Acabou de subir como uma fogueira, —disse Madge, ansiosa, seguindo atrás dela. — Ligamos para o corpo de bombeiros, mas não sabíamos se você estava dentro. Os homens têm tentado acabar com o fogo da porta para que alguém pudesse entrar e tentar te tirar se você estivesse lá.
— Diga-lhes para não se incomodar com o trailer, mas comecem a molhar ou mover as barracas e trailers próximos, —disse Divine calmamente, e então se virou para espiar a mulher, dando-lhe um empurrãozinho mental garantindo que ela fizesse isso o quanto antes. Divine girou em seus pés e continuou rodeando seu trailer.
Ela deu a volta na frente do veículo. Havia uma porta atrás do banco do motorista e do passageiro que levava ao closet do quarto dela, e esperava poder entrar por ali, mas o fogo era pior aqui do que em qualquer outro lugar.
Divine continuou em torno do trailer, parando quando viu a janela quebrada na sala de estar. O cheiro de carne queimada a cercou. Divine apertou os dentes e começou a andar em direção à janela com a intenção de se jogar para dentro por ela. Mas no momento em que se moveu em direção ao trailer, o cheiro começou a desvanecer-se.
Parando, ela se virou devagar, seguindo o nariz enquanto o cheiro ficava mais forte. A luz do fogo iluminou o sangue e pele queimados ao lado do carrinho de algodão-doce, chamando sua atenção, e então percebeu que o cadeado estava quebrado. Estava quase se aproximando quando três homens se apressaram em torno do trailer em chamas na direção dela.
— Os caminhões de bombeiros já estão no meio do pátio.
— Estamos movendo o carrinho de algodão doce mais longe.
— Todo mundo está molhando o Tilter para se certificar de que não pegue fogo.
Divine piscou enquanto cada homem contribuía com um comentário, mas eles não terminaram.
— Fomos pegar o caminhão de Roch para tirar o carrinho de algodão doce mais longe do fogo possível, mas não conseguimos trazer o caminhão até aqui.
— Teríamos que tirar do caminho cerca de uma dúzia de outros veículos para chegar aqui.
— Não há tempo para isso, então nós três vamos tentar movê-lo.
O último homem que falou, um magrinho com poucos músculos em seus ossos, parecia bastante duvidoso sobre conseguir esse feito e Divine não o culpava. Mesmo que o carrinho estivesse sobre rodas e Bevy fosse um homem forte, somada a ajuda de Mac e o garoto magrelo que ela não conhecia, achava que eles não seriam capazes de movê-lo também.
— Eu vou ajudar, —ela anunciou, subindo para o final onde o engate do carrinho estava. — Vocês empurram e eu vou orientando a direção.
Os homens assentiram e correram para a outra extremidade do pequeno carrinho.
— Prontos? —Ela perguntou, inclinando-se para deslizar uma mão sob o engate para levantá-lo dos tijolos sobre os quais repousava.
Grunhidos e gemidos responderam a ela enquanto os homens se preparavam para mover o carrinho. Não ficou muito surpresa quando o carrinho se soltou e levantou com facilidade, na verdade estava preparada para isso e simplesmente agarrou o gancho para cima e se afastou do trailer em chamas o máximo que pôde. Divine foi puxando cada vez mais longe do trailer, desviando de outros dois veículos e indo em direção ao centro do pátio dos fundos antes de pará-lo e abaixá-lo.
Andando de volta ao redor do carrinho, fez uma careta para si mesma quando viu os três homens de pé a uns seis metros de distância, de boca aberta parados e olhando para ela e o carrinho de algodão doce. Suspirando, se moveu em direção a eles e rapidamente entrou na mente do primeiro homem e depois em cada um dos outros, modificando suas memórias um pouco para que pensassem que fizeram o trabalho duro, angustiante e estridente de empurrar o carrinho para longe do trailer.
— Bom trabalho, —elogiou Divine calmamente quando terminou. — Talvez vocês devessem ir ver se precisam de ajuda com o Tilt-AWhirl.
As palavras foram acompanhadas por um empurrão mental que os fez concordar, virando-se para o trailer e indo embora para encontrar os outros.
Balançando a cabeça, Divine se voltou para o carrinho. A porta estava presa ou parecia estar no começo. Depois de um momento, ela abriu o suficiente para perceber que Marcus estava deitado na frente dela. Chamou o nome dele, mas quando ele não respondeu, ela forçou a abrir a porta, empurrando seu corpo pelo chão de metal dentro do carrinho. Quando conseguiu espaço suficiente entrou e fechou a porta atrás dela, se inclinando para examinar Marcus.
O cheiro de pele queimada era esmagador no pequeno espaço e Divine teve que segurar a respiração enquanto o examinava. O fogo era uma das poucas coisas que poderiam matar um de seus semelhantes, embora fossem necessárias circunstâncias especiais para ter sucesso com ele. Prender alguém dentro de um prédio ou veículo em chamas era especial o suficiente ... contanto que esse alguém não conseguisse escapar antes de pegar fogo.
Marcus conseguira escapar, muito queimado, antes que a temperatura esquentasse o suficiente e o fizesse entrar em combustão.
Divine o sacudiu gentilmente, não querendo realmente acordá-lo para a dor que sentiria sem dúvida, mas precisando saber o quanto ele estava mal.
Quando ele não despertou, o afastou da porta, endireitou-se e olhou para fora. O céu noturno estava iluminado não só pelo fogo, mas pelas luzes vermelhas e brilhantes, e ela podia ver a água sendo jorrada no ar ao redor de seu trailer. Os bombeiros estavam trabalhando duro.
— Sangue.
Divine escutou aquela palavra quando Marcus de repente pegou seu tornozelo em um aperto duro. Abrindo a porta, ela se ajoelhou ao lado dele novamente. — Quão ruim você está?
— Sangue, —repetiu Marcus.
Divine suspirou, mas assentiu. — Eu vou encontrar alguém.
— Não. —Sua mão apertou seu tornozelo. — Meu SUV.
— O que? —Ela perguntou confusa.
— Sangue ... lá, —ele arfou.
Divine franziu a testa, sua confusão apenas se aprofundou, e então ela se lembrou dos sacos que ele levou até o seu trailer e que tinha até mesmo levado um à boca e drenado, depois do episódio da vassoura. Ela perguntou com espanto: — Você quer dizer aquelas coisas ensacadas?
Ele grunhiu e Divine balançou a cabeça.
— Nós não podemos sobreviver com isso, Marco. Os nutrientes morrem no momento em que deixa o corpo. Você precisa ...
— Não, —ele sussurrou. — Ensacado.
— Seu sangue ensacado estava na geladeira no meu trailer, —ela disse, e depois acrescentou secamente: — E eu não vou entrar lá para pegá-lo.
— Mais, —ele arfou. — SUV.
Divine riu impaciente. Sangue ensacado não o ajudaria com isso. Ele precisava de sangue vivo para lhe dar força e ajudá-lo a se curar. No entanto, ela sabia, sem dúvida, que o homem era teimoso o suficiente para se recusar a se alimentar de um mortal se ela lhe trouxesse um dos carnies. Além disso, o carrinho de algodão doce era minúsculo e quente e fedia a carne queimada. Tirá-lo de lá e leva-lo até seu SUV era bastante atraente naquele momento. E uma vez que ela o tivesse no SUV, poderia levá-lo a outro lugar e encontrar doadores para se alimentar. Nunca era uma boa ideia alimentar-se onde você morava. Divine evitava isso como regra geral.
Decisão tomada, se inclinou e o pegou.
— O que ... está fazendo? —Ele quase gemeu a pergunta inacabada, mas Divine começou a carrega-lo.
— Levando você para o seu SUV, —disse ela severamente, virando-se para a porta e abrindo-a com os dedos da mão por cima de seus ombros para que ela pudesse espiar.
— Trazer ... aqui, —ele suspirou.
Divine bufou com a essa sugestão. — Eu não estou trazendo nada aqui. Você precisa de sangue para curar, mas uma vez que tomar esse sangue, você irá gritar e se debater como um peixe. Estou dando o fora daqui e levando-o para algum lugar onde não possa alertar toda a cidade da agonia que irá passar.
Marcus gemeu, mas não protestou mais, então ela supôs que ele achava que era a decisão certa. No entanto, a opinião dele não importava agora. Era o que ela estava fazendo, pensou Divine severamente e saiu do trailer quando viu que o caminho estava limpo.
O primeiro problema que Divine encontrou foi que ela não tinha ideia de onde estava seu SUV. Demorou algum tempo caçando-o para encontrá-lo e só soube que tinha o veículo certo porque a placa era canadense. Isso deveria ter levantado muitas questões com os carnies. A única maneira de que isso não acontecesse era se Marcus tivesse controlado algumas mentes e tal, pensou quando finalmente parou ao lado do veículo.
— Chaves? —Ela perguntou, olhando para o homem em seus braços.
— Bolso, —disse ele, ou pelo menos ela pensou que era o que ele murmurou. Usando as costas do SUV para ajudar a segurá-lo, rapidamente procurou nele até encontrar as chaves no bolso da calça jeans. Claro. Revirando os olhos, deslizou a mão no espaço apertado do bolso tentando pegar as chaves, fazendo o melhor possível para não sentir nada além do conteúdo de seus bolsos. Deus querido, ela era uma mulher antiga, não deveria ter vergonha de cavar ao redor do bolso de um homem ... deveria?
Sacudindo aquela preocupação para longe, Divine olhou o chaveiro na corrente com outras chaves e então apertou o controle de trava de segurança duas vezes e ouviu o clique quando as trancas das portas se abriram. Então imediatamente colocou as chaves no bolso, debateu como abrir a porta em que tinha apoiado o homem, e suspirou para si mesma. Não havia outra maneira de fazer isso. Ela o ergueu sobre ombro, estremecendo com o grito de dor, e depois usou a mão livre para abrir a porta de trás. Se inclinou para a frente, empurrando-o para fora do ombro e colocando-a no SUV, depois deslizou as próprias pernas para dentro e seguiu para fechar a porta atrás deles.
Havia uma pequena geladeira embutida em um canto da parte de trás do SUV. Estava trancado e ela procurou brevemente através de suas chaves até encontrar a chave certa e abri-lo, mas depois simplesmente olhou para o conteúdo. Seis sacos de sangue, quase gelados. Divine fez uma careta com a visão disso. Junk food12 para imortais. Esse sangue tinha poucos nutrientes, mas era o que ele queria e supôs que, até mesmo uma pequena quantidade de nutrientes era melhor que nada.
Balançando a cabeça, pegou uma bolsa e se virou para Marcus. Ele ainda estava consciente e suas presas deslizaram assim que viu a bolsa em sua mão, então Divine colocou-a na sua boca, esperou que ele a esvaziasse, e então a substituiu por outra. Havia seis sacos na geladeira e Marcus passou por elas em pouco mais de seis minutos. Ele começou a se debater e gemer antes mesmo de terminar a última bolsa. A cura estava iniciando e obviamente seria desagradável.
Divine o olhou com preocupação por um momento e então amaldiçoou baixinho e começou a se deslocar sobre o banco de trás até o banco do motorista, com as chaves ainda seguradas na mão. Não poderiam ficar aqui. Tinha que tirá-lo longe desse inferno, dos carnies e de qualquer outra pessoa se não quisesse chamar atenção para eles.
Com esse pensamento em mente, ligou o motor e conseguiu manobrar o carro para fora da área do parque, indo para a estrada.
Marcus começou a se debater e gritar atrás de suas costas quase no mesmo momento em que ela colocou os pneus no asfalto.
Divine apertou os dentes e fez o possível para ignorar os sons torturados, assim como o balanço do veículo, que piorava a situação. Precisava se concentrar. Precisava encontrar um lugar isolado o suficiente para que seus gritos não fossem ouvidos.
Marcus estava sofrendo. Seu corpo inteiro parecia estar em chamas, das pontas dos pés até as pontas dos cabelos na cabeça.
Tudo gritava em agonia. O dano causado em seu corpo foi o suficiente para que as seis bolsas de sangue no seu SUV não fossem suficientes. Ele precisava de mais.
— Divine, —resmungou, contorcendo-se em cima do que estava deitado. Realmente não tinha ideia onde estava e não se importava. Tudo o que precisava neste mundo era fazer a dor parar. Ele lhe daria o número de Bastien e pediria mais sangue. Precisava disso.
Essa era a única coisa que acabaria com essa agonia.
— Divine, —arfou, rolando a cabeça para trás e procurando por ela. Ele estava no SUV. Sozinho. Gemendo, se enrolou em uma bola no chão do veículo e chorou impotente, oprimido pela dor que o debatia. Mas depois se forçou a arrastar-se para mais perto da porta e alcançá-la. Precisava de sangue.
Antes mesmo que pudesse tentar abri-la, a porta foi aberta de fora, revelando Divine e uma jovem mortal vestida em uma camisola. Ele olhou fixamente por um momento, oprimido mais uma vez, desta vez pelos cheiros e sons vindos da mulher mortal com a face em branco. Realmente podia cheirar e ouvir o sangue bombeando através de seu corpo, e era lindo, pensou brevemente e então se lançou na mortal, suas presas deslizando para fora.
Capítulo 8
Divine enrolou-se um pouco mais na jaqueta de couro e se mexeu desconfortavelmente no banco da frente, abriu os olhos e gemeu torcendo a sua cabeça. Tinha um torcicolo no pescoço de dormir na posição vertical no banco do motorista. Agradável. Isso era algo que não acontecia nos imortais quando havia sangue suficiente no seu organismo. Já sabia que não tinha sangue no seu, precisava se alimentar.
De repente, consciente de que os gemidos e lamentações que vinham da parte de trás do SUV pelo que pareciam horas tinham desaparecidos, Divine se virou no banco para olhar de volta para Marcus. Ele estava dormindo profundamente, deitado de costas em meio aos pedaços de carne queimada que seu corpo havia se livrado enquanto curava.
O SUV precisaria ser lavado, ela pensou com uma careta. Provavelmente não adiantaria muito. Divine suspeitava que o cheiro de carne queimada permaneceria no veículo por muito tempo.
Virando-se, abriu a porta do lado do motorista e deslizou para fora. Levou um momento para esticar e estalar alguns ossos do corpo antes de se mover em direção à porta na parte de trás do SUV. Uma vez lá, olhou para Marcus brevemente, e então pegou as pernas dele e começou a puxá-lo em sua direção, mas as largou e rapidamente recuando quando ele de repente se sentou, com a expressão meio adormecida e meio alarmada.
— Divine. —Ele suspirou o nome dela com alívio, abaixando os punhos que instintivamente formara. Marcus caiu onde estava sentado, apoiando as mãos no chão, apenas para erguê-las novamente e fazer uma careta de desgosto enquanto olhava para a pele descartada que agora estava pregada às mãos dele.
— Nojento.
— Sim, —concordou Divine com diversão. — Eu ia te colocar ao lado de uma árvore ou algo assim e tirar a maior parte dessa sujeira, depois iria levar ao um lavador de carros na cidade para terminar de limpar. Talvez você também precise de uma limpeza.
— Eu não recusaria nenhuma das sugestões, —Marcus disse secamente, deslizando para frente no chão do veículo até que pôde sair do SUV.
Afastando-se alguns passos do veículo, tentou sacudir o pior dos pedaços de pele agarrados a ele. — Suponho que não haja um lago ou algo parecido perto daqui?
— Na verdade, estamos a cerca de meia hora ou quarenta e cinco minutos do oceano, —ela admitiu, e quando ele olhou para ela surpreso, encolheu os ombros. — Eu precisava levar você para algum lugar que ninguém te ouviria gritando. Conheço as pessoas que possuem essa propriedade. São cerca de quarenta minutos de San Bernardino, com centenas de hectares, e eles estão fora da cidade. Imaginei que esta fosse a nossa aposta mais segura.
Marcus olhou ao redor então. Estavam estacionados em um caminho de terra perto de um bosque de árvores. Ele não podia ver as luzes da civilização em nenhuma direção, embora o bosque pudesse estar bloqueando alguns.
— Então você estacionou aqui e foi dar uma caminhada enquanto eu gritava enlouquecido? —Ele perguntou divertido.
— Na verdade eu fiz cinco ou seis caminhadas, —informou Divine secamente, e depois acrescentou: — Mas não aqui, na borda da cidade mais próxima, e cada vez para encontrar um doador.
Marcus inclinou a cabeça, incerto. — Um doador?
— Alguém para se alimentar, —disse ela sucintamente. — Você precisava de sangue para curar.
— Você me deixou morder alguém? —Ele perguntou, e ela suspeitou que ele estava tendo algumas memórias dos momentos que se alimentou, porque parecia horrorizado. Ela podia entender isso. O homem estava em agonia e fora de controle. Se não estivesse junto com ele, ajudando a controlar a situação, provavelmente teria matado cada um dos mortais que trouxe para ele. Mas ela estava lá.
— Eles estão todos vivos e bem e de volta em suas casas, —assegurou Divine solenemente. — Percebi quando se alimentou da primeira que você estava totalmente descontrolado. O controlei enquanto se alimentava, forçando você a parar quando teve o suficiente, e então a levei de volta para a sua cama e foi buscar outra, —ela assegurou, evitando de mencionar que, na verdade, não tinha conseguido entrar em seus pensamentos e o controlado, por isso teve que usar a força física nele.
— Doadores para me alimentar, —Marcus murmurou infeliz.
Divine não comentou. Mesmo depois de todos esses séculos, ela não gostava de falar a palavra sangue. Não sabia se evitava o uso dessa palavra pela necessidade de esconder o que era dos mortais com quem viveu ao longo dos anos, mas se via relutante em dizê-la. Doadores para se alimentar soavam menos desagradável para ela.
Marcus voltou-se para o veículo. Inclinando-se, pegou sua mochila e se endireitou. Carregou a bolsa até a porta do passageiro de trás, colocou-a dentro e depois virou-se para olhá-la solenemente. — Obrigado por me levar para o SUV e cuidar de mim.
Divine encolheu os ombros desconfortavelmente. — Eu não poderia simplesmente deixá-lo no carrinho e alguém o encontrar. Você teria atacado a primeira pessoa que viesse e o teria secado. Talvez uma segunda pessoa também.
— Sim, —ele concordou, parecendo ao mesmo tempo cansado e envergonhado. Endireitando os ombros, acrescentou: — Ainda assim, alguns teriam me deixado de qualquer maneira.
— Eu não, —disse ela com firmeza.
— Não, —Marcus concordou em voz baixa. — Sei que você não faria. Você pode ser uma esmagadora de bolas ...
Divine olhou para ele bruscamente, surpresa quando ele sorriu.
— Mas também é a mulher que faz o máximo possível em ajudar os mortais que vêm até você, assim como os carnies com quem viaja. Você não teria me deixado gritando em um carrinho de algodão doce no Parque, —ele disse com certeza.
Divine encolheu os ombros e desviou o olhar, depois suspirou e se virou para trás, — Desculpe pelo ... éééé ... pela coisa de esmagar suas bolas. Eu ...
— Eu não deveria ter entrado daquela maneira, —Marcus interrompeu calmamente. — Entendo que aqui na América um homem poderia ter atirado em mim por isso. A verdade é que entrei direto porque achei que você não me convidaria para entrar, —ele sorriu ironicamente e admitiu, — o que provavelmente significa que mereci isso, eu acho.
— Você merecia ser atingido, —garantiu-lhe Divine. — Mas eu não pretendia fazer ... o que aconteceu, —ela terminou com uma careta. Realmente não quis causar esse tipo de dano. Simplesmente não lido bem quando as pessoas tentam invadir seu espaço. Agora que ele passou por tanto, se sentia mal por sua parte em seu sofrimento. O destino acabara o punido também.
— Bem, felizmente, eu curei. Um dos benefícios de ser imortal, —Marcus disse com um encolher de ombros e depois acrescentou sombriamente: — Um benefício que é definitivamente apreciado depois de um incêndio.
Divine assentiu solenemente. A cura era um dos melhores benefícios de ser imortal, mas havia muitos, ser mais forte, mais rápido, capaz de ver na escuridão, nunca ficar doente ... alguns diriam que nunca envelhecer era um benefício incrível também, mas perdia o seu charme depois de alguns séculos. Pelo menos tinha sido assim para Divine. Na verdade, teria ficado feliz em morrer na adolescência, depois que passou por algo terrível nessa época, um verdadeiro pesadelo. Um ano inteiro de sua vida tinha sido um inferno. Levou muito tempo para superar isso e ela superou. Mas esse tipo de experiência moldava a personalidade de uma pessoa pelo tamanho do impacto que causava em sua vida. Seria sempre uma parte dela, mas há muito tempo superara o desejo de morte que inspirara. O mais perto que tinha desse sentimento desde então era um profundo cansaço, um enorme tédio. Tinha estado neste mundo tempo suficiente para ter visto de tudo, bem, pelo menos quando se tratava de comportamento humano. Esse tédio e cansaço diminuíram um pouco nos últimos dois dias. Entre as perguntas que de repente tinha sobre o seu filho e os eventos que aconteceram no Parque, as coisas certamente ficaram mais interessantes.
Seu olhar deslizou para Marcus e ela notou sua palidez. O viu se alimentar várias vezes enquanto passava pelo pior da cura, mas obviamente precisava de mais. — Você precisa se alimentar novamente.
— Sim. O problema é que não há mais sangue na geladeira e levará algum tempo para abastecer, —disse ele, parecendo cansado.
Divine arqueou uma sobrancelha com desaprovação. — Você sabe que o sangue ensacado é como junk food para imortais, não é?
Os olhos de Marcus se arregalaram levemente. — Onde você ouviu isso?
— De Ab ... um amigo, —ela corrigiu rapidamente, e depois encolheu os ombros. — A maioria dos nutrientes é destruída quando eles saem do corpo, e quanto mais tempo é refrigerado, menos saudável é o sangue. É como beber de uma pessoa morta. Muito inútil.
Marcus franziu a testa. — Sinto muito, mas seu amigo foi mal informado, Divine. Se o que ele disse fosse verdade, os mortais não podiam usar sangue ensacado para transfusões e coisas assim. Enquanto o sangue for mantido na temperatura adequada, ele manterá seus nutrientes. É tão bom quanto obter o sangue diretamente da fonte. —Ele hesitou e então acrescentou solenemente: — É por isso que imortais estão restritos ao sangue ensacado agora. Além de ser tão nutritivo quanto da outra forma, não carrega o risco da descoberta, quando mordemos os mortais.
— Imortais estão restritos ao sangue ensacado? —Ela perguntou surpresa.
Ele assentiu e caminhou devagar para se juntar a ela atrás do veículo. — Exceto em casos de emergência, não devemos consumir nada além de sangue ensacado.
Divine fez uma carranca com esta notícia. — E se eles fizerem?
— Eles são considerados desonestos, —disse ele baixinho. — Pelo menos os que estão aqui nos EUA e no Canadá. Alimentar-se diretamente dos mortais ainda é permitido na Europa e em alguns outros lugares, mesmo assim há mais e mais adeptos ao sangue ensacado.
Divine abaixou-se para sentar-se no fundo do SUV. Ela não sabia dessa regra. Não sabia que o sangue ensacado poderia sustentá-los. Abaddon dissera ... Divine fechou os olhos e baixou a cabeça. Deveria ter sabido melhor do que confiar em qualquer coisa que Abaddon dissesse, e normalmente ela estava cética em relação a tudo o que ele dizia a ela, mas soava tão lógico. Não que isso fizesse muita diferença. Não tinha acesso a bancos de sangue e teria sido forçada a se alimentar dos mortais de qualquer maneira. Esse pensamento a fez olhar para ele com curiosidade. — Então, o que os imortais fazem? Roubam bancos de sangue ou algo assim?
Marcus sorriu timidamente com a pergunta e balançou a cabeça. — Eles administram seus próprios bancos de sangue. Coletam o sangue e os imortais compram como um mortal compraria bife ou batatas em uma mercearia.
— Eles realmente vendem nas lojas? —Divine perguntou com surpresa.
— Não, claro que não. Os imortais pedem e são entregues em sua residência ou onde estão hospedados, —disse ele, divertido.
— Oh, —murmurou Divine. — Então, como você pede isso?
— A Argeneau Enterprises administra os bancos de sangue e distribui ...
— Claro que sim, —ela disse com um suspiro e levantou-se para caminhar até o banco do motorista. Se os Argeneaus estão envolvidos na distribuição, ela não arriscará encomendá-lo e chamar a atenção para si mesma. Só teria que continuar fazendo o que já fazia. Era um pouco angustiante pensar que era considerada desonesta agora.
Bem, ela já era considerada desonesta antes disso, supôs Divine, mas injustamente em sua opinião. Isso, no entanto ... bem, ela conhecia a regra e podia pedir o sangue, mas estava optando por não fazê-lo, então supôs que realmente era desonesta agora.
— Vamos lá, —disse ela, deslizando para o banco do motorista.
Marcus fechou a porta dos fundos e deu a volta para entrar no lado do passageiro da frente. — Onde estamos indo?
Divine fez uma pausa e então perguntou: — Quanto tempo você demoraria para conseguir o sangue que precisa?
Marcus fez uma careta e sacudiu a cabeça. — Bastien disse para deixá-lo saber pelo menos uns dois dias antes de começar a faltar, porque levaria algum tempo para obter sangue fresco para mim.
Divine acenou com a cabeça e virou-se para ligar o motor, — Bem, então, vamos encontrar seus doadores. Você não pode esperar dois dias por sangue ensacado, você está pálido e transpirando. Certamente está com dor também?
Ele assentiu com relutância quando ela olhou por cima. — Sim, mas ...
— Não há ‘mas aqui’, Marco. Precisa de sangue e isso é uma emergência. Você ainda não se viu. Você curou até o ponto de cicatrizar, mas as cicatrizes de queimaduras não desapareceram. Os nanos não têm sangue suficiente para trabalhar. Eles obviamente estão tentando encontrá-lo embora. —Ela olhou para ele solenemente quando ele sentiu seu rosto, e então se inclinou para abaixar o visor para que pudesse se ver no espelho.
Marcus estremeceu em choque ao ver sua própria carne cicatrizada.
— É uma emergência, —repetiu Divine severamente. — Os nanos ainda têm muito trabalho a fazer. Você vai ficar descontrolado com sede de sangue muito rapidamente se não se abastecer. —Ela virou o visor novamente e colocou o carro em marcha. — Então, acharemos um doador para você.
— Sim, tudo bem, —ele concordou com relutância. — Mas eu deveria ligar e fazer um pedido de uma remessa agora também.
— Você deve ter perdido o seu telefone no trailer ou quando estava tentando escapar dele, —disse Divine, observando-o procurar nos bolsos. — Não está com você.
— Como você sabe? —Marcus perguntou desconfiado.
— Porque eu procurei seus bolsos por dinheiro quando parei para colocar gasolina, —ela admitiu em voz baixa. — Eu não tinha o suficiente comigo para encher este beberrão13 de gasolina e não queria roubar o combustível. Felizmente, você ainda tinha sua carteira. Mas a encontrei no último bolso que procurei e não achei um telefone, então ... ela encolheu os ombros quando saiu da pista de terra e entrou em uma estrada asfaltada. — Você não está com ele.
— E minha carteira? —Marcus perguntou, de repente parecendo cauteloso, e Divine sorriu.
— Receio, que enquanto procurava por dinheiro, vi seus cartões de crédito e sua carteira de motorista e notei que seu nome é Marcus Notte, não Marco Smith? —Perguntou ela, divertida. Quando ele pareceu perdido sobre como lidar com isso, ela balançou a cabeça e disse suavemente: — Não há necessidade de parecer tão culpado. Muitas pessoas usam nomes falsos quando entram para o Parque.
Marcus grunhiu e pareceu relaxar no banco, embora suas mãos estivessem cerradas pela dor que ainda lutava contra. Depois de um momento, ofereceu um cansado — Obrigado novamente por cuidar de mim.
— Não é como se eu tivesse algo melhor para fazer, —disse Divine ironicamente, sua atenção principalmente na direção do carro. — Minha casa e meu negócio foram destruídos no incêndio, assim como o dinheiro que tinha em mãos. Vou ter que esperar até segunda-feira para conseguir dinheiro suficiente para comprar outro trailer e começar tudo de novo. —Ela olhou com um toque de diversão curvando os lábios e acrescentou: — Isso significa que eu estou à sua disposição pelo menos até lá.
— Sorte minha, —Marcus disse baixinho, e não soou como sarcasmo. Mas então provavelmente estava pensando que era realmente sua sorte, supôs Divine. Afinal, o trabalho dele era descobrir se ela era Basha Argeneau e, sem dúvida, tê-la ao seu lado durante as próximas vinte e quatro horas só poderia ajudar nesse esforço.
— Divine?
— Hmm? —Ela murmurou, sua atenção já dividida entre dirigir e tentar decidir onde melhor ir para encontrar o sangue que ele precisava. Era sábado à noite. Bem, domingo de manhã realmente, ela descobriu olhando para o relógio do painel que dizia meia noite e trinta. A cidade grande sempre foi sua preferência. Poderia ir a bares ali e facilmente atrair um homem ou três do lado de fora para uma pequena mordida, um de cada vez, é claro. Mas as grandes cidades nem sempre eram facilmente acessíveis aos Parques que às vezes eram montados em cidades pequenas ou de tamanho médio. Ninguém, mortal e imortal, queria dirigir por horas para uma refeição, então nesses casos era forçada a se alimentar em áreas mais rurais. Ela tendia a escolher casas bem longe da população geral, grandes fazendas onde seus funcionários não precisavam ir até as cidades todos os dias e que moravam dentro da própria fazenda. Isso fazia com que ser pega menos provável. Esse tinha sido seu truque com Marcus enquanto ele estava se recuperando. Deixá-lo em um estacionamento no bar enquanto ela ia buscar doadores para ele não parecia prático. Seus gritos não permitiriam isso. Ela tinha que encontrar uma boa família saudável nos campos.
Na verdade, acabou tendo que encontrar duas famílias saudáveis nos campos. Isso foi culpa dela. Obviamente não tinha pensado no que poderia acontecer quando trouxe os primeiros doadores para ele. Marcus estava tão desesperado por sangue que atacou com uma velocidade e necessidade desconcertante. Divine controlou a mente da garota para que ela não sentisse a dor do ataque ou sequer estivesse ciente disso, o que era muito mais fácil do que tentar apagar a memória depois.
No entanto, quando ela julgou que ele havia recebido o suficiente do primeiro doador e tentou fazer com que Marcus parasse, ele não tinha sido capaz ou não estava disposto a fazê-lo. Preso em sua sede de sangue, Divine não foi capaz de puxá-lo. Ela acabou tendo que bater na cabeça dele com o macaco hidráulico que encontrou na parte de trás do veículo para fazê-lo parar. Isso aconteceu três vezes antes que Divine tomasse uma providência.
Felizmente, na terceira vez, ele acabou se machucando e desmaiando enquanto tentava machucá-la. Já era domingo de manhã e ela foi de carro até a cidade a uma enorme loja de equipamentos para comprar a corrente mais grossa que eles tinham. Marcus ainda estava inconsciente quando ela retornou ao SUV. Por sorte, o estacionamento estava quase vazio, então ela se arriscou a ser vista e o acorrentou à geladeira antes de voltar ao campo para buscar outro doador.
Marcus estando acorrentado fez tudo muito mais fácil. Divine não teve que bater nele com o ferro novamente depois disso, o que definitivamente foi uma coisa boa. Toda vez que ela o acertava, ela dava ao nano em seu corpo mais dano para consertar, o que significava mais sangue necessário. Estava virando um ciclo vicioso desse jeito.
— Estou tendo algumas lembranças desagradáveis, —Marcus disse timidamente.
Divine olhou para ele naquele comentário e então se virou novamente. — Eu não estou surpresa. Ser assado em um trailer não pode ser agradável.
— Não, não sobre isso, —ele disse baixinho. — Essas lembranças são meio confusas, mas eu ... eu ataquei pessoas?
Divine fez uma careta. Se ele estava se alimentando de sangue ensacado, significava que não tinha caçado muito desde o advento dos bancos de sangue. Tinha certeza que estava desacostumado com alimentação nos mortais. Isso explicava porque suas maneiras haviam sido bastante horríveis. Ele realmente parecia descontrolado. Duvidava se ele tinha conhecimento de que seus doadores eram seres vivos pela maneira como ele rasgou sua carne. Ela dificilmente diria isso a ele, então disse: — Eu trouxe doadores, e sim, você estava um pouco entusiasmado, mas isso era de se esperar depois do que passou.
— Então eu não machuquei ninguém? —Ele perguntou com uma carranca.
— Eu controlei seus doadores para você. Eles não se lembram de nada, —ela assegurou-lhe calmamente.
— Então eu os machuquei, —ele disse infeliz.
Divine hesitou. — Eles vão ficar bem. Você tomou um pouco mais de sangue do que eu estava confortável com a primeira doadora, mas isso foi minha culpa. Deveria ter esperado essa reação. Você estava em grande necessidade e muita dor. Além disso, quando eu não consegui que você a libertasse, eu ... éé ... —ela suspirou e admitiu: — Eu bati na sua cabeça com um macaco hidráulico Ela sentiu mais do que viu o olhar afiado que ele deu a ela.
— Funcionou, —ela disse sem pedir desculpas. — Você a libertou e foi a tempo. Ela está provavelmente um pouco fraca e anêmica esta manhã, mas está bem.
Marcus amaldiçoou e afundou infeliz em seu assento. Quando ela o olhou, ele estava fazendo uma careta. — Eu me lembro agora. Agi como um animal. —Ele olhou pela janela com insatisfação por um momento, depois se mexeu desconfortavelmente e disse: — É perturbador perceber quão fino é o verniz da civilização. Nós somos realmente apenas animais sob o rosto educado que oferecemos à sociedade.
— Não é só nós. Faça um mortal passar fome por uma semana ou duas e depois dê a ele uma coxa de frango e ele vai comer como um animal também, rasgando a carne, engolindo-a inteira, encharcando as mãos de gordura, —ela disse baixinho. — Sobrevivência é um forte instinto ... você não fez nada para se envergonhar.
Marcus ficou em silêncio por um momento e depois suspirou as palavras — Obrigado.
Divine olhou para ele com surpresa. — Por que agora?
— Por ... tudo, —disse ele com um sorriso cansado.
— Mesmo explodindo suas bolas? —Ela perguntou com diversão.
— Bem, eu poderia ter passado sem isso, —Marcus disse com um sorriso torto. — Mas eu mereci. —Ele se virou para olhar para ela através do interior escuro do carro. — Onde você estava quando o fogo começou?
— Na cidade, —ela admitiu, e sua boca se apertou. — Voltei para encontrar o trailer totalmente envolvido por chamas e carnies correndo ao redor tentando apagar o fogo da porta o suficiente para entrar e procurar por mim.
— Eles teriam feito isso? —Marcus perguntou com espanto.
— Carnies são como família, —disse Divine calmamente, e então seus lábios se inclinaram com um sorriso torto e ela acrescentou: — Possivelmente uma totalmente disfuncional, mas ...
— Bem, uma família como qualquer outra, então, —ele brincou, mas ela podia ouvir a dor em sua voz. O homem estava sofrendo. Ela realmente precisava descobrir onde encontrar sangue para ele e algum para ela mesma. Marcus acabou não atacando os doadores que ela trouxe depois que foi amarrado. Mas ficou bastante agressivo com ela antes de acorrentá-lo. Divine não tinha tomado isso pessoalmente. Sabia que ele não sabia o que estava fazendo. Ainda assim, ela se feriu bastante no processo. Ela se curou rápido o suficiente, mas isso significava que precisou beber uns dois a quatro litros, e agora precisava de sangue novamente.
O problema era que agora que Divine sabia que alimentar-se de mortais era contra as regras, estava relutante em fazê-lo, mesmo em uma emergência como essa.
— Então, quem está tentando matar você, Madame Divine?
Capítulo 9
Divine endureceu.
Ele a pegou de surpresa com essa pergunta, tanto que olhou para ele bruscamente, girando o volante enquanto fazia e mandando o SUV para o lado da estrada. Depois que colocou o veículo de volta sob controle, Divine se forçou a relaxar e perguntou: — Do que você está falando?
— Você foi atacada naquela primeira noite depois que voltamos da procura de Hal e Carl. A julgar pela quantidade de sangue no trailer e em suas roupas, você também se machucou muito, —disse ele em voz baixa. — E agora alguém colocou seu trailer em chamas.
— O fogo foi de propósito? —Ela perguntou baixinho, uma careta curvando seus lábios.
— Você achava que tinha sido um acidente? —Ele perguntou secamente.
Divine soltou um longo suspiro e depois admitiu: — Não tive muito tempo para me preocupar com isso. —Mas agora estava. Franzindo a testa, ela perguntou: — O que aconteceu?
— Acordei, ouvi um barulho, alguém abriu a porta. Podia sentir o cheiro e não era você. —Marcus sorriu suavemente quando ela olhou para ele com surpresa. — Você cheira a rosas e baunilha. O cheiro que senti era mais masculino.
— Você os viu? —Ela perguntou preocupada.
— Não, —admitiu Marcus. — Quando percebi que não era você e abri os olhos, eles já haviam fechado a porta. Levantei e comecei a andar pelo trailer, já estava na sala quando de repente surgiram chamas do lado de fora das janelas. Ele deve ter derramado gasolina em volta antes de entrar ou havia mais de um e uma vez que um deles garantiu que você estava dentro, o outro acendeu as chamas.
— Mas eu não estava dentro. Você estava, —apontou Divine.
— Eu estava coberto pelo cobertor, minha cabeça virada para o lado. Tudo o que eles provavelmente viram foi um cabelo claro saindo do topo do edredom. Se é que ele viu isso. Tudo o que ele provavelmente poderia imaginar era que alguém estava na cama. Não havia luzes acesas no trailer, —ele apontou.
Divine assentiu, mas não pôde deixar de pensar que se ele ou eles em questão fossem imortais, teriam visto mais do que Marcus pensava.
— Você acha que poderia ter sido o marido que te atacou mais cedo?
Ela olhou para ele com surpresa. — Você quer dizer o Senhor-planejo-matar-minha-esposa.
Marcus assentiu.
Divine pensou sobre isso. Ela não achava que a pequena doninha poderia ter a coragem de fazer algo assim, mas não tinha certeza disso. Então, era possível.
Ao avistar as luzes de um posto de gasolina na beira da estrada, Divine diminuiu a velocidade.
— Eles têm uma estação de aspirador a vácuo14, —assinalou Marcus.
— E um banheiro público. —Divine dirigiu o carro e parou ao lado da entrada da estação do aspirador. — Você pode ir se limpar e depois se alimentar enquanto eu aspiro a parte traseira do carro.
Marcus foi até a parte de trás e pegou sua mochila no banco, parando no meio do caminho com o seu comentário.
—Você precisa se alimentar, —ela disse baixinho. — É melhor que você faça isso enquanto ainda está sob controle.
Ele soltou um suspiro lento e assentiu solenemente quando terminou de pegar sua bolsa. — Deixe que a aspiração eu faço quando sair.
— Claro, —disse Divine enquanto saía do carro. Ele fechou a porta e entrou na loja, voltando um momento depois com a chave do banheiro na mão. Divine o observou até que ele entrou no banheiro, e então ela foi até a estação do aspirador. Havia moedas e papeis de contas no porta-copos no centro do SUV entre os assentos dianteiros, e Divine pegou um punhado deles, tirando-os para fora. Um momento depois, abriu a porta de trás, ligou o aspirador de pó e começou a limpar a bagunça na traseira do SUV. Havia muita sujeira. Divine estava apenas na metade da tarefa quando Marcus apareceu ao lado dela.
— Eu disse que faria isso, —Marcus disse com exasperação, pegando a mangueira de vácuo dela.
— Você pode terminar enquanto eu uso o banheiro, —disse ela ignorando-o, e depois virou-se para a entrada do posto de gasolina para pegar a chave que ele acabou de devolver. Um olhar para o único atendente do posto de gasolina e Divine sabia que Marcus não tinha se alimentado. Pensou em se alimentar dele, mas viu que não podia fazer isso. Se o sangue ensacado tinha a mesma qualidade que o sangue vindo direto de um doador ... e se Marcus, que precisava mais do que ela, não se alimentou do atendente ...
Parecia que teriam que encontrar algum sangue ensacado, ela pensou severamente enquanto se dirigia para a porta do banheiro ao lado do prédio. Divine não precisava ir ao banheiro, mas queria espirrar um pouco de água no rosto e talvez despertar do cansaço. Estava exausta, mas precisava continuar a viagem. Ela não tinha ideia de onde ficava o banco de sangue mais próximo, mas suspeitava que precisaria dirigir até San Bernardino para encontrar um.
Marcus terminou com a aspiração e estava no telefone público do lado de fora da estação quando Divine voltou ao redor do prédio. Endureceu com a visão, mas continuou passando por ele para devolver a chave. Ele estava desligando quando ela voltou.
— Estamos com sorte, —disse ele, afastando-se do telefone enquanto ela se aproximava.
— Nós estamos? —Divine perguntou suavemente.
— Sim. Não estamos longe de Los Angeles. Há um amigo da família que mora fora da cidade. Seu lugar é apenas cerca de meia hora daqui. Ele pode dar um pouco de sangue ensacado para nos ajudar até que Bastien possa providenciar para nós.
— Nós? —Ela perguntou cuidadosamente.
— Expliquei que o fogo destruiu todo o sangue que você tinha em mãos e precisaria de um novo suprimento também, —disse Marcus solenemente.
Divine apenas balançou a cabeça e virou-se para caminhar em direção ao trailer. Ela não tinha sangue em seu trailer, e ele sabia disso, principalmente depois da reação dela com a visão do sangue ensacado, mas ele a acobertou. Ela não sabia o que fazer com aquilo.
— Eu vou dirigir, —Marcus disse quando ela automaticamente se dirigiu para o lado do motorista. — Você provavelmente não dormiu muito enquanto me observava, e eu definitivamente não vou dormir. Também pode descansar um pouco no caminho. Além disso, eu sei o caminho e você não.
Divine apenas balançou a cabeça e mudou de direção, indo para o lado do passageiro. Ela estava ciente de que Marcus a estava seguindo, e ficou confusa com isso até que ele abriu a porta do passageiro para ela.
— Obrigada, —ela murmurou, conscientemente, entrando no veículo.
— O prazer é meu, —Marcus murmurou e fechou a porta.
Divine balançou a cabeça e simplesmente colocou o cinto de segurança. Não estava acostumada a ser tratada como ... bem, como uma dama. Tinha sido independente por tanto tempo, realmente vivendo mais como um homem do que uma mulher durante a maior parte de sua vida. Desde o momento em que foi capaz de cuidar da sua própria vida, ela ... bem, ela estava sozinha. Carregando seu próprio peso e às vezes o peso dos outros. Abriu suas próprias portas, encontrou suas próprias refeições, pagou suas próprias contas. Não estava acostumada com outra pessoa arrumando suas refeições e abrindo portas. Ela não sabia como lidar com isso.
— O assento se ajusta, —Marcus anunciou quando ele sentou no banco do motorista. — Reclina-se, o apoio lombar ajusta-se e a cabeça sobe e desce. Aqui vou mostrar a você, —acrescentou quando Divine olhou para ele com uma expressão neutra.
Ela respirou fundo e recostou-se no banco quando Marcus de repente estendeu a mão para os botões do lado do banco do passageiro. Seu assento reclinou lentamente, muito lentamente em sua opinião, desde que ele permaneceu envolto por ela o tempo todo. Uma vez que ela estava quase deitada de costas, ele pegou a mão dela e levou-a até os botões.
— Este levanta e abaixa a parte inferior do seu assento. Este levanta e abaixa seu encosto de cabeça. Este o move de um lado para o outro, se você o deslocar para frente e para trás, mas o eleva e abaixa, se você virar isso ...
— Eu entendi, —Divine ofegou, desesperada para tirá-lo de cima dela. O homem deve ter se limpado para valer no banheiro do posto de gasolina. Ele mudou de roupa, mas também deve ter se lavado na pia. Esse era o palpite dela. Marcus cheirava limpo e masculino, sem sequer um traço do cheiro de pele chamuscada de mais cedo e ela, por algum motivo, achou isso um pouco angustiante.
Marcus levantou uma sobrancelha para suas palavras ofegantes, mas se endireitou e colocou seu próprio cinto de segurança. Quando ele ligou o motor, disse: — Apenas relaxe. Nós chegaremos lá em um instante e então poderemos nos alimentar e ter um bom sono.
Divine murmurou afirmativamente, depois reclinou-se e fechou os olhos. Apesar do estresse e exaustão que vinha sofrendo nas últimas vinte e quatro horas, estava certa de que não iria dormir um único cochilo, estava muito cansada para dormir. O problema era que ela não conseguia descobrir o motivo de estar nervosa, exceto que parecia aumentar cada vez que ele chegava perto dela. Estranho, foi o último pensamento de Divine antes daquele sono que ela tinha certeza de que não conseguiria alcançá-la.
Marcus se encontrou olhando repetidamente para Divine enquanto dirigia. Ela adormeceu rapidamente depois de sair do posto de gasolina, mas a verdade é que já parecia exausta quando ele acordou. Imaginou que ela não deve ter dormido nada desde que voltou para encontrar seu trailer em chamas. Ela estava cuidando dele em vez disso e isso era algo que Marcus não estava acostumado. Ele passou a maior parte de sua vida cuidando dos outros. Quando menino, seu avô o havia convocado e encarregou-o da tarefa de cuidar de seu tio Julius. Apesar de Julius ser seu tio, era na verdade dois anos mais novo que ele. Os dois haviam crescido juntos e já estavam tão próximos quanto irmãos quando seu avô fez o pedido, e Marcus levou isso a sério. Seu avô nunca dissera por que ele deveria proteger Julius, ou quem estaria o ameaçando, mas isso não importava, Marcus tinha assumido sua responsabilidade e agido como amigo e guarda-costas por séculos depois disso.
Pelo menos, ele tinha até o filho de Julius, Christian, nascer. Houvera alguns negócios desagradáveis quando o menino era jovem e Julius pedira a Marcus que cuidasse de seu filho. Ele não teve que pedir duas vezes. Marcus tinha se tornado confidente e guardião de Christian, acompanhando-o em todos os lugares e ajudando a guiá-lo pela vida, mantendo-o seguro. A necessidade disso terminou quando Julius se conectou com sua Companheira de Vida, Marguerite. Os perigos que preocupavam o avô em relação a Julius, e que mais tarde Julius se preocupou com o próprio filho, haviam sido revelados e resolvidos. Nem Julius nem Christian precisavam de mais proteção. Marcus de repente se viu sem objetivo ... e isso tinha sido incrivelmente estranho para ele. Se sentia um pouco perdido e inútil depois disso.
Foi Marguerite Argeneau que notou sua mudança de comportamento e repentina falta de energia e lhe dissera que estava sofrendo o que os mortais chamavam de síndrome do ninho vazio. Ele estava como uma mãe que passou a vida se dedicando a casa, e de repente os filhos crescem e deixam o ninho, deixando-a com o sentimento que não é mais necessária. Marguerite então disse a ele que Lucian tinha um problema pessoal e que necessitava de ajuda. Havia um parente dele que precisava encontrar e descobrir se esse parente seria ou não um desonesto. Talvez ele pudesse ajudar Lucian a encontrar esse indivíduo, ela disse. Pelo menos daria a Marcus alguma coisa para ocupar sua mente e tempo enquanto ele se ajustava à mudança de situação.
Marcus recusara-se à simples sugestão de que ele estava agindo como uma dona de casa mortal, mas a ideia de ajudar Lucian a encontrar esse membro da família havia atraído algum interesse. Ser útil para qualquer um naquele momento parecia atraente. Não que ele não tivesse um emprego. Ele sempre teve um emprego quando queria. A empresa da família, a Notte Enterprises, tinha muitos cargos e ele poderia ter trabalhado em qualquer um deles se quisesse. Na verdade, ele tinha substituído Julius nos últimos anos, enquanto o tio se adaptava à vida com sua Companheira de Vida, mas Julius agora já estava muito bem adaptado, e Marcus não era mais necessário lá.
Lucian, por outro lado, precisava dele, embora suspeitasse que o homem nunca diria isso. Essa Basha Argeneau era alguém que obviamente ele queria muito encontrar. Sabia disso porque Lucian tinha sido muito frio em explicar a situação para ele, e ele descobriu que, com Lucian, quanto mais frio era, mais importante algo era para ele. Era como se tivesse que se separar de toda emoção para poder lidar com as questões que mais lhe tocavam. Pelo menos com problemas onde ele temia que o resultado não fosse feliz. Marcus sabia que ele tinha feito isso com seu irmão Jeanne Claude, quando descobriu que o homem estava se alimentando de mortais ... e ele estava fazendo isso novamente com Basha. Lucian só não conseguia se separar da emoção quando se tratava de sua Companheira de vida, Leigh. Ele também estava mantendo informações mais profundas sobre essa sobrinha. Tudo o que Lucian disse a Marcus sobre Basha era que ela era sua sobrinha, filha de um irmão falecido. Que ela desaparecera há muito tempo, e que seu nome havia aparecido em relação a Leonius Livius II, um ladino Sem-presas que gostava de se alimentar de mortais vivos em vez de se contentar com sangue ensacado. Esses mortais muitas vezes acabaram mortos quando terminou com eles.
Até onde Marcus sabia, Lucian não tinha certeza se essa Basha, que estava ligada a esse ladino, era a mesma Basha, sua sobrinha desaparecida há muito tempo. Mas Lucian temia que ela fosse, a contar pela informação que recebeu de um dos filhos de Leonius, Ernie, e de Dee, uma mortal meio louca que viajava com Ernie.
Ernie alegara que ela era sobrinha de Lucian, mas Lucian parecia não acreditar que a garota que conhecia quando criança se enredasse com nomes como Leonius Livius II. De qualquer maneira, queria a mulher encontrada e trazida até ele.
Marcus olhou para Divine novamente e se perguntou se ela era a mulher em questão. Difícil dizer. Não havia fotos da tal Basha. Fotos não existiam nos dias em que ela desaparecera e, quando alguém sugeriu que um desenhista desenhasse um retrato falado, Dee e Ernie não estavam dispostos a ajudar. O Conselho teve a mente de Dee apagada, o que tinha sido a coisa mais gentil a fazer pela garota e Ernie ... bem, o Conselho já havia julgado e o executado.
No final, foi Lucian quem trabalhou com o desenhista, mas suas memórias dela eram de mais de dois milênios atrás.
Ela era uma jovem então, em algum lugar no começo da adolescência, pelo palpite de Marcus. Eles encontraram alguém para envelhecer a imagem, fizeram cópias da nova foto e enviaram-na a cada ponto de entrega de sangue que a Argeneau Enterprises possuía. Anexado à foto havia um bilhete solicitando que qualquer pessoa que visse essa mulher deveria entrar em contato com a Argeneau Enterprises. Aparentemente, havia inúmeras ligações, e Lucian tinha várias pessoas verificando as informações coletadas. Marcus era um deles.
O telefonema que ele estava acompanhando tinha vindo de um imortal em Nevada que havia visitado o parque de diversões alguns anos atrás e tinha visto uma vidente lá chamada ‘Madame alguma coisa’, que ele achava meio parecida com a imagem.
Marcus tinha ido a Nevada para entrevistar o indivíduo e descobrir que Parque era esse, mas o homem não sabia o nome. Ele nunca se incomodou em memorizar, mas deu a Marcus a data em que visitou o Parque. De posse dessa informação e o nome da cidade, Marcus tinha sido capaz de descobrir por si mesmo. O único problema era que, uma vez que ele rastreou o Parque e os alcançou, foi informado de que sua vidente, Madame Divine, havia deixado esse parque alguns anos para se juntar a outro Parque e eles não sabiam o nome dele.
