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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


OFERTA DE CASAMENTO / Katie DeNosky
OFERTA DE CASAMENTO / Katie DeNosky

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Morgan não sabia nada sobre partos, mas quando encontrou com aquela mulher a ponto de dar a luz sozinha, soube que não tinha outra alternativa.

Assim ajudou a trazer para o mundo o precioso filho da Samantha Peterson.

Depois se deu conta de que a mamãe e o menino

necessitavam de um lugar onde viver e lhes ofereceu sua casa.

Então não suspeitava do desejo primitivo e irrefreável que aquela bela mulher ia provocar nele. Apesar de ter descartado a possibilidade de ser marido ou pai,

Samantha despertava seus instintos mais básicos e masculinos: proteger, defender...

E possuir.

Era um homem protetor, orgulhoso e apaixonado e seu ponto débil eram as mães solteiras...

 

 

 

 

-Que demônios faz aqui?

Samantha Peterson, que estava acendendo um fogo na lareira, deu um salto e girou ao ouvir aquela voz masculina e o ruído que fez a porta ao golpear contra a parede.

Viu então um enorme vaqueiro. Fora, a noite relampejava, o que lhe conferia um aspecto sinistro.

Não via seus olhos, pois usava o chapéu inclinado, mas pela expressão de seu rosto compreendeu que estava realmente zangado.

Uma rajada de vento lhe moveu o casaco e, então, Samantha se deu conta que usava um rifle.

-Eu... Eu... Ahhhh... -disse Samantha fechando os olhos e dobrando-se para frente.

-Por Deus, você está grávida! -disse o vaqueiro surpreso.

Samantha se encolerizou. Tinha lhe dado um susto de morte e a única coisa que lhe ocorria dizer era que estava grávida.

-Obrigado pela informação. Se não fosse por você, não sei se teria me dado conta -respondeu.

-Está você bem?

Samantha estava preocupada; a dor que acabava de sentir não era como a que estava experimentando há duas semanas. Aquilo pareciam contrações de verdade, mas não podia ser porque ainda faltavam três semanas.

-Não, não estou bem -respondeu apertando os dentes -Você me deu um susto de morte...

Ao levantar a vista e vê-lo, separou-se dele pois era tão grande que a assustava. Samantha não era baixa, era justamente o contrário, mas aquele homem era um verdadeiro gigante e parecia extremamente forte.

-Perdão por ter gritado -desculpou-se o vaqueiro com uma voz que fez com que Samantha estremecesse mas não de medo -A confundi com os adolescentes da zona que invadem isso aqui nos sábados de noite para beber.

-Como vê, não sou um adolescente -respondeu Samantha dando dois passos para trás se por acaso tivesse que fugir -Posso lhe assegurar, além disso, que a última coisa que tenho em mente neste momento é beber.

O vaqueiro sorriu e tirou o chapéu. Ao fazê-lo, Samantha se encontrou com os olhos azuis mais impressionantes que tinha visto em sua vida.

-Voltemos ao início -propôs ele, lhe oferecendo a mão -Meu nome é Morgan Wakefield.

Samantha lhe estreitou a mão com cautela e, ao sentir seus dedos, uma sensação de bem-estar a invadiu.

-Eu sou Samantha Peterson -conseguiu responder depois de afastar a mão.

-Encantado de conhecê-la, senhora Peterson.

-Senhorita -corrigiu Samantha -Não sou casada.

O vaqueiro deslizou seu olhar até a volumosa barriga da Samantha e, logo, assentiu. Aquilo que tinha visto em seus olhos era desaprovação?

Pior para ele. Não era assunto dele se ela estava casada ou não.

Ficaram olhando-se em silêncio. O único som que se ouvia era a destilação da chuva que entrava por um buraco que havia no telhado. Samantha se apressou a procurar um balde nos armários da cozinha.

-Incrível -comentou pondo-o sob a goteira -Não há nada em boas condições neste lugar. O telhado está fatal.

-Tinha intenção de passar aqui a noite?

-Sim -respondeu Samantha com um sorriso -Este lugar é meu, herdei de meu avô -explicou.

-É você a neta de Tug Shackley?

Samantha assentiu e se dirigiu ao sofá. Estava sentindo que se aproximava outra contração e queria estar cômoda para poder respirar com tranquilidade.

Quando passou a contração, olhou ao Morgan, que tinha deixado o rifle apoiado contra uma poltrona e a estava olhando com as mãos nos quadris. Estava olhando-a como se não soubesse muito bem o que pensar.

-Está mesmo bem?

-Sim, mas vou estar melhor quando tiver dado a luz -respondeu Samantha recordando a si mesma que devia manter a calma embora o menino nascesse antes do previsto -Você sabe onde fica o hospital mais próximo?

Morgan a olhou com os olhos muito abertos.

-Oh, maldição, não estará você...?

-Sim, estou em trabalho de parto -sorriu Samantha ao ver o rosto de horror do vaqueiro -Se não se importar, eu gostaria que dissesse onde fica o hospital mais próximo para poder entrar no carro e ir para lá.

O vaqueiro tirou o chapéu e passou os dedos pelo cabelo negro.

-Você não está em condições de conduzir.

-Por que não, senhor Wakefield? -perguntou Samantha olhando-o fixamente.

Além de ser um dos homens mais altos que tinha visto em sua vida, era também um dos mais bonitos que tinha conhecido. A pequena cicatriz branca que tinha sobre a sobrancelha direita e a incipiente barba de dois dias não feita deixava-o com um aspecto do mais sexy.

-Me chame de Morgan -respondeu voltando-se para pôr o chapéu -Não me parece bem que dirija em seu estado. O que aconteceria, por exemplo, se tivesse fortes dores e saísse da estrada?

Samantha levantou com esforço.

-Não tenho mais remédio que não arriscar. Agora, se me der licença, tenho que dar a luz. Continuaremos falando em outra ocasião.

-Onde tem o carro?

-Na garagem, ou no abrigo, ou como queira chamar a essa coisa meio em ruínas que há trás da casa -respondeu Samantha pendurando a bolsa ao ombro -Por que?

-O hospital mais próximo está a quase cem quilômetros daqui, no Laramie -respondeu Morgan estendendo a mão -Me dê as chaves e a levarei até lá.

-Não será necessário -respondeu Samantha negando com a cabeça -Sou perfeitamente capaz de...

Como estava discutindo com o Morgan, não estava preparada para aquela contração que a deixou sem fôlego. Samantha se dobrou e deixou cair a bolsa no chão. Morgan tomou pelos ombros e a sujeitou até que a dor passou.

-Mas se apenas pudesse manter-se em pé... -disse Morgan lhe entregando a bolsa -Me dê as chaves de seu carro, que vou buscá-lo.

Samantha odiava ter que admiti-lo, mas aquele homem tinha razão. Rebuscou em sua bolsa e entregou as chaves de sua Ford, que tinha mais de vinte anos.

-Custa um pouco pô-lo em marcha. Às vezes não funciona bem. Temo que necessita uma revisão.

-Não se preocupe, sei pôr um carro em marcha -respondeu Morgan com secura aceitando as chaves.

Ao ver que o seguia, girou para ela.

-Não tem sentido que nos molhemos os dois. Fique aqui até que traga o carro à porta e possa ajudá-la.

-Ainda posso andar -protestou Samantha.

-O que quer? Quebrar uma perna?

Morgan saiu da casa antes que Samantha tivesse tempo de responder. Estava há um ano e meio esperando aquele momento. Por fim tinha encontrado ao herdeiro do Tug. Por desgraça, parecia que a herdeira tinha intenções de ficar e viver ali e não era o melhor momento para que Morgan explicasse as razões pela qual deveria vender aquela propriedade a ele.

Enquanto tentava meter-se no pequeno carro da Samantha, esteve a ponto de rir. Mulheres. De onde tiravam aquelas idéias tão ridículas? Teria que ser cego para não dar-se conta de que arrumar aquela casa custava tanto dinheiro que não valia a pena fazê-lo.

Introduziu a chave no contato e a girou. O ruído surdo que ouviu a seguir lhe provocou um calafrio. Olhou o painel. Nem um só indicador aceso. Morgan fechou os olhos com frustração e esteve a ponto de dar um murro no volante. A bateria daquele carro estava tão morta como o pobre Tug.

Desceu do carro e abriu o capô. A bateria estava completamente oxidada. Não havia nada que fazer. Deixou cair o capô com um golpe seco.

Ao dar-se conta da gravidade da situação, Morgan começou a sentir-se desesperado. A única forma que tinha de pedir ajuda era voltar de cavalo ao Lonetree, onde tinha seu carro, com o inconveniente de que estava chovendo muito. Além disso, demoraria pelo menos meia hora para atravessar o campo. Por rodovia, demoraria outros quarenta e cinco minutos para voltar ali e recolher Samantha.

Morgan sacudiu a cabeça. Cavalgar sob a chuva não o atemorizava. De fato tinha feito muitas vezes, mas o riacho que havia entre seu rancho e o do Tug se convertia em uma corrente quando chovia e era impossível cruzá-lo.

Além disso, não fazia nenhuma graça deixar sozinha uma mulher grávida que estava a ponto de dar a luz.

De repente, encontrou-se pensando na impressão que lhe tinha provocado Samantha Peterson. Tinha um rosto precioso, emoldurado por um delicado cabelo castanho claro, que teria feito as delícias de numerosas capas.

Entretanto, o que tinha lhe chegado à alma eram seus olhos, que tinham a cor do uísque e estavam salpicados de pontos dourados. Aqueles olhos o tinham feito pensar em apaixonadas noites de sexo.

Morgan amaldiçoou a si mesmo.

De onde tinha saído aquele pensamento?

Devia ser porque já fazia muito tempo que não desfrutava da companhia de uma mulher. Ia ter que visitar os bares do Bear Creek: certamente que ali encontraria alguma jovenzinha que lhe fizesse esquecer o quão duro e solitário que estava sendo o inverno em Wyoming.

Morgan sacudiu a cabeça e voltou a concentrar-se na situação que tinha entre as mãos. Não era o momento para lamentar-se de quão pobre era sua vida sexual. O que Samantha e ele tinham pela frente agora mesmo era muito mais importante.

Ao fazer repasse mental das opções que tinham, sentiu que lhe caía o coração aos pés. Melhor assimilar o inevitável quanto antes e começar a preparar-se. Nas próximas horas, ia ajudar a trazer um bebê ao mundo a não ser que aparecesse alguém mais qualificado, coisa bastante improvável.

Suspirou, abriu o porta-malas do carro e procurou em seu interior até que encontrou travesseiros, lençóis, mantas e toalhas. Juntou tudo aquilo e correu para o interior da casa.

Samantha estava sentada olhando fixamente um quadro que havia na parede. Parecia muito concentrada e Morgan perguntou se não estaria em estado de choque.

Quando o viu, exalou o ar que estava contendo e ficou em pé como se não passasse nada.

-Já vamos? -perguntou.

Morgan negou com a cabeça e perguntou como ia dizer lhe o que tinha que dizer. Suspirou. Havia coisas na vida que não se podiam adoçar.

-O carro não tem bateria. Temo que estamos aprisionados -anunciou.

Samantha abriu seus preciosos olhos cor avelã e olhou a seu redor.

-Mas tenho que ir ao hospital. Aqui não há nenhum médico. O que aconteceria... ? Poderia adiantar-se...

Morgan se aproximou e pôs as mãos nos ombros. Quão último queria era que lhe desse um ataque de pânico.

-Samantha, respire e me escute. Você não está sozinha. Eu estou aqui para ajudá-la.

-E você é médico? -perguntou ela com olhos suplicantes.

Naqueles momentos, Morgan tinha dado qualquer coisa no mundo para sê-lo.

-Não, não sou médico -respondeu sinceramente -Mas tudo vai sair bem. Dou minha palavra.

-E seu carro?

-Vim a cavalo e poderia demorar horas em voltar para meu rancho, pegar meu carro e vir aqui de novo.

-A cavalo -repetiu Samantha cada vez mais preocupada -Suponho que terá celular -disse esperançosa -Todo mundo tem telefone celular hoje em dia. Sempre que vou ao cinema ou para jantar soa algum.

-Sim, tenho telefone celular, mas em algumas zonas desta região não há cobertura -explicou Morgan -Temo que estamos em uma delas. Não o trouxe precisamente por isso.

Samantha abriu a boca para dizer algo, mas em lugar de palavras emitiu um gemido. Ao ouvi-lo, Morgan sentiu que o pêlo da nuca lhe arrepiava. Observou como Samantha se encolhia pela dor e a ajudou a manter-se em pé.

Aquilo ia ser duro. Morgan não gostava de ver ninguém sofrer e, menos ainda, uma mulher.

Como ia suportar ver Samantha sofrer durante horas sem poder fazer nada? E o que ia fazer se as coisas não saíam tão bem como ele esperava?

Engoliu seco. Morgan sabia muito bem o que podia acontecer se um parto complicasse. Não era em vão que tinha perdido a sua mãe aos sete anos quando tinha nascido seu irmão mais novo, Colt. E isso porque sua mãe tinha dado a luz em um hospital.

Quando a dor diminuiu, Samantha se voltou para ele.

-Tenho que me manter concentrada -disse com decisão -Assim, será muito mais fácil.

Morgan não sabia se havia dito aquilo para convencer a ele ou a si mesma, mas não importava. O que lhe preocupava naqueles momentos era que Samantha ficasse cômoda e que ele pudesse dedicar-se a procurar tudo o que ia necessitar.

-Por que não senta junto ao fogo enquanto eu trago o sofá para cá para que deite?

-Não é a primeira vez que você faz isto, não é? -perguntou Samantha albergando ainda alguma esperança.

Morgan não respondeu. Limitou-se a tirar de cima do sofá a velha colcha verde e a aproximá-lo da lareira. Havia trazido para o mundo centenas, possivelmente milhares, de bebês. Mas nenhum humano. Não acreditava que Samantha Peterson fosse se impressionar muito com sua experiência em obstetrícia bovina.

-Responda -insistiu.

Morgan esteve a ponto de amaldiçoar em voz alta. Por que aquela mulher se empenhava tanto em querer saber?

Faria muito melhor em aceitar o inevitável. Ele era o único que podia ajudá-la.

-Sim e não -respondeu Morgan colocando um lençol e dois travesseiros no sofá -Se trazer para o mundo bezerros e potros conta, então sim -acrescentou ajudando-a a sentar -Senão, não.

Samantha sentou e voltou a entrar no mesmo transe no qual Morgan a tinha encontrado ao voltar depois de tentar arrancar o carro. Observou fascinado como tomava ar ritmicamente e massageava com ternura a barriga, com o olhar fixo no chapéu do Morgan.

Samantha ruborizou levemente, mas a julgar como apertava os dentes estava decidida tentar sobrepor-se à dor.

Quando passou, continuou falando com Morgan como se não tivesse acontecido nada. Era a coisa mais estranha que Morgan tinha visto na sua vida.

-Tenho um livro dentro da bolsa. Acredito que tem um capítulo em que dão instruções para um parto de emergência -disse mordendo o lábio inferior -Espero que você seja um estudante dotado.

Morgan admirava às pessoas que sabiam atuar com serenidade nas situações tensas e, certamente, aquela mulher que tinha ante si,admirava-a como estava se comportando.

Via nos olhos dela que tinha medo, mas também estava decidida a não se deixar levar pelo pânico.

Morgan dedicou um grande sorriso para tentar acalmá-la.

-Me dê o livro -indicou lhe passando a bolsa -E todo o resto deixe por minha conta.

Samantha lhe deu o livro aberto no capítulo em questão e voltou para um de seus transes. Enquanto ela tomava ar e olhava um ponto fixo no espaço, Morgan leu o capítulo sobre partos de emergência.

O primeiro passo era chamar uma ambulância. Perfeito. Impossível.

Continuando, dizia que se não fosse possível chamar uma ambulância tentasse chamar a alguém com experiência. Perfeito. Impossível.

Morgan continuou lendo e engoliu seco.

Samantha o olhou.

-E aí?

Aquilo não era fácil de dizer a uma mulher que conhecia apenas uma hora.

-Aqui diz que tem que despir você da cintura para baixo -respondeu Morgan por fim.

-É necessário agora mesmo? -perguntou Samantha com serenidade.

Morgan deu de ombros, deu-lhe o livro e foi à cozinha. Tinha que pôr água a ferver para esterilizar alguns utensílios que ia utilizar durante o parto, e pegar mais duas vasilhas.

Quando voltou para a sala, Samantha tinha posto sobre as pernas um dos lençóis que ele havia trazido do carro, e tinha deixado as calças esmeradamente dobradas no braço do sofá.

Morgan não disse nada e Samantha não comentou o que era óbvio: Fazia exatamente o que dizia o livro.

-Prefere deitar-se? -perguntou Morgan deixando as duas vasilhas no alpendre para que se enchessem com a água da chuva.

Samantha negou com a cabeça.

-Ainda não -respondeu.

Devolveu o livro a Morgan, que se deu conta de sua testa molhada de suor. Ficou observando enquanto Samantha fazia frente à dor de outra contração e se sentiu o homem mais inútil do mundo por não poder ajudá-la.

Precisava fazer algo, assim colocou várias lenhas no fogo. Embora estivessem no início de maio, ainda fazia frio. Além disso, assim teriam mais luz pois já começava a anoitecer.

Morgan procurou outras fontes de luz e, por sorte, encontrou dois abajures de querosene. Voltou para salão, colocou-os sobre a mesa e acendeu com uns fósforos que tinha encontrado na cozinha. Sentou e voltou para a leitura.

De onde demônios ia tirar dois pedaços de cordão para atar o cordão umbilical?

Olhou a seu redor e viu as sapatilhas de esporte da Samantha. Os cordões serviriam.

Voltou a consultar o livro, que não dizia nada de esterilizar o que ia se utilizar para atar o cordão umbilical, mas decidiu que não custaria nada fazê-lo, assim colocou os cordões na água fervendo junto com sua navalha.

Deixou o livro à mão, ficou em pé e desabotoou os punhos da camisa. Arregaçou-as e esperou que Samantha saísse de seu transe.

-No livro diz que terá que cronometrar as contrações para saber quanto falta para dar a luz. A próxima vez que sentir uma, diga-me.

Samantha assentiu.

-Estão vindo cada vez mais seguidas.

E cada vez mais forte. Disso se deu conta Morgan pela expressão em sua cara. Sem pensar, segurou sua mão.

-Vai sair tudo bem, Samantha -disse para tranquilizá-la.

-Diga-me isso dentro de umas horas -respondeu ela lhe apertando a mão.

Morgan sentiu um tremendo orgulho ante a confiança que aquela mulher estava depositando nele.

-Vou pegar as vasilhas de água -anunciou Morgan, soltando a mão e ficando em pé -Volto já.

-Morgan?

Ao ouvir pronunciar seu nome, Morgan sentiu um calafrio pelas costas. Engoliu seco e girou para ela.

-Sim, Samantha?

-Obrigado por estar tão tranquilo. Está sendo de muita ajuda.

O olhar que lhe dirigiu não deixava lugar a dúvidas: Samantha contava com ele para o que pudesse acontecer.

Morgan não soube o que dizer, assim assentiu e saiu ao alpendre. Samantha não se deu conta de quão nervoso estava, mas o certo era que não parava de dar voltas à cabeça imaginando tudo o que podia sair mau, como tinha acontecido a sua mãe.

Morgan respirou fundo e soltou o ar lentamente. Enquanto fazia, decidiu que, embora fosse a última coisa que fizesse em sua vida, não ia permitir que Samantha se desse conta de quão nervoso estava.

 

Quatro horas depois, Morgan sentou frente a Samantha. Levara uma hora inteira vendo-a sentar e deitar, deitar e sentar em um esforço por estar cômoda. Tinha agarrado sua mão e apertava com força.

Morgan estava aniquilado ante sua força. De fato, quando lhe cravava as unhas na palma da mão temia que fosse jorrar sangue, mas tampouco teria se importado se isso a ajudava.

Era óbvio que a dor era tremenda, mas Samantha estava aguentando. Era uma mulher incrivelmente valente.

Pelo intervalo que havia entre as contrações e o que tinha lido no livro, Morgan calculava que restava umas duas horas até que nascesse o bebê e rezou para que tudo saísse bem.

-Quer uma massagem nas costas? Conforme diz o livro, deve doer -propôs quando passou aquela contração.

-Muito obrigado, a verdade é que dói horrores -respondeu Samantha.

Morgan sentou junto a ela no horrível sofá verde, colocou as mãos sob a camiseta rosa e tentou ignorar o detalhe de que sua pele parecia seda.

Não era o momento de pensar que sentia falta da suavidade de uma mulher.

-Melhor? -perguntou.

-Um pouco melhor, sim -respondeu Samantha tomando ar de repente e enfrentando outra contração.

Morgan continuou massageando suas costas com a mão direita enquanto consultava o relógio que tinha na esquerda. Aquela contração tinha demorado muito menos que a anterior.

-Deixa de me tocar -espetou-lhe de repente -Está piorando.

-Ok -respondeu Morgan afastando a mão.

Levantou-se e foi consultar o livro de novo. Sim, efetivamente, não se tinha equivocado. Samantha ia dar a luz. Os sintomas eram inequívocos. Tinha um humor de cão e não consentia que ninguém a tocasse.

Morgan secou o suor da testa enquanto Samantha fazia tudo o que podia para aguentar outra contração. Tinha o rosto vermelho e o cabelo grudado pelo suor.

Morgan não havia se sentido tão inútil na vida.

Quando viu que a contração tinha passado, apressou-se a umedecer seu rosto com um pano molhado. Seus olhos se encontraram e Morgan se deu conta de que Samantha estava a beira das lágrimas.

-Parece que... Não vou poder fazê-lo, Morgan.

Morgan pegou-a pelas mãos

-Samantha, está fazendo muito bem.

Segundo o que tinha lido no livro, devia lhe animar a todo momento. Não sabia muito bem como fazer, mas estava decidido a tentar.

-Já não falta muito, preciosa.

Morgan viu como os olhos da Samantha nublavam por causa da dor e sentiu como suas mãos lhe apertavam como se fossem garras. Foi dizer algo, mas em lugar de palavras emitiu um grito de dor.

-Me olhe, Samantha.

Samantha sacudiu a cabeça enquanto tentava respirar com normalidade.

-Isto é horrível -disse com voz trêmula.