Isso forçou Marcus a começar a checar todos os Parques que tinham uma vidente. Ficou surpreso de quantas empresas de Parque operavam nos Estados Unidos e visitou cada um deles. Até agora, ele encontrou três imortais viajando com Parques. Um deles era um homem que tinha sido arisco como o inferno e tinha saído no minuto em que Marcus chegou, o que o fez pensar que ele deveria mencionar o tal homem a Lucian. Viajar com um Parque seria uma boa maneira de um ladino se esconder. O segundo imortal era uma mulher. Ela também era uma vidente como Divine, mas não se parecia em nada com o esboço. Divine era a terceira imortal, também uma vidente. No entanto, ela parecia um pouco com o esboço. Pelo menos, ele pensou que ela poderia parecer se fosse loira. Não tinha certeza. Até que estivesse certo, Marcus tinha que ficar por perto e descobrir.
Seu olhar deslizou para ela novamente e sua boca torceu com desprazer. Neste momento, realmente esperava que ela não fosse Basha. Ele gostava de Divine. Também descobriu que a desejava. Não podia lê-la ou controlá-la, mas começou a comer. Ele havia comido aquele algodão-doce no dia seguinte enquanto se distraíra, e depois uma maçã doce na tarde do incêndio, quando uma das garotas, uma mulher que trabalhava com ele, parou no Tilt-A-Whirl para flertar e ofereceu-a. A maldita coisa tinha parecido deliciosa e seu estômago roncou à vista, e antes que soubesse o que estava fazendo, Marcus pegou a maçã com um agradecimento e a mordeu.
Aquela maçã tinha sido a coisa mais deliciosa que provou em séculos. Suculenta, doce e azeda de uma só vez ... Porra, ele comeu até o caroço.
Parecia bastante certo que Divine era sua Companheira de Vida.
Se ela também fosse Basha ... bem, isso era apenas uma complicação que não precisava.
Suspirando, Marcus entrou na garagem de Vincent Argeneau, parou no portão e apertou o botão para chamar a casa. Mas antes de anunciar a chegada deles, Marcus se aproximou e gentilmente cutucou Divine.
— Já chegamos, —ele anunciou em voz baixa quando ela piscou os olhos abertos com confusão.
— Eu adormeci. —Ela parecia surpresa, e Marcus sorriu.
— Você estava acabada. Pude ver isso quando acordei. Você precisava dormir.
— Obrigada, —disse ela secamente. — Você realmente sabe como encantar uma garota.
— Desculpe, —ele murmurou, percebendo o quão pouco lisonjeador suas palavras devem ter soado. Não quis dizer isso dessa maneira. A mulher era linda para ele, mesmo com o cabelo bagunçado, o rosto pálido e enormes bolsas pretas sob os olhos. Suspeitava que ela poderia ficar na frente dele usando um saco de batata e coberta de lama e ele ainda a acharia linda ... e isso era um pouco alarmante.
Virando-se, Marcus apertou o botão do intercomunicador em um posto a vários metros do portão fechado até a entrada da garagem e depois esperou.
— Sim? —Era a voz de uma mulher. Provavelmente Jackie, esposa de Vincent e sua Companheira de Vida, pensou Marcus ao dar seu nome a ela.
— Entre! Estávamos esperando, —disse Jackie, parecendo quase dolorosamente alegre. Obvio que Bastien os alertara sobre sua Companheira de viagem. Jackie era uma investigadora particular antes de se casar com Vincent Argeneau e ele sabia que ela ainda era muito boa nisso. Jackie estaria toda sobre isto como branco em arroz, fazendo tudo que podia para descobrir se Divine era a Basha que Lucian estava procurando ... e esse pensamento preocupava Marcus.
Empurrando a preocupação para o lado por enquanto, tirou seu pé do freio e acelerou quando o portão começou a se abrir.
Capítulo 10
Divine olhou curiosa ao redor enquanto se dirigiam para a entrada da garagem, suas sobrancelhas subindo quando passaram pelo portão e ela podia realmente ver a casa banhada pela luz do sol da manhã. Dois andares e enorme, era muito maior do que esperava. Este ‘amigo da família’ era obviamente o tipo que teve sucesso. Mas então ele não tinha sido prejudicado por ter que passar a vida se escondendo, Divine disse a si mesma. Além disso, ela podia não ter uma casa grande e tal, mas economizou bastante dinheiro ao longo dos anos. Não era exatamente pobre. Simplesmente não podia se dar ao luxo de chamar atenção para si mesma esbanjando dinheiro, então vivia de forma simples.
Teria sido bom ter um lar de verdade, Divine reconheceu tristemente enquanto espiava as janelas com cortinas e jardins bem cuidados. Um lar onde a casa não tivesse que se mover em terrenos alugados a cada dois dias, como fazia com o seu trailer. Mas Divine tinha desistido desse sonho há muito tempo. Ficar em algum lugar permanente era perigoso. O movimento constante ajudou impedir a ser capturada.
Marcus estacionou na frente da casa e desligou o motor. Olhando para ela quando ele abriu a porta, disse: — Vamos?
Os olhos de Divine se arregalaram de surpresa. — Eu estava planejando esperar no SUV enquanto você entrava para pegar o sangue com seus amigos.
Marcus hesitou e depois fechou a porta. Virando-se para encará-la, ele disse solenemente: — Bastien enviará o sangue para ser entregue aqui, mas não chegará até amanhã, o mais tardar até a noite. Vincent e Jackie se ofereceram para nos acomodar até o sangue chegar. Eles vão nos alimentar e nos dar quartos para dormir.
Divine fez uma carranca com esta notícia. Não se preparou para isso. Não estava acostumada a depender dos outros e não se sentiria à vontade fazer isso agora. — Eu tenho que voltar para o Parque, Marcus. Madge ficará preocupada comigo. Ainda não tive oportunidade de ligar. E eu tenho que tirar dinheiro do banco, comprar um novo trailer e configurá-lo para os clientes. Eles contam comigo para ...
— Você pode ligar ou mandar uma mensagem para Madge da casa. Tenho certeza de que Vincent ficará feliz em permitir que você use o telefone. E você não pode comprar um novo trailer até conseguir o dinheiro. Hoje é domingo. Os bancos estão todos fechados. Então isso vai ter que esperar até amanhã de qualquer maneira.
Estendendo a mão, ele pegou as mãos dela e disse gentilmente: — Você precisa de sangue e de um lugar para descansar. Ambos estão esperando depois daquela porta.
Divine se virou e olhou para a porta em questão, mas ainda hesitou. Finalmente, ela disse: — Conte-me sobre esses seus amigos.
Marcus hesitou e disse: — Bem, os nomes deles são Vincent Argeneau e Jackie Morrisey Argeneau. Eles são companheiros de Vida que se encontraram há cerca de quatro anos.
Divine endureceu em seu assento, seu coração de repente batendo como um coelho assustado em seu peito. Argeneau? Ele a trouxe para a casa de um Argeneau? Seus amigos da família eram Argeneaus? Quem eram eles? Como eles estavam conectados a ela? Deus querido, ela estava sentada do lado de fora da cova do leão como um cordeiro à espera do abate.
— Jackie nasceu mortal e foi transformada há menos de cinco anos ... por um ladino, —acrescentou ele em voz baixa. — O que foi uma sorte, porque Vincent usou sua transformação para salvar uma prima minha.
Divine engoliu. Jackie era uma mortal transformada? Isso era bom. Jackie não seria capaz de lê-la e não seria uma ameaça.
Contudo ... — Quantos anos tem Vincent?
Marcus fez uma careta e depois admitiu: — Não tenho certeza. Acho que ele tem cerca de quatrocentos ou quinhentos anos de idade.
— Um bebê, —murmurou Divine, relaxando um pouco. Nenhum deles seria capaz de lê-la. Se ela apenas continuasse a agir como se não houvesse nada de errado, certamente não saberiam quem ela era, não é? Ela se perguntou, no entanto, quem eram seus pais e se os conhecera.
Se perguntou se lembraria de seus pais se os visse. Muito tempo se passou desde que morou com os avós. O tio Lucian era muito próximo, assim também era seu irmão gêmeo, embora ela não conseguisse lembrar o nome dele. Não gostava muito do homem. Lembrava-se de uma tia Marta ou Martine, e um par de outros tios a visitando uma vez ou outra, mas essas não eram lembranças que ela tinha guardado. Fez o melhor que pôde para esquecer esse tempo de sua vida, uma vez que percebeu que nunca poderia voltar para ela.
E ainda, aqui estava ela, prestes a encontrar um parente, e Divine se viu estranhamente entorpecida com a coisa toda. Este homem era provavelmente seu primo ou outra coisa, mas não se sentia como se estivesse prestes a se encontrar com a família. Ele era um estranho para ela, mesmo que tivessem ou não o mesmo sobrenome.
— Vincent tem uma empresa com interesses diversificados, mas seu principal foco é no teatro, —continuou Marcus. — Ele é um produtor de peças teatrais. Costumava atuar nelas também, mas pelo que sei abandonou as atuações desde que conheceu Jackie.
Um ator, pensou Divine, relaxando um pouco mais. Nenhum deles soava muito ameaçador, e com certeza não poderia machucar ficar aqui por uma noite, não é? Ela estava exausta, e dormir em uma cama, em vez do SUV soava muito atraente. Suspirando, Divine balançou a cabeça e puxou suas mãos livres de seu aperto. Seu toque era estranhamente perturbador.
— Bem. Uma noite, —ela disse baixinho, alcançando a porta. — Mas amanhã, tenho que ir a um banco e depois a algum lugar que venda trailers.
— Eu vou junto com você, —ele assegurou, saindo do seu lado quando ela abriu a própria porta e deslizou para fora.
— Para onde os dois estão indo?
Divine se virou para aquela alegre pergunta e se viu olhando para uma mulher loira bem vestida, baixa e curvilínea, com olhos inteligentes e cheios de curiosidade.
— Jackie, —disse Marcus com um aceno de saudação e rodeando o SUV. Virando-se para Divine, ele disse: — Esta é Jackie Morrisey Argeneau. A esposa de Vincent. Voltando-se para a mulher, ele acrescentou: — Jackie, essa é Divine.
Jackie sorriu e ofereceu uma mão em saudação, mas perguntou: — Somente Divine?
— É Madame Divine, mas só Divine servirá, —ela disse suavemente.
— Certo, —disse Jackie lentamente, estreitando os olhos brevemente. Mas então ela sorriu e se virou para Marcus. — Então, para onde você está indo com a Divine?
— Oh. —Ele sorriu torto. — O trailer de Divine foi incendiado há duas noites e ela precisa comprar um novo. Teremos que ir a um banco e depois comprar um novo trailer amanhã.
Divine notou o choque e desânimo no rosto de Jackie quando ela percebeu o que o fogo tinha feito no rosto de Marcus e se viu olhando para ele de perto. De alguma forma, esquecera que seu rosto ainda mostrava os estragos do fogo. Sob a forma de cicatrizes, mas ainda estava devastada.
— Querido Deus, Marcus. —Esse comentário, tão horrorizado quanto a expressão de Jackie, atraiu o olhar de Divine para um imortal masculino que acabava de sair da casa. Ele era tão sombrio quanto a mulher era bonita, seu rosto exibia traços esculpidos e os impressionantes olhos azul-prateados de um Argeneau. Ele também estava obviamente horrorizado com o estado de Marcus no momento.
— Você estava no trailer na hora, —disse Jackie, e não era uma pergunta. Seu olhar então se voltou para Divine e se estreitou. — Mas você não estava.
— Não. Eu não estava, —disse Divine, sua voz fria com a suspeita nos olhos da mulher. — Eu estava na cidade e voltei para encontrar o trailer em chamas e Marcus escondido no carrinho de algodão doce.
— Ela ajudou a me colocar no SUV e me tirou de lá, —disse Marcus rapidamente, chamando a atenção do casal para ele novamente. — Está cuidando de mim nas últimas vinte e quatro horas e conseguiu encontrar alguns doadores para ajudar a iniciar a cura. Mas eu obviamente preciso de mais sangue para terminar, e ela precisa de sangue também, mas nenhum de nós se sentia confortável se alimentando diretamente de mortais, uma vez que o pior da cura foi feito.
O olhar de Divine cintilou com suas palavras. Ela não se sentia desconfortável com a alimentação diretamente de mortais, apesar de ter se sentido relutante em se alimentar dessa maneira agora que sabia que não deveria. Sua negligência em se alimentar no posto de gasolina, apesar da agonia que ele estava passando, a fez desistir em se alimentar do atendente, mesmo sentido dor de fome. Ainda assim, ela não mencionou seu incômodo em se alimentar a Marcus e se perguntou se ele tinha sido capaz de enxergar de alguma forma sua relutância, ou estava apenas dizendo isso para o benefício do casal.
— Bem, nós recebemos uma encomenda nova ontem, então temos muito sangue disponível no momento, —disse Vincent alegremente, chamando a atenção de Divine para o casal a tempo de ver Jackie olhando para ela com atenção. Ela se perguntou o porquê da desconfiança da mulher enquanto Vincent continuava, — Então venham para dentro. É cama e sangue para vocês dois. Parece que os dois precisam disso.
— Obrigado, —disse Marcus solenemente, tomando o braço de Divine.
Estava prestes a se livrar de seu aperto, quando percebeu que ele não estava tentando controlá-la, apenas pegando seu braço para levá-la para dentro no que poderia ser considerado uma atitude cavalheiresca. Realmente não estava acostumada com esse tipo de tratamento.
— Venham, a cozinha é por aqui, —disse Jackie, conduzindo-os pelo corredor enquanto Vincent se virava para trancar a porta da frente. Parecia que estavam preocupados com a segurança, ela notou e se perguntou sobre isso.
Marcus soltou o braço de Divine e mudou a mão para as costas dela enquanto seguiam a jovem. Divine teve que cerrar os dentes para conter o arrepio do toque inesperado.
— Temos muito sangue, por isso não sejam tímidos. Além disso, lembrem-se que Bastien está enviando mais, —Jackie os disse quando os levou para a grande cozinha brilhante no final do corredor.
Divine observou Jackie se mover para uma geladeira e a abrir olhando seu conteúdo, mas depois desviou o seu olhar para observar a cozinha. Era provavelmente a cozinha dos sonhos de todos os mortais, muitos armários, uma mesa enorme, uma grande ilha com bancos ao redor, e uma parede composta de grandes janelas e portas francesas que davam para uma piscina. Olhou a piscina com interesse. Divine amava nadar desde que era uma criança pequena e isso era natural nela. Eles costumavam dizer que ela nadou antes de caminhar, embora não soubesse se isso foi verdade.
— Aqui está.
Divine se virou para ver que Jackie tinha pegado meia dúzia de bolsa de sangue e estava segurando um em sua direção.
— Obrigada, —ela murmurou, aceitando a oferta. Mas apenas segurou. Quando olhou para Marcus e viu que Jackie já havia lhe dado uma bolsa, duas na verdade, e que ele havia aberto a boca e estava levantando uma para seus dentes caninos, seus olhos se arregalaram de alarme. — Espere. Marcus, talvez você devesse ...
Ela não se incomodou em terminar. A bolsa já estava presa aos dentes e seria drenada tão rápido que estaria vazia antes que pudesse terminar de falar.
— Há algo errado? —Jackie perguntou quando Vincent entrou na cozinha.
— Oh querida, —ele murmurou, absorvendo a situação.
— O que? —Jackie perguntou com perplexidade quando Marcus arrastou a bolsa agora vazia de seus dentes, o alarme em seu próprio rosto.
— Eu não lembrei, —ele arfou em desculpas, e mal tinha terminado de dizer quando gritou e caiu de joelhos.
Divine suspirou e entregou sua bolsa de volta para Jackie quando ela se ajoelhou ao lado de Marcus. — Você pode andar?
Sua resposta foi um rugido de dor quando ele alcançou seu próprio rosto, ambas as mãos estendidas em garras.
Divine segurou suas mãos antes que ele pudesse arrancar seu próprio rosto e olhou para Vincent, gritando: — Há uma corrente na parte de trás do SUV.
Assentindo, ele se virou e saiu correndo da cozinha.
— O que está acontecendo? —Jackie perguntou com alarme, gritando para ser ouvida por Marcus. — Ele estava bem há um minuto atrás.
— Isso era antes dele tomar o sangue, —Divine estalou, culpando-a por dar-lhe o sangue em primeiro lugar. Mas então lembrando que a garota era uma imortal a pouco tempo, e certamente situações como essa não apareciam todos os dias, cavou fundo por paciência e quando os gritos de Marcus caíram em um gemido constante e ruidoso, explicou: — Assim que Marcus tomou o sangue seus nanos correram para tentar terminar seus reparos. Será excruciante. Marcus deveria ter sido acorrentado ou amarrado antes de receber sangue.
— Mas então por que ele bebeu? —Jackie perguntou com desânimo.
— Ele obviamente não estava pensando claramente, —disse ela severamente.
— Mas ele parecia bem, —Jackie argumentou soando um pouco instável. — Ele estava falando bem e pensando bem ... e você o deixou dirigir até aqui, —ela apontou, soando acusatória.
— Ele estava bem, —assegurou Divine severamente. — Eu não teria deixado ele dirigir de outra forma, mas ... —Marcus conseguiu soltar uma mão dela, e ela levou um momento para agarrá-lo novamente, antes de dizer: — Olha, quando ele acordou da última vez, seu corpo não estava mais em perigo, mas precisava ser terminado a cura. Sem sangue a cura é interrompida, mas os nano começam a atacar os órgãos não essências como a bexiga e os rins em busca de mais sangue ...
— Dificilmente esses são órgãos que não são essenciais, —protestou Jackie.
— Eles são para um imortal. Qualquer dano causado a eles será revertido no momento em que o imortal receber mais sangue. Enquanto isso, a dor serve para dizer ao hospedeiro que eles precisam desse sangue. Os nanos na maior parte deixam a cérebro e os membros e migram para esses órgãos, até que o sangue necessário chegue. Eles geralmente são curados primeiro de qualquer maneira.
— Por quê? —Jackie perguntou imediatamente.
— Eu presumo que seja porque o cérebro, os braços e pernas sejam necessários para o hospedeiro obter o sangue que os nanos precisam, —disse Divine com os dentes cerrados enquanto arrastava as mãos de Marcus para segurá-las contra o seu próprio peito, pressionando-as lá. Ele quase escapou de novo, e ela não tinha dúvida de que se ele se soltasse tentaria arrancar seu próprio rosto em uma tentativa desesperada de acabar com a dor que estava sofrendo no momento. Não funcionaria, é claro, mas não estava exatamente pensando agora. Tudo o que Marcus estaria ciente neste momento era a agonia que estava passando enquanto os nanos se preparavam para reparar as cicatrizes recém-formadas em seu rosto. Provavelmente era como se a carne estivesse em chamas, ou como se tivessem pressionado frigideiras quentes em seu rosto. Basicamente, um milhão de pequenos nanos rasgavam a pele danificada em pedaços minúsculos e reconstruíam a pele nova e macia de bebê em seu lugar.
— Então a dor foi embora por tempo suficiente para ele obter o sangue? —Jackie perguntou, parecendo quase fascinada.
— Oh, ele ainda estava com dor, mas era um tipo diferente de dor, —disse ela, e percebendo sua expressão, Divine suspirou. — A dor quando você está com fome parece insuportável, certo?
Jackie assentiu.
— Bem, não é. Nós suportamos isso, mas certamente nos inspira a procurarmos o alimento. É como uma dor de dente ou um alarme estridente alto gritando sem parar. É doloroso, constante, pedindo que você faça alguma coisa. Nesse caso, alimentar-se. E é perturbador o suficiente para você se alimentar sem se importa com a dor que você sabe que sentirá quando fizer isso. Ou talvez a dor esteja lá para garantir que você não consiga pensar com clareza suficiente e recordar da dor que se seguirá quando se alimentar, —ela murmurou. Sabia de tudo isso apenas pela experiência depois de ter vivido tanto tempo. Divine não tinha nenhum conhecimento científico para apoiá-la. Encolhendo os ombros, ela disse: — Embora a dor causada pela necessidade de se alimentar pareça insuportável, a dor da cura é que é realmente insuportável. Marcus não vai aguentar isso por muito tempo antes de ... —Ela parou abruptamente quando o gemido de Marcus se transformou em outro grito longo e alto. Seu corpo inteiro vibrava brevemente em seus braços, seus dentes estalando como um cachorro encurralado de dor, e então ele ficou abruptamente mole como se alguém tivesse mexido em um interruptor para desligá-lo.
Divine olhou para o rosto pálido e cheio de cicatrizes e soltou um pequeno suspiro. Marcus tinha desmaiado, mas não sabia quanto tempo isso duraria. A dor provavelmente o acordaria daqui a pouco e o faria se debater e gritar novamente. Eles tinham que amarrá-lo rapidamente antes que acordasse e se machucasse. Caso contrário, seus novos machucados prolongaria a cura. Com aquela preocupação em sua mente, Divine mudou seu aperto em Marcus, e então se levantou embalando-o em seus braços.
Jackie deu um passo para trás com uma expressão incrédula, e por um minuto Divine pensou que a garota deveria ser muito nova como uma imortal e que ainda não sabia de sua própria força agora. Percebeu que esse não era o motivo da sua expressão quando Jackie disse: — Seu peito.
Divine olhou para baixo e viu cortes sangrentos em seu peito, onde ela prendeu as mãos de Marcus. Ele agarrou-a, cavando em seu peito para tentar fazê-la o soltar. Ela percebeu isso no momento que aconteceu, mas ignorou. Suspirando, encolheu os ombros: — Ele fez pior na parte de trás do SUV. Vou me curar.
Apressando-se para a porta, ela perguntou: — Você pode me mostrar o quarto que preparou para ele?
— É claro. —Jackie se apressou em torno dela para abrir a porta, segurando-a para ela e depois correu novamente orientando-a a subir as escadas. Estavam a meio caminho quando Vincent voltou pela porta da frente, com correntes na mão.
— Você deveria ter me dito que ele os escondeu embaixo do banco da frente. Olhei em todos os lugares antes de encontrá-los lá, —Vincent repreendeu enquanto se apressava para as escadas.
— Desculpe, —murmurou Divine, sem se incomodar em explicar que ela os escondera ali, não Marcus. Não queria que ele acordasse e as visse e se lembrasse do constrangimento que sofreu.
— Aqui, deixe-me levá-lo para você, —ofereceu Vincent, correndo pelas escadas atrás delas.
— Eu posso ... —Divine queria dizer que podia levar, mas não teve a chance de terminar. Vincent já havia entregado as correntes para Jackie e depois pegou Marcus dela. Ele então subiu as escadas correndo, com Jackie em seus calcanhares. E Divine foi deixada para trás, seguindo-os.
Capítulo 11
— Você está acordado.
Marcus mal se mexeu quando a voz exageradamente animada de Vincent acabou despertando-o do sono. Abrindo os olhos, olhou brevemente para o homem em pé ao lado da cama em que estava deitado antes de olhar ao redor da sala. Era perturbadoramente alegre, um quarto amarelo brilhante forrado com papeis de parede de girassóis. Ele fechou os olhos com um suspiro. — Sim.
— Como você se sente? —Perguntou Vincent.
Marcus abriu os olhos novamente quando seu cérebro começou a funcionar. Estava em um quarto na casa de Vincent e Jackie, curando depois de um incêndio que incendiou o trailer de Divine, ele lembrou.
— Onde está Divine? —Perguntou abruptamente, tentando se sentar, mas Vincent o forçou de volta para baixo com uma mão no seu peito.
— Devagar, amigo. Ela está bem. Descansando em seu próprio quarto. Agora, diga-me como se sente, —insistiu Vincent, retirando a mão e endireitando-se quando percebeu que Marcus desistiu de tentar de sentar.
Marcus quase soltou um ‘bem’ como resposta automática, mas depois pensou melhor e fez o inventário do próprio corpo. Nada doía, o que era um alívio. Sentia sua boca muito seca, e enquanto não estava sofrendo a dor da fome de sangue, ele estava com fome... o que era realmente estranho. Não tinha experimentado essa sensação há um bom tempo.
— Faminto, —disse ele finalmente.
Vincent assentiu como se isso fosse de se esperar. — Nós imaginamos que você estava prestes a acordar, então Jackie desceu para buscar uma bebida e algo para comer. Ela deve voltar em um minuto.
— Como vocês sabiam que eu estava prestes a acordar? —Marcus perguntou curioso.
— Você parou de gemer e se debater horas atrás e ficou imóvel como se estivesse morto, —disse Vincent secamente. — Mas cerca de dez minutos atrás você começou a se mexer sem parar e a falar enquanto dormia.
Marcus ficou rígido com esta notícia. — Falar? O que eu estava dizendo?
— Algo sobre esmagadora de bolas, —disse Vincent com diversão. — Não deu para entender muito a maior parte.
Marcus fez uma careta e relaxou na cama.
— Acho que Divine causou algum dano aos velhos fabricantes de bebês, hein?
Marcus endureceu novamente, olhos afiados no homem mais jovem. — Divine lhe contou isso?
Vincent sacudiu a cabeça solenemente. — Eu li a memória de seus pensamentos.
Marcus olhou para ele em silêncio por um momento, sua mente em alvoroço. Vincent não deveria poder lê-lo. O homem era mais jovem que ele. O fato de que Vincent poderia lê-lo ... bem, esse era outro sintoma de encontrar uma Companheira de Vida. A fome, o desejo sexual e a incapacidade de bloquear seus pensamentos eram sinais da presença de um companheiro de Vida. Divine era sua Companheira de Vida.
— Droga, —Marcus murmurou finalmente, deixando a cabeça cair para trás e os olhos fecharem. — Eu estava com medo disso.
— Sim, eu sei.
Marcus fez uma careta para as palavras simpáticas e abriu os olhos novamente. — Bem? Você pode lê-la também?
— Sim, —Vincent admitiu, mas Marcus não perdeu a relutância em sua voz.
— Sim, você pode lê-la e ... o quê? —Ele perguntou baixinho. Quando Vincent hesitou, ele adivinhou: — Ela é Basha?
— Não temos certeza de um jeito ou de outro, —admitiu Vincent.
— O quê? —Marcus perguntou com descrença, sentando-se novamente.
Vincent o empurrou de volta quase automaticamente, sua atenção em seus pensamentos, tentando expressá-los. — Ela tem muito ... —Ele fez uma pausa, hesitou, e depois tentou novamente, — Sua mente é bastante ...
— Bastante o que? —Marcus disse impaciente, sentando-se de novo, apenas para ter Vincent distraidamente o empurrando de volta para a cama sem esforço algum. Ele poderia estar curado, mas obviamente não tinha recuperado a força total, já que Vincent podia lidar com ele tão facilmente, pensou com repugnância, e então olhou drasticamente para Vincent quando o homem começou a falar novamente.
— Eu nunca tive a oportunidade de ler alguém tão antigo quanto Divine parece ser, —disse ele finalmente. — Sua mente é ... —Vincent fez uma careta e disse: — Bem, francamente, é uma estranha combinação de organização quase ano a ano e completa desorganização ao mesmo tempo.
— Como ela poderia ser organizada e desorganizada? —Marcus exigiu impacientemente, sentando-se novamente.
— É estranho, eu admito, —disse Vincent, empurrando-o de volta na cama mais uma vez, e, em seguida, sentou-se na beirada da cama ao lado dele e apoiou o cotovelo sobre o estômago de Marcus como se fosse um travesseiro. A posição garantiu que Marcus não voltasse a tentar sentar-se novamente, o que aparentemente era a intenção de Vincent, que parecia muito satisfeito consigo mesmo enquanto fazia isso. — Mas acho que pode ser resultado da sua longa idade.
— Longa? —Marcus perguntou com uma carranca. — Qual a idade dela?
Vincent sacudiu a cabeça. — Não tenho certeza, mas ela é antiga. Há lembranças em sua cabeça que remontam de muito tempo. Ela passou a vida sempre mudando de um lugar para outro entre tribos nômades e mortais. Viajou com o Wu Hu15, hunos16, magiares17, ciganos, carnies. —Ele pressionou-se um pouco mais, seu cotovelo cavando no estômago de Marcus. — Há muitos para listar todos eles.
— Tente, —disse Marcus secamente.
— O que é mais interessante, —continuou Vincent como se Marcus não tivesse falado, — é que em cada seção ou capítulo de sua vida, ela teve um nome diferente do verdadeiro nome dela. Agora, e desde que ela começou a viajar com carnies, tem sido Madame Divine e no momento em que se tornou Divine, deixou de ser quem era no capítulo anterior de sua vida. Com os ciganos foi Nuri, que significa cigano em árabe. Foi como cigana que viveu toda a sua vida até onde eu sei.
— Nuri, —Marcus murmurou.
Vincent assentiu. — Não importava para ela, esse era o nome dela enquanto viajava com os ciganos, seu nome e a vida anteriores não existiam mais. —Ele franziu os lábios e então comentou: — É quase dissociativo18.
Marcus fez uma careta ao comentário. — Quando conseguiu seu diploma de psicologia, Dr. Freud?
— Nenhum diploma ainda, —Vincent admitiu alegremente. — Mas tenho feito alguns cursos noturnos no último ano ou dois e há um pouco de psicologia no meu currículo.
— Não há nada mais perigoso neste mundo do que 'um pouco' de conhecimento, —Marcus rosnou.
Vincent soltou um suspiro dramático, mostrando suas raízes de atuação, e depois empoleirou o queixo na palma da mão e arqueou uma sobrancelha. — Desde que você obviamente se irrita rápido, vou pular apenas para os fatos. Ela está no quarto ao lado dormindo depois de sua própria luta com a cura.
Marcus sentou-se abruptamente, apesar do peso de Vincent sobre ele. — Cura de quê?
— Você não deveria se levantar ainda, —Vincent disse com uma carranca quando Marcus jogou seus lençóis e cobertores de lado e se sentou ao lado da cama.
— Dane-se, —Marcus estalou, olhando em volta para suas roupas. — Do que ela está se curando?
— Os ferimentos que você deu a ela, —disse Vincent sombriamente quando Marcus se levantou.
Isso o deixou de pé e Marcus se virou para olhá-lo com os olhos arregalados enquanto Vincent dava a volta na cama em direção a ele. — Ferimentos que eu dei a ela?
Assentindo, o homem mais jovem deu-lhe um empurrão que o fez cair para se sentar ao lado da cama novamente. Dobrando-se então, Vincent agarrou suas pernas agora sem resistência e as levantou na cama, virando-o enquanto fazia. Então o cobriu e anunciou.
— Você fez alguns cortes profundos em seu peito depois de beber o sangue quando chegou aqui. O que sei, porque li da mente dela, é que essas não foram as primeiras lesões que deu a ela. Enquanto você estava descontrolado se curando no SUV, você fez alguns graves danos. Ela estava sofrendo e precisava muito de sangue, embora não tenhamos percebido isso a princípio.
Terminando de prendê-lo em cima da cama, Vincent se sentou ao lado novamente, olhou-o solenemente e disse: — A mulher é muito boa em esconder sua dor. E a julgar por algumas das memórias que eu vislumbrei, sua tolerância vem da prática.
— O que isso significa? —Marcus perguntou com preocupação. — O que você viu?
A porta se abriu e ambos olharam em direção a ela para ver Jackie entrando com uma bandeja na mão. Marcus levantou a cabeça, o nariz farejando o ar.
— Imaginei que você estaria acordado agora, eu ... —Ela fez uma pausa abrupta, seu olhar virando-se para o marido quando um alarme de repente soou na casa.
— O que é isso? —Marcus perguntou, sentando-se abruptamente.
— O alarme de segurança. Alguém violou o portão, —disse Jackie severamente, virando-se para a cômoda com sua bandeja.
Marcus não ficou para observar o que tinha nela, mas pulou da cama e saiu do quarto com Vincent nos calcanhares.
— Onde ela está? —Ele rosnou uma vez no corredor.
— Está aqui, —disse Vincent, levando-o para a próxima porta à direita. O homem não era estúpido o suficiente para ficar entre ele e a mulher no quarto. Simplesmente girou a maçaneta e abriu a porta. Vincent então recuou para permitir que Marcus entrasse. Era uma coisa boa também, já que Marcus teria passado por cima dele em sua tentativa de ver que Divine estava bem.
— Fique com ela, —disse Vincent depois de olhar para a mulher inconsciente na cama. — Jackie e eu vamos verificar a violação. Nós voltaremos quando pegarmos alguém ou quando tudo estiver esclarecido.
Marcus apenas grunhiu, sua atenção na mulher inquieta na cama. Ela não estava gritando ou se debatendo, mas também não estava tranquila. Gemidos suaves e murmúrios de dor saíam de seus lábios e ela se mudava de um lado para o outro na cama, obviamente ainda se curando.
Vincent dissera que Marcus a machucara, e o conhecimento fez com que ele observasse cuidadosamente o rosto dela. Quando não viu nada lá, alcançou o topo do cobertor que a cobria e puxou para baixo, revelando a blusa camponesa que ainda usava. Como a outra daquela manhã, esta estava manchada com sangue seco, mas mais perturbador para ele eram as cicatrizes em seu peito que desapareciam enquanto ele assistia, mas eram obviamente profundas. Era como se ele tivesse tentado cavar trincheiras profundas no peito dela. Marcus só podia imaginar quanta dor causou a ela. Isso o fez pensar sobre os outros ferimentos que Vincent mencionou que ele também deu a ela. O que fez a essa pobre mulher quando estava descontrolado depois do incêndio?
A pergunta fez com que puxasse o cobertor para baixo. Ele pretendia dar uma olhada em seus braços que descansavam em seus lados sob o cobertor, mas em vez disso, sua atenção foi capturada por uma mancha de sangue ainda maior abaixo do seio esquerdo. Estava seco agora, mas florescera em torno de um buraco no material ali. Ela obviamente foi esfaqueada com alguma coisa.
Como diabos não percebeu isso antes e não a questionou? Se perguntou com desalento, e então, lembrou que ela estava vestindo uma jaqueta de couro por cima quando acordou. Sua jaqueta de couro, pensou agora. O deserto ficava frio durante a noite e ela pode tê-la vestida por esse motivo, mas também fez um bom trabalho ao esconder tudo isso.
— Tudo resolvido, —anunciou Jackie, aparecendo de repente na porta.
— O vídeo mostra dois homens subindo a cerca e depois fugindo quando o alarme soou. Ainda bem que Jackie insistiu em colocar alarme na cerca do quintal, assim como na casa, depois dos acontecimentos que foi transformada, —Vincent acrescentou, parando atrás dela, uma mão no ombro dela.
Marcus olhou para o casal e assentiu. Ele tinha estado lá para ‘os acontecimentos’ e não se surpreendeu que Jackie tinha aumentado a segurança desde então. O culpado que a atacou agora poderia ser apanhado, mas uma experiência como essa assombraria uma pessoa e a tornaria mais cautelosa. Seu olhar deslizou de volta para Divine, e ele perguntou: — Eu fiz isso com ela?
— Você estava fora da sua mente, —disse Vincent imediatamente, passando por Jackie para se mover para o lado dele. — Ela não te culpa.
Ela até não poderia, mas ele se sentia culpado como o inferno por isso e perguntou sombriamente: — Com o que a esfaqueei?
— Acho que foi uma flecha, ou um dardo, eu presumo, —disse Vincent, olhando para a ferida e depois se inclinando para puxar a borda da blusa que estava presa no cós da saia e dessa forma poder dar uma olhada nos ferimentos. Estavam mais adiantados na cura do que os cortes em seu peito.
— Onde diabos eu consegui ... oh, —Marcus terminou em um murmúrio enquanto se lembrava da caixa de armas embutida no chão ao lado da geladeira. Todo SUV tinha um, ele guardava uma arma, faca e arcos com flechas especialmente feitas com pontas envolvidas em uma droga forte o suficiente para derrubar um imortal, mesmo que apenas temporariamente.
— O que sei é que vocês dois estavam lutando e você abriu a caixa de armas, pegou a primeira coisa e a esfaqueou. Felizmente, você a esfaqueou com o lado errado e acidentalmente se apunhalou com a ponta drogada ao fazê-lo, —anunciou Vincent, endireitando-se. — O que provavelmente foi uma coisa boa. Você desmaiou e ela conseguiu entrar na cidade e comprar correntes, prendendo-o nelas.
Marcus grunhiu e depois murmurou: — Estou surpreso por ela não as ter usado para me amarrar e ter me deixado assando no deserto, por ter feito tudo isso com ela.
Vincent de fato sorriu levemente com a sugestão, mas sacudiu a cabeça. — Ela não parece esse tipo de pessoa.
— Não, ela não é, —Jackie concordou, e quando Marcus olhou para ela, a mulher acrescentou: — Ela foi muito carinhosa quando você desmaiou e nós trouxemos você até aqui. E as memórias que podemos ler sugerem que é assim com todos. Divine é do tipo maternal, cuidando e ajudando todos que encontra. —Ela fez uma breve pausa para olhar para o rosto de Divine e então franziu a testa. — Se for Basha Argeneau, acredito que Lucian esta errado sobre ela ser desonesta.
Marcus também chegara à mesma conclusão, mas temia que suas impressões estivessem sendo influenciadas pelo fato de que provavelmente era sua Companheira de Vida. Ainda assim, uma mulher que fazia o que podia para ajudar praticamente todos os mortais que encontrava não parecia ser o tipo que andava e estava envolvida com um animal como Leonius Livius. Ela não se alinharia com um homem que brutalmente feriu e abateu famílias inteiras. Talvez ela não fosse Basha. Aquilo era uma coisa boa.
Eles ficaram em silêncio por um momento, cada um deles olhando para Divine, e então Jackie disse baixinho, quase se desculpando, — Precisamos resolver o que está acontecendo aqui. Quem colocou o trailer em chamas? Eles estavam atrás de você ou dela? É provável que tenham sido as mesmas pessoas que entraram aqui? Eles poderiam ter seguindo vocês?
Quando Marcus franziu a testa, mas não respondeu, Vincent disse. — Ela está certa, meu amigo. Precisamos saber com o que estamos lidando aqui. Se precisamos de mais pessoas, mais segurança, mais armas.
— Sim, sim e sim, —disse Marcus imediatamente. Ele definitivamente queria tudo e qualquer coisa que pudessem conseguir aqui para manter Divine segura.
Passando uma das mãos pelos cabelos bagunçados, se sentou ao lado da cama e rapidamente começou a contar tudo o que havia acontecido desde que chegara ao Parque. Vacilou, no entanto, quando chegou à parte sobre ter levado sangue ensacado para Divine e invadido seu trailer com as bolsas de sangue na mão sem esperar que ela o convidasse. Apenas recordar o que aconteceu era suficiente para fazê-lo querer gemer em agonia.
Foi Vincent quem disse o que ele não podia. — Mas aí, como você não esperou sua permissão para entrar ela desceu a vassoura e explodiu um de seus fabricantes de bebês.
Marcus estremeceu com a lembrança. — Sim. Doeu como o inferno também.
— Eu posso imaginar, —disse Vincent, e Marcus notou que ele inconscientemente apertou as pernas juntas como se seus próprios fabricantes de bebês estivessem murchando de simpatia.
Um som abafado, suspeito como uma risada, veio de Jackie, e os dois homens se viraram indignados para olhá-la.
— Ter suas bolas estouradas não é motivo de riso, Jackie, —disse Vincent com uma carranca.
— Sinto muito, —disse ela de imediato, sua expressão verdadeiramente arrependida, mas então essa expressão escapou e ela deu uma risadinha e disse: — É apenas ... quero dizer, os homens estão sempre chamando as mulheres de esmagadoras de bolas quando elas não merecem, e agora Divine realmente ganhou o título de forma justa ... não é nada engraçado, —Jackie solenemente terminou quando ela notou suas expressões. Balançando a cabeça, ela acrescentou: — Definitivamente não é engraçado.
— Humm, —Vincent murmurou, não parecendo apaziguado.
Jackie limpou a garganta e disse: — Mas ela não quis ... er ... estourar suas bolas.
— Não, —reconheceu Marcus. — Eu não acho que ela quis.
— E ela cuidou de você depois, colocando-o em sua cama para curar, —ressaltou.
— Sim, ela fez, —Marcus concordou. — E é aí que eu estava quando um homem entrou no trailer. No começo pensei que era Divine e fiquei lá esperando que ela dissesse ou fizesse alguma coisa, mas então senti o cheiro da pessoa e sabia que definitivamente não era Divine.
— Você viu quem era? —Perguntou Jackie, aproximando-se da cama.
Marcus sacudiu a cabeça. — Abri os olhos quando a porta se fechou, mas eles se foram. Me levantei para ir atrás deles, com a intenção de descobrir quem tinha sido, e foi aí que o trailer pegou fogo.
— Mas eles viram que era você na cama e não Divine? —Jackie perguntou com uma carranca.
— Eu não acho que foi isso, —Marcus disse de uma vez. — Estava enterrado nas cobertas, a maior parte do meu rosto coberto. Só minha testa e cabelo aparecia um pouco e estava escuro lá dentro. —Ele balançou a cabeça. — Tenho certeza que eles não sabiam quem estava na cama. Provavelmente notaram o volume embaixo das cobertas, presumiram que fosse ela e saíram para acender o fogo.
— Então, dois ataques contra ela em um dia? —Vincent disse pensativo.
— Dois ataques em duas noites, —corrigiu Marcus. — Tenho certeza que ela deve ter levado uma pancada na cabeça logo depois que voltamos da cidade quinta-feira à noite.
Jackie não parecia certa sobre isso. — Então o que você acha? Que ela foi atacada ao retornar do passeio de vocês e de alguma forma saiu machucada em sua moto? Você disse que ela retornou no dia seguinte, certo?
— Sim. —Marcus sabia que não fazia sentido. A quantidade de sangue no trailer e seco no cabelo sugerira uma ferida grave.
Uma que ela não teria conseguido ter ignorado, quanto mais pular em uma moto e sair de casa. Além disso, para onde seu agressor foi? O que eles fizeram enquanto ela estava fugindo? A moto tinha ido embora e o trailer estava escuro e silencioso quando ele chegou, com a intenção de devolver o capacete. Não poderia ter levado mais de dez ou quinze minutos para chegar ao seu trailer depois que ela o deixou. Isso não foi muito tempo. O que quer que tenha acontecido, aconteceu rapidamente. Olhando de Jackie para Vincent, ele perguntou: — Você viu alguma coisa sobre o ataque em suas memórias?
— Não, —admitiu Vincent. — Mas eu não estava procurando nada específico, e como eu disse, seus pensamentos e memórias são organizados e desorganizados ao mesmo tempo. Ela ...
Quando sua voz sumiu, Marcus seguiu o olhar do homem para Jackie e a encontrou encarando Divine com concentração. Jackie estava lendo Divine agora, ele percebeu e quase protestou, mas o horror no rosto de Jackie o parou. Ele a observou com uma bola nauseante crescendo em seu estômago enquanto Jackie empalidecia, então corou, em seguida, empalideceu novamente, desta vez realmente ficando pálida sem sangue antes de, de repente, se virar e correr para o banheiro.
— Bem, isso não pode ser nada bom, —Vincent murmurou, correndo atrás dela quando a ouviram vomitando.
Marcus olhou de volta para Divine e depois seguiu o casal. Ele observou em silêncio quando Vincent segurou o cabelo de Jackie enquanto ela perdia qualquer refeição que tivesse comido pela última vez. Ele esperou enquanto Vincent murmurava palavras tranquilizadoras e umedecia um pano para lavar o rosto de sua mulher agora corado, então quando estava prestes a perguntar o que ela tinha visto, Jackie olhou para ele, engoliu em seco e, com voz rouca, disse: — Ela não esta de conluio com Leonius. É uma das vítimas dele e o homem é um animal. Pior, um monstro. As coisas que ele fez para ela, pelo menos o pouco que eu vi ... —Balançou a cabeça. — Ela nunca apoiaria alguém assim. Ele ...
O resto do que ela teria dito estava perdido quando ela se virou e vomitou no banheiro novamente.
Vincent imediatamente largou o pano que usava para limpar o rosto de Jackie, deslizou o braço ao redor de seus ombros novamente, e murmurou suavemente enquanto segurava o cabelo dela para trás. Marcus se afastou da cena para espiar Divine na cama, imaginando o que diabos Jackie tinha visto.
Capítulo 12
Divine acordou fazendo um som estrangulado que reconheceu imediatamente como um grito preso em sua garganta. Acordou assim muitas vezes ao longo dos anos. Costumava acordar assim diariamente, vindo de pesadelos que a levavam enquanto dormia. Mas eles diminuíram ao longo dos séculos e milênios. Raramente os tinham agora. Supôs que era a dor da cura que os trouxera de volta.
Determinada a empurrar as memórias sombrias de sua consciência, Divine concentrou-se no aqui e agora, observando cuidadosamente o quarto em que estava. Era o mesmo quarto cor-de-rosa que Jackie e Vincent tinham mostrado a ela antes de acorrentá-la, para que ela não se machucasse e deram-lhe depois sangue ensacado. Notou que as correntes haviam desaparecido agora, provavelmente removidas assim que o pior da cura passou.
Isso era um bom sinal, decidiu. Significava que eles não tinham ideia de que ela era Basha Argeneau que estavam procurando.
Suspirando, Divine sentou-se, empurrou os lençóis para o lado e fez uma careta para suas roupas manchadas de sangue. Parecia uma criança de dois anos suja da sua última refeição. Enrugando o nariz com desagrado no material seco nojento, saiu da cama e foi para o banheiro que Jackie havia apontado antes. Considerou se despir e tomar banho antes de tomar o sangue e iniciar a cura, mas lembrou que seria uma perda de tempo, já que a cura a deixaria viscosa e suja de qualquer maneira. Isso sempre acontecia quando as impurezas e os tecidos danificados eram arrancados e empurrados para fora pelos poros.
Jackie e Vincent provavelmente teriam que jogar fora os lençóis e os colchões que ela e Marcus tinham deitado enquanto se curavam ... a menos que tivessem bons protetores de colchões. Ela esperava que eles tivessem. Odiaria pensar que lhes custou alguma coisa. Talvez devesse dar-lhes dinheiro pelo o trabalho e prejuízo que tiveram, pensou Divine enquanto tirava as roupas e ligava o chuveiro.
A água morna que batia em sua cabeça e corpo ajudou a limpar a última escuridão nos cantos de sua mente. Divine odiava os pesadelos que ocasionalmente a atormentavam. Já era ruim o suficiente ter sofrido o que sofreu uma vez, ter pesadelos a respeito disso parecia-lhe apenas como passar novamente por toda a tortura que sofreu na mão de Leonius Livius. Ela não merecia isso. Ninguém merecia. Sendo esse o caso, aprendeu a dar aos pesadelos o menor espaço possível em sua mente desperta. Ao acordar, sempre as empurrava de volta para um armário imaginário em sua cabeça e fechava a porta com firmeza. Para ela, era a única maneira de lidar com isso.
Divine se sentiu muito bem depois do banho, ainda melhor quando voltou para o quarto e viu roupas limpas dobradas e colocadas na borda da cama. O fato de que os cobertores que havia deixado de lado ao acordar estava sobre as roupas limpas, diziam que elas já estavam lá quando se levantou e não que foram trazidas enquanto tomava banho. Jackie obviamente não era apenas prestativa, mas também organizada, descobrindo o que precisava ser feito e providenciando o necessário. Divine apreciava isso.
Deixando cair a toalha, pegou as roupas e começou a vesti-las, surpresa ao descobrir que ainda havia etiquetas em tudo.
Linda calcinha rosa, um sutiã combinando, uma saia esvoaçante em vermelho profundo semelhante a uma de suas próprias saias que provavelmente tinha pegado fogo, e uma blusa camponesa branca com costuras vermelhas ao longo do decote que sugeria que era de origem mexicana. Havia um grande lenço de saia também, mas sem as moedas que ela mesma havia costurado em seu próprio lenço. Tinha também um par de botas pretas altas de cano longo até os joelhos.
Não era tão elaborado quanto os trajes que normalmente usava como Madame Divine, mas funcionava e ela apreciava o esforço colocado na roupa.
Uma vez vestida, Divine pegou a toalha e voltou para o banheiro e a pendurou no box do chuveiro para secar. Então olhou em volta nas gavetas e encontrou uma escova de dentes novinha em folha, pasta de dentes e uma escova de cabelo. Usou todos os três itens, ficando mais apresentável, e então caminhou de volta para analisar a situação da cama.
Ficou aliviada quando viu um protetor de colchão. Apenas os lençóis teriam que ser jogados fora. Nenhuma quantidade de lavagem removeria o mau cheiro e as manchas de uma cura. Depois de dar uma olhada nas janelas, mostrou-lhe que era cedo da noite, o sol estava se pondo, Divine enrolou os lençóis dentro das fronhas, pegou o pacote e saiu da sala em busca de Marcus e seus anfitriões, certos de que se eles já não estavam acordados, estariam em breve.
O murmúrio de vozes vindas de baixo enquanto descia as escadas dizia que alguém estava de pé. Divine seguiu o som pelo corredor em direção à cozinha, mas diminuiu a velocidade quando chegou à porta e ouviu Marcus perguntar: — Lucian disse que estava vindo para cá? Por quê? Nós não sabemos se ela é Basha.
— Eu presumo que é por isso, —disse Vincent. Podia imaginá-lo encolhendo os ombros quando ele disse isso. — Para descobrir se ela é.
Houve um breve silêncio e então Jackie disse: — Não se preocupe, Marcus. Se ela é ou não Basha, não há como estar envolvida com Leonius. Lucian vai ver isso. Ele pegou uma informação errada. Ela nunca estaria de conluio com ele depois das coisas que ele fez a ela.
— O que diabos ele fez com ela? —Marcus rosnou, e a frustração em sua voz sugeriu que não era a primeira vez que fazia a pergunta.
— Já te disse, isso não sou eu que vou te dizer. Terá que perguntar a Divine, —Jackie respondeu solenemente.
Divine se virou lentamente para longe da porta e se moveu silenciosamente de volta pelo corredor. Ela levou os lençóis todo o caminho de volta para o quarto em que tinha acordado, colocou-os na cama, e então simplesmente ficou lá por um momento, sua mente acelerada.
Lucian estava chegando.
O pensamento a aterrorizou apesar das garantias de Vincent e Jackie para Marcus que tudo ficaria bem. O homem era tão monstro quanto Leonius. Enquanto Leonius tinha assombrado seus pesadelos, Lucian tinha assombrado suas horas de vigília. O medo que a encontrasse, e matasse a ela e a Damian, estava entranhado agora e sua mente gritava para correr e se esconder. Estava se escondendo do homem há mais de dois milênios. Mas uma vida inteira de treinamento a impediu de simplesmente correr à toa. Isso raramente levava a bons resultados.
Pare, pense, planeje, Divine disse a si mesma. Ele não estava aqui ainda. Ela tinha tempo. Tinha que fazer tudo isso com cuidado, descobrir para onde correr e onde ela poderia se esconder.
Nos Parques não estaria mais segura, eles a procurariam neles. Teria que desistir dessa vida, mas então de qualquer maneira esse estilo de vida já estava chegando ao fim. Hoskins era um dos poucos Parques que restavam no setor. Grandes corporações estavam entrando, comprando-as e assumindo-as como faziam todo o resto.
Divine sabia que Bob e Madge tinham sido abordados duas vezes sobre vender o Parque. Ela também sabia que eles haviam considerado seriamente aceitar a oferta e se aposentar. Eles não disseram para ela, mas leu em suas mentes. O casal estava no final dos cinquenta anos, a vida de carnie era difícil, e a oferta melhorava cada vez que eram abordados. A única coisa que os impedia eram os próprios carnies.
Bob e Madge os consideravam como família. Muitos dos carnies estavam com eles desde o começo, outros por quase tanto tempo. Bob e Madge sentiam que se aposentassem estariam traindo os parentes, mas Divine sabia que bastava acontecer qualquer coisa ruim, seria suficiente para mudarem de ideia. Outro greenie tentando abusar de uma criança, ou descobrir que alguém em quem confiassem estava os roubando ... Era por isso que Divine entrou na contratação e ajudou a limpar a casa quando se juntou ao Parque. Bem, isso e porque ela realmente queria ajudar o casal.