-Me olhe, Samantha -insistiu Morgan -Isso, muito bem. Não deixe de me olhar e aperte as minhas mãos com tudo o que possa. Te concentre em me passar a dor.

Morgan não sabia o que teria parecido sua idéia ao autor do livro, mas naqueles momentos pouco importava. O certo era que estava funcionando, a julgar pela força com que Samantha estava lhe apertando as mãos e que estava a ponto de lhe cortar a circulação sanguínea.

Um par de minutos depois, inclinou-se para trás de repente.

-Tenho que empurrar -anunciou.

Morgan sentiu que o pêlo da nuca arrepiava e que o estômago dava um pulo.

Samantha fechou os olhos, pegou os joelhos com as mãos e apertou com todas suas forças.

Morgan sentiu desejo de sair correndo, mas não o fez. Agarrou o livro e leu rapidamente o que tinha que fazer enquanto rezava como jamais tinha rezado.

«Posso fazê-lo», disse.

Tinha ajudado seu pai e seus irmãos em infinitas ocasiões com partos de éguas. Trazer para o mundo um bebezinho humano não podia ser muito diferente.

Deixou o livro de um lado, lavou as mãos em uma das vasilhas com água que tinha fervido antes e agarrou a navalha esterilizada e os cordões das sapatilhas de esporte da Samantha.

Os trinta minutos seguintes passaram voando. Samantha empurrava e empurrava para trazer seu filho ao mundo enquanto Morgan dedicava palavras de ânimo.

Pouco depois da meia-noite, Morgan se viu com um pequeno de cabelo escuro, que chorava como um possesso em seus braços.

Ao olhar à criatura que acabava de ajudar a nascer, Morgan sentiu um nó na garganta.

-Está bem? -perguntou Samantha.

Mais tranquilo porque as coisas tinham saído da melhor forma possível, Morgan se atreveu a cortar o cordão umbilical ao bebê tal e como tinha lido no livro. Continuando, e com mãos trêmulas, envolveu-o em uma toalha e o deu a sua mãe.

-Não sou médico, mas me parece que está impecável -sorriu -Entretanto, como chora, eu diria que não gostou muito de nascer.

-É lindo -disse Samantha com lágrimas nos olhos -Não sei como te agradecer, Morgan -acrescentou olhando-o.

-Você que fez tudo -respondeu Morgan baixando as mangas da camisa -Já pensou como vai se chamar?

Samantha sorriu.

-Sim -respondeu -O que te parece Timothy Morgan Peterson?

 

Dois dias depois, Samantha sentou na borda da cama que tinha ocupado no hospital e ficou olhando os papéis que acabava de receber da enfermeira.

Tinham lhe dado alta.

E aonde ia agora?

Não tinha carro. De fato, na manhã seguinte do nascimento de Timmy, Morgan tinha voltado a cavalo ao seu rancho e tinha ido recolhê-los com sua caminhonete para levá-los ao hospital.

Samantha olhou seu filho, que dormia plácidamente, e suspirou. Podia chamar um táxi. Esse não era o maior problema. O grande problema era que não sabia aonde ir porque, certamente, não tinha suficiente dinheiro para percorrer os cem quilômetros até o rancho que tinha herdado.

-Necessita que de ajude para vestir-se? -ofereceu a enfermeira tomando Timmy nos braços -Vi seu marido no corredor e disse que não vão demorar muito em sair.

-Meu marido? Não estou...

-Sim, disse que trouxesse o carro à porta principal.

-Mas tenho que descer a recepção para pagar e, além disso, não estou...

-Não se preocupe com isso, Samantha. Já está tudo arrumado -disse Morgan entrando no quarto e lhe entregando uma bolsa cheia de roupa -Ponha isto e vamos.

-Vou buscar uma cadeira de rodas -anunciou a enfermeira.

Samantha ficou olhando ao homem que tinha ajudado trazer seu filho ao mundo. Sem dúvida, era um dos homens mais bonitos que tinha visto em sua vida. A julgar por sua forma de falar, parecia ser também um dos mais arrogantes.

-O que quer dizer isso, que tudo está arrumado? -quis saber.

Não sabia o que tinha feito Morgan, mas de alguma forma intuiu que não ia gostar.

- Falaremos disso enquanto voltamos para casa.

-Eu prefiro falar disso agora -insistiu Samantha.

Não pensava em ir a nenhum lugar até que lhe dissesse o que estava passando.

Ignorando seus protestos, Morgan abriu a bolsa que tinha entregue e tirou uma camisa cor nata e umas calças jeans.

-Não sabia que número tinha, então quem escolheu isso foi a funcionária. Segundo ela, este número cai bem em todo mundo. Não sei o que quis dizer com isso -disse Morgan dúbio girando para ir -Vista-se para que possamos ir. Espero na caminhonete.

-Morgan, quero saber o que...

-Samantha, não quero discutir contigo -interrompeu Morgan -Não te convém e, além disso, não tenho tempo. Eu gostaria de estar de volta no Lonetree na hora de almoçar, assim não demore.

Samantha não deu tempo de dizer nada mais. Em qualquer caso, tinha que voltar para rancho de seu avô, que agora era dela, para ver se podia arrumar seu carro... Embora não tivesse dinheiro para fazê-lo.

Suspirou, tirou as etiquetas à camisa e às calças e as guardou na bolsa decidida a devolver o dinheiro ao Morgan assim que pudesse.

Vestiu-se temendo que Morgan tivesse pago a fatura do hospital. Se foi assim, ia ouvir no longo trajeto de volta a casa.

Quinze minutos depois, quando cruzou as portas de vidro da saída do hospital, Morgan estava esperando apoiado em sua caminhonete chapeada.

Usa uns jeans desgastados que ficavam como uma segunda pele. Samantha engoliu seco. Certamente, aquele homem era uma fantasia feita realidade: forte, bonito e incrivelmente masculino.

Ao vê-la, sorriu e abriu a porta do acompanhante. Ao entregar Timmy nos braços, quando pegou-o da enfermeira, Morgan lhe roçou um seio e Samantha sentiu um calafrio por todo o corpo.

-Vocês fazem uma família preciosa -disse a enfermeira -Que sejam muito felizes.

-Obrigado -respondeu Morgan.

-Por que não lhe disse que não estamos juntos? -perguntou Samantha quando Morgan subiu à caminhonete e colocou a chave no contato.

-Porque pareceu muito mais rápido não ter que explicar nossa situação -respondeu Morgan encolhendo os ombros.

Samantha fechou o cinto de segurança e o olhou.

-Não te parece bem que tenha um filho sem estar casada, não é?

-Não sou ninguém para te julgar -respondeu Morgan enquanto conduzia -Não sei o que aconteceu, mas o pai de seu filho deveria ter estado aqui para ajudar.

Samantha observou Morgan, que conduzia com naturalidade. Era um homem que tinha tudo sob controle, um homem com o que se podia contar para tudo. Nada a ver com o pai do Timmy.

Samantha sentiu uma dor no peito ao pensar no pai de seu filho, um pai que não se importava absolutamente com seu filho. Como tinha podido equivocar-se tanto com o Chad?

Foram viver juntos e, ao princípio, tudo tinha ido bem. Tinham chego ao acordo do que devia ser uma relação apoiada em dar e receber. Entretanto, transcorridos seis meses, Samantha tinha dado conta de que era sempre ela quem dava e sempre ele que recebia.

Um dia, ao voltar do trabalho, Chad já não estava: foi para Los Angeles porque queria ser músico. Foi então quando Samantha se deu conta de quão egoísta era aquele homem. Nem sequer tinha tido o valor de dizer-lhe à cara.

Limitou-se a deixar uma nota na geladeira dizendo que tinha passado muito bem juntos, mas que tinha que ir.

-Não há muito que contar -encontrou-se dizendo.

Não sabia por que lhe importava a opinião do Morgan, mas por alguma razão queria que aquele homem soubesse por que estava sozinha.

-Não estávamos casados e não soube que estava grávida até depois de nos separar.

-Não sabe que tem um filho?

-Oh, sim, eu disse -respondeu Samantha tentando não recordar a dor das palavras do Chad -Não lhe pedi ajuda, mas acreditei que tinha direito de saber que ia ser pai. Entretanto, Chad não mostrou nenhum interesse em ter contato com seu filho, nem agora, nem nunca. Ofereceu-se a renunciar a seus direitos, assim aceitei. Ponto final da história.

-E como lhe ocorreu fazer uma estupidez assim?

Samantha se deu conta imediatamente da repugnância que Chad inspirava no Morgan. Era evidente que, se estivesse na mesma situação, ele tinha feito justamente o contrário.

Samantha olhou seu filho, que estava dormido, e sentiu vontade de chorar.

-Suponho que o fez para assegurar-se de que nunca pedisse dinheiro -respondeu.

-Para mim, um homem que evita assim suas responsabilidades, não merece viver -sentenciou Morgan.

-Timmy e eu estamos melhor sem ele. Chad era um homem muito egoísta -disse Samantha acariciando a bochecha de seu filho -Não quero que um homem assim me ajude a criar a meu filho. Não quero que Timmy tenha esse exemplo. Meu filho merece um pai que o queira incondicionalmente.

-Estou completamente de acordo, mas quando um homem deixa uma mulher grávida, queira ou não é seu filho, tem a obrigação moral de ajudá-la -disse Morgan lhe acariciando a nuca.

Imediatamente, Samantha sentiu uma agradável sensação de bem-estar. Assombrada por sua reação, separou-se dele e se apoiou na porta.

-Quero te fazer uma pergunta.

-Dispara -sorriu Morgan.

Ante seu sorriso, Samantha notou que lhe acelerava o pulso.

-O que você quis dizer no hospital quando disse que estava tudo arrumado?

-Exatamente isso -respondeu Morgan -que a fatura estava paga.

-E quem a pagou?

-Eu.

Samantha sentiu que a ira se apoderava dela.

-Por que? -quis saber.

-Digamos que foi um presente para o pequeno -respondeu Morgan com um sorriso tão incrível que Samantha teve que fazer um esforço sobre-humano para não deixar se deslumbrar.

-Os bebês estão acostumados a receber de presente uma cadeira, uma manta ou uma chupeta, mas não paga a fatura do hospital -insistiu tentando enfurecer-se.

-Olhe, Samantha, tenho dinheiro e não me importa te ajudar.

-Não necessito que me ajude -disse ela com teimosia -Não necessito que tenha pena.

-Eu não disse que tinha isso.

-Quanto era a fatura? -perguntou Samantha tirando papel e caneta da bolsa -Pagarei isso assim que encontre trabalho.

-Não, nada disso.

-Sim, tudo disso.

-Demônios, disse que não -disse Morgan exasperado.

-Está muito acostumado que as pessoas façam as tuas vontades, não é?

Morgan deu de ombros e não respondeu.

-Pois te vou dizer uma coisa, vaqueiro. Vivo sozinha desde os dezoito anos, tomo minhas decisões e pago o que devo.

Nesse momento, o bebê abriu os olhos e ficou a chorar.

-Por que não deixamos isto para quando chegarmos a casa? -sugeriu Morgan pegando o caminho que levava a Laramie.

Samantha acalmou a seu filho, olhou pela janela e franziu o cenho. Não lembrava daquela paisagem.

-Onde vamos? -perguntou fixando-se nos verdes pastos que havia em ambos os lados da estrada.

-Ao Lonetree -respondeu Morgan.

-Por que? Tem que recolher algo antes de me levar a casa?

-Não.

Samantha começou a ter suspeitas.

-Então...?

-Vai ficar uns dias em meu rancho -respondeu Morgan tomando outra estrada.

Samantha sacudiu a cabeça com veemência.

-Não me parece uma boa idéia.

-Samantha, não seja teimosa. A casa de seu avô não está em condições para que um bebê viva nela.

Por muito que custasse admitir, Samantha sabia que Morgan tinha razão. Sua casa não tinha calefação, só uma lareira na sala, e não havia água corrente nem luz. Além disso, o telhado estava cheio de goteiras.

Frustrada, sentiu vontade de gritar e espernear. Aquilo demonstrava o quão mal ia sua vida. Apesar de se esforçar, voltava a ser a menina sem lar em que se converteu depois da morte de sua mãe.

-Entendo que valorize muito sua independência -disse Morgan parando a caminhonete e olhando-a -E te juro que não é minha intenção que isso mude, mas tem que ser realista -acrescentou tomando seu rosto entre as mãos -Agora mesmo, necessita de ajuda. Por favor, me deixe que te ajude.

Samantha mordeu o lábio inferior. Não tinha aonde ir e tinha que ocupar-se de um recém-nascido. Não tinha onde viver e tinha esgotado sua conta bancária ao mudar de Sacramento a Wyoming.

Se estivesse ela sozinha, rechaçaria educadamente a ajuda do Morgan, mas tinha que pensar em seu filho.

-Não tenho opção -respondeu por fim com lágrimas nos olhos -Odeio não ter opção.

-Entendo, preciosa, acontece o mesmo comigo -sorriu Morgan -Já verá, vai estar pronta para voltar a guerra de novo em um abrir e fechar de olhos.

Olhando aqueles incríveis olhos azuis, Samantha perguntou se aquele homem teria encontrado alguma vez em sua vida em uma situação que não pudesse controlar. Duvidava. Um homem como Morgan sempre controlava o que o rodeava.

Resignada, respirou.

-Tenho que recolher algumas coisas do carro.

Morgan pôs a caminhonete em marcha e continuou conduzindo.

-Depois de levá-la ontem ao hospital, disse a dois de meus homens que fossem buscá-lo. Um deles é muito bom mecânico e está tentando arrumar isso.

Antes que Samantha tivesse tempo de lhe advertir que queria pagar a reparação, estendeu-se ante eles uma preciosa paisagem. Nela, havia uma casa de madeira e vários abrigos ao redor dos quais pastava o gado.

-Esse é seu rancho?

Morgan assentiu.

-Essa é a casa principal. Meu irmão, Brant, e sua esposa Annie vivem em outra que há a cinco quilômetros ao leste.

-É lindo -comentou Samantha sinceramente. Aquele maravilhoso rancho não tinha nada a ver com o que ela acabava de herdar. Pensou se seria capaz de deixar o seu igual. Se conseguisse, estava segura de que poderia encontrar os patrocinadores de que ia necessitar para abrir a casa para crianças sem lar, que tinha planos para pôr em marcha.

Morgan não disse nada, mas Samantha o viu sorrir orgulhoso.

-Disse a Bettylou, a esposa de um de meus homens, que preparasse um dos quartos de convidados -anunciou Morgan quando chegaram.

Parou a caminhonete, desceu e abriu a porta a Samantha.

-Quando lhes tiver deixado bem instalados, vou até Frank saber o que acontece com seu carro. Então, de passagem, trago o que necessita -acrescentou ajudando a Samantha e ao Timmy a descer da caminhonete.

-Não vou necessitar de tudo o que há no carro -respondeu Samantha -Afinal de conta, não vamos ficar mais que dois dias.

-Isso já veremos -sorriu Morgan.

Samantha queria que Morgan entendesse que não precisava viver da caridade de outros e que não tinha nenhuma intenção de aproveitar-se de sua generosidade, mas quando entraram na casa se esqueceu de tudo.

O interior do rancho era tão impressionante como o exterior.

-Isto é lindo - disse Samantha ao entrar no salão.

Havia uma enorme lareira de pedra e a casa era completamente diáfana. Respirava-se nela comodidade e amor.

-Quero que se sinta como em sua casa -disse Morgan deixando a cadeira em que Timmy dormia sobre uma mesa das mais estranhas.

-Procuravam que durasse muito? -perguntou Samantha ao fixar-se na mesa

-Bom, na realidade, quando éramos pequenos ralávamos constantemente o vidro jogando com os botões, então minha mãe decidiu substituir o vidro por isso. Quando ela morreu, meu pai o deixou como estava.

-Sua mãe morreu?

-Sim, no parto de meu irmão mais novo.

-Sei o que sentiu ao perder a sua mãe. A minha morreu quando eu tinha quase dezessete anos.

Ficaram olhando-se nos olhos em silêncio. Timmy decidiu romper aquele momento com seu pranto.

-Quer comer -anunciou Samantha tirando-o da cadeira -Há algum lugar que eu possa dar de mamar?

-Vamos ao seu quarto -respondeu Morgan assinalando uma escada.

Enquanto subiam, Samantha tentou concentrar-se em respirar. Morgan caminhava a seu lado e a tinha segurado pela cintura. Aquilo a fazia sentir coisas estranhas.

Pensou que devia ser pelo desequilíbrio hormonal que acontecia no parto. Tinha dado a luz fazia só dois dias. Era impossível que sentisse desejo sexual, não é?

Morgan abriu a porta de um quarto situado no final de um corredor. Ao ver seu interior, Samantha sentiu que lhe nublava a vista. Havia um berço de madeira com lençóis azul claro colocado junto à cama principal.

Desde que tinha morrido sua mãe, ninguém tinha tratado tão bem a ela como Morgan estava fazendo. Tinha ido procurar o hospital, tinha-lhes devotado sua casa e tomou o cuidado de que Timmy tivesse um lugar cômodo e quente onde dormir.

Samantha pôs ao menino no berço e girou para o Morgan.

-É o homem mais detalhista que já conheci -disse lhe dando um beijo na bochecha.

Morgan a olhou nos olhos, abraçou-a e a beijou nos lábios.

Samantha sentiu que lhe falhavam os joelhos.

Morgan a soltou e amaldiçoou. Parecia tão surpreso como ela.

-Vou... pegar suas coisas - disse antes de ir quase correndo.

Samantha tocou os lábios. Por que a tinha beijado? E por que queria ela que voltasse a fazer?

Tomou seu filho nos braços e decidiu que mais valia encontrar quanto antes outro lugar para viver.

Embora Morgan Wakefield estava tratando-os maravilhosamente, constituía uma grande tentação que Samantha não queria enfrentar naqueles momentos e que não sabia se poderia resistir sempre.

 

Morgan desceu as escadas com os dentes tão apertados que temeu ter que ir um cirurgião para que lhe separasse as mandíbulas. Cruzou o salão e saiu ao alpendre. Uma vez ali, apoiou as mãos no corrimão e respirou fundo várias vezes.

Não podia acreditar no que acabava de fazer.

Samantha tinha lhe dado um beijo na bochecha em sinal de gratidão. Não tinha sido um gesto sexual.

Entretanto, seu corpo não tinha percebido assim. Quando ela se inclinou sobre ele para beijá-lo, Morgan tinha respondido com uma ferocidade que o tinha deixado surpreso. E não tinha lhe ocorrido outra coisa melhor que beijá-la como se fosse um adolescente com mais hormônios que sentido comum!

Menos mal que tinha conseguido controlar-se e não ir mais à frente. Então, por que se arrependia de certa forma por não ter seguido em frente?

Olhou os verdes pastos que tinha ante si. Igual a eles, seu corpo estava despertando depois de um longo período dormido. Isso era. O inverno tinha sido longo e frio e era normal que um homem, se sentisse sozinho sem uma mulher que lhe desse calor.

Frustrado, passou a mão pelo cabelo e amaldiçoou. Precisava passar uma noite com uma mulher. Possivelmente assim conseguisse esquecer os olhos de Samantha e as imagens de paixão que projetavam em sua cabeça.

Por desgraça, temia que o que lhe atraía nela não fosse somente sexual, e aquilo era ainda pior.

Desde que sua noiva tinha morrido, não tinha permitido ter com nenhuma mulher mais que umas quantas horas de diversão. E aquilo só tinha acontecido uma ou duas vezes ao ano, quando a solidão era tanta que acreditava que ia morrer.

A habitual sensação de culpabilidade e arrependimento que se apoderava dele quando pensava em Emily Swensen apareceu. Se tivessem casado, estariam celebrando seu sexto aniversário em dois meses.

Nessa data, Morgan iria como todos os anos ao cemitério de Denver para deixar flores sobre sua tumba.

Emily era, além de sua amante, sua melhor amiga e continuaria viva se não fosse por ele.

Morgan respirou fundo. Quando tinha insistido para que uma semana antes de casar-se Emily fosse a Denver ver sua irmã, tinha feito com sua melhor intenção. Emily não queria ir, mas ele a tinha convencido. No dia que foi, chorava sem parar, como se soubesse que não iam voltar a se ver jamais.

Aquela foi a última vez que Morgan a viu com vida. Dois dias depois, recebeu a chamada telefônica que ainda o martirizava: Emily estava morta e sua irmã gravemente ferida ao se verem envolvidas em um tiroteio entre a polícia e uns ladrões que acabavam de assaltar uma joalheria no centro de Denver.

O sentimento de culpa era tão grande que lhe custava respirar. Acreditava saber o que era bom para ela e a tinha conduzido à morte. Isso tinha mostrado que estava equivocado. Jamais voltaria a cometer o mesmo engano.

Tinha decidido então não casar nem ter filhos e tinha aprendido a viver na solidão. Já estava acostumado a dormir sozinho e assim pensava em continuar.

Decidiu oferecer a Samantha um bom preço pelo rancho de seu avô. Assim, não teria problemas econômicos durante uma boa temporada e ela e seu filho poderiam deixá-lo na rotina de seu rancho, que era o melhor do estado de Wyoming.

Naquele momento, apareceu Frank e informou que o carro de Samantha estava completamente destroçado.

-Quanto demoraria para trocar o motor? -perguntou Morgan.

Quanto antes estivesse terminado, antes poderiam ir, Samantha e seu filho, e ele deixaria de sentir como se os jeans ficassem pequenos de repente cada vez que ela o olhava com aqueles olhos cor avelã.

-Um par de semanas -respondeu Frank -Pode ser um pouco mais. A Ford já não fabrica esse modelo e temo que vou ter problemas para conseguir determinadas peças -concluiu seguindo Morgan até o abrigo que utilizavam para arrumar a maquinaria.

Morgan se deu conta de repente que o fato de que Samantha tivesse que ficar, no mínimo duas semanas, o agradava.

Sacudiu a cabeça e se disse para consultar um psicólogo.

-Faz tudo o que possa, Frank -disse.

-Você é o chefe -respondeu o outro homem -Mas se este carro fosse meu, te asseguro que não me incomodaria em arrumá-lo.

Enquanto Frank ia chamar um par de oficinas, Morgan abriu a porta do carro de Samantha e tirou duas malas velhas e uma bolsa com utensílios de bebê.