Divine olhou para os lençóis enrolados na cama e franziu a testa quando de repente lhe ocorreu que o fogo do trailer poderia ser essa ‘coisa ruim’ que fariam mudar de ideia e fazê-los aceitar a próxima oferta. Principalmente se descobrissem que o fogo foi proposital. Ela sentiu o cheiro da gasolina ao redor do trailer em chamas. Será que eles sentiram também? Não tinha certeza se os mortais teriam sido capazes, mas certamente um inspetor de incêndio ou o responsável em investigar esse tipo de coisa seria capaz de dizer que um acelerador havia sido usado.
— Merda, —murmurou. Girou para abrir a porta e revelar um Marcus assustado em pé no corredor, uma mão levantada e curvada pronta para bater.
— Oh. Bom. Você está de pé, —disse depois de uma pausa. Ele mudou de um pé para outro e então deu um sorriso torto e perguntou: — Como você se sente?
— Temos que ir, —anunciou Divine, empurrando-o para o corredor.
— O quê? —Marcus disse com surpresa, e então correu para segui-la. — Eu não acho que seja uma boa ideia, Divine. Você acabou de acordar. Ainda não acabou de se curar. Você deveria descansar um pouco e ...
— Que dia é hoje? —Ela perguntou quando começou a descer as escadas.
— É terça-feira à noite. Por volta das 6, —respondeu ele, solícito.
— Porra, eu nunca vou chegar a um banco antes de fechar, —ela murmurou e depois encolheu os ombros. Se preocuparia com isso mais tarde. Agora, tinha que ir até Madge e Bob e ver o que estava acontecendo.
— Divine. —Marcus estava soando menos surpreso e mais exasperado, recuperando o controle após sua surpresa inicial. O fato de que demorou tanto tempo, no entanto, disse a ela que ele, pelo menos, ainda não estava totalmente curado. Supôs que ela provavelmente também não, mas se sentia bem. Um pouco com sede, talvez, mas as marcas de seu ataque com a flecha e os cortes em seu peito se foram.
Não havia mais a menor cicatriz. Qualquer cura que ainda estivesse ocorrendo seria internamente.
— Maldição, Divine, pare! —Marcus de repente latiu, pegando seu braço enquanto ela descia as escadas e se dirigia para a porta da frente.
— O que está acontecendo? —Vincent perguntou, chamando sua atenção quando ele começou a subir o corredor na direção deles com Jackie ao seu lado.
Marcus abriu a boca para responder, mas Divine rapidamente disse: — Muito obrigada por tudo que vocês fizeram por nós. Mas eu tenho que ir agora.
Ela sentiu em vez de ver a cabeça de Marcus girando bruscamente em sua direção. — Um minuto atrás, era 'Nós temos que ir', —ele rosnou, parecendo irritado.
Divino deu de ombros. — Bem, eu sei. Você não precisa ir, então eu irei entender se você quiser ficar aqui com seus amigos. Posso pegar um táxi de volta para o recinto do Parque.
— Você não está pegando um táxi. —Ele parou de repente, realização em seu rosto. — O Parque não estará mais lá. Estavam indo para a próxima cidade no domingo à noite.
— Podem ter sido detidos pelo acidente do fogo, sendo que foi um incêndio criminoso, —disse Divine em voz baixa. — Se eles ainda estiverem lá, vou esclarecer as coisas para que possam continuar com a programação. Se não, ainda vou esclarecer as coisas com os bombeiros locais e a polícia e o que for preciso, e então vou segui-los para a próxima cidade.
Ela não tinha certeza se essa última parte era verdade. Divine não tinha ideia do que faria. Poderia alcançar o Parque apenas o tempo suficiente para ver como Bob e Madge estavam resolvendo as coisas e para garanti-los que ela estava bem. Afinal, desapareceu abruptamente. Mas depois disso, teria que ir embora. O problema era que não tinha certeza do que faria.
— Divine está certa, —disse Jackie pensativa.
— Ela esta? —Marcus perguntou com espanto.
— Sobre o que exatamente? —Vincent perguntou.
— Bem, estávamos tão ocupados nos preocupando se ela era ... er ...
Divine levantou as sobrancelhas e simplesmente observou a mulher se debater. Ela sabia que o final dessa frase teria sido ‘se ela era Basha ou não’. No entanto, também sabia que Jackie não iria dizer agora depois que se conteve. A questão era, o que ela usaria em seu lugar?
Como se viu, Jackie não disse nada. Foi Vincent quem salvou sua pele, sugerindo: — Se ela estava se curando bem?
— Sim, —Jackie respirou aliviada e até conseguiu sorrir. — Estávamos tão preocupados com as curas dos dois que não consideramos o que estaria acontecendo com as autoridades locais. —Ela olhou para Marcus. — Você disse que podia sentir o cheiro de gasolina e que as chamas irromperam ao redor do trailer ao mesmo tempo? Preenchendo todas as janelas? —Ela mal esperou que Marcus assentisse antes de dizer: — Bem, não vai demorar muito para as autoridades decidirem que o fogo foi proposital, e já que vocês dois desapareceram logo depois ...
Marcus piscou surpreso. — Você acha que eles vão pensar que Divine e eu colocamos o fogo?
— É mais provável que eles pensem que você ateou o fogo, já que Divine não estava lá, —comentou Vincent, parecendo pensativo. — Mas vocês dois desaparecendo depois disso provavelmente farão com que eles pensem que você ateou fogo e talvez a sequestrou ou algo assim quando percebeu que ela não foi pega no fogo.
— O quê? —Marcus gritou com desânimo.
— Está tudo bem. Podemos consertar isso, —Jackie disse imediatamente e depois sacudiu a cabeça e admitiu: — Embora eu esteja um pouco envergonhada por não termos pensado nisso quando vocês chegaram. Quanto mais cedo cuidássemos, menos problemas haveriam. Essa altura, muitas pessoas provavelmente já estão envolvidas e cada uma delas precisará que limpemos a mente e tal. —Ela estalou irritada e de repente disse: — Para quem você está ligando?
Divine não se incomodou em olhar por cima do telefone que pegou, mas digitou números enquanto respondia: — Informações. Preciso do número de um serviço de táxi.
Marcus imediatamente pegou o telefone da mão dela. — Você não precisa de um táxi. Vou te levar de volta. Com certeza não vou deixar você voltar sozinha com alguém batendo em sua cabeça e colocando fogo em sua casa.
— Todos nós vamos, —disse Vincent, de repente soando alegre. — Na verdade, esse era o plano o tempo todo. Marcus tinha certeza de que você gostaria de voltar ao Parque assim que estivesse de pé, então liguei para o escritório e mandei enviar alguns dos nossos veículos.
Vincent passou por ela até a porta da frente e abriu-a com um gesto dramático que foi pontuado pelo alarme da casa, que de repente tocou ao redor deles. Amaldiçoando, ele correu para um painel na parede e começou a perfurar números para silenciá-lo.
— Esqueci o ... er ... Vincent fez um gesto em direção ao painel com uma careta e depois se afastou para pegar o braço dela. — Feche os olhos, —ele ordenou enquanto a conduziu em direção à porta.
Divine relutantemente fez o que ele pediu, e permitiu que ele a levasse para fora. Quando ele disse: — Certo, abra, —ela piscou os olhos abertos para encontrá-lo em pé na frente dela sorrindo como um idiota e bloqueando sua visão. Assim que ela começou a arquear uma sobrancelha, ele acenou com os braços como um mago e depois se afastou com um alto som de — Ta-daaaa!
Divine olhou em surpresa. Havia dois trailers estacionados na frente da casa, ambos pelo menos tão grandes, se não maiores do que os dela. Ela olhou para eles brevemente e depois disse: — Eles parecem novos.
— Novinhos, —admitiu Vincent. — Nós temos alguns mais velhos, mas eu gosto de viajar com conforto, então disse para eles enviarem os mais novos.
Divine franziu a testa. — Eu achei que você estava no negócio de teatro.
— Entre outras coisas, —Vincent concordou. — Usamos isso às vezes para vestiários das estrelas mais exigentes de nossas peças. Ou para emboscadas quando estamos investigando.
— Mais para as emboscadas do que para as estrelas exigentes, —disse Jackie secamente. — Vincent parece não entender que emboscar significa ser discreto e atrair o mínimo de atenção possível para você, e que estacionar um grande carro de passeio na rua é o oposto de discreto.
— Bobagem, —disse Vincent imediatamente. — Nunca fomos pegos em nossas emboscadas.
— Só porque ninguém com qualquer senso imaginaria que um detetive seria estúpido o suficiente para dirigir um veículo tão ridiculamente grande e perceptível ao redor em uma emboscada, —Jackie disse com exasperação.
— Veja. Funciona então, —Vincent disse com um sorriso satisfeito.
Jackie balançou a cabeça, mas depois sorriu e até deu uma risadinha enquanto admitia: — Sim, é verdade.
— E nós aproveitamos o conforto de uma casa enquanto espionamos os patifes do mundo, —disse ele com satisfação.
Divine estreitou os olhos e se virou para Marcus.
— Jackie era uma detetive particular antes de se transformar, —Marcus explicou baixinho, e depois acrescentou: — Bem, ela ainda é obviamente, e Vincent a ajuda de vez em quando.
Divine deixou sua respiração em um pequeno suspiro. Ótimo. Então os dois que ela achava que um era um bebê imortal e o outro algum tipo de artista esquisito são apenas um par de detetives prontos para encontrá-la. Ótimo. Ela se virou para Vincent. — Por que dois trailers?
— Um para nós, —disse Vincent, passando o braço ao redor de Jackie. — E um para vocês dois.
— Você pode mudar isso para um para vocês dois e um para Marcus. Não estou dormindo em nenhum dos dois com ele, —disse ela com firmeza, e depois se moveu impaciente. — Na verdade, eu não sei porque vocês dois estão indo. Vocês não têm negócios no Parque. Marcus e eu podemos lidar com as autoridades.
— Mas você precisa de proteção, —Jackie disse com firmeza. — Já foi atacado duas vezes. Não queremos que isso aconteça pela terceira vez. Vincent e eu vamos ajudar com as autoridades e depois nos aproximar e tentar descobrir quem acendeu o fogo e quem a atacou pela primeira vez.
Divine quase disse: ‘Vocês não têm que esperar Lucian aparecer?’ Mas pegou a pergunta de volta. Ela não tinha intenção de revelar que sabia disso. Sua principal preocupação naquele momento era chegar ao Parque, deixar Bob e Madge saber que estava saudável e bem, e ter certeza de que eles não estavam sendo retidos pelas autoridades enquanto investigavam o fogo do trailer. Depois disso, poderia escapar e desaparecer e começar outra nova vida. Mas primeiro tinha que chegar ao Parque, e parecia que se quisesse chegar lá, teria que aceitar a companhia. Seria muito mais fácil se eles a deixassem chamar um táxi, mas isso obviamente não iria acontecer.
— Tudo bem, —ela retrucou, e então se forçou a sorrir e acrescentou: — Obrigada. Por ... tudo, —terminou com um suspiro e, em seguida, perguntou: — Podemos ir agora?
Jackie e Vincent trocaram um olhar e depois se voltaram para a casa. — Apenas nos dê alguns minutos para arrumar nossas malas. Por que vocês dois não atacam a geladeira e a despensa em busca de comida?
— Há um refrigerador na despensa com frios, —Jackie acrescentou, olhando de volta para eles quando começaram a entrar na casa. — E sacolas para colocar as mercadorias enlatadas e secas.
— Não se preocupe com sangue. Eu vou cuidar disso, —Vincent adicionou antes dos dois desaparecerem dentro.
— Vamos? —Perguntou Marcus.
Divine queria dizer não e fugir, mas suspeitava que não iria longe. Tinha nocauteado o homem quando o atacou com a vassoura, mas suspeitava que o elemento surpresa havia desempenhado um grande fator nisso. O homem era imortal. Ele era tão rápido quanto ou mais rápido que ela, e provavelmente mais forte, pelo menos porque os homens eram fisicamente mais fortes por natureza.
Embora parecesse a ela que ele poderia ser fisicamente mais forte do que a maioria dos imortais masculinos também, ela decidiu, seu olhar deslizando sobre o peito dele na camiseta apertada e obviamente emprestada que ele estava usando. O homem realmente tinha um físico muito grande e muito atraente. Engraçado ela não tinha notado isso até agora.
— Quem comprou minhas roupas? —Divine perguntou curiosa enquanto deixava que ele a levasse para dentro.
— Vincent pediu um de seus funcionários que comprasse, —admitiu Marcus. — Ele perguntou o que você normalmente usa e eu disse praticamente o que você tinha quando chegamos aqui. Que nunca te vi em roupas diferentes dessas, e ele fez algumas ligações e ... —Ele encolheu os ombros.
— E voilà19, —ela terminou ironicamente, pensando que deve ser bom ter ‘pessoas’ para fazer as coisas por você.
— Ele pediu roupas para mim também, mas ... —Marcus olhou para si mesmo com uma careta.
— Mas elas não são do seu tamanho, —disse Divine divertida, e depois disse: — Ou você o irritou em algum momento no passado, ou Vincent só tem olhos para o tamanho quando se trata de mulheres.
— Jackie ajudou-o com isso, —Marcus assegurou.
— Ok, isso é bom, —murmurou Divine, e quando ele olhou para ela questionando-a, admitiu: — Bem, seria um pouco assustador pensar que ele poderia adivinhar o tamanho do meu sutiã em um piscar de olhos.
Seu olhar deslizou sobre seus ombros nus, onde ela havia puxado a gola elástica da blusa camponesa para seus braços e explicou: — É sem alças.
— Oh. —Ele assentiu.
Quando entraram na cozinha, Divine acrescentou: — Lindo, rosa com renda branca na parte inferior. Eu também estou usando calcinha combinando.
Marcus parou na porta como se tivesse sido baleado e depois de alguns passos, Divine olhou para ele e quase sorriu para a expressão em seu rosto. Ela não sabia que diabinho a fez dizer isso. Realmente, também a surpreendeu quando as palavras escaparam, mas a expressão em seu rosto ...
Deus, o homem parecia ter engolido a língua. Ele também estava olhando para ela como se pudesse ver a calcinha e o sutiã que descreveu através de suas roupas. Por alguma razão, isso causou uma sensação de excitação através dela.
— Hein! Marcus?
Divine olhou além de Marcus para as escadas. Vincent estava no meio do caminho, pairando sobre o corrimão para sondar a cozinha até eles através da porta da cozinha que Marcus segurava aberta com seu corpo.
Marcus virou-se para espiar o homem e limpou a garganta. — Sim?
— Certifique-se de pegar um pouco de sorvete no refrigerador também. Quero fazer alguns dos meus famosos super-mega sundaes20 mais tarde enquanto relaxamos.
— Certo. Sorvete. —Marcus assentiu.
— E os outros ingredientes, —acrescentou Vincent.
— Certo. Outros ingredientes. —Marcus assentiu novamente.
Divine não podia ver sua expressão, mas seja qual fosse, Vincent de repente franziu a testa. — Você sabe quais os outros ingredientes são necessários para sundaes, certo?
Quando Marcus não respondeu, Vincent estalou impaciente e gritou para cima: — Querida, você pode jogar uns pares de shorts e algumas camisetas em uma sacola para mim? Marcus não come em mais de dois milênios. Se deixarmos isso para ele, ficaremos presos a ração do cachorro ou algo assim.
— Você tem um filhote de cachorro? —Divine perguntou curiosamente.
Vincent baixou o olhar para eles e sorriu. — Sim. Nós a deixamos no veterinário na noite passada. Ela estava sendo operada esta manhã. Castração, —ele adicionou e então franziu a testa. — Nós deveríamos ter indo pegá-la às quatro. —Levantando a cabeça, ele gritou: — Jackie, nos esquecemos de pegar a filhote às quatro.
— Merda, —eles ouviram do andar de cima. — Acho que eles estão abertos até as oito. Eu vou ligar.
Divine levantou uma sobrancelha. — Vocês não planejam levá-la junto, não é? Quer dizer, e se eles colocarem fogo no trailer ou explodirem dessa vez ou algo assim?
Vincent enrijeceu e depois levantou a cabeça e gritou: — Vou ligar para o escritório e pedir a alguém para buscá-la se eles estiverem ainda abertos. Eles podem levá-la ao canil amanhã até voltarmos.
— Oh, mas ...
— É mais seguro para ela, —interrompeu Vincent.
Houve uma pausa e então Jackie suspirou. — Certo.
Vincent acenou com a cabeça, mas não pareceu satisfeito quando desceu o resto das escadas para se juntar a eles na cozinha. Uma vez lá, ele comentou: — Você sabe, Bastien deveria realmente ter alguns de seus cientistas procurando desenvolver nanos para cães.
— Por que não apenas dar nossos nanos para o cachorro e ver se funciona? —Divine sugeriu, atravessando a cozinha para um conjunto de portas duplas que ela suspeitava ser a despensa. Quando as abriu viu que estava certa.
— Porque isso não funcionaria, —Marcus disse com uma risada.
— Por quê? —Divine perguntou distraidamente quando ligou um interruptor, iluminando a pequena sala cheia de prateleiras. Uma pesquisa do conteúdo nas prateleiras deixou-a um pouco desconcertada. Havia frutas e legumes. Ela reconheceu esses, mas havia uma tonelada de outros itens que ela não sabia o que eram. O que diabos era Spam?21 Se perguntou.
— Está brincando né?
Divine olhou por cima do ombro para ver Marcus na porta, olhando para ela com os olhos arregalados e incrédulos. Movendo-se desconfortavelmente, ela perguntou: — Sobre o quê?
— Por que nossos nanos não funcionam em cães, —disse ele. — Quero dizer, eles foram criados para funcionar apenas com a anatomia e química humanas. Os cientistas que os fizeram programaram dessa forma. Eles ...
— Cientistas? —Divine interrompeu com surpresa antes que pudesse se controlar. Ela não sabia que os nanos que os faziam tão fortes e lhe davam uma vida tão longa foram feitos pelo homem. Pensou ... bem, supôs que eles apenas faziam parte de todos os imortais, tão naturais quanto guelras22 em um peixe. Que os imortais eram talvez uma espécie diferente dos humanos ou algo assim.
Divine não tinha sido educada sobre a origem dos imortais antes dela ter sido sequestrada, e certamente Leonius não tinha qualquer desejo de ensinar-lhe qualquer coisa que não tivesse a ver com horror e dor. Uma vez que estava livre dele, seu tempo tinha sido ocupado correndo e se escondendo e constantemente se movendo para evitar o grande e monstruoso Lucian Argeneau. Havia pouco tempo para refletir sobre as origens de seu povo ou a fonte de seus nanos.
— Divine, —disse Marcus lentamente. — Ninguém te ensinou sobre ...?
— Claro que fizeram, —ela interrompeu bruscamente. Afastando-se, pegou uma lata de Spam enquanto acrescentava: — Estava apenas o provocando.
Um longo silêncio passou, e então Vincent disse: — Marcus, você pode me ajudar com isso?
Divine permaneceu completamente imóvel até que ele se afastou e então soltou sua respiração em um suspiro. Ela deveria ter admitido que não sabia, mas não queria parecer estúpida na frente de Marcus. Divine não tinha ideia do porque se sentia assim. Não era idiota. Sabia disso, e não saber de algo não a tornava estúpida. Isso só significava que não sabia dessa informação. Não tirava o mérito de seu conhecimento sobre outras coisas. Ninguém poderia saber tudo o que havia para saber neste vasto planeta, não importando quantos anos ou séculos vivessem. Por exemplo, ela não tinha ideia do que era Spam e não se importava com quem sabia disso. Então, por que não saber suas origens a incomodava e a fazia se sentir ignorante?
Suspirando, Divine colocou a lata de Spam de volta na prateleira. Não estava empacotando nada que ela não reconhecesse ... que era praticamente tudo que estava em uma lata ou caixa na despensa. Sacudindo a cabeça, pegou uma sacola dobrada da prateleira, abriu-a e começou a colocar legumes nela.
Capítulo 13
— Estou tão feliz que vocês estejam bem, —disse Madge, sorrindo tanto para Divine quanto para Marcus.
— Sim. —Divine assentiu sorrindo e então mudou seu sorriso para uma expressão de defesa. — Eu realmente sinto muito, Madge. Pensei em ter deixado um bilhete para você explicando que Marco estava me levando para comprar um novo trailer. Acho que com toda a emoção e caos acabei me esquecendo. Ou talvez tenha sido perdido em algum lugar. Eu tinha certeza que deixei esse bilhete.
Era pelo menos a décima segunda vez que Divine contava essa mentira. Estava começando a achar difícil manter o sorriso no lugar enquanto repetia, principalmente porque as últimas oito horas tinham sido um pouco atormentadas. Eles chegaram ao local do Parque para encontrá-lo vazio. A única evidência de que estavam lá em algum momento era uma fita amarela da polícia balançando na brisa, presa nos galhos de uma árvore na beira do terreno.
Divine, Marcus, Vincent e Jackie foram direto para a delegacia da cidade e depois para o corpo de bombeiros. Como Vincent havia sugerido, o investigador de incêndios criminosos reconheceu rapidamente o fogo como proposital. Divine aparentemente era a suspeita número um a princípio. Pelo menos até descobrirem através de várias testemunhas, tanto carnies quanto moradores locais, que ela estava na cidade quando começou o fogo, voltou para encontrar seu trailer em chamas, e agora estava desaparecida. Quando a ausência de Marcus foi notada, ele se tornou o principal suspeito tanto do incêndio criminoso quanto do sequestro dela.
Não havia outra escolha a não ser que Divine, Marcus, Vincent e Jackie usassem uma combinação de lembranças sutis, influenciando pensamentos e até mesmo um toque de limpeza de mente para conseguirem controlar a situação. No momento em que terminaram, toda a provação se transformou de incêndio criminoso e sequestro para nada mais do que um incêndio acidental sem reivindicação de seguro, ninguém ferido, e nenhum documento oficial sobre o episódio inteiro. Garantiram que o arquivo desaparecesse, tanto em cópia impressa quanto digital.
Depois disso, seguiram o Parque até a próxima parada programada. Chegaram a área de feiras onde o Parque foi montado e o encontraram silencioso e escuro, e os carnies relaxando no fundo do quintal depois de um dia longo e quente.
Divine tinha ido direto para a trailer de Madge e Bob com Vincent, Jackie e Marcus seguindo-a. Mas no momento em que ela chegou na casa sobre rodas do casal mais velho, a maioria dos carnies também estava a seguindo, cada um deles de olho em Marcus, desconfiados e perguntando se ela estava bem, mas deixando quaisquer outras perguntas para Madge e Bob.
Havia uma hierarquia nos Parques e, como proprietários, Madge e Bob eram mamãe e papai, rei e rainha. Os outros deixaram que eles obtivessem as respostas que queriam e simplesmente cercaram Divine e os três estranhos que a acompanhavam enquanto seguiam para o trailer dos Hoskins.
Bem, a maioria deles tinha. Alguém obviamente correu à frente para dizer a Madge e Bob que ela estava de volta porque o casal estava saindo do trailer quando Divine chegou com os seus acompanhantes. O casal mortal cumprimentou Divine com alívio, ignorando as três pessoas com ela, até mesmo Marcus, até que ela explicou que, embora o investigador de incêndios criminosos tenha achado inicialmente que o incêndio foi proposital, agora havia determinado que tinha sido acidental, um curto circuito elétrico juntamente com um vazamento de gás propano23 resultou em uma explosão. Ela então explicou que Marco a tinha encontrado perturbada, depois que se afastou de seu trailer em chamas, a tinha consolado, e depois se ofereceu para ajudá-la a substituir o veículo para que ela pudesse voltar ao trabalho e era isso que estavam fazendo os últimos dois dias, visitando lojas de trailers usados e o banco para providenciar uma substituição.
— Bem, eu estou feliz que o inspetor de incêndio tenha percebido seu erro e tenha informado a polícia de que foi um acidente antes de prenderem o pobre Marco, —disse Madge agora.
Bob bufou com as palavras de sua esposa. — Ele teria tido sorte de ter sido preso. Se Marco tivesse voltado para nós sozinhos, em vez de estar com Divine viva e bem ao seu lado, nossos garotos o teriam amarrado, sem perguntas.
— Sim, —Madge concordou solenemente, e então deu um tapinha no braço de Marcus como se para acalmá-lo. — Bem, felizmente, ele não fez. Trouxe-a de volta e também trouxe amigos para nos ajudar.
O sorriso de Divine ficou decididamente forçado com este comentário. Vincent a pegou de surpresa quando informou a Madge e Bob que ele e Jackie eram amigos dela que tinham vindo para ajudar de qualquer maneira que pudessem, e que queriam montar uma barraca de doces com outro casal, Tiny e Mirabeau, ao lado do ponto de trabalho de Divine. Ela ficou igualmente surpresa quando Madge e Bob abraçaram a ideia com entusiasmo, até que percebeu que Vincent e Jackie estavam usando suas habilidades especiais para influenciar o casal e garantir que eles achassem que era uma boa ideia.
Parecia que, enquanto ela ficasse no Parque, Divine ia ter um trio de guarda-costas/babás em sua bunda.
Na verdade, um quinteto de guarda-costas/babás, ela pensou, lembrando-se desses desconhecidos Tiny e Mirabeau.
— E a hora não poderia ter sido melhor, —anunciou Bob. — O brinquedo de submarino de Jack quebrou hoje. Vamos tirá-lo de manhã e vocês podem estacionar seus trailers no seu lugar.
— Oh sim, —Madge disse alegremente. — Isso vai dar certo.
— Não para Jack, —Divine murmurou e então perguntou. — Ele não pode consertar o brinquedo?
— Divine, amor, esse brinquedo tem mais de cinquenta anos, —disse Bob secamente. — Jack consertou e reconsertou muitas vezes, mas francamente acho que desta vez não tem jeito.
— Ele chamou um técnico hoje, mas disse que só as peças custariam uns bons dois mil dólares, —Madge disse solenemente. — E Jack não ganha mais dinheiro com esse brinquedo.
Bob grunhiu e assentiu. — É um brinquedo infantil que até as crianças acham chato. Um monte de banheiras amarelas girando e girando.
Ele franziu o nariz. — Não é muito emocionante. Provavelmente vai vender para sucata ou como uma relíquia em algum site online ou algo parecido.
Madge assentiu em concordância. — Nós só íamos colocar um sinal de 'Fora de serviço' e deixá-lo no lugar para que não tivéssemos um buraco no meio da área onde ele está estacionado, —ela admitiu, e então acrescentou brilhantemente, — Mas agora que você e seus amigos estão aqui, mandaremos os garotos desmontá-lo para que vocês possam puxar os trailers para a noite.
— Oh não, —protestou Divine quando vários dos homens avançaram, aparentemente se voluntariando para o dever. — Não quero que os meninos tenham esse trabalho a esta hora.
— Oh agora, Senhorita Divine, não é problema, —disse Jack, movendo-se através da multidão para se juntar a eles. — É montado em reboque. Nós apenas temos que derrubar a cerca e tirar o reboque. Não levará mais do que alguns minutos. Além disso, —acrescentou secamente. — Eu não aguento mais olhar para a maldita coisa. Não me deu nada além de tristeza nesses últimos anos. Ficarei feliz em tirar isso da minha vista, e então não vai mais me incomodar. Estou feliz em desmontá-lo.
— Ótimo, —disse Divine secamente quando Jack se afastou com vários homens seguindo-o.
— Vá com seus amigos pegar os trailers de vocês, —sugeriu Madge. — O tempo que vocês forem até lá e voltarem, garanto que o brinquedo de submarino terá desaparecido e vocês poderão entrar em ação.
— Ótimo, —repetiu Divine fracamente quando Marcus tomou seu braço para afastá-la. Ela esperava que eles tivessem que estacionar os trailers longe um do outro no meio da área do Parque. Ou que eles não teriam sido capazes de encaixar um segundo trailer e Marcus, Vincent e Jackie, teria que que estacionar em algum lugar no fundo, bem longe daquele que ela pretendia ficar. Isso teria lhe dado pelo menos um pouco de espaço para manobrar e administrar sua fuga. Certamente precisava se afastar de seus guarda-costas/babás antes de Lucian chegar. Mas parecia que até mesmo o destino estava contra ela nesse esforço.
Sério, quais eram as chances de que o submarino quebrasse, deixando um espaço grande o suficiente para dois trailers estacionarem lado a lado em seu lugar?
Muito bom, na verdade, reconheceu Divine. A coisa maldita parecia quebrar muito regularmente. Embora esta fosse a primeira vez que o colapso tinha sido algo que Jack não conseguiu reparar.
— Oh, droga, Divine! —Madge chamou de repente.
Divine parou abruptamente e se virou para ver a mulher acenando de volta. Depois de uma hesitação, ela se virou para Marcus e sugeriu: — Por que vocês três não vão em frente? Eu vou ver o que ela quer, provavelmente esqueceu de me dizer alguma coisa.
Ele nem hesitou, mas disse imediatamente: — Vou com você.
— Você vai se juntar a mim no banheiro também quando eu tiver que usá-lo? —Divine perguntou docemente, e quando seus olhos se arregalaram de surpresa, ela disse em uma voz firme: — Tenho cuidado de mim por um tempo, muito tempo, Marcus. Não preciso de uma escolta para andar e falar com Madge, e eu não gosto de tropeçar em pessoas toda vez que me movimento. Apreciaria um pouco de espaço. Você pode esperar aqui enquanto vejo o que ela quer, ou ir buscar o trailer, mas não vai me seguir por aí como um cão de guarda.
Marcus olhou para ela solenemente por um momento, depois assentiu com a cabeça e disse: — Como desejar.
Divine não tinha ideia do que isso significava. Ele iria pegar o trailer ou esperar aqui? E por que diabos Vincent estava rindo baixinho? Balançando a cabeça com perplexidade para os dois, Divine se virou e voltou para Madge. Ela só deu alguns passos quando ouviu Jackie dizer baixinho: — Tiny ama esse filme24.
O comentário foi tão desconcertante para ela quanto o comportamento dos homens, mas Divine apenas revirou os olhos com exasperação e continuou até Madge. Honestamente, ela não sabia o que fazer com os três. Eles tinham sido gentis, havia lhe dado sangue, uma cama e roupas, e cuidou dela enquanto curava. Eles também pareciam sinceros em sua intenção de descobrir quem estava por trás dos ataques contra ela e seu trailer. Mas os ouviu conversando. Sabia que eles suspeitavam que ela fosse Basha, e sabia que Lucian estava chegando. Por que eles não apenas a mantiveram acorrentada na cama e a seguraram lá até ele chegar? Por que toda essa amizade e carinho?
Divine não entendia e não tinha tempo para descobrir. Precisava despistar o trio, sair do Parque e começar o próximo capítulo em sua vida de correr e se esconder.
— Venha, —disse Madge quando Divine chegou a ela. Pegou a sua mão e a levou de volta ao seu trailer. — Eu quase esqueci.
— Quase esqueceu o quê —Perguntou Divine, seguindo a mulher.
Madge não respondeu, mas levou-a para o pequeno reboque fechado que sempre mantinham preso na parte de trás do trailer. Ela rapidamente abriu a porta do reboque e sorriu para Divine. — Aposto que você pensou que tinha a perdido para sempre.
Divine levantou as sobrancelhas com o comentário e se aproximou da mulher para olhar dentro do trailer, um sorriso separou seus lábios quando viu a moto dentro. Ela esqueceu completamente sobre o veículo que deixara deitado no chão em frente ao trailer em chamas na noite em que Marcus foi ferido.
— Madge, você é um anjo, —disse ela, dando um passo à frente para passar a mão suavemente sobre o guidão. Esta era sua passagem para a liberdade.
Era como ia escapar. Tudo o que tinha que fazer era deixar o trio esperando por ela durante cinco minutos, subir na moto e ir embora. Virando-se deu um rápido abraço em Madge. — Obrigada. Posso deixar isso com você por enquanto?
As sobrancelhas da mulher se ergueram de surpresa, mas assentiu prontamente. — Se você quiser. Suponho que o novo trailer não tenha um espaço de armazenamento embutido para guarda-lo como tinha o antigo.
— Não, não, —concordou Divine, e então admitiu: — Mas o trailer que estou usando agora é apenas emprestado. Vou ter que esperar para ter um personalizado para espaços de armazenamento especiais como aquele. Mas não vou fazer você guardar a moto por tanto tempo, —ela assegurou. — Eu prefiro deixar aqui por enquanto. Amanhã ou depois, provavelmente vou passar para buscá-lo. Se estiver tudo bem para você?
— Claro, —assegurou Madge, fechando a porta. — Não há problema algum.
— Bom, —Divine murmurou enquanto a observava prender a fechadura mais uma vez, e isso era bom. Realmente não queria mergulhar na mente da mulher e fazê-la concordar em mantê-la para ela. Mas teria se fosse preciso. Necessitava da moto e precisava que Marcus e os outros não soubessem disso.
— O que você acha que Madge estava mostrando a ela no trailer? —Marcus perguntou, estreitando os olhos nas mulheres enquanto se viravam para caminhar de volta para eles.
— Uma moto, —anunciou Jackie. — A moto de Divine. Ela aparentemente abandonou-o aqui quando o levou embora no SUV na noite do incêndio e Madge mandou Bob colocá-lo no reboque para mantê-lo até ela voltar.
— Hmm. —Marcus assentiu. Ele tinha boas lembranças daquela moto quando passeou de carona nela atrás de Divine. Estava realmente surpreso que ele tinha esquecido dessa moto. — Nós poderíamos guardá-lo no trailer para mantê-lo seguro e mais acessível. Por que não está trazendo-a com ela?
— Porque ela não quer que a gente saiba que a recuperou, —Jackie anunciou, e depois apontou: — Seria mais fácil para ela escapar e fugir se não sabemos que existe.
— Escapar? —Marcus perguntou com surpresa. — Por que ela iria querer fugir? Sou seu companheiro de vida.
— Eu não acho que ela sabe disso ainda, —disse Vincent, pensativo.
— Bem, então talvez seja a hora de ajudá-la com isso, —Marcus murmurou.
— Você vai ter que ajudá-la com mais do que isso, —disse Vincent solenemente, e quando Marcus olhou para ele questionando, acrescentou: — Ela não tem ideia do que são nanos ou como eles funcionam. Realmente não sabia que eles foram feitos por cientistas de Atlantis.
Marcus olhou para ele com surpresa. — Como ela poderia não saber algo assim?
Vincent sacudiu a cabeça. — Não tenho certeza. Acho que você vai ter que perguntar a ela para descobrir.
Marcus franziu a testa e virou-se para olhar para Divine. Tão confiante, carinhosa, bonita para ele, e parecia muito experiente em tantos assuntos que era difícil acreditar que ela não sabia sobre conhecimentos básicos da origem dos imortais. Esperava, pelo menos, que ela soubesse quais eram os sintomas nos imortais quando encontravam seus companheiros de vida. Esse pensamento o fez perguntar: — Você acha que ela sabe sobre os companheiros de vida?
A pergunta obviamente surpreendeu Vincent e ele piscou duas vezes antes de dizer: — Para o seu próprio bem, espero que sim.
Divine viu Marcus dar-lhe o polegar para cima no espelho retrovisor, parou o trailer depois que estacionou e desligou o motor. Para sua surpresa, ele sugeriu que fosse ela a pessoa a estacionar o trailer no espaço apertado que restava, uma vez que Vincent havia estacionado o outro trailer. Ela ficou admirada porque a maioria dos homens parecia preferir assumir o volante quando se tratava de dirigir. Aparentemente, Marcus não era a maioria dos homens. Ele apenas ignorou a sua surpresa e assumiu que nunca dirigiu um trailer antes enquanto ela tinha anos de experiência nisso. Ela parecia a melhor escolha para o trabalho. Divine se deparou tendo um grande respeito por Marcus por ele ter admitido sua falta de experiencia nisso e por isso ficou um pouco mais envergonhada por não ter admitido sua própria falta de conhecimento quando se tratava das origens dos nanos.
Marcus não se importou em admitir que ela sabia ou tinha mais experiência e habilidade do que ele fazia em alguma coisa. No entanto, ela estava muito envergonhada por não fazer o mesmo.
Bem, pensou Divine enquanto abria a porta para sair. Ninguém era perfeito.
— Bom trabalho, —elogiou Marcus, encontrando-a na metade da lateral do trailer.
— Obrigada, —Divine murmurou passando por ele, mas ele segurou seu braço para impedi-la de continuar andado. Parando, ela levantou as sobrancelhas.
— O que foi?
— Queria lhe fazer algumas perguntas, —disse Marcus baixinho.
Divine hesitou, mas depois se obrigou a pelo menos parecer relaxada e assentiu devagar. — Certo.
Marcus respirou fundo, a observou brevemente e então perguntou: — Você sabe sobre companheiros de vida?
Divine inclinou a cabeça um pouco surpresa com a pergunta. — Claro. Ela sorriu suavemente e admitiu: — Uma prima, que me visitava, e eu costumávamos brincar de ser Companheira de vida quando tínhamos onze anos. Ela sempre foi a garota, acrescentou secamente e encolheu os ombros. — Todas as crianças imortais conversam e sonham em encontrar seu companheiro de vida um dia, não é?
— O que você sabe sobre eles? —Ele pressionou.
Divine deu de ombros. — Eles são os verdadeiros companheiros de um imortal, aquele que não pode ser lido ou controlado e aquele não pode ler ou controlar você. Se unem para a vida.
— Você conhece os sintomas de encontrar um companheiro de vida?
Ela franziu a testa agora. — Por que você está me perguntando isso?
— Porque tenho 2.548 anos, —anunciou Marcus. — E eu não posso ler você.
Divine piscou. Ele era antigo ... mas ela era mais velha. Sua incapacidade de lê-la, portanto, não era uma grande surpresa. No entanto, como a mais velha, ela deveria ter sido capaz de lê-lo ... e não podia. Ela não tinha sentido nenhum dos outros sintomas que se tem quando se conhece um companheiro de vida, pelo menos não que ela tenha notado. Não estava com fome de comida, mas realmente não esteve por perto de alguma a menos que você contasse as mercadorias em lata e caixa na despensa de Vincent e Jackie.
— E nem Jackie nem Vincent deveriam ser capazes de me ler, mas podem pela primeira vez desde que eu os conheço, —Marcus adicionou solenemente, e então apontou, — A incapacidade de impedir que jovens imortais leiam seus pensamentos é outro sintoma de encontrar um companheiro de vida.
Divine engoliu, sua mente começando a girar.
— E, —ele acrescentou, — enquanto eu não posso ler você, Jackie e Vincent podem.
Divine realmente sentiu o sangue deixar seu rosto quando esta notícia a atingiu. Isso era ... merda, Vincent e Jackie poderiam lê-la? Esses bebês podiam? Impossível. Mas se eles pudessem ... Então Marcus era ...?
O que eles leram? Ela se preocupou de repente. O que eles sabiam? Tudo isso era verdade? Marcus era seu companheiro de vida? Lembrou-se das sensações que sentia quando seus corpos se tocavam de alguma forma, ou acidentalmente se barravam ... precisava tirar isso da cabeça. Ela não conseguia lidar com isso naquele momento. Não podia lidar com Marcus sendo seu companheiro de vida também. Isso era uma piada cósmica.
Um dos espiões de Lucian é seu companheiro de vida?
Deus querido, Divine pensou consternada e então sua mente voltou para se perguntar o que Vincent e Jackie haviam lido em suas memórias. O que eles sabiam? O que ela deixou escapar?
Marcus era seu companheiro de vida, sua mente gritou, e Divine levantou as mãos para esfregar suas têmporas. Seus pensamentos eram muito caóticos.
Ela não conseguia lidar com tudo isso agora. Não podia nem o aceitar como seu companheiro de vida. Ele era o espião de Lucian, pelo amor de Deus, e seu filho poderia estar em perigo por qualquer coisa que Vincent e Jackie tivessem lido em seus pensamentos.
— Divine? —Ele perguntou com preocupação.
— Eu tenho que ... —Divine balançou a cabeça e tentou passar por ele, mas estava tão abalada que tropeçou em seus próprios pés e teria caído se Marcus não tivesse pegado seu braço a salvando de cair, seu impulso a girou e ela bateu contra o peito dele com um suspiro surpreso. Engolindo em seco, olhou para o peito dele brevemente, mas depois fechou os olhos enquanto o cheiro dele subia até o nariz. Seu cheiro era definitivamente masculino, algo amadeirado, mas com uma pitada cítrica. Era incrivelmente ... tentador.
Ela queria pressionar o nariz na curva do pescoço dele e apenas respirar profundamente. Em vez disso, parou de respirar completamente, tentou se recompor e se afastar.
— Divine? —Sua voz abaixou, tornando-se esse som murmurado sexy e rouco. Isso combinado com o seu hálito quente roçando sua orelha fez um pequeno gemido escapulir de seus lábios.
— Você se machucou? —Marcus perguntou com preocupação, empurrando-a ligeiramente para trás, tentando ver seu rosto. A ação trouxe seus quadris para mais perto, pressionando juntos, aninhando sua virilha contra a dela, e Divine mordeu o lábio na sensação que enviou correndo através do seu corpo. Querido Deus.
— Divine? O que está errado? Olhe para mim, —insistiu ele.
Inclinando a cabeça para trás, Divine relutantemente abriu os olhos e então simplesmente olhou. Seus olhos eram negros brilhando com listras prateadas através dele. Eles eram fascinantes, hipnóticos. Na verdade, tinham a atenção dela, mas ela não percebeu que eles estavam se aproximando até que, no tempo de um batimento cardíaco, os lábios dele cobriram os dela. Divine teve aquele tempo da batida do coração para puxar seus lábios longe e deveria ter feito, mas ao invés hesitou e isso foi a ruína dela. Uma vez que sua boca roçou a dela, estava perdida.
Capítulo 14
Tudo começou com um formigamento que explodiu onde seus lábios se encontraram, como um rojão cuspindo pequenas chamas de calor. Então os braços de Marcus deslizaram em torno de suas costas, puxando-a para mais perto, e sua boca se abriu sobre a dela e a noite explodiu dentro da cabeça de Divine. Essa foi a única maneira de descrevê-lo, o calor, a luz e a cor pareciam explodir atrás de seus olhos, e o fogo lambeu seu corpo enquanto sua língua deslizava para espalhar seus lábios e mergulhar entre eles.
A princípio, eles se abraçaram, como se cada um fosse a linha de vida do outro em um mar tempestuoso, mas então Divine era a única abraçar quando as mãos de Marcus começaram a se mover. Por todos os lugares os seus dedos vagaram, seu corpo explodiu em chamas ... e suas mãos moviam-se com uma rapidez quase vertiginosa, como se quisesse garantir que ela o sentisse por todo corpo, ou ele queria tocá-la de uma só vez.
Divine arfou e gemeu de volta, inconscientemente empurrando seus quadris mais perto, agarrando seus ombros e subindo nas pontas dos pés, quando as mãos dele cobriram e apertaram seus seios. Marcus desceu uma das mãos entre as suas pernas e pressionou para cima, o fino material de sua saia e calcinha eram as únicas coisas entre eles. Aquela carícia a deixou um pouco louca e Divine começou a chupar quase violentamente a língua dele, uma de suas próprias mãos finalmente desistindo do aperto em seu ombro para raspar seu peito, arranhando o tecido fino da camiseta apertada que ele vestia. Já tenso, o tecido rasgou como papel, o material se espalhando onde se rasgou e deixando uma grande abertura sobre um lado do peito. Sentindo o cabelo grosso sob a palma da mão, e a protuberância de um mamilo, Divine arrancou a boca de Marcus e abaixou a cabeça até o peito, ansiosa para provar sua pele.
Sua mente estava cheia de uma fome insaciável que a fez lamber sua pele e, em seguida, fechou os lábios ao redor do mamilo e desenhou nele com a língua ansiosamente. Mal ouviu a maldição que Marcus proferiu, mas sentiu, surpresa, seu prazer sair de seu corpo para o dela.
Prazer compartilhado, outro sintoma de companheiros de vida, ela recordou, e o pensamento era eletrizante, que lhe dava uma ousadia que Divine não sabia que possuía nessa área. Mesmo ela ficou surpresa quando de repente abaixou uma das suas mãos e apertou a dureza de Marcus que pressionava contra seu jeans preto apertado. As sensações que recebeu vindas dele fizeram com que ela lhe arrancasse a boca do peito e procurasse novamente a sua boca para um beijo quase violentamente exigente.
Divine sentiu o material de sua saia se movendo contra as costas de suas pernas, e então suas mãos estavam lá, deslizando para cima e empurrando o material à frente delas. Ainda assim, os olhos dela se abriram de surpresa quando ele de repente a pegou pelas costas das coxas e as puxou para seus quadris. Instinto governou e ela cruzou os tornozelos atrás das costas para não cair. Também retirou a mão acariciadora de sua ereção para agarrar seus ombros novamente. No momento em que fez, ele de repente se virou com ela.
Divine ofegou em sua boca com surpresa quando suas costas bateram na lateral do trailer.
Marcus imediatamente arrancou sua boca e murmurou um pedido de desculpas contra sua bochecha. Ele também respirou fundo várias vezes, depois recuou a cabeça para perguntar, ofegante: — Você está bem?
Suas palavras foram resmungadas e arrastadas como se estivesse bêbado quando ela sabia que ele não estava. Marcus estava obviamente tão dominado pela paixão quanto ela. Divine grunhiu afirmativamente em resposta, depois apertou o rosto dele e puxou-o de volta para que pudesse cobrir a boca dele com a dela novamente.
Porra, o homem sabia beijar. Pelo menos achava que ele sabia. Não estava muito convencida porque talvez tenha sido apenas a reação química do sexo entre companheiros de vida. Era para ser alucinante e isso parecia uma boa descrição. Divine nunca havia experimentado algo assim. Até mesmo o esperado sangue em uma sede de sangue nunca foi tão desejado. Ela o queria dentro dela e ao seu redor. Precisava de tudo e urgente, bem aqui.
Para seu alívio, o momento de preocupação de Marcus passou rapidamente sob a influência de seu beijo e ele começou a beijá-la e tocá-la novamente. Ele pressionou-a contra o trailer, segurando-a lá com a parte inferior do corpo, se equilibrando usou uma das mãos para puxar a sua blusa. Era uma blusa muito útil em uma situação como esta e Divine grunhiu de alívio quando ele a puxou para baixo, revelando seus seios no ar quente da noite. Ela então gemeu profundamente com prazer quando ele a levantou um pouco mais alto contra o trailer e abaixou a cabeça para reivindicar um mamilo já ereto.
Era como se seus lábios estivessem acendendo um estopim que ia do seio até a virilha e que o contato com a boca havia incendiado. Ofegando, jogou a cabeça para trás, quase se chocando com força contra a parede do trailer. A mão de Marcus estava imediatamente lá, esfregando o ponto em sua cabeça onde ela bateu na parede, e então segurou sua cabeça para impedi-la de fazer isso de novo, mas sua boca nunca deixou seu seio, nunca parou de sugar e chupar o mamilo o tempo todo. Era o suficiente para deixá-la louca. Divine gemeu cada vez mais, suas mãos agarradas em seus cabelos os puxando, seus quadris se movendo e empurrando contra seu estômago agora. E então ela pegou o seio livre com a própria mão e começou a apertar e amassar a carne excitada que estava sendo negligenciada.
Tudo o que ele estava fazendo era maravilhoso, incrivelmente emocionante. Seu corpo inteiro estava zumbindo de excitação e necessidade. Estava doendo entre as suas pernas ... e não era o suficiente. Ela o queria dentro dela, queria sentir seu corpo quente e duro pressionando-a. O pensamento a fez abaixar a sua mão, tentando encontrar aquela dureza novamente. Mas ele estava segurando-a muito alto. Ela soltou os tornozelos e chutou os pés em frustração, grunhindo de satisfação quando ele levantou a boca de seu seio e deixou-a deslizar ao longo da parede do trailer até que a mão dela pudesse encontrar o topo de sua calça jeans. Quando ele começou a beijá-la novamente, Divine pressionou a palma da mão contra o estômago dele e então deslizou entre o material e a pele até que pôde segurá-lo sem o material de seu jeans ou calcinha no caminho. Ele não usava qualquer roupa de baixo e ela era grata por isso. Duvidava que sua mão se encaixasse com o material adicionado no espaço apertado.
Divine não poderia ter uma reação maior de Marcus se ela acendesse um fósforo onde seus dedos o apertavam. Excitação disparou através dele em um tsunami de sensações que quase derrubou Divine quando vibrou através de sua conexão e soprou através dela.
Quando ele então deslizou uma mão sob sua saia em resposta, e subiu ao longo de sua coxa tocando a borda de sua calcinha, Divine já estava molhada para ele, encharcada de fato, seu corpo chorando para ele preenchê-la.
Ela gemeu em protesto quando ele quebrou o beijo, e realmente não entendeu o que ele estava tentando dizer quando ele arfou, — Nós não deveríamos, não aqui, mas eu não posso, preciso ...
Divine se sacudiu em seus braços quando seu toque se tornou mais íntimo, seus dedos deslizando entre suas dobras quentes e úmidas para encontrar o centro de sua excitação. Ele a dedilhou uma vez, duas vezes, e então deslizou um dedo dentro dela e Divine mordeu o seu ombro para abafar o grito que lhe rasgou enquanto seu corpo estremecia e tremia com o seu orgasmo. No momento seguinte, seus dentes o soltaram e um suspiro escorregou de seus lábios quando a escuridão rolou sobre ela.
Um grito seguido por uma risada bêbada acordou Marcus. Ele piscou os olhos abertos, confuso no início de onde estava. Foi a cabeça apoiada em seu peito e o corpo quente em suas pernas que trouxe sua memória de volta. Droga ... tinha acabado de experimentar sua primeira experiência de sexo com sua Companheira de vida ... e tinha sido ... Porra, ele pensou. Não havia como descrevê-la. Tinha ouvido falar que isso seria alucinante e inacreditável e certamente foi ambas as coisas, mas toda a experiência era como chamar um tornado de brisa leve, ou dizer que um tsunami era a maré que invadia a praia. O que tinha experimentado havia sido alucinante e definitivamente mudaria sua vida.
Outra risada, esta mais próxima, chamou sua atenção novamente e Marcus olhou ao redor, rapidamente absorvendo sua situação. Eles desmaiaram e estavam do lado de fora, deitados no chão ao lado de seu trailer ... e alguém estava vindo, tropeçando bêbado em direção a eles ... era mais de um que estava vindo.
Marcus observou a área em ambas as direções, mas ainda não viu quem estava se aproximando. Depois de brevemente ter debatido consigo mesmo, resolveu apenas esperar lá e controlar a mente da pessoa ou pessoas quando se aproximassem suficientes para vê-los. Ele poderia assumir o controle da mente, garantir que não vissem nem a ele nem Divine, e enviá-los em outra direção ... isso se não houvesse mais de dois. Dois já seria complicado, mas mais do que isso seria praticamente impossível.
Ele tinha acabado de pensar quando pegou o movimento com o canto do olho e olhou para o lado e por baixo do veículo. Ele estava deitado de costas entre os dois trailers com os pés em direção à parte traseira dos carros e da área do Parque, e a cabeça em direção à frente dos trailers e ao terreno dos fundos onde ficavam os alojamentos. O movimento que vislumbrou foi de vários pares de pés, talvez meia dúzia, caminhando ao longo da parte de trás do trailer. Dentro de alguns poucos passos, os donos dos pés estariam na abertura do espaço entre os dois trailers e seriam capazes de vê-los.