Samantha não ia achar nenhuma graça no rumo que tinham tomado as coisas. Por um lado, era óbvio que não ia ter dinheiro para arrumar o carro e, por outro, aquilo de ter que ficar no Lonetree durante um período de tempo indefinido não ia gostar.

Morgan voltou a sentir um grande alívio e amaldiçoou a si mesmo. O longo e frio inverno de que acabavam de sair devia ter sido muitíssimo mais longo e muitíssimo mais frio do que recordava.

Disse que o último queria na vida era uma mulher e um bebê.

-Tem certeza que está tão mal? -perguntou Samantha -Quando vim de Sacramento, estava bem -acrescentou com o cenho franzido -Fazia um ruído estranho, mas o motor funcionava.

Morgan provou o sandwich que tinha diante e assentiu.

-Não é uma questão do motor aguentar ou não. Pelo visto, está claro que não vai aguentar. Poderia andar cem quilômetros mais, mas também poderia romper-se ao sair daqui.

-Agora mesmo, não posso permitir arrumá-lo -disse Samantha deixando o sandwich sem tocar no prato.

Segundos antes, o sandwich de carne assada com queijo lhe tinha parecido delicioso, mas depois de ouvir o que Morgan havia dito sobre o carro tinha lhe tirado a fome.

-Não se preocupe com isso -respondeu Morgan e tomou um gole de chá gelado.

-Não te atreva a fazê-lo -advertiu-lhe Samantha.

-A fazer o que?

-Sabe perfeitamente ao que me refiro -respondeu Samantha sacudindo a cabeça -É meu problema e eu o solucionarei. Já pagou a fatura do hospital porque não pude impedir mas, não vou consentir que pague a reparação de meu carro.

Morgan a olhou com exasperação.

-Já disse ao Frank que vá procurando as peças que necessita.

-Pois lhe diga que deixe de fazê-lo -respondeu Samantha com energia -Arriscarei que caia o motor pela estrada, mas agora não posso me permitir o luxo de arrumar esse carro.

-Não diga tolices, Samantha -disse Morgan olhando-a aos olhos -E se alguma coisa com o menino? Não pode te pôr na estrada com um bebê tão pequeno e arriscar desse jeito. Por aqui não vive muita gente, assim às vezes transcorrem horas até que passe outro carro pela mesma estrada que você.

Samantha sentiu que lhe encolhia o coração. Morgan tinha razão. Não se podia arriscar a conduzir um carro tão quebrado com o Timmy no interior.

-Está bem -respondeu aceitando a derrota -Que arrumem o carro, mas com uma condição: que me deixe te devolver o dinheiro.

-Não me preocupa o...

-A mim sim -interrompeu Samantha -Quando meu pai nos deixou, minha mãe teve que lutar muito para ter uma casa e comida. Não foi fácil, mas conseguiu sem a ajuda de ninguém, e eu penso fazer exatamente o mesmo -explicou levantando-se e guardando seu sandwich no frigorífico -Sei que o faz com boa intenção, mas é algo que tenho muito decidido. Não é nenhum segredo que estou passando por uma má fase, mas é temporário. Assim que o médico diga que posso voltarei a trabalhar, procurarei trabalho e te devolverei o dinheiro -disse indo para a porta -Tem governanta ou cozinheira? -perguntou de repente.

Morgan negou com a cabeça.

-Não, normalmente como no barracão com outros e quando necessito que façam algo em casa falo com minha cunhada ou pago a Bettylou. Por que?

Samantha assentiu.

-Até que arrumem o carro e encontre um trabalho, serei eu quem se encarregará de preparar a comida e de limpar a casa.

Morgan a observou enquanto saía da cozinha com os ombros para trás e a cabeça bem alta. Sempre tinha admirado às pessoas que não temiam ao trabalho, mas Samantha estava levando seu orgulho até limites insuspeitados.

Obviamente, devia estar ainda dolorida por ele ter pago os gastos do hospital e não lhe ocorria outra coisa melhor que dizer que se encarregar da casa e da comida.

-Nada disso -murmurou Morgan.

Levantou da mesa, enxaguou seu prato e seu copo e os meteu na lava-louça antes de dirigir-se a seu escritório. Tinha lhe ocorrido a solução perfeita para arrumar o assunto do dinheiro que parecia preocupar tanto a Samantha.

Era proprietária do rancho que ele queria comprar. O que havia mais fácil que lhe fazer uma boa oferta? Ele teria a terra que desejava e ela o dinheiro suficiente para começar uma nova vida com seu filho.

A idéia de que se fosse criou certa apreensão, mas tentou ignorá-la e chamou seu advogado para que redigisse um contrato de compra e venda. Depois de haver se assegurado de que o documento não demoraria mais de duas semanas em estar pronto, subiu para falar com Samantha.

Ao chegar em frente à porta de seu quarto, ouviu o menino chorando. Bateu na porta, mas Samantha não respondeu. O menino continuava chorando.

Entrou e ouviu o correr da água no banheiro. Isso explicava por que Samantha não tinha ouvido que Timmy estava chorando. Olhou o menino e se perguntou o que devia fazer. Aproximou-se do berço e o balançou para ver se assim o acalmava.

-Cala, pequeno, sua mãe não demorará para vir.

O menino ficou a chorar ainda mais forte.

Morgan decidiu que não tinha opção e pegou Timmy nos braços. Não estava acostumado a tratar com meninos tão pequenos.

-Deveria haver manuais -murmurou sentindo-se como um peixe fora da água.

Recordou como Samantha o tinha posto no ombro para acalmá-lo quando tinha chorado em outra ocasião e decidiu, fazer o mesmo. Colocou-o naquela postura e lhe acariciou as costas.

Timmy jogou um ar e ficou tranquilo.

Morgan não pôde evitar rir.

-Agora já está melhor, não é? -disse enquanto notava que algo tinha impregnado a camisa -Parece que comeste muito.

-O que está acontecendo? -disse Samantha saindo do banho e tomando a seu filho nos braços -Minha mãe, olha o que fez na camisa -exclamou deixando o menino no berço e limpando-lhe com um lenço de papel -Sinto muito.

Morgan engoliu seco e foi trocando o peso de seu corpo de um pé a outro enquanto Samantha levava a cabo a operação limpeza. Tê-la tão extremamente perto era perigoso.

Cheirava a violetas e a Morgan acelerou tanto o coração ao perceber seu quente fôlego que temeu que Samantha o percebesse.

Samantha usava o cabelo recolhido em uma toalha, o que deixava exposta a delicada pele de seu pescoço, e suas longas pestanas tinham uma aparência das mais sensuais, pois ainda estavam molhadas. Mas o que mais perturbou Morgan foi que tinha aberto um pouco o penhoar e, da sua altura, conseguia ver o começo de seus seios.

Ao dar-se conta de que estava nua sob o penhoar, a calça começou a ficar apertada.

Apressou-se a afastar-se dela antes de fazer alguma estupidez, como voltar para a beijar por exemplo, e se dirigiu à porta.

-Quando tiver tempo, eu gostaria de falar contigo lá em baixo -disse saindo no corredor e fechando a porta a toda velocidade -Estarei em meu escritório.

 

Samantha ficou olhando a porta vários segundos, até que soltou o ar que tinha estado aguentando sem dar-se conta. O aroma de couro, e masculinidade tinha acelerado o pulso e tinha arrepiado a pele.

Mas o que tinha feito sentir a moleza nas pernas tinham sido os músculos peitorais do Morgan. Aquele homem era como uma rocha e Samantha não pôde evitar perguntar como se sentiria em seus braços, uns braços tão fortes que poderiam esmagá-la, mas o suficientemente tenros para acalmar um bebê.

-Já basta -disse a si mesma.

Guardou os lenços de papel e tirou a toalha da cabeça. Tudo aquilo era culpa dos hormônios. Não lhe interessava Morgan Wakefield nem nenhum outro homem.

Satisfeita com seu descobrimento, secou o cabelo e vestiu um vestido de algodão rosa que abotoava na frente.

Depois de verificar que Timmy estava dormindo plácidamente, acendeu o dispositivo que permitia ouvi-lo de qualquer ponto da casa e saiu no corredor.

Enquanto descia as escadas, perguntou-se do que queria falar Morgan com ela. Ao chegar em seu escritório, bateu na porta e mostrou a cabeça. O encontrou falando por telefone enquanto revolvia uns quantos papéis que tinha sobre a mesa.

-Cheguei em mau momento? -sussurrou.

Morgan negou com a cabeça e fez um gesto para que sentasse.

-Assim que tenha cuidado do histórico dessas duas éguas, chamo, Brant -disse antes de desligar e sorrir -Encontrei uma solução para suas preocupações econômicas.

Samantha se sentou e tentou não pensar em quão bonito era. Morgan tinha um sorriso maravilhoso e Samantha imaginou que poderia encantar até aos pássaros. Menos mal que ela não tinha penas.

-Encontraste um trabalho para mim?

-Não -respondeu Morgan sorridente.

Seus olhares se encontraram e Samantha sentiu que o coração dava um salto. Para não afogar-se naquelas profundidades azuis, fixou-se nos livros que haviam atrás dele.

-O que ocorreu então?

-Dado que a casa de seu avô não está para habitavel, poderia vender o rancho -respondeu Morgan fazendo parecer extremamente simples.

Samantha sorriu e negou com a cabeça.

-Não, não posso fazê-lo.

Morgan deixou de sorrir, como se aquilo tivesse sido a ultima coisa que esperava ouvir.

-Por que não?

-Porque quero fazer algo nesse rancho.

-Do que se trata?

Ao ver que seu interesse parecia sincero, Samantha decidiu contar tudo.

-Não conheci meu avô porque minha mãe e ele não se davam bem. Meu avô achava que minha mãe não sabia escolher homens e ela era muito teimosa para admitir que se equivocou com meu pai. Até onde eu tenho entendido, meu pai nunca soube de minha existência -explicou, tentando afastar a tristeza que sempre se apoderava dela quando pensava em seu pai -Quando nos abandonou, minha mãe se negou a voltar para cá para não ter que admitir que tinha cometido um engano. Agora, ela morreu, eu não tornei a ver meu pai desde que tinha quatro anos, e não tenho irmãos. Sei que pode soar um pouco parvo, mas o único que tenho que ata a minha família e a algum lugar é esse rancho.

Morgan não tinha esperado aquilo, mas entendia perfeitamente os sentimentos da Samantha. Para ele, o Lonetree formava parte dele tanto como o sangue que corria por suas veias.

-Vai arrumar a casa? -perguntou ainda sabendo de que não dispunha de dinheiro.

Samantha iluminou os olhos.

-Sim, quero viver no rancho e montar um acampamento de verão para crianças abandonadas e sem lar. Vou ter que ter paciência porque não vai ser fácil, mas assim que tenha trabalho vou pedir um crédito; espero ter o acampamento em marcha para o ano que vem.

-Em que trabalhava na Califórnia? -quis saber Morgan suspeitando da resposta.

-Era assistente social. Encarregava-me de encontrar casa para os meninos órfãos ou abandonados, mas reduziram o orçamento e tiveram que cortar também a planilha, então fui demitida -explicou Samantha -Quero continuar a ajudar a essas crianças que, seja pela razão que seja, encontram-se sem família. Quero lhes dar um lugar em que possam esquecer, embora seja só durante umas semanas, as razões pela qual não estão com seus pais.

Morgan não sabia o que dizer. As razões que Samantha tinha para querer ficar com sua propriedade eram muito mais nobres que as suas. Ajudar aqueles meninos era muito mais importante que treinar cavalos para o rodeio. De repente, sentiu-se terrivelmente culpado por haver sugerido que vendesse o rancho.

-Quando sua mãe morreu, passou por algo parecido? -perguntou começando a entender seu desejo de ajudar a crianças abandonadas.

Samantha assentiu com tristeza.

-Quando minha mãe morreu, converti-me em uma menina sem lar.

Ao imaginar-lhe só e tão pequena, Morgan sentiu um nó na garganta. Quando seu pai tinha morrido, ele ao menos tinha tido a seus irmãos, mas Samantha não tinha tido a ninguém. Morgan teve que fazer um verdadeiro esforço para não levantar e abraçá-la.

-Foi para uma boa família de acolhida?

Samantha assentiu.

-Como tinha quase dezessete anos, estive só pouco mais de um ano com eles. Tive a sorte de que um maravilhoso casal de anciões ficasse comigo. Trataram-me como se fosse sua neta e sempre lhes estarei agradecida, mas há outras crianças que não têm tanta sorte como eu. Há aqueles que acolhem, mas não se ocupam das crianças.

-E o que pensa em fazer até que possa montar o acampamento? -perguntou Morgan fazendo repasse mental de suas amizades se por acaso houvesse alguém que pudesse ajudá-la.

-Eu gostaria de encontrar um trabalho que pudesse fazer em casa para não ter que deixar o Timmy sozinho -respondeu Samantha.

Morgan compreendia perfeitamente aquilo. De fato, tampouco gostava da idéia de que Samantha tivesse que separar de seu filho.

Seu coração parecia pulsar mais às pressas... De onde tinha saído aquilo? O que mais ia passar pela cabeça? Timmy não era seu filho. Entretanto, sentia-se responsável pelos dois de uma maneira que desafiava à lógica e que lhe dava pânico.

Entre a repentina necessidade de ajudá-la para que pudesse ficar com o rancho que ele tinha sonhado comprar há anos e os sentimentos de amparo que aquela mulher e seu filho lhe inspiravam, Morgan sentiu como se afogasse.

Levantou-se e ficou o chapéu.

-Hum... Acabo de lembrar que tenho que fazer uma coisa -desculpou-se -Se necessitar de alguma coisa, chama o Frank.

Samantha também ficou em pé.

-Importa-te que olhe a cozinha para ver o que faço para o jantar?

Morgan girou para ela e ficou olhando-a. Era tão bonita que teve que fazer um verdadeiro esforço para não beijá-la.

-Não trabalhe muito, tudo bem?

Samantha sorriu.

-Sim, chefe.

-Não sou seu chefe, preciosa -disse Morgan lhe acariciando o rosto.

-É até que meu filho e eu irmos -disse Samantha com decisão.

-Não -insistiu Morgan lhe roçando a boca com seus lábios antes de sair da casa e dirigir-se ao abrigo.

Antes não houvesse ido, tivesse a beijado até que aos dois tivessem sido resgatado com garrafas de oxigênio.

Decidiu ir ver como se encontrava a cerca norte. Assim, cavalgaria durante horas na solidão e poderia averiguar que demônios estava passando por dentro e o que devia fazer para não deixar-se arrastar.

Selou seu cavalo preferido e pensou que tudo aquilo não tinha nenhum sentido. Afinal, conhecia a Samantha há só três dias. Sim, mas o certo era que cada vez sentia com mais força a necessidade de ajudá-la e a seu filho e que, cada vez que olhava em seus olhos cor avelã, sentia como se asfixiasse.

Quando Morgan partiu, Samantha esperou vários minutos que seu pulso normalizasse. Que demônios estava passando?

Morgan não lhe interessava. Na realidade, não lhe interessava nenhum homem. Entre seu pai e Chad tinha aprendido a lição: não podia contar com os homens. Sempre acabavam deixando às mulheres.

A melhor maneira de que um homem não a defraudasse era não ter jamais uma relação com ele. Ponto final. Enquanto não esquecesse aquilo, estaria a salvo.

Assentiu com decisão e foi à cozinha. Estava decidida a cumprir sua palavra sobre cozinhar e limpar. Ainda lhe doíam as costas, mas pensou que se não forçasse muito e descansasse, a atividade física iria bem.

Deixou o auricular onde podia ouvir o Timmy sobre o balcão e ficou a fazer uma lista de compra. Duas horas depois, tinha escritas três folhas completas. Quão único havia no frigorífico do Morgan era carne.

-Samantha?

 

Ao ouvir uma voz feminina que não esperava, Samantha deu um salto. Saiu da cozinha e se encontrou com uma mulher miúda e loira que levava duas bolsas de mantimentos.

A mulher deixou a mercadoria sobre o balcão e girou sorridente para a Samantha.

-Olá, sou Annie Wakefield -apresentou-se -a mulher do Brant, o irmão do Morgan.

-Prazer em conhecê-la, Annie -respondeu Samantha sorrindo também -Estava mesmo fazendo a lista da compra para ver o que punha de jantar.

Aquilo fez rir Annie.

-Temo que os Wakefield são um pouco limitados em sua dieta. Só comem carne.

-Já me dei conta -respondeu Samantha -É o único que encontrei no congelador.

-Por isso te trouxe umas quantas coisas mais -disse Annie assinalando as bolsas que tinha deixado no balcão -De caminho ao norte do rancho, Morgan parou em nossa casa e nos comentou que tinha uma convidada. Sei por experiência que a despensa estaria vazia, então te trouxe o que tinha em casa.

Samantha assentiu.

-Estava queimando os miolos me perguntando o que podia cozinhar com carne de boi, pão e geléia de uva.

-E então o que comestes?

-Um sandwich de...

-De carne assada com queijo. -riu Annie -São a especialidade de Leo, mas tão asquerosos porque sempre passa com o molho picante e os rabanetes -acrescentou abrindo o frigorífico e metendo em seu interior leite, margarina e queijo.

-Me alegro de não haver comido isso -sorriu Samantha.

-Morgan nos contou de seu parto. Se posso ser de ajuda, só que me dizer isso.

Aquele gesto emocionou a Samantha profundamente.

-Estamos bem -respondeu com lágrimas nos olhos.

Nesse momento, Timmy ficou a chorar. Sua mãe sorriu.

-Bom, meu filho estará muito melhor quando tiver dado de comer.

-Vá tranquila.

-Já desço. Obrigado por tudo, de verdade.

-Na realidade, fiz porque te queria pedir um favor em troca -sorriu Annie -Queria ver seu filho para saber no que me meti.

-Está grávida?

Annie assentiu e Samantha abraçou a sua nova amiga.

-Que maravilhosa notícia -disse Samantha sorrindo -Quando terminar de lhe dar de comer, desço com ele.

-Essa égua e o semental negro vão ter um potro lindo -comentou Morgan com seu irmão Brant.

-Certamente -respondeu seu irmão sorridente.

Entraram em casa comentando os últimos lucros de seu irmão mais novo, Colt, no rodeio. Tinha ficado em segunda posição no último em que tinha participado. O primeiro prêmio tinha sido para o Mitch Simpson, seu melhor amigo e irmão do Kaylee, a garota que gostava.

Ao chegar à cozinha e ver duas mulheres cozinhando cotovelo com cotovelo, Morgan ficou gelado no lugar.

Estava acostumado que sua cunhada fosse fazer comida para todos eles, quando tinham uma temporada de muito trabalho, mas não estava preparado para ver Samantha com farinha em uma bochecha e o rosto ruborizado pelo calor do forno.

Aquilo era tudo o que desejava, mas não contava ter jamais: uma mulher, uma família e um lar cheio de amor e risadas.

Seu irmão se aproximou de sua mulher, abraçou-a e a beijou como um soldado que acabasse de chegar da guerra.

Ao recordar os lábios da Samantha, Morgan engoliu seco. Por que sentia a imperiosa necessidade de fazer o mesmo?

Que diabos estava acontecendo? Mal conhecia aquela mulher.

Enquanto observava como Annie apresentava a Samantha a seu marido, Morgan se perguntou quando poderia ir ao Bear Creek. Sem dúvida necessitava de uma noite de farra. E rápido. Do contrário, ia ficar louco.

O bebê emitiu um agudo grito e Samantha se apressou secando as mãos para tomá-lo nos braços.

-Suponho que terá que arrotar de novo -comentou sua mãe.

- Eu faço -ofereceu-se Morgan surpreendendo seu irmão e sua cunhada -Você e eu já temos certa experiência nisto, não é? -acrescentou olhando Timmy.

Samantha sorriu.

-E não se esqueça pôr uma toalha sobre o ombro -aconselhou.

Morgan sorriu também.

-Boa idéia. Só tenho duas camisas limpas -respondeu ignorando as olhadas surpreendidas de seu irmão e sua cunhada -Vamos, pequeno. Vamos dar uma volta para ver se isso te ajuda -disse tomando Timmy nos braços -Não te esforce muito. Se te cansar, sente-se e ponha os pés para o alto -concluiu olhando a Samantha.

Morgan saiu ao corredor e não se surpreendeu de que seu irmão o seguisse.

- Te importaria de me contar o que está acontecendo aqui? -perguntou Brant com um sorriso malicioso.

-Aqui não está acontecendo nada. As garotas estão ocupadas cozinhando e eu estou dando uma mão a Samantha.

-Sim, claro. Pelo que sei, você nunca pegou um bebê nos braços em sua vida, mas parece que com este sabe muito bem o que faz.

-Se por acaso não te lembra, recordo que tive um curso acelerado sobre bebês há algumas noites -respondeu Morgan dando palmadinhas nas costas do pequeno, que arrotou -muito melhor agora, não é?

Brant sacudiu a cabeça maravilhado.

-Como sabia o que tinha que fazer? -perguntou a seu irmão.

-Não sabia -respondeu Morgan -Mas esta tarde Samantha estava ocupada e... Te importaria em me dizer por que te interessa tanto isto?

Brant duvidou e negou com a cabeça.

-Por simples curiosidade -respondeu.

Morgan não acreditou.

-Annie está... ?

-Ao seu devido tempo, irmão, ao seu devido tempo -respondeu Brant voltando para a cozinha.

Se Morgan não se equivocava, seria tio a princípios do ano seguinte e Annie queria fazer o anúncio durante o jantar.

Morgan se alegrou enormemente por seu irmão e sua cunhada, mas de uma vez experimentou uma grande sensação de tristeza. Ele sempre tinha querido ter uma família, mas ia ter que se conformar sendo o tio favorito dos filhos de seus irmãos.

Olhou o menino que tinha nos braços. Ter um filho significava uma grande responsabilidade, uma responsabilidade que ele não sabia se poderia jamais assumir. O que ocorreria se suas decisões fossem erradas pela segunda vez? Já tinha morto uma pessoa por sua culpa.

Não, não queria voltar a correr esse risco nunca.

-Morgan, vai tudo bem? -quis saber Samantha indo buscá-lo.

-Não poderia ir melhor -mentiu Morgan.

-Parece... Triste -disse Samantha lhe acariciando a mão.