Marcus moveu-se rapidamente então, puxou-se para o lado e deslizou para debaixo do trailer que Divine iria usar, e arrastou-a com ele pela terra. Tentou não pensar sobre o que essa ação faria com as suas roupas novas, estava mais preocupado em esconder os dois debaixo do veículo antes que pudessem ser vistos. E teriam sido vistos com certeza, ele pensou sombriamente quando os seis pares de pés viraram a fileira entre os trailers para chegar ao terreno dos fundos.
— Estes são novos, —alguém disse, as palavras ligeiramente arrastadas.
Um grupo de jovens carnies retornando das bebedeiras depois do fim de um longo dia de trabalho, Marcus tinha certeza que esse era o caso. Ele não sabia onde conseguiam tanta energia. Trabalhavam como cães o dia todo no calor e deveriam estar exaustos em suas camas quando a meia-noite chegasse e o Parque fechasse.
— Talvez Divine tenha um novo trailer e esteja de volta, —sugeriu outra voz. O primeiro tinha sido do sexo feminino. Esta era do sexo masculino.
— Isso seria incrível, —disse outra voz masculina. — Divine é gostosa.
— Gostosa? —Outra mulher perguntou em tom de mau humor. — Ela é velha. Tem que ter pelo menos vinte e cinco anos.
— Sim? Bem, eu tenho vinte e quatro anos, então acho que estou velho também. Muito velho para você pelo menos. Qual a sua idade mesmo? Doze? —Ele provocou quando passaram pelo local onde Marcus e Divine estavam.
— Dezoito, —a garota retrucou com irritação. — Bob e Madge dificilmente contratariam uma criança de doze anos.
— Seja como for, —o sujeito riu, sua voz ficando mais fraca.
Marcus inclinou a cabeça para ver o grupo chegar à frente do trailer e virar à esquerda, caminhando ao longo do terreno dos fundos. Esperou um momento, e então olhou ao redor, checando os trailers em todas as direções e ter certeza de que ninguém mais estava se aproximando. Só então deslizou no chão para fora do trailer, levando Divine com ele novamente. Uma vez que tinha os dois no espaço entre os veículos, Marcus rapidamente se levantou e depois se inclinou para pegar Divine.
Ela não estava dormindo. Divine nem se mexia. Estava definitivamente inconsciente, o que era outro sinal de companheiros de vida; geralmente desmaiavam durante ou depois do sexo com o seu companheiro de vida. O pensamento o fez abraçá-la contra o seu peito. Ela era dele. Sua Companheira de Vida, sua companheira, a luz que afastaria a escuridão nos próximos dois milênios ou mais de sua vida. Ela seria sua razão em se levantar de manhã e seria o porquê dele ir para a cama à noite em paz com seu mundo ... contanto que ela não fosse Basha Argeneau.
Esse pensamento fez Marcus franzir a testa. Ela não podia ser Basha. Ela era Divine.
— Divine, —murmurou baixinho, saboreando o nome em seus lábios. Certamente escolheu o nome perfeito para si mesma. Ela era divina em todos os sentidos.
Marcus ainda estava sorrindo com esse pensamento enquanto a levava pelo trailer até a porta do meio do lado do passageiro. Este trailer não foi feito por encomenda. Tinha uma configuração padrão. Ao invés de uma porta na parte de trás, a porta estava do lado e levava diretamente a uma cozinha e sala de estar combinadas, embora a cozinha estivesse à esquerda e a sala à direita com uma cortina que separava os dois cômodos, parecido como no antigo trailer de Divine. Depois da cozinha era onde ficava o quarto, e atrás dele, correndo de um lado do trailer até o outro, ficava um minúsculo banheiro com chuveiro em uma extremidade, o vaso sanitário na outra e uma pia no meio.
Divine havia estacionado o trailer ao lado da cerca em torno de um brinquedo chamado Zipper25. Ela estacionou com a extremidade traseira um pouco mais longe do que a traseira do trailer de Vincent, de modo que a porta lateral era visível e facilmente acessível, onde a cerca ao redor do Zipper se curvava para trás.
Marcus parou na porta e deslocou Divine um pouco para poder abri-la, mas fez uma pausa e olhou ao redor ao som de passos correndo em direção a ele.
— O que aconteceu? —Jackie arfou quando chegou até eles. Seu olhar preocupado deslizou sobre Divine. — Ela foi atacada de novo?
Marcus fez uma careta. Supôs que dependesse de como você olhasse para essa situação. Certamente não tinha sido excessivamente gentil ou cuidadoso no que havia passado entre eles. Embora não achasse que seria classificado como um ataque, a menos que você quisesse dizer que ela o atacou também. Eles se comportaram como animais ... e foi incrível!
— Ela está bem, —ele assegurou-lhe quando Jackie puxou a porta de tela para fora do caminho e estendeu a mão para abrir a porta de madeira interna para ele.
— Só ... desmaiou.
— Ela precisa de sangue? —Jackie perguntou com preocupação, seguindo-o enquanto ele levava Divine para dentro.
— Não. Ela está bem, —ele repetiu quando ela acendeu as luzes. — Um pouco de descanso e estará nova em folha.
— Mas o que ...?
O jeito que ela parou tão abruptamente chamou sua atenção e fez com que ele olhasse para ver que ela estava olhando com olhos arregalados em direção a Divine. Marcus seguiu seu olhar, mordendo o lábio quando viu que a blusa camponesa de Divine ainda estava arrancada, resultado da atenção que deu aos seus seios mais cedo. Eles estavam à vista e seus mamilos ainda estavam eretos. Quando Jackie então olhou para sua camisa rasgada e ele mudou o olhar para lá e viu que seus próprios mamilos também ainda estavam eretos, suspirou com resignação.
— Oh, —disse ela com uma compreensão súbita e, em seguida, arqueou uma sobrancelha quando olhou para os dois mais uma vez, percebendo agora seu estado imundo por ter rolado no chão. — Do lado de fora e no chão?
Marcus fez uma careta e simplesmente disse: — Nós definitivamente somos companheiros de vida. Um beijo e perdemos todo o sentido.
— Sim. —Jackie suspirou a palavra com um pequeno sorriso e avisou: — Isso vai acontecer várias vezes, e não pense que tentar se controlar vai resolver o problema. Um toque, um beijo ... —Ela encolheu os ombros, impotente. — Vocês dois podem se trancar aqui no próximo ano e se divertir, porque serão inúteis para qualquer outra coisa.
— De alguma forma eu não acho que Divine iria concordar com isso, —disse Marcus secamente, levando-a através do trailer para o quarto na parte de trás.
— Não, talvez não, —Jackie concordou, seguindo, acendendo as luzes enquanto caminhava atrás. Ela parou na porta do quarto, acendeu a luz também, e então o observou colocar Divine na cama antes de dizer: — Certo, então ... então você pode querer evitar certas situações.
Marcus se endireitou ao lado da cama e levantou uma sobrancelha. — Que situações?
Jackie franziu os lábios e começou a listar as coisas nos dedos. — Elevadores públicos, cinemas, veículos em movimento, a menos que alguém esteja dirigindo ...
— Você está brincando, —Marcus interrompeu com diversão. — Veículos em movimento?
— Ela não está brincando, —disse Vincent, aparecendo atrás de sua esposa. Deslizando o braço ao redor de sua cintura, ele puxou as costas contra o peito e beijou o topo de sua cabeça antes de dizer: — Você não viveu nada até se encontrar voando na estrada em alta velocidade com a mulher da sua vida pulando no seu colo e gritando de prazer como um babuíno enlouquecido.
Jackie corou de vergonha e deu uma cotovelada no estômago do marido, fazendo-o soltá-la enquanto ela murmurava: — Você era o único que gritava como um babuíno enlouquecido.
— Talvez fosse eu mesmo, —Vincent concordou com um sorriso quando Jackie passou por ele para sair do espaço confinado.
— Eu vi o seu carro, —disse Marcus secamente. — Eu não acho que havia espaço suficiente naquele pequeno Lexus26 para ...
— É um conversível, —interrompeu Vincent. — A parte superior estava abaixado.
— Querido Deus, —Marcus murmurou imaginando a cena toda. Ele ficou surpreso por não ter havido testemunhas e alguém ter filmado tudo e postado no YouTube.
— Era o meio da noite, —disse Vincent com um encolher de ombros, e depois acrescentou: — Graças a Deus. Foi muito difícil continuar dirigindo e quase desmaiei antes que pudesse estacionar no acostamento e nos fazer parar.
— Você desmaiou ao lado da estrada? —Marcus perguntou com descrença. Isso parecia muito arriscado.
— Sim. Foi, —Vincent disse como se tivesse falado o pensamento em voz alta. — Nós tivemos sorte. Eu não recomendaria isso.
Marcus balançou a cabeça e então se virou para olhar para Divine, rapidamente puxando sua blusa de volta quando percebeu que ela ainda estava fora do lugar. Só então Vincent deixou a porta para se juntar a ele.
— Como ela descobriu que você é seu Companheiro de Vida?
Marcus fez uma careta. — Ela parecia um pouco chateada antes que eu a beijei.
— Humm. —Vincent assentiu, não parecendo surpreso. — Ela disse alguma coisa útil antes que vocês dois se pegassem?
— Grunhidos e gemidos contam? —Marcus perguntou secamente. — O desespero veio em cima de nós muito rapidamente.
— Sim, é verdade, —Vincent reconheceu. — Jackie não estava brincando sobre lugares para ficar longe. Ela provavelmente está fazendo uma lista enquanto falamos.
Os dois riram disso, mas Vincent ficou sóbrio e disse: — Mas, caso ela esqueça de algum, fique longe de qualquer compra de supermercado à noite. E a câmara frigorifica da loja não é um bom lugar para arrastá-la quando as coisas ficarem quentes e descontroladas.
Quando Marcus se virou para olhá-lo com incredulidade, ele assentiu solenemente. — Eu devo ter saído dela quando desmaiei. Quando acordei, três dos funcionários da noite estavam de pé, olhando para nós como idiotas e meu pau estava grudado congelado em uma prateleira de metal. —Ele estremeceu com a memória e murmurou: — Terrível.
Marcus sacudiu a cabeça com uma espécie de horror, depois agarrou-o pelos ombros, virou-se para Vincent e deu-lhe um empurrãozinho para que ele se movesse. — Saia daqui. Eu não quero mais ouvir isso.
— Só estou tentando dar-lhe alguns conselhos úteis, —disse Vincent com um encolher de ombros, mas ele deixou o quarto.
Marcus se aproximou e estava prestes a fechar a porta quando Vincent apareceu novamente e anunciou: — Eu corri atrás de uma mangueira de água e abasteci o trailer enquanto vocês dois estavam se beijando entre os carros. Desde que você estava ocupado, liguei os dois trailers a uma fonte de eletricidade. Você tem energia e água se quiser tomar um banho e lavar um pouco dessa sujeira.
Marcus olhou para baixo e viu o quanto estava sujo na sala iluminada. Estava coberto com uma camada de poeira tão espessa que seu jeans preto parecia quase bege.
— Fique à vontade, —Vincent acrescentou quando se virou e se afastou.
— Obrigado, —Marcus disse tardiamente, mas franziu a testa enquanto respondia. O que Vincent quis dizer quando ele disse enquanto vocês dois estavam se beijando entre os carros? Ele realmente nos viu? Ou estava apenas adivinhando?
Marcus suspirou e fechou a porta do quarto. Não importava o que Vincent queria dizer. Se o homem os tivesse visto ... Bem, Marcus dificilmente poderia fazê-lo esquecer o que tinha testemunhado, então poderia muito bem se conformar com isso, Marcus disse a si mesmo enquanto atravessava o quarto até a porta do banheiro.
Fez uma careta quando viu o tamanho do espaço. Era pouco maior do que um banheiro de avião com chuveiro no final, Marcus sabia que estava exagerando. Era um pouco mais espaçoso que isso, mas ainda seria apertado para um homem do seu tamanho.
Encolhendo os ombros, ligou a água e rapidamente tirou suas roupas.
Capítulo 15
Divine acordou com uma necessidade terrível de fazer xixi. Esse foi o primeiro e único pensamento dela quando se sentou na cama e colocou os pés no chão. Correu para a porta, abriu-a e parou abruptamente quando reconheceu o trailer emprestado de Vincent e Jackie.
Esqueceu por um momento que este não era o seu trailer. Em seu trailer, o banheiro ficava na lateral do lado de fora do quarto. Neste ...
Ela se virou e correu para o outro lado da sala, indo em direção ao banheiro. Divine levantou a saia, puxou a calcinha e se acomodou no vaso sanitário tão rapidamente que provavelmente teria sido um borrão para qualquer um que estivesse assistindo. Velocidade recorde imortal, pensou em um pequeno suspiro de alívio enquanto prosseguia, como ouviu certa vez uma carnie dizendo, mijando como uma égua de corrida. Ela realmente precisava disso, provavelmente foi no xixi todo o sangue que deram a ela para curar, pensou Divine, e se perguntou por que o barulho que fazia não estava abafando o som da chuva lá fora. Estava vagamente ciente do som de água caindo enquanto acordava, mas não tinha prestado muita atenção. Agora, porém, parecia mais alto para ela, quase como se a água estivesse realmente caindo ...
Com a cabeça inclinada para trás, Divine olhou para o chuveiro em frente a ela, notou a figura dentro e não conseguiu conter um murmúrio—Oh merda!
— Por favor, isso não.
Marcus estava no chuveiro com as costas muito nuas para ela, mas podia ouvir a diversão em sua voz quando ele disse essas palavras e sabia que estava brincando com ela. Ela queria dar uma leve risada e dizer algo espirituoso. Depois de tudo o que viveu, não era a primeira vez em que foi pega em uma situação como essa. Viveu muito tempo para não ter experimentado isso ou um cenário semelhante pelo menos uns cem vezes. Mas nenhuma dessas vezes tinha Marcus envolvido, e em vez de lidar com a despreocupação que ela queria, Divine gemeu e fechou os olhos enquanto seu rosto se pintava no que ela suspeitava ser um vermelho violento de vergonha.
— Eu acho que isso significa que a fase de romance do nosso relacionamento acabou, hein? —Ele brincou.
Os olhos de Divine se abriram com o súbito silêncio quando o som da água corrente parou de repente. Ele desligou o chuveiro.
Isso significa que ele estaria saindo do chuveiro, ela pensou desanimada.
— Dizem por aí que uma vez que um casal começa a fazer esse tipo de coisa na frente do outro, a fase da lua-de-mel acabou e eles entram na fase de relacionamento. —Marcus saiu do minúsculo chuveiro, para o minúsculo cômodo a poucos centímetros de distância dela, e pegou uma toalha para se secar rapidamente, seus cotovelos batendo na parede ao mesmo tempo.
Divine mordeu o lábio e tardiamente deixou cair a saia, deixando-a assentar em torno dela. Então tentou sentar-se ali, fingindo que estava acomodada em uma cadeira, em vez do vaso sanitário, evitando, ao mesmo tempo, olhar para um Marcus muito grande, muito nu, a poucos centímetros de distância do rosto dela.
— Pare de olhar para o meu pau, você está o fazendo crescer.
Divine piscou com aquelas palavras rosnadas, mortificada ao perceber que ela estava mesmo olhando. Tanto para evitar olhar ... e maldição, estava crescendo mesmo.
— Você ainda está olhando, —ele avisou.
— Bem, pare de acenar ele na minha frente se você não gosta, —ela retrucou, forçando os olhos para longe. — Cubra-se ou resolva de outro jeito.
Marcus riu e, em seguida, pegou seu rosto com uma mão, girando-o de volta para cima, pressionando um beijo em seus lábios. Ela suspeitava que a intenção dele fosse um beijo rápido. Não acabou assim. O fogo saltou entre eles no primeiro toque, ambas as bocas abertas, as línguas estavam ocupadas, e Divine estava prestes a envolver seus braços ao redor de seus ombros e escalá-lo como um poste quando de repente ele quebrou o beijo e se endireitou.
Os dois estavam ofegantes e simplesmente se encararam brevemente, então Marcus rosnou: — Eu vou me deitar. Nu.
Os olhos de Divine se arregalaram e ela observou silenciosamente quando ele tirou as roupas do chão, virou-se e deslizou para fora do banheiro, fechando a porta. Sentou-se lá por mais um momento, antes de entrar em ação. Terminou seu trabalho, e quase saiu correndo do banheiro atrás dele, mas então se viu no espelho sobre a pia enquanto lavava as mãos. Estava um desastre, cabelo bagunçado, pele imunda ...
Virando-se para o chuveiro, ela abriu a porta do box e torceu os registros fazendo a água correr, então rapidamente tirou as roupas.
Divine passou muito mais tempo no chuveiro do que ela normalmente teria, principalmente porque uma vez que estava lá, começou a pensar em todas as razões pelas quais não deveria ter feito o que tinha, e não deveria fazê-lo novamente. A principal razão era que ela era uma mulher procurada, caçada pelo homem que Marcus aparentemente trabalhava. Não que ele tenha admitido isso ainda.
O que ela precisava fazer era descobrir o que pudesse com Marcus, o que ele sabia, o que Lucian sabia e o que ela poderia fazer para manter seu filho seguro. Com esse pensamento firme em mente, Divine terminou seu banho e saiu para se secar rapidamente.
Então olhou suas roupas com desgosto. Estavam imundas, mas não parecia inteligente sair do banheiro em uma toalha, não se quisesse realmente conversar com Marcus e não acabar nua e inconsciente na cama.
Fazendo uma careta, pegou a blusa e deu uma sacudida, então a vestiu e usou a toalha para afastar o que podia do pó e da sujeira agarrados a ela. Uma vez satisfeita, fazendo o melhor que podia, Divine fez o mesmo com a saia. Só não iria conseguir fazer isso com calcinha e sutiã. Ficaria sem elas, decidiu, respirou fundo, prendeu um sorriso no rosto e saiu do banheiro.
Divine esperava que Marcus a esperasse no quarto, então ficou um pouco surpresa ao encontrá-lo vazio. Depois de uma hesitação, foi até a porta do quarto e a abriu para espiar o resto do trailer, surpresa ao vê-lo trabalhando ocupado na cozinha. Ele estava até vestido. Quer dizer, mais ou menos. O homem vestia um jeans, mas estava sem camisa. Era uma bela visão, seu cabelo ainda úmido penteado para trás, os músculos do peito brilhando na luz do teto e ondulando enquanto ele cortava queijo em uma tábua de cortar sobre a mesa.
— Pare de me olhar assim ou não vamos conseguir comer essa linda comida que Jackie fez para nós, —disse ele sem olhar para cima, com a voz leve.
Divine relaxou e até conseguiu dar um sorriso. Movendo-se em direção à mesa, disse com a mesma pressa: — Parece-me que você é quem está fazendo essa linda comida.
— Lavei as frutas, tirei a salada e coloquei na tigela, e agora estou cortando o queijo, mas Jackie fez a torta que cheira tão delicioso, —ele assegurou e, em seguida, finalmente olhou para cima. Seus olhos começaram a brilhar quando deslizaram sobre ela em suas roupas ainda um pouco empoeiradas e então voltou para o que estava fazendo. — Porra, eu tinha certeza que estava com fome de comida quando cheirei a que Jackie fez, mas agora ...
— Agora estou com fome, —disse Divine com firmeza e sentou-se em frente a ele. Ela também se forçou a parar de olhar para o peito dele como uma garotinha apaixonada e, em vez disso, concentrou-se em examinar o conteúdo da mesa.
A torta cheirava deliciosa e todo o resto parecia bom também. Ainda assim, Divine ficou surpresa quando seu estômago de repente resmungou. Era um som que não ouvia desde ... bem, não conseguia se lembrar de quando foi a última vez que ouviu o seu corpo fazer esse som. Havia muito tempo desde que tinha comido comida e desde que sentiu fome. Como a maioria dos imortais, parou de comer depois de cem anos de vida. Comer tinha se tornado cansativo e a comida parecia insípida e entediante.
Agora parecia para ela cheirosa e gostosa.
— Aqui. —Marcus pegou a tábua de cortar e usou a faca para deslizar vários pedaços de queijo em seu prato. Então colocou a tábua para baixo e pegou um pouco do conteúdo da torta colocando no prato dela antes de empurrar a tigela com as uvas e morangos ao lado da tigela de salada que ele colocou ao lado do seu prato. — Temos alguns molhos para escolher. Aparentemente, vai na salada, mas eu não sei o que é bom e o que não é.
Divine deu de ombros. — Acho que iremos descobrir, —disse ela, pegando uma uva da tigela, colocou na boca, mordeu e fechou os olhos quando o doce suco explodiu em sua língua. Caro Deus, era ... gostoso, adorável, doce, molhado.
— Experimente os morangos, —Marcus sugeriu quando ela chegou em direção à tigela novamente. — Eles são ainda melhores.
Divine imediatamente mudou de direção, alcançando a fruta vermelha em vez das bolinhas verdes de suco sem sementes chamadas uvas. Ela estalou uma das frutas em sua boca e mordeu, descobrindo que ele estava certo. Os morangos eram melhores que as uvas.
Marcus parou de cortar e olhou para cima com surpresa quando Divine fez uma careta e cuspiu o morango ligeiramente mastigado. Ele olhou para o morango brevemente e então franziu o nariz. — Acho que você não deveria comer o caule e as folhas. Já vi outras pessoas comendo e eles deixaram essa parte de fora.
— Oh, —Divine murmurou, usando o guardanapo que ele colocou ao lado do prato para limpar a boca.
— Tente outro, —ele sugeriu, pegando um grande gordo fruto e segurando-o. — Apenas morda a fruta, eu vou segurar o caule e a folha.
Divine hesitou e, em seguida, inclinou-se para a frente e cuidadosamente mordeu o morango, evitando ficar muito perto do caule e das folhinhas. Ela começou observando o rosto de Marcus, mas a repentina faísca de prata em seus olhos a fez baixar os olhos. Foi um alívio quando terminou a ação e recostou-se.
— E então? —Marcus perguntou, mas ela não perdeu a nota rouca em sua voz.
Divine ficou em silêncio por um minuto enquanto se concentrava em mastigar a fruta e depois engolir, mas sorriu e acenou com a cabeça.
— Sim. Eles são deliciosos. Muito melhor sem o caule e as folhas.
Marcus sorriu e se acomodou no assento em frente a ela. Ficaram em silêncio por vários minutos quando começaram a comer. Todo o resto era bom, mas a torta era incrível. O que Marcus tinha dito? Uma torta de salsicha, batata e queijo? Os vários sabores misturaram-se maravilhosamente em sua boca. Não tinha comida desse tipo na época em que ela ainda se alimentava de comida.
— Divine?
— Hummm? —Ela perguntou, experimentando a salada a seguir. Não tinha certeza de qual molho iria gostar, Divine tinha colocado uma mistura cremosa chamada molho ranch27 na metade da salada e na outra metade algo chamada molho balsâmico28. Ela tentou o ranch primeiro e achou surpreendentemente saboroso. Mas isso a fez se perguntar como era o sabor do balsâmico e pegou um pouco de salada daquele lado para experimentar.
— Você poderia me contar um pouco sobre sua vida?
A pergunta a fez parar com a salada na metade do caminho para a boca. Colocando o garfo carregado de volta, olhou para ele silenciosamente.
— Qualquer coisa, —ele disse baixinho. — Há quanto tempo você viaja com os Parques por exemplo?
Divine relaxou um pouco e contemplou o garfo. Supôs que responder não seria um problema ou revelaria qualquer coisa que não deveria. — Praticamente desde do seu início, —disse ela, e depois acrescentou: — Bem, acho que o primeiro foi em torno de 1901.
Marcus assentiu e deu uma mordida no conteúdo da torta.
Relaxando ainda mais, Divine enfiou a salada com o molho balsâmico na boca e sentiu as sobrancelhas se erguerem. Gostou mais desse do que do molho cremoso. Tinha um sabor que ela apreciava.
— E antes dos Parques?
Divine engoliu sua salada e tomou um gole de água enquanto pensava, e então pousou o copo e admitiu: — Antes de entrar para os Parques, eu andava e vivia com os Comanches29.
Os olhos de Marcus se arregalaram incrédulos. — Sério?
Ela sorriu levemente com a expressão dele e assentiu. — Eles me chamavam de Naduah.
— Naduah, —ele murmurou. — Isso é bonito. O que significa?
— Isso depende de quem você perguntar, —ela admitiu com diversão. — O chefe índio me disse que o nome significava 'aquela que se porta com dignidade e graça'. No entanto, uma moça bastante desagradável e ciumenta me disse uma vez que significa 'aquela que se aquece com a gente', e como ela disse, sugeriu que eu fizesse isso de uma maneira obscena.
Divine sorriu com a carranca que isso trouxe para o rosto de Marcus e encolheu os ombros. — Como eu disse, ela ficou com ciúmes. O chefe me ouvia quando eu o aconselhava e me permitiu entrar na batalha com os homens. Suponho que ela pensou que eu tinha dormido com o chefe e assim ter permissão para fazer o que eu fazia. —Ela sorriu e acrescentou: — Mesmo que o chefe estivesse errado e significasse 'aquela que se aquece com a gente', seria verdade. Eu compartilhei o fogo deles durante as noites.
— Você não poderia ter ficado com eles por muito tempo. Teriam notado que não estava envelhecendo, —disse ele.
— Havia diferentes tribos de Comanche, os Yamparikas, os Jupes e os Kotsotekas, e todos eles tinham diferentes grupos. —Ela encolheu os ombros. — Migrei por vários grupos por um tempo, e então me separei deles e me mudei para os Parques.
— E antes deles?
Divine suspirou e pousou o garfo. — Marcus ...
— Conte-me ... por favor, —ele acrescentou suavemente, e então ofereceu: — Se você me disser, eu falarei sobre mim também.
Ela olhou para ele brevemente, então assentiu e pegou o garfo novamente, juntando um pouco da torta, deu uma mordida, mastigou e engoliu em seco e depois admitiu: — Antes dos Comanches andei com os ciganos.
— Ciganos, —ele disse suavemente e ela assentiu.
Divine sorriu torto. — Eles me chamavam de Nuri. Isso significa cigano.
— Então, até para os ciganos, você era considerada mais cigano do que eles? —Perguntou ele, divertido.
Ela sorriu ironicamente. — Bem, eu me mudei mais do que eles. Viajava com um grupo por cinco ou dez anos e depois saia e encontrava outro. Viajei a maior parte da Europa com diferentes grupos ciganos antes de vir para a América.
— Estou surpreso que eles deixavam você viajar com eles, —disse baixinho. — O que sei é que os ciganos não recebem pessoas de fora.
Divine sorriu com diversão e lembrou-lhe: — Eu sou imortal e podemos ser muito convincentes.
— Ah. —Marcus assentiu. — Um pouco de controle mental, um pouco de influência e Bibbidi-Bobbidi-Boo30, você está dentro.
— Bibbidi-Bobbidi-Boo? —Ela repetiu, os olhos arregalados com descrença.
Marcus corou. — Tem uma garotinha chamada Livy que estava com uma amiga enquanto eu estava na sua casa e ela tinha uma queda pelos filmes da Disney.
— Ah, —disse Divine solenemente, mas de repente teve uma imagem em sua mente de Marcus assistindo um desenho animado da Disney com uma menina de tranças. Ela não tinha ideia se esta Livy usava tranças, mas essa era a imagem que veio à mente. Era uma bela imagem. Imaginou que ele seria bom com as crianças. Como seriam seus filhos? Se perguntou, e depois afastou a fantasia. Poderia ser seu companheiro de vida, mas nunca iria reivindicá-lo como um enquanto ele trabalhasse com Lucian.
— E antes dos ciganos? —Marcus perguntou.
Divine o considerou brevemente, e então disse: — Não é hora de me contar um pouco sobre você?
Marcus fez uma pausa e depois pousou o garfo com um aceno de cabeça. — Justo.
Ela estava feliz por ele não ter discutido o assunto ... por dois motivos. Primeiro por que realmente queria aprender mais sobre ele e segundo queria comer mais da comida deliciosa em seu prato, o que era difícil de fazer enquanto falava.
Marcus tomou um gole da água ao lado do prato e depois pousou o copo, dizendo: Meus avós são Marzzia e Nicodemus Notte. Eles faziam parte do grupo de imortais originais, os sobreviventes da Atlantis.
— Atlantis? —Ela perguntou com perplexidade.
Marcus parou e inclinou a cabeça. — Ninguém te ensinou a história de nossas origens, Divine?
Ela quase mentiu novamente e quis dizer sim em vez de parecer ignorante, mas depois suspirou e admitiu: — Não. Receio que não. Minha infância foi ... ela franziu a testa e desviou o olhar.
— Não convencional? —Ele sugeriu gentilmente, e a palavra a fez ofegar grosseiramente.
Cobrindo a boca e o nariz rapidamente, olhou com olhos arregalados para ele sobre a mão e, de repente, perdeu a paciência consigo mesma.
Ela não era uma flor medrosa. Cuidou de si mesma por milênios, e seria uma condenada se o fato de encontrar um companheiro de vida que não pudesse reivindicar, e recordar uma infância que tinha sido um horror, iria reduzi-la ao estado de uma idiota que tem medo de dizer o que estava sentido, ou pelo que passou. Sua história era sua, e é isso. Não podia mudar, e ele podia aceitar, lidar com isso, ou simplesmente dar o fora de sua vida se não gostasse do que iria ouvir.
Deixando cair a mão, disse: — Não convencional nem começa a descrever minha infância. Para começar, meus pais não eram verdadeiros companheiros de vida. —Suas sobrancelhas levantaram-se e ela assentiu. — Minha mãe, Tisiphone, era mais velha que meu pai, Felix, e ela queria um filho. Meu pai era aparentemente muito simpático e tranquilo, então ela decidiu que ele serviria.
Divine fez uma pausa para tomar um copo de água antes de continuar, — Meu pai não podia ler Tisiphone, ele sabia que ela era mais velha, então não desconfiou de nada. —Fez uma careta e acrescentou: — Até que Tisiphone alegou que não podia ler ele também, portanto, deveriam ser companheiros de vida.
— Ela estava mentindo? —Perguntou Marcus.
Divine assentiu. — Sim. Podia lê-lo ... e controlá-lo também. Usou ambas as habilidades, além de manipulação e drogas para fazê-lo pensar que ele estava experimentando o infame sexo de companheiros de vida.
Marcus franziu a testa. — Seu pai era jovem o suficiente para ainda comer comida normal?
Divine balançou a cabeça. — O que sei é que ela usou controle mental, ou talvez drogas também, para fazê-lo pensar que ele estava com fome e que a comida era a coisa mais deliciosa que já havia experimentado.
— E ela fez tudo isso por um bebê? —Ele perguntou com uma carranca. — Por que não apenas manipular um mortal para engravidá-la? Inferno, ela nem teria que manipular um. Eles estariam fazendo fila para dormir com ela.
Quando Divine levantou as sobrancelhas, ele explicou: — Nós aparentemente emitimos uma mistura química de hormônios que nos faz parecer ultra atraentes para os mortais.
— É verdade? —Perguntou com interesse. Divine não sabia disso. Mas explicava por que os homens mortais pareciam estar sempre atraídos por ela.
— Sim, —disse Marcus, e depois acrescentou. — Mesmo que isso não funcionasse, poderia ter facilmente influenciado qualquer mortal a pensar que ela era linda. Apesar que, se você herdou sua aparência dela, então ela era linda.
Divine sentiu seu rosto esquentar com o elogio e revirou os olhos para sua própria reação. Sério? Rubor? Estava velha demais para corar, pensou, e então disse: — Sim, ela era linda. Mas aparentemente minha mãe não queria um bebê. Ela queria o bebê de um homem de uma família poderosa.
— E seu pai, Felix? Ele era de uma família poderosa?
Divine quase mordeu a língua quando percebeu que tinha dado algo que poderia ser perigoso. Tentando agir naturalmente, encolheu os ombros. — Aparentemente, embora eu só tenha ouvido tudo isso de uma serva. Minha mãe era uma serva antes de enganar meu pai, fazendo-o pensar que ele era seu companheiro de vida.
— Sua mãe era mais velha que seu pai, imortal e ainda assim era serva? —Perguntou Marcus, surpreso.
Divine deu de ombros. — Isso é o que me disseram.
Marcus sentou-se e balançou a cabeça com essa notícia, aparentemente achando difícil acreditar. Ela podia entender o porquê. Como uma imortal Tisiphone poderia ter controlado e influenciado qualquer número de mortais ricos em se casar com ela, e com eles sob seu controle, eles a teriam deixado fazer o que quisesse com sua riqueza. Diabos, ela poderia até ter usado o controle da mente para fazê-los dar-lhe sua riqueza se quisesse. Isso certamente teria sido menos vil do que fizera com o pobre pai de Divine.
Mas a verdade era que ela precisava do poder da família do pai de Divine para tirá-la da servidão. Sua mãe tinha sido dada a outra família poderosa e imortal em pagamento a uma dívida por conta da morte de um dos filhos dessa família que ela era serva.
Marcus pigarreou de repente e Divine olhou para ele. Estava prestes a fazer uma pergunta, e ela sabia exatamente qual seria. Qual era o nome da poderosa família do pai dela? Ela não podia responder, então rapidamente disse: — Claro, suas mentiras e manipulações não duraram para sempre. Eu tinha quatro anos quando meu pai acabou descobrindo que ela o usava. Uma vez que descobriu tudo, ele aparentemente enviou escondido, por um dos servos, uma mensagem explicando a situação e pedindo ajuda a um de seus irmãos.
— Ela ainda podia controlá-lo, —Marcus percebeu com um lento horror a situação em que seu pai estivera.
Divine assentiu. — E ainda podia lê-lo, o que ela deve ter feito. Na noite em que o servo foi entregar a mensagem, ela trancou as portas e janelas de nossa casa e ateou fogo.
— E então levou você com ela quando fugiu? —Marcus perguntou.
— Oh, ela não fugiu, —Divine o corrigiu. — Ela trancou a todos nós na casa enquanto dormíamos: eu, meu pai, o resto dos criados e ela mesma. Queria que todos nós morrêssemos.
— Como você saiu? —Marcus perguntou imediatamente.
— Os servos, —disse Divine em voz baixa. — Eles dormiam no andar de baixo e acordaram primeiro. Ela tentou controlá-los e fazê-los se sentar e se deixarem queimar, mas aparentemente havia quatro deles, muitos para controlar tudo de uma vez. Ao meio a gritaria de minha mãe e os servos, meu pai acordou com os gritos, mas o fogo já estava enfurecido. Ele correu escada abaixo, mandou um dos servos me buscar e tentou lutar com minha mãe, mas ela ainda podia controlá-lo. Quando Aegle, a serva mortal que meu pai tinha enviado para me buscar, voltou para o topo da escada comigo em seus braços, dois dos servos restantes estavam mortos e o terceiro subia correndo as escadas, enquanto minha mãe e meu pai lutavam abaixo, o dois foram engolidos pelas chamas.
Divine fez uma pausa, mais para deixar Marcus digerir tudo o que acabou de dizer do que para o próprio bem dela. Essa era uma história antiga, uma com a qual vivera toda a sua vida. Não sentia mais lágrimas por seus pais há muito perdidos e sentia apenas tristeza pelo pai, que havia sido tão maltratado e depois morrera tentando salvá-la e aos servos.
— Os servos tiraram você, —disse Marcus finalmente.
Não era uma pergunta, mas Divine assentiu em resposta de qualquer maneira. — Eles conseguiram desbloquear uma janela no andar de cima e pularam comigo. —Ela virou o garfo distraidamente no prato e disse: — Eu não sei o que aconteceu com o outro servo. Eu acho que Aegle disse que ela nos deixou, planejando voltar para sua própria família, mas Aegle ficou na área por três dias esperando o irmão de meu pai vir antes de desistir e começar a tentar encontrar por conta própria a minha família. —Ela olhou para ele e fez uma careta antes de explicar: — Aegle era na verdade minha babá, embora eu não ache que eles o chamavam assim naquela época. Cuidou de mim desde do meu nascimento e tinha sido confiável com nossos segredos. Sabia que eu era uma imortal e precisava de sangue para sobreviver e fez o seu melhor para me ajudar a conseguir. Mas eu era jovem e ainda não conseguia controlar a mente dos doadores, o que dificultava as coisas.
— Como diabos ela ajudou você a se alimentar então? —Ele perguntou com espanto.
— Eu não me lembro, mas depois me disseram que ela atraia homens para uma área isolada e depois os derrubava para que eu pudesse me alimentar deles. —Divine sorriu suavemente. — Aegle foi uma mulher muito inteligente e criativa.
— Não admira que ela teve que ir embora depois de alguns dias, então, —Marcus disse com diversão. — Estou realmente surpreso que ela tenha ficado na área por alguns dias, com esses homens, que sem dúvida, procuraram por ela.
Divine assentiu.
— Então ela foi capaz de encontrar sua família? —Ele perguntou depois de um momento em que Divine não continuou.
— Eventualmente.
Os olhos de Marcus se estreitaram. — Como eventualmente?
Divino suspirou. — Eu tinha onze anos quando topamos com um tio que leu minha mente, percebeu quem eu era e nos levou para os meus avós.
— Você quer me dizer que demorou sete anos para ...
— Sim, —interrompeu Divine. — Receio que a maneira como fomos forçados a viver não ajudou encontrar logo algum parente. Na verdade, isso dificultou muito. Nós nunca poderíamos ficar em qualquer lugar por muito tempo com ela tendo que nocautear as pessoas para eu me alimentar.
Marcus recuou na cadeira com desalento. — Você não tinha ninguém para te ensinar a ler ou controlar suas mentes para que ela parasse de derrubá-los.
— Não, —admitiu Divine.
Por alguma razão, sua resposta o fez franzir a testa, e ele disse lentamente: — Mas certamente você começou a aprender a fazer isso sozinha? É uma habilidade natural. O treinamento ajuda, mas com tempo suficiente em volta dos mortais, você deveria ter começado a entender seus pensamentos e então começou a poder controlá-los.
— Mas eu não estava passando tempo com outros mortais além de Aegle, —ela disse a ele. — Estávamos em constante movimento, viajando principalmente à noite para evitar os danos do sol e a necessidade de me alimentar com mais frequência. E então as histórias dos ataques de Aegle contra os homens se tornaram quase lendárias e tivemos que nos esconder, temendo alguém ter uma descrição de como ela parecia.
— Hummm. —Marcus balançou a cabeça. — Foi uma maravilha que você tenha encontrado seu tio.
— Isso foi pura sorte, —ela admitiu. — Ele estava na mesma área que nós a negócios. Aegle o viu enquanto procurava por algum homem, na tentativa de atraí-lo para a minha próxima refeição. Notou que ele parecia com meu pai, e então sabia que ele devia ser um imortal como eu por causa da cor dos seus olhos. Se aproximou dele perguntando se conhecia Felix, ele a olhou desconfiado e perguntou: — Quem quer saber?
Divine sorriu suavemente. — Apesar de tudo o que Aegle fez por mim, tentando me manter viva, ela não se considerava uma mulher corajosa e a reação do homem a assustou. Meu pai tinha sido tão charmoso, doce e descontraído que ela teve certeza de ter cometido um erro ao achar que aquele homem podia ser seu parente e, em vez de dizer qualquer coisa, simplesmente saiu correndo de volta para mim. Mas ela chamou a atenção dele com o nome do meu pai, e ele aparentemente leu sua mente e a seguiu.
Seu sorriso desapareceu. — Ele era um homem duro. Taciturno por natureza e não muito ... —Ela hesitou, procurando a palavra certa, e finalmente disse: — Ele não foi muito simpático. Nos deu um grande susto quando entrou em nosso pequeno acampamento, e então simplesmente começou a latir ordens. Quando não nos movemos rápido o suficiente, ele nos amarrou em seu cavalo, pegou as rédeas e simplesmente nos levou de volta para a aldeia onde Aegle o tinha encontrado. Foi só então que ele disse que era meu tio, aquele para o qual meu pai enviara uma mensagem. Que a família procurava por mim há anos e ele nos levaria para eles.
— Aegle foi com você? —Marcus perguntou com um sorriso.
— Claro. Ela era a coisa mais próxima de uma mãe que eu conhecia naquele momento. Não teria ido sem ela, —Divine disse solenemente.
Marcus assentiu em compreensão e perguntou: — E seus avós? Eles ficaram felizes em vê-la quando seu tio levou você até eles?
— Oh sim. —Divine sorriu. — Eles me receberam de braços abertos. Ambos eram muito doces e amorosos. Foram gentis com Aegle também. Ofereceram a ela uma posição na casa como minha guardiã para que não ficássemos separadas e a pagaram muito generosamente, prometendo a ela uma casa e riqueza suficiente quando ela estivesse na hora de se aposentar. Nós duas de repente tínhamos roupas bonitas e muita comida e meus avós me ensinaram a ler e controlar mentes. Tudo era perfeito. Era tudo como um conto de fadas, na verdade, —ela disse tristemente, e pensou que todo conto de fadas tinha um monstro.
— Mas eles não ensinaram sobre a nossa herança e nossa origem? —Ele perguntou com uma careta.
Divine balançou a cabeça. — Eles passaram o ano seguinte não apenas me ensinando como usar e controlar minhas habilidades, mas também me ensinando todas as coisas que eu perdi enquanto andava com Aegle. Eu tinha onze anos de idade, sem educação alguma além de como me esconder e sobreviver, —ressaltou. — Tive que aprender a ler e escrever e fazer matemática e ... —Ela encolheu os ombros, impotente.
— E depois disso? —Marcus perguntou. — Por que não ensinaram depois que você aprendeu as necessidades básicas?
— Não tiveram a chance, —disse ela com uma voz endurecida, e depois tomou outro gole de água, colocou-o no balcão, olhou para ele e disse: — Acho que você vai ter que me ensinar sobre a Atlântida.
— Oh, —Marcus pareceu surpreso com a sugestão.
— Depois que você me contar mais sobre você, —ela acrescentou com firmeza. — Tudo o que me disse até agora é que seus avós eram Marzzia e Nicodemus Notte e que eles eram sobreviventes da Atlântida.
— Certo, —Marcus murmurou e então fez uma careta. — Receio que minha história não seja tão interessante quanto a sua. Minha mãe, Claudia, era a terceira filha de meus avós. Seu companheiro de Vida era um homem mortal que ela transformou. Meu pai, Ciro, morreu decapitado em batalha pouco antes de eu nascer, e minha mãe voltou a casa de seus pais para o meu nascimento. Eles a ajudaram a me criar.
— E então? —Divine solicitou sem vontade de deixá-lo parar por aí.
— Alguns anos depois, meus avós tiveram seu primeiro filho homem e, até agora, único filho, e ...
— Até agora? —Divine interrompeu com surpresa. — Eles ainda estão vivos?
Marcus sorriu ironicamente e assentiu. — Eles são um casal de pássaros velhos e fortes. Nada menos que um apocalipse vai levá-los.
— Oh, —Disse baixinho e se perguntou se ela iria conhecê-los ... ou se ela já os tinha visto alguma vez.
— De qualquer forma, eles tiveram um filho, Julius, —continuou Marcus. — Mesmo ele sendo meu tio, eu era um pouco mais velho que ele. Ainda assim, nós dois éramos próximos o suficiente para nos tornarmos amigos. Então um dia meu avô sentou comigo e me disse que havia uma ameaça a vida de Julius. Alguém queria lhe fazer mal e ele queria que eu ficasse de olho e protegesse Julius.
Divine levantou as sobrancelhas para isso, mas não interrompeu novamente.
— Eu amo Julius como um irmão, então é claro que concordei com o pedido, —disse Marcus. — E passei a maior parte da minha vida trabalhando e vivendo ao seu lado.
— Que tipo de trabalho? —Perguntou Divine, curiosa, tentando imaginar o que seria. Ele era muito forte e bem construído, o que sugeria trabalho físico, mas também era inteligente.
— No começo, eram muitas coisas, Guerreiro de aluguel, mensageiro, etc.
— Guerreiro, —disse Divine, assentindo. Ela não teria esperado nada menos. Tinha o corpo de um guerreiro que precisava empunhar armas grandes.
— Mais tarde, mudei para outras ocupações, —continuou Marcus, — e agora temos uma Empresa guarda-chuva31 que abriga várias indústrias diferentes. O principal deles, no entanto, é uma empresa internacional de construção.
Divine sorriu. Podia vê-lo em uma construção. Sem camisa, jeans apertados agarrados aos quadris, botas de construção e seu corpo pingando de suor enquanto empunhava uma marreta ... uma fantasia, ela sabia. Se ele ajudasse a administrar a empresa, era duvidoso que empunhasse algo além de uma caneta, mas não custava nada fantasiar.
— A maioria da família trabalha nela ou tem ações na empresa, —Marcus continuou chamando a atenção de Divine para longe de seu devaneio agradável. — Estive fora e dentro dos negócios da família ao longo dos séculos.
— Por que fora e dentro? —Ela perguntou curiosa.
Marcus encolheu os ombros. — Julius teve seus momentos de rebelião ao longo dos séculos e desde que eu deveria estar protegendo-o ...
— Você tinha que ir para onde ele fosse, —ela terminou por ele.
Marcus assentiu. — E então, há pouco mais de quinhentos anos, Julius conheceu sua companheira de vida e tiveram um filho, Christian. —Ele sorriu ironicamente e disse: — Uma situação semelhante surgiu com Christian, uma ameaça à sua vida, e Julius me perguntou se eu ...
— Não, —interrompeu Divine em uma meia risada. — Não me diga que ele pediu para você proteger seu filho enquanto protegia ele também?
— Sim, ele fez, —disse Marcus compartilhando a diversão.
— O que você fez? —Ela perguntou curiosa.
Marcus encolheu os ombros. — O que eu poderia fazer? Julius já era um homem feito e qualquer ameaça que houvesse não parecia se manifestar, mas Christian era apenas um bebê e a ameaça a ele era muito real.
— Qual era o perigo para ele? —Divine perguntou curiosa.
Marcus hesitou e depois disse: — Julius estava ausente quando Christian nasceu e sua mãe o levou embora longe de casa. Um criado trouxe o garoto de volta em pânico, alegando que a mãe havia ordenado que o bebê fosse morto.
— Ela ordenou? —Perguntou Divine.
— Sim, —disse Marcus solenemente. — Ela deu a ordem, embora houvesse mais do que isso. No entanto, não sabíamos dos detalhes na época. Tudo o que sabíamos era que ela ordenou que ele fosse morto. O bebê precisava de proteção.
— De sua própria mãe, —disse Divine com um aceno de cabeça. Parecia que sua mãe não era a única cadela louca e sem coração por aí. Pelo menos não estava sozinha nisso.
— Então você protegeu o bebê, —ela murmurou.
— Sim, —disse Marcus solenemente.
— Por quanto tempo? —Ela perguntou.
Marcus considerou a pergunta e depois pareceu pensar em sua mente. — Tudo foi resolvido há cerca de três anos atrás.
— E o que você fez depois disso? —Perguntou. Eles estavam se aproximando dos dias atuais. Será que tinha começado a trabalhar para Lucian depois disso?
— Bem, Julius se conectou com sua companheira de vida mais ou menos nessa época e ficou um pouco distraído, então eu entrei e assumi o trabalho de administrar a empresa da família até que ele superasse isso, o que levou de dois a três anos.
— E uma vez que ele estava de volta trabalhando na empresa em tempo integral ...? —Divine estimulou.
— Bom, ele realmente não voltou em tempo integral. Marguerite, sua companheira de vida, —explicou com um sorriso afetuoso que sugeria que gostava da mulher, — e sua família moram no Canadá, por isso Julius passa muito tempo viajando entre a Itália e o Canadá.
— Itália, —respirou Divine, sentando-se em sua cadeira enquanto seu olhar vagava por seu rosto. Deveria saber pelo nome e sua aparência que ele veio de lá. Tinha um pouco de sotaque, embora parecesse ter sido diluído e distorcido, provavelmente de viver em muitos lugares diferentes. Divine duvidava que ele passou toda a sua vida na Itália. Ele parecia ter inflexões francesas, alemã, espanhol e até sons ingleses em seu discurso ... como ela fazia. Sendo esse o caso, supostamente teria classificado seu sotaque como sendo simplesmente de origem europeia.
Percebendo que ele estava olhando para ela em questionamento, balançou a cabeça. — Desculpa. Continue. Julius viaja entre a Itália e o Canadá ... —ela inclinou a cabeça e sugeriu: — Então você administra a empresa quando ele não está lá e se afasta quando ele está?
— Exatamente, —Marcus disse ironicamente. — Mas graças à evolução da tecnologia, isso não é mais necessário. Enquanto ele tiver um computador e um telefone celular à mão, Julius pode dirigir a empresa de qualquer lugar do mundo. Pode até bancar reuniões de teleconferência on-line ... —Marcus encolheu os ombros. — Levou alguns anos para entender a nova tecnologia, mas agora ele a usa perfeitamente, e realmente não precisa mais de mim. E agora que Christian encontrou sua companheira de vida ... —Ele encolheu os ombros e admitiu ironicamente: — Eu estou agradavelmente e finalmente livre.
Divine considerou-o solenemente. Ele não iria admitir espiar Lucian e não poderia culpá-lo por isso.
Que tipo de espião admitiria que ele estava espionando?
— Por que ficar aqui na América do Norte? —Ela perguntou abruptamente, querendo saber como ele explicaria isso. — Por que não voltar para a Itália? Certamente eles poderiam encontrar uma posição para você no negócio da família?
— Eu considerei isso, —Marcus admitiu baixinho. — E com toda certeza eles têm muitas coisas que eu poderia fazer lá, mas me encontrei muito inquieto para voltar para a empresa da família, uma vez que Julius assumiu o controle novamente. Isso não soava atraente.
— Então, de repente, você decidiu voar para a América e se juntar ao Parque? —Ela perguntou baixinho.
Marcus hesitou, brincando com seus talheres e evitando os olhos dela. Depois de um momento, porém, ele levantou a cabeça para lhe oferecer um sorriso torto e disse: — Na verdade, dirigi até aqui e me juntei ao Parque. Eu estava no Canadá até dois dias antes.
— Entendo. —Divine se levantou e começou a recolher os pratos. — Eu acho que devemos encerrar a noite.
Apesar de se recusar a olhar diretamente para ele, Divine vislumbrou a expressão preocupada de repente no rosto de Marcus, por isso não se surpreendeu quando ele disse: — Mas e quanto a explicar Atlantis?
— Isso vai ter que esperar, —disse ela, incapaz de manter a rigidez de sua voz. — Já conversamos a maior parte da noite e estar próximo do amanhecer. O dia começa cedo no Parque.
— Certo, —Marcus murmurou, e começou a recolher os molhos de salada, e então parou e franziu a testa quando perguntou: — Eu disse alguma coisa errada?
— É o que você não disse, —ela murmurou, de repente com raiva. Ele era seu companheiro de vida. Não deveria mentir para ela, não é? Nem mesmo esconder nada?
— O que você quer dizer? —Ele perguntou imediatamente. — O que eu não disse?
— Oh, eu não sei. Por que você não me conta? —Divine sugeriu secamente quando se virou para raspar seu prato no balde de lixo que puxou debaixo da pia. Então deixou cair o prato no lixo em uma tentativa desesperada de fugir para o lado, se esforçando em evitar o toque de Marcus quando ele foi agarrar o braço dela. Sem dúvida, ele pretendia apenas puxá-la para encará-lo, mas ela não podia arriscar que a tocasse. Um toque e ambos perderiam o controle. Tinha certeza disso.
— Divine, —disse ele com exasperação, movendo-se para fechar o espaço entre eles. — Eu não vou te machucar. Nunca poderia te machucar. Você é minha companheira de vida.
— Tem certeza? —Ela perguntou, afastando-se dele. — Eu não tenho tanta certeza disso. Como eu sei que você não é como minha mãe? Você poderia estar mentindo sobre ser mais jovem que eu. Poderia ser realmente mais velho e capaz de ler e me controlar. Talvez esteja apenas dizendo ser meu companheiro de vida para me dar a uma falsa sensação de segurança ou algo assim.
— Como eu poderia mentir sobre ser mais jovem que você? Nunca disse que era. Tudo que fiz foi dizer-lhe quantos anos eu tenho. Não sei quantos anos você tem, —ele disse razoavelmente. — E por que eu iria querer embalar você em uma falsa sensação de segurança?
Porque você é o espião do tio Lucian.
Divine queria dizer isso, mas ela reprimiu as palavras e olhou para ele.
— Além disso, não há nenhuma maneira do que nós experimentamos lá fora ao lado do trailer esta noite não era sexo de companheiro de vida, —disse ele com firmeza. Senti cada fluxo de prazer que passava por seu corpo, cada tremor de excitação que meu toque levantava. E você sentiu o meu. Você sentiu.
Não foi uma pergunta, mas uma afirmação. E ele estava certo, ela experimentou o prazer dele e com ele ... ou ela pensou que tinha.
Ou ele realmente era seu companheiro de vida, ou era um inferno de um bom falsificador. E o homem estava ali parado, tão lindo com seu peito nu, pés descalços e jeans apertados. Seu cabelo estava seco agora, mas estava arrumado em volta de sua cabeça. Ela podia se lembrar de quão malditamente macio havia sido sob seus dedos, tão suave quanto o resto dele tinha sido duro.
Queria sentir toda aquela dureza contra sua suavidade, recordou Divine. Ela queria sua pele nua contra a dela. Ela queria que a enchesse com a ereção volumosa que sentiu com a mão ... e que não teve a chance. E nunca teria se encontrasse a oportunidade de fugir hoje, pegar sua moto e escapar.
— Divine?
Desviou o olhar para o rosto dele e notou que seus olhos mais prateados do que negros deslizavam por seu corpo. Murmurando ela disse, — Ah, inferno, —Fechou o pequeno espaço entre eles e basicamente se colou contra o peito dele, suas mãos alcançando para atrair a cabeça dele para a dela. Divine não precisou fazer muito esforço. Sua cabeça abaixou ansiosamente para deixar sua boca reivindicar a dele e, em seguida, eles estavam naquela linda montanha-russa chamada sexo de companheiros de vida novamente. Esta montanha-russa emocionante tinha um monte de altos, sempre subindo, e apenas um baixo, o que esperava para nocauteá-los no final.
Com a mente confusa, Divine começou a se mover lentamente para trás, levando Marcus com ela em direção à porta do quarto. Ele foi de bom grado, mas não parou de beijá-la e começou a tocá-la tão bem quanto podia.
Suas mãos deslizaram por seus braços, parcialmente para baixo, então simplesmente se moveu para reivindicar seus seios através do algodão de sua blusa.
Divine mordeu seu lábio em reação e imediatamente estendeu a mão para puxar sua blusa, puxando-a para baixo e para fora debaixo de seus dedos de modo que eles estivessem agora contra sua carne nua.
No momento em que ela fez isso, Marcus parou de andar e dobrou o corpo golpeando com a língua um mamilo e depois o outro. O homem tinha uma língua muito talentosa, decidiu fracamente agarrando sua cabeça com uma mão e seu ombro com a outra para manter seus pés sob ela enquanto o prazer a percorria.
Divine sentiu sua mão acariciar suas costas e desceu nelas apertando-a e então, de repente ele se ajoelhou diante dela, sua boca nunca cessou na atenção que estava dando a seus seios. Mas quando começou a empurrar sua saia pelas suas pernas, ela arfou e balançou a cabeça enquanto pegava a mão errante. Ainda estavam a um pé da porta do quarto.
— Oh, não, não, não, —conseguiu dizer. — O quarto.
— Certo. —Ele retumbou a palavra em torno de um mamilo ereto. Então deixou o mamilo escorregar de sua boca.
Divine estava dividida entre o desapontamento de que ele não estava mais sugando-a e o alívio de que eles iriam mover isso para o quarto, mas antes que pudesse se mover, ele de repente se abaixou e se sentou diante dela que estava em pé.
— O que ...? —Perguntou confusa, mas em seguida, quase mordeu a língua quando ele de repente levantou a saia e pressionou a boca no interior de sua coxa esquerda.
— Oh, Deus não, —ela arfou e tentou empurrar a boca dele para longe, mas não conseguia fazer suas mãos obedecê-la. Elas alcançaram sua cabeça, mas ao invés de empurrar, agarraram seus cabelos e puxaram encorajadoramente enquanto ele passava a língua para cima.
Sua língua estava a poucos centímetros do ápice de suas pernas, quando de repente ele soltou a saia com uma das mãos e agarrou uma a perna puxando-a por cima do ombro. Antes mesmo de ter se estabelecido lá, sua língua encontrou as suas dobras e o centro de sua excitação e começou a mostrar a ela o quão talentoso era.
Divine lutou brevemente para manter-se ereta, mas quando o dedo dele encontrou o centro dela e deslizou para dentro e para fora, mesmo quando os lábios e língua trabalhavam nela ... gritou e jogou a cabeça para trás, conseguindo perder completamente o equilíbrio. No momento seguinte estava caindo. Felizmente, a escuridão a levou antes que sentisse bater a cabeça na porta do quarto.
Capítulo 16
— Na verdade, ele não é tão ruim quanto o que você está vendo em sua bola de cristal. Ele pode ser legal.
Divine piscou os olhos abertos para essas palavras tensas e olhou para o alto na moldura da porta, sua mente completamente vazia por um momento.
— Garota, ele é um ladrão mal-educado, desempregado, que te trata como lixo. Você realmente precisa manda-lo embora e encontrar outra pessoa.
Essa era a voz de Jackie, reconheceu. Com quem diabos ela estava falando? E onde diabos eu estou? Divine levantou a cabeça para olhar ao redor, depois deixou cair de volta quando percebeu que estava deitada na porta do quarto do trailer emprestado. Pelo menos a cabeça dela, o resto estava esparramado no chão da cozinha com Marcus deitado em cima dela, com a cabeça no colo ... enfiado debaixo da sua saia. Deus querido, eles tinham ...
— Eu te disse, ele simplesmente pegou emprestado o carro da namorada do pai dele. Não roubou. Pegou emprestado usou durante todo o dia e um pedaço da noite e devolveu um pouco depois da meia-noite. Ele não é um ladrão.
Divine não reconheceu aquela voz, mas soou como uma mulher jovem, uma mulher jovem bastante desesperada. E ela parecia que estava perto.
Virando a cabeça para tentar encontrar a fonte da voz, Divine notou o fato de que a cortina tinha sido fechada entre a área da sala de estar e a cozinha onde ela e Marcus estavam agora. As vozes pareciam estar vindo da sala além dela.
Aquela cortina não havia sido fechada por eles na noite passada. Mas então Jackie não esteve lá ontem à noite também. Seu olhar girou para o pequeno relógio pendurado sobre a pia e Divine quase gemeu em voz alta. Eram quase três horas da tarde. Eles desmaiaram no chão e dormiram no que restava da manhã e boa parte da tarde. Jackie deve ter vindo procurá-los quando eles não apareceram naquela manhã e ...
Divine sentou-se abruptamente, o horror deslizando através dela quando percebeu que a mulher deve tê-los visto assim. Ela olhou para o volume coberto pela saia em seu colo que era a cabeça de Marcus, notou que a gola de sua blusa estava presa sob seus seios e fechou os olhos. Uau. Bem, isso era verdadeiramente embaraçoso.
— Pegar sem direito ou permissão é a definição de roubo, —disse Jackie firmemente do outro lado da cortina. — Não importa se ele levou o carro de volta. Pega-lo sem permissão foi roubo.
— Deus, você está sendo tão dura com ele sobre isso como seu pai e sua namorada foram. —A mulher mais jovem parecia ressentida.
— É claro que eles estão sendo duros com ele, —Jackie respondeu imediatamente. — Roubo é um negócio sério.
— Ele trouxe de volta, —a menina parecia já estressada.
— Certo, —Jackie disse soando pouco impressionada. — E ele devolveu o dinheiro que tirou da sua bolsa para comprar a maconha dele?
As sobrancelhas de Divine se levantaram. A garota tinha um verdadeiro namorado vencedor lá, pensou ironicamente. Balançando a cabeça, puxou a saia para cima, tirou a cabeça de Marcus do colo, colocando-a no chão, e então ficou silenciosamente em pé.
— Você pode ver isso em sua bola de cristal também? —A mulher mais jovem chorou com desânimo. — O que mais pode ver? Ele está me traindo? Se estiver, ele está fora do meu apartamento.
Divine revirou os olhos enquanto esticava a pior das rugas de suas saias. Então, sendo ele um ladrão, desempregado e mal-educado que a tratava como lixo e aparentemente não apenas roubava dela, mas também consumia drogas, não era suficiente para convencer a garota a sair. Mas se ele estava traindo, tudo acabava?
Pelo menos a menina tinha alguns limites sobre o que ela iria tolerar, pensou Divine quando se virou e deslizou pelo quarto até a porta do banheiro. Conheceu muitas mulheres mortais que não pareciam ter nenhum limite sobre o mau comportamento que aceitariam de um parceiro. Elas não pareciam reconhecer seu próprio valor e que mereciam muito mais, o que era uma pena. Os mortais tinham vidas tão curtas, tão pouco tempo para aproveitar tudo o que a vida e o mundo tinham a oferecer. Por que eles perderiam um momento do seu precioso tempo com alguém que não apreciasse e os tratasse bem?
Divine balançou a cabeça enquanto entrava no banheiro e fechava a porta, bloqueando as vozes do outro lado da cortina. Entrou e saiu rapidamente do minúsculo cômodo, aproveitando o tempo para enxaguar o rosto e passar uma escova nos cabelos. Teria gostado de parar para trocar de roupa também, mas quando saiu do banheiro e enfiou a cabeça para fora do quarto para verificar, os sons vindos do outro lado da cortina sugeriam que Jackie estava encerrando a sessão e preparando-se para se despedir da garota.
Endireitando os ombros, Divine forçou sua cabeça para cima e moveu-se para a cortina para puxar a ponta dela a poucos centímetros da parede. Ela notou que eles montaram uma pequena mesa redonda entre o sofá e as cadeiras na sala de estar, cobrindo-a com uma toalha de mesa antiga e depois colocando o que parecia ser uma bola de cristal genuína no meio. Provavelmente era um adereço, mas ainda assim ...
Divine nunca havia se incomodado com tal cenário, apenas pegando a mão do cliente como se lesse o futuro através de alguma energia estranha que emanava deles. O que era realmente o que ela fazia. Ela lia seus pensamentos e ajudava-os a esclarecer a situação que eles já sabiam, mas possivelmente estavam ignorando ou mentindo para si mesmos. Encolhendo os ombros, Divine olhou para as mulheres na sala. Uma pequena loira de jeans e camiseta estava levantando de uma das duas cadeiras dobráveis em cada lado da mesa enquanto Jackie se levantava da outra.
Suas sobrancelhas se levantaram com a visão da mulher. A companheira de Vincent usava uma saia longa e esvoaçante, uma blusa camponesa, um lenço vermelho em volta da cabeça, as joias mais espalhafatosas que já vira e uma maquiagem ridiculamente dramática. Provavelmente produção do próprio Vincent, decidiu Divine. Jackie parecia uma versão teatral de uma cigana, e não a coisa real.
Ela mal tinha pensado em tudo isso quando Jackie olhou em seu caminho enquanto conduziu a garota até a porta. Parou imediatamente, um sorriso curvando seus lábios.
— Bom dia, —ela disse, sorrindo amplamente. — Você parece bem descansada.
Divine fez uma careta com as palavras quando ela abriu a cortina. Normalmente não dormia mais do que algumas horas por dia, mas certamente dormiu mais do que algumas horas nesta manhã. Era um pouco antes das 6 da manhã quando ela e Marcus tinham ... Bem, de qualquer maneira, isso não poderia ter levado mais do que alguns minutos, então deve ter dormido umas boas nove horas seguidas. Tão estranho.
— Quem é ela? —Perguntou a jovem mulher saindo do trailer.
Divine olhou para a loira com aquela pergunta curiosa, mas foi Jackie quem respondeu.
— Não se preocupe com isso. Vá em frente agora. Tenha um bom dia, —ela disse alegremente, e então empurrou a garota para fora da porta, adicionando severamente, — E se livre daquele perdedor que você chama de namorado.
Fechando a porta, Jackie se virou para Divine e disse ironicamente: — Eu não sei como você faz isso. Juro que queria dar uns tapas na metade das pessoas que vieram aqui esta manhã.
— Ossos do oficio, —disse Divine divertida.
— Hummm. —Jackie torceu o nariz para esta notícia e, em seguida, perguntou: — E Marcus acordou?
— Ele acordou agora.
Divine ia responder quando Marcus falou, ela olhou por cima do ombro e o viu se levantar e caminhar em direção a ela.
— É Jackie que está aí? —Ele perguntou quando se aproximou.
Percebendo que ela só abriu a cortina o suficiente para se enquadrar, a abriu ainda mais para que ele pudesse ver a outra mulher. — Sim. Ela abriu o trailer enquanto dormíamos. Obrigada por isso, a propósito, —Divine acrescentou, voltando-se para oferecer um sorriso agradecido para a mulher.
Jackie sorriu de volta e encolheu os ombros. — É divertido.
Divine bufou com a alegação, sabendo que às vezes era interessante, às vezes recompensador, e às vezes simplesmente frustrante, mas nem sempre divertido.
— Bem, agradeço, —disse sinceramente, endurecendo um pouco de surpresa quando Marcus passou um braço ao redor de sua cintura. Sorrindo um pouco forçadamente, saiu de debaixo do braço de Marcus e voltou para a cozinha dizendo, — Você pode ir encontrar seu marido e eu vou mudar rapidamente e assumir o trailer agora.
— Não seja boba, vou continuar aqui o resto da tarde, —Jackie disse de uma vez, deixando-a relutante. Quando Divine voltou, ela acrescentou: — Você precisa comer, se alimentar direito, tomar banho e trocar de roupa. Basta pegar algumas roupas e ir para o nosso trailer, pode tomar banho e tudo o mais lá.
Divine balançou a cabeça imediatamente. — Oh, eu não posso fazer você ...
— Você não está me obrigando a fazer nada, —Jackie disse com firmeza, entrando na cozinha para pegá-la pelos ombros e empurrá-la em direção à porta do quarto. — Além disso, quero que você conheça Tiny e Mirabeau.
— Eles já estão aqui? —Marcus perguntou, seguindo atrás delas quando entraram no quarto.
— Chegaram cedo esta manhã. Trouxeram a metade das maçãs cultivadas na Califórnia, e caramelo e chocolate para cobrir o estado, —anunciou Jackie secamente, depois apertou os ombros de Divine e disse: — Você vai amar Tiny. Ele é meu melhor amigo há muito tempo. É um docinho. E sua companheira, Mirabeau, também é adorável.
Divine murmurou sem se comprometer, mal notando quando Jackie a deixou no final da cama e se mudou para o armário. Sua mente estava ocupada tentando encontrar uma maneira de se livrar de Jackie e Marcus e recuperar sua posição como Madame Divine. A chegada do outro casal só iria complicar as coisas e dificultar a fuga. Ela precisava pensar e achou difícil fazer isso com Marcus nas proximidades.
— Espero que você não se importe, mas eu entrei e peguei uma de suas roupas emprestadas esta manhã quando percebi que vocês não abririam o trailer. Mas há muito mais aqui para escolher, —Jackie anunciou, começando a deslizar as roupas ao longo da vara no pequeno armário.
— Claro que não me importo. —Divine sorriu ironicamente quando ela olhou a saia azul e blusa camponesa que Jackie usava. Como ela poderia se importar com a mulher usando-os quando elas não eram realmente dela, afinal? Vincent providenciara as roupas que Jackie estava usando agora.
— Eu acho que essa saia verde floresta ... —Jackie decidiu, puxando a saia em questão. — Ficará ótimo com seu tom de pele.
Assentindo, Divine se aproximou para pegar a saia que a mulher estava segurando. Então passou por ela e pegou vários lenços também. Precisaria deles para adicionar um pouco de cor, Divine pensou, e então olhou para o chão do armário e viu uma fileira de botas alinhadas lá. Se curvou e pegou um par castanho-avermelhadas escuras e então se virou com as roupas na mão, parando brevemente quando notou que Marcus estava tirando roupas para fora do armário do lado oposto da cama.
— Vincent colocou as roupas de Marcus aqui, —Jackie explicou rapidamente. — Há apenas dois minúsculos armários em cada um dos trailers e estamos usando os dois.
— É claro, —Divine murmurou e simplesmente caminhou para fora do quarto. Mas quando entrou na área de cozinha, ela franziu a testa e disse: — Talvez eu deva tomar banho e mudar de roupa aqui. Dessa forma, Marcus pode usar o chuveiro no seu trailer e ...
— O som do chuveiro seria uma distração para as pessoas que querem uma consulta, —Jackie apontou e balançou a cabeça. — Não. É melhor usar o outro trailer. Você vai gostar mais dele de qualquer maneira. Tem um chuveiro maior, —acrescentou em tom tentador, depois sorriu ironicamente e acrescentou: — Tudo é maior. É o trailer de ‘luxo’ que Vincent mandou fazer para as nossas emboscadas, ele insistiu que tudo deveria ser maior e melhor. O homem é metido a besta.
Divine não pôde deixar de sorrir com a alegação. Especialmente porque Jackie fez isso com uma combinação de exasperação, diversão, amor e algo que soou muito como orgulho.
— Tudo pronto, —anunciou Marcus, saindo do quarto. Ele vestiu uma camiseta e botas e parecia pronto para o dia. Seu olhar deslizou para Divine. — Não se preocupe com o chuveiro. É seu. Tenho que começar a trabalhar antes que Chapman ou Mac venham me procurar.
— Eles não vão. Vincent ficou no seu lugar hoje, —Jackie anunciou.
Marcus arqueou as sobrancelhas exageradamente. — Vincent? Trabalho?
— Ele está apenas no comando do Tilt-A-Whirl, não é como se estivesse carregando aço ou algo assim, —Jackie disse com diversão. — E, na verdade, acho que está se divertindo. Ele é surpreendentemente bom na lábia em atrair clientes. Deve ser o teatro nele.
— Deve ser, —disse Divine com um sorriso.
— Vocês dois fiquem à vontade no trailer ao lado, —disse Jackie, levando-os para a sala de estar. — Vou voltar ao trabalho. Os clientes provavelmente estão ficando impacientes lá fora.
— Sem dúvida, —Divine murmurou e então saiu quando Marcus abriu a porta para ela. Ela fez uma pausa depois de um passo, sua mão instintivamente erguendo-se para bloquear o pior do sol enquanto o dia a golpeava. Era a hora mais quente da tarde.
O sol estava alto no céu e o calor era uma onda que se colava à sua pele como um plástico fino e pegajoso. O calor roubou o fôlego de Divine e o brilho do sol a cegou.
Sugou o ar sufocante e piscou várias vezes para que seus olhos se ajustassem e então soltou um suspiro quando o brilho embaçado se transformou aos poucos nas formas e cores que compunham a área do Parque. Pessoas de todas as formas e tamanhos se aglomeravam por toda parte, os brinquedos giravam em movimento, várias canções e sons se erguiam no ar dos diferentes brinquedos, das risadas, das conversas dos agitadores de jogos, e os gritos excitados das pessoas nos brinquedos. E tudo isso acompanhado pelo cheiro de pipoca e comida grelhando sob o sol ardente do Vale da Morte32. Vida de Parque.
— Tudo bem? —Marcus perguntou, descansando a mão em seu ombro.
Forçando um sorriso, Divine assentiu com a cabeça e desceu as escadas para abrir caminho através da fila do lado de fora de sua porta, chegando ao trailer ao lado. Como o dela, a porta do trailer de Jackie e Vincent ficava na lateral, então andou pela parte de trás do trailer deles para chegar até a porta. Divine estava acomodando as roupas que trazia nas mãos para conseguir abrir a porta quando Marcus passou por ela e a abriu.
Murmurando um agradecimento Divine deslizou para dentro e observou o interior. Este trailer era muito parecido com o que ela estava usando, exceto que tanto a cozinha quanto a sala de estar eram um pouco maiores. Estavam lotadas de maçãs, cestas de frutas vermelhas e doces enchiam cada espaço no chão, assim como o sofá e as cadeiras na sala e na cozinha. Enquanto isso, as bancadas e a mesa da cozinha estavam abarrotadas com bandejas de maçãs, cada uma com um palito de picolé saindo dela. Estavam cobertas por calda de chocolate ou caramelo, e depois envolvidas em diferentes coberturas, desde amendoins triturados a pequenos marshmallows. O fogão era o único lugar livre de maçãs. Em vez disso, acomodava quatro panelas grandes e fumegantes que um homem enorme mexia enquanto cantarolava.
— Oi, vocês devem ser Marcus e Divine. Enfim acordaram, hein?
Divine virou-se para olhar inexpressivamente para a mulher que acabou de falar. Alta e curvilínea, com cabelos curtos e escuros destacados com mechas rosas, a mulher usava um avental que dizia: ‘Você abraçou o chef hoje?’ Por baixo, jeans apertados e desbotados e uma camiseta. Ela definitivamente tinha uma aparência interessante, decidiu Divine, aceitando a mão que a mulher estendeu em saudação quando Marcus disse: — Sim, eu sou Marcus, e ela é definitivamente é Divine33.
A maneira como Marcus falou sugeriu que ele não estava falando sobre o nome dela e sim sobre o significado do nome dela. E parece que não foi a única que percebeu isso, porque o homem no fogão murmurou divertido: — Eu tenho certeza que ela é.
Ruborizada, Divine olhou para o homem com curiosidade. Ele realmente era um sujeito grande. Enorme. Marcus era um homem grande, mas não como esse cara. Ela nunca tinha visto ombros tão largos e musculosos quanto este homem.
— Este é o meu companheiro de vida e marido, Tiny, —anunciou Mirabeau.
Movendo-se para ficar atrás do homem, Mirabeau deslizou uma mão para cima e para baixo no centro de suas costas largas.
Tiny estremeceu e arqueou sob o toque brevemente antes de rosnar, — Mulher, a menos que você queira que eu derrame este chocolate em nós dois, eu sugiro que você pare de me provocar.
Mirabeau sorriu e se inclinou para beijar sua orelha, murmurando: — Isso poderia ser divertido.
— Sim, —ele concordou, inclinando-se para beijar a ponta do nariz dela. Então ele olhou por cima do ombro dela para Divine e Marcus. — Vocês dois devem estar com fome. Vou preparar um café da manhã enquanto vocês tomam banho e se trocam.
— Oh, isso não é ...
— Obrigado, Tiny. Isso seria ótimo, —Marcus interrompeu, levando Divine em direção à porta do quarto. — Vá em frente, tome um banho e troque-se, —disse ele, empurrando-a gentilmente para o quarto. — Eu estarei aqui com Tiny e Mirabeau.
Divine observou-o fechar a porta, olhou para ele por um minuto, depois deu de ombros e entrou no banheiro.
Marcus ficou perto da porta por um momento até ouvir sons que indicavam que Divine estava fazendo o que ele havia sugerido, e então relaxou e se virou para Tiny. — Bom te ver de novo.
— Vocês dois se conhecem? —Mirabeau perguntou com surpresa.
— Desde daqueles acontecimentos com Vincent e Jackie, —Tiny disse solenemente.
— Oh sim. —Mirabeau assentiu imediatamente e sorriu se desculpando para Marcus. — Você e Christian chegaram a tempo de ajudar Jackie na sua transformação e no que se seguiu.
Marcus assentiu. — Eu vi vocês dois no grande casamento coletivo também, mas os dois estavam um pouco distraídos e foram embora logo, é claro, em sua missão secreta. Estou feliz que tudo correu bem.
— Houve uns dois acontecimentos mais difíceis, mas acabou tudo bem no final, —disse Tiny com um sorriso, passando a mão livre por Mirabeau.
Marcus assentiu enquanto eles compartilhavam um sorriso e murmuravam: — Eu sou muito sortudo.
Mirabeau olhou para ele rapidamente. — Jackie nos contou sobre você e Divine e que ela pode ser Basha, mas ninguém tem certeza.
Marcus fez uma careta e assentiu.
— Mas Jackie diz que ela tem certeza de que se Divine é Basha, ela não pode ser desonesta como Lucian pensa, —Tiny acrescentou solenemente. — E eu nunca soube quando Jackie estava errada. Tudo vai dar certo.
— Deus te ouça, —disse Marcus cansado, passando a mão pelos cabelos. Não deveria estar cansado, tinha acabado de acordar pelo amor de Deus, mas estava tão exausto como se não tivesse dormido nada.
— É a situação, —Mirabeau disse simpaticamente, como se tivesse falado seus pensamentos em voz alta. E ela poderia muito bem ter, supôs. Sua mente era aparentemente um livro aberto agora para todos.
— Bom, todos nós passamos por isso, então podemos simpatizar com a sua situação, —Tiny disse gentilmente.
—Sim, —Marcus respondeu e, em seguida, perguntou ironicamente: — Você acha que poderia parar de ler meus pensamentos e talvez apenas abordar as coisas que eu digo em voz alta?
— Poderíamos tentar, —disse Mirabeau com diversão.
— Eu agradeço, —Marcus assegurou.
— Por que você não vem aqui e enfia alguns palitos de picolé nas maçãs enquanto nós tentamos descobrir como você pode convencer Divine de que ela é sua companheira de vida e deve aceitar você como sendo dela, —Tiny sugeriu, acenando para ele.
— Ela sabe que é minha companheira de vida, —Marcus murmurou, aceitando o saco de palitos de picolé que Tiny estendeu para ele e então se moveu na frente de uma bandeja vazia com uma cesta de maçãs ao lado. — Pelo menos ela deveria depois da noite passada.
— Receio que a questão não seja que ela não tenha aceitado que ele é seu companheiro de vida, —comentou Mirabeau, tirando um palito do saco e mostrando-lhe como enfiá-la na maçã e colocá-la na bandeja. Era um procedimento bem simples. Ainda assim, os exemplos sempre eram bons.
— Não, —Tiny concordou, voltando a mexer suas panelas. — Não está convencida de que ela pode tê-lo.
— Ela pode me ter, —Marcus assegurou, esfaqueando uma maçã. — A qualquer hora, em qualquer lugar, de qualquer maneira.
— Sim. Compreendo você, amigo, —Tiny disse com diversão.
Mirabeau revirou os olhos quando os homens compartilharam um sorriso irônico, e então disse seriamente: — Mas ela acha que você não vai querê-la como companheira de vida quando souber que ela é Basha Argeneau.
Marcus endureceu, a cabeça lentamente se voltando para a mulher. Foi Tiny quem disse com surpresa: — Você tem certeza que ela é Basha?
Mirabeau assentiu solenemente. — Está bem ali em seus pensamentos, claro como o dia.
— Eu não entendi, —disse Tiny com uma carranca.
— Você não é imortal há muito tempo, querido. Pode não estar lendo tudo claramente.
— Sim, mas Jackie e Vincent não leram isso e Vincent tem quinhentos anos de idade, —salientou Tiny.
— Mas eu sou mais velha, —Mirabeau informou em voz baixa. — E é possível que esconder seu nome verdadeiro não estivesse no topo de sua lista de preocupações quando ela chegou a Jackie e Vincent. Afinal, Marcus e ela estavam sofrendo. —Mirabeau encolheu os ombros.
— Mas agora esta? —Marcus perguntou com uma carranca. — No topo de sua lista de preocupações, quero dizer.
Mirabeau assentiu. — Ela quer você como amante e companheiro de vida. Isso está no topo de sua mente agora. Ela quer você, mas acha que não pode ter você. Que precisa fugir. Que você se afastará dela de qualquer maneira quando souber que ela é Basha. Ela sabe que você é um espião de Lucian.
— Como diabos ela descobriu isso? —Marcus rosnou, esfaqueando outra maçã, um pouco entusiasticamente desta vez, quebrando o palito.
Mirabeau pegou a maçã para remover o palito e substituiu. — Não tenho certeza. Poderia ter lido Jackie e Vincent, mas não creio muito nisso. — Mirabeau ficou em silêncio por um minuto, e então deu de ombros e disse: — Isso não importa. O ponto é que ela sabe que você foi enviado aqui por Lucian para encontrá-la. Também sabe que Lucian está a caminho daqui e está desesperada para fugir.
— O que eu faço? —Marcus perguntou baixinho.
Mirabeau encolheu os ombros. — Vocês dois precisam passar um tempo juntos fazendo mais do que brigar ou sexo. Precisa ganhar sua confiança, Marcus. Acho que Jackie está certa e ela não é desonesta, ou pelo menos não intencionalmente. Mas você precisa convencê-la a confiar em você, é a única forma de descobrir a verdade.
Marcus ficou em silêncio por um minuto. Ele conhecia Divine ... Basha, se corrigiu, estava se alimentando dos mortais apesar do Conselho proibir. Mas ela não sabia sobre a proibição. Não tinha certeza de que sua falta de conhecimento sobre a lei seria suficiente para absolve-la, mas certamente seria uma boa desculpa. Não podia imaginar que ela tivesse feito qualquer outra coisa que a rotulasse de desonesta.
— Sobre isso, —disse Mirabeau, e Marcus olhou para ela sem expressão. Ele não tinha falado nada. Ah, certo, lembrou que ela podia ler seus pensamentos.
— Sobre o quê? —Ele perguntou finalmente.
— A coisa de desonesta, —disse ela com uma careta.
— E sobre isso? —Perguntou cautelosamente, suspeitando pela maneira como evitava seus olhos que ele não gostaria do que ela estava prestes a dizer. Mirabeau hesitou e depois soltou um suspiro profundo. — Bem, Lucian e os meninos tinham Leonius algum tempo atrás. Cerca de dois anos. Eles invadiram um hotel em Toronto e pegaram Leonius. Bem, na verdade, eles atiraram nele, —ela se corrigiu. — Atravessaram seu coração com uma flecha. Ele não ia a lugar algum, estava praticamente morto.
Marcus estreitou os olhos quando ela parou novamente. Conhecia a história, mas perguntou de qualquer maneira: — E?
— E alguém o salvou. Simplesmente o pegou e o carregou enquanto todos estavam ocupados com suas vítimas.
— Alguém? —Marcus questionou severamente.
— Sim, bem, eles não sabiam quem a princípio, mas Mortimer, o chefe dos Caçadores de desonesto de Lucian ...
— Eu sei quem é Mortimer, —Marcus interrompeu impaciente.
— Certo. Bem, ele revisou todas as fitas de segurança do hotel e descobriu que era uma mulher. Câmeras nas escadas mostravam uma mulher loira levando Leonius até o telhado. Eu vi as filmagens. Não havia imagens realmente boas de seu rosto, mas pelo que vi, poderia ser Divine, só que loira.
Marcus não comentou, mas seu coração afundou. Ele descobriu a noite passada, enquanto sua cabeça estava sob a saia de Divine, que seu cabelo não era naturalmente a cor que ela usava atualmente. Seu cabelo estava tingido.
— E depois há Dee, —acrescentou Mirabeau.
— Dee? —Marcus perguntou. — A parceira mortal de crimes de um dos filhos de Leonius?
Mirabeau assentiu. — Ela descreveu uma mulher ligada a Leonius chamada Basha, uma loira de cabelos muito claros, como sendo sua mãe, —ela terminou apologeticamente.
Marcus ficou tão assustado com aquela notícia que não só esfaqueou a próxima maçã com bastante entusiasmo para quebrar o bastão, mas errou completamente a maçã e quebrou o bastão em sua própria mão. Amaldiçoando, ele largou a maçã e pulou para trás, segurando a mão machucada pelo pulso.
— Certo. Não tem problema, —Tiny disse suavemente, ao seu lado de uma vez. O homem grande pegou a mão machucada, retirou rapidamente o palito e enrolou um pano de prato na ferida, depois se virou para abrir a pequena geladeira do tamanho de um bar e pegou uma bolsa de sangue para ele.
Marcus bateu a bolsa na boca no momento em que Tiny a entregou, e então ficou ali parado, a cabeça nadando. Divine era Basha ... A mãe de Leonius?
— Espere um minuto, —ele murmurou, rasgando a bolsa de sua boca. Felizmente, a maldita coisa já havia se esvaziado ou teria feito uma grande bagunça. — Divine não pode ser essa Basha a mãe de Leonius. Não é possível. Ela é imortal. Ele é um Sem Presas. A criança recebe o sangue de sua mãe, sejam elas mortais, imortais ou Sem Presas. Uma mulher imortal não pode ter um filho Sem Presas.
As sobrancelhas de Tiny se levantaram e ele olhou para Mirabeau em questão.
— Ele está certo, —Mirabeau confirmou imediatamente. — E quando eu encontrei um filho nos pensamentos de Divine, o nome dele era Damian não Leonius, mas ...
— Então ela não pode ser essa Basha que é a mãe de Leonius, —Marcus disse com alívio.
Mirabeau sacudiu a cabeça. — Mas eu li em sua mente. Ela é Basha Argeneau.
— Então? —Marcus perguntou com irritação. — A Basha que está sendo procurada pode ser Basha Smith ou mesmo Livius ou qualquer coisa. Elas poderiam apenas ter o mesmo primeiro nome. Tenho certeza de que você não é a única Mirabeau do mundo e certamente não sou o único Marcus.
Mirabeau permaneceu em silêncio por um minuto e depois sacudiu a cabeça. — Eu não sei. Ela se parece muito com a mulher na filmagem de segurança e acha que é desonesta ou procurada por algum motivo.
Tiny olhou de um para o outro e depois fixou o olhar em Marcus. — Eu também não sei, mas acho melhor você descobrir e fazer isso rapidamente, antes que Lucian chegue aqui.
Marcus suspirou e passou a mão boa pelos cabelos com frustração. — Como diabos eu devo fazer isso?
— Como Mirabeau disse, você tem que gastar tempo com ela e ganhar sua confiança, —disse Tiny simplesmente.
— Como se isso fosse tão simples assim, —Marcus murmurou.
— É, —assegurou Tiny. — Se você fizer o que vou te dizer ... e temos que conversar rapidamente com Jackie, Vincent e Madge antes que Divine saia.
Capítulo 17
Divine tinha a intenção de ser rápida no seu banho e teria sido se pudesse ter desligado seu cérebro. Infelizmente, no momento em que estava sob o chuveiro, sua mente voltou para aquela manhã e o que havia acontecido com Marcus. O homem definitivamente era seu companheiro de vida. Ou poderia ter sido, pensou infeliz. Suspeitava que ele não iria quere-la como sua companheira de vida se soubesse quem ela era, e Divine não pôde deixar de pensar como a vida tinha sido irônica, depois de mais de dois mil e setecentos anos conheceu seu companheiro de vida e ele era seu inimigo.
E estava sendo tão patética que sua mente girava tentando descobrir como poderia tê-lo ... o que seria impossível. Sabia que era. Ainda assim, sua mente estava correndo em círculos tentando resolver isso. Talvez se explicasse o que aconteceu. Talvez se pudesse fazê-lo entender ...
Claro que não havia como fazer isso. Não podia ser honesta com ele sem arriscar ... bem, não tinha certeza do que estaria arriscando. O que ele faria se ela admitisse ser Basha Argeneau? Ele a prenderia até que o tio Lucian pudesse chegar até ela?
Ou talvez ele simplesmente a matasse como os outros espiões e Caçadores de Desonestos fizeram com seus netos nos últimos dois mil e setecentos anos, a maioria deles com menos de dez anos, crianças inocentes que não tinham feito nada além de serem azarados o suficiente para nascerem seus netos.
Divine suspirou e pressionou sua testa contra os ladrilhos frios da parede do chuveiro, de repente, envergonhada por ela ter deixado Marcus tocá-la, ou compartilhar um sorriso ou rir com Vincent e Jackie. Estava confraternizando com o inimigo. Pessoas que temeu e odiou a maior parte de sua vida.
Por outro lado, sua mente argumentava, seus próprios netos haviam a nocauteado e a arrastado para longe de seu trailer e, possivelmente, depois o incendiado, embora não tivesse certeza disso. Poderia ter sido Allen Paulson, ou algum outro mortal que se enfureceu com ela ao longo dos anos, frustrando seus planos menos que agradáveis. E o filho dela estava mentindo para ela, recordou Divine. Damian colocou culpa do ataque que sofreu em Marcus e disse que os meninos a salvaram e a levaram para ele, quando ela sabia que ele sabia que isso não era verdade. Podia entender sua relutância em dizer a ela que seus filhos tinham feito isso, ele temia que ela ficasse desgostosa com seus netos, mas isso a fez se perguntar ... que outras mentiras ele contou ao longo dos anos?
Mais importante, o que Damian fez que Abaddon achava que ela poderia abandonar seu próprio filho? Essa preocupação a incomodava mais do que qualquer outra coisa. Suspeitava que algo estava errado, não desejava estar perto dele e o fato de também não poder ler sua mente a deixava frustrada. Se ela apenas pudesse ... bem, sem saber da verdade imaginava todo tipo de coisas, todas terríveis, porque seria preciso muito para virar as costas para o garoto que dera à luz. Já desconfiava de algo. Divine não estava feliz com a maneira como ele vivia sua vida ou com as pessoas com quem estava envolvido. Não estava feliz com a forma como ele criou seus filhos ou sua insistência em ter tantos deles. Mas ele era seu filho. Seria necessário quebrar suas regras de alimentação e ferir um mortal, ou até mesmo um imortal para fazê-la se afastar dele. Certamente ele não fez isso, não é? Ela o criou com as regras que aprendeu. Ele sabia o que era certo ... não é?
Suspirando, Divine desligou o chuveiro e saiu para se secar. Parecia-lhe que só havia uma coisa a fazer.
Precisava se afastar dos outros, recuperar sua moto e desaparecer. Precisava deixar a América e ir para outro lugar, talvez em algum lugar da Ásia dessa vez. A América do Norte era muito arriscada agora. E deixar o país tinha o benefício adicional de colocar alguma distância entre ela e seu filho.
Esta não seria a primeira vez que Divine faria isso. Deixou a Europa para colocar distância entre ele por causa da maneira como vivia, mas ele a seguiu. Desta vez teria que garantir não deixar rastros. Estaria sozinha de novo, já estava acostumada a isso, mas de alguma forma desta vez seria diferente. A ideia lhe parecia tão difícil de aceitar. Talvez porque desta vez estaria deixando para trás um companheiro de vida e qualquer chance de ter um relacionamento com ele. Levou 2.758 anos para encontrar Marcus, ela não era tola o suficiente para imaginar que encontraria outro possível companheiro de vida na próxima esquina. Uma vez que se afastasse dele, aquele sonho, que nunca ousou sonhar antes disso, estaria morto. Isso fazia o futuro parecer insuportavelmente sombrio.
Empurrando esses pensamentos depressivos para longe, Divine se concentrou em se vestir. Achou que era sempre melhor viver pensando no presente, em vez de perder tempo com o que aconteceu no passado ou o que poderia acontecer no futuro. Viver no aqui e agora nem sempre era fácil, mas fazia o melhor que podia.
Quando Divine saiu para a cozinha, Marcus estava de pé no balcão, enfiando palitos de picolé em maçãs.
Mirabeau mergulhando-os nas panelas de chocolate ou caramelo e cobrindo-os com amendoins e /ou marshmallows antes de colocá-los em uma bandeja para endurecer.
Enquanto eles faziam isso, Tiny preparava algo em uma frigideira que jogava no ar os mais incríveis cheiros que Divine havia sentido em seus muitos anos.
— Existe algo que eu possa fazer para ajudar? —Perguntou Divine depois de observar por um momento.
Todos os três olharam ao redor e sorriram para ela em saudação, mas Tiny imediatamente abriu a porta do armário e pegou dois pratos segurando-os em direção a ela e disse: — Chegou bem na hora. A omelete está pronta. Coma estes.
Divine ficou ao lado do grande homem e pegou os pratos vazios. No momento em que fez, Tiny cortou sua obra-prima ao meio e deslizou cada parte em um dos pratos. Ela olhou para a comida fumegante com interesse, sem saber o que estava olhando e sabendo apenas que cheirava incrível.
— E aqui, —acrescentou Tiny, abrindo o forno com uma luva de proteção para pegar um prato com quatro fatias de torrada com manteiga que aparentemente colocou lá para aquecer. Ele deslizou duas fatias da torrada dourada em cada prato. Então parou para apreciar sua obra antes de assentir com satisfação. — Bom apetite.
— Obrigada, —murmurou Divine.
— Não me agradeça até sentir o gosto, —ele disse com um sorriso, e então olhou ao redor da cozinha, franziu os lábios e murmurou: — Eu não tenho certeza de onde você vai comer, no entanto. Receio que tenhamos ocupado todos os lugares com a nossa fabricação de maçãs.
— Sem problema, —disse Marcus, apunhalando uma última vara em uma maçã e depois pegando os pratos de Divine. — Vamos comer na cabine do motorista na frente.
— A cabine da frente? —Divine perguntou incerta quando ele começou a se afastar.
— Sim. Venha, —ele disse, indo para a sala.
— Espere, vocês vão precisar disso, —disse Tiny, e quando Divine se virou ele estava segurando uma bandeja com talheres, duas xícaras de café, creme e açúcar.
— Obrigada. —Divine pegou a bandeja e se virou para seguir Marcus.
Ele a conduziu pela sala até a cortina na frente do trailer e segurou a cortina para que ela passasse. Divine deslizou por ele e então hesitou antes de escolher o assento de passageiro. Olhou para o espaço central entre os dois bancos da frente, feliz por ver que, assim como no seu antigo trailer, uma aba poderia deslizar para a frente e fazer uma espécie de mesinha.
— Os bancos também viram, —disse Marcus, sentando-se no banco do motorista.
Divine apenas balançou a cabeça e colocou a bandeja na mesinha improvisada, então se inclinou para o lado um pouco para ajustar seu assento colocando-o virado para mesinha. Então segurou os dois pratos de Marcus para que ele pudesse fazer o mesmo.
— Obrigado, —ele murmurou, pegando um dos pratos de volta. Depois de uma hesitação, ele girou a bandeja de modo que só ocupou a metade da mesinha. Isso deixava apenas a outra metade para colocarem os seus pratos, onde eles, por fim, os acomodaram.
— Cheira bem, —Divine murmurou, olhando por cima da aba dobrada de algo amarelo pálido em seu prato. — Tiny chamou de omelete?
— Omelete dobrada ... —Marcus levantou parte da aba superior para ver o que havia dentro. — Queijo, cebola, pimentão verde e salsicha.
Divine levantou o canto superior de sua metade para espiar dentro. Parecia um pouco bagunçado por dentro, mas cheirava maravilhoso.
— Christian ama isso. Carol os faz para ele o tempo todo, —Marcus comentou, cortando um pedaço. — Eu nunca me senti tentado a experimentar um antes disso, mas agora ... —Ele fez uma pausa e sorriu ironicamente quando seu estômago roncou, então encolheu os ombros e colocou uma mordida de omelete em sua boca.
Divine observou-o mastigar e engolir e, em seguida, levantou uma sobrancelha. — Bom?
— Mmmm, incrível, —Marcus anunciou, cortando outro pedaço.
— Obrigado, —Tiny gritou do outro lado da cortina.
Divine riu e cortou um pedaço para si mesma. Ela estava mais hesitante em colocá-lo em sua boca. Este negócio de comer era realmente novo para ela ainda. Mexeu a comida em volta da boca, mastigou experimentalmente e depois sorriu ao engolir. Virando-se para a cortina, ela gritou: — Ele está certo. Surpreendente.
— Obrigado, —repetiu Tiny alegremente.
Eles comeram em silêncio por um tempo, mas fazia tanto tempo que não comia que Divine estava satisfeita antes mesmo de um terço de sua omelete. Ela não tinha comido muito a noite passada também, lembrou-se enquanto colocava o prato no chão e voltava sua atenção para os cafés na bandeja.
Madge e Bob tomavam café o tempo todo. Divine nunca tentou experimentar. Agora olhava incerta para o líquido escuro.
— Bob bebe o dele com creme e açúcar, mas Madge gosta de puro. Diz ela que é menos calórico, —comentou Divine.
— Você não precisa se preocupar com calorias, —disse Marcus com diversão. — Mas, se não tiver certeza de como vai gostar, experimente tomar puro, depois adicione creme e açúcar e prove.
— Boa ideia, —disse ela, e pegou a xícara mais próxima para tomar um gole, fazendo uma careta para o sabor. Bom Deus era amargo e ... bem, ela nem sabia como descrever. Engolindo o gole que ela tomou, Divine colocou a xícara de volta e colocou duas colheres de chá de açúcar, e depois derramou um pouco de creme, até que ficou uma cor bonita de caramelo. Mexeu por um bom tempo antes de se arriscar a prová-lo novamente.
— Bom? —Marcus perguntou.
Divine deu de ombros um pouco. — Melhor.
Ele riu de sua falta de entusiasmo e proveu seu café da mesma maneira, então tomou um gole e suspirou. — Gostei disso.
Ela sorriu para a expressão dele. Ele olhou ... satisfeito, ela decidiu, e tomou um gole de café novamente.
— Devo lhe falar sobre a Atlantis agora?
Divine olhou com surpresa para a pergunta. — Agora?
— Você tem algo melhor para fazer? —Ele perguntou.
Sorrindo ironicamente, ela balançou a cabeça. Dificilmente poderia fugir agora, a menos que pudesse inventar uma desculpa para se ausentar por um tempo.
— Talvez você devesse me contar o que sabe sobre a nossa ... condição?
— Nossa condição? —Perguntou divertida.
— Bem, porque somos diferentes dos mortais. Você sabe sobre nanos?
Divine assentiu. — Sim. Minha babá só me disse que eu era diferente das outras pessoas e precisava de sangue para sobreviver, mas minha avó me disse uma vez que eu era diferente, porque tinha nanos no meu corpo e eles é quem precisavam do sangue extra. —Ela sorriu com a lembrança. — Quando perguntei o que eram nanos, ela disse que eles eram basicamente minúsculos milagres em nosso sangue que nos mantinham saudáveis e bem.
— Só isso? —Marcus perguntou com uma carranca.
— Era hora de dormir e ela estava tentando me fazer dormir, —explicou Divine e então suspirou e acrescentou: — Perguntei uma ou duas vezes sobre os nanos, mas geralmente estávamos no meio de alguma outra aprendizagem, me ensinando a controlar mentes, ou a encontrar presas ... —Ela encolheu os ombros. — Meu avô prometeu que me ensinariam com o tempo, mas a prioridade era garantir que eu soubesse como sobreviver e soubesse as regras sobre alimentação. Depois disso, eles poderiam me ensinar a nossa história.
— As regras sobre alimentação? —Marcus perguntou, olhos atentos.
— Meu avô tinha regras, —explicou Divine e as listou: — Eu nunca deveria chamar a atenção para mim, meu povo ou o que somos. Quando me alimentar, sempre tratar meu doador com o respeito que merecem e nunca causar dor ou sofrimento. E nunca ir até o ponto onde pudesse prejudicar a saúde ou matar meu doador.
Marcus recostou-se, expressão pensativa. Depois de algum tempo assim, Divine perguntou: — Então, o que são os nanos? E o que a Atlantis tem a ver conosco?
Ele hesitou e disse: — Vou dar um resumo.
— Tudo bem, —disse ela.
— Atlantis é de onde nossos ancestrais vieram. Era um pouco isolado do resto do mundo e tecnologicamente avançado. Enquanto humanos fora de Atlantis ainda empunhavam lanças e dormiam ao redor de fogueiras, a tecnologia de nossos ancestrais estava além do que temos hoje. A saúde era uma das áreas mais desenvolvida. Seus cientistas se propuseram a inventar uma maneira de reparar o corpo humano internamente, para curar feridas e combater infecções sem a necessidade de cirurgia invasiva ou antibióticos. Nanos foi a resposta deles. Minúsculo ... —Marcus hesitou e então disse impotente: — Não sou cientista, não tenho certeza do que eles são exatamente. Eu sei que são parcialmente feitos de tecido humano ou sangue. Eles usam sangue para se impulsionar e se reproduzir, e foram programados como computadores, com a anatomia humana e tudo mais, e com a tarefa de manter seu hospedeiro em sua condição de saúde máxima.
Ela arqueou as sobrancelhas. — Então, a nossa necessidade de sangue é porque os nanos usam sangue para se reproduzirem?
— E para fazer reparos e combater infecções, etc. —disse Marcus. — Eles também consertam danos causados pelo sol, poluição, doenças, ferimentos, venenos, toxinas ... basicamente qualquer coisa. E aparentemente leva muito mais sangue do que podemos produzir para fazer tudo isso.
— Certo, —murmurou Divine. Ela considerou brevemente e depois disse: — Então, nós éramos humanos uma vez?
— Somos humanos, —ele corrigiu. — Não somos uma espécie diferente. Os nanos simplesmente nos tornam mais fortes, mais rápidos e capazes de viver mais.
— E as presas? —Ela perguntou.
— Ah, bem, veja, —Marcus fez uma careta e admitiu: — Eu acho que pulei uma parte.
— Tudo bem, —disse Divine pacientemente.
— Os nanos foram originalmente desenvolvidos como um tratamento de curto prazo. Eles deveriam ser injetados no hospedeiro, um ser humano doente ou ferido, onde curariam a ferida, ou cercariam e destruiriam as células virais da doença ou o que você tivesse. Uma vez que o trabalho fosse feito, os nanos foram programados para se destruírem e serem liberados pelo corpo. Mas, como se vê, o que os cientistas não levaram em conta foi que o corpo humano está constantemente sob o ataque do sol, da poluição e até do simples envelhecimento. Há sempre algo para reparar ou curar, então os nanos nunca se destruíram e foram descartados pelo corpo como esperado.
— Ah, —disse Divine lentamente. Isso fazia sentido.
— E então a Atlantis foi destruída. Quase todos os atlantes morreram naquele dia. Os únicos sobreviventes foram os que carregavam os nanos. Eles se arrastaram para fora das ruínas e sobre as montanhas e se juntaram a uma sociedade muito menos desenvolvida do que a sua terra natal. Enquanto eles tinham transfusões de sangue em Atlantis para ajudar a alimentar os nanos, aqui do lado de fora, essas transfusões não estavam mais disponíveis. Alguns sobreviventes morreram, mas em outros, os nanos seguiram sua programação para manter seu hospedeiro em sua condição máxima e basicamente forçaram a necessária evolução em nós para garantir que isso acontecesse. Eles tornaram os imortais mais fortes e mais rápidos, deram-lhes uma melhor visão noturna e a capacidade de ler e controlar as mentes de outros humanos, e eles nos deram presas. Cada habilidade extra ou força que nos deram foi para nos tornar mais capazes de caçar e se alimentar com sucesso de humanos mortais. Foi para que pudéssemos obter o sangue que precisávamos para garantir sua capacidade contínua de cumprir sua programação e nos manter em nossa condição máxima.
Divine balançou a cabeça lentamente e então perguntou: — Há mais alguma coisa que eu deveria saber?
Marcus franziu a testa e considerou brevemente, e então disse: — Eu acho que isso cobre o básico.
— Certo. Obrigada, —disse Divine, levantando-se.
— Certo, obrigada? —Marcus repetiu com descrença, pulando para a seguir quando ela levou seu prato para fora através da sala para a cozinha. — Só isso?
Parando na pia, Divine olhou por cima do ombro com surpresa. — Você estava esperando algo mais?
— Bem ... sim, —ele disse secamente quando ela abriu a porta do armário embaixo da pia e começou a raspar os restos de sua omelete no lixo.
— O que você estava esperando? —Divine perguntou curiosa quando ela fechou a porta e começou a lavar o prato na pia.
— Bem ... eu não sei, —ele admitiu com uma carranca. — Acho que a maioria das pessoas reagiriam com choque e surpresa ao descobrir a fonte dos nanos.