Morgan sentiu uma descarga elétrica e a imperiosa necessidade de fugir. A mãe do pequeno que tinha nos braços era a maior tentação a que enfrentou nos últimos seis anos.

Aquela mulher era boa, sensual e representava tudo o que Morgan nunca poderia ter.

-Toma -disse lhe entregando o Timmy -Volto já para jantar. Tenho que... Fazer umas coisas antes.

Enquanto Samantha olhava-o como se fosse um extraterrestre, girou e se meteu em seu escritório. Uma vez a sós, dirigiu-se a janela e observou as montanhas que se divisavam no horizonte.

Não gostava de sentir-se atraído pela Samantha Peterson, mas até que seu carro estivesse arrumado ia ter que vê-la todos os dias.

Enquanto observava suas cabeças de gado pastando, decidiu que tinha encontrado a solução. Havia suficiente trabalho no rancho para sair ao amanhecer e não voltar até a entrada da noite. Até que Samantha e seu filho se fossem, ia passar o dia trabalhando para manter distância.

Era o que tinha que fazer. Era a única maneira de aferrar-se à pouca prudência que ficava.

-Passei essas horas maravilhosamente -disse Samantha a Annie e ao Brant, que estavam a ponto de partir.

Annie a abraçou.

-Eu também. Recorda que, se necessitar de algo, pode me chamar. Sobre tudo, se for para cuidar do Timmy -sorriu.

-Obrigado -respondeu Samantha sorrindo também.

Desde que Annie tinha anunciado no transcurso do jantar que Brant e ela iam ter um filho, o casal não tinha deixado de interrogá-la sobre questões relacionadas com a gravidez, o parto e a lactação.

Morgan tinha estado extremamente calado durante a conversa, mas como Samantha não o conhecia muito, não sabia se aquela era sua forma de ser habitual.

Uma vez a sós, sentiu-se estranha, Morgan e ela estavam limpando a cozinha e a situação lhe parecia muito... familiar.

-Seu irmão e sua cunhada são muito simpáticos -disse a Morgan sinceramente enquanto dobrava a toalha -Tem uma família maravilhosa.

-Annie é sempre assim encantadora -respondeu Morgan jogando outra lenha na lareira -e Brant está melhor que nunca -sorriu.

Samantha se deu conta de que Morgan era muito unido a sua família e sentiu inveja. Ela sempre tinha desejado ter tido um irmão ou uma irmã, alguém com quem poder compartilhar lembranças.

-Estou muito cansada -disse sentindo-se de repente mais só que nunca -Parece que Timmy e eu vamos para a cama -acrescentou fazendo a ameaça de tomar a cadeira de seu filho.

Morgan se adiantou.

-Não deveria levantar pesos -repreendeu-a -Está fazendo muitas coisas.

-Não estou, de verdade -protestou Samantha bocejando.

-Claro, e os burros voam -respondeu Morgan levantando a cadeira com facilidade e pondo a mão nas costas de Samantha.

-A verdade é que me pareceu ver um sobrevoando o abrigo esta manhã -respondeu Samantha nervosa ao sentir sua mão.

-Bom intento, mas não acredito -sorriu Morgan -Hoje fez muitas coisas.

-De verdade? Outro dia me disse que não era médico.

Embora Morgan tivesse razão, Samantha sabia que se excedeu, não estava disposta a admiti-lo.

-Fez um curso de medicina nestes dois dias? -brincou.

-Não, mas li o resto do livro -respondeu Morgan.

Samantha sentiu que ardiam as bochechas.

-Quando? -quis saber.

-Quando ficou dormindo depois de dar a luz -respondeu Morgan abrindo a porta do quarto e deixando-a passar -Vê se amanhã não faz tantas coisas -acrescentou deixando Timmy na cama.

-Morgan -disse Samantha pondo a mão no seu ombro.

Queria lhe agradecer por tudo o que tinha feito por eles nos últimos dias. Havia-lhe dito que era muito detalhista, mas não tinha agradecido de verdade.

Morgan girou para ela e Samantha começou a dizer-lhe mas se interrompeu de repente ao ver algo em seus olhos que a distraiu.

Parecia desejo, mas não quis acreditar.

-Samantha -disse Morgan lhe acariciando o cabelo.

Fascinada por como havia dito seu nome, Samantha o observou enquanto se inclinava sobre ela. Quando seus lábios se encontraram, Samantha fechou os olhos e se agarrou a sua camisa.

Não foi um beijo casto como o daquela tarde, e sim um beijo apaixonado que lhe chegou à alma. A língua do Morgan pediu espaço e Samantha não duvidou em conceder-lhe deixando que se introduzisse em sua boca e a explorasse.

Morgan a abraçou e Samantha sentiu que se perdia naquele corpo tão grande. Sem pensar na loucura que deu em ambos, Samantha se apertou contra seu peito.

Naquele momento, Timmy protestou, pois tinha de comer de novo. Seu pranto dissipou a neblina sensual que se criou entre eles.

Morgan foi o primeiro em afastar-se.

-Perdoe-me, Samantha. Não foi minha intenção que isto acontecesse -desculpou-se olhando-a -Sinto muito.

-Pois eu não -respondeu Samantha sinceramente.

O que estava ocorrendo? Por que havia dito a verdade?

-Quero dizer... Que...

Sentia que as bochechas lhe ardiam. O que podia dizer para arrumar a situação? Pior que havê-lo admitido era sentir que era a verdade. Não se arrependia do que acabava de acontecer e isso lhe chateava.

-Tudo bem, Samantha. Tenho trinta e quatro anos, não sou um adolescente que não saiba se controlar -disse Morgan ameaçando lhe acariciar o cabelo, mas mudando de opinião -A partir de manhã, não vais me ver muito. A primavera é uma das temporadas de mais trabalho no rancho e vou ter que fazer um monte de coisas.

Depois de dizer aquilo, girou e saiu do quarto.

Samantha ficou olhando como fechava a porta. Por que sentia como se a tivessem abandonado de novo? Por que a certeza de que Morgan não queria nada com ela, a fazia ter vontade de chorar?

Samantha sacudiu a cabeça e tentou acostumar-se à idéia. Já estava acostumada que os homens a abandonassem. Quando tinha quatro anos, seu pai tinha encontrado outra mulher e não tinha duvidado em deixar a ela e a sua mãe como se jamais tivesse se importado. Dez anos depois, quando os serviços sociais entraram em contato com ele depois da morte de sua mãe, seu pai havia tornado a lhe dar as costas.

Tomou seu filho nos braços e aguentou as lágrimas. O abandono pior que tinha sofrido por parte de um homem tinha sido, entretanto, o do Chad quando havia dito que ia ter um filho. Uma coisa era que a rechaçasse e outra que rechaçasse o Timmy.

Mas tudo aquilo não explicava sua reação ante o rechaço do Morgan. Apenas se conheciam e, além disso, não lhe interessava aquele homem. Não lhe interessava nenhum homem. Os homens não eram seres nos que se pudesse confiar quando mais os necessitar.

-Tudo isto é culpa dos hormônios -disse em voz alta -Quando passar tudo isto, poderei voltar para a normalidade.

 

Morgan saiu do abrigo, olhou o céu sem estrelas e andou para sua casa.

Fazia um mês que esperava todas as noites que Samantha apagasse a luz de seu quarto para deixar de trabalhar e todas as manhãs despertava e ia antes de que Samantha despertasse.

Mesmo assim, tinha-a visto umas quantas vezes, mas, à exceção dos jantares dos domingos e algumas visitas de seu irmão e sua cunhada, tinha conseguido manter a distância.

O mau era que em lugar de sentir-se aliviado, sentia-se cada vez mais atraído por ela.

Morgan sacudiu a cabeça ante sua imbecilidade. Inclusive tinha abandonado a idéia de sair para passar a noite com alguma jovenzinha porque algo em sua cabeça tinha advertido que o único que ia conseguir era terminar sentindo-se culpado por ter traído Samantha.

Aquilo era completamente ridículo.

-Está vexado, Wakefield -disse enquanto subia as escadas do alpendre.

Abriu a porta e se dirigiu à cozinha. Como de costume, Samantha tinha deixado a luz acesa, mas em lugar de estar já em seu quarto, estava ali, dormindo sobre a mesa com os papéis de seu ansiado acampamento ao redor.

Morgan engoliu seco e se aproximou dela.

-Samantha?

-Mmm...

-Estará mais cômoda em sua cama.

Samantha abriu os olhos lentamente e Morgan engoliu seco ao imaginar despertando assim a seu lado depois de uma noite de...

-Estava te esperando -disse Samantha sentando e afastando o cabelo do rosto. Queria te perguntar uma coisa.

Morgan olhou o relógio e se sentiu culpado por havê-la feito esperar. Teria que madrugar na manhã seguinte para ocupar-se de seu filho e eram quase doze da noite.

-Do que se trata? -perguntou Morgan lhe afastando uma mecha de cabelo.

-Frank me disse que há uma peça do carro que não chegou e preciso ir ao Laramie amanhã pela manhã. Não lhe pediria isso se não fosse realmente importante -acrescentou dúbia -Importarte-ia me deixar uma de suas caminhonetes?

-Ocorre algo? Precisa ir ao médico?

-Não, já fomos com Annie a semana passada. O que ocorre é que me chamou o advogado de meu avô e me disse que há um problema com a herança e que temos que nos ver.

-Ele disse qual é o problema? -perguntou Morgan rezando para que não fosse nada grave.

-Perguntei, mas não me disse. Limitou-se a insistir que queria falar comigo pessoalmente para me explicar as novas condições do testamento -respondeu Samantha franzindo o cenho -Não me disse nada quando entrou em contato comigo pela primeira vez para me falar do rancho há cinco semanas quando lhe disse que podia me localizar aqui.

Morgan não sabia o que era o que teria averiguado o advogado, mas não gostava de como soava aquilo. Depois da morte do Tug, pôs-se em contato com o escrivão para lhes perguntar sobre a possibilidade de comprar sua propriedade e lhe haviam dito que não haveria nenhum problema, sempre e quando o herdeiro estivesse de acordo em vender, já que o rancho estava livre de dívidas ou impostos.

-Eu vou ter que ir ao Laramie esta semana comprar algumas coisas -disse Morgan -Poderia ir amanhã e assim te levo. A que hora ficaste de encontrar com o advogado?

-A nenhuma em particular -respondeu Samantha bocejando -Disse-me para aparecer a qualquer hora amanhã pela manhã.

-A que hora se acorda Timmy?

-Muito cedo -respondeu Samantha voltando a bocejar.

Morgan ficou em pé e a olhou. Ao fazê-lo, sentiu a imperiosa necessidade de protegê-la.

-Ás oito está bom para ir ?

Samantha assentiu. Morgan a ajudou a guardar os papéis sobre o acampamento, tirou da mão e a conduziu escada acima.

-Durma bem -desejou lhe dando um beijo na testa -Até manhã.

-Não sei quanto vou demorar -disse Samantha olhando a entrada do edifício. Estava localizado o escritório Greeley, Hartwell and Buford.

-Não se preocupe por isso -respondeu Morgan desligando o motor e tirando o cinto de segurança -Timmy e eu lhe esperaremos aqui enquanto você vai ver o que quer o advogado.

Samantha assentiu, respirou fundo e abriu a porta.

-Cruza os dedos para que não seja nada grave.

-Boa sorte -sorriu Morgan.

Samantha tinha medo. Tinha falado com o senhor Greeley no dia anterior e o advogado se mostrou extremamente evasivo ante suas perguntas.

Apresentou-se ante a recepcionista e sentou a esperar em uma incômoda cadeira. Pouco depois, apareceu um homem que se dirigiu a ela.

-É você a senhorita Peterson? -perguntou-lhe.

-Sim -respondeu Samantha ficando em pé.

-Sou Gerald Greeley -apresentou-se o homem sorrindo nervoso -Passe a meu escritório, por favor, para que possa explicar esta confusão.

Samantha estreitou a mão que o homem lhe oferecia e o seguiu com o coração em um punho. De algum jeito, sabia que aquilo não ia ser fácil e que aquele advogado ia dizer algo que não ia ser agradável de ouvir.

-Sente-se, por favor -indicou-lhe o senhor Greeley.

-O que ocorre, senhor Greeley? -quis saber Samantha sentando-se na borda da cadeira -Acreditei que estava tudo em ordem.

-Nós também -respondeu o advogado suspirando -Mas ontem pela manhã se produziu uma situação com a que não tínhamos contado.

Samantha se deu conta de que o homem se pôs a suar como se lhe desse medo dizer o que tinha que dizer.

-Me diga o que aconteceu e terminemos com isto quanto antes.

-Não se casou por acaso neste último mês, não é, senhorita Peterson? -perguntou o homem esperançado.

-Não -respondeu Samantha olhando-o confusa -Por que?

-Porque para poder herdar o rancho de seu avô você tem que estar casada durante, pelo menos, dois anos -explicou-lhe o senhor Greeley secando o suor da testa com um lenço.

Samantha escutou durante meia hora as explicações do advogado. Quando saiu do edifício e se dirigiu à caminhonete onde a esperavam seu filho e Morgan, sentia uma imensa vontade de chorar.

Quando Samantha abriu a porta e se meteu no carro, Morgan se sentiu como se tivessem dado um murro no estômago. Samantha estava pálida e a beira das lágrimas.

-Está bem?

-A verdade é que não -respondeu Samantha rindo nervosa.

Ao ver que uma lágrima lhe rolava pelas bochechas, Morgan quis morrer.

-O que passou, carinho?

-Acabam-me de dizer que em três meses o Estado vai ficar com o rancho de meu avô e não posso fazer absolutamente nada para impedi-lo -explicou-lhe.

-Mas não tinha deixado isso a ti?

-Meu avô redigiu dois testamentos e o último, redigido só uns dias antes de morrer, é o válido -respondeu Samantha enquanto uma segunda lágrima lhe escorregava pela bochecha.

-E o senhor Greeley não sabia disso? -quis saber Morgan lhe oferecendo um lenço.

Samantha deu de ombros.

-Meu avô fez testamento ante o advogado residênte porque o senhor Greeley estava fora da cidade naqueles momentos. O administrador da residência o guardou por engano junto aos documentos de outro paciente e não se deram conta do engano até que esse outro paciente morreu esta semana.

Morgan já não pôde mais. Desceu do carro, rodeou-o, abriu a porta do passageiro e tomou Samantha nos braços.

Samantha se deixou abraçar e deu rédea solta as lágrimas. Morgan não gostava nada de ver uma mulher chorar, mas os incontroláveis soluços da Samantha estavam rompendo sua alma.

Queria ajudá-la, mas não sabia como.

-Conta-me tudo -disse-lhe sem deixar de abraçá-la -Talvez, duas cabeças pensando, ocorra algo para que não perca o rancho.

-O certo é que é muito simples -respondeu Samantha -Se não me casar até setembro, o Estado ficará com o rancho e não acredito que isso vá acontecer...

-Te casar? -perguntou Morgan surpreso.

Samantha assentiu.

-No testamento diz que tenho que estar casada quando reclamar a propriedade como minha e que tenho que continuar dois anos mais nesse estado civil para que ponham as escrituras em meu nome.

-E por que seu avô faz semelhante loucura? -quis saber Morgan sem poder compreender aquela ridícula condição.

-Não o fez por mim -respondeu Samantha -Meu avô nem sequer sabia que eu existia. Minha mãe fugiu com meu pai e nunca mais voltou aqui.

Morgan assentiu.

-Sim, disse-me que seu avô e ela não se davam bem, mas eu acreditava que teriam tornado a se ver.

-Pelo que eu sei, não foi assim -respondeu Samantha afastando-se dele o suficiente para tirar uma carta da bolsa -Olhe, toma, tudo está explicado nesta carta, mas eu não consegui entendê-lo.

Morgan leu a carta sem poder acreditar ao que lia. Tug devia ter enlouquecido antes de morrer. Ou isso ou era o maior machista do mundo. Naquele momento, Morgan não sabia o que pensar.

Tug dizia que, se seu herdeiro fosse homem, não tinha que cumprir nenhuma condição. Entretanto, se fosse mulher, devia estar casada durante dois anos pelo menos antes de poder reclamar seu rancho.

O testamento chegava inclusive a especificar que uma mulher ia necessitar de um marido para que a ajudasse a pôr o rancho em marcha para poder viver dele. Se não tivesse herdeiro, ou se era uma herdeira e não estava casada para quando terminasse o prazo estipulado, Tug tinha estipulado que os advogados fizessem a entrega de sua propriedade ao Estado.

-Acabou minha idéia de ter certos laços que unissem a minha família através do rancho... Adeus a meu sonho de abrir o acampamento... -lamentou-se Samantha.

-Isto é inaceitável -disse Morgan lhe devolvendo a carta -Casaremos neste mesmo fim de semana.

De repente, o tempo parou.

Morgan não podia acreditar que acabara de oferecer para casar-se com ela, mas ao olhar naqueles incríveis olhos cor avelã compreendeu que era o único podia fazer para ajudá-la.

-O que disse? -conseguiu dizer Samantha olhando-o como se fosse louco.

-Disse que nos casaremos neste mesmo fim de semana -repetiu Morgan.

Samantha sacudiu a cabeça.

-Primeiro, meu avô e suas estúpidas condições e, agora, você me vem com essa. O que acontece com todos os homens de Wyoming? Estão loucos?

Morgan pôs as mãos nos seus ombros.

-Me escute, Samantha -pediu dando-se conta do muito que a desejava -Quer herdar o rancho de seu avô para poder montar o acampamento infantil, não é?

-Sim, mas não posso me casar contigo para consegui-lo -respondeu Samantha com voz trêmula.

-Por que não?

-Bom, eu... Não sei...

-O advogado te disse se há alguma maneira de ignorar essa condição?

Samantha negou com a cabeça.

-Não, o senhor Greeley me assegurou que estudou todas as possibilidades e não há outra maneira de fazê-lo. Tenho que estar casada para reclamar o rancho.

-Então, não tem opção, Samantha.

-Eu... Tenho que pensar -respondeu Samantha massageando as têmporas -Tudo isto é tão estranho. Não tenho trabalho, nem casa e estou a ponto de perder o único que une a minha família e meu sonho de abrir o acampamento, mas se me caso contigo...

Morgan entendia seu dilema. Em sua situação, provavelmente ele estaria igualmente preocupado. Depois do que tinha ocorrido a Emily, jurou não se casar jamais para não ter que correr o risco de ser responsável pelo bem-estar de outra pessoa.

Mas aquilo era diferente. Samantha e ele não iam se casar por amor e ele não ia ter que tomar decisões sobre ela e seu filho. Teriam vidas separadas e, em todo caso, se mantivessem relações sexuais de vez em quando para satisfazer suas necessidades. Não haveria problema nisso pois estariam casados e, além de legal, seria inclusive moral.

-Pense nisso enquanto voltamos para casa -disse fechando a porta e entrando no carro -Prometo-te que entre os dois vamos solucionar esta situação. Não vou permitir que perca suas terras.

 

Samantha deu o peito ao Timmy e o deitou. Em seguida, respirou fundo e desceu as escadas para falar com o Morgan.

Da conversa que tinham tido no estacionamento, Samantha não tinha deixado de pensar nas condições do testamento de seu avô e na proposta que Morgan tinha feito para ajudá-la.

Enquanto cruzava o amplo vestíbulo, deu-se conta de que tremiam as pernas. Apesar de tentadora que era a proposta de Morgan, não ia aceitar. Tinha aprendido por que não podia confiar nos homens e não ia começar a fazê-lo agora.

Embora significasse ter que renunciar a seu sonho de montar o acampamento infantil, não podia aceitar a proposta do Morgan.

Ao chegar à porta de seu escritório, respirou fundo e chamou.

-Está ocupado?

-Não -sorriu Morgan -Entra e sente-se.

Samantha entrou e sentou na poltrona que havia em frente a sua mesa.

-Tomei uma decisão -anunciou.

-Me diga -disse Morgan arqueando uma sobrancelha.

-Agradeço-te muitíssimo pela proposta que fez para que não me tirem o rancho, mas não posso permitir que hipoteque sua vida durante dois anos -respondeu Samantha a toda velocidade para não mudar de opinião.

Morgan se levantou, rodeou a mesa e se sentou em frente a ela.

-Samantha, não me parece hipotecar minha vida. Para mim, seria ajudar a ti e um monte de crianças que levam uma vida muito difícil.

Samantha ficou em pé e começou a passear pelo escritório. Não podia permitir que a confundisse.

-E se conhecer alguém? Estaria amarrado a mim. O que aconteceria então?

-Não vou conhecer ninguém -respondeu Morgan tão seguro de si mesmo que Samantha se surpreendeu.

-Isso nunca se sabe, Morgan.

-Eu sim o sei -insistiu ele com serenidade -Dou-te minha palavra de que, enquanto estejamos casados, nem sequer olharei a outra mulher.

-Mas nosso casamento o seria só da porta para fora -esclareceu-lhe Samantha.

Morgan deu de ombros.

-Assim, as coisas seriam mais simples.

Aquela não era a resposta que Samantha esperava ouvir. Estava disposto Morgan a permanecer durante dois anos em estado de celibato? Como demônios podia estar tão tranquilo falando de casamento embora não fosse de verdade?

-Por que quer me ajudar, Morgan? -perguntou Samantha com certo receio -O que ganha você com tudo isto?

-Nada -respondeu Morgan -Só quero que Timmy e você tenham o que é seu e, de passagem, ajudo a umas quantas crianças que o necessitam.

-Faz só por isso?

Samantha custava acreditar que alguém estivesse disposto fazer um sacrifício assim por uma pessoa que mal conhecia.

Morgan assentiu e tomou as mãos.

-Quero te ajudar, Samantha -assegurou-lhe tomando-a pela cintura -E a única maneira que tenho de fazê-lo é me casando contigo.

Samantha mordeu o lábio inferior. Não podia acreditar que estava considerando seriamente aceitar sua oferta apesar de ter promet ido não voltar a confiar em um homem em sua vida.

Como se Morgan tivesse pressentido o que estava pensando, sorriu.

-Que me diz, Samantha? -sussurrou-lhe ao ouvido -Quer te casar comigo, conservar o rancho de seu avô e poder ajudar a esses meninos, ou vais dizer que não te casa comigo e perder tudo?

Samantha não podia pensar tendo-o tão perto. Sentia seu fôlego no pescoço e aquilo estava lhe fazendo sentir um imenso calor por todo o corpo.