— Sério? —Ela perguntou, e considerou isso enquanto colocava seu prato e garfo na minúscula lavadora ao lado da pia. Vincent realmente gostava de luxos, pensou, e então se virou para Marcus e balançou a cabeça. — Eu suspeito que, se eles ficam chocados e surpresos, é mais pelo fato de descobrirem que os vampiros realmente existem, do que por sua origem científica. Eu já sabia sobre nós, só não sabia a mecânica do que nos fez assim, então não há nada para eu ficar chocada e surpresa.
— Ela provavelmente está certa, —comentou Tiny.
Marcus olhou para ele, depois de volta para ela, depois relaxou e sorriu ironicamente. — Sim. Ela provavelmente está.
Divine virou-se sorrindo para Tiny e Mirabeau, em seguida agradeceu-lhes: — Muito obrigada pelo café da manhã. Eu agradeço.
— Tiny fez todo o trabalho. Ele é o cozinheiro da família, —Mirabeau admitiu com um sorriso. — Tudo o que fiz foi fazer o café.
— E estava delicioso também, —assegurou Divine, e então hesitou antes de dizer: — Agora, suponho que é melhor que eu vá aliviar um pouco a Jackie.
— Na realidade ...
Divine tinha começado a se virar para a porta, mas parou naquelas palavras de Mirabeau. Voltando devagar, ela arqueou uma sobrancelha em questão.
— Nós organizamos um dia de passeio pelo Parque para vocês, —Mirabeau desabafou.
— O que? —Divine perguntou em uma meia risada.
— Bem, metade de um dia de passeio agora, —Tiny colocou ironicamente. — Uma noite de brincadeiras no parque, então.
Divine olhou para eles com perplexidade. — Uma noite de brincadeiras?
Tiny assentiu. — Entre uma coisa e outra vocês tiveram uns dias difíceis. Vocês dois. Então, nos reunimos com Jackie, Vincent e Madge e organizamos um dia de passeio pelos brinquedos no Parque para vocês. Madge nos deu esses passes para entregá-los. —Ele se virou e pegou dois passes em cima do balcão e os estendeu, ela olhou para eles com curiosidade enquanto Marcus os pegava. Eram passes VIP34, que permitiam passear em todos os brinquedos. — Jackie vai continuar com suas consultas, Vincent vai continuar no Tilt-A-Whirl, e vocês dois irão se divertir durante a noite.
Divine franziu a testa e começou a sacudir a cabeça.
— Oh, vamos lá, —Mirabeau repreendeu. — Aposto que você nunca passeou nesses brinquedos. Pelo que ouvi, você está sempre presa em uma longa fila de clientes do lado de fora, à espera de suas consultas. Madge diz que você os atende a partir do momento em que o Parque abre até geralmente vários minutos após o fechamento. Mas esta noite você terá a liberdade de ir onde quiser e fazer o que quiser. Você pode se divertir um pouco para variar.
Divine parou de sacudir a cabeça. O uso de Mirabeau da palavra presa chamou sua atenção, e o comentário sobre ser livre para ir onde ela queria e fazer o que queria também. Ambos a fizeram perceber que, se ela assumisse a consulta dos clientes, estaria presa dentro do trailer até o fechamento. Mas aceitar essa oferta lhe daria alguma liberdade. Ela não teria cinco babás assistindo-a, só teria Marcus, e com certeza seria mais fácil fugir de um do que de todos eles ao mesmo tempo? De repente, parecia uma boa ideia.
— Tudo bem, —ela disse finalmente. — Uma noite de brincadeira.
— Ótimo, —disse Mirabeau e, de repente, levantou uma garrafa de loção. — FPS 10035, —anunciou. — O sol ainda está alto e é melhor prevenir do que remediar. Felizmente, é spray, mais fácil de aplicar. Mas é melhor fazermos isso no quarto ou as maçãs vão ter gosto de loção.
— Tudo bem, —Divine disse ironicamente, e se virou para liderar o caminho para o quarto.
Capítulo 18
— Quem puxa a corda?
— Ela puxa, Marcus disse de uma vez e quando Divine olhou para ele com surpresa, ele acrescentou: — Bem, tenho certeza que não estou puxando. Odeio alturas. Se depender de mim vamos ficar sentados lá para sempre.
— Você não odeia alturas, —disse ela em uma risada enquanto as duas garotas colocavam seu equipamento de segurança para a queda no Bungee36. Divine e Marcus estiveram no Zipper37, no Yo-Yo38 e em todas os outros brinquedos altos disponíveis, e os dois riam enquanto todos os outros gritavam. Divine não sabia o que estava perdendo em nunca ter se importado com os brinquedos do Parque. Honestamente eles eram incríveis, excitantes, emocionantes, divertidos, muito divertidos. Ela estava aproveitando toda a noite, e Marcus também parecia estar gostando. Os dois tinham feito o Zipper três vezes, a terceira vez por insistência de Divine que se sentia como uma criança novamente, ou talvez pela primeira vez, já que não teve uma infância normal quando ela realmente era uma criança.
— Eu odeio alturas, —Marcus assegurou, rindo quando disse isso. — Quer dizer, sei que provavelmente sobreviveria a uma queda mesmo de alturas enormes, mas a cura ... —fez uma careta e balançou a cabeça.
— Bem, por que você não disse isso antes? —Ela disse com exasperação. — Nós não temos que ...
Suas palavras terminaram em um suspiro quando suas pernas foram subitamente varridas, deixando-as penduradas no ar.
— Certo, eu vou contar até três e depois dizer ‘puxe’. Quando eu disser puxe, você puxa a corda, Divine, —Kathy Walters instruiu, chamando sua atenção. — Quando eu disser puxe, você puxa. Entendeu?
— Sim, mas ... —Divine deixou suas palavras morrerem quando começaram a subir, puxados para trás e para cima pela corda que as garotas tinham anexado aos seus elásticos conectados ao corpo. Ela olhou para Marcus incerta. — Eu posso entrar na cabeça dela e fazer com que ela nos solte. Posso fazer isso agora.
Marcus apenas sorriu e balançou a cabeça, estendendo a mão esquerda para esfregar o braço esquerdo dela que estava encostado ao braço direito dele.
— Não. Estou contigo. Se você cair, cairemos juntos.
— Segurem com as mãos, —Kathy gritou de baixo. — Não larguem a barra.
Marcus sorriu ironicamente e voltou a apertar a barra com as mãos como Divine estava fazendo antes de murmurar: — Vamos apenas esperar que pousemos em segurança.
— Tenho certeza que sim, —disse Divine. — Eles nunca tiveram um acidente desde que entrei há dois anos.
— Então, o que você está dizendo é que pode acontecer um acidente.
— Não, —Divine riu. — Eu ...
— Um! —Kathy gritou de baixo.
— Oh, já chegamos no alto? —Perguntou Divine com surpresa, olhando ao redor. Sim, eles estavam bem altos.
— Dois!
— Oh, olha eu posso ver Vincent no Tilt-A-Whirl, —ela disse entusiasmada.
— Três!
— Sim, ele parece um inseto daqui. Qual altura estamos?
— Puxe!
Em vez de responder, Divine soltou sua mão tempo suficiente para puxar a corda e, em seguida, rapidamente agarrou a barra novamente quando eles de repente despencaram. Apesar de sua alegação de que ele não gostava de altura, Marcus riu com a cabeça jogada para trás quando eles caíram, mas Divine não se juntou a ele no começo. Durante os primeiros cinco segundos, parecia que eles iam se chocar no chão abaixo. Até que o cabo que os segurava se esticou e eles de repente se balançaram para cima e para baixo, seus estômagos seguindo o movimento, então ela começou a sorrir e depois a rir. Isso era uma loucura, uma loucura incrível!
Eles subiram e desceram mais três vezes antes que começassem a serem levados para baixo de volta para o chão. Kathy começou a gritar para eles puxarem uma corda que ela estava segurando em um poste.
— Ela está brincando? —Marcus perguntou com descrença. — Vamos acabar puxando-a e derrubando-a.
Divine encolheu os ombros e, confiando que a garota sabia o que estava fazendo, agarrou a corda presa enquanto eles voavam. Marcus pegou primeiro. Isso não os fez parar ou arrastar Kathy para fora de onde ela estava, em vez disso a corda que foi puxada mostrou que estava presa a uma corrente. Desceram muito devagar os dez a doze metros em que estavam e depois começaram a puxá-los de volta para a plataforma de decolagem.
— Bem, —disse Marcus e, em seguida, sorriu para ela. — Foi divertido. Quer fazer de novo?
Divine riu dele. — Eu pensei que você estava com medo de altura?
— Não tenho medo. Simplesmente não gosto dela, —ele corrigiu. — Mas há muitas coisas que eu não gostava ou que não me importava e de repente me parecem interessantes e divertidas.
— O mesmo aqui, —ela reconheceu, sua voz rouca enquanto pensava em algumas dessas coisas.
O braço de Marcus apertou o dela onde eles estavam ligados nos cotovelos e ele a puxou para mais perto, seu rosto se movendo. Ela sabia que ele ia beijá-la e fechou os olhos quando seu corpo começou a formigar com a ideia e então ela os piscou abrindo-os novamente em surpresa quando de repente pararam.
— Como foi? —Perguntou Kathy próxima ao seu ouvido, e Divine tirou os olhos de Marcus e olhou ao redor para ver que Kathy e o greenie que trabalhavam com ela haviam os capturado e os posicionado sobre a plataforma. Enquanto isso, a parte de trás do cinto foi solta e os dois voltaram a ficar em pé novamente.
— Foi ótimo, —disse Divine com um sorriso enquanto as meninas trabalhavam para desengatá-los.
— Quer fazer isso de novo? —Kathy perguntou, parando para soltá-los.
— É com você, —disse Marcus quando ela olhou em sua direção. — Eu vou se você for.
Divine hesitou, mas depois olhou para a fila de espera que as garotas tinham. — Não. Obrigada, Kathy, mas você tem um monte de gente esperando. Além disso, estou com fome.
— Sim, eu também estou, —anunciou Marcus, enquanto as meninas continuavam a soltá-los. — Podemos fazer isso novamente mais tarde, se você quiser.
— Venha quando estivermos fechando, —sugeriu Kathy. — Muitos de nós se revezam no brinquedo depois que o Parque termina.
— Parece bom, —disse Marcus, saindo de seu equipamento de segurança. Ele então se virou para segurar as mãos de Divine enquanto ela saía do dela e deslizou o braço ao redor de sua cintura para levá-la embora. — O que você sente vontade de comer?
— Eu não tenho ideia, —disse Divine divertida. — Essa omelete esta manhã e a torta da noite passada são as únicas coisas que eu comi em milênios.
— Eu também, —ele reconheceu, e então deixou a mão cair da cintura dela para pegar os dedos da sua mão e disse: — Vamos lá. Tenho uma ideia.
Ela seguiu, surpresa quando ele os levou de volta para os trailers. Ele soltou a mão dela, depois disse: — Espere aqui, —e entrou.
Divine olhou para o trailer por um momento antes que de repente lhe ocorresse que esta era sua chance. Estava sozinha. Poderia escapar agora, ir a algum lugar e começar sua nova vida ... sozinha. Novamente.
Ela deixou que esse pensamento se estabelecesse em sua cabeça, mas não conseguia parar de se perguntar por que isso não era atraente. Estava se divertindo com Marcus. Eles não conversaram muito ou tiveram conversas longas e profundas, na maior parte do tempo correram de brinquedo a brinquedo, rindo como crianças e basicamente se divertindo. Eles haviam contado piadas ou comentado sobre as coisas que viam. Uma mãe que gritara com uma criança chorando por deixar cair o sorvete irritou os dois. As crianças deixavam as coisas caírem, era normal e os acidentes aconteciam. A criança já estava chateada por ter perdido o sorvete e a mãe estava lá gritando e chamando o menino de estúpido, desajeitado e inútil, essa situação os incomodou. Marcus deslizou para a mente da mãe e deu a ela um ajuste de atitude, isso fez Divine sorrir. Ela sabia que não duraria muito, mas o sorriso do garoto como a mãe que de repente o abraçou e disse que o amava, que os acidentes acontecem e que ele era um bom menino e ela lhe compraria um outro sorvete ... bem, pelo menos ele teria uma boa noite no Parque para lembrar quando crescesse.
Ambos sorriram quando viram dois adolescentes gordinhos se pegando na roda-gigante enquanto passavam. O casal era tão bonitinho e foi Marcus quem notou que Carl deixou a cadeira deles passar sem fazê-los sair.
— Nosso Carl é um velho romântico, —Divine disse a ele com diversão quando ele comentou. — Ele vai deixá-los ir duas ou três vezes antes de terminar o passeio.
Eles sorriram e riram de várias coisas desde que saíram para a noite de brincadeiras, três horas atrás, e Divine gostou de todos os momentos. Havia reunido memórias que poderia se agarrar e lembrar nos próximos anos, disse a si mesma. Mas agora o tempo de brincadeiras acabou. Tinha que ir.
Suspirando, se virou e começou a andar em volta do trailer, com a intenção de deslizar para o lado oposto e alcançar o estacionamento dos fundos, em vez de arriscar que Marcus saísse e a visse escorregando entre os dois veículos. Estava prestes a virar do outro lado e ir para o estacionamento quando Marcus de repente disse: — Você não está tentando fugir de mim, não é?
Divine virou-se rapidamente para vê-lo correndo em direção a ela, um sorriso no rosto que parecia um pouco preocupado e até mesmo forçado. Administrando um sorriso próprio, ela balançou a cabeça. — Só pensei que eu ... —Olhou ao redor em busca de uma desculpa, e terminou, — poderia testar minha mão no jogo de balão enquanto esperava você.
Marcus olhou para o jogo alguns metros à frente e depois pegou a mão dela. — Nós dois vamos tentar antes de irmos.
— Irmos? —Divine perguntou com uma carranca. — Para onde?
— Você vai ver, —disse Marcus, apertando a mão dela. — É uma surpresa.
Divine franziu a testa enquanto eles chegavam na barraca do balão. Marcus deu os ingressos para o responsável pelo jogo e ele os entregou os dardos que começaram a jogá-los nos balões. Ela sempre considerou que tinha uma boa mira, e ela tinha, mas os balões não estavam estourando e os dardos às vezes apenas ricocheteavam até que ela começou a colocar mais força no arremesso. Marcus não errou um único balão com seus dardos, e ele era rápido. Ele estava brincando em sua terceira rodada de dardos no momento em que ela terminou seu primeiro. Ela desistiu e ficou observando e esperando que Marcus acabasse. Divine não percebeu que ele estava tentando ganhar uma premiação até que de repente ele parou e se aproximou do rapaz do jogo, que acenou com a cabeça, virou-se e pegou um ursinho marrom com o coração na barriga e entregou-o.
Marcus se virou e ofereceu a ela imediatamente. — Para você.
Divine olhou para o presente e então lentamente o pegou. Ela não podia dizer quantas vezes testemunhou essa cena, ou algo parecido no meio do Parque, um homem ganhando um prêmio para sua garota. Sempre achou doce e sentia uma pontada de inveja.
Agora ela tinha seu próprio prêmio, ganho para ela por Marcus.
— Nós vamos encontrar alguém para bordar 'Marcus e Basha' nele quando fizermos um ano juntos, —ele anunciou com um sorriso torto, e quando ela corou, pegou a mão dela e levou-a ao longo do meio do Parque.
Eles estavam indo pelos portões do estacionamento quando Divine de repente registrou o que ele disse. Ela parou abruptamente, certa de que estava pálida como um lençol. Certamente parecia que todo o sangue havia deixado seu rosto.
— O que foi? —Marcus perguntou com preocupação quando ele olhou ao redor e viu sua expressão.
— Marcus e Basha? —Ela perguntou, tentando não entrar em pânico.
Ele assentiu. — Vincent, Jackie, Tiny e Mirabeau podem ler você, Divine. Eles podem ler nós dois. Mas Mirabeau foi a primeira a pegar seu nome verdadeiro, Basha.
Ela tentou puxar a mão dela, mas ele a segurou rapidamente.
— Eu sei que Madge tem sua moto e você planeja fugir, mas eu não posso deixar fazer isso, —ele disse baixinho, e então pegou a outra mão quando ela balançou para ele e tentou chutá-lo, ele virou-a abruptamente e a pressionou contra a lateral de uma van que estava perto deles. — Eu não posso permitir isso porque não há espaço para mim na moto e eu vou com você.
— O que? —Perguntou Divine ainda com descrença.
— Você é minha companheira de vida, Basha ...
— Não me chame assim, —ela o interrompeu bruscamente.
— Tudo bem, —ele disse pacientemente, — Então você é minha companheira de vida, Divine, —Marcus corrigiu solenemente e depois acrescentou: — Onde você vai, eu vou. Seu futuro é meu futuro. Seu destino é o meu. —Soltando suas mãos, ele segurou seu rosto suavemente e sussurrou: —Eu estou fugindo com você. Essa é a surpresa. Peguei emprestado o SUV de Tiny e Mirabeau. Eles acham que vou levar você para jantar, e eu vou, mas nós estamos fugindo juntos também. Podemos ir para a Itália. Minha família é poderosa. Eles podem protegê-la de Lucian, se necessário. Ou podemos ir para outro lugar se você quiser. Mas você não vai sozinha.
Divine olhou para ele com os olhos arregalados por um momento. Em todos os cenários que ela imaginou com Marcus, nem uma vez ousou imaginar isso. Por um momento, pareceu que ela segurava o anel de noivado na mão, mas então sua consciência entrou em ação. O estaria condenando à vida como um cigano, sempre se movendo, nunca mais em casa. E ela estaria sentenciando-o a uma vida sem filhos também, porque nunca traria outra criança para esse tipo de vida. Não podia fazer isso com um bebê inocente, e não podia fazer isso com Marcus também. Ninguém deveria ter que viver a vida que ela vivia, sempre correndo e se escondendo, sempre olhando por cima do ombro, sempre com medo.
Suspirando, Divine baixou a cabeça e sacudiu tristemente. — Isso é doce, Marcus. Mas eu não posso pedir para você fazer isso.
— Você não está pedindo, —Marcus disse, pegando a mão dela e puxando-a para longe da van conduzindo-a através do estacionamento antes de adicionar, — eu estou dizendo a você como vai ser. Esperei dois mil e quinhentos anos por uma companheira de vida, Divine. Não vou deixar você escapar agora.
— Você não sabe o que está dizendo, —ela disse baixinho. — Você nem sabe quem eu sou.
— Acabei de lhe dizer quem você é há alguns minutos atrás, Basha Argeneau, lembra-se? —Disse secamente, parando ao lado de um SUV. Ele abriu a porta para ela entrar.
Divine parou ao lado dele e encarou-o severamente. — Eu sou uma desonesta.
— Você pode possivelmente ser uma desonesta, —corrigiu Marcus com firmeza. — Não acho que você seja. Mas ... —ele adicionou rapidamente quando ela começou a falar, — se você for, deve ter tido uma boa razão para o que fez, ou estava confusa, ou ... qualquer coisa, —ele terminou dizendo baixinho e então balançou a cabeça e disse com mais firmeza: — Seja o que for, nós vamos lidar com isso.
— Marcus, eu ...
— Lucian chega aqui esta noite, —ele interrompeu, empurrando-a para baixo. — Eu não tenho certeza a que horas ele vai chegar, mas preferia que já tivéssemos ido antes da sua chegada. Você pode me dizer tudo o que quiser e precisar. Eu quero ouvir isso, só não aqui e nem agora. Tudo bem, por favor? Basta entrar no SUV. Vamos jantar e você pode me dizer o que quiser.
Divine hesitou mais um momento, mas então entrou no SUV. Lucian era um velho bicho-papão para ela, evitá-lo era prioridade número um. Ela permaneceu em silêncio enquanto Marcus andou e sentou no banco do motorista, mas uma vez que ele ligou o motor e os guiou para fora do estacionamento e para a estrada, ela disse: — Esta não é uma conversa que deveríamos ter em um lugar público.
— Tudo bem, —Marcus disse calmamente. — Onde então?
Divine hesitou brevemente, considerando suas opções. Um hotel funcionaria, mas ela queria estar em algum lugar movimentado, cheio de gente. Isso a ajudaria a escapar rapidamente e em silêncio. — A que distância estamos de Vegas?
— Um pouco mais de duas horas, eu acho, —Marcus disse calmamente. — Você quer ir para lá?
— Sim, por favor, —murmurou Divine, tentando fazer planos e mais planos de fuga em sua cabeça. Não havia nenhuma chance que ela estava deixando Marcus jogar fora sua vida para estar com ela, e a única maneira de parar isso era dizendo-lhe tudo. Uma vez que ele soubesse a verdade, ele não iria querer nada com ela, tinha certeza. O problema era que ele poderia querer entregá-la a Lucian para se redimir. Precisava de um plano para evitar isso. Por mais deprimente que o futuro lhe parecesse sem Marcus, ainda não era uma suicida.
— Vegas então, —disse Marcus, relaxando em seu assento. — Vai ser útil, na verdade. Podemos conversar, resolver as coisas, visitar uma dessas pequenas capelas e nos casar enquanto estivermos na cidade.
Divine piscou quando essas palavras a atingiram, e então simplesmente fechou os olhos. O homem poderia até saber quem ela era, mas ele não aceitaria o que ela fez. Ele estaria cantando uma música diferente quando soubesse a verdade.
Capítulo 19
— Por que o Luxor39? —Marcus perguntou quando ele destrancou a porta do quarto e a conduziu para dentro. — Não é exatamente a melhor opção aqui.
— É por isso, —disse Divine, parecendo divertida quando olhou ao redor da sala e, em seguida, mudou-se para o banheiro para dar uma olhada.
Marcus também olhou ao redor e conseguiu não enrugar o nariz. O quarto estava precisando de renovação. O carpete estava gasto, a mobília também, e o papel de parede tinha que ter uns bons trinta anos. Se este era o estado dos quartos, ele não tinha certeza se queria experimentar a comida.
— Eu escolhi porque, apesar de estar perto da Strip40, é menos movimentado —explicou Divine, saindo do banheiro. — E isso me lembra da minha juventude.
Ele arqueou uma sobrancelha para isso. O Luxor era uma enorme pirâmide com uma recriação de trinta e quatro metros da Grande Esfinge de Gizé. — Você esteve no Egito durante a sua juventude? Seus pais moravam no Egito?
Divine sorriu com a pergunta. — Juventude é um termo relativo. Acho que eu tinha duzentos anos, talvez quase trezentos quando acompanhei os persas de lá.
Marcus arqueou as sobrancelhas. — Os persas conquistaram o Egito, não foi?
— Exatamente, —ela concordou secamente.
— Hummm. —Ele observou-a atravessar a sala, pegar um fichário na mesa e abri-lo para olhar seu conteúdo. No caminho pararam em uma cafeteria, compraram alguns donuts e cafés que comeram durante a viajem até aqui, mas ele estava faminto agora. Parecia que ela também.
— Este cardápio de serviço de quarto ... —Divine franziu a testa e balançou a cabeça. — Também poderia ser em grego que daria no mesmo para mim. O que são asas de frango Buffalo41? Existem galinhas búfalos? Eu pensei que búfalos eram bois selvagens ou vacas ou algo assim.
— Eu também, —disse Marcus com um encolher de ombros. — Poderíamos ignorar o cardápio e pedir pizza para ser entregue aqui. Dante e Tomasso parecem realmente gostar disso e pedem o tempo todo.
— Eles entregariam a um quarto de hotel? —Ela perguntou com interesse.
— Por que não? —Marcus disse e pegou o celular que Vincent lhe emprestara. Rapidamente procurou entrega de pizza em Las Vegas. Encontrou um perto do hotel, olhou o cardápio e franziu os lábios.
— Algum problema? —Perguntou Divine, fechando o fichário do cardápio.
Marcus sacudiu a cabeça. — Eu não tenho certeza que tipo de pizza é boa. Os garotos geralmente pedem algo que eles chamam de carnívora ou algo assim ... ah, bom, eles têm uma aqui, pizza de amantes da carne que deve ser parecido com o que os meninos pedem. Tem calabresa, salsicha, bacon e almôndegas, —ele leu, e olhou para ela questionando. — Essa está boa para você?
— Parece bom, —disse Divine e levantou-se para ir ao banheiro. — Vou tomar um banho rápido enquanto você faz o pedido.
— Fique à vontade, —Marcus murmurou, distraído por digitar o número do telefone do restaurante de memória. — Geralmente, leva um tempo para as pizzas chegarem após a encomenda. Em qualquer lugar no Canadá de meia hora a uma hora.
— Certo.
Ele ouviu a porta fechar, mas sua atenção estava no telefonema que estava dando. Não foi até que terminou a encomenda e desligou o telefone que Marcus percebeu que Divine estava tomando banho. Ele podia ouvir a água correr e supôs que ela estava tirando sua ...
Percebendo que ele de alguma forma atravessou a sala e que a mão dele agora estava na maçaneta da porta do banheiro, Marcus se conteve. Ela queria um banho. Se quisesse outra coisa, não estaria debaixo do chuveiro, estaria se despindo aqui na frente dele.
Ele não podia culpá-la por querer um banho, Marcus pensou quando se afastou da porta. Embora deveria estar por volta dos 32 graus, quando começaram a brincar nos brinquedos lá pelo início da noite, tinha esfriado um pouco quando a noite progrediu, mas ainda assim o clima estava quente e úmido em seus 27 graus quando terminaram o passeio no Parque. Sentia a necessidade de um banho e suas roupas estavam sujas e suadas, Marcus notou, franzindo o nariz enquanto levantava um braço e cheirava a si mesmo.
Definitivamente precisava de uma muda de roupa, e Divine, sem dúvida, apreciaria roupas limpas quando saísse do banho também, pensou Marcus, e se dirigiu para a porta.
O plano era que ele simplesmente saísse rapidamente e encontrasse algumas coisas, então voltaria logo para o quarto. Não acabou sendo assim. Divine era o problema. Marcus não tinha certeza do tamanho de suas roupas nem do que ela gostava. Não era como se as roupas ciganas fossem fáceis de encontrar nas lojas de presentes do hotel.
Na verdade, enquanto havia muitas camisetas, jaquetas, etc. com o logotipo da Luxor nelas, não havia muito de calças ou saias. Não que ele pensasse que Divine iria querer andar por aí com ‘Luxor’ na bunda dela.
No final, Marcus pediu ao recepcionista uma sugestão de algum lugar próximo para fazer compras e, em seguida, pegou um táxi em frente ao hotel para o lugar que o cara sugeriu. O que se seguiu foram vários momentos de pânico, talvez até meia hora, de pegar e descartar itens até que ele juntou um monte de roupas e correu para o caixa. Precisava voltar a tempo para receber a pizza.
Marcus não tinha certeza se Divine tinha algum dinheiro com ela, ou se estaria fora da banheira para atender a porta.
Estava sobrecarregado com meia dúzia de sacolas cheias de roupas quando voltou para o Luxor. Marcus se apressou para os elevadores, consciente do tempo que passava e com medo de ter perdido a entrega das pizzas. Com essa preocupação em mente, correu quando viu que um dos elevadores que ficava no térreo estava fechando as suas portas. Mesmo assim, não teria conseguido se o jovem dentro, o único ocupante, não tivesse agarrado a porta para impedi-la de fechar.
— Obrigado, —Marcus murmurou com alívio quando ele deslizou para dentro.
— Sem problemas, —o jovem disse com facilidade, enquanto Marcus olhava para os botões numerados na parede.
Encontrando o botão para o andar do quarto que ele dividia com Divine, Marcus notou que já havia sido apertado e soltou um pequeno suspiro quando se encostou na parede para a subida. Ele mal fez isso quando os aromas no elevador chamaram sua atenção de volta para seu companheiro.
O garoto que havia segurado a porta para ele sorriu e acenou com a cabeça quando o olhar de Marcus se concentrou no grande pacote solitário e plano que ele carregava em uma mão erguida como um garçom carregando uma bandeja.
— Cheira bem, né? —Perguntou o sujeito.
— Sim, —Marcus concordou e relaxou completamente enquanto lia o número do quarto no recibo de vendas colado no topo do pacote de seis latinhas de Coca-Cola na outra mão do cara. Ele não perdeu a entrega. Era isso. Marcus não disse nada para o entregador, porém, simplesmente andou com ele, saiu e seguiu pelo corredor, ciente de que o garoto estava o seguindo.
— Mesmo número, —o garoto disse com uma risada quando Marcus parou para destrancar a porta do quarto.
— Sim, —Marcus concordou. — Eu estava com medo de não voltar a tempo. Ainda bem que você segurou a porta do elevador para mim. Obrigado novamente por isso.
— Não há de que. Me salvou uma viagem perdida, —ele disse com diversão, avançando quando Marcus gesticulou para ele o seguir. O garoto não entrou até o quarto, mas parou na entrada, seu corpo mantendo a porta aberta enquanto esperava que Marcus largasse todas as suas sacolas e pegasse sua carteira para pagá-lo.
Marcus deu a ele uma gorjeta de bom tamanho, pegou a pizza e o refrigerante desejou boa noite ao garoto, então deixou a porta se fechar e se virou no quarto assim que Divine saiu do banheiro. Seu cabelo estava úmido e penteado para trás da cabeça, e ela usava um roupão do hotel. Parecia iluminada, limpa e sexy como o inferno no roupão enorme e por um minuto Marcus pensou em deixar a pizza até mais tarde e ...
— Mmmm, isso cheira delicioso, —disse Divine, sorrindo amplamente.
— Certo, —Marcus murmurou, e balançou a cabeça. Comida primeiro, disse a si mesmo com firmeza e levou a pizza e Coca-Cola para a pequena mesa redonda entre duas cadeiras. Colocando-os lá, então pegou um balde de gelo e se dirigiu para a porta. — Você vai em frente e começa a comer. Vou pegar um pouco de gelo para nós.
Marcus não esperou por uma resposta, mas saiu apressado. Ele viu uma máquina de gelo no caminho do corredor e apressou-se até lá para encher o balde. Quando voltou, Divine tinha encontrado pequenos pacotes embalados com uma colher, açúcar, adoçante creme e guardanapos neles. Ela abriu dois e tirou os guardanapos para eles usarem. Também pegou os dois copos do balcão e colocou-os em ambos os lados da caixa de pizza na mesa.
— Vá em frente e comece, eu vou lavar minhas mãos, —disse Marcus, colocando o balde na mesa e indo para o banheiro.
O quarto ainda estava um pouco vaporoso de seu banho e cheirava bem a xampu e sabonete, notou enquanto caminhava até a pia. Ligou a torneira, mas um olhar para si mesmo e Marcus fez uma careta. Estava imundo. Não sabia como, tudo o que fizeram foi caminhar naquele Parque e depois dirigir por algumas horas, mas estava coberto com um pó fino de terra, e havia marcas de caminhos através dele de onde o suor tinha corrido.
Desligando a torneira, se virou para o chuveiro e o ligou, e então rapidamente se despiu. Foi possivelmente o banho mais rápido de todos os tempos. Não poderia ter passado mais do que cinco minutos que tinha entrado no banheiro, e saiu de lá com uma toalha enrolada na cintura.
— Há outro roupão no armário, —Divine anunciou ao vê-lo, e Marcus parou para encontrar o roupão, e então o colocou sobre a toalha.
— Sente-se melhor? —Divine perguntou quando ele se juntou a ela.
— Sim. Me desculpe por isso, —Marcus disse enquanto se acomodava em sua cadeira e notou que ela colocara gelo nos dois copos e servira a ambos ... mas a caixa de pizza ainda estava fechada. — Você não tinha que esperar.
Divine deu de ombros. — Eu só terminei de servir o refrigerante um minuto atrás. Estava me perguntando se eu deveria começar sem você quando ouvi a água desligar, então esperei.
— Bem, obrigado por me servir o refrigerante, —Marcus murmurou, e abriu a caixa de pizza e, em seguida, olhou ao redor com uma careta.
— Nenhum prato. Não pensei nisso. Acho que vamos ter que comer com a mão. Os garotos fazem isso às vezes.
— O Dante e Tomasso que você mencionou que gostam de pizza? —Divine perguntou com diversão, pegando um pedaço de pizza.
— Sim. —Marcus sorriu suavemente enquanto pegava uma fatia para si também. — Eles não são os únicos que gostam de pizza. Na verdade, não consigo pensar em ninguém da família que come comida normal que não gosta de pizza.
— Então tem que ser bom, —disse Divine, levantando o pedaço à boca, mas apenas cheirando. — Cheira bem.
Marcus deu uma mordida na fatia e parou, saboreando os vários sabores que atacaram sua língua.
— Bom? —Divine perguntou curiosamente. Quando ele gemeu alto de prazer e assentiu, ela finalmente deu uma mordida. Seus olhos imediatamente se arregalaram. Depois de mastigar e engolir, ela disse: — Ah sim. É bom.
Foi a última coisa que os dois disseram por vários minutos enquanto se concentravam comendo. Marcus não tinha certeza de qual tamanho pedir. Dante e Tomasso podiam comer uma grande cada um, mas Christian e Carol tendiam a pedir apenas uma grande, então foi isso que ele pediu, uma grande para eles compartilharem. No entanto, uma vez que ele e Divine ainda eram novos nessa coisa de comer seus estômagos não aguentaram muito e uma grande foi demais para os dois. Ele conseguiu comer duas fatias, Divine só comeu uma. Deixaram a maior parte da pizza ainda na caixa.
Marcus fechou a caixa da pizza com pesar, se perguntando se ficaria boa para um lanche mais tarde, depois se sentou com um suspiro satisfeito e olhou para Divine. Ela estava enrolada na cadeira oposta, parecendo relaxada e bebendo sua bebida. Seu olhar deslizou lentamente sobre ela no roupão. Era grande, branco e fofo. Ele também se abriu acima dos joelhos, deixando as pernas dela em exibição. Marcus não pôde deixar de pensar que ela tinha os pés mais bonitos que já tinha visto. Ele queria beijar cada um dos dedos dos pés e brincar de ‘Esse porquinho foi ao mercado42’, e quando ele chegasse ‘Esse porquinho foi embora para casa’, ele faria cócegas em suas pernas e ...
— Você tem o sorriso muito estranho em seu rosto, —disse Divine de repente. — O que você está pensando?
Marcus piscou e então se sentou abruptamente. Sexualmente, ele queria Divine como um louco, mas mais do que isso, ele a queria em sua vida. Tinha que descobrir se ela era desonesta e, em caso afirmativo, por quê. Precisava desse conhecimento para encontrar uma maneira de mantê-la segura. Então, em vez de responder, ele disse: — Conte-me sobre sua família.
Divine parou, cautela cruzando o rosto: — Minha família? Eu te falei sobre minha família.
— Sim, você falou, mas ... —Pausando, ele se inclinou para frente e disse: — Divine, a Basha que Lucian está procurando é a mãe de Leonius Livius.
— Sua mãe? —Ela perguntou com um sobressalto. — Eu não achei que ela estivesse viva. Pensei que tivesse morrido muito antes dele. —E então, com um repentino alarme, Divine perguntou: —Ele está morto, não está? Disseram-me que ele morreu durante a guerra entre os Imortais e os Sem Presas.
— Leonius Livius I está morto, —Marcus assegurou, observando a maneira como ela empalideceu. — Estou falando de Leonius Livius II.
Ela se chocou como se ele tivesse lhe dado uma bofetada. — Há outro?
— Sim, —disse ele suavemente, preocupado com o seu óbvio choque. — Aparentemente, um filho escapou durante a guerra dos Imortais e Sem Presas. —Seus olhos se estreitaram quando de repente ela pareceu parar de respirar.
Depois de um momento, ela soltou o ar e disse amargamente: — Então, um de seus filhos sobreviveu e vocês o chama de Leonius Livius II. —Antes que Marcus pudesse responder, ela perguntou bruscamente: — Por quê? Porque ele é filho do pai dele?
— Não, porque é o que ele chama a si mesmo, —Marcus disse pacientemente e depois explicou: — Ele se auto denomina de Leonius Livius II e nomeou todos os seus filhos Leonius também. Eles se titulam por números embora. O vigésimo primeiro, chamava-se Leonius Livius XXI, o décimo terceiro, Leonius Livius XII, e os outros que os Caçadores de desonestos pegaram, todos se auto titulavam com um número. Exceto Ernie, —acrescentou com uma carranca.
— Ernie? —Perguntou Divine bruscamente.
— Outro filho dele, mas um Imortal, em vez de um Sem Presas, —explicou Marcus. — Por alguma razão, ele foi nomeado Ernie em vez de Leonius ... talvez porque ele fosse Imortal em vez de um Sem Presas, —Marcus pensou em voz alta e considerou isso brevemente antes de balançar a cabeça. — De qualquer forma, estou saindo do tópico principal. O ponto é que Leonius foi capturado há dois anos e uma mulher aparentemente o levou embora, e aquela mulher de acordo com Mirabeau parece com você, mas com cabelos loiros. E então Ernie e essa garota chamada Dee foram capturados, e de Dee eles conseguiram a informação sobre uma loira chamada Basha que era a mãe de Leo.
Divine se levantou e começou a atravessar a sala lentamente.
Marcus franziu a testa e disse: — Agora sabemos que o nome do seu filho é Damian, então você não pode ser a Basha que é a mãe de Leonius. E Jackie disse que você era uma vítima de Leonius. Mas Mirabeau disse que ainda havia algo em seus pensamentos sobre você ser desonesta ou indesejada. Então apenas me diga por que você acha que seria ... —Ele parou abruptamente, quase engolindo a língua quando Divine parou de repente ao lado da cama, virou-se para encará-lo com o roupão desfeito, e encolheu os ombros. Tudo o que Marcus pôde fazer foi sentar e ficar boquiaberto quando o roupão bateu no chão e se acumulou em volta dos pés descalços.
Ele engoliu em seco, abriu a boca para falar e então fechou a boca novamente, sem saber o que ele estava prestes a dizer. O que eles estavam falando?
Afastando-se, Divine subiu na cama, rastejou até o centro em suas mãos e joelhos, e então se moveu para se deitar, pernas juntas, joelhos levantados, pés e palmas na cama, braços um pouco para trás, segurando-a na vertical em um ângulo que empurrava seus seios para o ar. Era a pose mais sexy que ele já tinha visto, ou talvez fosse apenas a mulher. Marcus não sabia o que e não se importava, sem realmente dar ao seu corpo a ordem de se mover, ele se viu de pé ao lado da cama.
Decepção escorregou por Marcus quando Divine imediatamente se moveu para se sentar na beira da cama em frente a ele, mas isso acabou quando ela estendeu a mão, tirou o roupão dele, e então abriu-o. Sua ereção, que surgira no momento em que seu roupão caíra, saltou para o alto sem o pesado pano felpudo para segurá-lo e quase a cutucou nos olhos. Divine ignorou esse detalhe e simplesmente o pegou em sua mão.
Marcus respirou fundo, fechando os olhos enquanto a mão fria fechava em torno de seu membro quente. Seus olhos se abriram novamente, porém, em um grunhido chocado quando sua boca quente e úmida de repente se fechou ao redor dele. Oh querido Deus, não, Marcus pensou. Isso era demais, rápido demais. Ele perderia o controle e ... oh inferno, ele pensou quando suas mãos alcançaram sua cabeça, seus dedos emaranhando em seu cabelo seco. Ela parecia saber exatamente quanta pressão exercer, como mexer com a língua, quando chupar com força e quando aliviar. Era como se ela fosse psíquica.
Ou um companheiro de vida experimentando o que ele estava sentido, Marcus percebeu como seu prazer parecia crescer dentro dele em ondas que rolavam para fora, pareciam reunir vapor, rolou de volta para reunir mais e rolou para fora novamente.
Gemeu quando uma onda particularmente forte de paixão o atingiu, e ouviu o gemido de resposta de Divine, e então, quando ele alcançou e começou a cair sobre a borda daquele penhasco que seu prazer havia construído, estava de repente sozinho. Era como se eles estivessem de volta naquele passeio de bungee, estavam juntos, mas quando ela puxou a corda, ele foi subitamente afastado dela, caindo sozinho. Marcus instintivamente tentou impedir sua própria queda, mas não conseguiu, e se viu desmoronando indefeso no abismo onde a escuridão se fechava sobre ele.
Capítulo 20
Divine se endireitou com um pequeno suspiro, e então parou para contemplar o homem que acabara de amarrar na cama. O cinto do roupão e os jeans rasgados que ela usou para amarrar Marcus não durariam muito tempo, mas não eram para durar mesmo. Não queria deixá-lo aqui desamparado até que o serviço de quarto viesse para ver por que ele não tinha saído, ela só queria impedi-lo de segui-la rapidamente se ele acordasse antes do esperado.
Infelizmente, ela meio que se atrapalhou com o plano. Divine tinha pensado mais cedo em tentar isolar sua mente da dele, por um ou dois segundos antes que o ápice da paixão envolvesse os dois, mas perdeu completamente o controle. Em vez de permanecer consciente, como esperava, acabara desmaiando com ele. Ou talvez esse plano já estava perdido desde o começo. Divine nunca teve a experiência do sexo de companheiros de vida antes, então não tinha certeza de que se desligar da mente de Marcus no último minuto impediria o negócio de desmaiar. Felizmente, mesmo que tenha desmaiado com ele, acordou primeiro. Daí a razão pela qual conseguiu amarrá-lo a cama.
Virando-se, foi em direção as sacolas que Marcus tinha trazido de volta de suas compras, e mexeu nelas novamente. Ela já havia mexido antes uma vez em busca de algo para amarrá-lo, agora Divine procurava roupas limpas. Observou que ele comprou roupas para os dois. Rapidamente pegou um par de jeans e uma camiseta e os vestiu, olhando para si mesma com uma careta.
Divine normalmente usava vestidos e saias. Na verdade, nunca usava calças, então não tinha certeza de como elas ficariam em seu corpo, mas certamente não se sentia confortável em comparação com os trajes ciganos que usava nos últimos cem anos. Os jeans eram justos, mal alcançando sua cintura em cima ou suas panturrilhas na parte de baixo. Quanto à camiseta, bem, isso tinha um problema semelhante. Era justa do pescoço a cintura, mal alcançando o topo da calça jeans, as mangas paravam logo depois dos cotovelos. Se ela não tivesse visto mulheres jovens vestindo roupas semelhantes no Parque, teria pensado que Marcus as comprou por engano na seção infantil ou algo assim.
Sacudindo a cabeça, Divine olhou para as sacolas, considerando encontrar alguma outra coisa para vestir, mas rapidamente mudou de ideia. Não sabia quanto tempo tinha antes que ele acordasse. Era melhor só sair enquanto podia, pensou Divine, e dirigiu-se para a porta.
Estava quase fora da porta quando se lembrou de que precisaria das chaves do SUV. Voltando, Divine deixou a porta novamente e rapidamente procurou na sala as chaves de Marcus, até que se lembrou do banho que ele tomou e foi procurar no banheiro.
Seus jeans estavam no chão do banheiro, e um rápido revirar nos bolsos achou a chave.
Suspirando com alívio, Divine correu para fora do banheiro, se dirigiu para a porta novamente. Porém, só chegou a apertar a maçaneta antes de ser parada novamente. Desta vez, Marcus murmurou: — Que diabos?
Parando, olhou para trás quando viu ele voltar sua atenção nas mãos amarradas por ela e disse com confusão: — Divine?
— É melhor assim, Marcus, —ela disse rapidamente. — Você não quer desistir de tudo e de todos que conhece por mim.
— Não me diga o que eu quero. Eu ... espere! —Ele gritou quando ela abriu a porta.
Divine hesitou e isso foi seu erro.
— Pelo menos me dê uma explicação. Me deve uma, não acha? Você é minha companheira de vida, Divine. Apenas me ajude a entender. Isso é tudo que eu peço.
Divine mordeu o lábio e olhou por um momento para a maçaneta que estava segurando, tentando ir embora. Mas sua mente vomitava várias razões para não ir. Uma delas era que ela tinha suas próprias perguntas que precisavam de respostas. Suspirando, fechou a porta e se virou, franzindo a testa quando viu que ele estava olhando para os laços em suas mãos com intenção de se soltar.
— Só se você prometer não tentar se libertar até que eu vá embora, —ela disse bruscamente.
Marcus desviou o olhar para ela, hesitou pela contagem de talvez dez segundos, e então relaxou de volta na cama. Olhando para o teto, ele disse: — Tudo bem. Nós faremos isso do seu jeito.
Divine respirou um pouco aliviada e depois ficou ali por um momento antes de admitir: — Eu não sei por onde começar.
— O começo é ... —Ele levantou a cabeça para vê-la enquanto falava, mas fez uma pausa para perguntar: — Posso pelo menos me sentar para essa conversa sem você sair correndo pela porta? Por favor? —Marcus acrescentou secamente.
— Oh, sim, claro, —ela disse, seguindo em frente. — Você precisa de ajuda?
Desde que ele já estava sentado na posição vertical, com as mãos amarradas agora penduradas para baixo e para os lados, no momento em que ela chegou próximo da cama, Divine supôs que ele não precisava.
— Como eu estava dizendo, o começo é geralmente um bom lugar, —disse ele solenemente. Recostando-se contra a cabeceira da cama, então perguntou: — Você me disse que depois que seu tio encontrou você, ele levou para casa de seus avós e eles a ensinaram a ler e controlar mentes mortais e se alimentar com segurança. Mas você disse que eles nunca tiveram a chance de te ensinar sobre a Atlantis, nossa história e a origem dos nanos?
— Exatamente, —Divine murmurou, mas não falou imediatamente. Em vez disso, andou de um lado para o outro, devagar, depois parou em frente à cômoda, encostou-se nela e cruzou os braços.
— Seu nome é Basha Argeneau, —Marcus falou quando ela não disse nada.
— Eu nasci Basha Argeneau, —ela corrigiu, e depois acrescentou: — Alexandria e Ramses eram os pais do meu pai, meus avós. Lucian Argeneau é meu tio e é quem encontrou a Aegle e eu, e nos levou para os meus avós.
— E foi como um conto de fadas, você disse, —Marcus lembrou.
Divine assentiu, mas inconscientemente apertou os braços ao redor de sua cintura, e então disse: — Meus avós eram ótimos, mas tio Lucian era um pouco assustador no começo, rude e ... bem, era assustador para uma criança. Mas vovó me garantiu que era ele um marshmallow por baixo.
Quando Marcus ergueu as sobrancelhas com essa avaliação, Divine assentiu com diversão. — Sim, eu acho que vovó estava um pouco iludida sobre isso, mas na época acreditei nela e perdi um pouco do medo ao redor dele. —Sorriu tristemente com as memórias deslizando sobre ela e então balançou a cabeça e admitiu: — Basicamente o seguia como um cachorrinho ... e ele aguentou a minha perseguição. Ele também ajudou com meu treinamento, levando-me para encontrar mortais, controlar suas mentes e me alimentar. Ele dizia que eu era uma aprendiz rápida e inteligente, —admitiu, lembrando o quão feliz ficou quando ele disse isso. Como ela brilhou sob esse elogio.
— Parece que você o admirava, —Marcus disse calmamente.
Divine fez uma careta. — Na verdade, acho que meio ... acho que ele foi uma espécie de pai substituto para mim.
Marcus apenas assentiu.
Deixando cair os braços, Divine olhou para os pés descalços e disse: — Tudo estava bem. Eu estava feliz, Aegle estava feliz. Estava segura, confortável, alimentada e amada. A vovó e o vovô eram muito gentis, mas sempre foi o tio Lucian que eu procurei ... eu não sei o que aconteceu, —ela pausou infeliz, e então continuou, — Tudo estava ótimo até que uma noite me levantei e tio Lucian tinha ido embora. Vovó disse que ele teve que sair a negócios, mas ... —Ela franziu o nariz. — Antes disso ele me levava com ele em suas viagens, e a única vez que isso não tinha acontecido, ele veio me acordar e me disse que estava saindo e por quanto tempo iria demorar, assim como quando ele estaria de volta. Desta vez eu me levantei e ele tinha ido embora sem se despedir.
— Você foi ferida, —Marcus murmurou.
— Eu acho que sim, —disse Divine em um encolher de ombros.
— O que aconteceu? —Ele perguntou, obviamente reconhecendo que a história não terminava ali.
— Nós vivíamos no que hoje é chamado de Toscana, —disse Divine. — Meu avô tinha uma grande extensão de terra na margem do rio Tibre e eu gostava de brincar e nadar no rio, às vezes com minha prima quando ela me visitava, mas sempre com o acompanhamento de vovó, Aegle ou tio Lucian. Naquela noite, no entanto, Aegle não estava passando bem e não se sentia à vontade. Ela disse para pedir a minha avó, mas a vovó tinha visitas, e o tio Lucian não estava lá, então eu decidi ir sozinha.
Divine suspirou e olhou para ele para admitir: — Acho que eu estava muito chateada por ele sair sem dizer adeus, e ...
— E rebeldemente fez o que sabia que não deveria, —Marcus sugeriu suavemente.
Ela assentiu com a cabeça e ficou alarmada ao sentir as lágrimas inundarem seus olhos. Não chorava há muito tempo, especialmente sobre isso, e não tinha ideia de o porquê dizer a Marcus essa história agora trazia de volta aquelas antigas lágrimas.
Limpando-as com impaciência, assumiu um tom mais banal e disse: — Escolhi o dia errado para fazê-lo e, em seguida, acrescentei à minha rebeldia a perseguição de uma lebre que avistei. Planejava pegá-la e levá-la para casa, mostrar ao tio Lucian quando ele voltasse, mas a maldita coisa era rápida e me levou a uma perseguição. Estava tão empenhada em pegá-la que nem percebi quando sai de nossa propriedade. —Ela fugou. — Inferno, eu corri direto para o meio de um grupo de homens e cavalos antes mesmo de notar que eles estavam lá. —Divine fechou os olhos brevemente quando se lembrou de ter batido no cavalo de Abaddon e tropeçado. Ela havia caído de costas e depois simplesmente olhara com os olhos arregalados para os homens rindo em pé ou montados em volta dela.
— O que temos aqui? —Gritou um dos homens, inclinando-se para pegá-la pelo colarinho e levantá-la. Olhando-a de perto, então, seus feios olhos amarelos dourados se arregalaram. — Que pena, é uma imortal. Que vergonha. Eu estava esperando por um lanche.
Ele então riu quando ela imediatamente começou a lutar e chutar.
— Abaixe-a, —grunhiu alguém, e Basha se virou para encarar um homem a cavalo com longos cabelos loiros escuros e feios olhos amarelos-dourados. Era Leonius Livius, embora não soubesse disso na época. Apesar de não saber, ele a assustou desde o primeiro olhar que deu a ela. Olhou para ele com os olhos arregalados até que o homem de cabelos escuros no cavalo ao lado dele se adiantou e se curvou para pegá-la e colocá-la em cima do cavalo na frente dele. Virando-a para encará-lo, Abaddon olhou-a e disse: — Se não estou enganado, esta pequena imortal é uma Argeneau. Ela tem os olhos azuis-prateados do Argeneau. Estou certo, pequenina? Você é uma Argeneau?
Basha olhou para ele, recusando-se a falar. Mas não precisava falar nada. Ele leria facilmente a mente dela. — Ah, pequena Basha Argeneau. A filha há muito perdida de Felix, tão recentemente encontrada pela família. —As palavras soaram leves, mas havia uma expressão em seus olhos que assustara a criança que ela era naquela época.
— Divine?
A voz de Marcus a chamou de suas memórias e ela forçou um sorriso irônico. — Eu fui devidamente reembolsada pela minha estupidez. O grupo de homens que tropecei era de Leonius, seus filhos e seu braço direito, Abaddon. Eles me capturaram e me levaram de volta ao acampamento deles ... E lá fiquei por um ano.
Marcus amaldiçoou e disse. — Ele estava tentando construir um exército de seus próprios filhos. Torturou e estuprou qualquer mulher que tinham em mãos, mortal, Imortal e Sem Presas.
— Sim, eu sei, —disse ela sucintamente e ele empalideceu.
— Ele não fez ...?
Divine olhou para ele inabalavelmente e ele balançou a cabeça.