-Não sei o que fazer... -confessou com voz trêmula.

-Diga que sim, Samantha -disse Morgan lhe beijando o pescoço.

-Mas...

Morgan a olhou aos olhos com intensidade.

-Sim -insistiu.

-Sim -gaguejou Samantha por fim sem poder acreditar que acabasse de aceitar casar-se com o Morgan Wakefield.

 

Morgan pôs as mãos nos quadris enquanto escrutinava o espaço em busca do velho baú. Tinha que estar por ali. Seu pai tinha recolhido todas as coisas de sua mãe pouco depois de sua morte e, por isso Morgan sabia, não havia as tornado a tocar em vinte e sete anos.

Por fim, viu-o em um canto. Afastou umas quantas caixas com adornos de natal e ali estava. Abriu-o e imediatamente o aroma de jasmim lhe recordou à mulher que lhe tinha dado a vida.

Sua mãe tinha morrido quando ele só tinha sete anos, mas Morgan ainda recordava suas doces carícias, seus beijos de boa noite e o aroma de seu perfume de jasmim quando o abraçava.

Sentiu que lhe formava um nó na garganta. Apesar de que seu pai se esmerou com seus três filhos e se esforçou para ser pai e mãe de uma só vez, Morgan sabia que perderam muitas coisas ao não tê-la por perto.

Morgan se ajoelhou no chão e começou a rebuscar. Sentiu-se um pouco culpado. Era como se estivesse invadindo a intimidade de sua mãe, mas de algum jeito se tranquilizou sabendo que lhe pareceria bem o que ia fazer.

Ao ver a bolsa de plástico branca ao fundo do baú, sorriu. Tirou-a, voltou a colocar todo o resto, fechou o baú e Desceu ao salão.

-Samantha?

-Estou na cozinha.

Quando Morgan entrou, a encontrou colocando uma travessa de carne no forno. Tinha as bochechas rosadas e lhe tinham escapado umas quantas mechas de cabelo do prendedor.

Nunca a tinha visto tão bonita.

-Não sei se te ficará bem, mas se ficar, poderia pôr isso no domingo -sorriu lhe entregando a bolsa.

Samantha ficou olhando a bolsa uns segundos e logo o olhou a ele.

-Era de sua mãe?

Morgan assentiu e, de repente, não soube se tinha feito bem oferecendo o vestido de noiva de sua mãe para a pequena cerimônia que tinham organizado para no domingo.

Tinha feito porque sabia que Samantha não teria dinheiro para comprar um e rechaçaria a idéia de que ele comprasse, mas possivelmente às mulheres não gosta de vestir roupa de outras mulheres.

-Se não quiser pôr isso entenderei –disse passando a mão pelo cabelo -Tinha pensado que...

-Não, claro que vestirei -respondeu Samantha acariciando a bolsa de plástico como se fosse preciosa e frágil -Será uma honra para mim pôr isso Morgan, mas... Não acredita que deveria guardá-lo para quando te casar de verdade?

-Esta vai ser a única vez que vou me casar -espetou Morgan.

Arrependeu-se de ter sido tão brusco, mas não estava disposto a explicar para Samantha sua decisão nem as razões que o tinham levado a tomá-la. Era muito complicado e não queria que Samantha soubesse que tinha sido o culpado da morte do Emily.

-Eu também -respondeu Samantha surpreendendo-o -Depois de Chad, decidi que é melhor estar sozinha que mal acompanhada. Não digo só por mim a não ser, sobre tudo, por meu filho. Não quero que nenhum homem possa fazer o dano que meu pai me fez .

Morgan sentiu como se um gigante estivesse esmagando seu coração. Não podia imaginar ninguém tratando mal Samantha e ao Timmy.

Não pôde conter-se mais e a abraçou.

-Não terá que preocupar-se com isso enquanto esteja comigo, carinho -assegurou -Prometo que jamais permitirei que lhes façam mal nem a ti nem ao menino, que sempre estarei aqui para vós.

Samantha o olhou aos olhos.

-Pelo menos durante os próximos dois anos?

-Pelo menos -respondeu Morgan beijando-a.

Morgan não queria pensar o quanto ia durar seu casamento nem nas razões que o tinham provocado. Naqueles momentos, preferia sentir seu corpo perto, seu aroma e seus suspiros, que o estavam deixando louco.

Beijando-a com paixão explorou a boca daquela mulher que em dois dias ia se converter em sua esposa. Aquele pensamento fez que lhe fervesse o sangue e ardesse a entreperna.

Quando Samantha passou os braços pelo pescoço e se apertou contra ele, Morgan acreditou que iam falhar as pernas. Sentiu seus seios firmes e volumosos e o calor de seu sob ventre contra sua ereção.

Aquilo era mais do que podia suportar.

Com movimentos lentos, chegou até seus seios, acariciou-os e brincou com seus mamilos através da blusa. A recompensa que obteve foi um gemido de prazer por parte de Samantha.

Morgan não recordava ter estado tão excitado na vida.

Deu-se conta de que, se deixassem que as coisas avançassem, não ia ser capaz de parar, assim deixou de beijá-la e se afastou.

Olhou Samantha, que lhe pareceu mais doce que nunca, e decidiu que não estava o suficientemente longe dela, que ainda corria o perigo de tomá-la nos braços e levá-la a seu dormitório e, embora morresse de vontade de fazê-lo, ela ainda não estava preparada.

-Tenho que... Ir ver como está o novo potro -anunciou indo para a porta -Se necessitar de ajuda com o vestido, asseguro que Annie estará encantada de dar uma mão.

Sem esperar uma resposta, saiu ao alpendre e fechou a porta por atrás de si.

Se tinha alguma dúvida, acabava-a de dissipar. Não iam se casar por amor, mas havia entre eles uma atração que não podia negar. Era impossível viver juntos, sob o mesmo teto, sem que acontecesse o inevitável.

Não era questão de se iam fazer amor ou não. Era questão de quando iam fazer.

 

-Desde da primeira vez que os vi juntos, soube que Morgan e você pertenciam o um ao outro -disse Annie ajudando a Samantha a vestir o vestido de noiva da mãe de Morgan.

-Ah, sim? -disse Samantha perguntando-se de onde teria tirado sua futura cunhada aquela impressão.

Annie assentiu e começou a fechar os diminutos botões, da cintura até o pescoço.

-Sim, é como se olham.

Samantha engoliu seco. Não gostava nada de não poder contar a Annie a verdadeira razão pela qual ia se casar com seu cunhado, mas Morgan e ela tinham decidido que, quanto menos pessoas soubesse, melhor.

Morgan tinha razão ao dizer que era um assunto que só incumbia a eles, mas aquilo não impedia que Samantha se sentisse culpada por não contar a Annie.

-Já voltaram Colt e Brant de Nashville? -perguntou para mudar de tema.

-Chegaram faz uma hora -respondeu Annie acabando de fechar os botões -Oh, Samantha, está linda -acrescentou olhando-a com lágrimas nos olhos.

Samantha se olhou no espelho de corpo inteiro e suspirou. Aquele vestido era maravilhoso. Era uma criação simples, feminina e elegante, de seda branca e encaixe antigo.

Samantha jamais tinha sonhado ter um vestido de noiva tão bonito. O certo era que jamais tinha sonhado casar-se assim.

-Me parece que estou absurdamente assustada -riu nervosa.

Annie assentiu enquanto lhe punha uns quantos raminhos de florzinhas brancas no cabelo.

-É normal que as noivas estejam nervosas -tranquilizou-a -Morgan vai ficar com a boca aberta quando te ver.

-Você acredita?

Talvez, se tivessem conhecido-se em outro momento, em outras circunstâncias, a história entre os dois poderia ter sido diferente.

-Estou segura -sorriu Annie -Assim que te veja, vai querer tomá-la nos braços e subir outra vez aqui antes da cerimônia. Como tudo foi tão rápido, não tive tempo de organizar uma despedida de solteira -acrescentou tirando uma caixa de uma bolsa.

Samantha franziu o cenho ao ver que era a caixa de uma loja de lingerie.

-O que é isto?

-Oh, uma cosinha para que sua noite de núpcias seja um pouco mais... Deixe-me ver como... Interessante -sorriu Annie.

Samantha abriu a caixa e, ao ver seu conteúdo, ruborizou. Tratava-se de um minúsculo babydoll de encaixe branco. Também havia um livro de massagens sensuais e um frasco de azeite corporal.

-Minha mãe! -exclamou.

-Espero que você goste -disse Annie -Me deram de presente algo parecido e te posso assegurar que Brant adorou. Eu gostei muito sua reação, sobre tudo quando lhe massageava com o óleo -confessou ruborizando-se ligeiramente.

Annie acreditava que ia pôr aquilo diante do Morgan aquela mesma noite? E queria que lhe desse uma massagem?

Samantha engoliu seco. Apenas em pensá-lo, excitou-se, mas não podia dizer a Annie que embora se beijaram umas quantas vezes não havia entre eles noites de paixão.

Notou que tinha formado um nó na garganta e que sentia um imenso vazio no peito, mas Morgan e ela tinham chegado um acordo e teria que cumpri-lo.

Então, por que pensar que não iam compartilhar o que compartilhavam outros casados a fazia sentir tão mal? Por que a fazia sentir-se tão sozinha? Isso era o que ela queria, não?

-Obrigado, Annie -respondeu deixando a caixa no armário -A qualquer homem que se aprecie, adoraria ver assim a sua mulher.

 

Quando seu irmão mais novo pôs em marcha a música, Morgan sentiu que tinha um nó no estômago e se perguntou que demônios estava fazendo.

Seis anos atrás, prometeu a si mesmo não casar-se nunca, a não ser nunca responsável pelo bem-estar de outra pessoa.

Mesmo assim, ali estava, esperando que Samantha descesse as escadas e se reunisse com ele ante a lareira para que o reverendo pudesse convertê-los em marido e mulher.

Morgan recordou que aquela era a única maneira que Samantha não perdesse o que era dela. Mesmo assim, teve que meter o dedo na gola da camisa para tentar afrouxar-lhe um pouco e poder respirar com mais facilidade.

-Relaxe, irmão -disse Brant -Casar é o melhor que pode te acontecer na vida. Viu alguma vez a uma mulher mais bonita que Annie? -acrescentou ao ver aparecer a sua esposa com Timmy no alto da escada.

Morgan abriu a boca para responder que parecia um adolescente, mas não sairam as palavras porque, naquele momento, apareceu Samantha.

Usava o cabelo solto e o olhava como se fosse a única pessoa que houvesse no quarto. Com o vestido de noiva de sua mãe e uma simples rosa branca nas mãos, estava preciosa.

Morgan engoliu seco e ficou olhando à mulher com quem ia se casar.

-Annie é quase tão bonita como Samantha -respondeu por fim.

-Estou ficando com náuseas -murmurou Colt —São as duas um horror.

-Agradeça que não lhe pusemos diante delas descendo as escadas atirando pétalas de rosa -brincou Morgan sem deixar de olhar a Samantha.

-Claro -respondeu seu irmão mais novo -O que tenho muito claro é que jamais me vou apaixonar como vós.

-Algum dia te tocará -advertiu-lhe Brant adiantando-se para escoltar a sua esposa e ao Timmy junto ao fogo.

Morgan sentiu que o coração pulsava rapidamente e temeu que os joelhos fossem falhar à medida que Samantha se aproximava dele. Entretanto, quando Samantha chegou a seu lado e colocou sua mão sobre a sua, invadiu-o uma maravilhosa sensação de calma que não se soube explicar.

-Está linda -disse sinceramente olhando-a aos olhos.

Samantha sorriu e a Morgan pareceu que seu sorriso iluminava a estadia.

-Eu estava precisamente pensando em quão bonito está você -disse.

-Está preparada? -perguntou Morgan colocando a mão sobre seu braço.

Samantha respirou fundo e assentiu.

-Acredito que sim.

Morgan a conduziu ante o reverendo Hill, olhou Timmy, que dormia nos braços de Annie, e logo a sua mãe. Estava a ponto de se encarregar de uma mulher e de seu filho, mas em lugar de sentir medo, sentia uma grande satisfação que não podia explicar.

-Queridos irmãos, reunimo-nos hoje aqui para unir a este homem e a esta mulher... -começou o reverendo Hill.

À medida que a cerimônia transcorria, Morgan foi se sentindo culpado. Não gostava de mentir e, menos ainda com algo tão sagrado. Não tinha nenhum problema em honrar e respeitar a Samantha, mas acabava de prometer amá-la até que a morte os separasse.

Engoliu seco. Deveriam ter escrito as promessas eles. Assim, não teriam que ter mentido.

Entretanto, quando a ouviu prometer amá-lo, honrá-lo e respeitá-lo até que a morte os separasse, sentiu-se o homem mais ditoso do mundo.

A idéia de tê-la a seu lado durante toda a vida o fazia imensamente feliz. Naqueles momentos, preferiu não pensar que seu casamento tinha prazo de validade.

Quando o estóico e ancião reverendo pediu as alianças, Morgan entregou os anéis que tinha comprado no Laramie no dia anterior.

O reverendo devolveu a mais pequena e indicou que devia pôr em Samantha ao mesmo tempo que pronunciava as palavras pela qual tomava como sua esposa.

-Com este anel... -disse Morgan olhando-a aos olhos -Eu te desposo.

-Quando as compraste? -sussurrou Samantha com lágrimas nos olhos.

-Ontem -respondeu Morgan lhe beijando a mão.

O reverendo Hill entregou a Samantha a outra aliança e Samantha a pôs ao Morgan repetindo as mesmas palavras que ele acabava de pronunciar enquanto uma lágrima escorregava pelo rosto.

-Pelo poder que me foi concedido em nome de Deus e do Estado, declaro-lhes marido e mulher -concluiu o reverendo -Pode beijar à noiva.

Samantha aguentou o fôlego enquanto Morgan afastava a lágrima com o polegar e se inclinava para ela para selar sua união com um beijo que a fez sentir como se estivesse dando voltas em um torvelinho.

Acabava de prometer amar a aquele homem e viver com ele passasse o que passasse. Como ia separar se dele em dois anos?

-Deixa-a respirar -riu Brant dando um tapinha ao Morgan no ombro -Bem-vindo ao mundo dos casados.

Quando Morgan se afastou e a olhou aos olhos, Samantha sentiu uma descarga elétrica ante o que viu em seu rosto. Se não tivesse sabido que era impossível, teria pensado que Morgan queria...

-Se este bobo não cumprir suas expectativas, diga-me para que lhe surremos entre os dois -sorriu Brant abraçando a sua nova cunhada.

-Terei-o em conta -sorriu Samantha.

Os Wakefield eram uma família realmente maravilhosa e Samantha não gostava de enganá-los. Que acreditassem que seu casamento era para toda a vida e estava apoiado no amor e a devoção lhe doía.

-Toca-me beijar à noiva -disse Colt afastando ao Brant e fazendo como se a fosse a beijar na boca.

Morgan pigarreou nesse preciso instante e seu irmão mais novo se limitou a beijá-la na bochecha.

-Prazer em conhecê-la, Samantha. Bem-vinda à família.

Quando seu cunhado mais novo lhe disse aquilo que mais ansiava Samantha na vida, ter uma família não pôde evitar ficar muito triste.

Embora seu sobrenome já fosse Wakefield, era tudo uma farsa.

Morgan sentiu que passava algo e a agarrou pela cintura.

-Timmy e você já formam parte de nossa família -assegurou.

-Obrigado -foi tudo que Samantha pôde responder enquanto lutava por não chorar.

O reverendo se assegurou de que as testemunhas assinassem, deu o parabéns aos recém casados e partiu.

-Brant -disse Annie depois de deixar Timmy em sua cadeira -Colt e você vigiem ao bebê enquanto eu me ocupo de tudo na cozinha -indicou -Vós os dois, tome uma pausa antes das fotos e do bolo -acrescentou olhando ao Morgan e a Samantha.

-Fotos? -perguntou Morgan tão surpreso como Samantha.

-Bolo? -perguntou Samantha dando-se conta das moléstias que tomou sua cunhada.

Annie sorriu e assentiu.

-Quando celebrarem seu cinquenta anos de casados, fará-lhes ilusão ter fotografias deste dia e não será oficial até que não tenham cortado o bolo.

A Samantha não deu tempo nem de perguntar a sua cunhada se queria que a ajudasse na cozinha pois, em um abrir e fechar de olhos, Annie tinha desaparecido.

-Está bem? -perguntou Morgan enquanto seus irmãos vigiavam ao Timmy sem saber muito bem o que fazer.

-Não sei -respondeu Samantha sinceramente -Custa-me assimilar o que acaba de ocorrer nesta última hora.

Morgan sorriu.

-É como se te tivesse passado um trem por cima, não é?

Samantha assentiu olhando a seus dois cunhados.

-O que menos graça faz é que os estamos enganando a todos.

-Ah, sim?

Samantha o olhou perplexa.

-A que te refere?

-Tudo preparado para as fotos e o bolo -anunciou Annie entrando de novo no salão antes de que Morgan pudesse responder -Brant, você vai para nossa câmara -Colt, você fica encarregado do bebê.

-Eu? -respondeu Colt alarmado -Eu não entendo nada de bebês.

-Não tem nada de mais. É só empurrar a cadeira até a cozinha. Confia em mim, não vai morder.

-Tem certeza? Não parece que caia muito bem.

-Sempre te passa o mesmo -riu Brant tomando a câmara de fotos.

-Muito obrigado -respondeu Colt -Que classe de impressão vou causar a nossa nova cunhada?

-Acostumar-se-á, como o resto de nós -respondeu Brant -Não te preocupe se o menino te remói. Não vai fazer nada porque não tem dentes.

-Agora que Annie está grávida, acha que é todo um perito em meninos, não é? -burlou-se Colt empurrando a cadeira.

Morgan tomou a Samantha pela mão e a conduziu pelo corredor.

-Vamos, terminemos quanto antes com tudo isto para que possa tirar este maldito terno.

Samantha não se moveu do lugar.

-Temos que falar. Não ficou muito claro por que disse que não os estamos enganando.

-Já falaremos mais tarde -respondeu Morgan lhe dando um beijo que a deixou sem fôlego -Agora, sorria, carinho. É o dia de seu casamento.

 

Durante a meia hora seguinte, Samantha sentiu como se estivesse vivendo um sonho. Morgan desempenhava à perfeição o papel do noivo solícito enquanto Brant, seguindo as instruções de Annie, fazia tantas fotografias que Samantha perguntou se deixaria algum dia de ver luzes.

-Chegou o momento de cortar o bolo -anunciou sua cunhada por fim.

-Dedicava-te a organizar bodas antes de casar com o Brant? -perguntou Samantha enquanto Annie lhes ensinava como se cortava o bolo.

-Não, trabalhava em uma biblioteca -sorriu Annie -Mas um de meus livros favoritos era Como organizar um casamento de sonho.

-Já se nota -riu Samantha.

Tomou a faca entre as mãos, Morgan colocou as suas em cima e, juntos, cortaram o bolo. Samantha tentou ignorar a sensação que aquilo lhe produziu, mas quando, seguindo a tradição deu a provar um pedacinho de bolo a seu marido e Morgan lhe lambeu os dedos, Samantha não pôde negar a si mesma a agradável comichão que provocou nela.

Era como se todas as células de seu corpo estivessem mais vivas que nunca.

Ao mesmo tempo lhe assaltava a idéia de que não devia esquecer que aquilo era uma farsa.

Depois de comer o bolo, Annie fez que Brant e Colt recolhessem a cozinha.

-Colt vai dormir hoje em casa -anunciou Annie a seguir.

Colt franziu o cenho.

-Ah, sim?

-Sim -respondeu Brant dando uma cotovelada nas costelas de seu irmão.

-Ah, sim, é verdade -sorriu Colt enquanto Samantha se ruborizava -Se por acaso estiverem cansados e amanhã pela manhã quiserem dormir até tarde, não voltarei até a hora de comer. Tenho que recolher minhas coisas porque vou ao rancho do Mitch.

-Cuidaria do menino, mas como está dando o peito sei que é impossível que se separe dele -disse Annie abraçando a Samantha.

Samantha assentiu e a abraçou também.

-Obrigada por tudo, Annie. De verdade, agradeço-te por tudo o que tem feito.

-Agora, somos irmãs -respondeu Annie aproximando-se de seu ouvido -Não se esqueça de pôr o babydoll. Asseguro que a reação de Morgan vai valer a pena –acrescentou girando para seu marido e seu cunhado mais novo -Venha, vamos, já é hora de deixar aos recém casados sozinhos.

Assim que os três saíram pela porta, Timmy lançou um grito que indicava claramente que queria voltar a comer.

Samantha lhe agradeceu em silêncio. Assim, teria um momento a sós para poder pensar. Nem todos os dias casava uma mulher com um homem muito bonito para passar a noite de núpcias sozinha.

-Logo venho pegar a cadeira -disse tomando ao Timmy nos braços.

-Eu já te levo -respondeu Morgan tirando a gravata -Enquanto você lhe dá o peito, eu vou me trocar.

-Eu também deveria me trocar -apontou Samantha -Oh, não, esqueci de pedir a Annie que me ajudasse com os botões das costas.

Morgan guardou a gravata em um bolso e desabotoou os dois primeiros botões da camisa.

-Eu te ajudo.

Antes que Samantha tivesse tempo de responder, Morgan tinha tomado a cadeira do Timmy com uma mão e estava subindo as escadas. Ajudou Samantha a subir sem que pisasse no vestido e abriu a porta do quarto onde dormia com seu filho.

 

Enquanto Samantha deixava o Timmy sobre a cama, Morgan deixou a cadeira junto à janela.

Ao sentir suas mãos nos ombros, Samantha ficou sem fôlego e pareceu que tinha um milhão de mariposas revoando no estômago.

Sentir como Morgan desabotoava os botões era do mais sensual.

-Como são pequenos -exclamou seu marido.

À medida que ia desabotoando, roçava a pele da Samantha e a fazia estremecer-se. Ao chegar nos últimos, os movimentos de Morgan se tornaram mais lentos. Samantha estava completamente excitada e custava pensar com claridade.

Em que demônios se colocou? Tornou-se louca casando com aquele homem?

Cada vez que Morgan a tocava, seu corpo bulia de excitação. Como ia viver durante dois anos sob o mesmo teto que ele sem se deixar levar?