— Mas você era apenas uma criança. Onze anos de idade.
— Fiz doze anos uma semana depois que fui levada, —disse Divine, sentindo-se tão vazia quanto suas palavras soaram ... não entendia o porquê dessa emoção agora. Chorou um rio de lágrimas sobre isso durante seus primeiros duzentos ou trezentos anos, mas eventualmente as lágrimas secaram. Divine tentou lembrar quando ela finalmente pôde recordar tudo isso sem uma reação emocional, quando finalmente tinha superado aquele período em sua vida. No entanto, ali estava ela agora tendo de se desligar emocionalmente para evitar uma onda de dor, vergonha e lembrar-se do terror.
— Os primeiros meses foram insuportáveis, —disse Divine, e ficou surpresa ao ouvir as palavras saírem de sua boca. Leonius era um Sem Presas, o que significava exatamente isso. Mesmo sendo um imortal, nunca tinha desenvolvido presas para se alimentar. Ele tinha que cortar suas vítimas. Como Imortais, podia controlar a mente de sua vítima e impedi-los de sentir a dor de seu corte, se assim o desejasse, mas a mente de Leonius era doente e distorcida além da compreensão. Ele gostava do sofrimento que provocava nos outros. Cortava todos os mortais que se alimentava, alimentando-se tanto de sua dor quanto seu sangue, bebendo-os até a morte. Mas enquanto isso era terrível para os mortais, para os Imortais era pior ainda, porque ele não conseguia se alimentar do sangue deles, então os cortava puramente por prazer. Pelo menos os mortais poderiam morrer e escapar dele. Imortais curavam ... e então ele começava a tortura novamente, estuprando, cortando, estuprando, cortando, às vezes lentamente cortando um membro quase completamente para ver se iria se curar e se recompor.
— Mas então eu aprendi a bloqueá-lo, —respirou Divine.
— Bloqueá-lo? —Marcus perguntou, estreitando os olhos.
— Ele gostava da dor e do sofrimento do outro. Pensei que se eu parasse de dar isso a ele, ele poderia se cansar de mim e apenas me matar, —ela admitiu. — Então comecei a tentar fechar minha mente para ele. Finalmente consegui.
— É isso que você fez comigo? —Marcus perguntou baixinho, e quando ela piscou e olhou para ele com surpresa, ele disse: — No final, pouco antes de desmaiar, era como se de repente você não estivesse mais lá.
Divine engoliu em seco e assentiu solenemente. — Sim. Tentei usar a mesma técnica com você. Eu não queria desmaiar.
— Você queria ficar acordada e me amarrar, —disse ele secamente e olhou ressentido para seus pulsos amarrados. — E obviamente funcionou.
— Na verdade, não, não funcionou. Não tão bem quanto eu esperava, —confessou ela. — Eu esperei muito tempo antes de tentar me desligar e também desmaiei brevemente.
Marcus apenas pareceu ligeiramente amolecido, mas com relutância disse: — Vá em frente. Você aprendeu a bloqueá-lo. Duvido que ele tenha ficado satisfeito.
— Não, —reconheceu Divine. — Não era divertido se ele não podia sentir o meu sofrimento. Mas, em vez de parar, isso pareceu fazê-lo redobrar seus esforços.
— Sinto muito, —disse Marcus baixinho.
— Bem, felizmente, antes que ele se cansasse disso e me matasse, fiquei grávida.
Marcus endureceu. — Seu filho ...
— Damian é filho de Leonius Livius I, sim, —disse Divine cansada.
— Damian, —ele respirou com aparente alívio e então franziu a testa. — Você diz, felizmente, como se isso fosse uma coisa boa? Quero dizer, algumas mulheres ...
— Algumas mulheres odiariam carregar o filho de seu estuprador e torturador e dar-lhe à luz, —ela disse baixinho. — Eu entendo isso, mas ... —Divine engoliu em seco e olhou para seus pés, percebendo só agora que ela ia sair sem sapatos. Estava descalça. Suspirando, levantou a cabeça e disse: — Você tem que entender, estar grávida significava um fim da tortura e do estupro para nós mulheres. Algumas de nós não suportavam carregar o filho do nosso captor, mas algumas o via como uma bênção, um presente. Enquanto estávamos grávidas ou amamentando, não despertávamos o interesse de Leonius. Então aquele bebê era precioso e nós nos alimentávamos com a frequência que podíamos, desesperadas para consumir sangue suficiente para manter a gravidez segura.
— Quantas de vocês estavam lá? —Marcus perguntou com uma carranca. — Quero dizer, eu ouvi as histórias de que uma centena de mulheres eram mantidas presas em gaiolas, liberadas apenas para serem estupradas, torturadas ou se alimentarem, mas sempre achei que era um exagero.
— Não era, —disse Divine em voz baixa. — Acho que quando os Imortais atacaram, ele tinha cerca de cinquenta mulheres mortais para se alimentar, mais ou menos vinte Sem Presas que usava para estuprar e torturar, junto com quatro mulheres Imortais, com as quais ele esperava se reproduzir, e outras vinte e quatro Sem Presas, além de mim, que estavam grávidas ou amamentando.
Marcus expirou devagar e depois perguntou: — Qual era você? Grávida ou amamentando?
— Eu dei à luz na manhã do ataque, —ela disse calmamente. —Na verdade, olhando para trás, acho que foi um parto induzido.
— Induzido? —Marcus perguntou.
Divine assentiu. — Recebemos a notícia na noite anterior de que os Imortais haviam formado um exército sob o comando do meu avô, assim como tio Lucian e alguns outros, e que eles estavam marchando para o acampamento de Leonius. As mulheres estavam todas agitadas, metade esperançosas pelo resgate, a outra metade aterrorizadas com isso.
— E você? —Marcus perguntou. — Você estava esperançosa ou aterrorizada?
— Estava apenas confusa, —disse Divine infeliz. — Eles diziam todo tipo de coisa. Alguns pensavam que os Imortais iriam resgatar as mulheres, mas as fariam abortar os bebês em vez de arriscarem trazer outros Leonius ao mundo. Outros achavam que poderiam matar todos, Leonius, seus homens e as mulheres ...
— Por que as mulheres? —Marcus perguntou com uma careta. — Elas eram vítimas em tudo isso.
— Nós tínhamos sido contaminadas, —ela disse simplesmente. — Muitas mulheres pensavam que seríamos consideradas produtos danificados.
— O que você achava? —Marcus perguntou com uma carranca.
Divine balançou a cabeça. — Eu não sabia o que pensar.
Os dois ficaram em silêncio por um minuto, e então Divine continuou: — De qualquer forma, não achei que dormiria naquela noite. Fiquei tão angustiada com tudo, mas devo ter adormecido porque me lembro que Abaddon teve que me sacudir para conseguir me acordar. Era o meio da noite e eu estava confusa quando despertei, e ainda mais confusa quando ele me deu uma bebida para tomar. Quando perguntei o que era, ele simplesmente assumiu o controle da minha mente e me fez beber. Pouco depois, entrei em trabalho de parto.
Divine fechou os olhos brevemente e fez uma careta. — Damian nasceu rapidamente. Tudo aconteceu muito mais rápido do que se esperava. Dima, a mortal que foi minha parteira, disse que se eu fosse mortal, eu não teria sobrevivido. Eu fui muito machucada.
— Mas você sobreviveu e o bebê também? —Perguntou ele.
Divine assentiu. — Sim. Ele estava bem. Ele não tinha presas, mas ele era um bebê forte e saudável.
— Espere, o que? —Marcus disse com confusão.
— Ele era forte e saudável, —repetiu Divine, e depois disse ironicamente: — Eu gostaria que o mesmo pudesse ter sido dito de mim. Como eu mencionei, fiquei muito mal durante o parto e não tive tempo de curar depois disso. Leonius ordenou que Abaddon fugisse comigo e o meu bebê para fora do acampamento através de um túnel secreto, antes que os Imortais invadissem o acampamento, e ele fez isso minutos depois que Damian nasceu.
— Outras mães e seus bebês foram tirados de lá também? —Marcus perguntou imediatamente.
— Não, —disse Divine em voz baixa. — Pelo menos, Abaddon disse que eu era a única que estava saindo, as outras estavam todas lá quando ele me tirou do ...
— Por que ele queria que você fosse tirada de lá? —Perguntou Marcus.
Divine hesitou, um pouco assustada com seu tom agudo, a interrompendo, mas depois de um minuto ela suspirou e disse: — Abaddon disse que Leonius achava que meu tio poderia até deixar as outras viverem, mas tinha certeza de que ele me cortaria onde eu estivesse e mataria Damian também quando soubesse que eu desonrei minha família assim.
— Assim como? —Ele perguntou confuso. — Como você desonrou sua família?
— Tendo um filho de Leonius, —ela apontou suavemente.
Marcus sacudiu a cabeça. — Divine, você era uma criança, violada e torturada. Lucian dificilmente teria te responsabilizado por você ter engravidado, e ele não teria matado um bebê inocente.
— Ele matou todas as outras mulheres e crianças que encontrou no acampamento, —apontou com tristeza, lembrando das mulheres que viveu e sofreu com ela.
— Os Imortais não mataram aquelas mulheres e crianças, —disse Marcus com firmeza. — Quando Leonius percebeu que ia perder a batalha, voltou para o acampamento com seis dos seus filhos mais velhos. Eles cercaram todas as mulheres e crianças e as mataram. As poucas Imortais foram amarradas com as mulheres Sem Presas e incendiadas, e enquanto elas gritavam e queimavam, ele e seus filhos mais velhos fizeram uma orgia de sangue nos mortais remanescentes, bebendo e matando cada mulher mortal.
— Mas Abaddon disse ... —Sua voz sumiu. Ela sabia toda a sua vida que Abaddon não poderia ser confiável. Deveria ter duvidado de tudo o que ele disse a ela. Mas ele tinha sido sua única fonte de notícias naquela época, e ele fingia se importar com ela, cuidando e protegendo-a. Cumprindo um último desejo do seu Senhor.
— O que aconteceu depois que este Abaddon te levou para fora do acampamento? —Marcus perguntou. — Onde você foi?
Divine encolheu os ombros, cansada. — A primeira parte da jornada depois de sair do acampamento é uma espécie de borrão na minha memória. Estava fraca e com dores remanescentes do parto, não tive a chance de curar, ou mesmo de me alimentar. Tivemos que correr e nos esconder e fugir novamente.
— Por quê? —Marcus exigiu. — Para manter você e seu filho a salvo do seu tio?
Divine assentiu.
Ele olhou para ela por um minuto e depois disse: — Você quer me dizer que toda a sua vida foi passada escondendo-se e fugindo da sua família porque acreditava que eles matariam seu filho?
— E a mim, —acrescentou solenemente.
— Divine, —disse ele lentamente. — Lucian não teria feito isso. Ele não mataria uma criança inocente.
— Mas ele era um Sem Presas como o pai, —ressaltou. — E meu avô e tio estavam lá fora destruindo todos os Sem Presas.
— Seu filho não pode ser ... —Ele balançou a cabeça e murmurou algo sobre como lidar com isso mais tarde, então disse: — Sim, os Imortais estavam determinados a não deixar de lado nenhum perigo naquela época. Mas não saíram matando os Desdentados.
— Desdentados? —Ela repetiu incerta.
— Um Imortal sem presas. Eles são chamados de Desdentados. Qualquer criança nascida sem presas é considerada Desdentada a menos que enlouqueça e mostre tendências pelo gosto de matar e torturar, assim passam a ser conhecidas como os Sem Presas. Mas nem todos os Desdentados se tornam Sem Presas. Seu filho não teria sido morto. E você certamente não teria sido também.
— Mas eu não me matei, —apontou Divine.
— O quê? —Ele perguntou com perplexidade.
— A razão pela qual havia tão poucas mulheres Imortais no campo era porque elas geralmente se matavam ao invés de sofrerem estupros e engravidarem de Leonius. Eu vi duas delas fazerem isso durante o ano em que estive lá. Uma ficou livre e quando o guarda puxou sua espada, ela apenas jogou a cabeça sobre ela, decapitando a si mesma. Outra se jogou no fogo e queimou até a morte. Abaddon disse que elas tinham honra e suas famílias teriam sido envergonhadas se não tivessem feito isso. Que suas famílias provavelmente as teriam matado se tivessem as encontrado vivas e bem, no acampamento de Leonius. Ele disse que o tio Lucian faria a mesma coisa, porque ele seria do mesmo jeito, arrogante, frio, duro ...
— Abaddon de novo, —Marcus interrompeu com raiva. — Divine, ele estava mentindo para você. Ele mentiu para você sobre o que aconteceu com as mulheres no acampamento, e ele mentiu para você sobre isso. Quanto tempo ele martelou esses contos em sua cabeça?
— Eu não sei. Dez anos, acho, —disse Divine, olhando para ele com os olhos arregalados. Era a primeira vez que via Marcus furioso.
— Você esteve com esse homem por dez anos depois que ele tirou você do acampamento?
Ela assentiu. — No começo eu precisava dele. Eu tinha Damian, estava amamentando, eu ...
— Você era uma criança, —acrescentou sombriamente. — Precisava de alguém para encontrar seus doadores para se alimentar enquanto amamentava, e precisava de alguém que pudesse fornecer um teto sobre suas cabeças.
— Sim, —ela disse, inclinando a cabeça envergonhada.
— Não há vergonha nisso, —Marcus disse, seu tom menos irritado. Além disso, suspeito que ele estivesse usando o controle mental em você. Você parece ver Lucian como um tipo de bicho-papão, e para ele ir de pai substituto a bicho-papão desse jeito, o controle da mente definitivamente deveria estar envolvido.
Divine esfregou os olhos cansadamente. Suspeitava que Marcus estava certo e se perguntou como ela não tinha percebido isso sozinha em todos esses séculos.
— Como você acabou se afastando dele?
— Ele estava fora procurando doadores uma noite e eu ... —Ela encolheu os ombros, impotente. — Apenas arrumei as coisas de Damian e corri com ele.
— Só assim? —Marcus perguntou com uma carranca.
Divine assentiu.
— O que aconteceu para você decidir isso assim? —Ele perguntou depois de uma pausa.
— Eu não tenho certeza se entendi o que você quer dizer, —ela disse lentamente.
— Você achou que precisava dele para sobreviver. Por que de repente parecia melhor fugir dele?
Divine mordeu o lábio e depois relutantemente admitiu: — Eu o peguei chamando Damian pelo nome de Leonius.
Capítulo 21
Marcus baixou a cabeça contra a cabeceira da cama e fechou os olhos. Divine poderia ter criado seu filho Damian e lhe ensinado as regras sobre não prejudicar os mortais, mas Abaddon desfez todo o seu bom trabalho desde o nascimento do menino. Era óbvio para ele que Damian e Leonius eram a mesma pessoa, o filho de Leonius Livius I.
— Isso me enfureceu, —admitiu Divine, chamando sua atenção novamente. — E me assustou. De repente eu estava desesperada para tirar Damian da presença dele.
— Ele o chamou de Leonius, —Marcus murmurou, e então levantou a cabeça para olhar para ela e simplesmente perguntou: — Você pegou Leonius daquele hotel em Toronto há dois anos?
— Não, —disse Divine com firmeza, e ele sentiu um momento de alívio, até que ela acrescentou: — Eu peguei meu filho, Damian, daquele hotel.
— Ah merda, —Marcus murmurou, fechando os olhos novamente.
— Ele não é como seu pai, —disse Divine rapidamente. — Meu tio vem o perseguindo implacavelmente desde a guerra entre os Imortais e Sem Presas só porque ele carrega o sangue de seu pai, mas Damian não é como Leonius. Eu o criei com as mesmas regras que meu avô me ensinou. Ele não fere ou mata os mortais. No entanto, tio Lucian o perseguiu, matando os filhos de Damian no processo, meninos inocentes, a maioria com menos de dez anos.
— O quê? —Marcus perguntou, chocado com a sugestão. Quando Divine acenou com a cabeça, ele a olhou fixamente por um minuto e depois disse: — Divine, não sei o que aconteceu com seus netos, mas garanto que Lucian não mataria os meninos. Pelo menos não a menos que eles não fossem Sem Presas e matassem mortais por bem ou por mal.
— Eles não eram Sem Presas. A maioria deles ainda não havia se transformado e ainda era mortal, —ela respondeu.
— Ainda mortais? —Ele perguntou inexpressivamente.
Divine deu de ombros. — Alguns dos garotos pareciam ser mortais e depois se transformavam quando estavam entre seus cinco e dez anos.
— Isso não é possível, —Marcus disse de uma vez. — E mais, se Damian é um Sem Presas, ele não é seu filho.
Ela piscou surpresa com aquele comentário e deu uma risada curta. — Sinto muito, Marcus, mas desta vez você é o único que está enganado. Damian é um Sem Presas e é definitivamente meu filho. Eu dei à luz a ele.
— Você não poderia ter um filho Sem Presas, —disse Marcus com firmeza. — Divine, eu expliquei sobre os nanos. Eles são transferidos pelo sangue. Uma mãe os passa para o filho.
— Ou o pai passa, —disse ela com certeza.
— Não, —disse Marcus com firmeza. — Ele não faz. Não pode. Está no sangue, não no esperma.
— Bem, isso ainda não significa que uma mãe Imortal não pode ter um filho Sem Presas, —ela se corrigiu. — Sem Presas e Desdentados são imortais também, não são? Todos nós temos os mesmos nanos.
— Ah, droga, —ele sussurrou de repente com entendimento. — Eu não expliquei essa parte para você no trailer.
— Qual parte? —Perguntou Divine, incerta.
Marcus soltou um suspiro e depois explicou: — Os Sem Presas e Desdentados não carregam os mesmos nanos que os Imortais. Os primeiros Sem Presas e seus descendentes carregam os nanos do primeiro lote que os cientistas criaram. Mas esses nanos acabaram sendo de alguma forma defeituosos. Uma parte dos sujeitos morreu quando os recebeu, alguns ficaram loucos. E poucos sobreviveram sem problemas. E então, quando a Atlantis foi destruída, os loucos e os que estavam bem e que sobreviveram à queda de Atlantis não produziram presas e eles tinham que cortar seus doadores para se alimentar. Os Imortais loucos sem presas foram chamados de Sem Presas. Os Imortais saudáveis sem presas foram chamados de Desdentados para diferenciá-los.
— Imortais, —continuou ele, — são o resultado do aprimoramento dos nanos feito pelos cientistas. Eu não sei o que eles fizeram, ou como eles mudaram a programação, mas o segundo lote de nanos produziu Imortais que simplesmente são conhecidos como Imortais. Nenhum deles morreu ou enlouqueceu quando os nanos foram introduzidos em seus corpos. E quando a Atlantis caiu, foi apenas nos Imortais com o segundo lote de nanos que as presas se desenvolveram.
— Oh, —disse Divine com uma carranca.
Marcus suspirou e continuou: — Como os nanos são carregados no sangue, a criança se torna o que a mãe é. Uma mãe mortal terá um filho mortal sempre, não importa o que o pai seja, e o mesmo vale para um Imortal. Uma mãe Imortal com o segundo lote de nanos só pode produzir uma criança Imortal. Mas uma mãe Sem Presas ou Desdentada com o primeiro lote de nanos as transmitirá para seu filho e produzirá um Desdentado que tem trinta e três por cento de chance de permanecer Desdentado, trinta e três por cento de chance de ser um Sem Presas, e trinta e três por cento de chance de morrer. Você carrega o segundo lote de nanos, Divine. A criança que você deu à luz naquele acampamento, e qualquer criança que você produzir no futuro, só poderá ser Imortal. Se Damian não é um Imortal, com presas, então ele não é seu filho biológico.
— Mas ... —Ela balançou a cabeça, confusão no seu rosto. — Eu dei à luz a ele.
— É possível que seu verdadeiro filho tenha sido trocado por Damian? —Ele perguntou gentilmente. Essa parecia a única explicação. — O bebê que você deu à luz nunca saiu da sua vista?
— Não, eu ... —Divine fez uma pausa e franziu a testa. — Bem, Abaddon o tirou do quarto brevemente para limpá-lo, mas ... ele se foi por algum momento, depois voltou com ele embrulhado em panos.
— Este Abaddon deve ter trocado Damian por seu filho então. Damian deve ter sido filho de Leonius e de uma mulher Sem Presas. Ele ergueu as sobrancelhas em dúvida. — Havia alguma mulher Sem Presas que daria à luz nessa época também?
— Sim, —Divine murmurou, parecendo derrotada. — Uma delas teve um filho no dia anterior.
Marcus assentiu. — Damian é provavelmente o filho dessa mulher.
— Sim, —concordou Divine, e então de repente se endireitou. — Mas ele ainda é meu filho, Marcus. Eu o criei, o amamentei, cuidei dele, o ensinei, beijei os dodóis dos seus joelhos arranhados. Eu crie Damian. Ele é meu filho.
— Sinto muito que você se sinta assim, —disse ele tristemente, e ela olhou para ele com surpresa.
— Por quê?
— Porque se Damian é o homem que foi baleado várias vezes, incluindo ter levado uma flecha no coração, e foi resgatado do corredor do hotel em Toronto, então ele é um assassino frio, e um Sem Presas e não é um Desdentado.
Divine estava sacudindo a cabeça antes mesmo de terminar. — Não. Ele não é um assassino. Eu ensinei a ele ...
— Se o homem que você levou para fora do hotel é Damian, então Damian é um assassino, —disse Marcus com firmeza. — Ele e um punhado de seus filhos mataram várias mulheres no norte de Ontário e sequestraram um médico e sua irmã. O médico foi resgatado imediatamente, mas um dos filhos de Damian, se não me engano o filho de número vinte, fugiu com a irmã. O homem que você levou foi capturado no local onde as mulheres mortas foram encontradas.
Ele viu Divine fechar os olhos com essa notícia, mas continuou: — A irmã, que era uma adolescente por sinal, foi resgatada, junto com algumas outras vítimas, do quarto do hotel que seu filho estava hospedado no momento em que você o resgatou, e tinha meninas no quarto ao lado do dele também. E ele estava usando o nome de Leonius.
— Você disse isso mais cedo, —ela murmurou infeliz, e depois disse: — Mas Damian me disse que estava lá porque alguns dos seus garotos tinham feito algum negócio arriscado e ele teve que ir tirá-los dos problemas.
— Negócio arriscado? —Ele interrompeu com espanto. — Eles cortaram aquelas mulheres como se fossem gravetos ... ele se gabou de pelo menos uma das suas mortes para o médico que sequestrou. E ... —acrescentou ele pesadamente, — uma de suas vítimas, uma jovem chamada Dee, contou-nos como Leonius e seus garotos massacraram sua família. Ele não estava lá para tirá-los de problemas. Ele os levou para os problemas.
Marcus deu-lhe um momento para digerir isso e depois disse: — Tudo o que eu disse é verdade, Divine. Não mentiria para você. Você é minha Companheira de Vida ... e acredite em mim, eu gostaria que isso não fosse verdade. Porque isso significa que você é desonesta e vamos passar o resto de nossas vidas correndo e se escondendo.
Divine olhou fixamente para ele por um minuto, e então de repente se virou e se dirigiu para a porta.
— Espere! Aonde você está indo? —Ele chamou, lutando com os laços em seus pulsos.
Divine não respondeu, simplesmente saiu da sala e deixou a porta fechar atrás dela. Amaldiçoando, Marcus desistiu de tentar fazer suas mãos deslizarem pelas amarras do pulso, em vez disso começou a puxar o tecido das amarras tentando rasga-lo. No quarto puxão, a cabeceira quebrou permitindo que Marcus escorregasse as amarras pela madeira quebrada da cama. Isso foi bom o suficiente. Marcus rapidamente removeu o tecido de seus pulsos enquanto se levantava. Ele então correu para a porta, mas quando chegou ao corredor e olhou para os dois lados, estava vazio.
Marcus amaldiçoou e começou a voltar para o quarto, pretendendo se vestir e ir atrás dela, quando descobriu que a porta havia se fechado atrás dele ... e bloqueado.
— Genial, —ele murmurou, batendo um punho no painel de madeira da porta com fúria.
Divine continuava esperando Marcus correr atrás dela e pará-la enquanto saía para o estacionamento do hotel onde o SUV estava estacionado. Ela não sabia se estava aliviada ou desapontada quando isso não aconteceu. Um pouco de ambos, supôs enquanto se sentava no banco do motorista e ligava o veículo. No entanto, provavelmente era melhor assim. Saber que era o melhor não facilitava nada. Mas então, pouca coisa em sua vida foi fácil.
Enquanto a intenção de Marcus era descobrir mais informações sobre ela na conversa que tiveram, no final foi Divine que descobriu muito mais com ele.
Tudo o que ele descobriu foi que ela era de fato a desonesta que ele tinha sido enviado para encontrar. Já ela, aprendeu que seu filho não era seu filho de verdade, que ele era um assassino, e que Abaddon provavelmente estava usando o controle mental desde o início para conseguir o que queria.
Divine realmente não podia acreditar que não tinha percebido isso antes. Agora que Marcus falara, parecia tão óbvio. Seu medo de seu tio tinha sido tão sólido, profundo e constante ... e nunca duvidou. Abaddon deve ter alimentado isso em seus pensamentos todos os dias pelos primeiros dez anos e depois reforçou toda vez que a encontrava.
Claro, o fato de que ele se aproveitou dos seus próprios medos provavelmente o ajudou a controla-la. Ela admirava e invejava aquelas duas mulheres Imortais que haviam escolhido a morte por causa do abuso de Leonius. Até se perguntou se essa não seria a escolha mais honrosa. Elas haviam escapado, afinal de contas, mesmo que fosse para a morte. Elas não precisariam mais sofrer a dor e a humilhação que Leonius provocou nela e nas outras. Elas estavam livres.
A honra de suas famílias estava segura ... enquanto ela tremia, chorava e gritava de dor e terror, implorando-lhe para não a machucar, rastejando a seus pés como uma patética ...
Divine balançou a cabeça com raiva quando ligou o motor do SUV. Passou por tudo isso durante quase quatro meses, mas depois engravidara e a vida tinha sido mais suportável ... e ela sobreviveu. Viveu mais de dois mil anos desde então. Conheceu milhões de pessoas ao longo dos anos, algumas estrelas brilhantes, outras que precisavam de um pouco de orientação para descobrir seu brilho.
Divine passou sua vida ajudando os outros. Será que isso não compensava alguma vergonha que sua família pudesse ter sofrido? E certamente, ajudar outras pessoas, fez valer a pena o que sofreu ou pelo menos mais suportável?
Sua vida tinha sido longa, com muitos momentos alegres e tranquilos, de satisfação ou paz. Diferentes dos momentos ardentes e vivos que compartilhou com Marcus nestes últimos dias, mesmo assim foram bons momentos e todos haviam ocorridos longe de Abaddon. Ela não tinha desfrutado nem um segundo de paz ou prazer na presença de Abaddon. Era parte da razão pela qual finalmente agarrou Damian e fugiu do homem, e por que passou tão pouco tempo com seu filho depois de saber que ele havia aceitado esse homem de volta em sua vida.
Divine se perguntava se tudo isso era culpa dela. Damian pode não ser seu filho de sangue, mas ela o criou, ele era seu filho. E ele tinha sido uma criança doce enquanto crescia. Sempre sorrindo, sempre ansioso para agradar. Foi depois que eles deixaram Abaddon que Damian havia mudado, tornando-se reservado e temperamental.
No começo, Divine pensou que ele sentia falta do homem e superaria isso, e então ela culpou a puberdade. Todos os adolescentes eram assim, não eram?
Aos doze anos, ele começou a vagar pelos bosques ou cidades, dependendo de onde moravam, sumindo por horas a fio, apesar de o ter obrigado a ficar perto de casa. Aos dezesseis anos ele começou a desaparecer por dias. Ao retornar, sempre estava louco de felicidade, rindo, tagarelando, contando histórias de suas aventuras enquanto estava fora. Ela permitiu que ele se aventurasse por aí sozinho, naquela época ele já era considerado um homem e não poderia prendê-lo.
Damian tinha dezoito anos quando ele tinha desaparecido durante uma semana em vez do habitual de poucos dias. Abaddon havia assegurado de que Lucian ainda procurava por eles, preocupada que finalmente seu tio teria encontrado seu filho, Divine foi procurá-lo e encontrou-o escondido em uma cabana abandonada. Ele estava do lado de fora, rindo e conversando ao redor de uma fogueira com ninguém menos do que Abaddon. E Abaddon o chamava de Leo, ela se lembrava agora. Ficou tão furiosa ao encontrá-lo com o homem que deixou sua insatisfação escorregar da mente dela naquele momento.
Divine tentara mandar Abaddon embora, mas Damian protestara. Abaddon era seu amigo, dizia ele.
— Abaddon não é nosso amigo, —disse furiosamente. — Ele era o cachorrinho de Leonius Livius.
— Você quer dizer meu pai? —Damian perguntou.
Divine simplesmente ficou boquiaberta de choque. Ela nunca lhe contara sobre o pai dele. Como ela poderia dizer ao seu filho que ele era um fruto de estupro? Que seu pai era um homem que ela odiava que a torturou e estuprou por meses antes dele ter sido concebido? Não tinha dito nada disso a ele antes, e continuava sem poder dizer naquele momento. Em vez disso, se levantou e disse: — Você tem idade suficiente para fazer o que deseja e viver onde quiser agora. Mas não quero esse homem na minha vida. Nunca o traga para minha casa quando você me visitar.
Ela se virou e saiu. Damian não tinha a seguido. E Divine simplesmente continuou com sua vida. Ele tinha visitado muitas vezes durante os primeiros cinquenta anos, relativamente falando. Fazia apenas um ano depois desse acontecimento que Damian a procurara com seu primeiro neto. Quando ela perguntou o nome dele, ele disse que a mãe não lhe dera um e que ela não queria o menino. Divine se ofereceu para criá-lo, mas naquela época suspeitou dessa história que ele havia contado a ela.
Divine nomeara o menino de Luc e o amara como se fosse dela. Ficou de coração partido quando Damian veio visitar o menino no seu décimo aniversário e decidiu que o garoto precisava de um pai e deveria ir com ele. Ela ficou absolutamente arrasada, porém, quando foi visitar Damian e o menino alguns meses depois, descobriu que o acampamento deles fora invadido pelos Caçadores de Lucian e que o menino não conseguiu fugir. Ele estava morto.
Seus velhos medos de sua família ressurgiram imediatamente e a primeira onda de raiva deles havia nascido. Luc tinha sido o primeiro de seus netos que Divine havia criado. Damian trouxera oito deles durante os primeiros dois séculos.
Ela criou cada um como se fosse seu, com todo o amor que ela poderia dar a eles, e então foi forçada a aguentar a tristeza quando seu filho os levava para terminar sua própria educação. Alguns se tornaram Sem Presas depois de deixá-la, outros não, e Abaddon havia dito a ela que era normal. Ele alegara que poderiam acontecer isso com algumas crianças, que algumas não resistiam a passagem da transformação em Sem Presas na puberdade.
Claro, agora que Marcus tinha explicado o funcionamento dos nanos para ela, percebeu que não poderia ser o caso. Esses meninos devem ter sido nascidos por mulheres mortais. Se eles se tornaram Sem Presas depois, foi porque Damian deve ter tentado transformá-los. Ela agora se perguntava se essa era a causa real da morte deles, porque nenhum dos netos que ela cuidara havia sobrevivido até a idade adulta.
Cada um deles morreu, supostamente abatido por espiões ou Caçadores dos Argeneau. E então Damian parou de lhe trazer os filhos que ele gerava, alegando que ela os tornava fracos.
Depois que ele parou de trazer seus filhos, as visitas de Damian ficaram mais raras. Em alguns séculos ela o viu com mais frequência do que outros, mas eles tinham passado oito décadas entre as visitas às vezes. Na verdade, Divine muitas vezes ficou surpresa que ele fosse capaz de encontrá-la quando queria vê-la. Afinal estava em constante movimento.
Divine suspirou e limpou irritada as lágrimas em seus olhos. Os pensamentos de seus netos sempre a faziam chorosa. Mas agora era mais do que isso. Olhando para trás com as novas informações que tinha, percebia as muitas mentiras que lhe haviam sido contadas e se perguntava o que em sua vida tinha sido verdade. Ela também desejou não ter sido tão ingênua e aceitado com facilidade o que Abaddon lhe dizia. Na verdade, não entendia por que ela tinha lhe dado algum crédito. Odiava o homem. Não deveria ter duvidado de cada palavra que saísse da boca dele?
Influência parecia a resposta óbvia. Tudo o que conseguia pensar era que ele usou controle mental, influência e estímulo mental para garantir que ela acreditasse nele. Não importava, porém, se ele usou influência, controle ou qualquer outra coisa, ou se tinha sido apenas cega e estúpida, o resultado era o mesmo. Divine tinha sua vida em ruínas, sem lar, sem família, sem amigos e incapaz de reivindicar seu companheiro de vida. Também tinha um filho que, se Marcus estiver certo, era um assassino como seu pai. E assim eram seus filhos.
Divine balançou a cabeça. Ela nunca viu nenhuma evidência disso. As mulheres que estavam por perto de Damian quando ela tinha o visitado ... francamente, não pensou muito sobre elas. Elas pareciam desgrenhadas e muito magras, e sempre estavam drogadas, assim como seus netos. Agora se perguntava sobre isso também. Eles eram viciados, ou eram forçadamente drogados quando ela estava por perto, dessa forma ela não conseguiria ler o medo ou o terror de suas mentes? Narcóticos confundiam os pensamentos o suficiente para torná-los incompreensíveis quando lidos.
As pobres mulheres eram realmente vítimas como ela tinha sido nas mãos do pai de Damian, Leonius? A boca de Divine se apertou. Marcus tinha dito que Damian adotou o nome de seu pai e nomeou seus filhos de Leonius também, então ele chamava cada um deles por um número da ordem de nascimento. Ela tinha ouvido ele chamá-los por números ao longo dos séculos. Por exemplo, ele chamou em mais de uma ocasião Rufus, o neto grosseiro que ela havia dado uma lição outro dia, de Quatro, embora na frente dela ele normalmente o chamava de menino.
Seus pensamentos voltaram para as mulheres. Divine não podia suportar pensar que seu filho estava tratando aquelas mulheres como seu pai a tratou.
Ela pretendia descobrir e libertá-las se fosse esse o caso. Pretendia descobrir a verdade de tudo, se pudesse.
Visualizando um posto de gasolina, Divine desacelerou e estacionou.
Como ela já esperava, havia um telefone público na lateral do prédio. Ela precisava ligar para Damian e descobrir onde ele estava agora. Não queria dirigir até o lugar em que ele estava escondido da última vez e descobrir quando chegasse lá que ele havia se mudado.
Sabia memorizado o número de Damian, não porque usava muitas vezes, mas porque Divine sempre teve uma boa memória. Geralmente era ela que ligava para ele uma vez por mês ou mais. Pelo menos ela tinha até alguns dias atrás, quando ele de repente ligou dizendo que estava na área e precisava vê-la.
O telefone mal tocou uma vez antes de ser atendido, mas não foi Damian quem respondeu, foi Abaddon. O som de sua voz imediatamente a irritou profundamente. — Eu quero falar com meu filho.
— Sinto muito, Basha, ele está brincando com uma de suas amigas agora, —disse Abaddon docemente. — Posso pegar uma mensagem?
Divine não se incomodou em insistir que ele usasse o nome Divine, mas simplesmente rosnou: — Você ainda está na casa que eu acordei no outro dia?
— Não, —disse Abaddon imediatamente. — Nós nos mudamos. Tive vontade de ver o Cirque du Soleil43 se apresentar, e seu filho gostou da ideia, então fomos para Vegas. Estamos a cerca de meia hora de Vegas.
Divine ficou imóvel. Aquilo parecia uma feliz coincidência, mas duvidava que fosse. Afinal, sabia que Abaddon tinha alguns dos filhos de Damian observando-a. Eles provavelmente disseram a ele que ela e Marcus estavam em Vegas, e essa era a verdadeira razão pela qual ele estava aqui. A única questão era por quê? Os meninos poderiam ligar passando o relatório. Ele não precisava estar por perto.
Rangendo os dentes, ela perguntou: — Qual é o endereço?
Quando ele terminou de falar, Divine desligou sem dizer adeus e voltou para o SUV programando o GPS. O endereço que ele lhe dera era meia hora fora da cidade, mas do outro lado de onde ela estava agora. E parecia que estava no meio do nada, notou, tornando a imagem do GPS maior.
Definindo esse endereço como o destino, Divine ligou o SUV e acelerou o carro. Iria devolvê-lo ao estacionamento do hotel depois de confrontar seu filho. Se sobrevivesse ao confronto. Divine suspeitava que um deles não iria sair vivo. Se ele estava matando pessoas, Damian era uma ameaça, e embora ela tecnicamente não o trouxera para este mundo, ela o criara, era responsável por ele e o tiraria deste mundo se precisasse.
Capítulo 22
Divine diminui a velocidade e estacionou o SUV, mas não saiu imediatamente do carro. Em vez disso, simplesmente ficou sentada e olhando para o prédio que o GPS havia trazido. Parecia um antigo armazém abandonado, mas pudera, ela não sabia quem guardaria qualquer coisa no meio do nada. A única coisa que conseguia pensar era que terreno ao redor deveria ser barato como cuspe. Embora, achava que até mesmo assim, ter um armazém aqui não valia a pena, principalmente depois que o preço da gasolina disparou. Seu palpite era que ninguém havia usado o prédio em pelo menos trinta anos ... até agora.
Outro palácio para seu filho, pensou Divine severamente. Até outro dia, teria culpado seu tio Lucian por Damian ter que viver assim. Agora se perguntava se Damian não escolhia lugares assim por causa da falta de uma vizinhança. Não haveria ninguém para ouvir os gritos se ele realmente tivesse seguido os passos de seu pai e estivesse torturando as mulheres naquele prédio.
Apertando a boca, Divine finalmente saiu do SUV e se dirigiu para o prédio. Haviam várias portas para escolher, meia dúzia de portas que podiam ser usadas para entrada de caminhões e uma porta que provavelmente poderia ser usada por clientes e funcionários. Ela escolheu a última.
Divine não se incomodou em bater, simplesmente estendeu a mão e girou a maçaneta. Não ficou surpresa quando a porta abriu sem esforço. Damian nunca se preocupou demais com a segurança ... algo que sempre a frustrou, achava que os assassinatos de seus netos poderiam ter sido evitados se ele se preocupasse com o mínimo de segurança.
Empurrando esse pensamento para o lado, Divine entrou em um espaço que provavelmente era onde os clientes seriam recebidos quando ainda o prédio estava em uso. Uma grande área de recepção com um longo balcão que ia de uma ponta a outra. Além do balcão, havia uma escrivaninha velha, alguns armários e uma porta para outra sala. Apesar do fato de que ainda era dia e a frente do escritório tivesse grandes janelas, a sala estava escura. Uma boa limpeza da sujeira que revestia os vidros teria corrigido isso, mas Divine não estava aqui para realizar tarefas domésticas para seu filho. Além disso, evitar a luz do sol sempre foi uma coisa boa. O dano causado pela luz do sol significava que os nanos precisariam de mais sangue e seria necessária uma alimentação mais frequente.
Divine se moveu ao redor do balcão, seus olhos se movendo sobre tudo enquanto cruzava para a segunda porta. Não havia muito mais para ver, alguns pedaços de papel velho amarelado no chão junto com anos de poeira acumulada e sujeira. Através da porta, porém, encontrou uma sala quase escura como breu.
— Você foi rápida.
Divine estreitou os olhos ao som da voz de Abaddon e esperou que sua visão noturna se adaptasse. Viu que estava em uma grande sala com uma longa mesa e várias cadeiras. Havia também uma espécie de uma pequena cozinha em uma das extremidades, com uma velha geladeira branca e armários, metade deles sem suas portas. Já Abaddon, estava sentado em uma das cadeiras à mesa, tão confortável quanto ele poderia. Seus olhos dourados brilhavam na escuridão.
Estendendo a mão para o lado, Divine procurou na parede por um interruptor, o encontrou e ligou, mas nada aconteceu.
— Sem eletricidade, —disse Abaddon prestativamente.
Um farfalhar chamou sua atenção de volta para Abaddon, enquanto ele erguia o que parecia ser uma lanterna sobre a mesa e girava uma engrenagem nela que emitiu um brilho fraco, mal iluminando um pequeno círculo ao redor de onde estava sentado.
— Solar, —explicou Abaddon. — Muito mais barato que as lanternas a gás, a óleo ou qualquer outro combustível. Deixo elas lá fora durante o dia enquanto dormimos e a noite usamos para iluminar por aqui. Eu sou um grande defensor da energia solar, —ele disse com um sorriso, e as sombras projetadas pela luz o fizeram parecer com o próprio diabo.
O diabo em uma roupa de corrida azul, pensou Divine, olhando para o homem com desgosto. Enquanto ela e Leo tinham cabelos loiros, Abaddon tinha cabelos escuros, olhos castanhos com manchas douradas e um rosto bem barbeado. Apesar de tudo, ele parecia normal, construção média, aparência média e nada ameaçadora. A maioria das pessoas teria o confundido com um homem de negócios a caminho de malhar após um dia atarefado ... até que fosse tarde demais.
— Onde está Damian? —Ela perguntou brevemente.
— A caminho. Você chegou primeiro que ele. Como eu disse, você foi muito rápida.
— Eu estava em Vegas, —disse Divine friamente. — Mas você já sabia disso.
— Eu já sabia? —Ele perguntou suavemente.
— Se você não sabia, os seus espiões sim.
— Oh, —disse Abaddon suavemente. — Então você descobriu.
— Que você tem me vigiado por dois milênios? —Perguntou Divine severamente.
— Dois milênios mais setecentos e quarenta e sete anos, —corrigiu Abaddon. — Tenho muito orgulho disso, então você deve me dar os parabéns.
Divine olhou para ele. Não havia vergonha ou desânimo em ser pego, não que ela esperava alguma, mas esperava alguma reação, e não havia nenhuma aparente em seu rosto. Olhou para ele com ódio por um minuto e depois disse: — Se Damian está realmente vindo, vou esperar para falar com ele.
— Ele não vem, —disse Abaddon imediatamente. — Na verdade, ele não sabe sobre esse lugar ou sobre esse encontro. Eu disse a ele que tinha alguns assuntos pessoais para tratar e o sugeri que apenas relaxasse hoje e se divertisse. Ele aceitou o meu conselho. —Abaddon acrescentou com prazer e sorriu quando ela amaldiçoou. — Parece que você ficou desapontada?
— Pelo fato de que ele segue sempre seus conselhos, —ela retrucou.
— Ele sempre seguiu meus conselhos, Basha. Me vê como um pai, mais do que você jamais poderia ser como mãe, —Abaddon disse, sua voz gotejando com piedade fingida. — Com você ele teve que esconder sua verdadeira natureza, comigo sempre pode ser ele mesmo. Eu o conheço e o aceito pelo que ele é, em vez de tentar transformá-lo no que eu quero que ele seja.
— Ah, entendo, Abaddon, —ela rosnou, furiosa. — Você nunca foi um pai para ele. Ele gosta de você porque você sempre o deixou fazer o que queria. Eu fui mãe e pai, lhe disse não quando necessário, o punindo quando se comportava mal e o ensinando o que era certo e errado.
— Hummm. —Abaddon assentiu. — Deve ser por isso que ele, ainda menino, me confessou quando começou a matar e torturar animais e outras crianças pequenas.
Divine endureceu e se sentiu pálida com esta notícia. Seu filho havia torturado e matado animais e crianças pequenas? Os animais já eram ruins o suficiente, mas crianças pequenas? Como ela não percebeu isso?
— Porque quando ele chorou e se preocupou que você ficaria com raiva se descobrisse, eu o ajudei a esconder isso, —disse Abaddon como se ela tivesse falado seus pensamentos em voz alta. Sorrindo, ele acrescentou: — Leo ficou preocupado por um tempo de que poderia haver algo errado com ele, mas expliquei que era simplesmente sua natureza. Como uma abelha que pica e um leão que morde, ele nasceu para ser assim. Seu pai foi assim antes dele e ele era exatamente como deveria ser. Foi quando comecei a chamá-lo de Leonius ... ele gostou disso.
— Bastardo, —ela rosnou, lançando-se para ele. Divine queria arranhar seus olhos, estrangulá-lo e torcer sua cabeça naquele momento, mas ela nem sequer conseguiu tocá-lo. Divine mal havia dado dois passos quando foi agarrada por trás.
Amaldiçoando, torceu a cabeça de um lado para o outro e viu que estava sendo segurado por dois de seus netos. Sem dúvida os que foram enviados para espioná-la, Divine se perguntou como poderia ter esquecido sobre eles.
— Sente-a na cadeira e acorrente-a.
Abaddon ordenou ficando de pé, e Divine viu sentando-se na cadeira que tinha acabado de ser desocupada por Abaddon, braços fortes a forçaram para baixo, segurando-a. Um de seus netos ... um dos filhos de Damian, se corrigiu, foi até a geladeira velha, abriu-a e pegou uma corrente e vários cadeados de um monte deles. Parece que vieram preparados. Divine só queria ter lembrado que isso poderia acontecer. Estava tão determinada a falar com o filho, que não considerou um cenário como esse.
Ela permaneceu em silêncio enquanto os dois jovens Sem Presas trabalhavam. Abaddon os observou e verificou as correntes depois que terminaram, acenando com satisfação. Ele murmurou algo para um dos homens. Apesar de sua audição de Imortal, tudo que Divine ouviu foram as palavras — Eu quero que você espere por ... —enquanto Abaddon levava o homem para fora da sala. Ele voltou sozinho um momento depois, mas nem sequer olhou para Divine antes de começar a andar de cabeça baixa, com expressão pensativa.
Divine franziu a testa, olhou para o jovem Sem Presas ainda atrás dela. Ele se moveu e se encostou na parede com uma expressão entediada no rosto. Ela voltou a olhar para Abaddon, ainda andando de um lado para o outro. — O que estamos esperando?
— Seu Companheiro de vida, —Abaddon respondeu distraidamente, continuando a andar.
— Bem, então você está perdendo seu tempo, —ela disse de uma vez. — Marcus não virá aqui. Ele não sabe onde estou.
— Sim ele sabe. Deixei uma mensagem para ele no hotel com este endereço, —murmurou Abaddon, tirando o celular quando este fez um som de uma sirene de nevoeiro. Era obviamente uma mensagem de texto, e uma que não o agradou, porque ele começou a digitar uma mensagem em resposta, sua boca torcida com desagrado. Terminou de enviar sua mensagem e começou a deslizar o telefone de volta no bolso, quando parou e o puxou de volta depois que o som de sirene de nevoeiro tocou de novo. Ele murmurou exasperado com qualquer que fosse a última mensagem recebida, e rapidamente digitou outra resposta. Desta vez, ao devolver o telefone para o bolso, olhou para Divine e anunciou com irritação: — Seu filho está entediado.
— Não é meu filho, —disse Divine friamente. — Você é o único que o encorajou a ser do jeito que ele é.
— Claro que sim, porque é isso que um pai faz, Basha, —disse ele com exasperação. — Um pai deve encorajar seu filho.
— Ele não era seu filho para encorajar, —ela rosnou.
— Não, mas o pai dele também não era meu filho, e eu o encorajei e o ajudei a encontrar todo o seu verdadeiro potencial, —disse Abaddon com um encolher de ombros.
— Você ajudou Leonius Livius a encontrar seu verdadeiro potencial? —Ela repetiu duvidosa.
— Claro. Realmente acha que ele teve a ideia de criar um exército de seus próprios filhos sozinho? —Ele perguntou secamente.
— O homem não pensava mais do que em seu próximo prazer, muito menos no que poderia acontecer no dia seguinte. Não estava preocupado que os outros sobreviventes de Atlantis sabiam o que ele estava fazendo e que estavam se organizando para ataca-lo.
Divine olhou para ele. Ela sempre pensou que Abaddon era apenas outro seguidor do homem. Que ele havia chegado depois que Leonius Livius tinha começado seu caminho de terror. Agora ele dizia que estava lá desde do começo.
— A maioria dos Sem Presas é louco, mas não são naturalmente cruéis, —ele explicou, aparentemente determinado a convencê-la e reivindicar a duvidosa honra de ser o mestre das marionetes por trás do monstro. — Na maioria das vezes eles parecem não ter consciência e não se importam com quem ou como machucam os outros para conseguir o que querem. Sabe a crueldade que Leo possui e seu pai teve antes dele? Foi alimentado, eu alimentei isso neles e fiz para os dois, Leonius Livius I e o seu filho, que você criou.
Divine olhou para ele com horror. — Você corrompeu Damian.
Ele bufou alegando. — Absurdo! Eu não coloquei a faca na sua mão a primeira vez que ele cortou uma criança. Apenas o ajudei a desenvolver todo o seu potencial, uma vez que ele me revelou o que fez ...
Divine balançava a cabeça em negação antes mesmo que ele terminasse de falar. — Ele tinha uma consciência, você mesmo disse que ele estava chorando e preocupado com o que fez. Sabia que estava errado. Se eu soubesse e ...
— Ele estava chorando e preocupado com a possibilidade de ser pego e as consequências disso, —corrigiu Abaddon agudamente. — Temia que sua mãe ficasse com raiva e não o amasse mais. —Com lábios franzindo de desgosto acrescentou: — O menino tem alguns problemas sérios com a mamãe, Basha. Apesar de tudo o que fiz por ele, ele ainda ouve você quando sente que precisa te agradar ... também não quer que você se machuque ou fique com raiva. — Franziu o cenho e acrescentou: — Sabe, ele poderia se preocupar menos com você se soubesse que sua preciosa mamãe está pensando em entregá-lo ao tio Lucian. Que tipo de mãe isso faz de você?
— Ele está torturando e estuprando mortais inocentes, —ela grunhiu defensivamente, irritada com a acusação de que querer impedir Damian fazia dela uma mãe ruim.
— E matando. Não se esqueça disso, —Abaddon acrescentou com um sorriso. — Mas inocente, bah! —Zombou, e então disse com desgosto: — A maioria deles são fugitivos, prostitutas e viciados que tinham uma curta expectativa de vida de qualquer maneira.
— Ficando ainda mais curta pela chegada do meu filho em suas vidas, —resmungou Divine. — E você disse que a maioria deles é, e os outros? Quantas vidas ele deu um fim precoce? Quantas mulheres torturou antes de matar?
— Mulheres e homens, —corrigiu. — Ao contrário de seu pai, Leo gosta de piqueniques de família. Algo que você ensinou a ele, a propósito.
— Piqueniques de família? —Ela perguntou com perplexidade.
— Sim, você sabe, encontrar uma boa família saudável em uma fazenda e levá-los todos para o celeiro para uma refeição. Embora eu acredite que você costumava levá-los um de cada vez, e geralmente na varanda dos fundos ou atrás do celeiro. Claro, você nunca o deixava machucá-los ou matá-los, permitindo que ele pegasse apenas sangue suficiente para sobreviver antes de colocá-los de volta em suas camas. Ainda assim, essas são boas lembranças que Leo gosta muito de revivê-las.
— Revivê-las? —Ela repetiu incerta.
— Sim. Mas veja bem, Leo gosta de fazer isso em uma escala muito maior.
— Maior como? —Ela perguntou, com a certeza que não gostaria da resposta.
Abaddon a considerou brevemente, mas aparentemente não resistiu e correu para sentar na cadeira em frente a ela. Apoiando-se na mesa, sorriu entusiasmado e explicou: — Veja, ele pega meia dúzia dos seus garotos, e juntos encontram uma casa de fazenda isolada com uma boa e grande família. Mas é aí que os Sem Presas diferem da maneira como você fazia. Em vez de levar um membro de cada vez, ele e os meninos tiram todos da cama e levam toda a família para o celeiro juntos. Então, todos ainda estão de pijama, imagine a cena, e mamãe e as crianças estão amontoadas em um canto com alguns garotos que os impedem de correr ou desviar o olhar, dessa forma são obrigados a assistir enquanto o papai está pendurado por seus pés como um porco para abate e, em seguida ... —Ele encolheu os ombros. — Bem, eles o matam.