-Já está -anunciou Morgan.

-Obrigado -acertou responder Samantha agarrando o vestido para que não caísse.

Morgan lhe dedicou um sorriso do mais sexy e a olhou com aqueles incríveis olhos azuis, fazendo que Samantha sentisse um calafrio por todo o corpo.

-Samantha, temos que falar de...

Impaciente por comer, Timmy ficou a chorar.

-Tenho que dar de mamar -disse Samantha agradecida pela interrupção.

Suspeitava do que queria falar Morgan e necessitava de tempo para tomar uma decisão. Iam ter que estabelecer uma série de normas para não cair na tentação de fazer algo que complicasse a situação.

Para sua surpresa, em lugar de zangar-se pelos gritos do Timmy, Morgan se inclinou sobre ele e acariciou a barriguinha.

-Até mais tarde, pequeno -disse indo para a porta -É tarde, você acredita que fica dormindo? -acrescentou voltando-se para ela.

-Sim... -respondeu Samantha engolindo seco -Suponho.

Morgan assentiu.

-Bem, assim teremos tempo para... falar.

 

Depois de trocar de roupa, Morgan se aproximou da porta da Samantha com os sapatos na mão.

Aturdido e excitado pelo processo de desabotoar o vestido de noiva, tinha esquecido de dizer que a esperava no escritório.

Era importante que falassem sobre certos aspectos de seu enlace matrimonial. Queria esclarecer que não se responsabilizaria das decisões que Samantha tomasse em altares de seu próprio bem-estar e do de seu filho.

Bateu na porta e esperou um segundo antes de abrir.

-Samantha, te espero no escrit...

Emudeceu de repente e caíram os sapatos no chão ao vê-la sentada na cadeira de balanço com o Timmy nos braços. Tirou o vestido de noiva de sua mãe e pôs um vestido amarelo, que naquele momento tinha aberto até a cintura para que o menino pudesse mamar.

Era a cena mais incrível que Morgan tinha visto em seus trinta e quatro anos de vida.

-Morgan, o que faz? -espetou Samantha.

Ao mover-se bruscamente, o mamilo saiu da boca do bebê e Morgan não pôde afastar a vista dele.

-Eu... -pigarreou -Vim te dizer que vou estar em meu escritório.

Timmy protestou por aquela brusca interrupção.

Morgan engoliu seco enquanto observava como Samantha o voltava a pôr na posição correta e cobria o seio com uma pequena manta.

-Dói? -perguntou fascinado.

Samantha o olhou fixamente durante uns segundos e negou com a cabeça.

-Ao princípio, sim -respondeu -até que acostuma.

Morgan se aproximou, ajoelhou ao lado da cadeira de balanço e retirou a manta. Ao ver que Samantha não o impedia, estirou o pescoço e observou como Timmy sugava o peito de sua mãe.

-Vi muitas vezes aos animais dar de mamar a suas crias, mas esta é a primeira vez que vejo uma mulher dar o peito a seu filho -confessou -É lindo -acrescentou apesar de que não estar acostumado a ser um homem propenso a expressar seus sentimentos.

Permaneceram todos em silêncio durante vários minutos enquanto Timmy jantava.

-Dormiu -sussurrou Samantha por fim.

Sem perguntar, Morgan pegou Timmy nos braços enquanto Samantha se vestia.

-Meto-o no berço? -perguntou.

Samantha assentiu.

-Deverá dormir até as quatro ou as cinco da madrugada.

Morgan depositou o pequeno no berço em que tinham dormido três gerações de sua família e observou como Samantha o agasalhava com carinho.

-As coisas mudaram -disse Morgan tomando a mão e olhando-a aos olhos.

-Isto não é muito inteligente de nossa parte -respondeu Samantha.

-Pode ser que não -concedeu Morgan lhe acariciando a aliança para recordar aos dois que pertenciam um ao outro.

-Dissemos que nosso casamento não ia ser de verdade -recordou Samantha.

-A verdade é que foi você que disse isso -recordou Morgan abraçando-a pela cintura.

-Mas você esteve de acordo -apontou Samantha sem fôlego.

-Não, eu não disse isso -disse Morgan apoiando sua testa na da Samantha -Eu disse que provavelmente seria o melhor, mas não comprometi a nada.

Samantha não pôde responder porque Morgan se inclinou sobre ela e a beijou. A faísca que tinha surtido entre eles no dia em que se conheceram estalou. Morgan nunca tinha desejado tanto a uma mulher como desejava a Samantha.

Suas línguas se encontraram e seus corpos se apertaram o um contra o outro. Ao sentir sua ereção, Samantha suspirou de prazer.

-Acredita sinceramente, carinho, que vamos poder viver dois anos juntos sem fazer amor? -perguntou Morgan.

Samantha fechou os olhos um momento, voltou a abrir e lhe acariciou o cabelo da nuca.

-Deveríamos tentá-lo -respondeu.

-Dois anos é muito tempo -disse Morgan apertando-a contra si para que sentisse o muito que a desejava -De verdade que quer que não consumemos o casamento?

-Devo ter me tornado louca porque não sei o que responder -confessou Samantha tremendo.

-O que quer, Samantha? -perguntou Morgan lhe acariciando os seios.

-Quero que volte a me beijar, Morgan -respondeu Samantha ao sentir seus polegares sobre os mamilos.

-Será um prazer -disse ele desfazendo o coque no qual Samantha tinha recolhido o cabelo -E prometo que vou me certificar que seja para ti também.

Samantha fechou os olhos e Morgan voltou a beijar. Foi um beijo que a deixou sem fôlego e sem o pouco sentido comum que ficava. Samantha se negava a pensar naqueles momentos, se consumar seu casamento era uma loucura ou não, ou em que em dois anos tudo teria terminado.

A necessidade de sentir-se desejada e querida por ele era muito mais forte que as possíveis complicações que tivessem que enfrentar mais tarde.

Sentiu as mãos do Morgan nas costas e estremeceu. Quando Morgan entrou em sua boca, Samantha teve que agarrar sua camisa pois as pernas fraquejaram.

-E o que quer fazer agora, carinho? -sorriu Morgan olhando-a com aqueles incríveis olhos azuis.

Samantha respirou fundo para tentar acalmar o pulso.

-Acredito que não quero que pare.

Ao ouvi-lo rir, sentiu-se arrepiar.

-Eu tampouco quero parar -confessou Morgan -Está tomando algum método anticoncepcional?

-Não. O certo era que não entrava em meus planos me casar e, muito menos, fazer amor -respondeu Samantha enquanto Morgan dava beijos pelo pescoço.

-Não se preocupe, eu me encarrego disso -assegurou olhando-a nos olhos.

Em seguida, pegou-a pela mão e conectou o auricular que lhes permitia ouvir o Timmy.

-O que acha se formos ao meu quarto? -propôs.

Enquanto Morgan a conduzia pelo corredor para seu dormitório, Samantha se concentrou nos golpes que dava o coração contra o peito.

Uma vez que tivessem feito amor, não haveria volta atrás. Seu casamento seria de verdade e as coisas seriam muito mais complicadas. Era aquilo o que ela queria de verdade?

E o que aconteceria ao cabo de dois anos? Haveria alguma possibilidade seguirem juntos?

-Não passa nada, Samantha -disse Morgan acendendo o abajur da mesinha e deixando o auricular sobre ela -Não quero te obrigar a fazer nada -assegurou tomando o rosto entre as mãos -Se quiser que paremos agora mesmo, paramos.

Samantha o olhou nos olhos e soube que não queria parar. Embora se arrependesse durante toda sua vida, queria continuar. Queria sentir suas mãos por todo o corpo, queria seus beijos e o calor de seu sexo.

-Não, não quero parar -respondeu surpreendendo a si mesma pela tranquilidade de sua voz.

Morgan a beijou com uma ternura que fez com que saltassem as lágrimas.

-Prometo que não vai se arrepender, carinho -disse começando a desabotoar o vestido.

-Advirto que ainda não emagreci tudo o que tenho que emagrecer depois da gravidez -disse Samantha com acanhamento.

-Eu gosto tal como está -respondeu Morgan olhando-a com intensidade -Eu gosto das mulheres com curvas.

-Também tenho estrias -acrescentou Samantha.

-Eu também tenho cicatrizes, carinho -respondeu Morgan terminando de desabotoar o vestido e lhe acariciando os seios -Não te dá conta do incrivelmente sexy que é, não é?

-Eu nunca fui... Nunca me considerei sexy -confessou Samantha enquanto Morgan desabotoava o vestido.

-Pois deveria fazê-lo -disse ele baixando até a cintura as mangas do vestido e as alças do sutiã -É uma das mulheres mais desejáveis que vi em minha vida.

Ao sentir suas mãos duras sobre seus seios, Samantha sentiu que dava um salto o coração e que derretia por dentro como manteiga.

Fechou os olhos e se concentrou nas sensações.

-Você gosta? -quis saber Morgan beijando-a na testa enquanto brincava com seus mamilos.

-Sim -respondeu Samantha.

Abriu os olhos e começou a desabotoar a camisa de Morgan. Ao terminar, abriu-a e olhou impressionada.

Morgan Wakefield tinha um corpo perfeito.

Tinha um torso musculoso e forte e uns abdominais marcados e atravessados por uma fina fileira de pêlo escuro que entrava além da cintura das calças jeans.

-É impressionante -sussurrou lhe acariciando o peito.

Olhou-o nos olhos e, ao ver o intenso desejo que havia neles, sentiu um agradável comichão na entreperna.

Sem mediar palavra, Morgan se inclinou sobre ela e realizou o mesmo trajeto por seus seios com a língua que tinha realizado com suas mãos.

Samantha começou a respirar entrecortadamente.

-Você sim que é impressionante -murmurou Morgan -Quero ver-te completamente nua.

-Eu também quero ver-te nu -respondeu Samantha estremecendo.

Morgan sorriu e a ajudou a tirar o vestido.

-Toca-me -pediu Samantha.

Morgan assentiu.

Samantha desabotoou o botão do jeans e deslizou o zíper com cuidado sobre sua ereção. Fascinada, admirou o vulto que escondia o algodão branco e não pôde evitar tocá-lo.

-Carinho, tem toda a noite pela frente para fazer que isso baixe -gemeu Morgan.

-Isso soa interessante -respondeu Samantha com voz grave.

-Posso-te assegurar que não nos vamos aborrecer -sorriu Morgan despindo-se por completo.

Tirou a camisa, os jeans, os meias e, é obvio, a cueca. Continuando, ergueu-se ante ela como uma estátua perfeita.

Samantha pensou que nunca tinha visto nada tão perfeito como Morgan Wakefield. Tinha uns ombros incrivelmente largos, braços musculosos e pernas atléticas. Parecia um deus grego.

Bom, um deus grego com uma potente ereção.

Morgan se aproximou dela, deslizou os polegares sob a cintura de sua calcinha e as tirou em um abrir e fechar de olhos. Samantha se sentiu de repente tímida e vulnerável.

-Importa em apagar a luz? -perguntou.

-Por que, carinho?

-Porque não estou muito...

-Está perfeita -interrompeu-a Morgan -Se por acaso não te lembra, já te vi assim em outra ocasião.

Samantha se ruborizou por completo.

-Te esqueça da noite em que nasceu Timmy. Não foi meu melhor momento.

-Como vou esquecer? Foi uma das noites mais bonitas de minha vida -respondeu Morgan surpreendendo-a com suas palavras.

-De verdade?

Morgan sorriu e assentiu.

-Sempre achei as mulheres uns seres muito especiais, mas ao ajudar a trazer para o mundo teu filho me dei conta do quão fortes e valentes que são. Realmente te admiro, Samantha.

Samantha não soube o que dizer e, além disso, Morgan tomou entre seus braços e a apertou contra seu corpo. Era como se houvesse uma corrente elétrica entre eles que os carregasse com uma necessidade física como jamais tinha experimentado.

-É tão maravilhoso te sentir tão perto que poderia passar assim toda a vida -disse Morgan.

Samantha passou os braços pelos ombros e sorriu.

-Espero que seja tão forte como parece porque acredito que vou desmaiar.

Aquilo fez Morgan rir.

-Eu adoro esta postura, mas acredito que vamos estar muito melhor quando estiver dentro de ti -disse soltando-a um momento e afastando a colcha da cama. Em seguida, tomou nos braços como se não pesasse e a depositou no centro da cama.

Deitou a seu lado e lhe acariciou as estrias que tinha na barriga.

-São estas as cicatrizes às que te referia?

Samantha assentiu.

-Espero que desapareçam logo.

Morgan se inclinou sobre ela e as beijou.

-As leve com orgulho, carinho. São lembranças de sua valentia.

A reverência que percebeu em sua voz fez que o coração de Samantha desse um pulo. Se não soubesse que era impossível, teria jurado que estava apaixonando-se por ele.

Morgan tomou entre seus braços e a beijou com tanta paixão que a fez esquecer-se de todo o resto. Continuando, deslizou a mão até seu entreperna e comprovou com satisfação que estava úmida.

Samantha sentiu de repente a imperiosa necessidade de fazer o mesmo com ele, assim encontrou sua ereção e a acariciou ouvindo-o ofegar de prazer.

-Tome cuidado, carinho -disse Morgan -Faz tempo que não estou com uma mulher e não quero que isto termine antes de começar.

-Por favor...

-Quer me sentir dentro? -perguntou Morgan olhando-a aos olhos.

-Sim -respondeu Samantha com voz entrecortada -Por favor, Morgan, me faça amor.

Morgan sorriu, vestiu um preservativo e se colocou sobre ela.

-Vou tentar aguentar o máximo, mas não prometo nada porque te desejo tanto que não sei se vou poder -confessou colocando-se entre suas pernas -No livro dizia que, às vezes, às mulheres dói fazer amor pela primeira vez depois de ter dado a luz -acrescentou afastando uma mecha de cabelo da cara -Se te doer o mínimo, quero que diga isso imediatamente, entendido?

Sua preocupação por ela emocionou Samantha de uma maneira que jamais teria imaginado. Incapaz de falar, assentiu justo antes que Morgan se introduzisse em seu corpo brandamente.

Samantha mordeu o lábio inferior para não gritar de prazer e desfrutou de sua união.

-Que maravilha -exclamou Morgan entrando até o final.

Samantha o viu apertar os dentes e fechar os olhos e se deu conta que ia ter que fazer um grande esforço para aguentar.

-Está tudo bem? Não estou te fazendo mal, não é? -perguntou Morgan abrindo os olhos e abraçando-a.

-Absolutamente, isto é maravilhoso -respondeu Samantha sem fôlego.

-Está segura?

-Completamente segura -respondeu Samantha lhe acariciando o rosto -Me faça amor, Morgan.

Morgan sorriu fazendo-a sentir como a mulher mais desejada do mundo e a beijou. Começou a cavalgar lentamente sobre ela e, em pouco tempo, Samantha sentiu que o clímax estava a ponto de produzir-se.

Morgan deu-se conta que ela estava já no limite e deslizou a mão para acariciar entre as pernas. Samantha se encontrou de repente envolta em uma neblina de sensações incríveis.

Segundos depois, sentiu como o corpo do Morgan esticava para derrubar-se sobre ela depois alcançar também o clímax.

Abraçou-o e mordeu o lábio inferior enquanto tentava controlar o sentimento que estava formando em seu interior.

Por seu bem e pelo de seu filho não podia apaixonar-se pelo Morgan Wakefield, não podia confiar que ele a correspondesse. Se o fizesse e Morgan a decepcionasse como seu pai ou como Chad, não sabia se poderia sobreviver.

 

Morgan encontrou por fim a força para mover-se, mas Samantha o impediu.

-Peso muito, Samantha.

-Eu gosto de te ter perto -sussurrou ela.

-Também gosto de te ter perto -riu

Morgan lhe beijou a ponta do nariz-.

-Está bem? -perguntou vendo que tinha lágrimas nos olhos.

-Estou... maravilhada -respondeu Samantha.

-Então, por que está chorando? –quis saber Morgan secando uma lágrima que escorregava pelo rosto e rezando para que chorasse da emoção e não por algo desagradável.

-Choro porque fazer amor contigo foi lindo -confessou Samantha aliviando-o.

-Deste me um susto, carinho -sorriu Morgan.

De repente, ouviram os gemidos do Timmy do auricular.

-Talvez tenha fome -comentou Samantha sentando.

-Você fique aqui -disse Morgan ficando em pé -Vou ver o que passa.

Morgan avançou descalço pelo corredor, entrou no quarto no qual Timmy estava chorando a pleno pulmão, sorriu e tomou nos braços. O certo era que gostava de como cheirava.

-Obrigado por não nos haver interrompido antes, pequeno -disse lhe acariciando as costas.

Quando voltou a entrar em seu dormitório, Samantha estava sentada na cama com o lençol por debaixo dos braços tampando seus lindos peitos.

-Suponho que terá fome -comentou esticando os braços para que o entregasse.

-Espera um momento -respondeu Morgan.

-O que vais fazer?

-Já o verá -respondeu Morgan colocando uns travesseiros contra a cabeceira da cama -Está cômoda, carinho?

-Sim -respondeu Samantha confusa.

-Bem -sorriu Morgan afastando o lençol e deixando seus seios ao descoberto.

-Te vou abraçar enquanto dá o peito ao Timmy -acrescentou lhe entregando ao menino.

Samantha sentiu que os olhos voltavam a encher de lágrimas.

-É um homem muito especial, Morgan Wakefield.

-Não, o que acontece é que eu gosto de te abraçar -respondeu ele observando como Samantha começava a dar de mamar a seu filho -Samantha?

-Sim?

-Quero que Timmy e você se mudem para este quarto amanhã pela manhã -disse surpreendendo a si mesmo.

O certo era que a queria junto a ele.

-Mas nosso casamento não é... -disse Samantha olhando-o aos olhos.

-Agora é -sorriu Morgan.

Supôs que Samantha estaria fazendo as mesmas perguntas que ele, pergunta para as quais não tinha respostas. Não era uma questão de lógica mas sim de sentimento.

Samantha bocejou e Morgan lhe deu um beijo na testa.

-Amanhã pela manhã, encarregar-me-ei de trazer o berço até aqui.

Samantha fechou os olhos e se apertou contra ele.

-Já veremos -respondeu sonolenta.

Morgan a abraçou e ficou olhando a ela e ao bebê. Ambos tinham dormido profundamente.

De repente, teve um sentimento de posse como jamais tinha experimentado e se deu conta de que queria protegê-los e cuidá-los.

Sentiu que o coração pulsava como uma locomotiva desbocada e respirou fundo. O que tinha dado nele? Não podia fazer-se responsável por nenhum deles.

Seis anos atrás, tinha manifestado julgamentos errôneos. O que aconteceria se tomasse uma decisão equivocada e danificasse seu bem-estar?

Morgan fechou os olhos e se apoiou na cabeceira. Como lhe tinha ocorrido dizer a Samantha que seu casamento era de verdade? Não seria porque se deixou levar pelo desejo e não tinha escutado seu sentido comum?

Voltou a respirar fundo e soltou lentamente. Tinha gostado de jogar a culpa daquela situação ao longo e frio inverno, mas o certo era que tinha tido um mês e meio para sair e ter uma aventura com outra mulher e não tinha feito.

Tragou o medo que estava preso na garganta, abriu os olhos e os olhou de novo. Como ia fazer para viver dois anos com aquela mulher e com seu filho sem envolver-se ainda mais com eles?

Tinha tentado manter a distância, mas não tinha funcionado. Passou dias inteiros trabalhando da alvorada até o entardecer, mas o único que tinha conseguido tinha sido chegar à extenuação e passar as noites pensando em Samantha.

Talvez, compartilhar os dias com ela e fazer amor de noite o ajudasse a tirá-la da mente. Por outra parte, corria o risco de afeiçoar-se a aquela vida que sempre tinha querido, mas que não se atrevia a ter.

Tinha prometido a Samantha que ia ajudar a recuperar seu rancho e estava disposto a cumprir sua palavra, mas não sabia como ia fazer para viver com eles, desempenhar o papel de marido e pai e não envolver-se emocionalmente.

Morgan sacudiu a cabeça   confuso.

Não tinha respostas. Quão único sabia era que devia tentá-lo.

Pelo bem de todos.

 

Na manhã seguinte, enquanto Samantha esvaziava as gavetas de roupa, mordeu o lábio inferior. Tinha tomado a decisão correta mudando-se para o quarto de Morgan?

A noite anterior, converteu-se em sua esposa em todos os sentidos, mas aquilo terminaria assim que cumprisse com as condições do testamento de seu avô. Ao pensar nisso, sentiu um horrível nó na garganta.

-Quando tivermos terminado de levar a roupa, vou guardar suas malas no sótão -anunciou Morgan pondo as mãos nos ombros -Quando vier Colt, vou pedir que me ajude com o berço. Assim, só ficará para subir o que está no seu carro.

Samantha sentiu um maravilhoso calafrio pelas costas quando Morgan a beijou no pescoço.

-Muito bem -respondeu -Estamos fazendo o correto? -acrescentou olhando-o aos olhos.

Morgan ficou vários segundos em, silêncio.

-Samantha, sinceramente não sei o que te dizer -confessou -Não oculto que te desejo –sorriu -E é óbvio que você também me deseja , mas quero que saiba que embora esteja casada comigo é livre para fazer o que quiser. Eu não posso decidir o que é bom para ti e para o Timmy.

-Não estou segura de poder fazê-lo eu tampouco -respondeu Samantha sentindo-se repentinamente cansada e insegura de tudo.

Morgan tomou o rosto entre as mãos.

-O único que posso prometer é que vou lhes cuidar e que jamais farei mal intencionadamente.

Samantha tentou sorrir.

-Ao menos, durante os seguintes dois anos.

A expressão do Morgan se tornou de repente inescrutável.

-Pelo menos -assentiu.

Olharam-se nos olhos durante o que pareceu uma eternidade, até que ouviram passos nas escadas.

-Morgan, onde demônios está? -disse uma voz masculina.

-No quarto de convidados -respondeu Morgan dando a Samantha um beijo no nariz -Quer que levemos o berço ao meu quarto ou mudaste de opinião?

Samantha assentiu ao recordar a doçura com que aquele homem tinha feito amor a noite anterior e como a tinha abraçado enquanto ela dava o peito seu filho.

-O que fazem aqui? -perguntou Colt entrando no quarto -Que tal está meu sobrinho? -acrescentou aproximando-se do berço -Continua sem ter dentes?