Divine fechou os olhos contra as imagens que ele estava pintando, mas elas continuavam a surgir em sua mente enquanto ele acrescentava: — É realmente algo glorioso para se ver, todos os meninos trabalhando juntos com o pai enquanto torturam e cortam suas vítimas. Eles fazem isso lentamente, é claro, para extrair o prazer.
— Cale a boca, —sussurrou Divine.
— Às vezes eles ficam com sede e param para beber o sangue dos baldes que colocam embaixo do homem para coletar o precioso líquido, mas outras vezes, embora isso seja apenas no final, —ele assegurou, — um dos garotos cortará uma artéria principal como uma carótida, ou, e isso é legal, o ulnar ou a radial44 em um dos braços pendendo para baixo, e então eles apenas ficam de pé e deixam esguichar e fluir do braço para as suas bocas como se tivessem tomando do bico de um bule.
— Cale a boca, —repetiu Divine, sua voz mais forte, mas rouca. Parecia que sua garganta estava se fechando.
— Oh, me desculpe, estou te deixando com sede? —Ele perguntou solicito.
— Com sede? —Ela ecoou com descrença. — Você está me deixando enojada.
— Oh, —Abaddon disse com fingida surpresa e depois estalou e balançou a cabeça. — Você sempre teve um estômago fraco, não teve? Que pena. —Ele deu de ombros e então disse: — De qualquer forma, isso geralmente mata o pai e então eles amarram a mamãe ao lado dele, também de cabeça para baixo, o que é útil para tirar a camisola dela se ela estiver usando uma, e então eles fazem tudo de novo. Claro, depois dela vem o filho ou a filha mais velha e assim por diante.
Incapaz de matá-lo por estar acorrentada à cadeira, Divine apenas abaixou a cabeça, tentando ignorá-lo quando ele terminou, — Então há a fogueira, o sangue, os gritos, e a diversão é festejada por todos. Os meninos adoram isso. Eles ficam empolgados quando Leo diz que vão fazer um piquenique em família.
— Querido Deus, —respirou Divine.
— Oh, não seja assim, —censurou Abaddon. — Você deveria estar orgulhosa de seu filho. Ele é pelo menos igual, se não supera, o pai quando se trata depravação. Mesmo tendo você como mãe, o que certamente foi uma desvantagem, com suas maneiras certinhas e caretas.
— Ele não é meu filho, —disse ela friamente, levantando a cabeça e olhando através do homem.
— Não, —disse Abaddon com simpatia. — Seu bebê era uma menina com grandes olhos azuis-prateados e cabelo loiro como o seu é sob essa tinta desagradável. Ela ... —Ele parou quando seu telefone fez outro som, desta vez um canto de alguma ave. Puxando para fora, ele olhou para a mensagem e sorriu. — Bem, Marcus também foi rápido. Já está chegando.
Divine sentiu seu coração afundar com esta notícia. Apesar dele dizer que estavam esperando por Marcus, ela tinha esperança que fosse mentira ou que Marcus teria o bom senso de não vir. Até teria ficado feliz se ele estivesse com raiva dela, agora que sabia que ela era a mulher que tinha, sem saber, resgatado um monstro, quando salvou Damian naquele dia no hotel.
Ela se odiava por tudo isso agora, por tudo que descobriu o que seu filho tinha feito todos esses anos.
Divine não podia imaginar o sangue, que o homem que ela criou como seu filho, Damian, tinha em suas mãos. Mas sabia que cada gota desse sangue estava em suas mãos também. Ela falhou como mãe. Deveria ter escapado de Abaddon no momento em que saíram do acampamento. Ela deveria ter ... Bem, na verdade, ela não sabia o que mais poderia ter feito para evitar isso, mas tinha certeza de que havia algo.
Marcus parou o sedan alugado ao lado do SUV que Divine tinha levado e examinou o prédio à frente, imaginando quantas pessoas haviam lá dentro. Ele estava entrando na toca do leão e fazendo isso de bom grado. Por quê? Porque a mensagem deixada para ele no hotel dizia que se ele viesse e sacrificasse a sua vida, Basha seria poupada.
Quanto a Marcus, isso lhe deixava pouca escolha. Ela era sua companheira de vida. Era simples assim. Preferia cortar a própria cabeça do que vê-la ferida de alguma forma. Simplesmente não sabia se desistir de sua vida salvaria a dela no final. Ele não era tolo o suficiente para confiar que este Abaddon, autor da mensagem, realmente deixaria Divine ir embora.
Marcus também não sabia quanto tempo tinham antes que Lucian e os outros os localizassem. Eles eram esperados de volta ao Parque na noite passada. Ligou enquanto estava no táxi no caminho da loja onde comprou as roupas ontem à noite e disse a Vincent que eles chegariam um pouco mais tarde do que o planejado, que Divine concordou em lhe contar tudo, mas levaria tempo. No entanto, agora era meio-dia do dia seguinte e não ligou novamente para seus amigos, nem havia respondido a nenhuma das muitas ligações deles nesta manhã. Primeiro porque estava amarrado e conversando com Divine no quarto enquanto seu telefone estava no bolso de sua calça jeans no banheiro e ele não tinha ouvido o primeiro telefonema, e segundo porque ele estava desesperado para alcançar Divine e ignorou as outras ligações. Além disso, ele não sabia o que dizer, se deveria ou não chamá-los para lhe ajudar. Marcus não tinha certeza se Divine estaria mais segura nas mãos de Lucian do que do homem que ela criara como filho.
O som de um carro atraiu seu olhar para o espelho retrovisor. Marcus não ficou muito surpreendido ao ver o carro parado atrás do seu. Seguira-o todo o caminho desde do hotel em Vegas. Agora que não estava mais mantendo uma distância segura entre eles, podia ver os dois homens dentro. Pareciam ser gêmeos, apesar do fato de que um tinha a cabeça raspada e o outro tinha cabelos longos, finos e despenteados. Eram definitivamente filhos de Leonius Livius II. Todos os seus filhos tinham herdado sua aparência.
Os homens saíram do veículo e simplesmente encostaram-se a ele, pacientemente esperando, ambos vestidos de jeans e camiseta. Os dois não pareciam muito incomodados com o fato de estarem se expondo sob o sol do meio-dia e terem que se alimentar mais por causa disso mais tarde. Marcus estava, no entanto, porque sabia que eles se alimentariam de algum pobre mortal que arrancariam da cama ou agarrariam na rua.
Apertando a boca, saiu do carro e dirigiu-se para a porta principal do edifício, sem sequer se dar ao trabalho de olhar ao redor para ver se os homens estavam o seguindo. Marcus já sabia que eles estavam. Saberia, mesmo que não pudesse ouvir o ruído da areia e das pedras sob seus coturnos45.
Capítulo 23
— Ah, aqui está você. Obrigado por vir tão rápido.
Divine se afastou de seus pensamentos e olhou para a porta quando Abaddon disse essas palavras. Seu coração pulou e depois afundou quando viu Marcus caminhando calmamente para a sala com dois filhos de Damian em seus calcanhares.
Leonius, ela se corrigiu. Eles eram filhos de Leonius. Ele poderia ter sido Damian quando menino, mas não era mais. Escolhera seu caminho e seu nome. Era Leonius Livius II agora, e ela nunca poderia se esquecer disso.
— Venha, sente-se, —disse Abaddon alegremente, apontando para a cadeira que ele tinha desocupado apenas alguns momentos atrás.
Marcus se dirigiu para a cadeira, seus olhos se movendo sobre Divine com preocupação quando ele se estabeleceu em frente a ela.
— Eu estou bem, —sussurrou tristemente, realmente desejando que ele não tivesse vindo.
— Claro que ela está bem, Marcus. Você se importa se eu te chamar de Marcus? —Abaddon perguntou, apontando para os homens, que imediatamente pegaram mais correntes e começaram a amarrar Marcus na cadeira. — E você, é claro, pode me chamar de Abaddon. Ou Abby, se você quiser.
Marcus o ignorou, assim como os homens que o acorrentaram e apenas olhava nos olhos de Divine como se fosse a única ali.
Ela podia ver a prata girando no escuro de seus olhos e tinha certeza de que suas emoções eram uma mistura tumultuosa de raiva, preocupação e algum sentimento mais suave que não ousaria chamar de amor. Mas ela não sabia dizer se ele estava bravo com ela ou Abaddon. Provavelmente com os dois, pensou infeliz e depois olhou para Abaddon, enquanto ele ordenava que os dois homens recém-chegados saíssem e ficassem de olho lá fora, caso alguma visita indesejada chegasse. Os dois homens saíram, deixando apenas Abaddon e o neto que estava atrás dela todo esse tempo. Ele permanecia encostado na parede, desde do início em que estava acorrentada à cadeira, parecendo entediado.
— Bem, —disse Abaddon, sentando-se em uma outra cadeira no final da mesa. — Estávamos aqui conversando sobre os bons e velhos tempos.
Marcus finalmente desviou os olhos de Divine para reconhecer o outro homem, dizendo: — Divine me disse que você era um dos primeiros homens de Leonius.
— Seu amigo, —corrigiu Abaddon. — Nós éramos grandes amigos.
— Estou surpreso que vocês tinham algo em comum. Você é Imortal, não é um Sem Presas, não é? —Marcus murmurou, estreitando os olhos enquanto olhava para o outro homem.
— Oh, sim, bem, é verdade, mas apesar disso, tínhamos muito em comum, —Abaddon assegurou.
— Você gosta de estuprar e torturar mulheres também, não é? —Marcus perguntou severamente.
— Gosto mais de observar do que executar, —admitiu Abaddon com uma risadinha. — Leo gostava de cortá-las, e eu gostava de vê-las gritar e se contorcer. Funcionava muito bem.
Divine olhou para ele bruscamente. Sempre achou que estava sozinha com Leonius quando ele fazia as coisas que ele fazia. Agora se perguntava se Abaddon estava lá em algum lugar, observando em algum canto o tempo todo. O pensamento apenas aumentou sua humilhação.
— Só na primeira vez, —disse Abaddon de repente, aparentemente lendo sua mente. — E ele me expulsou depois dos primeiros minutos, o que nunca fez com nenhuma das outras mulheres, —acrescentou ressentido, depois forçou um sorriso e disse: — Leo estava estranhamente com ciúmes de você ... que eu posso entender completamente, é claro. —Acrescentou, percorrendo um olhar obsceno pelo corpo dela. — Ele e eu sempre tivemos gosto semelhante em relação as mulheres.
Apesar de olhá-la, tudo o que Divine sentiu foi alívio que Abaddon não tivesse testemunhado sua humilhação, pelo menos não após os primeiros minutos dela. Embora soubesse que era bobagem sentir isso quando tudo o que ele tinha que fazer era ler sua mente e aproveitar cada segundo daquilo.
— Já chega disso, —disse Abaddon de repente, sentando-se na cadeira e virando o olhar para Marcus. — Antes de você chegar aqui, estávamos falando sobre o bebê de Basha. Eu estava dizendo como a menina era bonita, e que ela parecia apenas uma mini versão de Basha, mas meio gordinha e arredondada como os bebês são. —Seu olhar voltou para Divine. — Você deveria tê-la visto, Basha. Ela realmente era adorável.
— O que aconteceu com ela? —Marcus rosnou.
Abaddon respondeu olhando para Divine. — Eu cortei a cabeça dela quando sai fora da tenda enquanto você ainda estava dentro ofegante pelo esforço de dar à luz a ela. Leonius não tinha utilidade para as filhas.
Divine fechou os olhos, mas Marcus rosnou e puxou inutilmente as correntes. — Você ...
— E você me deu Damian em seu lugar? —Divine disse rapidamente, interrompendo Marcus. Abaddon poderia alegar que gostava de assistir, em vez de distribuir tortura, mas era tão cruel em seu caminho quanto Leonius, e era conhecido por suas agressões. Ela não teria ele agredido um Marcus indefeso.
A expressão de Abaddon foi divertida quando ele se virou para ela. Sabia exatamente o que ela estava fazendo, mas tudo o que ele disse foi — Eu sei que gosta de pensar que você deu a ele o nome de Damian, mas na verdade, Basha, ele já tinha um nome um dia antes, seu pai o nomeou de Leonius II quando o coloquei em seus braços.
Ele deixou que afundasse essa informação e depois riu e acrescentou: — Embora, devo dizer que é irônico. Sua escolha de nome, quero dizer. Você não acha isso irônico ... especialmente agora? Quero dizer, você deve pensar que ele é a cria do diabo.
Quando Divine apenas olhou para ele com perplexidade, ele suspirou com desapontamento. — Claro, você não faz nada tão mortal quanto ir ao cinema ou assistir televisão, não é? Então você nunca assistiu A Profecia46? Não? —Ele balançou a cabeça. — Que vergonha. Eu acho que você realmente iria gosta.
Divine não tinha ideia do que ele estava falando e nenhum interesse em filmes naquele momento. Ela tinha muitas perguntas embora.
— Por quê? —Perguntou severamente. — Por que me dar o menino no lugar da minha filha? Por que me tirar de lá com uma criança que não era minha? Por que não levar a mãe do menino em vez disso?
— Para dar a ele uma chance melhor de sobrevivência, —ele disse simplesmente. — Você é uma Argeneau, a mãe do garoto era apenas uma mortal que Leonius transformou em Desdentada. Com você em seu lugar, se fôssemos pegos fugindo, seu tio levaria os dois sob sua guarda e o lar de seus pais, e o filho de Leonius teria sido criado no seio da mesma família que provocou a queda de seu pai.
Divine balançou a cabeça imediatamente. — Eles saberiam que ele não era meu filho. Ele era um Desdentado, uma mulher Imortal só pode conceber Imortais.
Abaddon olhou para Marcus. — Estou supondo que você esclareceu a ciência para ela? Deve ter sido. Ela nunca esteve em torno de outros Imortais antes de você. Eu me certifiquei disso. —Sorrindo levemente, ele sentou-se e sugeriu: — Talvez você devesse dizer a ela por que eles teriam acreditado que ele poderia ser seu filho naquela época.
Marcus ficou em silêncio por um momento, e Divine estava começando a achar que ele recusaria responder, mas então ele se virou para ela e disse: — Ele está certo. Poderiam ter acreditado que ele era seu naquela época. Os Imortais não costumavam acasalar com Sem Presas, então não havia muita informação sobre essas questões. Além disso, nenhum dos cientistas conseguiu sair da Atlantis vivo, e só nos últimos dois séculos a ciência mortal progrediu o suficiente para aprendermos esse tipo de coisa.
— Exatamente, —disse Abaddon triunfante. — Lucian teria aceitado Damian como seu filho e provavelmente teria ajudado você a criá-lo também. —Ele sentou-se com um pequeno suspiro e disse: — Isso não teria sido grandioso?
— Isso é o que Leonius queria, não era? —Disse Divine com súbita compreensão, certo de que o bastardo teria gostado da ironia disso.
— Hum hum, —Abaddon murmurou com um aceno de cabeça. — E tenho certeza que ele morreu feliz, achando que isso aconteceria. Infelizmente para ele, mudei os planos quando tirei vocês para fora do acampamento e decidi que era preferível não ser pego.
— Por quê? —Ela perguntou imediatamente.
— Você quer dizer, além do fato de que eu teria sido morto no local, se tivéssemos sido pegos? —Abaddon perguntou secamente e balançou a cabeça. — Receio de não ser tão fiel assim a Leonius. Achava seu comportamento divertido, certamente, mas morrer por ele e por sua causa era um pouco demais para minha mente.
— Então, por que não nos deixou fugir por conta própria quando nos tirou do acampamento? —Perguntou Divine, pensando em como tudo teriam sido. Ela teria tido família, um lar ... Damian poderia até ter tido uma chance.
— É por isso, —disse Abaddon.
Divine piscou seus pensamentos e olhou para ele confusa, mas foi Marcus quem perguntou: — Por qual motivo?
Encarando Divine nos olhos, Abaddon disse: — Você teria uma família, um lar ... —Ele parou de listar os pensamentos que ela estava tendo e encolheu os ombros. — Tenho vergonha de admitir que sou um idiota vingativo. Até minha mãe costumava dizer isso.
— Você teve uma mãe? —Divine estalou. — E eu aqui pensando que você tinha sido chocado como o resto das cobras.
— Me ofendendo? —Perguntou com uma risada. — Mesmo? Isso é o melhor que pode fazer?
— Remova essas correntes e eu vou fazer melhor por ela, —disse Marcus sedosamente, atraindo o olhar de Abaddon.
Abaddon sorriu. — Agora, por que eu faria isso? Tenho vocês do jeitinho que quero e gosto disso.
— Torturando-a, você quer dizer? —Marcus perguntou severamente. — Você pode não gostar de sujar as mãos com tortura física, mas certamente não tem problema em torturá-la mentalmente, não é? Tem feito isso todas as vezes que a encontrou durante esses dois mil anos.
— Não tanto quanto gostaria, —Abaddon assegurou. — Sempre foi complicado com Leonius ao redor. Ele é protetor de sua mãe ... como um filho amoroso deve ser. —Acrescentou com um sorriso de escárnio.
— Por quê? —Divine exigiu antes que Marcus pudesse responder a provocação de Abadddon. — Só me diga por que diabos eu ganhei tanto ódio vindo de você? Por que você me quis tão confusa e miserável todos esses anos?
Abaddon virou-se para olhar para ela. — A verdade?
Quando Divine assentiu, ele encolheu os ombros.
— Basicamente é porque eu não aceito bem rejeição.
— Rejeição, —ela repetiu com confusão, não tendo a menor ideia do que ele estava falando.
Abaddon suspirou com exasperação. — Isso tem sido um espinho no meu pé por eras e você nem se lembra? —Ele perguntou com aborrecimento.
— Lembrar-me de quê? —Divine perguntou aborrecida. Raios, se ela estivesse pagando todos esses anos por algo, seria bom saber o que diabos era.
— Eu me ofereci para salvá-la, —disse ele com pesar, e quando Divine o olhou para ele sem expressão, ele irritou-se e lembrou-lhe: — Lembra-se na volta para o acampamento a noite em que te encontramos? Você estava amarrada e no meu cavalo na minha frente. Quando você achou que ninguém estava prestando atenção, começou a chorar. Levantei seu queixo e você olhou para mim com aqueles grandes, tristes e desesperados olhos azuis-prateados e fiquei comovido, —acrescentou ele com auto repugnância. — Eu me ofereci para te salvar de Leonius.
— Você se ofereceu para me salvar se eu me tornasse sua amante, —disse Divine com indignação quando a lembrança voltou para ela.
— Isso teria sido pior do que deixar aquele animal, te estuprar e te torturar? —Abaddon retrucou.
— Deixar? —Ela retrucou de volta, inclinando-se para a frente em sua cadeira, tanto quanto as correntes permitiam. — Eu tinha onze anos de idade. Uma criança. Não tinha ideia do que esperava por mim. Tudo o que eu sabia era que algum velho pervertido estava me sequestrando e exigindo que eu fosse sua amante ou me arrependeria.
— Mas não ficou, não é? Não ficou arrependida, —ele rosnou. — Você gostou do que ele fez com você.
Divine bateu de volta contra a cadeira como se ele tivesse lhe dado uma bofetada. Aqui estava a sede de sua vergonha. A razão pela qual tinha certeza de que sua família se afastaria dela como Abaddon repetidamente alegara. A razão pela qual passou a vida correndo e se escondendo, até mesmo de si mesma. Na maioria das vezes, seu cativeiro não passava de uma agonia aterrorizante e gritante. Mas houve ocasiões ... Divine não tinha entendido na época, mas houve momentos que ela parecia experimentar o prazer de Leonius em sua dor, junto com sua agonia. Nas primeiras vezes, eles eram breves, apenas instantâneos, porque Leonius havia rapidamente parado o que estava fazendo e se afastou abalado e confuso. Mas depois de meia dúzia de sessões como essa, ele não recuou mais, continuou derramando uma tempestade de dor e prazer nela até desmaiar.
Isso abalou Divine, abalou sua crença em si mesma. Isso a fazia se sentir envergonhada, suja, irrecuperável. Como se houvesse algo errado com ela. Em sua mente, o que ele fez com ela era abominável, desumano. Ela estava horrorizada e sofrendo. Então, como poderia ao mesmo tempo ter experimentado algum prazer?
— Você não pode negar, —acusou Abaddon. — Você gostava.
O olhar de Divine disparou para Marcus e depois rapidamente desviou para longe quando o viu olhando para ela com preocupação. Franzindo a testa para Abaddon, ela murmurou. — Vá para o inferno.
— Assim eu espero, —disse Abaddon, relaxando. — Realmente espero gostar de lá.
— Todo esse seu comportamento não é porque ela rejeitou sua oferta de proteção naquela época, —Marcus disse de repente. — Toda a energia que você gastou para deixá-la infeliz todos esses anos, assegurando que ela nunca se sentisse segura para ir atrás de sua família, garantindo que ela estivesse sempre sozinha, mentindo para fazê-la continuar se alimentando de mortais quando você sabia que não era mais permitido ... chamando-a para resgatar Leonius naquele hotel quando Lucian e os outros o capturaram ... —Marcus balançou a cabeça, os olhos se estreitando no homem. — Você poderia ter salvado Leonius sozinho, mas preferiu deliberadamente chamar Divine, com a intenção de fazê-la uma desonesta e garantir dessa forma que ela nunca mais seria aceita de volta ao seu lar. Pelo menos era isso que você esperava que acontecesse.
— E daí? —Abaddon franziu o cenho.
— E daí que essas não são ações de um homem que foi rejeitado, —disse Marcus calmamente, e depois acrescentou: — Essas são as ações de uma esposa ciumenta que culpa uma amante por roubar um marido.
Os olhos de Divine se arregalaram incredulamente e ela olhou para Abaddon para ver que o rosto dele estava ficando vermelho e depois se transformou em uma expressão de fúria.
— O que aconteceu, Abaddon? —Marcus perguntou. — Você não podia ler Leonius e ele não podia ler você? Você o queria como seu companheiro de vida, e nem se importava que ele estivesse ocupado com a tortura de seus brinquedinhos, desde que ele deixasse você fazer parte disso. Mas então chegou Divine. Como você sabia que ele iria deseja-la como ele fez? Você deve ter percebido isso para oferecer sua proteção. Embora eu suspeite que você só ofereceu pensando que Leonius não iria a querer se ela concordasse em ficar com você de bom grado.
— Foi o jeito que ele olhou para ela, —Abaddon rosnou e então olhou para Divine. — Desde o momento em que você correu para a clareira, foi como se ele tivesse sido atingido por uma estrela. Ele nunca olhou para nenhuma das outras mulheres assim. Eu sabia ... —Sua boca se fechou e ele fez uma careta para Divine. — Então, eu levei você para o meu cavalo antes que ele pudesse, e fiz essa oferta no caminho de volta ao acampamento, mas, oh, não, você queria Leonius, meu Leonius.
Ele se virou para Marcus. — Ele não só me expulsou da tenda, quando começou com ela, como não queria mais se divertir com as outras. Não imediatamente, é claro, demorou uma ou duas vezes antes de começar a não se sentir mais atraído pelas outras. Eu tive que lembrá-lo uma e outra vez sobre os nossos planos e a necessidade de um exército de seus filhos. Mas foi só quando eu disse que os Argeneaus viriam e a levaria para longe dele se ele não tivesse um exército forte o suficiente para impedi-los, é que ele voltou a dar atenção as outras novamente. Ele me deixou assistir de novo, mas era óbvio que não queria mais se divertir como antes fazíamos. Tudo o que ele queria era ela, —disse com desgosto.
— Ela era uma possível Companheira de Vida também, —disse Marcus com súbita compreensão, e Divine olhou para ele bruscamente.
Leonius Livius era meu Companheiro de Vida? —O pensamento era insuportável. Além disso: — Eu achava que cada um de nós tinha apenas um companheiro de vida? Você é meu companheiro de Vida.
Marcus sacudiu a cabeça. — Companheiros de Vida são muito raros, mas não são únicos. Alguns encontraram mais de um na vida, —disse ele gentilmente, depois se virou para Abaddon e repetiu friamente: — Divine era uma possível Companheira de Vida para ele também, e ele a escolheu acima de você ... e você a odiou por isso.
Divine permaneceu em silêncio, sua mente correndo. Ela queria negar o que ele estava dizendo, mas isso explicava muito. O prazer que ela sentiu e lutou quando Leonius a estuprou e torturou ... poderia ter sido o prazer dele no ato. Se assim fosse, não tinha sido um sinal de que ela era tão torcida e suja quanto as coisas que ele fazia com ela ... e esse tinha sido seu maior medo, o que lhe permitira acreditar em suas alegações de que sua família não a desejaria, que a envergonhara a família, que ela se envergonhara.
— Você não planeja manter a troca que fizemos e deixar Divine ir embora, —Marcus disse de repente e Divine olhou para ele novamente. Ele não estava mais olhando para ela. Seu olhar estava agora firmemente em Abaddon quando ele disse: — Você não pode. Ela sabe demais agora e contará a Damian tudo isso. Como você a manipulou e garantiu que ela estivesse sempre isolada e sozinha todos esses anos. Como você os manteve longe de sua família quando seu pai Leonius queria que ele fosse criado entre os Argeneus. E a razão verdadeira desse desejo era porque ela era a sua Companheira de vida.
— Ela não deveria ter sido. Não era boa o suficiente para ele. Era uma criancinha idiota e ... —Ele fez uma pausa e olhou para o bolso com surpresa, enquanto seu telefone emitia o som da sirene novamente. Soltando um suspiro lento, o pegou e se afastou da mesa enquanto lia.
— Como você explicará que matou a sua mãe para Damian? —Marcus perguntou preguiçosamente quando Abaddon começou a digitar uma resposta em seu telefone.
— Eu vou dizer que você a convenceu de que ele não era filho de Divine e que disse a ela o que ele tem feito. Vou dizer que ela queria entregá-lo e que eu não tive escolha. —Abaddon murmurou, ainda digitando.
— Se você acha que ele aceitará isso como razão suficiente para me matar, você não teria arranjado um encontro às escondidas comigo, —disse Divine, empurrando todos os outros problemas para depois. Aprendeu há muito tempo a priorizar os problemas mais importantes quando necessário, e ficar sentada ali, preocupada com o fato de que provavelmente tinha sido uma Companheira de Vida para Leonius Livius, não iria ajudá-los a sair dali vivos. Quando Abaddon não respondeu, ela acrescentou: — Damian não vai ficar feliz, se eu estiver morta. Como você disse, ele é protetor comigo. E o fato de que agora tenho o conhecimento de quem ele é não é uma desculpa boa o suficiente para me matar, quando tudo o que ele precisa fazer é só parar de me dar seu endereço. Ele já tem Lucian e todos os seus Caçadores de desonestos atrás dele, esconder-se de mim não seria uma dificuldade.
Abaddon suspirou longamente e desviou o olhar do telefone para olhar para ela. — Então eu vou ter que dizer a ele que seu tio a encontrou e matou vocês dois e nós encontramos vocês aqui.
— Oh, certo. Bem, certifique-se de tirar as correntes de nossos corpos antes que ele as veja, —ela disse secamente e seguiu com uma risada curta quando ele voltou a digitar.
— O que foi? —Perguntou Abaddon, franzindo o cenho para ela.
— O que foi o quê? —Ela perguntou inocentemente.
— Você riu como se tivesse pensado em algo, mas eu estava distraído com o meu telefone e não estava lendo sua mente. O que você estava pensando?
Divine deu de ombros. — Estava pensando que Danny, que está atrás de mim, ou número dezessete, acho que ouvi Damian chama-lo assim, não é provável que fique de boca fechada sobre o que aconteceu aqui hoje. Nem os outros. Eles sempre foram garotos gananciosos. Toda vez que quiserem alguma coisa, vão te chantagear com isso, e bom Deus, não diga ou faça nada para irritá-los ou eles vão dizer a seu pai sobre isso só para se vingar.
Abaddon a olhou fixamente por um minuto e depois desviou o olhar para o homem atrás dela. Ela não se virou para olhar, mas se fosse arriscar um palpite, Divine diria que o filho de Damian estaria sorrindo e concordando ou algo estúpido assim porque Abaddon de repente tirou uma arma do bolso e atirou em Danny.
Divine se virou então, bem a tempo de ver que o garoto estupido tinha sido atingido no meio de sua testa. O jovem Sem Presas caiu como uma pedra sem tempo suficiente para parecer surpreso. Mas ele era um Sem Presas, no entanto, e não morreria. Com o tempo se curaria, seu corpo empurraria a bala para fora da cabeça. Ou ele teria, porque Abaddon, em seguida, deslizou seu telefone no bolso, abriu um dos armários ao longo da parede ao lado da geladeira, tirou um machado, ergueu-o e então se aproximou e cortou a cabeça de Danny com um golpe.
— Pronto, —disse ele, endireitando-se com satisfação. — Agora Danny não conta nada a ninguém, não é? —Cuidarei dos outros mais tarde, quando a utilidade deles tiver acabado. Leonius pode sempre fazer mais. Deus sabe que ele trabalha duro o suficiente. Ele é pior do que o pai dele no cio. Parece gostar disso tanto quanto, ou até mais, causando-lhes dor. Algo que eu estava esperando que ele se aperfeiçoasse, mas até agora sem sorte, —ele murmurou, puxando o telefone do bolso enquanto fazia o som da sirene de nevoeiro novamente.
Divine desviou seu olhar do homem morto que ela tinha como um neto e olhou para Abaddon. A morte de Danny a fez lembrar dos outros garotos, aqueles que ela criou como netos, e ela perguntou abruptamente: — Quem matou Luc?
Abaddon olhou surpreso. Aparentemente, ela o pegou de surpresa, mas depois de um momento, ele admitiu: — Ninguém. Ele não sobreviveu ser transformado.
Divine assentiu. — E os outros?
— Dois morreram quando Leonius tentou transformá-los, mas o resto ... —Fez uma careta. — Eles eram Desdentados, fracos, não machucariam uma mosca. Isso os tornava inúteis para Leo, e ele temia que eles contassem a você, então ... —Ele gesticulou para Danny. — Eles foram da mesma forma que esse aí foi, sem a parte de tiro primeiro.
Divine fechou os olhos e abaixou a cabeça ao pensar em todos aqueles garotinhos adoráveis, e então olhou para cima bruscamente quando o telefone tocou ao invés de fazer o som da sirene. Abaddon xingou, respirou fundo por paciência e depois atendeu o telefone.
— Olá, —ele disse agradavelmente. — Sim, Leo. Eu sei. Estarei lá o mais rápido que puder, mas tenho alguns negócios... não, eu sei, mas ... sim, mas ... ótimo. —Ele terminou e apertou o botão para encerrar a ligação. Seus dentes estavam se movendo audivelmente enquanto anunciava: — Parece que eu tenho que ir por um tempo. Os outros meninos virão aqui para ver vocês, e eu voltarei.
— Obrigado pelo aviso, —Marcus murmurou quando Abaddon deixou a sala.
Capítulo 24
— Eu queria que você não tivesse vindo aqui.
Marcus voltou sua atenção da porta que Abaddon tinha acabado de sair e olhou para Divine com essas palavras. Ela parecia incrivelmente triste. Ele só queria levá-la em seus braços e abraçá-la, beijá-la e confortá-la e dizer-lhe que tudo ficaria bem.
Infelizmente, ele estava acorrentado a sua cadeira e não podia fazer nada disso. Pelo menos não a parte de abraçar e beijar.
— Eu te disse, Divine. Seu destino é o meu. Se você estiver morta e enterrada, posso muito bem apodrecer no chão bem perto de você. —Ele fez uma careta ao mesmo tempo em que disse isso, e então acrescentou solenemente: — Mas se eu puder salvar sua vida com a minha, farei.
— E me deixar continuar sem você, —ela disse secamente e então balançou a cabeça. — Abaddon adoraria isso, então eu poderia adicionar a culpa e a responsabilidade por sua morte horrível ao meu sofrimento pelo próximo milênio ou por quanto tempo eu viver.
— Então eu acho que é melhor sairmos daqui, —disse ele solenemente e começou a puxar suas correntes.
— As cadeiras são de metal e as correntes são fortes, —disse Divine, parecendo cansada. — Não vamos a lugar nenhum.
— Desistindo? —Ele repreendeu. — Não achei que você fosse desse tipo.
— E não sou normalmente, —ela disse cansada. — Mas agora ...
Quando Marcus permaneceu em silêncio, voltando sua atenção em forçar as correntes, Divine disse: — Não entendo porque Abaddon não apenas assumiu o controle de minha mente e me fez aceitar a oferta para ser sua amante naquele dia. Quero dizer, se ele pensasse que isso impediria Leonius de me tocar ...
— Não teria, —assegurou Marcus. — Leonius provavelmente o teria matado. Além disso, Abaddon realmente não queria você, ele queria Leonius. E nesse momento, suspeito que foi apenas uma oferta descartável. Ele viu o modo como Leonius olhou para você, teve medo e reagiu. Mas ele não sabia naquele momento que você era uma possível Companheira de Vida para Leonius. Estava com ciúmes do jeito que ele olhava para você, então não havia necessidade real de forçar a questão em sua mente.
— Oh, sim, —Divine murmurou e então olhou para ele com surpresa quando uma das barras verticais da parte de trás de sua cadeira de repente estalou.
— Notei que estava enferrujado quando ele me pediu para sentar-se nela, —disse Marcus com um sorriso enquanto as correntes em torno dele se soltavam. Ele se inclinou e rapidamente saiu das correntes na cadeira, depois se levantou e deu a volta na direção dela. Mas ele não foi imediatamente trabalhar nas suas correntes. Em vez disso, ele se ajoelhou diante dela e segurou seus ombros com as mãos. — Divine, vi sua expressão quando ele acusou você de gostar quando Leonius ... de suas investidas.
Ruborizada, abaixou a cabeça, mas ele pegou seu queixo e o levantou novamente. — Você não tem nada para se envergonhar. Até mesmo os mortais abusadores e estupradores de crianças podem fazer com que suas vítimas experimentem prazer.
— Mas as coisas que ele fez comigo, Marcus. Eu não gostava de nada daquilo. Não gosto de dor. Meu cérebro estava gritando de horror com o que ele fez, mas meu corpo ...
— Ele era um possível Companheiro de Vida, —disse Marcus com firmeza. — Tenho certeza disso, e sendo esse o caso, o que você experimentou foi o prazer dele. Não o seu próprio. —Quando ela apenas balançou a cabeça, ele perguntou: — Você não sentiu o meu prazer quando me beijou e me acariciou na noite passada e, em seguida, levou meu pau para a sua ...
— Sim, claro que sim, —ela interrompeu, desejando ter um lenço. Seus olhos estavam começando a lacrimejar e o nariz entupindo.
Ela realmente poderia usar um lenço agora.
— Bem, é a mesma coisa, querida, —ele disse gentilmente. — Se não fossemos Companheiros de Vida, fazer o que você fez ontem comigo teria sido como chupar uma banana, você teria gostado, claro, a banana é gostosa. Mas o ponto é, porque somo companheiros você experimentou o meu prazer junto comigo. E é isso que você experimentou com Leonius. Seu corpo podia estar em agonia, mas o prazer dele foi enviado para você ao mesmo tempo.
Ele fez uma pausa e disse tristemente: — Deve ter sido terrivelmente confuso para você nessa idade. Inferno, teria confundido um adulto também, tenho certeza.
— Eu me sentia tão suja, —ela admitiu inclinando a cabeça contra o peito dele e fungando miseravelmente. — Pensei que havia algo errado comigo, que era doente e torcida como ele. Abominável.
— Não há dúvida de que é por isso que Abaddon achou tão fácil mantê-la longe de sua família todos esses anos, —Marcus murmurou, abraçando-a ao peito, tanto quanto ele podia.
Divine assentiu contra sua camiseta, deixando uma trilha molhada de lágrimas.
Suspirando, ele puxou o seu rosto para trás e disse com firmeza: — Bem, você não é como Leonius, você não está doente e torcida, e eu te amo.
Ela piscou surpresa com isso. — Você me ama?
Ele assentiu.
— Por quê? —Ela perguntou com perplexidade. — Quer dizer, eu sei que temos toda uma vida, Marcus, mas ...
— Querida, pelo que sei, você é como eu, —disse ele com diversão. — Passei minha vida inteira cuidando dos outros e você também. Sei que você tentou ajudar todas essas pessoas que lia no Parque, assim como os próprios companheiros carnies. Estou supondo que tenha feito isso toda a sua vida. Além disso, você é corajosa, forte, inteligente e sexy como o inferno.
Divine riu do último comentário. Ela não se sentia muito corajosa, forte ou sexy nesse momento em que chorava no peito dele. Mas Deus! Amava esse homem. Qualquer homem que pudesse fazer você rir em uma situação como essa era um guardião, um protetor, pensou.
— Espero que venha a me amar também, —Marcus acrescentou, beijando sua testa.
Divine mordeu o lábio, mas depois suspirou e admitiu: — Por mais que eu odeie admitir isso, como não amar você de volta quando entrou aqui por livre e espontânea vontade, oferecendo sua vida pela minha. Você selou esse acordo.
Marcus sorriu e apertou-a brevemente, mas depois afrouxou o aperto e franziu a testa enquanto perguntava: — Por que você odeia admitir isso?
— Porque você estaria melhor sem mim. Se sairmos daqui e ficarmos juntos, você vai passar o resto de sua vida fugindo, —ela apontou tristemente.
— Estive pensando sobre isso, —disse Marcus, liberando-a para se movimentar e olhar sobre suas correntes e a cadeira em que ela estava sentada. — Isso necessariamente não precisa acontecer.
— Hum, sim, precisa, —ela assegurou-lhe secamente. — Eu resgatei Leonius de Lucian. Ele dificilmente vai esquecer isso.
— Sim. Mas eu estou pensando que Damian, —ele disse o nome com firmeza, será o seu Jean Claude.
Divine parou e o olhou com surpresa. — O gêmeo do tio Lucian?
— Sim, eu não sei se você sabe disso, já que não tem contato com a família há muito tempo, mas, Jean Claude era um desonesto. Ele estava quebrando leis dos Imortais. Muitas leis, —acrescentou secamente. — De qualquer forma, Lucian sabia que ele se comportava mal, como você sabia que havia alguma coisa errada com Damian, mas o que seu tio não sabia era que Jean estava realmente infringindo as leis, e, como você, Lucian o ajudou quando não deveria, —explicou Marcus, puxando a cadeira. — Claro, uma vez que descobriu o comportamento do irmão, ele matou Jean Claude, mas só porque foi o próprio Jean Claude que pediu isso a ele.
Divine ouviu um estalo e as costas de sua cadeira de repente se deslocaram atrás dela, as correntes se afrouxaram.
— Estou planejando que se nós lembrarmos a Lucian desse episódio, ele poderá ser mais flexível com você, —Marcus terminou, vindo ao redor para ajudá-la a se desembaraçar das correntes. Uma vez que ele a libertou, segurou seu rosto e sorriu. — Nós ainda poderemos ter uma família e casa e todas as outras coisas que você nunca teve e que para os outros é tão normal e certo.
Divine fechou os olhos brevemente, com medo de permitir que a esperança florescesse em seu coração. Abrindo os olhos, ela perguntou: — Mas e se ele não aceitar?
— Então estaremos viajando muito, —Marcus disse ironicamente. — Pode ser divertido.
Divine deu uma risada curta e sacudiu a cabeça. — Você é sempre tão otimista?
Marcus encolheu os ombros. — Na minha juventude, sim. Não tenho sido por séculos embora. Mas acho que você faz me sentir desse jeito. —Deslizando os braços ao redor dela, ele disse: — Eu sinto que poderia conquistar o mundo com você ao meu lado.
— Não, se vocês vão perder tempo aí no meio do território inimigo, se beijando e se abraçando.
Divine e Marcus endureceram com essas palavras e se viraram para espiar o homem que estava na porta. Ele estava encostado no batente da porta, tornozelos e braços cruzados, e olhando para eles com uma expressão que era difícil de ler.
— Lucian, —Marcus respirou, liberando Divine e pisando protetoramente na frente dela. — Nós precisamos conversar.
— Nós? —Perguntou Lucian secamente.
Divine franziu a testa, e deslizou na frente de Marcus, as mãos nos quadris enquanto confrontava o tio que tinha sido um bicho-papão para ela por tantos anos. — Não. Eu e você precisamos conversar, —ela disse com firmeza, e depois acrescentou sombriamente: — Marcus não fez nada de errado. Pode me prender ou me matar, mas você tem que deixá-lo ir...
— Divine, —Marcus a interrompeu, agarrando o braço para puxá-la para trás dele. — Deixe que eu cuido disso. Eu ...
— Eu sugiro que calem a boca e me deixem falar antes que vocês me irritem, —disse Lucian secamente.
Marcus parou de puxar Divine, e em vez disso, deslizou a mão para baixo apetando a dela, encorajando-a. Ou talvez sugerindo que ela aceitasse o conselho do homem e ficasse quieta. Divine não tinha certeza qual era das duas, mas segurou a língua e se recostou contra ele, aceitando o apoio que ele oferecia.
Lucian acenou com a cabeça, aparentemente satisfeito com a obediência deles, e então seu olhar deslizou para Marcus.
— Quando você não atendeu as ligações, pedimos que Mortimer rastreasse o GPS do SUV de Tiny e Mirabeau e viajamos até aqui para descobrir o que estava acontecendo. Encontramos e predemos três dos filhos de Leonius que guardavam o prédio quando chegamos, há mais deles?
Quando Marcus hesitou, Divine olhou para ele e percebeu que Marcus estava olhando para ela, esperando sua resposta. Voltando-se para o tio, ela disse: — Só vi quatro deles. Aquele cara ... —assentiu para o desafortunado Danny, que estava deitado em dois pedaços no chão. — Seu parceiro e dois outros homens que chegaram atrás de Marcus.
— Eles me seguiram desde do hotel, —Marcus inseriu e perguntou: — Você não viu Abaddon por aí em algum lugar?
— O que é um Abaddon? —Lucian perguntou secamente. — Parece algo que pertence a um banheiro público
O comentário arrancou uma risada de Divine. Mordendo o lábio, ela rapidamente inclinou a cabeça para esconder sua diversão, com medo de que seu tio ficasse bravo se ele achasse que ela não estava levando isso a sério.
— É bom ouvir sua risada de novo, Basha, —disse Lucian em voz baixa.
Divine olhou com surpresa para as palavras, mas disse automaticamente: — Eu sou Divine agora.
Por alguma razão, isso fez a expressão de Lucian se fechar como um cofre. Seus olhos também se estreitaram nela em concentração. Ele a estava lendo, sabia, e ficou parada, não tentou fechar a mente para o seu tio. Depois de um momento, ele piscou e soltou um longo e cansado suspiro enquanto esfregava os olhos com o polegar e os dedos de uma das mãos. Quando aquela mão finalmente caiu, Lucian lançou um olhar a Marcus e disse: — Fora.
Divine sentiu Marcus enrijecer e o olhou com alarme, metade dela com medo que ele dissesse a seu tio para ir para o inferno e a outra metade com medo que ele obedecesse e saísse. Ele veio aqui como espião de Lucian, afinal. Isso significava que tinha que obedecer?
Marcus apertou a sua mão, tranquilizando-a, mas não olhou para baixo. Ele olhou nos olhos de seu tio e disse: — Ela é minha Companheira de vida, Lucian, com todo o respeito ... vá se danar.
De olhos arregalados, Divine atirou seu olhar de volta para seu tio, observando sua reação. Para sua surpresa, depois de encarar Marcus por vários momentos tensos, ele assentiu, sua boca quase formando um sorriso antes de dizer: — Tente.
Divine ainda estava piscando em confusão, sem saber o que ele queria dizer com isso quando Lucian voltou sua atenção para ela.
— Seu nome é Basha Argeneau, —disse ele com firmeza. — Você não é Divine, Nuri ou Naduah. Você é Basha Argeneau e sempre será.
— Até que seja Basha Notte, —disse Marcus severamente por trás dela.
Lucian o ignorou, nem mesmo o reconhecendo com um olhar enquanto continuava: — Você é Basha, a filha do meu irmão Félix. A garota que quando criança parecia a minha filha mais velha que perdi na queda de Atlantis. Você é Basha, que foi minha primeira sobrinha favorita, e que eu sofri e me culpei por não a manter segura por dois milênios e meio. —Ele avançou para agarrar seus ombros com firmeza. — Você é Basha Argeneau. Entendeu?
Quando ela assentiu relutantemente, ele apertou seus ombros e disse: — Seu pai te nomeou Basha. Não se recuse a usá-lo por algo que lhe foi feito quando criança. Essa garota, que você foi um dia, sempre fará parte de você, mas você não é mais aquela criança. É um sobrevivente, forte e corajosa. Teve a coragem de se manter viva quando mulheres Imortais, séculos mais velhas do que você, não resistiram e tiraram suas próprias vidas.
Isso a fez piscar enquanto ela se perguntava o quanto ele tinha lido de suas lembranças na sua mente naqueles poucos momentos em que ele procurou. Então voltou sua atenção para seu tio enquanto ele continuava.
— Você foi uma vítima de Leonius. Não há do que se envergonhar de nada do que ele te fez. —Ele franziu a testa brevemente, e então acrescentou: — E apesar de sentir muito que você sofreu ao longo dos anos por causa dos sentimentos confusos que você experimentou toda vez que ele te atacou, eu direi agora mesmo, estou grato por você ter sido uma possível Companheira de vida para ele. Se você não fosse, seus restos teriam estado entre as cinzas das mulheres Imortais e Sem Presas que encontramos quando chegamos lá. Suspeito que o fato de ser sua Companheira de vida tenha sido a única razão pela qual ele deixou você viver, e que agora sou capaz de falar com você.
Os pensamentos de Divine consideraram as palavras do seu tio, ela não havia pensado dessa maneira, mas definitivamente consideraria analisar tudo isso mais tarde, se tivesse a oportunidade.
— Você ainda está pensando em si mesma como Divine em sua cabeça, Lucian rosnou. — Pare com isso.
— Sim, tio, —murmurou Basha, e depois, incapaz de suportar a preocupação pelo futuro, deixou escapar: — Sou a mulher que levou embora Leonius II quando você o prendeu no hotel em Toronto.
— Sim. Isso é um problema, —disse Lucian, soltando os ombros com uma careta.
— Você ... —Marcus começou, mas Lucian o interrompeu.
— Não fale nada sobre meu irmão Jean Claude. Eu já ouvi isso quando vocês estavam falando, —ele disse bruscamente, e então admitiu: — Estava na porta por um tempo maior do que você imagina, o que prova que somos todos inúteis quando encontramos nossos Companheiros de Vida. Inferno, se eu fosse esse tal de A ... bidet ...
— Abaddon, —corrigiu Basha, mas não pôde deixar de sorrir com sua pronúncia errada.
— Seja quem for, —Lucian murmurou. — Se eu fosse ele, vocês dois estariam mortos agora.
Nenhum dos dois argumentou o ponto. Ele estava certo.
Lucian esfregou a testa severamente e endireitou os ombros. — Você não conhecia o garoto que criou como seu filho, mas ele é um assassino e você o ajudou sem saber que ele era um desonesto.
— Sim, —respondeu-lhe Basha, embora ele não estivesse perguntando.
— Você também não sabia que se alimentar diretamente dos mortais não era mais permitido, —acrescentou, e ela piscou, assustada com o quanto ele sabia. Mas ele continuou: — Embora isso não seja desculpa para suas ações, mas as aliviam.
Basha escutou parada enquanto ele a avaliava brevemente.
— Podemos perdoar a alimentação nos mortais, desde que você a partir de agora se alimente de sangue ensacado.
— Eu irei, —ela prometeu.
— Quanto ao primeiro problema ... —Ele fez uma pausa, expressão infeliz no rosto, e então disse solenemente: — Sei que isso será difícil, já que você o teve como seu filho todos esses anos, mas precisará nos ajudar a recapturar Leonius para compensar isso.
Basha ficou em silêncio por um momento, suas emoções no caos. Ela tinha pensado nele como seu filho por tanto tempo e, como tal, seu instinto era proteger, mas depois de tudo descobriu sobre ele ...
Marcus apertou os ombros dela, e Basha suspirou e assentiu em resposta.
— E você também terá que ajudar a capturar esse tal de Abaddon que aparentemente voltou correndo para qualquer que seja o buraco em que os dois estejam escondidos, —acrescentou.
Não houve hesitação desta vez, Basha assentiu com firmeza. Ela ficaria feliz em dar um fim a esse bastardo.
— Bom, —disse Lucian em voz baixa. — Então vamos embora. Fiz os outros esperarem lá fora até que eu soubesse o que estava acontecendo. Tenho certeza que estão fazendo xixi nas calças, preocupados se você está bem ou não.
Basha caiu contra o peito de Marcus com alívio quando seu tio se virou. Era um alívio que ela sabia que Marcus compartilhava. Sentiu a tensão deslizar para fora de seu corpo duro quando os braços dele envolveram ao redor dela.
— Nós vamos ficar bem, —ele assegurou.
— Sim, —concordou Basha encontrando um sorriso para oferecer a ele quando a virou em seus braços.
— Nunca mais fugir, —disse ele com um sorriso. — Nós podemos ter uma casa. Receber nossas famílias, tanto sua quanto a minha, e podemos ter filhos ... se eu ainda for capaz, —acrescentou ironicamente.
— Por que você não seria capaz? —Perguntou Basha com preocupação.
— Bem, depois do que você fez comigo com a vassoura ... —Marcus fez uma pausa e pegou seus pulsos em uma risada, tentando se defender quando ela bateu em seu peito, percebendo que ele estava brincando com ela. Usando seu aperto em seus pulsos, ele puxou-a contra o peito e beijou-a rapidamente antes de dizer: — Eu te amo, Basha Argeneau.
Pela primeira vez, ela não vacilou nesse nome, e supôs que saber que teria sido o seu pai que deu esse nome a ela, fazia a diferença.
Tentou por muito tempo negar o passado e o que aconteceu com ela quando criança. Negar o nome tinha sido a única maneira dela conseguir separar aquela pobre criança abusada da mulher adulta que precisava ser. Agora, porém, percebia que negando o nome, também negava o pai, e tudo mais que a ligava à família que tanto queria fazer parte. Além disso, a pequena Basha tinha feito tudo certo. Havia sobrevivido e se tornado mais forte. Ela não tinha nada para se envergonhar.
— Eu também te amo, Marcus Notte, —ela murmurou e se inclinou na ponta dos pés para beijá-lo.
— Vamos os dois, vocês estão rebentando minhas bolas aqui47. Se apressem.
Divine virou-se bruscamente em direção à porta, bem a tempo de ver seu tio se virar e ir embora. — Ele não disse isso, não é?
— Ele disse, —Marcus falou secamente.
— Mas ele não sabe ...
— Ele sabe, —Marcus assegurou. — Leu nossas mentes.
— Oh, droga, —Basha gemeu. — Eu não vou me esquecer disso por toda a eternidade.
— Sim, —ele concordou com uma careta quando deslizou o braço ao redor de sua cintura, conduzindo-a até a porta. — Nós dois não vamos. Posso já até ouvir, ‘bola única, homem de uma só noz, meio homem ...’
— Não, —Basha disse de uma vez. — Eles vão saber que curou. Você ainda tem duas bolas.
— Isso não vai importar, —ele assegurou a ela com um sorriso torto.
— Acho que nós vamos ter que sofrer juntos, —ela disse se desculpando.
— Juntos, podemos lidar com qualquer coisa, —assegurou Marcus, e arriscou a ira de seu tio parando-a e beijando-a novamente.
Lynsay Sands
O melhor da literatura para todos os gostos e idades