Ao ouvir seu cunhado referir-se a seu filho como seu sobrinho, formou um nó no peito de Samantha. Enquanto estivesse casada com o Morgan, Timmy ia ter o que ela sempre tinha desejado: uma família.

-Não, ainda não saíram -sorriu Samantha.

-Irmãozinho, vai ter que me ajudar com duas coisas antes de ir   -disse Morgan a seu irmão.

Colt sorriu.

-Só duas? Normalmente tens uma lista enorme.

Aquilo fez Morgan rir, que empurrou a seu irmão para a porta.

-Onde quer que deixemos as coisas que tem no carro? -perguntou a Samantha girando para ela.

-Se me recordo bem, o que ficou no carro são coisas de cozinha -respondeu Samantha -por agora, as deixe na despensa.

-Muito bem -respondeu Morgan -Venha, vamos, Colt.

Enquanto Samantha terminava de tirar sua roupa e a de seu filho do armário, ouviu as risadas dos dois irmãos que se afastavam conversando pelo corredor.

 

-Samantha?

Ao ouvir seu nome, levantou o olhar e encontrou com Colt na porta.

-E Morgan? Passa algo?

Colt negou com a cabeça.

-Não, tudo vai bem. Morgan foi ao carro.

-Precisa de alguma coisa? -perguntou Samantha vendo que não saía.

Colt deu de ombros.

-Só queria te agradecer -respondeu.

-Por que?

-Às vezes, Brant e eu damos dores de cabeça ao Morgan, mas ele nunca se queixa porque é um bom homem e tem um grande coração. A verdade é que queria agradecer porque lhe fez ser feliz de novo.

Antes que Samantha tivesse tempo de perguntar a que se referia, Colt deu a volta e desapareceu pelo corredor.

 

-Terminaste? -perguntou Morgan.

-Acredito que sim -respondeu Samantha olhando a seu redor.

Seu olhar posou na caixa de lingerie que tinha lhe presenteado Annie.

-O que é isso?

-É... é... Um presente de Annie -respondeu Samantha ruborizando -Importar-te-ia de levar isso pro seu quarto enquanto eu certifico de que não esqueci de nada? -acrescentou assinalando um pacote de fraldas para tentar mudar de conversa.

-Agora é nosso quarto, carinho -respondeu Morgan aproximando-se dela e beijando-a até deixá-la sem fôlego.

-Muito bem, nosso quarto -disse Samantha sorrindo.

Morgan pegou as fraldas e girou para ela.

-Vou estar um momento em meu escritório porque tenho que olhar uns papéis.

Samantha assentiu.

-Isso me recorda que manhã tenho que telefonar a uns quantos lugares para me informar sobre possíveis subvenções para o acampamento e para pedir uns quantos orçamentos.

-Que tal vai teu projeto?

Samantha suspirou.

-Lento -respondeu -Todo mundo está de férias ou muito ocupado com outros projetos para aproximar-se do rancho e fazer um orçamento para ver quanto custaria reformar a casa e o abrigo e construir duas cabanas com dormitórios.

-Já verá como tudo vai sair bem, carinho -animou-a Morgan.

-Isso espero.

-Com certeza que sim -sorriu Morgan -Se quiser, te dou uma mão.

-Obrigado -sorriu Samantha -Sim, a verdade é que lhe agradeceria isso.

Uma vez a só, Samantha se deu conta que Morgan Wakefield era um homem realmente especial que não tinha nada a ver nem com seu pai nem com o Chad. Eles eram egoístas e não lhes ocorreria ajudar a ninguém a não ser que tirassem algo em benefício próprio.

Mas Morgan era diferente. Era um homem amável, detalhista e bom, que não duvidava em ajudar os outros sem pedir nada em troca.

No dia anterior, para casar-se, tinha-lhe devotado o vestido de noiva de sua mãe e tinha comprado alianças para que ninguém desse conta de que seu casamento não era real.

Samantha suspirou e sentou na borda da cama. Oxalá pudesse fazer algo para demonstrar quão especial era para ela e o muito que apreciava o que tinha feito por ela e por seu filho nos últimos dias.

Samantha olhou o presente de Annie. Atrever-se-ia com o livro e o óleo de massagem?

Ficou em pé e foi para o armário, abriu a caixa e deixou o babydoll um lado. Era muito provocador e sabia que não ia ter coragem de vestir.

Entretanto, Annie havia dito que Brant tinha se encantado com a massagem sensual que tinha dado na sua noite de núpcias. Gostaria Morgan que sua esposa fictícia fizesse o mesmo?

Guardando tudo de novo na caixa, Samantha riu nervosa. Jamais tivesse ocorrido que ia se expor a possibilidade de dar uma massagem erótica um homem.

Sacudiu a cabeça, tomou a caixa e saiu do quarto. Talvez pudesse reunir algum dia a coragem de fazê-lo, mas de vestir o babydoll nem pensar.

-Samantha?

Morgan tentou abrir a porta do banheiro, mas não pôde. Estava fechada com fecho.

-Carinho, está bem?

Samantha estava encerrada meia hora. Depois de dar de mamar ao menino na presença do Morgan, como faziam todas as noites há uma semana, tinha-o deitado e tinha desaparecido no banheiro.

Preocupado, Morgan bateu na porta.

-Samantha, se não responder, vou jogar a porta abaixo.

-Estou bem, Morgan. Saio já -respondeu ela.

Morgan franziu o cenho enquanto desabotoava e tirava a camisa e os jeans. Sentou-se na borda da cama e ficou olhando a porta do banheiro. O que podia estar fazendo Samantha no banheiro que usava tanto tempo?

Naquele momento, enquanto pensava quão misteriosas eram as mulheres, ouviu que abria o fecho. Olhou a porta e viu que se abria uma fresta.

-Morgan?

Morgan levantou como um relâmpago e se aproximou da porta do banho.

-Me diga, carinho. Estás bem?

-Sim, estou bem. Quero que me faça um favor -disse Samantha com voz entrecortada.

-O que você quiser -disse Morgan tentando sem êxito abrir a porta.

-Quero que vá deitar na cama.

-Para que?

Tinha-lhe dado um susto de morte e agora pedia que se deitasse na cama.

-Demônios, Samantha, o que está acontecendo?

-Obedece, ok?

-Mulheres -murmurou Morgan enquanto ia para a cama.

-Está convexo já?

-Sim -respondeu Morgan esperando que houvesse uma boa explicação depois de tudo aquilo. A luz do banheiro se apagou e a porta se abriu. Samantha saiu sorrindo nervosa, vestida com um babydoll que deixava quase todo seu corpo ao descoberto.

Morgan deu um salto, abriu os olhos arregalados e o coração começou a pulsar rapidamente.

-De onde tiraste isso? -perguntou engolindo seco.

-Annie me deu de presente no domingo, antes das núpcias -respondeu Samantha -Você não gosta?

-Não é que eu não goste, é que vai me dar um ataque cardiaco -sorriu Morgan.

-Não pensava pôr isso nunca, mas... -sorriu Samantha indo para a cama.

-Me alegro de que tenha posto isso, carinho -disse Morgan sinceramente.

-Não te mova -indicou Samantha.

-Por que?

-Porque levou quase uma semana reunir coragem necessária para fazer isto e eu gostaria de terminar-lo -respondeu Samantha ruborizando.

-E o que é isso que você gostaria de terminar? -quis saber Morgan intrigado.

Samantha mordeu o lábio inferior.

-Vou te dar uma massagem sensual -respondeu por fim.

 

Morgan sentiu que o coração pulsava ao galope e que sobre ele cavalgava sua libido.

-Carinho, está tentando me seduzir?

Samantha se ruborizou.

-Sonho, não... Não tinha me ocorrido.

-Se for isso o que te propõe, por mim, perfeito. Embora te advirto que eu já estou seduzido, mas adiante -disse recostando-se com as mãos na nuca -Tenta-o.

Ao ver o alívio expresso no rosto da Samantha, Morgan sentiu uma emoção que se obrigou a ignorar.

Não queria nem podia ficar a pensar em nada que não fosse o que tinha ante seus olhos: sua esposa, vestida com um babydoll de encaixe e luzindo um sorriso do mais sensual.

Estava olhando-o como se fosse o devorar.

-Lembra que é a primeira vez que faço isto, assim vou aprender praticando -disse Samantha sinceramente.

Ao ouvir aquela confissão, Morgan sentiu que o sangue subia à cabeça.

-Eu tampouco nunca o provei -reconheceu -É a primeira vez que você dá uma massagem sensual e é a primeira vez que eu o recebo.

-Quer que pare? -perguntou Samantha brincando com um lacinho que tinha entre os peitos.

-Não! -gritou Morgan -Isto está começando a ficar interessante.

Samantha deslizou seus olhos do rosto do Morgan, pelo peito até chegar à barriga e mais à frente. Quando se deu conta de que o vulto de sua entreperna ameaçava romper a cueca, abriu os olhos arregalados.

-Muito interessante -sorriu Morgan.

Não tinha nem idéia do que propunha Samantha, mas estava mais que disposto a averiguá-lo.

Quando se aproximou da cama, deu-se conta de que levava um frasquito na mão.

-O que é isso? -quis saber.

-Já o verá -respondeu Samantha sorrindo provocadora -Mas primeiro temos que estabelecer algumas normas.

Morgan moveu pro lado para que se sentasse na cama.

-Que normas? -Samantha se afastou.

-Não pode me tocar até que eu lhe diga isso -respondeu.

-Isso vai ser bastante difícil -objetou Morgan -E que mais?

-Quero que feche os olhos.

Sim, aquilo ficava cada vez mais interessante.

-Muito bem. Algo mais?

Samantha lhe dedicou um olhar que fez com que Morgan subisse a tensão arterial pelas nuvens.

-Quero que te concentre no que vou fazer e que me diga o que te provoca.

Morgan engoliu seco.

-O que você quer é me dar um ataque ao coração, não é?

-Não, tolo -riu Samantha -Supõe-se que isto tem que fazer sentir-se maravilhado.

-Não, se eu já me sentio estupendo agora mesmo -respondeu Morgan com a respiração entrecortada.

Samantha voltou a sorrir e Morgan pensou o difícil que ia ser não tocá-la.

-Sim, mas espero que minha massagem te faça sentir ainda melhor. Fecha os olhos.

Morgan obedeceu e, aos poucos segundos, percebeu um agradável aroma e sentiu algo líquido no peito.

-O que é isso?

-Óleo corporal de almíscar -respondeu Samantha.

-Está... Quente -disse Morgan fazendo um esforço por manter os olhos fechados -Eu gosto.

-Claro, isso é porque esquentei o frasquinho em água quente -explicou Samantha lhe massageando o peito.

Ao sentir seus polegares fazendo círculos ao redor de seus mamilos, Morgan não pôde evitar estremecer de prazer.

-Você gosta? -sussurrou Samantha ao ouvido.

-Eu gosto tanto que... -disse Morgan abrindo os olhos.

Samantha sacudiu a cabeça.

-Fecha os olhos -indicou-lhe.

Morgan franziu o cenho, mas fez o que lhe dizia.

-Agora está claro. Está decidida a me dar um ataque ao coração.

Estava encantando em sentir suas mãos pelo corpo, mas temia que antes que Samantha tivesse terminado com a massagem corporal ia ficar louco.

As mãos da Samantha começaram a descer por seu corpo. Primeiro, chegaram às costelas para logo avançar por seu abdômen e percorrer seu quadril.

-E agora o que sente? -quis saber a massagista.

Não tinha se dado conta? Não tinha visto como estava excitado?

Morgan teve que respirar fundo antes de poder responder.

-Tenho tanta eletricidade correndo agora mesmo por minhas veias que, se me conectasse, poderia iluminar todo Laramie e provavelmente Cheyenne.

A risada da Samantha fez excitá-lo ainda mais.

-Tenta relaxar -sugeriu-lhe.

Então, foi ele quem riu.

-Claro, como se fosse tão fácil -respondeu Morgan.

-Impossível, né?

Morgan negou com a cabeça e apertou os punhos para não tocá-la. Aos poucos segundos, notou que Samantha afastava uma mão e se perguntou o que estaria fazendo.

Ouviu o barulho do frasquito de óleo e se perguntou o que ia massagear a seguir.

Não demorou muito em averiguá-lo. Logo sentiu o líquido pelas pernas e as mãos da Samantha seguindo seu rastro.

Sentiu-a nos joelhos e nas coxas. Sentiu que tinha o corpo em chamas. Se não parasse logo, ia chegar a...

Morgan abriu os olhos e engoliu seco. Para então, já tinha completamente decidido que o que Samantha se propunha era matá-lo naquela noite. Ao sentir sua mão sobre sua ereção, pensou que deixaria este mundo sendo um homem muito feliz.

Sem poder aguentar mais, Morgan lhe agarrou a mão.

-Carinho, não me interprete mal. Está-me encantando tudo isto da sedução, mas temo que já não aguento mais.

Samantha pôs uma mão no peito e sorriu.

-Não quer que termine?

-Se continuar me dando massagens com esse óleo, isto vai terminar muito antes de ter começado e nenhum dos dois quer isso -respondeu Morgan tomando ar.

Samantha olhou sua ereção.

-Está me dizendo que minha massagem sensual saiu bem?

-Eu diria que foi um êxito absoluto, carinho -respondeu Morgan abraçando-a e colocando-se em cima dela -De fato, pode repeti-lo sempre que quiser, mas acredito que por hoje já basta.

-Por que?

-Porque já não posso mais -respondeu Morgan beijando-a -Preciso me sentir dentro de ti, te dar o mesmo prazer que você me deu .

-Eu gosto disso -respondeu Samantha apertando-se contra ele.

Morgan sentiu que o sob ventre lhe ardia e se equilibrou sobre os seios da Samantha, disposto a percorrer com sua língua cada milímetro deles.

Samantha suspirou e o abraçou com força. Cada dia que passava, Morgan gostava mais abraçar a aquela mulher e lhe fazer amor.

Acariciou seu corpo e se deu conta do bem que ficava o babydoll, mas sabia perfeitamente que ia gostar mais sem ele.

O único problema era que não sabia como tirar.

-Eu adoro isto que tem vestido, carinho -disse dando-lhe um beijo na ponta do nariz -Mas, importaria em me dizer como tiro?

-É muito fácil -respondeu Samantha com um sorriso malicioso -Tem dois colchetes na parte de abaixo, em...

Antes que desse tempo de terminar a frase, Morgan já os tinha encontrado e os tinha desabotoado. Continuando, tirou-lhe o conjunto e a calcinha e tirou o preservativo que tinha deixado sob o travesseiro.

-Morgan, importaria se....? -perguntou Samantha tomando o preservativo de suas mãos.

-Adiante -respondeu Morgan completamente excitado ao dar-se conta do que ia fazer.

Era a primeira vez que uma mulher lhe punha um preservativo e a experiência estava resultando na mais excitante.

Ao sentir suas delicadas mãos em seu membro, acreditou que ia chegar ao orgasmo.

Quando a operação terminou. Morgan foi deitar sobre ela, mas Samantha negou com a cabeça e se colocou sobre ele.

Então, Morgan acreditou que ia morrer de prazer. Fechou os olhos e a agarrou pelos quadris.

-Não se... mova.

Morgan tentou controlar-se. Jamais em sua vida tinha estado tão excitado. Seu corpo lhe rogava que deixasse terminar a Samantha, mas ele queria sentir-se assim, dentro dela, para sempre.

Aquele pensamento o teria aterrorizado em qualquer outro momento, mas naquele instante Morgan não teve nem as forças nem o desejo de combatê-lo.

Samantha se inclinou sobre ele e o beijou no peito, no ombro e no queixo. Continuando, começou a mover-se lentamente sobre ele.

Por sua respiração entrecortada e seu rosto rosado, Morgan se deu conta de que devia estar tão excitada como ele.

Obstinado a seus quadris, começou a mover-se ao mesmo ritmo que ela e logo ambos alcançaram o clímax.

Ao sentir que seus músculos internos se esticavam, Morgan compreendeu que Samantha estava a bordo do orgasmo e então, e só então, abandonou-se e investiu pela última vez.

Seu gemido de prazer e as quebras de onda de estremecimento que se apoderaram de seu corpo, catapultaram-nos aos dois ao reino do prazer mais absoluto.

 

Na manhã seguinte, Morgan estava revisando as pilhas de papéis que tinha na sua mesa. Ao ver o contrato de compra e venda que havia dito a seu advogado que preparasse para comprar o rancho do avô da Samantha, afastou-o um lado. Era para o lixo, mas jogaria mais tarde.

Olhou o calendário. Devia ir ao cemitério de Denver a apresentar seus respeitos à mulher com a que tinha estado a ponto de casar-se.

Desde que Emily tinha morrido, todos os dias nos que se cumpria seu aniversário, ia pôr flores sobre a tumba e pedir perdão em silencio por haver causado sua morte.

Aquele ano ia ser diferente. Ia despedir se dela.

Morgan respirou fundo. Passou a maior parte da noite acordado, abraçado a Samantha e pensando muito.

Emily formava parte do passado e tinha chego o momento de esquecê-la. Tinham sido amigos além de amantes e estava seguro de que, se tivesse casado, teriam sido muito felizes.

Mas, agora, pela primeira vez em seis longos anos se sentia preparado para virar página.

Agora, Samantha era seu futuro. Queria viver com ela toda sua vida, ajudá-la a criar seu filho e compartilhar com ela o sonho de montar um acampamento para crianças abandonadas.

Olhou pela janela e respirou fundo. Apaixonou-se por ela.

Em lugar de sentir medo, sorriu.

Ao princípio, tinha-o atraído sua valentia e seu sentido da responsabilidade. Tinha dado a luz a seu filho em um rancho desvencilhado com incrível coragem. Aquilo tinha provocado uma grande admiração em Morgan.

Quando, depois de sua estadia no hospital, inteirou-se de que Morgan se encarregou da fatura, não tinha duvidado em oferecer-se para ajudar em casa, limpando e cozinhando, em troca.

À medida que ia conhecendo-a, Morgan dava-se conta do quão boa e carinhosa que era. Além disso, era uma mãe maravilhosa e, apesar de que tinha muito pouco, estava decidida a empregar sua herança em ajudar que certas crianças pudessem viver melhor.

O tinha aceito dentro de sua pequena família no momento em que lhe tinha permitido ficar enquanto dava o peito ao Timmy.

Morgan estava disposto a que formassem uma família, mas primeiro tinha que ir a Denver.

Sorrindo ao pensar na possibilidade de ter sua própria família, levantou-se lentamente e cruzou o escritorio. Quanto antes se despedisse de seu passado, antes poderia começar com seu futuro.

-Samantha? -chamou cruzando o vestíbulo.

Encontrou-a na cozinha, aproximou-se por por trás, passou os braços pela cintura e a abraçou.

Adorava senti-la perto.

-Carinho, tenho que ir a Denver fechar um assunto -disse beijando-a no pescoço -Quer que te traga algo?

Samantha girou e deu um beijo que esteve a ponto de lhe fazer cair de costas.

-Importaria-te comprar dois pacotes de fraldas?

Morgan negou com a cabeça.

-Algo mais?

-Não, não me ocorre nada mais -respondeu Samantha voltando-o para beijar -vais demorar muito?

Morgan não gostaria de ir e que realmente gostaria de era tomar Samantha em seus braços, levá-la a seu quarto e demonstrar quão importante era para ele. Entretanto, tinha que despedir-se de uma velha amiga.

-Sim, vou estar fora quase todo o dia -respondeu abraçando-a -Quando voltar, temos que falar de uma coisa.

Samantha ficou olhando-o nos olhos.

-Do que se trata?

-Mais tarde saberá -respondeu Morgan beijando-a -Chamarei do celular quando tiver voltando   -despediu-se afastando-se dela.

Se não se separasse dela logo, não ia sair de casa nunca.

-Importa-te que utilize seu computador? -perguntou Samantha -Eu gostaria de procurar na Internet construtoras para pedir orçamentos e organizações aos que possa pedir patrocínio para o acampamento.

-Carinho, o Lonetree é agora seu lar -respondeu Morgan pondo o chapéu e abrindo a porta da cozinha -Não tem que pedir permissão para fazer nada.

Quando Morgan lhe piscou um olho, justo antes de fechar a porta atrás dele, Samantha sentiu que lhe embargava uma agradável sensação de felicidade.

Não sabia do que Morgan queria falar com ela, mas ela também tinha umas quantas coisas que dizer.

Não podia negá-lo que sabia que era verdade: apaixonou-se por seu marido.

Tendo em conta seu acordo, não sabia se era o mais inteligente, mas não tinha tido opção.

A questão era se Morgan também a queria.

Sabia que a desejava, disso não tinha dúvida, mas não sabia se Morgan poderia apaixonar-se por ela como um marido se apaixonava por sua mulher.

Samantha não estava segura, mas estava decidida a averiguá-lo porque não podia ficar ali sem o amor do Morgan.

Samantha colocou seu filho no carrinho e desceu para o escritório do Morgan. Ao chegar, colocou-o perto dela e se sentou na enorme poltrona de couro.

O primeiro que tinha que fazer era contratar um arquiteto para que lhe dissesse como estava a estrutura do rancho de seu avô. Se pudesse aproveitar uma parte, economizaria.

Olhou seu filho e lhe sorriu.

-Vou ver se encontro as listas telefônica -disse-lhe -Te ocorre onde pode ter Morgan guardado?

Ao ouvir a voz de sua mãe, Timmy riu e continuou sugando sua chupeta.

Aquilo fez rir Samantha.

-Em outras palavras: «Mamãe, está sozinha» -sorriu -Tem que estar por aqui -acrescentou olhando nas estantes dos livros e atrás do computador.

Por fim, viu sob um monte de documentos que havia sobre a mesa. Com extremo cuidado, tentou tirá-lo, mas os documentos foram parar ao chão.

-Morgan não vai voltar a me deixar entrar em seu escritório -suspirou levantando-se.

Começou a recolher os papéis, mas ao ver seu nome em um dos documentos paralisou. Ficou em pé e começou a lê-lo.

Sentiu que parava o coração e que ficava com o corpo frio. Morgan queria comprar o rancho de seu avô?

Teve que sentar rapidamente pois as pernas fraquejavam. Por que tinha Morgan um contrato de compra e venda de seu rancho?

Nunca havia dito que queria vendê-lo.

Ao contrário. Do primeiro dia, tinha falado de sua idéia de convertê-lo em um acampamento para crianças necessitadas.

Recordou aqueles dois últimos meses e lhe encheram os olhos de lágrimas. Como podia ser tão estúpida?

Recordou que, depois de contar a Morgan seus planos para o rancho, tinha-a evitado como se tivesse a peste. Dedicou-se a ir trabalhar ao amanhecer e não voltava até que ela já estava metida na cama.

Isso tinha mudado no dia em que ela tinha ido ver o advogado de seu avô e este tinha informado das novas condições sobre o testamento.

Assim que Morgan se deu conta de que as terras que tanto queria poderia ficar com o Estado se Samantha não estivesse casada, não perdeu tempo para levá-la ao altar.

Samantha olhou a aliança e não pôde evitar que escorregassem duas lágrimas pelas bochechas.

Que parva tinha sido.

Tinha acreditado quando Morgan lhe tinha assegurado que se casava com ela para ajudá-la a não perder suas terras, mas na realidade quão único queria era que o rancho não passasse a ser propriedade do Estado porque sabia que, se fosse assim, jamais poderia consegui-lo.

Samantha fechou os olhos ante a enorme dor que sentia no peito.

Como tinha confiado tão cedo nele? Acaso não tinha aprendido a lição com seu pai e com seu noivo? Não podia confiar nos homens. Os homens sempre tinham seus planos e neles nunca estava ela.

Samantha recolheu o resto dos documentos e os deixou junto ao computador. Continuando, colocou o contrato de compra e venda no centro da mesa para assegurar-se de que Morgan o visse.

Com dedos trêmulas, tirou a aliança e a deixou em cima.

Pegou seu filho nos braços com os olhos arrasados pelas lágrimas e saiu do escritório. Enquanto fechava a porta, soou o telefone, mas Samantha o ignorou.

Não gostaria de falar com ninguém e, além disso, não tinha tempo. Tinha que ir procurar as malas no sótão.

 

Morgan deixou que o telefone soasse até que atendeu a secretária eletrônica. Franziu o cenho e deixou outra mensagem para Samantha que o chamasse.

Passou três horas, desde que tinha saído do cemitério, que tentava falar com ela. Onde demônios se meteu?

Aquela manhã havia dito que tinha intenção de passar todo o dia navegando pela Internet. O medo se apoderou dele e Morgan perguntou se teria acontecido algo a ela ou ao menino.

Acelerou enquanto marcava o número de Annie e Brant em seu telefone celular de mãos livres.

-Está Samantha por aí com vocês?

-Não -respondeu Annie -Chamei-a duas vezes hoje, mas me atendeu a secretária eletrônica -acrescentou sua cunhada um tanto alarmada -Não está contigo?

-Não -respondeu Morgan sentindo cada vez mais medo -Estou tentando falar com ela desde que saí que Denver.

-Onde está agora? Quer que vá a sua casa?

-Estou a uns dez quilômetros -respondeu Morgan -Chegarei antes que você.

-Morgan, se nos necessitar...

-Chamo-lhes -respondeu Morgan -Muito obrigado, Annie.

-Assim que saiba algo, nos chame, por favor -insistiu sua cunhada -Morgan, tenho que dar uma má notícia.

Aquilo nada fez a não ser aumentar o nervosismo do Morgan.

-Do que se trata?

-Mitch Simpson, o amigo do Colt... Ontem enrolou-se com um touro e... Morreu faz umas horas na sala de cirurgia.

Morgan gemeu de dor. É obvio, conhecia o Mitch e a sua irmã Kaylee e os queria muito.

-Como está meu irmão? -perguntou preocupado.

Colt e Mitch eram amigos do colégio e supunha que seu irmão devia estar destroçado.

-Bastante mal... -respondeu Annie com a voz trêmula -mas vai ficar com a Kaylee para ajudá-la com o enterro e com as coisas do Mitch antes de voltar para casa.

-Competia também Brant?

-Não -suspirou Annie -mas se sente culpado por não estar ali. Diz que se tivesse competido, talvez, poderia ter feito algo.

Morgan não se surpreendeu que seu irmão pensasse assim.

-Vão os dois ao funeral no Oklahoma?

-Sim, vamos amanhã pela manhã.

-Diga a Brant que conduza com cuidado e dêem o pêsames de minha parte a Kaylee.

-Muito bem. Nos chame assim que saiba alguma coisa da Samantha -recordou-lhe Annie.

-De acordo -respondeu Morgan desligando o telefone.

Deixou o celular no assento do passageiro e acelerou. Inteirar-se da morte do Mitch lhe tinha recordado quão imprevisível era a vida.

Se algo tivesse ocorrido a Samantha ou ao menino, jamais se perdoaria por não ter estado em casa com eles.

Ao chegar frente a sua casa, parou o carro em seco, tirou o cinto de segurança e desceu a toda velocidade. Correu para as escadas do alpendre e abriu a porta da cozinha.

-Samantha? -gritou.

Nada.

Correu pelo corredor e subiu as escadas de dois em dois.

Ninguém.

Voltou a descer e se dirigiu ao salão. A porta de seu escritório estava fechada. Rezou para que Samantha estivesse ali, para que tivesse cochilado trabalhando.

Morgan sabia que não era muito provável, mas naqueles momentos estava disposto a aceitar qualquer explicação, sempre e quando Samantha e o menino estivessem bem.

No escritório, é obvio, não havia ninguém.

Onde demônios estariam?

Quando se dispunha a abandonar a estadia, a forte claridade que entrava pela janela lhe fez fixar em algo brilhante que havia sobre a mesa.

Ao aproximar-se e ver que era a aliança da Samantha, sentiu que o mundo caía aos pés.

Estava sobre o contrato de compra e venda do rancho de seu avô.

 

Samantha apertou seu filho contra si e olhou ao redor da sala de seu desvencilhado rancho.

As lágrimas não lhe permitiam ver bem. Tentou não recordar a noite em que tinha conhecido o Morgan, a noite em que Morgan a tinha ajudado trazer seu filho para ao mundo.

Então, ele tinha sido sua rocha, sua força e sua segurança. E ela, como uma parva, tinha deixado que aquilo continuasse sendo assim até que se apaixonou por ele.

Soluçando, pensou que o abandono de seu pai tinha doído enormemente e a negativa do Chad a se encarregar de seu filho a tinha marcado, mas tinha se reposto de ambas as coisas.

Entretanto, estava segura de que não ia ser capaz de recuperar-se da traição de Morgan.

Por que tinha acreditado nele? Por que tinha deixado que a convencesse de que o único que queria era ajudá-la a ter sua herança? E por que se apaixonou por ele?

-O que aconteceu com Timmy?

Ao ouvir aquela voz, Samantha girou e encontrou Morgan na porta, tal e como o tinha visto a primeira vez.

Apenas via os olhos pois usava o chapéu impregnado, mas pela maneira como apertava a mandíbula estava claro que estava zangado.

Exatamente igual à noite em que se conheceram.

-Está em propriedade privada -advertiu-lhe -Isto é invasão de moradia.

Morgan deu de ombros.

-Pois chama à polícia para que venha me deter.

-Isso é exatamente o que vou fazer -respondeu Samantha embalando ao menino.

-O que faz aqui, Samantha?

Ao ouvir sua voz, o bebê deixou de chorar.

-Passa algo ao menino?

Samantha se deu conta de que Morgan parecia preocupado e soube que, embora não sentisse nada por ela, queria bem a seu filho.

-Não lhe acontece nada, só tem sono -respondeu.

Morgan se aproximou da lareira e se sentou.

-Quando dormir, falaremos.

-Não, nada disso.

-Sim, tudo disso -insistiu Morgan com decisão.

-Não temos nada do que falar -insistiu Samantha por sua parte.

-Temos muitas coisas das que falar -disse Morgan -E estou decidido a que me escute.

Samantha começou passear pela sala e negou com a cabeça.

-Não vai te servir de nada, assim economize a saliva.

-Olhe, Samantha, tive um dia horrível e não gostaria de discutir contigo -disse cansado -Justo antes de chegar a casa para descobrir que minha esposa e meu filho tinham desaparecido, disseram-me que o melhor amigo do Colt, Mitch, acaba de morrer depois de um torneio com um touro.

-Oh, sinto muito por seu irmão -disse Samantha sinceramente -Como ele está?

-Annie me disse que muito mal -respondeu Morgan ficando em pé e olhando a seu redor -Onde está o carrinho do Timmy? Já está dormido.

-No sofá -respondeu Samantha.

Morgan pegou o menino nos braços e o depositou com cuidado em seu carrinho. Continuando, girou para sua mãe.

-Por que não falamos no Lonetree?

-Prefiro falar aqui. Prefiro não ir lá.

-Por que?

-Porque lá não é minha casa -respondeu Samantha sentindo que lhe rompia o coração.

-Isso não é verdade e sabe -disse Morgan aproximando-se dela.

-Não, Morgan, nunca o foi.

-Como pode dizer isso, Samantha? É minha esposa.

Morgan tentou lhe acariciar a bochecha, mas ela deu um passo atrás. Samantha não podia permitir que a tocasse. Se o deixava, estaria perdida, não poderia resistir a ele.

-Falemos, Morgan -disse cruzando os braços -Vamos falar das razões ocultas que tinha para casar comigo.

Morgan ficou olhando-a nos olhos.

-Ia perder sua herança e...

-E o que? -interrompeu Samantha com ira -E você ia perder sua oportunidade de ficar com meu rancho, não é?

Morgan negou com a cabeça.

-Não, era você que ia perder o que te pertencia por lei, e o sonho de abrir seu acampamento se terminaria.

Samantha respirou fundo e o olhou nos olhos.

-Não é verdade que queria comprar o rancho de meu avô?

-Sim, é verdade -sorriu Morgan -Mas não agora.

-Claro, agora estou casada contigo, já não faz falta que o compre. É teu.

-Não, este rancho é teu -disse Morgan aproximando-se dela.

-Não por muito tempo -disse Samantha com lágrimas nos olhos -Assim que nos divorciemos, ficará com o Estado.

-Mas não vamos nos divorciar -disse Morgan.

-Sim, vamos divorciar -insistiu Samantha.

-Não, não nos vamos divorciar -disse Morgan -Vamos continuar casados e em dois anos este rancho será teu e poderá montar seu desejado acampamento para crianças abandonadas.

-Não, não poderei.

-Por que?

-Porque não penso continuar casada contigo -insistiu Samantha.

Morgan suspirou.

-Isto não nos está levando a nenhuma parte. O que achas se voltarmos ao começo?

-Para que? -perguntou Samantha olhando-o com desafio.

Morgan amaldiçoou a si mesmo por havê-la feito sofrer, mas devia explicar-lhe tudo. Seu futuro juntos dependia disso.

-Me escute, Samantha, por favor -pediu lhe acariciando a bochecha.

-Neste momento, duvido que possa dizer algo que me faça mudar de opinião -respondeu ela -Mas se é assim, vai adiante.

-Parece justo -tentou sorrir Morgan -Recorda o dia em que fui te procurar no hospital e sugeri que vendesse o rancho?

-Sim, mas acreditei que te referia que vendesse a uma agência imobiliária -respondeu Samantha aproximando-se da lareira -Não me disse em nenhum momento que estavas interessado.

-Não, não o fiz, é verdade -admitiu Morgan.

Fez uma pausa para escolher bem suas palavras. Aquilo era muito importante para que não houvesse mal-entendidos entre eles.

-Tinha chamado meu advogado para pedir que redigisse um contrato de compra e venda antes de falar contigo, mas assim que me contou seus planos, mudei de opinião e por isso não te disse nada da minha intenção de comprar o rancho. Um acampamento para crianças precisadas é muito melhor que simplesmente querer aumentar o Lonetree.

-E por que não destruiu o documento? -perguntou Samantha dúbia.

-Porque sou tolo -respondeu Morgan -O advogado me enviou isso por correio e não recebi até duas semanas depois de ter falado contigo. Então, comecei a trabalhar de sol a sol e estava tão cansado que não tinha forças nem para olhar o correio. Uma noite vi o envelope, abri-o, guardei-o e me esqueci dele. Hoje pela manhã, quando tornei a ver, deixei-o sobre minha mesa para jogá-lo ao lixo.

-Muito bem, acredito, mas quando te contei que queria montar o acampamento começou a me evitar como se tivesse a peste -disse Samantha pouco convencida -E logo, quando te contei que o Estado ficaria com o rancho se não me casasse, empenhou-te em casar comigo. Por que?

Estava olhando desafiante, com o queixo elevado, e Morgan não pôde evitar sorrir. Ficava ainda mais bonita quando estava zangada.

-Não tem nem idéia da relação entre o Estado e os rancheiros, não é, carinho?

-Não... -respondeu Samantha -Mas isso o que tem a ver?

-Poderia ter este rancho no dia 1 de janeiro do próximo ano sem necessidade de haver casado contigo.

-Ah, sim? - burlou Samantha -Como?

-Só teria que ter entrado em contato com o escritório do Casper e pedido um arrendamento -explicou Morgan encolhendo os ombros -Poderia ter utilizado as terras durante muitos anos, todos os anos que quisesse pagar por elas.

-Então, casou comigo de verdade para me ajudar a não perder o rancho? -sussurrou Samantha.

Morgan assentiu.

-Entre outras razões.

Observou como a ira e a dor que tinha visto refletidos em seus lindos olhos cor amêndoa se tornavam surpresa.

-O que outras razões houve?

Morgan respirou fundo e soube que tinha chegado o momento.

-Tentei não estar contigo muito tempo porque não podia evitar te tocar -respondeu esperando que o entendesse -Foi tudo o que queria e não podia ter.

-Não te entendo -respondeu Samantha confusa.

Morgan passou os dedos pelo cabelo e se deu conta de que aquela era, possivelmente, a resposta mais importante que tinha mantido em sua vida. Esperava que tudo saísse bem.

Aproximou-se dela e se sentou na lareira.

-Há seis anos estive a ponto de me casar -explicou-lhe -Uma semana antes do casamento, disse a minha noiva que fosse visitar sua irmã, que vivia em Denver, enquanto eu me ocupava do rancho. Ela não queria ir, mas eu insisti. Um dia estavam às compras e se viram envoltas em um tiroteio entre a polícia e dois ladrões. Morreu no ato...

-Oh, Morgan, sinto muito -disse Samantha lhe acariciando o braço -Deve ter sido horrível.

Morgan assentiu e permaneceu em silêncio uns segundos.

-Depois daquilo, prometi a mim mesmo que não voltaria a tomar decisões por uma pessoa que eu quisesse bem. Jamais e sob nenhuma circunstância.

-Não foi tua culpa, Morgan -consolou-o Samantha.

-Se foi ou não, continuo opinando o mesmo.

Samantha o observou e se deu conta de que a perda de sua noiva lhe tinha chego muito fundo.

-Continua se sentindo responsável hoje em dia?

Morgan a olhou e deu de ombros.

-Acredito que continuarei sentindo responsável toda a vida, mas por fim decidi mover ficha. Por isso fui hoje a Denver. Para deixar flores sobre sua tumba e me despedir dela -pigarreou -Não quero me separar de ti, Samantha.

Samantha sentiu que as esperanças renasciam em seu peito.

-Por que? Só porque quer ajudar com meu rancho?

-Não -respondeu Morgan tomando ar e olhando-a nos olhos -Quero te abraçar todas as noites e despertar todas as manhãs junto a ti. Para o resto de minha vida, Samantha. Quanto a seu filho, é como se já fosse o meu. Quero adotá-lo e te ajudar a criá-lo.

-De verdade? -sussurrou Samantha com lágrimas nos olhos.

Morgan assentiu.

-Também quero ajudar a montar o acampamento.

Depois de tudo o que havia dito, Samantha estava segura de que Morgan a queria, mas precisava ouvir de sua boca.

-Por que?

-Porque... te amo -respondeu Morgan tirando do bolso a aliança e colocando no dedo anelar.

Quando a abraçou, Samantha sentiu que o coração explodia de felicidade.

-Oh, Morgan, eu também te amo.

-Não posso viver sem ti, carinho -disse Morgan ao cabo de uns segundos -Por favor, não volte a deixar.

Samantha negou com a cabeça.

-Nunca.

Morgan tomou o rosto entre as mãos.

-Quero que entenda que, embora sejamos uma família e você e eu sejamos iguais dentro do nosso casamento, não vou tomar jamais uma decisão nem vou tentar te persuadir para que faça algo que não goste.

Samantha sentiu um nó na garganta ante a sinceridade que viu em seus lindos olhos azuis.

Morgan Wakefield era um homem bom e era óbvio que jamais faria nada que pudesse fazer sofrer a ela ou seu filho.

-Morgan, carinho, sinto dizer que estiveste tomando decisões por mim no mesmo momento em que nos conhecemos -disse lhe acariciando o queixo.

Morgan franziu o cenho e sacudiu a cabeça.

-Não, não acredito que o fiz.

-Sim, sim, o fez -sorriu Samantha -Quando viu que ia dar a luz, em seguida te pôs ao mando da situação.

-Aquilo era diferente.

-Por que?

-Porque não podia conduzir.

-Exato, mas não me deu opção, não é? -Morgan negou com a cabeça.

-E o que me diz de sua insistência em que Timmy e eu ficássemos no Lonetree a viver contigo em lugar de voltar aqui quando saímos do hospital?

-Aqui não há calefação, nem água, nem luz -respondeu Morgan.

-De novo, se preocupou por nosso bem-estar -assentiu Samantha -Só pesou a situação e decidiu que não era uma boa casa para nós. Ocupou-te de nós, Morgan.

Morgan ficou pensativo.

-Suponho que isso foi o que fiz, sim. -Samantha assentiu.

-Morgan, há umas quantas coisas que eu também gostaria de te dizer.

-O que você quiser, carinho -disse Morgan beijando-a.

-Me prometa que vai continuar nos cuidando -sorriu.

Morgan assentiu enquanto acariciava a aliança e a olhava aos olhos.

-Estou disposto a lhes proteger com minha vida.

Algo mais?

-O que te parece se tivéssemos mais filhos? Eu gostaria que Timmy tivesse dois irmãos.

-Carinho, ficarei encantado de fazer todos os filhos que queira -sorriu Morgan -Algo mais? -Samantha assentiu, feliz.

-Nos leve a casa.

Morgan ficou olhando-a nos olhos.

-Quero-te, Samantha, e não tenho intenção de te deixar jamais. Este casamento é para sempre.

-Quero-te com toda minha alma, Morgan -respondeu Samantha com lágrimas nos olhos -Eu também quero que nosso casamento seja para sempre.

Morgan a beijou com paixão e ficou em pé.

-Para sempre, carinho -assentiu tomando-a pela mão.

Samantha assentiu e sorriu também.

-Para sempre.

 

Dois anos depois

 

-Venha, papai!

Morgan sorriu e tirou o cinto de segurança do Timmy.

-Vamos ver o que faz mamãe -disse a seu filho.

-Mamãe, já estamos aqui -gritou Timmy correndo para o escritório que sua mãe se ocupava na direção do Camp Save Haven.

-Tome cuidado com as escadas -disse-lhe Morgan.

Samantha saiu ao alpendre e riu ao ver que caía o chapéu negro que usava seu filho .

-Que tal estão meu dois vaqueiros preferidos?

-Já estamos aqui -respondeu o menino.

Morgan sorriu recolhendo o chapéu do Timmy e pondo-o de volta.

-Estamos muito bem -respondeu -Timmy convenceu seu tio Colt para que desse um passeio a cavalo e, logo, ajudou-me a dar de comer ao novo potro. Para terminar, fomos ver o tio Brant, à tia Annie e ao primo Zach, não é?

-Não paraste -Samantha sentando-se em uma das cadeiras de balanço do alpendre e tomando a seu filho nos braços.

-Como vai você? -perguntou seu marido sentando-se junto a ela.

-Bem -sorriu Samantha embalando a seu filho -Não me dói as costas nem tenho contrações.

Morgan pôs a mão sobre a volumosa barriga da Samantha e o bebê que ela levava em suas vísceras deu uma patada.

-Vejo que nosso pequeno jogador de futebol continua praticando -riu seu pai.

-Sim, hoje está mais ativo -respondeu Samantha -Ah, chamaste a Kaylee Simpson para ver se lhe interessa dar aulas de montaria no acampamento que começa a semana que vem?

-Enviei um email, mas não lhe interessa -respondeu Morgan -Diz que leva muito tempo sem montar a cavalo e que não tem nenhuma intenção de voltar a fazer. Terminou seus estudos e trabalha como treinadora pessoal -explicou Morgan franzindo o cenho -Dá a impressão de que não quer saber nada de nenhum de nós.

-Você acredita que Brant se interessaria pelo trabalho?

Morgan sorriu e assentiu.

-Dado que sua mulher vai ser a diretora de atividades e vai passar aqui todo o dia, aposto o pescoço que dirá que sim.

-Estupendo -disse Samantha apertando os dentes.

-Samantha?

-Que horas são?

-Isso foi uma....?

Morgan observou como sua mulher concentrava o olhar em sua caminhonete durante alguns segundos. Sentiu que o pêlo da nuca arrepiava. A menos que se equivocasse, ia ser pai muito em breve.

Samantha girou para ele e assentiu.

-Morgan, parece que será melhor que o menino passe a noite com o Brant e com o Annie.

Morgan ficou em pé, tomou seu filho nos braços e ajudou ficar em pé à mulher que amava mais que sua própria vida.

-Vamos.

Samantha estava completamente serena e Morgan ficou impressionado de novo por sua calma e sua coragem.

-O que está acontecendo, carinho? Você não gostaria de ter este bebê como tivemos o Timmy?

-Carinho, isso é uma vez na vida -respondeu Morgan -Estarei encantado de te acompanhar na sala de cirurgia, mas desta vez não penso ser eu o médico. Desta vez, vai dar a luz no hospital com médicos de verdade que sabem o que fazem.

-Quero-te, Morgan Wakefield -disse Samantha lhe acariciando o rosto.

Morgan olhou à mulher que tinha lhe dado tudo o que queria na vida: uma família e um lar cheio de amor e de risadas.

-Eu também te quero, carinho -respondeu lhe beijando a palma da mão -Não pode imaginar quanto.

 

 

                                                                                                    Katie DeNosky

 

 

 

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